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O Desenvolvimento Sustentável e as Implicações da Produção Mais Limpa: um estudo de caso no setor moveleiro Ana Cristina Fiori de Castro (FAP) [email protected] Edmar Bonfim de Oliveira (FAP) [email protected] RESUMO O estudo aborda o Desenvolvimento Sustentável e as implicações do modelo de Produção mais Limpa nos processos produtivos. O tema proposto relaciona-se à sustentabilidade na empresa aliado à produção mais limpa como um instrumento de estímulo do desenvolvimento sustentável. Buscou-se através de estudos e pesquisas, analisar o comportamento adotado pelas empresas em relação ao desenvolvimento sustentável aliado aos princípios e técnicas sugeridos pela produção mais limpa. O estudo esteve focado nas ações empreendidas pelas empresas procurando identificar se os processos produtivos estão sendo reorganizados de maneira sustentável, além de verificar o que elas fazem para contribuir com o meio ambiente dentro dos conceitos de desenvolvimento sustentável e produção mais limpa (P+L). O método que caracteriza a pesquisa é o estudo de caso, sendo este realizado em uma empresa do setor moveleiro da cidade de Marumbi (PR), utilizando-se para a coleta de dados entrevistas semiestruturadas e observações in-loco. Os resultados mostram que a empresa preocupada com as questões ambientais, promoveu mudanças almejando a sustentabilidade, reorganizou seu processo produtivo e reaproveitou os resíduos gerados durante o mesmo, ou seja, adotou ações de P+L. 1. Introdução A busca constante do desenvolvimento está comprometendo os fatores naturais e o ecossistema da Terra; a necessidade de utilização de seus recursos naturais para o crescimento tem gerado uma grande problemática: a exilação do meio ambiente. A capacidade do meio ambiente está comprometida, os recursos naturais estão cada vez mais escassos e a natureza não mais está absorvendo a poluição, a degradação da água, do solo e do ar. A vida depende dos recursos ofertados pelo planeta, como a água, ar, terra, minerais, plantas e animais. O desenvolvimento sustentável veio como uma solução para amenizar estes problemas, pois ele visa ao equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e o meio ambiente como um pilar que sustenta o desenvolvimento econômico, científico e tecnológico e a preservação ambiental. Seu objetivo é melhorar a qualidade de vida humana. Montibeller-Filho (2001, p.54) define o desenvolvimento sustentável como o “processo contínuo de melhoria das condições de vida (de todos os povos), enquanto minimize o uso de recursos naturais, causando um mínimo de distúrbios ou desequilíbrios ao ecossistema”. A Produção mais Limpa é um modelo de gestão ambiental, uma nova forma de otimizar a produção e foi desenvolvido para ser um instrumento de estímulo aos conceitos e objetivos do desenvolvimento sustentável. Essa técnica incorpora mudanças no processo produtivo da empresa, por meio de medidas que priorizam o uso de matérias-primas de fontes renováveis, com utilização consciente, para gerar o mínimo de resíduos e emissões que causem danos ao meio ambiente. As empresas precisam criar uma estrutura para o seu crescimento e expansão sem comprometer o meio ambiente. Faz-se necessário desenvolver novas técnicas produtivas, estratégias administrativas, reorganização do processo produtivo, que aumente a qualidade e diminua os impactos negativos ao meio ambiente. O objetivo principal deste trabalho é estudar o comportamento adotado pelas empresas em relação ao desenvolvimento sustentável aliado aos princípios e técnicas sugeridos pela produção mais limpa. E para ilustrar a base teórica, realizou-se um estudo de caso em uma empresa do setor moveleiro na região Norte do Paraná, onde se identificam uma preocupação com questões ambientais e também algumas ações ligadas ao desenvolvimento sustentável e a produção mais limpa. Dessa forma, o artigo é composto por seis seções. Após essa introdução, na Seção 2 é apresentado o desenvolvimento sustentável, seus conceitos e a importância do mesmo para a humanidade. Na Seção 3, é abordada a produção mais limpa, uma estratégia ambiental que visa reduzir os resíduos lançados ao meio ambiente. Na Seção 4, é descrito o método utilizado no estudo. Na Seção 5, é feita a análise dos dados estudados, relatando a empresa pesquisada como fonte de pesquisa para toda parte prática. Por fim, a seção 6 apresenta as conclusões e recomendações finais do estudo. 2. Desenvolvimento Sustentável O conceito desenvolvimento sustentável deu-se no início da década de 1970, a partir do discurso dos movimentos ambientalistas e dos debates acerca do ecodesenvolvimento. A partir daí começou-se a trabalhar com a idéia de um modelo de desenvolvimento que atendesse à necessidade da população presente, garantindo recursos naturais e boa qualidade de vida à população futura. Segundo Giansanti (1999), a idéia do desenvolvimento sustentável foi introduzida, no século XIX, pelo engenheiro florestal norte-americano, Gifford Pinchot, o primeiro chefe do serviço de florestas do país e um dos primeiros a se contrapor à ótica daquela época que visava o “desenvolvimento a qualquer custo”. Ele defendia a conservação dos recursos naturais, conforme menciona A. Diegues (apud GIANSANTI, 1999, p. 9), apoiado em três princípios básicos: “o uso dos recursos naturais pela geração presente; a prevenção do desperdício; e o desenvolvimento dos recursos naturais para muitos e não para poucos cidadãos”. De acordo com Montibeller-Filho (2004), o termo desenvolvimento sustentável propagou-se na década de 1980. Conforme Raynaut e Zanoni (apud MONTIBELLERFILHO, 2004), essa expressão foi utilizada primeiramente pela União Internacional pela Conservação da Natureza (IUCN), a tradução francesa do seu conceito é développement durable (desenvolvimento durável ou sustentável). Contudo, depois de mais de uma década de discussões sobre problemas ambientais, somente em 1987 a idéia de desenvolvimento sustentável ganha reconhecimento a partir do relatório denominado “Our Common Future”, também conhecido como “Relatório ou Informe Brundtland”, publicado pela Comissão Mundial Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD). Brüseke (1998) esclarece que o Relatório Brundtland é o resultado da Comissão