aeroPortoS atraeM grandeS PlayerS Pela alta rentaBIlIdade
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aeroPortoS atraeM grandeS PlayerS Pela alta rentaBIlIdade
Ano L - Dezembro 2011/Janeiro 2012 - Nº 504 - R$ 12,00 www.revistaoempreiteiro.com.br Concessões Aeroportos Atraem grandes players pela alta rentabilidade Macrometrópole SP não resolve obras urgentes mas já divulga plano para 2040 Mercado: Indicadores mostram construção à frente do PIB Sumário Editorial 5 O exemplo inglês na gestão e uso de TI nas obras da Olimpíada Fórum de Engenharia 6 Barra do Furado terá primeiro estaleiro Dimensões 12 Obras da transposição. O bispo disse que não ia dar certo Foto: Epitácio Pessoa/AE 20 Política 14 O efeito contaminante das maçãs podres Newsletter Global 16 Obras e tecnologias serão destaque na publicação eletrônica Empresas de Engenharia do Ano 20 A premiação, a festa e uma reflexão sobre o crescimento brasileiro Cenário da Construção 24 Indicadores sinalizam crescimento sustentável Engenharia Consultiva 30 Copa e Olimpíada reforçam debate em favor de projeto e qualidade 36 Luiz Guarnieri/AE 32 Aeroportos 32 Concessões em SP e Brasília atraem interessados pela alta rentabilidade O suplício dos viajantes frequentes Tecnologia da Informação 35 Teckma investe em novo sistema de gestão Macrometrópole 36 São Paulo não conclui os planos que tem, mas já projeta outro para 2040 Uma promessa de luz no fim do túnel Integração é desafio nas ações governamentais Metrô prevê expansão apesar de prováveis contratempos É preciso dobrar capacidade de tratamento de esgoto até 2018 Parar de errar já para que plano futuro tenha crédito Concreto Pré-fabricado 58 Empreendimentos na Grande BH utilizam a tecnologia em larga escala Tecnologia da Informação 60 Contratante solicita projeto executivo de edificação em BIM Rodovias | Pedágio 62 Free Flow necessita de arcabouço legal Pavimentação 64 Aplicação de mistura asfáltica morna no pavimento da Via Dutra Sustentabilidade | Amazônia 70 Explorar e crescer, mas preservar a floresta: o dilema amazônico Embrapa à frente para conservar a variedade de espécies Vanguarda na sustentabilidade conquista o consumidor Couro ecológico cria novo ciclo da borracha na Amazônia 70 Capa: Airbus A380, maior avião comercial de passageiros do mundo. Pelo menos uma companhia aérea já solicitou autorização para utilizá-lo no Brasil. Trata-se de mais uma adequação da engenharia que os aeroportos brasileiros deverão fazer no futuro próximo: o tráfego de aeronaves de grande porte. Foto: Christian Charisius / Reuters www.revistaoempreiteiro.com.br | 3 Diretor Editorial: Joseph Young Editor: Nildo Carlos Oliveira [email protected] Editor-assistente: Augusto Diniz - [email protected] Redação: Joás Ferreira - [email protected] Lílian Moreira - [email protected] Publicidade: Ernesto Rossi Jr. (Coordenador) Paulo Sabatine (Coordenador) Fernando Mauro, José Ferreira, Marta Bandoni, Wagner Barbosa e Wanderlei Melo [email protected] Diagramação e Produção Gráfica: Cotta Produções Gráficas [email protected] Circulação e Distribuição: [email protected] Sede: Rua João Gomes Jr., 1085 Jd. Bonfiglioli - CEP: 05592-001 São Paulo - SP - Brasil Telefone: (11) 3788-5500 A revista O EMPREITEIRO é uma publicação mensal da Lithos Editora Ltda., dirigida, em circulação controlada, a todos os segmentos da indústria de construção imobiliária e industrial, e os setores público e privado de infraestrutura, obras de transporte, energia, saneamento, habitação social, telecomunicações etc. O público leitor é formado por profissionais que atuam nos setores de construção, infraestrutura e concessões: construtoras; empresas de projetos e consultoria; montagem mecânica e elétrica; instalações; empresas que prestam serviços especializados de engenharia; empreendedores privados; incorporadores; fundos de pensão; instituições financeiras; fabricantes e distribuidores de equipamentos e materiais; órgãos contratantes das administrações federal, estadual e municipal. O canteiro das obras de Londres, seguindo o ritual do cronograma e até as antecipando, e as obras da Transposição do rio São Francisco, seguindo o ritual brasileiro dos atrasos e até do abandono Auditorado pelo: | Impressão: Parma Tiragem total: 14.000 exemplares Toda correspondência referente à pedidos de assinatura, consulta e mudança de endereços deve ser enviada à O EMPREITEIRO – Departamento de Circulação Rua João Gomes Jr., 1085 - CEP: 05592-001 São Paulo – SP – Brasil. Preços: Assinatura anual: R$ 90,00; Números avulsos: R$ 12,00; Números atrasados: R$ 15,00; Exterior: 1 ano via aérea - US$ 60,00; 1 ano - via marítima - US$ 50,00 Registro de Publicação está assentado no cadastro de Divisão de Censura de Diversões Públicas do D.P.F. sob nº 475/73.8190, no livro B - registro no 1º Ofício de Títulos e Documentos. Registrada no Serviço de Censura Federal sob nº 2; 269P209/73, Lithos Editora Ltda. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte do conteúdo desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida, de qualquer forma e por qualquer meio, eletrônico ou mecânico, inclusive fotocópias, gravações, ou qualquer sistema de armazenagem de informação, sem autorização, por escrito, dos editores. Membro da ANATEC. Siga-nos no Twitter: @oempreiteiro O EMPREITEIRO foi editado de 1962 a 1968 como jornal e desde 1968 em formato de revista. Diretor Responsável: Joseph Young 4 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012 Foto: Wilson Pedroso/AE Editorial O exemplo inglês na gestão e uso de TI nas obras da Olimpíada Neste começo de 2012, a análise do balanço do final 3 - O Parque Olímpico foi dividido em 300 áreas sob de 2011 mostra que os números de crescimento do PIB responsabilidade das empreiteiras principais, coordenadas foram pífios nos 3º e 4º trimestres, com economistas du- pela CLM, que inclui as obras civis, segurança no trabalho, vidando que a taxa anual alcance os 3%. A redução dos controle de acesso e outras responsabilidades; investimentos do governo federal, com a justificativa da 4 - A logística do parque também é coordenada pela necessidade da preservação dos gastos correntes da má- CLM; quina política e administrativa, que não param de subir, 5 - 10 mil pessoas trabalharam nas obras do parque e foi um dos motivos desse fraco desempenho. outras 10 mil trabalharam na vila olímpica (hospedagem Na busca dos culpados por essa performance ruim e dos atletas), sendo 20% contratados na região de East Lonimprevista, alegou-se que a gestão do PAC está emperra- don; houve apenas dois acidentes fatais durante as obras, da no Ministério do Planejamento, cogitando-se até que ambos causados por doença; ela deva ser deslocada para Casa Civil. Pura pirotecnia 6 - 10 mil pessoas trabalharam nas empresas forpara efeito público, se na essência as decisões políticas necedoras, sendo 70% locais (das regiões da Grande estão paralisadas pelo fluxo Londres, Essex e Kent); interminável de denúncias 7 - Um site com webODA – Olympic Delivery Authority de práticas antiéticas – para cams que mostra imagens Responsável pela infraestrutura de Londres 2012 sermos diplomáticos. Foi-se das obras 24 horas por dia, dada prioridade às despesas cronogramas atualizados Consórcio CLM correntes e não aos invesem tempo real, com avisos Responsável pela gestão dos projetos e obras timentos. Portanto, não de licitações próximas e os adianta mudar de gestor. vencedores das concorrên Tier 1 (contratados) Tiers 2 e 3 Fora da arena minada cias realizadas; quem faz 96 fornecedores (subcontratados) da política, há ainda duas o quê; programas de mo e empreiteiras 869 empresas questões insolúveis: os mibilização das comunidades nistérios carecem de provizinhas que inclui visitas fissionais experientes em regulares ao parque; gestão de programas e projetos e há poucos investi8 - Uma agência já estabelecida vai herdar todo o parmentos em TI — softwares de gestão que existem nas que e operá-lo depois dos Jogos, com £ 1 bilhão reservado prateleiras do mercado, em uso há anos no setor priva- para as obras de ajuste e adaptação com vistas às necesdo no Brasil e em outros países, que podem ser imple- sidades da população. mentados a médio prazo. Existe também a alternativa Resumindo: o povo britânico mostrou que além de ser de se contratar empresas privadas especializadas em pontual é capaz de separar a política de governo da polígestão de programas. Mas, aí é preciso afastar os po- tica da execução dos projetos. O Parque Olímpico recebe líticos que não querem largar o “osso” e dizem que só retoques finais e já realiza jogos-teste nas arenas esporsaem “se forem abatidos a tiro”. tivas, simbolizando a competência da engenharia britâniVejamos o exemplo do Parque Olímpico de Londres, ca. Já o governo britânico continua criticado em política coordenado pela ODA - Olympic Delivery Authority, que econômica e no modo de combater o déficit público e se deixou 95% do parque pronto um ano antes da data ofi- prepara para uma nova recessão provocada pela zona do cial da Olimpíada de 2012. A estrutura é até simples de euro — cenas déjà vu em muitos países. entender: Com a nossa opinião sobre o exemplo de Londres no 1 - A cliente ODA instrui uma empresa de geren- tratamento de obras para eventos internacionais desse ciamento — CLM, consórcio formado pela CH2M Hill, tipo, fechamos o ano de 2011 e abrimos a revista para Laing O’Rourke e Mace; 2012, na expectativa, externada aos nossos leitores, 2 - CLM coordena 96 fornecedores e empreiteiras anunciantes e amigos, da continuidade do crescimento chamadas Tier 1 e monitora 869 contratados chamados brasileiro e da garantia que a Engenharia e a Construção Tiers 2 e 3, considerados também críticos; podem proporcionar ao Brasil com esse fim. www.revistaoempreiteiro.com.br | 5 Fórum de Engenharia Barra do Furado terá primeiro estaleiro A BR Offshore vai investir R$ 450 milhões na construção do Terminal de Serviços e Logística da Barra do Furado (TSLBF), no Canal das Flechas, Barra do Furado, entre os municípios de Campos dos Goytacazes e Quissamã, no norte do Estado do Rio de Janeiro. O empreendimento será construído dentro do Complexo Logístico e Industrial Farol - Barra do Furado, envolvendo os dois municípios, com o apoio dos governos estadual e federal, para a instalação de empresas do setor de óleo e gás. O TSLBF terá um estaleiro de reparos navais direcionado para as embarcações de apoio offshore e uma base de apoio marítimo, com áreas para instalação de empresas do segmento de óleo e gás. As obras do empreendimento, que será o primeiro do complexo, deverão ser iniciadas em abril de 2012. A previsão é que já esteja operando até o final de 2013. O crescimento das atividades de perfuração e exploração na Bacia de Campos tem criado gargalos logísticos importantes, com a sobrecarga dos portos hoje utilizados para apoio offshore, gerando custos significativos nas operações de logística para as plataformas. As obras de dragagem do Canal das Flechas, bem como o aumento dos moles necessários para a proteção da entrada do Canal das Flechas têm o apoio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e estão sendo realizadas pelo Consórcio Terra e Mar, formado pelas empresas Odebrecht, Queiroz Galvão e OAS. A previsão é que sejam concluídas ainda em dezembro de 2012. O terminal terá capacidade de atracação para até 10 embarcações, e contará com moderno sistema de docagem e transbordo, além de um armazém alfandegado, áreas de estocagem de líquidos e granéis, e ainda uma estação de passageiros e um heliporto. O estaleiro de reparos navais contará com o maior shiplift (elevador de embarcações) no Brasil, com a capacidade de içamento de embarcações com até 6 mil t, e na primeira fase poderá docar simultaneamente, em seco, até quatro navios. O empreendimento BR Offshore deverá gerar cerca de 1 mil empregos diretos e cerca de 2 mil indiretos. Apenas durante as obras, cerca de 600 pessoas devem ser empregadas. Em todo o Complexo Logístico e Industrial Farol – Barra do Furado deverão ser gerados entre 5 mil e 8 mil empregos. Mercado de máquinas em crescimento As vendas de máquinas e equipamentos para o setor da construção e obras de infraestrutura no Brasil deverão ter um crescimento de 18% neste ano, em comparação a 2010, de acordo com estudo do mercado de equipamentos para construção, da Associação Brasileira de Tecnologia para Equipamentos e Manutenção (Sobratema). Para 2012, a previsão é de um crescimento de apenas 5%. “A queda se deve, basicamente, a uma estimativa de diminuição nas vendas de caminhões no próximo ano”, explica Brian Nicholson, consultor econômico da entidade. Segundo ele, o resultado obtido em 2011 está ligado ao fato de que os empresários anteciparam as compras de caminhões – segmento que teve crescimento de 27%, frente a 2010. E isso aconteceu em função da mudança na legislação ambiental prevista, com alterações nos motores e perspectiva de aumento no preço dos veículos. Além do forte crescimento nas vendas de caminhões (que representam mais de 50% do volume de vendas de equipamentos para o setor da construção), foi registrado também um aumento de 113% nas vendas de miniescavadeiras. Atualmente, o índice de participação das máquinas importadas, na chamada linha amarela, basicamente composta por equipamentos de terraplanagem, chega a 29% do total comercializado no Brasil. De acordo com Nicholson, esse percentual deve ser o ponto mais elevado de participação no setor, uma vez que grande parte dos equipamentos hoje importados passará a ser produzida no País nos próximos anos. Combate à dengue em canteiros de obra A Atlas Copco lançou sua nova linha de geradores, com um diferencial: o chassi é 100% vedado e dispensa o uso da bandeja de retenção, o que ajuda a eliminar foco do mosquito da dengue em canteiro de obra. “A vantagem, da solução, é enorme. Tanto assim, que buscamos assegurar este diferencial para nossos clientes com um projeto que foi auditado pelo Bureau Veritas”, afirma Fernando Groba, business line manager da Atlas Copco Portable Energy Division. Com o fim do uso das bandejas de retenção, não só é possível diminuir os focos do mosquito da dengue, como também evitar contaminações de óleo nos solos e, consequentemente, a contaminação de lençóis freáticos. Essa tecnologia também conta com outros diferenciais, dentro do conceito de produtividade sustentável, como o baixo consumo de óleo diesel, com autonomia de 12 horas, e o baixo nível de ruído. 6 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012 Fórum de Engenharia Obra trata de atualização das normas De olho em térmicas e hidrelétricas A Skanska Brasil estuda investimentos em termoelétricas e hidroelétricas. A proposta é projetar, construir, entregar e fazer a manutenção. A empresa sueca já tem experiência no País em ambas áreas. A companhia foi responsável pela construção e montagem da central termoelétrica Euzébio Rocha, em Cubatão (SP), da Petrobras. Atualmente, está desenvolvendo projeto de térmica a gás de 500 MW em Seropédica (RJ), também para a Petrobras. As obras ainda não iniciaram, mas a usina de energia deverá ficar pronta em 2014. Na térmica de Seropédica, a Skanska fará do projeto básico a montagem do empreendimento. No campo de hidroelétricas, a Skanska construiu a Central Hidrelétrica Ponte de Pedra, localizada no rio Correntes, que divide os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Atualmente, ela opera e faz manutenção da usina. “O Brasil tem muita capacidade de investimentos. Essa nova crise financeira mundial tem mostrado isso. A matriz está atenta e acredita que o País possui potencial de expansão para os próximos cinco anos”, avalia Nelson Branco, country manager da Skanska Brasil. A empresa ainda estuda participar de parceria público-privada (PPP) na área de hospitais — a empresa tem grande expertise internacional no setor, que é assunto ainda novo no País. Em 2012, a Skanska comemora 10 anos de Brasil e 125 anos de criação. A empresa pretende alcançar 6 mil funcionários em breve – atualmente, são 4.800. Doosan escolhe Americana (SP) para sua primeira fábrica A empresa WTorre anunciou, em dezembro último, o início da construção da primeira fábrica da Doosan na América Latina. Com investimento de R$ 80 milhões, a fábrica está sendo implantada em Americana, no interior de São Paulo. As instalações da Doosan, maior conglomerado sul-coreano de máquinas e equipamentos, ocuparão um terreno com 200 mil m2, dos quais 30 mil m2 são de área útil. Lá serão produzidas escavadeiras para construção civil e outros equipamentos de menor porte. “Para a montagem da linha de produção, a Doosan deve investir outros R$ 200 milhões”, diz Sérgio Lindenberg, da WTorre Engenharia. A fábrica terá um galpão principal, duas portarias, um edifício para área administrativa da empresa e mais seis galpões de apoio. Graça ao emprego do sistema de construção com prémoldados, a planta deverá ser concluída em abril de 2012. 8 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012 O livro “Concreto Armado – novo milênio, cálculo prático e econômico” (editora Interciência; 206 páginas), dos engenheiros Francisco Xavier Adão e Adriano Chequetto Hemerly, é referência em projetos estruturais, com prescrições atuais das normas brasileiras sobre o assunto. Fruto da larga experiência no tema dos autores da obra, a combinação do concreto com armadura de aço foi uma revolução no mercado quando chegou há mais de um século. O Brasil adotou a técnica em larga escala. Com o tempo, foi recebendo injustamente a pecha de pouco confiável por alguns, fruto do emprego de baixa qualidade de materiais por gananciosas. Mas continuou sendo usado maciçamente em obras pelo País afora. Xavier Adão já escreveu dois livros sobre concreto armado há cerca de 20 anos. Agora, com este novo livro, faz uma espécie de revisão sobre o assunto, mostrando os avanços de performance nos últimos tempos conquistada pela técnica. Nesse aspecto, ressaltamse alguns fatores, detalhados no livro, como preponderantes para o desenvolvimento do concreto armado: o avanço dos cálculos estruturais – principalmente com o advento dos programas em AutoCAD — e do concreto de alto desempenho. O livro aborda ainda de forma didática a aplicação da técnica em lajes, vigas, pilares, fundações, muros de contenção, além dos prémoldados. Um exercício de boas e modernas práticas para difundir a extraordinária capacidade do concreto armado de vencer altas resistências à compressão e também de se manter durável por muito tempo. Paranasa participa do projeto Eldorado A Paranasa executa desde maio as obras civis das unidades de tratamento de água e de efluentes industriais, captação de água bruta e estação de tratamento de efluentes da caldeira, da Eldorado Celulose Papel, considerada a maior fábrica de celulose de fibra curta do mundo em uma única linha. O empreendimento, localizado na BR-158, km 231, a 45 km do município de Três Lagoas (MS), prevê um investimento estimado de R$ 4,5 bilhões e alia a adoção de avançadas tecnologias com uma gestão de projeto focada na sustentabilidade dos processos industriais e florestais. O contrato tem previsão de conclusão em outubro de 2012. “Para a Paranasa é muito importante estar presente em um empreendimento desse porte, num setor onde temos vasta experiência e onde poderemos dar nossa efetiva colaboração nos aspectos de qualidade e prazo de construção”, destaca Rommel Curzio, dirigente comercial da construtora. A construtora utilizará, no pico dos serviços, 1.200 colaboradores, dando sempre preferência aos trabalhadores locais, contribuindo para desenvolvimento da região. Fórum de Engenharia Usiminas Mecânica investe R$ 50 milhões em unidade A Usiminas Mecânica, empresa de bens de capital do grupo Usiminas, inaugurou, em dezembro último, sua linha de moldagem automática de fundição, com investimento de R$ 50 milhões. Localizada em Ipatinga (MG), a linha fabricará truques para vagões e outros componentes fundidos (engates, braçadeiras, hastes de ligação etc.), além de peças seriadas para os segmentos industrial e de mineração. A nova linha de fundição, com 4 mil m² de área, amplia a capacidade de produção da Usiminas Mecânica de 24 mil t/ano para 41 mil t/ano de aço e, ao dotá-la de um novo patamar tecnológico, traz perspectivas de negócios para a empresa. Com um mercado cada vez mais aquecido, a Usiminas Mecânica se prepara para iniciar o ano de 2012 com uma carteira superior a 700 vagões. Dentre as vantagens do processo automatizado de moldagem está o menor custo operacional e a estabilidade do processo. “Estamos modernizando nossas operações para oferecer ao cliente um produto com mais qualidade e valor agregado”, afirma Guilherme Muylaert, diretor executivo da Usiminas Mecânica. Os operadores da Usiminas Mecânica foram capacitados em treinamentos realizados na Alemanha e na Itália. A sustentabilidade é também uma das premissas do processo produtivo, uma vez que não são gerados resíduos. Da areia utilizada nos moldes, 85% será reaproveitada - após passar por recuperador de areia de última geração. Os outros 15% serão destinados para coprocessamento. Além disso, 100% da sucata metálica retornam para o forno de fusão. A Usiminas Mecânica recebeu o certificado ISO 9001, do Bureau Veritas Certification (BVC), pela unidade de fundição e fábrica de vagões. Agradecimentos edição 502 (outubro/ 2011) “Empresas Engenharia do Ano” Parabéns a toda equipe pelo evento e coquetel. Realmente foi muito bom — Antônio de Pádua Pereira — Grupo A.R.G. Em nome de toda a diretoria da TKK, gostaria de parabenizá-los e agradecer pelo evento de lançamento da revista. A publicação ficou excelente, com uma qualidade impar de edição, reportagens e fotografias. Obrigado pela oportunidade que nos foi concedida de participar desta tão esperada edição — Rodrigo Kifer Amorim — TKK Engenharia 10 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012 Edra do Brasil intensifica participação em óleo e gás A Edra do Brasil, especializada na produção de tubos, reservatórios, tanques de transporte rodoviário e peças especiais, com 37 anos de atividades, anuncia que pretende intensificar sua participação em setores como óleo e gás, industrial e saneamento básico. Para 2012, prevê o lançamento de um novo produto – tubos de grande diâmetro –, cuja produção vai exigir investimento em uma nova planta industrial, que terá capacidade produtiva de 200 km de tubos de grande diâmetro, destinados especificamente para saneamento. A nova fábrica permitirá um crescimento de 25% a 30% da capacidade produtiva total da empresa. Arnaldo Gatto, gerente de desenvolvimento da empresa, informa que serão investidos cerca de R$ 15 milhões na construção e na aquisição de equipamentos da nova planta. “O principal diferencial dessa fábrica é seu elevado grau de automação, que reduzirá o consumo energético, tornando o processo produtivo muito mais vantajoso”, informa. A Edra traz no seu histórico o importante marco de ter sido a primeira empresa a receber a certificação ISO 9001, no segmento de materiais compósitos. Entre as obras das quais participou, destaca o fornecimento, instalação e construção do maior projeto de fertiirrigação do Brasil, em regime de turnkey, para 15 unidades do grupo Raízen e para o grupo Pöyry Brasil. Equipamentos da Terex são usados na Amazônia A Comissão de Aeroportos da Região Amazônica (Comara) adquiriu quatro equipamentos da Terex com o objetivo de otimizar os recursos e tempo disponíveis para a execução de suas obras, sendo duas recicladoras/estabilizadoras de solo, uma pavimentadora de concreto e um vibro acabadora de asfalto. As recicladoras/estabilizadoras de solo, modelo RS 425C, que foram utilizadas pela Comara, pela primeira vez, em setembro de 2010, em Alcântara (MA), atualmente, encontram-se em Yauaretê (AM). O transporte dos equipamentos foi feito por empurradores e balsas construídos pela Comara, com dimensões específicas para executar a condução de insumos em rios que são navegáveis em um período curto do ano. A pavimentadora de concreto Terex, modelo SF 2204, que também está trabalhando na obra de Yauaretê, foi projetada para maximizar a eficiência da operação. Já a vibro acabadora de asfalto, modelo VDA 400, atualmente encontra-se aguardando pela sua próxima missão no Destacamento de Apoio à Comara em Manaus (AM), depois de executar diversos serviços no município de Barcelos (AM). Erratas edição 502 (outubro/2011) Com relação à menção na página 77 sobre a sede da Petrobras, em Vitória (ES), a revista O Empreiteiro informa que a CEC Cia de Engenharia Civil é autora exclusiva do projeto estrutural do empreendimento. Na página 68, no entretítulo “Certificações”, a empresa foi certificada pela Rina e não BVQI, como mencionada. Na página 139, na relação das instalações do terminal em destaque, o correto é “Virador de vagões”. Os melhores produtos, as melhores soluções. Tudo o que você precisa para a sua obra seguir sempre em frente. Você sabe que firmar uma sólida parceria no mercado da construção civil é fundamental para que os seus projetos ganhem vida e o seu trabalho seja reconhecido pela eficiência e credibilidade. Para isso, você pode contar com a Mecan. A maior fabricante-locadora de equipamentos para construção do Brasil é a única que pode oferecer os melhores produtos e serviços e uma equipe qualificada à sua disposição. Locação, vendas e serviços. ANDAIMES t ELEVADORES t ESCORAMENTOS www.mecan.com.br Dimensões | Nildo Carlos Oliveira Obras da transposição. O bispo disse que não ia dar certo A Paulista no quadro de Jules Martin A avenida imortalizada no desenho de Jules Martin, há 120 anos. Ele faz parte do álbum do arquiteto Benedito Lima de Toledo, utilizado por Edison Eloy de Souza, no livro ora em circulação 12 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012 Uma visão do abandono: as placas de concreto estouram sob o sol sertanejo Foto: Wilson Pedrosa/AE Não foi, portanto, por falta de aviso. E, pelos relatos que nos chegam, as obras, como estão, podem resultar em consideráveis prejuízos para o bolso dos contribuintes. E para o velho Chico. Na época da análise dos estudos que previam a construção da Transposição do Rio São Francisco, as advertências afluíram de todos os lados. Mas a que pegou mais pesado mesmo foi a do bispo Frei Luiz Cappio, que até fez greve de fome, na tentativa de impedir que os serviços começassem. O projeto, polêmico desde fins do Império, foi elaborado para, teoricamente, beneficiar o Nordeste setentrional, assegurando a oferta de água, para abastecimento humano, a cerca de 12 milhões de habitantes de 390 municípios dos estados de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte, até 2025. Foram previstos dois eixos: o Eixo Norte, a partir da captação perto da cidade de Cabrobó (PE), por onde as águas seriam levadas a rios do Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte, ao longo de um percurso de 402 km; e o Eixo Leste, a partir da barragem de Itaparica, no município de Floresta (PE), desenvolvendo-se ao longo de 220 km até o rio Paraíba (PB), depois de deixar parte da vazão nas bacias dos rios Pajeú e Moxotó e daqueles da região do agreste pernambucano. Estimada em R$ 4,5 bilhões e dividida em 14 lotes, seria a maior obra do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC). Os gordos recursos se destinariam a obras de revitalização local, tratamento de esgoto de municípios na área de influência da transposição, replantio de matas, recuperação de nascentes e outras promessas. Desde o início da divulgação do projeto, o bispo avisou: “Não vai dar certo. Não tem sido contada toda a verdade sobre este projeto da transposição. Ele não vai levar água a quem mais precisa, uma vez que segue em direção aos açudes e barragens existentes, a maior parte, mais de 70%, para irrigação, produção de camarão e indústria. Quem mais precisa não será o principal beneficiário do projeto.” E o geógrafo Aziz Ab’Saber não ficou atrás nas críticas: “O risco final é de que, atravessando acidentes geográficos consideráveis, como a elevação da escarpa sul da chapada do Araripe - com grande gasto de energia!