V Mostra de Psicolo
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V Mostra de Psicolo
Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Saúde V Mostra de Psicolo Psicologia da Saúde: Modelos de Intervenção 07 de Novembro de 2012 Universidade Metodista de São Paulo Campus Planalto APRESENTAÇÃO É com grande satisfação que apresentamos os trabalhos expostos na V Mostra de Psicologia da Saúde, cujo tema “Psicologia da saúde: modelos de intervenção” veio a público difundir e discutir o conhecimento científico advindo da produção de nosso stricto sensu, bem como daqueles que conosco quiseram compartilhar. Essa produção científica reuniu as investigações realizadas por nossos docentes, discentes e colegas da comunidade científica da região, mas também congregou a experiência técnica da psicologia aplicada na promoção da saúde e prevenção de doenças de natureza psicológica. Celebramos com este evento a conquista não só de mais um ano de estudos e investigações, mas também de 40 anos de dedicação à formação de Psicólogos e 35 anos de formação de pesquisadores e docentes, contados os anos de existência dos cursos de graduação e de pós-graduação stricto sensu na Universidade Metodista de São Paulo. Que às discussões oportunizadas por esse evento, venha enriquecer e contribuir para a ampliação do conhecimento em psicologia e áreas afins. Profa. Dra. Marília Martins Vizzotto PROGRAMAÇÃO MANHÃ OFICINAS TEMÁTICAS (09h20 às 11h) Oficina 1: Profa. Ms. Camila Avarca “Promoção da saúde na família” Oficina 2: “Promoção da saúde e prevenção de doenças crônicas” Profas. Dras. Carla Witter, Ana Lúcia Gatti, Claudia Aranha “Questões psicológicas - promoção e prevenção” Profs. Drs. Eliane Florencio / Marcelo de Almeida “Percepção corporal e atividade física - promoção e prevenção” Profa. Dra. Rita de Cassia Aquino, Profa. Rita Maria Goulart “Questões nutricionais - promoção e prevenção” NOITE APRESENTAÇÃO DE PAINÉIS: (18h às 19h) MESA DE ABERTURA (19h às 19h30) Auditório Rev. Cesar Roberto Pinheiro “Palavra da Pastoral Universitária” Profa. Dra. M. Geralda Heleno (Coord. do Mestrado em Psicologia da Saúde - UMESP) “Psicologia da Saúde” (palavra introdutória) CONFERÊNCIA (19h30) Auditório Profa. Dra. Vera Maria Barros de Oliveira “Brincar: modelos de intervenção” ENCERRAMENTO 21h UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO Reitor: Márcio Morais FACULDADE DE SAÚDE Diretor: Rogério Gentil Bellot Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Saúde Coordenadora: Maria Geralda Viana Heleno Organizadores dos Anais Profa. Dra. Maria Geralda Viana Heleno Maisa Sangy Guedes de Oliveira Victor Mantoani Zaia COMISSÃO CIENTÍFICA Profa. Dra. Hilda Rosa Capelão Avoglia Prof. Dr. Luis Fernando Hindi Basile Profa. Ms. Mariantonia Chippari Profa. Dra. Maria do Carmo Fernandes Martins Profa. Dra. Maria Geralda Viana Heleno Profa. Dra. Marília Martins Vizzotto Profa. Dra. Mirlene Maria Matias Siqueira Prof. Dr. Manuel Morgado Rezende Prof. Dr. Renato Teodoro Ramos Profa. Ms. Mariantonia Chippari COMISSÃO ORGANIZADORA Profa. Dra. Maria Geralda Viana Heleno Beatriz Borges Brambilla Camila Mastrorosa R. dos Reis Eduardo Alberto da Silva Elaine Cristina P. dos Santos Elisangela Ap. de Castro Souza Laura Maza Garrido Maisa Sangy Guedes Rafael Érik de Menezes Renata Cambiano Zampieri Thaís Volpiano Arruda Victor Mantoani Zaia APOIO ABPSA Casa do Psicólogo Centro Acadêmico Psicologia MariaAntonia Chippari Editora Metodista Vetor editora CRP SP - Subsede ABC Índice A família e a gravidez não planejada na adolescência: um estudo bibliográfico na perspectiva psicanalítica Juliana R. Costa, Maria Madalena Costa, Renata O. Sena 06 A percepção da imagem corporal e o corpo ideal em mulheres – um estudo exploratório Camila M. Reis, Eliane C. Ferreira, Sandra M. Muller 46 Bem-estar no trabalho e percepção de sucesso na carreira: um estudo correlacional Claudia S. Lima, Édille M. Accardo, Maisa Sangy, Michelle F. Guimarães, Mirlene M. Siqueira 60 Capital Psicológico e engajamento no trabalho: um estudo com profissionais administrativos do setor de saúde de um hospital público Camila M. Reis, Eliane C. Ferreira, Sandra M. Muller, Mirlene M. M.Siqueira 67 Clima organizacional dos colaboradores da indústria de panificação do Grupo Cíntia Michelle F. Guimarães, Vanessa de Q. Rocha 75 Eficácia adaptativa em portadores de Diabetes Mellitus tipo 2 Nathália Brandolim dos Santos; Maria Geralda Viana Heleno 79 Literatura infantil: a arte do convencimento de sua importância no desenvolvimento das atividades de leitura Eduardo Alberto da Silva, Leslie Felismino Barbos 92 O brincar como uma proposta de promoção à saúde Caroline A. Aguiar, Kédma S. Lima, Márcio R. Lima, Victor S. Alexandre 106 Pensando um envelhecimento saudável para as pessoas idosas dos municípios de Atalaia do Norte e Benjamin Constant – AMP Claudia dos Santos Lima 118 Projeto de orientação sócioeducativo em prol da comunidade do município de Benjamin Constant/AM Michelle Guimarães e (cobls) Cláudia Lima, Flávia Cunha, Jorge L. Lima, Solano Guerreiro 123 Qualidade de vida e gravidez na adolescência – um estudo com participantes do Programa de Assistência Médica e Psicossocial à Adolescente. Victor Mantoani Zaia, Maria Geralda Viana Heleno 127 Saúde do trabalhador: uma análise dos problemas enfrentados no transporte coletivo da cidade de Manaus/AM - com ênfase à Hérnia de disco Claudia dos Santos Lima 155 Sensibilização e reflexão sobre o aspecto profissional através do Psicodrama Sandra Regina Peres Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 220 A família e a gravidez não planejada na adolescência: um estudo bibliográfico na perspectiva psicanalítica JULIANA RIBEIRO COSTA, MARIA MADALENA COSTA, RENATA DE OLIVEIRA SENA Resumo A maternidade está inserida na vida da mulher desde a infância, em brincadeiras simbólicas e fantasias primitivas. Cotudo, a maternidade vivenciada na adolescência tem impactos em outro processo, a busca da identidade adulta. O presente estudo teve como objetivo fazer um levantamento bibliográfico sobre a gravidez na adolescência, suas consequências, e decorrentes ajustamentos familiares. Justifica-se a escolha do tema, devido à importância do apoio dos pais em uma fase de conflitos como a adolescência (como a perda do corpo infantil e da relação com os pais da infância). Quando a gravidez surge nessa fase, os cuidados com a família, e os adolescentes dobram, já que em muitos casos é mantida uma dependência das figuras parentais, e, diante do novo contexto é necessário atender a demanda dos conflitos psicológicos destes pais, com o objetivo de promover a saúde e auxiliá-los a cumprir seu papel social. A partir da literatura foi possível compreender o desenvolvimento adolescente, o papel da família e da sociedade nas mudanças biopsicossociais que o jovem enfrenta, que a gravidez pode atuar como rito de passagem, para construir uma família melhor que a original, ou para religação entre a adolescente e sua família. Devido à importância das figuras parentais no desenvolvimento da criança e do adolescente, a educação sexual sendo iniciada em casa; em um ambiente rodeado de afeto; parece ser uma das melhores formas de prevenir a gravidez e as doenças venéreas na adolescência. Palavras-chave: gravidez na adolescência; desenvolvimento do adolescente; sexualidade. Introdução O objetivo do presente estudo é fazer um levantamento bibliográfico sobre a gravidez na adolescência, suas consequências e as possíveis reações dos pais frente à gravidez de seus filhos. A escolha deste tema é justificada, pois os pais constituem uma importante fonte de apoio para os adolescentes, que por sua vez vivem uma situação de expectativas e possíveis conflitos devido às perdas da infância em detrimento da chegada da vida adulta. Quando a gravidez sem planejamento entra neste cenário, é ainda mais importante observarmos a relação destes jovens com sua família de origem, pois em muitos casos mesmo após o nascimento da criança mantém-se uma dependência das figuras parentais, além disso, diante do novo contexto é necessário atender a demanda dos conflitos emocionais e Graduandas em Psicologia pela Universidade Metodista de São Paulo. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 6 psicológicos destes pais, com o objetivo de promover a saúde e auxiliá-los a cumprir seu papel social. 1.1 Adolescência Antes de falar do fenômeno da gravidez não planejada na adolescência, é necessário conceituar essa fase do desenvolvimento humano. Siqueira e Vizzoto (2003) relatam que se trata de uma fase que vai dos 10 aos 19 anos em que ocorrem várias transformações fisiológicas e psicológicas que podem variar de acordo com o contexto sociocultural de cada sujeito. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) o período de adolescência se dá entre os dez e dezenove anos de vida, enquanto para o Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) é considerado adolescente o indivíduo entre os doze e dezoito anos de idade (BRASIL, 1990). Quando se busca uma definição para o conceito de adolescência geralmente se encontra o termo pubescência e puberdade. Adolescência deriva do verbo em latim “adolescere” que significa “crescer” ou “crescer até a maturidade”; “sociologicamente, adolescência é o período de transição da dependência infantil para a autossuficiência adulta” (MUSS, 1966, p. 16). Para o historiador francês Ariès nos séculos XVI e XVII ainda não havia a diferença entre infância e juventude, essa ideia foi construída a partir da ampliação de espaço da escola, que por sua vez se opunha ao trabalho de crianças e jovens. Com isso o conceito de adolescência se impõe como um período da vida humana entre a infância e a idade adulta, e também a infância e adolescência ganham o status de uma fase que merece atenção e cuidados diferenciados (ARIÈS, 1981). No prefácio do livro Fadas no Divã, Maria Rita Kehl nos traz o conto de Chapeuzinho Vermelho oriundo da tradição oral camponesa do século XVII, resgatado por Charles Perrault, o enredo tem conteúdos claramente sexuais, esses contos sofreram modificações para as versões que conhecemos hoje devido às mudanças apontadas por Ariès (CORSO; CORSO, 2006). Adolescência é um conceito amplo que se refere às mudanças no comportamento e status social; puberdade é o ponto em que a maturidade sexual é alcançada, pubescência denomina o período em que ocorrem as mudanças fisiológicas para que a maturidade sexual seja alcançada (MUSS, 1966). A pubescência é o período de desenvolvimento fisiológico em que as funções reprodutivas amadurecem; é filogenético e inclui o aparecimento das características sexuais secundárias e a maturidade fisiológica dos órgãos sexuais. Essas mudanças podem ter duração de aproximadamente dois anos, o autor ainda destaca que compreende que em nenhum outro momento, exceto o nascimento, ocorra uma transição de tamanha importância, pois embora ocorram mudanças em outros momentos evolutivos, em nenhuma outra fase isso Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 7 se dá de forma tão “imensuravelmente maior” que nos anos que precedem ou se seguem a pubescência (MUSS, 1966, p. 17). O referido autor ainda destaca que a adolescência tende a ocorrer mais cedo para indivíduos do sexo feminino terminando mais cedo em sociedades mais primitivas (MUSS, 1966). Sobre os conflitos que podem ocorrer durante a adolescência Sherif (1947, p. 220) pontua que “variam de cultura a cultura, tornando a transição para a idade adulta mais ou menos complicada, mais ou menos prolongada”. Arminda Aberastury (1980) considera como a marca desta fase, a necessidade de adentrar ao mundo adulto, as modificações biológicas que possibilitam a reprodução são vivenciadas pelo jovem como a construção de um papel social que modifica seu lugar no mundo e o compromete em todos os planos das relações. Nesta fase do desenvolvimento, os adolescentes tendem a se afastar dos pais e a libertar-se de alguns laços que os mantinham presos a eles, buscando assim novas pessoas para seguir, novos heróis, não sendo mais estes seus pais antes considerados indestrutíveis (KLEIN, 1937/1975). Contudo, a inevitável mudança física e a ansiedade proveniente desta mudança provocam no adolescente, segundo Aberastury (1980) uma fuga para seu mundo interno, boa parte da resolução deste conflito pela perda do corpo infantil depende da estrutura deste mundo interno do indivíduo. Se sua vida na infância foi harmônica, e conseguiu internalizar objetos bons e completos, menor ressentimento familiar e social será desencadeado. A maturidade é iniciada quando oindivíduo aparece integrado com uma identidade estabelecida, sendo capaz de se manter de forma independente, sem apoio emocional de outras pessoas e sem repudiar sua história (MUSS, 1966). A identidade egóica envolve uma integração das aspirações vocacionais junto às qualidades adquiridas em identificações anteriores (modelos parentais, capacidade de amar, admiração de heróis, entre outras). A partir da completude destes aspectos do ego, que o autor trata como integridade, será possível: “uma relação afetiva de intimidade sexual e afetiva, amizade profunda e outras situações que exigem o abandono de si mesmo sem temor de perder a identidade do ego no próximo estágio evolutivo” (MUSS, 1966, p. 46). As mudanças biológicas têm estreita relação com os fenômenos psicológicos, o amadurecimento sexual pode significar uma ameaça a segurança do sujeito, produzindo aumento de excitabilidade e vulnerabilidade a sintomas histéricos e neuróticos (MUSS, 1966). Segundo Rank (1945) o jovem está em uma fase de diferenciação dos pais e em busca de uma identidade autônoma, busca se “libertar” das vontades alheias, desta forma a pulsão sexual que o jovem vivencia pode ser sentida como invasiva. Neste sentido Rank (1945) se opõe a Freud sobre ênfase nas forças instintivas e propõe o conceito de vontade, em que o indivíduo tende a uma organização positiva e uma Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 8 integração que guiam o eu, utilizando de forma criativa as pulsões, inibindo e as controlando; com isso o ego não é preso entre as forças libidinais do id, nem do superego, mas sim uma força dominante que os dirige. Nessa intensa luta pela independência o adolescente pode evitar formar laços emocionais intensos, que o conduzem a uma relação amorosa pessoal, então segundo Rank (1945) o jovem pode usar dois mecanismos de defesa para manter sua independência, a promiscuidade ou o ascetismo. Sendo promíscuo o adolescente pode dar vazão às pulsões sexuais em ebulição sem com isso formar vínculo afetivo, e evitando o temor de desintegração. Já quando tem uma postura ascética rejeita qualquer tipo de relacionamento amoroso. O autor destaca que períodos de ascetismo podem ser alternados com períodos de promiscuidade, mas o importante é ter em conta que em ambos os casos o jovem evita o amor autêntico, que demanda autocontrole, autossubordinação e dependência além de integração constante das relações externas e internas entre o eu e o outro. Essas defesas podem tornar mais clara à razão que leva muitos jovens ao “ficar”, mas podemos também considerar a pressão social que hoje, principalmente os adolescentes do sexo masculino, vivenciam para provar seu potencial sexual, seja perante os amigos, ou como, talvez, uma forma de autoafirmação de sua potência perante os pais. Sobre o envolvimento amoroso na adolescência Muss (1966, p. 45) propõe: “O apaixonar-se é uma ocorrência comum e frequente nesta idade, não é de natureza tão sexual quanto o será em idades posteriores; é antes uma tentativa de projetar e testar o próprio ego, difuso e ainda indiferenciado, por intermédio de outra pessoa a fim de clarear ou refletir sobre o próprio autoconceito a própria identidade do ego”. Devemos considerar que o referido autor reflete sobre os adolescentes de um diferente contexto histórico, em que estão começando a vivenciar a liberdade sexual. Atualmente nosso contexto é globalizado e a informação sexual e os estímulos são massivos. No processo de preparação para a entrada no mundo adulto o indivíduo passa a questionar os modelos de autoridade, essa é uma forma de expressão da angústia crescente, a partir da desvalorização dos valores dos pais e de outros adultos, seus próprios valores entram em evidência. Para Aberastury (1980), este é o primeiro passo na rivalização edípica que é revivida na adolescência. A adolescência é uma etapa importante no ciclo vital humano e constitui segundo Aberastury (1980) a etapa definitiva de um processo de desprendimento, a maturidade fisiológica permite ao jovem a busca da relação com o outro sexo e a consumação do incesto. Simultaneamente seu papel sexual na vida adulta é definido e, quando foge da realização da fantasia edípica, irá buscar seu objeto de amor no mundo externo, esta busca se efetivará a partir do desprendimento interno dos pais. Segundo Klein (1937/1975) os impulsos sexuais direcionados aos pais caminham junto a impulsos agressivos, segundo a autora a criança tem a tendência a reprimir esses impulsos e adquire a capacidade de afeiçoar-se a outras pessoas, ampliando seus relacionamentos, porém, a autora adverte que a repressão não deve ser demasiada, restando resquícios de Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 9 amor para os objetos originais e que futuramente os desejos sexuais possam ser revividos de uma forma mais aceita socialmente. Segundo Aberastury e Salas (1984), o filho pode se tonar um rival, pois possui a condição de assumir a paternidade e a maternidade biológica, e também já possui os meios para concretizar o incesto de forma completa. Conforme o jovem realiza ganhos adultos de independência, a rivalização é possível sem necessitar aniquilar o adversário para evitar vingança. Desta conquista surgem sentimentos de amor e gratidão conjuntamente aos de ódio e competição. As dores decorrentes da necessidade de abandonar seu mundo infantil, e a iminência das várias mudanças sobre as quais não tem controle levam o jovem a empreender por meio da intelectualização tentativas de reforma social visando superar a incapacidade de ação, esses sucessivos questionamentos, segundo nossa compreensão, possibilitam a evolução humana, pois através das gerações possibilita o questionamento de valores, implicando o surgimento de novos ideais (ABERASTURY, 1980). Para Aberastury e Knobel (1980) as mudanças físicas que são vivenciadas pelo adolescente e sobre as quais não tem controle e as exigências que o mundo externo lhe faz, são sentidas como invasoras. Ele então se defende mantendo seus ganhos da etapa anterior, embora concomitantemente, almeje alcançar novos níveis evolutivos. Portanto o jovem utiliza de mecanismos de defesa autistas, promovendo um refúgio em seu mundo interno, fazendo contato com sua história e reorganizando suas estruturas psíquicas para o enfrentamento do futuro. As mudanças que se operam levam o indivíduo a perder sua identidade e corpo infantis, e ainda dos pais idealizados na infância e viver o luto por essas perdas. Os pais de adolescente também precisam se reorganizar para estabelecer uma nova relação com esse filho que está mudando. A partir da experiência de luto o jovem busca uma identidade adulta, porém nesta etapa ele pode criticar severamente alguns adultos e figuras de autoridade que o circundam, ele então procura outros adultos aos quais idealizar. Contudo, seu mundo interno está construído, também, a partir das imagens parentais introjetadas, a partir deste modelo ele irá eleger e receber o estímulo necessário para a construção de sua nova identidade. (ABERASTURY; KNOBEL, 1980, p. 113.) Se o período da adolescência for conturbado e não ocorrerem ganhos com essa situação de crise, a entrada na vida adulta potencialmente carregará essas dificuldades. Sharpe (1973, p. 20) descreve que uma criança que tenha a vida sensorial restringida, e que emocionalmente passou por “conflitos desnecessários, é prejudicada no ganho de peso e atinge a adolescência com menor poder de sentir prazer e menor capacidade de proporcioná-lo”. Compreendemos que durante sua história de vida as pessoas enfrentem crises que são naturais e a partir dos recursos psíquicos que foram desenvolvidos sobre a base constitucional na infância se torna possível uma resolução dos conflitos de forma saudável. A autora destaca que a estabilidade emocional é atingida pela criança influenciada em grande parte pela forma em que foi atendida pelos cuidadores em momentos de instabilidade. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 10 Sobre o processo de identificação e imitação que as crianças vivenciam em relação a seus pais, a autora relata que aparentemente, crianças que foram educadas em um seio familiar em que predominava a cortesia, entre o casal parental e destes para com os filhos, têm menos dificuldade em realizar contatos emocionais efetivos em seu ambiente. A proposta de Sharpe (1973) corrobora com a proposta de Aberastury e Knobel (1980), ambos pontuam que o modelo constituído a partir das imagens parentais que foram introjetadas previamente, tem forte influência sobre a construção da identidade adulta que o jovem busca. 1.2. Gravidez Segundo Mandu (2004), as consequências que rodeiam a gravidez na adolescência são muitas, do ponto de vista social pode ocorrer evasão escolar, que posteriormente repercute em menor formação educativa perpetuando a pobreza e dificultando o acesso ao mercado de trabalho. Informações do Sistema Único de Saúde (SUS) revelam que a gestação na população adolescente com a faixa etária de dez a catorze anos aumenta, enquanto na população feminina adulta ocorre o retardamento da maternidade (SANTOS e CARVALHO; 2006). Esses dados são corroborados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010), que publicou dados do Censo de 2010 que indicam que a gravidez é um fenômeno mais presente na população com menos anos de escolaridade. Outro fator que os dados revelam é de que quanto menor o nível de instrução, aparentemente mais cedo ocorre a gravidez. Seguem tabelas explicativas, devemos ressaltar que os dados apresentados devem ser vistos com cautela, pois como foram tabulados em forma de média, podem camuflar a real situação da gravidez na adolescência em nosso país. Para entender as variáveis envolvidas no fenômeno, os dados ilustrados por frequência demonstrariam de forma mais fidedigna a concentração de gravidez em uma dada faixa etária. Isso permitiria visualizar se o fenômeno tem ocorrido em maior frequência na adolescência, e identificar com maior precisão o contexto em que a gravidez na adolescência está inserido, o que permitiria elaborar planos de ação mais efetivos. Tabela 1. Taxa de fecundidade em relação à escolaridade Escolaridade Mulheres com até sete anos de estudo Mulheres com oito ou mais anos de estudo Taxa de fecundidade 3,19 1,68 Os dados desta tabela revelam que mulheres que não concluíram o ensino fundamental, respondem por quase o dobro de gestações em relação às mulheres que o concluíram. Contudo, estes dados podem e devem ser analisados mais profundamente, pois podem revelar que a ocorrência da gravidez durante o Ensino Fundamental seja um fator que leve Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 11 à evasão escolar, mas também pode indicar que o menor nível de instrução seja uma variável da gravidez na adolescência. Outra questão é que, para as jovens que procuram a formação profissional enquanto fator importante para sua formação de identidade pode existir maior tendência a evitar a gravidez e até mesmo o casamento, desta forma as jovens que tem apoio familiar e social para uma formação educacional continuada tem outros objetos (carreira, independência, lazer, etc.) a que investir a libido. Tabela 2. Nível de instrução e idade da ocorrência da primeira gestação Escolaridade Ensino Fundamental Completo (ou mais) Ensino Fundamental Incompleto Idade de ocorrência da primeira gestação 27,8 25,2 Os dados da tabela podem indicar que, quanto maior o nível de escolaridade mais tardiamente se dá a gravidez, esses dados corroboram com a reflexão que Bertolini (2002) faz, a autora propõe que a mulher moderna investe mais em sua formação profissional e se torna mais individualista em seu plano de vida, adiando também a gravidez. Contudo, esses dados nos levam a refletir porque ocorre essa disparidade em relação às mulheres que parecem investir em seu plano de vida em longo prazo privilegiando a formação profissional, e as jovens que engravidam, de forma “acidental” (ou como compreendemos de forma desejada em nível inconsciente) ou previamente planejada. Tabela 3. Escolaridade e gravidez na adolescência Ocorrência de gravidez dos 15 aos 19 anos Ensino Fundamental Completo (ou mais) Ensino Fundamental Incompleto 13,3 % 20,3 % As informações contidas nesta tabela indicam que a gravidez na adolescência parece ter maior frequência nas jovens que não concluíram o Ensino Fundamental. Esses dados nos levam a refletir sobre a dificuldade que estes jovens que interrompem o Ensino Fundamental encontrarão para conseguir uma ocupação profissional e consequentemente a conquista de autonomia financeira. O surgimento da gravidez nesta etapa pode ser um fator que leve a interrupção dos estudos, devido à necessidade de sustentar uma criança. Muitas vezes o adolescente que tem um filho se mantém dependente financeiramente dos pais, e em grande parte dos casos os jovens devem recorrer ao mercado de trabalho informal ou vagas operacionais com Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 12 baixa remuneração que podem levar a perpetuação da pobreza e conflitos relacionados ao bem estar no trabalho. Em relação ao aspecto biológico Mandu (2004) destaca maior incidência de intercorrências clínicas e morte materna, maior índice de partos prematuros e morte neonatal, além de baixo peso das crianças com mães adolescentes. Outra consequência da gravidez na adolescência segundo a autora é o aborto ilegal, que é praticado em condições impróprias que colocam em risco a vida dessas jovens, constituindo uma das principais causas de morte em gestantes. Maia Filho (1989) relata que as intercorrências médicas relacionadas à gravidez tem maior incidência em adolescentes ditas precoces (idade de 12 a 15 anos) do que nas jovens entre 16 e 19 anos. Doering (1989) ao estudar adolescentes em clínicas particulares e públicas concluiu que o comportamento das adolescentes no início da vida sexual tem forte influência do meio social em que vivem. A gravidez de uma adolescente de bom nível socioeconômico geralmente resulta em abortamento provocado; enquanto as adolescentes de nível socioeconômico mais baixo levam a gravidez a termo, e muitas vezes uniões com o pai da criança são antecipadas devido à gravidez. O autor pontua que há uma diferença fundamental entre os dois grupos no que concerne à perspectiva do papel social da mulher, nas classes menos favorecidas economicamente a maternidade é meta prioritária, enquanto nas classes mais elevadas as expectativas giram em torno do estudo e do trabalho. Sobre o aborto Vitiello (1999) pontua que é realizado por pessoas que sentem que precisam fazê-lo. Do ponto de vista orgânico apresenta riscos, principalmente devido ao ato ser realizado na ilegalidade sem condições de higiene e recursos técnicos, levando ao alto índice de mortalidade (por infecções, hemorragias, lesões viscerais, ou complicações anestésicas) e esterilidade. O autor destaca que podemos distribui parcela de responsabilidade a todos (sociedade, família, jovem e seu parceiro, etc.), mas o feto que é condenado à morte não é consultado. Vitiello (1999) relata que a constatação pode levar ao psiquismo da jovem uma culpa que pode ser somatizada em depressão duradoura, dificuldade em formação de vínculos, e disfunções sexuais. Essas intercorrências médicas são interpretadas por Vitiello (1999, p. 105) como um pessimismo dos pesquisadores, já que segundo ele as complicações clínicas e obstétricas observadas “não diferem significativamente, em tipo ou em incidência, das observadas na população em geral”. Segundo o referido autor as patologias encontradas tem manifestação relacionada a fatores psicossociais, e observa ótimos resultados perinatais quando a gestação é desejada e ocorre em situações favoráveis. Para Vitiello (1999) a falta de assistência pré-natal adequada é o ponto de partida para as complicações clínicas observadas, e essa falta de assistência muitas vezes está relacionada ao temor que algumas jovens têm de assumir publicamente a gestação, com isso de afasta da assistência médica. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 13 O autor observou que a anemia atinge as jovens em maior grau que as adultas, devido à má nutrição, as doenças sexualmente transmissíveis podem ter maior frequência devido a maior troca de parceiros e baixos padrões de higiene e o descaso em relação ao tratamento, a prematuridade dos partos segundo Vitiello (1999) atinge cerca de 30% das adolescentes grávidas, se tentou explicar esse fenômeno dizendo que devido a uma imaturidade no desenvolvimento uterino conforme o feto cresce aumenta-se a contração uterina levando ao parto prematuro, contudo em casos onde a gravidez na adolescência foi desejada o número de partos prematuros não difere da média. Quanto à mortalidade perinatal seria causada pelas condições adversas em que se dá a gravidez e o parto, sendo frequente devido à prematuridade. Levisky (1998, apud SANTOS; CARVALHO; 2006) destaca que o adolescente muitas vezes não tem uma estrutura psíquica organizada para lidar com os conflitos e aspectos primitivos ressurgentes. Ao entrar em contato com esses impulsos agressivos e sexuais, ele pode concretizá-los para satisfação imediata em detrimento de uma elaboração interna, compreendemos a partir da proposta deste autor, que frente aos impulsos sexuais o jovem pode ter dificuldade em fazer uso de mecanismos de defesa e agindo de forma impulsiva, o que pode acarretar sofrimento psíquico, gravidez e doenças sexualmente transmissíveis. Neste sentido para Dadoorian (2000) a gravidez não planejada no nível consciente pode ser uma forma de atuação destes desejos que o jovem não consegue elaborar. Em relação à atuação dos desejos, nos reportamos a Freud que pontua em Além do Princípio de Prazer, que existe a tendência psíquica de que os eventos mentais sejam colocados em movimento devido a uma tensão desagradável que tende a ser reduzida, como uma redução do desprazer e busca do prazer. Em suma “o aparelho mental se esforça por manter a quantidade de excitação nele presente tão baixa quanto possível, ou, pelo menos, por mantê-la constante” (FREUD, 1924/2006, p. 18). Araújo, Morés e Antunes (2001, apud SANTOS, CARVALHO; 2006) entendem que fatores socioculturais e psicológicos influenciam a procura tardia destas adolescentes pelos serviços de saúde, complementam ainda que muitas dessas jovens não se considerem mulheres. O aspecto biológico do atraso menstrual tão comum entre as jovens que iniciaram o ciclo menstrual há pouco tempo, pode sinalizar uma negação psíquica do papel de mulher, ao mesmo tempo em que pode dificultar o diagnóstico prematuro da gravidez que posteriormente pode influenciar na procura tardia pelo acompanhamento pré-natal. Esse mesmo fenômeno da irregularidade menstrual pode ser compreendido como uma gradual adequação do organismo feminino as transformações hormonais. Esse ajustamento gradual, tanto na esfera biológica, como na psíquica, é evidenciado por Sharpe (1973, p. 28) “assim como o corpo não pode ser forçado a crescer mais que alguns centímetros por ano, da mesma forma o desenvolvimento mental tem seu próprio ritmo”. A autora ressalta que oindivíduo é levado a realizar ajustamentos a partir das mudanças do ambiente, neste caso a gravidez na adolescência e a própria adolescência são condições que Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 14 levam ao empreendimento de ajustamentos, pois são momentos de transformação tanto física, como dos papéis sociais e do psiquismo. Sobre a procura tardia dos serviços de acompanhamento médico gestacional, Dadoorian (2000) constatou que devido ao desejo positivo de ter o filho, ou seja, a partir da constatação da gravidez as jovens que foram entrevistadas pela autora em grande parte já desenvolvem um vínculo com o feto e desta forma procuram acompanhamento médico, essa observação da autora contraria a proposição anterior. Ser mãe na adolescência conduz a adolescente a assumir a identidade, ao acelerar o processo de identidade materna, a adolescente interrompe um processo essencial para a vida adulta que é o processo de identificação pessoal, o “eu”, que na adolescência está em pleno desenvolvimento, isto pode causar conflitos desestruturadores desta personalidade que está em formação assim afirmam Porto e Luz (2004 apud NOGUEIRA; MARCON, 2002). Em relação às mudanças corporais Rodriguez (2004) reflete que na gravidez, bem como na puberdade, as alterações do esquema corporal são acompanhadas de fantasias inconscientes que dependem da qualidade das primeiras relações com as figuras parentais, ou seja, a capacidade de elaboração e a vivência da angústia causada pelo conflito entre aceitar ou rejeitar a gravidez podem revelar a dinâmica intrapsíquica e os recursos egóicos formados desde a fase mais primitiva. Para Munitz e Silber (1992 apud RODRIGUEZ, 2004) a disfunção familiar na infância aumenta a precocidade da atividade sexual e consequentemente é maior a probabilidade de uma gravidez não planejada. Rodriguez (2004) considera que esta colocação deve ser analisada com cuidado considerando a dimensão biopsicossocial, isto é, devemos ter o compromisso ético de evitar as generalizações e estigmatização. Na dimensão psicológica Knobel (1981) aponta que a gravidez na adolescência é mais provável mesmo com o conhecimento de métodos contraceptivos, devido à angústia mobilizada pela capacidade de reprodução que é diminuída pelas defesas onipotentes de que tal evento não ocorrerá e concomitantemente há a fantasia da maternidade. Segundo Dadoorian (2000) geralmente as pesquisas e programas de saúde encaram a gravidez na adolescência como acidental, indesejada e proveniente da desinformação sexual dos jovens. As políticas públicas de saúde voltadas para educação sexual usam técnicas normatizadoras e adaptativas do desejo sexual destes jovens, pregando um modelo de comportamento sexual adequado. Contudo é observado que adolescentes primigestas em curto tempo voltam a engravidar, mesmo após receberem aulas de informação sexual. A respeito de como a sexualidade é trabalhada na escola Foucault (1984) propõe que prevalece o discurso médico e cientifico preocupado com o disciplinamento do corpo. Sobre a proposta educacional em relação à sexualidade Albertini (1997, p. 69) traz o referencial reichiano: Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 15 “Todos sabemos que a educação sempre implica a colocação de limites... entretanto, a tarefa fundamental, que merece ser continuamente estudada e aprofundada, diz respeito à arte de colocar limites sem anular a expressividade sexual, e, portanto vital, do ser humano”. A respeito da sexualidade do adolescente Sharpe (1973, p. 30) evidencia que nossa sociedade exige um longo período de sublimação do desejo sexual do jovem, “devem adiar, talvez por anos, a satisfação dos objetivos sexuais, para os quais estão sexualmente bastante maduros”. Essa moratória social também é destacada por Calligaris (2000) que compara o adolescente a um agregado em uma aldeia indígena, onde este aprende todos os costumes e desenvolve habilidades para se integrar ao grupo, contudo se pede que ele ocupe uma espécie de limbo, onde não irá utilizar as habilidades que desenvolveu durante sua vida, nem definir seu papel social, é uma espécie de marginalizado, nem criança, nem adulto. Porém é importante destacar que não se faz uma crítica vazia aos programas de educação sexual, mas questionar o motivo que leva os jovens (tomamos o cuidado de não responsabilizar apenas a adolescente pela prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e gravidez) a vivenciarem a gravidez mesmo tendo conhecimento de métodos contraceptivos. A referida autora levanta dois fatores que podem influenciar a gravidez: os fatores biológicos e os fatores não biológicos, neste último estando inseridos os fatores culturais e psíquicos. Ela levanta que a pulsão sexual orgânica impulsiona a jovem a testar seu aparelho sexual, e a gravidez pode ser a consequência deste ato. Essa gravidez fruto da emergência corporal (termo utilizado em nosso estudo) ou segundo a autora resultado da relação entre a pulsão sexual e o corpo é denominada gravidez hormonal. A partir desse cenário, duas possibilidades se abririam para a adolescente: o desejo negativo de ter o filho, expresso através da interrupção da gestação, ou o desejo positivo de ter o filho, constituindo a maternidade. Até este momento a autora considera esse desejo negativo ou desejo positivo como fenômeno universal da adolescência, podendo ocorrer a todas as jovens de forma indistinta. O que irá determinar o rumo da gravidez hormonal são os fatores psicoculturais. Nas camadas populares o desejo positivo de ter o filho transforma a gravidez hormonal em gravidez simbólica, carregada de significados e constituindo uma maternidade precária, pois muitas vezes outras mulheres de seu círculo social foram mães adolescentes, sendo a maternidade então valorizada e podendo levar ao novo status de mulher. Esta jovem ainda assim, convive com circunstâncias sociais e econômicas desfavoráveis, muitas vezes sem contar com o apoio do parceiro e pai da criança, a autora ainda pontua que o casal grávido nestas situações é constituído pela mãe adolescente e sua progenitora. (DADOORIAN, 2000) Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 16 Essa união entre a filha adolescente grávida e sua mãe é analisada pela autora como uma identificação, agora a jovem que testou sua capacidade procriativa e sua feminilidade chega ao mesmo nível de sua genitora, é mulher e mãe. 1.2.1 Ser mãe O desejo de ser mãe e de possuir seus próprios filhos acontece na vida de uma mulher desde muito nova, a partir do momento em que inconscientemente a mesma fantasia que o corpo da mãe esta cheio de bebês que ali foram colocados pelo pai, que neste momento de sua vida simboliza bondade, criatividade e poder (KLEIN, 1937/1975). Ao brincarem com suas bonecas as meninas expõe este desejo de ser mãe, carregando-as o tempo todo e só as deixam quando têm algo a fazer e que as impeça de levar seus (suas) supostos (as) filhos (as). Estes desejos experimentados na infância tendem a ter grande importância para os cuidados que a mulher terá quando der a luz a seu próprio bebê, e esta se torna a recompensa pela frustação obtida quando menina, por ter desejado um bebê de seu pai e não poder ter tido. Algumas mães utilizam este relacionamento para satisfazer o desejo de ter alguém dependente dela, estas mães esperam que seus filhos permaneçam vinculados a ela, detestando assim qualquer tipo de demonstração de individualidade de seu filho (KLEIN, 1937/1975). A mãe aparenta ter a capacidade de sentir o que seu bebê sente, podendo assim agir com simpatia e amor associando-se aos sentimentos de culpa e ao impulso de reparação. No entanto se a culpa da mãe for excessiva e cobrir de amor sem esperar nada em troca, o filho pode se tornar umindivíduo egoísta, o excesso de indulgência da mãe não oferece margem para que as tendências naturais da criança à reparação atuem e dificulta a “consideração genuína pelos outros”. Esta capacidade de amar e compreender os filhos passa por teste quando os filhos entram na adolescência, pois as relações entre mãe e filho se modificam conforme os filhos crescem (KLEIN, 1937/1975, p. 109). As modificações que ocorrem nas relações entre mãe e filho levam a primeira a descobrir que não ocupa mais papel tão preponderante na vida dos filhos, contudo ela pode gozar de relativa satisfação ao se mostrar amorosa e receptiva para os momentos de crise do filho, segundo Klein quando a mãe se contenta em se manter coadjuvante nas conquistas do filho, existe uma dupla identificação, dela para com sua mãe prestimosa, “cuja influência protetora jamais cessou de atuar em sua mente”, e também para com seus próprios filhos, usufruindo também desta mãe prestativa que existe em sua mente e cujo papel agora desempenha (KLEIN, 1937/1975, p. 111). 1.2.2 Ser pai Ser pai é um dos papéis que muitos homens vivenciam durante sua vida, contudo como já relatado por Angulo (2002) o homem por meio da construção de um vínculo com seus filhos pode compensar uma inveja que sentiria da mulher por esta ter a capacidade de gerar o bebê. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 17 O homem hoje está construindo um novo papel social, devido à emancipação feminina, ele é cobrado a ter maior participação no âmbito familiar e nas tarefas domésticas (BERTOLINI, 2002). Compreendemos que se essa mudança tem potencial para desestabilizar a dinâmica intrapsíquica do homem, uma vez que hábitos culturais tem raiz na psique humana, e levam muito tempo para serem alterados, muitas vezes esses homens são provenientes de uma criação machista e paternalista perpetuada pelas próprias mulheres de seu convívio, as tarefas eram executadas apenas pelas mulheres da casa, causando sobrecarga e sentimentos de menos valia em quem sofre a sobrecarga, mesmo que essa pessoa assuma afazeres por sua própria iniciativa, como relatado por Desidério (1982). Aparentemente é mantida uma postura fria e distante dos pais para com os filhos, diferente das mulheres, no entanto os filhos exercem um grande papel na vida dos homens e ocupam um lugar ligado ao narcisismo infantil, pela gratificação que o homem obtém a partir da “doação” do filho para sua mulher, por assim poder satisfazer seus desejos sádicos com sua mãe e promover a reparação da mesma, além de satisfazer seus desejos femininos e compartilhar a maternidade com sua mulher, isto ocorre, pois quando criança o mesmo deseja gerar filhos como sua mãe, agora é capaz, e assim identifica-se com sua esposa sem sentimento de culpa. (KLEIN, 1937/1975). No livro No mundo dos homens, o autor Garfinkel (1985) relata que a camaradagem masculina é uma máscara para uma competição implícita, as relações seriam superficiais, e haveria o receio da rivalização, muito similar à relação existente entre o menino e seu pai durante o Complexo de Édipo, o autor ainda traz um pouco de sua experiência pessoal, relatando que o interesse pelo tema surge devido a um incomodo em sua relação com o pai e com amigos próximos. O referido autor ainda levanta a hipótese de que as relações masculinas estejam voltadas para uma atividade, a esse respeito ele escreve: “Nossos laços advém de fazer juntos; nós não aprendemos a respeito de estar juntos” (GARFINKEL, 1985, p. 19). A relação entre o pai e o filho, bem como a relação entre mãe e filha, é cercada de sentimentos ambivalentes: “amor e ódio, laços e barreiras, camaradagem e competição”, contendo elementos de disputa de poder, inferioridade emocional, admiração e revolta e a esperada reconciliação (GARFINKEL, 1985, p. 25). Compreendemos que os sentimentos vivenciados nas primeiras relações são internalizados e posteriormente em nossas relações futuras sirvam de parâmetro e atuação, a admiração que Garfinkel relata compreendemos ser advinda da identificação que segundo Freud precede ou é concomitante ao Complexo de Édipo, a idealização dos pais da infância, posteriormente na adolescência ocorre o desapontamento, os pais são vistos como menos potentes e o jovem procura outros ídolos, contudo geralmente passada a turbulência da adolescência de forma saudável ocorre a reconciliação, e quando o filho se torna pai, a identificação com seu progenitor pode ser retomada. Assim como o mesmo parece acontecer entre a mãe e a filha quando ocorre a gravidez, isso é relatado por Dadoorian (2000). Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 18 Em sua pesquisa, Garfinkel (1985) relata que entrevistou pessoas próximas que ele acreditava conhecer e que o surpreenderam como temas recorrentes nas entrevistas realizadas. Dentre os temas recorrentes nas entrevistas se destacam: poder, competição, temor de traição e abandono emocional, o pai idealizado na infância a quem o menino deseja amar e estar próximo parece se tornar a pessoa menos íntima. Desta forma vê-se a dualidade do herói, ao mesmo tempo é aliado e rival, uma figura mítica e distante, inclusive compreendemos que aliado à medida que serve de modelo para as futuras relações com os pares e com o sexo oposto, é rival na situação edípica e de poder fálico. O relacionamento do pai com o filho é semelhante do relacionamento com a mãe apesar das partes desempenhadas serem diferentes, suas atitudes se complementam, participa do relacionamento da mulher para com os filhos, compreendendo e auxiliando. 1.3. Apego e perda Conforme apresentado por Bowlby (1984), a primeira relação de uma criança é fundamental para a formação de sua personalidade, apesar de não existir concordância sobre como se dá esta relação, porém é de acordo que todos os bebês desenvolvem um vínculo com a figura materna, ou um cuidador substituto, até os doze meses (BOWLBY, 1984). Existem quatro teorias que abrangem o apego: Impulso Secundário; Sucção do Objeto Primário; Adesão do Objeto Primário e Anseio Primário de Retorno ao Ventre, porém a mais ampla e mais sustentada é a do Impulso Secundário (BOWLBY, 1984). Segundo nosso entendimento sobre a teoria proposta, o bebê se tornará ligado e interessado a uma figura humana em especial a mãe (o pai é a outra figura que com frequência estimula o comportamento de apego), a partir do momento em que a mesma satisfaça suas necessidades e sua seja fonte de prazer, no entanto só poderá ser confirmado o comportamento de apego a partir de provas evidentes de que além de reconhecer a mãe tende a comportar-se de modo a se aproximar da mãe (BOWLBY, 1984). Dollard e Miller (1950 apud BOWLBY, 1984) acreditam que a criança aprende a gostar de outras pessoas a partir da alimentação. Assim como Freud (1940 apud BOWLBY, 1984) afirma que a partir da satisfação de nutrição ocorre a origem do amor. O comportamento de apego esta presente de forma evidente na maioria das crianças até is três anos de idade, depois disso o comportamento muda, as crianças passam a se sentir segura a partir do momento que estão com figuras subordinadas de apego como por exemplo a professora da escola ou uma pessoa da família (BOWLBY, 1984). E assim conforme a idade da criança aumenta a intensidade do comportamento de apego diminui, afinal os meios de comunicação instantânea (telefone, e-mail, entre outros) é um meio de manter-se próximo (BOWLBY, 1984). Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 19 1.4. Complexo de édipo e desenvolvimento infantil 1.4.1 Complexo de édipo freudiano Segundo Freud (1931/2006) no complexo de Édipo normal, a criança possui uma ligação afetiva intensa com seu progenitor do sexo oposto enquanto apresenta comportamentos de hostilidade direcionados ao progenitor de seu próprio sexo, esta fase é vivida de forma diferenciada entre as crianças do sexo masculino e feminino apesar de ambos terem em comum o primeiro objeto amoroso, a mãe. De acordo com Freud (1931/2006) esta diferença se dá devido ao fato de o menino já ter como objeto amoroso sua mãe, e a intensificação desde desejo, faz com que ele eleja para seu pai o papel de rival, ou seja, aquele que impede que seus desejos sejam realizados. Já com a menina o processo ocorre de forma diferenciada, seu primeiro objeto de desejo é sua mãe e para que ela vivencie a fase do complexo de Édipo será necessário que ela abandone o objeto de desejo original, e este lugar seja ocupado por seu pai. Em suma, para que ela atinja o chamado complexo de Édipo positivo será necessário que ela tenha conseguido se desvencilhar do que é chamado de complexo de Édipo negativo, onde ela vê seu pai como um rival, ou seja, ele só atrapalha sua relação com sua mãe causando problemas. Pelo fato de amamentar e cuidar, naturalmente, o primeiro objeto amoroso, tanto para a criança do sexo feminino ou masculino, é a mãe ou a cuidadora equivalente, de acordo com Freud (1931/2006), esta escolha do objeto amoroso é realizada de forma natural por todas as crianças, e ao final deste ciclo o pai no caso da menina deveria ser eleito como novo objeto amoroso. Para Freud o bebê nasce com “gérmens de moções sexuais que continuam a se desenvolver por algum tempo”, esse início da vida sexual é suprimido progressivamente, e essa supressão pode ser rompida por particularidades no desenvolvimento individual, ou sexual, segundo o autor a vida sexual da criança costuma ser observável entre os três e quatro anos (FREUD, 1905/2006, p.166). A pulsão sexual na criança é autoerótica, ou seja, é satisfeita no próprio corpo ao invés de ser dirigida a outrem, inicialmente a eleição da zona erógena é oral, devido às necessidades alimentares, quando a criança é desmamada tende a procurar repetir aquele primeiro prazer e recorre a uma parte de seu próprio corpo para sucção, já que devido a não dominar ainda o meio externo, essa satisfação autoerótica lhe é mais cômoda e lhe proporciona uma segunda zona erógena em nível inferior. Essa inferioridade leva posteriormente “a buscar em outra pessoa a parte correspondente, os lábios” (FREUD, 1905/2006, p. 171). Sobre a fase oral Sharpe (1973, p. 26) pontua que a mente do bebê é primitiva, que não se diferenciou ainda da mãe, “sua vida começa na boca, e todo seu desenvolvimento corporal e psíquico irradiará e se amplificará partindo dessa experiência bucal”. Compreendemos, a partir da proposta da autora, que é necessário o estabelecimento deste vínculo, internalização do seio bom, uma confiança na mãe (ou cuidador substituto) para que as relações futuras sejam saudáveis. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 20 Freud evidencia que nem todas as crianças praticam essa sucção autoerótica, que ele denomina chuchar, supõe que as que o fazem tem a zona labial continuamente reforçada. Em um segundo momento a criança passa pela fase anal, devido a sua posição estratégica, essa zona pode conservar potencial de excitabilidade durante toda a vida, durante a infância devido aos frequentes problemas intestinais, aos cuidados na higiene da criança feitos pelos cuidadores. Freud pontua que a criança pode chegar a reter as fezes até que quando estas sejam expelidas provoquem estimulação intensa da mucosa, sejam “sensações de volúpia ao lado das sensações dolorosas” (FREUD, 1905/2006, p. 175). Sobre a fase anal o referido autor acrescenta que ao se desfazer da matéria fecal a criança pode demonstrar “sua docilidade perante o meio que a cerca, e ao recusá-lo, sua obstinação”, neste período começa o controle dos esfíncteres e a primeira conquista de autonomia da criança (FREUD, 1905/2006, p. 176). Na fase fálica a zona erógena está ligada a micção, e tal zona erógena tem importante papel no futuro, pois é precursora do começo da futura vida sexual, Freud destaca que a excitação geralmente ocorre de forma acidental e depois o desejo de repetição da sensação prazerosa, no caso dos meninos entende que a manipulação dos genitais sinaliza “a importante contribuição que a pulsão de dominação está destinada a fazer para a atividade sexual masculina” (FREUD, 1905/2006, p. 177). Na fase fálica ainda não há diferenciação entre os sexos, quando a criança é confrontada com as diferenças anatômicas busca explica-las por meio de teorias sexuais, também tem início o Complexo de Édipo e de castração subsequentemente. Quando fala das fases do desenvolvimento da organização sexual Freud evidencia que não necessariamente uma zona erógena é abandonada para que sobrevenha a próxima etapa, a esse respeito o autor destaca “essa forma de organização sexual pode conservar-se por toda a vida e atrair permanentemente para si uma boa parcela da atividade sexual” (FREUD, 1905/2006, p. 187). O indivíduo ao longo de sua vida passa por algumas etapas em seu desenvolvimento e uma destas etapas é o que chamamos de complexo de Édipo, que segundo Freud (1924/2006) é um dos fenômenos centrais do período sexual da primeira infância, porém após ter sido vivido pela criança ocorre a sua dissolução, ou seja, segue se o período de latência. Para Freud (1905/2006) um dos motivos para sua dissolução são as experiências não satisfatórias com seu objeto de desejo, ou seja, não foi possível se satisfazer da forma almejada e esta insatisfação faz com que a criança desista de realizar suas fantasias edípicas (no caso do menino com a mãe e a menina com o pai) no âmbito familiar, com a dissolução do Complexo de Édipo, tem início a fase de latência, aonde a criança investe sua libido para a apropriação do mundo externo, esse processo pode ser nomeado de sublimação. Segundo Anna Freud, durante a latência o superego infantil se desenvolve a partir da assimilação de valores e princípios morais que são trazidos por pessoas com as quais se identifica, esse processo substitui o medo infantil do mundo exterior para uma ansiedade Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 21 interna produzida pelo superego. Durante a infância a inibição dos impulsos advindos do id se dá a partir do medo do castigo que se origina no ego, o comportamento também é controlado por recompensas físicas e psicológicas dos pais. A criança experimenta então uma frustração externa, pois quem lhe barra o caminho para a concretização de seus impulsos do id são os pais e a sociedade em geral. Na adolescência a frustração é interna, pois deriva das inibições internas que se originam no superego. Ainda segundo Freud (1931/2006), uma das características do amor infantil é que a criança não se contenta com o pouco, ou seja, para ela o amor é visto de uma forma ilimitada e exclusiva e por este motivo não consegue ter uma satisfação completa de seus desejos, pois sempre espera mais do que recebe de seu objeto de desejo. Com o interdito ao incesto o menino teme a castração e sobrevém a fase de latência, em que a libido é deslocada para atividades escolares e sociais mais aceitas (FREUD, 1905/2006). De acordo com Freud vez ou outra podem ocorrer manifestações sexuais no período de latência que escaparam a sublimação, um desses exemplos é denominado chuchar, que consiste na repetição rítmica da sucção labial excluída a necessidade de nutrição. Esse sugar deleitoso leva a criança ao adormecimento, ou ações motoras que simulam o orgasmo, muitas vezes são combinadas fricções em outras partes do corpo, essas ações podem levar a masturbação. Esse exemplo ilustra a pulsão dirigida para o próprio sujeito, autoerótica. Freud destaca que nem todas as crianças demonstram o autoerotismo desta forma, as que o fazem provavelmente tem a zona erógena labial continuamente reforçada, e quando adultos podem se tornar apreciadoras do beijo, fumantes, expressarem distúrbios alimentares, entre outras possibilidades (FREUD, 1905/2006). Outro motivo apontado por Freud (1924/2006) é que o complexo de Édipo é um fenômeno que ocorre em todos os indivíduos de forma particular, portanto já está préestabelecido um desfecho, ou seja, uma dissolução. De acordo com a teoria freudiana o Complexo de Édipo é universal, influenciado por fatores genéticos, e independente de fatores ambientais, e a fase de latência termina com o desenvolvimento dos órgãos genitais na puberdade, contudo há divergências em relação a essa afirmação. As divergências consistem em afirmar que as mudanças fisiológicas são universais enquanto fenômeno orgânico, contudo coexistem as pulsões sexuais que procuram vazão, mudanças emocionais, comportamentais, de autoimagem, entre outras (MUSS, 1966). Segundo Freud (1931/2006) a criação do superego se dá através da transformação do complexo de Édipo no menino, ou seja, passa a ocorrer após ele descobrir que existe a possibilidade de castração, desta forma os processos que levam o indivíduo a buscar seu lugar na sociedade tem início, uma das influências do complexo de Édipo presente nos homens é o fato de encarar as mulheres como seres castrados. Já a mulher reconhece a sua castração e devido a este sentimento aceita sua inferioridade em relação ao homem, porém, segundo Freud (1931/2006) ela se rebela a este estado indesejável de inferioridade, gerando três linhas de desenvolvimento, onde na primeira, ela Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 22 cresce insatisfeita com a sua sexualidade, na segunda ela ainda tem esperanças de se conseguir ter um pênis como os meninos e na terceira ela consegue atingir a atitude normal feminina e faz de seu pai o seu objeto de desejo, entrando no complexo de Édipo feminino. Entendemos a partir do Complexo de Édipo de Freud, que quando a menina se rebela contra a castração e a dita superioridade masculina, tende a se desenvolver a homossexualidade, ou ter comportamentos vistos como masculinos, inclusive exercer profissões consideradas de domínio masculino. Quando o desfecho do Complexo de Édipo leva a menina a desejar ter o pênis, há a negação da diferença entre os sexos. Na terceira possibilidade que Freud levanta entendemos que a menina irá transformar o pai em objeto de desejo devido à decepção prévia com a mãe, por esta tê-la feito sem o pênis e não o possuir para dá-lo, desta forma o pai enquanto possuidor do falo e potência se torna objeto de desejo, passando do desejo do objeto para a pessoa, do objeto para o todo, ou segundo Klein, do objeto parcial para o total. Segundo Freud (1931/2006) “a fase de ligação exclusiva à mãe, que pode ser chamada de fase pré-edipiana, tem nas mulheres uma importância muito maior do que a que pode ter nos homens”. O Complexo de Édipo ressurge na puberdade, o jovem é pressionado para a definição de um papel social e sexual, com a escolha de um par, geralmente para essa escolha, que é inconsciente, o objeto de amor primário será o parâmetro, seja para uma escolha similar ou contrária, neste caso para defender-se da ideia de consumação do incesto com um parceiro muito parecido com o genitor do sexo oposto no caso de heterossexualidade. Freud relata que mesmo com a segunda situação edipiana o desenvolvimento do superego avança durante a latência criando uma barreira internalizada ao incesto que reprime esses sentimentos (FREUD, 1905/2006). “O aumento da tensão sexual durante a adolescência faz reviver muitos dos objetos incestuosos do período genital anterior e dirige a libido para eles” (MUSS, p. 33, 1966). Essa dissolução seria esperada devido à incompatibilidade de seus desejos em relação à realidade, essa impossibilidade está ligada a interdição cultural do incesto e com a etapa de desenvolvimento em que a criança se encontra. Devido a esse fracasso e perda do amor da infância há uma marca narcísica que segundo o referido autor pode aparecer em um sentimento de inferioridade comum aos neuróticos (FREUD, 1920/2006). A afeição que une a criança ao genitor do sexo oposto leva ao desapontamento, um sentimento de traição que pode ser notado quando há o nascimento de um irmão, até mesmo a tentativa de gerar bebês junto ao genitor resulta em um fracasso óbvio, dada a condição fisiológica que impede a procriação (que pode ser concretizada na adolescência, quando surge a angústia da possibilidade de consumar o incesto), a requisição da educação, um castigo levam a criança ao desfecho da relação amorosa edípica com os genitores, importante destacar que se fala em termos simbólicos, não há nessa fase uma desvinculação real dos pais, dada a dependência que ainda coexiste entre a criança e o casal parental (FREUD, 1920/2006). Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 23 1.4.2 Complexo de édipo kleiniano Assim como Freud, Melanie Klein considera que para os bebês de ambos os sexos a mãe ocupa o lugar de primeiro objeto de amor, o bebê ama a mãe à medida que satisfaz suas necessidades alimentares e “lhe oferece o prazer sensual que experimenta quando sua boca é estimulada pelo sugar do seio”, Klein pontua que a criança também vivencia sentimentos de ódio e agressividade em relação à mãe quando não tem seus desejos gratificados ou sente dor e desconforto (KLEIN, 1937/1975, p. 83). Os sentimentos de ódio e agressividade originam estados penosos que o bebê experencia como destrutivos de seu corpo, desta forma a sensação de infelicidade e os temores são intensificados. A forma mais primária e imediata de “aliviar um bebê desses estados dolorosos de fome, ódio, tensão e medo é a satisfação de seus desejos pela mãe” (KLEIN, 1937/1975, p. 84). Quando o bebê é gratificado pela mãe ou cuidador substituto experimenta uma sensação de segurança, essa sensação terá papel importante nas relações que serão estabelecidas em todo o ciclo evolutivo do sujeito, o fato de a mãe ter sido a primeira a satisfazer nossas necessidades de autopreservação e desejos sensuais torna seu papel duradouro em nossas mentes, contudo essa influência nem sempre é consciente. A autora retrata casos em que uma mulher pode transferir para a relação com o marido os aspectos primitivos de alienação da relação com sua mãe. “O primeiro relacionamento do bebê com seu pai enquanto figura gratificadora é parcialmente modelado sobre o da mãe” (KLEIN, 1937/1975, p. 84). Os impulsos e sentimentos do bebê são acompanhados por uma atividade mental primitiva que é a elaboração de fantasias, Klein exemplifica que o bebê pode experimentar um desejo intenso pelo seio e se este não está presente pode fantasiar que está e imaginar a satisfação que deriva do seio, com isso ocorrem fantasias agradáveis. As fantasias primitivas que ocorrem concomitantemente aos sentimentos do bebê podem variar, sendo agradáveis quando ocorrem sensações prazerosas, ou destrutivas quando o bebê é frustrado pelo seio, em sua fantasia o bebê ataca o seio, “sente desejo de morder e despedaçar a mãe e seus seios” (KLEIN, 1937/1975, p. 86). Essas fantasias destrutivas equivalem a desejos de morte, o bebê imagina que seu desejo foi concretizado, ou seja, que destruiu o objeto de seus impulsos destrutivos, para lutar contra esses temores a criança se apoia em fantasias onipotentes de restauração. A autora acredita que mesmo em sua fantasia tendo restaurado o objeto permanece o receio de haver destruído o objeto que ama e depende. Esses conflitos básicos influenciam profundamente o curso da vida emocional de adultos (KLEIN, 1937/1975, p. 86). Conforme o processo de desenvolvimento avança a menina deseja o pai de forma mais intensa que a mãe, alimentando fantasias inconscientes de tomar o lugar da mãe, demonstra ciúmes dos irmãos, desejando que o pai lhe dê bebês exclusivamente seus. Esses sentimentos, desejos e fantasias provocam rivalidade, agressividade e ódio contra a mãe, Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 24 que são somados às frustrações primárias com o seio. Contudo além dos sentimentos de agressividade também permanecem as fantasias sexuais e desejos direcionados à mãe. A partir dessa influência a menina pode buscar tomar o lugar do pai em relação à mãe, “em certos casos esses desejos e fantasias podem desenvolver-se com maior intensidade do que os dirigidos ao pai” (KLEIN, 1937/1975, p. 90). A referida autora pontua que junto aos sentimentos amorosos direcionados aos pais coexiste a rivalidade, essa mistura de emoções e fantasias também pode ser vivenciada no relacionamento com irmãos e irmãs. Klein acrescenta que os desejos direcionados pela menina à mãe e as irmãs tem importante papel na base dos relacionamentos homossexuais que podem ser desenvolvidos posteriormente “bem como de sentimentos homossexuais que se manifestam indiretamente em forma de amizade e afeição entre mulheres” (KLEIN, 1937/1975, p. 90). Segundo a autora existe na mente inconsciente da criança e do adulto o anseio de sacrificarse, como uma forma de reparar os objetos de amor que em sua fantasia foram danificados ou destruídos, para Klein esse é um passo importante no desenvolvimento psíquico e amoroso, pois leva o sujeito à identificação com o objeto de amor, pois ao reparar um dano que em fantasia foi exercemos o papel dos pais amorosos (que existiram na realidade ou que desejamos) e também é desempenhado “o papel de filho bom para seus pais, que gostaríamos de ter feito no passado” (KLEIN, 1937/1975, p. 97). Para a autora um relacionamento amoroso satisfatório e estável implica em afinidade, capacidade mútua de sacrifício e de compartilhar, segundo ela se a mulher tem uma atitude maternal para com o homem, satisfaz seus desejos primitivos de gratificação que esperava de sua mãe, o homem por sua vez vivencia a posse dessa mãe simbólica com menor sentimento de culpa, e quando obtém o amor e aprovação da esposa, sente-se amadurecido e capaz de igualar-se ao pai com quem rivalizava agora se instala uma competição amigável com o pai ou outras figuras paternas, e a mulher transferindo para o marido atitudes que originalmente tinha para com seu pai, tende a confiar, admirar e sentir-se segura (KLEIN, 1937/1975). Em suma, o relacionamento amoroso adulto ocorre a revivescência da situação primitiva edípica, contudo ao se procurar no mundo externo o objeto de amor que atenda de alguma forma as necessidades de gratificação da infância há menos sentimento de culpa (KLEIN, 1937/1975). 1.5. Papel da mulher na atualidade Muitas mudanças no modelo familiar são consequência da conquista feminina após a Primeira Guerra Mundial de forma mais evidente, entretanto, Almeida (2007) traz à discussão de que a autonomia feminina vem sendo construída desde a Revolução Industrial e Francesa a inserção da mulher no mundo do trabalho altera a forma como a vida privada era pensada até então, todos esses eventos influenciaram a alteração de comportamento e modelo de família que vemos hoje e que passou a ser notada na década de 1960, Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 25 consequência do avanço cientifico que trouxe a contracepção e posterior liberdade sexual, emancipação feminina e anseio pela igualdade entre os sexos. Em relação à emancipação feminina, Bertolini (2002) destaca que as conquistas femininas influenciam uma nova forma de relacionamento entre homens e mulheres e exige que as mulheres equilibrem e integrem os diversos papéis que agora desempenham na vida familiar e profissional. A autora ainda pontua que os estudos realizados no Brasil em relação às mudanças no cotidiano da mulher só passaram a ser estudadas de forma mais frequente a partir da década de 1970, enquanto nos Estados Unidos este tema já era foco científico vinte anos antes. Destaca ainda que seu interesse pelo estudo do tema da inserção da mulher no mercado de trabalho se deve a uma observação de mulheres gestantes que tendem a se culpar antecipadamente, por temer não dar assistência suficiente a seus filhos devido à dupla jornada. As conquistas da mulher no mundo do trabalho segundo Bertolini (2002) se iniciaram de forma velada a partir da década de 1940, e mais frequentemente na função de professora primária. Esta função era aceita como uma contribuição da classe burguesa para os menos favorecidos e não permitia as mulheres rivalizar com o marido o papel de prover o lar. A mulher que exercia a função de educadora dava continuidade à função que exercia em casa, se ocupando dos cuidados com a geração futura, e perpetuando o modelo familiar patriarcal. Ainda hoje podemos identificar que o sistema educacional é dominado pelas mulheres e que se queixam de baixa remuneração e más condições de trabalho. Para Bertolini (2002) outro fator que contribui para a emancipação feminina foi o fluxo migratório na época da Primeira Guerra Mundial. Em relação a isso a autora discute que o aumento do contingente de mão-de-obra na lavoura, conquistas tecnológicas e assimilação de novas ideias liberaram o tempo da mulher para outras atividades. A mulher começa a ingressar na formação superior e aos poucos se torna um agente de mudanças na sociedade e no meio familiar. O salário feminino começa a atingir valores mais significativos, marcando uma alteração nas relações de poder com o outro sexo. Contemporaneamente a mulher busca simultaneamente realização pessoal e profissional, explana um desejo de independência econômica. Essa construção de uma nova identidade, em que o trabalho fora do lar é fonte de status, poder e autoestima, devido a sua saída para o mercado de trabalho possibilitar estabelecimento de relações com outras pessoas e acarretando o enriquecimento de suas vivências (BERTOLINI, 2002, p. 19). Para Bertolini (2002, p. 21) a mudança de status que o trabalho proporciona a mulher, ainda mais com sua capacidade de emancipação financeira pode levar a mudanças em sua relação com o homem, este por sua vez pode a contragosto perder o poder absoluto sobre as decisões familiares. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 26 O crescente número de denúncias de violência contra a mulher pode ser uma manifestação deste fenômeno do embate de forças entre homem e mulher na dinâmica familiar, embora também devido a maior autonomia a mulher esteja denunciando mais frequentemente a violência sofrida pelo companheiro do que antes. Embora nosso tema de estudo não tenha esse foco achamos conveniente levantar essa hipótese para estudos posteriores, que também são de nosso interesse. A mulher a que Bertolini (2002) se refere busca o aprimoramento profissional por meio do investimento em sua formação superior, cursos no exterior e experiência de vida em detrimento do casamento, se torna mais individualista em seu plano de vida sublimando e adiando o casamento que antes ocupava o objetivo principal da vida feminina. Paradoxalmente o mercado de trabalho apresenta um achatamento do salário adiando a possibilidade de emancipação do jovem e concretização de seu projeto de vida independente, segundo Bertolini (2002) esse adiamento da vida independente tem influencia das décadas de crise na economia brasileira no final do século XX e ao processo de globalização. Em relação ao plano de vida da mulher atual que parece valorizar suas conquistas profissionais, buscamos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010). As informações indicam que as mulheres recebem 29,3% menos que os homens, mesmo com mais anos de estudo. O quadro de desigualdade entre os sexos, no que tange a remuneração profissional se torna mais grave quando ambos têm formação educacional igual ou superior a 12 anos, neste caso as mulheres recebem 42% menos que os homens. Em relação à carga horária as mulheres trabalham em média 36 horas semanalmente contra quase 44 horas dedicadas pelos homens à ocupação profissional. Entretanto, os indicadores sociais do IBGE (2010) expõem que as mulheres mesmo trabalhando fora de casa continuam dedicando mais horas as atividades domésticas (em média 22 horas semanais), enquanto os homens que atuam fora do lar semanalmente dedicam 9,5 horas aos afazeres domésticos. Mesmo com as mudanças vivenciadas no universo feminino, podemos destacar que ainda há diferença salarial entre homens e mulheres que exercem a mesma função, o que pode sugerir o resquício da submissão feminina em nossa cultura. O papel da família na formação da personalidade dos indivíduos é discutido por Desidério (1982). A autora traz o exemplo de mães que devido ao modelo familiar que introjetaram e agora replicam, assumem o papel de “servente” da família e subjugam os familiares a uma dependência já não necessária. A simbiose, neste sentido, seria referente às tarefas que podem ser executadas, e que são assumidas inteiramente por um membro da família. Desta forma, o núcleo familiar seria dividido entre os que servem e os que recebem, segundo Desidério (1982) com o tempo os membros que estão na posição de serventes se cansam e sentem-se menosprezados, pois na realidade gostariam de receber e ser atendidos, a autora conclui que quanto mais os pais dão aos filhos, de forma inconsciente mais se Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 27 ressentem deste investimento e consequentemente cobram a escolha de uma profissão, de uma postura de vida destes filhos. Compreendemos que essa cobrança que os pais fazem aos filhos, pode se estender para a ocorrência de uma gravidez não planejada, os pais podem se ressentir de haverem se dedicado aos filhos e os mesmos não corresponderem às expectativas parentais. Esse fenômeno poderia ser interpretado como um desejo dos filhos de fazerem um rito de passagem conquistando a autonomia e identidade adulta, e a cobrança dos pais, como um desejo de manter seus filhos dependentes simbioticamente e de continuar sua existência através dos filhos. Compreendemos que o ser humano é um mamífero que nasce incompleto e sem o aparato para sobreviver de forma independente como a maioria dos animais, ele termina seu desenvolvimento fora do organismo materno e a partir do auxílio das figuras parentais, que tem a função de inseri-lo nos hábitos socioculturais e ajudar a desenvolver habilidades para sobreviver no meio em que está inserido. Angulo (2002) destaca que os estudos de Psicologia dão maior ênfase a investigação do comportamento e emoções maternas em relação ao desenvolvimento dos filhos, essa tendência desperta debates na Sociologia e Filosofia. 1.6. Família e sociedade Devemos ressaltar que nossa intenção não é culpabilizar a família em relação ao desenvolvimento saudável de seus filhos, ou mesmo criticar o modelo familiar vigente propondo mudanças, pois em nossa atuação devemos nos eximir de desejar e decidir pelo sujeito. Procuramos refletir e trazer para o debate as possíveis implicações do modelo familiar que temos em relação à situação de crise que a gravidez na adolescência pode acarretar. Como destacado por Angulo (2002) é relevante à importância da família para o desenvolvimento infantil saudável e que a qualidade das relações familiares influencia na adaptação dos jovens, mas a autora também coloca que se devem considerar os aspectos inatos. A partir de uma visão global do ser humano, ele se desenvolve em ao menos três esferas: biológica, psicológica e social e que as mesmas são relacionadas e dependentes, destacamos, por exemplo, que devido à participação da mulher no mercado de trabalho - que é uma demanda gerada no aspecto social-, a criança é institucionalizada mais cedo. Devido a essa institucionalização participam de um contexto mais amplo e estabelecem vínculo com outros cuidadores e interagem com outras crianças, este aspecto nos consideramos positivo à medida que ocorrem ganhos na socialização doindivíduo, muitas famílias esperam romper com a insegurança inicial de entregar seus filhos aos cuidados de outros, porém muitos podem enfrentar a fantasia de que seu filho vai amar outra pessoa mais que a eles, ou até mesmo deixar de amá-los, as crianças por sua vez podem fantasiar o abandono, esses pensamentos ambivalentes podem trazer conflitos. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 28 Devido à nossa experiência em creche é possível identificar fatores negativos também, como a maior possibilidade de desenvolver infecções. Confirmando essa compreensão, Vico e Laurenti (2004) destacam que as crianças atendidas por instituições podem ser acometidas por enfermidades, principalmente de ordem respiratória, cutânea e do aparelho digestivo. Esse adoecimento é comumente associado à maior vulnerabilidade da faixa etária atendida pelas instituições e também porque devido ao ambiente coletivo há maior circulação e transmissão de agentes infecciosos. Neste estudo nosso interesse são os pais de jovens que tiveram filhos na adolescência, pois compreendemos que como na adolescência de seus filhos ressurgem os conflitos edipianos dos pais, somente isso já caracteriza uma crise na família, somando a esse quadro uma gravidez não planejada, é de suma importância refletir sobre o papel da família do jovem. Para compreender as mudanças no modelo familiar é importante observar as mudanças no papel da mulher e do homem na sociedade. A família é uma microestrutura social que somatiza os males e divisões da macroestrutura que a sociedade constitui. O nível de contato familiar varia de acordo com a maturação e abertura da estrutura familiar. Algumas famílias proporcionam maior vinculação afetiva, enquanto outras ficam restritas aos papéis parentais e filiais promovendo a procura de relacionamento afetivo fora do contexto familiar (DESIDÉRIO, 1982). Desidério (1982) dá exemplos de amigos que fazem papel de irmão, amiga da mãe que ocupa o espaço de confidente que seria destinado ao marido, e da dedicação exacerbada do marido ao trabalho, ocorre uma inversão, a família é vista como intimidadora e a sociedade como acolhedora, pois tenta suprir a falta ou contato deficiente com a família. Desta forma, vemos uma contradição entre os modelos normatizados pela sociedade que, ao mesmo tempo, em que promove um modelo familiar de integração, valoriza o narcisismo, e o consumismo este último por sua vez, é o fruto da sociedade capitalista que faz com que as pessoas despendam maior tempo dedicadas as atividades laborais, perdendo de vista o contato afetivo no seio familiar (DESIDÉRIO, 1982). É evidenciada a influência de fatores psicossociais no contexto da gravidez da adolescente, tais como experiências prematuras de perda, falta ou ineficácia de cuidados maternos na primeira infância, separação das figuras parentais, além da privação socioeconômica. A esse respeito Dadoorian (2000) pontua que nossa sociedade ainda está impregnada do modelo patriarcal, em que no núcleo estão o casal parental e seus filhos, agregados e empregados, esse modelo só é possível segundo a autora nas famílias de classe média, surgindo nas famílias de classes menos favorecidas social e economicamente como um ideal, por meio de entrevistas a autora constatou que muitas adolescentes grávidas desejam para seu projeto de vida, unir-se ao namorado (pai da criança), tendo uma casa. Devido à dependência econômica destes jovens em relação a seus pais, esses projetos muitas vezes são inviabilizados, e caso decidam ficar juntos e dividir as responsabilidades e cuidados com a criança que irá nascer muitas vezes dependem dos pais. Sobre a relação de ajuda que os pais muitas vezes prestam aos filhos, Barrera (1986 apud SIMÕES, 2002 p. 291) conceitua a ajuda social a partir de algumas necessidades: Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 29 Ajuda material (dar ou emprestar dinheiro ou bens); assistência comportamental (ajudar realizando tarefas); apoio emocional e interação íntima nos problemas (escutar, dar segurança, promover autonomia); supervisionar (informar e apoiar); feedback (sobre pensamentos, sentimentos e comportamentos) e interação social positiva (proporcionar diversão e relaxamento). Para constituir uma rede de apoio e suporte social que faça com que o sujeito se sinta menos abatido pela adversidade, não é necessário fornecer todos os tipos de auxílio citados acima, pois diferentes pessoas defrontadas com conflitos diversos que dependam de soluções distintas irão depender de auxílios pessoais díspares (BARRERA, 1986 apud SIMÕES, 2002). Cohen e Brook (1993 apud SIMÕES, 2002) em relação ao suporte social assinalam que a percepção deste suporte é ainda mais importante do que o uso destes recursos de apoio frente aos efeitos psicológicos provenientes das adversidades. 1.7. Aspectos sociais da adolescência Os adolescentes estão inseridos em um século tecnológico, tudo é informatizado, e mesmo assim, ainda se sentem desamparados e despreparados para essa realidade, além de obterem as mudanças fisiológicas que podem causar muitas dúvidas e dificuldades. No entanto essas mudanças não permeiam somente a vida do adolescente, mas também do adulto, os pais, que ficam sem saber como agir, pois a sociedade exige que eles sejam marcantes nas atividades de trabalho e também não que abram mão do tempo para o convívio com os filhos, podendo assim tornar-se uma situação conflituosa (ANGULO 2002). Ainda quando bebê este que agora é um ou uma adolescente constitui um vínculo inicial com a mãe, a medida com que o seio é estabelecido com segurança para o mundo interno do bebê, influenciando assim os outros relacionamentos deste ser, inclusive com o pai que compõe o triângulo amoroso (ANGULO, 2002). Cruz (2005), afirma que a relação pais-filhos é a relação mais definitiva e exigente. É uma relação aonde à sociedade não admite que ocorram falhas, nem espaço para grandes duvidas. Angulo (2002) relata que a família é de extrema importância no desenvolvimento infantil, que os aspectos inatos dos indivíduos são inegáveis, porém quanto melhor forem às relações familiares, mais bem ajustados serão os jovens. Sobre a educação que a família proporciona, Desidério (1982) pontua que ocorre uma ambivalência, os pais ficam em dúvida entre seguir o modelo de educação em que foram criados ou utilizar os modernismos educacionais, a autora então traz que essa dúvida dos pais é percebida pelos filhos como mensagens ambíguas, desta forma os filhos podem evitar o confronto consigo e com a família. Desse conflito deriva a falta de limites externos não são internalizados para a formação dos limites internos e acarreta um estancamento da personalidade em níveis primários. Os adolescentes também se encontram em situação de ambivalência, segundo Calligaris (2000), as escolhas dos adolescentes quase sempre se tornam a realização dos sonhos e Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 30 desejos dos adultos e é quase impossível para o adolescente se afastar deste ideal, pois é necessário interpretar o desejo dos adultos em relação a eles para que este adolescente tenha permissão de chegar à idade adulta, porém, apesar da adolescência ser uma forma de realização do sonho dos adultos, estes mesmos adultos possuem como ideal para o adolescente a liberdade e autonomia, sendo assim o adolescente deve cumprir o ideal a ele imposto e ao mesmo tempo possuir liberdade de expressão e atitudes. Segundo Aberastury e Knobel (1981), existe um processo de desprendimento da infância para a adolescência e o papel dos pais não é muito valorizado, desta forma é criado um problema de gerações já que o adolescente causa um conflito de em seu meio familiar e social, e por sua vez, os pais vivem pelos seus filhos o luto pela perda do corpo infantil, pela dependência e pela identidade de criança e ao aceitar a perda do filho criança os pais se deparam com a realidade do envelhecimento e da morte. Neste momento os pais devem começar a aceitar que os filhos não irão mais vê-los como seus ídolos, e sim como alguém que comete erros e que esta suscetível a críticas. De acordo com Aberastury e Salas (1984), é necessário que os pais aprendam a fazer renúncias para que haja a evolução na relação com o seu filho, deverá aceitar a ambivalência desta relação, pois irá se deparar com os sucessos e seus fracassos de seu filho adulto e desta forma irá se deparar com seus próprios fracassos e sucessos do passado, aonde o filho acabará sendo o telespectador de todo o que foi realizado ou não. Ainda segundo Aberastury e Knobel (1981), para o adolescente é importante ter o controle das mudanças, para isso acredita que deve planejar a sua vida segundo o mundo externo e as suas necessidades, explicando assim a sua necessidade de reforma social, neste momento o adolescente se utiliza de diversos meios para tentar se adequar a realidade do mundo ao seu redor. Uma das diversas formas de adequação à realidade utilizada pelo adolescente é através da transgressão, segundo Calligaris (2000), o adolescente deseja fazer parte do meio em que convive e para que se sinta merecedor ele acredita que deva transgredir, ou seja, não deve se curvar ao que estes mesmos adultos pedem ou esperam, sendo assim o adolescente vai contra aquele modelo conhecido do mundo exterior e desta forma se sente merecedor de adentrar nele. Porém, quando o adolescente age desta forma, está na maioria do tempo cumprindo um papel que é dado a ele, pois ainda de acordo com Calligaris (2000), a cultura predominante espera que o adolescente transgrida, não obedeça e que tenha sua própria autonomia, portanto ao invés de ir contra o modelo adulto ele está cumprindo o seu papel de adolescente. Durante o período de adolescência o adolescente passa a maior parte do tempo tentando descobrir o que os adultos querem dele e por outro lado o adulto tenta realizar através do adolescente os seus próprios sonhos, Calligaris (2000). Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 31 2. Método Foi feito levantamento bibliográfico com trabalhos que abordam o tema da gravidez na adolescência e elaboração de uma discussão com base na teoria kleiniana. Procedimento Realizamos o levantamento teórico utilizamos capítulos de livros, teses e revistas científicas, nos voltamos para a base de dados Scielo, Pepsic, Teses da USP e PUC os descritores foram: gravidez na adolescência, sentimentos de pais de adolescentes grávidas, parto e puerpério, desenvolvimento do adolescente e sexualidade. Os materiais selecionados para uso têm data de publicação a partir da década de 1940. A análise bibliográfica foi feita buscando compreender a dinâmica intrapsíquica de adolescentes e suas famílias, características da fase de desenvolvimento da adolescência, a situação de crise que a gravidez constitui, os papéis da maternidade e paternidade como suporte perante esta crise, a partir destas compreensões buscamos discutir e construir uma visão abrangente sobre este fenômeno. 3. Discussão Provavelmente devido ao adiamento do casamento em detrimento da realização profissional é cada vez mais comum o início da atividade sexual em idades mais precoces, geralmente fora de um relacionamento estável, com isso pode ocorrer uma maior tendência ao aparecimento de gravidez não planejada e doenças sexualmente transmissíveis. É importante destacar que talvez a gravidez não planejada na adolescência e fora do casamento também ocorria no passado, contudo em menor grau, pois como os casamentos ocorriam cedo a atividade sexual pré-matrimonial que pudesse existir teria menor espaço temporal, diminuindo as chances de gravidez, e possivelmente quando a gravidez ocorria nesse contexto era mais camuflada devido a pressão e estigma social que uma mãe solteira e adolescente provavelmente vivenciaria. Se refletirmos sobre a história de nossas avós, muitas delas casaram cedo e começaram a engravidar ainda na adolescência, o que nos leva a pensar que a gravidez na adolescência não é um fenômeno atual, a grande questão de hoje é que devido ao adiamento do casamento a gravidez na adolescência hoje costuma ocorrer fora do casamento, e devido a diversos fatores psicossociais a responsabilidade sobre a situação costuma recair sobre a adolescente e sua família, podendo levar a intercorrências como perpetuação da miséria social, devido a maior dificuldade que esta jovem tem de continuar seus estudos e ter acesso a empregos com maior remuneração; a gravidez na adolescência também pode gerar conflitos psicológicos devido ao momento em que ocorre, onde geralmente é o momento de construção de uma identidade adulta e com o nascimento de um filho se assume outro papel de forma concomitante; no caso da jovem solteira ainda pode surgir o estigma que possivelmente dificultará o início de novos relacionamentos amorosos, podemos pensar ainda nas intercorrências para o desenvolvimento da criança é fruto da gravidez na adolescência sem planejamento e sem a presença do pai, levando a construção de uma Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 32 família monoparental (com a mãe enquanto única provedora), ou de famílias com constituição extensa (onde a adolescente grávida permanece com a família de origem). As jovens que procuram a formação profissional como fator importante para sua formação de identidade podem ter maior tendência a evitar a gravidez e até mesmo o casamento, desta forma a jovem que tem apoio familiar e social para uma formação educacional continuada tem outros objetos (carreira, independência, lazer, etc.) a que investir a libido. Essa compreensão é corroborada pelas conclusões que Taquette (1997) chegou em sua tese de doutorado, a autora propõe que as jovens que se sentem infelizes em suas famílias de origem tendem a tentar, através da gravidez, formar uma família melhor e mais feliz. Devemos considerar que geralmente devido a dificuldades socioeconômicas jovens de classe menos favorecida encontram dificuldades para dar continuidade aos estudos, talvez, tendo outros ideais e sendo estes jovens direcionados a maturidade de forma que pode ser vista como precoce para os padrões da classe média, que por sua vez promove o adiamento da emancipação em favor da formação profissional e conquista de status social e financeiro. Essa maturidade que é estimulada nos jovens de classe menos favorecida, pode ser um dos fatores, além dos fatores psicológicos, para o início da atividade sexual que se for realizada sem os meios de prevenção adequados pode levar a transmissão de doenças e a gravidez não planejada. Esses jovens geralmente trabalham em empregos informais e se optam em dar continuidade aos estudos, o fazem durante o período noturno. Desta forma mesmo que sua remuneração seja baixa, o jovem está exercitando uma relativa independência. Conforme pontuado por Muss (1966) a adolescência tende a ocorrer mais cedo em pessoas do sexo feminino e terminar mais cedo em sociedades mais primitivas, onde as condições sociais levam o jovem a exercer mais cedo o papel social adulto. Conforme pontua Calligaris (2000) o jovem nas sociedades industrializadas é idealizado como ser transgressor, rodeado de festas, atende ao desejo reprimido dos adultos, contudo é passada uma mensagem ambígua quanto à sua sexualidade, ao mesmo tempo em que parece reprimir as atividades sexuais pré-matrimoniais, por meio de ideais morais e religiosos, o jovem também é bombardeado por estímulos sexuais na mídia, e parece existir uma grande tolerância para a gravidez não planejada na adolescência. Segundo Taquette (1997) quando os jovens se sentem amados e valorizados no âmbito familiar, as sanções obtém legitimidade, ou seja, o jovem tende a seguir as normas sociais e familiares quando os laços afetivos são fortes, e desta forma os adolescentes podem obter maior controle sobre suas pulsões e desejos sexuais. Devido às pulsões sexuais e as fantasias infantis de concepção que impulsionam o jovem ao exercício de sua sexualidade aliados a onipotência que pode fazer com que não se previna corretamente e ocorra a gravidez, que pode constituir além de um fator de rivalização com os pais, uma espécie de rito de passagem, pois o jovem tanto do sexo feminino como do masculino, prova sua capacidade procriativa. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 33 Contudo pensamos que socialmente o jovem do sexo masculino é cobrado a ter desempenho sexual e múltiplas parceiras. Essa postura é relatada por Rank (1945) o jovem pode usar dois mecanismos de defesa para manter sua independência, a promiscuidade ou o ascetismo. Sendo promíscuo o adolescente pode dar vazão às pulsões sexuais em ebulição sem com isso formar vínculo afetivo, e evitando o temor de desintegração. Já quando tem uma postura ascética rejeita qualquer tipo de relacionamento amoroso. O autor destaca que períodos de ascetismo podem ser alternados com períodos de promiscuidade, mas o importante é ter em conta que em ambos os casos o jovem evita o amor autêntico, que demanda autocontrole, autossubordinação e dependência além de integração constante das relações externas e internas entre o eu e o outro. Essas manifestações comportamentais características da adolescência dificultam no caso da ocorrência de uma gravidez que a jovem grávida e o pai da criança se unam para “criar” o filho, e quando o fazem geralmente ocorrem desentendimentos que podem levar a separação. Para compreender o que ocorre na dinâmica familiar nos reportamos a Desidério (1982) que pontua a existência de um contrato implícito de divisão de tarefas, mas que com o passar do tempo um dos cônjuges pode se ressentir, sentindo-se sobrecarregado e desvalorizado, por assumir atividades cuja carga outras pessoas do grupo familiar poderiam dividir. Em nossa compreensão é o que pode ocorrer quando a responsabilidade com os cuidados do filho recai sobre um dos pais (geralmente a mãe) e o outro não demonstra envolvimento. Segundo Grünspun e Grünspun (1990) a família é um organismo dinâmico, neste organismo em constante transformação ocorrem diversas fases evolutivas ligadas a eventos biopsicossociais. Esses acontecimentos podem influenciar cada um dos cônjuges e o relacionamento conjugal de forma positiva ou negativa, ressoando na dinâmica psíquica individual dos elementos da família também. Considerando que na família existem pessoas nas mais diversas etapas de desenvolvimento é possível imaginar as força de coesão e dissociação. Se levarmos em consideração que o adolescente vivencia oscilações de humor, está construindo uma identidade adulta diferenciada dos pais, tem ideal revolucionário, entre outras características, o casamento ou união informal nesta fase tende a ser muito difícil, para que a união tenha sucesso é necessária à construção de um contrato implícito (onde ambos se esforçam em atender as necessidades afetivas ligadas as carências da fase edípica), nos relacionamentos amorosos também existe o temor de desintegração egóica, devido à proximidade entre as pessoas o que vai contra as defesas que o jovem empreende para defender a conquista de sua identidade, conforme Rank (1945) pontua o jovem podem experimentar a promiscuidade ou ascetismo, em ambas as situações o relacionamento amoroso estável é evitado. Grüspun e Grüspun (1990) ainda conceituam dois tipos de casamento: neurótico e normal, onde o casamento normal é a união amorosa que possibilita sucessivas adaptações aos eventos da vida e onde cada um dos cônjuges faz concessões que funcionam como um contrato implícito que por sua vez irá construir um espaço compartilhado para os dois Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 34 sujeitos, as concessões, porém não devem constituir humilhações ou perda de poder. O casamento neurótico, por sua vez, não possibilita as concessões devido a questões familiares, pessoais ou sociais. No caso da união entre adolescentes as concessões podem ser dificultadas pelas características de desenvolvimento dessa fase. Para Grünspun e Grünspun (1990, p. 37) o casal conjugal é resultante da transformação da representação interna objeto-casal de cada um dos cônjuges, para uma imagem internalizada de objeto-casal compartilhado, isto é, durante sua vida a mulher e o homem, internalizaram modelos de casal, com sua a união essas figuras internalizadas tendem a unificação, tornando cada casal diferente em sua dinâmica. Essa menor possibilidade de um casamento na adolescência dar certo pode se dever aos fatores de identidade, a crise que a gravidez pode representar, e dificuldades de ajustamento às responsabilidades que a união estável demanda. O jovem está construindo uma identidade diferenciada dos pais e neste momento segundo Rank (1945) evita relacionamentos sérios por temer desintegração egóica, muitas vezes a gravidez ocorre então fora de uma relação estável, e o casal pouco se conhece, desta forma se tentam unirse, seja por meio de pressão familiar e social, ou por decisão própria, encontram dificuldades para manter esta união por muito tempo. Informações do Sistema Único de Saúde (SUS) revelam que a gestação na população adolescente com a faixa etária de dez a catorze anos aumenta, enquanto na população feminina adulta ocorre o retardamento da maternidade (SANTOS e CARVALHO; 2006). Esses dados são corroborados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010), que publicou dados do Censo de 2010 que indicam que a gravidez é um fenômeno mais presente na população com menos anos de escolaridade. Outro fator que os dados revelam é de que quanto menor o nível de instrução, aparentemente mais cedo ocorre à gravidez. Podemos interpretar que esses dados podem ter várias explicações possíveis, uma delas é que a população feminina adulta tem outros objetivos, geralmente a formação profissional e a carreira, e com isso o casamento e a maternidade são adiados, mas com o adiamento do casamento e a liberação sexual é comum a ocorrência de relações sexuais com múltiplos parceiros, que constitui um comportamento sexual de risco. Outra explicação plausível é que as jovens com menos anos de estudo tenham pouco acesso a informações confiáveis sobre contracepção e sexualidade. Uma terceira possibilidade é que as jovens com menos anos de estudo tenham menos perspectiva de uma carreira e devido à etapa evolutiva em que estão buscam preencher um rito de passagem, neste âmbito a gravidez pode ocupar ao mesmo tempo o espaço do rito, garantir a jovem um papel social adulto e funcionar como um mecanismo compensatório de carências derivadas da dinâmica familiar. A hipótese de que a jovem busca com a gravidez preencher uma lacuna emotiva das primeiras relações é encontrada em entrevistas realizadas por Dadoorian (2000) com jovens mães, em alguns casos a gravidez funcionou como uma reconciliação com a família Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 35 materna, em outros casos a jovem opta por cuidar sozinha do filho e relata que busca exercer o papel de mãe de forma mais assertiva que seus pais. Em ambos os casos a família materna funciona como um modelo. Uma quarta possibilidade é de que devido à etapa de desenvolvimento psicológico os jovens sofrem pressão de seu grupo de pares e assumem comportamentos de riscos, como o uso de bebidas, drogas, e relações sexuais com múltiplos parceiros, essa pressão tem grande importância na adolescência já que o jovem está construindo uma identidade adulta e por essa razão é mais suscetível a ceder à força do grupo devido a uma necessidade de pertencimento. Quando o jovem mantém relações sexuais sob efeito de substâncias psicoativas é óbvio que seu estado de consciência é alterado, a pulsão sexual também parece ser vivenciada de forma invasiva dificultando a adoção de métodos contraceptivos. Segundo Marreiros (2002) os jovens tem maior autonomia para escolher o que comem, como se divertem, cuidados pessoais, consumo de drogas, cigarro, e álcool, e o que a autora considera como mais decisivo para seu desenvolvimento é a expressão da sexualidade. Das descrições feitas por Marreiros (2002) sobre a possibilidade de escolha que o jovem dispõe e que podem se converter em risco existe estreita relação com a proposta de Calligaris do adolescente Gregário, uma descrição de adolescente que forma grupos com códigos e regras próprios, são espécies de gangues que criticam a moratória estabelecida, as regras e condutas propostas, dentro do grupo o jovem também pode vivenciar uma maior pressão para iniciar suas atividades sexuais, se os outros já o fizeram (ou dizem ter feito), nesse movimento o jovem busca se integrar ao grupo de amigos, se afirmar. Nestes grupos os adolescentes podem se expressar e agir de acordo com o estilo do grupo não necessitando mais do reconhecimento dos adultos. É uma reação à falta de reconhecimento, como se o jovem dissesse “já que não me veem como igual eu vou formar um grupo de iguais e não preciso que os adultos me reconheçam” (CALLIGARIS, 2000). Quando a gravidez é resultado de uma relação sexual sem compromisso afetivo dificilmente a gestante, seja adolescente ou adulta, conta com o apoio do pai da criança. Alguns jovens podem negar a responsabilidade em relação ao estado da jovem grávida, projetando a culpa nela, muitas vezes com o apoio da família do rapaz. Podemos pensar que esse “apoio” que a família do rapaz dá no sentido de questionar a paternidade, esteja ligado às questões machistas da sociedade e também ao narcisismo vivenciado com os filhos, podendo ocorrer fantasias de que se esse adolescente resolver assumir o filho, juntamente com todas as responsabilidades envolvidas que o dirigem a maturidade, não poderá viver a adolescência plenamente, um ideal prevalente hoje em dia, e que de certa forma é o ideal dos pais. A respeito de como a gravidez é encarada por adolescentes do sexo feminino e masculino, Tiba (1999) afirma que as jovens vivenciam uma ligação afetiva com o feto, uma vez que Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 36 este cresce dentro de seu organismo, já para o jovem a gravidez da namorada ou “ficante” (termo usado para uma relação esporádica, sem compromisso) pode ser encarada como um problema, segundo o referido autor a reação da maioria dos rapazes é deixar a responsabilidade de decidir se a gravidez será levada a termo nas mãos da gestante, assegurando que irão dar apoio no que esta decidir, contudo em seu íntimo podem querer a interrupção da gravidez, que mais uma vez deixa a mulher em “desvantagem”, pois além das complicações médicas, devido à ilegalidade, existem as complicações psíquicas, que parecem comprometer mais as mulheres que desde cedo tem a maternidade enquanto ideal, e um aborto, portanto não é bem visto socialmente. Sobre o modelo parental a proposta de Sharpe (1973) é similar a de Aberastury e Knobel (1980), ambos pontuam que o modelo constituído a partir das imagens parentais que foram introjetadas previamente, tem forte influência sobre a construção da identidade adulta que o jovem busca. Em algumas situações o jovem explicita que sua postura será totalmente contrária aos pais, ou que buscará dar continuidade aos projetos destes, mas é possível observar que a família serve como parâmetro em ambas as situações. Acerca dos conflitos que podem ocorrer durante a adolescência Sherif (1947, p. 220) pontua que “variam de cultura a cultura, tornando a transição para a idade adulta mais ou menos complicada, mais ou menos prolongada”. Em outras culturas não existe esse limbo entre a infância e a vida adulta, o autor pontua que em Samoa as crianças têm participação na vida da comunidade a medidas que suas habilidades vão evoluindo, é comum que as irmãs mais velhas sejam responsáveis pelos irmãos menores e com isso exercitam o papel da vida adulta de forma similar ao que ocorre com as meninas no mundo ocidental que brincam de bonecas e de forma simbólica atuam nos papéis que a sociedade espera que a mulher ocupe. Nestas sociedades ditas primitivas, não existe tanto mistério e censura em torno da sexualidade, concepção, morte e outros eventos naturais do ciclo evolutivo humano, existem outros tabus relacionados, por exemplo, ao incesto, que são seguidos de forma até mais rígida que em nosso contexto. O referido autor ainda destaca que a adolescência tende a ocorrer mais cedo para indivíduos do sexo feminino terminando mais cedo em sociedades mais primitivas (MUSS, 1966). Na nossa sociedade existe uma idealização da adolescência, se espera que o jovem adie as responsabilidades ao máximo e “curta” esse período de vigor, talvez isso seja o sintoma do desejo dos adultos que frustrados com sua vida busquem que seus filhos ocupem um ideal de felicidade. A maturidade é iniciada quando oindivíduo aparece integrado com uma identidade estabelecida, sendo capaz de se manter de forma independente, sem apoio emocional de outras pessoas e sem repudiar sua história (MUSS, 1966). Entendemos que essa colocação signifique o sujeito maduro dispõe de meios para se sustentar, construiu uma personalidade diferenciada dos pais, que permite que decida sobre seu futuro sem precisar consultar outras pessoas de forma constante, deve ter sido capaz de desprender-se dos pais de forma a buscar um relacionamento amoroso, em relação a sua história deve ser capaz de se reconciliar com as “falhas” dos pais. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 37 Aberastury (1980) considera que o jovem sente a necessidade de adentrar no mundo adulto, em algumas sociedades existem rituais que demarcam essa transição, na sociedade ocidental não há mais certeza acerca do plano de vida, anteriormente os filhos seguiam a mesma carreira do pai, os casamentos eram arranjados e a partir disto ocorria à emancipação, hoje a gravidez pode estar ocupando esse lugar do rito passagem. Freud é acusado de haver dado ênfase a natureza biológica e primitiva do homem, apesar de enfatizar a influência biológica e instintiva, não subestimou a atuação de forças sociais, que são consideradas secundárias em relação aos fatores inatos. As aspirações, moral e idealizações de cada sociedade exercem sua marca na formação da identidade do indivíduo, por meio do Superego. A sexualidade está situada na herança inata, está presente desde o nascimento ligada às pulsões de autopreservação, o Superego ou consciência é formado durante o desenvolvimento por meio de interações. Desta forma “o processo evolutivo seria um complexo dinâmico entre forças instintivas biológicas do Id, e as do Superego socialmente orientado” (MUSS, 1966). A partir da fundamentação teórica apresentada entendemos que a gravidez na adolescência está ligada aos impulsos sexuais biológicos e para que seja levada a termo sofre influência dos fatores sociais, que dizem respeito ao significado da gravidez e maternidade em dada cultura, a idealização do papel da mulher, concepção de família, etc. Em transcrições de relatos de jovens grávidas ou que do livro de Daddorian (2000) a gravidez foi evidenciada por estas jovens como fator de reconciliação com a família (geralmente a mãe, o que nos leva a pensar que talvez o bebê que nasce de uma gravidez de adolescente seja um produto para a mãe desta, servindo de compensação para a rivalização edípica, similar ao tratamento que a criança dispensa as fezes durante a fase anal), possibilidade de construir a sua própria e de certa forma realizar algum tipo de compensação narcísica por algum tipo de falta que sente que os pais tenham cometido em sua criação e que o jovem pode declarar conscientemente que não irá cometer, ou demonstração de ódio aos pais, funcionando como uma agressão, uma demonstração da potência e juventude que agora pertencem ao filho (a) adolescente. Klein (1937/1975) também aborda o tema da gravidez enquanto mecanismo de reparação para com a mãe, a esse respeito ela pontua que caso a mulher se sinta, em fantasia, excessivamente culpada devido ao desejo de usurpar sua mãe em seu papel (e de roubar os filhos que ela fantasiou que a mãe carregava) terá dificuldades em desfrutar a posse dos filhos relegando os cuidados destes as babás, ou a própria avó da criança. Podemos pensar que nos casos em que a gravidez venha a preencher a lacuna de um rito de emancipação o jovem irá empreender mudanças para garantir seu novo status de independência dos pais, muitas vezes abandonam os estudos para trabalhar e garantir o sustento da nova família, desta forma compromete sua vida profissional, como o mercado de trabalho é muito competitivo exigindo formação continuada geralmente os empregos a que esses adolescentes têm acesso são informais, com baixa remuneração e poucos benefícios, com isso muitas vezes é necessário se voltar para a família em busca de suporte tanto financeiro, como de orientação para os cuidados com a criança. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 38 Em relação ao mercado de trabalho Maia Filho (1993) relata que a mecanização do trabalho e o prolongamento da expectativa de vida consequente dos avanços médicos tem sido responsável pelo crescimento populacional, pois ao aumentar a expectativa de vida também se prolonga a vida fértil. Hoje, segundo o autor esse crescimento desenfreado leva a disseminação da miséria, acentua a competitividade do mercado de trabalho. O adolescente com pouco acesso à instrução encontra grandes dificuldades para inserir-se no mercado de trabalho; se o jovem supera a carência econômica e sociocultural e tem o objetivo de trabalhar para “bancar” seus estudos e neste cenário surge uma gravidez sem planejamento há maior empecilho para que o jovem invista em sua formação, pois a remuneração proveniente do seu trabalho será destinada ao sustento do filho. Quando ocorre o pedido de auxílio aos pais podem surgir conflitos, algumas vezes os pais podem interpretar a gravidez do filho adolescente como uma afronta, pois durante o desenvolvimento deste idealizaram como seria sua vida e muitas vezes depositaram suas frustrações neste plano de vida desenvolvido para o filho, como quando o pai não pode fazer algum tipo de faculdade, projetando a responsabilidade no meio externo e exigindo que o filho atenda a esta necessidade que é dele, quando isso ocorre os pais podem se negar a auxiliar o jovem, ou usurpar sua autonomia quanto ao modo de educar a criança nascida da gravidez não planejada, quando os pais dos jovens tentam criar os netos podemos pensar em uma tentativa de dar continuidade ao projeto que realizaram com o filho e ao mesmo tempo resgatar sua realização narcísica de imortalidade, isto é, de sobreviver agora através das realizações do neto (a). A respeito dessa idealização que pode ocorrer por parte dos pais em relação aos filhos, Klein (1937/1975, p. 115) pontua que ambos os pais podem desejar que o filho tenha semelhanças com um irmão ou irmã do passado, “tal desejo não pode obviamente ser satisfeito em ambos os pais – e talvez nem sequer em um”. Pode ocorrer também rivalização extrema dos pais para com os filhos, revivendo a rivalidade e inveja que no passado sentiu em relação aos irmãos e que não conseguiu sublimar. Dadoorian (2000) relaciona a gravidez na adolescência a dois fatores: os fatores biológicos e os não biológicos, neste último estando inseridos os fatores psíquicos e culturais. A autora relata que a pulsão sexual se unifica para alcançar o objetivo da reprodução, neste cenário de mudanças orgânicas uma grande pressão hormonal impulsiona a adolescente a testar esse aparelho reprodutor. Compreendemos que concomitantemente a pulsão sexual orgânica está agindo a rivalização edípica que pode levar os jovens a gravidez como uma forma de demonstração de sua potência e capacidade reprodutiva e, portanto a possibilidade de adentrar ao tão cobiçado mundo adulto, a autora considera de forma brilhante que a gravidez na adolescência na verdade é desejada, seja por motivações orgânicas ou psicossociais, invariavelmente a gestação será levada a termo quando estiver atendendo o desejo. Muitas vezes a responsabilidade para com a criança que irá nascer fica a cargo da adolescente e da família desta, pois muitas vezes o pai da criança não mantém um relacionamento estável com a adolescente grávida, conforme pontuado por Rank (1945) o Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 39 jovem pode usar dois mecanismos de defesa para manter sua independência, a promiscuidade ou o ascetismo. Sendo promíscuo o adolescente pode dar vazão às pulsões sexuais em ebulição sem com isso formar vínculo afetivo, e evitando o temor de desintegração. O ascético nega qualquer tipo de relacionamento, o autor pontua que pode haver alternância entre as duas defesas. Desta forma segundo Rank (1945) a gravidez pode resultar de uma simples vazão dos impulsos, sem que os jovens tenham desenvolvido uma relação vincular. Essa proposta é corroborada por Tiba (1999) que diz que para o jovem tornar-se pai na adolescência é um acidente, pois não está previsto (devido inclusive à onipotência presente na adolescência) no seu plano de vida, pode ser que o jovem “assuma” a gravidez e tente morar com a adolescente grávida, em um cômodo da casa dos pais de um dos dois, no que se comumente conhece como “puxadinho”, mas devido à imaturidade e falta de afinidade, essas relações podem não durar até o fim da gestação. Taquette (1997) realizou entrevistas grupais e individuais em seu estudo com dez adolescentes, duas destas não apoiavam a relação sexual antes do casamento, contudo mantinham vida sexual ativa, desta forma vemos uma dissonância entre o conceito moral e a prática sexual, a autora pontua que ambas tem o pai ausente, seja devido ao divórcio ou pelo afastamento afetivo por parte do pai. Desta forma podemos pensar que o afastamento afetivo do pai seja um fator importante quando se fala do desenvolvimento afetivo e psicossexual das adolescentes, Corso e Corso (2006) pontuam que antes de a menina procurar um relacionamento afetivo fora do âmbito familiar é necessário que tenha se sentido amada e desejada pelo pai, formando de certa forma uma autoestima que a auxiliará a escolher de forma mais assertiva uma escolha amorosa, e de certa forma podemos deduzir que quando o sujeito se sente valorizado e tem uma boa autoimagem irá procurar oportunidades de se desenvolver, evitando uma gravidez sem planejamento, a partir da qual encontrará maiores dificuldades. Enquanto problema de saúde pública a gravidez na adolescência necessita de intervenções primárias, que atuem na dinâmica familiar, uma vez que se provam ineficazes as atuações coercitivas que levam em consideração apenas os aspectos biológicos, a perpetuação dos dogmas morais e religiosos no que tange o intercurso sexual parece não surtir efeito, prova disso são os resultados da pesquisa de Taquette (1997) citada anteriormente, mesmo as jovens que tem valores morais e religiosos contrários à relação sexual pré-matrimonial tem vida sexual ativa. Compreendemos que a sanção moral e religiosa pode promover a culpa nos adolescentes que mantém vida sexual ativa, culpa que pode se materializar na gravidez e leva o jovem a uma busca de reparação, por meio do aborto, da união forçada, da procura por subempregos, entre outras consequências. Taquette (1997) relatou que durante as entrevistas grupais, as adolescentes se mostraram mais resistentes a falar de suas experiências ou para discutir temas relacionados à sexualidade, procurando emitir apenas opiniões, desta forma evitando um comprometimento e exposição, já nas entrevistas individuais demonstraram maior liberdade para falar de sexualidade e contar suas experiências sexuais. Com isso podemos Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 40 pensar que a sexualidade ainda constitua um tabu, sendo um tabu está imerso em crenças, desinformação e temor, e enquanto a sexualidade for encarada desta forma sua vivência será complicada. 4. Conclusão A adolescência é um período da vida humana marcado por grandes transformações, sejam elas, físicas, emocionais ou sociais, onde o diálogo entre pais e filhos á essencial, no entanto é difícil conversar sem pré-conceitos e pré-julgamentos, de ambas as partes. As transformações físicas quando somadas as transformações que ocorrem numa gravidez prematura, podem desencadear conflitos pessoais e familiares. Conflitos esses que podem ser decorrentes do despreparo tanto dos adolescentes, quanto dos pais, já que a adolescência não é uma fase confusa apenas para os que estão passando por ela, os pais também se deparam com á duvida e a inexperiência, que os rodeiam sempre que o (s) filho (s) se apresenta de uma forma nova, com novas dúvidas e novas amizades. É necessário que os pais possuam uma participação ativa na vida do filho, além de obter e passar orientações para estes. Os progenitores devem esclarecer as duvidas de seus filhos antes que outros o façam da forma menos apropriada para o modo com que este adolescente vive. Devem-se deixar de lado os conceitos adquiridos anteriormente, levar em consideração a diferença dos momentos de vida dos filhos e dos pais e quebrar o grande preconceito que é falar de sexo em casa. Hoje é mais comum ouvir falar de sexo na mídia, na escola, nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), no entanto pais falarem de sexo com os filhos ainda causa estranheza em ambas as partes, apesar da banalização que a mídia faz da sexualidade e do acesso fácil ao tema sexualidade e ao sexo propriamente dito, falar ainda é um tabu. A orientação dos pais é fundamental, pois na atualidade tudo acontece mais cedo e isto deve ser aceito por eles e o quanto antes os adolescentes tiverem a orientação adequada de como se prevenir, por pessoas que eles confiam é mais fácil evitar uma gravidez não planejada. Apesar do acesso fácil e da banalização do sexo as orientações ainda possuem muitas lacunas. Os adolescentes não possuem um espaço individual para tirar suas duvidas, já que o espaço que teriam em casa é restrito, nas UBS´s, são fornecidos preservativos masculinos e anticoncepcionais, porém as pessoas ficam sem conhecer os outros métodos contraceptivos como camisinha feminina, o DIU (dispositivo intrauterino), contracepção hormonal injetável, implantes, espermicida, abstinência periódica, contracepção cirúrgica, contracepção de emergência entre outras. Estas informações geralmente são dadas depois que o médico descobre que a mulher está na terceira ou quarta gravidez não planejada, no entanto se esta orientação fosse passada de pai para filho e também assim que os filhos apresentassem desejos sexuais, além da gravidez, seriam evitadas também doenças sexualmente transmissíveis. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 41 Nas escolas as informações passadas também são restritas, é ensinado como funciona o órgão genital masculino e o feminino, porém não é explicado como se deve utilizar um método contraceptivo, o que é essencial, pois não basta conhecê-lo e usá-lo, o mesmo dever ser utilizado corretamente. As ações educacionais básicas seriam o suficiente para minimizar a gravidez na adolescência, no entanto não para eliminá-la, já que apesar de existirem lacunas na educação sexual o acesso fácil a esta também é uma forma de conhecimento, só que para que a gravidez na adolescência realmente tenha uma redução os pais devem ser preparados e orientados, para que saibam lhe dar com essa faze tão conturbada na vida familiar. A partir da literatura apresentada foi possível compreender diversos aspectos do desenvolvimento do adolescente, o papel da família enquanto suporte para as mudanças biopsicossociais que o jovem enfrenta, e neste contexto as conseqüências que a gravidez pode causar. Por tanto conseguimos alcançar o nosso objetivo de conhecer um pouco da dinâmica familiar diante da gravidez não planejada. Orientar pais e seus filhos no sentido de promoção de saúde é o dever do estado e políticas públicas que favoreçam essa promoção são fundamentais para evitar conflitos e sofrimentos advindos da gravidez precoce e não planejada. Referências ABERASTURY, A; et al. Adolescência In: ______. Adolescência. Porto Alegre: Artmed, 1980. cap. 01, p. 15-32. ABERASTURY, A.; KNOBEL, M. Adolescência normal. Um enfoque psicanalítico. Porto Alegre: Artmed, 1981. ABERASTURY, A.; SALAS, E. J. A Paternidade. Um enfoque psicanalítico. Porto Alegre: Artmed, 1984. ALBERTINI, P. 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Com isso correlacionar os comportamentos de graus de preocupação com a forma física e corporal para levantamento da maneira como essas mulheres se comportam frente a esse corpo. Dimensionar a prevalência de distorção de imagem corporal se houver. Participaram deste estudo 79 mulheres entre 14 e 69 anos, em uma amostra aleatória, com idade média de 36 anos e desvio padrão de 14, tendo prevalência de mulheres com nível superior completo, solteiras. Para dimensionar a prevalência de distorção de imagem corporal, foram utilizados o Body Shape Questionnaire (BSQ) em sua versão para o português, a Escala de Desenhos de Silhuetas – Nine-figure Outline Scale (STUNKARD; SORENSEN; CHULSINGER, 1983) também em sua versão para o português, e uma Entrevista Clínica Semi Dirigida. Em relação aos resultados, as 79 participantes, apresentaram um IMC classificado como peso normal. Porém os resultados demonstraram que há indícios de leve distorção da percepção da imagem corporal, e ainda há uma correlação significativa entre a diferença de percepção real com a desejável e os resultados do questionário de imagem corporal. Através dos resultados encontrados concluiu-se que o ideal de corpo magro imposto pela sociedade a partir das últimas décadas prevalece, pois mulheres com peso considerado normal e adequado pela Organização Mundial de Saúde são as que mais apresentaram insatisfação com sua imagem corporal, desejando alterá-la para se moldar aos padrões sociais. Entretanto essa amostra ainda não se configura patológica, pois as alterações de percepção apresentadas foram em menor grau. Palavras-chave: transtornos da percepção da imagem corporal; comportamentos alimentares; psiquiatria; saúde mental. Introdução Na história da humanidade, por muito tempo, homens e mulheres tiveram seus corpos ligados a uma ideia de saúde versus doença e, questões de forma física e corporal entrelaçadas a sentimentos de identidade acompanhados de percepção daquilo que hoje se denomina como imagem corporal. Mestrandas em Psicologia da Saúde pela Universidade Metodista de São Paulo. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 46 Ao longo dos séculos o conceito de beleza e de corpo saudável e/ou belo vem sofrendo várias transformações. O excesso de peso corporal é uma condição que sempre acompanhou a história da humanidade, se observarmos a evolução dos padrões de beleza, desde a Vênus de Milo e os quadros de nus dos pintores do século XVI ao início do século XX, perceberemos um processo de construção da imagem estereotipada feminina materializada nas manequins que, a partir da década de 60 até a atualidade, vêm assumindo antropometrias cada vez menores (BOSI; ANDRADE, 2003). Até o início do século XX, a mulher era desejada quando tinha o corpo roliço, cheio de formas avantajadas, e isso simbolizava uma mulher forte, com energia suficiente para enfrentar esses períodos conturbados e proteger sua família (Bosi & Andrade, 2003). Ao longo do mesmo século e, sobretudo, a partir da década de 1960, esses pensamentos e essa idealização vêm se modificando: inicia-se a busca pelo corpo magro, atlético e por formas definidas que passam a constituir mesmo objeto de consumo, tendo em vista a oferta de produtos e serviços em um mercado que cresce a cada dia (Bosi & Andrade, 2003). Esses graus de preocupações corporais foram reforçados ao longo da década de 80, com o surgimento das chamadas “indústrias de desejos consumistas” que ao longo das décadas posteriores padronizaram imagens de corpos “sarados e perfeitos”. Conseqüentemente, as mulheres que se percebem com corpos “fora” desses padrões, passaram a se comportar com certas preocupações para atingir a tais ideais de beleza, que se mostram sempre na busca pela aparência física idealizada e não a que podemos chamar de real. Tais mulheres então se sentem cobradas e insatisfeitas com o modo como se percebem (RUSSO, 2005). A mesma autora afirma ainda que se vinculou também ao corpo à idéia de consumo, e este corpo passou a ser “objeto de valorização exagerada dando oportunidade de crescimento no mercado do músculo e ao consumo de bens e serviços destinados à manutenção deste corpo” (RUSSO, 2005), tais como abertura de Centros Estéticos e Plásticos, Academias, Especializações Médicas como o surgimento da Obesologia (ramo de cuidados com obesos), avanços tecnológicos e cosméticos para busca desses ideias corporais e diversas outras particularidades. Nesse ponto (RUSSO, 2005 apud FERNANDES, 2003) diz que: “O corpo está em alta! Alta cotação, alta produção, alto investimento – Alta frustração”. Atualmente, o culto ao corpo está diretamente associado à imagem de poder, beleza e mobilidade social, sendo crescente a insatisfação das pessoas com a própria aparência. Esta passa a ser perseguida como bem simbólico de identidade. Enquanto nosso estilo de vida, alicerçado nos avanços tecnológicos, está contribuindo para a diminuição dos níveis de atividades físicas laborais e de lazer, fenômeno associado ao aumento do consumo de alimentos hipercalóricos, os padrões de beleza exigem perfis antropométricos cada vez mais magros (SCHWARTZ; BROWNELL, 2004 apud BOSSI; LUIZ; MORGADO; COSTA; CARVALHO, 2006). Percebemos cada vez mais o excesso de investimentos e massificação da mídia tornando a aquisição de um corpo belo e perfeito uma exigência fundamental e imprescindível ao desenvolvimento de uma imagem perfeita da mulher moderna de sucesso, felicidade, dinamismo, realização e bem estar (COSTA, 1999 apud BOSI; ANDRADE, 2001). Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 47 Esta imagem corporal é, segundo Schilder (1999), a apercepção do corpo, uma consciência imediata que se tem de si mesmo, onde não somente a sensação e a imaginação estão envolvidas, mas sim as próprias figurações e representações mentais. Portanto, essa imagem corporal multidimensional que se constrói e reconstrói em nossa vida durante a nossa existência é amplamente carregada de nossas emoções, afetos e simbolismos que nos fazem propender a nos comportarmos de determinadas maneiras, que podem ser adaptadas ao meio social ou não. Conforme Cordás e Castilho (1994), “a imagem corporal é a figura de nosso próprio corpo que formamos em nossa mente, ou seja, o modo pelo qual o corpo se apresenta para nós mesmos ou como o vivenciamos”. As mulheres, principalmente as jovens e, consequentemente, as mais suscetíveis às pressões e imposições dos padrões sociais, culturais e estéticos vigentes, constituem o grupo de maior risco para desenvolver distúrbios alimentares. O sobrepeso e a obesidade têm sido entendidos como o resultado da conjunção de inúmeros fatores, a saber: genéticos, físicos, psíquicos, ambientais, sociais, culturais, familiares e comportamentais, que podem coexistir, favorecendo tanto o seu início quanto a sua manutenção. Pessoas com anorexia e bulimia nervosa têm em comum uma preocupação excessiva com peso e dieta, apresentando insatisfação e distorção de sua imagem corporal. Tal preocupação é sintoma importante para a detecção dessas doenças (OLIVEIRA; BOSI; VIGARIO; VIEIRA, 2003, CORDÁS; CASTILHO, 1994). Alguns desses comportamentos não adaptados podem ser as condutas alimentares restritivas ou compulsivas, os exercícios físicos feitos de formas rigorosas para mais ou para menos, os procedimentos estéticos em abundância, ou seja, o sofrimento aparente em graus elevados de preocupações corporais que conduz ao crescente aumento pela busca da magreza e perfeição dos corpos femininos. Este presente estudo tem como foco o universo feminino, por estar mais enfatizado, já que os números de casos apresentados nessa questão ainda são maiores em mulheres. Mas cabe ressaltar que percebemos que os números de casos masculinos esta aumentando o que sugere novos estudos com esse tipo de população. Quanto mais perto o corpo estiver da juventude, beleza, boa forma, mais alto é seu valor de troca (FEATHERSTONE, 1991). A imagem veiculada pela mídia usa corpos de homens e mulheres esculturais para vender através de anúncios publicitários. “Músculos perfeitos” impulsionando seres perfeitos a vender produtos perfeitos. O músculo hoje é um modo de vida. Os meios de comunicação contribuem e incentivam a batalha pelo “belo”. Atualmente ao ligar a televisão ou folhear uma revista ou jornal, garotas perfeitas com curvas delineadas e garotões de porte atlético tentam vender um carro, um eletrodoméstico, um tênis, estabelecendo os padrões estéticos. Isto faz com que as pessoas tornem-se escravas de um ideal, ressaltando o narcisismo e impondo para si mesmas uma disciplina extremamente severa, por vezes dolorosa. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 48 No plano das emoções e afetos subjetivos dos indivíduos, destacamos que Featherstone (1991) afirma que quanto mais o corpo esta perto do auge da juventude, beleza e boa forma física, mais alto é seu valor de troca. Estamos vivendo numa cultura em que a aparência jovem e magra é extremamente valorizada. Desta forma, podemos deduzir que ao se falar de trocas, estão interligadas as questões afetivas e matérias de cada sujeito, ou seja, cada vez mais vemos que as pessoas trocam “corpos sarados” por sentimentos e afetos, sejam eles positivos ou negativos, prazer ou sofrimento. Portanto são essas imagens corporais que permeiam a sociedade e constroem os diversos relacionamentos que ali se estabelecem. Podemos dizer que nos diversos grupos culturais e sociais exista uma imagem social do corpo que é um símbolo que provoca sentimentos de identificação ou rejeição dos sujeitos em relação a determinadas imagens. Isso faz com que o corpo se insira em ideias e crenças sobre as imagens que se fazem dele (RUSSO, 2005). Russo (2005) ainda conclui que se a imagem dominante for de uma pessoa magra, esbelta, com músculos torneados e perfeitos, emagrecer e conquistar esse corpo passa a ser o ideal de todos. E para os que não conseguem chegar a este padrão desejado só resta o sofrimento, que leva ainda mais a esses comportamentos de preocupação exagerados, ou muitas vezes leva a desistência por completo e pode acarretar o aparecimento de outros transtornos psiquiátricos como depressão e outras alterações de imagem corporal. É sobre essas pessoas que toda essa dinâmica subjetiva pode ter um “impacto” negativo sobre a auto-imagem corporal e consequentemente sobre a sua experiência de subjetividade versus identidade. Objetivo Observamos que, quando se pensa em saúde mental, fica claro que devemos nos atentar ao grau de sofrimento gerado por tais preocupações corporais. Entendemos que por trás desses comportamentos manifestos de exageros pela busca da tal perfeição, pode haver uma alteração na figuração de imagem corporal que, como citado anteriormente, evidenciamos como base da construção de identidade do indivíduo, e então ressaltamos a relevância de se trabalhar terapeuticamente essa significação. Portanto, o presente trabalho tem como objetivo identificar e analisar a percepção de imagem corporal (IC) em mulheres brasileiras de várias faixas etárias e avaliar se há ou não alteração nessa percepção que seja indício de patologias. Com isso correlacionar os comportamentos de graus de preocupação com a forma física e corporal para levantamento da maneira como essas mulheres se comportam frente a esse corpo. Dimensionar a prevalência de distorção de imagem corporal se houver. Método Para este estudo foram selecionadas 79 mulheres, numa escolha aleatória que envolveu: faixa etária, constituição física, peso, grau de instrução e profissão. Estas foram submetidas individualmente a uma Entrevista Clinica Semi Dirigida de duração de aproximadamente Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 49 meia hora e, em seguida, ao Questionário de Imagem Corporal (BSQ) e Escala de Desenhos de Silhuetas. Seguem abaixo as descrições de cada instrumento utilizado: A) Questionário de Imagem Corporal (tradução em português do BSQ): este questionário foi validado por Cooper et al em 1987 a partir da versão original Body Shape Questionnaire (BSQ 34). É um instrumento que se mostrou com bons índices de validade e confiabilidade. É um questionário que verifica o grau de preocupação com a forma do corpo, com o peso, auto depreciação relacionada à aparência física e alguns comportamentos adotados em função desta. Contém 34 itens, com seis opções de respostas, numa escala Likert. A soma dessa pontuação possibilita classificar o nível de preocupação quanto a imagem corporal em: ausência de distorção é de até 80 pontos, leve distorção 81 à 110 pontos, 111 à 140 pontos moderado grau de distorção de imagem corporal, maior de 140 pontos indica grave distorção da percepção da imagem corporal. Este instrumento permite a análise multifatorial de duas questões relacionadas à imagem: a precisão da forma e do tamanho do corpo, e os sentimentos relacionados a ele, como insatisfação ou desvalorização. Com isso se mostrou útil na avaliação e tratamento de transtornos alimentares, anorexia e bulimia nervosa. B) Escala de Desenhos de Silhuetas – Nine-figure Outline Scale (STUNKARD; SORENSEN; SCHULSINGER, 1983): é um instrumento que busca investigar os aspectos perceptuais da imagem corporal, com a finalidade de avaliar a percepção de tamanho e forma corporal. A escala consiste de um conjunto de dezoito cartões, contendo nove desenhos de silhuetas femininas e nove masculinas, que representam figuras humanas com nove variações em ordem crescente de tamanho corporal. Cada cartão dispõe de uma numeração a qual corresponde a uma classe de IMC, assim definida: cartões 1 e 2 = não obesidade; 3 = sobrepeso; 4 e 5 = obesidade grau I; 6 e 7 = obesidade grau II; 8 e 9 = obesidade grau III. No presente estudo utilizamos somente as nove figuras femininas. C) Entrevista Clinica Semi Dirigida: trata-se de um importantíssimo instrumento para a avaliação psicológica, já que possibilita que o sujeito entrevistado configure o campo psicológico naquele dado momento, mas permite ao entrevistador que dirija em certos pontos a entrevista com a finalidade de obter dados que sejam mais relevantes para aquele contexto apresentado. Esta tem como objetivo “descrever e avaliar aspectos pessoais, relacionais ou sistêmicos (indivíduo, casal, família, rede social), em um processo que visa a fazer recomendações, encaminhamentos ou proporcionar algum tipo de intervenção em benefício das pessoas entrevistadas” (CUNHA, 2000). No presente estudo, a Entrevista foi desenvolvida de acordo com os objetivos do próprio estudo e utilizada como fonte complementar de informações. Foram coletados dados quanto à idade dessas mulheres participantes, grau de instrução, estado civil, peso, altura, se já tiveram comportamentos de fazer dietas alimentares ou outros procedimentos com finalidade estética e o IMC (índice de massa corporal). Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 50 Tratamento de dados Após coletar os dados, foi corrigido e quantificado o questionário com a finalidade de diagnosticar se há ou não alteração da percepção de imagem corporal. Para a escala observou-se se haveria discrepância entre os desenhos marcados como “eu real” e “eu desejável”, além de ser comparado através do IMC e as outras variáveis obtidas na entrevista para se perceber se este desenho correspondia a percepção que a maioria das mulheres tinham sobre si mesmas. Seguindo, analisaram-se no SPSS os resultados dos dois instrumentos com as variáveis obtidas na entrevista clinica semi dirigida. Resultados e discussão Participaram deste estudo 79 mulheres entre 14 e 69 anos, em uma amostra aleatória, sendo a idade média de 36 anos, com desvio padrão de 14 anos. Com relação ao grau de instrução dessas mulheres, percebemos que 11,4% tem ensino fundamental, outras 36,7%, o ensino médio, e a maioria desta amostra, 51,9% possuem nível superior (Tabela 1). Tabela 1. Grau de instrução Ensino Fundamental Médio Superior Total Freqüência Percentual Percentual Valido Percentual Acumulado 9 11,4 11,4 11,4 29 36,7 36,7 48,1 41 51,9 51,9 100,0 79 100,0 100,0 Observando-se o estado civil das participantes, vemos na Tabela 2 que há predominância de 49,4% de mulheres solteiras, 38% são casadas e 11,4%, divorciadas. Informamos que 1,3% omitiram essa informação. Tabela 2. Estado civil Freqüência Percentual Percentual válido Solteira 39 49,4 50,0 Casada 30 38,0 38,5 Separada 9 11,4 11,5 Total 78 98,7 100,0 Não Informado 1 1,3 Total 79 100,0 Percentual Acumulado 50,0 88,5 100,0 Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 51 Na Tabela 3, podemos verificar que 60,8% realizaram algum tipo de dieta alimentar, seja para emagrecer ou engordar, o que representa um número significativo. Das outras mulheres, 38% responderam não ter manifestado a necessidade de dietas alimentares e, somente 1,3% omitiram esta resposta. Tabela 3. Dieta alimentar Freqüência Percentual Percentual Válido 60,8 61,5 SIM 48 38,0 38,5 NÃO 30 98,7 100,0 Total 78 1,3 Não Informado 1 100,0 Total 79 Percentual Acumulado 61,5 100,0 Constatamos nessa amostra que, mesmo com alto índice de mulheres que já fizeram algum tipo de dieta alimentar, 62% não realizaram até o presente momento nenhum tipo de procedimento com finalidade estética. Somente 35,4% das mulheres realizaram procedimentos estéticos, e 2,5% não responderam (Tabela 4). Tabela 4. Procedimentos estéticos Freqüência Percentual Percentual Percentual SIM 28 35,4 36,4 36,4 NÃO 49 62,0 63,6 100,0 Total 77 97,5 100,0 2 2,5 79 100,0 Não Informado Total Na Tabela 5, verificamos que, da população estudada, predominam mulheres com Índice de Massa Corporal (IMC) classificado como peso dentro da normalidade (55,7%). Das outras mulheres, 22,8% apresentaram estar com sobrepeso e, 12,7% a classificação é de obesidade grau I. Observamos ainda que tanto na classificação de obesidade grau II e obesidade grau III há 2,5% para cada variável. Destas, 1,3% não informaram seu peso e altura para o calculo do IMC. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 52 Tabela 5. Classificação IMC Frequencia EXC DE MA 2 PS NORMAL 44 SOBREPESO 18 OBS GRAU1 10 OBS GRAU2 2 OBS GRAU3 2 Não Informado 1 Total 79 Percentual 2,5 55,7 22,8 12,7 2,5 2,5 1,3 100,0 Percentual Válido Percentual 2,5 2,5 55,7 58,2 22,8 81 12,7 93,7 2,5 96,2 2,5 98,7 1,3 100 100,0 Observando essa variável, constatamos que, nessa população, a mesma porcentagem de 2,5% de mulheres classificadas com IMC de excesso de magreza se percebem assim a partir da Escala de Desenho de Silhuetas de Stunkard. Acreditamos que este número indica que, para essa porcentagem de mulheres, não existe alteração de percepção da condição real de sua imagem corporal. A partir da classificação desse autor, somente 6,3 se percebem com peso normal, porém o calculo do IMC demonstra que esse número é inferior ao dado de realidade, já que 55,7% tem o peso normal, conforme cálculo da relação entre o peso dividido pela altura ao quadrado, conhecido como IMC. (Tabela 6). Tabela 6. Classificação Stunkard Frequency EXC DE MA PS NORMAL SOBREPESO OBS GRAU1 OBS GRAU2 OBS GRAU3 Total 2 5 10 42 18 2 79 Percent 2,5 6,3 12,7 53,2 22,8 2,5 100,0 Valid Percent Cumulative Percent 2,5 6,3 12,7 53,2 22,8 2,5 100,0 2,5 8,8 21,5 74,7 97,5 100 Com relação a categoria de sobrepeso, verifica-se que existe uma alteração de percepção, pois temos 22,8% de mulheres com sobrepeso, e destas somente 12,7% se percebem assim a partir da classificação da Escala de Stunkard. Isso também ocorre de maneira invertida para as categorias de obesidade grau I e II, onde no primeiro temos 12,7% da amostra com IMC para obesidade grau I e outras 53,2% que se percebem nessa categoria segundo a classificação do mesmo autor. Para a obesidade grau II somente 2,5% das mulheres se enquadram nessa categoria, mas 22,8% assim se percebem. (Tabela 6) Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 53 Já para a categoria de obesidade grau 3, não consideramos que haja distorção de percepção de imagem corporal, pois a porcentagem do IMC real é a mesma para a classificação da Escala de Stunkard, que é de 2,5% (Tabela6). Tabela 7. Manequim Freqüência Percentual Percentual Valido Percentual Acumulado 34 1 1,3 1,4 1,4 36 7 8,9 10,0 11,4 38 11 13,9 15,7 27,1 40 11 13,9 15,7 42,9 42 13 16,5 18,6 61,4 44 11 13,9 15,7 77,1 46 7 8,9 10,0 87,1 48 4 5,1 5,7 92,9 50 4 5,1 5,7 98,6 52 1 1,3 1,4 100,0 Não Informado 9 11,4 Total 79 100 Na Tabela 7, verificamos que 18,6% dessa amostra veste o manequim de tamanho 42. Além disso, constatamos que 42,9% utiliza manequins variando do número 34 ao 40. Com esse dado podemos inferir que quase a metade dessa população tem um corpo dentro dos padrões culturais aceitos pela nossa sociedade como normalidade. Porém, percebemos, a partir das outras informações coletadas, que este corpo é resultado da pressão cultural envolvida na manutenção e incentivo de comportamentos de dietas alimentares e/ou na prática de procedimentos estéticos. Essa mesma Tabela demonstra também que 12,8% dessa amostra usa entre os manequins 48 à 52. Aqui compreendemos que esta pequena porcentagem se refere às mulheres tidas como acima do peso “gordinhas” pelos padrões culturais, o que não é um número significativo para a constatação da quantidade encontrada para a realização de dietas alimentares e/ou de procedimentos estéticos. Na Tabela 8 estão resumidos todos os dados coletados, que se referem aos índices de cada instrumento aplicado, apresentando as medidas coletadas do menor ao maior grau, assim como a média de cada item e o desvio padrão. Aqui cabe ressaltar que na categoria de respostas do “eu sou” houve uma média de 4,65, o que indica que, de acordo com a Escala de Stunkard, as mulheres estão se vendo como pertencendo a categoria de obesidade grau I. Mesmo assim observamos que na variável Imagem Corporal obtivemos como média de respostas 2,5 da escala Likert que é denominado como raramente, quando indagadas sobre o grau de sofrimento resultante da preocupação da percepção da sua forma corporal. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 54 Tabela 8. Descrição da estatística N Minimum IDADE 76 14 MANEQUIM 70 34 EUSOU 79 1 DESEJO 71 2 SAUDÁVEL 76 2 Imagem corp 79 1,18 Delta 71 -2,00 Valid N (listwise) 61 Maximum 69 52 8 6 5 4,21 5,00 Mean 35,95 42,00 4,65 3,45 3,70 2,5477 1,0704 Std. Deviation 14,761 4,156 1,519 ,875 ,817 ,78652 1,27978 Já nas respostas para a categoria do “eu desejo”, encontramos como média 3,45, o que, segundo a classificação da Escala de Stunkard, esta entre o sobrepeso e a obesidade grau I. Aqui ressaltamos que percebemos que a Escala acima citada tem uma descrição gráfica que talvez não seja a representação verídica da realidade, porém é a que mais se enquadra ao propósito deste estudo. Com isso foi calculada a categoria delta, que é a diferença entre o “eu sou” e o “eu desejo”. Esse resultado indica que quanto maior é a diferença, maior é a distorção da percepção de Imagem Corporal. Nesse estudo a média do delta foi de 1,07 com desvio padrão de 1,27. Deste modo, verifica-se que as mulheres oscilam, mas não é indício significativo de patologias mentais. Tabela 9. Correlações entre Imagem Corporal e o delta IC Delta ,412** ,000 71 1 IC Pearson Correlation 1 Sig. (2-tailed) N 79 Delta Pearson Correlation ,412** Sig. (2-tailed) ,000 N 71 **. Correlation is significant at the 0.01 level (2-tailed). 71 Na Tabela 9 verificamos que ao relacionar a categoria IC com o delta, obtivemos uma correlação positiva de 0,41. Isso representa que quando a diferença entre o “eu sou” e o “eu desejo” aumenta, o resultado da IC também aumenta, ou seja, quanto maior o delta maior a preocupação com a Imagem Corporal. Isto representa que ambos os instrumentos utilizados conseguiram alcançar, de formas diferentes, que a maioria das mulheres desse estudo, não apresentaram comportamentos sintomáticos para alterações graves de Imagem Corporal, embora apresentem ter conflitos entre como se percebem e a imagem desejada Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 55 socialmente, como constatamos na Tabela 10. Nesta, a pontuação do questionário da Imagem Corporal demonstra que há alterações na percepção da IC de forma que varia de leve alteração a grave distorção. Ainda na Tabela 10, a pontuação do questionário de Imagem Corporal demonstra que 4,3% dessa amostra fizeram 65 pontos; outros 4,3% marcaram 66 pontos. Estes dados indicam que 51,4 % dessa amostra esta na categoria com resultados de ausência de distorção da percepção de Imagem Corporal. A média de respostas para este instrumento foi de XXXX pontos. Porém, também verificamos que 28,2% dessa amostra tiveram como soma dos resultados de 81 a 110 pontos e, portanto apresentam leve grau de distorção de Imagem Corporal; 15,7% tiveram resultados entre 111 – 140 pontos indicando moderado grau de distorção de Imagem Corporal; e somente 4,3% dessa amostra tiveram pontuação maior de 140 pontos – resultando em grave distorção da percepção da Imagem Corporal. Em nove sujeitos (11,4%) não foi computado essa pontuação por falta das respostas de alguns dos itens que compunham o referido questionário. Assim, podemos afirmar que neste grupo a maioria das mulheres ainda não se encaixam em critérios de diagnósticos de distorção de percepção de Imagem Corporal. Tabela 10. Soma da pontuação do IC Frequencia Percentual Percentual Valid 40,00 2 2,5 2,9 49,00 1 1,3 1,4 52,00 1 1,3 1,4 53,00 1 1,3 1,4 54,00 1 1,3 1,4 55,00 2 2,5 2,9 57,00 1 1,3 1,4 58,00 1 1,3 1,4 59,00 1 1,3 1,4 60,00 1 1,3 1,4 61,00 1 1,3 1,4 62,00 1 1,3 1,4 63,00 2 2,5 2,9 64,00 1 1,3 1,4 65,00 3 3,8 4,3 66,00 3 3,8 4,3 67,00 2 2,5 2,9 68,00 1 1,3 1,4 69,00 1 1,3 1,4 Percentual acumulado Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 2,9 4,3 5,7 7,1 8,6 11,4 12,9 14,3 15,7 17,1 18,6 20,0 22,9 24,3 28,6 32,9 35,7 37,1 38,6 56 70,00 75,00 76,00 77,00 78,00 79,00 80,00 81,00 82,00 83,00 84,00 85,00 89,00 90,00 92,00 94,00 95,00 99,00 100,00 101,00 102,00 103,00 107,00 109,00 110,00 111,00 112,00 114,00 121,00 125,00 126,00 129,00 134,00 141,00 143,00 1 1 1 1 3 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 1 1 2 1 1 1 1 1 2 1 2 2 1 1 1 2 1,3 1,3 1,3 1,3 3,8 1,3 1,3 1,3 1,3 1,3 1,3 1,3 1,3 1,3 1,3 1,3 1,3 1,3 2,5 1,3 1,3 2,5 1,3 1,3 1,3 1,3 1,3 2,5 1,3 2,5 2,5 1,3 1,3 1,3 2,5 1,4 1,4 1,4 1,4 4,3 1,4 1,4 1,4 1,4 1,4 1,4 1,4 1,4 1,4 1,4 1,4 1,4 1,4 2,9 1,4 1,4 2,9 1,4 1,4 1,4 1,4 1,4 2,9 1,4 2,9 2,9 1,4 1,4 1,4 2,9 Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 40,0 41,4 42,9 44,3 48,6 50,0 51,4 52,9 54,3 55,7 57,1 58,6 60,0 61,4 62,9 64,3 65,7 67,1 70,0 71,4 72,9 75,7 77,1 78,6 80,0 81,4 82,9 85,7 87,1 90,0 92,9 94,3 95,7 97,1 100,0 57 Total Missing System Total 70 9 79 88,6 11,4 100,0 100,0 Conclusão Com este estudo concluímos que a partir dessa amostra aleatória pesquisada, as mulheres que mais apresentaram indícios de preocupações com a forma física corporal, são as solteiras com idade média de 36 anos, com ensino superior completo e peso corporal dentro dos padrões de IMC normais. Sinalizamos para o fato de que estas mesmas mulheres acima referidas, embora pertencerem a maior porcentagem para ausência de distorção de Imagem Corporal, ainda assim acreditam terem formas corporais um pouco maiores que as reais, o que acreditamos que indique que mesmo havendo algumas alterações de percepção, este fato por si só não representa ainda indícios de presença de patologias. Podemos confirmar que existem modelos de Imagem Corporal impostos socialmente, embora nessa população as mulheres ainda não oscilem muito do modo de como se percebem e de como desejariam ser, pois o cálculo da categoria chamada de delta (que representa a diferença entre a percepção do “eu sou” e “eu desejo”) foi apenas de 1,7 com DP de 1,27. Isto se confirma, pois ao se fazer a correlação entre os dados do questionário de IC com o delta das Escalas de Stunkard, obtivemos uma correlação positiva de 0,41%, evidenciando que quando um indicador aumenta o outro aumenta também. Por esse motivo, percebemos que mesmo o delta sendo um número pequeno, ainda assim existe diferença entre as percepções de como se é e como se deseja ser, e é nesse ponto que acreditamos que exista um conflito instalado, mesmo que mínimo. Esse conflito mesmo que atualmente pequeno, pode vir a aumentar e causar comportamentos que podem muitas vezes não estar adaptados ao ambiente como, por exemplo, excesso de exercícios físicos, dietas desequilibradas, comportamentos purgativos ou procedimentos estéticos desnecessários. Este estudo confirma que para as mulheres, o desejo de melhorar a aparência física, diminuir o descontentamento com o corpo e deixar de ser alvo de discriminações, ainda se constituem nas principais motivações para a mudança quanto ao tamanho e à forma corporal. O estereótipo perpetuado pelas normas socioculturais ainda valoriza a associação entre a magreza e os atributos positivos, incentivando a busca de padrões estéticos cada vez mais inatingíveis. Acreditamos também que nessa população estudada, já existem indícios a serem cuidados como forma de promoção de saúde e prevenção primária de doenças e/ou patologias mais graves, evitando consequências e/ou sequelas futuras e irreparáveis. Constatamos também que as mulheres as quais pelo IMC são as mais “gordinhas”, são aquelas que menos demonstraram distorção de percepção de Imagem Corporal, embora estas mesmas tenham grande preocupação com a sua condição física, e parecer terem desistido de manifestar comportamentos de forma exagerada para melhorar sua forma física. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 58 Finalizando, os instrumentos utilizados para essa pesquisa se mostraram válidos para o objetivo proposto, porém ressaltamos que poderia ser feita uma adaptação nas figuras da Escala de Desenho de Silhuetas de Stunkard, pois as mesmas podem atrapalhar a percepção real dos corpos da atualidade no momento da escolha da silhueta. Referências ALMEIDA, G.A.N., SANTOS, J.E., PASSIAN, S. R., LOUREIRO, S.R. Percepção de tamanho e forma corporal de mulheres: estudo exploratório. Psicologia em Estudo, v.10, n.1, p. 27-35, 2005. ANDRADE, A., BOSI, M.L.M. Mídia e subjetividade: impacto no comportamento alimentar feminino. Revista de Nutrição, v.16, n.1, p. 117-125, 2003. BOSI, M.L.M.; LUIZ, R.R., MORGADO, C.M.C., COSTA, M.L.S., CARVALHO, R.J. Autopercepção da imagem corporal entre estudantes de nutrição: um estudo no município do Rio de Janeiro. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, v.55, n.2, 2006. CORDÁS, T.A., CASTILHO, S. Imagem corporal nos transtornos alimentares: instrumento de avaliação: Body Shape Questionnaire. Psiquiatria Biológica, v.2, n.1, p.17-21, 1994. COSTA, J.F. O Humanismo Ameaçado: valores como igualdade, fraternidade e liberdade dão lugar ao individualismo de uma cultura de sensações onde o ser humano perde sua identidade. Jornal do Brasil, Caderno B, 24 jan. 1999. Entrevista concedida a Regina Zapa. DAMASCENO, V.O., VIANNA, V.R.A., VIANNA, J.M., LACIO, M., LIMA, J.R.P., NOVAES, J.S. Imagem Corporal e Corpo Ideal. R. Bras. Ci e Mov. V.14, n.1, p. 87-96, 2006. LIMA, J.R.P., LIMA, J.M., VIANNA, V.R.A., NOVAES, J.S. Tipo físico ideal e satisfação com a imagem corporal de praticantes de caminhada. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v.11, n. 3, p.181-186, mai/jun. 2005. FEATHERSTONE, M. Body, Image and Affect in Consumer Culture. Body & Society. v. 16, n.1, p.193–221, abr. 2010. Disponível em: <http://www.sagepub.co.uk/journalsPermissions.nav>. OLIVEIRA, F.P., BOSI, M.L.M., VIGARIO, P.S., VIEIRA, R.S. Comportamento alimentar e imagem corporal em atletas. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v.9, n.6, p.357-364, 2003. RUSSO R. Imagem corporal: construção através da cultura do belo. Movimento & Percepção, v.5, n.6, p.80-90, jan./jun. 2005. SCHILDER, P. A Imagem do Corpo: as energias construtivas da psique. São Paulo: Martins Fontes, 1981. SCHWARTZ, M. B., BROWNELL, K.D. 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Deve-se ressaltar a maior correlação ocorreu entre comprometimento organizacional afetivo e percepção de sucesso na carreira e menor entre envolvimento com o trabalho e percepção de sucesso na carreira. Consoante os resultados, indivíduos que nutrem um estado elevado de bem-estar no trabalho e representado por altos índices de satisfação no trabalho, envolvimento com o trabalho e comprometimento organizacional afetivo são também os que tendem a perceber maiores possibilidades de sucesso na carreira e vise e versa. Palavras chaves: percepção de sucesso na carreira; bem-estar no trabalho; estudo correlacional. Introdução O sucesso que se obtêm no percurso de uma carreira profissional, bem como o bem-estar que se vivencia em contextos de trabalho, possibilita compreender o papel do trabalho sobre a saúde do trabalhador. Sendo assim, a percepção de sucesso na carreira (PSC) e o bem-estar no trabalho (BET) são construtos que tem despertado o interesse de diversos pesquisadores com o objetivo de ampliar a compreensão de tais fenômenos de forma a contribuir para que as pessoas possam sentir-se bem-sucedidas na carreira e desfrutar de um maior bem-estar no trabalho. Judge (1995) define o sucesso na carreira como acúmulo de resultados positivos psicológicos e profissionais provenientes de experiências de trabalho. O sucesso é um conceito avaliativo, portanto o julgamento de sucesso na carreira depende de quem está julgando. O autor considera o salário e a promoção como fatores de percepção no sucesso na carreira. Mestrandas em Psicologia da Saúde pela Universidade Metodista de São Paulo. Doutora em Psicologia. Docente na Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia da Saúde da Universidade Metodista de São Paulo. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 60 Segundo Emerson (2003) a carreira faz parte da individualidade de cada pessoa, e que cada um tem a capacidade para planejar e gerenciar sua própria vida, o autor conceitua planejamento como a capacidade que o indivíduo tem para definir, planejar, executar e rever periodicamente as atitudes e comportamentos que tomará em sua vida profissional, agindo assim, estará assegurando uma carreira de sucesso. Afirma também que a carreira, por ser um patrimônio pessoal, deve ser administrada com competência e cuidado. Já para Dutra (2004), são os níveis crescentes de complexidades do trabalho que configuram a percepção de sucesso na carreira. Enquanto que Dries (2008) admite que, fatores como desempenho, promoção, contribuição, autodesenvolvimento, entre outros, são determinantes para a percepção de sucesso na carreira. De acordo com Costa (2010), percepção de sucesso na carreira pode ser entendida como a interpretação da pessoa sobre suas realizações a respeito da carreira, às sequencias de posições ocupadas, atitudes e outras experiências de vida que refletem o desenvolvimento de competências para lidar com situações de trabalho de maior complexidade, em constantes transformações e que são influenciados e negociados em função de motivos e aspirações individuais, expectativas e imposições da organização e da sociedade. O autor aponta nove dimensões que compõem a medida de percepção de sucesso na carreira, são elas: desempenho, promoção, contribuição, desenvolvimento, criatividade, segurança, satisfação, reconhecimento e cooperação, todas vinculadas a 48 variáveis possíveis de serem medidas e analisadas. Com relação ao bem-estar no trabalho, Daniels (2000) defende que a satisfação de necessidades e a realização de desejos dos indivíduos ao desempenhar o seu papel na organização é bem-estar no trabalho. Ferreira, Pacheco, Pinto, Fernandes e Silva (2007), afirmam que se trata de um construto que contém uma dimensão cognitiva, avaliada pela satisfação no trabalho, e uma dimensão afetiva associada aos afetos positivos e negativos associados ao trabalho. Para Souto e Rego (2007), o construto reflete a frequência de experiências com afetos positivos e a escassez com experiências de afetos negativos. Já para Paschoal e Tamayo (2008), o bem-estar no trabalho consiste na prevalência de emoções positivas no trabalho e na percepção do indivíduo de que ele expressa e desenvolve suas habilidades e potenciais e avança no alcance de suas metas de vida a partir do seu trabalho. Siqueira e Padovam (2008) definem que o bem estar no trabalho é formado por vínculos afetivos positivos com o trabalho (satisfação e envolvimento) e com a organização (comprometimento organizacional afetivo). Segundo Siqueira e Padovam (2008), o conceito de bem-estar no trabalho é integrado por três indicadores: satisfação no trabalho, envolvimento com o trabalho e comprometimento organizacional afetivo. As autoras reconhecem as concepções originais encontradas na literatura como: satisfação no trabalho: “[...] Um estado emocional positivo ou de prazer, resultante de um trabalho ou experiência no trabalho (Locke, 1976)”. O envolvimento com o Trabalho: “[...] O grau em que um desempenho afeta uma pessoa no trabalho e afeta sua autoestima (Lodahl; Kejner, 1965)”. E o comprometimento Organizacional Afetivo: “[...] um estado no qual um indivíduo se identifica com uma organização particular e com seus objetivos, desejando manter-se afiliado a ela com vista a realizar tais objetivos” Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 61 (MOWDAY; STEERS; PORTER, 1979). Essas definições representam as concepções seminais dos três conceitos. Siqueira e Padovam (2008) reestruturaram essas definições e integraram os três indicadores de bem-estar no trabalho conceituando BET na contemporaneidade. Atualmente satisfação com o trabalho tem sido descrita como um vínculo positivo com o trabalho. As satisfações que se obtém nos relacionamentos com a chefia e com os colegas de trabalho como também as satisfações advindas do salário pago pela empresa, oportunidades de promoção ofertadas pela política de gestão da empresa representam os aspectos específicos deste vínculo. Quando as atividades de trabalho incluem desafios que exigem habilidades individuais na sua execução, quando as metas a serem alcançadas são percebidas claramente e o retorno é imediato, a segunda dimensão de BET, ou seja, envolvimento com o trabalho é compreendido como um estado de fluxo (CSIKSZENTMIHALYI, 1999), na sua concepção atual, após quatro décadas da concepção proposta por Lodhal e Kejner (1965). O comprometimento organizacional afetivo é definido como uma ligação afetuosa com uma organização. Como terceiro componente do conceito de BET, é um vínculo que inclui sentimentos positivos como entusiasmo, orgulho, contentamento, confiança, apego e dedicação à empresa empregadora (SIQUEIRA, 1995, 2008). Ainda que, não esteja assentado em emoções positivas, esse modelo de três componentes para BET, pressupõe que os três vínculos positivos que o constituem (satisfação no trabalho, envolvimento com o trabalho e comprometimento organizacional afetivo) possam ampliar o espectro do estado psicológico positivo e saudável do trabalhador. Este estudo teve como objetivo investigar as relações entre bem-estar no trabalho e percepção de sucesso na carreira. Método Trata-se de um estudo transversal quantitativo com aplicação do método correlacional. Participantes Participaram da pesquisa 172 trabalhadores com idade média de 33,73 anos, (DP = 8,22), sendo 51,05% do sexo feminino, distribuídos entre 42,01% solteiros, 44,04% casados e 13,05% com outra situação conjugal, cuja escolaridade variava de fundamental completo (47,04%) a mestrado completo (12,03%), com tempo de trabalho de 4,67 anos, (DP = 5,82), sendo a maioria, (68,04%) trabalhadores de empresas privadas. Instrumentos Para a coleta de dados foi utilizado um questionário contendo quatro escalas, validadas e precisas. Escala de Satisfação no Trabalho - A medida foi construída e validada por Siqueira (1995), originalmente composta por vinte e cinco frases que descrevem cinco fatores. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 62 Neste estudo foi utilizada a versão reduzida da medida, que contém 15 itens. Nesta, são cinco fatores com três itens cada: satisfação com colegas de trabalho (α =0,81), satisfação com o salário (α =0,90), satisfação com a chefia (α =0,89), satisfação com a natureza do trabalho (α =0,77) e satisfação com promoções (α =0,81). As respostas são dadas em uma escala de sete pontos (1= totalmente insatisfeito, 2=moderadamente insatisfeito, 3= levemente insatisfeito, 4=nem concordo, nem discordo 5=levemente satisfeito, 6=moderadamente satisfeito e 7=totalmente satisfeito). Escala de Envolvimento com o Trabalho. Medida validada por Siqueira (1995) e composta por cinco itens (α =0,78), desenvolvida a partir da escala elaborada por 58 Lodahl; Kejner (1965 apud SIQUEIRA, 1995). As respostas são dadas em uma escala de sete pontos (1=discordo totalmente, 2=discordo moderadamente, 3= discordo levemente, 4=nem concordo, nem discordo, 5=concordo levemente, 6=concordo moderadamente e 7=concordo totalmente). Escala de Comprometimento Organizacional Afetivo (ECOA). Foi construída e validada por Siqueira (1995) e contém, em sua forma reduzida, cinco itens (α =0,93). As respostas são dadas em uma escala de cinco pontos (1=nada, 2=pouco, 3=mais ou menos, 4=muito, 5=extremamente). A Escala de Percepção de Sucesso na Carreira (PSC) instrumento elaborado e validado por Venneli (2010). E composta por frases simples em que o respondente determina o seu grau de concordância (1 a 10) (1 e 2=discordo totalmente, 3 e 4=discordo, 5 e 6=nem discordo e nem concordo, 7 e 8=concordo, 9 e 10=concordo totalmente) com a respectiva frase para a sua carreira. Para facilitar o respondente, a escala é mista, contendo frases subjetivas associadas aos graus. Nesta escala são avaliados os seguintes itens: cooperação (α=0,85), Competência (α=0,78), Contribuição (α=0,86), Desenvolvimento (α=0,75), Criatividade (α=0,72), Identidade/equilíbrio (α=0,81), Reconhecimento (α=0,81), Cooperação (α=0,78) e segurança financeira (α=0,78). Resultados Os resultados contidos no Quadro 1 revelaram índices de correlação positiva e significativa entre as três dimensões de bem-estar no trabalho e percepção de sucesso na carreira. Devese ressaltar que a maior correlação ocorreu entre comprometimento organizacional afetivo e percepção de sucesso na carreira e menor entre envolvimento com o trabalho e percepção de sucesso na carreira. Consoante os resultados, indivíduos que nutrem um estado elevado de bem-estar no trabalho representado por altos índices de satisfação no trabalho, envolvimento com o trabalho e comprometimento organizacional afetivo são também os que tendem a perceber maiores possibilidades de sucesso na carreira e vice e versa. Quadro 1. Matriz de correlação Variáveis 1. Satisfação no trabalho 2. Envolvimento com o trabalho 3. Comprometimento organizacional afetivo 4. Percepção de sucesso na carreira Média 4,21 3,67 Desvio Padrão 0,96 1,44 1 0,32** 2 3 3,12 1,04 0,71** 0,38** - 3,31 0,74 0,49** 0,39** 0,62** 4 - ** p<0,01 Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 63 - O Quadro 2 contém os resultados da ANOVA. Quando se comparou os escores médios entre as três dimensões BET (satisfação no trabalho, envolvimento com o trabalho e comprometimento organizacional afetivo) e PSC (percepção de sucesso na carreira) e o estado civil, pode-se observar, que apenas a dimensão envolvimento com o trabalho produziu escores distintos entre os grupos, ou seja, há pouca diferença quando se fala de envolvimento com o trabalho e percepção de sucesso na carreira entre os grupos solteiros (M=3,89) e outros (M=3,98), porém, os dados apontaram que existe menor envolvimento entre o grupo dos casados (M=3,37). Quadro 2. Resultados da ANOVA para as três dimensões de BET e percepção de sucesso na carreira entre solteiros e casados. Variáveis 1. Satisfação no trabalho 2. Envolvimento com o trabalho 3. Comprometimento organizacional afetivo 4. Percepção de sucesso na carreira Solteiros n=72 4,21 3,89 3,03 3,48 Casados n=76 4,28 3,37 3,22 3,42 Outros n=23 F 4,10 0,211 3,98 3,048* 3,01 0,697 3,16 1,492 Conclusão Esta pesquisa teve como objetivo investigar as relações entre bem-estar no trabalho e percepção de sucesso na carreira. Através dos resultados deste estudo foi possível demonstrar que indivíduos que nutrem um estado elevado de bem-estar no trabalho tendem a perceber mais possibilidades de sucesso na carreira e vice e versa. É importante destacar que a correlação mais alta ocorreu entre o comprometimento organizacional afetivo e a percepção de sucesso na carreira, o que indica que os afetos que o indivíduo nutre no local de trabalho é um componente importante na percepção de sucesso na carreira. Quanto ao estado civil, ao analisar as três variáveis de BET (satisfação no trabalho, envolvimento com o trabalho e comprometimento organizacional afetivo), pode se constatar que apenas a variável envolvimento com o trabalho produziu escores distintos localizados entre casados versus solteiros e outros, contudo, os dados apontaram que existe menor envolvimento entre o grupo dos casados. Este estudo é relevante para a literatura em Psicologia da Saúde, pois possibilita ampliar a compreensão do quanto sentir-se bem no trabalho esta relacionado com a percepção de sucesso na carreira. Embora a presente pesquisa tenha atingido seu objetivo, uma limitação observada é a de que os estudos sobre percepção de sucesso na carreira são iniciantes, há pouca produção científica sobre o assunto, diferentemente do construto de bem-estar no trabalho que tem diversos modelos teóricos. Enquanto um tema esta bem estruturado conceitualmente, o outro carece de mais pesquisas. Neste sentido, é fundamental que novas pesquisas sejam Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 64 conduzidas. Os dois construtos BET e PSC podem contribuir expressivamente para estudos relacionados à saúde do trabalhador. Referências BASTOS, A.V.B., BORGES, A.B.J.E. Comprometimento com o trabalho, padrões em diferentes contextos organizacionais. Revista de Administração de Empresas (RAE), São Paulo, v.42, n, 2, p. 31-41, 2002. CORNELIUS, N., SKINNER, D. The careers of senior men and women: a capabilities theory perspective. British Journal of Management. v.19, p. 141-149, 2008. COSTA, L.V. A relação entre a percepção de sucesso na carreira e comportamento organizacional, um estudo entre professores de universidades privadas selecionadas na grande São Paulo. 2011, 124 f. (Tese) Doutorado em Administração, Economia e Contabilidade, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011. Biblioteca Digital USP. 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SIQUEIRA Resumo Capital psicológico é um construto multidimensional composto por esperança, resiliência, otimismo e eficácia enquanto engajamento no trabalho é caracterizado por vigor, dedicação e absorção. Ambos originam-se da psicologia positiva no qual Seligman (2000) contrapõe o foco na doença, no sofrimento psíquico, enfatizando as forças do indivíduo em detrimento as suas fraquezas ou patologias. O setor de saúde hoje é um dos mais importantes dentro da economia nacional gerando em torno de quatro milhões de postos de trabalho e este cenário reforça a relevância do setor e a importância da realização de pesquisas no mesmo. O objetivo deste estudo foi relacionar capital psicológico e engajamento no trabalho com profissionais administrativos do segmento hospitalar. Participaram 70 funcionários de um hospital público, sendo a maioria (87,1%) do sexo feminino, com idade média 46,11 anos (DP 8,16) e tempo médio de trabalho de 19,7 anos (DP = 9,37). Destes 55,7% são casados e apresentaram escolaridade variando entre o nível fundamental completo (11,4%) e mestrado completo (2,9%). Com relação ao seu trabalho na instituição, observou-se que o tempo médio de trabalho foi de 19,07 anos (DP = 9,37), dos quais 91,4% exercem cargo público (concursados), 12,9% ocupam cargo de chefia (DP= 0,3) e 47,1% (DP= 0,8) relatam exercer sua atividade em grupo. Para a coleta de dados foram utilizadas duas escalas válidas e precisas. Os dados, todos numéricos, foram submetidos a análises por meio do SPSS, versão 20.0. O índice de correlação (r de Pearson) das variáveis capital psicológico e engajamento no trabalho foi significativo, positivo e moderado. Tais resultados revelam que quanto mais elevado for o capital psicológico dos trabalhadores, ou seja, altos escores em esperança, resiliência, otimismo e eficácia maior engajamento no trabalho (vigor e absorção) eles apresentam e vice-versa. Palavras-chave: capital psicológico; engajamento no trabalho; psicologia positiva; profissionais de saúde. Introdução Capital psicológico (CP) é um construto multidimensional composto por esperança, resiliência, otimismo e eficácia enquanto engajamento no trabalho (EGT) é caracterizado por vigor, dedicação e absorção. Ambos originam-se da psicologia positiva no qual Seligman (2000) contrapõe o foco na doença, no sofrimento psíquico, enfatizando as forças do indivíduo em detrimento as suas fraquezas ou patologias. Mestrandas em Psicologia da Saúde pela Universidade Metodista de São Paulo. Doutora em Psicologia. Docente na Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia da Saúde da Universidade Metodista de São Paulo. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 67 Muitos gestores de organizações têm se deparado com a importância destes construtos, pois estes se mostram como um diferencial entre os desempenhos apresentados pelos funcionários. De acordo com Siqueira (2008), desde as primeiras décadas do século XX, as atenções de muitos pesquisadores e gestores empresariais do comportamento organizacional se voltaram ao tema satisfação no trabalho, buscando compreender o indivíduo que trabalha e suas experiências emocionais na organização. Portanto investigar estas dimensões pode representar para a psicologia uma abertura para novas perspectivas, com vistas para maior produção no trabalho, com trabalhadores mais saudáveis e comprometidos com suas tarefas. Conforme Luthans, Youssef, Avolio (2007), os lugares adequados para se trabalhar não são mais aqueles que prometem emprego para toda uma vida, mas sim aqueles que proporcionam aos seus funcionários oportunidades, recursos e flexibilidade para crescimento, aprendizado e desenvolvimento. A psicologia, no decorrer de sua trajetória, esteve mais preocupada em entender e compreender o processo do adoecimento, procurando a sua origem, os sintomas e as formas de reestabelecimento. Em meados dos anos 50, visando à saúde e não mais a doença, o humanismo trouxe um novo pensamento, embora muitos profissionais ainda mantivessem o seu olhar nas patologias. Nos anos 90 surge a Psicologia Positiva que retoma a concepção positiva no que se refere ao ser humano, resgatando a importância da prevenção e da promoção de saúde (SCHAUFELI; BAKKER, 2003). A partir dos pressupostos da psicologia positiva propostos por Seligman e Csikszentmihalyi (2000), o conhecimento acerca do comportamento humano nas organizações passou a ser investigado tendo como base os recursos e as forças positivas que os indivíduos aplicam quando lidam com os desafios presentes no mundo do trabalho. Segundo Luthans (2004), nessa abordagem não deve haver preocupação com o que está errado e disfuncional com os indivíduos, mas, sim atentar para o que é certo e bom sobre eles, dando-se ênfase aos pontos fortes (saúde e vitalidade), ao invés de pontos fracos (como patologias e doenças). Instigado pelas novas perspectivas sugeridas pelos postulados da psicologia positiva e pelo suporte das pesquisas realizadas até então, Luthans et al. (2007) formulou o conceito denominado capital psicológico (CP) e o definiu como um constructo de alta ordem que abrange quatro dimensões consideradas importantes para promover o desempenho e a satisfação dos profissionais que atuam na organização. Para o autor, CP é definido como um estado de desenvolvimento psicológico positivo de um indivíduo e é caracterizado por: ter confiança (auto eficácia) para assumir e fazer um esforço necessário para ter sucesso em tarefas desafiadoras; fazer uma atribuição positiva (otimismo) sobre ter sucesso agora e no futuro; perseverar em direção aos objetivos e, quando necessário, redirecionar os caminhos aos objetivos (esperança); e por fim (resiliência) que significa que quando o indivíduo é atormentado por problemas e adversidades, ele consegue suportar e dar a volta para alcançar sucesso (LUTHANS et al., 2007). O outro constructo deste estudo é o engajamento no trabalho (EGT) que para Maslach e Leiter (2008), pode ser compreendido como energia, envolvimento e eficácia profissional. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 68 Desta forma, nas pesquisas no campo laboral, constatou-se uma associação dos estudos entre EGT e burnout nas pesquisas no campo laboral (MASLACH; SCHAUFELI; LEITER, 2001). Nestes estudos os pesquisadores observaram que as dimensões que compõem o construto de burnout, o esgotamento ou exaustão emocional, a desumanização também entendida como cinismo e a despersonalização aliada à reduzida realização pessoal no trabalho, são opostas ao EGT, que é um constructo motivacional positivo. No que se refere ao conceito de engajamento, Kahn (1990, p. 694), desenvolveu possivelmente o primeiro trabalho acadêmico sobre engajamento no trabalho (EGT) em que o constructo foi compreendido como: “Aproveitamento dos membros da organização de seus próprios papéis de trabalho: No engagement, as pessoas utilizam e se expressam a si mesmas, física, cognitiva, emocional e mentalmente durante o desenvolvimento de seus papéis. Conforme Schaufeli, Bakker, Salanova (2006) EGT é um estado positivo da mente, vinculado ao trabalho e é caracterizado por: vigor, dedicação e absorção. Para os autores Schaufeli e Bakker (2003) o EGT refere-se a um estado mais persistente e não momentâneo, que não é focado apenas em um objeto, evento ou indivíduo: “... o vigor caracteriza-se pelos altos níveis de energia e resiliência mental enquanto trabalha, vontade de invest ir no trabalho, e persistência em situações de dificuldade. A dedicação refere-se a estar fortemente envolvido em seu trabalho e experienciar um senso de significância, entusiasmo inspiração, orgulho e desafio. Absorção é caracterizada como estar completamente concentrado e envolvido em seu trabalho, sendo que o tempo passa rapidamente e o indivíduo possui dificuldade em desapegar-se de seu trabalho.” Para Schaufeli e Bakker (2003), trabalhadores com engajamento, tem um senso de energia e disposição, estão conectados com o trabalho e com suas tarefas, e se vêem como capazes de lidar com as demandas e adversidades de seu trabalho. Objetivo geral O presente estudo teve como objetivo geral relacionar capital psicológico e engajamento no trabalho em profissionais administrativos do setor de saúde em um hospital público. Objetivos específicos a) Apresentar, interpretar e discutir os escores de capital psicológico; Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 69 b) Apresentar, interpretar e discutir os escores de engajamento no trabalho; c) Apresentar, interpretar e discutir os índices de correlação entre capital psicológico e engajamento no trabalho; d) Apresentar, interpretar e discutir as diferenças de escores médios de capital psicológico e engajamento no trabalho entre grupos com estado civil distintos. Método Participantes O presente estudo foi realizado com profissionais administrativos da área da saúde de um hospital geral da rede pública SUS da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, e constitui-se, dentro do setor terciário, num hospital de alta complexidade cirúrgica, e no setor secundário, ambulatório de especialidades. A pesquisa contou com a participação de 70 indivíduos, sendo a maioria (87,1%) do sexo feminino, com idade média 46,11 anos (DP=8,16) e tempo médio de trabalho de 19,7 anos (DP = 9,37). Destes 55,7% são casados e apresentaram escolaridade variando entre o nível fundamental completo (11,4%) e mestrado completo (2,9%). Com relação ao seu trabalho na instituição, observou-se que o tempo médio de trabalho foi de 19,07 anos (DP = 9,37), dos quais 91,4% exercem cargo público (concursados), 12,9% ocupam cargo de chefia e 47,1% relataram exercer sua atividade em grupo. Instrumentos Para a coleta dos dados foi utilizado um questionário auto-aplicável, composto por duas medidas que aferiram as variáveis do estudo, o qual foi lido e respondido pelos próprios funcionários. O instrumento foi composto pelas seguintes escalas de mensuração: Escala de Capital Psicológico no Trabalho construída e validada no Brasil por Siqueira, Martins e Souza (2012), contendo 25 itens divididos em 4 fatores: auto eficácia, otimismo, esperança e resiliência; Escala de Engajamento no Trabalho – EGT, construída e validada por Martins, Lima, Agapito, Souza e Siqueira (2011) contendo 10 itens divididos em dois componentes – vigor e absorção. Dados complementares para caracterização da amostra foram levantados por meio de questões acrescentadas no final do questionário arguindo sobre: idade, sexo, estado civil, tempo de trabalho, tipo de vínculo, se ocupa cargo de chefia e como realiza a maior parte de suas atividades. Procedimentos Para realizar a coleta de dados, foi entregue a direção do hospital uma solicitação de autorização com uma breve descrição dos objetivos do trabalho, após a permissão por parte dos responsáveis, foi realizado o contato com os profissionais pesquisados no qual foi explicado verbalmente os objetivos e o formato do estudo, também a questão do sigilo e a desobrigação na participação por parte deles. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 70 Aos que aceitaram participar, foram reunidos em grupos de 10 pessoas (foram reunidos em grupos pequenos para que não houvesse prejuízo ao bom funcionamento da instituição) e então se deu a entrega do termo de livre consentimento livre e esclarecido (TCLE) e em seguida à assinatura, o questionário e as escalas para seu devido preenchimento. Com o material coletado, foram realizadas análises estatísticas descritivas (como médias, desvios-padrão, frequências, porcentagens) e cálculos de correlação entre as variáveis, além de comparação entre grupos que poderá dar-se por meio de análise de variância (ANOVA), por meio do SPSS, versão 20.0. Resultados Após a análise estatística dos dados coletados, a seguir os resultados dos escores médios (DP), e o alfa de Cronbach dos fatores do capital psicológico e engajamento no trabalho, além dos índices de precisão de correlação (r de Pearson) são apresentados (Quadro 1). No Quadro 1, são apresentados as médias de todas as dimensões estudadas e observa-se que a menor média se refere a resiliência, o que significa dizer que os indivíduos da amostra são pouco resiliente, ou seja, diante de adversidades ha pouca crença de que são capazes de se recuperar, para restaurar assim o equilíbrio e a capacidade de seguir. A maior média apresentada foi a da dimensão autoeficácia, que revela existir entre os participantes fortes crenças de que são capazes de enfrentar os desafios e superá-los. Quadro 1 . Médias, desvios padrão, índices de precisão e de correlação (n=70) Variáveis Médias DP 1 2 3 4 5 1 Esperança 4,05 0,54 (α= 0,40) 2 Auto e fi c á c i a 4,32 0,61 0,50** (α= 0,81) 3 Otimismo 3,93 0,79 0,53** 0,46** (α= 0,79) 4 Resiliência 2,89 0,94 0,17 0,18 0,08 (α= 0,73) 5 V i g or 3,80 0,75 0,27* 0,26* 0,39** 0,22 (α=0,88) 6 A b s or ç ã o 4,11 0,53 0,31** 0,24* 0,09 0,15 0,42** Referente às correlações, os construtos CP e EGT possuem, porém são consideradas fracas, segundo as referências de Tabachnick e Fidel (1996), tendo como índice de correlação mais representativo, as dimensões otimismo e vigor, o que significa dizer que quanto maior é a energia, a persistência e a determinação direcionada para o desempenho das atividades de trabalho será concomitante a crença de resultados positivos e de sucesso para o tempo atual e futuro. Já a menor correlação apresentada foi a de Absorção e Autoeficácia, o que significa dizer que o indivíduo que se sente concentrado e satisfeito na realização do trabalho possui uma tendência a crer em sua capacidade de enfrentar os desafios propostos. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 71 6 (α=0,70) Destarte, segue agora a interpretação das demais correlações apresentadas no Quadro 1, pode-se, portanto, observar que na correlação de esperança com absorção, entende-se que quando maior for a perseverança nos caminhos ao objetivo também será a felicidade na realização do trabalho o que implica em estar plenamente concentrado. A dimensão vigor se correlacionou com esperança, o que implica dizer que se o indivíduo que emprega energia e disposição na realização do trabalho possui tendência a ser perseverante nos caminhos em direção aos seus objetivos. E a ultima correlação a ser citada é a das dimensões vigor e autoeficácia, o que permite dizer que o sujeito que despende energia nas tarefas profissionais, sendo concentrado e satisfeito na realização destas, tende a crer em sua capacidade de ser eficiente no enfrentamento dos desafios apresentados. Por fim, é necessário destacar a dimensão resiliência, que não apresentou índice de correlação significativa com nenhuma das outras dimensões, portanto percebeu-se que, embora os indivíduos tenham bons e adequados índices de capital psicológico e engajamento no trabalho, estes não possuem uma forma satisfatória de reação e enfrentamento diante do fracasso. Diante destes resultados entende-se que quanto mais elevado for o capital psicológico dos trabalhadores, maior o engajamento no trabalho destes e vice-versa. Portanto, o indivíduo que apresentar altos índices de otimismo, auto eficácia, resilência e esperança, tende também a vivenciar sensações que mais lhe revigoram e absorvem, e mesmo com as adversidades encontradas no mundo do profissional, irá se sentir cheio de energia, fortalecido, renovado e concentrado. Discussão Este estudo foi realizado com profissionais que possui indicadores de saúde mental considerados satisfatórios, pode-se também observar níveis de correlação das variáveis, o que significa dizer que quanto maior o capital psicológico do indivíduo, maior também será o seu engajamento no trabalho, ampliando esta visão, a análise de correlação permite afirmar que quando os trabalhadores são otimistas, esperançosos, resilientes e confiantes, eles também se apresentam mais revigorados e absorvidos no ambiente de trabalho e viceversa. Neste sentindo mesmo havendo o cansaço físico após uma jornada de trabalho, o indivíduo se sente entusiasmado com sua atuação profissional. Os resultados deste estudo foram importantes para a psicologia e podem representar abertura para novas perspectivas, pois quanto mais as organizações investirem na promoção de saúde dos trabalhadores, estes motivados e revigorados com o trabalho podem ter comportamentos positivos influenciando assim num aumento de produção. Referências BANDURA, A. Self-efficacy: Toward a unifying theory of behavioral change. Psychological Review, v. 84 n.2, p. 191-215, 1977. BAKKER, A., DEMEROUTI, E., HAKANEN, J. J., XANTHOPOULU, D. Job resources boost work engagement, particularly when job demands are high. Journal of Educational Psychology, v. 99, n. 2, p. 274-284, 2007. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 72 BAKKER, A., LEITER, M. P. Where to go from here: integration and future research on work engagement. In: BAKKER, A. B., LEITER, M. P. (Org.). Work engagement: a handbook of essential theory and research. New York: Psychology Press, 2010. p. 181-196. 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A pesquisa apresentou como problemática o clima organizacional da panificadora do grupo Cíntia. O objetivo geral deste projeto foi analisar o clima organizacional dos colaboradores através de uma pesquisa de clima organizacional, que permitiu uma análise interna, satisfação, motivação, comprometimento dos colaboradores com a organização. Os objetivos específicos foram os seguintes: verificar o clima, estabelecer pontos fortes e fracos e propor, caso necessário, ações para melhoria do clima organizacional. O clima organizacional pode ser entendido como a expressão dos sentimentos dos empregados diante dos valores, das políticas, das práticas de gestão de recursos humanos, da forma de relacionamento com os colegas, da postura de empresa ao estabelecer metas e retribuir pelo alcance dela, além da situação econômica. (CHIAVENATO, 2000). Segundo Chiavenato (2000, p. 446) O Clima Organizacional “constitui o meio interno ou atmosfera psicológica de cada organização. Está ligado ao moral e à satisfação das necessidades dos participantes e pode ser satisfatório ou insatisfatório, dependendo de como os participantes se sentem em relação à organização”. Os sentimentos manifestam-se em relação a inúmeros aspectos da vida na organização: o trabalho em si, salários, comportamento dos chefes, colegas e instalações físicas. O produto dos sentimentos individuais e grupais criados por esses aspectos chamam-se clima organizacional. (MAXIMIANO, 1995. p.38). Segundo Bergamini (1997), a pesquisa de clima organizacional é o instrumento pelo qual é possível atender mais de perto as necessidades da organização e do quadro de funcionários a sua disposição, à medida que caracteriza tendências de satisfação ou insatisfação, tomando por base à consulta generalizada aos diferentes colaboradores da empresa. A pesquisa é uma maneira de saber se os funcionários estão satisfeitos ou não com a os benefícios, salários e relacionamento interpessoal. Mestranda em Psicologia da Saúde pela Universidade Metodista de São Paulo. Mestre em Administração pela UFSC. Docente do Programa de Pós-Graduação do Centro Universitário do Norte. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 75 Segundo o mesmo autor, a Pesquisa de Clima Organizacional é um levantamento de opiniões que caracteriza uma representação da realidade organizacional consciente, uma vez que retrata o que as pessoas acreditam estar acontecendo em determinado momento na organização enfocada, tornando claras as percepções dos funcionários sobre temas e itens que, caso apresentem distorções indesejáveis, afetam negativamente o nível de satisfação dos funcionários na situação de trabalho. A definição da satisfação com o trabalho como a atitude geral de uma pessoa em relação ao trabalho que realiza e o trabalho requer a convivência com os colegas e superiores, a obediência às regras e políticas organizacionais, natureza do trabalho e supervisão. Uma pessoa que tem um alto nível de satisfação com seu trabalho apresenta atitudes positivas em relação a ele, enquanto uma pessoa insatisfeita apresenta atitudes negativas. (ROBBINS, 2005.) O conceito de organização é tipicamente behaviorista: a organização é a coordenação de diferentes atividades de contribuintes individuais com a finalidade de efetuar transações planejadas com o ambiente. A organização atua em um meio ambiente e sua existência e sobrevivência dependem da maneira como ela se relaciona com esse meio. (CHIAVENATO, 2000). Segundo Robbins (2005), uma estrutura organizacional define como as tarefas são formalmente distribuídas, agrupadas e coordenadas e os executivos precisam ter em mente seis elementos básicos que são os seguintes: especialização do trabalho, a departamentalização, a cadeia de comando, amplitude de controle, centralização e descentralização e a formalização. Segundo Chiavenato (2000), cultura organizacional é o conjunto de hábitos, crenças, valores e tradições, interações e relacionamentos sociais típicos de cada organização. Representa a maneira tradicional e costumeira de pensar e fazer as coisas e que são compartilhadas por todos os membros da organização. Método Participantes Participaram deste estudo 44 colaboradores (balconistas (55%), líderes (16%), cozinheiras (11%), serviços gerais (7%), op. caixa e produção (5%), motoristas (2%), sendo 82% do sexo feminino, 18% do sexo masculino, com idades compreendidas entre 18 a 25 anos (57%). Na questão da escolaridade, ficou meio dividido, pois 30% têm o ensino fundamental, 30% médio incompleto e 34% médio incompleto. Observou-se que metade, ou seja, 50% são novatos, tem menos de um ano. Material A coleta de dados foi feita através de questionários e entrevistas anônimos e de auto respostas; das quais constava: um questionário Sócio demográfico, que incluía os dados pessoais (sexo, idade, escolaridade, cargo e tempo de empresa). Escala Likert de 1 a 5 (Muito insatisfeito, Insatisfeito, indiferente, satisfeito e muito insatisfeito) onde foram Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 76 avaliados os seguintes aspectos: Relacionamento interpessoal, realização profissional, salários, benefícios, líder imediato, gerente, ambiente, comunicação, crescimento profissional e treinamento. A entrevista constava 10 perguntas para os lideres, na qual foram avaliados os seguintes critérios: pontos fortes e fracos do relacionamento interpessoal e clima organizacional. Procedimento A coleta dos dados ocorreu no ano de 2008 nas três panificadoras do Grupo Cíntia ( Panificadora Cíntia, Panificadora Núbia e Panificadora Clise) que atuam no Amazonas há mais de 30 anos. Inicialmente, efetuou-se um pedido de autorização à respectiva direção, na qual constava uma breve explicação do estudo. Resultados Conforme os resultados da pesquisa referente ao clima organizacional (Tabela 1) observouse os seguintes aspectos em relação à satisfação dos colaboradores. a) um clima de insatisfação em relação a benefícios e salários, suscitando as seguintes propostas: melhores salários e prêmios por produção. b) que o ponto forte da empresa é o trabalho em equipe e a política de treinamento. c) a necessidade do desenvolvimento de uma política salarial, baseada na elaboração de um plano de cargos e salários visando estabelecer maior nível motivacional na realização do trabalho. Tabela 1. Grau de satisfação dos colaboradores da Indústria de Panificação do Grupo Cíntia. Itens Relacionamento interpessoal Autonomia Realização profissional Salário Benefícios Relacionamento funcionário e liderança Política de treinamento Ambiente de trabalho Expectativa de crescimento Muito Insatisfeito Insatisfeito Indiferente Satisfeito Muito Satisfeito 1 5 5 24 4 1 3 3 2 11 19 16 6 2 5 6 24 18 12 12 3 6 3 7 3 21 4 1 6 1 6 2 22 17 3 1 3 10 2 22 2 Conclusão Este trabalho possibilitou a construção do conhecimento contribuindo para melhoria do trabalho desenvolvido na empresa. Sendo assim, sugere-se novas pesquisas sobre clima organizacional para saber o grau de satisfação dos colaboradores e então propor melhorias Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 77 e uma nova visão sobre qualidade de vida dos profissionais inseridos dentro da organização. Portanto, buscar compreender cada vez mais o trabalhador no seu contexto organizacional, contribuirá para que os resultados possam ser alcançados e este possa, concomitantemente, alcançar seus próprios objetivos e qualidade de vida no trabalho. Referências BERGAMINI, C. (org.) Psicodinâmica da Vida Organizacional: Motivação e Liderança. 2 ed. São Paulo: Atlas, 1997. CHIAVENATO, I. Introdução à Teoria Geral da Administração. Rio de Janeiro: Campus, 2000. LAKATOS, E. Metodologia do Trabalho Científico. São Paulo: Atlas, 1992. MAXIMIANO, A. C. A. Introdução a Administração. São Paulo: Atlas, 1995. ROBBINS, S. P. Comportamento Organizacional. São Paulo: Prentice Hall, 2005. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 78 Eficácia adaptativa em portadores de Diabetes Mellitus tipo 2 NATHÁLIA B BRANDOLIM DOS SANTOS, MARIA GERALDA VIANA HELENO Resumo Diabetes é uma doença crônica que influi na rotina de vida das pessoas, que precisam de cuidados diários, o que pode gerar angustia e dificuldades para a aceitação da doença. Em função do tratamento existe a necessidade de adaptação à nova rotina diária, tornando-se importante a avaliação da eficácia adaptativa destes pacientes. Portanto, esta pesquisa teve como objetivo avaliar a qualidade da eficácia adaptativa em portadores de Diabetes tipo2 por meio do Questionário Diagnóstico Adaptativo Operacionalizado – QDAO e descrever dados sócio-demográficos foram avaliados 100 pacientes portadores de Diabetes Mellitus tipo2, de forma individual. Os resultados demonstraram que a qualidade da adaptação de 91% dos participantes era de Adaptação Ineficaz Moderado (Grupo3) com tendência a Adaptação Ineficaz Severa. A análise dos dados sócio-demográficos mostrou que 59,4% dos participantes tinham mais de seis anos de diagnóstico, 71,4% uma dieta pobre e 64,8% não realizavam nenhum tipo de atividade física. Considerando que estes são fatores determinantes para um bom controle glicêmico, o prognóstico para estes pacientes é muito ruim. Assim, os resultados deste pequeno recorte de portadores de Diabetes Mellitus tipo2 do Município de Itaquaquecetuba, do estado de São Paulo, nos leva a refletir acerca da importância de investimento em programas de educação e prevenção de Diabetes e seu controle para que estes participantes possam ter melhor prognóstico. Palavras-chave: diabetes mellitus tipo 2; diagnóstico da situação de saúde em grupos. Introdução Diabetes é uma doença crônica que atinge 18,8 milhões de pessoas no mundo. Por ser um problema de saúde pública interessa a pesquisadores de diversas áreas. O diabetes é um estado causado por insuficiência de insulina, que desempenha papel fundamental nos processos metabólicos do organismo (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2008). O Diabetes Mellitus (DM) tipo2 acomete, geralmente, pessoas após os 30 anos (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2008) e muitas vezes, é negligenciado pelo próprio paciente por apresentar sintomas iniciais brandos. A grande questão é, mesmo sendo silenciosa, traz elevações nos níveis de glicemia no sangue gerando complicações irreversíveis a médio e longo prazo (HELENO, 2001). Estima-se que, os custos com os Mestranda em psicologia - Universidade Metodista de São Paulo. Email: [email protected] Doutora em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 79 cuidados para a saúde de um indivíduo com essa patologia, são o dobro ou até mesmo o triplo, do que para um indivíduo sem essa doença. Além dos custos financeiros, consideram-se também custos intangíveis como: dor, ansiedade, inconveniência, perda de qualidade de vida, impacto negativo com o diagnóstico e as dificuldades com o tratamento. Com isto, devido às complicações crônicas, muitos indivíduos tornam-se incapazes ou limitados no seu desempenho profissional (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2008). Segundo a American Diabetes Association (ADA) (2010), a maioria dos pacientes com DM Tipo 2 apresenta, quando em um nível mais crônico da doença, sintomas como: muita sede e fome, infecções frequentes, extrema fadiga e irritabilidade, alteração visual (visão embaçada), furunculose, cortes e machucados que demoram a cicatrizar, dormências nas mãos e pés; e ainda, sobrepeso ou obesidade (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2008). Portanto, é importante que se observe o paciente como um todo pensando em variáveis sócio-demográficas, psicológicas e fisiológicas. O tratamento inclui estratégias, a reorganização de hábitos alimentares, suspensão do fumo, aumento de atividade física como uma das primeiras terapias para a DM tipo2; só quando necessário, inicia-se um tratamento medicamentoso com insulina e antidiabéticos orais, como sufonilureais, repalglimida, metformina, glitazonas, acarbato (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2002). Torna-se importante avaliar o grau da instrução dos portadores de Diabetes, já que a condição da escolaridade pode dificultar o acesso às informações e trazer menores oportunidades de aprendizagem quanto ao cuidado com a saúde (GRILLO; GORINI, 2007). Segundo pesquisa que caracterizou variáveis sóciodemográficas e socioeconômicas, através de uma amostra com 113 pacientes que apresentavam diabetes tipo2, verificou que, a maior ocorrência dos problemas de saúde se apresenta em sujeitos com tempo de diagnóstico a partir de 5 anos (TAVARES et al., 2007). Pesquisas apontam dificuldades dos portadores de diabetes em aderir à dieta, realizar atividade física, manter-se com peso adequado (SARTONELLI; FRANCO, 2003). Em contrapartida, demonstram que a mudança no estilo de vida com a adoção da prática regular de exercícios físico e uma dieta adequada, diminuem o risco da pessoa adquirir diabetes e promove uma boa qualidade de vida. Assim, comprovam a necessidade da implantação de programas de intervenção e multidisciplinares, que contemplem práticas educativas para a conscientização da população a respeito da importância da adoção de hábitos alimentares saudáveis e da prática de atividade física (MOLENA-FERNANDES, 2005). O Diabetes Mellitus, pode ser pensado em diferentes âmbitos da saúde, não apenas como uma nosologia. Para Bleger, “a função social do psicólogo clínico não deve ser basicamente a terapia e sim a saúde pública e, dentro dela, a higiene mental. O psicólogo deve intervir intensamente em todos os aspectos e problemas que concernem à psico-higiene e não esperar que a pessoa adoeça para poder intervir. Estas são as verdades que não se põem teoricamente em dúvida, mas que não se fazem ainda práticas na dimensão necessária” (BLEGER, 1984, p.20). Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 80 Heleno (1992) demonstra que, após a situação de crise, alguns pacientes aceitam o fato de estarem diabéticos e seguem o tratamento. Isto acontece quando as emoções não são de natureza extrema e assim, são capazes de utilizar as defesas, principalmente a identificação projetiva, de modo flexível e reversível; são capazes de suportar a angústia do desconhecido; contam com objetivos bons e completos firmemente estabelecidos em seu mundo interno; e, são capazes de elaborar o luto. Mas, em outro grupo composto por um número relevante de pessoas, não é capaz de ter uma atitude saudável em relação ao diabetes. Ao perder o corpo saudável, o paciente com diabetes sofre uma importante perda, que equivale ao processo de luto. O modo como ele vai enfrentar esta nova situação, se é capaz ou não de suportar a vivência dolorosa da doença e suas consequências e elaborar o luto, pode determinar a aderência ou não do tratamento. Esse paciente vai enfrentar um tipo especial de luto em função de sucessivas perdas, real ou fantasiosa no decorrer da doença (HELENO, 2001). Neste caso, precisa ter capacidade para se adaptar a nova situação. Para avaliar a adaptação do indivíduo, Simon (1983), desenvolve a EDAO – Escala Diagnóstica Adaptativa Operacionalizada, que é aplicada, após colher do indivíduo informações através da entrevista clínica preventiva. O critério adaptativo da escala se deu pelas seguintes razões: a adaptação pareceu o melhor critério para avaliar o comportamento dos indivíduos; todo comportamento pode ser avaliado segundo um significado adaptativo; para alcançar os fins adaptativos o organismo precisa integrar seus diversos sistemas e fará com um grau variado de consistência. As variações na integração dos sistemas e coerência com seus fins vão permitir uma classificação qualitativa da adaptação (SIMON, 1983). Sendo que, isto será percebido através da comunicação de estado de integração do indivíduo nos setores bio-psico-sociais. Cabe ressaltar que, a análise da qualidade da adaptação tem sua importância, considerandose não só a riqueza da conceituação da adaptação, mas a relevância da avaliação dos indivíduos para as propostas de intervenções (HELENO; VIZZOTTO; BONFIM, 2007). Por isso, considera-se relevante um estudo da adaptação de pacientes com Diabetes Mellitus tipo 2. Assim, os dados poderão ser úteis para verificar: se existem respostas pouco ou pouquíssimo adequadas e a quais setores elas pertencem, de modo que se possam propor medidas de prevenção primária ou terciária, conforme o caso. Portanto, a presente pesquisa tem por objetivo avaliar a qualidade da adaptação de pacientes com Diabetes Mellitus tipo2. Método Participantes Participaram desta pesquisa 100 pacientes com Diabetes Mellitus tipo2. Este número abarca quase a totalidade de pacientes que frequentam duas Unidades Básicas de Saúde, localizadas em um mesmo bairro, onde realizam controle glicêmico uma a duas vezes por semana. A amostra foi escolhida por conveniência. Neste tipo de amostra nãoprobabilística, o pesquisador seleciona os membros mais acessíveis de uma população (GIL, 1996). Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 81 Os critérios para que o paciente pudesse participar da pesquisa diz respeito a existência de Diagnóstico de Diabetes Tipo 2, apenas não poderiam participar da pesquisa caso houvesse diagnóstico de outro variação da mesma doença. Nesse sentido, cerca de 45 pacientes não puderam participar, pois eram diagnosticados com o Diabetes tipo 1. Conforme estudo realizado por Malerbi e Franco (1992) no Brasil, nos anos de 1986 a 1989, sobre o perfil das pessoas com diagnóstico prévio de Diabetes, a prevalência da doença, por faixa etária, no grupo de pessoas de 60 a 69 anos foi de 17,43%. Mostrou também que existe semelhança na taxa para homens e mulheres. No estudo realizado por Grillo e Gorini (2007), pode-se observar que existe o dobro de pessoas nesta faixa etária (34,4%), sendo a maioria do sexo feminino. Na presente pesquisa observou-se que a faixa etária representante da maioria é de 50 a 69 anos; é possível perceber um pequeno aumento, se comparada com a pesquisa de Grillo e Gorini (2007). No entanto, apresenta o dobro de indivíduos na faixa de 60 a 69 anos considerado por Malerbi e Franco (1992). Quanto ao gênero, não houve uma diferença estatisticamente significante. Estes dados, no entanto, demonstram a relevância desta pesquisa, porque demonstram, com o passar dos anos a quantidade de portadores de diabetes está aumentando. Podemos a partir disto inferir que a prevenção da diabetes não tem sido realizada de forma adequada. Ambiente Os dados foram coletados em duas Unidades Básicas de Saúde (UBS) do município de Itaquaquecetuba, no estado de São Paulo. Estas foram designadas pelo Coordenador da Atenção Básica do Município por serem próximas (mesmo bairro) e apresentarem grande quantidade de pacientes portadores de Diabetes Tipo 2 os quais frequentam com certa regularidade a unidade para medir sua glicemia. Os questionários foram aplicados em uma sala tradicional de atendimento médico, a qual dispunha de uma mesa, três cadeiras, uma maca, um biombo e uma estante. Instrumentos Para a coleta de dados desta pesquisa foram utilizados os seguintes instrumentos: - Questionário de levantamento de dados sócio-demográficos dos participantes. - Questionário Diagnóstico Adaptativo Operacionalizado – QDAO validado (GANDINI, 1997). Esse questionário é composto de duzentas e quatro perguntas, sendo que, para se responder às questões do nº 1 ao 193 é necessário utilizar uma escala variável tipo likert de 1 a 5, em que 1 designa “discordo totalmente”; 2, “discordo”; 3, “nem concordo nem discordo”; 4, “concordo”; e 5, “concordo totalmente”. Da questão 194 à 204, as respostas deverão ter por base uma escala variável, também tipo likert, na qual 1 designa “nunca”; 2, “raramente”; 3, “às vezes”;4, “frequentemente”; e 5, “sempre”. Esse questionário tem por objetivo avaliar a eficácia adaptativa dos indivíduos nos setores Afetivo-relacional, Produtividade, Sóciocultural e Orgânico. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 82 Procedimento Foram convidados a participar da pesquisa pacientes que estavam realizando o destro na enfermaria da unidade básica de Saúde. Aqueles que se enquadravam nos critérios da pesquisa e concordaram em assinar o TCLE (Aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa Prot. Nº 464818-11) foram encaminhados para uma sala de atendimento médico e solicitados que pudessem responder, individualmente, ao Questionário sócio-demográfico e ao Questionário Diagnóstico Adaptativo Operacionalizado, nesta ordem. O procedimento de aplicar o questionário em uma sala reservada com o acompanhamento da aplicadora foi devido à demanda destes pacientes. Os participantes apresentaram dificuldades para responder o questionário devido a baixa escolaridade e dificuldades orgânicas (visão), as quais fazia-se necessário o auxílio da pesquisadora. Assim, a aplicação do Questionário realizou-se oralmente com esclarecimentos e auxílio, quando necessário/solicitado, pelo participante. Os resultados foram analisados com a utilização do software estatístico SPSS –Statistical Package for the Social Sciences, versão para Windows, utilizando-se os procedimentos propostos por Garcia (2011). Gandini (1997) propôs, a partir da EDAO, 210 itens que compuseram a forma do questionário. Esses itens foram constituídos com base nos conteúdos dos quatro setores da personalidade, sendo 107 do Afetivo-relacional (A-R), 38 de Produtividade (Pr), 31 do Sócio-cultural (S-C) e 34 do Orgânico (Or). Foram retirados seis itens dos originais propostos por Gandini (1997), conforme proposta de Garcia (2011), totalizando 204 questões. Resultados Inicialmente foi realizado análises descritivas das variáveis sócio-demográficas dos participantes (Tabela 1). Para a descrição do Questionário Diagnóstico Adaptativo Operacionalizado utilizou-se a descrição de frequência e porcentagem. Na tabela 2 descreve-se a distribuição dos participantes segundo as características do Diabetes e tratamento. As características do tratamento avaliadas nesta pesquisa foram: tempo de diagnóstico, tipo de dieta, atividade física e tipo de tratamento realizado. Tabela 1. Distribuição dos participantes segundo as características sócio-demográficas Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 83 Variáveis Gênero Faixa etária Estado Civil Renda Familiar Fonte de Renda Escolaridade Naturalidade Níveis Feminino Masculino 26 à 39 anos 40 à 49 anos 50 à 59 anos 60 à 69 anos 70 à 79 anos 80 à mais anos Solteiro Casado Separado Viúvo Um salário mínimo Dois salários mínimos Três salários mínimos Quatro salários mínimos Cinco ou mais salários mínimos Aposentado/Pensionista Trabalho autônomo Carteira Assinada Outros Fundamental Incompleto Fundamental Completo Ensino Médio Incompleto Ensino Médio Completo Superior Incompleto Nordeste Sudeste Centro-Oeste Sul Outro País f 53 47 3 6 33 38 16 3 07 67 12 14 50 30 12 05 03 58 13 04 25 73 08 06 10 03 45 47 04 03 01 Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 % 53% 47% 3% 6% 33% 38% 16% 3% 07% 67% 12% 14% 50% 30% 12% 05% 03% 58% 13% 04% 25% 73% 08% 06% 10% 03% 45% 47% 04% 03% 01% 84 Tabela 2. Distribuição dos participantes segundo as características do Diabetes e tratamento Variáveis Tempo de diagnóstico Tipo de Dieta Atividade Física Tipo de tratamento f Níveis Até 11 meses 1 a 2 anos 3 a 5 anos 6 a 9 anos Mais de 10 anos Boa Favorável Pobre Não realiza Realiza irregularmente Realiza regularmente Hipoglicemiante Oral Insulina Dieta % 08% 09% 23% 14% 46% 05% 22% 73% 64% 17% 19% 59% 39% 02% 08 09 23 14 46 05 22 73 64 17 19 59 39 02 Na tabela 3 descrevem-se a porcentagem de participantes classificados quanto a adequação de suas respostas, segundo os setores de adaptação Afetivo-Relacional, Sócio –Cultural, Orgânico e Produtividade. Tabela 3. Porcentagem de participantes na adequação de respostas (n=100) Resposta Adequada Pouco Adequada Pouquíssimo Adequada Total Setor A-R 04% 96% 100% Setor Pr 03% 93% 04% 100% Setor S-C 100% 100% Setor Or 19% 81% 100% Os resultado dos cruzamentos dos dados referentes ao Grupo 3 (Ineficaz Moderado) da classificação diagnóstica dos participantes nos grupos adaptativos com os dados das variáveis tempo de diagnóstico, tipo de dieta e atividade física, que estão relacionadas ao setor orgânico (tabela 4). Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 85 Tabela 4. Diabetes e auto-cuidado considerando o setor orgânico. Variáveis Tempo de diagnóstico Tipo de Dieta Atividade Física Níveis Até 11 meses 1 a 2 anos 3 a 5 anos 6 a 9 anos Mais de 10 anos Boa Favorável Pobre Não realiza Realiza irregularmente Realiza regularmente f 08 08 21 14 40 04 22 65 54 18 14 % 08,8% 08,8% 23,1% 15,4% 44,0% 04,4% 24,2% 71,4% 64,8% 19,8% 15,4% Discussão Os dados da tabela 1 mostraram, dos 100 portadores de Diabetes Mellitus tipo2, que responderam ao questionário, a maior parte está atualmente casada e a renda familiar é na maioria de até dois salários mínimos. A fonte de renda dos participantes se concentra, principalmente, em aposentado e pensionista, representando 58% da amostra. Se observarmos que a faixa etária se encontra principalmente entre 60 e 69 anos, e é uma faixa na qual ainda a pessoa é considerada produtiva, podemos considerar um problema para o Estado (INSS), ou seja pessoas que poderiam ser contribuintes tornaram-se prematuramente gastos para o Estado/Município. A escolaridade destes participantes é, em sua maioria, Fundamental Incompleto (73%). Este resultado corrobora os achados de Tavares et al.(2007) e Souza et al. (2003). A importância de analisar o grau de instrução se deve ao fato de que a condição da escolaridade pode dificultar o acesso às informações e trazer menores oportunidades de aprendizagem quanto ao cuidado com a saúde, pois os pacientes com diabetes precisam desenvolver, em grande parte, o seu próprio cuidado (GRILLO; GORINI, 2007). A naturalidade dos participantes está centrada, principalmente, em duas regiões do Brasil, 45 % no Nordeste e 47% no Sudeste. Este dado, é importante para saber o tipo de cultura que estão inseridos estes participantes. Estes indicam a contribuição da cultura em determinados comportamentos, como por exemplo, a rotina alimentar. Os dados sobre a Diabetes mostram que o tempo de diagnóstico da doença varia muito, mas grande parte tem diagnóstico acima de 10 anos. Portanto indica que essa população tem maior risco de complicações conforme pesquisa feita por Tavares et al.(2007), que verificou maior ocorrência dos problemas de saúde a partir de 5 anos do diagnóstico. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 86 Apenas 5% dos participantes dizem ter uma dieta boa, com aderência cuidadosa a dieta com medida do alimento não menos que uma vez por mês e quase nunca indiscriminações dietéticas. Estes resultados corroboram os encontrados por Grillo e Gorini (2007). Observa-se que os riscos para complicação aumentam em pacientes que não são aderentes a uma dieta equilibrada (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2003). = Quanto a atividade física, 64% dos participantes dizem não realizar nenhum tipo de atividade. Algumas evidências sugerem que o sedentarismo, favorecido pela vida moderna é um fator de risco tão importante quanto à dieta inadequada na etiologia da obesidade, e possui uma relação direta e positiva com o aumento da incidência do diabetes tipo2 em adultos, independentemente do índice de massa corporal, ou de história familiar de diabetes. Além disso, a obesidade tem sido apontada como um dos principais fatores de risco para o diabetes tipo2. Estima-se que entre 80% e 90% dos indivíduos acometidos por esta doença são obesos (SARTORELLI; FRANCO, 2003). Atividade física e a realização de uma dieta adequada têm grande importância no tratamento do Diabetes Mellitus tipo 2. Em uma revisão bibliográfica realizada por Molena-Fernandes et. al. (2005)acerca da influência da atividade física e da dieta no tratamento e prevenção do Diabetes Mellitus tipo 2, concluiu-se que a mudança no estilo de vida com a adoção da prática de exercícios físicos regularmente e uma dieta adequada diminuem o risco da pessoa adquirir diabetes e promove uma boa qualidade de vida. Ressalta também, que considerando o aumento da prevalência do DM tipo 2 na população e seus efeitos morbimortalidade, faz necessária a implantação de programas de intervenção e multidisciplinares que contemplem práticas educativas para a conscientização da população a respeito da importância da adoção de hábitos alimentares saudáveis e da prática de atividade física regular. Os tratamentos realizados pelos participantes desta pesquisa são: Hipoglicemiante Oral (59%), Insulina (39%) e por Dieta (2%). No entanto, em uma pergunta aberta que abordava se o paciente relaciona o aparecimento do Diabetes a algum fato que aconteceu em sua vida, os mesmos relacionam a diversos fatores. Estes fatores foram indicados nas seguintes categorias: 1. Parentes com Diabetes (25%); 2.Consumo de álcool e fumo em excesso (07%); 3. Problema de vista (1%); 4. Ingestão de açúcar em excesso (5%); 5. Idade avançada (3%); 6. Excesso de peso (1%), 7. Não sabe (35%); 8. Outros (13%).Boa parte dos participantes relaciona o aparecimento do Diabetes a um caráter genético, ou seja, associam o aparecimento da doença à existência da mesma em outros parentes. Em grande parte os participantes respondem a partir dos excessos, ou seja, apenas tendem a diminuir quando excedem na glicemia, e assim, repensam de forma simplória e genérica sobre os hábitos que julgam estarem lhes prejudicando por serem excessivos. Quando questionados sobre a existência de outra doença além do Diabetes 18% relatam que não apresenta outra doença, 43% relatam apresentar apenas hipertensão, 27% relatam ter hipertensão associada a outras doenças (Artrose, A.V.C., Bursite, Câncer, Colesterol, Hérnia, Osteoporose, Cardiopatia, Bronquite, Enxaqueca, Olhos, Trombose, Gastrite, Tireoide, Reumatismo, Renal e Lúpus). O restante apresenta doenças isoladas, 1% tem Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 87 Bronquite, 4% tem alguma Cardiopatia, 2% algum problema de coluna, 2% Hérnia, 2% Labirintite, 1% Tireoide e 2% Gastrite. Existe consenso entre os autores, de que a hipertensão arterial é cerca de duas vezes mais frequente entre indivíduos com diabetes, quando comparados à população em geral, e está presente em 50% dos pacientes no momento do Diagnóstico da DM tipo 2 (DAVIDSON, 2001). Segundo Grillo e Gorini (2007), foram analisadas complicações micro e macrovasculares, decorrentes da doença, como as complicações oftalmológicas, cardiovasculares, renais e neurológicas e pode-se afirmar que a DM constitui um dos principais fatores de risco para as doenças do aparelho circulatório. Entre as complicações mais comuns estão o infarto agudo de miocárdio (IAM), o acidente vascular encefálico (AVE), insuficiência renal crônica (IRC), as amputações de pés e pernas e a cegueira definitiva. Sendo assim, dos resultados apresentados pelos participantes, o que está relacionado à Diabetes são a hipertensão, A.V.C., colesterol, doenças relacionadas a visão e à problemas renais. Subsequente, os resultados apresentados no QDAO, que avalia a eficácia adaptativa dos participantes relacionados acima, foram os apresentados na Tabela 3. Como demonstrado, a maioria dos participantes encontra-se com respostas pouco adequadas. E o Setor Produtividade, diferente dos outros setores, apresenta respostas pouquíssimo adequadas. Justamente um dos setores que Simon (2005) julga ser um dos mais importantes, juntamente com A-R, no desenvolvimento humano. Enquanto que o setor Orgânico, o qual deveria aparecer com respostas pouco e pouquíssimo adequadas, mostra uma resposta adequada com uma porcentagem significativamente maior que nos outros setores. Considerando se tratar de indivíduos portadores de Diabetes Mellitus tipo2 e que possuem, em sua maioria, outras doenças associadas. Com este resultado podemos levantar a hipótese de negação da doença. Após uma situação de crise, Heleno (1992), mostra que alguns pacientes não aceitam o fato de estarem com diabetes e seguem o tratamento. Mas, outro grupo composto por um número relevante de pessoas, não é capaz de ter uma atitude saudável em relação ao diabetes. Este fenômeno parece estar associado a maneira como o paciente elabora o luto e aceita a doença. Este refere-se a perda do objeto amado ou de parte valiosa do self. No caso do paciente com diabetes, podemos dizer que o fato dele perder o corpo sadio equivale ao luto. O modo como ele enfrenta esta nova situação, se é capaz ou não de suportar a nova vivência dolorosa da doença e suas consequências, e elaborar o luto pode determinar a aderência ou não do tratamento (HELENO, 1992). Considerando que os resultados de todos os setores estão na faixa do Pouco Adequado, as respostas destes participantes estão atendendo a dois critérios – soluciona o problema, traz satisfação, mas gera conflito, ou soluciona o problema, não traz satisfação e não gera conflitos. Podemos hipotetizar que este tipo de resposta mostra uma tendência a piora da eficácia adaptativa, pois os conflitos gerados pelas respostas acumulam-se e há o predomínio de fatores negativos (SIMON, 1989). Na classificação diagnóstica dos participantes nos grupos adaptativos foi possível verificar que dos portadores de Diabetes participantes da pesquisa estão com Adaptação Ineficaz Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 88 Moderada (Grupo 3 – 91%), os demais se alocam em Adaptação Eficaz (Grupo 1 – 02%), Adaptação Ineficaz Leve (Grupo 2 – 03%), Adaptação Ineficaz Severa (Grupo 4 – 04%). Dos 100 portadores de Diabetes Mellitus tipo2 que responderam o questionário apenas 2% apresentaram Adaptação Eficaz (Grupo 1). Segundo Simon (2005) a descrição clínica de indivíduos no Grupo 1 é de personalidade “normal” e raros sintomas neuróticos e caracterológicos. Assim, podemos entender que estes 2 participantes possuem maturidade emocional, força de caráter, capacidade de lidar com emoções conflitantes, equilíbrio entre vida interna e adaptação à realidade e uma bem-sucedida fusão das diferentes partes da personalidade em um todo. Segundo Klein (1960) estes elementos são componentes de uma personalidade bem integrada, os quais formam os alicerces da saúde mental, predominando a capacidade de amor frente à capacidade de ódio. Em seguida, observou-se que 3% foram classificados com Adaptação Ineficaz Leve (Grupo 2). Segundo Simon (2005) a descrição clínica destes sujeitos no Grupo 2 é apresentar sintomas neuróticos brandos, ligeiros traços caracterológicos e algumas inibições. A maioria 91% foi classificada com Adaptação Ineficaz Moderado (Grupo 3). Os indivíduos localizados neste grupo, segundo Simon (2005) apresentam alguns sintomas neuróticos, inibição moderada e alguns traços caracterológicos. Mas, a análise mais detalhada mostrou que existe uma tendência para diminuição da eficácia adaptativa deste Grupo, pois os resultados estão mais próximos do grupo 4 do que para o aumento da eficácia que seria Grupo 3. Um indicador ruim é de que 4% dos indivíduos foram classificados com Adaptação Ineficaz Severa (Grupo 4). Segundo Simon (2005) os indivíduos localizados neste grupo apresentam sintomas neuróticos mais limitadores, inibições restritivas e rigidez de traços caracterológicos. É importante ressaltar, que em diversos momentos na aplicação do questionário fui questionada a respeito de como se alimentar de forma adequada e porque o médico não explicava o que fazer para melhorarem da doença. Existe uma carência muito grande no que diz respeito à Educação em Diabetes. Nesta pesquisa o objetivo foi de avaliar a eficácia adaptativa em portadores de Diabetes tipo 2 e a partir dos dados levantados nos questionários sócio-demográficos e do QDAO, observou-se que os pacientes apresentaram um prognóstico desfavorável, sendo que, todos os setores de adaptação estiveram respostas Pouco Adequados. Considerando que 73% dos participantes apresentaram baixa escolaridade, este dado dificulta o acesso às informações e traz menores oportunidades de aprendizagem quanto aos cuidados com a saúde e busca dos direitos, pois os pacientes diabéticos precisam desenvolver o seu auto cuidado. Este cuidado envolve uma dieta adequada e realizar atividade física. No entanto, 73% dos participantes apresentam dieta pobre e 64% não realiza nenhum tipo de atividade física. E, considerando que 60% dos participantes tem mais de cinco anos de diagnóstico da doença, inferimos que o prognóstico não é favorável devido a todas as variáveis determinantes da piora do portador de Diabetes, como por exemplo, a falta de controle da glicemia, da alimentação, não realização de atividades físicas Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 89 e a falta de noções sobre o seu auto cuidado relativo à doença que possui e, as associadas a ela também. Conclusão Os dados apresentados sobre este pequeno recorte de participantes portadores de Diabetes Mellitus tipo 2 de um Município de Itaquaquecetuba - SP, nos leva a refletir acerca da necessidade de políticas públicas eficazes na Educação em Diabetes. Mesmo se tratando de uma faixa carente da população, se executado de forma eficaz um programa como o PRAIDI (Programa Integrado de Educação em Diabetes), realizado na Universidade Metodista de São Paulo, que tem como objetivo de educar e orientar pacientes com diabetes, poderão ter prognósticos melhores. Se tratando de uma pesquisa com o objetivo de avaliar a qualidade da eficácia adaptativa em portadores de Diabetes Mellitus tipo 2, o levantamento mostrou que o prognóstico é desfavorável, pois os indivíduos se localizam no grupo 3 de diagnóstico adaptativo tendendo ao grupo 4. Não podemos desconsiderar os dados sócio-demográficos, que tem interferência no processo adaptativo. Se as condições sociais e demográficas fossem outras poderíamos ter um prognóstico, talvez, um pouco mais favorável. Já que se torna um fator agravante estes participantes serem pessoas com pouca escolaridade, com renda mínima e muitos são idosos aposentados. Assim, é possível concluir que os dados nos mostram a insuficiência da saúde pública e a enorme necessidade em trabalhar com prevenção primária a fim de diminuir a incidência de casos de Diabetes no Município. Além de promover a educação em Diabetes para os portadores da doença, a fim de melhorar o prognóstico da doença. Referências SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes; 2008. http://www.diabetes.org.br/educacao/docs/Diretrizes_SBD_2008_MAR_12.pdf Acesso em 03 de Março de 2011. HELENO, M.G.V. Organizações patológicas e equilíbrio psíquico em pacientes com diabetes tipo II. Mudanças Psicoterapia e Estudos Psicossociais, São Bernardo do Campo, v. 9, n. 15, p. 75 – 158, jan/jun; 2001. 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No contexto da educação infantil, a leitura abre espaço para infinitas descobertas e permite que a criança seja inserida e se contextualize com o universo ainda estranho e abra um mundo de sensações e perspectivas a ser adquiridas e desfrutadas. O professor usando das infinitas possibilidades oferecidas pela leitura e pela Literatura Infantil, deve transformar o ato de ler em prazer e estímulo ao gosto pela fascinante viagem que a criança pode encontrar na leitura. Assim, após o trabalho percebeu-se que o professor pode oportunizar formas atraentes de incluir as obras literárias nos conteúdos cotidianos torna-se um desafio ao professor, para que as crianças adquiram o hábito da leitura, não de forma mecânica, mas sentindo a cada frase, o prazer da descoberta e da ampliação de sua visão de mundo e de novas formas de estar nele inserido. Palavras-chave: educação; leitura; literatura infantil. Introdução Da observação da realidade de muitas escolas, sobretudo na Educação Infantil e séries iniciais do Ensino Fundamental, denota-se que a instituição escolar, em grande parte das vezes, não tem conseguido persuadir os alunos acerca da importância das atividades em torno da leitura. Assim, o objetivo central deste artigo consiste em avaliar a importância da literatura infanto-juvenil na consolidação de uma ambiente educativo que estimule a prática de leitura em crianças e adolescentes. Por meio da leitura, percorre-se um caminho marcado por descobertas e prazeres, que extrapolam os limites do fazer pedagógico e preenchem todo o universo do leitor, de forma Mestrando em Psicologia da Saúde pela Universidade Metodista de São Paulo. Faculdade Pitágoras. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 92 a contemplar uma gama infinita de possibilidades que preenchem, de forma irrestrita, todas as possibilidades de acrescentar novos pensamentos aos já existentes, de derrubar argumentos com coerência e imaginação. Em resposta à necessidade de tomar a leitura como prática cotidiana essencial, Freire (1988, p. 13) pontifica que: “Quanto mais leio, mais descubro o tamanho do mundo e mais tenho desejo de conquistá-lo.” Neste contexto, é importante estabelecer as bases que conduzem ao reconhecimento da importância do ato de ler como forma de tornar fecundo o aprendizado, invocando um mundo no qual a reflexão sobre os textos assuma proporções infinitas. “Esperarei por ti como o jardineiro que prepara o jardim para a rosa que se abrirá na primavera” (PAULO FREIRE). A epígrafe de Freire evoca a imagem da pessoa que, de posse de um livro, sente todo o perfume das imagens e das palavras, como forma de perceber que as oportunidades da leitura são irrestritas, ao despertarem no ser humano o desejo de crescimento, de superação, de intervenção no próprio destino. A aversão pela leitura atinge níveis altos de alunos, evidenciando-se ao senso comum que as pessoas não têm interesse ou não se sentem motivadas para ler. Com a preocupação de resgatar o aluno para a prática da leitura – leitura consciente, significativa, envolvente, criativa, que incite a motivação, que possibilite uma leitura de mundo – a literatura infantil pode ser uma grande aliada, desde que o professor tenha conhecimentos teóricos e metodológicos para isso e saiba utilizar-se deles. O estudo da leitura e da literatura infantil, como fonte de prazer, significados, alavanca para um leitor motivado é um dos principais focos de atenção de um pedagogo interessado em saber como anda sua prática e a de seus amigos profissionais da mesma área, bem como do aprendizado do aluno, aprendizado este que deve ser para a vida toda. Como Abramovich (2002, p.16) diz: “ser leitor é ter um caminho absolutamente infinito de descoberta e de compreensão do mundo”, podemos assim ter alguma idéia da relevância do tema que trataremos. O trabalho de leitura possibilita a formação de leitores, com base na introdução de textos diversificados, porquanto o mundo está em constante mudança. No âmbito escolar percebemos que, a leitura se apresenta como uma atividade que afasta o educando do seu mundo, tornando a prática pedagógica voltada para o ensino e o incentivo da leitura distanciada e ineficaz. Na obtenção destas informações, foi realizada uma cuidadosa revisão de literatura para fundamentar o estudo realizado acerca dos aspectos ideológicos da literatura infantil nas séries iniciais, do ensino fundamental em escolas da rede pública: uma etnografia da prática - pedagógica da leitura. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 93 Estimulando o prazer à leitura A formação do professor não inclui suficientemente conteúdos relacionados à leitura literária de modo que possam sustentar um ensino eficiente e prazeroso. Quando na prática, o professor vê-se desorientado quanto à forma de organizar experiências de leitura através da literatura em sala de aula. “E se, em vez de exigir a leitura, o professor decidisse de repente partilhar sua própria felicidade de ler? A felicidade de ler? O que é isso, felicidade de ler? Questões que pressupõe um bem conhecido cair em si mesmo, na verdade! E para começar, vamos à confissão dessa verdade de que vai radicalmente contra o dogma: a maior parte das leituras que nos formaram não foram feitas a favor, mas contra. Líamos, e lemos, como quem se protege, como uma recusa, como uma oposição” (DANIEL PENNAC). A preocupação em torno da forma crítica de pensar pode ser mais bem entendida a partir da seguinte reflexão de Paulo Freire: Assim como na alfabetização não nos interessa ensinar ao Povo um puro be-a-bá, não nos interessa também, na pós-alfabetização, transferir ao Povo frases e textos para ele ir lendo sem entender. A reconstrução nacional exige de todos nós uma participação consciente e a participação consciente, em qualquer nível da reconstrução nacional, exige ação e pensamento. Exige prática e teoria em unidade (FREIRE, 1988, p. 72). É somente através da leitura crítica de muitos textos escritos, sobre as mais variadas questões de diferentes ângulos, que se pode avançar como seres humanos, assumindo posições que se passa a defender conscientemente e pelas quais se assume total responsabilidade. Depreende-se, assim, que o leitor precede o escritor. As pessoas que lêem e escrevem habitualmente ocupam alternadamente, em relação à escrita, os papéis de leitor e escritor. A esse respeito, Lajolo (1997, p. 7) afirma que: “Do mundo da leitura à leitura do mundo, o trajeto se cumpre sempre, refazendo-se, inclusive, por um vice-versa que transforma a leitura em prática circular e infinita. Como fonte de prazer e de sabedoria, a leitura não esgota seu poder de sedução nos estreitos círculos da escola.” Neste sentido, é coerente abordar a questão do poder e do prazer em relação à prática da leitura, como maneira privilegiada de a pessoa conseguir uma melhor compreensão de si própria e do mundo que a rodeia. Ao desfrutar da grande cultura que a humanidade vem acumulando em seus esforços para vencer dificuldades, supera-se a noção de que leitura é apenas prazer. Entendida como via para o conhecimento e, possivelmente, para a sabedoria, ler implica disciplina e um longo aprendizado. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 94 É no encontro entre o poder e o prazer que reside a importância da leitura na formação de indivíduos críticos e capazes de transformar a realidade na qual estão inseridos. Neste amplo contexto, é necessário reconstruir o saber da escola e a formação do educador, especialmente no que concerne ao aprendizado da leitura e ao domínio necessário do aluno sobre ela em diferentes situações da vida prática diária. Verifica-se o caminho histórico da leitura através dos tempos, de maneira a ser compreendido como ela passou da forma de aprendizagem à forma de fruição. Evidenciarse que a sua prática desperta o interesse e a atenção das crianças, desenvolvendo nelas, entre outras coisas, a imaginação, a criatividade, a expressão das idéias, o prazer pela leitura. Chartier (1998), entre as limitações e a liberdade na leitura, chama a atenção para o caráter histórico da experiência humana de ler, ostentando a aventura social da leitura, que se traduz nas experiências humanas marcadas nos modos de lembrar e recordar dos sujeitos que procuravam diferentes formas de leituras. Suas investigações indicam que a consideração do livro como objeto vivo, do ambiente, como conteúdo educacional e da memória como elemento de leitura do mundo, incorporou diferentes modelos explicativos de leitura na dinâmica social de cada época, aumentando os processos relacionados à informação e à comunicação humana, mudando o panorama estático, conservador para um panorama modular e flexível. Entre os vários modos de leitura, Chartier (1998) pontua a revolução que os textos eletrônicos vêm fazendo com as suas idéias contemporâneas, ofertando mais comunicação e informação, cujas contribuições promoveram impactos no delineamento de questões sobre o ato de ler e novas propostas para a apropriação do gosto de ler. Foucambert (1994, p. 5) avalia a leitura como: “[...] um ato questionador, pois ler significa ser questionado pelo mundo e por si mesmo. O leitor tem acesso à escrita e constrói as suas respostas a partir das informações que já tinha adquirido as que recebem no ato da leitura. O autor compara o aprendizado da leitura a adivinhar e afirma que a prática literária produz o aumento dos acertos.” Desta forma, a leitura é construída, desenvolvida e aperfeiçoada. O seu aprendizado é contínuo, sendo a escola um momento na formação do leitor, devendo prosseguir com o seu desenvolvimento. A leitura é atividade fundamental desenvolvida pela escola para a formação dos alunos. Silva (1988, p. 63) confirma esta idéia ao afirmar que: “Os professores precisam desenvolver uma intimidade com os textos utilizados junto a seus alunos e possuir justificativas claras para a sua adoção. E mais: precisam conhecer a sua origem histórica e situá-los dentro de uma tipologia. Essa intimidade e esse conhecimento exigem Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 95 que os professores se situem na condição de leitores, pois sem o testemunho vivo de convivência com os textos ao nível da docência não existe como alimentar a leitura junto aos alunos.” Formalmente, cabe à escola estabelecer relações entre leitura e indivíduo, ou ainda, entre leitura/escrita/aluno, aprofundando os níveis de desempenho. Uma premissa básica para a formação de alunos leitores e que o professor tem que ser também, antes de tudo, um leitor. Ele só trabalhará bem com a leitura se for um modelo positivo de relação com o ato de ler. Ele precisa gostar de ler, fazer com que as crianças leiam, ler para elas, ler com elas e saber ouvir a leitura delas. O professor precisa ter preparo teórico e metodológico e saber que a escola é o lugar natural da leitura. Zilbermann e Silva (1990, p. 43) afirmam que: “A leitura pode ser tudo (ou pelo menos muito) ou pode ser nada, dependendo da forma como for colocada em sala de aula. Tudo, se conseguir unir sensibilidade e conhecimento. Nada, se todas as suas promessas forem frustradas por pedagogias desencontradas.” Visto que o bom leitor é formado desde pequeno, existe um grande desafio para o professor hoje, pois a escola tem se centrado especialmente no aspecto cognitivo da criança, esquecendo, quase que completamente, da arte, do prazer do lúdico, do encantamento da leitura, das coisas que suscitam no imaginário, o que normalmente despertam a vontade e o hábito pela leitura. A leitura possibilita ao leitor uma grande e vasta fonte de conhecimentos pessoais e sociais. Possibilita que o leitor viaje em seu íntimo, que compreenda coisas do seu mundo e do mundo dos outros. Neste processo de enriquecimento mútuo, a leitura deixa de ser a mera repetição ou reprodução de significados institucionalizados e petrificados, para se constituir em dinâmica viva, democrática e produtiva, levando à concretização de um ou mais circuitos de leitura em sala de aula e, talvez, em todos os quadrantes da escola. É função escolar ensinar a ler. A escola deve ainda, ampliar o domínio dos níveis de leitura e escrita e orientar a escolha dos materiais de leitura. Para isso, desde as séries iniciais, a escola deve trabalhar com textos de diversas naturezas, com textos que surjam do cruzamento de linguagens variadas, e com textos da literatura que exploram a dimensão do imaginário coletivo e pessoal. Nessa direção, Alves (2001, p. 112) ensina que: Todo texto literário é uma partitura musical. As palavras são as notas. Se aquele que lê é um artista, se ele domina a técnica, se ele surfa sobre as palavras, se ele está possuído pelo texto – a beleza acontece. E o texto se apossa do corpo de quem ouve. Mas se aquele que lê não domina a técnica, se ele luta com as palavras, se ele não desliza sobre elas – a leitura não produz prazer: queremos que ela termine logo. Assim, quem ensina a ler, isto é, aquele que Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 96 lê para que seus alunos tenham prazer no texto, tem de ser um artista. Só deveria ler aquele que está possuído pelo texto que lê. Por isso eu acho que deveria ser estabelecida em nossas escolas a prática de “concertos de leitura“. Se há concertos de música erudita, jazz e MPB – por que não concertos de leitura? Ouvindo, os alunos experimentarão os prazeres do ler. E acontecerá com a leitura o mesmo que acontece com a música: depois de ser picado pela sua beleza é impossível esquecer. Leitura é droga perigosa: vicia... Se os jovens não gostam de ler, a culpa não é deles. Foram forçados a aprender tantas coisas sobre os textos - gramática, usos da partícula “se“, dígrafos, encontros consonantais, análise sintática - que não houve tempo para serem iniciados na única coisa que importa: a beleza musical do texto literário: foi-lhes ensinada a anatomia morta do texto e não a sua erótica viva. Ler é fazer amor com as palavras. E essa transa literária se inicia antes que as crianças saibam os nomes das letras. Sem saber ler elas já são sensíveis à beleza. E a missão do professor? Mestre do kama-sutra da leitura. A leitura abre as portas para um mundo infinito de conhecimentos reais e imaginários. Daniel Pennac, professor e escritor francês, investigador do mundo da leitura, em Como um romance, mostra que essa ligação se perde, normalmente quando o livro deixa de ser “vivo”, quando a leitura encantadora, instigante, passa a ser parte obrigatória num “bom” currículo escolar. Quando o livro torna-se dever, tudo aponta para um afastamento desta tarefa. Páginas enormes, pesadas, com letras pequenas, falta de diálogos do texto, a distância temporal dos personagens. Freire (1986, p. 48) diz que: “Existe uma relação mútua entre a leitura do mundo e a leitura da palavra, entre a linguagem e a realidade, entre o texto e o contexto. Por acreditar que essa relação é irrefutável, somente consigo atribuir importância e relevância às práticas de leitura escolar quando o leitor é elevado à condição de sujeito, trabalhando ativamente com seus pares na busca de compreensão de diferentes aspectos da realidade através dos textos. Esse trabalho requer movimentos dinâmicos entre os textos e as experiências de vida dos leitores e vice-versa; na ausência desses movimentos, vistos aqui como geradores de significação/compreensão e passíveis de ser orientadas pedagogicamente pelo professor, a leitura perde em vitalidade, adquire o estatuto de "bancária" e dificilmente se encarna na vida de uma pessoa.” A leitura apresenta várias dimensões: lê-se para ampliar o próprio conhecimento, para conseguir informações, lê-se para saber mais sobre o universo, lê-se em busca de descontração e diversão, e utilizando a literatura de ficção e poesia, lê-se para chegar ao "prazer do texto". Atividade que resulta de um trabalho intelectual que se instaura entre leitura e sua experiência prévia de mundo. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 97 Pennac (1998, p. 80) sugere que: “A escola dificilmente estimula o aluno para o exercício da leitura, a não ser quando condicionado a tarefas de ordem pragmática.” A leitura e a literatura infantil É imenso e multifacetado o universo da literatura infantil e juvenil. Nesse sentido: “Ler, conhecer e entender as obras - se possível as boas – de literatura infantil e juvenil é dever de ofício de todos os professores do ensino fundamental e médio. Isto porque eles são mediadores e informantes privilegiados de leitura junto aos estudantes” (GREGORIN FILHO, PINA; MICHELLI, 2011p. 12). Na maioria dos livros que buscam teorizar o assunto, há o questionamento: a literatura infantil é instrumento pedagógico ou é arte. Coelho (2000, p. 9) assim discute sobre o tema: “Literatura infantil é, antes de tudo, literatura; ou melhor, á arte: fenômeno de criatividade que representa o mundo, o homem, a vida, através da palavra. Funde os sonhos e a vida prática, o imaginário e o real, os ideais e sua possível/impossível realização...” O que se observa é que o professor não tem se utilizado adequadamente da literatura infantil para desenvolver a leitura nos seus alunos. É como deixar uma faceta da beleza do conhecimento e do encantamento escondida. Talvez, quando o professor se der conta disto tudo é tempo de mudar e fazer a diferença na vida do aluno. O professor, que pode ser também um contador de histórias, tem um grande e importante papel: fazer com que o aluno deixe de ser apenas um telespectador passivo, para tornar-se um leitor que dialogue com o texto. Lajolo (1994, p. 15) afirma que “Ou o texto dá sentido ao mundo, ou ele não tem sentido nenhum. E o mesmo se pode dizer das nossas aulas.” Possenti (1991, p. 34) afirma que: “Na escola, praga mesmo é o professor que não lê. Quem não lê não sabe o que está perdendo, e, portanto não tem por que aconselhar ou criar oportunidades para que outros leiam.” É tarefa do educador, selecionar textos de boa qualidade, com diversidade de natureza. Os textos devem ser envolventes e sedutores. O professor deve fugir de escritas facilitadoras, lineares, mal produzidas. O texto bom é denso e se abre a diferentes níveis de abordagem. Neste amplo contexto, persiste a necessidade de desenvolver, entre os professores, uma intimidade com os textos utilizados junto a seus alunos e possuir justificativas claras para a Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 98 sua adoção. Ademais, precisam conhecer a sua origem histórica e situá-los dentro de uma tipologia. Essa intimidade e esse conhecimento exigem que os professores se situem na condição de leitores, pois sem o testemunho vivo de convivência com os textos ao nível da docência não existe como alimentar a leitura junto aos alunos. No Brasil, a Literatura Infantil só chegou no final do século XIX. A literatura oral prevaleceu até esse período com o misticismo e o folclore das culturas indígenas, africanas e européias. No final do século XX, Carlos Jansen e Alberto Figueiredo Pimentel, foram os primeiros brasileiros a se preocuparem com a Literatura Infantil no país, traduzindo as mais significativas páginas daqueles hoje considerados “Clássicos Infantis”. Em direção oposta, o caminho para a redescoberta da Literatura Infantil, em nosso século, foi aberto pela Psicologia Experimental que, revelando a Inteligência como um elemento estruturador do universo que cada indivíduo constrói dentro de si, chama a atenção para os diferentes estágios de seu desenvolvimento (da infância à adolescência) e sua importância fundamental para a evolução e formação da personalidade do futuro adulto. A sucessão das fases evolutivas da inteligência (ou estruturas mentais) é constante e igual para todos. As idades correspondentes a cada uma delas podem mudar, dependendo da criança, ou do meio em que ela vive (COELHO, 1991). Kollross (2004, p. 1) afirma que: “Crianças de todas as faixas etárias procuram para empréstimo os livros das histórias lidas ou contadas em sala de aula - o que demonstra que a oralidade não só atrai o leitor para o livro, como também o encoraja a enfrentar a escrita no silêncio.” Desde a década de 1970, o conceito de Literatura Infantil tem sido revisto. Há uma corrente muito forte de estudiosos, entre eles Maria Lúcia Góes, Nelly Novaes Coelho, Marta Morais da Costa, Ricardo Azevedo e Paulo Ventureli, que criticam a postura de alguns pesquisadores da literatura que concebem a Literatura Infantil como uma arte menor por ser destinada às crianças. A literatura infantil, que conforme a idéia de Cecília Meirelles “... é um exercício de poética e beleza, que é escrito para qualquer pessoa e que possa agradar a criança”, permite a reflexão e a análise que, em conjunto com a escola, pode-se conseguir desequilibrar e formar novas estruturas que levem o sujeito a pensar com criatividade, liberdade, criticidade e elaborar opiniões próprias. O aluno, que muitas vezes chega à escola sem conhecer a literatura e o livro, tem a oportunidade de relacionar-se com novas possibilidades de crescimento. A escola é um espaço para estabelecer uma relação entre literatura, livro e criança, e ainda, a escola é o local de formação do público leitor. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 99 A arte do convencimento da importância da literatura infantil no desenvolvimento das atividades de leitura Tudo o que se ensina na escola está diretamente ligado à leitura e depende dela para se manter e se desenvolver. A leitura é a realização do objetivo da escrita. Para Cagliari (2002, p. 43): "quem escreve, escreve para ser lido". Desta forma, o objetivo da escrita é a leitura. Um elemento essencial na formação da criança é a leitura. Ler é o que proporciona, ao longo de nossa existência, as condições para o crescimento do homem. As histórias infantis são importantes e significativos recursos educacionais por diversos motivos: as crianças gostam muito; a variedade de temas é infinita; recursos materiais são de fácil confecção e aplicação; vários aspectos educacionais podem ser focados. Segundo Dohme (2000, p. 19): “Por meio dos exemplos contidos nas histórias infantis, as crianças adquirem maior vivência. O contato com os impulsos emocionais, as reações e os instintos comuns aos seres humanos e o reconhecimento dos fatos e efeitos causados por estes impulsos são exemplos de vida.” Um projeto que privilegie a literatura infantil, segundo Coelho (1991, p. 24), deve ter clara a concepção de infância, enxergar a literatura como um fenômeno da linguagem, estabelecer relações entre literatura, história e cultura, “entender a leitura como um diálogo entre o leitor e o texto tendo consciência que a escrita é fruto dessa leitura e olhar a escola como um espaço privilegiado”. O trabalho com a literatura infantil, como Zilbermann (1987, p.25) afirma: “[...] desemboca num exercício de hermenêutica, uma vez que é mister dar relevância ao processo de compreensão, pois é esta que complementa a recepção, na medida em que não apenas evidencia a captação de um sentido, mas as relações que existem entre a significação e a situação atual e histórica do leitor.” As crianças necessitam ler bons textos para compreenderem a literatura como um meio de pensar a realidade e não de apenas vê-la como algo imutável, com regras a serem obedecidas. E, além disso, enxergar estes textos com um elemento que não traz o ensino da língua como um único fim. Sendo assim, além da qualidade estética, deve-se considerar o aspecto inovador da obra, assinalando aquilo que vivemos, mas desconhecemos. Segundo Coelho (2003, p. 57) “... comentar, ao que parece, prolonga o deleite, conduz a novas leituras da trama, dos personagens, a uma compreensão mais nítida e esclarecedora”. Quando o contador dá tempo às crianças de refletirem sobre as histórias, para que mergulhem na atmosfera que a audição cria, e quando elas são encorajadas a falar sobre o Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 100 assunto, então a conversação posterior revela que a história tem muito a oferecer emocional e intelectualmente, pelo menos para algumas crianças. (BETTELHEIM, apud COELHO, 2003, p. 58). Até bem pouco tempo, a Literatura Infantil era considerada como um gênero secundário, e vista pelo adulto como algo pueril (nivelada ao brinquedo) ou útil (forma de entretenimento). A valorização da Literatura Infantil, como formadora de consciência dentro da vida cultural das sociedades, é bem recente. Nesse sentido: A reflexão sobre o ensino da leitura em relação à Literatura Infantil deveria, ser importante nos dias de hoje. Nesta reflexão, analisamos como os professores percebem o contexto ideológico inserido nos livros didáticos, buscando compreende-los como sujeitos ativos da história e valorizando o prazer do conhecimento (COELHO, 1991, p. 89). Quando a criança inicia no mundo da leitura, ela busca nos livros aquela sensação fornecida pela oralidade, a mesma alegria e dinamicidade que o adulto fornece ao ler/contar uma estória. E qual não é sua decepção ao perceber que aquela emoção não está presente, inicialmente, na sua leitura. É muito frustrante, há que se convir. Assim sendo, é necessário que exista, nas escolas, um projeto pedagógico que dê relevância à Literatura, que forneça condições concretas de trabalho, bons livros de literatura, biblioteca organizada, espaço para a leitura em grupos, estímulo ao empréstimo de livros, obras teóricas que possam embasar a prática docente, formação continuada, participação dos professores em cursos voltados à Literatura. Lajolo (1988, p. 30) cita que: “Tanto a criança à qual se destina a literatura infantil é uma construção, quanto o jovem ao qual se destina a literatura juvenil é outra construção, igualmente social. E, como construção social resultante, tanto o infantil de uma quanto o juvenil de outra são conceitos móveis: o que é literatura infantil, para um determinado contexto, pode ser juvenil para outro, e vice-versa, infinitamente...” Segundo Carvalho (1989), "educar é humanizar, e só se humaniza pela arte, pela sensibilidade", a educação formal, escolar, é um dos meios pelos quais a sociedade se utiliza para transmitir o conhecimento socialmente sistematizado. A escola deve despertar o sentimento estético em seus alunos. É evidente que esta função não é responsabilidade somente da escola: os pais, particularmente as mães, possuem um papel essencial nessa transmissão. Este artigo deter-se-á principalmente na questão escolar, foco principal desta análise, porém é mister esclarecer que a família exerce grande influência na formação da criança, embora não seja a base norteadora desta pesquisa. Lajolo (1988, p. 32) menciona ainda que: Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 101 “No que respeita especificamente à literatura infanto-juvenil, não me parece que a inclusão desta disciplina em qualquer currículo comprometido com a formação de professores de qualquer grau seja, isoladamente uma solução. Não há varinhas de condão, muito embora, recentemente, a literatura infantil (talvez por falar tanto de fadas...) pareça querer atribuir-se a função de resolver os problemas de leitura da escola brasileira.” As estórias alimentam o imaginário infantil, ajudando a criança a entender a vida e a melhor vivê-la. Dessa forma, pode-se delimitar, segundo GÓES (1996), que a primeira função da Literatura Infantil é a de vivenciar ações, reações e emoções através do ficcional. O leitor pode, por exemplo, experienciar a morte ou o medo por meio da narrativa e, quando esse sentimento vier à tona (na vida real), ele terá mais equilíbrio e agirá de forma racional, pois já vivenciou esta emoção no mundo imaginário. O ficcional prepara para a vida real. Este é um dos motivos pelos quais porque se deve cultivar a leitura de estórias para e pelas crianças, seja na sala de aula ou na sala de leitura pelo professor, seja em casa pelos pais. Góes (1996, p. 76) afirma, a respeito das possibilidades de trabalho com Literatura Infantil na escola, que: “Um ponto relevante nestas questões é a intuição, a sensibilidade do educador. Ao indicar um livro, o professor deve conhecer seus alunos, perceber seus interesses. Em uma sala de aula, existem muitos gostos, muitas expectativas em relação à estória - por esta razão, é importante que o professor esteja consciente de que ao escolher um certo gênero literário, este, certamente, não atingirá o interesse de todo o seu público. Há alunos que preferem estórias policiais, outros, narrativas mais românticas, alguns se fascinam pelas estórias de ficção científica e assim por diante. É necessário que o repertório do professor seja diversificado, para que ele possa atingir um número maior de alunos. Claro que para trabalhar todos os gêneros literários é fundamental que o docente possua um mínimo de embasamento teórico, para que não cometa incongruências.” Persiste, então, a necessidade de que o educador perceba que "Quando se escreve, instaurase um jogo entre leitor e escritor. Um jogo verdadeiro, porém ambivalente, repleto de segredos" (PRETTO, 1999, p. 34). O papel do mediador da leitura é desvelar os enigmas, tendo ciência de que o texto literário permite múltiplos olhares e, por isso, distintas interpretações. Convém assinalar que na escola, como na vida, para Jolibert ( 1994, p. 15): “Ler é ler escritos reais, que vão desde um nome de rua numa placa até um livro, passando por um cartaz, uma embalagem, um jornal, um panfleto, etc., no momento em que se precisa realmente deles numa determinada situação de vida”. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 102 Não se pode esquecer também que: “Não se lê para aprender a ler (exceto nas atividades de sistematização) , lê-se sempre por um interesse imediato. A vida cotidiana está cheia de oportunidades e necessidades de leitura, e nosso problema hoje está mais em encontrar tempo para todos os textos do que encontrá-los. Lemos muito e para atingir vários objetivos: responder à necessidade de viver com os outros, na sala de aula e na escola; comunicar-se com o exterior; descobrir as informações; fazer (brincar, construir, levar a termo um projeto-empreendimento); alimentar e estimular o imaginário; documentar-se no quadro de uma pesquisa em andamento” (JOLIBERT,1994, p. 31) Enfim, a realidade da escola brasileira no que se refere à questão da leitura no ensino fundamental, e em especial através da literatura infantil, consciente do lugar de destaque que a imaginação deve ter no processo educacional, permite que esta pesquisa esteja inserida num vasto campo de descobertas, que pode contribuir na proposta de formação de leitores pensantes, conscientes e criativos. Conclusão A reflexão acerca do ensino da leitura na escola é muito importante nos dias de hoje. Nesta reflexão é primordial analisar os fatores que impedem a formação de sujeitos leitores para que se possam apresentar caminhos de renovação e qualificação na prática pedagógica relativa à leitura. A leitura sempre teve e tem um papel social de grande interferência na sociedade, mas enquanto houver educadores com caráter dominador o processo educacional será sempre excludente. No âmbito escolar, percebe-se que os alunos cada vez mais se afastam e desinteressam pela leitura e é aí que se questiona a prática pedagógica, o ensino e o incentivo da leitura em sala de aula e as propostas de ação que podem levar as crianças a se tornarem "leitores competentes". Investir na formação de leitores é uma tarefa urgente. É preciso apostar que é possível ir muito além da alfabetização e que sujeitos leitores são capazes de olhar reflexivamente a realidade à sua volta, e capazes de fazer a opção de mudá-la de alguma forma. O desafio se encontra na necessidade da busca e implementação de mecanismos que propiciem a atração pela leitura na mais tenra idade, na fase da infância, em que a criança está descobrindo seu mundo, está despertando para a realidade subjacente e tentando participar desta realidade com suas novas fantasias e descobertas. É mister, portanto, desenvolver estratégias que visem conservar o interesse detectado nos alunos das séries iniciais e a literatura infantil mostra-se uma ferramenta útil nesta tarefa, essencial à formação de uma geração de leitores. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 103 Mais que isso, percebe-se que o professor precisa ler mais, para e com seus alunos, para que, dividindo os mistérios ocultos nas páginas de muitos livros, possa determinar, de forma categórica, as mudanças necessárias no contexto educacional brasileiro da atualidade. Ao longo deste trabalho, buscou-se demonstrar aos leitores a relevância do educador na formação de novos leitores, numa concepção que, sem rupturas no processo ensinoaprendizagem, a leitura pode ser empregada como mecanismo de lazer, cultura e formação. Resta concluir que se deve fixar a imagem definitiva de que o lugar que a linguagem ocupa é o lugar da sedução. Assim, embora possa incorrrer no senso comum, não é demais repetir que ler é uma grande viagem, uma aventura do espírito, algo que permite ao homem avançar para horizontes desconhecidos e inimagináveis. Referências ABRAMOVICH, Fanny. Literatura infantil, gostosuras e bobices. Editora Scipione: São Paulo, 2002. ALVES, R. Conversas com quem gosta de ensinar. São Paulo: Cortez, 2001. CARVALHO, M. Guia Prático do Alfabetizador. 