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CADERNOS DE HISTÓRIA DA ARTE
n.1 (2013)
A iluminura hebraica portuguesa do século XV: estado da
questão*
Tiago Moita
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
[email protected]
Resumo
O importante capítulo da história da iluminura hebraica produzida em Portugal na segunda metade do século
XV encontra-se ainda por explorar, não constando qualquer referência ao mesmo nas Histórias da Arte gerais
publicadas em Portugal. Esta situação deve-se, em parte, aos poucos estudos realizados sobre o assunto, mas
também, às conclusões divergentes apontadas pelos especialistas estrangeiros, tanto no que se refere à
qualidade das iluminuras como no que diz respeito à atividade organizada de uma escola judaica de cópia com
sede em Lisboa. Neste artigo procuramos rever a literatura atinente a esta matéria e identificar, deste modo, as
questões mais relevantes, que ainda carecem de resposta.
Abstract
The important chapter in the history of Hebrew illuminated manuscripts produced in Portugal in the second
half of the fifteenth century is still to be explored, lacking any reference to it in the general Histories of Art
published in Portugal. This occurs owing to the scarcity of studies on this matter, but also to the divergent
conclusions pointed out by the main foreign specialists, whether regarding the quality of illumination, whether
to the activity of an organized Jewish school of manuscripts copy in Lisbon. In this article we seek to review
the literature regarding to this matter in order to identify the most relevant questions that still need to be
answered.
O estudo da iluminura hebraica em Portugal, com produção particularmente centrada na segunda
metade do século XV, pouca atenção tem merecido por parte dos investigadores nacionais.
Significativamente, não consta qualquer referência a este assunto em nenhuma das Histórias da Arte
publicadas em Portugal.1 Esta desatenção e omissão – que contrasta, por exemplo, com a opinião de
Immanuel Aboab (1555-1628) que tece encómios rasgados aos trabalhos dos copistas e iluminadores
hebraicos portugueses (Aboab, 1629: 232) – podem, eventualmente, ser explicadas, no nosso
entender, por duas razões principais: por um lado, o acervo manuscrito hebraico português
remanescente encontra-se, na sua totalidade, em bibliotecas estrangeiras, de difícil e dispendioso
acesso; por outro, os poucos estudos efetuados pelos especialistas estrangeiros apresentam-se muito
contraditórios, existindo duas teorias divergentes sobre o tema, quer quanto à qualidade da iluminura
em questão, quer no que se refere à possibilidade da sua produção se dever a uma escola de cópia
manuscrita, bem organizada, em Lisboa, no século XV. É este, sobretudo, o cerne do presente estudo,
que não visa, naturalmente, a resolução desta problemática, mas sim, dar conta dos caminhos
desbravados pelos principais especialistas da iluminura hebraica portuguesa do século XV, chamando
a atenção para os problemas em aberto, que, ainda hoje, convocam os estudiosos.
* Este texto enquadra-se no âmbito do projeto de investigação, financiado pela Fundação para a Ciência e
Tecnologia, intitulado «Iluminura Hebraica Portuguesa durante o século XV» (referência PTDC/EATHAT/119488/2010), do qual o autor é bolseiro de investigação.
1 A única exceção deve-se a Horácio Augusto Peixeiro que, em dois artigos de síntese sobre a iluminura em
Portugal nos séculos XIV a XVI (Peixeiro, 1999: 287-299; 2007: 145-192), se refere, brevemente, à iluminura
hebraica portuguesa, assumindo, no entanto, a perspetiva desfavorável à existência de uma escola de cópia em
Lisboa, no decurso do século XV.
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Séculos XVIII e XIX
Devemos a António Ribeiro dos Santos (1745-1818), primeiro diretor da Real Biblioteca Pública de
Lisboa, hoje, Biblioteca Nacional de Lisboa, a publicação de um artigo pioneiro em torno dos
manuscritos hebraicos portugueses, independentemente de terem ou não iluminuras (Ribeiro dos
Santos, 1792: 236-312). Até recentemente, era o único estudo sobre este assunto realizado por um
investigador português. Não obstante o seu caráter inicial, Ribeiro dos Santos enuncia importantes
questões, ainda hoje, irresolúveis. Neste estudo, o autor identifica, a partir das suas pesquisas nos
catálogos de manuscritos hebraicos de Benjamin Kennicott (1780) e de Giovanni B. De Rossi (1803),2
um conjunto de dez manuscritos hebraicos com origem em Portugal, datados entre os séculos XIV e
XV (Tabela 1), e conclui pela existência de uma importante “Academia” ou “Escola” hebraica de
cópia e iluminura em Lisboa, com atividade que estende entre a fundação do reino e a expulsão
definitiva dos judeus (1496-97). Mais do que pelos aspetos artísticos – que não são, naturalmente, o
centro da atenção de Ribeiro dos Santos, até porque não conheceu os manuscritos diretamente – a
Escola hebraica lisboeta é caracterizada, na sua perspetiva, pela excelente qualidade caligráfica dos
seus copistas e pelo rigor do texto massorético. A investigação de Ribeiro dos Santos não deixa de
revelar, no entanto, algumas incoerências, ao fundar uma escola secular hebraica em Lisboa partindo
apenas de uma dezena de códices (um, pelo menos, só dele tendo notícia a partir de testemunhos
coevos – a Bíblia de José Abravanel), e ao estender a sua atividade desde a fundação do reino, quando
o maior número remanescente procede de finais do século XV.
A lista dos manuscritos proposta por Ribeiro dos Santos é citada, ainda, por Mendes dos Remédios
(1867-1932), que, desenvolvendo um estudo minucioso sobre a Bíblia hebraica guardada na Biblioteca
Geral da Universidade de Coimbra (Cofre 1), identifica-a com aquela outra que Immanuel Aboab
indicava possuir José Abravanel, em Veneza, mostrando já, ao tempo, ter sido escrita havia 180 anos
(Remédios, 1903). Ainda segundo o professor de Coimbra, aquele manuscrito bíblico procede de
oficina judaica de Lisboa, no século XV, propondo o ano de 1429 como data da cópia (Remédios,
1928: 326-337).
