Dezembro
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Dezembro
Ano XV Nº 140 DEZEMBRO 2006 R$ 2,00 www.uruatapera.com 24 DE DEZEMBRO ABATEDOURO PROGRAMA ADMINISTRAÇÃO CALHA NORTE Aniversário de Oriximiná Frigorífico não vai poluir o rio Combate ao abuso sexual Argemiro Diniz presta contas Coração ambiental Cidades- 3 Regional- 5 Política- 4 Serviço- 2 Cidades- 3 SERVIÇO 2 DEZEMBRO - 2006 JOSÉ WILSON MALHEIROS [email protected] Histórias de Natal Alô, Franssi, Não gosto daquelas estorinhas pseudo-moralistas e piegas que circulam pela Internet e que enchem a caixa de mensagem do e-mail, sem nem perguntarem se desejas ou não receber, o que, no mínimo, é uma tremenda falta de educação. É por isso, Franssi e leitores, que minha mensagem de Natal e Ano Novo tenta ser o mais objetiva possível, sem aquelas bobagens de pobrezinho na manjedoura, anjinho com pose de hermafrodita, santo com cara de velório, etc. Estamos em Dezembro, o décimo mês do calendário Romano e décimo segundo do Gregoriano. Para os católicos, dia 6 é a festa de São Nicolau, 8 é o dia da Família (Imaculada Conceição), no dia 21 às 21:22horas atinge-se o Solstício de Verão no hemisfério sul. Dia 24 é o dia Internacional do Perdão e a Noite Feliz do dia 25 é a festa dos Anjos. No dia 27 homenageia-se São João, o Evangelista. Dia 30 é dedicado à Sagrada Família e dia 31, o derradeiro do ano, é o dia da Esperança. No hemisfério Norte, no solstício de inverno (para eles), ocorre a noite mais longa do ano e, portanto, marca o início de um novo ciclo quando a duração dos dias começa novamente a aumentar e o Sol vai voltando a brilhar por mais tempo. Num costume muito antigo, há alguns milênios atrás, nessa noite longa, as famílias se reuniam em torno do fogo para render graças pelo ano findo e pedir ao Sol, o Deus maior, paz e prosperidade no novo ciclo. Os romanos adotaram essa prática e Júlio César fixou a data de 25 de dezembro, que se supunha ser o solstício, para festejarem o Natalis Sol Invicti, o “nascimento” do Sol Invencível. Com a cristianização das festas pagãs no ano de 325, o Concílio de Nicéia determinou que se comemorasse nessa data o nascimento de Cristo. Mudou-se o “santo” permanecendo, entretanto, o nome Natal e a tradição, Editora responsável Franssinete Florenzano Colaborador especial Emanuel Nassar Editoração eletrônica Calazans Colaborador especial José Wilson Malheiros Vicente Malheiros da Fonseca Walcyr Monteiro João Francisco Mileo Guerreiro Ademar Aires do Amaral Fotolito e impressão Rua Gaspar Viana, 778 Tel. 0xx91.32300777 www.uruatapera.com [email protected] Av. Independência, 1857 Oriximiná.PA. CEP 68270-000 Tel.Fax. 0xx91.32221440 CNPJ. 23.060.825/0001-05 Uma extensa lista de realizações da prefeitura nos últimos dois anos pode ser comemorada pela população oriximinaense pois em realidade Jesus não nasceu nessa data, sinto dizer aos mais crédulos. Dezembro é a época em que todo mundo procura vislumbrar o futuro, fazer planos de melhorar a vida, buscar presságios e tentar contato com a voz interior que todos nós temos no nosso íntimo, a chama divina. Orando, meditando, festejando, dando e recebendo presentes, todo mundo se deixa envolver por essa grandiosa energia que o Natal nos traz. Além do lado puramente comercial da grande festividade cristã, não se pode negar que o mundo ocidental emite vibrações positivas de paz, amor e solidariedade, clima esse que, que deveria se estender pelo ano todo. É uma atmosfera cheia de alegria, jovialidade, celebração, e confiança no retorno da Luz Maior, que contém em si mesma sementes de renovação, renascimento e de esperança. O mês de dezembro, com sua magia, é também momento de planejar, organizar cada detalhe, de sonhar com dias melhores, etc. Como nos ensina o grande mestre Jesus, o nosso tutor planetário, o momento é para reflexão e para revestirmos-nos de sabedoria e amor fraterno, compartilhando com o mundo a nossa volta, e com tudo o que vive. É hora de exercitar o amor ao próximo, seja ele ser humano, animal irracional, plantas, montanhas, rios, etc. Acima de tudo, é preciso que nos conscientizemos que, se não incluirmos tolerância, solidariedade, fé e esperança em Deus e na vida, estaremos andando em círculos, sem atingir plenamente os objetivos, por mais nobres que pareçam ser. Façamos planos, também, de cuidar e conservar a nossa morada, a mãe e irmã que nos leva pelo no infinito, o planeta em que habitamos, para que a humanidade possa viver melhor, pois a Terra é um organismo vivo, segundo a Teoria de Gaia, concebida pelo renomado cientista James E. Lovelock. Se prestarmos atenção, meditarmos, observarmos, veremos que o cientista tem razão. Se não pudermos manter o espírito de Natal pelo ano inteiro, pelo menos vamos tentar, praticando da boa vontade. Que vocês tenham um Feliz Natal, um Ano Novo cheio de Venturas!!! Argemiro presta contas de sua administração Com a aproximação das festas de fim-de-ano e o aniversário da cidade, a Prefeitura Municipal de Oriximiná aproveita para ressaltar os avanços obtidos nos dois últimos anos, elencando as obras e serviços já realizados e os que estão em andamento. OBRAS DIVERSAS: José Gabriel Guerreiro. • Alojamento na Escola do Babaçu • Rua José Picanço Diniz • Abrigo para produtores na Comunidade do Apé • Rua Lauro Sodré • Abrigo para produtores no Ramal do Babaçu • Rua Marechal Castelo Branco, entre as travessas • Abrigo para produtores no ramal do Cachorro Sentado • Calçadas na PA- 439 • Construção de 28 casas pré-moldadas para pessoas carentes • Construção de alojamento para médicos no Hospital Municipal • Construção de Barracão Comunitários Pedro Bentes (Igarapé dos Currais) • Construção do Barracão de reuniões, anexo a Escola da Boa Vista (Alto Trombetas) • Construção do Centro de Atendimento, às famílias carentes (Ação Social) Antonio Bentes e José Gabriel Guerreiro • Rua Marechal Castelo Branco, entre as travessas Santa Luzia e Antonio Bentes • Rua Pe. José Nicolino de Souza, entre as travessas Antonio Bentes e José Gabriel Guerreiro • Rua Pedro Carlos de Oliveira, entre as travessas Carlos Maria Teixeira e José Gabriel Guerreiro. • Travessa José Gabriel Guerreiro • Travessa Antonio Bentes, entre as Ruas Acióli Ramos e Dom Floriano • Travessa Antonio Bentes, entre as Ruas 31 de Março e Dom Floriano • Construção do Depósito da Merenda Escolar • Travessa Carlos Maria Teixeira • Construção, ampliação e reforma do prédio do • Travessa Cazuza Guerreiro, entre as Ruas Barão do Rio Conselho Tutelar (CISTU) • Drenagem e pavimentação da Passagem Antônio Bentes (antiga rua da CELPA) Branco e 24 de Dezembro • Rua Brás Mileo, entre as travessas Ângelo Augusto e Antonio Imbiriba • Drenagem e pavimentação da Rua Braz Antônio Mileo (cabeceira do Melgaço) • Drenagem e pavimentação da estrada do Parque • Drenagem e pavimentação da Rua Lauro Sodré (próximo ao parque de Exposições) • Drenagem e pavimentação de um trecho da Travessa João Gato • Drenagem e reforma do Matadouro Municipal • Drenagem, pavimentação e calçadas da estrada do Parque. • Feira do Produtor. • Mercado de Carne e Peixe. CONSTRUÇÃO DE PONTES • Operação tapa buraco. • Estrada