crise e imaginários sociais
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crise e imaginários sociais
imagonautas Revista Interdisciplinaria sobre Imaginarios Sociales 2012 Vol. 2 Núm. 2 ISSN 0719-0166 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Crise e Imaginários Sociais Crise e Imaginários Sociais Crisis and Social Imaginaries Manuel Alves de Oliveira Universidade de Santiago de Compostela [email protected] Resumo: Com o presente trabalho pretende-se demonstrar como o imaginário da crise actual suscita atitudes e comportamentos de “submissão” perante lógicas de dominação naturalmente aceites. Explicita-se como simulacros mediatizados suscitam a inevitabilidade de um pensamento único e que a submissão a essa inevitabilidade desvirtua a própria ideia de crise. E, finalmente, como uma crise poderia constituir oportunidade e sentido de futuro. Palavras-Chave: Crise, Paradigma, Desigualdade, Paradoxo, Imaginário Abstract: The present work aims to demonstrate how the imagery of the current crisis raises attitudes and behaviours of “submission” before naturally accepted logics of domination. It explains how mediated simulacra raise the inevitability of a sole way of thinking and that submission to this inevitability undermines the very idea of crisis. And finally, as a crisis could mean an opportunity and sense of future. Keywords: Crisis, Paradigm, Inequality, Paradox, Imaginary Manuel Alves de Oliveira/ pp. 2 – 21 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Crise e Imaginários Sociais 2 Introdução: Em “A Viagem na Irrealidade Quotidiana”, Umberto Eco, a propósito da tão propalada “crise da razão”, escreveu: O uso indiscriminado do conceito de crise é um caso de cãibra editorial. A crise vende bem. Nos últimos decénios assistimos à venda da crise da religião, do marxismo, da representação, do signo, da filosofia, da ética, do freudismo, da presença e do sujeito (transcuro outras crises de que não percebo profissionalmente mesmo que as sofra, como a da lira, da habitação, da família, das instituições e do petróleo). De onde a conhecida piada: «Deus morreu, o marxismo está em crise e também eu não me sinto lá muito bem.» (Eco, U. 1986, 111). Volvidos mais de trinta anos sobre a afirmação, é nosso entendimento dever retomá-la pela sua, ainda, actualidade e pertinência. Vivemos um tempo que todos, sobretudo no Ocidente, apelidam de crise. A crise associa-se, ao nível mais elementar do senso comum, à ideia de mudança, de instabilidade, de devir. Neste sentido elementar estamos sempre em crise, porque, sobretudo nos últimos decénios, a mudança e o devir são o nosso modo de ser “natural”. Basta que sejamos confrontados com as novidades constantes das tecnologias, das leis, dos costumes e hábitos, para entendermos a dificuldade de equilibrar a identidade com a inovação. Temos como dado óbvio e adquirido, e do senso comum, que esta crise de que tanto falamos é sobretudo económica e financeira, com implicações sociais, políticas, culturais, comunicacionais. Pelo menos, é o que se nos afigura como relevante neste imaginário colectivo, e que provoca pensamentos quase consensuais, atitudes de consentimento ou mesmo de submissão, inevitabilidades, um “ter de ser” contra o qual nada ou pouco se pode fazer, mas que suscitam questões de legitimação e das weberianas “crenças” na legitimidade e consequentes modos de submissão e dominação. Ora, é este “imaginário da crise” que merece alguma decifração. Talvez a crise que se entende como “crise” não o seja. E talvez o que julgamos como resultante consensual e “estabelecida” seja verdadeiramente o que significa crise e mudança profunda, pela submissão à “neutralidade”, a uma “ataraxia” pouco fundada (ao contrário da “dos convencidos de que disfrutam melhor a abundância os que menos dependem dela” (Epicuro, 2008, 34). Com variações no modelo, a economia, na sua essência, suportada no capitalismo industrial e, mais recentemente, no capitalismo financeiro, não se afigura como novidade. Levou longe de mais a especulação, induziu a que todos, ou quase, a tornassem em ideal de felicidade, e constatou que, afinal, o modelo estava a servir “artificialmente” demasiada gente, apesar dos “desafiliados” serem ainda muitos. Perante isso, agudiza-se a ideia de crise para que tudo regresse “naturalmente” ao ponto de partida. Os mercados (pessoas concretas, com nome e com rosto, mas que parecem entidades abstractas e extra terrestres) tratam do que deve ser tratado. A fraqueza, a piedade, a fatalidade, o compromisso cobarde do ”querido, educado, da besta doméstica” (Nietzsche, 1975,15) ganham relevância com naturalidade, retomando lugares de outras eras onde a democracia ou a liberdade Manuel Alves de Oliveira/ pp. 2 – 21 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Crise e Imaginários Sociais 3 eram miragem. É sobretudo em torno desta ideia de crise, e do imaginário social que a sustenta e naturaliza, que nos propomos alguma reflexão, procurando, não tanto enveredar pela regularidade estatística que pode servir para todo o tipo de manipulações quando privilegia o quantitativo e secundariza o relacional e interpretativo, mas tentando realçar alguns paradoxos que teimam em subsistir. Usaremos apenas alguns dados como ponto de partida de reflexão, sem homenagens ao “cientismo” positivista, mas procurando não desperdiçar a experiência, pelas perguntas que suscita. Retirarmo-nos do mundo seria o pior mal. Mesmo que o façamos em nome de uma qualquer ciência mesclada duma ideologia e imaginário dominantes. 1. A Crise que vende bem Um “caso” como ponto de partida: Em Agosto de 2012 o Estado português arrecadou 258 milhões de euros, aplicando uma taxa de 7,5% sobre património escondido fora de Portugal detectado no valor de cerca de 3,4 mil milhões de euros, regularizando assim os respectivos activos. A propósito, poderíamos apenas realçar que qualquer trabalhador médio paga de IRS taxas bem superiores, sendo que um salário razoável paga, em Portugal, 30 ou 45% de IRS. A este “caso” poderíamos adicionar dezenas de situações semelhantes. Ou aduzir que, em Portugal, segundo estudos recentes do Observatório de Economia e Gestão de Fraude, a chamada economia paralela tem vindo a crescer, e se em 2010 era de 24,8%, atingiu em2011 25,4% do PIB, sendo previsível o seu aumento em 2012 (de referir que, segundo o estudo apresentado, sem economia paralela, Portugal tinha contas públicas equilibradas, e até um saldo positivo de 0,7%). Não cabe aqui qualquer intuito ou tratamento jornalístico desta, ou de outras situações, mas tão só, partir deste “senso comum”, desta familiaridade com a experiência, para, pelo menos, alguma tentativa de decifração. Os casos referidos, não provocaram grandes análises, nem foram motivo de grande espanto, pelos partidos de todo o espectro, desde a propalada esquerda aos mais conservadores. Também não provocaram grande “ruído” na opinião pública. E na opinião publicada tiveram apenas uma ou outra ténue reacção. E porquê? Porque o paradigma dominante, nos seus aspectos essenciais, continua dominante. E porque o imaginário da crise introduziu já um conjunto de medos que favorecem a acomodação e reduzem a capacidade crítica e de exercício da liberdade. Apenas com o receio de que o futuro seja ainda pior se não nos acomodarmos ao que “tem de ser”, e às inevitabilidades. Sendo assim, e de modo sucinto, o que é que imaginamos como paradigma dominante? 1. No plano económico a ideia (consistente) de que o mercado é absoluto. E o mercado impera. 2. No plano político, a secundarização da política e a sua subserviência ao mercado, bem como a ausência de estratégias integradas e globais como contraponto à globalização económica. 3. No plano cultural, uma “culturaManuel Alves de Oliveira/ pp. 2 – 21 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Crise e Imaginários Sociais 4 mundo” que, embora com vantagens e alguns elogios por parte de figuras notáveis (inclusive na área sociológica), não deixa de regular as nossas vidas e de estar presente nos nossos imaginários, como “massagem” sedutora, ou cultura-espectáculo, como contraponto à descodificação e pluralidade de leituras da “mensagem”. 4. E uma tecnociência que nos invade em todos os domínios, sem a qual não imaginaríamos as nossas vidas. São os ideais da modernidade, aliados ao capitalismo, que vão impondo regulação, apesar de esporadicamente trazerem “à luz” opacidades latentes com tradução em ideais expressos em grandes declarações universais de direitos e valores não menos universais. Afinal, a liberdade, a fraternidade, a justiça, ou a igualdade, não deixaram de ser valoradas. Pelo menos assim imaginamos. No plano epistemológico, e sem pretendermos retomar velhos debates como o de T. S. Kuhn e K. Popper, ou o modelo racionalista de G. Bachelard, talvez seja pertinente, pelo menos, uma curta referência à actividade da ciência, ao modo como trabalha, sobretudo ao que Kuhn apelidou de “ciência normal” ou período de crise, e à sua relação com a noção de “paradigma”. Quando nos referimos aos paradigmas, estamos a referir um conjunto de “crenças”, “técnicas”, “valores” partilhados “pelos membros duma certa comunidade científica”. Kuhn considera-os como “resultado científico fundamental que inclui ao mesmo tempo uma teoria e algumas aplicações tipo aos resultados da experiência e da observação”, “aceite no sentido em que é recebido por um grupo cujos membros deixam de tentar opor-lhe um rival ou de criarlhe alternativas”1. Não deixa de ser uma noção com sentido sociológico, uma vez que exige adesão de uma comunidade científica, comunicação e assentimento entre os seus membros. Ou de poder aproximar os planos político e científico, como o próprio Kuhn reconhece ao falar das revoluções científicas que ocorrem quando um novo paradigma substitui o antigo e se incompatibiliza com o anterior: “Porque chamar de revolução uma mudança de paradigma? Face às grandes e essenciais diferenças que separam o desenvolvimento político do científico, que paralelismo poderá justificar a metáfora que encontra revoluções entre ambos? A esta altura, um dos aspectos do paralelismo já deve ser visível. As revoluções políticas iniciam-se com um sentimento crescente, com frequência restrito a um segmento da comunidade política, de que as instituições existentes deixaram de responder adequadamente aos problemas postos por um meio que ajudaram em parte a criar. De forma muito semelhante, as revoluções científicas iniciam-se com um sentimento crescente, também restrito a uma pequena subdivisão da comunidade científica, de que o paradigma existente deixou de funcionar adequadamente na exploração de um aspecto da natureza, cuja exploração fora anteriormente dirigida por um paradigma. Tanto no desenvolvimento político como no científico, o sentimento de funcionamento defeituoso, que pode levar à crise, é um pré-requisito para a revolução.”(Kuhn, Thomas, 1992, pp.125-126). Seria loucura ignorar que, pelo menos desde 2007, algo de novo aconteceu nas economias. Que a incerteza e a insegurança invadiram, pelo menos de forma mais aguda, as vidas de muita gente. E que estes sentimentos têm vindo a avolumar-se. Mas será que estamos verdadeiramente, no que à “essência” respeita, num verdadeiro 1 Citado a partir de “História e Prática das Ciências”, A Regra do Jogo, Lisboa 1979, p. 32 Manuel Alves de Oliveira/ pp. 2 – 21 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Crise e Imaginários Sociais 5 contexto de crise, gerador de uma mudança de paradigmas, ou antes no domínio de variações ou mudanças no interior do “mesmo”? A leitura pode sempre ser efectuada de perspectivas e ângulos diferentes, seja científica, seja ideológica ou a partir do imaginário da crise. Aliás, seria impensável ou pretensioso ousarmos aqui um “esquema” da crise que enquadrasse de modo universal as diferentes especificidades da actual crise. Seguramente que um angolano, um chinês, um brasileiro, um português, um espanhol, um grego ou um alemão não terão desta realidade idêntica percepção. Nem a suposta realidade será certamente a mesma. E, mesmo num contexto determinado, por exemplo, um país como Portugal, a angústia ou desespero de uma grande massa, não são identificáveis com o sentir dos que olham a crise como uma grande oportunidade. Pretender, por isso, “encerrar” ou conceptualizar num universal a multiplicidade, além de absurdo, seria inutilidade. No entanto, somos invadidos por uma “narrativa” da crise onde as “generalizações” são uma constante, alicerçada noutras narrativas do mundo que fazem o grande paradigma e o grande imaginário do nosso tempo: a narrativa da globalização, suportada por outras não menos relevantes “narrativas”, bem eficazes, como a “dos mercados” e das “redes” de comunicação e informação, cuja convergência garante o exclusivo da regulação e a sua apropriação privada. Já procuramos demonstrar, noutra análise, que a globalização e o modo como se vem impondo, podem constituir uma mentira global, e que "a globalização pode ser globalização de horrores e de mentiras, como o pode ser de outras coisas mais benéficas”. E que, dados os inúmeros paradoxos e ambivalências que a sustentam “só o é em parte e nem sempre na melhor parte”. 2 Sem uma decifração do próprio sentido da “crise” podemos correr riscos idênticos, generalizando o que não é generalizável, dando receitas que não são sinal de novas respostas para problemas novos, mas antes, como refere, Umberto Eco, encarnar a história de alguma involução comprovativa de que “este início do terceiro milénio tem sido pródigo em passos de caranguejo”(Eco, Umberto, 2007, 9). Ora, é do sentido originário da crise, o acto de “julgar”, decidir, “resolver” problemas e situações, fazendo-nos entrar em novas realidades e situações, também elas com novos problemas. “Uma crise só se torna desastrosa quando lhe pretendemos responder com ideias feitas, quer dizer, com preconceitos. Atitude que não apenas agudiza a crise como faz perder a experiência da realidade e a oportunidade de reflexão que a crise proporciona” (Arendt, Hannah, 2000, 23) 3. É esta oportunidade de reflexão que deve suscitar decifração, não apenas para descrever “o que é”, mas para nos introduzir nas “razões” da situação a que chegamos, uma vez que só poderemos imaginar “um outro lugar” partindo do lugar em que pensamos. Apesar da “anomia” e do hábito já enraizado e da tentação do apátrida. Ou da lógica da “tribo”. Não é de agora a ideia de que a competitividade não é acompanhada de equidade, estando até associada à desigualdade e falta de coesão. Não é pelo seu maior desenvolvimento que os Estados Unidos revelam menor desigualdade, estando entre os países desenvolvidos como 2 Em tese apresentada na USC sobre “Globalização Competitividade e Coesão Social” procuramos, entre outros aspectos, demonstrar que a globalização política, social, ambiental, ou mesmo na esfera do direito, estão em grande parte por construir, e assumem claramente uma esfera mítica pela confusão entre o simbólico e o real, ou de simulacro enquanto fingimento fantasmagórico. 3 Publicado pela primeira vez em 1957 (A Crise na Educação). Manuel Alves de Oliveira/ pp. 2 – 21 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Crise e Imaginários Sociais 6 sendo dos mais desiguais (com um Gini superior a 40), havendo países como os nórdicos, a Eslováquia e a República Checa mais igualitários (com Ginis entre 25 e 30). Parece-nos importante insistir nesta ideia, por nos parecer determinante para a análise do alcance ou mesmo da novidade aparente da crise actual. “A causa real da crise reside nas enormes desigualdades na distribuição de rendimentos que geraram muito mais fundos para investir do que aqueles que podiam ser investidos com lucros. O problema político do crescimento insuficiente da classe média foi então «resolvido» através da abertura dos portões ao crédito barato. E esta abertura dos portões, para placar a classe média, era necessária porque, num sistema democrático, um modelo de desenvolvimento excessivamente desigual não pode coexistir com estabilidade política. Poderia ter resultado de maneira diferente? Sim, sem trinta anos de desigualdade crescente, com uma melhor distribuição dos rendimentos nacionais” (Milanovic, Branko, 2012, 184). E não bastam simulacros para disfarçar o indisfarçável. É certo que a história da humanidade é uma história de desigualdades. Basta que dois homens existam para que a questão se coloque. Muitas são as teorias económicas para a sua justificação (diga-se que não temos a ousadia de as entender de forma aprofundada) mas que, no essencial remetem para dificuldades na determinação de indicadores, ou para o facto de ser matéria de análise recente com indicadores mais credíveis, apesar das muitas análises que já Platão efectuava (um mal social a exigir combate) ou das leituras e perspectivas de economistas ou sociólogos com maior expressão desde os finais do século XIX, umas entendendo-a como inevitabilidade (ou até um benefício), outras repudiando-a como um mal e um sinal de injustiça. Reconhecemos a sua complexidade, nos seus diferentes níveis (entre indivíduos, entre nações e povos, no plano global), na sua relação com o desenvolvimento, na explicação das suas variações ao longo da história e nos diferentes países ou regiões. No entanto, e independentemente dos múltiplos olhares e leituras, há evidências e uma experiência que não pode ser desperdiçada: A desigualdade exige uma visão relacional e integrada que não se compadece com mentes mosaicas ou com um espírito exclusivamente analítico, ignorante do todo e das interdependências das suas partes, infelizmente muito em voga nas análises e medidas de afamados especialistas, inclusive no modo como querem que se pense ou que todos pensem (até no combate aos deficits, ou na forma como a autoflagelação dos “menos regrados” e “dos que viveram acima das suas possibilidades” -generalização perversa- tem de ser assumida). “A crise vende bem”. Por isso, mais do que a concentração no “que é”, exige que nos concentremos na “forma” no “modo” como nos “aparece”, diferenciando o “fenómeno” que se nos revela, do “invisível” que deveria mostrar e revelar. Quando absolutizamos o que “aparece”, ignoramos a questão do sentido, evitamos a decifração, institucionalizamos o “totalitário”, impedimos a abertura ao “invisível”. Daí a importância da análise dos imaginários sociais que “converta o que se nos apresenta como evidência em algo observável”, que tenha “disponibilidade” para reflectir “sobre a não-verdade”, que assinale “o diferenciante”, que esteja centrada na “distinção que gera um plano (ou dimensão) de conhecimento que sempre supõe outro que permanece oculto”, que tenha como ponto de partida a distinção entre “relevâncias e opacidades” (Pintos, J. L., Manuel Alves de Oliveira/ pp. 2 – 21 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Crise e Imaginários Sociais 7 1999,7). A questão fulcral da desigualdade e dos seus desenvolvimentos, bem como a sua relação com o que apelidamos de crise, não podem ser secundarizadas. E, com a consciência de que não há, apesar de se tratar de domínios diferenciados, linhas de demarcação claras e inequívocas entre o que é científico, o filosófico, o político, o ideológico, ou os imaginários. Sem abusarmos da estatística, citemos alguns dados. “Nos Estados Unidos, o 1 por cento mais rico da população duplicou a sua proporção nos rendimentos nacionais de cerca de 8 por cento em meados dos anos 70 (do século XX) para quase 16 por cento no início dos anos 2000. Estranhamente, isto replicou a situação que existia imediatamente antes do crash de 1929”… “O rendimento médio real nos Estados Unidos está estagnado, há 25 anos, apesar da quase duplicação do PIB per capita. Cerca de metade de todos os rendimentos reais entre 1976 e 2006 foram acumulados pelos 5 por cento de lares mais ricos” (Milanovic, Branko, 2012, 181-182). Segundo este autor, se compararmos os indicadores de desigualdade dos Estados Unidos com a União Europeia, no primeiro caso é de realçar a diferença entre pessoas ricas e pessoas pobres, enquanto, no segundo a desigualdade se deve mais à diferença entre países. Não temos dados para contraditar, mas pensamos que, no caso da União Europeia, ambas as variáveis serão relevantes e igualmente importantes. Se é verdade, como refere que “todos os luxemburgueses são mais ricos que todos os romenos” ou que “as pessoas mais pobres da Dinamarca são mais ricas que 85 por cento da população búlgara” (Milanovic, B., 2012, 167), também não deixa de ser relevante considerar que, por exemplo, a Roménia, segundo dados do Eurostat, tenha um Gini de 33,3 em 2009, ou que, nesse mesmo ano, Portugal e a Espanha tenham coeficientes de 33,7 e 33,9 respectivamente, enquanto a Dinamarca e o Luxemburgo têm, respectivamente, coeficientes de 26,9 e 27,9, sendo a média da EU-27 de 30,5. Será caso para dizer que, salvo algumas excepções, os mais ricos da EU são também menos desiguais. Não deixa de ser curioso que Portugal foi baixando os seus indicadores, por exemplo entre 2003 e 2009, de 37,8 para 33,7, mas subiu já em 2010 para 34,2 (segundo dados da Pordata). É certo que seria tentação totalitária a absolutização da variável “desigualdade” como justificativa da crise, até pela possibilidade de uma maior igualdade na miséria não deixar de significar uma crise real e estrutural. Mas o que se torna relevante é o facto de haver recursos mais ou menos suficientes que poderiam, com outras regras e valores, evitar o que designamos por crise, ou seja, com ajustamentos no paradigma dominante, uma vez que só em alguns imaginários se desenharão outros paradigmas. De há muito sabemos que “saber é poder” e que muitas vezes o que aparentemente é tratado como científico não passa de forma de exercício de um poder determinado, suportado em imaginários que servem um “patronato mitológico” e que garantem credibilidade ao que é ideológico, garantindo assim formas de dominação racionalizada e legitimada. A crise actual parece constituir espaço privilegiado, pelo “ter que ser” e pelo tom das “inevitabilidades” que são “fundamentadamente” inculcadas, o espaço de eleição para imaginários de insegurança, medo, acomodação, culpa, “pecado”, “arrependimento pelos erros cometidos”, submissão e subserviência perante esse “grande invisível” que comanda as vidas das massas e que recorda o poder da esfinge. E, no entanto, os números da desigualdade falam, os números das economias paralelas também falam, as Manuel Alves de Oliveira/ pp. 2 – 21 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Crise e Imaginários Sociais 8 inconsistências dos discursos políticos são gritantes, o alarido acrítico das redes sociais e dos media são reinantes, sem que as consequências sejam avaliadas. Ou será que não se pode questionar esse deus sagrado que é a economia de mercado, pelo menos na forma como tem imposto a sua privada e exclusiva regulação, e o poder que a suporta? A “ficção útil” começa a invadir, em todos os domínios, as vidas dos homens e a própria democracia política. E entender que isto é ideológico, é ignorar que a ciência que suporta o seu contrário é ideologia dominante, que se faz passar pela verdade, e que considera a ideologia mistificação. O velho e propalado fim das ideologias é a maior ideologia e é profundamente ideológico, porque não deixa de modelar as consciências e de influenciar, como referia Althusser, a relação imaginária dos indivíduos com as reais condições de existência. E é esta pseudo-ciência que vem transformando o desempregado (ou, de um modo mais amplo, o “desafiliado” do sistema) num falhado, num incompetente, num inútil culpado, em alguém com medo de existir, quando confrontado com o “elevado saber da esperteza” que garante o sucesso. Confrontados com a própria impossibilidade de imaginar, pela confusão entre o real (virtual) e o sonho, somos colocados no lugar de “referentes mudos”, como se tudo valesse nada, graças ao disfarce, à ocultação, à simulação. Há muito Baudrillard reiterava que na simulação se anula a diferença entre imagem e real, entre verdadeiro e falso. A narrativa da inevitabilidade associada às respostas à actual crise, parece constituir um exemplo paradigmático da anulação desta diferença, inclusive pela “mensagem totalitária” que percepcionamos. E, no entanto, economistas como Paul Krugman, continuam a insistir (com argumentos igualmente merecedores de alguma credibilidade) que “possuímos quer os conhecimentos quer as ferramentas para pôr fim a este sofrimento” (Krugman, Paul, 2012,32), que, “segundo o velho ditado os economistas sabem o preço de tudo e o valor de nada” (Krugman, 2012, 17), por ignorarem que a felicidade e a satisfação com a vida também são valores (além do dinheiro). Felizmente que, a par dos “mimetismos intelectuais ou autolegitimações apriorísticas” ou “dum saber capitalizado”, há “outras legitimidades que se constroem com o uso”, que “inventam”, que se “dirigem àqueles que têm vontade de pensar por si mesmos”. “Só alguns espíritos avisados sabem antecipar-se por pouco” (Maffesoli,Michel, 1990, 22). Desconhecemos até onde poderá ir a sua inspiração e influência. Mas sabemos que a teimosia no endeusamento do mercado, continuará a aprofundar uma sociedade injusta e dual, que este paradigma aprofunda a lógica da dominação e a desigualdade e exclusão. Como sabemos que o sentido crítico ou de indignação (e os exemplos são muitos e frequentes), não constituem verdadeiramente uma revolta contra o sistema e crise do paradigma, mas antes reacção face à vitimização que o sistema provoca com a retirada de benefícios a indivíduos ou a grupos (em alguns casos, “tribos”). A crise não é o que parece ser. E, para já, continua a vender bem. O mercado e as grandes redes de informação continuam o seu caminho de forma inexorável, procurando garantir uma “compreensão comum”, “práticas comuns” e mesmo uma “legitimidade amplamente partilhada”, enquanto aspectos relevantes de qualquer imaginário social (Taylor, Charles, 2010, 31). Se nos for veiculada e inculcada uma determinada compreensão e visão das circunstâncias que nos envolvem, e das razões pelas quais vivenciamos essa “circunstância”, essa mesma Manuel Alves de Oliveira/ pp. 2 – 21 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Crise e Imaginários Sociais 9 compreensão condiciona o modo como estabelecemos as nossas relações com o mundo e com os outros, e o modo como nos submetemos ou distanciamos de práticas dominantes. “Sou muito bem capaz de me orientar, sem ter de adoptar a perspectiva da visão de conjunto que o mapa me oferece. De modo semelhante, durante a maior parte da história humana e da vida social, funcionamos graças à apreensão que temos do repertório comum, sem o auxílio da visão teórica de conjunto. Os seres humanos actuaram com base num imaginário social, muito antes de se darem ao trabalho de teorizar acerca de si mesmos” (Taylor, Charles, 2010, 33). Se, no âmbito duma magia homeopática, acredito colectivamente que o semelhante atrai o semelhante, é natural que aceite, sem teorizar, que, em período de seca, o ritual de despejar água lembre aos deuses a necessidade da chuva. Se sou católico, tenho práticas diferentes do agnóstico ou do ateu, e imagino-me num mundo diferente, com uma relação diferente com o sagrado e a transcendência. Se acredito no deus mercado e me submeto a ele, aceito as suas inevitabilidades e faço a sua defesa acérrima e incondicional (e submeto-me à tentação: “tudo isto te darei se, de joelhos me adorares”), aceitando como inevitabilidade as crises que provoca. Salvaguardando distâncias e diferenças, da mesma forma que o mito introduz ordem e submissão, ou que os deuses gregos garantiam poder e respeito (apesar dos sísifos ou dos desafios prometaicos), ou que a “auctoritas” e hierarquização medievais se constituíram como inspiração, ou ainda como a modernidade introduziu a racionalidade e a secularização, a par dos grandes ideais humanistas, podemos hoje imaginar esse novo “sagrado”, o mercado, como o grande garante da ordem, o grande “fundamento” a que, universalmente, se deve obediência. É certo que nada é tão simples e linear. A complexidade não se compadece com perspectivas simples e visões estruturadas ou claramente definidas. Mas isso é igualmente válido para todo o tipo de leituras, mesmo para as que ditam o “ter de ser por aí”. O que está convencionado como normal, necessário ou inevitável, e que constitui elemento de regulação legitimada pode não ser como parece, e deve ser susceptível de reflexão crítica. A percepção desta crise não o é de modo essencial, pela simples razão de que não questiona o paradigma dominante. Antes, tem constituído pretexto para reforçar o seu poder de regulação e de dominação estrita, e ao serviço da própria dominação, inclusive na relação entre os povos e nações. Referindo-se, por exemplo, ao “problema do passado como excesso de diagnóstico”, Boaventura Sousa Santos, pergunta: “Quanto pesa o passado no presente e futuro de Portugal?” E acrescenta: “Não é um problema português. É um problema de todos os países periféricos e semiperiféricos no sistema mundial. A concepção de tempo linear que domina a modernidade ocidental, isto é, a ideia de que a história tem direcção e sentido únicos, faz com que os países centrais ou desenvolvidos, colocados por essa razão na ponta da seta do tempo, definam como atrasado tudo o que não é simétrico com eles. Por isso, só neles o passado não é problemático, já que justifica e ratifica o êxito do presente” (B.S.S., 2011,27). Se, como refere, o passado significar “conjunto de representações sobre as condições históricas que numa dada sociedade explicam as deficiências do presente”, e se as ciências sociais ocidentais ajudarem a difundir a ideia de que o problema do passado é “percepção da distância” entre um país e os desenvolvidos que servem de referência, se reforçarmos a hegemonia da Manuel Alves de Oliveira/ pp. 2 – 21 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Crise e Imaginários Sociais 10 representação de que “tal distância podia e devia ser menor” e que se “tal não foi possível” foi por “causas ou condições internas”, o diagnóstico é “grave” (B.S.S., 2011, 27). E mais grave será se nos convencerem e nos convencermos da inexistência de alternativas ao conservadorismo e às lógicas neoliberais. Ou, ainda, se os países mais distantes dos considerados como referência, assumirem um entendimento político que passa pela ideia de que o “melhor” e “mais bem comportado” consegue, isoladamente, resolver o “seu problema”. É hoje comum, no discurso político mediatizado, passar-se a ideia de que se não é “o outro”. Por exemplo, em Portugal, repete-se a ideia de que “nós não somos a Grécia” ou a Espanha. E certamente, outros veicularão este tipo de discurso. A este propósito, um simples “estudo de caso” poderá suscitar outro tipo de leituras e reflexão. Num Município português (Ovar), uma empresa (integrada num grupo multinacional) procedeu a um despedimento colectivo de 24 trabalhadores (num total de 91 trabalhadores). Antes de a situação ser pública, foi possível estabelecer com a administração contactos com vista à análise e avaliação da situação. Facilmente se concluiu pela quase inevitabilidade do despedimento, em resultado de uma única variável: 26% da produção tinha habitualmente como destino o mercado espanhol, sendo que, face à crise do mercado espanhol, as exportações para Espanha se confinam agora a 3%. E, para que a situação se não tornasse mais grave, a empresa-mãe sediada na África do Sul, garantiu alguma colaboração, permitindo exportações para novos mercados como Moçambique ou o Chile, porque, de outro modo, a empresa seria mesmo inviável. Este simples caso é demonstrativo de que, no actual contexto, “o outro” também somos “nós”. O paradigma dominante não se dá à imaginação nem se reconhece como “dominante” e parece recusar as próprias exclusões que suscita e que provoca, ou simula não ver, por conveniência, os seus resultados e métodos. Mas os paradoxos introduzem-nos num outro tipo de problemas: a coexistência do inconciliável. Como compreender, por exemplo, as teorizações e narrativas sobre a democracia, ao mesmo tempo que se assiste a um retrocesso dos regimes democráticos e a práticas claramente autoritárias e autocráticas, mais consentâneas com ditaduras que com democracias? Como compreender a coexistência de lógicas e práticas híperconsumistas (em grande parte de produtos inúteis como a panóplia de produtos tecnológicos e comunicacionais, apresentados como a grande revolução - como se Gutenberg fosse um herói que renasce todos os dias), a par de grandes narrativas sobre ambiente, sustentabilidade, estilos de vida saudável, de mais contenção e selectividade? Como defender a competitividade a todo o custo e a diferentes níveis, e a sua articulação com a coesão social? Como compreender e articular as narrativas da tolerância, do multiculturalismo, do direito à diferença individual, com o neotribalismo, os fundamentalismos religiosos e culturais que se avolumam e aprofundam? Como conciliar a ideia duma sociedade que “glorifica o trabalho” , e não que “todas as misérias individuais e sociais são o fruto da sua paixão pelo trabalho” (Lafargue, Paul, 2004,120), com a “natural” aceitação do fenómeno do desemprego? Como conciliar a racionalidade cientifico-tecnológica, ou mesmo filosófica, com o Manuel Alves de Oliveira/ pp. 2 – 21 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Crise e Imaginários Sociais 11 primado das emoções nas relações sociais, na acção política, no consumo, nos media? Como, em suma, entender que o sistema absorva, assimile, neutralize e inclua dentro de si a sua própria negação, com recurso a estratégias diversificadas de simulação, mediatização, modismos, sedução? Ao que tudo indica, estamos confrontados e envolvidos num conjunto de paradoxos e confusões que dificultam a reflexão crítica. “Durante muito tempo, as alternativas científicas foram inequivocamente também alternativas políticas e manifestaram-se por ícones analíticos distintos que tornavam fácil distinguir os campos e as contradições entre eles. A crise da teoria crítica moderna arrastou consigo a crise da distinção icónica e os mesmos ícones passaram a ser partilhados por campos anteriormente bem demarcados, ou, em alternativa, foram criados ícones híbridos constituídos eclecticamente com elementos de diferentes campos. Assim, a oposição capitalismo/socialismo foi sendo substituída pelo ícone da sociedade industrial, sociedade pós-industrial, e, finalmente, sociedade de informação. A oposição entre imperialismo e modernização foi sendo substituída pelo conceito, intrinsecamente híbrido, de globalização. A oposição revolução/democracia foi quase drasticamente substituída pelos conceitos de ajustamento estrutural, pelo consenso de Washington e também pelos conceitos híbridos de participação e desenvolvimento sustentado. Com esta política semântica, os campos deixaram de ter nomes distintivos, e para muitos, com isso, deixaram de ser distintos. Reside aqui a razão da perplexidade daqueles que, querendo tomar partido, sentem grandes dificuldades em identificar os campos entre os quais há que tomar partido” (Santos, Boaventura, S., 2002, 27-28). Estas, e muitas outras questões, pelo seu carácter paradoxal, suscitam reflexão sobre a circunstância, difícil de determinar, de estarmos perante um paradigma moribundo, que teima em subsistir, sem possibilidade de renovação, o que seria sinal de uma verdadeira crise e sinal de um novo paradigma emergente, ou se, ao contrário, estaremos condenados a tentar sobreviver num mundo onde a regulação tem mãos invisíveis que promovem a normalização e o conformismo, apesar da margem aparente para a crítica ou mesmo para a indignação. Esta última possibilidade é sugerida por Innerarity ao referir: “Quando a subversão é a corrente dominante, o mainstream, podemos encontrar revolucionários a nadar no sentido da corrente, pessoas que falam nos meios de comunicação contra os meios de comunicação, rotinas apresentadas como rupturas com a tradição e protestos que apenas satisfazem o gozo da indignação. O underground foi introduzido no mainstream. A economia é encenada eticamente; o marketing alia-se à subcultura; a crítica social é subvencionada por instituições que deviam tremer perante a crítica…Todos estes fenómenos têm a mesma estrutura: a negação do sistema está introduzida no próprio sistema, que deste modo se tornou inatacável” ( Innerarity, Daniel, 2009, 35). Como se a cegueira se confundisse com o excesso de luz e de visibilidade. Manuel Alves de Oliveira/ pp. 2 – 21 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Crise e Imaginários Sociais 12 2. Da necessidade de uma nova “praxis” e nova “consciência” globais – um sentido para a crise Em “Ensaios sobre o Liberalismo” Ralf Dahrendorf refere uma distinção, que o próprio considera pouco “científica”, de um seu professor, entre “perguntas” e “problemas”4. “Perguntas são desafios a uma decisão que a vida nos coloca. Por maior que seja a nossa fantasia ou o desespero, não lhes podemos escapar. Mesmo quando não lhes respondemos, estamos a dar-lhes uma resposta. As perguntas existem, colocam-se-nos, independentemente de as fazermos ou não. Em contrapartida, os problemas são criados por nós. Podemos solucioná-los ou não e em princípio até os podemos pôr de lado, esquecê-los, sem que eles nos persigam. As perguntas caracterizam o mundo da prática; os problemas, o da teoria”. (Dahrendorf, Ralf, 1993, 14). Seguem-se duas situações: A de um agricultor com fome, um filho já morto, a mulher e restantes filhos a agonizar. “Como conseguirei encontrar algo de comer para a minha família e para mim?” Esta é a pergunta. A de um economista de Oxford que se debruça sobre a fome na Índia e que se interroga sobre “qual a verdadeira razão da fome?” Este é o problema. Fácil será entender-se que a prática tem limites de tempo, enquanto a teoria pode ser intemporal. Assumir a crise evitaria a tentação de transformar perguntas em problemas, de olhar a vida como exercício especulativo de imposturas intelectuais próprias dum absolutizar científico do mundo ou dum dogmatismo filosófico. Se, por exemplo, o imaginário “aparece como potência magmática e fonte de tudo o que o ser humano se dá como significado e sentido” (Cabrera, 2006,34), se se situa na complexidade do que acontece ao homem e do que o interpela, podemos, a partir deles, suscitar não só a crítica de praxis “feiticizadas”, mas tornar relevantes novas possibilidades, novos percursos, novas “praxis”, reflectindo sobre “o que estamos a fazer” e que faz a nossa condição humana. Sabemos que a “praxis” actual está imbuída duma “mitocracia dominante”, sincrética, tendencialmente orientada para a aparente eliminação de paradoxos, contrastes e conflitos reais, mesmo que progressivamente agravados. Parece indispensável que, para se “relançar a reflexão”, se tenha presente a necessidade de decifração dos próprios imaginários sociais, dado que, além de “construtores da ordem social” e de garantirem maior “visibilidade à invisibilidade social”, importa reiterar que “estabelecem a dominação social como uma coacção legítima, hegemónica e aceite” (Pintos, J.L., 1995, 8). Não sendo os imaginários sociais realidades mas representações que não se resumem 4 Cf. Ensaios sobre o Liberalismo de R. Dahrendorf, cap. A teoria e a prática. Manuel Alves de Oliveira/ pp. 2 – 21 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Crise e Imaginários Sociais 13 exclusivamente à esfera individual, dado que mascaram símbolos e ideologias e estão presentes nos diversos domínios da praxis humana ou dos discursos (científico, religioso, político ou moral), e tendo presente que “garantem a eficácia social das ideias” e têm “o poder simbólico de produzir sentido e submissão” (Pintos, J.L., 1995,11), a sua elucidação e clarificação é imprescindível a qualquer analítica da actualidade. Não nos basta um “grande imaginário” de valores e direitos universais (relevando a justiça, paz, solidariedade, liberdade) e a sua enunciação. Importa confrontá-los com outros imaginários (dinheiro, êxito, prazer), entender a sua conflitualidade e os conflitos com a própria prática, as priorizações, as escolhas reais. Uma verdadeira crise significaria a clarificação destes conflitos e das suas razões fundamentantes e não o simples retorno a velhos percursos. Se um paradigma dominante gera desigualdade, a sua crise deveria ser oportunidade para questionar e não para aprofundar essa mesma desigualdade. Passamos a vida a invocar o “interesse público” e o “interesse comum” como uma espécie de entidade reguladora da economia, da política, da sociedade e da cultura. No entanto, os interesses dos mais oprimidos persistem como ficção útil face ao interesse dominante. Sem pretendermos “sacralizar” qualquer “teoria da justiça”, sempre podemos lembrar algumas que, mesmo menos “ousadas”, como a Justiça como Equidade de J. Rawls, relevam, a par das liberdades e direitos fundamentais, e da atenção às prioridades e necessidades, o acesso à riqueza económica e social, aos bens e recursos, acabando por defender que todos os princípios devem submeter-se a uma fórmula “não sacrificada” (“sagrada”) em que se considera injusta toda a desigualdade que não dá particular atenção ou não está ao serviço dos menos favorecidos. É preciso completar a justiça com alguma solidariedade (com algum amor). Como se, mais do que naturalizar uma “desigualdade eficaz” ao menos procurássemos uma “desigualdade justa”. Trata-se de, pelo menos, “reclamar que o aumento da vantagem do mais favorecido, seja compensado pela diminuição da desvantagem do mais desfavorecido”. Ou de, completando o princípio da igualdade perante a lei, “maximizar a parte minimal” (Ricoeur, Paul, 2010, 27). Face a um “indefinido” imaginário de fatalidade, qual estóica carroça do farrapeiro ou escada rolante do mundo, que segue o seu destino de forma automática e incontrolada, e se os imaginários “tornam visível a invisibilidade social”, é importante descodificar a sua génese, os seus efeitos, os mecanismos de coerção e dominação, o seu carácter complexo, difuso e multiforme, as suas redes e tentáculos, os seus métodos de distribuição de construção e percepção da realidade, os paradigmas da sua compreensão. A crítica do imaginário é essencial ao imaginar de novas possibilidades, contraponto essencial ao que de forma automática e inexorável acontece. Mais do que o interesse pela paisagem importa descobrir “a paisagem dos acontecimentos” e “reintroduzir o homem, os acontecimentos na paisagem”, evitando o colaboracionismo na desertificação (Virilio, Paul, 2000,116). Manuel Alves de Oliveira/ pp. 2 – 21 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Crise e Imaginários Sociais 14 Não podemos permanecer exclusivamente demasiado perto dos factos, transformando-os em tiranos idolatrados, e perder perspectivas de conjunto, nem limitar-nos a uma razão repressiva que oscila entre a “prisão das verdades positivas” da ciência ou a contaminação do passado idolatrado por um “humanismo” conservador. Nenhuma ciência, filosofia ou religião, terão a “chave” para os reais problemas que vivemos. Ninguém de bom senso ousará um “programa de acção” que resolva as dificuldades práticas com que nos confrontamos. Mas há seguramente consensos possíveis de alcançar no contexto duma “pragmática real” que, mesmo que seja apenas sinónimo de pequenos passos, nos pode aproximar dos princípios e valores éticos que consideramos indispensáveis, e que serão sempre sinal de novos imaginários, novas possibilidades, novos percursos. Uma crise exigiria outra atitude e ponto de partida. Em “A Cultura do Novo Capitalismo”, Richard Sennett avalia, no final, o que considera três “valores decisivos” para uma “ancoragem cultural”: o “fio narrativo”, a “utilidade” e o “espírito artesanal”. Sem nos determos no detalhe, são referidos estudos e experiências práticas e concretas, como o papel de “instituições paralelas”, como os sindicatos paralelos (na Grã-Bretanha e USA) que obrigam a repensar, por exemplo, a “natureza dos sindicatos” constituindo-se como “empregadores de um novo tipo”, prestadores de cuidados de saúde, organizadores de creches, recrutadores de jovens universitários, como contraponto ao curto prazo das organizações flexíveis, não se centrando apenas na tradicional atenção aos salários e condições materiais dos associados. Ou as experiências de “trabalho partilhado” na Holanda, em que o trabalho disponível é dividido por dois ou três, permitindo alguma inclusão social e maior disponibilidade para a família. Ou a ideia de um “rendimento base” para todos, com a consequente eliminação de outros apoios