-, a transposição acabe por significar apenas um canal tímido de água, de duvidosa validade econômica e interesse social, servindo para movimentar o mercado especulativo da terra e da política.” Fato inconteste, a respeito das obras iniciadas, é que seis daqueles 14 lotes estão parados e, alguns, até abandonados, com as placas de concreto se soltando ao longo dos canais. Pormenor inquietante, confirmado por reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, é que a transposição atualmente está custando R$ 6,8 bilhões, 36% a mais, portanto, daquele valor inicialmente anunciado. Como disse o bispo, “assim não vai dar certo”. Frase da coluna “Precisamos de um projeto de Nação estruturado com a adesão da sociedade brasileira.” De Paulo Cunha, presidente do conselho de administração do Grupo Ultra e membro do conselho de administração do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Exportação de serviços de engenharia A Norberto Odebrecht confirma a interrupção dos estudos para a construção da usina hidrelétrica Tambo 40, no Peru. A questão indígena – e ambientalista - mais uma vez, têm sido uma pedra no sapato de empresas de engenharia brasileira no exterior. A Andrade Gutierrez, a Engevix e a própria Eletrobrás também vêm enfrentando problemas semelhantes, que estão a exigir contatos entre os governos dos dois países, para serem resolvidos. Experiência em revitalização Xavier Trias, prefeito de Barcelona, Espanha, esteve em Porto Alegre (RS) interessado em saber como será realizado o projeto de revitalização do porto Cais Mauá, naquela capital. Ele foi recebido pelo prefeito José Fortunati e pelo presidente do conselho de administração do porto Cais Mauá do Brasil, José Munné, a quem expôs a experiência de sua cidade no processo de renovação de área degradada. O projeto de revitalização do Cais Mauá foi elaborado pelo arquiteto espanhol Fermin Vázquez. Expertise em shoppings • A Racional Engenharia está encerrando 2011 com a entrega de mais dois shoppings: o Mooca e o São Caetano, em São Paulo. Ela informa que, com a soma dos outros dois empreendimentos já entregues ao longo deste ano (Shopping Iguatemi Alphaville e Shopping Indaiatuba), consolida-se como “a construtora que possui mais ABL (Área Bruta Locável) do País”. • “E tem mais”, diz Waldemar Marotta Júnior, diretor executivo da empresa: “Para o próximo ano vamos inaugurar mais dois shoppings, um em Campinas (SP), e outro no Rio de Janeiro (RJ), totalizando 182.000 m² de área construída”. Legado da Copa pode ficar para trás • João Batista Viol, presidente reeleito do Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva (Sinaenco), desenha um quadro ruim para a Copa de 2014. Diz ele que os estádios (a parte essencial para a realização dos jogos) podem ficar prontos. Contudo, “os itens de maior valor para a sociedade – as obras de mobilidade urbana - estão com um cronograma desalentador”. • O temor de Viol, e de outros integrantes da diretoria do Sinaenco, é de que a Copa, em vez de ser uma vitrine, “apresente nosso País, aos milhões de espectadores mundiais, como uma vidraça”. Mais legado • Alberto José Salum, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Pesada de Minas Gerais, informa que a presidente Dilma Rousseff garantiu a liberação de R$ 3,16 bilhões para a ampliação do metrô de Belo Horizonte e que a Copasa investirá R$ 102 milhões no desassoreamento da lagoa da Pampulha. Tudo, por conta da Copa de 2014. • A lei 9952, aprovada pela Câmara Municipal de BH, está favorecendo a construção de hotéis naquela capital. Ela permite que empresários do ramo da hotelaria façam “uso mais denso dos terrenos” escolhidos para aquele fim. Redes como a Bristol, Atlântica, Vista, Accor e até a americana Wyndham, têm projetos em andamento. No espelho do mundo • Na festa em que a Guimar Engenharia recebeu, no mês passado, em São Paulo (SP), o diploma de Empresa de Engenharia do Ano, categoria Projeto e Consultoria, o presidente da empresa, Heródoto Ferreira Monte, disse que o Brasil não pode deixar passar em brancas nuvens a oportunidade de traduzir em obras de infraestrutura as reivindicações da população em favor de melhores aeroportos, portos, metrôs, trens e outros tipos de transporte. • O pensamento do empresário alinha-se ao do editorial da revista O Empreiteiro, edição 502, que bate na tecla: “O País está diante de uma janela de oportunidades para se transformar numa nação de visibilidade parecida à do Canadá e Austrália.” Novo aeroporto em SP? A ideia do novo aeroporto em São Paulo está lançada. O responsável por ela é o vice-governador Guilherme Afif Domingos, que até especulou sobre a região - Mogi das Cruzes - onde a construção poderá viabilizar-se. A expectativa do vice-governador é a de que a ideia, naquele sentido, venha a ser costurada com a celebração de um contrato nos moldes de uma parceria público-privada. Avenida Paulista A avenida mais conhecida do Brasil – a Avenida Paulista – chegou, em 2011, aos 120 anos. Muito apropriadamente o arquiteto Edison Eloy de Souza está lançando livro alusivo à data, tratando da arquitetura que ali tem sido praticada desde o século passado, sobretudo depois que ela começou o seu intensivo processo de verticalização. Folhear ou ler o livro é fazer um tour poético, sentimental e de conhecimento pelas transformações ali ocorridas, observando edificações tais como o Conjunto Nacional, Casa das Rosas, Savoy, Torre Paulista, Citibank, Museu de Arte de São Paulo, Scarpa, Grande Avenida e tantas outras que espelham a diversidade da arquitetura e da cultura de São Paulo. Crescimento da construção A previsão do Sindicato da Indústria da Construção Civil de São Paulo (Sinduscon-SP) é de que a indústria da construção civil crescerá 5,2% ao longo de 2012, embora a tendência do PIB seja a de um crescimento menor: 3,5%. Eduardo Zaidan, vice-presidente da entidade, diz que a construção tem hoje um ritmo mais forte que do que PIB e que essa tendência pode continuar nos próximos três ou quatro trimestres. Imprensa de fora A Anglo American inaugurou, no dia 6 de dezembro, a unidade de produção de ferroníquel de Barro Alto, interior de Goiás, onde investiu U$ 1,9 bilhão. A imprensa foi convidada para o ato, mas não pode ver a mina; apenas ouvir os discursos e os aplausos. A visita às instalações foi feita em ônibus, sem direito a uma descida sequer, para uma visão mais próxima das estruturas operacionais. A CEO mundial da holding, Cynthia Carrol, ficou fechada na sala VIP. A imprensa permaneceu de fora. www.revistaoempreiteiro.com.br | 13 Política O efeito contaminante das maçãs podres Joseph Young N a Grécia antiga, havia uma prática de se enviar ao degredo, em alguma região remota, o político demagogo ou responsável pela apresentação de projetos votados em interesse próprio. Foi daí que se originou e se difundiu o termo ostracismo. Inspirados nessa história, propomos que a sociedade reúna mais de 1milhão de assinaturas para dar entrada, no Congresso, a um projeto de lei popular sugerindo a destituição, sumária, de administradores apontados como relapsos e acusados de terem praticado algum ato lesivo ao patrimônio público. O acusado seria afastado para o processamento das investigações sob a responsabilidade do Ministério Publico. Se provada a inocência, ele seria de imediato reconduzido ao cargo. Outro dispositivo, deste mesmo projeto lei, tornaria imprescritíveis crimes lesivos ao Tesouro e outros delitos ali previstos. Enquanto perdurassem as investigações para apuração cabal de todos os fatos, o político ou o administrador objeto da ação investigatória estaria inelegível. Esta, em nosso entendimento, seria uma forma efetiva, colocada à disposição da sociedade, para ela repudiar e condenar espetáculo como ao que assistimos hoje, protagonizado pelo governo da presidente Dilma Rousseff, quando seis ministros já foram colocados para fora do cargo, acusados de ilicitudes, e outros continuam, digamos assim, na marca do pênalti. Onze governadores também estão ameaçados de perder seus mandatos por atos ilegais praticados durante as eleições. E, além desses exemplos, podemos ainda perguntar: Quantos membros do Parlamento têm ficha suja e continuam participando as sessões? A sociedade brasileira precisa dar um basta, mesmo que a esquerda esteja envergonhada e silenciosa, a direita intrigada mas 14 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012 Plenário do Congresso Nacional vazio revela a inércia dos políticos inerte, e a oposição absolutamente sem propostas alternativas de governo, pois a prioridade, para esses políticos, agora, são as próximas eleições municipais, com desdobramentos para os certames seguintes para os governos estaduais e a presidência. Na verdade, a política deixou de ser uma atividade pelo bem público, mas uma corrida por “empregos” muito bem remunerados. Os eleitos esquecem prontamente o que prometeram no palanque, e passam a cuidar dos interesses pecuniários imediatos. Lembremo-nos daquele vereador que, tão logo foi eleito, agradeceu publicamente a seus eleitores pela oportunidade que estes lhe deram de poder se hospedar nos melhores hotéis e viajar à vontade por conta da lambança do erário público. Os políticos não estão preocupados com um possível vexame na realização da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016. Visam apenas ao poder e ao lucro que poderão auferir com os dois eventos globais. As maçãs podres têm um grande poder de contaminação. Ou a sociedade acaba com elas, ou elas vão acabar com a oportunidade histórica de o País se transformar, com estes dois megaeventos, no líder dos países emergentes, em condições de se contrapor à influência da China no cenário global. S E M A R O U PA FICA MAIS INTERESSANTE. ;VKVZVZUVTLZKVZWYVK\[VZ4VIPSJVUZ[HU[LZULZ[HWLsHZqVTHYJHZYLNPZ[YHKHZKH,__VU4VIPS*VYWVYH[PVUV\KL\THKLZ\HZZ\IZPKPmYPHZ(*VZHU3\IYPÄJHU[LZL ,ZWLJPHSPKHKLZ:(tHKPZ[YPI\PKVYHH\[VYPaHKHWLSH,__VU4VIPS*VYWVYH[PVUWHYHVKLZLU]VS]PTLU[VKHH[P]PKHKLKLKPZ[YPI\PsqVKLWYVK\[VZ4VIPSUV)YHZPSZLUKVZ\HH YLZWVUZHIPSPKHKLWLSVL_LYJxJPVSVJHSKLZZHH[P]PKHKL /cosan.mobil INTELIGENTE A QUALIDADE QUE VOCÊ JÁ CONHECE NA QUANTIDADE QUE VOCÊ PRECISA. O lubrificante Mobil Delvac MX é um produto premium, que prolonga a vida útil dos motores a diesel. E agora, com a Troca Inteligente, gera mais economia e sustentabilidade para o seu negócio, pois elimina o descarte de embalagens, melhora o controle de estoque, otimiza sua área de armazenagem e evita contaminação no manuseio. A Troca Inteligente é muito prática, segura e está disponível em tanques de 400 e 1.000 litros, com filtro e visor transparente, lacres de segurança, Selo de Qualidade Mobil e manutenção permanente do equipamento, garantindo qualidade total dos lubrificantes. É mais vantagem para o seu negócio e para o meio ambiente. Procure o distribuidor Mobil da sua região em nosso site. w w w. c o s a n . c o m . b r / m o b i l FILTRO COM VISOR PARA VOCÊ CONFERIR A QUALIDADE. Newsletter Global Obras e tecnologias serão destaque na publicação eletrônica Em janeiro de 2012, as revistas ENR e O Empreiteiro lançam newsletter eletrônica global em português D esenvolvimentos recentes em tecnologias de construção, projeto e gestão, além de obras que se distinguem pelas soluções técnicas ou gerenciais aplicadas, em qualquer ponto do planeta — estas duas linhas editoriais serão os pontos fortes da newsletter eletrônica quinzenal que as revistas ENREngineering News Record, da McGraw Hill, de Nova York, Estados Unidos, com mais de 100 anos de atuação no mercado de construção e engenharia, e O Empreiteiro, que completou 50 anos em 2011, lançarão em conjunto em janeiro. O conteúdo editorial será extraído das edições eletrônicas e impressas da ENR, além do site www.enr.com. Em contrapartida, a revista O Empreiteiro fornecerá matérias sobre projetos de infraestrutura e construção no Brasil para o grupo editorial americano. Eis uma amostragem do que foi noticiado pela ENR recentemente: Liderança canadense em projetos PPP Canadá está dez anos à frente dos Estados Unidos em projetos de parceria público-privada (PPP), afirmou Brad Watson, sócio da KPMG, na conferência realizada pela American Road and Transportation Builders Association, em novembro. A estruturação do contrato PPP, modelos sólidos de divisão de riscos e a adesão da maioria das províncias do país são fatores positivos que ajudam na difusão dessa modalidade. O país já tem uma série de empreendimentos em curso em diferentes fases, e isso atrai um fluxo de negócios e empresas interessadas. Outro aspecto é a consistência e padronização da documen16 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012 tação dos projetos, que replicam as partes essenciais, com clara alocação dos riscos envolvidos. As províncias formaram agências para lidar com projetos PPP há anos, e as empresas de engenharia e investidores interessados tem convicção sobre o curso de uma licitação e confiam que têm chances de vencê-la. As instituições financeiras, por outro lado, têm também um papel importante: conhecendo a solidez do processo, o apoio político das províncias e o nível dos participantes, conseguem praticar taxas competitivas para as garantias e os seguros de performance. Laje de concreto PREENCHIDA de bolhas reduz massa em 30% Na construção da arena de hóquei La Bahn, na Universidade de Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos, foi especificado que as salas de armários dos jogadores deveriam ter o maior pé direito possível. Uma laje de concreto tradicional teria uma espessura razoável, reduzindo a altura livre sob o teto. Após analisar diversas alternativas, decidiu-se pelo sistema BubbleDeck, que emprega bolhas de plástico espaçadas a intervalo regular para reduzir em até 30% o volume de concreto consumido. Embora seja conhecido na Europa e Canadá, seria a aplicação pioneira do método no país. As bolas plásticas e a armadura pré-fabricada podem ser montadas no local, mas a maioria dos clientes prefere encomenda-las já pré-montadas sobre um painel pré-moldado, eliminando o uso PENSE 2012. PENSE SANY. A Sany surpreendeu o mercado em 2011. Inaugurou em tempo recorde sua fábrica em São José dos Campos, montou uma completa estrutura de dealers para vendas e pós-vendas e marcou presença nos principais eventos e feiras do setor. Obrigado a todos que acreditaram no projeto sério e profissional da Sany no Brasil. Em 2012, não irão faltar novidades para agitar o mercado. Vale a pena aguardar. SAC 0800 660 3131 Serviço de Atendimento ao Cliente Confira a lista de nossos revendedores autorizados no site m w w w. s a n y d o b r a s i l . c o m B a t e n d i m e n t o @ s a n y d o b r a s i l . c o m A qualidade transforma o mundo Newsletter Global de formas e antecipando a instalação das redes de hidráulica e elétrica. Em agosto passado, as equipes concretaram 1.200 m² de BubbleDeck na arena, onde alguns vãos medem até 12 m. Numa laje típica de 20 a 25 cm, o sistema permite usar 10% a 15% menos concreto. Quanto mais espessa a laje, maior a economia. No caso da arena de hóquei, o proprietário economizou cerca de US$ 25 mil. A redução no volume de concreto favorece também a certificação LEED, como o caso desta obra. FAZENDA SOLAR DE 400 MW ANUNCIADA NA FLÓRIDA Bônus por antecipação de entrega Em setembro, em Iowa, Estados Unidos, as equipes do consórcio composto pela Peterson Contractors e Reilly Construction começaram a reconstrução da rodovia I-680, danificada por enchentes perto de Crescent, sabendo que o contrato de US$ 19,2 milhões tinha um bônus de antecipação de US$ 2 milhões, caso as quatro faixas do trecho de 4 km fossem devolvidas ao tráfego em 20 de Novembro. As empresas, da diretoria às equipes na obra, arregaçaram as mangas. Algumas soluções foram criadas no campo. A faixa divisória que separa as duas pistas foi reaterrada antes, para ser usada como estrada de serviço. No total, 100 mil t de pavimento existente foram recicladas para produzir 35 mil m³ de agregados em 15 dias. Uma parte de pedra foi trazida de trem, e outra em 100 caminhões. A concreteira instalou uma usina no local, produzindo 300 m³/h. O espírito de vencer o desafio que tomou conta do pessoal, mais um clima favorável e a ausência de tráfego na estrada, levou o consórcio a entregar a rodovia em 33 dias e embolsar o bônus. Uma ideia e tanto para quem precisa construir arenas para Copa e Olimpíada a toque de caixa. CH2M Hill conclui aquisição da Halcrow Em uma das maiores aquisições recentes por parte de uma empresa americana de engenharia, a CH2M Hill está finalizando a aquisição da Halcrow Group britânica, especializada em projetos de transportes a nível global, por US$ 192 milhões em dinheiro, que somado a dívidas existentes, eleva o montante a US$ 356 milhões. O negócio depende da aprovação dos acionistas privados da Halcrow e das autoridades do país. CH2M Hill, com experiência em projeto-construção, operações e gestão de programas, e que integra o consórcio que gerencia a implementação do Parque Olímpico de Londres, registrou US$ 6,3 bilhões de receita total em 2010, comparado a US$ 719 milhões da Halcrow. A aquisição vai criar uma empresa de engenharia com 30 mil empregados, sendo 11 mil fora dos Estados Unidos. Inscreva-se para receber a newsletter ENR/OE Para receber gratuitamente a newsletter eletrônica da ENR e O Empreiteiro, basta solicitar pelo e-mail [email protected], informando nome, cargo, RG, empresa, CNPJ e ramo de atividade. 18 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012 A National Solar confirmou que está finalizando o financiamento de uma fazenda solar de 400 MW ao norte da Flórida, Estados Unidos, ao custo de US$ 1,5 bilhão, com início de construção previsto para 1º trimestre de 2012. Ao longo de cinco anos, a empresa construirá pelo menos 20 plantas fotovoltaicas de 20 MW, no condado de Gadsden, ao custo de US$ 70 milhões cada, ocupando 200 ha. A Hensel Phelps, de Colorado, vai projetar, construir e operar as fazendas solares, que ficarão ligadas cada uma por si à rede de energia. A distribuidora Progress Energy já contratou 50 MW desse projeto, para atender horários de pico de demanda. Aeroporto de San Diego faz expansão em sítio confinado Um dos mais movimentados aeroportos do mundo com uma única pista, confinado pelo mar e por terras urbanizadas, o aeroporto internacional de San Diego, na Califórnia, Estados Unidos, está executando intrincadas obras de expansão num sítio de apenas 273 ha — 2,6 km². O programa de US$ 1 bilhão inclui uma expansão de 41 mil m² do terminal 2, ampliando os portões de embarque de nove para 19, e dois saguões de compra de passagem situados na calçada com 1.580 m² cada; e um centro para passageiros em trânsito, uma via elevada para embarque, seis cruzamentos elevados, novas vias de acesso e estacionamentos. A meta é comportar 33 milhões de passageiros por volta de 2030. Um consórcio formado pela Flatiron, Turner e PCL Constructors tem um contrato projeto + construção de US$ 500 milhões para essas obras, além de 140 mil m² de pistas de taxiamento, que vão exigir 800 m³ de concreto lançados cada noite. Calcula-se que a modalidade projeto + construção reduziu os prazos em um ano. Uma ideia interessante nesta expansão são os balcões de uso comum, onde os passageiros podem fazer o check-in independente de qual companhia aérea emitiu o bilhete. Os balcões de check-in na calçada também cumprem essa função, onde os passageiros já deixam suas malas. Dois pavilhões receberam cobertura tênsil de tecido, de montagem rápida. newsletter.indd 19 22/12/2011 19:24:09 Fotos: Renato Couto Empresas de Engenharia do Ano A premiação, a festa e uma reflexão sobre o crescimento brasileiro As quatro empresas premiadas reforçaram, no evento da premiação, a disposição de continuarem os aprimoramentos em favor da engenharia e de seus negócios e ouviram, do diretor editorial de O Empreiteiro, a mensagem sobre a insuficiência da infraestrutura do País 20 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012 Celso Cavalcanti (A.R.G.) Detlef Dralle (Hochtief do Brasil) Samuel Fernando Scarlise (TKK Engenharia) Heródoto Ferreira Monte (Guimar Engenharia) Celso Cavalcanti de Andrade, superintendente da A. R. G., eleita Empresa de Engenharia do Ano, categoria Infrestrutura; Detlef Dralle, presidente da Hochtief do Brasil, prêmio na categoria Edificações; Samuel Fernando Scalise Miranda, presidente da TKK Engenharia, categoria Montagem Industrial e Heródoto Ferreira Monte, presidente da Guimar Engenharia, que recebeu o prêmio na categoria Projeto e Consultoria, manifestaram-se sobre a importância do evento e, em especial, a respeito da divulgação do perfil, obras, experiência e expectativas de suas empresas, no atual quadro econômico e social do País. A cerimônia de premiação das quatro Empresas de Engenharia do Ano ocorreu no Espaço Apas, São Paulo (SP), dia 29 de novembro último, com a presença daqueles executivos, colaboradores e parceiros de empreendimentos a cargo das empresas eleitas e de representantes de entidades setoriais. O histórico de cada empresa, apresentado na revista, constituiu um exemplo público do trabalho multidisciplinar desenvolvido em circunstâncias e em regiões diferentes do Brasil, refletindo avanços em campos diversos da engenharia. Heródoto Ferreira Monte afirmou que a prática da engenharia resulta de um esforço coletivo e que a história da Guimar, bem como a de outras empresas, não se dá isoladamente, mas num contexto de interação com os contratantes e com os usuários do bem que é construído. Anteriormente, o presidente da Hochtief do Brasil havia batido na mesma tecla: uma empresa é a equipe que ela consegue formar, unir e manter. É, através de equipes multidisciplinares, que a inteligência de uma empresa se difunde, em favor de todos e, sobretudo, em favor do cliente. Joseph Young, diretor editorial de O Empreiteiro, fez pronunciamento mais amplo. Reportando-se ao editorial da edição que publicou o perfil das empresas (OE 502), disse que o Brasil está diante de uma janela única de oportunidades para se transformar numa nação de visibilidade parecida à do Canadá e da Austrália. E que poderá alcançar esse objetivo se souber realizar a Copa do Mundo de 2014 nas condições internacionalmente reconhecidas, sem fechar os olhos para as prioridades da mobilidade urbana e do legado que deve ser deixado para a população, mas cujas obras se encontram atrasadas, por conta da carência de gestão pública eficiente e responsável. Enfatizou que as empresas premiadas são exemplos que podem ser observados e seguidos. Da mesma forma, o País, nesse sentido, pode espelhar-se no exemplo dos atletas brasileiros nos recentes Jogos Pan-Americanos de Guadalajara, México. Embora com enormes sacrifícios, eles souberam trabalhar e competir em favor do País. www.revistaoempreiteiro.com.br | 21 Empresas de Engenharia do Ano 22 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012 Cenário da Construção Indicadores sinalizam crescimento sustentável A construção se ajusta às mudanças macroeconômicas, decorrentes da nova fase das circunstâncias internacionais, e empresários prosseguem otimistas, embora sabendo que o País precisa atualizar sua infraestrutura, se quiser garantir resultados Nildo Carlos Oliveira – Brasília (DF) O encontro que o empresário Paulo Safady Simão, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), manteve com a imprensa, dia 8 de dezembro, em Brasília (DF), contribuiu para desenhar um cenário que, a serem mantidos os números expostos pelos economistas da entidade, é de confiança na continuidade do crescimento setorial ao longo de 2012. A perspectiva é de que a construção civil consolide um crescimento de 5,2%, índice acima dos 4,8% de expansão que vêm sendo calculados para aquele período. O ambiente macroeconômico ficou sinalizado, em 2011, pelo aumento dos riscos à estabilidade financeira nos Estados Unidos e na Europa. Houve elevação dos problemas fiscais; foi detectado perigo inflacionário nas economias emergentes, incluindo na economia brasileira, o que se refletiu no aumento do preço de commodities; registraram-se instabilidades no Norte da África e no Oriente Médio e agravou-se a situação na chamada Zona do Euro. Houve até pânico em algumas bolsas. No Brasil, o governo agiu com alguma rapidez. Resumidamente, ele fez o seguinte, segundo os dados coligidos e estudados pela CBIC: aumentou os juros para desacelerar a economia e reduzir o fôlego da inflação; já a partir do final de agosto, reduziu os juros e adotou medidas de estímulo ao consumo interno, desonerando tributos incidentes sobre os produtos da linha branca e sobre o crédito ao consumidor; e incentivou a construção civil, ampliando o teto do imóvel sobre o qual incidia a alíquota de 1% do Regime Especial de Tributação (RET), que subiu de R$ 75 mil para R$ 85 mil, o que alentou o programa Minha Casa, Minha Vida. 24 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012 Segundo o presidente da CBIC, as medidas que o governo resolveu adotar, incluindo o aumento dos juros, responderam positivamente às expectativas de um crescimento considerado “bem mais moderado da economia nacional em 2011”. Independentemente dos fatores da crise internacional e das possibilidades de alguma vulnerabilidade brasileira por conta disso, a construção civil seguiu registrando “incremento consistente em suas atividades”. Em 2010, ela obteve desempenho considerado recorde e, em 2011, os números alcançara um patamar de maior equilíbrio e sustentabilidade. Portanto, aquele círculo virtuoso que se iniciou em 2004, continuou. E, por que ela obteve resultados julgados muito significativos? A CBIC explicou: “Houve maior oferta de crédito imobiliário, dado que se aliou às medidas de redução da taxa de juros dos financiamentos e do alongamento dos prazos para pagamento; registrou-se aumento do emprego formal, do crescimento da renda familiar e a macroeconomia ficou estável. Registraram-se também alterações no marco regulatório. Haja vista, o advento da Lei 10.931, de 2004, que instituiu o chamado “patrimônio de afetação”, estabeleceu requisitos para demanda sobre contratos de comercialização de imóveis, tratou da atualização monetária desses contratos e criou novos títulos de créditos para incentivar o mercado imobiliário. Além disso, começaram a ser executados os projetos das obras do Paulo Simão revela que os indicadores econômicos setoriais inspiram confiança Cenário da Construção Construção civil - Resumo dos principais indicadores – Brasil INDICADORES 2011 OBSERVAÇÕES 4,80% Projeção CBIC 309.425 Período de janeiro a outubro/11- Caged/MTE 2.848.684 Outubro/11- Caged/MTE 7,21% Período janeiro a novembro/11 4,3% Período janeiro a novembro/11 Crescimento do PIB (em %) Número de vagas formais geradas Estoque de trabalhadores com carteira assinada Variação do INCC-M/FGV Variação materiais, equip. e serviços 10,20% Período janeiro a novembro/11 Taxa de desemprego Variação mão de obra 3,09% Média de janeiro a outubro/11 