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aeroPortoS atraeM grandeS PlayerS Pela alta rentaBIlIdade
Ano L - Dezembro 2011/Janeiro 2012 - Nº 504 - R$ 12,00
www.revistaoempreiteiro.com.br
Concessões
Aeroportos Atraem
grandes players
pela alta rentabilidade
Macrometrópole
SP não resolve obras urgentes
mas já divulga plano para 2040
Mercado: Indicadores mostram construção à frente do PIB
Sumário
Editorial
5 O exemplo inglês na gestão e uso de TI nas obras da Olimpíada
Fórum de Engenharia
6 Barra do Furado terá primeiro estaleiro
Dimensões
12 Obras da transposição. O bispo disse que não ia dar certo
Foto: Epitácio Pessoa/AE
20
Política
14 O efeito contaminante das maçãs podres
Newsletter Global
16 Obras e tecnologias serão destaque na publicação eletrônica
Empresas de Engenharia do Ano
20 A premiação, a festa e uma reflexão sobre o crescimento brasileiro
Cenário da Construção
24 Indicadores sinalizam crescimento sustentável
Engenharia Consultiva
30 Copa e Olimpíada reforçam debate em favor de projeto e qualidade
36
Luiz Guarnieri/AE
32
Aeroportos
32 Concessões em SP e Brasília atraem interessados pela alta rentabilidade
O suplício dos viajantes frequentes
Tecnologia da Informação
35 Teckma investe em novo sistema de gestão
Macrometrópole
36 São Paulo não conclui os planos que tem, mas já projeta outro para 2040
Uma promessa de luz no fim do túnel
Integração é desafio nas ações governamentais
Metrô prevê expansão apesar de prováveis contratempos
É preciso dobrar capacidade de tratamento de esgoto até 2018
Parar de errar já para que plano futuro tenha crédito
Concreto Pré-fabricado
58 Empreendimentos na Grande BH utilizam a tecnologia em larga escala
Tecnologia da Informação
60 Contratante solicita projeto executivo de edificação em BIM
Rodovias | Pedágio
62 Free Flow necessita de arcabouço legal
Pavimentação
64 Aplicação de mistura asfáltica morna no pavimento da Via Dutra
Sustentabilidade | Amazônia
70 Explorar e crescer, mas preservar a floresta: o dilema amazônico
Embrapa à frente para conservar a variedade de espécies
Vanguarda na sustentabilidade conquista o consumidor
Couro ecológico cria novo ciclo da borracha na Amazônia
70
Capa: Airbus A380, maior avião comercial de passageiros do mundo. Pelo menos
uma companhia aérea já solicitou autorização para utilizá-lo no Brasil. Trata-se
de mais uma adequação da engenharia que os aeroportos brasileiros deverão
fazer no futuro próximo: o tráfego de aeronaves de grande porte.
Foto: Christian Charisius / Reuters
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a todos os segmentos da indústria de construção
imobiliária e industrial, e os setores público e privado de
infraestrutura, obras de transporte, energia, saneamento,
habitação social, telecomunicações etc.
O público leitor é formado por profissionais que atuam
nos setores de construção, infraestrutura e concessões:
construtoras; empresas de projetos e consultoria; montagem
mecânica e elétrica; instalações; empresas que prestam
serviços especializados de engenharia; empreendedores
privados; incorporadores; fundos de pensão; instituições
financeiras; fabricantes e distribuidores de equipamentos e
materiais; órgãos contratantes das administrações federal,
estadual e municipal.
O canteiro das obras de Londres, seguindo o ritual do cronograma e
até as antecipando, e as obras da Transposição do rio São Francisco,
seguindo o ritual brasileiro dos atrasos e até do abandono
Auditorado pelo:
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Diretor Responsável: Joseph Young
4 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012
Foto: Wilson Pedroso/AE
Editorial
O exemplo inglês na gestão e
uso de TI nas obras da Olimpíada
Neste começo de 2012, a análise do balanço do final
3 - O Parque Olímpico foi dividido em 300 áreas sob
de 2011 mostra que os números de crescimento do PIB responsabilidade das empreiteiras principais, coordenadas
foram pífios nos 3º e 4º trimestres, com economistas du- pela CLM, que inclui as obras civis, segurança no trabalho,
vidando que a taxa anual alcance os 3%. A redução dos controle de acesso e outras responsabilidades;
investimentos do governo federal, com a justificativa da
4 - A logística do parque também é coordenada pela
necessidade da preservação dos gastos correntes da má- CLM;
quina política e administrativa, que não param de subir,
5 - 10 mil pessoas trabalharam nas obras do parque e
foi um dos motivos desse fraco desempenho.
outras 10 mil trabalharam na vila olímpica (hospedagem
Na busca dos culpados por essa performance ruim e dos atletas), sendo 20% contratados na região de East Lonimprevista, alegou-se que a gestão do PAC está emperra- don; houve apenas dois acidentes fatais durante as obras,
da no Ministério do Planejamento, cogitando-se até que ambos causados por doença;
ela deva ser deslocada para Casa Civil. Pura pirotecnia
6 - 10 mil pessoas trabalharam nas empresas forpara efeito público, se na essência as decisões políticas necedoras, sendo 70% locais (das regiões da Grande
estão paralisadas pelo fluxo
Londres, Essex e Kent);
interminável de denúncias
7 - Um site com webODA – Olympic Delivery Authority
de práticas antiéticas – para
cams
que mostra imagens
Responsável pela infraestrutura de Londres 2012
sermos diplomáticos. Foi-se
das obras 24 horas por dia,
dada prioridade às despesas
cronogramas atualizados
Consórcio CLM
correntes e não aos invesem tempo real, com avisos
Responsável pela gestão dos projetos e obras
timentos. Portanto, não
de licitações próximas e os
adianta mudar de gestor.
vencedores das concorrên
Tier
1
(contratados)
Tiers
2
e
3
Fora da arena minada
cias realizadas; quem faz
96 fornecedores
(subcontratados)
da política, há ainda duas
o quê; programas de mo e empreiteiras
869 empresas
questões insolúveis: os mibilização das comunidades
nistérios carecem de provizinhas que inclui visitas
fissionais experientes em
regulares ao parque;
gestão de programas e projetos e há poucos investi8 - Uma agência já estabelecida vai herdar todo o parmentos em TI — softwares de gestão que existem nas que e operá-lo depois dos Jogos, com £ 1 bilhão reservado
prateleiras do mercado, em uso há anos no setor priva- para as obras de ajuste e adaptação com vistas às necesdo no Brasil e em outros países, que podem ser imple- sidades da população.
mentados a médio prazo. Existe também a alternativa
Resumindo: o povo britânico mostrou que além de ser
de se contratar empresas privadas especializadas em pontual é capaz de separar a política de governo da polígestão de programas. Mas, aí é preciso afastar os po- tica da execução dos projetos. O Parque Olímpico recebe
líticos que não querem largar o “osso” e dizem que só retoques finais e já realiza jogos-teste nas arenas esporsaem “se forem abatidos a tiro”.
tivas, simbolizando a competência da engenharia britâniVejamos o exemplo do Parque Olímpico de Londres, ca. Já o governo britânico continua criticado em política
coordenado pela ODA - Olympic Delivery Authority, que econômica e no modo de combater o déficit público e se
deixou 95% do parque pronto um ano antes da data ofi- prepara para uma nova recessão provocada pela zona do
cial da Olimpíada de 2012. A estrutura é até simples de euro — cenas déjà vu em muitos países.
entender:
Com a nossa opinião sobre o exemplo de Londres no
1 - A cliente ODA instrui uma empresa de geren- tratamento de obras para eventos internacionais desse
ciamento — CLM, consórcio formado pela CH2M Hill, tipo, fechamos o ano de 2011 e abrimos a revista para
Laing O’Rourke e Mace;
2012, na expectativa, externada aos nossos leitores,
2 - CLM coordena 96 fornecedores e empreiteiras anunciantes e amigos, da continuidade do crescimento
chamadas Tier 1 e monitora 869 contratados chamados brasileiro e da garantia que a Engenharia e a Construção
Tiers 2 e 3, considerados também críticos;
podem proporcionar ao Brasil com esse fim.
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Fórum de Engenharia
Barra do Furado terá primeiro estaleiro
A BR Offshore vai investir R$ 450 milhões na construção do
Terminal de Serviços e Logística da Barra do Furado (TSLBF), no
Canal das Flechas, Barra do Furado, entre os municípios de Campos dos Goytacazes e Quissamã, no norte do Estado do Rio de
Janeiro. O empreendimento será construído dentro do Complexo
Logístico e Industrial Farol - Barra do Furado, envolvendo os dois
municípios, com o apoio dos governos estadual e federal, para a
instalação de empresas do setor de óleo e gás.
O TSLBF terá um estaleiro de reparos navais direcionado para
as embarcações de apoio offshore e uma base de apoio marítimo, com áreas para instalação de empresas do segmento de
óleo e gás. As obras do empreendimento, que será o primeiro do
complexo, deverão ser iniciadas em abril de 2012. A previsão é
que já esteja operando até o final de 2013.
O crescimento das atividades de perfuração e exploração na
Bacia de Campos tem criado gargalos logísticos importantes,
com a sobrecarga dos portos hoje utilizados para apoio offshore,
gerando custos significativos nas operações de logística para as
plataformas.
As obras de dragagem do Canal das Flechas, bem como o
aumento dos moles necessários para a proteção da entrada do
Canal das Flechas têm o apoio do Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC) e estão sendo realizadas pelo Consórcio Terra e
Mar, formado pelas empresas Odebrecht, Queiroz Galvão e OAS. A
previsão é que sejam concluídas ainda em dezembro de 2012.
O terminal terá capacidade de atracação para até 10 embarcações, e contará com moderno sistema de docagem e transbordo,
além de um armazém alfandegado, áreas de estocagem de líquidos e granéis, e ainda uma estação de passageiros e um heliporto.
O estaleiro de reparos navais contará com o maior shiplift
(elevador de embarcações) no Brasil, com a capacidade de
içamento de embarcações com até 6 mil t, e na primeira fase
poderá docar simultaneamente, em seco, até quatro navios.
O empreendimento BR Offshore deverá gerar cerca de 1 mil
empregos diretos e cerca de 2 mil indiretos. Apenas durante as
obras, cerca de 600 pessoas devem ser empregadas. Em todo o
Complexo Logístico e Industrial Farol – Barra do Furado deverão
ser gerados entre 5 mil e 8 mil empregos.
Mercado de máquinas em crescimento
As vendas de máquinas e equipamentos para o setor da construção e obras de infraestrutura no Brasil deverão ter um crescimento
de 18% neste ano, em comparação a 2010, de acordo com estudo do
mercado de equipamentos para construção, da Associação Brasileira
de Tecnologia para Equipamentos e Manutenção (Sobratema).
Para 2012, a previsão é de um crescimento de apenas 5%. “A queda se deve, basicamente, a uma estimativa de diminuição nas vendas
de caminhões no próximo ano”, explica Brian Nicholson, consultor
econômico da entidade.
Segundo ele, o resultado obtido em 2011 está ligado ao fato
de que os empresários anteciparam as compras de caminhões
– segmento que teve crescimento de 27%, frente a 2010. E isso
aconteceu em função da mudança na legislação ambiental prevista,
com alterações nos motores e perspectiva de aumento no preço dos
veículos.
Além do forte crescimento nas vendas de caminhões (que representam mais de 50% do volume de vendas de equipamentos para o
setor da construção), foi registrado também um aumento de 113%
nas vendas de miniescavadeiras.
Atualmente, o índice de participação das máquinas importadas,
na chamada linha amarela, basicamente composta por equipamentos
de terraplanagem, chega a 29% do total comercializado no Brasil. De
acordo com Nicholson, esse percentual deve ser o ponto mais elevado
de participação no setor, uma vez que grande parte dos equipamentos hoje importados passará a ser produzida no País nos próximos
anos.
Combate à dengue em canteiros de obra
A Atlas Copco lançou sua nova linha de geradores, com um diferencial: o
chassi é 100% vedado e dispensa o uso da bandeja de retenção, o que ajuda a
eliminar foco do mosquito da dengue em canteiro de obra.
“A vantagem, da solução, é enorme. Tanto assim, que buscamos assegurar
este diferencial para nossos clientes com um projeto que foi auditado pelo
Bureau Veritas”, afirma Fernando Groba, business line manager da Atlas Copco
Portable Energy Division.
Com o fim do uso das bandejas de retenção, não só é possível diminuir os
focos do mosquito da dengue, como também evitar contaminações de óleo nos
solos e, consequentemente, a contaminação de lençóis freáticos. Essa tecnologia também conta com outros diferenciais, dentro do conceito de produtividade
sustentável, como o baixo consumo de óleo diesel, com autonomia de 12 horas,
e o baixo nível de ruído.
6 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012
Fórum de Engenharia
Obra trata de atualização das normas
De olho em térmicas e hidrelétricas
A Skanska Brasil estuda investimentos em termoelétricas e hidroelétricas. A proposta é projetar, construir, entregar e fazer a manutenção.
A empresa sueca já tem experiência no País em ambas áreas.
A companhia foi responsável pela construção e montagem da
central termoelétrica Euzébio Rocha, em Cubatão (SP), da Petrobras.
Atualmente, está desenvolvendo projeto de térmica a gás de 500 MW
em Seropédica (RJ), também para a Petrobras. As obras ainda não
iniciaram, mas a usina de energia deverá ficar pronta em 2014. Na
térmica de Seropédica, a Skanska fará do projeto básico a montagem
do empreendimento.
No campo de hidroelétricas, a Skanska construiu a Central
Hidrelétrica Ponte de Pedra, localizada no rio Correntes, que divide os
estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Atualmente, ela opera
e faz manutenção da usina.
“O Brasil tem muita capacidade de investimentos. Essa nova crise
financeira mundial tem mostrado isso. A matriz está atenta e acredita
que o País possui potencial de expansão para os próximos cinco
anos”, avalia Nelson Branco, country manager da Skanska Brasil.
A empresa ainda estuda participar de parceria público-privada
(PPP) na área de hospitais — a empresa tem grande expertise internacional no setor, que é assunto ainda novo no País.
Em 2012, a Skanska comemora 10 anos de Brasil e 125 anos de
criação. A empresa pretende alcançar 6 mil funcionários em breve –
atualmente, são 4.800.
Doosan escolhe Americana (SP)
para sua primeira fábrica
A empresa WTorre anunciou, em dezembro último, o início
da construção da primeira fábrica da Doosan na América Latina.
Com investimento de R$ 80 milhões, a fábrica está sendo implantada em Americana, no interior de São Paulo.
As instalações da Doosan, maior conglomerado sul-coreano de
máquinas e equipamentos, ocuparão um terreno com 200 mil m2,
dos quais 30 mil m2 são de área útil. Lá serão produzidas escavadeiras para construção civil e outros equipamentos de menor porte.
“Para a montagem da linha de produção, a Doosan deve investir outros R$ 200 milhões”, diz Sérgio Lindenberg, da WTorre Engenharia.
A fábrica terá um galpão principal, duas portarias, um
edifício para área administrativa da empresa e mais seis galpões
de apoio. Graça ao emprego do sistema de construção com prémoldados, a planta deverá ser concluída em abril de 2012.
8 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012
O livro “Concreto Armado – novo
milênio, cálculo prático e econômico”
(editora Interciência; 206 páginas), dos
engenheiros Francisco Xavier Adão e
Adriano Chequetto Hemerly, é referência
em projetos estruturais, com prescrições
atuais das normas brasileiras sobre o
assunto.
Fruto da larga experiência no tema
dos autores da obra, a combinação do
concreto com armadura de aço foi uma
revolução no mercado quando chegou
há mais de um século. O Brasil adotou a
técnica em larga escala. Com o tempo,
foi recebendo injustamente a pecha de
pouco confiável por alguns, fruto do
emprego de baixa qualidade de materiais
por gananciosas. Mas continuou sendo
usado maciçamente em obras pelo País afora.
Xavier Adão já escreveu dois livros sobre concreto armado há
cerca de 20 anos. Agora, com este novo livro, faz uma espécie de
revisão sobre o assunto, mostrando os avanços de performance nos
últimos tempos conquistada pela técnica. Nesse aspecto, ressaltamse alguns fatores, detalhados no livro, como preponderantes para o
desenvolvimento do concreto armado: o avanço dos cálculos estruturais – principalmente com o advento dos programas em AutoCAD — e
do concreto de alto desempenho.
O livro aborda ainda de forma didática a aplicação da técnica em
lajes, vigas, pilares, fundações, muros de contenção, além dos prémoldados. Um exercício de boas e modernas práticas para difundir
a extraordinária capacidade do concreto armado de vencer altas
resistências à compressão e também de se manter durável por muito
tempo.
Paranasa participa do projeto Eldorado
A Paranasa executa desde maio as obras civis das unidades de
tratamento de água e de efluentes industriais, captação de água
bruta e estação de tratamento de efluentes da caldeira, da Eldorado Celulose Papel, considerada a maior fábrica de celulose de fibra
curta do mundo em uma única linha.
O empreendimento, localizado na BR-158, km 231, a 45 km do
município de Três Lagoas (MS), prevê um investimento estimado
de R$ 4,5 bilhões e alia a adoção de avançadas tecnologias com
uma gestão de projeto focada na sustentabilidade dos processos
industriais e florestais. O contrato tem previsão de conclusão em
outubro de 2012.
“Para a Paranasa é muito importante estar presente em
um empreendimento desse porte, num setor onde temos vasta
experiência e onde poderemos dar nossa efetiva colaboração nos
aspectos de qualidade e prazo de construção”, destaca Rommel
Curzio, dirigente comercial da construtora.
A construtora utilizará, no pico dos serviços, 1.200 colaboradores, dando sempre preferência aos trabalhadores locais, contribuindo para desenvolvimento da região.
Fórum de Engenharia
Usiminas Mecânica investe
R$ 50 milhões em unidade
A Usiminas Mecânica, empresa de bens de capital do grupo
Usiminas, inaugurou, em dezembro último, sua linha de moldagem
automática de fundição, com investimento de R$ 50 milhões. Localizada em Ipatinga (MG), a linha fabricará truques para vagões e outros
componentes fundidos (engates, braçadeiras, hastes de ligação etc.),
além de peças seriadas para os segmentos industrial e de mineração.
A nova linha de fundição, com 4 mil m² de área, amplia a capacidade de produção da Usiminas Mecânica de 24 mil t/ano para 41
mil t/ano de aço e, ao dotá-la de um novo patamar tecnológico, traz
perspectivas de negócios para a empresa. Com um mercado cada vez
mais aquecido, a Usiminas Mecânica se prepara para iniciar o ano de
2012 com uma carteira superior a 700 vagões.
Dentre as vantagens do processo automatizado de moldagem está o menor custo operacional e a estabilidade do processo. “Estamos modernizando nossas operações para oferecer ao
cliente um produto com mais qualidade e valor agregado”, afirma
Guilherme Muylaert, diretor executivo da Usiminas Mecânica. Os
operadores da Usiminas Mecânica foram capacitados em treinamentos realizados na Alemanha e na Itália.
A sustentabilidade é também uma das premissas do processo
produtivo, uma vez que não são gerados resíduos. Da areia utilizada
nos moldes, 85% será reaproveitada - após passar por recuperador
de areia de última geração. Os outros 15% serão destinados para
coprocessamento. Além disso, 100% da sucata metálica retornam
para o forno de fusão. A Usiminas Mecânica recebeu o certificado ISO
9001, do Bureau Veritas Certification (BVC), pela unidade de fundição
e fábrica de vagões.
Agradecimentos edição 502 (outubro/ 2011)
“Empresas Engenharia do Ano”
Parabéns a toda equipe pelo evento e coquetel. Realmente foi
muito bom — Antônio de Pádua Pereira — Grupo A.R.G.
Em nome de toda a diretoria da TKK, gostaria de parabenizá-los
e agradecer pelo evento de lançamento da revista. A publicação
ficou excelente, com uma qualidade impar de edição, reportagens e
fotografias. Obrigado pela oportunidade que nos foi concedida de
participar desta tão esperada edição — Rodrigo Kifer Amorim — TKK
Engenharia
10 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012
Edra do Brasil intensifica
participação em óleo e gás
A Edra do Brasil, especializada na produção de tubos, reservatórios, tanques de transporte rodoviário e peças especiais, com 37 anos
de atividades, anuncia que pretende intensificar sua participação em
setores como óleo e gás, industrial e saneamento básico.
Para 2012, prevê o lançamento de um novo produto – tubos de
grande diâmetro –, cuja produção vai exigir investimento em uma nova
planta industrial, que terá capacidade produtiva de 200 km de tubos de
grande diâmetro, destinados especificamente para saneamento.
A nova fábrica permitirá um crescimento de 25% a 30% da
capacidade produtiva total da empresa. Arnaldo Gatto, gerente de desenvolvimento da empresa, informa que serão investidos cerca de R$
15 milhões na construção e na aquisição de equipamentos da nova
planta. “O principal diferencial dessa fábrica é seu elevado grau de
automação, que reduzirá o consumo energético, tornando o processo
produtivo muito mais vantajoso”, informa.
A Edra traz no seu histórico o importante marco de ter sido a
primeira empresa a receber a certificação ISO 9001, no segmento de
materiais compósitos. Entre as obras das quais participou, destaca o
fornecimento, instalação e construção do maior projeto de fertiirrigação do Brasil, em regime de turnkey, para 15 unidades do grupo
Raízen e para o grupo Pöyry Brasil.
Equipamentos da Terex
são usados na Amazônia
A Comissão de Aeroportos da Região Amazônica (Comara) adquiriu quatro equipamentos da Terex com o objetivo de
otimizar os recursos e tempo disponíveis para a execução de
suas obras, sendo duas recicladoras/estabilizadoras de solo, uma
pavimentadora de concreto e um vibro acabadora de asfalto.
As recicladoras/estabilizadoras de solo, modelo RS 425C, que
foram utilizadas pela Comara, pela primeira vez, em setembro de
2010, em Alcântara (MA), atualmente, encontram-se em Yauaretê
(AM). O transporte dos equipamentos foi feito por empurradores e
balsas construídos pela Comara, com dimensões específicas para
executar a condução de insumos em rios que são navegáveis em
um período curto do ano.
A pavimentadora de concreto Terex, modelo SF 2204, que
também está trabalhando na obra de Yauaretê, foi projetada
para maximizar a eficiência da operação. Já a vibro acabadora de
asfalto, modelo VDA 400, atualmente encontra-se aguardando
pela sua próxima missão no Destacamento de Apoio à Comara em
Manaus (AM), depois de executar diversos serviços no município
de Barcelos (AM).
Erratas edição 502 (outubro/2011)
Com relação à menção na página 77 sobre a sede da Petrobras, em
Vitória (ES), a revista O Empreiteiro informa que a CEC Cia de Engenharia Civil é autora exclusiva do projeto estrutural do empreendimento.
Na página 68, no entretítulo “Certificações”, a empresa foi certificada pela Rina e não BVQI, como mencionada.
Na página 139, na relação das instalações do terminal em destaque, o correto é “Virador de vagões”.
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Dimensões | Nildo Carlos Oliveira
Obras da transposição. O bispo disse que não ia dar certo
A Paulista no quadro de Jules Martin
A avenida imortalizada no desenho de Jules Martin, há 120 anos. Ele
faz parte do álbum do arquiteto Benedito Lima de Toledo, utilizado por
Edison Eloy de Souza, no livro ora em circulação
12 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012
Uma visão do abandono: as
placas de concreto estouram
sob o sol sertanejo
Foto: Wilson Pedrosa/AE
Não foi, portanto, por falta de aviso. E, pelos relatos que nos
chegam, as obras, como estão, podem resultar em consideráveis
prejuízos para o bolso dos contribuintes. E para o velho Chico.
Na época da análise dos estudos que previam a construção da
Transposição do Rio São Francisco, as advertências afluíram de todos
os lados. Mas a que pegou mais pesado mesmo foi a do bispo Frei
Luiz Cappio, que até fez greve de fome, na tentativa de impedir que
os serviços começassem.
O projeto, polêmico desde fins do Império, foi elaborado para,
teoricamente, beneficiar o Nordeste setentrional, assegurando a
oferta de água, para abastecimento humano, a cerca de 12 milhões
de habitantes de 390 municípios dos estados de Pernambuco, Ceará,
Paraíba e Rio Grande do Norte, até 2025.
Foram previstos dois eixos: o Eixo Norte, a partir da captação perto da cidade de Cabrobó (PE), por onde as águas seriam levadas a rios
do Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte, ao longo de um percurso de
402 km; e o Eixo Leste, a partir da barragem de Itaparica, no município de Floresta (PE), desenvolvendo-se ao longo de 220 km até o rio
Paraíba (PB), depois de deixar parte da vazão nas bacias dos rios Pajeú
e Moxotó e daqueles da região do agreste pernambucano.
Estimada em R$ 4,5 bilhões e dividida em 14 lotes, seria a maior
obra do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC). Os gordos
recursos se destinariam a obras de revitalização local, tratamento de
esgoto de municípios na área de influência da transposição, replantio
de matas, recuperação de nascentes e outras promessas.
Desde o início da divulgação do projeto, o bispo avisou: “Não vai
dar certo. Não tem sido contada toda a verdade sobre este projeto
da transposição. Ele não vai levar água a quem mais precisa, uma
vez que segue em direção aos açudes e barragens existentes, a maior
parte, mais de 70%, para irrigação, produção de camarão e indústria.
Quem mais precisa não será o principal beneficiário do projeto.”
E o geógrafo Aziz Ab’Saber não ficou atrás nas críticas: “O risco
final é de que, atravessando acidentes geográficos consideráveis,
como a elevação da escarpa sul da chapada do Araripe - com grande gasto de energia!-, a transposição acabe por significar apenas um
canal tímido de água, de duvidosa validade econômica e interesse
social, servindo para movimentar o mercado especulativo da terra e
da política.”
Fato inconteste, a respeito das obras iniciadas, é que seis daqueles 14 lotes estão parados e, alguns, até abandonados, com as placas
de concreto se soltando ao longo dos canais. Pormenor inquietante,
confirmado por reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, é que a
transposição atualmente está custando R$ 6,8 bilhões, 36% a mais,
portanto, daquele valor inicialmente anunciado. Como disse o bispo,
“assim não vai dar certo”.
Frase da coluna
“Precisamos de um projeto de Nação estruturado
com a adesão da sociedade brasileira.”
De Paulo Cunha, presidente do conselho de administração do
Grupo Ultra e membro do conselho de administração do Instituto de
Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).
Exportação de serviços de engenharia
A Norberto Odebrecht confirma a interrupção dos estudos para a construção da usina hidrelétrica Tambo 40, no Peru. A questão indígena – e ambientalista - mais uma vez, têm sido uma pedra no sapato de empresas de
engenharia brasileira no exterior. A Andrade Gutierrez, a Engevix e a própria
Eletrobrás também vêm enfrentando problemas semelhantes, que estão a
exigir contatos entre os governos dos dois países, para serem resolvidos.
