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CADERNOS DE HISTÓRIA DA ARTE n.1 (2013) A iluminura hebraica portuguesa do século XV: estado da questão* Tiago Moita Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa [email protected] Resumo O importante capítulo da história da iluminura hebraica produzida em Portugal na segunda metade do século XV encontra-se ainda por explorar, não constando qualquer referência ao mesmo nas Histórias da Arte gerais publicadas em Portugal. Esta situação deve-se, em parte, aos poucos estudos realizados sobre o assunto, mas também, às conclusões divergentes apontadas pelos especialistas estrangeiros, tanto no que se refere à qualidade das iluminuras como no que diz respeito à atividade organizada de uma escola judaica de cópia com sede em Lisboa. Neste artigo procuramos rever a literatura atinente a esta matéria e identificar, deste modo, as questões mais relevantes, que ainda carecem de resposta. Abstract The important chapter in the history of Hebrew illuminated manuscripts produced in Portugal in the second half of the fifteenth century is still to be explored, lacking any reference to it in the general Histories of Art published in Portugal. This occurs owing to the scarcity of studies on this matter, but also to the divergent conclusions pointed out by the main foreign specialists, whether regarding the quality of illumination, whether to the activity of an organized Jewish school of manuscripts copy in Lisbon. In this article we seek to review the literature regarding to this matter in order to identify the most relevant questions that still need to be answered. O estudo da iluminura hebraica em Portugal, com produção particularmente centrada na segunda metade do século XV, pouca atenção tem merecido por parte dos investigadores nacionais. Significativamente, não consta qualquer referência a este assunto em nenhuma das Histórias da Arte publicadas em Portugal.1 Esta desatenção e omissão – que contrasta, por exemplo, com a opinião de Immanuel Aboab (1555-1628) que tece encómios rasgados aos trabalhos dos copistas e iluminadores hebraicos portugueses (Aboab, 1629: 232) – podem, eventualmente, ser explicadas, no nosso entender, por duas razões principais: por um lado, o acervo manuscrito hebraico português remanescente encontra-se, na sua totalidade, em bibliotecas estrangeiras, de difícil e dispendioso acesso; por outro, os poucos estudos efetuados pelos especialistas estrangeiros apresentam-se muito contraditórios, existindo duas teorias divergentes sobre o tema, quer quanto à qualidade da iluminura em questão, quer no que se refere à possibilidade da sua produção se dever a uma escola de cópia manuscrita, bem organizada, em Lisboa, no século XV. É este, sobretudo, o cerne do presente estudo, que não visa, naturalmente, a resolução desta problemática, mas sim, dar conta dos caminhos desbravados pelos principais especialistas da iluminura hebraica portuguesa do século XV, chamando a atenção para os problemas em aberto, que, ainda hoje, convocam os estudiosos. * Este texto enquadra-se no âmbito do projeto de investigação, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, intitulado «Iluminura Hebraica Portuguesa durante o século XV» (referência PTDC/EATHAT/119488/2010), do qual o autor é bolseiro de investigação. 1 A única exceção deve-se a Horácio Augusto Peixeiro que, em dois artigos de síntese sobre a iluminura em Portugal nos séculos XIV a XVI (Peixeiro, 1999: 287-299; 2007: 145-192), se refere, brevemente, à iluminura hebraica portuguesa, assumindo, no entanto, a perspetiva desfavorável à existência de uma escola de cópia em Lisboa, no decurso do século XV. 57 CADERNOS DE HISTÓRIA DA ARTE n.1 (2013) Séculos XVIII e XIX Devemos a António Ribeiro dos Santos (1745-1818), primeiro diretor da Real Biblioteca Pública de Lisboa, hoje, Biblioteca Nacional de Lisboa, a publicação de um artigo pioneiro em torno dos manuscritos hebraicos portugueses, independentemente de terem ou não iluminuras (Ribeiro dos Santos, 1792: 236-312). Até recentemente, era o único estudo sobre este assunto realizado por um investigador português. Não obstante o seu caráter inicial, Ribeiro dos Santos enuncia importantes questões, ainda hoje, irresolúveis. Neste estudo, o autor identifica, a partir das suas pesquisas nos catálogos de manuscritos hebraicos de Benjamin Kennicott (1780) e de Giovanni B. De Rossi (1803),2 um conjunto de dez manuscritos hebraicos com origem em Portugal, datados entre os séculos XIV e XV (Tabela 1), e conclui pela existência de uma importante “Academia” ou “Escola” hebraica de cópia e iluminura em Lisboa, com atividade que estende entre a fundação do reino e a expulsão definitiva dos judeus (1496-97). Mais do que pelos aspetos artísticos – que não são, naturalmente, o centro da atenção de Ribeiro dos Santos, até porque não conheceu os manuscritos diretamente – a Escola hebraica lisboeta é caracterizada, na sua perspetiva, pela excelente qualidade caligráfica dos seus copistas e pelo rigor do texto massorético. A investigação de Ribeiro dos Santos não deixa de revelar, no entanto, algumas incoerências, ao fundar uma escola secular hebraica em Lisboa partindo apenas de