Thérèse Metzger, por sinal, critica a referida lista, afirmando como não-portugueses a maioria dos
manuscritos, e redu-la apenas a cinco: a Bíblia de 1346, escrita na Guarda (nº 1 da lista do autor), e as
quatro cópias bíblicas, executadas em Lisboa, entre 1469 e 1496 (os manuscritos 3, 4, 5 e 9 da lista de
Ribeiro dos Santos). A autora conclui, a partir destes dados, pela insustentabilidade da proposta de
uma escola com atividade contínua pelo largo período de tempo mencionado. No que se refere à Bíblia
de Coimbra, Metzger sublinha a proximidade com os manuscritos espanhóis (e não com os
portugueses) e afirma as semelhanças da sua decoração massorética com a de outra Bíblia sefardita
(Paris, Bibliothéque Nationale de Paris: Ms. Hébreu 1314-1315), não datada nem localizada
(Metzger, 1972: 89-116). O estudo da Bíblia de Coimbra permanece por realizar parecendo-nos
essencial para esclarecer o seu verdadeiro lugar no contexto da iluminura hebraica medieval.
Século XX
Os estudos de Ribeiro dos Santos e de Mendes dos Remédios permanecerão isolados até finais da
década de 60 do século XX, quando a investigação em torno dos manuscritos hebraicos, motivada
pela constituição do Hebrew Palaeography Project (HPP), em 1965, alcança um elevado
De Rossi concluiu o seu catálogo em forma manuscrita em 1803, pelo que Ribeiro dos Santos terá tido acesso
às informações sobre os manuscritos portugueses, decorrendo, ainda, talvez, os trabalhos daquele autor.
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desenvolvimento, suscitando o interesse de jovens estudiosos pelas matérias em questão.3 Os estudos
então efetuados permitiram reconhecer, pelas afinidades dos processos de produção dos manuscritos,
pela escrita e pelos elementos artísticos, um conjunto de áreas geo-culturais distintas (oriental,
sefardita, asquenaze e italiana) e de diversas escolas no seu interior.
É, sem dúvida, neste contexto que se devem entender os primeiros (e mais significativos) estudos em
torno dos manuscritos hebraicos portugueses e do vivo debate que geraram. Com efeito, Bezalel
Narkiss, num trabalho em que identifica e caracteriza as principais escolas de iluminura hebraica, ao
abordar a produção sefardita destaca que “the most important school in the Iberian Peninsula at the end of
the 15th century was the Portuguese” (Narkiss, 1969: 22), com centro de produção em Lisboa. O autor
destaca do grupo português (sem oferecer, no entanto, uma lista), pela excelência da sua decoração,
cinco manuscritos: a Mishneh Torah de Maimónides (Londres, British Library: Harley 5698-5699), a
Bíblia de Lisboa (Londres, British Library: Or. 2626-2628), um siddur (Paris, Bibliothèque Nationale
de France: Ms. Hébreu 592), a Bíblia da Hispanic Society of America (Ms. B. 241) e a Bíblia da
Bibliothèque Nationale de France (Ms. Hébreu 15).
As Bíblias iluminadas ocupam a maior percentagem das cópias portuguesas, contudo, ao contrário do
que se observa na tradição sefardita, aquelas, na sua maioria, surgem incompletas, ou seja, delas não
constando a totalidade dos livros canónicos, em analogia com o que se verifica na tradição asquenaze.
A iluminura destes manuscritos caracteriza-se pela sua função eminentemente decorativa (e não
ilustrativa) e funcional em relação ao texto. Por esta razão, é frequente introduzirem-se as palavras
iniciais dos livros bíblicos em ouro, no interior de grandes painéis filigranados; a ornamentação das
margens centra-se em motivos vegetalistas e florais bastante variados, habitados por animais, como
pássaros de espécies diferentes, leões e dragões. Narkiss ressalta, ainda, o valor da Bíblia de Lisboa na
qual reconhece uma ímpar centralidade na medida em que nela se verifica a totalidade do programa
decorativo da escola, posição que será seguida pela generalidade dos autores que se lhe seguiram. Em
rigor, o autor, neste estudo, introduziu os principais temas e as questões fundamentais que outros
investigadores, nomeadamente, Gabriélle Sed-Rajna e Thérèse Metzger, procuraram responder
desenvolvendo importantes estudos de conjunto em torno dos manuscritos portugueses.
Gabriélle Sed-Rajna surge, efetivamente, como a autora da primeira monografia atinente aos
manuscritos hebraicos portugueses do século XV concluindo pela elevada qualidade da sua iluminura
cuja responsabilidade atribui a uma escola de cópia e iluminura hebraica, organizada em Lisboa e
ativa no período referido (Sed-Rajna, 1970). Pouco mais tarde, coube a Thérèse Metzger a revisão
deste tema, defendendo uma proposta diametralmente oposta, ou seja, a inexistência de uma escola e
a pobreza da decoração destes manuscritos (Metzger, 1977). O trabalho de Metzger é realizado em
duro confronto com as conclusões de Sed-Rajna, revelador de uma certa animosidade entre as
respetivas autoras, que lamentavelmente se transpõe para os próprios manuscritos na hora da sua
avaliação. As teses destas autoras – que, pela sua centralidade, passamos a explicitar com demorada
análise –, ainda que absolutamente antagónicas, apresentam argumentos aparentemente válidos e
consistentes, surgindo, por isso, como duas hipóteses possíveis de leitura da mesma problemática,
cabendo a este estudo, somente, apresentar as conclusões e levantar algumas das questões que ainda
permanecem em aberto.
A responsabilidade do projeto coube à Israel Academy of Sciences and Humanities (em colaboração com a
Jewish National Library e a University Library of Jerusalém) com a cooperação do Institut de Recherche et
d’Histoire des Textes (Centre National de la Recherche Scientifique, Paris).
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Na sua investigação, Sed-Rajna localiza e analisa todos os códices hebraicos executados em Lisboa no
século XV, ampliando significativamente o número de manuscritos até então identificados. Partindo
de treze manuscritos com cólofon identificando Lisboa como local da cópia, a autora identifica
idêntico número, sem cólofon, mas revelando características codicológicas e artísticas semelhantes, e
conclui, por via comparativa, por uma homogeneidade estilística e iconográfica que evidencia a
pertença daqueles últimos ao grupo português (Tabela 2). Este número será posteriormente
alargado por Thérèse Metzger com o reconhecimento de mais três manuscritos, sem cólofon, mas
considerados próximos, pela decoração, dos manuscritos portugueses (Tabela 3).
De acordo com Sed-Rajna, a coerência codicológica e estilística dos manuscritos hebraicos
portugueses, a sua excelente qualidade caligráfica, a específica ordenação do cânone bíblico – marcada
pela inserção harmoniosa de elementos das duas tradições, asquenaze e sefardita –, a sistemática
incorporação nos códices bíblicos de tratados massoréticos ou gramaticais, os colofões com a
recorrente fórmula final ‫“ – ישע יקרב‬A Redenção está Próxima” – seguida da citação de Jos 1,8, a
micrografia com formas geométricas e a decoração pintada com influências mudéjares e italianas,
comprova a homogeneidade e perfeita identidade destes manuscritos no amplo concerto sefardita.