Mundial da ONU sobre o Meio Ambiente de Desenvolvimento (UNCED), da qual os presidentes eram a primeira ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland e Mansour Khalid, justificando-se o nome intitulado do relatório. Diante da formulação deste relatório, seu conceito busca harmonizar desenvolvimento econômico e a preservação do meio ambiente: O desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades. Ele contém dois conceitos-chaves: 1 – o conceito de “necessidades”, sobretudo as necessidades essenciais dos pobres do mundo, que devem receber a máxima prioridade; 2 – a noção das limitações que o estágio da tecnologia e da organização social impõe ao meio ambiente, impedindo-o de atender às necessidades presentes e futuras (CMMAD, 1998, p. 46). Desta definição apresentada, ainda se consta que o desenvolvimento sustentável é um processo de transformação no qual a exploração de recursos, a direção dos investimentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e da compatibilidade entre desenvolvimento e preservação se harmonizam com as necessidades de gerações presentes e futuras (CMMAD, 1998). Autores como Glandwin, Kennely, Krause (1995) e Montibeller-Filho (2004) consideram a definição de desenvolvimento sustentável como sendo muito imprecisa, ampla e vaga, pois permite a diferentes grupos interpretá-la de acordo com seus interesses. A Agenda 21 representa um programa a ser implementado pelos governos (locais, regionais) com dimensões sociais e econômicas relacionados ao desenvolvimento sustentável, à conservação e gestão eficiente dos recursos, à importância de diferentes grupos sociais e meios para que os governos promovam o desenvolvimento sustentável. Ela mantém compromissos com países ricos em relação aos países pobres, em que cada país será responsável em adotar as suas políticas públicas com base no desenvolvimento sustentável, objetivando a melhoria da qualidade de vida da população e o crescimento econômico em sintonia com o meio ambiente. Para Ferrão (1998, p. 12), a Agenda 21 “constituí um plano de ação para a transição rumo ao desenvolvimento sustentável e inclui medidas concretas, em nível financeiro, tecnológico e de aplicação institucional sob supervisão das Nações Unidas”. A Agenda 21 afirma que o desenvolvimento sustentável é a solução para reverter a pobreza no mundo e a destruição do meio ambiente; para assegurar um futuro sustentável é preciso uma parceria em nível global, em que todos se mobilizam em prol de um mundo melhor. Almeida (2002) menciona que a crítica do conceito desenvolvimento sustentável tem levado a uma mudança de paradigma. Neste sentido, percebe-se que as empresas estão iniciando um processo de sensibilização quanto à questão ambiental e refletindo a importância desse ponto no cenário empresarial globalizado. Muitas empresas encaram a questão ambiental como um “mal necessário”, já as empresas consolidadas que praticam ações socioambientais vêem como “administração verde”, além de a empresa contribuir com o meio ambiente isto pode ser até mesmo uma vantagem ou estratégia competitiva. Para Almeida (2002), um dos principais motivos que levam as empresas a adotar os princípios do desenvolvimento sustentável é a necessidade de sobrevivência. Isto é, quando elas enxergam a ecoeficiência e percebem que podem produzir mais, melhorando a qualidade, diminuindo os riscos ambientais, e ainda melhorando o processo interno. De acordo com Leff (2001, p. 19), “o conceito de sustentabilidade surgiu do reconhecimento da função de suporte da natureza, condição e potencial do processo de produção”. O autor afirma que a sustentabilidade aparece como uma necessidade de restaurar a natureza na teoria econômica e nas práticas do desenvolvimento, com práticas ecológicas de produção que garantam a sobrevivência e um futuro para a humanidade. Conforme Montibeller-Filho (2004, p. 27), a sustentabilidade pode ser definida como “a busca de eficácia econômica, social, e ambiental objetivando atender às necessidades e anseios da população atual, sem desconsiderar os das gerações futuras”. Sachs (2000) estabelece cinco dimensões principais da sustentabilidade, a serem consideradas quanto ao planejamento do desenvolvimento: sustentabilidade social, econômica, ecológica, geográfica e cultural. a) sustentabilidade social: a construção de uma civilização que permita uma distribuição mais eqüitativa da riqueza é o principal objetivo da sustentabilidade social, ou seja, reduzir as diferenças sociais; b) sustentabilidade econômica: melhor alocação dos recursos e uma gestão eficiente por um fluxo regular do investimento público e privado. A eficiência econômica deve ser medida com o equilíbrio macrossocial e não com a lucratividade microempresarial; c) sustentabilidade ecológica: é destinada ao uso consciente dos recursos esgotáveis e sua substituição por recursos renováveis, usar de forma limitada os ecossistemas e minimizar sua deterioração. Promover técnicas de produção limpa, racionalizar o consumo, preservar fontes de recursos naturais e energéticos, criar programas de proteção ambiental; d) sustentabilidade espacial/geográfica: entende-se como evitar a concentração geográfica de populações, de atividade e de poder. Buscar um equilíbrio rural-urbano que possibilite sustentabilidade espacial; e) sustentabilidade cultural: defesa dos processos que respeitem cada ecossistema, de cada cultura, de cada local, promovendo soluções e valorização das diferentes culturas. 2. 