Cachoeira Porteira, Km 04 • Parque de Exposições. • Estrada Cachoeira Porteira, Km 09 • Pavimentação da Travessa Ângelo Augusto • Estrada Cachoeira Porteira, Km 31 • Pavimentação de um trecho da Travessa Armando Gato. • Igarapé Paraíso • Pavimentação de um trecho de 800 M da PA-439. • Ramal Antonio Rosa, Igarapé da Chegada • Quadra poliesportiva no Bairro de Fátima • Ramal Antonio Rosa, Igarapé do Pau (recuperação) • Ramal Balualto, Igarapé do Prego • Reforma da creche Criança Esperança. • Ramal Boa Vista, Igarapé do Alambique • Reforma da Escola de Arte “Dom Bosco” (pintura) • Ramal das Varas • Reforma do Ginásio Guilherme Guerreiro. • Ramal do Axipicá, Igarapé Tapixauazinho • Reforma do Estádio Municipal. • Água Fede, Estrada do BEC • Reforma e ampliação do Terminal de Passageiros do • Ramal do Barracãozinho, Igarapé Raul Aeroporto. • Ramal Boa Vista, Igarapé do Arraia • Ramal do Copaíba, Igarapé do Jejum MEIO FIO • Ramal do Poção, Igarapé Dona Rosa • Rua Joveniano Barros, trecho da Dom • Ramal do Poção, Igarapé Preto • Floriano à Acióli Ramos • Ramal do Urucu, Igarapé do Urucu • Rua 31 de Março, entre as travessas Santa Luzia e • Ramal dos Campos Gerais, Igarapé 03 Mutuns Carlos Maria Teixeira • Rua Acióli Ramos, entre as travessas Carlos Maria Teixeira e Antonio Bentes • Rua Brás Mileo, entre as travessas Antonio Bentes e Santa Luzia • Rua Dom Floriano, entre as travessas Antonio Bentes e • Ramal do Copaíba, Igarapé Santa Maria III • Ramal do Copaíba, Igarapé Chicozinho • Ramal do Copaíba, Igarapé Tucandeira • Ramal do Boa Vista, Igarapé do Genésio • Ramal do 16, Igarapé da Pedra • Ramal do 16, Igarapé do São João Novas construções de prédios públicos e pavimentação de ruas emprestam um aspecto singular à cidade, que não tem pedintes na rua CIDADES DEZEMBRO - 2006 3 Aniversário de Oriximiná informes aumenta a festa do Natal O A “Princesinha do Trombetas”, vaidosa, se enfeita para seu grande dia, em meio a uma festa cuidadosamente preparada. A história do município é curiosa: em 1877, foi o padre José Nicolino de Souza, nascido em Faro, que desbravou suas terras firmes, localizadas à margem esquerda do rio Trombetas, onde fundou uma povoação, à qual denominou Uruãã-Tapera, Uruá-Tapera ou Mura-Tapera que, através da Lei nº 1.288, de 11 de dezembro de 1886, foi elevada à categoria de freguesia, com o nome de Santo Antonio do Uruãã-Tapera, pelo presidente da Província do Pará e desembargador do Maranhão, Joaquim da Costa Barradas.Em 9 de junho de 1894, no governo de Lauro Sodré, foi elevado à categoria de vila, já com o nome de Oriximiná, e instalado o Município, em 5 de dezembro do mesmo ano. O prefeito, à época, era Pedro Carlos de Oliveira. No governo de Paes de Carvalho, nova reviravolta. Por razões partidárias, o município de Oriximiná foi extinto, com a edição da Lei nº 729, de 3 de abril de 1900. Seu território deveria ser dividido entre Faro e Óbidos, o que não chegou a acontecer. Foi anexado somente ao de Óbidos. Oriximiná reconquistou sua autonomia em 24 de dezembro de 1934, por força da Lei nº 1.442, com um território menor do que o criado na época do governo Lauro Sodré. O nome Oriximiná é de origem indígena, de procedência tupi, que significa “o macho da abelha”, o zangão. Mas Frei Protásio Frinckel, conhecedor da região e de seus diversos núcleos de habitantes primitivos, registra em seus escritos históricos a derivação de Eruzu-M’Na., que significa “muitas praias”. Programação do Aniversário de Oriximiná e Festival da Cultura Dia: 19/12/2006 - Formatura do Curso Básico de Educação Musical Local: Auditório da Casa de Cultura Abertura: 17:30 horas Dia: 20/12/2006 - Noite dos Artistas Local: Casa da Cultura Abertura: 20:00 horas Dia: 21/22/23 de 2006 - Festival da Cultura Local: Praça do Centenário Abertura: 19:00 horas Dia: 24/12/2006 Local: Praça do Centenário Abertura: 19:30 horas Missa em Ação de Graças ao Aniversário de Oriximiná Pastorinha Show de Bandas Gospel Alto de Natal Show de Banda Local Tema: Imaginário e Representação da Cultura Oriximinaense Calha Norte é o coração ambiental do mundo A maior área de conservação ambiental contínua do planeta, num total de 16,4 milhões de hectares, agora está localizada na região oeste do Pará: as Florestas Estaduais Paru, Trombetas, Faro e Iriri; Área de Proteção Ambiental Triunfo do Xingu; a Reserva Biológica Maicuru, além da Estação Ecológica Grão-Pará. As duas últimas unidades são maiores do que os Estados de Alagoas, Sergipe e a todas as ilhas oceânicas do Brasil reunidas. O Instituto de Desenvolvimento Florestal (Ideflor) irá gerenciar as florestas públicas de produção sustentável no estado. A lei do Macrozoneamento Ecológico e Econômico é a base legal que deu cobertura para a criação da maior área de preservação do planeta decretada de uma só vez por um governante, em todo o mundo. O pacote de decretos só não foi maior porque um juiz federal da comarca de Altamira concedeu liminar ao Ministério Público Federal, questionando a criação da Floresta Estadual da Amazônia e da Área de Proteção Ambiental (Apa) Santa Maria do Uruará, na região entre a margem direita do rio Amazonas e a rodovia Transamazônica. As duas áreas cobrem uma área com cerca de 1,4 milhão de hectares. As nove Unidades de Conservação, juntas, totalizam área equivalente à soma dos territórios de Portugal, Dinamarca e Suíça. Imazon e CI colaboraram para pacote florestal Duas Organizações Não Governamentais (ONG) do setor ambientalista ajudaram o governo a configurar o novo mapa ambiental do Pará - o Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) e a Conservação Internacional (CI - Brasil). O Imazon fez estudos importantes sobre ocupação humana, inventário ecológico, potencial econômico e vocação das áreas, enquanto a CI fez levantamentos de fauna e flora e hidrografia da Reserva Ecológica GrãoPará e da Estação Biológica Maicuru. Adalberto Veríssimo, pesquisador do Imazon, disse que a criação dessas UC tem três grandes significados: o controle territorial, a finalidade ambiental e a contribuição com o clima global. Ele destacou ainda a importância econômica do ato do governador Simão Jatene, uma vez que pelo menos 60% dessas áreas serão destinadas para uso sustentável, incluindo a extração de produtos nãomadeireiros, um item importante na economia paraense, e que agora passa a ser feita de forma sustentável. A próxima etapa será a criação dos Planos Diretores das áreas. Uma ação imediata deverá ser o monitoramento. Tecnologias novas permitem saber, quase em tempo real, se está ocorrendo algum desmatamento ou a abertura de estrada ilegal dentro da área. O vice-presidente de Ciências da Conservação Internacional (CI - Brasil), José Maria Cardoso da Silva, considera que a assinatura dos decretos de criação das UC pelo governador Simão Jatene foi um dos maiores anúncios na área ambiental feitos no mundo, nas últimas décadas. “O resultado é significativo e mostra que o Pará está comprometido em promover o desenvolvimento sustentável do Estado, aliando produção à conservação da biodiversidade”, destacou. Cardoso afirmou que existe um compromisso da CI de investir US$ 1 milhão, junto com o