Ações do poder público e privado em diversos setores
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Ações do poder público e privado em diversos setores
MINAS www.revistaviverbrasil.com.br ŁŤŢţţŁşŤ Mucuri e Jequitinhonha Ações do poder público e privado em diversos setores levam progressso e esperança à região com menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de Minas Gerais Sistema FIEMG. Promovendo a indústria e levando desenvolvimento a todos os mineiros. A FIEMG Regional Vale do Rio Doce incentiva, apoia e fomenta o desenvolvimento industrial da região. O objetivo da entidade é fortalecer o associativismo empresarial, a integração das empresas e promover o desenvolvimento dos trabalhadores da indústria. A Regional oferece assessoria financeira, consultoria em áreas de meio ambiente e responsabilidade social, estágio empresarial, Certificado de Origem e linhas de financiamentos através dos Postos BDMG/BNDES. www.fiemg.com.br Editorial Sumário Vales à vista 6 Entrevista 8 Economia 13 Automóveis 14 Silvicultura 17 Pecuária 18 Recursos 21 Transporte 22 Mercado imobiliário 24 Comércio 26 Personagens 29 Artesanato 30 Cultura 33 Política 34 Esportes Segundo destino do projeto Viver Minas, que tem como objetivo fazer um retrato das dez macrorregiões de Minas Gerais durante os próximos meses, os vales do Mucuri e Jequitinhonha vivem expectativas de, finalmente, ver o crescimento chegar. Área com o menor índice de desenvolvimento do estado, padece com uma série de problemas que ainda não se solucionaram. Muitas das suas riquezas naturais foram – e ainda são – sugadas do território, sem a menor contrapartida para a população local. Teófilo Otoni, no Mucuri, por exemplo, era conhecida pela quantidade de pedras preciosas que brotavam em suas terras. Por lá existe uma feira anual em que desembarcavam negociantes de todos os cantos do mundo. O evento murchou e a maior parte do que ainda tem de pedras preciosas é beneficiada fora. Ou seja, os valores agregados que poderiam trazer crescimento vão para outro lugar. Em compensação, o povo da região e seus empreendedores não desistem e buscam alternativas: entre empresas de serviços como a Transportadora Ramos, uma das maiores do Brasil, e projetos como a ZPE, uma zona industrial livre de impostos, expectativas são geradas. Áreas imensas de eucalipto e café fazem parte do progresso atual da região. No Jequitinhonha, cidades como Araçuaí despontam com uma riqueza cultural inesgotável, seja em manifestações de música e dança, seja nos belíssimos trabalhos em artesanato. Ainda existe a esperança do minério que, dando certo, levará bilhões de reais a região. Percorri cerca de 1.700 km conhecendo algumas cidades: saí de BH com destino a Teófilo Otoni. Passei por lugares que até a chegada deste projeto não esperava passar. Fui ao mercado municipal de Araçuaí e vi peças de artesanato incríveis na loja Vale com Valor, como as pinturas em telhas de barro, além de ter comido um peixe inesquecível em um restaurante, em rua de terra, chamado Sabor do Peixe. Segui à noite para dormir em Almenara, a pouco mais de 100km, onde pude ver que muitas de suas belas cachoeiras – nas cercanias do rio São Francisco – já não existem mais. Retornando no dia seguinte, de dia, pude ver melhor o que tinha sentido na ida: a estrada que liga Itaobim a Almenara é um perigo, com crateras em boa parte do percurso, fazendo das belas paisagens muito mais um risco que um prazer. Mas a verdade é que vale muito conhecer o nosso país. Tive o privilégio de ir a inúmeras cidades e países do mundo, da Índia a Paris, de Ibiza a Angola, vi muitas coisas. Passei meses em Nova Iorque e no Canadá. Estou me surpreendendo neste início da caminhada em Minas e sei que irei me encantar e entender cada dia mais sobre o estado grandioso chamado Minas Gerais. Na próxima edição seguimos para o Vale do Aço, que está na estrada que leva aos vales do Jequitinhonha e do Mucuri, mas que vive uma situação de desenvolvimento e riquezas bem diferentes. Mesmo com todos os problemas específicos para cada região, tenho plena certeza de que a iniciativa pública e privada trabalharão fortemente para ajudar os que precisam e desenvolver alternativas de trabalho e capacitação para as pessoas que vivem nestes locais. Esta é, inclusive, uma das metas do governador Antonio Anastasia: levar progresso a todas as regiões mineiras. Muito obrigado a você e até a próxima. Fotos da capa: André Fossati Gustavo Cesar de Oliveira, diretor – [email protected] Diretor-geral Paulo Cesar de Oliveira Diretores Gustavo Cesar de Oliveira Paulo Cesar Alkimim de Oliveira Diretor de redação Homero Dolabella Chefe de redação Maria Eugênia Lages Repórteres colaboradores Ana Elizabeth Diniz e Rodoplho Sélos Revisão Maria Ignez Villela Secretária de redação Ana Lúcia Cortez Diretora de arte Oriádina Panicali Machado Editor de arte Renato Luiz Equipe de arte Adroaldo Leal, Gilberto Silva, Gustavo Paiva, Luciano Cabral Editor de fotografia Nélio Rodrigues Assistente de fotografia Uarlen Valério Fotógrafo colaborador André Fossatti Superintendente de operações Eliana Paula Supervisora de circulação Natália Grant Gerente de mercado Gustavo Serpa Supervisora comercial Dária Mineiro Departamento comercial (31) 3503-8888 Cristiana Rey, Rigléia Carvalho, Sandra Câmara, Tatiana Lessa, Wander Bocelli [email protected] Assinaturas (31) 3503-8860 Impressão Log&Print Gráfica e Logística S.A. 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Dos 16 projetos de ZPEs autorizados no Brasil, o de Teófilo Otoni é o que se encontra mais adiantado em termos de implantação. A boa notícia anunciada pelo governador de Minas, Antonio Anastasia, e reforçada pelo secretário de Estado de Desenvolvimento para os Vales do 6 Jequitinhonha, Mucuri e do Norte de Minas (Sedvan), Gil Pereira, é que “tão logo o acionista majoritário das ações da ZPEx Administradora entregue a documentação à Advocacia Geral do Estado, o governo vai disponibilizar, através da Codemig, o recurso para comprar, no mínimo, 51% dessas ações. O governo quer ter o controle e a gestão da ZPE. Esse será um grande investimento regional, porque vai atrair muitas indústrias e comércio para essa região a alavancar o crescimento econômico”, comentou o secretário que esteve recentemente em Teófilo Otoni. Decisão elogiada por Arlindo Matias do Rego, diretor executivo da Zpex SA, administradora da ZPE de Teófilo Otoni. A revista Viver Minas conversou com ele sobre esse instrumento de gestão que já está sendo visto como um divisor de águas para as economias regionais, estaduais e nacionais. Dos 16 projetos de ZPEs existentes no país, a área em Minas Gerais é a única que possui concessão aprovada pelo governo federal. O prazo para a implantação termina neste ano. Em que pé se encontra a negociação com o governo de Minas? Estamos hoje em uma fase de composição acionária que implica a possível participação do estado de Minas Gerais, o que significa que não paramos no espaço e no tempo. Continuamos à procura de parceiros. Temos fortes relações com VIVER Abril 22 - 2011 segmentos privados que hoje compreendem melhor o mecanismo ZPE. Todavia, há que se considerar que qualquer investidor, por menor que seja, ainda se sente inseguro quanto aos aspectos técnicos desse modelo de desenvolvimento econômico. Além do mais, em nível nacional, ainda não se fala sobre possíveis linhas de financiamento para os setores de commodities, por exemplo. Em nossa região temos uma defasagem tecnológica dos teares de granito e, naturalmente, esse é um dos segmentos que precisa passar por uma modernização. Financiamentos, linhas de crédito e repasse científico-tecnológico para esse segmento tornam-se vitais. Somos a primeira ZPE do país a tocar nesse assunto e passamos a ser a primeira administradora que tem abertamente uma política de fortalecimento dos arranjos produtivos da região. A cadeia produtiva pode e deve ser olhada com mais credibilidade e ser fortalecida com linhas de crédito via BNDES, BB, BDMG, BNB, Caixa Econômica, Sudene e outros órgãos. Quantas indústrias já manifestaram interesse em se instalar na área incentivada? Essa não é a nossa preocupação inicial, porque toda e qualquer indústria que esteja hoje inserida no mercado internacional e tem como alvo tornar o seu produto competitivo em vendas terá o interesse de estar dentro de nossa ZPE. Ela vem justamente baratear o custo de produção em até 35%, torná-la competitiva lá fora e gerar incentivos ligados à declaração de renda, simplificação administrativa de procedimentos documentais e outros ganhos. Na prática, o que isso significa? Quando fomos avaliados por audiVIVER Abril 22 - 2011 Podemos ultrapassar os 2 bilhões de reais de movimento financeiro em pouco tempo tora, apresentamos o portfólio de empresas que se prontificaram a estar dentro de nossa ZPE. Isso faz parte da nossa relação oficial com o estado, assim como, de futuros investidores privados. Não nos interessa expor essas empresas hoje, assim como para o estado seria precipitado também expor suas ações de busca de empresas para o nosso projeto ZPE. Mas, posso garantir que empresas ligadas à área de tecnologias renováveis, computação, alimentação, beneficiadoras de resíduos minerais, reflorestamento e beneficiamento de celulose, joalheria, carne, couro, leite, fruticultura