sociais por parte dos Estados. Ou, ainda, experiências criadoras de “utilidade”, na área social ou da saúde, devidamente enquadradas por um Estado e publicamente reconhecidas, garantindo “estatuto” pessoal e invertendo a tentação em moda de evitar um Estado empregador para ceder serviços públicos a organismos privados. Ou, finalmente, a valorização de um espírito “artesanal” que dê menos ênfase ao “consumidor sempre em busca do novo” e valorize mais “o artesão orgulhoso e senhor do que faz” porque “senhor do processo” e possuidor duma “virtude fundamental que falta ao trabalhador, ao estudante ou ao cidadão idealizados pela nova cultura: o compromisso” (Sennett, Richard, 2006,132). E, como refere em outra obra, “o artesanato é a habilidade de fazer bem as coisas” “impulso humano duradouro e básico, desejo de realizar bem uma tarefa, sem mais”. O artesão “centra-se na estreita conexão entre a mão e a cabeça”, articulando o harendtiano objecto de análise constituído pelo “homo laborans” (simples servo habituado à rotina, animal de carga) com o “homo faber” (produtor de uma vida em comum, que não se fica pela amoralidade, que analisa e julga em comum, que não se limita ao “como”, mas se interroga sobre o “porquê”) (Sennett, Richard, 2009, 20-21). Há falaciosas divisões entre a prática e a teoria, entre produtores e consumidores. “Explorar como seria possível mudar ou regular o comportamento concreto parece mais realista que aconselhar uma mudança de vida” (Sennett, Richard, 2009,24). Há uma nova praxis que nos impõe desafios novos e a construção de novos imaginários. Uma crise deveria levar-nos a novos percursos, ainda que com passos curtos, e não ao reforço de Manuel Alves de Oliveira/ pp. 2 – 21 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Crise e Imaginários Sociais 15 tentações totalitárias e anestesiantes. O “que fazer?” impõe-se a diferentes níveis. Precisamos de compromissos estáveis, de longo prazo, numa acção colectiva que seja contraponto ao “vazio ético global” e que “transforme o espectador em actor” (Bauman, Zygmunt, 2010, 261). E há certamente medidas e respostas concretas que podemos dar. Se, na defesa da ética na economia, consideramos que as offshores são um contra-senso, porque não aproveitar o actual contexto de crise para as abolir do sistema? Porque não, com a ajuda das novas tecnologias da informação e comunicação, introduzir mecanismos mais apertados de regulação financeira, impedindo a especulação desestabilizadora, taxando transacções de modo mais explícito e claro e penalizando de forma inequívoca as transacções ilegais quer ao nível dos bens, quer no plano da responsabilização criminal? O que impede a União Europeia de assumir como prioritário um claro esforço no sentido de uma harmonização fiscal, evitando que grandes grupos económicos “saltitem” entre os países em função das conveniências? Não é certamente qualquer ideologia que o exige, mas uma ética elementar. Há mesmo medidas pontuais que devem, em nome da ética, ser pensadas de forma diferente nos Estados. Por exemplo, no caso português, as respostas à crise não têm resistido à tentação ou a cegueira da estatística, a valorações quantitativas que idolatram paradigmas econométricos reducionistas, e que prevalecem sobre a especificidade e a diferença que a diversidade do concreto e a complexidade do real constituem. Medidas como as que foram pensadas sobre a TSU, as pensões, o agravamento do IRS, em vez da justificada atenção à “economia paralela”, são reveladoras do imaginário e paradigma dominantes que determinam as acções. Medidas abstraccionistas e cegas, centralistas, ignorantes da realidade e da sua especificidade, como as que têm sido implementadas nos Municípios e no exercício do poder local, além de liquidarem a sua autonomia, são claramente desajustadas. Pretender reduzir por percentagem o número de funcionários municipais, ignorando a situação real e de partida de cada município é paradoxal e absurdo. Pretender impor limites ao endividamento líquido de cada Município, premiando más gestões anteriores, impondo limites negativos aos cumpridores, garantindo financiamentos a quem não cumpriu, colocando os cumpridores a garantir as dívidas dos prevaricadores, tudo em nome duma “geral estatística” é paradoxal. Eliminar autarquias a “régua e esquadro” sem fundamentos, sem definições claras de competências, sem uma perspectiva integrada das funções do Estado, parece impensável. Mas a crise justifica tudo, quando deveria fazer repensar o papel do político, a sua relação com o poder económico, as partidocracias instaladas, as formas e níveis de exercício do poder, as funções do Estado, a relação dos Estados com a Sociedade Civil, o equilíbrio entre o Mercado, o Estado e a Sociedade e as razões da submissão destes à tirania do Mercado. Deveria reintroduzir a questão ética e das virtudes públicas no exercício da sua acção. Uma crise deveria, se assumida e real, suscitar vias conducentes a uma maior justiça social e à redução de desigualdades. Uma crise deveria questionar práticas de comunicação e informação, introduzindo regulação e sentido de responsabilidade no uso das tecnologias e nos Manuel Alves de Oliveira/ pp. 2 – 21 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Crise e Imaginários Sociais 16 media. São seguramente possíveis medidas que garantam mais rigor e responsabilidade no seu uso, sem que tal signifique qualquer regulação censória, mas uma responsabilidade essencial, sem a qual o “selvagem ritualizado” prossegue as suas “conquistas” de novos mundos. “Os das páginas de discussão ou de encontros na Internet, onde os pseudónimos, máscaras e demais avatares expressam o retorno da animalidade no ser humano” (Maffesoli,Michel, 2009, 41). No actual contexto, uma reflexão séria sobre o papel e importância da informação e da comunicação, nas suas múltiplas formas, sobre a sua maior ou menor dependência de interesses económicos instalados, sobre os seus paradoxos intrínsecos, seria prioritária. Uma crise devia ser oportunidade de reflexão sobre a Educação. Por exemplo, no que concerne a uma cidadania activa, às competências, ao dominante imaginário consumista. Talvez merecesse reflexão, no actual contexto, a máxima de «sabedoria» de Lipovetsky: “Age de tal modo que o consumismo não seja omnipresente nem hegemónico na tua vida nem na vida dos demais” (Lipovetsky, Gilles, 2008, 123). Uma nova “praxis” poderia sempre suscitar consumidores mais críticos (inclusive em matéria de novidades tecnológicas redundantes e inúteis) e questionar a indiferença. “A indiferença cresce. Em lado algum o fenómeno é tão visível como no ensino” (Lipovetsky, Gilles, 1989,37). Não podemos, nem devemos, controlar à distância o futuro de terceiros, ou transformar em desastre qualquer crise através de preconceitos e respostas feitas, recusando às novas gerações a possibilidade de reflectir e de pensar. Mas não podemos demitir-nos das nossas responsabilidades pelo mundo. “ A educação é assim o ponto em que se decide se se ama suficientemente o mundo para assumir responsabilidade por ele e, mais ainda, para o salvar da ruína que seria inevitável sem a renovação, sem a chegada dos novos e dos jovens. A educação é também o lugar em que se decide se se amam suficientemente as nossas crianças para não as expulsar do nosso mundo deixando-as entregues a si próprias, para não lhes retirar a possibilidade de realizar qualquer coisa de novo, qualquer coisa que não tínhamos previsto, para, ao invés, antecipadamente as preparar para a tarefa da renovação de um mundo comum” (Arendt, Hannah, 2000, 53). Em nome duma competitividade sem regras, estamos, inclusive em matéria de educação, a ignorar a indispensável coesão, a proceder a uma “rapina do futuro”, não só educando mal, mas demonstrando pouco afecto por aqueles que ajudamos a nascer. Não temos mais uma “sociedade” como “propriedade comum”. Estamos, como sugere Bauman, confrontados com um crescendo de liberdades individuais e, paradoxalmente, uma “impotência pública”, um mundo volátil em acelerada globalização, alicerçada em redes onde as elites dominam à distância, retirando o poder à política e às instituições aparentemente legitimadas, com um Deus aposentado e uma “comunidade imaginada”, como disfarce de “realidade”, como simulacro (no sentido atribuído por Baudrillard). Mas nenhuma “ciência social” dispensa escolhas morais. Citando Keith Tester, e referindo-se ao papel do sociólogo, Bauman refere que um sociólogo que assuma com lealdade a sua responsabilidade, o que pode fazer é “diagnosticar o presente sem, todavia, oferecer previsões”, e, se Manuel Alves de Oliveira/ pp. 2 – 21 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Crise e Imaginários Sociais 17 empenhado, “propor que talvez haja mais no ser-se humano do que se dá a ver”. E acrescenta: “É tarefa do discurso empenhado que aspira concentrar-se na construção da acção comunitária conduzir as pessoas para o território que o diagnóstico cartografou e orientar os passos a serem dados; fornecer uma resposta prática para a questão abstracta” (Bauman, Zygmunt, 2010, 263). O nosso destino comum impõe-nos uma nova praxis e uma nova consciência globais, como imperativo. Nenhuma emancipação pode resultar da aceitação obediente e dum pacto com a opressão. Como refere Boaventura de Sousa Santos, “a afirmação discursiva dos valores é tanto mais necessária quanto mais as práticas sociais dominantes tornam impossível a realização desses valores. Vivemos numa sociedade dominada por aquilo que São Tomás de Aquino designa por habitus principiorum, o hábito de proclamar princípios para não ter de viver segundo eles” (B.S.S., 2002, 31). Uma crise assumida exigiria pontes para novos imaginários da justiça, da educação, da comunicação, da função e situação do homem no mundo actual, reflexão sobre as práticas consumistas, sobre a equidade como direito fundamental e universal, sobre a importância e necessidade do que é público e comum. Ao contrário, o que impera e se agrava é uma “violência sistémica”, estrutural, invisível, resultante do “funcionamento homogéneo dos nossos sistemas económico e político”, “objectiva”, mas não mediatizada, ao contrário das que provocam “um sentimento hipócrita de indignação moral” resultantes das notícias repetidas e regulares da comunicação diária.(cf. Zizek, S., 2009, 13). A ausência de sentido e de regras não legitima nem a universalidade da excelência nem a generalização do abominável. 3. Conclusão Inconclusiva Recorrendo à ideia de paradigma, sugerimos, no início que uma crise, num contexto epistemológico, e sociológico, sugere ou insinua, pela presença de anomalias, um ou novos paradigmas. Ora, o que se nos mostra ou revela, constitui mais um retorno e reforço de práticas próprias de um paradigma dominante e tem constituído razão e argumentação para: 1. Reforço do paradigma do “homo oeconomicus”, onde sobressai o imaginário da competitividade egoísta, ao serviço da riqueza e do lucro, e onde o império da “mão invisível do mercado” reforça a sua lei. 2. As previsões assentes neste paradigma, suportadas em variáveis independentes abstracta e selectivamente consideradas, com pendor formal, com pressupostos de regularidade marcadamente estatística e determinista, têm sido Manuel Alves de Oliveira/ pp. 2 – 21 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Crise e Imaginários Sociais 18 demonstração de falhanço rotundo, adensando incerteza e precariedade. Apesar disso, insiste-se no erro e no modelo, ignorando-se qualquer critério de verificabilidade e, muito mais, de refutabilidade. Parece, assim, haver um subterfúgio ideológico, mascarado duma ciência repetidamente desmentida, para aprofundar um paradigma onde a exclusão já foi determinante. 3. Os meios e tecnologias da informação e comunicação, têm, no essencial, prestado o serviço de amplificação do paradigma, ao apresentarem-no e difundiremno como “via de sentido único” ou “única via possível”. Como consequência, o medo, a incerteza, a insegurança, avolumam ainda mais os individualismos e corporativismos, os regionalismos e formas cada vez menos solidárias na organização social. Mesmo as públicas manifestações de indignação não são resultado ou expressão de convergência solidária e objectivos comuns, mas, ou de defesa do que resta, ou de procura do que se perdeu. O paradigma instalado tem aprofundado divisões: Entre os que querem garantir direitos e emprego e os que já não têm emprego, entre os novos que procuram o primeiro emprego e os mais idosos, entre os que pagaram para usufruir de reforma e os que já pensam não ter direito a ela, entre os que trabalham no sector público e os que trabalham no privado, entre os que julgavam pertencer à classe média e os que nunca pertenceram, entre os que pagam impostos e os que fogem a eles, entre os que têm subsistemas de saúde e os que não têm. A inveja avoluma-se e amplia-se. A lamentação e o queixume tornam-se recorrentes, a lembrar o que o filósofo português José Gil, referindo-se ao caso português, expressava dum sujeito que “se vive” como “zero social e pessoal”, como “falhado” que se queixa de tudo e de todos, do “país”, mas “nunca de si próprio”. O mesmo autor alerta para o “chicoespertismo” que floresce com a crise mundial. (cf. Gil, José, 2009). 4. O público avoluma o seu deficit nas análises comparativas com o privado. Sem se discutir as funções do Estado, a sua necessidade, tudo vale para o desvalorizar, numa lógica de “vícios privados, virtudes públicas”, de privatização de lucros e socialização de custos. Apesar disso, são inúteis os que nele trabalham. Se uma empresa é pública e dá sinais de gestão menos eficiente, a condenação é unânime (e talvez adequada). Se é privada, mesmo insolvente, e onera o erário público, a análise pode ser diferente (veja-se em Portugal, os argumentos para privatizar a Caixa Geral de Depósitos e a não aplicação de critérios idênticos à banca privada, que, com idênticos argumentos, que não defendemos, poderia ser nacionalizada). Mas o imaginário que se constrói, com a colaboração dos media, insiste e reitera a desvalorização do público. O mesmo poderia dizer-se do funcionalismo, onde as generalizações são insulto à reflexão crítica isenta e onde as “socas de Hermes”, suportadas em estatísticas convenientes, insistem em divulgações onde a ideologia cega prevalece. Ter incutido nos imaginários colectivos a ideia de que “em Portugal a função pública ganha mais que o sector privado” é estatisticamente verdade. Mas ignorar análises comparadas de funções, sectores diferenciados da administração, tipologias de serviços públicos, transforma a estatística numa mistificação. Bastaria pensar nos salários do Ministério da Educação (onde a maioria são professores, quadros qualificados) e nos assistentes operacionais duma autarquia (que auferem Manuel Alves de Oliveira/ pp. 2 – 21 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Crise e Imaginários Sociais 19 pouco mais que o salário mínimo) para se entender a mistificação. O mesmo poderia dizer-se do número de funcionários públicos, na comparação entre países. Não se entende, em Portugal, o mito da redução desse número, sobretudo quando se estabelece comparação com outros países. Em 2004, segundo dados do Eurostat, a Suécia tinha 33,3% de funcionários públicos na população activa, a Dinamarca 30,4%, a Bélgica 28,8%, e Portugal detinha a ante-penúltima posição com 17,9%. Claro que em termos do peso dos salários em percentagem de PIB os valores não são tão optimistas, uma vez que a média do Euro27 era de 10,6% e Portugal se situava nos 13,6%. No entanto, será sempre de considerar outras variáveis, como o peso relativo entre a administração central e local, ou mesmo o facto, referido no início, de mais de um quarto do PIB português estar na economia paralela. Talvez a estatística fosse bem diferente. Mas, também nesta matéria, a “crise vende bem” e justifica todos os procedimentos. 5. No caso concreto português a “crise” tem constituído pretexto para liquidar uma autonomia responsável do poder local. Com medidas legislativas cegas, abstractas, redutoras, a gestão local vê-se enredada numa teia de burocracias, de restrições, ignorando-se o valor da proximidade, da subsidiariedade, das especificidades, e a própria complexidade. 6. A propalada “crise” tem constituído o reforço da secundarização do político face ao poder económico e uma desvalorização da democracia como sistema político. A imposição de regras aos governos nacionais por parte de instituições financeiras internacionais, por parte de comissões políticas não legitimadas, por governos não eleitos, são apenas alguns exemplos elucidativos. A par de práticas ditatoriais e não participadas ou discutidas por parte dos governos eleitos, com base em promessas rapidamente esquecidas ou de populismo básico (v.g. “o povo português é inteligente e é o melhor povo do mundo”), avoluma-se a exclusão pela austeridade e reduz-se a democracia ao estritamente formal. 7. Finalmente: O Estado Social. A crise poderia e deveria suscitar reflexão sobre a sua natureza e valor. Poderia mesmo suscitar análise sobre a problemática da coesão, do crescimento, da desigualdade, ou da ausência de regras na competitividade, onde países que crescem com a crise (e de forma significativa, como ocorre com a China) não revelam idênticas preocupações com legítimos direitos sociais. Mas não. Apenas suscita a ideia de inevitabilidade de retorno a modos passados. E facilmente se naturaliza a ideia de que o Estado Social não se situa na esfera de direitos e deveres fundamentais, para se situar na estrita esfera da caridade. No caso português, a naturalidade da aceitação do desemprego, ou do fim da classe média (será que é necessário, neste ponto, regressar às previsões de Marx?), caminha a par com uma outra naturalidade que é a do reforço das cantinas sociais, das lojas sociais, da componente assistencial, a lembrar tempos idos. Neste contexto de globalização económica e financeira, suportada em redes informacionais e comunicacionais eficazes, o homem é, cada vez mais uma “ponte” Manuel Alves de Oliveira/ pp. 2 – 21 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Crise e Imaginários Sociais 20 sem “morada”. Um nómada num infindável deserto. E se esta crise está aí, só o será de crescimento, se suscitar novos horizontes onde a esperança não passe de simulacro. Talvez seja o momento para que “no que diz respeito ao capitalismo especulativo como programa invasivo e abstracto que desemboca no sucesso, cominar os seus exegetas actuais a provar que não são partidários de uma seita que opera ao nível global; a suspeita de «capitalismo como religião» está expressa e espera que alguém a dissipe. A forma de vida da «nação democrática» só sobrevive se criar um equilíbrio entre a semântica do interesse pessoal e da preferência de si e a semântica da liberdade para o Outro e do ter-a-dar-algo” (Sloterdijk, Peter, 2008, 278). Nesta “imaginária” aldeia global há um percurso real por fazer. Há perguntas a exigir respostas que não se façam passar por simulacros de problemas. Referencias Bibliográficas Arendt, H. (2000). A Crise na Educação, in Quatro Textos Excêntricos, Lisboa: Relógio D`Água. Bauman, Z. (2010) A Sociedade Sitiada, Lisboa: Instituto Piaget. Cabrera, D. (2006) Lo tecnológico y lo imaginário, Buenos Aires: Biblos. Dahrendorf, R. (1993), Ensaios Sobre o Liberalismo, Lisboa: Fragmentos. Eco, U. (2007). A Passo de Caranguejo, Algés: Difel. Eco, U. (1986) (Ed. original de 1977). Viagem Na Irrealidade Quotidiana, Lisboa: Difel. Epicuro. (2008). Carta Sobre a Felicidade, Lisboa: Padrões Culturais Editora. Gil, J. (2009) Em Busca da Identidade, Lisboa: Relógio D`Água. Innerarity, D. (2009) A Sociedade Invisível, Lisboa: Teorema. Krugman, P. (2012). Acabem Com Esta Crise Já, Lisboa: Editorial Presença. Kuhn, T. (1992). A Estrutura das Revoluções Científicas, São Paulo: Ed. Pioneira. Lafargue, P. 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Foi professor de Filosofia e Psicologia no Ensino Secundário(1973-1998), Vereador da Câmara Municipal de Ovar, e é actualmente Presidente da Câmara Municipal de Ovar (desde 2005). ______________________________ Historia editorial Recibido: 10/09/2012 Primera revisión: 15/09/2012 Aceptado: 06/10/2012 ______________________________ Manuel Alves de Oliveira/ pp. 2 – 21 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 El paisaje como patrimônio cultural en Brasil: El caso de los símbolos campesinos del sertão del interior El paisaje como patrimonio cultural en Brasil:El caso de los símbolos campesinos del sertão del interior1 Landscape as cultural patrimony in Brazil: The case of symbols peasants hinterland Margarita do Amaral Silva Universidade Federal de Goiás (Brasil) [email protected] Resumen El paisaje se ha incorporado en distintas dimensiones de la planificación, de la protección del patrimonio cultural y de la gestión de los territorios, según distintos contextos nacionales, en la dirección de la atribución de valor. Sin embargo, cuando se reflexiona sobre el paisaje como forma imaginaria del lugar señalado discursivamente, se vuelve posible problematizar, más precisamente, la producción simbólica de un paisaje sertaneja en interior de Brasil. Aquí resurge la posibilidad de discutir la evidencia a veces pintoresca, a veces dramática que es remitida al paisaje sertão, que también podrá ser leída como un patrimonio cultural brasileño. Palabras-Clave: Paisaje - Patrimonio Cultural - Sertão. Abstract The landscape has been incorporated into various dimensions of planning, cultural patrimony protection and management of territories, according to different national contexts, in the direction of the attribution of value. However, when reflecting on how imaginary landscape as discursively designated place, it becomes possible to problematize, more precisely, the symbolic production of a landscape in the Brazilian interior hinterland. Here emerges the possibility of discussing the evidence sometimes picturesque, sometimes dramatic landscape that is sent to the hinterland, which may also be read as a Brazilian cultural patrimony. Keywords: Landscape – Cultural Patrimony – Hinterland. 1 En este artículo se incluye en este Simposio Temático 9 (“Usos de la tierra, y Propiedad en conflicto Diversidad cultural: perspectivas de la antropología Uña De La Conservación y áreas protegidas las vegas cuarto de Latinoamérica”) del Congreso Latinoamerciano de Antropología (ALA 2012). Margarita do Amaral Silva/ pp. 22 – 38 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 El paisaje como patrimônio cultural en Brasil: El caso de los símbolos campesinos del sertão del interior 23 1. Patrimonio, Paisaje y Sertão En un abordaje sobre el paisaje como patrimonio cultural cabe una adenda acerca de apuntes del proyecto asociado a la” Convenção Européia da Paisagem”, cuya discusión se inició en 1994, con resultado en el año 2000, a través del cual el paisaje se reitera como amplio proceso de discusión y análisis. De acuerdo con Ribeiro (2007), el paisaje se ha incorporado en distintas dimensiones de la planificación, de la protección del patrimonio cultural y de la gestión de los territorios, según distintos contextos nacionales, en la dirección de atribución de valor a los paisajes. En verdad, a lo largo del tiempo, el paisaje y el territorio se convirtieron en dos dimensiones distintas del real, poseyendo diferentes niveles de interpretación. De cualquier modo, ambos los términos formaron un campo discursivo y analítico comulgado. Para Saquet (2010: 146), “el paisaje puede ser comprendido como el aparente, el observado, el percibido, el representado, pero no está dislocado de la (i)materialidad del territorio”. La propia imagen y el imaginario subsidian la existencia del paisaje-territorio en la vida de los individuos. Lo que se evidencia, por la apreciación sumaria instituida a partir de la denominada renovación de la geografía en el pós-1960/70, es que el paisaje ha pasado a componer primordialmente un carácter relacional e integrador de distintos aspectos geoambientales y socioculturales, teniendo su apariencia definida grande parte de las veces por la combinación entre factores naturales y culturales, o incluso por la desintegración de ambos. Una situación que demuestra eso claramente está situado en el hecho de que, en estudios brasileños recientes, cuando se menciona patrimonio cultural, por ejemplo, se puede decir que los paisajes pueden ser contemplados inicialmente a partir de un triple significado cultural: 1) siendo definidas y caracterizadas según la manera por la cual determinado territorio es percibido; 2) siendo considerada el paisaje como un testimonio del relacionamiento entre los individuos y sus medio ambiente; 3) siendo atribuido al paisaje el papel especificador de culturas locales, sensibilidades, prácticas, creencias y tradiciones. Lo que se vuelve nítido, por esta apreciación fundada en la noción de paisaje como concepto polisémico, es que cuando se habla en la apreciación de narrativas y marcadores culturales, se tiene en el paisaje una perspectiva que pone muchas dudas y expone muchas posibilidades de uso, más precisamente para la apreciación del hacer etnográfico. Conforme enfocó Sahlins (2003: 70), el paisaje como dimensión simbólica, que especifica el humano como especie y como individuo, presupone que “ningún objeto, ninguna cosa es o tiene movimiento en la sociedad, excepto por la significación que los hombres le atribuyen”. Margarita do Amaral Silva/ pp. 22 – 38 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 El paisaje como patrimônio cultural en Brasil: El caso de los símbolos campesinos del sertão del interior 24 Así, al pensar en el paisaje como forma imaginaria del lugar flotante, pero también marcado y de múltiples experiencias en el discurso, es posible que sea hecha una reflexión pautada en un estudio de caso asociado a la producción simbólica de un paisaje sertaneja en el interior de Brasil. La énfasis en las discusiones sobre la apropiación humana de los territorios, los usos de la tierra y la diversidad cultural pasa a observar los sitios apoyados en el centro de la nación brasileña como productos de la vivencia narrativa que tiene especificado el paisaje. La interpretación de los símbolos campesinos conectados al sertão interiorano expone la posibilidad de delegar relieve a los agentes facilitadores de la proyección de ciudades en los sertões brasileños, especialmente por el foco en repertorios de acción interconectados aterrizajes, coches de bueyes y tropel. Estas marcas de significancia e inconstancia de imagen sertaneja tienen relacionado, en los recorridos de la historia brasileña, el pensamiento social a la descripción del surgimiento, de la expansión o mismo del desaparecimiento de aglomeraciones urbanas en la parte central de Brasil. Aquí resurge la necesidad de discutir la evidencia a veces pintoresca, a veces dramática que es remitida al paisaje sertão que también puede ser leída como un patrimonio cultural de Brasil. 2. Breve apreciación de la noción de Patrimonio Cultural en Brasil La construcción de la idea de patrimonio – que para diversos autores posee un significado amplio – a lo largo de la historia pasó a configurar las más diversas connotaciones. Desde su origen latina, el término patrimonium está conectado a la noción de propiedad heredada de padre o de otro ancestral. Pero, el guardar objetos de los parientes se hizo práctica, y fue a través de la “colección” que tuvo el patrimonio conectado a todo y cualquier grupo humano que ejerce algún tipo de colección (Clifford, 1998). La actividad de coleccionar objetos materiales tiene por efecto señalar un dominio subjetivo en oposición/complemento a un otro ya determinado. Para Lemos (1985), el patrimonio cultural está dividido en tres categorías: las pertenecientes a la naturaleza (paisaje natural/cultural); las técnicas (el saber hacer) y los artefactos. Conforme Rodrigues (2003), la noción de patrimonio cultural incluye el conjunto de bienes que compone la herencia social, considerando la materialidad del objeto y su poder de testimoniar el pasado, de suministrar informaciones sobre él y de atraer atención. La concepción diversa de patrimonio cultural, en el mundo, primeramente causó una asociación conceptual del mismo a ideas corpóreas y la preservación vuelta a la selección, protección, guarda y conservación de las cosas. El marco de la preservación del patrimonio histórico, en Brasil, se produce en los años de 20 y 30 del Margarita do Amaral Silva/ pp. 22 – 38 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 El paisaje como patrimônio cultural en Brasil: El caso de los símbolos campesinos del sertão del interior 25 siglo XX, con la proyección y creación - en 1937 – del “Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional/SPHAN”. Además de “proteger” el patrimonio histórico y artístico nacional, fue instituida una nueva herramienta de acción: el proceso de declaración de interés cultural o patrimonio histórico (Fonseca, 1997). Tardíamente, se observó la herencia cultural brasileña como un espacio de memoria social (Rodrigues, 2003). Pero, el patrimonio, por ese ángulo, era todavía el conjunto de bienes participantes del proceso de declaración de interés cultural o patrimonio histórico por criterios de excepcionalidad material y valor histórico. Sin embargo, al final de la década de 70, con el Pró-Memoria, la categoría patrimonio se expandió y pasó a incluir no solamente monumentos arquitectónicos y arte erudita, como también documentos, artesanía, fiestas, arte popular (Magalhães, 1985). Una de las grandes problemáticas del periodo se convirtió en el uso de criterios para la decisión o “elección” de ciertos bienes culturales en detrimentos de otros, utilizando como elementos representativos de una cultura continua temporalmente. Entonces, en un momento más reciente, el llamado patrimonio de “piedra y cal” recibió una nueva cualificación donde están incluidos bienes inmateriales. Por el Decreto nº 3.551, de 4 de agosto de 2000, se instituyó el Registro de Bienes Culturales de Naturaleza Inmaterial que constituye patrimonio cultural brasileño y se crea el Programa Nacional de Patrimonio Inmaterial, que realizará el registro de bienes en uno de los siguientes libros: 1) Libro de Registro de Saberes – conocimientos y modos de hacer enraizados en el cotidiano; 2) Libro de Registro de las Celebraciones – rituales y fiestas que marcan la vivencia colectiva; 3) Libro del Registro de Expresiones – manifestaciones literarias, musicales, plásticas, escénicas y lúdicas; 4) Libro de Registro de los Lugares – mercados, ferias, santuarios, plazas y otros espacios que concentran/producen prácticas culturales colectivas. Emerge, de ahí, la posibilidad del patrimonio cultural ser tratado como testigo, por medio de lo cual podría pensar conforme consideró Halbwachs (2006: 25) o, en otras palabras, se puede decir que el patrimonio rescata “el apelo a los testimonios para fortalecer o debilitar, pero también para completar lo que sabemos de un evento”. Siendo entendidas las recordaciones como reconstrucciones colectivas del pasado, prescribe que la memoria hace del individuo parte de un todo, donde el primer testigo, la cual podemos siempre apelar, es a nosotros mismos. Imágenes evocadas, así, poseen ciertas nociones generales, relacionadas a el lenguaje y a la filiación institucional, pero es en razón de su carácter objetivo y subjetivo es que las imágenes resisten, se convirtiendo en recordaciones (Bosi, 2006). Esas recordaciones se van, en conjunto, formando la historia (memoria) de una sociedad. Margarita do Amaral Silva/ pp. 22 – 38 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 El paisaje como patrimônio cultural en Brasil: El caso de los símbolos campesinos del sertão del interior 26 Es por este camino, que en los últimos años, el patrimonio y la memoria están presentando asociados a cuestiones cruciales como amnesia social, apropiación de la memoria ajena y fronteras de identificación. Los museos, en ese contexto, enfrentan algunas relecturas en su status, acerca del privilegio (o no) concedido a las representaciones rememorativas de las sociedades y de los grupos. Cimentadas en la cultura material – los objetos -, memorias e identificación de grupos, que también connotan la cultural inmaterial, se asoman todavía hoy a amplitud de significados empleados para tenerse como “rescate”, “recuperación” y “preservación”. Actualmente, en particular en Brasil, existe cierta elasticidad de la “cosa” como instrumento simbólico (i) materializado. La naturaleza física del objeto (mensurable) y sus relaciones casi siempre intangibles, son fundamentales para evaluar situaciones interconectadas, por ejemplo, la manutención de la memoria. Aquí, se eleva la necesidad de una análisis hecha por Abreu y Lima Filho (2005: 3), para los cuales es “la memoria que impregna y restituye ‘el alma de las cosas’, y (re)sitúa el sujeto en el mundo vivido mediante el trabajo de la memoria. Por lo tanto, la memoria toma la fuerza y la dinámica colectiva que el objeto, como expresión de la materialidad de la cultura del grupo social, remite a la elasticidad de la memoria. En este punto, es bueno recordar que, para Sahlins (2003: 170), “ningún objeto, ninguna cosa es o tiene movimiento en la sociedad humana, excepto por la significación que los hombres le atribuyen”. De otro modo, Gonçalves (2005: 19) fundamenta que, en el proceso de construcción de esas instituciones situadas entre la memoria y la historia (tales como el patrimonio, las colecciones, o museos, los objetos, los monumentos, los archivos), “se opera un trabajo cuidadoso de eliminación de las ambigüedades por el empleo de categorías abstractas y con fronteras nítidamente con la función de representar memorias e identidades”. Existe el peligro de subdivisión de la (i)materialidad de los bienes, en el campo de los patrimonios museológicos, en especial, a través fragmentación factual/documental de memorias. El viejo-nuevo tránsito de los bienes culturales – objetos de cultura como “cosas mudas” – corren el riesgo de convertirse en la cultura en un campo de mercadorías. En ese caso, la visión de masa e/o particularizada de la experiencia humana puede agilizar una visita al pasado “fetichizado y congelado”, aprisionado en el presente sin acompañar la plasticidad de las operaciones culturales contextuales. Ocurre que existe prácticas de manejo del patrimonio cultural que son incapaces de interacción y proposición, al contrario que mitológicamente hizo la esfinge: “Descíframe o te devoro!”. Hay, notoriamente, percepciones ambiguas referentes a la percepción del pasado-presente y de la expresión cultural que hoy en día posee más adjetivos que antes, y eso puede garantizar la proximidad o el Margarita do Amaral Silva/ pp. 22 – 38 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 El paisaje como patrimônio cultural en Brasil: El caso de los símbolos campesinos del sertão del interior 27 distanciamiento del ejercicio de la mirada subjetivo-colectivo sobre los bienes patrimoniales. Sin embargo, la tentativa de eliminación de la ambigüedad que bordea los patrimonios culturales puede poner en riesgo o su poder de resonancia - que es el poder de un objeto expuesto evocar en el espectador las fuerzas culturales complejas y dinámicas de las cuales él emergió y de las cuales él es representante (Greenblatt, 1991 apud Gonçalves 2005). Entonces, el resguardar, en el ámbito ambiguo de patrimonio cultural, debe generar el delineamiento de acciones que comprendan ser de fundamental importancia las intervenciones sociales y científicas, “en los territorios de hombres y de cosas”, los cuales llamamos de patrimonios de cultura. Al final, como en la relación de Édipo y la Esfinge de Tebas, existe “respuestas” a ser dadas por los espectadores que hacen uso del “poder” de la resonancia para captar y, al mismo tiempo, atribución significación al que erróneamente es percibido, a la primera vista, con estagnación. 3. Paisaje como patrimonio o fenómeno de la cultura Los significados concedidos al lugar son rellenados por el simbólico y afectivo, siendo que su contemplación revela posibilidades múltiples para experiencias y comunicación de las imágenes. Dicho de otro modo, la manifestación fenoménica por la mirada constituye escenas o escenarios que, confinados en narrativas, permiten el uso de las más diversas perspectivas para la observación de los recorridos humanos y de los ambientes de cultura. A través de la percepción, se entiende que el paisaje gana contornos y arreglos sociales rellenados de y por una orden subjetiva. Incluso las transformaciones de los paisajes pueden ser asociadas a la interactividad vividas por los seres humanos. Se trata de apreciar un vínculo del ser con fenómenos absolutamente interpretables, relación ésta que se presenta como modelo de permuta para la continuidad de la percepción y, por consiguiente, de la significación. A través de una rede compleja de posibilidades interpretativas, desdobladas como paisajes internas y externas, es que individuos y grupos se involucran en modos específicos de interacción. Los paisajes son patrimonios o fenómenos culturales dinámicos experimentando variadas traducciones. En verdad, el humano configura - como acción de figurar junto a algo - el paisaje como lugar que a veces presupone una pertenencia, a veces designa modos de extrañamiento. Es así que son construidas visiones y versiones inacabadas de nuestros lugares y de los lugares de los otros. Por la apreciación de esa imagen fluida, portadora de una dinámica particular, es que la experiencia humana se despunta como forma residente en el espacio-tiempo y resultante de la integración de personas en el mundo. Margarita do Amaral Silva/ pp. 22 – 38 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 El paisaje como patrimônio cultural en Brasil: El caso de los símbolos campesinos del sertão del interior 28 Pero, del entrelazamiento configurativo del humano con el paisaje emanan otros modos de lectura para los sentidos conferidos al lugar de experiencia. De otra forma, se dice que pueden existir múltiples formas de compresión para el vivido y el comunicado en la práctica discursiva. La narrativa deja latente el ritmo cultural designado a las personas, el cual se sitúa en el adentro-fuera de relatos que podrían ser llamados de paisajes de vida. No obstante, de algún modo, merece consideración el hecho de que cualesquiera vivencias narradas no son solamente resultantes de la experiencia de un paisaje en el cual la sociedad resulta de la “oferta natural” de suelo, clima, vegetación, altitud. Por el enmarañado de proyecciones dispuestas en este estudio, se pondera que la vivencia o la composición de paisajes siempre se construye a través de un conjunto de dispositivos que son, al mismo tiempo, políticos, sociales, ambientales y culturales, y que también están contextualizados en territorios narrativos específicos. Al final, todo procedimiento discursivo revela situaciones dispuestas en un escenario geo-sociocultural percibido o imaginado. Lo que se pretende demonstrar es que ninguna construcción discursiva es mero juego de palabras, totalmente desprovisto de inclinaciones e interacciones. El manejar con paisajes se refiere a la tentativa de aclamar perspectivas discursivas que reflejan algo movedizo, a respecto de las interacciones interdisciplinares conectadas a elementos que simultáneamente representan y son parte de escenarios activos. En este sentido, es nítido que discusiones deben ser promovidas lado a lado a las referencias de paisaje, de manera que el inclinar sobre las mismas se haga un ejercicio reflexivo impulsado por la aspiración de lectura del patrimonio o fenómeno de cultura. Debido a eso, en primera instancia, se da énfasis a las consideraciones sobrepuestas a los campos teórico-conceptuales interconectados al paisaje. Pero, en un segundo momento, esta construcción interpretativa lanza vistas a la revaluación de aquella dada imagen, que es incesantemente producida como sertão, de modo que se transformó en la más común configuración descriptiva a proyectar el interior de Brasil. 