1 Produção e Consumo Sustentáveis A mudança dos padrões de produção e consumo é um ponto chave para a sociedade caminhar rumo ao desenvolvimento sustentável. O tema é de extrema relevância e a Agenda 21 dedica um capítulo exclusivo, merecendo destaque a menção do exame dos padrões insustentáveis de produção e consumo, desenvolvimento de políticas e estratégias nacionais de estímulo a mudanças nos padrões insustentáveis de consumo e estratégias: Para Van Brake (apud LAZZARINI e GUNN, 2002), os atuais padrões de produção e consumo são ecologicamente insustentáveis. Afirmando esta idéia, Ribemboim (apud LAZZARINI e GUNN) salienta que “os atuais padrões de consumo são, ainda, insustentáveis, injustos socialmente e depredadores do meio ambiente”. Para mudar os padrões de produção, existem alguns modelos que estimulam a mudança, tais como, tecnologias limpas (prática de produção mais limpa); certificação de gestão ambiental – ISO 14001; análise de ciclo de vida do produto e rótulos ambientais. Estes instrumentos de estímulos serão detalhados na seção 3 deste trabalho. Giansanti (1999) destaca que a perspectiva do desenvolvimento sustentável leva ao questionamento do consumismo, visto que não existem meios para solucionar a escassez dos recursos sem mudar os hábitos e culturas de consumo. Nesse sentido, Lazzarini e Gunn (2002) afirmam que é importante existir a relação de consumo de produtos ou serviços para atender às necessidades dos consumidores e o uso consciente dos recursos naturais necessários nesse consumo. Isto pode ser exemplificado através de matérias-primas e energia utilizadas na produção, capacidade do meio ambiente em absorver a poluição, lixo e resíduos gerados na produção e consumo do produto ou serviço. Os direitos do consumidor envolvem basicamente o ato de compra; cabe à sociedade praticar hábitos e práticas de consumo sustentáveis que contribuam com o meio ambiente e garantam as necessidades básicas. A seguir, trata-se da situação atual do consumo sustentável no Brasil. No Brasil, grande parte dos consumidores apresenta um padrão de consumo dispendioso em relação aos países ricos. O motivo justifica-se que muitos consomem pouco e para garantir a sobrevivência, os hábitos de consumo adotados são insustentáveis. O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC) compreende que a política de consumo sustentável no Brasil está relacionada com a eliminação da pobreza, isto significa que se aumentar o patamar mínimo de consumo dos indivíduos que vivem abaixo do padrão de consumo, proporcionará uma vida mais digna e também estará mudando os padrões e níveis de consumo, evitando a concentração de renda e garantindo uma vida mais sustentável. 3. Produção Mais Limpa De acordo com Barbieri (2004, p. 119), a produção mais limpa PmaisL ou P+L “é uma estratégia ambiental preventiva aplicada a processos, produtos e serviços para minimizar os impactos sobre o meio ambiente”. Este novo modelo de produção está sendo desenvolvido desde a década de 1980, pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e pela Organização das Nações Unidas para Desenvolvimento Industrial (ONUDI) com o intuito de instrumentalizar o conceito e práticas do desenvolvimento sustentável. O autor lembra que a origem do conceito de tecnologias limpas, dá-se às propostas estimuladas pela Conferência de Estocolmo-72, em que havia três propósitos básicos: lançar menos poluição ao meio ambiente, gerar menos resíduos e consumir menos recursos naturais. Este conceito foi criado para atender às recomendações do Relatório de Brundtland, conforme comentado anteriormente, como sendo aquele que visa atender às necessidades presentes sem colocar em risco as necessidades das gerações futuras. Pode-se dizer que surgiu como um novo modelo de industrialização, que concilia crescimento econômico e social da indústria, portanto sem degradar o meio ambiente e tendo como critérios o uso eficiente de recursos não renováveis, conservação dos recursos renováveis e limite da capacidade do meio ambiente em assimilar os resíduos (BARBIERI, 2004). De acordo com Lemos e Nascimento (apud MAIA E WILK, 2004), na década de 1990 surgiram várias iniciativas de ONGs voltadas às discussões sobre a busca de metodologias e propostas de como manter a produção de bens e serviços de forma sustentável, sem comprometer a produtividade da empresa. Eis que surge a primeira proposta nesta linha: criada em 1990 pela ONG Greenpeace, organização ambientalista sem fins lucrativos, com abordagem de Produção Limpa (Clean Production) ou PL. Segundo o Greenpeace (www.greenpeace.org.br), a P+L tem como foco principal a atenção ao processo e ao produto de forma que sejam utilizados recursos naturais renováveis e que não causem danos ao meio ambiente. O processo é caracterizado pelo uso eficiente de energia, fontes de matérias-primas renováveis e processo atóxico. Já o produto é caracterizado pela durabilidade de sua vida útil, reutilização, embalagens não agressivas ao meio ambiente e materiais recicláveis. Com relação a isto, Hunt (apud, MADRUGA, 2000) comenta que a modificação no processo faz-se necessário quando a geração de resíduos pode ser minimizada na fonte, isto pode ser feito através de técnicas que buscam melhoria nos processos produtivos, substituição de matéria-prima e adoção de nova tecnologia. A reciclagem dos materiais pode ser interna ou externa; a reciclagem interna ocorre quando os resíduos são reutilizados na empresa como insumo dentro do mesmo processo; na reciclagem externa, os resíduos são reutilizados por outra empresa e serve como insumo dentro do seu processo produtivo. Nesse sentido, Barbieri (2004, p. 120) argumenta que a P+L envolve produtos e processos, estabelece uma seqüência de prioridades a serem seguidas: “prevenção, redução, reuso e reciclagem, tratamento com recuperação de materiais e energias, tratamento e disposição final”. A metodologia da P+L foi desenvolvida pela United Nations Industrial Development Organization (UNIDO) e é a base do programa de prevenção proposto pela United Environment Programe (UNEP) para as nações em desenvolvimento. A metodologia da P+L é aplicada em 20 países, os quais constituem a rede internacional de Produção mais Limpa. No Brasil, o Governo Federal aderiu à declaração Internacional sobre Produção Mais Limpa da ONU; o documento foi formalizado pela Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, em 27 de novembro de 2003. Este documento compromete o governo a implementar as políticas de produção mais limpa de acordo com os termos explícitos na declaração da ONU, e também reconhece oficialmente que o Brasil precisa adotar práticas de produção e consumo sustentáveis (www.cebds.org.br). A produção mais limpa pode ser aplicada a processos de produção, aos produtos e também a vários tipos de serviços. Para os processos produtivos, está direcionada à economia de matéria-prima, água e energia; eliminação do uso de materiais tóxicos e redução da quantidade e toxicidade dos resíduos e emissões que foram gerados no processo. Em relação aos produtos, a P+L busca reduzir os impactos ambientais