EXPLORANDO A ÁFRICA Mais de 670 milhões de pessoas vivem
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EXPLORANDO A ÁFRICA Mais de 670 milhões de pessoas vivem
EXPLORANDO A ÁFRICA Mais de 670 milhões de pessoas vivem na África, em cerca de oitocentos grupos étnicos, cada qual com sua própria língua e cultura. A África é recoberta por desertos, campinas e florestas. O maior deserto do mundo, o Saara, cobre quase toda a África do Norte. O Nilo, um dos rios mais longos do mundo, percorre 6,4 mil quilômetros no nordeste da África. As temperaturas no continente africano variam de região para região. A maior temperatura já registrada no mundo, 58º, ocorreu na Líbia em 1992. as chuvas também variam no continente. Em algumas áreas como os desertos do Saara e da Namíbia, não chove por períodos de seis a oito anos. Já ao longo do litoral ocidental em geral cai chuva o ano todo. Em outras partes da África há uma estação seca, quando chove muito pouco, e uma estação de chuvas. No Zaire, localizado na África Central, chove de outubro a maio; já em Gâmbia a estação chuvosa vai de julho a outubro. A África tem milhares de espécies de mamíferos, répteis, aves, plantas e peixes. As florestas tropicais da África Ocidental e Central contêm centenas de arvores, desde palmeiras que produzem óleo e o mogno, uma madeira nobre, até o mangue ao longo da costa. História da África A história da África é fascinante. Todos já ouvimos falar .sobre os grandes faraós do Egito, com seus magníficos túmulos, pirâmides e cerimônias funerárias, mas quem de nós conhece algo sobre os antigos impérios da África Ocidental? O primeiro desses grandes impérios, Gana, foi poderoso durante cerca de mil anos, a partir de 300 d.C. Gana era tão rica que os cães do palácio real usavam coleiras de ouro. Estudiosos árabes No século X, estudiosos árabes começaram a escrever sobre a grande riqueza dos reinos africanos. Alguns deles, como Ibn Battuta, realmente viajaram pelo continente africano. Outros apenas reuniam histórias dos que haviam estado lá. À medida que apareceram mais livros sobre a África, a fama de seus reinos espalhou-se e os europeus começaram a visitar o continente. Primeiro vieram os portugueses, no século XV, seguidos de outros europeus, como os franceses, holandeses e britânicos, que construíram fortes no litoral e comerciaram com os africanos. Poucos europeus, no entanto, penetravam no interior do continente e, como sabiam muito pouco sobre a África, eles a chamaram de Continente Negro. OS PRIMÓRDIOS DA HISTÓRIA A Idade da Pedra Os cientistas acreditam hoje que os mais antigos seres humanos tenham vivido na África há dois milhões de anos. Como esses primeiros humanos usavam instrumentos de pedra como armas para caçar, esse período da história é conhecido como Idade da Pedra. As pessoas viviam em pequenos grupos, mudando sempre de lugar em busca de alimentos. Esse modo de vida predominou até cerca de dez mil anos atrás. As pessoas da Idade da Pedra começaram então a construir casas permanentes, a plantar arroz, trigo e outros cereais e a criar carneiros, cabras e gado para a alimentação. O número de habitantes aumentou, pois passou a haver comida suficiente para todos. O homem primitivo aprendeu também a fazer fogueiras para se aquecer. A Idade do Ferro A próxima grande descoberta foi fabricar instrumentos e armas de ferro. Os machados e as enxadas ficaram muito mais fortes, podendo ser usados para desmatar grandes áreas para a agricultura. Esse período é conhecido como Idade do Ferro e começou a se desenvolver na África por volta do ano 6000 a.C. As primeiras civilizações O antigo Egito foi uma das primeiras grandes civilizações do mundo. Ela se desenvolveu ao longo das margens do rio Nilo por volta de 3000 a.C. e ali floresceu durante mais de dois mil anos. Os egípcios elaboraram o primeiro calendário de 365 dias, desenvolveram a aritmética básica e inventaram uma forma de escrita através de figuras chamadas hieróglifos. Construíram grandes templos, enterrando seus governantes em enormes túmulos, as pirâmides. O antigo Egito sobreviveu mais tempo que qualquer outra civilização conhecida e chegou a conquistar a Núbia, uma região do Alto Nilo. Por volta de 1000 a.C., os núbios se revoltaram e formaram o seu próprio reino, que se chamou Kush. A civilização kush sobreviveu até 350 d.C. e foi um centro das artes, do ensino e do comércio. O comércio transaariano Como se produziam cada vez mais alimentos, as pessoas passaram a ter funções específicas. Algumas eram responsáveis por providenciar a comida, enquanto outras apenas fabricavam instrumentos e armas. Com o tempo, os habitantes de uma comunidade começaram a vender aos vizinhos de outras aldeias as mercadorias excedentes. Alguns viajavam grandes distâncias para comerciar. Os berberes do norte da África viajavam para o sul para vender suas mercadorias aos povos da África Ocidental. Como nessas viagens eles atravessavam o deserto do Saara, essa atividade passou a ser conhecida como comércio transaariano. Ninguém sabe quando esse comércio começou; alguns dizem que ele existe desde que existem habitantes na África. Atravessando o deserto O comércio transaariano floresceu durante mais de dois mil anos, decaindo apenas no século passado. Os berberes costumavam levar suas mercadorias no dorso de camelos — às vezes chegavam a ter mil camelos numa caravana — e viajavam 2,4 mil quilômetros através do deserto. A viagem levava cerca de três meses e era cheia de perigos. Alguns mercadores se perdiam no imenso deserto e morriam de sede; outros eram apanhados em terríveis tempestades de areia. Quando finalmente chegavam às cidades de comércio ao sul do deserto, os berberes trocavam o sal e o cobre que traziam por outros bens como ouro e noz-de-cola. O crescimento dos impérios As pessoas que viviam nos dois extremos das rotas de comércio transaarianas tinham sorte: conseguiam participar desse lucrativo comércio e enriquecer. Cada cidade ou aldeia começou então a escolher um rei e a se transformar num Estado. À medida que o comércio se expandia, os Estados foram ficando cada vez mais poderosos e passaram a dominar seus vizinhos mais fracos. Por fim os Estados ao sul do Saara transformaram-se em grandes e ricos impérios, tais como os de Gana e Mali. A ÁFRICA ATÉ O SÉCULO XV Impérios do Ocidente O comércio transaariano continuou a crescer até o século XVII. Esse comércio era muito importante para os africanos ocidentais, pois além de trazer mercadorias trazia também novas idéias. Trouxe, por exemplo, a nova religião do islã, vinda do norte. A riqueza gerada pelo comércio ajudou alguns chefes a estabelecerem impérios muito poderosos. Dois dos impérios mais famosos foram Gana e Mali. Rotas pelo Saara No auge do comércio transaariano havia três rotas principais que cruzavam o deserto e terminavam em importantes cidades comerciais. Uma delas ia de Marrakech até as minas de sal de Taghaza, de onde o sal e o cobre eram transportados para Timbuktu e para o antigo Império de Gana. A segunda rota ligava Túnis a Hausaland e Gao, e a terceira ia de Trípoli às minas de sal de Bilma e de lá seguia até o antigo Império Bornu. Ambas levavam sal e cobre. O sal era muito importante, pois era usado para cozinhar e também para conservar a carne nesse clima quente. Existiam ainda rotas secundárias, que atravessavam as principais. Havia, por exemplo, uma trilha de caravanas que ia desde o Cairo, a leste, até Gao, a oeste. O crescimento de Kangaba Mali começou como um pequeno Estado chamado Kangaba. Em 1235, um grande guerreiro chamado Sundiata tornou-se soberano e fundou o Império de Mali. A primeira coisa que fez foi construir uma nova capital em Niani, onde todos os seus súditos poderiam encontrá-lo. Sundiata enviou seus exércitos para conquistar áreas no sul, onde havia minas de ouro, e em Taghaza, no norte, onde havia sal. Ele acabou controlando todo o comércio transaariano nessa área e os berberes acorreram a Niani para comerciar. A Terra do Ouro Gana foi o primeiro grande império da África Ocidental. Começou como um pequeno Estado, por volta de 300 d.C., e durou quase mil anos. A capital de Gana, Kumbi Saleh, tinha uma população de cerca de 15 mil pessoas. A cidade se dividia em duas áreas. O rei vivia numa parte, num palácio feito de pedra e decorado com pinturas e entalhes. Seus súditos também viviam nessa área, mas em casas feitas de barro. Na outra área da cidade viviam os muçulmanos que participavam do comércio transaariano. Ali construíram casas e mesquitas de pedra. Os habitantes de Gana eram agricultores. Adoravam muitos deuses e acreditavam que as pessoas continuavam a viver em forma de espírito depois de mortas. Quando um rei de Gana morria, o povo construía uma cabana especial para ele. Colocavam tapetes confortáveis no chão para que ele se deitasse, água, comida e também os servos do rei. A cabana era então coberta de areia e os servos eram enterrados vivos. O Império