4. Un concepto polisémico Como encauzamiento junto a los campos de escritura del paisaje, es relevante traer la afirmativa de Cauquelin (2007), según la cual fueron los pintores que primero asumieron aquella figura de la naturaleza llamada de paisaje. Para esta autora, la noción de paisaje y su construcción al largo del tiempo dieron una forma, un encuadramiento y medidas a nuestras percepciones o perspectivas – distancia, orientación, puntos de vista, situación, escala. A priori, la primera y más perceptible ampliación ha venido de aquello que parecía más cerca del paisaje: el medio ambiente físico. Por este prisma, los datos de ese ambiente aún mantienen estrecho contacto Margarita do Amaral Silva/ pp. 22 – 38 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 El paisaje como patrimônio cultural en Brasil: El caso de los símbolos campesinos del sertão del interior 29 con las informaciones perceptuales conformadas por el paisaje. Sin embargo, comprendiendo que la noción de paisaje y su realidad percibida son justamente una invención, Cauquelin (2007: 12) predice que se trata de “un objeto cultural patentado, cuya función propia es asegurar permanentemente los cuadros de la percepción del tiempo e del espacio, presidiendo todos los intentos de ‘repensar’ el planeta como eco-socio-sistema”. Es cierto que, teniendo en cuenta las consideraciones mencionadas anteriormente, se prescribe la urgencia de reflexiones sobre la supuesta artificialidad de los paisajes clásicos interconectados casi siempre a la sencilla medición espacial. Es sabido que de las dimensiones prácticas de la existencia emanan maneras de hacer plausible y substancial la experiencia humana de determinado espacio-tiempo, que deben ser adaptadas, conque, son las formas de leer tales universos de sentidos. Es con vistas a esa constatación que Silveira (2009: 71), al evaluar el paisaje como fenómeno complejo, advierte que el “concepto de paisaje es polisémico, como una noción que tiene varios sentidos, conforme el campo teórico y la perspectiva estética al cual está adherido a quien la interpreta como fenómeno originado de la experiencia humana en el mundo”. Debido a una interacción histórica de debates e investigaciones sobre paisajes, en este momento se lo retoma como un posible instrumento de uso (que incluso ya se utiliza por muchos) para realización y comprensión del ejercicio etnográfico, o del hacer artístico o historiográfico por los espacios y tiempos. Es hora de rever que, si el espacio– como el tiempo, además – constituye una de las condiciones esenciales a la existencia de las sociedades, el hecho es que la organización del mismo siempre se porta, de múltiples maneras, señales distintos de la acción humana. Cuando se percibe que la propia constitución del espacio o del lugar es un hecho social, se puede experimentar infinitas posibilidades de simbiosis entre las áreas del conocimiento, pues la interdisciplinaridad es operante y rica por el agregado de argumentos teóricos que yuxtapone. En ese sentido, menciona Silva (2006: 187) que incluso “los conceptos territoriales tales como casa, pueblo, ciudad, región o país son al mismo tiempo geográficos y sociológicos”, y estas perspectivas todavía se entrelazan a otras “como la antropológica, la histórica y también la psicológica y arquitectural”. Debido a lo expuesto, es necesario retomar algunas discusiones necesarias al encauzamiento de este estudio por lo entrelazamiento del paisaje a los presupuestos teóricos que la bordean o la definen. Sin embargo, en primer lugar, se necesita justificar que la renovación de la geografía después de 1960/70 merece énfasis sumaria en un primer momento reflexivo, pues se trata del período en que hubo la efervescencia de consideraciones, con expansión de un entendimiento fructífero especialmente en el ámbito geográfico Margarita do Amaral Silva/ pp. 22 – 38 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 El paisaje como patrimônio cultural en Brasil: El caso de los símbolos campesinos del sertão del interior 30 que impregna a la noción de paisaje. Por ese diseño, hay una necesidad de comenzar poniendo de relieve brevemente que, desde el punto de vista naturalista del paisaje, nacieron los abordajes historicista y materialista, con énfasis a los imágenes de Lucio Gambi, Emilio Sereni e Massimo Quaini, entre otros. También se efectúa el abordaje humanístico, centrada en la percepción de sujetos, en la representación y en los símbolos de la vida cotidiana, al igual que Denis Cosgrove. De esta manera, aún tiene la elaboración de una perspectiva interactiva, reconociendo que la objetividad y la subjetividad del paisaje, según destaca Saquet (2010: 139), se presentaron como “una tendencia significativa a la representación y a la gestación de planes de desarrollo en el nivel de lugar”. En Brasil, partiendo de un abordaje similar a la concepción historicista y materialista del paisaje, Milton Santos (1988: 61-65) – sin duda uno de los geógrafos brasileños más populares -, que establece que “todo lo que vemos, lo que nuestra vista alcanza, es paisaje”. El espacio, para él, contiene el movimiento. El paisaje ha sido definido en el dominio de lo visible, así como un casamiento de la sociedad con el paisaje. La visión del paisaje es particular, pues depende de su ubicación, de sus referencias: “el paisaje está vinculado a la producción de espacios, y un conjunto heterogéneo de formas naturales y artificiales”. Por esta formulación, paisaje y espacio se convirtieron en un par dialéctico, en una relación de apariencia-esencia. Distinta de la configuración territorial, sino como parte de ella, el paisaje también está perceptible, visible, a través de los sentidos, fotografías o mapas. Queda claro que, por esta apreciación fundada en la noción de paisaje como concepto polisémico (y abarcado en formas diversificadas de lectura e informes), es que cuando se habla en apreciación de narrativas y marcadores culturales, se tiene que el paisaje pone muchas dudas y plantea muchas posibilidades de uso, más precisamente para la apreciación del hacer etnográfico. Notoriamente, por la diversidad de significados atribuidos al paisaje - sea en acuerdo (o desacuerdo) con el territorio o demás formas de apropiación discursiva del espacio y del lugar -, lo que se tiene son componentes para la efectuación de la lectura de cualquier escrito emprendido en medio al paisaje de vida. Como algo que siempre va a ser un procedimiento de flotación, de polisemia agregada a la producción y a la interpretación, el paisaje asocia en si el dilema y el debate, de modo aun más enriquecido tanto a la composición cuanto a la búsqueda de aprensión de aquello que siempre será nuevo: la escritura y la lectura del paisaje de vida. 5. Enunciación del sertão como patrimonio de la experiencia En una investigación que trata sobre la experiencia narrativa como forma de transponer y recomponer paisajes, es momento de hacer emerger un ejemplo de tal configuración. Como lugar en el cual se encuentran prácticas de las más diversificadas, Margarita do Amaral Silva/ pp. 22 – 38 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 El paisaje como patrimônio cultural en Brasil: El caso de los símbolos campesinos del sertão del interior 31 o a partir de la cual se elaboran estructuras y procedimientos de percepción y acción en un todo inventado en los interiores de Brasil, el paisaje sertão surge ahora con fuerza de enunciación. El sertão como patrimonio, texto, vivencia, lugar, fuerza o como sentimiento es siempre un campo para la apreciación de aquello que lo degenera y regenera: el fenómeno cultural paisaje. Y por lo movimiento que designa al paisaje el efecto de borrador instantáneo de la práctica de los días, que se tienen el compuesto paisaje sertão utilizándose de la dinámica y fluidez. A veces se enuncia el sertão como producto de lo que todavía no se lo hizo, o mismo como residencia de lo que aún no cesó. La experiencia narrativa del y por el sertão se convierte en materia expositiva que carece de apreciación por la perspectiva de un terreno de gentes en lugares de múltiples experiencia. En vista de eso, se asume que después de caminar por los contornos de la escritura antropológica clásica, que abarca muchos bosquejos experimentales del paisaje, ahora se tiene un instante para que aparezcan otros discursos, comprobatorios de que la espacialización y la textualización de los imágenes poseen diferencia de los modos de manifestación de la artesanía. Con el fin de distanciar el hecho de dar esencia a gentes en lugares, los intentos para llevar a cabo un enrutamiento crítico que no se disocie de las particularidades de un paisaje revisitado como la construcción y la propiedad de los productos y la transformación del medio ambiente en cultura. Se entiende aquí que los humanos atribuyen un significado fluido a aquello que se configura como el paisaje, ya que, según Almeida (2008), el contexto cultural se convierte en "una complejidad multifacética de realidad, de valores, de gestos y experiencias coexistentes. Por el estudio basado en una reflexión orientada al paisaje sertão establecido en la región central brasileña, en consecuencia se enuncian los aspectos históricos, espaciales y socioculturales intrínsecos a los discursos constitutivos del pensamiento social brasileño. Se entendiendo que hay una vista de emergencia de la existencia nacional, a cual difícilmente se insiere el espacio sin lugar, y el tiempo sin duración, el paisaje se retoma como cuestión que sedimenta incluso la producción de Brasil-interior debido a la lucha narrativa, aquí puesta como formulación de una metáfora de la vida social. Como señala Bhabha (2005), es por la metáfora recurrente del paisaje como interior [inscape] de la identidad nacional – en la cual hay la visibilidad social y el poder del ojo de naturalizar la retórica de la filiación nacional y sus formas de expresión colectiva - que tiene uno de los puntos de amparo para presentar el sertão producido conforme imagen del humano y del lugar. Mencionando la producción de sertões y de sertanejos, es imposible no considerar que en el recorrido de la historia existieron redes de relaciones del hombre con el territorio ubicado en los espaciostiempos de Brasil. Esas relaciones se convirtieron responsables por el encadenamiento de narrativas y de signos regionales que todavía recuentan y demarcan los terrenos del supuesto nada y de los desiertos. Margarita do Amaral Silva/ pp. 22 – 38 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 El paisaje como patrimônio cultural en Brasil: El caso de los símbolos campesinos del sertão del interior 32 Partiendo de Massey (2008), el paisaje sertão debe ser revisto más allá del espacio de multiplicidad discreto, imbuido de temporalidad. Así, debe ser igualmente afinada, según señala Sena (2003: 127), como algo de “significancia en virtud de su lugar en un sistema de símbolos”. En cuanto a las discusiones sobre la identidad interpuesta (o sobrepuesta) al sertão - como emblema o como estigma -, se debe partir de los significados derivados a la espacialidad teniendo en cuenta la jerarquía impuesta a los grupos sociales en función de su localización hipotética. En verdad, se tienen diversos puntos de partida que establecen la constitución del paisaje sertão en el contexto regional experimentado en el centro imaginario de Brasil. En cierto modo, la revisión es emergente, por la perspectiva del sertão, de apuntes como los de Hall (2000), por ejemplo, para el cual la identidad no existe en sí misma, independientemente de las estrategias de afirmación de los actores sociales que son al mismo tiempo el producto y el soporte de las luchas sociales y políticas. Así, sea utilizada por su valor figurativo o por su carácter imaginario, el paisaje sigue siendo instaurada en el espacio-tiempo para que ella estructure las coordinadas básicas para los sistemas de representación de los espacios. Con eso, la mirada al universo entendido como Brasil-interior, por un lado, se puede tomar como apreciador del intento de integración a la nación. Pero, se debe entender el paisaje como forma de mantenimiento de un poder celular. Por eso se dice aquí que el sertão es lugar integrante de la historia imaginaria del centro brasileño, lo que podría representar las intenciones e interacciones de poder. Incluso, con el recurrido de tiempo, la propia palabra sertão fue capaz de asumir una conformación semántica que expresa la amplitud del universo que se presenta para este estudio, el cual se sustenta por relatos narrativos del paisaje. No se puede hacer caso omiso a conjetura de Maia e Cavalcante (2006: 85-86, subrayados por las autoras) cuando plantea que “el sertão es palabra que lleva en sí mismo un enorme poder de evocación de sentimientos, imágenes y sentidos que hoy están profundamente arraigados al imaginario brasileño”. Por otra parte, hay que entender que, como una región no puede ser definida naturalmente, puesto que una definición es siempre producto de una construcción social, el paisaje sertão fue tomando forma y significados a lo largo de la experiencia histórica brasileña. De este punto de vista, el sertão da más consistencia que un determinado espacio geográfico, pues ocasionó en su alrededor la aglomeración de contenidos culturales. Aunque el sertão aparezca como un lugar de tradiciones y costumbres antiguas, resultado de la amalgama de experiencias históricas vividas en el espacio, lo que cualifica verdaderamente es la fuerza simbólica que se siente cuando mencionamos la palabra sertão. Comprendiendo la producción y la percepción del paisaje sertão como un mundo o como un texto trazado por micro poderes, se puede evaluar la producción Margarita do Amaral Silva/ pp. 22 – 38 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 El paisaje como patrimônio cultural en Brasil: El caso de los símbolos campesinos del sertão del interior 33 discursiva partiendo de una tecnología y de una historia relacionadas al nivel más general del poder pluralizado, que se propaga y afecta a varios sectores de la vida social. En este punto, al igual que Balakrishnan (2000), se considera que fusión de la narrativa a la nación designa la “imaginación nacional” un papel de corroborar con la construcción cultural de la nacionalidad por una filiación social y textual, basada en estrategias complejas de identificación cultural e interpelación discursiva. El sertão asume entonces contornos subsidiados por el movimiento de adentro-fuera nacional, una vez que su pertenencia al conjunto que incluye los parámetros de la nación evoluciona y retrocede conforme intenciones e interacciones discursivas. En cuanto espacio de experiencias socio históricas, o como marañas de fuerzas simbólicas situadas en un lugar que no es fijo, el paisaje sertão comprende un fenómeno cultural complejo que requiere un aparte a reflexiones puntuales. Dicho eso, las consideraciones textuales que aquí se presentan están alineadas a fin de revisar algunos imágenes del sertão (los paisajes) que se vehiculan en narrativas. Y eso por una parte se da basado en la relativización de que “las memorias construidas sobre espacios geográficos poseen gran influencia en el mantenimiento de sentimientos de identidad nacional o regional, en el pensamiento político y en el propio proceso de transformación de los mismos en espacios geográficos”, como apunta Arruda (2000: 163). Por lo tanto, el sertão será ahora adoptado en una postura que discute, por caminos múltiples, la premisa de que cualquier creación, expresión o percepción tiene su existencia subsidiada por la lectura de paisajes enmarcados en narrativas. Es por la manifestación continua de los imágenes de sertão, que se destaca el paisaje como fenómeno cultural complejo y en cuanto tema que es interdisciplinario y polisémico. Este factor puede ser apreciado basado en la afirmación de que es la cultura que actúa sobre la naturaleza, dándole forma, y no la restringiendo a su dimensión física. Como dimensionó Schama (1996), se plantea, pues, una discusión a través de los repertorios de acción relacionados a la nación instaurada por ojos que contemplan el paisaje, resituando naturaleza y percepción en campos indistintos o inseparables. El paisaje se convierte en la dinámica del pensamiento y de la percepción sobre la propia imagen que la conforma en cuanto paisaje. Sin embargo, como otro punto de partida, existen subsidios a esta reflexión sobre el paisaje sertão teniendo en cuenta la composición de discursos, en el que se contiene distintos registros de percepciones del espacio-tiempo brasileño. Esto supone la revisión guiada por Zukin (1996), en que las narrativas consolidan espacios sociales, en referencia a la delineación imagética del paisaje y al delineamiento del poder, de la cultura y de la dimensión simbólica del espacio. El paisaje se torna como un área compuesto por asociación de formas, al mismo tiempo físicas y cultural. La producción simbólica de la región central de Brasil es de hecho un doble proceso de creación y de percepción, con amplitud del tema de la interacción, en un Margarita do Amaral Silva/ pp. 22 – 38 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 El paisaje como patrimônio cultural en Brasil: El caso de los símbolos campesinos del sertão del interior 34 campo simbólico que se reveló inagotable a la lectura – el paisaje sertão. Al anticipar que el sertão es un imagen polisémica y polifónica en el espacio y en el tiempo, es posible proponer dominios para la revisión de algunas “etnografías del sertão”, sostenidas por la reanudación de fuentes narrativas tanto de la producción literaria e iconográfica, cuanto de la escritura historiográfica, porque ellas promueven paisajes o sentidos al Brasil-interior. En un ejercicio bordeado por abordajes relativos a las representaciones, prácticas y a los imaginarios que produjeron bosquejos del sertão, se posicionan aquí algunas formas narrativas asumidas para designar el interior brasileño. Conforme ha dispuesto Žižek (1996), hay un espacio intersubjetivo concreto de la comunicación simbólica asociado a las acciones de grupos específicos que, directa e indirectamente, fueron integrados o banidos de la nación, con sus referencias socio-históricas expresas discursivamente. Por otra parte, como afirma Segato (2007), hay que recordar que la apreciación de los territorios no puede ignorar que la nación tiene “sus otros”, que por si mismo suscita constantes revisiones discursivas. Cuando se habla de personas de los/en los lugares, hay que considerar que, además de la dominación, es indispensable discutir la integración social, a cual la primera es tan solamente una dimensión. En primer lugar, debemos señalar que la exposición del Brasil-interior, como lugar de residencia, convergencia o pasaje, demuestra que el paisaje sertão se completa en si al mismo tiempo como un relato y como un símbolo experimentado en el imagen del lugar. Es como producto simbólico que el sertão propone que cualesquier acciones, prácticas o experiencias humanas se medían por símbolos. Incluso, fue en este sentido que Pellegrino (1986) estableció que toda teoría de los símbolos comprende la idea de que no hay nada en el mundo conectado al ojo humano destituido de carácter simbólico. Además, desde las consideraciones de Milton Santos (1996: 102) ya se aseguraba que “cuando, en un lugar, la esencia se transforma en existencia, el todo en partes y, así, la totalidad se da de forma específica: en este lugar la historia viene también con los símbolos”. Así que es bueno aclarar que, en este contexto, la referencia a la historia del paisaje, la experiencia y la representación cultural, a la realidad simbólica (recuerdos, emociones, sentimientos, imágenes, creencias, moral, hábitos sociales), a la autorepresentación narrativa, a la identidad y al estereotipo regional, o sea, todas estas vertientes direccionan esta reflexión a la crítica al interés por la región siempre ha sido secundario en la historiografía brasileña. Así, como dijeron Sena y Lima (2005), mientras algunos espacios se definen como nación, por su origen y centralidad, se clasifican como región los espacios decadentes, retrasados o periféricos a ser en algún momento abarcado por el todo nacional. Es por esta premisa, incluso, que se ve aquí la condición de periferia que constituye la región como un fenómeno. Margarita do Amaral Silva/ pp. 22 – 38 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 El paisaje como patrimônio cultural en Brasil: El caso de los símbolos campesinos del sertão del interior 35 El paisaje que inaugura el lugar sertão como patrimonio (i) material constitutivo del interior brasileño ha sido integrante de un imaginario social (muchas veces regional), portador de sentido y de referencia. Se trata del hecho de que el imagen hecha paisaje pasó a ser compartida como lugar en el cual se sitúan gentes y cosas, generalmente comprendidas como siendo estables dentro del bosquejo de micro poderes legitimados y asentados en soportes arbitrarios y fijos. Es cierto que este ejercicio que también pretende poner en relieve producciones narrativas objetivadas a través del paisaje producida como Brasilinterior, será removido el universo plástico articulado al imaginario social y, como pondera Sena (2003), se debe alcanzar una posición de incompleta apreciación del símbolo, que siempre tiende a crear dificultades para el desmantelamiento del propio concepto de región. Sin embargo, aun permanece abierto el camino a la revisión de formas discursivas que fomentaron la construcción del imagen del sertão, que es un patrimonio cultural brasileño. En medio a versiones diversas y a distintos fuentes, lo que se espera es integrar conexiones complejas del paisaje como producción simbólica y patrimonio cultural. Referencias bibliográficas Abreu, Flávio Leonel y Lima Filho, Manuel Ferreira. (2005). Por uma antropologia do objeto documental: entre a “alma das coisas” e a coisificação do objeto. Horizontes Antropológicos. Patrimônio Cultural. 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Investigador becario está subvencionado por la Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás/FAPEG, está vinculado a la investigación CNPq Grupo “Espacio, Materia y existencia” del Instituto de Investigaciones Socio-Ambiental de la Universidad Federal de Goiás. Profesionalmente, trabaja en el Decanato de Investigación y Postgrado de la Universidad Federal de Goiás. ______________________________ Historia editorial Recibido: 01/08/2012 Primera revisión: 10/08/2012 Aceptado: 20/08/2012 ______________________________ Margarita do Amaral Silva/ pp. 22 – 38 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Vinculo relacional en las clases creativas. Un estudio metodológico Vinculo relacional en las clases creativas. Un estudio metodológico* Relational link in the creative classes. A methodological study Angel Enrique Carretero Pasín IES San Clemente /Instituto de Criminología (USC)/ Grupo Compostela de Estudios sobre Imaginarios Sociales [email protected] Resumen El presente artículo expone las conclusiones de una investigación parcial llevada a cabo en torno a un grupo social conocido recientemente en la literatura sociológica como las “clases creativas”, centrando específicamente su interés en un ámbito concreto en donde este grupo se desenvuelve: el contexto de las amistades. Para ello utiliza una metodología de carácter cualitativo por medio de la cual se analizan nueve entrevistas realizadas a distintos individuos que componen profesiones incluidas en esta clase, para luego ser interpretadas desde algunos de los marcos teóricos más relevantes de la sociología actual. Palabras clave: Clases creativas, metodología, amistades, vínculo social Summary: This paper presents the findings of an investigation conducted partially around a social group met recently in the sociological literature as the "creative class", focusing specifically their interest in a particular area where this group is unfolding: the context of friendships. It uses qualitative methodology through which analyzes nine different interviews with individuals in professions included in this class, only to be interpreted from some of the most relevant theoretical frameworks of sociology. Key words: Creative classes, methods, friendships, social bond * Este trabajo constituye un aspecto parcial de un Proyecto I+D, subvencionado por el Ministerio de Educación y Ciencia español y dirigido por el Profesor de Sociología de la Universidad de Zaragoza, José Angel Bergua Amores, en torno al fenómeno sociológico de las denominadas “clases creativas” en España. Angel Enrique Carretro Pasín/ pp. 39 – 58 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Vinculo relacional en las clases creativas. Un estudio metodológico 40 Notas introductorias El documento presente es el resultado de un análisis cualitativo basado en la técnica de historias de vida y llevado a cabo sobre entrevistas semiabiertas realizadas a nueve integrantes, seleccionados en el territorio español, de un grupo social que recientemente se ha dado en llamar “clases creativas”. En nuestra aportación concreta hemos centrado específicamente nuestra atención en torno a una semblanza del terreno propio de las amistades en donde los entrevistados/as se desenvuelven, bien sea éste ligado al campo del trabajo, al del ocio o al de alguna actividad alternativa. Las entrevistas han sido previamente codificadas, para luego ser interpretadas desde la complementariedad de una pluralidad de marcos teóricos significativos propuestos desde la sociología contemporánea. Como resultado de ello, hemos extraído los tres aspectos más relevantes en torno a los cuales entendemos que giraría el perfil y la naturaleza de las amistades en estos entrevistados/as: 1. Autenticidad y oficialidad. 2. Precariedad y falta de compromiso. 3. El «estar juntos». La afinidad transformada en finalidad. 1. Autenticidad y oficialidad Los diferentes entrevistados/as revelan una común actitud por establecer una dicotomía y delimitar nítidamente las amistades auténticas, lo que ellos llaman las amistades “de toda la vida”, de aquellas otras amistades vinculadas tanto al campo profesional como al de los encuentros ocasionales derivados del ejercicio conjunto de alguna actividad, bien sea ésta de ocio o como suplemento del trabajo. Es más, diríamos que se desprende un especial énfasis no sólo por subrayar claramente esta distinción, sino, lo que todavía es más importante, porque ambos espacios de amistad no se lleguen a confundir o entremezclar. Así visto, para los entrevistados los auténticos amigos serían aquellos que mejor habrían resistido al desgaste generado por el paso del tiempo y, más en concreto, a las complejas sinuosidades trazadas por ellos/as a través de sus variopintos itinerarios biográficos y personales; asimismo, los auténticos amigos serían aquellos en donde el aspecto de la cualidad de la relación – pocos pero leales- prevalece sobre el aspecto de la cantidad –muchos pero fútiles-. De ahí que, en consecuencia, los amigos de la infancia sean los que, en su sentido más genuino, ocupen un lugar más destacado en una gradación entre los auténticos amigos, puesto que éstos se habrían mantenido incólumes a los avatares del paso del tiempo, fieles con independencia o al margen de las distintas opciones profesionales o, en su caso, de distanciamientos geográficos. Esta doble opción vital se desmarca de los análisis en torno a las clases creativas propuestos por Richard Florida (2010), revelando dificultades estructurales, Angel Enrique Carretro Pasín/ pp. 39 – 58 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Vinculo relacional en las clases creativas. Un estudio metodológico 41 entonces, en la tentativa de extrapolación de éstos a una diversidad de localizaciones geográfico-culturales. Para Florida, la red de sociabilidad ligada a lo profesional permeabilizaría por completo la vida de los actores sociales en la multidimensional actividad en donde estos se mueven, diluyéndose, por tanto, la autenticidad, y también la dicotomía autenticidad/oficialidad, en aquella. La explicación de esta diferencia analítica podría estribar en la distinción de dos modelos todavía distantes de estructura social, los existentes en la sociedad norteamericana y la española. En esta última, pese a hallarse sujeta a un proceso de cambio social, es aún persistente una impronta de necesidad de memoria y arraigo a lo más familiar, al lazo reacio a ser entretejido desde los patrones de la sociabilidad inscrita en el orden del trabajo, puesto que, en última instancia, éste, con sus novedosos componentes sobreañadidos, desmemoria, flexibilidad, innovación, etc.. no es todavía el sentido unilateral de la vida para nuestros informantes. Digamos, pues, que en la visión de Florida el trabajo estaría tiñendo en su totalidad la existencia de sus actores sociales. En última instancia, la diferencia antes aducida no traduciría otra cosa que un manifiesto retraso en el «habitus cultural», diríamos moderno, del modelo de sociedad española en el seguimiento de la adquisición de las pautas estructurales de convivencia social originadas en la modernidad tardía; las cuales, no obstante, se encontrarían prácticamente consolidadas en la sociedad norteamericana. A finales del siglo XIX, el sociólogo Ferdinand Tönnies (1987) alertaba de un hecho crucial que, a su juicio, habría de marcar el destino venidero de las sociedades occidentales, a saber una creciente expansión de lo que él llamaba la Gesellschaft (dominada por una voluntad racional-instrumental) en detrimento de lo que llamaba la Gemeinschaft (dominada por una voluntad más afectiva y emocional de apego). La noción de amistad, que es lo que aquí nos ocupa, es un peculiar modo de relación social que se encontraría atravesado -y también abundantemente confundido en una esencial indefinición- en la polaridad antaño acuñada por Tönnies. Resulta osado llegar a dudar de que, genuinamente, el terreno de la amistad sea el propio de la Gemeinschaft, si bien aquella no tiene porque estar necesariamente reñida o confrontada con la Gesellschaft. Y aunque, obviamente, la distinción de nuestro autor sea en exceso arbitraria y dicotómica puede resultar, no obstante, de utilidad para comprender las actitudes ante la amistad de los diferentes entrevistados/as anteriormente expuestas. No obstante, el emblemático diagnóstico de Tönnies, llevado a cabo en pleno auge de la modernidad, se habría no sólo corroborado sino también amplificado en el decorado de las sociedades de la modernidad tardía. Uno de los rasgos más característicos de éstas sería una absoluta precariedad en los vínculos de relación interpersonal y una consiguiente fragilidad de un sentimiento de pertenencia comunitario o identitario, de acuerdo a lo que Zygmunt Bauman ha denominado como «modernidad líquida», cuando no de una potencial y larvada enemistad de fondo -en sus distintos niveles e instituciones (nación, familia, vecindario, trabajo, asociacionismo…)- entre sus integrantes ((Bauman, 1997), (2006: 15-44). El resultado más acusado de esto es un expansivo desarraigo y finalmente vacío en los espacios de Angel Enrique Carretro Pasín/ pp. 39 – 58 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Vinculo relacional en las clases creativas. Un estudio metodológico 42 vivencia conjunta, en los contextos existenciales comunitarios, que, como han recalcado Peter Berger y Thomas Luckmann (1996: 95 y ss.), serían aquellos cuya funcionalidad debiera estar gestionada por las «instituciones intermedias» de una sociedad. A esto habría que añadir un proceso de galopante e irreversible flexibilización de las condiciones laborales en el capitalismo más tardío, aunada con una laberíntica incertidumbre en el discurrir de los itinerarios profesionales; lo que sembraría un idóneo caldo de cultivo para una crisis de apego e identidad en el trabajo al modo tradicional (Sennet, 2000). En efecto, el trabajo no es ya la seña identitaria y vocacional del individuo, poco o nada tiene que ver con los aspectos más íntimos o cuando menos singulares de la persona; aunque esto sea perfectamente conciliable con el disfrute de una determinada ocupación instrumental. En una atmósfera generalizada, entonces, en donde el tejido social se ha descompuesto en un mero conjunto de individuos atomizados en una simple relación de oposición de unos con otros, en donde, además, el éxito en el entorno laboral obliga a un constante manejo de estrategias de sociabilidad movidas por un interés instrumental, de acuerdo a los cánones del «carácter social» acorde a la triunfante tipología de «individuos dirigidos por otros» (Riesman, 1981: 15-54) – por cierto encajando perfectamente en el talante creativo instado por Florida-, el esforzado empeño por la conservación de unos vínculos de amistad duradera y auténtica va a cobrar, lógicamente, un especial relieve. En esta línea que acabamos de señalar, una entrevistada, ingeniera de profesión y volcada en su trabajo, insistirá en que, a su juicio, la autenticidad de la amistad (su dimensión cualitativa), habría que deslindarla claramente de las relaciones propiamente instrumentales predominantes en otros escenarios sociales (su dimensión cuantitativa). “¿CUÁNTOS BUENOS AMIGOS TIENES? ¡Uf!... ¿Qué es un buen amigo? NO. ESO LO TENDRÁS QUE DECIDIR TÚ... ¿QUIÉN ES TU MEJOR AMIGO O AMIGA? Hombre, no sé si... No creo que tenga "un" mejor amigo o amiga. Creo que tengo... ¿TIENES BASTANTES AMIGOS Y AMIGAS, NO? Tengo... Tengo buenos amigos... SÍ... También es cierto que cuando tengo un problema son a tres personas a las que voy a llamar. No voy a llamar a nadie más... porque, no. Porque al final, no sé, con quien más... No sé... es que no es fácil esa pregunta..” (Ingeniera). Sin lugar a dudas, la más genuina pureza de la amistad es para ella la atesorada en las amistades nacidas en la infancia. La infancia, pensemos, es el territorio vital en donde los patrones de instrumentalidad fijados externamente por la sociedad son prácticamente inexistentes. “Sí, somos diez... DIEZ... Angel Enrique Carretro Pasín/ pp. 39 – 58 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Vinculo relacional en las clases creativas. Un estudio metodológico 43 Y seguimos siendo diez. O sea, las mismas que empezamos con diez años, o con ocho años, somos las mismas que estamos ahora...” (Ingeniera). Otra entrevistada, médica de profesión, realizando su periplo como médica interna residente (MIR) y a quién el trabajo también absorbe una gran cantidad de su tiempo, tiene también clara la distinción entre amistades auténticas, a las que ella apoda con el sobrenombre de la cuadrilla, de las otras amistades a secas. “Yo dividiría como en dos grupos. Por un lado, tengo mi grupo de amigas, que somos trece o catorce que, la verdad que son mis amigas... ¿ES LO QUE LLAMÁIS LA CUADRILLA? Sí, mi cuadrilla. Y, luego, por otro lado, tengo gente puntual, que he conocido en diferentes cosas en mi vida, que, aunque les veo poco, sí que les considero amigos importantes. Sobretodo dos, que son dos compañeras de carrera. Lo que pasa es que, luego, tengo más gente por ahí suelta, pero, bueno...” (Médica). De ahí que para ella y para sus auténticas amigas las efemérides adquieran una gran significación ritual y simbólica. Esto se explicita en las entrañables celebraciones de cumpleaños. Las fechas señaladas en los cumpleaños correspondientes a cada una de ellas deben obligatoriamente, así, en una suerte de imperativo internalizado, ser celosamente guardadas en la memoria de las restantes integrantes del grupo; desafiando, de este modo, a una posible amenaza disgregadora del grupo derivada del natural discurrir temporal. “Y los cumpleaños, también. Tenemos un sistema de rueda... La que cumple años se encarga del regalo de la que cumple después y, entonces, se encarga de juntarnos también...” (Médica). Esta dimensión consustancial al rito y al símbolo para hacer frente y exorcizar el tiempo que desgasta (Durand, 1981: 384-385), y que por ende desgasta la solidez del lazo de amistad, se ve asimismo reflejada en la importancia que algunos/as entrevistados conceden a las reuniones culinarias. Así, una escritora entrevistada nos confiesa el consustancial papel atribuido a la comida en las reuniones que frecuenta con sus amistades. “Pues, con mis amigas mucho comiendo, cenando... somos muy zamponas... Con los amigos también, o, a lo mejor, yéndonos por ahí a algún sitio, a visitar alguna ciudad y luego comer... Sí, lo de comer siempre está, ahora que lo pienso... (risas)... Comer o cenar siempre está... Bueno, a tomar unas cañas y unas tapas... Sí... Es lo que solemos hacer, la verdad es que sí... comer y cenar...” (Escritora). Impresiones análogas a las de las anteriormente entrevistadas se desprenden de las palabras de una arquitecta ésta de profesión, quién, en modo alguno, atribuye un valor a la amistad en función de la frecuencia del contacto personal. Bien al contrario, para ella la distancia espacio-geográfica o temporal, así como la cristalización de un fuerte nexo en la infancia, parecen refortalecer el lazo de Angel Enrique Carretro Pasín/ pp. 39 – 58 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Vinculo relacional en las clases creativas. Un estudio metodológico 44 amistad. Siguiendo la concepción de la durée bergsoniana, Maurice Halbwachs (1997: 143-192) ha puesto de relieve, en armonía con el sostenimiento de una multiplicidad de registros temporales en la vida social, cómo en la memoria de los grupos se da un doblez entre lo que él llama un «tiempo histórico» -el propio del acontecer temporal cerciorado de datos y lugares- y un «tiempo interior» -el acumulado en el plano de las vivencias interiores del grupo-. La memoria referida al «tiempo interior» va a jugar en esta entrevistada, del mismo modo que en las anteriores, un papel decisivo a la hora de discernir y depurar la autenticidad de la amistad de otro tipo de relaciones sociales también catalogadas, aunque en términos difusos, como de “amistad”. De ahí que haya en ella un explícito énfasis por la perduración de ese lazo originado en la infancia, pretendiendo desafiar, así, las variadas y azarosas modalidades de distanciamiento a las que se verían sometidas las amistades de la infancia. “¿A día de hoy?... ¿mis mejores amigos? SÍ... Buf... (risas)... A ver... (risas)... Hombre, yo en general, tengo varios grupillos que tengo relación buena y que, o sea, el grupillo de las mamás, el grupillo del trabajo, el grupillo... pero, así, amigos, amigos,... mmmm... igual tengo cuatro o cinco que son... No tengo muchos... cuatro o cinco, ¿eh?... de estos de toda la vida y que igual no nos vemos mucho... Hay temporadas que, yo qué sé, que puedes tener algo en común y sí que te llamas más a menudo... Pero que a veces, igual, te puedes pasar cinco meses que no hay mucha relación y... A ver, son los que considero amigos, amigos...” (Arquitecta). Y a continuación añade a lo anterior: “No sé... A ver, tengo un par de amigas que son de los 6, 7 años... además, vivimos en poblaciones diferentes y que nos vamos viendo periódicamente... Es el tipo éste de amistad que igual te pasas esto... cinco o seis meses que no te ves”. (Arquitecta). El vínculo que no ha sido logrado ser erosionado por el discurrir del tiempo se ve reafirmado en su condición de autenticidad, quedando así inmunizado ante cualquier posible tentativa de instrumentalidad. “Sí, con ellos... O sea, con estos dos, pues nos conocemos desde hace 24 años... una cosa, pues yo qué sé... Hay grupillos como que dices "sí, todos somos amigos...", porque hay grupillos de la carrera... después unos, no sé, somos 6, 8 con parejas que tenemos todos críos... Y con estos puedes hacer actividades de fin de semana... pero no es el típico... O sea, somos en plan grupo... O sea, los amigos, amigos, aquello de que cuando te pasa algo sabes que puedes llamar a cualquier hora y tal, son más reducidos...” (Arquitecta). Así, del mismo modo, otro entrevistado, cuya ocupación laboral se inscribe en el campo del diseño artístico, nos revela también que, para él, la autentica amistad dista mucho de estar asociada a una extensa frecuencia de contactos de sociabilidad. Angel Enrique Carretro Pasín/ pp. 39 – 58 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Vinculo relacional en las clases creativas. Un estudio metodológico 45 Debido a los imperativos de su profesión, este entrevistado acostumbra a moverse en espacios en donde la capacidad de relación pública es algo fundamental; y él se siente cómodo en estos ambientes. No obstante, tiene perfectamente claro que el incesante fluir de personas que se ha ido encontrando a lo largo de su trayectoria profesional no son sus verdaderos amigos. “No, no. Yo sé que son amistades que están ahí, que son muy sólidas, que son muy fieles, y que no hay una necesidad de cultivarlas más allá de lo necesario. Entonces, bueno, vamos teniendo relación, nos vamos preguntando, de vez en cuando, pero no es una cosa como de todas las semanas...” (Artista). Curiosamente el abundante despliegue de las tecnologías de la comunicación no solamente no está reñido con el mantenimiento del lazo de auténtica amistad sino que, incluso, contribuye a cristalizarlo todavía más, al favorecer contactos que la distancia había separado. Así la ingeniera entrevistada afirma: “De mi grupo, de estas diez que te digo... ...SÍ... ...unas son de mi colegio. O sea, desde primaria hasta COU. Entonces, con ellas sí que tengo relación. Y luego, de la Universidad... también tengo relación. Sí, o sea, no es una relación diaria, ni telefónica, pero, por ejemplo, sí mucho por e-mail...” (Ingeniera). Y la médica, en la misma línea: “Por e-mail... Llamarnos, no, pero por e-mail, hay ruedas de e-mail todos los días... No, en su día utilizamos mucho el Messenger, cuando se usaba el Messenger, pues hace ocho o nueve años, que no había esto... El Skype, no. Y usamos... yo creo que lo que más usamos es el Facebook. Pero, sobretodo, para comunicarnos, e-mails...” (Médica). Todo apunta, como anteriormente reseñábamos, a evitar una intersección de los órdenes de lo afectivo -marcado por el perdurar con el paso del tiempo- y de lo instrumental –lo que atañe a una racionalidad más estratégica-, así como a una demanda de lo primero derivada de las lagunas en el mundo de la vida (Berger y Luckmann) propiciadas por un exceso de lo segundo. 2. Precariedad y falta de compromiso Hemos distinguido una manifiesta polaridad en el ámbito de la amistad, con su peculiar idiosincrasia cada uno de estos polos. Nos interesa ahora radiografiar el perfil de los vínculos de sociabilidad entretejida en aquellos órdenes de la cotidianidad que ocupan la mayor parte del tiempo de la vida de los entrevistados, es decir en las relaciones que anteriormente hemos denominado de oficialidad: aquellas circunscritas al campo laboral y también al del ocio, entendido éste como un suplemento o añadido siempre inequívocamente dependiente del ámbito del trabajo. Angel Enrique Carretro Pasín/ pp. 39 – 58 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Vinculo relacional en las clases creativas. Un estudio metodológico 46 La sociabilidad aquí gestada sí parece confirmar en este punto el diagnóstico de Florida. Así, lo más llamativo de esta sociabilidad es no sólo el débil vínculo de unión en las relaciones interpersonales, sino, dando un paso más, la voluntad de que este vínculo adopte estas características y no se salga de ellas. Esto no está, en modo alguno, reñido con lo subrayado en el apartado anterior; es más viene mismo a apuntalar la tesis allí apuntada: que pese a establecerse una sociabilidad de fondo débil en el orden de la oficialidad de las relaciones interpersonales, hay todavía un residuo todavía de tradicionalismo, inmune a las recientes mutaciones culturales, latente en las formas de relación social de la sociedad española. De ahí que, volviendo al análisis de la dimensión de la sociabilidad débil de nuestros informantes, lo distintivo en esta dimensión de las relaciones de amistad sea la inconsistencia, la fragilidad, la vulnerabilidad, en suma lo que Gilles Lipovetsky (1986: 34-78) comenzaba ya a intuir a comienzo de los años ochenta del ya pasado siglo y que bautizara como el «imperio de lo efímero». Un retrato en germen de las sociedades de la modernidad tardía, el llevado a cabo por este autor, que se ha visto plenamente confirmado y amplificado posteriormente, constituyéndose así finalmente una modalidad de relación social marcada por una «sociabilidad efímera», sin grandes lazos sólidos de cohesión; la cual acabará configurándose como un trazo distintivo del conjunto de las relaciones interpersonales en nuestras sociedades. En el contexto de los ochenta, Lipovetsky alertaba acerca de la emergencia de un fenómeno social generacionalmente novedoso: el surgimiento de una amplia gama de contactos personales en donde predominará la eventualidad, así como un recelo y una negativa a la adquisición de cualquier tipo de compromiso relacional, bien sea éste de índole política, religiosa, familiar o que afecte mismo a las relaciones interpersonales. Se trata, pues, de una generalizada actitud social en la que va a primar un intencionado desarraigo, un no tener raíces. Asimismo, en una línea bastante similar, Amparo Lasén (2000), diagnosticando el peculiar modo en cómo las nuevas generaciones afrontan la complejidad e incertidumbre de la temporalidad social que les ha tocado vivir, ha puesto de manifiesto la in-consistencia como recurso socio-antropológico inherente a sus relaciones, obligados a vivir en un modelo de sociedad en donde las relaciones sociales a diferentes niveles se han tornado inevitablemente precarias. En este sentido, tal cómo los distintos entrevistados/as ponen de manifiesto, el abanico de contextos relacionales en donde ellos/as se mueven es sumamente amplio y variado. La red de contactos facilitada y extendida mediante las nuevas tecnologías de la comunicación (correo electrónico, telefonía móvil, redes sociales..) contribuye a ensanchar sobremanera este abanico y, por tanto, a extender hasta límites insospechados en otra hora una generalizada sociabilidad que opera en una multiplicidad de espacios sociales. Un entrevistado, abogado de profesión, entregado durante toda la semana al ejercicio liberal de su trabajo, nos revela que espera ansiosamente la llegada del fin de semana para salir de la ciudad y realizar rutas de senderismo durante la jornada sabatina. Los participantes en ellas son recogidos en su ciudad y conducidos por un Angel Enrique Carretro Pasín/ pp. 39 – 58 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Vinculo relacional en las clases creativas. Un estudio metodológico 47 autocar hacia diferentes destinos de la geografía gallega en donde se llevan a cabo. Estos participantes no despliegan un especial vínculo comunicativo entre ellos, no profundizan en relaciones en donde pudieran salir a la luz aspectos íntimos de la persona. Durante el trayecto en autocar, así como durante la realización de la actividad, las conversaciones se mueven en un ámbito explícitamente banal, superficial, apelando a temas fundamentalmente intrascendentes, sin el anhelo de adentrarse en el conocimiento de la persona con quien compartes la ruta. Ni siquiera liberándose de las constricciones que sobre la identidad impone un rol o condición laboral se da pié, pues, a la posibilidad de surgimiento de la subjetividad. La actividad concluye y el sábado siguiente habrá otra nueva ruta, con algunas personas que participaron en la anterior pero también con nuevos rostros. La actividad es indiferente a la puesta de manifiesto de la subjetividad. “No. Efectivamente. Efectivamente. En ese sentido, es muy... es una cosa.... Proporciona mucha comodidad, porque vas a tu bola y no tienes que estar... Sí, sí... Si te apetece hablar, hablas y sino, a nadie le parece mal que vayas un poco pensando en tus cosas, o vayas más despacio o vayas más lento. O vayas más bien hacia el grupo de delante, o te quedes más bien en el grupo que va hacia atrás. Es decir, sí son... Hay unas normas mínimas de cortesía, pero dentro de eso, cada persona, pues, es una actividad lúdica y la disfruta de la forma que mejor le parece. Sí se establecen unos vínculos entre las personas, pero no existe un...” (Abogado). La falta de compromiso parece mostrarse como uno de los rasgos distintivo de una actividad ésta, la del senderismo, intrínsecamente refractaria a ser objeto de regulación legal mediante los tradicionales vínculos presentes en las asociaciones o federaciones. Esto contribuye a mayores a que el conocimiento personal con el objetivo de saber la identidad de quien tienes a tu lado se convierta en algo en sí mismo innecesario. “Sí, la actividad del senderismo como actividad deportiva que está enfocada a andar. Pero, claro, andar, no es lo mismo ponerse a dar vueltas a la manzana que... un paisaje bonito, que, además, un día vas a un sitio, otro día a otro, con lo cual te sirve también para conocer geografía, conocer historia, porque se va a un monasterio, a alguna ruina y tal. Viene alguien que lo explica, tal. Es una actividad muy interesante. Yo