à saúde e à segurança, provocados pelo produto ao longo de seu ciclo de vida, ou seja, desde a matéria-prima, processos de fabricação, uso do produto até o descarte final. Para serviços, a P+L direciona seu foco na incorporação de preocupação de questões ambientais, desde o projeto até a entrega ou execução dos serviços (www.cebds.org.br). O objetivo central da adoção da P+L é minimizar os resíduos e emissões combinando esforços de conservação de insumos e energia usados na produção, isto é feito produzindo novos produtos e não gerando resíduos. Assim, a empresa garante processos mais eficientes com um programa orientado para aumentar a eficiência de utilização dos materiais, com vantagens técnicas, econômicas além de estimular a inovação na empresa. As principais vantagens que permeiam a adoção desta técnica são: custos de produção mais baixos, aumento de eficiência e competitividade; evitar infrações aos padrões ambientais na legislação; diminuição de riscos de acidentes de trabalho e conseqüentemente melhoria das condições de saúde e segurança do trabalhador; melhores perspectivas de mercado interno e externo; acesso às linhas de financiamento (www.pmais.com.br). Várias iniciativas têm emergido com o objetivo de reduzir a poluição através do uso consciente de matéria-prima, água e energia; isto significa redução de custos para a empresa, menos desperdícios e melhoria no processo de produção, além do que a transformação de resíduos em produtos torna a empresa mais competitiva e ecológica. Os consumidores estão cada vez mais exigindo produtos “ambientalmente corretos”, isto é, os consumidores assumem que a empresa (fabricante) seja tão responsável em relação à qualidade de seus produtos, como responsáveis na sua prática produtiva em relação ao meio ambiente, desse modo, o conceito de produção mais limpa visa promover o desenvolvimento sustentável (www.rs.senai.br). Nesse sentido, Porter (1986) argumenta que a empresa pode criar posições para diferenciar seus produtos do mercado, através das estratégias competitivas: competição em custo, diferenciação ou foco. A primeira envolve estratégias para reduzir custos e melhorar o processo de produção, sempre atualizando-os; a segunda está relacionada ao desenvolvimento de novos produtos para diferenciar da concorrência, agregando valor e inovando constantemente; a última estratégia envolve a busca de nichos de mercado, onde a empresa se especializará e se alinhará com as demandas dos potencias clientes. A proposta de Porter (1986) em relação às estratégias competitivas entre as empresas está relacionada com a produção mais limpa, uma vez que à medida que a empresa adota a P+L, terá em economia de custos, eficiência no processo industrial, melhor qualidade dos produtos e fortalecimento da imagem da empresa frente à comunidade, órgãos ambientais e clientes. Certamente estas competências distinguirá a empresa dos demais concorrentes, estabelecendo um diferencial competitivo. 4. Metodologia de Pesquisa Este trabalho apresenta duas linhas mestras sendo a primeira o desenvolvimento sustentável e a segunda a produção mais limpa. De acordo a revisão bibliográfica, verificou-se que o desenvolvimento sustentável é um conceito amplo e atual, que faz interface com a produção mais limpa como uma estratégia ambiental adotada pelas empresas. A maioria dos autores pesquisados evidencia a importância da adoção de uma política sustentável que priorize a preservação do meio ambiente, através de técnicas ambientais que orientam as atividades das empresas, além de estimular a produção e o consumo sustentáveis. Para realização deste trabalho, optou-se pela pesquisa exploratória, visto que há poucos estudos no que tange ao uso da técnica de Produção mais Limpa aliada aos princípios do Desenvolvimento Sustentável e também, buscou-se contribuir para o aumento do volume de informações a respeito de Produção mais Limpa. Segundo Gil (1991), as pesquisas exploratórias visam proporcionar maior familiaridade com o problema e deixá-lo mais claro. De acordo com a abordagem, a pesquisa é de caráter qualitativo, pois apresentaou informações que não podem ser quantificadas e também por julgar essa abordagem mais apropriada para aprofundar estudos sobre este tema (YIN, 2001). Foi definido como método a pesquisa bibliográfica e o estudo de caso. A pesquisa bibliográfica, conforme Marconi e Lakatos (1999), abrange toda bibliografia já tornada pública em relação ao tema de estudo e sua finalidade é colocar o pesquisador em contato direto com tudo o que já foi produzido sobre o assunto. Foi escolhida uma indústria de pequeno porte familiar, do setor moveleiro, que mediante levantamento prévio, está empenhada em produzir de modo sustentável. Segundo Gil (1991, p. 58), estudo de caso é um método caracterizado pelo “estudo profundo e exaustivo de um ou de poucos objetos, de maneira que permita o seu amplo e detalhado conhecimento”. Por tratar-se de estudo de caso, definiu-se como população para esta pesquisa, o total de 15 colaboradores junto à empresa pesquisada, enquanto a amostra é composta de dirigentes e colaboradores internos da organização, totalizando 5 (cinco) entrevistados. Foi utilizada a amostra não probabilística intencional na qual, para Selltiz et al (1974, p. 584), o pesquisador escolhe o caso que deve compor a amostra com base em um “bom julgamento e estratégia adequada”. Cervo e Bervian (1996) comentam que os principais instrumentos de coleta de dados são a entrevista, o questionário e o formulário. Nesta pesquisa, os dados foram coletados em fontes primárias e secundárias. Para a técnica de coleta de informações em fontes primárias, utilizou-se a entrevista semi-estruturada e observação não participante que será aplicada junto à empresa pesquisada. As fontes secundárias utilizaram informações contidas na literatura acerca do tema pesquisado e documentos internos da empresa. 5. Análise e Apresentação dos Resultados Nesta seção serão apresentados as informações obtidas junto à empresa pesquisada, bem como a análise dos dados levantados cujo objetivo é identificar e analisar o comportamento da empresa em relação ao desenvolvimento sustentável aliado aos princípios e técnicas da produção mais limpa, demonstrando a questão da sustentabilidade na empresa; a geração de resíduos; a produção mais limpa; e a implicações da produção mais limpa sobre o desenvolvimento sustentável. 