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1 Técnicas de bioengenharia para revegetação ... ISSN: 2177-305X CENTRO BRASILEIRO PARA CONSERVAÇÃO DA NATUREZA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL BOLETIM TÉCNICO CBCN N o 001 TÉCNICAS DE BIOENGENHARIA PARA REVEGETAÇÃO DE TALUDES NO BRASIL Laércio Couto Wantuelfer Gonçalves Arnaldo Teixeira Coelho Cláudio Coelho de Paula Rasmo Garcia Roberto Francisco Azevedo Marcus Vinicius Locatelli Tatiana Gontijo de Loreto Advíncula Juliana Margarido Fonseca Couto Brunetta Cristiane Alves Barbosa Costa Luis Carlos Gomide Pedro Henrique Motta Viçosa – Minas Gerais 2010 Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 ISSN: 2177-305X COUTO, L. et al. 2 INFORMAÇÕES GERAIS O Boletim Técnico CBCN é o veículo de divulgação técnico-científica do Centro Brasileiro para Conservação da Natureza e Desenvolvimento Sustentável que publica trabalhos no campo da conservação da natureza e do desenvolvimento sustentável. Editor Chefe: Gumercindo Souza Lima Editor Assistente: Guido Assunção Ribeiro Comissão Editorial Presidente: Antonio Lélis Pinheiro; Vice Presidente: Rasmo Garcia; Membros: Antônio de Arruda Tsukamoto Filho (UFMT), Carlos Antônio Alvares Soares Ribeiro (UFV), Cláudio Coelho de Paula (UFV), Eduardo Antônio Gomes Marques (UFV), Elias Silva (UFV), Ésio de Pádua Fonseca (UEL), João Luis Lani (UFV), Jorge Alberto Gazel Yared (CBCN), José Geraldo Mageste (UFVJM), João Carlos de Carvalho Almeida (UFRRJ), Juliana Margarido Fonseca Couto Brunetta (CBCN), Júlio Cesar Lima Neves (UFV), Laci Mota Alves (FATEC Presidente Prudente), Luiz Carlos Couto (UFVJM), Omar Daniel (UFGD), Roberto Azevedo (UFV), Rodrigo Silva do Vale, (UFRA); Wantuelfer Gonçalves (UFV) Coordenação de Edição: ICONE – Instituto para o Conhecimento Empresarial Ltda. Diagramação: Franz Lopes da Silva Revisão Linguística: Eliane Ventura da Silva Capa: Ricardo Resende Impressão: Qualigraf Serviços Gráficos Ltda. Circulação: Centro Brasileiro para Conservação da Natureza e Desenvolvimento Sustentável - CBCN Endereço: Rua Professor Alberto Pacheco, 125 – salas 506 e 507 – Ramos 36570-000 Viçosa, Minas Gerais - Brasil Telefone/Fax: +55 (31) 3892-4960 [email protected] / www.cbcn.org.br Ficha Catalográfica preparada pela Seção de Catalogação e Classificação da Biblioteca Central da UFV T252 2010 Técnicas de bioengenharia para revegetação de taludes no Brasil / Laércio Couto ... [et al.] – Viçosa, MG : CBCN, 2010. 118p. : il. (algumas col.) ; 21 cm. Esta publicação foi carboneutralizada (Boletim técnico CBCN, 2177-305X ; 1). Inclui bibliografia. 1. Meio ambiente. 2. Desenvolvimento sustentável. 3. Proteção ambiental. I. Couto, Laércio, 1945- . II. Centro Brasileiro para Conservação da Natureza e Desenvolvimento Sustentável. III. Série. Apoio: CEMIG – Companhia Energética de Minas Gerais S/A CDD 22.ed. 363.7 SOLICITA-SE PERMUTA Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 EXCHANGE DESIRED Técnicas de bioengenharia para revegetação ... 3 Projeto: PESQUISA & DESENVOLVIMENTO – GT 196 CEMIG Diretoria de Geração e Transmissão Luiz Henrique de Castro Carvalho Superintendência de Gestão Ambiental da Geração e Transmissão Enio Marcus Brandão Fonseca Gerência de Estudos e Manejo da Ictiofauna e Programas Especiais Newton José Schimidt Prado CBCN Presidente Laércio Couto Coordenador Geral Projeto GT 196 Laércio Couto Coordenador pela Cemig Rodrigo Avendanha Liboni Equipe Técnica Arnaldo Teixeira Coelho Claudio Coelho de Paula Cristiane Alves Barbosa Costa Juliana Margarido Fonseca Couto Brunetta Laércio Couto Luis Carlos Gomide Marcus Vinicius Locatelli Pedro Henrique Motta Rasmo Garcia Roberto Francisco Azevedo Tatiana Gontijo de Loreto Advíncula Wantuelfer Gonçalves Equipe Administrativa Franz Lopes da Silva Leonardo Paiva Pereira Tatiana de Almeida Crespo Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 4 Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 COUTO, L. et al. 5 Técnicas de bioengenharia para revegetação ... SUMÁRIO Página 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................... 7 2 EVOLUÇÃO DA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL ............... 13 3 CONSIDERAÇÕES SOBRE SOLOS ..................................................... 16 3.1 Constituição ................................................................................. 3.2 Cor ................................................................................................ 3.3 Textura .......................................................................................... 3.4 Estrutura ....................................................................................... 3.5 Cerosidade ................................................................................... 3.6 Porosidade ................................................................................... 3.7 Consistência ................................................................................. 3.8 Cimentação ................................................................................... 3.9 Considerações sobre erosão ........................................................ 3.10 Equação Universal de Perdas de Solo ........................................ 3.10.1 Fator climático ....................................................................... 3.10.2 Fator de erodibilidade ............................................................ 3.10.3 Fator topográfico ................................................................... 3.10.4 Fator de cobertura vegetal e recobrimento do solo ............... 3.10.5 Fator de manejo de culturas e conservação do solo ............. 19 22 24 25 26 26 27 28 29 32 35 37 39 43 43 4 FATORES A SEREM CONSIDERADOS EM PROJETOS DE PROTEÇÃO DE TALUDES ................................................................. 44 4.1 Edáficos ....................................................................................... 4.2 Temperatura ................................................................................. 4.3 Precipitação .................................................................................. 4.4 pH/salinidade ............................................................................... 4.5 Resistência ao fogo ...................................................................... 44 46 47 48 49 5 EFEITO DA VEGETAÇÃO NA ESTABILIDADE DE TALUDES E ENCOSTAS ........................................................................................ 50 5.1 Seleção de plantas para controle de erosão e áreas degradadas .. 63 Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 6 COUTO, L. et al. Página 6 BIOENGENHARIA DE SOLOS NA PROTEÇÃO DE TALUDES E RECUPERAÇÃO AMBIENTAL ......................................................... 69 6.1 Geossintéticos ............................................................................ 6.2 Retentores sedimentos ................................................................ 6.2.1 Bermalongas .......................................................................... 6.2.2 Paliçadas de madeira .............................................................. 6.2.3 Preenchimentos de concavidades erosivas ........................... 6.3 Solo envelopado verde ............................................................... 6.4 Solo grampeado verde ................................................................ 6.5 Madeira e estacas vivas .............................................................. 6.6 Concreto ..................................................................................... 6.7 Ligas metálicas ............................................................................ 6.8 Hidrossemeadura ........................................................................ 72 79 82 82 86 86 89 92 93 94 94 7 DRENAGEM DOS TALUDES ............................................................. 97 7.1 Drenagem de superficial .............................................................. 98 7.1.1 Canaletas ................................................................................ 98 7.1.2 Escada hidráulica ................................................................... 99 7.2 Drenagem subterrânea ................................................................ 99 7.2.1 Geossintéticos ...................................................................... 103 7.2.2 Geotêxteis .............................................................................. 103 7.2.3 Geogrelhas ............................................................................ 103 8 PROTEÇÃO DE CURSOS D’ÁGUA ................................................... 105 9 CONTROLE DE PRAGAS .................................................................. 109 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................... 110 Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 Técnicas de bioengenharia para revegetação ... 7 1 INTRODUÇÃO As atividades antrópicas, ao longo dos anos, podem resultar em modificações na paisagem e eventualmente ter como consequência a degradação do solo. Com a finalidade de minimizar este fato, estabilizar os processos erosivos e amenizar o aspecto visual negativo causado por tais atividades, são realizadas obras de drenagem, geotécnicas, de terraplenagem e de implantação de revestimento vegetal. A minimização dos impactos ambientais decorrentes das atividades humanas é uma preocupação cada vez maior da população. Aliada à pressão da sociedade e às exigências legais, e também por iniciativa própria, as empresas públicas e privadas e as instituições de pesquisa interessaram-se na execução de projetos e no desenvolvimento de tecnologias e produtos para atender a esta crescente demanda na área ambiental. Também neste contexto, as universidades criaram cursos de graduação e pós-graduação em gestão ambiental e em áreas correlatas, ampliando a oferta de profissionais no mercado e aumentando os estudos e pesquisas nessa área. Muitas vezes a construção de estradas, de usinas hidrelétricas e de subestações e outras obras exigem movimentação de terras, o que pode resultar em taludes que estão sujeitos às intempéries e às oscilações de temperatura e umidade, proporcionando dificuldades para o estabelecimento de cobertura vegetal, comprometendo assim a completa recuperação ambiental do local afetado. Para muitos desses taludes é necessário elaborar e implantar projetos de recuperação de áreas degradadas, incluindo medidas mitigadoras e Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 8 COUTO, L. et al. reconstrução topográfica, de acordo com o grau e o tipo de impacto ambiental causado pelo empreendimento. No Brasil o deslizamento de encostas tem provocado acidentes, principalmente em áreas urbanas, devido à ocupação acelerada e desorganizada que avança progressivamente sobre terrenos considerados instáveis, o que, cada vez mais, expõe a grandes riscos a população que neles se aloja. Segundo Inbar et al. (1998), citados por Fernandes et al. (2004), as principais atividades responsáveis pela degradação de aspectos geomorfológicos são as mineradoras e a abertura de estradas, estas gerando quase sempre modificações significativas na paisagem. Em relevos íngremes e desnudos de vegetação, as enxurradas são frequentes e os processos erosivos decorrentes mobilizam muita massa de solo, o que é intensificado nas cidades por serem essas superfícies bastante impermeabilizadas. As enxurradas depositam os materiais transportados nas vertentes ou nos fundos dos vales, causando assoreamento dos corpos d’água, o que por sua vez promove alagamentos, bem como diminuição da capacidade de armazenamento de água nos reservatórios, trazendo assim sérios prejuízos para o abastecimento e a produção de energia hidrelétrica (CARVALHO et al., 2006). Parizzi et al. (2004), a partir de dados fornecidos pela Secretaria da Habitação e da Coordenadoria de Defesa Civil da cidade de Belo Horizonte-MG, constataram uma média anual de 400 desmoronamentos entre 1994 e 2000 nas periferias da capital mineira. Muitas vezes a situação de instabilidade de taludes e encostas é agravada em períodos de chuva, causando erosões, carreamento Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 Técnicas de bioengenharia para revegetação ... 9 dos solos e sedimentos para os corpos d’água, destruição de residências e até mortes (Figuras 1 e 2). As características intrínsecas das áreas sob as supracitadas intervenções predispõem e condicionam diversos fenômenos, sendo um dos mais comuns a suscetibilidade à erosão, neste caso o movimento de massa de solo em encostas e taludes, genericamente denominado de escorregamento (Figura 3). Segundo Toy et al. (2002), a perda de solo por erosão acarreta redução do potencial natural de revegetação. Dentre os prejuízos decorrentes dos movimentos de massa de solos incluem-se a desvalorização de terras, a perda de produtividade Figura 1 - Deslocamento de terra em área urbana devido às intensas chuvas de verão, cidade de Canaã-MG, janeiro de 2009. A seta amarela indica a região que a massa de solo erodido alcançou. Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 10 COUTO, L. et al. Figura 2 - Estado de calamidade pública na cidade de Canaã-MG, em decorrência dos desmoronamentos de diversos taludes com as intensas chuvas de verão, janeiro de 2009. Figura 3 - Transtorno em trecho urbano da BR-120 na cidade de Viçosa-MG, decorrente do escorregamento de massa de solo. Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 Técnicas de bioengenharia para revegetação ... 11 e a degradação da qualidade da água, além de danos aos sistemas de transportes, energia elétrica, abastecimento público, dentre outros (Figura 4). De acordo com pesquisa realizada pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica e pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas, no Estado de São Paulo, 70% das ocorrências de erosões são causadas pela má conservação de estradas vicinais. O governo do Estado, buscando uma solução para esses problemas, criou o Programa Melhor Caminho, com a coordenação da Secretaria de Agricultura e Abastecimento e a Companhia de Desenvolvimento Agrícola de São Paulo (CODASP) como executora dessas obras (CODASP, 2008). Figura 4 - Detalhe de processos erosivos impactando linhas de transmissão. Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 12 COUTO, L. et al. A CODASP, a Fundação Rural Mineira (RURALMINAS) e as empresas de assistência técnica e extensão rural, dentre elas a Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI) no Estado de São Paulo e a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER) por todo o Brasil, são também exemplos de empresas que vêm se dedicando à conservação da água e do solo no meio rural, atuando na construção, recuperação e conservação de estradas vicinais pelo manejo integrado de sub-bacias hidrográficas. Os taludes de corte resultantes das obras civis como construção de estradas, áreas de empréstimo e barragens devem ser revegetados para que não desencadeiem problemas mais graves no futuro (DIAS, 1998). Pesquisas têm mostrado a eficiência das diferentes técnicas de revegetação de taludes (EINLOFT, 2004; FERNANDES, 2004). O Manual de Conservação Rodoviária do Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes (DNIT) considera a revegetação de taludes como condicionantes ambientais específicas vinculados às construções de instalações de obras de jazidas e caixas de empréstimos e de obras de aterros, cortes e bota-foras (DNIT, 2006), e o Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER) (1997) recomenda não utilizar a impermeabilização betuminosa dos taludes para seu controle erosivo, por questões estéticas, quando outras técnicas podem ser utilizadas. Este relatório faz parte do Projeto “Desenvolvimento de metodologias para revegetação e recobrimento vegetativo no controle de taludes”, executado pelo CBCN (Centro Brasileiro para a Conservação da Natureza e Desenvolvimento Sustentável), em Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 Técnicas de bioengenharia para revegetação ... 13 parceria com a CEMIG, Companhia Energética de Minas Gerais, dentro do Programa pesquisa & desenvolvimento CEMIG - ANEEL no GT 196. 2 EVOLUÇÃO DA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL A consciência ambiental no País veio a se intensificar a partir da promulgação da Lei Federal 6.938/1981, de 31 de agosto de 1981, que dispõe sobre a política nacional do meio ambiente, consolidando com a Constituição Federal de 1988. Desde então, a questão ambiental no Brasil evoluiu muito, e hoje esta deve ser tratada de forma integrada, seguindo os preceitos da gestão integrada do meio ambiente propriamente dita. Essa gestão integrada preconiza a sustentabilidade do interrelacionamento das questões socioambientais dos municípios com os espaços regionais (SCHUSSEL, 2004; SHIKI; SHIKI, 2004). A legislação básica que dá suporte a essa integração pode ser sumarizada pela Lei Federal 6938/1981, pela Constituição Federal de 1988 e pelas derivadas leis estaduais. A Lei Federal 6.938/1981, de 31 de agosto de 1981, dispõe sobre a política nacional do meio ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências (BRASIL, 1981): I - ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o meio ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo; II - racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar; III - planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais; Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 14 COUTO, L. et al. IV - proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas representativas; V - controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidoras; VI - incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso racional e a proteção dos recursos ambientais; VII - acompanhamento do estado da qualidade ambiental; VIII - recuperação de áreas degradadas; IX - proteção de áreas ameaçadas de degradação; e X - educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente. A Lei Federal no 6.938/1981 instituiu a política nacional de meio ambiente e criou a estrutura legal para sua implementação, definindo as responsabilidades das diversas entidades encarregadas de sua aplicação e instituindo a obrigatoriedade do licenciamento ambiental de todas as atividades potencialmente causadoras de impacto, condicionada à apresentação de Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e de sua versão sintética, destinada ao público, denominada Relatório de Impacto Ambiental (RIMA). A partir dessa lei, a legislação ambiental vem sendo consideravelmente ampliada (sempre com mudanças significativas no quadro de demandas ambientais), e hoje já se constitui em uma vasta e diversificada gama de instrumentos de cunho legal, regulamentador e normativo (compreendendo leis, decretos, normas, portarias e resoluções) que, em seu conjunto, buscam fornecer e alcançar de forma consolidada o embasamento técnico e jurídico de todos os fundamentos que atendem à proteção do meio ambiente. Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 Técnicas de bioengenharia para revegetação ... 15 Alguns desses instrumentos normativos relacionados a determinados temas dizem respeito a diretrizes e modelos instituídos como produtos finais de trabalhos desenvolvidos por grupos de técnicos representantes de várias nacionalidades, constituídos através de protocolos e convenções com a finalidade de deliberar sobre temas ambientais específicos. Assim, essas diretrizes e modelos refletem posições e tendências universais, que o Brasil, na qualidade de signatário de tais protocolos e convenções, deve considerar e assumir. A questão ambiental está contemplada também na Constituição Federal promulgada em 1988, na qual teve destaque em nove artigos. Destes o artigo 225 estabelece que: “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. Com o advento dessas leis ambientais e da Constituição de 1988, houve um avanço na legislação, trazendo uma grande ruptura com o modelo do estado vigente na época, o que permitiu a criação dos conselhos ambientais, num modelo em que a sociedade participa para decidir, e não somente para denunciar. Neste contexto, em Minas Gerais criou-se o Conselho Estadual de Política Ambiental (COPAM), com uma gestão colegiada e participativa. Foram criados também o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) e os conselhos estaduais de meio ambiente. Dessa forma, hoje há maior interação e participação de todos os segmentos da sociedade nas discussões e nas aprovações de licenciamentos ambientais nos diversos setores produtivos e de infraestrutura do País. Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 16 COUTO, L. et al. No setor rodoviário no Brasil, representado pelo DNER e por seus correspondentes órgãos estaduais, os dispositivos legais supracitados conduziram à obrigatoriedade da incorporação, ao projeto de engenharia rodoviária, das relevâncias ambientais, traduzidas, sumarizadamente, pela definição de um “tratamento ambiental” a ser implantado, com a finalidade de promover, principalmente, a eliminação, mitigação e compensação de impactos ambientais negativos, suscetíveis de ocorrer, em toda a sua abrangência, por decorrência de processo construtivo ou de operação da rodovia. Nota-se igualmente que para a definição exata do tratamento ambiental há de se lidar com um universo extremamente vasto e diversificado de demandas e condicionamentos, relacionados com a previsibilidade dos impactos ambientais – situação cuja etapa da identificação/avaliação envolve ainda, com frequência, alta subjetividade. Além dos aspectos legais, também os de natureza econômica têm levado os empreendedores de obras em geral a incorporarem em seus custos as atividades de proteção de taludes. 3 CONSIDERAÇÕES SOBRE SOLOS As propriedades dos solos interferem no grau de estabilidade dos taludes, uma vez que é diretamente dessas que dependem as suas condições de drenagem e de estabilidade geotécnica. Assim, é imprescindível maior conhecimento sobre as características dos diferentes tipos de solos onde se pretende efetuar um projeto. Segundo Santos et al. (2005), não existe uma definição de solo que seja universalmente aceita, devido, especialmente, à ampla utilização deste recurso por profissionais das mais variadas áreas. Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 Técnicas de bioengenharia para revegetação ... 17 A Embrapa (2006, p. 31) define solos como “... coleção de corpos naturais, constituídos por partes sólidas, líquidas e gasosas, tridimensionais, dinâmicos, formados por materiais orgânicos e minerais que ocupam maior parte do manto superficial das extensões continentais do nosso planeta, contém matéria viva e podem ser vegetados na natureza onde ocorrem e, eventualmente, terem sido modificados por interferências antrópicas”. Os solos podem ser classificados em minerais ou orgânicos. No que se refere à contenção de taludes é relevante apenas os estudos dos solos minerais, pois em geral os solos orgânicos estão associados às baixadas das paisagens, em locais onde o gás oxigênio é limitante para a completa decomposição de resíduos orgânicos no sistema, ou seja, lugares predominantemente saturados de água. Jenny (1980) diz que os solos minerais são recursos naturais não renováveis em uma escala de tempo humana, pois são resultantes da alteração das rochas, no caso os materiais de origem, ao longo do tempo, pela ação do clima e de organismos, sob o controle do relevo. Porém, para Resende et al. (2007) o solo é um corpo tridimensional cuja topografia é sua própria forma externa, preferindo não incluir o relevo dentre os seus fatores de formação, e apresentando a equação simplificada: Solo = f(material de origem, clima, organismos e tempo). Na variação vertical dos solos temos o denominado perfil do solo, onde muitas vezes é possível notar um conjunto de faixas mais ou menos paralelas à superfície, que por sua vez são denominadas Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 18 COUTO, L. et al. de horizontes ou camadas, dependendo do caso (RESENDE et al., 2007), respectivamente, com altas e baixas influências visíveis dos processos pedogenéticos (pedo = terra, no grego; pedogênese = maneira pela qual o solo se origina) (Figura 5). Figura 5 - Perfil de um Latossolo Vermelho-Amarelo da APA, Cachoeira das Andorinhas, Ouro Preto-MG. Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 Técnicas de bioengenharia para revegetação ... 19 O horizonte A geralmente apresenta coloração mais escurecida, devido ao maior teor de matéria orgânica que é depositada pela maior atividade biológica mais próxima à superfície. Na sequência, geralmente também, vem o horizonte B, cujas propriedades são extremamente importantes para os trabalhos pedológicos. Em seguida temos o que se denomina de horizonte C, que é o mais jovem, ou menos intemperizado dentre os horizontes, por não ter sofrido tanta influência biológica e oscilações climáticas quanto os horizontes superiores. A partir da caracterização correta dos horizontes e da classificação dos solos, é possível inferir sobre a sua gênese e sua suscetibilidade à erosão, o que afeta, por exemplo, a escolha das práticas de controle da erosão (SANTOS et al., 2005). As propriedades dos solos consideradas relevantes durante os projetos de sua caracterização para fins agronômicos e ambientais são: constituição, cor, textura, estrutura, cerosidade, porosidade, consistência e cimentação. 3.1 Constituição Os constituintes minerais dos solos podem ser partículas de tamanhos variados (BRADY, 1974; RESENDE et al., 2007), com dimensões desde matacões com mais de 200 mm de diâmetro, até argilas com menos de 0,002 mm de diâmetro, passando por calhaus (200 – 20 mm de diâmetro), cascalhos (20 – 2 mm de diâmetro), areia grossa (2 – 0,2 mm de diâmetro), areia fina (0,2 – 0,05 mm de diâmetro) e silte (0,05 – 0,002 mm de diâmetro) (RESENDE et al., 2007). Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 20 COUTO, L. et al. Representando a fração grosseira do solo temos as partículas no tamanho de silte e areia, que podem consistir-se em fragmentos dos próprios minerais da rocha que originou o solo. São os minerais primários facilmente intemperizáveis que, gradualmente, liberam nutrientes que poderão ser absorvidos pelas plantas. No entanto, em se tratando de solos de regiões tropicais como os que predominam no Brasil, que no geral são bastante intemperizados, o mineral mais presente na superfície dos solos é o quartzo, caracterizado pela sua elevada resistência ao intemperismo e pela sua pobre constituição química, que é basicamente oxigênio e silício (SiO2), portanto este não tem nenhuma importância na liberação de nutrientes nos solos (RESENDE et al., 2007). Brady (1974) diz que as partículas presentes na fração grosseira do solo tendem a ser angulosas e com formas bastante irregulares, o que torna bem restrito o encaixe entre elas. A fração argila dos solos tropicais é constituída principalmente por minerais de argila do tipo aluminossilicatadas e pelos minerais de argilas do tipo oxidícas, óxidos de ferro e óxidos de alumínio (RESENDE et al., 2008). As argilas, juntamente com a matéria orgânica dos solos, são as grandes responsáveis pelas cargas elétricas existentes nos solos tropicais. De modo geral, quanto mais intemperizado for o solo maior é a participação de argilas de óxidos de ferro e óxidos de alumínio na sua constituição mineral, o que muito interfere nas suas demais propriedades, como será visto a seguir. Basicamente, a estrutura e a composição das argilas aluminossilicatadas consistem em lâminas de octaedros de alumínio, ligadas Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 Técnicas de bioengenharia para revegetação ... 21 a lâminas de tetraedros de silício. Quando existem duas lâminas de tetraedros de silício para uma lâmina de octaedro de alumínio por unidade de mineral de argila, a argila passa a pertencer ao grupo das argilas 2:1. Com o intemperismo ocorre a remoção de silíca do sistema, e o equilíbrio químico passa a ser favorável à maior estabilidade de minerais de argila, contendo uma lâmina de tetraedro de silício para uma lâmina de octaedro de alumínio por unidade de mineral de argila - são as argilas do grupo 1:1. Em solos de climas tropicais a argila aluminossilicatada predominante é a caulinita [Al2Si2O5(OH)4], uma argila do grupo 1:1. As cargas elétricas dos solos oriundas das argilas e da matéria orgânica são importantes na manutenção da fertilidade dos solos, pois muito interferem na reserva de nutrientes do sistema e na sua disponibilidade às plantas. A Capacidade de Troca Catiônica (CTC) do solo mede a capacidade de reter os nutrientes presentes na forma catiônica (Ca2+, Mg2+, K+ e NH4+, por exemplo), que estavam outrora presentes na solução do solo. Desta maneira, os nutrientes aderidos às superfícies dos minerais de argila por forças eletrostáticas, fenômeno denominado de adsorção, são menos passíveis de ser perdidos por lavagem, devido às chuvas ou à irrigação, passando então a ser disponibilizados gradualmente às plantas. Características como área superficial, poder de adsorção, capacidade de expansão e contração, plasticidade e coesão e capacidade de retenção de água têm suas magnitudes aumentadas à medida que os diâmetros das partículas dos solos diminuem (BRADY, 1974). Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 22 COUTO, L. et al. A matéria orgânica do solo geralmente resulta da ação dos microrganismos, que decompõem resíduos animais e vegetais, podendo ter, dentre outras, a função de agregar as partículas dos solos (BRADY, 1974). A matéria orgânica está presente nas mais variadas formas, por exemplo, resíduos em diferentes estágios de decomposição e tamanhos, fragmentos de carvão e substâncias complexas de alto peso molecular, como ácido húmico, ácido fúlvico e humina. Os poros dos solos são os constituintes responsáveis pelo armazenamento de ar (atmosfera do solo) e de água (solução do solo) nos solos, sendo a porosidade total do solo o volume não ocupado por sólidos (CURI et al., 1993). A atmosfera do solo, qualitativamente, difere-se muito pouco da atmosfera acima de sua superfície, cabendo às maiores diferenças serem de ordem quantitativa, ou seja, os gases basicamente são os mesmos, porém as concentrações mudam, sendo a atmosfera do solo geralmente mais concentrada em CO2, por exemplo. A solução do solo é a interface da transferência de nutrientes dos solos para os componentes bióticos como plantas e microrganismos, ou seja, de onde os nutrientes em suas formas iônicas são absorvidos; nela também ocorrem as reações de equilíbrio químico entre os diversos componentes dos solos. 3.2 Cor É a propriedade dos solos de mais fácil percepção, a partir da qual é possível inferir, por exemplo, sobre o teor de matéria orgânica e a sua situação de drenagem. Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 Técnicas de bioengenharia para revegetação ... 23 Cores mais enegrecidas apontam para teores mais elevados de matéria orgânica no solo, e cores mais avermelhadas apontam para teores de ferro mais elevados e para condições de drenagem melhores do que em solos de cores mais amareladas e acinzentadas. Em condições de pouca drenagem a anaerobiose predomina, e os microrganismos passam a utilizar o ferro férrico (Fe3+) disponível no sistema como aceptor final de elétrons no seu metabolismo, transformando, assim, o ferro do sistema em ferro ferroso (Fe2+), cujos minerais correspondentes refletem a coloração azulada, podendo ainda ter aspecto verde-azulado, sendo então os greenrusts. Comumente o cinza dá espaço aos mosqueados amarelos e avermelhados, além de riscados amarelados e avermelhados, geralmente associados às regiões de contato com as raízes das plantas adaptadas aos solos saturados de água, devido à liberação de O2 no solo pelas suas raízes. A medida que a drenagem aumenta, o O2 da atmosfera oxida o 2+ Fe , que passa a Fe3+. A coloração amarela dos solos se deve principalmente ao mineral de argila goethita (á-FeOOH), que é mais estável em condições de maior acidez e de menores teores de Fe3+ no solo. A coloração vermelha, por sua vez, é devido principalmente à presença do mineral de argila hematita (á-Fe2O3), com alto poder pigmentante e de maior estabilidade em condições de altos teores de Fe3+ no solo e de melhores drenagens. A caracterização das cores dos solos e de seus horizontes segue um padrão mundial, que é o Sistema Munsell de Cores (SANTOS et al., 2005). Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 24 COUTO, L. et al. 3.3 Textura Textura do solo refere-se à proporção relativa das partículas na granulometria de argila, silte e areia (grossa + fina) que constituem o solo. No que se refere à presença de calhaus e matacões, o termo é pedregosidade (RESENDE et al., 2007). No atual Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (SiBCS), os grupa-mentos texturais mais utilizados, segundo EMBRAPA (2006), são: • Textura arenosa (com composição granulométrica de menos de 15% de argila e de mais de 70% de areia). • Textura média (com composição granulométrica de menos de 35% de argila e de mais de 15% de areia). • Textura argilosa (com composição granulométrica de menos de 60% de argila e de mais de 35% de areia). • Textura muito argilosa (com composição granulométrica de mais de 60% de argila). • Textura siltosa (com composição granulométrica de menos de 35% de argila e de menos de 15% de areia). A fração silte pode vir a ser indicadora não só do grau de intemperismo a partir da relação silte/argila (teor de silte/teor de argila), mas também da fertilidade do solo, pois nesta fração pode estar a maior parte dos minerais primários facilmente intemperizáveis (RESENDE et al., 2007). Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 Técnicas de bioengenharia para revegetação ... 25 3.4 Estrutura Estrutura do solo faz conotação ao agrupamento das partículas primárias dos solos (areia, silte e argila) que formam partículas maiores, os agregados propriamente ditos (SANTOS et al., 2005; RESENDE et al., 2007). Os agregados podem comportar-se mecanicamente como unidades estruturais primárias (CURI t al., 1993), como silte ou areia, o que muito afeta a aeração e a drenagem do solo. A agregação se dá a partir de agentes cimentantes, que unem as partículas primárias dos solos (CURI et al., 1993; SANTOS et al., 2005). As formas dos agregados geralmente mudam ao longo do perfil do solo, formas estas que muito influenciam o desenvolvimento radicular das plantas, a retenção e o suprimento de água, ar e nutrientes, a atividade microbiana, a densidade do solo e a sua resistência à erosão (SANTOS et al., 2005). Os solos onde predominam argilas do tipo óxidos de ferro e alumínio tendem a ter estrutura na forma granular, o mesmo ocorrendo com o aumento do teor de matéria orgânica. Os solos passam a ter estrutura com formas em blocos, prismas e colunas à medida que a participação de argilas aluminossilicatadas é aumentada (RESENDE et al., 2007). Os solos cujos agregados apresentam facilidade de se separarem são considerados de estruturação fraca, do contrário, de estruturação forte. O reconhecimento da estrutura do solo é de elevada importância na tomada de decisão para seu uso agrícola, sendo a condição mais próxima do seco do que do úmido que permite melhor caracterização quando no campo (SANTOS et al., 2005). Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 26 COUTO, L. et al. 3.5 Cerosidade É o aspecto brilhoso devido ao recobrimento dos agregados por filmes de argilas, que preenchem os poros e dão uma aparência semelhante à de parafina derretida na superfície dos agregados ou torrões (EMBRAPA, 2006). A cerosidade origina-se do acúmulo de argilas exportadas pelas camadas de solos em posições superiores, podendo também ser originada do rearranjo das partículas finas dos solos durante ciclos de contração e dilação do solo (RESENDE et al., 2007). As atividades dos componentes biológicos dos solos, como desenvolvimento de raízes, crescimento de microrganismos e trânsito de animais, tendem a destruir a cerosidade. 3.6 Porosidade Os poros dividem-se em macroporos e microporos, respectivamente maiores e menores que 0,05 mm de diâmetro. A macroporosidade é mais importante para a aeração e drenagem no interior do solo, e está relacionada com os poros entre os agregados. A microporosidade, por sua vez, é mais importante para fixação de água no solo, retendo então água por capilaridade, o que permite que a água fique retida com uma força maior, a tal ponto de não ser removida pela ação da força da gravidade, e está relacionada com os poros intra-agregados. Os solos de textura arenosa apresentam macroporosidade maior que os solos mais argilosos, porém a agregação dos componentes da Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 Técnicas de bioengenharia para revegetação ... 