2 ed. São Paulo: Ática, 1994. CHARTIER, Roger. A aventura do livro. Do leitor ao navegador. Trad. Reginaldo Carmello Corrêa de Moraes. São Paulo: Unesp, 1998. COELHO, Betty. 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Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 105 O brincar como uma proposta de promoção à saúde CAROLINE APARECIDA AGUIAR, KÉDMA DA SILVA LIMA, MÁRCIO RODRIGUES LIMA, VICTOR DE SALES ALEXANDRE, DALVA LOREATTO DOS SANTOS Resumo O brincar é uma atividade de mui valor na infância, pois permite que através do brincar a criança elabore seus conflitos; trata-se de uma rica exploração do mundo que a cerca provendo um campo fundamental para o seu desenvolvimento físico, cognitivo e emocional. Não obstante, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) de 1990 foi criado para legitimar os direitos da criança e do adolescente, visando o desenvolvimento pleno dos mesmos; o ECA também contempla o brincar como um direito necessário, dentre muitos outros. Dessa forma, numa perspectiva de promoção à Saúde, o ECA configura-se como um campo propício de o trabalho para o psicólogo em defesa do bem estar da criança e adolescente. Através da realização de entrevistas semi-estruturadas com funcionários de uma instituição que atende crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social, foi feita uma análise da instituição tendo como diretriz os direitos do ECA. Também foi realizada uma atividade lúdica de contar de história interativo com as crianças para posterior análise. Os resultados mostram que o ECA apesar de ainda estar em fase implementação, é uma importante ferramenta para garantia dos direitos da criança e do adolescente; também foi possível fazer uma análise do brincar a partir de algumas teorias psicológicas. Palavras-chave: o brincar; promoção de saúde. 1. O brincar como uma proposta de promoção à Saúde O título do presente trabalho sugere a concepção de saúde que os autores deste estudo têm: Saúde na sua concepção mais ampla, defendida, inicialmente, pela carta de Ottawa em 1986, com enfoque no bem estar dos indivíduos e não apenas na ausência da doença, dando ênfase no desenvolvimento de políticas públicas, de habilidades pessoais, etc. Um dos primeiros desafios na realização deste projeto se dá justamente na dificuldade de encontrar estudos feitos no Brasil entendendo o brincar e a Saúde nesta concepção mais ampla, o que evidencia o quão essa proposta cujo início se deu com a carta de Ottawa há 23 anos, ainda não se encontra completamente difusa. Santos e Bógus (2007) em um estudo sobre a percepção dos educadores sobre a escola promotora da Saúde mostram que apesar das escolas onde o estudo foi realizado terem um projeto pedagógico ligado à Graduandos em Psicologia da Saúde pela Universidade Metodista de São Paulo. Professora da Universidade Metodista de São Paulo e orientadora deste trabalho. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 106 promoção da Saúde em seu contexto mais amplo, os professores ainda mantinham uma visão de Saúde como sendo a ausência de doença, e como postura de promoção à Saúde a visão médico-higienista. O Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, Lei 8.069/90) considera a atividade lúdica um direito da criança e um dever do Estado, da família e da sociedade proporcionar condições para este exercício, e dessa forma não está desvinculada com o conceito de Saúde uma vez que essa atividade engloba desenvolvimento para a criança no âmbito cognitivo, motor, social e afetivo. Em estudo de Santos e Chaves (2007), que buscou analisar a visão que as próprias crianças têm dos seus direitos, mostra que o conhecimento delas se mantêm no campo do senso comum, predominando conceitos espontâneos e muitas vezes vinculados a situações mais específicas da realidade da criança. Nesse sentido, como ressaltam os próprios autores, a difusão do ECA é falha, principalmente para as próprias crianças. Os autores reforçam a importância de se investir na implementação do ECA nas escolas para que estas funcionem como promotoras de Saúde, porém, como mostrado por Oliveira e Francischini (2003, p4): Na mesma época em que foi elaborado o Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil, os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998) – referenciais para o ensino fundamental e para o ensino médio – entraram em vigor. Em nenhuma parte da Introdução dos Parâmetros Curriculares Nacionais há referências ao brincar, direito esse assegurado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Dessa forma, está implícita a idéia de que o brincar encerra-se na educação infantil; no ensino fundamental, não há mais espaço para a brincadeira. Como citado pelo autor, embora o Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil cite a importância do brincar na fase pré-escolar, a partir do momento que se inicia o ensino fundamental, o brincar perde completamente espaço na escola. A difusão do brincar como fator importante e necessário para um desenvolvimento saudável como parte da infância, ainda encontra alguns problemas na implementação, principalmente quanto à contradição legislativa. Nesse sentido, Vygotsky (apud REGO, 1995) além de fazer uma critica ao modelo educacional que segue a abordagem inatista que individualiza o desenvolvimento para uma série de capacidades inatas e educadores que não cumprem o papel de desafiar o desenvolvimento do aluno, menciona a importância do papel da escola, uma vez que ela é responsável pela construção dos conceitos denominados Conceitos Científicos que é sistematizado e organizado ao aluno. Em concordância com Vygotsky, a criança já entra na escola com um conhecimento construído, denominado de Conceitos Cotidianos; nesse momento ambos os conhecimentos provenientes das interações cotidianas da criança e os ensinamentos da escola se relacionam, um complementando o outro, dessa forma a criança atua sobre o material cultural principalmente através da brincadeira. Por esse motivo, se dá a importância de fundamentar o brincar da criança, dar apoio para fortalecer essa concepção de Saúde para que o processo de implementação dos direitos da Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 107 criança continue. O brincar é definido por Lillard (1993, apud BOMTEMPO, 2000) como sendo uma atividade que visa o proporcionamento de diversão e não a sobrevivência. Porém, como será possível perceber a seguir através de diversos teóricos dos mais diversos campos da psicologia, o brincar também visa à sobrevivência do indivíduo, uma vez que contribui para seu desenvolvimento motor, emocional, cognitivo e cultural, funções fundamentais para o desenvolvimento. Melanie Klein (apud SIMON, 1999) diz que o brincar na criança equivale ao falar do adulto. Embora essa frase tenha sido uma importante colocação quanto à possibilidade de se trabalhar em clínica através da ludoterapia, nos revela a grande importância que é esse momento para a criança e todos que estão a sua volta, pois é através do brincar que ela faz um importante movimento psíquico para lidar com o mundo a sua volta: ela se expressa, simboliza, interpreta, introjeta vivências, passa de um papel passivo para um ativo, descarrega fantasias, enfim, é um importante recurso psíquico para a sobrevivência da criança (FREUD, 1920). Winnicott (1975) ressalta o papel da brincadeira como inerente ao desenvolvimento da criatividade, onde não se pode deixar de citar as brincadeiras de faz-de-conta, onde a criança tem a liberdade de se expressar, de criar e mostrar ao mundo externo o seu mundo interno, a esfera criada na brincadeira e a criatividade como sentimento de ser e fazer. O brincar também é social, e ele o é na medida em que ocorre em um espaço físico que está sofrendo influência da cultura, tendo significações e brincadeiras diferentes. Sobre os jogos sazonais, que são as brincadeiras que envolvem mais ativamente o corpo, contato com a natureza e que muitas vezes podem ocorrer em certas épocas do ano, Antunha (2000) faz a relação dessas brincadeiras para o desenvolvimento da criança, pois englobam atividades que treinam diversas capacidades nas crianças como a indução, imitação, perspicácia, observação, memória, raciocínio, aspectos verbais ou não verbais, relaxamento, automatismo, tempo e espaço. A autora também cita a importância desses jogos não serem esquecidos uma vez iniciada a educação fundamental nas escolas, pois essas brincadeiras podem servir como um recurso material para atividades mais simbólicas. Como exemplo, Antunha toma a brincadeira de bolas de gude, onde a criança pode ter noções de física, tais como trajetória, peso, massa, espaço, etc. Os jogos relacionados com a música, poesia, prosódia, cantoria também contribuem muito para o desenvolvimento da criança, não somente o sistema auditivo aqui é trabalhado, como também a fala, o se expressar, aumento do vocabulário. Nessas músicas são passados valores sociais que podem ser interiorizados pelas crianças, além de sublimar cargas agressivas (ibidem). E também é social do ponto de vista que, na brincadeira, a criança tem a oportunidade de se relacionar com seus pares, com familiares e professores, expandindo assim suas possibilidades de aprendizado. Na brincadeira em conjunto a criança tem a mais rica possibilidade de socialização; aqui ela aprende a esperar sua vez para jogar, aprende a lidar com regras, a controlar impulsos, enxergar certas coisas pela perspectiva do outro, aprende também a lidar com imprevistos, a improvisar, utilizar de sua criatividade e memória. É um momento para grande aprendizagem tácita, a inteligência ainda é interativa, e só se Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 108 expande, agiliza e flexibiliza em contato afetivo com o outro. A habilidade de negociação também é desenvolvida em grupo, propor algo, saber escutar o outro, etc. (OLIVEIRA, 2000). Vygotsky (1984) diz que no brincar da criança ela sempre estará acima de sua idade média, ou seja, nas brincadeiras de faz-de-conta sempre serão manifestadas habilidades que não seriam esperadas para aquela idade, são as chamadas Zonas de Desenvolvimento Proximal, onde a aprendizagem vai despertando vários aspectos internos do desenvolvimento. Dessa forma, aprendizado não é desenvolvimento, embora estejam diretamente relacionados, o desenvolvimento acontece de forma mais lenta que a aprendizagem. Um alavanca o outro através das Zonas de Desenvolvimento Proximal. As Zonas de Desenvolvimento Proximal para Vygotsky têm uma grande importância uma vez que respeita a condição da criança como um ser em desenvolvimento; reconhece a história de vida do indivíduo assim como suas capacidades atuais. ao mesmo tempo que enxerga o outro como um ser potencial capaz de alcançar algo quando fornecido as condições necessárias, além de ser um campo extremamente fértil para que a escolarização ocorra. (REGO, 1995). Dessa forma, tendo em vista o conceito amplo de Saúde e a importância do brincar para a criança e o Estatuto da Criança e do Adolescente, também como uma ferramenta promotora de Saúde, este trabalho tem dois objetivos fundamentais: 1) Compreender o uso do Estatuto da Criança e do Adolescente como fundamentação teórica e campo de atuação do Psicólogo; 2) Promover a saúde de crianças e adolescentes através de atividades lúdicas a luz da Psicologia juntamente com as políticas públicas do ECA. Método Participantes Participaram 15 crianças com idade variando entre 7 e 14 anos, sendo 7 do sexo masculino, e 8 do feminino, a fundadora da instituição, a coordenadora pedagógica e a psicóloga. Local O trabalho foi realizado em uma instituição localizada no município de São Bernardo do Campo, São Paulo. Essa instituição é constituída por diversas instalações, a maioria entre três prédios principais; no primeiro, logo no início se encontra uma recepção, mais a frente na segunda porta uma área denominada “Cantinho da mamãe” com uma cozinha e um quarto, na terceira porta há uma sala de estar para receber visitas, na quarta sala a padaria da instituição. Do outro lado dessa mesma construção se encontra o berçário, a parte traseira da padaria, a Gráfica e o Sebo. Ainda nessa parte traseira do primeiro prédio, se encontra um grande pátio coberto em sua extensão com diversas cadeiras e mesas. No meio desse pátio há uma passarela que leva diretamente ao primeiro andar no prédio dois. O primeiro andar é dividido por dois corredores levando cada um para um lado do prédio. No corredor direito na primeira porta há uma pequena sala para coordenação da creche, mais à frente a sala do maternal, em seguida a sala infantil, para crianças maiores; em Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 109 seguida a sala da biblioteca, contendo também uma grande televisão, e no final desse corredor, se encontram dois banheiros (masculino e feminino) e um pequeno depósito com diversos trabalhos artesanais das crianças, dentre outros equipamentos. No corredor oposto, a primeira porta corresponde à sala de música e jogos, em seguida a sala de computação para crianças mais velhas e adolescentes. No fim desse corredor há uma estante com diversos trabalhos artesanais que a instituição ensina aos jovens como passa-tempo e/ou profissão. Ainda no primeiro piso desse prédio se encontra as instalações para os idosos, que não constará nesse trabalho devido ao objetivo do mesmo. Do lado de fora, ao lado do segundo prédio, há uma quadra para prática de esportes e um grande galpão que fica ao lado dessa quadra que funciona como centro de reciclagem. O terceiro prédio é uma longa construção que antes era a serralheria, porém agora está todo destinado ao bazar de roupas usadas. Ao lado desse bazar, ao ar livre, existe um pequeno parque para crianças menores. O interior das construções é decorado com diversas fotografias, quadros e objetos confeccionados pelas crianças. O lado externo por sua vez, é cercado por um jardim com diversas plantas e árvores, algumas nomeadas com placas. Procedimento Para a análise da instituição foram feitas três visitas a instituição seguidas por um relato descritivo realizados pelos integrantes do grupo. A primeira visita visou o conhecimento do espaço físico da instituição e uma conversa com a fundadora. A segunda foi uma entrevista com a psicóloga para caracterização da instituição, tendo como subsídio o ECA, e na terceira foi desenvolvida uma atividade lúdica com o grupo de crianças. Instrumento Para tal procedimento foi utilizada entrevista semiestruturada, além dos relatos descritivos já mencionados. No dia da brincadeira foi utilizado um contar de história interativo escrito por um dos integrantes do presente trabalho. Ao contar de história foi adicionada uma encenação com auxílio de música (violão) para as crianças. Tratamento dos Dados Para a análise das visitas foi feita a transcrição de cada uma delas para que que fosse possível identificar as categorias de análise: Direitos da criança e o brincar. Discussão A análise qualitativa dos resultados obtidos serão apresentados e discutidos subdivididos em cinco critérios, sendo eles: 1. Observar práticas existentes e analisar os indicadores de garantia de direitos – educação, saúde e trabalho – em diferentes contextos no cotidiano de crianças. 2. Reconhecer a criança e o adolescente em sua condição de ser humano e sujeito social; 3. Identificar o Estatuto da Criança e do Adolescente como um instrumento para atuação do psicólogo na construção da cidadania da criança, um “sujeito de direitos”; 4. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 110 Observar, descrever e analisar os aspectos comportamentais, sociais, emocionais, cognitivos e também interações entre os indivíduos envolvidos; 5. Discutir padrões mínimos de qualidade e direitos no atendimento de crianças, considerando a proporção entre a procura e a oferta, razão adulto/criança e a dimensão de cuidado. De acordo com o artigo 3° do ECA: “A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade (BRASIL, Lei 8.069/90).” Segundo Vygotsky, para ocorrer desenvolvimento é necessário aprendizado: “o aprendizado pressupõe uma natureza social específica e um processo através do qual as crianças penetram na vida intelectual daqueles que as cercam” (VYGOTSKY, 1984, p.99 apud REGO, 1995). Esse aprendizado de acordo com a perspectiva sócio-histórica é construído a partir da interação entre sujeito e meio, uma inserção em determinado contexto cultural, onde cultura não é entendida como algo pronto, mas sim como um “palco de negociações” (REGO, 1995), marcada por constantes construções e reconstruções. Com a formulação do ECA, a presença da família é vista como fator primordial para o desenvolvimento da criança estando, em última instância, a institucionalização de crianças, uma vez que será sempre visado a permanência em seu contexto familiar. De acordo com Winnicott, o ambiente familiar constitui a base para o desenvolvimento saudável ao longo de todo o ciclo vital (WINNICOTT, 2005). Por essas razões instituições como a do presente trabalho adequaram-se a essas formulações permitindo que as crianças desenvolvam atividades na instituição em determinado período do dia, mas que continuem participando das relações sociais frequentando outros lugares como escolas e grupos religiosos desfrutando daquilo que está presente no âmbito comunitário. As crianças que frequentam a instituição participam de diversas atividades como: aulas de violão, canto, piano, capoeira, aprendem artesanato, participam de atividades fora da instituição como passeios ao zoológico, cinema, circo, que estão de acordo com o artigo 71 do Estatuto da Criança e do Adolescente: “A criança e o adolescente têm direito a informação, cultura, lazer, esportes, diversões, espetáculos e produtos e serviços que respeitem sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento”, (BRASIL, Lei 8.069/90), e contribuem para a preparação das festas beneficentes realizadas pela instituição. Todas essas atividades contribuem de maneira particular para o desenvolvimento da criança. Podemos considerar que as crianças constroem conceitos cotidianos e conceitos científicos paralelamente, uma vez que estabelecem relações em diversos meios como na instituição, no ambiente familiar, na comunidade, na escola em que frequentam, entre outros. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 111 Conceitos Cotidianos podem ser entendidos, segundo a perspectiva vygotskiana, como aqueles conceitos construídos pela vivência direta da criança, enquanto os Conceitos Científicos são sistematizados, existe a mediação de interações escolarizadas (REGO, 1995). Ambos são vitais para o processo de formação de conceitos, daí a importância da criança estar inserida em um amplo contexto social, como é estabelecido no artigo 16 inciso primeiro do Estatuto da Criança e do Adolescente: O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos: I – “ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as restrições legais”, (BRASIL, Lei 8.069/90). Outro ponto importante da teoria de Vygotsky é o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal, em outras palavras, a distância entre o nível de desenvolvimento real (capacidades já dominadas) e o nível de desenvolvimento potencial (capacidades que necessitam da ajuda de pessoas mais experientes), portanto, funções em processo de maturação (REGO, 1995). O artigo 19 do ECA (BRASIL, Lei 8.069/90) orienta que: “Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de substâncias entorpecentes.” Até 2003 algumas crianças da instituição estavam em regime de orfanato, porém com a implementação do ECA mudanças seriam necessárias. A instituição passou então por um processo de transição para juntar essas crianças com seus familiares e a funcionar agora completamente em regime de creche, como cita a coordenadora pedagógica no segundo relato do presente trabalho (Apêndice B). Segundo Mussen (1977), quando a criança interage com a sociedade constrói novos relacionamentos, é influenciada por novos estímulos, tornando suas habilidades cognitivas mais complexas e diferenciadas, porém as relações familiares permanecem centrais para as crianças, porque, de acordo com Winnicott (2005), a convivência familiar que é a primeira onde a criança está inserida, é fundamental uma vez que, a partir dessa interação com a sua família, a criança vai desenvolvendo suas habilidades cognitivas, sociais e afetivas que servirá para toda sua vida como referência na convivência comunitária. Outros autores como Dolto (1991) e Pereira (2003) afirmam que a separação da criança e do adolescente do convívio familiar é prejudicial para seu desenvolvimento. Assim, é possível perceber o movimento de contemplação do direito a família que a criança e o adolescente têm durante esse período de transição que ocorreu entre 1998 e 2003, e que até hoje se mantêm na instituição. Em relação à dinâmica das relações pessoais das instituições, Goffman (1974) fala das instituições totais que verticalizam e burocratizam relações, normatizando-as, bem como definindo rigidamente os papéis em seu interior. Embora a padronização de algumas Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 112 atividades das instituições seja fundamental para um "bom" funcionamento das mesmas, um elemento que chamou a atenção dos realizadores do presente trabalho durante três visitas à instituição, foi a sensação de que tal instituição constitui-se por laços familiares, formando uma grande família em meio a uma noção de pertencimento de todos, que norteia as relações da instituição com um forte acolhimento: o fato do espaço físico da instituição ter sido baseada no sítio onde cresceu a fundadora, a maneira que os funcionários têm de se direcionar a ela, sempre como a “Mamãe” e a ausência de discriminação entre funcionários, usuários e voluntários, citado pela coordenadora pedagógica em um momento posterior. Em contrapartida, como já citado, a instituição possui uma série de características fundamentais para seu bom funcionamento nas quais poderiam ser encaixadas na categorização de Goffman; a instituição recebe alguns subsídios do Estado (contratação de alguns funcionários como enfermeira e professores), além de ter sido reconhecida como de utilidade pública municipal, estadual, federal e detentora do Certificado de Fins Filantrópicos, situando assim, a instituição em um meio termo entre esses dois extremos. A importância dos aspectos aqui levantados se dá, principalmente, pelo fato de que atualmente está acontecendo uma forte terceirização das funções exercidas pela família devido ao modo de vida moderno, juntamente com a crescente valorização dos ditos da ciência, fazendo com que, muitas vezes, os pais das crianças se alienem de suas próprias funções. Para a psicanálise uma das maiores implicações se dá justamente nas relações estabelecidas entre a criança e a instituição (ou algum outro serviço qualquer), que adota esse modelo de padronização e burocratização de Golffman, gerando assim uma relação mecânica, sem expectativa onde o fim se dá justamente em cumprir uma função. Diferente de uma interação mais familiar que é baseada no desejo, nas expectativas que são projetadas nas crianças, que servem como grandes forças que alavancam o desenvolvimento da criança; elas começam a andar para o outro, falam para o outro e assim por diante (SILVA, 2010). Embora a instituição ofereça diversas atividades às crianças, como já citado anteriormente, as limitações do presente trabalho quanto ao tempo não permitiram que os autores analisassem esses momentos, logo, para realizar a análise relacionada aos aspectos comportamentais, sociais, emocionais, cognitivos e também as interações entre os indivíduos envolvidos, será considerada exclusivamente a atividade realizada na instituição pelos autores do presente trabalho, que é dividida: em um primeiro momento, o contar de história interativo utilizando de recursos sonoplásticos, e um segundo momento com a brincadeira livre com as bexigas. Durante todo o contar de história, foi possível perceber os cinco elementos que, de acordo com Lillard (1993, apud BOMTEMPO, 2000, p.131), compõe a brincadeira que simula alguma situação, são eles: 1-Um faz-de-conta; 2-Uma realidade; Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 113 3-Uma representação mental que é diferente da realidade; 4-Uma camada de representação sobre a realidade, de tal forma que ela exista no mesmo tempo e espaço; 5-Ter consciência desses elementos acima apresentados. As crianças, sempre que solicitadas para criar um personagem, ou até mesmo vê-los na sala onde foi realizada a atividade condizem com o terceiro elemento de fazer uma representação mental diferente da realidade ao mesmo tempo em que tinham consciência que era um faz-de-conta, uma vez que respeitavam o momento certo para interferir na contação de história. Para Piaget (1971, apud BOMTEMPO, 2000) a participação de crianças em jogos de regras representa um grande marco para socialização. A variedade de elementos trazidos pelas crianças nesses momentos de criação foi muito diversificada, incluindo monstros, ursos, raposas, fantasmas e etc. Sendo o momento da brincadeira um dos maiores recursos que a criança tem para demonstrar a sua subjetividade, suas vivências etc., foi possível perceber uma imensa diversidade no decorrer da brincadeira. Além de representar sua realidade, a criança durante essas atividades expressa a sua criatividade. A criatividade é, para Winnicott (1975), como Sentimento de Ser e Fazer, pois a criatividade é inata, sendo o principal responsável pelo valor de viver do indivíduo. No espaço potencial cria-se o estado de relaxamento e nesse estado a criança transforma a afetividade em criatividade. Nesse relaxamento o ser humano está no “estado nãointegrado” que seria o estado primordial do vir-a-ser. Nesse sentido, Sakamoto (2008, p. 5), escreve que “o ser humano, durante a infância, além de utilizar o potencial criativo para atingir uma adaptação ao mundo, como fará durante toda sua existência, está comprometido com a constituição de uma identidade pessoal”. Alguns desenhos que as crianças fizeram ficaram semelhantes porque se preocuparam em representar fielmente o personagem criado por todos, porém, outras crianças optaram por criar seu próprio guardião da floresta. Como se tratam de crianças com idade entre 7 e 14 anos, temos desenhos de crianças em diferentes estágios do desenvolvimento que podem ser divididas, segundo Piaget (1971, apud PAPALIA; FELDMAN; OLDS, 2009), em Estágios Pré-Operacional, Operacional Concreto e Formal. Sendo assim essa atividade de desenhar também contribuiu para o desenvolvimento das crianças no que diz respeito às habilidades motoras, cognitivas e também a criatividade. Foi pedido as crianças que identificassem na folha de seus desenhos a idade delas, mas muitas delas além de identificar sua idade, também colocaram informações adicionais como o nome completo e a data, evidenciando assim não somente a alfabetização, mas o letramento a partir do momento que a criança demonstra a vontade de escrever essas informações adicionais, um conceito de muita importância na teoria de Vygotsky (REGO, 1995), pois representa um momento importante para o desenvolvimento da criança quando ela se apropria da língua escrita e faz uso dela representando a realidade através de símbolos. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 114 O uso da música e diversos efeitos sonoros utilizados durante o contar da história para intensificar o faz-de-conta, contribuem muito para o desenvolvimento da criança, não somente no sistema auditivo que é trabalhado, mas também a fala através do aumento do vocabulário e a apresentação de diversas formas de se expressar com a música. Nas músicas ainda são passados valores sociais que podem ser interiorizados pelas crianças, além de sublimar cargas agressivas (ANTUNHA, 2000). O encerramento da atividade se deu através de um brincar livre das crianças após a distribuição de algumas bexigas. Essa atividade (assim como outras realizadas na instituição, como a capoeira), que envolvem de uma forma mais ativa o corpo com movimentos automáticos, contribuem para o desenvolvimento psicomotor, ajudam a criança a descarregar agressividade e também ajudam no desenvolvimento intelectual, uma vez que essas atividades corporais exercitam o hemisfério esquerdo do cérebro, responsável também pela linguagem (ibidem). Não obstante, essa atividade livre é fundamental para disponibilizar a criança espaço para se expressar através de uma das brincadeiras mais ricas em detalhes sobre a subjetividade delas: a brincadeira espontânea (SILVA, 2010), onde não se diz a criança como ou com o que brincar, ela é livre para se expressar, para brincar. Durante essa atividade, a psicóloga e as professoras estavam no ambiente observando, mas em momento algum interromperam as brincadeiras, respeitando assim a condição de criança com o direito de brincar. Considerações finais Embora o Estatuto da Criança e do Adolescente ainda não esteja completamente implementado, foi possível perceber que a instituição em questão, através de suas atividades não vinculadas com o currículo escolar, respeitam a criança e o adolescente promovendo sua Saúde nos âmbitos cognitivo, social e afetivo tendo como referência o ECA. O ECA, por ser um documento que regula o direto da criança e do adolescente subsidiado por diversas áreas do conhecimento, inclusive a Psicologia, demonstra ser um instrumento válido para promoção da Saúde, além de servir como instrumento de trabalho também para o psicólogo, que juntamente com outros profissionais tem o dever de prezar pela Saúde da população em um trabalho multidisciplinar. O presente trabalho ainda contribuiu para evidenciar a importância do brincar para as crianças, uma vez que, pode ser utilizado como recurso pedagógico para transformar o aprendizado das crianças em algo interessante, proporcionar atividades às crianças que abarcam o treino e aprendizado de habilidades do âmbito social, cognitivo e afetivo, além de ser um recurso natural e inerente à condição de criança que serve para manter seu bem estar psíquico. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 115 Referências ANTUNHA, E. L. G. Jogos Sazonais – Coadjuvantes do amadurecimento das funções cerebrais. In: OLIVIERA, V. B. (org.) O brincar e a criança do nascimento aos seis anos (p. 35-56) Rio de Janeiro, Vozes, 2000. BOMTEMPO, E. Brincar, Fantasiar, Criar e Aprender in OLIVIERA, V. B. (org.) In: O brincar e a criança do nascimento aos seis anos (p. 129-148) Rio de Janeiro, Vozes, 2000. BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente: Lei nº 8.069/90. 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Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 117 Pensando um envelhecimento saudável para as pessoas idosas dos municípios de Atalaia do Norte e Benjamin Constant – AM CLAUDIA DOS SANTOS LIMA Resumo Assim como em todas as fases da vida, também na terceira idade é fundamental o desenvolvimento cultural, social e afetivo do idoso, no sentido de promover sua integração na sociedade. Na busca de promover essa integração, desenvolveram-se os projetos de extensão que foram aprovados pelo comitê de ética da Universidade Federal do Amazonas – UFAM. Decisões n°003/2010 Processo FL//004/2010 e 002/2010 Processo FL 003/2010, respectivamente. As atividades foram desenvolvidas no período de agosto de 2010 a agosto de 2011, em sábados alternados em cada município. Participaram 445 idosos do programa da melhor idade. O Trabalho teve como objetivos promover o respeito à dignidade e a cidadania das pessoas idosas, informar sobres os direitos dos idosos e prevenção das doenças que ocorrem na velhice. As atividades foram desenvolvidas com base na Política Nacional do Idoso e Estatuto do Idoso, Lei 8.742, por meio de palestras e oficinas temáticas. Observou-se que a ação despertou grande interesse nos idosos, principalmente em relação às formas de violência acometidas contra a pessoa idosa e os crimes de retenção do cartão bancário. Segundo os idosos essa é uma prática comum nos dois municípios. Com esse trabalho observou-se que muitas famílias enfrentam dificuldades para entender e lidar com as doenças, as mudanças fisiológicas e mentais que afetam a pessoa idosa, o que pode comprometer o bem estar do idoso e a interação familiar, já que ele faz parte desse sistema, daí a importância desses tipos de trabalhos voltados para esse público, principalmente em municípios como Atalaia do Norte, onde se percebeu que os direitos dos idosos não são conhecidos pela maioria dos atendentes, tanto das repartições públicas quanto privadas, como por exemplo: os comerciantes que conforme observado, ainda usam a prática de deter os cartões e as senhas da conta bancária dos idosos aposentados. Palavras chaves: envelhecimento; direitos dos idosos; promoção de saúde; prevenção de doenças e violência. Introdução Há algumas décadas atrás o idoso era respeitado e visto pela família como a figura principal do lar, hoje o papel inverteu. Na medida em que vamos envelhecendo vemos as famílias se Mestranda em Psicologia da Saúde pela Universidade Metodista de São Paulo. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 118 alterando em relação à posição de cada membro, ou seja, os papéis vão se modificando, a família passa a tratar o idoso como se fosse um filho que agora é dependente e necessita de cuidados e assistência. Moragas (1997) relata que os idosos constituem uma população com certo risco em nossa cultura competitiva, em virtude da experiência de situações de tensão, devido a perdas materiais ou sociais. Kloetzel (1922) chama atenção, ao afirmar que o envelhecimento precisa ser encarado como um fenômeno biológico natural, uma expressão de nosso ambiente interno. Sendo assim, A família precisa está preparada para ajudar o idoso para que ele possa se sentir integrado no sistema familiar e não isolá-los como acontece em muitos casos, onde estes são abandonados em um quarto, sendo lembrado somente na hora da alimentação, isso quando ele é alimentado. Essa prática vem sendo permanentemente realimentada pelas diversas gerações. Faz-se necessário acabar com essa mentalidade para que as pessoas idosas não sejam marginalizadas. O Estatuto do Idoso no artigo 3º define que é obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do poder público assegurar ao idoso com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania à liberdade, à dignidade, ao respeito à convivência familiar e comunitária. Portanto, Envelhecer é passar para uma nova etapa da vida e deve ser vivida o mais positivamente possível, nessa fase a pessoa idosa precisa ser saudável e feliz. De acordo com Moragas (1997) o número de idosos aumentou extraordinariamente, e seu papel social perdeu a importância, visto que a sociedade atual valoriza mais a juventude e os valores associados a ela. Esse fenômeno tem chamado atenção das autoridades que hoje disponibilizam mais investimentos para a população idosa, assim como se investem nas outras etapas da vida, como a infância, pois a velhice é uma etapa do ciclo da vida e já atinge uma parcela significativa da população brasileira, em decorrência do aumento da expectativa de vida e do crescimento populacional do país. Sarmiento (2003) traz os dados que apontam que hoje somos 14 milhões de pessoas da 3ª idade, uma média de 9% da população brasileira, projetando pra daqui a 30 anos, um quantitativo de 34 milhões de idosos, ou seja, cerca de 15% da população total, uma das seis maiores populações da 3a idade do mundo. Esse fenômeno está despertando a atenção para os problemas enfrentados pelas pessoas idosas e mostrando a necessidade de garantir condições que proporcionem aos brasileiros um envelhecimento saudável e com dignidade. Entre as quais a acessibilidade que no Brasil está longe do padrão. Diante da questão, foram criados alguns mecanismos legais para melhorar a qualidade de vida das pessoas consideradas idosas no Brasil, como a Política Nacional do Idoso, Lei nº 8. 842, de 4 de Janeiro de 1994 cujo objetivo é de garantir a participação do idoso na sociedade, os seus direitos sociais e sua cidadania, além de criar condições para promover a autonomia, integração e participação efetiva dessa população na sociedade. O Estatuto do Idoso, Lei nº 10.742 de 1º de outubro de 2003 veio regulamentar os direitos já assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, assim, como a Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 119 garantia do direito, à vida, à dignidade, à alimentação, à liberdade, a participação na sociedade entre outros. Todavia, envelhecer é uma mudança de experiência em diversas etapas da vida, devido à redefinição da identidade social e cultural que as sociedades vão formando no decorrer do tempo. Moragas (1997) por sua vez reforça que a discriminação em razão da idade é comum nas sociedades que se baseiam em valores jovens, característicos das sociedades industriais desenvolvidas, em que não são previstos papéis para os idosos. Vale ressaltar que o envelhecimento é um processo que ocorre de forma desigual em sociedades como a brasileira, ou seja, marcadas pelas crescentes desigualdades sociais e regionais onde a velhice pode significar vivência totalmente diferenciada que vai da plenitude à decadência, da satisfação e prazer, da miséria ao abandono, determinada pelo padrão social de cada família do idoso. Diante disto, as ações de extensão foram realizadas com os seguintes objetivos, informar os idosos dos Programas da Melhor Idade dos municípios de Atalaia do Norte e Benjamin Constant sobre seus direitos, por acreditar que esse público necessita de atividades que possibilitem conhecer melhor seus direitos e que ofereça oportunidade de interação como as que eram oferecidas nos encontros, por meio de dinâmicas de grupo e brincadeiras. Acredita-se também que seja importante desenvolver projetos para esse público, principalmente em municípios como Atalaia do Norte, onde se percebe que os direitos dos idosos, não são conhecidos pela maioria dos atendentes das repartições publicas e privadas, por exemplo, os comerciantes que naquele momento ainda tinham a prática de deter os cartões e a senha da conta bancaria do idoso aposentado e recebem o beneficio. Além de tratar a respeito dos direitos garantidos pelo Estatuto do Idoso, as ações estavam voltadas também para a prevenção de violência e das doenças que acometem a pessoa idosa. Método As atividades foram desenvolvidas em caráter multidisciplinar, com base na Política Nacional do Idoso. Define que Estado, família e toda a sociedade têm o dever de cuidar e amparar a pessoa idosa. O Estatuto do Idoso Lei nº 10.742 de 1º de outubro de 2003 que especifica os direitos dos idosos e o dever da sociedade para com essa população; e ainda os Programas de Atenção ao Idoso que tem como objetivo, assistir a pessoa idosa. As técnicas utilizadas foram palestras e oficinas temáticas, onde abordando os seguintes temas: o processo do envelhecimento, as fases da vida, doenças que ocorrem na velhice, prevenção de acidente doméstico como as quedas, sintomas e prevenção da depressão, da doença de Alzheimer com dicas dos exercícios para exercitar a memória, os tipos de violência acometida contra o idoso como: a econômica, a violência psicológica e dicas para um envelhecimento saudável, explanação sobre os direitos do idoso, Palestra sobre a dor lombar, distribuição de folders com dicas sobre como prevenir as dores na coluna. Palestra sobre sintomas e prevenção da osteoporose com os alunos de medicinas da UFAM e dinâmica de grupo. A equipe dos projetos estava composta por Assistentes Sociais, Psicóloga, Fisioterapeuta, professores e quarenta e cinco alunos do INC. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 120 Participantes O projeto foi desenvolvido com 445 idosos participantes dos programas da melhor idade, sendo 65 dos municípios de Atalaia do Norte e 380 de Benjamin Constante– AM. Resultados e discussão Espera-se que a ação tenha contribuído para ampliação do conhecimento daqueles idosos, principalmente aqueles relacionados às doenças que ocorrem na velhice, os tipos de violência acometidos contra os idosos e demais direitos garantidos por lei. Pode-se concluir que os temas debatidos despertaram grande interesse em ambos os grupos, principalmente em relação aos tipos de violências acometidas contra a pessoa idosa e as formas de punições para aqueles violam tais direitos. Em relação ao crime de retenção do cartão bancário, ficou constatado que esse crime acontecia, já que segundo manifestação dos idosos, essa é uma prática bastante comum no município de Atalaia do Norte. Em Benjamin Constant, deparamos com dois casos de violação de direitos da pessoa idosa. Uma idosa de 72 anos relatou ter sido insultada e humilhada pela atendente da casa Lotérica que se recusou atendê-la por ela não ter enfrentado a fila. O outro caso ocorreu com um idoso que disse sofrer bullyng constantemente pela garotada quando passa na rua de sua residência. Os casos foram encaminhados para Assistente Social do Centro de Referencia da Assistência Social do município que se encarregou de tomar as devidas providências. Conclusão Considera-se que as atividades desenvolvidas com aos idosos contribuíram para a ampliação do conhecimento, principalmente em relação aos direitos, o que reforça a ideia de que nossos objetivos foram alcançados. Parece-nos que muitas famílias não conheciam os direitos de seus idosos e que enfrentam dificuldades para entender e lidar com as doenças, as mudanças fisiológicas e mentais que afetam a pessoa idosa, o que pode comprometer o bem estar do idoso e a interação familiar, já que o idoso faz parte desse sistema. Assim, acredita-se que esse trabalho tenha contribuído para que o próprio idoso conheça seus direitos e também para o aprimoramento das ações do Serviço Social na área do idoso como propiciar aos discentes e demais colaborador o melhor conhecimento das questões sociais envolvendo a população idosa. As atividades foram realizadas respeitando sempre as limitações do publico alvo, tinha-se em mente realizar exercícios de caminhadas, porém alguns idosos estavam muito debilitados o que impossibilitavam de participar. Assim, optou-se em descartar essa etapa para que aqueles considerados incapazes não ficassem mais frustrados com sua situação. Recomenda-se que mais projetos desse tipo sejam desenvolvidos com idosos, principalmente em municípios carentes como os de Atalaia do Norte e Benjamin Constant, onde os direitos dos idosos não são assegurados. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 121 Profissionais das mais diversas áreas têm a possibilidades de desenvolver trabalhos para a população idosa, e que suas ações estejam voltadas para promover cada vez mais uma melhor qualidade de vida na terceira idade e na velhice. Cada um de nós pode fazer a sua parte e contribuir com essas pessoas que já dedicaram toda a vida para o trabalho e a família e agora merecem todo reconhecimento. Referências BRASILIA, Senado Federal. Estatuto do Idoso, Brasília Outubro de 2003. BRASILIA, Senado Federal. Política Nacional do Idoso, Brasília, Janeiro de 1994. KLOETZEL, K. 1922. Higine física e do ambiente, 3º Ed. São Paulo. Rio de Janeiro, 1977. MORAGAS, R. 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O projeto teve como objetivo geral: Desenvolver atividades de promoção à saúde e à educação através de atendimentos psicológicos, curso de Língua Portuguesa, Espanhol, Relações Humanas, Palestras educativas e preventivas (Drogas, Lei Maria da Penha, Violência Doméstica e Relações de Gênero). Como objetivos específicos: Capacitar as pessoas a melhorarem o seu curriculum profissional através dos cursos de Língua Portuguesa, Espanhol e Relações Humanas; Proporcionar a comunidade acesso a um serviço de Psicologia de qualidade promovendo uma melhora na qualidade de vida, auto conhecimento e mudança no estilo de vida; Promover palestras preventivas e educativas. Os resultados encontrados foram os seguintes: Na palestra sobre Relações de Gênero ministrado pela Antropóloga Flávia M. Cunha (INC/UFAM) participaram 12 discentes. Nos cursos de Língua Portuguesa e Espanhol ministrado pelos Docentes Jorge Luís F. Lima e Solano S. Guerreiro do (INC/UFAM) houve participação de 22 discentes. No estudo da Lei da Maria da Penha ministrado pela Assistente Social Claudia S. Lima do (INC/UFAM) participaram 11 discentes. Os atendimentos psicológicos foram realizados pela Psicóloga Michelle F. Guimarães do (INC/UFAM) nas segundas e quarta-feira no total de 8 horas semanais em uma sala de atendimento da Paróquia Imaculada Conceição. Foram atendidos 20 pacientes (crianças, adolescentes e adultos) e a técnica utilizada foi atendimento lúdico infantil e terapia cognitiva. Palavras-chave: orientação socioeducativa; qualidade de vida; prevenção; educação. Introdução A Educação e Saúde, neste projeto, são consideradas como um processo de ação que contribuirá para melhoria na qualidade de vida através de atendimentos psicológicos individuais e em grupos, palestras preventivas e educativas (Drogas, Relações de Gênero, Mestranda em Psicologia da Saúde pela Universidade Metodista de São Paulo e autora do trabalho. Colaboradores técnicos para a realização do trabalho. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 123 Lei Maria da Penha e Violência Doméstica), cursos de capacitação como Língua Portuguesa, Espanhol e Relações Humanas. Segundo Beck (1997), treinar os pacientes nas habilidades cognitivas ajuda a sustentar a melhora: a concentração nos problemas aqui e agora parece produzir alívio quase total de sintomas. No que se refere à Psicologia é de fundamental importância as teorias cognitiva, psicanalítica, Gestalt e humanista, que possibilitará o uso dos métodos e técnicas de associação livre, cartão de enfrentamento, anamnese, testes psicológicos do HTP e IFP, nos atendimentos psicológicos individuais. Para Bandura (2008), as estruturas cognitivas, o comportamento e o meio interagem entre si, sendo cada uma destas influenciadas e influentes sobre as outras. Nesta perspectiva, as pessoas são o produto do seu meio, mas escolhem e moldam este meio por um processo de interações que tem influências recíprocas. Nesta teoria emerge o conceito de Modelagem, segundo o qual, as pessoas podem aprender através da imitação do comportamento dos outros. O acesso à educação causa fraturas irreparáveis na histórica barreira que segrega os excluídos e incluídos no mundo letrado, além do que institui a fruição dos avanços científicos e tecnológicos tendo por fundamento o manuseio dos códigos e signos da escrita. Por meio da educação, as conquistas cognitivas, efetivas, motoras e morais se projetam no plano individual para o meio em que o indivíduo se vive. Empossando o entendimento semelhante, Raposo (2005, p.1) afirma: A educação, enquanto dever do Estado e realidade social não foge ao controle do Direito. Na verdade, é a própria Constituição federal que a enuncia como direito de todos, dever do estado e da família, com a tríplice função de garantir a realização plena do ser humano, inseri-lo no contexto do Estado Democrático e qualificá-lo para o mundo do trabalho. A um só tempo, a educação representa tanto mecanismo de desenvolvimento pessoal do indivíduo, como da própria sociedade em que ele se insere. Método A abordagem metodológica teve como suporte a contribuição das estratégias baseadas nos teóricos das áreas de conhecimento dos profissionais que participam do projeto, ou seja, Psicologia, Letras, Administração e Serviço Social. Participantes Participaram deste projeto 69 discentes da Universidade Federal do Amazonas e da comunidade do município de Benjamin Constant. E participaram também cinco profissionais dentre eles Psicóloga, Assistente Social, Antropóloga e Professores de Espanhol e Língua Portuguesa. Procedimento Este projeto foi de ação qualitativa, embasada na corrente Fenomenológica, ou seja, que permitiu conhecer a realidade, a essência, a subjetividade e a experiência. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 124 As ações foram desenvolvidas semanalmente pela psicóloga, assistentes sociais, docentes e discentes. Os atendimentos psicológicos tiveram duração de 8h semanais (segundas e quartas); os cursos com duração de 4h semanais. A metodologia aplicada para alcançar os objetivos propostos foi a seguinte: a) Apresentação do projeto e da equipe à comunidade na Paróquia Imaculada Conceição; b) Atendimento psicológico individual realizado pela psicóloga em todos os meses de duração do Projeto; c) Curso de Língua Espanhola realizado pelo Docente do curso de Letras com a carga horária total de 40 horas com início no mês de abril; d) Curso de Língua Portuguesa realizado pelo Docente do curso de Letras com a carga horária total de 40 horas com início no mês de maio; e) Palestras educativas e preventivas referentes a Relações de Gênero, Drogas, Lei Maria da Penha e Violência Doméstica ( Psicóloga, Assistente Social (2h para cada palestra); f) Avaliação final após palestra, curso e atendimento psicológico. Resultados A partir de um questionário aplicado ao final de cada palestra ( Relações de Gênero e Lei Maria da Penha) e curso ( Língua Portuguesa e Espanhola) obteve os seguintes resultados: • Tirar dúvidas referente ao tema; • Interessante o tema e uma forma de conhecer o meio social onde vivem; • Continuar realizando palestras sobre esse tema e também sugestões de outros temas como: Alcoolismo e abuso sexual; • O tema, a metodologia, conteúdo, ambiente e palestrante foram excelentes; • Foram atendidos 20 pacientes ( adolescentes, adultos e crianças. • As palestras Violência Doméstica, Drogas e curso de Relações Humanas não aconteceram devido ao não comparecimento dos inscritos. Tabela 1. N° 01 02 03 04 05 06 07 Curso/palestra Língua Portuguesa Língua Espanhola Lei Maria da Penha Relações de Gênero Violência Doméstica Drogas Curso de Relações Humanas Total Inscritos 50 50 30 30 30 30 30 250 Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 Horas 40 40 12 3 3 3 20 124 125 Tabela 2. N° 01 02 03 04 05 Curso/Palestra e atendimentos Língua Portuguesa Língua Espanhola Lei Maria da Penha Relações de Gênero Atendimentos psicológicos Total Quantidade 12 12 11 14 20 69 Conclusão Apesar das dificuldades encontradas durante a realização do projeto, mas não medimos esforços para que realmente fosse executado. Este projeto socioeducativo da área temática Educação e Saúde veio contribuir para melhoria na qualidade de vida através de atendimentos psicológicos individuais, palestras preventivas e educativas (Relações de Gênero, Lei Maria da Penha) e cursos de capacitação como Língua Portuguesa, Espanhola. A paróquia Imaculada Conceição contribuiu com o local (sala) de atendimento psicológico individual e o Instituto de Natureza e Cultura – INC/BC/ UFAM com a equipe técnica: Psicóloga, Docentes e Discentes e com o espaço físico (salas) para serem desenvolvidos as palestras e os cursos. No que diz respeito ao curso da Lei Maria da Penha foi ministrado pela Assistente Social do INC apesar de poucos participantes o curso foi bem proveitosa e deram sugestões de continuar trabalhos preventivos sobre o tema. Dessa forma, a partir do exposto, a atividade proposta neste projeto contribuiu no processo de melhoria na qualidade de vida da população Benjaminense. Referências BANDURA, A. Imitação e modelagem, processo vicário, aprendizagem social. Porto Alegre: Artmed, 2008. BECK, J. S, Terapia Cognitiva: Teoria e Prática. Porto Alegre: Artmed, 1997. CEGALLA, D. P, Novíssima Gramática da Língua Portuguesa, 46. ed. São Paulo: Ed. Nacional, 2005. JIMENEZ, A.B. et.al. Espanhol para todos. Vol. 1. São Paulo: Ática 2002. MINICUCCI, A. Relações Humanas: Psicologia das Relações Interpessoais. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2009. WINNICOTT, D, W. O Brincar e a realidade, Ed. Imago, Rio de Janeiro, 1975. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 126 Qualidade de vida e gravidez na adolescência – um estudo com participantes do Programa de Assistência Médica e Psicossocial à Adolescente VICTOR MANTOANI ZAIA, MARIA GERALDA VIANA HELENO, ISMÉRI SEIXAS CHEQUE CONCEIÇÃO Resumo A adolescência é questão de saúde pública, principalmente na ocorrência da gravidez, nas questões psicossociais e econômicas. Este estudo avaliou a qualidade de vida e identificou fatores protetores e de risco que interferem no desenvolvimento de adolescentes integrantes de um Programa de Atenção. Trata-se de um estudo descritivo e transversal, com uma amostra de 60 adolescentes mulheres. Instrumentos: anamnese do PAMPA; Escala Whoqol-bref. Nove participantes estavam grávidas. 90% são estudantes, 57,7% almejam o ingresso no ensino superior; 16,7% delas trabalham e 69,9% possuem renda familiar per capita de até um salário mínino; A média de idade foi de 14,9 anos. Quanto à qualidade de vida as adolescentes gestantes e não gestantes foram respectivamente: dom1 14,92 e 14,26; dom2 15,85 e 13,93; dom3 15,26 e 15,69; dom4 13,50 e 13,41. A comparação entre domínios mostrou que no domínio2 (psicológico) as grávidas apresentam significativamente melhor qualidade de vida, que poderia advir do papel social da mulher grávida. Quanto ao uso de substâncias psicoativas 40% utilizavam álcool, fator esta passível de prejudicar a qualidade de vida. Um dado otimista é o alto índice de adolescentes que estudam. Apesar disso tem-se uma queda na pretensão de ingresso no nível superior. Das 60 participantes 16,7% trabalham. Como fatores protetores ter-se-ia: o para atendimento à adolescente; a escolaridade atual. E como risco: ausência de projeto de vida; riscos da não continuidade dos estudos; uso de substâncias psicoativas lícitas e ilícitas com atenção ao uso de bebida alcoólica; a situação sócio-econômica. Palavras-chave: adolescência; gravidez; qualidade de vida; fatores protetores e de riscos. 1. Introdução A adolescência é tema atual e também uma questão de saúde pública, principalmente na ocorrência da gravidez, que é de alto risco para a mãe e o bebê com agravante nas questões psicossociais e econômicas (YAZLLE, 2006); além de se tratar da saúde de milhares de Mestrando em Psicologia da Saúde pela Universidade Metodista de São Paulo. Doutora em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo. Coordenadora do Mestrado em Psicologia da Saúde da Universidade Metodista de São Paulo. Doutora pela Universidade de São Paula. Coordenadora do PAMPA. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 127 adolescentes, suas famílias, seus filhos e conflitos com conseqüências para a sociedade geral. A saúde entendida em sentido amplo, como a integração e dinâmica dos e entre os aspectos biológicos, emocionais e sociais do indivíduo, deve ser avaliada por meio da qualidade de vida, contemplando os domínios físico, psicológico, social e ambiental. O estudo da qualidade de vida e de variáveis associadas à adolescência pode trazer a compreensão sobre os fatores presentes neste processo gravidez-adolescência. Nele estão associadas, por exemplo, questões individuais, econômicas e sociais aspectos subjetivos como o desejo de ser mãe e sua representação social, até aspectos objetivos relacionados à escolaridade e situação econômica. Não se pretende abordar todas estas variáveis em um único estudo, mas esta pesquisa tem como objetivo avaliar a qualidade de vida de adolescentes assistidas no Programa de Assistência Médica e Psicossocial à Adolescente (PAMPA) da Faculdade de Medicina do ABC. Com os resultados da avaliação da qualidade de vida pôde-se identificar fatores protetores e de risco que interferem no desenvolvimento das adolescentes do PAMPA da Faculdade de Medicina do ABC, traçando uma relação entre esses pontos poder-se-á em momento posterior possibilitar a proposição de intervenções que possam centrar-se na promoção da saúde dessas adolescentes. 1.1 Adolescência e gravidez A adolescência é um período de grandes modificações, físicas, psicológicas e sociais, no qual o jovem perde seu corpo infantil e percebe gradativamente um novo corpo surgir, um corpo sexuado (ABERASTURY, 1988). Principalmente nas culturas ocidentais, é o marco da passagem da infância para a vida adulta, como apresenta a OMS (1995, apud CAPUTO; BORDIN, 2007). Ao longo da história da humanidade, Grossman (1998 apud ROMERO-RODRIGUEZ, 2004) aponta para uma variação do conceito de adolescência: enquanto na Idade Média, era um período cronológico que abarcava uma idade entre 15 e 35 anos, no Iluminismo era uma etapa que compreendia desde a primeira comunhão até o casamento (para as mulheres) e, no século XX, finalmente passa a ser considerado um período no qual ocorrem conflitos e crises existenciais, tornando-se motivo de estudo, principalmente no que tange às transformações comportamentais e sexuais. O desenvolvimento físico da menina é marcado pela telarca (crescimento das mamas), pela pubarca (crescimento dos pêlos pubianos) e pela menarca (primeira menstruação); esta última é vista pela adolescente como o sinal de que se tornou mulher. O período menstrual será marcado por intervalos irregulares entre as menstruações, em média até dois anos após a menarca (CONCEIÇÃO, 2009); essa fase seria equivalente ao período psíquico no qual ocorre o luto pelo corpo e identidade infantis (ABERASTURY, 1988). A partir do início da menstruação, a menina busca sua identidade de mulher, enfrentando questionamentos relacionados à sexualidade, à maternidade e à interação mãe-bebê, desde muito cedo treinadas nas brincadeiras infantis com bonecas (ROMERO-RODRIGUEZ, 2004). Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 128 A menstruação, além de marcar a maturação dos ovários, segundo Aberastury (1988, p. 22), “é o ponto de partida de uma nova etapa na posse do corpo, etapa na qual o esquema corporal deve ir se adaptando aos futuros papéis, que cumprirão na procriação”. E juntamente com o amadurecimento sexual, emoções mistas (como ansiedade, prazer, temor) surgem de uma maneira mais intensa (CAPUTO; BORDIN, 2007). Estabelece-se o processo na busca de uma nova identidade. Na qual os amigos possuem um papel essencial, pois é nesse grupo que o adolescente pode se identificar e se conhecer, bem como formar laços de companheirismo e intimidade (ABERASTURY, 1988; FERREIRA e GARCIA, 2008). Ferreira e Garcia (2008) relatam que, como características de amizade, para as adolescentes, têm-se: a paciência, tolerância, sinceridade, amor, sentimento de irmandade, confidências, conversas, e uma hierarquização dos elos de amizades. As mudanças do corpo são características comuns às adolescentes e determinadas pelo biológico. Entretanto, as mudanças emocionais e sociais da mulher na adolescência são dependentes do desenvolvimento de fatores individuais e das características próprias da sociedade em que ela vive. Portanto, o comportamento e as opções da jovem são conseqüência, também, do momento sócio-cultural-econômico em que ela está inserida. Entre esses comportamentos merecem atenção, entre outros, aqueles que culminam na gestação. Pesquisadores como Conceição (2009) e Sarmento (1990 apud ROMERORODRIGUEZ, 2004), apontam que desde a década de 60 constata-se o aumento do número de adolescentes grávidas, seja em países desenvolvidos ou em desenvolvimento. No Brasil, por exemplo, esse número aumentou de 14% a 22% entre a década de 1980 e 1990 (YAZLLE, 2006). No ano de 1999, observou-se que dos partos realizados pelo SUS, e aqui exclui-se os realizados por serviços particulares, 27% foram em adolescentes com idade entre 10 e 19 anos em todo o Brasil (IBGE apud FOLHA, 2004). Ainda Conceição (2009) e Sarmento (1990 apud ROMERO-RODRIGUEZ, 2004) salientam que com essa taxa aumentada, surgem novos problemas como violência, comportamento social de risco e Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs). Além de dificuldades para a saúde pública, dado que a gravidez e maternidade precoce envolvem diversos fatores prejudiciais, incluindo os riscos, inclusive à vida, nos quais estão envoltas principalmente as gestantes menores de 14 anos (BURT, 1998 apud ROMERORODRIGUEZ, 2004). Ao tocar na questão de Saúde Pública, Stern (1997 apud ROMERO-RODRIGUEZ, 2004) aponta seis critérios que enquadram a gravidez na adolescência como questão de saúde pública. São eles: 1. Aumento da incidência na gravidez de adolescentes, associado à diminuição da faixa etária das mesmas, apontado por levantamentos epidemiológicos. 2. Um dos componentes da aceleração do crescimento da população em geral, pois o número de adolescentes corresponde a um quinto da população mundial, sendo que uma a cada sete pessoas, em países em desenvolvimento, se enquadra Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 129 entre 10 e 19 anos. E Caputo e Bordin (2007) apresentam que de cada 1.000 mulheres adolescentes, 60 se tornam mãe, o que equivaleria a 17 milhões de bebês a cada ano. 3. Riscos à saúde do bebê e da mãe adolescente devido à gravidez ser cada vez mais precoce, sendo que quanto menor a idade da adolescente mais imaturo está o seu corpo, colocando em risco a mãe e o bebê. Romero-Rodriguez (2004) comenta que essa ocorrência é maior nos países em desenvolvimento, o que aponta para a necessidade iminente de investimento em educação sexual e prevenção de saúde reprodutiva, apesar de Conceição (2009) criticar esse argumento, apontando que essa ocorrência é indiferente nos países desenvolvidos como nos em desenvolvimento, o que faz a diferença numérica é como os dados são contabilizados pelos países e a legislação dele (principalmente no que tange à legalização da prática do aborto). 4. Outro fator importante é o econômico, a pobreza é uma característica freqüente em adolescentes grávidas entre 13 e 19 anos. 5. Geralmente, a gestante adolescente é filha de mãe adolescente, tem renda e nível de escolarização baixos, condições precárias de nutrição e limitação no acesso aos serviços de saúde. 6. A gravidez na adolescência gerará como conseqüências prováveis a diminuição das oportunidades (no como a adolescente poderá dar seguimento à sua vida), de trabalho e educação melhor, estendendo esse quadro aos seus filhos. Dentro da questão econômica, o IBGE propõe as seguintes classificações sociais: “A”, com mais de 15 Salários Mínimos (SM); “B”, de 5 a 15 SM; “C”, de 3 a 5 SM; “D”, de 1 a 3 SM; e “E”, de até 1 SM (PNAD, 2008; ABEP 2009 apud Professor Elson, s.d.). A gravidez na adolescência, sendo então um problema de saúde pública, Conceição (2009) indica alguns dos esforços, ao longo dos últimos quarenta anos, das políticas de saúde pública em diminuir esse número de jovens grávidas. Alguns desses esforços concentramse em mudanças no foco dos métodos utilizados na prevenção, partindo de severas regras em 1960, como tentativa de reprimir a liberalização do sexo, muito instigado nas comunidades hippies como forma de expressão de liberdade – que então não surtiu efeito, como apontado anteriormente pelos dados do IBGE – até, a partir da década de 1990, a tentativas de esclarecimento e formação de opinião, por exemplo, através de palestras nas escolas. E é a partir do final da década de 1990 que esse número aparenta abaixar. No ano de 2006, o número de adolescentes grávidas no Brasil, segundo o IBGE, foi de 20,5%. A partir de então, desponta um início na diminuição de adolescentes grávidas. O Ministério da Saúde descreve que de 2005 para 2009 houve uma queda de 22,4% desse número no Brasil. E se por um lado tem-se uma notória diminuição, por outro, se pensar-se em números absolutos, tem-se ainda, em um único ano, de 2009, 444.056 adolescentes primigestas Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 130 (JORNAL 45 GRAUS, 2010). Ou seja, um número ainda consideravelmente alto e meritório de atenção. O Estado de São Paulo, no sudeste do Brasil, entre os anos de 1998 e 2008, conseguiu reduzir seu número de adolescentes grávidas em 36,2% através de políticas públicas, que como dito anteriormente, permeiam o esclarecimento e formação de opinião, sendo isso feito através de incentivos a lugares de atendimentos aos adolescentes com equipes interdisciplinares (ESTADÃO, 2008). Propostas e ações essas que parecem estar sendo seguidas pelo Ministério da Saúde, para o país como um todo, com menor ou maior efetividade (JORNAL 45 GRAUS, 2010). Pode-se então fazer um contraponto: se por um lado, tem-se o insucesso, ou pouco sucesso na redução do número de adolescentes grávidas, até um determinado período, por outro tem-se uma aparente considerável redução nele, a partir de um segundo momento, isso podendo advir da forma de acompanhamento realizado à essas adolescentes. Nesse sentido, Burt (1998 apud ROMERO-RODRIGUEZ, 2004) corrobora dizendo que o oferecimento de atenção, em países da América Latina, é centrada nos problemas específicos como: criminalidade, abuso de drogas e gravidez precoce e não em programas de prevenção em longo prazo. Tais programas seriam capazes de atender aos adolescentes em todo o seu desenvolvimento, e não em momentos específicos, como comumente se faz. Exemplo desse gênero de atendimento, referido por Burt (1998 apud ROMERORODRIGUEZ, 2004), é o Programa de Assistência Médica e Psicossocial à Adolescente PAMPA realizado na Faculdade de Medicina do ABC, desde 1983 e coordenado pela Dra. Isméri Seixas Cheque Conceição, que visa um atendimento longitudinal, multi e interdisciplinar, abarcando a gravidez na adolescência como estando associada a diversas modificações próprias da idade, bem como a fatores como: baixa autoestima, dificuldade escolar, abuso de álcool e drogas, comunicação familiar escassa, conflitos familiares, pai ausente e ou rejeitador, violência física, psicológica e sexual, rejeição familiar pela atividade sexual, entre outros, que seriam fatores predisponentes à gravidez na adolescência (YAZLLE, 2006; BUENO, s.d.). Entre esses aspectos não se pode deixar de citar a escolaridade dessas adolescentes. Tomando a realidade brasileira, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP) demonstra que apenas 40% dos brasileiros finalizam o ensino obrigatório e 6% o ensino superior. Cabe lembrar que famílias de menor renda estão sujeitas a um menor nível de estudo. Ao se observar especificamente as adolescentes grávidas e as não grávidas, Upchurch e McCarthy (1990 apud YAZLLER, 2006) relataram em seu estudo que são 39% as adolescentes grávidas que abandonaram a escola, enquanto que nas não grávidas o abandono foi de 19%. Sobre o retorno à escola, das adolescentes que engravidaram 30% voltaram e concluíram os estudos, enquanto as que não engravidaram constituem 85%. Recaindo-se ainda sobre os estudos, Duarte et al. (2006), apontam que existem diversos estudos que demonstram que as adolescentes grávidas têm um grau menor de escolaridade. Os mesmos autores ainda colocam que, com base em estudos, as adolescentes gestantes de baixa escolaridade cumpririam o papel social destinado à elas de uma certa estagnação Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 131 (tudo isso dentro de uma sociedade que exige estudo). Dessa forma quanto maior a escolaridade da mulher, mais tardiamente se daria a gestação. Além do que, a gravidez em idade precoce levaria à uma diminuição na probabilidade de retorno à escola após uma interrupção (que poderia ser advinda da própria gravidez, como também de outros fatores). (DUARTE et al., 2006) Além da questão de escolaridade, outro aspecto apontado por Duarte et al. (2006) é que a cultura não deve ser esquecida, pois é grande a influência dela, já que grande parte das mulheres é criada para ser mãe e constituir família, tendo assim na gravidez, não um risco, mas o que para elas representaria uma consumação do seu papel social e a realização de um sonho internalizado durante o seu desenvolvimento (CONCEIÇÃO, 2009). Sendo assim, informações sobre a estrutura fisiológica e anatômica feminina e sobre métodos anticonceptivos (MACs) serão insuficientes para evitar a gravidez e DSTs (ROMERORODRIGUEZ, 2004). Além disso, é na adolescência que se dá a descoberta da vida sexual, e logo todo o interesse e curiosidades por ela, e para Aguiar (1994 apud CAPUTO; BORDIN, 2007), a atividade sexual na adolescência se ligaria aos seguintes pontos: alívio de angústias, aceitação por parte do parceiro ou do grupo, suprimento de carência afetiva, uma forma de afirmação, entre outros pontos que também colaborariam para a continuação da atividade sexual sem necessariamente haver utilização de MACs. 1.2 Qualidade de vida O termo “qualidade de vida” é um conceito que ainda se encontra em processo de formação. Até o atual momento, a literatura indica que a qualidade de vida é composta por fatores subjetivos e objetivos, variando para cada indivíduo, sociedade e cultura (MORAG, 1995). Além de variar em cada sociedade, o termo pode, ao longo dos anos, variar dentro de uma mesma. Citando a sociedade ocidental como exemplo, a primeira vez em que se observa a “Qualidade de Vida” era vigente o modelo biomédico na saúde, de tal forma que o termo se referia, principalmente, à inexistência de doença. Com a mudança para um modelo ecológico, passa-se a ver o indivíduo como um todo, dentro de uma visão inter e multidisciplinar, agora primando, entre outras coisas, pela prevenção da saúde nos níveis primários, secundários e terciários, além da promoção da saúde. Kimura (1999) cita autores que consideram a qualidade de vida como um conceito multidimensional, que considera a visão e avaliação subjetiva dos indivíduos e inclui aspectos do comportamento afetivo-emocional, da capacidade funcional, da interação social, do trabalho e da situação econômica. Pode-se dentro do comportamento afetivoemocional e mesmo da interação social citar que o lazer aí se insere, pois segundo Durmazedier (1979 apud ALMEIDA e GUTIERREZ, 2004), o lazer é o conjunto de ações que o sujeito escolhe para se divertir, recrear-se e entreter-se, em um processo pessoal de desenvolvimento, ou seja, demostra um estilo de vida que leva à qualidade de vida. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 132 Também nesse sentido se encontra o autor Magnani (2000 apud ALMEIDA e GUTIERREZ, 2004) que coloca como principal característica do lazer o interesse pessoal, e ainda Morin (1997 apud ALMEIDA e GUTIERREZ, 2004) que aponta para o lazer como estando vinculado ao repouso, recuperação do trabalho e reprodução da sociedade na qual estamos inseridos. Novamente se pensa no lazer como possuindo uma ligação com a qualidade de vida. Neste novo modelo de saúde – o ecológico – o conceito qualidade de vida vem sendo cada vez mais citado no meio da Saúde e vem influenciando políticas públicas e práticas nessa área (SEID; ZANNOM, 2004). Uma das dificuldades na definição exata da qualidade de vida deriva da inserção da subjetividade, que compreende a percepção dos indivíduos sobre seu estado de saúde e sua vida como um todo. Mas, justamente por considerar a subjetividade, as informações provenientes da qualidade de vida são relevantes na avaliação de eficácia, abordagem, adesão e impactos originados de determinados tratamentos para grupos de doenças específicas. Na busca pela definição precisa do termo e com a possibilidade qualitativa e quantitativa de avaliação que a qualidade de vida permite, vários instrumentos ou índices foram criados, de forma a não avaliar somente indivíduos ou grupos portadores de alguma doença, mas também aqueles saudáveis, de modo a identificar novas formas de prevenção e promoção. Patrick e Deyo (1989) e Guyatt (1995) informam que estas avaliações podem ser feitas de dois modos: específico, capazes de avaliar determinados aspectos da qualidade de vida de forma específica e individual; e genérico, capacitados a demonstrar o impacto de uma doença na vida de indivíduos em diversas populações. Em 1995 foi criado o “The WHOQOL Group”, pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que é o Grupo de Qualidade de Vida da referida organização. Este grupo foi responsável por desenvolver um instrumento para avaliar a qualidade de vida, o WHOQOL-100, o qual toma como base que a “Qualidade de Vida” é uma construção subjetiva, multidimensional, indo ao encontro do que apresentou Kimura (1999) e composta de pontos negativos (dor) e positivos (mobilidade). Como o WHOQOL-100 é uma escala extensa e para que se houvesse a possibilidade de uma aplicação desse um instrumento de uma forma mais rápida, o WHOQOL Group também desenvolveu uma versão abreviada da citada escala, conhecida como WHOQOLbref, composta por 26 questões distribuídas nos domínios: físico, psicológico, relações sociais e meio ambiente (THE WHOQOL GROUP, 1995), a qual será utilizada neste trabalho. Com a atenção da área da saúde cada vez mais voltada à Qualidade de Vida e com a criação, por parte da OMS, do WHOQOL Group, a melhoria da qualidade de vida passou a ser um dos resultados esperados tanto das práticas assistenciais, quanto das políticas públicas para o setor, nos campos da promoção da saúde e da prevenção de doenças. Nesse raciocínio, ao pensar-se em adolescentes grávidas ou com risco de gravidez, a compreensão Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 133 da qualidade de vida delas se torna fundamental para propiciar possíveis estratégias no campo do atendimento especializado às mesmas. 2. Objetivos Esta pesquisa teve como objetivos avaliar a qualidade de vida e identificar fatores protetores e de risco que interferem no desenvolvimento das adolescentes grávidas e não grávidas que participaram da pesquisa e que são assistidas pelo Programa de Assistência Médica e Psicossocial à Adolescente (PAMPA) da Faculdade de Medicina do ABC, bem como caracterizar essa população, além de traçar uma relação entre esses pontos (qualidade de vida e fatores protetores e de risco), o que poderá permitir, em momento posterior, a proposição de intervenções que possam centrar-se na promoção da saúde. 3. Método Este foi um estudo descritivo, quantitativo e transversal. Descritivo por ter visado ao estabelecimento de relações e associações entre variáveis (fatores protetores e de risco para a saúde das adolescentes) e por ter tido técnicas padronizadas para a coleta dos dados (GIL,1991). Quantitativa devido à coleta dos dados e o tratamento dos mesmos. E transversal por ter selecionado um período específico dentro de todo o atendimento do PAMPA – programa este que se encontra em atividade desde 1983. Estudou-se um grupo específico – as adolescentes que iniciavam o atendimento no PAMPA – buscando por características como: escolaridade, gravidez, procedência, drogadição, entre outras. (GIL, 1991) 3.1 Participantes No período de setembro de 2009 a fevereiro de 2010 foram inscritas para primeira consulta no PAMPA 65 adolescentes mulheres no atendimento realizado no período matutino. Das 65 mulheres, todas estavam dentro da faixa etária estabelecida pelo levantamento preliminar que determinou a idade mínima e máxima das adolescentes gestantes assistidas no PAMPA. Das 65 adolescentes que iniciaram o atendimento no programa, 5 não aceitarem participar da pesquisa. Das participantes, 09 eram gestantes (08 na primeira gestação e 01 na segunda), e 51 nãogestante, com a faixa etária entre 12 e 20. 3.2 Local O trabalho foi realizado no Programa de Assistência Médica e Psicossocial à Adolescente (PAMPA), do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina do ABC, na cidade de Santo André, que oferece à população assistência gratuita. Portanto, a Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 134 população atendida nesse serviço corresponde às classes sócio-econômicas menos favorecidas (CONCEIÇÃO, 2009). O PAMPA, fundado em 1983, realiza assistência multi e interdisciplinar, nas áreas da medicina, psicologia, fisioterapia, enfermagem, nutrição e assistência social, atendendo adolescentes mulheres da região do Grande ABC e São Paulo. Trabalha enfocando principalmente a prevenção e orientação às adolescentes. 3.3 Duração A pesquisa teve duração de dois anos, contando a partir do levantamento de referências bibliográficas, compreendendo o período de maio de 2009, até maio de 2011. Sendo que entre agosto de 2009 e julho de 2010, este trabalho recebeu PIBIC pelo CNPQ. 3.4 Instrumentos Foram utilizados os seguintes instrumentos: 1) Anamnese realizada na entrevista inicial no PAMPA. 2) Questionário sobre características sócio-demográficas e fatores de risco para gravidez na adolescência, desenvolvidos pelas autoras Caputo e Bordin. 3) Whoqol-bref – Escala de qualidade de vida. 3.5 Procedimento Tendo como preposição que um dos fatores de risco ou protetor da adolescência seria a gravidez, fez-se um estudo preliminar para que se pudesse determinar a faixa de idade das adolescentes gestantes assistidas no PAMPA. O estudo foi feito através do levantamento de prontuários de adolescentes matriculadas no serviço de fevereiro de 2006 a fevereiro de 2009. A idade mínima foi 12 anos e a idade máxima 20 anos, configurando assim a faixa etária que participou da pesquisa. As adolescentes de primeira consulta no PAMPA com idade entre 12 e 20 anos foram submetidas a entrevista social, psicológica e consulta médica, conforme a rotina do serviço. Após o atendimento padrão da primeira consulta as adolescentes eram encaminhadas para os pesquisadores que apresentavam à adolescente e seu responsável legal presente o convite para participar da pesquisa. Nesta oportunidade os pesquisadores explicavam os objetivos da pesquisa, o sigilo da identidade da adolescente, o termo de consentimento livre e esclarecido e a garantia da preservação dos seus direitos de não aceitar participar da pesquisa sem qualquer prejuízo à assistência no PAMPA. O termo de consentimento livre e esclarecido foi acordado pela adolescente e pelo adulto legalmente responsável por ela. As possíveis participantes foram esclarecidas que tinham o direito a desistir da participação na pesquisa a qualquer momento, se assim fosse da vontade delas, mesmo que os dados já tivessem sido coletados. Nestes casos, as Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 135 informações coletadas pelo PAMPA, através da anamnese, não seriam utilizadas e informou-se também que a desistência em participar da pesquisa não teria nenhuma influência em seu tratamento no PAMPA. Nos casos de adolescentes com idade igual ou maior de 18 anos (ou emancipadas) foi dispensada a concordância assinada pelo adulto acompanhante. A pesquisa teve a aprovação da coordenadora do PAMPA e do Conselho de Ética em Pesquisa CEP - da FMABC. Referente à análise dos riscos, esta pesquisa não propiciou risco às suas participantes. Em todo caso a equipe de pesquisadores estava preparada para na ocorrência de qualquer imprevisto – o que não ocorreu – e foram tomadas as medidas necessárias para que não houvesse qualquer prejuízo – físico, psicológico e social – para a participante. Pôde-se averiguar que a realização da pesquisa trouxe uma melhor compreensão dos processos que medeiam a qualidade de vida das adolescentes grávidas primigestas ou não do PAMPA da FMABC e isso possibilitará em um estudo futuro propor intervenções mais efetivas que possam centrar-se na promoção da saúde. Após entrevista social, psicológica, consulta médica e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, responderam o “Questionário sobre características sócio-demográficas e fatores de risco para gravidez na adolescência, desenvolvido pelas autoras Caputo e Bordin”. Este questionário teve duas versões, chamadas de A e B. A versão A foi respondida pelas adolescentes gestantes e a versão B pelas adolescentes não gestantes. As questões deste questionário que eram iguais da anamnese sócio-psico-médica do PAMPA foram retiradas do questionário, evitando assim que a adolescente passasse pela mesma série de perguntas. Em seguida, foi aplicado o Whoqol-bref – Escala de qualidade de vida (OMS). Nos casos em que a adolescente apresentasse dúvidas no entendimento das questões, o pesquisador procurou esclarecer suas dúvidas sem interferir na resposta. É válido ressaltar que as aplicações desses dois instrumentos foram feitas individualmente. 3.6 Tratamento dos dados A análise dos dados teve tratamento específico de acordo com cada instrumento, segundo a recomendação dos respectivos autores. Para a análise estatística foi utilizado o “Statistical Package for the Social Sciences” (SPSS). Para o Whoqol-bref – Questionário de qualidade de vida (OMS) foi utilizada a Syntaxe de avaliação conforme recomendação da OMS. Com relação ao instrumento “Anamnese do PAMPA” e o Questionário sobre características sócio-demográficas e fatores de risco para gravidez na adolescência foram utilizados dois tipos de análise. Para os dados quantitativos se fez uso da estatística descritiva, para os dados qualitativos as respostas foram analisadas e transformadas em categorias. Finalmente, foram realizadas comparações entre as estatísticas obtidas para analisar as possíveis relações entre os dados dos três instrumentos. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 136 4. Resultados A amostra foi constituída por 60 adolescentes do gênero feminino com idade entre 12 e 20 anos, a média foi de 14,9 anos no geral; quando diferenciado grávidas de não grávidas, respectivamente a média de idade foi: 15 e 14,9 anos. Quanto ao estado civil 33 adolescentes (55%) eram solteiras sem namorado, 24(40%) solteiras com namorado, 02(3,3%) amasiadas e 01(1,7%) casada. A maioria delas 50(83,3%) era natural do Estado de São Paulo, 06(10%) eram do Nordeste, 01(1,7%) da região Norte e 03(5%) não responderam. Com relação à cor 24(40%) eram brancas, 02(3,3%) negras e 33(56,7%) pardas. Quanto aos estudos 54(90%) delas responderam que estudavam, enquanto 06(10%) não estudavam. Os dados sobre escolaridade mostraram que 31(51,7%) estavam no ensino fundamental, 02(3,3%) cursavam supletivo, 23(38,3%) ensino médio e 04(6,7%) estavam no curso técnico ou superior. As adolescentes que estudavam no período matutino eram 22(36,7%), vespertino 17(28,3%), noturno 10(16,7%), integral 06(10%), e 05(8,3%) não responderam. A maioria, 50(83,3%), estudava em escola pública, 04(6,7%) em particular e 06(10%) não responderam. No item repetência 20(33,3%) delas já haviam repetido alguma série, enquanto 40(66,7%) não. Sobre a pretensão de estudo, 01(1,7%) pretendia terminar o 1º Grau, 19(31,7%) queriam terminar o 2º Grau, 06(10%) pretendiam fazer algum curso técnico e 34(56,7%) queriam ingressar no ensino superior. Quando diferenciada a escolaridade das gestantes e não gestantes teve-se: para as gestantes, 01(11,1%) estava no primeiro fundamental (1ª a 4ª série), 07(77,7%) no segundo fundamental (5ª a 8ª série), e 01(11,1%) no ensino médio; com relação às não grávidas tevese 02(4%) no primeiro fundamental, 24(47,1%) no segundo fundamental, 23(45,1%) no ensino médio, 01(2%) no ensino técnico e 01(2%) no superior. Segue tabela 1. Tabela 1. Distribuição das adolescentes segundo a escolaridade de grávidas e de não grávidas, na 1ª consulta no PAMPA, entre setembro de 2009 a fevereiro de 2010. Não grávidas Grávidas 1º Fundamental 2º Fundamental Ens. Médio Técnico Superior 4% 47,10% 45,10% 2% 2% 11,10% 77,70% 11,10% 0% 0% A minoria das adolescentes trabalhava, eram 10(16,7%). 50(83,3%) não trabalhavam. E havia 12 adolescentes (20%) que estavam procurando emprego. A renda familiar até 02 salários mínimos ocorreu em 13 adolescentes (21,7%), de 02 a 04 em l7(28,3%), de 04 a 06 em 14(23,3%) e acima de 06 em 16(26,7%). A renda per capta das famílias das adolescentes participantes foi: até meio salário mínimo 19 famílias (31,6%); de meio a um salário mínimo 23(38,3%), de um a dois salários mínimos 14(23,3%) e acima de dois salários mínimos 04(6,6%). Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 137 Tabela 2. Distribuição das adolescentes segundo a renda per capta familiar, na 1ª consulta no PAMPA, entre setembro de 2009 a fevereiro de 2010. Renda per capta por salário mínimo até ½ de ½ a 1 de 1 a 2 acima de 2 Frequência 19 23 14 04 Porcentagem 31,6% 38,3% 23,3% 6,6% Das adolescentes entrevistadas 44(73,3%) não praticavam esporte e 16(26,7%) praticavam. No item chefe da família 06(10%) relataram que não existe essa figura, 33(55%) pai ou mãe, 09(15%) pai e mãe, 01(1,7%) a própria adolescente e 11(18,3%) outras situações. Quanto ao tipo de casa, 55(91,7%) habitavam casas de alvenaria e 05(8,3%) moravam em casas de madeira. Das habitações, 34(56,7%) eram próprias, 15(25%) alugadas, 11(18,3%) cedidas e 05(8,3%) de todas as casas situavam-se em favelas/comunidades. Tabela 3. Incidência da relação de propriedade da moradia das adolescentes matriculadas no PAMPA no período de setembro de 2009 a fevereiro de 2010. A residência era: Própria Alugada Cedida Frequência 34 15 11 Porcentagem 56,7% 25% 18,3% PAMPA: Programa de Assistência Médica e Psicossocial à Adolescente Sendo o PAMPA um ambulatório que oferece atendimento integral às adolescentes, as queixas médicas e psicológicas apresentadas pelas 60 participantes deste estudo foram, para o médico: consulta de rotina (check-up) 34(56,6%), 08(13,3%) pré-natal, 07(11,7%) para Método Anticonceptivo, 05(8,3%) queixa emocional e 06(10%) não sabiam o motivo da procura ao serviço. As queixas no atendimento psicológico foram: dificuldades de relacionamento interpessoal 11(18,3%), intrapsíquicas 36(60%) e 13(21,7%) não sabiam o motivo da procura ao serviço. Tabela 4. Frequência das queixas médica das adolescentes matriculadas no PAMPA no período de setembro de 2009 a fevereiro de 2010. Queixas Médicas Frequência Porcentagem CHECK-UP 34 56,6% Pré-natal 08 13,3% MAC 07 11,7% Emocional 05 8,3% Não sabe 06 10% PAMPA: Programa de Assistência Médica e Psicossocial à Adolescente / MAC: método anticoncepcional Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 138 Tabela 5. Frequência das queixas psicológicas das adolescentes matriculadas no PAMPA no período de setembro de 2009 a fevereiro de 2010. Queixas Psicológicas Frequência Porcentagem Dificuldade de relacionamento interpessoal 11 18,3% Dificuldades intrapsíquicas 36 60% Não sabe 13 21,7% PAMPA: Programa de Assistência Médica e Psicossocial à Adolescente Os dados relativos à família mostraram que 16 adolescentes (26,7%) não tinham contato com o pai, sendo 06 por motivo de falecimento. Das que tinham algum relacionamento com o pai, 10(22,8%) disseram que a relação era ruim, 14(31,8%) regular e 20(45,4%) que era boa. No que se refere ao relacionamento com a mãe 04(6,7%) não tinham contato com a mãe, sendo 02 por motivo de falecimento. Das que tinham algum relacionamento com a mãe, 08(14,3%) disseram que a relação era ruim, 07(12,5%) regular e 41(73,2%) boa. Com os irmãos 06(10%) não tinham irmãos, das que tinham 15(27,8%) a relação era ruim, 08(14,8%) regular, 31(57,4%) boa. Sobre padrasto, 20(33,4%) das adolescentes possuíam padrasto, e a relação afetiva era ruim para 07(35%) delas, regular para 03(15%) e boa para 10(50%); sobre madrasta 10(16,7%) das adolescentes possuíam, dessas o relacionamento era ruim para 01(10%), regular para 05(50%) e bom para 04(40%). Tabela 6. Distribuição das adolescentes, segundo sua relação afetiva com o pai, mãe e irmãos, matriculadas no PAMPA de setembro de 2009 a fevereiro de 2010. Relação Familiar Ruim Regular Boa Pai 22,8% 31,8% 45,4% Mãe 14,3% 12,5% 73,2% Irmãos 27,8% 14,8% 57,4% PAMPA: Programa de Assistência Médica e Psicossocial à Adolescente Tabela 07. Distribuição das adolescentes, matriculadas no PAMPA de setembro de 2009 a fevereiro de 2010, segundo sua relação afetiva com o padrasto e madrasta. Relação Familiar Ruim Regular Boa 07 03 10 Padrasto 35% 15% 50% Madrasta 01 05 04 10% 50% 40% Sobre as relações afetivas extra-familiares, apenas 03(5%) das adolescentes referiram que não tinham relações de amizade. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 139 Todas as adolescentes, exceto uma, relataram que realizam atividades de lazer, As atividades eram: ligadas à Mídia 37(61,7%); atividade de sair/passear 29(48,3%); atividade de cunho artístico/intelectual 21(35%); alguma atividade desportiva 13(21,7%); namorar 05 (8,3%); outras atividades 08(13,3%); e dormir 08(13,3%). Essas atividades eram praticadas sozinhas ou acompanhadas por: familiares, amigos/colegas e namorado. Tabela 08. Distribuição das adolescentes, matriculadas no PAMPA de setembro de 2009 a fevereiro de 2010, segundo o tipo de lazer feito pelas mesmas, frequência e porcentagem. Tipo de lazer Mídia Sair/passear Artístico/intelectual Atividade desportiva Dormir Namorar Outros Frequência 37 29 21 13 08 05 08 Porcentagem 61,7% 48,3% 35,0% 21,7% 13,3% 08,3% 13,3% Sobre o uso do tabaco, álcool, maconha e cocaína, os dados a seguir foram extraídos da Anamnese do PAMPA sendo que os dados referentes seguem no gráfico 1 através de números absolutos. Aquelas que nunca experimentaram alguma droga foram 14(23,33%), e algum tipo de droga 46(73,33%). Gráfico 1. Distribuição das adolescentes, segundo o tipo de droga em uso ou experimentada, matriculadas no PAMPA no período entre setembro de 2009 a fevereiro de 2010. *A categoria “Outras” se refere a: lança-perfume e cola. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 140 Tabela 09. Distribuição das adolescentes, matriculadas no PAMPA de setembro de 2009 a fevereiro de 2010, com relação à drogadição (idade, experimentação e utilização). Média de idade (anos) Quantas adolescentes experimentaram Quantas usam Tabaco 12,71 21 07 Álcool 12,06 47 24 Maconha 13,75 4 0 Cocaína 14,25 4 0 Outras 16 1 0 Das adolescentes estudadas 07(11,7%) referiram que não tinham tido a menarca. A menor idade da ocorrência da menarca foi aos 07 anos e a maior idade foi aos 16 anos, sendo que a média de idade foi de 11,9 anos. Quanto ao sentimento diante da menarca 21(35%) não souberam responder; 15(25%) responderam que foi horrível; 07(11,7%) normal e 17(28,3%) bom. Tabela 10. Idade da menarca nas adolescentes matriculadas no Pampa de agosto de 2009 a fevereiro de 2010. Idade Média mínima máxima Menarca: primeira menstruação Anos 11,9 07 16 Tabela 11. Tipo e incidência dos sentimentos referentes à menarca entre as adolescentes na entrevista da primeira consulta no Pampa de agosto de 2009 a fevereiro de 2010 Sentimentos Não sabe Ruins Normais Bons Frequência 21 15 07 17 Porcentagem 35% 25% 11,7% 28,3% Sobre a ocorrência da primeira relação sexual 04(6,7%) adolescentes não responderam, 25(41,7%) responderam que já haviam iniciado a vida sexual, e 31(51,7%) negaram primeira relação sexual. Estas mesmas adolescentes, quando indagadas sobre os seus próprios conhecimentos de métodos anticonceptivos (MAC), 12(20%) não souberam responder, 40(66,7%) responderam que conheciam, e 07(13,3%) relataram desconhecer qualquer tipo de MAC. Às 25 adolescentes que haviam iniciado a vida sexual, foi indagado sobre o uso de algum Método anticonceptivo (MAC) na primeira relação sexual e: 08(32%) disseram não saber, 11(44%) disseram ter feito uso de condon (camisinha) e 06(24%) negaram o uso de qualquer MAC Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 141 Dentre as 25 adolescentes que já haviam iniciado a atividade sexual 17(68%) referiram terem vida sexual ativa na época da entrevista. Dessas 17 adolescentes, com vida sexual ativa na ocasião da entrevista, 09(52,9%) estavam grávidas, 06(35,3%) utilizavam algum tipo de MAC, e 02(11,8%) não faziam uso de qualquer MAC. Das grávidas, 08(88,8%) eram primigestas, e 01(11,2%) estava na segunda gestação; dentre as grávidas ainda, 04(44,3%) eram brancas, 0(0%) eram negras e 05(55,7%) eram pardas. Nos antecedentes pessoais da anamnese médica encontramos: algum tipo de quadro alérgico em 12(20%) adolescentes; alguma cirurgia em 11(18,3%) adolescentes; alguma doença infecto-contagiosa (ex.: sarampo, caxumba,...) em 27(45%); algum quadro de doença cárdio-respiratória em 08(13,3%); alguma doença crônica em 05(8,3%). Para 06(10%) adolescentes o esquema de vacinas não estava completo. Nos antecedentes familiares das adolescentes encontramos referência a: Hipertensão Arterial 33(55%); Diabetes 22(36,7%); Alcoolismo 11(18,3%); patologia psiquiátrica 04(6,7%); mãe solteira 29(48,3%); drogadição 12(20%); neoplasia maligna 17(28,3%); doença hereditária 02(3,3%); e trombose 05(8,3%). O segundo instrumento utilizado, “Características sócio-demográficas e fatores de risco para gravidez na adolescência”, permitiu uma diferenciação entre alguns fatores levantados para as adolescentes grávidas e não-grávidas. Os dados estão descritos a seguir. Enquanto 32(62,7%) das adolescentes não-grávidas havia a pretensão de realizar um curso universitário, apenas 02(22,2%) das jovens gestantes pretendem realizá-lo. Situação que se inverte ao olhar o curso técnico, são 04(7,8%) das não grávidas que pretendem cursar algum curso técnico, e que se mantém nas gestantes, pois são 02(22,2%) as gestantes que o querem cursar. Essas adolescentes referem terem sido cuidadas na infância por: nas não grávidas, 18(35,3%) criadas somente pela mãe, 23(41,1%) por mãe e pai e 10(19,6%) por outros; e nas grávidas foram 06(66,7%) criadas somente pela mãe e 03(33,3%) por pai e mãe. Ao indagadas sobre se conheciam alguém grávida e que tivesse menos de 19 anos, a grande maioria respondeu positivamente, sendo para as não grávidas: 30(58,8%) eram colegas, 15(29,4%) na família, e 06(11,8%) disseram não conhecer. Para as gestantes: 02(22,2%) disseram conhecer colegas, 05(55,6%) familiares, e 02(22,2%) negaram conhecer alguém. Perguntou-se sobre a frequência no uso de condon pelas adolescentes que haviam iniciado a vida sexual, das não gestantes: 01(6,25%) nunca havia usado, 08(50%) utilizavam à vezes e 07(43,75%) sempre. Das gestantes, 03(33,3%) disseram nunca terem usado, 05(55,6%) às vezes, 01(11,1%) se referiu a ter sempre usado. As 60 adolescentes disseram não querer engravidar. Das adolescentes não grávidas, 10(62,5%) referiram que pediam para o parceiro utilizar condon e 06(37,5%) não pediam. Quando perguntado do porquê pediam ou não 05(31,25%) disseram não pedir pois o companheiro usava, 01(6,25%) não pedia porque ela não queria usar, 09(56,25%) pediam por medo de engravidar, 01(6,25%) para não ter doença. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 142 As grávidas que pediam a utilização de condon pelo parceiro eram 05(55,6%) e 04(44,4%) que não pediam. Entre os porquês teve-se: 02(22,2%) não pediam porque o companheiro já usava, 03(33,3%) porque elas não queriam usar, 04(44,4%) pediam por medo de engravidar. Indagou-se se as adolescentes já haviam realizado alguma consulta ginecológica anterior àquela realizada no primeiro dia no PAMPA, e como respostas teve-se: das adolescentes não grávidas, 24(47,1%) já haviam se consultado, enquanto 27(52,9%) não. Das que se consultaram, 28(54,9%) não sabia o motivo, 19(37,3%) por rotina, e 04(7,8%) por MAC. Com relação às adolescentes gestantes, 05(55,6%) nunca haviam se consultado em ginecologia, e 04(44,4%) haviam se consultado; sobre os motivos 05(55,6%) disseram nunca ter ido ao ginecologista por não pensar nisso, 02(33,3%) foram por perda da virgindade e 01(11,1%) por infecção. Buscou-se saber se as adolescentes frequentavam ou haviam frenquentado algum grupo de jovem na comunidade, nas não grávidas 32(62,7%) nunca frequentaram, 09(17,6%) frequentaram e pararam, e 10(19,6%) frequentaram e continuam frequentando. Nas grávidas 05(55,6%) nunca frequentaram, e 04(44,4%) frequentaram mas pararam; sendo que dessas 04, apenas 01 parou de frequentar durante a gravidez e todas as demais pararam antes. Com este instrumento, Questionário sobre características sócio-demográficas e fatores de risco para gravidez na adolescência, foi possível fazer uma distinção entre grávidas e não grávidas no referente ao “experimentou algum tipo de droga”, (ressalta-se que o termo experimentar neste instrumento não diferencia quem experimentou daquelas que fazem uso atualmente). Dentre as não grávidas: 16(31,4%) experimentaram tabaco, 39(76,5%) álcool, 04(7,8%) maconha, 03(5,9%) cocaína, e 01(2%) outro tipo de droga, no caso Lançaperfume. Nas grávidas teve-se: 06(66,7%) experimentaram tabaco, 07(77,8%) álcool, 01(11%) maconha, 01(11%) cocaína. No terceiro instrumento utilizado, o Whoqol-bref (anexo IV), foram encontradas as seguintes médias nos domínios da Qualidade de vida: Dom1 (físico) 13,68, Dom2 (psicológico) 14,84, Dom3 (relações sociais) 15,62 e Dom4 (meio ambiente) 14,93. A comparação dos resultados obtidos pelas gestantes e não gestantes, por meio do teste não paramétrico Mann-Whitney, mostrou que existe uma diferença estatisticamente significativa no Dom2 (psicológico) apontando que nas gestantes há uma melhor qualidade de vida do que nas não gestantes (tabela 12). Respectivamente para as gestantes e não gestantes as medianas apresentadas foram: Domínio Físico 15,43 e 14,29; Domínio Psicológico 16 e 14,67; Domínio Relações Sociais 14,67 e 16; Domínio Meio Ambiente 14 e 13,5; e o Overall foi de 16 e 14. Sendo que apenas o Domínio Psicológico apresentou significância, sendo ela de 0,02. Gráfico 2. Distribuição das adolescentes gestantes e não gestantes quanto a experimentação (ou uso) de drogas, matriculadas no PAMPA no período entre setembro de 2009 a fevereiro de 2010. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 143 Tabela 12. Domínios do Whoqol-bref nas adolescentes matriculadas no PAMPA no período entre setembro de 2009 a fevereiro de 2010. Domínios dom1 físico dom2 psicológico dom3 relações sociais dom4 meio ambiente Overall Mínimo 9,14 7,33 9,33 7,50 6,00 Máximo 18,29 19,33 20,00 19,50 20,00 Média 13,68 14,84 15,62 13,42 14,93 Tabela 13. Domínios do Whoqol-bref na população pesquisada, comparando as gestantes com as não gestantes. Domínios Físico Psicológico Relações Sociais Meio Ambiente Overall Gestantes Mediana 15,43 Mínimo 10,29 Máximo 17,71 Média 14,92 Não Gestantes Gestantes 14,29 16,00 6,29 13,33 17,14 18,00 14,26 15,85 Não Gestantes Gestantes 14,67 14,67 4,67 9,33 18,00 20,00 13,93 Não Gestantes Gestantes 16,00 14,00 9,33 9,00 20,00 16,00 Não Gestantes Gestantes 13,50 16,00 8,00 14,00 20,00 18,00 13,41 16,00 Não Gestantes 14,00 6,00 20,00 14,75 0,35 0,02 15,26 15,69 0,74 13,50 0,65 0,22 *p = tem o número de significação de 0,02 Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 p* 144 5. Discussão Os dados revelados neste estudo mostram que a população participante tem uma incidência de 15% de gravidez. Apesar de aparentemente baixo, este resultado se aproximaria da incidência na população brasileira (20% em 2006 segundo IBGE). É necessário considerar que esta incidência refere-se a uma população que está inserida em um serviço de atendimento à adolescente. Por isso, cabe levantar a hipótese de que a menor incidência poderia ser advinda pela não realização do pré-natal pelas adolescentes ou mesmo a criação, nos últimos anos, de outros serviços de atenção à mulher, incluindo adolescentes. A média de idade das adolescentes participantes foi de 14,9 anos. Essa média também é igual à média de idade das adolescentes não grávidas, sendo que a média de idade das grávidas foi de 15 anos. Ou seja, em ambos os grupos a média é muito próxima, o que temse é uma leve diferenciação na idade mínima e máxima de cada grupo, sendo para as grávidas: 12 e 19 anos (como também para o estudo como um todo) e não grávidas 13 e 17 anos. Pode-se perceber que a maioria das adolescentes se disseram solteiras sem namorados (55%), mas o número daquelas com namorados já é considerável (40%). As amasiadas e casadas representam uma pequena parcela (05%). Pode-se, a partir daí, perceber que na idade pesquisada há interesse pelo relacionar-se. Considerando-se os 55% (sem relacionamento) para os 45% (com relacionamento), talvez com uma média de idade um pouco maior, esse número já seria invertido. Isso faz ressaltar a importância de trabalhos em prevenção e conscientização dessas adolescentes, antes dessa idade, quanto às questões ligadas à sexualidade e seus efeitos na adolescência. Um dado otimista é o alto índice de adolescentes que estudavam no momento da pesquisa, o que as levariam a parâmetros sócio-econômicos e educacionais melhores. Também temse a maioria (83,3%) em escola pública. Apesar do alto índice daquelas que são estudantes, tem-se uma queda na pretensão de ingresso no nível superior. Os índices de escolaridade e pretensão universitária são elevados se comparados à população brasileira que finaliza o ensino obrigatório 40% (INEP) e o ensino superior 06% (INEP). Por outro lado, tais índices podem demonstrar uma pretensão de estudo que não se realizará. Corrobora com essa demonstração a renda familiar das participantes, pois 69,9% provém de famílias com uma renda per capita de até um salário mínimo, e o INEP aponta que em situação de menor renda geralmente ocorre menor nível de escolaridade. À esse ponto, acrescenta Duarte et al. (2006) que além da menor renda, a própria gravidez dificultaria a escolarização das adolescentes. Neste sentido ainda, pôde-se observar também a diferença na pretensão de estudo das grávidas e não grávidas. Para o ingresso no ensino superior, nas gestantes, a pretensão foi de 22,2% enquanto que nas não gestantes de 62,7%. No ensino técnico 7,8% eram as não grávidas que queriam fazê-lo, enquanto 22,2% das gestantes o queriam. Ou seja, além da dificuldade na realização em si dos estudos, notou-se que a própria pretensão de estudo já apresenta diferença entre os dois grupos, sendo que nas não grávidas há uma pretensão maior em realizar um curso universitário. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 145 Ao tratar-se da escolaridade em si, separando a escolaridade das gestantes e não gestantes notou-se um ponto que chama a atenção. Enquanto para o grupo de não grávidas 45,10% estão no ensino médio, para o grupo de grávidas, esse mesmo número cai para 11,1%, e sobe para 77,7% ao considerar-se as grávidas com escolaridade no 2º fundamental, diferentemente das não grávidas que ficaram em 47,10%. Tendo ainda em consideração que a média de idade de ambos os grupos é 15 anos (ou 14,9 para não grávidas), a maioria, por idade escolar, deveria estar no ensino médio ou em uma transição entre fundamental e médio. Com isso é possível levantar a questão de que para a população que participou dessa pesquisa, a baixa escolaridade está, de certa forma, associada à gestação. Não no sentido causal e unilateral, mas como característica da população. Sobre esse aspecto trata Duarte et al (2006), justamente trazendo uma menor escolaridade entre as adolescentes grávidas, além de apontar a gravidez como um papel social destinado à esse grupo. Apesar de a maioria possuir uma baixa renda e estando, segundo a ABEP, nas classes principalmente E, D e C, pôde-se averiguar que a situação da moradia, considerando a estrutura, localização e situação da casa, é boa pois 91,7% habita casas de alvenaria, e 56,7% possui casa própria. Abarcando-se a esse grupo as casas cedidas, serão mais 18,3%. No entanto não se pode deixar de observar que ainda há situações que necessitam de atenção social, pois 8,3% das casas é de madeira. E dentre todas as habitações 8,3% situa-se em favelas/comunidades. Quanto ao trabalho da adolescente, percebeu-se que é baixo o número delas que trabalham (16,7%), a renda recebida destina-se a gastos pessoais. O número de adolescentes praticantes de esporte (26,7%) é baixo, mostrando que privilegiam, comumente, atividades sedentárias. Inclusive, isso poderá ser um fator prejudicial de qualidade de vida posterior se pensar-se que são 55% as adolescentes que possuem familiares com hipertensão. (CONCEIÇÃO, 2010). Notou-se que apesar da inserção dessas adolescentes em uma cultura ocidental – ainda com marcas de um modelo patriarcal – que o papel de chefe da família não é mais exercido somente pelo pai, uma vez que 15% que relatou que o pai e a mãe são os chefes de família. Esse dado mostra que a figura masculina está perdendo seu papel enquanto chefe de família, posto este ocupado exclusivamente pela mesma por gerações. Na relação da adolescente com o pai, 26,7% das adolescentes relatou que não tinha contato com o pai. Das adolescentes que possuíam contato com o pai (34 ou 73,3%), 45,4% considerou ter uma boa relação com ele, enquanto 54,6% uma relação péssimaregular. A relação com a mãe ocorreu no relato de 56 (93,3%) adolescentes e destas 73,2% referiu que a ralação é boa, enquanto somente para 26,8% ficaria entre péssima-regular. Pode-se levantar alguns questionamento a partir disso. Nessa idade, dentro de uma busca pela identidade feminina, busca-se em princípio por um distanciamento dela. Todavia, isso tende a mudar, e passa a ocorrer uma aproximação com a figura feminina o que afastaria essas adolescentes da figura masculina dos pais (ABERASTURY, 1988). Porém, deve-se Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 146 também observar que, para Aberastury (1988), haveria uma perda dos pais da infância e, portanto, um afastamento de ambas as figuras, o que faz com que se levante um outro questionamento, que seria de ocorrência de uma perda na qualidade da relação com o pai – por motivos que ainda necessitam futuras investigações. Seguindo para as relações extra familiares, entendidas aqui como relações de amizade, são 95% as adolescentes que relataram possuir amigos, o que acentua a importância da amizade, dado que esta é uma das possibilidades de crescimento pessoal e de identidade para as adolescentes. (ABERASTURY, 1988) Apesar de a maioria absoluta ter apresentado relações de amizade, quando indagadas sobre frequentarem um grupo de jovem na comunidade, essa situação já é diferente. Nas não grávidas 62,7% nunca frequentou e apenas 19,6% frequentou algum à época do estudo, e nas grávidas, 55,6% nunca havia frequentado e das que haviam, somente uma parou pela gravidez. Percebe-se então que relações de amizades e participação em grupo jovem são tidas como diferentes por essas adolescentes. Todavia, para se avaliar o quanto um grupo juvenil seria um fator protetor para elas faz-se necessário um estudo posterior mais preciso nesse sentido. Em cada entrevista médica e psicológica, pergunta-se à adolescente o motivo da consulta e pode-se perceber que a queixa apresentada varia para cada profissional, ou seja, quando a adolescente se depara com o psicólogo, sua queixa para iniciar o atendimento no PAMPA é de cunho emocional, enquanto que ao deparar-se com o médico a queixa é física. Notou-se que isso não ocorreu em apenas 8,3% das adolescentes, que apresentaram queixa emocional na consulta médica, sendo que o inverso não ocorreu. Na consulta médica, a maioria, 56,6%, descreve que vão por motivo de rotina/check-up, 11,7%, para iniciar algum Método Anticonceptivo (MAC), ponto este interessante, pois se vê que elas possuem informações sobre MACs, já que chegam pedindo algum método preventivo, além de que essas adolescentes provavelmente estão preocupadas em prevenir uma gestação indesejável. A esse argumento pode-se somar que são 56,25% que pedem ao companheiro uso e condon com medo de engravidar. Ainda sobre as queixas médicas, 13,3% das adolescentes consultaram-se a fim de realizar o pré-natal. Faz-se uma observação de que são 15% as adolescentes grávidas, concluindo-se, portanto, que uma adolescente apesar de estar grávida não estava fazendo o pré-natal, ou ao menos não relatou o pré-natal como motivo da consulta. Ao indagar-se sobre consulta ao ginecologista, anterior ao atendimento no PAMPA, essas adolescentes relataram que, das não gestantes, 47,1% já havia se consultado, e das não gestantes 44,4%. Apesar de ser um número muito próximo, vale notar os motivos que as levaram ao ginecologista. Enquanto para as não grávidas foram: “não sei o porquê” (54,9%), “rotina/check-up” (37,3%) e “busca MAC” (7,8%); nas gestantes foram: “não foram por nunca terem pensado em ir” (55,6%), “perda da virgindade” (33,3%), e “infecção” (11,1%). Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 147 Ou seja, ao comparar-se os motivos pode-se averiguar a diferença por uma e outra busca. As hipóteses para isso podem ser inúmeras, permeando: escolaridade, nível sócio-cultural, nível de informação, nível de abertura familiar e assim por diante. Também poder-se-ia levantar a hipótese de que, enquanto para a maioria das não grávidas que tinham já ido ao ginecologista, apesar de não saberem o motivo, foram mesmo assim, podendo então terem sido levadas pela família ou cuidadores. Para as gestantes que não foram, se referiram não terem ido por nunca terem pensado em se consultar. Mais questões ainda podem ser levantadas; sugere-se então a proposta de um posterior estudo que possa buscar um melhor compreendimento dessa situação. Retomando-se os motivos de comparecimento das gestantes, percebe-se a incidência da perda da virgindade e existência de infecção. A partir daí, pode-se supor como foi a relação sexual na questão de possibilidade de prevenção de doenças e da própria gravidez. Retomando as queixas apresentadas para o início do atendimento no PAMPA, as queixas na consulta psicológica foram: as dificuldades de relacionamento interpessoal 18,3%; e intrapsíquicas (como imagem corporal) foi de 60%, número este considerável, remetendo às dificuldades e transformações da adolescência, na qual há o luto do corpo infantil perdido, bem como transformações rápidas do corpo os quais devem ser elaboradas (ABERASTURY, 1988) assim como tantas outras questões já apontadas na introdução desse trabalho. Em ambas consultas houve adolescentes que não sabiam o motivo da mesma – na médica foram 10% e na psicológica 21,7%. Deve-se ter ciência que muitas são as adolescentes que são encaminhadas ao serviço sem que a elas sejam explicados os motivos do encaminhamento, mas há também a possibilidade de que haja aquelas às quais se explicou, mas em tal momento, seja por resistência, ou mesmo por um motivo simples de atenção na hora da explicação (dado que é característica a labilidade de atenção na adolescência) não conseguiram relatar a queixa. (CONCEIÇÃO, 2010) Sobre a prática de lazer – este definido como o conjunto de ações que o sujeito escolhe para se divertir, recrear-se e entreter-se, em um processo pessoal de desenvolvimento (DURMAZEDIER, 1979 apud ALMEIDA e GUTIERREZ, 2004) – a maioria absoluta relatou praticá-lo, e sobre o tipo de atividade, percebe-se que há um caráter muito pessoal e subjetivo. As atividades relatadas foram dormir (13,3%); namorar 8,3%; atividades de mídia 61,7%; outras 13,3%. Faz-se uma observação sobre o dormir, pois algumas adolescentes consideravam o dormir como sendo um tipo de lazer. A maioria das adolescentes referiu práticas de lazer que se caracterizam pelo sedentarismo, atividades passivas, de observação. O consenso geral de que a adolescência seria a fase da vida em que há uma dedicação maior aos esportes não se verificou nesta população. A falta de interesse pelos esportes é bastante prejudicial ao desenvolvimento físico e emocional destas adolescentes, pois na prática desse há a oportunidade da convivência em grupo, do trabalho em equipe e do aprendizado da competição saudável (CONCEIÇÃO, 2010). A atividade física é essencial para a qualidade da saúde física. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 148 Nesta população, menos de um quarto (23,3%) das adolescentes referiram que não experimentaram ou usaram drogas, o que representa um número pequeno para um grupo com 14,9 anos de média de idade. A droga mais utilizada foi o álcool, por 47 adolescentes, sendo que na época do estudo 24 faziam uso. Seguido pelo tabaco, experimentado por 21 adolescentes, com 7 usuárias à época do estudo. As demais drogas, maconha, cocaína e outras (lança-perfume, cola de sapateiro...) foram experimentadas respectivamente por 04, 04 e 01 adolescente, sendo que nenhuma referiu uso. O número de adolescentes que experimentaram as demais drogas poderia ainda ser maior (CONCEIÇÃO, 2010), todavia, talvez por uma amostra transversal, não foi possível essa observação, como ocorre ao longo do funcionamento do PAMPA. Os dados mostraram que houve um progressivo aumento da média de idade das adolescentes ao experimentar os vários tipos de droga. As drogas lícitas foram experimentadas em idade menor que as drogas ilícitas (maconha, cocaína e outras). O tempo entre a idade em que experimentaram o tabaco e o álcool, e a idade média em que experimentaram as outras drogas foi de 2 a 4 anos. Quanto à média de idade ao experimentar, nota-se um aumento relacionado ao tipo de substância, sendo: álcool com 12,06 anos, seguido por pouco pelo tabaco, com 12,71 anos, e depois pela maconha, 13,75 anos, cocaína, 14,25 anos, e outras, 16 anos. É preocupante a incidência de adolescentes usuárias de álcool e tabaco, é um fato que necessita da atenção dos órgãos competentes. No PAMPA estas adolescentes recebem assistência psicológica para deixarem o uso destas drogas, mas esta intervenção atinge uma população pequena, e a ação deveria envolver toda a sociedade e principalmente a família. Acentuando-se os cuidados com relação aos familiares, pois quando nota-se a utilização de álcool (18,3%) e drogas no geral (20%) pelos familiares dessas adolescentes, pode-se perceber que é um número elevado, e por conseguinte é grande o contato que elas terão com essas drogas. Ao diferenciar a experimentação de drogas entre grávidas e não grávidas, permitido pelo instrumento “Questionário sobre características sócio-demográficas e fatores de risco para a gravidez na adolescência”, pôde-se notar que as adolescentes grávidas já experimentaram drogas em um nível maior que as não grávidas, e isso para todos os tipos de substâncias apresentadas. Levantando então a hipótese do uso de drogas como fator de risco para a adolescência e para o desenvolvimento da gravidez nesse período. Retomando-se os números, para elucidação, teve-se respectivamente para grávidas e não grávidas: tabaco, 66,7% e 31,4%; álcool, 77,8% e 76,5%; maconha, 11% e 7,8%; e cocaína, 11% e 5,9%. Com relação ao desenvolvimento físico e sexual dessas adolescentes, foram 11,7% as que referiram ainda não terem tido a menarca (primeira menstruação). Mas das que já a tiveram, a média da idade foi 11,9 anos. A impressão destas adolescentes frente à menarca foi de: horrível para 25% delas, normal para 11,7% e boa 28,3%. Houve aquelas que não souberam referir a impressão (35%) quando ocorreu a menarca, estas foram a maioria simples. Apesar da grande variação do horrível para o bom, não se pode deixar de notar que é grande o percentual do horrível, podendo-se levantar a hipótese de que muitas delas Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 149 não estavam preparadas para esse momento do desenvolvimento e para o desprendimento da infância, ou que a repressão à sexualidade feminina que ainda ocorre na nossa cultura tenha transferido à menstruação, símbolo da maturidade sexual, sentimentos desagradáveis. Das 60 adolescentes 41,7% disse já ter tido primeira relação sexual e 66,7% disse conhecer algum tipo de MAC, contra 13,3% que não, dado este otimista, pois demonstra ao menos um conhecimento sobre métodos preventivos de gravidez e doença, mesmo que ainda não aplicada por muitas como demonstram os dados sobre uso de algum MAC nessa primeira relação: 24% disse não ter usado e 32% disse não saber responder, podendo levar a possibilidade do não uso por elas também. 44% disse ter utilizado condon (“camisinha”). Com relação às adolescentes que já haviam iniciado sua vida sexual, na época do estudo 68% delas possuía vida sexual ativa, sendo que delas 35,3% fazia uso de algum MAC, 11,8% de nenhum, e 52,9% estava grávida – infelizmente uma taxa alta – e quando se cruza os dados do trabalho poder-se-á averiguar que muitas adolescentes não tinham estrutura (emocional, financeira...) para gestar e criar a criança que nasceria. Ainda sobre as gestantes, 11,2% estava na segunda gestação, sendo 55,7% pardas e 44,3% brancas. Aqui novamente evidencia-se a necessidade de mais programas que trabalhem com os adolescentes de uma forma geral e preventiva, abrangendo questões da adolescência, inclusive sexualidade, sexo, planejamento familiar, “a primeira vez”, tudo isso de uma forma global e transdisciplinar afim de se possibilitar uma maior modificação desse quadro descrito. Ao centrar a pergunta sobre o uso de algum MAC, somente no condon notou-se novamente uma diferença no comportamento das não grávidas e grávidas, o qual evidenciou que as não grávidas possuem, ainda que de maneira falha, uma maior frequência no uso, e apesar da falha 100% se refere não querer engravidar. Afim de elucidar, deve-se retomar os números, respectivamente grávidas e não grávidas: nunca usou, 33,3% e 6,25%; usou às vezes, 55,6% e 50%; usou sempre, 11,1% e 43,75%. Pode-se quase notar uma proporção inversa na porcentagem. Quando essas adolescentes foram indagadas se pediam e do porquê pediam ou não ao parceiro que usasse condon obteve-se que, nas não grávidas 62,5% pedia uso, enquanto nas grávidas 55,6% pedia, ainda que tal pedido tenho sido menor do que na porcentagem das não grávidas, ainda se refere à maioria. E com relação ao porquê pedir ou não, observou-se nas grávidas e não grávidas, respectivamente: o companheiro usava (não pedia), 22,2% e 31,25%; a adolescente não queria usar (não pedia), 33,3% e 6,25%; medo de engravidar (pedia), 44,4% e 56,25%; não ter doença (pedia), não apareceu e 6,25%. Ou seja, novamente a motivação para o uso ou não do condon aparece de uma maneira distinta, e de uma certa forma apontando para um maior comportamento de risco das então gestantes, inclusive pode-se chamar a atenção que a prevenção de alguma doença não apareceu nas grávidas. Também procurou-se saber se as adolescentes conheciam alguma gestante que tivesse até 19 anos, e a grande maioria (independentemente de serem gestantes ou não) respondeu Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 150 positivamente à pergunta, mas a notória diferença entre os dois grupos recaiu sobre quem era esse conhecido, sendo que para as não grávidas a maioria era de colegas (58,8%) e de maneira menor familiares (29,4%), diferentemente das grávidas, para as quais 55,6% era de familiares e somente para 22,2% era de colegas. A partir disso poder-se-ia levantar a hipótese na qual mais do que conhecer alguém grávida, entra como um fator importante o grau dessa relação, repercutindo de maneira maior (como apontam os dados) quando são parentes. Um dado que pode vir a suscitar alguma curiosidade, mas que exigiria um maior aprofundamento em estudo posterior, é a questão do cuidador dessa adolescente. Pois percebeu-se que as grávidas foram cuidadas mais somente pela mãe, enquanto que para as não grávidas teve-se uma forte presença de pai e mãe, ou ainda alguma outra situação familiar (como cuidada pelos avôs). Novamente para uma reapropriação, traz-se os números: gestantes, cuidada somente por mãe, 66,6% e por pai e mãe, 33,3%; e nas não gestantes, somente mãe, 35,3% e por pai e mãe, 41,1%. Os antecedentes pessoais apontam para um grande número, 45%, de adolescentes que tiveram doenças infecto-contagiosas (como sarampo, caxumba...). O interessante é perceber que são doenças possíveis de se prevenir através da vacinação infantil ofertada pelo SUS e, ainda nesse sentido, são 10% as adolescentes sem alguma vacina. Foram 8,3% as adolescentes que apresentaram ter alguma doença crônica e, sendo assim, novamente toma-se a importância do atendimento transdisciplinar ao adolescente, pois em um Programa desse tipo (como é o PAMPA) o adolescente poderá trabalhar essa questão, de modo a aceitar melhor e viver com uma melhor qualidade de vida, além de passar por tudo que qualquer adolescente comumente passa. Ainda pôde-se averiguar 13,3% que teve algum quadro cardiorrespiratório, 18,3% passou por cirurgias, e 12% apresentou quadros alérgicos. Também abordou-se os antecedentes familiares, pois é a partir dele que se pode fazer proposições sobre a saúde física futura da adolescente, ou mesmo a situação que a adolescente pode estar vivendo frente a determinados tipos de doença (câncer, abuso de álcool, diabetes...), foram então na família apresentados: 55% hipertensão arterial; 36,7% diabetes; 18,3% alcoolismo; 6,7% patologia psiquiátrica; 48,3% mãe solteira (não necessariamente a mãe da adolescente, mas alguém na família); 20% drogadição; 28,3% neoplasia maligna (câncer); 3,3% doenças hereditárias; e 8,3% trombose. É possível então perceber como os quadros familiares devem ser observados, por exemplo: para aquelas pacientes que possuem algum histórico de trombose, antes que a pílula anticonceptiva possa ser ministrada é necessário que o médico faça uma avaliação mais específica, dificultando a prevenção da gravidez por esse método, em alguns casos. Ou mesmo devem ser observados, como discutido anteriormente, no sentido de visualizar o aparecimento de quadros de alcoolismo e drogadição que levarão à adolescente o contato com essas drogas e uma atenção deve ser dada a isso, como já o é no PAMPA, mas é necessária também uma ação conjunta dos diferentes níveis que compõem a sociedade. A fim de acrescer aos dados e às conclusões, de modo a propiciar uma análise mais específica sobre a qualidade de vida, utilizou-se o whoqol-bref e a análise dos seus Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 151 domínios, através da significância, mostrou que as gestantes apresentam melhor qualidade de vida no dom2 (psicológico), e as demais seriam equiparadas. Todavia, ao olhar-se os dados obtidos, fazendo uma comparação simples, é possível verificar que além do dom2, o dom1 (físico), o dom4 (meio ambiente) e o Overall são também maiores para as grávidas. Isso poderia advir do papel que a mulher grávida possui na sociedade, um “status”, que denota poder e cuidados. Além disso, faz parte desse processo a onipotência por ser capaz de gestar uma criança. No entanto, faz-se uma observação: esse dado se refere a adolescentes gestantes, ficando a possibilidade de um estudo posterior com mães adolescentes, para saber, como, após a perda do status de gestante, ficaria a qualidade de vida dessas adolescentes. 6. Considerações finais Com os resultados pôde-se avaliar a qualidade de vida e identificar fatores protetores e de risco que interferem no desenvolvimento das adolescentes do Programa de Assistência Médica e Psicossocial à Adolescente (PAMPA) da Faculdade de Medicina do ABC, traçando uma relação entre esses pontos. Sendo assim, pôde-se perceber que a qualidade de vida das adolescentes grávidas é melhor psicologicamente, sendo que nos demais domínios abordados pelo whoqol-bref (físico, relações sociais e meio ambiente) não há diferença estatística significativa, apesar de descritivamente poder sê-lo. Como fatores protetores ter-se-ia: o serviço para atendimento à adolescente bem como a escolaridade atual. E como de risco: ausência de projeto de vida; riscos da não continuidade dos estudos; uso de substâncias psicoativas lícitas e ilícitas com atenção ao uso de bebida alcoólica e o “status”/mito da gravidez e a situação sócio-econômica. Neste sentido, ressalta-se a importância da realização de mais atendimentos do gênero do PAMPA, pois são várias as questões que envolvem cada adolescente, muitas das quais descritas neste trabalho, indo muito além da simples conscientização sobre o ato sexual, mas abarcando também a adolescência, a vida de cada adolescente, considerando onde ela vive, as relações inter e intra pessoal que ela realiza, e diversos outros fatores sociais e culturais que estão envolvidos tanto na gravidez como na adolescência em si. E para essa realização, são necessárias intervenções da sociedade (cidadãos e governo) como um todo. Espera-se que esse trabalho possa auxiliar no pensar sobre as questões envolvendo: adolescência, qualidade de vida e gravidez, de modo a propiciar, ao menos em momento posterior, a proposição de intervenções efetivas que possam centrar-se na promoção da saúde dessas adolescentes. Propõe-se a realização de mais trabalhos que possam averiguar melhor diversas questões levantadas por este, questões essas apresentadas ao longo do texto, bem como outras várias que uma leitura desse trabalho pode originar. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 152 Referências ABERASTURY, A. et al. Adolescência. Porto Alegre: Artes Médicas, 1988. ALMEIDA, M.A.B; GUTIERREZ, G.L. Subsídios Teóricos do Conceito Cultura para Entender o Lazer e suas Políticas Públicas. Conexões, v.2, n.1, 2004. CAPUTO, V.G; BORDIN, I.A. Problemas de saúde mental entre jovens grávidas e não grávidas. Revista Saúde Pública, 2007; v. 41(4):573-81. CONCEIÇÃO, I.S.C. Gravidez na adolescência. In: Reunião semanal do PAMPA, 2009, Santo André, Faculdade de Medicina do ABC. CONCEIÇÃO, I.S.C. Gravidez na adolescência. In: Reunião semanal do PAMPA, 2010, Santo André, Faculdade de Medicina do ABC. DUARTE, C.M; NASCIMENTO, V.B; AKERMAN, M. In: Duarte et al. 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Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 154 Saúde do trabalhador: uma análise dos problemas enfrentados no transporte coletivo da cidade de Manaus/AM – com ênfase à Hérnia de Disco CLAUDIA DOS SANTOS LIMA MARLY MARINHO DE CASTRO MARTINS Resumo A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética do Centro Universitário Nilton Lins processo 011/07-GRAD/PRPG/CEP, com tema, Saúde do trabalhador: uma análise dos problemas enfrentados no transporte coletivo da cidade de Manaus-AM, dando ênfase á hérnia de disco, uma doença que acomete a maioria dos motoristas e cobradores. O estudo foi realizado em 2007 na ANAT/AM (Associação Nacional de Apoio aos Trabalhadores Portadores de Patologias do Estado do Amazonas), teve como objetivo geral desvelar as causas de afastamento do trabalho entre motoristas e cobradores. A coleta de dados foi feita por meio de um questionário contendo itens para avaliar o perfil socioeconômico, pedagógico e profissional dos participantes. A coleta de dados foi realizada na ANAT após autorização do gestor e anuência dos trabalhadores. O método adotado para realização da pesquisa foi a abordagem qualitativa. Os resultados mostraram que 54% dos trabalhadores estavam afastados do trabalho há mais de cinco anos, sendo que 59% com hérnia de disco, 35% trabalhavam dez horas por dia, 44% mais de dez horas, 82% trabalhavam nos dois turnos, 82 % disseram que sentem sono no volante. Os dados apontaram que as doenças relacionadas ao trabalho estão associadas ao tempo e duração que esse trabalho é realizado. A hérnia de disco apareceu como a principal patologia que leva ao afastamento do trabalho. Pecebe-se que o modo de conduzir suas empresas, e o controle da força de trabalho dos empresários do transporte coletivo de Manaus é uma forma desumana e inaceitavel em nossa sociedade. Notamos ainda que os empresarios não dispõem de funcionários suficientes para a execução do trabalho e submetem os trabalhadores a intensas jornadas de trabalho. Palavras-chave: saúde do trabalhador; ler/dort; cerest; transporte coletivo; hérnia de disco. Introdução As indagações constantes sobre os fatores que condicionam à saúde do trabalhador no atual sistema tem sido tema de diversos estudos, seminários, conferências, fóruns entre outros. Apesar dos vários estudos, alguns problemas ainda não foram solucionados. E Mestranda em Psicologia da Saúde pela Universidade Metodista de São Paulo. Professora do Curso de Assistência Social do Centro Universitário Nilton Lins. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 155 quando se trata da saúde dos trabalhadores do transporte coletivo de Manaus, principalmente aqueles que estão recebendo o auxilio doença pelo Instituto Nacional de Seguro Social – INSS, a situação não é muito diferente. Nas ultimas décadas, o número de motoristas e cobradores do transporte coletivo da cidade de Manaus afastados do trabalho, a maioria com diagnostico de hérnia de disco, intensificou-se no INSS, e até o momento nenhuma providência foi tomada por parte dos governos Federal, Estadual e Municipal. Assim, fez-se necessário a realização deste estudo por acreditar que possa ser de grande relevãncia social para estes trabalhadores e sociedade amazonese, por descrever o transporte coletivo como direito público do cidadão e cidadã, e também trazer a tona as péssimas condições de trabalho dos trabalhadores deste setor, bem como apontar as patologias que mais os afetam, entre as quais a hérnia de disco foco central deste estudo. Configurando dessa forma, como um estudo de importãncia acadêmica por expor para a sociedade universitária os problemas ocorridos nesse setor. Conforme dispõe o Sistema Único de Saúde, Lei 8.080 art. 5º § 3º, a saúde do trabalhador envolve um conjonto de atividades desenvolvidas por meio das açoes de vigilança epidemiológicas e vigilança sanitária, voltadas para a promoção, proteçao, recomperaçao e reabilitaçao da saúde dos trabalhadores que se encontram submetidos aos riscos ou agravos da saúde em decorrência das condiçoes de trabalho, por meio de assistencia ao trabalhador vitima de acidente de trabalho ou portador de doença profissional entre outros. Apesar da existencia da legislação, não existem políticas públicas estadual ou municipal especificas para a saúde dos trabalhadores dos transportes coletivos do Estado do Amazonas e do Município de Manaus. Deixando evidente o descaso com os cuidados de saúde para essa categoria. Por ter trabalhado no setor 11 anos e 11 mesess e conhecer de perto os problemas do transportes coletivos da Manaus, assim como suas fragilidades e as dificuldades que trabalhadores e usuarios enfrentam, me motivou a formular a seguinte hipotese, a carga horária extensa em decorrência das viradas excessivas e por ser uma atividade cujo trabalho exige longas horas sentados e imóveis estes trabalhadores estão sujeitos a adquirir hérnia de disco, pois o ritmo de trabalho além do permitido sengundo pesquisas é um dos fatores causadores das lombalgias, classificadas pelo Código Internacional de Doenças - CID – 10 (2005, p. 272), da seguinte forma, as dorsalgia (M54.3); Cervicalgia (M54. 2); Ciática (M54. 4). Posições sentadas e gestos repetitivos (Z57. 8); Ritmo de trabalho penoso (Z56. 3); Condições dificies de trabalho (756. 5). Smeltzer (2000, p. 1672), diz que geralmente uma herniação de disco cervical acontece nos espaços intervertebrais em C5-C6-C7, onde a dor e a rigidez podem acontecer no pescoço, no alto dos ombros e na região das escapulas, afirma que a dor pode erradiar para os membros superiores, como a cabeça, acompanhada por parestesia e dorméncia dos membros superiores. Em geral, o diagnostico é dado por meio da realização do exame de resonância magnética-RM da coluna cervical. É comun motoristas e cobradores se queixarem com frequência de dores na coluna provavelmente causadas pelas posições incorretas, ruas esburacadas, quebras molas, jornadas de trabalho extensas, cadeiras com amortecedores quebrados, falta de exercícios e postura estática. Smeltzer (2000, p. 1671) fala que com a degeneração, o disco se desloca, Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 156 ou seja, a cápsula faz pressão para trás, para dentro do canal medular ou pode romper-se e permitir que o núcleo pulposo seja empurrado para trás, indo contra o saco dural ou contra um nervo espinhal, emergindo a partir da coluna vertebral. Essa sequência produz dor devido á pressão na área de distribuição das terminações nervosas envolvidas (radiculopatia). A pressão continuada pode produzir alterações degenerativas no nervo afetado, causando as alterações na sensação e na ação reflexa. Assim, a relação entre as tarefas que o trabalho deve desempenhar e o maior conforto para a realização das mesmas está ligado a um aumento da produtividade, qualquer tipo de desconforto (emocional ou físico) no trabalho gera desconcentração, inquietação, mal-estar, insatisfação e pode culminar com afastamento por problemas de saúde (FREITAS, 2006, p. 32). Diante do exposto, o estudo teve como objetivos descrever as principais doenças que acomentem os motoristas e cobradores que se encontram afastastados do trabalho, e ainda analisar e descrever os problemas diagnosticados no transporte coletivo de Manaus. Entre os quais, constatou o não cumprimento dos sinais de paradas para embarque e desembarque dos passageiros, tratamento inconvenientes e falta de urbanidade para com os usuários, parar e arrancar bruscamente, para o veículo afastado da guia de calçada e do meio fio, dirigir além da velocidade permitida, mudanças de itinerários sem justificativas e retenção do troco. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário Nilton Lins, processo n° 011/07-GRAD/PRPG/CEP e contou com a participação de 22 (vinte e dois) trabalhadores do transporte coletivo de Manaus entre motoristas (as) e cobradores (as) que se encontravam afastados do trabalho devido alguma patologia e faziam parte dos associados da Associação Nacional de Apoio aos Trabalhadores Portadores de Patologia no Estado do Amazonas - ANAT/AM, sendo esse o critério de inclusão. A coleta de dados se deu após autorização do diretor da ANAT, autorização e assinatura do termo de Concetimento Livre Esclarecimento - TCLE, pelos participantes, que em seguida responderam um questionários contendo as seguintes variáveis; tempo de trabalho, tempo de afastamento, a doença que o levou ao afastastamento do trabalho, como se sentiu com a descoberta da doença, se sofria algum tipo de doenças antes de entre na empresa, como classifica o atendimento no INSS, como está sendo o tratamento na empresa, jornada de trabalho, sobre as viradas (trabalho nos dois turnos) motivo das viradas, tempo de serviço na mesma empresa, o tempo de afastamento, se sentia sono ao dirigir, além dos dados pessoais. Para analisar e descrever os problemas mais frequentes no transporte coletivo de Manaus utilizou-se os dados coletados de documentos cedidos pelo Instituto Municipal de Transportes Urbanos – IMTU. A Lei Orgânica do Município de Manaus - LOMAM, decretos Municipais e o Código de Defesa do Consumidor possibilitou esclarecer os direitos de usuários e trabalhadores, como também apontar o que é de competência do Município, no que se refere à viabilização dos direitos relacionados aos transportes urbanos coletivos de Manaus. Trata-se de um estudo experimental e utilizou o método de pesquisa qualitativa embasando-se em algumas teorias sobre o processo de trabalho como também sobre saúde do trabalhador, a escolha do método deveu-se por considerar ser o mais Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 157 adequado para o entendimento da dinâmica existente entre o mundo real e o sujeito. Costa (2001, p. 62) diz que uma pesquisa que utiliza a abordagem qualitativa adota uma preocupação com a realidade e os dados não podem ser quantificados. Ela trabalha com o subjetivo dos sujeitos (crenças, valores, atitudes, etc.). Esta abordagem também pode trabalhar com dados, porém o tratamento não deve envolver estatísticas avançadas. Para a autora, esse método facilita a compreensão do processo investigado como também a elaboração e meios de resolver à problemática, assim esse método visa medir e quantificar dados, as causas e efeitos dos fenômenos no individuo. A pesquisa que se utiliza da abordagem qualitativa, possuem a facilidade de poder descrever a complexidade de uma determinada hipótese ou problema, analisar a interação de curtas variáveis, compreender e classificar o processo de mudança, criação ou formação de opiniões de determinado grupo e permitir seu mais grau de profundidade, a interpretação das particularidades dos comportamentos, ou atitudes dos indivíduos (OLIVEIRA, 2001, p. 117). O estudo embasou-se na teoria maxista que é uma doutrina filosófica de Marx e Engels, fundamentada na dialética que se desenvolveu no embate sobre as relações entre capital e trabalho. Para Costa (2001) o marxismo relaciona o trabalho produtivo como o valor de uso da força de trabalho que é consumido pelo capital. É uma corrente filosófica que trata da luta de classe, o antagonismo existente entre as mesmas, da dinâmica e das transformações que há no mundo do trabalho. Gil (1999) por sua vez afirma que a dialética fornece as bases para uma interpretação dinâmica e totalizante da realidade, por estabelecer que os fatos sociais não possam ser entendidos quando considerados isoladamente, abstraídos de suas influências políticas, econômicas, culturais etc, por outro lado a dialética privilegia as mudanças qualitativas, opõe-se naturalmente a qualquer modo de pensar em que a ordem quantitativa se torne norma assim, as pesquisas fundamentadas no método dialético distinguem-se bastante das pesquisas desenvolvidas segundo a ótica positivista, que enfatiza os procedimentos quantitativos. Para Gil (1999) a dialetica é um método que trata as mudanças e interpreta a realidade do momento, para a dialética a realidade está sempre em movimento. Tudo é dinâmico ela preza a qualidade e a quantidade por serem características constantes e busca construir a fundo o que desejar saber, não busca somente o fato, mas sua comprovação. A pesquisa configura-se também com o método monográfico e documental, ou seja, tratase de uma pesquisa documental, aquela realizada em documentos oficiais, como atas, regulamentos, memorando, balancetes. CD-ROM, internet (quando o site for oficial).O método monográfico parte do princípio de que o estudo de um caso em profundidade pode ser considerado representativo de muitos outros ou mesmo de todos os casos semelhantes, esses casos podem ser indivíduos, instituições, grupos, comunidades etc. (COSTA, 2001). Por isso, é necessário que os elementos sejam os mais fidedignos possíveis, sem qualquer tipo de alterações ou interferência (FURASTÉ, 2006, p. 35). Desta forma, esse trabalho foi elaborado na seguinte ordem, no primeiro Capítulo, o leitor encontrará um breve contexto histórico da relação capital/trabalho e comporta uma abordagem teórica a respeito da exploração no sistema capitalista, utilizando o estudo de Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 158 autores que escreveram sobre o tema, entre os quais Karl Marx, Iamamoto, Costa, Birrenbacn, Netto, Faleiros, Drucker, Souza entre outros. O segundo Capítulo comporta as conquistas dos trabalhadores referentes à saúde, assistência social, direito trabalhista e uma breve análise histórica da trajetória da saúde pública no Brasil. No terceiro capitulo é feita apresentação, interpretação e discussão dos dados. 1. Saúde, trabalho e exploração. O Brasil antes de 1500 era indígena, uma sociedade considerada pelos europeus de atrasada, não civilizada. Costa (1997, p. 49), argumenta que as sociedades tradicionais, encontradas na África, na Ásia, na América e na Oceania não eram senão “fósseis vivos”, exemplares de estágios anteriores, “primitivos”, do passado da humanidade. A partir de 1500 o Brasil passa a ser colônia de Portugal, nesse período o povo brasileiro era oprimido pelos portugueses que exploravam nossas riquezas e o trabalho escravo de negros e índios. Sobre o assunto, Brigagão e Rodrigues (1997, p. 25) descreve que a mão de obra indigna no Brasil colônia tornava-se cada vez mais escassa, em virtude da brutal exploração imposta pelos colonizadores, somando-se a tudo isso doenças e vícios trazidos pelo europeu. É dentro desse contexto que o trabalhador brasileiro começa a ser explorado, massacrados e oprimidos pelos donos do capital. Hoje a situação não é diferente, pois os trabalhadores vivem em condição subumana nos chãos das fábricas ou em empresas, sendo obrigados a cumprir jornadas de trabalho extensas e horário estipulados para se alimentar, para fazer suas necessidades fisiológicas entre outras regras impostas nas grandes e pequenas empresas. A esse respeito Costa (1997, p. 49) aponta que a conquista e dominação foram camufladas e transformadas em “missão civilizadora para que países como Inglaterra, França, Holanda, Alemanha e Itália que dominavam varias regiões do mundo cujo modo de vida era totalmente diferente do capitalismo europeu, para impor a “civilização”, que era oferecida mesmo contra a vontade dos dominados, como forma de “elevar” essas nações do seu estado primitivo a um nível mais desenvolvido. Essa opressão vai de 1500 a 1822, quando começa o império de D. Pedro I com a monarquia e se estende até 1889, durante este período a população vivia em condições precárias, tanto de vida e saúde como de trabalho devido o regime escravista imposto, o povo não tinha a quem recorrer era obrigado a aceitar as condições de trabalho que lhes eram impostos para garantir sua sobrevivência, viviam sem direito a salários sendo explorados e massacrados fisicamente, psicologicamente, socialmente e culturalmente. Neste período os trabalhadores não tinham liberdade e nem autonomia sobre a própria vida, eram tratados como animais, como salienta Gonh (1995, p. 199) ao discorrer que as condições de sobrevivência no Brasil na fase imperial eram ruins para a maioria da população e as desigualdades sociais gritante, marcadas por uma sociedade em que havia o escravo e o luxo da corte, e a distância do poder em relação ao povo era enorme. Em decorrência das péssimas condições de sobrevivência ao qual a população se encontrava, o povo resolve ir às ruas reivindicar pelo fim da monarquia, pela libertação dos escravos e pelo fim da exploração que era imposta aos trabalhadores, está que já não era mais Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 159 tolerável. O governo não teve forças para lutar com o povo que nesse momento era numeroso, assim, começou as negociações. Vale ressaltar que as conquistas só foram possíveis depois da união e lutas dos trabalhadores e população em geral. Pode-se dizer que os movimentos foram determinantes para que hoje os trabalhadores usufruíssem dos direitos trabalhistas conquistados e também para mostrar que com união de todos em prol de uma causa, é possível vencer os desafios que se colocam nos nossos dias, como a exploração capitalista que ainda é uma realidade, salários mais justos, saúde pública de qualidade para todos, fim das desigualdades entre as classes ou até mesmo o fim das classes sociais para que todos possam viver em condições de igualdade e direitos. A história mostra que quando uma população se reúne e luta por seus direitos, é possível vencer. A república é uma conquista que foi concretizada depois de muita luta com a participação dos trabalhadores sociedade em geral que somente assim poderá alcançar êxito. Gonh (1995, p. 54) explica que a proclamação da república se deu por meio de um movimento predominantemente militar, instaurado em particular entre a oficialidade média. Portanto, não foi resultado de um movimento exclusivamente militar, por duas razões, primeiro porque não haver um partido político coordenador das ações, segundo porque as energias políticas estavam canalizadas para um movimento social, e este movimento somava esforços das bandeiras de lutas da abolição com a mudança do regime político. Este leque de frente de lutas associava os militares aos lideres civis da época, intelectuais imbuídos de ideias positivistas etc. e as classes populares urbanas, constituídas pelos trabalhadores urbanos, dos transportes, do comércio apoiaram o movimento, participaram inclusive da marcha da vitória, em 15 de Novembro de 1889, dia da Proclamação da República. Em 1889 com a proclamação da república, o então presidente Marechal Deodoro da Fonseca impõem um governo nada melhor que o império, porque seu governo é autoritário e a população não tem voz nem vez nesse cenário, o que impulsionou o surgimento de novos movimentos populares contra o governo que por sua vez não resolve os problemas da sociedade, estes que se alastram cada vez mais, tudo porque os investimentos eram direcionados em grande parte para os assuntos ligados ao capital financeiro, principalmente para manutenção da classe burguesa, o que de acordo com Iamamoto (2006, p. 106) foi um período que ficou marcado pela forma de dominação da burguesia sob os proletariados, onde quem ditava as ordens eram os coronéis e os grandes fazendeiros. Bierrenbacn (2005, p. 48) por sua vez reforça que essa dominação fez ascender novos focos de movimentos sociais na luta pelo fim do estado autoritário, cujas características são a de não apresentar uma ideologia explicitamente definida, sendo que nesse regime a concepção de política social, oscila de acordo com o momento histórico, sem continuidade ou uma linha de coerência. Nesse regime fecham-se os canais de participação popular, e no campo econômico as medidas restritivas reduziram substancialmente o salário do trabalhador, o surto clamor popular logo se fazia ouvir, a insatisfação latente se manifestaria, se não se criassem mecanismo que pudessem contê-lo ou minimiza-los. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 160 A década de 30 ficou marcada pelas lutas por direitos, como melhores salários, fim da exploração do trabalho feminino e infantil e redução da jornada de trabalho, porque a população não aceitava mais tanta opressão que se fortalecia cada vez mais com a forma de governo emergente no Brasil, exemplo disso foi a manifestação que reuniu várias categorias de militares para reivindicar direitos. Segundo afirma Gohn (1995, p. 74) foi graças às manifestações, que criaram o comitê de defesa proletária, resultado da reunião clandestina realizada com a participação de várias categorias e militares. O comitê reuniu em um único memorial as reivindicações de todas as categorias profissionais envolvidas, destacando-se redução da jornada para 8 horas de trabalho, aumento dos salários, redução dos alugueis, regulamentação do trabalho de mulheres e crianças e melhorias nos locais de trabalho. A luta em prol dos direitos focou marcada pela violência e repressão, imposta pelo governo que resistia e repreendia os manifestantes por meio de forças policiais, muitos foram exilados por desacatar o governo. Nesse período vivia-se sob o regime militar que ficou marcado pelos movimentos populares que lutavam e reivindicavam melhores condições de vida, trabalho e melhorias no setor de saúde para a população. Gonh (1995, p. 103) destaca que o período de 1964 a 1974 corresponde uma fase de grande repressão na sociedade brasileira, imposta pelo regime militar. Mas a despeito do grande controle social e político, das prisões, torturas e perseguições, ocorreram várias lutas de resistência e movimentos de protestos no País. Conforme observamos, a prática da violência era uma arma do regime militar utilizada para punir e coibir o povo que lutava por seus direitos e principalmente pelo fim da exploração e precarização do trabalho que na época era mais de dez horas chegando até a as quatorze horas diárias, como também a exploração do trabalho infantil. Foi graças aos movimentos sociais que as questões sociais foram consideradas legitimas. Uma vez que o governo percebe que as lutas em prol dos direitos não cessavam, é que posteriormente os problemas sociais foram introduzidos na agenda governamental e a partir de então começou a se formular políticas públicas para assistir os cidadãos vulneráveis dando inicio ao Estado de Bem-Estar-Social que veio garantir os direitos sociais. De acordo com Mateus (1995, p. 34) o Estado é ao mesmo tempo resultado instrumento e beneficiário da desarticulação entre a dinâmica dos conflitos de classe e a dinâmica da mudança social. Ou seja, criaram-se as políticas públicas não somente para assistir o cidadão e cidadã, mas visando utilizá-las como instrumento de regulação do governo sob a sociedade. Dentro desse contexto, mais precisamente em 1937 com a Constituição da República Federativa do Brasil, são assegurados os direitos sociais nos art. 6º a 11º, e finalmente, em 1943 com o decreto lei nº. 5.452, de 1º de Maio, com 922 artigos, sancionada pelo Presidente Getúlio Vargas, que usando das atribuições cabíveis, asseguradas no artigo 180 da Constituição Federal e para dá respostas aos movimentos dos trabalhadores que se organizavam em busca de melhores condições de trabalho, é que em 10 de Novembro do mesmo ano entra em vigor a Consolidação das Leis Trabalhistas – CLT. Vale ressalta, que a CLT foi pensada a fim de garantir os direitos dos trabalhadores entre os quais a saúde que a partir de então passa a ser considerado um direito universal de todo ser humano. Gohn (1995, p. 82) afirma que foi a partir dos movimentos sociais, que as classes Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 161 populares começam a emergir como atores históricos, sendo vistas sob novos prismas e paulatinamente vai deixando de serem apenas casos de polícia e se transformando em cidadãos com alguns direitos, como os trabalhistas. Mateus (1985, p. 33-34) fala que o Estado que emerge no Brasil a partir da Revolução de 30 e se consolida no curso do processo de industrialização, é um Estado que não se limita a garantir a ordem capitalista para manter as condições sociais externas necessárias á produção capitalista, passando a atuar internamente ao sistema de produção para organizar a acumulação, tornando-se ao mesmo tempo promotor e ator da industrialização. Mateus (1985, p. 33-34) diz ainda que a ação do Estado se anuncia de forma mais ou menos incipiente nos anos 30 a 40 como as iniciativas no campo da siderurgia e do petróleo sob o primeiro Governo Vargas, por exemplo, torna-se cada vez mais importante e evidente a partir da década de 50 o papel desempenhado pelo Estado na efetiva constituição, o que fica claro na medida em que gera seu próprio mercado dentro de um sistema industrial no País. Portanto, o Estado que age dessa forma, logo é um Estado que cria e reproduz a burocracia, esta que é dotada de interesses próprios, que se realiza por meio da ampliação do intervencionismo estatal e ainda segundo reforça o autor o Estado que surge no Brasil em 30, e que prevalecerá até 1964, ser também um Estado “populista”, ou seja, um Estado que se “interpõe” nos conflitos de classes, tutelando as organizações tanto patronais quanto operarias, para melhor realizar a medição populista clássica de compatibilizar acumulação capitalista e tensões sociais. Em 1937 Getúlio Vargas sai do poder e as próximas décadas que vai de 1945 a 1985 vive-se o período da ditadura, adentrando um novo momento que é a democracia, esta que já anunciava um novo sistema de governo, conhecido como neoliberalismo, que no Brasil tem inicio com o governo de Fernando Collor de Melo cujas políticas públicas são marcadas pela fragilização e a forma excludente, focalista e residuais na sua implementação, o que levou a decadência do Estado de bem-estar-social. Para Costa (1997, p. 85) o liberalismo vê os homens como átomos, como se fossem livres das evidentes desigualdades estabelecidas pela sociedade e a política neoliberal vai fazer o mínimo e atender apenas os pobres dos pobres porque na sociedade de classe, esse Estado representa apenas a classe dominante e age conforme o interesse desta. Netto (2002, p. 26) aponta que no capitalismo concorrencial a intervenção estatal sobre as sequelas da exploração da força de trabalho respondia básica e coercitivamente as lutas das massas exploradoras ou a necessidade de preservar o conjunto de relações pertinentes á propriedade privada burguesa como um todo. Na década de 70 com a elevação do barril do petróleo, o Estado começa se distanciar das políticas sociais e se volta para as fronteiras e vai aplicar recursos na economia o que leva ao declínio do Estado de bem-estar-social. Conforme argumenta Cano (1995, p. 5) ao afirma que esta é uma nova ideologia (neoliberal) para dar sustentabilidade econômica e política para a conversão dessas massas de ativos financeiros. Observa-se que na medida em que o Estado começa inverter seu papel passando a beneficiar o capital, a classe trabalhadora fica de lado e isso é o ponto de partida para o aumento da exploração dos trabalhadores que ficam a mercê sob o domínio do capital que vai extrair do trabalhador o Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 162 máximo possível de produção e de tempo de trabalho, para aumentar a mais-valia levando o desgaste destes trabalhadores. Conforme afirma Iamamoto (2005, p. 47) ao falar que é mediante a sucção do trabalho que o capital não só se reproduz como capital, mas se reproduz também a mais-valia1 que criada se converte em consumo da classe capitalista e em capital adicional em nova produção, em novo meio de exploração do trabalho assalariado. Com o desmonte do Estado de bem-estar-social, entra em cena a globalização econômica que se dá com a abertura das fronteiras e a concorrência pelo mercado internacional. A classe trabalhadora fica abalada com a mudança, está que ameaça os seus direitos conquistados com tanto esforços e até mesmo com a vida de muitos trabalhadores. A esse respeito Costa (1997, p. 86) reforça a ideia de que o capitalismo desejava acima de tudo, preservar seu direito á propriedade dos meios de produção e dos produtos, bem como maximizar a exploração do trabalho do operário, seja por mio de redução dos salários, ou ampliando a jornada de trabalho. O trabalhador por sua vez, procura diminuir a exploração e lutar pela redução da jornada de trabalho, por melhores salários e participação nos lucros. É com essa perspectiva, que o neoliberalismo começa uma nova ordem social. Deixando claro que esse modelo reforça a exploração dos trabalhadores, sendo desta forma, um sistema que é mais para o capital e mínimo para o social, e deixa de lado as questões sociais e vai trabalhar o individuo e não o coletivo aumentando assim, as desigualdades sociais, aumentando a violência, promovendo a miséria e a deficiência no modo de vida da classe trabalhadora. Souza (1985, p. 78) reforça essa ideia ao afirma que no Brasil e em muitos Países da América Latina, desde 1964 esta visão estadista da realidade, que já era dominante em nossa cultura, passou a uma etapa superior. A chamada revolução de 1964 se faz estado, separouse da sociedade civil, e começou a aprofundar os abismos entre o estado e o povo, entre o estado e a realidade comum e é corrente de todos nós. A codificação desta doutrina estadista, totalitária, se apresenta como lei de segurança nacional, frente a qual nada é e na quais todos deveriam estar integrados sem opção alternativa possível. Fica evidente que o cenário atual das relações de produção é fruto da dinâmica ocorrida na história da humanidade, onde se vivencia uma constante e extensiva exploração do proletário pelo sistema capitalista, sendo este o principal responsável pelas sequelas que a população vem sofrendo, o Estado que deveria prover essas necessidades, é o grande provedor das desigualdades sociais, no momento em que contribui para o crescimento do sistema capitalista promove ao mesmo tempo as desigualdades entre as classes, para Abranches (1998, p. 25) é na dinâmica do desenvolvimento quando a renda cresce e as desigualdades aumentam ou permanecem em níveis muitos altos, pode agravar-se privação material dos mais pobres. A esse respeito Netto (2005, p. 19), destaca que o capitalismo monopolista recoloca em patamar mais alto o sistema totalizante de contradições que confere á ordem burguesa os seus traços basilares de exploração, e transitoriedade histórica. 1 Á medida que o capital só nutre de mais-valia, isto é, de trabalho excedente não pago apropriado do trabalhador desprovido dos meios de produção e de vida... IAMAMOTO, 2005. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 163 Deste modo, as mudanças nos meios de produção concretizada com a informatização da indústria e com a substituição de máquinas convencionais por novas tecnologias microeletrônica, cujo objetivo principal era atender as exigências do mercado mundial que agora surge mais competitivo. Drucker (1997, p. 5) salienta que as inovações da revolução industrial foram imediatamente aplicadas em todas as partes e em todas as profissões e industriais desencadeando desta forma a precarização nos postos de trabalho e a polivalência causando com isso o desemprego e a exploração dos trabalhadores. Costa (1997, p. 161) por sua vez reforça esse pensamento ao afirmar que as novas tecnologias industriais como a robótica, prejudica a classe trabalhadora por dispensar mão de obra não qualificada, está mais acentuada nos países “não desenvolvidos” ou “em desenvolvimento”. O que para o autor eleva nesses locais o aumento do desemprego e a redução da renda per capita e familiar, causando assim, o alargamento da situação social desses países. Fica evidente que estas tecnologias favoreceram apenas o avanço do capital, já que o trabalhador não estava qualificado frente às novas exigências, o que fez aumentar cada vez mais o exército industrial de reserva, ou os ditos sobrantes. Esse crescimento desordenado abriu espaços para exploração e precarização da vida econômica, social e da saúde do trabalhador, principalmente daquele contingente que migrou do campo para as grandes cidades em busca de melhores condições de vida e de sobrevivência, Iamamoto (2006, p. 250) diz que isso vem provocando a redução da oferta de trabalho na atual conjuntura, vista como recessiva e produtora do enorme contingente da população sobrante. Essa população que hoje trabalha na informalidade, como por exemplo, os vendedores ambulantes que trabalham nas ruas e semáforos, entre estes se destaca a exploração do trabalho de crianças e adolescentes que limpam para-brisas dos carros, vendem bombons, se expondo ao perigo e sofrendo todo tipo de humilhação, muitas estão fora da sala de aula para trabalhar e ajudar no orçamento familiar. A Política Nacional de Assistência Social PNAS de 2004 aponta essa população como sendo o público alvo da política de assistência social, por serem considerados os cidadãos e grupos que se encontra em situações de vulnerabilidade e riscos sociais, em decorrência da deficiência de política social, e da exclusão gerada pela pobreza e pela inserção precária ou não inserção no mercado de trabalho formal e informal. Desse modo, o sistema capitalista deteriora a vida do trabalhador seja daqueles que se encontram na formalidade ou aqueles que se encontram na informalidade e principalmente dos que já estão inválidos em consequências das condições de trabalho no qual foram submetidos e hoje são o público usuários da Previdência Social por não conseguirem mais adentrar no mercado de trabalho, porque para o capitalismo o que interessa é a força de trabalho ativa. Para Corrigam (1978, p. 70) o efeito do modo de produção sobre a segurança das pessoas não se produz simplesmente sobre a primeira geração que mudou do campo para a cidade, mas está presente a cada dia, na vida de cada membro do proletariado. Vários pensadores do século XIX criticaram o atual sistema por ser este um sistema onde poucos se beneficiam da exploração de muitos. Percebe-se que esses pensadores tinham em comum o desejo de ver surgir uma sociedade mais justa sem que o homem vivesse Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 164 oprimido. Costa (1997, p. 191) esclarece que a classe trabalhadora vive uma mesma situação de classe, sofrendo progressivo empobrecimento em razão das formas cada vez mais eficientes de exploração do trabalhador. Já Drucker (1997, p. 12) destaca que o ponto central foi à mudança da produção, quase da noite para o dia, do artesanato para a tecnologia. Como resultado dessa transformação o capitalismo também assumiu rapidamente um papel central na economia e na sociedade, a velocidade inédita com a que a sociedade se transformou criou-se também as tensões e conflitos sociais da nova ordem. É evidente que toda miséria da qual a classe trabalhadora está exposta, é gerada no seio do sistema capitalista em consequência do uso da mais valia nos meios de produção e do aumento da jornada de trabalho, e dos baixos salários pagos aos trabalhadores, este que de acordo com Costa (1997, p. 87) deveria garantir a reprodução das condições de subsistência do trabalhador e sua família, e não submetê-los a pobreza extrema. Karl Marx (2004, p. 570) destaca que o instrumento de trabalho converte-se em meio de julgar, explorar e lançar á miséria ao trabalhador, para o autor, essa combinação social dos processos de trabalho tornam-se a opressão organizada contra a vitalidade, a liberdade e a independência do trabalhador individual. Diz ainda que esse instrumental serve tão somente para ascender o capitalismo e elevar cada vez mais a precarização da vida dos trabalhadores, uma vez que toda riqueza produzida pelo próprio trabalhador, não é dividida de forma igualitária, com isso, não chega a quem realmente precisa. E ainda de acordo com Karl Marx (2004, p. 47) aquele não se adaptar a sua maneira de vida e as condições de sucesso capitalista é sobrepujado, ou pelo menos não pode ascender. Percebe-se que as mudanças estão voltadas apenas para a reprodução do capital com isso a pobreza está cada vez mais acentuada. Como explica Cotrim (1987, p. 50) ao demonstrar que aproximadamente 80% da renda mundial estão concentradas nas mãos de 15% da população do globo que habita os Países ricos. Por outro lado, todo o resto da humanidade vive na miséria, com cerca de 20% da renda mundial. Estudos realizados pela Organização das Nações Unidas - ONU demonstrou que as diferenças entre países pobres e ricos, o desnível entre a opulência e a miséria, têm crescido nas últimas décadas e tendem a continuar crescendo, já que persiste o atual sistema de exploração econômica internacional. No Brasil, milhões e milhões de brasileiros, principalmente as crianças, jovens e os idosos vivem marginalizadas, isto é, não participam dos benefícios econômicos, 60% da população economicamente ativa ganha no máximo, até 2 salários mínimos. Somente 4,5% ganham de 10 salários. Observa-se que grande parte da renda per capita do país está concentrada nas mãos de poucos e a menor parte nas mãos de muitos, o resultado de toda esta desigualdade na distribuição da renda é o crescente número populacional vivendo em condições subumana perdendo o direito de alimentar-se e habitar dignamente a esse respeito, Karl Marx (2004, p. 237) descreve que o trabalhador emprega mais da metade de sue dia de trabalho para criar mais-valia, distribuída por diversas pessoas sobre diferentes pretextos, para o autor, o trabalhador durante uma parte do processo de trabalho só produz o valor de sua força de trabalho, isto é, o valor dos meios de subsistência que lhe são necessários. Produzindo deste modo num sistema que se fundamenta na divisão social do trabalho, não produz diretamente seus meios de subsistência, mas um valor sob a forma de uma mercadoria particular. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 165 Assim, as condições da qual a classe trabalhadora está submetida levam-na a sentir os seus efeitos sobre sua vida social, econômica, sua saúde. E o salário que deveria servir para o trabalhador suprir suas necessidades básicas, contribui para a submissão, e os esforços repetitivos gerados com as mudanças nos postos de trabalho. Freire (2003, p. 71) explica que o termo adaptação ao trabalho, articulado as doenças, permite captar a linha tradicional de reforço à submissão do trabalhador. Assim como seus efeitos destrutivos na sua saúde física e mental, para Brigagão (1997) esse problema se agravou com o processo de globalização. Freitas (2006) argumenta que o pior de tudo isso, é que o trabalhador é visto como culpado pelo seu estado. Dados da pesquisa2 realizada pelo Neurocirurgião Dr. Aparecido Gomes dos Santos em Manaus no ano de 2005 com 51 motoristas do transporte coletivo de Manaus cujo objetivo foi de orientar a sociedade a fim de proteger os motoristas profissionais de diversas doenças decorrentes de vários anos de trabalho, principalmente quando há excesso de horas trabalhadas. O Neurologista afirma que dentre as doenças que mais afetam essa categoria, estão às síndromes depressivas, síndromes de pânico, crise de ausências, crises convulsivas, fibromioalgias, osteoartroses, discopatias entre outras. Os dados de sua pesquisa apontaram que a maioria dos motoristas e cobradores tinha um longo período de trabalho, sendo que, dos 25% dos entrevistados tinham entre 3 e 10 anos de trabalho, 38% tinham entre 11 e 20 anos de trabalho, 31% tinham entre 21 e 31 anos de trabalho e 6% tinham entre 31 e 40 anos de trabalho, destes, 16% trabalhavam de 8 a 10 horas diária e 84% tinham uma jornada de 11 a 16 horas por dia. Dr. Aparecido diz que o tempo de trabalho na mesma função realizando um trabalho sentado e estressante contribuiu para o surgimento da hérnia de disco, sua pesquisa comprovou que motoristas que exercem uma jornada de trabalho intensa diariamente está sujeito a adquirir a hérnia de disco e outras doenças como a LER. Nessa pesquisa, a hérnia de disco apareceu com 11%%, a osreoastrose com 23%%, a discopatias com 27%, a síndrome de pânico 9%%, a hipertensão 1%%, a esquizofrenia 3%, a síndrome ansiosa 11%%, a crise de ausência 9%, a síndrome depressiva 6%, a síndrome convulsiva 6%, o distúrbio do sono1%%, e as fibromialgias com 8%. O Neurocirurgião afirma que na maioria dos entrevistados foi diagnosticada com mais de uma doença. Sendo que as doenças que foram detectadas nestes motoristas são decorrentes de vários anos de trabalho e principalmente pelo excesso de horas trabalhadas, diz ainda que estas doenças estão relacionadas com o trabalho e são desencadeadas umas das outras e podem ser reconhecidas pelos códigos de acordo com a Classificação Internacional de Doença - ID 10, M51, M19. 9, E10, E66, I71, M60, F20, F40, M19. 8, I10, F43, M50. 1, G40, F32. 1, F32. 2, G47 (SANTOS, 2005). Conforme rege a Lei 8.080 de 1990 Art. 3º do Sistema Único de Saúde – SUS, a saúde tem como fator determinante e condicionante, entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais; os níveis de saúde da população expressam a Os dados foram coletados com pacientes (motorista e cobradores) em seu consultório, porém, não haviam sido divulgados. 2 Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 166 organização social e econômica do País. Para Freire (2003, p. 63), essas mudanças no mercado de trabalho fizeram que o trabalhador se adaptasse a elas e isso acarretou e acarreta sérias consequências na vida dos mesmos fazendo que muitos sintam o seu efeito sobre o corpo e a mente, afirma ainda que a revolta biopsíquica do próprio corpo é autodestrutiva para a saúde. Mostrando assim, a ausência de assistência à saúde do trabalhador e a não fiscalização periodicamente nos postos de trabalho e o não atendimento as reivindicações dos trabalhadores, essas que não são ouvidas pelo Estado, este que se volta para o capital não investindo no trabalhador que é o produtor e mantenedor da existência do capitalismo. A esse respeito Yezbek (2003, p. 39) afirma que certamente existe a intervenção estatal que financia a reprodução do capital, mas que não financia a reprodução da força de trabalho. Pereira (2001, p. 151) diz que essa é a lógica do circulo vicioso da exploração e da opressão, já que pretende convencer os trabalhadores de que sem mercado estáveis não há emprego e de que só há mercado estáveis com trabalhadores permanente instáveis, com o que a instabilidade de quem trabalha é assim arvorada em conditio sine quan non3, adotam essa ideologia como sendo para sobrevivência dos próprios trabalhadores. No entanto, a classe trabalhadora não dispõe de condições dignas tanto sociais como econômica e vivendo sob a constante exploração, e o descaso por parte do governo principalmente no que se refere à saúde que há várias décadas vem sendo tema de discussão no Brasil, um país que ao mesmo instante em que é desenvolvido e industrializado, e ao mesmo tempo tendo como principal característica a existência de um capitalismo recente determinado pela concentração de renda nas mãos de poucos, tornando – se um destruidor e multiplicador das brutais, ilesas e intensas desigualdades sociais da atualidade. Iamamoto (2006, p. 78) reforça essa ideia ao argumentar que a tendência do capital é a de unir a máxima extensão da jornada de trabalho de inúmeros trabalhadores. Para Pereira (2001, p. 150-151) a fundamentação ideológica deste estado de coisas é dada pela lógica da exclusão, com os ricos a viverem cada vez mais ricos em autêntica e cada vez mais protegidas fortalezas, como os condomínios fechados aterrados com a possibilidade de serem atacados pelo exército dos famintos e excluídos, estes que já representam pelo menos 1/3 do povo dos países mais ricos, e mais da metade nos países mais pobres. E que por sua vez estão sendo cada vez mais atirados para os hetos urbanos e suburbanos, onde a miséria e a marginalidade social se combinam crescentemente, mas onde são também permanentemente acossados pela publicidade de estilos de vida e objetos de consumo que não estão de todo em todo, ao seu alcance. Os empresários por sua vez aumentam a jornada de trabalho para atender a demanda, essa é uma tática bastante comum na lógica capitalista para aumentar a produção e elevar seu potencial ao tempo em que contribui para as precárias condições de vida e de saúde do trabalhador, aumentando consequentemente o número de fragilizados e doentes que chegarão as portas do SUS a procura por atendimento, e do Instituto Nacional de Seguro Social - INSS, requerendo o auxílio doença, sejam aquelas relacionadas ao trabalho ou por 3 Termo que no Latim significa condição indispensável. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 167 acidentes de trabalho. Esse fenômeno vem crescendo de forma desordenada no Brasil. Para Iamamoto (2006, p. 105), essa desigualdade de temporalidade histórica é assinalada e tem na feição antidemocrática assumida pela revolução burguesa no Brasil tendo como um de seus pilares. As soluções políticas para as grandes decisões que presidiram as condições da vida nacional já que tem sido orientada por deliberações que foram formuladas de cima para baixo e pela reiterada exclusão das classes subalternas, historicamente destituídas da cidadania social e política. Em decorrência do descaso, a classe trabalhadora vem sendo explorada e marginalizada, os governantes por sua vez, elaboram suas políticas voltadas mais para o acumulo do capital que para promover o bem-estar do trabalhador. Pode-se observar que hoje o povo vem conquistando alguns espaços nas resoluções políticas, seja por meio da participação em conselhos ou as conferências, mas ainda há muito a conquistar como descreve Pereira (2003, p. 31), ao afirma que a alternativa histórica do tratamento das desigualdades sociais pelas políticas públicas de corte social no Brasil não se isola da forma histórica pelas quais o capital segue tratando a força de trabalho a nível internacional. Por outro lado, a globalização econômica e tecnológica, não amenizou o problema da exploração do trabalhador, pelo contrário, fez que se acentuasse cada vez ainda mais, já que se observa o contingente de trabalhadores explorados e excluídos da sociedade pela ausência de uma renda que seja suficiente para usufruir dos direitos de cidadania, o capitalismo por sua vez se apodera destas tecnologias para extrais a mais-valia com o aumento da produção em menor espaço de tempo possível e aumentar sua produtividade e elevando assim seu lucro. Para Laurell (1997, p. 153) o avanço da produção e organização social capitalista sempre vem acompanhado de questões sociais complexas e intensas. Sobre o assunto, Iamamoto (2005, p. 11) fala que a globalização excludente e desigual estabelece maior exposição das atividades econômicas nacionais à competição externa, ao mesmo tempo em que estimula a incorporação de novos paradigmas tecnológicos e de gestão, poupadores de mão-de-obra, objetivando a elevação dos padrões de produtividade e rentabilidade do capital. O Estado para amenizar as necessidades da classe trabalhadora propõe ações que são mais para conter as contradições, que resolver os problemas visíveis na camada diferenciada, levando a classe trabalhadora a sentir o efeito do processo da globalização econômica e a expansão do sistema capitalista, esse processo que favorece cada vez mais a desigualdade e a exclusão social a nível mundial. Netto (2005, p. 55) chama atenção para as amargas derrotas sofridas pela classe operária a que se segue pelo menos uma década de refluxo do seu movimento, o autor diz que o Estado atua visando o acumulo do capital, com políticas de caráter contraditório, que ao invés de amenizar o problema da questão social eleva ainda mais o número de fragilizados e excluídos, a situação é mais agravante na classe proletária devido o alto índice de desempregos e a baixa renda e muitas famílias vivendo em situações de vulnerabilidade. Para Marx (2001, p. 19) o capitalismo na época de sua expansão, teve a oportunidade de alterar a distribuição social da população de acordo com as suas necessidades, e de lhe determinar sua estrutura ocupacional, o autor diz que como isso não aconteceu, o resultado é o elevado índice de pobreza no país. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 168 As consequências do sistema capitalista para a sociedade são devastadoras porque aprofundou as desigualdades sociais, com a acumulação e concentração da riqueza nas mãos de poucos. Mello (2002, p. 38) por sua vez argumenta que em toda a história do mundo capitalista, nenhuma riqueza se cria sem a pobreza e o sofrimento de muitos, o que consiste na velha e flexível lei da exploração do homem pelo homem. Mello reforça a ideia de que essa é uma exploração fundamentada na mais-valia, ou seja, quando o capital retira do trabalhador o trabalho excedente não pago e toma para si devolvendo apenas uma parte para o trabalhador em forma de salário. O Estado deveria utilizar os recursos arrecadados com os impostos e aplicar em programas voltados para a melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores, no entanto, aplica o mínimo em políticas sociais, estas que servem somente para amenizar os danos causados pelo o atual sistema, estas políticas não suprem as necessidades da classe trabalhadora, apesar de serem financiadas com os recursos e o esforço do próprio trabalhador. Sposati (2000, p. 33) afirmar que a transformação da mais-valia em políticas sociais em que o próprio trabalhador paga com seu trabalho, nem metade do que é extraído da classe trabalhadora, em forma de mais-valia, é revestido em políticas sociais, no entanto, grande parte do que é arrecadado é empregado em capital aumentando desta forma os meios de produção e consequentemente o número de trabalhadores explorados e mais excedente para o capital. Para Pereira (2001, p. 152) essa é a lógica da supremacia absoluta do grande capital financeiro internacional em que mediante o uso das novas tecnologias, as quais se apropriaram em proveito próprio, funcionando num espaço amplamente globalizado e num tempo virtualmente instantâneo, acumulando lucros especulativos e fabulosos. Estima-se que a cada 100 dólares que circulam diariamente em todo o mundo, apenas 2 dizem respeito á chamada “economia real”, ou seja, á atividade produtiva. No entanto, a tecnologia que deveria proporcionar ao trabalhador mais tempo livre, por ser mais eficaz na produção, ao contrário se apodera ainda mais do tempo do trabalhador, que já não dispõe de tempo de lazer com sua família, não dispõe de tempo para cuidar da saúde, com isso, é obrigado a suportar a dor advinda com os movimentos repetitiva durantes varias horas de trabalho e por um longo período de tempo, provavelmente pelo receio de levar atestado médico e perder o emprego, até que chega o dia em que a dor fica insuportável, é quando o trabalhador vai procurar cuidados médicos, o que muitas das vezes já é tarde porque a doença está avançada e a maioria vai ficar afastada, recebendo o auxilio doença. Devido às fragilidades em que o capitalismo gerou aos trabalhadores, levando-os a um estado de decadência, houve a necessidade de rever as políticas de saúde no Brasil, assunto que veremos a seguir com a trajetória da saúde pública no país. 1.1 Trajetória da saúde pública no Brasil Nas décadas de 20 e 30, o Brasil estava saindo do regime colonial, nesta época não havia responsabilidade do Estado com a população, principalmente em relação à saúde, o povo era o responsável pelos cuidados de saúde de seus familiares, pode se dizer que era no Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 169 “cada um por si”. O Brasil neste momento era um grande exportador de café, vivia - se o fim do regime colonial e adentrando a república, o que conforme destaca Gonh (1995, p. 199-200) a cidadania construída com o advento da república, observa-se, que além da ausência da participação, houve a introdução de um padrão de relações entre a sociedade e o Estado que como se sabe, passou a fazer parte da estrutura profunda do novo sistema político. Antigamente quando a saúde ainda não era de competência do governo, a população que precisava de cuidados relacionados à saúde, buscava por socorros nos famosos curandeiros e principalmente as parteiras que faziam os partos e cuidavam das mulheres após o nascimento do bebê, tinha também as benzedeiras que benziam as crianças com as chamadas doenças do vento, que se acreditava que eram adquiridas através do vento, nessa época muitas crianças morreram por falta de cuidados e de saúde pública. Luiz (2001, p. 19) argumenta que durante todo o período colonial, e mais precisamente até meados do século XIX, no Brasil, os problemas de saúde e higiene ficavam sob-responsabilidade, das localidades, nesse período, a população era quem tomava as medidas contra a imundice das ruas e quintais. Em relação à assistência a população pobre e os cuidados com os indigentes ficavam aos cuidados da iniciativa filantrópicos, de figuras de importância econômica e social e de instituições beneficentes ligadas á igreja católica, como por exemplo, as santas casas de misericórdia. Costa (1985) (apud LUIZ, 2001) destaca que a parcela restante da população buscava socorro dos médicos existentes, ou então de cirurgiões, barbeiros, sangradores, empíricos, curandeiros, parteiras e curiosas. Como a população não estava preparada para lidar com o lixo, isso fez surgir grandes focos de doenças, porque o lixo era jogado nos quintais e atraia as moléstias ou as doenças pestilentes como a varíola, a febre amarela, a malária e a tuberculose. Esse acontecimento marcou a fragilidade da saúde pública no Brasil desta época. Depois dessas décadas, o Brasil passa pela transição da monarquia para a república, vive-se o auge da exportação do café, foi dentro deste contexto que nasceu à saúde pública no Brasil. Marcada pelas mudanças em relação á saúde iniciada com a Lei Eloy Chaves que veio para provar que as doenças não eram pegas no vento como se acreditavam, e sim pelas bactérias que surgiam por falta da higiene e das precárias condições de vida das pessoas. Nesse período, começaram as campanhas sanitárias cujos objetivos era de combater as doenças epidêmicas o que segundo Bravo (2004, p. 26) esse modelo de saúde pública foi predominante até meados dos anos 60 e teve como característica principal a ênfase nas campanhas sanitárias e na interiorização das ações para as áreas de endemias rurais e a criação dos serviços de combate às endemias. Vale lembra que a saúde neste contexto tem duas características fundamentadas e descritas por Osvaldo Cruz, ex-aluno e pesquisador do Instituto Pasteur, primeiro, combate as endemias, segundo a medicina previdenciária com ela foi criada as Caixas de Aposentadorias e Pensões – CAPS, que a partir de 1926, incorpora a assistência á saúde. Nas décadas de 30-50, surgem os Institutos de Aposentadorias e Pensões – IAPs. Porém, esses benefícios favoreciam somente os trabalhadores urbanos considerados de fundamental importância para o crescimento do país como os bancários, os empregados do Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 170 comércio, os marítimos, os ferroviários, os estivadores e os funcionários públicos, os demais ficavam a mercê e morriam por falta de condições para cuidar da saúde. A esse respeito, Bravo (2004, p. 27) chama atenção quando fala que a medicina previdenciária só sobrepujou a saúde pública a partir de seu predomínio anunciado desde o início da década de 60, o que se evidência é que, apesar das pressões populares, a assistência médica e previdenciária era formada basicamente pelos serviços próprios dos Institutos. Percebe-se que nesse período as campanhas sanitárias não eram efetivas, já que eram colocadas em prática apenas quando se dava os focos de doenças, não dando importância para a coletividade, ou seja, os serviços visavam somente às endemias, com isso não reduziam as taxa de mobilidade causada por doenças infecciosa, o que fica evidente a ausência de uma visão curativa, já que o foco era somente para a prática individualista. Percebe-se que a medicina previdenciária implantada com os IAPAS tinha como objetivo manter a ordem das categorias profissionais. Porém não atendia a todos e tinha como características a seletividade já que nem todos trabalhadores tinham direito aos serviços de saúde e da previdência, principalmente a população rural que sofria com os focos de doenças endêmicas principalmente a malária. Nesta época o estado privilegiava o setor privado de saúde, por isso não intervinham na saúde pública, ver-se que a política de saúde no período de 1964 e 1974 desenvolveu-se com base no privilegiamento do setor privado, articuladas as tendências da política econômica implantada. Como se pode observar a gestão visa sempre o acumulo de capital e nunca as reais necessidades da população (BRAVO, 2004). Depois desse período, o Brasil adentra o desenvolvimentismo implantado pelo governo Juscelino Kubitschek, como havia muitos recursos dos IAPAS, o governo começa a desviar verbas para as grandes construções e deixa de investir na saúde pública, com isso, começam a surgir às doenças, o povo não tinha acesso às informações relacionadas às condições de saúde da população porque a imprensa era impedida de divulgar as noticias que interessava a população, divulgavam somente o que o governo queria. A esse respeito, Luiz (2001, p. 21) afirma que o processo de industrialização acelerada que o Brasil viveu a partir da década de 50 determinou um deslocamento do polo dinâmico da economia dos centros urbanos e gerou uma massa operaria que deveria ser atendida pelos serviços de saúde. A partir desse período passa a configura-se o denominado modelo médico assistencial privatista que vigora hemogênico de meados dos anos 80. A população estava insatisfeita com o descaso e com as condições em que se encontrava a saúde pública no Brasil, assim começa se organizar formando os movimentos sociais reivindicando melhores condições de saúde, pedindo a democracia e a reforma das bases urgentes para a saúde pública. Os movimentos surgem efeito, e a prova disso, foi que na década de 80 surge à campanha da fraternidade que trazia consigo o lema, “saúde para todo” e o povo vai às ruas pedindo melhorias nos séricos de saúde e reivindicando o retorno da democracia, nesta época surgem as associações de moradores em todo o país, que juntos pediam uma saúde pública de caráter universal, descentralizadas com programas visando à realidade de cada município Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 171 e que a população pudesse participar das decisões e das elaborações de políticas voltadas para a saúde. E como resultado, em Março de 86 acontece a VIII Conferência que contou com a participação dos profissionais da saúde e da sociedade que lutavam pela efetivação dos seus direitos, como melhores serviços, universalização do acesso, saúde como direito social, foi um acontecimento importante para a classe trabalhadora, porque a partir dessa conferência surgiu a politização da saúde como primeira meta a ser implantada, e os objetivos eram de aprofundar o nível de consciência sanitária, visibilizar mudanças necessárias, para se buscar melhorias na saúde pública. Esse foi um fator marcante e fundamental para a discussão da questão da saúde no Brasil começando na preparação e realização da VIII Conferência Nacional de Saúde realizada na capital federal Brasília - DF numa articulação bem diversa das anteriores e contou com a participação de cerca de 4.500 pessoas, dentre as quais mil eram delegados. Esse acontecimento representou inegavelmente um marco na história da saúde pública no Brasil, pois foi a partir de então que se introduziram no cenário da discussão, a saúde e a sociedade, os debates saíram dos seus fóruns específicos e assumiram outra dimensão com a participação de entidades representativas da população. A questão da saúde ultrapassou a análise setorial, referindo-se á sociedade como um todo, propondo-se assim, não somente a reforma sanitária, mas o Sistema Único de Saúde (CADERNO DA UNB, 2000, p. 109). A história mostra que a década de 80 foi marcada pelas conquistas da sociedade, conseguida por meio dos movimentos sociais, conselhos e conferências. A proposta da Reforma Sanitária nos movimentos tinha como objetivo mudanças na maneira de lidar com a saúde, porque até o momento priorizavam-se tão somente os períodos de epidemias. Percebe-se que nesse período, a classe subalterna luta por sua sobrevivência, organiza-se e apela para o atendimento de seus direitos sociais, como trabalho, remuneração, alimentação, saúde, moradia, educação. Esses movimentos envolvem processos de esclarecimentos, arregimentação, debate e mobilização, que supõe a liberdade, a resistência e a opressão (SPOSATI, 2003, p. 37). O foco principal dos movimentos, era a Reforma Sanitária que tinha como objetivos, o direito universal, a coletividade, a descentralização e melhor atendimento na área de saúde. E outros direitos entre os quais moradia adequada, educação, lazer e saúde. Vale lembra que todos esses direitos são pré-requisito para que a população tenha condições de vida digna. Outro objetivo era o direito universal á saúde como dever do Estado que visava unificar o direto de todos à saúde e o fim das descriminações existentes entre segurado/não segurado, rural/urbano. A partir de então, as ações e serviços de saúde passaram a ser considerados de relevância pública, cabendo ao poder públicos sua regulamentação, fiscalização e controle. Além da Constituição do Sistema Único de Saúde que agora passa a integrar aos demais serviços públicos, configurando-se como uma rede hierarquizada, regionalizada, descentralizada e de atendimento integral, garantindo a participação da comunidade. E a regulamentação do setor privado no sistema de saúde como de caráter complementar, vedando a destinação de recursos públicos para subvenção ás instituições com fins lucrativos (UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA, 2000, p. 110). Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 172 Assim, o Estado passa ser o principal responsável de assegurar e garantir a estrutura de saúde pública, sendo obrigado a oferecer tratamento preventivo de saúde que foram conquistados a partir da conferência. A partir de então a saúde adentra a agenda do governo e passa a fazer parte das políticas públicas conforme assegura a Constituição Federal, 1988 no seu art.196 em que rege que a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visam á redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário ás ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. Com a Constituição federal, a saúde passou a ser um direito universal e atingindo a coletividade, houve o aprofundamento da consciência nacional a respeito da saúde, a população passa ser assistida através dos serviços públicos de saúde, previdência e assistência social. Segundo Luís (2001, p. 27-28) a Constituição de 1988 ao incorporar a proposta do Movimento Sanitário, cria a Seguridade Social objetivando a universalidade da cobertura e do atendimento, uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços à população urbana e rural, seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços, irredutibilidade do valor dos benefícios, equidade na forma de participação no custeio, diversidade da base de financiamento, caráter democrático e descentralizado da gestão administrativa, com participação da comunidade, em especial de trabalhadores, empresários e aposentados. A década de 90 ficou marcada pelos movimentos que garantiram a inclusão do direito a saúde na Constituição Federal de 1988 e o acesso da população aos serviços de saúde pública por meio do Sistema Único de Saúde (SUS) que veio para assegura a saúde como direito de todos e dever do Estado e ainda regulamentar a forma de financiamento, ou seja, os serviços de saúde serão financiados pelos recursos do orçamento da seguridade social, da União dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes. 1.1.2 Constituição da República Federativa do Brasil e saúde Pública A Constituição Federal no art.198 rege que as ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada que constituem um sistema único de saúde, organizado de acordo com as seguintes diretrizes, descentralização, ou seja, com direção única em cada esfera do governo, atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais. A C.F. estabelece que o Sistema Único de Saúde seja financiado com os recursos do orçamento da Seguridade Social, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes, em conformidade com os termos do artigo 195. A C.F. determina que a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão aplicar anualmente em ações e serviços públicos de saúde os recursos mínimos derivados da aplicação de percentuais calculados da seguinte forma, no caso da União, na forma definida nos termos do artigo 195 da C.F. e da lei complementar prevista para o financiamento da seguridade social, já que a saúde juntamente com a assistência e previdência formam o tripé da seguridade social. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 173 Assim, o financiamento será feito por meio dos impostos arrecadados do empregador, de empresas e da entidade a ela equiparada, da folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício; da receita ou o faturamento; do lucro; do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, sobre a receita de concursos de prognósticos, como a loteria federal, do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar, Já as receitas dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios destinadas à seguridade social constará dos respectivos orçamentos, não integrando o orçamento da União. Os critérios de custeio dos recursos da União vinculados à saúde destinada aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, e dos Estados destinados aos seus respectivos Municípios, terá como objetivo a progressiva redução das disparidades regionais, a fiscalização, avaliação e controle das despesas com saúde nas esferas federal, estadual, distrital e municipal. Além das diretrizes, houve também a regulamentação da Previdência Social garantido por meio do decreto lei nº. 3.048 de 6 de Maio de 1999 que veio assegurar aos trabalhadores alguns benefícios garantidos na Constituição no artigo 201, como a garantia de cobertura dos eventos de doenças, invalidez, morte e idade avançada, a proteção á maternidade e especialmente as gestantes, a proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário, garantia do salário família e do auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de baixa renda, pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiro e dependentes. 1.1.3 Princípios e diretrizes do SUS O artigo 7º da lei 8.080 de 19 de setembro de 1990 dispõe sobre os princípios e diretrizes do SUS. Assim, os serviços de saúde devem se nortear nos seguintes princípios. Universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência significa dizer que todos têm direito ao atendimento independente de cor, raça, religião, local de moradia, atuação de emprego ou renda, entre outros. Significa que a saúde é direito de cidadania e dever dos governos Municipal, Estadual e Federal. Estas medidas foram feitas para que deixem de existir os indigentes, como aqueles brasileiros que não estavam incluídos no mercado formal de trabalho. Integralidade da assistência, ou seja, é o conjunto articulado e continuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema. O Princípio da Equidade refere-se que todo cidadão é igual perante o Sistema Único de Saúde e será atendido conforme suas necessidades. Os serviços de saúde devem considerar que em cada população existem grupos que vivem de forma diferente, ou seja, cada grupo ou classe social ou região tem seus problemas específicos, tem diferença no modo de viver, de adoecer e de ter oportunidades de satisfazer suas necessidades de vida. Significa dizer que devemos tratar desigualmente os desiguais e trabalhar conforme a clientela. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 174 Preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade física e moral. Este é o princípio da Integralidade que vem afirmar que as ações de saúde devem ser combinadas, voltadas ao mesmo tempo para prevenção e a cura. Assim, os serviços de saúde devem funcionar atendendo o indivíduo como um ser humano integral que está submetido á mais diferentes situações de vida e trabalho, que o leva a adoecer e a morrer. O principio da autonomia vem afirmar que o indivíduo não deve ser visto como um amontoado de partes (coração, fígado, pulmão, entre outros) e solto no mundo. Psicologicamente, e socialmente está sujeito a risco de morte. Desta forma o atendimento deve ser feito para a sua saúde e não somente para as suas doenças, isto é, exige que o atendimento seja feito também para erradicar as causas e diminuir os riscos, além de tratar os danos. Assim, às ações de promoção e proteção, devem volta-se para as áreas de habitação, meio ambiente, educação, saneamento básico, imunização, ações coletivas e preventivas, vigilância a saúde e sanitária. E as ações de recuperação devem funcionar com atendimento médico, tratamento e reabilitação para os doentes. As ações de promoção, proteção e de recuperação formam um todo individual que não podem ser compartimentalizados. As unidades prestadoras de serviços com seus diversos graus de complexidade formam também um todo individual, configurando um sistema capaz de prestar assistência integral ao individuo. Desta forma, a saúde deve envolver todos os setores, com prevenção, atender o cidadão de maneira integral até descobrir o mal que o acomete. Isso envolve promoção, proteção e recuperação da saúde. Igualdade de assistência á saúde sem preconceitos ou privilégios de qualquer espécie, refere-se ao princípio da hierarquização o que significa dizer que a rede de serviço do SUS deve ser organizada de forma regionalizada e hierarquizada, permitindo um conhecimento maior dos problemas de saúde da população de uma área delimitada, favorecendo ações de vigilância epidemiológica, sanitária, controle de vetores, educação em saúde, além das ações de atenção ambulatorial e hospitalar em todos os níveis de complexidade. Assim, o acesso á rede deve se dar através dos serviços de nível primário de atenção, o mesmo deve estar qualificado para atender e resolver os principais problemas que demandam serviços de saúde. Os que não forem resolvidos neste nível deverão ser encaminhados para os serviços de maior complexidade e amparo tecnológico, que é o nível terciário de atenção á saúde onde estão os hospitais de referências e equipados para realizar procedimentos que envolva maior complexidade. No nível secundário estão os centros de especialidades, no nível primário, estão as unidades básica de saúde, primeira porta de entrada nos programas de saúde pública do SUS. De acordo com Lei 8.080, as ações e serviços de saúde oferecidos pelo SUS hão de ser entendidos em seus objetivos finais que são, prestar assistência á população baseada no modelo da promoção, proteção e recuperação da saúde para que assim, busquemos os meios capazes de alcançar os objetivos propostos com eficiência e eficácia e, torna-lo efetivo em nosso país. Assim, os meios orientados pelos princípios organizativos de descentralização, regionalização, hierarquização, resolutividade, participação social e complementaridade do setor privado, devem constituir-se em objetivos e estratégias que deem concretude ao modelo de atenção á saúde desejada para o Sistema Único de Saúde. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 175 Garantindo ao individuo, o acesso às informações sobre sua saúde, quanto ao potencial dos serviços de saúde e a sua utilização pelo usuário. A utilização da epidemiologia pelo SUS deve servir para o esclarecimento de prioridades, a alocação de recursos e a orientação programática. Além de garantir a participação da comunidade na elaboração e nas decisões relacionadas à saúde. Desta forma, o SUS há de ser entendido como um sistema descentralizado políticoadministrativa, com direção única em cada esfera de governo, com ênfase na descentralização dos serviços para os Municípios, garantindo desta forma a regionalização e hierarquização da rede de serviços de saúde. 1.1.4 Responsabilização dos Municípios na área da saúde De acordo com a Constituição Federal art. 30 e a lei 8. 080 e as Normas Operacionais Básicas de Saúde, por se encontrar mais próximo da sua população, compete aos Municípios prestar com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, os serviços de atendimento á saúde da população, cabendo, portanto aos gestores municipais a maior responsabilidade na implantação das ações da saúde diretamente voltada para os seus cidadãos. 1.1.5 Participação do setor privado na saúde pública A lei 8. 080 determina que a participação do setor privado na área de saúde pública se dará quando houver insuficiência nos serviços do SUS, conforme rege a C.F no artigo 24 em que definem que quando for necessária a contratação de serviços privados essa contratação se dará sob três condições, primeiro quando as disponibilidades forem insuficientes para garantir a cobertura assistencial á população de uma determinada área, mediante esses critérios, o SUS poderá recorrer aos serviços ofertados pela iniciativa privada. Segundo a celebração do contrato, deve-se dá conforme as normas do SUS, ou seja, em torno de posições definidas na rede regionalizada e hierarquizada dos serviços, dentre os serviços privados devem ter preferência os serviços não lucrativos como os hospitais filantrópicos, Santas Casa entre outros. A C.F no seu Art. 199. Determina que cada gestor deva planejar primeiro o setor público e na sequencia quando necessário, complementar a rede de assistência com o setor privado. De acordo com as diretrizes do SUS, será garantido o exercício e a participação da iniciativa privada na saúde, porém devem ser regulamentadas pelas disposições e princípios gerais de atenção á saúde, ou seja, a rede privada ao ser contratada para prestar serviços de saúde no SUS, deve seguir os princípios e diretrizes do SUS, como a universalidade, regionalidade entre outros. 1.1.6 Leis que regulamentam o SUS Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 176 Tabela 1. Legislação do SUS C.F- 1988 Constituição Federal. Arts. 1995 a 200. Trata da a assistência à saúde. Lei 8.080 De 19 de Setembro de 1990 e 8.142 de 28 de Dezembro de 1990, que passou a constituir a Lei Orgânica da Saúde – LOS. São consideradas Leis Infraconstitucionais que disciplinam legalmente o cumprimento do mandamento constitucional da proteção e da defesa da saúde. Lei 8.080/90 Disciplina a descentralização político-administrativa do SUS, dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços de saúde. Lei 8.142/90 É fruto de grande negociação ocorrida na época entre vários atores envolvidos no processo de construção do SUS no Brasil. Ela repara os veto feitos pelo chefe do executivo á lei 8.080/90 e dispões sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) e sobre transferência intergovernamental de recursos financeiros na área da saúde. Lei 8.080/90 Explicita no artigo 33 sobre a garantia e transferência dos recursos financeiros para o Sistema Único de Saúde em conta especial de cada esfera de governo e movimentado sob a fiscalização dos respectivos Conselhos de Saúde. Fonte: Andrade (2001, p. 29) Percebe-se que a implantação do SUS não trouxe melhorias na área da saúde pública para a população como se esperava o que ficou visível a pós-análise da trajetória da saúde pública no Brasil desde seu surgimento. Primeiro porque a política previdenciária e de saúde no seu inicio não atendia todos os trabalhadores. Segundo, foi às condições precárias agravadas pela falta de investimento no setor e principalmente devido o processo de industrialização que impulsionou o êxito rural causando grande concentração da população que vinha do campo para cidade. Terceiro porque trouxe varias alterações e precarização na vida e na saúde do trabalhador, já que o modelo de saúde previdenciária atendia somente os trabalhadores ligados ao mercado formal com isto o surto de morbidade e mortalidade aumentou devido à restrição, ou seja, esse modelo deixava de fora os trabalhadores desvinculados da previdência. As alterações ocorridas na sociedade brasileira a partir da década de 30 tinham como indicadores mais visíveis o processo de industrialização, a redefinição do papel do Estado, o surgimento das políticas sociais, além de outras respostas ás reivindicações dos trabalhadores (UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA, 2000, p. 105). Após a segunda guerra mundial, criou-se o Serviço Especial de Saúde Pública - SESP, que oferecia o atendimento básico de saúde e mesmo assim não resolveu o surto de morbidade e mortalidade porque o SESP atendia somente as regiões mais distantes e tinha como enfoque o combate das endemias. A Política Nacional de Saúde, que se esboçava desde 1930, foi consolidada entre os períodos de 1945 a 1950. O Serviço Especial de Saúde Pública – SESP foi criado por meio de convênio firmado entre órgãos do governo americano e da Fundação Rockefeller (UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA, 2000, p. 106). No ano de 1964 os serviços de saúde eram oferecidos pelo Instituto Social, porém, não era um modelo de atendimento universal, o que possibilitou o fortalecimento do setor privado. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 177 O modelo burguês pós-64 modelou o país com a lógica da coerção implantado com ditadura militar, fazendo que os trabalhadores ficassem alijados sem poder participar do processo e das decisões políticas do país. Conforme destaca Bravo (2004, p. 27). A instauração da ditadura militar expressou a derrota das forças democráticas. Sendo que agora o desafio para superar a crise era o de lutar contra a forma de dominação burguesa instaurada no Brasil. A partir de então o Estado passa a intervir na questão social por meio do binômio repressão-assistência, burocratizando e modernizando a máquina estatal com a finalidade de aumentar o poder de regulação sobre a sociedade, de reduzir as tensões sociais e de conseguir legitimidade para o regime. Foi somente nas décadas de 70 e 80, que o Estado resolveu mudar sua relação com a sociedade, por meio de mudanças nas políticas públicas, onde procurou atender as reivindicações dos trabalhadores, que nesse período obtiveram várias conquistas trabalhistas, e apesar disso o Estado não conseguiu obter grande êxito, a partir de então houve a união e o fortalecimento dos movimentos dos trabalhadores e da sociedade civil organizada que juntos reivindicaram seus direitos que mais tarde, mais precisamente em 1988 que se consolidou na Constituição Federal do Brasil e concretizada pela legislação do SUS, este considerado até hoje como a maior conquista da sociedade na área da saúde. Sobre o assunto, Bravo (2004, p. 27) reforça que a partir de 74, o bloco de poder, por não ter conseguido consolidar sua hegemonia ao longo de dez anos, modificou gradualmente sua relação com a sociedade civil. O direito aos serviços de saúde garantidos nas décadas de 80 e 90 não se cosolidou efetivamente, isso faz com que a população não acreditasse mais na política de saúde, já que a mesma não respondeu a altura ao que a sociedade esperava, assim, os movimentos sociais se retiram do cenário político, o Estado por sua vez adapta suas políticas trabalhando a favor da lógica do mercado o que fez surgir a refilântropização das políticas sociais e o fortalecimento das instituições privadas de saúde. Nos anos 80 a sociedade brasileira ao mesmo tempo em que vivenciou um processo de democratização política, superando o regime ditatorial instaurado em 1964, experimentou uma profunda e prolongada crise econômica cujos efeitos persistem até os dias atuais. As decepções com a transição democrática ocorreram, principalmente com seu giro conservador após 1988, não se traduzindo em ganhos materiais para a massa da população (UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA, 2000, p. 108-109). Mesmo com a criação do SUS, a população brasileira não teve seus direitos concretizados, principalmente porque o Estado não fiscalizava os serviços, deixando desta forma, espaço para que o setor privado atuasse, a partir de então, os que tem condições financeiras vai se filiar ao setor privado por meio dos planos de saúde os quem não tem, ficam com os serviços de saúde oferecido pelo SUS, mas esse atendimento vai de forma burocrática e fragmentado. No entanto, o setor privado que deveria ser de caráter complementar do SUS, agora passa a ser gestor das políticas públicas de saúde. O Estado por sua vez passa ser apenas fiscalizador dos recursos públicos que são repassados ao setor privado para serem aplicados em serviços de saúde. Como destaca Vasconcelos (2003, p. 82) ao falar que a política de saúde oscila entre a atenção secundária e terciária privatizada via consórcios e Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 178 organizações sociais, e para os pobres e miseráveis resta somente o programa de saúde da família. A mesma autora argumenta ainda que nesse período o projeto da reforma sanitária é questionado e consolida-se na segunda metade dos anos 90, porém, é um projeto de saúde articulado ao mercado privatista. Este último, pautado na política de ajuste, tendo como tendências a contenção dos gastos com a racionalização da oferta e a descentralização com isenção de responsabilidade do poder central. Ao Estado cabe garantir um mínimo aos que não podem pagar ficando para o setor privado o atendimento aos “cidadãos consumidores”. Sendo que as principais características desse modelo destacam-se o caráter focalizador para atender a população vulnerável, a desconcentração dos serviços e o questionamento da universalidade do acesso. Todo esse processo aprofundou a fragilidade em relação á saúde dos trabalhadores que agora se encontram na precariedade apesar das medidas adotadas por meio das políticas públicas de saúde voltadas para essa classe, estas que não conseguir atingir àqueles que realmente precisam, primeiro porque não há divulgação e principalmente, porque os trabalhadores ligados as instituições de atenção à saúde do trabalhador como os sindicatos, estão atrelados ao mercado agindo de acordo com as determinações desses. No entanto, isso não seria incorreto, se esses profissionais em geral não fossem contratados apenas para preencher um requisito legal e satisfizer a uma eventual fiscalização. Também são conhecidos casos em que as empresas pressionam por meio de seus prepostos os médicos de convênios a subdiagnosticarem doenças ocupacionais. E aos profissionais de saúde e segurança no trabalho cabe a ousadia de não se conformar com o papel que muitas vezes lhe é imposto o de amortecer os conflitos entre empregados e empregadores (BRASIL, 2005, p. 59). O Ministério da Saúde por intermédio dos órgãos de diagnóstico, tratamento, reabilitação, prevenção e fisiopatologia das lesões por esforços repetitivos e das doenças osteo-muscular relacionadas aos trabalhos - LER/DORT, recomenda que o médico responsável pelo programa de controle médico de saúde ocupacional - PCMSO de uma empresa principalmente aquelas que apresentam fatores de risco para a ocorrência de LER/DORT deve pensar na melhor maneira de prevenir e diagnosticar precocemente os casos de doenças e acidentes de trabalho. Reforça ainda que o médico ocupacional deve planejar ações em conjunto com o Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e medicina do trabalhador – SESMT, com os responsáveis pelo programa de Prevenção de Risco Ambientais - PPRA, com a comissão interna de prevenção de acidentes - CIPA e demais trabalhadores que visem à prevenção e promoção de saúde do trabalhador (BRASIL, 2005, p. 55). Vale ressaltar que apesar das inúmeras conquistas a população brasileira, principalmente a classe trabalhadoras não vive em condições favoráveis de trabalho e de saúde. Conforme explicita Brigagão (1997) isso se deve ao processo de globalização, que é um processo excludente que serve apenas aos interesses daqueles poucos em condições de competitividade, diz que nossos indicadores sociais são precários com grandes índices de analfabetismo e mortalidade infantil, pequena expectativa de vida, grande concentração de Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 179 riquezas, aumento das classes menos favorecidas entre outros. O autor destaca também que no Brasil dispomos de um leito para cada grupo de 277 habitantes, enquanto na Argentina em 1987 havia um leito para cada grupo de 141 pessoas. Afirma que na Europa cada país possui em média 80 pacientes para cada leito. Destaca que os serviços médicos apontam à mesma defasagem em outros Países da América Latina, Cuba por exemplo, trabalha com um médico para cada grupo de 255 pessoas, diz que nos vizinhos do MERCOSUL, existem grandes diferenças como na Argentina onde a relação é de um leito para cada 303 pessoas, no Uruguai é de um para 344 pessoas, enquanto que no Brasil é de um para cada grupo de 640 pessoas. Com isso perdemos em qualidade conclui o autor. Se por um lado a economia global trouxe avanços para a sociedade, por outro, aprofundou a desigualdades entre os povos e a separação entre os que tem e os que não têm, os que têm recursos financeiro suficiente recorrem ao setor privado de saúde e quem não tem vai ficar com o mínimo que o Estado oferece e até mesmo para conseguir usufruir deste mínimo é preciso paciência porque ele vai se oferecido de forma fragmentada e seletiva, ou seja, para conseguir uma consulta é preciso que chegue de madrugada na unidade básica de saúde ou clinicas referenciada e quando esse indivíduo consegue a ficha o atendimento em muitos casos ainda vai ser agendado. Vale ressaltar aqui, que muitas das vezes, devido as dificuldades e por medo de perder o emprego o trabalhador deixar de procurar os cuidados de saúde. No Brasil o desemprego estrutural vai além de crises econômicas, existe também a dificuldade decorrente dessa via crusis. as quais os pacientes são obrigados a se submeter. Além dos obstáculos impostos pelo a atendimento e procedimento de cada perito no INSS, existe uma queda absoluta e relativa dos ganhos mensais, porque o paciente precisa se deslocar para vários serviços, varias vezes por semana, o que aumenta os gastos com saúde e com a subrevivencia. Além de ficar fora dos reajustes que são feitos em sua categoria profissional para aqueles que estão afastados do trabalho (BRASIL, 2005, p. 15). Observa-se que o trabalhador, além de todos esse processo, ao ser atendimento e expor sua queixar, dificilmente o perito do INSS perguntará sobre seu trabalho, ou seu cotidiano, e para piorar a situação, grande parte dos trabalhadores não conhecem a CAT e muitos médicos principalmente os peritos insinuam que eles estão com preguiça de trabalhar e passam a culpar o paciente pela sua situação. Sobre o assunto Freitas (2006, p. 32) esclarce que afinal a pobreza e a miséria são por “culpa” do próprio trabalhador que vive arrumando uma forma de não trabalhar, não se busca conhecer a precariedade dos locais de trabalho e a exploração extensiva imposta a estes trabalhadores principalmente (motoristas e cobradores do transporte coletivo). Tomando-se por base esse argumento, em analogia aos processos ergonômicos que envolvem o motorista em sua atividade diária, tem-se a noção exata do que as condições de trabalho podem propiciar nas manifestações de desgaste, tanto somático quanto mentais. Desta forma, a burocracia existente no oferecimento dos serviços púublicos de saúde torna-se um obstaculo já que muitos trabalhadores não são estimulados a procurar auxilio quando começam a sentir dor, tentando superá-lo pelos seus próprios meios, sem orientações adequadas, tudo pelo medo de que sejam descobertos pela chefias ou colegas. Além de não terem amparo nem uma estrutura de tratamento e reabilitação adequada para Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 180 que possam se recuperar e voltar a ter um desempenho satisfatório, apesar dos ganhos infinitamente menores que os atletas consagrados, a experiência mostra que tentam se manter trabalhando, “sucumbindo á dor” apenas quando não suportam mais. Brasil (2005, p. 20), percebe-se que a burocracia existente nos serviços de saúde pública, faz que os trabalhadores não procurem atendimento e continuem trabalhando mesmo sentindo dores, os médicos das empresas por sua vez não procuram conhecer os casos de doenças do trabalho entre os colaboradores dentro da empresa e continuam a submetê-los a jornadas de trabalho intensas, agravando ainda mais o problema de saúde. Observa-se que tanto os trabalhadores empregados como os desempregados, sofrem as consequências do capitalismo, já que aqueles que estão fora do mercado de trabalho sofrem com a situaão econômicas de um trabalhador desempregado e o trabalhador empregado teme em sofrer a marginalização social enfrentada pelos desprovidos de ocupação remunerada. Com isso a necessidade de manter o emprego a qualquer custo traz então um cotidiano de trabalho muitas vezes repleto de resignação e impossibilidade de mudanças o que gera incômodo no contexto laboral, fazendo que o trabalhador se submeta à condição de trabalho, muitas vezes incompatíveis com a saúde (BRASIL, 2005, p. 31). Enquanto os trabalhadores são submetidos a uma jornada de trabalho intensa colocando em risco sua saúde, por outro lado existe um contingente de desempregados que não conseguem trabalhar porque os trabalhadores empregados estão ocupando postos de trabalho que deveriam ser ocupado por outro trabalhador, configurando assim a exploração e a extração da mais-valia, e quem se sobressai é o empresário que acumula capital enquanto que o trabalhador acumula desgaste e doenças decorrentes do esforço ao qual é submetido. (FREITAS, 2006) fala que as cargas de trabalho devem está relacionadas entre as categorias definidas para estudar e avaliar o impacto produzido pelos processos de trabalho sobre a saúde física e mental dos trabalhadores. 1.1.7 Algumas conquistas dos trabalhadores, na área da assistência social e da saúde Vale destacar, que houveram algumas conquistas da classe trabalhadores na área da assistência social e no que diz respeito aos direitos trabalhistas, a partir da década de vinte até os dias atuais, porém nem todas as conquistas foram fruto de benovelencia do Estado, mas de muito esforço da classe por meio dos movimentos sociais, greves, conferências entre ouros. Pereira (2002, p. 131) reforça que na década de 30 com a criação de varios orgãos do Governo como os Ministérios do trabalho, da Indústria e Comercio; a criação da Carteira do trabalho, da Legislação Trabalhista com a CLT, do Ministério da Educação, da Saúde, dos Institutos de aposentadorias e Pensões; a Promulgação da Constituição Federal de 1934, que contemplou tanto os ideais do liberalismo político quanto os do reformismo econômico imposto pelo Estado Novo, da Constituição de 1937 inspirada nos modelos constitucionais corporativo-facistas; a criação do Conselho Nacional de Serviço Social em 1938, orgão ligado ao Ministério da Educação e Saúde, cujos objetivos eram de normalizar Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 181 e fiscalizar as ações de assistência social, preponderantemente desenvolvidas por entidades privadas. Tabela 2. Conquistas da classe trabalhadora 1923 – Lei Eloy Chaves. Criação dos CAPS, e garantia da assistência social na área da saúde e previdência para os trabalhadores. 1932 – Criação dos IAPS. Criação dos Institutos de Aposentadorias e pensões - IAPS para prestar assistência médica e aposentadorias aos trabalhadores. 1934 - promulgação Constituição Federal. da Proibe o pagamento de salario inferior ao salario mininmo a qualquer trabalhador. 1936 – criação do salário mínimo. Estabelece a remuneração mínima devida a todo trabalhador adulto, sem distinção de sexo, por dia normal de serviço e capaz de satisfazer as suas necessidades normais de alimentação, habitação, vestuário, higiene e transporte entre outros. 1937 – Criação do Criado para prestar e garantir a assistência social e trabalhistas aos Ministério do Trabalho. trabalhadores. 1938 – Criação do Conselho Criado com a finalidade de normatizar e fiscalizar as ações de Nacional de Serviço Social. assistência social principalmente aquelas prestadas por entidades privadas. 1943 – promulgação das leis do trabalho CLT. Criada para consolidar e garantir os direitos dos trabalhadores, ente os quais a saúde e a assistência social. Fonte: Pereira (2002); UNB (2000). Vale reforçar mais uma vez que essas conquistas foi mérito da classe trabalhadora, conquistado por meio dos movimentos sociais organizados que possibilitou a incorporação dos direitos trabalhistas, de saúde e segurança no trabalho como também a criação da CLT considerada o marco maior da história do trabalhador Brasileiro. Apesar de inúmeras vitórias, o trabalhador brasileiro ainda trabalha em condições desfavoráveis que causam danos a saúde, principalmente devido aos esforços repetitivos, trabalho em postura estática e contínua exigência por produção, além das condições organizacionais desfavoráveis como a exposição á vibração, ao frio, sobrecarga continua das estruturas anatômicas ou falta de tempo para se recuperar no trabalho (BRASIL, 2005, p. 29). Percebe-se que estes são os pricipais fatores de maior incidência para o surgirnento das LER/DORT, entre outras doenças relacionadas ao trabalho, muitas delas nao são reconhecidas como doenças ocupacionais como é o caso da LER e a hérnia de disco, mas que aos poucos estão sendo debatidas e reconhecidas como doenças ocupacionais que provocam incapacidade ao trabalhador. A Medida Provisória N° 316 de agosto de 2006 no seu art. 21 esclarece que é caracterizada incapacidade acidentária quando se estabelece o nexo técnico epidemiológico entre o Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 182 trabalho e o agravo decorrente da relação entre a atividade da empresa e a entidade móbida motivadora da incapacidade, ou seja, o técnico ou médico de segurança no trabalho devem fazer sempre esse diagnóstico em trabalhadores doentes ou nao, visando desta forma, a prevenção de doenças do trabalho ou relacionadas ao trabalho, como tabém assegurar que aqueles que adoeceram em decorrencia das condições precarias de trabalho possam ter seus direitos previdenciarios garantidos (BRASIL, 2006). Asseguir apontaremos os contúedos tematicos da 1, 2 e 3 conferências para tratar da questao da saúde do trabalhador no Brasil. As conferências são de alta importância para a classe trabalhadora, porque é na conferência que eles podem participar das decisões e principalmente aquelas relacionadas à saúde do trabalhador, nesse espaço os problemas podem ser apontados e debatidos. Há algumas décadas a classe trabalhadora não participava das decisões politicas, com isso, as políticas eram formuladas de cima para baixo sem se conhecer a realidade da população. As conquistas vieram após vários movimentos trabalhistas com lutas e greves organizadas por lideres dos movimentos operários como a Central Única dos Trabalhadores - CUT e o Partido do Trabalhador - PT liderado na época pelo ex-presidente da República, Luís Inacio Lula da Silva (LULA). 1.1.8 Deliberações das 1º, 2º e 3º conferências nacional de saúde do trabalhador Tabela 3. 1º Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador. Data Realizada no periodo de 01 a 12 de dezembro de 1986. Local Brasília – DF. Tema Situando a questão saúde e trabalho Diagnostico da situação de saúde e segurança dos Trabalhadores. Assunto Novas Alternativas de Atenção á Saúde dos Trabalhadores. Política Nacional de Saúde e Segurança dos Trabalhadores. Objetivos Estabelecer um Sistema Nacional de Saúde, situando a questão saúde e trabalho. Participantes A conferência contou com 526 pessoas, das quais 399 foram delegados. Fonte: Caderno da 3º CNST (2005) “Trabalhador, Sim! Adoecer, Não!” A primeira CNST foi o primeiro e mais expressivo acontecimento para a classe trabalhadora devido seu enfoque na questão da saúde, os temas debatidos nesta conferencia, priorizou a relação do problema da saúde com questões que não eram relacionadas ao espaço de trabalho, considerando assim, que as condições econômica, políticos e social são fatores que envolve a vida do trabalhador e sendo condicionantes para o surgimento de problemas da saúde. Desta forma, passa a considerar que para Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 183 garantir a saúde dos trabalhador significa propocionar condições dignas de vida, pleno emprego, trabalho estável e bem remunerado; garantia de oportunidade de lazer; de organização e participação livre; da autônoma e representatividade de classe; da informação sobre todos os dados que digam respeito a sua situação de vida, saúde e trabalho; garantia do acesso a serviços de saúde com capacidade resolutiva em todos os níveis; da recusa ao trabalho em sobcondições como aqueles que desconsideram estes e outros tantos direitos. Desta feita, ao se tratar dos direito trabalhistas e quando se refere ao direito á saúde entre outros, é preciso expressar também o direito ao trabalho, direito á informação, direito á participação e o direito ao lazer (BRASIL, 2005, p. 9). Apartir da primeira Conferência buscou-se elaborar propostas para construir as bases referentes à saúde do trabalhador, debater medidas referentes à reformulação do SUS para propor melhorias no diagnóstico e atendimento aos trabalhadores, fortalecer o setor político, ampliar a reforma sanitária, contemplar os anseios dos trabalhadores demonstrados através das lutas históricas, garantir a intengralidade e a transversalidade da ação do Estado referente à saúde do trabalhador, e ainda modificar a notificação dos acidentes de trabalho visando à garantia de estatísticas condizentes com a realidade. Tabela 4. 2º Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador Data Realizada no periodo de 13 a 16 de Março de 1994. Local Brasília – DF. Tema Central Garantir a integralidade e transversalidade da ação do Estado em saúde dos (as) trabalhadores (as). Assunto Garantia de qualidade de vida, proteção, manutenção e recuperação da saúde. Objetivo Construir uma política de saúde do trabalhador e subsidiar as discussões na 3º CNST. Participante A conferência contou com 919 pessoas das quais 560 foram delegados. Fonte: Caderno da 3º CNST (2005) “Trabalhador, Sim! Adoecer, Não!” A segunda conferência teve como objetivo discutir os eixos temáticos para a terceira conferência, entre os quais a garantia dos direitos fundamentais em relação à saúde, educação, assistência social, garantir a proteção, a recuperação e a manutenção da saúde do trabalhador para que ele tenha qualidade de vida. Além da garantia a universalização dos direitos a todos os trabalhadores, independentes do vínculo empregatício, seja ele trabalhador rural, da esfera pública ou privada, formal ou informal, garantindo atendimento ambulatorial, hospitalar, reabilitação, ou seja, a integralidade na saúde do trabalhador em toda rede pública de saúde, garantia de medicamentos básicos. Nesta conferência ficou definido a competência dos Municípios no que se refere a questão da saúde do trabalhador cabendo aos gestores municipais garantir a capacidade de emissão da Comunicação de Acidente do Trabalho – CAT, agilizar o pagamento dos beneficios previdenciaros com os Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 184 valores corrigidos as vitímas de acidentes de trabalho, portadores de doenças profissionais entre outros (BRASIL, 2005). Apesar de todos esses avanços, ainda ha muito a ser feito, e nessa conferencia, foi debatido outros mecanismos visando impedir as demissões no período de estabilidade no emprego, como a garantir e assegurar o direito ao trabalho e lutar contra qualquer tipo de descriminação, a necessidade de notificação de todos os acidentes e doenças do trabalho as autoridades sanitária local, realizada por todos os órgãos prestadores de assistência médica. Percebe-se que no Brasil a questão da saúde do trabalhador vem ganhando espaço dentro das políticas e programas do Governo Federal conquistados por meio das confêrencias onde foram discutidas as estratégias com os debates realizados entre governo e profissionais que lidam com a questao da saúde do trabalhador visando garantir a qualidade de vida e a proteção da saúde do trabalhador, principalmente nos postos de trabalho, onde o índice de doenças relacionadas ao trabalho e acidentes de trabalho é alarmante. As informações asseguir, referem-se apenas aos trabalhadores empregados e cobertos pelo seguro dos acidentes do trabalho - SAT da Previdência Social, que representa cerca de um terço da Populaçao Economicamente Ativa – PEA, de acordo com os dados da pesquisa realizada no período de 1999 a 2003 pelo Ministério da Previdencia Social – MPS, onde a Previdência Social registrou 875.190 acidentes de trabalho, sendo 15.293 com óbito e 72.020 com incapacidade permanente, uma média de 30.059 óbitos/ano entre os trabalhadores formais, ficando na média de 22.9 milhões em 2002. De acordo com os dados, o coeficiente médio de mortalidade nesse período foi de 14,84 para cada 100.000 trabalhadores (MPS, 2003). A comparação deste coeficiente com os de outros países como a Finlândia é de 2,1 em 2001, na França de 4,4 em 2000, no Canadá 7,2 em 2002 e na Espanha de 8,3 em 2003, enquanto que no mesmo período o Instituto Nacional de Serviço Social - INSS concedeu 854.147 benefícios por incapacidade temporária ou permanente devido a acidente de trabalho, ou seja, uma média de 3.235 auxílios-doença e aposentadorias por invalidez por dia útil. No mesmo período foram registrados 105.514 casos de doenças relacionadas ao trabalho (BRASIL, 2005, p. 180). A pesar da preocupação com a saúde e segurança do trabalhador no Brasil, o índice de acidentes e doenças relacionados ao trabalho é maior que o registrado devido a subnotificação dos casos, muitas empresas não preenchem a CAT quando o trabalhador é acidentado ou afastado por doença do trabalho, causando desta forma, inumeros prejuizos ao trabalhador, ja que a doença não eserá notificada como doença do trabalho nas estatísticas do INSS passando a ser tratadas como doenças comun ao inves de doença do trabalho. Esta ultima que garante ao trabalhador receber beneficios adicicionais. Segundo o Ministro da Previdência Social, Nelson Machado um dos principais desafios do encontro que se realizou depois de 11 anos da segunda CNST, é discutir e aprovar a Política Nacional de Segurança e Saúde do Trabalhador, cujo objetivo é enfrentar um panorama crônico sobre mortes e acidentes do trabalho no Brasil. O Ministro aponta que a cada hora três brasileiros sofrem acidentes durante suas atividades, ou nos trajetos de ida e volta dos locais de trabalho, ao mesmo tempo, diz ele, duas mortes acontecem a cada três Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 185 horas. Porém, os dados se referem apenas aos trabalhadores com carteiras assinadas, que representam menos da metade da população economicamente ativa do País. Tabela 5. 3º Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador Data Realizada de 09 a 12 de Dezembro de 2005. Local Brasília – DF. Tema Central “Trabalhador, Sim! Adoecer, Não!”. Assunto Discutir e aprovar a Política Nacional de Saúde do Trabalhador. Objetivo Enfrentar um panorama crônico sobre mortes e acidentes no trabalho no País. Participantes A 3º CNST contou com mais de mil pessoas entre trabalhadores do Sistema Único de Saúed (SUS), profissionais da Previdência e da fiscalização do trabalho e representantes do governo federal. Resultado Fonte: Caderno da 3º CNST (2005) “Trabalhador, Sim! Adoecer, Não”! Machado estima que a carência de segurança nos ambientes de trabalho tenha gerado em 2004 um custo de 37,2 bilhões para o País, deste total 9,2 bilhões correspondem aos gastos com benefícios acidentários e aposentadorias especiais da Previdência, o restante, segundo ele é gasto com assistência, tratamento e reinsenções no mercado de trabalho.Já o Ministro da Saúde, Saraiva Felipe, reforçou o compromisso do governo Lula de ampliar para 200 o número de Centros de Referências em Saúde do Trabalhador - CEREST, são as unidades que incentivam a prevenção, a vigilância e o atendimento especializado para as diversas doenças, como as intoxicações e lesões crônicas. O Ministro diz que a partir desses debates surgiram propostas e recomendações para subsidiar as discussões do encontro nacional em relação aos acidentes de trabalho no País. Os problemas regionais de doença relacionada ao trabalho foi um dos temas discutidos que foi levados para a etapa nacional. Entre os eixos de debate da Conferência constava á garantia da integralidade e a transversalidade da ação do Estado em serviços de saúde do trabalhador, a incorporação da saúde do trabalhador nas políticas de desenvolvimento sustentável do País, a efetivação e a ampliação do controle social em saúde do trabalhador. O Ministro afirma que é preciso ampliar os dados sobre á saúde do trabalhador no Brasil, mas também é priciso ampliar a notificação das doenças e acidentes de trabalho, e ainda propocionar a inclusão dos trabalhadores informais, e otimizar os levantamentos realizados pelo Departamento de Informação e Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS). Segundo ele, com a atualização dos dados será possível formular políticas públicas de saúde voltada para o aperfeiçoamento da prevenção, fiscalização e atendimento ao trabalhador. Outro estudo realizado pela faculdade de medicina da Universidade Estadual Paulista, em Botucatu - SP, por meio de um mapeamento do padrão de vida e do índice de Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 186 desenvolvimento humano - IDH, apontou a ocorrência de 4,1% casos de acidentes de trabalho, sendo que 22.4% foram registrados na Previdência Social, significa dizer que deste total, somente 0.9 foram notificada. Para a Organização Mundial de Saúde - OMS, apenas 1% a 4% das doenças relacionadas ao trabalho são registradas na América Latina (BRASIL, 2005). No Brasil o sistema nacional de informação do Sistema único de Saúde ainda não inclui os acidentes de trabalho, nem os casos de LER/DORT, nos seus dados o que prejudica a possibilidade de se ter dados epidemiológicas da totalidade dos trabalhadores, sejam daqueles com registro conforme rege a Consolidação das Leis Trabalhistas - CLT, sejam aqueles considerados autônomos, ou ainda os prestadores de serviços, ou os funcionários públicas, ou aqueles do mercado informal (BRASIL, 2005, p. 15). O Ministro da saúde Saraiva Felipe, afirma que os dados que se tem conhecimento referem-se somente aqueles que foram registrados na Previdência, ou seja, dos trabalhadores do mercado formal com contrato regido pela CLT, totalizando menos de 50% da população economicamente ativa-PEA, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-IBGE os trabalhadores do mercado informal, os funcionários públicos efetivos, os empregados domésticos e o trabalhadores autônomos ficam excluídos das estatísticas. Por outro lado sabe-se que os acidentes de trabalho e as doenças relacionadas ao trabalho são subnotiticados. 2. Os problemas mais frequentes no transporte coletivo de Manaus Nesse capitulo, será expostos alguns problemas diagnósticados no transporte coletivo de Manaus, as questões relacionadas as condições de saúde de motoristas e cobradore e também apontar os direitos dos usuários e dos trabalhadores assegurados por lei. Desta forma, pretende-se monstrar que os problemas existentes nos transportes coletivos possam está diretamente ligados às condições de vida, saúde e de trabalho de motoristas e cobradores, ou seja, motorista e cobradores, que tem na execução de seus trabalhos uma relação direta com os usuários, estes por sua vez são as princiapis vitímas do descaso, devido a precaridade existente no trabalho de motoristas e cobradores, já que esses profissionais podem está doente não somente de doenças patológica, mas também nos seus aspectos biopsicosocial, tornando-se um fator determinante para os desentendimentos no interior dos coletivos. Enquanto não levar em consideração esses aspectos, provavelmente haverá números alarmantes de denuncias no Instituto Municipal de Transportes Urbanos - IMTU como é o caso dos maus tratos a passageiros, queima de paradas, problemas com o troco entre outros. Se o Município sendo o principal responsável pelo oferecimento dos serviços de transportes públicos juntamente com as empresas prestadoras de serviço no transporte coletivo de Manaus, não se articularem para que juntos possam desenvolverem um trabalho que envolva a resolutividade destes problemas, dificilmente haverá melhorias nos serviços de transportes público e muito menos redução das reclamações. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 187 Assim, para que o transporte coletivo seja realmente urbanizado é preciso desenvolver políticas públicas voltadas para esse setor e pera a questão da saúde de motoristas e cobradores e demais trabalhadores do transporte público, já que grande parte dos motoristas e cobradores dos transportes coletivos está doente, seja de estresses, este que pode ser considerado como um dos principais fatores relacionados aos problemas de relacionamento interpessoal entre motorista/usuáríos e cobrador/usuario, somado a estes, vem as dores articulares como a lombalgia, a falta de descanso e ausencia de vida social. Acredita-se que grande parte destes sintomas esteja relacionados aos assaltos que estão cada vez mais frequentes na cidade de Manaus, além disso, existe ainda a questão das longas jornadas de trabalho em que esses trabalhadores ficam por longo periodo em posição sentada e estática o que sobrecarrega os discos vertebrais conforme afirma os especialistas. Vale ressaltar que entre estes trabalhadores é “normal” que motoristas e cobradores sofram de alguma patologia principalmente na coluna, ou nos ouvidos devido ao longo tempo expostos ao barulho do motor e das janelas com vidros soltos que ficam batendo causando muito barulho e desconforto. Para Rios e Pires (2004) apud Freitas (2006, p. 38) a posição sentada possibilita pouca margem de movimentação, tendo como consequência uma carga estática sobre certos segmentos corporais, os autores afirmam que a postura sentada, por melhor que seja, impõe uma carga biomecânica significativa sobre os discos intervertebrais, principalmente na região lombar. Para eles, entre as diversas alterações que podem ocorrer em um profissional que necessita ficar tempo prolongado na posição sentada durante suas atividades diárias de trabalho, foi detectada a pressão nos discos intervertebrais da coluna lombar como a mais importante. Parece-nos que a precária condição de saúde desses trabalhadores esteja relacionada aos estresses e as péssimas condições dos ônibus, estes que se encontram danificados com os amortecedores quebrados, fazendo que o impacto sobre a coluna seja ainda mais violento. Por fazer parte do sistema de transporte coletivo da Cidade de Manaus por quase 12 anos, posso afirmar que é comum encontrar cadeiras apoiadas com pedaços de pau no local do amortecedor, este que serve para amenizar o impacto na coluna quando o veiculo passa em buracos ou quebra molas. Porém, muitos desses ônihus não são vistos nos grandes centros urbanos, porque são colocados para circular nos bairros periféricos na alimentação dos terminais de integração justamente para que não sejam vistos pela fiscalização. Vale ressaltar que essa prática adotada pelas empresas, quem sofre com o descaso são motoristas, cobradores e usuários já que são obrigados a suportar diariamente os ditos “latas velhas”4. Além dsses fatores, existem ainda aqueles referentes à organização da empresa, como as cobranças constantes, inflexibilidade, ritmo de trabalho intenso, movimentos repetitivos com grande quantidade, músculos sobrecarregados, paradas frequentes, cadeiras desconfortáveis, falta de descanso entre outros, é evidente que o adoecimento e os sintomas dos homens têm relação tanto com a sociedade em que vivem como com suas características individuais, e mesmo essas características têm forte 4 Expressão usada por usuários, motoristas e cobradores quando o ônibus está muito velho. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 188 influência do meio. Por exemplo, o nível de tolerância á dor, considerando característica individual, depende muito do meio cultural (BRASIL, 2005). Os dados reveleram que 50% das reclamações registradas no IMTU no ano de 2006, referem-se aos motorista que trafegam com as portas do veiculo abertas colocando em risco a vida dos usuários, isso mostrar porque deixar de atender as determinações do IMTU aparece com 15%, já que o IMTU determina que é proibido ao motorista trafegar com as portas do ônibus abertas. A atitude inconveniente e falta de urbanidade no trato com o usuário somou 16% das infrações registradas. Deixar de atender ao sinal de parada para embarque e desembarque de passageiros aparece com 8%. O problema com a falta de troco é frequente no interior dos coletivos e aparece com 4% no total das denúncias, e as denúncias contra motoristas que alteram o itinerário sem justificativa somou 3%, e dirigir com velocidade acima do recomendado para as vias com 2%. Para o veiculo afastado da guia de calçada, ou meio fio não somou 1%, porém, este é um problema gravíssimo, que será discutido mais adiante. Acredita-se que isso se deve a falta de hábito dos usuários de não denunciarem as infrações sofridas ao IMTU. Já que esse é um dos problemas presenciado frequentemente no transporte coletivo. Tabela 6. Os problemas do transporte coletivo de Manaus N0 Infrações registradas em 2006 % 1 Deixar de atender ao sinal de parada para embarque e desembarque de passageiros 8 2 Atitude inconveniente e falta de urbanidade no trato com o usuário 16 3 Deixar de atender as determinações do IMTU 15 4 Parar ou arrancar bruscamente 2 5 Parar o veiculo afastado da guia de calçada, meio fio etc. 0 6 Dirigir com velocidade acima do recomendado para as vias 2 7 Alterar o itinerário sem justificativa 3 8 Retenção do troco 4 9 Trafegar com as portas abertas 50 Fonte: Instituto Municipal de Transportes Urbanos - IMTU Conforme rege a legislação, o transporte público é um direito fundamental do cidadão e dever do Estado, cabendo ao poder público Municipal como principal responsável, zelar pelos serviços prestados a população, assim como fiscalizar e gerenciar as operações uma vez que a Constituição Federal de 1998 e a Lei 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, que dispõe sobre o regime de concessão ou permissão da prestação de serviços públicos, e ainda a Lei 9.074, de 07 de julho de 1995, que estabelece que as normas para outorga e Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 189 prorrogações das concessões e permissões de serviços públicos, seja sob-regime de concessão ou permissão, estabelecem que deverá ser sempre através de licitação para prestação de serviços públicos. O transporte coletivo por ser tratar da venda de serviço, deve assegurar todos os direitos do consumidor conforme previsto em lei, já que o usuário do transporte coletivo paga por esse serviço, no entanto, boa parte desses direitos não são assegurados, conforme mostra os dados registrados em de 2006 pelo IMTU no registro das infrações cometidas pelas empresas e por colaboradores prestadores de serviço para a população usuária do transporte coletivo. A Lei Orgânica do Município de Manaus lei 8.984 de 1995 no art. 24 estabelece que aos prestadores de serviços de transporte coletivo urbano de passageiros deve cumprir rigorosamente as ordens de serviços emitidas pelo Órgão Municipal Gestor dos Transportes, manter em condições de pleno funcionamento os serviços delegados a sua responsabilidade, prestar os serviços cumprindo rigorosamente os horários, as frequências, as linhas, a tarifa, o itinerário, os pontos de parada e as demais condições definidas pelo Órgão Municipais Gestor dos Transportes. 2.1 Deixar de atender ao sinal de parada para embarque e desembarque de passageiros Pecebe-se que o não cumprimento do sinal de parada para embarque e desembarque é um dos problema que aparece com maior frequencia no transporte coletivo. Acredita-se que os motoristas não param para embarque, porque quando o coletivo chega a determinado ponto já esteja com sua lotação máxima, fazendo que o usuário saia prejudicado já que precisa chegar no trabalho no horario. Cabe lembrar que diante dos problema nao devemos responsabilizar somente o motorista. mas tabém as empresas, estas por não disponibilizarem de frota suficiente para atender a população, principalmente nos horários de pico, violando desta forma os direito dos usuarios assegurado por lei. No que se refre ao sinal de parada, conforma legislação especifica o motorista é obrigado a parar mesmo que o coletivo esteja lotado e o usuário embarca se achar conveniente. De acordo com o Decreto lei. N°. 8.297, de 10 de fevereiro de 2006 art.39, o sinal de parada para embarque e desembarque de passageiros é obrigatório, a empresa será multada caso o motorista não atenda ao sinal de parada em dois UFM. A LOMAN no art. 263, determina que as paradas de ônihus devem ser obrigatoriamente instaladas o mais próximo possível dos estabelecimentos de ensino, no mesmo artigo está assegurado aos usuários que entre 22h e 5h da manhã é obrigatória a pararada para embarque e desembarque de passageiro em qualquer local, independente de abrigos ou placas indicativa para tal, bastando somente o sinal de parada ou a pedido do usuário. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 190 2.1.2 Atitude inconveniente e falta de urbanidade no trato com o usuario A falta de urbanidade no transporte coletivo de Manaus foi um dos problemas que apareceu com alto índice dentre as reclamações no IMTU. Acredita-se que esse problema, como já citado anteriormente, possa está relacionado aos outros problema existente no transporte coletivo aos quais os motorista e cobradores estao expostos, e possivelmente seja um dos fatores que contribui para o aumento da carga de estresse, tanto em trabalhadores como nos usuários, o que vai gerar impaciência tanto num quanto no outro causando assim as desavenças no interior dos coletivos. No entanto, é preciso reconhecer que o descaso com esses trabalhadores possa ser também outro fator causador da violência entre usuários e operadores, porém, acredita-se que quando os problemas relacionados aos pontos de parada, a questão da superlotação, a falta de troco, horário inrregulares e a falta de segurança entre outros, forem solucionados, espera-se que com essas medidas a urbanidade aconteca no transporte coletivo, já que usuários e operadores são vitimas do descaso por parte do poder público, que como rege a lei é o responsável direto pelos serviços de transportes públicos. Espare-se que com a amenização desses problemas, os operadores possam se sentir amparados e ao perceberem que o Estado de fato está preocupado com suas vidas, segurança, saúde e seu trabalho. Desta forma, poderá refletir sobre seu modo de agir e com o trato com os usuários. Porém, é necessário que algumas medidas urgente sejam tomadas principalmente em relação à segurança de trabalhadores e usuários no interior dos coletivos. Vale lembrar que essas medidas estão longe de acontecer, porque prercebe-se que só tocam no assunto e em adotar medidas referentes à segurança, quando acontecem as fatalidades como a que aconteceu com o motorista Antonio. Pode ser que os oporadores também não se preocupem com seu modo de agir com os usuários porque percebem que ninguém se preocupa com a situação deles e principalmente devido ao medo e o estresse aos quais estao submetidos diariaamente. Assim, é preciso tratar os trabalhadores dos transportes coletivos, com uma visao integral, ou seja, olhado-os como um todo e trabalhar nos seus aspectos biopsicosocial e não somente o individuo. Somente sssim, empressarios e gestores poderão exigir que eles ofereçam um tratamento urbanizado aos usuarios, o qual se exigem tanto hoje. Sabe-se que os assaltos acontecem frequentemente nos coletivos devido à falta de segurança para usuários e operadores, estes que são as principais vitimas. Motoristas e cobradores ainda mais, já que trabalham com a incerteza se voltarão para casa depois de mais um dia de trabalho. E principalmente por não verem nenhuma medida ser adotada frente aos problemas. Observa-se ainda que esses operadores sentem-se condenados à própria sorte. Mesmo depois das paralizações, os casos continuam acontecendo, o que pode ser confirmado com os dados da Secretária de Segurança Pública SSP-AM, onde registrou nos dois primeiros meses deste ano, 77 assaltos á ônibus na cidade. Em fevereiro foram 39 assaltos contra 38 registrados em janeiro. De acordo com a Secretária o aumento em relação ao mesmo período do ano passado foi de 2,6%, em janeiro de 2004 foram registrados 38 assaltos e em fevereiro 36. Sendo que a média de assalto a ônibus na capital do amazonas somou de 1,8 por dia. Ainda segundo a SSP os dados são parciais Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 191 porque não foram fechados totalmente, já que ainda aguardavam números de algumas delegacias, mais que contabilizaram 28 roubos a ônibus no mês de março, 18 em abril, 11 em maio e 8 em junho do memo ano. O problema está tão alarmante que se tornou manchete diariamente nos jornais da cidade. Felizmente o único assalto com vitima fatal em 2005 foi o que culminou na morte do motorista Antonio Lourenço, conforme materia vnculada em jornal5. Depois dessa tragédia, motorista e cobradores trabalham com medo constante de serem abordados por badido, como cobrar que estes trabalhadores tratem os usuários com urbanidade se eles proprios estão constantemente preocupados com sua própria segurança? Como é que esse trabalhador vai se preocupar com seu próximo se durante o turno vive preocupado com a ação dos bandidos? E principalmente por não terem certeza se vão conseguir terminar o turno com vida sem que nada de ruim tenha lhe acontecido. Sem terem a certeza que vaão volta para casa com em segurança. 2.1.3 Deixar de atender as determinações do IMTU Deixar de atender as determinações do IMTU foi um dos problemas registrados no índice de infrações, conforme o decreto lei n°. 8. 297, de 10 de fevereiro de 2006, todos os prestadores de serviço do transporte coletivo deverão atender as determinações do IMTU, e em seu artigo 24 estabelece que o prestador de serviço de transporte coletivo urbano de passageiros deverá submeter-se a fiscalização do Órgão Municipal Gestor dos transportes e das autoridades de transito, facilitando a ação e o cumprimento das determinações do poder público. 2.1.4 Parar ou arrancar bruscamente Para ou arrancar bruscamente foi e é um dos problemas mais sérios que ocorre no transporte coletivo, porque agindo assim o motorista esta colocando em risco a vida do usuário tanto no embarque quanto no desembarque. Muitas vezes os motoristas não esperam o usuário embarcar ou desembarcar do veicúlo e arrancam em seguida causando a queda dos usuários, como o corrido com a passageira Cíntia de Sousa 19 anos, universitária, na época cursava o 3° período do curso de Serviço Social e foi vitima da pressa do motorista da linha 650 na Avenida Tefé, caso osrrido no dia quatro de outubro de 2005, quando a passageira embarcou no coletivo, não teve tempo de se segurar foi quando o motorista arrancou bruscamente cuspindo-a de volta no chão bantendo com a cabeça no meio fio, Cíntia sofreu traumatismo craniano, ficou em coma na UTI do Pronto Socorro João Lucio, indo à obito no dia dezessete do mesmo mês, levando consigo todo um sonho e um futuro interrompido pela fatalidade. É preciso resolver este e outros problema dos transportes coletivos para que nao venha acometer com outros usuários já que isso está evidente caso não se tome providências imediatas. 5 Jornal Diário do Amazonas de 23 de julho de 2005. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 192 2.1.5 Parar o veículo afastado da guia de calçada, ou meio fio Os motoristas precisam sere melhor e orientados quanto ao estacionamento do ônihus para o embarque e desembarque é necessário alertar os motoristas que quando eles param afastados do meio fio ou das calçadas estão dificultando o embarque ou desembarque dos passageiros, além de colocar em risco a segurança do usuário, que corre o risco de cair, principalmente os idosos que merecem um cuidado especial devido sua fragilidade. O usuário merece um serviço de qualidade, pois está pagando pelos serviços, a partir do momento em que embarca no coletivo, o passageiro merece um serviço adequado e de qualidade, conforme estabelecido na lei n°. 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, que dispõe sobre o regime de concessão e permissão de prestação de serviços públicos previsto tamabém no artigo 175 da Constituição Federal, da lei 9. 648, de 27 de maio de 1998, artigo 22 e na lei n°. 9.791, de 24 de março de 1999 art. 6°, que dispõe sobre os serviços adequados, ou seja, toda concessão ou permissão pressupõe a prestação de serviço adequado ao pleno atendimento dos usuários, conforme estabelecido em lei, nas normas pertinentes e no respectivo contrato, no § lº assegura que o serviço adequado refere-se aquele que satisfaça as condições de regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia na sua prestação e modicidade das tarifas. No § 2° reforça que atualidade compreende a modernidade das técnicas, do equipamento e das instalações e a sua conservação, bem como a melhoria e expansão do serviço. No § 3° esclarece que não se caracteriza como descontinuidade do serviço a sua interrupção em situação de emergência ou após prévio aviso, quando motivada por razões de ordem técnica ou de segurança das instalações e por inadimplemento do usuário, considerado o interesse da coletividade. 2.1.6 Dirigir com velocidade além da permitida para as vias Dirigir em alta velocidade coloca em risco a vida dos usuários e do próprio motorista e cobrador, se o veiculo apresentar um problema mecânico poderá acontecer um acidente grave, além de colocar em risco a vida de todos os passageiros, como o ocorrido com o expresso que se chocou no murro de uma residência quando o motorista perdeu o controle do veiculo que quebrou a barra de direção, felizmente o acidente nao causou grande danos porque o veiculo estava com velocidade baixa, porém se estivesse em alta velocidade, poderia ter acontecido um acidente com vitimas fatal. Conforme o noticiário de um dos maiores jornais da cidade Manaus em reportagem onde noticiou que um ônibus articulado da empresa Vitória Régia perdeu a direção e chocou-se com o murro da casa do industriário Ivan Furtado, na Avenida Santa Cruz Machado, no Japiim, zona sul de Manaus. Apenas uma mulher que estava entre os 20 passageiros ficou ferida no pulso, mas sem gravidade6. Percebe-se os problemas do transportes coletivos são varios e a velocidade e a pressa são problemas que os usuários enfrentam constantemente e muitas vezes esperam horas pelo coletivo e quando ele vem o motorista não para, seja porque está lotado, ou porque está 6 Jornal a Critica do dia 23 de maio de 2005 carderno A8. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 193 com pressa ou atrasado e quem sofrem com isso é o usuário, já que as empresas não dispõem de ônibus suficiente para atender a demanda. Além disso, o percurso da viagem é estipulado de acordo com a duração para cada linha, significa dizer que, se o motorista pegar engarrafamentos vai atrasar o horário da próxima viagem e consequentemente sua largada e para evitar que isso acontecça ele acaba dirigindo em alta velocidade e muitas vezes deixando usuários no ponto. 2.1.7 Alterar o itinerário sem justificativa Este mais um dos problema que infelizmente ja é considerado comum nas empresas, apesar de terem justificativas, mas o maior problemas é porque muitas vezes alteram o itinerário sem comunicar os usuários que saem prejudicados, enquanto que a lei Municipal, 8.984, art.257, assegura que são direitos dos usuários, dispor de amplo acesso às informações referentes à intinerário, ao horário, as alterações de rotas, ao número de veículos, aos pontos de paradas e terminais e outros dados pertinentes à operação de linhas que possibilitem uma fiscalização informal do sistema. E ainda fiscalizar o cumprimento dos itinerários, das viagens, dos horários, dos pontos de paradas e dos terminais, sendo postos respectivos de reclamações os terminais e o órgão da administração central do sistema, propor medidas que objetivem a melhoria do serviço e do sistema, diretamente à administração, ou por via de representação comunitária. Conforme o decreto lei n°. 