e outros. Qual o montante que a implantação da ZPE deve movimentar? Eu gostaria de discutir esse assunto no âmbito maior com as ZPEs em funcionamento e o impacto que esse modelo de transformação econômica e social, fortalecido pelo poder de distribuição de renda, pode gerar em âmbito nacional daqui a 10 anos. Em recente entrevista dada por representantes do setor de granito da nossa região, foram apresentados valores na ordem de 500 milhões de reais de movimento anual na extração e saída dessa matéria-prima in natura. Hoje, o produto é extraído e levado embora sem agregar qualquer valor. Quem ganha com isto é a região que vai beneficiar o produto, essa commodity. Imagine se pudéssemos agregar valor ao produto aqui em nossa cidade, absorvendo mão de obra e o dinheiro entrando em nossa economia local. Estamos falando de um único setor. Se computarmos no mínimo cinco empresas operando valores semelhantes, podemos ultrapassar a marca de 2 bilhões de reais de movimento financeiro em curto espaço de tempo. Se jogarmos isso em nível nacional, e diante da grandeza do empreendimento de outras ZPEs que já dispõem de áreas que ultrapassam 400 hectares, esses valores vão representar muito para a economia regional, do estado onde estão localizadas e para o país. Essa movimentação seria altamente impactante e transformadora para a economia do país. Exatamente. Como passar despercebido para o país que as ZPEs não venham, em futuro próximo, serem reconhecidas como um dos grandes facilitadores da queda de barreiras tributárias, administrativas e facilitadoras para investidores estrangeiros que buscam locais de produção que venham fazer o seu produto mais aceitável no mercado? Na verdade, quantificar valores hoje é colocar por baixo qualquer avaliação financeira. O pool de produção industrial que pode sair do modelo ZPE poderá ser tão impactante que não me exponho em avaliar. Estou falando da necessidade de se discutir as ZPEs como um projeto nacional e Teófilo Otoni está na dianteira desse processo. 7 VIVE R M I NAS MUCURI E JEQUITINHONHA ECO N O M IA 8 VIVER Abril 22 - 2011 Gigante adormecido MERCADO DE PEDRAS PRECIOSAS EM TEÓFILO OTONI TEM POTENCIAL EXTRAORDINÁRIO, MAS ESTÁ ESTRANGULADO ANA ELIZABETH DINIZ O André Fossati VIVER Abril 22 - 2011 Brasil é internacionalmente conhecido pela diversidade e grande ocorrência de pedras preciosas em seu solo. É o segundo maior produtor de esmeraldas e o único de topázio imperial e até recentemente de turmalina Paraíba. Também produz, em larga escala, citrino, ágata, ametista turmalina, água-marinha, topázio e cristal de quartzo. O Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos (IBGM) estima que o país seja responsável pela produção de cerca de um terço do volume das gemas do mundo, com exceção do diamante, do rubi e da safira e que pouco menos de 80% das pedras brasileiras (em volume) tenham como destino final as exportações, tanto em bruto, incluindo espécimes de coleção, como lapidadas. Os números que parecem ser robustos, na verdade são ínfimos frente ao potencial do garimpo brasileiro. A capital mundial das pedras preciosas, Teófilo Otoni, está inserida geograficamente no centro da denominada “Província Gemológica Oriental Brasileira”, uma das áreas mais ricas do planeta, tanto em quantidade, como em variedade e qualidade de ocorrências gemológicas. “Temos em nosso subsolo um gigante adormecido que mal foi arranhado. Apenas 1% do seu potencial foi explorado em um século”, diz Edmilson Pereira, presidente da Gems Exporter´s Association (GEA) que aponta para vários gargalos no setor e vê na Bolsa Brasileira de Pedras Preciosas, uma alternativa para a crise. Para entender essa realidade é preciso compreender a cadeia produtiva do setor de pedras preciosas que passa pela produção no garimpo, o comércio de gemas 9 E C O N O M IA brutas, as indústrias de lapidação e joalheria, quando finalmente a gema é vendida nas lojas. “A população vem perdendo poder aquisitivo e os garimpos, que no passado eram financiados por micro-investidores como profissionais liberais e donos de estabelecimentos comerciais, perderam sua mola propulsora. Há 50 anos, quando os garimpeiros tiravam o bambu (muita quantidade) estimulavam os bancos a investir. Isso não ocorre mais”, explica Edmilson. Nos últimos 15 anos, os órgãos estaduais começaram a fiscalizar e a multar. “A legislação ambiental hoje é punitiva, mas não educativa. Fecham o garimpo, penalizam, mas não orientam. Por outro lado, não houve por parte do setor um planejamento que pudesse levar a uma gestão em equilíbrio com a natureza. O desenvolvimento tem que ser sustentável, mas é preciso ações educacionais junto aos microempresários que não têm cultura nesse sentido. É preciso um envolvimento dos poderes públicos municipal, estadual e federal para eliminar esse gargalo que hoje é a política ambiental que fecha o garimpo e EDUARDO GOMES, terceira geração de lapidários na família 10 POTENCIAL 600 era o número de empresas de lapidação no Brasil em 2009 19ª é a posição que o Brasil ocupa na produção de joias 13ª é posição que o país ocupa em relação ao consumo de pedras preciosas no mundo 90 mil empregos diretos foram gerados pela mineração em 2009 Fonte: Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos (IBGM) deixa o cidadão sem trabalho e à mercê da cesta básica do governo. Isso fez com que a produção despencasse no garimpo”, analisa Edmilson. Esse primeiro gargalo na ponta da cadeia produtiva chega lá na frente, no consumidor final. Sem pedra não tem comércio. O empresário defende uma iniciativa dos poderes pú- blicos e entidades de classe para que os garimpeiros sejam organizados em cooperativas e entidades com personalidade jurídica e possam contar com o auxílio de técnicos para instruí-los a cumprir a legislação minerária ambiental. “A produção na Província Gemológica Oriental Brasileira está estagnada. Esse quadro pode ser mudado se a questão for tratada com profissionalismo e um planejamento que envolva as empresas do setor, entidades de classe e o Sebrae para que haja produção. A maioria dos garimpos está na informalidade, faltam incentivos”, alerta Edmilson. O garimpo está sufocado, estrangulado, “mas se for destravado, ele anda praticamente sozinho. Os municípios não investem, mas também não arrecadam. Uma produção de 150 milhões de reais joga nos cofres públicos cerca de R$ 8 a R$ 10 milhões. É possível que muitos municípios não arrecadem isso em um ano. A gestão pública do setor precisa ser urgentemente revista. Não VIVER Abril 22 - 2011 Fotos: André Fossati EDUARDO ALMEIDA, corretor: dificuldades com câmbio e legislação ambiental podemos ter um programa minerário aliado a um político, mas a um setor”, ressalta o empresário. Uma alternativa, diz Edmilson, seria a criação da Bolsa Brasileira de Pedras Preciosas, uma comissão capacitada de avaliação. “A produção ficaria em uma bolsa, seria avaliada e colocada em lotes. Títulos seriam emitidos para o produtor. Aquela mercadoria ficaria à disposição do mercado pelo valor real. Dessa forma, o Brasil vai internalizar seus recursos naturais que vão valorizar. A rede bancária vai descontar esses títulos que vão a pregão. Quem paga mais arremata pelo valor mínimo que foi avaliado. Dessa forma, o comércio sairia da informalidade e criaria condições legais para o produtor que não vai precisar de intermediário. Mais emprego e arrecadação seriam criados”, propõe. Lapidação As técnicas de lapidação em Teófilo Otoni chegaram com a migração alemã. No passado, a cidade chegou a ter 10 mil lapidários, no entanto, diagVIVER Abril 22 - 2011 dem-nas aqui dentro por preços imbatíveis. Deslealdade com os lapidários que sobrevivem da profissão”. Delicado e sofrido ofício. Em sua oficina, Eduardo mostra o ciclo produtivo que começa com a pedra bruta que é cortada, formada, calibrada, lapidada e, finalmente, polida. “É a munheca que dá forma e que faz a diferença”, ensina com orgulho. São turmalinas multicoloridas, quartzos rosa, fumê, branco, alexandrita, crisoberilo, águas marinhas, morganitas, goshenitas e muitas outras que vão principalmente para os Estados Unidos, Itália e Alemanha. Eduardo tem esperança de que a classe, hoje desvalorizada, possa merecer a atenção do governo através de uma política de financiamento para o setor que permita a estocagem. “Os lapidários desejam crescer e sair da informalidade”, defende. nóstico feito em 2004 mostrou que havia apenas 359 microunidades de Comércio lapidação e menos de 3 mil lapidários A crise mundial e valorização do cadastrados. Com a baixa produção, real frente ao dólar provocaram um muitos deles passaram a lapidar vidros desastre real no comércio de pedras e sintéticos para não morrer de fome. preciosas. “A crise quebrou 70% das A cultura dos lapidáempresas de mineração. O rios passa de pai para filho. poder de barganha do coComo é o caso de Eduardo mércio hoje não é nem 50% Gomes, 32, a terceira gerado que era há 20 anos”, anação. “Lido com pedras deslisa Edmilson Pereira. FRASE de os 10 anos. Aos 12, era Segundo Eduardo Carcolador e, aos 15, já estava doso de Almeida, o Nen, “Lido com trabalhando. Eu amo esse presidente da Associação pedras negócio de paixão”, condos Corretores do Comérdesde os 10 fessa. Eduardo trabalha em cio de Pedras Preciosas de anos. um turno em um