editorial - EAPN Portugal
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editorial - EAPN Portugal
editorial Em cima de uma pedra um relógio marca o tempo. O tempo de espera… para sermos atendidos num serviço público, ….para receber um subsídio, … para sermos ajudados… Em cima de uma pedra um relógio marca o tempo. Marca o tempo de um alerta. Da necessidade de pararmos e olharmos para o lado e nos interrogarmos a quem se dirige a nossa actuação. E de que modo ouvimos e implicamos os nossos beneficiários. Porque a lógica devia ser a de que trabalhamos com eles e não para eles. Não ouvi-los acaba por nos ensurdecer e enrijecer as nossas propostas de soluções. Em cima de uma pedra um relógio marca o tempo… um tempo circular: um ponto de chegada dos debates e discussões que foram dinamizados pelo Núcleo Regional do Centro e que se partilharam num Encontro de Cidadãos/ãs em Risco Social e agora neste boletim; mas também um novo ponto de partida, no sentido de assegurar às pessoas mecanismos que garantam a sua participação nos processos de definição, planeamento, execução e supervisão das políticas que lhes dizem directa ou indirectamente respeito. Em cima de uma pedra um relógio marca o tempo. Marca o tempo da coragem dos participantes ao permitirem que, através da sua experiência de vida, possamos reflectir sobre os caminhos a trilhar para debelar os fenómenos da pobreza e da exclusão social. Em cima de uma pedra um relógio marca o tempo. O tempo da audácia. De Alice Oliveira, Anabela Ramos, Aurora Coelho, Bruno Cristóvão, Elvira Castelo, Fernando Ferreira, Irene Tomé, Isaurinda Rodrigues, João Almeida, João Paulo Flores, João Pina, José Maia, Leila Ferreira, Luís Dias, Maria Cleonice Carneiro, Maria da Conceição Fernandes, Maria da Conceição Fernandes, Maria de Lurdes Paiva, Maria Júlia Azevedo, Rosa Machado, Vera Janardo1. Bruno Cristovão Rui Ivo Lopes 1. participantes no Encontro Regional de Cidadãos/ãs em Risco Social e os principais responsáveis pelos conteúdos nele abordados. Ficha Técnica Propriedade Coordenação editorial Rede Europeia Anti-Pobreza / Portugal Rua de Costa Cabral, 2368 - 4200-218 Porto Tel. 225 420 800 - Fax 225 403 250 E-mail: [email protected] • www.reapn.org Núcleo Regional do Centro (Castelo Branco, Coimbra, Guarda, Leiria, Santarém, Viseu) Gabinete de Informação Gabinete de Desenvolvimento Design, Paginação e Impressão A Diferença, Lda - Tel.: 255 911 042 Periodicidade Quadrimestral Tiragem 1.500 exemplares Depósito Legal 247626/06 Distribuição Gratuita 1 em destaque O Photovoice: uma metodologia para a inclusão! As tecnologias de informação e comunicação estão, cada vez mais, presentes em várias áreas da nossa vida, cumprindo nela as mais diversas funções. Com um crescente poder de determinação sobre o nosso quotidiano, o acelerado avanço do mundo tecnológico começa também a colocar desafios à intervenção social que poderá utilizar os novos recursos tecnológicos para promover o poder participativo e o exercício de cidadania, nomeadamente nas populações mais desfavorecidas. A metodologia que aqui apresentamos, o Photovoice, apropriase, em particular, da fotografia como um instrumento para promover (empower) competências de cidadania nas populações mais vulneráveis. A metodologia Photovoice Considerada uma metodologia de investigação-acção participativa, o Photovoice (PhV) serve-se da fotografia e da voz dos participantes para conhecer as suas experiências e vivências, as suas necessidades, dificuldades e desejos de mudança. Através de uma câmara fotográfica, os indivíduos recolhem imagens da sua realidade diária e reflectem sobre ela para, posteriormente, dar a conhecê-la a agentes influentes da sua comunidade. Originalmente criado por Carolina Wang e Mary Ann Burris, o PhV surgiu na década de 90, a partir de uma sequência de trabalhos desenvolvidos na área da promoção e educação para a saúde. Inspirado em três grandes pilares teóricos (i.e., na teoria feminista, na noção de “educação para a consciência crítica”, de Paulo Freire e na tradição do documentário fotográfico), o PhV procura concretizar três grandes objectivos: 1) Capacitar os indivíduos para identificar e reflectir sobre aspectos