Experiência em revitalização
Xavier Trias, prefeito de Barcelona, Espanha, esteve em Porto Alegre
(RS) interessado em saber como será realizado o projeto de revitalização
do porto Cais Mauá, naquela capital. Ele foi recebido pelo prefeito José
Fortunati e pelo presidente do conselho de administração do porto Cais
Mauá do Brasil, José Munné, a quem expôs a experiência de sua cidade
no processo de renovação de área degradada. O projeto de revitalização
do Cais Mauá foi elaborado pelo arquiteto espanhol Fermin Vázquez.
Expertise em shoppings
• A Racional Engenharia está
encerrando 2011 com a entrega de
mais dois shoppings: o Mooca e o
São Caetano, em São Paulo. Ela informa que, com a soma dos outros
dois empreendimentos já entregues
ao longo deste ano (Shopping
Iguatemi Alphaville e Shopping
Indaiatuba), consolida-se como “a
construtora que possui mais ABL
(Área Bruta Locável) do País”.
• “E tem mais”, diz Waldemar
Marotta Júnior, diretor executivo da empresa: “Para o próximo ano vamos
inaugurar mais dois shoppings, um em Campinas (SP), e outro no Rio de
Janeiro (RJ), totalizando 182.000 m² de área construída”.
Legado da Copa pode ficar para trás
• João Batista Viol, presidente reeleito do Sindicato Nacional das
Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva (Sinaenco), desenha um
quadro ruim para a Copa de 2014. Diz ele que os estádios (a parte essencial para a realização dos jogos) podem ficar prontos. Contudo, “os itens
de maior valor para a sociedade – as obras de mobilidade urbana - estão
com um cronograma desalentador”.
• O temor de Viol, e de outros integrantes da diretoria do Sinaenco,
é de que a Copa, em vez de ser uma vitrine, “apresente nosso País, aos
milhões de espectadores mundiais, como uma vidraça”.
Mais legado
• Alberto José Salum, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Pesada de Minas Gerais, informa que a presidente Dilma Rousseff
garantiu a liberação de R$ 3,16 bilhões para a ampliação do metrô de
Belo Horizonte e que a Copasa investirá R$ 102 milhões no desassoreamento da lagoa da Pampulha. Tudo, por conta da Copa de 2014.
• A lei 9952, aprovada pela Câmara Municipal de BH, está favorecendo a construção de hotéis naquela capital. Ela permite que empresários
do ramo da hotelaria façam “uso mais denso dos terrenos” escolhidos
para aquele fim. Redes como a Bristol, Atlântica, Vista, Accor e até a
americana Wyndham, têm projetos em andamento.
No espelho do mundo
• Na festa em que a Guimar Engenharia recebeu, no mês passado,
em São Paulo (SP), o diploma de Empresa de Engenharia do Ano, categoria Projeto e Consultoria, o presidente da empresa, Heródoto Ferreira
Monte, disse que o Brasil não pode deixar passar em brancas nuvens a
oportunidade de traduzir em obras de infraestrutura as reivindicações
da população em favor de melhores aeroportos, portos, metrôs, trens e
outros tipos de transporte.
• O pensamento do empresário alinha-se ao do editorial da revista O
Empreiteiro, edição 502, que bate na tecla: “O País está diante de uma
janela de oportunidades para se transformar numa nação de visibilidade
parecida à do Canadá e Austrália.”
Novo aeroporto em SP?
A ideia do novo aeroporto em São Paulo está lançada. O responsável por ela é o vice-governador Guilherme Afif Domingos, que
até especulou sobre a região - Mogi das Cruzes - onde a construção
poderá viabilizar-se. A expectativa do vice-governador é a de que a
ideia, naquele sentido, venha a ser costurada com a celebração de um
contrato nos moldes de uma parceria público-privada.
Avenida Paulista
A avenida mais conhecida do Brasil – a Avenida Paulista – chegou, em 2011, aos 120 anos.
Muito apropriadamente o arquiteto Edison Eloy de
Souza está lançando livro alusivo à data, tratando
da arquitetura que ali tem sido praticada desde o
século passado, sobretudo depois que ela começou o seu intensivo processo de verticalização.
Folhear ou ler o livro é fazer um tour poético, sentimental e de conhecimento pelas transformações
ali ocorridas, observando edificações tais como o
Conjunto Nacional, Casa das Rosas, Savoy, Torre Paulista, Citibank, Museu
de Arte de São Paulo, Scarpa, Grande Avenida e tantas outras que espelham a diversidade da arquitetura e da cultura de São Paulo.
Crescimento da construção
A previsão do Sindicato da Indústria da Construção Civil de São Paulo (Sinduscon-SP) é de que
a indústria da construção civil crescerá 5,2% ao
longo de 2012, embora a tendência do PIB seja a
de um crescimento menor: 3,5%. Eduardo Zaidan,
vice-presidente da entidade, diz que a construção
tem hoje um ritmo mais forte que do que PIB e
que essa tendência pode continuar nos próximos
três ou quatro trimestres.
Imprensa de fora
A Anglo American inaugurou, no dia 6 de dezembro, a unidade
de produção de ferroníquel de Barro Alto, interior de Goiás, onde
investiu U$ 1,9 bilhão. A imprensa foi convidada para o ato, mas
não pode ver a mina; apenas ouvir os discursos e os aplausos. A
visita às instalações foi feita em ônibus, sem direito a uma descida
sequer, para uma visão mais próxima das estruturas operacionais. A
CEO mundial da holding, Cynthia Carrol, ficou fechada na sala VIP. A
imprensa permaneceu de fora.
www.revistaoempreiteiro.com.br | 13
Política
O efeito
contaminante
das maçãs podres
Joseph Young
N
a Grécia antiga, havia uma prática de se enviar ao degredo, em alguma região remota, o político demagogo ou
responsável pela apresentação de projetos votados em
interesse próprio. Foi daí que se originou e se difundiu o termo
ostracismo.
Inspirados nessa história, propomos que a sociedade reúna
mais de 1milhão de assinaturas para dar entrada, no Congresso,
a um projeto de lei popular sugerindo a destituição, sumária, de
administradores apontados como relapsos e acusados de terem
praticado algum ato lesivo ao patrimônio público. O acusado seria afastado para o processamento das investigações sob a responsabilidade do Ministério Publico. Se provada a inocência, ele
seria de imediato reconduzido ao cargo.
Outro dispositivo, deste mesmo projeto lei, tornaria imprescritíveis crimes lesivos ao Tesouro e outros delitos ali previstos.
Enquanto perdurassem as investigações para apuração cabal de
todos os fatos, o político ou o administrador objeto da ação investigatória estaria inelegível.
Esta, em nosso entendimento, seria uma forma efetiva, colocada à disposição da sociedade, para ela repudiar e condenar
espetáculo como ao que assistimos hoje, protagonizado pelo
governo da presidente Dilma Rousseff, quando seis ministros já
foram colocados para fora do cargo, acusados de ilicitudes, e outros continuam, digamos assim, na marca do pênalti. Onze governadores também estão ameaçados de perder seus mandatos por
atos ilegais praticados durante as eleições. E, além desses exemplos, podemos ainda perguntar: Quantos membros do Parlamento
têm ficha suja e continuam participando as sessões?
A sociedade brasileira precisa dar um basta, mesmo que a esquerda esteja envergonhada e silenciosa, a direita intrigada mas
14 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012
Plenário do Congresso Nacional
vazio revela a inércia dos políticos
inerte, e a oposição absolutamente sem propostas alternativas
de governo, pois a prioridade, para esses políticos, agora, são as
próximas eleições municipais, com desdobramentos para os certames seguintes para os governos estaduais e a presidência.
Na verdade, a política deixou de ser uma atividade pelo bem
público, mas uma corrida por “empregos” muito bem remunerados. Os eleitos esquecem prontamente o que prometeram no palanque, e passam a cuidar dos interesses pecuniários imediatos.
Lembremo-nos daquele vereador que, tão logo foi eleito, agradeceu publicamente a seus eleitores pela oportunidade que estes
lhe deram de poder se hospedar nos melhores hotéis e viajar à
vontade por conta da lambança do erário público.
Os políticos não estão preocupados com um possível vexame
na realização da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de
2016. Visam apenas ao poder e ao lucro que poderão auferir com
os dois eventos globais. As maçãs podres têm um grande poder de
contaminação. Ou a sociedade acaba com elas, ou elas vão acabar
com a oportunidade histórica de o País se transformar, com estes
dois megaeventos, no líder dos países emergentes, em condições
de se contrapor à influência da China no cenário global.
S E M A R O U PA
FICA MAIS
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Newsletter Global
Obras e tecnologias serão
destaque na publicação eletrônica
Em janeiro de 2012, as revistas ENR e O Empreiteiro
lançam newsletter eletrônica global em português
D
esenvolvimentos recentes em tecnologias de construção,
projeto e gestão, além de obras que se distinguem pelas
soluções técnicas ou gerenciais aplicadas, em qualquer
ponto do planeta — estas duas linhas editoriais serão os pontos
fortes da newsletter eletrônica quinzenal que as revistas ENREngineering News Record, da McGraw Hill, de Nova York, Estados
Unidos, com mais de 100 anos de atuação no mercado de construção e engenharia, e O Empreiteiro, que completou 50 anos
em 2011, lançarão em conjunto em janeiro.
O conteúdo editorial será extraído das edições eletrônicas e
impressas da ENR, além do site www.enr.com. Em contrapartida, a
revista O Empreiteiro fornecerá matérias sobre projetos de infraestrutura e construção no Brasil para o grupo editorial americano.
Eis uma amostragem do que foi noticiado pela ENR recentemente:
Liderança canadense em projetos PPP
Canadá está dez anos à frente dos Estados Unidos em projetos de parceria público-privada (PPP), afirmou Brad Watson,
sócio da KPMG, na conferência realizada pela American Road
and Transportation Builders Association, em novembro. A estruturação do contrato PPP, modelos sólidos de divisão de riscos e
a adesão da maioria das províncias do país são fatores positivos
que ajudam na difusão dessa modalidade. O país já tem uma série
de empreendimentos em curso em diferentes fases, e isso atrai
um fluxo de negócios e empresas interessadas.
Outro aspecto é a consistência e padronização da documen16 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012
tação dos projetos, que replicam as partes essenciais, com clara
alocação dos riscos envolvidos. As províncias formaram agências
para lidar com projetos PPP há anos, e as empresas de engenharia
e investidores interessados tem convicção sobre o curso de uma
licitação e confiam que têm chances de vencê-la.
As instituições financeiras, por outro lado, têm também um
papel importante: conhecendo a solidez do processo, o apoio político das províncias e o nível dos participantes, conseguem praticar
taxas competitivas para as garantias e os seguros de performance.
Laje de concreto PREENCHIDA de
bolhas reduz massa em 30%
Na construção da arena de hóquei La Bahn, na Universidade
de Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos, foi especificado que
as salas de armários dos jogadores deveriam ter o maior pé direito
possível. Uma laje de concreto tradicional teria uma espessura razoável, reduzindo a altura livre sob o teto. Após analisar diversas
alternativas, decidiu-se pelo sistema BubbleDeck, que emprega bolhas de plástico espaçadas a intervalo regular para reduzir em até
30% o volume de concreto consumido. Embora seja conhecido na
Europa e Canadá, seria a aplicação pioneira do método no país.
As bolas plásticas e a armadura pré-fabricada podem ser montadas no local, mas a maioria dos clientes prefere encomenda-las
já pré-montadas sobre um painel pré-moldado, eliminando o uso
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A Sany surpreendeu o mercado em 2011. Inaugurou em tempo recorde sua fábrica
em São José dos Campos, montou uma completa estrutura de dealers para vendas
e pós-vendas e marcou presença nos principais eventos e feiras do setor.
Obrigado a todos que acreditaram no projeto sério e profissional da Sany no Brasil.
Em 2012, não irão faltar novidades para agitar o mercado. Vale a pena aguardar.
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de formas e antecipando a instalação das redes de hidráulica e
elétrica. Em agosto passado, as equipes concretaram 1.200 m² de
BubbleDeck na arena, onde alguns vãos medem até 12 m.
Numa laje típica de 20 a 25 cm, o sistema permite usar 10%
a 15% menos concreto. Quanto mais espessa a laje, maior a economia. No caso da arena de hóquei, o proprietário economizou
cerca de US$ 25 mil. A redução no volume de concreto favorece
também a certificação LEED, como o caso desta obra.
FAZENDA SOLAR DE 400 MW
ANUNCIADA NA FLÓRIDA
Bônus por antecipação de entrega
Em setembro, em Iowa, Estados Unidos, as equipes do consórcio composto pela Peterson Contractors e Reilly Construction
começaram a reconstrução da rodovia I-680, danificada por enchentes perto de Crescent, sabendo que o contrato de US$ 19,2
milhões tinha um bônus de antecipação de US$ 2 milhões, caso
as quatro faixas do trecho de 4 km fossem devolvidas ao tráfego
em 20 de Novembro. As empresas, da diretoria às equipes na
obra, arregaçaram as mangas.
Algumas soluções foram criadas no campo. A faixa divisória
que separa as duas pistas foi reaterrada antes, para ser usada como
estrada de serviço. No total, 100 mil t de pavimento existente foram recicladas para produzir 35 mil m³ de agregados em 15 dias.
Uma parte de pedra foi trazida de trem, e outra em 100 caminhões.
A concreteira instalou uma usina no local, produzindo 300 m³/h.
O espírito de vencer o desafio que tomou conta do pessoal, mais um
clima favorável e a ausência de tráfego na estrada, levou o consórcio a
entregar a rodovia em 33 dias e embolsar o bônus. Uma ideia e tanto para
quem precisa construir arenas para Copa e Olimpíada a toque de caixa.
CH2M Hill conclui aquisição da Halcrow
Em uma das maiores aquisições recentes por parte de uma
empresa americana de engenharia, a CH2M Hill está finalizando
a aquisição da Halcrow Group britânica, especializada em projetos de transportes a nível global, por US$ 192 milhões em dinheiro, que somado a dívidas existentes, eleva o montante a US$ 356
milhões. O negócio depende da aprovação dos acionistas privados
da Halcrow e das autoridades do país.
CH2M Hill, com experiência em projeto-construção, operações
e gestão de programas, e que integra o consórcio que gerencia a
implementação do Parque Olímpico de Londres, registrou US$ 6,3
bilhões de receita total em 2010, comparado a US$ 719 milhões da
Halcrow. A aquisição vai criar uma empresa de engenharia com 30
mil empregados, sendo 11 mil fora dos Estados Unidos.
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basta solicitar pelo e-mail [email protected], informando nome, cargo,
RG, empresa, CNPJ e ramo de atividade.
18 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012
A National Solar confirmou que está finalizando o financiamento de uma fazenda solar de 400 MW ao norte da Flórida, Estados Unidos, ao custo de US$ 1,5 bilhão, com início de construção
previsto para 1º trimestre de 2012. Ao longo de cinco anos, a empresa construirá pelo menos 20 plantas fotovoltaicas de 20 MW,
no condado de Gadsden, ao custo de US$ 70 milhões cada, ocupando 200 ha. A Hensel Phelps, de Colorado, vai projetar, construir
e operar as fazendas solares, que ficarão ligadas cada uma por si
à rede de energia. A distribuidora Progress Energy já contratou 50
MW desse projeto, para atender horários de pico de demanda.
Aeroporto de San Diego
faz expansão em sítio confinado
Um dos mais movimentados aeroportos do mundo com uma
única pista, confinado pelo mar e por terras urbanizadas, o aeroporto internacional de San Diego, na Califórnia, Estados Unidos,
está executando intrincadas obras de expansão num sítio de apenas 273 ha — 2,6 km². O programa de US$ 1 bilhão inclui uma
expansão de 41 mil m² do terminal 2, ampliando os portões de
embarque de nove para 19, e dois saguões de compra de passagem situados na calçada com 1.580 m² cada; e um centro para
passageiros em trânsito, uma via elevada para embarque, seis
cruzamentos elevados, novas vias de acesso e estacionamentos. A
meta é comportar 33 milhões de passageiros por volta de 2030.
Um consórcio formado pela Flatiron, Turner e PCL Constructors
tem um contrato projeto + construção de US$ 500 milhões para
essas obras, além de 140 mil m² de pistas de taxiamento, que vão
exigir 800 m³ de concreto lançados cada noite. Calcula-se que a
modalidade projeto + construção reduziu os prazos em um ano.
Uma ideia interessante nesta expansão são os balcões de uso
comum, onde os passageiros podem fazer o check-in independente de qual companhia aérea emitiu o bilhete. Os balcões de
check-in na calçada também cumprem essa função, onde os passageiros já deixam suas malas. Dois pavilhões receberam cobertura tênsil de tecido, de montagem rápida.
newsletter.indd 19
22/12/2011 19:24:09
Fotos: Renato Couto
Empresas de Engenharia do Ano
A premiação,
a festa e
uma reflexão
sobre o crescimento brasileiro
As quatro empresas
premiadas reforçaram, no
evento da premiação, a
disposição de continuarem os
aprimoramentos em favor da
engenharia e de seus negócios
e ouviram, do diretor editorial
de O Empreiteiro, a mensagem
sobre a insuficiência da
infraestrutura do País
20 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012
Celso Cavalcanti (A.R.G.)
Detlef Dralle (Hochtief do Brasil)
Samuel Fernando Scarlise
(TKK Engenharia)
Heródoto Ferreira Monte
(Guimar Engenharia)
Celso Cavalcanti de Andrade, superintendente da A. R. G.,
eleita Empresa de Engenharia do Ano, categoria Infrestrutura; Detlef Dralle, presidente da Hochtief do Brasil, prêmio
na categoria Edificações; Samuel Fernando Scalise Miranda, presidente da TKK Engenharia, categoria Montagem Industrial e Heródoto Ferreira Monte, presidente da Guimar
Engenharia, que recebeu o prêmio na categoria Projeto e
Consultoria, manifestaram-se sobre a importância do evento e, em especial, a respeito da divulgação do perfil, obras,
experiência e expectativas de suas empresas, no atual quadro econômico e social do País.
A cerimônia de premiação das quatro Empresas de
Engenharia do Ano ocorreu no Espaço Apas, São Paulo
(SP), dia 29 de novembro último, com a presença daqueles
executivos, colaboradores e parceiros de empreendimentos
a cargo das empresas eleitas e de representantes de entidades setoriais. O histórico de cada empresa, apresentado
na revista, constituiu um exemplo público do trabalho multidisciplinar desenvolvido em circunstâncias e em regiões
diferentes do Brasil, refletindo avanços em campos diversos
da engenharia.
Heródoto Ferreira Monte afirmou que a prática da engenharia resulta de um esforço coletivo e que a história da
Guimar, bem como a de outras empresas, não se dá isoladamente, mas num contexto de interação com os contratantes e com os usuários do bem que é construído. Anteriormente, o presidente da Hochtief do Brasil havia batido
na mesma tecla: uma empresa é a equipe que ela consegue
formar, unir e manter. É, através de equipes multidisciplinares, que a inteligência de uma empresa se difunde, em favor
de todos e, sobretudo, em favor do cliente.
Joseph Young, diretor editorial de O Empreiteiro, fez
pronunciamento mais amplo. Reportando-se ao editorial da
edição que publicou o perfil das empresas (OE 502), disse
que o Brasil está diante de uma janela única de oportunidades para se transformar numa nação de visibilidade parecida à do Canadá e da Austrália. E que poderá alcançar esse
objetivo se souber realizar a Copa do Mundo de 2014 nas
condições internacionalmente reconhecidas, sem fechar os
olhos para as prioridades da mobilidade urbana e do legado
que deve ser deixado para a população, mas cujas obras
se encontram atrasadas, por conta da carência de gestão
pública eficiente e responsável.
Enfatizou que as empresas premiadas são exemplos
que podem ser observados e seguidos. Da mesma forma,
o País, nesse sentido, pode espelhar-se no exemplo dos
atletas brasileiros nos recentes Jogos Pan-Americanos de
Guadalajara, México. Embora com enormes sacrifícios, eles
souberam trabalhar e competir em favor do País.
www.revistaoempreiteiro.com.br | 21
Empresas de Engenharia do Ano
22 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012
Cenário da Construção
Indicadores sinalizam
crescimento sustentável
A construção se ajusta às mudanças macroeconômicas,
decorrentes da nova fase das circunstâncias
internacionais, e empresários prosseguem otimistas,
embora sabendo que o País precisa atualizar sua
infraestrutura, se quiser garantir resultados
Nildo Carlos Oliveira – Brasília (DF)
O
encontro que o empresário Paulo Safady Simão, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção
(CBIC), manteve com a imprensa, dia 8 de dezembro, em
Brasília (DF), contribuiu para desenhar um cenário que, a serem
mantidos os números expostos pelos economistas da entidade,
é de confiança na continuidade do crescimento setorial ao longo de 2012. A perspectiva é de que a construção civil consolide
um crescimento de 5,2%, índice acima dos 4,8% de expansão
que vêm sendo calculados para aquele período.
O ambiente macroeconômico ficou sinalizado, em 2011, pelo
aumento dos riscos à estabilidade financeira nos Estados Unidos
e na Europa. Houve elevação dos problemas fiscais; foi detectado perigo inflacionário nas economias emergentes, incluindo na
economia brasileira, o que se refletiu no aumento do preço de
commodities; registraram-se instabilidades no Norte da África
e no Oriente Médio e agravou-se a situação na chamada Zona
do Euro. Houve até pânico em algumas bolsas.
No Brasil, o governo agiu com alguma rapidez. Resumidamente, ele fez o seguinte, segundo os dados coligidos e estudados pela CBIC: aumentou os juros para desacelerar a economia
e reduzir o fôlego da inflação; já a partir do final de agosto, reduziu os juros e adotou medidas de estímulo ao consumo interno, desonerando tributos incidentes sobre os produtos da linha
branca e sobre o crédito ao consumidor; e incentivou a construção civil, ampliando o teto do imóvel sobre o qual incidia a
alíquota de 1% do Regime Especial de Tributação (RET), que
subiu de R$ 75 mil para R$ 85 mil, o que alentou o programa
Minha Casa, Minha Vida.
24 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012
Segundo o presidente da CBIC, as medidas que o governo
resolveu adotar, incluindo o aumento dos juros, responderam
positivamente às expectativas de um crescimento considerado
“bem mais moderado da economia nacional em 2011”.
Independentemente dos fatores da crise internacional e
das possibilidades de alguma vulnerabilidade brasileira por
conta disso, a construção civil seguiu registrando “incremento
consistente em suas atividades”. Em 2010, ela obteve desempenho considerado recorde e, em 2011, os números alcançara
um patamar de maior equilíbrio e sustentabilidade. Portanto,
aquele círculo virtuoso que se iniciou em 2004, continuou. E,
por que ela obteve resultados julgados muito significativos? A
CBIC explicou:
“Houve maior oferta de crédito imobiliário, dado que se
aliou às medidas de redução da taxa de juros dos financiamentos e do alongamento dos prazos para pagamento; registrou-se aumento do emprego formal, do crescimento da renda familiar e a macroeconomia ficou estável. Registraram-se
também alterações no marco regulatório. Haja vista, o advento da Lei 10.931, de 2004, que instituiu o chamado “patrimônio de afetação”, estabeleceu requisitos para demanda
sobre contratos de comercialização de imóveis, tratou da
atualização monetária desses contratos e criou novos títulos de créditos para incentivar o mercado imobiliário. Além
disso, começaram a ser executados os projetos das obras do
Paulo Simão revela que os
indicadores econômicos
setoriais inspiram confiança
Cenário da Construção
Construção civil - Resumo dos principais indicadores – Brasil
INDICADORES
2011
OBSERVAÇÕES
4,80%
Projeção CBIC
309.425
Período de janeiro a outubro/11- Caged/MTE
2.848.684
Outubro/11- Caged/MTE
7,21%
Período janeiro a novembro/11
4,3%
Período janeiro a novembro/11
Crescimento do PIB (em %)
Número de vagas formais geradas
Estoque de trabalhadores com carteira assinada
Variação do INCC-M/FGV
Variação materiais, equip. e serviços
10,20%
Período janeiro a novembro/11
Taxa de desemprego
Variação mão de obra
3,09%
Média de janeiro a outubro/11 para conj. 6 RMs – PME/IBGE
Consumo de cimento - crescimento
8,4%
Janeiro a agosto/11 em relação igual período 2010 – SNIC
Consumo de vergalhão – crescimento
8,66%
Janeiro a setembro/11 em relação igual período 2010 - IABr
Financiamento imobiliário – SBPE
18,10%
Crescimento número de unidades financiadas jan-out/11 em
relação iguais meses 2010 – SBPE (construção e aquisição)
cerda de 5%
Dados Banco Central
2,40%
Janeiro a outubro/11 em relação igual período 2010
Participação do crédito imobiliário no PIB
Faturamento total deflacionado vendas mat. Constr.
Fonte: Banco Central, IBGE, Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Fundação Getúlio Vargas, Sindicato Nacional da Ind. Cimento, Instituto Aço Brasil, Abramat.
Programa de Aceleração do Crescimento e do programa Minha Casa, Minha Vida.
Por conta dessas providências, o crescimento da construção civil, no período de 2004 a 2010, foi da ordem de 42,41%,
estabelecendo uma taxa anual de 5,6%. Nesse cenário, o PIB
da construção, em 2010, foi da ordem de R$ 165 bilhões, correspondente a 5,3% do PIB total do País.
evolução do pib brasil e
do pib da construção civil
14,00
Variação % do PIB Nacional
Variação % do PIB da Construção Civil
12,00
11,6
Valores em percentual
10,00
8,00
6,00
5,8
5,7
4,00
4,7
3,0
2,00
-
7,5
7,9
6,6
4,9
4,8
4,8
3,7
3,0
1,8
1,1
-0,7
-0,3
-2,00
-4,00
-6,00
-3,3
PAC
Lei nº 10.931
PMCMV
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011*
Anos
*Projeção PIB Nacional da Construção Civil da CBIC
26 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012
Razões para manter o otimismo
Paulo Simão disse que o incremento de atividades previsto
para 2011 é de 4% a 5%, índices que, confirmados, mostrarão
um crescimento inferior ao de 2010, quando a maior elevação
registrada chegou a 11,63%.
Ele considera importante ver as coisas sob o aspecto de
sua relevância. Quer dizer com isso que o incremento esperado para este ano (2011) ocorrerá em relação a uma base
bastante elevada. Assim, mesmo que os indicadores, para a
construção civil, se revelem moderados, eles não deixarão de
ser expressivos.
Dificuldades há e continuarão a haver. Mas o segmento vem
procurando ajustar-se às suas próprias exigências e às exigências do País. Os empresários da construção sabem que a continuidade do ritmo de expansão de 4% a 5% não dependerá
unicamente dela, mas de outros fatores, tais como maior volume disponível de crédito imobiliário; execução de obras nesse
segmento; prosseguimento da contratação de empresas de engenharia para elaboração de projetos e execução de obras de
infraestrutura; aumento da construção industrial; expansão da
construção comercial e habitacional e aumento de investimentos privados, sem contar, claro, com aquelas obras estimuladas
pelos dois eventos esportivos próximos – a Copa de 2014 e a
Olimpíada de 2016.