Museu Paraense Emílio Goeldi, em estudos para a implantação da Reser- va Ecológica Maicuru e da Estação Ecológica Grão-Pará - as duas mais importantes do pacote da calha norte do rio Amazonas. A idéia é criar um mecanismo financeiro de longo prazo para garantir a manutenção definitiva dessas reservas”, afirmou. Enfatizou que são inúmeras as possibilidades de captação de recursos. Uma delas é o mercado de carbono, que poderá render ao Pará cerca de R$ 500 milhões por ano, se houver uma articulação bem amarrada com as indústrias internacionais e com o mercado de crédito de carbono. “Esses recursos poderão garantir as atividades de desenvolvimento sustentável da região”, acrescentou. SAIBA MAIS SOBRE CADA UNIDADE FLOTA PARU - 3.612.914,02 hectares, na Calha Norte do rio Amazonas. É a maior Unidade de Conservação de uso sustentável em florestas tropicais do mundo. Paru é maior que o território da Holanda. Abrange os municípios de Almeirim (58% da área), Monte Alegre (20%), Alenquer (18%) e Óbidos (4%). A criação da Flota foi aprovada por associações comunitárias, organizações ambientalistas, representações do setor privado e de órgãos públicos no âmbito federal, estadual e municipal. FLOTA TROMBETAS - 3.172.978,13 hectares, na Calha Norte do rio Amazonas. 86% da floresta localizam-se em Oriximiná; 13% em Óbidos; 1% em Alenquer. Tem grande potencial para uso florestal manejado (madeira e produtos não-madeireiros) e potencial para ecoturismo, serviços ambientais e mineração. FLOTA DE FARO - 635.935,72 hectares, na Calha Norte do rio Amazonas. Abrange os municípios de Faro e Oriximiná. FLOTA DO IRIRI - 440.493,70 hectares, em Altamira. APA TRIUNFO DO XINGU - 1.679.280,52 hectares, em São Félix do Xingu e Altamira. Possibilitará a implantação de projetos que visem o desen- volvimento de atividades produtivas vocacionadas para a região. Permitirá a execução do projeto de identificação, georreferenciamento, cadastramento e regularização fundiária da área. ESTAÇÃO ECOLÓGICA DO GRÃO-PARÁ 4.245.819 hectares É a maior unidade de conservação de proteção integral em florestas tropicais do mundo. Ultrapassa em 362.871 hectares o Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, no Estado do Amapá. Estende-se da fronteira do Pará com o Amazonas ao rio Maicuru. Abrange os municípios de Oriximiná, Óbidos, Alenquer e Monte Alegre. Incorpora porções das bacias hidrográficas dos rios Maicuru, Curuá e Trombetas (naquela área estão localizadas as cabeceiras do rio Trombetas, um dos mais importantes afluentes da margem setentrional do Amazonas). RESERVA BIOLÓGICA MAICURU - 1.151.761 hectares Estende-se do rio Maicuru até o rio Jari, na fronteira do Pará com o Amapá. Abrange os municípios de Monte Alegre e Almeirim.· Incorpora porções das bacias hidrográficas dos rios Maicuru, Paru e Jari.· Faz limites com o Parque Indígena do Tumucumaque; terra indígena Rio Paru D’Este; com o Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque; e com a Floresta Estadual do Paru. Os rios que nascem nesta reserva são contribuintes dos rios Paru, Jari e Maicuru. Uruá-Tapera completa, neste dezembro, 15 anos. Um feito inédito de jornal do interior do Pará, com suas características gráficas e editoriais. Já disponível no endereço www.uruatapera.com, em breve o jornal terá um site completo, com galeria de fotos e informações sobre os municípios da região oeste do Pará, com atualização diária. Aos leitores, colaboradores e incentivadores, o nosso agradecimento e renovação do compromisso com o bom exercício do jornalismo. A Banda passa A Escola de Música de Oriximiná, além de ensinar a arte de Euterpe, realiza um trabalho eficaz de combate à evasão escolar, com apresentações especiais dos alunos. O fim do ano letivo e o bom rendimento das turmas do Nível Básico I e Avançado foram comemorados com uma cerimônia na Casa da Cultura. O evento reuniu pais, mestres e alunos, além de representantes da Secretaria Municipal de Educação. A Banda musical da escola entusiasmou o público com sua performance. Tempero da vitória O Ginásio Poliesportivo Guilherme Guerreiro ficou lotado durante as disputas da I Copa de Jiu Jitsu de Oriximiná. Cerca de oitenta lutas, com atletas na faixa etária de 04 a 38 anos, em várias categorias, mobilizaram a juventude local e seus familiares. Mas o tempero da grande final ficou a desejar: o lutador Frank, de Santarém, torceu o tornozelo logo no início e Ícaro, de Oriximiná, foi aclamado vencedor. Filhos de peixe O jornalista e radialista Guilherme Guerreiro, um dos profissionais de comunicação mais respeitados do Pará, é também um dos maiores divulgadores de Oriximiná. Usa seu espaço na mídia para falar com muito carinho das coisas boas da Princesinha do Trombetas. A turma do Uruá-Tapera agradece por tê-lo como leitor. Aliás, seu irmão, Renato Guerreiro, outro ilustre oriximinaense, com destaque nacional, acaba de lançar seu livro autobiográfico. Ambos puxaram ao pai, Guilherme Imbiriba Guerreiro, de saudosa memória. Meio ambiente Os cinco guardas florestais do Ibama em Oriximiná fazem o que podem, mas não conseguem conter o desmatamento, a pesca predatória e outras ações de grileiros e posseiros. O pior é que eles ainda têm responsabilidade também pelos municípios de Juruti, Faro e Terra Santa. Vizinhança combativa O Conselho Tutelar conseguiu divulgar tão bem junto aos oriximinaenses a necessidade de denunciar a violência contra crianças, que outro dia um chamado foi atendido de madrugada. Quando a equipe chegou ao local, verificou que não se tratava de agressão. O casal brigava em altos brados e a filha de 8 anos gritava ainda mais alto para que eles parassem. A vizinhança pensou que a menina estava sendo espancada. Dança dos partidos Ludugero conseguiu ser reeleito para a presidência da Câmara de Oriximiná, de olho na vaga de vice-prefeito em 2008. Aliás, todo mundo já está em campanha. Alguns inclusive com a intenção de mudar de partido. O engraçado é que um político da região estava quase acertando sua mudança de mala e cuia para outra sigla quando descobriu que seu adversário estava escutando o mesmo “canto da sereia”. Tratou de engatar marcha-ré no “namoro” partidário. Festival & carnaval O Festival da Cultura acaba neste dia 23, em Oriximiná, e o carnaval já se anuncia bem animado, com seus blocos de sujo e escolas de samba. Em Óbidos, o mascarado Fobó dá o tom romântico da chamada Veneza Amazônica. Pará pariu O novo site da Paratur, estranhamente, ignora o aniversário de Oriximiná entre os eventos de dezembro. E também mostra só o sul e sudeste do Pará como rota do minério. Será que faltaram às aulas de história e de geografia? POLÍTICA 4 DEZEMBRO - 2006 Programa enfrentará o abuso e exploração sexual em Oriximiná Com a participação de 37 das 60 instituições governamentais e não governamentais convidadas, foi lançado dia 22, no CIACA, o Programa de Enfrentamento ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes de Oriximiná, com o tema Rompendo o Silêncio. Participaram da cerimônia de abertura o Secretário de Administração, João Walter Tavares, que representou o prefeito Argemiro Diniz; o vereador Neto Andrade, representando