Dezembro

Transcrição

Dezembro
Ano XV Nº 140
DEZEMBRO 2006
R$ 2,00
www.uruatapera.com
24 DE DEZEMBRO
ABATEDOURO
PROGRAMA
ADMINISTRAÇÃO
CALHA NORTE
Aniversário
de Oriximiná
Frigorífico não
vai poluir o rio
Combate ao
abuso sexual
Argemiro Diniz
presta contas
Coração
ambiental
Cidades- 3
Regional- 5
Política- 4
Serviço- 2
Cidades- 3
SERVIÇO
2 DEZEMBRO - 2006
JOSÉ WILSON MALHEIROS
[email protected]
Histórias de Natal
Alô, Franssi,
Não gosto daquelas
estorinhas pseudo-moralistas e piegas que circulam
pela Internet e que enchem
a caixa de mensagem do
e-mail, sem nem perguntarem se desejas ou não
receber, o que, no mínimo,
é uma tremenda falta de
educação.
É por isso, Franssi e
leitores, que minha mensagem de Natal e Ano
Novo tenta ser o mais objetiva possível, sem aquelas
bobagens de pobrezinho
na manjedoura, anjinho
com pose de hermafrodita,
santo com cara de velório,
etc.
Estamos em Dezembro, o décimo mês do calendário Romano e décimo
segundo do Gregoriano.
Para os católicos, dia 6 é a
festa de São Nicolau, 8 é o
dia da Família (Imaculada
Conceição), no dia 21 às
21:22horas atinge-se o
Solstício de Verão no hemisfério sul.
Dia 24 é o dia Internacional do Perdão e a
Noite Feliz do dia 25 é a
festa dos Anjos. No dia 27
homenageia-se São João,
o Evangelista. Dia 30 é dedicado à Sagrada Família e
dia 31, o derradeiro do ano,
é o dia da Esperança.
No hemisfério Norte, no solstício de inverno
(para eles), ocorre a noite
mais longa do ano e, portanto, marca o início de
um novo ciclo quando a
duração dos dias começa
novamente a aumentar e o
Sol vai voltando a brilhar
por mais tempo.
Num costume muito
antigo, há alguns milênios
atrás, nessa noite longa,
as famílias se reuniam em
torno do fogo para render
graças pelo ano findo e
pedir ao Sol, o Deus maior,
paz e prosperidade no novo
ciclo.
Os romanos adotaram essa prática e Júlio
César fixou a data de 25
de dezembro, que se supunha ser o solstício, para
festejarem o Natalis Sol
Invicti, o “nascimento” do
Sol Invencível.
Com a cristianização
das festas pagãs no ano de
325, o Concílio de Nicéia
determinou que se comemorasse nessa data o
nascimento de Cristo.
Mudou-se o “santo”
permanecendo, entretanto,
o nome Natal e a tradição,
Editora responsável
Franssinete Florenzano
Colaborador especial
Emanuel Nassar
Editoração eletrônica
Calazans
Colaborador especial
José Wilson Malheiros
Vicente Malheiros da Fonseca
Walcyr Monteiro
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Uma extensa lista de realizações da prefeitura nos últimos dois anos pode ser comemorada pela população oriximinaense
pois em realidade Jesus não
nasceu nessa data, sinto
dizer aos mais crédulos.
Dezembro é a época
em que todo mundo procura vislumbrar o futuro,
fazer planos de melhorar
a vida, buscar presságios e
tentar contato com a voz
interior que todos nós
temos no nosso íntimo, a
chama divina.
Orando, meditando,
festejando, dando e recebendo presentes, todo
mundo se deixa envolver
por essa grandiosa energia
que o Natal nos traz.
Além do lado puramente comercial da grande
festividade cristã, não se
pode negar que o mundo
ocidental emite vibrações
positivas de paz, amor e
solidariedade, clima esse
que, que deveria se estender pelo ano todo.
É uma atmosfera
cheia de alegria, jovialidade, celebração, e confiança no retorno da Luz
Maior, que contém em si
mesma sementes de renovação, renascimento e de
esperança.
O mês de dezembro,
com sua magia, é também
momento de planejar, organizar cada detalhe, de sonhar
com dias melhores, etc.
Como nos ensina
o grande mestre Jesus, o
nosso tutor planetário, o
momento é para reflexão
e para revestirmos-nos de
sabedoria e amor fraterno,
compartilhando com o
mundo a nossa volta, e com
tudo o que vive. É hora de
exercitar o amor ao próximo, seja ele ser humano,
animal irracional, plantas,
montanhas, rios, etc.
Acima de tudo, é preciso que nos conscientizemos que, se não incluirmos
tolerância, solidariedade, fé
e esperança em Deus e na
vida, estaremos andando
em círculos, sem atingir
plenamente os objetivos,
por mais nobres que pareçam ser.
Façamos planos, também, de cuidar e conservar
a nossa morada, a mãe e
irmã que nos leva pelo
no infinito, o planeta em
que habitamos, para que
a humanidade possa viver
melhor, pois a Terra é um
organismo vivo, segundo a
Teoria de Gaia, concebida
pelo renomado cientista James E. Lovelock. Se
prestarmos atenção, meditarmos, observarmos,
veremos que o cientista
tem razão.
Se não pudermos
manter o espírito de Natal
pelo ano inteiro, pelo menos vamos tentar, praticando da boa vontade.
Que vocês tenham um
Feliz Natal, um Ano Novo
cheio de Venturas!!!
Argemiro presta contas de sua administração
Com a aproximação das festas de fim-de-ano e o aniversário da cidade, a Prefeitura
Municipal de Oriximiná aproveita para ressaltar os avanços obtidos nos dois últimos anos,
elencando as obras e serviços já realizados e os que estão em andamento.
OBRAS DIVERSAS:
José Gabriel Guerreiro.
• Alojamento na Escola do Babaçu
• Rua José Picanço Diniz
• Abrigo para produtores na Comunidade do Apé
• Rua Lauro Sodré
• Abrigo para produtores no Ramal do Babaçu
• Rua Marechal Castelo Branco, entre as travessas
• Abrigo para produtores no ramal do Cachorro Sentado
• Calçadas na PA- 439
• Construção de 28 casas pré-moldadas para pessoas
carentes
• Construção de alojamento para médicos no Hospital
Municipal
• Construção de Barracão Comunitários Pedro Bentes
(Igarapé dos Currais)
• Construção do Barracão de reuniões, anexo a Escola da
Boa Vista (Alto Trombetas)
• Construção do Centro de Atendimento, às famílias
carentes (Ação Social)
Antonio Bentes e José Gabriel Guerreiro
• Rua Marechal Castelo Branco, entre as travessas Santa
Luzia e Antonio Bentes
• Rua Pe. José Nicolino de Souza, entre as travessas
Antonio Bentes e José Gabriel Guerreiro
• Rua Pedro Carlos de Oliveira, entre as travessas Carlos
Maria Teixeira e José Gabriel Guerreiro.
• Travessa José Gabriel Guerreiro
• Travessa Antonio Bentes, entre as Ruas Acióli Ramos e
Dom Floriano
• Travessa Antonio Bentes, entre as Ruas 31 de Março e
Dom Floriano
• Construção do Depósito da Merenda Escolar
• Travessa Carlos Maria Teixeira
• Construção, ampliação e reforma do prédio do
• Travessa Cazuza Guerreiro, entre as Ruas Barão do Rio
Conselho Tutelar (CISTU)
• Drenagem e pavimentação da Passagem Antônio Bentes
(antiga rua da CELPA)
Branco e 24 de Dezembro
• Rua Brás Mileo, entre as travessas Ângelo Augusto e
Antonio Imbiriba
• Drenagem e pavimentação da Rua Braz Antônio Mileo
(cabeceira do Melgaço)
• Drenagem e pavimentação da estrada do Parque
• Drenagem e pavimentação da Rua Lauro Sodré
(próximo ao parque de Exposições)
• Drenagem e pavimentação de um trecho da Travessa
João Gato
• Drenagem e reforma do Matadouro Municipal
• Drenagem, pavimentação e calçadas da estrada do
Parque.
• Feira do Produtor.
• Mercado de Carne e Peixe.
CONSTRUÇÃO DE PONTES
• Operação tapa buraco.