A construção, afirmou o presidente da CBIC, “é a grande protagonista do desenvolvimento brasileiro. E o crédito imobiliário
tem papel importante no avanço setorial. É que o desenvolvimento da construção civil – e da Engenharia como um todo –
impulsiona o desenvolvimento em função de suas peculiaridades:
ampla cadeia produtiva (8,1% do PIB); grande capacidade de ab-
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Engenharia
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Cenário da Construção
sorção de mão de obra e capacidade de gerar renda no conjunto
da economia.”
Contudo, para a garantia de que as coisas continuem sob tais
cores, há muito chão pela frente. Algumas das condições para que
isso continue a acontecer: o financiamento imobiliário precisa continuar crescendo e ajudando as atividades setoriais. (Nesse sentido,
a Associação Brasileira de Poupança e Empréstimo está prevendo, para 2014, que o crédito imobiliário representará 11% do PIB
nacional); a política habitacional tem de continuar na agenda de
prioridades, removendo os gargalos que ainda dificultam o avanço
da segunda etapa do programa Minha Casa, Minha Vida; resolver a
questão do preço das unidades, nos grandes centros urbanos, uma
vez que ele é um obstáculo para grande parte dos interessados
potenciais. E fazer obras nas áreas da infraestrutura, sobretudo no
saneamento básico, transportes (rodovias, ferrovias e hidrovias),
portos, aeroportos, energia e em outras.
Prognósticos do Sinduscon-SP
Joás Ferreira
vê como positivas essas medidas e considera que elas devem ser
aprofundadas, com o prosseguimento da desoneração da produção,
A evolução do Produto Interno Bruto (PIB) da construção civil,
esperada para 2011, é de 4,8%. Já para 2012, os prognósticos de
o estímulo à produtividade na iniciativa privada e o aumento da
eficiência da administração pública.
crescimento são de 5,2%. Mesmo com números positivos, que ul-
Espera-se muito do programa Minha Casa, Minha Vida. Ele ca-
trapassam os índices esperados para o PIB do País (cerca de 3,0% e
minhou mais lentamente em 2011. A segunda fase do programa
3,5%, respectivamente), o Sindicato da Indústria da Construção Civil
entregou, até outubro, 118.085 unidades, tendo outras 199.226 uni-
do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP) prefere manter um otimismo
dades em execução. Já até o fim de 2010, último ano da primeira
moderado em relação ao desempenho do setor.
fase, haviam sido entregues 338.055 unidades e mais de 667 mil
De acordo com Eduardo Zaidan, vice-presidente de Economia da
estavam em andamento, totalizando cerca de um milhão de unida-
entidade, os resultados de um período só são sentidos pelo mercado
des. Em 2012, segundo o sindicato, o programa deve progredir mais
da indústria da construção no longo prazo. Assim, os índices apresen-
rapidamente, assim como as obras para os eventos esportivos de
tados ainda são, de alguma forma, reflexos do período excepcional
2014 e 2016.
vivido pelo setor, em 2009 (crescimento de 8,3%) e 2010 (15,2%).
O crédito para habitação e infraestrutura também deverá conti-
Entre os indicadores mais expressivos, dentro do panorama di-
nuar se expandindo em 2012. No município de São Paulo, até setem-
vulgado no início de dezembro, pelo Sinduscon-SP, está o do nível
bro de 2011, as vendas de imóveis novos atingiram 19.873 unidades.
de emprego formal da construção brasileira, que cresceu 9,2% no
Em 2010 foram 24.605 unidades vendidas. Já com relação aos lan-
período janeiro-setembro de 2011, comparado ao mesmo período de
çamentos, até outubro de 2011 foram lançadas 26.365 unidades. Em
2010. Em setembro, o setor empregava 3 milhões 128 mil trabalha-
2010 esse número alcançou a marca de 25.818.
dores (de janeiro a setembro, 298,5 mil trabalhadores ingressaram
no setor). O custo de mão de obra, entretanto, também figura como
o principal ingrediente na composição do Índice Nacional de Custo
da Construção do Mercado (INCC-M), da Fundação Getúlio Vargas,
representando 11,39%, em novembro deste ano. Seguido por serviços (6,03%) e materiais e equipamentos (4,10%).
Projeção para 2012
16,0%
10,0%
8,0%
previsão de que a construção havia crescido 1% naquele ano, quan-
6,0%
tenha crescido 15,2%, em 2010, e, neste ano, deverá atingir 4,8%.
O Sinduscon-SP acredita também que a previsão para 2012 deverá se concretizar, desde que o governo continue tomando medidas econômicas para assegurar o crescimento do PIB. A entidade
28 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012
Construção
12,0%
A reavaliação do PIB de 2009 trouxe uma importante mudança,
ser revista para os anos seguintes, estimando-se que a construção
PIB
14.0%
segundo a direção do Sinduscon-SP. A entidade trabalhava com a
do na verdade o índice foi de 8,3%. Com isso, a expectativa teve de
15,2%
8,3%
7,5%
5,2%
4,8%
4,0%
3,0%
3,5%
2,0%
0,0%
-2,0%
-0,3%
2009
2010
2011*
2012**
*Estimativa / **Projeção
Alguns indicadores da Construção Civil – Brasil
INDICADORES
PIB Setorial
(1)
PERÍODO
– Taxa de crescimento (%)
Geração de empregos formais(2) – Número de vagas geradas
Taxa de desemprego(3) – Média anual
CUB Brasil – Custo unitário básico(4) – Variação (%)
INCC – Indice Nacional de Custos de Construção(5)
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
6,6
1,8
4,7
4,9
7,9
-0,7
11,6
3,8
70.319 126.825 148.051 224.543 296.607 217.692 376.634 309.425
7,1
5,7
5,5
4,9
3,9
4,1
2,9
3,1
...
...
...
6,19
11,26
3,05
6,59
6,15
6,84
5,04
6,15
11,87
3,25
7,77
6,61
11,02
Fonte: IBGE/MTE/CBIC/FGV
(1) Refere-se ao VABpb da Construção Civil. Para o ano de 2011, os dados do PIB da Construção referem-se à % de crescimento acumulado nos 3 primeiros trimestres do ano em relação ingual período ano anterior.
(2) Para o ano de 2011, os dados do Caged referem-se ao período de janeiro a outubro.
(3) Para o ano de 2011, os dados da PME referem-se ao período de janeiro a outubro
(4) Para o ano de 2007, os dados do CUB referem-se ao acumulado no período de março a dezembro. Para o ano de 2011, os dados do CUB referem-se ao acumulado de janeiro a setembro.
(5) Para o ano de 2011, os dados do INCC referem-se ao acumulado no período de janeiro a outubro.
... Dado não disponível.
O avanço necessário, para isso, requer o encontro de novas
fontes de financiamento; soluções para a contratação de mão
de obra qualificada; aumento da produtividade via industrialização da construção, e elaborar programação de inovação
tecnológica.
Saneamento
No encontro com a imprensa, e em especial dirigindo-se à
revista O Empreiteiro, Paulo Simão criticou a situação, hoje,
do saneamento no País. Disse que, para esse fim, o governo
tem até recursos robustos, mas a aplicação é “zero” e que isto
é inaceitável para um país que, segundo estimativas, já seria
a 7ª maior economia mundial. Ele criticou a falta de gestão,
a carência de estruturas regionais para colocar os planos de
saneamento em execução e que não há planejamento, até do
ponto de vista dos Estados.
www.revistaoempreiteiro.com.br | 29
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Engenharia Consultiva
Copa e Olimpíada reforçam debate
em favor de projeto
O
9º Encontro Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva, realizado no dia 1º de dezembro, momentos antes da posse da nova diretoria do sindicato setorial (Sinaenco), voltou a colocar em discussão, com uma abertura
ampla para o governo e sociedade, as questões que têm afetado
obras públicas de diferentes níveis e em diversas instâncias.
A falta de qualidade, decorrente da falta de planejamento,
projetos bem elaborados e gerenciamento exercido com rigor
nas especificações, cronogramas e responsabilidades, têm sido
o motivo principal do impasse observado em dezenas de obras
públicas, muitas das quais – e por conta desses problemas – paralisadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU).
No evento, o vice-governador, Guilherme Afif Domingos e Pedro
Benvenuto, coordenador de planejamento e avaliação da Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Regional do Estado de São
Paulo, falaram sobre as parcerias público-privadas firmadas pelo
governo paulista para apressar obras de infraestrutura prioritárias
nos transportes públicos, rodovias e em outros segmentos.
A intervenção de ambos teve como coordenador o engenheiro José Roberto Bernasconi, presidente do Sinaenco-SP, que há
muitos anos – e em especial desde o advento da escolha do Brasil e do Rio de Janeiro para sede da Copa e Olimpíada - vem
apontando os dois eventos como grande oportunidade para um
A confraternização, depois
do 9º Encontro Nacional,
que contou com a presença
do ministro Benjamin
Zymler, presidente do TCU
30 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012
e qualidade
Encontro das empresas de arquitetura e engenharia
consultiva coloca em debate
planejamento, projeto, gerenciamento, qualidade de
obras e formas de contratação
de serviços para garantia do legado que os
megaeventos prometem deixar
esforço mais intenso e coletivo em favor das boas práticas no
planejamento, projeto e gestão.
Na continuidade do encontro foram discutidas novas formas
de contratação para a engenharia consultiva, com a participação
do presidente Benjamin Zymler, do TCU; Hélcio Tokeshi, diretor
da Estruturadora Brasileira de Projetos (EBP) e Cristiano Kok, presidente da Engevix Engenharia. A coordenação desses trabalhos
ficou por conta do engenheiro João Alberto Viol, reeleito presidente nacional do Sinaenco, gestão 2012-2013, e que tomou
posse em seguida.
João Alberto Viol, reeleito, volta
a criticar o Regime Diferenciado
de Contratação (RDC)
Formas de contratação
O ministro Benjamin Zymler tem-se revelado favorável ao uso do
Regime Diferenciado de Contratação (RDC) para as obras da Copa
e da Olimpíada, como forma de agilização dos serviços. O RDC é
mecanismo recentemente aprovado pelo governo e, embora crie
condições para apressar as obras, não deixa de mostrar o calcanhar
de aquiles: pode tornar mais difícil o controle social das obras contratadas. Outra crítica que esse instrumento de contratação tem recebido diz respeito ao fato de que ele elimina o limite para aumento
dos recursos destinados a obras licitadas. Pela legislação atual (Lei
8.666/93), os custos de uma obra só podem ser reajustados em 25%,
caso se trate da construção de um novo prédio, ou 50%, em caso de
reforma de uma edificação. Já para as obras licitadas segundo o RDC,
aparentemente não há limites para o aumento dos gastos.
O ministro Zymler, conquanto tenha essa posição quanto ao RDC,
foi enfática na defesa da qualidade do projeto. Projeto sem qualidade, segundo ele, é o ponto crucial dos problemas das obras públicas.
Deve ser uma consequência de um planejamento bem feito em sua
matriz, e de um gerenciamento competente, durante o processo.
Já Cristiano Kok deixou clara a tese que tem defendido: serviços
de natureza intelectual não podem ser contratados por critérios de
preço e, sim, por qualidade técnica. A seleção, segundo ele, não pode
ser por custo, mas uma vez ela realizada e a obra contratada, o preço
pode ser fechado, a obra pode estar sujeita a multas, receber prêmios
por inovação tecnológica e por redução de custos finais. Resumindo:
a seleção pode ser feita por critérios técnicos, balizamento de preço
justo para o tipo de serviço via curvas de percentagem do valor da
obra, tabelas de honorários profissionais etc.
Cristiano disse que os serviços de natureza intelectual envolvem criatividade, técnica e responsabilidade; devem ser exercidos
por profissionais regulamentados e são invariavelmente multidisciplinares. Exigem estudos preliminares, anteprojetos e estudos
de viabilidade, projetos básicos e projetos legais e projetos executivos. Ele enumerou as diversas formas de contratação – preço
global, empreitada a preços unitários, por produto, por categoria
profissional, “cust plus” ou por administração; por administração
com teto ou prêmio e por preço global com exclusão de riscos e
inclusão de prêmios. Mas enfatizou a tese em cuja tecla tem batido quotidianamente: “Serviços de natureza intelectual exigem
contratação por qualidade técnica”. (grifo nosso)
O ex-governador Alberto
Goldman, ao lado de José
Roberto Bernasconi, foi
homenageado pelo Sinaenco
A posse
Reeleito presidente do Sinaenco, João Alberto Viol fez um
balanço da gestão passada e listou algumas propostas que têm
sido, historicamente, a razão de ser da entidade: garantir a remuneração adequada das empresas associadas e filiadas; incentivar
o desenvolvimento de uma cultura de planejamento, projeto e
gerenciamento; colaborar para a solução das deficiências da infraestrutura brasileira; mostrar, dentre outras providências, que a
contratação de projeto e gerenciamento deve ser feita com predominância do critério técnico.
Ele criticou o governo federal pela responsabilidade na adoção do RDC. Disse que, quando acusado de falta de planejamento, o governo federal respondeu com o Regime Diferenciado de
Contratação, que é “um evidente retrocesso em relação ao que
preconizamos como a melhor forma de desenvolvermos obras de
infraestrutura com a qualidade e a durabilidade necessárias, no
tempo e no prazo corretos”.
Viol citou o decreto 56.565, de dezembro de 2010, proibindo a
contratação de projeto pelo menor preço. Esse decreto foi assinado no apagar das luzes da administração do governador Alberto
Goldman, que foi homenageado.
A diretoria recém-eleita mantém José Roberto Bernasconi na
presidência da regional de São Paulo, o mesmo ocorrendo com as
regionais de Minas Gerais e do Rio de Janeiro, que contam com a
participação de Maurício de Lana e Márcio Batista Amorim. Houve mudança na regional da Bahia, que elegeu Eduardo Azevedo
Tourinho; na regional de Pernambuco, com a entrada de Michele
Pessoa, e regional do Ceará, daqui em diante sob a presidência de
Arthur Oliveira Costa Souza. As demais regionais estão assim: regional Paraná: Carlos Valério Avais da Rocha; regional Rio Grande do Sul: Edgar Hernandes Cândia; regional Goiás: Fausto Nieri
Moraes Sarmento; regional Santa Catarina: Adão dos Santos; regional Espírito Santo: Fernando Guéron: regional Distrito Federal:
Sérgio Castejon Garcia e regional Paraíba: George Cunha. (NCO)
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Aeroportos
Concessões em SP e Brasília
atraem interessados pela
alta rentabilidade
Lances mínimos revisados para
cima não intimidam os
pretendentes; investimentos
chegam a R$ 21 bilhões
Um dos gargalos dos
terminais aeroportuários
brasileiros é o serviço de
check-in
Foto: Antonio Cruz/ABr
O
32 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012
s leilões programados para o início de 2012
para concessão dos aeroportos de Guarulhos (SP), Viracopos (SP) e Brasília (DF) provocam intensa mobilização no mercado,
vistos como negócios com alto potencial
na geração de receita e lucros — os três terminais juntos operam 30% dos passageiros, 57% das cargas e 19% das aeronaves em tráfego no país.
Mesmos com os valores dos lances mínimos revisados para
cima — em Guarulhos, subiu de R$ 2,3 bilhões para R$ 3,4 bilhões; em Viracopos foi de R$ 521 milhões para R$ 1,5 bilhão;
e em Brasília, elevou-se de R$ 75 milhões para R$ 761 milhões
— as empresas interessadas no negócio se mantem firmes na disputa, que promete ser renhida, pois já detectaram o potencial de
geração de caixa dos três aeroportos ao longo do período de concessão, de 20, 30 e 25 anos, respectivamente. Fontes ligadas às
empresas que estudam esses empreendimentos há alguns meses,
inclusive com a participação de operadoras de grandes aeroportos no Exterior, estimam que em Guarulhos, por exemplo, mesmo
arcando com a reforma do Terminal 2 e a construção do Terminal
3, a concessionária poderá obter retorno da ordem de 50%.
As empresas interessadas não veem também problemas em
aportar recursos próprios ou financiados para viabilizar os investimentos de pelo menos R$ 2,8 bilhões exigidos no prazo de dois
anos, em razão da Copa do Mundo de 2014. Porém, as concessionárias poderão sofre multas “fortes e severas” se não cumprirem as
obras para o Mundial de futebol, já avisou a Secretaria de Aviação
Civil do Governo Federal. O montante total de investimentos pode
chegar a mais de R$ 21 bilhões no prazo total das concessões.
No aeroporto de Brasília prevê-se
a construção de novo terminal
O edital de concessão prevê que uma das empresas do consórcio concorrente tenha pelo menos cinco anos de experiência em
administração de terminal aeroportuário com movimento maior
que 5 milhões de passageiros. Como o setor privado brasileiro não
possui know how em operação de aeroportos, a participação de
players estrangeiros tornou-se obrigatória.
Valores anuais serão recolhidos dos consórcios vencedores dos três
aeroportos para o Fundo Nacional de Aviação Civil. A medida visa garantir
recursos para os demais aeroportos do sistema aeroportuário nacional.
A primeira concessão aeroportuária ao setor privado no Brasil
foi homologada recentemente para o aeroporto de São Gonçalo
do Amarante, perto de Natal (RN), cujo lance mínimo de R$ 3,7
milhões também foi alterado pelo TCU para R$ 51,7 milhões, o que
não chegou a arrefecer a concorrência. Saiu vencedor o consórcio
formado pela Engevix e o grupo argentino Corporación America,
que opera aeroportos na Argentina, inclusive o de Buenos Aires. A
proposta ganhadora teve ágio de quase 330% sobre o valor mínimo estipulado pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
A previsão é que o investimento para construção do novo aeroporto potiguar fique em torno de R$ 650 milhões, em três anos de
obras. O prazo para exploração do aeroporto pelo consórcio vencedor
é de 25 anos, podendo ser renovado por mais cinco anos, no máximo.
A previsão é que o aeroporto tenha movimento de 3 milhões de passageiros em 2014; 4,7 milhões em 2020; e 7,9 milhões em 2030.
Programa de investimentos
As empresas que obtiverem a concessão dos aeroportos de
Aeroportos globais e seus operadores
OPERADOR
NÚMERO DE
PASSAGEIROS/ANO
Nova York – JFK e
La Guardia
New York Port
Authority (público)
80 milhões (ambos
os aeroportos)
Londres – Heathrow
(Terminal 5)
Ferrovial (privado)
23,4 milhões
Aéroports de Paris
(sociedade anônima)
86 milhões (ambos
os aeroportos)
AEROPORTOS
Paris – Charles de
Gaulle e Orly
Guarulhos, Viracopos e Brasília deverão realizar investimentos urgentes seguindo o cronograma básico de modernização e ampliação, estabelecido pela Infraero para os terminais aeroportuários
relacionados às 12 cidades-sede da Copa do Mundo de 2014.
O de Guarulhos, por exemplo, prevê a ampliação e revitalização do sistema de pista e pátio, construção de pistas de táxi e de
saída rápida, de terminal remoto para desembarque e check-in, e
do terceiro terminal de passageiros (atualmente, somente obras
de terraplanagem estão sendo executadas nesse item). Os investimentos serão de R$ 4,6 bilhões.
Já Viracopos, as ações previstas são de construção de novo
terminal de passageiros e pátio, adequação do terminal existente
e ampliação de sistemas de pistas e pátios, com investimentos
chegando a R$ 8,7 bilhões.
No que se refere ao aeroporto de Brasília, prevê-se reforma (esta já
em andamento) e construção de terminal de passageiros, do sistema
de pátios de aeronaves, e a execução de edificações complementares.
Os investimentos na capital federal giram em torno de R$ 2,8 bilhões.
Projeto do terceiro terminal de Guarulhos, mais amplo e confortável, a ser construído ao lado dos saturados terminais 1 e 2
www.revistaoempreiteiro.com.br | 33
Aeroportos
O suplício
dos viajantes frequentes
C
heck-in com filas quilométricas, salas de espera com avisos sonoros a cada segundo com volume nas alturas e
sem lugares disponíveis para sentar, banheiros tipo “caixa
de fósforo” e em geral sujos — restando ao usuário se refugiar
nas lanchonetes de preços exorbitantes e serviços pífios, ou na
livraria.
Com as licitações de concessão dos aeroportos de Guarulhos
(SP), Viracopos (SP) e Brasília (DF) programados para início de
2012, além das obras de “puxadinhos” sendo realizadas em alguns outros, descrevemos aqui a saga dos viajantes frequentes,
que se deslocam pelo país afora, para que os futuros operadores
dos aeroportos brasileiros possam tomar conhecimento das questões triviais que os atormentam – algumas passíveis de serem
solucionadas com um pouco de bom senso e gestão adequada.
Quando o passageiro chega à área de check-in do aeroporto,
ele se depara com longas filas nos balcões das empresas aéreas,
mesmo nos horários fora dos períodos de pico (de manhã cedo ou
no final da tarde). É imperioso que a Agência Nacional de Aviação
Civil (Anac) exija um número maior de atendentes no check-in
para reduzir as filas e o tempo de espera. Poderia se adotar um
critério de tempo máximo de espera por atendimento, semelhante ao regulamentado pelo Banco Central junto aos bancos nos
guichês das agencias, com multas em caso de atrasos.
A Anac deveria tornar ainda obrigatório que os passageiros
sejam avisados no check-in quando o voo estiver atrasado por
mais de 30 minutos, de modo que possam ter o direito de desistir de viajar, sem pagar multa na remarcação da passagem, ou,
ainda, ter direito à alimentação na sala de embarque enquanto
aguarda o voo. Isso raramente acontece e as companhias aéreas
obrigam os passageiros a passar horas à espera do embarque,
sem poder sequer fazer outra coisa senão aguardar os avisos pelo
sistema de som. Estatisticamente, a Infraero afirma que a percentagem de atraso na saída dos voos é pequena. Mas para quem
viaja pelo menos uma vez por semana, pode-se comprovar ao
vivo e a cores que a estatística está equivocada e as companhias
aéreas deveriam ser penalizadas com mais severidade com relação a este item.
O nível de som dos aeroportos foi provavelmente ajustado
para o volume máximo, porque a poluição sonora provocada pe-
34 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012
los repetidas chamadas de embarque e/ou avisos sobre atrasos e
passageiros retardatários, provocam real desconforto. A maioria
dos aeroportos nos Estados Unidos e Europa já adotaram avisos
sonoros somente nos portões de embarque e em áreas específicas. No mais, os passageiros já se acostumaram a se orientar
pelos monitores de televisão que nunca falham.
Sendo os atrasos frequentes, nessa hora faltam até lugares
para se sentar nos portões de embarque. A solução é se refugiar
nas lanchonetes. Como a Infraero aufere receita pela locação
desses espaços, seria recomendável que a empresa impusesse a
diversificação de serviços e produtos oferecidos. Hoje, as raras
lanchonetes disponíveis junto aos portões de embarque, servem
os mesmos sanduíches e salgados, com preços absurdos.
A troca de portões de embarque é frequente. A Infraero avisa
aos passageiros que essa informação é de responsabilidade das
companhias aéreas. Isso significa que empresas ignoram a chegada de suas aeronaves, sabendo que as mesmas já decolaram
de suas origens, seguem em uma velocidade conhecida, realizam
um percurso de extensão também conhecida — e, mesmo assim,
se atrapalham para anunciar o portão de embarque de sequenciamento do voo.
Em alguns aeroportos, a Infraero afixou o aviso de que “este
banheiro é limpo 6 vezes ao dia”. Mas se o banheiro tem seis
posições para usuários, e é usado por hora por 50 passageiros,
a limpeza precisa ser feita a cada 15 minutos. Além disso, é necessário fazer manutenção das torneiras eletrônicas que economizam água, porque algumas se negam a funcionar quando precisam. Trocar as papeleiras que engasgam com o papel e soltam
a tampa em cima do usuário é premente. E, ainda, porque não
aumentar a exaustão do sistema de ar nos banheiros, para eliminar o inevitável mau cheiro?
Enfim, depois desse longo suplício, o viajante frequente embarca e pensa em relaxar ate o destino final. Mas ele sabe que
isso é ilusório, porque os assentos — bem como o espaço entre as
filas - hoje adotados pelas empresas aéreas que monopolizaram
o transporte aéreo no país foram dimensionados para pessoas
de estatura e peso abaixo da média. E haja barrinhas de cereal
e refrigerantes, mesmo que se esteja indo de São Paulo a Recife,
com duas escalas.
Tecnologia da Informação
ESS
ANCODRAAMIM
TO
EN
ES
QUALIDADE
BETONEIRAS
ELEVADORES
VIBRADORES
ECONOMIA
LIXADEIRA
Teckma investe em novo
sistema de gestão
Empresa optou pelos módulos TOTVS Obras e Projetos,
ELO
MARTID
DEMOL OR
GUINCHO
TUDO
A LOCGUEL TEM
RH e BackOffice para garantir a integração e
confiabilidade das suas informações
N
os últimos anos, o Grupo Teckma Engenharia deu um salto no volume de seus serviços
e, consequentemente, no seu faturamento. De 2009 para 2010, a empresa cresceu 89%
em faturamento. Em consonância com essa expansão, a Teckma inaugurou, neste ano,
seu primeiro escritório fora do território nacional. Escolheu a cidade de Orlando, na Flórida,
Estados Unidos, para sediar suas operações internacionais com o objetivo de estabelecer novas
alianças, atrair investidores para projetos brasileiros e formar parcerias tecnológicas. A companhia de engenharia já possui, além da sua sede em São Paulo, no bairro da Mooca, escritórios
em Salvador (BA) e Rio de Janeiro.
Justamente por conta do forte crescimento, a Teckma percebeu que precisava de um sistema de gestão empresarial integrado (ERP) mais robusto: “Estamos com a TOTVS há um ano.
Antes usávamos um ERP desenvolvido internamente, mas que não era integrado com a gestão
de projetos. Como a Teckma vem crescendo em ritmo acelerado, notamos que precisávamos
de controles mais sofisticados, integrados e inteligentes. Após uma concorrência, optamos pela
TOTVS”, conta Sérgio Stelmach, diretor financeiro da Teckma.
O ERP que a empresa utilizava antes caiu em desuso, já que a implantação da TOTVS começou em outubro de 2010: “A migração ainda está acontecendo, temos muito trabalho pela
frente. Porém, já posso afirmar que passamos a ter uma visão do projeto como um todo, além
de um acompanhamento de cada obra. O resultado é a confiabilidade das informações, o controle de quanto estamos gastando em cada projeto, quanto tempo resta para encerrar uma
obra, e, dessa forma, fazer projeções mais corretas”, garante Stelmach.
O novo sistema teve início em fevereiro deste ano e duas pessoas da TOTVS acompanham,
dentro da Teckma, o trabalho. As soluções escolhidas para a implantação foram os módulos
TOTVS Obras e Projetos, RH e BackOffice.