Esta situação permite concluir, na perspetiva da autora, pela existência de uma florescente escola de
iluminura hebraica, com atividade em Lisboa, entre 1472 e 1496 (ou seja, entre a cópia da Mishneh
Torah, no primeiro ano mencionado, e a expulsão definitiva dos judeus às ordens de D. Manuel I), que
fundamenta, ainda, com mais três indícios que interessa referir: 1) a aparente precoce existência das
tipografias hebraicas portuguesas, no conjunto europeu, testemunha o alto dinamismo literário dos
judeus de Lisboa e a presença de um interessante público consumidor de livros na capital; 2) ao
analisar as cercaduras dos primeiros incunábulos hebraicos, a autora conclui que se encontram “en
continuité directe avec les traditions calligraphiques et ornementales de la production manuscrite
immédiatement antérieure ou même contemporaine” (Sed-Rajna, 1970: 12), comprovando-se, assim, na sua
ótica, a estreita colaboração entre os copistas e os tipógrafos hebraicos portugueses na transposição
do repertório ornamental manuscrito para os primeiros livros impressos; 3) Sed-Rajna chama à liça,
por fim, o conhecido receituário português, escrito em caracteres hebraicos, O livro de como se fazem as
cores das tintas para iluminar (Parma, Biblioteca Palatina: Ms. Parma 1959) – único texto medieval
deste teor produzido em Portugal –, como sinal quer do especial interesse dos judeus portugueses
pela arte de aluminar, quer do funcionamento de um relevante centro especializado de cópia e
iluminura que por aquele se guiava.
Na visão de Thérèse Metzger – que importa agora analisar –, pelo contrário, os manuscritos
portugueses caracterizam-se por uma impar heterogeneidade e independência entre si, verificada,
particularmente, nos seus aspetos codicológicos (desigualdades na qualidade do pergaminho e
divergências quanto à composição das páginas, aos sistemas de ordenação dos cadernos, etc.) e na
discrepante organização e disposição do cânone bíblico. No que diz respeito aos aspetos paleográficos
destes manuscritos, em nada se distinguem da escrita dos copistas espanhóis coevos, apresentando,
conforme sublinha a autora, uma escrita tipicamente sefardita, comum a toda a Península Ibérica. É,
porém, a análise da iluminura dos manuscritos portugueses que permite concluir por uma dominante
influência dos modelos espanhóis (não obstante Metzger reconhecer, também, o importante peso da
iluminura flamenga e italiana em algumas das cercaduras decorativas), apresentando, no entanto,
uma qualidade bastante inferior em relação àqueles. Esta situação de dependência e aparente
inferioridade dos manuscritos portugueses perante os espanhóis é explicada pela crescente presença
de correligionários castelhanos em Lisboa, no último quartel do século XV (em princípio, em virtude
dos remanescentes, o período de maior intensidade da cópia manuscrita hebraica em Portugal), que
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aqui se refugiam perante o clima de insegurança e instabilidade que experimentam nos reinos dos
Monarcas Católicos, particularmente depois do estabelecimento da Inquisição, em 1480, que veio
culminar na sua expulsão definitiva em 1492.4 A precária situação social e económica resultante deste
complexo contexto explica, segundo a historiadora, o caráter mais pobre e desinteressante da
iluminura hebraica portuguesa no conjunto peninsular. Em causa fica a existência de uma organizada
escola judaica em Lisboa, dedicada com especial veemência e labor à decoração e à cópia de textos
hebraicos.
Aos indícios propostos por Sed-Rajna em favor da tese mencionada, Metzger contra-argumenta com
quatro proposições, em simetria aproximada, advogando outra perspetiva dos mesmos factos: 1)
quando comparada com a restante Europa, a tipografia hebraica portuguesa revela um tardio
funcionamento, pois os prelos hebraicos em Espanha e Itália são-lhe anteriores; 2) nenhum indício
permite inferir uma efetiva relação entre copistas e tipógrafos hebraicos quando se confrontam as
iluminuras e as gravuras dos incunábulos produzidos, que, no caso, por exemplo, de Eliezer Toledano
– responsável pelos primeiros prelos de Lisboa – procedem diretamente da Espanha; 3) assiste-se,
assim, na comunidade judaica de Lisboa, não a uma profícua atividade literária e a um consumo
sistemático de livros, mas, precisamente, o seu contrário, como se depreende do facto das primícias da
arte tipográfica portuguesa procederem de Faro, da oficina de Samuel Gacon, e não de Lisboa, em
cujos prelos se publicam, preferencialmente, textos e comentários bíblicos e não obras novas; 4)
finalmente, ao fundar a composição original do mencionado O livro de como se fazem as cores das tintas
para iluminar, não em Portugal, mas em Espanha, na segunda metade do século XV, Metzger
assegura que “jamais pu être à la disposition des enlumineurs juifs de Lisbonne” (Metzger, 1977: 6),
apresentando-se, por isso, como um documento marginal no contexto da produção de iluminura
hebraica naquela cidade.
Permanecem em aberto, neste sentido, duas relevantes questões, além das que se referem à existência
da escola de Lisboa e à apreciação da sua produção artística: por um lado, importa ainda avaliar se
entre os manuscritos e os incunábulos hebraicos portugueses é possível estabelecer relações, quer
quanto às tipologias dos seus caracteres (que Sed-Rajna afirma semelhantes), quer no que se refere ao
programa ornamental; por outro, o significado de O livro de como se fazem as cores das tintas para
iluminar no contexto da iluminura hebraica em Portugal poderá ser melhor aclarado a partir do
confronto – que permanece por realizar – entre os dados revelados pela análise química ao tipo de
pigmentos usados na iluminação dos manuscritos hebraicos e aqueles cuja confeção é descrita no
receituário.
Na década de oitenta, os estudos em torno dos manuscritos hebraicos portugueses prosseguem às
mãos de conhecidos autores – Bezalel Narkiss e Gabriélle Sed-Rajna –, apondo, cada um, novos
argumentos favoráveis à escola de Lisboa, que vem a ser reforçada, ainda, com originais contributos
de Leila Avrin, quer analisando algumas das originais encadernações de cinco manuscritos e de um
incunábulo hebraicos de Portugal, quer identificando dois novos manuscritos iluminados como
pertencentes a Portugal, até então desconhecidos.