decía antes que no había compromiso alguno en la actividad, en el sentido de que uno no ingresaba en una asociación o en una federación, sino que, a lo que se amoldaba, era a una ruta en concreto. Y, a pesar de ser esto así, coincide que la mayor parte de la gente que realiza la actividad son eventuales. Es decir, no es que estén en la asociación. Pero, sin embargo, se anotan a cada una de las rutas que van surgiendo, porque tienen auténtica afición. Es decir, no se anotan en una sociedad y entonces... o en una agrupación, y por eso van a las rutas, sino que la anotación es individual para cada una de las rutas. Sin embargo, coincide que la mayor parte de la gente que va es eventual, porque se van anotando, una tras otra, a todas las rutas. Que puede ser porque les guste, porque tienen esa afición...” (Abogado). La eventualidad de las relaciones es perfectamente conciliable con el hecho de moverse en una diferente gama de grupos y con el establecimiento de una multiplicidad de relaciones en el seno de cada uno de ellos. Se puede, en suma, Angel Enrique Carretro Pasín/ pp. 39 – 58 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Vinculo relacional en las clases creativas. Un estudio metodológico 48 conocer a mucha gente, forjar innumerables contactos, pero, no obstante, no conocer en profundidad a nadie. Este es el caso de la arquitecta entrevistada, acostumbrada a manejarse con desenvoltura en diferentes escenarios de sociabilidad. “Bueno, yo, claro, es que también, donde estoy... Yo estaba acostumbrada como a despachos más pequeños, que como mucho eras 10, 12, 15 y que hay más relación... Y, ahora, claro, estoy en una empresa más grande, que hay 200 trabajadores... Entonces, yo también, que por circunstancias, pues que me he movido por diferentes departamentos... A ver, tengo la sensación, al menos, de tener buena relación con todo el mundo, pero, o sea, aquello, de amistad, no... O sea, hay muchas personas con las que me siento cómoda y que si hay un problema, creo que se puede hablar bien, o... pero, amistad, amistad, pues, no diría tampoco...” (Arquitecta). Y acto seguido apostilla: “Pues mira... Por ejemplo, esta noche nos vamos a quedar en Granollers y vamos a cenar un grupillo y... bueno, unos... yo no, pero algunos van con sus hijos y... no sé... Es que, a ver, no sé, por ejemplo, con la amiga ésta que la situación es parecida, nos vemos mucho por Gerona... eh... Y allí es más ir en bicicleta, ir... A ver, hay amistades con las que incorporas siempre a los hijos y amistades, pues que te ves en el ratito del gimnasio... Pero, claro, es que tampoco amistad... es gente conocida, tampoco...” (Arquitecta). La negativa a verse envuelta en compromisos que exijan un grado de implicación personal que sobrepase los límites de la necesaria sociabilidad entretejida en el trabajo es en ella muy palpable. Diríamos que se trata de estar juntos pero sin sentirse unidos. “Sí... bueno... yo también... Que, a ver, también ahora es una época en la que es fácil que haya competitividad... Lo que pasa es que yo pienso que me siento a gusto... Lo que pasa es que intento que sean relaciones profesionales y como muy claras y muy abiertas, pero intento que el tema personal o tema de emociones, intento como ni implicarme mucho ni que la gente se implique en cosas. Porque a veces, ves a gente que hace un proyecto, que estás trabajando y ves como muy emocionada... no sé, intento que el ambiente sea agradable, eso sí... como mucho respecto y decir las cosas claras... o sea, un problema se dice antes de que se haga más grande... Pero a nivel personal, no… yo distingo entre las relaciones... Por muy a gusto que esté con mis compañeros de trabajo, no son mis amigos... Bueno, estoy a gusto, pero si esa persona la puedo ver en un ambiente fuera del trabajo, puede ser que en ese grupo nos consideremos amigos, pero si esa misma persona, después, cuando estamos trabajando, creo que estamos en nivel de comunicación de trabajo...” (Arquitecta). El artista de diseño anteriormente señalado utiliza una expresión metafórica con gran densidad de significado para aclarar el tipo de relación social propiciada por su actividad profesional. Se trata, dice él, de «espacios impermeables» construidos sobre «terrenos neutros». En sus constantes desplazamientos geográficos motivados por su trabajo, ha entablado contacto con un innumerable sinfín de personas, pero en una relación en donde todas ellas se hallarían ajenas a sus espacios de arraigo más local y proxémico; lo que facilitaría la posibilidad de un ocultamiento o, si se quiere, Angel Enrique Carretro Pasín/ pp. 39 – 58 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Vinculo relacional en las clases creativas. Un estudio metodológico 49 transfiguración de su faceta identitaria más marcada por la subjetividad. Pero esto, curiosamente, no dista tampoco mucho de las relaciones emanadas de su entorno más cercano, del espectro de su vecindario. La «permeabilidad» antes señalada no resulta ser, en modo alguno, lo definitorio de estas relaciones. “Efectivamente. Entonces, las despedidas, que son como pequeñas rupturas, son siempre traumáticas. Y hay gente que sabes que no las vas a volver a ver nunca más y has convivido con ellas durante cinco días y han sucedido cosas, en esos cinco días, tan intensas o más de las que te podían suceder con cualquier persona, con cualquier supuesto amigo con el que has convivido cinco años. Entonces, eso pasa constantemente, constantemente. Entonces, yo tengo muchos conocido, potenciales amigos, que sé perfectamente dónde están ubicados, perfectamente, y puedo decir "con este tipo podía llegar a entablar una gran amistad, si la cultivase, pero no puedo". O sea, es una cuestión de capacidad. No puedo. Entonces, están en un terreno de lo potencial, de lo posible. ¿Quién sabe?, ¿yo qué sé? A lo mejor, luego, eso se diluye, con el tiempo, ¿no? Los conoces en una circunstancia concreta, en un momento muy determinado de su vida y ahí, esto es como... claro... como... eh... espacios impermeables que se construyen sobre terrenos neutros... ...SÍ, QUE IGUAL LOS SACAS DE AHÍ Y... ...efectivamente. Y es otra cosa, ¿no? Son lugares de convivencia... ...SON RELACIONES ESPORÁDICAS, INTENSAS, DIGAMOS... ... Sí, sí. Pero lejos de los lugares de cada uno, que uno se comporta de maneras distintas... PORQUE CON LOS AMIGOS O VECINOS DE BARRIO, QUE LOS VES MÁS A MENUDO, DIGAMOS, QUE TIENES COMO UNA CONTINUIDAD, ¿CÓMO DIRÍAS QUE ES EL TIPO DE RELACIÓN QUE TENÉIS?... ¿CADA CUÁNTO OS VEIS?, SI ES INTENSA, OS VEIS MUCHO... HAY UN INTERCAMBIO... Mira, aquí no tengo vecinos de barrio. No, tengo conocidos. Conocidos con los que me saludo muy cordialmente, pero con los que no me voy a tomas copas... Tengo conocidos, muchos conocidos. Pero, amigos, amigos, en Huesca, yo diría que, amigos, tengo cinco o seis amigos...” (Artista). Algo semejante ocurre con otro entrevistado, científico de profesión, quien, a su juicio, posee dotes camaleónicas para saberse mover en distintos ambientes, pero quien también reconoce que no tiene incluso demanda alguna de amistad en ellos. “Yo, creo que soy una persona que se relaciona con bastante facilidad... Y... eso, claro, me hace que tenga muchos amigos y en muy distintos ambientes... porque también me muevo en muy distintos ambientes... Tengo buenos amigos en el trabajo, tengo buenos amigos en la familia, tengo buenos amigos en el deporte, o, digamos, en la política o en la actividad, digamos, más externa, ¿no? Entonces, ¿mis mejores amigos?... me resultaría difícil concretarte esto, ¿no?... Es como, ¿cuál es la mejor película que viste o tal? Porque creo que tengo buenos amigos, aunque también, si te soy sincero, eh... podría vivir sin ninguno. Soy frívolo en esto, ¿eh? soy exagerando en esto... Quiero decirte que quiero mucho a algunos de mis amigos, pero...eh... no pasaría nada si no los tuviera... Sé que estoy siendo brusco en esto, ¿eh?... y no sé cuánto estoy reflejando bien lo que quiero decir, pero es así. O sea, yo nunca tuve un amigo... bueno, a lo mejor, en el bachillerato y eso, pues siempre tienes un amigo que es más tu referencia, ¿no?, con el que estás sentado al lado, con el que te ves más en los recreos y eso... los recuerdo todavía, hoy, que me he..., pero luego, a partir de ahí, siempre fui más de pandilla... no sé cuánto de eso será mi gen vasco, ¿no? Siempre fui Angel Enrique Carretro Pasín/ pp. 39 – 58 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Vinculo relacional en las clases creativas. Un estudio metodológico 50 más de grupo, de cuadrilla. O sea, nosotros durante la licenciatura, teníamos una pandilla que podría ser entre diez y treinta, dependiendo... Íbamos a tomar siempre el primer vino al mismo sitio y allí nos juntábamos y, a lo mejor... o a lo mejor no iba hoy e iba mañana... Y claro, tienes siempre gente más afín y posteriormente, también... Pero, igual es eso, que como me muevo en muchos ambientes distintos y en todos me encuentro cómodo, en todos me encuentro con gente que considero amiga y tal... pues a lo mejor, no conservo (si quieres, entre comillas eso), con demasiada intensidad ninguna amistad...” (Científico). Este entrevistado se siente más cómodo en las relaciones dispersas que en las fijas, en las variadas en detrimento de las leales. En su caso se trata de querer estar en muchos sitios y tener la flexibilidad de adaptarse correctamente a todos ellos, procurando evitar, de esta manera, el estar siempre en el mismo. “Es variado eso también. Es muy variado eso también... porque con la familia pues, claro…, pero después tengo círculos bastante distintos de amistades y, por lo tanto... por un lado, me permite estar con gente muy diferente y, por otro lado, me impide estar mucho con la misma gente. O sea, tengo círculos muy distintos y me apetece atenderlos a todos y estoy a gusto con todos ellos y, entonces, eso, me hace ser un poco disperso, en las propias amistades. Quiero decir que no estoy todo lo que me gustaría estar con muchos... O sea, que no repito mucho y, a veces, me pena no repetir... Pero, porque también me apetecen otras cosas... Soy un poco goloso en eso de querer, igual, mantener muchas cosas, ¿no? incorporo nuevas amistades, no dejo las anteriores... o sea, no me apetece y, entonces, haces ejercicios como para poder distribuir tu tiempo, también...” (Científico). Al moverse en una pluralidad de ambientes muy dispares, tanto en el ámbito laboral como en el del ocio, es como si saltase de uno a otro, sin un ánimo por anclarse en ninguno de ellos. El contacto tiene una brevedad en el tiempo, sin intención de que éste se prolongue más allá de lo ocasionado por la propia naturaleza del encuentro. “Hay de todo... Me resultaría complicadísimo concretarte esto, ¿sabes? Mira, yo, el viernes pasado, por la mañana estuve en una oposición en Granada... Voy a esa oposición porque me proponen en la Comisión y salgo y tal... Me proponen porque son amigos... Yo voy el viernes, terminamos el viernes por la mañana. Podía volverme el viernes por la tarde, ¿no?... Me vengo el domingo por la noche, porque así aprovecho estar con los amigos esa tarde del viernes, ceno con ellos, el domingo me voy a ver la Alhambra, yo solo, porque, además, no quiero tampoco dar el coñazo demasiado, pero ya como con ellos, paseo con ellos por la tarde... y estoy todo el domingo con ellos por la tarde... ¿Son mis mayores amigos...? No son mis mejores amigos, entre otras cosas... son mis amigos viejos, entrañables, pero con los que tengo relativamente poco contacto, ¿entiendes?... Y eso me pasa un poco con todo... Mañana quedo a comer con otros amigos, que me veo poco y, además, es verdad que... con los que me veo poco, pero que de vez en cuando nos llamamos y nos juntamos cuatro o cinco... O esta tarde, si me da tiempo después de la entrevista, pues quedé con uno a las siete y media para ir al Ateneo, a una charla, que no me interesa demasiado la charla, pero como vamos otros tres o cuatro amigos, después de la charla, pues me voy a tomar un vinito con ellos... Entonces, un poco, no sé... a lo mejor refleja un poquitín esto, ¿no?.” (Científico). Esta negativa a una profundización e implicación en las relaciones personales llega alcanzar, en el caso de una entrevistada dedicada profesionalmente a la Angel Enrique Carretro Pasín/ pp. 39 – 58 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Vinculo relacional en las clases creativas. Un estudio metodológico 51 publicidad, tintes especialmente llamativos, confesando que jamás ha surgido en ella un interés por ahondar en el lado subjetivo del otro. “Yo creo que siempre he tenido muchos amigos, pero... esto también es algo que sé posteriormente... por mi carácter o por mi forma de ser, yo nunca he profundizado mucho en las relaciones de amistad. O sea, que para mí, sí eran relaciones profundas, pero... no sé, yo creo, que no profundizaba. O sea, tenía muchos amigos, algunos buenos, pero con algunos sí que hablaba de cosas más íntimas, pero nunca he tenido, así, ninguna necesidad de saber la intimidad, en general, de las personas. Entonces, si alguien me cuenta algo, pues bien, pero no buscaba, así, ningún tipo de amistad en concreto”. (Publicista). El establecimiento de un tipo de sociabilidad cara a cara pero “a distancia” resulta ser el signo más inequívoco de las relaciones sociales en las que habitan nuestros entrevistados/as. Todos ellos/as con un amplio y bien delimitado «espacio vital» en donde no hay cabida, como ya hemos indicado, para un ahondamiento en la intersubjetividad ni para un compromiso con la cercanía que extralimite el tipo de sociabilidad mencionado. 3. El «estar juntos». La afinidad transformada en finalidad En un modelo social presidido por una atomización de las relaciones personales, favorecida ésta, además, por una creciente ligazón contractual que las gobierna, va a cobrar un especial relieve la demanda de un vínculo de «sociabilidad» (Simmel, 2002) de naturaleza no contractual, más apegado a los aspectos más lúdicos de la existencia social y, asimismo, ligado al terreno de lo emocional, de lo sentimental; todo ello en consonancia con la efervescencia de unos patrones culturales propiamente hedonistas ya profetizados en su momento por Daniel Bell (1987: 45-90). Michel Maffesoli (1990) ha insistido en la efervescencia de una nueva modalidad de vínculo de sociabilidad apegado a los aspectos más banales de la vida social, en donde prima y sale a la luz el elemento no-racional que estaría en el trasfondo de la existencia cotidiana. El móvil para estar con otros no sería, pues, el que rige una calculada racionalidad instrumental, característica del orden de lo laboral, sino el sentirse cómodo en una «nebulosa afectual» con otros con los que se comparten afinidades, fundamentalmente de ocio, comunes. Esto da pié para que brote un particular modo de relación social liberado, entonces, de cualquier constrictora mediación nacida de una lógica utilitaria, para que pueda irrumpir lo que Georg Simmel llamara una verdadera «sociabilidad»; con las singulares connotaciones que este autor daba al término, a saber: «una interacción social recíproca, libremente flotante y desprendida de toda finalidad o interés concreto» (Simmel, 2002: 82-83). En este decorado sociológico va a adquirir una relevancia especial la reunión en sí misma: el hecho de reunirse con otros, con aquellos con los que se empatiza en una semejante sensibilidad en torno a un aspecto especialmente concreto de la vida social. Frente a las tendencias disgregadoras presentes en la sociedad, surgidas éstas tanto de la propia racionalidad instrumental dominante en el campo laboral como de la hipertrofia del vínculo contractual originado a raíz de la instauración de una «solidaridad orgánica» (Durkheim), hay una pulsión social que trabajaría en un sentido diametralmente Angel Enrique Carretro Pasín/ pp. 39 – 58 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Vinculo relacional en las clases creativas. Un estudio metodológico 52 opuesto, propiciando la gestación de fórmulas informales de «convivialidad» (Duvignaud, 1990: 175 y ss.) mediante agregaciones puntuales -aunque no necesariamente éstas entrañen un obligado anclaje- entre los miembros de distintos grupos. Tanto es así que, analizando a los entrevistados/as, en muchos casos la unión parece reconducirse y reducirse a la misma re-unión. Esto es lo que ha llevado a Maffesoli (1990), (2005) a afirmar que la nueva modalidad de vínculo social en las sociedades emergentes a raíz de los años ochenta del pasado siglo, a su juicio posmodernas, residiría en un ansia por «estar juntos» que se agota en sí mismo, sin más proyecto o finalidad que ese «estar juntos», por compartir conjuntamente los aspectos más lúdicos de la existencia con otros con los que para ello nos reunimos. Saturadas las finalidades históricas que en otra época congregaran a los individuos en torno a los distintos movimientos sociales y políticos que galvanizaran la acción colectiva en aras de un objetivo histórico, la congregación se agota en el propio placer de sentirse arquetípicamente congregados sin más. Pensada la sociedad desde estas claves, los espacios de reunión social no van a ser otra cosa que pretextos para esta misma reunión, o si se quiere receptáculos de acogida de una similar afinidad o gusto. De ahí que, como se atestigua en buena parte de las entrevistados/as, esta reunión se produzca en localizaciones por completo ajenas a aquellas en donde prima una lógica racional, contractual y estratégica. Esto contrasta nuevamente con la visión de los grupos creativos atesorada por Florida, en donde la unión y reunión se ven impulsadas fundamentalmente por un nexo laboral, aún cuando éste lleve impreso un componente de creatividad o de “estilo de vida”, siempre marcado éste, no obstante, por el acento de lo laboral. Aquí la agregación venía propulsada por la creatividad, pero creatividad inexorablemente ligada al trabajo. En nuestros informantes, por el contrario, el fundamento del móvil de unión y reunión se encuentra especialmente en el amplio dominio del desinterés, en el espectro del ocio; confirmándose la idea maffesoliana de que lo lúdico es fundamentalmente «el efecto y la consecuencia de toda sociabilidad en acto» (Maffesoli, 1998: 64). Nuestros entrevistados/as buscan el nexo de unión afuera de la frontera delimitada por el trabajo y no en el seno de la actividad profesional. Esto estaría expresando, una vez más, cómo los patrones culturales en torno al trabajo, el «habitus» si se quiere en términos de Pierre Bourdieu (1993), de la sociedad española dista del institucionalizado en la sociedad norteamericana, puesto que, en definitiva, en aquella el valor del trabajo no es todavía el vértice central sobre el pivotan las diferentes dimensiones de la existencia social, no se da una confusión y finalmente ósmosis entre trabajo y vida. Así, el abogado anteriormente mencionado, que como hemos visto dedica fundamentalmente su tiempo de ocio en el cultivo del senderismo, insistirá en que el lazo de unión de naturaleza lúdica es la actividad que los congrega, es el hecho de andar en sí mismo. Angel Enrique Carretro Pasín/ pp. 39 – 58 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Vinculo relacional en las clases creativas. Un estudio metodológico 53 “Pues sí, sí. Pienso que a lo mejor alguna persona sí. Y otras personas no. Unos van porque les gusta andar, otros porque les gusta el paisaje, otros porque les gusta en concreto el paisaje de montaña, otros porque les gusta el paisaje de río, otros porque les gusta tal. Otros, a lo mejor, para conocer gente. Me imagino que sí, ¿eh?, pero no es lo más habitual. Lo más habitual, yo pienso que por lo que la gente realiza mayoritariamente esa actividad, por lo menos el grupo con el que yo voy, es el tema por el tema de andar y de contemplar paisajes bonitos que merece la pena ver”. “…Eso es. Eso es. Después, si te encuentras con esa persona por la calle, pues te paras a hablar. Incluso puedes quedar después para alguna otra cosa, porque sí, ya se ha establecido esa relación. Pero en realidad de lo que se trata es de la actividad en sí”. (Abogado). Es sintomático que la naturaleza resulte ser un condimento esencial de la actividad. Los que en ella participan buscan intencionadamente este contacto vivencial con espacios naturales, entrar en una simbiosis ecológica con éstos, alejándose, de este modo, del frenesí impuesto por el ritmo de la ciudad, del aislante táctil que con la naturaleza supone el asfalto y, en general, de las preocupaciones cotidianas. “Sí, sí. Es decir, la actividad consiste en andar. Pero claro, en andar y en andar por senderos. Los senderos se dan por espacios naturales y, entonces, la actividad consiste básicamente en eso. Aunque en algunas de las rutas se producen visitas culturales, o visitas guiadas o visitas a determinados monasterios... Pues lo básico es el andar. Y eso sí. A mí, por ejemplo, me gusta andar. Y me gusta andar por asfalto y andar por la naturaleza y andar por las playas... A mí me gusta andar. Si el paisaje es bonito, pues es algo a añadir. Eso, a mí en concreto... eh... En cuanto a la actividad de senderismo en sí, lo que se trata es de andar por senderos naturales, no por asfalto. De hecho, el asfalto está muy mal visto en las rutas de senderismo y si excede el porcentaje de asfalto de un... es un porcentaje (no me acuerdo ahora, pero bastante bajo), si excede de ahí, ya ni siquiera homologan la ruta. Entonces, la gente que participa en las rutas de senderismo, no es para nada amiga de andar por el asfalto, todo lo contrario. Lo que sí es muy común en la gente que practica senderismo, pues es el amor, el gusto por la naturaleza, sí...” (Abogado). Verse con una frecuencia periódica para que la relación perdure. Este parece ser, en muchos casos, el único el leit motive de concertar una cita para una escritora entrevistada. Es un quedar juntos cuya exclusiva intención es un verse sin más. “Sí... Claro. Pues, yo qué sé... yo, con mis amigas, así, más cercanas, sí que quedamos frecuentemente... Ahora, dos de ellas tienen niños y es un poco más complicado, pero... Pero, sí quedamos, mínimo una vez al mes o nos vemos un rato... Luego, con otros amigos, con los que salimos más en parejas, que son amigos de Alberto, pero que ahora son también amigos míos, pues yo no sé decirte la frecuencia, pero... no sé... cuando surge, nos llamamos... es que no sé... una vez al mes o cada dos meses o algún cumpleaños... Es que, no sé, la verdad es que no lo he medido cada cuanto, pero sí...” (Escritora). Como ya ha sido puesto suficientemente de relieve por diferentes antropólogos enfrascados en el estudio del componente ritual sobreañadido a la comida en las sociedades primitivas, las ceremonias culinarias obedecen a una fuerte pulsión por fusionarse en una comunión colectiva con otros, compartiendo conjuntamente para Angel Enrique Carretro Pasín/ pp. 39 – 58 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Vinculo relacional en las clases creativas. Un estudio metodológico 54 ello el alimento. Esta pulsión, no obstante, según ha mostrado Jean Duvignaud (1991: 58-89), se mantendría como una constante antropológica a lo largo de la historia y trascendiendo toda particularidad cultural, configurándose como uno de los recursos por excelencia para crear y recrear un sentimiento de unión entre los que en esa ceremonia coparticipan. Nunca a lo largo de la historia de Occidente surgieron de tal grado y de tal calibre banquetes esencialmente públicos como los desatados a raíz del frenesí revolucionario despertado por la toma de la Bastilla. La fiesta, la comida y la comunión colectiva forman, en suma, una perfecta amalgama. La misma escritora nos dice: “Pues, con mis amigas mucho comiendo, cenando... somos muy zamponas... Con los amigos también, o, a lo mejor, yéndonos por ahí a algún sitio, a visitar alguna ciudad y luego comer... Sí, lo de comer siempre está, ahora que lo pienso... (risas)... Comer o cenar siempre está... Bueno, a tomar unas cañas y unas tapas... Sí... Es lo que solemos hacer, la verdad es que sí... comer y cenar...” (Escritora). Las recientes tecnologías de la comunicación habrían facilitado e impulsado este espíritu de reunión colectiva. Así nos lo explica la arquitecta: “Sí... yo lo noto, ¿eh?... Ya con los correos, o sea, la fase de los correos... que está bien, porque... que antes era todo mucho más, no sé, te tenías que encontrar, tenías que... si no las llamadas... dejabas de hacer cosas porque pensabas "buf, es muy complicado reunir a tanta gente". Y ahora es esto, que tú haces una propuesta, la mandes a no sé dónde "escoger, día... a ver, proponemos salida, tal día, tal día...", y que veas... claro, es una cosa muy fácil, muy fácil... Y, también, como muy abierto, que antes las cosas eran "me ha dicho tal que no sé qué...", y ahora, no... allí está todo y...” (Arquitecta). Las uniones bajo móviles de sentimientos empáticos de afinidad son una constante en los entrevistados/as, generándose el caldo de cultivo idóneo para la forja de distintos grupos o incluso la formalización de asociaciones, siendo concebidos éstos como un nutriente vital suplementario al trabajo. La médica entrevistada canaliza esta inquietud a través de una Organización no gubernamental: “Antes era monitora de un grupo de Scouts, que he sido durante muchos años... durante la carrera y hasta la residencia, estuve con ellos, que me llevaba muchísimo trabajo, porque... con chavales el fin de semana, reuniones y eso... Pero eso, ahora, lo tengo aparcado, porque no me da la vida. Y luego, tengo un poco relación con OSALDE, que es la asociación de sanitarios, en la que está muy tío y... que fue con la que fui a Honduras, aunque también estoy limitada... cuando organizan alguna cosa, suelo ir y eso. Pero, vamos, muy activamente, no, porque no me da tiempo...” (Médica). Algo análogo ocurre con la escritora, aunque en su caso la inquietud adopte un curso ahora cultural. “Bueno, te decía que he creado una asociación cultural con mi hermano, con su novia, que también es actriz de teatro, con mi marido, que no tiene nada que ver mi marido en esto, pero él, por apoyar, también se ha metido... Y estamos haciendo cosas... Yo también escribo, por otro lado... Voy a publicar un libro de relatos, vamos a producir una obra de teatro... Bueno, estamos un poco ahí, en ese mundillo, más de la cultura Angel Enrique Carretro Pasín/ pp. 39 – 58 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Vinculo relacional en las clases creativas. Un estudio metodológico 55 y demás... Son pequeñitas cosas, pero es un poco también una forma, mía, personal, de resistir la corriente, que es muy potente, ¿eh?, de solamente dedicarte al trabajo, porque bueno, es la deriva natural, que te lleva... y un poco mi sueño, por conectarlo un poco con lo que me preguntabas al principio, ¿cómo veo yo el futuro?... Es, de alguna manera, poder llegar a vivir de esto. Sé que no es fácil y más las condiciones que hay ahora... pero no digo que tenga que ser ya... ni siquiera sé si va a ser en España. Porque, además, con el marido que tengo, mejicano, pues también, a veces, pensamos en cambiar de país y, bueno... Y, a veces, cuando voy a Méjico, hasta tengo la sensación que me sería más fácil allí hacer algo que aquí, porque aquí es muy complicado, ¿eh? Pero, bueno, yo en esas estoy... O sea, yo tengo mi...” “… Algunas cosas, sí, pero muchas, no... Para mí, algunas, sí, pero muchas, muchas, no... Y, de hecho, en los... no sé si viene al caso o no... pero yo, uno de los fines fundacionales de mi asociación es, precisamente, desmarcarse de eso, de salirse de los circuitos convencionales y de hacer cosas porque realmente sentimos que son las cosas que queremos hacer, no lo que se supone que hay que hacer para estar de moda, o para entrar en el circuito, para que te den la subvención, para que... A veces, también, si piensas... bueno, es también un recurso muy manido, ¿no?... pero en pintores que ahora se venden sus cuadros por miles de millones de euros, se murieron muertos de hambre...” (Escritora). El artista de diseño entrevistado quizá sea el más afortunado de todos, puesto que en su caso particular la afinidad que le une a otros con los que suele reunirse coincide, como denominador común en todos ellos, con su trabajo; de ahí que, en consecuencia, éste sea la fuente de la que emane un amplio repertorio de relaciones sociales. “Pues nos vemos circunstancialmente. De vez en cuando, pues quedamos en Madrid o en Barcelona. Hemos viajado juntos. Yo, con Raúl, he viajado mucho. Mucho a Francia. Con Peret, también he viajado. Hemos viajado a Francia, hemos viajado a Méjico...Eh... Bueno, ha habido... Nos vemos, digamos, que eventualmente. Eventualmente, pero con mucha intensidad, ¿no? Eh... A Carlos lo veo habitualmente, con cierta asiduidad. A Pep lo suelo ver en Madrid. Hoy viene aquí, a Huesca. Antonio Santos es un muy buen amigo, con el que mantenemos una estrecha relación y nos vemos en Madrid o aquí o... Con Pía, exactamente lo mismo...eh... Alejandro Magallanes es un tipo mejicano al que adoro y es mi gran amigo del otro lado del charco, ¿no? Nos vemos... nos encontramos de la forma más azarosa en los sitios más peregrinos, ¿no?... Pues nos encontramos o en un festival de carteles en Francia en "(no entiendo, es una ciudad)", o nos hemos encontrado en Colombia.,.. eh... nos hemos encontrado en las Palmas de Gran Canaria impartiendo los dos unos talleres, un curso... eh... En París nos hemos encontrado también. Nos hemos encontrado en sitios muy raros. En Méjico, cada vez que voy a Méjico, claro, estoy con Alejandro, ¿no? Y hemos ido coincidiendo en distintos lugares. Cada vez que hemos coincidido, pues ha sido una fiesta, ¿no? Y son amistades muy cortas y muy intensas...” (Artista). Este énfasis por la reunión bajo una afinidad común se agota en el propio acto de reunión, no pretendiendo ir más allá de éste con la pretensión de fraguar un posible componente de autenticidad en la relación o de buscar un anclaje intersubjetivo persistente tras la transitoriedad del momento. Es el primado de la afinidad convertida en eventualidad. Angel Enrique Carretro Pasín/ pp. 39 – 58 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Vinculo relacional en las clases creativas. Un estudio metodológico 56 Conclusiones Las conclusiones ya han sido abordadas a lo largo del texto: No obstante, a riesgo de ser reiterativos, las exponemos nuevamente de modo sintético: 1. Una delimitación en el ámbito de la amistad entre las amistades oficiales de las amistades auténticas, así como un esfuerzo por mantener clara esta delimitación, sin que ambos ámbitos se entremezclen. 2. Una precariedad y falta de compromiso intencionado en el vínculo establecido en la mayor parte de las relaciones interpersonales en donde se mueven estos actores sociales. 3. Un énfasis por las reuniones sociales transitorias que es galvanizado por una afinidad común en torno a algún tema o repertorio de la vida cotidiana. Es preciso mostrar que la complejidad de las relaciones de amistad generadas por estos actores sociales posibilita una complementaria intersección entre los tres aspectos mencionados; los cuales, en suma, no debieran ser vistos como delimitados unos de los otros o, en modo alguno, bajo una relación de oposición entre ellos. Para concluir, indicar que los resultados de nuestro análisis, como también ha quedado de relieve a través de puntuales pinceladas a lo largo del texto, hallan diferencias más que accidentales con el análisis de los grupos creativos llevado a cabo por Florida. En síntesis, dichas diferencias debieran ser explicadas desde las notables divergencias de fondo existentes entre los marcos estructurales característicos de la sociedad norteamericana y española. Más específicamente, estas divergencias estarían originadas en las distantes fórmulas de convivencia interpersonal institucionalizadas en cada una de ellas; y en donde el habitus cultural que rodea al trabajo resultará, en este sentido, sumamente decisivo. Así, como consecuencia de esto, mientras Florida enfatiza que el trabajo, aunque éste sea concebido en términos de creatividad, es el principal factor sobre el que pivota y que desencadena la agregación amistosa, en el caso de nuestros informantes será, sin embargo, la «sociabilidad» simmeliana la determinante en este aspecto. En suma, el retrato expuesto por Florida se correspondería con el retrato de una sociedad -la norteamericana- ya plenamente afincada en la modernidad tardía, en la que el cordón umbilical que une a sus plexos comunitarios con una raigambre tradicional se habría ya por completo cortocircuitado; no así en la sociedad española –todavía guardando ésta claros vestigios del prototipo de sociedad moderna, en donde aquellos plexos, si bien sujetos a un proceso de cambio, se mantendrían todavía vivos. Angel Enrique Carretro Pasín/ pp. 39 – 58 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Vinculo relacional en las clases creativas. Un estudio metodológico 57 Bibliografía Bauman, Z. (1999): Modernidad líquida, Buenos Aires, FCE. Bauman, Z. (2006): Comunidad. En busca de seguridad en un mundo hostil, Madrid, Siglo XXI. Bell, D. (1987): Las contradicciones culturales del capitalismo, Madrid, Alianza. Berger, P. y Luckmann, Th. (1968): La construcción social de la realidad, Buenos Aires, Amorrortu. 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Profesor de Sociología en el Instituto de Criminología de la Universidad de Santiago de Compostela. Profesor del Postgrado Historia, Teoría y Método en las ciencias humanas y sociales de la Universidad de Santiago de Compostela y en el Master de Juventud y Sociedad de esta misma Universidad. Investigador Postdoctoral invitado en la Université París V: Sorbonne. Miembro del GCEIS (Grupo Compostela de Estudios sobre Imaginarios Sociales). Ha publicado los libros: Michel Maffesoli. Un pensamiento nómada (Baía, 2004), Pouvoir et imaginaires sociales (L’Harmattan, 2007) y Los universos simbólicos de la cultura contemporánea (L’Hergué, 2010); así como más de cincuenta artículos en revistas especializadas. Sus líneas de investigación han sido: Teoría Sociológica, Sociología de la Posmodernidad y Sociología de la religión. ______________________________ Historia editorial Recibido: 03/07/2012 Primera revisión: 15/07/2012 Aceptado: 30/07/2012 ______________________________ Angel Enrique Carretro Pasín/ pp. 39 – 58 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 El imaginario social del asedio en la historia cultural estadounidense El imaginario social del asedio en la historia cultural estadounidense1 Siege social imaginary in US cultural history Samuel Neftalí Fernández Pichel Centro Universitario Internacional, Universidad Pablo de Olavide (Sevilla) [email protected] Resumen Uno de los aportes más significativos para la codificación simbólica de la identidad estadounidense deriva de lo que denominamos “imaginario social del asedio”. Con este término, aludimos a un conjunto de representaciones que, desde los inicios de la colonización norteamericana, conforman y legitiman una idea de identidad nacional para los nacientes Estados Unidos. El carácter problemático de estas representaciones reside en diferentes estrategias de victimización y de exposición continua a amenazas tanto internas como externas. El presente artículo se detiene en trazar los orígenes y la evolución histórica de este imaginario social en diferentes estadios de la historia estadounidense. Palabras claves: Estados Unidos de América, historia cultural, identidad nacional, imaginario social, trauma cultural Abstract A significant contribution to the symbolic codification of US national identity derives from what we have termed `siege social imaginary´. By this, we refer to a whole set of representations which, from the early stages of colonization in North-America, came to shape and legitimize a sense of national identity for the soon-to-be United States. The very peculiar features of these representations problematically rely on strategies of selfvictimization and over-exposition to internal and external menaces. The present paper focuses on the origins and historical recodings of this particular social imaginary in relation to the specificities of US history at different stages. Key words: cultural history, cultural trauma, national identity, social imaginary, United States of America 1 El presente artículo adapta y extiende parte de los contenidos de mi tesina de doctorado: “Imaginarios del asedio en el cine comercial norteamericano del período Bush (2001-2009)”, presentada en julio de 2010. Samuel Neftalí Fernández Pichel/ pp. 59 – 76 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 El imaginario social del asedio en la historia cultural estadounidense 60 Notas introductorias La formación de toda comunidad -alcance esta entidad de estado-nación o bien se reduzca a variantes sub-nacionales o locales más concretas, es el resultado de un proceso de síntesis histórica en el que participan con un protagonismo ineludible los mecanismos de construcción simbólica inherentes al estatuto antropológico de la especie humana. Desde esta perspectiva, la definición y cohesión de cualquier agrupamiento más allá de la esfera de lo individual depende, en gran medida, de la consolidación de un andamiaje simbólico mediante el cual las identidades particulares se encuentren y reconozcan en un proyecto colectivo. Esta función, a la par creativa y legitimadora2 , corresponde al imaginario social, matriz de representaciones colectivas surgidas a partir de la intimación con la realidad que, a la vez, dotan a esta de una “necesaria estructura de sentido” (Carretero Pasín, 2001: 157). Benedict Anderson (1993) vincula la dinámica del imaginario social con la elaboración de identidades nacionales haciendo uso del término “comunidad imaginada”. Tal formulación se emplaza en un debate teórico que recoge, entre otras, las aportaciones de Durkheim sobre el valor de las representaciones colectivas, o la clásica tesis marxista sobre la ideología. La inclusión de la potencialidad de lo imaginario compromete, de partida, cualquier concepción sobre la existencia de un orden “natural” desprovisto de las particularidades del catálogo de expectativas, necesidades y emociones genuinamente humanas. Es mediante un proceso de retroalimentación constante que este compendio de necesidades y expresiones vitales, plasmadas en codificaciones simbólicas de amplia difusión, acaban configurando un relato que es a la vez discurso legitimador, crónica histórica y depósito de mitos. Frente el tradicional descrédito empírico de la imaginación (Carretero Pasín, 2001: 123-134; Selva y Solá, 2004: 129-148), es necesario reivindicar un acercamiento al imaginario social como objeto de estudio que explicite su “facultad o dimensión práctica” (Carretero Pasín, 2001: 157); una estrategia de reflexión que la desvincule del ámbito (idealista) de la pura representación y la considere a la luz de su “eficacia social”. Se puede afirmar, por tanto, que las comunidades, en su condición de productos imaginarios, “*…+ no deben distinguirse por su falsedad o legitimidad, sino por el estilo con el que son imaginadas” (Anderson, 1993: 24). El imaginario que concierne a la presente investigación se encuadra en el ámbito de la historia cultural de Estados Unidos. Una de los registros más pertinaces de la construcción metafórica de la nación estadounidense se genera desde el que damos en llamar imaginario social del asedio. En él se concentran motivos y figuraciones extraídos de la historia cultural del Nuevo Mundo tal y como fue vivido e interpretado por una comunidad humana que confrontó una tradición (la herencia 2 O, en la terminología de Berger y Luckmann (1993: 122), “cognoscitiva y normativa” de cara a la legitimación del orden social. Samuel Neftalí Fernández Pichel/ pp. 59 – 76 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 El imaginario social del asedio en la historia cultural estadounidense 61 intelectual y religiosa del Viejo Mundo), y un mito previos a la llegada (la conversión de un proceso de exilio en una misión trascendente) con una respuesta problemática, mezcla de temor, inseguridad y violencia, enraizada y extendida a lo largo de la historia norteamericana en forma de un conflicto de identidad aún irresoluto. La construcción imaginaria del continente americano está, desde un principio, imbuida por las esperanzas y perspectivas previas a su propio “descubrimiento” por parte de las naciones europeas. América es, para la imaginación mítica de la cultura occidental, primero el espacio edénico por descubrir en las tierras orientales que anima la empresa de la navegación de ultramar en la Baja Edad Media; y más tarde, en mitad de la fiebre renacentista, un espacio utópico, de comunión entre naturaleza y civilización (Crasnow y Haffenden, 1995: 32-33). En consecuencia, América se erige en un continente de símbolos “reencontrados”, estableciéndose un diálogo entre productos del imaginario y factores vivenciales de la experiencia. Los modelos de colonización contrastados que operan en ambos hemisferios del territorio nos legan un espacio norteamericano donde la comunidad exiliada de protestantes ingleses habrá de jugar el rol principal no sólo en la creación de las primeras colonias de Nueva Inglaterra, sino como colectivo responsable de la codificación y regulación de la primera experiencia americana a cargo de una población no nativa. El modelo colonizador protestante se basó en el asentamiento y explotación de las nuevas tierras como trasunto de “una búsqueda psicológica y espiritual” más profunda en la que el espacio físico sólo constituye la cara externa de un conflicto de mayor hondura, relacionado con las ansias de salvación del alma humana sujeto de la experiencia religiosa (Slotkin, 1973: 39). Para la consecución de tan alto fin, fue necesario imaginar una America Deserta (Engelhardt, 1997: 40; Slotkin, 1973: 39), un territorio virgen donde vaciar la intensa carga de idealismo que se constituiría en una de las principales señas de identidad de la futura nación estadounidense (Bradbury y Temperley, 1995: 2). La comunidad exiliada inviste su causa de un aire ultramundano; así sucesivos sermones (como los de John Cotton en 1630 o Samuel Danforth en 1670)3 construyen la imagen de los protestantes como el nuevo pueblo elegido en su “travesía por el desierto” en tierras americanas. Pero el reconocimiento de una trascendencia implícita al propósito y el momento históricos, no fue suficiente para librar a los nuevos israelistas de una implacable sensación de desplazamiento que es, a la vez, doctrinal y sobre todo geográfica (Crasnow y Haffenden, 1995: 36-37). Las crudeza de las tempranas confrontaciones con la población indígena (el Otro de este relato en su preámbulo), y la evidente competencia con las restantes naciones coloniales añadieron, desde los inicios, una mayor dificultad a la consolidación de una identidad propia en el nuevo contexto vital en América. Si, como señalan Slotkin (1973) y Engelhardt (1997), el recurso a la violencia se convierte en la auténtica y primigenia experiencia americana para la comunidad protestante, este hecho es sujeto a una construcción imaginaria que incide en la victimización de la 3 Crasnow y Haffenden, 1995: 41-42. Samuel Neftalí Fernández Pichel/ pp. 59 – 76 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 El imaginario social del asedio en la historia cultural estadounidense 62 comunidad como eufemismo para incorporar y legitimar la respuesta violenta. La contracrónica de esta estrategia de legitimación simbólica enraíza con un sentimiento de “deshonra original” (Faludi, 2009: 247-267), que apunta directamente a una actitud y a un sentir de la América Puritana de los orígenes y a los inevitables rastros de la misma, a través de insistentes re-codificaciones simbólicas, en la historia cultural de Estados Unidos hasta nuestros días. 1. Fundamentos identitarios de la América puritana El proyecto de los protestantes en el Nuevo Mundo estuvo sustentado desde un primer momento en un modelo de asentamiento permanente. De ello se deriva que una comunidad de colonos que se autoexcluye de la deriva histórica de su nación de origen se acoja con tan marcado celo a la construcción imaginaria de su inmediato destino. Este colectivo había de disponer, igualmente, de un compendio de objetos, imágenes y motivaciones que sirvieran para cohesionar a los individuos y justificar su causa. De este modo, la totalidad de la mitología puritana sobre el Nuevo Mundo nace de un principio ineludible, el de la sumisión bajo el peso de la culpa a la Providencia Divina y la creencia en un destino ya escrito, todo ello bajo los dictados de una mentalidad proclive al ascetismo como modo de experiencia de lo religioso (Weber, 1998). Las sucesivas concreciones del imaginario trascendente de la teocracia protestante en Norteamérica se encaminan a definir unos criterios de identidad que dibujan a la comunidad puritana con los ropajes del peregrino en misión espiritual. Un éxodo que demanda la creación de la Nueva Israel, portadora de la marca del pueblo elegido pero también de su culpa y desarraigo legendarios; o que gusta de retratar a su pueblo como la Ciudad sobre la Colina (Atwood, 1972: 32; Marco, 2007: 964), la Nueva Sión. Los factores históricos y sociales imperantes en tiempos de la colonización sirvieron de caldo de cultivo para la instauración del sistema teocrático. Lo atestigua el amplio margen de maniobra del que dispusieron los súbditos ingleses de las trece colonias originales respecto de la metrópoli. El resultado fue la proliferación de asentamientos alimentados por idénticos modelos reguladores de la vida diaria. Entre sus características, destacaba la existencia de un modelo social desprovisto de elitismos o cualquier distinción de clase. Nacidas en principio como comunidades agrícolas que inspirarían el mito pastoral de América, la posesión de la tierra se constituía en criterio único para la concesión de la ciudadanía. La atomización de esta dinámica colonizadora legó a los asentamientos de Nueva Inglaterra (Connecticut, Massachusetts, New Hampshire y Rhode Island) el liderazgo a la hora de conformar las 4 Marco alude a la recuperación de esta figuración mítica por parte del presidente Ronald Reagan durante la década de los 80. Tanto la formulación originaria a cargo del pastor John Winthrop en el siglo XVII como su revitalización en el siglo XX apuntan a la asignación de un propósito y una misión trascendentes y ejemplificadoras para la nación norteamericana con respecto al resto del escenario mundial. Samuel Neftalí Fernández Pichel/ pp. 59 – 76 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 El imaginario social del asedio en la historia cultural estadounidense 63 particularidades de la nueva identidad comunitaria, con Boston erigida en su primera plasmación urbana de especial significancia. El sesgo reflexivo, académico y europeizante de la comunidad puritana se refleja en la prontitud con que es fundada la primera de las universidades norteamericanas, Harvard en 1636. Instituciones como esta, “imaginarios sociales instituidos” según la terminología de Castoriadis (1999)5, manifiestan la inclinación hacia la construcción de América como discurso (Bradbury y Temperley, 1995: 27). La fuente de las figuraciones y la proyección social de ellas extraídas está fundamentada en estas fechas tempranas en un criterio de cohesión social alrededor del culto y del espacio físico y humano de la congregación de fieles. Los factores ya apuntados se encaminan hacia la cuestión primordial de la “comunidad imaginada” de exiliados puritanos, la relativo a su identidad. La especulación sobre la propia identidad condujo a un estado de doble ansiedad, psicológica y formal (Atwood, 1972: 33; Bradbury y Temperley, 1995: 8-9), hecho cultural por antonomasia de la historia de Estados Unidos. La primera de estas ansiedades opera como incapacidad para conciliar en el espacio mental del individuo una imagen integrada, un motivo rector sobre lo qué se es, de dónde se viene y cuál es el destino al que se aspira. Los preceptos y regulaciones que la estricta teocracia protestante impuso sobre la comunidad de colonos no pudieron impedir que la duda brotara en el ámbito íntimo de la conciencia individual. En una agrupación humana que cierra filas sobre sí misma, la dualidad comunidad-individuo es sometida a una especial tensión que redundó en la creación de lo que Northrop Frye denominó la “mentalidad de la guarnición” (“garrison mentality”6): Small and isolated communities surrounded with a physical or psychological ‘frontier,’ separated from one another and from their American and British cultural sources: communities that provide all that their members have in the way of distinctively human values, and that are compelled to feel a great respect for the law and order that holds them together, yet confronted with a huge, unthinking, menacing, and formidable physical setting–such communities are bound to develop what we may provisionally call a garrison mentality . (1971: 225-226). La “garrison mentality” establece, en primer lugar, unos severos criterios de acceso a la comunidad, cuya cohesión se construye a partir de la regulación extrema de las circunstancias de la vida diaria. La América puritana desarrolla su dinámica de sociabilidad siguiendo los requerimientos de un pacto que, entre otras cosas, establece unos perfiles exactos de pertenencia y otredad. Alrededor de una sociedad cimentada sobre tal acuerdo existe, al mismo tiempo, la conciencia nítida de unos límites, las marcas físicas o psicológicas de una línea divisoria tras la cual cualquier forma de 5 “Tanto las significaciones imaginarias sociales como las instituciones, una vez creadas, se cristalizan o se solidifican, y a esto lo llamo lo imaginario social instituido. Imaginario que asegura la continuidad de la sociedad, la reproducción y la repetición de las mismas formas, que en lo sucesivo regulan la vida de los hombres y que permanecen hasta que un cambio histórico lento o una nueva creación masiva viene a modificarlos o a reemplazarlos radicalmente por otras.” (Castoriadis, 1999: 95). 