Ações do poder público e privado em diversos setores

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Ações do poder público e privado em diversos setores
MINAS
www.revistaviverbrasil.com.br
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Mucuri e
Jequitinhonha
Ações do poder público e privado em diversos
setores levam progressso e esperança
à região com menor Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH) de Minas Gerais
Sistema FIEMG. Promovendo a indústria
e levando desenvolvimento a todos os mineiros.
A FIEMG Regional Vale do Rio Doce incentiva, apoia e fomenta o desenvolvimento
industrial da região. O objetivo da entidade é fortalecer o associativismo empresarial, a
integração das empresas e promover o desenvolvimento dos trabalhadores da indústria.
A Regional oferece assessoria financeira, consultoria em áreas de meio ambiente
e responsabilidade social, estágio empresarial, Certificado de Origem e linhas de
financiamentos através dos Postos BDMG/BNDES.
www.fiemg.com.br
Editorial
Sumário
Vales à vista
6 Entrevista
8 Economia
13 Automóveis
14 Silvicultura
17 Pecuária
18 Recursos
21 Transporte
22 Mercado imobiliário
24 Comércio
26 Personagens
29 Artesanato
30 Cultura
33 Política
34 Esportes
Segundo destino do projeto Viver Minas,
que tem como objetivo fazer um retrato das
dez macrorregiões de Minas Gerais durante os
próximos meses, os vales do Mucuri e Jequitinhonha vivem expectativas de, finalmente,
ver o crescimento chegar. Área com o menor
índice de desenvolvimento do estado, padece
com uma série de problemas que ainda não
se solucionaram. Muitas das suas riquezas
naturais foram – e ainda são – sugadas do
território, sem a menor contrapartida para
a população local. Teófilo Otoni, no Mucuri,
por exemplo, era conhecida pela quantidade
de pedras preciosas que brotavam em suas
terras. Por lá existe uma feira anual em que desembarcavam negociantes de todos os cantos
do mundo. O evento murchou e a maior parte
do que ainda tem de pedras preciosas é beneficiada fora. Ou seja, os valores agregados que
poderiam trazer crescimento vão para outro
lugar. Em compensação, o povo da região e
seus empreendedores não desistem e buscam
alternativas: entre empresas de serviços como
a Transportadora Ramos, uma das maiores
do Brasil, e projetos como a ZPE, uma zona
industrial livre de impostos, expectativas são
geradas. Áreas imensas de eucalipto e café
fazem parte do progresso atual da região. No
Jequitinhonha, cidades como Araçuaí despontam com uma riqueza cultural inesgotável,
seja em manifestações de música e dança, seja
nos belíssimos trabalhos em artesanato. Ainda
existe a esperança do minério que, dando
certo, levará bilhões de reais a região. Percorri
cerca de 1.700 km conhecendo algumas cidades: saí de BH com destino a Teófilo Otoni.
Passei por lugares que até a chegada deste
projeto não esperava passar. Fui ao mercado
municipal de Araçuaí e vi peças de artesanato
incríveis na loja Vale com Valor, como as pinturas em telhas de barro, além de ter comido
um peixe inesquecível em um restaurante, em
rua de terra, chamado Sabor do Peixe. Segui à
noite para dormir em Almenara, a pouco mais
de 100km, onde pude ver que muitas de suas
belas cachoeiras – nas cercanias do rio São
Francisco – já não existem mais. Retornando
no dia seguinte, de dia, pude ver melhor o que
tinha sentido na ida: a estrada que liga Itaobim
a Almenara é um perigo, com crateras em boa
parte do percurso, fazendo das belas paisagens muito mais um risco que um prazer. Mas
a verdade é que vale muito conhecer o nosso
país. Tive o privilégio de ir a inúmeras cidades
e países do mundo, da Índia a Paris, de Ibiza
a Angola, vi muitas coisas. Passei meses em
Nova Iorque e no Canadá. Estou me surpreendendo neste início da caminhada em Minas e
sei que irei me encantar e entender cada dia
mais sobre o estado grandioso chamado Minas Gerais. Na próxima edição seguimos para
o Vale do Aço, que está na estrada que leva
aos vales do Jequitinhonha e do Mucuri, mas
que vive uma situação de desenvolvimento e
riquezas bem diferentes. Mesmo com todos
os problemas específicos para cada região,
tenho plena certeza de que a iniciativa pública
e privada trabalharão fortemente para ajudar
os que precisam e desenvolver alternativas
de trabalho e capacitação para as pessoas que
vivem nestes locais. Esta é, inclusive, uma das
metas do governador Antonio Anastasia: levar
progresso a todas as regiões mineiras. Muito
obrigado a você e até a próxima.
Fotos da capa: André Fossati
Gustavo Cesar de Oliveira, diretor – [email protected]
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Paulo Cesar de
Oliveira
Diretores
Gustavo Cesar
de Oliveira
Paulo Cesar
Alkimim de
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VIVER Abril 22 - 2011
VIVE R M I NAS MUCURI E JEQUITINHONHA
PE R FI L
Por dentro da
região
CIDADES
Almenara
Bandeira
Divisópolis
Felisburgo
Jacinto
Jequitinhonha
VALES TÊM 67
MUNICÍPIOS
RAIO-X
Clima: semiárido
Relevo: montanhoso
e ondulado
Área: 111.653,63 km²
População: 2.114.033
de habitantes
Principais atividades
econômicas: exploração
de pedras e minerais,
agropecuária
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CARACTERÍSTICAS
GEOGRÁFICAS
Araçuaí
População - 36.041
Área - 2.236 Km²
Gentílico – araçuaiense
PIB per capita – R$ 4.285,99
Distância até a capital:
678 Km
ALMENARA
População - 38.779
Área - 2.294 Km²
Gentílico - almenarense
PIB per capita – R$ 4.975,58
Distância até a capital:
742 Km
NANUQUE
População - 40.816
Área - 1.518
Gentílico - nanuquense
PIB per capita –
R$ 8.653,02
Distância até a capital:
643 Km
CAPELINHA
População - 34.796
Área - 965 Km²
Gentílico - capelinhense
PEDRA AZUL
PIB per capita – R$ 6.321,11 População - 23.843
Distância até a capital: 427 Km Área - 1.595 Km²
Gentílico - pedra-azulense
PIB per capita – R$ 8.080,59
Distância até a capital:
710 Km
TEÓFILO OTONI
População - 134.733
Área - 3.242 Km²
Gentílico - teófilo-otonense
PIB per capita – R$ 7.999,41
Distância até a capital:
472 Km
Joaíma
Jordânia
Mata Verde
Monte Formoso
Palmópolis
Rio do Prado
Rubim
Salto da Divisa
Santa Maria do Salto
Santo Antônio do
Jacinto
Araçuaí
Caraí
Coronel Murta
Itinga
Novo Cruzeiro
Padre Paraíso
Ponto dos Volantes
Virgem da Lapa
Angelândia
Aricanduva
Berilo
Capelinha
Carbonita
Chapada do Norte
Francisco Badaró
Itamarandiba
Jenipapo de Minas
José Gonçalves de Minas
Leme do Prado
Minas Novas
Turmalina
Veredinha
Águas Formosas
Bertópolis
Carlos Chagas
Crisólita
Fronteira dos Vales
Maxacalis
Nanuque
Santa Helena de Minas
Serra dos Aimorés
Umburatiba
Cachoeira de Pajeú
Comercinho
Itaobim
Medina
Pedra Azul
Ataléia
Catuji
Franciscópolis
Frei Gaspar
Itaipé
Ladainha
Malacacheta
Novo Oriente de Minas
Ouro Verde de Minas
Pavão
Poté
Setubinha
Teófilo Otoni
VIVER Abril 22 - 2011
VIVE R M I NAS MUCURI E JEQUITINHONHA
E N T R E V I S TA
Modelo
mais que
promissor
ZPE QUE SERÁ
IMPLANTADA EM
TEÓFILO OTONI PROMETE
BARATEAR PRODUÇÃO E
ATRAIR EMPRESAS PARA A
REGIÃO
ANA ELIZABETH DINIZ
C
riada pelo decreto-lei 2.452,
de 1998, a Zona de Processamento e Exportação (ZPE) é
um mecanismo desenvolvido pelo
governo federal para oferecer estímulos ao empreendedor que
destinar 80% da sua produção ro
mercado internacional, como a suspensão e isenção tributária, desoneração do investimento na área do
empreendimento e agilidade aduaneira.
Dos 16 projetos de ZPEs autorizados no Brasil, o de Teófilo Otoni
é o que se encontra mais adiantado
em termos de implantação. A boa
notícia anunciada pelo governador
de Minas, Antonio Anastasia, e reforçada pelo secretário de Estado de
Desenvolvimento para os Vales do
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Jequitinhonha, Mucuri e do Norte
de Minas (Sedvan), Gil Pereira, é que
“tão logo o acionista majoritário das
ações da ZPEx Administradora entregue a documentação à Advocacia
Geral do Estado, o governo vai disponibilizar, através da Codemig, o
recurso para comprar, no mínimo,
51% dessas ações. O governo quer
ter o controle e a gestão da ZPE. Esse
será um grande investimento regional, porque vai atrair muitas indústrias e comércio para essa região a
alavancar o crescimento econômico”, comentou o secretário que esteve recentemente em Teófilo Otoni.
Decisão elogiada por Arlindo
Matias do Rego, diretor executivo da
Zpex SA, administradora da ZPE de
Teófilo Otoni. A revista Viver Minas
conversou com ele sobre esse instrumento de gestão que já está sendo visto como um divisor de águas
para as economias regionais, estaduais e nacionais.
Dos 16 projetos de ZPEs existentes no
país, a área em Minas Gerais é a única
que possui concessão aprovada pelo
governo federal. O prazo para a implantação termina neste ano. Em que
pé se encontra a negociação com o
governo de Minas?
Estamos hoje em uma fase de composição acionária que implica a
possível participação do estado de
Minas Gerais, o que significa que
não paramos no espaço e no tempo. Continuamos à procura de parceiros. Temos fortes relações com
VIVER Abril 22 - 2011
segmentos privados que hoje compreendem melhor o mecanismo
ZPE. Todavia, há que se considerar
que qualquer investidor, por menor que seja, ainda se sente inseguro quanto aos aspectos técnicos
desse modelo de desenvolvimento
econômico. Além do mais, em nível nacional, ainda não se fala sobre
possíveis linhas de financiamento
para os setores de commodities, por
exemplo. Em nossa região temos
uma defasagem tecnológica dos teares de granito e, naturalmente,
esse é um dos segmentos que precisa passar por uma modernização.
