Untitled - Editora Maresia
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VERSÃO DEMONSTRATIVA, PROÍBIDA CÓPIAS E REPRODUÇÕES DE TERCEIROS SEM PERMISSÕES TODO CONTÉUDO SE ENCONTRA REGISTRADO E PROTEGIDO! capítulo 1:Zafiro Elisa Zafiro. Era exatamente como eu havia visto uma vez na vitrine de um shopping caro da zona nobre da cidade. Dois pontos que brilhavam mais que qualquer estrela, desperdiçados em meio à luz amarelada e doentia da sala de hospital. Encarou a porta fechada atrás de mim desinteressadamente, como se essa não fosse a única maneira de sair dali, como se sair dali não significasse nada. Mudei o peso da perna enquanto analisava os papéis com o histórico médico que tinha na mão. Danos físicos: Um corte no lado direito dos lábios, alguns pontos na panturrilha e arranhões nas costas e no peitoe um corte na cabeça. Danos psicológicos: O paciente se negava a manter qualquer tipo de conversa fosse com quem fosse. Encarei a cadeira vazia na diagonal da cama e o criado mudo que havia ao lado. Algumas flores haviam sido colocadas cuidadosamente em uma jarra com água. Eram Rosas em um tom gentil e pacífico. Todo o resto era branco e sem vida. Apoiei os papéis que ainda segurava no colo enquanto me acomodava na cadeira e pegava uma caneta no bolso do jaleco que vestia. Lembrava-me da primeira vez que havia colocado o jaleco branco e havia sentido que de verdade tinha conseguido. Sempre havia me sentido cômoda com essa roupa desde então. Sempre havia sentido que não era só parte de um uniforme. E mesmo que eu não estivesse obrigada a usar, colocar essa roupa cada dia tornava real tudo pelo que eu tinha lutado. — Noah. Seus olhos encontraram os meus ao ouvir seu nome. Tenho certeza que qualquer artista adoraria pintá-los, por mais que fosse impossível conseguir o tom exato daquela íris que continha todos os tons de azul existentes e outros nunca vistos antes. Limpei a garganta, coloquei os papéis com o histórico no criado mudo e abri meu caderno em uma folha em branco. Seria melhor começar pelo básico, isso funcionava... Na maioria das vezes. sempre — Meu nome é Elisa Sommer, estarei te acompanhando uma vez por semana durante uma hora nas sessões de terapia. Desprovidos de qualquer interesse, os olhos dele percorreram o quarto afastando-se dos meus como se eu fosse um móvel a mais naquele lugar carente de emoção. Fiz uma nova tentativa, encarando a folha ainda em branco no meu colo enquanto o tic tac do relógio na parede me indicava os minutos desperdiçados. — Noah, sei que não quer falar sobre o que aconteceu, mas posso te garantir que se sentirá melhor depois disso... Eu estou aqui para ajudá-lo. Como se isso representasse um esforço desnecessário ele voltou a me encarar se acomodando com certa dificuldade na cama. Apesar das marcas do acidente em seu rosto, Noah não poderia ser nada menos que intimidante. descrevê-lo seria impossível tendo em conta minha objetividade, mas não fazê-lo poderia considerar-se um pecado, então tentarei... O Zafiro dos seus olhos estavam protegidos por duas cortinas pesadas, longas e escuras, qualquer garota mataria por ter cílios assim. Seus lábios eram como Rubi e a pele clara fazia com que todas essas cores parecessem quase irreais. Acomodei-me na cadeira enquanto lutava contra a sensação de estar sendo examinada, enquanto lutava por manter meus olhos longe dos dele. Por dentro eu estava gritando. Tinha uma pontuação excelente no programa de estágio da faculdade e esse seria o projeto final do semestre que poderia destruir ou alavancar minha carreira. Respirei fundo, não me renderia, jamais o havia feito. — Por que não iniciamos falando sobre como começou aquela noite? — Vi quando suas mãos se fecharam em punho, apertando tanto o lençol que os nós dos dedos ficaram brancos.— O que aconteceu depois da última mensagem Noah? Ele desviou o olhar, encarando a parede impecavelmente branca do outro lado do quarto como se ela escondesse a fórmula para fazer com que eu desaparecesse dali. Tinha os lábios apertados em uma linha tensa, a respiração irregular como se estivesse correndo, ainda que não estivesse se movendo nem um centímetro. Agarrei a melhor chance que eu tinha tido desde que havia entrado naquele quarto e continuei. — Por que não conversamos sobre outra coisa então? Por que não me conta como se sentia antes de vir morar aqui? Por que não me conta sobre o início... Sobre quando tudo mudou? Seus olhos se fecharam. Um gesto de negação enquanto eu me tornava