o Poder Legislativo; a Secretária do Trabalho e Promoção Social, Maria Bentes Diniz, e o coordenador do Conselho Tutelar, Hélio Silva. A violência sexual praticada contra crianças e adolescentes é uma das piores formas de agressão que pode existir. Essa prática vem sendo observada nas últimas décadas como um fator altamente preocupante, embora não seja um fato novo na sociedade. As vítimas dessa situação, que ficam presas em conseqüência dos medos e traumas deixados pelo agressor, acabam não denunciando esses abusos. O programa espera que essas pessoas criem o hábito da denúncia. O abuso sexual é toda a situação em que uma criança ou adolescente é usado e pago para satisfazer sexualmente seu agressor. Exploração sexual é a utilização sexual de crianças e adolescentes com fins comerciais e de lucro. As formas de prostituição são: turismo sexual, tráfico de meninas e meninos, produção e comercialização de material pornográfico envolvendo crianças e adolescentes (normalmente veiculadas pela internet) e shows eróticos, entre outros. Foi constatado em uma pesquisa que 68% da violência sexual praticada contra crianças e adolescentes acontece na própria família. O agressor raramente é um estranho. Na maioria das vezes é alguém muito próximo, pessoas do seu convívio e que mantém uma relação de confiança, afeto e respeito. São geralmente pessoas do sexo masculino. Pode ser o pai, padrasto, tio, primo, avô, parentes, vizinhos, professores e também desconhecidos. A Prefeitura mantém no CIACA uma psicóloga, uma pedagoga e uma assistente social para assistir as vítimas e seus familiares, garantindo os direitos de cidadania dessas crianças e adolescentes. A psicóloga Cleonice Bezerra, que faz parte da equipe que presta atendimento as vítimas, diz que o silêncio tem que ser rompido: “não podemos mais ficar calados, toda a sociedade tem que se engajar e denunciar esses agressores”. Hélio Silva ressalta a importância da parceria firmada, pois o Conselho vem lutando sozinho ao longo dos anos. Maria Diniz: trabalho social gratificado pelos resultados obtidos Mecanização agrícola e doação de sementes na várzea geram renda A Prefeitura de oriximiná, via Semagri, mantém o programa de Mecanização Agrícola e doação de sementes aos ribeirinhos. Neste ano 22 famílias foram beneficiadas e a área mecanizada chega a 15 hectares. A patrulha inclui tratores de roda, grade niveladora e grade aradora. Entre as comunidades atendidas estão o Cachoeiry, Boto, Baixo Trombetas e Igarapé Nhamundá. Várias culturas estão sendo desenvolvidas como milho, melancia, jerimum, melão e outros. Foram levadas da estação experimental que fica no Parque de Exposições José Diniz duas variedades de feijão-caupi, BRS Mazagão e o Amapá, que serão testadas na várzea. O feijão foi plantado no Igarapé Nhamundá e se o resultado for o esperado, a partir de 2007 outras comunidades vão receber as culturas que estão sendo testadas. Essas famílias utilizavam o trabalho braçal para limpar a área do plantio. Com isso perdiam muito tempo e gastavam muito dinheiro para manter a área limpa. Hoje, com a mecanização agrícola, tudo ficou mais fácil. As máquinas limpam a área e preparam a terra para receber as sementes. O agricultor planta e espera a colheita. F l o r e n t i n o Pr i n t e s Dias, da comunidade São José (Cachoeiry), teve um hectare mecanizado e plantou melão, melancia e jerimum. O resultado foi imediato e até o final de dezembro fará a colheita. Ele está feliz e agradece o apoio do Governo. Raimundo Gomes de Almeida, morador da comunidade Aparecida no Cachoeiry, ressalta a qualidade do milho BRS 106 que recebeu gratuitamente. “Com as sementes de qualidade, a produção é muito maior” destaca ele. O prefeito Argemiro Diniz acredita que a mecanização agrícola e a doação de sementes ao pequeno agricultor crescerá a cada ano. “Se as famílias que receberam o benefício fizerem a sua parte, logo a nossa agricultura vai estar fortalecida”. Solenidade de lançamento do programa: todos devem ajudar a acabar com essa chaga social. Denunciar é preciso. Alunos carentes do CIACA ganham curso de informática A Secretaria do Trabalho e Promoção Social (SEMTPS) vem mantendo no CIACA (Centro Integrado de Apoio a Criança e ao Adolescente) atividades que visam melhorar a qualidade de vida de crianças carentes e seus familiares. Começou no mês de novembro no Laboratório de informática da Escola Pe. José Nicolino de Souza o curso básico de informática, ofertado a 50 alunos do CIACA. A parceria da escola com a SEMTPS dá uma oportunidade aos alunos que não têm condições de pagar um curso particular. O laboratório da escola, que foi estruturado pela Prefeitura, conta com 28 computadores e 19 instrutores, que prestam serviços voluntários como amigos da escola. As aulas acontecem às segundas e quartas de manhã, e às terças e quintas à tarde. O Curso, que terá duração de 02 meses, vai Um dos garotos que já estão sendo atendidos no programa de inclusão digital da PMO proporcionar conhecimentos sobre editoração de textos, planilhas eletrônicas e internet, através do Sistema Linux – sistema operacional utilizado nas escolas por ser um software livre. A aluna Adriéle Monteiro Viana, 14 anos, emociona-se ao ter contato pela primeira vez com computador. A monitora das crianças, Elivalda dos Santos, ressalta a importância da porta que se abre às crianças carentes. A diretora do Nicolino, Prof. Luciene Silva, afirma que essa parceria é uma forma de agradecer ao prefeito Argemiro Diniz por ter estruturado o laboratório de informática que estava há mais de ano fechado. Os computadores que vieram do Governo Estadual estavam todo esse tempo sem utilização. A Secretária do Trabalho e Promoção Social, Maria Bentes Diniz, ficou feliz com a inclusão dos alunos no projeto. Segundo ela, “só através de parcerias produtivas como essa, fazemos a inclusão social”. A meninada vira internauta e estuda de modo interativo pesquisando na internet: leque de conhecimento que se abre REGIONAL DEZEMBRO - 2006 5 O prefeito Argemiro Diniz fiscaliza pessoalmente as obras, para garantir a qualidade dos serviços Oriximiná vai ganhar Abatedouro Frigorífico Em cumprimento às determinações judiciais, a Prefeitura de Oriximiná construiu três tanques reservatórios para armazenar os rejeitos Recentemente o Juiz da Comarca de Oriximiná, Cornélio de Holanda, determinou que os rejeitos do gado abatido no Matadouro Municipal deixassem de ser despejados no Rio Trombetas. Também estipulou o prazo de 120 dias para a adequação do logradouro às exigências do Ministério da Agricultura e Vigilância Sanitária. Em cumprimento às determinações judiciais, a Prefeitura de Oriximiná construiu três tanques reservatórios para armazenar os rejeitos líquidos. O novo abatedouro será construído pela empresa Termo Engenharia Mecânica Ltda, responsável pela construção dos abatedou- Com o novo abatedouro, o odor fétido e a poluição do rio Trombetas serão evitados IPTU 2006 Sorteio de prêmios acontece no dia 22 Argemiro com o pessoal da empreiteira: prazo será cumprido ros das cidades de Manaus, Santarém, Altamira e outras localidades. O valor da obra está