Financiamentos, linhas de crédito e
repasse científico-tecnológico para
esse segmento tornam-se vitais. Somos a primeira ZPE do país a tocar nesse assunto e passamos a ser
a primeira administradora que tem
abertamente uma política de fortalecimento dos arranjos produtivos
da região. A cadeia produtiva pode
e deve ser olhada com mais credibilidade e ser fortalecida com linhas
de crédito via BNDES, BB, BDMG,
BNB, Caixa Econômica, Sudene e
outros órgãos.
Quantas indústrias já manifestaram
interesse em se instalar na área incentivada?
Essa não é a nossa preocupação
inicial, porque toda e qualquer indústria que esteja hoje inserida no
mercado internacional e tem como
alvo tornar o seu produto competitivo em vendas terá o interesse de
estar dentro de nossa ZPE. Ela vem
justamente baratear o custo de produção em até 35%, torná-la competitiva lá fora e gerar incentivos
ligados à declaração de renda, simplificação administrativa de procedimentos documentais e outros
ganhos.
Na prática, o que isso significa?
Quando fomos avaliados por audiVIVER Abril 22 - 2011
Podemos
ultrapassar
os 2 bilhões
de reais de
movimento
financeiro em
pouco tempo
tora, apresentamos o portfólio de
empresas que se prontificaram a
estar dentro de nossa ZPE. Isso faz
parte da nossa relação oficial com
o estado, assim como, de futuros
investidores privados. Não nos interessa expor essas empresas hoje,
assim como para o estado seria precipitado também expor suas ações
de busca de empresas para o nosso projeto ZPE. Mas, posso garantir
que empresas ligadas à área de tecnologias renováveis, computação,
alimentação, beneficiadoras de resíduos minerais, reflorestamento e
beneficiamento de celulose, joalheria, carne, couro, leite, fruticultura e
outros.
Qual o montante que a implantação da
ZPE deve movimentar?
Eu gostaria de discutir esse assunto no âmbito maior com as ZPEs
em funcionamento e o impacto que
esse modelo de transformação econômica e social, fortalecido pelo
poder de distribuição de renda,
pode gerar em âmbito nacional daqui a 10 anos. Em recente entrevista dada por representantes do setor
de granito da nossa região, foram
apresentados valores na ordem de
500 milhões de reais de movimento anual na extração e saída dessa
matéria-prima in natura. Hoje, o
produto é extraído e levado embora
sem agregar qualquer valor. Quem
ganha com isto é a região que vai
beneficiar o produto, essa commodity. Imagine se pudéssemos agregar valor ao produto aqui em nossa
cidade, absorvendo mão de obra e o
dinheiro entrando em nossa economia local. Estamos falando de um
único setor. Se computarmos no
mínimo cinco empresas operando
valores semelhantes, podemos ultrapassar a marca de 2 bilhões de
reais de movimento financeiro em
curto espaço de tempo. Se jogarmos isso em nível nacional, e diante da grandeza do empreendimento
de outras ZPEs que já dispõem de
áreas que ultrapassam 400 hectares,
esses valores vão representar muito para a economia regional, do estado onde estão localizadas e para
o país.
Essa movimentação seria altamente
impactante e transformadora para a
economia do país.
Exatamente. Como passar despercebido para o país que as ZPEs não
venham, em futuro próximo, serem
reconhecidas como um dos grandes facilitadores da queda de barreiras tributárias, administrativas
e facilitadoras para investidores
estrangeiros que buscam locais de
produção que venham fazer o seu
produto mais aceitável no mercado? Na verdade, quantificar valores
hoje é colocar por baixo qualquer
avaliação financeira. O pool de
produção industrial que pode sair
do modelo ZPE poderá ser tão impactante que não me exponho em
avaliar. Estou falando da necessidade de se discutir as ZPEs como
um projeto nacional e Teófilo Otoni
está na dianteira desse processo.
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VIVE R M I NAS MUCURI E JEQUITINHONHA
ECO N O M IA
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VIVER Abril 22 - 2011
Gigante
adormecido
MERCADO DE PEDRAS PRECIOSAS
EM TEÓFILO OTONI TEM
POTENCIAL EXTRAORDINÁRIO,
MAS ESTÁ ESTRANGULADO
ANA ELIZABETH DINIZ
O
André Fossati
VIVER Abril 22 - 2011
Brasil é internacionalmente conhecido pela diversidade e grande ocorrência de pedras preciosas em
seu solo. É o segundo maior produtor de esmeraldas e o único de topázio imperial e até recentemente de
turmalina Paraíba. Também produz, em larga escala, citrino, ágata, ametista turmalina, água-marinha, topázio e
cristal de quartzo.
O Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos
(IBGM) estima que o país seja responsável pela produção
de cerca de um terço do volume das gemas do mundo,
com exceção do diamante, do rubi e da safira e que pouco menos de 80% das pedras brasileiras (em volume) tenham como destino final as exportações, tanto em bruto,
incluindo espécimes de coleção, como lapidadas.
Os números que parecem ser robustos, na verdade são ínfimos frente ao potencial do garimpo brasileiro. A capital mundial das pedras preciosas, Teófilo Otoni,
está inserida geograficamente no centro da denominada
“Província Gemológica Oriental Brasileira”, uma das áreas mais ricas do planeta, tanto em quantidade, como em
variedade e qualidade de ocorrências gemológicas. “Temos em nosso subsolo um gigante adormecido que mal
foi arranhado. Apenas 1% do seu potencial foi explorado
em um século”, diz Edmilson Pereira, presidente da Gems
Exporter´s Association (GEA) que aponta para vários gargalos no setor e vê na Bolsa Brasileira de Pedras Preciosas,
uma alternativa para a crise.
Para entender essa realidade é preciso compreender
a cadeia produtiva do setor de pedras preciosas que passa pela produção no garimpo, o comércio de gemas
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E C O N O M IA
brutas, as indústrias de lapidação e joalheria, quando finalmente a gema é
vendida nas lojas.
“A população vem perdendo poder aquisitivo e os garimpos, que no
passado eram financiados por micro-investidores como profissionais liberais e donos de estabelecimentos
comerciais, perderam sua mola propulsora. Há 50 anos, quando os garimpeiros tiravam o bambu (muita
quantidade) estimulavam os bancos
a investir. Isso não ocorre mais”, explica Edmilson.
Nos últimos 15 anos, os órgãos
estaduais começaram a fiscalizar e a
multar. “A legislação ambiental hoje é
punitiva, mas não educativa. Fecham
o garimpo, penalizam, mas não orientam. Por outro lado, não houve por
parte do setor um planejamento que
pudesse levar a uma gestão em equilíbrio com a natureza. O desenvolvimento tem que ser sustentável, mas
é preciso ações educacionais junto
aos microempresários que não têm
cultura nesse sentido. É preciso um
envolvimento dos poderes públicos
municipal, estadual e federal para eliminar esse gargalo que hoje é a política ambiental que fecha o garimpo e
EDUARDO GOMES,
terceira geração de
lapidários na família
10
POTENCIAL
600 era o número de empresas de lapidação no Brasil em 2009
19ª é a posição que o Brasil ocupa na produção de joias
13ª é posição que o país ocupa em relação ao consumo de pedras
preciosas no mundo
90 mil empregos diretos foram gerados pela mineração em 2009
Fonte: Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos (IBGM)
deixa o cidadão sem trabalho e à mercê da cesta básica do governo. Isso fez
com que a produção despencasse no
garimpo”, analisa Edmilson.
Esse primeiro gargalo na ponta
da cadeia produtiva chega lá na frente, no consumidor final. Sem pedra
não tem comércio. O empresário defende uma iniciativa dos poderes pú-
blicos e entidades de classe para que
os garimpeiros sejam organizados em
cooperativas e entidades com personalidade jurídica e possam contar
com o auxílio de técnicos para instruí-los a cumprir a legislação minerária
ambiental.
“A produção na Província Gemológica Oriental Brasileira está estagnada. Esse quadro pode ser mudado
se a questão for tratada com profissionalismo e um planejamento que
envolva as empresas do setor, entidades de classe e o Sebrae para
que haja produção. A maioria
dos garimpos está na informalidade, faltam incentivos”, alerta
Edmilson.
O garimpo está sufocado,
estrangulado, “mas se for destravado, ele anda praticamente sozinho. Os municípios não investem,
mas também não arrecadam. Uma
produção de 150 milhões de reais
joga nos cofres públicos cerca de R$
8 a R$ 10 milhões. É possível que muitos municípios não arrecadem isso
em um ano. A gestão pública do setor
precisa ser urgentemente revista. Não
VIVER Abril 22 - 2011
Fotos: André Fossati
EDUARDO ALMEIDA, corretor: dificuldades com câmbio e legislação ambiental
podemos ter um programa minerário
aliado a um político, mas a um setor”,
ressalta o empresário.
Uma alternativa, diz Edmilson,
seria a criação da Bolsa Brasileira de
Pedras Preciosas, uma comissão capacitada de avaliação. “A produção ficaria em uma bolsa, seria avaliada e
colocada em lotes. Títulos seriam emitidos para o produtor. Aquela mercadoria ficaria à disposição do mercado
pelo valor real. Dessa forma, o Brasil
vai internalizar seus recursos naturais
que vão valorizar. A rede bancária vai
descontar esses títulos que vão a pregão. Quem paga mais arremata pelo
valor mínimo que foi avaliado. Dessa
forma, o comércio sairia da informalidade e criaria condições legais para o
produtor que não vai precisar de intermediário. Mais emprego e arrecadação seriam criados”, propõe.
Lapidação
As técnicas de lapidação em Teófilo Otoni chegaram com a migração
alemã. No passado, a cidade chegou a
ter 10 mil lapidários, no entanto, diagVIVER Abril 22 - 2011
dem-nas aqui dentro por preços imbatíveis. Deslealdade com os lapidários
que sobrevivem da profissão”.
Delicado e sofrido ofício. Em sua
oficina, Eduardo mostra o ciclo produtivo que começa com a pedra bruta que é cortada, formada, calibrada,
lapidada e, finalmente, polida. “É a
munheca que dá forma e que faz a diferença”, ensina com orgulho. São turmalinas multicoloridas, quartzos rosa,
fumê, branco, alexandrita, crisoberilo,
águas marinhas, morganitas, goshenitas e muitas outras que vão principalmente para os Estados Unidos, Itália e
Alemanha.