Esta teoria que se tornou clássica na historiografia portuguesa foi recentemente contestada por François
Soyer (Soyer, 2007). Para o autor, Portugal apresenta-se, sobretudo, como um destino de passagem e não de
fixação para os judeus castelhanos, quer no reinado de D. João II, quer no de D. Manuel I, aumentando, é certo,
a população judaica de Portugal com a chegada dos castelhanos, mas não em níveis que permitam uma sua
influência considerável junto dos judeus portugueses ou conduzam a um fenómeno de desestabilização social
capaz de tornar as perseguições de 1497 inevitáveis.
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Bezalel Narkiss publica, em colaboração com Aliza Cohen-Mushlin e Anat Tcherikover, um catálogo
dedicado aos manuscritos hebraicos, espanhóis e portugueses, iluminados, que se encontram
guardados nas Ilhas Britânicas (Narkiss, Cohen-Mushlin e Tcherikover, 1982).5 O momento mais
singular deste estudo situa-se no capítulo dedicado à análise de catorze manuscritos do final do século
XV, provenientes de distintas zonas da Península Ibérica (La Coruña, Córdova) e Norte de África,
nos quais se reconhecem evidentes afinidades estilísticas com os manuscritos portugueses, sendo a
sua decoração designada, pelos autores, como “hispano-portuguesa”. Para Narkiss e suas
colaboradoras, a qualidade superior da iluminura hebraica portuguesa coloca aquele grupo na
dependência dos manuscritos portugueses, e não o inverso.
A designação de iluminura “hispano-portuguesa” para este conjunto de manuscritos será recusada,
porém, por Katrin Kogman-Appel, no seu estudo sobre as Bíblias hebraicas medievais da Península
Ibérica (Kogman-Appel, 2004), que contrapõe hipótese contrária, fundada em razões de ordem
cronológica e estilística: por um lado, é notória a distância temporal de produção dos dois grupos,
sendo os códices datados do grupo “hispano-português” provenientes da década de 70 do século XV e
os manuscritos portugueses de finais da mesma centúria; por outro, não reconhecendo a presença de
elementos italianos na iluminura daquele grupo – situação que se verifica, igualmente, na iluminura
hebraica castelhana –, ressalta a sua distância em relação à iluminura hebraica portuguesa onde a
influência italiana é constante. Kogman-Appel sugere, por isso, que o grupo de Narkiss encontra os
seus modelos na iluminura castelhana, e não na portuguesa, revelando-se imprópria, e mesmo
incorreta, a terminologia “hispano-portuguesa” para o definir.
Gabriélle Sed-Rajna, ao editar, em facsímile, o primeiro dos três volumes da Bíblia de Lisboa – no qual
considera definir-se, integralmente, e pela primeira vez, o programa decorativo da escola de Lisboa –
aborda, com novos argumentos, a problemática em torno da escola (Sed-Rajna, 1988). No estudo
introdutório à edição, aos argumentos já conhecidos, a autora acrescenta que o constante programa
iconográfico e as profundas semelhanças estilísticas entre os manuscritos comprovam a sua feitura,
não do copista para seu próprio consumo – como era apanágio na produção do códice hebraico – mas
numa escola, estavelmente organizada, com métodos idênticos e utensílios comuns, à maneira dos
scriptoria cristãos.
A hipótese da escola de Lisboa encontra novo argumento favorável em dois estudos publicados no
mesmo ano por Leila Avrin que analisam as encadernações de alguns manuscritos e de um
incunábulo hebraicos de Portugal, caracterizadas por uma original forma de caixa (Avrin, 1989a,
1989b). Segundo a autora, este tipo de encadernação surge, particularmente, nos manuscritos
hebraicos portugueses, desconhecendo-se a sua prática em outros códices hebraicos, cristãos ou
árabes, entre os séculos XIII e XVI. Por esta razão, Avrin considera que a encadernação em caixa da
Bíblia Kennicott I (Oxford, Bodleian Library: Kenniccot I) – um dos mais interessantes manuscritos
bíblicos sefarditas, com cópia realizada em La Coruña, no ano de 1476 – poderá ter ocorrido na
oficina hebraica de Lisboa, hipótese, no entanto, que já recusara Bezalel Narkiss e Aliza CohenMushlin detetando este mesmo tipo de encadernação num manuscrito bíblico copiado em Toledo em
1481 (Narkiss e Cohen-Mushlin, 1985).
O facto de esta tipologia se encontrar também num incunábulo hebraico de Lisboa abre a suposição
da continuidade desta técnica entre os manuscritos e os incunábulos, só possível através de uma
Devemos notar que esta obra essencial para o estudo dos manuscritos hebraicos portugueses guardados nas
bibliotecas das Ilhas Britânicas foi recenseada, em Portugal, por Manuel Augusto Rodrigues (Rodrigues, 1983:
75-78).
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colaboração entre os encadernadores. A Leila Avrin se deve ainda a identificação de mais dois
manuscritos hebraicos iluminados de Portugal: os Aforismos Médicos de Hipócrates (Nova Iorque,
Jewish Theological Seminary of America: Ms. Mic. 8241) e um siddur (Jerusalém, Ben-Zvi Institute:
Ms. 2048), ao qual dedica um estudo mais demorado (Avrin, 1998).
Século XXI
No conjunto dos manuscritos hebraicos portugueses destaca-se, também, um pequeno núcleo
aljamiado, ou seja, escrito em língua portuguesa com caracteres do alfabeto hebraico. O seu estudo
esteve, particularmente, no centro das atenções de Devon L. Strolovitch, que lhes dedicou a sua
dissertação de doutoramento (Strolovitch, 2005). Ao analisar o processo empreendido pelos escritores
hebraicos de Portugal para produzir estes textos, Strolovitch conclui que o sistema de escrita que
neles se observa, mais do que uma simples transcrição fonética, deve ser entendido como uma
original adaptação da escrita hebraica ao português medieval. Esta adaptação, na sua perspetiva, não
surgindo de uma assentada, apresenta-se como o resultado de um processo lento de maturação das
comunidades hebraicas e revela, de forma irrefutável, a perfeita integração dos judeus na comunidade
linguística portuguesa. Gerold Hilty e Colette Sirat defendem, porém, posição contrária, ao
considerarem que, apesar de na sua comunicação diária os judeus se servirem do
português,“l’utilisation des caracteres hébraïques peut même être interprétée comme une sorte
d’automarginalisation, car les textes en caracteres hébraïques étaient illisibles pour les chrétiens” (Hilty e Sirat,
2006: 104). Desta posição nos afastamos radicalmente, pois, como atesta Strolovitch, o corpus judeoportuguês, representando uma hebraicização do português, significa, não uma autoexclusão, mas
sobretudo, uma convivência da língua e da escrita no seio das comunidades judaicas de Portugal.
