V Mostra de Psicolo

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V Mostra de Psicolo
Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Saúde
V Mostra de Psicolo
Psicologia da Saúde: Modelos de Intervenção
07 de Novembro de 2012
Universidade Metodista de São Paulo
Campus Planalto
APRESENTAÇÃO
É com grande satisfação que apresentamos os trabalhos expostos na V Mostra
de Psicologia da Saúde, cujo tema “Psicologia da saúde: modelos de intervenção” veio
a público difundir e discutir o conhecimento científico advindo da produção de nosso
stricto sensu, bem como daqueles que conosco quiseram compartilhar.
Essa produção científica reuniu as investigações realizadas por nossos
docentes, discentes e colegas da comunidade científica da região, mas também
congregou a experiência técnica da psicologia aplicada na promoção da saúde e
prevenção de doenças de natureza psicológica.
Celebramos com este evento a conquista não só de mais um ano de estudos e
investigações, mas também de 40 anos de dedicação à formação de Psicólogos e 35
anos de formação de pesquisadores e docentes, contados os anos de existência dos
cursos de graduação e de pós-graduação stricto sensu na Universidade Metodista de
São Paulo.
Que às discussões oportunizadas por esse evento, venha enriquecer e
contribuir para a ampliação do conhecimento em psicologia e áreas afins.
Profa. Dra. Marília Martins Vizzotto
PROGRAMAÇÃO
MANHÃ
OFICINAS TEMÁTICAS (09h20 às 11h)
Oficina 1: Profa. Ms. Camila Avarca
“Promoção da saúde na família”
Oficina 2: “Promoção da saúde e prevenção de doenças crônicas”
Profas. Dras. Carla Witter, Ana Lúcia Gatti, Claudia Aranha
“Questões psicológicas - promoção e prevenção”
Profs. Drs. Eliane Florencio / Marcelo de Almeida
“Percepção corporal e atividade física - promoção e prevenção”
Profa. Dra. Rita de Cassia Aquino, Profa. Rita Maria Goulart
“Questões nutricionais - promoção e prevenção”
NOITE
APRESENTAÇÃO DE PAINÉIS: (18h às 19h)
MESA DE ABERTURA (19h às 19h30) Auditório
Rev. Cesar Roberto Pinheiro
“Palavra da Pastoral Universitária”
Profa. Dra. M. Geralda Heleno (Coord. do Mestrado em Psicologia da Saúde - UMESP)
“Psicologia da Saúde” (palavra introdutória)
CONFERÊNCIA (19h30) Auditório
Profa. Dra. Vera Maria Barros de Oliveira
“Brincar: modelos de intervenção”
ENCERRAMENTO 21h
UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO
Reitor: Márcio Morais
FACULDADE DE SAÚDE
Diretor: Rogério Gentil Bellot
Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Saúde
Coordenadora: Maria Geralda Viana Heleno
Organizadores dos Anais
Profa. Dra. Maria Geralda Viana Heleno
Maisa Sangy Guedes de Oliveira
Victor Mantoani Zaia
COMISSÃO CIENTÍFICA
Profa. Dra. Hilda Rosa Capelão Avoglia
Prof. Dr. Luis Fernando Hindi Basile
Profa. Ms. Mariantonia Chippari
Profa. Dra. Maria do Carmo Fernandes Martins
Profa. Dra. Maria Geralda Viana Heleno
Profa. Dra. Marília Martins Vizzotto
Profa. Dra. Mirlene Maria Matias Siqueira
Prof. Dr. Manuel Morgado Rezende
Prof. Dr. Renato Teodoro Ramos
Profa. Ms. Mariantonia Chippari
COMISSÃO ORGANIZADORA
Profa. Dra. Maria Geralda Viana Heleno
Beatriz Borges Brambilla
Camila Mastrorosa R. dos Reis
Eduardo Alberto da Silva
Elaine Cristina P. dos Santos
Elisangela Ap. de Castro Souza
Laura Maza Garrido
Maisa Sangy Guedes
Rafael Érik de Menezes
Renata Cambiano Zampieri
Thaís Volpiano Arruda
Victor Mantoani Zaia
APOIO
ABPSA
Casa do Psicólogo
Centro Acadêmico Psicologia MariaAntonia Chippari
Editora Metodista
Vetor editora
CRP SP - Subsede ABC
Índice
A família e a gravidez não planejada na adolescência: um estudo bibliográfico na
perspectiva psicanalítica
Juliana R. Costa, Maria Madalena Costa, Renata O. Sena
06
A percepção da imagem corporal e o corpo ideal em mulheres – um estudo exploratório
Camila M. Reis, Eliane C. Ferreira, Sandra M. Muller
46
Bem-estar no trabalho e percepção de sucesso na carreira: um estudo correlacional
Claudia S. Lima, Édille M. Accardo, Maisa Sangy, Michelle F. Guimarães, Mirlene M. Siqueira
60
Capital Psicológico e engajamento no trabalho: um estudo com profissionais
administrativos do setor de saúde de um hospital público
Camila M. Reis, Eliane C. Ferreira, Sandra M. Muller, Mirlene M. M.Siqueira
67
Clima organizacional dos colaboradores da indústria de panificação do Grupo Cíntia
Michelle F. Guimarães, Vanessa de Q. Rocha
75
Eficácia adaptativa em portadores de Diabetes Mellitus tipo 2
Nathália Brandolim dos Santos; Maria Geralda Viana Heleno
79
Literatura infantil: a arte do convencimento de sua importância no desenvolvimento das
atividades de leitura
Eduardo Alberto da Silva, Leslie Felismino Barbos
92
O brincar como uma proposta de promoção à saúde
Caroline A. Aguiar, Kédma S. Lima, Márcio R. Lima, Victor S. Alexandre
106
Pensando um envelhecimento saudável para as pessoas idosas dos municípios de Atalaia
do Norte e Benjamin Constant – AMP
Claudia dos Santos Lima
118
Projeto de orientação sócioeducativo em prol da comunidade do município de Benjamin
Constant/AM
Michelle Guimarães e (cobls) Cláudia Lima, Flávia Cunha, Jorge L. Lima, Solano Guerreiro
123
Qualidade de vida e gravidez na adolescência – um estudo com participantes do Programa
de Assistência Médica e Psicossocial à Adolescente.
Victor Mantoani Zaia, Maria Geralda Viana Heleno
127
Saúde do trabalhador: uma análise dos problemas enfrentados no transporte coletivo da
cidade de Manaus/AM - com ênfase à Hérnia de disco
Claudia dos Santos Lima
155
Sensibilização e reflexão sobre o aspecto profissional através do Psicodrama
Sandra Regina Peres
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220
A família e a gravidez não planejada na
adolescência: um estudo bibliográfico na
perspectiva psicanalítica
JULIANA RIBEIRO COSTA, MARIA MADALENA COSTA, RENATA DE OLIVEIRA SENA
Resumo
A maternidade está inserida na vida da mulher desde a infância, em brincadeiras simbólicas
e fantasias primitivas. Cotudo, a maternidade vivenciada na adolescência tem impactos em
outro processo, a busca da identidade adulta. O presente estudo teve como objetivo fazer
um levantamento bibliográfico sobre a gravidez na adolescência, suas consequências, e
decorrentes ajustamentos familiares. Justifica-se a escolha do tema, devido à importância
do apoio dos pais em uma fase de conflitos como a adolescência (como a perda do corpo
infantil e da relação com os pais da infância). Quando a gravidez surge nessa fase, os
cuidados com a família, e os adolescentes dobram, já que em muitos casos é mantida uma
dependência das figuras parentais, e, diante do novo contexto é necessário atender a
demanda dos conflitos psicológicos destes pais, com o objetivo de promover a saúde e
auxiliá-los a cumprir seu papel social. A partir da literatura foi possível compreender o
desenvolvimento adolescente, o papel da família e da sociedade nas mudanças
biopsicossociais que o jovem enfrenta, que a gravidez pode atuar como rito de passagem,
para construir uma família melhor que a original, ou para religação entre a adolescente e sua
família. Devido à importância das figuras parentais no desenvolvimento da criança e do
adolescente, a educação sexual sendo iniciada em casa; em um ambiente rodeado de afeto;
parece ser uma das melhores formas de prevenir a gravidez e as doenças venéreas na
adolescência.
Palavras-chave: gravidez na adolescência; desenvolvimento do adolescente; sexualidade.
Introdução
O objetivo do presente estudo é fazer um levantamento bibliográfico sobre a gravidez na
adolescência, suas consequências e as possíveis reações dos pais frente à gravidez de seus
filhos. A escolha deste tema é justificada, pois os pais constituem uma importante fonte de
apoio para os adolescentes, que por sua vez vivem uma situação de expectativas e possíveis
conflitos devido às perdas da infância em detrimento da chegada da vida adulta. Quando a
gravidez sem planejamento entra neste cenário, é ainda mais importante observarmos a
relação destes jovens com sua família de origem, pois em muitos casos mesmo após o
nascimento da criança mantém-se uma dependência das figuras parentais, além disso,
diante do novo contexto é necessário atender a demanda dos conflitos emocionais e
 Graduandas em Psicologia pela Universidade Metodista de São Paulo.
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psicológicos destes pais, com o objetivo de promover a saúde e auxiliá-los a cumprir seu
papel social.
1.1 Adolescência
Antes de falar do fenômeno da gravidez não planejada na adolescência, é necessário
conceituar essa fase do desenvolvimento humano. Siqueira e Vizzoto (2003) relatam que se
trata de uma fase que vai dos 10 aos 19 anos em que ocorrem várias transformações
fisiológicas e psicológicas que podem variar de acordo com o contexto sociocultural de
cada sujeito.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) o período de adolescência se dá entre os
dez e dezenove anos de vida, enquanto para o Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) é
considerado adolescente o indivíduo entre os doze e dezoito anos de idade (BRASIL,
1990).
Quando se busca uma definição para o conceito de adolescência geralmente se encontra o
termo pubescência e puberdade. Adolescência deriva do verbo em latim “adolescere” que
significa “crescer” ou “crescer até a maturidade”; “sociologicamente, adolescência é o
período de transição da dependência infantil para a autossuficiência adulta” (MUSS, 1966,
p. 16).
Para o historiador francês Ariès nos séculos XVI e XVII ainda não havia a diferença entre
infância e juventude, essa ideia foi construída a partir da ampliação de espaço da escola, que
por sua vez se opunha ao trabalho de crianças e jovens. Com isso o conceito de
adolescência se impõe como um período da vida humana entre a infância e a idade adulta, e
também a infância e adolescência ganham o status de uma fase que merece atenção e
cuidados diferenciados (ARIÈS, 1981).
No prefácio do livro Fadas no Divã, Maria Rita Kehl nos traz o conto de Chapeuzinho
Vermelho oriundo da tradição oral camponesa do século XVII, resgatado por Charles
Perrault, o enredo tem conteúdos claramente sexuais, esses contos sofreram modificações
para as versões que conhecemos hoje devido às mudanças apontadas por Ariès (CORSO;
CORSO, 2006).
Adolescência é um conceito amplo que se refere às mudanças no comportamento e status
social; puberdade é o ponto em que a maturidade sexual é alcançada, pubescência
denomina o período em que ocorrem as mudanças fisiológicas para que a maturidade
sexual seja alcançada (MUSS, 1966).
A pubescência é o período de desenvolvimento fisiológico em que as funções reprodutivas
amadurecem; é filogenético e inclui o aparecimento das características sexuais secundárias e
a maturidade fisiológica dos órgãos sexuais. Essas mudanças podem ter duração de
aproximadamente dois anos, o autor ainda destaca que compreende que em nenhum outro
momento, exceto o nascimento, ocorra uma transição de tamanha importância, pois
embora ocorram mudanças em outros momentos evolutivos, em nenhuma outra fase isso
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se dá de forma tão “imensuravelmente maior” que nos anos que precedem ou se seguem a
pubescência (MUSS, 1966, p. 17).
O referido autor ainda destaca que a adolescência tende a ocorrer mais cedo para
indivíduos do sexo feminino terminando mais cedo em sociedades mais primitivas (MUSS,
1966).
Sobre os conflitos que podem ocorrer durante a adolescência Sherif (1947, p. 220) pontua
que “variam de cultura a cultura, tornando a transição para a idade adulta mais ou menos
complicada, mais ou menos prolongada”.
Arminda Aberastury (1980) considera como a marca desta fase, a necessidade de adentrar
ao mundo adulto, as modificações biológicas que possibilitam a reprodução são vivenciadas
pelo jovem como a construção de um papel social que modifica seu lugar no mundo e o
compromete em todos os planos das relações. Nesta fase do desenvolvimento, os
adolescentes tendem a se afastar dos pais e a libertar-se de alguns laços que os mantinham
presos a eles, buscando assim novas pessoas para seguir, novos heróis, não sendo mais
estes seus pais antes considerados indestrutíveis (KLEIN, 1937/1975).
Contudo, a inevitável mudança física e a ansiedade proveniente desta mudança provocam
no adolescente, segundo Aberastury (1980) uma fuga para seu mundo interno, boa parte da
resolução deste conflito pela perda do corpo infantil depende da estrutura deste mundo
interno do indivíduo. Se sua vida na infância foi harmônica, e conseguiu internalizar
objetos bons e completos, menor ressentimento familiar e social será desencadeado.
A maturidade é iniciada quando oindivíduo aparece integrado com uma identidade
estabelecida, sendo capaz de se manter de forma independente, sem apoio emocional de
outras pessoas e sem repudiar sua história (MUSS, 1966).
A identidade egóica envolve uma integração das aspirações vocacionais junto às qualidades
adquiridas em identificações anteriores (modelos parentais, capacidade de amar, admiração
de heróis, entre outras). A partir da completude destes aspectos do ego, que o autor trata
como integridade, será possível:
“uma relação afetiva de intimidade sexual e afetiva, amizade profunda e outras situações
que exigem o abandono de si mesmo sem temor de perder a identidade do ego no próximo
estágio evolutivo” (MUSS, 1966, p. 46).
As mudanças biológicas têm estreita relação com os fenômenos psicológicos, o
amadurecimento sexual pode significar uma ameaça a segurança do sujeito, produzindo
aumento de excitabilidade e vulnerabilidade a sintomas histéricos e neuróticos (MUSS,
1966).
Segundo Rank (1945) o jovem está em uma fase de diferenciação dos pais e em busca de
uma identidade autônoma, busca se “libertar” das vontades alheias, desta forma a pulsão
sexual que o jovem vivencia pode ser sentida como invasiva.
Neste sentido Rank (1945) se opõe a Freud sobre ênfase nas forças instintivas e propõe o
conceito de vontade, em que o indivíduo tende a uma organização positiva e uma
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integração que guiam o eu, utilizando de forma criativa as pulsões, inibindo e as
controlando; com isso o ego não é preso entre as forças libidinais do id, nem do superego,
mas sim uma força dominante que os dirige.
Nessa intensa luta pela independência o adolescente pode evitar formar laços emocionais
intensos, que o conduzem a uma relação amorosa pessoal, então segundo Rank (1945) o
jovem pode usar dois mecanismos de defesa para manter sua independência, a
promiscuidade ou o ascetismo. Sendo promíscuo o adolescente pode dar vazão às pulsões
sexuais em ebulição sem com isso formar vínculo afetivo, e evitando o temor de
desintegração. Já quando tem uma postura ascética rejeita qualquer tipo de relacionamento
amoroso. O autor destaca que períodos de ascetismo podem ser alternados com períodos
de promiscuidade, mas o importante é ter em conta que em ambos os casos o jovem evita
o amor autêntico, que demanda autocontrole, autossubordinação e dependência além de
integração constante das relações externas e internas entre o eu e o outro.
Essas defesas podem tornar mais clara à razão que leva muitos jovens ao “ficar”, mas
podemos também considerar a pressão social que hoje, principalmente os adolescentes do
sexo masculino, vivenciam para provar seu potencial sexual, seja perante os amigos, ou
como, talvez, uma forma de autoafirmação de sua potência perante os pais.
Sobre o envolvimento amoroso na adolescência Muss (1966, p. 45) propõe:
“O apaixonar-se é uma ocorrência comum e frequente nesta idade, não é de natureza tão
sexual quanto o será em idades posteriores; é antes uma tentativa de projetar e testar o
próprio ego, difuso e ainda indiferenciado, por intermédio de outra pessoa a fim de clarear
ou refletir sobre o próprio autoconceito a própria identidade do ego”.
Devemos considerar que o referido autor reflete sobre os adolescentes de um diferente
contexto histórico, em que estão começando a vivenciar a liberdade sexual. Atualmente
nosso contexto é globalizado e a informação sexual e os estímulos são massivos.
No processo de preparação para a entrada no mundo adulto o indivíduo passa a questionar
os modelos de autoridade, essa é uma forma de expressão da angústia crescente, a partir da
desvalorização dos valores dos pais e de outros adultos, seus próprios valores entram em
evidência. Para Aberastury (1980), este é o primeiro passo na rivalização edípica que é
revivida na adolescência.
A adolescência é uma etapa importante no ciclo vital humano e constitui segundo
Aberastury (1980) a etapa definitiva de um processo de desprendimento, a maturidade
fisiológica permite ao jovem a busca da relação com o outro sexo e a consumação do
incesto. Simultaneamente seu papel sexual na vida adulta é definido e, quando foge da
realização da fantasia edípica, irá buscar seu objeto de amor no mundo externo, esta busca
se efetivará a partir do desprendimento interno dos pais.
Segundo Klein (1937/1975) os impulsos sexuais direcionados aos pais caminham junto a
impulsos agressivos, segundo a autora a criança tem a tendência a reprimir esses impulsos e
adquire a capacidade de afeiçoar-se a outras pessoas, ampliando seus relacionamentos,
porém, a autora adverte que a repressão não deve ser demasiada, restando resquícios de
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amor para os objetos originais e que futuramente os desejos sexuais possam ser revividos
de uma forma mais aceita socialmente.
Segundo Aberastury e Salas (1984), o filho pode se tonar um rival, pois possui a condição
de assumir a paternidade e a maternidade biológica, e também já possui os meios para
concretizar o incesto de forma completa.
Conforme o jovem realiza ganhos adultos de independência, a rivalização é possível sem
necessitar aniquilar o adversário para evitar vingança. Desta conquista surgem sentimentos
de amor e gratidão conjuntamente aos de ódio e competição. As dores decorrentes da
necessidade de abandonar seu mundo infantil, e a iminência das várias mudanças sobre as
quais não tem controle levam o jovem a empreender por meio da intelectualização
tentativas de reforma social visando superar a incapacidade de ação, esses sucessivos
questionamentos, segundo nossa compreensão, possibilitam a evolução humana, pois
através das gerações possibilita o questionamento de valores, implicando o surgimento de
novos ideais (ABERASTURY, 1980).
Para Aberastury e Knobel (1980) as mudanças físicas que são vivenciadas pelo adolescente
e sobre as quais não tem controle e as exigências que o mundo externo lhe faz, são sentidas
como invasoras. Ele então se defende mantendo seus ganhos da etapa anterior, embora
concomitantemente, almeje alcançar novos níveis evolutivos. Portanto o jovem utiliza de
mecanismos de defesa autistas, promovendo um refúgio em seu mundo interno, fazendo
contato com sua história e reorganizando suas estruturas psíquicas para o enfrentamento
do futuro.
As mudanças que se operam levam o indivíduo a perder sua identidade e corpo infantis, e
ainda dos pais idealizados na infância e viver o luto por essas perdas. Os pais de
adolescente também precisam se reorganizar para estabelecer uma nova relação com esse
filho que está mudando. A partir da experiência de luto o jovem busca uma identidade
adulta, porém nesta etapa ele pode criticar severamente alguns adultos e figuras de
autoridade que o circundam, ele então procura outros adultos aos quais idealizar. Contudo,
seu mundo interno está construído, também, a partir das imagens parentais introjetadas, a
partir deste modelo ele irá eleger e receber o estímulo necessário para a construção de sua
nova identidade. (ABERASTURY; KNOBEL, 1980, p. 113.)
Se o período da adolescência for conturbado e não ocorrerem ganhos com essa situação de
crise, a entrada na vida adulta potencialmente carregará essas dificuldades. Sharpe (1973, p.
20) descreve que uma criança que tenha a vida sensorial restringida, e que emocionalmente
passou por “conflitos desnecessários, é prejudicada no ganho de peso e atinge a
adolescência com menor poder de sentir prazer e menor capacidade de proporcioná-lo”.
Compreendemos que durante sua história de vida as pessoas enfrentem crises que são
naturais e a partir dos recursos psíquicos que foram desenvolvidos sobre a base
constitucional na infância se torna possível uma resolução dos conflitos de forma saudável.
A autora destaca que a estabilidade emocional é atingida pela criança influenciada em
grande parte pela forma em que foi atendida pelos cuidadores em momentos de
instabilidade.
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Sobre o processo de identificação e imitação que as crianças vivenciam em relação a seus
pais, a autora relata que aparentemente, crianças que foram educadas em um seio familiar
em que predominava a cortesia, entre o casal parental e destes para com os filhos, têm
menos dificuldade em realizar contatos emocionais efetivos em seu ambiente.
A proposta de Sharpe (1973) corrobora com a proposta de Aberastury e Knobel (1980),
ambos pontuam que o modelo constituído a partir das imagens parentais que foram
introjetadas previamente, tem forte influência sobre a construção da identidade adulta que
o jovem busca.
1.2. Gravidez
Segundo Mandu (2004), as consequências que rodeiam a gravidez na adolescência são
muitas, do ponto de vista social pode ocorrer evasão escolar, que posteriormente repercute
em menor formação educativa perpetuando a pobreza e dificultando o acesso ao mercado
de trabalho.
Informações do Sistema Único de Saúde (SUS) revelam que a gestação na população
adolescente com a faixa etária de dez a catorze anos aumenta, enquanto na população
feminina adulta ocorre o retardamento da maternidade (SANTOS e CARVALHO; 2006).
Esses dados são corroborados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,
2010), que publicou dados do Censo de 2010 que indicam que a gravidez é um fenômeno
mais presente na população com menos anos de escolaridade. Outro fator que os dados
revelam é de que quanto menor o nível de instrução, aparentemente mais cedo ocorre a
gravidez. Seguem tabelas explicativas, devemos ressaltar que os dados apresentados devem
ser vistos com cautela, pois como foram tabulados em forma de média, podem camuflar a
real situação da gravidez na adolescência em nosso país. Para entender as variáveis
envolvidas no fenômeno, os dados ilustrados por frequência demonstrariam de forma mais
fidedigna a concentração de gravidez em uma dada faixa etária. Isso permitiria visualizar se
o fenômeno tem ocorrido em maior frequência na adolescência, e identificar com maior
precisão o contexto em que a gravidez na adolescência está inserido, o que permitiria
elaborar planos de ação mais efetivos.
Tabela 1. Taxa de fecundidade em relação à escolaridade
Escolaridade
Mulheres com até sete anos de estudo
Mulheres com oito ou mais anos de estudo
Taxa de fecundidade
3,19
1,68
Os dados desta tabela revelam que mulheres que não concluíram o ensino fundamental,
respondem por quase o dobro de gestações em relação às mulheres que o concluíram.
Contudo, estes dados podem e devem ser analisados mais profundamente, pois podem
revelar que a ocorrência da gravidez durante o Ensino Fundamental seja um fator que leve
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à evasão escolar, mas também pode indicar que o menor nível de instrução seja uma
variável da gravidez na adolescência.
Outra questão é que, para as jovens que procuram a formação profissional enquanto fator
importante para sua formação de identidade pode existir maior tendência a evitar a gravidez
e até mesmo o casamento, desta forma as jovens que tem apoio familiar e social para uma
formação educacional continuada tem outros objetos (carreira, independência, lazer, etc.) a
que investir a libido.
Tabela 2. Nível de instrução e idade da ocorrência da primeira gestação
Escolaridade
Ensino Fundamental Completo (ou mais)
Ensino Fundamental Incompleto
Idade de ocorrência da primeira gestação
27,8
25,2
Os dados da tabela podem indicar que, quanto maior o nível de escolaridade mais
tardiamente se dá a gravidez, esses dados corroboram com a reflexão que Bertolini (2002)
faz, a autora propõe que a mulher moderna investe mais em sua formação profissional e se
torna mais individualista em seu plano de vida, adiando também a gravidez.
Contudo, esses dados nos levam a refletir porque ocorre essa disparidade em relação às
mulheres que parecem investir em seu plano de vida em longo prazo privilegiando a
formação profissional, e as jovens que engravidam, de forma “acidental” (ou como
compreendemos de forma desejada em nível inconsciente) ou previamente planejada.
Tabela 3. Escolaridade e gravidez na adolescência
Ocorrência de gravidez
dos 15 aos 19 anos
Ensino Fundamental
Completo (ou mais)
Ensino Fundamental
Incompleto
13,3 %
20,3 %
As informações contidas nesta tabela indicam que a gravidez na adolescência parece ter
maior frequência nas jovens que não concluíram o Ensino Fundamental. Esses dados nos
levam a refletir sobre a dificuldade que estes jovens que interrompem o Ensino
Fundamental encontrarão para conseguir uma ocupação profissional e consequentemente a
conquista de autonomia financeira.
O surgimento da gravidez nesta etapa pode ser um fator que leve a interrupção dos
estudos, devido à necessidade de sustentar uma criança. Muitas vezes o adolescente que
tem um filho se mantém dependente financeiramente dos pais, e em grande parte dos casos
os jovens devem recorrer ao mercado de trabalho informal ou vagas operacionais com
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baixa remuneração que podem levar a perpetuação da pobreza e conflitos relacionados ao
bem estar no trabalho.
Em relação ao aspecto biológico Mandu (2004) destaca maior incidência de intercorrências
clínicas e morte materna, maior índice de partos prematuros e morte neonatal, além de
baixo peso das crianças com mães adolescentes. Outra consequência da gravidez na
adolescência segundo a autora é o aborto ilegal, que é praticado em condições impróprias
que colocam em risco a vida dessas jovens, constituindo uma das principais causas de
morte em gestantes.
Maia Filho (1989) relata que as intercorrências médicas relacionadas à gravidez tem maior
incidência em adolescentes ditas precoces (idade de 12 a 15 anos) do que nas jovens entre
16 e 19 anos.
Doering (1989) ao estudar adolescentes em clínicas particulares e públicas concluiu que o
comportamento das adolescentes no início da vida sexual tem forte influência do meio
social em que vivem. A gravidez de uma adolescente de bom nível socioeconômico
geralmente resulta em abortamento provocado; enquanto as adolescentes de nível
socioeconômico mais baixo levam a gravidez a termo, e muitas vezes uniões com o pai da
criança são antecipadas devido à gravidez. O autor pontua que há uma diferença
fundamental entre os dois grupos no que concerne à perspectiva do papel social da mulher,
nas classes menos favorecidas economicamente a maternidade é meta prioritária, enquanto
nas classes mais elevadas as expectativas giram em torno do estudo e do trabalho.
Sobre o aborto Vitiello (1999) pontua que é realizado por pessoas que sentem que precisam
fazê-lo. Do ponto de vista orgânico apresenta riscos, principalmente devido ao ato ser
realizado na ilegalidade sem condições de higiene e recursos técnicos, levando ao alto
índice de mortalidade (por infecções, hemorragias, lesões viscerais, ou complicações
anestésicas) e esterilidade.
O autor destaca que podemos distribui parcela de responsabilidade a todos (sociedade,
família, jovem e seu parceiro, etc.), mas o feto que é condenado à morte não é consultado.
Vitiello (1999) relata que a constatação pode levar ao psiquismo da jovem uma culpa que
pode ser somatizada em depressão duradoura, dificuldade em formação de vínculos, e
disfunções sexuais.
Essas intercorrências médicas são interpretadas por Vitiello (1999, p. 105) como um
pessimismo dos pesquisadores, já que segundo ele as complicações clínicas e obstétricas
observadas “não diferem significativamente, em tipo ou em incidência, das observadas na
população em geral”. Segundo o referido autor as patologias encontradas tem manifestação
relacionada a fatores psicossociais, e observa ótimos resultados perinatais quando a
gestação é desejada e ocorre em situações favoráveis.
Para Vitiello (1999) a falta de assistência pré-natal adequada é o ponto de partida para as
complicações clínicas observadas, e essa falta de assistência muitas vezes está relacionada
ao temor que algumas jovens têm de assumir publicamente a gestação, com isso de afasta
da assistência médica.
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O autor observou que a anemia atinge as jovens em maior grau que as adultas, devido à má
nutrição, as doenças sexualmente transmissíveis podem ter maior frequência devido a
maior troca de parceiros e baixos padrões de higiene e o descaso em relação ao tratamento,
a prematuridade dos partos segundo Vitiello (1999) atinge cerca de 30% das adolescentes
grávidas, se tentou explicar esse fenômeno dizendo que devido a uma imaturidade no
desenvolvimento uterino conforme o feto cresce aumenta-se a contração uterina levando
ao parto prematuro, contudo em casos onde a gravidez na adolescência foi desejada o
número de partos prematuros não difere da média. Quanto à mortalidade perinatal seria
causada pelas condições adversas em que se dá a gravidez e o parto, sendo frequente
devido à prematuridade.
Levisky (1998, apud SANTOS; CARVALHO; 2006) destaca que o adolescente muitas vezes
não tem uma estrutura psíquica organizada para lidar com os conflitos e aspectos
primitivos ressurgentes. Ao entrar em contato com esses impulsos agressivos e sexuais, ele
pode concretizá-los para satisfação imediata em detrimento de uma elaboração interna,
compreendemos a partir da proposta deste autor, que frente aos impulsos sexuais o jovem
pode ter dificuldade em fazer uso de mecanismos de defesa e agindo de forma impulsiva, o
que pode acarretar sofrimento psíquico, gravidez e doenças sexualmente transmissíveis.
Neste sentido para Dadoorian (2000) a gravidez não planejada no nível consciente pode ser
uma forma de atuação destes desejos que o jovem não consegue elaborar.
Em relação à atuação dos desejos, nos reportamos a Freud que pontua em Além do
Princípio de Prazer, que existe a tendência psíquica de que os eventos mentais sejam
colocados em movimento devido a uma tensão desagradável que tende a ser reduzida,
como uma redução do desprazer e busca do prazer. Em suma “o aparelho mental se
esforça por manter a quantidade de excitação nele presente tão baixa quanto possível, ou,
pelo menos, por mantê-la constante” (FREUD, 1924/2006, p. 18).
Araújo, Morés e Antunes (2001, apud SANTOS, CARVALHO; 2006) entendem que
fatores socioculturais e psicológicos influenciam a procura tardia destas adolescentes pelos
serviços de saúde, complementam ainda que muitas dessas jovens não se considerem
mulheres.
O aspecto biológico do atraso menstrual tão comum entre as jovens que iniciaram o ciclo
menstrual há pouco tempo, pode sinalizar uma negação psíquica do papel de mulher, ao
mesmo tempo em que pode dificultar o diagnóstico prematuro da gravidez que
posteriormente pode influenciar na procura tardia pelo acompanhamento pré-natal.
Esse mesmo fenômeno da irregularidade menstrual pode ser compreendido como uma
gradual adequação do organismo feminino as transformações hormonais.
Esse ajustamento gradual, tanto na esfera biológica, como na psíquica, é evidenciado por
Sharpe (1973, p. 28) “assim como o corpo não pode ser forçado a crescer mais que alguns
centímetros por ano, da mesma forma o desenvolvimento mental tem seu próprio ritmo”.
A autora ressalta que oindivíduo é levado a realizar ajustamentos a partir das mudanças do
ambiente, neste caso a gravidez na adolescência e a própria adolescência são condições que
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levam ao empreendimento de ajustamentos, pois são momentos de transformação tanto
física, como dos papéis sociais e do psiquismo.
Sobre a procura tardia dos serviços de acompanhamento médico gestacional, Dadoorian
(2000) constatou que devido ao desejo positivo de ter o filho, ou seja, a partir da
constatação da gravidez as jovens que foram entrevistadas pela autora em grande parte já
desenvolvem um vínculo com o feto e desta forma procuram acompanhamento médico,
essa observação da autora contraria a proposição anterior.
Ser mãe na adolescência conduz a adolescente a assumir a identidade, ao acelerar o
processo de identidade materna, a adolescente interrompe um processo essencial para a
vida adulta que é o processo de identificação pessoal, o “eu”, que na adolescência está em
pleno desenvolvimento, isto pode causar conflitos desestruturadores desta personalidade
que está em formação assim afirmam Porto e Luz (2004 apud NOGUEIRA; MARCON,
2002).
Em relação às mudanças corporais Rodriguez (2004) reflete que na gravidez, bem como na
puberdade, as alterações do esquema corporal são acompanhadas de fantasias inconscientes
que dependem da qualidade das primeiras relações com as figuras parentais, ou seja, a
capacidade de elaboração e a vivência da angústia causada pelo conflito entre aceitar ou
rejeitar a gravidez podem revelar a dinâmica intrapsíquica e os recursos egóicos formados
desde a fase mais primitiva.
Para Munitz e Silber (1992 apud RODRIGUEZ, 2004) a disfunção familiar na infância
aumenta a precocidade da atividade sexual e consequentemente é maior a probabilidade de
uma gravidez não planejada. Rodriguez (2004) considera que esta colocação deve ser
analisada com cuidado considerando a dimensão biopsicossocial, isto é, devemos ter o
compromisso ético de evitar as generalizações e estigmatização.
Na dimensão psicológica Knobel (1981) aponta que a gravidez na adolescência é mais
provável mesmo com o conhecimento de métodos contraceptivos, devido à angústia
mobilizada pela capacidade de reprodução que é diminuída pelas defesas onipotentes de
que tal evento não ocorrerá e concomitantemente há a fantasia da maternidade.
Segundo Dadoorian (2000) geralmente as pesquisas e programas de saúde encaram a
gravidez na adolescência como acidental, indesejada e proveniente da desinformação sexual
dos jovens. As políticas públicas de saúde voltadas para educação sexual usam técnicas
normatizadoras e adaptativas do desejo sexual destes jovens, pregando um modelo de
comportamento sexual adequado. Contudo é observado que adolescentes primigestas em
curto tempo voltam a engravidar, mesmo após receberem aulas de informação sexual.
A respeito de como a sexualidade é trabalhada na escola Foucault (1984) propõe que
prevalece o discurso médico e cientifico preocupado com o disciplinamento do corpo.
Sobre a proposta educacional em relação à sexualidade Albertini (1997, p. 69) traz o
referencial reichiano:
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“Todos sabemos que a educação sempre implica a colocação de limites... entretanto, a
tarefa fundamental, que merece ser continuamente estudada e aprofundada, diz respeito à
arte de colocar limites sem anular a expressividade sexual, e, portanto vital, do ser
humano”.
A respeito da sexualidade do adolescente Sharpe (1973, p. 30) evidencia que nossa
sociedade exige um longo período de sublimação do desejo sexual do jovem, “devem adiar,
talvez por anos, a satisfação dos objetivos sexuais, para os quais estão sexualmente bastante
maduros”.
Essa moratória social também é destacada por Calligaris (2000) que compara o adolescente
a um agregado em uma aldeia indígena, onde este aprende todos os costumes e desenvolve
habilidades para se integrar ao grupo, contudo se pede que ele ocupe uma espécie de limbo,
onde não irá utilizar as habilidades que desenvolveu durante sua vida, nem definir seu papel
social, é uma espécie de marginalizado, nem criança, nem adulto.
Porém é importante destacar que não se faz uma crítica vazia aos programas de educação
sexual, mas questionar o motivo que leva os jovens (tomamos o cuidado de não
responsabilizar apenas a adolescente pela prevenção de doenças sexualmente transmissíveis
e gravidez) a vivenciarem a gravidez mesmo tendo conhecimento de métodos
contraceptivos.
A referida autora levanta dois fatores que podem influenciar a gravidez: os fatores
biológicos e os fatores não biológicos, neste último estando inseridos os fatores culturais e
psíquicos. Ela levanta que a pulsão sexual orgânica impulsiona a jovem a testar seu aparelho
sexual, e a gravidez pode ser a consequência deste ato.
Essa gravidez fruto da emergência corporal (termo utilizado em nosso estudo) ou segundo
a autora resultado da relação entre a pulsão sexual e o corpo é denominada gravidez
hormonal. A partir desse cenário, duas possibilidades se abririam para a adolescente: o
desejo negativo de ter o filho, expresso através da interrupção da gestação, ou o desejo
positivo de ter o filho, constituindo a maternidade. Até este momento a autora considera
esse desejo negativo ou desejo positivo como fenômeno universal da adolescência,
podendo ocorrer a todas as jovens de forma indistinta. O que irá determinar o rumo da
gravidez hormonal são os fatores psicoculturais.
Nas camadas populares o desejo positivo de ter o filho transforma a gravidez hormonal em
gravidez simbólica, carregada de significados e constituindo uma maternidade precária, pois
muitas vezes outras mulheres de seu círculo social foram mães adolescentes, sendo a
maternidade então valorizada e podendo levar ao novo status de mulher. Esta jovem ainda
assim, convive com circunstâncias sociais e econômicas desfavoráveis, muitas vezes sem
contar com o apoio do parceiro e pai da criança, a autora ainda pontua que o casal grávido
nestas situações é constituído pela mãe adolescente e sua progenitora. (DADOORIAN,
2000)
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Essa união entre a filha adolescente grávida e sua mãe é analisada pela autora como uma
identificação, agora a jovem que testou sua capacidade procriativa e sua feminilidade chega
ao mesmo nível de sua genitora, é mulher e mãe.
1.2.1 Ser mãe
O desejo de ser mãe e de possuir seus próprios filhos acontece na vida de uma mulher
desde muito nova, a partir do momento em que inconscientemente a mesma fantasia que o
corpo da mãe esta cheio de bebês que ali foram colocados pelo pai, que neste momento de
sua vida simboliza bondade, criatividade e poder (KLEIN, 1937/1975).
Ao brincarem com suas bonecas as meninas expõe este desejo de ser mãe, carregando-as o
tempo todo e só as deixam quando têm algo a fazer e que as impeça de levar seus (suas)
supostos (as) filhos (as). Estes desejos experimentados na infância tendem a ter grande
importância para os cuidados que a mulher terá quando der a luz a seu próprio bebê, e esta
se torna a recompensa pela frustação obtida quando menina, por ter desejado um bebê de
seu pai e não poder ter tido. Algumas mães utilizam este relacionamento para satisfazer o
desejo de ter alguém dependente dela, estas mães esperam que seus filhos permaneçam
vinculados a ela, detestando assim qualquer tipo de demonstração de individualidade de seu
filho (KLEIN, 1937/1975).
A mãe aparenta ter a capacidade de sentir o que seu bebê sente, podendo assim agir com
simpatia e amor associando-se aos sentimentos de culpa e ao impulso de reparação. No
entanto se a culpa da mãe for excessiva e cobrir de amor sem esperar nada em troca, o filho
pode se tornar umindivíduo egoísta, o excesso de indulgência da mãe não oferece margem
para que as tendências naturais da criança à reparação atuem e dificulta a “consideração
genuína pelos outros”. Esta capacidade de amar e compreender os filhos passa por teste
quando os filhos entram na adolescência, pois as relações entre mãe e filho se modificam
conforme os filhos crescem (KLEIN, 1937/1975, p. 109).
As modificações que ocorrem nas relações entre mãe e filho levam a primeira a descobrir
que não ocupa mais papel tão preponderante na vida dos filhos, contudo ela pode gozar de
relativa satisfação ao se mostrar amorosa e receptiva para os momentos de crise do filho,
segundo Klein quando a mãe se contenta em se manter coadjuvante nas conquistas do
filho, existe uma dupla identificação, dela para com sua mãe prestimosa, “cuja influência
protetora jamais cessou de atuar em sua mente”, e também para com seus próprios filhos,
usufruindo também desta mãe prestativa que existe em sua mente e cujo papel agora
desempenha (KLEIN, 1937/1975, p. 111).
1.2.2 Ser pai
Ser pai é um dos papéis que muitos homens vivenciam durante sua vida, contudo como já
relatado por Angulo (2002) o homem por meio da construção de um vínculo com seus
filhos pode compensar uma inveja que sentiria da mulher por esta ter a capacidade de gerar
o bebê.
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O homem hoje está construindo um novo papel social, devido à emancipação feminina, ele
é cobrado a ter maior participação no âmbito familiar e nas tarefas domésticas
(BERTOLINI, 2002).
Compreendemos que se essa mudança tem potencial para desestabilizar a dinâmica
intrapsíquica do homem, uma vez que hábitos culturais tem raiz na psique humana, e levam
muito tempo para serem alterados, muitas vezes esses homens são provenientes de uma
criação machista e paternalista perpetuada pelas próprias mulheres de seu convívio, as
tarefas eram executadas apenas pelas mulheres da casa, causando sobrecarga e sentimentos
de menos valia em quem sofre a sobrecarga, mesmo que essa pessoa assuma afazeres por
sua própria iniciativa, como relatado por Desidério (1982).
Aparentemente é mantida uma postura fria e distante dos pais para com os filhos, diferente
das mulheres, no entanto os filhos exercem um grande papel na vida dos homens e
ocupam um lugar ligado ao narcisismo infantil, pela gratificação que o homem obtém a
partir da “doação” do filho para sua mulher, por assim poder satisfazer seus desejos sádicos
com sua mãe e promover a reparação da mesma, além de satisfazer seus desejos femininos
e compartilhar a maternidade com sua mulher, isto ocorre, pois quando criança o mesmo
deseja gerar filhos como sua mãe, agora é capaz, e assim identifica-se com sua esposa sem
sentimento de culpa. (KLEIN, 1937/1975).
No livro No mundo dos homens, o autor Garfinkel (1985) relata que a camaradagem
masculina é uma máscara para uma competição implícita, as relações seriam superficiais, e
haveria o receio da rivalização, muito similar à relação existente entre o menino e seu pai
durante o Complexo de Édipo, o autor ainda traz um pouco de sua experiência pessoal,
relatando que o interesse pelo tema surge devido a um incomodo em sua relação com o pai
e com amigos próximos.
O referido autor ainda levanta a hipótese de que as relações masculinas estejam voltadas
para uma atividade, a esse respeito ele escreve: “Nossos laços advém de fazer juntos; nós
não aprendemos a respeito de estar juntos” (GARFINKEL, 1985, p. 19).
A relação entre o pai e o filho, bem como a relação entre mãe e filha, é cercada de
sentimentos ambivalentes: “amor e ódio, laços e barreiras, camaradagem e competição”,
contendo elementos de disputa de poder, inferioridade emocional, admiração e revolta e a
esperada reconciliação (GARFINKEL, 1985, p. 25).
Compreendemos que os sentimentos vivenciados nas primeiras relações são internalizados
e posteriormente em nossas relações futuras sirvam de parâmetro e atuação, a admiração
que Garfinkel relata compreendemos ser advinda da identificação que segundo Freud
precede ou é concomitante ao Complexo de Édipo, a idealização dos pais da infância,
posteriormente na adolescência ocorre o desapontamento, os pais são vistos como menos
potentes e o jovem procura outros ídolos, contudo geralmente passada a turbulência da
adolescência de forma saudável ocorre a reconciliação, e quando o filho se torna pai, a
identificação com seu progenitor pode ser retomada. Assim como o mesmo parece
acontecer entre a mãe e a filha quando ocorre a gravidez, isso é relatado por Dadoorian
(2000).
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Em sua pesquisa, Garfinkel (1985) relata que entrevistou pessoas próximas que ele
acreditava conhecer e que o surpreenderam como temas recorrentes nas entrevistas
realizadas. Dentre os temas recorrentes nas entrevistas se destacam: poder, competição,
temor de traição e abandono emocional, o pai idealizado na infância a quem o menino
deseja amar e estar próximo parece se tornar a pessoa menos íntima. Desta forma vê-se a
dualidade do herói, ao mesmo tempo é aliado e rival, uma figura mítica e distante, inclusive
compreendemos que aliado à medida que serve de modelo para as futuras relações com os
pares e com o sexo oposto, é rival na situação edípica e de poder fálico.
O relacionamento do pai com o filho é semelhante do relacionamento com a mãe apesar
das partes desempenhadas serem diferentes, suas atitudes se complementam, participa do
relacionamento da mulher para com os filhos, compreendendo e auxiliando.
1.3. Apego e perda
Conforme apresentado por Bowlby (1984), a primeira relação de uma criança é
fundamental para a formação de sua personalidade, apesar de não existir concordância
sobre como se dá esta relação, porém é de acordo que todos os bebês desenvolvem um
vínculo com a figura materna, ou um cuidador substituto, até os doze meses (BOWLBY,
1984).
Existem quatro teorias que abrangem o apego: Impulso Secundário; Sucção do Objeto
Primário; Adesão do Objeto Primário e Anseio Primário de Retorno ao Ventre, porém a
mais ampla e mais sustentada é a do Impulso Secundário (BOWLBY, 1984).
Segundo nosso entendimento sobre a teoria proposta, o bebê se tornará ligado e
interessado a uma figura humana em especial a mãe (o pai é a outra figura que com
frequência estimula o comportamento de apego), a partir do momento em que a mesma
satisfaça suas necessidades e sua seja fonte de prazer, no entanto só poderá ser confirmado
o comportamento de apego a partir de provas evidentes de que além de reconhecer a mãe
tende a comportar-se de modo a se aproximar da mãe (BOWLBY, 1984).
Dollard e Miller (1950 apud BOWLBY, 1984) acreditam que a criança aprende a gostar de
outras pessoas a partir da alimentação. Assim como Freud (1940 apud BOWLBY, 1984)
afirma que a partir da satisfação de nutrição ocorre a origem do amor.
O comportamento de apego esta presente de forma evidente na maioria das crianças até is
três anos de idade, depois disso o comportamento muda, as crianças passam a se sentir
segura a partir do momento que estão com figuras subordinadas de apego como por
exemplo a professora da escola ou uma pessoa da família (BOWLBY, 1984).
E assim conforme a idade da criança aumenta a intensidade do comportamento de apego
diminui, afinal os meios de comunicação instantânea (telefone, e-mail, entre outros) é um
meio de manter-se próximo (BOWLBY, 1984).
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1.4. Complexo de édipo e desenvolvimento infantil
1.4.1 Complexo de édipo freudiano
Segundo Freud (1931/2006) no complexo de Édipo normal, a criança possui uma ligação
afetiva intensa com seu progenitor do sexo oposto enquanto apresenta comportamentos de
hostilidade direcionados ao progenitor de seu próprio sexo, esta fase é vivida de forma
diferenciada entre as crianças do sexo masculino e feminino apesar de ambos terem em
comum o primeiro objeto amoroso, a mãe.
De acordo com Freud (1931/2006) esta diferença se dá devido ao fato de o menino já ter
como objeto amoroso sua mãe, e a intensificação desde desejo, faz com que ele eleja para
seu pai o papel de rival, ou seja, aquele que impede que seus desejos sejam realizados. Já
com a menina o processo ocorre de forma diferenciada, seu primeiro objeto de desejo é sua
mãe e para que ela vivencie a fase do complexo de Édipo será necessário que ela abandone
o objeto de desejo original, e este lugar seja ocupado por seu pai. Em suma, para que ela
atinja o chamado complexo de Édipo positivo será necessário que ela tenha conseguido se
desvencilhar do que é chamado de complexo de Édipo negativo, onde ela vê seu pai como
um rival, ou seja, ele só atrapalha sua relação com sua mãe causando problemas.
Pelo fato de amamentar e cuidar, naturalmente, o primeiro objeto amoroso, tanto para a
criança do sexo feminino ou masculino, é a mãe ou a cuidadora equivalente, de acordo com
Freud (1931/2006), esta escolha do objeto amoroso é realizada de forma natural por todas
as crianças, e ao final deste ciclo o pai no caso da menina deveria ser eleito como novo
objeto amoroso.
Para Freud o bebê nasce com “gérmens de moções sexuais que continuam a se desenvolver
por algum tempo”, esse início da vida sexual é suprimido progressivamente, e essa
supressão pode ser rompida por particularidades no desenvolvimento individual, ou sexual,
segundo o autor a vida sexual da criança costuma ser observável entre os três e quatro anos
(FREUD, 1905/2006, p.166).
A pulsão sexual na criança é autoerótica, ou seja, é satisfeita no próprio corpo ao invés de
ser dirigida a outrem, inicialmente a eleição da zona erógena é oral, devido às necessidades
alimentares, quando a criança é desmamada tende a procurar repetir aquele primeiro prazer
e recorre a uma parte de seu próprio corpo para sucção, já que devido a não dominar ainda
o meio externo, essa satisfação autoerótica lhe é mais cômoda e lhe proporciona uma
segunda zona erógena em nível inferior. Essa inferioridade leva posteriormente “a buscar
em outra pessoa a parte correspondente, os lábios” (FREUD, 1905/2006, p. 171).
Sobre a fase oral Sharpe (1973, p. 26) pontua que a mente do bebê é primitiva, que não se
diferenciou ainda da mãe, “sua vida começa na boca, e todo seu desenvolvimento corporal
e psíquico irradiará e se amplificará partindo dessa experiência bucal”. Compreendemos, a
partir da proposta da autora, que é necessário o estabelecimento deste vínculo,
internalização do seio bom, uma confiança na mãe (ou cuidador substituto) para que as
relações futuras sejam saudáveis.
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Freud evidencia que nem todas as crianças praticam essa sucção autoerótica, que ele
denomina chuchar, supõe que as que o fazem tem a zona labial continuamente reforçada.
Em um segundo momento a criança passa pela fase anal, devido a sua posição estratégica,
essa zona pode conservar potencial de excitabilidade durante toda a vida, durante a infância
devido aos frequentes problemas intestinais, aos cuidados na higiene da criança feitos pelos
cuidadores. Freud pontua que a criança pode chegar a reter as fezes até que quando estas
sejam expelidas provoquem estimulação intensa da mucosa, sejam “sensações de volúpia ao
lado das sensações dolorosas” (FREUD, 1905/2006, p. 175).
Sobre a fase anal o referido autor acrescenta que ao se desfazer da matéria fecal a criança
pode demonstrar “sua docilidade perante o meio que a cerca, e ao recusá-lo, sua
obstinação”, neste período começa o controle dos esfíncteres e a primeira conquista de
autonomia da criança (FREUD, 1905/2006, p. 176).
Na fase fálica a zona erógena está ligada a micção, e tal zona erógena tem importante papel
no futuro, pois é precursora do começo da futura vida sexual, Freud destaca que a
excitação geralmente ocorre de forma acidental e depois o desejo de repetição da sensação
prazerosa, no caso dos meninos entende que a manipulação dos genitais sinaliza “a
importante contribuição que a pulsão de dominação está destinada a fazer para a atividade
sexual masculina” (FREUD, 1905/2006, p. 177).
Na fase fálica ainda não há diferenciação entre os sexos, quando a criança é confrontada
com as diferenças anatômicas busca explica-las por meio de teorias sexuais, também tem
início o Complexo de Édipo e de castração subsequentemente. Quando fala das fases do
desenvolvimento da organização sexual Freud evidencia que não necessariamente uma
zona erógena é abandonada para que sobrevenha a próxima etapa, a esse respeito o autor
destaca “essa forma de organização sexual pode conservar-se por toda a vida e atrair
permanentemente para si uma boa parcela da atividade sexual” (FREUD, 1905/2006, p.
187).
O indivíduo ao longo de sua vida passa por algumas etapas em seu desenvolvimento e uma
destas etapas é o que chamamos de complexo de Édipo, que segundo Freud (1924/2006) é
um dos fenômenos centrais do período sexual da primeira infância, porém após ter sido
vivido pela criança ocorre a sua dissolução, ou seja, segue se o período de latência.
Para Freud (1905/2006) um dos motivos para sua dissolução são as experiências não
satisfatórias com seu objeto de desejo, ou seja, não foi possível se satisfazer da forma
almejada e esta insatisfação faz com que a criança desista de realizar suas fantasias edípicas
(no caso do menino com a mãe e a menina com o pai) no âmbito familiar, com a
dissolução do Complexo de Édipo, tem início a fase de latência, aonde a criança investe sua
libido para a apropriação do mundo externo, esse processo pode ser nomeado de
sublimação.
Segundo Anna Freud, durante a latência o superego infantil se desenvolve a partir da
assimilação de valores e princípios morais que são trazidos por pessoas com as quais se
identifica, esse processo substitui o medo infantil do mundo exterior para uma ansiedade
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interna produzida pelo superego. Durante a infância a inibição dos impulsos advindos do id
se dá a partir do medo do castigo que se origina no ego, o comportamento também é
controlado por recompensas físicas e psicológicas dos pais. A criança experimenta então
uma frustração externa, pois quem lhe barra o caminho para a concretização de seus
impulsos do id são os pais e a sociedade em geral. Na adolescência a frustração é interna,
pois deriva das inibições internas que se originam no superego.
Ainda segundo Freud (1931/2006), uma das características do amor infantil é que a criança
não se contenta com o pouco, ou seja, para ela o amor é visto de uma forma ilimitada e
exclusiva e por este motivo não consegue ter uma satisfação completa de seus desejos, pois
sempre espera mais do que recebe de seu objeto de desejo.
Com o interdito ao incesto o menino teme a castração e sobrevém a fase de latência, em
que a libido é deslocada para atividades escolares e sociais mais aceitas (FREUD,
1905/2006).