para conj. 6 RMs – PME/IBGE Consumo de cimento - crescimento 8,4% Janeiro a agosto/11 em relação igual período 2010 – SNIC Consumo de vergalhão – crescimento 8,66% Janeiro a setembro/11 em relação igual período 2010 - IABr Financiamento imobiliário – SBPE 18,10% Crescimento número de unidades financiadas jan-out/11 em relação iguais meses 2010 – SBPE (construção e aquisição) cerda de 5% Dados Banco Central 2,40% Janeiro a outubro/11 em relação igual período 2010 Participação do crédito imobiliário no PIB Faturamento total deflacionado vendas mat. Constr. Fonte: Banco Central, IBGE, Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Fundação Getúlio Vargas, Sindicato Nacional da Ind. Cimento, Instituto Aço Brasil, Abramat. Programa de Aceleração do Crescimento e do programa Minha Casa, Minha Vida. Por conta dessas providências, o crescimento da construção civil, no período de 2004 a 2010, foi da ordem de 42,41%, estabelecendo uma taxa anual de 5,6%. Nesse cenário, o PIB da construção, em 2010, foi da ordem de R$ 165 bilhões, correspondente a 5,3% do PIB total do País. evolução do pib brasil e do pib da construção civil 14,00 Variação % do PIB Nacional Variação % do PIB da Construção Civil 12,00 11,6 Valores em percentual 10,00 8,00 6,00 5,8 5,7 4,00 4,7 3,0 2,00 - 7,5 7,9 6,6 4,9 4,8 4,8 3,7 3,0 1,8 1,1 -0,7 -0,3 -2,00 -4,00 -6,00 -3,3 PAC Lei nº 10.931 PMCMV 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011* Anos *Projeção PIB Nacional da Construção Civil da CBIC 26 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012 Razões para manter o otimismo Paulo Simão disse que o incremento de atividades previsto para 2011 é de 4% a 5%, índices que, confirmados, mostrarão um crescimento inferior ao de 2010, quando a maior elevação registrada chegou a 11,63%. Ele considera importante ver as coisas sob o aspecto de sua relevância. Quer dizer com isso que o incremento esperado para este ano (2011) ocorrerá em relação a uma base bastante elevada. Assim, mesmo que os indicadores, para a construção civil, se revelem moderados, eles não deixarão de ser expressivos. Dificuldades há e continuarão a haver. Mas o segmento vem procurando ajustar-se às suas próprias exigências e às exigências do País. Os empresários da construção sabem que a continuidade do ritmo de expansão de 4% a 5% não dependerá unicamente dela, mas de outros fatores, tais como maior volume disponível de crédito imobiliário; execução de obras nesse segmento; prosseguimento da contratação de empresas de engenharia para elaboração de projetos e execução de obras de infraestrutura; aumento da construção industrial; expansão da construção comercial e habitacional e aumento de investimentos privados, sem contar, claro, com aquelas obras estimuladas pelos dois eventos esportivos próximos – a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016. A construção, afirmou o presidente da CBIC, “é a grande protagonista do desenvolvimento brasileiro. E o crédito imobiliário tem papel importante no avanço setorial. É que o desenvolvimento da construção civil – e da Engenharia como um todo – impulsiona o desenvolvimento em função de suas peculiaridades: ampla cadeia produtiva (8,1% do PIB); grande capacidade de ab- Iniciamos a pesquisa exclusiva do Ranking da Engenharia Brasileira 2012! Participe! Para participar dessa pesquisa exclusiva, que resulta no Ranking da Engenharia Brasileira, acesse www.revistaoempreiteiro.com.br e selecione a opção “Participação no Ranking 500 Grandes 2012”. Preencha os campos para efetivar o cadastro e efetue o download do questionário. Para maiores informações, ligue 11-3732-5500 ou escreva para [email protected] www.revistaoempreiteiro.com.br Cenário da Construção sorção de mão de obra e capacidade de gerar renda no conjunto da economia.” Contudo, para a garantia de que as coisas continuem sob tais cores, há muito chão pela frente. Algumas das condições para que isso continue a acontecer: o financiamento imobiliário precisa continuar crescendo e ajudando as atividades setoriais. (Nesse sentido, a Associação Brasileira de Poupança e Empréstimo está prevendo, para 2014, que o crédito imobiliário representará 11% do PIB nacional); a política habitacional tem de continuar na agenda de prioridades, removendo os gargalos que ainda dificultam o avanço da segunda etapa do programa Minha Casa, Minha Vida; resolver a questão do preço das unidades, nos grandes centros urbanos, uma vez que ele é um obstáculo para grande parte dos interessados potenciais. E fazer obras nas áreas da infraestrutura, sobretudo no saneamento básico, transportes (rodovias, ferrovias e hidrovias), portos, aeroportos, energia e em outras. Prognósticos do Sinduscon-SP Joás Ferreira vê como positivas essas medidas e considera que elas devem ser aprofundadas, com o prosseguimento da desoneração da produção, A evolução do Produto Interno Bruto (PIB) da construção civil, esperada para 2011, é de 4,8%. Já para 2012, os prognósticos de o estímulo à produtividade na iniciativa privada e o aumento da eficiência da administração pública. crescimento são de 5,2%. Mesmo com números positivos, que ul- Espera-se muito do programa Minha Casa, Minha Vida. Ele ca- trapassam os índices esperados para o PIB do País (cerca de 3,0% e minhou mais lentamente em 2011. A segunda fase do programa 3,5%, respectivamente), o Sindicato da Indústria da Construção Civil entregou, até outubro, 118.085 unidades, tendo outras 199.226 uni- do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP) prefere manter um otimismo dades em execução. Já até o fim de 2010, último ano da primeira moderado em relação ao desempenho do setor. fase, haviam sido entregues 338.055 unidades e mais de 667 mil De acordo com Eduardo Zaidan, vice-presidente de Economia da estavam em andamento, totalizando cerca de um milhão de unida- entidade, os resultados de um período só são sentidos pelo mercado des. Em 2012, segundo o sindicato, o programa deve progredir mais da indústria da construção no longo prazo. Assim, os índices apresen- rapidamente, assim como as obras para os eventos esportivos de tados ainda são, de alguma forma, reflexos do período excepcional 2014 e 2016. vivido pelo setor, em 2009 (crescimento de 8,3%) e 2010 (15,2%). O crédito para habitação e infraestrutura também deverá conti- Entre os indicadores mais expressivos, dentro do panorama di- nuar se expandindo em 2012. No município de São Paulo, até setem- vulgado no início de dezembro, pelo Sinduscon-SP, está o do nível bro de 2011, as vendas de imóveis novos atingiram 19.873 unidades. de emprego formal da construção brasileira, que cresceu 9,2% no Em 2010 foram 24.605 unidades vendidas. Já com relação aos lan- período janeiro-setembro de 2011, comparado ao mesmo período de çamentos, até outubro de 2011 foram lançadas 26.365 unidades. Em 2010. Em setembro, o setor empregava 3 milhões 128 mil trabalha- 2010 esse número alcançou a marca de 25.818. dores (de janeiro a setembro, 298,5 mil trabalhadores ingressaram no setor). O custo de mão de obra, entretanto, também figura como o principal ingrediente na composição do Índice Nacional de Custo da Construção do Mercado (INCC-M), da Fundação Getúlio Vargas, representando 11,39%, em novembro deste ano. Seguido por serviços (6,03%) e materiais e equipamentos (4,10%). Projeção para 2012 16,0% 10,0% 8,0% previsão de que a construção havia crescido 1% naquele ano, quan- 6,0% tenha crescido 15,2%, em 2010, e, neste ano, deverá atingir 4,8%. O Sinduscon-SP acredita também que a previsão para 2012 deverá se concretizar, desde que o governo continue tomando medidas econômicas para assegurar o crescimento do PIB. A entidade 28 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012 Construção 12,0% A reavaliação do PIB de 2009 trouxe uma importante mudança, ser revista para os anos seguintes, estimando-se que a construção PIB 14.0% segundo a direção do Sinduscon-SP. A entidade trabalhava com a do na verdade o índice foi de 8,3%. Com isso, a expectativa teve de 15,2% 8,3% 7,5% 5,2% 4,8% 4,0% 3,0% 3,5% 2,0% 0,0% -2,0% -0,3% 2009 2010 2011* 2012** *Estimativa / **Projeção Alguns indicadores da Construção Civil – Brasil INDICADORES PIB Setorial (1) PERÍODO – Taxa de crescimento (%) Geração de empregos formais(2) – Número de vagas geradas Taxa de desemprego(3) – Média anual CUB Brasil – Custo unitário básico(4) – Variação (%) INCC – Indice Nacional de Custos de Construção(5) 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 6,6 1,8 4,7 4,9 7,9 -0,7 11,6 3,8 70.319 126.825 148.051 224.543 296.607 217.692 376.634 309.425 7,1 5,7 5,5 4,9 3,9 4,1 2,9 3,1 ... ... ... 6,19 11,26 3,05 6,59 6,15 6,84 5,04 6,15 11,87 3,25 7,77 6,61 11,02 Fonte: IBGE/MTE/CBIC/FGV (1) Refere-se ao VABpb da Construção Civil. Para o ano de 2011, os dados do PIB da Construção referem-se à % de crescimento acumulado nos 3 primeiros trimestres do ano em relação ingual período ano anterior. (2) Para o ano de 2011, os dados do Caged referem-se ao período de janeiro a outubro. (3) Para o ano de 2011, os dados da PME referem-se ao período de janeiro a outubro (4) Para o ano de 2007, os dados do CUB referem-se ao acumulado no período de março a dezembro. Para o ano de 2011, os dados do CUB referem-se ao acumulado de janeiro a setembro. (5) Para o ano de 2011, os dados do INCC referem-se ao acumulado no período de janeiro a outubro. ... Dado não disponível. O avanço necessário, para isso, requer o encontro de novas fontes de financiamento; soluções para a contratação de mão de obra qualificada; aumento da produtividade via industrialização da construção, e elaborar programação de inovação tecnológica. Saneamento No encontro com a imprensa, e em especial dirigindo-se à revista O Empreiteiro, Paulo Simão criticou a situação, hoje, do saneamento no País. Disse que, para esse fim, o governo tem até recursos robustos, mas a aplicação é “zero” e que isto é inaceitável para um país que, segundo estimativas, já seria a 7ª maior economia mundial. Ele criticou a falta de gestão, a carência de estruturas regionais para colocar os planos de saneamento em execução e que não há planejamento, até do ponto de vista dos Estados. www.revistaoempreiteiro.com.br | 29 Produtos e Serviços com Total Qualidade e Pontualidade � Ancoragens e Serviços de Concreto Protendido � Emendas Mecânicas para Barras de Aço � Aparelhos de Apoio Mecânicos � Usinagem Mecânica de Peças (11) 2083.4500 www.rudloff.com.br EMPRESA SUSTENTÁVEL Engenharia Consultiva Copa e Olimpíada reforçam debate em favor de projeto O 9º Encontro Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva, realizado no dia 1º de dezembro, momentos antes da posse da nova diretoria do sindicato setorial (Sinaenco), voltou a colocar em discussão, com uma abertura ampla para o governo e sociedade, as questões que têm afetado obras públicas de diferentes níveis e em diversas instâncias. A falta de qualidade, decorrente da falta de planejamento, projetos bem elaborados e gerenciamento exercido com rigor nas especificações, cronogramas e responsabilidades, têm sido o motivo principal do impasse observado em dezenas de obras públicas, muitas das quais – e por conta desses problemas – paralisadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU). No evento, o vice-governador, Guilherme Afif Domingos e Pedro Benvenuto, coordenador de planejamento e avaliação da Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Regional do Estado de São Paulo, falaram sobre as parcerias público-privadas firmadas pelo governo paulista para apressar obras de infraestrutura prioritárias nos transportes públicos, rodovias e em outros segmentos. A intervenção de ambos teve como coordenador o engenheiro José Roberto Bernasconi, presidente do Sinaenco-SP, que há muitos anos – e em especial desde o advento da escolha do Brasil e do Rio de Janeiro para sede da Copa e Olimpíada - vem apontando os dois eventos como grande oportunidade para um A confraternização, depois do 9º Encontro Nacional, que contou com a presença do ministro Benjamin Zymler, presidente do TCU 30 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012 e qualidade Encontro das empresas de arquitetura e engenharia consultiva coloca em debate planejamento, projeto, gerenciamento, qualidade de obras e formas de contratação de serviços para garantia do legado que os megaeventos prometem deixar esforço mais intenso e coletivo em favor das boas práticas no planejamento, projeto e gestão. Na continuidade do encontro foram discutidas novas formas de contratação para a engenharia consultiva, com a participação do presidente Benjamin Zymler, do TCU; Hélcio Tokeshi, diretor da Estruturadora Brasileira de Projetos (EBP) e Cristiano Kok, presidente da Engevix Engenharia. A coordenação desses trabalhos ficou por conta do engenheiro João Alberto Viol, reeleito presidente nacional do Sinaenco, gestão 2012-2013, e que tomou posse em seguida. João Alberto Viol, reeleito, volta a criticar o Regime Diferenciado de Contratação (RDC) Formas de contratação O ministro Benjamin Zymler tem-se revelado favorável ao uso do Regime Diferenciado de Contratação (RDC) para as obras da Copa e da Olimpíada, como forma de agilização dos serviços. O RDC é mecanismo recentemente aprovado pelo governo e, embora crie condições para apressar as obras, não deixa de mostrar o calcanhar de aquiles: pode tornar mais difícil o controle social das obras contratadas. Outra crítica que esse instrumento de contratação tem recebido diz respeito ao fato de que ele elimina o limite para aumento dos recursos destinados a obras licitadas. Pela legislação atual (Lei 8.666/93), os custos de uma obra só podem ser reajustados em 25%, caso se trate da construção de um novo prédio, ou 50%, em caso de reforma de uma edificação. Já para as obras licitadas segundo o RDC, aparentemente não há limites para o aumento dos gastos. O ministro Zymler, conquanto tenha essa posição quanto ao RDC, foi enfática na defesa da qualidade do projeto. Projeto sem qualidade, segundo ele, é o ponto crucial dos problemas das obras públicas. Deve ser uma consequência de um planejamento bem feito em sua matriz, e de um gerenciamento competente, durante o processo. Já Cristiano Kok deixou clara a tese que tem defendido: serviços de natureza intelectual não podem ser contratados por critérios de preço e, sim, por qualidade técnica. A seleção, segundo ele, não pode ser por custo, mas uma vez ela realizada e a obra contratada, o preço pode ser fechado, a obra pode estar sujeita a multas, receber prêmios por inovação tecnológica e por redução de custos finais. Resumindo: a seleção pode ser feita por critérios técnicos, balizamento de preço justo para o tipo de serviço via curvas de percentagem do valor da obra, tabelas de honorários profissionais etc. Cristiano disse que os serviços de natureza intelectual envolvem criatividade, técnica e responsabilidade; devem ser exercidos por profissionais regulamentados e são invariavelmente multidisciplinares. Exigem estudos preliminares, anteprojetos e estudos de viabilidade, projetos básicos e projetos legais e projetos executivos. Ele enumerou as diversas formas de contratação – preço global, empreitada a preços unitários, por produto, por categoria profissional, “cust plus” ou por administração; por administração com teto ou prêmio e por preço global com exclusão de riscos e inclusão de prêmios. Mas enfatizou a tese em cuja tecla tem batido quotidianamente: “Serviços de natureza intelectual exigem contratação por qualidade técnica”. (grifo nosso) O ex-governador Alberto Goldman, ao lado de José Roberto Bernasconi, foi homenageado pelo Sinaenco A posse Reeleito presidente do Sinaenco, João Alberto Viol fez um balanço da gestão passada e listou algumas propostas que têm sido, historicamente, a razão de ser da entidade: garantir a remuneração adequada das empresas associadas e filiadas; incentivar o desenvolvimento de uma cultura de planejamento, projeto e gerenciamento; colaborar para a solução das deficiências da infraestrutura brasileira; mostrar, dentre outras providências, que a contratação de projeto e gerenciamento deve ser feita com predominância do critério técnico. Ele criticou o governo federal pela responsabilidade na adoção do RDC. Disse que, quando acusado de falta de planejamento, o governo federal respondeu com o Regime Diferenciado de Contratação, que é “um evidente retrocesso em relação ao que preconizamos como a melhor forma de desenvolvermos obras de infraestrutura com a qualidade e a durabilidade necessárias, no tempo e no prazo corretos”. Viol citou o decreto 56.565, de dezembro de 2010, proibindo a contratação de projeto pelo menor preço. Esse decreto foi assinado no apagar das luzes da administração do governador Alberto Goldman, que foi homenageado. A diretoria recém-eleita mantém José Roberto Bernasconi na presidência da regional de São Paulo, o mesmo ocorrendo com as regionais de Minas Gerais e do Rio de Janeiro, que contam com a participação de Maurício de Lana e Márcio Batista Amorim. Houve mudança na regional da Bahia, que elegeu Eduardo Azevedo Tourinho; na regional de Pernambuco, com a entrada de Michele Pessoa, e regional do Ceará, daqui em diante sob a presidência de Arthur Oliveira Costa Souza. As demais regionais estão assim: regional Paraná: Carlos Valério Avais da Rocha; regional Rio Grande do Sul: Edgar Hernandes Cândia; regional Goiás: Fausto Nieri Moraes Sarmento; regional Santa Catarina: Adão dos Santos; regional Espírito Santo: Fernando Guéron: regional Distrito Federal: Sérgio Castejon Garcia e regional Paraíba: George Cunha. (NCO) www.revistaoempreiteiro.com.br | 31 Aeroportos Concessões em SP e Brasília atraem interessados pela alta rentabilidade Lances mínimos revisados para cima não intimidam os pretendentes; investimentos chegam a R$ 21 bilhões Um dos gargalos dos terminais aeroportuários brasileiros é o serviço de check-in Foto: Antonio Cruz/ABr O 32 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012 s leilões programados para o início de 2012 para concessão dos aeroportos de Guarulhos (SP), Viracopos (SP) e Brasília (DF) provocam intensa mobilização no mercado, vistos como negócios com alto potencial na geração de receita e lucros — os três terminais juntos operam 30% dos passageiros, 57% das cargas e 19% das aeronaves em tráfego no país. Mesmos com os valores dos lances mínimos revisados para cima — em Guarulhos, subiu de R$ 2,3 bilhões para R$ 3,4 bilhões; em Viracopos foi de R$ 521 milhões para R$ 1,5 bilhão; e em Brasília, elevou-se de R$ 75 milhões para R$ 761 milhões — as empresas interessadas no negócio se mantem firmes na disputa, que promete ser renhida, pois já detectaram o potencial de geração de caixa dos três aeroportos ao longo do período de concessão, de 20, 30 e 25 anos, respectivamente. Fontes ligadas às empresas que estudam esses empreendimentos há alguns meses, inclusive com a participação de operadoras de grandes aeroportos no Exterior, estimam que em Guarulhos, por exemplo, mesmo arcando com a reforma do Terminal 2 e a construção do Terminal 3, a concessionária poderá obter retorno da ordem de 50%. As empresas interessadas não veem também problemas em aportar recursos próprios ou financiados para viabilizar os investimentos de pelo menos R$ 2,8 bilhões exigidos no prazo de dois anos, em razão da Copa do Mundo de 2014. Porém, as concessionárias poderão sofre multas “fortes e severas” se não cumprirem as obras para o Mundial de futebol, já avisou a Secretaria de Aviação Civil do Governo Federal. O montante total de investimentos pode chegar a mais de R$ 21 bilhões no prazo total das concessões. No aeroporto de Brasília prevê-se a construção de novo terminal O edital de concessão prevê que uma das empresas do consórcio concorrente tenha pelo menos cinco anos de experiência em administração de terminal aeroportuário com movimento maior que 5 milhões de passageiros. Como o setor privado brasileiro não possui know how em operação de aeroportos, a participação de players estrangeiros tornou-se obrigatória. Valores anuais serão recolhidos dos consórcios vencedores dos três aeroportos para o Fundo Nacional de Aviação Civil. A medida visa garantir recursos para os demais aeroportos do sistema aeroportuário nacional. A primeira concessão aeroportuária ao setor privado no Brasil foi homologada recentemente para o aeroporto de São Gonçalo do Amarante, perto de Natal (RN), cujo lance mínimo de R$ 3,7 milhões também foi alterado pelo TCU para R$ 51,7 milhões, o que não chegou a arrefecer a concorrência. Saiu vencedor o consórcio formado pela Engevix e o grupo argentino Corporación America, que opera aeroportos na Argentina, inclusive o de Buenos Aires. A proposta ganhadora teve ágio de quase 330% sobre o valor mínimo estipulado pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). A previsão é que o investimento para construção do novo aeroporto potiguar fique em torno de R$ 650 milhões, em três anos de obras. O prazo para exploração do aeroporto pelo consórcio vencedor é de 25 anos, podendo ser renovado por mais cinco anos, no máximo. A previsão é que o aeroporto tenha movimento de 3 milhões de passageiros em 2014; 4,7 milhões em 2020; e 7,9 milhões em 2030. Programa de investimentos As empresas que obtiverem a concessão dos aeroportos de Aeroportos globais e seus operadores OPERADOR NÚMERO DE PASSAGEIROS/ANO Nova York – JFK e La Guardia New York Port Authority (público) 80 milhões (ambos os aeroportos) Londres – Heathrow (Terminal 5) Ferrovial (privado) 23,4 milhões Aéroports de Paris (sociedade anônima) 86 milhões (ambos os aeroportos) AEROPORTOS Paris – Charles de Gaulle e Orly Guarulhos, Viracopos e Brasília deverão realizar investimentos urgentes seguindo o cronograma básico de modernização e ampliação, estabelecido pela Infraero para os terminais aeroportuários relacionados às 12 cidades-sede da Copa do Mundo de 2014. O de Guarulhos, por exemplo, prevê a ampliação e revitalização do sistema de pista e pátio, construção de pistas de táxi e de saída rápida, de terminal remoto para desembarque e check-in, e do terceiro terminal de passageiros (atualmente, somente obras de terraplanagem estão sendo executadas nesse item). Os investimentos serão de R$ 4,6 bilhões. Já Viracopos, as ações previstas são de construção de novo terminal de passageiros e pátio, adequação do terminal existente e ampliação de sistemas de pistas e pátios, com investimentos chegando a R$ 8,7 bilhões. No que se refere ao aeroporto de Brasília, prevê-se reforma (esta já em andamento) e construção de terminal de passageiros, do sistema de pátios de aeronaves, e a execução de edificações complementares. Os investimentos na capital federal giram em torno de R$ 2,8 bilhões. Projeto do terceiro terminal de Guarulhos, mais amplo e confortável, a ser construído ao lado dos saturados terminais 1 e 2 www.revistaoempreiteiro.com.br | 33 Aeroportos O suplício dos viajantes frequentes C heck-in com filas quilométricas, salas de espera com avisos sonoros a cada segundo com volume nas alturas e sem lugares disponíveis para sentar, banheiros tipo “caixa de fósforo” e em geral sujos — restando ao usuário se refugiar nas lanchonetes de preços exorbitantes e serviços pífios, ou na livraria. Com as licitações de concessão dos aeroportos de Guarulhos (SP), Viracopos (SP) e Brasília (DF) programados para início de 2012, além das obras de “puxadinhos” sendo realizadas em alguns outros, descrevemos aqui a saga dos viajantes frequentes, que se deslocam pelo país afora, para que os futuros operadores dos aeroportos brasileiros possam tomar conhecimento das questões triviais que os atormentam – algumas passíveis de serem solucionadas com um pouco de bom senso e gestão adequada. Quando o passageiro chega à área de check-in do aeroporto, ele se depara com longas filas nos balcões das empresas aéreas, mesmo nos horários fora dos períodos de pico (de manhã cedo ou no final da tarde). É imperioso que a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) exija um número maior de atendentes no check-in para reduzir as filas e o tempo de espera. Poderia se adotar um critério de tempo máximo de espera por atendimento, semelhante ao regulamentado pelo Banco Central junto aos bancos nos guichês das agencias, com multas em caso de atrasos. A Anac deveria tornar ainda obrigatório que os passageiros sejam avisados no check-in quando o voo estiver atrasado por mais de 30 minutos, de modo que possam ter o direito de desistir de viajar, sem pagar multa na remarcação da passagem, ou, ainda, ter direito à alimentação na sala de embarque enquanto aguarda o voo. Isso raramente acontece e as companhias aéreas obrigam os passageiros a passar horas à espera do embarque, sem poder sequer fazer outra coisa senão aguardar os avisos pelo sistema de som. Estatisticamente, a Infraero afirma que a percentagem de atraso na saída dos voos é pequena. Mas para quem viaja pelo menos uma vez por semana, pode-se comprovar ao vivo e a cores que a estatística está equivocada e as companhias aéreas deveriam ser penalizadas com mais severidade com relação a este item. O nível de som dos aeroportos foi provavelmente ajustado para o volume máximo, porque a poluição sonora provocada pe- 34 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012 los repetidas chamadas de embarque e/ou avisos sobre atrasos e passageiros retardatários, provocam real desconforto. A maioria dos aeroportos nos Estados Unidos e Europa já adotaram avisos sonoros somente nos portões de embarque e em áreas específicas. No mais, os passageiros já se acostumaram a se orientar pelos monitores de televisão que nunca falham. Sendo os atrasos frequentes, nessa hora faltam até lugares para se sentar nos portões de embarque. A solução é se refugiar nas lanchonetes. Como a Infraero aufere receita pela locação desses espaços, seria recomendável que a empresa impusesse a diversificação de serviços e produtos oferecidos. Hoje, as raras lanchonetes disponíveis junto aos portões de embarque, servem os mesmos sanduíches e salgados, com preços absurdos. A troca de portões de embarque é frequente. A Infraero avisa aos passageiros que essa informação é de responsabilidade das companhias aéreas. Isso significa que empresas ignoram a chegada de suas aeronaves, sabendo que as mesmas já decolaram de suas origens, seguem em uma velocidade conhecida, realizam um percurso de extensão também conhecida — e, mesmo assim, se atrapalham para anunciar o portão de embarque de sequenciamento do voo. Em alguns aeroportos, a Infraero afixou o aviso de que “este banheiro é limpo 6 vezes ao dia”. Mas se o banheiro tem seis posições para usuários, e é usado por hora por 50 passageiros, a limpeza precisa ser feita a cada 15 minutos. Além disso, é necessário fazer manutenção das torneiras eletrônicas que economizam água, porque algumas se negam a funcionar quando precisam. Trocar as papeleiras que engasgam com o papel e soltam a tampa em cima do usuário é premente. E, ainda, porque não aumentar a exaustão do sistema de ar nos banheiros, para eliminar o inevitável mau cheiro? Enfim, depois desse longo suplício, o viajante frequente embarca e pensa em relaxar ate o destino final. Mas ele sabe que isso é ilusório, porque os assentos — bem como o espaço entre as filas - hoje adotados pelas empresas aéreas que monopolizaram o transporte aéreo no país foram dimensionados para pessoas de estatura e peso abaixo da média. E haja barrinhas de cereal e refrigerantes, mesmo que se esteja indo de São Paulo a Recife, com duas escalas. Tecnologia da Informação ESS ANCODRAAMIM TO EN ES QUALIDADE BETONEIRAS ELEVADORES VIBRADORES ECONOMIA LIXADEIRA Teckma investe em novo sistema de gestão Empresa optou pelos módulos TOTVS Obras e Projetos, ELO MARTID DEMOL OR GUINCHO TUDO A LOCGUEL TEM RH e BackOffice para garantir a integração e confiabilidade das suas informações N os últimos anos, o Grupo Teckma Engenharia deu um salto no volume de seus serviços e, consequentemente, no seu faturamento. De 2009 para 2010, a empresa cresceu 89% em faturamento. Em consonância com essa expansão, a Teckma inaugurou, neste ano, seu primeiro escritório fora do território nacional. Escolheu a cidade de Orlando, na Flórida, Estados Unidos, para sediar suas operações internacionais com o objetivo de estabelecer novas alianças, atrair investidores para projetos brasileiros e formar parcerias tecnológicas. A companhia de engenharia já possui, além da sua sede em São Paulo, no bairro da Mooca, escritórios em Salvador (BA) e Rio de Janeiro. Justamente por conta do forte crescimento, a Teckma percebeu que precisava de um sistema de gestão empresarial integrado (ERP) mais robusto: “Estamos com a TOTVS há um ano. Antes usávamos um ERP desenvolvido internamente, mas que não era integrado com a gestão de projetos. Como a Teckma vem crescendo em ritmo acelerado, notamos que precisávamos de controles mais sofisticados, integrados e inteligentes. Após uma concorrência, optamos pela TOTVS”, conta Sérgio Stelmach, diretor financeiro da Teckma. O ERP que a empresa utilizava antes caiu em desuso, já que a implantação da TOTVS começou em outubro de 2010: “A migração ainda está acontecendo, temos muito trabalho pela frente. Porém, já posso afirmar que passamos a ter uma visão do projeto como um todo, além de um acompanhamento de cada obra. O resultado é a confiabilidade das informações, o controle de quanto estamos gastando em cada projeto, quanto tempo resta para encerrar uma obra, e, dessa forma, fazer projeções mais corretas”, garante Stelmach. O novo sistema teve início em fevereiro deste ano e duas pessoas da TOTVS acompanham, dentro da Teckma, o trabalho. As soluções escolhidas para a implantação foram os módulos TOTVS Obras e Projetos, RH e BackOffice. Com 2.300 funcionários e 30 obras ativas atualmente, o Grupo Teckma Engenharia nasceu em 1992 com uma oferta de serviço na área de “Instalações Comerciais” e de “Montagens Industriais”. Em sua carteira de clientes, estão empresas de praticamente todos os setores da economia brasileira. A companhia trabalha em conformidade com as normas técnicas e de segurança e seus procedimentos são baseados nos princípios do Project Management Institute (PMI), principal associação mundial de gerenciamento de projetos. Além disso, está certificada com as normas ISO 9001, ISO 14001 e OHSAS 18001. www.revistaoempreiteiro.com.br | 35 totvs.indd 35 Só a líder em locações de equipamentos para construção tem tudo o que você precisa para sua obra. Serviços especializados, assistência técnica ágil, atendimento personalizado com 34 filiais pelo Brasil e mais de 60 itens à sua escolha. Na hora de alugar equipamentos, conte com a empresa que tem tudo para sua obra. Conte sempre com a Locguel. 