• Estrada Cachoeira Porteira, Km 04
• Parque de Exposições.
• Estrada Cachoeira Porteira, Km 09
• Pavimentação da Travessa Ângelo Augusto
• Estrada Cachoeira Porteira, Km 31
• Pavimentação de um trecho da Travessa Armando Gato.
• Igarapé Paraíso
• Pavimentação de um trecho de 800 M da PA-439.
• Ramal Antonio Rosa, Igarapé da Chegada
• Quadra poliesportiva no Bairro de Fátima
• Ramal Antonio Rosa, Igarapé do Pau
(recuperação)
• Ramal Balualto, Igarapé do Prego
• Reforma da creche Criança Esperança.
• Ramal Boa Vista, Igarapé do Alambique
• Reforma da Escola de Arte “Dom Bosco” (pintura)
• Ramal das Varas
• Reforma do Ginásio Guilherme Guerreiro.
• Ramal do Axipicá, Igarapé Tapixauazinho
• Reforma do Estádio Municipal.
• Água Fede, Estrada do BEC
• Reforma e ampliação do Terminal de Passageiros do
• Ramal do Barracãozinho, Igarapé Raul
Aeroporto.
• Ramal Boa Vista, Igarapé do Arraia
• Ramal do Copaíba, Igarapé do Jejum
MEIO FIO
• Ramal do Poção, Igarapé Dona Rosa
• Rua Joveniano Barros, trecho da Dom
• Ramal do Poção, Igarapé Preto
• Floriano à Acióli Ramos
• Ramal do Urucu, Igarapé do Urucu
• Rua 31 de Março, entre as travessas Santa Luzia e
• Ramal dos Campos Gerais, Igarapé 03 Mutuns
Carlos Maria Teixeira
• Rua Acióli Ramos, entre as travessas Carlos Maria
Teixeira e Antonio Bentes
• Rua Brás Mileo, entre as travessas Antonio Bentes e
Santa Luzia
• Rua Dom Floriano, entre as travessas Antonio Bentes e
• Ramal do Copaíba, Igarapé Santa Maria III
• Ramal do Copaíba, Igarapé Chicozinho
• Ramal do Copaíba, Igarapé Tucandeira
• Ramal do Boa Vista, Igarapé do Genésio
• Ramal do 16, Igarapé da Pedra
• Ramal do 16, Igarapé do São João
Novas construções de prédios públicos e pavimentação de ruas emprestam um aspecto singular à cidade, que não tem pedintes na rua
CIDADES
DEZEMBRO - 2006 3
Aniversário de Oriximiná informes
aumenta a festa do Natal O
A “Princesinha do Trombetas”,
vaidosa, se enfeita para seu grande
dia, em meio a uma festa cuidadosamente preparada. A história do
município é curiosa: em 1877, foi
o padre José Nicolino de Souza,
nascido em Faro, que desbravou suas
terras firmes, localizadas à margem
esquerda do rio Trombetas, onde
fundou uma povoação, à qual denominou Uruãã-Tapera, Uruá-Tapera
ou Mura-Tapera que, através da Lei
nº 1.288, de 11 de dezembro de 1886,
foi elevada à categoria de freguesia,
com o nome de Santo Antonio do
Uruãã-Tapera, pelo presidente da
Província do Pará e desembargador
do Maranhão, Joaquim da Costa
Barradas.Em 9 de junho de 1894,
no governo de Lauro Sodré, foi
elevado à categoria de vila, já com o
nome de Oriximiná, e instalado o
Município, em 5 de dezembro do
mesmo ano. O prefeito, à época, era
Pedro Carlos de Oliveira.
No governo de Paes de Carvalho, nova reviravolta. Por razões
partidárias, o município de Oriximiná foi extinto, com a edição da Lei
nº 729, de 3 de abril de 1900. Seu
território deveria ser dividido entre
Faro e Óbidos, o que não chegou a
acontecer. Foi anexado somente ao
de Óbidos. Oriximiná reconquistou
sua autonomia em 24 de dezembro
de 1934, por força da Lei nº 1.442,
com um território menor do que o
criado na época do governo Lauro
Sodré.
O nome Oriximiná é de origem indígena, de procedência tupi,
que significa “o macho da abelha”, o
zangão. Mas Frei Protásio Frinckel,
conhecedor da região e de seus diversos núcleos de habitantes primitivos, registra em seus escritos históricos a derivação de Eruzu-M’Na.,
que significa “muitas praias”.
Programação do Aniversário de Oriximiná
e Festival da Cultura
Dia: 19/12/2006 - Formatura do Curso Básico
de Educação Musical
Local: Auditório da Casa de Cultura
Abertura: 17:30 horas
Dia: 20/12/2006 - Noite dos Artistas
Local: Casa da Cultura
Abertura: 20:00 horas
Dia: 21/22/23 de 2006 - Festival da Cultura
Local: Praça do Centenário
Abertura: 19:00 horas
Dia: 24/12/2006
Local: Praça do Centenário
Abertura: 19:30 horas
Missa em Ação de Graças ao Aniversário de
Oriximiná
Pastorinha
Show de Bandas Gospel
Alto de Natal
Show de Banda Local
Tema: Imaginário e Representação da Cultura
Oriximinaense
Calha Norte é o coração ambiental do mundo
A maior área de conservação ambiental contínua
do planeta, num total de 16,4
milhões de hectares, agora
está localizada na região oeste
do Pará: as Florestas Estaduais
Paru, Trombetas, Faro e Iriri;
Área de Proteção Ambiental
Triunfo do Xingu; a Reserva
Biológica Maicuru, além da
Estação Ecológica Grão-Pará.
As duas últimas unidades são
maiores do que os Estados
de Alagoas, Sergipe e a todas
as ilhas oceânicas do Brasil reunidas. O Instituto de
Desenvolvimento Florestal
(Ideflor) irá gerenciar as florestas públicas de produção
sustentável no estado.
A lei do Macrozoneamento Ecológico e Econômico é a base legal que deu
cobertura para a criação da
maior área de preservação
do planeta decretada de uma
só vez por um governante,
em todo o mundo. O pacote
de decretos só não foi maior
porque um juiz federal da
comarca de Altamira concedeu liminar ao Ministério
Público Federal, questionando a criação da Floresta
Estadual da Amazônia e da
Área de Proteção Ambiental
(Apa) Santa Maria do Uruará, na região entre a margem
direita do rio Amazonas e a
rodovia Transamazônica. As
duas áreas cobrem uma área
com cerca de 1,4 milhão de
hectares.
As nove Unidades de
Conservação, juntas, totalizam área equivalente à soma
dos territórios de Portugal,
Dinamarca e Suíça.
Imazon e CI colaboraram para pacote florestal
Duas Organizações Não
Governamentais (ONG) do
setor ambientalista ajudaram
o governo a configurar o novo
mapa ambiental do Pará - o
Instituto do Homem e do
Meio Ambiente da Amazônia
(Imazon) e a Conservação
Internacional (CI - Brasil).
O Imazon fez estudos importantes sobre ocupação
humana, inventário ecológico, potencial econômico e
vocação das áreas, enquanto
a CI fez levantamentos de
fauna e flora e hidrografia
da Reserva Ecológica GrãoPará e da Estação Biológica
Maicuru.
Adalberto Veríssimo,
pesquisador do Imazon, disse
que a criação dessas UC tem
três grandes significados: o
controle territorial, a finalidade ambiental e a contribuição com o clima global. Ele
destacou ainda a importância
econômica do ato do governador Simão Jatene, uma vez
que pelo menos 60% dessas
áreas serão destinadas para
uso sustentável, incluindo
a extração de produtos nãomadeireiros, um item importante na economia paraense, e
que agora passa a ser feita de
forma sustentável.
A próxima etapa será a
criação dos Planos Diretores
das áreas. Uma ação imediata
deverá ser o monitoramento.
Tecnologias novas permitem
saber, quase em tempo real,
se está ocorrendo algum desmatamento ou a abertura de
estrada ilegal dentro da área.
O vice-presidente de
Ciências da Conservação
Internacional (CI - Brasil),
José Maria Cardoso da Silva,
considera que a assinatura dos
decretos de criação das UC
pelo governador Simão Jatene
foi um dos maiores anúncios
na área ambiental feitos no
mundo, nas últimas décadas.