da sua própria identidade e experiência pessoal e comunitária (potencialidades e problemas da sua comunidade); 2) Promover o diálogo crítico e o conhecimento sobre aspectos importantes da sua comunidade através de grupos de discussão acerca das fotografias; 3) Projectar a visão acerca das suas vidas a outros, especialmente poderosos agentes políticos e financeiros (audiência). Enquanto metodologia para trabalhar com populações muito vulneráveis, o Photovoice enquadra-se na Estratégia de Lisboa e nas últimas rectificações do tratado da União Europeia, que alertam para a necessidade de promover o exercício de cidadania no espaço europeu, de forma a aumentar e garantir os direitos económicos e sociais de todos os cidadãos. Se a cidadania implica fazer opções e tomar decisões conscientes, agir individualmente e tomar parte em processos colectivos, então as pessoas têm de desenvolver competências para agir com base na informação e para poderem comunicar acerca 2 dos seus problemas, necessidades e desejos. O PhV parece constituir um instrumento muito apropriado a esses objectivos. Quando é posto em acção, o PhV desenvolve-se ao longo de 3 fases que passamos a resumir: 1ª Fase: Preparação Nesta fase define-se o tema a tratar e os seus objectivos da intervenção. Aqui exercita-se não só a capacidade dos profissionais para assumirem o papel de facilitadores da mudança na aplicação do método, como antecipa-se o recrutamento da “audiência” (agentes políticos, outros profissionais) para a divulgação dos resultados. 2ª Fase: Acção É na fase de acção que se desenrolam as várias sessões grupais, que agrupam participantes e facilitadores numa arena de discussão comum. Os grupos nunca devem ser extensos (recomenda-se entre 8 a 12 participantes) para que todos possam ter oportunidade de expressar a sua voz. Essencialmente, pretende-se que os participantes reflictam sobre temas importantes da sua comunidade através da captação de imagens que respondem a perguntas que vão sendo colocadas ao longo das sessões. Em cada sessão, os participantes procedem sempre à apresentação individual das suas fotos, explicando como estão relacionadas com o tema da sessão. Segue-se a análise em profundidade das fotografias que procura alargar a discussão de um nível pessoal para um nível social. 3ª Fase: Finalização Nesta fase, procede-se à documentação das histórias e narrativas que emergiram nas sessões (a componente voz) e prepara-se a disseminação dos resultados junto da “audiência”. O PhV tem vindo a revelar um forte impacto na intervenção com populações muito desfavorecidas/marginalizadas, nomeadamente sem-abrigo e/ou famílias de etnia cigana, ajudando a desenvolver uma maior consciência crítica, a introduzir visões alternativas sobre os problemas da comunidade, a desenvolver e mobilizar a rede social…etc. Trata-se de um método com inúmeras vantagens com destaque para a sua elevada flexibilidade, podendo ser adaptado a diferentes objectivos, grupos e comunidades e para o seu potencial de inclusão, já que permite incluir indivíduos com dificuldades de expressão verbal. Para além disso, é um método inovador que utiliza as novas tecnologias (fotografia e outro material tecnológico) para diminuir a info-exclusão. Concomitantemente, promove o empowerment e o envolvimento (engagement) dos participantes no planeamento das políticas, retirando-os de um papel de mero receptor, promovendo a criação de um verdadeiro contexto de colaboração entre profissionais e as populações. Este registo colaborativo é importante pois, frequentemente, as populações mais vulneráveis apresentam um conjunto significativo de habilidades inexploradas, recursos e conhecimentos que precisam ser reconhecidos e atribuídos para que se tornem úteis nas suas vidas (Madsen, 1999 cit in Rodrigues et al, 2008). Apesar de tudo, o PhV não é um método adequado para indivíduos portadores de alguns tipos de deficiência (p.e. invisuais) ou com problemas individuais severos, exigindo também, como qualquer modelo de intervenção, a formação adequada dos seus recursos humanos. O PhV pode ainda encontrar algumas barreiras logísticas à sua implementação, nomeadamente ao nível do material requerido e