hotel da Teófilo Otoni-MG (AccomAmo esse cidade. “Tive a chance de pedras) que reúne mil asnegócio de ter ótimos patrões que deisociados e cerca de 20 mil paixão” xam que eu exponha as mipessoas indiretamente, o Eduardo Gomes, nhas pedras aqui. E ainda comércio de pedras está lapidário tenho pequenas peças que decadente desde que foi fazem muito sucesso com implantada, há cerca de 15 os turistas, principalmente anos, uma legislação ambiental “mais os estrangeiros.Mas a minha luta di- opressiva do que educativa. Isso afuária se dá com dois gigantes, China e gentou o garimpo que apresentou Índia que compram as pedras brutas, queda de 90% na produção. A quebeneficiam-nas lá fora e depois ven- da do dólar também desanimou 11 E C O N O M IA aqueles que ainda se aventuravam no garimpo. Nossa região, famosa por ser a capital mundial das pedras preciosas, não é mais de exploração”. Nen defende a criação de leis regionalizadas que possam se afinar com a cultura e economia locais e a aceleração da criação da Zona de Processamento e Exportação (ZPE) que vai dar melhores condições para os comerciantes que passam a comercializar diretamente seus produtos com isenção de impostos e contribuições federais e liberdade cambial. Essa alternativa é considerada também a mais viável para Marcos Antônio Chácara, presidente da Cooperativa dos Lapidários de Teófilo Otoni. “O governo não tem uma política que impeça a saída das pedras brutas. Com isso, ficamos sem trabalho enquanto a China e a Índia estão levando para fora as nossas riquezas”. Realidade Os envolvidos nessa cadeia produtiva estão se articulando. A Feira Internacional de Pedras Preciosas, que acontece sempre no mês de agosto, já está consolidada e atrai centenas de turistas brasileiros e estrangeiros para a cidade. Até o final do ano será ANOTE Fotos: André Fossati EDMÍLSON PEREIRA: apenas 1% explorado inaugurada a Expominas, área de 90 mil metros quadrados, sendo 10 mil de área construída, salão de exposições com capacidade para 5 mil pessoas, auditório para mil pessoas, além de outros quatro auditórios de apoio com 450 metros quadrados e capacidade para 100 pessoas cada um. O espaço vai abrigar o Museu Histórico da Cidade e o Museu de Pedras Preciosas, que pretende ser um dos maiores do mundo. A cidade comemora a criação da Unidade de Inovação Tecnológica (Unit) concebida como projeto piloto de um Centro de Referência que integra competências para o avanço tecnológico do setor de gemas e joias. A proposta é desenvolver capacidade tecnológica, tornando mais competitivos os arranjos produtivos locais de gemas, joias e artefatos de pedra. Através da parceria entre a Universidade Estadual de Minas Gerais e a Unit está em andamento a criação de um curso de técnico em joalheria e lapidação que deve começar em julho. Foi criado o Telecentro Mineral, rede de acesso coletivo à internet com informações sobre novos mercados, aproximando eletronicamente empresários, cooperativas, associações, sindicatos, trabalhadores, instituições públicas e privadas, organizações não governamentais e a sociedade em geral. A proposta é estimular o desenvolvimento sustentável através da condução técnica adequada da lavra e do processamento dos minérios, recuperação ambiental, saúde e segurança do trabalhador, assim como a agregação de valor à produção mineral e, sempre que possível, aos rejeitos, além de ampliar os mercados de atuação dos pequenos mineradores. Circuito turístico 12 Q Circuito Turístico das Pedras Preciosas (33) 3521-0565 e 8829-2628 com Bruno de Sá Q Caminhos das Pedras (33) 3523-4445 e 9906-8890 com José Nogueira Q Lapidário Eduardo Gomes (33) 8817-1686 e 8859-7628 Q Compra de pedras preciosas Rua Engenheiro Antunes, 256, centro Teófilo Otoni já trabalha, ainda de forma incipiente, com um roteiro turístico que abrange toda a cadeia produtiva de pedras preciosas. “O turista conhece primeiramente os garimpos que ficam no distrito da cidade de Caraí (a 80 km de Teófilo Otoni), na sequência uma casa de lapidação e, por fim, pode fazer compras nas centenas de lojas localizadas principalmente na praça Germânica, praça Tiradentes, Casarão do Sesc e Pontilhão da Ferrovia Bahia-Minas”, convida Bruno de Sá, gestor do Circuito Turístico das Pedras Preciosas. VIVER Abril 22 - 2011 VIVE R M I NAS MUCURI E JEQUITINHONHA AU TO M ÓV E I S Divulgação Rumo a Nanuque APÓS O SUCESSO DAS VENDAS NA UNIDADE DE TEÓFILO OTONI, CONCESSIONÁRIA ABRIRÁ UNIDADE NA CIDADE VIZINHA RODOLPHO SÉLOS aumento do poder aquisitivo dos consumidores dos vales do Jequitinhonha e do Mucuri motivou a Total, importante concessionária General Motors da região, do Grupo Lider, atualmente com uma unidade em Teófilo Otoni, a abrir ainda neste ano uma loja em Nanuque. “Por pertencer ao maior grupo de revendas de automóveis do país, pela credibilidade adquirida ao longo de 27 anos e pelo respeito aos nossos clientes, somos uma empresa de destaque na região, onde devemos investir muito nos próximos anos”, disse o diretor José Braz Neto, destacando que a participação da região na receita da empresa chega a 21,5%. “Ofereceremos aos nossos O VIVER Abril 22 - 2011 clientes instalações modernas e confortáveis, além de funcionários qualificados na fábrica, o que resultará em uma maior eficiência nas operações”, diz Neto. Com expressiva área operacional, instalações funcionais e equipe comprometida, a Total está instalada em Teófilo Otoni e, desde 1984, opera dentro do conceito de uma concessionária moderna, voltada para o conforto e bom atendimento de seus clientes. No ano passado, a empresa cresceu 18,4% em relação a 2009. Para 2011, a meta é crescer mais 22%. “Este aumento se deve principalmente ao atual momento da economia brasileira, que estimula o poder de compra dos consumi- dores. Além disso, contamos com a agressividade nas vendas de nossos colaboradores altamente qualificados”, disse o gerente-geral João Adolfo Duvanel, dando destaque também à participação das classes C e D, um público de constante ascensão no mercado de veículos. “As vendas para este público aumentaram cerca de 30%”, revela. Os modelos da Chevrolet mais vendidos na concessionária são o Classic LS, Celtas LS e LT, Agile e S10 Flexpower e Diesel. “Vendemos uma média de 60 unidades por mês”, diz Duvanel que atribui às campanhas na mídia e aos treinamentos dos funcionários o sucesso dos negócios. 13 VIVE R M I NAS MUCURI E JEQUITINHONHA S I LV I C U LT U R A Café com sabor de eucalipto CAFEICULTORES INVESTEM NAS ÁRVORES PARA SUPRIR DEMANDA DE SIDERURGIAS 14 VIVER Abril 22 - 2011 RODOLPHO SÉLOS O cultivo de café e as plantações de eucalipto no Vale do Jequitinhonha começaram praticamente juntos, há cerca de 40 anos. Em meados dos anos 1970, a cidade de Machado, no sul de Minas, uma das principais áreas de plantações de café do Brasil, foi atingida fortemente por geadas, deixando vários cafeicultores à deriva e à procura de outras regiões para plantar. O então prefeito da cidade, o produtor de café Walter Palmeira, preocupado com os rumos da cafeicultura no município, resolveu visitar o Vale do Jequitinhonha, estimulado por rumores da existência de alguns chapadões com plantações de eucalipto e de café. Ele encontrou, em Capelinha, plantações tímidas, mas bem tradada. Hoje, a cidade é um polo cafeicultor de destaque no cenário nacional, tendo cerca de 500 produtores, centenas de lavouras irrigadas e mecanizadas e safras anuais de 150 mil sacas, gerando cerca de sete mil empregos diretos. Os números são expressivos para o Vale do Jequitinhonha, que ainda ganha o reconhecimento da qualidade dos grãos produzidos. “Acredito que a qualidade do café começa sempre na fazenda, onde temos de investir constantemente em acompanhamento técnico, desde a colheita até a catação, esta última inteiramente mecanizada”, explica o cafeicultor Sérgio Meirelles, proprietário da empresa Café Aranãs e que foi uma das vítimas da geada, estabelecendo-se na região na década de 1970. Mas por trás da qualidade sugerida por Meirelles, existem altos investimentos, dificilmente bancados pela maioria dos produtores. “Em Capelinha e região, ainda faltam investimentos em infraestrutura, VIVER Abril 22 - 2011 principalmente um programa voltado para a renovação das lavouras, pois estas são muito velhas, precisam de tratamento genético para garantir maior resistência às pragas. Os altos valores para a manutenção das lavouras não são sustentados pelos cafeicultores e muitos desistem do negócio”, afirma o secretário de Agricultura de Capelinha, Haroldo Geovanini. Os altos gasto da cultura, muito vulnerável ao clima e às pragas, mandas das siderurgias”, lembra o produtor de eucalipto, Luís Manuel Martins, que ainda continua com suas fazendas de café, embora admita que o eucalipto tenha lhe rendido mais lucros nos últimos anos. “Enquanto comercializo 8 mil sacas de café por ano, em um terreno de 200 hectares, vendo 2,5 metros cúbicos de carvão por mês, em uma área de 1,5 mil hectares de eucaliptos plantados”, revela. O maior volume de plantação começa em NÚMERO 340 mil toneladas de carvão vegetal serão produzidos pela ArcelorMttal em 2011, no Vale do Jequitinhonha além da mobilização de grande mão de obra para o plantio, têm estimulado tradicionais cafeicultores de Capelinha e região a investirem na plantação de eucaliptos para produção de carvão