6 Nos decantamos por la nomenclatura en lengua inglesa para evitar polisemias improductivas en español. Samuel Neftalí Fernández Pichel/ pp. 59 – 76 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 El imaginario social del asedio en la historia cultural estadounidense 64 existencia, sea humana o emanada del entorno natural, sólo puede concebirse en términos de amenaza para el grupo. El aliento de la causa puritana y su acercamiento al modelo de Frye se nutre de la evidencia de una conciencia sesgada arrojada a la aventura en territorio extraño. El mecanismo de control ante la turbadora presencia de la anomia en el interior del flujo creativo de la nueva sociedad se expresó en el celo puesto en el rito de la conversión a la doctrina religiosa, y en el doble posicionamiento del individuo como sujeto de la experiencia a la par que vigilante de las conductas propias y ajenas en connivencia con unas normas para la vida que no están abiertas a la interpretación crítica. En palabras de Frye (1971: 226): “A garrison is a closely knit and beleaguered society, and its moral and social values are unquestionable. In a perilous enterprise one does not discuss causes or motives: one is either a fighter or a deserter *…+”. Es así como la “garrison mentality” ocupa en la historia cultural de Estados Unidos una posición sobresaliente como eufemismo simbólico ante el dilema de la identidad, configurando un discurso homogéneo y compensatorio de los elementos irreconciliables que la componen. Cuando Atwood (1972: 31) alude a la inexistencia del motivo rector en la cultura canadiense frente a la aportación positiva del mito de la Frontera para la estadounidense, podríamos contraponer otras interpretaciones críticas (FernándezSantos, 2007; Huici, 2004, 2007) que consideran que la ansiedad es la zona oscura del irrefrenable proyecto de construcción nacional y de futuro que fue la Frontera. La mítica conquista del Oeste resulta, en definitiva, en la propagación de una misma ansiedad concretada en procesos colonizadores deudores de los experimentados con anterioridad en los territorios de Nueva Inglaterra, sin importar que algunas de sus materializaciones viren hacia nuevos parámetros de sentido (sobredimensionamiento paroxístico de la idea de la propiedad y de los fundamentos para su defensa, por citar sólo uno), delimitando un cartografía extendida para una misma mentalidad en conflicto (“multiplicando las guaniciones”, como expresaría Frye, 1971: 226). La ansiedad formal entronca con las soluciones expresivas y las preferencias temáticas de las primeras literatura en lengua inglesa producida en el Nuevo Mundo. Una sociedad cuyas junturas han sido vigorosamente selladas muestra una especial inclinación hacia la retórica y el panfleto (Frye, 1971: 231; Slotkin, 1973: 65-69). Al no entender la creación literaria en sus interpretaciones de construcción artística per se o vehículo para la expresión dramático-teatral, los puritanos se decantaron por una estimación más funcional y restringida de la misma. Parte de este carácter “funcional” dependía del uso ejemplificador, tanto como de la búsqueda de una cierta respuesta en sus receptores. La funcionalidad, estrechamente vinculada con el afán propagandístico, no descarta el recurso a los mecanismos intrínsecos de la elaboración literaria, y de ella deriva la codificación del escenario del Nuevo Mundo en formato de alegorías que sirven para consolidar la cosmovisión puritana. Así, el colono, se representa bajo el simbolismo del misionero que lleva la luz a las criaturas de la oscuridad, que las combate como el guerrero, o que es presa de su cautiverio, pero que nunca se figura en una situación de maridaje con las mismas (Slotkin, 1973: 66). La Samuel Neftalí Fernández Pichel/ pp. 59 – 76 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 El imaginario social del asedio en la historia cultural estadounidense 65 alegoría es, entonces, la extensión de un discurso de naturaleza dogmática canalizado ahora a través del simbolismo literario. De entre las primeras elaboraciones literarias norteamericanas, destacan sobremanera las narrativas de cautiverios (Slotkin, 1973: 94-145; Engelhardt, 1997: 4244; Faludi, 2009: 247-321), en palabras de Slotkin, “the first coherent myth-literature developed in America for American audiences” (1973: 95). En estas, la experiencia de un individuo en cautividad, mujer en la mayoría de los casos, siendo su primera y más exitosa manifestación la de Mary Rowlandson de 1682, desglosa en forma de drama arquetípico (Slotkin, 1973: 94) el dilema de la existencia puritana en América. El paisaje del continente queda reducido a un mero marco abstracto, más un espacio mental que una realidad física reconocible, y sobre el mismo se impresionan los enigmas y angustias de la “comunidad (imaginada) de santos”. La abstracción del entorno material va acompañada del recurso a la trascendencia, momento en el cual el gran Otro, el indio responsable del secuestro y cautiverio del representante de la comunidad blanca, queda desprovisto de una especificidad y unos rasgos humanizadores distintivos para devenir vehículo de la voluntad divina. La propuesta de la narrativa de cautiverio reduce la interpretación del conflicto de identidad a una estrategia de victimización. La comunidad en su conjunto queda subsumida bajo el ropaje simbólico de la Juda capta7, la Judea cautiva, sujeto sufriente, inmerso, como apunta Slotkin (1973: 94), en una doble disputa: la que alude metafóricamente a la unión del alma con el cuerpo carnal, y la que alegoriza la separación y exilio del pueblo elegido en América. Sólo de esta forma, presentando a la comunidad como receptora involuntario de la experiencia de la que es igualmente su víctima principal, puede garantizarse la redención final, la instancia de la conversión y el exorcismo. El cierre figurado del conflicto mediante la conversión lega la imagen de una comunidad reticente a la nueva experiencia, hasta cierto punto agredida por los condicionantes de la nueva vida, y la libra de la insidiosa amenaza que para la misma derivaría de la aceptación voluntaria de un libre y desprejuiciado acercamiento a la realidad material del Nuevo Mundo. La sociedad puritana establece, por tanto, mecanismos de regulación interna también en esta particular expresión literaria. El legado de la narrativa de cautiverios para la tradición cultural y artística norteamericana, aquella más alejada de las visiones del idealismo utópico o rural en la línea del mito de la Nueva Canaan de Thomas Morton (1637) 8, se manifestará, entre otras formas, como hilo conductor de historias apocalípticas y distopias varias. 7 Faludi (2009: 271) alude a la génesis y uso repetido de este mito “femineizado” de la comunidad cautiva en los sermones del pastor Cotton Mather bajo una terminología bíblica recurrente: “Hija de Sión”, “sierva de Babilonia”, etc. 8 En contraste con este retrato de sublimación elegíaca de un edén revisitado, así sintetiza Slotkin la transformación figurada del entorno americano, su “puesta en escena”, en el seno de las narrativas de cautiverio (1973: 99): “*…+ the ‘garden’ of the captivity is a small cultivated plot protected from the encroaching wilderness by a stiff ‘hedge’ of religious dogma and rigorous government”. Samuel Neftalí Fernández Pichel/ pp. 59 – 76 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 El imaginario social del asedio en la historia cultural estadounidense 66 Las historias de cautiverios, en suma, despliegan su contenido alegórico de acuerdo a lo que Slotkin denomina una retórica “sensacionalista” (Slotkin, 1973: 103) destinada a epatar en el destinatario o lector hasta conducirlo a una catarsis de naturaleza religiosa. Se trata, por este mismo motivo, de una narrativa dirigida menos al intelecto que al centro mismo de las emociones humanas, objetivo predilecto para el impacto enérgico y la difusión duradera de toda una serie de ideas sobre la vida y sus determinaciones coyunturales. Tal es la teleología incrustada en la razón de ser del relato mítico en cualquiera de sus manifestaciones culturales, del que las historias de cautiverio se convierten en temprana versión norteamericana. ¿Por qué, como plantea Engelhardt, sólo el cautiverio de la América puritana quedó fijado y legitimado en forma de mitología nacional, fantasía del imaginario del asedio, cuando la narrativa del cautiverio “podría*n+ haber suministrado un marco general a la historia de todos los pueblos del continente norteamericano” (1997: 43)? La respuesta del propio analista cultural se encamina en la dirección de la inevitable apropiación del relato de la historia por parte del vencedor. Varios de los elementos ya estudiados se conjuran para no permitir lo contrario: el apego decidido de la cultura puritana por el texto y la rápida conversión de la experiencia del nuevo mundo en materia discursiva (diarios de misioneros, sermones y panfletos, narrativas de cautiverios, etc.); las mismas marcas que en ese pasado que la comunidad pretende ignorar demuestran la existencia de unas soluciones “nacionales” o culturalmente codificadas que establecen un precedente para el modelo de colonización 9 ; la idoneidad de la metáfora de la comunidad cautiva para sintetizar un pensamiento y un sentir para el colectivo puritano; y la salida “honrosa” que la estrategia de la victimización sirve ante la necesidad de justificar las agresiones causadas por el propio individuo y/o comunidad. Porque, tal y como expresa Slotkin (1973: 99), la metáfora del cautiverio nos remite a un “vuelco introspectivo” de la mentalidad puritana, que oscila dramáticamente de un idealismo emprendedor a una conciencia dolorosa y reflexiva sobre la misión en el exilio. Y es así porque, a una mentalidad religiosa proclive a la creación de infiernos interiores, se unió la conflagración bélica contra los pueblos indígenas y los temores de ella derivados para conducir la observación sobre las condiciones de vida y la identidad hacia el terreno del trauma cultural. Si, como afirma Piotr Sztompka, “el acontecimiento traumático es siempre una construcción cultural” (2000: 457), entonces la casuística del trauma puritano en el origen de la nación estadounidense se ajusta de forma precisa al proceso evolutivo de la “secuencia traumática” relativa al hecho (y al cambio) social para la que el propio autor (Sztompka, 2000: 452-453) identifica y define seis estadios de desarrollo, desde los condicionantes del contexto medioambiental y cultural a una última fase de 9 Así, la Empalizada, o English “Pale” que, desde mitad del s. XV y hasta el s. XVII, aisló tras una zanja fortificada defendida por guarniciones militares a los territorios irlandeses fieles a la corona inglesa del resto de la isla, la proliferación de los llamados “garrison governments” como instancias administrativas del proceso colonial en Norteamérica, o las dinámicas coloniales más tardías durante la expansión imperialista británica en el s. XIX. Samuel Neftalí Fernández Pichel/ pp. 59 – 76 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 El imaginario social del asedio en la historia cultural estadounidense 67 superación del trauma. Es en este último estadio donde cabe detenerse para sopesar con mesura si ha existido en el caso de la cultura estadounidense una solución para el trauma “original”. De lo ya apuntado, y en línea con tesis como la de Faludi (2009: 267), puede afirmarse que tal superación no se ha producido aún 10: la persistencia del imaginario del asedio ha de interpretarse como síntoma de las inconsistencias de la historia de una nación joven para la que los discursos de la demonización (del Otro) y la victimización (de la comunidad) cimentan aún cualquier formulación sobre la identidad nacional. Pero, si el trauma no quedó superado, ¿cuáles fueron sus estrategias compensatorias, aquellas que permitieron la continuación y expansión del modelo colonizador y la fundación de una nueva nación americana? Del interior del imaginario del asedio brotaron entonces nuevas figuraciones, coherentes con sus pilares de sentido, expresión de un proceso de movilización, de creación de una “industria del sentido” (Sztompka, 2000: 455) por el cual la respuesta violenta gana estatuto de legitimidad y la doctrina del Destino Manifiesto justifica la apertura al exterior como el firme propósito de erradicación de la amenaza. Si la mitología puritana exigía una América Deserta que no llegó a encontrar, sería la responsabilidad del pueblo elegido buscar los medios para su consecución, y con ello nace lo que Engelhardt (1997: 19-90) denomina el “relato bélico”. En palabras del autor (Engelhardt, 1997: 44): “Esta adopción del salvajismo como extraña forma de placer en medio de una inconmensurable sensación de terror fue un aspecto intrínseco a la experiencia americana”. Con ello aparecen las tendencias regresivas y anticivilizadoras escondidas en el lado oscuro de la mentalidad expansiva del mito de la Frontera. 2. Relato bélico y mito de la Frontera La superación del estado de ensimismamiento traumático se torna en el frenesí del empuje hacia los territorios del Oeste. Dicho desplazamiento obedece a un mecanismo de “válvula de seguridad” para el creciente industrialismo del Este (Nash Smith, 1976; Fernández-Santos, 2007; Huici, 2007). El pistoletazo de salida para el mismo se fundamenta en la asunción de la violencia como vía de escape a la psicología del asedio. En la preferencia por la aplicación de la “compensación violenta” en lugar de la sumisión pasiva o la reconciliación (Slotkin, 1973: 144-145), se empiezan a establecer unas marcas culturales que señalan en la dirección de los conceptos del excepcionalismo, el unilateralismo y la doctrina, de resonancias bíblicas, del blowback, el “ojo por ojo”, erigidos en principios de acción cultural. Ante la presencia acuciante del conflicto, la oportunidad de regeneración de los colonos europeos se convierte, en la tesis clásica de Slotkin, en regeneración por la violencia, que toma la excusa de la 10 “Intrigada por la persistencia de estos recuerdos en el psiquismo nacional, Namias se preguntaba si no estaremos ante un caso de en que, como se dice en Decoding the past de Peter Loewenberg, profesor de historia y de psicología política, el <<trauma social>>, obsesiona al país como el trauma infantil tortura al adulto”. (Faludi, 2009: 264). Samuel Neftalí Fernández Pichel/ pp. 59 – 76 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 El imaginario social del asedio en la historia cultural estadounidense 68 comunidad agredida y victimizada para re-construir un modelo social y de salvación individual. Con el fin de facilitar las indicaciones de la violencia regenerativa, un ejercicio de exorcismo en pleno derecho, la construcción simbólica del Otro del relato bélico ha de ser sometida a cambios significativos. En esta transición, desaparece el inicial halo trascendente aportado al indio como encarnación humana de las fuerzas y desafíos a los que la divina Providencia somete el alma del converso. Su lugar es ocupado por una caracterización que resalta sus rasgos más brutales e inhumanos, aquellos que lo deshumanizan y lo asemejan, más bien, a bestias y demonios (Faludi, 2009: 285). El mito del cazador en la literatura puritana justifica el uso de la expresión violenta como contestación al proceso de aculturación, que incluye factores tales como la explotación de los recursos naturales, las dinámicas de asignación de roles en el entorno doméstico de la comunidad, la relación con las tribus indígenas y la conformación de una psicología “en acción” para el colono del Nuevo Mundo. Como parte de este proceso, la demonización del otro sirve un propósito de vital importancia para la cohesión social, pues en este se materializan todas las desviaciones y tensiones inherentes a la comunidad. En el camino, la nueva nación se instituye imaginariamente a partir de unas fundamentaciones para el proyecto colectivo derivadas de hitos históricos: la guerra de la independencia (1775-1783), la proclamación de una constitución (1787) para los recién creados Estados Unidos de América, y la guerra civil menos de un siglo más tarde (1861-1865). Estos mismos acontecimientos sirven para fortalecer la “lógica” del imaginario del asedio. En un ejemplo paradigmático, el acto de reconciliación que siguió a la reconstrucción del Sur tras la guerra incluyó el reconocimiento sobre la humanidad, valor y gallardía del adversario; un reconocimiento del que quedó excluida la comunidad negra, optándose por la cuidadosa esterilización del asedio de blancos por blancos inasimilable al relato bélico y prefiriéndose la glorificación de la épica del combate (Engelhardt, 1997: 48-50). A la constitución de la nación y su texto fundacional, y salpicado por la contienda civil, le sigue un siglo hasta el cierre definitivo de la Frontera interna a finales del XIX (1890). En paralelo, el propio siglo XIX estadounidense presencia la rápida consolidación del modelo industrial capitalista (Slotkin, 1998; L. Marx, 2000), lo cual añade un factor aún mayor de contradicción a la identidad norteamericana. Como apunta L. Marx: "Within the lifetime of a single generation, a rustic and in large part wild landscape was transformed into the site of the world's most productive industrial machine. It would be difficult to imagine more profound contradictions of value or meaning than those made manifest by this circumstance” (2000: 343). Una de las consecuencias de este proceso de industrialización salvaje es el fortalecimiento del nexo entre la lógica capitalista y la identidad nacional, lo cual queda reflejado en los relatos y discursos que construyen la nación. Una vez más, el abrazo decidido de una tendencia (económica en este caso) busca proporcionar una Samuel Neftalí Fernández Pichel/ pp. 59 – 76 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 El imaginario social del asedio en la historia cultural estadounidense 69 solución a las contradicciones. El imaginario del asedio sintetiza esta evidencia incorporando un orden económico-material que se concibe como propio. La extensión definitiva de este modelo cristaliza en la focalización de la unidad familiar burguesa norteamericana, la clase media, como centro del asedio. Librada la comunidad de un estadio de aceptación inmovilista de todo lo que se registró como amenaza, y tomado el camino de la acción enérgica y purificadora contenida en un mensaje con visos de profecía, el paso previo hacia la “multiplicación de las guarniciones” ya ha sido tomado. Legitimado por el alcance del relato y su colocación en la historia fundacional del país, el imaginario del asedio se convierte así en una suerte de narrativa maestra, un arquetipo cultural 11 (Slotkin, 1973: 9-10) bajo cuyos mecanismos de transformación pueden interpretarse sucesivos episodios de la historia norteamericana: de los escenarios simbólicos (Little Big Horn, El Alamo, Pearl Harbor, o los indefensos universos domésticos de la Norteamérica de la Guerra Fría, entre otros), a la capacidad inagotable de renovación de los perfiles, nacionales o raciales, humanos o sobrehumanos, de la amenaza (el indio, el negro, el comunismo, el terrorista, la “amenaza invisible” o la naturaleza siniestra del cambio climático); o los procederes y actitudes de los contendientes en esta disputa gobernada siempre por un aliento épico y trascendente (la lucha en inferioridad, la resistencia heroica, el enemigo ladino y traicionero, a la vez que inepto en el combate etc.) 12. Los tres formantes del artefacto mítico (Slotkin, 1973: 8), héroe (la nación en su conjunto o sus agentes representativos), universo y narrativa, están presentes para la confirmación de un ideario y una simbologías, esto es la plasmación de un imaginario, en la conciencia colectiva de la nación. El cierre de la frontera interna no supone, no obstante, la resolución del conflicto identitario. Esta “misión” muta del modelo de salvación individual al de la redención comunitaria y nacional que, con la proclamación de la Nueva Frontera a cargo de J. F. Kennedy en 1960, se eleva al cosmos mismo del que proviene. Un último estadio se dirige a la propagación a escala mundial de unos mismos ideales de libertad, justicia y democracia que, en una segunda lectura, resultan por igual en la ampliación del imaginario del asedio al escenario de las naciones. Frente al aislacionismo inmovilista de la Doctrina Monroe (1823), los Estados Unidos irán respondiendo paulatinamente a ese sentido innato de la llamada a la acción en pos de la causa idealista con fondo trascendente. La decisión de tomar parte en la Segunda Guerra Mundial (1939-1945) prefigura la consolidación de la hegemonía norteamericana, y con ella se da la salida para la segunda fase de legitimación del imaginario del asedio plasmada en la proliferación en las sucesivas décadas de proyectos e instancias gubernamentales y administrativas que instituyen un imaginario en una cultura política y un sistema burocrático que lo convierten en cuestión de estado. Así la “National Security Act” de 1947 sintetiza la nueva realidad de la nación estadounidense en el 11 La noción del arquetipo cultural en Slotkin puede relacionarse, igualmente, con el “carácter nómico u ordenador” de los universos simbólicos según Berger y Luckmann (1993: 127). 12 Engelhardt (1997: 57-65). Samuel Neftalí Fernández Pichel/ pp. 59 – 76 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 El imaginario social del asedio en la historia cultural estadounidense 70 concierto internacional, enfatizando la responsabilidad otorgada a la nación y la magnitud de las amenazas potenciales, a la vez que crece la conciencia sobre la necesidad de un control sobre la capacidad destructiva propia (Stevenson, 2008: 131). A esta medida, le siguen otras políticas contemporáneas y posteriores, desde la creación de la Oficina Central de Inteligencia (CIA) en el mismo 1947, a la “Strategic Defense Initiative” (1983) de Reagan (más conocida por su denominación popular de “guerra de las galaxias”) o la “Office of Homeland Security” y la “Patriot Act” durante el mandato de George W. Bush. Ello prueba que el discurso sobre la seguridad se erige en línea maestra tanto de las políticas domésticas como exteriores, y que las mismas catalizan en cualquier instante del tiempo las pulsiones de la identidad estadounidense en el doble nivel de su cuestionamiento interno y su reflejo para la posición de liderazgo mundial en un mundo globalizado de acuerdo a los criterios promovidos por la propia Estados Unidos. 3. 11-S: imaginario revisitado Los acontecimientos del 11 de septiembre de 2001 actualizan dramáticamente las especificidades de la respuesta cultural norteamericana a lo que hemos dado en llamar imaginario social del asedio. De entre las interpretaciones al hecho traumático del 11-S, dos destacan por encima de las demás, aglutinando sendas tradiciones de pensamiento de signo ideológico contrario: una recurre de nuevo a la victimización como explicación última para el ataque, y la otra lo contextualiza en el marco de la acción exterior y el aventurismo imperialista de Estados Unidos en el mundo (Thornton y Thornton, 2003: 45). Ambas conceptualizaciones defienden criterios históricos, políticos y morales irreconciliables. La significación del 11-S, su función de acontecimiento histórico y traumático pivotal para la cultura estadounidense, es glosada por la respuesta oficial del gobierno del neo-conservador George W. Bush como la culminación de una serie de discursos que, desde los años setenta del pasado siglo, condensan las tendencias psicológicas, sociales y políticas de parte de la población en respuesta a la agitación y a la violenta reevaluación sobre los fundamentos nacionales llevada a cabo en la década anterior. La casuística histórica de entonces, salpicada por la derrota en Vietnam, los escándalos políticos o la conflictividad social, favorece el remonte de una ideología conservadora que cristaliza en la consolidación de la Nueva Derecha estadounidense, con firmes raíces cristianas y afines a la ideología del Partido Republicano. Es la dinámica del backlash, o “contragolpe”, con que amplios sectores de población reaccionan contra las que son consideradas amenazas para los principios de identidad nacional y cultural en Estados Unidos 13. Si es cierto que cada conflicto refleja a su vez una problemática 13 Aunque originalmente utilizado por la crítica cultural Susan Faludi para señalar las estrategias antifeministas durante los ochenta en reacción a la obtención por parte de las mujeres de una mayor libertad en décadas anteriores, Deleyto (2003: 56,127) extiende el término backlash para caracterizar toda una serie de actitudes hacia el cambio desde la cultura oficial, especialmente durante el doble mandato de Ronald Reagan (1981-1989). Samuel Neftalí Fernández Pichel/ pp. 59 – 76 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 El imaginario social del asedio en la historia cultural estadounidense 71 interna, la contestación estadounidense al desafío del 11-S “sublima” la herencia contenida en el imaginario del asedio. Como afirma Faludi: El 11 de septiembre nos dio en la boca del estómago cultural precisamente porque era una idea <<inconcebible>> en un país que en otra época apenas pensaba en otra cosa. En realidad, no era un suceso tan inimaginable, dado que era la prueba de fuego característica que había formado América, la herida primitiva de la que no podíamos hablar, la espina de la memoria clavada en la garganta. Nuestros antepasados ya habían librado una guerra contra el terror, una guerra muy larga, y nosotros vivimos desde entonces con las cicatrices que dejó. (2009:258). La cultura oficial propaga entonces una acción y una retórica políticas que actualizan en el contexto del siglo XXI el escenario simbólico de la Frontera y cuyo alcance es, dadas las nuevas circunstancias históricas y la evidencia de la hegemonía estadounidense, inevitablemente global. Así, el agente amenazador se reconfigura en la figura del terrorista (siguiendo la línea ya emprendida desde la caída del Telón de Acero), ahora caracterizado con los rasgos de un fundamentalismo islámico estereotipado (Renold, 2003; Merskin, 2004; Rey, 2004). Hay lugar también para la mención de esas otras amenazas que recogen ansiedades relacionadas con el desarrollo tecnológico e industrial y sus efectos contraproducentes, como las referencias a los peligros de la guerra química y bacteriológica (President George W. Bush 14 , 2003: 12-15; President George W. Bush 15 , 2006: 21-22) o a la acción devastadora de las catástrofes naturales (NSS, 2002: 19-20; NSS, 2006: 47-48) en lo que supone una completa taxonomía de la amenaza en cuatro categorías principales (NSS, 2006: 44): tradicional, irregular, catastrófica, y perjudicial o desestabilizadora. El paisaje mental creado por esta “sobreexposición” a la amenaza y la debilidad propia concibe la amenaza terrorista como una “condición permanente” (SHSN, 2003: 2-3), ensanchando de tal manera la cultura de la emboscada (Engelhardt, 1997: 65) a la escena internacional hasta convertirla en geografía de la angustia colectiva. Tal cartografía, heredada de antiguas y renovadas experiencias traumáticas, nos emplaza de nuevo en la abstracción deshumanizada y desnaturalizada de los escenarios de la inseguridad que, de la visión apocalíptica de las narrativas de cautiverio y del Day of Doom (1662) de Michael Wigglesworth (Slotkin, 1973: 99,103), pasa a ser el conjunto de coordenadas, de latitudes y puntos cardinales, de la visión estratégica y los intereses vitales y nacionales de Estados Unidos en el nuevo siglo (Soriano y Mora, 2006: 51-52). La ideología neoconservadora reactualiza, por tanto, las figuraciones contenidas en el imaginario del asedio, y ensambla la respuesta al 11-S en la larga cadena de acciones con que la nación retroalimenta la doctrina del Destino Manifiesto. En refuerzo de este ideario, George W. Bush se erige en “presidente del bien y del mal” 14 Documento oficial “Securing the homeland, strengthening the nation” con las líneas maestras de acción para la Office of Homeland Security creada tras los atentados del 11-S. SHSN en sucesivas citas. 15 En adelante, nos referiremos a este documento de la Estrategia de Seguridad Nacional (National Security Strategy) y a su versión de 2002 como NSS. Samuel Neftalí Fernández Pichel/ pp. 59 – 76 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 El imaginario social del asedio en la historia cultural estadounidense 72 (Singer, 2004), inundando su retórica y la del gobierno de tropos y lugares comunes de aliento místico, estableciendo una línea de continuidad para la tipificación de la amenaza en el seno de una misión teñida por la simbología del conflicto cósmicotrascendental. La caracterización de la comunidad sitiada muta siguiendo similares parámetros, de la “comunidad de santos” a la “coalición de los voluntariosos” (NSS, 2002: vi; NSS, 2006: 48), explicitando la transición de los escenarios de las reducidas comunidades puritanas de los inicios a la compleja red de alianzas sobre la que Estados Unidos sustenta su rol hegemónico mundial. La amenaza, ahora como entonces, forma parte de un “mundo invisible”, el entorno y la acción foráneas cuyos rasgos de adversario sirven para delimitar la propia identidad de la comunidad-nación. Esta amenaza encarna en los albores del nuevo siglo una letal mezcla de radicalismo y tecnología (NSS, 2002: 13), lo cual provoca que en la enésima materialización del imaginario del asedio concurran viejas pesadillas, de ahí la paranoia sobre las armas de destrucción masiva como reflejo de la mentalidad de la Guerra Fría. Aunque la postura oficial defienda lo contrario (NSS, 2002: 31), la teorización inherente a la actitud y respuesta al 11-S bebe también de las fuentes de la tradición de pensamiento neoliberal, con las doctrinas sobre “el fin de la historia” de Fukuyama (1992) y “el choque de civilizaciones” de Huntington (1997) a la cabeza (Kellner, 2003: 27-30). Las mismas dan impulso a la fe en la naturaleza intrínsecamente benigna del paternalismo estadounidense fijando los baluartes de su acción ejemplar en el mundo: el capitalismo de mercado y la incuestionable idoneidad de la democracia a la americana (Soriano y Mora, 2006: 20-25). La noción de que ambas representan principios morales ineludibles (NSS, 2002: 18) legitiman su propagación mundial por obra de la intervención exterior de Estados Unidos. La fuente para la erradicación de la conflictividad en las fronteras internas reside, bajo la interpretación neoconservadora, en atajar el peligro allí donde se manifieste, sin que el debate acerca de los medios resulte en una actitud de parálisis. Se sientan las bases para una nueva doctrina, la de la guerra preventiva (NSS, 2006: 18,22-23) y la “diplomacia transformativa”(NSS, 2006: 33,44-45) que ha de interpretarse como el derecho a promover el cambio de régimen (Soriano y Mora, 2006: 12-16) o, en la terminología de Joshua Muravchick (Soriano y Mora, 2006: 13), “exportar democracia”. Esta es la tesis defendida previamente por el demócrata Bill Clinton en su propuesta para el nuevo siglo americano y adoptada por los neoconservadores, el “shaping the world”, el modelado del mundo para ajustarlo a los intereses de Estados Unidos 16. La visión contraria, la tesis del Blowback de Chalmers Johnson (Thornton y Thornton, 2003: 45-59), aquella que cuestiona los verdaderos motivos de la acción exterior norteamericana, y localiza en los mismos y en sus medios de cumplimiento el caldo de cultivo para la respuesta violenta en contra de sus intereses en el mundo, no es aceptada por la política oficial de la Norteamérica post-11-S; se opta, en su lugar, por la compensación de las fantasías heroicas y el 16 “El punto esencial de esta ideología de modelado de la mundialización en función de los intereses norteamericanos es la toma de conciencia de que, como el mundo no corresponde a las normas y a los criterios de los Estados Unidos, es necesario desplegar dispositivos mundiales y lanzar procesos hegemónicos adecuados, a escala de la sociedad internacional, para que esta se adapte al sistema norteamericano (y no a la inversa).” (Valantin, 2008: 76). Samuel Neftalí Fernández Pichel/ pp. 59 – 76 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 El imaginario social del asedio en la historia cultural estadounidense 73 idealismo esencial que sirve al tiempo, ahora como entonces, para poner coto a la deriva social y a la disidencia interna (Slotkin, 1972: 155; Faludi, 2009). A modo de conclusión “Myth is essentially conservative, depending for its power on its ability to play on conscious and unconscious memory, to invoke and relate all the narratives (historical and personal) that we have inherited, and to reach back to the primal levels of individual and collective psychology.” (Slotkin, 1973: 14). Es evidente que los atentados del 11-S lanzaron un desafío a la sociedad estadounidense: replantearse el sentido de su supuesta misión histórica o acogerse sin complejos a las figuraciones paliativas y al ardor épico del mito. En mitad de la histeria subsiguiente al evento traumático, la política oficial, espejo del sentir de parte de la población, se decantó ciegamente por el viejo recurso a la inocencia primitiva de la nación norteamericana y su indefensión patente (la América cautiva), a su excepcionalismo histórico y al justo derecho al unilateralismo de sus respuestas, entre ellas el uso de la justicia retributiva (McCarthy, 2003). Este ensimismamiento, la incapacidad de confrontar el temor primordial bajo una nueva luz, redunda en una política que no duda en recurrir al llamamiento a la movilización civil (SHSN, 2003: 24), resultando en el incremento inusitado de la polaridad política (reflejada en el particular sesgo de la campaña a las elecciones presidenciales de 2004), y la turbulencia en las entrañas de la nación en cuanto construcción imaginaria. En contraste con la respuesta de otras naciones azotadas en fechas recientes por el terrorismo internacional, asistimos en el caso de Estados Unidos a la inexorable recurrencia del imaginario del asedio que propicia esa reconversión del espacio geopolítico globalizado de acuerdo a los parámetros de la Frontera. Y es así como este imaginario del asedio reafirma su potencial para sintetizar la experiencia norteamericana en una estructura, una cadena de eventos predecibles, una secuencia traumática renuente a cualquier cierre satisfactorio. Referencias bibliográficas Anderson, B. (1993). Comunidades imaginadas: Reflexiones sobre el origen y la difusión del nacionalismo (1ª ed. en español de la 2ª ed. en inglés). México: Fondo de Cultura Económica. Atwood, M. (1972). Survival: A thematic guide to Canadian literature. Toronto: Anansi. Berger, P. y Luckmann, T. (1993). La construcción social de la realidad (undécima reimpresión). Buenos Aires: Amorrortu editores. 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En la actualidad, compagina la elaboración de su tesis doctoral en Comunicación Audiovisual sobre los imaginarios sociales en el cine estadounidense del período Bush (2001-2009), con la tarea de profesor de historia del cine español y de lengua española en el Centro Universitario Internacional de la Universidad Pablo de Olavide, y en CEA Global Campus Sevilla. Miembro de la Asociación española de estudios anglo-norteamericanos, AEDEAN. ______________________________ Historia editorial Recibido: 20/06/2012 Primera revisión: 30/06/2012 Aceptado: 10/07/2012 ______________________________ Samuel Neftalí Fernández Pichel/ pp. 59 – 76 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Los imaginarios sociales como herramienta Los imaginarios sociales como herramienta Social Imaginaries as a Tool Francesca Randazzo Eisemann Universidad de Santiago de Compostela [email protected] Resumen Vivimos en un “mundo instituido de significado” que opera como marco interpretativo para dar asidero a la experiencia social e individual. Los imaginarios sociales “están siendo” entendidos como esa base social que encierra las representaciones de la realidad, construyendo tanto un modo de ver el mundo, como una vida en común, proporcionando referencias que se encuentran en la vivencia social. Los imaginarios sociales como herramienta de las ciencias sociales permiten buscar entre las formas en que se describen las cosas, aquellas capaces de crear nuevas realidades sociales; las palabras en relación a marcos conceptuales, se estudian como elementos mismos de los problemas. Palabras clave: imaginarios sociales, realidad social, marcos, esquemas mentales Abstract: We live in a world where "meaning is instituted" operating as interpretative frames that sustains our social and individual experience. Social Imaginaries "are being" understood as the social basis that contains the representations of reality, building both a way of seeing the world and a common life, providing references that belong to social experience. Social Imaginaries as a tool of Social Sciences allow to research the ways in which description is capable of creating new social realities; words are part of conceptual frames, that is they are elements of the problems themselves. Key words: Social imaginaries, social reality, frames, mental schemes Francesca Randazzo/ pp. 77 – 96 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Los imaginarios sociales como herramienta 78 1. Una volátil noción “La verdad de un acontecimiento que rompe con el orden existente no puede ser medida, y menos aún valorada en términos pragmáticos, esto es, de sus resultados positivos de poder.” (Tischler, 2009:130) El imaginario social es referido habitualmente en ciencias sociales para designar las representaciones sociales encarnadas en las instituciones, y es usado habitualmente como sinónimo de mentalidad, cosmovisión, conciencia colectiva o ideología. No es sencillo acercarse a la vaga, imprecisa, pero cada vez más utilizada, noción: Tiene que ver con las “visiones del mundo”, con los metarrelatos, con las mitologías y las cosmologías, pero no se configura como arquetipo fundante sino como forma transitoria de expresión, como mecanismo indirecto de reproducción social, como sustancia cultural histórica. Tiene que ver también con los “estereotipos” (en cuanto que generan efectos de identificación colectiva), pero va más allá de las simples tipologías descriptivas de roles porque precisamente rompe la linealidad articulando un sentido. (Pintos, 2001a) Si bien la noción de imaginarios ha comenzado a ser usada frecuentemente, pocas veces es utilizada con pertinencia y rigor, con lo cual sigue siendo una noción al uso, que de alguna forma se puede intuir, pero que difícilmente se logra explicar. Si bien el concepto se presenta como una nueva llave teórica, un “elemento heurístico de la sociedad”, es a menudo utilizado indiscriminadamente por distintos profesionales (periodistas, antropólogos, sociólogos, etc.), sin llegar a esclarecer el concepto (Aliaga, 2008). Lo que se llama desde 1964 imaginario social -“terme repris depuis et utilisé un peu à tort et à travers” (Castoriadis, 1975:23), no tiene que ver con lo spéculaire (la imagen de y la imagen reflejada, lo ficticio). Lo imaginario no se construye a través de la imagen en el espejo o la mirada del otro –las cuales son ya obras del imaginario. Tal como indicaba Castoriadis (1975), el imaginario pareciera tener una esencia, un carácter propio. Pese a la volatilidad de la noción, los esfuerzo teóricos contemporáneos tienden a conceptualizar los imaginarios sociales como unas matrices de sentido que permiten comprender, dar forma a la experiencia, incorporarla y comprenderla dentro de lo que ya sabemos. Pintos (2005a) destaca una serie de aspectos para elaborar una definición de los imaginarios sociales. El primero es entenderlos como esquemas, por su grado de abstracción, Francesca Randazzo/ pp. 77 – 96 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Los imaginarios sociales como herramienta 79 continuidad1 y jerarquización, en función de lo que resulta relevante –esto implica que también ha de tenerse en cuenta aquello que permanece en la opacidad. Su función es la de permitir percibir, explicar e intervenir sobre referencias semejantes de percepción (espaciales, temporales, geográficas, históricas, culturales, religiosas, etc.), de explicación (marcos lógicos, emocionales, sentimentales, biográficos, etc.) y de intervención (estrategias, programas, políticas, tácticas, aprendizajes, etc.). Dentro de un marco de pensamiento sistémico, al cual el autor se adscribe, si bien las referencias son semejantes en cada sistema social diferenciado, la realidad es percibida de forma particular, lo cual permite afirmar que no puede haber una verdad única si no múltiples verdades. Existe una clara dificultad para explicar el funcionamiento social independientemente de lo cultural, lo histórico, lo individual y la ecología del momento. Desde la psicología social, Jean Pierre Déconchy en su trabajo “Sistemas de creencias y representaciones ideológicas” (Moscovici, 1985) duda sobre la capacidad “de estudiar de forma experimental sistemas sociales complejos y relativamente completos (es decir, sistemas que incluyan las representaciones y significados de todo tipo que suscitan), de una fuerte implicación o contraimplicación individual, intrínsecamente independientes de sus condiciones históricas de producción y decadencia” (Moscovici, 1985: 442). Pero ¿qué son? ¿Dónde se encuentran? ¿Es a través de los imaginarios sociales que se construye lo que llamamos realidad social? Estas son sólo algunas de las preguntas que afloran al enfrentar una noción que, a pesar de su gran poder de seducción, está muy propensa a mostrarse tremendamente problemática. Antes que todo, parece que no fuese nada, pues interviene en un proceso que no es directamente observable, ya que de la “realidad” no percibimos más que sus manifestaciones o nuestras interpretaciones: “we act not directly on the world but on beliefs we hold about the world” (Geertz, 2000:196). 