custos associados (e.g. câmaras fotográficas, etc.). Referências Rodrigues, S., Carvalhal, S. & Alarcão, M. (2008). Roma people: an experiment in the promotion of citizenship (Chapter 6), in L. Sousa (Ed.), Strengthening Vulnerable Families. New York: Nova Science Publishers (no prelo). Wang, C. & Burris, M. (1994). Empowerment through photo novella: portraits of participation. Health Education Quarterly, 21, 171-186. Wang, C. & Burris, M. (1997). Photovoice: concept, methodology, and use for participatory needs assessment, Health, Education and Behaviour, 24 (3), 369-387. Wang, C.; Yi, W.; Tao Z. & Carovano, K. (1998). Photovoice as a participatory health promotion strategy. Health Promotion International, Vol. 13, 75-86. Mais informações em: http://www.photovoice.com Nas páginas que se seguem, poderemos ver a aplicabilidade desta metodologia numa primeira experiência levada a cabo pelos distritos que compõem o Núcleo Regional do Centro da REAPN, no âmbito do Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, através da realização do II Encontro Regional de Cidadãos/ãs em Risco Social, na Escola Profissional de Torredeita, em Viseu. Sofia Rodrigues Psicóloga e investigadora na Universidade de Aveiro A metodologia Photovoice no Núcleo Regional do Centro A Rede Europeia Anti-Pobreza / Portugal procura assinalar com bastante veemência o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza (17 de Outubro) como alerta para os problemas da pobreza e da exclusão social e para a necessidade de agir sobre eles. Procura igualmente privilegiar, nas actividades que desenvolve, as pessoas que experienciam de perto esses fenómenos de forma a integrá-los no desenho das soluções. É disso exemplo o projecto Activar a Participação que, em 2002, organizou 6 encontros regionais e depois um nacional com beneficiários do Rendimento Social de Inserção. Outro exemplo são os Encontros Regionais com Pessoas em Situação da Pobreza que se organizam desde 2007. Esta abordagem coloca ênfase crescente na participação das pessoas e seus representantes, na formulação e implementação dos programas e políticas que os afectam e que deve ser alvo de um trabalho continuado. Nesse sentido, os núcleos que compõem o Núcleo Regional do Centro têm vindo a implementar um processo de auscultação prolongada no tempo e que no Encontro Regional se concretizou através do recurso à metodologia photovoice, que combina uma abordagem centrada na comunidade com a fotografia e a voz, numa tentativa de dar expressão visual à consciência social. 2. Facilitar a identificação de competências pessoais e de uma causa comunitária comum (capacitar/empowerment); 3. Promover o diálogo crítico e o conhecimento sobre aspectos importantes da sua comunidade; 4. Projectar a visão acerca das suas vidas a outros, especialmente a decisores (membros influentes nas comunidades, políticos, …); A implementação desta etapa concretizou-se em 8 momentos: 1) Escolha da temática a desenvolver nos 6 Grupos (saúde, educação, emprego e formação e protecção social), tendose optado por duas questões. Para os aspectos positivos: da ajuda que recebe e/ou recebeu o que é que foi mais útil para si? Do que é que gostou mais? Para os aspectos negativos: da ajuda que recebeu o que é foi menos útil? O que é que correu pior? 2) Reunião com técnicos(as) das instituições para indicação de 4 pessoas que pudessem participar; 3)1ª sessão com os participantes para: - explicação da metodologia; - assinatura do termo de consentimento; Objectivos desta metodologia - distribuição de equipamento (máquinas fotográficas,…); 1.Encorajar os indivíduos a identificar e a reflectir sobre aspectos da sua própria identidade e experiência pessoal e comunitária; - exercício prático com o equipamento; - entrega da 1ª questão. 3 4) Num espaço curto de tempo (2 a 5 dias) os participantes responderam, com recurso à fotografia e ao seu testemunho, à primeira questão; 5) Nova reunião com os participantes em que cada um apresentou as suas fotos e as explicou. No final procedeuse à apresentação da 2ª questão; 6) Momento similar ao 4º mas desta vez os participantes responderam à 2ª questão; Por questões práticas os temas a abordar foram divididos por distritos. Assim, os participantes: 1) de Castelo Branco e Leiria responderam às questões focando as áreas da educação, formação e emprego; 2) da Guarda e Santarém responderam às questões focando a área da saúde; 3) de Viseu e Coimbra responderam às questões focando a área da protecção social. 