uma dezena de códices (um, pelo menos, só dele tendo notícia a partir de testemunhos coevos – a Bíblia de José Abravanel), e ao estender a sua atividade desde a fundação do reino, quando o maior número remanescente procede de finais do século XV. A lista dos manuscritos proposta por Ribeiro dos Santos é citada, ainda, por Mendes dos Remédios (1867-1932), que, desenvolvendo um estudo minucioso sobre a Bíblia hebraica guardada na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra (Cofre 1), identifica-a com aquela outra que Immanuel Aboab indicava possuir José Abravanel, em Veneza, mostrando já, ao tempo, ter sido escrita havia 180 anos (Remédios, 1903). Ainda segundo o professor de Coimbra, aquele manuscrito bíblico procede de oficina judaica de Lisboa, no século XV, propondo o ano de 1429 como data da cópia (Remédios, 1928: 326-337). Thérèse Metzger, por sinal, critica a referida lista, afirmando como não-portugueses a maioria dos manuscritos, e redu-la apenas a cinco: a Bíblia de 1346, escrita na Guarda (nº 1 da lista do autor), e as quatro cópias bíblicas, executadas em Lisboa, entre 1469 e 1496 (os manuscritos 3, 4, 5 e 9 da lista de Ribeiro dos Santos). A autora conclui, a partir destes dados, pela insustentabilidade da proposta de uma escola com atividade contínua pelo largo período de tempo mencionado. No que se refere à Bíblia de Coimbra, Metzger sublinha a proximidade com os manuscritos espanhóis (e não com os portugueses) e afirma as semelhanças da sua decoração massorética com a de outra Bíblia sefardita (Paris, Bibliothéque Nationale de Paris: Ms. Hébreu 1314-1315), não datada nem localizada (Metzger, 1972: 89-116). O estudo da Bíblia de Coimbra permanece por realizar parecendo-nos essencial para esclarecer o seu verdadeiro lugar no contexto da iluminura hebraica medieval. Século XX Os estudos de Ribeiro dos Santos e de Mendes dos Remédios permanecerão isolados até finais da década de 60 do século XX, quando a investigação em torno dos manuscritos hebraicos, motivada pela constituição do Hebrew Palaeography Project (HPP), em 1965, alcança um elevado De Rossi concluiu o seu catálogo em forma manuscrita em 1803, pelo que Ribeiro dos Santos terá tido acesso às informações sobre os manuscritos portugueses, decorrendo, ainda, talvez, os trabalhos daquele autor. 2 58 CADERNOS DE HISTÓRIA DA ARTE n.1 (2013) desenvolvimento, suscitando o interesse de jovens estudiosos pelas matérias em questão.3 Os estudos então efetuados permitiram reconhecer, pelas afinidades dos processos de produção dos manuscritos, pela escrita e pelos elementos artísticos, um conjunto de áreas geo-culturais distintas (oriental, sefardita, asquenaze e italiana) e de diversas escolas no seu interior. É, sem dúvida, neste contexto que se devem entender os primeiros (e mais significativos) estudos em torno dos manuscritos hebraicos portugueses e do vivo debate que geraram. Com efeito, Bezalel Narkiss, num trabalho em que identifica e caracteriza as principais escolas de iluminura hebraica, ao abordar a produção sefardita destaca que “the most important school in the Iberian Peninsula at the end of the 15th century was the Portuguese” (Narkiss, 1969: 22), com centro de produção em Lisboa. O autor destaca do grupo português (sem oferecer, no entanto, uma lista), pela excelência da sua decoração, cinco manuscritos: a Mishneh Torah de Maimónides (Londres, British Library: Harley 5698-5699), a Bíblia de Lisboa (Londres, British Library: Or. 2626-2628), um siddur (Paris, Bibliothèque Nationale de France: Ms. Hébreu 592), a Bíblia da Hispanic Society of America (Ms. B. 241) e a Bíblia da Bibliothèque Nationale de France (Ms. Hébreu 15). As Bíblias iluminadas ocupam a maior percentagem das cópias portuguesas, contudo, ao contrário do que se observa na tradição sefardita, aquelas, na sua maioria, surgem incompletas, ou seja, delas não constando a totalidade dos livros canónicos, em analogia com o que se verifica na tradição asquenaze. A iluminura destes manuscritos caracteriza-se pela sua função eminentemente decorativa (e não ilustrativa) e funcional em relação ao texto. Por esta razão, é frequente introduzirem-se as palavras iniciais dos livros bíblicos em ouro, no interior de grandes painéis filigranados; a ornamentação das margens centra-se em motivos vegetalistas e florais bastante variados, habitados por animais, como pássaros de espécies diferentes, leões e dragões. Narkiss ressalta, ainda, o valor da Bíblia de Lisboa na qual reconhece uma ímpar centralidade na medida em que nela se verifica a totalidade do programa decorativo da escola, posição que será seguida pela generalidade dos autores que se lhe seguiram. Em rigor, o autor, neste estudo, introduziu os principais temas e as questões fundamentais que outros investigadores, nomeadamente, Gabriélle Sed-Rajna e Thérèse Metzger, procuraram responder desenvolvendo importantes estudos de conjunto em torno dos manuscritos portugueses. Gabriélle Sed-Rajna surge, efetivamente, como a autora da primeira monografia atinente aos manuscritos hebraicos portugueses do século XV concluindo pela elevada qualidade da sua iluminura cuja responsabilidade atribui a uma escola de cópia e iluminura