de Gana enriqueceu porque ficava no extremo sul da rota comercial transaariana. Muitos viajantes africanos visitavam esse reino, que ficou conhecido como a Terra do Ouro. A peregrinação de Mansa Musa Depois da morte de Sundiata, Mali continuou a ser um reino poderoso. Muitos bons governantes seguiram-se a Sundiata e ampliaram o território do reino. O grande governante seguinte foi Mansa Kankan Musa, que subiu ao poder em 1312. Ele aumentou o poder de Mali ao conquistar as prósperas cidades de Timbuktu e Gao. Mansa Kankan Musa fez sua famosa peregrinação a Meca de 1324 a 1326. Meca é uma cidade sagrada da Arábia, que cada praticante da fé muçulmana (veja quadro) deve visitar pelo menos uma vez na vida. A peregrinação de Mansa Musa tornou o reino de Mali conhecido em todo o mundo mediterrâneo. Em sua viagem pelo deserto, ele levou sessenta mil servos, cem camelos e ouro no valor de três milhões de libras. No caminho, distribuiu muito dinheiro de presente. Onde quer que sua caravana parasse numa sexta-feira, que é o dia sagrado dos muçulmanos, Mansa doava dinheiro aos habitantes locais para construírem uma mesquita. As mesquitas são como igrejas da fé muçulmana. Os muçulmanos vão à mesquita para orar ao seu Deus, Alá. Mansa Musa era tão generoso que acabou precisando pedir dinheiro emprestado de um comerciante egípcio para conseguir voltar para casa. Timbuktu, o centro islâmico Quando voltou do Egito para Mali, Mansa Musa trouxe consigo arquitetos e sábios. Pediu aos arquitetos que construíssem escolas islâmicas em Timbuktu e incentivou estudiosos muçulmanos de outros países a viver nessa cidade. No final de seu reino, em 1337, Timbuktu havia se tornado um famoso centro de estudos islâmicos. O nascimento do islã Em 622 d.C., o profeta Maomé fundou uma nova religião na Arábia, o islã ou islamismo. Os que seguem essa religião se chamam muçulmanos e acreditam em um só Deus, a quem dão o nome de Alá. Os primeiros muçulmanos queriam converter os povos de outras crenças. Depois da morte do profeta Maomé, em 632, seus seguidores começaram a guerrear contra os povos que viviam em outros países. Conquistaram o Egito em 639 e a maior parte da África do Norte no século VIII. Os muçulmanos seguem um livro sagrado chamado Corão, que contém passagens que ensinam como viver corretamente. Os muçulmanos devem orar cinco vezes por dia, dar esmolas ou alimentos aos pobres, jejuar durante o ramadã e fazer uma peregrinação a Meca pelo menos uma vez na vida. Há mais de um bilhão de muçulmanos no mundo, dos quais 150 milhões vivem na África. Rumo ao Oriente Enquanto alguns povos iam formando impérios no Ocidente, outros migravam para diferentes partes da África. Esses povos falavam várias línguas chamadas banto e sua migração começou há mais de quatro mil anos. Os bantos mudaram-se para as florestas da África Central e prosseguiram até alcançar a costa oriental africana, por volta de 400 d.C. Através do oceano Índico Os africanos de língua banto que se estabeleceram no litoral eram camponeses que plantavam alimentos e criavam animais. Com o tempo começaram também a comerciar com a Arábia, a Pérsia e a Índia, através do oceano Índico. É que os comerciantes desses países aprenderam a navegar utilizando os ventos chamados monções, que sopram da Índia em direção à África Oriental entre novembro e março. Assim, traziam da China e da Índia mercadorias como seda, louça e contas para vender nos portos da África Oriental. Os africanos, por sua vez, vendiam-lhes marfim e ouro, que compravam dos povos do interior. Quando as monções sopravam em direção ao Oriente, entre abril e outubro, os comerciantes estrangeiros voltavam para seus países em seus dhows. A chegada dos árabes Durante o século X, os comerciantes árabes começaram a se estabelecer na costa da África Oriental. Aprenderam as línguas locais e se tornaram intermediários, comprando mercadorias dos africanos no interior e vendendo -as aos comerciantes que vinham por mar. Um século depois, as guerras na Pérsia e na Arábia forçaram muitos árabes a se mudarem de seus países. Alguns deles acabaram ocupando o litoral da África Oriental e também passaram a participar do comércio. Esses árabes casaram-se com mulheres africanas locais, e ao longo do tempo desenvolveu-se uma nova língua, chamada suaíli, basicamente uma língua banto com muitas palavras árabes. É falada ainda hoje em toda a África Oriental e é a língua oficial da Tanzânia e do Quênia. Os primeiros livros Há mais de dois mil anos, um comerciante grego escreveu um guia para os marinheiros chamado Periplus Mahs Erythraei (Viagem pelo oceano indico). Nele descrevia os portos da costa oriental da África e o comércio que se realizava entre os africanos e os estrangeiros. O livro fala também de um rico porto do sul chamado Rhapta, onde havia muito marfim e cascas de tartaruga. Os arqueólogos até hoje não descobriram esse local, mas crêem que talvez fique na atual Tanzânia. No século V a.C. surgiu um livro que descrevia os portos comerciais da África Oriental. Foi escrito por Ptolomeu, um geógrafo e astrônomo egípcio, e se chamava Geografia. Depois do livro de Ptolomeu não se escreveu muito sobre a costa oriental, até que os geógrafos árabes começaram a visitá-la, mais de quatrocentos anos depois As povoações crescem Muitos imigrantes árabes se estabeleceram no porto de Mogadíscio, que se tornou um importante centro comercial no oceano Índico. Entretanto, à medida que crescia na China e na Índia a demanda pelo marfim africano (presas de elefante), mais e mais árabes deixavam a Pérsia e Omã, passando a colonizar o litoral da África Oriental. Por fim, no século XII, muitos mercadores suaílis que viviam no norte mudaram-se para o sul e estabeleceram novas cidades comerciais. Delas a mais importante e rica era Kilwa, que controlava o comércio do oceano Índico no sul da África. A maioria das casas dessa cidade eram feitas de coral, e havia um enorme palácio que ocupava quase um hectare. Os muçulmanos de Kilwa construíram belas mesquitas de pedra e fabricavam suas próprias moedas de prata e cobre. O poder de Kilwa durou até o século XV quando as brigas entre várias famílias governantes levaram ao declínio da cidade. A Grande Zimbábue Enquanto os árabes ocupavam Kilwa, na costa oriental, outra cidade banto ia sendo construída mais para o interior, no sudeste da África. Chamava-se Grande Zimbábue e foi importante para o comércio no oceano Índico porque por ela passava a maior parte do ouro e do marfim vendidos pelos mercadores árabes em Sofala, um porto no litoral. Muralhas de pedra Os povos de língua banto começaram a se estabelecer em torno do planalto do Zimbábue há cerca de 1,5 mil anos. Os primeiros colonizadores viviam no alto de uma colina e eram agricultores e criadores de gado. No século XIII o povo banto decidiu construir uma maciça muralha de pedra rodeando s aldeia. A muralha era feita de granito, uma pedra local que às vezes racha de noite após um dia de muito sol. Um século depois, o governante mudou-se da colina para o vale e fundou a Grande Zimbábue. Consistia em uma casa para o governante e, em torno dela, muitas cabanas para os membros da família real. Todas as casa eram feitas de barro espesso e cobertas de desenhos. Cada casa tinha em volta sua própria muralha de pedra. Havia também pátios e áreas para cozinhar. Logo depois de 1300 foi construída uma grande muralha de dez metros de altura para proteger toda a área. Povos do vale Cerca de dez mil pessoas viviam fora das muralhas de pedra da Grande Zimbábue e todos tinham diferentes profissões. Alguns eram pastores que conduziam gado de uma pastagem para a outra. Outros eram artesãos que faziam jóias de ouro e cobre. Os escultores entalhavam madeira e pedra, e o algodão que crescia no local dava aos tecelões a matéria-prima para belos tecidos. Mas as pessoas mais importantes eram os comerciantes, que levavam ouro e marfim para a costa oriental. A Grande Zimbábue não tinha metais próprios, de modo que o cobre era obtido das minas no norte e o ouro, dos povos que viviam ao sul. Foi esse comércio que tornou a Grande Zimbábue um dos reinos mais poderosos da África no século XIV. Fim do reino As muralhas de pedra da Grande Zimbábue eram um símbolo do poder e da riqueza e também davam privacidade ao povo. Contudo, inexplicavelmente, em meados do século XV, a Grande Zimbábue foi de uma hora para outra incendiada e abandonada. As muralhas de pedra, porém, foram tão bem-construídas que sobrevivem até hoje, como lembrança da antiga potência da Grande Zimbábue. VISITANTES E COMERCIANTES O viajante do Islã Mesmo antes de a Grande Zimbábue ser misteriosamente abandonada, um homem extraordinário abriu caminho pela África, Ásia e Oriente Médio. Seu nome era Ibn Battuta, o maior viajante árabe do seu tempo. Ibn Battuta nasceu no Marrocos e começou sua viagem com apenas 21 anos de idade, em 1325. Quando por fim voltou ao seu país, 29 anos depois, já