Os mais recentes estudos em torno do assunto que nos ocupa devem-se, em especial, a investigadores
nacionais – essencialmente focados na análise do receituário O livro de como se fazem as cores das tintas
para iluminar –, testemunho de um despertar da consciência para a importância singular da iluminura
hebraica no capítulo da história da arte tardo-medieval em Portugal. O interesse por este receituário
prende-se, pois, com o facto de se apresentar como o único texto medieval português que se ocupa
dos materiais e das técnicas utilizadas na iluminura, e um dos de primeira ordem no contexto da
história da arte judaica.
Destacamos, neste particular, o estudo de Débora Matos, apresentado como dissertação de mestrado,
que analisa, não apenas aquele texto técnico, mas o inteiro volume onde se encontra, o Ms. Parma
1959 (Matos, 2011). Focando-se nos aspetos codicológicos, paleográficos e histórico-artísticos deste
manuscrito, a autora conclui que este é, na sua maioria, obra de um mesmo escriba (Abraham ibn
Hayyim), com cópia em Loulé, em 1462, a partir de um trabalho de compilação de material anónimo,
prévio e disperso, esforço que considera poder ser, possivelmente, justificado no contexto de uma
intensa produção de iluminura entre os judeus portugueses naquela centúria. Neste mesmo estudo,
Matos amplia significativamente a lista de manuscritos hebraicos atribuídos a Portugal, identificando
cerca de cinquenta e oito volumes, dispersos por várias bibliotecas estrangeiras, razão pela qual nem
todos se encontrem perfeitamente confirmados (Tabela 4). A investigação de Débora Matos e o
reconhecimento de um número considerável de manuscritos hebraicos portugueses levanta, mais uma
vez, a questão da possível atividade de um centro organizado de cópia e iluminura em Lisboa, na
segunda metade do século XV, que só um renovado olhar sobre aqueles manuscritos permitirá
aclarar.
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METZGER, Thérèse – Les Manuscrits Hébreux copiés et décorés à Lisbonne dans les dernières décennies du XVe siècle.
Paris: Fundação Calouste Gulbenkian, 1977.
__________ – La masora ornementale et le décor calligraphique dans les manuscrits hébreux espagnoles au
moyen age. In La paléographie hébraique medieval (Colloques internationaux du CNRS, nº. 547). Paris: 1974, pp. 87116.
NARKISS, Bezalel – Hebrew Illuminated Manuscripts. Jerusalém: Encyclopedia Judaica, 1969.
NARKISS, Bezalel, COHEN-MUSHLIN, Aliza, TCHERIKOVER, Anat – Hebrew Illuminated Manuscripts in the
British Isles. The Spanish and Portuguese Manuscripts. Jerusalem: Israel Academy of Sciences and Humanities –
London: British Academy, 1982.
NARKISS, Bezalel, COHEN-MUSHLIN, Aliza – The Kennicott Bible. An Introduction. Londres: Facsimile
Editions, 1985.
PEIXEIRO, Horácio – A iluminura portuguesa dos séculos XIV a XV. In YARZA, Joaquín (ed.). – La
miniatura medieval en la Península Ibérica. Murcia: Nausícaä, 2007, pp. 145-192.
__________ – A iluminura portuguesa nos séculos XIV e XV. In MIRANDA, Maria Adelaide (ed.). – A
Iluminura em Portugal. Identidades e Influências (do séc. X ao XVI). Lisboa: Biblioteca Nacional, 1999, pp. 289-299.
REMÉDIOS, Mendes dos – Os Judeus em Portugal. II. Coimbra: F. França Amado, 1928.
__________ – Uma Bíblia hebraica da Bibliotheca da Universidade de Coimbra. Coimbra: Imprensa da
Universidade, 1903.
RIBEIRO DOS SANTOS, António – Memórias da Litteratura Sagrada dos Judeos Portuguezes desde os
primeiros tempos da Monarquia até os fins do Século XV. In Memórias da Litteratura Portugueza publicadas pela
Academia das Sciencias de Lisboa, II. Lisboa: Academia das Sciencias de Lisboa, 1792, pp. 236-312.
RODRIGUES, Manuel Augusto – Hebrew Illuminated Manuscripts in the British Isles. The Spanish and
Portuguese Manuscripts. Mundo da Arte, 16 (Dezembro de 1983), pp. 75-78.
64
CADERNOS DE HISTÓRIA DA ARTE
n.1 (2013)
SED-RAJNA, Gabriélle – Lisbon Bible 1482. Facsímile: British Library Or. 2626. Tel-Aviv: Nahar-Miska –
London: British Library, 1988.
__________ – Manuscrits Hébreux de Lisbonne. Un atelier de copistes et d’enlumineurs au XVe siècle. Paris: Centre
Nacional de Recherche Scientifique, 1970.
__________ – Le Pautier De Bry. In Revue des Études Juives. 124 (1965), pp. 375-387.
SOYER, François – The Persecution of the Jews and Muslims of Portugal. King Manuel I and the End of Religious
Tolerance (1496-7). Leiden: Brill, 1997.
STROLOVITCH, Devon – Old Portuguese in Hebrew Script: convention, contact and convivência. Ithaca:
Faculty of the Graduate School of Cornell University, 2005. (Tese de doutoramento).
TAHAN, Ilana – Hebrew Manuscripts. The Power of Script and Image. Londres: The British Library, 2007.
THE HISPANIC SOCIETY OF AMERICA – Facsimiles from an Illuminated Hebrew Bible of the Fifteenth
Century in the Library of The Hispanic Society of America. New York: The Hispanic Society of America –
Fundação Calouste Gulbenkian, Facsimile Series, nº 2, 1993.
65
CADERNOS DE HISTÓRIA DA ARTE
n.1 (2013)
Tabela 1 – Manuscritos identificados por António Ribeiro dos Santos (1792)
Nr
1
2
Data
1346
1410
3
1469
4
1470
5
1473
6
1480
7
1495
8
1495
Século
XV
9
10
MS
Cidade; Bibl.
Parma, Bibl.
Rossi
Berna, Bibl.
Pública
Ident.