27 fração argila pode fazer com que os solos argilosos tenham comportamentos semelhantes aos de solos arenosos, no que se refere às suas capacidades de drenagem. 3.7 Consistência É a manifestação das forças de coesão e adesão nos diferentes níveis de umidade: seco, úmido e molhado (BRADY, 1974; CURI et al., 1993; SANTOS et al., 2005; RESENDE et al., 2007). Coesão é a força que mantém as partículas semelhantes unidas umas às outras, pelo contato entre suas superfícies (RESENDE et al., 2007), ou seja, contato face a face de duas partículas sólidas de composição semelhante. Sua magnitude é aumentada à medida que se segue para condições mais secas nos solos, bastante acentuadas em solos cujas argilas aluminossilicatadas se encontram mais bem organizadas, ou seja, com menor interferência de argilas oxídicas e matéria orgânica aderidas a estas. Adesão é a força de atração entre corpos de naturezas diferentes, no caso a água e os constituintes sólidos dos solos (CURI et al., 1993; RESENDE et al. 2007), e começa a pronunciar-se à medida que as forças de coesão diminuem, com o aumento dos níveis de umidade no solo. As forças de coesão e de adesão são mais pronunciadas à medida que se aumentam os teores de argilas dos solos, especialmente se as argilas forem de alta atividade e se encontrarem em um nível de organização maior (Figura 6). Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 28 COUTO, L. et al. Intensidade das forças coesão em solos mais argilosos coesão em solos mais arenosos adesão em solos mais argilosos adesão em solos mais arenosos seco úmido molhado muito molhado saturado Níveis de umidade no solo Figura 6 - Variação nas magnitudes das forças de coesão e adesão em função dos diferentes níveis de umidade e de textura dos solos. 3.8 Cimentação É a ação de componentes químicos que unem as partículas dos solos, independentemente dos níveis de umidade nos quais os solos se encontram, o contrário do que ocorre com a consistência. As substâncias cimentantes podem ser orgânicas, por exemplo, os exsudados radiculares e microbianos, e inorgânicos, como carbonato de cálcio, óxidos de ferro, óxidos de alumínio e silício (BRADY et al., 1974; CURI et al., 1993; RESENDE et al., 2007). A cimentação pode ser contínua ou descontínua ao longo dos horizontes do solo, e ser fraca (quebrável com as mãos), forte (não Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 Técnicas de bioengenharia para revegetação ... 29 quebrável com as mãos, mas facilmente quebrável com o uso do martelo pedológico) e extremamente forte (não quebrável mesmo com o uso do martelo pedológico, por exemplo, concreções ferruginosas) (SANTOS et al., 2005). 3.9 Considerações sobre erosão Erosão é a remoção de constituintes de solos desprendidos por estarem expostos às intempéries climáticas na superfície (BERTONI; LOMBARDI NETO, 1990). A origem do termo erosão é do latim erodere, que significa corroer. A erosão é um dos primordiais processos de formação dos solos (RESENDE et al., 2007), e pode constituir-se em um processo natural de dissecação e modelamento da paisagem na superfície terrestre (BERTONI; LOMBARDI NETO, 1990). As atividades humanas podem desencadear processos denominados de erosão acelerada ou antrópica. Erodibilidade do solo é a vulnerabilidade que este possui aos processos erosivos (BERTONI; LOMBARDI NETO, 1990; JACINTO et al., 2006), e estudos de caracterização química, física e mineralógica dos solos são importantes ferramentas para identificar, entender e propor soluções no caso de surgimento dos processos erosivos (JACINTO et al., 2006). Erosividade é a capacidade que os agentes ativos de erosão, como chuvas, ventos e gravidade, possuem de provocar erosão (CURI et al., 1993), por exemplo, a energia cinética de cada gota de chuva determina a capacidade erosiva de uma ocorrência de chuva (BERTONI; LOMBARDI NETO, 1990), assim a intensidade da Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 30 COUTO, L. et al. chuva é um componente importante para predizer fenômenos erosivos (BERTONI; LOMBARDI NETO, 1990). A erosão é um processo dinâmico causado por forças ativas, sendo de ordem climática como chuvas e ventos, e por características energéticas do terreno, como declividade, aliada ao seu comprimento, em sinergismo com forças passivas como a erodibilidade do solo (BERTONI; LOMBARDI NETO, 1990). Inicialmente temos o impacto das gotas de chuva, desagregando e desestruturando o solo. Em seguida as partículas soltas são transportadas e removidas do sistema pela ação da água. Segundo Bertoni e Lombardi Neto (1990), diferentes formas de erosão hídrica podem ocorrer simultaneamente no mesmo terreno, cabendo dentre outras a classificação como laminar, em sulco e voçoroca. A erosão laminar é a mais sutil de todas elas, consistindo na remoção gradual das camadas superficiais dos solos, em decorrência da maior erodibilidade desta em relação à camada mais profunda, e é importante causa de decréscimo da fertilidade do solo, pois geralmente são essas camadas mais superficiais as mais ricas em nutrientes (BERTONI; LOMBARDI NETO, 1990). Esse tipo de erosão está geralmente associado aos solos que apresentam horizontes B mais argilosos, estruturados e coesos do que seus respectivos horizontes A, tal como pode ocorrer em Cambissolos e Argissolos. A erosão em sulco é devido à concentração do fluxo de drenagem na superfície do solo, em decorrência das irregularidades ao longo de sua superfície (BERTONI; LOMBARDI NETO, 1990), sendo tão intensa quanto forem a erosividade decorrente das chuvas, da declividade dos terrenos e da erodibilidade do solo. Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 Técnicas de bioengenharia para revegetação ... 31 A voçoroca (“terra rasgada” no tupi-guarani) é o estágio mais avançado da erosão em sulco, resultando assim em grandes cavidades em extensão e em profundidade, dada a remoção de grande quantidade de massa de solo do terreno (BERTONI; LOMBARDI NETO, 1990). Uma vez desencadeada, as voçorocas geram danos ambientais cujas medidas de controle fazem-se extremamente onerosas. A erosão eólica pode também constituir-se em sério problema por remover partículas de solos descobertos (BERTONI; LOMBARDI NETO, 1990); ocorre em condições de alta erosividade dos ventos atuantes, concomitante com a erodibilidade do solo, ou seja, solos que se apresentam desagregados e desestruturados em sua superfície. De acordo com Coelho e Brito Galvão (1998), a estabilidade de um talude depende dos seguintes fatores: (i) propriedades físicas e mecânicas do material que constitui o talude; (ii) propriedades físicas e mecânicas do material da fundação – no caso de materiais de fundação pouco resistentes recomenda-se a remoção desses materiais, se for economicamente viável, ou a utilização de processos de estabilização de solos, caso não seja viável a remoção de parte do material de fundação. Nesse caso, ao se fazer a análise da estabilidade de taludes, devem ser consideradas as superfícies prováveis de ruptura que passam pela fundação; (iii) geometria do talude, na qual se inserem altura, declividade, bermas, etc.; (iv) existência de nascente no local; (v) presença de nível de água no interior do talude: recomenda-se manter esse nível o mais baixo possível, através do sistema de drenagem; e (vi) tendências à erosão, neste caso a execução de um sistema de drenagem superficial é muito importante. Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 32 COUTO, L. et al. As principais fontes de erros que podem ser introduzidos na estimativa de estabilidade de taludes provêm não somente do uso de métodos aproximados de análise de estabilidade, mas também do uso de métodos não adequados, de coleta de amostras e de ensaios, os quais não produzem com suficiente precisão as condições dos materiais e dos estados de tensões do solo natural ou do aterro compactado, na situação. 3.10 Equação Universal de Perdas de Solo Na tentativa de descrever os processos de perdas de solo por erosão e de estimar sua intensidade, é muito utilizado o método paramétrico denominado genericamente de Equação Universal de Perdas de Solo, ou equação de Wischmeier (RESENDE et al., 2007), ou ainda equação RUSLE (Revised Loss Soil Equation): A = R x K x LS x C x P em que: · A = perda anual de solo: dado em t ha-1 ano-1; · R = fator de preciptação e run-off: é afetado pela energia potencial, pela intesidade quantidade de chuva e pelo run-off; · K = fator de erodibilidade do solo: é afetado pela textura do solo, pela matéria orgânica, pela estrutura e pela permeabilidade; · LS = fator topográfico: é afetado pela inclinação, pelo comprimento e pela forma do talude (côncavo ou convexo); · C = fator de manejo de culturas: é afetado pela superfície de recobrimento, pelo dossel, pela biomassa, pelo uso do solo e pelo tipo de cobertura vegetal; e Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 Técnicas de bioengenharia para revegetação ... 33 · P = fator de práticas de proteção e manejo do solo: é afetado pela rotação de culturas, pelo tipo de proteção do solo, pelas barreiras, pelo mulch para recobrir o solo, pelos terraços e pelas técnicas de proteção do solo. Os conhecimentos técnicos são importantes para determinar os fatores e para adotar e interpretar os dados existentes, para que os resultados obtidos sejam os mais seguros possíveis. Os fatores podem ser obtidos através de fórmulas empíricas, de dados experimentais já existentes, de gráficos-padrão ou dos dados no próprio local. Dados internacionais estimam uma perda de solo no mundo da ordem de 80 bilhões de toneladas/ano (SMITH, 1958). De acordo com Walker (2004), a perda de solo nos Estados Unidos é de cerca de 2 bilhões de toneladas/ano, sendo o custo para recuperação do top-soil da ordem de US$80,000 ha-1, e sua recuperação definitiva leva de 30 a 100 anos. O Quadro 1 ilustra os limites potenciais de perda de solo em função do nível da erosão, baseado em análise técnica, para considerar qual o nível de erosão encontrado; se analisados pelo aspecto da engenharia, em que é necessário padronização e cálculos, o nível será o mesmo independentemente do ponto de vista técnico. A cobertura vegetal contribui para atenuar a taxa de erosão do solo, mas o fator mais importante é a cobertura do solo, que o protege totalmente, mantém a umidade, favorece a infiltração desejável e reduz o run-off. Desta forma, não adianta ter 100% de cobertura vegetal e 0% de cobertura do solo, pois ocorrerá perda de solo da ordem de 0,2. No caso inverso, se tivermos 100% de cobertura do solo e 0% de cobertura vegetal, a perda será de aproximadamente Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 34 COUTO, L. et al. Quadro 1 - Limites potenciais de perda do solo em função do nível da erosão Classe Nível de Erosão Potencial de Perda do Solo -1 -1 (tonelada ha ano ) 1 Muito baixo <6 2 Baixo 6 – 11 3 Moderado 11 – 22 4 Alto 22 – 33 5 Severo > 33 Fonte: Wall (1997). 0,05, mostrando a importância da cobertura do solo. Esta cobertura pode existir de forma natural, pela serapilheira (litter), ou por proteção artificial, como geotêxteis, geomantas e biomantas antierosivas, que tem o mesmo papel da serapilheira, funcionando como elemento fundamental no controle de sedimentos e erosão do solo, sendo este comentário evidenciado na Figura 7. A seguir serão discutidos os fatores que constituem a Equação da Perda do Solo e como determiná-los, apresentando fórmulas empíricas e gráficos, de maneira a facilitar o entendimento, o cálculo e a interpretação. A Equação da Perda do Solo apresenta sua fórmula multiplicativa, ou seja, fatores que se apresentam elevados contribuem para aumentar significativamente a perda do solo, ocorrendo o mesmo Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 Técnicas de bioengenharia para revegetação ... 35 Fonte: Pereira (2008). Figura 7 - Tipo de recobrimento do solo X perda de solo. com fatores pequenos, que resultam em perda reduzida de solo. Portanto, a perda de solo é diretamente proporcional à grandeza de cada fator. 3.10.1 Fator climático É o fator climático que avalia a precipitação e o run-off, e é afetado pela energia potencial, pela intensidade, pela quantidade de chuva e pelo run-off. A energia potencial da chuva pode ser calculada a partir da seguinte fórmula: E = 210,2 + 89.log(I) em que · E = energia potencial da chuva (joules m² cm-1); e Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 36 COUTO, L. et al. I = Intensidade da chuva em um período (cm por hora). O índice de erosão pluvial é calculado como: n R= i=1 (210,2 + 89 logI )(I .T).I j j j 30 100 em que · R = índice de erosão pluvial; · Ji = período de tempo em horas; · I30 = máxima intensidade de chuva (mm); · T = intervalos homogêneos de chuva forte; e · n = número de intervalos. O fator R correspondente a um ano, e é o somatório dos valores de R de cada uma das chuvas registradas no período de tempo estudado. Para se obter o valor representativo e confiável de R é necessário calcular um ciclo de pelo menos dez anos. Existe uma equação para calcular o fator R que é mais simples, e o resultado final é semelhante ao da fórmula anterior, enfatizando, neste caso, apenas a maior pluviosidade: R = 0,417 x p2,17 em que · R = índice de erosão pluvial; e · p = maior precipitação num período de dois anos, durante 6 horas (em mm). Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 Técnicas de bioengenharia para revegetação ... 37 Neste caso, podem ser utilizados mapas de precipitação, que contenham intensidades e quantidades de chuva. Na ilustração em questão utilizamos o mapa de precipitação do Estado de Minas Gerais, Brasil (Figura 8), mas para trabalhos específicos o técnico deverá utilizar dados de estações meteorológicas, com um tempo de recorrência de pelo menos 20 anos. ESTADO DE MINAS GERAIS ZONEAMENTO AGROCLIMÁTICO 1996 PRECIPITAÇÃO TOTAL ANUAL (mm) <1000 1000 a 1200 1200 a 1500 >1500 Fonte: Pereira (2006). Figura 8 - Estado de Zoneamento agroclimático do Estado de Minas Gerais. 3.10.2 Fator de erodibilidade Existem dois métodos que podem ser utilizados para determinar o fator K (erodibilidade do solo). O primeiro é a equação de Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 38 COUTO, L. et al. Wischmeier e Smith (1978), que é baseada nas informações de: • porcentagem de areia, silte e areia muito fina; • porcentagem de matéria orgânica; • estrutura do solo; e • permeabilidade. O segundo método é o nomograma: • para obter o fator k com base em todos os parâmetros; e • para aproximar o fator k com base no tamanho das partículas e matéria orgânica. Para cada tipo de solo é avaliada a relação entre a perda e o número de unidades do índice de erosão pluvial correspondente, em condições de cultivo permanente. Com o conjunto de valores obtidos, calcula-se o fator k para cada solo, e então se estabelece uma equação de regressão em função das variáveis representativas das propriedades físicas do solo. A regressão é expressa pela seguinte equação: Fator K: pode ser determinado através de gráficos e calculado através de fórmulas de regressão: 100K = 10-4 x 2,71M1,14(12-a)% + 4,20(b-2)% + 3,23(c-3)% em que · K = fator de erodibilidade; e · M = textura do solo. Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 Técnicas de bioengenharia para revegetação ... 39 sendo M= [100 - % argila] . [ % (silte + areia) ] a = porcentual de matéria orgânica no solo. b = estrutura do solo, adotar: 1 = grãos muito finos (Ø < 1 mm). 2 = grãos finos (1 mm<Ø < 2 mm). 3 = grãos médios (2 mm<Ø < 10 mm). 4 = grãos grosseiros (Ø >10 mm). c = permeabilidade do solo, adotar: 1 = muito rápida. 2 = moderadamente rápida. 3 = moderada. 4 = moderadamente lenta. 5 = lenta. 6 = muito lenta. O outro método para determinar o fator k é através do nomograma (Figura 9). Os valores de textura do solo e matéria orgânica se referem à camada superficial do solo (top-soil), de 15 a 20 cm de profundidade, e dos solos permeáveis em todo o perfil. Os valores mais elevados obtidos de fatores k superiores a 0,9 correspondem a solos onde a fração silte e areia muito fina representa a amostra total, sendo nulo o porcentual de matéria orgânica. 3.10.3 Fator topográfico A topografia da área afeta diretamente o desprendimento de partículas e carreamento de sedimentos, e estes estão diretamente Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 40 COUTO, L. et al. Fonte: Pereira (2006). Figura 9 - Nomograma da erodibilidade do solo. correlacionados com o comprimento e a inclinação da encosta ou área. A forma da paisagem, constituindo concavidades e convexidades, também afeta a perda de solo. O fator L avalia o comprimento do talude, sendo definido pela equação: æ λ ö L= ç ÷ è 22,1 ø m em que · ë = comprimento do talude/encosta (m); e · m = declividade (m m-1). Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 41 Técnicas de bioengenharia para revegetação ... É interessante salientar que o comprimento é definido como a distância que vai desde a origem do escorrimento superficial até o início da deposição de sedimentos. O fator S avalia a inclinação do talude ou encosta, e é dado em porcentagem, ou seja, metros de desnível por metros de comprimento. Este fator é definido pela equação: s = (0,43 + 0,35s + 0,043S²) 6,613 em que · s = declividade do talude ou encosta (%). Os fatores L e S geralmente devem ser agrupados, e a denominação apropriada é fator topográfico LS, que é considerado o fator que representa o relevo, o comprimento e a inclinação. Wischmeier (1982) trabalhou com dados experimentais para representar o fator topográfico LS, através das equações: Para inclinação menor que 9%, a equação é: 0,3 L= ( ) ( X 22,1 2 0,043s + 0,30s + 0,43 6,613 ) Para inclinação maior que 9%, a equação é: 1,3 0,3 L= ( ) ( ) X 22,1 s 9 Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 42 COUTO, L. et al. em que • ë = comprimento do talude (m); e • s = inclinação do talude em porcentagem. É importante salientar que essas equações são estritamente aplicáveis no caso de taludes e encostas com declividade uniforme e com o mesmo tipo de solo e vegetação em todo o seu comprimento. No caso de haver variações de solo, na declividade, na forma (côncava ou convexa) e no revestimento vegetal, deve-se proceder a cálculos diferenciados para cada situação, ou usar fatores de correção. Na determinação dos valores de ë e s, que representam os parâmetros de comprimento e declividade, respectivamente, no caso de avaliar médias ou pequenas bacias hidrográficas, em que outros fatores possam ter homogeneidade, estas variáveis podem apresentar grandes variações, causando erros. No caso de áreas e bacias pequenas, Horton (1976) considera que o valor de ë pode ser estimado como a metade do inverso da densidade de drenagem, cuja expressão é: = 0,5 . () A L em que · A = área da bacia hidrográfica em km²; e · L = comprimento da bacia hidrográfica em km. Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 Técnicas de bioengenharia para revegetação ... 43 3.10.4 Fator de cobertura vegetal e recobrimento do solo A cobertura vegetal da superfície do terreno varia de acordo com a espécie, densidade de plantio ou da vegetação, altura da vegetação, área foliar e tipologia florestal, e estas podem afetar diretamente a erodibilidade de um solo. As culturas agrícolas, desde que cultivadas em curvas de nível, terraços ou outras técnicas que venham a conservar o solo, são sempre positivas, ainda mais que a grande maioria das culturas é plantada em épocas de maior precipitação, contribuindo, assim, para a proteção do solo e para reduzir o índice de erodibilidade. Após a execução de trabalhos de terraplenagem, decapeamento do solo, limpeza de áreas ou desmatamento, o solo apresenta-se desnudo, sendo necessária a proteção imediata para evitar a erosão laminar e o carreamento de sedimentos para os cursos d’água. Apesar de a cobertura vegetal ser um grande fator de proteção do solo, isto não significa que grande porcentual de cobertura vegetal tenha total eficiência na proteção do solo, pois pode ocorrer que, embora o recobrimento vegetal seja de 100%, o solo esteja desprotegido, sem serapilheira, e neste caso haverá desprendimento e carreamento de sedimentos, com perda de solo, mostrando que o bom desempenho de todos os fatores é essencial na proteção do solo. 3.10.5 Fator de manejo de culturas e conservação do solo Este fator é também denominado de práticas de manejo e conservação do solo. Os pesquisadores consideram que em muitas Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 44 COUTO, L. et al. variáveis, independentemente de práticas de cultivo e proteção do solo, já estão incluídas no fator P as práticas normais e essenciais nos cultivos agrícolas, por exemplo: rotação de culturas, preparo do solo e fertilizações, sendo considerados trabalhos obrigatórios. O fator P, que é o de práticas de manejo e conservação do solo, varia segundo a inclinação, os níveis de proteção e as práticas de manejo. Para calcular a perda de solo em terrenos com cultivo em terraços, deve-se utilizar o valor de P correspondente ao cultivo em curvas de nível, com o valor de L correspondente ao intervalo entre terraços ou curvas de nível. Para áreas impactadas, devido a distúrbios causados na implantação de estradas, aeroportos, indústrias, terraplenagem, áreas de empréstimo, bota-fora, deve-se utilizar o fator P com base em técnicas de proteção ambiental, utilizadas na proteção do solo (Quadro 2). 4 FATORES A SEREM CONSIDERADOS EM PROJETOS DE PROTEÇÃO DE TALUDES 4.1 Edáficos Fatores edáficos dizem respeito às peculiaridades do solo frente ao organismo vegetal. O conhecimento das principais características físicas do solo, como cor, textura, estrutura e porosidade, é de grande importância na orientação dos trabalhos de seu manejo e controle de erosão (BERTONI; NETO,1999). Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 45 Técnicas de bioengenharia para revegetação ... Quadro 2 - Práticas de manejo e conservação de solos com os respectivos fatores P Tipo Eficiência (%) Fator P 0 1,00 Tufos de palha e capim 10 0,90 Barreiras de madeira e galhada 20 0,80 Enrocamento, rip-rap e filtros 30 0,70 Cultivo agrícola em nível 50 0,50 Sem uso de práticas de manejo Terraços em nível com vegetação 65 0,35 Galhada seca e ramos vivos em nível 75 0,25 Fonte: Pereira (1999). A distribuição quantitativa das classes de tamanho de partículas que compõem o solo, ou seja, a sua textura, é o principal critério para classificá-lo de acordo com sua granulométria, sendo consideradas três frações: areia, silte e argila. A análise mecânica vai determinar a proporção existente de cada fração em porcentagem. Pelos dados granulométricos de uma região, é possível analisar a disponibilidade de água para a planta, por exemplo, solos arenosos em geral são soltos e não oferecem resistência à penetração das raízes, porém são frequentemente pobres em fertilidade e têm baixa capacidade de retenção de umidade. A forma como as partículas elementares do solo se arranjam vai definir a sua estrutura, determinando sua permeabilidade à água, sua resistência à erosão e as condições de desenvolvimento das raízes das plantas (BERTONI; NETO, 1999). Os solos que Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 46 COUTO, L. et al. apresentam instabilidade na agregação das partículas sob o impacto das gotas de chuvas estão sujeitos a se dissiparem. As plantas, em geral, têm grande capacidade de se adaptarem às texturas do solo, não sendo, portanto, a textura do solo uma variável significativa na seleção de plantas resistentes. 4.2 Temperatura A temperatura poder ser considerada um dos mais importantes fatores climáticos que atuam sobre as plantas, devido à sua marcante influência sobre as atividades fisiológicas ao controlar a velocidade das reações químicas. Para evitar superaquecimento, as plantas possuem a possibilidade de transferir o excesso de calor mediante o processo de transpiração. A energia acumulada é utilizada para transformar a água que está presente na célula no estado líquido para o estado gasoso, para logo ser liberada ao ambiente durante o processo transpiratório. Essa transformação de estados da água produz um consumo importante de energia, que permite diminuir a temperatura das folhas. Quando a temperatura do ambiente é alta, a transpiração pode ser responsável pela perda de mais de 50% do total do calor eliminado pela planta. O calor restante é eliminado mediante os processos de radiação, condução e convecção. De acordo com Lange e Lange (1963), a tolerância ao frio e ao calor é medida por determinação da temperatura em que ocorrem 50% de morte das plantas de um determinado lote. O estresse sofrido por plantas submetidas a altas e baixas temperaturas, da mesma forma que muitos outros estresses, não Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 Técnicas de bioengenharia para revegetação ... 47 atua individualmente e seu efeito é muito difícil de ser isolado de outros estresses associados. O caso específico do estresse térmico por altas temperaturas encontra-se fortemente associado aos estresses hídrico e lumínico. As plantas submetidas a ambientes com alta luminosidade e falta de água sofrerão muito mais os efeitos das altas temperaturas do ambiente. A elevação de temperatura no solo acarreta aumento da respiração no sistema radicular, elevando a demanda de oxigênio, e isso pode provocar anoxia, dependendo do número de plantas por área, e os espaçamentos mais amplos poderão diminuir as reservas da planta, reduzindo a sobrevivência. Cada espécie possui uma temperatura mínima, abaixo da qual não cresce; uma temperatura máxima acima da qual suspende suas atividades vitais; e uma temperatura ótima, em torno da qual se verifica melhor desenvolvimento. Portanto, o modelo de seleção de plantas poderá ser utilizado, preenchendo-se a temperatura média anual do local ou os limites de temperaturas que ocorrem. 4.3 Precipitação A chuva, ao atingir a crosta terrestre, infiltra no solo de acordo com propriedades físicas. Se a taxa de precipitação excede a taxa de infiltração, então ocorre o escoamento superficial, sendo o excesso de água drenado para os cursos d’água, até chegar aos oceanos. Ao saturar o reservatório do solo, o excedente será drenado para os aquíferos. A água contida nos reservatórios é absorvida pelas raízes das plantas e conduzida através de seus caules às folhas, onde ocorrerá a evaporação, retornando à atmosfera. A relação entre a Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 48 COUTO, L. et al. entrada de água (precipitação) e a saída de água (evaporação, transpiração e drenagem) é o balanço hídrico. A rizosfera é confinada principalmente a um volume de solo úmido suficiente para suprir a demanda evaporativa da parte aérea; enquanto a água é extraída do solo, as raízes tendem a se expandir ao longo do gradiente de água, mas sempre permanece a possibilidade de absorção de água de qualquer parte do solo previamente esgotada, caso esta seja remolhada (WINTER, 1988) Apesar de seus efeitos benéficos sobre a vida vegetal, a água pluvial, em tratos desnudos, exerce violenta erosão, removendo toneladas de terra. Para ficar mais claro para o leitor como é grande a pressão que a água exerce sobre o solo, vamos supor que uma região tem um índice pluviométrico de 1.000 mm, o que equivale a 1.000 litros por metro cúbico, dependendo da concentração e da duração da chuva ela pode acarretar a formação de sulcos erosivos (PEREIRA, 2006). A precipitação depende do regime hídrico da região, e no modelo da seleção de plantas foram fixados apenas os limites, mínimo e máximo, exigidos para cada espécie, não levando em consideração as concentrações pluviométricas ou longos períodos de estiagem, apenas a pluviosidade média anual em mm por ano. 4.4 pH/salinidade O termo pH define a acidez ou alcalinidade relativa de uma solução. A escala de pH tem uma amplitude de 0 a 14. O valor 7,0, que está no meio, é definido como neutro, valores abaixo de 7,0 são ácidos e os acima de 7,0 são alcalinos. A maioria das plantas tem um Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 Técnicas de bioengenharia para revegetação ... 49 bom desenvolvimento com o pH entre 5,5 e 7,0, entretanto existem espécies que toleram elevados níveis de acidez ou salinidade, sendo estas espécies de grande interesse para projetos de recuperação de áreas degradadas (PEREIRA, 2006). Nas áreas contaminadas por rejeitos industriais, que normalmente são dispostos em áreas predeterminadas, há necessidade de proteção para evitar a lavagem do material exposto e o carregamento de sedimentos e de partículas pelo vento, por isto utiliza-se, preferencialmente, revegetação. Para garantir o sucesso do revestimento vegetal, os resíduos dispostos devem ser cobertos com uma camada de solo, com cerca de 50 cm de espessura, ou pode-se optar em reduzir esta camada de solo para uma espessura de 10 cm, mas neste caso devem-se utilizar espécies extremamente tolerantes às condições de salinidade/acidez. 4.5 Resistência ao fogo O fogo pode estressar plantas individuais por consumir reservas que sustentam o crescimento, bem como comunidades de plantas, por reduzir a fertilidade e a umidade do solo, através do aumento na evapotranspiração e no escorrimento superficial (STEUTER; McPHERSON, 1995). As adaptações morfofisiológicas das plantas ao fogo envolvem estratégias de resistência, regeneração ou sobrevivência (COUTINHO, 1977; STEUTER; McPHERSON, 1995). As gramíneas são apontadas como a família vegetal mais bem adaptada à queima, em função de sua rápida capacidade de regeneração (DAUBENMIRE, 1968; VOGL, 1974; Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 50 COUTO, L. et al. COUTINHO, 1994). Isto se deve ao contínuo crescimento foliar do meristema intercalar e de novos afilhos, oriundos de meristemas protegidos abaixo do solo ou na base das bainhas persistentes (BOND; WILGEN, 1996). No caso específico de proteção de áreas impactadas, o tipo de sistema radicular contribui significativamente para a proteção do solo e melhoria da estabilidade de taludes e encostas, por isso a queima somente da parte aérea não afetará a sua estabilidade e proteção, desde que a planta possa recuperar-se e rebrotar. 5 EFEITO DA VEGETAÇÃO NA ESTABILIDADE DE TALUDES E ENCOSTAS A escolha adequada das espécies a serem consorciadas e as respectivas quantidades de sementes ou mudas são fatores decisivos no estabelecimento da vegetação, portanto é necessário conhecimento técnico, a fim de eliminar a escolha aleatória das espécies, gerando uma relação custo/benefício positiva para o projeto a ser executado (PEREIRA, 2006). Para Gray e Sotir (1996), a vegetação vem sendo utilizada há séculos na engenharia, no controle de processos erosivos e como proteção e reforço em obras civis. Atualmente, as técnicas que conjugam a utilização de elementos vivos na engenharia são denominadas de bioengenharia de solos (KRUEDENER,1951). Estas operações, devido a seu baixo custo, requerimentos técnicos relativamente simples para instalação e manutenções, bem como pelas adequações paisagísticas e ambientais, têm encontrado largo campo de aplicação em regiões tropicais e subtropicais, já que nestas Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 Técnicas de bioengenharia para revegetação ... 51 as condições favoráveis ao desenvolvimento da vegetação ocorrem na maior parte do ano (GOLFARI; CASER,1977). A importância da vegetação frequentemente é verificada quando se procede a sua supressão. Após a retirada da cobertura vegetal por colheitas ou desmates ocorre, na maioria das vezes, intenso aumento de processos erosivos e instabilização de taludes. A revegetação, por sua vez, promove a diminuição desses processos. A parte aérea da vegetação e seus resíduos em decomposição protegem o solo tanto dos processos de mobilização e carreamento do solo, pela ação dos agentes erosivos, como do vento e da água. O recobrimento vegetativo modifica sensivelmente o microclima superficial, reduzindo as variações de umidade e temperatura do solo. Esta ação isolante relaciona-se aos processos de redução da coesão aparente do solo pela quebra de agregados e pelo enfraquecimento da estruturação devido a variações na temperatura, especialmente após serem submetidos a ciclos de oscilações térmicas por períodos de tempo mais longos. A matéria orgânica do solo, composta pela fração não reconhecível sob um microscópio ótico, por apresentar organização celular de material vegetal, é denominada húmus. Esta inclui as substâncias húmicas, que são processualmente definidas em frações, com base em sua solubilidade em diferentes valores de pH, e o grupo de substâncias não húmicas (carboidratos, proteínas, lipídios e ácidos orgânicos), cuja fórmula química para as subunidades pode ser definida com exatidão. Os grupos funcionais das substâncias húmicas têm grande importância na Capacidade de Troca Catiônica (CTC) e em outros Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 52 COUTO, L. et al. importantes processos físico-químicos do solo, como a quelatização de metais. Esses processos influenciarão consideravelmente a fertilidade do solo, já que eles estão diretamente relacionados à disponibilidade dos nutrientes para a vegetação adjacente. Os carboidratos são quantitativamente os mais importantes grupamentos funcionais de substâncias não húmicas, representando de 10 a 25% em massa do carbono orgânico nos solos. A maioria do carboidrato no solo está presente na forma de polissacarídeo. Os polissacarídeos do solo têm sido estudados devido a seu valioso papel na estabilização de agregados de partículas de argila. Muitas vezes esta agregação ocorre por causa das mucilagens polissacarídicas oriundas de raízes, bactérias e fungos, que formam soldagens efetivas nas partículas dos solos. Cheshire et al. (1979, 1983), por meio de análises em microscópios eletrônicos de varredura e de transmissão, constataram que em muitas situações, virtualmente, os polissacarídeos são responsáveis por toda a estabilidade dos agregados em solos. O recobrimento do solo com capim ou vegetação herbácea densa proporciona a melhor proteção contra a erosão laminar e contra a ação do vento. A efetividade do recobrimento vegetativo pode ser verificada no Quadro 3. Coppin e Richards (1990) afirmam que o máximo efeito do recobrimento vegetativo é obtido a partir de um recobrimento efetivo de 70%, e verificaram ainda que tipos variados de vegetação de porte idêntico apresentaram diferenças significativas na intensidade de perda de solo, tendo estas diferenças apresentado valores da ordem de 400 a 500% para parcelas de 1 e 2 m de altura, respectivamente. Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 53 Técnicas de bioengenharia para revegetação ... Quadro 3 - Redução da erosão em função de diferentes condições de recobrimento em condições temperadas (Adaptado do USDA Soil Conservation Service,1978) Tipo de Recobrimento Redução (%) Controle (sem recobrimento) 0,0 Semeio de espécies herbáceas: Centeio (perene) Centeio (anual) Capim-sudão 95 90 95 Pastagem nativa de ciclo anual (máximo) 97 Semeio de espécies herbáceas permanentes 99 Mulch -1 Feno , índice de aplicação (t ha ) 2,0 4,0 6,0 8,0 -1 Palha de grãos pequenos (diâmetro < 10 mm), 8,0 t ha -1 Serragem, 24 t ha -1 Celulose de madeira, 6,0 t ha -1 Fibra de vidro, 6,0 t ha 75 87 93 98 98 94 90 95 Fonte: Coelho e Pereira (2006). Efeito semelhante ao da biomassa pode ser conseguido com a aplicação de recobrimento do solo por mulch (resíduos), geralmente de origem vegetal, aplicado sobre a superfície do solo (DULEY; RUSSEL,1939, citados por PIERCE; FRIE,1998). O mulch promove a redução da evaporação e protege a superfície do solo pela redução Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 54 COUTO, L. et al. da intensidade de escoamento superficial e pelo aumento dos índices de infiltração. Normalmente são utilizados resíduos agrícolas, composto orgânico de usinas de tratamento de lixo, fibra de vidro, celulose e serragem no recobrimento do solo (USDA, 1978). As características dos materiais que mais afetarão a efetividade do mulch em relação à evaporação são a quantidade, orientação, uniformidade de aplicação, capacidade de interceptação da chuva, refletividade e rugosidade dinâmica ou hidráulica (VAN DOREN; ALLMARAS,1978). Esses efeitos são facilmente constatados em condições de bancada, já que a verificação dos efeitos do mulch a longo prazo, em condições de campo, é dificultada pela interação de fatores como infiltração de água no solo, distribuição das raízes ao longo do perfil, profundidade de percolação e evaporação (UNGER et al.,1998). Outro aspecto importante a se considerar é a interceptação das gotas de chuva pela parte aérea da vegetação. Coppin e Richards (1990) estimam uma interceptação média de 30% ao longo do ano, para locais com revestimento arbóreo. Coelho (1999) verificou que em pequenas áreas recobertas por árvores e gramíneas a interceptação média corresponde a valores que variam entre 10 e 20% do volume de água precipitada, entre 30 e 40% sob áreas cultivadas e entre 60 e 70% em assentamentos urbanos. A vegetação reduz a velocidade das enxurradas devido à rugosidade apresentada ao escoamento superficial pelas estruturas de sua parte aérea. Em termos hidráulicos, a rugosidade pode ser caracterizada por um parâmetro como o coeficiente de Manning (n), da equação da velocidade média do escoamento. Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 Técnicas de bioengenharia para revegetação ... 55 v = (R2/3 S1/2) / n em que · R = raio hidráulico; e · S = declividade da superfície de escoamento. A rugosidade hidráulica vai ser influenciada pela morfologia e altura das plantas, pela densidade de crescimento e pela espessura da lâmina d’água. A vegetação pode aumentar os índices de infiltração por diferentes razões: (i) raízes fisiologicamente ativas, (ii) canais ou fissuramentos ocasionados por raízes decaídas, (iii) aumento da rugosidade hidráulica, (iv) aumento da porosidade efetiva do solo; e (v) alterações estruturais do solo (LINSLEY; FRANZINI, 1972; MORGAN, 1994). Como resultado de uma combinação dos aumentos dos valores de rugosidade superficial, infiltração e interceptação, a enxurrada de áreas recobertas por vegetação é muito menor que a de solo descoberto. A influência do reforçamento radicular na estabilidade dos taludes pode variar em função de fatores como: • valores de resistência à tensão das raízes; • propriedades da interface entre as raízes e o solo (rizosfera); • concentração, características de ramificação e distribuição das raízes no solo - também denominada arquitetura radicular; Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 56 COUTO, L. et al. • espaçamento, diâmetro e massa de solo explorada pelas raízes; • espessura e declividade do perfil do solo do talude; e • parâmetros geotécnicos relativos à resistência ao cisalhamento do solo. A relação entre resistência radicular e diâmetro pode ser expressa pela equação logarítmica dada por: Tr = n.Dm em que · Tr = resistência radicular à tensão; · D = diâmetro de raízes; e · n e m = constantes empíricas específicas para cada tipo de planta. O diâmetro das raízes, em geral, é inversamente proporcional à resistência radicular à tensão. Raízes finas têm a vantagem de não apenas possuírem altas resistências à tensão, mas também maiores resistências ao arranquio, devido à sua alta superfície específica, se comparada à das raízes de maior diâmetro. Uma elevada concentração de fibras radiculares de pequeno diâmetro é mais efetiva do que poucas raízes de diâmetro maior para o aumento da resistência ao cisalhamento de massas de solos permeadas por raízes, e este aumento de resistência será diretamente proporcional à profundidade explorada pelas raízes. A ação mais eficiente neste aumento da resistência é verificada quando as raízes Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 Técnicas de bioengenharia para revegetação ... 57 penetram ao longo do manto de solo até fraturas ou fissuras presentes na camada de rocha-matriz ou em zonas de transição onde a densidade e a resistência do solo ao cisalhamento aumentem com a profundidade. Atingindo esses pontos, as raízes se fixam, promovendo a transferência de forças de zonas de menor resistência ao cisalhamento para zonas de maior resistência ao cisalhamento (GREENWAY, 1987). Esse efeito estabilizador é minimizado quando ocorre pouca penetração das raízes ao longo do perfil. Nesses casos, as raízes laterais podem exercer importante papel na manutenção de um manto contínuo de raízes ao longo das camadas superficiais, aumentando a sua resistência aos processos erosivos. Entretanto, devido às exigências de oxigenação pelas células das raízes e à maior fertilidade da camada superficial do solo, elas tendem a se concentrar próximo à superfície. O principal efeito das fibras do sistema radicular da vegetação no reforçamento de solos está relacionado ao incremento da coesão aparente (SOTIR; GRAY, 1997) ou à agregação e estruturação das partículas de solo. De acordo com os autores, a coesão aparente efetuada pelas fibras radiculares pode fazer uma diferença significativa na resistência a deslizamentos superficiais ou em movimentações por cisalhamento na maioria de solos arenosos com pouca ou nenhuma coesão aparente intrínseca. Eles demonstraram ainda que em testes executados em condições de campo e de laboratório foi verificado o aumento da resistência ao cisalhamento por unidade de concentração de fibra radicular da ordem de 112,72 a 132,52 kPa g-1 de raízes, em diferentes Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 58 COUTO, L. et al. espécies de plantas. Além disso, ao efetuarem a análise da estabilidade de taludes, utilizaram a coesão aparente radicular como função da concentração de raízes no solo com a profundidade, verificando que uma pequena variação na coesão aparente radicular pode influenciar substancialmente o fator (coeficiente) de segurança dos taludes. Esta influência foi verificada nas menores profundidades de solo. Segundo Coelho (2008), as raízes das espécies vegetais contribuem para o incremento significativo da coesão aparente do solo, evidenciando ainda ser maior a contribuição da Brachiaria humidicola, em que a presença de 1% de raízes no solo (porcentagem massa/massa) aumentou a coesão aparente de 26,33 kPa (sem raízes) para 38,68 kPa, ressaltando que a partir da análise de outras espécies vegetais os valores de coesão aparente foram máximos quando havia 1% de raízes nos solos estudados, e que apesar de diminuir os valores de coesão aparente com valores acima de 1% de conteúdo de raízes, ainda assim ficaram acima dos valores encontrados para solos sem raízes. Já as raízes pivotantes atuam de maneira semelhante a “tirantes vivos”, promovendo o ancoramento de grandes massas de solo. Este efeito de “tirantes vivos” é especialmente verificado em perfis do solo com diferenças significativas entre resistência ao cisalhamento ao longo da profundidade. Gray (1978) demonstrou esse efeito pela ocorrência de massas de solo de saprólitos de granito estabilizadas por árvores de Pinus sp., ao verificar que massas de solos localizadas a montante de indivíduos desta espécie possuíam maior estabilidade que o solo de locais sem a influência das raízes desses indivíduos. Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 Técnicas de bioengenharia para revegetação ... 59 O corte, as lesões graves ou a debilidade fisiológica das plantas podem fazer decrescer a estabilidade dos solos, devido à redução da resistência à tensão das raízes. As raízes de menor diâmetro são, nestas ocasiões, as primeiras a fenecer e a desaparecer. Com o passar do tempo ocorre o declínio na resistência à tensão das raízes, que atinge um valor mínimo, que pode voltar a crescer com a emissão de novas radicelas pela vegetação já mais ativa (GRAY; SOTIR, 1996). Greenway (1987) e Coppin e Richards (1990) sintetizam os principais efeitos da vegetação no movimento de massa em taludes (Quadro 4). Vários autores têm buscado quantificar os efeitos da vegetação na estabilidade de taludes, no entanto a quantificação exata desta influência em condições de campo é de difícil obtenção. Trabalhos de bancada (Quadro 5) têm proporcionado dados de considerável exatidão acerca do reforçamento radicular no corpo do solo, sendo disponíveis na literatura diversos modelos de fácil utilização (WU et al., 1988; SHEWBRIDGE; SITAR, 1990). Com base nos valores obtidos por esses modelos podem-se utilizar estes resultados em simulações numéricas para a análise de estabilidade de taludes. A utilização da vegetação na bioengenharia, especialmente em operações de controle de erosão, muitas vezes tem sido vista como panaceia pela maioria dos planejadores (GRAY; SOTIR,1996). Exemplos da utilização inadequada são frequentemente relatados na literatura. Stocking (1996) relaciona duas situações em que o abafamento da vegetação herbácea, causado pela introdução de arbóreas de Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 60 COUTO, L. et al. Quadro 4 - Efeitos hidromecânicos da vegetação na estabilidade de solos de taludes; efeitos positivos e negativos, respectivamente (+) e (-) Natureza do efeito Equilíbrio de forças da massa do solo Influência Mecanismo hidrogeológico Efeito na estabilidade de taludes SuperSubsu3 1 2 Profunda ficial perficial Reforçamento radicular Raízes reforçam o solo, aumentando sua resistência ao cisalhamento. Atirantamento radicular Raízes de árvores podem ancorar em estratos mais profundos e mais firmes, proporcionando suporte. + + Ancoramento radicular Estratos superiores de menor coesão. + + Sobrecarga O peso de árvores sobrecarrega o talude, aumentando os componentes da força normal e descencional. - Tombamento A vegetação exposta ao vento transmite forças dinâmicas para o talude. - Recobrimento superficial A folhagem e a biomassa decaídas protegem o solo e fornecem substâncias agregantes. + + Retenção Partículas minerais do solo são soldadas pelas raízes superficiais. + + A parte aérea intercepta e evapora a precipitação, reduzindo a quantidade de água infiltrada. + Alterações do regime Interceptação hídrico do solo Infiltração Raízes e ramos aumentam a rugosidade superficial e a permeabilidade do solo, aumentando a infiltração. A sucção radicular retira umidade, reduzindo a poropressão da água no solo. Em Evapotranspiração casos extremos, pode gerar trincamentos e altos índices de infiltração. Microclima Proteção soloatmosfera + + +/- +/- +/- +/- +/- +/- Diminuição da força trativa de ventos. + Isolamento térmico Proteção contra trincamentos do solo por calor ou frio. + + bs.: 1– até 0,30 m de profundidade; 2 – 0,50 a 1,50 m de profundidade; e 3 – mais de 1,50 m de profundidade. Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 61 Técnicas de bioengenharia para revegetação ... Quadro 5 - Metodologias utilizadas para quantificar os efeitos físicos da vegetação na estabilidade de taludes Efeito Reforçamento radicular Características físicas Índice da área superficial, distribuição e morfologia radicular. Forças de tensões radiculares. Atirantamento radicular Método Pesagem da massa de raízes em determinada massa de solo, contagem da densidade radicular em intervalos verticais em parcelas amostrais no talude. Testes de tensão no campo e em bancada. Espaçamento, diâmetro e idade de árvores, espessura Observações de campo. e inclinação do perfil do solo. Testes de tensão no campo Propriedades geotécnicas do e em bancada. solo. Sobrecarga Peso médio da vegetação. Estimativas de campo ou informações na literatura da relação peso/biomassa de árvores (CANNEL, 1982). Ventos Regime de ventos para determinado tempo de recorrência, altura média das árvores dominantes na comunidade vegetal. Norma técnica BS CP3:V:2:1972, ou predição por danos ao vento (MILLER, 1985). Umidade do solo Teor de umidade do solo, profundidade do lençol freático, poro pressão/sucção. Testes de campo e em bancada, piezômetros e tensiômetros. Interceptação Precipitação líquida sobre o talude. Pluviógrafos, coleta de escorrimento superficial, densidade do recobrimento foliar. Infiltração Maior ou menor dificuldade com que a percolação da água ocorre através dos poros do solo. Testes de tensão no campo e em bancada para determinação de permeabilidade do solo. Fonte: Coelho e Pereira (2006). Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 62 COUTO, L. et al. rápido crescimento para controlar processos erosivos, ocasionou o agravamento destes. Esses exemplos ocorreram no Vale do Rio Doce-MG, durante o uso de Eucaliptus sp. para controle de processos erosivos em sulco. Finney (1984) verificou que gotas de chuva com diâmetros entre 2 e 3 mm, ao atingirem o solo, possuem menor capacidade de mobilizar partículas do solo que gotas de 5 mm formadas pelo acúmulo de gotículas na superfície de folhas a 1 m de altura. A erosividade pode atingir variações da ordem de 1.000% nas adjacências de árvores e arbustos. Superfícies recobertas por gramíneas produzem um padrão uniforme e atenuado de distribuição da chuva no solo, reduzido a valores incipientes se comparados com os presentes nas gotas de chuva em um momento inicial (ARMSTRONG; MITCHELL, 1987). Com relação a sobrecargas causadas pelo aumento significativo da biomassa vegetal, Gray e Meganah (1981) afirmam que para um modelo de talude infinito a sobrecarga pode ser benéfica à estabilidade, desde que a coesão do solo seja baixa, o ângulo interno de fricção do solo seja alto e os ângulos de inclinação do talude sejam pequenos. As raízes superficiais podem contribuir para a desagregação do solo, quando muito concentradas, em grande volume e muito superficiais; por exemplo, o bambu; e a penetração radicular em fissuras e junções de rochas favorece a infiltração e intemperismo da rocha, podendo contribuir para a instabilidade do talude (GREENWAY, 1987). O uso da vegetação para controle de processos erosivos deve ser criterioso, já que ela pode interferir intensamente na transferência Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 Técnicas de bioengenharia para revegetação ... 63 da água da atmosfera para o solo nas águas de infiltração (FERGUSON,1994) e nos sistemas de drenagem superficial (MORGAN,1994). Desta forma, podem ocorrer alterações no volume e na intensidade do escoamento pluvial e nas taxas de erosão superficial. A vegetação ainda pode interferir nos valores da umidade no solo afetando, por conseguinte, seus parâmetros geotécnicos como fricção e coesão (GREENWAY,1987). 5.1 Seleção de plantas para controle de erosão e áreas degradadas Dos métodos para ancoramento de sedimentos, o de maior aplicabilidade técnico-econômica e o mais adequado ambientalmente é representado pela estabilização do solo pela revegetação. As espécies selecionadas devem apresentar o sistema radicular profundo e desenvolvido, para maximizar o volume de solo estabilizado pelas raízes das plantas. Normalmente é utilizado o consorciamento de gramíneas e leguminosas (Figura 10), devido à rapidez de crescimento e recobrimento dessas espécies. Com uma composição heterogênea de espécies, a ciclagem de nutrientes é mais intensa, a ocorrência de pragas é menor e a porcentagem de recobrimento do solo é maior. Além disso, a estabilização laminar proporcionada pelo sistema radicular de plantas variadas é mais eficiente, já que cada espécie explorará uma profundidade de solo diferente, ao contrário de um sistema em que é utilizada apenas uma espécie. O termo genérico “leguminosa” refere-se às plantas da família Caesalpinaceae, Fabaceae e Mimosaceae. Existe uma grande Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 64 COUTO, L. et al. Figura 10 - Consorciamento de leguminosas e gramíneas utilizadas na revegetação de taludes. variedade de leguminosas tropicais, havendo ainda muitas espécies desconhecidas e aproximadamente 13 mil catalogadas, as quais têm uma gama de utilidades, como grãos, frutos, tubérculos, forragem, carvão, celulose, madeira, adubação verde e arborização (SIQUEIRA; FRANCO, 1998). As leguminosas são conhecidas como eficientes restauradoras da fertilidade do solo, promovendo uma grande produção de massa verde e grande exploração do solo pelo sistema radicular. Uma das características que mais chama a atenção nas leguminosas é a capacidade de uma boa parte das espécies formar simbiose com determinados gêneros de bactérias, comumente chamadas de rizóbio (MOREIRA et al.,1994). Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 Técnicas de bioengenharia para revegetação ... 65 Um outro aspecto relevante é o fato de que muitas leguminosas nodulíferas são também micorrízicas, ou seja, além de se associarem ao rizódio formam simbiose com fungos micorrízicos, podendo se valer dos múltiplos benefícios dessa interação. A exploração de um maior volume de solo pelas hifas da micorriza permite maior absorção de água e nutrientes, além da zona de atuação das raízes. Os maiores benefícios se dão em função do incremento na absorção de nutrientes de baixa mobilidade nos solo, notadamente o fósforo, e do abrandamento dos problemas relacionados com o pH, alumínio e manganês nos solos ácidos, além de benefícios não nutricionais. Esses efeitos sobre o desenvolvimento da planta micorrizada são mais importantes e visíveis em ambientes estressantes, como é o caso de sítios degradados (SIQUEIRA; FRANCO, 1998; FURTINI NETO et al., 2000) A família Gramineae compreende cerca de 650 gêneros e 10.000 espécies, distribuídos em todo o mundo, sendo uma planta pioneira. As gramíneas têm importância fundamental do ponto de vista ecológico, pois ajudam na recuperação, proteção e revitalização do solo. As gramíneas possuem sistema radicular fasciculado, ou seja, com a raiz primária não desenvolvida, enquanto as raízes secundárias são ramificadas e numerosas, geralmente ocorrendo a menos de 1 m de profundidade. Algumas espécies, como o milho, possuem também raízes adventícias, cuja principal função é a sustentação da planta. Algumas gramíneas possuem rizomas e, ou, estolões, também chamados estolhos, que constituem tipos de caule especiais. Os Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 66 COUTO, L. et al. rizomas ocorrem abaixo da superfície do solo e são diferentes das raízes por possuírem nós e folhas não desenvolvidas, que se apresentam como pequenas escamas. Os estolões são semelhantes aos rizomas, porém crescem na superfície do solo. Uma espécie de gramínea que merece destaque é a Vertivera zizanoides. É uma gramínea promovida pelo Banco Mundial na década de 1980, para auxiliar no controle de erosão e na conservação de solos e água, em áreas com poucos recursos, especialmente para os países em desenvolvimento (Figura 11). Figura 11 - Figura evidenciando as linhas de vetiver em perfilhamento na Fazenda Guarará, Santana dos Montes-MG. Desde 1931 tem sido observado o desenvolvimento do vetiver em Kuala Lumpur, na Malásia, com o objetivo de contenção de encostas e taludes íngremes. Para ficar mais didático serão Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 Técnicas de bioengenharia para revegetação ... 