De acordo com Freud vez ou outra podem ocorrer manifestações sexuais no período de
latência que escaparam a sublimação, um desses exemplos é denominado chuchar, que
consiste na repetição rítmica da sucção labial excluída a necessidade de nutrição. Esse sugar
deleitoso leva a criança ao adormecimento, ou ações motoras que simulam o orgasmo,
muitas vezes são combinadas fricções em outras partes do corpo, essas ações podem levar
a masturbação. Esse exemplo ilustra a pulsão dirigida para o próprio sujeito, autoerótica.
Freud destaca que nem todas as crianças demonstram o autoerotismo desta forma, as que o
fazem provavelmente tem a zona erógena labial continuamente reforçada, e quando adultos
podem se tornar apreciadoras do beijo, fumantes, expressarem distúrbios alimentares, entre
outras possibilidades (FREUD, 1905/2006).
Outro motivo apontado por Freud (1924/2006) é que o complexo de Édipo é um
fenômeno que ocorre em todos os indivíduos de forma particular, portanto já está préestabelecido um desfecho, ou seja, uma dissolução. De acordo com a teoria freudiana o
Complexo de Édipo é universal, influenciado por fatores genéticos, e independente de
fatores ambientais, e a fase de latência termina com o desenvolvimento dos órgãos genitais
na puberdade, contudo há divergências em relação a essa afirmação.
As divergências consistem em afirmar que as mudanças fisiológicas são universais enquanto
fenômeno orgânico, contudo coexistem as pulsões sexuais que procuram vazão, mudanças
emocionais, comportamentais, de autoimagem, entre outras (MUSS, 1966).
Segundo Freud (1931/2006) a criação do superego se dá através da transformação do
complexo de Édipo no menino, ou seja, passa a ocorrer após ele descobrir que existe a
possibilidade de castração, desta forma os processos que levam o indivíduo a buscar seu
lugar na sociedade tem início, uma das influências do complexo de Édipo presente nos
homens é o fato de encarar as mulheres como seres castrados.
Já a mulher reconhece a sua castração e devido a este sentimento aceita sua inferioridade
em relação ao homem, porém, segundo Freud (1931/2006) ela se rebela a este estado
indesejável de inferioridade, gerando três linhas de desenvolvimento, onde na primeira, ela
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cresce insatisfeita com a sua sexualidade, na segunda ela ainda tem esperanças de se
conseguir ter um pênis como os meninos e na terceira ela consegue atingir a atitude normal
feminina e faz de seu pai o seu objeto de desejo, entrando no complexo de Édipo
feminino.
Entendemos a partir do Complexo de Édipo de Freud, que quando a menina se rebela
contra a castração e a dita superioridade masculina, tende a se desenvolver a
homossexualidade, ou ter comportamentos vistos como masculinos, inclusive exercer
profissões consideradas de domínio masculino. Quando o desfecho do Complexo de
Édipo leva a menina a desejar ter o pênis, há a negação da diferença entre os sexos. Na
terceira possibilidade que Freud levanta entendemos que a menina irá transformar o pai em
objeto de desejo devido à decepção prévia com a mãe, por esta tê-la feito sem o pênis e não
o possuir para dá-lo, desta forma o pai enquanto possuidor do falo e potência se torna
objeto de desejo, passando do desejo do objeto para a pessoa, do objeto para o todo, ou
segundo Klein, do objeto parcial para o total.
Segundo Freud (1931/2006) “a fase de ligação exclusiva à mãe, que pode ser chamada de
fase pré-edipiana, tem nas mulheres uma importância muito maior do que a que pode ter
nos homens”.
O Complexo de Édipo ressurge na puberdade, o jovem é pressionado para a definição de
um papel social e sexual, com a escolha de um par, geralmente para essa escolha, que é
inconsciente, o objeto de amor primário será o parâmetro, seja para uma escolha similar ou
contrária, neste caso para defender-se da ideia de consumação do incesto com um parceiro
muito parecido com o genitor do sexo oposto no caso de heterossexualidade. Freud relata
que mesmo com a segunda situação edipiana o desenvolvimento do superego avança
durante a latência criando uma barreira internalizada ao incesto que reprime esses
sentimentos (FREUD, 1905/2006).
“O aumento da tensão sexual durante a adolescência faz reviver muitos dos objetos
incestuosos do período genital anterior e dirige a libido para eles” (MUSS, p. 33, 1966).
Essa dissolução seria esperada devido à incompatibilidade de seus desejos em relação à
realidade, essa impossibilidade está ligada a interdição cultural do incesto e com a etapa de
desenvolvimento em que a criança se encontra. Devido a esse fracasso e perda do amor da
infância há uma marca narcísica que segundo o referido autor pode aparecer em um
sentimento de inferioridade comum aos neuróticos (FREUD, 1920/2006).
A afeição que une a criança ao genitor do sexo oposto leva ao desapontamento, um
sentimento de traição que pode ser notado quando há o nascimento de um irmão, até
mesmo a tentativa de gerar bebês junto ao genitor resulta em um fracasso óbvio, dada a
condição fisiológica que impede a procriação (que pode ser concretizada na adolescência,
quando surge a angústia da possibilidade de consumar o incesto), a requisição da educação,
um castigo levam a criança ao desfecho da relação amorosa edípica com os genitores,
importante destacar que se fala em termos simbólicos, não há nessa fase uma desvinculação
real dos pais, dada a dependência que ainda coexiste entre a criança e o casal parental
(FREUD, 1920/2006).
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1.4.2 Complexo de édipo kleiniano
Assim como Freud, Melanie Klein considera que para os bebês de ambos os sexos a mãe
ocupa o lugar de primeiro objeto de amor, o bebê ama a mãe à medida que satisfaz suas
necessidades alimentares e “lhe oferece o prazer sensual que experimenta quando sua boca
é estimulada pelo sugar do seio”, Klein pontua que a criança também vivencia sentimentos
de ódio e agressividade em relação à mãe quando não tem seus desejos gratificados ou
sente dor e desconforto (KLEIN, 1937/1975, p. 83).
Os sentimentos de ódio e agressividade originam estados penosos que o bebê experencia
como destrutivos de seu corpo, desta forma a sensação de infelicidade e os temores são
intensificados. A forma mais primária e imediata de “aliviar um bebê desses estados
dolorosos de fome, ódio, tensão e medo é a satisfação de seus desejos pela mãe” (KLEIN,
1937/1975, p. 84).
Quando o bebê é gratificado pela mãe ou cuidador substituto experimenta uma sensação de
segurança, essa sensação terá papel importante nas relações que serão estabelecidas em
todo o ciclo evolutivo do sujeito, o fato de a mãe ter sido a primeira a satisfazer nossas
necessidades de autopreservação e desejos sensuais torna seu papel duradouro em nossas
mentes, contudo essa influência nem sempre é consciente. A autora retrata casos em que
uma mulher pode transferir para a relação com o marido os aspectos primitivos de
alienação da relação com sua mãe. “O primeiro relacionamento do bebê com seu pai
enquanto figura gratificadora é parcialmente modelado sobre o da mãe” (KLEIN,
1937/1975, p. 84).
Os impulsos e sentimentos do bebê são acompanhados por uma atividade mental primitiva
que é a elaboração de fantasias, Klein exemplifica que o bebê pode experimentar um desejo
intenso pelo seio e se este não está presente pode fantasiar que está e imaginar a satisfação
que deriva do seio, com isso ocorrem fantasias agradáveis.
As fantasias primitivas que ocorrem concomitantemente aos sentimentos do bebê podem
variar, sendo agradáveis quando ocorrem sensações prazerosas, ou destrutivas quando o
bebê é frustrado pelo seio, em sua fantasia o bebê ataca o seio, “sente desejo de morder e
despedaçar a mãe e seus seios” (KLEIN, 1937/1975, p. 86).
Essas fantasias destrutivas equivalem a desejos de morte, o bebê imagina que seu desejo foi
concretizado, ou seja, que destruiu o objeto de seus impulsos destrutivos, para lutar contra
esses temores a criança se apoia em fantasias onipotentes de restauração. A autora acredita
que mesmo em sua fantasia tendo restaurado o objeto permanece o receio de haver
destruído o objeto que ama e depende. Esses conflitos básicos influenciam profundamente
o curso da vida emocional de adultos (KLEIN, 1937/1975, p. 86).
Conforme o processo de desenvolvimento avança a menina deseja o pai de forma mais
intensa que a mãe, alimentando fantasias inconscientes de tomar o lugar da mãe, demonstra
ciúmes dos irmãos, desejando que o pai lhe dê bebês exclusivamente seus. Esses
sentimentos, desejos e fantasias provocam rivalidade, agressividade e ódio contra a mãe,
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que são somados às frustrações primárias com o seio. Contudo além dos sentimentos de
agressividade também permanecem as fantasias sexuais e desejos direcionados à mãe. A
partir dessa influência a menina pode buscar tomar o lugar do pai em relação à mãe, “em
certos casos esses desejos e fantasias podem desenvolver-se com maior intensidade do que
os dirigidos ao pai” (KLEIN, 1937/1975, p. 90).
A referida autora pontua que junto aos sentimentos amorosos direcionados aos pais
coexiste a rivalidade, essa mistura de emoções e fantasias também pode ser vivenciada no
relacionamento com irmãos e irmãs. Klein acrescenta que os desejos direcionados pela
menina à mãe e as irmãs tem importante papel na base dos relacionamentos homossexuais
que podem ser desenvolvidos posteriormente “bem como de sentimentos homossexuais
que se manifestam indiretamente em forma de amizade e afeição entre mulheres” (KLEIN,
1937/1975, p. 90).
Segundo a autora existe na mente inconsciente da criança e do adulto o anseio de sacrificarse, como uma forma de reparar os objetos de amor que em sua fantasia foram danificados
ou destruídos, para Klein esse é um passo importante no desenvolvimento psíquico e
amoroso, pois leva o sujeito à identificação com o objeto de amor, pois ao reparar um dano
que em fantasia foi exercemos o papel dos pais amorosos (que existiram na realidade ou
que desejamos) e também é desempenhado “o papel de filho bom para seus pais, que
gostaríamos de ter feito no passado” (KLEIN, 1937/1975, p. 97).
Para a autora um relacionamento amoroso satisfatório e estável implica em afinidade,
capacidade mútua de sacrifício e de compartilhar, segundo ela se a mulher tem uma atitude
maternal para com o homem, satisfaz seus desejos primitivos de gratificação que esperava
de sua mãe, o homem por sua vez vivencia a posse dessa mãe simbólica com menor
sentimento de culpa, e quando obtém o amor e aprovação da esposa, sente-se amadurecido
e capaz de igualar-se ao pai com quem rivalizava agora se instala uma competição amigável
com o pai ou outras figuras paternas, e a mulher transferindo para o marido atitudes que
originalmente tinha para com seu pai, tende a confiar, admirar e sentir-se segura (KLEIN,
1937/1975).
Em suma, o relacionamento amoroso adulto ocorre a revivescência da situação primitiva
edípica, contudo ao se procurar no mundo externo o objeto de amor que atenda de alguma
forma as necessidades de gratificação da infância há menos sentimento de culpa (KLEIN,
1937/1975).
1.5. Papel da mulher na atualidade
Muitas mudanças no modelo familiar são consequência da conquista feminina após a
Primeira Guerra Mundial de forma mais evidente, entretanto, Almeida (2007) traz à
discussão de que a autonomia feminina vem sendo construída desde a Revolução Industrial
e Francesa a inserção da mulher no mundo do trabalho altera a forma como a vida privada
era pensada até então, todos esses eventos influenciaram a alteração de comportamento e
modelo de família que vemos hoje e que passou a ser notada na década de 1960,
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consequência do avanço cientifico que trouxe a contracepção e posterior liberdade sexual,
emancipação feminina e anseio pela igualdade entre os sexos.
Em relação à emancipação feminina, Bertolini (2002) destaca que as conquistas femininas
influenciam uma nova forma de relacionamento entre homens e mulheres e exige que as
mulheres equilibrem e integrem os diversos papéis que agora desempenham na vida
familiar e profissional.
A autora ainda pontua que os estudos realizados no Brasil em relação às mudanças no
cotidiano da mulher só passaram a ser estudadas de forma mais frequente a partir da
década de 1970, enquanto nos Estados Unidos este tema já era foco científico vinte anos
antes. Destaca ainda que seu interesse pelo estudo do tema da inserção da mulher no
mercado de trabalho se deve a uma observação de mulheres gestantes que tendem a se
culpar antecipadamente, por temer não dar assistência suficiente a seus filhos devido à
dupla jornada.
As conquistas da mulher no mundo do trabalho segundo Bertolini (2002) se iniciaram de
forma velada a partir da década de 1940, e mais frequentemente na função de professora
primária. Esta função era aceita como uma contribuição da classe burguesa para os menos
favorecidos e não permitia as mulheres rivalizar com o marido o papel de prover o lar.
A mulher que exercia a função de educadora dava continuidade à função que exercia em
casa, se ocupando dos cuidados com a geração futura, e perpetuando o modelo familiar
patriarcal.
Ainda hoje podemos identificar que o sistema educacional é dominado pelas mulheres e
que se queixam de baixa remuneração e más condições de trabalho.
Para Bertolini (2002) outro fator que contribui para a emancipação feminina foi o fluxo
migratório na época da Primeira Guerra Mundial. Em relação a isso a autora discute que o
aumento do contingente de mão-de-obra na lavoura, conquistas tecnológicas e assimilação
de novas ideias liberaram o tempo da mulher para outras atividades. A mulher começa a
ingressar na formação superior e aos poucos se torna um agente de mudanças na sociedade
e no meio familiar.
O salário feminino começa a atingir valores mais significativos, marcando uma alteração
nas relações de poder com o outro sexo. Contemporaneamente a mulher busca
simultaneamente realização pessoal e profissional, explana um desejo de independência
econômica. Essa construção de uma nova identidade, em que o trabalho fora do lar é fonte
de status, poder e autoestima, devido a sua saída para o mercado de trabalho possibilitar
estabelecimento de relações com outras pessoas e acarretando o enriquecimento de suas
vivências (BERTOLINI, 2002, p. 19).
Para Bertolini (2002, p. 21) a mudança de status que o trabalho proporciona a mulher,
ainda mais com sua capacidade de emancipação financeira pode levar a mudanças em sua
relação com o homem, este por sua vez pode a contragosto perder o poder absoluto sobre
as decisões familiares.
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O crescente número de denúncias de violência contra a mulher pode ser uma manifestação
deste fenômeno do embate de forças entre homem e mulher na dinâmica familiar, embora
também devido a maior autonomia a mulher esteja denunciando mais frequentemente a
violência sofrida pelo companheiro do que antes. Embora nosso tema de estudo não tenha
esse foco achamos conveniente levantar essa hipótese para estudos posteriores, que
também são de nosso interesse.
A mulher a que Bertolini (2002) se refere busca o aprimoramento profissional por meio do
investimento em sua formação superior, cursos no exterior e experiência de vida em
detrimento do casamento, se torna mais individualista em seu plano de vida sublimando e
adiando o casamento que antes ocupava o objetivo principal da vida feminina.
Paradoxalmente o mercado de trabalho apresenta um achatamento do salário adiando a
possibilidade de emancipação do jovem e concretização de seu projeto de vida
independente, segundo Bertolini (2002) esse adiamento da vida independente tem
influencia das décadas de crise na economia brasileira no final do século XX e ao processo
de globalização.
Em relação ao plano de vida da mulher atual que parece valorizar suas conquistas
profissionais, buscamos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,
2010). As informações indicam que as mulheres recebem 29,3% menos que os homens,
mesmo com mais anos de estudo.
O quadro de desigualdade entre os sexos, no que tange a remuneração profissional se torna
mais grave quando ambos têm formação educacional igual ou superior a 12 anos, neste
caso as mulheres recebem 42% menos que os homens.
Em relação à carga horária as mulheres trabalham em média 36 horas semanalmente contra
quase 44 horas dedicadas pelos homens à ocupação profissional. Entretanto, os indicadores
sociais do IBGE (2010) expõem que as mulheres mesmo trabalhando fora de casa
continuam dedicando mais horas as atividades domésticas (em média 22 horas semanais),
enquanto os homens que atuam fora do lar semanalmente dedicam 9,5 horas aos afazeres
domésticos.
Mesmo com as mudanças vivenciadas no universo feminino, podemos destacar que ainda
há diferença salarial entre homens e mulheres que exercem a mesma função, o que pode
sugerir o resquício da submissão feminina em nossa cultura.
O papel da família na formação da personalidade dos indivíduos é discutido por Desidério
(1982). A autora traz o exemplo de mães que devido ao modelo familiar que introjetaram e
agora replicam, assumem o papel de “servente” da família e subjugam os familiares a uma
dependência já não necessária. A simbiose, neste sentido, seria referente às tarefas que
podem ser executadas, e que são assumidas inteiramente por um membro da família.
Desta forma, o núcleo familiar seria dividido entre os que servem e os que recebem,
segundo Desidério (1982) com o tempo os membros que estão na posição de serventes se
cansam e sentem-se menosprezados, pois na realidade gostariam de receber e ser atendidos,
a autora conclui que quanto mais os pais dão aos filhos, de forma inconsciente mais se
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ressentem deste investimento e consequentemente cobram a escolha de uma profissão, de
uma postura de vida destes filhos. Compreendemos que essa cobrança que os pais fazem
aos filhos, pode se estender para a ocorrência de uma gravidez não planejada, os pais
podem se ressentir de haverem se dedicado aos filhos e os mesmos não corresponderem às
expectativas parentais. Esse fenômeno poderia ser interpretado como um desejo dos filhos
de fazerem um rito de passagem conquistando a autonomia e identidade adulta, e a
cobrança dos pais, como um desejo de manter seus filhos dependentes simbioticamente e
de continuar sua existência através dos filhos.
Compreendemos que o ser humano é um mamífero que nasce incompleto e sem o aparato
para sobreviver de forma independente como a maioria dos animais, ele termina seu
desenvolvimento fora do organismo materno e a partir do auxílio das figuras parentais, que
tem a função de inseri-lo nos hábitos socioculturais e ajudar a desenvolver habilidades para
sobreviver no meio em que está inserido.
Angulo (2002) destaca que os estudos de Psicologia dão maior ênfase a investigação do
comportamento e emoções maternas em relação ao desenvolvimento dos filhos, essa
tendência desperta debates na Sociologia e Filosofia.
1.6. Família e sociedade
Devemos ressaltar que nossa intenção não é culpabilizar a família em relação ao
desenvolvimento saudável de seus filhos, ou mesmo criticar o modelo familiar vigente
propondo mudanças, pois em nossa atuação devemos nos eximir de desejar e decidir pelo
sujeito. Procuramos refletir e trazer para o debate as possíveis implicações do modelo
familiar que temos em relação à situação de crise que a gravidez na adolescência pode
acarretar.
Como destacado por Angulo (2002) é relevante à importância da família para o
desenvolvimento infantil saudável e que a qualidade das relações familiares influencia na
adaptação dos jovens, mas a autora também coloca que se devem considerar os aspectos
inatos.
A partir de uma visão global do ser humano, ele se desenvolve em ao menos três esferas:
biológica, psicológica e social e que as mesmas são relacionadas e dependentes, destacamos,
por exemplo, que devido à participação da mulher no mercado de trabalho - que é uma
demanda gerada no aspecto social-, a criança é institucionalizada mais cedo.
Devido a essa institucionalização participam de um contexto mais amplo e estabelecem
vínculo com outros cuidadores e interagem com outras crianças, este aspecto nos
consideramos positivo à medida que ocorrem ganhos na socialização doindivíduo, muitas
famílias esperam romper com a insegurança inicial de entregar seus filhos aos cuidados de
outros, porém muitos podem enfrentar a fantasia de que seu filho vai amar outra pessoa
mais que a eles, ou até mesmo deixar de amá-los, as crianças por sua vez podem fantasiar o
abandono, esses pensamentos ambivalentes podem trazer conflitos.
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Devido à nossa experiência em creche é possível identificar fatores negativos também,
como a maior possibilidade de desenvolver infecções. Confirmando essa compreensão,
Vico e Laurenti (2004) destacam que as crianças atendidas por instituições podem ser
acometidas por enfermidades, principalmente de ordem respiratória, cutânea e do aparelho
digestivo. Esse adoecimento é comumente associado à maior vulnerabilidade da faixa etária
atendida pelas instituições e também porque devido ao ambiente coletivo há maior
circulação e transmissão de agentes infecciosos.
Neste estudo nosso interesse são os pais de jovens que tiveram filhos na adolescência, pois
compreendemos que como na adolescência de seus filhos ressurgem os conflitos edipianos
dos pais, somente isso já caracteriza uma crise na família, somando a esse quadro uma
gravidez não planejada, é de suma importância refletir sobre o papel da família do jovem.
Para compreender as mudanças no modelo familiar é importante observar as mudanças no
papel da mulher e do homem na sociedade.
A família é uma microestrutura social que somatiza os males e divisões da macroestrutura
que a sociedade constitui. O nível de contato familiar varia de acordo com a maturação e
abertura da estrutura familiar. Algumas famílias proporcionam maior vinculação afetiva,
enquanto outras ficam restritas aos papéis parentais e filiais promovendo a procura de
relacionamento afetivo fora do contexto familiar (DESIDÉRIO, 1982).
Desidério (1982) dá exemplos de amigos que fazem papel de irmão, amiga da mãe que
ocupa o espaço de confidente que seria destinado ao marido, e da dedicação exacerbada do
marido ao trabalho, ocorre uma inversão, a família é vista como intimidadora e a sociedade
como acolhedora, pois tenta suprir a falta ou contato deficiente com a família.
Desta forma, vemos uma contradição entre os modelos normatizados pela sociedade que,
ao mesmo tempo, em que promove um modelo familiar de integração, valoriza o
narcisismo, e o consumismo este último por sua vez, é o fruto da sociedade capitalista que
faz com que as pessoas despendam maior tempo dedicadas as atividades laborais, perdendo
de vista o contato afetivo no seio familiar (DESIDÉRIO, 1982).
É evidenciada a influência de fatores psicossociais no contexto da gravidez da adolescente,
tais como experiências prematuras de perda, falta ou ineficácia de cuidados maternos na
primeira infância, separação das figuras parentais, além da privação socioeconômica. A esse
respeito Dadoorian (2000) pontua que nossa sociedade ainda está impregnada do modelo
patriarcal, em que no núcleo estão o casal parental e seus filhos, agregados e empregados,
esse modelo só é possível segundo a autora nas famílias de classe média, surgindo nas
famílias de classes menos favorecidas social e economicamente como um ideal, por meio
de entrevistas a autora constatou que muitas adolescentes grávidas desejam para seu projeto
de vida, unir-se ao namorado (pai da criança), tendo uma casa. Devido à dependência
econômica destes jovens em relação a seus pais, esses projetos muitas vezes são
inviabilizados, e caso decidam ficar juntos e dividir as responsabilidades e cuidados com a
criança que irá nascer muitas vezes dependem dos pais. Sobre a relação de ajuda que os pais
muitas vezes prestam aos filhos, Barrera (1986 apud SIMÕES, 2002 p. 291) conceitua a
ajuda social a partir de algumas necessidades:
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Ajuda material (dar ou emprestar dinheiro ou bens); assistência comportamental (ajudar
realizando tarefas); apoio emocional e interação íntima nos problemas (escutar, dar
segurança, promover autonomia); supervisionar (informar e apoiar); feedback (sobre
pensamentos, sentimentos e comportamentos) e interação social positiva (proporcionar
diversão e relaxamento).
Para constituir uma rede de apoio e suporte social que faça com que o sujeito se sinta
menos abatido pela adversidade, não é necessário fornecer todos os tipos de auxílio citados
acima, pois diferentes pessoas defrontadas com conflitos diversos que dependam de
soluções distintas irão depender de auxílios pessoais díspares (BARRERA, 1986 apud
SIMÕES, 2002).
Cohen e Brook (1993 apud SIMÕES, 2002) em relação ao suporte social assinalam que a
percepção deste suporte é ainda mais importante do que o uso destes recursos de apoio
frente aos efeitos psicológicos provenientes das adversidades.
1.7. Aspectos sociais da adolescência
Os adolescentes estão inseridos em um século tecnológico, tudo é informatizado, e mesmo
assim, ainda se sentem desamparados e despreparados para essa realidade, além de obterem
as mudanças fisiológicas que podem causar muitas dúvidas e dificuldades. No entanto essas
mudanças não permeiam somente a vida do adolescente, mas também do adulto, os pais,
que ficam sem saber como agir, pois a sociedade exige que eles sejam marcantes nas
atividades de trabalho e também não que abram mão do tempo para o convívio com os
filhos, podendo assim tornar-se uma situação conflituosa (ANGULO 2002).
Ainda quando bebê este que agora é um ou uma adolescente constitui um vínculo inicial
com a mãe, a medida com que o seio é estabelecido com segurança para o mundo interno
do bebê, influenciando assim os outros relacionamentos deste ser, inclusive com o pai que
compõe o triângulo amoroso (ANGULO, 2002).
Cruz (2005), afirma que a relação pais-filhos é a relação mais definitiva e exigente. É uma
relação aonde à sociedade não admite que ocorram falhas, nem espaço para grandes
duvidas. Angulo (2002) relata que a família é de extrema importância no desenvolvimento
infantil, que os aspectos inatos dos indivíduos são inegáveis, porém quanto melhor forem
às relações familiares, mais bem ajustados serão os jovens.
Sobre a educação que a família proporciona, Desidério (1982) pontua que ocorre uma
ambivalência, os pais ficam em dúvida entre seguir o modelo de educação em que foram
criados ou utilizar os modernismos educacionais, a autora então traz que essa dúvida dos
pais é percebida pelos filhos como mensagens ambíguas, desta forma os filhos podem
evitar o confronto consigo e com a família. Desse conflito deriva a falta de limites externos
não são internalizados para a formação dos limites internos e acarreta um estancamento da
personalidade em níveis primários.
Os adolescentes também se encontram em situação de ambivalência, segundo Calligaris
(2000), as escolhas dos adolescentes quase sempre se tornam a realização dos sonhos e
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desejos dos adultos e é quase impossível para o adolescente se afastar deste ideal, pois é
necessário interpretar o desejo dos adultos em relação a eles para que este adolescente
tenha permissão de chegar à idade adulta, porém, apesar da adolescência ser uma forma de
realização do sonho dos adultos, estes mesmos adultos possuem como ideal para o
adolescente a liberdade e autonomia, sendo assim o adolescente deve cumprir o ideal a ele
imposto e ao mesmo tempo possuir liberdade de expressão e atitudes.
Segundo Aberastury e Knobel (1981), existe um processo de desprendimento da infância
para a adolescência e o papel dos pais não é muito valorizado, desta forma é criado um
problema de gerações já que o adolescente causa um conflito de em seu meio familiar e
social, e por sua vez, os pais vivem pelos seus filhos o luto pela perda do corpo infantil,
pela dependência e pela identidade de criança e ao aceitar a perda do filho criança os pais se
deparam com a realidade do envelhecimento e da morte. Neste momento os pais devem
começar a aceitar que os filhos não irão mais vê-los como seus ídolos, e sim como alguém
que comete erros e que esta suscetível a críticas.
De acordo com Aberastury e Salas (1984), é necessário que os pais aprendam a fazer
renúncias para que haja a evolução na relação com o seu filho, deverá aceitar a
ambivalência desta relação, pois irá se deparar com os sucessos e seus fracassos de seu filho
adulto e desta forma irá se deparar com seus próprios fracassos e sucessos do passado,
aonde o filho acabará sendo o telespectador de todo o que foi realizado ou não.
Ainda segundo Aberastury e Knobel (1981), para o adolescente é importante ter o controle
das mudanças, para isso acredita que deve planejar a sua vida segundo o mundo externo e
as suas necessidades, explicando assim a sua necessidade de reforma social, neste momento
o adolescente se utiliza de diversos meios para tentar se adequar a realidade do mundo ao
seu redor.
Uma das diversas formas de adequação à realidade utilizada pelo adolescente é através da
transgressão, segundo Calligaris (2000), o adolescente deseja fazer parte do meio em que
convive e para que se sinta merecedor ele acredita que deva transgredir, ou seja, não deve
se curvar ao que estes mesmos adultos pedem ou esperam, sendo assim o adolescente vai
contra aquele modelo conhecido do mundo exterior e desta forma se sente merecedor de
adentrar nele.
Porém, quando o adolescente age desta forma, está na maioria do tempo cumprindo um
papel que é dado a ele, pois ainda de acordo com Calligaris (2000), a cultura predominante
espera que o adolescente transgrida, não obedeça e que tenha sua própria autonomia,
portanto ao invés de ir contra o modelo adulto ele está cumprindo o seu papel de
adolescente.
Durante o período de adolescência o adolescente passa a maior parte do tempo tentando
descobrir o que os adultos querem dele e por outro lado o adulto tenta realizar através do
adolescente os seus próprios sonhos, Calligaris (2000).
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2. Método
Foi feito levantamento bibliográfico com trabalhos que abordam o tema da gravidez na
adolescência e elaboração de uma discussão com base na teoria kleiniana.
Procedimento
Realizamos o levantamento teórico utilizamos capítulos de livros, teses e revistas
científicas, nos voltamos para a base de dados Scielo, Pepsic, Teses da USP e PUC os
descritores foram: gravidez na adolescência, sentimentos de pais de adolescentes grávidas,
parto e puerpério, desenvolvimento do adolescente e sexualidade. Os materiais
selecionados para uso têm data de publicação a partir da década de 1940.
A análise bibliográfica foi feita buscando compreender a dinâmica intrapsíquica de
adolescentes e suas famílias, características da fase de desenvolvimento da adolescência, a
situação de crise que a gravidez constitui, os papéis da maternidade e paternidade como
suporte perante esta crise, a partir destas compreensões buscamos discutir e construir uma
visão abrangente sobre este fenômeno.
3. Discussão
Provavelmente devido ao adiamento do casamento em detrimento da realização
profissional é cada vez mais comum o início da atividade sexual em idades mais precoces,
geralmente fora de um relacionamento estável, com isso pode ocorrer uma maior tendência
ao aparecimento de gravidez não planejada e doenças sexualmente transmissíveis. É
importante destacar que talvez a gravidez não planejada na adolescência e fora do
casamento também ocorria no passado, contudo em menor grau, pois como os casamentos
ocorriam cedo a atividade sexual pré-matrimonial que pudesse existir teria menor espaço
temporal, diminuindo as chances de gravidez, e possivelmente quando a gravidez ocorria
nesse contexto era mais camuflada devido a pressão e estigma social que uma mãe solteira e
adolescente provavelmente vivenciaria.
Se refletirmos sobre a história de nossas avós, muitas delas casaram cedo e começaram a
engravidar ainda na adolescência, o que nos leva a pensar que a gravidez na adolescência
não é um fenômeno atual, a grande questão de hoje é que devido ao adiamento do
casamento a gravidez na adolescência hoje costuma ocorrer fora do casamento, e devido a
diversos fatores psicossociais a responsabilidade sobre a situação costuma recair sobre a
adolescente e sua família, podendo levar a intercorrências como perpetuação da miséria
social, devido a maior dificuldade que esta jovem tem de continuar seus estudos e ter
acesso a empregos com maior remuneração; a gravidez na adolescência também pode gerar
conflitos psicológicos devido ao momento em que ocorre, onde geralmente é o momento
de construção de uma identidade adulta e com o nascimento de um filho se assume outro
papel de forma concomitante; no caso da jovem solteira ainda pode surgir o estigma que
possivelmente dificultará o início de novos relacionamentos amorosos, podemos pensar
ainda nas intercorrências para o desenvolvimento da criança é fruto da gravidez na
adolescência sem planejamento e sem a presença do pai, levando a construção de uma
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família monoparental (com a mãe enquanto única provedora), ou de famílias com
constituição extensa (onde a adolescente grávida permanece com a família de origem).
As jovens que procuram a formação profissional como fator importante para sua formação
de identidade podem ter maior tendência a evitar a gravidez e até mesmo o casamento,
desta forma a jovem que tem apoio familiar e social para uma formação educacional
continuada tem outros objetos (carreira, independência, lazer, etc.) a que investir a libido.
Essa compreensão é corroborada pelas conclusões que Taquette (1997) chegou em sua tese
de doutorado, a autora propõe que as jovens que se sentem infelizes em suas famílias de
origem tendem a tentar, através da gravidez, formar uma família melhor e mais feliz.
Devemos considerar que geralmente devido a dificuldades socioeconômicas jovens de
classe menos favorecida encontram dificuldades para dar continuidade aos estudos, talvez,
tendo outros ideais e sendo estes jovens direcionados a maturidade de forma que pode ser
vista como precoce para os padrões da classe média, que por sua vez promove o adiamento
da emancipação em favor da formação profissional e conquista de status social e financeiro.
Essa maturidade que é estimulada nos jovens de classe menos favorecida, pode ser um dos
fatores, além dos fatores psicológicos, para o início da atividade sexual que se for realizada
sem os meios de prevenção adequados pode levar a transmissão de doenças e a gravidez
não planejada. Esses jovens geralmente trabalham em empregos informais e se optam em
dar continuidade aos estudos, o fazem durante o período noturno. Desta forma mesmo
que sua remuneração seja baixa, o jovem está exercitando uma relativa independência.
Conforme pontuado por Muss (1966) a adolescência tende a ocorrer mais cedo em pessoas
do sexo feminino e terminar mais cedo em sociedades mais primitivas, onde as condições
sociais levam o jovem a exercer mais cedo o papel social adulto.
Conforme pontua Calligaris (2000) o jovem nas sociedades industrializadas é idealizado
como ser transgressor, rodeado de festas, atende ao desejo reprimido dos adultos, contudo
é passada uma mensagem ambígua quanto à sua sexualidade, ao mesmo tempo em que
parece reprimir as atividades sexuais pré-matrimoniais, por meio de ideais morais e
religiosos, o jovem também é bombardeado por estímulos sexuais na mídia, e parece existir
uma grande tolerância para a gravidez não planejada na adolescência.
Segundo Taquette (1997) quando os jovens se sentem amados e valorizados no âmbito
familiar, as sanções obtém legitimidade, ou seja, o jovem tende a seguir as normas sociais e
familiares quando os laços afetivos são fortes, e desta forma os adolescentes podem obter
maior controle sobre suas pulsões e desejos sexuais.
Devido às pulsões sexuais e as fantasias infantis de concepção que impulsionam o jovem ao
exercício de sua sexualidade aliados a onipotência que pode fazer com que não se previna
corretamente e ocorra a gravidez, que pode constituir além de um fator de rivalização com
os pais, uma espécie de rito de passagem, pois o jovem tanto do sexo feminino como do
masculino, prova sua capacidade procriativa.
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Contudo pensamos que socialmente o jovem do sexo masculino é cobrado a ter
desempenho sexual e múltiplas parceiras. Essa postura é relatada por Rank (1945) o jovem
pode usar dois mecanismos de defesa para manter sua independência, a promiscuidade ou
o ascetismo. Sendo promíscuo o adolescente pode dar vazão às pulsões sexuais em
ebulição sem com isso formar vínculo afetivo, e evitando o temor de desintegração. Já
quando tem uma postura ascética rejeita qualquer tipo de relacionamento amoroso. O autor
destaca que períodos de ascetismo podem ser alternados com períodos de promiscuidade,
mas o importante é ter em conta que em ambos os casos o jovem evita o amor autêntico,
que demanda autocontrole, autossubordinação e dependência além de integração constante
das relações externas e internas entre o eu e o outro.
Essas manifestações comportamentais características da adolescência dificultam no caso da
ocorrência de uma gravidez que a jovem grávida e o pai da criança se unam para “criar” o
filho, e quando o fazem geralmente ocorrem desentendimentos que podem levar a
separação.
Para compreender o que ocorre na dinâmica familiar nos reportamos a Desidério (1982)
que pontua a existência de um contrato implícito de divisão de tarefas, mas que com o
passar do tempo um dos cônjuges pode se ressentir, sentindo-se sobrecarregado e
desvalorizado, por assumir atividades cuja carga outras pessoas do grupo familiar poderiam
dividir. Em nossa compreensão é o que pode ocorrer quando a responsabilidade com os
cuidados do filho recai sobre um dos pais (geralmente a mãe) e o outro não demonstra
envolvimento.
Segundo Grünspun e Grünspun (1990) a família é um organismo dinâmico, neste
organismo em constante transformação ocorrem diversas fases evolutivas ligadas a eventos
biopsicossociais. Esses acontecimentos podem influenciar cada um dos cônjuges e o
relacionamento conjugal de forma positiva ou negativa, ressoando na dinâmica psíquica
individual dos elementos da família também.
Considerando que na família existem pessoas nas mais diversas etapas de desenvolvimento
é possível imaginar as força de coesão e dissociação. Se levarmos em consideração que o
adolescente vivencia oscilações de humor, está construindo uma identidade adulta
diferenciada dos pais, tem ideal revolucionário, entre outras características, o casamento ou
união informal nesta fase tende a ser muito difícil, para que a união tenha sucesso é
necessária à construção de um contrato implícito (onde ambos se esforçam em atender as
necessidades afetivas ligadas as carências da fase edípica), nos relacionamentos amorosos
também existe o temor de desintegração egóica, devido à proximidade entre as pessoas o
que vai contra as defesas que o jovem empreende para defender a conquista de sua
identidade, conforme Rank (1945) pontua o jovem podem experimentar a promiscuidade
ou ascetismo, em ambas as situações o relacionamento amoroso estável é evitado.
Grüspun e Grüspun (1990) ainda conceituam dois tipos de casamento: neurótico e normal,
onde o casamento normal é a união amorosa que possibilita sucessivas adaptações aos
eventos da vida e onde cada um dos cônjuges faz concessões que funcionam como um
contrato implícito que por sua vez irá construir um espaço compartilhado para os dois
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sujeitos, as concessões, porém não devem constituir humilhações ou perda de poder. O
casamento neurótico, por sua vez, não possibilita as concessões devido a questões
familiares, pessoais ou sociais. No caso da união entre adolescentes as concessões podem
ser dificultadas pelas características de desenvolvimento dessa fase.
Para Grünspun e Grünspun (1990, p. 37) o casal conjugal é resultante da transformação da
representação interna objeto-casal de cada um dos cônjuges, para uma imagem
internalizada de objeto-casal compartilhado, isto é, durante sua vida a mulher e o homem,
internalizaram modelos de casal, com sua a união essas figuras internalizadas tendem a
unificação, tornando cada casal diferente em sua dinâmica.
Essa menor possibilidade de um casamento na adolescência dar certo pode se dever aos
fatores de identidade, a crise que a gravidez pode representar, e dificuldades de ajustamento
às responsabilidades que a união estável demanda. O jovem está construindo uma
identidade diferenciada dos pais e neste momento segundo Rank (1945) evita
relacionamentos sérios por temer desintegração egóica, muitas vezes a gravidez ocorre
então fora de uma relação estável, e o casal pouco se conhece, desta forma se tentam unirse, seja por meio de pressão familiar e social, ou por decisão própria, encontram
dificuldades para manter esta união por muito tempo.
Informações do Sistema Único de Saúde (SUS) revelam que a gestação na população
adolescente com a faixa etária de dez a catorze anos aumenta, enquanto na população
feminina adulta ocorre o retardamento da maternidade (SANTOS e CARVALHO; 2006).
Esses dados são corroborados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,
2010), que publicou dados do Censo de 2010 que indicam que a gravidez é um fenômeno
mais presente na população com menos anos de escolaridade. Outro fator que os dados
revelam é de que quanto menor o nível de instrução, aparentemente mais cedo ocorre à
gravidez.
Podemos interpretar que esses dados podem ter várias explicações possíveis, uma delas é
que a população feminina adulta tem outros objetivos, geralmente a formação profissional
e a carreira, e com isso o casamento e a maternidade são adiados, mas com o adiamento do
casamento e a liberação sexual é comum a ocorrência de relações sexuais com múltiplos
parceiros, que constitui um comportamento sexual de risco.
Outra explicação plausível é que as jovens com menos anos de estudo tenham pouco
acesso a informações confiáveis sobre contracepção e sexualidade.
Uma terceira possibilidade é que as jovens com menos anos de estudo tenham menos
perspectiva de uma carreira e devido à etapa evolutiva em que estão buscam preencher um
rito de passagem, neste âmbito a gravidez pode ocupar ao mesmo tempo o espaço do rito,
garantir a jovem um papel social adulto e funcionar como um mecanismo compensatório
de carências derivadas da dinâmica familiar.
A hipótese de que a jovem busca com a gravidez preencher uma lacuna emotiva das
primeiras relações é encontrada em entrevistas realizadas por Dadoorian (2000) com jovens
mães, em alguns casos a gravidez funcionou como uma reconciliação com a família
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materna, em outros casos a jovem opta por cuidar sozinha do filho e relata que busca
exercer o papel de mãe de forma mais assertiva que seus pais. Em ambos os casos a família
materna funciona como um modelo.
Uma quarta possibilidade é de que devido à etapa de desenvolvimento psicológico os
jovens sofrem pressão de seu grupo de pares e assumem comportamentos de riscos, como
o uso de bebidas, drogas, e relações sexuais com múltiplos parceiros, essa pressão tem
grande importância na adolescência já que o jovem está construindo uma identidade adulta
e por essa razão é mais suscetível a ceder à força do grupo devido a uma necessidade de
pertencimento.
Quando o jovem mantém relações sexuais sob efeito de substâncias psicoativas é óbvio que
seu estado de consciência é alterado, a pulsão sexual também parece ser vivenciada de
forma invasiva dificultando a adoção de métodos contraceptivos.
Segundo Marreiros (2002) os jovens tem maior autonomia para escolher o que comem,
como se divertem, cuidados pessoais, consumo de drogas, cigarro, e álcool, e o que a
autora considera como mais decisivo para seu desenvolvimento é a expressão da
sexualidade.
Das descrições feitas por Marreiros (2002) sobre a possibilidade de escolha que o jovem
dispõe e que podem se converter em risco existe estreita relação com a proposta de
Calligaris do adolescente Gregário, uma descrição de adolescente que forma grupos com
códigos e regras próprios, são espécies de gangues que criticam a moratória estabelecida, as
regras e condutas propostas, dentro do grupo o jovem também pode vivenciar uma maior
pressão para iniciar suas atividades sexuais, se os outros já o fizeram (ou dizem ter feito),
nesse movimento o jovem busca se integrar ao grupo de amigos, se afirmar. Nestes grupos
os adolescentes podem se expressar e agir de acordo com o estilo do grupo não
necessitando mais do reconhecimento dos adultos.
É uma reação à falta de reconhecimento, como se o jovem dissesse “já que não me veem
como igual eu vou formar um grupo de iguais e não preciso que os adultos me
reconheçam” (CALLIGARIS, 2000).
Quando a gravidez é resultado de uma relação sexual sem compromisso afetivo
dificilmente a gestante, seja adolescente ou adulta, conta com o apoio do pai da criança.
Alguns jovens podem negar a responsabilidade em relação ao estado da jovem grávida,
projetando a culpa nela, muitas vezes com o apoio da família do rapaz. Podemos pensar
que esse “apoio” que a família do rapaz dá no sentido de questionar a paternidade, esteja
ligado às questões machistas da sociedade e também ao narcisismo vivenciado com os
filhos, podendo ocorrer fantasias de que se esse adolescente resolver assumir o filho,
juntamente com todas as responsabilidades envolvidas que o dirigem a maturidade, não
poderá viver a adolescência plenamente, um ideal prevalente hoje em dia, e que de certa
forma é o ideal dos pais.
A respeito de como a gravidez é encarada por adolescentes do sexo feminino e masculino,
Tiba (1999) afirma que as jovens vivenciam uma ligação afetiva com o feto, uma vez que
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este cresce dentro de seu organismo, já para o jovem a gravidez da namorada ou “ficante”
(termo usado para uma relação esporádica, sem compromisso) pode ser encarada como um
problema, segundo o referido autor a reação da maioria dos rapazes é deixar a
responsabilidade de decidir se a gravidez será levada a termo nas mãos da gestante,
assegurando que irão dar apoio no que esta decidir, contudo em seu íntimo podem querer a
interrupção da gravidez, que mais uma vez deixa a mulher em “desvantagem”, pois além
das complicações médicas, devido à ilegalidade, existem as complicações psíquicas, que
parecem comprometer mais as mulheres que desde cedo tem a maternidade enquanto ideal,
e um aborto, portanto não é bem visto socialmente.
Sobre o modelo parental a proposta de Sharpe (1973) é similar a de Aberastury e Knobel
(1980), ambos pontuam que o modelo constituído a partir das imagens parentais que foram
introjetadas previamente, tem forte influência sobre a construção da identidade adulta que
o jovem busca. Em algumas situações o jovem explicita que sua postura será totalmente
contrária aos pais, ou que buscará dar continuidade aos projetos destes, mas é possível
observar que a família serve como parâmetro em ambas as situações.
Acerca dos conflitos que podem ocorrer durante a adolescência Sherif (1947, p. 220)
pontua que “variam de cultura a cultura, tornando a transição para a idade adulta mais ou
menos complicada, mais ou menos prolongada”.
Em outras culturas não existe esse limbo entre a infância e a vida adulta, o autor pontua
que em Samoa as crianças têm participação na vida da comunidade a medidas que suas
habilidades vão evoluindo, é comum que as irmãs mais velhas sejam responsáveis pelos
irmãos menores e com isso exercitam o papel da vida adulta de forma similar ao que ocorre
com as meninas no mundo ocidental que brincam de bonecas e de forma simbólica atuam
nos papéis que a sociedade espera que a mulher ocupe. Nestas sociedades ditas primitivas,
não existe tanto mistério e censura em torno da sexualidade, concepção, morte e outros
eventos naturais do ciclo evolutivo humano, existem outros tabus relacionados, por
exemplo, ao incesto, que são seguidos de forma até mais rígida que em nosso contexto. O
referido autor ainda destaca que a adolescência tende a ocorrer mais cedo para indivíduos
do sexo feminino terminando mais cedo em sociedades mais primitivas (MUSS, 1966).
Na nossa sociedade existe uma idealização da adolescência, se espera que o jovem adie as
responsabilidades ao máximo e “curta” esse período de vigor, talvez isso seja o sintoma do
desejo dos adultos que frustrados com sua vida busquem que seus filhos ocupem um ideal
de felicidade.
A maturidade é iniciada quando oindivíduo aparece integrado com uma identidade
estabelecida, sendo capaz de se manter de forma independente, sem apoio emocional de
outras pessoas e sem repudiar sua história (MUSS, 1966).
Entendemos que essa colocação signifique o sujeito maduro dispõe de meios para se
sustentar, construiu uma personalidade diferenciada dos pais, que permite que decida sobre
seu futuro sem precisar consultar outras pessoas de forma constante, deve ter sido capaz de
desprender-se dos pais de forma a buscar um relacionamento amoroso, em relação a sua
história deve ser capaz de se reconciliar com as “falhas” dos pais.
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Aberastury (1980) considera que o jovem sente a necessidade de adentrar no mundo
adulto, em algumas sociedades existem rituais que demarcam essa transição, na sociedade
ocidental não há mais certeza acerca do plano de vida, anteriormente os filhos seguiam a
mesma carreira do pai, os casamentos eram arranjados e a partir disto ocorria à
emancipação, hoje a gravidez pode estar ocupando esse lugar do rito passagem.
Freud é acusado de haver dado ênfase a natureza biológica e primitiva do homem, apesar
de enfatizar a influência biológica e instintiva, não subestimou a atuação de forças sociais,
que são consideradas secundárias em relação aos fatores inatos. As aspirações, moral e
idealizações de cada sociedade exercem sua marca na formação da identidade do indivíduo,
por meio do Superego. A sexualidade está situada na herança inata, está presente desde o
nascimento ligada às pulsões de autopreservação, o Superego ou consciência é formado
durante o desenvolvimento por meio de interações. Desta forma “o processo evolutivo
seria um complexo dinâmico entre forças instintivas biológicas do Id, e as do Superego
socialmente orientado” (MUSS, 1966).
A partir da fundamentação teórica apresentada entendemos que a gravidez na adolescência
está ligada aos impulsos sexuais biológicos e para que seja levada a termo sofre influência
dos fatores sociais, que dizem respeito ao significado da gravidez e maternidade em dada
cultura, a idealização do papel da mulher, concepção de família, etc.
Em transcrições de relatos de jovens grávidas ou que do livro de Daddorian (2000) a
gravidez foi evidenciada por estas jovens como fator de reconciliação com a família
(geralmente a mãe, o que nos leva a pensar que talvez o bebê que nasce de uma gravidez de
adolescente seja um produto para a mãe desta, servindo de compensação para a rivalização
edípica, similar ao tratamento que a criança dispensa as fezes durante a fase anal),
possibilidade de construir a sua própria e de certa forma realizar algum tipo de
compensação narcísica por algum tipo de falta que sente que os pais tenham cometido em
sua criação e que o jovem pode declarar conscientemente que não irá cometer, ou
demonstração de ódio aos pais, funcionando como uma agressão, uma demonstração da
potência e juventude que agora pertencem ao filho (a) adolescente.
Klein (1937/1975) também aborda o tema da gravidez enquanto mecanismo de reparação
para com a mãe, a esse respeito ela pontua que caso a mulher se sinta, em fantasia,
excessivamente culpada devido ao desejo de usurpar sua mãe em seu papel (e de roubar os
filhos que ela fantasiou que a mãe carregava) terá dificuldades em desfrutar a posse dos
filhos relegando os cuidados destes as babás, ou a própria avó da criança.
Podemos pensar que nos casos em que a gravidez venha a preencher a lacuna de um rito de
emancipação o jovem irá empreender mudanças para garantir seu novo status de
independência dos pais, muitas vezes abandonam os estudos para trabalhar e garantir o
sustento da nova família, desta forma compromete sua vida profissional, como o mercado
de trabalho é muito competitivo exigindo formação continuada geralmente os empregos a
que esses adolescentes têm acesso são informais, com baixa remuneração e poucos
benefícios, com isso muitas vezes é necessário se voltar para a família em busca de suporte
tanto financeiro, como de orientação para os cuidados com a criança.
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Em relação ao mercado de trabalho Maia Filho (1993) relata que a mecanização do trabalho
e o prolongamento da expectativa de vida consequente dos avanços médicos tem sido
responsável pelo crescimento populacional, pois ao aumentar a expectativa de vida também
se prolonga a vida fértil. Hoje, segundo o autor esse crescimento desenfreado leva a
disseminação da miséria, acentua a competitividade do mercado de trabalho.
O adolescente com pouco acesso à instrução encontra grandes dificuldades para inserir-se
no mercado de trabalho; se o jovem supera a carência econômica e sociocultural e tem o
objetivo de trabalhar para “bancar” seus estudos e neste cenário surge uma gravidez sem
planejamento há maior empecilho para que o jovem invista em sua formação, pois a
remuneração proveniente do seu trabalho será destinada ao sustento do filho.
Quando ocorre o pedido de auxílio aos pais podem surgir conflitos, algumas vezes os pais
podem interpretar a gravidez do filho adolescente como uma afronta, pois durante o
desenvolvimento deste idealizaram como seria sua vida e muitas vezes depositaram suas
frustrações neste plano de vida desenvolvido para o filho, como quando o pai não pode
fazer algum tipo de faculdade, projetando a responsabilidade no meio externo e exigindo
que o filho atenda a esta necessidade que é dele, quando isso ocorre os pais podem se negar
a auxiliar o jovem, ou usurpar sua autonomia quanto ao modo de educar a criança nascida
da gravidez não planejada, quando os pais dos jovens tentam criar os netos podemos
pensar em uma tentativa de dar continuidade ao projeto que realizaram com o filho e ao
mesmo tempo resgatar sua realização narcísica de imortalidade, isto é, de sobreviver agora
através das realizações do neto (a).
A respeito dessa idealização que pode ocorrer por parte dos pais em relação aos filhos,
Klein (1937/1975, p. 115) pontua que ambos os pais podem desejar que o filho tenha
semelhanças com um irmão ou irmã do passado, “tal desejo não pode obviamente ser
satisfeito em ambos os pais – e talvez nem sequer em um”. Pode ocorrer também
rivalização extrema dos pais para com os filhos, revivendo a rivalidade e inveja que no
passado sentiu em relação aos irmãos e que não conseguiu sublimar.
Dadoorian (2000) relaciona a gravidez na adolescência a dois fatores: os fatores biológicos
e os não biológicos, neste último estando inseridos os fatores psíquicos e culturais. A
autora relata que a pulsão sexual se unifica para alcançar o objetivo da reprodução, neste
cenário de mudanças orgânicas uma grande pressão hormonal impulsiona a adolescente a
testar esse aparelho reprodutor. Compreendemos que concomitantemente a pulsão sexual
orgânica está agindo a rivalização edípica que pode levar os jovens a gravidez como uma
forma de demonstração de sua potência e capacidade reprodutiva e, portanto a
possibilidade de adentrar ao tão cobiçado mundo adulto, a autora considera de forma
brilhante que a gravidez na adolescência na verdade é desejada, seja por motivações
orgânicas ou psicossociais, invariavelmente a gestação será levada a termo quando estiver
atendendo o desejo.