percorrera mais de 180 mil quilômetros, o que lhe valeu o título de "Viajante do Islã". Antes de visitar a África Ocidental, Ibn Battuta viajou pela Ásia durante 23 anos. Sua intenção inicial era apenas visitar a cidade sagrada de Meca. Contudo, certa noite sonhou que um passarinho o levava a uma terra escura e verdejante — Oriente — e assim começaram suas aventuras. Através do Saara Ibn Battuta voltou ao Marrocos em 1348 e partiu de novo em 1349 para visitar a Espanha e o famoso Império de Mali. Levando alimentos para quatro meses, atravessou o vasto deserto do Saara juntamente com alguns mercadores do norte da África que estavam viajando para o sul. O grupo levou apenas dois meses para chegar a Walata, a cidade mais ao norte de Mali. Como Ibn Battuta estava muito cansado, ficou ali durante cinqüenta dias descansando e comendo um prato local, painço moído misturado com mel e leite. Rumo a Niani A meta seguinte de Ibn Battuta era chegar até Niani, capital do Mali. Dessa vez viajou com um guia e três companheiros. Infelizmente, quando por fim chegou à capital, em junho de 1352, caiu doente e ficou de cama dois meses. Quando se recuperou encontrou o rei Mansa Suleyman, porém ficou muito desapontado com os presentes que ganhou dele. Ibn Battuta ouvira histórias sobre os antigos reis de Mali e sua famosa generosidade com o ouro. Em comparação com tudo isso, o pão e a carne que Suleyman lhe mandou pareceram-lhe muito pobres. De volta ao Marrocos Em 27 de fevereiro de 1353, Ibn Battuta deixou Niani. Passou por Timbuktu, navegou pelo rio Níger e viu pela primeira vez um hipopótamo. Depois de descansar durante um mês em Gao, uma próspera cidade às margens do Níger, atravessou o deserto com uma grande caravana de mercadores. Passou alguns dias na cidade de Tagada, onde o sultão local enviava diariamente a ele e a seu grupo dois carneiros assados para comer. Em 11 de setembro Ibn Battuta partiu novamente. Finalmente retornou a Fez, no Marrocos, em fevereiro de 1354. Escrevendo as Viagens As viagens de Ibn Battuta não foram em vão. Depois de voltar a Fez, passou os dois anos seguintes escrevendo seu livro Rihla (Viagens). Colaborou com ele um poeta chamado Ibn Juzayy, que tomava nota de todas as suas recordações. Depois de terminar o livro, Ibn Battuta passou o resto de sua vida trabalhando como juiz. Morreu em 1369, aos 64 anos de idade. Viajantes e escritores Ibn Battuta não foi o único árabe a viajar pela África. Por volta de 922 d.C., Al-Masudi percorreu de navio a costa oriental da África. Escreveu sobre o comércio entre os povos da costa oriental, a Índia e a China. O escritor e geógrafo árabe Al-Idrisi nasceu no norte da África em 1100 e quando jovem viajou e escreveu sobre o rico Império de Gana. Outro viajante, Mahmud Kati, nasceu em Timbuktu em 1468. Ele acompanhou o rei de Mali até Meca e depois escreveu contando suas experiências. Nem todos os escritores árabes realmente viajaram para a África. Al-Bakri, por exemplo, embora tenha escrito sobre a África Ocidental, nunca saiu de sua cidade natal na Espanha; ele reunia histórias dos mercadores muçulmanos que haviam estado na África. Às vezes os escritores exageravam em seus relatos. O livro de Al-Hamadhani, que apareceu no século XI, dizia que Gana era "uma terra onde o ouro cresce como uma planta na areia, assim como as cenouras, e é colhido ao pôr-do-sol". Chegam os europeus Mais de cem anos depois da morte de Ibn Battuta, os portugueses chegaram à costa da África Ocidental, no oceano Atlântico. Construíram fortes ao longo do litoral e passaram a comerciar, trocando armas, tecidos e utensílios de metal por ouro, marfim e pimenta. O italiano Cristóvão Colombo partiu da Espanha e, sem saber, chegou às Índias Ocidentais em 1492. Oito anos mais tarde, o capitão português Pedro Álvares Cabral aportou no Brasil. O tráfico de escravos As Américas estavam cheias de ouro e prata e a terra era ideal para as plantações, principalmente de cana-deaçúcar. Muitos colonizadores europeus mudaram-se para a América do Norte, Central e do Sul a fim de minerar e explorar o açúcar. Obrigavam os indígenas a fazer todo o trabalho de mineração e agricultura e quase noventa por cento deles morreram de doenças e maus-tratos. Os criminosos europeus que eram enviados para trabalhar na terra também não tinham melhor sorte e logo morriam como moscas de uma série de doenças tropicais. Para resolver esse problema, os colonizadores começaram a transportar escravos negros da África Ocidental para trabalhar na terra. A expansão do tráfico Enquanto prosseguia o tráfico de escravos, as povoações espanholas e portuguesas se espalharam por toda a América Central e do Sul. Outras nações européias perceberam que havia um grande lucro no tráfico de escravos e logo fizeram o mesmo. Os ingleses estabeleceram postos comerciais ao longo da costa ocidental africana em 1553 e os holandeses, em 1593. No século XVII, o transporte de africanos alcançou o espantoso número de 1,8 milhão. Eles eram levados contra a sua vontade, sendo capturados durante expedições de caça a escravos ou depois de guerras entre reinos africanos. Acorrentados uns aos outros como gado, eram levados até o litoral e vendidos aos mercadores de escravos. Sua longa e terrível experiência estava apenas começando. Os resultados do tráfico Mais de 12 milhões de africanos foram capturados e levados para as Américas durante os quatrocentos anos do tráfico de escravos (de 1490 a 1880, aproximadamente). Os comerciantes europeus e os donos de plantações participavam desse tráfico com grande lucro. Com o trabalho dos escravos, os fazendeiros cultivavam algodão, tabaco e cana-de-açúcar em vastas plantações nas terras americanas e viviam em esplêndidas mansões. Os mercadores de escravos tiravam enormes lucros em cada viagem e ainda vendiam armas de fogo aos africanos que permaneciam na África, usadas em suas guerras locais. No entanto, as mercadorias importadas pelos africanos não compensavam a população perdida, pois eram levados os elementos mais importantes — os jovens. O triângulo do tráfico O tráfico de escravos através do oceano Atlântico era chamado de comércio triangular devido à maneira como era organizado. Os mercadores partiam de portos europeus em navios muito bem-equipados. Além de mercadorias para comerciar, traziam correntes de ferro para acorrentar os escravos, tigelas para a comida e chicotes. Os mercadores procuravam carregar o maior número possível de africanos nos navios, e alguns eram obrigados a deitar por cima dos outros. A travessia do Atlântico era chamada passagem do meio. Levava de três a seis semanas e era uma viagem terrível. Os africanos morriam aos milhares, devido às péssimas condições. Amontoados como sardinhas em lata no porão do navio, qualquer doença que surgisse se espalhava rapidamente. Quando o navio finalmente chegava às Américas, os africanos eram vendidos como escravos aos ricos donos das plantações. Os mercadores então voltavam para a Europa com os navios cheios de ouro, prata, açúcar, fumo, arroz, algodão e gengibre. A razão pela qual o tráfico de escravos perdurou por tanto tempo foram os lucros altíssimos que proporcionava. Por exemplo, um determinado mercador de Liverpool, na Inglaterra, teve um lucro de mais de dois milhões de libras em apenas quatro anos. DO SÉCULO XVI AO SÉCULO XIX Os reinos da costa da Guiné Com a chegada de comerciantes europeus ao litoral, muitos reinos africanos se tornaram ricos e poderosos. Compravam armas de fogo dos europeus e guerreavam uns contra os outros para tentar ampliar seus impérios. Os reinos de Oyo e de Benin (séculos XV a XVIII) são famosos por suas obras de arte em bronze. Mais para o oeste, o povo akan formou diversos reinos, dos quais o mais famoso era chamado Ashanti. O Império Ashanti durou mais de 150 anos, e em seu apogeu viviam nele cinco milhões de pessoas. Os primórdios do Império Ashanti O povo akan vivia inicialmente no Sudão Ocidental. Mais tarde, mil anos atrás, migrou para o sul e estabeleceu-se perto dos rios Pra e Ofin. Quando a área tornou-se muito povoada, uma família chamada Oyoko mudou-se para o norte e fundou na região uma pequena cidade. Com o passar do tempo o povo akan construiu mais cidades, e cada uma começou a ter seu próprio chefe. Uma dessas novas cidades se chamava Kumasi. Quando Osei Tutu tornou-se rei de Kumasi, em 1680, ele unificou todas essas cidades e chamou seu novo império de Ashanti. Comprando ouro e fazendo arte Osei Tutu fez de Kumasi a capital de seu império. Era uma cidade grande e importante e nela viviam muitos estudiosos muçulmanos e diplomatas de outras partes da África. Os comerciantes vinham das cidades do norte da África como Timbuktu e Kano para comprar ouro e noz-de-cola em Kumasi. Os ashantis também compravam mercadorias dos comerciantes ao longo do litoral. Seu império tornou-se muito rico e até desenvolveu um sistema próprio de pesos para medir o pó de ouro. Os artesãos