7) Reunião com participantes para apresentação das fotos e preparação do momento seguinte; 8) Devolução do trabalho à comunidade com a realização do Encontro Regional de Cidadãos/ãs em Situação de Pobreza. Educação, formação e emprego Da ajuda que recebeu ou recebe, o que é que foi mais útil para si / o que é que gostou mais? Castelo Branco Anabela Ramos 34 anos, empregada na SCM do Fundão “O conseguir emprego, acabar de construir a minha casa. O meu percurso de vida foi lutar por um sonho “ter uma coisa nossa.” Quando a fabrica fechou em 2003 estava no início das obras, mas fui à procura, não estive parada, não desisti e lutei pelo meu próprio emprego.” “Hoje estou no quadro da Santa Casa da Misericórdia como Auxiliar de Serviços Gerais, e tenho um trabalho, para poder sustentar a minha família e que me dá uma certa estabilidade financeira.” Luís Dias 56 anos, Programa Ocupacional na SCM Fundão “Este foi o emprego que mais garantias me trouxe até hoje, vim pelo Centro de Emprego por um POC. Desde Fevereiro de 2007, sou auxiliar de serviços gerais, tenho contracto renovado até Dezembro de 2008. Penso que tenho a possibilidade de ficar até Abril 2009, sem certezas. O meu objectivo principal, e vou fazer de tudo para o alcançar, é prestar o meu melhor a nível de utentes, colegas e técnicas.” 4 João Flores 43 anos, desempregado “Este foi o emprego no qual mais aprendi, e me profissionalizei na montagem de ar condicionado e refrigeração. Continuo à procura de trabalho. Tenho sido persistente nas minhas idas ao Centro de Emprego, para também reforçar a minha presença perante os técnicos e o meu interesse pela procura, mas gostava de voltar a trabalhar nesta ou noutra empresa do mesmo ramo.” Leiria Bruno Cristóvão 28 anos, desempregado “Pela oportunidade de aprender coisas novas, por uma formação, porque acho que é importante ter uma formação hoje em dia e ter uma nova experiência, novos conhecimentos. É a abertura de uma porta para o futuro! A informática hoje em dia (…) é útil no dia-a-dia e vai ser mais útil no futuro, de certeza. A informática está cada vez mais entre nós (…) a formação é cada vez importante, porque se torna mais fácil arranjar emprego.” Mª Júlia Azevedo 48 anos, frequenta o curso de formação de Jardinagem e Espaços Verde “Eu vejo alguém que está desempregada há muito tempo, que é minha amiga, e foi nela que eu tomei coragem e foram as palavras que ela me deu que me fez ir para a formação, para estudar. Se não fosse ela não estaria onde estou, no curso de jardinagem e espaços verdes. Ela deu-me muita força.” Isaurinda Rodrigues 32 anos, desempregada “Vejo aqui três jovens... são meus filhos. Estou desempregada, e para eles que eu vivo. Queria que eles tivessem uma vida melhor e que um dia fossem alguém na vida e que eu conseguisse ajudá-los a arranjarem um trabalho (…) eles é que me dão a força e o apoio para seguir em frente.” 5 Da ajuda que recebeu ou recebe, o que é que foi menos útil para si / o que é que correu pior? Castelo Branco Luís Dias 56 anos, POC na SCM Fundão “A degradação da minha casa, é muito grande, devido à minha idade (56 anos) e ao meu problema visual. Tenho vindo a ter sérias dificuldades em relação ao emprego... fui imigrante em França 4 anos depois, no 25 Abril, regressei com negócio próprio, estive na Suiça, casei e tenho dois filhos. Neste momento sou divorciado, tive sucessivos empregos, mas o problema visual tem vindo a agravar-se. Continuo sem estabilidade profissional.” Anabela Ramos 34 anos, empregada na SCM Fundão “Foi nesta fábrica que iniciei o meu percurso de actividade profissional aos 17 anos. Encerrou em 2003. Estive noutra fábrica no mesmo ano de confecção um ano até 2004, em seguida fui seleccionada para um curso de Arte de trabalhar o Esparto, com o ordenado mínimo e sub de transporte e refeições (2005). Através do Centro de Emprego fui inserida numa Empresa de