vegetal e madeira. Algo que as famílias produtoras de café atingidas pela geada da década de 1970 nunca poderiam imaginar. “Tinha áreas ociosas de café, então resolvi investir na plantação de eucaliptos, mesmo porque nem tinha muito espaço para crescer com a cafeicultura. Muitos produtores abandonaram o café pelo alto custo da produção na última década e ficaram de olho nas de- outubro, por ser o período das chuvas. As florestas de eucalipto são utilizadas para produção do carvão vegetal, principal fonte energética da cadeia produtiva do setor siderúrgico. A indústria de base florestal também é sinônimo de empregos e promoção social. Atualmente, a atividade contribui para a geração de 2,5 milhões de postos de trabalho diretos e indiretos no país. As informações são da Associação Mineira de Silvicultura (AMS). Na década de 70, atraídas por programas de incentivos fiscais ao reflorestamento, algumas empresas 15 Forno da ArcelorMittal, no Vale: empresa tem 76 mil hectares de eucalipto na região se instalaram na região tio de florestas em Minas buscando suprir a cresGerais. Passados poucente demanda de carvão co mais de dois anos, há vegetal das siderúrgicas uma retomada no setor, e indústrias de ferrolia exemplo dos projetos FRASE ga mineiras. A atividade e investimentos da Arceganhou força e sustenlorMittal Bionergia, no “Produtores tabilidade e, ao mesmo Vale do Jequitinhonha. abandonatempo, trouxe progresso Segundo a empresa, o inram o café na aos municípios. O Índice última década, vestimento previsto para de Desenvolvimento Hueste ano na região será da de olho nas mano (IDH) dos municídemandas das ordem de R$ 78 milhões. pios com a atividade no A e m p re s a p o s s u i siderurgias Vale do Jequitinhonha, uma política de contraLuís Manuel Martins, com a atividade, melhotação de mão de obra e produtor rou, em média, 14,9%, serviços que prioriza a entre 1991 e 2000. A mécontratação local. Já fodia de avanço para o estado de Mi- ram gerados mais de 1.100 emprenas Gerais, no mesmo período, foi gos diretos na região. Em paralelo, a de 10,9%. ArcelorMittal BioEnergia investe em Porém, durante a crise financei- uma série de programas voltados ra internacional, entre os anos de para a geração de renda, educação e 2008 e 2009, o congelamento dos cultura nas comunidades. Com setoinvestimentos em projetos silvíco- res específicos para as áreas de meio las pelos setores de ferro-gusa, fer- ambiente e responsabilidade social, roligas, papel e celulose e painéis de desenvolve programas de controle, madeira causou retrocesso no plan- monitoramento e melhoria das con16 dições socioambientais nos municípios onde atua. A ArcelorMittal chegou ao Vale do Jequitinhonha na década de 70 e possui cerca de 126 mil hectares plantados, 76 mil deles nos municípios de Capelinha, Itamarandiba, Veredinha, Turmalina e Minas Novas. Conforme informou a empresa, a produção de carvão vegetal no Vale do Jequitinhonha em 2011 será de 340 mil toneladas. A ação de uma grande empresa na região provoca reflexos em vários setores. Na área ambiental, houve a construção de barragens para perenização de córregos na região, a preservação de córregos e cabeceiras e programas de educação ambiental com as comunidades. E, através da Fundação ArcelorMittal Acesita, projetos de capacitação, divulgação e fomento à comercialização do artesanato vêm sendo feitos. Nos últimos anos, foram atendidos 174 artesãos de seis comunidades do Vale. VIVER Abril 22 - 2011 VIVE R M I NAS MUCURI E JEQUITINHONHA P E C UÁ R I A Uma questão de sobrevivência PRODUTORES DE LEITE DO JEQUITINHONHA E MUCURI SÃO AFETADOS PELA FALTA DE POLÍTICAS PÚBLICAS DO SETOR RODOLPHO SÉLOS O s vales do Jequitinhonha e Mucuri são considerados pouco favoráveis para a produção de leite. Eles produzem juntos apenas 894 milhões de litros por ano. Número expressivo, mas se comparado à produção anual de todo o estado de Minas Gerais, que é de 7 bilhões de litros, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), fica a pergunta: por que essas regiões ainda produzem pouco leite? A resposta pode estar no pouco apoio aos produtores rurais e na falta de políticas públicas para fomentar o setor, segundo o presidente da Comissão Técnica de Pecuária de Leite da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Rodrigo Alvim. VIVER Abril 22 - 2011 “Além disso, a importação do leite tem sido a grande vilã, pois inibe nosso crescimento e afeta as bacias leiteiras. O país voltou a ser deficitário na produção interna e foi no ano passado o maior importador de leite do mundo. É uma concorrência predatória e as regiões mais pobres têm sofrido com isso. Precisamos urgentemente resolver o problema do câmbio e, em paralelo, desenvolver políticas públicas para o setor”, reivindica Alvim. Uma das saídas para os produtores é investir na qualidade do leite e se preparar para a competitividade, muitas vezes desleal. “O primeiro passo em um trabalho de extensão rural é sempre recuperar a autoestima do produtor”, diz o coordenador técni- co regional da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater), Diogo Franklin. Para Franklin, o apoio aos produtores rurais da região é uma questão de sobrevivência das bacias leiteiras. O Minas Leite, um programa de qualificação gerencial e técnico da entidade, tem atuado nas regiões para amenizar o grave problema. “O objetivo do programa é promover a qualidade de vida dos pecuaristas familiares por meio da construção técnica, da organização e da gestão dos seus sistemas de produção na pecuária bovina, propiciando sua integração nas cadeias produtivas vinculadas à atividade, com foco na venda de leite e animais”, explica. 17 VIVE R M I NAS MUCURI E JEQUITINHONHA R EC U R S OS Combate à pobreza GOVERNO VAI INJETAR R$ 20 MILHÕES NESTE ANO EM PROJETOS NOS VALES DO MUCURI, JEQUITINHONHA E NORTE DE MINAS ANA ELIZABETH DINIZ O auditório estava lotado e muitos ficaram de pé. Lideranças de associações e cooperativas, políticos locais e trabalhadores rurais de várias regiões foram conferir de perto a liberação de recursos de 1,6 milhão de reais para o Projeto de Combate à Pobreza Rural (PCPR/ MG), através de 57 convênios que vão 18 beneficiar 1.952 famílias de 29 municípios dos vales do Jequitinhonha, Mucuri e Norte de Minas. São investimentos não reembolsáveis que se destinam a iniciativas de natureza produtiva, social e de infraestrutura básica. A reunião aconteceu em Teófilo Otoni. No entanto, Gil Pereira, secretá- rio de Estado de Desenvolvimento para os vales do Jequitinhonha, Mucuri e do Norte de Minas (Sedvan), tinha outras cartas na manga. Anunciou que o governo vai investir 20 milhões de reais em projetos nessas regiões, praticamente o dobro do ano passado, quando foram liberados 11,6 milhões. Para a implantação de uniVIVER Abril 22 - 2011 Foto André Fossati Fotos André Fossati LIDERANÇAS comunitárias e produtores rurais foram conferir a liberação de recursos para a região SECRETÁRIO Gil Pereira assinou 57 convênios, que beneficiam 29 municípios dades produtivas de piscicultura serão destinados 997,6 mil reais, através de convênio entre o Ministério da Integração Nacional e o Instituto de Desenvolvimento do Norte e Nordeste de Minas (Idene). “Vamos entregar 25 caminhões-pipa para atender às comunidades que necessitam de água e, ainda neste ano, vamos acabar com o analfabetismo na região. Para isso, já VIVER Abril 22 - 2011 cadastramos 128 mil pessoas acima de 15 anos para o programa “Cidadão Nota Dez” e iremos a cada comunidade cadastrar aquela pessoa que não teve oportunidade de estudar. No início de maio, vamos capacitar 8 mil professores”, anunciou o secretário. O PCPR contempla 188 municípios, é fruto de um acordo de empréstimo firmado entre o governo de Minas e o Banco Mundial e está sob a coordenação do Instituto de Desenvolvimento do Norte e Nordeste de Minas (Idene), órgão vinculado à Secretaria de Estado Extraordinária para o Desenvolvimento dos vales do Jequitinhonha, Mucuri, e Norte de Minas (Sedvan). Desde 2006, o projeto criado para reduzir a pobreza e melhorar a renda e a qualidade de vida da população rural, já liberou recursos para 2.131 convênios, totalizando 96,4 milhões de reais em investimentos que beneficiaram 116,6 mil famílias. “Buscamos a inclusão de todos os potenciais beneficiários, incluindo mulheres e minorias, por meio de campanha de informação de todo o estado. O projeto preconiza o desenvolvimento da capacidade dos atores locais de identificar e conhecer a sua realidade de forma participativa, analítica e crí- tica, construindo coletivamente um diagnóstico de sua situação e da comunidade na qual estão inseridos, com indicação de ações para a superação de entraves, por meio dos subprojetos e, de forma integrada com outras políticas públicas que venham a ser desenvolvidas no município”, ressaltou Pereira. Nilson Nogueira, representante da prefeita de Teófilo Otoni Maria José Haueisen Freire, elogiou a política do governador Antonio Anastasia, que aposta no potencial e na história do Vale do Mucuri. “Ele vem nos ajudando a fazer as transformações que queremos e precisamos”. O deputado estadual Neilando Pimenta (PHS) destacou que os municípios dos vales do Mucuri e Jequitinhonha passam por um momento especial de crescimento econômico e a participação de cada produtor rural é decisiva nesse