hebraica, organizada em Lisboa e ativa no período referido (Sed-Rajna, 1970). Pouco mais tarde, coube a Thérèse Metzger a revisão deste tema, defendendo uma proposta diametralmente oposta, ou seja, a inexistência de uma escola e a pobreza da decoração destes manuscritos (Metzger, 1977). O trabalho de Metzger é realizado em duro confronto com as conclusões de Sed-Rajna, revelador de uma certa animosidade entre as respetivas autoras, que lamentavelmente se transpõe para os próprios manuscritos na hora da sua avaliação. As teses destas autoras – que, pela sua centralidade, passamos a explicitar com demorada análise –, ainda que absolutamente antagónicas, apresentam argumentos aparentemente válidos e consistentes, surgindo, por isso, como duas hipóteses possíveis de leitura da mesma problemática, cabendo a este estudo, somente, apresentar as conclusões e levantar algumas das questões que ainda permanecem em aberto. A responsabilidade do projeto coube à Israel Academy of Sciences and Humanities (em colaboração com a Jewish National Library e a University Library of Jerusalém) com a cooperação do Institut de Recherche et d’Histoire des Textes (Centre National de la Recherche Scientifique, Paris). 3 59 CADERNOS DE HISTÓRIA DA ARTE n.1 (2013) Na sua investigação, Sed-Rajna localiza e analisa todos os códices hebraicos executados em Lisboa no século XV, ampliando significativamente o número de manuscritos até então identificados. Partindo de treze manuscritos com cólofon identificando Lisboa como local da cópia, a autora identifica idêntico número, sem cólofon, mas revelando características codicológicas e artísticas semelhantes, e conclui, por via comparativa, por uma homogeneidade estilística e iconográfica que evidencia a pertença daqueles últimos ao grupo português (Tabela 2). Este número será posteriormente alargado por Thérèse Metzger com o reconhecimento de mais três manuscritos, sem cólofon, mas considerados próximos, pela decoração, dos manuscritos portugueses (Tabela 3). De acordo com Sed-Rajna, a coerência codicológica e estilística dos manuscritos hebraicos portugueses, a sua excelente qualidade caligráfica, a específica ordenação do cânone bíblico – marcada pela inserção harmoniosa de elementos das duas tradições, asquenaze e sefardita –, a sistemática incorporação nos códices bíblicos de tratados massoréticos ou gramaticais, os colofões com a recorrente fórmula final “ – ישע יקרבA Redenção está Próxima” – seguida da citação de Jos 1,8, a micrografia com formas geométricas e a decoração pintada com influências mudéjares e italianas, comprova a homogeneidade e perfeita identidade destes manuscritos no amplo concerto sefardita. Esta situação permite concluir, na perspetiva da autora, pela existência de uma florescente escola de iluminura hebraica, com atividade em Lisboa, entre 1472 e 1496 (ou seja, entre a cópia da Mishneh Torah, no primeiro ano mencionado, e a expulsão definitiva dos judeus às ordens de D. Manuel I), que fundamenta, ainda, com mais três indícios que interessa referir: 1) a aparente precoce existência das tipografias hebraicas portuguesas, no conjunto europeu, testemunha o alto dinamismo literário dos judeus de Lisboa e a presença de um interessante público consumidor de livros na capital; 2) ao analisar as cercaduras dos primeiros incunábulos hebraicos, a autora conclui que se encontram “en continuité directe avec les traditions calligraphiques et ornementales de la production manuscrite immédiatement antérieure ou même contemporaine” (Sed-Rajna, 1970: 12), comprovando-se, assim, na sua ótica, a estreita colaboração entre os copistas e os tipógrafos hebraicos portugueses na transposição do repertório ornamental manuscrito para os primeiros livros impressos; 3) Sed-Rajna chama à liça, por fim, o conhecido receituário português, escrito em caracteres hebraicos, O livro de como se fazem as cores das tintas para iluminar (Parma, Biblioteca Palatina: Ms. Parma 1959) – único texto medieval deste teor produzido em Portugal –, como sinal quer do especial interesse dos judeus portugueses pela arte de aluminar, quer do funcionamento de um relevante centro especializado de cópia e iluminura que por aquele se guiava. Na visão de Thérèse Metzger – que importa agora analisar –, pelo contrário, os manuscritos portugueses caracterizam-se por uma impar heterogeneidade e independência entre si, verificada, particularmente, nos seus aspetos codicológicos (desigualdades na qualidade do pergaminho e divergências quanto à composição das páginas, aos sistemas de ordenação dos cadernos, etc.) e na discrepante organização e disposição do cânone bíblico. No que diz respeito aos aspetos paleográficos destes manuscritos, em nada se distinguem da escrita dos copistas espanhóis coevos, apresentando, conforme sublinha a autora, uma escrita tipicamente sefardita, comum a toda a Península Ibérica. É, porém, a análise da iluminura dos manuscritos portugueses que permite concluir por uma dominante influência dos modelos espanhóis (não obstante Metzger reconhecer, também, o importante peso da iluminura flamenga e italiana em algumas das cercaduras decorativas), apresentando, no entanto, uma qualidade bastante inferior em relação