estipulado entre 850 a 900 mil reais, para ser construído num prazo de 180 dias. Segundo o Alberto Noel Vera, engenheiro da empresa, “Ori- ximiná sairá na frente porque terá o primeiro abatedouro frigorífico municipal, com qualidade impar”. Conforme o engenheiro e o prefeito Argemiro Diniz, o mau-cheiro já diminuiu bastante e até o término da obra já terá desaparecido. Os contribuintes do IPTU que estão em dia com o imposto devem procurar a Assessoria de Tributos da Prefeitura Municipal de Oriximiná para receber o cupom que dá acesso ao sorteio de prêmios do IPTU 2006. Só podem participar os que estiverem quites com a Fazenda até 21 de dezembro, véspera do sorteio que acontece no dia 22, em frente ao prédio da Prefeitura. Serão sorteados cinco cupons, que correspondem aos seguintes prêmios: uma Geladeira Biplex 370 litros, um Te- levisor 29”; um Fogão 4 bocas, 4º - Um aparelho DVD; 5º Uma Bicicleta Montain Bike A26. Oriximiná conta hoje com 7.500 imóveis. Esse total é relativo ao número de contribuintes do IPTU. O prefeito Argemiro Diniz alerta sobre a importância de pagar em dia o imposto. “Cada cidadão oriximinaense tem uma responsabilidade muito grande sobre o desenvolvimento de nosso município e isso depende, principalmente, do pagamento do IPTU, que é aplicado na melho- ria de nossa cidade”. De acordo com a portaria Nº 626/2006, que regulamenta o sorteio, os prêmios serão entregues após identificação pelo Departamento de Tributos da Secretaria Municipal de Fazenda. Quem possui mais de um imóvel só concorre uma vez ao sorteio e em caso de locação o prêmio será do dono do imóvel. Caso o sorteado não compareça para receber o prêmio no prazo de 60 dias, a contar da data do evento, este será incorporado ao patrimônio público da P.M.O. Prefeitura doa reservatórios de água e pedras sanitárias Melhoria na qualidade de vida das comunidades, com os novos tanques de armazenamento de água No barracão de saneamento do bairro do São Pedro, foram entregues 100 reservatórios de água em alvenaria e 100 pedras sanitárias. Os moradores dos bairros do Penta, Novo Horizonte, São Lázaro e de outros bairros periféricos, foram contemplados com 80 pedras sanitárias e 80 reservatórios e 20 foram destinados aos moradores de Cachoeira Porteira. Através desse Programa a Prefeitura já ajudou mais de 500 famílias da zona urbana e da zona rural. O auxiliar de saneamento Antônio Nicolau Paulino (Bilau) comenta sobre o programa que atende famílias carentes sem condições de obter um tanque para armazenar água: “A Prefeitura ajuda essas pessoas e ressalta a importância de preservar o precioso líquido”. Antônia Pereira, moradora do bairro do São Pedro, frisa que não tinha como armazenar água em sua casa, agradecendo ao prefeito e à secretária Maria Bentes Diniz pela ajuda. Assim como dona Antônia, vários moradores agradeceram a oportunidade de ter água diariamente em suas casas. A enfermeira Conceição Guerreiro, que estava Comunitárias comentam sobre a mudança em suas vidas representando a secretária de Saúde, ressalta a importância de manter a ajuda. A secretária do Trabalho e Promoção Social, Maria Bentes Diniz, informa que o governo já ajudou 500 famílias só neste ano. “A Prefeitura tem ajudado as famílias doando os reserva- tórios e as pedras sanitárias, e ainda disponibiliza um caminhão para fazer a entrega nas casas das pessoas”, enfatiza. Para receber as pedras ou o reservatório basta procurar a Secretaria de Trabalho e Promoção Social e fazer o seu cadastramento. População beneficiada agradece a iniciativa da 1ª Dama OPINIÃO 6 DEZEMBRO - 2006 VICENTE MALHEIROS DA FONSECA [email protected] [email protected] Amigos do Theatro da Paz e retrospectiva de 2006 Desde a juventude, eu participei da organização e de comissões julgadoras de festivais de música. Quando cheguei de Santarém, em 1967, para freqüentar o curso de Direito na Universidade Federal do Pará, ainda calouro, fui indicado pelos estudantes universitários para integrar o júri (presidido pelo Maestro Waldemar Henrique) de um Festival de Música promovido pela Faculdade de Direito, em que esteve presente o Chico Buarque de Hollanda. Foram vencedores Paulo André e Rui Barata. No ano seguinte, participei ativamente do “1º Festival da Música Popular da Amazônia”, promovido pela Casa da Juventude (onde morei, enquanto universitário, em Belém), ocasião em que também integrei a Comissão Julgadora, igualmente presidida por Waldemar Henrique. Um dos concorrentes era Simão Jatene, atual Governador do Estado do Pará. Em 1970 (com 22 anos de idade), participei do Concurso de Compositores Paraenses, organizado pelo Programa de Televisão “Momento de Arte”, dirigido e apresentado pelo Prof. Milton Assis, Presidente da Academia de Música “Alencar Terra”. Nesse concurso, obtive o 3º lugar, com a composição “Canção a um grande amor”. Na entrega dos prêmios, perante as câmaras da Televisão Guajará (Canal 4), de Belém, as músicas classificadas foram executadas pela Orquestra Sinfônica da Universidade Federal do Pará. A orquestração fora feita por meu pai Wilson Fonseca. Lamentavelmente, eu jamais encontrei esse arranjo orquestral, que talvez esteja nos arquivos da Escola de Música da UFPa. De qualquer modo, um dia vou escrever outro arranjo orquestral. Para aquela canção eu fiz apenas um Trio para Flauta, Violoncelo e Piano, além da versão para Canto e Piano (letra de José Wilson, meu irmão). Ainda em 1970, realizou-se, em Santarém, o 1º Festival de Música Popular do Baixo-Amazonas, do qual participei da organização e da Comissão Julgadora. O grande feito, na ocasião, foi conseguir levar a Santarém o Maestro Waldemar Henrique – que não conhecia a minha terra natal – para presidir o júri. Foi nessa ocasião que meu pai conheceu, pessoalmente, Waldemar Henrique, então Diretor do Teatro da Paz. Já naquela época eu freqüentava assiduamente o nosso Theatro da Paz e tinha feito amizade com Waldemar Henrique, uma personalidade extraordinária. Ainda me lembro do convite que Waldemar fez a meu pai para um recital no Theatro da Paz, logo após o 1º Festival de Música do Baixo-Amazonas, realizado na Pérola do Tapajós, em 1970. A idéia foi depois ampliada para a realização da memorável “Semana de Santarém”, em 1972, que contou com apoio do Governador Fernando Guilhon e foi um sucesso histórico. A Semana foi encerrada com um concerto da Orquestra e do Madrigal da Universidade Federal do Pará, que interpretaram diversas composições de Wilson Fonseca e a peça “Acalanto”, de minha autoria. Por ocasião do centenário da mais famosa casa de espetáculos da Amazônia (1978), eu compus, em 27.12.1977, de parceria com o poeta santareno Emir Bemerguy, o “Hino ao Centenário do Theatro da Paz”, que dediquei a Waldemar Henrique e a quem entreguei, pessoalmente, a partitura dessa composição, para canto e piano. Neste ano de 2006, quando se comemora o centenário da pioneira música santarena, o schottish “Idílio do Infinito” (1906), de autoria de meu avô José Agostinho da Fonseca (1886-1945), que completa 120 de nascimento, diversos acontecimentos culturais merecem destaque, até porque praticamente todos esses fatos foram temas de artigos