777,/#'5%,#/-"2s 23/12/2011 14:28:22 Macrometrópole São Paulo não conclui os planos que tem, mas já projeta outro para 2040 H Nildo Carlos Oliveira istoricamente ela desenvolveu-se sem um planejamento rigoroso. Alguns até dizem que sem planejamento nenhum. Não fosse o primeiro plano urbano que lhe foi concebido na administração do engenheiro Júlio Prestes, no começo da década de 1930, possivelmente ela chegaria à década de 1950 sem a base que lhe permitiu orientar o crescimento dos primeiros bairros planejados – aqueles que ainda hoje despertam a veia saudosista de alguns urbanistas: Cidade Jardim, City Lapa, Pacaembu etc. De qualquer modo, desde aquela época todos os planos que foram elaborados e debatidos na Câmara Municipal e em outras instâncias, prevendo o crescimento da metrópole e os ajustes necessários para a melhoria da ocupação do solo urbano, não consideraram a possibilidade de inverter a lógica perversa de dar prioridade ao transporte individual. Falar em transporte integrado é coisa atual. Júlio Prestes, primeiro e, depois, Prestes Maia, naturalmente com as minhas desculpas a outros administradores cujas lembranças se esgarçaram no meio do caminho, começaram a tratar a cidade do ponto de vista de uma orientação urbanística futura. Prestes Maia, em especial, foi o grande responsável por um projeto urbanístico mais acabado - o Estudo de um plano de avenidas para a cidade de São Paulo – que marcaria época e que resultaria na remodelação do centro urbano, estabelecendo um padrão para as novas avenidas: largura de 35 a 50 m. O trabalho, conforme lembrou há algum tempo o engenheiro Cláudio Jacoponi, numa conferência que fez na Federação do Comércio do Estado de São Paulo, previu o primeiro perímetro de irradiação da cidade, formado pelas avenidas Mercúrio, Senador Queirós, Ipiranga, São Luís, rua Maria Paula, praça João Mendes, a então praça Clóvis, a Rangel Pestana e o Parque Dom Pedro. No mesmo plano, o engenheiro Prestes Maia desenhou as avenidas radiais: a Tiradentes e Prestes Maia, passando pelo vale do Anhangabaú, até a praça da Bandeira. E foi prevista a bifurcação, na Nove de Julho, com a então avenida Itororó, hoje chamada 23 de Maio. Previsões e planos anteriores à parte, o crescimento anárquico provocou questionamento entre urbanistas, o que levaria o prefeito Adhemar de Barros a limitar a construção de imóveis a seis vezes o tamanho do terreno. Em 1971, já na administração de outro engenheiro, José Carlos de Figueiredo Ferraz, seria elaborado o Plano Diretor de Foto: Filipe Araújo/AE Jardim Romano, que teve de viver sob as águas por conta da falta de um planejamento que evitasse ocupação de áreas sujeitas a inundações 36 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012 Foto: Luiz Guarnieri/AE A macrometrópole paulistana acostumou-se a crescer sem planos ou sem complementar os planos que tem. Apesar disso – e por conta das obras que a transformaram e a identificam como a maior da América Latina –, parece uma cidade feita aos trancos e aos pedaços A cidade já não libera espaços para a frota de veículos que continua aumentando www.revistaoempreiteiro.com.br | 37 Macrometrópole Desenvolvimento Integrado, que também privilegiou o transporte individual, embora ele tenha participado dos projetos de construção do metrô paulistano. Em 2003 foi aprovado o novo Plano Diretor da Cidade, que incluía recomendações do Estatuto da Cidade e que se tornou modelo para outros planos diretores. Contudo, este plano tem prazo de validade: termina em 2012. A apresentação de um projeto de lei do novo Plano Diretor Estratégico pós-2012 deverá ganhar força, do ponto de vista de debates e do envolvimento de segmentos da sociedade, ao longo de 2012, a fim de que a cidade possa adotá-lo em 2013. Nesse caso, para que se cogita, por antecipação, de um novo plano, o SP2040? – Resposta do secretário municipal de Desenvolvimento Urbano, Miguel Luiz Bucalem: “O SP-2040 se articula com o plano diretor, mas faz parte de um planejamento de mais longo prazo”. A expectativa é de que, mesmo sendo de mais longo prazo, o SP-2040 não deixe de incluir as preocupações imediatas da cidade com planos que até aqui não foram realizados ou concluídos. Porque, sempre há o risco do esquecimento dos planos presentes, para se discutir os mais distantes e menos factíveis: aquele que prevê, em termos reais, a integração dos transportes; plano de saneamento, com as interfaces dos municípios da região metropolitana; o plano contra enchentes, resultante de parceria governo do Estado e administração municipal e plano de micro e macrodrenagem, além do Plano Municipal de Habitação, que dá prioridade às áreas mais carentes e que se articula com os demais para a garantia da correta ocupação do solo urbano. O SP-2040 O plano SP-2040, iniciativa da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano, desenvolve-se com o apoio de técnicos da Universidade de São Paulo e pretende integrar políticas públicas, interagir com planos setoriais, atrair investimentos e acenar com parcerias para se tornar viável. A finalidade é orientar transformações na cidade, recomendando novas formas de organização social, econômica, urbana e ambiental tendo em conta a melhoria da qualidade de vida da população. Centra-se em cinco eixos julgados estratégicos: coesão social, desenvolvimento urbano, melhoria ambiental, mobilidade e oportunidade de negócios. O estudo que costura o pensamento sobre coesão social foi coordenado pelo professor Marcelo Romero (FAU-USP) em colaboração com os professores Alfredo Behrens (Fundação Instituto de Administração) e Valter Caldana (Universidade Mackenzie) e sinaliza que a desigualdade social, urbana e territorial da cidade foi produzida a partir do processo histórico de desenvolvimento de SP e do País. “... a desigualdade urbana é fenômeno ao mesmo tempo 38 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012 Estação do metrô: a demanda extrapolou as previsões social e territorial, na qual diversos componentes se sobrepõem e se reforçam de forma cumulativa”, enfatiza o estudo. Nesse sentido, a visão de futuro de SP para 2040 está “fortemente comprometida com a inclusão social e com a redução expressiva de suas diferentes formas de desigualdade, com destaque para as desigualdades de renda, territorial e de acesso a serviços públicos”. Quanto ao eixo “desenvolvimento urbano”, coordenado pelo Professor Pedro Taddei Neto (FAU– USP), com a participação da professora Marta Dora Gorstein (FAU-USP) e da também professora Regina Maria Prosperi Meyer (FAU-USP), a ideia é de que “o rápido e intenso processo de formação da cidade de São Paulo produziu uma estrutura territorialmente desequilibrada. Está expressa no desenvolvimento desigual das atividades urbanas pelo território, onde a densidade populacional é maior nas áreas periféricas, a atividade econômica e os empregos a ela relacionados se concentram fortemente no centro expandido”. Por conta disso, a São Paulo de 2040 “deve se tornar uma base eficiente do ponto de vista territorial e funcional garantindo um bom desempenho urbano para exercer um papel decisivo na internacionalização da economia nacional”. Sobre melhoria ambiental, os professores Mário Thadeu Lemes de Barros (POLI-USP, coordenador), José Goldemberg (IEEUSP), Marco Antônio Palermo (POLI-USP), Maria Cecília Loschiavo (FAU-USP), Mônica Ferreira do Amaral Porto (POLI-USP) e Oswaldo Lucon (IEE-USP), acentuam que, historicamente, os processos de industrialização e de urbanização impactaram negativamente os componentes básicos dos ecossistemas, a saber: água, ar e solo. “Esse foi o caso da cidade de São Paulo e de sua região metropolitana, as quais vivenciaram processos extremamente rápidos e intensos de industrialização e urbanização, ancorados em um explosivo crescimento populacional. Tais processos estão na base de uma miríade de desequilíbrios estruturais, sendo que dentre tais desequilíbrios destacam-se os ambientais. Nesse sentido, a principal meta ambiental para São Paulo em 2040 é integrar o tecido Foto: Álvaro Rodrigues dos Santos urbano com os componentes básicos dos ecossistemas, de tal forma a tornar a vida dos seus cidadãos mais aprazível, saudável e segura ao mesmo tempo em que permitir maior equilíbrio entre meio ambiente e todos impactos decorrentes das ações humanas na cidade”. O professor Orlando Strambi (POLI-USP, coordenador), os professores Mario Garcia (POLI-USP) e José Roberto Cardoso (POLI-USP) trataram, no SP-2040, do estudo relativo às questões de mobilidade urbana. Enfatizam que “o sistema se caracteriza por alta demanda por deslocamentos de longa distância; grande dependência de meios de transporte motorizados e sistema de transporte coletivo insuficiente e nem sempre devidamente integrado; e sistema de acesso e trânsito de pessoas e cargas à cidade e pela cidade insuficiente e ineficiente. Tal sistema (e os desequilíbrios a ele correspondentes) foi gestado ao longo do processo de desenvolvimento da cidade no qual os meios de transporte motorizados e individuais foram privilegiados conjuntamente a padrão horizontal de expansão da cidade”. Em razão disso, o objetivo básico da estratégia de mobilidade para São Paulo em 2040 é aproximar as pessoas das oportunidades e das suas atividades coti- Áreas de risco: o poder público deveria ser responsabilizado pelas tragédias que elas provocam dianas, como estudo, trabalho, consumo, lazer e entretenimento. Já o item sobre oportunidades de negócios foi tratado pelo professor Reinaldo Guerreiro (FEA-USP), que contou com a colaboração do professor Heleno Martins Pioner (FEA-USP). Eles entendem que a partir do processo de reformas dos anos 1990, “a economia brasileira, em geral, e a economia paulistana, em particular, embarcaram em intenso processo de reestruturação www.revistaoempreiteiro.com.br | 39 POTTENCIAL SEGURADORA. CONTE COM A NOSSA EXPERTISE. A Pottencial Seguradora já é uma das melhores empresas de Seguro Garantia do Brasil. www.pottencialseguradora.com.br Macrometrópole Dinheiro público jogado no lixo Não dá para deixar passar em brancas nuvens a informação de que o governo paulista atirou R$ 160 milhões em sistema de despoluição do canal do rio Pinheiros inutilmente. Pior ainda: não dá para acreditar que ele tenha deixado passar dez anos para, só então, constatar a inutilidade dos gastos. Lembro a ampla divulgação do sistema na época em que se preparava o ambiente para a sua adoção. A palavra oficial era de que as vantagens seriam inúmeras. O sistema reduziria a poluição das águas que seriam canalizadas para o abastecimento e geração de energia elétrica da usina Henry Borden, em Cubatão. E que a tecnologia da flotação, empregando processos físicoquímicos, agruparia as partículas sólidas na superfície da água, facilitando a remoção do lixo que ali ficaria concentrado. Tudo parecia fácil, simples, operacional. Mas, ao longo dos anos, quem passasse pelas margens do rio, observaria que ele continuava a ser um canal de esgotos a céu aberto. Até que testes mais recentes e precisos, realizados por decisão da Justiça, comprovaram a inocuidade da operação, finalmente suspensa. E, nesses dias, veio a palavra final do poder público: o uso daquele volume de dinheiro dos contribuintes teve resultado zero. Zero, não, diria a voz oficial. Ela acentuaria que “a limpeza de um canal como o Pinheiros é sempre controversa”, mas que o investimento não seria inútil, pois, “apesar de todo o dinheiro gasto, a experiência valeu como aprendizado”. Um governo que tem uma empresa como a Sabesp e uma experiência de décadas no abastecimento e tratamento de água, não pode gastar aquele volume de recursos em “aprendizado”. E deveria saber que o primeiro passo no caminho para a despoluição do canal do rio Pinheiros ou de qualquer outro rio é tratar os cursos d´água que chegam até ele, a fim de que toneladas de esgoto de toda ordem não sejam ali despejadas. (Publicado no Bog do Nildo, hospedado no site revistaoempreiteiro.com.br) produtiva. A indústria que emerge desse processo e a sua parcela que fica em São Paulo é uma indústria mais produtiva e mais intensiva em conhecimento, tecnologia e inovação, e que depende de fatores de aglomeração modernos relacionados, por exemplo, à oferta de serviços especializados e à oferta de mão de obra diversificada e qualificada”. O estudo considera que, por causa das mudanças recentes na economia da cidade, a economia paulistana se caracterizará, em 2040, por dispor de uma estrutura produtiva intensiva em baixo 40 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012 carbono, diversificada, rica em oportunidades para empresas e trabalhadores. “Desenvolvida a partir de uma forte infraestrutura de conhecimento, intensiva em criatividade, tecnologia e inovação, o seu núcleo dinâmico se baseará nas interações entre atividades econômicas integradas, diversificadas, sofisticadas e complexas, sejam elas de serviços ou industriais. Isso permitirá que a cidade reforce seus papeis de polo produtor de bens e serviços sofisticados, de centro de comando da economia nacional e de centro de articulação de espaços regionais e nacionais com os mercados externos”. A realidade que se tem A realidade que se tem são os planos que deixaram de ser feitos ou que vêm sendo gradativamente empurrados com a barriga pelas diversas administrações, por um motivo ou outro, sobretudo porque não se segue uma escala de prioridades na política de investimentos. A prioridade ao transporte individual ajudou no desenvolvimento de um paradoxo: a qualquer momento, por excesso de veículos, a cidade pode parar não episodicamente, conforme tem ocorrido, mas de maneira contínua, senão, totalmente. O remédio será a integração dos diversos modais de transporte. Hoje, não têm sentido mais as enormes defasagens entre a construção de uma linha de metrô e outra. Na medida em que as defasagens acontecem, mais a cidade terá linhas com estações que, entregues, não atendem à demanda prevista, a exemplo do que vem acontecendo com aquelas da linha Amarela (4), como a Butantã. Nas grandes cidades, a opção tem sido na direção da compatibilização dos sistemas de baixa e média capacidade, como o VLT e o monotrilho, com uma ressalva: estes devem ser complementares aos sistemas estruturadores de alta capacidade como metrô e trem metropolitano. O plano de saneamento continua inconcluso. Previsto na Lei Orgânica do Município desde 1990, ele se articula com os planos da Companhia Estadual de Saneamento Básico, a Sabesp. Há múltiplas interferências e ele só funcionará se implementado em todas as suas interfaces. Enquanto as águas hoje despejadas no canal do rio Pinheiros e no rio Tietê não receberem tratamento prévio satisfatório, em estações de tratamento, não haverá como se falar em saneamento na cidade de São Paulo. Há alguns meses uma denúncia deixou à mostra um velho problema paulistano: um condomínio de alto luxo vinha jogando seus detritos, in natura, diretamente no canal do rio Pinheiros. E outro episódio tornou mais grave a carência de uma política para a despoluição do rio Tietê, na região metropolitana: o governo paulista admitiu que o volume de nada menos que R$ 160 milhões, aplicado num sistema de despoluição, não tivera efeito algum. Resumindo: o dinheiro havia sido jogado literalmente no rio. O plano contra enchentes em São Paulo, que deveria ter sido executado há décadas – pois há décadas são conhecidos Trechos do rio Tietê e do canal do rio Pinheiros: a degradação sem máscara os pontos tradicionais de inundações e alagamento na cidade – somente agora parece ter adquirido contornos práticos. O governador Geraldo Alckmin e o prefeito Gilberto Kassab anunciaram a aplicação de R$ 800 milhões em obras de combate às enchentes. Os trabalhos incluiriam a remoção de 4,18 milhões de m³ de resíduos da calha do rio Tietê ao longo de 2011; a abertura de licitação para a compra de três turbinas para aumentar em 60% a capacidade de bombeamento do canal do rio Pinheiros para a represa Billings; a canalização de córregos; a construção de mais dois piscinões – um na divisa entre São Paulo e São Caetano; a construção de um sistema de canais entre São Paulo e Guarulhos para o desassoreamento do rio Tietê e a criação do Parque Várzea do Tietê, com a remoção de 5 mil famílias que viviam às margens do rio. Pois bem. O verão chegou e nos próximos meses teremos um quadro real do que pode acontecer, caso esse plano AlckminKassab venha a dar em água. www.revistaoempreiteiro.com.br | 41 Foto: Álvaro Rodrigues dos Santos Macrometrópole Outra visão do Tietê, onde recursos têm ficado submersos Sistema viário O sistema viário, conquanto comece muito firme, na sociedade, uma inflexão para a consciência em favor do transporte coletivo, não pode ficar à mercê de interesses de grupos, dentro da política geral para a necessidade de serem construídas obras de infraestrutura. Há casos em que não podem ser excluídas obras essenciais – pontes e viadutos – e, sobretudo, precisa ser dada prioridade aos programas de manutenção das estruturas em funcionamento, a fim de que não se repita, numa escalada ininterrupta, o que aconteceu no mês passado com a ponte dos Remédios, cuja parte lateral desabou. Embora tenham sido executadas obras de ampliação e melhoria das marginais do Tietê, a fim de acelerar o fluxo de veículos Complexo Anhanguera: O alívio para o tráfego pode ser temporário, se outras opções não vieram a ser adotadas 42 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012 para a via Dutra e, em especial, para as rodovias Ayrton Senna e Carvalho Pinto, ainda se discute se obras daquele tipo seriam as opções corretas, numa fase em que se procura reduzir o trânsito para aquelas vias tendo em vista à recuperação futura das margens do rio. Contudo, enquanto isso não acontece, não há como se deixar de entender que são muito importantes obras como as do Complexo Anhanguera, que intervieram na via Marginal, Anhanguera e bairros da região Oeste da cidade. O complexo, em plena operação, é formado por uma ponte que liga o bairro da Lapa à via Anhanguera, com 596 m de extensão e três faixas de tráfego. Por uma segunda ponte, que liga a Marginal do Tietê, sentido Castello/Dutra à via Anhanguera, com 524 m de extensão e duas faixas de tráfego e uma terceira ponte, que liga a via Anhanguera à Marginal Tietê, sentido Dutra. Essas obras permitiram a reformulação do tráfego desde a ponte Atílio Fontana, na Marginal Tietê, na cidade, até o km 19 da Anhanguera, acelerando o fluxo de tráfego rumo às cidades de Campinas e Jundiaí, Osasco e bairros da Lapa, Pirituba e Vila Leopoldina. No conjunto dessas obras está também o viaduto em curva que sai da Anhanguera, em direção à Marginal Tietê (sentido Castello Branco), com 315 m de extensão e duas faixas de tráfego. O sistema viário atual, mesmo com as melhorias proporcionadas pelos trechos do Rodoanel já entregues, não pode ser apontado como a solução adequada. O futuro é a integração dos sistemas de transporte, com a mobilidade urbana colocada a favor do cidadão e com a cidade a favor de todos. Se assim for. Macrometrópole Uma promessa de luz no fim do túnel Extremamente deteriorada, a região da Luz no centro de São Paulo, que sofre com o abandono e com a invasão de traficantes e usuários de drogas, agora ganha fôlego com projeto que promete sua recuperação urbana, comercial e social Joás Ferreira O objetivo principal do Projeto Nova Luz é a requalificação das 45 quadras e duas praças que compõem parte da região central da cidade de São Paulo, conhecida pejorativamente como Cracolândia, onde se concentram traficantes e usuários de drogas, em especial o crack e, mais recentemente, o oxi. O projeto foi desenvolvido pela prefeitura de São Paulo, por intermédio da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (SMDU), em parceria com o consórcio formado pelas empresas Concremat Engenharia, Companhia City, Aecom Technology Corporation e Fundação Getúlio Vargas (FGV). Em sua versão final, apresentada em agosto de 2011, foram incorporadas sugestões da população acolhidas ao longo do extenso período de consultas públicas, englobando duas audiências públicas na Câmara Municipal, reuniões com os órgãos de meio ambiente, de patrimônio histórico e cultural, de política urbana, de legislação urbanística e de operação urbana, entre outros. As discussões também envolveram reuniões com representantes ligados ao setor de comércio, de habitação e do Conselho Gestor da Zona Especial de Interesse Social (ZEIS), além de milhares de atendimentos públicos e dezenas de reuniões no Espaço Projeto Nova Luz. A partir disso, entre os aspectos adicionados ao projeto, está 44 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012 O projeto prevê, entre outras medidas saneadoras, a criação de um bulevar cultural a condição de que o concessionário que vencer a licitação para implantação do projeto urbanístico responderá pelas melhorias de infraestrutura públicas, mas, não será o único responsável pelas mudanças do espaço privado e pela execução das obras. Os proprietários e comerciantes locais poderão se unir e realizar as intervenções nos imóveis de uma quadra por conta própria, atendendo às diretrizes do projeto urbanístico, por meio de implantação voluntária – inovação que foi sugerida pela população. Nesse caso, caberá ao concessionário verificar se os proprietários estão executando as intervenções de acordo com as diretrizes do projeto. Outra possibilidade é a implantação compartilhada, uma atuação conjunta entre o concessionário e proprietários dos imóveis. Adicionalmente, um cronograma das intervenções nas quadras foi integrado ao projeto como forma de minimizar o impacto das obras sobre a dinâmica local. O projeto vai ser implantado em cinco fases, cada uma correspondente a um conjunto de quadras que serão renovadas sucessivamente. A primeira fase das intervenções, aplicada em lotes maiores, se inicia logo após a concessão e deverá ser concluída ao final do quinto ano de concessão. A previsão é que a execução das obras de cada fase dure dois anos e meio. Assim, na sequência, as intervenções serão feitas do ano 5 ao ano 7,5 (segunda fase); do 7.5° ao 10° ano (terceira fase); 10° ao ano 12,5 (quarta fase) e do 12,5° ao 15° ano, o que conclui todas intervenções planejadas. Benefícios O projeto consolidado de requalificação urbana da Nova Luz prevê ampliar em 94% o potencial construtivo da região, agregando cerca de 1 milhão de m2 de novas construções e viabilizando o aumento do potencial comercial e de serviços da região em cerca de 370 mil m2. Estima-se que, com as intervenções previstas, a Nova Luz dobre a sua população residente, acolhendo aproximadamente 12 mil novos moradores, e amplie em 80% o número de postos de trabalho na região, com cerca de 19.400 novos empregos. O projeto urbanístico para a Nova Luz prevê complementar- mente a criação de uma malha de ciclovia com 7,3 km de extensão, melhor conexão dos pedestres com as estações de metrô e de trem, alargamento das calçadas e acessibilidade universal, além de aproximadamente 6 mil m2 de novas praças e áreas livres e a criação de uma área de entretenimento com cinemas e teatros. Desta forma, a proposta pretende não apenas garantir a permanência dos moradores e comerciantes que hoje fazem parte da geografia humana e econômica do local, como também trazer benefícios à população paulistana como um todo. Os atuais e futuros moradores da região da Nova Luz serão ainda beneficiados com a implantação de equipamentos sociais e culturais. No tocante à educação, está prevista a instalação de uma Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI) e uma de Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) e três creches. Serão implantados uma Unidade Básica de Saúde (UBS), um Centro de Atenção ao Idoso, um posto de assistência social e o Centro Integrado de Promoção Humana, com biblioteca e áreas para capacitação. A maioria desses equipamentos será alocada na ZEIS (Zona Especial de Interesse Social), que poderá contar também com 2.152 novas unidades habitacionais, sendo 1.160 unidades de interesse social (0 a 6 salários mínimos) e 992 de mercado Todo esforço é necessário para mudar esse cenário de degradação social e urbana popular (priorizando a população com renda familiar entre zero e 16 salários mínimos). O Conselho Gestor da ZEIS, previsto desde o início do projeto, já foi estabelecido. Com o