àqueles. Esta situação de dependência e aparente inferioridade dos manuscritos portugueses perante os espanhóis é explicada pela crescente presença de correligionários castelhanos em Lisboa, no último quartel do século XV (em princípio, em virtude dos remanescentes, o período de maior intensidade da cópia manuscrita hebraica em Portugal), que 60 CADERNOS DE HISTÓRIA DA ARTE n.1 (2013) aqui se refugiam perante o clima de insegurança e instabilidade que experimentam nos reinos dos Monarcas Católicos, particularmente depois do estabelecimento da Inquisição, em 1480, que veio culminar na sua expulsão definitiva em 1492.4 A precária situação social e económica resultante deste complexo contexto explica, segundo a historiadora, o caráter mais pobre e desinteressante da iluminura hebraica portuguesa no conjunto peninsular. Em causa fica a existência de uma organizada escola judaica em Lisboa, dedicada com especial veemência e labor à decoração e à cópia de textos hebraicos. Aos indícios propostos por Sed-Rajna em favor da tese mencionada, Metzger contra-argumenta com quatro proposições, em simetria aproximada, advogando outra perspetiva dos mesmos factos: 1) quando comparada com a restante Europa, a tipografia hebraica portuguesa revela um tardio funcionamento, pois os prelos hebraicos em Espanha e Itália são-lhe anteriores; 2) nenhum indício permite inferir uma efetiva relação entre copistas e tipógrafos hebraicos quando se confrontam as iluminuras e as gravuras dos incunábulos produzidos, que, no caso, por exemplo, de Eliezer Toledano – responsável pelos primeiros prelos de Lisboa – procedem diretamente da Espanha; 3) assiste-se, assim, na comunidade judaica de Lisboa, não a uma profícua atividade literária e a um consumo sistemático de livros, mas, precisamente, o seu contrário, como se depreende do facto das primícias da arte tipográfica portuguesa procederem de Faro, da oficina de Samuel Gacon, e não de Lisboa, em cujos prelos se publicam, preferencialmente, textos e comentários bíblicos e não obras novas; 4) finalmente, ao fundar a composição original do mencionado O livro de como se fazem as cores das tintas para iluminar, não em Portugal, mas em Espanha, na segunda metade do século XV, Metzger assegura que “jamais pu être à la disposition des enlumineurs juifs de Lisbonne” (Metzger, 1977: 6), apresentando-se, por isso, como um documento marginal no contexto da produção de iluminura hebraica naquela cidade. Permanecem em aberto, neste sentido, duas relevantes questões, além das que se referem à existência da escola de Lisboa e à apreciação da sua produção artística: por um lado, importa ainda avaliar se entre os manuscritos e os incunábulos hebraicos portugueses é possível estabelecer relações, quer quanto às tipologias dos seus caracteres (que Sed-Rajna afirma semelhantes), quer no que se refere ao programa ornamental; por outro, o significado de O livro de como se fazem as cores das tintas para iluminar no contexto da iluminura hebraica em Portugal poderá ser melhor aclarado a partir do confronto – que permanece por realizar – entre os dados revelados pela análise química ao tipo de pigmentos usados na iluminação dos manuscritos hebraicos e aqueles cuja confeção é descrita no receituário. Na década de oitenta, os estudos em torno dos manuscritos hebraicos portugueses prosseguem às mãos de conhecidos autores – Bezalel Narkiss e Gabriélle Sed-Rajna –, apondo, cada um, novos argumentos favoráveis à escola de Lisboa, que vem a ser reforçada, ainda, com originais contributos de Leila Avrin, quer analisando algumas das originais encadernações de cinco manuscritos e de um incunábulo hebraicos de Portugal, quer identificando dois novos manuscritos iluminados como pertencentes a Portugal, até então desconhecidos. Esta teoria que se tornou clássica na historiografia portuguesa foi recentemente contestada por François Soyer (Soyer, 2007). Para o autor, Portugal apresenta-se, sobretudo, como um destino de passagem e não de fixação para os judeus castelhanos, quer no reinado de D. João II, quer no de D. Manuel I, aumentando, é certo, a população judaica de Portugal com a chegada dos castelhanos, mas não em níveis que permitam uma sua influência considerável junto dos judeus portugueses ou conduzam a um fenómeno de desestabilização social capaz de tornar as perseguições de 1497 inevitáveis. 4 61 CADERNOS DE HISTÓRIA DA ARTE n.1 (2013) Bezalel Narkiss publica, em colaboração com Aliza Cohen-Mushlin e Anat Tcherikover, um catálogo dedicado aos manuscritos hebraicos, espanhóis e portugueses, iluminados, que se encontram guardados nas Ilhas Britânicas (Narkiss, Cohen-Mushlin e Tcherikover, 1982).5 O momento mais singular deste estudo situa-se no capítulo dedicado à análise de catorze manuscritos do final do século XV, provenientes de distintas zonas da Península Ibérica (La Coruña, Córdova) e Norte de África, nos quais se reconhecem evidentes afinidades estilísticas com os manuscritos portugueses, sendo a sua decoração designada, pelos autores, como “hispano-portuguesa”. Para Narkiss e suas colaboradoras, a qualidade superior da iluminura hebraica portuguesa coloca aquele grupo na dependência dos manuscritos portugueses, e não o inverso. A