Muitas vezes a responsabilidade para com a criança que irá nascer fica a cargo da
adolescente e da família desta, pois muitas vezes o pai da criança não mantém um
relacionamento estável com a adolescente grávida, conforme pontuado por Rank (1945) o
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jovem pode usar dois mecanismos de defesa para manter sua independência, a
promiscuidade ou o ascetismo. Sendo promíscuo o adolescente pode dar vazão às pulsões
sexuais em ebulição sem com isso formar vínculo afetivo, e evitando o temor de
desintegração. O ascético nega qualquer tipo de relacionamento, o autor pontua que pode
haver alternância entre as duas defesas.
Desta forma segundo Rank (1945) a gravidez pode resultar de uma simples vazão dos
impulsos, sem que os jovens tenham desenvolvido uma relação vincular. Essa proposta é
corroborada por Tiba (1999) que diz que para o jovem tornar-se pai na adolescência é um
acidente, pois não está previsto (devido inclusive à onipotência presente na adolescência)
no seu plano de vida, pode ser que o jovem “assuma” a gravidez e tente morar com a
adolescente grávida, em um cômodo da casa dos pais de um dos dois, no que se
comumente conhece como “puxadinho”, mas devido à imaturidade e falta de afinidade,
essas relações podem não durar até o fim da gestação.
Taquette (1997) realizou entrevistas grupais e individuais em seu estudo com dez
adolescentes, duas destas não apoiavam a relação sexual antes do casamento, contudo
mantinham vida sexual ativa, desta forma vemos uma dissonância entre o conceito moral e
a prática sexual, a autora pontua que ambas tem o pai ausente, seja devido ao divórcio ou
pelo afastamento afetivo por parte do pai.
Desta forma podemos pensar que o afastamento afetivo do pai seja um fator importante
quando se fala do desenvolvimento afetivo e psicossexual das adolescentes, Corso e Corso
(2006) pontuam que antes de a menina procurar um relacionamento afetivo fora do âmbito
familiar é necessário que tenha se sentido amada e desejada pelo pai, formando de certa
forma uma autoestima que a auxiliará a escolher de forma mais assertiva uma escolha
amorosa, e de certa forma podemos deduzir que quando o sujeito se sente valorizado e tem
uma boa autoimagem irá procurar oportunidades de se desenvolver, evitando uma gravidez
sem planejamento, a partir da qual encontrará maiores dificuldades.
Enquanto problema de saúde pública a gravidez na adolescência necessita de intervenções
primárias, que atuem na dinâmica familiar, uma vez que se provam ineficazes as atuações
coercitivas que levam em consideração apenas os aspectos biológicos, a perpetuação dos
dogmas morais e religiosos no que tange o intercurso sexual parece não surtir efeito, prova
disso são os resultados da pesquisa de Taquette (1997) citada anteriormente, mesmo as
jovens que tem valores morais e religiosos contrários à relação sexual pré-matrimonial tem
vida sexual ativa. Compreendemos que a sanção moral e religiosa pode promover a culpa
nos adolescentes que mantém vida sexual ativa, culpa que pode se materializar na gravidez
e leva o jovem a uma busca de reparação, por meio do aborto, da união forçada, da procura
por subempregos, entre outras consequências.
Taquette (1997) relatou que durante as entrevistas grupais, as adolescentes se mostraram
mais resistentes a falar de suas experiências ou para discutir temas relacionados à
sexualidade, procurando emitir apenas opiniões, desta forma evitando um
comprometimento e exposição, já nas entrevistas individuais demonstraram maior
liberdade para falar de sexualidade e contar suas experiências sexuais. Com isso podemos
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pensar que a sexualidade ainda constitua um tabu, sendo um tabu está imerso em crenças,
desinformação e temor, e enquanto a sexualidade for encarada desta forma sua vivência
será complicada.
4. Conclusão
A adolescência é um período da vida humana marcado por grandes transformações, sejam
elas, físicas, emocionais ou sociais, onde o diálogo entre pais e filhos á essencial, no entanto
é difícil conversar sem pré-conceitos e pré-julgamentos, de ambas as partes.
As transformações físicas quando somadas as transformações que ocorrem numa gravidez
prematura, podem desencadear conflitos pessoais e familiares. Conflitos esses que podem
ser decorrentes do despreparo tanto dos adolescentes, quanto dos pais, já que a
adolescência não é uma fase confusa apenas para os que estão passando por ela, os pais
também se deparam com á duvida e a inexperiência, que os rodeiam sempre que o (s) filho
(s) se apresenta de uma forma nova, com novas dúvidas e novas amizades.
É necessário que os pais possuam uma participação ativa na vida do filho, além de obter e
passar orientações para estes. Os progenitores devem esclarecer as duvidas de seus filhos
antes que outros o façam da forma menos apropriada para o modo com que este
adolescente vive. Devem-se deixar de lado os conceitos adquiridos anteriormente, levar em
consideração a diferença dos momentos de vida dos filhos e dos pais e quebrar o grande
preconceito que é falar de sexo em casa.
Hoje é mais comum ouvir falar de sexo na mídia, na escola, nas Unidades Básicas de Saúde
(UBS), no entanto pais falarem de sexo com os filhos ainda causa estranheza em ambas as
partes, apesar da banalização que a mídia faz da sexualidade e do acesso fácil ao tema
sexualidade e ao sexo propriamente dito, falar ainda é um tabu.
A orientação dos pais é fundamental, pois na atualidade tudo acontece mais cedo e isto
deve ser aceito por eles e o quanto antes os adolescentes tiverem a orientação adequada de
como se prevenir, por pessoas que eles confiam é mais fácil evitar uma gravidez não
planejada.
Apesar do acesso fácil e da banalização do sexo as orientações ainda possuem muitas
lacunas. Os adolescentes não possuem um espaço individual para tirar suas duvidas, já que
o espaço que teriam em casa é restrito, nas UBS´s, são fornecidos preservativos masculinos
e anticoncepcionais, porém as pessoas ficam sem conhecer os outros métodos
contraceptivos como camisinha feminina, o DIU (dispositivo intrauterino), contracepção
hormonal injetável, implantes, espermicida, abstinência periódica, contracepção cirúrgica,
contracepção de emergência entre outras. Estas informações geralmente são dadas depois
que o médico descobre que a mulher está na terceira ou quarta gravidez não planejada, no
entanto se esta orientação fosse passada de pai para filho e também assim que os filhos
apresentassem desejos sexuais, além da gravidez, seriam evitadas também doenças
sexualmente transmissíveis.
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Nas escolas as informações passadas também são restritas, é ensinado como funciona o
órgão genital masculino e o feminino, porém não é explicado como se deve utilizar um
método contraceptivo, o que é essencial, pois não basta conhecê-lo e usá-lo, o mesmo
dever ser utilizado corretamente.
As ações educacionais básicas seriam o suficiente para minimizar a gravidez na
adolescência, no entanto não para eliminá-la, já que apesar de existirem lacunas na
educação sexual o acesso fácil a esta também é uma forma de conhecimento, só que para
que a gravidez na adolescência realmente tenha uma redução os pais devem ser preparados
e orientados, para que saibam lhe dar com essa faze tão conturbada na vida familiar.
A partir da literatura apresentada foi possível compreender diversos aspectos do
desenvolvimento do adolescente, o papel da família enquanto suporte para as mudanças
biopsicossociais que o jovem enfrenta, e neste contexto as conseqüências que a gravidez
pode causar. Por tanto conseguimos alcançar o nosso objetivo de conhecer um pouco da
dinâmica familiar diante da gravidez não planejada.
Orientar pais e seus filhos no sentido de promoção de saúde é o dever do estado e políticas
públicas que favoreçam essa promoção são fundamentais para evitar conflitos e
sofrimentos advindos da gravidez precoce e não planejada.
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A percepção da imagem corporal e o corpo ideal
em mulheres – um estudo exploratório
CAMILA MASTROROSA REIS, ELIANE CARDOSO FERREIRA, SANDRA MARIA MULLER
Resumo
Esta pesquisa teve dois objetivos, identificar e analisar a percepção de imagem corporal
(IC) em mulheres brasileiras de várias faixas etárias e avaliar se há ou não alteração nessa
percepção que seja indício de patologias. Com isso correlacionar os comportamentos de
graus de preocupação com a forma física e corporal para levantamento da maneira como
essas mulheres se comportam frente a esse corpo. Dimensionar a prevalência de distorção
de imagem corporal se houver. Participaram deste estudo 79 mulheres entre 14 e 69 anos,
em uma amostra aleatória, com idade média de 36 anos e desvio padrão de 14, tendo
prevalência de mulheres com nível superior completo, solteiras. Para dimensionar a
prevalência de distorção de imagem corporal, foram utilizados o Body Shape Questionnaire
(BSQ) em sua versão para o português, a Escala de Desenhos de Silhuetas – Nine-figure
Outline Scale (STUNKARD; SORENSEN; CHULSINGER, 1983) também em sua versão
para o português, e uma Entrevista Clínica Semi Dirigida. Em relação aos resultados, as 79
participantes, apresentaram um IMC classificado como peso normal. Porém os resultados
demonstraram que há indícios de leve distorção da percepção da imagem corporal, e ainda
há uma correlação significativa entre a diferença de percepção real com a desejável e os
resultados do questionário de imagem corporal. Através dos resultados encontrados
concluiu-se que o ideal de corpo magro imposto pela sociedade a partir das últimas décadas
prevalece, pois mulheres com peso considerado normal e adequado pela Organização
Mundial de Saúde são as que mais apresentaram insatisfação com sua imagem corporal,
desejando alterá-la para se moldar aos padrões sociais. Entretanto essa amostra ainda não
se configura patológica, pois as alterações de percepção apresentadas foram em menor
grau.
Palavras-chave: transtornos da percepção da imagem corporal; comportamentos
alimentares; psiquiatria; saúde mental.
Introdução
Na história da humanidade, por muito tempo, homens e mulheres tiveram seus corpos
ligados a uma ideia de saúde versus doença e, questões de forma física e corporal
entrelaçadas a sentimentos de identidade acompanhados de percepção daquilo que hoje se
denomina como imagem corporal.

Mestrandas em Psicologia da Saúde pela Universidade Metodista de São Paulo.
Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3
46
Ao longo dos séculos o conceito de beleza e de corpo saudável e/ou belo vem sofrendo
várias transformações. O excesso de peso corporal é uma condição que sempre
acompanhou a história da humanidade, se observarmos a evolução dos padrões de beleza,
desde a Vênus de Milo e os quadros de nus dos pintores do século XVI ao início do século
XX, perceberemos um processo de construção da imagem estereotipada feminina
materializada nas manequins que, a partir da década de 60 até a atualidade, vêm assumindo
antropometrias cada vez menores (BOSI; ANDRADE, 2003).
Até o início do século XX, a mulher era desejada quando tinha o corpo roliço, cheio de
formas avantajadas, e isso simbolizava uma mulher forte, com energia suficiente para
enfrentar esses períodos conturbados e proteger sua família (Bosi & Andrade, 2003). Ao
longo do mesmo século e, sobretudo, a partir da década de 1960, esses pensamentos e essa
idealização vêm se modificando: inicia-se a busca pelo corpo magro, atlético e por formas
definidas que passam a constituir mesmo objeto de consumo, tendo em vista a oferta de
produtos e serviços em um mercado que cresce a cada dia (Bosi & Andrade, 2003).
Esses graus de preocupações corporais foram reforçados ao longo da década de 80, com o
surgimento das chamadas “indústrias de desejos consumistas” que ao longo das décadas
posteriores padronizaram imagens de corpos “sarados e perfeitos”. Conseqüentemente, as
mulheres que se percebem com corpos “fora” desses padrões, passaram a se comportar
com certas preocupações para atingir a tais ideais de beleza, que se mostram sempre na
busca pela aparência física idealizada e não a que podemos chamar de real. Tais mulheres
então se sentem cobradas e insatisfeitas com o modo como se percebem (RUSSO, 2005).
A mesma autora afirma ainda que se vinculou também ao corpo à idéia de consumo, e este
corpo passou a ser “objeto de valorização exagerada dando oportunidade de crescimento
no mercado do músculo e ao consumo de bens e serviços destinados à manutenção deste
corpo” (RUSSO, 2005), tais como abertura de Centros Estéticos e Plásticos, Academias,
Especializações Médicas como o surgimento da Obesologia (ramo de cuidados com
obesos), avanços tecnológicos e cosméticos para busca desses ideias corporais e diversas
outras particularidades. Nesse ponto (RUSSO, 2005 apud FERNANDES, 2003) diz que:
“O corpo está em alta! Alta cotação, alta produção, alto investimento – Alta frustração”.
Atualmente, o culto ao corpo está diretamente associado à imagem de poder, beleza e
mobilidade social, sendo crescente a insatisfação das pessoas com a própria aparência. Esta
passa a ser perseguida como bem simbólico de identidade. Enquanto nosso estilo de vida,
alicerçado nos avanços tecnológicos, está contribuindo para a diminuição dos níveis de
atividades físicas laborais e de lazer, fenômeno associado ao aumento do consumo de
alimentos hipercalóricos, os padrões de beleza exigem perfis antropométricos cada vez
mais magros (SCHWARTZ; BROWNELL, 2004 apud BOSSI; LUIZ; MORGADO;
COSTA; CARVALHO, 2006).
Percebemos cada vez mais o excesso de investimentos e massificação da mídia tornando a
aquisição de um corpo belo e perfeito uma exigência fundamental e imprescindível ao
desenvolvimento de uma imagem perfeita da mulher moderna de sucesso, felicidade,
dinamismo, realização e bem estar (COSTA, 1999 apud BOSI; ANDRADE, 2001).
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Esta imagem corporal é, segundo Schilder (1999), a apercepção do corpo, uma consciência
imediata que se tem de si mesmo, onde não somente a sensação e a imaginação estão
envolvidas, mas sim as próprias figurações e representações mentais.
Portanto, essa imagem corporal multidimensional que se constrói e reconstrói em nossa
vida durante a nossa existência é amplamente carregada de nossas emoções, afetos e
simbolismos que nos fazem propender a nos comportarmos de determinadas maneiras, que
podem ser adaptadas ao meio social ou não.
Conforme Cordás e Castilho (1994), “a imagem corporal é a figura de nosso próprio corpo
que formamos em nossa mente, ou seja, o modo pelo qual o corpo se apresenta para nós
mesmos ou como o vivenciamos”.
As mulheres, principalmente as jovens e, consequentemente, as mais suscetíveis às pressões
e imposições dos padrões sociais, culturais e estéticos vigentes, constituem o grupo de
maior risco para desenvolver distúrbios alimentares. O sobrepeso e a obesidade têm sido
entendidos como o resultado da conjunção de inúmeros fatores, a saber: genéticos, físicos,
psíquicos, ambientais, sociais, culturais, familiares e comportamentais, que podem coexistir,
favorecendo tanto o seu início quanto a sua manutenção. Pessoas com anorexia e bulimia
nervosa têm em comum uma preocupação excessiva com peso e dieta, apresentando
insatisfação e distorção de sua imagem corporal. Tal preocupação é sintoma importante
para a detecção dessas doenças (OLIVEIRA; BOSI; VIGARIO; VIEIRA, 2003, CORDÁS;
CASTILHO, 1994).
Alguns desses comportamentos não adaptados podem ser as condutas alimentares
restritivas ou compulsivas, os exercícios físicos feitos de formas rigorosas para mais ou para
menos, os procedimentos estéticos em abundância, ou seja, o sofrimento aparente em
graus elevados de preocupações corporais que conduz ao crescente aumento pela busca da
magreza e perfeição dos corpos femininos.
Este presente estudo tem como foco o universo feminino, por estar mais enfatizado, já que
os números de casos apresentados nessa questão ainda são maiores em mulheres. Mas cabe
ressaltar que percebemos que os números de casos masculinos esta aumentando o que
sugere novos estudos com esse tipo de população.
Quanto mais perto o corpo estiver da juventude, beleza, boa forma, mais alto é seu valor de
troca (FEATHERSTONE, 1991). A imagem veiculada pela mídia usa corpos de homens e
mulheres esculturais para vender através de anúncios publicitários. “Músculos perfeitos”
impulsionando seres perfeitos a vender produtos perfeitos. O músculo hoje é um modo
de vida. Os meios de comunicação contribuem e incentivam a batalha pelo “belo”.
Atualmente ao ligar a televisão ou folhear uma revista ou jornal, garotas perfeitas com
curvas delineadas e garotões de porte atlético tentam vender um carro, um eletrodoméstico,
um tênis, estabelecendo os padrões estéticos. Isto faz com que as pessoas tornem-se
escravas de um ideal, ressaltando o narcisismo e impondo para si mesmas uma disciplina
extremamente severa, por vezes dolorosa.
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No plano das emoções e afetos subjetivos dos indivíduos, destacamos que Featherstone
(1991) afirma que quanto mais o corpo esta perto do auge da juventude, beleza e boa forma
física, mais alto é seu valor de troca. Estamos vivendo numa cultura em que a aparência
jovem e magra é extremamente valorizada. Desta forma, podemos deduzir que ao se falar
de trocas, estão interligadas as questões afetivas e matérias de cada sujeito, ou seja, cada vez
mais vemos que as pessoas trocam “corpos sarados” por sentimentos e afetos, sejam eles
positivos ou negativos, prazer ou sofrimento.
Portanto são essas imagens corporais que permeiam a sociedade e constroem os diversos
relacionamentos que ali se estabelecem. Podemos dizer que nos diversos grupos culturais e
sociais exista uma imagem social do corpo que é um símbolo que provoca sentimentos de
identificação ou rejeição dos sujeitos em relação a determinadas imagens. Isso faz com que
o corpo se insira em ideias e crenças sobre as imagens que se fazem dele (RUSSO, 2005).
Russo (2005) ainda conclui que se a imagem dominante for de uma pessoa magra, esbelta,
com músculos torneados e perfeitos, emagrecer e conquistar esse corpo passa a ser o ideal
de todos. E para os que não conseguem chegar a este padrão desejado só resta o
sofrimento, que leva ainda mais a esses comportamentos de preocupação exagerados, ou
muitas vezes leva a desistência por completo e pode acarretar o aparecimento de outros
transtornos psiquiátricos como depressão e outras alterações de imagem corporal. É sobre
essas pessoas que toda essa dinâmica subjetiva pode ter um “impacto” negativo sobre a
auto-imagem corporal e consequentemente sobre a sua experiência de subjetividade versus
identidade.
Objetivo
Observamos que, quando se pensa em saúde mental, fica claro que devemos nos atentar ao
grau de sofrimento gerado por tais preocupações corporais. Entendemos que por trás
desses comportamentos manifestos de exageros pela busca da tal perfeição, pode haver
uma alteração na figuração de imagem corporal que, como citado anteriormente,
evidenciamos como base da construção de identidade do indivíduo, e então ressaltamos a
relevância de se trabalhar terapeuticamente essa significação.
Portanto, o presente trabalho tem como objetivo identificar e analisar a percepção de
imagem corporal (IC) em mulheres brasileiras de várias faixas etárias e avaliar se há ou não
alteração nessa percepção que seja indício de patologias. Com isso correlacionar os
comportamentos de graus de preocupação com a forma física e corporal para levantamento
da maneira como essas mulheres se comportam frente a esse corpo. Dimensionar a
prevalência de distorção de imagem corporal se houver.
Método
Para este estudo foram selecionadas 79 mulheres, numa escolha aleatória que envolveu:
faixa etária, constituição física, peso, grau de instrução e profissão. Estas foram submetidas
individualmente a uma Entrevista Clinica Semi Dirigida de duração de aproximadamente
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meia hora e, em seguida, ao Questionário de Imagem Corporal (BSQ) e Escala de
Desenhos de Silhuetas. Seguem abaixo as descrições de cada instrumento utilizado:
A) Questionário de Imagem Corporal (tradução em português do BSQ): este questionário
foi validado por Cooper et al em 1987 a partir da versão original Body Shape Questionnaire
(BSQ 34). É um instrumento que se mostrou com bons índices de validade e
confiabilidade. É um questionário que verifica o grau de preocupação com a forma do
corpo, com o peso, auto depreciação relacionada à aparência física e alguns
comportamentos adotados em função desta. Contém 34 itens, com seis opções de
respostas, numa escala Likert. A soma dessa pontuação possibilita classificar o nível de
preocupação quanto a imagem corporal em: ausência de distorção é de até 80 pontos, leve
distorção 81 à 110 pontos, 111 à 140 pontos moderado grau de distorção de imagem
corporal, maior de 140 pontos indica grave distorção da percepção da imagem corporal.
Este instrumento permite a análise multifatorial de duas questões relacionadas à imagem: a
precisão da forma e do tamanho do corpo, e os sentimentos relacionados a ele, como
insatisfação ou desvalorização. Com isso se mostrou útil na avaliação e tratamento de
transtornos alimentares, anorexia e bulimia nervosa.
B) Escala de Desenhos de Silhuetas – Nine-figure Outline Scale (STUNKARD;
SORENSEN; SCHULSINGER, 1983): é um instrumento que busca investigar os aspectos
perceptuais da imagem corporal, com a finalidade de avaliar a percepção de tamanho e
forma corporal. A escala consiste de um conjunto de dezoito cartões, contendo nove
desenhos de silhuetas femininas e nove masculinas, que representam figuras humanas com
nove variações em ordem crescente de tamanho corporal. Cada cartão dispõe de uma
numeração a qual corresponde a uma classe de IMC, assim definida: cartões 1 e 2 = não
obesidade; 3 = sobrepeso; 4 e 5 = obesidade grau I; 6 e 7 = obesidade grau II; 8 e 9 =
obesidade grau III. No presente estudo utilizamos somente as nove figuras femininas.
C) Entrevista Clinica Semi Dirigida: trata-se de um importantíssimo instrumento para a
avaliação psicológica, já que possibilita que o sujeito entrevistado configure o campo
psicológico naquele dado momento, mas permite ao entrevistador que dirija em certos
pontos a entrevista com a finalidade de obter dados que sejam mais relevantes para aquele
contexto apresentado. Esta tem como objetivo “descrever e avaliar aspectos pessoais,
relacionais ou sistêmicos (indivíduo, casal, família, rede social), em um processo que visa a
fazer recomendações, encaminhamentos ou proporcionar algum tipo de intervenção em
benefício das pessoas entrevistadas” (CUNHA, 2000).
No presente estudo, a Entrevista foi desenvolvida de acordo com os objetivos do próprio
estudo e utilizada como fonte complementar de informações. Foram coletados dados
quanto à idade dessas mulheres participantes, grau de instrução, estado civil, peso, altura, se
já tiveram comportamentos de fazer dietas alimentares ou outros procedimentos com
finalidade estética e o IMC (índice de massa corporal).
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Tratamento de dados
Após coletar os dados, foi corrigido e quantificado o questionário com a finalidade de
diagnosticar se há ou não alteração da percepção de imagem corporal. Para a escala
observou-se se haveria discrepância entre os desenhos marcados como “eu real” e “eu
desejável”, além de ser comparado através do IMC e as outras variáveis obtidas na
entrevista para se perceber se este desenho correspondia a percepção que a maioria das
mulheres tinham sobre si mesmas. Seguindo, analisaram-se no SPSS os resultados dos dois
instrumentos com as variáveis obtidas na entrevista clinica semi dirigida.
Resultados e discussão
Participaram deste estudo 79 mulheres entre 14 e 69 anos, em uma amostra aleatória, sendo
a idade média de 36 anos, com desvio padrão de 14 anos.
Com relação ao grau de instrução dessas mulheres, percebemos que 11,4% tem ensino
fundamental, outras 36,7%, o ensino médio, e a maioria desta amostra, 51,9% possuem
nível superior (Tabela 1).
Tabela 1. Grau de instrução
Ensino
Fundamental
Médio
Superior
Total
Freqüência Percentual Percentual Valido Percentual Acumulado
9
11,4
11,4
11,4
29
36,7
36,7
48,1
41
51,9
51,9
100,0
79
100,0
100,0
Observando-se o estado civil das participantes, vemos na Tabela 2 que há predominância
de 49,4% de mulheres solteiras, 38% são casadas e 11,4%, divorciadas. Informamos que
1,3% omitiram essa informação.
Tabela 2. Estado civil
Freqüência Percentual Percentual válido
Solteira
39
49,4
50,0
Casada
30
38,0
38,5
Separada
9
11,4
11,5
Total
78
98,7
100,0
Não Informado
1
1,3
Total
79
100,0
Percentual Acumulado
50,0
88,5
100,0
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Na Tabela 3, podemos verificar que 60,8% realizaram algum tipo de dieta alimentar, seja
para emagrecer ou engordar, o que representa um número significativo. Das outras
mulheres, 38% responderam não ter manifestado a necessidade de dietas alimentares e,
somente 1,3% omitiram esta resposta.
Tabela 3. Dieta alimentar
Freqüência Percentual Percentual Válido
60,8
61,5
SIM
48
38,0
38,5
NÃO
30
98,7
100,0
Total
78
1,3
Não Informado
1
100,0
Total
79
Percentual Acumulado
61,5
100,0
Constatamos nessa amostra que, mesmo com alto índice de mulheres que já fizeram algum
tipo de dieta alimentar, 62% não realizaram até o presente momento nenhum tipo de
procedimento com finalidade estética. Somente 35,4% das mulheres realizaram
procedimentos estéticos, e 2,5% não responderam (Tabela 4).
Tabela 4. Procedimentos estéticos
Freqüência
Percentual
Percentual
Percentual
SIM
28
35,4
36,4
36,4
NÃO
49
62,0
63,6
100,0
Total
77
97,5
100,0
2
2,5
79
100,0
Não Informado
Total
Na Tabela 5, verificamos que, da população estudada, predominam mulheres com Índice
de Massa Corporal (IMC) classificado como peso dentro da normalidade (55,7%). Das
outras mulheres, 22,8% apresentaram estar com sobrepeso e, 12,7% a classificação é de
obesidade grau I. Observamos ainda que tanto na classificação de obesidade grau II e
obesidade grau III há 2,5% para cada variável. Destas, 1,3% não informaram seu peso e
altura para o calculo do IMC.
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Tabela 5. Classificação IMC
Frequencia
EXC DE MA
2
PS NORMAL
44
SOBREPESO
18
OBS GRAU1
10
OBS GRAU2
2
OBS GRAU3
2
Não Informado
1
Total
79
Percentual
2,5
55,7
22,8
12,7
2,5
2,5
1,3
100,0
Percentual Válido Percentual
2,5
2,5
55,7
58,2
22,8
81
12,7
93,7
2,5
96,2
2,5
98,7
1,3
100
100,0
Observando essa variável, constatamos que, nessa população, a mesma porcentagem de
2,5% de mulheres classificadas com IMC de excesso de magreza se percebem assim a partir
da Escala de Desenho de Silhuetas de Stunkard. Acreditamos que este número indica que,
para essa porcentagem de mulheres, não existe alteração de percepção da condição real de
sua imagem corporal. A partir da classificação desse autor, somente 6,3 se percebem com
peso normal, porém o calculo do IMC demonstra que esse número é inferior ao dado de
realidade, já que 55,7% tem o peso normal, conforme cálculo da relação entre o peso
dividido pela altura ao quadrado, conhecido como IMC. (Tabela 6).
Tabela 6. Classificação Stunkard
Frequency
EXC DE MA
PS NORMAL
SOBREPESO
OBS GRAU1
OBS GRAU2
OBS GRAU3
Total
2
5
10
42
18
2
79
Percent
2,5
6,3
12,7
53,2
22,8
2,5
100,0
Valid Percent
Cumulative Percent
2,5
6,3
12,7
53,2
22,8
2,5
100,0
2,5
8,8
21,5
74,7
97,5
100
Com relação a categoria de sobrepeso, verifica-se que existe uma alteração de percepção,
pois temos 22,8% de mulheres com sobrepeso, e destas somente 12,7% se percebem assim
a partir da classificação da Escala de Stunkard. Isso também ocorre de maneira invertida
para as categorias de obesidade grau I e II, onde no primeiro temos 12,7% da amostra com
IMC para obesidade grau I e outras 53,2% que se percebem nessa categoria segundo a
classificação do mesmo autor. Para a obesidade grau II somente 2,5% das mulheres se
enquadram nessa categoria, mas 22,8% assim se percebem. (Tabela 6)
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Já para a categoria de obesidade grau 3, não consideramos que haja distorção de percepção
de imagem corporal, pois a porcentagem do IMC real é a mesma para a classificação da
Escala de Stunkard, que é de 2,5% (Tabela6).
Tabela 7. Manequim
Freqüência Percentual Percentual Valido Percentual Acumulado
34
1
1,3
1,4
1,4
36
7
8,9
10,0
11,4
38
11
13,9
15,7
27,1
40
11
13,9
15,7
42,9
42
13
16,5
18,6
61,4
44
11
13,9
15,7
77,1
46
7
8,9
10,0
87,1
48
4
5,1
5,7
92,9
50
4
5,1
5,7
98,6
52
1
1,3
1,4
100,0
Não Informado
9
11,4
Total
79
100
Na Tabela 7, verificamos que 18,6% dessa amostra veste o manequim de tamanho 42.
Além disso, constatamos que 42,9% utiliza manequins variando do número 34 ao 40. Com
esse dado podemos inferir que quase a metade dessa população tem um corpo dentro dos
padrões culturais aceitos pela nossa sociedade como normalidade. Porém, percebemos, a
partir das outras informações coletadas, que este corpo é resultado da pressão cultural
envolvida na manutenção e incentivo de comportamentos de dietas alimentares e/ou na
prática de procedimentos estéticos.
Essa mesma Tabela demonstra também que 12,8% dessa amostra usa entre os manequins
48 à 52. Aqui compreendemos que esta pequena porcentagem se refere às mulheres tidas
como acima do peso “gordinhas” pelos padrões culturais, o que não é um número
significativo para a constatação da quantidade encontrada para a realização de dietas
alimentares e/ou de procedimentos estéticos.
Na Tabela 8 estão resumidos todos os dados coletados, que se referem aos índices de cada
instrumento aplicado, apresentando as medidas coletadas do menor ao maior grau, assim
como a média de cada item e o desvio padrão.
Aqui cabe ressaltar que na categoria de respostas do “eu sou” houve uma média de 4,65, o
que indica que, de acordo com a Escala de Stunkard, as mulheres estão se vendo como
pertencendo a categoria de obesidade grau I. Mesmo assim observamos que na variável
Imagem Corporal obtivemos como média de respostas 2,5 da escala Likert que é
denominado como raramente, quando indagadas sobre o grau de sofrimento resultante da
preocupação da percepção da sua forma corporal.
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Tabela 8. Descrição da estatística
N
Minimum
IDADE
76
14
MANEQUIM
70
34
EUSOU
79
1
DESEJO
71
2
SAUDÁVEL
76
2
Imagem corp
79
1,18
Delta
71
-2,00
Valid N (listwise)
61
Maximum
69
52
8
6
5
4,21
5,00
Mean
35,95
42,00
4,65
3,45
3,70
2,5477
1,0704
Std. Deviation
14,761
4,156
1,519
,875
,817
,78652
1,27978
Já nas respostas para a categoria do “eu desejo”, encontramos como média 3,45, o que,
segundo a classificação da Escala de Stunkard, esta entre o sobrepeso e a obesidade grau I.
Aqui ressaltamos que percebemos que a Escala acima citada tem uma descrição gráfica que
talvez não seja a representação verídica da realidade, porém é a que mais se enquadra ao
propósito deste estudo.
Com isso foi calculada a categoria delta, que é a diferença entre o “eu sou” e o “eu desejo”.
Esse resultado indica que quanto maior é a diferença, maior é a distorção da percepção de
Imagem Corporal. Nesse estudo a média do delta foi de 1,07 com desvio padrão de 1,27.
Deste modo, verifica-se que as mulheres oscilam, mas não é indício significativo de
patologias mentais.
Tabela 9. Correlações entre Imagem Corporal e o delta
IC
Delta
,412**
,000
71
1
IC
Pearson Correlation
1
Sig. (2-tailed)
N
79
Delta
Pearson Correlation
,412**
Sig. (2-tailed)
,000
N
71
**. Correlation is significant at the 0.01 level (2-tailed).
71
Na Tabela 9 verificamos que ao relacionar a categoria IC com o delta, obtivemos uma
correlação positiva de 0,41. Isso representa que quando a diferença entre o “eu sou” e o
“eu desejo” aumenta, o resultado da IC também aumenta, ou seja, quanto maior o delta
maior a preocupação com a Imagem Corporal. Isto representa que ambos os instrumentos
utilizados conseguiram alcançar, de formas diferentes, que a maioria das mulheres desse
estudo, não apresentaram comportamentos sintomáticos para alterações graves de Imagem
Corporal, embora apresentem ter conflitos entre como se percebem e a imagem desejada
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socialmente, como constatamos na Tabela 10. Nesta, a pontuação do questionário da
Imagem Corporal demonstra que há alterações na percepção da IC de forma que varia de
leve alteração a grave distorção.
Ainda na Tabela 10, a pontuação do questionário de Imagem Corporal demonstra que
4,3% dessa amostra fizeram 65 pontos; outros 4,3% marcaram 66 pontos. Estes dados
indicam que 51,4 % dessa amostra esta na categoria com resultados de ausência de
distorção da percepção de Imagem Corporal. A média de respostas para este instrumento
foi de XXXX pontos. Porém, também verificamos que 28,2% dessa amostra tiveram como
soma dos resultados de 81 a 110 pontos e, portanto apresentam leve grau de distorção de
Imagem Corporal; 15,7% tiveram resultados entre 111 – 140 pontos indicando moderado
grau de distorção de Imagem Corporal; e somente 4,3% dessa amostra tiveram pontuação
maior de 140 pontos – resultando em grave distorção da percepção da Imagem Corporal.
Em nove sujeitos (11,4%) não foi computado essa pontuação por falta das respostas de
alguns dos itens que compunham o referido questionário.
Assim, podemos afirmar que neste grupo a maioria das mulheres ainda não se encaixam em
critérios de diagnósticos de distorção de percepção de Imagem Corporal.
Tabela 10. Soma da pontuação do IC
Frequencia Percentual Percentual
Valid
40,00
2
2,5
2,9
49,00
1
1,3
1,4
52,00
1
1,3
1,4
53,00
1
1,3
1,4
54,00
1
1,3
1,4
55,00
2
2,5
2,9
57,00
1
1,3
1,4
58,00
1
1,3
1,4
59,00
1
1,3
1,4
60,00
1
1,3
1,4
61,00
1
1,3
1,4
62,00
1
1,3
1,4
63,00
2
2,5
2,9
64,00
1
1,3
1,4
65,00
3
3,8
4,3
66,00
3
3,8
4,3
67,00
2
2,5
2,9
68,00
1
1,3
1,4
69,00
1
1,3
1,4
Percentual acumulado
Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3
2,9
4,3
5,7
7,1
8,6
11,4
12,9
14,3
15,7
17,1
18,6
20,0
22,9
24,3
28,6
32,9
35,7
37,1
38,6
56
70,00
75,00
76,00
77,00
78,00
79,00
80,00
81,00
82,00
83,00
84,00
85,00
89,00
90,00
92,00
94,00
95,00
99,00
100,00
101,00
102,00
103,00
107,00
109,00
110,00
111,00
112,00
114,00
121,00
125,00
126,00
129,00
134,00
141,00
143,00
1
1
1
1
3
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
2
1
1
2
1
1
1
1
1
2
1
2
2
1
1
1
2
1,3
1,3
1,3
1,3
3,8
1,3
1,3
1,3
1,3
1,3
1,3
1,3
1,3
1,3
1,3
1,3
1,3
1,3
2,5
1,3
1,3
2,5
1,3
1,3
1,3
1,3
1,3
2,5
1,3
2,5
2,5
1,3
1,3
1,3
2,5
1,4
1,4
1,4
1,4
4,3
1,4
1,4
1,4
1,4
1,4
1,4
1,4
1,4
1,4
1,4
1,4
1,4
1,4
2,9
1,4
1,4
2,9
1,4
1,4
1,4
1,4
1,4
2,9
1,4
2,9
2,9
1,4
1,4
1,4
2,9
Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3
40,0
41,4
42,9
44,3
48,6
50,0
51,4
52,9
54,3
55,7
57,1
58,6
60,0
61,4
62,9
64,3
65,7
67,1
70,0
71,4
72,9
75,7
77,1
78,6
80,0
81,4
82,9
85,7
87,1
90,0
92,9
94,3
95,7
97,1
100,0
57
Total
Missing System
Total
70
9
79
88,6
11,4
100,0
100,0
Conclusão
Com este estudo concluímos que a partir dessa amostra aleatória pesquisada, as mulheres
que mais apresentaram indícios de preocupações com a forma física corporal, são as
solteiras com idade média de 36 anos, com ensino superior completo e peso corporal
dentro dos padrões de IMC normais. Sinalizamos para o fato de que estas mesmas
mulheres acima referidas, embora pertencerem a maior porcentagem para ausência de
distorção de Imagem Corporal, ainda assim acreditam terem formas corporais um pouco
maiores que as reais, o que acreditamos que indique que mesmo havendo algumas
alterações de percepção, este fato por si só não representa ainda indícios de presença de
patologias.
Podemos confirmar que existem modelos de Imagem Corporal impostos socialmente,
embora nessa população as mulheres ainda não oscilem muito do modo de como se
percebem e de como desejariam ser, pois o cálculo da categoria chamada de delta (que
representa a diferença entre a percepção do “eu sou” e “eu desejo”) foi apenas de 1,7 com
DP de 1,27. Isto se confirma, pois ao se fazer a correlação entre os dados do questionário
de IC com o delta das Escalas de Stunkard, obtivemos uma correlação positiva de 0,41%,
evidenciando que quando um indicador aumenta o outro aumenta também.
Por esse motivo, percebemos que mesmo o delta sendo um número pequeno, ainda assim
existe diferença entre as percepções de como se é e como se deseja ser, e é nesse ponto que
acreditamos que exista um conflito instalado, mesmo que mínimo. Esse conflito mesmo
que atualmente pequeno, pode vir a aumentar e causar comportamentos que podem muitas
vezes não estar adaptados ao ambiente como, por exemplo, excesso de exercícios físicos,
dietas desequilibradas, comportamentos purgativos ou procedimentos estéticos
desnecessários.
Este estudo confirma que para as mulheres, o desejo de melhorar a aparência física,
diminuir o descontentamento com o corpo e deixar de ser alvo de discriminações, ainda se
constituem nas principais motivações para a mudança quanto ao tamanho e à forma
corporal. O estereótipo perpetuado pelas normas socioculturais ainda valoriza a associação
entre a magreza e os atributos positivos, incentivando a busca de padrões estéticos cada vez
mais inatingíveis.
Acreditamos também que nessa população estudada, já existem indícios a serem cuidados
como forma de promoção de saúde e prevenção primária de doenças e/ou patologias mais
graves, evitando consequências e/ou sequelas futuras e irreparáveis.
Constatamos também que as mulheres as quais pelo IMC são as mais “gordinhas”, são
aquelas que menos demonstraram distorção de percepção de Imagem Corporal, embora
estas mesmas tenham grande preocupação com a sua condição física, e parecer terem
desistido de manifestar comportamentos de forma exagerada para melhorar sua forma
física.
Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3
58
Finalizando, os instrumentos utilizados para essa pesquisa se mostraram válidos para o
objetivo proposto, porém ressaltamos que poderia ser feita uma adaptação nas figuras da
Escala de Desenho de Silhuetas de Stunkard, pois as mesmas podem atrapalhar a
percepção real dos corpos da atualidade no momento da escolha da silhueta.
Referências
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COSTA, J.F. O Humanismo Ameaçado: valores como igualdade, fraternidade e liberdade
dão lugar ao individualismo de uma cultura de sensações onde o ser humano perde sua
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DAMASCENO, V.O., VIANNA, V.R.A., VIANNA, J.M., LACIO, M., LIMA, J.R.P.,
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SCHWARTZ, M. B., BROWNELL, K.D. Obesity and body image. Body Image, v.1, n.1,
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Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3
59
Bem-estar no trabalho e percepção de sucesso na
carreira: um estudo correlacional
CLAUDIA DOS SANTOS LIMA; ÉDILLE MIRNA. ACCARDO; MAISA SANGY GUEDES;
MICHELLE FIRMINO GUIMARÃES; MIRLENE M. M. SIQUEIRA
Resumo
Trata-se de um estudo transversal quantitativo com aplicação do método correlacional, que
teve como objetivo investigar as relações entre bem-estar no trabalho e percepção de
sucesso na carreira. Participaram da pesquisa 172 trabalhadores, sendo a maioria, (68,04%)
trabalhadores de empresas privadas. Para a coleta de dados foi utilizado um questionário
contendo quatro escalas, validadas e precisas. Os resultados revelaram índices de correlação
positiva e significativa entre as três dimensões de bem-estar no trabalho e percepção de
sucesso na carreira. Deve-se ressaltar a maior correlação ocorreu entre comprometimento
organizacional afetivo e percepção de sucesso na carreira e menor entre envolvimento com
o trabalho e percepção de sucesso na carreira. Consoante os resultados, indivíduos que
nutrem um estado elevado de bem-estar no trabalho e representado por altos índices de
satisfação no trabalho, envolvimento com o trabalho e comprometimento organizacional
afetivo são também os que tendem a perceber maiores possibilidades de sucesso na carreira
e vise e versa.
Palavras chaves: percepção de sucesso na carreira; bem-estar no trabalho; estudo
correlacional.
Introdução
O sucesso que se obtêm no percurso de uma carreira profissional, bem como o bem-estar
que se vivencia em contextos de trabalho, possibilita compreender o papel do trabalho
sobre a saúde do trabalhador. Sendo assim, a percepção de sucesso na carreira (PSC) e o
bem-estar no trabalho (BET) são construtos que tem despertado o interesse de diversos
pesquisadores com o objetivo de ampliar a compreensão de tais fenômenos de forma a
contribuir para que as pessoas possam sentir-se bem-sucedidas na carreira e desfrutar de
um maior bem-estar no trabalho.
Judge (1995) define o sucesso na carreira como acúmulo de resultados positivos
psicológicos e profissionais provenientes de experiências de trabalho. O sucesso é um
conceito avaliativo, portanto o julgamento de sucesso na carreira depende de quem está
julgando. O autor considera o salário e a promoção como fatores de percepção no sucesso
na carreira.

Mestrandas em Psicologia da Saúde pela Universidade Metodista de São Paulo.
Doutora em Psicologia. Docente na Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia da Saúde da Universidade
Metodista de São Paulo.

Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3
60
Segundo Emerson (2003) a carreira faz parte da individualidade de cada pessoa, e que cada
um tem a capacidade para planejar e gerenciar sua própria vida, o autor conceitua
planejamento como a capacidade que o indivíduo tem para definir, planejar, executar e
rever periodicamente as atitudes e comportamentos que tomará em sua vida profissional,
agindo assim, estará assegurando uma carreira de sucesso. Afirma também que a carreira,
por ser um patrimônio pessoal, deve ser administrada com competência e cuidado.
Já para Dutra (2004), são os níveis crescentes de complexidades do trabalho que
configuram a percepção de sucesso na carreira. Enquanto que Dries (2008) admite que,
fatores como desempenho, promoção, contribuição, autodesenvolvimento, entre outros,
são determinantes para a percepção de sucesso na carreira.
De acordo com Costa (2010), percepção de sucesso na carreira pode ser entendida como a
interpretação da pessoa sobre suas realizações a respeito da carreira, às sequencias de
posições ocupadas, atitudes e outras experiências de vida que refletem o desenvolvimento
de competências para lidar com situações de trabalho de maior complexidade, em
constantes transformações e que são influenciados e negociados em função de motivos e
aspirações individuais, expectativas e imposições da organização e da sociedade. O autor
aponta nove dimensões que compõem a medida de percepção de sucesso na carreira, são
elas: desempenho, promoção, contribuição, desenvolvimento, criatividade, segurança,
satisfação, reconhecimento e cooperação, todas vinculadas a 48 variáveis possíveis de
serem medidas e analisadas.
Com relação ao bem-estar no trabalho, Daniels (2000) defende que a satisfação de
necessidades e a realização de desejos dos indivíduos ao desempenhar o seu papel na
organização é bem-estar no trabalho. Ferreira, Pacheco, Pinto, Fernandes e Silva (2007),
afirmam que se trata de um construto que contém uma dimensão cognitiva, avaliada pela
satisfação no trabalho, e uma dimensão afetiva associada aos afetos positivos e negativos
associados ao trabalho. Para Souto e Rego (2007), o construto reflete a frequência de
experiências com afetos positivos e a escassez com experiências de afetos negativos. Já para
Paschoal e Tamayo (2008), o bem-estar no trabalho consiste na prevalência de emoções
positivas no trabalho e na percepção do indivíduo de que ele expressa e desenvolve suas
habilidades e potenciais e avança no alcance de suas metas de vida a partir do seu trabalho.
Siqueira e Padovam (2008) definem que o bem estar no trabalho é formado por vínculos
afetivos positivos com o trabalho (satisfação e envolvimento) e com a organização
(comprometimento organizacional afetivo).
Segundo Siqueira e Padovam (2008), o conceito de bem-estar no trabalho é integrado por
três indicadores: satisfação no trabalho, envolvimento com o trabalho e comprometimento
organizacional afetivo. As autoras reconhecem as concepções originais encontradas na
literatura como: satisfação no trabalho: “[...] Um estado emocional positivo ou de prazer,
resultante de um trabalho ou experiência no trabalho (Locke, 1976)”. O envolvimento com
o Trabalho: “[...] O grau em que um desempenho afeta uma pessoa no trabalho e afeta sua
autoestima (Lodahl; Kejner, 1965)”. E o comprometimento Organizacional Afetivo: “[...]
um estado no qual um indivíduo se identifica com uma organização particular e com seus
objetivos, desejando manter-se afiliado a ela com vista a realizar tais objetivos”
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(MOWDAY; STEERS; PORTER, 1979). Essas definições representam as concepções
seminais dos três conceitos.
Siqueira e Padovam (2008) reestruturaram essas definições e integraram os três indicadores
de bem-estar no trabalho conceituando BET na contemporaneidade. Atualmente satisfação
com o trabalho tem sido descrita como um vínculo positivo com o trabalho. As satisfações
que se obtém nos relacionamentos com a chefia e com os colegas de trabalho como
também as satisfações advindas do salário pago pela empresa, oportunidades de promoção
ofertadas pela política de gestão da empresa representam os aspectos específicos deste
vínculo.
Quando as atividades de trabalho incluem desafios que exigem habilidades individuais na
sua execução, quando as metas a serem alcançadas são percebidas claramente e o retorno é
imediato, a segunda dimensão de BET, ou seja, envolvimento com o trabalho é
compreendido como um estado de fluxo (CSIKSZENTMIHALYI, 1999), na sua
concepção atual, após quatro décadas da concepção proposta por Lodhal e Kejner (1965).
O comprometimento organizacional afetivo é definido como uma ligação afetuosa com
uma organização. Como terceiro componente do conceito de BET, é um vínculo que inclui
sentimentos positivos como entusiasmo, orgulho, contentamento, confiança, apego e
dedicação à empresa empregadora (SIQUEIRA, 1995, 2008).
Ainda que, não esteja assentado em emoções positivas, esse modelo de três componentes
para BET, pressupõe que os três vínculos positivos que o constituem (satisfação no
trabalho, envolvimento com o trabalho e comprometimento organizacional afetivo)
possam ampliar o espectro do estado psicológico positivo e saudável do trabalhador.
Este estudo teve como objetivo investigar as relações entre bem-estar no trabalho e
percepção de sucesso na carreira.
Método
Trata-se de um estudo transversal quantitativo com aplicação do método correlacional.
Participantes
Participaram da pesquisa 172 trabalhadores com idade média de 33,73 anos, (DP = 8,22),
sendo 51,05% do sexo feminino, distribuídos entre 42,01% solteiros, 44,04% casados e
13,05% com outra situação conjugal, cuja escolaridade variava de fundamental completo
(47,04%) a mestrado completo (12,03%), com tempo de trabalho de 4,67 anos, (DP =
5,82), sendo a maioria, (68,04%) trabalhadores de empresas privadas.
Instrumentos
Para a coleta de dados foi utilizado um questionário contendo quatro escalas, validadas e
precisas. Escala de Satisfação no Trabalho - A medida foi construída e validada por
Siqueira (1995), originalmente composta por vinte e cinco frases que descrevem cinco
fatores.
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Neste estudo foi utilizada a versão reduzida da medida, que contém 15 itens. Nesta, são
cinco fatores com três itens cada: satisfação com colegas de trabalho (α =0,81), satisfação
com o salário (α =0,90), satisfação com a chefia (α =0,89), satisfação com a natureza do
trabalho (α =0,77) e satisfação com promoções (α =0,81). As respostas são dadas em uma
escala de sete pontos (1= totalmente insatisfeito, 2=moderadamente insatisfeito, 3=
levemente insatisfeito, 4=nem concordo, nem discordo 5=levemente satisfeito,
6=moderadamente satisfeito e 7=totalmente satisfeito). Escala de Envolvimento com o
Trabalho. Medida validada por Siqueira (1995) e composta por cinco itens (α =0,78),
desenvolvida a partir da escala elaborada por 58 Lodahl; Kejner (1965 apud SIQUEIRA,
1995). As respostas são dadas em uma escala de sete pontos (1=discordo totalmente,
2=discordo moderadamente, 3= discordo levemente, 4=nem concordo, nem discordo,
5=concordo levemente, 6=concordo moderadamente e 7=concordo totalmente). Escala de
Comprometimento Organizacional Afetivo (ECOA). Foi construída e validada por Siqueira
(1995) e contém, em sua forma reduzida, cinco itens (α =0,93). As respostas são dadas em
uma escala de cinco pontos (1=nada, 2=pouco, 3=mais ou menos, 4=muito,
5=extremamente). A Escala de Percepção de Sucesso na Carreira (PSC) instrumento
elaborado e validado por Venneli (2010). E composta por frases simples em que o
respondente determina o seu grau de concordância (1 a 10) (1 e 2=discordo totalmente, 3
e 4=discordo, 5 e 6=nem discordo e nem concordo, 7 e 8=concordo, 9 e 10=concordo
totalmente) com a respectiva frase para a sua carreira. Para facilitar o respondente, a escala
é mista, contendo frases subjetivas associadas aos graus. Nesta escala são avaliados os
seguintes itens: cooperação (α=0,85), Competência (α=0,78), Contribuição (α=0,86),
Desenvolvimento (α=0,75), Criatividade (α=0,72), Identidade/equilíbrio (α=0,81),
Reconhecimento (α=0,81), Cooperação (α=0,78) e segurança financeira (α=0,78).
Resultados
Os resultados contidos no Quadro 1 revelaram índices de correlação positiva e significativa
entre as três dimensões de bem-estar no trabalho e percepção de sucesso na carreira. Devese ressaltar que a maior correlação ocorreu entre comprometimento organizacional afetivo
e percepção de sucesso na carreira e menor entre envolvimento com o trabalho e
percepção de sucesso na carreira. Consoante os resultados, indivíduos que nutrem um
estado elevado de bem-estar no trabalho representado por altos índices de satisfação no
trabalho, envolvimento com o trabalho e comprometimento organizacional afetivo são
também os que tendem a perceber maiores possibilidades de sucesso na carreira e vice e
versa.
Quadro 1. Matriz de correlação
Variáveis
1. Satisfação no trabalho
2. Envolvimento com o trabalho
3. Comprometimento organizacional
afetivo
4. Percepção de sucesso na carreira
Média
4,21
3,67
Desvio Padrão
0,96
1,44
1
0,32**
2
3
3,12
1,04
0,71**
0,38**
-
3,31
0,74
0,49**
0,39**
0,62**
4
-
** p<0,01
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-
O Quadro 2 contém os resultados da ANOVA. Quando se comparou os escores médios
entre as três dimensões BET (satisfação no trabalho, envolvimento com o trabalho e
comprometimento organizacional afetivo) e PSC (percepção de sucesso na carreira) e o
estado civil, pode-se observar, que apenas a dimensão envolvimento com o trabalho
produziu escores distintos entre os grupos, ou seja, há pouca diferença quando se fala de
envolvimento com o trabalho e percepção de sucesso na carreira entre os grupos solteiros
(M=3,89) e outros (M=3,98), porém, os dados apontaram que existe menor envolvimento
entre o grupo dos casados (M=3,37).
Quadro 2. Resultados da ANOVA para as três dimensões de BET e percepção de sucesso
na carreira entre solteiros e casados.
Variáveis
1. Satisfação no trabalho
2. Envolvimento com o trabalho
3. Comprometimento organizacional afetivo
4. Percepção de sucesso na carreira
Solteiros
n=72
4,21
3,89
3,03
3,48
Casados
n=76
4,28
3,37
3,22
3,42
Outros
n=23
F
4,10
0,211
3,98
3,048*
3,01
0,697
3,16
1,492
Conclusão
Esta pesquisa teve como objetivo investigar as relações entre bem-estar no trabalho e
percepção de sucesso na carreira. Através dos resultados deste estudo foi possível
demonstrar que indivíduos que nutrem um estado elevado de bem-estar no trabalho
tendem a perceber mais possibilidades de sucesso na carreira e vice e versa. É importante
destacar que a correlação mais alta ocorreu entre o comprometimento organizacional
afetivo e a percepção de sucesso na carreira, o que indica que os afetos que o indivíduo
nutre no local de trabalho é um componente importante na percepção de sucesso na
carreira.