objetivo de colaborar na elaboração e desenvolvimento do plano de urbanização da ZEIS, o conselho é formado por representantes da prefeitura, dos moradores e das entidades sociais que militam na região da Nova Luz. www.revistaoempreiteiro.com.br | 45 Macrometrópole Integração é desafio nas ações governamentais Abastecimento de água, saneamento, habitação e transporte são alguns dos temas que tiram o sono dos administradores quando se fala em Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) Joás Ferreira “O que não falta para o nosso município é desafio”, diz Miguel Luiz Bucalem 46 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012 Foto: Divulgação/IE “N ão dá para pensar no desenvolvimento de uma mancha metropolitana, como a que envolve a cidade de São Paulo, sem que isso seja feito de forma integrada”. A frase é de Miguel Luiz Bucalem, secretário municipal de Desenvolvimento Urbano da capital paulista, e expressa bem como devem ser pautadas as ações governamentais na maior cidade do País. A prefeitura de São Paulo vê com muito bons olhos a evolução institucional da região metropolitana e a formação de um conselho de desenvolvimento. “Esse é um momento muito bom, em que se reconhece a necessidade de integração das políticas governamentais”. Bucalem destaca: “O que não falta para o nosso município é desafio. Entre os muitos, estão a mobilidade e a acessibilidade. Problemas que exigem o aumento da infraestrutura de transporte, mas que, também, são uma questão de como ocupar a cidade, aproximando o emprego da moradia”. Outra demanda está na área habitacional. “A prefeitura tem uma forte atuação na urbanização de assentamentos precários, que ganha um novo horizonte, agora, com o Plano Municipal de Habitação”. Do ponto de vista da água, talvez o maior desafio seja a questão do seu manejo e drenagem. Para isso, está sendo desenvolvido o Plano Municipal de Drenagem, articulado com o Plano da Bacia do Alto Tietê, que está sendo revisado pelo governo estadual. Em relação ao abastecimento de água e ao saneamento básico, a prefeitura tem contratos de concessão com a Sabesp, o que “acaba criando a dinâmica para o atendimento das necessidades do município e, obviamente, deve ter uma abordagem metropolitana, porque vários dos desafios da cidade, principalmente no aspecto de poluição dos rios, dependem de um equacionamento com abrangência mais ampla”. Quando se tratam de ações governamentais surge, inevitavelmente, a pergunta sobre os recursos necessários para isso. Bucalem diz que só para equacionar o Plano Municipal de Habitação, até 2024, serão necessários muito mais do que R$ 50 bilhões e, para as áreas de risco, outros R$ 10 bilhões. “São vultosos os investimentos, mas a melhoria decorrente deverá ser muito mais significativa”, ressalva o secretário. Água O Sistema Integrado de Abastecimento de Água, operado pela Sabesp, atende a 29 municípios da RMSP. A prefeitura de São Paulo possui contrato de concessão com a empresa para prover o abastecimento da população. A cobertura do serviço de abastecimento de água atinge a 99%. O pequeno déficit de cobertura está no atendimento a favelas e loteamentos irregulares. Dentro desse total, a principal demanda de água está relacionada com o consumo doméstico. De acordo com o secretário municipal, o planejamento futuro da prefeitura pressupõe a possibilidade de estabelecer, nos códigos para construções e obras, exigência com relação à redução do consumo de água em edificações. Entre elas, estão a hidrometração individualizada e a instalação de equipamentos poupadores de água, como chuveiros, torneiras etc. O planejamento municipal também prevê o oferecimento de incentivos para edifícios inteligentes que promovam redução de consumo em todas as atividades. Para dar o exemplo, Bucalem destaca que a prefeitura é a principal usuária de água de reuso, produzida nas estações de tratamento de esgotos, para lavagem de ruas e de grandes áreas públicas. “Em relação ao controle dos mananciais, a prefeitura mantém um sistema de fiscalização para o controle de uso e ocupação do solo nas áreas de proteção e vem investindo em programas de requalificação urbana das áreas de proteção, de mananciais e na restauração da vegetação da mata ciliar dos reservatórios de abastecimento”, salienta o secretário. www.revistaoempreiteiro.com.br | 47 Protegendo as estradas de Norte a Sul do País. Segurança, qualidade e durabilidade. É pensando nisso que a Mangels produz suas defensas metálicas, proporcionando maior proteção aos motoristas. Se você procura segurança para as estradas, você procura Mangels. Certificada pelas normas ISO 9001, ISO 14001, OHSAS 18001 e SA 8000. 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Além disso, é promissor o fato de que a secretaria municipal reconheça a necessidadede que haja uma integração entre os diversos Saneamento municípios dessa região. E, dentro desse universo, No que diz respeito ao saneamento, contrato com a Sabesp garante que o município realize o atendimento de 91% de coleta e 62% de tratamento do esgoto da capital. “É importante mencionar que sofremos o impacto dos municípios que estão a montante da bacia hidrográfica, operados ou não pela Sabesp, que apresentam índices mais baixos de coleta e tratamento de esgotos”, explica Bucalem. A cidade de São Paulo faz parte do Sistema Integrado de Coleta e Tratamento de Esgotos e possui contrato de programa com a Sabesp, por 30 anos para prover o serviço à população. De acordo com o secretário, “é necessário buscar a universalização do serviço e controlar as cargas difusas de poluição”. Bucalem frisa que a prefeitura está empenhada em recuperar os cursos d’água para a melhoria do meio ambiente e da paisagem urbana. O Programa Córrego Limpo, em parceria com a Sabesp, vem aumentando a eficiência da coleta e o encaminhamento dos esgotos às estações de tratamento. Já foram concluídos, segundo ele, 100 córregos e a próxima etapa incluirá a despoluição de mais 52 córregos, até dezembro de 2012. vejo como muito positivo e importante o estabelecimento de uma autoridade metropolitana”. Braga vai além. Segundo ele, a RMSP não é a única que tem importância social e econômica dentro do estado: “Nós temos o que se chama de macrometrópole paulista, que vai desde a Baixada Santista até Campinas, envolvendo diversas aglomerações urbanas do Vale do Paraíba e da região de Sorocaba. Isso ganha especial destaque quando se sabe, por exemplo, que 50% da água que São Paulo consome não vêm da sua própria bacia hidrográfica, mas sim de outras bacias circunvizinhas”. Para ele, a gestão integrada de recursos hídricos envolve não só a água em si e seus múltiplos aproveitamentos, mas abrange também o uso do solo. “A água tem domínio federal e estadual, mas, se não tratarmos o uso do solo conjuntamente, nunca haverá solução para o problema. Daí a necessidade de que estado e municípios trabalhem juntos, porque a prefeitura de São Paulo só poderá realizar uma obra no Aricanduva, por exemplo, se tiver a devida autorização do Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE). Não existe rio municipal. Entretanto, toda a drenagem que se faz num rio, como o Aricanduva, é de responsabilidade da prefeitura envolvida”. Além disso, o professor da Poli enfatiza que é preciso atentar para o uso múltiplo das águas na RMSP, no que diz respeito ao abastecimento, navegação, lazer e turismo, geração de energia, entre outros. “Não podemos, por exemplo, nos esquecer de que zados lá na usina hidrelétrica de Cubatão. E, hoje, o Brasil precisa de energia para crescer. Aquela planta de geração de energia tem problemas porque, entre outros motivos, a qualidade das águas que a movimentam não é compatível com o seu funcionamento”. 48 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012 Foto: Álvaro Rodrigues dos Santos temos mais de 800 MW que não estão sendo devidamente utili- A prefeitura e o Grupo de Estudos sobre São Paulo (GESP) atuam no programa de saneamento com a Sabesp para a operação do sistema de coleta e tratamento de esgotos, com metas de índices de cobertura, índices de tratamento, eficiência do tratamento e outros indicadores operacionais de desempenho. O município, que já é usuário de água de reuso, também desenvolve o Programa de Parques Lineares, visando o aumento das faixas de proteção vegetal ao longo dos cursos d’água. -!)3$% #/.4!4/3,)34!$/3$/33%'5).4%33%'-%.4/3 Drenagem Urbana - Fornecedores dos segmentos de Comunicação, Controle de Tráfego Aéreo, Navegação e Meteorologia; Ground Support; Construção e Design; Operações; Meio Ambiente; tecnologia da Informação; Segurança, Aeroporto Executivo e Terminais de Carga As enchentes que ocorrem todos os anos no período chuvoso são um grave problema para a cidade. Para combatê-las, a prefeitura, além das ações tradicionais de ampliação da infraestrutura de drenagem e de operação e manutenção do sistema, iniciou os trabalhos do primeiro Plano Diretor de Drenagem da Cidade de São Paulo e vem procurando fazer a integração entre esse plano e a revisão do Plano Diretor do Alto Tietê (PDMAT3). O conjunto de medidas estruturais e não estruturais visa à recuperação e à preservação de bacias urbanas e está associado aos programas de reassentamento de famílias em áreas de risco. - Aeroportos brasileiros listados com dados técnicos exclusivos - Companhias aéreas que operam no País - Principais eventos e feiras internacionais do setor - Relação completa dos órgãos de ensino localizados no Brasil que oferecem cursos para o setor - Entidades relacionadas a infraestrutura aeroportuária e aviação - Relação dos órgãos governamentais intervenientes A impermeabilização de ruas, calçadas e outros logradouros impede que o solo urbano absorva as águas pluviais, o que favorece a ocorrência de áreas alagadas /&%24!%8#,53)6! $%,!.£!-%.4/ Foto: Álvaro Rodrigues dos Santos DE R$ 320,00 POR R$ 280,00 www.revistaoempreiteiro.com.br | 49 .²/0%2#!%34!/0/245.)$!$% !$15)2!*/3%5 0ARAMAISINFORMA ÜES LIGUE 11 3032-5633 YEARBOOKAIRPORT SATORSCOMBR Macrometrópole Metrô prevê expansão apesar de prováveis contratempos Com 74,3 km de linhas e 64 estações, o Metrô de São Paulo pretende alcançar 101,3 km de rede até 2014. A expansão envolve prolongamento de linhas já existentes e também a inauguração de nova linha. Porém, processos de desapropriações — associações de moradores já se mobilizam contra o projeto do monotrilho - e supostas irregularidades nas licitações — pelo menos em duas ocasiões obras de linhas em expansão foram paralisadas devido a suspeitas de irregularidades - ameaçam o crescimento do sistema metroviário da principal cidade brasileira. Atualmente, por dia útil, a rede metroviária de São Paulo transporta 4,2 milhões de passageiros — a previsão em 2016 é atender 7,5 milhões de usuários. O número elevado de passageiros transportados associado ao reduzido tamanho da rede deu ao metro paulista o título de “o mais lotado do mundo”. No âmbito dos prolongamentos do metro paulistano, estão incluídas as linhas 2 (verde), 4 (amarela) e 5 (lilás). No caso do prolongamento da linha 2 (em obras), em 2014 pretende-se inaugurar em sistema de monotrilho (com 54 trens) tre- construção da linha 6 (laranja), ligando Brasilândia a estação de São cho de 13,2 km entre Vila Prudente e São Mateus (posteriormente, Joaquim (linha 1 – azul); da linha 15 (branca), entre a estação Vila projeta-se chegar até Cidade Tiradentes). Prudente (linha 2 – verde) e Tiquatira; e da linha 18 (bronze), entre Já a linha 4 (sob a responsabilidade de operação e manutenção estação Tamanduateí (linha 2 – verde) e a região do ABC paulista. da concessionária privada ViaQuatro), deverá ter trecho de 3,9 km, entre Butantã e Vila Sônia, a ser concluído em 2014 – atualmente, CPTM projeto em fase de licitação. Posteriormente, pretende-se estender a Com relação ao sistema da Companhia Paulista de Trens Me- linha 4 até Taboão da Serra a partir da Vila Sônia. Sobre a linha 5, trecho de 600 m entre Largo 13 e Adolfo Pinheiro – já em obras - está previsto de ser entregue em 2013 – até 2015, tropolitanos (CPTM), com 89 estações em toda Grande São Paulo e 260 km de linhas, o horizonte até 2015 também envolve projetos de ampliação da rede. a linha deverá chegar a Chácara Klabin (alguns trechos, inclusive, Entre as iniciativas estão o Expresso Guarulhos (capital a cida- também já estão em obras). A linha 5, que atualmente funciona do de de Guarulhos), Expresso ABC (Estação da Luz a Mauá), Expresso Capão Redondo ao Largo 13, tem projeto de extensão a partir do Leste (Guaianazes-Suzano) – esta em obras, e a extensão da Linha 9 Capão Redondo até Jardim Ângela. (Esmeralda) entre Grajaú e Varginha – obras previstas de começarem Com relação à linha nova (17 – ouro), em fase de licenciamento, que ligará o aeroporto de Congonhas ao Morumbi (interligando-se a linha 4) por meio de monotrilho com 24 trens, serão 7,7 km de trecho, com entrega programada para 2014. Prevê-se no futuro o prolongamento da linha 17 até a estação do Jabaquara (linha 3 – azul). A Secretaria Estadual de Transportes Metropolitanos de São Paulo prevê no Plano Plurianual 2011-2015 recursos para o metrô na ordem de R$ 45 bilhões, sendo que R$ 15 bilhões por meio de parceria público-privada. Com relação ainda ao metrô de São Paulo, há ainda projetos de 50 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012 em 2012. Essas intervenções, na definição do secretário, têm sido designadas como ”projetos resilientes”, que permitem a convivência harmoniosa da cidade com os seus rios e com as suas águas urbanas, trazendo melhoria de qualidade de vida para a população da cidade. Entre as suas metas, a prefeitura quer adotar medidas de controle de cheias, que gradativamente deverão assegurar, no ano 2040, um grau de proteção hidrológica correspondente a 100 anos em toda cidade de São Paulo; ampliar o programa de Parques Lineares, recuperando a vegetação das margens e criando áreas potenciais para instalação de parques, áreas de lazer e de esportes; aumentar a capacidade de infiltração nas áreas urbanizadas, inclusive para a minimização da carga difusa afluente aos rios da cidade; e implantar reservatórios de retenção, quando necessários, de forma ambientalmente adequada, compondo o paisagismo da cidade e com estruturas de parque e lazer. O município tem sua localização geográfica no centro da Bacia do Alto Tietê. Por isso, sofre com a enchente, agravada pela ocupação urbana de montante e também impacta nas áreas de jusante. As obras contra enchentes podem controlar os efeitos negativos das cheias em seu território e minimizar o impacto nos municípios de jusante. “A prefeitura e a Fundação Centro Tecnológico de Hidráulica (FCTH), entidade ligada à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), estão desenvolvendo o Plano Diretor de Drenagem do Município de São Paulo. Isso tem sido feito de forma integrada, envolvendo também o governo do Estado”, conclui Miguel Luiz Bucalem. (Matéria baseada em palestra promovida pelo Instituto de Engenharia em parceria com o Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva (Sinaenco), sob o tema geral “Recursos hídricos, saneamento e gestão metropolitana – Novos desafios”) www.revistaoempreiteiro.com.br | 51 Macrometrópole É preciso dobrar capacidade de tratamento de esgoto até 2018 O instituto Trata Brasil alerta que a geração de esgoto na RMSP tende a superar a capacidade das ETEs P ara universalizar a coleta e o tratamento de esgotos na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), até 2018, a Sabesp terá de dobrar a capacidade das estações de tratamento de esgotos (ETE), evoluindo dos atuais 18 m³/s para 36 m³/s. É o que informa a presidente da empresa, Dilma Pena. O Instituto Trata Brasil não vislumbra, a curto prazo, a solução para o problema, pois acredita que a índice de crescimento da demanda por serviços da saneamento no estado ainda se mantém maior do que a capacidade de atendimento, mesmo com todos os investimentos alocados. Na região Sudeste, onde está inserido o estado, segundo o Atlas do Saneamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado em fins de 2011, 95% dos municípios possuem algum tipo de coleta, mais da metade dos domicílios tem acesso à rede de esgoto (68,9%) e em média 48% de municípios oferecem tratamento de esgoto. Dilma Pena prevê, entretanto, que em 2015 uma parte significativa daquela capacidade (26 m³/s) já deverá ter sido atingida, quando poderá estar concluída a implantação da terceira etapa do Projeto Tietê. Esta etapa envolve a extensão dos serviços de saneamento para 1,6 milhão de pessoas, com investimentos de R$ 739,4 milhões em sistemas de coleta e tratamento de esgotos, em dez municípios da RMSP. A terceira etapa é constituída por obras em 29 municípios, sendo que em 19 já estão iniciadas. Para a quarta etapa do Projeto Tietê, segundo Dilma Pena, já foi desenvolvido o planejamento estratégico e algumas iniciativas já têm contratados os estudos de projeto básico. A operação urbana da Zona Leste, da capital, envolve dois córregos muito importantes da região (Jacu e Itaquera) que estão dentro dessa quarta etapa, para os quais já foram iniciadas as negociações de financiamento, via FGTS. “Essa operação deve ser realizada em consonância com a prefeitura, pois exigirá o remanejo de quase mil famílias”, destaca Dilma. Além disso, e sempre com vistas à universalização dos seus 52 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012 “Empresa de saneamento, para ser sustentável e competitiva e poder universalizar os serviços, tem de ter lucro”, afirma Dilma Pena serviços, a Sabesp está desenvolvendo um intenso trabalho de convencimento para que municípios da RMSP, como Guarulhos, Diadema, Santo André, Mauá, Mogi das Cruzes, também se integrem ao programa, ao longo da década. A presidente da empresa afirma que “o rio Tietê só atingirá os níveis de recuperação projetados, se esses municípios estiverem integrados ao projeto”. Os planos da Sabesp incluem a previsão de investimentos, até o fim do período previsto, de R$ 16 bilhões, sendo que a maior parte será destinada para a região metropolitana, com a seguinte divisão: R$ 5,4 bilhões, em água, e R$ 7,4 bilhões, em esgoto. Desempenho e planos Em 2010, a Sabesp teve uma receita líquida de R$ 9,2 bilhões e o seu lucro foi de R$ 1,6 bilhão líquido, de acordo com sua presidente. Para ela, uma empresa de saneamento, para ser sustentável e competitiva e poder universalizar os serviços, tem de ter lucro. “Só assim é possível conseguir financiamentos de longo O lançamento contínuo de esgotos in natura, detritos e outros tipos de lixo degrada o Tietê na Região Metropolitana Foto: divulgação Sabesp Joás Ferreira evolução populacional projetada em milhões de habitantes 22 21,5 21,5 21 21 20,5 20,5 20,7 19,8 19,9 19 18,5 21,8 21,4 20,2 20 19,5 21,2 21,7 População da RMSP em 2020: 21,8 milhões de pessoas. Taxa de crescimento: 0,97% a.a. 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 20192020 prazo e a custos compatíveis com a rentabilidade da prestação dos serviços de saneamento”. Do lucro auferido, de acordo com a lei das sociedades anônimas, perto de 25% vão para os acionistas e os outros 75% são usados como contrapartida para os financiamentos, que podem ser do BID, do Banco Mundial ou do FGTS. “É isso que garante uma estrutura de financiamento programada no longo prazo”, diz Dilma. O plano de investimentos da companhia prevê a conclusão da instalação da infraestrutura necessária para universalizar os serviços de saneamento na RMSP. Para que isso se efetive, ela pretende aportar um investimento anual médio de R$ 1,8 bilhão. No interior do estado, exceto para o litoral norte, a Sabesp tem obras contratadas ou em fase de licitação. “Acabamos de lançar um programa para o atendimento de comunidades rurais, cuja responsabilidade será dividida entre o estado, através de recursos orçamentários, e a Sabesp, no que diz respeito à implantação de sistema simplificado de abastecimento de água. O estado também aportará recursos para a implantação de sistemas individuais para tratamento de esgoto. As duas áreas prioritárias, para esse novo plano, serão Vale do Ribeira e região do Paranapanema”, informa. “Diante de um panorama de mercado de saneamento, que exige uma engenharia inovadora, é preciso destacar o nosso programa de formação de recursos humanos, dentro da empresa”, afirma Dilma. A partir de 2012, um grupo de pelo menos dez engenheiros e de outros profissionais fará mestrado e outros cinco, doutorado, em áreas tidas como importantes para os planos da empresa. Macrometrópole A macrometrópole paulista é constituída pelas três principais regiões metropolitanas – São Paulo (com 20 milhões de habitantes), Campinas (4,8 milhões) e Baixada Santista (1,6 milhão) e mais parte do eixo Paraíba do Sul (1,7 milhão) e do eixo de Sorocaba (1,4 milhão). Ela responde por 25% do produto interno bruto (PIB) nacional. Somente a região metropolitana de São Paulo, representa 17% do PIB. No geral, toda essa região apresenta escassez quantitativa e qualitativa de água, além de exigir alta complexidade e diversidade de conflitos em termos de gestão de recursos hídricos. www.revistaoempreiteiro.com.br | 53 Macrometrópole Capacidade Nominal de Produção de Água (m³/s) Guaraú Taiaçupeba ABV (RCS) Rio Grande Casa Grande Alto Cotia Baixo Cotia Ribeirão da Estiva Total Média Anual 33 15 14 5 4 1,2 0,9 0,1 73,2 67,8 Informações básicas da Sabesp • Atende a 364 municípios dos 645 do Estado de São Paulo • Fornece água a 23,6 milhões de pessoas e serviço de esgoto a 20 milhões de pessoas • Vende água tratada no atacado a seis municípios (3,5 milhões de pessoas) • Atua em parceria em quatro municípios de SP • Cobre 68% da população urbana do estado • Receita líquida 2010: R$ 9,2 bilhões • Lucro líquido 2010: R$ 1,6 bilhão Principais indicadores operacionais da Sabesp Ligações (milhões) Cobertura (%) Tratamento (%) Volume faturado (milhões de m3) Rede (milhares de km) Perdas de faturamento (%) Produtividade operacional1 Observação: Dados do Censo de 2010 Água 7,3 100 1.992 63,2 26(2) 848 Esgoto 5,7 81 75 1.434 42,3 - Medido em ligações por empregado / 2Plano de diminuir essas perdas para 13%, em 2019 1 (Matéria baseada em palestra promovida pelo Instituto de Engenharia (IE) em parceria com o Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva (Sinaenco), sob o tema geral “Recursos hídricos, saneamento e gestão metropolitana – Novos desafios”) 54 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012 14 a 17 de agosto de 2012 Grande Belo Horizonte (MG) August 14 - 17, 2012 Belo Horizonte, MG, Brazil Reserve seu espaço no maior evento de demonstração ao vivo de equipamentos e tecnologias para mineração, processos e manutenção industrial! 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Porém, a história de nossas cidades, e em particular daquelas que compõem a Região Metropolitana de São Paulo, tem mostrado que os planos traçados, por mais ambiciosos e elogiáveis que tenham sido, não se refletiram na cruel realidade da gestão cotidiana dessas urbes, implicando não só no completo esquecimento de suas propostas, como no contínuo agravamento dos colossais e crônicos problemas de infraestrutura. E não foram poucos, especialmente a partir da década de 1920 do século passado, os planos propostos para a cidade de São Paulo e para a metrópole paulistana, originados sempre de eminentes engenheiros e urbanistas: Fonseca Rodrigues, Saturnino de Brito, Ulhôa Cintra, Prestes Maia, José Carlos de Figueiredo Ferraz, Jorge Wilheim... Mas o fato é que, frente aos desafios implícitos e explícitos dos mais variados planos, prevaleceu sempre o acomodamento dos poderes municipais à inglória tarefa de administrar cosmeticamente as tendências espontâneas do desenvolvimento urbano, definidas pelo descaso em relação a uma melhor regulação técnica da expansão urbana e por interesses comerciais mais imediatos e politicamente atuantes. Hoje, a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) se nos apresenta como um horroroso Frankenstein urbano, seja sob que ângulo e ótica a avaliemos. A fatura social e econômica desse desuso de um planejamento mais elaborado e efetivamente implementado é altíssima, colocando-nos em situação dramática frente aos principais problemas da infraestrutura urbana. Foquemos, como exemplo desses magnos problemas, o fenômeno das áreas de risco geotécnico e das enchentes, essas a cada O geólogo que tem defendido o diálogo constante entre homem e natureza ano mais frequentes, de maior distribuição geográfica e de maior dimensão hidrológica. Pois bem: hoje não há dúvida alguma sobre o diagnóstico causal de nossas enchentes, e que pode assim ser definido: “volumes crescentes de água, em tempos sucessivamente menores, sendo escoados para drenagens naturais e construídas, incapazes de lhes dar vazão, tendo como palco uma região geológica já naturalmente caracterizada por sua dificuldade em dar bom e rápido escoamento às suas águas superficiais”. A cidade avançando (região Norte) por áreas periféricas sujeitas ao processo de erosão, sem qualquer acompanhamento dos riscos geotécnicos inerentes Essa terrível equação hidráulica é sustentada e originada da prática secular de uma cultura técnica e urbanística radicalmente equivocada frente às características naturais do meio físico atingido pela urbanização. São elementos básicos dessa cultura técnica equivocada: a generalizada impermeabilização dos espaços urbanos públicos e privados, a excessiva canalização de rios e córregos, a engenharia de áreas planas, com a qual, via extensos e intensos serviços de terraplenagem, avança-se sobre as regiões periféricas de topografia acidentada em um total descompromisso com os processos erosivos correlatos e com a multiplicação de áreas de risco geotécnico, e o crescimento por espraiamento geográfico, com o que seguidas porções do território, incluindo seus mananciais de água, são incorporados à tentacular e temerária mancha urbana metropolitana. Decorrência direta, enormes e crescentes volumes de águas pluviais superficiais sobrecarregando sistemas naturais e construídos de drenagem (córregos, rios, galerias, bueiros...), cuja limitada capacidade de vazão é adicionalmente comprometida pelo aporte de imenso volume de sedimentos oriundos das erosões periféricas (assoreamento). Frente a esse quadro, por mais incrível e absurdo que possa parecer, a cidade continua a crescer cometendo os mesmos erros causais básicos que estão na origem dos fenômenos das enchentes e áreas de risco geotécnico, consubstanciados na equivocada cultura técnica antes referida. Ou seja, aquela mínima, elementar e cristalina decisão inicial do parar de errar não foi adotada, nem sequer pensada, desqualificando qualquer prognóstico mais otimista a respeito do futuro. A situação atual da RMSP é, sob essa abordagem, dramática, exigindo de nossos homens públicos - administradores e planejadores urbanos - de uma parte, humildade, e de outra, corajosas e radicais decisões para o cotidiano imediato das cidades. *O geólogo Álvaro Rodrigues dos Santos foi diretor de Planejamento do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), é consultor em Geologia e Geotecnia e autor de vários livros, entre eles “Geologia de Engenharia: Conceitos, Método e Prática” e “Diálogos Geológicos”. Ocupação de áreas afastadas compondo uma mancha urbana metropolitana comprometedora hoje, e mais comprometedora, ainda, no futuro www.revistaoempreiteiro.com.br | 57 Concreto Pré-fabricado Na reconstrução do estádio Independência, em