67 enumeradas as várias vantagens do uso do vetiver no controle de erosão e na reabilitação ambiental: • Não é uma planta invasora: suas sementes são estéreis, e ela não se propaga por rizomas ou estolões. • Resistente ao fogo: apresenta sua coroa abaixo da superfície do solo permanentemente, protegendo-se do fogo e do pisoteio. • Barreira vegetal viva e densa permanentemente: esta barreira acima do nível do terreno funciona como um filtro, retendo sedimentos e reduzindo a energia potencial do escorrimento superficial (run off). • Tolerância a diferentes tipos de solo: independentemente de pH, toxidez, salinidade, resíduos industriais e rejeitos de mineração. • Capacidade de desenvolver novas raízes quando sua coroa ficar encoberta de sedimentos, devendo crescer até atingir o novo nível do terreno, e continuar a formação de terraços naturais. • Facilidade de ser eliminada ou removida quando não mais se desejar manter as plantas na área, sem a preocupação com a autopropagação ou o enraizamento. • Baixo custo de implantação e manutenção, não necessitando de podas periódicas, adubação ou irrigação, devido à sua rusticidade e tolerância a seca, fogo, alagamento, etc. • Capacidade de não competir com espécies que estão protegendo, principalmente devido à profundidade de seu sistema radicular, que apresenta grande geotropismo positivo. Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 68 COUTO, L. et al. • Sistema radicular penetrante, capaz de suportar entubamentos (túneis) e rachaduras nas estruturas do solo. As raízes atingem pelo menos 3 m de profundidade (Figura 12). Figura 12 - Exemplar de vetiver com 2 anos de idade, com sistema radicular atingindo 1 metro. Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 Técnicas de bioengenharia para revegetação ... 69 • Característica de planta xerófica e hidrófica para sobreviver em condições intempéricas, por isso o vetiver, após seu estabelecimento, suporta condições extremas de seca e enchentes. • Característica de possuir colmos eretos e resistentes, de maneira a conter o fluxo de água de pelo menos 1.500 litros por minuto e 30 cm de altura da lâmina d’água. • Característica de grande adaptabilidade a extremas condições edafoclimáticas, com precipitações de 300 a 6.000 mm, temperaturas de -9 oC até 50 oC, capaz de suportar grande período de estiagem, superior a seis meses. • Outras utilidades na reabilitação ambiental com vetiver: disposição e tratamento de esgotos, redução do volume de águas contaminadas, absorção de contaminantes e metais pesados, fitorremediação, minas de carvão, ouro e Pb e Zn. 6 BIOENGENHARIA DE SOLOS NA PROTEÇÃO DE TALUDES E RECUPERAÇÃO AMBIENTAL O princípio básico que norteia a bioengenharia de solos compreende a utilização de elementos inertes como concreto, madeira, aço e fibras sintéticas em sinergismo com elementos biológicos, como a vegetação, no controle da erosão. As espécies vegetais contribuem com o sistema radicular e o caule, sendo utilizadas em diferentes arranjos geométricos como elementos estruturais e mecânicos para contenção e proteção do Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 70 COUTO, L. et al. solo, melhorando as condições de drenagem e retenção das movimentações de terra. As técnicas de bioengenharia têm sido utilizadas desde o Império Romano para controlar os problemas de erosão em taludes e margens de rios, em diferentes partes do mundo. Essas técnicas caíram em desuso após o advento da Revolução Industrial, que popularizou o uso da tecnologia do concreto e do aço, favorecendo a utilização de materiais de construção rígidos e inertes nos projetos de engenharia, já que inicialmente apresentaram-se baratos e seguros. Posteriormente, em especial após a década de 30 do século XX, engenheiros norte-americanos e europeus retomaram o desenvolvimento e a utilização de diversas técnicas de bioengenharia. A bioengenharia é utilizada pelo governo dos Estados Unidos desde 1940, quando o National Resources Conservation Services - USDA preconizava o uso dessas técnicas para proteção de lagos e conservação de margens de rios. Dentre as vantagens do uso de tecnologias baseadas na bioengenharia dos solos, destacam-se: • Menor requerimento de maquinário: as técnicas de bioengenharia de solos podem ser classificadas como trabalho-técnico intensivas, em oposição à engenharia convencional, predominantemente energético-capital intensivas. Por conseguinte, requerem maior utilização de mão-de-obra e têm custo final comparativamente menor, oferecendo ainda maior retorno social, já que além de utilizar maior quantidade de mão-de-obra braçal ela requer menor Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 Técnicas de bioengenharia para revegetação ... 71 qualificação do que as práticas tradicionais de engenharia civil. • Utilização de materiais naturais e locais: madeira, pedras, compostos orgânicos, dentre outros, reduzem os custos de transporte, além de gerarem diversos outros benefícios locais. • Relação custo/benefício: as técnicas de bioengenharia de solos apresentam, na maioria das vezes, uma relação custo/ benefício melhor do que as técnicas tradicionais de engenharia. • Compatibilidade ambiental: as técnicas de bioengenharia de solos geralmente requerem a utilização mínima de equipamentos e da movimentação de terra, o que ocasiona menor perturbação durante a execução das obras de proteção de taludes e controle de erosão. Além disso, são atributos favoráveis em áreas sensíveis, como parques, reservas naturais, áreas ripárias e corredores naturais, onde a estética constitui fator de grande importância, fornecendo ainda habitat para a fauna nativa, restauração ecológica e conforto ambiental. • Execução em locais de acesso precário ou inexistente: em locais de difícil acesso, ou inacessíveis para o maquinário, as técnicas de bioengenharia de solos podem constituir a única alternativa viável para a execução de obras de proteção de taludes e controle de erosão. Nos projetos em que se opta trabalhar com bioengenharia utiliza-se a conjunção dos seguintes recursos: geotêxteis e geogrelhas, Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 72 COUTO, L. et al. madeira, concreto, aço, polímeros sintéticos ou rochas, utilizando a vegetação em todas as suas formas, de acordo com as necessidades de aplicação. 6.1 Geossintéticos Especialistas de controle de erosão têm se referido aos geossintéticos como Produtos em Rolo para Controle de Erosão (PRCEs), que podem ser classificados em degradáveis ou não degradáveis (AUSTIN; DRIVER, 1994). No Brasil os PRCEs são também chamados de biomantas antierosivas (Figura 13). As primeiras biomantas foram desenvolvidas nos Estados Unidos, utilizando-se fibras de juta (SIVARAMAKRISHNAN, 1993). Atualmente esses produtos são manufaturados a partir das Figura 13 - Biomantas antierosivas, tendo como matérias-prima fibra de coco e palha agrícola. Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 Técnicas de bioengenharia para revegetação ... 73 mais diversas matérias-primas, como algodão, fibra de coco beneficiada, sisal, turfa, trigo, milho e palhada composta por restos de culturas agrícolas. As biomantas normalmente são tecidas em material sintético, composto por polipropileno, polietileno, náilon e outros compostos utilizados no amarrio dos resíduos vegetais (PEREIRA; COELHO, 1998). No Brasil e na maioria dos países tropicais, o uso de biomantas é ainda incipiente, mas é importante ressaltar o imenso potencial para o desenvolvimento e a adaptação às condições tropicais desses novos produtos, para serem usados em trabalhos de bioengenharia de solos (KRUDENER, citado por SCHIELTZ; STERN, 1996). As aplicações das biomantas, atualmente, não se restringem ao recobrimento do solo, podendo ser utilizadas em operações de drenagem superficial e sub-superficial, proteção de cursos d’água, construção de estradas, outras práticas de controle de erosão, filtração, separação, contenção, membrana tênsil, reforçamento mecânico e amortecimento de solos (MANDAL, 1994). As características básicas das biomantas biodegradáveis são: • Permeabilidade: são permeáveis por serem constituídas de materiais fibrosos desidratados e por permitirem absorver teores de umidade até quatro vezes superior ao peso do produto seco. Desta forma, os sedimentos são retidos e, ou, ancorados, contribuindo para controlar e impedir avanços dos processos erosivos, mantêm a umidade e servem como substrato para o desenvolvimento de vegetais. Favorecem a infiltração de água no solo através da melhoria de suas condições físico-químicas, devido aos efeitos imediatos de Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 74 COUTO, L. et al. proteção contra a insolação e evapotranspiração, o que permite plantar em épocas de estiagem. • Isolamento: eliminam a emissão de particulados para a atmosfera em casos de solos com estruturação deficiente, compostos de material sujeito ao carreamento eólico como dunas instáveis, áreas de disposição de rejeitos industriais, minerações, dentre outras, preferencialmente em sinergismo com a revegetação destes locais; reduzem também os danos por ocorrência de geadas pelo efeito de isolamento térmico proporcionado pelas biomantas biodegradáveis. • Proteção superficial do solo: reduzem o escorrimento superficial da água por atuarem como dissipadores de energia do escorrimento superficial, já que ao manterem contato direto com o solo fornecem obstáculo ao escoamento, reduzindo a velocidade do escorrimento superficial, eliminando a ação erosiva deste; reduzem a erosividade da chuva, uma vez que o impacto das gotas de chuva (raindrop impact) é responsável, em alguns casos, por até 98% dos processos de mobilização de sedimentos (McCULLAH, 1994); evitam o carreamento de vegetação em margens de canais durante inundações, garantindo que a vegetação permaneça fixada ao solo, podendo-se ajustar os diferentes modelos de biomantas biodegradáveis de acordo com o regime hídrico do curso d’água no qual serão instaladas. • Aumento da capacidade de troca catiônica do solo: a capacidade de troca catiônica do solo é sensivelmente aumentada com a utilização das biomantas biodegradáveis, Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 Técnicas de bioengenharia para revegetação ... 75 por ocasião de sua degradação. Com a mineralização da matéria orgânica, ocorre a formação de substâncias húmicas, que colaboram para o aumento da superfície específica do solo, elevando a capacidade de retenção e o posterior fornecimento de nutrientes para as plantas. • Integração ambiental: são 100% degradáveis e apresentam perfeita harmonia com o meio ambiente; imediatamente após sua instalação nota-se sensível melhora no aspecto visual. Possuem degradação programável. Em situações de risco, na qual a ausência temporária de vegetação poderá causar danos consideráveis, por exemplo, devem-se utilizar biomantas biodegradáveis de degradação lenta e gramatura elevada, assim como em locais menos exigentes poderá ser utilizada a tela biodegradável de decomposição rápida e gramatura baixa; a mineralização da matéria orgânica constituinte das biomantas favorece a coesão entre as partículas minerais do solo, melhorando a estruturação e, por conseguinte, reduzindo a erodibilidade do solo. • Flexibilidade e praticidade: facilmente moldáveis, possuem grande flexibilidade para se adaptarem às mais diversas situações, são de fácil manuseio, leves e práticas, podendo ser aplicadas em locais de difícil acesso e em encostas íngremes, sem necessidade de equipamentos sofisticados. Apresentam formas, dimensões, comprimento e diâmetro variáveis e moldáveis à qualquer situação. • Baixo custo: apresentam custos baixos comparados aos das técnicas, dos produtos e dos processos convencionais da Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 76 COUTO, L. et al. engenharia, por serem constituídas de materiais fibrosos e resíduos de culturas agrícolas. • As biomantas biodegradáveis podem ser aplicadas diretamente sobre a superfície que se deseja proteger ou após o semeio/plantio de vegetação, com finalidades estéticas, ambientais e para estabilização de solos. As biomantas vêm acondicionadas em bobinas. A aplicação deve ser iniciada pelo topo do talude, desenrolando-se a bobina, fixando-a e moldando-a sobre uma valeta escavada com 10 cm de largura e 10 cm de profundidade, deixando ultrapassar 20 cm além da valeta. A ancoragem é realizada com o grampeamento da biomanta no fundo da valeta e em seguida é aplicado solo compactado, manualmente. Aplicam-se fertilizantes e sementes, dobram-se os 20 cm excedentes da biomanta sobre a valeta e promove-se sua fixação com grampos, com espaçamento mínimo a cada 40 cm, em toda a extensão da largura da biomanta. Esta fixação no topo do talude é preponderante para o desempenho do produto. As bobinas devem ser estendidas (desenroladas) sempre no sentido da declividade do talude (Figura 14). Sua fixação, bem como a quantidade e especificação dos grampos, deve seguir a recomendação técnica estabelecida no projeto, em função do material e da inclinação do talude. Os transpasses laterais das biomantas devem ser de 3 a 5 cm, e a sobreposição (transpasse) longitudinal deverá ser de no mínimo 5 cm. O grampeamento nos transpasses deverá ter espaçamento mínimo de 30 cm. A boa fixação das biomantas garantirá o sucesso do trabalho. Esta fixação poderá ser feita com grampos de aço, madeira e bambu, Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 Técnicas de bioengenharia para revegetação ... 77 de tamanhos e formas variadas, devendo ser aplicados de acordo com as características específicas do local a ser protegido ou recuperado (Figura 15). Figura 14 - Aplicação das biomantas em talude de corte. Figura 15 - Tipos e características dos grampos para fixação de biomantas. Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 78 COUTO, L. et al. É importante salientar que quanto melhor for a fixação da biomanta ao solo, maior segurança será conferida ao projeto. Sua fixação inadequada gerará dificuldade para que a vegetação a ultrapasse, o que poderá causar focos erosivos no local de má aderência, devido ao escoamento livre da água na superfície do talude, sem contato com a biomanta. O número de grampos por unidade de área depende da inclinação do talude, da suscetibilidade à erosão, do tipo do material, da segurança requerida para o local e da regularização da área (Figura 16). Os taludes já totalmente regularizados exigem menor rigor na fixação. Nos taludes parcialmente regularizados, sem regularização, de grande inclinação ou com grande suscetibilidade à erosão deve ser utilizado maior número de grampos por área. Em solos não coesos e arenosos deverão ser utilizados grampos mais compridos. Os esquemas a seguir mostram como fixar adequadamente as biomantas, de acordo com a inclinação dos taludes (H:V). Abaixo de 2:1 De 2:1 - 1:1 50 50 75 50 75 De 1:1 - 1:2 50 75 75 2 grampos / m² 50 25 25 50 50 50 50 50 50 75 50 Acima de 1:2 75 3 grampos / m² 4 grampos / m² 5 grampos / m² Fonte: Pereira (2008). Figura 16 - Número de grampos utilizados para fixação das biomantas de acordo com a inclinação do talude. Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 Técnicas de bioengenharia para revegetação ... 79 Fernandes (2004), testando três diferentes marcas de geotêxteis disponíveis no mercado, concluiu que todas elas são de fácil uso e eficientes no auxílio do estabelecimento da cobertura vegetal, proporcionando assim maior controle da erosão, embora a marca que possuía uma estrutura mais compactada rapidamente saturavase de água e proporcionava maior escoamento superficial. Na Figura 17 pode-se conferir o aspecto visual do talude de corte onde foram aplicadas as biomantas. Figura 17 - Aspecto visual do talude de corte onde foram aplicadas as biomantas antierosivas. 6.2 Retentores sedimentos Os sedimentos devem ser ancorados, principalmente após a execução dos serviços de estabilização de taludes. As primeiras chuvas poderão comprometer os trabalhos, caso os sedimentos não sejam ancorados. Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 80 COUTO, L. et al. Estruturas de detenção e retenção de sedimentos representam a principal ferramenta para controle de erosão em leito de canais e voçorocas. Essas estruturas têm sido utilizadas com sucesso no controle de processos erosivos lineares há muitas décadas, nos mais diversos países (KOSTADINOV, 1998). Estruturas de detenção e retenção de sedimentos podem ser classificadas quanto aos seguintes aspectos: (i) formato – retilínea ou arqueada; (ii) finalidade - deposição (para retenção de sedimentos) ou consolidação (para estabilização de leitos de canais e taludes); (iii) resistência às forças externas - estruturas de detenção e retenção de sedimentos de gravidade ou estruturas de detenção e retenção de sedimentos arqueadas; (iv) material de construção – concreto, rochas, gabiões, madeira, aço e materiais mistos (ex.: aço com madeira); e (v) construção e objetivos específicos – filtração, deposição e retardamento de vazões. A deposição contínua de sedimentos oriundos de áreas a montante de estruturas de retenção e de detenção de sedimentos, inicialmente, diminui a declividade do processo erosivo linear, proporcionando uma geometria final do talude mais estável que a original. Esta geometria torna-se mais suavizada, aumentando o fator de segurança nos maciços onde esses processos erosivos tenham se instalado. Após as alterações produzidas pelas estruturas no escoamento superficial, ocorre a redução do volume e da força trativa sobre o leito e os taludes das erosões, reduzindo assim o transporte de sedimentos. Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 Técnicas de bioengenharia para revegetação ... 81 Os efeitos benéficos das estruturas de retenção de sedimentos podem ser enumerados: • Protegem os perfis transversais da erosão por torrentes e pela concentração pontual do escoamento superficial. • Retêm sedimentos mobilizados em sua própria área de origem; este efeito é claramente verificado e continua mesmo após a área a montante das estruturas de retenção de sedimentos estar completamente preenchida, contribuindo com a conservação da estabilidade dos taludes dos processos erosivos. • Impedem o aprofundamento do canal, criando uma série de pontos estáveis, formando uma nova base para o leito do processo erosivo e desenvolvimento da vegetação. • Devido à redução do ângulo do talude do processo erosivo, a velocidade do escoamento superficial é reduzida. Este fenômeno afeta a redução da força trativa do escoamento e causa a estabilização de frações granulométricas, que de outra forma seriam carreadas, promovendo assim a conservação do solo e a consolidação do leito de escoamento no processo erosivo, já consolidado. • Funcionam como reguladores do carreamento de sedimentos. Durante chuvas torrenciais eles retêm grandes quantidades de sedimentos de granulometria de diâmetro superior, ao passo que o material mais fino é carreado em chuvas de intensidade baixa e média. Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 82 COUTO, L. et al. 6.2.1 Bermalongas Esses produtos são fabricados no exterior, sob a denominação comercial de bio-logs; no Brasil tem o nome comercial de bermalongas e apresentam vários diâmetros e comprimentos (Figura 18). É totalmente drenante e resistente, podendo absorver até cinco vezes o seu peso em água. As características dos retentores e sua implantação são descritas conforme as especificações de gramatura (em kg m-2), resistência (em N m-2), embalagem (usualmente cilíndricas) e peso cilindro (em kg). A aplicação do retentor é feita juntamente com o acerto da erosão. A fixação deve ser acompanhada por um técnico, para que sejam determinados a posição e os locais corretos onde serão fixados os retentores, e assim obter sucesso no controle da erosão e retenção de sedimentos (Figura 19). O retentor poderá ser utilizado isoladamente para detenção e retenção de sedimentos. Deve ser usado em locais de menor declividade e baixo fluxo de sedimentos, sempre no sentido transversal à declividade do talude, fixado com estacas vivas, ou de madeira ou de aço. Pode ser conciliado com o plantio de capim-vetiver (Vetiver sp.) em linhas transversais ao sentido do escoamento de água no talude. É uma técnica muito difundida no mundo (FAO, 2009) e vem ganhando espaço no Brasil (Figura 20). 6.2.2 Paliçadas de madeira As paliçadas aplicadas em erosões são anteparos que deverão ser construídos nos estreitamentos dos processos erosivos lineares Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 Técnicas de bioengenharia para revegetação ... 83 Figura 18 - Bermalonga fabricada industrialmente com fibras vegetais, prensadas e envolvidas por uma rede resistente de polipropileno. Figura 19 - Disposição das bermalongas perpendicularmente ao sentido do escoamento superficial da enxurrada. Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 84 COUTO, L. et al. Figura 20 - Exemplo de retentor orgânico de sedimentos do tipo bermalonga associado ao plantio de capim Vetiver sp. fixado de maneira transversal ao sentido de escoamento de água no talude de corte. de pequeno e médio porte, onde não ocorra escoamento superficial concentrado ou afloramento freático intermitente ou permanente, com a finalidade de reter os sedimentos e promover uma geometria mais estável para os taludes adjacentes ao processo erosivo. A dimensão da paliçada será calculada em função da necessidade do local, podendo ser simples ou dupla. Uma paliçada deve se distanciar da outra o suficiente para que a altura máxima da paliçada a jusante esteja em nível com a base da paliçada a montante, sendo esta diferença de nível preenchida pelos sedimentos. Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 Técnicas de bioengenharia para revegetação ... 85 De acordo com Pereira (2005), as paliçadas poderão ser construídas de madeira roliça, dormentes ou bambu. As paliçadas de madeira são as mais usuais, e devem ser utilizadas madeiras impermeabilizadas. As dimensões das peças de madeira são variáveis com a dimensão da erosão. As peças devem ser fixadas e dispostas verticalmente, formando um ângulo de 15o a montante com o pé das estacas, e devem ficar totalmente unidas umas às outras; se for necessário elas devem ser aparadas, de maneira a evitar frestas entre as peças. A fixação é feita através de uma vala cuja profundidade deve ser de no mínimo 50% do comprimento da peça de madeira. Esta vala deve ser totalmente em linha, e deve-se evitar zig-zag na construção da paliçada. Caso não encontre solo de boa coesão, devese utilizar de artifícios para manter totalmente eretas e fixadas as peças de madeira. Os artifícios que poderão ser utilizados são o travamento das peças, com peças aplicadas horizontalmente no pé das peças verticais, ou o concreto. Podem ser fixadas com bate-estacas ou com a concha de uma escavadeira hidráulica, ou outro equipamento similar, ou até mesmo manualmente. Na amarração e no engastamento das paliçadas nas ombreiras do fluxo, devem-se utilizar peças de madeira aplicadas horizontalmente, amarrando-as nas peças verticais até engastarem nas ombreiras. As estacas deverão ser oriundas de áreas de reflorestamento, cuja utilização deverá estar devidamente licenciada junto ao órgão fiscalizador competente. Na interface das laterais das paliçadas com o solo, deverão ser aplicados retentores de sedimentos para evitar que os sedimentos Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 86 COUTO, L. et al. passem pelas interfaces, o que normalmente têm acontecido quando esses cuidados não são observados. A Figura 21 mostra, em planta e corte, a construção de paliçada de madeira roliça, evidenciando os detalhes construtivos. Atrás (a montante) da paliçada e no engastamento nas ombreiras devem ser aplicados geotêxteis filtrantes ou retentores de sedimentos (bermalonga), umas sobre as outras, do pé da paliçada até o topo, e amarradas na paliçada, evitando assim a fuga de sedimentos e a passagem de água pelas ombreiras e na interface da paliçada com o solo. 6.2.3 Preenchimentos de concavidades erosivas A bermalonga pode ser aplicada para preencher focos erosivos de até 50 cm de profundidade, no sentido longitudinal ou transversal à concavidade a ser preenchida, sendo fixada com grampos até atingir o solo mais coeso (Figura 22). Podem ser aplicadas tantas bermalonga quanto forem necessário, até o preenchimento do vazio, e depois aplicar solo e sementes por cima. 6.3 Solo envelopado verde É uma técnica usada para recompor taludes, erosões e envelopar aterros. Este método é de construção rápida, podendo-se utilizar material do próprio local para construir o aterro compactado, podendo ainda ser utilizadas sementes e estacas vivas para deixar verde a superfície e atirantar o solo com as raízes. O local deverá ser preparado e a biomanta antierosiva estendida, e na saída colocar bermalonga para evitar a fuga de solo, aplicando Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 87 Técnicas de bioengenharia para revegetação ... PEÇAS DE MADEIRA ROLIÇA FLUXO ESTACA PROTETORA GEOTÊXTIL/BERMALONGA 0,5-2,0 m PEÇAS DE MADEIRA ROLIÇA 0,5-2,0 m ESTACA PROTETORA TERRENO NATURAL VISTA SUPERIOR CORTE TRANSVERSAL GEOTÊXTIL PEÇAS DE MADEIRA ROLIÇA PONTO ‘A’ PONTO ‘B’ ESTACA PROTETORA BERMALONGA CORTE LONGITUDINAL RETENÇÃO DE SEDIMENTOS (Bermalonga®) Fonte: Pereira (1998). Figura 21 - Vista em planta e corte da construção de paliçadas de madeira. Fonte: Pereira (1995). Figura 22 - Desenho esquemático do preenchimento de concavidades erosivas com uso de retentores de sedimentos. Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 88 COUTO, L. et al. solo em uma camada de 50 cm e fazer a compactação. Depois de compactado o solo, a biomanta deverá envolver todo o aterro, formando um envelope, sendo aplicadas estacas vivas de plantas entre uma camada e outra do envelopamento (Figuras 23 e 24). Deve-se proceder ao semeio de espécies vegetais que desenvolverão no paramento externo do solo envelopado. DETALHE DA PROTEÇÃO COM TERRA REFORÇADA VEGETADA Fonte: Aloísio (1998). Figura 23 - Método construtivo do solo envelopado. Figura 24 - Revitalização da margem do rio utilizando solo envelopado e madeira com estacas vivas - Santa Luzia-MG, Rio das Velhas. Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 Técnicas de bioengenharia para revegetação ... 89 6.4 Solo grampeado verde Este processo é utilizado para conter instabilidades geotécnicas, sub-superficiais e profundas, e é um sistema muito utilizado na Europa, em substituição a placas de concreto, cortinas e outros sistemas, devido à sua flexibilidade e rapidez na construção (Figura 25). Figura 25 - Área recuperada com o uso de chumbadores, biomantas antierosivas e malha metálica (solo grampeado). CEMIG – Vespasiano-MG. O processo construtivo do solo grampeado é descrito a seguir: • Acerto, regularização e retirada do material solto: a área deverá ser parcialmente regularizada, retirando-se o material solto, e eliminando as negatividades. Os locais que apresentam concavidades após a regularização deverão ser preenchidos com solo compactado e retentores de sedimentos, para deixar toda a superfície bem homogênea. Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 90 COUTO, L. et al. • Perfuração e fixação dos chumbadores: a densidade e a profundidade dos chumbadores são determinadas por um programa de estabilidade do talude, por isso é necessária a sondagem do local onde serão realizados os serviços. A perfuração será feita com uso de equipamentos de ar comprimido, no diâmetro de 50 mm, e o chumbador será de aço CA-50 de 15 mm de diâmetro, com pintura anticorrosiva e ponta rosqueada. Após a aplicação do chumbador, será aplicada uma calda de cimento, de maneira a retê-lo totalmente no solo, satisfazendo a resistência de 50 a 80 kN para cada chumbador . • Preparo do solo e hidrossemeio: após a regularização da superfície do talude e o sistema de drenagem estiver construído, inicia-se o preparo do solo, que consiste em efetuar o microcoveamento, ou seja, covas pequenas umas próximas das outras e de profundidade suficiente, de maneira a reter todos os insumos a serem aplicados, como fertilizantes, corretivos, mulch, adesivos e sementes. Estes insumos podem ser aplicados manualmente ou por via aquosa (hidrossemeadura). • Aplicação da malha metálica de alta resistência: a malha metálica deve ser resistente à tração, banhada com uma solução galvanizada de Zn/Al, para evitar a corrosão. A malha metálica é de 8x10 cm, com ∅=2,7 mm, e deverá ser ancorada nos chumbadores através de placas de ancoragem de aço, com tamanho de 30x30 cm, sendo parafusadas no chumbador até aderir totalmente à superfície Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 Técnicas de bioengenharia para revegetação ... 91 do terreno. Entre os chumbadores deverão ser aplicados grampos de aço CA-50, ∅=7,5 mm, com 30 cm de profundidade, para garantir total aderência da malha metálica (Figura 26). 1A - Detalhe dos chumbadores, tendo na extremidade rosca para fixação da placa de ancoragem, aderindo à malha metálica na superfície do talude. 1C- Vista frontal das placas de ancoragem fixando a malha metálica de alta resistência. 1B - Preenchimento dos espaços vazios e ancoragem dos sedimentos com uso de retentores de sedimentos (Bermalonga) e aplicação e fixação de biomanta (Tela Fibrax® Bidimensional. 1D - Detalhe dos chumbadores aplicados no sola a=b=3m e c=6m. Fonte: Pereira (2007). Figura 26 - Etapas do processo construtivo do solo grampeado verde. Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 92 COUTO, L. et al. 6.5 Madeira e estacas vivas A madeira pode ser utilizada em combinação com a vegetação em uma vasta gama de estruturas biotécnicas (COPPIN; RICHARDS, 1990; McCULLAH, 1994; GRAY; SOTIR, 1996; SCHIELTZ, 1996) (Figura 27). Muitas vezes a madeira ou gravetos utilizados com funções estruturais (inertes) podem enraizar, exercendo, a partir daí, funções biologicamente ativas, de acordo com a necessidade de aplicação. Este processo é denominado de estacas vivas (PEREIRA, 1997). Os sistemas biotécnicos compostos de madeira ou estacas vivas apresentam diversas alternativas destas combinações para proteção de margens de rios e córregos, para recuperação de processos Figura 27 - Revitalização do solo utilizando madeira e estacas vivas - Santa Luzia-MG, Rio das Velhas. Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 Técnicas de bioengenharia para revegetação ... 93 erosivos de sulcamento, ravinamento e voçorocamento; para contenção de taludes de corte e aterro; em barreiras visuais, acústicas e eólicas; para drenagem de solos e como estruturas de contenção como gabiões, enrocamento, sistemas modulares, sistemas de confinamento celular, ancoramento de solo-cimento envelopado, sistemas de solo-reforçado e em paliçadas. As espécies sugeridas para sistemas de estacas vivas devem apresentar alta tolerância às variações das condições ambientais; altas taxas de crescimento vegetativo; sistemas radiculares finos e extensos; altas taxas de transpiração; ramos flexíveis e resistentes a abrasão e lesões; raízes resistentes à exposição ao ar que não seja da atmosfera do solo; facilidade de manejo por poda; resistência às pragas e doenças, e sobretudo elevada capacidade de enraizamento a partir de estacas e material lignificado. 6.6 Concreto Os projetos que conjuguem concretos e espécies vegetais podem ser utilizados em estruturas de contenção modulares e monolíticas; em jardineiras de diferentes formatos e dimensões; em sistemas de retardamento de vazões pluviais e em sistemas de confinamento celular. Estas estruturas são geralmente utilizadas na proteção de cursos d’água. Entretanto, problemas associados ao alto custo e aos requerimentos técnicos de execução, à alta alcalinidade do concreto e à sua característica de alta transmissividade térmica (que favorece altas taxas de evaporação do solo) impõem dificuldades de utilização deste material na bioengenharia (GRAY; SOTIR, 1996; GRAJEDA, 1997; DEFLOR, 1999). Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 94 COUTO, L. et al. 6.7 Ligas metálicas As diferentes composições biotécnicas de vegetação com ligas metálicas podem ser basicamente classificadas em quatro tipos: (i) telas metálicas, que são utilizadas para georreforçamento superficial e subterrâneo ou para estruturas de contenção, preenchidas com rochas como gabiões (Figura 28), colchão Reno ou solo adensado (sistema Terramesh); (ii) pinos e estacas, que são utilizados como parte de sistemas de atirantamento como cavilhas ou em diques de contenção com malhas superficiais preenchidas por solo entremeado por camadas de vegetação herbácea ou arbustiva; (iii) trilhos, que são utilizados como elementos de suporte vertical ou horizontal de estruturas de paliçadas de dormentes ou madeira roliça, muito efetivas no controle de ravinamentos, voçorocamentos e solapamentos em margens de corpos d’água, dentre outras aplicações; (iv) chapas de metal, utilizadas como revestimento de muros de contenção de solo reforçado em caráter permanente ou temporário, ou como variações de estruturas pré-moldadas de concreto para reforçamento e contenção de solo. 6.8 Hidrossemeadura Entende-se por hidrossemeadura a aplicação com bomba hidráulica, via aquosa, de sementes misturadas com adubos minerais, massa orgânica e adesivos de fixação (Figura 29). É necessário que a superfície do talude esteja a mais regularizada possível; o acerto e a regularização podem ser feitos manual ou mecanicamente, buscando eliminar os sulcos erosivos, o preenchimento dos espaços vazios e a ancoragem dos sedimentos soltos. Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 Técnicas de bioengenharia para revegetação ... 95 Figura 28 - Muro de Gabião em talude de corte na região de Nova Lima-MG. Figura 29 - Demonstração da aplicação de hidrossemeadura em taludes de corte com leiras de bermalonga. Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 96 COUTO, L. et al. As concavidades do terreno e as negatividades dos taludes devem ser removidas, para evitar a formação de novos focos erosivos e desmoronamentos. Após a regularização da superfície do talude e o sistema de drenagem estiver construído, inicia-se o preparo do solo, que consiste em efetuar o microcoveamento, ou seja, covas pequenas umas próximas das outras e com profundidade suficiente para reter todos os insumos a serem aplicados, como fertilizantes, corretivos, mulch, adesivos e sementes (Figura 30). As sementes a serem utilizadas deverão conter referências à porcentagem de pureza e ao poder germinativo. A seleção das espécies deve basear-se em critérios de adaptabilidade edafoclimática, rusticidade, capacidade de reprodução e perfilhamento, velocidade de crescimento e facilidade de obtenção de sementes. No entanto, esse método não protege o solo imediatamente, e nos locais onde há suscetibilidade à erosão ocorrerá formação de focos erosivos até o estabelecimento da vegetação (Figura 31). Figura 30 - Desenho esquemático do microcoveamento. Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 Técnicas de bioengenharia para revegetação ... 97 Figura 31 - Formação de sulcos erosivos em área onde não foi aplicada somente hidrossemeadura. 7 DRENAGEM DOS TALUDES O objetivo primordial de uma drenagem eficiente é efetuar um escoamento seguro para locais com estabilidade geotécnica, evitando assim a mobilização de partículas do solo em decorrência do escoamento superficial. Para tanto, as estruturas de drenagem devem apresentar as seguintes características: (i) confiabilidade dos materiais utilizados; (ii) durabilidade dos materiais utilizados; (iii) facilidade de manutenção; e (iv) segurança. Uma drenagem ineficiente geralmente pode ocasionar: (i) piping ou erosão tubular progressiva, que está ligada ao escoamento subsuperfície, e devido às diferenças de resistência entre as camadas de solo a água, quando encontra uma camada menos resistente, inicia o processo de escavação, dando origem, desta forma, as cavidades Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 98 COUTO, L. et al. ou dutos no interior do solo; (ii) alagamento da área próxima aos drenos, trazendo como consequências entupimento do dreno, carreamento de solo superficial, redução da capacidade de suporte do solo (resistência ao cisalhamento). Para sistemas de drenagem superficiais são utilizados de terraços, canaletas verdes e, ou, revestidas de concreto, dissipadores de energia e caixas dissipadoras, bacias de sedimentação; e para drenagens subterrâneas são utilizados cilindros drenantes. Um projeto adequado de filtros e drenos é essencial para a segurança e economia de todas as obras de engenharia civil ou outras obras que envolvam a proteção e estabilização do solo. 7.1 Drenagem de superficial A drenagem superficial se faz pelas linhas naturais do curso d’água e pelo sistema formal construído, que deve estar harmonizado com as feições do relevo para permitir o efetivo escoamento das águas. Todo sistema deve ser dimensionado em função da vazão e do potencial hidráulico, definido pela declividade. 