processo. O presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, Dinis Pinheiro (PSDB) lembrou que é filho de um produtor rural e que suas referências vêm dessa região do estado. “Essa bagagem foi fundamental para a minha vida. Por isso, sei que os recursos hoje liberados terão grande importância na vida de cada cidadão. O governador sabe disso e, sua 19 Willian Dias DINIS PINHEIRO : orientação é investir três vezes mais em regiões carentes SCOFIELD: “Quanto mais recursos, melhor. Nós, produtores rurais, vivemos disso” orientação é de que para cada 1 real investido em programas em outras regiões do estado, 3 reais serão aplicados nas áreas mais carentes”. Para o presidente da Associação dos municípios da Microrregião do Vale do Mucuri (Amuc) e prefeito de Itambacuri, Henrique Luiz da Mota Scofield, “quanto mais recursos chegarem à região, melhor. Nós, produtores rurais, vivemos disso. Nossa região tem tido um desenvolvimento significativo justamente porque temos diversificado nossas atividades, mas 80% dos nossos projetos estão relacionados ao cultivo da terra, construção de pequenas indústrias de processamento da farinha, plantadeiras, máquinas agrícolas e, agora, estamos inovando com a piscicultura, que tem nos encantado”. Wilson Guedes, presidente do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural e Sustentável de Teófilo Otoni, ressaltou que “desde que foi lançado em 2006, o PCPR transformou-se em um divisor de águas à medida em que distribui recursos para pequenas comunidades rurais de agricultura familiar, a partir de necessidades apontadas por elas próprias, e não vindas de cima para baixo”. Um exemplo entre tantos veio 20 CIDADES BENEFICIADAS COM O PCPR O Projeto de Combate à Pobreza Rural em Minas Gerais beneficia as comunidades rurais mais pobres do estado e abrange 188 municípios, sendo 89 da região do Norte de Minas, 52 do Vale do Jequitinhonha, 36 do Vale do Mucuri e 11 da região central (microrregião de Curvelo), área de atuação da Sedvan/Idene. Cidades beneficiadas Águas Formosas, Crisólita, Fronteira dos Vales, Itabirinha, Malacacheta, Mantena, Nanuque, Nova Módica, Novo Oriente de Minas, Ouro Verde de Minas, Pavão, Santa Helena de Minas, São Félix de Minas, São João do Manteninha, Teófilo Otoni, Umburatiba, Bandeira, Cachoeira de Pajeú, Felisburgo, Jacinto, Jequitinhonha, Joaíma, Monte Formoso, Palmópolis, Pedra Azul, Rio do Prado, Rubim, Santa Maria do Salto e Santo Antônio do Jacinto. da cidade de Nanuque, no Vale do Mucuri, com 41 mil habitantes. A Associação dos Pequenos Produtores Rurais da Comunidade de Pedroso adquiriu, com recursos do PCPR, uma unidade de resfriamento de leite que beneficiará 17 famílias, ao custo de 61,8 mil reais. Destaque Um dos desafios estruturais do comércio exterior de Minas Gerais é aumentar as exportações em todas as regiões do estado, com atenção especial para os vales do Mucuri e Jequitinhonha, Leste e Norte de Minas. A afirmação é da secretária de Estado de Desenvolvimento Econômico, Dorothea Werneck, ao confirmar o crescimento expressivo que essas regiões, consideradas as mais pobres de Minas Gerais, apresentaram em 2010. Segundo dados da Central Exportaminas, unidade vinculada à Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (Sede), que realiza mensalmente o Mapeamento das Exportações de Minas Gerais, com base nos dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), merecem destaque em 2010 os números do Norte de Minas e dos vales do Mucuri e Jequitinhonha. O crescimento registrado foi superior a 57%, muito próximo à elevada média do estado de 60%, que reflete em grande medida o desempenho das commodities minerais e agrícolas. VIVER Abril 22 - 2011 VIVE R M I NAS MUCURI E JEQUITINHONHA TRAN S P O RTE Novela com final feliz OBRAS DO AEROPORTO DE TEÓFILO OTONI PODERÃO TER INÍCIO AINDA ESTE ANO RODOLPHO SÉLOS O AEROPORTO JK Pista 1.190 metros de extensão por 23 de largura Opera voos particulares Reforma: licitação aprovada, orçada em R$ comércio e a prestação de ser- município, que mesmo assim ainda viços concentram a maior parte aguarda a liberação de recursos para da mão de obra e são responsá- a reforma do aeroporto JK, atualmenveis por 70% do Produto Interno Bru- te de pequeno porte, com pista asto (PIB) de Teófilo Otoni, no Vale do faltada cujo comprimento é de 1.190 Mucuri. No município, os destaques metros por 23 metros de largura. A são para o crescimento da construção prefeitura negocia o retorno de rota civil, para a bovinocultura, para o se- de voos diários, além da reforma destor sucroalcooleiro e para o promissor te aeroporto já incluída no programa segmento de educação superior, com estadual de recuperação e manutencerca de 8 mil estudantes. Além disso, ção aeroportuárias (Proaero). segundo a Zona de Processamento de Mas, apesar da longa espera, tudo Exportação S.A, adminisindica que essa novela terá tradora da ZPE de Teófilo um final feliz. A boa notícia Otoni, diversas empresas para os passageiros que deestão interessadas em insembarcam pelo aeroporto FRASE vestir por lá. de Governador Valadares Com tantos atrativos e enfrentam rodovias peri“A demanda econômicos e dados progosas para chegar a Teófilo de todo missores é natural imaOtoni é que saiu a licitação o vale do ginar que o aeroporto do para a reforma do aeroporMucuri por município tenha infraesto, orçada em R$ 2,1 mivoos diários trutura para atender à delhões. O município aguarda é fortíssima” manda de passageiros. a liberação da verba previsBruno Balarini Porém, não é exatamenta para 15 de junho pelo gote isso que acontece. Teóverno estadual. filo Otoni não possui um “A demanda de todo o aeroporto para voos covale do Mucuri por voos merciais. Na última década, o poder diários é fortíssima. Teófilo Otoni é público investiu de forma sistemáti- a mãe do Vale do Mucuri, sem infraca em infraestrutura na região e no estrutura aeroportuária fica difícil VIVER Abril 22 - 2011 2,1 milhões atrair investimentos para a região”, reivindica o secretário de Indústria, Comércio e Turismo de Teófilo Otoni, Bruno Balarini. Companhias aéreas já manifestam o desejo de operar em Teófilo Otoni, a exemplo da Trip Linhas Aéreas, maior operadora de voos regionais do país, com 82 destinos. “É mais uma oportunidade para oferecermos nossos serviços e contribuir com o desenvolvimento da região. Mas é preciso que o aeroporto ofereça infraestrutura adequada”, avisa o diretor de Marketing e Vendas da Trip, Evaristo Mascarenhas. Enquanto as obras do aeroporto JK não começam, vários investimentos estão sendo feitos na cidade, o que aumenta a necessidade da reforma para atrair o turismo de negócios. Entre os projetos em andamento estão a construção do Centro de Convenções orçada em R$ 26 milhões, a instalação e funcionamento do polo de inovação, projeto da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, com investimento de R$ 6 milhões, e a construção de alojamento estudantil para a Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, projeto no valor de R$ 10 milhões. 21 VIVE R M I NAS JEQUITINHONHA E MUCURI M E RCADO I M OB I LIÁR IO Incorporação mais ágil ALCANCE ENGENHARIA, PRIMEIRA DO MUCURI CERTIFICADA COM ISO 9001, LANÇA EMPREENDIMENTO COM 13 TORRES EM TEÓFILO OTONI 22 TEREZINHA MOREIRA Alcance Engenharia – primeira empresa do Vale do Mucuri a ser certificada com os selos de qualidade ISO 9001 e PBQP-H nível A – comemora seus 26 anos de fundação neste mês com o lançamento de mais um empreendimento, que confirma sua atuação de vanguarda na construção civil de Teófilo Otoni. O Belle Ville, condomínio composto por 13 torres, terá 208 unidades com tamanhos variados e uma série de inovações. “Nossa proposta é promover mudanças no conceito da incorporação imobiliária na cidade, com a projeção e construção de condomínios modernos, que atendam às necessidades de nossos exigentes clientes e o principal: que serão entregues em apenas 24 meses, conforme nova proposta da empresa para a cidade”, diz o diretor administrativo da Alcance Engenharia, Bruno Ma- A cedo Lorentz. No caso do Belle Ville, o grande diferencial será que a Alcance irá administrar o condomínio no primeiro ano, após a entrega dos apartamentos. “O Belle Ville terá acesso único para melhor garantir a segurança dos seus moradores. É o primeiro empreendimento do Nordeste de Minas com este conceito”, ressalta Bruno Lorentz. A expectativa do diretor de operações da Alcance Engenharia, Ricardo Macedo, é de que 90% das unidades do Belle Ville sejam negociadas em prazo máximo de 90 dias, após o pré-lançamento. Uma das justificativas para este otimismo é a possibilidade de as unidades serem financiadas pela Caixa Econômica Federal, por meio do programa Minha Casa, Minha Vida, para famílias com renda entre três e dez salários mínimos. Aliás, o proVIVER Abril 22 - 2011 Fotos: Divulgação CONDOMÍNIO terá apartamentos com 2 e 3 quartos com suíte, áreas verde e de lazer e guarita de segurança grama do governo federal, segundo Macedo, está impulsionando os negócios da Alcance Engenharia. O Belle Ville é o segundo empreendimento residencial da empresa em Teófilo Otoni em apenas um ano. O primeiro foi o condomínio Mediterrâneo, com três dormitórios, suíte com closet, área completa de lazer com piscinas adulto e infantil, espaço fitness, deck gourmet. O sucesso do empreendimento