Belo Horizonte (MG), foram usados de forma intensiva na execução das arquibancadas elementos de concreto pré-fabricado. A inauguração da nova arena está marcada para fevereiro Empreendimentos na Grande BH utilizam a tecnologia em larga escala Augusto Diniz – Belo Horizonte (MG) E lementos pré-fabricados vivem um momento favorável. A falta de mão de obra na construção — que pode ser compensado com o uso intensivo de componentes prontos para obra —, cronogramas e orçamentos apertados — tornam a pré-fabricação mais competitiva — e a própria difusão da tecnologia no País dão sustentação à afirmativa. A Precon, uma das maiores empresas de pré-fabricados do País, é um exemplo nesse cenário. Para mostrar o potencial da modalidade, a empresa desenvolveu um ousado projeto, inicialmente com recursos próprios, na Grande Belo Horizonte (MG), que inclui a construção de edificações residenciais, comerciais e industriais pré-moldadas em área também própria. Intitulado Precon Park, o projeto somente utilizando pré-moldados teve início há quatro anos com a construção de uma faculdade (com dois pavimentos de 8 mil m² no total e paredes pré-moldadas de concreto, entremeadas de material cerâmico para melhor acústica), um anfiteatro e uma quadra poliesportiva e uma de tênis. Esse conjunto foi cedido por concessão à Fundação Pedro Leopoldo. Essas primeiras edificações fazem parte da fase 1 do projeto, que ocupa área de 6 milhões de m² nos municípios de Pedro Leopoldo e Confins (onde fica o aeroporto internacional mineiro); a fase 2 ficará em Lagoa Santa e terá apenas condomínios residenciais de alto padrão. “O potencial é muito grande. Não queríamos somente um núcleo residencial, mas um centro comercial e de educação. Acreditamos que 58 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012 Arenas esportivas, fábricas, conjuntos habitacionais e outras edificações são favorecidas do ponto de vista de prazo, economia de custo final e canteiro racionalizado podemos ter uma população de 250 mil pessoas no local”, explica o engenheiro Milton Vianna Dias, fundador da empresa de quase 50 anos, sobre o empreendimento. Um condomínio residencial deverá ser lançado na fase 1 (20% da área) em breve, assim como um centro de moda, reunindo lojas para o atacado e o varejo, chamado Fashion City Brasil, ocupando área de 400 mil m² e com investimentos de R$ 300 milhões. Ainda na fase 1 do projeto, um das maiores iniciativas é a construção de um complexo que inclui uma arena esportiva de 40 mil lugares, shopping center, hotéis e parque de diversões, em uma área de 500 mil m². O investimento total é de R$ 300 milhões – somente a arena está com orçamento total de R$ 220 milhões; valor bem abaixo dos custos das arenas que têm sido construídas no Brasil com a mesma capacidade. O projeto básico da iniciativa já está pronto. De acordo com Vianna Dias, o conceito acompanha modelo de países desenvolvidos, onde uma área, em geral localizada em bairros periféricos das grandes cidades, reúne ambientes esportivos, de entretenimento e lazer e centros comerciais, além de residências, tudo estruturado de forma integrada. O trabalho de construção do complexo segue a mesma sequência das outras edificações do empreendimento da Precon: pilares, vigas, lajes e painéis de vedação produzidos em sua fábrica; montagem das estruturas pós-terraplanagem e fundação do local; e instalação de kits elétricos, hidráulicos e de acabamento. Os trabalhos de terraplanagem da arena já se encerraram e atualmente estão em andamento os serviços de drenagem. As arquibancadas deverão ser construídas no começo de 2012, inicialmente para atender 5 mil espectadores – a proposta final é alcançar 40 mil espectadores com a participação de um investidor. O projeto prevê o aproveitamento da inclinação do terreno para construção das arquibancadas – o que poderá representar menos vibração na estrutura. A chamado Arena da Bola ocupará área de 12 mil m² e terá também cobertura e cadeiras de concreto pré-moldado – devidamente testadas. Serão dois módulos de arquibancada atrás de cada gol com capacidade para 5 mil pessoas, uma arquibancada central para 25 mil pessoas (15 mil assentos cobertos) e 5 mil assentos vip no lado oposto, em cima do hall de entrada da arena. O estádio deverá comportar 2 vestiários (146 m²), sala de imprensa (107 m²), 12 camarotes (274 m²), 51 banheiros, 29 bares, e estacionamento para 4.100 carros e 530 ônibus. O local deverá ainda ser Mineirão e edifícios habitacionais para baixa renda A Precon está fornecendo ainda pré-moldados para as obras de reforma do estádio Mineirão, que será uma das praças esportivas que receberão jogos da Copa do Mundo. A empresa fornecerá elementos prémoldados às arquibancadas inferiores do estádio (a arquibancada superior não foi demolida) e também para a esplanada, no entorno da arena. O grupo, através de sua incorporadora, também iniciou recentemente a participação no programa Minha Casa, Minha Vida. A empresa construiu 10 prédios, com um total de 1.200 apartamentos, na Grande Belo Horizonte. O diferencial foi o uso intensivo de pré-moldado (estrutura e paredes, muitas concluídas na fábrica já revestidas), com entrega das chaves em um ano. utilizado não somente para futebol, mas outras atividades esportivas, como rugby. Cm relação aos acessos, o Precon Park fica a 5 km do aeroporto internacional de Confins (que ganhou fôlego por conta da Copa do Mundo e o estrangulamento do aeroporto da Pampulha) e é cortado pela rodovia estadual MG-424 e a MG-010 (Linha Verde), que dá acesso à capital mineira. Estádio Independência O estádio Independência, em Belo Horizonte, que será reinaugurado em fevereiro de 2012, teve 100% da estrutura da arquibancada montada com concreto pré-moldado fornecido pela Precon. Com capacidade para 25 mil espectadores, a arena possui três módulos de arquibancada, com duas torres localizadas em dois extremos de um lado da arena, onde se estabelecerão serviços diversos, como centros de comando, administração etc. A montagem da cobertura do estádio, em tubos estruturais pesando no total 500 t, com telhas metálicas termoacústicas e de policarbonato que cobrirão todos os assentos, está em fase final de execução. Tubos V & M foram utilizados na estrutura metálica da cobertura. Nas arquibancadas centrais, as vigas vencem vãos de 120 m x 35 m. A arquibancada do fundo (atrás do gol) tem vão de 85 m x 35 m. O comprimento de 35 m é suportado por tesouras secundárias tubulares, espaçadas a cada 15 m, apoiadas em pilares de concreto no fundo e vigas principais na frente. O antigo estádio existente no local, que tinha 10 mil lugares, foi demolido e a construção do novo espaço ficou a cargo da construtora Andrade Valadares. O projeto é do escritório do arquiteto Leon Myssior. O custo total da obra foi de R$ 120 milhões (cerca de R$ 4.800 por assento). O estádio Independência tem agora estacionamento para 422 vagas, nova iluminação, novo gramado com sistema de drenagem e de irrigação, vestiários ampliados, 2 lojas e 32 bares e lanchonetes espalhados nos diferentes setores do estádio, 18 cabines de imprensa (rádio e TV) e 72 postos de trabalho (imprensa escrita), e espaço flexível para implantação de 36 camarotes e áreas VIPs, com capacidade total para 2.225 pessoas. Os trabalhos em progresso atualmente na arena incluem ainda as instalações elétricas e hidráulicas, assim como revestimento interno e a colocação das cadeiras. Pertencente ao Governo do Estado de Minas Gerais, o estádio foi concessionado ao América Futebol Clube por 28 anos. www.revistaoempreiteiro.com.br | 59 Tecnologia da Informação Perspectiva da sede da Petrobras, em Santos (SP) Contratante solicita projeto executivo de edificação em BIM O que era iniciativa somente do mercado de construção civil agora é também de quem contrata o serviço Projeto executivo da edificação foi solicitado na plataforma BIM 60 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012 Augusto Diniz P ara a construção do complexo de gerenciamento da unidade de exploração e produção de gás e petróleo na Bacia de Santos, a Petrobras solicitou em contrato a entrega do projeto executivo em plataforma BIM (Building Information Modeling). Trata-se de uma mudança de paradigma. Antes, as empresas de arquitetura e engenharia é que ofereciam a solução às empresasclientes visando à economia de recursos e tempo, simulação de cronograma e aprovação mais rápida entre os envolvidos em uma obra civil. No máximo, a contratante solicitava o projeto conceitual básico em 3D para visualização. A Petrobras alega que a medida foi aplicada devido aos bons resultados alcançados pela tecnologia em projetos industriais, a complexidade do empreendimento em Santos, e a necessidade de melhorar a comunicação interdisciplinar e a qualidade do projeto. O projeto executivo em BIM para a estatal — sob coordenação do escritório Contier Arquitetura — envolve as disciplinas de arquitetura, estruturas, instalações prediais e fundações. “A principal vantagem é a confiabilidade das informações e Nova sede da Petrobras Acir Marteleto prevê avanço das soluções de TI nas diversas etapas de uma obra a alteração on line dos documentos à medida que se modifica o modelo”, afirma Luiz Augusto Contier, arquiteto titular da Contier. “A Petrobras com seu enorme prestígio e poder de contratação, mobiliza e estimula novos fornecedores a migrarem para a nova plataforma. Isso é ótimo para o mercado como um todo”, complementa. Para Acir Marteleto, country manager da Autodesk no Brasil, empresa de tecnologia que está fornecendo as soluções em BIM para a empresa responsável pelo projeto executivo da estatal em Santos (SP), de fato, trata-se de um novo cenário na área de construção. “Os benefícios visuais são muitos. Pode-se aplicar certificações e padrões diversos, fazer análise de eficiência. A linha tem muita inteligência”, avalia o executivo. De acordo com Contier, os clientes, no passado, não estavam interessados em tirar muito proveito do potencial de informações que o modelo tem. “Nessa época, a vantagem era apenas do escritório de arquitetura que poupava retrabalho, oferecia confiabilidade e consistência de informações. O cliente recebia o documento impresso e nem se dava conta da plataforma em que foi produzido”, explica o arquiteto. Porém, prevê-se alguns desafios com o uso da tecnologia nesse estágio, como a mudança do fluxo de trabalho, maior treinamento dos usuários e possíveis incompatibilidades de softwares. O próximo passo da Tecnologia da Informação na engenharia será a integração das etapas de construção – portanto, indo além do projeto básico e executivo. “A plataforma BIM integraria a indústria da cadeia da construção, com softwares de simulação das diversas etapas de uma obra”, explica Marteleto. Posteriormente, as simulações seriam confrontadas com o trabalho realizado, por meio de escaneamento terrestre. A prática já está se tornando realidade nos Estados Unidos. A modelagem BIM já era utilizada na Petrobras em projetos offshore, como a construção de plataformas, e plantas industriais. A sede da Petrobras em Santos (SP) ocupará uma área de 75 mil m² no Largo Marquês de Monte Alegre, no centro histórico da cidade. Com três torres, a estimativa é que a primeira torre do empreendimento, com 13 andares, seja entregue até o final de 2013, abrigando 2.200 funcionários. O desmonte dos armazéns existentes no local, preparação do canteiro de obras, terraplanagem e início das fundações são as iniciativas em progresso atualmente no local. A primeira torre terá 25.000 m² - as outras duas serão construídas de acordo com a demanda e poderão abrigar cerca de 4.000 pessoas. O complexo envolve ainda a construção de estacionamento (1.500 vagas), bicicletário, setor de atendimento médico, praça de alimentação (2 restaurantes), laboratório, auditório (300 lugares), centro de treinamento, lojas e áreas de integração. No pico da obra, 1.200 operários estarão envolvidos. O investimento é de R$ 380 milhões para a primeira fase (aquisição da área, projeto arquitetônico e executivo, infraestrutura local e construção da primeira torre). O empreendimento seguirá os critérios da certificação Leed (Leadership in Energy and Environmental Design). O projeto da nova sede da Petrobras é do arquiteto de Ruy Rezende. As obras estão a cargo da Construcap. Locadora investe em infraestrutura de TI A Geradora Aluguel de Máquinas, empresa de locação de equipamentos, como geradores de energia, torres de iluminação, compressores de ar, plataformas aéreas, manipuladores telescópicos e ferramentas leves, investiu cerca de R$ 550 mil em uma plataforma centralizada de infraestrutura de TI, que contemplou a implantação de terminais thin clients da Wyse Technology, além de consolidação de servidores, armazenamento de dados (storage) e serviços de consultoria. O projeto prevê a substituição de 450 desktops convencionais por thin clients Wyse Technology nas 18 unidades da empresa em todo Brasil. Antes da implantação, a Geradora possuía um parque computacional defasado, composto por desktops antigos e heterogêneos, que apresentavam problemas constantes de hardware e de desempenho. O uso de thin client segue tendência de mercado de terminais mais compactos e hadwares enxutos, com aplicações instaladas em servidor central e disponíveis em rede aos usuários, além de versões simplificadas de sistemas operacionais nos terminais. www.revistaoempreiteiro.com.br | 61 Rodovias | Pedágio Free Flow necessita de arcabouço legal No 3º Salão de Inovação do CBR & C Brasvias 2011, realizado pela Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR), Chile e Portugal mostraram a aplicação dessa tecnologia que já atingiu a maturidade. Entretanto, precisa de um ambiente legal e da disposição favorável do poder concedente para que alcance resultado O Chile adotou as leis de concessão em 1996 e no ano seguinte estendeu-as para portos e empresas de saneamento, segundo Jorge Rivas A., gerente de operação da concessionária Vespucio Norte. Ao dividir os riscos entre o Estado e os concessionários privados, a modalidade viabilizou não só o seguro de responsabilidade civil, como também aquele em casos de catástrofes naturais — o terremoto de fevereiro de 2010 que atingiu o país é um exemplo —, além de ter aberto financiamento pelos bancos a taxas reduzidas. Assim, os investimentos via concessões atingiram o total de US$ 12,5 bilhões no período de 1993 a 2011, tendo o Estado recebido US$ 428 milhões pelas outorgas. O total de rodovias concedidas chegou a 1.500 km. Sistema de Free Flow já é adotado no Chile 62 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012 61 projetos de concessões no Chile 30 concessões viárias intermunicipais 6 concessões viárias urbanas 1 barragem 11 aeroportos 3 complexos penitenciários 4 edifícios públicos 4 corredores de transporte público 1 hospital 1 diverso Os estudos de concessão chilenos são efetuados pela iniciativa privada e o Ministério de Obras Públicas deve aprová-los antes de colocar o empreendimento em licitação pública. Seis autoestradas urbanas foram contempladas em concessões —Vespucio Sur, Central, Costanera Norte, Vespúcio Norte, Túnel San Cristobal e Radial Nororiente —, que somaram investimentos de US$ 1,8 bilhão, incluindo 215 km de vias na região de Santiago. No chile, existem 1,86 milhões de tags ativos em automóveis, com um único modelo universal, e 78 pórticos de pedágio, que fazem a leitura automática desses tags, possibilitando o funcionamento do sistema chamado Free Flow (pedágio sem cabine de cobrança). Por ano, 18 milhões de faturas de pedágio são geradas — os dados de cobrança dos usuários são consolidados respeitando-se a privacidade do cidadão. O Free Flow no Chile funciona com o suporte de um arcabouço legal constituído pela lei de trânsito 18.290, que estipulou a falta de tag ou passe diário como infração grave — por conta disso, mais de 8 milhões de infrações foram lavradas até hoje, envolvendo 715 mil placas diferentes, cujas multas foram aplicadas efetivamente e recebidas, com apenas 10% dos infratores recorrendo à justiça. O artigo 42 da lei de concessões assegura que a multa pode chegar a 40 vezes o valor total da dívida, e o carro ou o salário do cidadão pode servir de garantia. O sistema de pedágio que controla hoje duas autoestradas no país permite incorporar novas rodovias e tem disponibilidade de 99,5%. Embora utilizem tecnologias distintas de tag e pórticos, seus dados são intercambiáveis. O uso de tag chegou a 95% dos usuários, com alta taxa de pagamento via web, e o atendimento ao público é feito pela internet e redes sociais em 55% dos casos. O sucesso dessa etapa de concessões levou o governo chileno a anunciar um novo programa para 2010-2014, envolvendo rodovias, aeroportos, hospitais e penitenciárias, prevendo-se investimentos de US$ 11,7 bilhões. Aplicação em Portugal A experiência de Portugal, utilizando a tecnologia QFree, mostra a importância do apoio político para a implementação do pedágio eletrônico, incluindo garantia de proteção aos dados privados do cidadão; supervisão efetiva das autoridades, que tornou possível a introdução da placa eletrônica nos veículos; prova de passagem do veiculo no pedágio baseado na imagem fotográfica e no registro do tag; e a obrigatoriedade contratual de os provedores de serviço da rodovia pedagiada responderem pelo atendimento às queixas dos usuários. O sistema português dá descontos para usuários frequentes e moradores da região da rodovia, e o não pagamento do pedágio é considerado infração fiscal pelas autoridades e cobrada como tal. A taxa de aceitação dos usuários começou em 40%, já dobrou e continua crescendo. As concessionárias portuguesas – Ascendi, Brisa e Ferrovial - se surpreenderam com a baixa percentagem de infratores, graças à rapidez na cobrança de débitos, e a instalação de postos nas rodovias para receber o pedágio em dinheiro, visando principalmente aos veículos de outros países. A disponibilidade do sistema atinge 99,9%. Possível introdução no Brasil O Free Flow representa um sistema de pedágio mais “justo”. A cobrança por km percorrido irá resolver a principal queixa dos usuários atuais de rodovias pedagiadas: muitos usam a rodovia, mas só poucos pagam. Por exemplo, muito menos da metade dos usuários que percorrem as rodovias que entram em áreas metropolitanas - Dutra, Ayrton Senna, Anchieta - paga pedágio porque as praças estão fora da área urbana e, muitas vezes, os usuários usam a rodovia somente no seu trecho inicial – portanto, sem passar pela praça de pedágio. Paradoxalmente, os custos de operação são maiores nos trechos mais trafegados — exemplo: socorro mecânico e médico - e poucos usuários pagam por este serviço. O Free Flow ou pedágio por km percorrido representa a “democratização do pedágio”, ou seja, pedágio mais justo para to- Pórtico de pedágio em área urbana dos. Para poder aplicar este conceito nas rodovias brasileiras, não há problemas tecnológicos a serem resolvidos — a tecnologia já funciona em diversos países —, mas existem duas questões sérias que, com certeza, irão surgir na gestão do processo: 1 - Mudar o arcabouço legal atual para minimizar o risco de inadimplência, lembrando que hoje existe um percentual expressivo de usuários que nem IPVA pagam e cujos veículos estão em situação irregular. Este grupo representa grave risco para o concessionário. A solução seria aumentar a fiscalização e retirar os veículos irregulares de circulação. 2 - A classificação dos veículos, hoje, é por número de eixos e por rodagem dupla, que funciona em uma praça com cabines confinadas; porém, no sistema Free Flow não existe tecnologia que consiga classificar os veículos por número de eixos, com margem de erro aceitável. Nos países onde o Free Flow opera, o sistema de classificação é por comprimento do veiculo: leve ou comercial. Essa mudança traria evidentes problemas operacionais às atuais concessionárias que estão operando. Equacionados estas duas questões, que precisam de solução nacional e não estadual, o sistema de pedágio por km percorrido traria benefícios para a totalidade dos usuários das rodovias operadas por concessionárias, ampliando o universo dos usuários pagantes. Quando essa mudança se efetivar, o valor dos pedágios pode até cair. Frota irregular no Brasil é um dos entraves para adoção do sistema www.revistaoempreiteiro.com.br | 63 Pavimentação Aplicação de mistura asfáltica morna no pavimento da Via Dutra* A revista O Empreiteiro publica o trabalho técnico que foi apresentado durante o 3º Salão de Inovação do CBR & C Brasvias 2011, realizado pela Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR), e que foi classificado entre os cinco melhores, na categoria Qualidade e Segurança em Rodovias E ste trabalho apresenta os resultados de um estudo laboratorial e a aplicação em campo de uma mistura asfáltica morna, introduzindo assim esse novo tipo de tecnologia na Concessionária NovaDutra. A técnica permite não só reduzir o consumo energético, mas também a emissão de poluentes, o que pode ser incluída em projetos para comercialização de créditos de carbono. A mistura morna foi produzida com diminuição de 25º C, em relação à mistura asfáltica em temperatura convencional, com o uso de um aditivo surfactante. No estudo de laboratório, comparou-se o comportamento da mistura morna com a mistura a quente, por meio de ensaios de resistência à tração por compressão diametral e deformação permanente, além de verificação da habilidade de compactação e dano por umidade induzida. Os resultados mostraram que a mistura morna apresentou comportamento satisfatório, comparável à mistura convencional. Já em pista, a mistura morna foi aplicada em um trecho experimental de 300 m, na Rodovia Presidente Dutra, tendo sido preparada do mesmo modo que uma mistura a quente, com exceção do uso do aditivo e da redução da temperatura de usinagem, além da compactação que também foi realizada de maneira convencional. O controle tecnológico indicou valores de volume de vazios e de espessura dentro das especificações. Foram extraídos corpos de prova de pista para testes posteriores de resistência à tração por compressão diametral, cujos resultados também se mostraram satisfatórios. Por fim, foram ainda executados levantamentos das condições funcionais e estruturais do pavimento, por meio da verificação de irregularidade, macrotextura, microtextura e deflexões, que, por sua vez, também apontaram valores dentro do aceitável. 1 - Introdução Nos últimos anos, vem crescendo significativamente a preocupação com o meio ambiente e o setor rodoviário tem procurado seguir essa tendência, desenvolvendo novas tecnologias no âmbito da pavimentação. Foi nesse contexto que surgiram as misturas asfálticas mornas 64 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012 (Warm Mix(es) Asphalt – WMA), que visam reduzir as emissões de poluentes e diminuir o consumo energético. As misturas mornas se referem a um grupo de tecnologias que vêm sendo desenvolvidas desde a década de 90, com o intuito de diminuir a temperatura de produção e aplicação em cerca de 30° C ou mais, em relação às misturas a quente convencionais, mantendo-se o mesmo comportamento destas últimas (Prowell e Hurley, 2007). A literatura em geral indica que tal redução de temperatura com as misturas mornas pode trazer importantes benefícios como: Menor emissão de poluentes atmosféricos As temperaturas mais baixas geram menores quantidades de poluentes lançados ao ar, não só porque são emitidos menos vapores e fumos de asfalto durante a mistura em usina e a aplicação em campo, mas também porque parte do combustível que seria utilizado na usinagem deixa de ser queimado (Prowell e Hurley, 2007). Dentro deste contexto, a iniciativa de se diminuir as emissões de poluentes poderia então ser inserida em projetos para a obtenção de créditos de carbono, e a venda destes passaria ser um atrativo competitivo para as misturas mornas (Olard, 2008). Melhoria do ambiente de trabalho na pavimentação Com o uso de misturas mornas os operários de pavimentação ficam menos expostos às emissões asfálticas, sendo este um fator positivo para a sua saúde. Além disso, os trabalhadores passam a ter um ambiente de trabalho com temperatura mais amena e com redução de odores (Newcomb, 2006; Prowell e Hurley, 2007). Melhoria do ambiente de trabalho na pavimentação Com o uso de misturas mornas os operários de pavimentação ficam menos expostos às emissões asfálticas, sendo este um fator positivo para a sua saúde. Além disso, os trabalhadores passam a ter um ambiente de trabalho com temperatura mais amena e com redução de odores (Newcomb, 2006; Prowell e Hurley, 2007). Diminuição do consumo energético Como a temperatura de produção das misturas mornas é mais baixa que as misturas a quente, há uma redução da quantidade de combustível necessário no processo usinagem (Newcomb, 2006; Prowell e Hurley, 2007). Menor envelhecimento do asfalto A usinagem é uma fase onde ocorre grande parte do envelhecimento do ligante (Bernucci et al., 2008) e, deste modo, a diminuição da temperatura nesta etapa pode levar a uma menor oxidação do asfalto, reduzindo o endurecimento da mistura, aumentando a resistência à fadiga e elevando a durabilidade do pavimento em longo prazo (Newcomb, 2006; Prowell e Hurley, 2007). 