“O resultado é significativo e
mostra que o Pará está comprometido em promover o
desenvolvimento sustentável
do Estado, aliando produção
à conservação da biodiversidade”, destacou.
Cardoso afirmou que
existe um compromisso da
CI de investir US$ 1 milhão,
junto com o Museu Paraense
Emílio Goeldi, em estudos
para a implantação da Reser-
va Ecológica Maicuru e da
Estação Ecológica Grão-Pará
- as duas mais importantes do
pacote da calha norte do rio
Amazonas.
A idéia é criar um mecanismo financeiro de longo
prazo para garantir a manutenção definitiva dessas reservas”, afirmou. Enfatizou que
são inúmeras as possibilidades
de captação de recursos. Uma
delas é o mercado de carbono,
que poderá render ao Pará
cerca de R$ 500 milhões por
ano, se houver uma articulação bem amarrada com as
indústrias internacionais e
com o mercado de crédito de
carbono. “Esses recursos poderão garantir as atividades de
desenvolvimento sustentável
da região”, acrescentou.
SAIBA MAIS SOBRE CADA UNIDADE
FLOTA PARU - 3.612.914,02 hectares, na Calha Norte
do rio Amazonas.
É a maior Unidade de Conservação de uso sustentável em
florestas tropicais do mundo. Paru é maior que o território
da Holanda. Abrange os municípios de Almeirim (58%
da área), Monte Alegre (20%), Alenquer (18%) e Óbidos
(4%). A criação da Flota foi aprovada por associações comunitárias, organizações ambientalistas, representações
do setor privado e de órgãos públicos no âmbito federal,
estadual e municipal.
FLOTA TROMBETAS - 3.172.978,13 hectares, na
Calha Norte do rio Amazonas.
86% da floresta localizam-se em Oriximiná; 13% em
Óbidos; 1% em Alenquer. Tem grande potencial para
uso florestal manejado (madeira e produtos não-madeireiros) e potencial para ecoturismo, serviços ambientais
e mineração.
FLOTA DE FARO - 635.935,72 hectares, na Calha
Norte do rio Amazonas.
Abrange os municípios de Faro e Oriximiná.
FLOTA DO IRIRI - 440.493,70 hectares, em
Altamira.
APA TRIUNFO DO XINGU - 1.679.280,52 hectares,
em São Félix do Xingu e Altamira.
Possibilitará a implantação de projetos que visem o desen-
volvimento de atividades produtivas vocacionadas para a
região. Permitirá a execução do projeto de identificação,
georreferenciamento, cadastramento e regularização
fundiária da área.
ESTAÇÃO ECOLÓGICA DO GRÃO-PARÁ 4.245.819 hectares
É a maior unidade de conservação de proteção integral em
florestas tropicais do mundo. Ultrapassa em 362.871 hectares o Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque,
no Estado do Amapá. Estende-se da fronteira do Pará com
o Amazonas ao rio Maicuru. Abrange os municípios de
Oriximiná, Óbidos, Alenquer e Monte Alegre. Incorpora
porções das bacias hidrográficas dos rios Maicuru, Curuá
e Trombetas (naquela área estão localizadas as cabeceiras
do rio Trombetas, um dos mais importantes afluentes da
margem setentrional do Amazonas).
RESERVA BIOLÓGICA MAICURU - 1.151.761
hectares
Estende-se do rio Maicuru até o rio Jari, na fronteira do
Pará com o Amapá. Abrange os municípios de Monte
Alegre e Almeirim.· Incorpora porções das bacias hidrográficas dos rios Maicuru, Paru e Jari.· Faz limites com o
Parque Indígena do Tumucumaque; terra indígena Rio
Paru D’Este; com o Parque Nacional Montanhas do
Tumucumaque; e com a Floresta Estadual do Paru. Os
rios que nascem nesta reserva são contribuintes dos rios
Paru, Jari e Maicuru.
Uruá-Tapera completa, neste dezembro, 15 anos. Um feito inédito de jornal
do interior do Pará, com suas características gráficas e editoriais. Já disponível no
endereço www.uruatapera.com, em breve o
jornal terá um site completo, com galeria de
fotos e informações sobre os municípios da
região oeste do Pará, com atualização diária.
Aos leitores, colaboradores e incentivadores, o
nosso agradecimento e renovação do compromisso com o bom exercício do jornalismo.
A Banda passa
A Escola de Música de Oriximiná, além de ensinar
a arte de Euterpe, realiza um trabalho eficaz de
combate à evasão escolar, com apresentações especiais dos alunos. O fim do ano letivo e o bom rendimento das turmas do Nível Básico I e Avançado
foram comemorados com uma cerimônia na Casa
da Cultura. O evento reuniu pais, mestres e alunos,
além de representantes da Secretaria Municipal de
Educação. A Banda musical da escola entusiasmou
o público com sua performance.
Tempero da vitória
O Ginásio Poliesportivo Guilherme Guerreiro ficou
lotado durante as disputas da I Copa de Jiu Jitsu de
Oriximiná. Cerca de oitenta lutas, com atletas na
faixa etária de 04 a 38 anos, em várias categorias,
mobilizaram a juventude local e seus familiares.
Mas o tempero da grande final ficou a desejar: o
lutador Frank, de Santarém, torceu o tornozelo
logo no início e Ícaro, de Oriximiná, foi aclamado
vencedor.
Filhos de peixe
O jornalista e radialista Guilherme Guerreiro, um
dos profissionais de comunicação mais respeitados
do Pará, é também um dos maiores divulgadores de
Oriximiná. Usa seu espaço na mídia para falar com
muito carinho das coisas boas da Princesinha do
Trombetas. A turma do Uruá-Tapera agradece por
tê-lo como leitor. Aliás, seu irmão, Renato Guerreiro, outro ilustre oriximinaense, com destaque
nacional, acaba de lançar seu livro autobiográfico.
Ambos puxaram ao pai, Guilherme Imbiriba Guerreiro, de saudosa memória.
Meio ambiente
Os cinco guardas florestais do Ibama em Oriximiná
fazem o que podem, mas não conseguem conter o
desmatamento, a pesca predatória e outras ações
de grileiros e posseiros. O pior é que eles ainda
têm responsabilidade também pelos municípios de
Juruti, Faro e Terra Santa.
Vizinhança combativa
O Conselho Tutelar conseguiu divulgar tão bem
junto aos oriximinaenses a necessidade de denunciar a violência contra crianças, que outro dia um
chamado foi atendido de madrugada. Quando a
equipe chegou ao local, verificou que não se tratava de agressão. O casal brigava em altos brados e a
filha de 8 anos gritava ainda mais alto para que eles
parassem. A vizinhança pensou que a menina estava
sendo espancada.
Dança dos partidos
Ludugero conseguiu ser reeleito para a presidência da Câmara de Oriximiná, de olho na vaga de
vice-prefeito em 2008. Aliás, todo mundo já está
em campanha. Alguns inclusive com a intenção de
mudar de partido. O engraçado é que um político
da região estava quase acertando sua mudança de
mala e cuia para outra sigla quando descobriu que
seu adversário estava escutando o mesmo “canto da
sereia”. Tratou de engatar marcha-ré no “namoro”
partidário.
Festival & carnaval
O Festival da Cultura acaba neste dia 23, em Oriximiná, e o carnaval já se anuncia bem animado, com
seus blocos de sujo e escolas de samba. Em Óbidos,
o mascarado Fobó dá o tom romântico da chamada
Veneza Amazônica.
Pará pariu
O novo site da Paratur, estranhamente, ignora o
aniversário de Oriximiná entre os eventos de dezembro. E também mostra só o sul e sudeste do Pará
como rota do minério. Será que faltaram às aulas de
história e de geografia?
POLÍTICA
4 DEZEMBRO - 2006
Programa enfrentará o abuso e
exploração sexual em Oriximiná
Com a participação de
37 das 60 instituições governamentais e não governamentais convidadas, foi
lançado dia 22, no CIACA, o
Programa de Enfrentamento
ao Abuso e Exploração Sexual
de Crianças e Adolescentes
de Oriximiná, com o tema
Rompendo o Silêncio. Participaram da cerimônia de abertura o Secretário de Administração, João Walter Tavares,
que representou o prefeito
Argemiro Diniz; o vereador
Neto Andrade, representando
o Poder Legislativo; a Secretária do Trabalho e Promoção
Social, Maria Bentes Diniz, e
o coordenador do Conselho
Tutelar, Hélio Silva.