levou a direção da empresa a projetar o Belle Ville, em área superior a 11,8 mil metros quadrados. “Depois de trabalharmos longos anos como empreiteira, tendo realizado grandes obras em Minas Gerais, estamos direcionando nosso foco para a incorporação imobiliária”, salienta Ricardo. Segundo ele, a Alcance Engenharia é uma das maiores construtoras de imóveis para a Companhia de Habitação do Estado de Minas Gerais (Cohab/MG). Somente em 2010 foVIVER Abril 22 - 2011 BELLE VILLE Localização: bairro Bela Vista Q Condomínio fechado, com 2.921,55 m² de área verde e 174,31 m² de área de lazer Q Área total: 11.868,32 m² Q Total de unidades: 208 Q Apartamentos de 2 e 3 quartos com suíte, distribuídos em planta inteligente Q Área comercial ao lado do empreendimento Q Guarita única de controle de acesso Q Fácil acesso aos principais pontos da cidade Q Comércio amplamente desenvolvido, com padarias, farmácias, supermercados, hipermercados, concessionárias, banco e restaurantes Q Projetos de arquitetura, decoração e paisagismo: Letícia Ferreira de Melo Fonte: Alcance Engenharia ram 1,5 mil casas em diversas cidades do estado. A empresa também está construindo 256 apartamentos em Igarapé, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, cujas obras estão em fase de finalização. Como no restante do país, o mercado imobiliário em Teófilo Otoni, segundo Bruno Lorentz, está bastante aquecido. “O programa Minha Casa, Minha Vida tem dado oportunidade para as empresas desenvolverem novo nicho no mercado, o da habitação popular, por causa das facilidades que a Caixa oferece para pagamento do imóvel, o que possibilita às construtoras lançarem mais empreendimentos”, analisa o diretor administrativo da Alcance Engenharia. Com esta nova realidade do mercado imobiliário, também em Teófilo Otoni, com mercado aquecido e demanda crescente, certamente outras novidades virão por ai. É só aguardar. 23 VIVE R M I NAS MUCURI E JEQUITINHONHA CO M É R C I O Fotos André Fossati A venda do seu Lidirico e dona Iaiá ARMAZÉM EM ARAÇUAÍ TEM DE UM TUDO E DE TUDO UM POUCO AMOR de 61 anos do seu Lidirico e dona Iaiá se fortalece atrás do balcão 24 VIVER Abril 22 - 2011 ANA ELIZABETH DINIZ L idirico é marca registrada e figurinha carimbada em Araçuaí. Nascido no dia 7 de julho de 1927 em Novo Cruzeiro, é carismático, alto astral, pacífico e eterno apaixonado pela companheira de todas as horas dona Lair, conhecida como Iaiá, com quem está “muito bem casado”, declara-se entre uma prosa e outra, enquanto segurava a mão da amada. “Amor à primeira vista, quando a vi na janela, logo pensei: que menina bonitinha!”. Sem que os dois pudessem suspeitar, nascia naquele instante uma união sólida que gerou 15 filhos, 34 netos, 11 bisnetos, uma família numerosa e animada de 80 pessoas. Uma parceria que extrapolou os laços do amor e hoje, passados 61 anos, se fortalece diariamente atrás do balcão da rua dom Serafim, 225, em Araçuaí. A venda do seu Lidirico é um estabelecimento inusitado sem hora para abrir ou fechar. Certo mesmo é que, faça sol ou chuva, dona Iaiá abre as portas seja sábado, domingo ou feriado. A venda que tem de tudo um pouco tem “cachaça batizada, sabiá, pássaro preto, curió, periquito, tico-tico e se sobrar rolinha nova ele leva no bico. Paçoquinha, Holywood, bomba de matar mosquito, esteira, furadeira, comprimido, bola, apito. O que lá tem nem imagina o capeta, parafina, vela preta, havaiana, novalgina, sabonete, detergente, camisinha de lampião, querosene para lamparina, tesoura, guarda-chuva, palmilha de sapato, pastilha, doce barato, puxa-puxa, rapadura, chiclete, alfinete, balão, foguete, confete e até vinho do padre que derrubou um milico”, diz de um só fôlego a letra da música “Na Venda do Seu Lidirico”, escrita ali mesmo, na mesa do bar, de uma vezada só pelo músico Milton Edilberto em papel da bobina da caixa registradora. O músico tinha ido à cidade se VIVER Abril 22 - 2011 benzer com Sá Luiza e, conversa vem, conversa vai, bebericou a cachaça da benzedeira. Agradou demais e perguntou que pinga era aquela, no que Sá Luiza respondeu que era lá da venda do seu Lidirico. “O Milton não acreditou naquele nome esquisito e resolveu vir aqui me conhecer. Já tinha ouvido demais o povo falar na tal venda. Mostrei a identidade e ele se convenceu. Passado um tempinho, ele perguntou se podia fazer uma musiquinha sobre a venda”, revela seu Lidirico. A moda de viola é a prova fiel de outras histórias como um sujeito que, para zoar do proprietário, entrou na venda perguntando se tinha pente para tirar caspa. No que seu Lidirico, sem se avexar, perguntou qual cor ele preferia, enquanto pegava o pente. A música que caiu no gosto popular está na boca de outros cantantes como Xangai e pode ser ouvida no Youtube. A primeira e acanhada venda foi montada em sociedade com um irmão quando ele tinha 18 anos e comprou uma geladeira a querosone. Já casado, foi convencido pela sogra e por dona Iaiá a ocupar um espaço da frente da casa. Isso foi em 1960 e dali seu Lidirico não saiu mais. Com o negócio, criou os filhos e ficou conhecido. Mas, o tempo passou também para a venda. As paredes, agora pintadas de azul, não abrigam mais tantas prateleiras que ficavam apinhadas de quinquilharias. “Eu vendia um horror de coisinhas, mas começaram a entrar umas pessoas e a roubar. Meus filhos me convenceram a diminuir as mercadorias. Hoje os tempos mudaram e já não é mais como na época do João (holandês) que bebia, bebia e não queria ir embora. Eu ia dormir, ele saia quando queria, largava a porta aberta e no dia seguinte tudo estava no lugar”, lamenta. O curió cantava na gaiola, Milton Edilberto tocava na vitrola e seu Lidirico atendia a clientela que vinha para O CASAL , na venda: sem hora para abrir nem para fechar comprar alguma coisa ou simplesmente tomar uma cachaça ou uma cerveja gelada e ficar por ali, de papo para o ar. Venda que já recebeu tantos nomes ilustres que fica difícil enumerar mesmo para quem tem uma memória tão extraordinária como o proprietário. Dominguinhos, Rubinho do Vale, Elomar, o jogador Dirceu Lopes, Frei Chico e tantos outros. Dona Iaiá, sempre solícita e alegre se levanta bem cedo para fazer pastel, empada e salgadinhos. Prepara o café do marido e levanta as portas da venda. Ele chega depois. Lê os jornais, revistas, mantém-se informado. Ela não passa aperto nem com bêbado e nem com mau pagador. Tem jogo de cintura. “Aqui é nossa sala de visita”, diz seu Lidirico entre uma prosa e outra enquanto procura pelas cadernetas onde anota as compras, as miudezas que serão pagas quando o salário vier. Moda antiga que resiste lá na venda. Sonhos? “Ficar aqui até falar cansei”, revela seu Lidirico. E dona Iaiá? “Enquanto ele estiver aqui, eu estou com ele”. E tenho dito. 25 VIVE R M I NAS MUCURI E JEQUITINHONHA P E R S O N AG E N S Eles fazem a diferença GENTE DE SUCESSO, QUE NÃO ESQUECE SUAS RAÍZES, MOSTRA COMO AGE PARA MELHORAR A VIDA NA REGIÃO RODOLPHO SÉLOS E ANA ELIZABETH DINIZ TIM SOIER, produtor cultural NASCIDO EM CAPELINHA A história de sucesso começa por acaso em Belo Horizonte, quando uma amiga o convida para produzir uma festa na extinta boate L’ Apogée, na região da Savassi. De lá pra cá, o renomado promotor de eventos, o capelinhense Tim Soier, não parou mais, organizando shows como os de Zezé di Camargo & Luciano, Asa de Águia, Leonardo, Skank e Bruno e Marrone. “Para essa carreira, é preciso ter sorte. A primeira festa que fiz em Belo Horizonte foi um sucesso, até que em 1994 fui convidado a fazer parte do bloco Uai, do extinto Carnabelô. A partir daí, fui intercalando festas e shows”, diz o empresário que, apesar de promover shows em Belo Horizonte e pelo Brasil, não abandonou sua raiz e já organizou vários eventos em Capelinha, sua cidade natal. “Apesar das dificuldades com os eventos em Capelinha, é sempre um prazer mostrar meu trabalho na minha terra, que me deu gás extra para voar mais alto”, comenta, referindo-se ao evento “Capelinha Ausente”, que promoveu em parceria com a prefeitura do município. “Tentamos agradar a todos os públicos, quem gosta de axé, pop rock ou sertanejo”, conta. Apesar das dificuldades, eles conseguiram levar nomes de peso para a cidade, a preços acessíveis. “Um 26 VIVER Abril 22 - 2011 Pedro Vilela André Fossati ingresso do show de Vítor e Leo em Ribeirão Preto custa R$ 80. Já em Capelinha, quando consegui levá-los, saiu a R$ 16,60”, diz. Apesar do sucesso como empresário do ramo de eventos, que reúnem shows de vários gêneros musicais e uma agenda extensa de compromissos, Tim Soier se realiza mesmo quando está à frente de projetos sociais promovidos pela sua empresa, a Tim Soier Promoções. “Atualmente, mantemos um projeto em uma creche em Venda Nova, Região Metropolitana de Belo Horizonte. Mais de 60 filhos de presidiários são contemplados com a festa de Natal. Além desse, fazemos um trabalho em uma escola especializada em educação para portadoras da síndrome de Down, levamos essas crianças para os shows promovidos pela empresa”, conta. “Trabalho há muito tempo no ramo do entretenimento e conheço meu papel como cidadão. Sou muito pé no chão e como um bom mineiro, não sou de empolgar com o sucesso. Apenas trabalho para promover a alegria para todos”, completa. VIVER Abril 22 - 2011 CINARA PACHECO GERDI Secretária-executiva da Amuc EM CIMA DO SALTO D