Quanto ao estado civil, ao analisar as três variáveis de BET (satisfação no trabalho,
envolvimento com o trabalho e comprometimento organizacional afetivo), pode se
constatar que apenas a variável envolvimento com o trabalho produziu escores distintos
localizados entre casados versus solteiros e outros, contudo, os dados apontaram que existe
menor envolvimento entre o grupo dos casados.
Este estudo é relevante para a literatura em Psicologia da Saúde, pois possibilita ampliar a
compreensão do quanto sentir-se bem no trabalho esta relacionado com a percepção de
sucesso na carreira.
Embora a presente pesquisa tenha atingido seu objetivo, uma limitação observada é a de
que os estudos sobre percepção de sucesso na carreira são iniciantes, há pouca produção
científica sobre o assunto, diferentemente do construto de bem-estar no trabalho que tem
diversos modelos teóricos. Enquanto um tema esta bem estruturado conceitualmente, o
outro carece de mais pesquisas. Neste sentido, é fundamental que novas pesquisas sejam
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conduzidas. Os dois construtos BET e PSC podem contribuir expressivamente para
estudos relacionados à saúde do trabalhador.
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Capital psicológico e engajamento no trabalho:
um estudo com profissionais administrativos do
setor de saúde de um hospital público
CAMILA M. R. REIS, ELIANE C. FERREIRA, SANDRA M. MULLER, MIRLENE M. M. SIQUEIRA
Resumo
Capital psicológico é um construto multidimensional composto por esperança, resiliência,
otimismo e eficácia enquanto engajamento no trabalho é caracterizado por vigor, dedicação
e absorção. Ambos originam-se da psicologia positiva no qual Seligman (2000) contrapõe o
foco na doença, no sofrimento psíquico, enfatizando as forças do indivíduo em detrimento
as suas fraquezas ou patologias. O setor de saúde hoje é um dos mais importantes dentro
da economia nacional gerando em torno de quatro milhões de postos de trabalho e este
cenário reforça a relevância do setor e a importância da realização de pesquisas no mesmo.
O objetivo deste estudo foi relacionar capital psicológico e engajamento no trabalho com
profissionais administrativos do segmento hospitalar. Participaram 70 funcionários de um
hospital público, sendo a maioria (87,1%) do sexo feminino, com idade média 46,11 anos
(DP 8,16) e tempo médio de trabalho de 19,7 anos (DP = 9,37). Destes 55,7% são casados
e apresentaram escolaridade variando entre o nível fundamental completo (11,4%) e
mestrado completo (2,9%). Com relação ao seu trabalho na instituição, observou-se que o
tempo médio de trabalho foi de 19,07 anos (DP = 9,37), dos quais 91,4% exercem cargo
público (concursados), 12,9% ocupam cargo de chefia (DP= 0,3) e 47,1% (DP= 0,8)
relatam exercer sua atividade em grupo. Para a coleta de dados foram utilizadas duas escalas
válidas e precisas. Os dados, todos numéricos, foram submetidos a análises por meio do
SPSS, versão 20.0. O índice de correlação (r de Pearson) das variáveis capital psicológico e
engajamento no trabalho foi significativo, positivo e moderado. Tais resultados revelam
que quanto mais elevado for o capital psicológico dos trabalhadores, ou seja, altos escores
em esperança, resiliência, otimismo e eficácia maior engajamento no trabalho (vigor e
absorção) eles apresentam e vice-versa.
Palavras-chave: capital psicológico; engajamento no trabalho; psicologia positiva;
profissionais de saúde.
Introdução
Capital psicológico (CP) é um construto multidimensional composto por esperança,
resiliência, otimismo e eficácia enquanto engajamento no trabalho (EGT) é caracterizado
por vigor, dedicação e absorção. Ambos originam-se da psicologia positiva no qual
Seligman (2000) contrapõe o foco na doença, no sofrimento psíquico, enfatizando as forças
do indivíduo em detrimento as suas fraquezas ou patologias.
 Mestrandas em Psicologia da Saúde pela Universidade Metodista de São Paulo.
 Doutora em Psicologia. Docente na Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia da Saúde da Universidade
Metodista de São Paulo.
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Muitos gestores de organizações têm se deparado com a importância destes construtos,
pois estes se mostram como um diferencial entre os desempenhos apresentados pelos
funcionários. De acordo com Siqueira (2008), desde as primeiras décadas do século XX, as
atenções de muitos pesquisadores e gestores empresariais do comportamento
organizacional se voltaram ao tema satisfação no trabalho, buscando compreender o
indivíduo que trabalha e suas experiências emocionais na organização. Portanto investigar
estas dimensões pode representar para a psicologia uma abertura para novas perspectivas,
com vistas para maior produção no trabalho, com trabalhadores mais saudáveis e
comprometidos com suas tarefas.
Conforme Luthans, Youssef, Avolio (2007), os lugares adequados para se trabalhar não são
mais aqueles que prometem emprego para toda uma vida, mas sim aqueles que
proporcionam aos seus funcionários oportunidades, recursos e flexibilidade para
crescimento, aprendizado e desenvolvimento.
A psicologia, no decorrer de sua trajetória, esteve mais preocupada em entender e
compreender o processo do adoecimento, procurando a sua origem, os sintomas e as
formas de reestabelecimento. Em meados dos anos 50, visando à saúde e não mais a
doença, o humanismo trouxe um novo pensamento, embora muitos profissionais ainda
mantivessem o seu olhar nas patologias. Nos anos 90 surge a Psicologia Positiva que
retoma a concepção positiva no que se refere ao ser humano, resgatando a importância da
prevenção e da promoção de saúde (SCHAUFELI; BAKKER, 2003).
A partir dos pressupostos da psicologia positiva propostos por Seligman e Csikszentmihalyi
(2000), o conhecimento acerca do comportamento humano nas organizações passou a ser
investigado tendo como base os recursos e as forças positivas que os indivíduos aplicam
quando lidam com os desafios presentes no mundo do trabalho. Segundo Luthans (2004),
nessa abordagem não deve haver preocupação com o que está errado e disfuncional com
os indivíduos, mas, sim atentar para o que é certo e bom sobre eles, dando-se ênfase aos
pontos fortes (saúde e vitalidade), ao invés de pontos fracos (como patologias e doenças).
Instigado pelas novas perspectivas sugeridas pelos postulados da psicologia positiva e pelo
suporte das pesquisas realizadas até então, Luthans et al. (2007) formulou o conceito
denominado capital psicológico (CP) e o definiu como um constructo de alta ordem que
abrange quatro dimensões consideradas importantes para promover o desempenho e a
satisfação dos profissionais que atuam na organização. Para o autor, CP é definido como
um estado de desenvolvimento psicológico positivo de um indivíduo e é caracterizado por:
ter confiança (auto eficácia) para assumir e fazer um esforço necessário para ter sucesso em
tarefas desafiadoras; fazer uma atribuição positiva (otimismo) sobre ter sucesso agora e no
futuro; perseverar em direção aos objetivos e, quando necessário, redirecionar os caminhos
aos objetivos (esperança); e por fim (resiliência) que significa que quando o indivíduo é
atormentado por problemas e adversidades, ele consegue suportar e dar a volta para
alcançar sucesso (LUTHANS et al., 2007).
O outro constructo deste estudo é o engajamento no trabalho (EGT) que para Maslach e
Leiter (2008), pode ser compreendido como energia, envolvimento e eficácia profissional.
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Desta forma, nas pesquisas no campo laboral, constatou-se uma associação dos estudos
entre EGT e burnout nas pesquisas no campo laboral (MASLACH; SCHAUFELI;
LEITER, 2001). Nestes estudos os pesquisadores observaram que as dimensões que
compõem o construto de burnout, o esgotamento ou exaustão emocional, a desumanização
também entendida como cinismo e a despersonalização aliada à reduzida realização pessoal
no trabalho, são opostas ao EGT, que é um constructo motivacional positivo.
No que se refere ao conceito de engajamento, Kahn (1990, p. 694), desenvolveu
possivelmente o primeiro trabalho acadêmico sobre engajamento no trabalho (EGT) em
que o constructo foi compreendido como:
“Aproveitamento dos membros da organização de seus próprios
papéis de trabalho: No engagement, as pessoas utilizam e se
expressam a si mesmas, física, cognitiva, emocional e
mentalmente durante o desenvolvimento de seus papéis.
Conforme Schaufeli, Bakker, Salanova (2006) EGT é um estado positivo da mente,
vinculado ao trabalho e é caracterizado por: vigor, dedicação e absorção. Para os autores
Schaufeli e Bakker (2003) o EGT refere-se a um estado mais persistente e não
momentâneo, que não é focado apenas em um objeto, evento ou indivíduo:
“... o vigor caracteriza-se pelos altos níveis de energia e
resiliência mental
enquanto trabalha, vontade de invest ir no
trabalho, e persistência em situações de dificuldade. A dedicação
refere-se a estar fortemente envolvido em seu trabalho e
experienciar um senso de significância, entusiasmo inspiração,
orgulho e desafio. Absorção é caracterizada como estar
completamente concentrado e envolvido em seu trabalho, sendo
que o tempo passa rapidamente e o indivíduo possui dificuldade
em desapegar-se de seu trabalho.”
Para Schaufeli e Bakker (2003), trabalhadores com engajamento, tem um senso de energia e
disposição, estão conectados com o trabalho e com suas tarefas, e se vêem como capazes
de lidar com as demandas e adversidades de seu trabalho.
Objetivo geral
O presente estudo teve como objetivo geral relacionar capital psicológico e engajamento no
trabalho em profissionais administrativos do setor de saúde em um hospital público.
Objetivos específicos
a) Apresentar, interpretar e discutir os escores de capital psicológico;
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b) Apresentar, interpretar e discutir os escores de engajamento no trabalho;
c) Apresentar, interpretar e discutir os índices de correlação entre capital psicológico e
engajamento no trabalho;
d) Apresentar, interpretar e discutir as diferenças de escores médios de capital psicológico e
engajamento no trabalho entre grupos com estado civil distintos.
Método
Participantes
O presente estudo foi realizado com profissionais administrativos da área da saúde de um
hospital geral da rede pública SUS da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, e
constitui-se, dentro do setor terciário, num hospital de alta complexidade cirúrgica, e no
setor secundário, ambulatório de especialidades.
A pesquisa contou com a participação de 70 indivíduos, sendo a maioria (87,1%) do sexo
feminino, com idade média 46,11 anos (DP=8,16) e tempo médio de trabalho de 19,7 anos
(DP = 9,37). Destes 55,7% são casados e apresentaram escolaridade variando entre o nível
fundamental completo (11,4%) e mestrado completo (2,9%). Com relação ao seu trabalho
na instituição, observou-se que o tempo médio de trabalho foi de 19,07 anos (DP = 9,37),
dos quais 91,4% exercem cargo público (concursados), 12,9% ocupam cargo de chefia e
47,1% relataram exercer sua atividade em grupo.
Instrumentos
Para a coleta dos dados foi utilizado um questionário auto-aplicável, composto por duas
medidas que aferiram as variáveis do estudo, o qual foi lido e respondido pelos próprios
funcionários. O instrumento foi composto pelas seguintes escalas de mensuração: Escala
de Capital Psicológico no Trabalho construída e validada no Brasil por Siqueira, Martins e
Souza (2012), contendo 25 itens divididos em 4 fatores: auto eficácia, otimismo, esperança
e resiliência; Escala de Engajamento no Trabalho – EGT, construída e validada por
Martins, Lima, Agapito, Souza e Siqueira (2011) contendo 10 itens divididos em dois
componentes – vigor e absorção.
Dados complementares para caracterização da amostra foram levantados por meio de
questões acrescentadas no final do questionário arguindo sobre: idade, sexo, estado civil,
tempo de trabalho, tipo de vínculo, se ocupa cargo de chefia e como realiza a maior parte
de suas atividades.
Procedimentos
Para realizar a coleta de dados, foi entregue a direção do hospital uma solicitação de
autorização com uma breve descrição dos objetivos do trabalho, após a permissão por
parte dos responsáveis, foi realizado o contato com os profissionais pesquisados no qual
foi explicado verbalmente os objetivos e o formato do estudo, também a questão do sigilo
e a desobrigação na participação por parte deles.
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Aos que aceitaram participar, foram reunidos em grupos de 10 pessoas (foram reunidos em
grupos pequenos para que não houvesse prejuízo ao bom funcionamento da instituição) e
então se deu a entrega do termo de livre consentimento livre e esclarecido (TCLE) e em
seguida à assinatura, o questionário e as escalas para seu devido preenchimento.
Com o material coletado, foram realizadas análises estatísticas descritivas (como médias,
desvios-padrão, frequências, porcentagens) e cálculos de correlação entre as variáveis, além
de comparação entre grupos que poderá dar-se por meio de análise de variância (ANOVA),
por meio do SPSS, versão 20.0.
Resultados
Após a análise estatística dos dados coletados, a seguir os resultados dos escores médios
(DP), e o alfa de Cronbach dos fatores do capital psicológico e engajamento no trabalho,
além dos índices de precisão de correlação (r de Pearson) são apresentados (Quadro 1).
No Quadro 1, são apresentados as médias de todas as dimensões estudadas e observa-se
que a menor média se refere a resiliência, o que significa dizer que os indivíduos da amostra
são pouco resiliente, ou seja, diante de adversidades ha pouca crença de que são capazes de
se recuperar, para restaurar assim o equilíbrio e a capacidade de seguir. A maior média
apresentada foi a da dimensão autoeficácia, que revela existir entre os participantes fortes
crenças de que são capazes de enfrentar os desafios e superá-los.
Quadro 1 . Médias, desvios padrão, índices de precisão e de correlação (n=70)
Variáveis
Médias
DP
1
2
3
4
5
1 Esperança
4,05
0,54
(α= 0,40)
2 Auto
e fi c á c i a
4,32
0,61
0,50**
(α= 0,81)
3 Otimismo
3,93
0,79
0,53**
0,46**
(α= 0,79)
4 Resiliência
2,89
0,94
0,17
0,18
0,08
(α= 0,73)
5 V i g or
3,80
0,75
0,27*
0,26*
0,39**
0,22
(α=0,88)
6 A b s or ç ã o
4,11
0,53
0,31**
0,24*
0,09
0,15
0,42**
Referente às correlações, os construtos CP e EGT possuem, porém são consideradas
fracas, segundo as referências de Tabachnick e Fidel (1996), tendo como índice de
correlação mais representativo, as dimensões otimismo e vigor, o que significa dizer que
quanto maior é a energia, a persistência e a determinação direcionada para o desempenho
das atividades de trabalho será concomitante a crença de resultados positivos e de sucesso
para o tempo atual e futuro. Já a menor correlação apresentada foi a de Absorção e
Autoeficácia, o que significa dizer que o indivíduo que se sente concentrado e satisfeito na
realização do trabalho possui uma tendência a crer em sua capacidade de enfrentar os
desafios propostos.
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71
6
(α=0,70)
Destarte, segue agora a interpretação das demais correlações apresentadas no Quadro 1,
pode-se, portanto, observar que na correlação de esperança com absorção, entende-se que
quando maior for a perseverança nos caminhos ao objetivo também será a felicidade na
realização do trabalho o que implica em estar plenamente concentrado. A dimensão vigor
se correlacionou com esperança, o que implica dizer que se o indivíduo que emprega
energia e disposição na realização do trabalho possui tendência a ser perseverante nos
caminhos em direção aos seus objetivos. E a ultima correlação a ser citada é a das
dimensões vigor e autoeficácia, o que permite dizer que o sujeito que despende energia nas
tarefas profissionais, sendo concentrado e satisfeito na realização destas, tende a crer em
sua capacidade de ser eficiente no enfrentamento dos desafios apresentados.
Por fim, é necessário destacar a dimensão resiliência, que não apresentou índice de
correlação significativa com nenhuma das outras dimensões, portanto percebeu-se que,
embora os indivíduos tenham bons e adequados índices de capital psicológico e
engajamento no trabalho, estes não possuem uma forma satisfatória de reação e
enfrentamento diante do fracasso.
Diante destes resultados entende-se que quanto mais elevado for o capital psicológico dos
trabalhadores, maior o engajamento no trabalho destes e vice-versa. Portanto, o indivíduo
que apresentar altos índices de otimismo, auto eficácia, resilência e esperança, tende
também a vivenciar sensações que mais lhe revigoram e absorvem, e mesmo com as
adversidades encontradas no mundo do profissional, irá se sentir cheio de energia,
fortalecido, renovado e concentrado.
Discussão
Este estudo foi realizado com profissionais que possui indicadores de saúde mental
considerados satisfatórios, pode-se também observar níveis de correlação das variáveis, o
que significa dizer que quanto maior o capital psicológico do indivíduo, maior também será
o seu engajamento no trabalho, ampliando esta visão, a análise de correlação permite
afirmar que quando os trabalhadores são otimistas, esperançosos, resilientes e confiantes,
eles também se apresentam mais revigorados e absorvidos no ambiente de trabalho e viceversa. Neste sentindo mesmo havendo o cansaço físico após uma jornada de trabalho, o
indivíduo se sente entusiasmado com sua atuação profissional.
Os resultados deste estudo foram importantes para a psicologia e podem representar
abertura para novas perspectivas, pois quanto mais as organizações investirem na
promoção de saúde dos trabalhadores, estes motivados e revigorados com o trabalho
podem ter comportamentos positivos influenciando assim num aumento de produção.
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Clima organizacional dos colaboradores da
indústria de Panificação do Grupo Cíntia
MICHELLE FIRMINO GUIMARÃES, VANESSA Q. ROCHA
Todo trabalho cientifico precisa de fundamentação na qual o projeto tem como
apresentação da fundamentação teórica de acordo com a bibliografia pesquisada. Para
tanto, foram tratados o conceito de clima organizacional, pesquisa de clima e também do
conceito de empresa como organização, satisfação e motivação no trabalho,
comportamento organizacional e cultura organizacional, análise dos resultados, conclusões
e referências.
A pesquisa apresentou como problemática o clima organizacional da panificadora do grupo
Cíntia. O objetivo geral deste projeto foi analisar o clima organizacional dos colaboradores
através de uma pesquisa de clima organizacional, que permitiu uma análise interna,
satisfação, motivação, comprometimento dos colaboradores com a organização. Os
objetivos específicos foram os seguintes: verificar o clima, estabelecer pontos fortes e
fracos e propor, caso necessário, ações para melhoria do clima organizacional.
O clima organizacional pode ser entendido como a expressão dos sentimentos dos
empregados diante dos valores, das políticas, das práticas de gestão de recursos humanos,
da forma de relacionamento com os colegas, da postura de empresa ao estabelecer metas e
retribuir pelo alcance dela, além da situação econômica. (CHIAVENATO, 2000).
Segundo Chiavenato (2000, p. 446) O Clima Organizacional “constitui o meio interno ou
atmosfera psicológica de cada organização. Está ligado ao moral e à satisfação das
necessidades dos participantes e pode ser satisfatório ou insatisfatório, dependendo de
como os participantes se sentem em relação à organização”.
Os sentimentos manifestam-se em relação a inúmeros aspectos da vida na organização: o
trabalho em si, salários, comportamento dos chefes, colegas e instalações físicas. O produto
dos sentimentos individuais e grupais criados por esses aspectos chamam-se clima
organizacional. (MAXIMIANO, 1995. p.38).
Segundo Bergamini (1997), a pesquisa de clima organizacional é o instrumento pelo qual é
possível atender mais de perto as necessidades da organização e do quadro de funcionários
a sua disposição, à medida que caracteriza tendências de satisfação ou insatisfação,
tomando por base à consulta generalizada aos diferentes colaboradores da empresa. A
pesquisa é uma maneira de saber se os funcionários estão satisfeitos ou não com a os
benefícios, salários e relacionamento interpessoal.

Mestranda em Psicologia da Saúde pela Universidade Metodista de São Paulo.
Mestre em Administração pela UFSC. Docente do Programa de Pós-Graduação do Centro Universitário do
Norte.

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Segundo o mesmo autor, a Pesquisa de Clima Organizacional é um levantamento de
opiniões que caracteriza uma representação da realidade organizacional consciente, uma
vez que retrata o que as pessoas acreditam estar acontecendo em determinado momento na
organização enfocada, tornando claras as percepções dos funcionários sobre temas e itens
que, caso apresentem distorções indesejáveis, afetam negativamente o nível de satisfação
dos funcionários na situação de trabalho.
A definição da satisfação com o trabalho como a atitude geral de uma pessoa em relação ao
trabalho que realiza e o trabalho requer a convivência com os colegas e superiores, a
obediência às regras e políticas organizacionais, natureza do trabalho e supervisão. Uma
pessoa que tem um alto nível de satisfação com seu trabalho apresenta atitudes positivas
em relação a ele, enquanto uma pessoa insatisfeita apresenta atitudes negativas. (ROBBINS,
2005.)
O conceito de organização é tipicamente behaviorista: a organização é a coordenação de
diferentes atividades de contribuintes individuais com a finalidade de efetuar transações
planejadas com o ambiente. A organização atua em um meio ambiente e sua existência e
sobrevivência dependem da maneira como ela se relaciona com esse meio.
(CHIAVENATO, 2000).
Segundo Robbins (2005), uma estrutura organizacional define como as tarefas são
formalmente distribuídas, agrupadas e coordenadas e os executivos precisam ter em mente
seis elementos básicos que são os seguintes: especialização do trabalho, a
departamentalização, a cadeia de comando, amplitude de controle, centralização e
descentralização e a formalização.
Segundo Chiavenato (2000), cultura organizacional é o conjunto de hábitos, crenças,
valores e tradições, interações e relacionamentos sociais típicos de cada organização.
Representa a maneira tradicional e costumeira de pensar e fazer as coisas e que são
compartilhadas por todos os membros da organização.
Método
Participantes
Participaram deste estudo 44 colaboradores (balconistas (55%), líderes (16%), cozinheiras
(11%), serviços gerais (7%), op. caixa e produção (5%), motoristas (2%), sendo 82% do
sexo feminino, 18% do sexo masculino, com idades compreendidas entre 18 a 25 anos
(57%). Na questão da escolaridade, ficou meio dividido, pois 30% têm o ensino
fundamental, 30% médio incompleto e 34% médio incompleto. Observou-se que metade,
ou seja, 50% são novatos, tem menos de um ano.
Material
A coleta de dados foi feita através de questionários e entrevistas anônimos e de auto
respostas; das quais constava: um questionário Sócio demográfico, que incluía os dados
pessoais (sexo, idade, escolaridade, cargo e tempo de empresa). Escala Likert de 1 a 5
(Muito insatisfeito, Insatisfeito, indiferente, satisfeito e muito insatisfeito) onde foram
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avaliados os seguintes aspectos: Relacionamento interpessoal, realização profissional,
salários, benefícios, líder imediato, gerente, ambiente, comunicação, crescimento
profissional e treinamento. A entrevista constava 10 perguntas para os lideres, na qual
foram avaliados os seguintes critérios: pontos fortes e fracos do relacionamento
interpessoal e clima organizacional.
Procedimento
A coleta dos dados ocorreu no ano de 2008 nas três panificadoras do Grupo Cíntia (
Panificadora Cíntia, Panificadora Núbia e Panificadora Clise) que atuam no Amazonas há
mais de 30 anos. Inicialmente, efetuou-se um pedido de autorização à respectiva direção, na
qual constava uma breve explicação do estudo.
Resultados
Conforme os resultados da pesquisa referente ao clima organizacional (Tabela 1) observouse os seguintes aspectos em relação à satisfação dos colaboradores.
a) um clima de insatisfação em relação a benefícios e salários, suscitando as seguintes
propostas: melhores salários e prêmios por produção.
b) que o ponto forte da empresa é o trabalho em equipe e a política de treinamento.
c) a necessidade do desenvolvimento de uma política salarial, baseada na elaboração de
um plano de cargos e salários visando estabelecer maior nível motivacional na
realização do trabalho.
Tabela 1. Grau de satisfação dos colaboradores da Indústria de Panificação do Grupo
Cíntia.
Itens
Relacionamento
interpessoal
Autonomia
Realização profissional
Salário
Benefícios
Relacionamento
funcionário e liderança
Política de treinamento
Ambiente de trabalho
Expectativa de
crescimento
Muito
Insatisfeito
Insatisfeito
Indiferente
Satisfeito
Muito
Satisfeito
1
5
5
24
4
1
3
3
2
11
19
16
6
2
5
6
24
18
12
12
3
6
3
7
3
21
4
1
6
1
6
2
22
17
3
1
3
10
2
22
2
Conclusão
Este trabalho possibilitou a construção do conhecimento contribuindo para melhoria do
trabalho desenvolvido na empresa. Sendo assim, sugere-se novas pesquisas sobre clima
organizacional para saber o grau de satisfação dos colaboradores e então propor melhorias
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e uma nova visão sobre qualidade de vida dos profissionais inseridos dentro da
organização.
Portanto, buscar compreender cada vez mais o trabalhador no seu contexto organizacional,
contribuirá para que os resultados possam ser alcançados e este possa, concomitantemente,
alcançar seus próprios objetivos e qualidade de vida no trabalho.
Referências
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Liderança. 2 ed. São Paulo: Atlas, 1997.
CHIAVENATO, I. Introdução à Teoria Geral da Administração. Rio de Janeiro:
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Eficácia adaptativa em portadores de Diabetes
Mellitus tipo 2
NATHÁLIA B BRANDOLIM DOS SANTOS, MARIA GERALDA VIANA HELENO
Resumo
Diabetes é uma doença crônica que influi na rotina de vida das pessoas, que precisam de
cuidados diários, o que pode gerar angustia e dificuldades para a aceitação da doença. Em
função do tratamento existe a necessidade de adaptação à nova rotina diária, tornando-se
importante a avaliação da eficácia adaptativa destes pacientes. Portanto, esta pesquisa teve
como objetivo avaliar a qualidade da eficácia adaptativa em portadores de Diabetes tipo2
por meio do Questionário Diagnóstico Adaptativo Operacionalizado – QDAO e descrever
dados sócio-demográficos foram avaliados 100 pacientes portadores de Diabetes Mellitus
tipo2, de forma individual. Os resultados demonstraram que a qualidade da adaptação de
91% dos participantes era de Adaptação Ineficaz Moderado (Grupo3) com tendência a
Adaptação Ineficaz Severa. A análise dos dados sócio-demográficos mostrou que 59,4%
dos participantes tinham mais de seis anos de diagnóstico, 71,4% uma dieta pobre e 64,8%
não realizavam nenhum tipo de atividade física. Considerando que estes são fatores
determinantes para um bom controle glicêmico, o prognóstico para estes pacientes é muito
ruim. Assim, os resultados deste pequeno recorte de portadores de Diabetes Mellitus tipo2
do Município de Itaquaquecetuba, do estado de São Paulo, nos leva a refletir acerca da
importância de investimento em programas de educação e prevenção de Diabetes e seu
controle para que estes participantes possam ter melhor prognóstico.
Palavras-chave: diabetes mellitus tipo 2; diagnóstico da situação de saúde em grupos.
Introdução
Diabetes é uma doença crônica que atinge 18,8 milhões de pessoas no mundo. Por ser um
problema de saúde pública interessa a pesquisadores de diversas áreas. O diabetes é um
estado causado por insuficiência de insulina, que desempenha papel fundamental nos
processos metabólicos do organismo (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES,
2008).
O Diabetes Mellitus (DM) tipo2 acomete, geralmente, pessoas após os 30 anos
(SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2008) e muitas vezes, é negligenciado
pelo próprio paciente por apresentar sintomas iniciais brandos. A grande questão é, mesmo
sendo silenciosa, traz elevações nos níveis de glicemia no sangue gerando complicações
irreversíveis a médio e longo prazo (HELENO, 2001). Estima-se que, os custos com os


Mestranda em psicologia - Universidade Metodista de São Paulo. Email: [email protected]
Doutora em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo.
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cuidados para a saúde de um indivíduo com essa patologia, são o dobro ou até mesmo o
triplo, do que para um indivíduo sem essa doença. Além dos custos financeiros,
consideram-se também custos intangíveis como: dor, ansiedade, inconveniência, perda de
qualidade de vida, impacto negativo com o diagnóstico e as dificuldades com o tratamento.
Com isto, devido às complicações crônicas, muitos indivíduos tornam-se incapazes ou
limitados no seu desempenho profissional (SOCIEDADE BRASILEIRA DE
DIABETES, 2008).
Segundo a American Diabetes Association (ADA) (2010), a maioria dos pacientes com DM
Tipo 2 apresenta, quando em um nível mais crônico da doença, sintomas como: muita sede
e fome, infecções frequentes, extrema fadiga e irritabilidade, alteração visual (visão
embaçada), furunculose, cortes e machucados que demoram a cicatrizar, dormências nas
mãos e pés; e ainda, sobrepeso ou obesidade (SOCIEDADE BRASILEIRA DE
DIABETES, 2008). Portanto, é importante que se observe o paciente como um todo
pensando em variáveis sócio-demográficas, psicológicas e fisiológicas.
O tratamento inclui estratégias, a reorganização de hábitos alimentares, suspensão do
fumo, aumento de atividade física como uma das primeiras terapias para a DM tipo2; só
quando necessário, inicia-se um tratamento medicamentoso com insulina e antidiabéticos
orais, como sufonilureais, repalglimida, metformina, glitazonas, acarbato (SOCIEDADE
BRASILEIRA DE DIABETES, 2002). Torna-se importante avaliar o grau da instrução
dos portadores de Diabetes, já que a condição da escolaridade pode dificultar o acesso às
informações e trazer menores oportunidades de aprendizagem quanto ao cuidado com a
saúde (GRILLO; GORINI, 2007). Segundo pesquisa que caracterizou variáveis sóciodemográficas e socioeconômicas, através de uma amostra com 113 pacientes que
apresentavam diabetes tipo2, verificou que, a maior ocorrência dos problemas de saúde se
apresenta em sujeitos com tempo de diagnóstico a partir de 5 anos (TAVARES et al.,
2007).
Pesquisas apontam dificuldades dos portadores de diabetes em aderir à dieta, realizar
atividade física, manter-se com peso adequado (SARTONELLI; FRANCO, 2003). Em
contrapartida, demonstram que a mudança no estilo de vida com a adoção da prática
regular de exercícios físico e uma dieta adequada, diminuem o risco da pessoa adquirir
diabetes e promove uma boa qualidade de vida. Assim, comprovam a necessidade da
implantação de programas de intervenção e multidisciplinares, que contemplem práticas
educativas para a conscientização da população a respeito da importância da adoção de
hábitos alimentares saudáveis e da prática de atividade física (MOLENA-FERNANDES,
2005).
O Diabetes Mellitus, pode ser pensado em diferentes âmbitos da saúde, não apenas como
uma nosologia. Para Bleger, “a função social do psicólogo clínico não deve ser basicamente
a terapia e sim a saúde pública e, dentro dela, a higiene mental. O psicólogo deve intervir
intensamente em todos os aspectos e problemas que concernem à psico-higiene e não
esperar que a pessoa adoeça para poder intervir. Estas são as verdades que não se põem
teoricamente em dúvida, mas que não se fazem ainda práticas na dimensão necessária”
(BLEGER, 1984, p.20).
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Heleno (1992) demonstra que, após a situação de crise, alguns pacientes aceitam o fato de
estarem diabéticos e seguem o tratamento. Isto acontece quando as emoções não são de
natureza extrema e assim, são capazes de utilizar as defesas, principalmente a identificação
projetiva, de modo flexível e reversível; são capazes de suportar a angústia do
desconhecido; contam com objetivos bons e completos firmemente estabelecidos em seu
mundo interno; e, são capazes de elaborar o luto. Mas, em outro grupo composto por um
número relevante de pessoas, não é capaz de ter uma atitude saudável em relação ao
diabetes.
Ao perder o corpo saudável, o paciente com diabetes sofre uma importante perda, que
equivale ao processo de luto. O modo como ele vai enfrentar esta nova situação, se é capaz
ou não de suportar a vivência dolorosa da doença e suas consequências e elaborar o luto,
pode determinar a aderência ou não do tratamento. Esse paciente vai enfrentar um tipo
especial de luto em função de sucessivas perdas, real ou fantasiosa no decorrer da doença
(HELENO, 2001). Neste caso, precisa ter capacidade para se adaptar a nova situação.
Para avaliar a adaptação do indivíduo, Simon (1983), desenvolve a EDAO – Escala
Diagnóstica Adaptativa Operacionalizada, que é aplicada, após colher do indivíduo
informações através da entrevista clínica preventiva. O critério adaptativo da escala se deu
pelas seguintes razões: a adaptação pareceu o melhor critério para avaliar o comportamento
dos indivíduos; todo comportamento pode ser avaliado segundo um significado adaptativo;
para alcançar os fins adaptativos o organismo precisa integrar seus diversos sistemas e fará
com um grau variado de consistência. As variações na integração dos sistemas e coerência
com seus fins vão permitir uma classificação qualitativa da adaptação (SIMON, 1983).
Sendo que, isto será percebido através da comunicação de estado de integração do
indivíduo nos setores bio-psico-sociais.
Cabe ressaltar que, a análise da qualidade da adaptação tem sua importância, considerandose não só a riqueza da conceituação da adaptação, mas a relevância da avaliação dos
indivíduos para as propostas de intervenções (HELENO; VIZZOTTO; BONFIM, 2007).
Por isso, considera-se relevante um estudo da adaptação de pacientes com Diabetes
Mellitus tipo 2. Assim, os dados poderão ser úteis para verificar: se existem respostas
pouco ou pouquíssimo adequadas e a quais setores elas pertencem, de modo que se possam
propor medidas de prevenção primária ou terciária, conforme o caso. Portanto, a presente
pesquisa tem por objetivo avaliar a qualidade da adaptação de pacientes com Diabetes
Mellitus tipo2.
Método
Participantes
Participaram desta pesquisa 100 pacientes com Diabetes Mellitus tipo2. Este número
abarca quase a totalidade de pacientes que frequentam duas Unidades Básicas de Saúde,
localizadas em um mesmo bairro, onde realizam controle glicêmico uma a duas vezes por
semana. A amostra foi escolhida por conveniência. Neste tipo de amostra nãoprobabilística, o pesquisador seleciona os membros mais acessíveis de uma população
(GIL, 1996).
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Os critérios para que o paciente pudesse participar da pesquisa diz respeito a existência de
Diagnóstico de Diabetes Tipo 2, apenas não poderiam participar da pesquisa caso houvesse
diagnóstico de outro variação da mesma doença. Nesse sentido, cerca de 45 pacientes não
puderam participar, pois eram diagnosticados com o Diabetes tipo 1.
Conforme estudo realizado por Malerbi e Franco (1992) no Brasil, nos anos de 1986 a
1989, sobre o perfil das pessoas com diagnóstico prévio de Diabetes, a prevalência da
doença, por faixa etária, no grupo de pessoas de 60 a 69 anos foi de 17,43%. Mostrou
também que existe semelhança na taxa para homens e mulheres. No estudo realizado por
Grillo e Gorini (2007), pode-se observar que existe o dobro de pessoas nesta faixa etária
(34,4%), sendo a maioria do sexo feminino. Na presente pesquisa observou-se que a faixa
etária representante da maioria é de 50 a 69 anos; é possível perceber um pequeno
aumento, se comparada com a pesquisa de Grillo e Gorini (2007). No entanto, apresenta o
dobro de indivíduos na faixa de 60 a 69 anos considerado por Malerbi e Franco (1992).
Quanto ao gênero, não houve uma diferença estatisticamente significante. Estes dados, no
entanto, demonstram a relevância desta pesquisa, porque demonstram, com o passar dos
anos a quantidade de portadores de diabetes está aumentando. Podemos a partir disto
inferir que a prevenção da diabetes não tem sido realizada de forma adequada.
Ambiente
Os dados foram coletados em duas Unidades Básicas de Saúde (UBS) do município de
Itaquaquecetuba, no estado de São Paulo. Estas foram designadas pelo Coordenador da
Atenção Básica do Município por serem próximas (mesmo bairro) e apresentarem grande
quantidade de pacientes portadores de Diabetes Tipo 2 os quais frequentam com certa
regularidade a unidade para medir sua glicemia. Os questionários foram aplicados em uma
sala tradicional de atendimento médico, a qual dispunha de uma mesa, três cadeiras, uma
maca, um biombo e uma estante.
Instrumentos
Para a coleta de dados desta pesquisa foram utilizados os seguintes instrumentos:
- Questionário de levantamento de dados sócio-demográficos dos participantes.
- Questionário Diagnóstico Adaptativo Operacionalizado – QDAO validado (GANDINI,
1997). Esse questionário é composto de duzentas e quatro perguntas, sendo que, para se
responder às questões do nº 1 ao 193 é necessário utilizar uma escala variável tipo likert de
1 a 5, em que 1 designa “discordo totalmente”; 2, “discordo”; 3, “nem concordo nem
discordo”; 4, “concordo”; e 5, “concordo totalmente”. Da questão 194 à 204, as respostas
deverão ter por base uma escala variável, também tipo likert, na qual 1 designa “nunca”; 2,
“raramente”; 3, “às vezes”;4, “frequentemente”; e 5, “sempre”. Esse questionário tem por
objetivo avaliar a eficácia adaptativa dos indivíduos nos setores Afetivo-relacional,
Produtividade, Sóciocultural e Orgânico.
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Procedimento
Foram convidados a participar da pesquisa pacientes que estavam realizando o destro na
enfermaria da unidade básica de Saúde. Aqueles que se enquadravam nos critérios da
pesquisa e concordaram em assinar o TCLE (Aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa
Prot. Nº 464818-11) foram encaminhados para uma sala de atendimento médico e
solicitados que pudessem responder, individualmente, ao Questionário sócio-demográfico e
ao Questionário Diagnóstico Adaptativo Operacionalizado, nesta ordem. O procedimento
de aplicar o questionário em uma sala reservada com o acompanhamento da aplicadora foi
devido à demanda destes pacientes. Os participantes apresentaram dificuldades para
responder o questionário devido a baixa escolaridade e dificuldades orgânicas (visão), as
quais fazia-se necessário o auxílio da pesquisadora. Assim, a aplicação do Questionário
realizou-se oralmente com esclarecimentos e auxílio, quando necessário/solicitado, pelo
participante.
Os resultados foram analisados com a utilização do software estatístico SPSS –Statistical
Package for the Social Sciences, versão para Windows, utilizando-se os procedimentos
propostos por Garcia (2011). Gandini (1997) propôs, a partir da EDAO, 210 itens que
compuseram a forma do questionário. Esses itens foram constituídos com base nos
conteúdos dos quatro setores da personalidade, sendo 107 do Afetivo-relacional (A-R), 38
de Produtividade (Pr), 31 do Sócio-cultural (S-C) e 34 do Orgânico (Or). Foram retirados
seis itens dos originais propostos por Gandini (1997), conforme proposta de Garcia (2011),
totalizando 204 questões.
Resultados
Inicialmente foi realizado análises descritivas das variáveis sócio-demográficas dos
participantes (Tabela 1).
Para a descrição do Questionário Diagnóstico Adaptativo Operacionalizado utilizou-se a
descrição de frequência e porcentagem. Na tabela 2 descreve-se a distribuição dos
participantes segundo as características do Diabetes e tratamento. As características do
tratamento avaliadas nesta pesquisa foram: tempo de diagnóstico, tipo de dieta, atividade
física e tipo de tratamento realizado.
Tabela 1. Distribuição dos participantes segundo as características sócio-demográficas
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Variáveis
Gênero
Faixa etária
Estado Civil
Renda Familiar
Fonte de Renda
Escolaridade
Naturalidade
Níveis
Feminino
Masculino
26 à 39 anos
40 à 49 anos
50 à 59 anos
60 à 69 anos
70 à 79 anos
80 à mais anos
Solteiro
Casado
Separado
Viúvo
Um salário mínimo
Dois salários mínimos
Três salários mínimos
Quatro salários mínimos
Cinco ou mais salários mínimos
Aposentado/Pensionista
Trabalho autônomo
Carteira Assinada
Outros
Fundamental Incompleto
Fundamental Completo
Ensino Médio Incompleto
Ensino Médio Completo
Superior Incompleto
Nordeste
Sudeste
Centro-Oeste
Sul
Outro País
f
53
47
3
6
33
38
16
3
07
67
12
14
50
30
12
05
03
58
13
04
25
73
08
06
10
03
45
47
04
03
01
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%
53%
47%
3%
6%
33%
38%
16%
3%
07%
67%
12%
14%
50%
30%
12%
05%
03%
58%
13%
04%
25%
73%
08%
06%
10%
03%
45%
47%
04%
03%
01%
84
Tabela 2. Distribuição dos participantes segundo as características do Diabetes e
tratamento
Variáveis
Tempo de diagnóstico
Tipo de Dieta
Atividade Física
Tipo de tratamento
f
Níveis
Até 11 meses
1 a 2 anos
3 a 5 anos
6 a 9 anos
Mais de 10 anos
Boa
Favorável
Pobre
Não realiza
Realiza irregularmente
Realiza regularmente
Hipoglicemiante Oral
Insulina
Dieta
%
08%
09%
23%
14%
46%
05%
22%
73%
64%
17%
19%
59%
39%
02%
08
09
23
14
46
05
22
73
64
17
19
59
39
02
Na tabela 3 descrevem-se a porcentagem de participantes classificados quanto a adequação
de suas respostas, segundo os setores de adaptação Afetivo-Relacional, Sócio –Cultural,
Orgânico e Produtividade.
Tabela 3. Porcentagem de participantes na adequação de respostas (n=100)
Resposta
Adequada
Pouco Adequada
Pouquíssimo Adequada
Total
Setor A-R
04%
96%
100%
Setor Pr
03%
93%
04%
100%
Setor S-C
100%
100%
Setor Or
19%
81%
100%
Os resultado dos cruzamentos dos dados referentes ao Grupo 3 (Ineficaz Moderado) da
classificação diagnóstica dos participantes nos grupos adaptativos com os dados das
variáveis tempo de diagnóstico, tipo de dieta e atividade física, que estão relacionadas ao
setor orgânico (tabela 4).
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Tabela 4. Diabetes e auto-cuidado considerando o setor orgânico.
Variáveis
Tempo de diagnóstico
Tipo de Dieta
Atividade Física
Níveis
Até 11 meses
1 a 2 anos
3 a 5 anos
6 a 9 anos
Mais de 10 anos
Boa
Favorável
Pobre
Não realiza
Realiza irregularmente
Realiza regularmente
f
08
08
21
14
40
04
22
65
54
18
14
%
08,8%
08,8%
23,1%
15,4%
44,0%
04,4%
24,2%
71,4%
64,8%
19,8%
15,4%
Discussão
Os dados da tabela 1 mostraram, dos 100 portadores de Diabetes Mellitus tipo2, que
responderam ao questionário, a maior parte está atualmente casada e a renda familiar é na
maioria de até dois salários mínimos. A fonte de renda dos participantes se concentra,
principalmente, em aposentado e pensionista, representando 58% da amostra. Se
observarmos que a faixa etária se encontra principalmente entre 60 e 69 anos, e é uma faixa
na qual ainda a pessoa é considerada produtiva, podemos considerar um problema para o
Estado (INSS), ou seja pessoas que poderiam ser contribuintes tornaram-se
prematuramente gastos para o Estado/Município.
A escolaridade destes participantes é, em sua maioria, Fundamental Incompleto (73%).
Este resultado corrobora os achados de Tavares et al.(2007) e Souza et al. (2003). A
importância de analisar o grau de instrução se deve ao fato de que a condição da
escolaridade pode dificultar o acesso às informações e trazer menores oportunidades de
aprendizagem quanto ao cuidado com a saúde, pois os pacientes com diabetes precisam
desenvolver, em grande parte, o seu próprio cuidado (GRILLO; GORINI, 2007).
A naturalidade dos participantes está centrada, principalmente, em duas regiões do Brasil,
45 % no Nordeste e 47% no Sudeste. Este dado, é importante para saber o tipo de cultura
que estão inseridos estes participantes. Estes indicam a contribuição da cultura em
determinados comportamentos, como por exemplo, a rotina alimentar.
Os dados sobre a Diabetes mostram que o tempo de diagnóstico da doença varia muito,
mas grande parte tem diagnóstico acima de 10 anos. Portanto indica que essa população
tem maior risco de complicações conforme pesquisa feita por Tavares et al.(2007), que
verificou maior ocorrência dos problemas de saúde a partir de 5 anos do diagnóstico.
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Apenas 5% dos participantes dizem ter uma dieta boa, com aderência cuidadosa a dieta
com medida do alimento não menos que uma vez por mês e quase nunca indiscriminações
dietéticas. Estes resultados corroboram os encontrados por Grillo e Gorini (2007).
Observa-se que os riscos para complicação aumentam em pacientes que não são aderentes
a uma dieta equilibrada (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2003). =
Quanto a atividade física, 64% dos participantes dizem não realizar nenhum tipo de
atividade. Algumas evidências sugerem que o sedentarismo, favorecido pela vida moderna é
um fator de risco tão importante quanto à dieta inadequada na etiologia da obesidade, e
possui uma relação direta e positiva com o aumento da incidência do diabetes tipo2 em
adultos, independentemente do índice de massa corporal, ou de história familiar de
diabetes. Além disso, a obesidade tem sido apontada como um dos principais fatores de
risco para o diabetes tipo2. Estima-se que entre 80% e 90% dos indivíduos acometidos por
esta doença são obesos (SARTORELLI; FRANCO, 2003).
Atividade física e a realização de uma dieta adequada têm grande importância no
tratamento do Diabetes Mellitus tipo 2. Em uma revisão bibliográfica realizada por
Molena-Fernandes et. al. (2005)acerca da influência da atividade física e da dieta no
tratamento e prevenção do Diabetes Mellitus tipo 2, concluiu-se que a mudança no estilo
de vida com a adoção da prática de exercícios físicos regularmente e uma dieta adequada
diminuem o risco da pessoa adquirir diabetes e promove uma boa qualidade de vida.
Ressalta também, que considerando o aumento da prevalência do DM tipo 2 na população
e seus efeitos morbimortalidade, faz necessária a implantação de programas de intervenção
e multidisciplinares que contemplem práticas educativas para a conscientização da
população a respeito da importância da adoção de hábitos alimentares saudáveis e da
prática de atividade física regular.
Os tratamentos realizados pelos participantes desta pesquisa são: Hipoglicemiante Oral
(59%), Insulina (39%) e por Dieta (2%). No entanto, em uma pergunta aberta que
abordava se o paciente relaciona o aparecimento do Diabetes a algum fato que aconteceu
em sua vida, os mesmos relacionam a diversos fatores. Estes fatores foram indicados nas
seguintes categorias: 1. Parentes com Diabetes (25%); 2.Consumo de álcool e fumo em
excesso (07%); 3. Problema de vista (1%); 4. Ingestão de açúcar em excesso (5%); 5. Idade
avançada (3%); 6. Excesso de peso (1%), 7. Não sabe (35%); 8. Outros (13%).Boa parte
dos participantes relaciona o aparecimento do Diabetes a um caráter genético, ou seja,
associam o aparecimento da doença à existência da mesma em outros parentes. Em grande
parte os participantes respondem a partir dos excessos, ou seja, apenas tendem a diminuir
quando excedem na glicemia, e assim, repensam de forma simplória e genérica sobre os
hábitos que julgam estarem lhes prejudicando por serem excessivos.
Quando questionados sobre a existência de outra doença além do Diabetes 18% relatam
que não apresenta outra doença, 43% relatam apresentar apenas hipertensão, 27% relatam
ter hipertensão associada a outras doenças (Artrose, A.V.C., Bursite, Câncer, Colesterol,
Hérnia, Osteoporose, Cardiopatia, Bronquite, Enxaqueca, Olhos, Trombose, Gastrite,
Tireoide, Reumatismo, Renal e Lúpus). O restante apresenta doenças isoladas, 1% tem
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Bronquite, 4% tem alguma Cardiopatia, 2% algum problema de coluna, 2% Hérnia, 2%
Labirintite, 1% Tireoide e 2% Gastrite.
Existe consenso entre os autores, de que a hipertensão arterial é cerca de duas vezes mais
frequente entre indivíduos com diabetes, quando comparados à população em geral, e está
presente em 50% dos pacientes no momento do Diagnóstico da DM tipo 2 (DAVIDSON,
2001). Segundo Grillo e Gorini (2007), foram analisadas complicações micro e
macrovasculares, decorrentes da doença, como as complicações oftalmológicas,
cardiovasculares, renais e neurológicas e pode-se afirmar que a DM constitui um dos
principais fatores de risco para as doenças do aparelho circulatório. Entre as complicações
mais comuns estão o infarto agudo de miocárdio (IAM), o acidente vascular encefálico
(AVE), insuficiência renal crônica (IRC), as amputações de pés e pernas e a cegueira
definitiva. Sendo assim, dos resultados apresentados pelos participantes, o que está
relacionado à Diabetes são a hipertensão, A.V.C., colesterol, doenças relacionadas a visão e
à problemas renais.
Subsequente, os resultados apresentados no QDAO, que avalia a eficácia adaptativa dos
participantes relacionados acima, foram os apresentados na Tabela 3. Como demonstrado,
a maioria dos participantes encontra-se com respostas pouco adequadas. E o Setor
Produtividade, diferente dos outros setores, apresenta respostas pouquíssimo adequadas.
Justamente um dos setores que Simon (2005) julga ser um dos mais importantes,
juntamente com A-R, no desenvolvimento humano. Enquanto que o setor Orgânico, o
qual deveria aparecer com respostas pouco e pouquíssimo adequadas, mostra uma resposta
adequada com uma porcentagem significativamente maior que nos outros setores.
Considerando se tratar de indivíduos portadores de Diabetes Mellitus tipo2 e que possuem,
em sua maioria, outras doenças associadas. Com este resultado podemos levantar a
hipótese de negação da doença. Após uma situação de crise, Heleno (1992), mostra que
alguns pacientes não aceitam o fato de estarem com diabetes e seguem o tratamento. Mas,
outro grupo composto por um número relevante de pessoas, não é capaz de ter uma
atitude saudável em relação ao diabetes. Este fenômeno parece estar associado a maneira
como o paciente elabora o luto e aceita a doença. Este refere-se a perda do objeto amado
ou de parte valiosa do self. No caso do paciente com diabetes, podemos dizer que o fato
dele perder o corpo sadio equivale ao luto. O modo como ele enfrenta esta nova situação,
se é capaz ou não de suportar a nova vivência dolorosa da doença e suas consequências, e
elaborar o luto pode determinar a aderência ou não do tratamento (HELENO, 1992).
Considerando que os resultados de todos os setores estão na faixa do Pouco Adequado, as
respostas destes participantes estão atendendo a dois critérios – soluciona o problema, traz
satisfação, mas gera conflito, ou soluciona o problema, não traz satisfação e não gera
conflitos. Podemos hipotetizar que este tipo de resposta mostra uma tendência a piora da
eficácia adaptativa, pois os conflitos gerados pelas respostas acumulam-se e há o
predomínio de fatores negativos (SIMON, 1989).
Na classificação diagnóstica dos participantes nos grupos adaptativos foi possível verificar
que dos portadores de Diabetes participantes da pesquisa estão com Adaptação Ineficaz
Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3
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Moderada (Grupo 3 – 91%), os demais se alocam em Adaptação Eficaz (Grupo 1 – 02%),
Adaptação Ineficaz Leve (Grupo 2 – 03%), Adaptação Ineficaz Severa (Grupo 4 – 04%).
Dos 100 portadores de Diabetes Mellitus tipo2 que responderam o questionário apenas 2%
apresentaram Adaptação Eficaz (Grupo 1). Segundo Simon (2005) a descrição clínica de
indivíduos no Grupo 1 é de personalidade “normal” e raros sintomas neuróticos e
caracterológicos. Assim, podemos entender que estes 2 participantes possuem maturidade
emocional, força de caráter, capacidade de lidar com emoções conflitantes, equilíbrio entre
vida interna e adaptação à realidade e uma bem-sucedida fusão das diferentes partes da
personalidade em um todo. Segundo Klein (1960) estes elementos são componentes de
uma personalidade bem integrada, os quais formam os alicerces da saúde mental,
predominando a capacidade de amor frente à capacidade de ódio.
Em seguida, observou-se que 3% foram classificados com Adaptação Ineficaz Leve (Grupo
2). Segundo Simon (2005) a descrição clínica destes sujeitos no Grupo 2 é apresentar
sintomas neuróticos brandos, ligeiros traços caracterológicos e algumas inibições. A maioria
91% foi classificada com Adaptação Ineficaz Moderado (Grupo 3). Os indivíduos
localizados neste grupo, segundo Simon (2005) apresentam alguns sintomas neuróticos,
inibição moderada e alguns traços caracterológicos. Mas, a análise mais detalhada mostrou
que existe uma tendência para diminuição da eficácia adaptativa deste Grupo, pois os
resultados estão mais próximos do grupo 4 do que para o aumento da eficácia que seria
Grupo 3.