designação de iluminura “hispano-portuguesa” para este conjunto de manuscritos será recusada, porém, por Katrin Kogman-Appel, no seu estudo sobre as Bíblias hebraicas medievais da Península Ibérica (Kogman-Appel, 2004), que contrapõe hipótese contrária, fundada em razões de ordem cronológica e estilística: por um lado, é notória a distância temporal de produção dos dois grupos, sendo os códices datados do grupo “hispano-português” provenientes da década de 70 do século XV e os manuscritos portugueses de finais da mesma centúria; por outro, não reconhecendo a presença de elementos italianos na iluminura daquele grupo – situação que se verifica, igualmente, na iluminura hebraica castelhana –, ressalta a sua distância em relação à iluminura hebraica portuguesa onde a influência italiana é constante. Kogman-Appel sugere, por isso, que o grupo de Narkiss encontra os seus modelos na iluminura castelhana, e não na portuguesa, revelando-se imprópria, e mesmo incorreta, a terminologia “hispano-portuguesa” para o definir. Gabriélle Sed-Rajna, ao editar, em facsímile, o primeiro dos três volumes da Bíblia de Lisboa – no qual considera definir-se, integralmente, e pela primeira vez, o programa decorativo da escola de Lisboa – aborda, com novos argumentos, a problemática em torno da escola (Sed-Rajna, 1988). No estudo introdutório à edição, aos argumentos já conhecidos, a autora acrescenta que o constante programa iconográfico e as profundas semelhanças estilísticas entre os manuscritos comprovam a sua feitura, não do copista para seu próprio consumo – como era apanágio na produção do códice hebraico – mas numa escola, estavelmente organizada, com métodos idênticos e utensílios comuns, à maneira dos scriptoria cristãos. A hipótese da escola de Lisboa encontra novo argumento favorável em dois estudos publicados no mesmo ano por Leila Avrin que analisam as encadernações de alguns manuscritos e de um incunábulo hebraicos de Portugal, caracterizadas por uma original forma de caixa (Avrin, 1989a, 1989b). Segundo a autora, este tipo de encadernação surge, particularmente, nos manuscritos hebraicos portugueses, desconhecendo-se a sua prática em outros códices hebraicos, cristãos ou árabes, entre os séculos XIII e XVI. Por esta razão, Avrin considera que a encadernação em caixa da Bíblia Kennicott I (Oxford, Bodleian Library: Kenniccot I) – um dos mais interessantes manuscritos bíblicos sefarditas, com cópia realizada em La Coruña, no ano de 1476 – poderá ter ocorrido na oficina hebraica de Lisboa, hipótese, no entanto, que já recusara Bezalel Narkiss e Aliza CohenMushlin detetando este mesmo tipo de encadernação num manuscrito bíblico copiado em Toledo em 1481 (Narkiss e Cohen-Mushlin, 1985). O facto de esta tipologia se encontrar também num incunábulo hebraico de Lisboa abre a suposição da continuidade desta técnica entre os manuscritos e os incunábulos, só possível através de uma Devemos notar que esta obra essencial para o estudo dos manuscritos hebraicos portugueses guardados nas bibliotecas das Ilhas Britânicas foi recenseada, em Portugal, por Manuel Augusto Rodrigues (Rodrigues, 1983: 75-78). 5 62 CADERNOS DE HISTÓRIA DA ARTE n.1 (2013) colaboração entre os encadernadores. A Leila Avrin se deve ainda a identificação de mais dois manuscritos hebraicos iluminados de Portugal: os Aforismos Médicos de Hipócrates (Nova Iorque, Jewish Theological Seminary of America: Ms. Mic. 8241) e um siddur (Jerusalém, Ben-Zvi Institute: Ms. 2048), ao qual dedica um estudo mais demorado (Avrin, 1998). Século XXI No conjunto dos manuscritos hebraicos portugueses destaca-se, também, um pequeno núcleo aljamiado, ou seja, escrito em língua portuguesa com caracteres do alfabeto hebraico. O seu estudo esteve, particularmente, no centro das atenções de Devon L. Strolovitch, que lhes dedicou a sua dissertação de doutoramento (Strolovitch, 2005). Ao analisar o processo empreendido pelos escritores hebraicos de Portugal para produzir estes textos, Strolovitch conclui que o sistema de escrita que neles se observa, mais do que uma simples transcrição fonética, deve ser entendido como uma original adaptação da escrita hebraica ao português medieval. Esta adaptação, na sua perspetiva, não surgindo de uma assentada, apresenta-se como o resultado de um processo lento de maturação das comunidades hebraicas e revela, de forma irrefutável, a perfeita integração dos judeus na comunidade linguística portuguesa. Gerold Hilty e Colette Sirat defendem, porém, posição contrária, ao considerarem que, apesar de na sua comunicação diária os judeus se servirem do português,“l’utilisation des caracteres hébraïques peut même être interprétée comme une sorte d’automarginalisation, car les textes en caracteres hébraïques étaient illisibles pour les chrétiens” (Hilty e Sirat, 2006: 104). Desta posição nos afastamos radicalmente, pois, como atesta Strolovitch, o corpus judeoportuguês, representando uma hebraicização do português, significa, não uma autoexclusão, mas sobretudo, uma convivência da língua e da escrita no seio das comunidades judaicas de Portugal. Os mais recentes estudos em torno do assunto que nos ocupa devem-se, em especial, a investigadores nacionais – essencialmente focados na análise do receituário O livro de como se fazem as cores das tintas para iluminar –, testemunho de um despertar da consciência para a importância singular da iluminura hebraica no capítulo da história da arte tardo-medieval em Portugal. O interesse por este receituário prende-se, pois, com o facto de se apresentar como o único texto medieval português que se ocupa dos materiais e das técnicas utilizadas na iluminura, e um dos de primeira ordem no contexto da história da arte judaica. Destacamos, neste particular, o estudo de Débora Matos, apresentado como dissertação de mestrado, que analisa, não apenas aquele texto técnico, mas o inteiro volume onde se encontra, o Ms. Parma 1959 (Matos, 2011). Focando-se nos aspetos codicológicos, paleográficos e histórico-artísticos deste manuscrito, a autora conclui que este é, na sua maioria, obra de um mesmo escriba (Abraham ibn Hayyim), com cópia em Loulé, em 1462, a partir de um trabalho de compilação de material anónimo, prévio e disperso, esforço que considera poder ser, possivelmente, justificado no contexto de uma intensa produção de iluminura entre os judeus portugueses naquela centúria. Neste mesmo estudo, Matos amplia significativamente a lista de manuscritos hebraicos atribuídos a Portugal, identificando cerca de cinquenta e oito volumes, dispersos por várias bibliotecas estrangeiras, razão pela qual nem todos se encontrem perfeitamente confirmados (Tabela 4). A investigação de Débora Matos e o reconhecimento de um número considerável de manuscritos hebraicos portugueses levanta, mais uma vez, a questão da possível atividade de um centro organizado de cópia e iluminura em Lisboa, na segunda metade do século XV, que só um renovado olhar sobre aqueles manuscritos permitirá aclarar. 63 CADERNOS DE HISTÓRIA DA ARTE n.1 (2013) Bibliografia ABOAB, Immanuel – Nomologias o Discursos Legales, compostos por el virtuoso Haham Rabi Immanuel Aboab de buena memoria, estampados a costa, y despeza de sus herederos, en el año de la creación. [Amesterdão]: 5389 [1629]. AFONSO, Luís Urbano (ed.) – The Materials of the Image. As Matérias da Imagem. Lisboa: Cátedra de Estudos Sefarditas Alberto Benveniste da Universidade de Lisboa, 2011. AFONSO, Luís Urbano, CRUZ, António João, MATOS, Débora – “«O livro de como se fazem as cores»” or a medieval Portuguese text on the colours for illumination: a review. In CORDOBA, R. (ed.). – Craft Treatises and Handbooks. 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Tel-Aviv: Nahar-Miska – London: British Library, 1988. __________ – Manuscrits Hébreux de Lisbonne. Un atelier de copistes et d’enlumineurs au XVe siècle. Paris: Centre Nacional de Recherche Scientifique, 1970. __________ – Le Pautier De Bry. In Revue des Études Juives. 124 (1965), pp. 375-387. SOYER, François – The Persecution of the Jews and Muslims of Portugal. King Manuel I and the End of Religious Tolerance (1496-7). Leiden: Brill, 1997. STROLOVITCH, Devon – Old Portuguese in Hebrew Script: convention, contact and convivência. Ithaca: Faculty of the Graduate School of Cornell University, 2005. (Tese de doutoramento). TAHAN, Ilana – Hebrew Manuscripts. The Power of Script and Image. Londres: The British Library, 2007. THE HISPANIC SOCIETY OF AMERICA – Facsimiles from an Illuminated Hebrew Bible of the Fifteenth Century in the Library of The Hispanic Society of America. New York: The Hispanic Society of America – Fundação Calouste Gulbenkian, Facsimile Series, nº 2, 1993. 65 CADERNOS DE HISTÓRIA DA ARTE n.1 (2013) Tabela 1 – Manuscritos identificados por António Ribeiro dos Santos (1792) Nr 1 2 Data 1346 1410 3 1469 4 1470 5 1473 6 1480 7 1495 8 1495 Século XV 9 10 MS Cidade; Bibl. Parma, Bibl. Rossi Berna, Bibl. Pública Ident. 75 Bíblia Guarda Pentateuco com Haftarot e Megillot Profetas Posteriores Pentateuco e Haftarot Pentateuco com Haftarot e Megillot Parma, Bibl. Rossi Parma, Real Bibl. Coleção de Lindano Origem Hagiógrafos Parma, Bibl. Rossi Florença, Bibl. Carmelitas de S. Paulo Roma Conteúdo 1085 Material perg Lisboa perg Lisboa Samuel de Medina perg Lisboa Lisboa Lisboa Évora Saltério Lisboa Bíblia Lisboa 66 Comitente Samuel ben Yom Tov Pentateuco e Hagiógrafos Saltério Escriba Jason ben José Samuel de Medina Moisés ben Samuel Jacob Abravanel Isaac ben Isaías perg perg perg perg CADERNOS DE HISTÓRIA DA ARTE n.1 (2013) Tabela 2 – Manuscritos identificados por Gabriélle Sed-Rajna (1970) Nr Data MS Cidade; Bibl. Ident. Conteúdo Origem Escriba Comitente fls Mat Salomon Ibn Alzuq Joseph ben David ben Salomon Ibn Yahya 736 perg 643 perg 443 perg 309 perg 304 perg 296 perg 444 perg Abraham ben Elyahu Roman 304 perg Isaac ben Jehuda Tibuba 1 1472 Londres, British Museum 2 1482 Londres, British Museum Or. MS. 2626-2628 Bíblia Lisboa 3 1484 Paris, BnF MS. hébreu 592 Siddur Lisboa 4 1469 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 Harley MS. Mishneh Torah 5698-5699 de Maimónides Lisboa Pentateucoco Parma, Bibl. MS. Parma m Haftarot e Palatina 2764 Megillot Parma, Bibl. MS. Parma Pentateuco e 1473 Palatina 677 Haftarot Cincinnati, Pentateuco 1475 Hebrew Union MS. 2 com Haftarot e College Megillot 1490 Oxford, Balliol MS. 382 College Bíblia Roma, Pentateuco