A violência sexual praticada contra crianças e adolescentes é uma das piores
formas de agressão que pode
existir. Essa prática vem sendo
observada nas últimas décadas
como um fator altamente
preocupante, embora não seja
um fato novo na sociedade.
As vítimas dessa situação, que
ficam presas em conseqüência
dos medos e traumas deixados
pelo agressor, acabam não
denunciando esses abusos.
O programa espera que essas
pessoas criem o hábito da
denúncia.
O abuso sexual é toda a
situação em que uma criança
ou adolescente é usado e pago
para satisfazer sexualmente
seu agressor. Exploração sexual é a utilização sexual de
crianças e adolescentes com
fins comerciais e de lucro.
As formas de prostituição
são: turismo sexual, tráfico
de meninas e meninos, produção e comercialização de
material pornográfico envolvendo crianças e adolescentes
(normalmente veiculadas pela
internet) e shows eróticos,
entre outros.
Foi constatado em uma
pesquisa que 68% da violência
sexual praticada contra crianças e adolescentes acontece
na própria família. O agressor
raramente é um estranho. Na
maioria das vezes é alguém
muito próximo, pessoas do
seu convívio e que mantém
uma relação de confiança, afeto e respeito. São geralmente
pessoas do sexo masculino.
Pode ser o pai, padrasto, tio,
primo, avô, parentes, vizinhos, professores e também
desconhecidos.
A Prefeitura mantém no
CIACA uma psicóloga, uma
pedagoga e uma assistente
social para assistir as vítimas
e seus familiares, garantindo
os direitos de cidadania dessas
crianças e adolescentes.
A psicóloga Cleonice
Bezerra, que faz parte da equipe que presta atendimento as
vítimas, diz que o silêncio tem
que ser rompido: “não podemos mais ficar calados, toda a
sociedade tem que se engajar
e denunciar esses agressores”.
Hélio Silva ressalta a importância da parceria firmada,
pois o Conselho vem lutando
sozinho ao longo dos anos.
Maria Diniz: trabalho social gratificado pelos resultados obtidos
Mecanização agrícola e doação de
sementes na várzea geram renda
A Prefeitura de oriximiná, via Semagri, mantém
o programa de Mecanização
Agrícola e doação de sementes
aos ribeirinhos. Neste ano 22
famílias foram beneficiadas
e a área mecanizada chega a
15 hectares. A patrulha inclui
tratores de roda, grade niveladora e grade aradora.
Entre as comunidades
atendidas estão o Cachoeiry,
Boto, Baixo Trombetas e Igarapé Nhamundá. Várias culturas estão sendo desenvolvidas como milho, melancia,
jerimum, melão e outros.
Foram levadas da estação experimental que fica no
Parque de Exposições José
Diniz duas variedades de feijão-caupi, BRS Mazagão e o
Amapá, que serão testadas na
várzea. O feijão foi plantado
no Igarapé Nhamundá e se
o resultado for o esperado, a
partir de 2007 outras comunidades vão receber as culturas
que estão sendo testadas.
Essas famílias utilizavam
o trabalho braçal para limpar a
área do plantio. Com isso perdiam muito tempo e gastavam
muito dinheiro para manter
a área limpa. Hoje, com a
mecanização agrícola, tudo
ficou mais fácil. As máquinas
limpam a área e preparam a
terra para receber as sementes.
O agricultor planta e espera a
colheita.
F l o r e n t i n o Pr i n t e s
Dias, da comunidade São
José (Cachoeiry), teve um
hectare mecanizado e plantou melão, melancia e jerimum. O resultado foi
imediato e até o final de
dezembro fará a colheita. Ele
está feliz e agradece o apoio
do Governo. Raimundo Gomes de Almeida, morador
da comunidade Aparecida
no Cachoeiry, ressalta a
qualidade do milho BRS 106
que recebeu gratuitamente.
“Com as sementes de qualidade, a produção é muito
maior” destaca ele.
O prefeito Argemiro
Diniz acredita que a mecanização agrícola e a doação de
sementes ao pequeno agricultor crescerá a cada ano. “Se
as famílias que receberam o
benefício fizerem a sua parte,
logo a nossa agricultura vai
estar fortalecida”.
Solenidade de lançamento do programa: todos devem ajudar a acabar com essa chaga social. Denunciar é preciso.
Alunos carentes do CIACA
ganham curso de informática
A Secretaria do Trabalho e Promoção Social (SEMTPS) vem mantendo no
CIACA (Centro Integrado
de Apoio a Criança e ao
Adolescente) atividades que
visam melhorar a qualidade
de vida de crianças carentes
e seus familiares.
Começou no mês de
novembro no Laboratório
de informática da Escola
Pe. José Nicolino de Souza
o curso básico de informática, ofertado a 50 alunos
do CIACA. A parceria da
escola com a SEMTPS
dá uma oportunidade aos
alunos que não têm condições de pagar um curso
particular. O laboratório
da escola, que foi estruturado pela Prefeitura, conta
com 28 computadores e 19
instrutores, que prestam
serviços voluntários como
amigos da escola. As aulas
acontecem às segundas e
quartas de manhã, e às terças e quintas à tarde.
O Curso, que terá
duração de 02 meses, vai
Um dos garotos que já estão sendo atendidos no programa de inclusão digital da PMO
proporcionar conhecimentos sobre editoração de
textos, planilhas eletrônicas e internet, através do
Sistema Linux – sistema
operacional utilizado nas
escolas por ser um software livre. A aluna Adriéle
Monteiro Viana, 14 anos,
emociona-se ao ter contato pela primeira vez com
computador. A monitora
das crianças, Elivalda dos
Santos, ressalta a importância da porta que se abre
às crianças carentes.
A diretora do Nicolino, Prof. Luciene Silva,
afirma que essa parceria é
uma forma de agradecer
ao prefeito Argemiro Diniz por ter estruturado o
laboratório de informática
que estava há mais de ano
fechado. Os computadores
que vieram do Governo
Estadual estavam todo esse
tempo sem utilização.
A Secretária do Trabalho e Promoção Social,
Maria Bentes Diniz, ficou
feliz com a inclusão dos
alunos no projeto. Segundo
ela, “só através de parcerias
produtivas como essa, fazemos a inclusão social”.
A meninada vira internauta e estuda de modo interativo pesquisando na internet: leque de conhecimento que se abre
REGIONAL
DEZEMBRO - 2006 5
O prefeito Argemiro Diniz fiscaliza pessoalmente as obras, para garantir a qualidade dos serviços
Oriximiná
vai ganhar
Abatedouro
Frigorífico
Em cumprimento às determinações judiciais, a Prefeitura de Oriximiná
construiu três tanques reservatórios para armazenar os rejeitos
Recentemente o Juiz
da Comarca de Oriximiná,
Cornélio de Holanda, determinou que os rejeitos do
gado abatido no Matadouro
Municipal deixassem de ser
despejados no Rio Trombetas.
Também estipulou o prazo de
120 dias para a adequação do
logradouro às exigências do
Ministério da Agricultura e
Vigilância Sanitária.
Em cumprimento às
determinações judiciais, a
Prefeitura de Oriximiná
construiu três tanques reservatórios para armazenar os
rejeitos líquidos.
O novo abatedouro
será construído pela empresa
Termo Engenharia Mecânica Ltda, responsável pela
construção dos abatedou-
Com o novo abatedouro, o odor fétido e a poluição do rio Trombetas serão evitados
IPTU 2006
Sorteio de prêmios acontece no dia 22
Argemiro com o pessoal da empreiteira: prazo será cumprido
ros das cidades de Manaus,
Santarém, Altamira e outras
localidades.
O valor da obra está
estipulado entre 850 a 900
mil reais, para ser construído
num prazo de 180 dias. Segundo o Alberto Noel Vera,
engenheiro da empresa, “Ori-
ximiná sairá na frente porque
terá o primeiro abatedouro
frigorífico municipal, com
qualidade impar”.