2. Imaginarios o esquemas En su artículo “Estampas intelectuales de un itinerario junto a Juan Luis Pintos. De la teoría crítica a los Imaginarios sociales”, Enrique Carretero Pasín comenta que el campo de los Imaginarios sociales remite a una “invisibilidad” social preconfiguradora de lo que nos empeñamos en considerar como “la realidad” (Carretero y Coca, 2009:61). Duvignaud (1990) habla del juego y la actuación dentro las sociedades humanas, interacción que reproduce las estructuras invisibles que definen el mundo y no cuestionan la legitimidad de una moral oscura y que a veces inclusive transgrede las reglas mismas. 1 Este aspecto puede ponerse en paralelo con lo que Williams (1976) llama una predispuesta continuidad, es decir, la tradición entendida como una versión del pasado que se pretende conectar con el presente y ratificar. Francesca Randazzo/ pp. 77 – 96 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Los imaginarios sociales como herramienta 80 En el momento en que parecieran escapar en su irremisible inmaterialidad, los imaginarios sociales parecen serlo todo, puesto que el ser humano –y la sociedad misma– se crea y recrea a través de ellos. Al considerarlos como esquemas socialmente construidos que permiten percibir, explicar e intervenir en lo que se considera como realidad, serían la estructura de base de todo el edificio social (Pintos, 2005b). Esto recuerda la concepción de los fenómenos sociales elaborada por Durkheim (1968), como unas formas específicas en base a las cuales se desenvuelven las conciencias individuales. En Las Reglas del método sociológico, el sociólogo considera que las maneras de actuar, de pensar y de sentir están dotadas de una potencia imperativa y coercitiva, y que, justamente, es a este tipo de fenómenos que debe darse y reservarse la calificación de sociales. En base a lo anterior, Pintos afirma que lo propio de la praxis sociológica sería el campo de los imaginarios sociales, en vista de ser la matriz de conexiones entre diferentes elementos disponibles en un ámbito cultural determinado (Pintos, 2001a). Modelos personales Memoria Marcos o esquemas social mentales Espacio Modelos de contexto Tiempo Francesca Randazzo/ pp. 77 – 96 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Los imaginarios sociales como herramienta 81 Figura No. 1. Intento de representación esquemática de factores que conforman un imaginario social. Elaboración propia. Si de la realidad no percibimos más que una representación de ella, son los imaginarios los que proporcionan esos esquemas necesarios para poder percibirla, explicarla e intervenir en ella (Pintos, 2001a). Para el autor, la función primaria de los imaginarios sería la elaboración y distribución generalizada de instrumentos de percepción de la realidad social construida como realmente existente. Este estructurante originario, fuente de lo que se da cada vez como sentido indiscutible e indiscutido, soporte de las articulaciones de lo que importa y de lo que no importa, origen del exceso de ser de los objetos de inversión práctica, afectiva e intelectual, así como individual y colectiva, este elemento no es otra cosa que lo imaginario de la sociedad. (Beriain, 2005: 157) 3. Dimensión cognitiva En las ciencias cognitivas este concepto se emparenta con los “marcos” que conforman desde las metas, formas de actuar y valorar, hasta la política y las instituciones. “Los marcos son estructuras mentales que conforman nuestro modo de ver el mundo” (Lakoff, 2007:17), esquemas para entender situaciones y comportamientos (de persona, de rol, guiones), es decir, andamios mentales, estructuras para entender la información social (Baron y Byrn, 1998). A su vez, los esquemas y prototipos son modelos o marcos mentales, formados a través de la experiencia, que permiten interpretar las situaciones sociales, organizando grandes cantidades de información que no podemos manejar fácilmente. Los marcos mentales contienen información relativa a rasgos, situaciones y acciones, y una vez formulados ejercen fuertes efectos en el pensamiento social (Baron y Byrn, 1998). Al interactuar adquirimos información, parte de la cual se introduce en la memoria para combinarse con otra información previamente almacenada y que permite establecer juicios, predecir acciones y perfilar inferencias, permitiendo así “dar sentido” al mundo social (Baron y Byrn, 1998). Las investigaciones en psicología social sugieren que los esquemas ejercen fuertes efectos en la atención, codificación y recuperación en los procesos cognitivos sociales (Wyer y Srull, 1994). Los esquemas influyen en qué es recuperado en la memoria: su activación determina lo que se lleva a la mente. Prestamos más atención a lo que resulta inconsistente con los esquemas existentes2, a las acciones o acontecimientos inesperados. Sin embargo, una vez que los esquemas han sido formados, la información relativa es más fácil de recordar que lo 2 Por eso Zelaya llama tanto la atención, en vista de que su comportamiento es inconsistente con las expectativas que se tienen sobre un presidente. Francesca Randazzo/ pp. 77 – 96 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Los imaginarios sociales como herramienta 82 que no lo es, cosa que no sucede al comienzo: entonces la información inconsistente puede ser captada y codificada (Baron y Byrn, 1998). Esto recuerda la metáfora del lente de Kuhn, donde el paradigma opera como un filtro o unos lentes que hacen que los científicos vean las cosas de una manera y no de otra. Heidegger hablaba ya de las pre-estructuras del entendimiento, las cuales provocan un drop out of consciousness, como el que se experimenta delante de la transparencia de las ventanas de una casa (Heelan, 1991). Estos conceptos son recuperados en el marco de la noción de imaginarios sociales en el postulado del Ojo Semiósico (Dittus, 2008). El imaginario opera como un elemento naturalizado que no se percibe (Aliaga, 2008). En esta línea, el imaginario social dejaría de ser sinónimo de signo o representación colectiva, pues sería sencillamente como unos anteojos que “mejoran” –yo añadiría también que “deforman”– la visión: a través de “esas imágenes vemos el mundo, pero lo hacemos sin observar al propio imaginario” (Dittus, 2008: 349). Interacción Figura No. 2. Perspectiva e interacción del observador. Elaboración propia. Desde un ámbito socio-cognitivo los imaginarios se conciben como un tipo de pensar abstracto, es decir como una capacidad psíquica (Dittus, 2008). Estas matrices de sentido que existen en nuestras mentes, se inscriben dentro de la sociedad como sistema de interpretación del mundo. De allí la necesidad de estudiar la producción social de sentido. De hecho, Castoriadis (1975) afirma que la categoría de sentido es el verdadero lugar natural del imaginario. Entonces, el escenario en que se construiría la realidad sería en la organización de la experiencia y el conocimiento, es decir en la dotación de significado. Justamente, el recurso al psicoanálisis es el que permite a Castoriadis trabajar con el sentido humano, más allá del recurso identitario a “estructuras”, “leyes” y “necesidades humanas”, ir más allá del sujeto lógico y moral. A partir de los procesos genesíacos del sentido humano brotan las asociaciones Francesca Randazzo/ pp. 77 – 96 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Los imaginarios sociales como herramienta 83 metafóricas de un magma de afectos, emociones y pasiones, es decir, de la matriz imaginaria sobre la que opera la dimensión lógica del pensar humano (Sánchez Capdequí, 2003). 4. Dimensión hermenéutica Los imaginarios son eso que permitiría entender el sentido social de las cosas, quizá aquello que nos falta al tener una sensación de incomprensión al visitar una cultura distinta a la nuestra, o remontarnos en el tiempo sin comprender ya las viejas usanzas, o ese código propio de una banda juvenil, sin el cual su actuar aparece a los demás absurdo o sencillamente es incomprendido. Dittus (Coca et alt., 2011) propone una interesante manera de abordar la otredad, como parte de aquella imaginería simbólica que se nutre de atributos, estereotipos y arquetipos, y que condiciona la mirada que dirigimos hacia los demás. A falta del imaginario adecuado para interpretar esos mundos tan diferentes, estos serían captados con nuestros propios imaginarios a través de su función de reorganización de lo significante, viniendo a ser un factor de equilibrio psicosocial. Para Lakoff (2007) uno de los descubrimientos fundamentales de la ciencia cognitiva es aquel según el cual la gente piensa en términos de marcos y de metáforas, es decir de estructuras conceptuales: “Los marcos están en las sinapsis de nuestro cerebro, presentes físicamente bajo la forma de circuitos neuronales. Cuando los hechos no encajan en los marcos, los marcos se mantienen y los hechos se ignoran” (Lakoff, 2007: 110). Interpretamos, analizamos, recordamos y utilizamos información sobre el mundo social mediante procesos cognitivos sociales (Baron y Byrn, 1998) fuertemente influenciados por los efectos que los esquemas ejercen en la atención, codificación y recuperación (Wyer y Srull, 1994). Los imaginarios son esquemas de significado a partir de los cuales entendemos la realidad. De alguna forma, predeterminarían lo que es posible de acontecer en función de lo que puede ser entendido dentro de unos esquemas pre-estructurados, pero también engloban las estructuras bien fraguadas, como las instituciones. Para Castoriadis (1975) el imaginario social instituido se conforma por las significaciones imaginarias sociales y las instituciones cristalizadas, asegurando en la sociedad la repetición de las mismas formas que regulan la vida en sociedad. El individuo se enfrenta a una complejidad del mundo social que viene a ser resumida y esquematizada gracias a la capacidad de comprensión, de dar un sentido. Como «centro simbólico», el imaginarios social tendría que ver con las «articulaciones de sentido últimas», dotando de una sólida inteligibilidad a la totalidad del acontecer y de la praxis cotidiana, procurando una «homogeneidad de sentido» a lo social. Para Enrique Carretero Pasín (Coca et alt., 2011), la cohesión social reposa en una matriz más imaginaria que propiamente real, Francesca Randazzo/ pp. 77 – 96 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Los imaginarios sociales como herramienta 84 funcionando como un cemento colectivo que propicia la transformación de la multiplicidad en unidad, un vínculo de unión colectivo que periódicamente es reavivado. En general, los significados otorgados no son contingentes, pues además de estar bajo la influencia de unos sentidos oficialmente establecidos y legitimados, encuentran una “resonancia” somática en las mayorías, permitiendo que sean percibidos como propios y comprendidos (Heelan, 1982). Existen dos heurísticas, es decir unas reglas simples para tomar decisiones complejas o hacer inferencias rápidamente, más utilizadas y son la representatividad (juzgar por similitud) y la disponibilidad (lo más fácil de recordar es lo primero que viene a la mente) (Baron y Byrn, 1998). Bryant y Charmaz (2008) aludiendo a Wittgenstein dicen “don’t think, but look!”, aludiendo a la capacidad humana de observar a family of ressemblances, es decir, lo que hace que se parezcan los miembros de una familia, buscando encontrar similitudes, relaciones y no “cosas en común”. Es importante recalcar que “…las representaciones sociales no se adquieren tan sólo directamente, de una manera abstracta (y usualmente discursiva), sino también como generalizaciones sobre las experiencias diarias” (van Dijk, 1998:289). La percepción de la realidad es al mismo tiempo una y diversa. De hecho, los marcos de significado específicos, son esencialmente contradictorios. Para evitar una ruptura cognoscitiva, las distintas percepciones de la realidad deben conectarse a unos marcos de referencia que se encuentran en la vivencia social, un ‘mundo instituido de significado’ que opera como marco interpretativo. La misma sociedad humana puede ser entendida como un sistema de interpretación del mundo, de hecho, Catoriadis (1975) llama la atención sobre la institucionalización de un magma de significaciones imaginarias que garantiza la inteligibilidad y solidifica un sentido de realidad. Cada visión del mundo está configurada por patrones de entendimiento (patterns of meaning) de dimensión imaginaria e identitaria (Geertz, Berger, Castoriadis), que incluyen modos de clasificación, representación y fabricación. Frames facilitate our most basic interactions with the world—they structure our ideas and concepts, they shape the way we reason, and they even impact how we perceive and how we act. For the most part, our use of frames is unconscious and automatic—we use them without realizing it. (Lakoff y Rockridge Institute, s.f.: 9) 5. Imaginarios, síntesis y metáfora Searle (2002) enfatiza ciertos factores en el momento de interpretar la realidad, entre ellos el rol de la unidad para dar sentido (la tendencia a ver las cosas como un todo o gestalt), la intencionalidad (la consciencia es siempre consciencia de algo), la distinción entre centro y periferia, el estado emocional de predisposición, la dimensión de placer o displacer, la atención que se presta a ciertas cosas, la familiaridad y la conciencia (o quizá determinación) de los Francesca Randazzo/ pp. 77 – 96 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Los imaginarios sociales como herramienta 85 límites físico-espaciales. Todos estos factores deben de entrar en juego en aquello que socialmente cobra o no validez social. Se trata de un complejo entramado social donde lo “real sólo es sentido y experimentado por medio de toda una alquimia que va más allá de las simples impresiones y del reflejo totalmente pasivo” (Ledrut, 1987:42-43). Los imaginarios pueden ser entendidos como una forma transitoria de expresión que se formula y existe a través de lo simbólico; como una facultad cognitiva articuladora de sentido; como una faceta inconsciente, ajena a la lógica de la realidad objetiva. En El avance de la insignificancia, entrevista que realiza Jean Liberman (1997) a Castoriadis, (la cual lleva el mismo título de su libro publicado en 1997), éste sostiene que ninguna sociedad puede perdurar sin crear una representación del mundo y, en ese mundo, de ella misma: “Los hebreos del Antiguo Testamento, por ejemplo, plantean que hay un Dios que ha creado el mundo y que ha elegido la línea de Abraham, Isaac, Jacobo, etc., hasta Moisés como «su» pueblo. Para los griegos, para los romanos, existían representaciones globales que jugaban el mismo papel. Los occidentales modernos se han representado como aquellos que, por una parte, iban a establecer la libertad, la igualdad, la justicia y, de otra, iban a ser los artesanos de un movimiento de progresión material y espiritual de la humanidad entera. Nada de esto vale para el hombre contemporáneo. Éste no cree más en el progreso, excepto en el progreso estrechamente técnico, y no posee ningún proyecto político. Si se piensa a sí mismo, se ve como una brizna de paja sobre la ola de la Historia, y a su sociedad como una nave a la deriva.” De una forma mucho más poética, estas últimas imágenes se encuentran en la Tesis IX sobre la historia de Benjamin (2008:24): Hay un cuadro de Klee que se titula Angelus Novus. Se ve en él un ángel, al parecer en el momento de alejarse de algo sobre lo cual clava la mirada. Tiene los ojos desorbitados, la boca abierta y las alas tendidas. El ángel de la historia debe tener ese aspecto. Su rostro está vuelto hacia el pasado. En lo que para nosotros aparece como una cadena de acontecimientos, él ve una catástrofe única, que arroja a sus pies ruina sobre ruina, amontonándolas sin cesar. El ángel quisiera detenerse, despertar a los muertos y recomponer lo destruido. Pero un huracán sopla desde el paraíso y se arremolina en sus alas, y es tan fuerte que el ángel ya no puede plegarlas. Este huracán lo arrastra irresistiblemente hacia el futuro, al cual vuelve las espaldas, mientras el cúmulo de ruinas crece ante él hasta el cielo. Este huracán es lo que nosotros llamamos progreso. En esta misma línea, para Beriain (2005) las principales significaciones sociales imaginarias –en plural– serían los dioses, el progreso, el desarrollo, la autopreservación, etc. y estarían a la base de nuestras actuaciones. En cada sociedad y en cada cultura habría un imaginario radical, ya fuese un dios o una bandera. Castoradis de hecho divide el imaginario social en dos planos de significación distintos y dependientes. Los primarios o centrales, que son creaciones Ex nihilo, instituciones imaginadas que no dependen sino de su misma idea para referenciarse, como Dios, la familia o el Estado. Los secundarios, que surgen y dependen de los Francesca Randazzo/ pp. 77 – 96 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Los imaginarios sociales como herramienta 86 primarios, por ejemplo la idea de ciudadano no puede concebirse sin la idea de Estado. Por eso estas representaciones son consideradas instrumentales, jugando un simple papel reproductor de los primarios. Para Castoriadis la sociedad es un magma de magmas, desde la cual se puede extraer un sinfín de elementos sin poder nunca reconstituirla totalmente, ni siquiera de forma ideal al determinar sus “encarnaciones” en la forma de instituciones/significaciones, como los partidos políticos o la mercancía. 6. Realidad social e imaginarios sociales Algunos conceptos más que ayudar a entender la realidad, cierran su acceso a ella. Tristemente en las ciencias sociales predomina la utilización de forma rutinaria de una serie de conceptualizaciones y categorías débiles. En este sentido, los estudios sobre imaginarios sociales vienen a ser una forma de generación de nuevo conocimiento -y por lo tanto de poder hacer-, especialmente en un momento en que se percibe en las ciencias sociales un vacío de carácter ontológico (Coca et alt., 2011). Valencia (2003) considera que el desencantamiento político y el nuevo encuadre epistemológico llevan a Castoriadis a un distanciamiento crítico y a considerar una alteración de la relación entre las cosas y sus representaciones. Pintos (2005a) refiere en este sentido al decaimiento de la razón como argumento de la validez máxima, al desarme conceptual de las ciencias sociales, también apuntado por Boron (2000) quien habla de la actual crisis en las ciencias sociales, proveniente del paradigma newtoniano-cartesiano, que nos hereda el dualismo humanidad-naturaleza, cuerpo-espíritu, así como la simetría entre pasado y futuro. El modelo de la ciencia en general, que se traslada a las ciencias sociales en la forma del positivismo, en lugar de garantizar una anhelada objetividad y neutralidad muchas veces no hace más que consolidar el orden público y la resignación, llegando a legitimar teóricamente la sociedad capitalista, en la que la vida económica rige la totalidad de la vida social. Fiel al proyecto de transformar radicalmente la sociedad, Castoriadis (1975) exige que se comprenda lo que se desea transformar y que se identifique lo que en la sociedad es contestario y se encuentra en lucha contra su forma presente, para mostrar que la teoría no está para producir ideas generales sino para hacer coincidir su propia dialéctica con la dialéctica de lo real histórico, y de sacar del movimiento de lo real tanto los fundamentos de la acción revolucionaria como su orientación. Porque se dice revolucionario, para Castoriadis (1975) su punto de partida es una revisión del marxismo, lo cual exige que se comprenda lo que se desea transformar. Insiste en recordar a Marx en las tesis sobre Feuerbach: ya no se trata de interpretar el mundo, sino de transformarlo. Francesca Randazzo/ pp. 77 – 96 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Los imaginarios sociales como herramienta 87 “La reflexión teórica no es ajena a la lucha, es un momento fundamental de la praxis” (Tischler, 2009:30). La recuperación de la memoria de las luchas populares por su emancipación tiene que hacerse con unas herramientas y un lenguaje nuevo: “no podemos hacer una interpretación revolucionaria de la historia con las mismas herramientas conceptuales que la tradición de los vencedores ha cultivado” (Tischler, 2009:24). Justamente, la idea es identificar las formas contestarías y en lucha, visibilizarlas y encausarlas dentro del movimiento de cambio que la coyuntura social ha generado, siguiendo a Castoriadis (1975), quien entiende la actividad política como la capacidad que tienen los actores sociales de concienciar el protagonismo de sus infraestructuras pasionales y emocionales en la creación de las instituciones mediante el binomio del sentido y de la autonomía humana (Sánchez Capdequí, 2003). La idea de la autonomía social e individual precisa que, a pesar del funcionamiento en la sombra del imaginario, la psiquis dispone de mecanismos de esclarecimiento racional. Esta dimensión política permite el cuestionamiento de la certidumbre e interpretación alternativa de “lo real” (Carretero, 2001). La autonomía del sujeto es clave para emprender procesos de emancipación sostenibles, es el poder del individuo frente a las fuerzas que pretenden colonizar su voluntad y energías. No se trata, se subraya, del aislamiento del sujeto sino de que éste cuente con la información, conocimiento, actitud y mecanismos sociales que permitan establecer los límites del Estado, el mercado y la comunidad. Este planteamiento puede propiciar verdaderos procesos de solidaridad, integración, versus la alienación y la seudointegración por la fuerza o la domesticación del pensamiento. (Cálix, 2010:38) 7. Realidad social y conocimiento La realidad, el conocimiento y los imaginarios se encuentran estrechamente vinculados. Existe una relación de interdependencia entre lo que es considerado en una sociedad como real y su imaginario. Althusser (1965) considera que la expresión de la relación de los seres humanos con su “mundo” es la unidad conformada por su relación real y su relación imaginaria con sus condiciones de existencia. La forma en que estudiamos la realidad, la cuestiona, legítima o incluso crea. Las ciencias sociales, son también parte de una especie de diario en el que se refleja la humanidad y ese reflejo contribuye a su constitución misma. Lakoff (2007) enfatiza la importancia de entender las dimensiones cognitivas de la política y considera que cada acto analítico es un acto político. Searle (2007), habla de la intencionalidad, que señala hacia la dotación de contenido (aboutness), es decir, aquella facultad que se relaciona con asociar un determinado significado. En Collective intentions and actions, Searle postula que el comportamiento intencional colectivo no es la suma de los comportamientos intencionales individuales; y que la intencionalidad de grupo o individual es independiente de la falsedad o veracidad de las creencias del individuo. Para Searle hay una forma en que ciertos aspectos de nuestro mundo se materializan como Francesca Randazzo/ pp. 77 – 96 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Los imaginarios sociales como herramienta 88 resultado de la intencionalidad combinada de aquellos que los usan. Por ejemplo, un billete de cinco euros es un billete de cinco euros tan sólo en virtud de la intencionalidad colectiva. Ciertos aspectos de nuestro mundo se materializan como resultado de la intencionalidad combinada de aquellos que los usan. El lenguaje que utilizamos, el concepto de propiedad y las relaciones con los otros dependen fundamentalmente de tales intencionalidades implícitas: “Collective intentionality is all that is necessary for the creation of simple forms of social reality and social facts” (Searle, 2007:85). La interpretación tiene un rol fundamental en la creación de la realidad social, añadiendo el sentido que conformará lo que socialmente se considera como real. Es decir que el mundo se vuelve real en el proceso mismo de su construcción (Heelan, 1991). Los problemas reales de una época o sociedad son aquellos acordes según su imaginario social. Los seres humanos no llegarán a resolver esos problemas reales sino en la medida en que sean capaces de imaginarlos (Beriain, 2005). En su artículo El imaginario como lugar de encuentro: diálogo con Juan Luis Pintos, Celso Sánchez Capdequí, señala las condiciones de posibilidad de la representación colectiva. Se trata de un principio trascendental histórico que principia, posibilita y faculta a los hechos fragmentados para, a través de los dibujos e imágenes que proyecta, convertirlos en experiencia social con-sensuada y con-sentida. Constituye la raíz viva y vivificadora que alienta formas organizadoras de la experiencia social, pero sin estas formas exteriores su capacidad de formalización deviene imposible. (Carretero y Coca, 2009:305) Castoriadis (1975) nos habla de la posibilidad de la que goza una sociedad para descubrir el carácter autoinstituyente de sus significaciones imaginarias. Se trata de alcanzar un cuestionamiento de la certidumbre (la “evidencia”) así como de abrir la posibilidad de una interpretación alternativa de “lo real”. Se trata de desentrañar la determinación social de lo que se asume como natural y evidente. A pesar de que se señala tradicionalmente que los grupos desfavorecidos están sometidos a las definiciones de realidad de los que detentan el poder, en el orden social existente la dotación de significado social depende de configuraciones mucho más complejas. Las personas disponemos de una capacidad de cuestionar permanentemente las instituciones establecidas, de debatir la legitimidad de cualquier significación impuesta. ¿Cómo vivir sin representaciones? Pero también ¿Cómo vivir sin la crítica de las representaciones? Así se esboza un movimiento dialéctico. Algunas representaciones tapan la vista y el horizonte, forman anillo y círculo (vicioso). Otras se abren hacia la superación. (Lefebvre, 1980:96) Francesca Randazzo/ pp. 77 – 96 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Los imaginarios sociales como herramienta 89 8. Crítica, ensoñación y cambio Si bien los imaginarios sociales son configuradores y estructuradores de lo real, pues determinan y crean una percepción de lo que es aceptado como tal, tienen también una doble faceta aparentemente contradictoria, pues trabajan tanto en el mantenimiento como en el cuestionamiento del orden social (Carretero, 2005). Lo social no sólo se construye y legitima a través de ellos, sino que también es a través de ellos que se deslegitima y transforma la realidad social. Las significaciones imaginarias institucionalizadas cristalizan una percepción natural del mundo que puede ser combatida por ese cuestionamiento deslegitimador y radical (Carretero, 2001: 183). Ledrut (1987) hace énfasis en una función desequilibradora de lo imaginario, que paradójicamente implica una realización y movilización de lo real. El análisis de lo imaginario rompe con “la consistencia y la contundencia de una experiencia social que no es otra cosa que proyección imaginaria” (Carretero y Coca, 2009:305), esto obliga a la sociedad, para Sánchez Capdequí, a incorporar la provisionalidad, la precariedad, la contingencia y la duda. Tischler (2009:44-45) advierte que “las categorías sociales no sólo son positividad (lo que son): están constituidas por la negatividad social”, es decir lo que está en la forma –desarrollada o no– del excedente respecto a lo que se es. Los imaginarios sociales encierran también lo que todavía-no es. El ser humano en sociedad se va creando y consolidando a sí mismo a través de sus imaginarios. La facultad social de conservar ciertas pautas, y crear incesantemente otras, está condicionada por ciertos esquemas o matrices de sentido, en función de los cuales se abren las posibilidades de lo plausible, pero también de lo inverosímil. Duvignaud (1986) afirma que lo imaginario es también la capacidad de anticipar la experiencia actual sobre la experiencia que está por venir. Esto apunta hacia las serendipias3, esa mezcla de suerte y agencia, por ejemplo, cuando un autor escribe sobre algo que ha imaginado y que no se conoce en su época, pero que posteriormente será parte del mundo cotidiano. Las serendipias –en la ciencia y en la literatura – son parte de ese universo de lo posible, de lo que finalmente se alcanza a ver. Suelen definirse como un descubrimiento o un hallazgo afortunado e inesperado que se produce cuando se está buscando otra cosa distinta; pero apuntan también hacia lo que puede finalmente ser visto, es decir lo nuevo. Para Carretero (2001) se trata de una facultad creadora y ensoñadora, en definitiva utópica, de lo imaginario, consistente en elaborar posibilidades confrontadas a la realidad 3 Este término fue establecido por Horace Walpole en 1754 a partir de un cuento persa: “Los tres príncipes de Seredip” en donde los príncipes hacen descubrimientos por accidente y sagacidad. El ejemplo más citado de serendipias es el de las novelas de Julio Verne, De la Tierra a la Luna (1865) o Veinte mil leguas de viaje submarino (1869). Francesca Randazzo/ pp. 77 – 96 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Los imaginarios sociales como herramienta 90 establecida, que pueden llegar inclusive a la subversión del orden social. El imaginario como principio de ensoñación capaz de subvertir la realidad institucionalizada es una fuente de posibilidades alternativas a la realidad socialmente dominante. Precisamente, el estudio de los imaginarios sociales permite la posibilidad de hacer visibles en las sociedades las posibilidades oníricas y poéticas que han sido enraizadas en las cosas, tal como señala Bachelard (2002). ¿Qué transformación de la experiencia adquirida no se debe antes que nada a lo imaginario? ¿Qué cambio no ha sido formulado simbólicamente a través de una ficción? ¿Y qué ficción no se ha opuesto, si ha sido significativa, a la cultura en la que ha aparecido? No estamos hechos de repetición ni de formalismo, sino “tejidos de la materia misma de nuestros sueños”. (Duvignaud, 1986: 35-36) Pensar determina la realidad misma y establece un vínculo indeleble con la esperanza. Pensar es traspasar, como diría Ernst Bloch (2004). Concebir nuevas imágenes abre la posibilidad de vislumbrar otro campo de lectura, perfora las manifestaciones evidentes de la acción y deja salir a la superficie el proceso del cual son parte. Estas imágenes “no remiten únicamente a la particular subjetividad del autor, agotándose en ella, sino conforman un material que sólo puede revelar sus contenidos más profundos con el golpe del pensamiento” (Tischler, 2009:28). Los pensamientos, los actos, incluso las palabras de los hombres tienen una función continua en la cualidad y persistencia del ser. El espectador, el lector, el oyente, se hallan implicados dinámicamente. Sus respuestas y sus interpretaciones son esenciales para su significado. Eurípides une la necesidad de hombres y mujeres de recrear su mundo social, político y filosófico, no a la imagen de los antiguos dioses que nacieron de la noche, sino a la de las esperanzas razonables y los ideales en plena evolución. Dieu a besoin des hommes, declaraba Sartre… (Steiner, 2005:72) 9. El lenguaje y lo nuevo Para Castoriadis (1975) los imaginarios son auténticas fuentes de inspiración capaces de influir con mucha fuerza en las maneras de pensar, decidir y orientar las acciones sociales. Como herramienta metodológica los imaginarios sociales permiten hablar de las luchas y la emancipación con un lenguaje nuevo. Como argumenta Kuhn en The Copernican Revolution, no fue sobre la base de observaciones telescópicas o sobre la base de alguna otra cosa como decidimos que la Tierra no era el centro del universo, que la conducta macroscópica podía explicarse a partir del movimiento microestructural, y que la principal meta de la teorización científica debía ser la predicción y el control. En lugar de eso, después de cien años de estéril confusión, los europeos se sorprendieron a sí mismos hablando de una forma tal que daba por sentadas esas tesis solapadas. Los cambios culturales de esa magnitud no resultan de la aplicación de Francesca Randazzo/ pp. 77 – 96 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Los imaginarios sociales como herramienta 91 criterios (o de una «decisión arbitraria»), como tampoco resulta de la aplicación de criterios o de actes gratuits el que los individuos se vuelvan teístas o ateos, o cambien de cónyuge o de círculo de amistades. En tales cuestiones no debemos buscar criterios de decisión en nosotros mismos, como tampoco debemos buscarlos en el mundo. (Rorty, 1991:26) Wittgenstein (2008) señala que los límites de nuestro lenguaje son los límites de nuestro mundo; en este sentido, el alcance de nuestra mente, pensamiento, palabra o juicio estaría atrapado dentro de las fronteras de nuestra sociedad. Geertz (2000) considera en cambio que los límites de nuestro mundo son los límites de nuestro lenguaje, pues el alcance de nuestras mentes, lo que somos capaces de interpretar es lo que define el espacio intelectual, emocional y moral en el que se vive. En la medida en que intentemos comprender lo que significa ser como los otros, cómo somos nosotros, lo que nos parece extraño y lo que nos es similar, atractivo o repelente, irán surgiendo las palabras para nombrarlo. Lakoff (2005) considera que los marcos o esquemas mentales refieren antes que todo a los valores y los sistemas primarios de ideas y en segundo lugar a los lenguajes que se usan para expresarlos. Durante sus investigaciones, Raymond Williams reparó en reflexionar acerca del rol que tiene el uso y significado de las palabras, su gama, variación, conexión e interacción. En uno de sus escritos comenta: Por supuesto, no todas las cuestiones podían entenderse mediante el mero análisis de las palabras. Al contrario, la mayoría de los tópicos sociales e intelectuales, incluidos tanto los desarrollos graduales como las controversias y conflictos más explícitos, persistían en y más allá del análisis lingüístico. No obstante, comprobé que, en realidad sobre muchas de las cuestiones no podía reflexionarse exhaustivamente, y en algunas de ellas, creo, ni siquiera pueden abordarse a menos que seamos conscientes de las palabras como elementos de los problemas. (Williams, 1976:20) Insiste Williams (1976) en que no se trata de hacer creer que la lengua refleje meramente los procesos de la sociedad y la historia, sino que, bien al contrario, algunos de éstos se producen dentro de la lengua misma, siendo las palabras, de esta forma, un elemento integral de las relaciones sociales. De tal forma, el «método» no sólo consistiría en volver a describir las cosas de una manera nueva hasta crear una pauta de conducta lingüística que adopte la generación en ciernes (Rorty, 1991), sino además observar las formas en que las mismas relaciones sociales generan sus propias respuestas dentro de la lengua misma. Conclusiones Los imaginarios operan como un filtro prácticamente invisible que preconfigura “la realidad social”. Frente a grandes cantidades de información que no se pueden manejar fácilmente, los imaginarios funcionan de forma heurística, permitiendo tomar decisiones complejas o hacer inferencias rápidamente. Son capaces de influir en las maneras de pensar, Francesca Randazzo/ pp. 77 – 96 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Los imaginarios sociales como herramienta 92 decidir y orientar las acciones sociales, especialmente al ser formulados, legitimados, institucionalizados. Los imaginarios sociales estructuran el edificio social en base a esquemas mentales socialmente construidos, que funcionan como sistema de interpretación, donde las significaciones imaginarias institucionalizadas cristalizan una percepción natural del mundo. Configuradores y estructuradores de lo real, determinan y crean una percepción de lo que es aceptado como tal, asegurando la repetición de las mismas formas que regulan la vida en sociedad. Pero los imaginarios no sólo se construyen y legitiman lo social, también lo deslegitiman y transforman (Carretero, 2005) a través de su función desequilibradora (Ledrut, 1987). La producción social de sentido es el lugar natural del imaginario (Castoriadis, 1975). Esta se realiza como generalizaciones sobre las experiencias diarias, que conforman los valores y los sistemas primarios de ideas, de una manera abstracta, usualmente discursiva, a través de los lenguajes que se usan para expresarlos. Existe una relación entre el lenguaje y el mundo social, ya sea porque el lenguaje se encuentra atrapado dentro de las fronteras de nuestra sociedad (Wittgenstein, 2008); o porque en la medida en que conocemos mejor lo propio y lo extraño van surgiendo las palabras para nombrarlo (Geertz 2000). No solo la lengua refleja los procesos de la sociedad y la historia, sino que éstos se producen dentro de la lengua misma, siendo las palabras, de esta forma, un elemento integral de las relaciones sociales (Williams, 1976). Como nueva llave teórica y herramienta metodológica, los imaginarios sociales son parte de un lenguaje nuevo, de un decir y un hacer distintos, donde las palabras son consideradas como elementos de los problemas pero también de las respuestas. Referencias bibliográficas Aliaga Sáez, Felipe (2008) Imaginarios Sociales, Inmigración e Integración (TIT). Tutor: Juan Luis Pintos de Cea – Naharro. Universidad de Santiago de Compostela. 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Datos del autor Francesca Randazzo Eisemann es Máster en Ciencias Sociales (FLACSO, Guatemala, 2005) y se encuentra a punto de defender una tesis doctoral sobre Imaginarios sociales en el marco del último golpe de Estado en Honduras (USC, Santiago de Compostela, 2012). Entre su participación en trabajos de investigación destaca su colaboración en el Archivo Lunardi (IHAH, Honduras-Italia, 2006-2008), en los estudios sobre migración y corta de café (Ayuda en Acción, Honduras, 20062007), y en evaluaciones sobre cultura de paz (Plan Internacional, Honduras, 2006-2007). En la actualidad es subdirectora de la Revista Sociología y Tecnociencia y parte del equipo de redacción de la Revista Hermes analógica. ______________________________ Historia editorial Recibido: 20/06/2012 Primera revisión: 25/06/2012 Aceptado: 06/07/2012 ______________________________ Francesca Randazzo/ pp. 77 – 96 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 El zombi y el totalitarismo: de Hannah Arendt a la teoría de los imaginarios El zombi y el totalitarismo: de Hannah Arendt a la teoría de los imaginarios Zombie and totalitarianism: from Hannah Arendt to imaginaries theory Jorge Martínez Lucena y Javier Barraycoa Martínez Universitat Abat Oliba CEU [email protected]; [email protected] Resumen En este artículo intentamos analizar la eventual convergencia entre el discurso mítico presente en la primera cinematografía acerca de los zombis -fundamentalmente La invasión de los ladrones de cuerpos, de Don Siegel (1956) y La noche de los muertos vivientes, de George A. Romero (1968)-, el pensamiento político arendtiano acerca del totalitarismo –especialmente el del capítulo XIII de Los orígenes del totalitarismo-, y la teoría sociológica de los imaginarios acerca del consumismo. La intención que tenemos con ello es la de evidenciar cómo el sub-género cinematográfico zombi colabora en la formación de los imaginarios sociales en nuestras sociedades posmodernas. Palabras clave: totalitarismo, alineación, zombi, consumismo, imaginarios sociales, Hannah Arendt Abstract In this paper we try to analyze three different elements in order to make clear how zombies’ cinematic sub-genre collaborates in the formation of our post-modern social imaginaries. These three elements are the following: 1. The mythic discourse which we can find in certain relevant zombis’ cinematography –fundamentally Invasion of the Body Snatchers (Don Siegel, 1956) and The Night of the Living Dead (Romero, 1968); 2. Arendt’s political thinking about totalitarianism –specially on chapter XIII of The Origins of Totalitarianism; and 3. The sociological theory related to social imaginaries and consumerism. Keywords: totalitarianism, alienation, zombi, consumerism, social imaginaries, Hannah Arendt Jorge Martínez y Javier Barraycoa/ pp. 97 – 118 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 El zombi y el totalitarismo: de Hannah Arendt a la teoría de los imaginarios 98 Introducción Existen dos posibilidades para hablar de una realidad. Podemos hacer referencia al mundo directamente, según lo hacen las proposiciones descriptivas, o bien mediante un rodeo metafórico, practicando la referencia desdoblada de la que nos habla Ricoeur (1999, p. 52ss). De esta segunda vía, tantas veces denostada en la filosofía, Martha Nussbaum ha dicho que “determinadas verdades sobre la vida humana sólo pueden exponerse apropiada y precisamente en el lenguaje y las formas características del artista narrativo.” (Nussbaum, 2005, p. 28). En este artículo queremos hablar de dos realidades correlativas, el totalitarismo y la alineación, y lo queremos hacer explotando las dos posibilidades de hacer referencia a ellas: la metafórica (cinematográfica); y la descriptiva (filosófica y sociológica). En cuanto al artefacto mítico que nos permite hacer referencia desdoblada a estas realidades correlativas hemos escogido el subgénero cinematográfico zombi. Heredero de lo que tanto en literatura como en el cinematógrafo fue el góticoromántico subgénero de terror del no-muerto –que engloba sagas como las de Frankenstein, Drácula, Hyde y Dorian Gray-, el subgénero zombi, de moda de nuevo en nuestras salas1, según hemos intentado atestar en otro artículo (Martínez Lucena, 2008), nos hablaría del último estadio involutivo de la humanidad del hombre moderno, e incluso del hombre posmoderno. Como ha dicho Finkielkraut, arendtiano de pro, en el final de La derrota del pensamiento, no son pocos los autores apocalípticos que piensan que “la barbarie ha acabado por apoderarse de la cultura (...) Y la vida guiada por el pensamiento cede suavemente su lugar al terrible y ridículo cara a cara del fanático y del zombie.” (Finkielkraut, 1989, p. 139) Con el fin de hacer posible la investigación concreta sin perdernos en lo deletéreo de las teorías, hemos tenido que hacer varias elecciones para definir el paradigma a analizar. Nuestra opción ha sido la de centrarnos inicialmente en las dos películas que suelen ser las mencionadas cuando se intenta establecer el inicio cinematográfico de los zombis2 (Martínez Lucena, 2012). En primer lugar tenemos La invasión de los ladrones de cuerpos (Don Siegel, 1956), quizás la primera aparición significativa de estas criaturas, aunque todavía no evolucionadas hasta el extremo gore 1 Asistimos en los últimos años a un cierto resurgir de este sub-género en el mainstream. Algunos ejemplos de ello son: Resident Evil de (Paul W. S. Anderson, 2002); 28 Days Later (Danny Boyle, 2002); Resident Evil 2: Apocalypse (Alexander Witt, 2004); Amanecer de los muertos (Zack Snyder, 2004); Shaun of the Dead (Edgar Wright, 2004); La tierra de los muertos (George A. Romero, 2005); Resident Evil 3: Extinction (Russell Mulcahy, 2007); 28 semanas después (Juan Carlos Fresnadillo, 2007); Invasión (Oliver Hirschbiegel, 2007); Soy leyenda (Francis Lawrence, 2007); Zombis nazis (Tommy Wirkola, 2009); Zombieland (Ruben Fleischer, 2009); Resident Evil 4: Ultratumba (Paul W. S. Anderson, 2010); Resident Evil 5: Venganza (Paul W. Anderson, 2012). Otro ejemplo de ello sería la teleserie de la cadena Fox The Walking Dead (2010-) que cuando escribimos este artículo va por la tercera temporada. 