que eu escrevi neste jornal “Uruá-Tapera”. Em 16 de junho, meu saudoso pai Wilson Fonseca (Maestro Isoca) foi escolhido Nome da Turma de Concluintes do Curso de Educação Artística com habilitação em Música, da Universidade Federal do Pará, em Belém (PA), do 2º semestre do ano anterior (2005), ocasião em que eu fui escolhido Patrono da Turma. Ao final da solenidade de colação de grau, realizada no Instituto de Ciência das Artes (ICA) – antigo Núcleo de Artes da UFPa – na capital paraense, foi executada a composição “Valsa Santarena nº 54” (Duo para oboé e piano), de minha autoria, pelo formando Paulo André Maia da Cruz (oboé), acompanhado, ao piano, por sua avó Helena Maia. Em 04 de agosto, foi publicada no Diário Oficial da União a Lei Federal nº 11.338, de 03.08.2006, que denomina Aeroporto de Santarém (PA) – “Maestro Wilson Fonseca”. Lutei obstinadamente para a aprovação desse diploma legal. Em 10 de outubro, a minha composição “Ave Maria” (Canto e Orquestra Sinfônica) foi executada no Theatro da Paz, na interpretação do tenor paraense Atalla Ayan, acompanhado pela Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz, sob a regência do Maestro Mateus Araújo, durante o concerto “Um Canto para Maria”, de que participou a soprano paraense Patrícia Oliveira, que se encontra realizando curso de mestrado em música, em Trieste (Itália), e que deverá interpretar essa mesma peça, em idêntico concerto, no ano de 2007, com gravação de DVD. Em 24 de outubro, realizou-se o XIII Festival Internacional de Dança da Amazônia, organizado pela Escola de Dança “Clara Pinto”, que prestou homenagem ao compositor santareno Wilson Fonseca (Maestro Isoca), com o notável espetáculo de dança “Pérola do Tapajós”, baseado em suas composições, sob direção do coreógrafo carioca Fábio de Mello, no Theatro da Paz, em Belém. Em 17 de novembro de 2006 (data de aniversário natalício do compositor santareno) foram realizados diversos eventos em Santarém, em sua homenagem. Pela manhã, foi inau- gurado um BUSTO seu no Aeroporto de Santarém – Pará – “Maestro Wilson Fonseca”, confeccionado sob os auspícios da Infraero (Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária), pelo escultor retratista Henrique Hülse, estabelecido no Rio de Janeiro. Durante a noite, foi lançada, na Casa da Cultura de Santarém, a coletânea, de sua autoria, intitulada “MEU BAÚ MOCORONGO” (6 volumes), com três apresentações: “As rendas do chão” (Paulo Roberto Chaves Fernandes, Secretário Executivo de Cultura do Estado do Pará); “Viajante da memória” (Geraldo Mártires Coelho, historiador, diretor do Arquivo Público do Pará e professor do Departamento de História da UFPA) e “Por que ‘Meu Baú Mocorongo’? – De filho para pai” (Vicente José Malheiros da Fonseca). A obra, impressa por RR Donnelley Moore (SP), foi editada pelo Governo do Estado do Pará (Secretaria Especial de Promoção Social, Secretaria Executiva de Cultura e Secretaria Executiva de Educação) e é parte integrante do Projeto Nossos Autores, coordenado pelo Sistema Estadual de Bibliotecas Escolares (SIEBE). Naquela mesma data foi executada, em primeira audição, a composição “AMÉRICA 500 ANOS” (poema sinfônico, 1992), de Wilson Fonseca, pela Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz, sob a regência do Maestro Mateus Araújo, na Casa da Cultura, em Santarém, onde foi realizado um concerto inédito da referida orquestra, com a apresentação de composições de três gerações da família Fonseca. A orquestra, que primeira vez se apresentava naquela cidade, no Projeto “A Orquestra nos Municípios”, executou, em primeira audição, o arranjo que eu escrevi para a música “Idílio do Infinito” (1906), composta por meu avô José Agostinho da Fonseca – genitor de Isoca –, em comemoração ao centenário desta composição pioneira da chamada “música santarena”. A OSTP executou também o 4º movimento (Oração – “Ave Maria”) da “Sinfonia do Tapajós”, de minha autoria, igualmente inédito. E, ainda, interpretou o arranjo orquestral que eu elaborei para a música “Canção de Minha Saudade” (1949), composta por Wilson Fonseca, com letra de Wilmar Fonseca (1915-1984), em número extraprograma, repetido por duas vezes, a pedido da platéia, que cantou, com entusiasmo, esta bela canção, considerada o “hino sentimental” de Santarém, numa verdadeira apoteose no encerramento do histórico evento. Em 24 de novembro, acolhendo indicação do atual Diretor do Theatro da Paz, Dr. Gilberto Chaves, eu fui eleito, por aclamação, Presidente da Associação dos Amigos do Theatro da Paz, em Belém-PA, para suceder no cargo a Professora Maria Sylvia Nunes, com mandato de dois anos. A solenidade de posse da nova Diretoria da ATP ocorreu no dia 12 de dezembro de 2006, no foyer do Theatro da Paz. Os outros membros da Diretora são Maria Cristina de Meira Leite (Vice-Presidente), Oli- ADEMAR AYRES DO AMARAL vier Corrêa Filho (Secretário) e Plínio Sérgio Matos Vieira (Tesoureiro). A Associação dos Amigos do Theatro da Paz é uma sociedade civil sem fins lucrativos e tem por objetivo precípuo colaborar com a Administração do Theatro da Paz visando: “incentivar ou subvencionar ações no campo artístico; colaborar com os poderes públicos, sempre que sua ação for reclamada em benefício da educação e da cultura artística, podendo inclusive auxiliar na manutenção de seu acervo patrimonial; e angariar recursos financeiros junto a pessoas físicas ou jurídicas associadas ou não, destinados a constituir fundo a ser aplicado pela Associação dentro do objeto social, podendo para tal fim, firmar convênios, parcerias e contratos” (cf. seu estatuto). A ATP tem ainda como atribuição principal administrar as atividades da Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz, um dos mais importantes patrimônios culturais do Estado do Pará. Na solenidade de posse da ATP foi apresentado um recital do Quinteto de Metais da Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz, com um repertório exclusivamente de músicas de três gerações da família Fonseca (com arranjos por mim elaborados: “Idílio do Infinito”, de José Agostinho da Fonseca; “Um Poema de Amor”, de Wilson Fonseca; e “Dança na Roça”, de Vicente Fonseca) e, em primeira audição, o “Hino da Associação dos Amigos do Theatro da Paz”, de minha autoria (letra e música). Em 04 de dezembro, foi executado, pela Banda Sinfônica e o Coro Carlos Gomes, sob a regência do Maestro Jacob Cantão, o arranjo (coro a 4 vozes e orquestra) que eu elaborei para o “Hino de Óbidos” (Saladino de Brito), na solenidade de posse do novo Presidente do Tribunal Regional Trabalho da 8ª Região, Desembargador José Edílsimo Eliziário Bentes, com a presença do filho do autor do hino, Ministro Ríder Nogueira de Brito, Vice-Presidente do Tribunal Superior do Trabalho, ambos obidenses. Ainda em dezembro deste 2006, tive notícia de que fui um dos quatro vencedores do Concurso Internacional de Composição 2006, promovido pelo Quinteto Amizade, de Brasília (DF), com a música “IRURÁ” (chorinho), para Quarteto de Cordas e Percussão, que obteve uma das três menções honrosas. As músicas vencedoras do Concurso serão gravadas em CD pelo Quinteto Amizade e a premiação deverá