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Macrometrópole
São Paulo
não conclui os planos que tem,
mas já projeta outro para 2040
H
Nildo Carlos Oliveira
istoricamente ela desenvolveu-se sem um planejamento rigoroso. Alguns até dizem que sem
planejamento nenhum. Não fosse o primeiro
plano urbano que lhe foi concebido na administração do engenheiro Júlio Prestes, no começo
da década de 1930, possivelmente ela chegaria
à década de 1950 sem a base que lhe permitiu
orientar o crescimento dos primeiros bairros planejados – aqueles
que ainda hoje despertam a veia saudosista de alguns urbanistas:
Cidade Jardim, City Lapa, Pacaembu etc. De qualquer modo, desde
aquela época todos os planos que foram elaborados e debatidos na
Câmara Municipal e em outras instâncias, prevendo o crescimento
da metrópole e os ajustes necessários para a melhoria da ocupação
do solo urbano, não consideraram a possibilidade de inverter a lógica perversa de dar prioridade ao transporte individual. Falar em
transporte integrado é coisa atual.
Júlio Prestes, primeiro e, depois, Prestes Maia, naturalmente com
as minhas desculpas a outros administradores cujas lembranças se esgarçaram no meio do caminho, começaram a tratar a cidade do ponto
de vista de uma orientação urbanística futura. Prestes Maia, em especial, foi o grande responsável por um projeto urbanístico mais acabado
- o Estudo de um plano de avenidas para a cidade de São Paulo – que
marcaria época e que resultaria na remodelação do centro urbano,
estabelecendo um padrão para as novas avenidas: largura de 35 a 50
m. O trabalho, conforme lembrou há algum tempo o engenheiro Cláudio Jacoponi, numa conferência que fez na Federação do Comércio
do Estado de São Paulo, previu o primeiro perímetro de irradiação da
cidade, formado pelas avenidas Mercúrio, Senador Queirós, Ipiranga,
São Luís, rua Maria Paula, praça João Mendes, a então praça Clóvis, a
Rangel Pestana e o Parque Dom Pedro. No mesmo plano, o engenheiro Prestes Maia desenhou as avenidas radiais: a Tiradentes e Prestes
Maia, passando pelo vale do Anhangabaú, até a praça da Bandeira.
E foi prevista a bifurcação, na Nove de Julho, com a então avenida
Itororó, hoje chamada 23 de Maio.
Previsões e planos anteriores à parte, o crescimento anárquico provocou questionamento entre urbanistas, o que levaria o
prefeito Adhemar de Barros a limitar a construção de imóveis a
seis vezes o tamanho do terreno.
Em 1971, já na administração de outro engenheiro, José
Carlos de Figueiredo Ferraz, seria elaborado o Plano Diretor de
Foto: Filipe Araújo/AE
Jardim Romano, que
teve de viver sob as
águas por conta da falta
de um planejamento
que evitasse ocupação
de áreas sujeitas a
inundações
36 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012
Foto: Luiz Guarnieri/AE
A macrometrópole paulistana
acostumou-se a crescer sem planos
ou sem complementar os planos
que tem. Apesar disso – e por conta
das obras que a transformaram
e a identificam como a maior da
América Latina –, parece uma cidade
feita aos trancos e aos pedaços
A cidade já não libera
espaços para a frota de
veículos que continua
aumentando
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Macrometrópole
Desenvolvimento Integrado, que também privilegiou
o transporte individual, embora ele tenha participado
dos projetos de construção do metrô paulistano. Em
2003 foi aprovado o novo Plano Diretor da Cidade, que
incluía recomendações do Estatuto da Cidade e que se
tornou modelo para outros planos diretores. Contudo,
este plano tem prazo de validade: termina em 2012.
A apresentação de um projeto de lei do novo Plano
Diretor Estratégico pós-2012 deverá ganhar força, do
ponto de vista de debates e do envolvimento de segmentos da sociedade, ao longo de 2012, a fim de que a
cidade possa adotá-lo em 2013. Nesse caso, para que
se cogita, por antecipação, de um novo plano, o SP2040? – Resposta do secretário municipal de Desenvolvimento Urbano, Miguel Luiz Bucalem: “O SP-2040
se articula com o plano diretor, mas faz parte de um planejamento de mais longo prazo”.
A expectativa é de que, mesmo sendo de mais longo prazo,
o SP-2040 não deixe de incluir as preocupações imediatas da
cidade com planos que até aqui não foram realizados ou concluídos. Porque, sempre há o risco do esquecimento dos planos
presentes, para se discutir os mais distantes e menos factíveis:
aquele que prevê, em termos reais, a integração dos transportes;
plano de saneamento, com as interfaces dos municípios da região
metropolitana; o plano contra enchentes, resultante de parceria
governo do Estado e administração municipal e plano de micro e
macrodrenagem, além do Plano Municipal de Habitação, que dá
prioridade às áreas mais carentes e que se articula com os demais
para a garantia da correta ocupação do solo urbano.
O SP-2040
O plano SP-2040, iniciativa da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano, desenvolve-se com o apoio de técnicos da
Universidade de São Paulo e pretende integrar políticas públicas,
interagir com planos setoriais, atrair investimentos e acenar com
parcerias para se tornar viável.
A finalidade é orientar transformações na cidade, recomendando novas formas de organização social, econômica, urbana
e ambiental tendo em conta a melhoria da qualidade de vida
da população. Centra-se em cinco eixos julgados estratégicos:
coesão social, desenvolvimento urbano, melhoria ambiental, mobilidade e oportunidade de negócios.
O estudo que costura o pensamento sobre coesão social foi
coordenado pelo professor Marcelo Romero (FAU-USP) em colaboração com os professores Alfredo Behrens (Fundação Instituto
de Administração) e Valter Caldana (Universidade Mackenzie) e sinaliza que a desigualdade social, urbana e territorial da cidade foi
produzida a partir do processo histórico de desenvolvimento de SP
e do País. “... a desigualdade urbana é fenômeno ao mesmo tempo
38 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012
Estação do metrô: a demanda extrapolou as previsões
social e territorial, na qual diversos componentes se sobrepõem e se
reforçam de forma cumulativa”, enfatiza o estudo. Nesse sentido,
a visão de futuro de SP para 2040 está “fortemente comprometida
com a inclusão social e com a redução expressiva de suas diferentes formas de desigualdade, com destaque para as desigualdades
de renda, territorial e de acesso a serviços públicos”.
Quanto ao eixo “desenvolvimento urbano”, coordenado pelo
Professor Pedro Taddei Neto (FAU– USP), com a participação da
professora Marta Dora Gorstein (FAU-USP) e da também professora Regina Maria Prosperi Meyer (FAU-USP), a ideia é de que “o
rápido e intenso processo de formação da cidade de São Paulo
produziu uma estrutura territorialmente desequilibrada. Está expressa no desenvolvimento desigual das atividades urbanas pelo
território, onde a densidade populacional é maior nas áreas periféricas, a atividade econômica e os empregos a ela relacionados
se concentram fortemente no centro expandido”. Por conta disso,
a São Paulo de 2040 “deve se tornar uma base eficiente do ponto
de vista territorial e funcional garantindo um bom desempenho
urbano para exercer um papel decisivo na internacionalização da
economia nacional”.
Sobre melhoria ambiental, os professores Mário Thadeu Lemes de Barros (POLI-USP, coordenador), José Goldemberg (IEEUSP), Marco Antônio Palermo (POLI-USP), Maria Cecília Loschiavo
(FAU-USP), Mônica Ferreira do Amaral Porto (POLI-USP) e Oswaldo
Lucon (IEE-USP), acentuam que, historicamente, os processos de
industrialização e de urbanização impactaram negativamente os
componentes básicos dos ecossistemas, a saber: água, ar e solo.
“Esse foi o caso da cidade de São Paulo e de sua região metropolitana, as quais vivenciaram processos extremamente rápidos
e intensos de industrialização e urbanização, ancorados em um
explosivo crescimento populacional. Tais processos estão na base
de uma miríade de desequilíbrios estruturais, sendo que dentre tais
desequilíbrios destacam-se os ambientais. Nesse sentido, a principal meta ambiental para São Paulo em 2040 é integrar o tecido
Foto: Álvaro Rodrigues dos Santos
urbano com os componentes básicos dos ecossistemas, de
tal forma a tornar a vida dos seus cidadãos mais aprazível,
saudável e segura ao mesmo tempo em que permitir maior
equilíbrio entre meio ambiente e todos impactos decorrentes das ações humanas na cidade”.
O professor Orlando Strambi (POLI-USP, coordenador),
os professores Mario Garcia (POLI-USP) e José Roberto
Cardoso (POLI-USP) trataram, no SP-2040, do estudo relativo às questões de mobilidade urbana. Enfatizam que “o
sistema se caracteriza por alta demanda por deslocamentos de longa distância; grande dependência de meios de
transporte motorizados e sistema de transporte coletivo
insuficiente e nem sempre devidamente integrado; e sistema de acesso e trânsito de pessoas e cargas à cidade e pela
cidade insuficiente e ineficiente. Tal sistema (e os desequilíbrios a
ele correspondentes) foi gestado ao longo do processo de desenvolvimento da cidade no qual os meios de transporte motorizados
e individuais foram privilegiados conjuntamente a padrão horizontal de expansão da cidade”. Em razão disso, o objetivo básico
da estratégia de mobilidade para São Paulo em 2040 é aproximar as pessoas das oportunidades e das suas atividades coti-
Áreas de risco: o poder público
deveria ser responsabilizado pelas
tragédias que elas provocam
dianas, como estudo, trabalho, consumo, lazer e entretenimento.
Já o item sobre oportunidades de negócios foi tratado pelo
professor Reinaldo Guerreiro (FEA-USP), que contou com a colaboração do professor Heleno Martins Pioner (FEA-USP). Eles
entendem que a partir do processo de reformas dos anos 1990,
“a economia brasileira, em geral, e a economia paulistana, em
particular, embarcaram em intenso processo de reestruturação
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Macrometrópole
Dinheiro público
jogado no lixo
Não dá para deixar passar em brancas nuvens a informação
de que o governo paulista atirou R$ 160 milhões em sistema de
despoluição do canal do rio Pinheiros inutilmente. Pior ainda:
não dá para acreditar que ele tenha deixado passar dez anos
para, só então, constatar a inutilidade dos gastos.
Lembro a ampla divulgação do sistema na época em que se
preparava o ambiente para a sua adoção. A palavra oficial era
de que as vantagens seriam inúmeras. O sistema reduziria a poluição das águas que seriam canalizadas para o abastecimento e
geração de energia elétrica da usina Henry Borden, em Cubatão.
E que a tecnologia da flotação, empregando processos físicoquímicos, agruparia as partículas sólidas na superfície da água,
facilitando a remoção do lixo que ali ficaria concentrado.
Tudo parecia fácil, simples, operacional. Mas, ao longo dos
anos, quem passasse pelas margens do rio, observaria que ele
continuava a ser um canal de esgotos a céu aberto. Até que testes mais recentes e precisos, realizados por decisão da Justiça,
comprovaram a inocuidade da operação, finalmente suspensa. E,
nesses dias, veio a palavra final do poder público: o uso daquele
volume de dinheiro dos contribuintes teve resultado zero.
Zero, não, diria a voz oficial. Ela acentuaria que “a limpeza
de um canal como o Pinheiros é sempre controversa”, mas que
o investimento não seria inútil, pois, “apesar de todo o dinheiro
gasto, a experiência valeu como aprendizado”.
Um governo que tem uma empresa como a Sabesp e uma
experiência de décadas no abastecimento e tratamento de água,
não pode gastar aquele volume de recursos em “aprendizado”. E
deveria saber que o primeiro passo no caminho para a despoluição do canal do rio Pinheiros ou de qualquer outro rio é tratar
os cursos d´água que chegam até ele, a fim de que toneladas de
esgoto de toda ordem não sejam ali despejadas. (Publicado no
Bog do Nildo, hospedado no site revistaoempreiteiro.com.br)
produtiva. A indústria que emerge desse processo e a sua parcela
que fica em São Paulo é uma indústria mais produtiva e mais intensiva em conhecimento, tecnologia e inovação, e que depende
de fatores de aglomeração modernos relacionados, por exemplo,
à oferta de serviços especializados e à oferta de mão de obra
diversificada e qualificada”.
O estudo considera que, por causa das mudanças recentes na
economia da cidade, a economia paulistana se caracterizará, em
2040, por dispor de uma estrutura produtiva intensiva em baixo
40 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012
carbono, diversificada, rica em oportunidades para empresas e
trabalhadores. “Desenvolvida a partir de uma forte infraestrutura
de conhecimento, intensiva em criatividade, tecnologia e inovação, o seu núcleo dinâmico se baseará nas interações entre
atividades econômicas integradas, diversificadas, sofisticadas e
complexas, sejam elas de serviços ou industriais. Isso permitirá
que a cidade reforce seus papeis de polo produtor de bens e serviços sofisticados, de centro de comando da economia nacional
e de centro de articulação de espaços regionais e nacionais com
os mercados externos”.
A realidade que se tem
A realidade que se tem são os planos que deixaram de ser feitos ou que vêm sendo gradativamente empurrados com a barriga
pelas diversas administrações, por um motivo ou outro, sobretudo
porque não se segue uma escala de prioridades na política de investimentos. A prioridade ao transporte individual ajudou no desenvolvimento de um paradoxo: a qualquer momento, por excesso
de veículos, a cidade pode parar não episodicamente, conforme
tem ocorrido, mas de maneira contínua, senão, totalmente. O remédio será a integração dos diversos modais de transporte. Hoje,
não têm sentido mais as enormes defasagens entre a construção
de uma linha de metrô e outra. Na medida em que as defasagens
acontecem, mais a cidade terá linhas com estações que, entregues,
não atendem à demanda prevista, a exemplo do que vem acontecendo com aquelas da linha Amarela (4), como a Butantã.
Nas grandes cidades, a opção tem sido na direção da compatibilização dos sistemas de baixa e média capacidade, como o VLT
e o monotrilho, com uma ressalva: estes devem ser complementares aos sistemas estruturadores de alta capacidade como metrô
e trem metropolitano.
O plano de saneamento continua inconcluso. Previsto na Lei
Orgânica do Município desde 1990, ele se articula com os planos da Companhia Estadual de Saneamento Básico, a Sabesp. Há
múltiplas interferências e ele só funcionará se implementado em
todas as suas interfaces. Enquanto as águas hoje despejadas no
canal do rio Pinheiros e no rio Tietê não receberem tratamento
prévio satisfatório, em estações de tratamento, não haverá como
se falar em saneamento na cidade de São Paulo. Há alguns meses uma denúncia deixou à mostra um velho problema paulistano: um condomínio de alto luxo vinha jogando seus detritos, in
natura, diretamente no canal do rio Pinheiros. E outro episódio
tornou mais grave a carência de uma política para a despoluição
do rio Tietê, na região metropolitana: o governo paulista admitiu
que o volume de nada menos que R$ 160 milhões, aplicado num
sistema de despoluição, não tivera efeito algum. Resumindo: o
dinheiro havia sido jogado literalmente no rio.
O plano contra enchentes em São Paulo, que deveria ter
sido executado há décadas – pois há décadas são conhecidos
Trechos do rio Tietê e do canal do rio Pinheiros: a degradação sem máscara
os pontos tradicionais de inundações e alagamento na cidade –
somente agora parece ter adquirido contornos práticos. O governador Geraldo Alckmin e o prefeito Gilberto Kassab anunciaram
a aplicação de R$ 800 milhões em obras de combate às enchentes. Os trabalhos incluiriam a remoção de 4,18 milhões de m³
de resíduos da calha do rio Tietê ao longo de 2011; a abertura
de licitação para a compra de três turbinas para aumentar em
60% a capacidade de bombeamento do canal do rio Pinheiros para
a represa Billings; a canalização de córregos; a construção de mais
dois piscinões – um na divisa entre São Paulo e São Caetano; a construção de um sistema de canais entre São Paulo e Guarulhos para o
desassoreamento do rio Tietê e a criação do Parque Várzea do Tietê,
com a remoção de 5 mil famílias que viviam às margens do rio.
Pois bem. O verão chegou e nos próximos meses teremos um
quadro real do que pode acontecer, caso esse plano AlckminKassab venha a dar em água.
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Foto: Álvaro Rodrigues dos Santos
Macrometrópole
Outra visão do Tietê, onde
recursos têm ficado submersos
Sistema viário
O sistema viário, conquanto comece muito firme, na sociedade, uma inflexão para a consciência em favor do transporte
coletivo, não pode ficar à mercê de interesses de grupos, dentro
da política geral para a necessidade de serem construídas obras
de infraestrutura. Há casos em que não podem ser excluídas
obras essenciais – pontes e viadutos – e, sobretudo, precisa ser
dada prioridade aos programas de manutenção das estruturas
em funcionamento, a fim de que não se repita, numa escalada
ininterrupta, o que aconteceu no mês passado com a ponte dos
Remédios, cuja parte lateral desabou.
Embora tenham sido executadas obras de ampliação e melhoria das marginais do Tietê, a fim de acelerar o fluxo de veículos
Complexo Anhanguera: O alívio para o tráfego pode ser temporário,
se outras opções não vieram a ser adotadas
42 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012
para a via Dutra e, em especial, para as rodovias Ayrton Senna e
Carvalho Pinto, ainda se discute se obras daquele tipo seriam as
opções corretas, numa fase em que se procura reduzir o trânsito
para aquelas vias tendo em vista à recuperação futura das margens do rio.
Contudo, enquanto isso não acontece, não há como se deixar
de entender que são muito importantes obras como as do Complexo Anhanguera, que intervieram na via Marginal, Anhanguera
e bairros da região Oeste da cidade.
O complexo, em plena operação, é formado por uma ponte
que liga o bairro da Lapa à via Anhanguera, com 596 m de extensão e três faixas de tráfego. Por uma segunda ponte, que liga a
Marginal do Tietê, sentido Castello/Dutra à via Anhanguera, com
524 m de extensão e duas faixas de tráfego e uma terceira ponte,
que liga a via Anhanguera à Marginal Tietê, sentido Dutra.
Essas obras permitiram a reformulação do tráfego desde a
ponte Atílio Fontana, na Marginal Tietê, na cidade, até o km 19
da Anhanguera, acelerando o fluxo de tráfego rumo às cidades
de Campinas e Jundiaí, Osasco e bairros da Lapa, Pirituba e Vila
Leopoldina. No conjunto dessas obras está também o viaduto em
curva que sai da Anhanguera, em direção à Marginal Tietê (sentido Castello Branco), com 315 m de extensão e duas faixas de
tráfego.
O sistema viário atual, mesmo com as melhorias proporcionadas pelos trechos do Rodoanel já entregues, não pode ser apontado como a solução adequada. O futuro é a integração dos sistemas de transporte, com a mobilidade urbana colocada a favor do
cidadão e com a cidade a favor de todos. Se assim for.
Macrometrópole
Uma promessa de
luz no
fim do túnel
Extremamente deteriorada, a região da Luz no
centro de São Paulo, que sofre com o abandono e
com a invasão de traficantes e usuários de drogas,
agora ganha fôlego com projeto que promete sua
recuperação urbana, comercial e social
Joás Ferreira
O
objetivo principal do Projeto Nova Luz é a requalificação
das 45 quadras e duas praças que compõem parte da região
central da cidade de São Paulo, conhecida pejorativamente
como Cracolândia, onde se concentram traficantes e usuários de
drogas, em especial o crack e, mais recentemente, o oxi.
O projeto foi desenvolvido pela prefeitura de São Paulo, por
intermédio da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano
(SMDU), em parceria com o consórcio formado pelas empresas
Concremat Engenharia, Companhia City, Aecom Technology Corporation e Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Em sua versão final, apresentada em agosto de 2011, foram
incorporadas sugestões da população acolhidas ao longo do extenso período de consultas públicas, englobando duas audiências
públicas na Câmara Municipal, reuniões com os órgãos de meio
ambiente, de patrimônio histórico e cultural, de política urbana, de
legislação urbanística e de operação urbana, entre outros.
As discussões também envolveram reuniões com representantes ligados ao setor de comércio, de habitação e do Conselho Gestor da Zona Especial de Interesse Social (ZEIS), além de milhares
de atendimentos públicos e dezenas de reuniões no Espaço Projeto
Nova Luz.
A partir disso, entre os aspectos adicionados ao projeto, está
44 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012
O projeto prevê, entre outras
medidas saneadoras, a criação de
um bulevar cultural
a condição de que o concessionário que vencer a licitação para
implantação do projeto urbanístico responderá pelas melhorias de
infraestrutura públicas, mas, não será o único responsável pelas
mudanças do espaço privado e pela execução das obras.
Os proprietários e comerciantes locais poderão se unir e realizar as intervenções nos imóveis de uma quadra por conta própria,
atendendo às diretrizes do projeto urbanístico, por meio de implantação voluntária – inovação que foi sugerida pela população. Nesse
caso, caberá ao concessionário verificar se os proprietários estão
executando as intervenções de acordo com as diretrizes do projeto.
Outra possibilidade é a implantação compartilhada, uma atuação
conjunta entre o concessionário e proprietários dos imóveis.
Adicionalmente, um cronograma das intervenções nas quadras
foi integrado ao projeto como forma de minimizar o impacto das
obras sobre a dinâmica local. O projeto vai ser implantado em cinco fases, cada uma correspondente a um conjunto de quadras que
serão renovadas sucessivamente. A primeira fase das intervenções,
aplicada em lotes maiores, se inicia logo após a concessão e deverá
ser concluída ao final do quinto ano de concessão. A previsão é que
a execução das obras de cada fase dure dois anos e meio. Assim,
na sequência, as intervenções serão feitas do ano 5 ao ano 7,5
(segunda fase); do 7.5° ao 10° ano (terceira fase); 10° ao ano 12,5
(quarta fase) e do 12,5° ao 15° ano, o que conclui todas intervenções planejadas.
Benefícios
O projeto consolidado de requalificação urbana da Nova Luz
prevê ampliar em 94% o potencial construtivo da região, agregando cerca de 1 milhão de m2 de novas construções e viabilizando o
aumento do potencial comercial e de serviços da região em cerca
de 370 mil m2. Estima-se que, com as intervenções previstas, a Nova
Luz dobre a sua população residente, acolhendo aproximadamente
12 mil novos moradores, e amplie em 80% o número de postos de
trabalho na região, com cerca de 19.400 novos empregos.
O projeto urbanístico para a Nova Luz prevê complementar-
mente a criação de uma malha de ciclovia com 7,3 km de extensão,
melhor conexão dos pedestres com as estações de metrô e de trem,
alargamento das calçadas e acessibilidade universal, além de aproximadamente 6 mil m2 de novas praças e áreas livres e a criação de
uma área de entretenimento com cinemas e teatros. Desta forma,
a proposta pretende não apenas garantir a permanência dos moradores e comerciantes que hoje fazem parte da geografia humana
e econômica do local, como também trazer benefícios à população
paulistana como um todo.
Os atuais e futuros moradores da região da Nova Luz serão
ainda beneficiados com a implantação de equipamentos sociais
e culturais. No tocante à educação, está prevista a instalação de
uma Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI) e uma de Escola
Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) e três creches.
Serão implantados uma Unidade Básica de Saúde (UBS), um
Centro de Atenção ao Idoso, um posto de assistência social e o
Centro Integrado de Promoção Humana, com biblioteca e áreas
para capacitação. A maioria desses equipamentos será alocada na
ZEIS (Zona Especial de Interesse Social), que poderá contar também com 2.152 novas unidades habitacionais, sendo 1.160 unidades de interesse social (0 a 6 salários mínimos) e 992 de mercado
Todo esforço é necessário
para mudar esse cenário de
degradação social e urbana
popular (priorizando a população com renda familiar entre zero e
16 salários mínimos).
O Conselho Gestor da ZEIS, previsto desde o início do projeto,
já foi estabelecido. Com o objetivo de colaborar na elaboração e
desenvolvimento do plano de urbanização da ZEIS, o conselho é
formado por representantes da prefeitura, dos moradores e das entidades sociais que militam na região da Nova Luz.
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Macrometrópole
Integração
é desafio nas ações governamentais
Abastecimento de água, saneamento, habitação e
transporte são alguns dos temas que tiram o sono
dos administradores quando se fala em Região
Metropolitana de São Paulo (RMSP)
Joás Ferreira
“O que não falta para
o nosso município é
desafio”, diz Miguel
Luiz Bucalem
46 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012
Foto: Divulgação/IE
“N
ão dá para pensar no desenvolvimento de uma mancha
metropolitana, como a que envolve a cidade de São
Paulo, sem que isso seja feito de forma integrada”. A
frase é de Miguel Luiz Bucalem, secretário municipal de Desenvolvimento Urbano da capital paulista, e expressa bem como devem
ser pautadas as ações governamentais na maior cidade do País.
A prefeitura de São Paulo vê com muito bons olhos a evolução institucional da região metropolitana e a formação de um
conselho de desenvolvimento. “Esse é um momento muito bom,
em que se reconhece a necessidade de integração das políticas
governamentais”.
Bucalem destaca: “O que não falta para o nosso município é
desafio. Entre os muitos, estão a mobilidade e a acessibilidade.
Problemas que exigem o aumento da infraestrutura de transporte, mas que, também, são uma questão de como ocupar a cidade,
aproximando o emprego da moradia”.
Outra demanda está na área habitacional. “A prefeitura tem uma
forte atuação na urbanização de assentamentos precários, que ganha
um novo horizonte, agora, com o Plano Municipal de Habitação”.
Do ponto de vista da água, talvez o maior desafio seja a questão do seu manejo e drenagem. Para isso, está sendo desenvolvido
o Plano Municipal de Drenagem, articulado com o Plano da Bacia
do Alto Tietê, que está sendo revisado pelo governo estadual.
Em relação ao abastecimento de água e ao saneamento básico, a prefeitura tem contratos de concessão com a Sabesp, o que
“acaba criando a dinâmica para o atendimento das necessidades
do município e, obviamente, deve ter uma abordagem metropolitana, porque vários dos desafios da cidade, principalmente no
aspecto de poluição dos rios, dependem de um equacionamento
com abrangência mais ampla”.
Quando se tratam de ações governamentais surge, inevitavelmente, a pergunta sobre os recursos necessários para isso. Bucalem diz que só para equacionar o Plano Municipal de Habitação,
até 2024, serão necessários muito mais do que R$ 50 bilhões
e, para as áreas de risco, outros R$ 10 bilhões. “São vultosos os
investimentos, mas a melhoria decorrente deverá ser muito mais
significativa”, ressalva o secretário.
Água
O Sistema Integrado de Abastecimento de Água, operado pela
Sabesp, atende a 29 municípios da RMSP. A prefeitura de São
Paulo possui contrato de concessão com a empresa para prover o
abastecimento da população.
A cobertura do serviço de abastecimento de água atinge a
99%. O pequeno déficit de cobertura está no atendimento a favelas e loteamentos irregulares. Dentro desse total, a principal
demanda de água está relacionada com o consumo doméstico.
De acordo com o secretário municipal, o planejamento futuro da prefeitura pressupõe a possibilidade de estabelecer, nos
códigos para construções e obras, exigência com relação à redução do consumo de água em edificações. Entre elas, estão a
hidrometração individualizada e a instalação de equipamentos
poupadores de água, como chuveiros, torneiras etc.