Um indicador ruim é de que 4% dos indivíduos foram classificados com Adaptação
Ineficaz Severa (Grupo 4). Segundo Simon (2005) os indivíduos localizados neste grupo
apresentam sintomas neuróticos mais limitadores, inibições restritivas e rigidez de traços
caracterológicos.
É importante ressaltar, que em diversos momentos na aplicação do questionário fui
questionada a respeito de como se alimentar de forma adequada e porque o médico não
explicava o que fazer para melhorarem da doença. Existe uma carência muito grande no
que diz respeito à Educação em Diabetes.
Nesta pesquisa o objetivo foi de avaliar a eficácia adaptativa em portadores de Diabetes
tipo 2 e a partir dos dados levantados nos questionários sócio-demográficos e do QDAO,
observou-se que os pacientes apresentaram um prognóstico desfavorável, sendo que, todos
os setores de adaptação estiveram respostas Pouco Adequados.
Considerando que 73% dos participantes apresentaram baixa escolaridade, este dado
dificulta o acesso às informações e traz menores oportunidades de aprendizagem quanto
aos cuidados com a saúde e busca dos direitos, pois os pacientes diabéticos precisam
desenvolver o seu auto cuidado. Este cuidado envolve uma dieta adequada e realizar
atividade física. No entanto, 73% dos participantes apresentam dieta pobre e 64% não
realiza nenhum tipo de atividade física. E, considerando que 60% dos participantes tem
mais de cinco anos de diagnóstico da doença, inferimos que o prognóstico não é favorável
devido a todas as variáveis determinantes da piora do portador de Diabetes, como por
exemplo, a falta de controle da glicemia, da alimentação, não realização de atividades físicas
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e a falta de noções sobre o seu auto cuidado relativo à doença que possui e, as associadas a
ela também.
Conclusão
Os dados apresentados sobre este pequeno recorte de participantes portadores de Diabetes
Mellitus tipo 2 de um Município de Itaquaquecetuba - SP, nos leva a refletir acerca da
necessidade de políticas públicas eficazes na Educação em Diabetes. Mesmo se tratando de
uma faixa carente da população, se executado de forma eficaz um programa como o
PRAIDI (Programa Integrado de Educação em Diabetes), realizado na Universidade
Metodista de São Paulo, que tem como objetivo de educar e orientar pacientes com
diabetes, poderão ter prognósticos melhores.
Se tratando de uma pesquisa com o objetivo de avaliar a qualidade da eficácia adaptativa
em portadores de Diabetes Mellitus tipo 2, o levantamento mostrou que o prognóstico é
desfavorável, pois os indivíduos se localizam no grupo 3 de diagnóstico adaptativo
tendendo ao grupo 4. Não podemos desconsiderar os dados sócio-demográficos, que tem
interferência no processo adaptativo. Se as condições sociais e demográficas fossem outras
poderíamos ter um prognóstico, talvez, um pouco mais favorável. Já que se torna um fator
agravante estes participantes serem pessoas com pouca escolaridade, com renda mínima e
muitos são idosos aposentados. Assim, é possível concluir que os dados nos mostram a
insuficiência da saúde pública e a enorme necessidade em trabalhar com prevenção
primária a fim de diminuir a incidência de casos de Diabetes no Município. Além de
promover a educação em Diabetes para os portadores da doença, a fim de melhorar o
prognóstico da doença.
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Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3
91
Literatura infantil: a arte do convencimento de
sua importância no desenvolvimento das
atividades de leitura
EDUARDO ALBERTO DA SILVA , LESLIE FELISMINO BARBOSA
Resumo
O objetivo deste artigo foi analisar, através de levantamento bibliográfico em
artigos,periódicos e livros da área, a importância da leitura e do uso da Literatura Infantil
no desenvolvimento das atividades de leitura na Educação Infantil. O universo da leitura é
um campo amplo de prazer, de conhecimentos e de ampliação dos limites da percepção do
mundo que rodeia o leitor. Mais ainda, permite viagens a lugares e temas por mais distantes
e desconhecidos que estejam e sejam. No contexto da educação infantil, a leitura abre
espaço para infinitas descobertas e permite que a criança seja inserida e se contextualize
com o universo ainda estranho e abra um mundo de sensações e perspectivas a ser
adquiridas e desfrutadas. O professor usando das infinitas possibilidades oferecidas pela
leitura e pela Literatura Infantil, deve transformar o ato de ler em prazer e estímulo ao
gosto pela fascinante viagem que a criança pode encontrar na leitura. Assim, após o
trabalho percebeu-se que o professor pode oportunizar formas atraentes de incluir as obras
literárias nos conteúdos cotidianos torna-se um desafio ao professor, para que as crianças
adquiram o hábito da leitura, não de forma mecânica, mas sentindo a cada frase, o prazer
da descoberta e da ampliação de sua visão de mundo e de novas formas de estar nele
inserido.
Palavras-chave: educação; leitura; literatura infantil.
Introdução
Da observação da realidade de muitas escolas, sobretudo na Educação Infantil e séries
iniciais do Ensino Fundamental, denota-se que a instituição escolar, em grande parte das
vezes, não tem conseguido persuadir os alunos acerca da importância das atividades em
torno da leitura.
Assim, o objetivo central deste artigo consiste em avaliar a importância da literatura
infanto-juvenil na consolidação de uma ambiente educativo que estimule a prática de leitura
em crianças e adolescentes.
Por meio da leitura, percorre-se um caminho marcado por descobertas e prazeres, que
extrapolam os limites do fazer pedagógico e preenchem todo o universo do leitor, de forma


Mestrando em Psicologia da Saúde pela Universidade Metodista de São Paulo.
Faculdade Pitágoras.
Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3
92
a contemplar uma gama infinita de possibilidades que preenchem, de forma irrestrita, todas
as possibilidades de acrescentar novos pensamentos aos já existentes, de derrubar
argumentos com coerência e imaginação.
Em resposta à necessidade de tomar a leitura como prática cotidiana essencial, Freire (1988,
p. 13) pontifica que: “Quanto mais leio, mais descubro o tamanho do mundo e mais tenho
desejo de conquistá-lo.”
Neste contexto, é importante estabelecer as bases que conduzem ao reconhecimento da
importância do ato de ler como forma de tornar fecundo o aprendizado, invocando um
mundo no qual a reflexão sobre os textos assuma proporções infinitas. “Esperarei por ti
como o jardineiro que prepara o jardim para a rosa que se abrirá na primavera” (PAULO
FREIRE).
A epígrafe de Freire evoca a imagem da pessoa que, de posse de um livro, sente todo o
perfume das imagens e das palavras, como forma de perceber que as oportunidades da
leitura são irrestritas, ao despertarem no ser humano o desejo de crescimento, de
superação, de intervenção no próprio destino.
A aversão pela leitura atinge níveis altos de alunos, evidenciando-se ao senso comum que as
pessoas não têm interesse ou não se sentem motivadas para ler. Com a preocupação de
resgatar o aluno para a prática da leitura – leitura consciente, significativa, envolvente,
criativa, que incite a motivação, que possibilite uma leitura de mundo – a literatura infantil
pode ser uma grande aliada, desde que o professor tenha conhecimentos teóricos e
metodológicos para isso e saiba utilizar-se deles.
O estudo da leitura e da literatura infantil, como fonte de prazer, significados, alavanca para
um leitor motivado é um dos principais focos de atenção de um pedagogo interessado em
saber como anda sua prática e a de seus amigos profissionais da mesma área, bem como do
aprendizado do aluno, aprendizado este que deve ser para a vida toda. Como Abramovich
(2002, p.16) diz: “ser leitor é ter um caminho absolutamente infinito de descoberta e de
compreensão do mundo”, podemos assim ter alguma idéia da relevância do tema que
trataremos.
O trabalho de leitura possibilita a formação de leitores, com base na introdução de textos
diversificados, porquanto o mundo está em constante mudança. No âmbito escolar
percebemos que, a leitura se apresenta como uma atividade que afasta o educando do seu
mundo, tornando a prática pedagógica voltada para o ensino e o incentivo da leitura
distanciada e ineficaz.
Na obtenção destas informações, foi realizada uma cuidadosa revisão de literatura para
fundamentar o estudo realizado acerca dos aspectos ideológicos da literatura infantil nas
séries iniciais, do ensino fundamental em escolas da rede pública: uma etnografia da prática
- pedagógica da leitura.
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93
Estimulando o prazer à leitura
A formação do professor não inclui suficientemente conteúdos relacionados à leitura
literária de modo que possam sustentar um ensino eficiente e prazeroso. Quando na
prática, o professor vê-se desorientado quanto à forma de organizar experiências de leitura
através da literatura em sala de aula.
“E se, em vez de exigir a leitura, o professor decidisse de repente partilhar
sua própria felicidade de ler? A felicidade de ler? O que é isso, felicidade
de ler? Questões que pressupõe um bem conhecido cair em si mesmo, na
verdade! E para começar, vamos à confissão dessa verdade de que vai
radicalmente contra o dogma: a maior parte das leituras que nos formaram
não foram feitas a favor, mas contra. Líamos, e lemos, como quem se
protege, como uma recusa, como uma oposição” (DANIEL PENNAC).
A preocupação em torno da forma crítica de pensar pode ser mais bem entendida a partir
da seguinte reflexão de Paulo Freire:
Assim como na alfabetização não nos interessa ensinar ao Povo um puro be-a-bá, não nos
interessa também, na pós-alfabetização, transferir ao Povo frases e textos para ele ir lendo
sem entender. A reconstrução nacional exige de todos nós uma participação consciente e a
participação consciente, em qualquer nível da reconstrução nacional, exige ação e
pensamento. Exige prática e teoria em unidade (FREIRE, 1988, p. 72).
É somente através da leitura crítica de muitos textos escritos, sobre as mais variadas
questões de diferentes ângulos, que se pode avançar como seres humanos, assumindo
posições que se passa a defender conscientemente e pelas quais se assume total
responsabilidade. Depreende-se, assim, que o leitor precede o escritor. As pessoas que lêem
e escrevem habitualmente ocupam alternadamente, em relação à escrita, os papéis de leitor
e escritor.
A esse respeito, Lajolo (1997, p. 7) afirma que:
“Do mundo da leitura à leitura do mundo, o trajeto se cumpre sempre,
refazendo-se, inclusive, por um vice-versa que transforma a leitura em
prática circular e infinita. Como fonte de prazer e de sabedoria, a leitura
não esgota seu poder de sedução nos estreitos círculos da escola.”
Neste sentido, é coerente abordar a questão do poder e do prazer em relação à prática da
leitura, como maneira privilegiada de a pessoa conseguir uma melhor compreensão de si
própria e do mundo que a rodeia. Ao desfrutar da grande cultura que a humanidade vem
acumulando em seus esforços para vencer dificuldades, supera-se a noção de que leitura é
apenas prazer. Entendida como via para o conhecimento e, possivelmente, para a
sabedoria, ler implica disciplina e um longo aprendizado.
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É no encontro entre o poder e o prazer que reside a importância da leitura na formação de
indivíduos críticos e capazes de transformar a realidade na qual estão inseridos. Neste
amplo contexto, é necessário reconstruir o saber da escola e a formação do educador,
especialmente no que concerne ao aprendizado da leitura e ao domínio necessário do aluno
sobre ela em diferentes situações da vida prática diária.
Verifica-se o caminho histórico da leitura através dos tempos, de maneira a ser
compreendido como ela passou da forma de aprendizagem à forma de fruição. Evidenciarse que a sua prática desperta o interesse e a atenção das crianças, desenvolvendo nelas,
entre outras coisas, a imaginação, a criatividade, a expressão das idéias, o prazer pela leitura.
Chartier (1998), entre as limitações e a liberdade na leitura, chama a atenção para o caráter
histórico da experiência humana de ler, ostentando a aventura social da leitura, que se
traduz nas experiências humanas marcadas nos modos de lembrar e recordar dos sujeitos
que procuravam diferentes formas de leituras. Suas investigações indicam que a
consideração do livro como objeto vivo, do ambiente, como conteúdo educacional e da
memória como elemento de leitura do mundo, incorporou diferentes modelos explicativos
de leitura na dinâmica social de cada época, aumentando os processos relacionados à
informação e à comunicação humana, mudando o panorama estático, conservador para um
panorama modular e flexível.
Entre os vários modos de leitura, Chartier (1998) pontua a revolução que os textos
eletrônicos vêm fazendo com as suas idéias contemporâneas, ofertando mais comunicação
e informação, cujas contribuições promoveram impactos no delineamento de questões
sobre o ato de ler e novas propostas para a apropriação do gosto de ler.
Foucambert (1994, p. 5) avalia a leitura como:
“[...] um ato questionador, pois ler significa ser questionado pelo mundo
e por si mesmo. O leitor tem acesso à escrita e constrói as suas respostas
a partir das informações que já tinha adquirido as que recebem no ato da
leitura. O autor compara o aprendizado da leitura a adivinhar e afirma
que a prática literária produz o aumento dos acertos.”
Desta forma, a leitura é construída, desenvolvida e aperfeiçoada. O seu aprendizado é
contínuo, sendo a escola um momento na formação do leitor, devendo prosseguir com o
seu desenvolvimento.
A leitura é atividade fundamental desenvolvida pela escola para a formação dos alunos.
Silva (1988, p. 63) confirma esta idéia ao afirmar que:
“Os professores precisam desenvolver uma intimidade com os textos
utilizados junto a seus alunos e possuir justificativas claras para a sua
adoção. E mais: precisam conhecer a sua origem histórica e situá-los
dentro de uma tipologia. Essa intimidade e esse conhecimento exigem
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que os professores se situem na condição de leitores, pois sem o
testemunho vivo de convivência com os textos ao nível da docência não
existe como alimentar a leitura junto aos alunos.”
Formalmente, cabe à escola estabelecer relações entre leitura e indivíduo, ou ainda, entre
leitura/escrita/aluno, aprofundando os níveis de desempenho.
Uma premissa básica para a formação de alunos leitores e que o professor tem que ser
também, antes de tudo, um leitor. Ele só trabalhará bem com a leitura se for um modelo
positivo de relação com o ato de ler. Ele precisa gostar de ler, fazer com que as crianças
leiam, ler para elas, ler com elas e saber ouvir a leitura delas. O professor precisa ter
preparo teórico e metodológico e saber que a escola é o lugar natural da leitura.
Zilbermann e Silva (1990, p. 43) afirmam que:
“A leitura pode ser tudo (ou pelo menos muito) ou pode ser nada,
dependendo da forma como for colocada em sala de aula. Tudo, se
conseguir unir sensibilidade e conhecimento. Nada, se todas as suas
promessas forem frustradas por pedagogias desencontradas.”
Visto que o bom leitor é formado desde pequeno, existe um grande desafio para o
professor hoje, pois a escola tem se centrado especialmente no aspecto cognitivo da
criança, esquecendo, quase que completamente, da arte, do prazer do lúdico, do
encantamento da leitura, das coisas que suscitam no imaginário, o que normalmente
despertam a vontade e o hábito pela leitura. A leitura possibilita ao leitor uma grande e
vasta fonte de conhecimentos pessoais e sociais. Possibilita que o leitor viaje em seu íntimo,
que compreenda coisas do seu mundo e do mundo dos outros. Neste processo de
enriquecimento mútuo, a leitura deixa de ser a mera repetição ou reprodução de
significados institucionalizados e petrificados, para se constituir em dinâmica viva,
democrática e produtiva, levando à concretização de um ou mais circuitos de leitura em
sala de aula e, talvez, em todos os quadrantes da escola.
É função escolar ensinar a ler. A escola deve ainda, ampliar o domínio dos níveis de leitura
e escrita e orientar a escolha dos materiais de leitura. Para isso, desde as séries iniciais, a
escola deve trabalhar com textos de diversas naturezas, com textos que surjam do
cruzamento de linguagens variadas, e com textos da literatura que exploram a dimensão do
imaginário coletivo e pessoal. Nessa direção, Alves (2001, p. 112) ensina que:
Todo texto literário é uma partitura musical. As palavras são as notas. Se aquele que lê é um
artista, se ele domina a técnica, se ele surfa sobre as palavras, se ele está possuído pelo texto
– a beleza acontece. E o texto se apossa do corpo de quem ouve. Mas se aquele que lê não
domina a técnica, se ele luta com as palavras, se ele não desliza sobre elas – a leitura não
produz prazer: queremos que ela termine logo. Assim, quem ensina a ler, isto é, aquele que
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lê para que seus alunos tenham prazer no texto, tem de ser um artista. Só deveria ler aquele
que está possuído pelo texto que lê. Por isso eu acho que deveria ser estabelecida em
nossas escolas a prática de “concertos de leitura“. Se há concertos de música erudita, jazz e
MPB – por que não concertos de leitura? Ouvindo, os alunos experimentarão os prazeres
do ler. E acontecerá com a leitura o mesmo que acontece com a música: depois de ser
picado pela sua beleza é impossível esquecer. Leitura é droga perigosa: vicia... Se os jovens
não gostam de ler, a culpa não é deles. Foram forçados a aprender tantas coisas sobre os
textos - gramática, usos da partícula “se“, dígrafos, encontros consonantais, análise sintática
- que não houve tempo para serem iniciados na única coisa que importa: a beleza musical
do texto literário: foi-lhes ensinada a anatomia morta do texto e não a sua erótica viva. Ler
é fazer amor com as palavras. E essa transa literária se inicia antes que as crianças saibam os
nomes das letras. Sem saber ler elas já são sensíveis à beleza. E a missão do professor?
Mestre do kama-sutra da leitura.
A leitura abre as portas para um mundo infinito de conhecimentos reais e imaginários.
Daniel Pennac, professor e escritor francês, investigador do mundo da leitura, em Como um
romance, mostra que essa ligação se perde, normalmente quando o livro deixa de ser “vivo”,
quando a leitura encantadora, instigante, passa a ser parte obrigatória num “bom” currículo
escolar. Quando o livro torna-se dever, tudo aponta para um afastamento desta tarefa.
Páginas enormes, pesadas, com letras pequenas, falta de diálogos do texto, a distância
temporal dos personagens.
Freire (1986, p. 48) diz que:
“Existe uma relação mútua entre a leitura do mundo e a leitura da
palavra, entre a linguagem e a realidade, entre o texto e o contexto. Por
acreditar que essa relação é irrefutável, somente consigo atribuir
importância e relevância às práticas de leitura escolar quando o leitor é
elevado à condição de sujeito, trabalhando ativamente com seus pares na
busca de compreensão de diferentes aspectos da realidade através dos
textos. Esse trabalho requer movimentos dinâmicos entre os textos e as
experiências de vida dos leitores e vice-versa; na ausência desses
movimentos, vistos aqui como geradores de significação/compreensão e
passíveis de ser orientadas pedagogicamente pelo professor, a leitura
perde em vitalidade, adquire o estatuto de "bancária" e dificilmente se
encarna na vida de uma pessoa.”
A leitura apresenta várias dimensões: lê-se para ampliar o próprio conhecimento, para
conseguir informações, lê-se para saber mais sobre o universo, lê-se em busca de
descontração e diversão, e utilizando a literatura de ficção e poesia, lê-se para chegar ao
"prazer do texto". Atividade que resulta de um trabalho intelectual que se instaura entre
leitura e sua experiência prévia de mundo.
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Pennac (1998, p. 80) sugere que: “A escola dificilmente estimula o aluno para o exercício da
leitura, a não ser quando condicionado a tarefas de ordem pragmática.”
A leitura e a literatura infantil
É imenso e multifacetado o universo da literatura infantil e juvenil. Nesse sentido:
“Ler, conhecer e entender as obras - se possível as boas – de literatura infantil e juvenil é
dever de ofício de todos os professores do ensino fundamental e médio. Isto porque eles
são mediadores e informantes privilegiados de leitura junto aos estudantes” (GREGORIN
FILHO, PINA; MICHELLI, 2011p. 12).
Na maioria dos livros que buscam teorizar o assunto, há o questionamento: a literatura
infantil é instrumento pedagógico ou é arte.
Coelho (2000, p. 9) assim discute sobre o tema:
“Literatura infantil é, antes de tudo, literatura; ou melhor, á arte:
fenômeno de criatividade que representa o mundo, o homem, a vida,
através da palavra. Funde os sonhos e a vida prática, o imaginário e o
real, os ideais e sua possível/impossível realização...”
O que se observa é que o professor não tem se utilizado adequadamente da literatura
infantil para desenvolver a leitura nos seus alunos. É como deixar uma faceta da beleza do
conhecimento e do encantamento escondida. Talvez, quando o professor se der conta disto
tudo é tempo de mudar e fazer a diferença na vida do aluno. O professor, que pode ser
também um contador de histórias, tem um grande e importante papel: fazer com que o
aluno deixe de ser apenas um telespectador passivo, para tornar-se um leitor que dialogue
com o texto. Lajolo (1994, p. 15) afirma que “Ou o texto dá sentido ao mundo, ou ele não
tem sentido nenhum. E o mesmo se pode dizer das nossas aulas.”
Possenti (1991, p. 34) afirma que:
“Na escola, praga mesmo é o professor que não lê. Quem não lê não
sabe o que está perdendo, e, portanto não tem por que aconselhar ou
criar oportunidades para que outros leiam.”
É tarefa do educador, selecionar textos de boa qualidade, com diversidade de natureza. Os
textos devem ser envolventes e sedutores. O professor deve fugir de escritas facilitadoras,
lineares, mal produzidas. O texto bom é denso e se abre a diferentes níveis de abordagem.
Neste amplo contexto, persiste a necessidade de desenvolver, entre os professores, uma
intimidade com os textos utilizados junto a seus alunos e possuir justificativas claras para a
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sua adoção. Ademais, precisam conhecer a sua origem histórica e situá-los dentro de uma
tipologia. Essa intimidade e esse conhecimento exigem que os professores se situem na
condição de leitores, pois sem o testemunho vivo de convivência com os textos ao nível da
docência não existe como alimentar a leitura junto aos alunos.
No Brasil, a Literatura Infantil só chegou no final do século XIX. A literatura oral
prevaleceu até esse período com o misticismo e o folclore das culturas indígenas, africanas
e européias. No final do século XX, Carlos Jansen e Alberto Figueiredo Pimentel, foram os
primeiros brasileiros a se preocuparem com a Literatura Infantil no país, traduzindo as mais
significativas páginas daqueles hoje considerados “Clássicos Infantis”.
Em direção oposta, o caminho para a redescoberta da Literatura Infantil, em nosso século,
foi aberto pela Psicologia Experimental que, revelando a Inteligência como um elemento
estruturador do universo que cada indivíduo constrói dentro de si, chama a atenção para os
diferentes estágios de seu desenvolvimento (da infância à adolescência) e sua importância
fundamental para a evolução e formação da personalidade do futuro adulto. A sucessão das
fases evolutivas da inteligência (ou estruturas mentais) é constante e igual para todos. As
idades correspondentes a cada uma delas podem mudar, dependendo da criança, ou do
meio em que ela vive (COELHO, 1991).
Kollross (2004, p. 1) afirma que:
“Crianças de todas as faixas etárias procuram para empréstimo os livros
das histórias lidas ou contadas em sala de aula - o que demonstra que a
oralidade não só atrai o leitor para o livro, como também o encoraja a
enfrentar a escrita no silêncio.”
Desde a década de 1970, o conceito de Literatura Infantil tem sido revisto. Há uma
corrente muito forte de estudiosos, entre eles Maria Lúcia Góes, Nelly Novaes Coelho,
Marta Morais da Costa, Ricardo Azevedo e Paulo Ventureli, que criticam a postura de
alguns pesquisadores da literatura que concebem a Literatura Infantil como uma arte menor
por ser destinada às crianças.
A literatura infantil, que conforme a idéia de Cecília Meirelles “... é um exercício de poética
e beleza, que é escrito para qualquer pessoa e que possa agradar a criança”, permite a
reflexão e a análise que, em conjunto com a escola, pode-se conseguir desequilibrar e
formar novas estruturas que levem o sujeito a pensar com criatividade, liberdade,
criticidade e elaborar opiniões próprias.
O aluno, que muitas vezes chega à escola sem conhecer a literatura e o livro, tem a
oportunidade de relacionar-se com novas possibilidades de crescimento. A escola é um
espaço para estabelecer uma relação entre literatura, livro e criança, e ainda, a escola é o
local de formação do público leitor.
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A arte do convencimento da importância da literatura infantil no desenvolvimento
das atividades de leitura
Tudo o que se ensina na escola está diretamente ligado à leitura e depende dela para se
manter e se desenvolver. A leitura é a realização do objetivo da escrita. Para Cagliari (2002,
p. 43): "quem escreve, escreve para ser lido". Desta forma, o objetivo da escrita é a leitura.
Um elemento essencial na formação da criança é a leitura. Ler é o que proporciona, ao
longo de nossa existência, as condições para o crescimento do homem.
As histórias infantis são importantes e significativos recursos educacionais por diversos
motivos: as crianças gostam muito; a variedade de temas é infinita; recursos materiais são
de fácil confecção e aplicação; vários aspectos educacionais podem ser focados. Segundo
Dohme (2000, p. 19):
“Por meio dos exemplos contidos nas histórias infantis, as crianças
adquirem maior vivência. O contato com os impulsos emocionais, as
reações e os instintos comuns aos seres humanos e o reconhecimento
dos fatos e efeitos causados por estes impulsos são exemplos de vida.”
Um projeto que privilegie a literatura infantil, segundo Coelho (1991, p. 24), deve ter clara a
concepção de infância, enxergar a literatura como um fenômeno da linguagem, estabelecer
relações entre literatura, história e cultura, “entender a leitura como um diálogo entre o
leitor e o texto tendo consciência que a escrita é fruto dessa leitura e olhar a escola como
um espaço privilegiado”. O trabalho com a literatura infantil, como Zilbermann (1987,
p.25) afirma:
“[...] desemboca num exercício de hermenêutica, uma vez que é mister
dar relevância ao processo de compreensão, pois é esta que
complementa a recepção, na medida em que não apenas evidencia a
captação de um sentido, mas as relações que existem entre a significação
e a situação atual e histórica do leitor.”
As crianças necessitam ler bons textos para compreenderem a literatura como um meio de
pensar a realidade e não de apenas vê-la como algo imutável, com regras a serem
obedecidas. E, além disso, enxergar estes textos com um elemento que não traz o ensino da
língua como um único fim. Sendo assim, além da qualidade estética, deve-se considerar o
aspecto inovador da obra, assinalando aquilo que vivemos, mas desconhecemos.
Segundo Coelho (2003, p. 57) “... comentar, ao que parece, prolonga o deleite, conduz a
novas leituras da trama, dos personagens, a uma compreensão mais nítida e esclarecedora”.
Quando o contador dá tempo às crianças de refletirem sobre as histórias, para que
mergulhem na atmosfera que a audição cria, e quando elas são encorajadas a falar sobre o
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assunto, então a conversação posterior revela que a história tem muito a oferecer
emocional e intelectualmente, pelo menos para algumas crianças. (BETTELHEIM, apud
COELHO, 2003, p. 58).
Até bem pouco tempo, a Literatura Infantil era considerada como um gênero secundário, e
vista pelo adulto como algo pueril (nivelada ao brinquedo) ou útil (forma de
entretenimento). A valorização da Literatura Infantil, como formadora de consciência
dentro da vida cultural das sociedades, é bem recente. Nesse sentido:
A reflexão sobre o ensino da leitura em relação à Literatura Infantil deveria, ser importante
nos dias de hoje. Nesta reflexão, analisamos como os professores percebem o contexto
ideológico inserido nos livros didáticos, buscando compreende-los como sujeitos ativos da
história e valorizando o prazer do conhecimento (COELHO, 1991, p. 89).
Quando a criança inicia no mundo da leitura, ela busca nos livros aquela sensação fornecida
pela oralidade, a mesma alegria e dinamicidade que o adulto fornece ao ler/contar uma
estória. E qual não é sua decepção ao perceber que aquela emoção não está presente,
inicialmente, na sua leitura. É muito frustrante, há que se convir.
Assim sendo, é necessário que exista, nas escolas, um projeto pedagógico que dê relevância
à Literatura, que forneça condições concretas de trabalho, bons livros de literatura,
biblioteca organizada, espaço para a leitura em grupos, estímulo ao empréstimo de livros,
obras teóricas que possam embasar a prática docente, formação continuada, participação
dos professores em cursos voltados à Literatura.
Lajolo (1988, p. 30) cita que:
“Tanto a criança à qual se destina a literatura infantil é uma construção,
quanto o jovem ao qual se destina a literatura juvenil é outra construção,
igualmente social. E, como construção social resultante, tanto o infantil
de uma quanto o juvenil de outra são conceitos móveis: o que é literatura
infantil, para um determinado contexto, pode ser juvenil para outro, e
vice-versa, infinitamente...”
Segundo Carvalho (1989), "educar é humanizar, e só se humaniza pela arte, pela
sensibilidade", a educação formal, escolar, é um dos meios pelos quais a sociedade se utiliza
para transmitir o conhecimento socialmente sistematizado. A escola deve despertar o
sentimento estético em seus alunos. É evidente que esta função não é responsabilidade
somente da escola: os pais, particularmente as mães, possuem um papel essencial nessa
transmissão. Este artigo deter-se-á principalmente na questão escolar, foco principal desta
análise, porém é mister esclarecer que a família exerce grande influência na formação da
criança, embora não seja a base norteadora desta pesquisa.
Lajolo (1988, p. 32) menciona ainda que:
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“No que respeita especificamente à literatura infanto-juvenil, não me
parece que a inclusão desta disciplina em qualquer currículo
comprometido com a formação de professores de qualquer grau seja,
isoladamente uma solução. Não há varinhas de condão, muito embora,
recentemente, a literatura infantil (talvez por falar tanto de fadas...)
pareça querer atribuir-se a função de resolver os problemas de leitura da
escola brasileira.”
As estórias alimentam o imaginário infantil, ajudando a criança a entender a vida e a melhor
vivê-la. Dessa forma, pode-se delimitar, segundo GÓES (1996), que a primeira função da
Literatura Infantil é a de vivenciar ações, reações e emoções através do ficcional. O leitor
pode, por exemplo, experienciar a morte ou o medo por meio da narrativa e, quando esse
sentimento vier à tona (na vida real), ele terá mais equilíbrio e agirá de forma racional, pois
já vivenciou esta emoção no mundo imaginário. O ficcional prepara para a vida real. Este é
um dos motivos pelos quais porque se deve cultivar a leitura de estórias para e pelas
crianças, seja na sala de aula ou na sala de leitura pelo professor, seja em casa pelos pais.
Góes (1996, p. 76) afirma, a respeito das possibilidades de trabalho com Literatura Infantil
na escola, que:
“Um ponto relevante nestas questões é a intuição, a sensibilidade do
educador. Ao indicar um livro, o professor deve conhecer seus alunos,
perceber seus interesses. Em uma sala de aula, existem muitos gostos,
muitas expectativas em relação à estória - por esta razão, é importante
que o professor esteja consciente de que ao escolher um certo gênero
literário, este, certamente, não atingirá o interesse de todo o seu público.
Há alunos que preferem estórias policiais, outros, narrativas mais
românticas, alguns se fascinam pelas estórias de ficção científica e assim
por diante. É necessário que o repertório do professor seja diversificado,
para que ele possa atingir um número maior de alunos. Claro que para
trabalhar todos os gêneros literários é fundamental que o docente possua
um mínimo de embasamento teórico, para que não cometa
incongruências.”
Persiste, então, a necessidade de que o educador perceba que "Quando se escreve, instaurase um jogo entre leitor e escritor. Um jogo verdadeiro, porém ambivalente, repleto de
segredos" (PRETTO, 1999, p. 34). O papel do mediador da leitura é desvelar os enigmas,
tendo ciência de que o texto literário permite múltiplos olhares e, por isso, distintas
interpretações.
Convém assinalar que na escola, como na vida, para Jolibert ( 1994, p. 15): “Ler é ler
escritos reais, que vão desde um nome de rua numa placa até um livro, passando por um
cartaz, uma embalagem, um jornal, um panfleto, etc., no momento em que se precisa
realmente deles numa determinada situação de vida”.
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Não se pode esquecer também que:
“Não se lê para aprender a ler (exceto nas atividades de sistematização) ,
lê-se sempre por um interesse imediato. A vida cotidiana está cheia de
oportunidades e necessidades de leitura, e nosso problema hoje está mais
em encontrar tempo para todos os textos do que encontrá-los. Lemos
muito e para atingir vários objetivos: responder à necessidade de viver
com os outros, na sala de aula e na escola; comunicar-se com o exterior;
descobrir as informações; fazer (brincar, construir, levar a termo um
projeto-empreendimento); alimentar e estimular o imaginário;
documentar-se no quadro de uma pesquisa em andamento”
(JOLIBERT,1994, p. 31)
Enfim, a realidade da escola brasileira no que se refere à questão da leitura no ensino
fundamental, e em especial através da literatura infantil, consciente do lugar de destaque
que a imaginação deve ter no processo educacional, permite que esta pesquisa esteja
inserida num vasto campo de descobertas, que pode contribuir na proposta de formação de
leitores pensantes, conscientes e criativos.
Conclusão
A reflexão acerca do ensino da leitura na escola é muito importante nos dias de hoje. Nesta
reflexão é primordial analisar os fatores que impedem a formação de sujeitos leitores para
que se possam apresentar caminhos de renovação e qualificação na prática pedagógica
relativa à leitura. A leitura sempre teve e tem um papel social de grande interferência na
sociedade, mas enquanto houver educadores com caráter dominador o processo
educacional será sempre excludente.
No âmbito escolar, percebe-se que os alunos cada vez mais se afastam e desinteressam pela
leitura e é aí que se questiona a prática pedagógica, o ensino e o incentivo da leitura em sala
de aula e as propostas de ação que podem levar as crianças a se tornarem "leitores
competentes". Investir na formação de leitores é uma tarefa urgente. É preciso apostar que
é possível ir muito além da alfabetização e que sujeitos leitores são capazes de olhar
reflexivamente a realidade à sua volta, e capazes de fazer a opção de mudá-la de alguma
forma.
O desafio se encontra na necessidade da busca e implementação de mecanismos que
propiciem a atração pela leitura na mais tenra idade, na fase da infância, em que a criança
está descobrindo seu mundo, está despertando para a realidade subjacente e tentando
participar desta realidade com suas novas fantasias e descobertas. É mister, portanto,
desenvolver estratégias que visem conservar o interesse detectado nos alunos das séries
iniciais e a literatura infantil mostra-se uma ferramenta útil nesta tarefa, essencial à
formação de uma geração de leitores.
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Mais que isso, percebe-se que o professor precisa ler mais, para e com seus alunos, para
que, dividindo os mistérios ocultos nas páginas de muitos livros, possa determinar, de
forma categórica, as mudanças necessárias no contexto educacional brasileiro da atualidade.
Ao longo deste trabalho, buscou-se demonstrar aos leitores a relevância do educador na
formação de novos leitores, numa concepção que, sem rupturas no processo ensinoaprendizagem, a leitura pode ser empregada como mecanismo de lazer, cultura e formação.
Resta concluir que se deve fixar a imagem definitiva de que o lugar que a linguagem ocupa
é o lugar da sedução. Assim, embora possa incorrrer no senso comum, não é demais repetir
que ler é uma grande viagem, uma aventura do espírito, algo que permite ao homem
avançar para horizontes desconhecidos e inimagináveis.
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O brincar como uma proposta de promoção à
saúde
CAROLINE APARECIDA AGUIAR, KÉDMA DA SILVA LIMA, MÁRCIO RODRIGUES LIMA,
VICTOR DE SALES ALEXANDRE, DALVA LOREATTO DOS SANTOS
Resumo
O brincar é uma atividade de mui valor na infância, pois permite que através do brincar a
criança elabore seus conflitos; trata-se de uma rica exploração do mundo que a cerca
provendo um campo fundamental para o seu desenvolvimento físico, cognitivo e
emocional. Não obstante, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) de 1990 foi
criado para legitimar os direitos da criança e do adolescente, visando o desenvolvimento
pleno dos mesmos; o ECA também contempla o brincar como um direito necessário,
dentre muitos outros. Dessa forma, numa perspectiva de promoção à Saúde, o ECA
configura-se como um campo propício de o trabalho para o psicólogo em defesa do bem
estar da criança e adolescente. Através da realização de entrevistas semi-estruturadas com
funcionários de uma instituição que atende crianças e adolescentes em situação de
vulnerabilidade social, foi feita uma análise da instituição tendo como diretriz os direitos do
ECA. Também foi realizada uma atividade lúdica de contar de história interativo com as
crianças para posterior análise. Os resultados mostram que o ECA apesar de ainda estar em
fase implementação, é uma importante ferramenta para garantia dos direitos da criança e do
adolescente; também foi possível fazer uma análise do brincar a partir de algumas teorias
psicológicas.
Palavras-chave: o brincar; promoção de saúde.
1. O brincar como uma proposta de promoção à Saúde
O título do presente trabalho sugere a concepção de saúde que os autores deste estudo
têm: Saúde na sua concepção mais ampla, defendida, inicialmente, pela carta de Ottawa em
1986, com enfoque no bem estar dos indivíduos e não apenas na ausência da doença,
dando ênfase no desenvolvimento de políticas públicas, de habilidades pessoais, etc.
Um dos primeiros desafios na realização deste projeto se dá justamente na dificuldade de
encontrar estudos feitos no Brasil entendendo o brincar e a Saúde nesta concepção mais
ampla, o que evidencia o quão essa proposta cujo início se deu com a carta de Ottawa há
23 anos, ainda não se encontra completamente difusa. Santos e Bógus (2007) em um
estudo sobre a percepção dos educadores sobre a escola promotora da Saúde mostram que
apesar das escolas onde o estudo foi realizado terem um projeto pedagógico ligado à


Graduandos em Psicologia da Saúde pela Universidade Metodista de São Paulo.
Professora da Universidade Metodista de São Paulo e orientadora deste trabalho.
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promoção da Saúde em seu contexto mais amplo, os professores ainda mantinham uma
visão de Saúde como sendo a ausência de doença, e como postura de promoção à Saúde a
visão médico-higienista.
O Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, Lei 8.069/90) considera a atividade
lúdica um direito da criança e um dever do Estado, da família e da sociedade proporcionar
condições para este exercício, e dessa forma não está desvinculada com o conceito de
Saúde uma vez que essa atividade engloba desenvolvimento para a criança no âmbito
cognitivo, motor, social e afetivo. Em estudo de Santos e Chaves (2007), que buscou
analisar a visão que as próprias crianças têm dos seus direitos, mostra que o conhecimento
delas se mantêm no campo do senso comum, predominando conceitos espontâneos e
muitas vezes vinculados a situações mais específicas da realidade da criança. Nesse sentido,
como ressaltam os próprios autores, a difusão do ECA é falha, principalmente para as
próprias crianças.
Os autores reforçam a importância de se investir na implementação do ECA nas escolas
para que estas funcionem como promotoras de Saúde, porém, como mostrado por Oliveira
e Francischini (2003, p4):
Na mesma época em que foi elaborado o Referencial Curricular Nacional para Educação
Infantil, os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998) – referenciais para o ensino
fundamental e para o ensino médio – entraram em vigor. Em nenhuma parte da
Introdução dos Parâmetros Curriculares Nacionais há referências ao brincar, direito esse
assegurado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Dessa forma, está implícita a idéia
de que o brincar encerra-se na educação infantil; no ensino fundamental, não há mais
espaço para a brincadeira.
Como citado pelo autor, embora o Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil
cite a importância do brincar na fase pré-escolar, a partir do momento que se inicia o
ensino fundamental, o brincar perde completamente espaço na escola. A difusão do brincar
como fator importante e necessário para um desenvolvimento saudável como parte da
infância, ainda encontra alguns problemas na implementação, principalmente quanto à
contradição legislativa. Nesse sentido, Vygotsky (apud REGO, 1995) além de fazer uma
critica ao modelo educacional que segue a abordagem inatista que individualiza o
desenvolvimento para uma série de capacidades inatas e educadores que não cumprem o
papel de desafiar o desenvolvimento do aluno, menciona a importância do papel da escola,
uma vez que ela é responsável pela construção dos conceitos denominados Conceitos
Científicos que é sistematizado e organizado ao aluno. Em concordância com Vygotsky, a
criança já entra na escola com um conhecimento construído, denominado de Conceitos
Cotidianos; nesse momento ambos os conhecimentos provenientes das interações
cotidianas da criança e os ensinamentos da escola se relacionam, um complementando o
outro, dessa forma a criança atua sobre o material cultural principalmente através da
brincadeira.
Por esse motivo, se dá a importância de fundamentar o brincar da criança, dar apoio para
fortalecer essa concepção de Saúde para que o processo de implementação dos direitos da
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criança continue. O brincar é definido por Lillard (1993, apud BOMTEMPO, 2000) como
sendo uma atividade que visa o proporcionamento de diversão e não a sobrevivência.
Porém, como será possível perceber a seguir através de diversos teóricos dos mais diversos
campos da psicologia, o brincar também visa à sobrevivência do indivíduo, uma vez que
contribui para seu desenvolvimento motor, emocional, cognitivo e cultural, funções
fundamentais para o desenvolvimento.
Melanie Klein (apud SIMON, 1999) diz que o brincar na criança equivale ao falar do
adulto. Embora essa frase tenha sido uma importante colocação quanto à possibilidade de
se trabalhar em clínica através da ludoterapia, nos revela a grande importância que é esse
momento para a criança e todos que estão a sua volta, pois é através do brincar que ela faz
um importante movimento psíquico para lidar com o mundo a sua volta: ela se expressa,
simboliza, interpreta, introjeta vivências, passa de um papel passivo para um ativo,
descarrega fantasias, enfim, é um importante recurso psíquico para a sobrevivência da
criança (FREUD, 1920).
Winnicott (1975) ressalta o papel da brincadeira como inerente ao desenvolvimento da
criatividade, onde não se pode deixar de citar as brincadeiras de faz-de-conta, onde a
criança tem a liberdade de se expressar, de criar e mostrar ao mundo externo o seu mundo
interno, a esfera criada na brincadeira e a criatividade como sentimento de ser e fazer.
O brincar também é social, e ele o é na medida em que ocorre em um espaço físico que
está sofrendo influência da cultura, tendo significações e brincadeiras diferentes. Sobre os
jogos sazonais, que são as brincadeiras que envolvem mais ativamente o corpo, contato
com a natureza e que muitas vezes podem ocorrer em certas épocas do ano, Antunha
(2000) faz a relação dessas brincadeiras para o desenvolvimento da criança, pois englobam
atividades que treinam diversas capacidades nas crianças como a indução, imitação,
perspicácia, observação, memória, raciocínio, aspectos verbais ou não verbais, relaxamento,
automatismo, tempo e espaço. A autora também cita a importância desses jogos não serem
esquecidos uma vez iniciada a educação fundamental nas escolas, pois essas brincadeiras
podem servir como um recurso material para atividades mais simbólicas.
Como exemplo, Antunha toma a brincadeira de bolas de gude, onde a criança pode ter
noções de física, tais como trajetória, peso, massa, espaço, etc. Os jogos relacionados com a
música, poesia, prosódia, cantoria também contribuem muito para o desenvolvimento da
criança, não somente o sistema auditivo aqui é trabalhado, como também a fala, o se
expressar, aumento do vocabulário. Nessas músicas são passados valores sociais que
podem ser interiorizados pelas crianças, além de sublimar cargas agressivas (ibidem).
E também é social do ponto de vista que, na brincadeira, a criança tem a oportunidade de
se relacionar com seus pares, com familiares e professores, expandindo assim suas
possibilidades de aprendizado. Na brincadeira em conjunto a criança tem a mais rica
possibilidade de socialização; aqui ela aprende a esperar sua vez para jogar, aprende a lidar
com regras, a controlar impulsos, enxergar certas coisas pela perspectiva do outro, aprende
também a lidar com imprevistos, a improvisar, utilizar de sua criatividade e memória. É um
momento para grande aprendizagem tácita, a inteligência ainda é interativa, e só se
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expande, agiliza e flexibiliza em contato afetivo com o outro. A habilidade de negociação
também é desenvolvida em grupo, propor algo, saber escutar o outro, etc. (OLIVEIRA,
2000).
Vygotsky (1984) diz que no brincar da criança ela sempre estará acima de sua idade média,
ou seja, nas brincadeiras de faz-de-conta sempre serão manifestadas habilidades que não
seriam esperadas para aquela idade, são as chamadas Zonas de Desenvolvimento Proximal,
onde a aprendizagem vai despertando vários aspectos internos do desenvolvimento. Dessa
forma, aprendizado não é desenvolvimento, embora estejam diretamente relacionados, o
desenvolvimento acontece de forma mais lenta que a aprendizagem. Um alavanca o outro
através das Zonas de Desenvolvimento Proximal.
As Zonas de Desenvolvimento Proximal para Vygotsky têm uma grande importância uma
vez que respeita a condição da criança como um ser em desenvolvimento; reconhece a
história de vida do indivíduo assim como suas capacidades atuais. ao mesmo tempo que
enxerga o outro como um ser potencial capaz de alcançar algo quando fornecido as
condições necessárias, além de ser um campo extremamente fértil para que a escolarização
ocorra. (REGO, 1995).
Dessa forma, tendo em vista o conceito amplo de Saúde e a importância do brincar para a
criança e o Estatuto da Criança e do Adolescente, também como uma ferramenta
promotora de Saúde, este trabalho tem dois objetivos fundamentais: 1) Compreender o uso
do Estatuto da Criança e do Adolescente como fundamentação teórica e campo de atuação
do Psicólogo; 2) Promover a saúde de crianças e adolescentes através de atividades lúdicas
a luz da Psicologia juntamente com as políticas públicas do ECA.
Método
Participantes
Participaram 15 crianças com idade variando entre 7 e 14 anos, sendo 7 do sexo masculino,
e 8 do feminino, a fundadora da instituição, a coordenadora pedagógica e a psicóloga.
Local
O trabalho foi realizado em uma instituição localizada no município de São Bernardo do
Campo, São Paulo. Essa instituição é constituída por diversas instalações, a maioria entre
três prédios principais; no primeiro, logo no início se encontra uma recepção, mais a frente
na segunda porta uma área denominada “Cantinho da mamãe” com uma cozinha e um
quarto, na terceira porta há uma sala de estar para receber visitas, na quarta sala a padaria da
instituição. Do outro lado dessa mesma construção se encontra o berçário, a parte traseira
da padaria, a Gráfica e o Sebo. Ainda nessa parte traseira do primeiro prédio, se encontra
um grande pátio coberto em sua extensão com diversas cadeiras e mesas. No meio desse
pátio há uma passarela que leva diretamente ao primeiro andar no prédio dois.
O primeiro andar é dividido por dois corredores levando cada um para um lado do prédio.
No corredor direito na primeira porta há uma pequena sala para coordenação da creche,
mais à frente a sala do maternal, em seguida a sala infantil, para crianças maiores; em
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seguida a sala da biblioteca, contendo também uma grande televisão, e no final desse
corredor, se encontram dois banheiros (masculino e feminino) e um pequeno depósito com
diversos trabalhos artesanais das crianças, dentre outros equipamentos.
No corredor oposto, a primeira porta corresponde à sala de música e jogos, em seguida a
sala de computação para crianças mais velhas e adolescentes. No fim desse corredor há
uma estante com diversos trabalhos artesanais que a instituição ensina aos jovens como
passa-tempo e/ou profissão. Ainda no primeiro piso desse prédio se encontra as
instalações para os idosos, que não constará nesse trabalho devido ao objetivo do mesmo.
Do lado de fora, ao lado do segundo prédio, há uma quadra para prática de esportes e um
grande galpão que fica ao lado dessa quadra que funciona como centro de reciclagem.
O terceiro prédio é uma longa construção que antes era a serralheria, porém agora está
todo destinado ao bazar de roupas usadas. Ao lado desse bazar, ao ar livre, existe um
pequeno parque para crianças menores. O interior das construções é decorado com
diversas fotografias, quadros e objetos confeccionados pelas crianças. O lado externo por
sua vez, é cercado por um jardim com diversas plantas e árvores, algumas nomeadas com
placas.
Procedimento
Para a análise da instituição foram feitas três visitas a instituição seguidas por um relato
descritivo realizados pelos integrantes do grupo. A primeira visita visou o conhecimento do
espaço físico da instituição e uma conversa com a fundadora. A segunda foi uma entrevista
com a psicóloga para caracterização da instituição, tendo como subsídio o ECA, e na
terceira foi desenvolvida uma atividade lúdica com o grupo de crianças.
Instrumento
Para tal procedimento foi utilizada entrevista semiestruturada, além dos relatos descritivos
já mencionados. No dia da brincadeira foi utilizado um contar de história interativo escrito
por um dos integrantes do presente trabalho. Ao contar de história foi adicionada uma
encenação com auxílio de música (violão) para as crianças.
Tratamento dos Dados
Para a análise das visitas foi feita a transcrição de cada uma delas para que que fosse
possível identificar as categorias de análise: Direitos da criança e o brincar.
Discussão
A análise qualitativa dos resultados obtidos serão apresentados e discutidos subdivididos
em cinco critérios, sendo eles: 1. Observar práticas existentes e analisar os indicadores de
garantia de direitos – educação, saúde e trabalho – em diferentes contextos no cotidiano de
crianças. 2. Reconhecer a criança e o adolescente em sua condição de ser humano e sujeito
social; 3. Identificar o Estatuto da Criança e do Adolescente como um instrumento para
atuação do psicólogo na construção da cidadania da criança, um “sujeito de direitos”; 4.
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Observar, descrever e analisar os aspectos comportamentais, sociais, emocionais,
cognitivos e também interações entre os indivíduos envolvidos; 5. Discutir padrões
mínimos de qualidade e direitos no atendimento de crianças, considerando a proporção
entre a procura e a oferta, razão adulto/criança e a dimensão de cuidado.
De acordo com o artigo 3° do ECA:
“A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais
inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que
trata esta Lei, assegurando-se lhes, por lei ou por outros meios, todas as
oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento
físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de
dignidade (BRASIL, Lei 8.069/90).”
Segundo Vygotsky, para ocorrer desenvolvimento é necessário aprendizado: “o
aprendizado pressupõe uma natureza social específica e um processo através do qual as
crianças penetram na vida intelectual daqueles que as cercam” (VYGOTSKY, 1984, p.99
apud REGO, 1995). Esse aprendizado de acordo com a perspectiva sócio-histórica é
construído a partir da interação entre sujeito e meio, uma inserção em determinado
contexto cultural, onde cultura não é entendida como algo pronto, mas sim como um
“palco de negociações” (REGO, 1995), marcada por constantes construções e
reconstruções.
Com a formulação do ECA, a presença da família é vista como fator primordial para o
desenvolvimento da criança estando, em última instância, a institucionalização de crianças,
uma vez que será sempre visado a permanência em seu contexto familiar. De acordo com
Winnicott, o ambiente familiar constitui a base para o desenvolvimento saudável ao longo
de todo o ciclo vital (WINNICOTT, 2005). Por essas razões instituições como a do
presente trabalho adequaram-se a essas formulações permitindo que as crianças
desenvolvam atividades na instituição em determinado período do dia, mas que continuem
participando das relações sociais frequentando outros lugares como escolas e grupos
religiosos desfrutando daquilo que está presente no âmbito comunitário.
As crianças que frequentam a instituição participam de diversas atividades como: aulas de
violão, canto, piano, capoeira, aprendem artesanato, participam de atividades fora da
instituição como passeios ao zoológico, cinema, circo, que estão de acordo com o artigo 71
do Estatuto da Criança e do Adolescente: “A criança e o adolescente têm direito a
informação, cultura, lazer, esportes, diversões, espetáculos e produtos e serviços que
respeitem sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento”, (BRASIL, Lei 8.069/90),
e contribuem para a preparação das festas beneficentes realizadas pela instituição. Todas
essas atividades contribuem de maneira particular para o desenvolvimento da criança.
Podemos considerar que as crianças constroem conceitos cotidianos e conceitos científicos
paralelamente, uma vez que estabelecem relações em diversos meios como na instituição,
no ambiente familiar, na comunidade, na escola em que frequentam, entre outros.
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Conceitos Cotidianos podem ser entendidos, segundo a perspectiva vygotskiana, como
aqueles conceitos construídos pela vivência direta da criança, enquanto os Conceitos
Científicos são sistematizados, existe a mediação de interações escolarizadas (REGO,
1995). Ambos são vitais para o processo de formação de conceitos, daí a importância da
criança estar inserida em um amplo contexto social, como é estabelecido no artigo 16
inciso primeiro do Estatuto da Criança e do Adolescente: O direito à liberdade compreende
os seguintes aspectos: I – “ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários,
ressalvadas as restrições legais”, (BRASIL, Lei 8.069/90).
Outro ponto importante da teoria de Vygotsky é o conceito de Zona de Desenvolvimento
Proximal, em outras palavras, a distância entre o nível de desenvolvimento real
(capacidades já dominadas) e o nível de desenvolvimento potencial (capacidades que
necessitam da ajuda de pessoas mais experientes), portanto, funções em processo de
maturação (REGO, 1995).
O artigo 19 do ECA (BRASIL, Lei 8.069/90) orienta que:
“Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio
da sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a
convivência familiar e comunitária, em ambiente livre da presença de
pessoas dependentes de substâncias entorpecentes.”