Eduardo tem esperança de que a
classe, hoje desvalorizada, possa merecer a atenção do governo através de
uma política de financiamento para o
setor que permita a estocagem. “Os lapidários desejam crescer e sair da informalidade”, defende.
nóstico feito em 2004 mostrou que
havia apenas 359 microunidades de Comércio
lapidação e menos de 3 mil lapidários
A crise mundial e valorização do
cadastrados. Com a baixa produção, real frente ao dólar provocaram um
muitos deles passaram a lapidar vidros desastre real no comércio de pedras
e sintéticos para não morrer de fome.
preciosas. “A crise quebrou 70% das
A cultura dos lapidáempresas de mineração. O
rios passa de pai para filho.
poder de barganha do coComo é o caso de Eduardo
mércio hoje não é nem 50%
Gomes, 32, a terceira gerado que era há 20 anos”, anação. “Lido com pedras deslisa Edmilson Pereira.
FRASE
de os 10 anos. Aos 12, era
Segundo Eduardo Carcolador e, aos 15, já estava
doso de Almeida, o Nen,
“Lido com
trabalhando. Eu amo esse
presidente da Associação
pedras
negócio de paixão”, condos Corretores do Comérdesde os 10
fessa. Eduardo trabalha em
cio de Pedras Preciosas de
anos.
um turno em um hotel da
Teófilo Otoni-MG (AccomAmo esse
cidade. “Tive a chance de
pedras) que reúne mil asnegócio de
ter ótimos patrões que deisociados e cerca de 20 mil
paixão”
xam que eu exponha as mipessoas indiretamente, o
Eduardo Gomes,
nhas pedras aqui. E ainda
comércio de pedras está
lapidário
tenho pequenas peças que
decadente desde que foi
fazem muito sucesso com
implantada, há cerca de 15
os turistas, principalmente
anos, uma legislação ambiental “mais
os estrangeiros.Mas a minha luta di- opressiva do que educativa. Isso afuária se dá com dois gigantes, China e gentou o garimpo que apresentou
Índia que compram as pedras brutas, queda de 90% na produção. A quebeneficiam-nas lá fora e depois ven- da do dólar também desanimou
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E C O N O M IA
aqueles que ainda se aventuravam no
garimpo. Nossa região, famosa por ser
a capital mundial das pedras preciosas, não é mais de exploração”.
Nen defende a criação de leis regionalizadas que possam se afinar
com a cultura e economia locais e a
aceleração da criação da Zona de Processamento e Exportação (ZPE) que
vai dar melhores condições para os comerciantes que passam a comercializar diretamente seus produtos com
isenção de impostos e contribuições
federais e liberdade cambial.
Essa alternativa é considerada
também a mais viável para Marcos Antônio Chácara, presidente da Cooperativa dos Lapidários de Teófilo Otoni. “O
governo não tem uma política que impeça a saída das pedras brutas. Com
isso, ficamos sem trabalho enquanto a
China e a Índia estão levando para fora
as nossas riquezas”.
Realidade
Os envolvidos nessa cadeia produtiva estão se articulando. A Feira Internacional de Pedras Preciosas, que
acontece sempre no mês de agosto,
já está consolidada e atrai centenas
de turistas brasileiros e estrangeiros
para a cidade. Até o final do ano será
ANOTE
Fotos: André Fossati
EDMÍLSON PEREIRA: apenas 1% explorado
inaugurada a Expominas, área de 90
mil metros quadrados, sendo 10 mil
de área construída, salão de exposições com capacidade para 5 mil pessoas, auditório para mil pessoas, além
de outros quatro auditórios de apoio
com 450 metros quadrados e capacidade para 100 pessoas cada um. O espaço vai abrigar o Museu Histórico da
Cidade e o Museu de Pedras Preciosas, que pretende ser um dos maiores
do mundo.
A cidade comemora a criação da
Unidade de Inovação Tecnológica
(Unit) concebida como projeto piloto
de um Centro de Referência que integra competências para o avanço tecnológico do setor de gemas e joias. A
proposta é desenvolver capacidade
tecnológica, tornando mais competitivos os arranjos produtivos locais de
gemas, joias e artefatos de pedra. Através da parceria entre a Universidade
Estadual de Minas Gerais e a Unit está
em andamento a criação de um curso de técnico em joalheria e lapidação
que deve começar em julho.
Foi criado o Telecentro Mineral, rede de acesso coletivo à internet com informações sobre novos
mercados, aproximando eletronicamente empresários, cooperativas, associações, sindicatos, trabalhadores,
instituições públicas e privadas, organizações não governamentais e a
sociedade em geral.
A proposta é estimular o desenvolvimento sustentável através da condução técnica adequada da lavra e do
processamento dos minérios, recuperação ambiental, saúde e segurança do
trabalhador, assim como a agregação
de valor à produção mineral e, sempre
que possível, aos rejeitos, além de ampliar os mercados de atuação dos pequenos mineradores.
Circuito turístico
12
Q
Circuito Turístico das
Pedras Preciosas
(33) 3521-0565 e 8829-2628
com Bruno de Sá
Q
Caminhos das Pedras
(33) 3523-4445 e 9906-8890
com José Nogueira
Q
Lapidário
Eduardo Gomes
(33) 8817-1686 e 8859-7628
Q
Compra de pedras preciosas
Rua Engenheiro Antunes, 256,
centro
Teófilo Otoni já trabalha, ainda de
forma incipiente, com um roteiro turístico que abrange toda a cadeia produtiva de pedras preciosas. “O turista
conhece primeiramente os garimpos
que ficam no distrito da cidade de Caraí (a 80 km de Teófilo Otoni), na sequência uma casa de lapidação e, por
fim, pode fazer compras nas centenas
de lojas localizadas principalmente na
praça Germânica, praça Tiradentes,
Casarão do Sesc e Pontilhão da Ferrovia Bahia-Minas”, convida Bruno de
Sá, gestor do Circuito Turístico das Pedras Preciosas.
VIVER Abril 22 - 2011
VIVE R M I NAS MUCURI E JEQUITINHONHA
AU TO M ÓV E I S
Divulgação
Rumo a
Nanuque
APÓS O SUCESSO DAS VENDAS
NA UNIDADE DE TEÓFILO OTONI,
CONCESSIONÁRIA ABRIRÁ
UNIDADE NA CIDADE VIZINHA
RODOLPHO SÉLOS
aumento do poder aquisitivo
dos consumidores dos vales
do Jequitinhonha e do Mucuri motivou a Total, importante
concessionária General Motors da
região, do Grupo Lider, atualmente
com uma unidade em Teófilo Otoni,
a abrir ainda neste ano uma loja em
Nanuque. “Por pertencer ao maior
grupo de revendas de automóveis do
país, pela credibilidade adquirida ao
longo de 27 anos e pelo respeito aos
nossos clientes, somos uma empresa de destaque na região, onde devemos investir muito nos próximos
anos”, disse o diretor José Braz Neto,
destacando que a participação da
região na receita da empresa chega
a 21,5%. “Ofereceremos aos nossos
O
VIVER Abril 22 - 2011
clientes instalações modernas e confortáveis, além de funcionários qualificados na fábrica, o que resultará
em uma maior eficiência nas operações”, diz Neto.
Com expressiva área operacional, instalações funcionais e equipe
comprometida, a Total está instalada
em Teófilo Otoni e, desde 1984, opera dentro do conceito de uma concessionária moderna, voltada para o
conforto e bom atendimento de seus
clientes. No ano passado, a empresa cresceu 18,4% em relação a 2009.
Para 2011, a meta é crescer mais 22%.
“Este aumento se deve principalmente ao atual momento da
economia brasileira, que estimula
o poder de compra dos consumi-
dores. Além disso, contamos com
a agressividade nas vendas de nossos colaboradores altamente qualificados”, disse o gerente-geral João
Adolfo Duvanel, dando destaque
também à participação das classes
C e D, um público de constante ascensão no mercado de veículos. “As
vendas para este público aumentaram cerca de 30%”, revela.
Os modelos da Chevrolet mais
vendidos na concessionária são o
Classic LS, Celtas LS e LT, Agile e
S10 Flexpower e Diesel. “Vendemos uma média de 60 unidades por
mês”, diz Duvanel que atribui às
campanhas na mídia e aos treinamentos dos funcionários o sucesso
dos negócios.
13
VIVE R M I NAS MUCURI E JEQUITINHONHA
S I LV I C U LT U R A
Café com sabor
de eucalipto
CAFEICULTORES INVESTEM NAS ÁRVORES PARA
SUPRIR DEMANDA DE SIDERURGIAS
14
VIVER Abril 22 - 2011
RODOLPHO SÉLOS
O
cultivo de café e as plantações de eucalipto no Vale
do Jequitinhonha começaram praticamente juntos, há cerca
de 40 anos. Em meados dos anos
1970, a cidade de Machado, no sul
de Minas, uma das principais áreas de plantações de café do Brasil,
foi atingida fortemente por geadas,
deixando vários cafeicultores à deriva e à procura de outras regiões
para plantar. O então prefeito da cidade, o produtor de café Walter Palmeira, preocupado com os rumos
da cafeicultura no município, resolveu visitar o Vale do Jequitinhonha,
estimulado por rumores da existência de alguns chapadões com plantações de eucalipto e de café. Ele
encontrou, em Capelinha, plantações tímidas, mas bem tradada.
Hoje, a cidade é um polo cafeicultor de destaque no cenário
nacional, tendo cerca de 500 produtores, centenas de lavouras irrigadas e mecanizadas e safras
anuais de 150 mil sacas, gerando
cerca de sete mil empregos diretos. Os números são expressivos
para o Vale do Jequitinhonha, que
ainda ganha o reconhecimento da
qualidade dos grãos produzidos.
“Acredito que a qualidade do café
começa sempre na fazenda, onde
temos de investir constantemente em acompanhamento técnico,
desde a colheita até a catação, esta
última inteiramente mecanizada”,
explica o cafeicultor Sérgio Meirelles, proprietário da empresa Café
Aranãs e que foi uma das vítimas da
geada, estabelecendo-se na região
na década de 1970.
Mas por trás da qualidade sugerida por Meirelles, existem altos investimentos, dificilmente bancados
pela maioria dos produtores. “Em
Capelinha e região, ainda faltam
investimentos em infraestrutura,
VIVER Abril 22 - 2011
principalmente um programa voltado para a renovação das lavouras,
pois estas são muito velhas, precisam de tratamento genético para
garantir maior resistência às pragas.
Os altos valores para a manutenção
das lavouras não são sustentados
pelos cafeicultores e muitos desistem do negócio”, afirma o secretário
de Agricultura de Capelinha, Haroldo Geovanini.
Os altos gasto da cultura, muito vulnerável ao clima e às pragas,
mandas das siderurgias”, lembra o
produtor de eucalipto, Luís Manuel
Martins, que ainda continua com
suas fazendas de café, embora admita que o eucalipto tenha lhe rendido mais lucros nos últimos anos.