75
Bíblia
Guarda
Pentateuco com
Haftarot e
Megillot
Profetas
Posteriores
Pentateuco e
Haftarot
Pentateuco com
Haftarot e
Megillot
Parma, Bibl.
Rossi
Parma,
Real Bibl.
Coleção de
Lindano
Origem
Hagiógrafos
Parma, Bibl.
Rossi
Florença, Bibl.
Carmelitas de S.
Paulo
Roma
Conteúdo
1085
Material
perg
Lisboa
perg
Lisboa
Samuel de
Medina
perg
Lisboa
Lisboa
Lisboa
Évora
Saltério
Lisboa
Bíblia
Lisboa
66
Comitente
Samuel ben
Yom Tov
Pentateuco e
Hagiógrafos
Saltério
Escriba
Jason ben
José
Samuel de
Medina
Moisés ben
Samuel
Jacob
Abravanel
Isaac ben
Isaías
perg
perg
perg
perg
CADERNOS DE HISTÓRIA DA ARTE
n.1 (2013)
Tabela 2 – Manuscritos identificados por Gabriélle Sed-Rajna (1970)
Nr
Data
MS
Cidade; Bibl.
Ident.
Conteúdo
Origem
Escriba
Comitente
fls
Mat
Salomon Ibn
Alzuq
Joseph ben
David ben
Salomon Ibn
Yahya
736
perg
643
perg
443
perg
309
perg
304
perg
296
perg
444
perg
Abraham ben
Elyahu Roman
304
perg
Isaac ben
Jehuda Tibuba
1
1472
Londres,
British
Museum
2
1482
Londres,
British
Museum
Or. MS.
2626-2628
Bíblia
Lisboa
3
1484
Paris, BnF
MS. hébreu
592
Siddur
Lisboa
4
1469
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
Harley MS. Mishneh Torah
5698-5699 de Maimónides
Lisboa
Pentateucoco
Parma, Bibl. MS. Parma
m Haftarot e
Palatina
2764
Megillot
Parma, Bibl. MS. Parma Pentateuco e
1473
Palatina
677
Haftarot
Cincinnati,
Pentateuco
1475 Hebrew Union MS. 2 com Haftarot e
College
Megillot
1490
Oxford, Balliol
MS. 382
College
Bíblia
Roma,
Pentateuco
Sinagoga
MS. 18 com Haftarot e
Central
Megillot
Parma, Bibl. MS. Parma
1469
Profetas
Palatina
2698
Cod. Ebr.
1495 Vaticano, BAV
Saltério
473
Comentário ao
MS. hébreu Pentateuco de
1484
Paris, BnF
222
Moseh
Nahaman
Londres,
OR. MS. Sefer Mikhol de
1487
British
1045
David Qimhi
Museum
Comentário à
Ética a
Oxford, Bodl.
MS.
1487
Nicómaco
por
Lib.
Marshall 12
Joseph ben
Shemtob
Fim
MS. hébreu
Paris, BnF
Bíblia
séc. XV
15
Jerusalém,
Fim
Bibliot.
MS. 12827 Hagiógrafos
séc. XV
Schocken
NI, Hispanic
Fim
Society of MS. B. 241
Bíblia
séc. XV
America
Londres,
Pentateuco,
Fim séc.
Add. MS.
British
com Megillot e
XV
27167
Museum
Haftarot
Londres,
Pentateuco
Fim
Add. MS.
British
com Haftarot e
séc. XV
15283
Museum
Megillot
1496
Fim séc. Oxford, Bodl. MS. Bodl.
19
XV
Lib.
Or. 414
Bíblia
Lisboa
Lisboa
Lisboa
Lisboa
Samuel ben
Joseph ben
Samuel Ibn
Jehuda Alhakim
Musa
Eleazar ben
Isaac ben
Moshe
Yeshaya
Gagosh
HaCohen
Jacob Cohen
Samuel de
ben Jonah
Medina
Cohen
Samuel de
Gedalya ben
Medina
Joseph Walid
Samuel ben
Samuel Ibn
Musa
Jehuda ben
Samuel de
Gedalya Inb
Medina
Yahya
Lisboa
Lisboa
Sasson ben
Joseph Job
176
perg
Lisboa
Isaac Sarfati Moseh ben Isaac 134
perg
Lisboa
Joseph Sarfati
ben Sasson
Sarfati
Jehuda Eli
305
papel
Lisboa
Samuel
Adrotil
Joseph Ibn
Yahya
120
perg
Lisboa
Eleázar ben
Moseh
Gagosh
333
papel e
perg
[Lisboa] Florença
525
perg
[Lisboa]
68
perg
[EspanhaPortugal]
588
perg
[Lisboa]
464
perg
[Lisboa]
265
perg
[Espanha
ou
Portugal]
67
Perg
645
CADERNOS DE HISTÓRIA DA ARTE
Fim
Cod. Ebr.
Vaticano, BAV
séc. XV
463
Jerusalém,
Fim
MS. Heb. 8º
21
Bibliot.
séc. XV
844
Universitária
20
22
Fim Oxford, Bod.
séc. XV
Lib.
MS. Bodl.
Or. 614
23
Fim NI, Coleção J. Saltério de
séc. XV
Michael
Bry
n.1 (2013)
Saltério
[Lisboa]
218
perg
Siddur
[Lisboa]
392
perg
253
perg
196
perg
Pentateuco
Saltério
[Espanha
ou
Portugal]
[Espanha
ou
Portugal]
68
CADERNOS DE HISTÓRIA DA ARTE
n.1 (2013)
Tabela 3 – Manuscritos identificados por Thérèse Metzger (1977)
Nr
Data
MS
Cidade; Bibl.
Ident.
Conteúdo
Origem
1
1472
Londres, British Harley MS. Mishneh Torah
Museum
5698-5699 de Maimónides
2
1482
Londres, British
Or. MS.
Museum
2626-2628
Bíblia
Lisboa
3
1484
Paris, BnF
MS. hébreu
592
Siddur
Lisboa
4
1469
Parma, Bibl.
Palatina
MS. Parma
2764
5
1473
Parma, Bibl.
Palatina
6
1475
Cincinnati,
Hebrew Union
College
MS. 2
Pentateuco com
Haftarot e
Megillot
Lisboa
7
1490
Oxford, Balliol
College
MS. 382
Bíblia
Lisboa
8
1496
Roma, Sinagoga
Central
MS. 18
Pentateuco com
Haftarot e
Megillot
Lisboa
9
1469
Parma, Bibl.
Palatina
MS. Parma
2698
Profetas
Lisboa
10
1495
Vaticano, BAV
Cod. Ebr.