O planejamento municipal também prevê o oferecimento de
incentivos para edifícios inteligentes que promovam redução de
consumo em todas as atividades. Para dar o exemplo, Bucalem
destaca que a prefeitura é a principal usuária de água de reuso,
produzida nas estações de tratamento de esgotos, para lavagem
de ruas e de grandes áreas públicas.
“Em relação ao controle dos mananciais, a prefeitura mantém
um sistema de fiscalização para o controle de uso e ocupação
do solo nas áreas de proteção e vem investindo em programas
de requalificação urbana das áreas de proteção, de mananciais e
na restauração da vegetação da mata ciliar dos reservatórios de
abastecimento”, salienta o secretário.
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“Não existe rio municipal”,
afirma especialista
Foto: Divulgação Sabesp
Macrometrópole
O professor de engenharia civil e ambiental da
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo
(Poli-USP) e presidente do Fórum Mundial da Água
(WWF – Marselha 2012), Benedito Braga, afirma
que “é muito importante que a discussão seja abordada de forma ampla, visto que a cidade de São
Paulo está inserida numa grande região metropolitana que envolve outras cidades, tanto a montante
“A discussão
deve ser ampla,
visto que a
cidade de São
Paulo está
inserida numa
grande região
metropolitana”,
explica Benedito
Braga
Imagem de um poço de ataque
de obra do sistema de coleta de
esgoto do Projeto Tietê
como a jusante. Além disso, é promissor o fato de
que a secretaria municipal reconheça a necessidadede que haja uma integração entre os diversos
Saneamento
municípios dessa região. E, dentro desse universo,
No que diz respeito ao saneamento, contrato com a Sabesp
garante que o município realize o atendimento de 91% de coleta e 62% de tratamento do esgoto da capital. “É importante
mencionar que sofremos o impacto dos municípios que estão a
montante da bacia hidrográfica, operados ou não pela Sabesp,
que apresentam índices mais baixos de coleta e tratamento de
esgotos”, explica Bucalem.
A cidade de São Paulo faz parte do Sistema Integrado de
Coleta e Tratamento de Esgotos e possui contrato de programa
com a Sabesp, por 30 anos para prover o serviço à população. De
acordo com o secretário, “é necessário buscar a universalização
do serviço e controlar as cargas difusas de poluição”.
Bucalem frisa que a prefeitura está empenhada em recuperar
os cursos d’água para a melhoria do meio ambiente e da paisagem
urbana. O Programa Córrego Limpo, em parceria com a Sabesp,
vem aumentando a eficiência da coleta e o encaminhamento dos
esgotos às estações de tratamento. Já foram concluídos, segundo
ele, 100 córregos e a próxima etapa incluirá a despoluição de
mais 52 córregos, até dezembro de 2012.
vejo como muito positivo e importante o estabelecimento de uma autoridade metropolitana”.
Braga vai além. Segundo ele, a RMSP não é
a única que tem importância social e econômica
dentro do estado: “Nós temos o que se chama
de macrometrópole paulista, que vai desde a Baixada Santista
até Campinas, envolvendo diversas aglomerações urbanas do
Vale do Paraíba e da região de Sorocaba. Isso ganha especial
destaque quando se sabe, por exemplo, que 50% da água que
São Paulo consome não vêm da sua própria bacia hidrográfica,
mas sim de outras bacias circunvizinhas”.
Para ele, a gestão integrada de recursos hídricos envolve não só
a água em si e seus múltiplos aproveitamentos, mas abrange também o uso do solo. “A água tem domínio federal e estadual, mas, se
não tratarmos o uso do solo conjuntamente, nunca haverá solução
para o problema. Daí a necessidade de que estado e municípios trabalhem juntos, porque a prefeitura de São Paulo só poderá realizar
uma obra no Aricanduva, por exemplo, se tiver a devida autorização
do Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE). Não existe rio
municipal. Entretanto, toda a drenagem que se faz num rio, como o
Aricanduva, é de responsabilidade da prefeitura envolvida”.
Além disso, o professor da Poli enfatiza que é preciso atentar
para o uso múltiplo das águas na RMSP, no que diz respeito ao
abastecimento, navegação, lazer e turismo, geração de energia,
entre outros. “Não podemos, por exemplo, nos esquecer de que
zados lá na usina hidrelétrica de Cubatão. E, hoje, o Brasil precisa
de energia para crescer. Aquela planta de geração de energia tem
problemas porque, entre outros motivos, a qualidade das águas
que a movimentam não é compatível com o seu funcionamento”.
48 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012
Foto: Álvaro Rodrigues dos Santos
temos mais de 800 MW que não estão sendo devidamente utili-
A prefeitura e o Grupo de Estudos sobre São Paulo (GESP)
atuam no programa de saneamento com a Sabesp para a operação do sistema de coleta e tratamento de esgotos, com metas de índices de cobertura, índices de tratamento, eficiência do
tratamento e outros indicadores operacionais de desempenho. O
município, que já é usuário de água de reuso, também desenvolve
o Programa de Parques Lineares, visando o aumento das faixas de
proteção vegetal ao longo dos cursos d’água.
-!)3$%
#/.4!4/3,)34!$/3$/33%'5).4%33%'-%.4/3
Drenagem Urbana
- Fornecedores dos segmentos de Comunicação, Controle de
Tráfego Aéreo, Navegação e Meteorologia; Ground Support;
Construção e Design; Operações; Meio Ambiente; tecnologia
da Informação; Segurança, Aeroporto Executivo e Terminais
de Carga
As enchentes que ocorrem todos os anos no período chuvoso
são um grave problema para a cidade. Para combatê-las, a prefeitura, além das ações tradicionais de ampliação da infraestrutura
de drenagem e de operação e manutenção do sistema, iniciou os
trabalhos do primeiro Plano Diretor de Drenagem da Cidade de
São Paulo e vem procurando fazer a integração entre esse plano
e a revisão do Plano Diretor do Alto Tietê (PDMAT3).
O conjunto de medidas estruturais e não estruturais visa à
recuperação e à preservação de bacias urbanas e está associado
aos programas de reassentamento de famílias em áreas de risco.
- Aeroportos brasileiros listados com dados técnicos exclusivos
- Companhias aéreas que operam no País
- Principais eventos e feiras internacionais do setor
- Relação completa dos órgãos de ensino localizados no Brasil
que oferecem cursos para o setor
- Entidades relacionadas a infraestrutura aeroportuária e aviação
- Relação dos órgãos governamentais intervenientes
A impermeabilização de ruas,
calçadas e outros logradouros
impede que o solo urbano absorva
as águas pluviais, o que favorece a
ocorrência de áreas alagadas
/&%24!%8#,53)6!
$%,!.£!-%.4/
Foto: Álvaro Rodrigues dos Santos
DE R$ 320,00 POR R$ 280,00
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Macrometrópole
Metrô prevê expansão
apesar de prováveis contratempos
Com 74,3 km de linhas e 64 estações, o Metrô de São Paulo
pretende alcançar 101,3 km de rede até 2014. A expansão envolve
prolongamento de linhas já existentes e também a inauguração de
nova linha. Porém, processos de desapropriações — associações de
moradores já se mobilizam contra o projeto do monotrilho - e supostas irregularidades nas licitações — pelo menos em duas ocasiões
obras de linhas em expansão foram paralisadas devido a suspeitas
de irregularidades - ameaçam o crescimento do sistema metroviário
da principal cidade brasileira.
Atualmente, por dia útil, a rede metroviária de São Paulo transporta 4,2 milhões de passageiros — a previsão em 2016 é atender 7,5
milhões de usuários. O número elevado de passageiros transportados
associado ao reduzido tamanho da rede deu ao metro paulista o
título de “o mais lotado do mundo”.
No âmbito dos prolongamentos do metro paulistano, estão incluídas as linhas 2 (verde), 4 (amarela) e 5 (lilás).
No caso do prolongamento da linha 2 (em obras), em 2014 pretende-se inaugurar em sistema de monotrilho (com 54 trens) tre-
construção da linha 6 (laranja), ligando Brasilândia a estação de São
cho de 13,2 km entre Vila Prudente e São Mateus (posteriormente,
Joaquim (linha 1 – azul); da linha 15 (branca), entre a estação Vila
projeta-se chegar até Cidade Tiradentes).
Prudente (linha 2 – verde) e Tiquatira; e da linha 18 (bronze), entre
Já a linha 4 (sob a responsabilidade de operação e manutenção
estação Tamanduateí (linha 2 – verde) e a região do ABC paulista.
da concessionária privada ViaQuatro), deverá ter trecho de 3,9 km,
entre Butantã e Vila Sônia, a ser concluído em 2014 – atualmente,
CPTM
projeto em fase de licitação. Posteriormente, pretende-se estender a
Com relação ao sistema da Companhia Paulista de Trens Me-
linha 4 até Taboão da Serra a partir da Vila Sônia.
Sobre a linha 5, trecho de 600 m entre Largo 13 e Adolfo Pinheiro – já em obras - está previsto de ser entregue em 2013 – até 2015,
tropolitanos (CPTM), com 89 estações em toda Grande São Paulo e
260 km de linhas, o horizonte até 2015 também envolve projetos de
ampliação da rede.
a linha deverá chegar a Chácara Klabin (alguns trechos, inclusive,
Entre as iniciativas estão o Expresso Guarulhos (capital a cida-
também já estão em obras). A linha 5, que atualmente funciona do
de de Guarulhos), Expresso ABC (Estação da Luz a Mauá), Expresso
Capão Redondo ao Largo 13, tem projeto de extensão a partir do
Leste (Guaianazes-Suzano) – esta em obras, e a extensão da Linha 9
Capão Redondo até Jardim Ângela.
(Esmeralda) entre Grajaú e Varginha – obras previstas de começarem
Com relação à linha nova (17 – ouro), em fase de licenciamento,
que ligará o aeroporto de Congonhas ao Morumbi (interligando-se
a linha 4) por meio de monotrilho com 24 trens, serão 7,7 km de
trecho, com entrega programada para 2014. Prevê-se no futuro o
prolongamento da linha 17 até a estação do Jabaquara (linha 3 –
azul).
A Secretaria Estadual de Transportes Metropolitanos de São
Paulo prevê no Plano Plurianual 2011-2015 recursos para o metrô
na ordem de R$ 45 bilhões, sendo que R$ 15 bilhões por meio de
parceria público-privada.
Com relação ainda ao metrô de São Paulo, há ainda projetos de
50 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012
em 2012.
Essas intervenções, na definição do secretário, têm sido designadas como ”projetos
resilientes”, que permitem a convivência
harmoniosa da cidade com os seus rios e
com as suas águas urbanas, trazendo melhoria de qualidade de vida para a população da cidade.
Entre as suas metas, a prefeitura quer
adotar medidas de controle de cheias, que
gradativamente deverão assegurar, no ano
2040, um grau de proteção hidrológica
correspondente a 100 anos em toda cidade
de São Paulo; ampliar o programa de Parques Lineares, recuperando a vegetação
das margens e criando áreas potenciais
para instalação de parques, áreas de lazer
e de esportes; aumentar a capacidade de
infiltração nas áreas urbanizadas, inclusive para a minimização da carga difusa
afluente aos rios da cidade; e implantar
reservatórios de retenção, quando necessários, de forma ambientalmente adequada, compondo o paisagismo da cidade e
com estruturas de parque e lazer.
O município tem sua localização geográfica no centro da Bacia do Alto Tietê.
Por isso, sofre com a enchente, agravada pela ocupação urbana de montante e
também impacta nas áreas de jusante. As
obras contra enchentes podem controlar
os efeitos negativos das cheias em seu
território e minimizar o impacto nos municípios de jusante.
“A prefeitura e a Fundação Centro Tecnológico de Hidráulica (FCTH), entidade ligada à Escola Politécnica da Universidade de
São Paulo (Poli-USP), estão desenvolvendo o
Plano Diretor de Drenagem do Município de
São Paulo. Isso tem sido feito de forma integrada, envolvendo também o governo do
Estado”, conclui Miguel Luiz Bucalem.
(Matéria baseada em palestra promovida
pelo Instituto de Engenharia em
parceria com o Sindicato Nacional das
Empresas de Arquitetura e Engenharia
Consultiva (Sinaenco), sob o tema geral
“Recursos hídricos, saneamento e gestão
metropolitana – Novos desafios”)
www.revistaoempreiteiro.com.br | 51
Macrometrópole
É preciso dobrar
capacidade
de tratamento de esgoto até 2018
O instituto Trata Brasil alerta que a geração de
esgoto na RMSP tende a superar a capacidade
das ETEs
P
ara universalizar a coleta e o tratamento de esgotos na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), até 2018, a Sabesp
terá de dobrar a capacidade das estações de tratamento de
esgotos (ETE), evoluindo dos atuais 18 m³/s para 36 m³/s. É o que
informa a presidente da empresa, Dilma Pena.
O Instituto Trata Brasil não vislumbra, a curto prazo, a solução
para o problema, pois acredita que a índice de crescimento da demanda por serviços da saneamento no estado ainda se mantém maior do
que a capacidade de atendimento, mesmo com todos os investimentos
alocados. Na região Sudeste, onde está inserido o estado, segundo o
Atlas do Saneamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), divulgado em fins de 2011, 95% dos municípios possuem algum tipo de coleta, mais da metade dos domicílios tem acesso à rede
de esgoto (68,9%) e em média 48% de municípios oferecem tratamento de esgoto.
Dilma Pena prevê, entretanto, que em 2015 uma parte significativa daquela capacidade (26 m³/s) já deverá ter sido atingida, quando
poderá estar concluída a implantação da terceira etapa do Projeto Tietê. Esta etapa envolve a extensão dos serviços de saneamento para 1,6
milhão de pessoas, com investimentos de R$ 739,4 milhões em sistemas de coleta e tratamento de esgotos, em dez municípios da RMSP.
A terceira etapa é constituída por obras em 29 municípios, sendo que
em 19 já estão iniciadas.
Para a quarta etapa do Projeto Tietê, segundo Dilma Pena, já
foi desenvolvido o planejamento estratégico e algumas iniciativas já
têm contratados os estudos de projeto básico. A operação urbana da
Zona Leste, da capital, envolve dois córregos muito importantes da
região (Jacu e Itaquera) que estão dentro dessa quarta etapa, para os
quais já foram iniciadas as negociações de financiamento, via FGTS.
“Essa operação deve ser realizada em consonância com a prefeitura,
pois exigirá o remanejo de quase mil famílias”, destaca Dilma.
Além disso, e sempre com vistas à universalização dos seus
52 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012
“Empresa de saneamento, para ser sustentável
e competitiva e poder universalizar os serviços,
tem de ter lucro”, afirma Dilma Pena
serviços, a Sabesp está desenvolvendo um intenso trabalho de
convencimento para que municípios da RMSP, como Guarulhos,
Diadema, Santo André, Mauá, Mogi das Cruzes, também se integrem ao programa, ao longo da década. A presidente da empresa
afirma que “o rio Tietê só atingirá os níveis de recuperação projetados, se esses municípios estiverem integrados ao projeto”.
Os planos da Sabesp incluem a previsão de investimentos, até
o fim do período previsto, de R$ 16 bilhões, sendo que a maior
parte será destinada para a região metropolitana, com a seguinte
divisão: R$ 5,4 bilhões, em água, e R$ 7,4 bilhões, em esgoto.
Desempenho e planos
Em 2010, a Sabesp teve uma receita líquida de R$ 9,2 bilhões
e o seu lucro foi de R$ 1,6 bilhão líquido, de acordo com sua
presidente. Para ela, uma empresa de saneamento, para ser sustentável e competitiva e poder universalizar os serviços, tem de
ter lucro. “Só assim é possível conseguir financiamentos de longo
O lançamento contínuo de esgotos in
natura, detritos e outros tipos de lixo
degrada o Tietê na Região Metropolitana
Foto: divulgação Sabesp
Joás Ferreira
evolução populacional projetada
em milhões de habitantes
22
21,5
21,5
21
21
20,5
20,5
20,7
19,8
19,9
19
18,5
21,8
21,4
20,2
20
19,5
21,2
21,7
População da RMSP em 2020:
21,8 milhões de pessoas.
Taxa de crescimento: 0,97% a.a.
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 20192020
prazo e a custos compatíveis com a rentabilidade da prestação
dos serviços de saneamento”.
Do lucro auferido, de acordo com a lei das sociedades anônimas, perto de 25% vão para os acionistas e os outros 75% são
usados como contrapartida para os financiamentos, que podem ser
do BID, do Banco Mundial ou do FGTS. “É isso que garante uma estrutura de financiamento programada no longo prazo”, diz Dilma.
O plano de investimentos da companhia prevê a conclusão da
instalação da infraestrutura necessária para universalizar os serviços de saneamento na RMSP. Para que isso se efetive, ela pretende aportar um investimento anual médio de R$ 1,8 bilhão.
No interior do estado, exceto para o litoral norte, a Sabesp
tem obras contratadas ou em fase de licitação. “Acabamos de
lançar um programa para o atendimento de comunidades rurais,
cuja responsabilidade será dividida entre o estado, através de recursos orçamentários, e a Sabesp, no que diz respeito à implantação de sistema simplificado de abastecimento de água. O estado também aportará recursos para a implantação de sistemas
individuais para tratamento de esgoto. As duas áreas prioritárias,
para esse novo plano, serão Vale do Ribeira e região do Paranapanema”, informa.
“Diante de um panorama de mercado de saneamento, que exige uma engenharia inovadora, é preciso destacar o nosso programa de formação de recursos humanos, dentro da empresa”, afirma
Dilma. A partir de 2012, um grupo de pelo menos dez engenheiros
e de outros profissionais fará mestrado e outros cinco, doutorado,
em áreas tidas como importantes para os planos da empresa.
Macrometrópole
A macrometrópole paulista é constituída pelas três principais
regiões metropolitanas – São Paulo (com 20 milhões de habitantes), Campinas (4,8 milhões) e Baixada Santista (1,6 milhão) e mais
parte do eixo Paraíba do Sul (1,7 milhão) e do eixo de Sorocaba
(1,4 milhão). Ela responde por 25% do produto interno bruto (PIB)
nacional. Somente a região metropolitana de São Paulo, representa
17% do PIB. No geral, toda essa região apresenta escassez quantitativa e qualitativa de água, além de exigir alta complexidade e
diversidade de conflitos em termos de gestão de recursos hídricos.
www.revistaoempreiteiro.com.br | 53
Macrometrópole
Capacidade Nominal de Produção de Água (m³/s)
Guaraú
Taiaçupeba
ABV (RCS)
Rio Grande
Casa Grande
Alto Cotia
Baixo Cotia
Ribeirão da Estiva
Total
Média Anual
33
15
14
5
4
1,2
0,9
0,1
73,2
67,8
Informações básicas da Sabesp
• Atende a 364 municípios dos 645 do Estado de São Paulo
• Fornece água a 23,6 milhões de pessoas e serviço de esgoto
a 20 milhões de pessoas
• Vende água tratada no atacado a seis municípios (3,5 milhões de pessoas)
• Atua em parceria em quatro municípios de SP
• Cobre 68% da população urbana do estado
• Receita líquida 2010: R$ 9,2 bilhões
• Lucro líquido 2010: R$ 1,6 bilhão
Principais indicadores operacionais da Sabesp
Ligações (milhões)
Cobertura (%)
Tratamento (%)
Volume faturado (milhões de m3)
Rede (milhares de km)
Perdas de faturamento (%)
Produtividade operacional1
Observação: Dados do Censo de 2010
Água
7,3
100
1.992
63,2
26(2)
848
Esgoto
5,7
81
75
1.434
42,3
-
Medido em ligações por empregado / 2Plano de diminuir essas perdas para 13%, em 2019
1
(Matéria baseada em palestra promovida pelo Instituto de Engenharia
(IE) em parceria com o Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura
e Engenharia Consultiva (Sinaenco), sob o tema geral “Recursos hídricos, saneamento e gestão metropolitana – Novos desafios”)
54 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012
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Macrometrópole
Parar de errar já para que plano futuro
tenha crédito
Álvaro Rodrigues dos Santos*
56 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012
Foto: Mário Bock
C
Como sugere o Plano São Paulo 2040, imaginado pela atual administração da cidade de São Paulo, será sempre necessário e correto mirarmos a cidade que desejamos, para
que decisões e ações públicas e privadas de planejamento e gestão sejam organizadas e implementadas de forma sinérgica, de
acordo com os objetivos então buscados.
Porém, a história de nossas cidades, e em particular daquelas
que compõem a Região Metropolitana de São Paulo, tem mostrado que os planos traçados, por mais ambiciosos e elogiáveis que
tenham sido, não se refletiram na cruel realidade da gestão cotidiana dessas urbes, implicando não só no completo esquecimento
de suas propostas, como no contínuo agravamento dos colossais
e crônicos problemas de infraestrutura.
E não foram poucos, especialmente a partir da década de
1920 do século passado, os planos propostos para a cidade de
São Paulo e para a metrópole paulistana, originados sempre de
eminentes engenheiros e urbanistas: Fonseca Rodrigues, Saturnino de Brito, Ulhôa Cintra, Prestes Maia, José Carlos de Figueiredo
Ferraz, Jorge Wilheim... Mas o fato é que, frente aos desafios
implícitos e explícitos dos mais variados planos, prevaleceu sempre o acomodamento dos poderes municipais à inglória tarefa de
administrar cosmeticamente as tendências espontâneas do desenvolvimento urbano, definidas pelo descaso em relação a uma
melhor regulação técnica da expansão urbana e por interesses
comerciais mais imediatos e politicamente atuantes.
Hoje, a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) se nos
apresenta como um horroroso Frankenstein urbano, seja sob que
ângulo e ótica a avaliemos. A fatura social e econômica desse
desuso de um planejamento mais elaborado e efetivamente implementado é altíssima, colocando-nos em situação dramática
frente aos principais problemas da infraestrutura urbana.
Foquemos, como exemplo desses magnos problemas, o fenômeno das áreas de risco geotécnico e das enchentes, essas a cada
O geólogo que tem defendido o diálogo
constante entre homem e natureza
ano mais frequentes, de maior distribuição geográfica e de maior
dimensão hidrológica. Pois bem: hoje não há dúvida alguma sobre o diagnóstico causal de nossas enchentes, e que pode assim
ser definido: “volumes crescentes de água, em tempos sucessivamente menores, sendo escoados para drenagens naturais e construídas, incapazes de lhes dar vazão, tendo como palco uma região geológica já naturalmente caracterizada por sua dificuldade
em dar bom e rápido escoamento às suas águas superficiais”.
A cidade avançando (região Norte) por
áreas periféricas sujeitas ao processo de
erosão, sem qualquer acompanhamento
dos riscos geotécnicos inerentes
Essa terrível equação hidráulica é sustentada e originada da prática secular de uma
cultura técnica e urbanística radicalmente equivocada frente às características naturais
do meio físico atingido pela urbanização. São elementos básicos dessa cultura técnica
equivocada: a generalizada impermeabilização dos espaços urbanos públicos e privados,
a excessiva canalização de rios e córregos, a engenharia de áreas planas, com a qual, via
extensos e intensos serviços de terraplenagem, avança-se sobre as regiões periféricas de
topografia acidentada em um total descompromisso com os processos erosivos correlatos e com a multiplicação de áreas de risco geotécnico, e o crescimento por espraiamento geográfico, com o que seguidas porções do território, incluindo seus mananciais de
água, são incorporados à tentacular e temerária mancha urbana metropolitana.
Decorrência direta, enormes e crescentes volumes de águas pluviais superficiais sobrecarregando sistemas naturais e construídos de drenagem (córregos, rios, galerias, bueiros...), cuja limitada capacidade de vazão é adicionalmente comprometida pelo aporte de
imenso volume de sedimentos oriundos das erosões periféricas (assoreamento).
Frente a esse quadro, por mais incrível e absurdo que possa parecer, a cidade continua a crescer cometendo os mesmos erros causais básicos que estão na origem dos
fenômenos das enchentes e áreas de risco geotécnico, consubstanciados na equivocada
cultura técnica antes referida. Ou seja, aquela mínima, elementar e cristalina decisão
inicial do parar de errar não foi adotada, nem sequer pensada, desqualificando qualquer
prognóstico mais otimista a respeito do futuro.
A situação atual da RMSP é, sob essa abordagem, dramática, exigindo de nossos
homens públicos - administradores e planejadores urbanos - de uma parte, humildade,
e de outra, corajosas e radicais decisões para o cotidiano imediato das cidades.
*O geólogo Álvaro Rodrigues dos Santos foi diretor de Planejamento
do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), é consultor em Geologia e
Geotecnia e autor de vários livros, entre eles “Geologia de Engenharia:
Conceitos, Método e Prática” e “Diálogos Geológicos”.
Ocupação de áreas afastadas
compondo uma mancha urbana
metropolitana comprometedora
hoje, e mais comprometedora,
ainda, no futuro
www.revistaoempreiteiro.com.br | 57
Concreto Pré-fabricado
Na reconstrução do estádio Independência, em Belo Horizonte (MG), foram
usados de forma intensiva na execução das arquibancadas elementos de concreto
pré-fabricado. A inauguração da nova arena está marcada para fevereiro
Empreendimentos
na Grande BH utilizam a tecnologia em
larga escala
Augusto Diniz – Belo Horizonte (MG)
E
lementos pré-fabricados vivem um momento favorável. A falta
de mão de obra na construção — que pode ser compensado com o
uso intensivo de componentes prontos para obra —, cronogramas
e orçamentos apertados — tornam a pré-fabricação mais competitiva — e a própria difusão da tecnologia no País dão sustentação à
afirmativa.
A Precon, uma das maiores empresas de pré-fabricados do País, é
um exemplo nesse cenário. Para mostrar o potencial da modalidade,
a empresa desenvolveu um ousado projeto, inicialmente com recursos próprios, na Grande Belo Horizonte (MG), que inclui a construção
de edificações residenciais, comerciais e industriais pré-moldadas em
área também própria.
Intitulado Precon Park, o projeto somente utilizando pré-moldados
teve início há quatro anos com a construção de uma faculdade (com
dois pavimentos de 8 mil m² no total e paredes pré-moldadas de concreto, entremeadas de material cerâmico para melhor acústica), um
anfiteatro e uma quadra poliesportiva e uma de tênis. Esse conjunto
foi cedido por concessão à Fundação Pedro Leopoldo. Essas primeiras
edificações fazem parte da fase 1 do projeto, que ocupa área de 6
milhões de m² nos municípios de Pedro Leopoldo e Confins (onde fica
o aeroporto internacional mineiro); a fase 2 ficará em Lagoa Santa e
terá apenas condomínios residenciais de alto padrão.
“O potencial é muito grande. Não queríamos somente um núcleo
residencial, mas um centro comercial e de educação. Acreditamos que
58 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012
Arenas esportivas, fábricas, conjuntos habitacionais e
outras edificações são favorecidas do ponto de vista de
prazo, economia de custo final e canteiro racionalizado
podemos ter uma população de 250 mil pessoas no local”, explica o
engenheiro Milton Vianna Dias, fundador da empresa de quase 50
anos, sobre o empreendimento.
