Fazenda Boa Esperança: salva dos credores em nome da família
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Fazenda Boa Esperança: salva dos credores em nome da família
fazendas Frente da Sede 34 Fazenda Boa Esperança: salva dos credores em nome da família A trajetória de uma fazenda nem sempre é iniciada por aquele que primeiramente ocupou as terras. A história da fazenda Boa Esperança começa no início do século XIX, com a concessão em sesmarias ao guardamor João Francisco de Souza, que, mais tarde, a vende a An- Altar da Capela Revista do Café | setembro 2013 Profª Leila Alegrio Vilela tonio Bernardino de Barros. Este então resolve deixar sob a administração de seu irmão Gabriel José de Barros as terras dos fundos, as quais foi dado o nome de fazenda São Miguel, por seu administrador Nas terras às margens do Rio Preto, Antonio Bernardino de Barros estabelece a fazenda Três Ilhas. Antonio Bernardino de Barros, filho do capitão José de Barros Monteiro e de dona Ana Theresa de Assumpção, casa-se, em 1813, com dona Fausta Emerenciana de Moura, filha de José Francisco de Moura e Antonia Joaquina de Oliveira. Dessa união nasceram muitos filhos, que mais tarde tornaram-se homens importantes na economia e na sociedade da região de Juiz de Fora. Antonio Bernardino de Barros, derrubou matas, plantou café, construiu a casa de moradia, senzalas e toda a estrutura para o beneficiamento do café e a criação de animais. Em 1850, por ocasião da abertura do inventário post-mortem de Antonio Bernardino, que teve como inventariante seu filho Francisco Bernardino de Barros, as terras das fazendas da região foram repartidas entre seus herdeiros, cabendo a Gabriel Antonio de Barros, futuro barão de São João Del Rey, a fazenda a qual denominou de São Gabriel, e a seu irmão José Bernardino de Barros, futuro barão das Três Ilhas, a fazenda Boa Esperança. Os outros irmãos foram se estabelecer em terras na região de Miracema, onde também fundaram algu- fazendas mas fazendas de café. José Bernardino de Barros, conhecido como um homem de hábitos requintados, iniciou a construção da casa de moradia com o que de mais luxuoso existia na época. E lá foi viver com a esposa, dona Maria da Conceição Monteiro da Silva. Tudo parecia transcorrer muito bem até o falecimento de dona Maria da Conceição, em 1875, quando então, no inventário post-mortem, constatou-se que o casal possuía uma fortuna espantosa, que chegava ao monte mor de 1:298:121$600 contos; além de 265 escravos avaliados em 521:800$000, aproximadamente 726 mil pés de cafés, que valiam 339:000$000 contos de réis, e 470 alqueires de terras. No entanto, toda essa fortuna já estava comprometida com vários credores — 42 no total —, entre eles alguns membros da própria família como seu irmão Francisco, pois, em 1879, prestes a ver todos os seus bens penhorados para pagar dívidas, seu irmão Gabriel propôs uma reunião em casa do então barão de Santa Mafalda, José Maria de Cerqueira Vale, e decidiram fazer uma escritura, colocando algumas condições de pagamento a José Bernardino de Barros: pelo menos 50% das dívidas seriam pagos num prazo de cinco anos, deixando em mãos de seus irmãos Gabriel Antonio de Barros e Francisco Bernardino de Barros a administração de todas as suas propriedades. Ao longo dos cinco anos, Gabriel foi aos poucos pagando alguns credores e, findo o prazo determinado para a quitação dos 50% das dívidas que não foram saldadas, o restante dos bens foram a leilão. Porém, mais uma vez, para ajudar o irmão, Gabriel arremata todos os bens, inclusive os cativos, o que não deixou de ser surpreendente, uma vez que já se estava às véspera da abolição do trabalho escravo no Brasil. Salvo os bens, o barão das Três Ilhas, permaneceu residindo na fazenda Boa Esperança — até seu falecimento, em 1915 —, e casou seu único filho, Antonio Bernardino Monteiro de Barros, que havia ficado viúvo recente- mente de dona Belarmina Alves Barbosa, com a única herdeira do barão de São João Del Rei, sua filha, dona Gabriela Sebastiana. Após o falecimento dos barões de São João Del Rei e das Três Ilhas, Antonio Bernardino Monteiro de Barros passou a ser o único proprietário da fazenda Boa Esperança, até 1931, quando morreu, alguns meses após sua esposa. Atendendo o pedido de Antonio, a Boa Esperança foi sorteada entre seus filhos, e sua filha Ana Helena Monteiro de Barros tornouse assim a proprietária da fazenda O café perdeu seu apogeu na região, o gado leiteiro invadiu a grande maioria das fazendas cafeeiras do século XIX, mas as terras continuam até nossos dias nas mãos de um dos descendentes do barão das Três Ilhas e do barão de São João Del Rei, o bravo preservador dos bens de seus ancestrais, o Sr. Maurício Antonio Monteiro de Barros. Fundos da sede Revista do Café | setembro 2013 Tela 35