ashantis tornaram-se famosos por suas belas esculturas e entalhes em ouro, prata e madeira. Os grandes reis Osei Tutu governou Ashanti até 1717, quando seu sobrinho-neto, Opoku Ware, tornou-se rei. Opoku Ware era um guerreiro e nos trinta anos de seu reinado tornou o Império Ashanti ainda maior. Os dois grandes líderes ashantis que o sucederam tinham um enorme império para governar. Organizaram um sólido sistema, com muitos funcionários, para recolher impostos em toda a região. No final do século XIX, porém, o império começou a enfraquecer. Envolveu-se em muitas guerras com povos do litoral e também travou nove batalhas contra os britânicos, entre 1807 e 1901. No final dessas batalhas, os britânicos ganharam o controle do Império Ashanti. A cadeira de ouro Quando Osei Tutu tornou-se rei de Kumasi, foi aconselhado por seu amigo Okomfo Anokye, que introduziu a cadeira de ouro na vida dos ashantis. A cadeira, feita de madeira e recoberta de ouro, deveria unir todos os povos do império sob um único símbolo, como uma bandeira. As pessoas acreditavam que essa cadeira havia caído do céu e que representava a alma do povo ashanti. Um guerreiro religioso No século XIX, os estudiosos muçulmanos da África Ocidental começaram a fazer guerras santas, as chamadas jihads. O maior líder dessas guerras foi Usman dan Fodio. Quando jovem, Usman estudou o islã e começou a pregar a nova religião ao povo fulani em sua terra natal, Gobir. Ele conquistou tantos seguidores que o rei de Gobir mandou matá-lo, porém Usman e seus seguidores escaparam para Gudu, em fevereiro de 1804. Em Gudu, Usman foi nomeado Líder dos Crentes, ou seja, chefe de todos os povos que acreditavam no islã. Lançou guerras contra os pagãos e em seis anos conquistou sua antiga terra natal. Unificou então todas as suas conquistas num grande império e o dividiu entre seu irmão e seu filho. Passados esses tempos de guerra, Usman retirou-se para dedicar sua vida ao estudo e à oração. O poderoso Rozvi Enquanto britânicos e africanos se ocupavam com seu comércio e suas lutas na costa ocidental, os portugueses navegaram em torno do extremo sul da África, até a costa oriental. Na década de 1530, enviaram um grupo de homens para subir o rio Zambeze e descobrir de onde vinha o ouro vendido pelos suaílis. Acabaram estabelecendo ligações comerciais com o grande Império Monomotapa, do interior do continente, responsável por boa parte do comércio. No século XVII muitos outros portugueses chegaram a essa área, tomando grandes regiões e derrubando o Império Monomotapa. Dombo, o Grande Os portugueses foram impedidos de continuar penetrando o interior por um homem chamado Dombo, um rico proprietário de gado que estabeleceu seu próprio reino no sudoeste do Zimbábue, no chamado Império Rozvi. Entre 1684 e 1696, Dombo e seu exército lutaram contra os portugueses e acabaram por expulsá-los completamente do planalto do Zimbábue. Depois da morte de Dombo, em 1696, o Império Rozvi continuou sua expansão. O crescimento do império O povo rozvi construiu uma nova capital em Khami. Seu rei assumiu o título de mambo e governou um vasto império, com a ajuda de chefes e autoridades locais. Essas autoridades se encarregavam de recolher impostos nas diferentes regiões – ouro, marfim, gado e peles de animais – e levá-los para o rei, ou mambo. O mambo tinha muitas esposas e algumas delas o ajudavam a governar. Os habitantes de Rozvi eram comerciantes, pastores e fazendeiros. Cultivavam alimentos como feijão, abóbora e melancia e usavam o gado para arar a terra. Comerciantes percorriam o império vendendo tecidos, marfim e contas e comprando jóias e canhões dos portugueses. Mágica e religião O povo rozvi acreditava em um deus, a quem chamavam de Mwari. Construíram para ele um santuário, um lugar especial onde as pessoas iam cultuá-lo. Os sacerdotes cuidavam dos santuários e eram os únicos que tinham permissão de falar diretamente com Mwari. O povo rozvi acreditava também que seu rei tinha poderes mágicos. Alguns diziam que ele tinha um jarro de óleo capaz de matar qualquer pessoa viva. Muitos acreditavam que o mambo era capaz de fazer chover, mudar a cor dos animais e mandar abelhas lutarem por ele. O fim do império O Império Rozvi chegou ao fim na década de 1830, vítima de uma invasão de povos guerreiros do sul da África, os nguni. Essas guerras se espalharam por toda a África Central e do Sul e duraram mais de 15 anos. São conhecidas como o Mfecane, ou época da aniquilação. Dentro da África Oriental Mais para o norte, os reinos em torno dos lagos da África Oriental escaparam aos efeitos devastadores das guerras do Mfecane. Entretanto, envolveram-se em suas próprias guerras, atacando povos vizinhos e tomando sua terra e seu gado. Os dois reinos mais poderosos eram Bunioro, que ficava às margens do lago Alberto, e Buganda, no lago Vitória. Shaka, o guerreiro zulu Shaka era um filho ilegítimo do chefe zulu. Quando jovem, entrou no exército de um chefe vizinho. Demonstrou ser um soldado tão valente que foi nomeado comandante do seu regimento. Depois da morte de seu pai, em 1816, Shaka passou a chefiar a terra dos zulus. Shaka ampliou a Zululândia, conquistando muitas terras vizinhas. Introduziu novos métodos de luta em seu exército e organizou-o em 15 regimentos, cada qual com nome e equipamentos próprios. Sempre que seu exército conquistava uma nova terra, os soldados traziam de volta para Zululândia todas as mulheres, crianças, rapazes e as cabeças de gado. Shaka então alistava todos os jovens em seus regimentos. Cada regimento devia portar escudos de uma determinada cor e usar um ornamento especial na cabeça. Shaka chegou a enviar alguns membros da família real para viver nos acampamentos militares. Morreu em 1828, com 41 anos de idade. Foi assassinado pelos seus irmãos, um dos quais se tornou o novo rei zulu. Um reino em expansão Bunioro foi o primeiro reino a tornar-se importante nessa região. A principal ocupação dos seus habitantes era a criação de gado, mas também produziam sal, que vendiam aos povos vizinhos. Bunioro era dividido em várias aldeias, e cada uma delas enviava homens para o exército real. Durante os séculos XVI e XVII, o exército fez muitos ataques contra povos vizinhos, tomando seu gado e sua terra e obrigando-os a pagar impostos ao rei. Um vizinho rival Até meados do século XVIII, Bunioro foi o reino mais poderoso da região dos lagos. Entretanto, no século XIX, começou o predomínio de um reino que ficava mais para leste. Chamava-se Buganda e mais de meio milhão de gandas ali viviam. Buganda ficava nas margens do lago Vitória, onde a terra é muito fértil. Seus habitantes cultivavam alimentos, como bananas e plátanos (frutas tropicais semelhantes à banana). As bananas são muito fáceis de cultivar, e qualquer tipo de vegetal apodrecido era usado como fertilizante. O povo ganda também caçava búfalos, antílopes e porcos selvagens. Comerciavam em feiras e mercados fixos, onde vendiam seu artesanato e produtos agrícolas em troca de outras mercadorias. O rei, chamado kabaka, dividiu Buganda em várias áreas e para cada uma nomeou um governante. Esses chefes eram responsáveis pela coleta de alimentos, cerveja e lenha, que eram levadas como impostos para o palácio real. Buganda também tinha ligações comerciais com mercadores árabes na costa oriental e deles comprava armas de fogo, munições, tecidos de algodão, contas e produtos de vidro. Religiões ganda Os gandas acreditavam que certos indivíduos do reino tinham poderes sobrenaturais. Eram chamados de balubaale, e depois que morriam as pessoas rezavam para seu espírito, pedindo diferentes coisas. Um balubaale encarregava-se de trazer a chuva, outro ajudava os caçadores a encontrarem os animais. Havia também muitos curandeiros que davam remédios e ervas aos doentes. Os nômades masai Os masai são um povo que migra com seu gado em busca de pastagens. Hoje eles vivem na Tanzânia e no Quênia. No século XVI eram um grupo pequeno, mas no século XIX sua população já havia aumentado muito. Os homens se encarregavam de conduzir o gado, e as mulheres tiravam leite das vacas. Acreditavam num deus supremo chamado Enkai. Seu chefe religioso rezava para ele pedindo chuva e fazia talismãs para proteger os soldados na guerra. Os chwezi No século XIV, os povos bantos que viviam em torno dos lagos da África Oriental viram a chegada de um povo chamado chwezi. Os chwezi vinham do norte da África e eram pastores de gado. Antes da sua chegada, os bantos viviam em grupos familiares separados, cada um com seu próprio chefe. Os chwezi introduziram a idéia de um único governante, ou rei, e incentivaram o povo a plantar café. Construíam longas valas, chamadas oriembo, que usavam para proteger seu gado. Governaram uma grande área e seu reino durou duzentos anos. OS TEMPOS MUDAM Do tráfico de escravos Enquanto reinos viviam seu apogeu e declínio na África Oriental, na Inglaterra crescia um novo movimento para acabar com o tráfico