473
Saltério
Lisboa
Pentateucocom
Haftarot e
Megillot
MS. Parma Pentateuco e
677
Haftarot
Lisboa
Lisboa
Lisboa
Escriba
Joseph ben
Salomon David ben
Ibn Alzuq Salomon Ibn
Yahya
Samuel
Joseph ben
ben
Jehuda
Samuel
Alhakim
Ibn Musa
Eleazar
Isaac ben
ben Moshe Yeshaya
Gagosh
HaCohen
Jacob Cohen
Samuel de
ben Jonah
Medina
Cohen
Samuel de Gedalya ben
Medina Joseph Walid
Samuel
ben
Samuel
Ibn Musa
Jehuda ben
Samuel de
Gedalya Inb
Medina
Yahya
Abraham ben
Elyahu
Roman
Isaac ben
Sasson ben
Jehuda
Joseph Job
Tibuba
Isaac
Moseh ben
Sarfati
Isaac
Joseph
Sarfati ben
Jehuda Eli
Sasson
Sarfati
Samuel Joseph Ibn
Adrotil
Yahya
Comentário ao
Pentateuco de
Paris, BnF
Lisboa
Moseh
Nahaman
Londres, British OR. MS. Sefer Mikhol de
Lisboa
Museum
1045
David Qimhi
Comentário à
Eleázar
Oxford, Bodl. MS. Marshall Ética a Nicómaco
Lisboa ben Moseh
Lib.
12
por Joseph ben
Gagosh
Shemtob
MS. hébreu
[Lisboa] Paris, BnF
Bíblia
15
Florença
Jerusalém,
Bibliot. Schocken MS. 12827 Hagiógrafos [Lisboa]
MS. hébreu
222
11
1484
12
1487
13
1487
14
Fim
séc. XV
15
Fim
séc. XV
16
Fim
séc. XV
17
Fim séc. Londres, British
XV
Museum
18
Fim Londres, British
séc. XV
Museum
19
Fim séc. Oxford, Bodl.
XV
Lib.
NI, The Hispanic
Society of
MS. B. 241
America
[EspanhaPortugal]
Bíblia
Pentateuco, com
Megillot e
[Lisboa]
Haftarot
Pentateuco, com
Add. MS.
Haftarot e
[Lisboa]
15283
Megillot
[Espanha
MS. Bodl.
Bíblia
ou
Or. 414
Portugal]
Add. MS.
27167
69
Comitente
fls
Mat
736
perg
643
perg
443
perg
309
perg
304
perg
296
perg
444
perg
304
perg
176
perg
134
perg
305
papel
120
perg
333
papel e
perg
525
perg
68
perg
588
perg
464
perg
265
perg
645
perg
CADERNOS DE HISTÓRIA DA ARTE
Fim
Vaticano, BAV
séc. XV
Jerusalém,
Fim
21
Bibliot.
séc. XV
Universitária
20
Cod. Ebr.
463
Saltério
[Lisboa]
218
perg
MS. Heb. 8º
844
Siddur
[Lisboa]
392
perg
253
perg
196
perg
22
Fim
MS. Bodl.
Oxford, Bod. Lib.
séc. XV
Or. 614
23
Fim
séc. XV
24
25
26
NI, Coleção J.
Michael
14801490
14621480
Saltério de
Bry
Ms. Can. Or.
108
Parma, Bibl.
MS. Parma
Palatina
2951
Copenhaga, Bibl. Cod. Hebr.
Real
III-IV
1485 Oxford, Bod. Lib.
n.1 (2013)
Pentateuco
Saltério
[Espanha
ou
Portugal]
[Espanha
ou
Portugal]
Siddur
[Lisboa]
318
perg
Pentateuco
(frag.)
[Lisboa]
53
perg
Bíblia
[Lisboa]
70
perg
CADERNOS DE HISTÓRIA DA ARTE
n.1 (2013)
Tabela 4 – Manuscritos identificados por Débora Matos (2011)
Nr
1
2
3
4
5
6
7
8
Data
MS
Conteúdo
Cidade; Bib.
Ident
Oxford, Bod.
Can. Or. 67 Gramática
Lib.
1411
Oxford, Bod.
Lib.
Laud. Or.
310
Ciências
10
13911415
Oxford, Bod.
Lib.
Bodl. Or. 5
Liturgia
12
13
14
15
Escriba
Comitente
Yitzhak Yosef
Zarco
Natan ben
Munich,
Avraham b.
1284-85 Muenchen
Heb. 142 Gramática
Seia
Yosef
Bayerische Sta.
Alalongo(?)
Yosef bem
Yizhak ben Isaac haLevi
Parma, Bibl.
Comentário
1346
Parma 2705
Guarda
Yosef
b. Yosef ibn
Palatina
bíblico
Delouiah/Dalv
Turiel
iah
Sar Shalom
S. Petersburgo,
Santiago do
1374
C 21
Ciências
ben Moshe
Or. Institute
Cacém (?)
Shalom Melion
Halakhah e
1390
NI, JTS
Rab. 1512
Setúbal (?)
midrash
Yosef ben
Filosofia e Torres
Para si
1398
Paris, BnF
Hebr. 215
Gedaliah
Cabala
Vedras
próprio
Franco
1401- Coimbra, Bibl.
135
Bíblia
Abravanel (?)
1450
Univ.
Samuel ben
Berna,
Yom Tov
1409 Bugerbibliothe
343
Bíblia
Lisboa
Moisés…
Alzaig
k
1278
9
11
Origem
Lisboa
Lisboa (?)
Yosef ben
Gedaliah
Franco
Samuel ben
Yom Tov
Alzaig
Abraham ibn
Hayyim
1423- Parma, Bibl.
Parma 1959 Compilação Loulé
1488
Palatina
1451Cod. Vat.
Vaticano, BAV
Ciências
Yosef Catilan
1500
Ebr. 372
Cod. Hebr.
III-IV. Vol.
San Felices
1462- Copenhaga,
II = Hebr.
Bíblia
[de los
Isaac Franco
1480 Royal Library
IV; fols.
Galegos]
221v-222r
Micr. 8235;
1465Jerusalem
NI, JTS
Liturgia [Portugal]
1492
Rab. Sasson
Coll. 59
1465- Cambridge,
Add. 541
Liturgia [Espanha]
1492
Univ. Lib.
16
1467
Haverford
Coll.
Hav. 10
Bíblia
Elvas
17
1469
Parma, Bib.
Palatina
MS. Parma
2674
Bíblia
Lisboa
18
1469
Parma, Bib.