5.1 A Sustentabilidade na Empresa A SB – Indústria e Comércio de Bancadas São Benedito Ltda é uma empresa do setor moveleiro, que tem um grande mix de produtos, tendo como carro-chefe as bancadas de madeira maciça. Localizada no Paraná, é uma pequena empresa familiar, e possui atualmente 15 funcionários. A empresa é fabricante de bancadas de madeira, sobretudo para o setor de marcenaria, com ênfase em atender à necessidade do carpinteiro e marceneiro que utilizam a bancada como uma ferramenta (mesa de apoio) para executar seus serviços. A empresa possui uma ampla linha de produtos destinados a marceneiros, carpinteiros, mecânicos, hobbystas e afins A conscientização ambiental exige das empresas produtos e processos menos agressivos ao meio ambiente. Produzir de modo sustentável, aumentar a produtividade e diminuir custos tornou-se uma necessidade para as empresas sobreviverem e manterem-se competitivas no mercado. O desenvolvimento sustentável e a produção mais limpa aparecem como propostas para minimizar os impactos ambientais e contribuir para a satisfação destas necessidades na empresa. De acordo com os dirigentes da empresa, a adoção de práticas de produção sustentável aplicada na SB Bancadas começou no final do ano de 2002, impulsionada pela dificuldade na compra da madeira nobre, que até então era extraída de Rondônia, Mato Grosso e Amazônia. O proprietário da empresa relata que nos últimos três anos, a comercialização da madeira ficou muito difícil e ainda prevê que nos próximos cinco anos não mais serão extraídas madeiras nobres de florestas nativas, o que nos dias atuais já está acontecendo. A empresa por sua vez viu-se obrigada a buscar novas alternativas para dar continuidade em suas atividades e, preocupada com as questões ambientais, a SB Bancadas passou a trabalhar somente com madeiras de reflorestamento, o eucalipto, por exemplo. Existem mais de 500 (quinhentas) espécies de eucalipto; as florestas de eucalipto são uma nova fonte de suprimento de matéria-prima para as indústrias moveleiras, lenha, serrados, compensados, lâminas e painéis reconstituídos. O corte do eucalipto para industrialização ocorre em média com sete anos de idade, enquanto as madeiras de lei a média é de 40 (quarenta) anos. O eucalipto é uma árvore de ciclo curto, uma madeira de excelente qualidade, porém exige técnicas para trabalhar com essa espécie. Por tratar-se de árvores exóticas, as toras de eucalipto depois de serradas apresentam madeiras bastante tortas e rachadas. Em algumas regiões ainda existe preconceito em relação ao eucalipto, este fator é devido à cultura das pessoas que antes utilizavam o eucalipto como lenha “queimar”. Esta percepção está mudando, tanto que seu valor de comercialização aumentou nos últimos anos e a demanda para exportações cresceu muito. Segundo o diretor da SB Bancadas, a iniciativa da empresa em direção às práticas ambientais foi uma decisão acertada, ele avalia que o reflorestamento é a alternativa para atender à demanda do consumo de produtos florestais e isto é a essência para combater a devastação das florestas nativas. Para a empresa isto se tornou um fator de competitividade e sobrevivência, pois os clientes da SB são empresas multinacionais que valorizam produtos ecologicamente corretos e a procedência da madeira. Estas empresas incentivam seus fornecedores e clientes a praticarem a produção e o consumo sustentáveis. Outra iniciativa adotada pela empresa que visa a sustentabilidade é a criação de uma linha de móveis antigos em estilo medieval, fabricados com madeiras recicladas, ou seja, são madeiras advindas de demolição de casas, tulhas e barracões construídos em madeira de peroba rosa de aproximadamente 50 até 100 anos. Estas casas são desmanchadas e as madeiras são vendidas para a empresa, onde são lavadas, desinfetadas e tratadas com bactericidas para, posteriormente, serem restauradas artesanalmente. Esta é uma prática que consiste em transformar madeiras velhas e inutilizáveis para outros fins, em móveis de luxo, uma verdadeira “obra de arte”. Desta forma, promove a sustentabilidade porque a SB reaproveita madeiras extremamente velhas e já extintas, sendo assim, deixa de consumir novas árvores que são desmatadas ilegalmente. 5.2 A Geração de Resíduos O ano de 2003 pode ser referido como o marco inicial da trajetória da SB Bancadas em direção às práticas sustentáveis. Com o uso de matéria-prima reflorestada (eucalipto), foram necessárias mudanças no processo produtivo, fazendo com que ele fosse repensado e modificado para que se reduzissem custos, diminuíssem a geração de resíduos e aumentassem a produtividade. Quando a empresa trabalhava com madeiras de lei, estas eram compradas pré-cortadas (na medida exata) e aparelhadas, isto significa que quase não tinha perca, rachaduras, peças tortas e peças refugadas. Quando passou a trabalhar com o eucalipto, a empresa viu-se diante de outro grande problema o volume cumulativo de resíduos gerados durante o processo produtivo. A geração de resíduos é conseqüência direta da transformação de toras em madeiras brutas e da madeira bruta em beneficiada. Os resíduos gerados ficavam expostos no chão de fábrica e a céu aberto, isto dificultava o espaço na planta de produção, circulação de pessoas, de carrinhos de carga e paleteiros dentro dos barracões que ficavam entupidos de madeiras desclassificadas. Não demorou muito para que os dirigentes da empresa visualizassem a imensidão do problema, pois os resíduos conflitavam com as questões ambientais, sua disposição exigia custos e problemas relacionados à falta de espaço para dispô-los. Para sanar o problema, a empresa teve que repensar todo seu processo produtivo criando mecanismos, investindo em novas máquinas e equipamentos para minimizar a emissão de resíduos e o impacto que estava causando ao meio ambiente. O quadro a seguir apresenta os resíduos gerados em cada processo de produção. PROCESSO PRODUTIVO Preparação da madeira bruta PRINCIPAIS RESÍDUOS • • • • • Corte / verificação de medidas Cavacos (resíduos de madeiras de aprox. 50 x 20 mm). Maravalha ou cepilhos (resíduos de madeira acima de 2,5 mm). • Tocos de madeira (pedaços de madeira de medidas diversas). • Cavacos (resíduos de madeiras de aprox. 