ocorrer na segunda quinzena de fevereiro de 2007, em Brasília. As partituras das músicas vencedoras serão doadas às Universidades de Brasília e da Oradea (Romênia), onde há maior oportunidade de divulgação internacional. Agradeço a Deus pelos benefícios recebidos neste ano e credito todas as graças à cultura de minha terra querida e à memória de meu saudoso pai, pois adotei como missão de vida preservar e divulgar a sua magnífica obra literária e musical. Feliz Natal e Próspero Ano Novo de 2007. Vicente Malheiros da Fonseca – Magistrado, Professor e Compositor Cenas da cheia (1953) Q ue podia fazer um garoto ilhado, habitando um casarão no meio de um campo alagado? Brincar com Aparecida, o filhote de capivara? Agüentar barquinho de boieira durante horas na correnteza imitando na boca o barulho de lancha a vapor? Apreciar o avião catalina da Panair na sua fiel rota por cima da fazenda, acompanhado sempre de um “vai com Deus” ou um “Deus te guie”, da velha patroa? Acordar cedo para ouvir as histórias e tiradas dos cortadores de capim? Ou contar as ilhas de urubus que não paravam de passar? Num dia só contou mais de dez ilhas, fazendo aposta com seu Zé Preto de quem via primeiro. Alguém diria que aquele corpo inchado descendo o rio, mal cheiroso de podridão, navegado por urubus famintos, antes um belo candidato a reprodutor, ou a um fogoso potro, fosse acabar assim de pouquinho, pedaço a pedaço, voado em migalhas? Sempre vencido diante dos mistérios e da grandeza do Rio das Amazonas, o homem ribeirinho, mais pela impotência, nunca por pura malvadeza, busca no que lhe cerca a justificativa do seu fracasso. Por isso, a cheia ensina todos os anos. O garoto aprendeu sobre o que ele pensava serem seus maiores inimigos : sucuriju, surucucu, barata d’água, trairamboia, piranha, jacaré... Havia também um patinho, o Pom-Pom, que acasalando, era “o peste que cantava chamando cheia”. Havia os urubus que viviam aporrinhando seu Zé Preto, descuidado guarda da carne no varal, muitas vezes logrado, igualmente ralhado. Como devora do maior bem a ser preservado, ainda que podre e fedorenta, ainda que seca e magra, o urubu ganhou a taça maior do ódio. E ódio, do mais simples ao mais elitista, se alastra como canarana. Sentimento retratado na ânsia de todos, quando seu Zé Preto apanhou um urubu disfarçando a isca no meio da carne . Todos excitados viam a miserável ave se debater na tentativa inútil de sacar o anzol engatado nas tripas. Às vezes sentia a linha frouxa, quase certeza da liberdade; alçava vôo, mas um forte puxão logo o devolvia. Por fim, chega o coronel e passa ao comando da situação. - Traz pra cá esse preto devorador de carne! Amarrou-lhe nas pernas e pescoço alguns trapos lambuzados de querosene, de modo que as asas ficassem livres. Botou fogo e cortou a linha, umbigo da morte. - Vai Kamikase! Acossado, o urubu subiu, voou o mais alto que pôde, desceu um pouco e subiu de novo, na esperança instintiva de se livrar da tocha que o perseguia implacavelmente, devorando suas penas, derretendo seu corpo, fritando-lhe os olhos. De repente, parecendo resignado, pára de lutar, fecha o que lhe restava das asas e despenca na água barrenta. Flutua ainda durante alguns minutos na superfície, a tempo de levantar uma fraca nuvem de fumaça arrastada vagarosamente ao sabor da correnteza, como um navio sumindo da vista no horizonte. A salvação nesse dia foi a chegada do regatão do seu Floro trazendo cachaça, mantimentos e a boa notícia que, lá pra cima, nos rios Solimões e Madeira, a água já vinha quebrando. Seu Floro também foi o principal motivo de Maria Chué aparecer, no fim de tarde, toda repimpona e cheirosa a sândalo para servir cafezinho, enquanto o “pimentão ensebado ” se embalava na rede da varanda. Um homem bonito o seu Floro. Exalando perfume francês a grande distância, tratava com carinho o cabelo ruivo onde despontavam duas bem disfarçadas entradas de calvície. O penteado sempre no traquejo, fazia lembrar aquela antiga propaganda da brilhantina Glostora. Essa era sua vida, num pra cima e pra baixo, parando aqui, demorando mais ali, sempre um pouquinho mais se tivesse uma fêmea fogosa assim do tipo da Maria Chué. Dia de São João chegou ainda com os terreiros alagados e sem as tradicionais fogueiras de pau mulato, mas com grande quantidade de foguetinhos, pega-moleques, estalinhos e um balão que subiu à boca da noite lá da cabeça da ponte, indo desaparecer longe, nas profundezas do igapó. Coisas mágicas que o menino nunca vira antes e que seu Floro desencantou dos porões do regatão. Dia feliz na vida do curumim. Custou a dormir naquela noite pensando no balão “sabe agora por adonde no igapó”. Sonhou depois que estava subindo nele, subindo para planar nos ventos limpos como os urubus saciados. De repente, viu o clarão, o balão em chamas, olhou-se de asas flamejantes, tentava voar mas sentia a tocha de fogo, o calor, a queda, a morte. Acordou alta madrugada gritando pela mãe. Seu Floro partiu chamando manhã de sol com prenúncio de vazante. Maria Chué ficou olhando chorosa, todos na cabeça da ponte apreciando o regatão desaparecer na primeira curva do rio, curva do remanso, curva do adeus. Cheio de tristeza, o menino já sentia saudade daqueles dias alagados e vivia pensando em uma nova cheia daquelas, pensando em Aparecida, o filhote de capivara que roeu a corda de envira e fugiu, pensando, quem sabe, em sonhar novamente com balões coloridos, balões mágicos lhe conduzindo no rumo do céu. VARIEDADES 24 de dezembro. Francisco passeava descuidosamente pela zona comercial da cidade. O velho paletó desabotoado, o nó da gravata meio frouxo, sentia-se tão feliz quanto podia sentir-se um investigador da Polícia com seu magro salário. Mas o salário, mesmo sendo magro, Francisco o tinha recebido naquele dia, coisa difícil de acontecer no seu tempo. Apertava o dinheiro no bolso e ia pensando nas cervejas que iria tomar logo mais, à noite, na Condor. Era solteiro e datas como Natal, Ano Novo, São João, Círio e tantas outras, ele as passava na boemia, fazendo sua acompanhante a primeira mulher com quem simpatizasse. E pensando no programa que desenvolveria, ia pedindo que o dia acabasse logo, chegasse logo à noite, para que ele “estourasse a nota” na “condérica”. E foi assim que chegou à rua João Alfredo. Pessoas para lá e para cá, entrando e saindo das casas comerciais, cheias de embrulhos e compras, evitavam esbarrar em Francisco, que sorria sem saber de que. - Deve ser o tal espírito de Natal, pensou. Afinal, Francisco, sendo solteiro e tendo entrado ainda jovem para a Polícia, estava acostumado a lidar com marginais e prostitutas, não conhecendo o outro lado da vida. Seu sorriso extinguiuse nos lábios ao olhar para o interior de uma loja. À vista aguda do velho policial não escapou o homem que, sorrateiramente, tirava uma boneca de cima do balcão. Acompanhou o lance. E viu o homem disfarçadamente colocar a boneca debaixo do braço, meter-se no meio do pessoal. Quando menos esperava, Francisco o segurou pela gola da camisa. - Que é isso aí, ó meu? Vais querer levar a boneca sem pagar? - Me solte, pelo amor de Deus... As pessoas começaram a