Conforme o engenheiro e o prefeito Argemiro Diniz, o mau-cheiro já diminuiu
bastante e até o término da
obra já terá desaparecido.
Os contribuintes do
IPTU que estão em dia
com o imposto devem procurar a Assessoria de Tributos da Prefeitura Municipal
de Oriximiná para receber
o cupom que dá acesso
ao sorteio de prêmios do
IPTU 2006. Só podem
participar os que estiverem
quites com a Fazenda até 21
de dezembro, véspera do
sorteio que acontece no dia
22, em frente ao prédio da
Prefeitura. Serão sorteados
cinco cupons, que correspondem aos seguintes
prêmios: uma Geladeira
Biplex 370 litros, um Te-
levisor 29”; um Fogão 4
bocas, 4º - Um aparelho
DVD; 5º Uma Bicicleta
Montain Bike A26.
Oriximiná conta hoje
com 7.500 imóveis. Esse
total é relativo ao número
de contribuintes do IPTU.
O prefeito Argemiro Diniz
alerta sobre a importância
de pagar em dia o imposto.
“Cada cidadão oriximinaense tem uma responsabilidade muito grande
sobre o desenvolvimento
de nosso município e isso
depende, principalmente,
do pagamento do IPTU,
que é aplicado na melho-
ria de nossa cidade”. De
acordo com a portaria Nº
626/2006, que regulamenta
o sorteio, os prêmios serão
entregues após identificação pelo Departamento
de Tributos da Secretaria
Municipal de Fazenda.
Quem possui mais de um
imóvel só concorre uma
vez ao sorteio e em caso
de locação o prêmio será
do dono do imóvel. Caso
o sorteado não compareça
para receber o prêmio no
prazo de 60 dias, a contar
da data do evento, este será
incorporado ao patrimônio
público da P.M.O.
Prefeitura doa reservatórios de água e pedras sanitárias
Melhoria na qualidade de vida das comunidades, com os novos tanques de armazenamento de água
No barracão de saneamento do bairro do São
Pedro, foram entregues 100
reservatórios de água em
alvenaria e 100 pedras sanitárias. Os moradores dos
bairros do Penta, Novo
Horizonte, São Lázaro e de
outros bairros periféricos,
foram contemplados com
80 pedras sanitárias e 80
reservatórios e 20 foram
destinados aos moradores de
Cachoeira Porteira.
Através desse Programa
a Prefeitura já ajudou mais de
500 famílias da zona urbana
e da zona rural. O auxiliar de
saneamento Antônio Nicolau Paulino (Bilau) comenta
sobre o programa que atende
famílias carentes sem condições de obter um tanque para
armazenar água: “A Prefeitura
ajuda essas pessoas e ressalta
a importância de preservar o
precioso líquido”. Antônia
Pereira, moradora do bairro
do São Pedro, frisa que não
tinha como armazenar água
em sua casa, agradecendo ao
prefeito e à secretária Maria
Bentes Diniz pela ajuda. Assim como dona Antônia, vários moradores agradeceram
a oportunidade de ter água
diariamente em suas casas.
A enfermeira Conceição Guerreiro, que estava
Comunitárias comentam sobre a mudança em suas vidas
representando a secretária de
Saúde, ressalta a importância
de manter a ajuda. A secretária do Trabalho e Promoção
Social, Maria Bentes Diniz,
informa que o governo já ajudou 500 famílias só neste ano.
“A Prefeitura tem ajudado as
famílias doando os reserva-
tórios e as pedras sanitárias, e
ainda disponibiliza um caminhão para fazer a entrega nas
casas das pessoas”, enfatiza.
Para receber as pedras
ou o reservatório basta procurar a Secretaria de Trabalho e
Promoção Social e fazer o seu
cadastramento.
População beneficiada agradece a iniciativa da 1ª Dama
OPINIÃO
6 DEZEMBRO - 2006
VICENTE MALHEIROS DA FONSECA
[email protected]
[email protected]
Amigos do Theatro da Paz e retrospectiva de 2006
Desde a juventude, eu
participei da organização e
de comissões julgadoras de
festivais de música.
Quando cheguei de
Santarém, em 1967, para
freqüentar o curso de Direito na Universidade Federal
do Pará, ainda calouro, fui
indicado pelos estudantes
universitários para integrar o
júri (presidido pelo Maestro
Waldemar Henrique) de um
Festival de Música promovido
pela Faculdade de Direito, em
que esteve presente o Chico
Buarque de Hollanda. Foram
vencedores Paulo André e Rui
Barata.
No ano seguinte, participei ativamente do “1º Festival da Música Popular da
Amazônia”, promovido pela
Casa da Juventude (onde morei, enquanto universitário,
em Belém), ocasião em que
também integrei a Comissão
Julgadora, igualmente presidida por Waldemar Henrique.
Um dos concorrentes era Simão Jatene, atual Governador
do Estado do Pará.
Em 1970 (com 22 anos
de idade), participei do Concurso de Compositores Paraenses, organizado pelo Programa de Televisão “Momento de
Arte”, dirigido e apresentado
pelo Prof. Milton Assis, Presidente da Academia de Música
“Alencar Terra”. Nesse concurso, obtive o 3º lugar, com
a composição “Canção a um
grande amor”. Na entrega dos
prêmios, perante as câmaras
da Televisão Guajará (Canal
4), de Belém, as músicas
classificadas foram executadas pela Orquestra Sinfônica
da Universidade Federal do
Pará. A orquestração fora feita
por meu pai Wilson Fonseca.
Lamentavelmente, eu jamais
encontrei esse arranjo orquestral, que talvez esteja nos
arquivos da Escola de Música
da UFPa. De qualquer modo,
um dia vou escrever outro
arranjo orquestral. Para aquela
canção eu fiz apenas um Trio
para Flauta, Violoncelo e Piano, além da versão para Canto
e Piano (letra de José Wilson,
meu irmão).
Ainda em 1970, realizou-se, em Santarém, o 1º
Festival de Música Popular
do Baixo-Amazonas, do qual
participei da organização e da
Comissão Julgadora. O grande
feito, na ocasião, foi conseguir
levar a Santarém o Maestro
Waldemar Henrique – que
não conhecia a minha terra
natal – para presidir o júri.
Foi nessa ocasião que meu
pai conheceu, pessoalmente,
Waldemar Henrique, então
Diretor do Teatro da Paz.
Já naquela época eu freqüentava assiduamente o
nosso Theatro da Paz e tinha
feito amizade com Waldemar
Henrique, uma personalidade
extraordinária.
Ainda me lembro do
convite que Waldemar fez a
meu pai para um recital no
Theatro da Paz, logo após
o 1º Festival de Música do
Baixo-Amazonas, realizado na
Pérola do Tapajós, em 1970. A
idéia foi depois ampliada para
a realização da memorável
“Semana de Santarém”, em
1972, que contou com apoio
do Governador Fernando
Guilhon e foi um sucesso
histórico. A Semana foi encerrada com um concerto da
Orquestra e do Madrigal da
Universidade Federal do Pará,
que interpretaram diversas
composições de Wilson Fonseca e a peça “Acalanto”, de
minha autoria.
Por ocasião do centenário da mais famosa casa de espetáculos da Amazônia (1978),
eu compus, em 27.12.1977, de
parceria com o poeta santareno Emir Bemerguy, o “Hino
ao Centenário do Theatro
da Paz”, que dediquei a Waldemar Henrique e a quem
entreguei, pessoalmente, a
partitura dessa composição,
para canto e piano.
Neste ano de 2006,
quando se comemora o centenário da pioneira música
santarena, o schottish “Idílio
do Infinito” (1906), de autoria
de meu avô José Agostinho
da Fonseca (1886-1945), que
completa 120 de nascimento,
diversos acontecimentos culturais merecem destaque, até
porque praticamente todos
esses fatos foram temas de
artigos que eu escrevi neste
jornal “Uruá-Tapera”.