50 x 20 mm). Serragem (resíduos de madeira de 0,5 mm a 2,5 mm). • Desempeno • Seleção Prensagem Desengrosso • • • • Encaixe/ emenda Costaneiras (faces, cascas de toras). Ripas de madeira (que não atinge a bitola utilizada). Tocos de madeira (pedaços de madeira até 200 mm). • • Maravalha ou cepilhos (resíduos de madeira acima de 2,5 mm). Peças refugadas, desclassificadas. Este processo não gera resíduos. Cavacos (resíduos de madeiras de aprox. 50 x 20 mm). Maravalha ou cepilhos (resíduos de madeira acima de 2,5 mm). Cavacos (resíduos de madeiras de aprox. 50 x 20 mm). Serragem (resíduos de madeira de 0,5 mm DESTINO • • • • Reutilizado internamente. Refilado e utilizado internamente. Parcialmente reutilizado na fábrica os pedaços de até de 100 mm, o restante é vendido para lenha ou doado e as vezes estocados. Vendidos para olarias e cerâmicas. Vendidos para granja. Parcialmente reutilizado na fábrica os pedaços de até de 100 mm, o restante é vendido para lenha ou doado e as vezes estocados. Vendidos para olarias e cerâmicas. Vendidos para granja. Vendidos para granja. • Reutilizado internamente • Vendidos para olarias cerâmicas. Vendidos para granja. e Vendidos para olarias cerâmicas. Vendidos para granja. e • • • • • • • • Furação • • Montagem • Lixação • Acabamento Pintura • • a 2,5 mm). Serragem (resíduos de madeira de 0,5 mm a 2,5 mm). Maravalha ou cepilhos (resíduos de madeira acima de 2,5 mm). Peças danificadas e refugadas. Pó (resíduo de madeiras menor que 0,5 mm). Rebarbas de madeira. Partículas de produtos químicos no ar. • • Vendidos para granja. Vendidos para olarias cerâmicas. • Reutilizado internamente. • Vendidos para granja. • • È vendido junto com a serragem. Não existe nenhuma ação reparadora, as partículas são lançadas no ar. e Revisão • Este processo não gera resíduo. Embalagem • Restos de papelão, plásticos. • Vão para o lixo. Fonte: Elaborado pelos autores. Quadro 1 – Resíduos Gerados durante o Processo de Fabricação de Bancadas Verificou-se que a empresa utiliza algumas medidas visando o reaproveitamento de resíduos através de práticas de reciclagem interna e externa. A reciclagem interna ocorre quando os resíduos são reutilizados dentro da própria empresa, reaproveitando assim as peças refugadas, tocos de madeiras, peças que não atingem o tamanho ideal. A reciclagem externa ocorre quando a empresa vende ou doa para outras empresas os dejetos de madeiras provenientes dos processos produtivos, este é caso dos cavacos, maravalhas e serragem. Existem também, medidas reparadoras quando parte dos resíduos são estocados. As costaneiras são os restos que sobram do desdobro primário das toras, onde se encontra a casca da árvore. Este processo acontece na serraria, onde as toras são abertas e cortadas, o volume deste resíduo é grande; antes eram vendidos para serem moídos ou queimados, hoje a empresa transforma este resíduo em produtos e comercializa. Os tocos, ripas e pedaços de madeiras de medidas diversas, são resultantes do processo de beneficiamento da madeira bruta, tais como refilo, corte e resto do processo de serragem. Existem peças que são reaproveitadas para a fabricação de novos produtos, já as peças que não atingem o tamanho mínimo utilizado na empresa são vendidas ou doadas para lenha. A serragem, maravalha ou cepilhos, cavacos e pó são os resíduos gerados do processo de corte, encaixes, furação, plainagem e lixação. Estes resíduos são armazenados em silos e vendidos para diversos fins, quais sejam: granjas, olarias e cerâmicas. Não existe nenhum tipo de contrato formal de venda e o preço é relativamente baixo. Conforme apresentado anteriormente, a indústria moveleira gera uma quantidade muito grande de resíduos. O Quadro 2 aponta a quantidade aproximada dos resíduos gerados na empresa. RESÍDUOS QUANTIDADE APROXIMADA PERCENTUAL EM RELAÇÃO AO VOLUME TOTAL DE MATÉRIAPRIMA Costaneiras 30 m3 / mês Tocos / Ripas / Cavacos 30 m3 / mês Maravalhas ou Cepilhos / Serragem / Pó 240 m3 / mês Peças refugadas 8 m3 / mês Fonte: SB Bancadas, adaptado pelos autores. Quadro 2 – Quantidade de Resíduos Gerados 10% 20% 20% 5% De acordo com o quadro 2, percebe-se que apesar de a empresa ser pequena, a quantidade de resíduos gerados durante seu processo produtivo é grande. Para a empresa isto é um grande problema, primeiro porque os resíduos expostos a céu aberto acabam causando impacto ao meio ambiente, ficando sujeita a multas e o custo destes resíduos é alto, porque são comprados a preço de matéria-prima (madeira), o que significa prejuízo. Na próxima seção são detalhadas as medidas já implementadas pela empresa para aproveitar o desperdício destes recursos (resíduos). 5.3 A Produção mais Limpa Conforme descrito na seção 3, a P+L é uma ferramenta da gestão ambiental, a qual permite analisar o processo produtivo da empresa, detectar em quais etapas a matéria-prima está sendo desperdiçada, melhorar o aproveitamento deste material e diminuir os resíduos, ou seja, unir os objetivos ambientais aos processos produtivos reduzindo assim os resíduos gerados que podem contaminar o meio ambiente. Segue o fluxograma utilizado (Figura 1) como referência para estabelecimento de prioridades na identificação de oportunidades da P+L num processo produtivo. De acordo o fluxograma da P+L, busca-se prioritariamente, evitar a geração de resíduos e emissões na fonte (nível 1). Os resíduos que não podem ser evitados, podem ser reintegrados ao processo produtivo da empresa através da reciclagem interna (nível 2). Na impossibilidade de os resíduos serem reutilizados dentro da empresa, medidas de reciclagem externa, tratamento das emissões e disposição dos resíduos podem ser adotadas (nível 3). Verificou-se que a SB Bancadas não possui um programa de produção mais limpa formalizado dentro da empresa, ou seja, implementado com o auxílio do SEBRAE e estruturado na metodologia do CNTL. No entanto, a empresa faz uso de práticas ambientais de produção mais limpa e utiliza tal conceito para promover a sustentabilidade da empresa. Segundo seus dirigentes, a aplicação da P+L foi impulsionada não só pela preocupação ambiental, mas também pela forte influência dos benefícios econômicos que esta ferramenta da gestão ambiental proporciona. PRODUÇÃO MAIS LIMPA M