Até 2003 algumas crianças da instituição estavam em regime de orfanato, porém com a
implementação do ECA mudanças seriam necessárias. A instituição passou então por um
processo de transição para juntar essas crianças com seus familiares e a funcionar agora
completamente em regime de creche, como cita a coordenadora pedagógica no segundo
relato do presente trabalho (Apêndice B).
Segundo Mussen (1977), quando a criança interage com a sociedade constrói novos
relacionamentos, é influenciada por novos estímulos, tornando suas habilidades cognitivas
mais complexas e diferenciadas, porém as relações familiares permanecem centrais para as
crianças, porque, de acordo com Winnicott (2005), a convivência familiar que é a primeira
onde a criança está inserida, é fundamental uma vez que, a partir dessa interação com a sua
família, a criança vai desenvolvendo suas habilidades cognitivas, sociais e afetivas que
servirá para toda sua vida como referência na convivência comunitária.
Outros autores como Dolto (1991) e Pereira (2003) afirmam que a separação da criança e
do adolescente do convívio familiar é prejudicial para seu desenvolvimento. Assim, é
possível perceber o movimento de contemplação do direito a família que a criança e o
adolescente têm durante esse período de transição que ocorreu entre 1998 e 2003, e que até
hoje se mantêm na instituição.
Em relação à dinâmica das relações pessoais das instituições, Goffman (1974) fala das
instituições totais que verticalizam e burocratizam relações, normatizando-as, bem como
definindo rigidamente os papéis em seu interior. Embora a padronização de algumas
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atividades das instituições seja fundamental para um "bom" funcionamento das mesmas,
um elemento que chamou a atenção dos realizadores do presente trabalho durante três
visitas à instituição, foi a sensação de que tal instituição constitui-se por laços familiares,
formando uma grande família em meio a uma noção de pertencimento de todos, que
norteia as relações da instituição com um forte acolhimento: o fato do espaço físico da
instituição ter sido baseada no sítio onde cresceu a fundadora, a maneira que os
funcionários têm de se direcionar a ela, sempre como a “Mamãe” e a ausência de
discriminação entre funcionários, usuários e voluntários, citado pela coordenadora
pedagógica em um momento posterior.
Em contrapartida, como já citado, a instituição possui uma série de características
fundamentais para seu bom funcionamento nas quais poderiam ser encaixadas na
categorização de Goffman; a instituição recebe alguns subsídios do Estado (contratação de
alguns funcionários como enfermeira e professores), além de ter sido reconhecida como de
utilidade pública municipal, estadual, federal e detentora do Certificado de Fins
Filantrópicos, situando assim, a instituição em um meio termo entre esses dois extremos.
A importância dos aspectos aqui levantados se dá, principalmente, pelo fato de que
atualmente está acontecendo uma forte terceirização das funções exercidas pela família
devido ao modo de vida moderno, juntamente com a crescente valorização dos ditos da
ciência, fazendo com que, muitas vezes, os pais das crianças se alienem de suas próprias
funções. Para a psicanálise uma das maiores implicações se dá justamente nas relações
estabelecidas entre a criança e a instituição (ou algum outro serviço qualquer), que adota
esse modelo de padronização e burocratização de Golffman, gerando assim uma relação
mecânica, sem expectativa onde o fim se dá justamente em cumprir uma função. Diferente
de uma interação mais familiar que é baseada no desejo, nas expectativas que são projetadas
nas crianças, que servem como grandes forças que alavancam o desenvolvimento da
criança; elas começam a andar para o outro, falam para o outro e assim por diante (SILVA,
2010).
Embora a instituição ofereça diversas atividades às crianças, como já citado anteriormente,
as limitações do presente trabalho quanto ao tempo não permitiram que os autores
analisassem esses momentos, logo, para realizar a análise relacionada aos aspectos
comportamentais, sociais, emocionais, cognitivos e também as interações entre os
indivíduos envolvidos, será considerada exclusivamente a atividade realizada na instituição
pelos autores do presente trabalho, que é dividida: em um primeiro momento, o contar de
história interativo utilizando de recursos sonoplásticos, e um segundo momento com a
brincadeira livre com as bexigas.
Durante todo o contar de história, foi possível perceber os cinco elementos que, de acordo
com Lillard (1993, apud BOMTEMPO, 2000, p.131), compõe a brincadeira que simula
alguma situação, são eles:
1-Um faz-de-conta;
2-Uma realidade;
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3-Uma representação mental que é diferente da realidade;
4-Uma camada de representação sobre a realidade, de tal forma que ela exista no
mesmo tempo e espaço;
5-Ter consciência desses elementos acima apresentados.
As crianças, sempre que solicitadas para criar um personagem, ou até mesmo vê-los na sala
onde foi realizada a atividade condizem com o terceiro elemento de fazer uma
representação mental diferente da realidade ao mesmo tempo em que tinham consciência
que era um faz-de-conta, uma vez que respeitavam o momento certo para interferir na
contação de história. Para Piaget (1971, apud BOMTEMPO, 2000) a participação de
crianças em jogos de regras representa um grande marco para socialização. A variedade de
elementos trazidos pelas crianças nesses momentos de criação foi muito diversificada,
incluindo monstros, ursos, raposas, fantasmas e etc. Sendo o momento da brincadeira um
dos maiores recursos que a criança tem para demonstrar a sua subjetividade, suas vivências
etc., foi possível perceber uma imensa diversidade no decorrer da brincadeira.
Além de representar sua realidade, a criança durante essas atividades expressa a sua
criatividade. A criatividade é, para Winnicott (1975), como Sentimento de Ser e Fazer, pois
a criatividade é inata, sendo o principal responsável pelo valor de viver do indivíduo. No
espaço potencial cria-se o estado de relaxamento e nesse estado a criança transforma a
afetividade em criatividade. Nesse relaxamento o ser humano está no “estado nãointegrado” que seria o estado primordial do vir-a-ser. Nesse sentido, Sakamoto (2008, p. 5),
escreve que “o ser humano, durante a infância, além de utilizar o potencial criativo para
atingir uma adaptação ao mundo, como fará durante toda sua existência, está
comprometido com a constituição de uma identidade pessoal”.
Alguns desenhos que as crianças fizeram ficaram semelhantes porque se preocuparam em
representar fielmente o personagem criado por todos, porém, outras crianças optaram por
criar seu próprio guardião da floresta. Como se tratam de crianças com idade entre 7 e 14
anos, temos desenhos de crianças em diferentes estágios do desenvolvimento que podem
ser divididas, segundo Piaget (1971, apud PAPALIA; FELDMAN; OLDS, 2009), em
Estágios Pré-Operacional, Operacional Concreto e Formal. Sendo assim essa atividade de
desenhar também contribuiu para o desenvolvimento das crianças no que diz respeito às
habilidades motoras, cognitivas e também a criatividade.
Foi pedido as crianças que identificassem na folha de seus desenhos a idade delas, mas
muitas delas além de identificar sua idade, também colocaram informações adicionais como
o nome completo e a data, evidenciando assim não somente a alfabetização, mas o
letramento a partir do momento que a criança demonstra a vontade de escrever essas
informações adicionais, um conceito de muita importância na teoria de Vygotsky (REGO,
1995), pois representa um momento importante para o desenvolvimento da criança quando
ela se apropria da língua escrita e faz uso dela representando a realidade através de
símbolos.
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O uso da música e diversos efeitos sonoros utilizados durante o contar da história para
intensificar o faz-de-conta, contribuem muito para o desenvolvimento da criança, não
somente no sistema auditivo que é trabalhado, mas também a fala através do aumento do
vocabulário e a apresentação de diversas formas de se expressar com a música. Nas músicas
ainda são passados valores sociais que podem ser interiorizados pelas crianças, além de
sublimar cargas agressivas (ANTUNHA, 2000).
O encerramento da atividade se deu através de um brincar livre das crianças após a
distribuição de algumas bexigas. Essa atividade (assim como outras realizadas na instituição,
como a capoeira), que envolvem de uma forma mais ativa o corpo com movimentos
automáticos, contribuem para o desenvolvimento psicomotor, ajudam a criança a
descarregar agressividade e também ajudam no desenvolvimento intelectual, uma vez que
essas atividades corporais exercitam o hemisfério esquerdo do cérebro, responsável
também pela linguagem (ibidem).
Não obstante, essa atividade livre é fundamental para disponibilizar a criança espaço para
se expressar através de uma das brincadeiras mais ricas em detalhes sobre a subjetividade
delas: a brincadeira espontânea (SILVA, 2010), onde não se diz a criança como ou com o
que brincar, ela é livre para se expressar, para brincar. Durante essa atividade, a psicóloga e
as professoras estavam no ambiente observando, mas em momento algum interromperam
as brincadeiras, respeitando assim a condição de criança com o direito de brincar.
Considerações finais
Embora o Estatuto da Criança e do Adolescente ainda não esteja completamente
implementado, foi possível perceber que a instituição em questão, através de suas
atividades não vinculadas com o currículo escolar, respeitam a criança e o adolescente
promovendo sua Saúde nos âmbitos cognitivo, social e afetivo tendo como referência o
ECA.
O ECA, por ser um documento que regula o direto da criança e do adolescente subsidiado
por diversas áreas do conhecimento, inclusive a Psicologia, demonstra ser um instrumento
válido para promoção da Saúde, além de servir como instrumento de trabalho também para
o psicólogo, que juntamente com outros profissionais tem o dever de prezar pela Saúde da
população em um trabalho multidisciplinar.
O presente trabalho ainda contribuiu para evidenciar a importância do brincar para as
crianças, uma vez que, pode ser utilizado como recurso pedagógico para transformar o
aprendizado das crianças em algo interessante, proporcionar atividades às crianças que
abarcam o treino e aprendizado de habilidades do âmbito social, cognitivo e afetivo, além
de ser um recurso natural e inerente à condição de criança que serve para manter seu bem
estar psíquico.
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Pensando um envelhecimento saudável para as
pessoas idosas dos municípios de Atalaia do
Norte e Benjamin Constant – AM
CLAUDIA DOS SANTOS LIMA
Resumo
Assim como em todas as fases da vida, também na terceira idade é fundamental o
desenvolvimento cultural, social e afetivo do idoso, no sentido de promover sua integração
na sociedade. Na busca de promover essa integração, desenvolveram-se os projetos de
extensão que foram aprovados pelo comitê de ética da Universidade Federal do Amazonas
– UFAM. Decisões n°003/2010 Processo FL//004/2010 e 002/2010 Processo FL
003/2010, respectivamente. As atividades foram desenvolvidas no período de agosto de
2010 a agosto de 2011, em sábados alternados em cada município. Participaram 445 idosos
do programa da melhor idade. O Trabalho teve como objetivos promover o respeito à
dignidade e a cidadania das pessoas idosas, informar sobres os direitos dos idosos e
prevenção das doenças que ocorrem na velhice. As atividades foram desenvolvidas com
base na Política Nacional do Idoso e Estatuto do Idoso, Lei 8.742, por meio de palestras e
oficinas temáticas. Observou-se que a ação despertou grande interesse nos idosos,
principalmente em relação às formas de violência acometidas contra a pessoa idosa e os
crimes de retenção do cartão bancário. Segundo os idosos essa é uma prática comum nos
dois municípios. Com esse trabalho observou-se que muitas famílias enfrentam
dificuldades para entender e lidar com as doenças, as mudanças fisiológicas e mentais que
afetam a pessoa idosa, o que pode comprometer o bem estar do idoso e a interação
familiar, já que ele faz parte desse sistema, daí a importância desses tipos de trabalhos
voltados para esse público, principalmente em municípios como Atalaia do Norte, onde se
percebeu que os direitos dos idosos não são conhecidos pela maioria dos atendentes, tanto
das repartições públicas quanto privadas, como por exemplo: os comerciantes que
conforme observado, ainda usam a prática de deter os cartões e as senhas da conta bancária
dos idosos aposentados.
Palavras chaves: envelhecimento; direitos dos idosos; promoção de saúde; prevenção de
doenças e violência.
Introdução
Há algumas décadas atrás o idoso era respeitado e visto pela família como a figura principal
do lar, hoje o papel inverteu. Na medida em que vamos envelhecendo vemos as famílias se

Mestranda em Psicologia da Saúde pela Universidade Metodista de São Paulo.
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alterando em relação à posição de cada membro, ou seja, os papéis vão se modificando, a
família passa a tratar o idoso como se fosse um filho que agora é dependente e necessita de
cuidados e assistência. Moragas (1997) relata que os idosos constituem uma população com
certo risco em nossa cultura competitiva, em virtude da experiência de situações de tensão,
devido a perdas materiais ou sociais. Kloetzel (1922) chama atenção, ao afirmar que o
envelhecimento precisa ser encarado como um fenômeno biológico natural, uma expressão
de nosso ambiente interno. Sendo assim, A família precisa está preparada para ajudar o
idoso para que ele possa se sentir integrado no sistema familiar e não isolá-los como
acontece em muitos casos, onde estes são abandonados em um quarto, sendo lembrado
somente na hora da alimentação, isso quando ele é alimentado. Essa prática vem sendo
permanentemente realimentada pelas diversas gerações. Faz-se necessário acabar com essa
mentalidade para que as pessoas idosas não sejam marginalizadas.
O Estatuto do Idoso no artigo 3º define que é obrigação da família, da comunidade, da
sociedade e do poder público assegurar ao idoso com absoluta prioridade, a efetivação do
direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao
trabalho, à cidadania à liberdade, à dignidade, ao respeito à convivência familiar e
comunitária. Portanto,
Envelhecer é passar para uma nova etapa da vida e deve ser vivida o mais positivamente
possível, nessa fase a pessoa idosa precisa ser saudável e feliz. De acordo com Moragas
(1997) o número de idosos aumentou extraordinariamente, e seu papel social perdeu a
importância, visto que a sociedade atual valoriza mais a juventude e os valores associados a
ela.
Esse fenômeno tem chamado atenção das autoridades que hoje disponibilizam mais
investimentos para a população idosa, assim como se investem nas outras etapas da vida,
como a infância, pois a velhice é uma etapa do ciclo da vida e já atinge uma parcela
significativa da população brasileira, em decorrência do aumento da expectativa de vida e
do crescimento populacional do país. Sarmiento (2003) traz os dados que apontam que
hoje somos 14 milhões de pessoas da 3ª idade, uma média de 9% da população brasileira,
projetando pra daqui a 30 anos, um quantitativo de 34 milhões de idosos, ou seja, cerca de
15% da população total, uma das seis maiores populações da 3a idade do mundo. Esse
fenômeno está despertando a atenção para os problemas enfrentados pelas pessoas idosas e
mostrando a necessidade de garantir condições que proporcionem aos brasileiros um
envelhecimento saudável e com dignidade. Entre as quais a acessibilidade que no Brasil está
longe do padrão.
Diante da questão, foram criados alguns mecanismos legais para melhorar a qualidade de
vida das pessoas consideradas idosas no Brasil, como a Política Nacional do Idoso, Lei nº
8. 842, de 4 de Janeiro de 1994 cujo objetivo é de garantir a participação do idoso na
sociedade, os seus direitos sociais e sua cidadania, além de criar condições para promover a
autonomia, integração e participação efetiva dessa população na sociedade.
O Estatuto do Idoso, Lei nº 10.742 de 1º de outubro de 2003 veio regulamentar os direitos
já assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, assim, como a
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garantia do direito, à vida, à dignidade, à alimentação, à liberdade, a participação na
sociedade entre outros.
Todavia, envelhecer é uma mudança de experiência em diversas etapas da vida, devido à
redefinição da identidade social e cultural que as sociedades vão formando no decorrer do
tempo. Moragas (1997) por sua vez reforça que a discriminação em razão da idade é
comum nas sociedades que se baseiam em valores jovens, característicos das sociedades
industriais desenvolvidas, em que não são previstos papéis para os idosos.
Vale ressaltar que o envelhecimento é um processo que ocorre de forma desigual em
sociedades como a brasileira, ou seja, marcadas pelas crescentes desigualdades sociais e
regionais onde a velhice pode significar vivência totalmente diferenciada que vai da
plenitude à decadência, da satisfação e prazer, da miséria ao abandono, determinada pelo
padrão social de cada família do idoso.
Diante disto, as ações de extensão foram realizadas com os seguintes objetivos, informar os
idosos dos Programas da Melhor Idade dos municípios de Atalaia do Norte e Benjamin
Constant sobre seus direitos, por acreditar que esse público necessita de atividades que
possibilitem conhecer melhor seus direitos e que ofereça oportunidade de interação como
as que eram oferecidas nos encontros, por meio de dinâmicas de grupo e brincadeiras.
Acredita-se também que seja importante desenvolver projetos para esse público,
principalmente em municípios como Atalaia do Norte, onde se percebe que os direitos dos
idosos, não são conhecidos pela maioria dos atendentes das repartições publicas e privadas,
por exemplo, os comerciantes que naquele momento ainda tinham a prática de deter os
cartões e a senha da conta bancaria do idoso aposentado e recebem o beneficio. Além de
tratar a respeito dos direitos garantidos pelo Estatuto do Idoso, as ações estavam voltadas
também para a prevenção de violência e das doenças que acometem a pessoa idosa.
Método
As atividades foram desenvolvidas em caráter multidisciplinar, com base na Política
Nacional do Idoso. Define que Estado, família e toda a sociedade têm o dever de cuidar e
amparar a pessoa idosa. O Estatuto do Idoso Lei nº 10.742 de 1º de outubro de 2003 que
especifica os direitos dos idosos e o dever da sociedade para com essa população; e ainda
os Programas de Atenção ao Idoso que tem como objetivo, assistir a pessoa idosa. As
técnicas utilizadas foram palestras e oficinas temáticas, onde abordando os seguintes temas:
o processo do envelhecimento, as fases da vida, doenças que ocorrem na velhice,
prevenção de acidente doméstico como as quedas, sintomas e prevenção da depressão, da
doença de Alzheimer com dicas dos exercícios para exercitar a memória, os tipos de
violência acometida contra o idoso como: a econômica, a violência psicológica e dicas para
um envelhecimento saudável, explanação sobre os direitos do idoso, Palestra sobre a dor
lombar, distribuição de folders com dicas sobre como prevenir as dores na coluna. Palestra
sobre sintomas e prevenção da osteoporose com os alunos de medicinas da UFAM e
dinâmica de grupo. A equipe dos projetos estava composta por Assistentes Sociais,
Psicóloga, Fisioterapeuta, professores e quarenta e cinco alunos do INC.
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Participantes
O projeto foi desenvolvido com 445 idosos participantes dos programas da melhor idade,
sendo 65 dos municípios de Atalaia do Norte e 380 de Benjamin Constante– AM.
Resultados e discussão
Espera-se que a ação tenha contribuído para ampliação do conhecimento daqueles idosos,
principalmente aqueles relacionados às doenças que ocorrem na velhice, os tipos de
violência acometidos contra os idosos e demais direitos garantidos por lei. Pode-se concluir
que os temas debatidos despertaram grande interesse em ambos os grupos, principalmente
em relação aos tipos de violências acometidas contra a pessoa idosa e as formas de
punições para aqueles violam tais direitos.
Em relação ao crime de retenção do cartão bancário, ficou constatado que esse crime
acontecia, já que segundo manifestação dos idosos, essa é uma prática bastante comum no
município de Atalaia do Norte. Em Benjamin Constant, deparamos com dois casos de
violação de direitos da pessoa idosa. Uma idosa de 72 anos relatou ter sido insultada e
humilhada pela atendente da casa Lotérica que se recusou atendê-la por ela não ter
enfrentado a fila. O outro caso ocorreu com um idoso que disse sofrer bullyng
constantemente pela garotada quando passa na rua de sua residência. Os casos foram
encaminhados para Assistente Social do Centro de Referencia da Assistência Social do
município que se encarregou de tomar as devidas providências.
Conclusão
Considera-se que as atividades desenvolvidas com aos idosos contribuíram para a
ampliação do conhecimento, principalmente em relação aos direitos, o que reforça a ideia
de que nossos objetivos foram alcançados.
Parece-nos que muitas famílias não conheciam os direitos de seus idosos e que enfrentam
dificuldades para entender e lidar com as doenças, as mudanças fisiológicas e mentais que
afetam a pessoa idosa, o que pode comprometer o bem estar do idoso e a interação
familiar, já que o idoso faz parte desse sistema. Assim, acredita-se que esse trabalho tenha
contribuído para que o próprio idoso conheça seus direitos e também para o
aprimoramento das ações do Serviço Social na área do idoso como propiciar aos discentes
e demais colaborador o melhor conhecimento das questões sociais envolvendo a população
idosa.
As atividades foram realizadas respeitando sempre as limitações do publico alvo, tinha-se
em mente realizar exercícios de caminhadas, porém alguns idosos estavam muito
debilitados o que impossibilitavam de participar. Assim, optou-se em descartar essa etapa
para que aqueles considerados incapazes não ficassem mais frustrados com sua situação.
Recomenda-se que mais projetos desse tipo sejam desenvolvidos com idosos,
principalmente em municípios carentes como os de Atalaia do Norte e Benjamin Constant,
onde os direitos dos idosos não são assegurados.
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Profissionais das mais diversas áreas têm a possibilidades de desenvolver trabalhos para a
população idosa, e que suas ações estejam voltadas para promover cada vez mais uma
melhor qualidade de vida na terceira idade e na velhice. Cada um de nós pode fazer a sua
parte e contribuir com essas pessoas que já dedicaram toda a vida para o trabalho e a
família e agora merecem todo reconhecimento.
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Projeto de orientação sócioeducativo em
prol da comunidade do município de
Benjamin Constant – AM
MICHELLE FIRMINO GUIMARÃES CLÁUDIA DOS SANTOS LIMA, FLÁVIA MELO DA CUNHA,
JORGE LUÍS FREITAS DE LIMA, SOLANO DA SILVA GUERREIRO
Resumo
Este trabalho vem mostrar o resumo do projeto de extensão e interiorização da
Universidade Federal do Amazonas na qual tem como tema o projeto de orientação sócio educativo em prol da comunidade do município de Benjamin Constant/AM. O projeto
teve como objetivo geral: Desenvolver atividades de promoção à saúde e à educação
através de atendimentos psicológicos, curso de Língua Portuguesa, Espanhol, Relações
Humanas, Palestras educativas e preventivas (Drogas, Lei Maria da Penha, Violência
Doméstica e Relações de Gênero). Como objetivos específicos: Capacitar as pessoas a
melhorarem o seu curriculum profissional através dos cursos de Língua Portuguesa,
Espanhol e Relações Humanas; Proporcionar a comunidade acesso a um serviço de
Psicologia de qualidade promovendo uma melhora na qualidade de vida, auto conhecimento e mudança no estilo de vida; Promover palestras preventivas e educativas.
Os resultados encontrados foram os seguintes: Na palestra sobre Relações de Gênero
ministrado pela Antropóloga Flávia M. Cunha (INC/UFAM) participaram 12 discentes.
Nos cursos de Língua Portuguesa e Espanhol ministrado pelos Docentes Jorge Luís F.
Lima e Solano S. Guerreiro do (INC/UFAM) houve participação de 22 discentes. No
estudo da Lei da Maria da Penha ministrado pela Assistente Social Claudia S. Lima do
(INC/UFAM) participaram 11 discentes. Os atendimentos psicológicos foram realizados
pela Psicóloga Michelle F. Guimarães do (INC/UFAM) nas segundas e quarta-feira no
total de 8 horas semanais em uma sala de atendimento da Paróquia Imaculada Conceição.
Foram atendidos 20 pacientes (crianças, adolescentes e adultos) e a técnica utilizada foi
atendimento lúdico infantil e terapia cognitiva.
Palavras-chave: orientação socioeducativa; qualidade de vida; prevenção; educação.
Introdução
A Educação e Saúde, neste projeto, são consideradas como um processo de ação que
contribuirá para melhoria na qualidade de vida através de atendimentos psicológicos
individuais e em grupos, palestras preventivas e educativas (Drogas, Relações de Gênero,


Mestranda em Psicologia da Saúde pela Universidade Metodista de São Paulo e autora do trabalho.
Colaboradores técnicos para a realização do trabalho.
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Lei Maria da Penha e Violência Doméstica), cursos de capacitação como Língua
Portuguesa, Espanhol e Relações Humanas.
Segundo Beck (1997), treinar os pacientes nas habilidades cognitivas ajuda a sustentar a
melhora: a concentração nos problemas aqui e agora parece produzir alívio quase total de
sintomas. No que se refere à Psicologia é de fundamental importância as teorias cognitiva,
psicanalítica, Gestalt e humanista, que possibilitará o uso dos métodos e técnicas de
associação livre, cartão de enfrentamento, anamnese, testes psicológicos do HTP e IFP,
nos atendimentos psicológicos individuais.
Para Bandura (2008), as estruturas cognitivas, o comportamento e o meio interagem entre
si, sendo cada uma destas influenciadas e influentes sobre as outras. Nesta perspectiva, as
pessoas são o produto do seu meio, mas escolhem e moldam este meio por um processo
de interações que tem influências recíprocas. Nesta teoria emerge o conceito de
Modelagem, segundo o qual, as pessoas podem aprender através da imitação do
comportamento dos outros.
O acesso à educação causa fraturas irreparáveis na histórica barreira que segrega os
excluídos e incluídos no mundo letrado, além do que institui a fruição dos avanços
científicos e tecnológicos tendo por fundamento o manuseio dos códigos e signos da
escrita. Por meio da educação, as conquistas cognitivas, efetivas, motoras e morais se
projetam no plano individual para o meio em que o indivíduo se vive. Empossando o
entendimento semelhante, Raposo (2005, p.1) afirma:
A educação, enquanto dever do Estado e realidade social não foge ao controle do Direito.
Na verdade, é a própria Constituição federal que a enuncia como direito de todos, dever do
estado e da família, com a tríplice função de garantir a realização plena do ser humano,
inseri-lo no contexto do Estado Democrático e qualificá-lo para o mundo do trabalho. A
um só tempo, a educação representa tanto mecanismo de desenvolvimento pessoal do
indivíduo, como da própria sociedade em que ele se insere.
Método
A abordagem metodológica teve como suporte a contribuição das estratégias baseadas nos
teóricos das áreas de conhecimento dos profissionais que participam do projeto, ou seja,
Psicologia, Letras, Administração e Serviço Social.
Participantes
Participaram deste projeto 69 discentes da Universidade Federal do Amazonas e da
comunidade do município de Benjamin Constant. E participaram também cinco
profissionais dentre eles Psicóloga, Assistente Social, Antropóloga e Professores de
Espanhol e Língua Portuguesa.
Procedimento
Este projeto foi de ação qualitativa, embasada na corrente Fenomenológica, ou seja, que
permitiu conhecer a realidade, a essência, a subjetividade e a experiência.
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As ações foram desenvolvidas semanalmente pela psicóloga, assistentes sociais, docentes e
discentes. Os atendimentos psicológicos tiveram duração de 8h semanais (segundas e
quartas); os cursos com duração de 4h semanais.
A metodologia aplicada para alcançar os objetivos propostos foi a seguinte:
a) Apresentação do projeto e da equipe à comunidade na Paróquia Imaculada Conceição;
b) Atendimento psicológico individual realizado pela psicóloga em todos os meses de
duração do Projeto;
c) Curso de Língua Espanhola realizado pelo Docente do curso de Letras com a carga
horária total de 40 horas com início no mês de abril;
d) Curso de Língua Portuguesa realizado pelo Docente do curso de Letras com a carga
horária total de 40 horas com início no mês de maio;
e) Palestras educativas e preventivas referentes a Relações de Gênero, Drogas, Lei Maria da
Penha e Violência Doméstica ( Psicóloga, Assistente Social (2h para cada palestra);
f) Avaliação final após palestra, curso e atendimento psicológico.
Resultados
A partir de um questionário aplicado ao final de cada palestra ( Relações de Gênero e Lei
Maria da Penha) e curso ( Língua Portuguesa e Espanhola) obteve os seguintes resultados:
• Tirar dúvidas referente ao tema;
• Interessante o tema e uma forma de conhecer o meio social onde vivem;
• Continuar realizando palestras sobre esse tema e também sugestões de outros temas
como: Alcoolismo e abuso sexual;
• O tema, a metodologia, conteúdo, ambiente e palestrante foram excelentes;
• Foram atendidos 20 pacientes ( adolescentes, adultos e crianças.
• As palestras Violência Doméstica, Drogas e curso de Relações Humanas não aconteceram
devido ao não comparecimento dos inscritos.
Tabela 1.
N°
01
02
03
04
05
06
07
Curso/palestra
Língua Portuguesa
Língua Espanhola
Lei Maria da Penha
Relações de Gênero
Violência Doméstica
Drogas
Curso de Relações Humanas
Total
Inscritos
50
50
30
30
30
30
30
250
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Horas
40
40
12
3
3
3
20
124
125
Tabela 2.
N°
01
02
03
04
05
Curso/Palestra e atendimentos
Língua Portuguesa
Língua Espanhola
Lei Maria da Penha
Relações de Gênero
Atendimentos psicológicos
Total
Quantidade
12
12
11
14
20
69
Conclusão
Apesar das dificuldades encontradas durante a realização do projeto, mas não medimos
esforços para que realmente fosse executado.
Este projeto socioeducativo da área temática Educação e Saúde veio contribuir para
melhoria na qualidade de vida através de atendimentos psicológicos individuais, palestras
preventivas e educativas (Relações de Gênero, Lei Maria da Penha) e cursos de capacitação
como Língua Portuguesa, Espanhola.
A paróquia Imaculada Conceição contribuiu com o local (sala) de atendimento psicológico
individual e o Instituto de Natureza e Cultura – INC/BC/ UFAM com a equipe técnica:
Psicóloga, Docentes e Discentes e com o espaço físico (salas) para serem desenvolvidos as
palestras e os cursos.
No que diz respeito ao curso da Lei Maria da Penha foi ministrado pela Assistente Social
do INC apesar de poucos participantes o curso foi bem proveitosa e deram sugestões de
continuar trabalhos preventivos sobre o tema.
Dessa forma, a partir do exposto, a atividade proposta neste projeto contribuiu no
processo de melhoria na qualidade de vida da população Benjaminense.
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Qualidade de vida e gravidez na adolescência –
um estudo com participantes do Programa de
Assistência Médica e Psicossocial à Adolescente
VICTOR MANTOANI ZAIA, MARIA GERALDA VIANA HELENO,
ISMÉRI SEIXAS CHEQUE CONCEIÇÃO
Resumo
A adolescência é questão de saúde pública, principalmente na ocorrência da gravidez, nas
questões psicossociais e econômicas. Este estudo avaliou a qualidade de vida e identificou
fatores protetores e de risco que interferem no desenvolvimento de adolescentes
integrantes de um Programa de Atenção. Trata-se de um estudo descritivo e transversal,
com uma amostra de 60 adolescentes mulheres. Instrumentos: anamnese do PAMPA;
Escala Whoqol-bref. Nove participantes estavam grávidas. 90% são estudantes, 57,7%
almejam o ingresso no ensino superior; 16,7% delas trabalham e 69,9% possuem renda
familiar per capita de até um salário mínino; A média de idade foi de 14,9 anos. Quanto à
qualidade de vida as adolescentes gestantes e não gestantes foram respectivamente: dom1
14,92 e 14,26; dom2 15,85 e 13,93; dom3 15,26 e 15,69; dom4 13,50 e 13,41. A comparação
entre domínios mostrou que no domínio2 (psicológico) as grávidas apresentam
significativamente melhor qualidade de vida, que poderia advir do papel social da mulher
grávida. Quanto ao uso de substâncias psicoativas 40% utilizavam álcool, fator esta passível
de prejudicar a qualidade de vida. Um dado otimista é o alto índice de adolescentes que
estudam. Apesar disso tem-se uma queda na pretensão de ingresso no nível superior. Das
60 participantes 16,7% trabalham. Como fatores protetores ter-se-ia: o para atendimento à
adolescente; a escolaridade atual. E como risco: ausência de projeto de vida; riscos da não
continuidade dos estudos; uso de substâncias psicoativas lícitas e ilícitas com atenção ao
uso de bebida alcoólica; a situação sócio-econômica.
Palavras-chave: adolescência; gravidez; qualidade de vida; fatores protetores e de riscos.
1. Introdução
A adolescência é tema atual e também uma questão de saúde pública, principalmente na
ocorrência da gravidez, que é de alto risco para a mãe e o bebê com agravante nas questões
psicossociais e econômicas (YAZLLE, 2006); além de se tratar da saúde de milhares de
 Mestrando em Psicologia da Saúde pela Universidade Metodista de São Paulo.
 Doutora em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo. Coordenadora do Mestrado em Psicologia
da Saúde da Universidade Metodista de São Paulo.
 Doutora pela Universidade de São Paula. Coordenadora do PAMPA.
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adolescentes, suas famílias, seus filhos e conflitos com conseqüências para a sociedade
geral. A saúde entendida em sentido amplo, como a integração e dinâmica dos e entre os
aspectos biológicos, emocionais e sociais do indivíduo, deve ser avaliada por meio da
qualidade de vida, contemplando os domínios físico, psicológico, social e ambiental. O
estudo da qualidade de vida e de variáveis associadas à adolescência pode trazer a
compreensão sobre os fatores presentes neste processo gravidez-adolescência. Nele estão
associadas, por exemplo, questões individuais, econômicas e sociais aspectos subjetivos
como o desejo de ser mãe e sua representação social, até aspectos objetivos relacionados à
escolaridade e situação econômica. Não se pretende abordar todas estas variáveis em um
único estudo, mas esta pesquisa tem como objetivo avaliar a qualidade de vida de
adolescentes assistidas no Programa de Assistência Médica e Psicossocial à Adolescente
(PAMPA) da Faculdade de Medicina do ABC. Com os resultados da avaliação da qualidade
de vida pôde-se identificar fatores protetores e de risco que interferem no desenvolvimento
das adolescentes do PAMPA da Faculdade de Medicina do ABC, traçando uma relação
entre esses pontos poder-se-á em momento posterior possibilitar a proposição de
intervenções que possam centrar-se na promoção da saúde dessas adolescentes.
1.1 Adolescência e gravidez
A adolescência é um período de grandes modificações, físicas, psicológicas e sociais, no
qual o jovem perde seu corpo infantil e percebe gradativamente um novo corpo surgir, um
corpo sexuado (ABERASTURY, 1988). Principalmente nas culturas ocidentais, é o marco
da passagem da infância para a vida adulta, como apresenta a OMS (1995, apud CAPUTO;
BORDIN, 2007).
Ao longo da história da humanidade, Grossman (1998 apud ROMERO-RODRIGUEZ,
2004) aponta para uma variação do conceito de adolescência: enquanto na Idade Média, era
um período cronológico que abarcava uma idade entre 15 e 35 anos, no Iluminismo era
uma etapa que compreendia desde a primeira comunhão até o casamento (para as
mulheres) e, no século XX, finalmente passa a ser considerado um período no qual
ocorrem conflitos e crises existenciais, tornando-se motivo de estudo, principalmente no
que tange às transformações comportamentais e sexuais.
O desenvolvimento físico da menina é marcado pela telarca (crescimento das mamas), pela
pubarca (crescimento dos pêlos pubianos) e pela menarca (primeira menstruação); esta
última é vista pela adolescente como o sinal de que se tornou mulher. O período menstrual
será marcado por intervalos irregulares entre as menstruações, em média até dois anos após
a menarca (CONCEIÇÃO, 2009); essa fase seria equivalente ao período psíquico no qual
ocorre o luto pelo corpo e identidade infantis (ABERASTURY, 1988).
A partir do início da menstruação, a menina busca sua identidade de mulher, enfrentando
questionamentos relacionados à sexualidade, à maternidade e à interação mãe-bebê, desde
muito cedo treinadas nas brincadeiras infantis com bonecas (ROMERO-RODRIGUEZ,
2004).
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A menstruação, além de marcar a maturação dos ovários, segundo Aberastury (1988, p. 22),
“é o ponto de partida de uma nova etapa na posse do corpo, etapa na qual o esquema
corporal deve ir se adaptando aos futuros papéis, que cumprirão na procriação”. E
juntamente com o amadurecimento sexual, emoções mistas (como ansiedade, prazer,
temor) surgem de uma maneira mais intensa (CAPUTO; BORDIN, 2007).
Estabelece-se o processo na busca de uma nova identidade. Na qual os amigos possuem
um papel essencial, pois é nesse grupo que o adolescente pode se identificar e se conhecer,
bem como formar laços de companheirismo e intimidade (ABERASTURY, 1988;
FERREIRA e GARCIA, 2008). Ferreira e Garcia (2008) relatam que, como características
de amizade, para as adolescentes, têm-se: a paciência, tolerância, sinceridade, amor,
sentimento de irmandade, confidências, conversas, e uma hierarquização dos elos de
amizades.
As mudanças do corpo são características comuns às adolescentes e determinadas pelo
biológico. Entretanto, as mudanças emocionais e sociais da mulher na adolescência são
dependentes do desenvolvimento de fatores individuais e das características próprias da
sociedade em que ela vive. Portanto, o comportamento e as opções da jovem são
conseqüência, também, do momento sócio-cultural-econômico em que ela está inserida.
Entre esses comportamentos merecem atenção, entre outros, aqueles que culminam na
gestação. Pesquisadores como Conceição (2009) e Sarmento (1990 apud ROMERORODRIGUEZ, 2004), apontam que desde a década de 60 constata-se o aumento do
número de adolescentes grávidas, seja em países desenvolvidos ou em desenvolvimento.
No Brasil, por exemplo, esse número aumentou de 14% a 22% entre a década de 1980 e
1990 (YAZLLE, 2006). No ano de 1999, observou-se que dos partos realizados pelo SUS,
e aqui exclui-se os realizados por serviços particulares, 27% foram em adolescentes com
idade entre 10 e 19 anos em todo o Brasil (IBGE apud FOLHA, 2004).
Ainda Conceição (2009) e Sarmento (1990 apud ROMERO-RODRIGUEZ, 2004)
salientam que com essa taxa aumentada, surgem novos problemas como violência,
comportamento social de risco e Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs). Além de
dificuldades para a saúde pública, dado que a gravidez e maternidade precoce envolvem
diversos fatores prejudiciais, incluindo os riscos, inclusive à vida, nos quais estão envoltas
principalmente as gestantes menores de 14 anos (BURT, 1998 apud ROMERORODRIGUEZ, 2004).
Ao tocar na questão de Saúde Pública, Stern (1997 apud ROMERO-RODRIGUEZ, 2004)
aponta seis critérios que enquadram a gravidez na adolescência como questão de saúde
pública. São eles:
1. Aumento da incidência na gravidez de adolescentes, associado à diminuição da
faixa etária das mesmas, apontado por levantamentos epidemiológicos.
2. Um dos componentes da aceleração do crescimento da população em geral,
pois o número de adolescentes corresponde a um quinto da população mundial,
sendo que uma a cada sete pessoas, em países em desenvolvimento, se enquadra
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entre 10 e 19 anos. E Caputo e Bordin (2007) apresentam que de cada 1.000
mulheres adolescentes, 60 se tornam mãe, o que equivaleria a 17 milhões de
bebês a cada ano.
3. Riscos à saúde do bebê e da mãe adolescente devido à gravidez ser cada vez
mais precoce, sendo que quanto menor a idade da adolescente mais imaturo
está o seu corpo, colocando em risco a mãe e o bebê. Romero-Rodriguez (2004)
comenta que essa ocorrência é maior nos países em desenvolvimento, o que
aponta para a necessidade iminente de investimento em educação sexual e
prevenção de saúde reprodutiva, apesar de Conceição (2009) criticar esse
argumento, apontando que essa ocorrência é indiferente nos países
desenvolvidos como nos em desenvolvimento, o que faz a diferença numérica é
como os dados são contabilizados pelos países e a legislação dele
(principalmente no que tange à legalização da prática do aborto).
4. Outro fator importante é o econômico, a pobreza é uma característica freqüente
em adolescentes grávidas entre 13 e 19 anos.
5. Geralmente, a gestante adolescente é filha de mãe adolescente, tem renda e
nível de escolarização baixos, condições precárias de nutrição e limitação no
acesso aos serviços de saúde.
6. A gravidez na adolescência gerará como conseqüências prováveis a diminuição
das oportunidades (no como a adolescente poderá dar seguimento à sua vida),
de trabalho e educação melhor, estendendo esse quadro aos seus filhos.
Dentro da questão econômica, o IBGE propõe as seguintes classificações sociais: “A”, com
mais de 15 Salários Mínimos (SM); “B”, de 5 a 15 SM; “C”, de 3 a 5 SM; “D”, de 1 a 3 SM;
e “E”, de até 1 SM (PNAD, 2008; ABEP 2009 apud Professor Elson, s.d.).
A gravidez na adolescência, sendo então um problema de saúde pública, Conceição (2009)
indica alguns dos esforços, ao longo dos últimos quarenta anos, das políticas de saúde
pública em diminuir esse número de jovens grávidas. Alguns desses esforços concentramse em mudanças no foco dos métodos utilizados na prevenção, partindo de severas regras
em 1960, como tentativa de reprimir a liberalização do sexo, muito instigado nas
comunidades hippies como forma de expressão de liberdade – que então não surtiu efeito,
como apontado anteriormente pelos dados do IBGE – até, a partir da década de 1990, a
tentativas de esclarecimento e formação de opinião, por exemplo, através de palestras nas
escolas.
E é a partir do final da década de 1990 que esse número aparenta abaixar. No ano de 2006,
o número de adolescentes grávidas no Brasil, segundo o IBGE, foi de 20,5%. A partir de
então, desponta um início na diminuição de adolescentes grávidas. O Ministério da Saúde
descreve que de 2005 para 2009 houve uma queda de 22,4% desse número no Brasil. E se
por um lado tem-se uma notória diminuição, por outro, se pensar-se em números
absolutos, tem-se ainda, em um único ano, de 2009, 444.056 adolescentes primigestas
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(JORNAL 45 GRAUS, 2010). Ou seja, um número ainda consideravelmente alto e
meritório de atenção.
O Estado de São Paulo, no sudeste do Brasil, entre os anos de 1998 e 2008, conseguiu
reduzir seu número de adolescentes grávidas em 36,2% através de políticas públicas, que
como dito anteriormente, permeiam o esclarecimento e formação de opinião, sendo isso
feito através de incentivos a lugares de atendimentos aos adolescentes com equipes
interdisciplinares (ESTADÃO, 2008). Propostas e ações essas que parecem estar sendo
seguidas pelo Ministério da Saúde, para o país como um todo, com menor ou maior
efetividade (JORNAL 45 GRAUS, 2010).
Pode-se então fazer um contraponto: se por um lado, tem-se o insucesso, ou pouco
sucesso na redução do número de adolescentes grávidas, até um determinado período, por
outro tem-se uma aparente considerável redução nele, a partir de um segundo momento,
isso podendo advir da forma de acompanhamento realizado à essas adolescentes.
Nesse sentido, Burt (1998 apud ROMERO-RODRIGUEZ, 2004) corrobora dizendo que
o oferecimento de atenção, em países da América Latina, é centrada nos problemas
específicos como: criminalidade, abuso de drogas e gravidez precoce e não em programas
de prevenção em longo prazo. Tais programas seriam capazes de atender aos adolescentes
em todo o seu desenvolvimento, e não em momentos específicos, como comumente se faz.
Exemplo desse gênero de atendimento, referido por Burt (1998 apud ROMERORODRIGUEZ, 2004), é o Programa de Assistência Médica e Psicossocial à Adolescente PAMPA realizado na Faculdade de Medicina do ABC, desde 1983 e coordenado pela Dra.
Isméri Seixas Cheque Conceição, que visa um atendimento longitudinal, multi e
interdisciplinar, abarcando a gravidez na adolescência como estando associada a diversas
modificações próprias da idade, bem como a fatores como: baixa autoestima, dificuldade
escolar, abuso de álcool e drogas, comunicação familiar escassa, conflitos familiares, pai
ausente e ou rejeitador, violência física, psicológica e sexual, rejeição familiar pela atividade
sexual, entre outros, que seriam fatores predisponentes à gravidez na adolescência
(YAZLLE, 2006; BUENO, s.d.).
Entre esses aspectos não se pode deixar de citar a escolaridade dessas adolescentes.
Tomando a realidade brasileira, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
(INEP) demonstra que apenas 40% dos brasileiros finalizam o ensino obrigatório e 6% o
ensino superior. Cabe lembrar que famílias de menor renda estão sujeitas a um menor nível
de estudo. Ao se observar especificamente as adolescentes grávidas e as não grávidas,
Upchurch e McCarthy (1990 apud YAZLLER, 2006) relataram em seu estudo que são 39%
as adolescentes grávidas que abandonaram a escola, enquanto que nas não grávidas o
abandono foi de 19%. Sobre o retorno à escola, das adolescentes que engravidaram 30%
voltaram e concluíram os estudos, enquanto as que não engravidaram constituem 85%.
Recaindo-se ainda sobre os estudos, Duarte et al. (2006), apontam que existem diversos
estudos que demonstram que as adolescentes grávidas têm um grau menor de escolaridade.
Os mesmos autores ainda colocam que, com base em estudos, as adolescentes gestantes de
baixa escolaridade cumpririam o papel social destinado à elas de uma certa estagnação
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(tudo isso dentro de uma sociedade que exige estudo). Dessa forma quanto maior a
escolaridade da mulher, mais tardiamente se daria a gestação. Além do que, a gravidez em
idade precoce levaria à uma diminuição na probabilidade de retorno à escola após uma
interrupção (que poderia ser advinda da própria gravidez, como também de outros fatores).
(DUARTE et al., 2006)
Além da questão de escolaridade, outro aspecto apontado por Duarte et al. (2006) é que a
cultura não deve ser esquecida, pois é grande a influência dela, já que grande parte das
mulheres é criada para ser mãe e constituir família, tendo assim na gravidez, não um risco,
mas o que para elas representaria uma consumação do seu papel social e a realização de um
sonho internalizado durante o seu desenvolvimento (CONCEIÇÃO, 2009). Sendo assim,
informações sobre a estrutura fisiológica e anatômica feminina e sobre métodos
anticonceptivos (MACs) serão insuficientes para evitar a gravidez e DSTs (ROMERORODRIGUEZ, 2004).
Além disso, é na adolescência que se dá a descoberta da vida sexual, e logo todo o interesse
e curiosidades por ela, e para Aguiar (1994 apud CAPUTO; BORDIN, 2007), a atividade
sexual na adolescência se ligaria aos seguintes pontos: alívio de angústias, aceitação por
parte do parceiro ou do grupo, suprimento de carência afetiva, uma forma de afirmação,
entre outros pontos que também colaborariam para a continuação da atividade sexual sem
necessariamente haver utilização de MACs.
1.2 Qualidade de vida
O termo “qualidade de vida” é um conceito que ainda se encontra em processo de
formação. Até o atual momento, a literatura indica que a qualidade de vida é composta por
fatores subjetivos e objetivos, variando para cada indivíduo, sociedade e cultura (MORAG,
1995).
Além de variar em cada sociedade, o termo pode, ao longo dos anos, variar dentro de uma
mesma. Citando a sociedade ocidental como exemplo, a primeira vez em que se observa a
“Qualidade de Vida” era vigente o modelo biomédico na saúde, de tal forma que o termo
se referia, principalmente, à inexistência de doença. Com a mudança para um modelo
ecológico, passa-se a ver o indivíduo como um todo, dentro de uma visão inter e
multidisciplinar, agora primando, entre outras coisas, pela prevenção da saúde nos níveis
primários, secundários e terciários, além da promoção da saúde.
Kimura (1999) cita autores que consideram a qualidade de vida como um conceito
multidimensional, que considera a visão e avaliação subjetiva dos indivíduos e inclui
aspectos do comportamento afetivo-emocional, da capacidade funcional, da interação
social, do trabalho e da situação econômica. Pode-se dentro do comportamento afetivoemocional e mesmo da interação social citar que o lazer aí se insere, pois segundo
Durmazedier (1979 apud ALMEIDA e GUTIERREZ, 2004), o lazer é o conjunto de ações
que o sujeito escolhe para se divertir, recrear-se e entreter-se, em um processo pessoal de
desenvolvimento, ou seja, demostra um estilo de vida que leva à qualidade de vida.
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Também nesse sentido se encontra o autor Magnani (2000 apud ALMEIDA e
GUTIERREZ, 2004) que coloca como principal característica do lazer o interesse pessoal,
e ainda Morin (1997 apud ALMEIDA e GUTIERREZ, 2004) que aponta para o lazer como
estando vinculado ao repouso, recuperação do trabalho e reprodução da sociedade na qual
estamos inseridos. Novamente se pensa no lazer como possuindo uma ligação com a
qualidade de vida.
Neste novo modelo de saúde – o ecológico – o conceito qualidade de vida vem sendo cada
vez mais citado no meio da Saúde e vem influenciando políticas públicas e práticas nessa
área (SEID; ZANNOM, 2004).
Uma das dificuldades na definição exata da qualidade de vida deriva da inserção da
subjetividade, que compreende a percepção dos indivíduos sobre seu estado de saúde e sua
vida como um todo. Mas, justamente por considerar a subjetividade, as informações
provenientes da qualidade de vida são relevantes na avaliação de eficácia, abordagem,
adesão e impactos originados de determinados tratamentos para grupos de doenças
específicas.
Na busca pela definição precisa do termo e com a possibilidade qualitativa e quantitativa de
avaliação que a qualidade de vida permite, vários instrumentos ou índices foram criados, de
forma a não avaliar somente indivíduos ou grupos portadores de alguma doença, mas
também aqueles saudáveis, de modo a identificar novas formas de prevenção e promoção.
Patrick e Deyo (1989) e Guyatt (1995) informam que estas avaliações podem ser feitas de
dois modos: específico, capazes de avaliar determinados aspectos da qualidade de vida de
forma específica e individual; e genérico, capacitados a demonstrar o impacto de uma
doença na vida de indivíduos em diversas populações.
Em 1995 foi criado o “The WHOQOL Group”, pela Organização Mundial da Saúde
(OMS), que é o Grupo de Qualidade de Vida da referida organização. Este grupo foi
responsável por desenvolver um instrumento para avaliar a qualidade de vida, o
WHOQOL-100, o qual toma como base que a “Qualidade de Vida” é uma construção
subjetiva, multidimensional, indo ao encontro do que apresentou Kimura (1999) e
composta de pontos negativos (dor) e positivos (mobilidade).
Como o WHOQOL-100 é uma escala extensa e para que se houvesse a possibilidade de
uma aplicação desse um instrumento de uma forma mais rápida, o WHOQOL Group
também desenvolveu uma versão abreviada da citada escala, conhecida como WHOQOLbref, composta por 26 questões distribuídas nos domínios: físico, psicológico, relações
sociais e meio ambiente (THE WHOQOL GROUP, 1995), a qual será utilizada neste
trabalho.
Com a atenção da área da saúde cada vez mais voltada à Qualidade de Vida e com a
criação, por parte da OMS, do WHOQOL Group, a melhoria da qualidade de vida passou
a ser um dos resultados esperados tanto das práticas assistenciais, quanto das políticas
públicas para o setor, nos campos da promoção da saúde e da prevenção de doenças. Nesse
raciocínio, ao pensar-se em adolescentes grávidas ou com risco de gravidez, a compreensão
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da qualidade de vida delas se torna fundamental para propiciar possíveis estratégias no
campo do atendimento especializado às mesmas.
2. Objetivos
Esta pesquisa teve como objetivos avaliar a qualidade de vida e identificar fatores
protetores e de risco que interferem no desenvolvimento das adolescentes grávidas e não
grávidas que participaram da pesquisa e que são assistidas pelo Programa de Assistência
Médica e Psicossocial à Adolescente (PAMPA) da Faculdade de Medicina do ABC, bem
como caracterizar essa população, além de traçar uma relação entre esses pontos (qualidade
de vida e fatores protetores e de risco), o que poderá permitir, em momento posterior, a
proposição de intervenções que possam centrar-se na promoção da saúde.
3. Método
Este foi um estudo descritivo, quantitativo e transversal.
Descritivo por ter visado ao estabelecimento de relações e associações entre variáveis
(fatores protetores e de risco para a saúde das adolescentes) e por ter tido técnicas
padronizadas para a coleta dos dados (GIL,1991). Quantitativa devido à coleta dos dados e
o tratamento dos mesmos. E transversal por ter selecionado um período específico dentro
de todo o atendimento do PAMPA – programa este que se encontra em atividade desde
1983.
Estudou-se um grupo específico – as adolescentes que iniciavam o atendimento no
PAMPA – buscando por características como: escolaridade, gravidez, procedência,
drogadição, entre outras. (GIL, 1991)
3.1 Participantes
No período de setembro de 2009 a fevereiro de 2010 foram inscritas para primeira consulta
no PAMPA 65 adolescentes mulheres no atendimento realizado no período matutino. Das
65 mulheres, todas estavam dentro da faixa etária estabelecida pelo levantamento
preliminar que determinou a idade mínima e máxima das adolescentes gestantes assistidas
no PAMPA. Das 65 adolescentes que iniciaram o atendimento no programa, 5 não
aceitarem participar da pesquisa.
Das participantes, 09 eram gestantes (08 na primeira gestação e 01 na segunda), e 51 nãogestante, com a faixa etária entre 12 e 20.