“Enquanto comercializo 8 mil sacas
de café por ano, em um terreno de
200 hectares, vendo 2,5 metros cúbicos de carvão por mês, em uma
área de 1,5 mil hectares de eucaliptos plantados”, revela. O maior
volume de plantação começa em
NÚMERO
340
mil toneladas de
carvão vegetal
serão produzidos
pela ArcelorMttal
em 2011, no Vale
do Jequitinhonha
além da mobilização de grande
mão de obra para o plantio, têm estimulado tradicionais cafeicultores
de Capelinha e região a investirem
na plantação de eucaliptos para
produção de carvão vegetal e madeira. Algo que as famílias produtoras de café atingidas pela geada
da década de 1970 nunca poderiam
imaginar. “Tinha áreas ociosas de
café, então resolvi investir na plantação de eucaliptos, mesmo porque
nem tinha muito espaço para crescer com a cafeicultura. Muitos produtores abandonaram o café pelo
alto custo da produção na última
década e ficaram de olho nas de-
outubro, por ser o período das chuvas.
As florestas de eucalipto são
utilizadas para produção do carvão
vegetal, principal fonte energética
da cadeia produtiva do setor siderúrgico. A indústria de base florestal
também é sinônimo de empregos e
promoção social. Atualmente, a
atividade contribui para a geração
de 2,5 milhões de postos de trabalho diretos e indiretos no país.
As informações são da Associação
Mineira de Silvicultura (AMS). Na
década de 70, atraídas por programas de incentivos fiscais ao reflorestamento, algumas empresas
15
Forno da ArcelorMittal,
no Vale: empresa
tem 76 mil hectares de
eucalipto na região
se instalaram na região
tio de florestas em Minas
buscando suprir a cresGerais. Passados poucente demanda de carvão
co mais de dois anos, há
vegetal das siderúrgicas
uma retomada no setor,
e indústrias de ferrolia exemplo dos projetos
FRASE
ga mineiras. A atividade
e investimentos da Arceganhou força e sustenlorMittal Bionergia, no
“Produtores
tabilidade e, ao mesmo
Vale do Jequitinhonha.
abandonatempo, trouxe progresso
Segundo a empresa, o inram o café na
aos municípios. O Índice última década, vestimento previsto para
de Desenvolvimento Hueste ano na região será da
de olho nas
mano (IDH) dos municídemandas das ordem de R$ 78 milhões.
pios com a atividade no
A e m p re s a p o s s u i
siderurgias
Vale do Jequitinhonha,
uma
política de contraLuís Manuel Martins,
com a atividade, melhotação
de mão de obra e
produtor
rou, em média, 14,9%,
serviços que prioriza a
entre 1991 e 2000. A mécontratação local. Já fodia de avanço para o estado de Mi- ram gerados mais de 1.100 emprenas Gerais, no mesmo período, foi gos diretos na região. Em paralelo, a
de 10,9%.
ArcelorMittal BioEnergia investe em
Porém, durante a crise financei- uma série de programas voltados
ra internacional, entre os anos de para a geração de renda, educação e
2008 e 2009, o congelamento dos cultura nas comunidades. Com setoinvestimentos em projetos silvíco- res específicos para as áreas de meio
las pelos setores de ferro-gusa, fer- ambiente e responsabilidade social,
roligas, papel e celulose e painéis de desenvolve programas de controle,
madeira causou retrocesso no plan- monitoramento e melhoria das con16
dições socioambientais nos municípios onde atua.
A ArcelorMittal chegou ao Vale
do Jequitinhonha na década de 70
e possui cerca de 126 mil hectares
plantados, 76 mil deles nos municípios de Capelinha, Itamarandiba,
Veredinha, Turmalina e Minas Novas. Conforme informou a empresa, a produção de carvão vegetal no
Vale do Jequitinhonha em 2011 será
de 340 mil toneladas.
A ação de uma grande empresa na região provoca reflexos em
vários setores. Na área ambiental,
houve a construção de barragens
para perenização de córregos na
região, a preservação de córregos
e cabeceiras e programas de educação ambiental com as comunidades. E, através da Fundação
ArcelorMittal Acesita, projetos de
capacitação, divulgação e fomento à comercialização do artesanato vêm sendo feitos. Nos últimos
anos, foram atendidos 174 artesãos
de seis comunidades do Vale.
VIVER Abril 22 - 2011
VIVE R M I NAS MUCURI E JEQUITINHONHA
P E C UÁ R I A
Uma questão de
sobrevivência
PRODUTORES DE LEITE DO JEQUITINHONHA E MUCURI SÃO
AFETADOS PELA FALTA DE POLÍTICAS PÚBLICAS DO SETOR
RODOLPHO SÉLOS
O
s vales do Jequitinhonha e Mucuri são considerados pouco
favoráveis para a produção de
leite. Eles produzem juntos apenas 894
milhões de litros por ano. Número expressivo, mas se comparado à produção anual de todo o estado de Minas
Gerais, que é de 7 bilhões de litros, de
acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
fica a pergunta: por que essas regiões
ainda produzem pouco leite? A resposta pode estar no pouco apoio aos
produtores rurais e na falta de políticas
públicas para fomentar o setor, segundo o presidente da Comissão Técnica
de Pecuária de Leite da Federação da
Agricultura e Pecuária do Estado de
Minas Gerais (Faemg), Rodrigo Alvim.
VIVER Abril 22 - 2011
“Além disso, a importação do leite
tem sido a grande vilã, pois inibe nosso
crescimento e afeta as bacias leiteiras.
O país voltou a ser deficitário na produção interna e foi no ano passado o
maior importador de leite do mundo.
É uma concorrência predatória e as
regiões mais pobres têm sofrido com
isso. Precisamos urgentemente resolver o problema do câmbio e, em paralelo, desenvolver políticas públicas
para o setor”, reivindica Alvim.
Uma das saídas para os produtores é investir na qualidade do leite e
se preparar para a competitividade,
muitas vezes desleal. “O primeiro passo em um trabalho de extensão rural
é sempre recuperar a autoestima do
produtor”, diz o coordenador técni-
co regional da Empresa de Assistência
Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater), Diogo
Franklin.
Para Franklin, o apoio aos produtores rurais da região é uma questão
de sobrevivência das bacias leiteiras. O
Minas Leite, um programa de qualificação gerencial e técnico da entidade,
tem atuado nas regiões para amenizar
o grave problema. “O objetivo do programa é promover a qualidade de vida
dos pecuaristas familiares por meio da
construção técnica, da organização e
da gestão dos seus sistemas de produção na pecuária bovina, propiciando
sua integração nas cadeias produtivas
vinculadas à atividade, com foco na
venda de leite e animais”, explica.
17
VIVE R M I NAS MUCURI E JEQUITINHONHA
R EC U R S OS
Combate à
pobreza
GOVERNO VAI INJETAR R$ 20 MILHÕES NESTE
ANO EM PROJETOS NOS VALES DO MUCURI,
JEQUITINHONHA E NORTE DE MINAS
ANA ELIZABETH DINIZ
O
auditório estava lotado e muitos ficaram de pé. Lideranças
de associações e cooperativas,
políticos locais e trabalhadores rurais de várias regiões foram conferir de perto a liberação de recursos
de 1,6 milhão de reais para o Projeto
de Combate à Pobreza Rural (PCPR/
MG), através de 57 convênios que vão
18
beneficiar 1.952 famílias de 29 municípios dos vales do Jequitinhonha,
Mucuri e Norte de Minas. São investimentos não reembolsáveis que se
destinam a iniciativas de natureza
produtiva, social e de infraestrutura
básica. A reunião aconteceu em Teófilo Otoni.
No entanto, Gil Pereira, secretá-
rio de Estado de Desenvolvimento
para os vales do Jequitinhonha, Mucuri e do Norte de Minas (Sedvan),
tinha outras cartas na manga. Anunciou que o governo vai investir 20
milhões de reais em projetos nessas
regiões, praticamente o dobro do ano
passado, quando foram liberados 11,6
milhões. Para a implantação de uniVIVER Abril 22 - 2011
Foto André Fossati
Fotos André Fossati
LIDERANÇAS
comunitárias e
produtores rurais
foram conferir
a liberação de
recursos para a
região
SECRETÁRIO Gil Pereira assinou 57 convênios, que beneficiam 29 municípios
dades produtivas de piscicultura serão destinados 997,6 mil reais, através
de convênio entre o Ministério da Integração Nacional e o Instituto de Desenvolvimento do Norte e Nordeste
de Minas (Idene).
“Vamos entregar 25 caminhões-pipa para atender às comunidades
que necessitam de água e, ainda neste ano, vamos acabar com o analfabetismo na região. Para isso, já
VIVER Abril 22 - 2011
cadastramos 128 mil pessoas acima
de 15 anos para o programa “Cidadão Nota Dez” e iremos a cada comunidade cadastrar aquela pessoa
que não teve oportunidade de estudar. No início de maio, vamos capacitar 8 mil professores”, anunciou o
secretário.
O PCPR contempla 188 municípios, é fruto de um acordo de empréstimo firmado entre o governo de
Minas e o Banco Mundial e está sob
a coordenação do Instituto de Desenvolvimento do Norte e Nordeste de
Minas (Idene), órgão vinculado à Secretaria de Estado Extraordinária para
o Desenvolvimento dos vales do Jequitinhonha, Mucuri, e Norte de Minas (Sedvan).
Desde 2006, o projeto criado para
reduzir a pobreza e melhorar a renda
e a qualidade de vida da população
rural, já liberou recursos para 2.131
convênios, totalizando 96,4 milhões
de reais em investimentos que beneficiaram 116,6 mil famílias. “Buscamos a inclusão de todos os potenciais
beneficiários, incluindo mulheres e
minorias, por meio de campanha de
informação de todo o estado. O projeto preconiza o desenvolvimento da
capacidade dos atores locais de identificar e conhecer a sua realidade de
forma participativa, analítica e crí-
tica, construindo coletivamente um
diagnóstico de sua situação e da comunidade na qual estão inseridos,
com indicação de ações para a superação de entraves, por meio dos subprojetos e, de forma integrada com
outras políticas públicas que venham
a ser desenvolvidas no município”,
ressaltou Pereira.
Nilson Nogueira, representante da prefeita de Teófilo Otoni Maria
José Haueisen Freire, elogiou a política do governador Antonio Anastasia, que aposta no potencial e na
história do Vale do Mucuri. “Ele vem
nos ajudando a fazer as transformações que queremos e precisamos”.