Inserção “Cozinha para si”, como ajudante de cozinha. O fecho desta fábrica levou muitas famílias do concelho do Fundão para o desemprego. Eu nunca desisti de procurar emprego.” João Flores 43 anos, desempregado “Devido à crise que temos neste concelho... os construtores civis estão a ir para Angola e Países do Leste à procura de trabalho, levando os melhores trabalhadores com eles. Não existe oferta de trabalho nesta área. Estive inserido num curso de electricidade de 1200 horas pelo Centro de Emprego. Depois fui como um POC para a Escola da Gardunha como auxiliar de educação e Limpeza. Por fim, estive 2 anos e meio, até Agosto de 2008, numa Empresa de Inserção “FundiConstroi”como servente. Neste momento continuo à procura de trabalho.” Leiria Bruno Cristovão 28 anos, desempregado “Representa o tempo que estamos à espera para sermos atendidos no Centro de Emprego; o tempo que estamos à espera para nos oferecerem um emprego; o tempo que estamos à espera para recebermos qualquer subsídio (…) 1 mês, 2 meses, 3 meses. Sem ordenado é difícil viver, comprar qualquer coisa, pagar a renda de casa (…) Sinceramente nunca arranjei um trabalho sem ter que ir à procura (…) O Centro de Emprego ajuda, mas poderia fazer mais.” 6 Isaurinda Rodrigues 32 anos, desempregada “Esta fotografia representa uma fábrica que há 3 anos atrás empregava centenas e centenas de pessoas, e agora está à beira da falência e já tem ordenados em atraso. Foi a fábrica onde eu trabalhei (…) [agora] ando na apanha da fruta. O Centro de Emprego uma vez tentou arranjar-me [um emprego] mas não era compatível, tinha a minha filha muito pequenina e queriam-me mandar ou para a Marinha Grande ou para Leiria e isso para mim não dava, porque não tinha transportes e isso era muito complicado.” Mª Júlia Azevedo 48 anos, frequenta o curso de formação de jardinagem e espaços verdes “Vejo uma amiga que passa toda a vida a passar ferro, (…) ela é engomadeira, e (…) está sempre à espera para receber, não vê um tostão, trabalha de manhã à noite e não vê nada, é triste. Tem que sustentar os filhos, a casa. O marido é doente (…) e eu não gosto disso.” Propostas de melhoria do painel educação, formação e emprego Mais investimento no concelho do Fundão, a nível de empresas (criar incentivos); Maior sensibilidade por parte dos empregadores face à idade da pessoa, pois “mais velho significa maturidade;” As mulheres face aos empregos nas fábricas, deveriam ser mais apoiadas, sobretudo no acompanhamento dos filhos menores; Acções de formação para os empresários face à aceitação da mulher casada e com filhos; Formar os adultos e inseri-los em empresas: “Primeiro prepará-los e depois integrá-los;” Criação de mais empregos; Reabertura de fábricas e empresas; Maior apoio às empresas para evitar falências e despedimentos: “Que tivessem mais força de vontade para nos ajudarem.” 7 Saúde Da ajuda que recebeu ou recebe, o que é que foi mais útil para si / o que é que gostou mais? Guarda Alice Oliveira 66 anos, reformada “Fui operada em Lisboa às vistas, só que a operação correu mal (…) andei 14 anos sem ver quase nada e quando ia ao Hospital da Guarda diziam-me que as vistas já não tinham compostura (…). Foi então que fui a uma óptica [na Guarda] e o Dr. disse que me operava. Eu disse que não tinha dinheiro e ele disse que eu pagava quando pudesse (…).” “Fui operada então em Janeiro [há 8 anos]” “Eu disse-lhe que queria pagar a operação (…) todos os meses lá ia entregar o dinheiro (…) no Natal ele não o quis aceitar (…) depois do Natal fui lá entregar outra vez o dinheiro.” “Graças a Deus hoje vejo.” Maria de Lurdes Pais 37 anos, empregada, beneficiária RSI “A melhor coisa que me aconteceu no que respeita à questão da saúde foram os meus filhos, e tenho 4!” “Não me posso queixar, para mim os serviços têm sido 5 estrelas!” Irene Tomé 43 anos, desempregada, beneficiária RSI “Num problema grave de saúde que tive fui muito bem recebida, muito bem acompanhada por profissionais dedicados e atenciosos.” “(…) As pessoas estão no sítio certo e gostam daquilo que fazem.” “Eu refugiava-me um bocado no campo (…) daquilo que se estava a passar (…) gosto mais do campo que da cidade.” “Eu vinha dos tratamentos e ia para a aldeia (…) era o meu refúgio, ia para o meio da terra e sentia-me bem.” Santarém Conceição Cardador 37 anos, beneficiária RSI “Há três anos iniciei uma nova etapa da minha vida através de um tratamento na Unidade de Consultas de Alcoologia, no Hospital de Santarém...” “Toda a equipa do Serviço se empenhou em me ajudar...tive o apoio de todos...” (Esta Unidade hoje em dia encontra-se encerrada...)” 