3.2 Local
O trabalho foi realizado no Programa de Assistência Médica e Psicossocial à Adolescente
(PAMPA), do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina do
ABC, na cidade de Santo André, que oferece à população assistência gratuita. Portanto, a
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população atendida nesse serviço corresponde às classes sócio-econômicas menos
favorecidas (CONCEIÇÃO, 2009).
O PAMPA, fundado em 1983, realiza assistência multi e interdisciplinar, nas áreas da
medicina, psicologia, fisioterapia, enfermagem, nutrição e assistência social, atendendo
adolescentes mulheres da região do Grande ABC e São Paulo. Trabalha enfocando
principalmente a prevenção e orientação às adolescentes.
3.3 Duração
A pesquisa teve duração de dois anos, contando a partir do levantamento de referências
bibliográficas, compreendendo o período de maio de 2009, até maio de 2011. Sendo que
entre agosto de 2009 e julho de 2010, este trabalho recebeu PIBIC pelo CNPQ.
3.4 Instrumentos
Foram utilizados os seguintes instrumentos:
1) Anamnese realizada na entrevista inicial no PAMPA.
2) Questionário sobre características sócio-demográficas e fatores de risco para
gravidez na adolescência, desenvolvidos pelas autoras Caputo e Bordin.
3) Whoqol-bref – Escala de qualidade de vida.
3.5 Procedimento
Tendo como preposição que um dos fatores de risco ou protetor da adolescência seria a
gravidez, fez-se um estudo preliminar para que se pudesse determinar a faixa de idade das
adolescentes gestantes assistidas no PAMPA. O estudo foi feito através do levantamento
de prontuários de adolescentes matriculadas no serviço de fevereiro de 2006 a fevereiro de
2009. A idade mínima foi 12 anos e a idade máxima 20 anos, configurando assim a faixa
etária que participou da pesquisa.
As adolescentes de primeira consulta no PAMPA com idade entre 12 e 20 anos foram
submetidas a entrevista social, psicológica e consulta médica, conforme a rotina do serviço.
Após o atendimento padrão da primeira consulta as adolescentes eram encaminhadas para
os pesquisadores que apresentavam à adolescente e seu responsável legal presente o convite
para participar da pesquisa. Nesta oportunidade os pesquisadores explicavam os objetivos
da pesquisa, o sigilo da identidade da adolescente, o termo de consentimento livre e
esclarecido e a garantia da preservação dos seus direitos de não aceitar participar da
pesquisa sem qualquer prejuízo à assistência no PAMPA.
O termo de consentimento livre e esclarecido foi acordado pela adolescente e pelo adulto
legalmente responsável por ela. As possíveis participantes foram esclarecidas que tinham o
direito a desistir da participação na pesquisa a qualquer momento, se assim fosse da
vontade delas, mesmo que os dados já tivessem sido coletados. Nestes casos, as
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informações coletadas pelo PAMPA, através da anamnese, não seriam utilizadas e
informou-se também que a desistência em participar da pesquisa não teria nenhuma
influência em seu tratamento no PAMPA. Nos casos de adolescentes com idade igual ou
maior de 18 anos (ou emancipadas) foi dispensada a concordância assinada pelo adulto
acompanhante.
A pesquisa teve a aprovação da coordenadora do PAMPA e do Conselho de Ética em
Pesquisa CEP - da FMABC.
Referente à análise dos riscos, esta pesquisa não propiciou risco às suas participantes. Em
todo caso a equipe de pesquisadores estava preparada para na ocorrência de qualquer
imprevisto – o que não ocorreu – e foram tomadas as medidas necessárias para que não
houvesse qualquer prejuízo – físico, psicológico e social – para a participante. Pôde-se
averiguar que a realização da pesquisa trouxe uma melhor compreensão dos processos que
medeiam a qualidade de vida das adolescentes grávidas primigestas ou não do PAMPA da
FMABC e isso possibilitará em um estudo futuro propor intervenções mais efetivas que
possam centrar-se na promoção da saúde.
Após entrevista social, psicológica, consulta médica e assinatura do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido, responderam o “Questionário sobre características
sócio-demográficas e fatores de risco para gravidez na adolescência, desenvolvido pelas
autoras Caputo e Bordin”. Este questionário teve duas versões, chamadas de A e B. A
versão A foi respondida pelas adolescentes gestantes e a versão B pelas adolescentes não
gestantes. As questões deste questionário que eram iguais da anamnese sócio-psico-médica
do PAMPA foram retiradas do questionário, evitando assim que a adolescente passasse
pela mesma série de perguntas. Em seguida, foi aplicado o Whoqol-bref – Escala de
qualidade de vida (OMS). Nos casos em que a adolescente apresentasse dúvidas no
entendimento das questões, o pesquisador procurou esclarecer suas dúvidas sem interferir
na resposta. É válido ressaltar que as aplicações desses dois instrumentos foram feitas
individualmente.
3.6 Tratamento dos dados
A análise dos dados teve tratamento específico de acordo com cada instrumento, segundo a
recomendação dos respectivos autores. Para a análise estatística foi utilizado o “Statistical
Package for the Social Sciences” (SPSS). Para o Whoqol-bref – Questionário de qualidade de
vida (OMS) foi utilizada a Syntaxe de avaliação conforme recomendação da OMS. Com
relação ao instrumento “Anamnese do PAMPA” e o Questionário sobre características
sócio-demográficas e fatores de risco para gravidez na adolescência foram utilizados dois
tipos de análise. Para os dados quantitativos se fez uso da estatística descritiva, para os
dados qualitativos as respostas foram analisadas e transformadas em categorias. Finalmente,
foram realizadas comparações entre as estatísticas obtidas para analisar as possíveis relações
entre os dados dos três instrumentos.
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4. Resultados
A amostra foi constituída por 60 adolescentes do gênero feminino com idade entre 12 e 20
anos, a média foi de 14,9 anos no geral; quando diferenciado grávidas de não grávidas,
respectivamente a média de idade foi: 15 e 14,9 anos. Quanto ao estado civil 33
adolescentes (55%) eram solteiras sem namorado, 24(40%) solteiras com namorado,
02(3,3%) amasiadas e 01(1,7%) casada. A maioria delas 50(83,3%) era natural do Estado de
São Paulo, 06(10%) eram do Nordeste, 01(1,7%) da região Norte e 03(5%) não
responderam.
Com relação à cor 24(40%) eram brancas, 02(3,3%) negras e 33(56,7%) pardas.
Quanto aos estudos 54(90%) delas responderam que estudavam, enquanto 06(10%) não
estudavam. Os dados sobre escolaridade mostraram que 31(51,7%) estavam no ensino
fundamental, 02(3,3%) cursavam supletivo, 23(38,3%) ensino médio e 04(6,7%) estavam
no curso técnico ou superior. As adolescentes que estudavam no período matutino eram
22(36,7%), vespertino 17(28,3%), noturno 10(16,7%), integral 06(10%), e 05(8,3%) não
responderam. A maioria, 50(83,3%), estudava em escola pública, 04(6,7%) em particular e
06(10%) não responderam. No item repetência 20(33,3%) delas já haviam repetido alguma
série, enquanto 40(66,7%) não. Sobre a pretensão de estudo, 01(1,7%) pretendia terminar o
1º Grau, 19(31,7%) queriam terminar o 2º Grau, 06(10%) pretendiam fazer algum curso
técnico e 34(56,7%) queriam ingressar no ensino superior.
Quando diferenciada a escolaridade das gestantes e não gestantes teve-se: para as gestantes,
01(11,1%) estava no primeiro fundamental (1ª a 4ª série), 07(77,7%) no segundo
fundamental (5ª a 8ª série), e 01(11,1%) no ensino médio; com relação às não grávidas tevese 02(4%) no primeiro fundamental, 24(47,1%) no segundo fundamental, 23(45,1%) no
ensino médio, 01(2%) no ensino técnico e 01(2%) no superior. Segue tabela 1.
Tabela 1. Distribuição das adolescentes segundo a escolaridade de grávidas e de não
grávidas, na 1ª consulta no PAMPA, entre setembro de 2009 a fevereiro de 2010.
Não grávidas
Grávidas
1º Fundamental
2º Fundamental
Ens. Médio
Técnico
Superior
4%
47,10%
45,10%
2%
2%
11,10%
77,70%
11,10%
0%
0%
A minoria das adolescentes trabalhava, eram 10(16,7%). 50(83,3%) não trabalhavam. E
havia 12 adolescentes (20%) que estavam procurando emprego. A renda familiar até 02
salários mínimos ocorreu em 13 adolescentes (21,7%), de 02 a 04 em l7(28,3%), de 04 a 06
em 14(23,3%) e acima de 06 em 16(26,7%). A renda per capta das famílias das adolescentes
participantes foi: até meio salário mínimo 19 famílias (31,6%); de meio a um salário mínimo
23(38,3%), de um a dois salários mínimos 14(23,3%) e acima de dois salários mínimos
04(6,6%).
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Tabela 2. Distribuição das adolescentes segundo a renda per capta familiar, na 1ª consulta
no PAMPA, entre setembro de 2009 a fevereiro de 2010.
Renda per capta por salário mínimo
até ½
de ½ a 1
de 1 a 2
acima de 2
Frequência
19
23
14
04
Porcentagem
31,6%
38,3%
23,3%
6,6%
Das adolescentes entrevistadas 44(73,3%) não praticavam esporte e 16(26,7%) praticavam.
No item chefe da família 06(10%) relataram que não existe essa figura, 33(55%) pai ou mãe,
09(15%) pai e mãe, 01(1,7%) a própria adolescente e 11(18,3%) outras situações. Quanto
ao tipo de casa, 55(91,7%) habitavam casas de alvenaria e 05(8,3%) moravam em casas de
madeira. Das habitações, 34(56,7%) eram próprias, 15(25%) alugadas, 11(18,3%) cedidas e
05(8,3%) de todas as casas situavam-se em favelas/comunidades.
Tabela 3. Incidência da relação de propriedade da moradia das adolescentes matriculadas
no PAMPA no período de setembro de 2009 a fevereiro de 2010.
A residência era:
Própria
Alugada
Cedida
Frequência
34
15
11
Porcentagem
56,7%
25%
18,3%
PAMPA: Programa de Assistência Médica e Psicossocial à Adolescente
Sendo o PAMPA um ambulatório que oferece atendimento integral às adolescentes, as
queixas médicas e psicológicas apresentadas pelas 60 participantes deste estudo foram, para
o médico: consulta de rotina (check-up) 34(56,6%), 08(13,3%) pré-natal, 07(11,7%) para
Método Anticonceptivo, 05(8,3%) queixa emocional e 06(10%) não sabiam o motivo da
procura ao serviço. As queixas no atendimento psicológico foram: dificuldades de
relacionamento interpessoal 11(18,3%), intrapsíquicas 36(60%) e 13(21,7%) não sabiam o
motivo da procura ao serviço.
Tabela 4. Frequência das queixas médica das adolescentes matriculadas no PAMPA no
período de setembro de 2009 a fevereiro de 2010.
Queixas Médicas
Frequência
Porcentagem
CHECK-UP
34
56,6%
Pré-natal
08
13,3%
MAC
07
11,7%
Emocional
05
8,3%
Não sabe
06
10%
PAMPA: Programa de Assistência Médica e Psicossocial à Adolescente / MAC: método
anticoncepcional
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138
Tabela 5. Frequência das queixas psicológicas das adolescentes matriculadas no PAMPA
no período de setembro de 2009 a fevereiro de 2010.
Queixas Psicológicas
Frequência
Porcentagem
Dificuldade de relacionamento interpessoal
11
18,3%
Dificuldades intrapsíquicas
36
60%
Não sabe
13
21,7%
PAMPA: Programa de Assistência Médica e Psicossocial à Adolescente
Os dados relativos à família mostraram que 16 adolescentes (26,7%) não tinham contato
com o pai, sendo 06 por motivo de falecimento. Das que tinham algum relacionamento
com o pai, 10(22,8%) disseram que a relação era ruim, 14(31,8%) regular e 20(45,4%) que
era boa. No que se refere ao relacionamento com a mãe 04(6,7%) não tinham contato com
a mãe, sendo 02 por motivo de falecimento. Das que tinham algum relacionamento com a
mãe, 08(14,3%) disseram que a relação era ruim, 07(12,5%) regular e 41(73,2%) boa. Com
os irmãos 06(10%) não tinham irmãos, das que tinham 15(27,8%) a relação era ruim,
08(14,8%) regular, 31(57,4%) boa. Sobre padrasto, 20(33,4%) das adolescentes possuíam
padrasto, e a relação afetiva era ruim para 07(35%) delas, regular para 03(15%) e boa para
10(50%); sobre madrasta 10(16,7%) das adolescentes possuíam, dessas o relacionamento
era ruim para 01(10%), regular para 05(50%) e bom para 04(40%).
Tabela 6. Distribuição das adolescentes, segundo sua relação afetiva com o pai, mãe e
irmãos, matriculadas no PAMPA de setembro de 2009 a fevereiro de 2010.
Relação Familiar
Ruim
Regular
Boa
Pai
22,8%
31,8%
45,4%
Mãe
14,3%
12,5%
73,2%
Irmãos
27,8%
14,8%
57,4%
PAMPA: Programa de Assistência Médica e Psicossocial à Adolescente
Tabela 07. Distribuição das adolescentes, matriculadas no PAMPA de setembro de 2009 a
fevereiro de 2010, segundo sua relação afetiva com o padrasto e madrasta.
Relação Familiar
Ruim
Regular
Boa
07
03
10
Padrasto
35%
15%
50%
Madrasta
01
05
04
10%
50%
40%
Sobre as relações afetivas extra-familiares, apenas 03(5%) das adolescentes referiram que
não tinham relações de amizade.
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Todas as adolescentes, exceto uma, relataram que realizam atividades de lazer, As
atividades eram: ligadas à Mídia 37(61,7%); atividade de sair/passear 29(48,3%); atividade
de cunho artístico/intelectual 21(35%); alguma atividade desportiva 13(21,7%); namorar 05
(8,3%); outras atividades 08(13,3%); e dormir 08(13,3%). Essas atividades eram praticadas
sozinhas ou acompanhadas por: familiares, amigos/colegas e namorado.
Tabela 08. Distribuição das adolescentes, matriculadas no PAMPA de setembro de 2009 a
fevereiro de 2010, segundo o tipo de lazer feito pelas mesmas, frequência e porcentagem.
Tipo de lazer
Mídia
Sair/passear
Artístico/intelectual
Atividade desportiva
Dormir
Namorar
Outros
Frequência
37
29
21
13
08
05
08
Porcentagem
61,7%
48,3%
35,0%
21,7%
13,3%
08,3%
13,3%
Sobre o uso do tabaco, álcool, maconha e cocaína, os dados a seguir foram extraídos da
Anamnese do PAMPA sendo que os dados referentes seguem no gráfico 1 através de
números absolutos. Aquelas que nunca experimentaram alguma droga foram 14(23,33%), e
algum tipo de droga 46(73,33%).
Gráfico 1. Distribuição das adolescentes, segundo o tipo de droga em uso ou
experimentada, matriculadas no PAMPA no período entre setembro de 2009 a fevereiro de
2010.
*A categoria “Outras” se refere a: lança-perfume e cola.
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Tabela 09. Distribuição das adolescentes, matriculadas no PAMPA de setembro de 2009 a
fevereiro de 2010, com relação à drogadição (idade, experimentação e utilização).
Média de idade (anos)
Quantas adolescentes experimentaram
Quantas usam
Tabaco
12,71
21
07
Álcool
12,06
47
24
Maconha
13,75
4
0
Cocaína
14,25
4
0
Outras
16
1
0
Das adolescentes estudadas 07(11,7%) referiram que não tinham tido a menarca. A menor
idade da ocorrência da menarca foi aos 07 anos e a maior idade foi aos 16 anos, sendo que
a média de idade foi de 11,9 anos. Quanto ao sentimento diante da menarca 21(35%) não
souberam responder; 15(25%) responderam que foi horrível; 07(11,7%) normal e
17(28,3%) bom.
Tabela 10. Idade da menarca nas adolescentes matriculadas no Pampa de agosto de 2009 a
fevereiro de 2010.
Idade
Média
mínima
máxima
Menarca: primeira menstruação
Anos
11,9
07
16
Tabela 11. Tipo e incidência dos sentimentos referentes à menarca entre as adolescentes na
entrevista da primeira consulta no Pampa de agosto de 2009 a fevereiro de 2010
Sentimentos
Não sabe
Ruins
Normais
Bons
Frequência
21
15
07
17
Porcentagem
35%
25%
11,7%
28,3%
Sobre a ocorrência da primeira relação sexual 04(6,7%) adolescentes não responderam,
25(41,7%) responderam que já haviam iniciado a vida sexual, e 31(51,7%) negaram primeira
relação sexual. Estas mesmas adolescentes, quando indagadas sobre os seus próprios
conhecimentos de métodos anticonceptivos (MAC), 12(20%) não souberam responder,
40(66,7%) responderam que conheciam, e 07(13,3%) relataram desconhecer qualquer tipo
de MAC.
Às 25 adolescentes que haviam iniciado a vida sexual, foi indagado sobre o uso de algum
Método anticonceptivo (MAC) na primeira relação sexual e: 08(32%) disseram não saber,
11(44%) disseram ter feito uso de condon (camisinha) e 06(24%) negaram o uso de
qualquer MAC
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141
Dentre as 25 adolescentes que já haviam iniciado a atividade sexual 17(68%) referiram
terem vida sexual ativa na época da entrevista. Dessas 17 adolescentes, com vida sexual
ativa na ocasião da entrevista, 09(52,9%) estavam grávidas, 06(35,3%) utilizavam algum tipo
de MAC, e 02(11,8%) não faziam uso de qualquer MAC. Das grávidas, 08(88,8%) eram
primigestas, e 01(11,2%) estava na segunda gestação; dentre as grávidas ainda, 04(44,3%)
eram brancas, 0(0%) eram negras e 05(55,7%) eram pardas.
Nos antecedentes pessoais da anamnese médica encontramos: algum tipo de quadro
alérgico em 12(20%) adolescentes; alguma cirurgia em 11(18,3%) adolescentes; alguma
doença infecto-contagiosa (ex.: sarampo, caxumba,...) em 27(45%); algum quadro de
doença cárdio-respiratória em 08(13,3%); alguma doença crônica em 05(8,3%). Para
06(10%) adolescentes o esquema de vacinas não estava completo. Nos antecedentes
familiares das adolescentes encontramos referência a: Hipertensão Arterial 33(55%);
Diabetes 22(36,7%); Alcoolismo 11(18,3%); patologia psiquiátrica 04(6,7%); mãe solteira
29(48,3%); drogadição 12(20%); neoplasia maligna 17(28,3%); doença hereditária 02(3,3%);
e trombose 05(8,3%).
O segundo instrumento utilizado, “Características sócio-demográficas e fatores de risco
para gravidez na adolescência”, permitiu uma diferenciação entre alguns fatores levantados
para as adolescentes grávidas e não-grávidas. Os dados estão descritos a seguir.
Enquanto 32(62,7%) das adolescentes não-grávidas havia a pretensão de realizar um curso
universitário, apenas 02(22,2%) das jovens gestantes pretendem realizá-lo. Situação que se
inverte ao olhar o curso técnico, são 04(7,8%) das não grávidas que pretendem cursar
algum curso técnico, e que se mantém nas gestantes, pois são 02(22,2%) as gestantes que o
querem cursar.
Essas adolescentes referem terem sido cuidadas na infância por: nas não grávidas,
18(35,3%) criadas somente pela mãe, 23(41,1%) por mãe e pai e 10(19,6%) por outros; e
nas grávidas foram 06(66,7%) criadas somente pela mãe e 03(33,3%) por pai e mãe.
Ao indagadas sobre se conheciam alguém grávida e que tivesse menos de 19 anos, a grande
maioria respondeu positivamente, sendo para as não grávidas: 30(58,8%) eram colegas,
15(29,4%) na família, e 06(11,8%) disseram não conhecer. Para as gestantes: 02(22,2%)
disseram conhecer colegas, 05(55,6%) familiares, e 02(22,2%) negaram conhecer alguém.
Perguntou-se sobre a frequência no uso de condon pelas adolescentes que haviam iniciado
a vida sexual, das não gestantes: 01(6,25%) nunca havia usado, 08(50%) utilizavam à vezes
e 07(43,75%) sempre. Das gestantes, 03(33,3%) disseram nunca terem usado, 05(55,6%) às
vezes, 01(11,1%) se referiu a ter sempre usado. As 60 adolescentes disseram não querer
engravidar.
Das adolescentes não grávidas, 10(62,5%) referiram que pediam para o parceiro utilizar
condon e 06(37,5%) não pediam. Quando perguntado do porquê pediam ou não
05(31,25%) disseram não pedir pois o companheiro usava, 01(6,25%) não pedia porque ela
não queria usar, 09(56,25%) pediam por medo de engravidar, 01(6,25%) para não ter
doença.
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142
As grávidas que pediam a utilização de condon pelo parceiro eram 05(55,6%) e 04(44,4%)
que não pediam. Entre os porquês teve-se: 02(22,2%) não pediam porque o companheiro
já usava, 03(33,3%) porque elas não queriam usar, 04(44,4%) pediam por medo de
engravidar.
Indagou-se se as adolescentes já haviam realizado alguma consulta ginecológica anterior
àquela realizada no primeiro dia no PAMPA, e como respostas teve-se: das adolescentes
não grávidas, 24(47,1%) já haviam se consultado, enquanto 27(52,9%) não. Das que se
consultaram, 28(54,9%) não sabia o motivo, 19(37,3%) por rotina, e 04(7,8%) por MAC.
Com relação às adolescentes gestantes, 05(55,6%) nunca haviam se consultado em
ginecologia, e 04(44,4%) haviam se consultado; sobre os motivos 05(55,6%) disseram
nunca ter ido ao ginecologista por não pensar nisso, 02(33,3%) foram por perda da
virgindade e 01(11,1%) por infecção.
Buscou-se saber se as adolescentes frequentavam ou haviam frenquentado algum grupo de
jovem na comunidade, nas não grávidas 32(62,7%) nunca frequentaram, 09(17,6%)
frequentaram e pararam, e 10(19,6%) frequentaram e continuam frequentando. Nas
grávidas 05(55,6%) nunca frequentaram, e 04(44,4%) frequentaram mas pararam; sendo
que dessas 04, apenas 01 parou de frequentar durante a gravidez e todas as demais pararam
antes.
Com este instrumento, Questionário sobre características sócio-demográficas e fatores de
risco para gravidez na adolescência, foi possível fazer uma distinção entre grávidas e não
grávidas no referente ao “experimentou algum tipo de droga”, (ressalta-se que o termo
experimentar neste instrumento não diferencia quem experimentou daquelas que fazem
uso atualmente). Dentre as não grávidas: 16(31,4%) experimentaram tabaco, 39(76,5%)
álcool, 04(7,8%) maconha, 03(5,9%) cocaína, e 01(2%) outro tipo de droga, no caso Lançaperfume. Nas grávidas teve-se: 06(66,7%) experimentaram tabaco, 07(77,8%) álcool,
01(11%) maconha, 01(11%) cocaína.
No terceiro instrumento utilizado, o Whoqol-bref (anexo IV), foram encontradas as
seguintes médias nos domínios da Qualidade de vida: Dom1 (físico) 13,68, Dom2
(psicológico) 14,84, Dom3 (relações sociais) 15,62 e Dom4 (meio ambiente) 14,93.
A comparação dos resultados obtidos pelas gestantes e não gestantes, por meio do teste
não paramétrico Mann-Whitney, mostrou que existe uma diferença estatisticamente
significativa no Dom2 (psicológico) apontando que nas gestantes há uma melhor qualidade
de vida do que nas não gestantes (tabela 12).
Respectivamente para as gestantes e não gestantes as medianas apresentadas foram:
Domínio Físico 15,43 e 14,29; Domínio Psicológico 16 e 14,67; Domínio Relações Sociais
14,67 e 16; Domínio Meio Ambiente 14 e 13,5; e o Overall foi de 16 e 14. Sendo que
apenas o Domínio Psicológico apresentou significância, sendo ela de 0,02.
Gráfico 2. Distribuição das adolescentes gestantes e não gestantes quanto a
experimentação (ou uso) de drogas, matriculadas no PAMPA no período entre setembro
de 2009 a fevereiro de 2010.
Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3
143
Tabela 12. Domínios do Whoqol-bref nas adolescentes matriculadas no PAMPA no período
entre setembro de 2009 a fevereiro de 2010.
Domínios
dom1 físico
dom2 psicológico
dom3 relações sociais
dom4 meio ambiente
Overall
Mínimo
9,14
7,33
9,33
7,50
6,00
Máximo
18,29
19,33
20,00
19,50
20,00
Média
13,68
14,84
15,62
13,42
14,93
Tabela 13. Domínios do Whoqol-bref na população pesquisada, comparando as gestantes
com as não gestantes.
Domínios
Físico
Psicológico
Relações Sociais
Meio Ambiente
Overall
Gestantes
Mediana
15,43
Mínimo
10,29
Máximo
17,71
Média
14,92
Não Gestantes
Gestantes
14,29
16,00
6,29
13,33
17,14
18,00
14,26
15,85
Não Gestantes
Gestantes
14,67
14,67
4,67
9,33
18,00
20,00
13,93
Não Gestantes
Gestantes
16,00
14,00
9,33
9,00
20,00
16,00
Não Gestantes
Gestantes
13,50
16,00
8,00
14,00
20,00
18,00
13,41
16,00
Não Gestantes
14,00
6,00
20,00
14,75
0,35
0,02
15,26
15,69
0,74
13,50
0,65
0,22
*p = tem o número de significação de 0,02
Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3
p*
144
5. Discussão
Os dados revelados neste estudo mostram que a população participante tem uma
incidência de 15% de gravidez. Apesar de aparentemente baixo, este resultado se
aproximaria da incidência na população brasileira (20% em 2006 segundo IBGE). É
necessário considerar que esta incidência refere-se a uma população que está inserida em
um serviço de atendimento à adolescente. Por isso, cabe levantar a hipótese de que a
menor incidência poderia ser advinda pela não realização do pré-natal pelas adolescentes ou
mesmo a criação, nos últimos anos, de outros serviços de atenção à mulher, incluindo
adolescentes.
A média de idade das adolescentes participantes foi de 14,9 anos. Essa média também é
igual à média de idade das adolescentes não grávidas, sendo que a média de idade das
grávidas foi de 15 anos. Ou seja, em ambos os grupos a média é muito próxima, o que temse é uma leve diferenciação na idade mínima e máxima de cada grupo, sendo para as
grávidas: 12 e 19 anos (como também para o estudo como um todo) e não grávidas 13 e 17
anos.
Pode-se perceber que a maioria das adolescentes se disseram solteiras sem namorados
(55%), mas o número daquelas com namorados já é considerável (40%). As amasiadas e
casadas representam uma pequena parcela (05%). Pode-se, a partir daí, perceber que na
idade pesquisada há interesse pelo relacionar-se. Considerando-se os 55% (sem
relacionamento) para os 45% (com relacionamento), talvez com uma média de idade um
pouco maior, esse número já seria invertido. Isso faz ressaltar a importância de trabalhos
em prevenção e conscientização dessas adolescentes, antes dessa idade, quanto às questões
ligadas à sexualidade e seus efeitos na adolescência.
Um dado otimista é o alto índice de adolescentes que estudavam no momento da pesquisa,
o que as levariam a parâmetros sócio-econômicos e educacionais melhores. Também temse a maioria (83,3%) em escola pública. Apesar do alto índice daquelas que são estudantes,
tem-se uma queda na pretensão de ingresso no nível superior. Os índices de escolaridade e
pretensão universitária são elevados se comparados à população brasileira que finaliza o
ensino obrigatório 40% (INEP) e o ensino superior 06% (INEP). Por outro lado, tais
índices podem demonstrar uma pretensão de estudo que não se realizará. Corrobora com
essa demonstração a renda familiar das participantes, pois 69,9% provém de famílias com
uma renda per capita de até um salário mínimo, e o INEP aponta que em situação de menor
renda geralmente ocorre menor nível de escolaridade. À esse ponto, acrescenta Duarte et al.
(2006) que além da menor renda, a própria gravidez dificultaria a escolarização das
adolescentes.
Neste sentido ainda, pôde-se observar também a diferença na pretensão de estudo das
grávidas e não grávidas. Para o ingresso no ensino superior, nas gestantes, a pretensão foi
de 22,2% enquanto que nas não gestantes de 62,7%. No ensino técnico 7,8% eram as não
grávidas que queriam fazê-lo, enquanto 22,2% das gestantes o queriam. Ou seja, além da
dificuldade na realização em si dos estudos, notou-se que a própria pretensão de estudo já
apresenta diferença entre os dois grupos, sendo que nas não grávidas há uma pretensão
maior em realizar um curso universitário.
Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3
145
Ao tratar-se da escolaridade em si, separando a escolaridade das gestantes e não gestantes
notou-se um ponto que chama a atenção. Enquanto para o grupo de não grávidas 45,10%
estão no ensino médio, para o grupo de grávidas, esse mesmo número cai para 11,1%, e
sobe para 77,7% ao considerar-se as grávidas com escolaridade no 2º fundamental,
diferentemente das não grávidas que ficaram em 47,10%. Tendo ainda em consideração
que a média de idade de ambos os grupos é 15 anos (ou 14,9 para não grávidas), a maioria,
por idade escolar, deveria estar no ensino médio ou em uma transição entre fundamental e
médio.
Com isso é possível levantar a questão de que para a população que participou dessa
pesquisa, a baixa escolaridade está, de certa forma, associada à gestação. Não no sentido
causal e unilateral, mas como característica da população. Sobre esse aspecto trata Duarte et
al (2006), justamente trazendo uma menor escolaridade entre as adolescentes grávidas, além
de apontar a gravidez como um papel social destinado à esse grupo.
Apesar de a maioria possuir uma baixa renda e estando, segundo a ABEP, nas classes
principalmente E, D e C, pôde-se averiguar que a situação da moradia, considerando a
estrutura, localização e situação da casa, é boa pois 91,7% habita casas de alvenaria, e
56,7% possui casa própria. Abarcando-se a esse grupo as casas cedidas, serão mais 18,3%.
No entanto não se pode deixar de observar que ainda há situações que necessitam de
atenção social, pois 8,3% das casas é de madeira. E dentre todas as habitações 8,3% situa-se
em favelas/comunidades.
Quanto ao trabalho da adolescente, percebeu-se que é baixo o número delas que trabalham
(16,7%), a renda recebida destina-se a gastos pessoais.
O número de adolescentes praticantes de esporte (26,7%) é baixo, mostrando que
privilegiam, comumente, atividades sedentárias. Inclusive, isso poderá ser um fator
prejudicial de qualidade de vida posterior se pensar-se que são 55% as adolescentes que
possuem familiares com hipertensão. (CONCEIÇÃO, 2010).
Notou-se que apesar da inserção dessas adolescentes em uma cultura ocidental – ainda com
marcas de um modelo patriarcal – que o papel de chefe da família não é mais exercido
somente pelo pai, uma vez que 15% que relatou que o pai e a mãe são os chefes de família.
Esse dado mostra que a figura masculina está perdendo seu papel enquanto chefe de
família, posto este ocupado exclusivamente pela mesma por gerações.
Na relação da adolescente com o pai, 26,7% das adolescentes relatou que não tinha
contato com o pai. Das adolescentes que possuíam contato com o pai (34 ou 73,3%),
45,4% considerou ter uma boa relação com ele, enquanto 54,6% uma relação péssimaregular. A relação com a mãe ocorreu no relato de 56 (93,3%) adolescentes e destas 73,2%
referiu que a ralação é boa, enquanto somente para 26,8% ficaria entre péssima-regular.
Pode-se levantar alguns questionamento a partir disso. Nessa idade, dentro de uma busca
pela identidade feminina, busca-se em princípio por um distanciamento dela. Todavia, isso
tende a mudar, e passa a ocorrer uma aproximação com a figura feminina o que afastaria
essas adolescentes da figura masculina dos pais (ABERASTURY, 1988). Porém, deve-se
Anais – V Mostra de Psicologia da Saúde, nov. 2012, ISBN 978-85-7814-248-3
146
também observar que, para Aberastury (1988), haveria uma perda dos pais da infância e,
portanto, um afastamento de ambas as figuras, o que faz com que se levante um outro
questionamento, que seria de ocorrência de uma perda na qualidade da relação com o pai –
por motivos que ainda necessitam futuras investigações.
Seguindo para as relações extra familiares, entendidas aqui como relações de amizade, são
95% as adolescentes que relataram possuir amigos, o que acentua a importância da
amizade, dado que esta é uma das possibilidades de crescimento pessoal e de identidade
para as adolescentes. (ABERASTURY, 1988)
Apesar de a maioria absoluta ter apresentado relações de amizade, quando indagadas sobre
frequentarem um grupo de jovem na comunidade, essa situação já é diferente. Nas não
grávidas 62,7% nunca frequentou e apenas 19,6% frequentou algum à época do estudo, e
nas grávidas, 55,6% nunca havia frequentado e das que haviam, somente uma parou pela
gravidez. Percebe-se então que relações de amizades e participação em grupo jovem são
tidas como diferentes por essas adolescentes. Todavia, para se avaliar o quanto um grupo
juvenil seria um fator protetor para elas faz-se necessário um estudo posterior mais preciso
nesse sentido.
Em cada entrevista médica e psicológica, pergunta-se à adolescente o motivo da consulta e
pode-se perceber que a queixa apresentada varia para cada profissional, ou seja, quando a
adolescente se depara com o psicólogo, sua queixa para iniciar o atendimento no PAMPA é
de cunho emocional, enquanto que ao deparar-se com o médico a queixa é física. Notou-se
que isso não ocorreu em apenas 8,3% das adolescentes, que apresentaram queixa
emocional na consulta médica, sendo que o inverso não ocorreu.
Na consulta médica, a maioria, 56,6%, descreve que vão por motivo de rotina/check-up,
11,7%, para iniciar algum Método Anticonceptivo (MAC), ponto este interessante, pois se
vê que elas possuem informações sobre MACs, já que chegam pedindo algum método
preventivo, além de que essas adolescentes provavelmente estão preocupadas em prevenir
uma gestação indesejável. A esse argumento pode-se somar que são 56,25% que pedem ao
companheiro uso e condon com medo de engravidar.
Ainda sobre as queixas médicas, 13,3% das adolescentes consultaram-se a fim de realizar o
pré-natal. Faz-se uma observação de que são 15% as adolescentes grávidas, concluindo-se,
portanto, que uma adolescente apesar de estar grávida não estava fazendo o pré-natal, ou
ao menos não relatou o pré-natal como motivo da consulta.
Ao indagar-se sobre consulta ao ginecologista, anterior ao atendimento no PAMPA, essas
adolescentes relataram que, das não gestantes, 47,1% já havia se consultado, e das não
gestantes 44,4%. Apesar de ser um número muito próximo, vale notar os motivos que as
levaram ao ginecologista. Enquanto para as não grávidas foram: “não sei o porquê”
(54,9%), “rotina/check-up” (37,3%) e “busca MAC” (7,8%); nas gestantes foram: “não
foram por nunca terem pensado em ir” (55,6%), “perda da virgindade” (33,3%), e
“infecção” (11,1%).
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Ou seja, ao comparar-se os motivos pode-se averiguar a diferença por uma e outra busca.
As hipóteses para isso podem ser inúmeras, permeando: escolaridade, nível sócio-cultural,
nível de informação, nível de abertura familiar e assim por diante. Também poder-se-ia
levantar a hipótese de que, enquanto para a maioria das não grávidas que tinham já ido ao
ginecologista, apesar de não saberem o motivo, foram mesmo assim, podendo então terem
sido levadas pela família ou cuidadores. Para as gestantes que não foram, se referiram não
terem ido por nunca terem pensado em se consultar. Mais questões ainda podem ser
levantadas; sugere-se então a proposta de um posterior estudo que possa buscar um melhor
compreendimento dessa situação.
Retomando-se os motivos de comparecimento das gestantes, percebe-se a incidência da
perda da virgindade e existência de infecção. A partir daí, pode-se supor como foi a relação
sexual na questão de possibilidade de prevenção de doenças e da própria gravidez.
Retomando as queixas apresentadas para o início do atendimento no PAMPA, as queixas
na consulta psicológica foram: as dificuldades de relacionamento interpessoal 18,3%; e
intrapsíquicas (como imagem corporal) foi de 60%, número este considerável, remetendo
às dificuldades e transformações da adolescência, na qual há o luto do corpo infantil
perdido, bem como transformações rápidas do corpo os quais devem ser elaboradas
(ABERASTURY, 1988) assim como tantas outras questões já apontadas na introdução
desse trabalho.
Em ambas consultas houve adolescentes que não sabiam o motivo da mesma – na médica
foram 10% e na psicológica 21,7%. Deve-se ter ciência que muitas são as adolescentes que
são encaminhadas ao serviço sem que a elas sejam explicados os motivos do
encaminhamento, mas há também a possibilidade de que haja aquelas às quais se explicou,
mas em tal momento, seja por resistência, ou mesmo por um motivo simples de atenção na
hora da explicação (dado que é característica a labilidade de atenção na adolescência) não
conseguiram relatar a queixa. (CONCEIÇÃO, 2010)
Sobre a prática de lazer – este definido como o conjunto de ações que o sujeito escolhe
para se divertir, recrear-se e entreter-se, em um processo pessoal de desenvolvimento
(DURMAZEDIER, 1979 apud ALMEIDA e GUTIERREZ, 2004) – a maioria absoluta
relatou praticá-lo, e sobre o tipo de atividade, percebe-se que há um caráter muito pessoal e
subjetivo. As atividades relatadas foram dormir (13,3%); namorar 8,3%; atividades de mídia
61,7%; outras 13,3%. Faz-se uma observação sobre o dormir, pois algumas adolescentes
consideravam o dormir como sendo um tipo de lazer.
A maioria das adolescentes referiu práticas de lazer que se caracterizam pelo sedentarismo,
atividades passivas, de observação. O consenso geral de que a adolescência seria a fase da
vida em que há uma dedicação maior aos esportes não se verificou nesta população. A falta
de interesse pelos esportes é bastante prejudicial ao desenvolvimento físico e emocional
destas adolescentes, pois na prática desse há a oportunidade da convivência em grupo, do
trabalho em equipe e do aprendizado da competição saudável (CONCEIÇÃO, 2010). A
atividade física é essencial para a qualidade da saúde física.
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Nesta população, menos de um quarto (23,3%) das adolescentes referiram que não
experimentaram ou usaram drogas, o que representa um número pequeno para um grupo
com 14,9 anos de média de idade. A droga mais utilizada foi o álcool, por 47 adolescentes,
sendo que na época do estudo 24 faziam uso. Seguido pelo tabaco, experimentado por 21
adolescentes, com 7 usuárias à época do estudo. As demais drogas, maconha, cocaína e
outras (lança-perfume, cola de sapateiro...) foram experimentadas respectivamente por 04,
04 e 01 adolescente, sendo que nenhuma referiu uso.
O número de adolescentes que experimentaram as demais drogas poderia ainda ser maior
(CONCEIÇÃO, 2010), todavia, talvez por uma amostra transversal, não foi possível essa
observação, como ocorre ao longo do funcionamento do PAMPA.
Os dados mostraram que houve um progressivo aumento da média de idade das
adolescentes ao experimentar os vários tipos de droga. As drogas lícitas foram
experimentadas em idade menor que as drogas ilícitas (maconha, cocaína e outras). O
tempo entre a idade em que experimentaram o tabaco e o álcool, e a idade média em que
experimentaram as outras drogas foi de 2 a 4 anos. Quanto à média de idade ao
experimentar, nota-se um aumento relacionado ao tipo de substância, sendo: álcool com
12,06 anos, seguido por pouco pelo tabaco, com 12,71 anos, e depois pela maconha, 13,75
anos, cocaína, 14,25 anos, e outras, 16 anos.
É preocupante a incidência de adolescentes usuárias de álcool e tabaco, é um fato que
necessita da atenção dos órgãos competentes. No PAMPA estas adolescentes recebem
assistência psicológica para deixarem o uso destas drogas, mas esta intervenção atinge uma
população pequena, e a ação deveria envolver toda a sociedade e principalmente a família.
Acentuando-se os cuidados com relação aos familiares, pois quando nota-se a utilização de
álcool (18,3%) e drogas no geral (20%) pelos familiares dessas adolescentes, pode-se
perceber que é um número elevado, e por conseguinte é grande o contato que elas terão
com essas drogas.
Ao diferenciar a experimentação de drogas entre grávidas e não grávidas, permitido pelo
instrumento “Questionário sobre características sócio-demográficas e fatores de risco para
a gravidez na adolescência”, pôde-se notar que as adolescentes grávidas já experimentaram
drogas em um nível maior que as não grávidas, e isso para todos os tipos de substâncias
apresentadas. Levantando então a hipótese do uso de drogas como fator de risco para a
adolescência e para o desenvolvimento da gravidez nesse período. Retomando-se os
números, para elucidação, teve-se respectivamente para grávidas e não grávidas: tabaco,
66,7% e 31,4%; álcool, 77,8% e 76,5%; maconha, 11% e 7,8%; e cocaína, 11% e 5,9%.
Com relação ao desenvolvimento físico e sexual dessas adolescentes, foram 11,7% as que
referiram ainda não terem tido a menarca (primeira menstruação). Mas das que já a tiveram,
a média da idade foi 11,9 anos. A impressão destas adolescentes frente à menarca foi de:
horrível para 25% delas, normal para 11,7% e boa 28,3%. Houve aquelas que não
souberam referir a impressão (35%) quando ocorreu a menarca, estas foram a maioria
simples. Apesar da grande variação do horrível para o bom, não se pode deixar de notar
que é grande o percentual do horrível, podendo-se levantar a hipótese de que muitas delas
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não estavam
preparadas
para esse momento do desenvolvimento e para o
desprendimento da infância, ou que a repressão à sexualidade feminina que ainda ocorre na
nossa cultura tenha transferido à menstruação, símbolo da maturidade sexual, sentimentos
desagradáveis.
Das 60 adolescentes 41,7% disse já ter tido primeira relação sexual e 66,7% disse conhecer
algum tipo de MAC, contra 13,3% que não, dado este otimista, pois demonstra ao menos
um conhecimento sobre métodos preventivos de gravidez e doença, mesmo que ainda não
aplicada por muitas como demonstram os dados sobre uso de algum MAC nessa primeira
relação: 24% disse não ter usado e 32% disse não saber responder, podendo levar a
possibilidade do não uso por elas também. 44% disse ter utilizado condon (“camisinha”).
Com relação às adolescentes que já haviam iniciado sua vida sexual, na época do estudo
68% delas possuía vida sexual ativa, sendo que delas 35,3% fazia uso de algum MAC,
11,8% de nenhum, e 52,9% estava grávida – infelizmente uma taxa alta – e quando se
cruza os dados do trabalho poder-se-á averiguar que muitas adolescentes não tinham
estrutura (emocional, financeira...) para gestar e criar a criança que nasceria. Ainda sobre as
gestantes, 11,2% estava na segunda gestação, sendo 55,7% pardas e 44,3% brancas. Aqui
novamente evidencia-se a necessidade de mais programas que trabalhem com os
adolescentes de uma forma geral e preventiva, abrangendo questões da adolescência,
inclusive sexualidade, sexo, planejamento familiar, “a primeira vez”, tudo isso de uma
forma global e transdisciplinar afim de se possibilitar uma maior modificação desse quadro
descrito.
Ao centrar a pergunta sobre o uso de algum MAC, somente no condon notou-se
novamente uma diferença no comportamento das não grávidas e grávidas, o qual
evidenciou que as não grávidas possuem, ainda que de maneira falha, uma maior frequência
no uso, e apesar da falha 100% se refere não querer engravidar. Afim de elucidar, deve-se
retomar os números, respectivamente grávidas e não grávidas: nunca usou, 33,3% e 6,25%;
usou às vezes, 55,6% e 50%; usou sempre, 11,1% e 43,75%. Pode-se quase notar uma
proporção inversa na porcentagem.
Quando essas adolescentes foram indagadas se pediam e do porquê pediam ou não ao
parceiro que usasse condon obteve-se que, nas não grávidas 62,5% pedia uso, enquanto nas
grávidas 55,6% pedia, ainda que tal pedido tenho sido menor do que na porcentagem das
não grávidas, ainda se refere à maioria. E com relação ao porquê pedir ou não, observou-se
nas grávidas e não grávidas, respectivamente: o companheiro usava (não pedia), 22,2% e
31,25%; a adolescente não queria usar (não pedia), 33,3% e 6,25%; medo de engravidar
(pedia), 44,4% e 56,25%; não ter doença (pedia), não apareceu e 6,25%. Ou seja,
novamente a motivação para o uso ou não do condon aparece de uma maneira distinta, e
de uma certa forma apontando para um maior comportamento de risco das então
gestantes, inclusive pode-se chamar a atenção que a prevenção de alguma doença não
apareceu nas grávidas.
Também procurou-se saber se as adolescentes conheciam alguma gestante que tivesse até
19 anos, e a grande maioria (independentemente de serem gestantes ou não) respondeu
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positivamente à pergunta, mas a notória diferença entre os dois grupos recaiu sobre quem
era esse conhecido, sendo que para as não grávidas a maioria era de colegas (58,8%) e de
maneira menor familiares (29,4%), diferentemente das grávidas, para as quais 55,6% era de
familiares e somente para 22,2% era de colegas. A partir disso poder-se-ia levantar a
hipótese na qual mais do que conhecer alguém grávida, entra como um fator importante o
grau dessa relação, repercutindo de maneira maior (como apontam os dados) quando são
parentes.
Um dado que pode vir a suscitar alguma curiosidade, mas que exigiria um maior
aprofundamento em estudo posterior, é a questão do cuidador dessa adolescente. Pois
percebeu-se que as grávidas foram cuidadas mais somente pela mãe, enquanto que para as
não grávidas teve-se uma forte presença de pai e mãe, ou ainda alguma outra situação
familiar (como cuidada pelos avôs). Novamente para uma reapropriação, traz-se os
números: gestantes, cuidada somente por mãe, 66,6% e por pai e mãe, 33,3%; e nas não
gestantes, somente mãe, 35,3% e por pai e mãe, 41,1%.
Os antecedentes pessoais apontam para um grande número, 45%, de adolescentes que
tiveram doenças infecto-contagiosas (como sarampo, caxumba...). O interessante é
perceber que são doenças possíveis de se prevenir através da vacinação infantil ofertada
pelo SUS e, ainda nesse sentido, são 10% as adolescentes sem alguma vacina. Foram 8,3%
as adolescentes que apresentaram ter alguma doença crônica e, sendo assim, novamente
toma-se a importância do atendimento transdisciplinar ao adolescente, pois em um
Programa desse tipo (como é o PAMPA) o adolescente poderá trabalhar essa questão, de
modo a aceitar melhor e viver com uma melhor qualidade de vida, além de passar por tudo
que qualquer adolescente comumente passa. Ainda pôde-se averiguar 13,3% que teve
algum quadro cardiorrespiratório, 18,3% passou por cirurgias, e 12% apresentou quadros
alérgicos.
Também abordou-se os antecedentes familiares, pois é a partir dele que se pode fazer
proposições sobre a saúde física futura da adolescente, ou mesmo a situação que a
adolescente pode estar vivendo frente a determinados tipos de doença (câncer, abuso de
álcool, diabetes...), foram então na família apresentados: 55% hipertensão arterial; 36,7%
diabetes; 18,3% alcoolismo; 6,7% patologia psiquiátrica; 48,3% mãe solteira (não
necessariamente a mãe da adolescente, mas alguém na família); 20% drogadição; 28,3%
neoplasia maligna (câncer); 3,3% doenças hereditárias; e 8,3% trombose. É possível então
perceber como os quadros familiares devem ser observados, por exemplo: para aquelas
pacientes que possuem algum histórico de trombose, antes que a pílula anticonceptiva
possa ser ministrada é necessário que o médico faça uma avaliação mais específica,
dificultando a prevenção da gravidez por esse método, em alguns casos. Ou mesmo devem
ser observados, como discutido anteriormente, no sentido de visualizar o aparecimento de
quadros de alcoolismo e drogadição que levarão à adolescente o contato com essas drogas
e uma atenção deve ser dada a isso, como já o é no PAMPA, mas é necessária também uma
ação conjunta dos diferentes níveis que compõem a sociedade.
A fim de acrescer aos dados e às conclusões, de modo a propiciar uma análise mais
específica sobre a qualidade de vida, utilizou-se o whoqol-bref e a análise dos seus
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domínios, através da significância, mostrou que as gestantes apresentam melhor qualidade
de vida no dom2 (psicológico), e as demais seriam equiparadas. Todavia, ao olhar-se os
dados obtidos, fazendo uma comparação simples, é possível verificar que além do dom2, o
dom1 (físico), o dom4 (meio ambiente) e o Overall são também maiores para as grávidas.
Isso poderia advir do papel que a mulher grávida possui na sociedade, um “status”, que
denota poder e cuidados. Além disso, faz parte desse processo a onipotência por ser capaz
de gestar uma criança. No entanto, faz-se uma observação: esse dado se refere a
adolescentes gestantes, ficando a possibilidade de um estudo posterior com mães
adolescentes, para saber, como, após a perda do status de gestante, ficaria a qualidade de
vida dessas adolescentes.
6. Considerações finais
Com os resultados pôde-se avaliar a qualidade de vida e identificar fatores protetores e de
risco que interferem no desenvolvimento das adolescentes do Programa de Assistência
Médica e Psicossocial à Adolescente (PAMPA) da Faculdade de Medicina do ABC,
traçando uma relação entre esses pontos.
Sendo assim, pôde-se perceber que a qualidade de vida das adolescentes grávidas é melhor
psicologicamente, sendo que nos demais domínios abordados pelo whoqol-bref (físico,
relações sociais e meio ambiente) não há diferença estatística significativa, apesar de
descritivamente poder sê-lo.
Como fatores protetores ter-se-ia: o serviço para atendimento à adolescente bem como a
escolaridade atual. E como de risco: ausência de projeto de vida; riscos da não continuidade
dos estudos; uso de substâncias psicoativas lícitas e ilícitas com atenção ao uso de bebida
alcoólica e o “status”/mito da gravidez e a situação sócio-econômica.
Neste sentido, ressalta-se a importância da realização de mais atendimentos do gênero do
PAMPA, pois são várias as questões que envolvem cada adolescente, muitas das quais
descritas neste trabalho, indo muito além da simples conscientização sobre o ato sexual,
mas abarcando também a adolescência, a vida de cada adolescente, considerando onde ela
vive, as relações inter e intra pessoal que ela realiza, e diversos outros fatores sociais e
culturais que estão envolvidos tanto na gravidez como na adolescência em si. E para essa
realização, são necessárias intervenções da sociedade (cidadãos e governo) como um todo.
Espera-se que esse trabalho possa auxiliar no pensar sobre as questões envolvendo:
adolescência, qualidade de vida e gravidez, de modo a propiciar, ao menos em momento
posterior, a proposição de intervenções efetivas que possam centrar-se na promoção da
saúde dessas adolescentes.
Propõe-se a realização de mais trabalhos que possam averiguar melhor diversas questões
levantadas por este, questões essas apresentadas ao longo do texto, bem como outras várias
que uma leitura desse trabalho pode originar.
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Saúde do trabalhador: uma análise dos problemas
enfrentados no transporte coletivo da cidade de
Manaus/AM – com ênfase à Hérnia de Disco
CLAUDIA DOS SANTOS LIMA MARLY MARINHO DE CASTRO MARTINS
Resumo
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética do Centro Universitário Nilton Lins
processo 011/07-GRAD/PRPG/CEP, com tema, Saúde do trabalhador: uma análise dos
problemas enfrentados no transporte coletivo da cidade de Manaus-AM, dando ênfase á
hérnia de disco, uma doença que acomete a maioria dos motoristas e cobradores. O estudo
foi realizado em 2007 na ANAT/AM (Associação Nacional de Apoio aos Trabalhadores
Portadores de Patologias do Estado do Amazonas), teve como objetivo geral desvelar as
causas de afastamento do trabalho entre motoristas e cobradores. A coleta de dados foi
feita por meio de um questionário contendo itens para avaliar o perfil socioeconômico,
pedagógico e profissional dos participantes. A coleta de dados foi realizada na ANAT após
autorização do gestor e anuência dos trabalhadores. O método adotado para realização da
pesquisa foi a abordagem qualitativa. Os resultados mostraram que 54% dos trabalhadores
estavam afastados do trabalho há mais de cinco anos, sendo que 59% com hérnia de disco,
35% trabalhavam dez horas por dia, 44% mais de dez horas, 82% trabalhavam nos dois
turnos, 82 % disseram que sentem sono no volante. Os dados apontaram que as doenças
relacionadas ao trabalho estão associadas ao tempo e duração que esse trabalho é realizado.
A hérnia de disco apareceu como a principal patologia que leva ao afastamento do trabalho.