ifícil não identificá-la. Agitada, alegre, falante e articulada, Cinara Pacheco Gerdi, é figura conhecida e respeitada em Teófilo Otoni, principalmente entre a classe política e produtores rurais. Hábil, sabe dialogar, tem jogo de cintura e não se aperta quando tem que endurecer em alguma negociação. Tudo com diplomacia e em cima do salto alto. Há 28 anos, ela ocupa o cargo de secretária-executiva da Associação dos Municípios da Microrregião do Vale do Mucuri (Amuc), está em sua oitava gestão, já trabalhou com 26 presidentes da entidade, prefeitos das mais diferentes regiões, de diversos partidos políticos e perfis variados. Junto a governadores de Minas, intercedeu pela sua região, pleiteando recursos, defendendo projetos e parcerias a fim de criar frentes de oportunidades para encarar a pobreza e a falta de recursos do homem do campo. Ela faz questão de ressaltar que a sua bem-sucedida trajetória profissional está respaldada “em uma equipe excepcional e unida”. São 30 profissionais entre engenheiros civis e agrimensores, arquitetos, topógrafos e assistentes. São eles que criam os projetos de saneamento, urbanístico, de saúde e melhoramento das estradas vicinais para os municípios do Norte mineiro. Verba proveniente do Fundo de Participação dos Municípios. Cinara entrou nessa atividade aos 29 anos, como secretária do secretário-executivo, enfrentou preconceitos pelo fato de ser mulher, a terceira em Minas a ocupar um cargo em associação. “Alguns prefeitos foram mais resistentes do que outros, mas eu tirei tudo isso de letra. Houve pressões políticas para me tirar o cargo, mas resisti. Apesar de ter sido sondada, jamais pensei em entrar para a política. Há pouco tempo, o governador Anastasia disse que eu sou a mais ‘experiente’ no cargo em Minas Gerais”, comenta. 27 P E R S O NAG E N S JOSÉ ANTÔNIO MARTINS SANTANA, Empresário Divulgação EMPRESA FAMILIAR C oragem também é a palavra de ordem para o proprietário da rede de móveis planejados Azul Martins, José Antônio Martins Santana. “Para qualquer empreendedor que queira abrir um negócio, a ousadia é sempre bem-vinda. Vejo que, para conquistar novos espaços é necessário arriscar com responsabilidade”, dá a dica. A empresa comemora duas décadas neste ano, com uma loja em Araçuaí e planos de expansão. “Sempre penso em ampliar os negócios, mas no setor moveleiro é preciso ter muito jogo de cintura e psicologia, pois estamos trabalhando diretamente com pessoas, muitos fornecedores e clientes”, observa. A Azul Martins é uma empresa familiar, inaugurada pelo pai de Santana. “Naquele tempo, não havia muitas empresas desse ramo na região, mas atualmente a realidade é outra. Temos que conviver com a concorrência de uma maneira saudável e colocar o cliente sempre em primeiro lugar, fazendo promoções e oferecendo um serviço de qualidade para fidelizá-lo. Isso é primordial”, diz. A empresa promove treinamentos todo mês para os funcionários, que incluem palestras e cursos de reciclagem sobre móveis planejados. “Penso que para darmos certo no presente, é preciso estar atento às tendências do futuro. É o que fazemos aqui”, completa. JOSÉ MARIA GUEDES, Empresário EM EXPANSÃO E m Araçuaí, a tradição e a visão de futuro caminham juntas. Instalado na cidade há 30 anos, o Supermercado Sévia, do empresário José Maria Guedes, vai iniciar um processo de expansão ainda neste ano. “Queria continuar apenas com nossa unidade em Araçuaí, mas meu irmão, que é meu sócio, acredita que a abertura de outras lojas seria interessante para nosso grupo”, diz Guedes, falando de maneira modesta e reservada. Calejado pelos quase 40 anos de 28 história no comércio, “Seu Zé”, como é conhecido pelos nativos da cidade, adota uma postura cautelosa na frente dos negócios. “Mesmo porque, para trabalhar em comércio é preciso um exercício de paciência diário”, considera. A calma e o fino trato diante de decisões vieram com o tempo e a experiência. Guedes conta que no início dos anos de 1970 ele e seu irmão abriram uma pequena mercearia em Jenipapo de Minas, e logo se mudaram para Araçuaí, já que podiam se arriscar em um negócio maior. “Fizemos bons relacionamentos com as pessoas da cidade e região, todos nos conhecem como comerciantes batalhadores, que começaram com uma vendinha e hoje atendem uma cidade inteira”, observa. E parece que Araçuaí ficou mesmo pequena para os Supermercados Sévia, pois Guedes anuncia a abertura de mais uma unidade em Teófilo Otoni, ainda em 2011. “Vamos começar uma rede na região. Mas isso é um projeto para os próximos anos, pois estamos fazendo um estudo de planejamento e pesquisas. É preciso coragem para investir”, pontua o empresário que emprega 45 funcionários na unidade. VIVER Abril 22 - 2011 VIVE R M I NAS MUCURI E JEQUITINHONHA A R T E SA N ATO Rede do bem ‘VALE COM VALOR’ CONTRIBUI COM O DESENVOLVIMENTO SOCIAL E ECONÔMICO DE ARAÇUAÍ Divulgação RODOLPHO SÉLOS A velha máxima de que a cultura popular não gera renda pode estar com os dias contados. A história começa em 1999 quando o educador cultural Ivo Ribeiro coordenava um encontro de empresários em Araçuaí, no qual discutiam como fazer uma transformação em suas empresas, tornando-as mais rentáveis e éticas. Os encontros de cerca de 500 empresários culminaram na criação do grupo Frutificar. “Foi quando um empresário de nosso grupo se prontificou a ficar um ano em Araçuaí para dar palestras e orientações no hospital São Vicente de Paulo. A partir de então, percebemos que estávamos prontos para o trabalho na região. Existiam grupos culturais que poderiam produzir suas riquezas e contribuir com a economia do Vale do Jequitinhonha”, conta Ribeiro, coordenador do Grupo Araçuaí de Riquezas (AGR). Em 2008 era criado o Grupo AGR, que constituiu a Vale com Valor, uma loja de artesanato onde todos os agentes ao seu redor, seja a comunidade, grupos de cultura, clientes, fornecedores e empreendedores trabalham em rede para movimentar a economia. “Temos 12 mulheres, com boas condições financeiras, que lideram VIVER Abril 22 - 2011 os grupos culturais. Elas criaram uma rede de 17 produtores e levaram a ideia para eles executarem”, explica o educador. Os sete grupos culturais que participam da Vale com Valor são tradicionais na região do Jequitinhonha. Dentre eles estão o Tamborzeiros do Rosário, o Coral Trovadores do Vale e o Folia de Reis do Bairro Arraial de Araçuaí. “Eles são idealizações da identidade, das histórias e responsáveis por preservar a cultura da região. E a Vale com Valor sustenta a ideia de sensibilizar e conscientizar, através de criações repletas de história, beleza e arte, para preservação e apoio ao desenvolvimento dos grupos de cultura do Vale do Jequitinhonha”, diz Ribeiro. A Vale com Valor é uma loja de artigos de uso convencional que representa os grupos de cultura da região. “Seus artigos servem para despertar admiração e encantamento”, explica. A loja comercializa bijuterias, calçados, cama, mesa e banho e peças para decoração e funciona no antigo teatro de Araçuaí que já foi cinema, biblioteca, depósito de madeira e banco de livros. Segundo Ribeiro, a Vale com Valor precisava de um local que pudesse resgatar histórias, lembranças do antigo cinema. O prédio foi construído no INSTALADA no antigo teatro da cidade, loja funciona também como centro cultural final do século 18 e, após a inundação de 1929, serviu também de igreja, escola, cinema e armazém. O investimento inicial feito por empresários para a reforma do local e a produção das peças da loja foi de R$ 30 mil. Metade do lucro é direcionado para os próprios grupos e a outra metade é para devolver o empréstimo aos empresários. “É gratificante ver todos juntos na mesma causa. Acredito que o Vale do Jequitinhonha não seja o vale da miséria, como todos pensam, mas um lugar onde desperta pessoas para o bem coletivo. Não há como perder dessa maneira”, completa. 29 VIVE R M I NAS MUCURI E JEQUITINHONHA C U LT U R A Arte e religiosidade ARTESANATO DO POVO DO VALE DO JEQUITINHONHA É CONHECIDO NACIONALMENTE E ATRAI MUITOS TURISTAS PARA ARAÇUAÍ ANA ELIZABETH DINIZ É pau, é pedra, é barro. É o caminho que vem sendo trilhado por dezenas de artesãos do Vale do Jequitinhonha ao longo de décadas de resistência em meio à pobreza. São as possibilidades de fato, ofertadas pela natureza e esculpidas, talhadas e torneadas em peças exportadas para o mundo inteiro e que colocam a cidade de Araçuaí como um polo de produção artesanal dos mais ricos de todo o país. Quem conta a trajetória da Associação dos Artesãos de Araçuaí é Ariosvaldo Pereira Dutra, nascido ali perto, na comunidade de Piauí. “Quando a associação foi criada, tínhamos 180 30 VIVER Abril 22 - 2011 Fotos: André Fossati associados, mas hoje devem ser uns 40. Isso porque os outros municípios também criaram suas entidades e vêm fortalecendo-se. O que é bom e mostra a força do nosso artesanato”, avalia. Ariosvaldo é um mestre na arte da madeira. Trabalha desde os 12 anos e aprendeu o ofício com o pai. Suas peças, crucifixos em que coloca homens e mulheres do Vale no lugar de Jesus, encantam os turistas pela delicadeza e sensibilidade. Os compradores são do Brasil, Alemanha, Estados Unidos e Áustria. O artesão faz questão de ressaltar o papel estratégico que o então arcebispo metropolitano dom Serafim Fernandes de Araújo teve quando ainda era