2 Somos conscientes de que el subgénero es inventado durante el siglo XIX dentro de lo que podemos llamar la literatura del no-muerto, y de que existen películas anteriores a las que vamos a estudiar que hablan de los zombis. Sin embargo, ni mucho menos llegaron a resultar todavía un género de masas. Dos de estas películas son White Zombie (Victor Halperin, 1932) o I Walked with a Zombie (Jacques Tourneur, 1943). Jorge Martínez y Javier Barraycoa/ pp. 97 – 118 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 El zombi y el totalitarismo: de Hannah Arendt a la teoría de los imaginarios 99 en que hoy las conocemos. Y en segundo lugar tenemos La noche de los muertos vivientes (George A. Romero, 1968), que inicia una saga del mismo autor3 en que las modificaciones son pocas y que nos muestra ya a los zombis en su versión moderna (Corral, 2011) o posmoderna: hombres indolentes, supuestamente vueltos a la vida, y de encefalograma plano, reducidos a la materia en descomposición de sus cadáveres en medio de la sociedad cada vez más globalizada4. Son muchas las metáforas que el subgénero zombi posibilita, como acreditan gran cantidad de publicaciones (Fernández Gonzalo, 2011; Ferrero y Roas, 2011; Martínez Lucena, 2010, 2012). Nosotros hemos optado por ahondar aquí la referida al totalitarismo. En cuanto al discurso descriptivo de la correlación entre totalitarismo y alineación, hemos tenido también que optar. Son muchos los que han intentado iluminar este particular. Sin embargo, para que nuestro análisis parta de la concreción hemos escogido el capítulo XIII de Los orígenes del totalitarismo, una de las obras más influyentes y reconocidas en filosofía política acerca de esta temática. Es en este capítulo, titulado Ideología y Terror: de una nueva forma de gobierno donde se encuentran las líneas maestras que Hannah Arendt pone en juego a lo largo de las tres partes de la obra –Antisemitismo, Imperialismo y Totalitarismo-, y donde se evidencia sintéticamente el pensamiento de su autora en cuanto al posible círculo vicioso político creado entre la alineación de los individuos y la posibilidad del poder de desplegar su gobierno totalitario. Además, existe una razón añadida para escoger esta obra y no otra de entre las más importantes en el pensamiento político, ya que ésta fue escrita y reeditada en un periodo de tiempo coetáneo a la aparición y consolidación del discurso mítico de los zombis en el campo cinematográfico. Como nos cuenta la misma Arendt en el prólogo a la tercera parte, escrito en Junio de 1966, su libro fue escrito “a partir de 1945”, y “fue concluido en el otoño de 1949”, mientras que “la primera edición del libro apareció en 1951.” (Arendt, 2004, p. 27) Y, en concreto, el capítulo XIII es añadido en 1958, con ocasión de la publicación de la “segunda edición (bolsillo)” (Arendt, 2004, p. 28). Así pues, vamos a estructurar el artículo del siguiente modo. En primer lugar haremos un breve comentario de las dos películas que históricamente juegan el papel de paradigma del subgénero tratado, haciendo especial hincapié en los conceptos de alineación y totalitarismo tal y como son tratados a través de ambas narraciones. Tras ello pasaremos a una síntesis de la estructura teórica de la filósofa alemana acerca de estos conceptos en el mencionado capítulo de la obra arendtiana, poniéndola en relación con las películas estudiadas. Y, para finalizar, intentaremos explicar desde la 3 Después de La noche de los muertos vivientes (1968), vendrían sucesivamente El amanecer de los muertos (1978), El día de los muertos (1985) y, después de un largo descanso, La tierra de los muertos (2005), El diario de los muertos (2007) y El diario de los muertos 2 (2009). 4 Son muchas las películas de este sub-género que no cumplen con todo este elenco de características. Ejemplo de esto podrían ser películas como Infectados (Álex Pastor y David Pastor, 2009) en la que los supuestos zombis no han muerto; Invasión (Oliver Hirschbiegel, 2007), en la que los zombis tienen una apariencia completamente normal; o una de las últimas creaciones de Romero, La tierra de los muertos (2005), donde asistimos al despertar de la inteligencia de los muertos vivientes. Sin embargo, entendemos que para que haya desviaciones del canon es necesario que el canon exista (Ricoeur, 1987). Jorge Martínez y Javier Barraycoa/ pp. 97 – 118 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 El zombi y el totalitarismo: de Hannah Arendt a la teoría de los imaginarios 100 teoría de los imaginarios sociales ciertos mecanismos de alienación presentes en nuestras sociedades democráticas de consumo, sin duda las tematizadas en el subgénero zombi. Será a través de los imaginarios que el consumidor verá influenciada su concepción de sí mismo, así como su percepción de lo que es normal y anormal. 1. La invasión de los ladrones de cuerpos: una alegoría del poder totalitario La memorable La invasión de los ladrones de cuerpos, de Don Siegel, relata algo extraño que está sucediendo en Santa Mira, un pequeño pueblo californiano. El Dr. Miles, un médico joven y divorciado regresa de un congreso y se encuentra con que muchos de sus pacientes empiezan a compartir un síntoma. Dicen que algunos de sus seres queridos no son ellos, sino “otros”. Un niño dice que su madre no es su madre. Una mujer dice que su tío es idéntico a su tío, pero que no es él. Todo esto sucede en una sociedad americana cuyo eje es el bienestar y la vida más o menos desahogada. Es fácil reconocerlo en el paisaje del cortejo del doctor a su novia de juventud, Becky Driskoll, con la que inexplicablemente no se casó, pero que ahora llega de Reno –con lo cual suponemos que se ha divorciado de su marido. El flirteo intenta progresar en mitad de los macabros descubrimientos que la pareja va haciendo. Unas vainas enormes parecen estar incubando los dobles de todos y cada uno de los personajes del pueblo. Día a día crece la población zombi, es decir, de los seres suplantados e incapaces de sentir, que, además, se van organizando jerárquicamente para difundir su mal por todos los Estados Unidos. El espectador ve, sumido en una creciente angustia, cómo todos los que intentan luchar contra la plaga van claudicando y entregando sus almas a esa alineación que se organiza políticamente a una velocidad desconcertante. Nada sabemos sobre el origen de la técnica de clonación que hace desaparecer el alma en el proceso. ¿Se trata de una invasión alienígena o de algún artilugio científico-técnico para erradicar la libertad de los Estados Unidos de América? Pero, en este último caso, ¿quién puede haber ideado tan maquiavélico plan? No somos los primeros (Laborda Oribes, 2007) en llamar la atención sobre la coincidencia del fechas entre esta película -de bajo presupuesto y pensada para proyectar en las sesiones dobles de los cines de la época junto a alguna película de primer orden en el mainstream- y lo que históricamente se ha llamado la caza de Brujas (1950-1956) del senador republicano John McCarthy y con la guerra fría. Se trataría pues, según esta restringida interpretación, de una burda alegoría anticomunista tramada desde la subvención por parte del aparato de propaganda republicano, que sólo serviría para un público americano de la época. Aunque también se podría argumentar la posibilidad contraria: que el aparato cultural de Hollywood se defendiese de la persecución a la que McCarthy sometió a tantos actores y directores americanos por sus ideas progresistas mediante esta película claramente alegórica5. 5 Quizás una de las razones del éxito del planteamiento es esa ambigüedad que cada espectador lee de acuerdo con su propia ideología. En cualquier caso, también teóricamente resulta interesante la Jorge Martínez y Javier Barraycoa/ pp. 97 – 118 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 El zombi y el totalitarismo: de Hannah Arendt a la teoría de los imaginarios 101 Sin embargo, nos parece que, sin poner en duda las conexiones históricas que pudiese haber entre la producción de esta película y el conflicto mccarthista, el filme rebasa con creces ese estrecho poder referencial, ya que, visto hoy, sigue funcionando para todos aquellos que no tienen ningún conocimiento de la historia de los Estados Unidos. Nos parece, así, mucho más atinada, universal e intemporal, la interpretación que hace Guillermo Cabrera Infante de ésta en su Cine o Sardina. Allí nos dice que el “verdadero alius no viene del espacio exterior: se lleva dentro, alienus.” Por eso, según dice, esta película es “lo contrario a una metamorfosis kafkiana: el ser ha sido substituido por el perfecto símil sin ser”, es decir, “la caña pensante de Pascal ha quedado por fin hueca y vacía” (Cabrera Infante, 2001, p. 448). Siguiendo esta interpretación, el mito que despliega esta película incorpora en su sentido metafórico el profundo conocimiento de una relación intrínseca entre alineación y dominación totalitaria. En primer lugar, a) los alienados, a medida que se multiplican, incrementan el poder de esa secreta y misteriosa potencia totalitaria que va surtiendo de vainas Santa Mira y sus aledaños. Además, b) la finalidad de la nueva forma de vida que es el clon es predominantemente la de hacer crecer el número de alienados y eliminar todo rastro de humanidad independiente. Y c) la fuerza totalitaria que les domina es de por sí poderosa, ya que es infalible –si se quedan dormidos son poseídos por ella- y con gran cantidad de recursos –ya que en ningún momento se percibe una escasez de vainas, sino más bien todo lo contrario. El elemento desconcertante de este filme con respecto a lo que han sido los zombis modernos es su aspecto. El clon alienado de esta película es idéntico en apariencia al ser humano original no-alienado. Lo único que varía es que ya no tiene alma, rasgo que se enuncia de un modo aparentemente emotivista, ya que lo que se dice de los zombis es que no sienten, no que no piensen o que no sean conscientes de que son dominados. Lo que les distingue es que su psicología es completamente mecanicista y está pilotada desde un fin exterior a lo que ellos son. Sin embargo, esta eliminación de la fealdad de la apariencia de los no-muertos no es tan sorprendente, ya que a lo largo de la evolución literaria de este paradigma vemos cómo la monstruosidad aparente no es una característica homogénea. Prueba de ello es que, pese al monstruo de Frankenstein, a Hyde, y al Drácula más anciano de Transilvania, está el bello Dorian Gray de Oscar Wilde o la belleza seductora e inmortal de muchos vampiros tanto literarios6 como cinematográficos7. Se trataría pues de una mencionada ambivalencia, ya que el totalitarismo no se asocia solamente a una determinada ideología política. 6 Las Crónicas Vampíricas de Anne Rice serían un buen ejemplo posmoderno de esto. Aunque, en Drácula de Bram Stoker no faltarían alusiones a la capacidad de seducción del conde con Lucy Westenra y con Mina Harker, así como a la potencia erótica de las tres novias de Drácula, que serían capaces de subyugar al mismísimo Van Helsing. Lo mismo sucedería con los vampiros de la teleserie True Blood (2008-), basada en las novelas de Charlaine Harris. 7 Ejemplo de esto lo encontramos en la multitud de seductores vampiros que encontramos en nuestro panorama cultural. Por citar alguna película al respecto: Jóvenes ocultos (Joel Schummacher, 1987), Drácula (Francis Ford Coppola, 1992), Entrevista con un vampiro (Neil Jordan, 1994); Abierto hasta el Jorge Martínez y Javier Barraycoa/ pp. 97 – 118 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 El zombi y el totalitarismo: de Hannah Arendt a la teoría de los imaginarios 102 nota de atención del creador del mito, que nos estaría advirtiendo de lo fácil que es confundir a un alienado con su original, es decir, de lo peligroso que es confiar en cualquiera –ni la propia amada es de fiar en la película, y mucho menos los amigos, madres, tíos, padres,...-, porque puede ser uno de ellos. 2. Night of the Living Dead: una visión demócrata del totalitarismo en USA El paso intermedio entre Invasion of the Body Snatchers (1956) y la saga zombi de G. A. Romero está quizás en otra película de serie B: Plan 9 del espacio exterior (Edward D. Wood Jr., 1959). En ésta última, unos torpes alienígenas que intentan invadir la tierra por enésima vez dan por fin con un método prometedor para ajustar las cuentas a la raza humana: resucitar a los muertos para subyugar sus voluntades. Este pasaje es el que permite que los clones, que eran ya no-muertos porque compartían materia pero no alma –pues no tienen-, lo sean todavía más claramente y reciban ya, en La noche de los muertos vivientes, el nombre de zombis. Esta denominación, es sacada de la mitología vudú haitiana, según la cual algunos brujos llamados bokores –mediante el uso del polvo zombi8- serían capaces de hacer volver de la muerte a los cadáveres, devolviéndoles ciertas capacidades humanas, aunque no la libertad. Ésos son originariamente los zombis, tal y como aparecen documentados en el libro de la antropóloga Zora Neale Hurston, Tell my Horse (1938)9. O, muy posteriormente, en el libro de Wade Davis -llevado al cine por Wes Craven10-, The Serpent and the Rainbow (1987), donde se nos habla de un potente narcótico capaz de inducir a los hombres a un estado de catatonia, después del cual podrían ser reanimados y esclavizados. El guión de Night of the Living Dead está inspirado en la novela de Richard Matheson I am legend (2007), publicada en 1954, de la que curiosamente también tenemos una reciente versión cinematográfica11. Dicha novela, más que hablar de zombis hablaba de una plaga vampiros. Sin embargo, el filme de Romero nos cuenta cómo dos hermanos –la mojigata Bárbara y el bromista Johny- van a visitar la tumba de su madre en Pittsburg (Pennsylvania) y en el cementerio se les aparece un zombi – que no se sabe de dónde sale- que ataca a Bárbara y mata a Johnny, que la intenta defender, al golpearse éste accidentalmente en la cabeza. Así se iniciará una persecución a la timorata Bárbara, que acabará refugiándose en una granja solitaria en el campo, donde se irá apercibiendo de las dimensiones del problema y donde amanecer (Robert Rodríguez, 1996); Blade (Stephen Norrington, 1998); Vampiros (John Carpenter, 1998); La reina de los condenados (Michael Rymer, 2002); Vampiros: Los Muertos (Tommy Lee Wallace, 2002); Underworld (Len Wiseman, 2003); Crepúsculo (Catherine Hardwicke, 2008); Luna Nueva (Chris Weitz, 2009); Eclipse (David Slade, 2010); Somos la noche (Dennis Gansel, 2010). 8 Este polvo zombi estaría muy probablemente compuesto por una neurotoxina extraída del pez globo. 9 Dicha antropóloga fue enviada por Frank Boas a Haití con el fin de investigar el polvo zombi. 10 Nos referimos a La serpiente y el Arco Iris (Wes Craven, 1988). 11 Nos estamos refiriendo a Soy leyenda (Francis Lawrence, 2007). Jorge Martínez y Javier Barraycoa/ pp. 97 – 118 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 El zombi y el totalitarismo: de Hannah Arendt a la teoría de los imaginarios 103 encontrará una compañía para afrontar la masiva afluencia de cadáveres andantes con ansias antropófagas. Los compañeros de resistencia, de los cuales ninguno sobrevivirá al ataque, son: Ben –un afro-americano que funcionará como cabecilla del grupo-, Harry –un padre de familia burguesa bastante cobarde y egoísta que intenta defender a su mujer y a su hija-, su mujer, la hija –que está sufriendo el proceso de transformación porque ha sido mordida por un zombi y que acabará por matar a su madre y por comerse a su padre-, y la pareja de enamorados formada por Tom y Judy, que serán los primeros en ser devorados por zombis antropófagos en pantalla. La interpretación más usual de este filme, debido al momento histórico de la película, fue que los zombis eran los soldados americanos muertos en Vietnam (Dillard, 1987), que volvían de la muerte para vengarse de la sociedad opulenta americana, que vivía aburguesada y olvidada de todos aquellos a los que había enviado a trajinar con una muerte en la lejana Asia (Wood, 2003)12. Al contrario de la película de Siegel, bastante más ambivalente al respecto, se trataría pues de una crítica plenamente demócrata, y no republicana. Lo avalarían además, el hecho de que el héroe fuese afro-americano –lo cual deviene desde entonces bastante habitual en la filmografía romeriana sobre zombis-, la muerte auto-fágica de la familia burguesa y la muerte de la joven pareja de novios, cuya característica principal es la de vivir la vida en el puro sentimiento sin ningún ideal a la altura de la muerte. Sin embargo, como en el caso anterior, nos parece que, sin ser equivocada, también dicha interpretación resulta limitada y quizás desfasada por el hecho de que si el zombi romeriano ha seguido funcionando en las taquillas hasta el año 2005, con La tierra de los muertos, es porque entraña un potencial en cuanto a significación muy superior al de su encasillamiento en la interpretación ideológica demócrata de la época hippie. Así, creemos que la primera de las películas de zombis de Romero consigue tomar completamente el testigo y la verosimilitud13 de la tradición generada en la literatura del no-muerto que pone en juego todo su potencial crítico adaptándolo a nuestros tiempos democráticos y de consumo de masas. La espiral mimética que pone en relación el texto (audiovisual) con la experiencia temporal, pasa siempre por este mismo punto: el no-muerto. Sin embargo, no se produce una constante repetición de lo mismo (Frankenstein, Hyde, Dorian Gray, Drácula) sino que se trata de una espiral “sin fin que hace pasar la meditación varias veces por el mismo punto, pero a una altura diferente.” (Ricoeur, 1987, p. 117) Incluso el zombi romeriano está sufriendo una constante transformación (Martínez Lucena, 2012). 12 También se ha hablado de una interpretación según la cual se estaría hablando de la situación como un momento post-nuclear. La familia Cooper, encerrada en el sótano, sería la encarnación de la familia burguesa post-nuclear (Harper, 2008). 13 Según Todorov, la verosimilitud puede ser cultural o genérica. En este caso estaríamos hablando de una verosimilitud fundamentada sobre el género de terror (en concreto, el no-muerto) (Todorov, 1975). Jorge Martínez y Javier Barraycoa/ pp. 97 – 118 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 El zombi y el totalitarismo: de Hannah Arendt a la teoría de los imaginarios 104 Recordemos, en primer lugar, brevemente, cuáles son las características generales de la literatura del no-muerto que aquí viene al caso, para luego adentrarnos en la especificidad de este moderno zombi cinematográfico. De la tradición del nomuerto podemos afirmar, por lo menos, que: a) Existe una referencia metafórica gracias a la cual, mediante la disciplina hermenéutica, es posible evidenciar cómo en dichos relatos se está hablando del modo que el hombre moderno tiene de verse a sí mismo. El mito, de este modo, se erige en una vía alternativa para explorar el tipo de relación que se establece entre el hombre moderno y la muerte. En la narrativa de “género de terror”, por tanto, se objetivan los “miedos fundamentales” (Wells, 200, pp. 7-8) del hombre de hoy. b) Existe un círculo hermenéutico sano que se describe entre el no-muerto y la angustia existencial específica de la experiencia temporal del hombre moderno. Y, según el análisis heideggeriano del “ante qué” de la angustia, podríamos decir que “aquello ante que se angustia la angustia es el mismo “ser en el mundo”” (Heidegger, 1991, p. 206), que es un ser-para-la-muerte o todavía-no-muerto. c) El no-muerto es alguien que no puede morir porque su vida es sólo una forma anticipada de muerte, ya que el origen de la vida reside en la muerte, en lo inanimado. Como afirma el Dr. Frankenstein, en el mismísimo origen de este subgénero: “para examinar los orígenes de la vida debemos primero conocer la muerte.” (Shelley, 2005, p. 163) La nueva forma de vida ya no es vida-vida. Se trata de una vida construida con la muerte, hecha de des-hechos re-constituidos por el humano artífice y re-animados por las fuerzas de la naturaleza manipulables y manipuladas por el científico. Por eso, si la vida está hecha exclusivamente de materiales mortales su mayor expresión y cumplimiento es la misma muerte. El vivo es el “todavía-nomuerto”. En cuanto a la especificidad del zombi con respecto al resto de no-muertos, con los que, por cierto, convive, ya que la propia literatura (y cinematografía) sigue explorando la viabilidad de determinadas especializaciones del no-muerto, podemos decir que: a) En la medida en que no existe un único origen de este mal del no-muerto, se hace plausible la posibilidad de que el final de Drácula no coincida con el final del nomuerto en el imaginario colectivo14. En este sentido el zombi sería un heredero de la muerte de Drácula. Seguiría comunicando su nauseabunda condición, pero ya sin otra dirección o móvil que la eliminación de lo humano. b) Sería la democratización del no-muerto, que habría perdido todos sus poderes sobre-naturales y que sería una tal metamorfosis de lo humano que ya no sería capaz de percibirse como carente de algo distinto a la carne humana. Se habría convertido en una especie de summum del materialismo. c) Por tanto, el zombi sería el momento en que se desvelaría el no-muerto como categoría política, como posibilidad de un totalitarismo blando, del que nos 14 De este mismo argumento encontraría sustento la continuidad de la literatura vampírica. Jorge Martínez y Javier Barraycoa/ pp. 97 – 118 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 El zombi y el totalitarismo: de Hannah Arendt a la teoría de los imaginarios 105 ocuparemos en el cuarto epígrafe. Por eso este no-muerto suele hoy estar bastante presente en nuestras pantallas cinematográficas. Antes de ensayar una interpretación más universal en relación a los términos de alineación y dominación totalitaria, veamos cuáles son las nuevas características de este zombi moderno, tal y como lo ha plasmado G. A. Romero. Como dice Corral (2011, p.3), éste suele tener las siguientes características: a) ha vuelto a la vida tras la muerte, aunque la calidad de la vida no es la misma, ya que está muerto y, por eso b) es torpe, de andares lentos y está en proceso de descomposición; pero, además c) es peligroso porque su único móvil es que tiene hambre y come carne humana, y, porque d) contagia su condición mordiendo; y e) el único modo de derrotarlos es dañándoles el cerebro. Toda la potencia crítica del mito zombi depende directamente de la razón por la cual se supone que se produce la falsa resurrección. A lo largo de la multitud cinematográfica las explicaciones al respecto han sido diversas: una plaga provocada por un virus puesto en contacto con los muertos ex profeso o accidentalmente, una intervención extraterrestre, el descontrol de un experimento militar, vudú,... Pero cuanto más indeterminada es la causa, más abierta (Eco, 1989) es la obra, más espacio se le deja al espectador para trabajar hermenéuticamente. Pero, como explica García-Noblejas, lo primero es la comprensión intelectual del texto o “primera navegación”, y después podemos pasar al concepto ricoeuriano de refiguración (Ricoeur, 1987) o “segunda navegación” (García-Noblejas, 2004, p.78). Partiendo de las características del zombi romeriano, junto con la sinopsis y la indeterminación del origen de la alteración, podemos decir que la plaga siempre se plantea como la dificultad a superar por los protagonistas. Esta dificultad consiste en que la mayor parte de los habitantes de la ciudad han dejado de ser humanos para ser infrahumanos. Están muertos pero pueden moverse de un modo absolutamente determinista, materialista y precario, según un estricto móvil alimenticio. Además, esta persecución automática pone en peligro a los que todavía conservan la vida en su totalidad, ya que se convierten en el deseado alimento de la incansable y cada vez más numerosa horda de zombis. Creemos, pues, que el zombi es la transformación del no-muerto propia de las sociedades democráticas, consumistas y de masas. De ahí que se haya hablado del tremendo realismo de la película (Harper, 2008). Su discurso crítico se ceba en este caso con la mayor parte de la gente, de los habitantes de nuestro mundo postindustrial –vemos cómo en la película la mayoría, la masa, son zombis. La mentalidad dominante, responsable de una reducción consumista de la realidad, habría provocado que los individuos empezasen a ver a los otros como mercancía (Bauman, 2005; Verdú, 2005), según una reducción materialista –el zombi es esencialmente un mero bulto antropomorfo que se mueve maquinalmente y con extrema dificultad y su personalidad emana de su cerebro, por eso para matarlo hay que volárselo. Este homo consumens está presidido por esa oralidad desbocada, por lo que el psiquiatra social Jorge Martínez y Javier Barraycoa/ pp. 97 – 118 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 El zombi y el totalitarismo: de Hannah Arendt a la teoría de los imaginarios 106 Claudio Risé llama, la “perversión devoradora” (2006, pp. 98-99). Esto es lo que hace que, en el filme, los zombis sean caníbales y quieran deglutir a todos aquellos cuya persona todavía no ha sido consumida, homogeneizada, apagada, asimilada. Los otros, vistos desde la óptica estrictamente materialista, son una amenaza para el protagonista, que se tiene que medir con sus propios miedos a ser usado o consumido, igual que el espectador. Pero vayamos al elemento político. Esta clara alienación en la que el yo del hombre cede su pilotaje automático a la pura materia en descomposición, supone la evidencia de que el nuevo hombre desalmado ya no es auto-consciente de su libertad, porque no la tiene, y, por tanto, es un ciudadano que no se apercibe de su pérdida de libertad. Ésta es la llamada de atención para el espectador. Si el montante de zombis se incrementa, y todos corremos el peligro de estar mirando según esa nueva mentalidad dominante, la amenaza ésta no en ser seducido por el atractivo sensual del vampiro, sino por la llamada que nos hace el olvido de la materia, al precio de la pérdida de la libertad y del Ideal. Como solución parece que siempre se plantea la mutua ayuda entre los pocos que todavía son plenamente humanos. Sin embargo, el individualismo de nuestra sociedad hace que la cooperación resulte una cada vez más irrisoria oposición ante la organicidad del ejército zombi, cuya fuerza, más que en sus grandes poderes sobrenaturales, está en el número de sus integrantes y en la asunción como verdad de la ontologización del capitalismo, según la cual todo se convierte en fungible. El filme acaba con el rescate de Bárbara como única superviviente de la masacre. Lo humano ha vencido el penúltimo ataque del no-muerto. Sin embargo, como no conocemos las causas reales de la afección –son tantas- no podemos tratarlas y no podemos garantizar que no vuelva a suceder. Esta vez con consecuencias más lamentables, como observamos en las sucesivas entregas de la saga romeriana. 4. Alienación y totalitarismo: una visión en Hannah Arendt Desde que Alexis de Tocqueville formulara en La democracia en América la posibilidad de que en los sistemas democráticos derivaran en formas de totalitarismo, hasta la obra antes mencionada de Arendt, pocos autores en la historia del pensamiento político se han planteado si el totalitarismo puede pasar las fronteras de su objetivación histórica en el nazismo y el comunismo. La obra de Arendt, evidentemente, goza de una perspectiva histórica de la que Tocqueville carecía. Pero el ingenio del francés le llevó a afirmar: Quiero imaginar bajo qué riesgos nuevos el despotismo puede producirse en el mundo. Veo una multitud innumerable de hombres semejantes e iguales, que dan vueltas sin descanso sobre sí mismos, para procurarse pequeños y vulgares placeres de los que llenan su alma. Cada uno de ellos, mantenido aparte, es como extraño al destino de todos los demás (1985, p. 268). Jorge Martínez y Javier Barraycoa/ pp. 97 – 118 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 El zombi y el totalitarismo: de Hannah Arendt a la teoría de los imaginarios 107 Esta descripción, tanto podría aplicarse a una happy mani (término usado para designar a la multitud feliz que recorre los centros comerciales un sábado por la mañana), como a un grupo de zombis buscando a una víctima propicia con la que alimentarse. La metafórica figura de los zombis, sus representaciones fílmicas y algunas de sus interpretaciones que ya se han apuntado, ¿son el reflejo imaginario de alguna alienación política? Recordemos que estaríamos ante un imaginario colectivo y, como recuerda Juan Luis Pintos, los imaginarios colectivos se sitúan en un “campo que goza de amplia autonomía” (Pintos, 1995, 104), esto es, como si tuvieran su vida propia y surgieran de dinámicas ignotas de la sociedad que nunca podríamos alcanzar a comprender. Busquemos, por tanto, en la obra de Arendt algunas claves del totalitarismo en el interesante y tardío capítulo XIII con el que culmina Los orígenes del totalitarismo. Desde ahí tratemos de tender un puente simbólico con el imaginario de la turba zombi que nos proporcionan las artes fílmicas. La primera característica de un régimen totalitario atiende a su forma de legitimación. Todo totalitarismo, plantea Arendt, se presenta como la culminación de un devenir histórico determinista, del cual es imposible escapar: ejecuta la Ley de la Historia o de la Naturaleza sin traducirla en normas de lo justo y de lo injusto para el comportamiento individual *…+ La política totalitaria afirma transformar a la especie humana en portadora activa e infalible de una ley (1987, p.685). La primera analogía con el mundo zombi es evidente. El desencadenamiento de la amenaza zombi, siempre tiene la característica de contagio prácticamente inevitable, de mecanicismo naturalista, de sino ineludible una vez has quedado infectado. El propio sujeto zombi, debido a esta dimensión determinista, queda excluido de todo juicio moral. El zombi no es malo, es un ser que actúa secundum naturam. Una segunda característica, es que esta ley de la Naturaleza, identificada con una ley histórica, es una ley del movimiento, esto es una ley que se desenvuelve bajo múltiples formas. En todo totalitarismo subyace, según nuestra filósofa, un sentido de evolución y supervivencia y de eliminación del más débil: “La ley `natural´ de la supervivencia de los más aptos es, pues, una ley histórica, y puede ser utilizada tanto por el racismo como por la ley marxista de las clases más progresistas” (Arendt. 1987, p. 687). El universo zombi y su relación con la humanidad no contaminada ha sido presentado en algunas películas como una cuestión de supervivencia del más apto. Nuevamente constatamos la desaparición de las categorías morales y teleológicas para someternos a un plano evolucionista amoral. Una cuestión sumamente interesante planteada en esta obra, y al hilo de lo expuesto, es si esta ley de evolución naturalista se agota al final de un proceso que lleva al totalitarismo. Con otras palabras, si tras la liquidación de la lucha de clases, con el comunismo, se detendrá la ley del materialismo histórico. O si tras el triunfo de la raza aria, seguirá el conflicto entre Jorge Martínez y Javier Barraycoa/ pp. 97 – 118 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 El zombi y el totalitarismo: de Hannah Arendt a la teoría de los imaginarios 108 pueblos. La lógica diría que sí, pero Arendt sentencia que no. Este fundamento ideológico del totalitarismo es tan potente que esta ley –en los planteamientos teóricos del totalitarismo- continuaría desenvolviéndose. El zombi es una metáfora que nos señala con lucidez la falacia de esta tesis. La victoria de los zombis sobre los humanos habría de liquidar a los propios zombis, ya que su fuente de energía se extinguiría. Liquidados los humanos, también los muertos vivientes acabarían extinguiéndose. Una tercera característica del totalitarismo, estaría en relación con el terror. Éste es el desencadenante, según las ideologías totalitarias, de esa ley de la Naturaleza. El terror implica una relación entre dos sujetos: el que aterroriza y el aterrorizado. Esta simple distinción permite a los totalitarismos, por un lado, la categorización del grupo o la humanidad en un “nosotros” y el “enemigo” y, por otro, el desencadenamiento de la Ley histórica que ha de llevar a la nueva situación. Así, “es este movimiento el que singulariza a los enemigos de la Humanidad, contra los que se desata el terror” (Arendt, 1987, p. 687). Las funciones del terror revolucionario y totalitario son varias, según Arendt. Una, por ejemplo, relacionada con lo anteriormente expuesto, es la eliminación de las categorías morales de “inocente” y “culpable”, para ser sustituidas por “los más fuertes” o “vitalistas” y los “individuos incapaces de vivir” o “las clases moribundas y los pueblos decadentes”. Un estudio psicológico y sociológico de las películas de zombis nos llevaría a observar que aquellos personajes que huyen de los zombis, normalmente un pequeño grupo que acaba recluido en un espacio cerrado, se constituyen en una especie de micro-comunidad en la que se desatan muchos conflictos morales (normalmente el más destacado es el conflicto entre el egoísmo y el altruismo). Sin embargo, la presencia inminente de los ataques zombis acaba mitigando los conflictos morales, al evidenciarse que la supervivencia biológica está por encima de cualquier disquisición moral. De hecho, stricto sensu, aunque algunos guionistas aprovechan la hambruna zombi para que se haga justicia (devorando primero a algún personaje deshonesto), los muertos vivientes simplemente se nutren. Para ellos no hay lógica moral y aplican lo que Arendt achaca al totalitarismo: “el terror escoge a sus víctimas sin referencia a acciones o pensamientos individuales”(1987, p.692). La fuerza del terror es precisamente esto: la arbitrariedad, tanto de las víctimas como incluso, señala Arendt, de los verdugos. La arbitrariedad, en cuanto que forma de azar se vuelve insoportable, especialmente cuando se pretende combinar con la justificación de una ley determinista. Otra función que cabe destacarse del terror político es “arrasar las fronteras alzadas por el derecho hecho por el hombre” (1987, p.689). El terror es un disolvente de estructuras, como el derecho, las costumbres y tradiciones, que impiden que se desarrolle la ley Histórica. Por eso, en esas micro-comunidades que resisten a los zombis, se producen catarsis transformadoras. Los roles se intercambian, los papeles sociales se invierten, al igual que muchas veces las clases sociales o el papel de los géneros. El que es rico y poderoso se acaba mostrando como un cobarde, el hombre de condición humilde se transforma en líder, incluso la mojigata Bárbara se convierte en la única superviviente y Ben, un afro-americano de la América profunda, puede Jorge Martínez y Javier Barraycoa/ pp. 97 – 118 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 El zombi y el totalitarismo: de Hannah Arendt a la teoría de los imaginarios 109 mandar sobre los blancos, como ya hemos comentado que sucedía en La noche de los muertos vivientes. Así, la micro-comunidad tiene que consensuar nuevas normas y roles. Aunque no son normas morales, pues acaban siendo simplemente normas para la supervivencia. Sin quererlo, los supervivientes se han contagiado de la ley de la evolución de la que escapan. Siguiendo con las analogías del terror, Arendt indica que el terror tiene como función presionar a los hombres unos contra otros, el terror total destruye el espacio entre ellos *…+ El Gobierno totalitario, no restringe simplemente el libre albedrío y arrebata las libertades *…+ Destruye el único prerrequisito esencial de todas las libertades, que es simplemente la capacidad de movimiento, que no puede existir sin espacio (1987, p. 690). Como hemos señalado antes, la representación de la humanidad superviviente acaba recluida en un espacio cerrado. Lo que en un principio parece ser un espacio de protección acaba siendo una trampa mortal. Los espacios abiertos despiertan en los protagonistas un antagonismo dialéctico: los que optan por la seguridad pero se quedan inmovilizados en un recinto cerrado, y los que quieren arriesgarse a salir a campo abierto, aun a riesgo de encontrarse peligros mayores. La dicotomía tiene diferentes soluciones según los guiones de las películas, pero siempre la libertad queda eliminada bajo el amparo de la seguridad o se convierte en una huida sin sentido ni finalidad, esto es, en una pura incertidumbre 15. De hecho, en las ideologías totalitarias, y siguiendo el análisis de Arendt, naturaleza e historia quedan confundidas al amparo de la misma ley. El “espacio”, en este sentido sociológico, desaparece. En las películas de zombis, los espacios de protección buscados por los humanos se van estrechando. Y proporcionalmente, como hemos visto, los restos de cultura van desapareciendo, llegando incluso a asomar la animalización entre ellos (cada vez tienden a parecerse más a los zombis que les amenazan). Maffesoli, desde esta comprensión del espacio, caracteriza nuestra época por una contracción del tiempo en el espacio. Esto es, espacio y tiempo se equiparan, confunden y anulan, dando lugar al presenteísmo propio de nuestra cultura. Sólo el presente importa, ya no hay pasado ni futuro. Igualmente, Arendt caracteriza a los totalitarismos como los dominadores no sólo del tiempo sino del espacio. La historia ha quedado anulada y se inicia una nueva etapa, una plenitud. La humanidad ha perdido, o está perdiendo, el sentido del tiempo. La anulación de esta conciencia, y su equiparación a la pérdida del sentido de la historia real y por tanto del ideal en los totalitarismos, presagia en el fondo la muerte de la comunidad. 15 La tensión entre seguridad e incertidumbre, y el sacrificio de la libertad a un poder que garantice la seguridad ha sido tratado por muchos autores (p.e. Lipovetsky, 1994; Bauman, 2001). En cierta medida, éstos son los escombros de la libertad que nos ofrece la posmodernidad, como apuntaremos en el último epígrafe. El juego simbólico del espacio no deja de ser interesante. Maffesoli, interpreta el espacio como ese “medio” entre la cultura y la naturaleza (2007, p. 198). Jorge Martínez y Javier Barraycoa/ pp. 97 – 118 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 El zombi y el totalitarismo: de Hannah Arendt a la teoría de los imaginarios 110 Dejando de lado las funciones del terror y su equiparación con el cosmos de los no muertos, repasemos ahora otras características del totalitarismo propuestas por la filósofa alemana. Unas líneas que ya se han hecho famosas de la obra citada rezan así: El objeto ideal de la denominación totalitaria no es el nazi convencido o el comunista convencido, sino las personas para quienes ya no existen la distinción entre el hecho y la ficción (es decir, la realidad de la experiencia) y la distinción entre lo verdadero y lo falso (es decir, las normas del pensamiento). (Arendt, 1987, p. 700) El totalitarismo exige una reconstrucción de la experiencia vital. A sabiendas de que muchas veces no puede convencer de su ideología, al menos intenta hacer dudar de la realidad a los sujetos que somete. La duda experiencial es tanto una característica en los regímenes totalitarios como de las comunidades que viven atemorizadas por los zombis. En este sentido, también la cinematografía zombi parece mostrar continuamente un retrato hiperrealista de la sociedad opulenta occidental habitado por la peor de nuestras pesadillas, los zombis, esbozo naturalista e hiperbólico de nosotros mismos como privados absolutamente de libertad. A esta confusión de la propia racionalidad se suma una de las características más sutiles y menos detectables del totalitarismo que es el sentimiento de aislamiento. Si el sentimiento de sociabilidad exige que: “El mundo del que soy es *…+ un conjunto de referencias que comparto con los demás” (Maffesoli, 2007, p. 197), al lograr la duda sistemática, las referencias comunes caen y la comunidad se hace imposible. Heredera de Tocqueville, quien afirmaba que sólo con la aparición del individualismo podría surgir el totalitarismo en las democracias, Arendt apunta que: Lo que llamamos aislamiento en la vida política se llama soledad en la esfera de las relaciones sociales *…+ el aislamiento es ese callejón sin salida al que son empujados los hombres cuando es destruida la esfera política de sus vidas (1987, p. 701). Buena parte de los metrajes en las películas de zombis tratan de un grupo aislado que trata desesperadamente de ponerse en contacto con otros supervivientes16. Con frecuencia, el grupo es resultado de una anexión de sujetos dispares reunidos por el azar y la circunstancia. Hay grupo, pero no hay vida social previa y, por tanto, comunidad histórica o política. Un paralelismo de esta situación lo encontramos en la obra de Bauman cuando afirma que, tras la muerte del ágora (la posibilidad de experiencia de la comunidad política), la sociedad posmoderna sólo puede constituir “comunidades del miedo”, esto es, formas de asociación no movidas 16 Tenemos frecuente alusión a ello en las últimas entregas romerianas y en películas ya citadas como Soy Leyenda o la saga de Resident Evil, así como en entregas recientes como Zombieland (Ruben Fleischer, 2009). En una película como Zombis Party (Edgar Wright, 2004) tenemos incluso una peregrinación de la pequeña comunidad posmoderna de Shaun (familia y amigos) hacia el bar Winchester, en la que acaban sucumbiendo todos a las hordas de muertos vivientes hecha excepción de Shaun y su novia, que son salvados in extremis por el ejército. Jorge Martínez y Javier Barraycoa/ pp. 97 – 118 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 El zombi y el totalitarismo: de Hannah Arendt a la teoría de los imaginarios 111 por el amor a lo común, sino por pánicos externos (Bauman, 2001, pp. 40ss)17. Con otras palabras, el nuevo tipo de comunidad quedaría perfectamente reflejado en los grupos que luchan por sobrevivir a la amenaza zombi. Como se ha señalado anteriormente la interpretación del sentido políticohistórico de las películas de zombis tiene dos posibles interpretaciones. Bien como crítica del totalitarismo, bien como rechazo de la sociedad capitalista y consumista. En este epígrafe hemos intentado establecer analogías con una categorización del totalitarismo en su versión hard, evidente, y asimilable a totalitarismos históricos. Ahora, se trata de ensayar otros juegos simbólicos, donde el mundo zombi puede equipararse a nuestra sociedad actual, exenta de cualquier miedo fruto de la Guerra fría y, teóricamente, de cualquier totalitarismo. 