invisível novamente na mente dele. Depois de todos esses anos dedicados a faculdade eu sabia que devia parar, sabia que poderia estragar tudo, mas uma parte nada racional de mim me estimulava a seguir. Uma parte que eu não conhecia, perigosa e desafiante, uma parte que se recusava a sair dali sem uma reação, qualquer que fosse ela. Continuei. — Por que não me conta sobre como se sentia cada vez que tinha que deixar sua vida pra trás e inventar uma nova em um lugar estranho? Por que não me diz como foi que a conheceu? E aí estava... Uma expressão de dor tão sufocante que pude sentir como algo apertava dentro de mim e se contraia, asfixiava. Não pude afastar meus olhos dele enquanto ele apertava ainda mais seus olhos na tentativa de mantê-losfechados, afastados de mim, das minhas perguntas, das palavras que saiam como uma sentença. Não pude afastar meus olhos dele quando as primeiras lágrimas chegaram a seus olhos, enquanto ele lutava para não deixá-las cair. Não pude afastar meus olhos dele enquanto recorria meus papéis do criado mudo e saia do quarto fechando a porta atrás de mim sentindo que havia falhado. Isso não era grande coisa, todo mundo errava um dia, mas por que eu me sentia como se algo dentro de mim estivesse se quebrando? Por que pela primeira vez eu sentia que deveria desistir? Encostei-me à parede fria do corredor apertando os papéis contra o peito tentando colocar as idéias em ordem. Era só um paciente, eu já tinha lidado com isso. Tinha as melhores notas e estava qualificada. Todos haviam confiado em mim. O professor Muller me havia escolhido entre todos os estudantes para esse trabalho e se supõem que não é um caso complicado, se supõem que uma estagiária poderia lidar com isso. Era isso, havíamos começado mal, mas as coisas seriam melhores na próxima semana. Agarreime a esse pensamento enquanto caminhava até o balcão no final do corredor e informava a enfermeira do plantão que já tinha terminado e que voltaria na próxima semana. Satisfeita comigo mesma, saí pela porta principal do hospital tirando o jaleco ao mesmo tempo que pegava a chave do carro no bolso e o ar gelado do inverno de LA me recebia. Agora que podia pensar com claridade, estava totalmente ferrada. Não tinha feito nem uma anotação sobre o primeiro dia, não sabia nem sequer se poderia explicar meu comportamento completamente inapropriado durante aqueles poucos minutos emais importante que tudo; não sabia como explicaria a forma abrupta como terminou. Os vários sons tão próprios de LA me distraíram. Cidade dos anjos? Eu duvidava muito disso. Fiquei presa por alguns minutos em um engarrafamento sem nenhum sentido, ocasionado pela desordem e pela quantidade de imbecis no trânsito e quando finalmente entrei em West Adams me senti totalmente agradecida por ter chegado em casa sem maiores conflitos. Como dizer? Eu não suportava gente estúpida por vontade própria e LA estava cheia delas. Pode ser que eu tenha brigado algumas vezes. Não que eu goste de ficar batendo boca com idiotas na rua, mas eu simplesmente não posso ficar calada quando vejo um idiota conduzindo algo que poderia tirar a vida de alguém como se tivesse dois pés esquerdos. Em LA isso acontece o tempo todo. Como muitas outras casas do bairro, nossa casa preservava o estilo colonial em um dos bairros mais tradicionais de LA. Cercado por palmeiras gigantes, casas e igrejas históricas, feiras tradicionais e perto da USC, University of Southern California, o West Adams foi o bairro que meu pai havia escolhido pra viver. Havia sido nesse bairro que eu havia crescido quando vim morar nos Estados Unidos com minha mãe aos seis anos de idade para que meus pais finalmente resolvessem suas diferenças e tentassem, uma vez mais, formar uma família. Não tinha dado certo. Papai faleceu três anos depois, quando as coisas finalmente pareciam andar nos eixos. A morte do meu pai havia deixado a mim e a mamãe sem muitas alternativas. Tínhamos vendido todos os nossos bens e saído da casa que alugávamos no Rio para perseguir o sonho dessa nova vida em família e já não havia volta atrás. Assim que ficamos onde estávamos. Uma viúva com sua filha de nove anos e um Chihuahua histérico em uma casa estilo mansão em West Adams, LA. E aqui estou. Não poderia chamar nenhum outro lugar no mundo de lar. Saí do carro depois de deixá-lo estacionado na entrada de casa e me preparei para o ataque do menor cachorro do mundo. Eu já tinha tentado encontrar terapia canina, mas a maioria dos veterinários