O deputado estadual Neilando
Pimenta (PHS) destacou que os municípios dos vales do Mucuri e Jequitinhonha passam por um momento
especial de crescimento econômico
e a participação de cada produtor
rural é decisiva nesse processo.
O presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, Dinis Pinheiro (PSDB) lembrou que é filho
de um produtor rural e que suas referências vêm dessa região do estado. “Essa bagagem foi fundamental
para a minha vida. Por isso, sei que os
recursos hoje liberados terão grande importância na vida de cada cidadão. O governador sabe disso e, sua
19
Willian Dias
DINIS PINHEIRO : orientação é investir
três vezes mais em regiões carentes
SCOFIELD: “Quanto mais recursos, melhor.
Nós, produtores rurais, vivemos disso”
orientação é de que para cada 1 real
investido em programas em outras
regiões do estado, 3 reais serão aplicados nas áreas mais carentes”.
Para o presidente da Associação
dos municípios da Microrregião do
Vale do Mucuri (Amuc) e prefeito de
Itambacuri, Henrique Luiz da Mota
Scofield, “quanto mais recursos chegarem à região, melhor. Nós, produtores rurais, vivemos disso. Nossa
região tem tido um desenvolvimento significativo justamente porque
temos diversificado nossas atividades, mas 80% dos nossos projetos estão relacionados ao cultivo da terra,
construção de pequenas indústrias
de processamento da farinha, plantadeiras, máquinas agrícolas e, agora,
estamos inovando com a piscicultura, que tem nos encantado”.
Wilson Guedes, presidente do
Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural e Sustentável de Teófilo Otoni, ressaltou que “desde
que foi lançado em 2006, o PCPR
transformou-se em um divisor de
águas à medida em que distribui
recursos para pequenas comunidades rurais de agricultura familiar, a
partir de necessidades apontadas
por elas próprias, e não vindas de
cima para baixo”.
Um exemplo entre tantos veio
20
CIDADES
BENEFICIADAS
COM O PCPR
O Projeto de Combate à Pobreza Rural
em Minas Gerais beneficia as comunidades rurais mais pobres do estado
e abrange 188 municípios, sendo 89
da região do Norte de Minas, 52 do
Vale do Jequitinhonha, 36 do Vale do
Mucuri e 11 da região central (microrregião de Curvelo), área de atuação da
Sedvan/Idene.
Cidades beneficiadas
Águas Formosas, Crisólita, Fronteira
dos Vales, Itabirinha, Malacacheta,
Mantena, Nanuque, Nova Módica,
Novo Oriente de Minas, Ouro Verde
de Minas, Pavão, Santa Helena
de Minas, São Félix de Minas, São
João do Manteninha, Teófilo Otoni,
Umburatiba, Bandeira, Cachoeira
de Pajeú, Felisburgo, Jacinto,
Jequitinhonha, Joaíma, Monte
Formoso, Palmópolis, Pedra Azul,
Rio do Prado, Rubim, Santa Maria
do Salto e Santo Antônio do Jacinto.
da cidade de Nanuque, no Vale do
Mucuri, com 41 mil habitantes. A
Associação dos Pequenos Produtores Rurais da Comunidade de Pedroso adquiriu, com recursos do PCPR,
uma unidade de resfriamento de
leite que beneficiará 17 famílias, ao
custo de 61,8 mil reais.
Destaque
Um dos desafios estruturais do
comércio exterior de Minas Gerais é
aumentar as exportações em todas
as regiões do estado, com atenção
especial para os vales do Mucuri e
Jequitinhonha, Leste e Norte de Minas. A afirmação é da secretária de
Estado de Desenvolvimento Econômico, Dorothea Werneck, ao confirmar o crescimento expressivo que
essas regiões, consideradas as mais
pobres de Minas Gerais, apresentaram em 2010.
Segundo dados da Central Exportaminas, unidade vinculada à
Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (Sede), que realiza mensalmente o Mapeamento das
Exportações de Minas Gerais, com
base nos dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Exterior (MDIC), merecem destaque
em 2010 os números do Norte de Minas e dos vales do Mucuri e Jequitinhonha. O crescimento registrado
foi superior a 57%, muito próximo à
elevada média do estado de 60%, que
reflete em grande medida o desempenho das commodities minerais e
agrícolas.
VIVER Abril 22 - 2011
VIVE R M I NAS MUCURI E JEQUITINHONHA
TRAN S P O RTE
Novela com
final feliz
OBRAS DO AEROPORTO
DE TEÓFILO OTONI
PODERÃO TER INÍCIO
AINDA ESTE ANO
RODOLPHO SÉLOS
O
AEROPORTO JK
Pista
1.190 metros de extensão por 23 de largura
Opera voos particulares
Reforma: licitação aprovada, orçada em R$
comércio e a prestação de ser- município, que mesmo assim ainda
viços concentram a maior parte aguarda a liberação de recursos para
da mão de obra e são responsá- a reforma do aeroporto JK, atualmenveis por 70% do Produto Interno Bru- te de pequeno porte, com pista asto (PIB) de Teófilo Otoni, no Vale do faltada cujo comprimento é de 1.190
Mucuri. No município, os destaques metros por 23 metros de largura. A
são para o crescimento da construção prefeitura negocia o retorno de rota
civil, para a bovinocultura, para o se- de voos diários, além da reforma destor sucroalcooleiro e para o promissor te aeroporto já incluída no programa
segmento de educação superior, com estadual de recuperação e manutencerca de 8 mil estudantes. Além disso, ção aeroportuárias (Proaero).
segundo a Zona de Processamento de
Mas, apesar da longa espera, tudo
Exportação S.A, adminisindica que essa novela terá
tradora da ZPE de Teófilo
um final feliz. A boa notícia
Otoni, diversas empresas
para os passageiros que deestão interessadas em insembarcam pelo aeroporto
FRASE
vestir por lá.
de Governador Valadares
Com tantos atrativos
e enfrentam rodovias peri“A demanda
econômicos e dados progosas para chegar a Teófilo
de todo
missores é natural imaOtoni é que saiu a licitação
o vale do
ginar que o aeroporto do
para a reforma do aeroporMucuri
por
município tenha infraesto, orçada em R$ 2,1 mivoos diários
trutura para atender à delhões. O município aguarda
é fortíssima”
manda de passageiros.
a liberação da verba previsBruno Balarini
Porém, não é exatamenta para 15 de junho pelo gote isso que acontece. Teóverno estadual.
filo Otoni não possui um
“A demanda de todo o
aeroporto para voos covale do Mucuri por voos
merciais. Na última década, o poder diários é fortíssima. Teófilo Otoni é
público investiu de forma sistemáti- a mãe do Vale do Mucuri, sem infraca em infraestrutura na região e no estrutura aeroportuária fica difícil
VIVER Abril 22 - 2011
2,1 milhões
atrair investimentos para a região”,
reivindica o secretário de Indústria,
Comércio e Turismo de Teófilo Otoni, Bruno Balarini.
Companhias aéreas já manifestam
o desejo de operar em Teófilo Otoni, a
exemplo da Trip Linhas Aéreas, maior
operadora de voos regionais do país,
com 82 destinos. “É mais uma oportunidade para oferecermos nossos
serviços e contribuir com o desenvolvimento da região. Mas é preciso que o
aeroporto ofereça infraestrutura adequada”, avisa o diretor de Marketing e
Vendas da Trip, Evaristo Mascarenhas.
Enquanto as obras do aeroporto
JK não começam, vários investimentos estão sendo feitos na cidade, o que
aumenta a necessidade da reforma
para atrair o turismo de negócios. Entre os projetos em andamento estão a
construção do Centro de Convenções
orçada em R$ 26 milhões, a instalação
e funcionamento do polo de inovação,
projeto da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior,
com investimento de R$ 6 milhões, e
a construção de alojamento estudantil
para a Universidade Federal dos Vales
do Jequitinhonha e Mucuri, projeto no
valor de R$ 10 milhões.
21
VIVE R M I NAS JEQUITINHONHA E MUCURI
M E RCADO I M OB I LIÁR IO
Incorporação
mais ágil
ALCANCE
ENGENHARIA,
PRIMEIRA DO
MUCURI
CERTIFICADA
COM ISO 9001,
LANÇA
EMPREENDIMENTO
COM 13 TORRES
EM TEÓFILO
OTONI
22
TEREZINHA MOREIRA
Alcance Engenharia – primeira
empresa do Vale do Mucuri a
ser certificada com os selos de
qualidade ISO 9001 e PBQP-H nível
A – comemora seus 26 anos de fundação neste mês com o lançamento
de mais um empreendimento, que
confirma sua atuação de vanguarda
na construção civil de Teófilo Otoni.
O Belle Ville, condomínio composto por 13 torres, terá 208 unidades
com tamanhos variados e uma série de inovações. “Nossa proposta é
promover mudanças no conceito da
incorporação imobiliária na cidade,
com a projeção e construção de condomínios modernos, que atendam
às necessidades de nossos exigentes
clientes e o principal: que serão entregues em apenas 24 meses, conforme nova proposta da empresa para a
cidade”, diz o diretor administrativo
da Alcance Engenharia, Bruno Ma-
A
cedo Lorentz.
No caso do Belle Ville, o grande
diferencial será que a Alcance irá administrar o condomínio no primeiro
ano, após a entrega dos apartamentos. “O Belle Ville terá acesso único
para melhor garantir a segurança
dos seus moradores. É o primeiro
empreendimento do Nordeste de
Minas com este conceito”, ressalta
Bruno Lorentz. A expectativa do diretor de operações da Alcance Engenharia, Ricardo Macedo, é de que
90% das unidades do Belle Ville sejam negociadas em prazo máximo
de 90 dias, após o pré-lançamento.
Uma das justificativas para este otimismo é a possibilidade de as unidades serem financiadas pela Caixa
Econômica Federal, por meio do
programa Minha Casa, Minha Vida,
para famílias com renda entre três e
dez salários mínimos. Aliás, o proVIVER Abril 22 - 2011
Fotos: Divulgação
CONDOMÍNIO terá apartamentos com 2 e 3 quartos com suíte, áreas verde e de lazer e guarita de segurança
grama do governo federal, segundo
Macedo, está impulsionando os negócios da Alcance Engenharia.
O Belle Ville é o segundo empreendimento residencial da empresa
em Teófilo Otoni em apenas um ano.