8 Elvira Castelo 63 anos, beneficiária RSI “Além da prestação do RSI, foi possível usufruir de um Apoio Complementar para a compra de uns óculos, fundamentais para a minha qualidade de vida...” Rosa Machado 41 anos, beneficiária RSI “Local que eu visito praticamente todos os dias, e, no qual tenho tido todo o apoio, tanto a nível físico como psicológico...” “Reúne todas as condições desejáveis num Centro de Saúde, tanto exterior como interiormente....” “ Tem todas as condições de acessibilidade....” Vera Janardo 32 anos, utente CAT de Santarém “Foi na minha nova casa que encontrei o meu refúgio....” “Os trabalhadores do CAT também são como família...” “...agora tenho estado receptiva à ajuda e ao apoio que me têm dado....” “O Serviço persistiu muito para me poder ajudar...” Da ajuda que recebeu ou recebe, o que é que foi menos útil para si / o que é que correu pior? Guarda Maria de Lurdes Pais 37 anos, empregada, beneficiária RSI “Esta fotografia mostra bem como os médicos também se enganam (…) a minha irmã sentiu-se mal, tinha falta de ar e foi ao Hospital, onde foi-lhe diagnosticado uma gripe e deramlhe medicação para a gripe, (…) mas afinal tinha um pulmão deslocado e teve de ir para Coimbra para solucionar o problema.” “Uma falha médica (…) os médicos devem estar mais alerta (…) ouvir mais o paciente.” 9 Alice Oliveira 66 anos, reformada “Dormi aqui muitas vezes com as minhas filhas e a minha mãe porque não tínhamos casa para dormir nem para comer.” “Íamos pedir, mas o Sr. Padre dizia que as pessoas que estavam juntas não tínhamos direito a ser ajudadas e nem nos baptizavam os filhos, naquela altura não ligavam às pessoas e nos hospitais era quase a mesma coisa.” Irene Tomé 43 anos, desempregada, beneficiária RSI “Entrei na sala de partos e já ia com indicação do médico que iria ser cesariana (…), porque a minha filha já estava em sofrimento, e elas [as enfermeiras] implicaram com a minha camisa de dormir porque a manga era comprida [e não conseguiam puxar a manga para cima para introduzir o cateter].” “Eu disse-lhe que ela tinha uma tesoura no bolso para cortar a manga, porque a minha filha era mais importante que uma camisa.” “Foram pessoas que me marcaram, porque eu estava muito nervosa e acho que foi uma situação que poderia ter sido evitada.” Santarém Conceição Cardador 37 anos, beneficiária RSI “Precisava de uma casa maior...para poder ter os meus filhos comigo...” “A minha casa parece uma casinha de bonecas...” “Tenho cinco filhos, a mais velha está com a avó... os mais pequenos estão num colégio em Lisboa...” “...ainda na sexta feira passada fui vê-los...” Rosa Machado 41 anos, beneficiária RSI “Este degrau simboliza a dificuldade de todas as pessoas com deficiência em se movimentarem....” “Este degrau é da minha casa....” “Muitos edifícios públicos apenas têm acesso por escada....” 10 Elvira Castelo 63 anos, beneficiária RSI “...isto deve-se aos maus tratos que tive toda a minha vida...” “Por vezes não consigo sair da cama, tenho que ser assistida em casa....” “Já tive uma depressão muito grande….” Vera Janardo 32 anos, beneficiária RSI “Este problema fecha muitas portas....” “...dificuldades em conseguir trabalho...devido ao passado....” “Até eu própria assumo a carga negativa do passado, depois, até eu própria não consigo....” Propostas de melhoria do painel da saúde Aumentar o número de enfermeiros e auxiliares nos serviços de saúde para poderem prestar um melhor apoio aos utentes; Integrar psicólogos para acompanhar os utentes enquanto estão internados nos serviços de saúde; Ter uma equipa de profissionais (enfermeiros, psicólogos, terapeutas ocupacionais, …) que façam a ponte entre os serviços de saúde e a família que ficará com o utente quando este tiver alta / acompanhamento das famílias