Um condomínio residencial deverá ser lançado na fase 1 (20% da
área) em breve, assim como um centro de moda, reunindo lojas para
o atacado e o varejo, chamado Fashion City Brasil, ocupando área de
400 mil m² e com investimentos de R$ 300 milhões.
Ainda na fase 1 do projeto, um das maiores iniciativas é a construção de um complexo que inclui uma arena esportiva de 40 mil
lugares, shopping center, hotéis e parque de diversões, em uma área
de 500 mil m². O investimento total é de R$ 300 milhões – somente
a arena está com orçamento total de R$ 220 milhões; valor bem
abaixo dos custos das arenas que têm sido construídas no Brasil com
a mesma capacidade. O projeto básico da iniciativa já está pronto.
De acordo com Vianna Dias, o conceito acompanha modelo de países desenvolvidos, onde uma área, em geral localizada em bairros
periféricos das grandes cidades, reúne ambientes esportivos, de entretenimento e lazer e centros comerciais, além de residências, tudo
estruturado de forma integrada.
O trabalho de construção do complexo segue a mesma sequência
das outras edificações do empreendimento da Precon: pilares, vigas,
lajes e painéis de vedação produzidos em sua fábrica; montagem das
estruturas pós-terraplanagem e fundação do local; e instalação de kits
elétricos, hidráulicos e de acabamento.
Os trabalhos de terraplanagem da arena já se encerraram e atualmente estão em andamento os serviços de drenagem. As arquibancadas deverão ser construídas no começo de 2012, inicialmente para
atender 5 mil espectadores – a proposta final é alcançar 40 mil espectadores com a participação de um investidor. O projeto prevê o
aproveitamento da inclinação do terreno para construção das arquibancadas – o que poderá representar menos vibração na estrutura.
A chamado Arena da Bola ocupará área de 12 mil m² e terá também cobertura e cadeiras de concreto pré-moldado – devidamente
testadas. Serão dois módulos de arquibancada atrás de cada gol com
capacidade para 5 mil pessoas, uma arquibancada central para 25 mil
pessoas (15 mil assentos cobertos) e 5 mil assentos vip no lado oposto,
em cima do hall de entrada da arena.
O estádio deverá comportar 2 vestiários (146 m²), sala de imprensa (107 m²), 12 camarotes (274 m²), 51 banheiros, 29 bares, e estacionamento para 4.100 carros e 530 ônibus. O local deverá ainda ser
Mineirão e edifícios
habitacionais para
baixa renda
A Precon está fornecendo ainda pré-moldados para as obras de
reforma do estádio Mineirão, que será uma das praças esportivas que
receberão jogos da Copa do Mundo. A empresa fornecerá elementos prémoldados às arquibancadas inferiores do estádio (a arquibancada superior não foi demolida) e também para a esplanada, no entorno da arena.
O grupo, através de sua incorporadora, também iniciou recentemente a participação no programa Minha Casa, Minha Vida. A empresa construiu 10 prédios, com um total de 1.200 apartamentos, na
Grande Belo Horizonte. O diferencial foi o uso intensivo de pré-moldado (estrutura e paredes, muitas concluídas na fábrica já revestidas),
com entrega das chaves em um ano.
utilizado não somente para futebol, mas outras atividades esportivas,
como rugby.
Cm relação aos acessos, o Precon Park fica a 5 km do aeroporto
internacional de Confins (que ganhou fôlego por conta da Copa do
Mundo e o estrangulamento do aeroporto da Pampulha) e é cortado
pela rodovia estadual MG-424 e a MG-010 (Linha Verde), que dá acesso à capital mineira.
Estádio Independência
O estádio Independência, em Belo Horizonte, que será reinaugurado em fevereiro de 2012, teve 100% da estrutura da arquibancada
montada com concreto pré-moldado fornecido pela Precon. Com capacidade para 25 mil espectadores, a arena possui três módulos de
arquibancada, com duas torres localizadas em dois extremos de um
lado da arena, onde se estabelecerão serviços diversos, como centros
de comando, administração etc.
A montagem da cobertura do estádio, em tubos estruturais pesando no total 500 t, com telhas metálicas termoacústicas e de policarbonato que cobrirão todos os assentos, está em fase final de execução.
Tubos V & M foram utilizados na estrutura metálica da cobertura.
Nas arquibancadas centrais, as vigas vencem vãos de 120 m x 35
m. A arquibancada do fundo (atrás do gol) tem vão de 85 m x 35 m. O
comprimento de 35 m é suportado por tesouras secundárias tubulares,
espaçadas a cada 15 m, apoiadas em pilares de concreto no fundo e
vigas principais na frente.
O antigo estádio existente no local, que tinha 10 mil lugares, foi demolido e a construção do novo espaço ficou a cargo da construtora Andrade
Valadares. O projeto é do escritório do arquiteto Leon Myssior. O custo
total da obra foi de R$ 120 milhões (cerca de R$ 4.800 por assento).
O estádio Independência tem agora estacionamento para 422 vagas,
nova iluminação, novo gramado com sistema de drenagem e de irrigação,
vestiários ampliados, 2 lojas e 32 bares e lanchonetes espalhados nos diferentes setores do estádio, 18 cabines de imprensa (rádio e TV) e 72 postos
de trabalho (imprensa escrita), e espaço flexível para implantação de 36
camarotes e áreas VIPs, com capacidade total para 2.225 pessoas.
Os trabalhos em progresso atualmente na arena incluem ainda as
instalações elétricas e hidráulicas, assim como revestimento interno e
a colocação das cadeiras.
Pertencente ao Governo do Estado de Minas Gerais, o estádio foi
concessionado ao América Futebol Clube por 28 anos.
www.revistaoempreiteiro.com.br | 59
Tecnologia da Informação
Perspectiva da sede da
Petrobras, em Santos (SP)
Contratante solicita projeto executivo
de
edificação em BIM
O que era iniciativa somente do mercado de construção
civil agora é também de quem contrata o serviço
Projeto executivo
da edificação
foi solicitado na
plataforma BIM
60 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012
Augusto Diniz
P
ara a construção do complexo de gerenciamento da unidade
de exploração e produção de gás e petróleo na Bacia de Santos, a Petrobras solicitou em contrato a entrega do projeto
executivo em plataforma BIM (Building Information Modeling).
Trata-se de uma mudança de paradigma. Antes, as empresas de
arquitetura e engenharia é que ofereciam a solução às empresasclientes visando à economia de recursos e tempo, simulação de
cronograma e aprovação mais rápida entre os envolvidos em uma
obra civil. No máximo, a contratante solicitava o projeto conceitual básico em 3D para visualização.
A Petrobras alega que a medida foi aplicada devido aos bons
resultados alcançados pela tecnologia em projetos industriais, a
complexidade do empreendimento em Santos, e a necessidade de
melhorar a comunicação interdisciplinar e a qualidade do projeto. O projeto executivo em BIM para a estatal — sob coordenação
do escritório Contier Arquitetura — envolve as disciplinas de arquitetura, estruturas, instalações prediais e fundações.
“A principal vantagem é a confiabilidade das informações e
Nova sede da Petrobras
Acir Marteleto prevê
avanço das soluções de
TI nas diversas etapas
de uma obra
a alteração on line dos documentos à medida que se modifica o
modelo”, afirma Luiz Augusto Contier, arquiteto titular da Contier. “A Petrobras com seu enorme prestígio e poder de contratação, mobiliza e estimula novos fornecedores a migrarem para
a nova plataforma. Isso é ótimo para o mercado como um todo”,
complementa.
Para Acir Marteleto, country manager da Autodesk no Brasil,
empresa de tecnologia que está fornecendo as soluções em BIM
para a empresa responsável pelo projeto executivo da estatal em
Santos (SP), de fato, trata-se de um novo cenário na área de
construção.
“Os benefícios visuais são muitos. Pode-se aplicar certificações e padrões diversos, fazer análise de eficiência. A linha tem
muita inteligência”, avalia o executivo.
De acordo com Contier, os clientes, no passado, não estavam
interessados em tirar muito proveito do potencial de informações que o modelo tem. “Nessa época, a vantagem era apenas
do escritório de arquitetura que poupava retrabalho, oferecia
confiabilidade e consistência de informações. O cliente recebia o
documento impresso e nem se dava conta da plataforma em que
foi produzido”, explica o arquiteto.
Porém, prevê-se alguns desafios com o uso da tecnologia nesse estágio, como a mudança do fluxo de trabalho, maior treinamento dos usuários e possíveis incompatibilidades de softwares.
O próximo passo da Tecnologia da Informação na engenharia
será a integração das etapas de construção – portanto, indo além
do projeto básico e executivo. “A plataforma BIM integraria a indústria da cadeia da construção, com softwares de simulação das
diversas etapas de uma obra”, explica Marteleto. Posteriormente,
as simulações seriam confrontadas com o trabalho realizado, por
meio de escaneamento terrestre. A prática já está se tornando
realidade nos Estados Unidos.
A modelagem BIM já era utilizada na Petrobras em projetos
offshore, como a construção de plataformas, e plantas industriais.
A sede da Petrobras em Santos (SP) ocupará uma área de 75
mil m² no Largo Marquês de Monte Alegre, no centro histórico
da cidade. Com três torres, a estimativa é que a primeira torre do
empreendimento, com 13 andares, seja entregue até o final de
2013, abrigando 2.200 funcionários. O desmonte dos armazéns
existentes no local, preparação do canteiro de obras, terraplanagem e início das fundações são as iniciativas em progresso
atualmente no local.
A primeira torre terá 25.000 m² - as outras duas serão construídas de acordo com a demanda e poderão abrigar cerca de
4.000 pessoas. O complexo envolve ainda a construção de estacionamento (1.500 vagas), bicicletário, setor de atendimento
médico, praça de alimentação (2 restaurantes), laboratório, auditório (300 lugares), centro de treinamento, lojas e áreas de integração. No pico da obra, 1.200 operários estarão envolvidos. O
investimento é de R$ 380 milhões para a primeira fase (aquisição
da área, projeto arquitetônico e executivo, infraestrutura local
e construção da primeira torre). O empreendimento seguirá os
critérios da certificação Leed (Leadership in Energy and Environmental Design).
O projeto da nova sede da Petrobras é do arquiteto de Ruy
Rezende. As obras estão a cargo da Construcap.
Locadora investe
em infraestrutura de TI
A Geradora Aluguel de Máquinas, empresa de locação de
equipamentos, como geradores de energia, torres de iluminação,
compressores de ar, plataformas aéreas, manipuladores telescópicos e ferramentas leves, investiu cerca de R$ 550 mil em uma
plataforma centralizada de infraestrutura de TI, que contemplou
a implantação de terminais thin clients da Wyse Technology,
além de consolidação de servidores, armazenamento de dados
(storage) e serviços de consultoria.
O projeto prevê a substituição de 450 desktops convencionais por thin clients Wyse Technology nas 18 unidades da empresa em todo Brasil. Antes da implantação, a Geradora possuía
um parque computacional defasado, composto por desktops
antigos e heterogêneos, que apresentavam problemas constantes de hardware e de desempenho. O uso de thin client segue
tendência de mercado de terminais mais compactos e hadwares
enxutos, com aplicações instaladas em servidor central e disponíveis em rede aos usuários, além de versões simplificadas de
sistemas operacionais nos terminais.
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Rodovias | Pedágio
Free Flow necessita
de arcabouço legal
No 3º Salão de Inovação do CBR & C Brasvias
2011, realizado pela Associação Brasileira de
Concessionárias de Rodovias (ABCR), Chile e Portugal
mostraram a aplicação dessa tecnologia que já
atingiu a maturidade. Entretanto, precisa de um
ambiente legal e da disposição favorável do poder
concedente para que alcance resultado
O
Chile adotou as leis de concessão em 1996 e no ano seguinte estendeu-as para portos e empresas de saneamento, segundo Jorge Rivas A., gerente de operação da concessionária Vespucio Norte. Ao dividir os riscos entre o Estado
e os concessionários privados, a modalidade viabilizou não só o
seguro de responsabilidade civil, como também aquele em casos
de catástrofes naturais — o terremoto de fevereiro de 2010 que
atingiu o país é um exemplo —, além de ter aberto financiamento
pelos bancos a taxas reduzidas.
Assim, os investimentos via concessões atingiram o total de
US$ 12,5 bilhões no período de 1993 a 2011, tendo o Estado
recebido US$ 428 milhões pelas outorgas. O total de rodovias
concedidas chegou a 1.500 km.
Sistema de Free Flow
já é adotado no Chile
62 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012
61
projetos de concessões no Chile
30
concessões viárias intermunicipais
6
concessões viárias urbanas
1
barragem
11
aeroportos
3
complexos penitenciários
4
edifícios públicos
4
corredores de transporte público
1
hospital
1
diverso
Os estudos de concessão chilenos são efetuados pela iniciativa privada e o Ministério de Obras Públicas deve aprová-los antes
de colocar o empreendimento em licitação pública. Seis autoestradas urbanas foram contempladas em concessões —Vespucio
Sur, Central, Costanera Norte, Vespúcio Norte, Túnel San Cristobal e Radial Nororiente —, que somaram investimentos de
US$ 1,8 bilhão, incluindo 215 km de vias na região de Santiago.
No chile, existem 1,86 milhões de tags ativos em automóveis,
com um único modelo universal, e 78 pórticos de pedágio, que
fazem a leitura automática desses tags, possibilitando o funcionamento do sistema chamado Free Flow (pedágio sem cabine de
cobrança). Por ano, 18 milhões de faturas de pedágio são geradas
— os dados de cobrança dos usuários são consolidados respeitando-se a privacidade do cidadão.
O Free Flow no Chile funciona com o suporte de um arcabouço legal constituído pela lei de trânsito 18.290, que estipulou a
falta de tag ou passe diário como infração grave — por conta
disso, mais de 8 milhões de infrações foram lavradas até hoje,
envolvendo 715 mil placas diferentes, cujas multas foram aplicadas efetivamente e recebidas, com apenas 10% dos infratores
recorrendo à justiça. O artigo 42 da lei de concessões assegura
que a multa pode chegar a 40 vezes o valor total da dívida, e o
carro ou o salário do cidadão pode servir de garantia.
O sistema de pedágio que controla hoje duas autoestradas no
país permite incorporar novas rodovias e tem disponibilidade de
99,5%. Embora utilizem tecnologias distintas de tag e pórticos,
seus dados são intercambiáveis. O uso de tag chegou a 95% dos
usuários, com alta taxa de pagamento via web, e o atendimento ao
público é feito pela internet e redes sociais em 55% dos casos.
O sucesso dessa etapa de concessões levou o governo chileno
a anunciar um novo programa para 2010-2014, envolvendo rodovias, aeroportos, hospitais e penitenciárias, prevendo-se investimentos de US$ 11,7 bilhões.
Aplicação em Portugal
A experiência de Portugal, utilizando a tecnologia QFree,
mostra a importância do apoio político para a implementação
do pedágio eletrônico, incluindo garantia de proteção aos dados privados do cidadão; supervisão efetiva das autoridades, que
tornou possível a introdução da placa eletrônica nos veículos;
prova de passagem do veiculo no pedágio baseado na imagem
fotográfica e no registro do tag; e a obrigatoriedade contratual
de os provedores de serviço da rodovia pedagiada responderem
pelo atendimento às queixas dos usuários.
O sistema português dá descontos para usuários frequentes e
moradores da região da rodovia, e o não pagamento do pedágio é
considerado infração fiscal pelas autoridades e cobrada como tal.
A taxa de aceitação dos usuários começou em 40%, já dobrou e
continua crescendo. As concessionárias portuguesas – Ascendi,
Brisa e Ferrovial - se surpreenderam com a baixa percentagem de
infratores, graças à rapidez na cobrança de débitos, e a instalação de postos nas rodovias para receber o pedágio em dinheiro,
visando principalmente aos veículos de outros países. A disponibilidade do sistema atinge 99,9%.
Possível introdução no Brasil
O Free Flow representa um sistema de pedágio mais “justo”.
A cobrança por km percorrido irá resolver a principal queixa dos
usuários atuais de rodovias pedagiadas: muitos usam a rodovia,
mas só poucos pagam. Por exemplo, muito menos da metade dos
usuários que percorrem as rodovias que entram em áreas metropolitanas - Dutra, Ayrton Senna, Anchieta - paga pedágio porque as
praças estão fora da área urbana e, muitas vezes, os usuários usam
a rodovia somente no seu trecho inicial – portanto, sem passar
pela praça de pedágio. Paradoxalmente, os custos de operação são
maiores nos trechos mais trafegados — exemplo: socorro mecânico
e médico - e poucos usuários pagam por este serviço.
O Free Flow ou pedágio por km percorrido representa a “democratização do pedágio”, ou seja, pedágio mais justo para to-
Pórtico de pedágio em área urbana
dos. Para poder aplicar este conceito nas rodovias brasileiras, não
há problemas tecnológicos a serem resolvidos — a tecnologia já
funciona em diversos países —, mas existem duas questões sérias
que, com certeza, irão surgir na gestão do processo:
1 - Mudar o arcabouço legal atual para minimizar o risco
de inadimplência, lembrando que hoje existe um percentual expressivo de usuários que nem IPVA pagam e cujos veículos estão
em situação irregular. Este grupo representa grave risco para o
concessionário. A solução seria aumentar a fiscalização e retirar
os veículos irregulares de circulação.
2 - A classificação dos veículos, hoje, é por número de eixos
e por rodagem dupla, que funciona em uma praça com cabines
confinadas; porém, no sistema Free Flow não existe tecnologia
que consiga classificar os veículos por número de eixos, com
margem de erro aceitável. Nos países onde o Free Flow opera, o
sistema de classificação é por comprimento do veiculo: leve ou
comercial. Essa mudança traria evidentes problemas operacionais
às atuais concessionárias que estão operando.
Equacionados estas duas questões, que precisam de solução
nacional e não estadual, o sistema de pedágio por km percorrido traria
benefícios para a totalidade dos usuários das rodovias operadas por
concessionárias, ampliando o universo dos usuários pagantes. Quando
essa mudança se efetivar, o valor dos pedágios pode até cair.
Frota irregular no Brasil
é um dos entraves para
adoção do sistema
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Pavimentação
Aplicação de mistura asfáltica morna
no pavimento da Via Dutra*
A revista O Empreiteiro publica o trabalho técnico
que foi apresentado durante o 3º Salão de Inovação
do CBR & C Brasvias 2011, realizado pela Associação
Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR),
e que foi classificado entre os cinco melhores, na
categoria Qualidade e Segurança em Rodovias
E
ste trabalho apresenta os resultados de um estudo laboratorial e
a aplicação em campo de uma mistura asfáltica morna, introduzindo assim esse novo tipo de tecnologia na Concessionária NovaDutra. A técnica permite não só reduzir o consumo energético, mas
também a emissão de poluentes, o que pode ser incluída em projetos
para comercialização de créditos de carbono.
A mistura morna foi produzida com diminuição de 25º C, em relação à mistura asfáltica em temperatura convencional, com o uso
de um aditivo surfactante. No estudo de laboratório, comparou-se o
comportamento da mistura morna com a mistura a quente, por meio
de ensaios de resistência à tração por compressão diametral e deformação permanente, além de verificação da habilidade de compactação e dano por umidade induzida. Os resultados mostraram que a
mistura morna apresentou comportamento satisfatório, comparável à
mistura convencional.
Já em pista, a mistura morna foi aplicada em um trecho experimental de 300 m, na Rodovia Presidente Dutra, tendo sido preparada
do mesmo modo que uma mistura a quente, com exceção do uso do
aditivo e da redução da temperatura de usinagem, além da compactação que também foi realizada de maneira convencional. O controle
tecnológico indicou valores de volume de vazios e de espessura dentro
das especificações.
Foram extraídos corpos de prova de pista para testes posteriores
de resistência à tração por compressão diametral, cujos resultados
também se mostraram satisfatórios. Por fim, foram ainda executados
levantamentos das condições funcionais e estruturais do pavimento,
por meio da verificação de irregularidade, macrotextura, microtextura
e deflexões, que, por sua vez, também apontaram valores dentro do
aceitável.
1 - Introdução
Nos últimos anos, vem crescendo significativamente a preocupação
com o meio ambiente e o setor rodoviário tem procurado seguir essa tendência, desenvolvendo novas tecnologias no âmbito da pavimentação.
Foi nesse contexto que surgiram as misturas asfálticas mornas
64 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012
(Warm Mix(es) Asphalt – WMA), que visam reduzir as emissões de poluentes e diminuir o consumo energético. As misturas mornas se referem a um grupo de tecnologias que vêm sendo desenvolvidas desde a
década de 90, com o intuito de diminuir a temperatura de produção e
aplicação em cerca de 30° C ou mais, em relação às misturas a quente
convencionais, mantendo-se o mesmo comportamento destas últimas
(Prowell e Hurley, 2007).
A literatura em geral indica que tal redução de temperatura com
as misturas mornas pode trazer importantes benefícios como:
Menor emissão de poluentes atmosféricos
As temperaturas mais baixas geram menores quantidades de poluentes lançados ao ar, não só porque são emitidos menos vapores e
fumos de asfalto durante a mistura em usina e a aplicação em campo,
mas também porque parte do combustível que seria utilizado na usinagem deixa de ser queimado (Prowell e Hurley, 2007). Dentro deste
contexto, a iniciativa de se diminuir as emissões de poluentes poderia
então ser inserida em projetos para a obtenção de créditos de carbono,
e a venda destes passaria ser um atrativo competitivo para as misturas
mornas (Olard, 2008).
Melhoria do ambiente de trabalho na pavimentação
Com o uso de misturas mornas os operários de pavimentação ficam menos expostos às emissões asfálticas, sendo este um fator positivo para a sua saúde. Além disso, os trabalhadores passam a ter um
ambiente de trabalho com temperatura mais amena e com redução de
odores (Newcomb, 2006; Prowell e Hurley, 2007).
Melhoria do ambiente de trabalho na pavimentação
Com o uso de misturas mornas os operários de pavimentação ficam menos expostos às emissões asfálticas, sendo este um fator positivo para a sua saúde. Além disso, os trabalhadores passam a ter um
ambiente de trabalho com temperatura mais amena e com redução de
odores (Newcomb, 2006; Prowell e Hurley, 2007).
Diminuição do consumo energético
Como a temperatura de produção das misturas mornas é mais
baixa que as misturas a quente, há uma redução da quantidade de
combustível necessário no processo usinagem (Newcomb, 2006; Prowell e Hurley, 2007).
Menor envelhecimento do asfalto
A usinagem é uma fase onde ocorre grande parte do envelhecimento do ligante (Bernucci et al., 2008) e, deste modo, a diminuição
da temperatura nesta etapa pode levar a uma menor oxidação do asfalto, reduzindo o endurecimento da mistura, aumentando a resistência à fadiga e elevando a durabilidade do pavimento em longo prazo
(Newcomb, 2006; Prowell e Hurley, 2007).
2 - Estudo laboratorial:
Materiais e métodos
2.1 – Materiais
Os agregados foram obtidos na pedreira Serveng Barueri (origem
granito/gnaisse), proprietária da usina de asfalto em que seria produzida a mistura morna do trecho experimental. Para a composição da
curva granulométrica (Figura 1) foram utilizados 14% de brita 1, 45%
de pedrisco, 39,5% de pó-de-pedra e 1,5% de cal CH-I (mistura seca),
com enquadramento na Faixa C do Dnit (Dnit ES031, 2006).
Fig. 1 - Curva granulométrica
100
Porcentagem passante (%)
Uso de maiores quantidades de material fresado
Como a quantidade de material fresado em uma mistura reciclada
normalmente é limitado (até cerca de 25%) devido à questão da temperatura, o emprego de misturas mornas pode favorecer a adição de
maiores percentuais (Olard, 2008; Prowell e Hurley, 2007).
Menor dificuldade de aplicação em épocas ou locais de clima
muito frio e maior habilidade de transporte por longas distâncias
O emprego de misturas mornas pode ser favorável nas situações
em que há grande preocupação com a queda significativa de temperatura da mistura, que acarretam em dificuldades de compactação e
em perda de material, uma vez que a taxa de esfriamento é dada pela
diferença de temperatura entre a mistura asfáltica e o meio ambiente.
Neste caso, a mistura produzida em temperatura mais baixa esfria sob
uma taxa menor, possuindo menor gradiente térmico que uma mistura
mais quente (Newcomb, 2006; Prowell e Hurley, 2007).
Para que seja possível fabricar misturas asfálticas em temperaturas mais baixas que aquelas convencionais a quente, normalmente
empregam-se aditivos químicos, que são inseridos no ligante ou na
mistura, e/ou faz-se uma alteração do processo de usinagem para a
produção de asfalto espumado com água (Prowell e Hurley, 2007).
Como se trata de um tipo de técnica de pavimentação relativamente recente, diversos estudos vêm sendo desenvolvidos em escala laboratorial, além da aplicação em trechos experimentais. Dentro
deste contexto, esta pesquisa tem o objetivo de avaliar, em laboratório e em campo, uma mistura asfáltica morna produzida com aditivo químico surfactante, introduzindo este novo tipo de tecnologia
na Concessionária NovaDutra. No estudo de laboratório compara-se
o comportamento da mistura morna com a mistura em temperatura
quente convencional, por meio de ensaios de resistência à tração por
compressão diametral e deformação permanente, além de verificação
da habilidade de compactação e do dano por umidade induzida. Já em
pista, tem-se a aplicação da mistura morna em um trecho experimental na Rodovia Presidente Dutra, com o acompanhamento da produção em usina, da execução e do controle tecnológico (compactação).
No mais, têm-se ainda testes em laboratório de resistência à tração
por compressão diametral realizados com corpos de prova extraídos de
pista, além de levantamentos das condições funcionais e estruturais
do pavimento (irregularidade, macro e microtextura e deflexões) antes
e após a execução do trecho experimental com mistura morna.
Cabe mencionar que esta pesquisa se insere em um estudo mais
amplo com misturas mornas, em comparação com misturas a quente
convencionais, apresentado por Motta (2011).
Curva granulométrica do estudo
Faixa C DNIT
80
60
40
20
0
0,0
0,1
1,0
10,0
100,0
Abertura das peneiras (mm)
Já o ligante empregado na pesquisa se tratava de um CAP 30-45,
procedente da refinaria Replan/Petrobras (Paulínia – SP), cujos testes
em viscosímetro rotacional Brookfield (ASTM D4402, 2006) indicaram
que as temperaturas de usinagem e compactação de misturas convencionais a quente com este asfalto deveriam ser de 160 e 150°C,
respectivamente. No caso da mistura morna, considerou-se que esta
última seria produzida com redução de 25°C na temperatura de usinagem, em relação à mistura a quente. A Tabela 1 aponta as temperaturas utilizadas neste estudo (indicadas como T).
No que se refere à dosagem, primeiramente foi feita a da mistura a
quente, por método Marshall (NBR 12891, 1993), tendo sido realizada
no laboratório da concessionária. Neste projeto de mistura, para um
volume de vazios de 4,2%, o teor de ligante indicado foi de 5,0%.