juntar-se e os gritos de “lin- cha” já começavam a ouvir-se. Francisco gritou: - Ninguém bate no homem. Podem deixar comigo. Sou da Polícia. Uma das encarregadas da loja dirigiu-se até ele, que fez a entrega da boneca e saiu arrastando o homem. Este, já na rua, apesar dos olhares dos curiosos, consegue falar junto ao ouvido de Francisco. - Olha, meu amigo, quero lhe falar em particular. - Não tem disto, não, velho. Não tenho nada para falar contigo. Estavas roubando e eu cumpri com o meu dever. - Certo, certo. Mas, olhe, por favor, eu não sou ladrão. Eu realmente estava tirando a boneca para dar à minha filha de Papai Noel. Sabe? Eu estou desempregado... - Não quero saber disto. Acaba com o papo. - O senhor é pai? - Hein? O quê? - É, o senhor é pai? - Não, não sou, não. Ou, pelo menos se sou, não sei. É até possível que alguma vadia tenha um filho meu por aí... Mas não sei, não! - Então é por isto... - É por isto, o quê? - É por isso que o senhor não compreende. - Não compreende o quê? Fala de uma vez, desembucha! - Não compreende o que é a gente ser pai, querer dar o Papai Noel para uma filha e estar desempregado, não ter dinheiro, como eu. Dói, meu irmão, dói na alma.! - Isto não justifica o roubo. - É, não justifica, não. Mas o senhor não pode imaginar, já que não é pai, o que é todas as crianças estarem, no dia de Natal, com seu brinquedo, presente de Papai Noel, e o filho da gente não ter nada... Dói mais na gente que na criança. Já pensou o que é olhar aqueles olhinhos tristes de decepção, quando vê que o Papai Noel não veio? Eu não sou ladrão. Eu peguei a boneca para dar para minha filha. E agora... além de não WALCYR MONTEIRO [email protected] Presente de Natal lhe dar nada, ainda vou fazer com que ela se envergonhe de mim quando crescer. Francisco começou a pensar. Mas tranqüilizou sua consciência. - Ora, ele estava roubando. Foi “flagra” mesmo. Não tem nem apelação. E para não ouvir mais nada, disse: - Olha, encerrou o papo, tá? Chegaram à Central de Polícia. Depois do competente registro, o homem foi encaminhado ao pátio. Quando ia entrando, chamou Francisco. - O que é? - Olhe, eu já disse que não sou ladrão. Meu nome é Alberto Lopes. Moro no Guamá, na rua tal, assim, assim. Vá lá e se informe. Verá que todos darão boas informações minhas. Francisco virou as costas e saiu. Seu dever estava cumprido e pronto. Voltou ao comércio. Voltou a pensar na Condor. Porém outra coisa ocupava também seu pensamento... - Não sou ladrão... sou um homem honesto... estou desempregado.... Papai Noel da minha filha... roubei a boneca por isso... O senhor é pai?... O senhor é pai? As frases do homem começaram a martelar a cabeça de Francisco. ... sabe o que é ter filho e não poder dar presente? Dói mais na gente os olhos tristes da criança... eu não sou ladrão... dia de Natal, todas as crianças com brinquedos, só a nossa não ter nada... e o senhor é pai?... o senhor é pai?... o senhor é pai?... Francisco começou a se preocupar. Não sabia por que, mas o fato é que ele estava indeciso. Teria realmente feito bem em prender o homem? - É, vivi tanto e não fiz um filho! E se fiz, não tenho nem o direito de ser chamado de pai. Ele é muito mais humano do que eu. Expôsse a ser preso para dar uma boneca à filha e fui eu que o prendi. Com que direito? Afinal, ele é mais homem do que eu. Ele fez uma filha e se arriscou até para lhe dar uma boneca. E eu, o que fiz? Prendi este homem. Eu, que nem pai sou... eu, que não sei o que é ter uma pessoa me chamando de pai... mas, que é isto, Francisco? afinal ele estava roubando... cumpriste o teu dever... Bolas, nem pai eu sou... Quando Francisco menos esperou, estava dentro da loja na qual prendera o homem. Olhou as bonecas. Perguntou o preço de uma bem grande. Achou graça - um riso amarelo - quando lhe disseram o preço: era praticamente todo o seu magro salário de investigador, que estava reservado para uma noite alegre na Condor. Passou a mão no bolso, alisou as cédulas e, decidido: - Embrulhe a boneca. Para presente, ouviu? Faça um embrulho bem bacana. Lembrava-se ainda do endereço dado por Alberto. E para lá dirigiu-se. Casa paupérrima, uma garotinha de quatro anos DEZEMBRO - 2006 brincava na porta. - Ei, vem cá...! A menina foi. - Tu moras aqui? A menina fez que sim com a cabeça. - Olha, este é teu presente de Papai Noel. Foi teu pai que encomendou. A menina pulou de contente. Bateu as mãos em palmas, ao mesmo tempo em que chamava a mãe. - Mamãe... mamãe, eu não lhe disse que Papai Noel vinha? Olhe só o que ele me mandou! De dentro da casa saiu uma senhora desconfiada. Perguntou o que era aquilo. - É o seguinte: encontrei seu marido lá embaixo. Sou amigo dele. Ele comprou esta boneca e pediu para deixá-la aqui, pois ele estava muito ocupado. - Meu marido? O senhor está enganado. Meu marido está em casa... - O quê? Mas... a senhora não é mulher do Alberto Lopes? - Hein? - A senhora não é esposa de Alberto Lopes? - O senhor quer dizer, a viúva, né? - Viúva? - Sim, porque ele morreu há mais de dois anos. Atualmente eu vivo com outro homem. Fr a n c i s c o p e n s o u estar sendo vítima de um vigarista. Naturalmente, o homem dera o nome falso, bem como a residência. Furioso, ia deixando o local. - Ei, espere aí - falou a senhora - e que história é esta da boneca? Francisco ia dizer que tinha sido engano. Mas ao olhar para a menina, esta começava a desembrulhar a boneca. Com os olhos saltando de alegria exclamou: - É linda! E dirigindo-se a Francisco beijou-lhe a mão, o rosto, dizendo: - Muito obrigada. Dê um beijo em Papai Noel. O senhor é amigo dele, não é? 7 Francisco não teve coragem de tirar a boneca. Fez que sim com a cabeça, olhou a mãe da menina que esperava uma resposta e, levantando-se, saiu apressadamente sem dizer nada. A senhora seguiu-o com o olhar, exclamando em voz alta: - Deve ser doido! Francisco dirigiu-se furiosamente à Central de Polícia. Chegando, foi direto para o pátio. E procurou por Alberto. Mas ele não mais estava ali. Dirigiu-se ao comissário de permanência, perguntando quem o havia mandado soltar. - Não foi solto não. Está no pátio. - Lá ele não está. Vim de lá, agora. - Mais isto não é possível... Dirigiram-se ao pátio. A porta foi aberta: o homem não estava lá. Como por encanto, havia desaparecido. Pergunta aqui, pergunta acolá, ninguém sabia informar o paradeiro do homem que tentara roubar a boneca para dar de presente de Papai Noel... A história foi contada por Francisco ao comissário e demais presentes. - É... foi o espírito do pai dela que ia dar a boneca. E acabou dando mesmo, através do Francisco... Naquela noite de Natal, Francisco, sem dinheiro, bebia à custa dos amigos na Condor. Encontrou uma velha conhecida, entabularam conversa e combinaram passar o resto da noite juntos. Em dado momento ela comentou: - Mas o que é que tu tens, Francisco? Estás tão diferente hoje! Parece até que não estás aqui... Francisco não respondeu. Mas na verdade seu pensamento estava longe. Pensava em algum lugar do bairro do Guamá, nos olhos felizes de uma garotinha com uma grande boneca nos braços - presente de Natal, comprada com seu magro salário de investigador da Polícia...