de escravos. Havia muitas razões para isso. A Revolução Industrial havia começado na segunda metade do século XVIII. Os industriais queriam novos mercados e matérias-primas para suas fábricas. Muitos donos de fábricas perceberam que seria melhor se os africanos ficassem nos seus próprios países para produzir matérias-primas e comprar produtos fabricados na Europa. Lutando pela liberdade Havia vários outros grupos que queriam o fim do tráfico de escravos. Na Europa e nas Américas os humanitários faziam campanha contra a escravidão. Reuniam relatos dos sofrimentos dos africanos e os publicavam em livros e jornais. Religiosos chamados evangelistas e escritores como o filósofo francês Jean-Jacques Rousseau também eram contra o tráfico. Na Inglaterra a luta contra o tráfico de escravos foi liderada por William Wilberforce. Muitos africanos que haviam conquistado a liberdade uniram-se a essa luta, fazendo discursos sobre os horrores que haviam sofrido nas mãos de seus donos. Um líder abolicionista Olaudah Equiano nasceu na África Ocidental em 1745. Com apenas nove anos de idade foi capturado por caçadores de escravos e vendido aos europeus no litoral. Foi levado num navio negreiro e atravessou o Atlântico. Ao chegar a Barbados, Equiano foi comprado por um capitão naval inglês. Finalmente, aos 21 anos de idade, Equiano conseguiu comprar sua carta de liberdade e começou a viajar sozinho. Entre 1772 e 1780 visitou o Ártico, o Mediterrâneo e a América Central. Na década de 1780 entrou no movimento abolicionista em Londres. Em 1789, publicou um livro chamado A vida de Olaudah Equiano, que descrevia sua infância na África e os horrores do tráfico de escravos. O livro tornou-se muito popular na Inglaterra e na América e foi traduzido para o alemão, o holandês e o russo. Depois do sucesso de seu livro, Equiano passou a viajar por toda a Inglaterra, discursando contra a escravidão e vendendo o livro. Morreu nesse país em 31 de março de 1797. As cartas dos reis Os reis africanos que eram contra o tráfico de escravos faziam o possível para pôr um fim nele. Alguns escreviam cartas aos governos de países europeus. Já em 1526, o governante do reino do Congo mandou uma carta ao rei português pedindo-lhe que proibisse o tráfico de escravos. Em 1724 o rei Agaja da África Ocidental enviou uma carta semelhante ao governo britânico. Os governos europeus, porém, não tomavam conhecimento e o tráfico de escravos prosseguia. Colônias em guerras Os africanos que continuavam trabalhando nas plantações também lutavam pela sua liberdade. No Brasil, alguns escravos africanos escaparam de uma fazenda e em 1605 fundaram uma república própria. Chamou-se Quilombo dos Palmares e sobreviveu durante sessenta e cinco anos, até ser finalmente derrotada pelos portugueses. Em 1791, na colônia francesa de São Domingos, quatrocentos mil africanos revoltaram-se contra os donos das plantações. Conseguiram derrotar grandes exércitos franceses e britânicos e em 1803 fundaram a República independente do Haiti. Finalmente, em 1807, o governo britânico aprovou uma lei tornando ilegal o tráfico de escravos. Entretanto, mais de cinqüenta anos se passaram até que o tráfico parasse por completo. Muitos donos de plantações na América do Norte continuaram a comprar escravos até 1865, e na Argentina e no Brasil o tráfico só parou em 1883. Os exploradores Embora o tráfico de escravos tenha prosperado por mais de quatrocentos anos, os europeus sabiam muito pouco sobre a África. Conheciam o litoral, onde seus mercadores comerciavam com os africanos, mas não sabiam quase nada sobre o interior do continente. Os industriais europeus queriam conhecer a geografia da África e os povos que lá viviam, para fundar entrepostos comerciais no interior do continente. Assim, no final do século XVIII, exploradores europeus começaram a aventurar-se no coração da África. Eram enviados por comerciantes, igrejas cristãs, sociedades geográficas e pelos próprios governos. Alguns exploradores interessados na geografia, na fauna e na flora africana usavam seu próprio dinheiro para financiar suas viagens. POR QUE EXPLORAR A ÁFRICA? Mapeando o continente No início do século XIX, a maioria das montanhas, rios e lagos do mundo já eram conhecidas pelos europeus. Mas um continente permanecia um mistério: a África. Entre 1788 e 1877 havia pelo menos uma expedição européia viajando pela África todos os anos. Algumas buscavam as nascentes dos rios principais, outras procuravam cidades famosas como Timbuktu, outras ainda desejavam escalar as montanhas. Alguns exploradores até viajavam com caravanas árabes pelo deserto, disfarçando-se de muçulmanos para escapar dos ataques. Comércio e cristianismo Missionários como o Dr. David Livingstone queriam encontrar as principais rotas fluviais africanas para que os europeus pudessem viajar pelos rios no coração do continente, o que facilitaria o comércio. Livingstone acreditava que o cristianismo seria levado para o interior da África pelos mercadores europeus e que, como resultado, o tráfico de escravos iria terminar. No entanto, isso raramente acontecia. Muitos comerciantes europeus tratavam os africanos de maneira cruel e injusta, e muitos anos se passaram até que o tráfico de escravos terminasse. As minas da África A África é uma terra de grandes belezas naturais e que contém muitos matérias-primas úteis, como minerais, ouro, borracha e óleo de palmeira. Como os europeus desejavam usar esses materiais em suas indústrias, iam buscá-los na África. Fama e fortuna Muitos europeus queriam explorar a África por uma série de outros motivos. Alguns queriam escrever livros sobre suas viagens e ficar famosos, como até hoje acontece. Outros queriam ver os belos e surpreendentes animais nativos, como o elefante, o leão e a girafa. Muitos iam examinar as curiosas plantas, insetos e flores da África e levá-los para a Europa, onde não existe nada parecido. OS EUROPEUS RUMO AO INTERIOR Em busca do Nilo James Bruce, nascido em 1730, foi o primeiro explorador moderno a visitar a Etiópia. Quando jovem seu pai queria que ele fosse advogado, mas Bruce detestava essa profissão e logo desistiu dos estudos de Direito. Trabalhou algum tempo em Londres no comércio de vinhos e em 1761 tornou-se cônsul britânico na Argélia. Achou esse país muito perigoso e logo desistiu do cargo. Passou então algum tempo viajando pela África do Norte e pela Síria, visitando edifícios históricos e tomando notas sobre sua arquitetura. Mas Bruce tinha uma grande ambição: viajar até a Etiópia, onde esperava encontrar a nascente do Nilo. Na Etiópia Bruce chegou a Massawa, um porto da Etiópia, em 19 de setembro de 1769. Infelizmente o governante muçulmano local não foi nada amigável e até ameaçou jogá-lo na prisão. Depois de dois meses de espera, Bruce recebeu um guia e dois carregadores para ajudá-lo em sua viagem até Gondar. O grupo escalou o íngreme monte Taranta e à noite não podia dormir porque havia leões e hienas rondando o acampamento. Bruce passou algum tempo com a família real em Gondar. Conheceu pessoas importantes e foi convidado para as festas de casamento. Entretanto, ansiava por continuar sua viagem e, quando o exército do rei partiu para lutar contra um chefe rebelde, acompanhou os soldados até as cataratas de Tisiat, que ele descreveu como "a cena mais magnífica que já vi até hoje". Voltando a Gondar, Bruce passou mais algum tempo com a família real e por fim partiu para o Nilo, em outubro de 1770. Rumo ao Nilo Bruce visitou primeiro o governador provincial do sul, para pedir-lhe proteção. O governador lhe deu um guia e um cavalo e desejou boa viagem. O grupo seguiu para o sul, passando por belas acácias e pássaros de cores esplêndidas. Ao chegar ao lago Tana, onde se inicia o Nilo Azul, em 2 de novembro de 1770, Bruce ficou felicíssimo e até ergueu um brinde ao seu rei, George III. Mas infelizmente Bruce estava enganado. Ele não sabia que a verdadeira nascente do Nilo fica muitos quilômetros mais para o sul, próximo ao lago Vitória. O Nilo Azul é um afluente que deságua no rio principal, o Nilo Branco. Bruce passou cinco dias tirando medidas do rio e tomando notas sobre as plantas e animais da região. Quando terminou, voltou para Gondar. Voltando pelo deserto Em 26 de dezembro de 1771, Bruce começou sua longa viagem de volta à Europa. Foi perseguido por um elefante e quase morreu de disenteria. Atravessar o deserto da Núbia foi uma prova duríssima, pois Bruce estava fraco e cansado. Seus pés sangravam e seu rosto estava tão inchado que ele mal conseguia abrir os olhos. Finalmente chegou a Londres, em 21 de junho de 1774. Sua viagem tinha levado três anos. Ao voltar para a Inglaterra, Bruce elogiou tanto a cidade de Gondar que ninguém acreditou em suas histórias. Ele então escreveu um livro, Viagens em busca das nascentes do Nilo, tentando convencer as pessoas de sua incrível aventura. O livro foi publicado em 1790. A nascente do Nilo Foi John Hanning