me disseram que esse histerismo todo estava diretamente relacionado à raça do senhor Dino. Tadinho... O bichinho não teve a menor escolha. Protegi minhas canelas enquanto o Chihuahua hiperativo da mamãe tentava chamar minha atenção e relaxei ao sentir o calor confortável do aquecedor envolver meu corpo. Não que o frio de dez graus do inverno de LA fosse algo tão grave em comparação com outros lugares no mundo, mas eu simplesmente não conseguia ser o tipo e pessoa que desfruta enquanto seus dentes batem e seu corpo treme como se tivesse tendo uma espécie de ataque de pânico. Joguei minha bolsa no sofá enquanto me abaixava para pegar o senhor Dino que chorava ao ser ignorado e caminhei até a cozinha, onde geralmente encontrava minha mãe inventando um novo cardápio para seu pequeno restaurante no Downtown. Havia um bilhete na geladeira: "Coma alguma coisa antes de sair pra faculdade. Tive que ir ao mercado, acho que inventei a receita do século. Te amo, mamãe" Sorri enquanto abria a geladeira, tirava um yogurt de morango de dentro dela e me sentava no banquinho em frente ao balcão lotado de ingredientes que a mamãe havia deixado. Nesse momento o senhor Dino se havia tranqüilizado, desfrutando do calor do meu colo enquanto eu tomava meu yogurt em silêncio. Encarei o quadro suspenso do outro lado da parede, ao lado da porta. Uma pequena extensão de areia dava passo a um oceano infinito em uma praia completamente solitária. Os tons usados para pintar o mar continham todas as variedades de azul possível, mas alguma coisa dentro de mim insistia que faltava algo. Zafiro. Dois pontos que brilhavam mais que qualquer estrela, desperdiçados em meio à luz amarelada e doentia da sala de hospital. Capítulo 2: Promessa Noah Todo o meu corpo doía e a coisa tinha sido grave a tal ponto que essa era uma boa notícia. Isso queria dizer que eu ainda estava vivo, embora respirar fosse um tormento, queria dizer que talvez todas as partes do meu corpo estivessem no seu devido lugar, ainda que fraturadas, ainda que a dor fosse quase insuportável. Senti-me terrivelmente enjoado enquanto a maca deslizava pelo corredor branco dando voltas e mais voltas até chegar na sala de emergência. Pessoas que eu nunca tinha visto antes assomavam a cabeça por cima do meu corpo e chamavam meu nome, insistindo para que eu mantivesse meus olhos abertos. Tudo ficaria bem... Eu sabia que aquela era uma maldita mentira. Luzes, máscaras, agulhas e dor. Eu não conseguia respirar, havia algo de errado, como se alguma coisa dentro de mim tivesse sido esmagada fazendo com que fosse insuportável qualquer tentativa de me mover. Eu estava gritando? Aquilo era um maldito pesadelo? E então, como se a noite tivesse se alçado sobre mim, tudo desapareceu e eu caí no sono mais perturbador que tive na vida. Nele havia perdido algo importante, mas naquele momento eu não sabia o que era. Resultou ser extremamente desafiante o simples ato de abrir os olhos novamente. Eu não sabia que lugar era aquele e nem como havia chegado ali, mas odiava aquele cheiro, odiava aquela luz e odiava o som lastimoso de alguém chorando a poucos metros de mim. Tentei me incorporar, mas foi como se mil agulhas atravessassem meu corpo. Girei, com toda a força de vontade que consegui a cabeça em direção aquela voz e pela primeira vez algo fez sentido naquele estranho pesadelo. Mamãe estava parada na porta do quarto, as mãos no rosto tentando impedir que as lágrimas caíssem com tanta facilidade, tentando impedir que seu choro ecoasse ainda mais pelo corredor daquele lugar horrível. Observei o homem de jaleco branco na frente dela que parecia escolher com cuidado cada palavra e entrei em choque. E então eu finalmente entendi e de repente a dor que sentia no corpo inteiro não significava nada em comparação ao que estava passando dentro de mim. De repente já não entendia por que seguia respirando quando ela já não estava ali. Quando eu tinha doze anos nossa família se mudou três vezes no mesmo ano. Antes disso eu já tinha me mudado cinco vezes, tinha tido cinco escolas diferentes e tinha gravado bairros, ruas e números de ônibus de cinco cidades distintas. Quando nossa família chegou a LA eu não me preocupei em revisar os mapas, não comprei um guia com a rota dos ônibus da cidade e não me impressionei com a casa imponente que meus pais tinham comprado no Bel Air, um dos bairros mais caros na zona oeste da cidade. Eu não acreditei quando eles prometeram ficar. Pela primeira vez, deveria ter