Em 16 de junho, meu
saudoso pai Wilson Fonseca
(Maestro Isoca) foi escolhido Nome da Turma de
Concluintes do Curso de
Educação Artística com habilitação em Música, da Universidade Federal do Pará, em
Belém (PA), do 2º semestre
do ano anterior (2005), ocasião em que eu fui escolhido
Patrono da Turma. Ao final
da solenidade de colação de
grau, realizada no Instituto
de Ciência das Artes (ICA)
– antigo Núcleo de Artes da
UFPa – na capital paraense,
foi executada a composição
“Valsa Santarena nº 54” (Duo
para oboé e piano), de minha
autoria, pelo formando Paulo
André Maia da Cruz (oboé),
acompanhado, ao piano, por
sua avó Helena Maia.
Em 04 de agosto, foi
publicada no Diário Oficial da
União a Lei Federal nº 11.338,
de 03.08.2006, que denomina
Aeroporto de Santarém (PA)
– “Maestro Wilson Fonseca”.
Lutei obstinadamente para
a aprovação desse diploma
legal.
Em 10 de outubro,
a minha composição “Ave
Maria” (Canto e Orquestra
Sinfônica) foi executada no
Theatro da Paz, na interpretação do tenor paraense
Atalla Ayan, acompanhado
pela Orquestra Sinfônica
do Theatro da Paz, sob a
regência do Maestro Mateus
Araújo, durante o concerto
“Um Canto para Maria”, de
que participou a soprano paraense Patrícia Oliveira, que
se encontra realizando curso
de mestrado em música, em
Trieste (Itália), e que deverá
interpretar essa mesma peça,
em idêntico concerto, no
ano de 2007, com gravação
de DVD.
Em 24 de outubro, realizou-se o XIII Festival Internacional de Dança da Amazônia,
organizado pela Escola de
Dança “Clara Pinto”, que
prestou homenagem ao compositor santareno Wilson Fonseca (Maestro Isoca), com o
notável espetáculo de dança
“Pérola do Tapajós”, baseado
em suas composições, sob
direção do coreógrafo carioca
Fábio de Mello, no Theatro
da Paz, em Belém.
Em 17 de novembro de
2006 (data de aniversário natalício do compositor santareno) foram realizados diversos
eventos em Santarém, em sua
homenagem.
Pela manhã, foi inau-
gurado um BUSTO seu
no Aeroporto de Santarém
– Pará – “Maestro Wilson
Fonseca”, confeccionado sob
os auspícios da Infraero (Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária), pelo
escultor retratista Henrique
Hülse, estabelecido no Rio
de Janeiro.
Durante a noite, foi
lançada, na Casa da Cultura
de Santarém, a coletânea,
de sua autoria, intitulada
“MEU BAÚ MOCORONGO” (6 volumes), com três
apresentações: “As rendas
do chão” (Paulo Roberto
Chaves Fernandes, Secretário Executivo de Cultura do
Estado do Pará); “Viajante da
memória” (Geraldo Mártires
Coelho, historiador, diretor
do Arquivo Público do Pará
e professor do Departamento de História da UFPA) e
“Por que ‘Meu Baú Mocorongo’? – De filho para pai”
(Vicente José Malheiros da
Fonseca).
A obra, impressa por
RR Donnelley Moore (SP),
foi editada pelo Governo do
Estado do Pará (Secretaria
Especial de Promoção Social,
Secretaria Executiva de Cultura e Secretaria Executiva de
Educação) e é parte integrante
do Projeto Nossos Autores,
coordenado pelo Sistema
Estadual de Bibliotecas Escolares (SIEBE).
Naquela mesma data
foi executada, em primeira
audição, a composição “AMÉRICA 500 ANOS” (poema
sinfônico, 1992), de Wilson
Fonseca, pela Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz, sob
a regência do Maestro Mateus
Araújo, na Casa da Cultura,
em Santarém, onde foi realizado um concerto inédito
da referida orquestra, com a
apresentação de composições
de três gerações da família
Fonseca.
A orquestra, que primeira vez se apresentava naquela cidade, no Projeto “A
Orquestra nos Municípios”,
executou, em primeira audição, o arranjo que eu escrevi
para a música “Idílio do Infinito” (1906), composta por
meu avô José Agostinho da
Fonseca – genitor de Isoca
–, em comemoração ao centenário desta composição
pioneira da chamada “música
santarena”.
A OSTP executou também o 4º movimento (Oração
– “Ave Maria”) da “Sinfonia
do Tapajós”, de minha autoria,
igualmente inédito.
E, ainda, interpretou o
arranjo orquestral que eu elaborei para a música “Canção
de Minha Saudade” (1949),
composta por Wilson Fonseca, com letra de Wilmar
Fonseca (1915-1984), em
número extraprograma, repetido por duas vezes, a pedido da platéia, que cantou,
com entusiasmo, esta bela
canção, considerada o “hino
sentimental” de Santarém,
numa verdadeira apoteose
no encerramento do histórico
evento.
Em 24 de novembro,
acolhendo indicação do atual
Diretor do Theatro da Paz,
Dr. Gilberto Chaves, eu fui
eleito, por aclamação, Presidente da Associação dos
Amigos do Theatro da Paz,
em Belém-PA, para suceder
no cargo a Professora Maria
Sylvia Nunes, com mandato
de dois anos. A solenidade
de posse da nova Diretoria
da ATP ocorreu no dia 12
de dezembro de 2006, no
foyer do Theatro da Paz. Os
outros membros da Diretora
são Maria Cristina de Meira
Leite (Vice-Presidente), Oli-
ADEMAR AYRES DO AMARAL
vier Corrêa Filho (Secretário)
e Plínio Sérgio Matos Vieira
(Tesoureiro).
A Associação dos Amigos do Theatro da Paz é uma
sociedade civil sem fins lucrativos e tem por objetivo
precípuo colaborar com a
Administração do Theatro da
Paz visando: “incentivar ou
subvencionar ações no campo artístico; colaborar com
os poderes públicos, sempre
que sua ação for reclamada
em benefício da educação e
da cultura artística, podendo
inclusive auxiliar na manutenção de seu acervo patrimonial; e angariar recursos
financeiros junto a pessoas
físicas ou jurídicas associadas
ou não, destinados a constituir fundo a ser aplicado pela
Associação dentro do objeto
social, podendo para tal fim,
firmar convênios, parcerias e
contratos” (cf. seu estatuto).
A ATP tem ainda como
atribuição principal administrar as atividades da Orquestra
Sinfônica do Theatro da Paz,
um dos mais importantes patrimônios culturais do Estado
do Pará.
Na solenidade de posse
da ATP foi apresentado um
recital do Quinteto de Metais da Orquestra Sinfônica
do Theatro da Paz, com um
repertório exclusivamente
de músicas de três gerações
da família Fonseca (com arranjos por mim elaborados:
“Idílio do Infinito”, de José
Agostinho da Fonseca; “Um
Poema de Amor”, de Wilson
Fonseca; e “Dança na Roça”,
de Vicente Fonseca) e, em
primeira audição, o “Hino
da Associação dos Amigos do
Theatro da Paz”, de minha
autoria (letra e música).
Em 04 de dezembro,
foi executado, pela Banda
Sinfônica e o Coro Carlos
Gomes, sob a regência do
Maestro Jacob Cantão, o
arranjo (coro a 4 vozes e orquestra) que eu elaborei para
o “Hino de Óbidos” (Saladino
de Brito), na solenidade de
posse do novo Presidente do
Tribunal Regional Trabalho
da 8ª Região, Desembargador
José Edílsimo Eliziário Bentes, com a presença do filho
do autor do hino, Ministro
Ríder Nogueira de Brito,
Vice-Presidente do Tribunal
Superior do Trabalho, ambos
obidenses.
Ainda em dezembro
deste 2006, tive notícia de
que fui um dos quatro vencedores do Concurso Internacional de Composição 2006,
promovido pelo Quinteto
Amizade, de Brasília (DF),
com a música “IRURÁ”
(chorinho), para Quarteto
de Cordas e Percussão, que
obteve uma das três menções
honrosas. As músicas vencedoras do Concurso serão
gravadas em CD pelo Quinteto Amizade e a premiação
deverá ocorrer na segunda
quinzena de fevereiro de
2007, em Brasília. As partituras das músicas vencedoras
serão doadas às Universidades de Brasília e da Oradea
(Romênia), onde há maior
oportunidade de divulgação
internacional.