A partir da dosagem da mistura a quente, considerou-se que a
mistura morna seria produzida com a mesma configuração de materiais, mas com redução do aquecimento dos agregados (para diminuição da temperatura de usinagem) e utilização do aditivo para mistura
morna. Nesta pesquisa foi usado o aditivo surfactante líquido Gemul
Tabela 1 – Temperaturas de usinagem e compactação
T ligante [oC]
T agregados [oC]
T final usinagem
[oC]
Mistura a quente
160
170
160
Mistura morna
160
135
135
ΔT usinagem
[oC]
25
T final compactação
[oC]
150
125
ΔT compactação
[oC]
25
www.revistaoempreiteiro.com.br | 65
Pavimentação
XT14, em uma taxa de 0,3% (em relação à massa de asfalto), introduzido e misturado ao ligante antes da usinagem.
2.2. Estudo laboratorial
2.2.1. Habilidade de compactação
Segundo Bernucci et al. (2009), para que a compactação de uma
mistura asfáltica ocorra de maneira eficiente é preciso atentar para
um aspecto fundamental, que é a temperatura adequada no momento
da densificação, pois se for muito baixa o ligante se torna plástico e
pegajoso, dificultando a compressão da mistura e a obtenção de um
estado mais denso. Tendo-se em vista que a produção e a compactação de misturas mornas ocorrem em temperaturas mais baixas que o
usual, este é um importante parâmetro a ser verificado. Neste caso,
quanto maior a porcentagem de vazios, maior seria a dificuldade de
densificação.
A densificação foi avaliada em laboratório por meio do volume de
vazios (VV), obtido por pesagem hidrostática (AASHTO T166, 2007) de
corpos de prova das misturas morna e a quente (moldadas em compactador Marshall com 75 golpes por face), onde em cada caso foram
preparados quatro corpos de prova.
A Tabela 2 apresenta o VV das misturas morna e a quente, juntamente com o desvio padrão (dp). De modo complementar, foi feita
uma análise de variâncias (ANOVA) para determinar se a mistura morna seria considerada estatisticamente igual ou diferente da mistura
de referência.
Tabela 2 – Resultado de habilidade
de compactação (volume de vazios)
VV (± dp)[%]
ANOVA
Mistura a quente
6,3 (± 0,3)
Mistura morna
6,6 (± 0,2)
Estatisticamente
iguais
O resultado demonstrou que a mistura morna apresentou comportamento semelhante ao da mistura a quente quanto à habilidade de
compactação (em compactador Marshall).
2.2.2. Resistência à tração por compressão diametral
A resistência à tração (RT) por compressão diametral é um parâmetro muito utilizado no Brasil para a caracterização de misturas asfálticas e, de acordo com a DNIT ES031 (2006), deve ser de no mínimo
0,65 MPa (a 25°C) em concretos asfálticos destinados a camadas de
rolamento ou de binder.
Nesta pesquisa a RT foi avaliada por meio de ensaio de carregamento estático a 25°C, seguindo as recomendações da NBR 15087
(2004), com corpos de prova Marshall das misturas morna e a quente,
sendo que em cada caso foram preparados quatro corpos de prova.
A Tabela 3 apresenta o número de corpos de prova usados, a RT e
o VV das misturas morna e a quente, em conjunto com seus desvios
padrão. Cabe mencionar que um problema de controle de temperatura
de moldagem levou a uma diferença significativa de VV de ambas as
misturas e teve impacto sobre a RT.
66 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012
Tabela 3 – Resultado de resistência à tração
por compressão diametral
RT (± dp) [MPa]
VV (± dp) [%]
Mistura a quente
1,90 (± 0,05)
4,8 (± 0,3)
Mistura morna
1,39 (± 0,02)
6,3 (± 0,2)
Com efeito, o resultado demonstrou que a RT da mistura morna
foi inferior ao da mistura a quente devido à diferença de VV (gerada
na moldagem). Contudo, caso o VV de ambas fosse semelhante, a RT
também seria análoga.
Por outro lado, quando há a comparação com a RT mínima apontada em DNIT ES031 (2006), verifica-se que a mistura morna apresentou valor bastante acima daquela, indicando bom comportamento
nesta propriedade mecânica.
2.2.3. Deformação permanente em trilha de roda
Como a deformação permanente é um dos defeitos mais comuns
da pavimentação asfáltica (Bernucci et al., 2008), se fez pertinente a
avaliação deste parâmetro mecânico neste estudo, com o ensaio de
afundamento em trilha de roda realizado em simulador de tráfego
francês, conforme a norma europeia EN 12697-22 (2003a).
Para cada mistura asfáltica (morna e a quente) foi utilizado um
par de corpos de prova em forma de placas (cada qual com 5 cm de
espessura × 18 cm de largura × 50 cm de comprimento), que foram
moldadas em mesa compactadora francesa, segundo descrito na especificação EN 12697-33 (2003b).
No Brasil, tem-se procurado estabelecer valores máximos de afundamento em trilha de roda em torno de 5% (aos 30.000 ciclos), devido
às condições prevalecentes no país, já que o clima e o tráfego são desfavoráveis quanto à deformação permanente. Este limite vem sendo
utilizado desde 1994 no LTP/Epusp, ano este em que foram feitos os
primeiros testes com este simulador no país.
A Figura 2 apresenta a evolução da deformação permanente
das misturas morna e a quente (valor médio do par de placas) até
30.000 ciclos.
O resultado demonstrou que a mistura morna apresentou comportamento similar ao da mistura a quente quanto ao potencial para
afundamento em trilha de roda. No mais, o valor da deformação permanente após 30.000 ciclos se mostrou próximo ao recomendável.
2.2.4. Dano por umidade induzida
O dano por umidade induzida é um importante parâmetro a ser
verificado em estudos com misturas mornas, já que estas podem estar
mais sujeitas ao efeito stripping, devido à secagem menos efetiva dos
agregados (pela redução de temperatura).
Nesta pesquisa, a resistência ao dano por umidade induzida das
misturas morna e a quente foi avaliada por meio da AASHTO T283
(2007), tendo-se optado pela condição de ensaio mais severa, onde os
corpos de prova condicionados à água são submetidos a uma etapa de
congelamento.
Com a realização deste teste, a norma DNIT ES031 (2006) determi-
3 - Trecho experimental
na Rodovia Presidente Dutra
Fig. 2 - resultado de deformação
permanente em trilha de roda
Deformação permanente (%)
10
Mistura morna
Mistura quente
5
0
100
1000
10000
100000
Ciclos
Ciclos
100 300 1.000 3.000 10.000 30.000
Defornação permanente (%)
Mistura a quente
1,6
2,1
2,6
3,2
3,9
4,7
Mistura morna
1,3
1,7
2,3
3,0
4,0
5,3
na que a resistência retida à tração (RRT) mínima deve ser de 0,7 (ou
seja, a perda máxima de resistência deve ser de 30% após o condicionamento, em relação ao valor de referência).
Na ocasião do trecho experimental, havia receio de que a redução
de temperatura somada à pavimentação noturna pudesse eventualmente dificultar a compactação em campo. Deste modo, indicou-se a
princípio que a mistura morna fosse preparada com um acréscimo de
0,4% de ligante, acreditando-se que isto pudesse favorecer a lubrificação da mistura e melhorar a densificação naquele caso. Com isto,
o ensaio de dano por umidade induzida foi realizado somente com
a mistura morna usinada com 5,4% de ligante (ao invés de 5,0% de
projeto).
A Tabela 4 apresenta a RT e o VV de cada grupo (condicionado e
não condicionado à água) das misturas morna e a quente, em conjunto com os desvios padrão, e seus valores de RRT.
O resultado demonstrou que a mistura morna apresentou comportamento semelhante ao da mistura a quente quanto à resistência ao
dano por umidade induzida. Além disso, seu valor de RRT foi considerado satisfatório quando comparado ao limite mínimo especificado na
norma do DNIT supracitada.
O trecho experimental de mistura morna foi executado no km 225
da Rodovia Presidente Dutra (altura da cidade de Guarulhos, Grande
São Paulo), na faixa 1 da pista expressa sul (sentido São Paulo), cabendo mencionar que esta via se caracteriza por tráfego muito pesado.
3.1. Condição inicial
Antes da obra, a concessionária NovaDutra realizou levantamentos das condições superficiais, estruturais e funcionais do pavimento,
por meio da observação de defeitos, deflexões e irregularidade longitudinal, respectivamente.
Entre os km 225 e 226, na faixa 1 em questão, os defeitos verificados se tratavam de trincas (fissuras) longitudinais e transversais longas.
Já quanto às deflexões, estas foram obtidas com equipamento
Falling Weight Deflectometer (FWD) e indicaram valores entre cerca
de 10 e 35 × 10-2 mm (considerados baixos), que foram inferiores à
deflexão máxima admissível calculada de 41,3 × 10-2 mm.
Por fim, a irregularidade longitudinal foi levantada com perfilômetro
laser para a determinação dos índices QI (Quociente de Irregularidade) e
IRI (International Roughness Index). Segundo o Manual de Restauração
de Pavimentos Asfálticos do DNIT (2006), o pavimento deve apresentar
um QI e um IRI de, no máximo, 35 cont/km e 2,7 m/km, respectivamente,
para ter um conceito bom quanto à irregularidade longitudinal. Nesta
pesquisa, os valores de QI e de IRI se situaram aproximadamente entre
25 e 100 cont/km e entre 2,0 e 7,5 m/km, nesta ordem.
Dentro deste contexto, o projeto de restauração indicou uma fresagem e recomposição de 6 cm naquele local.
3.2. Produção em usina e aplicação da mistura morna em pista
O trecho experimental foi executado na Rodovia Presidente Dutra
de forma noturna, em novembro de 2009.
A mistura morna foi preparada na usina de asfalto Serveng Barueri
(gravimétrica), tendo sido fabricada do mesmo modo que uma mistura
convencional, com exceção da temperatura e da introdução do aditivo surfactante no tanque de ligante previamente à usinagem (sendo
mantido sob agitação até o momento da utilização).
A usinagem da mistura morna pôde ser efetuada a 135°C, com
redução de temperatura de 25°C m relação a uma mistura a quente
(como em laboratório). Ao final, os agregados aparentavam estar bem
envolvidos pelo ligante.
Como se comentou no item anterior, em se tratando de uma primeira
experiência de campo com mistura morna na Rodovia Presidente Dutra,
Tabela 4 – Resultado de resistência ao dano por umidade induzida
RT (± dp) [MPa]
VV (± dp) [%]
Grupo não condicionado *
Grupo condicionado*
RT (± dp) [Mpa]
VV (± dp) [%]
RRT
Mistura a quente
1,65 (± 0,03)
64 (± 0,2)
1,49 ((± 0,08)
6,9 (± 0,3)
0,90
Mistura morna**
1,18 (± 0,14)
6,9 ((± 0,6)
1,05 (± 0,04)
6,5 (± 0,3)
0,89
* Cada grupo continha 4 corpos de prova / ** Com teor de ligante de 5,4%
www.revistaoempreiteiro.com.br | 67
Pavimentação
receava-se que houvesse uma eventual dificuldade de compactação em
pista e, assim, por fim indicou-se que tivesse um pequeno incremento da
quantidade de ligante na mistura morna, em relação ao projeto original.
Neste caso, o controle tecnológico de obra apontou que a quantidade de
asfalto efetivamente empregada na mistura morna foi de 5,2% (verificada
por extração e recuperação do ligante pelo método Abson).
Em pista, a execução do trecho experimental com a mistura morna
se deu sob uma temperatura ambiente de cerca de 15° C, ao longo de
pouco mais de 300 m. Da Figura 3 à Figura 5 têm-se algumas imagens
desta obra, cuja compactação foi realizada do mesmo modo que seria com uma mistura convencional a quente (método executivo), mas
com temperatura de aproximadamente 120°C.
Fig. 3 - Aparência da
mistura morna
Fig. 4 - Espalhamento
da mistura morna
Fig. 5 - Compactação da mistura morna
(rolos de pneus e metálico, respectivamente)
3.3. Controle tecnológico de compactação e espessura
O controle tecnológico de compactação e espessura do trecho experimental com mistura morna foi realizado por meio de corpos de
prova extraídos de pista logo após a obra (quatro amostras). Neste
caso, foram avaliados os parâmetros de grau de compactação (GC),
volume de vazios (VV) e espessura (e), cujos valores médios e desvios
padrão estão indicados na Tabela 5.
Tabela 5 – Resultado de controle tecnológico
de compactação e espessura
GC (± dp) [%]
VV (± dp) [%]
e [cm]
99,7 (± 1,2)
4,2 (± 1,2)
6,7 (± 0,5)
Com relação ao GC, a norma DNIT ES031 (2006) determina que
este deve se situar entre 97 e 101%. Com isto, nota-se que a mistura
morna alcançou tal objetivo.
Já segundo as especificações de projeto, o VV deveria se situar
entre 2,5 e 7,5%, enquanto a camada deveria ter uma espessura aci68 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012
ma de 5,7 cm (95% de 6 cm). Deste modo, verifica-se que a mistura
morna atendeu tais limites, levando o trecho a ser aprovado por compactação e espessura.
3.4. Resistência à tração de corpos de prova extraídos de pista
Após um mês da obra, bem como depois de onze meses desta, foram
extraídos corpos de prova do trecho experimental de mistura morna para
determinação de sua RT. Os resultados desta propriedade mecânica, bem
como o VV em cada situação são apresentados na Tabela 6, juntamente
com obtido nos estudos em laboratório. Cabe mencionar que cada valor
se refere a uma média de quatro corpos de prova.
Tabela 6 – Resultado de resistência à tração
por compressão diametral de corpos
de prova extraídos do trecho experimental e
dos estudo laboratoriais
RT (± dp) [MPa]
VV (± dp) [%]
Corpos de prova extraídos
após um mês
1,74 (± 0,13)
4,3 (± 1,4)
Corpos de prova extraídos
após 11 meses
1,71 (± 0,12)
4,4 (± 0,9)
Mistura morna em
laboratório
1,39 (± 0,02)
6,3 (± 0,2)
Mistura a quente em
laboratório
1,90 (± 0,05)
4,8 (± 0,3)
Ainda que, devido a um problema de controle de temperatura de
moldagem, a mistura morna em laboratório tenha apresentado maior
VV e, por consequência, sofrido redução da RT, os resultados de pista demonstraram ser equiparáveis àqueles laboratoriais da mistura a
quente, além de estarem notavelmente acima do mínimo requerido na
especificação do DNIT (0,65 MPa, como mencionado no item 2.2.2).
Por fim, verificou-se também que a RT se manteve em um mesmo
patamar até após quase um ano da execução do trecho experimental.
3.5. Irregularidade longitudinal
Após sete meses da execução do trecho experimental, fez-se um
novo levantamento da irregularidade do pavimento, com perfilômetro
laser, para a determinação dos índices QI e IRI. Os resultados estão
ilustrados na Figura 6, juntamente com os valores obtidos antes da
obra e com os admissíveis, recomendados pelo Manual de Restauração
de Pavimentos Asfálticos do DNIT (2006).
Observa-se que o novo revestimento trouxe melhoria das condições de irregularidade, que apresentava pontos acima do admissível
antes da obra, tanto de QI quanto de IRI.
3.6. Macro e microtextura superficial
Após três meses da execução do trecho experimental, foram feitos ensaios em pista para observar as condições superficiais do revestimento asfáltico em termos de macro e microtextura, por meio de
ensaios de mancha de areia (ASTM E965-06) e de pêndulo britânico
(ASTM E303-08).
Segundo Bernucci et al. (2008), tem-se recomendado que a ma-
Fig. 6 - RESULTADO DE QI E IRI ANTES E APÓS A
EXECUÇÃO DO TRECHO EXPERIMENTAL
Nota-se que a macro e a microtextura do trecho
TRECHO
experimental foi classificada como média, o que deQI antes da obra
90
EXPERIMENTAL
QI depois da obra
corre da graduação densa usada, não havendo relação
80
QI admissível
com o tipo de asfalto empregado.
IRI antes da obra
70
IRI depois da obra
Neste caso, o uso de uma granulometria com al60
IRI admissível
guma descontinuidade seria interessante para aumen50
tar a rugosidade do pavimento e, por consequência, a
40
aderência.
30
3.7. Deflexões
20
Após oito meses da execução do trecho experimen10
tal
foi
feito um novo levantamento de deflexões com
0
equipamento FWD, cujos resultados são apresentados
na Figura 7, juntamente com os valores obtidos antes
da obra.
Local (km)
Os resultados demonstraram que as deflexões após
a execução do trecho experimental se mantiveram com
crotextura de pavimentos asfálticos se situe entre 0,6 mm e 1,2 mm de
um
perfil
de
certa
forma semelhante àquele observado antes da obra,
altura média de mancha de areia (HS), enquanto que o valor de resistência à derrapagem (VRD) mínimo recomendado é de 47 no pêndulo com valores dentro do admissível.
britânico, a fim de garantir ao menos uma microtextura medianamente rugosa relativa à aderência.
Nesta pesquisa os levantamentos foram feitos em alguns pontos
do trecho experimental, bem como no revestimento antigo (localizado
antes do segmento de mistura morna) para comparação, cujos resultados médios são apresentados na Tabela 7.
226,000
225,900
225,800
225,700
225,600
225,500
225,400
225,300
225,200
225,100
225,000
IRI (m/km)
QI (cont/km)
100
4 - Conclusões e comentários finais
40
20
226,000
225,900
225,800
225,700
225,600
225,500
225,400
225,300
225,200
225,100
0
225,000
Deflexão (0,01 mm)
Esta pesquisa avaliou, inicialmente em escala laboratorial, uma
mistura asfáltica morna produzida com aditivo surfactante, em comparação com uma mistura a quente (convencional), sendo ambas
preparadas com agregados com distribuição granulométrica contínua
(Faixa C Dnit) e CAP 30-45.
Os ensaios laboratoriais indicaram que a mistura morna apresenTabela 7 – Resultado de macro e microtextura
tou,
no geral, comportamento semelhante ao da mistura a quente,
no trecho experimental
em termos de habilidade de compactação, resistência à tração por
VRD
HS (± dp)
Classificação
Classificação
compressão diametral, deformação permanente e dano por umidade
(± dp)
[mm]
induzida. Os resultados foram considerados satisfatórios.
Revestimento
0,41
Média
39
Lisa
antigo
(± 0,06)
(± 4)
Por outro lado, de modo a introduzir esta nova tecnologia de paTrecho
0,52
Média
40
Insuficientemente
vimentação na Concessionária NovaDutra, esta mistura morna foi enexperimental (± 0,06)
(± 6)
rugosa
tão aplicada em campo, na Rodovia Presidente Dutra. A produção da
mistura em usina e a execução em pista não indicaram
dificuldades executivas adicionais e ocorreram do mesFig. 7 - Resultado de deflexão com FWD antes e após
mo modo que seria com uma mistura convencional.
a execução do trecho experimental
Os resultados de testes posteriores com corpos de
100
TRECHO
Deflexão antes da obra
prova extraídos de pista no controle tecnológico aponEXPERIMENTAL
Deflexão após a obra
taram valores satisfatórios. Ademais, os ensaios para
80
Deflexão admissível
avaliação funcional e estrutural do pavimento, antes e
após a obra, também indicaram resultados aceitáveis.
60
Local (km)
*Autores:
Rosângela Motta e Liedi Bernucci (Escola Politécnica
da Universidade de São Paulo - Departamento de
Engenharia de Transportes)
Valéria Cristina de Faria e Décio de Rezende Souza
(Grupo CCR)
José Fernando Leal (Quimigel – Divisão Química)
www.revistaoempreiteiro.com.br | 69
Sustentabilidade | Amazônia
Explorar e crescer,
mas preservar a floresta:
o dilema amazônico
Foto: José Luis da Conceição/AE
O aumento do interesse pelas
riquezas da floresta, recursos
hídricos e reservas minerais mantém
a sustentabilidade da Amazônia na
ordem do dia
A ampliação de áreas de
pastagem para a criação de
gado é uma das principais
causas do avanço do
desmatamento na região
70 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012
Marisa Marega,
com colaboração de Aghane Carvalho – Manaus (AM)
H
á quem acredite no pior cenário, com a destruição acelerada da floresta e a ampliação da
miséria da população. Mas há quem aponte
para um quadro completamente inverso, com
a perspectiva de criação de uma economia forte, crescimento sustentável e preservação de
grandes extensões de área verde.
Contudo, há um cenário mais realista: conservação da floresta
em grande escala, custeada por grandes empresas com operações
na região; remuneração internacional para projetos ambientais,
e polos isolados de desenvolvimento, fortalecidos principalmente
pelos empreendimentos já instalados e outros que venham para
a região.
O momento atual, no entanto, ainda é de dependência econômica de outras regiões do País, destruição gradual da floresta
com avanço do desmatamento, inclusive em áreas protegidas, e a
continuidade da pobreza.
Diante das controvérsias seculares sobre o destino da Amazônia, a pergunta que se faz é o seguinte: Ela será capaz de reinventar a sua economia, estruturando-se a partir das pesquisas
e evolução do banco genético da floresta, das novas conquistas
da energia hidrelétrica e dos modernos processos de extração e
processamento de minério na região, com políticas públicas eficazes voltadas para a população? Enfim, como ficará a floresta
nas próximas décadas?
Fotos: Augusto Diniz
A população dos municípios ribeirinhos,
incluindo os moradores em casas flutuantes,
sobrevivem sem quaisquer condições de
saneamento ou de equipamentos urbanos
particularidades, o que dá um “tempero”
a mais nas discussões em torno do futuro
da região, lembra o professor Alex Fiúza
de Mello, reitor da Universidade Federal
do Pará, que organizou o livro “O futuro
da Amazônia: dilemas, oportunidades e
desafios no limiar do século XXI”.
“A abundância em minérios, potencial
pecuário, alta produtividade agrícola capaz de ocupar importante papel no cenário mundial, entre outras características,
colocam a região amazônica diante do
grande desafio que é o desenvolvimento
sustentado”, avalia.
Segundo estudo do Instituto de pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), já há
propostas com base no desenvolvimento
econômico e social da região, principalmente com foco no agronegócio em grande escala e outras voltadas às necessidades das populações locais. Elas integram o Plano
Amazônia Sustentável (PAS), meio do qual o governo pretende
superar os erros de políticas anteriores ali adotadas.
O debate em torno dos esforços para a conservação da Amazônia frente ao desmatamento e sua sinergia com outras atividades, como, por exemplo, o mercado de terras na região, levanta
questionamentos sobre o custo da supressão vegetal.
Batalha pelo
desenvolvimento sustentado
A região amazônica possui a mais importante bacia hidrográfica do mundo e a maior floresta com reserva de biodiversidade do planeta. Também abriga outras não menos importantes
Mercado de terras x supressão
vegetal é um dos dilemas a serem
enfrentados na Amazônia
www.revistaoempreiteiro.com.br | 71
Sustentabilidade | Amazônia
A transformação sustentável
de bens da floresta é vista
como uma das saídas ao
desenvolvimento local
Fotos: Augusto Diniz
“O fator agravante para a perda anual da cobertura florestal
tem sua causa no baixo valor das terras na região, o que torna a
expansão da pecuária mais lucrativa ali que em outros lugares.
Assim, as áreas ocupadas pela pecuária proporcionam ganhos ao
pecuarista, que promove aumento do rebanho, e consequentemente, novos desmatamentos para dar lugar a mais pastagens”,
explica o pesquisador Leandro Ferreira, do Museu Emílio Goeldi
(PA). Por conta dos efeitos do desmatamento, especialistas alertam que pode ocorrer o assoreamento dos rios, córregos, lagoas e
a degradação do solo. De acordo com estudo do IPEA, as atividades consideradas responsáveis pelo desmatamento são: pecuária
bovina, agricultura de grãos, principalmente de soja, arroz e milho, e a carência de fiscalização na extração e venda de madeira irregular de várias formas – tora, carvão e lenha, que geram,
ainda, intensa disputa pela posse de terra.
72 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012
O plano do governo é transformar o País em uma “potência
florestal” em até 10 anos, segundo estudo coordenado pela Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE).
A iniciativa prevê a liberação de terras ocupadas pela pecuária, além de áreas já degradadas. Essas áreas, dadas às circunstâncias, teriam preços mais baixos e produtividade mais
alta o que tornaria a pastagem mais lucrativa. A ideia do governo, ainda em discussão, é disponibilizar áreas de terras que
seriam muito provavelmente usadas para a criação de gado e
para atividades de expansão de florestas plantadas. No entanto,
a facilidade de comércio de terras na região, somada à ausência
de fiscalização efetiva, provocaria a corrida à posse da terra,
com seu imediato desmatamento como forma de garantir a
propriedade.
Ações em favor do desenvolvimento combinado com a conservação da natureza constam do Plano Nacional de Mudanças
Climáticas, que visa substituir o uso de carvão mineral e vegetal de origem ilegal, além da venda de créditos de carbono no
mercado internacional. O desenho desse mercado nasce com o
Protocolo de Kyoto, de 1997, que levou adiante a ideia de criar
o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. O modelo combina o
pagamento dos países industrializados em troca de créditos de
carbono produzidos na floresta.
Também há planos de se substituir, por meio da Política Nacional de Florestas Plantadas, o diesel usado na operação de pequenas usinas térmicas na Amazônia por biomassa de madeira,
além de diversos estudos, conduzidos pela Embrapa, Instituto
Emílio Goeldi, entre outros, para aprimorar os avanços genéticos
e técnicas de resgate e conservação de germoplasma (DNA da vegetação) para o futuro do ecossistema da Amazônia, considerado
único no planeta.
O Plano Decenal de Expansão de Energia 2020, lançado pela
Empresa de pesquisa Energética (EPE), prevê que o Brasil terá de
expandir em 53.200 MW a capacidade instalada para geração em
hidrelétricas e termelétricas - as duas fontes básicas do País, até
o fim da década. Desse total, 18.100 MW dizem respeito a projetos que ainda necessitarão passar pelo licenciamento ambiental
e por leilões organizados pelo governo. A maior parte dessa expansão prevista será na Amazônia. O total de investimentos para
o cumprimento do megaprojeto é de R$ 236 bilhões entre 2011
e 2020. Estão previstos R$ 190 bilhões em geração e R$ 46 bilhões em transmissão. Com a expansão, a participação da região
no Sistema Interligado Nacional passará de 10% da capacidade
instalada do país para 23% até 2020. Ou seja, o governo federal
espera que a potência instalada na Amazônia chegue a 38.800
MW, um crescimento de 265%, o maior do País na década.
Maurício Tolmasquim, presidente da EPE, afirma que o governo demandará compensações para minimizar impactos. Mas
essas compensações não impedem que alguns trechos dos projetos alcancem terras indígenas e áreas de preservação. Isso certamente pesará na lentidão para a obtenção dos processos de
licenciamento.
Tolmasquim, porém, explica que a exploração do potencial
hídrico na região Norte do País já é pautada com base no tripé
sustentabilidade ambiental - desejabilidade social - viabilidade
econômica.