2 - Estudo laboratorial: Materiais e métodos 2.1 – Materiais Os agregados foram obtidos na pedreira Serveng Barueri (origem granito/gnaisse), proprietária da usina de asfalto em que seria produzida a mistura morna do trecho experimental. Para a composição da curva granulométrica (Figura 1) foram utilizados 14% de brita 1, 45% de pedrisco, 39,5% de pó-de-pedra e 1,5% de cal CH-I (mistura seca), com enquadramento na Faixa C do Dnit (Dnit ES031, 2006). Fig. 1 - Curva granulométrica 100 Porcentagem passante (%) Uso de maiores quantidades de material fresado Como a quantidade de material fresado em uma mistura reciclada normalmente é limitado (até cerca de 25%) devido à questão da temperatura, o emprego de misturas mornas pode favorecer a adição de maiores percentuais (Olard, 2008; Prowell e Hurley, 2007). Menor dificuldade de aplicação em épocas ou locais de clima muito frio e maior habilidade de transporte por longas distâncias O emprego de misturas mornas pode ser favorável nas situações em que há grande preocupação com a queda significativa de temperatura da mistura, que acarretam em dificuldades de compactação e em perda de material, uma vez que a taxa de esfriamento é dada pela diferença de temperatura entre a mistura asfáltica e o meio ambiente. Neste caso, a mistura produzida em temperatura mais baixa esfria sob uma taxa menor, possuindo menor gradiente térmico que uma mistura mais quente (Newcomb, 2006; Prowell e Hurley, 2007). Para que seja possível fabricar misturas asfálticas em temperaturas mais baixas que aquelas convencionais a quente, normalmente empregam-se aditivos químicos, que são inseridos no ligante ou na mistura, e/ou faz-se uma alteração do processo de usinagem para a produção de asfalto espumado com água (Prowell e Hurley, 2007). Como se trata de um tipo de técnica de pavimentação relativamente recente, diversos estudos vêm sendo desenvolvidos em escala laboratorial, além da aplicação em trechos experimentais. Dentro deste contexto, esta pesquisa tem o objetivo de avaliar, em laboratório e em campo, uma mistura asfáltica morna produzida com aditivo químico surfactante, introduzindo este novo tipo de tecnologia na Concessionária NovaDutra. No estudo de laboratório compara-se o comportamento da mistura morna com a mistura em temperatura quente convencional, por meio de ensaios de resistência à tração por compressão diametral e deformação permanente, além de verificação da habilidade de compactação e do dano por umidade induzida. Já em pista, tem-se a aplicação da mistura morna em um trecho experimental na Rodovia Presidente Dutra, com o acompanhamento da produção em usina, da execução e do controle tecnológico (compactação). No mais, têm-se ainda testes em laboratório de resistência à tração por compressão diametral realizados com corpos de prova extraídos de pista, além de levantamentos das condições funcionais e estruturais do pavimento (irregularidade, macro e microtextura e deflexões) antes e após a execução do trecho experimental com mistura morna. Cabe mencionar que esta pesquisa se insere em um estudo mais amplo com misturas mornas, em comparação com misturas a quente convencionais, apresentado por Motta (2011). Curva granulométrica do estudo Faixa C DNIT 80 60 40 20 0 0,0 0,1 1,0 10,0 100,0 Abertura das peneiras (mm) Já o ligante empregado na pesquisa se tratava de um CAP 30-45, procedente da refinaria Replan/Petrobras (Paulínia – SP), cujos testes em viscosímetro rotacional Brookfield (ASTM D4402, 2006) indicaram que as temperaturas de usinagem e compactação de misturas convencionais a quente com este asfalto deveriam ser de 160 e 150°C, respectivamente. No caso da mistura morna, considerou-se que esta última seria produzida com redução de 25°C na temperatura de usinagem, em relação à mistura a quente. A Tabela 1 aponta as temperaturas utilizadas neste estudo (indicadas como T). No que se refere à dosagem, primeiramente foi feita a da mistura a quente, por método Marshall (NBR 12891, 1993), tendo sido realizada no laboratório da concessionária. Neste projeto de mistura, para um volume de vazios de 4,2%, o teor de ligante indicado foi de 5,0%. A partir da dosagem da mistura a quente, considerou-se que a mistura morna seria produzida com a mesma configuração de materiais, mas com redução do aquecimento dos agregados (para diminuição da temperatura de usinagem) e utilização do aditivo para mistura morna. Nesta pesquisa foi usado o aditivo surfactante líquido Gemul Tabela 1 – Temperaturas de usinagem e compactação T ligante [oC] T agregados [oC] T final usinagem [oC] Mistura a quente 160 170 160 Mistura morna 160 135 135 ΔT usinagem [oC] 25 T final compactação [oC] 150 125 ΔT compactação [oC] 25 www.revistaoempreiteiro.com.br | 65 Pavimentação XT14, em uma taxa de 0,3% (em relação à massa de asfalto), introduzido e misturado ao ligante antes da usinagem. 2.2. Estudo laboratorial 2.2.1. Habilidade de compactação Segundo Bernucci et al. (2009), para que a compactação de uma mistura asfáltica ocorra de maneira eficiente é preciso atentar para um aspecto fundamental, que é a temperatura adequada no momento da densificação, pois se for muito baixa o ligante se torna plástico e pegajoso, dificultando a compressão da mistura e a obtenção de um estado mais denso. Tendo-se em vista que a produção e a compactação de misturas mornas ocorrem em temperaturas mais baixas que o usual, este é um importante parâmetro a ser verificado. Neste caso, quanto maior a porcentagem de vazios, maior seria a dificuldade de densificação. A densificação foi avaliada em laboratório por meio do volume de vazios (VV), obtido por pesagem hidrostática (AASHTO T166, 2007) de corpos de prova das misturas morna e a quente (moldadas em compactador Marshall com 75 golpes por face), onde em cada caso foram preparados quatro corpos de prova. A Tabela 2 apresenta o VV das misturas morna e a quente, juntamente com o desvio padrão (dp). De modo complementar, foi feita uma análise de variâncias (ANOVA) para determinar se a mistura morna seria considerada estatisticamente igual ou diferente da mistura de referência. Tabela 2 – Resultado de habilidade de compactação (volume de vazios) VV (± dp)[%] ANOVA Mistura a quente 6,3 (± 0,3) Mistura morna 6,6 (± 0,2) Estatisticamente iguais O resultado demonstrou que a mistura morna apresentou comportamento semelhante ao da mistura a quente quanto à habilidade de compactação (em compactador Marshall). 2.2.2. Resistência à tração por compressão diametral A resistência à tração (RT) por compressão diametral é um parâmetro muito utilizado no Brasil para a caracterização de misturas asfálticas e, de acordo com a DNIT ES031 (2006), deve ser de no mínimo 0,65 MPa (a 25°C) em concretos asfálticos destinados a camadas de rolamento ou de binder. Nesta pesquisa a RT foi avaliada por meio de ensaio de carregamento estático a 25°C, seguindo as recomendações da NBR 15087 (2004), com corpos de prova Marshall das misturas morna e a quente, sendo que em cada caso foram preparados quatro corpos de prova. A Tabela 3 apresenta o número de corpos de prova usados, a RT e o VV das misturas morna e a quente, em conjunto com seus desvios padrão. Cabe mencionar que um problema de controle de temperatura de moldagem levou a uma diferença significativa de VV de ambas as misturas e teve impacto sobre a RT. 66 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012 Tabela 3 – Resultado de resistência à tração por compressão diametral RT (± dp) [MPa] VV (± dp) [%] Mistura a quente 1,90 (± 0,05) 4,8 (± 0,3) Mistura morna 1,39 (± 0,02) 6,3 (± 0,2) Com efeito, o resultado demonstrou que a RT da mistura morna foi inferior ao da mistura a quente devido à diferença de VV (gerada na moldagem). Contudo, caso o VV de ambas fosse semelhante, a RT também seria análoga. Por outro lado, quando há a comparação com a RT mínima apontada em DNIT ES031 (2006), verifica-se que a mistura morna apresentou valor bastante acima daquela, indicando bom comportamento nesta propriedade mecânica. 2.2.3. Deformação permanente em trilha de roda Como a deformação permanente é um dos defeitos mais comuns da pavimentação asfáltica (Bernucci et al., 2008), se fez pertinente a avaliação deste parâmetro mecânico neste estudo, com o ensaio de afundamento em trilha de roda realizado em simulador de tráfego francês, conforme a norma europeia EN 12697-22 (2003a). Para cada mistura asfáltica (morna e a quente) foi utilizado um par de corpos de prova em forma de placas (cada qual com 5 cm de espessura × 18 cm de largura × 50 cm de comprimento), que foram moldadas em mesa compactadora francesa, segundo descrito na especificação EN 12697-33 (2003b). No Brasil, tem-se procurado estabelecer valores máximos de afundamento em trilha de roda em torno de 5% (aos 30.000 ciclos), devido às condições prevalecentes no país, já que o clima e o tráfego são desfavoráveis quanto à deformação permanente. Este limite vem sendo utilizado desde 1994 no LTP/Epusp, ano este em que foram feitos os primeiros testes com este simulador no país. A Figura 2 apresenta a evolução da deformação permanente das misturas morna e a quente (valor médio do par de placas) até 30.000 ciclos. O resultado demonstrou que a mistura morna apresentou comportamento similar ao da mistura a quente quanto ao potencial para afundamento em trilha de roda. No mais, o valor da deformação permanente após 30.000 ciclos se mostrou próximo ao recomendável. 2.2.4. Dano por umidade induzida O dano por umidade induzida é um importante parâmetro a ser verificado em estudos com misturas mornas, já que estas podem estar mais sujeitas ao efeito stripping, devido à secagem menos efetiva dos agregados (pela redução de temperatura). Nesta pesquisa, a resistência ao dano por umidade induzida das misturas morna e a quente foi avaliada por meio da AASHTO T283 (2007), tendo-se optado pela condição de ensaio mais severa, onde os corpos de prova condicionados à água são submetidos a uma etapa de congelamento. Com a realização deste teste, a norma DNIT ES031 (2006) determi- 3 - Trecho experimental na Rodovia Presidente Dutra Fig. 2 - resultado de deformação permanente em trilha de roda Deformação permanente (%) 10 Mistura morna Mistura quente 5 0 100 1000 10000 100000 Ciclos Ciclos 100 300 1.000 3.000 10.000 30.000 Defornação permanente (%) Mistura a quente 1,6 2,1 2,6 3,2 3,9 4,7 Mistura morna 1,3 1,7 2,3 3,0 4,0 5,3 na que a resistência retida à tração (RRT) mínima deve ser de 0,7 (ou seja, a perda máxima de resistência deve ser de 30% após o condicionamento, em relação ao valor de referência). Na ocasião do trecho experimental, havia receio de que a redução de temperatura somada à pavimentação noturna pudesse eventualmente dificultar a compactação em campo. Deste modo, indicou-se a princípio que a mistura morna fosse preparada com um acréscimo de 0,4% de ligante, acreditando-se que isto pudesse favorecer a lubrificação da mistura e melhorar a densificação naquele caso. Com isto, o ensaio de dano por umidade induzida foi realizado somente com a mistura morna usinada com 5,4% de ligante (ao invés de 5,0% de projeto). A Tabela 4 apresenta a RT e o VV de cada grupo (condicionado e não condicionado à água) das misturas morna e a quente, em conjunto com os desvios padrão, e seus valores de RRT. O resultado demonstrou que a mistura morna apresentou comportamento semelhante ao da mistura a quente quanto à resistência ao dano por umidade induzida. Além disso, seu valor de RRT foi considerado satisfatório quando comparado ao limite mínimo especificado na norma do DNIT supracitada. O trecho experimental de mistura morna foi executado no km 225 da Rodovia Presidente Dutra (altura da cidade de Guarulhos, Grande São Paulo), na faixa 1 da pista expressa sul (sentido São Paulo), cabendo mencionar que esta via se caracteriza por tráfego muito pesado. 3.1. Condição inicial Antes da obra, a concessionária NovaDutra realizou levantamentos das condições superficiais, estruturais e funcionais do pavimento, por meio da observação de defeitos, deflexões e irregularidade longitudinal, respectivamente. Entre os km 225 e 226, na faixa 1 em questão, os defeitos verificados se tratavam de trincas (fissuras) longitudinais e transversais longas. Já quanto às deflexões, estas foram obtidas com equipamento Falling Weight Deflectometer (FWD) e indicaram valores entre cerca de 10 e 35 × 10-2 mm (considerados baixos), que foram inferiores à deflexão máxima admissível calculada de 41,3 × 10-2 mm. Por fim, a irregularidade longitudinal foi levantada com perfilômetro laser para a determinação dos índices QI (Quociente de Irregularidade) e IRI (International Roughness Index). Segundo o Manual de Restauração de Pavimentos Asfálticos do DNIT (2006), o pavimento deve apresentar um QI e um IRI de, no máximo, 35 cont/km e 2,7 m/km, respectivamente, para ter um conceito bom quanto à irregularidade longitudinal. Nesta pesquisa, os valores de QI e de IRI se situaram aproximadamente entre 25 e 100 cont/km e entre 2,0 e 7,5 m/km, nesta ordem. Dentro deste contexto, o projeto de restauração indicou uma fresagem e recomposição de 6 cm naquele local. 3.2. Produção em usina e aplicação da mistura morna em pista O trecho experimental foi executado na Rodovia Presidente Dutra de forma noturna, em novembro de 2009. A mistura morna foi preparada na usina de asfalto Serveng Barueri (gravimétrica), tendo sido fabricada do mesmo modo que uma mistura convencional, com exceção da temperatura e da introdução do aditivo surfactante no tanque de ligante previamente à usinagem (sendo mantido sob agitação até o momento da utilização). A usinagem da mistura morna pôde ser efetuada a 135°C, com redução de temperatura de 25°C m relação a uma mistura a quente (como em laboratório). Ao final, os agregados aparentavam estar bem envolvidos pelo ligante. Como se comentou no item anterior, em se tratando de uma primeira experiência de campo com mistura morna na Rodovia Presidente Dutra, Tabela 4 – Resultado de resistência ao dano por umidade induzida RT (± dp) [MPa] VV (± dp) [%] Grupo não condicionado * Grupo condicionado* RT (± dp) [Mpa] VV (± dp) [%] RRT Mistura a quente 1,65 (± 0,03) 64 (± 0,2) 1,49 ((± 0,08) 6,9 (± 0,3) 0,90 Mistura morna** 1,18 (± 0,14) 6,9 ((± 0,6) 1,05 (± 0,04) 6,5 (± 0,3) 0,89 * Cada grupo continha 4 corpos de prova / ** Com teor de ligante de 5,4% www.revistaoempreiteiro.com.br | 67 Pavimentação receava-se que houvesse uma eventual dificuldade de compactação em pista e, assim, por fim indicou-se que tivesse um pequeno incremento da quantidade de ligante na mistura morna, em relação ao projeto original. Neste caso, o controle tecnológico de obra apontou que a quantidade de asfalto efetivamente empregada na mistura morna foi de 5,2% (verificada por extração e recuperação do ligante pelo método Abson). Em pista, a execução do trecho experimental com a mistura morna se deu sob uma temperatura ambiente de cerca de 15° C, ao longo de pouco mais de 300 m. Da Figura 3 à Figura 5 têm-se algumas imagens desta obra, cuja compactação foi realizada do mesmo modo que seria com uma mistura convencional a quente (método executivo), mas com temperatura de aproximadamente 120°C. Fig. 3 - Aparência da mistura morna Fig. 4 - Espalhamento da mistura morna Fig. 5 - Compactação da mistura morna (rolos de pneus e metálico, respectivamente) 3.3. Controle tecnológico de compactação e espessura O controle tecnológico de compactação e espessura do trecho experimental com mistura morna foi realizado por meio de corpos de prova extraídos de pista logo após a obra (quatro amostras). Neste caso, foram avaliados os parâmetros de grau de compactação (GC), volume de vazios (VV) e espessura (e), cujos valores médios e desvios padrão estão indicados na Tabela 5. Tabela 5 – Resultado de controle tecnológico de compactação e espessura GC (± dp) [%] VV (± dp) [%] e [cm] 99,7 (± 1,2) 4,2 (± 1,2) 6,7 (± 0,5) Com relação ao GC, a norma DNIT ES031 (2006) determina que este deve se situar entre 97 e 101%. Com isto, nota-se que a mistura morna alcançou tal objetivo. Já segundo as especificações de projeto, o VV deveria se situar entre 2,5 e 7,5%, enquanto a camada deveria ter uma espessura aci68 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012 ma de 5,7 cm (95% de 6 cm). Deste modo, verifica-se que a mistura morna atendeu tais limites, levando o trecho a ser aprovado por compactação e espessura. 3.4. Resistência à tração de corpos de prova extraídos de pista Após um mês da obra, bem como depois de onze meses desta, foram extraídos corpos de prova do trecho experimental de mistura morna para determinação de sua RT. Os resultados desta propriedade mecânica, bem como o VV em cada situação são apresentados na Tabela 6, juntamente com obtido nos estudos em laboratório. Cabe mencionar que cada valor se refere a uma média de quatro corpos de prova. Tabela 6 – Resultado de resistência à tração por compressão diametral de corpos de prova extraídos do trecho experimental e dos estudo laboratoriais RT (± dp) [MPa] VV (± dp) [%] Corpos de prova extraídos após um mês 1,74 (± 0,13) 4,3 (± 1,4) Corpos de prova extraídos após 11 meses 1,71 (± 0,12) 4,4 (± 0,9) Mistura morna em laboratório 1,39 (± 0,02) 6,3 (± 0,2) Mistura a quente em laboratório 1,90 (± 0,05) 4,8 (± 0,3) Ainda que, devido a um problema de controle de temperatura de moldagem, a mistura morna em laboratório tenha apresentado maior VV e, por consequência, sofrido redução da RT, os resultados de pista demonstraram ser equiparáveis àqueles laboratoriais da mistura a quente, além de estarem notavelmente acima do mínimo requerido na especificação do DNIT (0,65 MPa, como mencionado no item 2.2.2). Por fim, verificou-se também que a RT se manteve em um mesmo patamar até após quase um ano da execução do trecho experimental. 3.5. Irregularidade longitudinal Após sete meses da execução do trecho experimental, fez-se um novo levantamento da irregularidade do pavimento, com perfilômetro laser, para a determinação dos índices QI e IRI. Os resultados estão ilustrados na Figura 6, juntamente com os valores obtidos antes da obra e com os admissíveis, recomendados pelo Manual de Restauração de Pavimentos Asfálticos do DNIT (2006). Observa-se que o novo revestimento trouxe melhoria das condições de irregularidade, que apresentava pontos acima do admissível antes da obra, tanto de QI quanto de IRI. 3.6. Macro e microtextura superficial Após três meses da execução do trecho experimental, foram feitos ensaios em pista para observar as condições superficiais do revestimento asfáltico em termos de macro e microtextura, por meio de ensaios de mancha de areia (ASTM E965-06) e de pêndulo britânico (ASTM E303-08). Segundo Bernucci et al. (2008), tem-se recomendado que a ma- Fig. 6 - RESULTADO DE QI E IRI ANTES E APÓS A EXECUÇÃO DO TRECHO EXPERIMENTAL Nota-se que a macro e a microtextura do trecho TRECHO experimental foi classificada como média, o que deQI antes da obra 90 EXPERIMENTAL QI depois da obra corre da graduação densa usada, não havendo relação 80 QI admissível com o tipo de asfalto empregado. IRI antes da obra 70 IRI depois da obra Neste caso, o uso de uma granulometria com al60 IRI admissível guma descontinuidade seria interessante para aumen50 tar a rugosidade do pavimento e, por consequência, a 40 aderência. 30 3.7. Deflexões 20 Após oito meses da execução do trecho experimen10 tal foi feito um novo levantamento de deflexões com 0 equipamento FWD, cujos resultados são apresentados na Figura 7, juntamente com os valores obtidos antes da obra. Local (km) Os resultados demonstraram que as deflexões após a execução do trecho experimental se mantiveram com crotextura de pavimentos asfálticos se situe entre 0,6 mm e 1,2 mm de um perfil de certa forma semelhante àquele observado antes da obra, altura média de mancha de areia (HS), enquanto que o valor de resistência à derrapagem (VRD) mínimo recomendado é de 47 no pêndulo com valores dentro do admissível. britânico, a fim de garantir ao menos uma microtextura medianamente rugosa relativa à aderência. Nesta pesquisa os levantamentos foram feitos em alguns pontos do trecho experimental, bem como no revestimento antigo (localizado antes do segmento de mistura morna) para comparação, cujos resultados médios são apresentados na Tabela 7. 226,000 225,900 225,800 225,700 225,600 225,500 225,400 225,300 225,200 225,100 225,000 IRI (m/km) QI (cont/km) 100 4 - Conclusões e comentários finais 40 20 226,000 225,900 225,800 225,700 225,600 225,500 225,400 225,300 225,200 225,100 0 225,000 Deflexão (0,01 mm) Esta pesquisa avaliou, inicialmente em escala laboratorial, uma mistura asfáltica morna produzida com aditivo surfactante, em comparação com uma mistura a quente (convencional), sendo ambas preparadas com agregados com distribuição granulométrica contínua (Faixa C Dnit) e CAP 30-45. Os ensaios laboratoriais indicaram que a mistura morna apresenTabela 7 – Resultado de macro e microtextura tou, no geral, comportamento semelhante ao da mistura a quente, no trecho experimental em termos de habilidade de compactação, resistência à tração por VRD HS (± dp) Classificação Classificação compressão diametral, deformação permanente e dano por umidade (± dp) [mm] induzida. Os resultados foram considerados satisfatórios. Revestimento 0,41 Média 39 Lisa antigo (± 0,06) (± 4) Por outro lado, de modo a introduzir esta nova tecnologia de paTrecho 0,52 Média 40 Insuficientemente vimentação na Concessionária NovaDutra, esta mistura morna foi enexperimental (± 0,06) (± 6) rugosa tão aplicada em campo, na Rodovia Presidente Dutra. A produção da mistura em usina e a execução em pista não indicaram dificuldades executivas adicionais e ocorreram do mesFig. 7 - Resultado de deflexão com FWD antes e após mo modo que seria com uma mistura convencional. a execução do trecho experimental Os resultados de testes posteriores com corpos de 100 TRECHO Deflexão antes da obra prova extraídos de pista no controle tecnológico aponEXPERIMENTAL Deflexão após a obra taram valores satisfatórios. Ademais, os ensaios para 80 Deflexão admissível avaliação funcional e estrutural do pavimento, antes e após a obra, também indicaram resultados aceitáveis. 60 Local (km) *Autores: Rosângela Motta e Liedi Bernucci (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo - Departamento de Engenharia de Transportes) Valéria Cristina de Faria e Décio de Rezende Souza (Grupo CCR) José Fernando Leal (Quimigel – Divisão Química) www.revistaoempreiteiro.com.br | 69 Sustentabilidade | Amazônia Explorar e crescer, mas preservar a floresta: o dilema amazônico Foto: José Luis da Conceição/AE O aumento do interesse pelas riquezas da floresta, recursos hídricos e reservas minerais mantém a sustentabilidade da Amazônia na ordem do dia A ampliação de áreas de pastagem para a criação de gado é uma das principais causas do avanço do desmatamento na região 70 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012 Marisa Marega, com colaboração de Aghane Carvalho – Manaus (AM) H á quem acredite no pior cenário, com a destruição acelerada da floresta e a ampliação da miséria da população. Mas há quem aponte para um quadro completamente inverso, com a perspectiva de criação de uma economia forte, crescimento sustentável e preservação de grandes extensões de área verde. Contudo, há um cenário mais realista: conservação da floresta em grande escala, custeada por grandes empresas com operações na região; remuneração internacional para projetos ambientais, e polos isolados de desenvolvimento, fortalecidos principalmente pelos empreendimentos já instalados e outros que venham para a região. O momento atual, no entanto, ainda é de dependência econômica de outras regiões do País, destruição gradual da floresta com avanço do desmatamento, inclusive em áreas protegidas, e a continuidade da pobreza. Diante das controvérsias seculares sobre o destino da Amazônia, a pergunta que se faz é o seguinte: Ela será capaz de reinventar a sua economia, estruturando-se a partir das pesquisas e evolução do banco genético da floresta, das novas conquistas da energia hidrelétrica e dos modernos processos de extração e processamento de minério na região, com políticas públicas eficazes voltadas para a população? Enfim, como ficará a floresta nas próximas décadas? Fotos: Augusto Diniz A população dos municípios ribeirinhos, incluindo os moradores em casas flutuantes, sobrevivem sem quaisquer condições de saneamento ou de equipamentos urbanos particularidades, o que dá um “tempero” a mais nas discussões em torno do futuro da região, lembra o professor Alex Fiúza de Mello, reitor da Universidade Federal do Pará, que organizou o livro “O futuro da Amazônia: dilemas, oportunidades e desafios no limiar do século XXI”. “A abundância em minérios, potencial pecuário, alta produtividade agrícola capaz de ocupar importante papel no cenário mundial, entre outras características, colocam a região amazônica diante do grande desafio que é o desenvolvimento sustentado”, avalia. Segundo estudo do Instituto de pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), já há propostas com base no desenvolvimento econômico e social da região, principalmente com foco no agronegócio em grande escala e outras voltadas às necessidades das populações locais. Elas integram o Plano Amazônia Sustentável (PAS), meio do qual o governo pretende superar os erros de políticas anteriores ali adotadas. O debate em torno dos esforços para a conservação da Amazônia frente ao desmatamento e sua sinergia com outras atividades, como, por exemplo, o mercado de terras na região, levanta questionamentos sobre o custo da supressão vegetal. Batalha pelo desenvolvimento sustentado A região amazônica possui a mais importante bacia hidrográfica do mundo e a maior floresta com reserva de biodiversidade do planeta. Também abriga outras não menos importantes Mercado de terras x supressão vegetal é um dos dilemas a serem enfrentados na Amazônia www.revistaoempreiteiro.com.br | 71 Sustentabilidade | Amazônia A transformação sustentável de bens da floresta é vista como uma das saídas ao desenvolvimento local Fotos: Augusto Diniz “O fator agravante para a perda anual da cobertura florestal tem sua causa no baixo valor das terras na região, o que torna a expansão da pecuária mais lucrativa ali que em outros lugares. Assim, as áreas ocupadas pela pecuária proporcionam ganhos ao pecuarista, que promove aumento do rebanho, e consequentemente, novos desmatamentos para dar lugar a mais pastagens”, explica o pesquisador Leandro Ferreira, do Museu Emílio Goeldi (PA). Por conta dos efeitos do desmatamento, especialistas alertam que pode ocorrer o assoreamento dos rios, córregos, lagoas e a degradação do solo. De acordo com estudo do IPEA, as atividades consideradas responsáveis pelo desmatamento são: pecuária bovina, agricultura de grãos, principalmente de soja, arroz e milho, e a carência de fiscalização na extração e venda de madeira irregular de várias formas – tora, carvão e lenha, que geram, ainda, intensa disputa pela posse de terra. 