O primeiro foi o condomínio Mediterrâneo, com três dormitórios, suíte com closet, área completa de lazer
com piscinas adulto e infantil, espaço fitness, deck gourmet. O sucesso
do empreendimento levou a direção
da empresa a projetar o Belle Ville,
em área superior a 11,8 mil metros
quadrados. “Depois de trabalharmos longos anos como empreiteira, tendo realizado grandes obras
em Minas Gerais, estamos direcionando nosso foco para a incorporação imobiliária”, salienta Ricardo.
Segundo ele, a Alcance Engenharia
é uma das maiores construtoras de
imóveis para a Companhia de Habitação do Estado de Minas Gerais
(Cohab/MG). Somente em 2010 foVIVER Abril 22 - 2011
BELLE VILLE
Localização: bairro Bela Vista
Q
Condomínio fechado,
com 2.921,55 m² de área verde
e 174,31 m² de área de lazer
Q
Área total: 11.868,32 m²
Q
Total de unidades: 208
Q
Apartamentos de 2 e 3 quartos
com suíte, distribuídos em planta
inteligente
Q
Área comercial ao lado do
empreendimento
Q
Guarita única de controle de acesso
Q
Fácil acesso aos principais pontos
da cidade
Q
Comércio amplamente
desenvolvido, com padarias,
farmácias, supermercados,
hipermercados, concessionárias,
banco e restaurantes
Q
Projetos de arquitetura,
decoração e paisagismo:
Letícia Ferreira de Melo
Fonte: Alcance Engenharia
ram 1,5 mil casas em diversas cidades do estado. A empresa também
está construindo 256 apartamentos
em Igarapé, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, cujas obras estão em fase de finalização.
Como no restante do país, o
mercado imobiliário em Teófilo Otoni, segundo Bruno Lorentz,
está bastante aquecido. “O programa Minha Casa, Minha Vida tem
dado oportunidade para as empresas desenvolverem novo nicho no
mercado, o da habitação popular,
por causa das facilidades que a Caixa oferece para pagamento do imóvel, o que possibilita às construtoras
lançarem mais empreendimentos”,
analisa o diretor administrativo da
Alcance Engenharia. Com esta nova
realidade do mercado imobiliário, também em Teófilo Otoni, com
mercado aquecido e demanda crescente, certamente outras novidades
virão por ai. É só aguardar.
23
VIVE R M I NAS MUCURI E JEQUITINHONHA
CO M É R C I O
Fotos André Fossati
A venda do seu
Lidirico e
dona Iaiá
ARMAZÉM EM ARAÇUAÍ TEM DE UM TUDO
E DE TUDO UM POUCO
AMOR de 61 anos do seu Lidirico e
dona Iaiá se fortalece atrás do balcão
24
VIVER Abril 22 - 2011
ANA ELIZABETH DINIZ
L
idirico é marca registrada e figurinha carimbada em Araçuaí. Nascido no dia 7 de julho de
1927 em Novo Cruzeiro, é carismático, alto astral, pacífico e eterno apaixonado pela companheira de todas as
horas dona Lair, conhecida como Iaiá,
com quem está “muito bem casado”,
declara-se entre uma prosa e outra,
enquanto segurava a mão da amada.
“Amor à primeira vista, quando a vi na
janela, logo pensei: que menina bonitinha!”.
Sem que os dois pudessem suspeitar, nascia naquele instante uma
união sólida que gerou 15 filhos, 34
netos, 11 bisnetos, uma família numerosa e animada de 80 pessoas. Uma
parceria que extrapolou os laços do
amor e hoje, passados 61 anos, se fortalece diariamente atrás do balcão da
rua dom Serafim, 225, em Araçuaí. A
venda do seu Lidirico é um estabelecimento inusitado sem hora para abrir
ou fechar. Certo mesmo é que, faça sol
ou chuva, dona Iaiá abre as portas seja
sábado, domingo ou feriado.
A venda que tem de tudo um pouco tem “cachaça batizada, sabiá, pássaro preto, curió, periquito, tico-tico
e se sobrar rolinha nova ele leva no
bico. Paçoquinha, Holywood, bomba
de matar mosquito, esteira, furadeira,
comprimido, bola, apito. O que lá tem
nem imagina o capeta, parafina, vela
preta, havaiana, novalgina, sabonete, detergente, camisinha de lampião,
querosene para lamparina, tesoura,
guarda-chuva, palmilha de sapato,
pastilha, doce barato, puxa-puxa, rapadura, chiclete, alfinete, balão, foguete, confete e até vinho do padre
que derrubou um milico”, diz de um
só fôlego a letra da música “Na Venda
do Seu Lidirico”, escrita ali mesmo, na
mesa do bar, de uma vezada só pelo
músico Milton Edilberto em papel da
bobina da caixa registradora.
O músico tinha ido à cidade se
VIVER Abril 22 - 2011
benzer com Sá Luiza e, conversa vem,
conversa vai, bebericou a cachaça da
benzedeira. Agradou demais e perguntou que pinga era aquela, no que
Sá Luiza respondeu que era lá da
venda do seu Lidirico. “O Milton não
acreditou naquele nome esquisito e
resolveu vir aqui me conhecer. Já tinha ouvido demais o povo falar na tal
venda. Mostrei a identidade e ele se
convenceu. Passado um tempinho,
ele perguntou se podia fazer uma musiquinha sobre a venda”, revela seu Lidirico.
A moda de viola é a prova fiel de
outras histórias como um sujeito que,
para zoar do proprietário, entrou na
venda perguntando se tinha pente
para tirar caspa. No que seu Lidirico,
sem se avexar, perguntou qual cor ele
preferia, enquanto pegava o pente. A
música que caiu no gosto popular está
na boca de outros cantantes como
Xangai e pode ser ouvida no Youtube.
A primeira e acanhada venda foi
montada em sociedade com um irmão quando ele tinha 18 anos e comprou uma geladeira a querosone. Já
casado, foi convencido pela sogra e
por dona Iaiá a ocupar um espaço da
frente da casa. Isso foi em 1960 e dali
seu Lidirico não saiu mais. Com o negócio, criou os filhos e ficou conhecido. Mas, o tempo passou também
para a venda. As paredes, agora pintadas de azul, não abrigam mais tantas
prateleiras que ficavam apinhadas de
quinquilharias. “Eu vendia um horror de coisinhas, mas começaram a
entrar umas pessoas e a roubar. Meus
filhos me convenceram a diminuir as
mercadorias. Hoje os tempos mudaram e já não é mais como na época
do João (holandês) que bebia, bebia
e não queria ir embora. Eu ia dormir,
ele saia quando queria, largava a porta aberta e no dia seguinte tudo estava
no lugar”, lamenta.
O curió cantava na gaiola, Milton
Edilberto tocava na vitrola e seu Lidirico atendia a clientela que vinha para
O CASAL , na venda: sem hora
para abrir nem para fechar
comprar alguma coisa ou simplesmente tomar uma cachaça ou uma
cerveja gelada e ficar por ali, de papo
para o ar. Venda que já recebeu tantos nomes ilustres que fica difícil enumerar mesmo para quem tem uma
memória tão extraordinária como o
proprietário. Dominguinhos, Rubinho do Vale, Elomar, o jogador Dirceu
Lopes, Frei Chico e tantos outros.
Dona Iaiá, sempre solícita e alegre se levanta bem cedo para fazer
pastel, empada e salgadinhos. Prepara o café do marido e levanta as
portas da venda. Ele chega depois.
Lê os jornais, revistas, mantém-se informado. Ela não passa aperto nem
com bêbado e nem com mau pagador. Tem jogo de cintura. “Aqui é
nossa sala de visita”, diz seu Lidirico
entre uma prosa e outra enquanto
procura pelas cadernetas onde anota
as compras, as miudezas que serão
pagas quando o salário vier. Moda
antiga que resiste lá na venda. Sonhos? “Ficar aqui até falar cansei”,
revela seu Lidirico. E dona Iaiá? “Enquanto ele estiver aqui, eu estou com
ele”. E tenho dito.
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VIVE R M I NAS MUCURI E JEQUITINHONHA
P E R S O N AG E N S
Eles fazem a
diferença
GENTE DE SUCESSO, QUE NÃO ESQUECE SUAS RAÍZES,
MOSTRA COMO AGE PARA MELHORAR A VIDA NA REGIÃO
RODOLPHO SÉLOS E ANA ELIZABETH DINIZ
TIM SOIER, produtor cultural
NASCIDO EM CAPELINHA
A
história de sucesso começa por acaso em
Belo Horizonte, quando uma amiga o convida para produzir uma festa na extinta boate
L’ Apogée, na região da Savassi. De lá pra cá, o renomado promotor de eventos, o capelinhense Tim
Soier, não parou mais, organizando shows como os
de Zezé di Camargo & Luciano, Asa de Águia, Leonardo, Skank e Bruno e Marrone. “Para essa carreira, é preciso ter sorte. A primeira festa que fiz em
Belo Horizonte foi um sucesso, até que em 1994
fui convidado a fazer parte do bloco Uai, do extinto Carnabelô. A partir daí, fui intercalando festas e
shows”, diz o empresário que, apesar de promover
shows em Belo Horizonte e pelo Brasil, não abandonou sua raiz e já organizou vários eventos em
Capelinha, sua cidade natal.
“Apesar das dificuldades com os eventos em Capelinha, é sempre um prazer mostrar meu trabalho na minha terra, que me deu gás extra para voar
mais alto”, comenta, referindo-se ao evento “Capelinha Ausente”, que promoveu em parceria
com a prefeitura do município. “Tentamos
agradar a todos os públicos, quem gosta
de axé, pop rock ou sertanejo”, conta.
Apesar das dificuldades, eles conseguiram levar nomes de peso para a
cidade, a preços acessíveis. “Um
26
VIVER Abril 22 - 2011
Pedro Vilela
André Fossati
ingresso do show de Vítor e Leo em
Ribeirão Preto custa R$ 80. Já em Capelinha, quando consegui levá-los,
saiu a R$ 16,60”, diz.
Apesar do sucesso como empresário do ramo de eventos, que
reúnem shows de vários gêneros
musicais e uma agenda extensa de
compromissos, Tim Soier se realiza mesmo quando está à frente de
projetos sociais promovidos pela
sua empresa, a Tim Soier Promoções. “Atualmente, mantemos um
projeto em uma creche em Venda Nova, Região Metropolitana de
Belo Horizonte. Mais de 60 filhos
de presidiários são contemplados
com a festa de Natal. Além desse,
fazemos um trabalho em uma escola especializada em educação para
portadoras da síndrome de Down,
levamos essas crianças para os shows promovidos pela empresa”, conta. “Trabalho há muito tempo no
ramo do entretenimento e conheço
meu papel como cidadão. Sou muito pé no chão e como um bom mineiro, não sou de empolgar com o
sucesso. Apenas trabalho para promover a alegria para todos”, completa.