“Foi possível ver esta lógica nas discussões em torno das usinas
de Jirau e Santo Antônio, no rio Madeira (RO); e de Belo Monte, no rio
Xingu (PA). São projetos que passaram por longos e amplos processos de debates públicos. Cerca de 2/3 do potencial hídrico brasileiro
Tolmasquim afirma que Brasil
não poderá abrir mão dos
recursos hídricos da Amazônia
ainda a ser explorado está localizado na região Norte. Trata-se de um
recurso renovável, abundante e barato, do qual o Brasil não poderá
abrir mão de pelo menos uma parte. Apesar de a diversificação na
exploração de outras fontes de geração de energia ser um processo contínuo e crescente no Brasil já nos dias de hoje, a energia
hidráulica permanecerá como a mais importante da nossa matriz
elétrica nos próximos anos”, explica.
Para reduzir a resistência de ambientalistas, uma concessão já
foi anunciada: haverá diminuição no tamanho das usinas. A secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Energético do Ministério
de Minas e Energia calcula que 80.000 MW, dos 260.000 MW em
capacidade instalada de hidrelétricas ainda disponíveis no Brasil,
serão abandonados em razão dessa restrição ao porte das usinas.
Os especialistas acham que é o mínimo a ser feito diante do choque ambiental que esses projetos provocarão na Amazônia. De outro lado, os desenvolvimentistas do setor elétrico acreditam que a
redução do tamanho das usinas é desperdício diante da necessidade futura que o Brasil terá de geração de energia.
Fotos: Augusto Diniz
Geração de energia
cria controvérsias
www.revistaoempreiteiro.com.br | 73
Sustentabilidade | Amazônia
Hoje, o País tem 110.000 MW em capacidade de geração quando somadas todas as fontes de energia disponíveis. Até o fim da
década, para atender toda a demanda prevista, terá que entregar
171.000 MW em potencial de geração. Para dar uma ideia do tamanho do empreendimento que se terá pela frente, é o mesmo que
dizer que até 2020 será necessária a instalação de quatro usinas de
Itaipu. Só que até aqui, obstáculos como a concessão de licenças
ambientais fazem com que 20% das usinas já contratadas ainda
estejam sem previsão de quando entrarão em operação — obras
estas que já sofreram atrasos ou nem foram iniciadas.
Mesmo com todos os desafios apontados, o presidente da EPE
garante que a médio prazo a situação é de tranquilidade tanto
do ponto de vista dos reservatórios quanto das condições estruturais. “A situação energética do Brasil hoje, do ponto de vista
hidrológico, é excepcionalmente boa e fazia muito tempo que a
gente não vivia um momento tão positivo”, expõe. Ele avalia ainda que o País tem total garantia de atendimento à demanda mesmo que a situação hidrológica não se mantenha tão favorável.
“A nossa realidade hoje é essa: a oferta é muito maior do que a
demanda. Então, independentemente da evolução dos reservatórios, há tranquilidade. O Brasil conta com um manancial invejável
de opções energéticas que fazem da nossa matriz a mais limpa
do mundo”, afirma.
Somente programas que
explorem a vocação local podem
garantir a melhoria das condições
de vida, sem agressão à natureza
74 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012
De acordo com as projeções do Plano Decenal de Expansão de
Energia – PDE 2020, se por um lado a participação das hidrelétricas cairá de 76% para 67% nos próximos dez anos, a geração
oriunda de fontes alternativas – como a de usinas eólicas, de
térmicas à biomassa e de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs)
– vai dobrar, passando de 8% para 16%. A geração eólica será
destaque, aumentando de 1% para 7%. Com isso, a fatia de fontes renováveis se manterá em torno de 83% ao final do decênio.
Além disso, projeta-se para o período decenal a manutenção da
forte expansão da demanda de etanol no mercado brasileiro. A
demanda deste combustível deverá triplicar nessa década, passando de 27 bilhões de l em 2010 para 73 bilhões em 2020 – incluindo 6,8 bilhões de l para exportação.
Jorge Samek, diretor-geral brasileiro de Itaipu, defendeu recentemente opção do governo federal pela construção de novas usinas
hidrelétricas, como as dos rios Madeira, Tapajós e Xingu, todas na
região Norte. Para ele, os novos investimentos têm potencial para
aliar desenvolvimento econômico e preservação do meio ambiente.
No último Congresso Mundial da International Hydropower Association (IHA), realizado em Foz do Iguaçu (PR), ele explicou: “Hoje
temos de agregar, a cada três anos, uma Itaipu para sustentar o
nível de crescimento que queremos. É bom lembrar que o consumo
atual de energia do brasileiro é sete vezes menor que o do norteamericano e quatro vezes e meia abaixo que a média do europeu.
Não significa que queremos alcançar o nível de consumo exagerado dos norte-americanos, mas muitos brasileiros ainda não contam
com serviços elétricos básicos. E, para que isso aconteça, temos
que dotar o Brasil de mais energia”.
Samek lembrou ainda que somente 30% do potencial hidrelétrico são explorados no Brasil e os 70% a serem explorados
estão na Amazônia. “O País tem outras fontes de energia, como a
proveniente da cana-de-açúcar e amplo potencial eólico e solar.
Sem contar as fontes não renováveis. Todos os países desejariam
ter a matriz larga que nós temos. Podemos escolher”, aponta.
Fotos: Augusto Diniz
Consumo de energia na década
requer mais quatro Itaipus
Embrapa à frente para conservar
a variedade de espécies
O banco de germoplasta do
guaraná na Amazônia é o
único existente no mundo
A
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa)
vem estudando o manejo e conservação dos recursos genéticos em várias regiões do País, onde mantém bancos
de plantas ativos de germoplasma. No Amazonas, a Embrapa
Amazônia Ocidental mantém dez Bancos Ativos de Germoplasma onde estão caracterizadas amostras de vegetais importantes
para a região visando preservar a ampla variedade genética desses materiais para estudos.
Os Bancos Ativos de Germoplasma (BAG) tem o objetivo de
manter amostras de diferentes espécies acessíveis à pesquisa.
Além disso, eles possibilitam investigações para a melhoria das
variedades de plantas, tanto no aumento de produtividade como
na resistência às doenças e benefícios alimentares.
O chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Amazônia Ocidental, Celso Azevedo, explica: “Um BAG é constituído em
longo prazo, portanto, é uma infraestrutura permanente, um patrimônio, que promove inovação, agregação de valor que disponibiliza germoplasma para programas de melhoramento genético,
fitotecnias, biotecnologia e inclusão socioeconômica”.
O pesquisador detalha a iniciativa: “Entre os BAGs, existem
acervos exclusivos de plantas de extrema importância para a
biodiversidade. O banco de germoplasma do guaraná (Paulínia
cupana var.sorbilis), por exemplo, é o único do mundo e está no
Amazonas. É um importante patrimônio uma vez que não há registros da ocorrência de populações naturais de guaranazeiro em
outras regiões do País. Já os bancos de dendê (Elaeis guineensis)
e de caiaué (Elaeis oleifera) da Embrapa Amazônia Ocidental são
os mais completos mantidos no continente americano. A diversidade dessas palmeiras de óleo já permitiu o desenvolvimento
de cultivares altamente produtivos e com padrão de qualidade
reconhecido internacionalmente”.
Na região, a Embrapa também mantém bancos genéticos com
variedades de cupuaçu (Theobroma grandiflorum), de mandioca
(Manihot esculenta), de plantas medicinais, aromáticas e condimentares, de fruteiras tropicais, que incluem espécies exóticas
e nativas da Amazônia, coleção de espécies florestais, de pupunha (Bactris gasipaes) e de Croton sp. e Arrabidaea sp. O BAG
de cupuaçu reúne variedades desse fruto coletadas e mantidas
em todos os estados da região amazônica. Esses materiais são
utilizados no programa de melhoria genética do cupuaçuzeiro e
permitem o desenvolvimento de clones com alta produtividade,
além de produtos regionais que movimentam a economia.
www.revistaoempreiteiro.com.br | 75
Sustentabilidade | Amazônia
Edson Barcelos, engenheiro agrônomo que coordena o Programa Nacional de Pesquisa de Dendê e de Projetos de Pesquisas
com Melhoramento Genético e bancos de germoplasma afirma
que todas as pesquisas estão centradas nos recursos naturais
renováveis visando sustentabilidade. “Na natureza, você retira e
espera que ela reponha o quanto você retirou, para poder retirar
de novo. Todo o segredo da sustentabilidade consiste em manter
o equilíbrio e só extrair da melhor forma, sem perdas, aquela
quantidade que a natureza, o sistema consegue repor ou consegue recuperar”, expõe. Para manter esse equilíbrio na natureza
são necessárias pesquisas já que tradicionalmente na Amazônia
o homem vem retirando mais do que repondo.
Ele lembra que os bancos ativos de germoplasma são locais
onde se reúnem diferentes tipos e formas de uma espécie de
potencial e/ou de valor econômico, sobre as quais se conduzem
pesquisas de melhoria genética, buscando desenvolver materiais
genéticos (variedades, híbridos, clones, linhagens etc.) melhores
adaptados às diferentes condições de seu cultivo, apresentando
características de interesse comercial e de diferentes usos. “Não
existindo pesquisas, não tendo um programa de melhoramento
genético, o Banco de Germoplasma não tem função. Tecnicamente o termo Banco de Germoplasma não se aplica ou se destina à
conservação ou preservação da biodiversidade e sim à conservação e ao uso da variabilidade genética para fins comerciais, de
uma dada espécie de valor comercial e espécies afins ou aparentadas”, explica.
Manejo sustentável
com benefícios ambientais
Em outra vertente de pesquisa, o cientista Leandro Ferreira,
especialista em Manejo Florestal do Museu Emílio Goeldi, indica
ainda outros ganhos na exploração dos recursos da Amazônia,
com conquistas ambientais e sustentabilidade. Ele cita: “A exploração da madeira de baixo impacto com plano de manejo permite
a extração de madeiras comerciais preservando grande parte da
estrutura da vegetação, pois essa exploração é feita com modernas técnicas de manejo, como o corte de cipós que impede a
queda de várias árvores, a escolha de somente poucas espécies
por hectare e o arraste de troncos em locais pré-definidos. Essas técnicas permitem que o manejo florestal seja uma atividade
econômica e ambientalmente sustentável”.
Vontade política para proteger o
patrimônio da Amazônia
Os cientistas que estudam a Amazônia alertam que há outros
pontos ainda a se levar em conta. O físico Ennio Candotti, que foi
duas vezes presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da
Ciência (SBPC) e hoje é diretor do Museu da Amazônia, lamenta
a falta de decisão política para atuar na região. “Deve-se tomar a
76 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012
decisão política se há interessa
em conhecer o patrimônio de
biodiversidade que se encontra
na região. Em caso positivo,
devem ser criadas instituições
e formados quadros capazes
de transformar o conhecimento difuso em conhecimento
sistemático, por vezes útil para
desenvolver produtos em outras áreas, propiciar novos conhecimentos. A soberania soCandotti acredita que é
bre o patrimônio genético que necessário implantar uma nova
as convenções internacionais engenharia na Amazônia
atribuem ao Brasil e à Amazônia somente pode ser exercida se conhecermos de que se trata este
patrimônio, objetos, plantas, processos, microorganismos, conhecimentos tradicionais, recursos minerais, águas, florestas etc. A
Embrapa, por exemplo, dedica à região menos de 10% de seu
orçamento”, relata.
E continua Ennio Candotti: “Hoje, pouco ainda se fez e os
institutos instalados cobrem menos de um centésimo do que seria necessário para dizer quais as dimensões deste patrimônio.
Para dar uma ideia, 70% dos artigos científicos e patentes sobre
produtos e processos da região são realizados por instituições estrangeiras. O Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA) aguarda das autoridades federais e do Estado há mais de 10 anos uma
definição formal para existir e funcionar. Um escândalo pouco
divulgado.”
O Centro de Biotecnologia
da Amazônia (CBA) aguarda
das autoridades federais e
do Estado há mais de 10
anos uma definição formal
para existir e funcionar. Um
escândalo pouco divulgado.
Construir infraestrutura sem
dilapidar o patrimônio físico
Para o cientista Candotti, é necessária uma solução inovadora
na construção de infraestrutura. “A engenharia pensada e desenvolvida no centro-sul do País não serve para a região amazônica.
É uma engenharia do asfalto ou do cimento. É preciso implantar
uma engenharia nova aqui, que estude os sistemas de transporte fluvial, as comunicações em atmosfera úmida, a mecânica de
fluidos, a construção flutuante, as fontes de energias alternativas: solar ou que explorem a correnteza do rio. Não adianta
trazer soluções que precisam de ar condicionado para funcionar.
Até a agricultura é diferente, mas... quantos centros da Embrapa
existem por aqui? Existe o centro do feijão? Não existe o do
Açaí... Isso está sendo feito, mas muito lentamente, em ritmos
que exigem 50 anos para amadurecer. Dilapidar o patrimônio será
predominante enquanto a Amazônia for pensada como fonte de
energia hidroelétrica barata, corredor para o Pacífico, província
mineral”, discorre.
O pesquisador Leandro Ferreira, do museu Emilio Goeldi,
acredita que é necessário estudar bem a região para implantar a infraestrutura e manter o patrimônio. “A implantação de
infraestrutura gera impactos ambientais, econômicos e sociais
em qualquer lugar do mundo, e na Amazônia não é diferente. O
que ocorre aqui é que a implantação dessa infraestrutura normalmente é feita sem que os estudos de impactos ambientais
sejam adequadamente realizados. A construção de estradas nas
décadas de 60 a 80 permitiu a comunicação via terrestre da
Amazônia com outras regiões do Brasil. Contudo, o custo social
e ambiental foi muito maior do que os benefícios dessa comunicação”, lembra.
A construção de estradas nas
décadas de 60 a 80 permitiu a
comunicação via terrestre da
Amazônia com outras regiões
do Brasil. Contudo, o custo
social e ambiental foi muito
maior do que os benefícios
dessa comunicação.
Estudos científicos têm demonstrado que mais de 80% do
desmatamento na Amazônia estão concentrados nas margens
das principais rodovias e estradas vicinais associadas a estas.
“Grande parte dessas rodovias foram planejadas para permitir a
colonização rápida da Amazônia, possibilitando que migrantes
de outras regiões pudessem chegar na região. Atualmente, as
melhorias de infraestrutura de estradas estão associadas à necessidade de escoamento da produção de commodities agrícolas
e minerais, e não estão ligadas a uma política de melhorar essa
infraestrutura para que os colonos vindos de outras regiões, e
os que aqui sempre viveram, possam escoar a produção da agricultura familiar para os centros comerciais das cidades. Essa é a
questão principal que deve ser estudada: a implantação de infraestrutura na Amazônia não tem sido para o desenvolvimento
da mesma, mas sim para permitir uma exploração mais rápida e
eficiente dos recursos naturais desse território”, finaliza.
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Sustentabilidade | Amazônia
Vanguarda na
sustentabilidade
conquista o consumidor
O
pulo do gato veio do modelo de negócio adotado, baseado nas “consultoras” que fazem as vendas dentro de
suas redes de relacionamento. Em paralelo, a empresa
acentuou o conceito de valorizar e preservar a natureza, quando
o tema sustentabilidade ainda não estava tanto em evidência.
Assim, a Natura promoveu o uso de embalagens recicláveis,
refis e fórmulas biodegradáveis e com essas atitudes passou
ao público a imagem definitiva de empresa preocupada com o
meio ambiente.
Para ampliar o conceito, em 2000, a indústria criou a linha
Ekos voltada à preservação da biodiversidade brasileira ao associar a pesquisa científica e inovações tecnológicas ao conhecimento popular dos povos nativos da Amazônia. Já com essa nova
linha, em 2004, a empresa abriu seu capital na Bolsa de Valores
de São Paulo (BM&F Bovespa), passou sua concorrente internacional, a Avon, em vendas e faturamento, e reafirmou sua marca
no mercado brasileiro.
Hoje, a Natura é líder no mercado nacional de cosméticos,
fragrâncias e higiene pessoal com 22.1% de participação. A Natura tem 4.900 parceiros na rede de fornecedores. Só a linha Ekos
78 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012
tem 25 comunidades produtoras com 2.300 famílias, sendo 16
delas na Amazônia beneficiando 1.495 famílias. Segundo a empresa, o relacionamento com fornecedores “é baseado na criação
de cadeias de valor de preço justo, com a remuneração feita pelo
uso do patrimônio genético e do conhecimento tradicional, o manejo adequado dos insumos e o incentivo ao desenvolvimento”.
Em 2010, a Natura repassou R$ 8,7 milhões para as comunidades
fornecedoras, valor 57% superior a 2009.
A linha Natura Ekos engloba produtos de perfumaria, higiene
pessoal e ambientação tais como sabonetes, xampus, condicionadores, hidratantes e perfumes com a utilização de recursos da
biodiversidade brasileira. É inspirada no conhecimento tradicional das propriedades e usos das plantas por parte das populações
locais da Amazônia. A empresa trabalha em 14 locais do Amapá,
Amazonas, Pará e Rondônia de onde compra 14 matéria-prima
para seus produtos: açaí, andiroba, breu-branco, buriti, cacau,
capim limão, castanha, cupuaçu, estoraque, maracujá, mate verde, murumuru, pitanga e priprioca.
Açai e castanha são algumas das matérias-primas
da região transformadas em produtos
Desenvolvimento sustentável
O presidente da Natura, Alessandro Carlucci, esclarece
que a empresa criou um programa para a região amazônica
visando o crescimento: “A experiência que acumulamos ao
longo de mais de uma década de trabalho e pesquisa nessa
região única, nos pôs diante de uma certeza: a de que é pos-
sível utilizar as riquezas da Amazônia
em harmonia com a natureza, dentro de
um modelo sustentável que se opõe ao
sistema exploratório e devastador que
tem colocado em risco a existência da
maior floresta do mundo”.
O Programa Amazônia está baseado
em três iniciativas: ciência, tecnologia,
inovação (CT&I); cadeias produtivas sustentáveis; e fortalecimento institucional. Segundo Carlucci, o projeto “nasceu
para gerar novos negócios, e atuar como
um catalisador de conhecimentos, além
de criar oportunidades para organizar as
sociedades locais, ampliando as oportunidades de trabalho e renda envolvendo
um número mais expressivo de comunidades e organizações que vivem e atuam
na Amazônia Legal Brasileira e latinoamericana”. Daqui até 2013, o foco será
expandir a atuação da empresa por meio
dos investimentos citados, entre eles, a criação de um Centro
de Conhecimento em Manaus (AM) e a expansão da Unidade Industrial de Benevides (PA), com a implantação da mais
moderna fábrica de sabonetes das Américas.
Marcelo Cardoso, vice-presidente de Desenvolvimento
Organizacional e Sustentabilidade, detalha que a Natura enxerga esse investimento como uma das principais iniciativas
capazes de mudar a realidade da Amazônia e tornar a região
um grande polo mundial de tecnologia e negócios sustentáveis. “O modelo pretende também contribuir para estimular
a fixação de pesquisadores e cientistas locais em sua região
de origem, através de redes internacionais, envolvendo instituições acadêmicas, de pesquisa tecnológica e científica. O
objetivo é envolver em rede mais de mil pesquisadores dessas
instituições até 2020 por meio da nossa presença física na
cidade de Manaus”, explica.
Com as inovações nos campos de CT&I, a Natura pretende
também estimular a formação de uma rede com produtores
e comunidades agroextrativistas locais, ampliando os negócios a partir dessas cadeias produtivas da biodiversidade ao priorizar o uso de insumos amazônicos em
seus produtos, elevando de 10% para 30% sua compra,
até 2020. Nesse contexto, deverá dobrar o número de
famílias de comunidades tradicionais e agrícolas que participarão de sua cadeia produtiva. A proposta da empresa
é estimular a criação de outras cadeias da biodiversidade
na região que poderão envolver de 10 a 12 mil famílias até
2020.
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Sustentabilidade | Amazônia
Couro ecológico
cria novo ciclo da
borracha na Amazônia
N
os últimos anos, pesquisadores e cientistas se mobilizaram
a fim de desenvolver tecnologias para proteger a Amazônia e permitir sua inserção econômica no contexto nacional. Foi dessa forma que universidades da região investigaram
novas maneiras de transformar o velho látex — o mesmo que em
duas ocasiões no passado distante trouxeram riqueza e decadência à região - em borracha ecológica.
Ao contrário do processo tradicional que produz o material
bruto para uso das indústrias (pneus, artefatos etc.), as tecnologias
alternativas trabalham de modo a garantir uma atividade sustentável. Em todas elas, o processo de defumação da borracha – consi-
Extração do látex da seringueira agora
passa por novo processo produtivo
derado perigoso para a saúde dos seringueiros – foi eliminado.
O couro ecológico, desenvolvida pelo pesquisador Francisco
Samonek, professor da Universidade Federal do Acre (UFA) em
conjunto com as comunidades tradicionais da região, é uma das
promissoras das tecnologias recém-implantadas. O novo processo, pelo fato de não defumar, oferece melhores condições de
produção ao seringueiro. Ele é desenvolvido da seguinte forma: o
látex nativo é colhido, coado e misturado com agentes vulcanizantes e fibras vegetais (embaúba e o algodoeiro). Depois, o tecido emborrachado é pré-vulcanizado. Paralelamente, são feitos
moldes de madeira ou argila, retirados dos resíduos descartados
nas indústrias madeireiras. Assim, o composto com a mistura do
látex e das fibras é aplicado nos moldes e colocado ao sol para
Pavimentação
de estrada na
Amazônia, como
a BR-364, no
Acre, representa
oportunidade de
desenvolvimento
sustentável à
região, desde que o
meio ambiente seja
respeitado
80 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012
secar. A água evapora e a parte sólida permanece no molde para
receber pintura com corantes feitos a partir de espécies locais.
O couro que surge pode virar tapete, toalhas de mesa e outros 20 artefatos. Com o domínio do novo processo, Samonek e
as comunidades de indígenas e seringueiros fundaram, em 2002,
o Pólo de Proteção da Biodiversidade e Uso Sustentável dos Recursos Naturais (Poloprobio), uma Oscip voltada às pesquisas e
aperfeiçoamento do couro. Hoje, em parceria com a Universidade
Federal do Pará, a tecnologia é aplicada nos municípios das ilhas
do arquipélago do Marajó e entorno de Belém, locais com os menores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) da região.
Francisco Samonek explica o projeto: “Os produtos gerados
são totalmente artesanais e os investimentos necessários são de
baixo custo. Não exigem nem energia elétrica. As comunidades
não vendem mais matéria-prima, porém, produtos prontos para o
mercado, com alto valor agregado como utilidades domésticas e
peças decorativas. São mantas, tapetes, pad-mouses, vasos, pinturas em látex em camisetas e bonés, com desenhos indígenas e
motivos regionais, entre outros.”
Com um mercado nacional crescente, e começando a abertura
para o mercado externo, a experiência tem trazido bons resultados,
aponta o pesquisador: “A simplificação do processo de vulcanização da borracha, permite que um seringueiro no meio da floresta
vulcanize, de forma artesanal, os seus 10 litros de látex da colheita
diária. Um kg de borracha vendido no sistema convencional, com
subsídios da Conab, vale R$ 3,50. No caso dessa tecnologia, um kg
de mix de produtos atinge R$ 81,00, na média”.
Atualmente, existem sete projetos de pesquisa na Amazônia,
financiados pela Petrobras e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), atendendo quatro estados: Acre, Amazonas, Pará e Roraima, em 48 comunidades, localizadas em reservas e projetos de assentamentos extrativistas e
terras Indígenas, com 1.225 pessoas diretamente envolvidas. Eles
atendem seringueiros, indígenas, ribeirinhos, pequenos produtores rurais e quilombolas. Participam dez etnias indígenas: Kaxinawá, Shanenawa, Kaxarari, Apurinã, Dessana, Tukano, Baniwa,
Tariana, Piratapuya, Uanano.
Uso da tecnologia em escala industrial
Há três anos, uma empresa em Magda,
região noroeste de São Paulo, fabrica o laminado de látex em escala
industrial — utilizando o mesmo princípio de produção
do couro ecológico —, após pesquisas realizadas na reserva de
Maracatiara, no centro-oeste de Rondônia. Ele sai da fábrica em
bobinas contínuas de 25 m lineares e 1,3 m de largura, em várias
gramaturas (espessuras), cores e texturas. O material pode ser
usado no revestimento de cadeiras, bancos de automóveis, além
da fabricação de calçados e vestuário. Atualmente a empresa
produz 25 mil m/mês do produto.
Jaime Marques Rodrigues, diretor da Ecológica destaca um dos produtos que a empresa fabrica: “A Ecoball é
uma bola esportiva, possui o tamanho oficial e é composta por látex natural, pesando de 260 a 280 g com 65 a 67 cm
de circunferência. O interior é composto por uma câmara
de látex, miolo removível e lubrificado. A produção segue os padrões definidos pelas federações e confederações de voleibol e futebol. Em breve a bola poderá rolar oficialmente nos campos”.
A Ecológica tem uma fábrica na cidade de Xapuri (AC) onde
os empregados trabalham na fabricação de bolas de futsal, voleibol, handebol e basquetebol. A meta inicial é a produção de 35 a
60 mil bolas ecológicas por ano.
Tênis ecológico
Os irmãos Rafael e Bruno Narciso, skatistas de longa data,
procuravam um produto diferenciado quando pensaram em abrir
uma pequena empresa. Em agosto de 2008, inauguraram a marca
de calçado Oüs. “Desde o início nos preocupamos em começar
algo diferente, com respeito ao meio ambiente. Assim, desde que
lançamos a marca temos pesquisado soluções e alternativas em
substituição aos materiais tradicionais. Um dos produtos é o tênis
ecológico”, conta o jovem empreendedor.
Feito de látex natural e algodão, o couro usado na fabricação
do tênis é comprado da Ecológica e não gera resíduos em nenhuma fase da produção. “A aderência é ótima e os tênis nunca
furam”, garantem os skatistas consumidores.
Hoje, a Oüs está presente em 15 estados brasileiros e exporta
o tênis de couro ecológico para o Chile, Austrália e Noruega. Em
2011 a empresa prevê fechar o ano com um faturamento superior
a R$ 2 milhões.
www.revistaoempreiteiro.com.br | 81
Índice de Anunciantes
500 Grandes da Construção 2012
27
JCB
Airport Infra Expo 2012
49
Locguel
35
Andaimes Urbe
53
Mangels
47
Armco
41
Mecan
11
Bobcat
7
Mobil
15
Polierg
53
Pottencial
39
Rudloff
29
Sany
17
Sinalisa
51
Suplemento Regional 2012
23
Brazil Road Expo 2012
3ª CAPA
2ª CAPA
Caimex
57
CHB Equipamentos
19
Concrete Show 2012
25
Equipo Mining 2012
55
Espiral
45
Tecobi 2012
43
Indutil
51
Terex
9
Itubombas
54
UTC
4ª CAPA
82 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012
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o vídeo de 50 anos da Engenharia Brasileira
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