cuidadoras; Profissionais de Saúde (médicos, enfermeiros, auxiliares, …): têm mais formação actualmente, no entanto é necessário serem mais atenciosos e sensíveis para com os utentes; saber ouvir os utentes; ter uma maior preparação e também apoio para lidar com casos de saúde mais complicados; Clarificação do enquadramento de doenças associadas à problemática da adição; Melhorar a articulação inter-serviços; Aumentar a capacidade de resposta ao nível das ajudas técnicas, nomeadamente ao nível dos cidadãos portadores de deficiência; Garantir o cumprimento da legislação existente ao nível das acessibilidades; Reforçar a política de mainstreaming nos diversos sectores, uma vez que muitas das situações de pobreza e exclusão social são transversais; Desenvolver acções de promoção da saúde e de prevenção da doença; Prevenir a toxicodependência em meio escolar, com acções de sensibilização e informação. Protecção Social Da ajuda que recebeu ou recebe, o que é que foi mais útil para si / o que é que gostou mais? Coimbra José Maia 55 anos, utente do Centro Comunitário da Cruz Vermelha Portuguesa Pólo da Figueira da Foz “A ajuda do Centro Comunitário da Cruz Vermelha permiteme acesso a alimentação e roupa”. “Com o RSI posso ajudar a criar a minha filha mais pequena, frequentando também a formação para a inclusão.” 11 Maria da Conceição Fernandes 36 anos, formação para a Inclusão, na FigueiraViva “O curso é muito motivador, gosto do grupo e do seu relacionamento…sinto que já me fez bem.” “Com o RSI pude pelo menos pagar as despesas básicas da minha casa!” Leila Ferreira 42 anos, formação para a Inclusão na FigueiraViva “A palmeira simboliza… a esperança de um viver melhor….” “Aqui na formação, eu encontrei o apoio…, a solidariedade e os amigos….” “O grupo é uma forma de apoio nos momentos de mais solidão….” Aurora Coelho 50 anos, utente do Centro Comunitário da Cruz Vermelha Portuguesa- Pólo da Figueira da Foz “O melhor da vida são os afectos!” “O RSI permite-me pagar a casa onde habito desde 98.” “O ideal é termos a nossa casa com os filhos, não há nada melhor que isso!” Viseu Fernando Ferreira 76 anos, utente do Apoio Domiciliário na Fundação Joaquim dos Santos “Para mim é um símbolo, porque foi tirada em minha casa, onde as senhoras põem os termos.” “Vêm diariamente do lar, vão lá levar-me a comida todos os dias.” 12 Maria Cleonice Carneiro 76 anos, Centro de Dia da Associação de Solidariedade Social de Abraveses “… Esta foto significa muito para mim porque são os meus amigos, de quem gosto muito, estou com eles todos os dias!” João Pina 32 anos, utente da APPACDM de Viseu “… a cadeira para onde eu costumo ir na residência onde estou a viver, estou lá sempre…” João Almeida 32 anos, utente da APPACDM, ex- formando de uma empresa de inserção “… o material que eu utilizava quando andava nas limpezas, o cortador de relva com que eu aparava as ervas, o sacho com que eu sachava as plantas…” “ … as ferramentas que eu usava, com que aprendi a trabalhar…” Da ajuda que recebeu ou recebe, o que é que foi menos útil para si / o que é que correu pior? Coimbra José Maia 55 anos, utente do Centro Comunitário da Cruz Vermelha Portuguesa - Pólo da Figueira da Foz “Pessoas que precisam realmente, não entram na habitação social.” “A reforma da minha mãe fica toda para a instituição, sobram 6€ para medicamentos.” “A segurança social devia ter uma maior fiscalização da gestão feita pelas instituições.” 13 Aurora Coelho 50 anos, utente do Centro Comunitário da Cruz Vermelha Portuguesa- Pólo da Figueira da Foz “Lamento a atribuição incorrecta da habitação social a determinadas pessoas e quem é verdadeiramente honesto nem sempre é valorizado…” “Nunca tive direito a pensão de viuvez, bem como o abono de família só veio mais tarde, pois desconhecia a existência do abono para o regime não contributivo…” Maria da Conceição Fernandes 36 anos, Formação para a Inclusão na FigueiraViva “A miséria… a pobreza… a necessidade de uma casa nova…” “O meu maior sonho é conseguir ter uma casa com mais condições, maior e poder ter os meus filhos comigo…” Leila Ferreira 42 anos, formação para a Inclusão na FigueiraViva “STOP!” “À falta de humanidade na liderança das