72 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012 O plano do governo é transformar o País em uma “potência florestal” em até 10 anos, segundo estudo coordenado pela Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE). A iniciativa prevê a liberação de terras ocupadas pela pecuária, além de áreas já degradadas. Essas áreas, dadas às circunstâncias, teriam preços mais baixos e produtividade mais alta o que tornaria a pastagem mais lucrativa. A ideia do governo, ainda em discussão, é disponibilizar áreas de terras que seriam muito provavelmente usadas para a criação de gado e para atividades de expansão de florestas plantadas. No entanto, a facilidade de comércio de terras na região, somada à ausência de fiscalização efetiva, provocaria a corrida à posse da terra, com seu imediato desmatamento como forma de garantir a propriedade. Ações em favor do desenvolvimento combinado com a conservação da natureza constam do Plano Nacional de Mudanças Climáticas, que visa substituir o uso de carvão mineral e vegetal de origem ilegal, além da venda de créditos de carbono no mercado internacional. O desenho desse mercado nasce com o Protocolo de Kyoto, de 1997, que levou adiante a ideia de criar o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. O modelo combina o pagamento dos países industrializados em troca de créditos de carbono produzidos na floresta. Também há planos de se substituir, por meio da Política Nacional de Florestas Plantadas, o diesel usado na operação de pequenas usinas térmicas na Amazônia por biomassa de madeira, além de diversos estudos, conduzidos pela Embrapa, Instituto Emílio Goeldi, entre outros, para aprimorar os avanços genéticos e técnicas de resgate e conservação de germoplasma (DNA da vegetação) para o futuro do ecossistema da Amazônia, considerado único no planeta. O Plano Decenal de Expansão de Energia 2020, lançado pela Empresa de pesquisa Energética (EPE), prevê que o Brasil terá de expandir em 53.200 MW a capacidade instalada para geração em hidrelétricas e termelétricas - as duas fontes básicas do País, até o fim da década. Desse total, 18.100 MW dizem respeito a projetos que ainda necessitarão passar pelo licenciamento ambiental e por leilões organizados pelo governo. A maior parte dessa expansão prevista será na Amazônia. O total de investimentos para o cumprimento do megaprojeto é de R$ 236 bilhões entre 2011 e 2020. Estão previstos R$ 190 bilhões em geração e R$ 46 bilhões em transmissão. Com a expansão, a participação da região no Sistema Interligado Nacional passará de 10% da capacidade instalada do país para 23% até 2020. Ou seja, o governo federal espera que a potência instalada na Amazônia chegue a 38.800 MW, um crescimento de 265%, o maior do País na década. Maurício Tolmasquim, presidente da EPE, afirma que o governo demandará compensações para minimizar impactos. Mas essas compensações não impedem que alguns trechos dos projetos alcancem terras indígenas e áreas de preservação. Isso certamente pesará na lentidão para a obtenção dos processos de licenciamento. Tolmasquim, porém, explica que a exploração do potencial hídrico na região Norte do País já é pautada com base no tripé sustentabilidade ambiental - desejabilidade social - viabilidade econômica. “Foi possível ver esta lógica nas discussões em torno das usinas de Jirau e Santo Antônio, no rio Madeira (RO); e de Belo Monte, no rio Xingu (PA). São projetos que passaram por longos e amplos processos de debates públicos. Cerca de 2/3 do potencial hídrico brasileiro Tolmasquim afirma que Brasil não poderá abrir mão dos recursos hídricos da Amazônia ainda a ser explorado está localizado na região Norte. Trata-se de um recurso renovável, abundante e barato, do qual o Brasil não poderá abrir mão de pelo menos uma parte. Apesar de a diversificação na exploração de outras fontes de geração de energia ser um processo contínuo e crescente no Brasil já nos dias de hoje, a energia hidráulica permanecerá como a mais importante da nossa matriz elétrica nos próximos anos”, explica. Para reduzir a resistência de ambientalistas, uma concessão já foi anunciada: haverá diminuição no tamanho das usinas. A secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia calcula que 80.000 MW, dos 260.000 MW em capacidade instalada de hidrelétricas ainda disponíveis no Brasil, serão abandonados em razão dessa restrição ao porte das usinas. Os especialistas acham que é o mínimo a ser feito diante do choque ambiental que esses projetos provocarão na Amazônia. De outro lado, os desenvolvimentistas do setor elétrico acreditam que a redução do tamanho das usinas é desperdício diante da necessidade futura que o Brasil terá de geração de energia. Fotos: Augusto Diniz Geração de energia cria controvérsias www.revistaoempreiteiro.com.br | 73 Sustentabilidade | Amazônia Hoje, o País tem 110.000 MW em capacidade de geração quando somadas todas as fontes de energia disponíveis. Até o fim da década, para atender toda a demanda prevista, terá que entregar 171.000 MW em potencial de geração. Para dar uma ideia do tamanho do empreendimento que se terá pela frente, é o mesmo que dizer que até 2020 será necessária a instalação de quatro usinas de Itaipu. Só que até aqui, obstáculos como a concessão de licenças ambientais fazem com que 20% das usinas já contratadas ainda estejam sem previsão de quando entrarão em operação — obras estas que já sofreram atrasos ou nem foram iniciadas. Mesmo com todos os desafios apontados, o presidente da EPE garante que a médio prazo a situação é de tranquilidade tanto do ponto de vista dos reservatórios quanto das condições estruturais. “A situação energética do Brasil hoje, do ponto de vista hidrológico, é excepcionalmente boa e fazia muito tempo que a gente não vivia um momento tão positivo”, expõe. Ele avalia ainda que o País tem total garantia de atendimento à demanda mesmo que a situação hidrológica não se mantenha tão favorável. “A nossa realidade hoje é essa: a oferta é muito maior do que a demanda. Então, independentemente da evolução dos reservatórios, há tranquilidade. O Brasil conta com um manancial invejável de opções energéticas que fazem da nossa matriz a mais limpa do mundo”, afirma. Somente programas que explorem a vocação local podem garantir a melhoria das condições de vida, sem agressão à natureza 74 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012 De acordo com as projeções do Plano Decenal de Expansão de Energia – PDE 2020, se por um lado a participação das hidrelétricas cairá de 76% para 67% nos próximos dez anos, a geração oriunda de fontes alternativas – como a de usinas eólicas, de térmicas à biomassa e de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) – vai dobrar, passando de 8% para 16%. A geração eólica será destaque, aumentando de 1% para 7%. Com isso, a fatia de fontes renováveis se manterá em torno de 83% ao final do decênio. Além disso, projeta-se para o período decenal a manutenção da forte expansão da demanda de etanol no mercado brasileiro. A demanda deste combustível deverá triplicar nessa década, passando de 27 bilhões de l em 2010 para 73 bilhões em 2020 – incluindo 6,8 bilhões de l para exportação. Jorge Samek, diretor-geral brasileiro de Itaipu, defendeu recentemente opção do governo federal pela construção de novas usinas hidrelétricas, como as dos rios Madeira, Tapajós e Xingu, todas na região Norte. Para ele, os novos investimentos têm potencial para aliar desenvolvimento econômico e preservação do meio ambiente. No último Congresso Mundial da International Hydropower Association (IHA), realizado em Foz do Iguaçu (PR), ele explicou: “Hoje temos de agregar, a cada três anos, uma Itaipu para sustentar o nível de crescimento que queremos. É bom lembrar que o consumo atual de energia do brasileiro é sete vezes menor que o do norteamericano e quatro vezes e meia abaixo que a média do europeu. Não significa que queremos alcançar o nível de consumo exagerado dos norte-americanos, mas muitos brasileiros ainda não contam com serviços elétricos básicos. E, para que isso aconteça, temos que dotar o Brasil de mais energia”. Samek lembrou ainda que somente 30% do potencial hidrelétrico são explorados no Brasil e os 70% a serem explorados estão na Amazônia. “O País tem outras fontes de energia, como a proveniente da cana-de-açúcar e amplo potencial eólico e solar. Sem contar as fontes não renováveis. Todos os países desejariam ter a matriz larga que nós temos. Podemos escolher”, aponta. Fotos: Augusto Diniz Consumo de energia na década requer mais quatro Itaipus Embrapa à frente para conservar a variedade de espécies O banco de germoplasta do guaraná na Amazônia é o único existente no mundo A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) vem estudando o manejo e conservação dos recursos genéticos em várias regiões do País, onde mantém bancos de plantas ativos de germoplasma. No Amazonas, a Embrapa Amazônia Ocidental mantém dez Bancos Ativos de Germoplasma onde estão caracterizadas amostras de vegetais importantes para a região visando preservar a ampla variedade genética desses materiais para estudos. Os Bancos Ativos de Germoplasma (BAG) tem o objetivo de manter amostras de diferentes espécies acessíveis à pesquisa. Além disso, eles possibilitam investigações para a melhoria das variedades de plantas, tanto no aumento de produtividade como na resistência às doenças e benefícios alimentares. O chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Amazônia Ocidental, Celso Azevedo, explica: “Um BAG é constituído em longo prazo, portanto, é uma infraestrutura permanente, um patrimônio, que promove inovação, agregação de valor que disponibiliza germoplasma para programas de melhoramento genético, fitotecnias, biotecnologia e inclusão socioeconômica”. O pesquisador detalha a iniciativa: “Entre os BAGs, existem acervos exclusivos de plantas de extrema importância para a biodiversidade. O banco de germoplasma do guaraná (Paulínia cupana var.sorbilis), por exemplo, é o único do mundo e está no Amazonas. É um importante patrimônio uma vez que não há registros da ocorrência de populações naturais de guaranazeiro em outras regiões do País. Já os bancos de dendê (Elaeis guineensis) e de caiaué (Elaeis oleifera) da Embrapa Amazônia Ocidental são os mais completos mantidos no continente americano. A diversidade dessas palmeiras de óleo já permitiu o desenvolvimento de cultivares altamente produtivos e com padrão de qualidade reconhecido internacionalmente”. Na região, a Embrapa também mantém bancos genéticos com variedades de cupuaçu (Theobroma grandiflorum), de mandioca (Manihot esculenta), de plantas medicinais, aromáticas e condimentares, de fruteiras tropicais, que incluem espécies exóticas e nativas da Amazônia, coleção de espécies florestais, de pupunha (Bactris gasipaes) e de Croton sp. e Arrabidaea sp. O BAG de cupuaçu reúne variedades desse fruto coletadas e mantidas em todos os estados da região amazônica. Esses materiais são utilizados no programa de melhoria genética do cupuaçuzeiro e permitem o desenvolvimento de clones com alta produtividade, além de produtos regionais que movimentam a economia. www.revistaoempreiteiro.com.br | 75 Sustentabilidade | Amazônia Edson Barcelos, engenheiro agrônomo que coordena o Programa Nacional de Pesquisa de Dendê e de Projetos de Pesquisas com Melhoramento Genético e bancos de germoplasma afirma que todas as pesquisas estão centradas nos recursos naturais renováveis visando sustentabilidade. “Na natureza, você retira e espera que ela reponha o quanto você retirou, para poder retirar de novo. Todo o segredo da sustentabilidade consiste em manter o equilíbrio e só extrair da melhor forma, sem perdas, aquela quantidade que a natureza, o sistema consegue repor ou consegue recuperar”, expõe. Para manter esse equilíbrio na natureza são necessárias pesquisas já que tradicionalmente na Amazônia o homem vem retirando mais do que repondo. Ele lembra que os bancos ativos de germoplasma são locais onde se reúnem diferentes tipos e formas de uma espécie de potencial e/ou de valor econômico, sobre as quais se conduzem pesquisas de melhoria genética, buscando desenvolver materiais genéticos (variedades, híbridos, clones, linhagens etc.) melhores adaptados às diferentes condições de seu cultivo, apresentando características de interesse comercial e de diferentes usos. “Não existindo pesquisas, não tendo um programa de melhoramento genético, o Banco de Germoplasma não tem função. Tecnicamente o termo Banco de Germoplasma não se aplica ou se destina à conservação ou preservação da biodiversidade e sim à conservação e ao uso da variabilidade genética para fins comerciais, de uma dada espécie de valor comercial e espécies afins ou aparentadas”, explica. Manejo sustentável com benefícios ambientais Em outra vertente de pesquisa, o cientista Leandro Ferreira, especialista em Manejo Florestal do Museu Emílio Goeldi, indica ainda outros ganhos na exploração dos recursos da Amazônia, com conquistas ambientais e sustentabilidade. Ele cita: “A exploração da madeira de baixo impacto com plano de manejo permite a extração de madeiras comerciais preservando grande parte da estrutura da vegetação, pois essa exploração é feita com modernas técnicas de manejo, como o corte de cipós que impede a queda de várias árvores, a escolha de somente poucas espécies por hectare e o arraste de troncos em locais pré-definidos. Essas técnicas permitem que o manejo florestal seja uma atividade econômica e ambientalmente sustentável”. Vontade política para proteger o patrimônio da Amazônia Os cientistas que estudam a Amazônia alertam que há outros pontos ainda a se levar em conta. O físico Ennio Candotti, que foi duas vezes presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e hoje é diretor do Museu da Amazônia, lamenta a falta de decisão política para atuar na região. “Deve-se tomar a 76 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012 decisão política se há interessa em conhecer o patrimônio de biodiversidade que se encontra na região. Em caso positivo, devem ser criadas instituições e formados quadros capazes de transformar o conhecimento difuso em conhecimento sistemático, por vezes útil para desenvolver produtos em outras áreas, propiciar novos conhecimentos. A soberania soCandotti acredita que é bre o patrimônio genético que necessário implantar uma nova as convenções internacionais engenharia na Amazônia atribuem ao Brasil e à Amazônia somente pode ser exercida se conhecermos de que se trata este patrimônio, objetos, plantas, processos, microorganismos, conhecimentos tradicionais, recursos minerais, águas, florestas etc. A Embrapa, por exemplo, dedica à região menos de 10% de seu orçamento”, relata. E continua Ennio Candotti: “Hoje, pouco ainda se fez e os institutos instalados cobrem menos de um centésimo do que seria necessário para dizer quais as dimensões deste patrimônio. Para dar uma ideia, 70% dos artigos científicos e patentes sobre produtos e processos da região são realizados por instituições estrangeiras. O Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA) aguarda das autoridades federais e do Estado há mais de 10 anos uma definição formal para existir e funcionar. Um escândalo pouco divulgado.” O Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA) aguarda das autoridades federais e do Estado há mais de 10 anos uma definição formal para existir e funcionar. Um escândalo pouco divulgado. Construir infraestrutura sem dilapidar o patrimônio físico Para o cientista Candotti, é necessária uma solução inovadora na construção de infraestrutura. “A engenharia pensada e desenvolvida no centro-sul do País não serve para a região amazônica. É uma engenharia do asfalto ou do cimento. É preciso implantar uma engenharia nova aqui, que estude os sistemas de transporte fluvial, as comunicações em atmosfera úmida, a mecânica de fluidos, a construção flutuante, as fontes de energias alternativas: solar ou que explorem a correnteza do rio. Não adianta trazer soluções que precisam de ar condicionado para funcionar. Até a agricultura é diferente, mas... quantos centros da Embrapa existem por aqui? Existe o centro do feijão? Não existe o do Açaí... Isso está sendo feito, mas muito lentamente, em ritmos que exigem 50 anos para amadurecer. Dilapidar o patrimônio será predominante enquanto a Amazônia for pensada como fonte de energia hidroelétrica barata, corredor para o Pacífico, província mineral”, discorre. O pesquisador Leandro Ferreira, do museu Emilio Goeldi, acredita que é necessário estudar bem a região para implantar a infraestrutura e manter o patrimônio. “A implantação de infraestrutura gera impactos ambientais, econômicos e sociais em qualquer lugar do mundo, e na Amazônia não é diferente. O que ocorre aqui é que a implantação dessa infraestrutura normalmente é feita sem que os estudos de impactos ambientais sejam adequadamente realizados. A construção de estradas nas décadas de 60 a 80 permitiu a comunicação via terrestre da Amazônia com outras regiões do Brasil. Contudo, o custo social e ambiental foi muito maior do que os benefícios dessa comunicação”, lembra. A construção de estradas nas décadas de 60 a 80 permitiu a comunicação via terrestre da Amazônia com outras regiões do Brasil. Contudo, o custo social e ambiental foi muito maior do que os benefícios dessa comunicação. Estudos científicos têm demonstrado que mais de 80% do desmatamento na Amazônia estão concentrados nas margens das principais rodovias e estradas vicinais associadas a estas. “Grande parte dessas rodovias foram planejadas para permitir a colonização rápida da Amazônia, possibilitando que migrantes de outras regiões pudessem chegar na região. Atualmente, as melhorias de infraestrutura de estradas estão associadas à necessidade de escoamento da produção de commodities agrícolas e minerais, e não estão ligadas a uma política de melhorar essa infraestrutura para que os colonos vindos de outras regiões, e os que aqui sempre viveram, possam escoar a produção da agricultura familiar para os centros comerciais das cidades. Essa é a questão principal que deve ser estudada: a implantação de infraestrutura na Amazônia não tem sido para o desenvolvimento da mesma, mas sim para permitir uma exploração mais rápida e eficiente dos recursos naturais desse território”, finaliza. www.revistaoempreiteiro.com.br | 77 Sustentabilidade | Amazônia Vanguarda na sustentabilidade conquista o consumidor O pulo do gato veio do modelo de negócio adotado, baseado nas “consultoras” que fazem as vendas dentro de suas redes de relacionamento. Em paralelo, a empresa acentuou o conceito de valorizar e preservar a natureza, quando o tema sustentabilidade ainda não estava tanto em evidência. Assim, a Natura promoveu o uso de embalagens recicláveis, refis e fórmulas biodegradáveis e com essas atitudes passou ao público a imagem definitiva de empresa preocupada com o meio ambiente. Para ampliar o conceito, em 2000, a indústria criou a linha Ekos voltada à preservação da biodiversidade brasileira ao associar a pesquisa científica e inovações tecnológicas ao conhecimento popular dos povos nativos da Amazônia. Já com essa nova linha, em 2004, a empresa abriu seu capital na Bolsa de Valores de São Paulo (BM&F Bovespa), passou sua concorrente internacional, a Avon, em vendas e faturamento, e reafirmou sua marca no mercado brasileiro. Hoje, a Natura é líder no mercado nacional de cosméticos, fragrâncias e higiene pessoal com 22.1% de participação. A Natura tem 4.900 parceiros na rede de fornecedores. Só a linha Ekos 78 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012 tem 25 comunidades produtoras com 2.300 famílias, sendo 16 delas na Amazônia beneficiando 1.495 famílias. Segundo a empresa, o relacionamento com fornecedores “é baseado na criação de cadeias de valor de preço justo, com a remuneração feita pelo uso do patrimônio genético e do conhecimento tradicional, o manejo adequado dos insumos e o incentivo ao desenvolvimento”. Em 2010, a Natura repassou R$ 8,7 milhões para as comunidades fornecedoras, valor 57% superior a 2009. A linha Natura Ekos engloba produtos de perfumaria, higiene pessoal e ambientação tais como sabonetes, xampus, condicionadores, hidratantes e perfumes com a utilização de recursos da biodiversidade brasileira. É inspirada no conhecimento tradicional das propriedades e usos das plantas por parte das populações locais da Amazônia. A empresa trabalha em 14 locais do Amapá, Amazonas, Pará e Rondônia de onde compra 14 matéria-prima para seus produtos: açaí, andiroba, breu-branco, buriti, cacau, capim limão, castanha, cupuaçu, estoraque, maracujá, mate verde, murumuru, pitanga e priprioca. Açai e castanha são algumas das matérias-primas da região transformadas em produtos Desenvolvimento sustentável O presidente da Natura, Alessandro Carlucci, esclarece que a empresa criou um programa para a região amazônica visando o crescimento: “A experiência que acumulamos ao longo de mais de uma década de trabalho e pesquisa nessa região única, nos pôs diante de uma certeza: a de que é pos- sível utilizar as riquezas da Amazônia em harmonia com a natureza, dentro de um modelo sustentável que se opõe ao sistema exploratório e devastador que tem colocado em risco a existência da maior floresta do mundo”. O Programa Amazônia está baseado em três iniciativas: ciência, tecnologia, inovação (CT&I); cadeias produtivas sustentáveis; e fortalecimento institucional. Segundo Carlucci, o projeto “nasceu para gerar novos negócios, e atuar como um catalisador de conhecimentos, além de criar oportunidades para organizar as sociedades locais, ampliando as oportunidades de trabalho e renda envolvendo um número mais expressivo de comunidades e organizações que vivem e atuam na Amazônia Legal Brasileira e latinoamericana”. Daqui até 2013, o foco será expandir a atuação da empresa por meio dos investimentos citados, entre eles, a criação de um Centro de Conhecimento em Manaus (AM) e a expansão da Unidade Industrial de Benevides (PA), com a implantação da mais moderna fábrica de sabonetes das Américas. Marcelo Cardoso, vice-presidente de Desenvolvimento Organizacional e Sustentabilidade, detalha que a Natura enxerga esse investimento como uma das principais iniciativas capazes de mudar a realidade da Amazônia e tornar a região um grande polo mundial de tecnologia e negócios sustentáveis. “O modelo pretende também contribuir para estimular a fixação de pesquisadores e cientistas locais em sua região de origem, através de redes internacionais, envolvendo instituições acadêmicas, de pesquisa tecnológica e científica. O objetivo é envolver em rede mais de mil pesquisadores dessas instituições até 2020 por meio da nossa presença física na cidade de Manaus”, explica. Com as inovações nos campos de CT&I, a Natura pretende também estimular a formação de uma rede com produtores e comunidades agroextrativistas locais, ampliando os negócios a partir dessas cadeias produtivas da biodiversidade ao priorizar o uso de insumos amazônicos em seus produtos, elevando de 10% para 30% sua compra, até 2020. Nesse contexto, deverá dobrar o número de famílias de comunidades tradicionais e agrícolas que participarão de sua cadeia produtiva. A proposta da empresa é estimular a criação de outras cadeias da biodiversidade na região que poderão envolver de 10 a 12 mil famílias até 2020. www.revistaoempreiteiro.com.br | 79 Sustentabilidade | Amazônia Couro ecológico cria novo ciclo da borracha na Amazônia N os últimos anos, pesquisadores e cientistas se mobilizaram a fim de desenvolver tecnologias para proteger a Amazônia e permitir sua inserção econômica no contexto nacional. Foi dessa forma que universidades da região investigaram novas maneiras de transformar o velho látex — o mesmo que em duas ocasiões no passado distante trouxeram riqueza e decadência à região - em borracha ecológica. Ao contrário do processo tradicional que produz o material bruto para uso das indústrias (pneus, artefatos etc.), as tecnologias alternativas trabalham de modo a garantir uma atividade sustentável. Em todas elas, o processo de defumação da borracha – consi- Extração do látex da seringueira agora passa por novo processo produtivo derado perigoso para a saúde dos seringueiros – foi eliminado. O couro ecológico, desenvolvida pelo pesquisador Francisco Samonek, professor da Universidade Federal do Acre (UFA) em conjunto com as comunidades tradicionais da região, é uma das promissoras das tecnologias recém-implantadas. O novo processo, pelo fato de não defumar, oferece melhores condições de produção ao seringueiro. Ele é desenvolvido da seguinte forma: o látex nativo é colhido, coado e misturado com agentes vulcanizantes e fibras vegetais (embaúba e o algodoeiro). Depois, o tecido emborrachado é pré-vulcanizado. Paralelamente, são feitos moldes de madeira ou argila, retirados dos resíduos descartados nas indústrias madeireiras. Assim, o composto com a mistura do látex e das fibras é aplicado nos moldes e colocado ao sol para Pavimentação de estrada na Amazônia, como a BR-364, no Acre, representa oportunidade de desenvolvimento sustentável à região, desde que o meio ambiente seja respeitado 80 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012 secar. A água evapora e a parte sólida permanece no molde para receber pintura com corantes feitos a partir de espécies locais. O couro que surge pode virar tapete, toalhas de mesa e outros 20 artefatos. Com o domínio do novo processo, Samonek e as comunidades de indígenas e seringueiros fundaram, em 2002, o Pólo de Proteção da Biodiversidade e Uso Sustentável dos Recursos Naturais (Poloprobio), uma Oscip voltada às pesquisas e aperfeiçoamento do couro. Hoje, em parceria com a Universidade Federal do Pará, a tecnologia é aplicada nos municípios das ilhas do arquipélago do Marajó e entorno de Belém, locais com os menores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) da região. Francisco Samonek explica o projeto: “Os produtos gerados são totalmente artesanais e os investimentos necessários são de baixo custo. Não exigem nem energia elétrica. As comunidades não vendem mais matéria-prima, porém, produtos prontos para o mercado, com alto valor agregado como utilidades domésticas e peças decorativas. São mantas, tapetes, pad-mouses, vasos, pinturas em látex em camisetas e bonés, com desenhos indígenas e motivos regionais, entre outros.” Com um mercado nacional crescente, e começando a abertura para o mercado externo, a experiência tem trazido bons resultados, aponta o pesquisador: “A simplificação do processo de vulcanização da borracha, permite que um seringueiro no meio da floresta vulcanize, de forma artesanal, os seus 10 litros de látex da colheita diária. Um kg de borracha vendido no sistema convencional, com subsídios da Conab, vale R$ 3,50. No caso dessa tecnologia, um kg de mix de produtos atinge R$ 81,00, na média”. Atualmente, existem sete projetos de pesquisa na Amazônia, financiados pela Petrobras e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), atendendo quatro estados: Acre, Amazonas, Pará e Roraima, em 48 comunidades, localizadas em reservas e projetos de assentamentos extrativistas e terras Indígenas, com 1.225 pessoas diretamente envolvidas. Eles atendem seringueiros, indígenas, ribeirinhos, pequenos produtores rurais e quilombolas. Participam dez etnias indígenas: Kaxinawá, Shanenawa, Kaxarari, Apurinã, Dessana, Tukano, Baniwa, Tariana, Piratapuya, Uanano. Uso da tecnologia em escala industrial Há três anos, uma empresa em Magda, região noroeste de São Paulo, fabrica o laminado de látex em escala industrial — utilizando o mesmo princípio de produção do couro ecológico —, após pesquisas realizadas na reserva de Maracatiara, no centro-oeste de Rondônia. Ele sai da fábrica em bobinas contínuas de 25 m lineares e 1,3 m de largura, em várias gramaturas (espessuras), cores e texturas. O material pode ser usado no revestimento de cadeiras, bancos de automóveis, além da fabricação de calçados e vestuário. Atualmente a empresa produz 25 mil m/mês do produto. Jaime Marques Rodrigues, diretor da Ecológica destaca um dos produtos que a empresa fabrica: “A Ecoball é uma bola esportiva, possui o tamanho oficial e é composta por látex natural, pesando de 260 a 280 g com 65 a 67 cm de circunferência. O interior é composto por uma câmara de látex, miolo removível e lubrificado. A produção segue os padrões definidos pelas federações e confederações de voleibol e futebol. Em breve a bola poderá rolar oficialmente nos campos”. A Ecológica tem uma fábrica na cidade de Xapuri (AC) onde os empregados trabalham na fabricação de bolas de futsal, voleibol, handebol e basquetebol. A meta inicial é a produção de 35 a 60 mil bolas ecológicas por ano. Tênis ecológico Os irmãos Rafael e Bruno Narciso, skatistas de longa data, procuravam um produto diferenciado quando pensaram em abrir uma pequena empresa. Em agosto de 2008, inauguraram a marca de calçado Oüs. “Desde o início nos preocupamos em começar algo diferente, com respeito ao meio ambiente. Assim, desde que lançamos a marca temos pesquisado soluções e alternativas em substituição aos materiais tradicionais. Um dos produtos é o tênis ecológico”, conta o jovem empreendedor. Feito de látex natural e algodão, o couro usado na fabricação do tênis é comprado da Ecológica e não gera resíduos em nenhuma fase da produção. “A aderência é ótima e os tênis nunca furam”, garantem os skatistas consumidores. Hoje, a Oüs está presente em 15 estados brasileiros e exporta o tênis de couro ecológico para o Chile, Austrália e Noruega. Em 2011 a empresa prevê fechar o ano com um faturamento superior a R$ 2 milhões. www.revistaoempreiteiro.com.br | 81 Índice de Anunciantes 500 Grandes da Construção 2012 27 JCB Airport Infra Expo 2012 49 Locguel 35 Andaimes Urbe 53 Mangels 47 Armco 41 Mecan 11 Bobcat 7 Mobil 15 Polierg 53 Pottencial 39 Rudloff 29 Sany 17 Sinalisa 51 Suplemento Regional 2012 23 Brazil Road Expo 2012 3ª CAPA 2ª CAPA Caimex 57 CHB Equipamentos 19 Concrete Show 2012 25 Equipo Mining 2012 55 Espiral 45 Tecobi 2012 43 Indutil 51 Terex 9 Itubombas 54 UTC 4ª CAPA 82 | O Empreiteiro | Dezembro 2011/Janeiro 2012 Veja em www.revistaoempreiteiro.com.br o vídeo de 50 anos da Engenharia Brasileira Indice de anunciantes.indd 82 23/12/2011 14:27:51