INIMIZAÇÃO DE RESÍDUOS E EM ISSÕES REUSO DE RESÍDUOS E EMISSÕES Nível 3 Nível 1 Nível 2 Redução na fon te Reciclagem interna Reciclagem externa Ciclos biogênicos Modificação no produto Modificação no processo Estruturas Materiais Boas práticas Substituição de matéria-primas Modificação Tecnológica Fonte: Guia da P+L - Faça você mesmo (CEBDS, 2003, p. 38). Figura 1 – Fluxograma de Prioridades na Identificação de Oportunidades da P+L De acordo com o gerente de produção, as etapas em que a matéria-prima estava sendo desperdiçada eram o beneficiamento da tora em madeira bruta e da madeira bruta em beneficiada, pois estes processos apresentam maior quantidade de resíduos. Foram realizadas algumas ações para sanar o problema, que serão explicadas posteriormente. O Quadro 3 apresenta as ações de produção mais limpa aplicadas na SB Bancadas no período entre 2003 e 2006, seus resultados e sua classificação, conforme o CEBDS, quanto aos níveis de ação: (1) redução na fonte; (2) reciclagem interna; (3) reciclagem externa. Verificou-se que a empresa pesquisada tem várias ações de produção mais limpa que visam à redução na emissão dos resíduos, reutilização dos resíduos gerados durante o processo produtivo que são reaproveitados dentro da empresa e os resíduos não utilizados são reciclados externamente. 5.4 As Implicações da Produção mais Limpa sobre o Desenvolvimento Sustentável Um dos pontos-chave da produção mais limpa é reduzir a emissão de resíduos e desperdícios durante o processo produtivo; este novo modelo de produção visa instrumentalizar o conceito e práticas do desenvolvimento sustentável. Seguem o detalhamento das ações implementadas na empresa pesquisada e a respectiva análise com os conceitos da implicação da produção mais limpa sobre o desenvolvimento sustentável. Em relação à substituição da matéria-prima, conforme já mencionado anteriormente, a madeira de lei foi substituída por madeiras de reflorestamento, este fator vem ao encontro do princípio de boas práticas de produção que visa à substituição de matéria-prima quando esta pode ser substituída por outra fonte de recursos renováveis. A substituição por madeiras reflorestáveis impulsiona a produção e o consumo sustentáveis. O atual padrão de produção e consumo são insustentáveis, a mudança destes padrões faz-se necessária para o mundo caminhar rumo ao desenvolvimento sustentável. AÇÕES DE PRODUÇÃO MAIS LIMPA RESULTADOS ANO NÍVEL DA AÇÃO 1) Substituição da matériaprima (madeira de reflorestamento) 2) Reorganização e padronização no processo produtivo 3) Venda de serragem, maravalha ou cepilhos, cavacos e pó 4) Investimento em novas máquinas e equipamentos 5) Reutilização das ripas de madeira desclassificadas Auto-sustentabilidade de fontes renováveis de matéria-prima 2002 2003 Nível 1 Melhor aproveitamento de matériaprima, geração de menos resíduos. 2003 Nível 1 Redução Reuso dos resíduos por outra empresa. 2003 Melhor aproveitamento dos insumos. 2003 2004 2004 6) Reaproveitamento de pedaços de madeira pequena (tocos) Reutilização dos tocos na empresa, transformando em novos produtos. 2004 7) Reaproveitamento de peças curtas ou estreitas Reutilização das peças que antes eram refugadas. 2004 8) Substituição de ferros por madeiras que eram inutilizadas 9) Investimento em novas ferramentas 10) Substituição de embalagens Redução de resíduos provenientes de ferro. Redução na geração de resíduos (serragem e cepilhos). Eliminação do desperdício de papel. 2005 11) Substituição de nova máquina 12) Aproveitamento das Melhor aproveitamento da madeira – diminuição dos resíduos. Reutilização das costaneiras, 2005 2006 2006 Nível 3 Reciclagem externa Nível 1 Redução Nível 2 Reciclagem interna Nível 2 Reciclagem interna Nível 2 Reciclagem interna Nível 1 Redução Nível 1 Redução Nível 1 Redução Nível 1 Redução Nível 2 Reutilização das ripas na empresa, transformando em novos produtos. 2004 2004 costaneiras de toras transformando em novos produtos. Reciclagem interna Fonte: Elaborado pelos autores. Quadro 3 – Ações de Produção mais Limpa A reorganização e padronização no processo produtivo fizeram-se necessárias para atender à substituição por madeira de reflorestamento; o processo produtivo da empresa teve de ser repensado e reorganizado, visando sempre o melhor aproveitamento das madeiras e a geração de menos resíduos. A padronização do processo de produção foi implantada para aumentar a produtividade, melhorar a qualidade do produto e estabelecer medidas máximas de matéria-prima a ser utilizada. A modificação nos processos produtivos é também um pontochave da produção mais limpa. Em relação aos resíduos (serragem, maravalha ou cepilhos, cavacos e pó), são reciclados externamente. Apesar do esforço da empresa para aproveitar os resíduos internamente, neste caso não tem como ser aproveitado, razão pela qual a SB vende estes resíduos para outras empresas que possam utilizá-los. A reciclagem externa é uma estratégia de P+L que tem como objetivo o reuso de resíduos externamente ou a disposição destes em lugar seguro que não cause danos ao meio ambiente. O investimento em novas máquinas, equipamentos e ferramentas foi feito com o intuito de melhorar o aproveitamento das matérias-primas e prevenir a geração de resíduos. Este processo realizou-se por meio de substituição das máquinas por outras que geram menos resíduos, instalação do sistema de exaustores que suga serragem, cepilhos e pó das máquinas e armazena no silo e também pela modernização em ferramentas em wídea que proporciona maior durabilidade das ferramentas e melhor acabamento da madeira. A adoção de tecnologia limpa tem como princípio evitar o desperdício de recursos e proteger o meio ambiente almejando o desenvolvimento sustentável. A reutilização de ripas, tocos de madeira, peças desclassificadas e costaneiras de toras é uma medida de reciclagem interna, visto que estes resíduos voltam ao processo que os gerou e são reaproveitados para a fabricação de novos produtos. A transformação de resíduos em novos produtos é o objetivo central da P+L, isto porque a matéria-prima é utilizada eficientemente, estimula a inovação dentro da empresa, diminui o custo de produção, gera benefícios econômicos para a empresa e não degrada o meio ambiente. Segundo os dirigentes da empresa, a estratégia de