Speke quem descobriu a verdadeira nascente do Nilo. Speke nasceu na Inglaterra em 1827 e foi oficial do exército britânico na Índia. Em 1856, Speke e Richard Burton foram enviados à África pela Royal Geographical Society da Inglaterra com a missão de explorar a África Oriental e encontrar a verdadeira nascente do Nilo. Viajando com 132 africanos e 36 mulas, a expedição rumou para o interior, saindo de Zanzibar, e chegou ao lago Tanganica em 13 de fevereiro de 1858. Speke então prosseguiu sozinho sua viagem para o norte, levando cerca de trinta ajudantes. Em 30 de julho chegou a um lago ao qual deu o nome da rainha britânica — lago Vitória. Speke acreditava que esse lago poderia ser a verdadeira nascente do Nilo e, em sua expedição final, em 1864, confirmou essa teoria. Muitas pessoas, porém, discordaram dele. O rio Niger Cinco anos depois que Bruce terminou de escrever as suas Viagens, outro escocês também partia, dessa vez pela África Ocidental, em busca do rio Níger. Seu nome era Mungo Park e foi enviado pela Associação Africana da Inglaterra para seguir o curso, ainda desconhecido, do rio Níger. Nas profundezas da África Ocidental Mungo Park partiu da Inglaterra em 27 de maio de 1795, aportando com seu navio trinta dias depois na margem norte do rio Gâmbia. Subiu então o rio até Pisania e lá ficou durante cinco meses com um mercador de escravos britânico a fim de aprender a língua local, o mandigo. Em 2 de dezembro partiu para o rio Níger com um intérprete, um criado e alguns cavalos. Nos primeiros dias de sua viagem, um rei local lhe deu um guia e algumas provisões, e na aldeia de Koojar os moradores o divertiram com suas danças. Mas quando recomeçou a viagem foi roubado duas vezes, perdendo todo o seu dinheiro e a maior parte das suas posses. No final, precisou pedir dinheiro emprestado a um comerciante africano. Em terras perigosas Park continuou sua viagem para o leste e chegou ao reino de Ludmar em 18 de fevereiro de 1796. O governante muçulmano desse reino, Ali, desconfiou que Park fosse um espião e mandou prendê-lo numa cabana durante três meses. Park foi obrigado então a viajar com Ali até as cidades de Bubaker e Jaraa, onde foi insultado e zombado pelo povo. Em 1° de julho conseguiu escapar para o deserto, montado num velho cavalo. Não tinha nenhum dinheiro, suas roupas estavam em farrapos e sentia uma sede enorme. Quando já estava perdendo as esperanças, chegou a uma aldeia fulani, onde uma velha senhora teve pena dele lhe deu de comer. O glorioso rio Park finalmente chegou à margem norte do rio Níger em 7 de julho de 1796. Como não conseguiu permissão para visitar Segou, uma cidade na margem sul, decidiu seguir viagem até Djenné. Park, porém, estava tão exausto que não conseguiu chegar à cidade. Resolveu então voltar à costa ocidental. Sua viagem de volta foi igualmente perigosa. Em muitas aldeias povo o expulsava, desconfiado de que ele fosse um espião cristão. Tinha muito pouca comida e durante três dias foi obrigado a comer milho cru. Muitas vezes foi atacado por ladrões e precisou escapar atravessando rios a nado. Finalmente, mais de um ano depois de ter chegado ao rio Níger, Park voltou à sua terra natal, a Inglaterra. A segunda viagem de Park Park escreveu um livro sobre suas viagens, publicado em 1799. Em janeiro de 1805, o governo britânico enviou-o de volta à África, para descobrir onde o Niger desembocava. Dessa vez a expedição incluía 43 europeus, porém quando chegaram ao Níger apenas quatro deles estavam vivos; todos os outros haviam morrido de febre. Park nunca conseguiu ver a foz do Níger. Ao descer o rio de canoa, foi vítima de uma emboscada e afogou-se. O curso do Níger, desde Timbuktu até o litoral, foi finalmente traçado por Richard e John Lander, que desceram o rio de barco em 1830. O mistério de Timbuktu Além de descobrir as nascentes e os cursos dos grandes rios, os europeus também queriam saber mais sobre as famosas cidades da África Ocidental, em especial Timbuktu. Em 27 de abril de 1816, com apenas 16 anos de idade, René Caillié deixou sua cidade natal na França para viajar até essa cidade. Os primeiros passos de René René chegou à costa da África Ocidental dez semanas depois.Tentou entrar numa expedição britânica e caminhou 480 quilômetros para encontrá-la em Gorée. Estava tão cansado quando chegou que um soldado francês o convenceu a ir para a colônia francesa de Guadalupe, nas Antilhas. René trabalhou lá durante algum tempo, sempre lendo sobre as aventuras de outros exploradores e ansiando por voltar à África. Em 1818, estava de volta à África Ocidental. Entrou em outra expedição, mas caiu doente em Bakel, voltou para o litoral e acabou retornando à França. Uma terceira tentativa Na França, René trabalhou para uma empresa de comércio de vinhos. Em 1824, logo depois de completar 24 anos, voltou a içar velas para a África Ocidental. Dessa vez decidiu que iria viajar sozinho, fingindo ser egípcio. Para isso, precisava em primeiro lugar pesquisar a religião muçulmana. Assim, viajou para o interior para viver com um grupo de muçulmanos e aprender o máximo possível sobre o islã. Timbuktu dá um sinal De volta a Saint-Louis, no Senegal, René trabalhou como gerente de uma fábrica de índigo. Economizou todo o seu dinheiro para comprar pequenos presentes, que depois poderia utilizar em sua viagem em troca de casa e comida. Por fim, em março de 1827, vestiu suas roupas árabes e partiu para Timbuktu. Cinco meses depois, ao chegar em Tiéme (a meio caminho de Timbuktu), ficou com escorbuto. Uma velha senhora da cidade cuidou dele e lhe deu para beber água de arroz duas vezes por dia. René recuperou-se lentamente e apenas em janeiro de 1828 ficou pronto para continuar sua jornada. Uniu-se a uma caravana que passava a caminho de Djenné. De lá seguiu de barco pelo rio Níger até Timbuktu, chegando a essa famosa cidade em 20 de abril de 1828. De volta à França René ficou decepcionado com Timbuktu. Não era tão rica e grandiosa como ele esperava, mas mesmo assim passou ali um mês, antes de voltar à França. Dessa vez, fez a viagem de volta com uma caravana de 1,4 mil camelos e quatrocentos mercadores árabes, atravessando o Saara. Durante toda a travessia René sonhava com água. Mas conseguiu levar a viagem até o fim e em setembro de 1828 alcançou o Marrocos. De lá seguiu para a França, onde chegou em outubro. Havia levado quase um ano para chegar em Timbuktu e fez a pé mais da metade dos 2,4 mil quilômetros de sua viagem. De volta a Paris, René foi homenageado pela Sociedade Geográfica de Paris e recebeu um prêmio de dez mil francos por ser o primeiro europeu a conseguir voltar vivo de Timbuktu. Os tuaregues Os tuaregues são o maior grupo nômade do deserto do Saara. Descendem de um povo que originalmente vivia na Líbia, há mais de dois mil anos. Hoje há cerca de trezentos mil tuaregues. Vestem roupas folgadas para isolar o calor e os homens usam turbantes atados em torno da cabeça e sobre o rosto. O turbante forma um véu que só deixa de fora os olhos, protegendo-os do vento do deserto e das tempestades de areia. Antigos visitantes Leo Africanus (1492-1552), um muçulmano que viajou pela África e pelo Oriente Médio, nasceu em Granada, na Espanha. Em 1518 foi preso por piratas e levado para Roma, na Itália. O papa Leão X ficou tão impressionado com os conhecimentos do viajante que o libertou, converteu-o ao cristianismo e o batizou como "Leo". Leo Africanus decidiu então ir à África Ocidental. Queria conhecer Timbuktu, pois ouvira dizer que todos os telhados da cidade eram feitos de ouro. Depois de visitar a cidade, Leo voltou à Itália, onde escreveu um livro sobre suas viagens. O viajante estudioso Vinte cinco anos depois da viagem de René Caillié, outro explorador europeu, o estudioso alemão Heinrich Barth, visitou a cidade de Timbuktu. Nascido em Hamburgo em 1821, Barth já viajara muito pelo Mediterrâneo quando o governo britânico lhe pediu para participar de uma expedição à África Central a fim de incentivar o comércio e tentar acabar com o tráfico de escravos no interior do continente. Começa a viagem A expedição saiu de Trípoli em 24 de março de 1850 e atravessou lentamente o deserto. Em agosto o grupo escapou de um bando de assaltantes, que conseguiram roubar alguns camelos. Quando a expedição chegou a Tintellust, em setembro, todos precisavam de um bom descanso. Barth passou lá um mês e seguiu sozinho para Agadez. Essa cidade era um importante ponto de partida de uma das rotas comerciais pelo deserto. Nenhum europeu jamais havia estado lá. Barth ficou três semanas na cidade, visitando as mesquitas, e sempre levava lápis e caderno de desenho em seus passeios. Em seguida visitou Gobir, Kano e Kukawa e em julho chegou ao rio Benue. Conseguiu atravessar o rio com seus cavalos, camelos e bagagens e continuou até chegar à cidade de Yola. Porém lá o rei recusou-se a deixá-lo ficar, de modo que Barth teve de voltar a Kukawa. Viajando com bandidos Barth