Sinagoga MS. 18 com Haftarot e Central Megillot Parma, Bibl. MS. Parma 1469 Profetas Palatina 2698 Cod. Ebr. 1495 Vaticano, BAV Saltério 473 Comentário ao MS. hébreu Pentateuco de 1484 Paris, BnF 222 Moseh Nahaman Londres, OR. MS. Sefer Mikhol de 1487 British 1045 David Qimhi Museum Comentário à Ética a Oxford, Bodl. MS. 1487 Nicómaco por Lib. Marshall 12 Joseph ben Shemtob Fim MS. hébreu Paris, BnF Bíblia séc. XV 15 Jerusalém, Fim Bibliot. MS. 12827 Hagiógrafos séc. XV Schocken NI, Hispanic Fim Society of MS. B. 241 Bíblia séc. XV America Londres, Pentateuco, Fim séc. Add. MS. British com Megillot e XV 27167 Museum Haftarot Londres, Pentateuco Fim Add. MS. British com Haftarot e séc. XV 15283 Museum Megillot 1496 Fim séc. Oxford, Bodl. MS. Bodl. 19 XV Lib. Or. 414 Bíblia Lisboa Lisboa Lisboa Lisboa Samuel ben Joseph ben Samuel Ibn Jehuda Alhakim Musa Eleazar ben Isaac ben Moshe Yeshaya Gagosh HaCohen Jacob Cohen Samuel de ben Jonah Medina Cohen Samuel de Gedalya ben Medina Joseph Walid Samuel ben Samuel Ibn Musa Jehuda ben Samuel de Gedalya Inb Medina Yahya Lisboa Lisboa Sasson ben Joseph Job 176 perg Lisboa Isaac Sarfati Moseh ben Isaac 134 perg Lisboa Joseph Sarfati ben Sasson Sarfati Jehuda Eli 305 papel Lisboa Samuel Adrotil Joseph Ibn Yahya 120 perg Lisboa Eleázar ben Moseh Gagosh 333 papel e perg [Lisboa] Florença 525 perg [Lisboa] 68 perg [EspanhaPortugal] 588 perg [Lisboa] 464 perg [Lisboa] 265 perg [Espanha ou Portugal] 67 Perg 645 CADERNOS DE HISTÓRIA DA ARTE Fim Cod. Ebr. Vaticano, BAV séc. XV 463 Jerusalém, Fim MS. Heb. 8º 21 Bibliot. séc. XV 844 Universitária 20 22 Fim Oxford, Bod. séc. XV Lib. MS. Bodl. Or. 614 23 Fim NI, Coleção J. Saltério de séc. XV Michael Bry n.1 (2013) Saltério [Lisboa] 218 perg Siddur [Lisboa] 392 perg 253 perg 196 perg Pentateuco Saltério [Espanha ou Portugal] [Espanha ou Portugal] 68 CADERNOS DE HISTÓRIA DA ARTE n.1 (2013) Tabela 3 – Manuscritos identificados por Thérèse Metzger (1977) Nr Data MS Cidade; Bibl. Ident. Conteúdo Origem 1 1472 Londres, British Harley MS. Mishneh Torah Museum 5698-5699 de Maimónides 2 1482 Londres, British Or. MS. Museum 2626-2628 Bíblia Lisboa 3 1484 Paris, BnF MS. hébreu 592 Siddur Lisboa 4 1469 Parma, Bibl. Palatina MS. Parma 2764 5 1473 Parma, Bibl. Palatina 6 1475 Cincinnati, Hebrew Union College MS. 2 Pentateuco com Haftarot e Megillot Lisboa 7 1490 Oxford, Balliol College MS. 382 Bíblia Lisboa 8 1496 Roma, Sinagoga Central MS. 18 Pentateuco com Haftarot e Megillot Lisboa 9 1469 Parma, Bibl. Palatina MS. Parma 2698 Profetas Lisboa 10 1495 Vaticano, BAV Cod. Ebr. 473 Saltério Lisboa Pentateucocom Haftarot e Megillot MS. Parma Pentateuco e 677 Haftarot Lisboa Lisboa Lisboa Escriba Joseph ben Salomon David ben Ibn Alzuq Salomon Ibn Yahya Samuel Joseph ben ben Jehuda Samuel Alhakim Ibn Musa Eleazar Isaac ben ben Moshe Yeshaya Gagosh HaCohen Jacob Cohen Samuel de ben Jonah Medina Cohen Samuel de Gedalya ben Medina Joseph Walid Samuel ben Samuel Ibn Musa Jehuda ben Samuel de Gedalya Inb Medina Yahya Abraham ben Elyahu Roman Isaac ben Sasson ben Jehuda Joseph Job Tibuba Isaac Moseh ben Sarfati Isaac Joseph Sarfati ben Jehuda Eli Sasson Sarfati Samuel Joseph Ibn Adrotil Yahya Comentário ao Pentateuco de Paris, BnF Lisboa Moseh Nahaman Londres, British OR. MS. Sefer Mikhol de Lisboa Museum 1045 David Qimhi Comentário à Eleázar Oxford, Bodl. MS. Marshall Ética a Nicómaco Lisboa ben Moseh Lib. 12 por Joseph ben Gagosh Shemtob MS. hébreu [Lisboa] Paris, BnF Bíblia 15 Florença Jerusalém, Bibliot. Schocken MS. 12827 Hagiógrafos [Lisboa] MS. hébreu 222 11 1484 12 1487 13 1487 14 Fim séc. XV 15 Fim séc. XV 16 Fim séc. XV 17 Fim séc. Londres, British XV Museum 18 Fim Londres, British séc. XV Museum 19 Fim séc. Oxford, Bodl. XV Lib. NI, The Hispanic Society of MS. B. 241 America [EspanhaPortugal] Bíblia Pentateuco, com Megillot e [Lisboa] Haftarot Pentateuco, com Add. MS. Haftarot e [Lisboa] 15283 Megillot [Espanha MS. Bodl. Bíblia ou Or. 414 Portugal] Add. MS. 27167 69 Comitente fls Mat 736 perg 643 perg 443 perg 309 perg 304 perg 296 perg 444 perg 304 perg 176 perg 134 perg 305 papel 120 perg 333 papel e perg 525 perg 68 perg 588 perg 464 perg 265 perg 645 perg CADERNOS DE HISTÓRIA DA ARTE Fim Vaticano, BAV séc. XV Jerusalém, Fim 21 Bibliot. séc. XV Universitária 20 Cod. Ebr. 463 Saltério [Lisboa] 218 perg MS. Heb. 8º 844 Siddur [Lisboa] 392 perg 253 perg 196 perg 22 Fim MS. Bodl. Oxford, Bod. Lib. séc. XV Or. 614 23 Fim séc. XV 24 25 26 NI, Coleção J. Michael 14801490 14621480 Saltério de Bry Ms. Can. Or. 108 Parma, Bibl. MS. Parma Palatina 2951 Copenhaga, Bibl. Cod. Hebr. Real III-IV 1485 Oxford, Bod. Lib. n.1 (2013) Pentateuco Saltério [Espanha ou Portugal] [Espanha ou Portugal] Siddur [Lisboa] 318 perg Pentateuco (frag.) [Lisboa] 53 perg Bíblia [Lisboa] 70 perg CADERNOS DE HISTÓRIA DA ARTE n.1 (2013) Tabela 4 – Manuscritos identificados por Débora Matos (2011) Nr 1 2 3 4 5 6 7 8 Data MS Conteúdo Cidade; Bib. Ident Oxford, Bod. Can. Or. 67 Gramática Lib. 1411 Oxford, Bod. Lib. Laud. Or. 310 Ciências 10 13911415 Oxford, Bod. Lib. Bodl. Or. 5 Liturgia 12 13 14 15 Escriba Comitente Yitzhak Yosef Zarco Natan ben Munich, Avraham b. 1284-85 Muenchen Heb. 142 Gramática Seia Yosef Bayerische Sta. Alalongo(?) Yosef bem Yizhak ben Isaac haLevi Parma, Bibl. Comentário 1346 Parma 2705 Guarda Yosef b. Yosef ibn Palatina bíblico Delouiah/Dalv Turiel iah Sar Shalom S. Petersburgo, Santiago do 1374 C 21 Ciências ben Moshe Or. Institute Cacém (?) Shalom Melion Halakhah e 1390 NI, JTS Rab. 1512 Setúbal (?) midrash Yosef ben Filosofia e Torres Para si 1398 Paris, BnF Hebr. 215 Gedaliah Cabala Vedras próprio Franco 1401- Coimbra, Bibl. 135 Bíblia Abravanel (?) 