reutilizar os resíduos que antes eram um grande problema e transformá-los em novos produtos é um fator de sobrevivência para a empresa, porque os resíduos geravam custos, conflitos ambientais e falta de espaço na planta de produção. Esta estratégia de P+L veio ao encontro da necessidade da empresa em fazer algo para minimizar os resíduos e diminuir seus custos que estavam alto por função do desperdício da madeira. O reaproveitamento das peças curtas e estreitas tem como objetivo aproveitar as madeiras que eram desclassificadas em função de não atingir o tamanho ou a largura mínima exigida. Este processo consiste em emendar as madeiras tanto na largura quanto no comprimento para serem utilizadas no processo de fabricação. Este fator é um ponto chave da P+L, pois proporciona vantagens econômicas para empresa e torna o processo mais eficiente, além de alavancar a capacitação técnica dentro da empresa. A substituição de ferro por madeiras é outra estratégia de P+L adotada pela empresa. Essa estratégia consiste na substituição dos parafusos da bancada que antes eram fabricados em ferro pela substituição de parafusos fabricados em madeira que estavam desclassificadas em função do tamanho. Segundo o gerente de produção, os parafusos em madeira foi um diferencial, reduziu custos e contribuiu com o aproveitamento das peças desclassificadas, além de eliminar os resíduos de ferro que eram gerados, tais como, cavacos e pontas de ferro. Estima-se que os resíduos de ferro somavam 25 kg / mês e eram doados para sucata. A substituição de embalagens é outra prática adotada pela empresa para não gerar lixo. As caixas de papelão que não eram aproveitadas pelo cliente foram substituídas por fio sintético (sem danificar o produto), o custo da embalagem reduziu e eliminou-se o desperdício de papel. O quadro 4 reúne, a partir desta análise, a dimensão do desenvolvimento sustentável considerando as implicações de cada ação de produção mais limpa. DIMENSÃO DO DESENVOLVIEMNTO SUSTENTÁVEL AÇÕES DE P + L 1) Substituição da matéria-prima (madeira de reflorestamento) 2) Reorganização e padronização no processo produtivo ECOLÓGICA ECOLÓGICA e ECONÔMICA 3) Venda de serragem, maravalha ou cepilhos, cavacos e pó 4) Investimento em novas máquinas e equipamentos ECONÔMICA 5) Reutilização das ripas de madeira desclassificadas ECOLÓGICA e ECONÔMICA 6) Reaproveitamento de pedaços de madeira pequena (tocos) ECOLÓGICA e ECONÔMICA 7) Reaproveitamento de peças curtas ou estreitas ECOLÓGICA e ECONÔMICA 8) Substituição de ferros por madeiras que eram inutilizadas ECOLÓGICA e ECONÔMICA 9) Investimento em novas ferramentas ECONÔMICA 10) Substituição de embalagens 11) Substituição de nova máquina ECOLÓGICA e ECONÔMICA ECOLÓGICA 12) Aproveitamento das costaneiras de toras ECOLÓGICA e ECONÔMICA Fonte: Elaborado pelos autores Quadro 4 – As Implicações da Sustentável ECOLÓGICA BENEFÍCIOS Priorização dos recursos renováveis. Geração de menos resíduos, diminuição nos custos de produção, processo mais eficiente e melhoria no ambiente de trabalho. Reciclagem externa. Adoção de tecnologia limpa que previne problemas ambientais. Reaproveitamento dos resíduos, evita desperdícios e menor custo para empresa. Reaproveitamento dos resíduos, evita desperdícios e menor custo para empresa. Reaproveitamento dos resíduos, evita desperdícios e menor custo para empresa. Evita geração de novos resíduos, aproveita madeiras desclassificadas e diminui os custos. Maior vida útil das ferramentas, melhor acabamento das madeiras. Evita desperdício de papel e embalagem mais barata. Prevenção para geração de menos resíduos. Reaproveitamento dos resíduos, evita desperdícios e menor custo para empresa. Produção mais Limpa sobre as Dimensões do Desenvolvimento Constata-se, portanto, que as implicações da produção mais limpa sobre as dimensões do desenvolvimento sustentável contribuem para a harmonia das dimensões econômicas e ecológicas do desenvolvimento sustentável, cujo propósito é resolver ou amenizar os problemas ambientais por meio da adoção de técnicas que promovem a produção mais limpa. 6. Considerações Finais A sustentabilidade é um fator de extrema importância para assegurar a qualidade de vida para as gerações futuras e, para isso, é preciso que as empresas, o governo e a comunidade contribuam com práticas que podem salvar o planeta. De modo geral, as empresas estão começando a se adequar frente aos novos padrões ambientais, que buscam produtos ecologicamente corretos, preservação do meio ambiente, processos de produção que não causam danos ambientais. As empresas estão percebendo que promover a sustentabilidade e a preservação ambiental não é apenas uma questão de cumprir obrigações com órgãos ambientais, mas sim um fator de sobrevivência da organização e também de competitividade. Através dos resultados obtidos por meio de entrevistas, observação não participante e do levantamento bibliográfico, pôde-se perceber que está crescendo a preocupação das empresas e das pessoas em relação ao meio ambiente, porém esta preocupação é bastante tímida em nível nacional. Este fator pode ser devido à cultura brasileira que nunca valorizou as riquezas do país onde se acreditava que os recursos naturais eram infinitos. Pôde-se observar também algumas ações implementadas na empresa que buscam contribuir com o meio ambiente dentro dos conceitos do desenvolvimento sustentável e da produção mais limpa, cujo objetivo está em que a empresa alcance sua sustentabilidade, utilizando matérias-primas de fontes renováveis, reorganizando seu processo produtivo e diminuindo a geração de resíduos, de forma a reduzir o impacto negativo que ela vinha causando ao meio ambiente. Uma observação importante refere-se ao fato de que a empresa implantou ações de produção mais limpa, reorganizou seu processo produtivo de modo sustentável, o que também vem ao encontro dos conceitos da produção mais limpa, sem precisamente saber dessa técnica em sua concepção teórica. Através disto, a empresa obteve redução dos custos de produção, maior produtividade, prevenção na geração de resíduos e reciclagem dos materiais desperdiçados. Referências: ALMEIDA, F. O bom negócio da sustentabilidade. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002. 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