relações;” “À violência para com os imigrantes;” “À falta de condições dadas aos imigrantes que vêm para Portugal;” “Nós, os imigrantes, também contribuímos para o crescimento do País.” Viseu Fernando Ferreira 76 anos, utente do Apoio Domiciliário Fundação Joaquim dos Santos “…o pobre devia ter mais regalias, o nosso governo devia olhar pelos pobres.” “Eu gasto muito em medicação, em moeda antiga às vezes são 40 contos, que é quase o que eu recebo por mês!” 14 Maria Cleonice Carneiro 76 anos, utente do Centro de Dia da Associação de Solidariedade Social de Abraveses “Este é o meu quarto, tem humidade nas paredes, mas há quem esteja bem pior…” “A nossa casa é a casa dos nossos filhos, mas a casa dos nossos filhos não é a nossa casa.” João Almeida 32 anos, utente da APPACDM, ex- formando numa empresa de inserção “Na Junta Médica foi-me negada a pensão que iria receber!” “Não tenho dinheiro nenhum, nem para tomar um café, olho para os outros e sinto-me triste…” “Se tivesse a pensão estava mais tranquilo, poderia ter coisas que não tenho…” João Pina 32 anos, utente da APPACDM “A minha mãe ajudou-me e depois tive que ir para um lar. Mãe é sempre mãe…” Propostas de melhoria do painel da protecção social Necessidade de clarificar a informação prestada por parte das instituições de protecção social (nomeadamente das técnicas de acompanhamento do RSI); Maior apoio à permanência dos imigrantes no país e à nação portuguesa que está no estrangeiro; Maior disponibilidade de informação por parte das estruturas ligadas à habitação, sobre as diversas medidas disponíveis para a recuperação de casas degradadas, ou atribuição de habitação social; Reformas mais equitativas para os diversos sectores da sociedade; Melhores acessos aos bens primários, como os alimentos e os medicamentos; Uma habitação social mais eficaz com vista ao bem estar dos cidadãos; Maior fiscalização da gestão feita pelas IPSS’s, por parte da Segurança Social, para averiguar como são feitas as contas, pois esta existe para ajudar os mais necessitados. 15 Agradecimentos Participantes Alice Oliveira Anabela Ramos Ana Paula Sousa Bruno Cristóvão Cátia Alves Elisabete Reis Elvira Castelo Fernando Ferreira Irene Tomé Isaurinda Rodrigues João Almeida João Paulo Flores João Pina José Silva Maia Leila Aparecida Ferreira Luís Dias Margarete Rebelo Maria Aurora Coelho Maria Cardador Maria Cleonice Carneiro Maria da Conceição Fernandes Maria Júlia Azevedo Maria de Lurdes Paiva Rosa Machado Tânia Baptista Vera Janardo Facilitadores Ângela Simões Carla Plácido Cláudia Cardoso Elisabete Reis Lara Ferreira Pedro Jorge Renato Santos Sandra Martins Sónia Carvalho Susana Simões Vania Maia Vânia Duarte Cátia Azevedo José Machado Patrícia Grilo Paula Montez Ricardina Reis Susana Lima Tânia Baptista Instituições Academia Cultural e Social da Maceira (Leiria) APPACDM (Viseu) Associação para o Desenvolvimento Social e Comunitário Santarém Cruz Vermelha Portuguesa - Pólo da Figueira da Foz (Coimbra) Cruz Vermelha Portuguesa - Delegação da Guarda Figueira Viva (Coimbra) Associação de Solidariedade Académico de Leiria (Leiria) Fundação Joaquim dos Santos (Viseu) Associação de Solidariedade Social de Abraveses (Viseu) Núcleo Desportivo e Social da Guarda Centro Social Interparoquial de Santarém Provilei (Leiria) CERCIG (Guarda) - Núcleo RSI Santa Casa da Misericórdia do Fundão Cooperativa Vários (Viseu) Santa Casa da Misericórdia de Santarém breves Saúde Direcção Geral de Saúde: www.dgs.pt Alto Comissariado da Saúde: www.acs.min-saude.pt Missão para os Cuidados Continuados de Saúde: www.rncci.min-saude.pt/RNCCI Protecção Social Direcção-Geral de Reinserção Social: www.reinsercaosocial.mj.pt Site da Segurança Social: www.seg-social.pt - Programa Conforto Habitacional para Idosos / Rendimento Social de Inserção / Programa Comunitário de Ajuda Alimentar a Carenciados / Documento de Estratégia Nacional para a Protecção Social e Inclusão Social 2008-2010: http://ec.europa.eu.int/employment_social/spsi/strategy-reports-en.htm Emprego e Formação Portal Mais Emprego: www.maisemprego.pt Portal Vidas.com - Certificação para Todos: www.vidas.com.pt Associação Nacional de Oficinas de Projecto: www.anop.eu 16