reitor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, “sempre cedendo espaço para que pudéssemos mostrar a nossa arte. Assim ficamos conhecidos”. Márcio Barbosa Silva, conheciVIVER Abril 22 - 2011 Meu dom veio da natureza. Eu estava com 16 anos quando tive um sonho que mostrava a força da natureza” Dona Zefa, artesã do na cidade como Marcinho do São Francisco, de tanta devoção ao santo que ele esculpe em barro, é sempre encontrado na associação onde está criando novas peças, agora em madeira, trabalho que requer paciência oriental. Os motivos são sacros e recontam trajetórias dos personagens bíblicos, de anjos e arcanjos como Miguel. “Nesse aqui estou contando a história de José em sua fuga para o Egito, protegendo a santa família. A escultura é feita em forma de cordas, como se desenrolassem o sonho do pai de Jesus. Uma espiral bíblica e prova de amor”, define. O trabalho de Márcio tem forte ligação com a arte sacra e os elementos da natureza que estão presentes em suas peças. “O pecado original, Adão e Eva, os Inconfidentes, futebol, araras e animais estão todos aqui nessa peça”, mostra ele, enquanto resume o seu trabalho: “Tenho só o dom, a inspiração vem de Deus”. Márcio, antigo aluno da mestra Josefa Alves dos Reis, a famosa dona Zefa, acompanha-me até a casa dela que não esperava a nossa visita, mas nos recebeu como se fôssemos amigos antigos, contou sua trajetória de vida, de sua forte ligação com Deus e a mãe Terra e não se esqueceu de ir até a cozinha desligar uma panela. As paredes, a memória e o 31 C U LT U RA coração de dona Zefa, que vai completar 86 anos em agosto, exibem muit a s re f e r ê n cias afetivas. Por todos os cômodos acanhados não sobram espaços nas paredes para tantas lembranças de uma vida simples, rica em amizades e afetos e coerente com a sua essência e missão. Dona Zefa veio de Sergipe acompanhando os pais, morou aqui e acolá até chegar a Araçuaí, há 50 anos, de onde não mais saiu. O talento para a arte, que a tornou conhecida em todo o Brasil veio com o tempo. “Nessa vida já mascateei joias de herança com sigilo absoluto. Cortei cana, fui contadora de histórias para crianças, hoje adultas e com família criada. Montei uma vendinha, mas perdia dinheiro porque não cobrava os atrasados dos clientes. Até que tive a ideia de fabricar malas de viagem. Peguei uma mala velha, retirei o couro, mas no meio do caminho coloquei flores, enfeites, cores”, relembra. As malas psicodélicas caíram no gosto do povo e, com elas, ganhou um dinheirinho suficiente para pagar as dívidas e se manter. Resolveu seguir a intuição, o que havia aprendido com seus ancestrais e se dedicou à cerâmica. Amassou e deu forma ao barro em inúmeras peças. “Com o passar do tempo comecei a sentir fraqueza, desânimo, dor nas pernas. Fui ao médico que disse que eu tinha anemia e não poderia nunca mais trabalhar com o barro”, relembra resignada. Foi assim que dona Zefa começou a trabalhar com a madeira como cedro, aroeira, emburana e cabiúna. Respeitou suas formas, nuances, o que só valorizou o seu trabalho que 32 hoje está espalhado em diversas regiões do mundo como Alemanha, França, Itália, Áustria, Holanda e Estados Unidos e, é claro, no Brasil. Há pouco mais de um ano parou de trabalhar, deixando uma obra inacabada. “Minha vista não permite mais que eu continue talhando a madeira”. Mas a sua obra está imortalizada. Como mestra formou vários artesãos que hoje expõem na associação criada por ela. “Meu dom veio da natureza. Eu estava com 16 anos quando tive um sonho igual escritura, coisa verdadeira. Mostrava a força dos elementos da natureza. Meus avós tinham recurso e, por isso, estudei, aprendi a ciência dos astros, li nas gazetas a história de Roma. Com meu pai e avô aprendi a sabedoria dos índios e a compreender a importância dos veios de barro tabatinga”, diz a artista. A prosa com dona Zefa poderia ter se estendido horas a fio, mas era imperativo seguir viagem. Ela conta que nunca se casou. “Naquele tempo da inocência fui pedida em casamento, noivei e terminei tudo. Não nasci para o casamento”, diz convicta. E antes que pudéssemos ir embora, ela revelou um pouco da sabedoria que permeia toda a sua vida, que é a sua religião e está impregnada em sua arte. “Aos 10 anos aprendi a falar com a mãe Terra, nosso corpo, o útero que cria tudo. O céu, através da luz de Deus, comunica-se com a mãe Terra. É o encontro do homem com a mulher. Dela vem a criação e, por isso, ela é nossa mãe. Tudo o que quiser peça à mãe Terra que ela proverá”, aconselhou enquanto me abraçava emocionada dizendo que eu havia deixado ali, em Araçuaí, terra bendita, uma amiga. Que Deus a abençoe, dona Zefa. EM BARRO OU MADEIRA, peças retratam vida do povo no Vale do Jequitinhonha Fotos: André Fossati Abril 22 - 2011 VIVER VIVE R M I NAS MUCURI E JEQUITINHONHA P O L Í T I CA Liderança com sabor GRANDE ANFITRIÃO, DEPUTADO FÁBIO RAMALHO CONQUISTA ESPAÇO EM BRASÍLIA PARA LUTAR POR SUA REGIÃO RODOLPHO SÉLOS E le começou há pouco seu segundo mandato como deputado federal. Mas, desde o primeiro, ganhou seu espaço em Brasília e ficou conhecido como um grande anfitrião. Seu apartamento é uma espécie de “embaixada mineira” na capital federal. E uma das maiores atrações, além, da boa conversa, é a comida saborosa. Com estes ingredientes, Fábio Ramalho (PV), o Fabinho Liderança, já atraiu o alto escalão da política nacional para suas reuniões. “Na minha casa faço questão de servir a culinária do Norte de Minas, que é rica e diversificada. Nas ocasiões, discutimos sobre projetos na região. É uma área de Minas Gerais que precisa ser vista para atrair investimentos de toda ordem”, completa o parlamentar, solteiro, 49 anos, que começou a carreira VIVER Abril 22 - 2011 política como prefeito, de 1997 a 2004, em Malacacheta, cidade de 18.717 habitantes no Vale do Mucuri. Com trânsito invejável em Brasília, Fabinho considera que a única maneira de levar o desenvolvimento econômico e social para os vales do Mucuri e do Jequitinhonha é criar empregos e qualificar a mão de obra. “O governo de Minas tem incentivado grandes empresas a se instalarem nos vales e está dando uma atenção especial para as necessidades e carências da região. Precisamos levar o progresso pra lá”, ressalta. Eleito com 61 mil votos, o deputado acredita que o desenvolvimento no Jequitinhonha e no Mucuri depende dos projetos que estão sendo criados em várias áreas, desde os incentivos para a atração de empresas até a saú- de, solução para aumentar o Índice de Desenvolvimento Humano na região. “Estimulei os trabalhos na área de saúde preventiva, focado na qualidade de vida dos cidadãos. Foi um projeto bem sucedido”, lembra. Outro setor que exige atenção é o combate ao tráfico e consumo de drogas. “Estamos desenvolvendo projetos de combate ao tráfico em caráter emergencial. Feito isso, é preciso fazer um trabalho forte de inclusão social dessas pessoas”, avisa. A autorização para a abertura do curso de medicina na Universidade Federal do Vale do Jequitinhonha em Teófilo Otoni seria uma alternativa para aumentar a assistência à saúde de pessoas debilitadas pelas drogas. “Estamos aguardando a decisão do Ministério da Saúde”, diz. 33 VIVE R M I NAS MUCURI E JEQUITINHONHA ESPORTES O fogo do Dragão PLANEJAMENTO E EMPOLGAÇÃO DEFINEM ROTA DO AMÉRICA DE TEÓFILO OTONI RODOLPHO SÉLOS A escolha do nome do clube é no mínimo curiosa. Em 1936, um grupo de amigos, apaixonados por futebol, se reuniu debaixo de uma gameleira, onde atualmente está situado o ginásio da praça dos esportes, em Teófilo Otoni, para escolher um nome para o time. Eles escreveram os nomes das equipes do Rio de Janeiro e pediram para um menino sortear. O escolhido foi América. Hoje, passados 75 anos, o América Futebol Clube de Teófilo Otoni (TO) comemora o bom resultado no Campeonato Mineiro 2011. O time está na semifinal e conquistou, informalmente, o título de campeão do interior. A equipe virou a sensação da competição e, de quebra, inflou os ânimos no Vale do Mucuri, que, somente a partir do ano VIVER Abril 22 - 2011 passado, conseguiu um representan- o apelido de Dragão, animal caractete na elite do futebol do estado. A boa rístico por apresentar mandíbula pocampanha coloriu Teófilo Otoni de derosa, uma língua bifurcada e dentes branco e vermelho, as cores do time. afiados. “Estamos fazendo um trabaA receita do sucesso? Organização, lho desde 2008. Foram investidos cerplanejamento, comprometimen- ca de R$ 2 milhões, com o patrocínio to dos jogadores e euforia da Ramos Transportes. Foi da torcida. Tudo começou feita uma reforma do estáem 2008, quando a equidio, onde o time treina, e pe conquistou o título da agora recebemos cerca de Segunda Divisão sob o co5 mil pessoas para os joFRASE mando do técnico Gilmar gos. Os jogadores recebem “Estamos Estevam. Em 2009, o Améem dia, o que dá tranqüilifazendo um rica-TO foi terceiro no Módade para trabalhar”, diz o dulo 2 e disputou o torneio trabalho desde diretor Roger Ruppin, que 2008. principal em 2010, termiatribui o sucesso do time a Conseguimos vários fatores. “Conseguinando uma posição acima da zona de rebaixamento. mos montar uma equipe fidelizar os Neste ano, a história forte e fidelizar os jogadojogadores” já é diferente e não é à toa res, que têm orgulho de joRoger Ruppin, que o América-TO recebe gar no clube”, observa. diretor do clube 34