Agradeço a Deus pelos
benefícios recebidos neste
ano e credito todas as graças à cultura de minha terra
querida e à memória de meu
saudoso pai, pois adotei como
missão de vida preservar e
divulgar a sua magnífica obra
literária e musical.
Feliz Natal e Próspero
Ano Novo de 2007.
Vicente Malheiros da
Fonseca – Magistrado,
Professor e Compositor
Cenas da cheia (1953)
Q
ue podia fazer um
garoto ilhado, habitando um casarão no meio
de um campo alagado?
Brincar com Aparecida, o
filhote de capivara? Agüentar barquinho de boieira
durante horas na correnteza imitando na boca o
barulho de lancha a vapor?
Apreciar o avião catalina da
Panair na sua fiel rota por
cima da fazenda, acompanhado sempre de um “vai
com Deus” ou um “Deus
te guie”, da velha patroa?
Acordar cedo para ouvir
as histórias e tiradas dos
cortadores de capim? Ou
contar as ilhas de urubus
que não paravam de passar?
Num dia só contou mais de
dez ilhas, fazendo aposta
com seu Zé Preto de quem
via primeiro. Alguém diria
que aquele corpo inchado
descendo o rio, mal cheiroso de podridão, navegado
por urubus famintos, antes
um belo candidato a reprodutor, ou a um fogoso
potro, fosse acabar assim de
pouquinho, pedaço a pedaço, voado em migalhas?
Sempre vencido diante dos mistérios e da grandeza do Rio das Amazonas,
o homem ribeirinho, mais
pela impotência, nunca por
pura malvadeza, busca no
que lhe cerca a justificativa
do seu fracasso. Por isso, a
cheia ensina todos os anos.
O garoto aprendeu sobre o
que ele pensava serem seus
maiores inimigos : sucuriju, surucucu, barata d’água,
trairamboia, piranha, jacaré... Havia também um
patinho, o Pom-Pom, que
acasalando, era “o peste
que cantava chamando
cheia”. Havia os urubus
que viviam aporrinhando
seu Zé Preto, descuidado
guarda da carne no varal, muitas vezes logrado,
igualmente ralhado. Como
devora do maior bem a
ser preservado, ainda que
podre e fedorenta, ainda
que seca e magra, o urubu ganhou a taça maior
do ódio. E ódio, do mais
simples ao mais elitista,
se alastra como canarana.
Sentimento retratado na
ânsia de todos, quando
seu Zé Preto apanhou um
urubu disfarçando a isca
no meio da carne . Todos
excitados viam a miserável
ave se debater na tentativa
inútil de sacar o anzol engatado nas tripas. Às vezes
sentia a linha frouxa, quase
certeza da liberdade; alçava
vôo, mas um forte puxão
logo o devolvia. Por fim,
chega o coronel e passa ao
comando da situação.
- Traz pra cá esse
preto devorador de carne!
Amarrou-lhe nas pernas e pescoço alguns trapos
lambuzados de querosene,
de modo que as asas ficassem livres. Botou fogo e
cortou a linha, umbigo da
morte.
- Vai Kamikase!
Acossado, o urubu
subiu, voou o mais alto que
pôde, desceu um pouco e
subiu de novo, na esperança instintiva de se livrar
da tocha que o perseguia
implacavelmente, devorando suas penas, derretendo
seu corpo, fritando-lhe os
olhos. De repente, parecendo resignado, pára de
lutar, fecha o que lhe restava das asas e despenca na
água barrenta. Flutua ainda
durante alguns minutos
na superfície, a tempo de
levantar uma fraca nuvem de fumaça arrastada
vagarosamente ao sabor
da correnteza, como um
navio sumindo da vista no
horizonte.
A salvação nesse dia
foi a chegada do regatão do
seu Floro trazendo cachaça,
mantimentos e a boa notícia que, lá pra cima, nos
rios Solimões e Madeira,
a água já vinha quebrando.
Seu Floro também foi o
principal motivo de Maria
Chué aparecer, no fim de
tarde, toda repimpona e
cheirosa a sândalo para
servir cafezinho, enquanto o “pimentão ensebado
” se embalava na rede da
varanda. Um homem bonito o seu Floro. Exalando
perfume francês a grande
distância, tratava com carinho o cabelo ruivo onde
despontavam duas bem
disfarçadas entradas de calvície. O penteado sempre
no traquejo, fazia lembrar
aquela antiga propaganda
da brilhantina Glostora.
Essa era sua vida, num pra
cima e pra baixo, parando
aqui, demorando mais ali,
sempre um pouquinho
mais se tivesse uma fêmea
fogosa assim do tipo da
Maria Chué.
Dia de São João chegou ainda com os terreiros
alagados e sem as tradicionais fogueiras de pau
mulato, mas com grande
quantidade de foguetinhos,
pega-moleques, estalinhos
e um balão que subiu à
boca da noite lá da cabeça
da ponte, indo desaparecer
longe, nas profundezas
do igapó. Coisas mágicas
que o menino nunca vira
antes e que seu Floro desencantou dos porões do
regatão. Dia feliz na vida do
curumim. Custou a dormir
naquela noite pensando
no balão “sabe agora por
adonde no igapó”. Sonhou
depois que estava subindo
nele, subindo para planar
nos ventos limpos como os
urubus saciados. De repente, viu o clarão, o balão em
chamas, olhou-se de asas
flamejantes, tentava voar
mas sentia a tocha de fogo,
o calor, a queda, a morte.
Acordou alta madrugada
gritando pela mãe.
Seu Floro partiu
chamando manhã de sol
com prenúncio de vazante.
Maria Chué ficou olhando
chorosa, todos na cabeça da
ponte apreciando o regatão
desaparecer na primeira
curva do rio, curva do
remanso, curva do adeus.
Cheio de tristeza, o menino já sentia saudade daqueles dias alagados e vivia
pensando em uma nova
cheia daquelas, pensando
em Aparecida, o filhote de
capivara que roeu a corda
de envira e fugiu, pensando, quem sabe, em sonhar
novamente com balões
coloridos, balões mágicos
lhe conduzindo no rumo
do céu.
VARIEDADES
24
de dezembro. Francisco passeava descuidosamente pela zona comercial
da cidade. O velho paletó
desabotoado, o nó da gravata
meio frouxo, sentia-se tão
feliz quanto podia sentir-se
um investigador da Polícia
com seu magro salário. Mas o
salário, mesmo sendo magro,
Francisco o tinha recebido
naquele dia, coisa difícil de
acontecer no seu tempo.
Apertava o dinheiro no bolso
e ia pensando nas cervejas que
iria tomar logo mais, à noite,
na Condor. Era solteiro e
datas como Natal, Ano Novo,
São João, Círio e tantas outras, ele as passava na boemia,
fazendo sua acompanhante a
primeira mulher com quem
simpatizasse. E pensando no
programa que desenvolveria,
ia pedindo que o dia acabasse
logo, chegasse logo à noite,
para que ele “estourasse a
nota” na “condérica”.
E foi assim que chegou
à rua João Alfredo. Pessoas
para lá e para cá, entrando e
saindo das casas comerciais,
cheias de embrulhos e compras, evitavam esbarrar em
Francisco, que sorria sem
saber de que.
- Deve ser o tal espírito
de Natal, pensou. Afinal,
Francisco, sendo solteiro
e tendo entrado ainda jovem para a Polícia, estava
acostumado a lidar com
marginais e prostitutas, não
conhecendo o outro lado da
vida. Seu sorriso extinguiuse nos lábios ao olhar para
o interior de uma loja. À
vista aguda do velho policial
não escapou o homem que,
sorrateiramente, tirava uma
boneca de cima do balcão.
Acompanhou o lance. E viu
o homem disfarçadamente
colocar a boneca debaixo do
braço, meter-se no meio do
pessoal. Quando menos esperava, Francisco o segurou
pela gola da camisa.
- Que é isso aí, ó meu?
Vais querer levar a boneca
sem pagar?
- Me solte, pelo amor
de Deus...
As pessoas começaram a
juntar-se e os gritos de “lin-
cha” já começavam a ouvir-se.
Francisco gritou:
- Ninguém bate no homem. Podem deixar comigo.
Sou da Polícia.