passou vários meses viajando por lugares próximos a Kukawa e em 11 de setembro partiu rumo a Kanem. No caminho encontrou um grupo de ladrões árabes e viajou com eles durante três semanas. Durante esse período os ladrões roubaram 15 camelos, trezentas vacas e 1,5 mil carneiros e cabras. Barth voltou a Kukawa em fevereiro de 1852 e um mês depois partiu para Massena. Rumo a Timbuktu Barth passou três meses em Kukawa e partiu para Timbuktu em 25 de novembro de 1853. Parou dois dias em Seba para dar descanso aos seus camelos e em seguida alugou 11 burros para carregar sua bagagem até Timbuktu. Como a região era muito perigosa para cristãos, Barth fingiu ser um importante muçulmano em viagem, a fim de escapar dos ataques. De volta à Alemanha Barth passou sete meses em Timbuktu. Em sua viagem de volta seguiu o rio Níger até Gogo e continuou pelo deserto, chegando a Fezzan em 6 de julho de 1854. O povo da cidade deu-lhe as boas-vindas e o cumprimentou por sua bem-sucedida viagem. Barth finalmente tomou um navio para Malta e de lá partiu para Londres, onde chegou em 6 de setembro de 1865. Como outros exploradores, também escreveu sobre suas viagens. Morreu em Berlim em 1865. Primeiros missionários e exploradores Ludwig Krapf e Johannes Rebmann foram missionários alemães que exploraram o sudeste da África. Em 1849 Rebmann avistou o monte Kilimanjaro, com seu pico coberto de neve. Krapf foi o primeiro europeu a ver o monte Quênia, em 1848. Por terem visto essas montanhas, Krapf e Rebmann inspiraram e entusiasmaram outros exploradores. A Royal Geographical Society da Inglaterra enviou Richard Burton e John Hanning Speke numa expedição para descobrir as nascentes do Nilo (1856-1858). Mais tarde, entre 1860 e 1863, Speke e James Grant foram os primeiros europeus a chegar aos reinos africanos de Bunioro e Buganda. Rotas para o litoral Talvez o maior de todos esses exploradores tenha sido o Dr. David Livingstone, médico e missionário escocês que passou 28 anos viajando pela África. Chegou à Cidade do Cabo, na África do Sul, em março de 1841, a caminho da Missão Cristã de Kuruman, fundada por Robert Moffat. Dr. Livingstone casou-se com a filha de Moffat, Mary, e o jovem casal passou os anos seguintes construindo três outras missões, sempre seguindo para o norte. Os Livingstone, porém, desanimados por não conseguirem converter a população local ao cristianismo e pela hostilidade dos fazendeiros bôeres, decidiram continuar explorando outras regiões. Primeiras expedições Em 1º de junho de 1849, Livingstone e alguns amigos partiram pelo deserto do Kalahari a fim de encontrar o lago Ngami, ao norte. Levaram consigo um guia africano, mas o calor era tanto que o grupo só conseguia viajar à noite. Demoraram dois meses inteiros para chegar até o lago. Na expedição seguinte, Livingstone foi encontrar Sebetwane, o rei do povo makololo. Dessa vez decidiu levar consigo sua família, que quase morreu durante a perigosa viagem. Seus sofrimentos, porém, foram recompensados, pois Sebetwane os recebeu bem e foi muito amistoso. Na viagem seguinte, Livingstone já estava sem a família, que mandara de volta para a Inglaterra. Queria fundar uma missão cristã mais para o interior e chegou a Linyanti, a capital do povo makololo, em 23 de maio de 1853. Sebetwane já havia morrido, mas seu filho, Sekelutu, também foi muito amistoso com ele. Um mês depois, acompanhado por Sekelutu e muitos makololos, Livingstone começou a buscar um local adequado para a missão. O grupo desceu o rio Zambeze em canoas, passando por manadas de búfalos e ouvindo os leões rugir a distância. Livingstone, no entanto, não conseguiu encontrar um bom local e o grupo voltou para Linyanti. Rumo ao litoral Livingstone decidiu então tentar encontrar uma rota de Linyanti para a costa ocidental. Sekelutu cedeu 27 homens para acompanhá-lo até Luanda, no litoral. A expedição partiu em 11 de novembro de 1853, subindo o rio Zambeze rumo ao noroeste. Livingstone sofria constantes ataques de febre, mas recusou-se a interromper a viagem. Os homens o carregavam, cortavam relva para que ele dormisse à noite e cozinhavam para ele. Quando chegaram ao entreposto comercial português de Cassangue, Livingstone ganhou roupas novas e um guia para levá-lo até o litoral. Três semanas depois, no dia 31 de maio de 1854, exausto e maltrapilho, chegou à cidade costeira de Luanda, que hoje é a capital de Angola. Um médico naval tratou-o da febre e da disenteria e Livingstone ficou em Luanda durante quatro meses, até recuperar as forças perdidas. Em 20 de setembro de 1854 começou sua viagem de volta para Linyanti, onde chegou um ano depois. Para o Oriente, para a Inglaterra Livingstone passou dois meses escrevendo cartas e registrando suas descobertas geográficas. Não estava satisfeito com a rota que encontrara para a costa ocidental, pois ela era usada por árabes mercadores de escravos. Decidiu tentar encontrar outra rota, dessa vez pela costa oriental. Em 3 de novembro de 1855, Livingstone partiu com 114 makololos. A expedição desceu o rio Zambeze, visitando no caminho as magníficas cataratas de Vitória, e chegou ao porto de Quelimane, na África Oriental, em 20 de maio de 1856, depois de uma longa viagem por terra e por rio. Assim, Livingstone tornou-se o primeiro europeu a atravessar a África de costa a costa. Encontrando rotas comerciais Quando Livingstone voltou à Inglaterra, em 1856, foi saudado como herói. Ganhou uma medalha de ouro da Royal Geographical Society e foi recebido pela própria rainha Vitória. Viajou por todo o país dando palestras sobre suas experiências e discursando contra o tráfico de escravos. O governo britânico decidiu enviá-lo de volta à África em 1858 para descobrir mais sobre os rios do continente. O objetivo era utilizar esses rios como rotas para o comércio de mercadorias até o coração da África. Dessa vez Livingstone explorou parte da área de Zambeze e as aldeias em torno do lago Niassa. Voltou á Inglaterra em 1864. A última viagem de Livingstone foi patrocinada pela Royal Geographical Society de Londres. Seu objetivo era encontrar as nascentes do Nilo, assunto por muitos anos debatido. Livingstone chegou a Zanzibar em janeiro de 1866 e rumou para o interior, até o lago Niassa, com cerca de sessenta pessoas. Já com 54 anos de idade, não era mais tão resistente como antes. Sofreu ataques de febre durante toda a expedição e em meados de fevereiro teve febre reumática. Enviou cartas a Zanzibar pedindo que fossem enviados suprimentos a Ujiji, no lago Tanganica. Seu plano era viajar até lá para receber essas provisões, porém várias guerras locais o impediram de chegar a tempo. Quando finalmente chegou, em 23 de outubro de 1871, todas as provisões tinham sido roubadas. Livingstone ficou extremamente deprimido, e como sua saúde também deteriorava, começou a rezar pedindo um milagre. Esse milagre veio na pessoa de Henry Morton Stanley. A chegada de Stanley Na Europa não chegavam noticias de Livingstone havia mais de quatro anos e todos achavam que ele tinha morrido. O jornal norte-americano The New York Herald resolveu enviar um jornalista, Henry Stanley, para a África, para tentar encontrá-lo. Stanley chegou a Zanzibar no início de 1871 e organizou a maior expedição já feita naquela área — dois barcos, uma caravana de camelos e burros e duzentos carregadores. Partiu através da úmida savana da África Oriental e logo percorreu 340 quilômetros. Chegando a Ujiji no final daquele ano, Stanley finalmente encontrou Livingstone e o cumprimentou com as palavras que ficaram famosas: "Dr. Livingstone, suponho?". Passaram quatro meses juntos e exploraram o lago Tanganica. Livingstone, no entanto, recusou-se a voltar com Stanley para a Inglaterra. As viagens de Stanley Henry Morton Stanley fez três importantes expedições pela África. A primeira, em 1871, foi para encontrar o Dr. Livingstone; a segunda tinha como objetivo terminar as explorações de Livingstone na África Central (1874-1877); e a terceira foi para salvar Emin Pasha, que estava cercado por um exército inimigo. Em sua segunda viagem, Stanley atravessou a África de leste a oeste, mostrando que Speke estava correto ao afirmar que a nascente do rio Nilo fica no lago Vitória. Stanley então atravessou o lago Tanganica e seguiu o curso do rio Zaire até a foz. Seu relato sobre um grande rio que levava ao interior da África despertou o interesse dos europeus, que viram ali uma boa maneira de transportar mercadorias para comerciar no interior do país. Em sua terceira viagem, Stanley atravessou a África de oeste para leste. Avistou o pico Ruvenzori e anotou suas observações sobre a geografia do continente. A última viagem de Livingstone Livingstone acompanhou Stanley até Tabora. Depois de descansarem por três meses, Livingstone partiu de novo para sua última viagem. Logo começou a sofrer de disenteria, porém continuou sua jornada rumo ao lago Tanganica. Em abril, mal conseguia andar e tinha de ser carregado por