1450 Univ. Samuel ben Berna, Yom Tov 1409 Bugerbibliothe 343 Bíblia Lisboa Moisés… Alzaig k 1278 9 11 Origem Lisboa Lisboa (?) Yosef ben Gedaliah Franco Samuel ben Yom Tov Alzaig Abraham ibn Hayyim 1423- Parma, Bibl. Parma 1959 Compilação Loulé 1488 Palatina 1451Cod. Vat. Vaticano, BAV Ciências Yosef Catilan 1500 Ebr. 372 Cod. Hebr. III-IV. Vol. San Felices 1462- Copenhaga, II = Hebr. Bíblia [de los Isaac Franco 1480 Royal Library IV; fols. Galegos] 221v-222r Micr. 8235; 1465Jerusalem NI, JTS Liturgia [Portugal] 1492 Rab. Sasson Coll. 59 1465- Cambridge, Add. 541 Liturgia [Espanha] 1492 Univ. Lib. 16 1467 Haverford Coll. Hav. 10 Bíblia Elvas 17 1469 Parma, Bib. Palatina MS. Parma 2674 Bíblia Lisboa 18 1469 Parma, Bib. Palatina MS. Parma 2698 Bíblia Lisboa 19 1470 Oxford, Bod. Lib. Can. Or. 42 Bíblia Moura 71 Yitzhak Nehemia(s) Para si próprio Para si próprio fls Mat 234 perg 202 perg 263 perg 151 perg e papel 167 papel 271 perg perg 46 perg 251 papel 85 perg 211 papel 92 papel perg (?) 225 Moshe ben Avraham 2 Caldas Jacob Cohen Samuel de ben Johan 309 Medina Cohen Isaac ben Sasson ben Jehuda 176 Joseph ibn Job Tibuba Samuel b. Yitzhak ben Avraham Gabbay Altires Samuel Alfaroni (?) perg perg perg perg perg perg CADERNOS DE HISTÓRIA DA ARTE 20 1472 Londres, British Museum 21 1473 Parma, Bib. Palatina 22 1473 Rússia, Moscovo 23 1475 NI, JTS 24 1475 Cincinatti, HUC 25 26 Parma, Bib. Palatina 1476 28 1478 Jerusalém, NLI 29 1480 14801485 14801485 14801485 31 32 33 34 35 36 37 38 Bíblia Lisboa MS. Parma 677 Bíblia Lisboa Guenzburg Compilação 926 Lisboa 3167 Literatura e poesia Lisboa 2 Bíblia Lisboa 1475- Oxford, Bod. Bodl. Or. 614 Bíblia 1492 Lib. 1475- NI, J. Michael Saltério de Saltério 1492 Coll. Bry 27 30 Harley 56985699 14801485 MS. Parma 1712 Ezra ben Shlomo Moshe ben Avraham Hayyun Yoseph ben Moshe Hayyun Samuel b. Moshe ben Samuel ibn Raphael Musa perg perg 176 papel 11 papel 239 perg perg [Espanha] perg Bíblia Lisboa Ciências Leiria Bíblia [Lisboa] [EspanhaPortugal] Samuel b. Samuel ibn Musa 272 perg 229 perg Paris, BnF Hebr. 8º 4013 Hébr. 15 NI, HSA B 241 Bíblia Add. 27167 Bíblia [Lisboa] perg Add. 15283 Bíblia [Lisboa] perg Bíblia [cop. Espanha ?; dec. Lisboa] perg Bíblia [Lisboa] perg Liturgia [Lisboa] perg Bíblia [Lisboa] perg Bíblia [Lisboa] perg Londres, British Lib. Londres, British Lib. Oxford, Bod. Bodl. Or. 414 Lib. 1480Cod. Vat. Vaticano, BAV 1485 Ebr. 463 1480Jerusalém, NLI Heb. 8º 844 1485 1480ENA 1991 – NI, JTS 1485 L 80 1480Jerusalém, 12827 1490 Schocken Inst. 1480- Parma, Bibl. MS Parma 1490 Palatina 2951 Cambridge UL Add. 503 Halkhah e midrash Faro 40 1482 Londres, British Museum Or. 26262628 Bíblia Lisboa 41 1484 Paris, BnF Hébr. 592 Liturgia Lisboa 42 1484 Paris, BnF Hébr. 222 Comentário Bíblico Lisboa Liturgia Lisboa Oxford, Bod. Can. Or. 108 Lib. Jerusalém, Ben-Zvi 44 1484-96 Ms. 2048 Institute perg perg. Bíblia 1481 14841485 Yoseph ben Salomon Ibn David ben 737 Alzuq Gedaliah ibn Yahia Gedalya ben Samuel de Joseph Walid 304 Medina [Espanha] 39 43 n.1 (2013) Liturgia Samuel bem Samuel ibn Musa 53 perg Efraim Karo 389 papel Joseph ben Jehuda Alhakim Isaac ben Eleazar ben Yeshaya Moshe Gagosh HaCohen Yoseph ben Yehuda ben Sasson Sarfati Moshe Eli 643 perg 443 perg 305 papel 300 perg perg 72 CADERNOS DE HISTÓRIA DA ARTE Londres, British Or. 1045 Gramática Museum Oxford, Bod. Marshall Or. Filosofia e Lib. 12 cabala 45 1487 46 1487 47 1489 Paris, BnF Hébr. 420 Halakhah e Midrash Faro 48 1489 Londres, British Libr. Or. 6363 Halakhah e Midrash Lisboa 49 1489 Ciências, Florença, Bibl. Plut. 88.27 Filosofia e Laurenziana Cabala Lisboa 50 Oxford, Balliol 1490 College 51 14911494 52 1494 53 1495 Vaticano, BAV Cod. Vat. 473 54 1496 55 1496 56 1496 57 58 382 Bíblia Zurich, Braginsky (Coleção Privada) 243 Bíblia Aberdeen, UL 23 Bíblia Lisboa Lisboa Lisboa Yoseph ibn Yahya Eleazar ben Moshe Gagosh Menshe(?)/ Yakov ibn Moshe ben Nehemias Benyamin Nacim ben Samuel Adrotil Yoseph Vivas Nacim ben para si Yoseph vivas próprio Samuel de Medina Yehuda ben Gedalya ibn Yahya 120 perg 232 papel 418 papel 71 perg e papel 3 perg e papel 442 perg Ocana Yitzhak ben Abraham ben (Espanha) e Yishay ben Yaakov ben Évora Sasson Tsadok Yitzhak ben David Balansi Bíblia Lisboa Florença, Bibl. Gadd. 158 Laurenziana Ciências Porto Rússia, Guenzburg Moscovo, RSL 662 Bíblia Lisboa (?) Bíblia Lisboa Roma, Comunidade 18 Israelita NI, JTS Micr. 8241 Jerusalém, MS. 24350 Schocken Inst. Samuel Adrotil n.1 (2013) Ciências Bíblia 73 Joseph ben Jaakov Alvileia Isaac Sarfati (?) Moshe ben Yitzhak Yosef ben para si Avraham 242 próprio Clomiti Samuel ben Avraham ibn Samuel ibn Dicomin/Ric Musa omin (?) Abraham bem Elyahu Roman perg perg papel perg