Uma das encarregadas
da loja dirigiu-se até ele, que
fez a entrega da boneca e saiu
arrastando o homem. Este, já
na rua, apesar dos olhares dos
curiosos, consegue falar junto
ao ouvido de Francisco.
- Olha, meu amigo, quero lhe falar em particular.
- Não tem disto, não,
velho. Não tenho nada para
falar contigo. Estavas roubando e eu cumpri com o
meu dever.
- Certo, certo. Mas,
olhe, por favor, eu não sou ladrão. Eu realmente estava tirando a boneca para dar à minha filha de Papai Noel. Sabe?
Eu estou desempregado...
- Não quero saber disto.
Acaba com o papo.
- O senhor é pai?
- Hein? O quê?
- É, o senhor é pai?
- Não, não sou, não.
Ou, pelo menos se sou, não
sei. É até possível que alguma
vadia tenha um filho meu por
aí... Mas não sei, não!
- Então é por isto...
- É por isto, o quê?
- É por isso que o senhor não compreende.
- Não compreende
o quê? Fala de uma vez,
desembucha!
- Não compreende o
que é a gente ser pai, querer
dar o Papai Noel para uma filha e estar desempregado, não
ter dinheiro, como eu. Dói,
meu irmão, dói na alma.!
- Isto não justifica o
roubo.
- É, não justifica, não.
Mas o senhor não pode imaginar, já que não é pai, o que
é todas as crianças estarem,
no dia de Natal, com seu
brinquedo, presente de Papai
Noel, e o filho da gente não
ter nada... Dói mais na gente
que na criança. Já pensou o
que é olhar aqueles olhinhos
tristes de decepção, quando
vê que o Papai Noel não veio?
Eu não sou ladrão. Eu peguei
a boneca para dar para minha
filha. E agora... além de não
WALCYR MONTEIRO
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Presente de Natal
lhe dar nada, ainda vou fazer
com que ela se envergonhe de
mim quando crescer.
Francisco começou a
pensar. Mas tranqüilizou sua
consciência.
- Ora, ele estava roubando. Foi “flagra” mesmo.
Não tem nem apelação.
E para não ouvir mais
nada, disse:
- Olha, encerrou o
papo, tá?
Chegaram à Central
de Polícia. Depois do competente registro, o homem
foi encaminhado ao pátio.
Quando ia entrando, chamou
Francisco.
- O que é?
- Olhe, eu já disse que
não sou ladrão. Meu nome é
Alberto Lopes. Moro no Guamá, na rua tal, assim, assim.
Vá lá e se informe. Verá que
todos darão boas informações
minhas.
Francisco virou as costas e saiu. Seu dever estava
cumprido e pronto. Voltou
ao comércio. Voltou a pensar
na Condor. Porém outra
coisa ocupava também seu
pensamento...
- Não sou ladrão... sou
um homem honesto... estou
desempregado.... Papai Noel
da minha filha... roubei a
boneca por isso... O senhor é
pai?... O senhor é pai?
As frases do homem começaram a martelar a cabeça
de Francisco.
... sabe o que é ter filho
e não poder dar presente?
Dói mais na gente os olhos
tristes da criança... eu não
sou ladrão... dia de Natal,
todas as crianças com brinquedos, só a nossa não ter
nada... e o senhor é pai?...
o senhor é pai?... o senhor
é pai?...
Francisco começou a se
preocupar. Não sabia por que,
mas o fato é que ele estava indeciso. Teria realmente feito
bem em prender o homem?
- É, vivi tanto e não fiz
um filho! E se fiz, não tenho
nem o direito de ser chamado de pai. Ele é muito mais
humano do que eu. Expôsse a ser preso para dar uma
boneca à filha e fui eu que
o prendi. Com que direito?
Afinal, ele é mais homem do
que eu. Ele fez uma filha e
se arriscou até para lhe dar
uma boneca. E eu, o que fiz?
Prendi este homem. Eu, que
nem pai sou... eu, que não sei
o que é ter uma pessoa me
chamando de pai... mas, que
é isto, Francisco? afinal ele
estava roubando... cumpriste
o teu dever... Bolas, nem pai
eu sou...
Quando Francisco menos esperou, estava dentro
da loja na qual prendera o
homem. Olhou as bonecas.
Perguntou o preço de uma
bem grande. Achou graça
- um riso amarelo - quando
lhe disseram o preço: era
praticamente todo o seu
magro salário de investigador, que estava reservado
para uma noite alegre na
Condor. Passou a mão no
bolso, alisou as cédulas e,
decidido:
- Embrulhe a boneca.
Para presente, ouviu? Faça
um embrulho bem bacana.
Lembrava-se ainda do
endereço dado por Alberto.
E para lá dirigiu-se.
Casa paupérrima, uma
garotinha de quatro anos
DEZEMBRO - 2006 brincava na porta.
- Ei, vem cá...!
A menina foi.
- Tu moras aqui?
A menina fez que sim
com a cabeça.
- Olha, este é teu presente de Papai Noel. Foi teu
pai que encomendou.
A menina pulou de
contente. Bateu as mãos em
palmas, ao mesmo tempo em
que chamava a mãe.
- Mamãe... mamãe, eu
não lhe disse que Papai Noel
vinha? Olhe só o que ele me
mandou!
De dentro da casa saiu
uma senhora desconfiada.
Perguntou o que era aquilo.
- É o seguinte: encontrei seu marido lá embaixo.
Sou amigo dele. Ele comprou
esta boneca e pediu para
deixá-la aqui, pois ele estava
muito ocupado.
- Meu marido? O senhor está enganado. Meu
marido está em casa...
- O quê? Mas... a senhora não é mulher do Alberto Lopes?
- Hein?
- A senhora não é esposa
de Alberto Lopes?
- O senhor quer dizer,
a viúva, né?
- Viúva?
- Sim, porque ele morreu há mais de dois anos.
Atualmente eu vivo com
outro homem.
Fr a n c i s c o p e n s o u
estar sendo vítima de um
vigarista.
Naturalmente, o homem dera o nome falso, bem
como a residência. Furioso, ia
deixando o local.
- Ei, espere aí - falou a
senhora - e que história é esta
da boneca?
Francisco ia dizer que
tinha sido engano. Mas ao
olhar para a menina, esta
começava a desembrulhar a
boneca. Com os olhos saltando de alegria exclamou:
- É linda!
E dirigindo-se a Francisco beijou-lhe a mão, o
rosto, dizendo:
- Muito obrigada. Dê
um beijo em Papai Noel. O
senhor é amigo dele, não é?
7
Francisco não teve coragem de tirar a boneca. Fez
que sim com a cabeça, olhou
a mãe da menina que esperava
uma resposta e, levantando-se, saiu apressadamente
sem dizer nada. A senhora
seguiu-o com o olhar, exclamando em voz alta: - Deve
ser doido!
Francisco dirigiu-se
furiosamente à Central de
Polícia. Chegando, foi direto
para o pátio. E procurou por
Alberto. Mas ele não mais
estava ali. Dirigiu-se ao comissário de permanência,
perguntando quem o havia
mandado soltar.
- Não foi solto não. Está
no pátio.
- Lá ele não está. Vim
de lá, agora.
- Mais isto não é
possível...
Dirigiram-se ao pátio. A
porta foi aberta: o homem não
estava lá. Como por encanto,
havia desaparecido. Pergunta
aqui, pergunta acolá, ninguém
sabia informar o paradeiro do
homem que tentara roubar a
boneca para dar de presente
de Papai Noel...
A história foi contada
por Francisco ao comissário
e demais presentes.
- É... foi o espírito do
pai dela que ia dar a boneca. E
acabou dando mesmo, através
do Francisco...
Naquela noite de Natal, Francisco, sem dinheiro,
bebia à custa dos amigos na
Condor. Encontrou uma
velha conhecida, entabularam conversa e combinaram
passar o resto da noite juntos. Em dado momento ela
comentou:
- Mas o que é que tu
tens, Francisco? Estás tão
diferente hoje! Parece até que
não estás aqui...
Francisco não respondeu. Mas na verdade seu
pensamento estava longe.
Pensava em algum lugar do
bairro do Guamá, nos olhos
felizes de uma garotinha
com uma grande boneca nos
braços - presente de Natal,
comprada com seu magro
salário de investigador da
Polícia...