VIVER Abril 22 - 2011
CINARA PACHECO GERDI
Secretária-executiva da Amuc
EM CIMA DO SALTO
D
ifícil não identificá-la. Agitada, alegre, falante e articulada, Cinara Pacheco Gerdi, é
figura conhecida e respeitada em
Teófilo Otoni, principalmente entre
a classe política e produtores rurais.
Hábil, sabe dialogar, tem jogo de
cintura e não se aperta quando tem
que endurecer em alguma negociação. Tudo com diplomacia e em
cima do salto alto.
Há 28 anos, ela ocupa o cargo
de secretária-executiva da Associação dos Municípios da Microrregião do Vale do Mucuri (Amuc), está
em sua oitava gestão, já trabalhou
com 26 presidentes da entidade,
prefeitos das mais diferentes regiões, de diversos partidos políticos
e perfis variados. Junto a governadores de Minas, intercedeu pela sua
região, pleiteando recursos, defendendo projetos e parcerias a fim de
criar frentes de oportunidades para
encarar a pobreza e a falta de recursos do homem do campo.
Ela faz questão de ressaltar
que a sua bem-sucedida trajetória
profissional está respaldada “em
uma equipe excepcional e unida”.
São 30 profissionais entre engenheiros civis e agrimensores, arquitetos, topógrafos e assistentes.
São eles que criam os projetos de
saneamento, urbanístico, de saúde e melhoramento das estradas
vicinais para os municípios do
Norte mineiro. Verba proveniente
do Fundo de Participação dos Municípios.
Cinara entrou nessa atividade aos 29 anos, como secretária
do secretário-executivo, enfrentou
preconceitos pelo fato de ser mulher, a terceira em Minas a ocupar
um cargo em associação. “Alguns
prefeitos foram mais resistentes
do que outros, mas eu tirei tudo
isso de letra. Houve pressões políticas para me tirar o cargo, mas
resisti. Apesar de ter sido sondada, jamais pensei em entrar para a
política. Há pouco tempo, o governador Anastasia disse que eu sou a
mais ‘experiente’ no cargo em Minas Gerais”, comenta.
27
P E R S O NAG E N S
JOSÉ ANTÔNIO MARTINS SANTANA, Empresário
Divulgação
EMPRESA FAMILIAR
C
oragem também é a palavra
de ordem para o proprietário
da rede de móveis planejados
Azul Martins, José Antônio Martins
Santana. “Para qualquer empreendedor que queira abrir um negócio, a ousadia é sempre bem-vinda.
Vejo que, para conquistar novos
espaços é necessário arriscar com
responsabilidade”, dá a dica. A empresa comemora duas décadas neste ano, com uma loja em Araçuaí e
planos de expansão. “Sempre penso em ampliar os negócios, mas no
setor moveleiro é preciso ter muito jogo de cintura e psicologia, pois
estamos trabalhando diretamente
com pessoas, muitos fornecedores
e clientes”, observa. A Azul Martins
é uma empresa familiar, inaugurada pelo pai de Santana. “Naquele
tempo, não havia muitas empresas desse ramo na região, mas atualmente a realidade é outra. Temos
que conviver com a concorrência
de uma maneira saudável e colocar
o cliente sempre em primeiro lugar, fazendo promoções e oferecendo um serviço de qualidade para
fidelizá-lo. Isso é primordial”, diz.
A empresa promove treinamentos
todo mês para os funcionários, que
incluem palestras e cursos de reciclagem sobre móveis planejados.
“Penso que para darmos certo no
presente, é preciso estar atento às
tendências do futuro. É o que fazemos aqui”, completa.
JOSÉ MARIA GUEDES, Empresário
EM EXPANSÃO
E
m Araçuaí, a tradição e a visão
de futuro caminham juntas.
Instalado na cidade há 30 anos,
o Supermercado Sévia, do empresário José Maria Guedes, vai iniciar um
processo de expansão ainda neste
ano. “Queria continuar apenas com
nossa unidade em Araçuaí, mas meu
irmão, que é meu sócio, acredita que
a abertura de outras lojas seria interessante para nosso grupo”, diz Guedes, falando de maneira modesta e
reservada.
Calejado pelos quase 40 anos de
28
história no comércio, “Seu Zé”, como
é conhecido pelos nativos da cidade, adota uma postura cautelosa na
frente dos negócios. “Mesmo porque, para trabalhar em comércio é
preciso um exercício de paciência
diário”, considera. A calma e o fino
trato diante de decisões vieram com
o tempo e a experiência. Guedes
conta que no início dos anos de 1970
ele e seu irmão abriram uma pequena mercearia em Jenipapo de Minas,
e logo se mudaram para Araçuaí, já
que podiam se arriscar em um negócio maior. “Fizemos bons relacionamentos com as pessoas da cidade
e região, todos nos conhecem como
comerciantes batalhadores, que começaram com uma vendinha e hoje
atendem uma cidade inteira”, observa. E parece que Araçuaí ficou mesmo pequena para os Supermercados
Sévia, pois Guedes anuncia a abertura de mais uma unidade em Teófilo
Otoni, ainda em 2011. “Vamos começar uma rede na região. Mas isso
é um projeto para os próximos anos,
pois estamos fazendo um estudo de
planejamento e pesquisas. É preciso coragem para investir”, pontua o
empresário que emprega 45 funcionários na unidade.
VIVER Abril 22 - 2011
VIVE R M I NAS MUCURI E JEQUITINHONHA
A R T E SA N ATO
Rede
do bem
‘VALE COM VALOR’ CONTRIBUI COM
O DESENVOLVIMENTO SOCIAL E
ECONÔMICO DE ARAÇUAÍ
Divulgação
RODOLPHO SÉLOS
A
velha máxima de que a cultura popular não gera renda pode
estar com os dias contados. A
história começa em 1999 quando o
educador cultural Ivo Ribeiro coordenava um encontro de empresários em
Araçuaí, no qual discutiam como fazer uma transformação em suas empresas, tornando-as mais rentáveis e
éticas. Os encontros de cerca de 500
empresários culminaram na criação
do grupo Frutificar. “Foi quando um
empresário de nosso grupo se prontificou a ficar um ano em Araçuaí para
dar palestras e orientações no hospital
São Vicente de Paulo. A partir de então, percebemos que estávamos prontos para o trabalho na região. Existiam
grupos culturais que poderiam produzir suas riquezas e contribuir com a
economia do Vale do Jequitinhonha”,
conta Ribeiro, coordenador do Grupo
Araçuaí de Riquezas (AGR).
Em 2008 era criado o Grupo AGR,
que constituiu a Vale com Valor, uma
loja de artesanato onde todos os agentes ao seu redor, seja a comunidade,
grupos de cultura, clientes, fornecedores e empreendedores trabalham
em rede para movimentar a economia. “Temos 12 mulheres, com boas
condições financeiras, que lideram
VIVER Abril 22 - 2011
os grupos culturais. Elas criaram uma
rede de 17 produtores e levaram a ideia
para eles executarem”, explica o educador. Os sete grupos culturais que
participam da Vale com Valor são tradicionais na região do Jequitinhonha.
Dentre eles estão o Tamborzeiros do
Rosário, o Coral Trovadores do Vale e o
Folia de Reis do Bairro Arraial de Araçuaí. “Eles são idealizações da identidade, das histórias e responsáveis por
preservar a cultura da região. E a Vale
com Valor sustenta a ideia de sensibilizar e conscientizar, através de criações repletas de história, beleza e arte,
para preservação e apoio ao desenvolvimento dos grupos de cultura do Vale
do Jequitinhonha”, diz Ribeiro.
A Vale com Valor é uma loja de artigos de uso convencional que representa os grupos de cultura da região.
“Seus artigos servem para despertar
admiração e encantamento”, explica.
A loja comercializa bijuterias, calçados, cama, mesa e banho e peças para
decoração e funciona no antigo teatro
de Araçuaí que já foi cinema, biblioteca, depósito de madeira e banco de
livros. Segundo Ribeiro, a Vale com Valor precisava de um local que pudesse
resgatar histórias, lembranças do antigo cinema. O prédio foi construído no
INSTALADA no antigo teatro da cidade, loja
funciona também como centro cultural
final do século 18 e, após a inundação
de 1929, serviu também de igreja, escola, cinema e armazém.
O investimento inicial feito por
empresários para a reforma do local e
a produção das peças da loja foi de R$
30 mil. Metade do lucro é direcionado
para os próprios grupos e a outra metade é para devolver o empréstimo aos
empresários. “É gratificante ver todos
juntos na mesma causa. Acredito que
o Vale do Jequitinhonha não seja o vale
da miséria, como todos pensam, mas
um lugar onde desperta pessoas para
o bem coletivo. Não há como perder
dessa maneira”, completa.
29
VIVE R M I NAS MUCURI E JEQUITINHONHA
C U LT U R A
Arte e
religiosidade
ARTESANATO DO
POVO DO VALE DO
JEQUITINHONHA É
CONHECIDO
NACIONALMENTE
E ATRAI MUITOS
TURISTAS PARA ARAÇUAÍ
ANA ELIZABETH DINIZ
É
pau, é pedra, é barro. É o caminho que vem
sendo trilhado por dezenas de artesãos do
Vale do Jequitinhonha ao longo de décadas de resistência em meio à pobreza. São as
possibilidades de fato, ofertadas pela natureza
e esculpidas, talhadas e torneadas em peças exportadas para o mundo inteiro e que colocam a
cidade de Araçuaí como um polo de produção
artesanal dos mais ricos de todo o país.
Quem conta a trajetória da Associação dos
Artesãos de Araçuaí é Ariosvaldo Pereira Dutra, nascido ali perto, na comunidade de Piauí.
“Quando a associação foi criada, tínhamos 180
30
VIVER Abril 22 - 2011
Fotos: André Fossati
associados, mas hoje devem ser uns
40. Isso porque os outros municípios
também criaram suas entidades e
vêm fortalecendo-se. O que é bom
e mostra a força do nosso artesanato”, avalia.
Ariosvaldo é um mestre na arte
da madeira. Trabalha desde os 12
anos e aprendeu o ofício com o
pai. Suas peças, crucifixos em que
coloca homens e mulheres do Vale
no lugar de Jesus, encantam os
turistas pela delicadeza e sensibilidade. Os compradores são do
Brasil, Alemanha, Estados Unidos
e Áustria.
O artesão faz questão de ressaltar o papel estratégico que o então
arcebispo metropolitano dom Serafim Fernandes de Araújo teve quando ainda era reitor da Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais, “sempre cedendo espaço para
que pudéssemos mostrar a nossa
arte. Assim ficamos conhecidos”.