Palatina
MS. Parma
2698
Bíblia
Lisboa
19
1470
Oxford, Bod.
Lib.
Can. Or. 42
Bíblia
Moura
71
Yitzhak
Nehemia(s)
Para si
próprio
Para si
próprio
fls
Mat
234
perg
202
perg
263
perg
151
perg e
papel
167
papel
271
perg
perg
46
perg
251
papel
85
perg
211
papel
92
papel
perg (?)
225
Moshe ben
Avraham
2
Caldas
Jacob Cohen
Samuel de
ben Johan 309
Medina
Cohen
Isaac ben
Sasson ben
Jehuda
176
Joseph ibn Job
Tibuba
Samuel b.
Yitzhak ben
Avraham
Gabbay
Altires
Samuel
Alfaroni (?)
perg
perg
perg
perg
perg
perg
CADERNOS DE HISTÓRIA DA ARTE
20
1472
Londres,
British
Museum
21
1473
Parma, Bib.
Palatina
22
1473
Rússia,
Moscovo
23
1475
NI, JTS
24
1475
Cincinatti,
HUC
25
26
Parma, Bib.
Palatina
1476
28
1478 Jerusalém, NLI
29
1480
14801485
14801485
14801485
31
32
33
34
35
36
37
38
Bíblia
Lisboa
MS. Parma
677
Bíblia
Lisboa
Guenzburg
Compilação
926
Lisboa
3167
Literatura e
poesia
Lisboa
2
Bíblia
Lisboa
1475- Oxford, Bod.
Bodl. Or. 614 Bíblia
1492
Lib.
1475- NI, J. Michael Saltério de
Saltério
1492
Coll.
Bry
27
30
Harley 56985699
14801485
MS. Parma
1712
Ezra ben
Shlomo
Moshe ben
Avraham
Hayyun
Yoseph ben
Moshe Hayyun
Samuel b.
Moshe ben
Samuel ibn
Raphael
Musa
perg
perg
176
papel
11
papel
239
perg
perg
[Espanha]
perg
Bíblia
Lisboa
Ciências
Leiria
Bíblia
[Lisboa]
[EspanhaPortugal]
Samuel b.
Samuel ibn
Musa
272
perg
229
perg
Paris, BnF
Hebr. 8º
4013
Hébr. 15
NI, HSA
B 241
Bíblia
Add. 27167
Bíblia
[Lisboa]
perg
Add. 15283
Bíblia
[Lisboa]
perg
Bíblia
[cop.
Espanha ?;
dec.
Lisboa]
perg
Bíblia
[Lisboa]
perg
Liturgia
[Lisboa]
perg
Bíblia
[Lisboa]
perg
Bíblia
[Lisboa]
perg
Londres,
British Lib.
Londres,
British Lib.
Oxford, Bod.
Bodl. Or. 414
Lib.
1480Cod. Vat.
Vaticano, BAV
1485
Ebr. 463
1480Jerusalém, NLI Heb. 8º 844
1485
1480ENA 1991 –
NI, JTS
1485
L 80
1480Jerusalém,
12827
1490 Schocken Inst.
1480- Parma, Bibl. MS Parma
1490
Palatina
2951
Cambridge
UL Add. 503
Halkhah e
midrash
Faro
40
1482
Londres,
British
Museum
Or. 26262628
Bíblia
Lisboa
41
1484
Paris, BnF
Hébr. 592
Liturgia
Lisboa
42
1484
Paris, BnF
Hébr. 222
Comentário
Bíblico
Lisboa
Liturgia
Lisboa
Oxford, Bod.
Can. Or. 108
Lib.
Jerusalém,
Ben-Zvi
44 1484-96
Ms. 2048
Institute
perg
perg.
Bíblia
1481
14841485
Yoseph ben
Salomon Ibn David ben
737
Alzuq
Gedaliah ibn
Yahia
Gedalya ben
Samuel de
Joseph Walid 304
Medina
[Espanha]
39
43
n.1 (2013)
Liturgia
Samuel bem
Samuel ibn
Musa
53
perg
Efraim Karo 389
papel
Joseph ben
Jehuda
Alhakim
Isaac ben
Eleazar ben
Yeshaya
Moshe Gagosh
HaCohen
Yoseph ben Yehuda ben
Sasson Sarfati Moshe Eli
643
perg
443
perg
305
papel
300
perg
perg
72
CADERNOS DE HISTÓRIA DA ARTE
Londres,
British
Or. 1045 Gramática
Museum
Oxford, Bod. Marshall Or. Filosofia e
Lib.
12
cabala
45
1487
46
1487
47
1489
Paris, BnF
Hébr. 420
Halakhah e
Midrash
Faro
48
1489
Londres,
British Libr.
Or. 6363
Halakhah e
Midrash
Lisboa
49
1489
Ciências,
Florença, Bibl.
Plut. 88.27 Filosofia e
Laurenziana
Cabala
Lisboa
50
Oxford, Balliol
1490
College
51
14911494
52
1494
53
1495 Vaticano, BAV Cod. Vat. 473
54
1496
55
1496
56
1496
57
58
382
Bíblia
Zurich,
Braginsky
(Coleção
Privada)
243
Bíblia
Aberdeen, UL
23
Bíblia
Lisboa
Lisboa
Lisboa
Yoseph ibn
Yahya
Eleazar ben
Moshe Gagosh
Menshe(?)/
Yakov ibn
Moshe ben
Nehemias
Benyamin
Nacim ben
Samuel Adrotil Yoseph
Vivas
Nacim ben
para si
Yoseph vivas
próprio
Samuel de
Medina
Yehuda ben
Gedalya ibn
Yahya
120
perg
232
papel
418
papel
71
perg e
papel
3
perg e
papel
442
perg
Ocana
Yitzhak ben Abraham ben
(Espanha) e Yishay ben Yaakov ben
Évora
Sasson
Tsadok
Yitzhak ben
David Balansi
Bíblia
Lisboa
Florença, Bibl.
Gadd. 158
Laurenziana
Ciências
Porto
Rússia,
Guenzburg
Moscovo, RSL
662
Bíblia
Lisboa (?)
Bíblia
Lisboa
Roma,
Comunidade
18
Israelita
NI, JTS
Micr. 8241
Jerusalém,
MS. 24350
Schocken Inst.
Samuel Adrotil
n.1 (2013)
Ciências
Bíblia
73
Joseph ben
Jaakov
Alvileia
Isaac Sarfati
(?)
Moshe ben
Yitzhak
Yosef ben
para si
Avraham
242
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