seus acompanhantes. Em maio de 1873 o grande explorador morreu. Seu corpo foi embalsamado, levado ao litoral por seus amigos africanos e entregue aos britânicos. Essa viagem de 2.575 quilômetros foi uma notável proeza, que o grupo levou nove meses para completar. TEMPOS MODERNOS A África é colonizada No final do século XIX, exploradores europeus já haviam percorrido quase todo o continente africano. Elaboraram mapas mostrando rios, lagos e montanhas e encontraram muitos povos africanos. Ao voltar aos seus países os exploradores publicavam livros sobre suas viagens, descrevendo a riqueza das matérias-primas locais e os benefícios que o comércio com esse continente poderia trazer. À medida que o século XIX avançava, a atitude dos europeus começou a mudar. Já não se contentavam em apenas explorar e comerciar; agora queriam também controlar os novos e lucrativos mercados consumidores da África. A luta pela África Em 1884, os mais poderosos países europeus reuniram-se em Berlim, na chamada Conferência de Berlim. Nela as potências européias decidiram quem iria controlar o quê no continente africano. Trinta anos depois, quase toda a África já estava retalhada em colônias e protetorados europeus. A "luta pela África" estava terminada. Os missionários Assim como o comércio e a política, a religião também teve um papel importante no curso dos acontecimentos na África. Utilizando os recém-inventados barcos a vapor para subir os rios africanos até o interior, missionários cristãos penetraram mais fundo do que seus precursores europeus. Passaram a usar também um novo remédio, o quinino, para ajudar a combater a doença fatal, a malária. A resistência na África A resistência à colonização européia foi grande na África. As potências européias tiveram de travar muitas batalhas sangrentas contra os exércitos de nações africanas para conseguir dominar o continente. A luta era desigual, pois os europeus dispunham de metralhadoras, muito mais eficientes do que as antiquadas carabinas dos africanos. Contudo, alguns reinos africanos tiveram vitórias notáveis. Em 1879, os zulus arrasaram todo um regimento britânico na África do Sul. Tinham armas antiquadas, porém souberam utilizar sua superioridade numérica e o elemento surpresa para derrotar os britânicos. A África hoje Durante muitos anos a África foi controlada por países europeus. Esses países impuseram suas próprias formas de governo e até mesmo fronteiras nacionais artificiais, que atravessavam as divisões naturais e tradicionais. Após o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, os africanos recomeçaram a luta pela sua independência. Problemas herdados Alguns dos problemas atuais da África são herança dos anos de colonialismo. Antes da sua dominação, por exemplo, havia muitos grupos diferentes vivendo no continente. As potências coloniais européias dividiram a África segundo suas próprias razões, ignorando as culturas e idiomas variados do continente. Depois da independência, alguns grupos que viviam nos países recém-formados passaram a lutar uns contra os outros por muitas e diferentes razões, o que por vezes levou à guerra civil. A África para os africanos Em 1945, um grupo de importantes líderes africanos do mundo inteiro reuniu-se numa conferência em Manchester, na Inglaterra. Entre eles estavam Jomo Kenyatta, do Quênia, George Padmore, das Índias Ocidentais, o Dr. W E. B. Du Bois, dos Estados Unidos, e Kwame Nkrumah, da Costa do Ouro. Nessa conferência decidiu-se que os africanos deveriam poder eleger seus próprios governos. Doze anos depois Kwame Nkrumah liderou seu povo na luta pela independência, e o novo país ficou conhecido como Gana. Em 1963, depois de anos de uma feroz guerra de guerrilhas, o Quênia também se tornou independente, tendo como presidente Jomo Kenyatta. Nos anos 1960, quase toda a África já estava livre. Contudo, tantas décadas de domínio europeu resultaram em muitos problemas para os novos países africanos. Falta de alimentos Outro grande obstáculo para alguns países africanos é a seca. Muitas vezes a grave falta de água leva também à falta de comida. Na década de 1990, o Chade, a Etiópia, o Sudão e a Somália sofreram terríveis secas, as quais, combinadas com a guerra civil, devastaram sua economia. As causas da seca são complexas. Certas partes do continente são áridas, sem água. Os métodos tradicionais de agricultura lidavam melhor com esse problema: se uma área era estéril, as pessoas mudavam-se para outra, levando seu gado. As novas fronteiras entre países dificultaram esse costume. Hoje muitos cientistas acreditam que as recentes mudanças no clima da África (que têm causado uma diminuição nas chuvas) se devem à poluição na atmosfera mundial, a maior parte da qual vem da Europa e da América do Norte. Problemas econômicos Durante o período colonial, muitos africanos foram obrigados a plantar algodão e amendoim para abastecer o mercado consumidor europeu. Entretanto, os acordos comerciais nunca beneficiavam o fazendeiro africano. No litoral, os europeus compravam a safra a preços baixos e vendiam mercadorias feitas na Europa a preços altos. Os africanos recebiam pouco por aquilo que vendiam e tinham de pagar muito pelo que compravam. Quando terminou o domínio colonial europeu, muitas nações africanas estavam em crise econômica e tiveram de conseguir empréstimos de bancos do mundo todo. Esses empréstimos até hoje estão sendo pagos com juros. Isso significa que os países africanos precisam cultivar produtos para exportar, a fim de pagar essas dívidas, em vez de plantar alimentos para a sua própria população. Visitantes modernos e novos exploradores Apesar desses problemas, a África continua atraindo milhões de turistas todos os anos. Muitos participam de safáris para observar os animais selvagens, ou de expedições que atravessam a pé o árido deserto do Saara. Outros visitam as numerosas praias do continente, aproveitando o sol ou explorando as famosas relíquias de reinos antigos. Além dos turistas, a África também atrai arqueólogos e antropólogos. Os antropólogos estudam a maneira como as pessoas vivem e se adaptam às novas circunstâncias. Os arqueólogos estudam os objetos e vestígios de povos antigos, para descobrir como eles viviam milhares de anos atrás. Ossos humanos Um explorador moderno que trabalhou muito na África Oriental foi Louis Leakey Nascido no Quênia em 1903, na década de 1920 Leakey começou a procurar ossos de homens pré-históricos. Muitos outros arqueólogos partiram na mesma busca, ansiosos para descobrir informações sobre as origens da humanidade. Sua esposa, Mary Leakey, também fez pesquisas arqueológicas no Quênia e na Tanzânia. Ela casou-se com Leakey em 1936 e o acompanhou em muitas viagens. Em 1959, Mary Leakey encontrou o crânio de uma criatura humanóide na garganta de Olduvai. Ele se chama Zinjanthropus e viveu cerca de 1,5 milhão de anos atrás. Em 1962 Leakey encontrou na Tanzânia vestígios de uma espécie que tinha a mandíbula semelhante à dos macacos. Ele concluiu que essa espécie deve ter vivido lá há mais de 14 milhões de anos. Mais tarde Leakey encontrou os ossos de um dos primeiros seres humanos, na mesma garganta de Olduvai. O filho de Leakey, Richard, também se interessa por vestígios humanos. Em 1975 ele encontrou o crânio de um tipo avançado de homem pré-histórico, chamado Homo erectus. Foi achado no lago Turkana e tem cerca de 1,5 milhão de anos. Devido ao trabalho da família Leakey, hoje se acredita que os primeiros seres humanos surgiram na África. Um deserto fértil Outros estudiosos também pesquisaram muito na África Ocidental. Henry Lhote descobriu pinturas nas paredes das rochas na área do rio Níger. Alguns arqueólogos procuram antigas pinturas e esculturas, a fim de descobrir mais sobre as ricas culturas da África antiga. O Dr. Ekpo Eyo encontrou muitas esculturas e pinturas na Nigéria. Num trabalho conjunto com arqueólogos britânicos, alemães e americanos, essas belas obras de arte antigas já foram exibidas em museus do mundo inteiro. Raymond Mauny pesquisou no deserto do Saara, onde encontrou figuras desenhadas nas paredes das rochas por pessoas que lá viveram há mais de quatro mil anos. As pinturas representam rios e animais que existiram no Saara, hoje deserto. A garganta de Olduvai A garganta de Olduvai, na atual Tanzânia, é um dos mais importantes sítios arqueológicos do mundo desde sua descoberta, no final do século XIX. Tem cem metros de profundidade e vários quilômetros de comprimento. Suas paredes foram examinadas por muitos geólogos, que ali vão à procura de fósseis e buscam estudar a estrutura e história do nosso planeta. Durante suas escavações nos anos 1930 os Leakey encontraram instrumentos feitos de pedras, usados pelos primeiros seres humanos. Em 1958-1959 encontraram também vestígios de animais pré-históricos provenientes da mesma cultura humana primitiva, entre eles carneiros do tamanho de cavalos e porcos tão grandes quanto rinocerontes.