7.1.1 Canaletas As canaletas são canais de pequenas dimensões, destinadas à captação das águas que, de algum modo, poderiam afetar a estrutura do solo ou danificar os taludes. Para cumprirem sua finalidade, as canaletas de drenagem deverão ter capacidade suficiente para as taxas de escoamento superficial de pico, que poderão ocorrer com frequência especificada – também denominada de tempo de recorrência. Em trabalhos de Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 Técnicas de bioengenharia para revegetação ... 99 recuperação ambiental, costuma-se utilizar a precipitação máxima ocorrida em 1 hora, em um histórico de 5 a 10 anos. As canaletas verdes são uma alternativa à utilização de materiais inertes como o concreto; estas são escavadas no solo local em dimensões variáveis, são compactadas e, posteriormente, cobertas com biomantas antierosivas (Figura 32). Sob as biomantas deverá ser semeada uma mistura de sementes de espécies de herbáceas de sistema radicular denso e profundo, e de baixa rugosidade superficial. Para adubação nessas canaletas deverão ser efetuadas as aplicações de cama de frango desidratada, na proporção de 50 g m-2, ou torta de coco-da-baía, na proporção de 100 g m-2. 7.1.2 Escada hidráulica Dispositivos que possibilitam o escoamento das águas que se concentram em talvegues interceptados pela terraplanagem e que vertem sobre os taludes de corte e aterros. Nessas condições, para evitar os danos de erosão, torna-se necessária a sua canalização e condução através de dispositivos, adequadamente construídos, de forma a promover a dissipação das velocidades e, com isto, desenvolver o escoamento em condições favoráveis até os pontos de deságue, previamente escolhidos (Figura 33) 7.2 Drenagem subterrânea De acordo com Coelho e Brito Galvão (1998) as rochas intemperizadas e a maior parte dos solos apresentam problemas de drenagem, porque as superfícies não protegidas desses materiais Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 100 COUTO, L. et al. Figura 32 - Canaletas verdes revestidas com tela sintemax. Figura 33 - Escada hidráulica, com dissipador de energia com colchão reno, e bermalonga e biomantas aplicadas nos taludes. Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 Técnicas de bioengenharia para revegetação ... 101 podem ser erodidas por força da água que escapa, permitindo assim que o processo de erosão se inicie, podendo levar ao entupimento de filtros e drenos e, em casos extremos, ao piping failure, consequentemente as superfícies de drenagem devem ser cobertas por camadas de protetores de filtros que permitam o escape livre de água, mas que ao mesmo tempo retenham as partículas de solos firmemente no lugar da origem. Essas canaletas exercerão a função de atuarem como drenagem secundária em áreas de menor declividade e apresentam inúmeras vantagens, das quais podem ser destacadas: (i) menor custo de implantação; (ii) menor impacto ambiental para implantação; e (iii) dispensa de manutenção, após estabelecimento definitivo da vegetação. Dentre as desvantagens podem-se relacionar: (i) exigência de inspeções com maior frequência que nas canaletas de concreto; (ii) limitações de uso relacionadas a declividade, volume e velocidade do escoamento superficial; e (iii) maior possibilidade de rompimentos, em pontos com alta demanda de escoamento efetivo, desta forma essas canaletas somente deverão ser executadas após o correto redirecionamento da drenagem superficial local. Ainda de acordo com Coelho e Brito Galvão (1998), entre as propriedades dos materiais utilizados como elementos filtrantes que são necessárias para o sucesso de operações de drenagem subterrânea, elas devem apresentar elevada resistência à tração e pontuação, serem relativamente incompreensíveis, além de estarem com boa disponibilidade na área de utilização e possuírem baixo custo. Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 102 COUTO, L. et al. Os drenos são dispositivos instalados em camadas subsuperficiais, em geral no subleito, de modo a permitir a captação, a condução e o deságue das águas que se infiltram no solo ou estão contidas no próprio maciço, comprometendo a estabilidade do local. Quanto à forma construtiva, os drenos poderão ser cegos ou com tubos e, devido à pequena profundidade, podem ser também designados como drenos rasos; recebem, ainda, designações particulares como dreno transversal ou dreno longitudinal de base. A parte do dispositivo que exerce a função de captação em um sistema de drenagem subterrânea pode ser constituída por drenos cegos ou drenos tubulares, neste último caso utilizando tubos dreno em polietileno de alta densidade - PEAD - corrugados perfurados ou tubos dreno em concreto perfurado ou poroso. O conjunto de captação em um dreno é constituído basicamente pelos seguintes componentes: material filtrante, material drenante e condutor tubular. Como exemplos de materiais usados para filtros têm-se os agregados de quartzo ou geossintéticos - desde 1965. Uma vantagem do uso de geossintéticos, como filtros‚ é o baixo custo em comparação com os convencionais filtros granulares. Outra vantagem é a facilidade de operação em campo. Os filtros devem ter uma graduação correta e devem ser manipulados com cuidado, de modo a evitar contaminação e segregação das partículas. Para os geossintéticos, os geotêxteis, as geogrelhas e as geomalhas podem ser usados os seguintes polímeros: poliéster, polipropileno, polietileno, poliamida, náilon, etc. Para as geomembranas: polivinil, polietileno de alta densidade, polietileno clorossulfurado, interpolímero ligado a etileno, polietileno cloronatado, dentre outros compostos. Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 Técnicas de bioengenharia para revegetação ... 103 7.2.1 Geossintéticos Segundo a ASTM D-35 - 1994, geossintético é um produto planar, derivado de material polimérico usado com um material geotécnico (solos, rochas, etc.) como parte integrante de um sistema de engenharia civil. Os geossintéticos possuem sete funções básicas: filtrante, drenagem, separação, reforço, barreira fluida, proteção e impermeabilização. 7.2.2 Geotêxteis Os geotêxteis são materiais têxteis, tecidos ou não tecidos, formados por filamentos contínuos ou fibras, distribuídos aleatoriamente de modo a constituir uma manta de alta resistência, obtida através de processos mecânicos, químicos e térmicos. Os geotêxteis possuem as seguintes funções: (i) separação (evitar que materiais de granulometria diferente se misturem); (ii) filtragem (permitir uma rápida percolação de água); (iii) reforço (aumentar a resistência mecânica do material envolvente e uma eficiente transmissão de esforços); (iv) drenagem radial (permitir o livre escoamento de água ou gases através de sua espessura); e (v) proteção (proteger o material envolvente contra eventuais perfurações e, ou, desgastes). 7.2.3 Geogrelhas As geogrelhas também são materiais planares, em forma de grelhas, com grandes aberturas ou vazios. Tanto as propriedades físicas quanto mecânicas são influenciadas pelo tipo de tela da geogrelha. Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 104 COUTO, L. et al. • Propriedades físicas: gramatura, espessura, abertura da malha. • Propriedades mecânicas: resistência à tração, alongamento na ruptura e tração para alongamento. Entre outras aplicações em geotecnia, têm-se: (i) como elemento de reforço e separação em aterros sobre solos moles; (ii) como elemento de reforço em recomposição de aterros; (iii) como elementos de reforço em estabilização de taludes e estruturas de contenção; (iv) como revestimento na proteção de taludes contra erosão. A geogrelha dissipa a água na superfície do talude, minimizando e, até mesmo, eliminando os ravinamentos; (v) como elemento de drenagem: em obras de drenagem, que podem ser subterrâneas, de alívio e superficial (Figura 34). Figura 34 - Descida d’água com Geoweb e concreto. Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 Técnicas de bioengenharia para revegetação ... 105 8 PROTEÇÃO DE CURSOS D’ÁGUA Os cursos d’água, rios, canais e reservatórios hidráulicos necessitam de proteção constante em suas margens, para evitar erosões e assoreamentos. Atualmente a grande maioria dos cursos d’água está desprotegida, por ausência da mata ciliar ou qualquer outro tipo de vegetação, devido à exploração agroflorestal e urbanização desordenada, fatores que contribuem para acelerar os processos erosivos e assoreamento. Nos países mais desenvolvidos vários projetos são executados no sentido de minimizar os impactos ambientais negativos, utilizando técnicas eficientes de baixo custo para manter os cursos d’água isentos de assoreamento e erosões em suas margens. Estas técnicas são baseadas em elementos flexíveis, como vegetação, madeira e fibras vegetais, associadas a elementos rígidos como pedras e concreto. Atualmente a revitalização de cursos d’água já é exigida pela sociedade e por órgãos ambientais, pesando no desenvolvimento sustentável, para tentar minimizar impactos irreversíveis que afetam as gerações futuras, pois os recursos hídricos estão ficando cada vez mais escassos no planeta Terra, e as necessidades de uso/consumo estão crescendo cada vez mais. As metodologias utilizadas na proteção de cursos d’águas se baseiam no uso de madeira, retentores de sedimentos, solo compactado e ramos/estacas vivas, com o objetivo de proteger e recuperar as margens que se encontravam erodidas e, ou, irregulares (Figura 35). Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 106 COUTO, L. et al. Figura 35 - Proteção de curso d’água, Aeroporto de Vitória, Vitória-ES. A revitalização do curso d’água se inicia com o desassoreamento, até atingir o nível e a largura inicial. Após o desassoreamento iniciase o processo de proteção das margens com retentores de sedimentos tipo bermalonga, o que permite obter grande proteção, até ocorrerem a estabilização e a revegetação das margens, evitando novos assoreamentos e processos erosivos. A fixação das bermalongas é feita com estacas de madeira e, ou, bambu, de maneira a fixá-las totalmente, além de proceder ao amarrio com arames flexíveis e revestidos com PVC, tornando fixas as peças, com segurança. Uma outra metodologia é a recuperação com paliçadas de madeira. Estas devem ser usadas para curso d’água com no máximo Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 Técnicas de bioengenharia para revegetação ... 107 50% de assoreamento e largura de até 20 m e que tenha boa vazão e velocidade de fluxo de até 3 m s-1. O procedimento para execução desse processo inicia-se pelo desassoreamento, normalmente feito mecanicamente com o uso de escavadeiras hidráulicas, até atingir o nível original da profundidade. Após retirados os sedimentos, inicia-se o processo de proteção das margens com o uso de madeira roliça, que é cravada verticalmente junto às margens, cujas dimensões das peças têm diâmetro de 20 cm e comprimento de três vezes a profundidade do rio, cravando–as um terço no solo, um terço para ficar submerso e um terço acima do nível da água, para comportar as enchentes futuras. Essas peças são cravadas verticalmente com o auxílio da escavadeira hidráulica, espaçadas de 50 cm. Para completar a paliçada são aplicadas peças de madeira de 15 cm de diâmetro no sentido longitudinal, ancorando-as atrás das peças verticais, promovendo encaixes para manter as peças travadas e seguras, evitando ao máximo frestas entre as peças de madeira. Imediatamente atrás da paliçada deve ser aplicada a Bermalonga® de diâmetro de 40 cm em camadas e solo compactado, até atingir toda altura da paliçada. A bermalonga tem o objetivo de evitar que a água retire sedimentos através das peças de madeira e facilite o desenvolvimento da vegetação e mata ciliar, protegendo as margens e evitando novos assoreamentos e erosões. O material a ser usado na compactação e no preenchimento das concavidades poderá ser o mesmo do desassoreamento. Após todo o processo deve-se proteger o solo com biomantas e plantio de gramíneas, leguminosas e espécies florestais típicas da mata ciliar local. Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 108 COUTO, L. et al. Esta técnica deve ser usada em margens de curso d’água que apresentam erosões, solapamentos e deslizamentos de grandes dimensões e também em rios de grande vazão e média velocidade. Nas áreas tropicais, especificamente no Brasil, ocorre uma grande biodiversidade de espécies que apresentam grande capacidade de rebrotar após cortes e desbastes, favorecendo assim o uso de estacas vivas para aplicar juntamente com o aterro compactado, objetivando atirantar o solo através do enraizamento da estaca e manter e desenvolver a vegetação para estabelecimento da mata ciliar. Este método construtivo é realizado a partir de uma série de etapas. Inicialmente a área deverá ser preparada, regularizada e ainda proceder ao trabalho das fundações, aplicando uma camada ou mais de pedra de mão e compactar até nivelar o local e obter uma fundação adequada para sustentar o aterro. Após o preparo da fundação deverão ser aplicadas peças de madeira imunizadas com diâmetro de 20 cm, aplicadas no sentido longitudinal, espaçadas de 1 m, em toda a extensão do problema. Para travamento das peças longitudinais, aplicar peças de madeira de mesmo diâmetro no sentido sub-horizontal, encaixando-as nas peças longitudinais, e espaçados de 1 em 1 m obtendo total travamento. Após o travamento aplicar solo e compactar até cobrir as peças de madeira, e imediatamente aplicar estacas vivas e galhos de Fícus gameleira (gameleira), que é uma espécie com alto índice de rebrota. Estas estacas vivas/galhos são aplicadas no sentido sub-horizontal ao curso d’água sobre o aterro compactado, tendo a ponta da estaca Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 Técnicas de bioengenharia para revegetação ... 109 que ficar voltada para o curso d’água. O cofmprimento das estacas deverá ser do tamanho das peças sub-horizontais de madeira, e devem ser aplicas bem juntas para agilizar a rebrota e iniciar mais rapidamente o processo de atirantamento do solo. Após forrada toda área com ramos vivos, o aterro compactado deverá ser realizado, até uma camada de 70 cm; a partir daí repetese o processo com aplicação das peças no sentido longitudinal e sub-horizontal solo, estacas vivas e aterro compactado, até atingir a altura desejada. A inclinação depende do projeto, podendo chegar até 45o. 9 CONTROLE DE PRAGAS Dentre as diferentes pragas que atacam áreas reabilitadas com vegetação destacam-se as formigas-cortadeiras, representadas pelas saúvas e quenquéns. Essas formigas precisam ser combatidas nas etapas de desenvolvimento da vegetação. Um sauveiro adulto, com cerca de três anos de idade, consome 1 tonelada de folhas por ano para se manter. As formigas podem e chegam a causar perdas de 100% em plantios comerciais florestais. O combate deverá ser feito em três etapas: o combate inicial, o repasse e a ronda. O combate inicial deve ser realizado dois meses antes do plantio, em toda a área a ser trabalhada, ultrapassando-a numa faixa de 100 m de largura, para dentro de áreas confrontantes. Existem diferentes produtos para combate às formigas-cortadeiras, com destaque para os pós-secos, os gases, as iscas e os líquidos termonebulizáveis. Nesta etapa inicial o combate às formigas-cortadeiras deverá ser feito utilizando-se líquidos termonebulizáveis à base de substâncias Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010 110 COUTO, L. et al. piretroides, que apresentam menor impacto ambiental e alta capacidade de degradação em curto prazo. A dosagem deverá ser regulada em função de receituário agronômico expedido por profissional competente, a partir de visita prévia desse profissional à área a ser trabalhada. Para o repasse a ser feito juntamente com o plantio, o combate será feito à base de isca granulada, com 0,45% de sulfluramida, que deverá ser aplicada à base de 15 g m-2 de terra revirada em torno dos orifícios dos formigueiros. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABRAHÃO, W. A. P.; MELLO, J. W. V. Fundamentos de pedologia e geologia de interesse no processo de recuperação de uma área degradada. In: DIAS, L. E.; MELLO, J. W. V. (Coord.). Recuperação de áreas degradadas. Viçosa: Folha de Viçosa, 1998. p. 15-26. ARAÚJO, V. D.; REYES-PERES, Y. A.; LIMA, R. O.; PELOSI, A. P. M.; MENEZES, L.; CÓRDOBA, V. C.; LIMA-FILHO, F. P. Fáceis e sistema deposicional da formação barreiras na região Barreira do Inferno, Litoral Oriental do Rio Grande do Norte. Série Científica, v. 6, p. 43-49, 2006. (Geologia USP) AUSTIN, D. N.; DRIVER, T. Classifying rolled erosion control products. Erosion Control, v. 2, n. 1, p. 48-53, 1995. AZEVEDO, M. A. 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O CBCN atua nas seguintes áreas: · · · · · · · Ecoturismo Saneamento básico Usinas de triagem e compostagem de lixo/ Coleta seletiva Aterros sanitários Avaliação de impactos ambientais Marketing ambiental Ações de desenvolvimento social Arborização e paisagismo em ambientes urbano e rural Criação e manejo de unidades de conservação Formação de viveiros e hortos Manejo de bacias hidrográficas Recuperação de áreas degradas e matas ciliares Educação ambiental · · · · · · O CBCN se propõe também a coordenar eventos, proporcionar treinamento, extensão, reciclagem e pesquisa; suprindo demandas de estudantes, profissionais, prefeituras e empresas conveniadas. Background CBCN is a technologically-based, environmentalist entity, founded in 1967. It was the first nongovernmental organization created in Minas Gerais and the fourth in Brazil. CBCN’s mission is to act as a municipal and entrepreneurial development agent in the social and environmental areas, linking, in an interdisciplinary fashion, different teaching, research and extension sectors. CBCN is involved with the following areas: · · · · · · Urban and Rural Arborization and landscape Creation and management of conservation units Formation of nurseries and gardens Water basin management Recovery of degraded areas and ciliary forests Environmental education · · · · · · · Ecotourism Basic sanitation Waste plants / Selective waste disposal Waste disposal areas Environmental impact evaluation Environmental marketing Social development actions CBCN also proposes to coordinate events, providing training, extension, recycling and research to meet the demands of students, professionals, municipalities and companies involved. Rua Professor Alberto Pacheco, 125 – salas 506 e 507 – Ramos – 36570-000 Viçosa, Minas Gerais - Brasil Telefone/Fax: +55 (31) 3892 -4960 / [email protected] / www.cbcn.org.br Boletim Técnico CBCN, n. 1, 2010