Márcio Barbosa Silva, conheciVIVER Abril 22 - 2011
Meu dom veio
da natureza. Eu
estava com 16
anos quando tive
um sonho que
mostrava a força
da natureza”
Dona Zefa, artesã
do na cidade como Marcinho do São
Francisco, de tanta devoção ao santo
que ele esculpe em barro, é sempre
encontrado na associação onde está
criando novas peças, agora em madeira, trabalho que requer paciência
oriental. Os motivos são sacros e recontam trajetórias dos personagens
bíblicos, de anjos e arcanjos como
Miguel. “Nesse aqui estou contando
a história de José em sua fuga para
o Egito, protegendo a santa família.
A escultura é feita em forma de cordas, como se desenrolassem o sonho
do pai de Jesus. Uma espiral bíblica e
prova de amor”, define.
O trabalho de Márcio tem forte
ligação com a arte sacra e os elementos da natureza que estão presentes
em suas peças. “O pecado original,
Adão e Eva, os Inconfidentes, futebol, araras e animais estão todos
aqui nessa peça”, mostra ele, enquanto resume o seu trabalho: “Tenho só o dom, a inspiração vem de
Deus”.
Márcio, antigo aluno da mestra
Josefa Alves dos Reis, a famosa dona
Zefa, acompanha-me até a casa dela
que não esperava a nossa visita, mas
nos recebeu como se fôssemos amigos antigos, contou sua trajetória de
vida, de sua forte ligação com Deus
e a mãe Terra e não se esqueceu de
ir até a cozinha desligar uma panela.
As paredes, a memória e o
31
C U LT U RA
coração de dona Zefa, que
vai completar 86
anos em agosto,
exibem muit a s re f e r ê n cias afetivas.
Por todos os cômodos
acanhados não sobram espaços
nas paredes para tantas lembranças de uma vida simples,
rica em amizades e afetos e
coerente com a sua essência e
missão.
Dona Zefa veio de Sergipe
acompanhando os pais, morou
aqui e acolá até chegar a Araçuaí, há 50 anos, de onde não
mais saiu. O talento para a
arte, que a tornou conhecida
em todo o Brasil veio com o
tempo. “Nessa vida já mascateei joias de herança com sigilo
absoluto. Cortei cana, fui contadora de histórias para crianças, hoje
adultas e com família criada. Montei
uma vendinha, mas perdia dinheiro porque não cobrava os atrasados
dos clientes. Até que tive a ideia de
fabricar malas de viagem. Peguei
uma mala velha, retirei o couro, mas
no meio do caminho coloquei flores,
enfeites, cores”, relembra.
As malas psicodélicas caíram no
gosto do povo e, com elas, ganhou
um dinheirinho suficiente para pagar as dívidas e se manter. Resolveu
seguir a intuição, o que havia aprendido com seus ancestrais e se dedicou à cerâmica. Amassou e deu
forma ao barro em inúmeras peças.
“Com o passar do tempo comecei a
sentir fraqueza, desânimo, dor nas
pernas. Fui ao médico que disse que
eu tinha anemia e não poderia nunca mais trabalhar com o barro”, relembra resignada.
Foi assim que dona Zefa começou a trabalhar com a madeira como
cedro, aroeira, emburana e cabiúna.
Respeitou suas formas, nuances, o
que só valorizou o seu trabalho que
32
hoje está espalhado em diversas regiões
do mundo
como Alemanha, França,
Itália, Áustria, Holanda
e Estados Unidos e, é claro, no Brasil.
Há pouco mais de um
ano parou de trabalhar,
deixando uma obra inacabada. “Minha vista não permite mais que eu continue
talhando a madeira”. Mas a
sua obra está imortalizada.
Como mestra formou vários artesãos que hoje expõem na associação criada
por ela.
“Meu dom veio da natureza. Eu estava com 16
anos quando tive um sonho
igual escritura, coisa verdadeira.
Mostrava a força dos elementos da
natureza. Meus avós tinham recurso e, por isso, estudei, aprendi a
ciência dos astros, li nas gazetas
a história de Roma. Com meu
pai e avô aprendi a sabedoria
dos índios e a compreender
a importância dos veios de
barro tabatinga”, diz a artista.
A prosa com dona Zefa
poderia ter se estendido horas a fio, mas era imperativo seguir viagem. Ela conta
que nunca se casou. “Naquele
tempo da inocência fui pedida
em casamento, noivei e terminei tudo. Não nasci para o casamento”, diz convicta.
E antes que pudéssemos ir
embora, ela revelou um pouco da sabedoria que permeia
toda a sua vida, que é a sua
religião e está impregnada
em sua arte. “Aos 10 anos aprendi a
falar com a mãe Terra, nosso corpo,
o útero que cria tudo. O céu, através
da luz de Deus, comunica-se com a
mãe Terra. É o encontro do homem
com a mulher. Dela vem a criação
e, por isso, ela é nossa mãe. Tudo o
que quiser peça à mãe Terra que ela
proverá”, aconselhou enquanto me
abraçava emocionada dizendo que
eu havia deixado ali, em Araçuaí, terra bendita, uma amiga. Que Deus a
abençoe, dona Zefa.
EM BARRO OU MADEIRA,
peças retratam vida do povo no
Vale do Jequitinhonha
Fotos: André Fossati
Abril 22 - 2011 VIVER
VIVE R M I NAS MUCURI E JEQUITINHONHA
P O L Í T I CA
Liderança
com
sabor
GRANDE ANFITRIÃO,
DEPUTADO FÁBIO
RAMALHO CONQUISTA
ESPAÇO EM BRASÍLIA PARA
LUTAR POR SUA REGIÃO
RODOLPHO SÉLOS
E
le começou há pouco seu segundo mandato como deputado federal. Mas, desde o primeiro,
ganhou seu espaço em Brasília e ficou
conhecido como um grande anfitrião.
Seu apartamento é uma espécie de
“embaixada mineira” na capital federal. E uma das maiores atrações, além,
da boa conversa, é a comida saborosa. Com estes ingredientes, Fábio Ramalho (PV), o Fabinho Liderança, já
atraiu o alto escalão da política nacional para suas reuniões. “Na minha
casa faço questão de servir a culinária do Norte de Minas, que é rica e diversificada. Nas ocasiões, discutimos
sobre projetos na região. É uma área
de Minas Gerais que precisa ser vista para atrair investimentos de toda
ordem”, completa o parlamentar, solteiro, 49 anos, que começou a carreira
VIVER Abril 22 - 2011
política como prefeito, de 1997 a 2004,
em Malacacheta, cidade de 18.717 habitantes no Vale do Mucuri.
Com trânsito invejável em Brasília, Fabinho considera que a única
maneira de levar o desenvolvimento econômico e social para os vales
do Mucuri e do Jequitinhonha é criar
empregos e qualificar a mão de obra.
“O governo de Minas tem incentivado
grandes empresas a se instalarem nos
vales e está dando uma atenção especial para as necessidades e carências
da região. Precisamos levar o progresso pra lá”, ressalta.
Eleito com 61 mil votos, o deputado acredita que o desenvolvimento no
Jequitinhonha e no Mucuri depende
dos projetos que estão sendo criados
em várias áreas, desde os incentivos
para a atração de empresas até a saú-
de, solução para aumentar o Índice de
Desenvolvimento Humano na região.
“Estimulei os trabalhos na área de
saúde preventiva, focado na qualidade de vida dos cidadãos. Foi um projeto bem sucedido”, lembra.
Outro setor que exige atenção é o
combate ao tráfico e consumo de drogas. “Estamos desenvolvendo projetos de combate ao tráfico em caráter
emergencial. Feito isso, é preciso fazer
um trabalho forte de inclusão social
dessas pessoas”, avisa. A autorização
para a abertura do curso de medicina na Universidade Federal do Vale
do Jequitinhonha em Teófilo Otoni
seria uma alternativa para aumentar
a assistência à saúde de pessoas debilitadas pelas drogas. “Estamos aguardando a decisão do Ministério da
Saúde”, diz.
33
VIVE R M I NAS MUCURI E JEQUITINHONHA
ESPORTES
O fogo do
Dragão
PLANEJAMENTO E EMPOLGAÇÃO DEFINEM ROTA
DO AMÉRICA DE TEÓFILO OTONI
RODOLPHO SÉLOS
A
escolha do nome do clube é no
mínimo curiosa. Em 1936, um
grupo de amigos, apaixonados
por futebol, se reuniu debaixo de uma
gameleira, onde atualmente está situado o ginásio da praça dos esportes,
em Teófilo Otoni, para escolher um
nome para o time. Eles escreveram os
nomes das equipes do Rio de Janeiro
e pediram para um menino sortear.
O escolhido foi América. Hoje, passados 75 anos, o América Futebol Clube de Teófilo Otoni (TO) comemora
o bom resultado no Campeonato Mineiro 2011.
O time está na semifinal e conquistou, informalmente, o título de
campeão do interior. A equipe virou
a sensação da competição e, de quebra, inflou os ânimos no Vale do Mucuri, que, somente a partir do ano
VIVER Abril 22 - 2011
passado, conseguiu um representan- o apelido de Dragão, animal caractete na elite do futebol do estado. A boa rístico por apresentar mandíbula pocampanha coloriu Teófilo Otoni de derosa, uma língua bifurcada e dentes
branco e vermelho, as cores do time. afiados. “Estamos fazendo um trabaA receita do sucesso? Organização, lho desde 2008. Foram investidos cerplanejamento, comprometimen- ca de R$ 2 milhões, com o patrocínio
to dos jogadores e euforia
da Ramos Transportes. Foi
da torcida. Tudo começou
feita uma reforma do estáem 2008, quando a equidio, onde o time treina, e
pe conquistou o título da
agora recebemos cerca de
Segunda Divisão sob o co5 mil pessoas para os joFRASE
mando do técnico Gilmar
gos. Os jogadores recebem
“Estamos
Estevam. Em 2009, o Améem dia, o que dá tranqüilifazendo um
rica-TO foi terceiro no Módade para trabalhar”, diz o
dulo 2 e disputou o torneio trabalho desde diretor Roger Ruppin, que
2008.
principal em 2010, termiatribui o sucesso do time a
Conseguimos vários fatores. “Conseguinando uma posição acima
da zona de rebaixamento.
mos montar uma equipe
fidelizar os
Neste ano, a história
forte e fidelizar os jogadojogadores”
já é diferente e não é à toa
res, que têm orgulho de joRoger Ruppin,
que o América-TO recebe
gar no clube”, observa.
diretor do clube
34