8.297, art.20, de 10 de fevereiro de 2006, a definição de intinerários e a implantação de pontos de parada serão de competência exclusiva do Órgão Municipal Gestor dos Transportes. Ainda no referido decreto art.24 assegura que são obrigações dos prestadores de serviços de transportes coletivos urbanos de passageiros, cumprir rigorosamente as ordens de serviços emitidas pelo Orgão Municipal Gestor dos Transportes, manter em condições de pleno funcionamento os serviços delegados à sua responsabilidade, prestar os serviços cumprindo rigorosamente os horários, as frequências, as linhas, a tarifa, o itinerário, os pontos de parada e as condições definida pelo Órgão Municipal Gestor dos Transportes como; submeter-se à fiscalização do Órgão Municipal Gestor dos Transportes e das autoridades de trânsito, facilitando a ação e o cumprimento das determinações do Poder Público. 2.1.8 Retenção do troco Quanto ao problema com a falta de troco nos transportes coletivos, faz-se necessário uma lei que responsabilize as empresas com o fornecimento de moedas para facilitar o troco do usuário, já que o cobrador não deve ser o único responsável de providenciar as moedas para fornecer o troco ao usuário. Desta forma, cabe a empresa disponibilizar dinheiro miúdo para o cobradore repor seu caixa de viagem ou pelo menos dispor nas garagens de moedas suficientes para que os cobradores possam trocar e assim garantir o troco dos usuários. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 194 Enquanto as empresa não fornecem o dinheiro meúdo, os cobradores (as) são vitimas de humilhação, agressão e ainda são taxados de ladrões pelos usuários por não terem o troco, o usuário por sua vez não copreendem que as empresas não fornecem moedas para o cobrador passar o troco, além disso, muitos usuários não os compreendem que o cobrador além de trabalhador tem suas responsabilidades como pai de família e não tem condições de tirar uma quantia mensal do seu salário para repor caixa de viagem todos os dias. Para exemplificar, suponha que em uma catraca passem uma média de 400 a 500 pessoas por turno e 70% desse total entegou uma nota de um real ao cobrador para pagar meia passagem, ou uma nota de dois reais para pagar uma passagem inteira. Agora imaginemos que para dar o troco do passageiro que pagou a passagem inteira e do outro que pagou meia, seria necessário trinta centavos, sendo dez para um e vinte para outro, considerando que o valor da passagem é de R$ 1.00,00. Agora vamos calcular 70% de quinhentas passagens teremos trezentos e cinquenta passageiros, suponhamos que destes trezentos e cinquenta, duzentos pagaram a passagem inteira cabendo a cada um o troco de R$ 0,020 centavos, que multiplicado por duzentos, ou seja, os que pagaram a passagem inteira, teremos R$ 40. 00 Real, está seria a quantia necessaria para dar o troco somente aos usuários que pagaram passagem inteira durante um o turno. Digamos que dos 350 passageiros, 150 são pagantes de meia passagem e cada um terá direito a R$ 0,010 centavos considerando a tarifa de R$ 1, 080, multiplicaremos os cento e cinqüentas que pagaram meia passagem por R$ 0,010 centavos teremos R$ 15,00 Reais, quantia necessária para dar o troco somente dos estudantes, somando-se os R$ 40,00 +15,00 teremos a quantia de R$ 55,00 Reais. Agora fica a questão, será que o cobrador tem condições financeiras para guardar mensalmente esta quantia para trocar por moedas e assim facilitar a execução do seu trabalho? Já que esse valor não pode ser investido, tendo que está disponivel para repor o caixa todos os dias, ou será que mesmo ele tendo condições de guardar esta quantia, ele vai conseguir encontrar moedas para trocar, já que as mesmas estão escassas? E será que ele dispõe de tempo para sair para trocar o dinheiro graúdo por moedas, levando em consideração que o seu trabalho consome maior parte de seu tempo? Observe o que diz a lei em relação ao troco no transporte coletivo de Manaus, o artigo 257 da LOMAN assegura que são direitos do usuário, receber troco integral quando efetuar o pagamento com a moeda mais próxima de 05 (cinco) vezes o valor de uma passagem inteira, sendo o passageiro transportado gratuitamente em caso de inexistência do troco integral. O § 1° assegura aos estudantes do ensino fundamental e médio, de curso de prévestibular, aos universitários, dos cursos supletivos e aos professores do ensino fundamental, médio e superior tanto da rede pública e particular o direito a 120 (cento e vinte) passes por mês que ganta o pagamento da meia passagem nos transportes coletivos urbanos de passageiros. De acordo com o parágrafo anterior, a garantia dos 120 (cento e vinte) passes em todos os meses do ano, para tanto o estudante deverá apresentar a carteira de identidade estudantil, ou funcional para professores, de instituição de ensino devidamente cadastrado no órgão competente, podendo o estudante efetuar o pagamento, opcionalmente, na catraca, em moeda corrente ou pelo sistema pré-pago nos postos Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 195 autorizados. (o pagamento em especie atualmente não é mais permitido nos transportes coletivos da Cidade de Manaus). No § 3° do mesmo artigo, estabelece que o valor da meia passagem será a metade do valor da tarifa, arredondada a menor para valor múltiplo de 5 ou 10, sendo o empresário obrigado a publicitar, através de cartazes no interior dos ônibus, o valor da moeda com a indicação do artigo e parágrafo da LOMAN que obriga o troco integral. Pode-se observar que em nenhum momento a lei responsabiliza as empresas a dispor de moedas suficientes para o cobrador trabalhar, caso que em algumas lojas como os supermercados ver-se que os funcionários dispõe de moedas para trabalhar e evitar problemas com os clientes. Toda via, as empresas deveriam ser obrigadas por lei a disponibilizar de moedas nas garagens para o cobrador e assim garantir que ele possa trocar e executar seu trabalho com isso, evtitar os atrito entre cobradores e os usuários, já que as mesmas não fornecem do seu próprio rendimento as moedas para repor caixa de viagem. Diante da problematica, será preciso que se tome algumas providências caso contrário sempre que a tarifa for reajustada em quantia fracionária o problema com a falta de troco continuará e os desentendimentos entre cobradores e usuários também. 2.2.1 Direitos do usuário e dos trababalhadores do transporte coletivo de Manaus Conforme pode-se observar a lei 8.984 da LOMAN, art. 257, determina que as empresas de transporte coletivo seletivo ou não, devem manter os veiculos em plena condições de segurança, conforto, higiene, a preço justo, garantir o amplo acesso às informações referentes a itinerário, horário, alterações de rotas, número de veículos, pontos de paradas e terminais e outros dados pertinentes à operação de linhas que possibilitem uma fiscalização informal do sistema. No entanto, a questão da segurança é um dos principais desafio a serem vencidos pelo poder publico e empresários da cidade de Manaus que nos ultimos anos vem enfrentando uma onda de assalto a coletivos. A violência como é o caso dos assaltos a ônibus, é um dos problemas que mais aflingem os motoristas, cobradores e usuários, já que frequentemente são vitimados, sofrendo as sequelas, pois sabe-se que na abordagem, motorista, cobradores e passageiros, sofrem pressões psicológicas e muitos deles ficam com problemas sérios de saúde. existem casos em que alguns cobradores ficaram com sequelas cerebrais depois de uma serie de assaltos sofridos, muitos deles se encontram afastados do trabalhos para tratamento. Existe casos de cobradores que tiveram problemas de saúde considerado irreversíveis pelos peritos do INSS e foram aposentados por invalidez. Tudo isso é lamentavel principalmente porque em muitos deses assaltos o desfexo termina com vitimas fatais tornando noticia em todos os jornais, como o que aconteceu com o motorista Antonio, 47 anos idade, 11 deles dedicados á profissão foi alvejado com um tiro na cabeça depois de um assalto ocorrido na linha 054 poucos minutos depois de ter saído do terminal de número 3 no bairro da Cidade Nova (T3) onde voltou num cortejo fúnebre, a cena do corpo do motorista em um caixão, marcou o histórico de violência nos Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 196 transportes coletivos da cidade de Manaus e gerou estado de constentação aos usuários7. Infelizmente esse nao é um caso isolado, ja houveram varios obitos de motoristas e cobradores em decorrencia de assaltos a ônibus. Quando estava concluindo esse estudo, o Município de Manaus registrou mais um caso de violência grave no transporte coletivo, o que deixou evidente a falta de segurança tanto para os usuários como para motoristas e cobradores, por mais que existam as leis que asseguram seus direito como é o caso da lei 8.984 - LOMAN, onde no art. 258,§ em que determina que a administração pública, permissionárias e as concessionárias de transporte púplico deve garantir a segurança entre outros serviços, porém não é o que se vê no interior dos coletivos, isso gera um medo excessivo entre os usuários, motoristas e cobradores de serem abordados por bandidos. Outro assalto a ônibus que foi noticia nos jornais aconteceu na cidade de Manaus na linha 422 no dia 07 de Maio de 2007, quando um cobrador foi alvejado com um tiro de escopeta indo a óbito, a morte do cobrador de ônibus Gilberto Alves de Oliveira, 23 anos de idade, baleado por um assaltante no bairro do Parque das Laranjeiras, zona centro sul da cida, o caso levou a direção do Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários a realizar um protesto contra a falta de segurança no transporte coletivo, paralisando terminais e impedindo a passagem dos coletivos em alguns pontos do centro de Manaus. Segundo os diretores do sindicato dois homens entraram no veículo da linha 422 da empresa Eucatur na altura do Parque das Laranjeiras e anunciaram o assalto. Sem esboçar reação, Gilberto entregou parte da renda que estava na gaveta. Os assaltantes desceram e sairam andando normalmente. Um deles voltou e atirou atingindo o cobrador nas costas que morreu no local8. Percebe-se que o transporte coletivo de Manaus precisa de políticas públicas que sejam a curto e médio prazo, e tenham como objetivo principal resolver a questão da segurança e da saúde dos trabalhadores. Vale ressaltar que estas políticas devam ser elaboradas e implantadas de acordo com a realidade do Município de Manaus. É importante deixar claro aqui que a população não pode mais aceitar o descaso por parte do Municipio e dos empresários quando se refere aos problemas nos transportes coletivos de Manaus e principalmente com a falta de segurança. Observa-se que as autoridades vem agindo como se tudo isso fosse normal, já só se falam no assunto quando acontece uma fatalidade e cai na midia, depois o problema é abafado e engavetado, enquanto isso trabalhadores e população fica a mercê da propria sorte. Além dos motoristas e cobradores sofrerem com os danos psicológicas causados pelos assaltantes,os cobradores quando sobrevivem ao assalto ainda são obrigados a pagar pela quantia que foi roubada, mesmo que ele tenha feito a ocorrência na delegacia de policia. Ver-se que este é mais um dos problemas que os motoristas e cobradores e os usuários enfrentam nos transportes coletivos de Manaus, estes ultimos são vitimas tanto da violencia psicologica quanto dos danos materiais, já que os bandidos levam todos os seus pertences e até o momento ninguém se responsabiliza por esse dano. Além dos problemas acima, existem outros tão quanto piores como é o caso dos pontos de paradas que não oferecem 7 8 Jornal Diário do Amazonas do dia 23 de julho de 2005. Jornal a Critica de 07 de Maio de 2007. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 197 conforto nem segurança para os usuarios, percebe-se que em muitos pontos não ha cobertura, assentos para os ususarios que esperam pelo coletivo em pé e muito menos as placas de identificação das linhas, aqueles que possuem as placas, muitas delas estão desatualizadas, outros estão com iluminação précaria quando não estão sem iluminação o que eleva o índice de assaltos a passageiros nos pontos. Outro prolema comun é a falta de iluminação nas plataformas dos ônibus Expressos, principalmente aquelas localizado nas zonas norte e leste da cidade de Manaus, o que provalmente contribuí para o aumento dos assaltos principalmente durante a noite. Em entrevista cedida ao Jornal um passageiro declarou que se sente ameaçado com a constante ação dos criminosos disse que por duas vezes foi roubado em uma plataforma. Outro passageiro, o comerciante Mario José Cardoso de 45 anos afirmou que o medo da violência o fez parar de usar o Sistema Expresso durante á noite. E disse que se seinte inseguro nas plataformas, local que segundo ele, “antes servia de pontto de ônibus, mas agora é território de bandidos”9. Além dos problemas acima mencionados, existe ainda aqueles refentes aos pontos em que as ruas estão esburacadas, acumulando água da chuva e quando os carros passam molham os usuários, estes que ainda são obrigados a esperar pelo transportes público expostos ao sol e a chuvas. Em entrevista cedida a um Jornal, a idosa dona Ondina de Souza Lima, 74 anos, reclamou da demora das linhas 501 e 502 que passam no Parque Municipal do Idoso no bairro Nossa Senhora das Graças, Zona Centro Sul de Manaus. A aposentada afirma que os ônibus que atendem a essas linham chegam a demorar cerca de duas horas para passar nos ponto de parada, disse que os idosos são obririgados espera debaixo de chuvas e sol. Afirmou também que eles já levaram o problema a diretoria do Parque, mas eles não podem resolver porque não é de sua competência, disse ainda que os ônibus estão velhos e apresentam constantes problemas10. Possivelmente os problemas que os usuários enfrentam nos pontos de ônibus refletem no interior dos mesmo, pode ser também que o usuário já embarque revoltados com a demora dos ônihus, isso somado aos demais problemas, pode ser um dos fotores geradores dos conflitos como as discussaoes entre os usuarios/cobradores e entre usuarios/motoristas. Estes ultimos por sua vez também já estão estressados devido à jornadas extensas de trabalho, outro problema que pode ser considerado outro fator causadores das desavenças entre usuários e operadores. De acordo com os dados do IMTU, Manaus tem mais de cinco mil pontos de ônihus sem abrigo. Ainda segundo esse o órgão, a prefeitura mantém apenas 600 paradas de ônibus que são protegidos por telhas de barro. Sendo a empresa Cemusa responsável por outros 364 pontos em aço e acrilico. Cerca de 10% dos 600 dos abrigos de paradas de ônibus estão com telhado comprometido e outros 90% precisam de manutenção, como limpeza e pintura. Em entrvista cedida a um jornal, os usuários reclamaram que nos meses de maior incidência de chuvas como os meses de fevereiro, março e abril, eles precisam se proteger 9 10 Jornal Diário do Amazonas, reportagem do dia 18 de julho de 2006. Jornal Diário do Amazonas edição do dia 22 de fevereiro de 2005. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 198 com guarda-chuvas enquanto esperam pelo ônibus. A maioria dos pontos sem coberturas estão nos bairros da periferia, mas os conjuntos residenciais nas áreas nobres da cidade também enfrentam os mesmos problemas11. Conforme consta na LOMAN, a definição de itinerários e a implantação de pontos de parada são de competência exclusiva do Órgão Municipal Gestor dos Transportes público. Percebe-se que lei estabelece que o Município como órgão responsável polos serviços, deve construir e preservar os pontos de ônibus em perfeito estado, estabelece ainda que os contratos de publicações serão firmados exclusivamente com o Município através do Órgão Municipal de Administração do transportes urbanos, os recursos provenientes de publicação, se incorporarão ao fundo de desenvolvimento urbano devendo ser destinando exclusivamente para a recuperação e conservação das vias públicas de uso do sistema e construção e manutenção dos pontos de captação de passageiros. 3. Resultados e discursão A pesquisa foi realizada na ANAT/AM, com os motoristas e cobradores que se econtravam afastados do trabalho por motivo de doenças e eram associados da ANAT/AM. Segundo o responsavél, doutor Aparecido Gomes dos Santos, a ANAT/AM, foi idealizada por ele, pelo Dr. Nina Barreto e pelos usuários do INSS, que no dia 18 de fevereiro de 2006, após fazerem uma denúncia ao Ministério Público Federal contra as arbitrariedades cometidas pelos médicos peritos da Previdência Social contra os trabalhadores adoecidos, e aqueles que necessitam de auxilio doença, benefícios e aposentadorias, resolveram fundar uma associação para juntos lutarem em busca de seus direitos. A associação foi fundada dentro do Ministério Público Federal, após uma reunião com os trabalhadores, e nesta data o senhor Sandro Passos, administrador de linha da empresa União Cascavel de Transportes Urbanos e Turismos EUCATUR, comprometeu-se em assumir a formação da Associação Nacional de Apoio aos Trabalhadores Portadores de Patologia no Estado do Amazonas - ANAT/AM e formar uma diretoria juntamnente com os Trabalhadores dos transporte coletivo de Manaus. Em entrevista, doutor Aparecido afirmou que o objetivo da ANAT/AM é amparar os trabalhadores e suas famílias, garantir através do Ministério Público Federal e do Estado do Amazonas os seus direitos, tendo como o público alvo todos os trabalhadores de todas as profissões que se sentirem marginalizados pelas empresas ou pelo governo seja Municipal, Estadual ou Federal, diz que a associação oferece aos associados, acesso a advogados, médicos, fisioterapia e farmácia, enfatiza que o projeto pretende fundar outras filias em cidades brasileiras com mais de 200 mil habitantes. Conforme observado em documentos, a ANAT/AM possui 359 associados, sendo que 185 são motoristas de ônibus urbanos, 108 são cobradores e 66 são de outras profissões entre as quais podemos citar vigilantes, radialistas, marceneiros, agente comunitário de saúde, operador de estação de tratamento de água (ETA), laboratorista, técnico de 11 Jornal Diário do Amazonas do dia 18 de julho 2006. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 199 enfermagem, administrador de linha, operador de máquina pesadas, serventes, costureiras, domésticas, auxiliar de conzinha, auxiliar de refrigeração, pedreiro, comerciante, soldador, careteiro e servidor público municipal entre outros. De acordo com o Doutor Aparecido, a ANAT/AM, até o momento não recebia recursos por parte dos poderes Municipais, Estaduais e Federal, mantendo-se com as mensalidades pagas pelos associados, cujo valor corresponde a 10% do salário mínimo, além de eventos realizados pelo presidente juntamente com os associados. Diz que a associação está em processo de reconhecimento até porque, foi fundada há um ano, estando em processo de cadastramento para o requerimento do CNPJ. Doutor Aparecido ressalta que dos serviços oferecidos o mais importante são as palestras referente aos direitos trabalhistas e de previdência social já que todos os associados são trabalhadores que se encontram afastados do trabalho devido alguma patologia, sobrevivendo com o salário advindo do auxilio doença. Os dados da pesquisa de campo expostos a seguir apontam que a saúde destes trabalhadores está precária. Tabela 7. Dados da pesquisa de campo TEMPO DE TRABALHO % De 1 a 5 anos 23 De 6 a 10 anos 23 De 10 a 15 anos 54 TEMPO DE AFASTAMENTO % De 2 meses a 1 ano 32 De 2 a 4 anos 54 De 5 a 6 anos 14 DOENÇA ADQUIRIDA % Depressão 6 Hérnia de disco 54 Artrose 9 Busite 20 Labirintite 6 Outros 5 VOCÊ TEM CONHECIMENTO SOBRE SUA DOENÇA? % Sim 23 Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 200 Não 77 COMO VOCÊ SE SENTIU COM A DESCOBERTA DA DOENÇA? % Triste 27 Preocupado 27 Sensação de incapacidade 9 Angustia 37 VOCÊ POSSUIA ALGUMA DOENÇA ANTES DE EMTRAR NA EMPRESA? % Sim 5 Não 95 COMO VOCÊ CLASSIFICA O ATENDIMENTO NO INSS? % Normal 14 Ruim 14 Regular 49 Péssimo 23 COMO FOI O ATENDIMENTO NA EMPRESA? % Bom 5 Regular 41 Péssimo 54 QUAL ERA SUA JORNADA DE TRABALHO? % Sete horas e vinte 4 Oito horas 13 Nove horas 4 Dez horas 35 Mais de dez horas 44 VOCÊ FAZIE VIRADA? % Sim 82 Não 18 PORQUE VOCÊ FAZIA AS VIRADAS? % Por falta de funcionário 18 Por necessidades financeiras 64 Era pressionado pela chefia 18 Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 201 VOCÊ SENTIA SONO NO VOLANTE % Sim 82 Não 18 COMO ERA FEITO O PAGAMENTO DAS HORAS EXTRAS (VIRADAS)? % No contra cheque 14 Recibo diário 18 Nos finais de semana 36 Como horas normais 18 Em banco de horas 14 PRA VOCÊ QUAL É A RESPONSSABILIDADE DO SINDICATO? % Lutar em prol da categoria 36 Viabilizar os direitos da categoria 64 Fonte: Dados coletados em pesquisa de campo na ANAT/AM, em março de 2007. Dos 22 entrevistados, 14 exerciam a função de cobrador e 8 de motorista. O profissional motorista do transporte coletivo no exercício de sua profissão sofre inúmeras pressões, por parte das empresas que fazem cobranças constantes, do IMTU órgão responsável pela fiscalização do sistema viário e do transporte coletivo e dos usuários em relação ao ponto de parada que muitas vezes o motorista não para, seja porque está com presa ou porque não ouve o sinal de parada e passa do ponto gerando desavenças dentro do coletivo. Os principais fatores que influênciam no má desempenho de motoristas como aponta Almeida (1991) apud (Freitas, 2006, p. 31) definem-se como externo e internos, os fatores externos são considerados aqueles relacionados a segurança física, as exigências dos usuários, as condições do tempo, as condições das vias, o trânsito lento, congestionamentos, as deficiências nas sinalizações, poluição sonora, poluição visual, iluminação deficiente, temperatura do motor e condições de trabalho em geral. Como fatores internos podemos apontar as doenças crônicas ou agudas, problemas de visão auditivos, automedicação, fadiga (devido as jornadas de trabalho extensas), estresses, calor, cansaço, desrespeito ás leis de trânsito, o desrespeito de outros motoristas, álcool e drogas e problemas pessoal. A profissão de motorista exige movimentos repetitivos, concentração e responsabilidade uma vez que está transportando vidas. Devido a estes fatores a profissão se torna estressante e reflete na saúde destes profissionais. Já a função de cobrador se torna estressante devido a grande lotação, pela reclamação dos usuarios ao cobrador como se ele fosse o responsável pelo problema da lotação, o problema do troco que é escasso tornando dificil trabalhar, os assaltos que afetam diretamente o cobrador por ser ele o responsável pela renda, vale lembrar aqui que muitos cobradores já foram vitimas de assaltos sofrendo Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 202 violência física e psicológica, outros perderam a vida, além destes problemas eles ainda são obrigados a pagar a quantia roubada. Apesar da existir um acordo realizado entre o Ministério do Trabalho e Emprego e o Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários de Manaus e o Sindicato das Empresas de Transporte - SINETRAN com a presença dos respectivos representante como o Sr. César Tadeu Teixeira diretor executivo do SINETRAN, o Sr. Josildo de Oliveira Silva, vice-presidente, o Sr. Elcio Campos Rêgo e o diretor Gilvancir de Oliveira Silva, representando o Sindicato dos rodoviários o acordo foi realizado em 01 de setembro de 2006. Processo n° 192. mediado pelo Sr. Francisco das Chagas O. Rodrigues chefe de relação do trabalho do Sindicato dos Rodoviários. Francisco Rodrigues fala que o descontentamento da categoria é percebido pela constante ameaça de paralização, principalmente em virtude dos descontos de valores em assaltos, o que fez que a Delegacia do Trabalho convidasse as partes para uma mesa redonda, para discutir o assunto e buscar um entendimento conjunto, o Sr Rodrigues afirma que apesar de serem justas as reivindicações dos trabalhadores é preciso analisar o problema com cautela. No processo ficou estabelecido que havendo assalto do empregado é descontado o valor somente se for superior a R$ 75,00 reais, porque considera-se que se o roubo foi superir a R$ 75,00, significa que o empregado não colocou o excesso no cofre, conforme a claúsula 42ª e parágrafos da Sentença Normativa de Trabalho, que regulamenta as relações de trabalho da categoria. Rodrigues diz que existe uma sentença normativa a situação e o caminho para resolver deve ser o legal, conforme previsto no art. 873 da CLT, e afirma que o SINETRAN prevê solução a curto prazo para reduzir os assaltos a ônibus, entre os quais, a suspenão do vale transporte e do passe estudantil, diz que essas medidas serão tomadas com a implantação total do sistema de integração temporal, previsto para o início do próximo ano, e segundo ele com isso, praticamente não haverá mais pagamento em dinheiro nas catracas com isso se espera resolver o problema de assaltos nos coletivos. O documento regula o uso dos cofres pelos cobradores e estabelece que caso o cofre não esteja em perfeito estado de funcionamento e conservação, para permitir que o empregado o use quer no primeiro ou nos demais turnos, o empregado não pode ser responsabilizado. Tal situação poderá ser constatada na delegacia, quando os empregados forem lavrar boletim de ocorrência, se a empresa não permitir que o empregado coloque a renda no cofre no primeiro turno e nos demais, por qualquer motivo, o empregado não poderá ser responsabilizado, terceiro a empresa é responsável pela abertura e conferência do cofre e deverá propiciar as condições para fazê-lo com rapidez pois o cobrador não poderá sofrer prejuízo por isto, inclusive de horário o empregado só assinará o ponto deppois da conferência do cofre, conforme cláusula 14ª da convenção coletiva, devendo o empregado receber horas extras se estrapolar o horário. No entanto, ja se passaram quase um ano após este acordo e até o momento nem uma medida foi tomada referente ao pagamento de valores roubados em assaltos á ônibus, os cobradores continuam pagando o prejuízo dos empresários e quando se recusam são punidos ou até mesmo demitidos. O maior problema dos cofres é porque quando o cobrador não coloca a renda no cofre e se recusa entregá-la aos bandidos no momento do Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 203 assalto, eles são assassinados, e quando colocam a renda no cofre eles são assassinados ou espancados como aconteceu com a cobradora da linha 611 que teve as mãos esfaqueada por não ter renda para dar aos bandidos, eles ficam revoltados por não encontrarem dinheiro no caixa e espancamo cobrador. O prior de tudo isso é que quando o cobrador nao é assassinado ele ainda é obrigado a pagar a quantia levada pelo bandido. O SINETRAN implantou o sistema passa fácil recentemente para tentar solucionar o problema, porém a meia passagem ainda é paga em espécie o que não resolveu o problema do troco e dos assaltos já que ainda existe dinheiro circulando mesmo sendo em menor quantidade, mas que para os bandidos não importa a quantia. Os dados da pesquisa apontaram que o tempo de trabalho na mesma empresa foi 23% entre 1 e 5 anos, 6 e 10 anos 23%, entre 10 e 15 anos 54%. Percebe-se que o tempo de trabalho desses trabalhadores pode ser um dos fatores para surgimento das doenças relacionadas ao trabalho já que estudos apontam que essas doenças estão associadas ao tempo e duração do trabalho. Uma pessoa que trabalha mais de dez horas por dia por mais de dez anos na mesma atividade, esta propensa a adquirir LER/DORT, doenças do trabalho ou relacionada ao trabalho, além destes fatores, existem outros que contribuem para o surgimento de doenças do trabalho ou relacionada ao trabalho. O trabalho muscular estático ocorre, por exemplo, quando um membro é mantido em determinada posição, lutando contra a gravidade e quando as estruturas músculosesqueléticos devem suportar o peso desse membro, como no caso do trabalho com os braços elevados, acima do nível da cintura escapular, outro exemplo seria o trabalho em postura sentada (BRASIL, 2005, 27). Os autores Rios e Pires (2004) apud Freitas (2006, p. 38) também argumentam que a posição sentada possibilita pouca margem de movimentação, tendo como consequência uma carga estática sobre certos segmentos corporais. Observa-se que motoristas e cobradores desenvolvem suas atividades em posição sentada e estática, o motorista trabalha com os braços elevados, executa movimentos laterais com a cabeça para observar a porta traseira na hora do embarque ou desembarque ou para olhar o retrovisor, está comprimido entre a cadeira e o volante, trabalha por longo tempo sem poder movimentar as pernas o que com o tempo poderá refletir na sua saúde e proporcionar para o surgimento de doenças como a hérnia de disco artrose e outras doenças relacionadas ao trabalho. A postura inadequada é assumida pelos trabalhadores para realizarem as operações do ciclo de trabalho quando o posto de trabalho é inadaptado para cada articulação, pode-se definir uma postura de base em que as exigências ligadas à sua manutenção são mínimas e as estruturas anatômicas estão em posições favoráveis (BRASIL, 2005, p. 25). Desta forma, o trabalho sentado, a temporalidade, a repetitividade, o ritmo, e a exigência de produção, contribuem para a sobrecarga dos músculos e para o surgimento das doenças na coluna, já que está suporta o peso do tronco, contribuindo assim para o surgimento de doenças na coluna vertebral como a hérnia de disco. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 204 Os dados apontaram que alguns trabalhadores estavam afastados do trabalho por mais de cinco anos, mostrando o porquê da Previdência Social está sobrecarregada com o indice elevado de trabalhadores doentes. Sendo que a qualidade dos serviços e dos profissionais e a dinâmica interdisciplinar de uma equipe de saúde são fundamentais para haver melhoras significativas no atendimento de paciente com LER/DORT, assim o tempo de afastamento será tanto menor quanto maior for a eficácia do tratamento, e que é extremamente desejável ao paciente, à empresa e à Previdência Social (BRASIL, 2005, p. 25). No entanto, muitos trabalhadores ainda ficam afastados do trabalho por um longo período devido à falta de diagnóstico da doença principalmente, as LER/DORT das quais se inclui a hérnia de disco considerada doença decorrente do trabalho, de acordo com a Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho, Portaria n°. 1.339 /GM. De 18 de novembro de 1999. 2° edição. 2005 e a Classificação Internacional de Doenças (CID). Parecenos que a dificuldade de diagnosticar a doença faz que os médicos peritos da Previdência mandem os trabalhadores principalmente motoristas e cobradores acometidos por hérnia de disco, voltarem ao trabalho por não procurer relacionar a doença com as atividades laborais do trabalhador, este que ao receber alta fica preocupado com sua saúde tornando-se debilitado e ancioso em relação ao destino. O correto diagnóstico de LER/DORT implica em conceder benefícios Previdenciários específicos a acidentes do trabalho. Essa decisão exige rigor, qualidade, aliás, necessária em qualquer campo de atuação. Brasil (2005), a fragilidade existente no trato com a questão saúde do trabalhador faz que muitos fiquem afastados por um longo período, e ao retornarem as atividades acabam não suportando a dor e retorna novamente ao INSS. Como os médicos não encaminham para reabilitação e também não encaminham para aposentadoria eles ficam como se fossem “ ping-pongs” jogados de um lado para outro, ou seja, o médico manda para a empresa e a empresa manda para o INSS, porque trabalhador doente não gera lucro por isso não interessa para a empresa. Em relação às doenças motivadoras do afastastamento do trabalho, 6% dos entrevistados responderam ser devido à depressão, 54% hérnia de disco, 20% artrose, 9% bursite e 6% labirintite. Destes, 5% responderam que estavam afetados por mais de uma patologia como, por exemplo, a hérnia de disco e depressão. Davidoff (2001, p. 553) descreve a depressão como sendo é um estado mais intenso e persistente diz que durante a depressão profunda, as pessoas sentem-se desesperançosas e desanimadas e o tempo custa a passar. Os Pacientes com LER/DORT apresentam evidencia de depressão ansiedade e angustia, porém, em geral, trata-se de quadros decorrentes de situações concretas de perda da identidade no trabalho, na família e no círculo social, além da penosidade de se submeter os tratamentos longos, de resultados lentos e incertos, e perícia nas quais estão sendo constantemente questionados como se estivessem querendo “está doente”. Observa-se que as pessoas com problemas geralmente eram consideras rápidas no trabalho, eficientes e às vezes competitivas, porém, acredita-se que essas características são determinadas e/ou reforçadas pela organização do trabalho (BRASIL, 2005, p. 25). Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 205 A hérnia de disco aparece com índice muito alto entre os entrevistados. Brunner (2000) explica que a herniação do disco intervertebral (ruptura de disco), se dar quando o núcleo do disco faz protrusão para dentro do ânulo (anel fibroso ao redor do disco), com subsequente compressão nervosa. Protrusão ou ruptura do núcleo pulposo geralmente é precedida por alterações degenerativas que ocorrem com o envelhecimento. Ainda segundo o autor, a perda de polissacarídeos protéicos no disco aumenta o conteúdo hídrico do núcleo pulposo. O desenvolvimento de fissuras irradiadas no ânulo enfraquece a resistência à herniacão do núcleo que depois de um trauma (quedas, acidentes e estresse menores repetidos, como o levantamento), a cartilagem pode ser lesada. Hermógenes (1973) decreve que nossa coluna é composta, por 33 ossinhos alinhados uns sobre os outro, são as vértebras, a coluna é a estrutura mais importante do nosso corpo, é ela que suporta todo peso do corpo, cada vértebra é igual a um anel que sobre postas uma sobre outra, forma um tubo, um canal chamado de canal raquidiano por onde corre a médula, responsável de levar os impulsos nervosos transmitidos pelo cérebro. O autor sfirma que a médula é considerada a condutora de transmissão ligando o cérebro ás diversas partes do corpo, esse trabalho realizado pela médula se dar através dos burracos de conjugação, formados no espaço entre uma vértebra e outra, os nervos raquidianos levam o impulso motor que comanda as funções e os movimentos de órgão, vísceras, músculos e glândulas e transmitem a médula ás sensações que vem da periferia. Diz que, existe entre uma vértebra e outra um disco intervertebral cartilaginoso, para reduzir os impactos, amaciar choques e traumatismos, esses discos são comparados a uma almofada, fala que existem também os músculos e os ligamentos responsáveis de manter as pecas e os discos no seu devido lugar. Conforme doutor Hemogenes, a coluna possui quatro regiões, cervical composta por sete vértebras, que se encontra acima do pescoço e define a nuca, a dorsal composta por doze vértebras, e se encontra abaixo dos ombros e vai até a cintura, a lombar composta por cinco vértebras e vai um pouco acima das nádegas e a sacro-coccígea composta por nove vértebras. Afirma atambém que, quando a coluna não está bem, todo o corpo sofre os efeitos principalmente quando o individuo está com hérnia de disco, doença que acomete principalmente as pessoas que se submetem a muito esforço ou que mantém uma postura errônea por muito tempo. Smeltzer (2000. p. 1671) por sua vez reforça que com a degeneração do disco, a cápsula faz pressão para trás, para dentro do canal medular, ou pode romper-se e permitir que o núcleo pulposo seja empurrado para trás, contra o saco dural ou contra um nervo espinhal, quando ele emerge a partir da coluna vertebral. Essa sequência produz dor devido á pressão na área de distribuição das terminações nervosas envolvidas (radiculopatia). A pressão continuada pode produzir alterações degenerativas no nervo afetado, como as alterações na sensação e na ação reflexa. Para Smeltzer (2000) um disco hérniado com dor acompanhante, pode ocorrer em qualquer porção da coluna vertebral, cervical, torácica (rara) ou lombar. A manifestação clinica dependem da localização, velocidade de desenvolvimento (aguda ou crônica) e efeito sobre as estruturas circunvizinhas, o outor diz que um disco hérniado é uma placa cartilaginosa que forma um alcochoamento entre os Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 206 corpos vertebrais. Esse material fibroso e áspero é incorporado em uma cápsula. Um alcochoamento semelhante a uma bola no centro do disco é chamado de núcleo pulposo. Neste sentido, podemos afirma que estresses, quebra molas, posição incorreta, falta de exercício físico, ruas esburacadas, jornada de trabalho intensa, cobrança, concentração no trânsito e falta de descanso, podem contribuir para o surgimento de doenças na coluna de motoristas e cobradores. Todavia as queixas de dores na coluna entre estes profissionais são frequentes e em muitos casos só procuram cuidados médicos quando a doença já está num grau bem avançado o que dificulta o tratamento. Pode-se afirmar também que as condições precárias dos ônibus podem contribui para o agravo da saúde desses trabalhadores, já a maior parte da frota se encontra danificada e sem condições de circular, estes que além de não oferecer segurança e conforto, muitos estão com as cadeiras soltas e os amortecedores quebrados e não amortecem os impactos sobre a coluna dos usuários e trabalhadores, por outro lado existem as janelas com vidros soltos que batem emitindo barulhos que irritam e causam danos auditivos. Na verdade, a hérnia de disco em motoristas e cobradores está relacionada à jornada de trabalho que vai além do recomendado, muitos fazem as “viradas”, ou seja, trabalham nos dois turnos, sobrecarregando os músculos comprometendo e causando danos a saúde que depois muitos anos na mesma atividade começam a sentir o efeito na coluna e vão somarse a outros trabalhadores usuários da Previdência Social, causando despesas aos cofres públicos. Acredita-se que se houvesse fiscalização do Ministério Público do Trabalho nas empresas, o problema poderia ser amenizado. Quando perguntado se os entrevistados tinham conhecimento da sua doença, 23% responderam que sim e 77% responderam não, é importante que haja uma procura ativa e não uma espera passiva no ambulatório médico. Sabe-se que o trabalhador frequentemente posterga a procura de auxilio médico, por motivos diversos e alguns deles seja por falta de informação, dificuldade em perceber e assumir que está com sintomas, medo de ser marginalizado e demitido, não procuram por cuidados médicos precocemente (BRASIL, 2005). Observa-se que a falta de conhecimento da doença faz que os trabalhadores sejam lesados quanto aos seus direitos, uma vez que as doenças do trabalho ou relacionadas ao trabalho e as doenças comuns merecem tratamentos diferenciados, assim, as doenças ocupacionais ou decorrentes do trabalho, quando diagnosticadas serão notificadas sob o código 91 e o trabalhador terá direito aos benefícios adquiridos como o recolhimento do FGTS, estabilidade no emprego por um ano após o retorno, a cesta básica e os medicamentos necessários até ficar curado. Conforme manchete circulada em jornal impresso, o presidente Luiz Inácio da Silva, afirmou que os trabalhadores têm dificuldade de comprovar que as doenças como as Lesão por Esforço Repetitivo – LER, por exemplo, foram causadas pelo trabalho. Com isso, eles acabam recorrendo ao INSS por meio do auxilio doença, quando deveriam ter direito ao auxilio doença acidentário, o que garante o depósito mensal do FGTS e estabilidade de 12 Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 207 meses no emprego após a licença12. Assim, as doenças comuns serão notificadas sob o código 31 e não causam percas para o trabalhador, porém quando o INSS notifica a doença do trabalho como doença comum, o trabalhador perde todos os direitos, que teria se a doença fosse notificada como decorrente do trabalho, como os trabalhadores não tem conhecimento, terminam não procurando seus direitos. Contudo, existem motoristas e cobradores com diagnóstico de hérnia de disco, que estão recebendo o auxilio doença ao invés de estarem recebendo auxilio doença acidentária, uma vez que a hérnia de disco foi adquirida no trabalho devido as atividade que este profissional desnvolvem, a hérnia de disco é considerada no CID-10 como doença de natureza ocupacional, e considerada como a principal causa das dorsalgia (M54. -); cervicalgia (M54. - 2); ciática (M 54. - 3); lumbago com ciática (M54. 4) e artroses (M19.); posições forçadas e gestos repetitivos (Z57. 8), ritmo de trabalho penoso (Z56. 3), condições dificies de trabalho (Z56. 5) (BRASIL, 2005). Sebe-se que tramita no senado federal a reformulação da lei 8.212, que deverá ser sanciondada pelo Presidente da República, a MP n°. 316 de agosto 2006, vem com intuito de facilitar a comprovação de doenças relacionadas ao trabalho, estabelecendo a relação entre a doença e o local de trabalho, atualmente há maior espaço social e cultural para a manifestação das pessoas com LER/DORT e ouros quadros de queixas subjetivas e de dificil visualização física, por exemplo, pessoa que há 30 anos padeciam do que hoje é conhecido como sindrome do pánico,costumavam ser condenadas a viver como as ‘‘esquisitas da família’’ e eram frequentemente marginalizadas (BRASIL, 2005, p. 14). No entanto, hoje as possibilidades de tratamento e vida integrada dessas pessoas são muito maiores. A própria idéia de saúde, bem-estar e qualidade de vida vêm mudando com o tempo, exigindo da sociedade uma resposta frente a esse problema. Porém no caso de hérnia de disco, ainda não há aceitação por parte dos peritos do INSS de que seja uma doença decorrente do trabalho mesmo que constando no CID - 10 na lista de doenças relacionadas ao trabalho. Com isso os trabalhadores do transporte coletivo, principalmente aqueles que se encontram afastados por diagnóstico de hérnia de disco, são os que mais sofrem as consequências, principalmente devido à falta de conhecimento da doença, ou por falta de vontade de alguns peritos, já que muitos estão sem condições de trabalhar e mesmo assim é obrigada a volta ao trabalho. Ao voltar para o trabalho nessas circunstâncias, alguns meses depois começam a sentir dor devido às atividades que desenvolvem na posição sentada, fazendo que a coluna fique forçada por muito tempo agravando ainda mais o problema e reotandando novamente ao INSS. Os quadros de ciática (M54. 3), e lumbago com ciática (M64. 4) são aumento de pressão intra-abdominal (tosse, espirros, defecação) e que irradia pela face posterior da coxa até a face lateral do tornozelo e pé. Esse quadro pode evoluir para uma degeneração do disco intervertebral, causando a hérnia de disco, osteoartroses e/ou osteofitose da coluna e história de trauma da coluna (BRASIL, 2001, p. 453). Ao questioná-los sobre qual o sentimento com a descoberta da doença, 27% responderam que sentiram tristeza, 27 % deisseram que ficaram preocupados, 9 % disse sentir-se 12 Jornal A Cririca edição de 2006 caderno A15. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 208 incapaz de cuidar dos filhos e esposa e 37 % disseram que sentiram-se angustiados. Grande maioria dos pacientes com LER/DORT apresenta sofrimento mental, muitas vezes traduzido por angustia, inquietações indefinidas, reclamações e choros constantes, depressões, tristezas, etc. Diz ainda que esse sofrimento deriva de características peculiares da doença que precisam ser compreendidas pelos profissionais que se propõe a diagnosticála e tratar. (BRASIL, 2005). Isso comprova o porque a maioria esva com mais de uma doença, como é o caso da depressão. Totavia, os trabalhadores após adoecer ficam fragilizados devido à ausência de apoio principalmente dentro da família que por não vê a doença fisicamente acham que o individuo está com fingimento e não quer trabalhar. Neste sentido uma das características principais de LER/DORT é a presença de dor, que por ser uma sensação, por definição é subjetiva, por outro lado, somente o paciente sente e isso dificulta a cura porque no momento que as pessoas começam a duvidar eles se sentem angustiados e preocupados principalmente com a volta ao trabalho porque sabem o que irão sentir na execuçao das atividades. Há uma fase bem inicial na qual os sintomas são fruto basicamente de um processo de fadiga incipiente ou inflamação. É a fase na qual o paciente sente desconforto e não necessariamente dor, e passa despercebida em muitos casos, pode-se obter um completo restabelecimento orgânico e funcional, caso haja orientação ao paciente e afastamento das causas. A manutenção das atividades laborais executadas da mesma maneira em geral agrava o quadro clinico, levando o paciente a um quadro de dor, formigamento, dormência, choque, fadiga precoce, entre outros sintomas, e á incapacidade laboral, nas fases mais avançadas nas quais estão envolvidos mecanismos neurogênicos e de hiperalgesia secundaria, e nos quais já há uma alteração do sistema modulador da dor, o que se pode obter é o controle e o equilíbrio dos sintomas, mas dificilmente a sua regressão total (BRASIL, 2005, p. 9). Nos casos de motoristas e cobradores que voltam ao trabalho mesmo estando com a coluna doente devido à hérnia de disco e retornado ao INSS logo em seguida, dessa vez com a doença mais avançada por trabalhar horas em posição estática, os peritos do INSS não conseguem ou não querem reconhecer a hérnia de disco como doença do trabalho e não acreditam no que diz os trabalhadores quando se queixam de dores muito fortes na coluna, por sua vez, os peritos dizem que eles estão com fingimento para não trabalhar, quem responderá pelo danos causados a estes trabalhadores? Quando perguntado se o trabalhador tinha algum tipo de doença na coluna antes de entrar na empresa, 5% responderam que sim, e 95% disseram que não. Os dados apontam que muitos trabalhadores adquirem as doenças osteo-musculares, devidas às condições de trabalho as quais estão expostos, já que as condições de trabalho inadequadas são fatores que causam danos à saúde do trabalhador. De acordo com o CID – 10, os agentes tóxicos, carga intensa de trabalho, estresses, cobranças por produção, trabalho penoso, e outros, propiciam o surgimento das doenças oste-omusculares. Sabe-se que a ocorrência dessas doenças associa-se em geral, a situação descontrolada e a inexistência de medidas de controle, não decorre de impossibilidades técnicas, mas sim de opções gerenciais e políticas por parte de empresários e seus pressupostos (BRASIL, 2005, p. 5). Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 209 Com o surgimento da indústria, a revolução industrial e tecnológica e com a substituição das máquinas modernas por microeletrônicos e a robótica, as empresas começaram a cobrar mais do trabalhador, que passou a produzir mais com menor intervalo de tempo e com movimentos rápidos e repetitivos sobrecarregando os músculos e a mente e ainda a crescente cobrança da chefia por produção, levou o aumento desordenado de trabalhadores com LER/DORT. Os fatores que contribuem para o surgimento da LER/DORT são em decorrência da indução por fadiga neuromuscular causada por trabalho realizado em posição fixa (trabalho estático) ou com movimentos repetitivos, principalmente de membros superiores; falta de tempo de recuperação pós-contratação e fadiga (falta de flexibilidade de tempo, ritmo elevado de trabalho); quadro clínico variado incluindo queixas de dor, formigamento, dormência, choque, peso de fadiga precoce; presença de entidades ortopédicas definidas como tendinite, tenossinovite, sinusite, perintedinite, em particular de ombros, cotovelos, punhos e mãos; epicondilete, tenossinovite, estenosante (De Quervain), dedo em gatilho, cisto, síndrome de túnel do carpo, síndrome de túnel ulnar (nível de cotovelo), síndrome do pronador redondo, síndrome do desfiladeiro torácico, síndrome cervical ou radiculopatia cervical, neurite digital e também a presença de um quadro de repercussões mais extensa ou generalizada como a síndrome mio facial, mialgia, síndrome da tensão do pescoço, distrofia simpático-reflexa, síndrome complexa de dor regional (BRASIL, 2005, p. 7). Quando se trata de trabalhadores como os motoristas e cobradores do transporte coletivo, em que as doenças aparecem depois de longos anos de trabalho com jornada de trabalho além do permitido, noites mal dormidas, condições de trabalho difícil, já que esses trabalhadores executam suas atividades dentro de um ônibus sobre pressão e pânico, em posição estática, com o veiculo quase sempre com lotação máxima, se sujeitando as reclamações dos usuários que se queixam da péssima condição do transporte como se o motorista ou cobrador fossem os responsáveis pela situação, por outro lado, enfrentam um transito mais estressante ainda. Quanto ao atendimento no INSS, foi relatado pelos os trabalhadores que os peritos tratam - os como se tivessem pedindo esmola, os pacientes são recebidos com brutalidade, muitos não olham se quer para o paciente, não deixam o paciente relatar suas queixas e sintomas, desconfiam dos laudos cedidos por outros médicos, não perguntam ao paciente que atividade exerce para poder relacionar a causa da doença com o trabalho desenvolvido o que seria correto. Sabe-se que o médico-perito do INSS com base no relato do médico assistente, deverá conclui pelo estabelecimento do nexo causal ou ainda o não reconhecimento da existência de uma doença ocupacional, somente depois pela concessão ou não do auxilio doença por acidente de trabalho, ou pelo reconhecimento de incapacidade laboral ou não (BRASIL, 2005, p. 14). Os dados da pesquisa sobre o atendimento no INSS, na verdade veio comprovar a realidade enfrentada pelos trabalhadores que procuram por assistência na Previdência em busca do auxílio-doença, muitas das vezes por motivo de doenças do trabalho, principalmente a hérnia de disco. Dos entrevistados, 14% disseram que consideram o Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 210 atendimento no INSS normal, 14% ruim e 23% e 49% consideram o atendimento péssimo. Desta forma, pode-se dizer que existe um atendimento precário dos postos da Previdência como maus tratos e afirmações preconceituosas por parte de alguns peritos (BRASIL, 2005). Quando perguntado como eles são tratados na empresa após retornarem do INSS, 41 % responderam que o tratamento pode ser considerado regular, 5 % respondeu que era bom e 54% responderam que o atendimento na empresa era péssimo. Segundo os entrevistados, isso se deve principalmente devido ao pessimo atendimento dos médicos da empresa, que segundo os mesmos, estes tratam os trabalhadores com má vontade. De acordo com as norma do Ministério do Trabalho, o médico do INSS, tem por obrigação conhecer os processos produtivos e o ambiente de trabalho da empresa, avaliar o trabalhador, tentando adaptar o trabalho ás condições do trabalhador, indicar sua alocação para trabalhos compatíveis com sua situação de saúde, dar conhecimento aos empresários, trabalhadores, comissões de saúde, Comissão Internas de Prevenção de Acidente - CIPA e representantes sindicais dos riscos existentes no ambiente de trabalho. E ainda documentar as informações, notificar o órgão público, competente, por meio de documentos apropriados, quando houver suspeita ou comprovação de transtornos da saúde atribuíveis ao trabalho, fornecer uma cópia da CAT para o trabalhador acidentado ou doente, atuar junto á empresa para eliminar ou atenuar a nocividade dos processos de produção e organização do trabalho (BRASIL, 2005, p. 23). É preciso que haja mais interesse por parte dos empresários em relação á segurança e saúde dos trabalhadores, eles precisam ser ouvidos e expor suas ideias, receber atendimento adequado e de qualidade pelo médico especialista em medicina do trabalho, este tem o dever de esclarecer ao paciente sobre sua saúde, cabe ao médico do trabalho, a responsabilidade solidária com o empregador, no caso de agravo á saúde dos trabalhadores da empresa (BRASIL, 2005, p. 23). Quando perguntado sobre a jornada de trabalho, 4% disseram que trabalhavam sete horas e vinte, 13% oito horas, 4% nove horas, 35% dez horas e 44% responderam que trabalhavam mais de dez horas por dia. Percebe-se que os motoristas e cobradores do transporte coletivo de Manaus estão sendo explorados, não tendo seus direitos trabalhistas assegurados conforme rege a Consolidação das Leis Trabalhista - CLT, no art. 58 em que asseguram que a duração normal do trabalho para os empregados em qualquer atividade privada, não excederá de oito horas diárias, desde que não seja fixado expressamente outro limite. No entanto, as empresas de transportes coletivos de Manaus estão funcionando com o número de funcionários reduzidos, e para manter a frota, utilizam os funcionários já existentes para fazer as ditas viradas13, assim, acumulam capital já que não precisam gastar contatando novos trabalhadores e ainda lucram extraindo a mais-valia dos trabalhadores que são obrigados a fazer horas extras, com isso às empresas aumentam também a demanda do INSS, com os trabalhadores que estão adoecendo e vão em busca do auxilio doença, uma vez que a maioria dos afastados está com hérnia de disco devida o excesso de 13 Termo usado, quando o motorista ou cobrador (a) trabalham nos dois turnos. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 211 trabalho ao qual são submetidos. O que ficou comprovado já que 44% dos entrevistados responderam que trabalhava mais de dez horas por dia, ou seja, além da jornada de trabalho estabelecida na CLT, os mesmo que naquele momento faziam parte da demanda do INSS. Freitas (2006, p. 30) aponta que a jornada de trabalho está relacionada entre as categorias definidas para estudar e avaliar o impacto produzido pelos processos de trabalho sobre a saúde física e mental dos trabalhadores. Quanto à jornada de trabalho, 18% dos entrevistados responderam que raramente trabalhavam nos dois turnos e 82% responderam que trabalhavam nos dois turnos com frequência. Quando perguntado por que eles trabalhavam nos dois turnos (ou faziam viradas), 18% disse que era devido à falta de funcionários, 18% responderam ser por dificuldade financeira e 64% confirmaram que eram obrigados pela chefia. De acordo com a Constituição Federal de 1998, art. 5º. Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei, esclarece que ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desumano ou degradante. Segundo relatatos dos entrevistados, eles e eram convocados a fazer as viradas e tinham medo de recusar porque poderiam perder o emprego, por isso aceitava mesmo estando cansado, isso ajudava a preservar seu emprego. Freitas (2006, p. 30) relata que a atividade que requer esforço físico e mental, como o ato de dirigir, sofre influencia de fatores que experimentam com a carga de trabalho e emergem da própria realização das tarefas. Para Rios e Pires (2004) apud Freitas (2006, p. 38) a posição sentada possibilita pouca margem de movimento, tendo como consequência uma carga estática sobre certos segmentos corporais. A postura sentada, conforme os autores, por melhor que seja, impõe carga hiomecânica significativa sobre os discos intervertebrais, principalmente da região lombar. Entre as diversas alterações que podem ocorrer em um profissional que necessita ficar tempo prolongado na posição sentada durante sua atividade diária de trabalho, foi destacada a pressão nos discos intervertebrais da coluna lombar como a mais importante. Desta forma, pode-se concluir que a jornada de trabalho intensa desses trabalhadores pode ser considerada como um dos fatores que contribuem para ocorrência de doenças relacionadas ao trabalho e vem contribuído para o auto índice de doenças na coluna entre as quais a hérnia de disco, bastante comum entre motorista e cobradores. Os entrevistados confirmaram que o trabalho nos dois turnos é comum nas empresas de transporte coletivo. Isso nos leva a crer que os trabalhadores que hoje estão doentes são os mesmos que faziam as “viradas” anos atrás, assim, os trabalhadores que estão na ativa estão sendo explorados vivendo as mesmas condições vividas por aqueles que estão afastados. Segundo os entrevistados os empresários não querem contratar funcionário e os motorista e cobradores que estão ativos, estão cumprindo jornadas esxecivas de trabalho. Vale ressaltar que caso não sejam tornadas as providencias cabíveis, os motoristas e cobradores atuantes serão futuramente a demanda da Previdência Social. A Constituiçao Federal de 1988 no artigo 7º refere-se aos direitos dos trabalhadore e estalelece que a duração do trabalho normal não deva ser superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho, assegura ainda a jornada de seis horas Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 212 para o trabalho realizado em turno ineterruptos de revezamento, salvo negociação coletiva, garante repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos, remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em cinquenta por cento á do normal. Alguns entrevistados fizeram questão de descrever outros motivos que os levava a trabalhar nos dois turnos, além dos já citados anteriormente, o participante (J) fala que “o colega que ia pegar o turno seguinte faltava e eu tinha que virar”, outro disse o seguinte, “quem não fizer as viradas fica fora da escala ou é trocado de linha, principalmente para as linhas que a gente não gosta de trabalhar e para evitar que isso aconteça, a gente acabavam trabalhando nos dois turno mesmo estando exaustos”. Segundo os entrevistados já houve varias demissões de motorista e cobradores que se recusaram de fazer as virada, segundo eles, os chefes agiam desta forma para mostrar que se eles não virassem poderiam ser demitidos, e isso era um motivo para que eles virassem porque tinham medo de perder o emprego também ou de ficar na lista “negra”, segundo os trabalhadores ,essa é uma expressão usada pelos chefes para indicar aqueles que estão marcados por não fazer viradas. Outro entrevistado comenta que aceitava fazer as viradas porque diz ele “eu pensei que ia melhorar minha vida mais piorei, eu fazia virada diariamente e com o passar do tempo acabei adquirindo uma hérnia de disco e hoje vivo com o salário auxilio - doença que recebo do INSS”. Os motoristas Foram questionados se sentiam sono ao dirigir, 82 % responderam que sentiam sono no volante, principalmente quando faziam viradas. É evidente que os motoristas do transporte coletivo de Manaus estão trabalhando em situações precária e desumana, na verdade estes e os demais problemas discutidos neste trabalho, vão se refletir no dia-a-dia destes profissionais que se mostram cada vez mais impacientes no trato com os usuários, provavelmente seja devido à alta carga de estresse, o mau humor desencadeado por noites mal dormidas e o excesso de trabalho, o que fica visível na falta de paciência para lidar com os usuários. A CLT, Lei, 5.452, de maio de 1943, arts 66 e 71, estabelece que o trabalhador tenha direito a um descanso por período de trabalho, assegura ainda que, entre duas jornadas de trabalho haverá um período mínimo de onze horas consecutivas para descanso, de acordo com a CLT, em qualquer trabalho contínuo, cuja duração exceda de seis horas, é obrigatório à concessão de intervalo para repouso ou alimentação, o qual será no mínimo, de uma hora e, salvo acordo escrito ou contrato coletivo em contrario, não poderá exceder de duas horas. Vela destacar que com minha própria experiência vivenciada como cobradora e com os relatos dos entrevistados, a maioria dos trabalhadores do transporte coletivo, sai de suas casas às quatro horas da manhã, e retornam depois das vinte e duas horas, dormindo menos que o recomendado. Na verdade, esses motoristas ao pegarem o volante depois de uma noite mal dormida não oferece segurança aos usuários e pedestre, já que um cochilo seu poderá causar acidente grave. Os motoristas, além de dormirem mal, não dispõem de descanso como recomendado e os trabalhadores entrevistados relatam que quando estão escalados para folgar muitas das vezes são chamados para trabalhar porque faltou algum funcionários. E quando se recusam são chamados atenção e já ficam marcados pela chefia. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 213 Quanto ao pagamento de horas extras, de acordo com os entrevistados, 14% a firmou que recebia no contra cheque, 18% disse receber através de recibo, 36% disse que recebiam aos finais de semanas sem nenhum comprovante, 18% disse que as horas extras eram pagas como horas normais, indo contra a CLT. No art.59 da CLT, estabelece que a duração normal do trabalho possa ser acrescida de duas horas suplementares, em número não excedente de duas, horas mediante acordo escrito entre empregador e empregado, ou mediante contrato coletivo de trabalho, o art.59, § 1º rege que no contrato coletivo de trabalho deverá constar obrigatoriamente, a importância da remuneração da hora suplementar, que será pelo menos vinte por cento superiores à da jornada normal. Observa-se que o pagamento de horas extras nas empresas de transporte coletivo não obedece a legislação, muitas empresas, segundo os entrevistados utilizam o banco de hora, ou “caixa dois” expressão utilizadas pelos trabalhadores para designar o acumulo de horas extras que em muitas empresas são pagas trimestral ou semestralmente. Todavia, o sindicato que devirá lutar em prol da categoria, não se manifesta frente à questão, não se elege sindicalistas com possibilidade de fazer uma leitura das relações históricas entre capital / trabalho, e que esteja comprometido com a classe trabalhadora e muito menos que tomem medida satisfatória em relação à saúde do trabalhador. Outra questão posta aos motoristas se referia aos sindicatos, onde eles deveriam responder o que eles achavam que o sindicato deveria fazer frente a questão? 36% responderam que os sindicalistas deveriam lutar em prol da categoria e 64% que eles deveriam viabilizar direitos. De fato os sindicalistas deverá estar qualificados para trabalhar em prol da classe trabalhadores, desta forma, os sindicalizados poderiam confiar no seu órgão, porém, os sindicatos que deveriam ficar do lado dos trabalhadores, formam parcerias com os empresários como tem ocorrido em Manaus. Pereira (2001, p. 152) reforça essa ideia, ao argumentar que os sindicatos do 3º milênio têm, desde logo, de compreender as profundas modificações ocorridas quer na organização da produção capitalista, quer na própria estrutura de classes na sociedade, com a drástica “terceirização” da atividade econômica, como o surgimento de novas categorias de “criadores de valor”, ou seja, de novos operários, com a afirmação da superação. Na verdade o sindicato não é atuante como antigamente, aonde os sindicalistas iam às ruas juntamente com os trabalhadores para reivindicar direitos, no entanto, após a globalização da economia em que o capital é quem manda, nota-se que o sindicato mudou de lado, já não luta a favor da classe trabalhadora, nem pelo fim da exploração, parece até que o sindicato faz parte da empresa e não da classe trabalhadora, pecebe-se que o sindicato atualmente passou apenas a obedecer ao que os empresarios determinam. Todavia, alguns movimentos que surgem de vez enquando não passam de uma manobra para conter os trabalhadores quando querem se rebelar contra a empresa. Pereira (2001) por sua vez diz que o sindicato deveria romper com as condições de dominado, romper com a aceitação passiva de condições de valores e se assumir como órgão de luta política em defesa dos trabalhadores, lutar contra a exploração e a opressão e em defesa da cidadania. É fato que cabe ao sindicato, adotar uma posição de rebeldia e de ofensiva e não mais de compromisso e ir em busca da verdadeira causa dos fenômenos para dar respostas cocretas as questões referentes a orçamento, de segurança, social e criar novas formas de Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 214 solidariedade com viabilização de emprego, defesa da qualidade de vida, defesa da divisão equitativa do trabalho e assumir os padrões mínimos de inclusão social. Por outro lado, o sindicato não deve ceder á chantagens de empresários e nem coperar com situações que gerem prejuizos e violação de direitos como social, salarial e desemprego e assumir os desempregados e aqueles que estão à procura do primeiro emprego, os excluídos, defender a formação profissional, exigir e regulamentar novas formas de organizações empresariais, internacionalizar os movimentos sindicais para facilitar o manejo das multinacionais para que haja condições de lutas a nível global. Impor medidas como a redução da jornada de trabalho, para que desta forma os postos de trabalho sejam disponíbilizados para outros trabalhadores, ainda a imposições de direito laborais a nível mundial. Percebe-se que o sindicato dos rodoviários de Manaus, não luta em prol dos direitos dos trabalhadores, fica evidente que os rodoviários estão sendo explorados pelos empresários, que por sua vez não contratam novos funcionários, sobrecarregando os trabalhadores ativos, estes são obrigados a manter o transporte coletivo em circulação, muitos trabalham os dois turnos por falta de funcionário para continuar o turno seguinte, com isso muitos estão doentes e o sindicato que deveria tomar frente não se mobiliza para tentar resolver o problema. Por fim, será preciso que o sindicato dos rodoviários rompa com o vínculo que tem com as empresas e se volte para a categoria que está jogada a própria sorte, muitos trabalhadores já morreram devido o descaso, e ainda sofrem com a falta de segurança, péssima condição de trabalho e salário defasados, fica a indagação até quando esta situação irá continuar? 4. Considerações finais Na realidade, este estudo buscou conhecer o tema saúde do trabalhador: uma análise dos problemas enfrentados no transporte coletivo da Cidade de Manaus, com ênfase a hérnia de disco, doença que acomete motorista e cobradores, junto a ANAT/AM. Teve como objetivos, descrever as principais doenças que acomentem os motoristas e cobradores que se encontram afastastados do trabalho, e ainda analisar e descrever os problemas diagnosticados no transporte coletivo de Manaus, cabe afirma aqui, que os objetivos forma respondidos de forma satisfatória, já que os dados coletados, possibilitou analisar e descrever os problemas mais gritantes nos transportes públicos de Manaus, com as respostas dos entrevistados, também foi possível conhecer as principais doenças que acometem esses trabalhadores. Onde foi possível ainda concluir que o modo de conduzir suas empresas, e de controlar a força de trabalho, utilizada pelos empresários do transporte coletivo de Manaus está acontecendo de forma desumana e inaceitavel para os trabalhadores e sociedade de modo geral, ja que os transportes coletivos, como o proprio termo diz, são de uso público, de todos. Nota-se ainda que os empresarios não dispõem de funcionários suficientes para a execução do trabalho, neste contexto, as empresas submetem os trabalhadores a intensas jornadas de trabalho, situação controlada por meio da coerção, Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 215 Observa-se que poucas ou nehuma empresa de transporte coletivo de Manaus, tem no seu quadro de funcionario um profissional de Serviço Social, diante disso, faz-se necessária a presença do Assistente Social, no sentido de humanizar o trabalho e ajudar o trabalhador a enfrentar o despotismo dentro das empresas. Cabe ao Serviço Social, dentro desse seguimento, trabalhar em prol promoção e prevenção da saúde do trabalhador, lutar em busca de viabilização de direitos, combater a violação de direitos dos trabalhadores para sejam respeitados, e ainda lutar para resgatar a dignidade, o respitos e os valores desses trabalhadores. Desta forma, possamos resggatar os trabalhadors das condições precárias as quais se encontram. Que estes, sejam os princípios norteadores para a inserção do Serviço Social nas empresas de transportes coletivos da cidade de Manaus e que tornanem-se as princiapias metas de trabalhho desse profissional detro da empresas. O Assistente Social, pelo seu conhecimento teórico em relação ao embate entre capital trabalho, poderá vir a contribui para a formação da sociabilidade do trabalhador e no comportamento compatível com as exigências de urbanização do transporte coletivo, assim como contribuir para o tratamento das questões de natureza psicossocial ou pssicorganizacional, que não estão relacionadas diretamente com o processo de trabalho, mas que extrapolam o âmbito do trabalho, buscando trabalhar com as questões relacionadas á vida particular do trabalhador e que possivelmente interferem no seu desempenho profissional. Desta forma, suas atribuições dentro da empresa, devem ser direcionadas ao clima organizacional e a prestação de Serviços Sociais, concessão de beneficios, trabalhos educativos e assistenciais junto aos empregados e suas famílias. Além, de responder aos problemas sociais destes trabalhadores, que o Serviço Social na empresa, procure associar as carências materiais, financeiras que possivelmente esses trabalhadores enfrentam, aos comportamentos inadequados e inadaptação ao trabalho. Por outro lado, o Assistente Social, deve conhecer a questão da saúde do trabalhador e orientar motoristas e cobradores, quanto aos seus direitos, principalmente em relação ao auxilio doença e aposentadorias. Em relação aos direitos previdenciarios, sabe-se que temos trabalhadores recebendo o auxilio doença no código 31 que trata das doenças comuns, em que não surge muito efeito no seu contrato de trabalho, enquanto que estes deveriam receber seus beneficios no código 91, que especifica a doença como decorrentes do trabalho e garante ao trabalhador, os benefícios que recebia antes de adoecer como recolhimento do FGTS, cestas básicas e estabilidade de 12 meses no emprego após a licença. Assim, os problemas dos trabalhadores devem ser objeto de considerações nas avaliações de desempenho no trabalho e no trato com os usuários, que este marco possa também vir a ser um marco fundamental para uma nova racionalização e modernização do transporte público do Municipio de Manaus e das relações de trabalho. Que o Serviço Social inserido nas empresas de transportes coletivos, possa ser responsável pelos problemas e pelas pessoas, voltado para as questões sociais que afetam o cotidiano dos trabalhadores, considerando que este profissional no exercio de sua função tem um contato mais próximo com os trabalhadores, além da capacidade de compreender, de programar e administrar novos padrões de organizações no seu trabalho, possue uma capacitação técnica, e a capacidade de assimilar rapidamente as condições do sujeito ao problema. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 216 O estudo teve algumas limitações, primeiro, refre-se a pouca experiencia da pesquisadora com questões referentes ao critério de seleção da amostra, nota-se que o quantitavivo de participante foi pequeno em relação a quantidade de motoristas e cobradores associados na ANAT, o que só foi possivel conhecer quando inicou o levantamento documental. Porém, acredita-se que os dados sejam relevantes pra mostrar os problemas dectados e buscar solucioná-los. Segundo, porque a bibliografia relacionada ao assunto é escassa e isso nos fez recorrer a varias reportagem de jornais para tentar expor problema. Diante das dificuldades de encontrar trabalhos sobre o assunto, sugerimos que novos estudos sobre os transportes coletivos principalmente da cidade de Manaus sejam realizados, ja que ficou evidente que são inumeros os problemas a serem estudados e debatidos pela sociedade, principalmente no meio cientifico. 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Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 219 Sensibilização e reflexão sobre o aspecto profissional através do Psicodrama SANDRA REGINA PERES Resumo Esse trabalho foi desenvolvido em uma empresa nacional no ramo editorial. A empresa implantou um plano de carreira para seus funcionários em meados de 1996, exigindo-se alguns requisitos para acesso aos cargos, dentre eles formação acadêmica. Em função disso, os funcionários demonstraram interesse por investir em suas carreiras profissionais, principalmente no que se referia à formação acadêmica. Contudo, alguns profissionais apresentaram dificuldades em optar por cursos em nível superior. Esse Programa surgiu para suprir as necessidades de alguns funcionários de Recursos Humanos na escolha do curso superior. O objetivo desse trabalho foi levar os participantes a uma sensibilização e reflexão sobre o seu desempenho profissional, através de vivências e da experimentação dos futuros papéis profissionais. A Metodologia utilizada foi: entrevistas pessoais, utilizando como técnica psicodramática “O Átomo Social”, Questionário de Interesses Profissionais (LIP), Redações cujo objetivo principal foi da análise grafológica; jogos Psicodramáticos e Role-playing e vivências. Os resultados foram atingidos entre os participantes do grupo piloto, pois em média 80% dos orientandos concluíram o programa com uma profissão definida e os demais tinham material didático e vivencial suficientes para decidirem sobre a futura profissão. Esse programa atingiu o seu objetivo que era propiciar uma escolha Profissional consciente baseada na descoberta dos talentos e potencialidades dos orientandos, enfatizando o mercado de trabalho contemporâneo e a importância de autogerenciamento da carreira. Palavras-chave: carreira profissional; escolha de curso superior; orientação profissional; desempenho profissional; talentos individuais; mercado de trabalho; autogerenciamento da carreira. Introdução Em meados do ano de 1995, em uma empresa do ramo editorial, foi implantado um plano de carreira para seus funcionários, exigindo-se assim, alguns requisitos para acesso aos cargos. Em função disso, os funcionários demonstraram interesse por investir em suas carreiras profissionais e no que se refere à formação acadêmica. Contudo, alguns funcionários apresentaram dificuldades em optar por cursos em nível universitário. Mestranda em Psicologia da Saúde pela Universidade Metodista de São Paulo. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 220 Este programa surgiu para suprir necessidades de alguns funcionários de Recursos Humanos na escolha de suas carreiras. Foi elaborado e implantado o Programa de Orientação Profissional, independente dos funcionários escolherem profissões nas quais eles poderiam fazer carreira dentro ou fora da empresa. O programa visa aprimorar a qualidade de vida e o bem-estar dos funcionários. Para tanto, foi realizado um projeto deste programa e apresentado para a supervisão da área de Recrutamento e Seleção e Gerência de Recursos Humanos. Após aprovação, foi divulgado o programa, sendo marcada uma data específica para apresentação do mesmo aos funcionários interessados. Essa apresentação foi feita em dois horários diferentes, para que os setores não ficassem defasados. A duração de cada apresentação foi de uma hora. Após esta apresentação, os funcionários receberam uma ficha de inscrição, com prazo de três dias para a entrega, caso tivessem interesse em participar do Programa de Orientação Vocacional. Nessa apresentação, foi definida qual era a população a ser atingida e o número de participantes de cada grupo. Posteriormente foram marcadas entrevistas individuais, a fim de se detectar o real motivo do interesse do programa e garantir um grupo homogêneo em termos de expectativas, vivências pessoais. Verificou-se se pessoas tinham condições psicológicas para participar deste programa. Nesse segundo momento, o diretor entrou mais profundamente no que envolvia o programa, salientou que a escolha dependia de cada um deles, por isso a necessidade da exposição individual que aconteceria diante dos colegas de trabalho. No trabalho, foi usado um Levantamento de Interesses Profissionais (LIP), somente para nortear os funcionários, mas o diretor informou que todo o programa seria baseado num processo de descoberta individual. Essas entrevistas foram feitas com 16 funcionários e a técnica Psicodramática utilizada foi o Átomo Social. Após a entrevista foi solicitado aos funcionários que fizessem uma redação sobre o tema “Quais as suas expectativas com relação ao Programa?” Essa redação teve como objetivo principal, para o diretor, a análise grafológica, verificando características de personalidade, bem como: iniciativa, dinamismo, criatividade, disposição para enfrentar novos desafios e até grau de maturidade pessoal e profissional, para participarem de um programa como esse dentro da organização, onde trabalham. Nosso objetivo não foi, de forma alguma, o de expor as pessoas em seu ambiente de trabalho, e sim facilitar uma escolha profissional madura e consciente, na qual os orientandos fossem autor de sua escolha, através dos jogos psicodramáticos. Depois dessas entrevistas foi verificada, pelo diretor, a necessidade de se formar dois grupos, uma vez que vários funcionários da mesma área tinham interesse no Programa. Juntamente com a Supervisão da Área de Recrutamento e Seleção, foi decidido que haveria dois grupos. Embora fosse interessante que esses acontecessem simultaneamente isso não Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 221 foi possível, devido haver três pessoas da equipe de Recrutamento e Seleção envolvidas no Programa. O critério utilizado para a definição do 1o. grupo foi o seguinte: 1. pessoas que estavam em fase pré-vestibular ; 2. pessoas que já tinham se inscrito em vestibular; 3. pessoas que cursavam 1o. ano do nível superior , porém estavam com dúvidas na escolha do curso; 4. nos demais casos os próprios funcionários é que decidiam quem iria participar do 1o. grupo. Neste momento ficou acordado com os demais funcionários que o 2o. grupo aconteceria em janeiro de 1997. É importante ressaltar que, no nosso estudo nos prendemos somente àqueles adultos que já têm uma atividade profissional dentro de uma organização, mas que, de certa forma, encontram-se desmotivados, perdidos ou insatisfeitos, buscando uma profissão com a qual se identifiquem e que, na maioria das vezes, consigam permanecer e desenvolver-se dentro dessa organização. Mas temos consciência de que quando nos deparamos com dificuldades, obstáculos e principalmente mudanças, isto amedronta o “ser humano”; cavalgar em terras desconhecidas requer muita coragem, determinação e abertura para enfrentar o novo, pois nem sempre encontramos o que imaginamos. A realidade, muitas vezes, é diferente da fantasia. Por isso, “os participantes que fizeram parte" deste projeto piloto, foram muito corajosos e persistentes, bem como a equipe que realizou este trabalho inédito dentro da organização, principalmente num momento como esse em que vivemos; onde o país passa por tantas crises econômicas, sociais, políticas e culturais, e no qual o conceito da palavra “trabalho” está mudando. Hoje os valores também estão se alterando e os empresários estão buscando excelentes profissionais e que sejam consultores externos. Em função desta nova visão de trabalho é que foi implantado esse programa, buscava-se que os participantes decidissem sobre suas escolhas profissionais de uma forma mais autônoma, livre, espontânea e criativa. Para tanto, utilizamos jogos dramáticos, role-playing e várias vivências. Este trabalho foi realizado em nove sessões, as quais serão descritas no capítulo III. 1. Histórico da orientação vocacional A Orientação Vocacional é um tema muito abrangente que recebe várias influências familiares, sociais, escolares e do meio ambiente. Essa escolha depende unicamente do adolescente. orientando que, na maioria das vezes, é um Para os adolescentes, o futuro tem uma importância atual-ativa enquanto programa, faz parte da estrutura de sua personalidade; neste momento não existe ninguém que esteja no futuro, mesmo que na fantasia do adolescente. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 222 “Seria necessário, também, incluir a dimensão temporal num modelo dos problemas vocacionais não somente mudará o adolescente, como também e ao mesmo tempo seu contexto, numa forma talvez impossível de se prever. Desta maneira estrutural, poderiam vincular-se melhor muitos termos dispersos que incidam na orientação vocacional, por exemplo, como o contexto social mais amplo influi nela. O sistema de valores, prevalecente em uma determinada comunidade sobre o destino das pessoas e do peso que tem a educação na posição social de seus membros, determinará o sentimento e até a existência do campo da Orientação Vocacional. Basta pensar em que sentido teria a Orientação Vocacional numa estrutura de castas, onde atividades dos filhos estariam predeterminadas segundo a posição social de seus pais. Ou como pode variar a orientação vocacional conforme for aplicada numa sociedade de economia planejada e não planejada. O contexto social também influi em relação aos sistemas de gratificação. Em termos bastante gerais, estes se relacionam não só com o nível de receita dos diferentes profissionais, mas também com outras formas de gratificação que as pessoas possam encontrar em seu trabalho. Por exemplo, muito adolescentes estabelecem “gosto disso, mas não quero morrer de fome”, outros querem escolher uma carreira como “trabalho” e outras como “hobby”. O conflito do primeiro caso e a dissociação do segundo são peculiares ao adolescente, mas não resta dúvida que expressam uma dissociação existente nos contextos dos valores sociais mais amplos. São muitos poucos os indivíduos que podem obter as gratificações que “depositam no hobby e no trabalho, integrado numa mesma tarefa” (BOHOSLAVSKY, 1977). “A educação nada mais é do que um meio para aderir a um papel ocupacional adulto. Receber a instrução, a formação e o enriquecimento necessários para exercer uma ocupação produtiva dentro da comunidade e deixar de ocupar, um papel fundamentalmente receptivo, é a função primordial - nem sempre assumida da educação sistemática” (BOHOSLAVSKY, 1977). Análise de vínculos A orientação vocacional também é influenciada pelos vínculos que o adolescente/adulto estabelece no decorrer de suas vidas. O fato é que “a escolha sempre se relaciona com os outros reais ou imaginados. O futuro profissional nunca é pensado abstratamente. Nunca se pensa numa carreira ou numa faculdade despersonificadas. Será sempre essa carreira ou essa faculdade ou esse trabalho, que cristaliza relações interpessoais passadas, presentes e futuras. Devem-se examinar as relações com os outros (membros das famílias, do mesmo ou do outro sexo, professores, técnicos e chefias). Algumas dessas pessoas podem influenciar diretamente sobre o futuro de quem escolhe uma profissão (orientando). O Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 223 orientando quer ser como tal pessoa, real ou imaginada que tem tais e quais possibilidades e atributos que, supostamente, os possuem em virtude da posição ocupacional que exerce” (BOHOSLAVSKY, 1977) . A pessoa que escolhe “Na maioria dos casos, quem escolhe é um adolescente. Torna-se, pois, redundante estabelecer que por sê-lo, está em idade de experimentar grandes mudanças. Estas são tão contínuas, tão amplas, tão características da idade adolescente, que fazem pensar num indivíduo submetido a uma crise contínua” (BOHOSLAVSKY, 1977). Percebemos que estas mesmas dúvidas imperam nos indivíduos adultos, que no período da adolescência não decidiram sobre suas profissões ou até aqueles que tomaram decisões errôneas, muitas vezes baseados em “status”, “poder”, “dinheiro”, etc. 2. Sensibilização e reflexão sobre o aspecto profissional dos funcionários através do psicodrama Método Título do projeto: Psicodrama Sensibilização e Reflexão sobre o Aspecto Profissional através do Unidade funcional Diretor: Sandra Regina Peres Ego-Auxiliar: M. S. M. Observador: J. P. Objetivos Objetivo Geral Levar os participantes a uma sensibilização e reflexão sobre o seu desempenho profissional. Objetivos Específicos . Diagnóstico dentro do contexto grupal; . Trabalhar com os papéis profissionais, favorecendo a espontaneidade e criatividade; . Treinar e adequar às escolhas profissionais; . Levar os participantes às escolhas profissionais; . Levar os participantes a uma escolha assertiva de sua profissão. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 224 Justificativa O trabalho foi escolhido devido à necessidade de orientação vocacional aos seus funcionários para a definição de suas carreiras. A orientação vocacional visa a “interface” entre os objetivos pessoais de cada funcionário e os objetivos da empresa, fazendo um “link” entre o plano de carreira e as necessidades individuais dos funcionários. O “projeto piloto”, tem também como objetivo Psicodramatista da funcionária Sandra Regina Peres. complementar a formação de Dados complementares da entidade provedora dessa formação: Entidade Provedora: ABPS - Associação Brasileira de Psicodrama e Sociodrama. Curso: Psicodrama Aplicado. Supervisora Responsável: Madalena Cabral Rehder. População Número de Participantes: 09 funcionários Sexo: Masculino e Feminino Idade: 18 a 31 anos Estado Civil: Solteiros, Casados e Separados. Cargo / Função: analistas de administração de pessoal JR / PL; analista de recursos humanos JR; assistente de Comunicação; coordenador administrativo; assistente administrativo; auxiliar Administrativo; recepcionista Local do estágio Entidade: Empresa do ramo editorial. Área de Estágio: Organizacional Planejamento do programa Número de Sessões Previstas: 08 Número de Sessões Concluídas: 09 Carga Horária Total Prevista: 20 horas Carga Horária Total Concluída: 31h30min Duração das Sessões: 2h à 2h30min Previsão do Início: 1a. quinzena de Novembro/96 Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 225 Previsão do Término: 1a. quinzena de Dezembro/96 Observação: foram realizadas antes do início do Programa, entrevistas individuais com os interessados. A técnica psicodramática utilizada foi o “Átomo Social”, totalizando 9 horas. Plano geral Nesse Programa de Orientação Vocacional, serão utilizadas as técnicas psicodramáticas, objetivando facilitar a escolha profissional de cada orientando. As técnicas psicodramáticas utilizadas serão as seguintes: a) Átomo Social (entrevistas individuais) - “Para Moreno átomo social é a configuração social das relações interpessoais que se desenvolvem a partir do nascimento. Em sua origem compreende: a mãe e o filho. Com o correr do tempo vai amamentando em amplitude com todas as pessoas que entram no círculo da criança, e que lhe são agradáveis ou desagradáveis e para as quais reciprocamente, ela é agradável ou desagradável. As pessoas que não lhe causam impressão alguma, nem positiva nem negativa, ficam fora do átomo social como “menos conhecidos”. É por isso que o “átomo social, tem uma teleestrutura característica, é uma constelação em permanente mudança”. Com efeito, uma vez que a imagem que o indivíduo tem de si mesmo, suas crenças e convicções podem mudar, é preciso levar em conta que a transformação da auto-imagem, das relações que cada um tem consigo mesmo, podem alterar o átomo social e vice-versa” (GONÇALVES, WOLFF, CASTELLO, 1988). Jogos Psicodramáticos - “ No psicodrama o Jogo Dramático apresenta muitas definições e diversas formas de interpretações. Nos livros e escritos psicodramáticos encontramos duas direções: uma voltada ao campo terapêutico e outra, ao aplicado. Nosso propósito é ampliar a conceituação e o uso de jogos dentro deste último campo, embora encontremos muitos autores que transitam entre eles. Regina F. Monteiro é a psicodramatista pioneira ao estabelecer de uma forma objetiva, conceito e aplicações de jogos das mais diversas formas. Segundo ela, “o jogo é uma atividade que propicia ao indivíduo expressar livremente as criações de seu mundo interno, realizando-as na forma de representação de um papel, pela produção mental de uma fantasia ou por uma determinada atividade corporal” (MONTEIRO, 1994). Silva Junior (1982) define o jogo dramático “como um recurso adequado que se insere na brecha entre a fantasia e realidade internas do indivíduo para possibilitar-se o exercício da passagem realidade / fantasia / fantasia / realidade... livre e espontaneamente”. Motta (1994) afirma que “o jogo é a ação da realidade suplementar, onde a unidade criativa pode estar presente”. Cita ainda que o jogo em si é um instrumento rico em possibilidades. A mão humana que lhe dá a direção é que define a ética do seu uso. “Ter conhecimento implica a responsabilidade no uso do saber”. Rodrigues (1994) considera que um jogo é dramático porque o prazer e a diversão se originam fundamentalmente da representação. Ainda que o jogo possa envolver Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 226 competição, acaso ou habilidade, o foco do prazer do jogo dramático não está em competir, ter sorte ou acertar”. Afirma ainda que o jogo dramático, como qualquer outro, tem o objetivo de brincar, expandir, relaxar e obter prazer”. Já Castanho (1990) afirma que “jogo dramático, portanto, difere de outros jogos por acontecer no contexto dramático e, além disso, por envolver os participantes, emocionalmente, na atividade de expressar as criações de seu mundo interno”. O jogo dramático está inserido na Teoria do Psicodrama, diferenciando-se do termo “Jogos Dramáticos” utilizado no Teatro com o objetivo de desenvolver somente o papel de ator. Além disso, os conflitos emergem em detrimento dos objetivos e critérios estabelecidos pelo diretor e estes, são trabalhados. Elas são a diferença vital, ou seja, é jogo porque promove o lúdico, é o dramático pela proposta em trabalhar os conflitos que surgem. Conflitos estes que, no nosso enfoque, restringem-se somente ao papel profissional e aos objetivos propostos pelo diretor. Se considerarmos, por exemplo, o desenvolvimento do papel de gerentes numa empresa, que têm por critérios e objetivos a liderança, poderemos encontrar indivíduos que demonstrem dificuldades de ordem pessoal. O jogo dramático, neste caso, revela-se um instrumento com muitos recursos e extremamente eficiente, podendo aflorar tais dificuldades. Compete ao diretor trabalhar somente o seu papel profissional, limitando-se a avaliar e/ou denunciar tais aspectos. Outra característica fundamental, tanto para o diretor como para os participantes, é a importância do conceito de espontaneidade proposto por Moreno, que é “a resposta de um indivíduo ante uma situação nova e a nova resposta a uma situação velha, pois o homem a bloqueia em função das regras e normas sociais ou condicionamentos (MORENO, 1978). Com isto, não há possibilidade de criar, ele perde esta capacidade através dos modelos anteriores preestabelecidos, que são apresentados no decorrer de sua vida. O jogo dramático leva o indivíduo a soltar-se, liberar sua espontaneidade e criatividade, ou seja, é “um meio de desentorpecer o corpo e a mente dos condicionamentos da vida atual” (BOAL, 1993), não permitindo a massificação dentro das conservas culturais. "Além disso, é preciso que esteja em campo relaxado para jogar, pois crescem as possibilidades de relações que permitem ao indivíduo alcançar uma solução de seus conflitos” (MONTEIRO, 1993, p.211) isto é, havendo ampliação do campo relaxado, diminui-se o ponto fixo de tensão. O indivíduo em campo tenso impede esta ampliação de respostas. O conceito de campo relaxado e campo tenso foi introduzido por Bally. Exemplificando, podemos emitir um foco de luz sob um prisma num único sentido e obteremos um feixe direcional, ou seja, produzimos uma resposta limitada, concentrada (campo tenso). Se, no entanto, alterarmos a direção deste foco, as possibilidades aumentam a cada mudança, permitindo maior amplitude de respostas e uma visão mais global desse prisma (campo relaxado). Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 227 Um dos objetivos, portanto, é o de criar um campo relaxado, desenvolvendo uma liberdade de ação e atuação dos indivíduos, possibilitando o resgate de sua espontaneidade criativa. Nas empresas e instituições em geral, o primeiro contato com um grupo gera campo tenso. É a expectativa do que está por vir. Em situações como esta, podemos aplicar jogos infantis adaptados, de apresentação e/ou sensibilização com o objetivo de produzir campo relaxado, pois sem isso não haverá possibilidade de obter bons resultados. O resgate do lúdico confere aos participantes uma predisposição para jogar e, conseqüentemente, a diminuição de suas resistências para o desenvolvimento do trabalho em si. Outro fator relevante é a forma da comunicação. Estamos habituados e condicionados a verbalizar, a racionalizar nossas emoções. Com o jogo dramático podemos utilizar a comunicação não-verbal, propiciando uma leitura mais precisa do indivíduo. Contrapõe-se, neste aspecto, a diferença entre seu falar e agir. Waltzlawick (1981, p.61) a define da seguinte forma: “A linguagem dígita é uma sintaxe lógica sumamente complexa e poderosa, mas carente de adequada semântica no campo das relações, ao passo que a linguagem analógica possui a semântica, mas não uma sintaxe adequada para a definição não-ambígua da natureza das relações.”. Em outras palavras, é necessário que haja uma fusão, uma complementaridade coesa nessa díade. b) Role-Playing do Papel Profissional - o “Playing Role” preocupa-se com o desempenho do papel, e aqui a finalidade é a percepção objetiva dos sentimentos e das atitudes dos outros, que desempenham o contrapapel”, e a resposta mais apropriada à situação. O termo role-playing deve ser diferenciado segundo sua utilização em sentido lato ou estatuto. Em senso lato, a expressão refere-se ao jogo de papéis, representação teatral e, portanto, está presente nas várias formas de abordagem socionômica. Em senso estrito roleplaying relaciona-se a uma das etapas de estruturação do papel (entre role-talking e role-creating), e também ao jogo de um certo papel e seu “contrapapel” dentro de um currículo específico. Por exemplo, role-playing da relação médico e parente. A finalidade do jogo psicodramático de papéis (role-playing) é proporcionar ao ator uma visão dos pontos de vista de outras pessoas, ao atuar no papel de outras, ou seja, em cena seja na vida real. O role-playing é um método de interação humana que implica o comportamento realista em situações imaginárias. A expressão “intérprete de papéis” (role-player) é uma tradução literal da palavra alemã rollenspieler, inicialmente utilizada por Moreno. Existe uma diferença entre tomada ou aceitação do papel (o fato de aceitar um papel já pronto e inteiramente constituído, que não permite à pessoa a menor fantasia com o texto estabelecido); o desempenho do papel (que tolera certo grau de liberdade); e a criação do papel (que deixa ampla margem à iniciativa do ator, como é o caso do ator espontâneo). Teremos então, o receptor de papéis, o intérprete de papéis e o criador de papéis. Chamamos de role-talking o processo de tomar ou aceitar um papel, desempenhando-o de forma convencional, sem nele colocar muitas características pessoais. Já o desempenho de Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 228 papel, feito com certo grau de liberdade, é chamado, como vimos, de role-playing. Tomar um papel social é convertê-lo em psicodramático, como acontece quando um indivíduo utiliza duas espontaneidades, é o processo chamado de role-creating” (MONTEIRO, 1993). Essas técnicas foram empregadas para facilitar a escolha dos orientandos. As entrevistas individuais foram realizadas utilizando-se a técnica do átomo social, pois trabalhamos com todos os papéis desempenhados pelos orientandos. Nesta técnica o diretor entregou aos orientandos uma folha de papel sulfite e deu à seguinte consigna: Com o material disponível (etiquetas coloridas autocolantes e clips coloridos), vocês devem se colocar nessa folha de sulfite, bem como todos os papéis que desempenham diariamente. "Os papéis que são desempenhados diariamente em suas vidas, coloquem mais perto e os menos frequentes, mais distantes”. Após o orientando ter realizado o átomo social, o diretor inverte os papéis. Ex: O que o L. tem a falar para o papel de filho? Posteriormente invertem-se os papéis, até que ele converse com todos os seus papéis, também ocorrendo à inversão de papéis. Os jogos dramáticos também fizeram parte das técnicas psicodramáticas escolhidas pelo diretor, pois, através delas, o orientando pode experimentar por meio do lúdico, o desempenho de alguns papéis que eles ainda não desenvolveram em suas vidas. Podem também tornar-se mais espontâneos e criativos para que dessa forma possam jogar no “como se”. Finalmente utilizamos o role-playing a fim de facilitar aos orientandos o “experimentar” através da ação, os papéis profissionais que poderiam ser escolhidos por eles futuramente. Para tanto, o diretor forneceu aos orientandos duas situações (role-playing); previamente estabelecidos, com profissões escolhidas por eles, através do LIP (Levantamento de Interesses Profissionais). O último role-playing foi elaborado pelo próprio grupo e cada orientando decidiu qual papel profissional desempenharia durante esse role-playing. Além dessas técnicas psicodramáticas serão utilizados: . Questionário de Levantamento de Interesses Profissionais; . Material Didático, para pesquisa das profissões em decorrência de interesses individuais. Esse material tem por objetivo aumentar o conhecimento da atuação profissional de cada orientando; . Realização de trabalhos em grupos, bem como criação de personagens através de sucatas e jornais. Esse programa de Orientação Vocacional baseia-se na ação e na prática onde através de simulações, os orientandos poderão tomar uma decisão mais efetiva. 3. Relatórios das sessões As sessões foram elaboradas respeitando o momento do grupo, sendo que esta programação pode variar de grupo para grupo. É traçado um esquema de trabalho que Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 229 atenda às necessidades e interesses emergentes do grupo. Todas as sessões têm seus objetivos específicos e compõem-se de três partes: . Aquecimento; . Jogos dramáticos; . Role-Playing; . Comentários. Cada sessão de psicodrama consta de: a)Três contextos . Contexto Social: É constituído pela realidade social tal “como é”; pelo tempo cronológico. Das folhinhas e relógio, e pelo espaço concreto, geográfico. Cada comunidade ou sociedade tem características próprias, antropológicas, culturais, econômicas e políticas; daí resultam as leis, as normas e regras que regulam e disciplinam. Muitas informações, relatos e vivências de clientes referem-se ao meio social de onde provêm. Também os primeiros papéis do sujeito, pertence ao contexto social, bem como o seu “Átomo Social”. . Contexto Grupal: É constituído pela realidade tal “como é”; pelo tempo cronológico dentro de um intervalo previamente estabelecido e combinado, e pelo espaço concreto, que pode ser escolhido e delimitado. Contexto grupal psicodramático pressupõe uma estrutura desvinculada de modelos controladores, coercitivos e destrutivos. O grupo, em seu contexto, pode representar a “miniatura” ora de família, ora de uma sociedade, ou ainda, constitui-se como uma nova Matriz de Identidade. . Contexto Dramático: É constituído pela realidade dramática no “como se”, pelo tempo fenomelógico subjetivo e espaço também fenomenológico, virtual construído sobre o espaço concreto, devidamente marcado. Para a compreensão fundamental deste contexto, é preciso lembrar que nele tudo ocorre no “como se fosse” do imaginário e da fantasia. b)Três etapas: . Aquecimento: Momento em que se dá a escolha do protagonista e a preparação para a dramatização. Temos dois tipos de aquecimento inespecífico e específico. . Dramatização: “Nessa etapa é que se dá a ação dramática propriamente dita. O protagonista, já devidamente aquecido, começa a representar, no contexto dramático, as figuras de seu mundo interno, presentificando seu conflito no cenário” (GONÇALVES, et. al. 1988). . Compartilhar: Nesta etapa cada elemento do grupo pode expressar, em primeiro lugar, aquilo que o tocou e emocionou na dramatização, os sentimentos nele despertados e também sua própria vivência de conflitos semelhantes. Em seguida são feitos outros comentários a respeito da cena a que assistiu. Ao solicitar o “compartilhar”, o diretor Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 230 faz com que cada indivíduo também se exponha e fique em igualdade de condições com o protagonista” (GONÇALVES, et. al. 1988). No final de cada sessão, ocorre o “compartilhar” das experiências e vivências do grupo, onde cada participante expressa seus sentimentos e emoções. O diretor correlacionava com o que era levantando, com as expectativas dos participantes em relação ao programa. Esse “Feed-Back” do grupo é que norteava o diretor para prosseguir o que havia sido estabelecido ou fazer mudanças no programa. c) Cinco instrumentos: . Público ou Platéia: “É o conjunto dos demais participantes da sessão psicodramática". . Protagonista: Sujeito que emerge para a ação dramática, simbolizando os sentimentos comuns que permeiam o grupo, recebendo por parte deste a aquiescência para representá-lo, a partir da dinâmica sociométrica (GONÇALVES, et. al. 1988). . Diretor ou Facilitador: “É o terapeuta que coordena a sessão. Exerce três funções: diretor da cena propriamente dita, terapeuta do protagonista e do grupo e analista social. O diretor promove o aquecimento, aguça sua sensibilidade para procurar, juntamente com o protagonista e os egos-auxiliares, a melhor direção para a encenação do drama, mantendo o “tele”1 com o público. Como terapeuta está atento a sua interação com o protagonista e aos sentimentos, emoções e pensamentos que ocorrem na inter-relação. Como analista social, juntamente com os egos-auxiliares, comenta com o protagonista, na fase do compartilhar, ou no momento que lhe parece oportuno, o que compreendeu da situação vivida em cena” (GONÇALVES, et. al. 1988). . Ego-Auxiliar: É o terapeuta que interage em cena com o protagonista. Também tem função tríplice as quais descreveremos a seguir: Ator - representa Papéis Terapeuta - facilita a catarse e “Insights” no protagonista Observador Social - observa as inter-relações da micro - sociedade reproduzida em cena do ponto de vista de alguém que dela participa. . Cenário: É um espaço multidimensional “projetado de acordo com as necessidades terapêuticas”. Relatório da 1ª Sessão duração: 15 h às 17 h 45 min. número de presentes: 09 tele: capacidade de se perceber de forma objetiva o que ocorre nas situações e o que se passa entre as pessoas. 1 Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 231 Objetivo da sessão: . Integrar os componentes do grupo. . Levantar as Expectativas . Estabelecer o contrato com os funcionários . Aplicar um Inventário de Interesses (LIP) . Sensibilizar para a necessidade de que o processo decisório depende do comprometimento e desvencilhamento das conservas culturais Tabela 1. Cronograma de atividades da 1ª sessão ATIVIDADES 1. Levantamento de Expectativas / Correlação com o objetivo do Programa. 2. Contrato 3. Jogo das Sensações 4. Jogo de Apresentação Elaboração Apresentação 5 minutos para cada grupo 5. Teste LIP 6. Comentários Tempo Total TEMPO DE DURAÇÃO 10 min 10 min 10 min 35 min 10 min 25 min 40 min 10 min 2 h30min Aquecimento Aquecimento Inespecífico: Jogo das Sensações (Parte I) Aquecimento Específico: Jogo das Sensações ( Parte II) Jogo das sensações Consigna (Parte I): Vocês deverão andar pela sala descontraidamente. Depois, o diretor deverá dar a seguintes instruções: Vocês deverão andar no frio, no quente, na linha do trem, no algodão, nas pedras, na areia do mar e no mar. Vocês deverão andar nas pontas dos pés, com o calcanhar, com o lado do pé, com a parte de dentro do pé, com os pés para dentro. Consigna (Parte II): Para finalizar, o diretor deverá pedir para os participantes que comecem perceber o ambiente a sua volta, comecem a se olhar, a sorrir a se despedir do outro. Comecem agora a pensar, quais seriam as pessoas que vocês escolheriam para realizar uma atividade em grupo. Agora vocês deverão se reunir em grupo de três pessoas. Jogo de apresentação Consigna: Vocês deverão se subdividir em grupos de duas ou três pessoas, dependendo do tamanho do grupo. Imaginem uma situação qualquer, na qual vocês estejam juntos e se Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 232 apresentem. Nessa apresentação vocês deverão abordar: nome; idade; departamento onde trabalham; do que mais gostam e do que menos gostam de executar na atividade atual; quais as profissões que vocês gostariam de seguir e por quê? Desenvolvimento da sessão: a sessão iniciou-se, com a retomada das expectativas dos funcionários com relação ao programa. Foi solicitado que as pessoas falassem quais eram as suas expectativas e o Ego-auxiliar foi colocando no “Flip-Chart”. O Diretor correlacionava com o objetivo do programa aproveitando neste momento para reforçar o que havia sido explanado na sua apresentação e nas entrevistas individuais. O diretor achou importante retomar esse assunto, pois era a oportunidade de, em grupo, aparar as arestas e algumas possíveis dúvidas, que eventualmente pudessem ter permanecido com relação ao programa. Também foi uma técnica para chamá-los para uma co-participação e co-responsabilidade, em seus processos decisórios. Posteriormente, o diretor introduziu o contrato que foi bem mais abrangente e profundo, devido ao fato de conhecermos bem a população com a qual estávamos trabalhando. Este contrato também teve por objetivo especificar as mudanças de papéis tanto dos participantes como da equipe responsável pelo projeto. Uma vez, que a mesma faz parte do setor de recrutamento e seleção, nas quais eram duas Analistas de RH e a Supervisora do Departamento. Dentre os participantes três pessoas faziam parte dessa equipe de Recrutamento e Seleção. Nesse momento, o diretor tentou deixar clara a mudança dos papéis sociais, a fim de tranqüilizar os participantes. Nesse contrato foram abordados os seguintes itens: objetivo, número de sessões, duração da sessão, calendário, horário, metodologia, sigilo, foco nos aspectos profissionais, dificuldades individuais, compromisso do grupo quanto à assiduidade e pontualidadem, respeito com o colega de trabalho, não misturar “papel desempenhado no grupo” com o “papel profissional” Posteriormente, foi introduzido o Jogo das Sensações e apresentação. Para finalizar, o Diretor aplicou um Inventário de Interesses, que é o Levantamento de Interesses Profissionais (LIP). Comentários do grupo: o grupo colocou que esse 1o. encontro foi muito bom para tranqüilizá-los e diminuir a ansiedade, e estavam mais confiantes com relação à proposta do Programa. Leitura grupal: foi percebido que as pessoas ainda estavam meio apreensivas quanto ao Programa e que estavam procurando identificar-se nesses novos papéis, que eram diferentes dos vividos no seu dia-a-dia de trabalho. Mas apesar disso, elas estavam mais confiantes e pré-dispostas a participar do Programa de Orientação Profissional. Avaliação do diretor e da equipe responsável (unidade funcional): nesse primeiro encontro, os participantes estavam, ainda, um pouco resistentes quanto ao programa, mas os jogos facilitaram uma certa espontaneidade. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 233 Percebeu-se que o grupo estava na primeira fase da Matriz de Identidade, onde as pessoas sentavam de acordo com suas proximidades ou afinidades. A maioria delas teve dificuldade de expressar-se na atividade atual que mais gostam e menos gostam de fazer principalmente no que se refere à segunda. O diretor percebe que essa situação é bastante desconfortável para a maioria dos componentes do grupo. Relatório da 2ª sessão duraçaõ: 15h ás 17h30min número de presentes: 09 Objetivo da sessão: . Propiciar a reflexão sobre as profissões; . Facilitar o reconhecimento do Eu; . Sensibilizar os participantes para o aprimoramento da auto-percepção. Tabela 2. Cronograma das atividades da 2ª sessão ATIVIDADES 1. Resgate da Sessão Anterior 2. Leitura e Reflexão das Profissões levantadas através do LIP 2.1. Verificação das profissões dos Colegas (Semelhanças/Diferenças) 2.2. Comentários 2.3. Escolha do Orientando das 5 Profissões 3. Colagem de Profissões/Mímica das profissões 3 minutos, para cada participante. 4. Relaxamento 5. Apresentação dos participantes como profissionais, 2o. o Lip. Cada participante terá 3 minutos para apresentar-se. 6. Comentários 7. Fechamento/Encerramento TEMPO TOTAL TEMPO DE DURAÇÃO 5 min 5 min 5 min 5 min 10 min 1h10 min 15 min 45 min 10 min 5 min 2h45min Jogos Colagem das profissões Consigna: O diretor recolheu as cinco profissões escolhidas pelos orientandos, embaralhou e pediu para que pegassem uma, mas eles não poderiam ver a profissão Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 234 sorteada. O diretor colou essa profissão nas costas de cada um. Posteriormente foi solicitado que andassem pela sala, e que verificassem quais eram as profissões de seus colegas. Os participantes não poderiam revelar as profissões afixadas nas costas de cada um deles. Quando todos os participantes já tinham visto as profissões de todos os seus colegas, foi solicitado que eles se sentassem e o diretor pediu um voluntário para iniciar o jogo. Então, M foi o voluntário e o diretor perguntou ao grupo quem gostaria de representar através de mímica a profissão afixada nas costas de M, a fim de que ele tentasse descobri-la. Esse procedimento foi realizado com todos os participantes. Observação: Todos os participantes conseguiram identificar as profissões afixadas em suas costas, não havendo necessidade de interferências do diretor. Relaxamento Consigna: Vocês devem relaxar, sentir a respiração, partes de tensão, dedos dos pés, tornozelo, pernas, joelho, coxas, órgãos genitais, abdômen, barriga, tórax, ombros, pescoço, musculatura da face, boca, nariz, olhos, testa, orelha. Agora vocês sentem uma agradável sensação fluindo por todo seu corpo. Imaginem essa profissão que saiu em suas costas. Pensem no perfil desse profissional. . Quais características que você tem e que esse profissional necessita possuir? . Vocês devem se imaginar trabalhando nessa profissão. Quais seriam os lugares onde vocês estariam trabalhando como profissional desta área? . Com quais pessoas vocês estariam trabalhando? . Com quais profissionais vocês estariam interagindo? . Apresentação dos participantes como profissionais: vocês deverão se apresentar como se fossem o profissional que imaginaram durante o relaxamento. Aquecimento Aquecimento Inespecífico: O diretor fornece aos participantes um envelope com as várias profissões que foram levantadas através do LIP(*). O diretor solicita aos participantes que coloquem a sua frente todas as profissões levantadas no LIP. É solicitado que eles observem atentamente as profissões, refletindo em que elas têm a ver com eles. Verifiquem se a(s) profissão (ões), que vocês acreditam estarem interessadas aparece no meio dessas. O diretor salienta que os participantes não conversem. Aquecimento Específico: Posteriormente, foi solicitado aos participantes que escolhessem as profissões de acordo com as suas preferências dentre aquelas que foram levantadas no LIP. Estas cinco profissões é que serão trabalhadas durante os encontros seguintes. O diretor, após essa seleção (na qual cada elemento estabelece um critério para a escolha das cinco profissões), solicita que os participantes levantem e observem as escolhas de todos os outros componentes do grupo. Percebam no que elas se assemelham e diferem das suas. Nesse momento, o diretor tem por objetivo que os participantes comecem a reconhecer a si mesmo e o outro, pois eles se encontram na 1a. fase da matriz. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 235 Desenvolvimento da sessão: a sessão iniciou-se com o resgate da sessão anterior, percebeu-se que os participantes não queriam se colocar, por isso, não trouxeram muitas contribuições. O diretor respeitou o momento do grupo, então, falou sobre as atividades do encontro desse dia. Os participantes ficaram muito interessados no resultado do LIP2. O diretor advertiu que nesse Levantamento de Interesses Profissionais, o resultado é dado por áreas e devido a esse fato tinham saído tantas profissões. A seguir para efeito didático, descreveremos as áreas segundo o LIP: 1. CF : Ciências Físicas 2. CB: Ciências Biológicas 3. C : Calculísticas 4. P : PersuasivasBA: Administrativas 5. S : Sociais 6. L : Lingüísticas 7. A : Artísticas Dentre essa gama de profissões, os participantes escolheram cinco com as quais trabalhariam até o final do Programa de Orientação Vocacional. Para efeito de esclarecimento dos leitores, as profissões as quais escolhidas, encontravam-se dentre as fornecidas pelo LIP. acreditavam ser A seguir, descreveremos as profissões escolhidas pelos orientandos. M: Comunicação, Publicidade e Propaganda, Engenharia Técnica de Alimentos, Engenharia Eletrônica e Turismo. C: Publicidade e Propaganda, Relações Públicas, Turismo, Administração de Empresas e Comércio Exterior. AJ. Comunicação, Relações Públicas, Turismo, Serviço Social e Publicidade e Propaganda I: Psicologia, Arquitetura e Urbanismo, Pedagogia, Serviço Social e Letras AC: Arquitetura e Urbanismo, Sociologia, Tradutor Intérprete, Música e Psicologia R: Publicidade e Propaganda, Comunicação, Relações Públicas, Direito e Psicologia K: Direito, Relações Públicas, Professorado, Diplomacia e Turismo L: Biologia, Psicologia, Farmácia e Bioquímica, Veterinária e Zootecnia F: Psicologia, Orientador Educacional, Sociologia, Jornalismo e Direito 2 LIP: Levantamento de Interesses Profissionais. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 236 A seguir o diretor utiliza-se do jogo dramático da Mímica das Profissões. Posteriormente foi utilizado o Relaxamento e em seguida a Apresentação dos Participantes como Profissionais. Comentários do grupo: o grupo considerou boas essas atividades. A maioria gostou do relaxamento, pois conseguiram se identificar com as profissões. Alguns componentes não conseguiram se colocar nas profissões sorteadas, e sim nas quais gostariam de seguir. Como foi o caso do AC, a profissão sorteada foi Arquitetura e Urbanismo, pensou em Sociologia e posteriormente, viu-se num consultório como Psicólogo Clínico. Na última profissão, sentiu-se melhor. O L teve a profissão sorteada Biologia, mas no decorrer do exercício, atuou nas diferentes profissões. Relatou que teve dificuldade para realizar o relaxamento e disse ter dormido. Leitura grupal: foi percebido que a atividade de relaxamento tranqüilizou os participantes, pois esses vêm ao programa apreensivos, o que é normal, pois todos nós sentimos medo do desconhecido, do novo e das mudanças. O diretor informou a inexistência de problemas às pessoas que não definiram suas profissões, pois o programa estava no começo, sendo que elas têm muito tempo para chegar a uma conclusão. Cada pessoa tem o seu ritmo próprio e vamos respeitá-lo. O diretor percebeu que alguns papéis se misturam porque é assim que eles estavam se sentindo, apresentaram também dificuldade de deixar de lado o papel profissional que desempenham diariamente. Os demais componentes tiveram facilidade para fazer o exercício. Todos disseram que gostaram muito da técnica e gostariam que tivesse mais relaxamentos nos próximos encontros. Todos, afirmaram que foi um encontro mais tranqüilo, e que estavam sentindo maior confiança no Programa e no diretor. Avaliação do diretor e da equipe responsável: percebeu-se que nesse segundo encontro, os participantes já estavam mais relaxados e mais confiantes na Equipe Responsável. Porém, ainda tinham receios e dúvidas quanto ao desconhecido. Devido a isso, algumas pessoas dormiram e misturaram os papéis, esses relatos demostraram como alguns participantes estão se sentindo (confusos, com medo, com dificuldade de assumirem esses novos papéis, medo das mudanças e do desconhecido). O grupo ainda se encontra na 1a. Fase da Matriz, buscando reconhecimento do Eu. As pessoas, ainda, estabelecem uma rede sociométrica de acordo com os vínculos existentes em ambientes de trabalho. Percebe-se que eles necessitam da aprovação de algumas estrelas. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 237 Existem 02 estrelas sociométricas no grupo. Uma “estrela” exerce um poder positivo sobre o grupo e a outra “estrela” não tem tanta aceitação sobre o grupo, mas é crítica, questionadora e argumenta com coerência e consistência. Embora essa 2a. exerça um poder negativo dentro do grupo. Devido às características acima salientadas, ela acaba exercendo o poder sobre algumas pessoas do grupo. Relatório da 3ª sessão duração: 15h às 16h50min número de presentes: 09 Objetivo da sessão: . Propiciar uma reflexão sobre a atuação profissional do presente e do futuro. . Concretizar essa reflexão a fim de que os orientandos estabeleçam uma relação entre a fantasia e a realidade. Tabela 3. Cronograma de atividades da 3ª sessão ATIVIDADE 1. Jogo de Aquecimento “Carinha no dedo indicador” 2. Comentários 3. Resgate da Sessão Anterior 4. Elaboração: “O que eu sou hoje profissionalmente e o que imagino ser no futuro”. 5. Apresentação da construção “O que eu sou hoje profissionalmente e o que imagino ser no futuro”. 6. Comentários 7. Jogo do Andar / Ritmo 8. Comentários 9. Fechamento / Comentários TEMPO TOTAL TEMPO DE DURAÇÃO 20 min 10 min 10 min 10 min 45 min 10 min 30 min 10 min 20 min 2h45 min Jogos Carinha no dedo indicador Consigna: Vocês deverão desenhar uma “carinha” no dedo indicador para expressar como estão se sentindo, por exemplo: triste, preocupado, indiferente, ansioso, alegre, com raiva, frustado, com medo. Após a elaboração das “carinhas”, o diretor pede aos participantes que se levantem e circulem pela sala mostrando a sua “carinha” para as outras pessoas, inicialmente sem o verbal. Posteriormente, deve-se colocar o verbal. Cada participante dirá para o outro como está se sentindo, criando um diálogo entre as “carinhas”. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 238 O que eu sou hoje profissionalmente e o que imagino ser no futuro Consigna: Pensem em como vocês são hoje profissionalmente, e o que imaginam ser no futuro. Vocês deverão, individualmente, confeccionar com este material disponível, como se sentem profissionalmente hoje e o que imaginam ser no futuro. Procurem escolher a profissão na qual têm maior interesse. Para aqueles cuja opção ainda não está clara, escolham uma das cinco, de preferência diferente daquela que foi trabalhada no encontro anterior. Pensando no futuro, como vocês se vêem profissionalmente? Quais são seus medos, anseios, expectativas, sonhos e frustrações com essa futura profissão? Andar em duplas Consigna: Vocês deverão andar em duplas com um pé grudado no pé do colega. Andem para todos os lados da sala, percebam como é o ritmo do outro. Tentem perceber se quando vocês trocam de parceiro existe alguma diferença. Observação: O diretor pede para trocarem de par, até que os orientandos tenham feito o exercício com todo o grupo. Aquecimento Aquecimento Inespecífico: Jogo das carinhas no dedo indicador Aquecimento Específico: Jogo de como eu sou hoje profissionalmente e o que imagino que ser no futuro. Desenvolvimento da sessão: a sessão foi iniciada com o jogo de Aquecimento das “carinhas no dedo indicador”, percebeu-se que a maioria dos componentes do grupo estava preocupados, indiferentes, ansiosos e cansados. O diretor tentou verificar porque os componentes, estavam sentindo-se desta forma, mas os mesmos não conseguiram verbalizar. Contudo, os componentes confirmaram que não havia nenhum motivo aparentemente específico, para que eles estivessem com esses sentimentos. Os participantes disseram que o encontro anterior foi bom e que gostaram do relaxamento. Mas alguns perguntaram se teria relaxamento neste encontro. O diretor, rapidamente, falou sobre o que aconteceria neste dia e iniciou os trabalhos. Posteriormente o diretor aplicou o jogo “carinha no dedo indicador”, “Como sou hoje profissionalmente e o que imagino que ser no futuro” e o jogo “Andar em duplas”. Observação: o encontro teve que ser reduzido, devido a forte carga emocional negativa do grupo. O diretor compartilhou com o grupo se eles queriam parar e os mesmos disseram que sim. Os componentes só falavam que não estavam conseguindo se fixar no “Aqui e Agora”. O diretor falou que ele tinha programado outras atividades, mas que ficaria a critério do grupo dar continuidade ou não ao encontro. O grupo teve muita dificuldade em expressar o que estava sentindo, porém achava que qualquer outra atividade não seria produtiva. O diretor respeitou o grupo, pois ele estava num momento de ensimesmamento, sem condições e vontade de falar ou fazer qualquer outra atividade. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 239 Comentários do grupo: o grupo considerou que a sessão tinha sido difícil e não sabia o porquê, mas estava cansado e desgastado. A maioria dos participantes não gostou desse encontro. Leitura grupal: o diretor percebeu que o grupo ficou muito apreensivo com o jogo de aquecimento “carinha”, devido às dificuldades internas dos componentes. Mas foi muito importante à leitura do diretor após os comentários dos participantes, pois estes ficaram mais reflexivos e introspectivos. O diretor informou que naquele momento, eles estavam percebendo a responsabilidade do processo decisório, e percebiam que a cada encontro eles tinham que se expor mais e que esta escolha dependia somente deles, que o programa estava baseado no autoconhecimento a fim de propiciar um auto-descobrimento e que ninguém poderia ajudálos, somente apoiá-los nesse momento difícil. O diretor salientou o quanto a sessão era difícil para eles, uma vez que a equipe responsável era de Recrutamento e Seleção, principalmente no momento em que vivíamos dentro da organização. O setor de RH está passando por Revisão de Processo, as pessoas estão se sentindo preocupadas e inseguras. Novamente o diretor retomou o papel da Equipe, falando que o programa nada tinha relação com o Plano de Carreira da empresa. Este programa é voltado para escolha, unicamente, dos funcionários. O diretor relembrou a confidencialidade do que era trabalhado nesses encontros. O grupo ficou em silêncio olhando para o diretor, mas ninguém se manifestou nem mesmo para concordar ou discordar do que havia sido explanado. Avaliação do diretor e da equipe responsável: o diretor percebeu que o grupo estava muito preocupado e apreensivo, devido não saber muito bem o que iria acontecer. Percebeu-se que o grupo não conseguiu deixar a criatividade e a espontaneidade fluírem, as pessoas estão bastante presas aos seus papéis profissionais desempenhados dentro da organização. Ainda preocupam-se com seus colegas, procuram aprovações entre eles. Alguns devido à grande dificuldade de “Reconhecimento do Eu”, acabam brincando durante as atividades. Contudo, nos comentários eles se apercebem e dizem que sentem que está muito difícil. O diretor salienta que tudo tem o seu momento, que devemos respeitar o nosso ritmo e que cada um tem o seu ritmo interno. Posteriormente ele aplica o jogo do andar em duplas, a fim de proporcionar a relação de corredor. Somente pede que andem em duplas devido o grupo encontrar-se ainda na um 1 a. Fase da Matriz e iniciando a 2a. Fase da Matriz de Identidade. Percebe-se que alguns elementos não saíram da 1a. Fase da Matriz, enquanto outros estão iniciando a 2a. Fase da Matriz de Identidade. Em decorrência deste desequilíbrio do grupo no exercício da “carinha no dedo indicador” o grupo retornou ao Caótico e Indiferenciado. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 240 Relatório da 4ª sessão duraçaõ: 15h ás 17h50min número de presentes: 09 Objetivo da sessão: . propiciar o conhecimento teórico de cada profissão, através do material fornecido. Tabela 4. Cronograma de atividades da 4ª sessão ATIVIDADES 1. Aquecimento: Jogo dos Pássaros 2. Resgate da Sessão Anterior 3. Pesquisa das Profissões - FIP do CIEE. (05 profissões escolhidas) 4. Entrega questionário para levarem para casa e refletirem 5. Leitura do questionário 6. Levantamento de dúvidas sobre os cursos e profissões 7. Fechamento / comentários TEMPO TOTAL TEMPO DE DURAÇÃO 10 min 10 min 40 min 50 min 10 min 25 min 10 min 2h3 5min Jogos Jogo dos pássaros Consigna: O diretor solicita que os componentes sentem em círculo e depois conta uma história. Cada vez que mencionar o nome de um pássaro, todos devem erguer a mão direita e fazê-la flutuar, imitando um pássaro em vôo. Se mencionar um grupo de pássaros, ambas as mãos deverão flutuar. Se mencionar um animal que não voe, deverão ficar imóveis, com as mãos sobre os joelhos. Quem errar sairá do jogo, porém ficará no grupo auxiliando na fiscalização dos outros. Aquecimento Aquecimento Inespecífico: Jogo dos Pássaros Desenvolvimento da sessão: a sessão iniciou-se com o Aquecimento que foi o Jogo dos Pássaros. Em seguida foi resgatada a sessão anterior. Finalmente, a equipe responsável entregou xerox do material pesquisado sobre as 05 profissões de cada componente. A bibliografia utilizada foi: . FIP - Folha de Informação Profissional do CIEE; . Dicionário das Profissões CIEE; . Guia do Estudante - Editora Abril; . Recortes de Revistas e Jornais. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 241 Inicialmente os componentes do grupo leram individualmente o material sobre suas profissões. Posteriormente reuniram-se em grupos segundo as escolhas semelhantes. Esse momento foi para que discutissem e levantassem dúvidas sobre aquelas profissões. Depois se formou um plenário onde cada representante de cada grupo colocava as dúvidas. O diretor verificava se alguém do grupo sabia responder as questões. Para finalizar a equipe respondia as questões que tinham a resposta e as que desconheciam ficou para pesquisar e responder até o último encontro. A seguir, descreveremos algumas dúvidas que pesquisamos, bem como a inicial do nome do interessado: L. Perguntou se existem universidades nos E.U.A e Inglaterra de Veterinária. Quais as melhores e se existe mestrado desse mesmo curso. I. Arquiteto pode lecionar? O curso de arquitetura e Urbanismo já habilita para Paisagismo e Decoração? C. Qual é o mercado de trabalho, para o profissional de Turismo? K. No currículo de Turismo existe a obrigatoriedade da língua estrangeira? A . Quais são as faculdades de Turismo? Após essa pesquisa, entregamos o questionário para reflexão (anexo 2), enfatizando que este questionário seria somente respondido por eles não havendo necessidade de entregarnos. Os participantes leram o questionário em voz alta e aproveitaram para sanar todas suas dúvidas. Observação: Essa sessão foi mais teórica, devido à equipe responsável perceber a necessidade do grupo necessitar de fontes de pesquisa para decidirem sobre as profissões. A sessão foi mudada em função da necessidade do grupo. Comentários do grupo: os participantes falaram sobre a importância dessas informações, pois eles já estavam ficando perdidos sem a parte teórica. Salientaram que a leitura individual foi muito proveitosa. e, quando se reuniram em grupos, houve uma interação. Essa troca foi muito importante, pois algumas dúvidas foram sanadas entre eles. Leitura grupal: o grupo estava mais coeso, as pessoas já se reuniram com outros critérios, ou seja, o da escolha e não o da rede sociométrica, estabelecida no ambiente de trabalho. O grupo estava mais tranqüilo, entretanto essa atividade é mais intelectual, fazendo com que eles se sentissem menos ameaçados. A atividade não exigia uma exposição e estava totalmente no campo racional, não abrangendo o campo emocional, o que tornou a situação muito mais confortável para os participantes. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 242 Avaliação do diretor e da equipe responsável: os componentes do grupo estavam bastante envolvidos nas atividades. Nesse encontro houve um maior respeito entre os colegas, podendo observar que o comportamento de brincadeiras e risos era uma forma de extravasar os medos e as ansiedades geradas pelo programa. Relatório da 5ª sessão duração: 15h30min às 18h00 número de presentes: 08 Objetivo da sessão: . Evidenciar o papel profissional através do role-playing. . Facilitar maior compreensão do desempenho do papel profissional. . Utilizar a espontaneidade e criatividade, através dos papeis preestabelecidos. Tabela 5. Cronograma das atividades da 5ª sessão ATIVIDADE 1. Aquecimento: Jogo da Bola Imaginária 2. Comentários 3. Resgate do encontro anterior / questionário de reflexão 4. Jogo “Partes dos Corpos” 5. Dramatização 6. Fechamento / Comentários TEMPO TOTAL TEMPO DE DURAÇÃO 20 min 10 min 20 min 15 min 30 min 10 min 1h45min Jogos Jogo da bola imaginária Os participantes deverão estar deitados e com os olhos fechados no início do jogo. Consigna: Vocês deverão imaginar uma bola. Essa bola é de vocês, portanto imaginem a cor, textura, tamanho e forma dessa bola. Agora, lentamente, vocês irão começar a brincar com a sua bola, peguem na bola, sintam essa bola, percebam a textura, o tamanho e o peso dela. Vocês devem jogar essa bola para o alto. Passem essa bola pelo seu corpo lentamente. Despeçam-se dessa bola, e dêem um destino para a mesma. Vocês deverão agora abrir os olhos. Partes dos corpos Consigna: Vocês deverão andar descontraidamente, contudo no centro da sala deve ficar um espaço livre. Deverão andar e em alguns momentos vou pedir que coloquem cinco mãos no centro da sala, duas cabeças e assim por diante. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 243 Observação: Após 3 minutos de jogo, o diretor deve explicar que quem errar deve sair do jogo, porém ficará de fora auxiliando na observação dos participantes. Aquecimento Aquecimento Inespecífico: Jogo da “Bola Imaginária” Aquecimento Específico: Jogo “Partes dos Corpos” Desenvolvimento da sessão: a sessão iniciou-se com o jogo da “Bola Imaginária”, depois passamos para o Resgate da Sessão Anterior e do Questionário de Reflexão. Nesse momento o diretor solicitou que os participantes falassem sobre como foi responder o questionário. Contudo, constou-se que ninguém respondeu o mesmo. As atividades seguintes foram o Jogo dos Corpos e a Dramatização. Dramatização: Os orientandos receberam uma situação e papéis preestabelecidos (Anexo 3), segundo as suas escolhas profissionais. O diretor escolheu uma profissão que eles ainda não tinham vivenciado em nenhum exercício. Durante a dramatização, o diretor utilizou as técnicas psicodramáticas tais como: Solilóquio, Inversão de Papéis, Espelho e Interpolação de Resistência. O Ego-Auxiliar entrou na reunião como o Dono do Hotel, interpolando o Administrador de Empresas, bem como a Jornalista. Comentários do grupo: o grupo gostou da atividade e mencionou não conseguir imaginar como iriam vivenciar os papéis profissionais. Alguns gostaram do papel profissional desempenhado e outros, não. A opinião do grupo ficou dividida, quatro pessoas gostaram do papel desempenhado e sentiram-se bem nos mesmos, sendo que as outras quatro não gostaram dele e sentiram-se mal no seu desempenho. Leitura grupal: o diretor percebeu que o grupo está funcionando como “Um Grupo”, já existindo uma relação estabelecida nele: as pessoas seguem as normas e existem líderes. O grupo respeitou o limite de cada um, desenvolveu o trabalho com seriedade. As pessoas estão percebendo que, mesmo quando estamos nos referindo à profissão do colega, é importante ouvir e respeitar. Todas as pessoas são importantes no grupo e têm a sua função dentro do mesmo. Ao exercer uma profissão, há o relacionamento com os outros profissionais e a dependência deles. No desempenho da função, existem atividades boas e ruins, em tudo há o lado positivo e o negativo. Mas à medida que gostamos das nossas profissões, fica muito mais fácil enfrentarmos as dificuldades. Avaliação do diretor e da equipe responsável: a sessão foi muito proveitosa, podemos observar que o grupo está mais maduro e integrado, sendo que a cada encontro os componentes ficam mais envolvidos e próximos uns dos outros. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 244 Em decorrência do acima exposto, levantamos a hipótese de que o grupo encontra-se na 2a. Fase da Matriz de Identidade, no Reconhecimento Eu - Tu. A Rede Sociométrica já se estabeleceu, existem duas lideranças, as quais estabeleceram visualmente uma Mutualidade Negativa. Algumas pessoas já conseguem ser mais espontâneas e criativas. A dramatização não teve um protagonista devido ter ocorrido um Sociodrama, ou seja, todo o grupo participou. Relatório da 6ª sessão duração: 15hs às 17h50min número de presentes: 09 Objetivo da sessão: . Verificar as diferenças individuais bem como as necessidades de cada componente . Observar os diferentes ritmos das pessoas . Propiciar o reconhecimento do EU (EU-TU) . Vivenciar o papel profissional através do Role-Playing . Utilizar a espontaneidade e criatividade através dos papéis preestabelecidos. Jogos Jogo da chuva Observação: Os participantes deverão estar deitados e de olhos fechados. Consigna: Procure relaxar seus corpos, liberando suas tensões... Pouco a pouco seu corpo começa a ficar leve... Muito leve, transformando-se numa nuvem... Vocês começam a levitar, atravessando a sala, de encontro ao céu... Procurem explorar-se enquanto nuvem... Veja como é a sua forma, sua cor, sua textura... Verifiquem como deslizam pelo céu, avistando a Terra lá em baixo... Vocês se encontram com outras nuvens e, com a junção, formam-se nuvens de chuva... Os pingos começam a cair vagarosamente. Aproximam-se das árvores, caindo sobre as folhas. Delicadamente no início, intensificando-se em seguida... de repente, a chuva fica mais forte. Ela aumenta mais e mais... E aos poucos vai diminuindo. Jogo dos ritmos Consigna: Vocês devem andar pela sala explorando o ambiente, vasculhem cada canto da sala, tentem conhecer, ao máximo cada pedaço dela. Fechem os olhos, mas continuem andando pela sala; tentem perceber quais são os seus sentimentos e suas sensações. Não se preocupem com as janelas, pois a equipe responsável está alerta quanto a isso. (A sala é toda de vidro e estávamos no 2o. andar). Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 245 Tabela 6. Cronograma de atividades da 6ª sessão ATIVIDADE 1. Aquecimento - A Chuva 2. Comentários 3. Resgate do Encontro Anterior 4. Jogo dos Ritmos (andar pela sala de olhos fechados) 5. Comentários 6. Role-Playing 7. Comentários 8. Fechamento / comentários TEMPO TOTAL TEMPO DE DURAÇÃO 20 min 10 min 10 min 10 min 5 min 50 min 10 min 10 min 2h5min Aquecimento Aquecimento Inespecífico: Jogo da Chuva Aquecimento Específico: Jogo dos Ritmos Desenvolvimento da sessão: a sessão iniciou-se com o aquecimento que deixou os participantes bastante tranqüilos e em campo relaxado. O resgate do encontro anterior foi breve, depois aplicamos o jogo dos ritmos e por último, foi aplicado um Role-Playing do papel profissional e o fechamento. Dramatização: os orientandos receberam todos uma situação (Anexo 4) e papéis preestabelecidos segundo as suas escolhas profissionais. O diretor escolheu outras profissões que não foram vivenciadas. Essa 2a. dramatização foi tumultuada e as pessoas tiveram muita dificuldade para entrar em seus papéis; por vezes, muitos orientandos começaram a rir. O diretor tentava trazê-los para o papel, mas, às vezes, era inútil. Este fato gerou polêmica entre os orientandos e eles não conseguiram dar um desfecho para a situação. Por diversas vezes o diretor congelou as cenas e pediu “O Solilóquio” 3. Os orientandos manifestaram os seus sentimentos, porém ficou difícil fazer os participantes desempenhar seus papéis. Solilóquio: recurso utilizado durante a dramatização, propondo-se ao protagonista que verbalize o que ele sente de fato e não está sendo expresso na ação. Assim, o paciente formula seus pensamentos em voz alta, mas virando a cabeça de lado para dissociar bem o que ele diz na ação e o que ele pensa em voz alta. 3 Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 246 O diretor, para impor o limite, informou que eles tinham 10 minutos para concluir a situação, com muita dificuldade, eles conseguiram terminar a dramatização, porém sem nenhuma coerência. Comentários do grupo: os orientandos acharam confusa a dramatização, julgaram que a própria situação não ajudou, devido ser uma situação de tensão e tumulto. Algumas pessoas admitiram que brincaram o tempo todo. A maioria dos orientandos disse que não gostou do papel desempenhado. Leitura grupal: o diretor verificou que foi difícil os orientandos assumir os papéis, devido estar também difícil à escolha profissional. Eles estavam constatando que a decisão dependia somente deles mesmos. Essa decisão, na maioria das vezes requer entrar em confronto com familiares, amigos, chefes, etc... O diretor colocou que existiam duas opções, ou eles continuariam deixando essa responsabilidade “na mão” de outras pessoas ou assumiriam as rédeas de suas próprias vidas. No final, o diretor perguntou se o grupo gostaria de realizar mais Role-Playing. A resposta do grupo foi positiva. Avaliação do diretor e da equipe responsável: o diretor verificou que o grupo estava o tempo todo desaquecido, as pessoas não conseguiram entrar nos papéis, devido à situação ser distante da sua realidade e por não ter sido construída e escolhida pelos mesmos. Os orientandos estavam com dificuldade de assumir o seu envolvimento e responsabilidade nesse processo de escolha profissional. Em função da reação do grupo, o diretor percebeu que deveria ter suspendido a dramatização e aplicado outro exercício. Relatório da 7ª sessão duração: 15h00 às 17h50min número de presentes: 09 Objetivo da sessão: . Propiciar maior percepção de si e do outro; . Responder as questões pendentes no 4o. Encontro; . Avaliar seu desempenho / comprometimento no grupo, bem como desempenho do outro. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 247 Tabela 7. Cronograma de atividades da 7ª sessão ATIVIDADES 1. Qualidades e manias 2. Comentários 3. Resgate do encontro anterior 4. Posição de como será o encontro 5. Esclarecimento das dúvidas / Fornecimento de material / Retorno individual 6. Jogo do andar para reflexão 7. Comentários 8. Expectativas do último encontro 9. Fechamento / Comentários TEMPO TOTAL TEMPO DE DURAÇÃO 15 min 10 min 10 min 5 min 50 min 40 min 10 min 10 min 15 min 2 h 45 min Jogos Qualidades e manias Consigna: Vocês deverão escrever num pedaço de papel duas qualidades e duas manias. Não deixem ninguém ver. Em seguida entreguem-me esse papel. Representem através de mímica tais características, e o grupo deve tentar descobri-las e quem é o autor das mesmas. Jogo do andar para reflexão / avaliação Consigna: Comecem a andar pela sala, sintam como está à respiração, o seu corpo, em que pontos estão sentindo tensões, tentem relaxar, soltem os braços, os ombros, o pescoço e a cabeça. Comecem a pensar em como foi o desempenho de cada participante e em que você acredita que ele contribuiu para o desenvolvimento das atividades do grupo. Tentem pensar nos participantes de forma individual. Observação: Posteriormente os participantes deverão sentar-se em círculo e cada um falará do desempenho e da contribuição dos outros oito. Nesse momento cada pessoa deverá somente ouvir e no final, cada um falará se concorda ou discorda das observações feitas pelos colegas. Aquecimento Aquecimento Inespecífico: Jogos “Qualidades e Manias” Aquecimento Específico: Jogo “Andar para Reflexão / Avaliação” Desenvolvimento da sessão: a sessão iniciou-se com o jogo “Qualidades e Manias”, a fim de descontrair e provocar um campo relaxado no grupo. Depois passamos para resgate do encontro anterior, tendo como objetivo esclarecer algumas dúvidas sobre as profissões, O diretor recolhe os papéis, mistura e redistribui de modo que ninguém fique com o seu. O autor deverá explicar o porquê de tais escolhas. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 248 como por exemplo: Tradutor e Intérprete: deve traduzir exatamente o que o interlocutor falou, em hipótese alguma filtrar, acrescentar, ou suprimir a fala do interlocutor. Posteriormente, a sessão teve um enfoque mais didático, a fim de propiciar um maior esclarecimento para os participantes. Essa atividade teve também como objetivo buscar um maior comprometimento / envolvimento dos participantes. A seguir, aplicamos o “Jogo do Andar” para Reflexão / Avaliação, objetivando um maior comprometimento dos participantes, bem como a percepção no desempenho e contribuição de cada orientando dentro do grupo. Comentários do grupo: o grupo todo informou que não gostou de fazer as avaliações dos colegas, achando que seria mais fácil fazer uma auto-avaliação. Alguns orientandos mencionaram que não gostaram de ouvir as avaliações, contudo, não se sentiram desrespeitados pelos colegas. Todos os orientandos não gostaram desse encontro. Leitura grupal: o diretor mencionou que é muito difícil ouvirmos o que as pessoas pensam a nosso respeito, porém, é muito mais difícil falarmos o que pensamos do outro, olhando nos olhos dessas pessoas. Mas essas avaliações e comentários já tinham sido feitas e estavam sendo comentadas pelos próprios participantes nos corredores da empresa, embora tivesse sido acordado que esse fato não poderia ocorrer. O grupo precisava passar por esse estágio, a fim de amadurecer. O diretor salientou que, naquele momento eles eram realmente um grupo, que tinham deixado os papéis desempenhados diariamente fora da sala de treinamento. O diretor colocou que foi importante algumas pessoas perceberem que mesmo sendo amigo do “outro”, pode-se dizer o que se pensa a respeito dessa pessoa. Não há necessidade de se concordar com tudo o que ele diz e faz, nem por isso se deixa de ser amigo. No final do encontro, o diretor perguntou aos orientandos se eles queriam fazer mais um Role-Playing, como tinha sido combinado e todos deram uma resposta positiva. Avaliação do diretor e da equipe responsável: a sessão foi muito importante, pois através das vivências, os participantes tiveram a possibilidade de avaliar o seu próprio desempenho no grupo bem como o seu comprometimento e envolvimento com a proposta. Nesse momento ficou claro, para algumas pessoas, que elas estavam transferindo a responsabilidade da decisão para a equipe responsável pelo programa. Relatório da 8ª sessão duração: 14h30min às 17h50min número de presentes: 08 Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 249 Objetivo da sessão: . Vivenciar o papel profissional, através do Role-Playing; . Facilitar a decisão da escolha profissional; . Integrar os participantes, para o alcance do objetivo; . Fortalecer o vínculo estabelecido no grupo; . Atingir a Identidade Grupal. Tabela 8. Cronograma de atividades da 8ª sessão ATIVIDADE 1. Aquecimento - Escultura 2. Comentários 3. Resgate do encontro anterior 4. Jogo do Andar 5. Role-Playing 6. Comentários 7. Fechamento TEMPO TOTAL TEMPO DE DURAÇÃO 20 min 5 min 50 min 10 min 40 min 10 min 10 min 3h Jogos Jogo da escultura Consigna: Um voluntário deve começar esculpindo com as próprias mãos algo que foi significativo no seu processo decisório no que se refere à profissão. Posteriormente deve passar para o lado. A pessoa que a recebeu pode acrescentar ou modificar o objeto e deve passar para o próximo até que todos tenham recebido a escultura. Observação: O grupo deverá estar sentado em círculo. A escultura deve passar por todos os orientados. Jogo do andar O Diretor solicitou que os participantes andassem pela sala tentando relaxar, verificando a respiração, o ritmo, como eles estavam se sentindo no momento, que deveriam se desprender das preocupações do dia-a-dia e se concentrar no “Aqui e Agora”. Consigna: Vocês devem pensar qual o papel profissional que gostariam de vivenciar aqui; tentem selecionar apenas um. Aqueles que já o vivenciaram, gostariam de vivenciá-lo novamente? Podem fazê-lo. Imaginem onde poderiam trabalhar nessa profissão, quais serão as pessoas com as quais estarão trabalhando e qual o local de trabalho de vocês. Devem imaginar uma situação de trabalho, ou seja, uma situação onde vocês estão desempenhando esse papel profissional. Agora vocês devem sentar e conversar para formar uma única situação na qual todos vocês deverão participar desempenhando o papel profissional em que cada componente do grupo pensou. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 250 Aquecimento Aquecimento Inespecífico: Escultura Aquecimento Específico: Jogo do Andar Dramatização Essa situação foi desenvolvida pelo grupo. A dramatização aconteceu em três momentos. O 1o. momento foi em uma empresa de propaganda e publicidade, o 2o. em uma escola e o 3o. , foi num consultório psicológico. Os participantes criaram uma situação que acontecia na empresa, posteriormente os mesmos componentes tinham que se relacionar nos diversos papéis (papel de pai, papel de cliente psicológico) desempenhados por eles fora da empresa. Na escola dos filhos, estavam tendo problemas com o rendimento escolar. Um funcionário buscou na terapia, com o psicólogo, auxílio profissional, pois estava desequilibrado emocionalmente, devido às mudanças e reestruturação na empresa. Desenvolvimento da sessão: a sessão iniciou-se com o “Jogo da Escultura”, depois houve o resgate da sessão anterior. Nesse resgate os participantes colocaram que não lhes agradou avaliar o desempenho dos colegas, que preferiam avaliar o seu próprio desempenho. Algumas pessoas não queriam vir para essa sessão, porém achavam que esse sentimento deveria ser trabalhado dentro da própria sessão. Inicialmentwe houve um porta-voz, depois os outros começaram a se manifestar. O diretor trabalhou esse sentimento dos participantes; devido a esse fato, o resgate se estendeu por mais tempo. Posteriormente foi aplicado o “Jogo do Andar” a fim de que eles elaborassem um único Role-Playing. Após o “Role-Playing”, aconteceram os comentários. Nesse momento, o diretor informou que tinha programado mais dois jogos, sendo que um deles era o da avaliação. O diretor mencionou que achava necessário mais um encontro e perguntou o que o grupo achava. A resposta do grupo foi que era muito importante mais um encontro para que pudessem “fechar” esse programa. Para finalizar, o diretor solicitou que o grupo se abraçasse, devido ainda estarem “mexidos”, em função do que havia sido trabalhado na 7a. e 8a. sessões. No final o diretor levantou a necessidade de se promover um outro encontro, por não se ter tempo de aplicar o exercício de avaliação. Essa decisão foi tomada junto com o grupo, sendo que o mesmo concordou da importância de mais um encontro. A data e horário foram preestabelecidas de acordo com a disponibilidade dos participantes. Comentários do Grupo: o grupo mencionou que gostou das atividades desenvolvidas e que o Role-Playing, ficou muito bom. Todos se envolveram nos papéis e a representação ficou bem mais fácil. Falaram também sobre a importância de se ter mais um encontro. Leitura grupal: o grupo estava muito mais coeso, os participantes respeitaram os seus limites e os dos seus colegas. Os orientandos não falaram todos juntos, foi percebido que o grupo estava junto para atingir um só objetivo: “A decisão de escolha profissional”. Mas, com a dramatização, eles Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 251 demostraram que a vida é uma constante mudança e que todos os dias temos que tomar várias decisões. Contudo, quando gostamos do que fazemos, tudo fica mais fácil. Avaliação do diretor e da equipe responsável: o grupo está no início da 3a. Fase Matriz de Identidade. As atividades desenvolvidas tiveram muito sucesso e foram muito proveitosas. O grupo todo estava envolvido no trabalho. Os orientandos estavam tranqüilos e relaxados, facilitando a espontaneidade e criatividade durante as atividades. A equipe responsável, também estava mais coesa. O acontecimento da sessão anterior fez com que a equipe avaliasse mais profundamente os fatos ocorridos. Relatório da 9ª sessão duração: 14h30min às 17h50min número de presentes: 09 Objetivo da sessão: . Propiciar uma melhor compreensão de todo o processo de decisão da escolha profissional; . Facilitar o encerramento da etapa; . Incutir nos participantes a compreensão de que a capacidade decisória é mutante. Tabela9. Cronograma de atividades da 9ª sessão ATIVIDADE 1. Aquecimento - Jogo das Palmas 2. Comentários 3. Resgate do Encontro Anterior 4. Relaxamento / Semente 5. Comentários 6. Avaliação Final do Programa 7. Comentários 8. Fechamento / Comentários TEMPO TOTAL TEMPO DE DURAÇÃO 20 min 10 min 20 min 30 min 15 min 30 min 20 min 30 min 2h55min Jogos Jogos das palmas Consigna: Vocês deverão andar descontraidamente pela sala, podem andar para onde quiserem. Quando “EU” bater palmas, vocês devem prestar atenção em quantas palmas “EU” bati e formar subgrupos. Por exemplo: se eu bater duas palmas, vocês deverão se subdividir em duplas, se eu bater três palmas, vocês deverão se subdividir em trios e assim por diante. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 252 Observação: Nos primeiros dois minutos o diretor não deve tirar ninguém, depois quem errar sai e auxilia na fiscalização dos outros. Jogo da semente Consigna: Vocês devem relaxar (o diretor fala de todos os pontos começando dos pés até o couro cabeludo). Agora devem despir-se de todos os papéis que desempenham diariamente, deixando de lado todas as preocupações e se concentrando no “aqui e Agora”. Imaginem que vocês são uma semente, pode ser a semente de uma planta, árvore, flor ou do que vocês quiserem. Agora vocês vão ser plantados. Em que solo vocês gostariam de ser plantados (solo árido, fofo, terra fértil, etc)? Vocês já estão sendo plantados, prestem atenção no solo, percebam como é tocar o solo e ser plantado. Vocês estão brotando, prestem atenção em como é brotar, nascer, respirar, como é o sol tocando seus brotos. Vocês começam a crescer, prestem atenção em como é o crescimento, o aparecimento dos galhos. Pássaros vêm pousar nos seus galhos ou caule, como são os pássaros pousando em cada um de vocês? Quem é uma flor, os pássaros vêm se alimentar do seu pólen. Como estão se sentindo enquanto planta? Olhem ao seu redor, veja se há outras plantas iguais a vocês. Começam a aparecer outras plantas. Chegou à primavera e vocês começam a germinar, produzindo sementes, que caem no solo e começam a fecundar outras plantas como vocês. Como vocês se sentem produzindo sementes que vão gerar outras plantas? Observação: Após esse jogo solicitar que as pessoas se dividam de acordo com a espécie da planta. Exemplo: Árvore frutífera, flores, coqueiro, árvore de flores, plantas, etc. Posteriormente cada subgrupo vai falar ao outro como o vê. Depois o diretor solicita que formem um grande pomar. Os participantes devem mencionar como se sentem nesse pomar. O diretor pede para o ego-auxiliar entrar e assumir a posição de cada pessoa, nesse momento o diretor deve pedir o solilóquio. Depois que todos os componentes se viram através da técnica do espelho, o diretor verifica se eles querem mudar algo nesse pomar. Jogo da avaliação final do programa O diretor faz uma reta no chão dividindo-o em dois lados. Consigna: Vocês deverão pensar em dois objetos, um objeto deve representar . Como vocês chegaram ao programa e outro deverá representar como ao programa e o outro deverá representar como vocês estão saindo do mesmo. Do lado direito vocês devem colocar o objeto que representa como vocês chegaram e do lado esquerdo como estão saindo. Observação: Cada participante fala do objeto e o que ele representa. Posteriormente, o diretor solicitou que cada componente fizesse uma imagem que representasse o que eles estivam sentindo naquele momento. Para finalizar, eles devam fazer uma imagem única do grupo. Aquecimento Aquecimento Inespecífico: Jogo das Palmas Solilóquio: recurso utilizado durante a dramatização, propondo-se ao protagonista que verbalize o que ele sente de fato e não está sendo expresso na ação. Assim, o paciente formula seus pensamentos em voz alta, mas virando a cabeça de lado para dissociar bem o que ele diz na ação e o que ele pensa em voz alta. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 253 Aquecimento Específico: Jogo das Sementes Desenvolvimento da sessão: a sessão iniciou-se com o Jogo das Palmas, depois foi realizado o resgate da sessão anterior e o relaxamento da semente. Passamos para o Jogo da Avaliação Final, onde cada orientando fez uma imagem para representar seu sentimento naquele momento. A seguir, o diretor pediu que o grupo fizesse uma imagem única objetivando expressar o sentimento do grupo. Para concluir, foi realizado o fechamento e os comentários. Essa sessão transcorreu num clima agradável e descontraído. Os orientandos estavam bem mais tranqüilos e relaxados, percebeu-se que o grupo estava bastante comprometido e coeso com o seu objetivo. Comentários do Grupo: todos os participantes gostaram dos exercícios, sendo que trouxeram contribuições muito significativas. Para efeito didático descreveremos sucintamente o que cada orientando disse Jogo do Relaxamento / Semente): R. : Dormiu, não conseguiu fazer o exercício L. : Dormiu M.: Cecóia - árvore grande com muito tempo de vida. Foi bom o exercício. K. : Samambaia de Metro - muito bonita. Não conseguiu ver germinar, preferiu crescer, ignorou o comando do diretor, preferiu crescer sozinha. C. : Não gostou de ser plantada, estava aflita queria nascer logo. Foi uma orquídea, porém queria andar, então ficou deprimida. Queria sair dali e conhecer coisas novas. AC.: Sensação boa, não foi uma árvore específica tinha copa grande. As sementes germinando significam novo ciclo, nova etapa e transformação. AJ.: Passou muito rápido de semente para árvore, sensação gostosa de prazer. Significou crescimento, fortalecimento e fases da vida. I. : Rosa Vermelha, só havia ela plantada, não gostou de ficar tanto tempo parada. Sentiuse intranqüila F. : Flores Vermelhas, estava sozinha, havia outras flores, mas não iguais a ela. Sensação de utilidade. Leitura grupal: os orientandos já estavam conscientes das suas decisões e do que cada uma envolve. Sempre quando escolhemos algo, em contrapartida, perdemos algo. Todas as decisões têm os seus “prós” e “contras”. Os orientandos já estavam mais maduros e fortalecidos, embora eles não tenham gostado da sessão anterior, ela facilitou para o fechamento do programa. Percebemos que todas as pessoas já possuem uma direção e que têm condições de fazer uma escolha consciente e mais segura. Mesmo aqueles que ainda possuem algum tipo de dúvida sabem que têm tempo e informações suficientes tanto em didática como em auto-conhecimento para decidirem. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 254 Observação: O diretor nessa última sessão deixa um canal aberto com os orientandos para que eles possam procurar a equipe responsável a qualquer momento. O material didático está à disposição na biblioteca para ser consultado. Avaliação do diretor e da equipe responsável: o Programa Piloto de Orientação Vocacional atingiu o seu objetivo e foi muito bem aceito entre os participantes. Todos os participantes acharam válido o programa e o indicariam para outros funcionários. O Programa, para ser implantado, necessita de alguns ajustes, no que se refere à carga horária. Na última sessão foi solicitado que os orientandos fizessem verbalmente uma avaliação do Programa. A equipe responsável entregou-lhes um questionário de avaliação o qual deveriam responder e entregar posteriormente, não havendo necessidade de se identificarem. O questionário encontra-se no anexo 5. 4. Correlações entre a teoria psicodramática e orientação vocacional A teoria do Átomo Social nas Ciências Sociais “A palavra átomo é derivada do grego “átomos” que significa qualquer coisa muito pequena. Podemos aprender mais sobre o significado da estrutura atômica a partir dos estudos sociométricos do que jamais aprendemos nos estudos da física. Existem duas significativas formações microscópicas do átomo, o átomo social e o cultural. Podemos discernir padrão de atração, repulsa e indiferença no limite entre indivíduo e grupos. Esse padrão é chamado átomo social. É a menor unidade funcional dentro do grupo social. Toda pessoa é relacionada positiva ou negativamente, a número indefinido de “Socii” que por sua vez, podem estar a ela relacionados também positiva ou negativamente. Além destas relações bilaterais, podemos observar as relações unilaterais. O indivíduo tem desde o seu nascimento, estrutura de relacionamento ao seu redor: mãe, pai, avó e outros membros de seu ambiente primitivo. "O volume do átomo social expande-se continuamente à medida que crescemos, é dentro dele que vivemos mais concretamente” (MORENO, 1992). Psicodrama “Psicodrama pode ser definido, portanto, como o a ciência que explora a “verdade” através de métodos dramáticos. Trata de relações interpessoais e de mundos particulares” (MORENO, 1992). Através, do psicodrama podemos solucionar vários conflitos dos indivíduos, pois o psicodrama utiliza-se da ação, é o “Aqui e Agora” que importa através do Psicodrama o adulto consegue recuperar a sua espontaneidade e criatividade, que ficou perdida dentro dos padrões sociais, das entidades das quais ele fez parte, bem como nas organizações das Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 255 quais ele foi inserido. O indivíduo adulto deve corresponder ao meio, ou seja, dar respostas que o meio espere dele. Para realizar esse trabalho de Orientação Vocacional, tentamos resgatar o indivíduo espontâneo e criativo, do qual Moreno, mencionava em suas obras. Espontaneidade: “é a capacidade de agir de modo “adequado” diante de situações novas, criando uma resposta inédita ou renovadora ou, ainda transformadora de situações preestabelecidas (GONÇALVES, et. al. 1988). Criatividade: “É a disponibilidade do ser humano para o ato criador, assim considerando qualquer ato que acarrete uma transformação integradora, no sentido do crescimento e da maturação, naquele que o realiza e também no meio que o rodeia. Martinez Bouquet diz: A criatividade é a capacidade de originar formas a partir de estágios elevados do ser em planos formais mais próximos do âmbito manifesto” (MENEGAZZO, ZURETTI, TOMASSI, 1995). Nesse trabalho de Orientação Vocacional, tentamos buscar o resgate do ser espontâneo, criativo segundo Moreno. O nosso objetivo principal é fazer com que o indivíduo deixasse de lado as conservas culturais e tentasse buscar a sua verdadeira vocação, baseando em seus interesses, anseios, sonhos e desejos. Contudo, sem deixar de lado a realidade, ou seja, propiciamos uma reflexão nos orientandos para que eles pudessem perceber se na futura profissão, eles conseguiriam um retorno financeiro e se encontrariam um mercado de trabalho. Trabalhamos basicamente com a teoria dos papéis, Moreno definiu papel como a menor necessidade observável de conduta. Apesar das várias formas e modalidades de definição que se possam atribuir aos papéis, convêm salientar que, para a teoria moreniana, todo papel é uma fusão de elementos privados e coletivos. Um papel compõe-se de duas partes: o seu denominador coletivo e o seu diferencial individual” (GONÇALVES, et. al. 1988). As teorias psicodramáticas levam o conceito de papel a todos as dimensões da vida com efeito, elas o utilizam para abordar a situação do crescimento, e a existência, enquanto modo de participação na sociedade” (GONÇALVES, et. al. 1988). O indivíduo em sociedade tem funções determinadas quer por sua condição sócioeconômica, cultural, religiosa, política e social. Em todos os grupos dos quais fazemos parte desempenhamos um determinado papel como, por exemplo, papel de filho, irmão, pai, mãe, marido, esposa, estudante, professor, chefe, funcionário etc. Mas vamos nos prender mais aos papéis profissionais no nosso trabalho desempenhamos papéis profissionais, onde devemos corresponder às expectativas das organizações para as quais trabalhamos nessas organizações existem várias normas e padrões vigentes. O indivíduo deve tentar manter a sua criatividade e espontaneidade, mesmo dentro do trabalho, lembrando que ser espontâneo é dar uma resposta nova e adequada, para uma situação preestabelecida. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 256 Os papéis surgem no indivíduo através da Matriz de Identidade, onde se constitui a base psicológica para todos os desempenhos de papéis. “Para Moreno o ego deriva de papéis” e o que se costuma chamar de “personalidade” deriva de fatores GETA: genéticos, espontaneidade, tele e ambiente. Ora esses fatores, por definição, estão presentes desde a 1a. fase da Matriz de Identidade” (GONÇALVES, et. al. 1988). A seguir descreveremos as 3 fases da Matriz de Identidade: 1a Fase da Matriz de Identidade - Total e Indiferenciada (fase do duplo); 2a Fase da Matriz de Identidade - Total Diferenciada ou de Realidade (fase do Espelho); 3a Fase da Matriz de Identidade - Brecha entre a Fantasia e Realidade (fase da Inversão de Papéis). A criança segundo Moreno passa por essas 3 fases da Matriz de Identidade: A) Na 1a. fase ela busca a Identidade do Eu (fase do duplo). A mãe atua como Ego-Auxiliar da criança agindo como se fosse seu “duplo” uma vez que não há distinção entre EU e o Tu, está misturada ao mundo. B) Na 2a. fase ela busca Reconhecimento do Eu (fase do Espelho) - A criança começa a se perceber enquanto indivíduo, separa dos outros (EU-TU). C) Na 3a. fase da Matriz ela busca o reconhecimento do Tu (fase da Inversão de Papéis). A criança tem a capacidade de se colocar no papel de sua mãe, já que garante o reconhecimento de si mesma. Para isso, há o Role-Talking do papel (tomada, adoção) para, posteriormente, haver a Inversão de Papéis concomitantemente (EU-ELE)” (YOZO, 1996). “Moreno em sua teoria de papéis ressalta que um papel apresenta 3 fases distintas roletalking, que é a adoção a tomada de um papel, role-playing, que é o jogar com o papel e o role-creating, que é a fase final, onde o indivíduo cria sobre o papel” (YOZO, 1996). No trabalho de Orientação Vocacional, trabalhamos muito o role-playing do papel profissional. À medida que os orientandos simularam situações nas quais envolvia uma ação, ou seja, tinham que desempenharem efetivamente o papel profissional, isso facilitava uma aproximação com a talvez futura profissão. Durante o role-playing, o diretor poderá perceber quais são as fantasias, medos e anseios de cada orientando. Durante o roleplaying essas questões serão trabalhadas com cada participante à medida que forem surgindo. A dificuldade maior de cada orientando era decidir qual profissão seguir, depois ela, em princípio é para a vida toda. No caso desses orientandos os participantes tinham de 18 a 31 anos e estavam inseridos num contexto empresarial. A responsabilidade e o comprometimento são consequentemente maiores. A cada sessão percebíamos que a evolução do grupo aumentava e novas relações, se Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 257 estabeleciam diferente das existentes fora do trabalho. A utilização do Psicodrama em Orientação Vocacional é muito rico e facilita a escolha. O Psicodrama trabalha com o “Aqui e Agora” e com Ação é a escolha da profissão é algo dinâmica e mutante. Esse programa de Orientação Vocacional tenta resgatar o indivíduo espontâneo e criativo, fazendo com que os orientandos deixassem de lado as relações cristalizadas e se permitissem descobrir, brincar jogar com outras relações e formas de atuação. À medida que deixamos de lado as respostas cristalizadas, nós permitimos experimentar e criar. No programa isso foi notório no 8o. encontro, no qual o grupo elaborou role-playing, foi percebido que eles estavam muito mais envolvidos, mantendo relações télicas. O desempenho do papel profissional foi muito mais eficaz, em decorrência de cada orientando ter decidido qual era o papel profissional que desempenharia. Entretanto, nesse encontro os orientandos estavam no início da 3a. fase da Matriz de Identidade, o que facilitou que eles trabalhassem com autonomia. Cada orientando pode resgatar o seu EU espontâneo e criativo. Contudo, esse processo variou de indivíduo para indivíduo, em decorrência das experiências vividas anteriormente pelos mesmos. 5. Resultados Considerando o universo composto por 9 orientandos concluímos que 80% terminaram o programa com uma profissão definida e, os demais, tinham material didático e vivencial suficientes para decidirem sobre a futura profissão. Os orientandos verbalizaram que o programa superou as suas expectativas, no sentido de contribuir para a escolha profissional. Eles mencionaram durante as sessões que tanto a prática vivencial como o material didático, sobre o material das profissões apresentadas no programa, contribuíram, em grande medida, para a escolha profissional, bem como, para uma decisão assertiva sobre qual curso superior ingressar no ano de 1998. Esse programa teve uma boa aceitação pelos dirigentes da empresa, levando a solicitação da ampliação do programa para a área de Call Center da empresa, porém devido às reestruturações no departamento de Recursos Humanos, não foi possível, inviabilizando o prosseguimento do programa. 6. Conclusão O objetivo do trabalho exigiu a necessidade do conhecimento do mundo empresarial, no qual nossos orientandos estavam inseridos. Desde o seu início, sabíamos que deveríamos analisá-los sob o enfoque social, cultural, religioso, político e econômico; pois todos esses fatores interferem diretamente na vida dessas pessoas. O “ser humano” é um todo, portanto, não podemos avaliar a sua vocação profissional de forma isolada. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 258 Essa forma de orientação vocacional mais livre e espontânea, através de jogos dramáticos, role-playing e desempenho do papel profissional, efetivamente facilitaram as escolhas do caminho profissional. As vivências propiciaram a espontaneidade e criatividade, sendo que à medida que o grupo trocava experiências, algumas dúvidas e dificuldades eram compartilhadas e sanadas. A Orientação Vocacional com as técnicas psicodramáticas visa levar o orientando para a ação, onde ele deve trabalhar no “Aqui e Agora”, experimentando todos os entraves do processo decisório. O orientando deve estar envolvido e comprometido nesse processo, necessitando desenvolver auto-conhecimento. Esse aspecto deve-se ao fato de que essa escolha é, na maioria das vezes, para a vida toda. A premissa básica para o “sucesso profissional” é se fizermos o que gostamos, tudo ficará mais fácil, a prática do papel profissional torna-se prazerosa. Através do psicodrama buscamos facilitar a escolha profissional e outras especializações vêm surgindo num curto período de tempo. Em decorrência desses fatores, se junta à necessidade das pessoas para serem adaptáveis a um mundo mutante e predispostas para desempenhar diferentes papéis profissionais a fim de que esses orientandos tornem-se empregáveis. O programa de Orientação Vocacional também teve a responsabilidade de preparar os orientandos para a nova visão de trabalho a partir do processo em que vivemos da globalização, que está exigindo dos profissionais perfis mais generalistas, maior capacidade de adaptação às mudanças, bem como constante reciclagem, para que esses profissionais consigam permanecer no mercado de trabalho. Contudo aquela relação de trabalho com a qual estávamos acostumados está mudando, hoje as empresas estão revendo a sua forma de trabalho, já temos profissionais autônomos, vários setores terceirizados e pensa-se até em horários flexíveis. O Psicodrama tem como premissa básica a “Ação”, então através do “Aqui e Agora” do como “se fosse”, é que nos alicerçamos para efetuar o programa. Buscamos resgatar a essência do homem espontâneo e criativo, bem como as relações télicas, as quais ele deverá ter no desempenho de seus papéis profissionais. “A Orientação Profissional Psicodramática proporciona a aprendizagem de um método que leve o orientando a alcançar as suas maneiras de ser”. A decisão profissional e, principalmente a responsabilidade pelas próprias decisões seriam consequência natural dessa aprendizagem. Na Orientação Profissional Psicodramática não se determina “a priori” a sequência a tomar, deve-se começar pela informação e seguir abordando características individuais ou valores pessoais. Cada grupo ou cada orientando, através da ação dramática, vai delimitando o que lhe é necessário abordar - no aqui e agora e em que ordem. Esta maleabilidade e valorização à atividade, característica do psicodrama -" método que busca a verdade mediante a ação”- está em consonância com o grande destaque que se dá atualmente, em Educação, aos métodos ativos em geral”. Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3 259 Esse programa piloto atingiu o seu objetivo uma vez que a maioria dos participantes terminaram a Orientação Vocacional com uma profissão definida ou mesmo aqueles que não chegaram a uma conclusão, tinham material didático e vivencial suficientes para tomarem uma decisão futura. Sabemos que as pessoas têm “times” diferentes, bem como estão em momentos de vida também diferentes. Nesse programa procuramos enfatizar que essa escolha pode ser mutante, que, portanto, devemos estar preparados para no decorrer de nossas carreiras, seguirmos outras profissões, já pensando na empregabilidade. O nosso programa foi realista no sentido de propiciar aos orientandos uma reflexão de que a futura profissão fosse algo rentável, com a qual eles pudessem sobreviver, devido a todos os orientandos serem adultos e a alguns serem casados e possuírem famílias para proverem o sustento. 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