confiado. Na segunda noite naquela casa, onde provavelmente umas 10 pessoas poderiam viver comodamente, decidi que não iria desfazer nenhuma das minhas malas. Eles provavelmente me diriam na manhã seguinte que meu pai tinha recebido uma proposta irrecusável no outro lado do mundo e tudo seria uma perda de tempo. Decidi permanecer naquele quarto tão impessoal observando cada ponto luminoso no céu, me perguntando se um dia eu chegaria tão longe e se finalmente, caso eu conseguisse, poderia ficar, enquanto meus pais jantavam com Jany, minha irmã caçula na sala de jantar. Não fazia idéia de quanto tempo tinha ficado ali, e provavelmente morreria antes de descobrir como alcançar as estrelas quando ela apareceu. Ela simplesmente cravou seus olhos nos meus e me senti preso. Ela simplesmente sorriu e eu deixei de respirar. Ela simplesmente me chamou e eu me esqueci das estrelas. Havíamos feito uma promessa. Eu a manteria por oito anos e logo a deixaria ir. Talvez eu tivesse gritado, talvez tivesse chorado ou talvez minha mãe tivesse escutado como meu coração se quebrava em mil pedaços, como todo o meu corpo protestava atormentado por uma dor que nenhum analgésico poderia fazer parar. Em poucos minutos ela estava do meu lado, gritando o nome do meu pai, seguida de perto pelo médico de jaleco branco com quem havia estado conversando minutos antes. Ao parecer, eu tinha dormido por dois longos dias e agora precisava responder toda e cada pergunta atentamente. Eu me lembrava de tudo? Tinha ficado com alguma seqüela cerebral que os exames não haviam detectado? Procurei os olhos da minha mãe em meio a todo aquele caos, e embora cada parte de mim já soubesse a resposta, eu precisava ouvir da boca de alguém. Essa foi a primeira vez que senti algo errado ao pronunciar o nome ela, como se ela fosse uma fantasia, algo que eu já não podia alcançar. — Sam. — Mantive meus olhos fixos nos da minha mãe enquanto essa única sílaba saia dos meus lábios. Ela negou enquanto segurava minha mão. Dessa vez eu tive certeza, tinha gritado. Tão forte que ela escutaria onde estivesse, embora eu soubesseque nada disso tinha sentido. Em questão se segundos haviam colocado algo que seguia diretamente para minha veia e eu adormeci. Acordei com o som do jogo de celular preferido da Jany. Não surpreendeu-me vê-la sentada na observando cadeira com a seus meu lado, grandes me olhos chocolate enquanto eu lutava com a dor que sentia no corpo e na cabeça. — Eles disseram que isso desaparecerá em alguns dias. — Me informou abrindo um pequeno espelho de maquiagem na minha frente para mostrar o quão terrível era minha aparência naquele momento. Um corte nos lábios, arranhões na bochecha, um olho meio esverdeado. — De qualquer forma eu tirei uma foto sua, pro caso de eu precisar de alguns favores futuramente. Tentei esboçar um sorriso, mas pareceu mais uma careta já que até isso supunha um esforço infernal naquele momento. Embora o quarto apresentasse o branco típico de hospitais, Jany havia cuidado para que eu me sentisse o mais próximo de casa possível. No criado mudo ao lado da cama havia colocado Rosas, suas flores preferidas, e dentro da gaveta ela havia colocado algumas das revistas que eu costumava ler quando estava entediado. Minha irmã permaneceu calada por alguns segundos, me observando como se fosse a única até então que pudesse me ver de verdade. — Sinto muito Noah... Eu realmente sinto. Permiti-me chorar em silêncio em quanto segurava com toda a força que tinha a mão que ela me ofereceu. Eu queria dizer que sabia que ela sentia, que não precisava se preocupar, que tudo ficaria bem, mesmo que tudo fosse uma grande mentira, mas meus olhos pesaram novamente e eu adormeci. “— Um dia teremos uma família, quatro filhos e dois cachorros e viveremos em uma casa no campo. Não nos mudaremos nenhuma única vez, esse será nosso lugar no mundo. Ajeitei o fio de cabelo ondulado que caía sobre os olhos dela enquanto ela sorria e estendia o dedo mindinho na minha direção. — Quem disse que eu quero ter quatro filhos e dois cachorros? — Eu havia zombado enquanto ela mantinha esticado o dedo que selaria uma promessa na minha direção. — Porque você me ama Noah Collins, e eu vou me casar com você." Tudo ficou escuro. E eu finalmente caí em um sono sem sonhos outra vez. GOSTOU? ENTÃO NÃO DEIXE DE ADQUIRIR A VERSÃO COMPLETA DO PRODUTO EM NOSSO SITE OU LIVRARIAS. NÃO PERCA ESTA CHANCE E CONTINUE SUA LEITURA!
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