5. Imaginario y consumo: el totalitarismo blando A la hora de analizar las sociedades, cada vez cobra más importancia atender a los procesos de construcción de las imágenes mentales colectivas, que fructifican en imaginarios. Éstos, a su vez, podrían definirse como la capacidad humana de guardar imágenes externas en el interior, es decir, trasformar el externo en interno, así como la capacidad de crear mundos imaginarios internos de los más variados sentidos, conservarlos y transformarlos. (Wolf, 2008, p. 275) Una de las dimensiones fundamentales de los imaginarios colectivos, son los que atañen a la auto-imagen de una sociedad, ya que a través de ella podemos complementar lo que la racionalidad y el auto-discurso proponen. En un sentido complementario, la mitología propia de toda cultura nos ofrece una auto-imagen no racionalizable de la sociedad, pero no por ello menos valiosa. Este tipo de autoimágenes muchas veces esconden lo que se ha denominado los demonios internos de un colectivo. Esto es, aquellas realidades que no se quieren evidenciar ni racionalizar, pero que constituyen parte de la sociedad. Como señala Enrique Carretero: La naturaleza de lo imaginario remite a unas estructuras profundas latentes en toda cultura, es decir a lo arquetípico. El ámbito de manifestación de lo imaginario sería, en este sentido, la epidermis social, a través de la cual se capilariza cotidianamente, mientras el orden de lo arquetípico nos introduciría en una antropología de lo profundo que retoma lo arcaico, lo fundante, lo que permanece como constante universal en la cultura. (Carretero, 2006, p. 4) En el universo audiovisual que caracteriza nuestra sociedad, las películas, junto a la publicidad, constituyen dos de los elementos fundamentales para crear imaginarios en diferentes sentidos. Las imágenes colectivas pueden atender a idealizaciones positivizadas, como en la publicidad, o a negativizaciones que esconden 17 Cfr. Z. Bauman, En busca de la política, o.c., pp. 40 y ss. Jorge Martínez y Javier Barraycoa/ pp. 97 – 118 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 El zombi y el totalitarismo: de Hannah Arendt a la teoría de los imaginarios 112 los temores irracionales de nuestro colectivo. A propósito de ello, Bauman propone que: Cada entorno social produce sus propias visiones de los peligros que amenazan su identidad, visiones hechas a la medida de la clase de orden social que esa sociedad procura lograr o conservar. Si se puede pensar en la autodefinición, simultáneamente descriptiva y postulativa, como si fuera réplica fotográfica del entorno, las imágenes de las amenazas tienden a ser los negativos de esas fotos (Bauman, 2007, p. 173). Con otras palabras, lo que la racionalidad no se atreve a expresar, lo hacen los imaginarios18. En la sociedad de consumo, por ejemplo, se produce una contradicción irresoluble: la finalidad de esta sociedad es procurar el consumo y el bienestar, pero conseguirlo en su grado pleno para todos los individuos puede suponer el fin de la propia sociedad de consumo19. El miedo a la pérdida del bienestar es constante e inherente a nuestra sociedad. A pesar de los constantes auto-discursos de sostenibilidad, el miedo inconsciente está siempre latente (Bauman, 2004, pp. 231ss). Antes ya comentamos cómo en la filmografía zombi se propone esta contradicción: el triunfo de los engendros sería su derrota. Igualmente, Bauman nos procura una descripción de nuestra sociedad que bien puede representar lo que la metáfora del imaginario zombi nos quiere transmitir: Una sociedad insegura de la supervivencia de su manera de ser desarrolla la mentalidad de una fortaleza sitiada. Los enemigos que asedian sus murallas son sus propios `demonios internos´, la reprimida sensación de temor que se filtra en sus vidas cotidianas (Bauman, 2007, p. 173). Así, cabe plantearse en este artículo si el imaginario zombi (su construcción icónico-filmográfica), corresponde a la representación de uno de los miedos más irracionales de la sociedad de consumo, que nos muestra ese lado oscuro del posmoderno sistema democrático capitalista y que nuestros auto-discursos no quieren plantearse. Para ello, analizaremos cómo ha sido caracterizada la sociedad de consumo por varios sociólogos e intentaremos establecer sus concomitancias con la representación mítica de tales no-muertos. George Bataille fue de los primeros autores del siglo XX que, contra las tesis económicas reglamentistas –propias del racionalismo 18 Bauman propone que parte de esos imaginarios negativos de la sociedad de consumo consisten en la recreación y negativización de los marginados y los grupos excluidos, como parte sustancial de la propia sociedad de consumo y como referente de lo que no se debe ser. 19 Baudrillard ya planteó el carácter mitológico del consumo y la contradicción de su discurso: “Como todo gran mito que se respete, el del consumo tiene su discurso y su antidiscurso, esto es, que el discurso exaltado sobre la abundancia tiene en todas partes su doble, un contradiscurso crítico, moroso y moralizante sobre los perjuicios de la sociedad de consumo y el final trágico que inexorablemente tendrá para toda la civilización” (Baudrillard, 2009, p. 250) Jorge Martínez y Javier Barraycoa/ pp. 97 – 118 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 El zombi y el totalitarismo: de Hannah Arendt a la teoría de los imaginarios 113 economicista weberiano- y las propuestas de ahorro, proponía el despilfarro y la ociosidad como leitmotiv de la civilización y de una cultura deslumbrante (Bataille, 1982). Igualmente, uno de estos críticos, Baudrillard, propone que el consumo ya no tiene límites pues: si fuera aquello que uno cree ingenuamente que es: una absorción, una decoración, se tendría que llegar a una saturación. Si fuese relativo al orden de las necesidades, se habría de llegar a una satisfacción. Ahora bien, sabemos que no hay tal: se desea consumir cada vez más. Esta compulsión de consumo no se debe a alguna fatalidad psicológica *…+ Si el consumo parece ser incontenible, es precisamente porque es una práctica idealista total que no tiene nada que ver con la satisfacción de necesidades, ni con el principio de realidad. (Baudrillard, 1999, p. 20 228) . Ya hemos definido que el fenómeno zombi representa la auto-aniquilación de un colectivo por la consecución de su último fin, al igual que la propia sociedad de consumo. Este fin se representa en el no-muerto como la consecución de lo más primario que es la satisfacción de la mera nutrición. En el zombi esta satisfacción queda desposeída radicalmente de cualquier norma moral y se presenta bajo forma de canibalismo. El mismo Bataille, analizando antropológicamente el canibalismo propone, para entender otras prohibiciones sexuales como el incesto, que la violación de la norma sagrada de comer carne humana se debe realizar siguiendo incluso instrucciones religiosas. Toda violación de una norma exige a su vez una regulación ritual, de tal forma que: “la carne humana que se come se considera sagrada: estamos, pues, lejos de un retorno a la ignorancia animal de lo prohibido” (Bataille, 1997, p. 76). Tanto la práctica del incesto, como del canibalismo, que podrían acercarnos a la animalización total del hombre, son contenidas culturalmente por la sacralización de su práctica. Sin embargo, en el universo zombi se nos presenta el canibalismo descarnado en la forma máximamente amoral del consumo: devorar a los ciudadanos consumidores. Al hilo, Bauman nos recuerda que: “Los miembros de una sociedad de consumidores son ellos mismos bienes de consumo” (2007, p. 83). Estaríamos, por tanto, ante la representación imaginaria del consumo sin límites (morales y físicos) que proponía Baudrillard. La única limitación sería una cierta saturación momentánea que dejaría paso a nuevos impulsos cada vez más fuertes. En las películas de zombis, como en todas las películas de terror, se establecen unos ritmos narrativos en los que los nomuertos parecen desaparecer, para aparecer de nuevo en los momentos álgidos. Hay momentos de calma y momentos de tensión21. Estos ritmos parecen coincidir plenamente con el sentido de la felicidad que proporciona la sociedad de consumo. Bauman propone que en ella se generan unas necesidades cuya insatisfacción provoca 20 A este respecto, vemos, por ejemplo, cómo en Resident Evil: Extinción (Russell Mulcahy, 2007) se plantea que los zombis tienen el apetito de devorar carne humana, pero que dicho instinto puede ser anulado con una medicación. En el fondo no necesitan siquiera comer, simplemente tienen el impulso de comer. 21 Estos ritmos que establecen ciertas elipsis, pueden cumplir varias funciones. Una explicación de estas estrategias narrativas las encontramos en Gil Calvo (2009, pp. 109ss). Jorge Martínez y Javier Barraycoa/ pp. 97 – 118 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 El zombi y el totalitarismo: de Hannah Arendt a la teoría de los imaginarios 114 una serie de tensiones que hay que resolver consumiendo. Por eso, la gente “identifica la felicidad con la eliminación de esa tensión” (Bauman, 2004, p. 184), una vez se ha conseguido satisfacer momentáneamente la necesidad. Los zombis corresponden perfectamente a ese canon de comportamiento. De igual modo, en muchas películas de zombis se nos presenta la otra cara de la sociedad consumista con un doble juego de imágenes. Mientras una ciudad ha quedado infectada por el virus que transforma a los hombres en no-muertos unos pocos privilegiados intentan escapar. Los supervivientes deambulan por los grandes almacenes vacíos, y carentes de toda finalidad comercial, rebuscando qué les puede ser útil. En este tipo de escenas se muestra la banalidad, para la verdadera supervivencia, de la mayoría de productos 22. La objetos que ofrecía el sistema consumista, desposeídos de su contexto simbólico, carecen de atractivo; incluso el dinero deja de tener sentido. Por eso los supervivientes pueden adentrarse en las grandes áreas comerciales y coger cuanto necesitan. Otro fenómeno simbólico es que las funciones biológicas del zombi se simplifican. Las dos funciones esenciales en un ser vivo son la nutrición y la reproducción. La primera sirve para la supervivencia del individuo y la segunda para la supervivencia de la especie. En el muerto viviente, empero, estas dos funciones quedan unificadas, y es comiendo como se reproduce la especie ya que infecta a los vivos. Es una reproducción por contagio ya que el zombi es un ser “asexuado” aunque mantenga unas leves diferencias sexuales, pese a que se comportan de modo idéntico. Al respecto es interesante traer a colación la reflexión que realiza Baudrillard sobre el sentido simbólico del robot en su obra El sistema de los objetos. En el marco del análisis de la sociedad de consumo, establece que el robot resume todos los caminos del inconsciente en el dominio del objeto. Aunque Baudrillard aplicará sus reflexiones al aspecto multifuncional del robot como una imitación del hombre, ya hemos señalado que en el zombi toda funcionalidad queda reducida a la nutrición. Por eso, las palabras del filósofo francés aunque asociadas a la metáfora del robot, pueden aplicarse al zombi: Si el robot [puede leerse zombi] es para el inconsciente el objeto ideal que los resume a todos, no es simplemente porque sea el simulacro del hombre en su eficiencia funcional [reducida en nuestro caso a la nutrición] sino que, aun siendo esto, no es lo bastante perfecto como para ser el doble del hombre, y sigue siendo, a pesar de ser como el hombre, muy evidentemente un objeto y, por ello, un esclavo. El robot es siempre, en el fondo, un esclavo. Puede tener todas las cualidades salvo una, que constituye la soberanía del hombre: el sexo (Baudrillard, 1999, p. 138). 22 Es una escena de El último hombre … vivo (1971), emulada hasta la saciedad en otras películas de zombis, el protagonista, Charlton Heston, rebusca en unos almacenes abandonados de la ciudad de Los Ángeles lo que necesita para abastecerse. Ejemplo reciente de este tipo de escenas en el subgénero estudiado lo encontramos en: El amanecer de los muertos (Zack Zinder, 2004); La tierra de los muertos (George A. Romero, 2005); Invasión (Oliver Hirschbiegel, 2007); Zombieland (Ruben Fleischer, 2009). Jorge Martínez y Javier Barraycoa/ pp. 97 – 118 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 El zombi y el totalitarismo: de Hannah Arendt a la teoría de los imaginarios 115 Esta carencia de sexualidad, nos adentra en lo fundamental de su concepción para entender la comunidad humana. La reproducción sexuada no sólo conlleva, en el hombre, la supervivencia de la especie, sino el establecimiento de las relaciones primarias como son el parentesco. De ahí una de las diferencias entre la sexualidad humana y la meramente animal. El zombi, en el fondo, recoge los anhelos inconscientes de una sociedad de consumo, ya que no produce, ni se reproduce (sexualmente sino por mero contagio) y sólo consume. Esta afirmación parece paradójica al ser aplicada al reflejo de una sociedad pansexualista, pero en cierto sentido se puede afirmar que nuestra sociedad carece de sexualidad, en cuanto que fuente de relaciones consustanciales. La sexualidad ha sido sustituida por el consumo de sexualidad y, por tanto, en un objeto más de consumo. En cuanto tal, acaba cumpliendo con las características de la mercantilización que Marx denominó fetichismo, es decir “ser un elemento cuya posesión otorga un poder no previsto” (Marinas, 2001, p. 41). La sexualidad, en la sociedad de consumo ha dejado de serlo, para transformarse en un mecanismo psicológico de autoafirmación y poder, al igual que en el zombi la nutriciónreproductiva es una afirmación de su existencia y poder inconsciente. En el epígrafe anterior ya hemos señalado cómo uno de los objetivos del totalitarismo hard es conseguir que el individuo se encuentre solo y aislado. En el caso del negativo que representa la sociedad de consumo, también contemplamos este carácter de grupo disfuncional o masa informe en los zombis. La comunidad de zombis se destaca por ser un conjunto de individuos que carecen de relación entre ellos (parental o de amistad), de liderazgo o jerarquía23. Por tanto, estaríamos ante una descripción más próxima a la de masa, que representa un conjunto de individuos que actúan por mera estimulación externa (en caso de los zombis la comida humana). Curiosamente, volvemos a encontrar una descripción de la sociedad de consumo, esta vez en Bauman, donde si intercambiamos el término consumidor por el de zombi, no se produce ninguna disonancia: En una moderna sociedad líquida de consumidores, la multitud reemplaza al grupo, así como a sus líderes, jerarquía y escalafón de autoridades. La multitud no necesita ni la parafernalia ni las estratagemas sin las cuales un grupo no podría formarse ni sobrevivir. No es necesario cargarlas con las herramientas de la supervivencia. Se arman, dispersan y vuelven a reunir, en cada ocasión, (…) atraídas por blancos móviles y volátiles (Bauman, 2007, p. 107). Todo parecido con el imaginario zombi no es mera coincidencia. 23 Una caso ya clásico de comunidad zombi organizada, con liderazgo y proyecto político es la que nos aparece en El último hombre … vivo (Boris Sagal, 1971). También recientemente encontramos filmes como La tierra de los muertos (George A. Romero, 2005) en que los zombis parecen haber evolucionado y sí que tienen una especie de jefecillo que es capaz de dominar el fuego, descubrir el funcionamiento del gatillo de un arma automática y vencer el tradicional miedo que los zombis tienen por el agua. En cualquier caso, entendemos que estas desviaciones del paradigma, como ya se ha dicho, son posibles gracias a la existencia previa de éste. Jorge Martínez y Javier Barraycoa/ pp. 97 – 118 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 El zombi y el totalitarismo: de Hannah Arendt a la teoría de los imaginarios 116 Referencias bibliográficas Arendt, H. (1987). Los orígenes del totalitarismo (Vol. 3). Madrid: Alianza. Arendt, H. (2004). Los orígenes del totalitarismo. Madrid: Taurus. Bataille, G. (1982). La experiencia interior. Madrid: Taurus. Bataille, G. (1997). El erotismo. Barcelona: Tusquets. Baudrillard, J. (1999). El sistema de los objetos. Madrid: Siglo XXI. Baudrillard, J. (2009). La sociedad de consumo. Sus mitos, sus estructuras. Madrid: Siglo XXI. Bauman, Z. (2001). En busca de la política. Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica. Bauman, Z. (2004). La ciudad sitiada. Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica. Bauman, Z. (2005). Amor líquido: acerca de la fragilidad de los vínculos humanos. Madrid: FCE. Bauman, Z. (2007). Vida de consumo. Madrid: FCE. Cabrera Infante, G. (2001). Cine o sardina. Madrid: Suma de letras. 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Ha sido Visiting Researcher en la Università Cattolica del Sacro Cuore (Milán) y en la University of Hertforshire, así como Visiting Associate en la Durham University. Actualmente es profesor adjunto en la Universitat Abat Oliba CEU, en Barcelona. Su investigación está dedicada a los Cultural Studies de la cultura pop posmoderna en sus distintas manifestaciones. Algunos de sus últimos libros son "Ensayo Z. Una antropología de la carne perecedera" (Berenice, 2012), "Vampiros y zombis posmodernos. La revolución de los hijos de la muerte" (Gedisa, 2010) o "Los antifaces de Dory. Retrato en "collage" del sujeto posmoderno" (Scire, 2008). Javier Barraycoa Martínez es Licenciado en Filosofía por la Universidad de Barcelona y doctor en Filosofía por la Misma Universidad. Es Vicerrector de Investigación de Calidad en la Universidad Abat Oliba CEU, Director de los Estudios de Ciencias Políticas y co-director del Observatorio Laboral. Es investigador principal del grupo GICEM. ______________________________ Historia editorial Recibido: 06/08/2012 Primera revisión: 12/08/2012 Aceptado: 17/08/2012 ______________________________ Jorge Martínez y Javier Barraycoa/ pp. 97 – 118 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Imaginative Constructionism in the Social Theories of Randall Collins Imaginative Constructionism in the Social Theories of Randall Collins Inna kucherenko East Ukraine Volodymyr Dahl National University [email protected] Abstract The main feature of the imaginative constructionism in Randall Collins' works is the emphasis on the emotional component of the interactive ritual chains that form the social structure and are represented by repetitive microsituations. Thus, the model of the sociological imagination of the sociologist includes such social constructs as symbolic interaction and emotional drama of everyday life. These constructs are expressed, in particular, in all sorts of imagined communities, which are visual symbols of belonging to society and the denial of social inattention by the demonstration of the permanent inclusion. Key words: imagination, constructionism, solidarity, interaction, Randall Collins Inna Kucherenko/ pp. 119 – 130 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Imaginative Constructionism in the Social Theories of Randall Collins 120 Introduction Given in the article approach (imaginative constructionism) can be used to analyze the formation of social theories taking into account peculiarities of cognitive, historical and social processes that affect the intellectual production. The combination of the processes of imagination and construction is creative and synthesizing by its nature which allows to consider from different perspectives and even to reconstruct existing social theory. Having the pre combined concepts of imagination and constructionism it would be, however, necessary to start with a differentiated examination of each term separately. In this paper, along with the already known and existing in the Western European tradition theories of imagination I also consider the tradition of the Russian-speaking social thought, modern and classical. The term "imagination" was widespread in the Russian-speaking environment of the social sciences after active treatment of the J. Golosovker’s texts. The philosopher and his intellectual followers emphasize the difference between the new Latin-formed word “imaginative” from the usual for Russian ear word "imagination." And, although the core of the word “imagination” in Russian and in English have the same meaning as "image" but the term “imaginative” decided to attribute some wider implications. Imagination was explained through the basic concept of "image" by W. Hegel (in Stern, 2002), S. Langer (1957), J.-P. Sartre (2004). They say about the image as a cognitive sense-conscious mental activity. It should be noted that the concept of image is multilevel enough. “Image” is often understood as a visualization of a real object or the object existing only in mind activity (it is used to be called “imagination”). This way of understanding of the «image» through the visualization is the most close to the Latin root meaning “a picture”. In addition, in Russian speaking tradition it is customary to speak about lifestyle, way of thinking, meaning in this case, the established course of everyday life and a set of actions of the individual using the root “image” in the core of the words defining these concepts. Understanding imagination as a productive capacity is also typical for G.W.Leibniz (in Heidegger, 1983), I. Kant (1994), I.G. Fichte (1995), M. Heidegger (1983), R. G. Collingwood (1964), S. Katrechko (1999). The tradition of Russian philosophy is inclined to choose as a starting point in the interpretation of the imagination the category of creativity and sometimes even identify Inna Kucherenko/ pp. 119 – 130 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Imaginative Constructionism in the Social Theories of Randall Collins 121 these two concepts: "to say “imagination" meaning to say" creativity " (Katrechko, 1999). This approach can be traced in the work of B. P. Vysheslavtsev (2010), J. Golosovker (1987), A. F. Losev (2003), S. Borchikov (in Katrechko, 1999). S. Borchikov defines imagination as the mental capacity of sense-consciousness that has the content, form, an embodiment of the object and the corresponding epistemological functions. In formulating the definitions of the imagination, I would like to focus on understanding the imagination as the ability to reason, in this case, of course, given the scope of sensory experience and consciousness. My concept of imaginative constructionism can be partly described by the following scheme: Imagination (as mental ability) – Symbolism (as a technique of mind) – Ritual (embodiment of the structure of the thought process through the activity). Before I move on to the main part of my paper, I would like to start with the definition of "imaginative constructionism." In many ways this concept is similar to that proposed by C .R. Mills (1959) “sociological imagination” only without reference to the substantive scope of sociology and therefore somewhat more abstract. Among the theories which anticipated the constructivism there are phenomenological sociology of A. Schutz (1970), cultural-historical psychology of L.S. Vygotsky (1983), as well as symbolic interactionism of G. Mead (1934). The central idea of constructivism is the idea of cognition not as the reflection and representation, but as an active construction of the comprehensible image of objects and events in the mind of the subject. We can say that the constructivists mostly consider communication as a cognitive process of understanding the world, but the social constructionists - as a social process of creating the world. Constructivism takes on top perception, and social constructionism action, unless, of course, we do not apply to all these terms as mutually exclusive (Реаrсе 1995: 98). Besides, as suggested by constructionists, all that we think as real, true, good, valuable and desirable, is a product of social exchange, coordination and interaction (K.J. Gergen, 1985). J. Raskin (2002) points out that both constructivism and constructionism share the view on knowledge as a process of interpretation. In addition, the similarity in these theories can be summarized: 1) knowledge is the construction, 2) the truth is plural, and 3) the criterion of a "good" knowledge is suitability. The difference in the theory of constructivism and constuctionism is that the last does not focus on the individual, but on Inna Kucherenko/ pp. 119 – 130 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Imaginative Constructionism in the Social Theories of Randall Collins 122 the interaction and conversational symbolism. Randall Collins himself believes that the social construction of ideas is much deeper than a simple dichotomy between logic and empirical data, on the one hand, and social constraints - on the other. In addition, Randall Collins also uses such a concept as a sociological eye. All these terms mean a nontrivial view of society and innovative ways to explain it. Hence I can try to define the term “sociological imagination”. Sociological imagination - is the process of creating new social constructs, their reinterpretation, verbalization and / or visualization under the influence of already existing social theories, by comparison, contrast and social construction, including historical and practical testing of these constructs. I will try to show here this kind of intellectual way of imaginative constructionism of Randall Collins. We can see that the social constructionist tradition inherited ideas of E. Durkheim about understanding of the role of knowledge and concepts as a collective (social phenomena), from J. Piaget they adopted aspects of the social construction of meaning and reality, and from S. Freud the process by which the external realities of people's surroundings become part of their inner world and worldview was accepted. By studying the career of Randall Collins, we see that the inclusion of these theories in the field of his scientific interests is due, among other things, to the events of his personal life. For example, his interest in geopolitics and Gofman’s ideas about the front and back stage is due to his living in a diplomat family, observing the mass protest movements in the 60s brought an interest of sociologist in the dissemination of emotional energy, and education in a boarding school of New England let him to trace the moments of social stratification and network interaction. Drawing parallels between the social context and scientific research of Randall Collins one can trace how discourse influences the creation of his social theory. However, it should be noted that this construction was possible, in particular, thanks to well developed imagination - a process that "does not repeat the same combination and the same forms of individual perceptions, accumulated before, but create some new series from the accumulated impressions"(Vygotsky, 1983: 46). 1. Symbolic interactionism as a result of microanalysis In fact, sociology’s aim is the observation and description of everyday life. According to Randall Collins all society consists of a series of interactive rituals. Thus, he concludes that social communication creates a basic repertoire of ideas. There are several similar mechanisms, each of them runs through conversational and nonverbal interaction, and they involve emotions, cultural capital and personal reputation. These are micro resources which lead to macro consequences because they affect the way repetitive encounters are organized (Collins, 1983). Inna Kucherenko/ pp. 119 – 130 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Imaginative Constructionism in the Social Theories of Randall Collins 123 According to Randall Collins the reality that is being investigated is always a larger or smaller number of microsituations. Empirical reality appears to us in the form of a specific microdetail. Consequently, repetitive microsituations are what we call social structure, and repetitive answers to the questions we call the theory. One of the universal theories, allowing more or less convincingly answer the question about what keeps people together and why this mechanism works is the theory of emotional solidarity. About this mechanism in his works speaks E. Durkheim (1995). His ideas have continued and rethinking in the theories of Randall Collins. And another sociological theory of a very wide scope, which tells us the conditions under which symbols are generated and cognitively bound, is the theory of interaction rituals. It connects symbols to social membership, and hence both to emotions of solidarity and to the structure of social groups. Such a theory accounts for variations in solidarity and belief found across different social structures, and for the dynamics of individual lives. Speaking about symbolic interactionism it should be noted that it was formed in two ways. The first way of it is a definition of microsituations, i.e. understanding that society is not a structure but a process. Reality itself is socially constructed and the fact that it takes the same forms is the result of identification of the situations by negotiating agents. In contrast to the symbolic interactionists, social constructionists do formulation of philosophical arguments in favor of discursive grounds of "I". They can be called revisionists in the sense that they do not create their own general theory (as opposed to interactionism), and only are reviewing other disciplines in the light of the main postulate of social and discursive origin of the "I", theorizing about the serious implications of this postulate, in particular, in philosophy, literary theory and psychology (Carbaugh, 1996: 6). The second way is the theory of social roles. Theorists of the symbolic interactionism have also introduced the concept of front and back stage of interaction. Everyday constructed subjective reality is a combination of symbolism of the front stage and the "anti symbolism" of the back stage. The front stage of the scientific community for example is the creation and accumulation of intellectual capital. And at the same time the back scene is the struggle for redistribution of wealth and status roles. In economics, on the contrary, the front stage is the redistribution of wealth, while the backstage is the possession of intangible status, which allows you to be included in a particular community. The world of politics and diplomacy consists of a cold mannerism and a strict focus on the protection of public interests in the front stage while the backstage is the everyday life and interaction at the level of close circle of friends. Thus, Inna Kucherenko/ pp. 119 – 130 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Imaginative Constructionism in the Social Theories of Randall Collins 124 we can assume that ritual interaction is supported by internal antagonisms. This means that emotional stress, which supports emotional solidarity, arises from contrasting front stage and backstage interaction. I would like to emphasize this constant internal conflict of social interaction about which speaks Collins. In order to show how micro-interactions are transformed into the class structure of modern society he proposed the concept of networks of ritual interaction. In particular, Collins shows that the theory of emotional solidarity at the micro level provides an opportunity for the conflict theory to explain class diversity of cultures. It builds from these interactions stratified network, which creates a macrostructure of domination and struggle for power in the society. Thus, according to Randall Collins, now we have all the possibilities for constructing a theory of macro-states, organizations, classes (something that has been still engaged in conflict theory) based on the microanalysis of face to face interaction in various situations (Collins, 2009). In the proposed by me scheme (Figure 1), I would like to demonstrate how does the method of imaginative constructionism works in describing and analyzing of the social theory by Randall Collins, as well as to show that imaginative constructionism is also included in the creation of the social theory. Figure 1. If we use a metaphor, this visual model represents a process of macrophotography. Its principle is forming of an enlarged image of a very small subject. But in the case of Inna Kucherenko/ pp. 119 – 130 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Imaginative Constructionism in the Social Theories of Randall Collins 125 social theory the method of close-up shooting is used for a very “large objects”. This means that we have to put on a micro lens if we want to see the macrostructure as a whole. Collins also adds that we need to pay more attention to the timing and rhythm of situations if we are going to imagine the world in a more powerfully sociological way (Collins, 2010). Speaking in terms of above proposed metaphor, these concepts relate to the super micro level. 2. Emotional energy of intellectual rituals The analysis of the intellectual path of Randall Collins makes it possible to notice that his interest in the micro-level was dictated by his study of psychology at the beginning of his career. In the words of Collins, this choice was also determined by his interest in existentialism. Being involved in gestalt therapy groups Randall Collins noticed that there always was a group leader who controlled the conversational turn taking because of much more higher emotional energy then anyone else. And he began to think about emotional stratification of interaction. These thoughts have led the sociologist to the conclusion that creativity is a specific form of this emotional energy. He adds that, though the consideration of emotional energy as the feature of creativity applies more to psychological study, but its distribution, however, is socially patterned (Collins, 1998: 33). At the same time he claims that symbols are charged with social meaning by the experience of interaction rituals and emotional energy flows from situations when individuals participate in interactive rituals to situations when they are alone (Collins, 1998: 23). The key variable here is how closely one is drawn into participation in these symbolic activities. Hence the core experiences of intellectuals are their immediate interactions with other intellectuals (Collins, 1998: 35). The process of interaction realizes not only through face-to-face encounters but also through vicarious actions: “Reading and thinking are vicarious interaction rituals to the extent that an individual can take part in them, and thus can affect his or her level of emotional energy. This is true also for the experience of writing. Writing is a vicarious participation in the world of symbolic memberships” (Collins, 1998: 36). Collins also adds that: “even when intellectuals sit silently in the audience, they are conscious of their own part as members of this ongoing community. This, then, is the intellectual ritual” (Collins, 1998: 28). Inna Kucherenko/ pp. 119 – 130 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Imaginative Constructionism in the Social Theories of Randall Collins 126 Proceeding from the above concepts, no less important is the question of identity formation of intellectuals. Identity formation can be described using a number of key concepts used by Randall Collins to explain the patterns of social and cultural reproduction. Among these concepts we distinguish group solidarity, the theory of social rituals, and also agree with the statement that the foundation of human society by its very nature is irrational. "The mechanism that holds together the macrostructure should be looked for at the micro level, to some extent in the microsituations that are deeper than the norms and beliefs", - says Collins (Collins, 1983: 186). With the current limited set of cognitive and communicative practices arising from a number of cultural and socio-economic conditions of existence, each individual at the micro level reproduces a familiar and acceptable for existent time frame model of the interaction. If the existing "pure" theory of social rituals would be applied to the earlier period of development of society, it would still work, explaining the mechanism of group cohesion and retention of social elements all together. Thus, in our opinion, the key point in describing the features of construction of identity within the scientific community is to achieve the greatest element of emotion at the expense of an easy way of belonging to the majority of "identical" cultural consumers, that is pretty much easier than belonging to a smaller number of "producers" of the unique cultural capital. And even in this context both of these mechanisms mutually perform the role, demonstrating the action of the theory of group solidarity and providing, thus, the conditions of implementation of intersubjective forms of construction of social reality. 3. Imagined reality: the everyday life in a standby mode According to the existential theory of Heidegger the basic human’s emotion is anxiety which we feel in the flow of reasoning. But what is the subject of this emotion? In my opinion, the human’s main anxiety is an intuitive concern about the extent of its involvement in the society. This is evidenced by a continuous stream of individual imaginatively generated images and ideas of others. C. H. Cooley (1897) argues that, there are no significant differences between the imaginary and real people. When we talk about the world famous actor, historical figure or a fictional literary character, their reality is no doubt, because people live in multi-level reality. Thus, fiction represents a natural play of the mind. It is such as natural as a child’s dialogue with an imaginary companion. Personal identity has a dual component: on the one hand, this identity as underlined belong to a group or community, and the ratio of its own "I" with the group due to similar or identical set of indicators. On the other hand is an understanding of their own identity as a "selfness", the distinctiveness of another individual because of the Inna Kucherenko/ pp. 119 – 130 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Imaginative Constructionism in the Social Theories of Randall Collins 127 presence or ascribing a certain unique properties. Thus, the sense of identity is to belong to some kind of social union or not to belong to another, in this case it is the same. The classic version of the first case is belonging to a community that has a set of visual symbols and ideas. Dichotomous structure of identity is not a paradox for the society. It is this duality of supporting a particular social order at the micro level, which in turn provides the foundation for the functioning of the macro-level. Modern solidarity is also supported by many imagined communities: football or music fans for example. Involvement in these imaginary communities on the symbolic level is expressed with visual symbols to wearing certain clothes, characterized by a certain set patterns of behavior. There is also involvement in virtual communities which are additionally constructed through technical equipment - computers, mobile phones. Participation in social networks is a modern way of ritual interaction without the physical presence of people. It is similar with vicarious intellectual rituals we have spoken above. “Check in” one’s own presence in virtual networks, or the permanent holding of the mobile phones in fact pursuing such objectives - to demonstrate a performance of being busy, or being needed or to say: "I am in the community even in the virtual" (Collins and Munro 2010). In fact, mobile phone, from the perspective of symbolic interactionism is a visual representation of self in a "standby call." Thus, imagined communities are visual symbols of belonging to society and the denial of social inattention by the demonstration of the permanent inclusion. Hence there is the theatricality of everyday rituals which supports the emotional energy at a rather high level. As shown by violence studies as soon as an element of drama disappears from the microsituation the emotional tension immediately stops and the situation becomes routine. Randall Collins comes to the conclusion that social reality, in fact, is doubtful, but, paradoxically, this is the source of its strength. He adds that people have intuitive feeling about the social world as a set of random structures, built over the abyss. These constructs, he claims, take their place, because we do not doubt them, and we resist the very formulation of these issues until the world crumbles (Collins, 2009). Thus, the fuel that supports social relationships includes the emotional solidarity, which has its source in the ritual interaction between people. The degree of emotional solidarity is not constant and needs recharge. And if the followers of earlier symbolic interactionism spoke primarily of ritual interaction between individuals physically present, Inna Kucherenko/ pp. 119 – 130 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Imaginative Constructionism in the Social Theories of Randall Collins 128 today we wonder whether this remote solidarity is real? And what are the characteristics of this kind of solidarity? Speaking about rituals, Collins develops the ideas of E. Durkheim, complementing them with more recent theories of such sociologists as R. Merton, E. Goffman, G. Garfinkel. As a result of this synthesis it can be seen that the concepts of social scientists that, at first glance, describe the different social phenomena and use different terminology for this, largely overlap and can be used for a wider range of phenomena than anticipated. Thus, we can notice, for example, that social rituals are the same with the value rational action by M. Weber. Interconnection and interpenetration of theories can be easily traced. For example, explaining the nature of religion, scholars have come to the theory of social rituals, which explains how social groups interact, and this in turn gives a rise to the development of the theory of everyday life. Summing up, I would like to leave you with such an idea that the main feature of the imaginative constructionism of Randall Collins is the emphasis on the emotional component of the interactive ritual chains occurring on the micro level and that shape the social structure on the macro level and are represented by repetitive microsituations. And if we want to go further in developing social theory we have to investigate the dynamics of the situations including its timing and rhythm. Clarity, non-obviousness and elegance of effective and relevant sociological theory by Randall Collins precisely aims to review the functioning of society in the terms of deeper emotional processes that produce social bonds. Approaching to the social theories from the perspective of imaginative constructionism proves that, despite the fact that in sociology there is such a variety of theoretical and methodological schools, however, the recombination of this knowledge gives us unexpected, non-obvious effect. In this case, one can observe a synergistic effect when the result of adding and combining of theories is not a simple sum or a set of knowledge, but a new integrated and solid social theory. References Carbaugh D., (1996). Situating Selves: The Communication of Social Identities in American Scenes. Albany. Collingwood, R.G. (1964) Essays in the Philosophy of Art. Indiana University Press. Collins, R. (1983) Micromethods as a Basis for Macrosociology. Journal of Contemporary Ethnography 12; p. 184-202. Inna Kucherenko/ pp. 119 – 130 Imagonautas 2 (2) / 2012/ ISSN 07190166 Imaginative Constructionism in the Social Theories of Randall Collins 129 Collins, R. (1998) The Sociology of Philosophies: A Global Theory of Intellectual Change. Cambridge: Harvard University Press, p. 1002. Collins, R. (2009) Four sociological traditions. Oxford University PressLibrary, p. 336. Collins, R. and Munro, R. (2010) Exploring the sociological re-imagining of politics: a conversation. 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Currently she’s studying law at the Lugansk State University of Internal Affairs and conducts consulting and training development in the center of applied psychology. ______________________________ Historia editorial Recibido: 12/09/2012 Primera revisión: 15/10/2012 Aceptado: 25/10/2012 ______________________________ Inna Kucherenko/ pp. 119 – 130
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