Pecebe-se que o modo de conduzir suas empresas, e o controle da força de trabalho dos
empresários do transporte coletivo de Manaus é uma forma desumana e inaceitavel em
nossa sociedade. Notamos ainda que os empresarios não dispõem de funcionários
suficientes para a execução do trabalho e submetem os trabalhadores a intensas jornadas de
trabalho.
Palavras-chave: saúde do trabalhador; ler/dort; cerest; transporte coletivo; hérnia de
disco.
Introdução
As indagações constantes sobre os fatores que condicionam à saúde do trabalhador no
atual sistema tem sido tema de diversos estudos, seminários, conferências, fóruns entre
outros. Apesar dos vários estudos, alguns problemas ainda não foram solucionados. E
 Mestranda em Psicologia da Saúde pela Universidade Metodista de São Paulo.
 Professora do Curso de Assistência Social do Centro Universitário Nilton Lins.
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quando se trata da saúde dos trabalhadores do transporte coletivo de Manaus,
principalmente aqueles que estão recebendo o auxilio doença pelo Instituto Nacional de
Seguro Social – INSS, a situação não é muito diferente. Nas ultimas décadas, o número de
motoristas e cobradores do transporte coletivo da cidade de Manaus afastados do trabalho,
a maioria com diagnostico de hérnia de disco, intensificou-se no INSS, e até o momento
nenhuma providência foi tomada por parte dos governos Federal, Estadual e Municipal.
Assim, fez-se necessário a realização deste estudo por acreditar que possa ser de grande
relevãncia social para estes trabalhadores e sociedade amazonese, por descrever o
transporte coletivo como direito público do cidadão e cidadã, e também trazer a tona as
péssimas condições de trabalho dos trabalhadores deste setor, bem como apontar as
patologias que mais os afetam, entre as quais a hérnia de disco foco central deste estudo.
Configurando dessa forma, como um estudo de importãncia acadêmica por expor para a
sociedade universitária os problemas ocorridos nesse setor.
Conforme dispõe o Sistema Único de Saúde, Lei 8.080 art. 5º § 3º, a saúde do trabalhador
envolve um conjonto de atividades desenvolvidas por meio das açoes de vigilança
epidemiológicas e vigilança sanitária, voltadas para a promoção, proteçao, recomperaçao e
reabilitaçao da saúde dos trabalhadores que se encontram submetidos aos riscos ou agravos
da saúde em decorrência das condiçoes de trabalho, por meio de assistencia ao trabalhador
vitima de acidente de trabalho ou portador de doença profissional entre outros.
Apesar da existencia da legislação, não existem políticas públicas estadual ou municipal
especificas para a saúde dos trabalhadores dos transportes coletivos do Estado do
Amazonas e do Município de Manaus. Deixando evidente o descaso com os cuidados de
saúde para essa categoria. Por ter trabalhado no setor 11 anos e 11 mesess e conhecer de
perto os problemas do transportes coletivos da Manaus, assim como suas fragilidades e as
dificuldades que trabalhadores e usuarios enfrentam, me motivou a formular a seguinte
hipotese, a carga horária extensa em decorrência das viradas excessivas e por ser uma
atividade cujo trabalho exige longas horas sentados e imóveis estes trabalhadores estão
sujeitos a adquirir hérnia de disco, pois o ritmo de trabalho além do permitido sengundo
pesquisas é um dos fatores causadores das lombalgias, classificadas pelo Código
Internacional de Doenças - CID – 10 (2005, p. 272), da seguinte forma, as dorsalgia
(M54.3); Cervicalgia (M54. 2); Ciática (M54. 4). Posições sentadas e gestos repetitivos (Z57.
8); Ritmo de trabalho penoso (Z56. 3); Condições dificies de trabalho (756. 5). Smeltzer
(2000, p. 1672), diz que geralmente uma herniação de disco cervical acontece nos espaços
intervertebrais em C5-C6-C7, onde a dor e a rigidez podem acontecer no pescoço, no alto
dos ombros e na região das escapulas, afirma que a dor pode erradiar para os membros
superiores, como a cabeça, acompanhada por parestesia e dorméncia dos membros
superiores. Em geral, o diagnostico é dado por meio da realização do exame de resonância
magnética-RM da coluna cervical.
É comun motoristas e cobradores se queixarem com frequência de dores na coluna
provavelmente causadas pelas posições incorretas, ruas esburacadas, quebras molas,
jornadas de trabalho extensas, cadeiras com amortecedores quebrados, falta de exercícios e
postura estática. Smeltzer (2000, p. 1671) fala que com a degeneração, o disco se desloca,
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ou seja, a cápsula faz pressão para trás, para dentro do canal medular ou pode romper-se e
permitir que o núcleo pulposo seja empurrado para trás, indo contra o saco dural ou contra
um nervo espinhal, emergindo a partir da coluna vertebral. Essa sequência produz dor
devido á pressão na área de distribuição das terminações nervosas envolvidas
(radiculopatia). A pressão continuada pode produzir alterações degenerativas no nervo
afetado, causando as alterações na sensação e na ação reflexa.
Assim, a relação entre as tarefas que o trabalho deve desempenhar e o maior conforto para
a realização das mesmas está ligado a um aumento da produtividade, qualquer tipo de
desconforto (emocional ou físico) no trabalho gera desconcentração, inquietação, mal-estar,
insatisfação e pode culminar com afastamento por problemas de saúde (FREITAS, 2006, p.
32).
Diante do exposto, o estudo teve como objetivos descrever as principais doenças que
acomentem os motoristas e cobradores que se encontram afastastados do trabalho, e ainda
analisar e descrever os problemas diagnosticados no transporte coletivo de Manaus. Entre
os quais, constatou o não cumprimento dos sinais de paradas para embarque e
desembarque dos passageiros, tratamento inconvenientes e falta de urbanidade para com os
usuários, parar e arrancar bruscamente, para o veículo afastado da guia de calçada e do
meio fio, dirigir além da velocidade permitida, mudanças de itinerários sem justificativas e
retenção do troco.
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário Nilton
Lins, processo n° 011/07-GRAD/PRPG/CEP e contou com a participação de 22 (vinte e
dois) trabalhadores do transporte coletivo de Manaus entre motoristas (as) e cobradores
(as) que se encontravam afastados do trabalho devido alguma patologia e faziam parte dos
associados da Associação Nacional de Apoio aos Trabalhadores Portadores de Patologia
no Estado do Amazonas - ANAT/AM, sendo esse o critério de inclusão. A coleta de
dados se deu após autorização do diretor da ANAT, autorização e assinatura do termo de
Concetimento Livre Esclarecimento - TCLE, pelos participantes, que em seguida
responderam um questionários contendo as seguintes variáveis; tempo de trabalho, tempo
de afastamento, a doença que o levou ao afastastamento do trabalho, como se sentiu com a
descoberta da doença, se sofria algum tipo de doenças antes de entre na empresa, como
classifica o atendimento no INSS, como está sendo o tratamento na empresa, jornada de
trabalho, sobre as viradas (trabalho nos dois turnos) motivo das viradas, tempo de serviço
na mesma empresa, o tempo de afastamento, se sentia sono ao dirigir, além dos dados
pessoais. Para analisar e descrever os problemas mais frequentes no transporte coletivo de
Manaus utilizou-se os dados coletados de documentos cedidos pelo Instituto Municipal de
Transportes Urbanos – IMTU. A Lei Orgânica do Município de Manaus - LOMAM,
decretos Municipais e o Código de Defesa do Consumidor possibilitou esclarecer os
direitos de usuários e trabalhadores, como também apontar o que é de competência do
Município, no que se refere à viabilização dos direitos relacionados aos transportes urbanos
coletivos de Manaus. Trata-se de um estudo experimental e utilizou o método de pesquisa
qualitativa embasando-se em algumas teorias sobre o processo de trabalho como também
sobre saúde do trabalhador, a escolha do método deveu-se por considerar ser o mais
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adequado para o entendimento da dinâmica existente entre o mundo real e o sujeito. Costa
(2001, p. 62) diz que uma pesquisa que utiliza a abordagem qualitativa adota uma
preocupação com a realidade e os dados não podem ser quantificados. Ela trabalha com o
subjetivo dos sujeitos (crenças, valores, atitudes, etc.). Esta abordagem também pode
trabalhar com dados, porém o tratamento não deve envolver estatísticas avançadas. Para a
autora, esse método facilita a compreensão do processo investigado como também a
elaboração e meios de resolver à problemática, assim esse método visa medir e quantificar
dados, as causas e efeitos dos fenômenos no individuo.
A pesquisa que se utiliza da abordagem qualitativa, possuem a facilidade de poder descrever
a complexidade de uma determinada hipótese ou problema, analisar a interação de curtas
variáveis, compreender e classificar o processo de mudança, criação ou formação de
opiniões de determinado grupo e permitir seu mais grau de profundidade, a interpretação
das particularidades dos comportamentos, ou atitudes dos indivíduos (OLIVEIRA, 2001,
p. 117).
O estudo embasou-se na teoria maxista que é uma doutrina filosófica de Marx e Engels,
fundamentada na dialética que se desenvolveu no embate sobre as relações entre capital e
trabalho. Para Costa (2001) o marxismo relaciona o trabalho produtivo como o valor de
uso da força de trabalho que é consumido pelo capital. É uma corrente filosófica que trata
da luta de classe, o antagonismo existente entre as mesmas, da dinâmica e das
transformações que há no mundo do trabalho. Gil (1999) por sua vez afirma que a
dialética fornece as bases para uma interpretação dinâmica e totalizante da realidade, por
estabelecer que os fatos sociais não possam ser entendidos quando considerados
isoladamente, abstraídos de suas influências políticas, econômicas, culturais etc, por outro
lado a dialética privilegia as mudanças qualitativas, opõe-se naturalmente a qualquer modo
de pensar em que a ordem quantitativa se torne norma assim, as pesquisas fundamentadas
no método dialético distinguem-se bastante das pesquisas desenvolvidas segundo a ótica
positivista, que enfatiza os procedimentos quantitativos. Para Gil (1999) a dialetica é um
método que trata as mudanças e interpreta a realidade do momento, para a dialética a
realidade está sempre em movimento. Tudo é dinâmico ela preza a qualidade e a
quantidade por serem características constantes e busca construir a fundo o que desejar
saber, não busca somente o fato, mas sua comprovação.
A pesquisa configura-se também com o método monográfico e documental, ou seja, tratase de uma pesquisa documental, aquela realizada em documentos oficiais, como atas,
regulamentos, memorando, balancetes. CD-ROM, internet (quando o site for oficial).O
método monográfico parte do princípio de que o estudo de um caso em profundidade
pode ser considerado representativo de muitos outros ou mesmo de todos os casos
semelhantes, esses casos podem ser indivíduos, instituições, grupos, comunidades etc.
(COSTA, 2001). Por isso, é necessário que os elementos sejam os mais fidedignos
possíveis, sem qualquer tipo de alterações ou interferência (FURASTÉ, 2006, p. 35).
Desta forma, esse trabalho foi elaborado na seguinte ordem, no primeiro Capítulo, o leitor
encontrará um breve contexto histórico da relação capital/trabalho e comporta uma
abordagem teórica a respeito da exploração no sistema capitalista, utilizando o estudo de
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autores que escreveram sobre o tema, entre os quais Karl Marx, Iamamoto, Costa,
Birrenbacn, Netto, Faleiros, Drucker, Souza entre outros. O segundo Capítulo comporta as
conquistas dos trabalhadores referentes à saúde, assistência social, direito trabalhista e uma
breve análise histórica da trajetória da saúde pública no Brasil. No terceiro capitulo é feita
apresentação, interpretação e discussão dos dados.
1. Saúde, trabalho e exploração.
O Brasil antes de 1500 era indígena, uma sociedade considerada pelos europeus de
atrasada, não civilizada. Costa (1997, p. 49), argumenta que as sociedades tradicionais,
encontradas na África, na Ásia, na América e na Oceania não eram senão “fósseis vivos”,
exemplares de estágios anteriores, “primitivos”, do passado da humanidade. A partir de
1500 o Brasil passa a ser colônia de Portugal, nesse período o povo brasileiro era oprimido
pelos portugueses que exploravam nossas riquezas e o trabalho escravo de negros e índios.
Sobre o assunto, Brigagão e Rodrigues (1997, p. 25) descreve que a mão de obra indigna no
Brasil colônia tornava-se cada vez mais escassa, em virtude da brutal exploração imposta
pelos colonizadores, somando-se a tudo isso doenças e vícios trazidos pelo europeu.
É dentro desse contexto que o trabalhador brasileiro começa a ser explorado, massacrados
e oprimidos pelos donos do capital. Hoje a situação não é diferente, pois os trabalhadores
vivem em condição subumana nos chãos das fábricas ou em empresas, sendo obrigados a
cumprir jornadas de trabalho extensas e horário estipulados para se alimentar, para fazer
suas necessidades fisiológicas entre outras regras impostas nas grandes e pequenas
empresas. A esse respeito Costa (1997, p. 49) aponta que a conquista e dominação foram
camufladas e transformadas em “missão civilizadora para que países como Inglaterra,
França, Holanda, Alemanha e Itália que dominavam varias regiões do mundo cujo modo
de vida era totalmente diferente do capitalismo europeu, para impor a “civilização”, que era
oferecida mesmo contra a vontade dos dominados, como forma de “elevar” essas nações
do seu estado primitivo a um nível mais desenvolvido.
Essa opressão vai de 1500 a 1822, quando começa o império de D. Pedro I com a
monarquia e se estende até 1889, durante este período a população vivia em condições
precárias, tanto de vida e saúde como de trabalho devido o regime escravista imposto, o
povo não tinha a quem recorrer era obrigado a aceitar as condições de trabalho que lhes
eram impostos para garantir sua sobrevivência, viviam sem direito a salários sendo
explorados e massacrados fisicamente, psicologicamente, socialmente e culturalmente.
Neste período os trabalhadores não tinham liberdade e nem autonomia sobre a própria
vida, eram tratados como animais, como salienta Gonh (1995, p. 199) ao discorrer que as
condições de sobrevivência no Brasil na fase imperial eram ruins para a maioria da
população e as desigualdades sociais gritante, marcadas por uma sociedade em que havia o
escravo e o luxo da corte, e a distância do poder em relação ao povo era enorme. Em
decorrência das péssimas condições de sobrevivência ao qual a população se encontrava, o
povo resolve ir às ruas reivindicar pelo fim da monarquia, pela libertação dos escravos e
pelo fim da exploração que era imposta aos trabalhadores, está que já não era mais
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tolerável. O governo não teve forças para lutar com o povo que nesse momento era
numeroso, assim, começou as negociações.
Vale ressaltar que as conquistas só foram possíveis depois da união e lutas dos
trabalhadores e população em geral. Pode-se dizer que os movimentos foram
determinantes para que hoje os trabalhadores usufruíssem dos direitos trabalhistas
conquistados e também para mostrar que com união de todos em prol de uma causa, é
possível vencer os desafios que se colocam nos nossos dias, como a exploração capitalista
que ainda é uma realidade, salários mais justos, saúde pública de qualidade para todos, fim
das desigualdades entre as classes ou até mesmo o fim das classes sociais para que todos
possam viver em condições de igualdade e direitos. A história mostra que quando uma
população se reúne e luta por seus direitos, é possível vencer. A república é uma conquista
que foi concretizada depois de muita luta com a participação dos trabalhadores sociedade
em geral que somente assim poderá alcançar êxito.
Gonh (1995, p. 54) explica que a proclamação da república se deu por meio de um
movimento predominantemente militar, instaurado em particular entre a oficialidade média.
Portanto, não foi resultado de um movimento exclusivamente militar, por duas razões,
primeiro porque não haver um partido político coordenador das ações, segundo porque as
energias políticas estavam canalizadas para um movimento social, e este movimento
somava esforços das bandeiras de lutas da abolição com a mudança do regime político.
Este leque de frente de lutas associava os militares aos lideres civis da época, intelectuais
imbuídos de ideias positivistas etc. e as classes populares urbanas, constituídas pelos
trabalhadores urbanos, dos transportes, do comércio apoiaram o movimento, participaram
inclusive da marcha da vitória, em 15 de Novembro de 1889, dia da Proclamação da
República.
Em 1889 com a proclamação da república, o então presidente Marechal Deodoro da
Fonseca impõem um governo nada melhor que o império, porque seu governo é
autoritário e a população não tem voz nem vez nesse cenário, o que impulsionou o
surgimento de novos movimentos populares contra o governo que por sua vez não resolve
os problemas da sociedade, estes que se alastram cada vez mais, tudo porque os
investimentos eram direcionados em grande parte para os assuntos ligados ao capital
financeiro, principalmente para manutenção da classe burguesa, o que de acordo com
Iamamoto (2006, p. 106) foi um período que ficou marcado pela forma de dominação da
burguesia sob os proletariados, onde quem ditava as ordens eram os coronéis e os grandes
fazendeiros.
Bierrenbacn (2005, p. 48) por sua vez reforça que essa dominação fez ascender novos focos
de movimentos sociais na luta pelo fim do estado autoritário, cujas características são a de
não apresentar uma ideologia explicitamente definida, sendo que nesse regime a concepção
de política social, oscila de acordo com o momento histórico, sem continuidade ou uma
linha de coerência. Nesse regime fecham-se os canais de participação popular, e no campo
econômico as medidas restritivas reduziram substancialmente o salário do trabalhador, o
surto clamor popular logo se fazia ouvir, a insatisfação latente se manifestaria, se não se
criassem mecanismo que pudessem contê-lo ou minimiza-los.
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A década de 30 ficou marcada pelas lutas por direitos, como melhores salários, fim da
exploração do trabalho feminino e infantil e redução da jornada de trabalho, porque a
população não aceitava mais tanta opressão que se fortalecia cada vez mais com a forma de
governo emergente no Brasil, exemplo disso foi a manifestação que reuniu várias categorias
de militares para reivindicar direitos. Segundo afirma Gohn (1995, p. 74) foi graças às
manifestações, que criaram o comitê de defesa proletária, resultado da reunião clandestina
realizada com a participação de várias categorias e militares. O comitê reuniu em um único
memorial as reivindicações de todas as categorias profissionais envolvidas, destacando-se
redução da jornada para 8 horas de trabalho, aumento dos salários, redução dos alugueis,
regulamentação do trabalho de mulheres e crianças e melhorias nos locais de trabalho.
A luta em prol dos direitos focou marcada pela violência e repressão, imposta pelo governo
que resistia e repreendia os manifestantes por meio de forças policiais, muitos foram
exilados por desacatar o governo. Nesse período vivia-se sob o regime militar que ficou
marcado pelos movimentos populares que lutavam e reivindicavam melhores condições de
vida, trabalho e melhorias no setor de saúde para a população. Gonh (1995, p. 103) destaca
que o período de 1964 a 1974 corresponde uma fase de grande repressão na sociedade
brasileira, imposta pelo regime militar. Mas a despeito do grande controle social e político,
das prisões, torturas e perseguições, ocorreram várias lutas de resistência e movimentos de
protestos no País. Conforme observamos, a prática da violência era uma arma do regime
militar utilizada para punir e coibir o povo que lutava por seus direitos e principalmente
pelo fim da exploração e precarização do trabalho que na época era mais de dez horas
chegando até a as quatorze horas diárias, como também a exploração do trabalho infantil.
Foi graças aos movimentos sociais que as questões sociais foram consideradas legitimas.
Uma vez que o governo percebe que as lutas em prol dos direitos não cessavam, é que
posteriormente os problemas sociais foram introduzidos na agenda governamental e a
partir de então começou a se formular políticas públicas para assistir os cidadãos
vulneráveis dando inicio ao Estado de Bem-Estar-Social que veio garantir os direitos
sociais. De acordo com Mateus (1995, p. 34) o Estado é ao mesmo tempo resultado
instrumento e beneficiário da desarticulação entre a dinâmica dos conflitos de classe e a
dinâmica da mudança social. Ou seja, criaram-se as políticas públicas não somente para
assistir o cidadão e cidadã, mas visando utilizá-las como instrumento de regulação do
governo sob a sociedade.
Dentro desse contexto, mais precisamente em 1937 com a Constituição da República
Federativa do Brasil, são assegurados os direitos sociais nos art. 6º a 11º, e finalmente, em
1943 com o decreto lei nº. 5.452, de 1º de Maio, com 922 artigos, sancionada pelo
Presidente Getúlio Vargas, que usando das atribuições cabíveis, asseguradas no artigo 180
da Constituição Federal e para dá respostas aos movimentos dos trabalhadores que se
organizavam em busca de melhores condições de trabalho, é que em 10 de Novembro do
mesmo ano entra em vigor a Consolidação das Leis Trabalhistas – CLT.
Vale ressalta, que a CLT foi pensada a fim de garantir os direitos dos trabalhadores entre os
quais a saúde que a partir de então passa a ser considerado um direito universal de todo ser
humano. Gohn (1995, p. 82) afirma que foi a partir dos movimentos sociais, que as classes
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populares começam a emergir como atores históricos, sendo vistas sob novos prismas e
paulatinamente vai deixando de serem apenas casos de polícia e se transformando em
cidadãos com alguns direitos, como os trabalhistas. Mateus (1985, p. 33-34) fala que o
Estado que emerge no Brasil a partir da Revolução de 30 e se consolida no curso do
processo de industrialização, é um Estado que não se limita a garantir a ordem capitalista
para manter as condições sociais externas necessárias á produção capitalista, passando a
atuar internamente ao sistema de produção para organizar a acumulação, tornando-se ao
mesmo tempo promotor e ator da industrialização.
Mateus (1985, p. 33-34) diz ainda que a ação do Estado se anuncia de forma mais ou
menos incipiente nos anos 30 a 40 como as iniciativas no campo da siderurgia e do
petróleo sob o primeiro Governo Vargas, por exemplo, torna-se cada vez mais importante
e evidente a partir da década de 50 o papel desempenhado pelo Estado na efetiva
constituição, o que fica claro na medida em que gera seu próprio mercado dentro de um
sistema industrial no País. Portanto, o Estado que age dessa forma, logo é um Estado que
cria e reproduz a burocracia, esta que é dotada de interesses próprios, que se realiza por
meio da ampliação do intervencionismo estatal e ainda segundo reforça o autor o Estado
que surge no Brasil em 30, e que prevalecerá até 1964, ser também um Estado “populista”,
ou seja, um Estado que se “interpõe” nos conflitos de classes, tutelando as organizações
tanto patronais quanto operarias, para melhor realizar a medição populista clássica de
compatibilizar acumulação capitalista e tensões sociais.
Em 1937 Getúlio Vargas sai do poder e as próximas décadas que vai de 1945 a 1985 vive-se
o período da ditadura, adentrando um novo momento que é a democracia, esta que já
anunciava um novo sistema de governo, conhecido como neoliberalismo, que no Brasil
tem inicio com o governo de Fernando Collor de Melo cujas políticas públicas são
marcadas pela fragilização e a forma excludente, focalista e residuais na sua implementação,
o que levou a decadência do Estado de bem-estar-social. Para Costa (1997, p. 85) o
liberalismo vê os homens como átomos, como se fossem livres das evidentes desigualdades
estabelecidas pela sociedade e a política neoliberal vai fazer o mínimo e atender apenas os
pobres dos pobres porque na sociedade de classe, esse Estado representa apenas a classe
dominante e age conforme o interesse desta. Netto (2002, p. 26) aponta que no capitalismo
concorrencial a intervenção estatal sobre as sequelas da exploração da força de trabalho
respondia básica e coercitivamente as lutas das massas exploradoras ou a necessidade de
preservar o conjunto de relações pertinentes á propriedade privada burguesa como um
todo.
Na década de 70 com a elevação do barril do petróleo, o Estado começa se distanciar das
políticas sociais e se volta para as fronteiras e vai aplicar recursos na economia o que leva
ao declínio do Estado de bem-estar-social. Conforme argumenta Cano (1995, p. 5) ao
afirma que esta é uma nova ideologia (neoliberal) para dar sustentabilidade econômica e
política para a conversão dessas massas de ativos financeiros. Observa-se que na medida
em que o Estado começa inverter seu papel passando a beneficiar o capital, a classe
trabalhadora fica de lado e isso é o ponto de partida para o aumento da exploração dos
trabalhadores que ficam a mercê sob o domínio do capital que vai extrair do trabalhador o
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máximo possível de produção e de tempo de trabalho, para aumentar a mais-valia levando
o desgaste destes trabalhadores. Conforme afirma Iamamoto (2005, p. 47) ao falar que é
mediante a sucção do trabalho que o capital não só se reproduz como capital, mas se
reproduz também a mais-valia1 que criada se converte em consumo da classe capitalista e
em capital adicional em nova produção, em novo meio de exploração do trabalho
assalariado.
Com o desmonte do Estado de bem-estar-social, entra em cena a globalização econômica
que se dá com a abertura das fronteiras e a concorrência pelo mercado internacional. A
classe trabalhadora fica abalada com a mudança, está que ameaça os seus direitos
conquistados com tanto esforços e até mesmo com a vida de muitos trabalhadores. A esse
respeito Costa (1997, p. 86) reforça a ideia de que o capitalismo desejava acima de tudo,
preservar seu direito á propriedade dos meios de produção e dos produtos, bem como
maximizar a exploração do trabalho do operário, seja por mio de redução dos salários, ou
ampliando a jornada de trabalho. O trabalhador por sua vez, procura diminuir a exploração
e lutar pela redução da jornada de trabalho, por melhores salários e participação nos lucros.
É com essa perspectiva, que o neoliberalismo começa uma nova ordem social. Deixando
claro que esse modelo reforça a exploração dos trabalhadores, sendo desta forma, um
sistema que é mais para o capital e mínimo para o social, e deixa de lado as questões sociais
e vai trabalhar o individuo e não o coletivo aumentando assim, as desigualdades sociais,
aumentando a violência, promovendo a miséria e a deficiência no modo de vida da classe
trabalhadora.
Souza (1985, p. 78) reforça essa ideia ao afirma que no Brasil e em muitos Países da
América Latina, desde 1964 esta visão estadista da realidade, que já era dominante em nossa
cultura, passou a uma etapa superior. A chamada revolução de 1964 se faz estado, separouse da sociedade civil, e começou a aprofundar os abismos entre o estado e o povo, entre o
estado e a realidade comum e é corrente de todos nós. A codificação desta doutrina
estadista, totalitária, se apresenta como lei de segurança nacional, frente a qual nada é e na
quais todos deveriam estar integrados sem opção alternativa possível. Fica evidente que o
cenário atual das relações de produção é fruto da dinâmica ocorrida na história da
humanidade, onde se vivencia uma constante e extensiva exploração do proletário pelo
sistema capitalista, sendo este o principal responsável pelas sequelas que a população vem
sofrendo, o Estado que deveria prover essas necessidades, é o grande provedor das
desigualdades sociais, no momento em que contribui para o crescimento do sistema
capitalista promove ao mesmo tempo as desigualdades entre as classes, para Abranches
(1998, p. 25) é na dinâmica do desenvolvimento quando a renda cresce e as desigualdades
aumentam ou permanecem em níveis muitos altos, pode agravar-se privação material dos
mais pobres. A esse respeito Netto (2005, p. 19), destaca que o capitalismo monopolista
recoloca em patamar mais alto o sistema totalizante de contradições que confere á ordem
burguesa os seus traços basilares de exploração, e transitoriedade histórica.
1
Á medida que o capital só nutre de mais-valia, isto é, de trabalho excedente não pago apropriado do
trabalhador desprovido dos meios de produção e de vida... IAMAMOTO, 2005.
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Deste modo, as mudanças nos meios de produção concretizada com a informatização da
indústria e com a substituição de máquinas convencionais por novas tecnologias
microeletrônica, cujo objetivo principal era atender as exigências do mercado mundial que
agora surge mais competitivo. Drucker (1997, p. 5) salienta que as inovações da revolução
industrial foram imediatamente aplicadas em todas as partes e em todas as profissões e
industriais desencadeando desta forma a precarização nos postos de trabalho e a
polivalência causando com isso o desemprego e a exploração dos trabalhadores. Costa
(1997, p. 161) por sua vez reforça esse pensamento ao afirmar que as novas tecnologias
industriais como a robótica, prejudica a classe trabalhadora por dispensar mão de obra não
qualificada, está mais acentuada nos países “não desenvolvidos” ou “em desenvolvimento”.
O que para o autor eleva nesses locais o aumento do desemprego e a redução da renda per
capita e familiar, causando assim, o alargamento da situação social desses países.
Fica evidente que estas tecnologias favoreceram apenas o avanço do capital, já que o
trabalhador não estava qualificado frente às novas exigências, o que fez aumentar cada vez
mais o exército industrial de reserva, ou os ditos sobrantes. Esse crescimento desordenado
abriu espaços para exploração e precarização da vida econômica, social e da saúde do
trabalhador, principalmente daquele contingente que migrou do campo para as grandes
cidades em busca de melhores condições de vida e de sobrevivência, Iamamoto (2006, p.
250) diz que isso vem provocando a redução da oferta de trabalho na atual conjuntura,
vista como recessiva e produtora do enorme contingente da população sobrante. Essa
população que hoje trabalha na informalidade, como por exemplo, os vendedores
ambulantes que trabalham nas ruas e semáforos, entre estes se destaca a exploração do
trabalho de crianças e adolescentes que limpam para-brisas dos carros, vendem bombons,
se expondo ao perigo e sofrendo todo tipo de humilhação, muitas estão fora da sala de aula
para trabalhar e ajudar no orçamento familiar. A Política Nacional de Assistência Social PNAS de 2004 aponta essa população como sendo o público alvo da política de assistência
social, por serem considerados os cidadãos e grupos que se encontra em situações de
vulnerabilidade e riscos sociais, em decorrência da deficiência de política social, e da
exclusão gerada pela pobreza e pela inserção precária ou não inserção no mercado de
trabalho formal e informal.
Desse modo, o sistema capitalista deteriora a vida do trabalhador seja daqueles que se
encontram na formalidade ou aqueles que se encontram na informalidade e principalmente
dos que já estão inválidos em consequências das condições de trabalho no qual foram
submetidos e hoje são o público usuários da Previdência Social por não conseguirem mais
adentrar no mercado de trabalho, porque para o capitalismo o que interessa é a força de
trabalho ativa. Para Corrigam (1978, p. 70) o efeito do modo de produção sobre a
segurança das pessoas não se produz simplesmente sobre a primeira geração que mudou do
campo para a cidade, mas está presente a cada dia, na vida de cada membro do
proletariado.
Vários pensadores do século XIX criticaram o atual sistema por ser este um sistema onde
poucos se beneficiam da exploração de muitos. Percebe-se que esses pensadores tinham
em comum o desejo de ver surgir uma sociedade mais justa sem que o homem vivesse
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oprimido. Costa (1997, p. 191) esclarece que a classe trabalhadora vive uma mesma situação
de classe, sofrendo progressivo empobrecimento em razão das formas cada vez mais
eficientes de exploração do trabalhador. Já Drucker (1997, p. 12) destaca que o ponto
central foi à mudança da produção, quase da noite para o dia, do artesanato para a
tecnologia. Como resultado dessa transformação o capitalismo também assumiu
rapidamente um papel central na economia e na sociedade, a velocidade inédita com a que
a sociedade se transformou criou-se também as tensões e conflitos sociais da nova ordem.
É evidente que toda miséria da qual a classe trabalhadora está exposta, é gerada no seio do
sistema capitalista em consequência do uso da mais valia nos meios de produção e do
aumento da jornada de trabalho, e dos baixos salários pagos aos trabalhadores, este que de
acordo com Costa (1997, p. 87) deveria garantir a reprodução das condições de subsistência
do trabalhador e sua família, e não submetê-los a pobreza extrema. Karl Marx (2004, p.
570) destaca que o instrumento de trabalho converte-se em meio de julgar, explorar e
lançar á miséria ao trabalhador, para o autor, essa combinação social dos processos de
trabalho tornam-se a opressão organizada contra a vitalidade, a liberdade e a independência
do trabalhador individual. Diz ainda que esse instrumental serve tão somente para ascender
o capitalismo e elevar cada vez mais a precarização da vida dos trabalhadores, uma vez que
toda riqueza produzida pelo próprio trabalhador, não é dividida de forma igualitária, com
isso, não chega a quem realmente precisa. E ainda de acordo com Karl Marx (2004, p. 47)
aquele não se adaptar a sua maneira de vida e as condições de sucesso capitalista é
sobrepujado, ou pelo menos não pode ascender. Percebe-se que as mudanças estão
voltadas apenas para a reprodução do capital com isso a pobreza está cada vez mais
acentuada. Como explica Cotrim (1987, p. 50) ao demonstrar que aproximadamente 80%
da renda mundial estão concentradas nas mãos de 15% da população do globo que habita
os Países ricos. Por outro lado, todo o resto da humanidade vive na miséria, com cerca de
20% da renda mundial. Estudos realizados pela Organização das Nações Unidas - ONU
demonstrou que as diferenças entre países pobres e ricos, o desnível entre a opulência e a
miséria, têm crescido nas últimas décadas e tendem a continuar crescendo, já que persiste o
atual sistema de exploração econômica internacional. No Brasil, milhões e milhões de
brasileiros, principalmente as crianças, jovens e os idosos vivem marginalizadas, isto é, não
participam dos benefícios econômicos, 60% da população economicamente ativa ganha no
máximo, até 2 salários mínimos. Somente 4,5% ganham de 10 salários.
Observa-se que grande parte da renda per capita do país está concentrada nas mãos de
poucos e a menor parte nas mãos de muitos, o resultado de toda esta desigualdade na
distribuição da renda é o crescente número populacional vivendo em condições subumana
perdendo o direito de alimentar-se e habitar dignamente a esse respeito, Karl Marx (2004,
p. 237) descreve que o trabalhador emprega mais da metade de sue dia de trabalho para
criar mais-valia, distribuída por diversas pessoas sobre diferentes pretextos, para o autor, o
trabalhador durante uma parte do processo de trabalho só produz o valor de sua força de
trabalho, isto é, o valor dos meios de subsistência que lhe são necessários. Produzindo
deste modo num sistema que se fundamenta na divisão social do trabalho, não produz
diretamente seus meios de subsistência, mas um valor sob a forma de uma mercadoria
particular.
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Assim, as condições da qual a classe trabalhadora está submetida levam-na a sentir os seus
efeitos sobre sua vida social, econômica, sua saúde. E o salário que deveria servir para o
trabalhador suprir suas necessidades básicas, contribui para a submissão, e os esforços
repetitivos gerados com as mudanças nos postos de trabalho. Freire (2003, p. 71) explica
que o termo adaptação ao trabalho, articulado as doenças, permite captar a linha tradicional
de reforço à submissão do trabalhador. Assim como seus efeitos destrutivos na sua saúde
física e mental, para Brigagão (1997) esse problema se agravou com o processo de
globalização. Freitas (2006) argumenta que o pior de tudo isso, é que o trabalhador é visto
como culpado pelo seu estado.
Dados da pesquisa2 realizada pelo Neurocirurgião Dr. Aparecido Gomes dos Santos em
Manaus no ano de 2005 com 51 motoristas do transporte coletivo de Manaus cujo objetivo
foi de orientar a sociedade a fim de proteger os motoristas profissionais de diversas
doenças decorrentes de vários anos de trabalho, principalmente quando há excesso de
horas trabalhadas. O Neurologista afirma que dentre as doenças que mais afetam essa
categoria, estão às síndromes depressivas, síndromes de pânico, crise de ausências, crises
convulsivas, fibromioalgias, osteoartroses, discopatias entre outras. Os dados de sua
pesquisa apontaram que a maioria dos motoristas e cobradores tinha um longo período de
trabalho, sendo que, dos 25% dos entrevistados tinham entre 3 e 10 anos de trabalho, 38%
tinham entre 11 e 20 anos de trabalho, 31% tinham entre 21 e 31 anos de trabalho e 6%
tinham entre 31 e 40 anos de trabalho, destes, 16% trabalhavam de 8 a 10 horas diária e
84% tinham uma jornada de 11 a 16 horas por dia. Dr. Aparecido diz que o tempo de
trabalho na mesma função realizando um trabalho sentado e estressante contribuiu para o
surgimento da hérnia de disco, sua pesquisa comprovou que motoristas que exercem uma
jornada de trabalho intensa diariamente está sujeito a adquirir a hérnia de disco e outras
doenças como a LER. Nessa pesquisa, a hérnia de disco apareceu com 11%%, a
osreoastrose com 23%%, a discopatias com 27%, a síndrome de pânico 9%%, a
hipertensão 1%%, a esquizofrenia 3%, a síndrome ansiosa 11%%, a crise de ausência 9%, a
síndrome depressiva 6%, a síndrome convulsiva 6%, o distúrbio do sono1%%, e as
fibromialgias com 8%. O Neurocirurgião afirma que na maioria dos entrevistados foi
diagnosticada com mais de uma doença. Sendo que as doenças que foram detectadas nestes
motoristas são decorrentes de vários anos de trabalho e principalmente pelo excesso de
horas trabalhadas, diz ainda que estas doenças estão relacionadas com o trabalho e são
desencadeadas umas das outras e podem ser reconhecidas pelos códigos de acordo com a
Classificação Internacional de Doença - ID 10, M51, M19. 9, E10, E66, I71, M60, F20,
F40, M19. 8, I10, F43, M50. 1, G40, F32. 1, F32. 2, G47 (SANTOS, 2005).
Conforme rege a Lei 8.080 de 1990 Art. 3º do Sistema Único de Saúde – SUS, a saúde tem
como fator determinante e condicionante, entre outros, a alimentação, a moradia, o
saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer
e o acesso aos bens e serviços essenciais; os níveis de saúde da população expressam a
Os dados foram coletados com pacientes (motorista e cobradores) em seu consultório, porém, não haviam
sido divulgados.
2
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organização social e econômica do País. Para Freire (2003, p. 63), essas mudanças no
mercado de trabalho fizeram que o trabalhador se adaptasse a elas e isso acarretou e
acarreta sérias consequências na vida dos mesmos fazendo que muitos sintam o seu efeito
sobre o corpo e a mente, afirma ainda que a revolta biopsíquica do próprio corpo é
autodestrutiva para a saúde. Mostrando assim, a ausência de assistência à saúde do
trabalhador e a não fiscalização periodicamente nos postos de trabalho e o não
atendimento as reivindicações dos trabalhadores, essas que não são ouvidas pelo Estado,
este que se volta para o capital não investindo no trabalhador que é o produtor e
mantenedor da existência do capitalismo.
A esse respeito Yezbek (2003, p. 39) afirma que certamente existe a intervenção estatal que
financia a reprodução do capital, mas que não financia a reprodução da força de trabalho.
Pereira (2001, p. 151) diz que essa é a lógica do circulo vicioso da exploração e da opressão,
já que pretende convencer os trabalhadores de que sem mercado estáveis não há emprego e
de que só há mercado estáveis com trabalhadores permanente instáveis, com o que a
instabilidade de quem trabalha é assim arvorada em conditio sine quan non3, adotam essa
ideologia como sendo para sobrevivência dos próprios trabalhadores. No entanto, a classe
trabalhadora não dispõe de condições dignas tanto sociais como econômica e vivendo sob
a constante exploração, e o descaso por parte do governo principalmente no que se refere à
saúde que há várias décadas vem sendo tema de discussão no Brasil, um país que ao
mesmo instante em que é desenvolvido e industrializado, e ao mesmo tempo tendo como
principal característica a existência de um capitalismo recente determinado pela
concentração de renda nas mãos de poucos, tornando – se um destruidor e multiplicador
das brutais, ilesas e intensas desigualdades sociais da atualidade. Iamamoto (2006, p. 78)
reforça essa ideia ao argumentar que a tendência do capital é a de unir a máxima extensão
da jornada de trabalho de inúmeros trabalhadores.
Para Pereira (2001, p. 150-151) a fundamentação ideológica deste estado de coisas é dada
pela lógica da exclusão, com os ricos a viverem cada vez mais ricos em autêntica e cada vez
mais protegidas fortalezas, como os condomínios fechados aterrados com a possibilidade
de serem atacados pelo exército dos famintos e excluídos, estes que já representam pelo
menos 1/3 do povo dos países mais ricos, e mais da metade nos países mais pobres. E que
por sua vez estão sendo cada vez mais atirados para os hetos urbanos e suburbanos, onde a
miséria e a marginalidade social se combinam crescentemente, mas onde são também
permanentemente acossados pela publicidade de estilos de vida e objetos de consumo que
não estão de todo em todo, ao seu alcance.
Os empresários por sua vez aumentam a jornada de trabalho para atender a demanda, essa
é uma tática bastante comum na lógica capitalista para aumentar a produção e elevar seu
potencial ao tempo em que contribui para as precárias condições de vida e de saúde do
trabalhador, aumentando consequentemente o número de fragilizados e doentes que
chegarão as portas do SUS a procura por atendimento, e do Instituto Nacional de Seguro
Social - INSS, requerendo o auxílio doença, sejam aquelas relacionadas ao trabalho ou por
3
Termo que no Latim significa condição indispensável.
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acidentes de trabalho. Esse fenômeno vem crescendo de forma desordenada no Brasil.
Para Iamamoto (2006, p. 105), essa desigualdade de temporalidade histórica é assinalada e
tem na feição antidemocrática assumida pela revolução burguesa no Brasil tendo como um
de seus pilares. As soluções políticas para as grandes decisões que presidiram as condições
da vida nacional já que tem sido orientada por deliberações que foram formuladas de cima
para baixo e pela reiterada exclusão das classes subalternas, historicamente destituídas da
cidadania social e política.
Em decorrência do descaso, a classe trabalhadora vem sendo explorada e marginalizada, os
governantes por sua vez, elaboram suas políticas voltadas mais para o acumulo do capital
que para promover o bem-estar do trabalhador. Pode-se observar que hoje o povo vem
conquistando alguns espaços nas resoluções políticas, seja por meio da participação em
conselhos ou as conferências, mas ainda há muito a conquistar como descreve Pereira
(2003, p. 31), ao afirma que a alternativa histórica do tratamento das desigualdades sociais
pelas políticas públicas de corte social no Brasil não se isola da forma histórica pelas quais o
capital segue tratando a força de trabalho a nível internacional. Por outro lado, a
globalização econômica e tecnológica, não amenizou o problema da exploração do
trabalhador, pelo contrário, fez que se acentuasse cada vez ainda mais, já que se observa o
contingente de trabalhadores explorados e excluídos da sociedade pela ausência de uma
renda que seja suficiente para usufruir dos direitos de cidadania, o capitalismo por sua vez
se apodera destas tecnologias para extrais a mais-valia com o aumento da produção em
menor espaço de tempo possível e aumentar sua produtividade e elevando assim seu lucro.
Para Laurell (1997, p. 153) o avanço da produção e organização social capitalista sempre
vem acompanhado de questões sociais complexas e intensas. Sobre o assunto, Iamamoto
(2005, p. 11) fala que a globalização excludente e desigual estabelece maior exposição das
atividades econômicas nacionais à competição externa, ao mesmo tempo em que estimula a
incorporação de novos paradigmas tecnológicos e de gestão, poupadores de mão-de-obra,
objetivando a elevação dos padrões de produtividade e rentabilidade do capital. O Estado
para amenizar as necessidades da classe trabalhadora propõe ações que são mais para
conter as contradições, que resolver os problemas visíveis na camada diferenciada, levando
a classe trabalhadora a sentir o efeito do processo da globalização econômica e a expansão
do sistema capitalista, esse processo que favorece cada vez mais a desigualdade e a exclusão
social a nível mundial.
Netto (2005, p. 55) chama atenção para as amargas derrotas sofridas pela classe operária a
que se segue pelo menos uma década de refluxo do seu movimento, o autor diz que o
Estado atua visando o acumulo do capital, com políticas de caráter contraditório, que ao
invés de amenizar o problema da questão social eleva ainda mais o número de fragilizados e
excluídos, a situação é mais agravante na classe proletária devido o alto índice de
desempregos e a baixa renda e muitas famílias vivendo em situações de vulnerabilidade.
Para Marx (2001, p. 19) o capitalismo na época de sua expansão, teve a oportunidade de
alterar a distribuição social da população de acordo com as suas necessidades, e de lhe
determinar sua estrutura ocupacional, o autor diz que como isso não aconteceu, o resultado
é o elevado índice de pobreza no país.
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As consequências do sistema capitalista para a sociedade são devastadoras porque
aprofundou as desigualdades sociais, com a acumulação e concentração da riqueza nas
mãos de poucos. Mello (2002, p. 38) por sua vez argumenta que em toda a história do
mundo capitalista, nenhuma riqueza se cria sem a pobreza e o sofrimento de muitos, o que
consiste na velha e flexível lei da exploração do homem pelo homem. Mello reforça a ideia
de que essa é uma exploração fundamentada na mais-valia, ou seja, quando o capital retira
do trabalhador o trabalho excedente não pago e toma para si devolvendo apenas uma parte
para o trabalhador em forma de salário.
O Estado deveria utilizar os recursos arrecadados com os impostos e aplicar em programas
voltados para a melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores, no entanto, aplica o
mínimo em políticas sociais, estas que servem somente para amenizar os danos causados
pelo o atual sistema, estas políticas não suprem as necessidades da classe trabalhadora,
apesar de serem financiadas com os recursos e o esforço do próprio trabalhador. Sposati
(2000, p. 33) afirmar que a transformação da mais-valia em políticas sociais em que o
próprio trabalhador paga com seu trabalho, nem metade do que é extraído da classe
trabalhadora, em forma de mais-valia, é revestido em políticas sociais, no entanto, grande
parte do que é arrecadado é empregado em capital aumentando desta forma os meios de
produção e consequentemente o número de trabalhadores explorados e mais excedente
para o capital.
Para Pereira (2001, p. 152) essa é a lógica da supremacia absoluta do grande capital
financeiro internacional em que mediante o uso das novas tecnologias, as quais se
apropriaram em proveito próprio, funcionando num espaço amplamente globalizado e
num tempo virtualmente instantâneo, acumulando lucros especulativos e fabulosos.
Estima-se que a cada 100 dólares que circulam diariamente em todo o mundo, apenas 2
dizem respeito á chamada “economia real”, ou seja, á atividade produtiva.
No entanto, a tecnologia que deveria proporcionar ao trabalhador mais tempo livre, por ser
mais eficaz na produção, ao contrário se apodera ainda mais do tempo do trabalhador, que
já não dispõe de tempo de lazer com sua família, não dispõe de tempo para cuidar da
saúde, com isso, é obrigado a suportar a dor advinda com os movimentos repetitiva
durantes varias horas de trabalho e por um longo período de tempo, provavelmente pelo
receio de levar atestado médico e perder o emprego, até que chega o dia em que a dor fica
insuportável, é quando o trabalhador vai procurar cuidados médicos, o que muitas das
vezes já é tarde porque a doença está avançada e a maioria vai ficar afastada, recebendo o
auxilio doença. Devido às fragilidades em que o capitalismo gerou aos trabalhadores,
levando-os a um estado de decadência, houve a necessidade de rever as políticas de saúde
no Brasil, assunto que veremos a seguir com a trajetória da saúde pública no país.
1.1 Trajetória da saúde pública no Brasil
Nas décadas de 20 e 30, o Brasil estava saindo do regime colonial, nesta época não havia
responsabilidade do Estado com a população, principalmente em relação à saúde, o povo
era o responsável pelos cuidados de saúde de seus familiares, pode se dizer que era no
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“cada um por si”. O Brasil neste momento era um grande exportador de café, vivia - se o
fim do regime colonial e adentrando a república, o que conforme destaca Gonh (1995, p.
199-200) a cidadania construída com o advento da república, observa-se, que além da
ausência da participação, houve a introdução de um padrão de relações entre a sociedade e
o Estado que como se sabe, passou a fazer parte da estrutura profunda do novo sistema
político.
Antigamente quando a saúde ainda não era de competência do governo, a população que
precisava de cuidados relacionados à saúde, buscava por socorros nos famosos curandeiros
e principalmente as parteiras que faziam os partos e cuidavam das mulheres após o
nascimento do bebê, tinha também as benzedeiras que benziam as crianças com as
chamadas doenças do vento, que se acreditava que eram adquiridas através do vento, nessa
época muitas crianças morreram por falta de cuidados e de saúde pública. Luiz (2001, p.
19) argumenta que durante todo o período colonial, e mais precisamente até meados do
século XIX, no Brasil, os problemas de saúde e higiene ficavam sob-responsabilidade, das
localidades, nesse período, a população era quem tomava as medidas contra a imundice das
ruas e quintais. Em relação à assistência a população pobre e os cuidados com os indigentes
ficavam aos cuidados da iniciativa filantrópicos, de figuras de importância econômica e
social e de instituições beneficentes ligadas á igreja católica, como por exemplo, as santas
casas de misericórdia. Costa (1985) (apud LUIZ, 2001) destaca que a parcela restante da
população buscava socorro dos médicos existentes, ou então de cirurgiões, barbeiros,
sangradores, empíricos, curandeiros, parteiras e curiosas. Como a população não estava
preparada para lidar com o lixo, isso fez surgir grandes focos de doenças, porque o lixo era
jogado nos quintais e atraia as moléstias ou as doenças pestilentes como a varíola, a febre
amarela, a malária e a tuberculose. Esse acontecimento marcou a fragilidade da saúde
pública no Brasil desta época.
Depois dessas décadas, o Brasil passa pela transição da monarquia para a república, vive-se
o auge da exportação do café, foi dentro deste contexto que nasceu à saúde pública no
Brasil. Marcada pelas mudanças em relação á saúde iniciada com a Lei Eloy Chaves que
veio para provar que as doenças não eram pegas no vento como se acreditavam, e sim pelas
bactérias que surgiam por falta da higiene e das precárias condições de vida das pessoas.
Nesse período, começaram as campanhas sanitárias cujos objetivos era de combater as
doenças epidêmicas o que segundo Bravo (2004, p. 26) esse modelo de saúde pública foi
predominante até meados dos anos 60 e teve como característica principal a ênfase nas
campanhas sanitárias e na interiorização das ações para as áreas de endemias rurais e a
criação dos serviços de combate às endemias.
Vale lembra que a saúde neste contexto tem duas características fundamentadas e descritas
por Osvaldo Cruz, ex-aluno e pesquisador do Instituto Pasteur, primeiro, combate as
endemias, segundo a medicina previdenciária com ela foi criada as Caixas de
Aposentadorias e Pensões – CAPS, que a partir de 1926, incorpora a assistência á saúde.
Nas décadas de 30-50, surgem os Institutos de Aposentadorias e Pensões – IAPs. Porém,
esses benefícios favoreciam somente os trabalhadores urbanos considerados de
fundamental importância para o crescimento do país como os bancários, os empregados do
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comércio, os marítimos, os ferroviários, os estivadores e os funcionários públicos, os
demais ficavam a mercê e morriam por falta de condições para cuidar da saúde.
A esse respeito, Bravo (2004, p. 27) chama atenção quando fala que a medicina
previdenciária só sobrepujou a saúde pública a partir de seu predomínio anunciado desde o
início da década de 60, o que se evidência é que, apesar das pressões populares, a
assistência médica e previdenciária era formada basicamente pelos serviços próprios dos
Institutos. Percebe-se que nesse período as campanhas sanitárias não eram efetivas, já que
eram colocadas em prática apenas quando se dava os focos de doenças, não dando
importância para a coletividade, ou seja, os serviços visavam somente às endemias, com
isso não reduziam as taxa de mobilidade causada por doenças infecciosa, o que fica
evidente a ausência de uma visão curativa, já que o foco era somente para a prática
individualista.
Percebe-se que a medicina previdenciária implantada com os IAPAS tinha como objetivo
manter a ordem das categorias profissionais. Porém não atendia a todos e tinha como
características a seletividade já que nem todos trabalhadores tinham direito aos serviços de
saúde e da previdência, principalmente a população rural que sofria com os focos de
doenças endêmicas principalmente a malária. Nesta época o estado privilegiava o setor
privado de saúde, por isso não intervinham na saúde pública, ver-se que a política de saúde
no período de 1964 e 1974 desenvolveu-se com base no privilegiamento do setor privado,
articuladas as tendências da política econômica implantada. Como se pode observar a
gestão visa sempre o acumulo de capital e nunca as reais necessidades da população
(BRAVO, 2004).
Depois desse período, o Brasil adentra o desenvolvimentismo implantado pelo governo
Juscelino Kubitschek, como havia muitos recursos dos IAPAS, o governo começa a desviar
verbas para as grandes construções e deixa de investir na saúde pública, com isso, começam
a surgir às doenças, o povo não tinha acesso às informações relacionadas às condições de
saúde da população porque a imprensa era impedida de divulgar as noticias que interessava
a população, divulgavam somente o que o governo queria. A esse respeito, Luiz (2001, p.
21) afirma que o processo de industrialização acelerada que o Brasil viveu a partir da década
de 50 determinou um deslocamento do polo dinâmico da economia dos centros urbanos e
gerou uma massa operaria que deveria ser atendida pelos serviços de saúde. A partir desse
período passa a configura-se o denominado modelo médico assistencial privatista que
vigora hemogênico de meados dos anos 80. A população estava insatisfeita com o descaso
e com as condições em que se encontrava a saúde pública no Brasil, assim começa se
organizar formando os movimentos sociais reivindicando melhores condições de saúde,
pedindo a democracia e a reforma das bases urgentes para a saúde pública.
Os movimentos surgem efeito, e a prova disso, foi que na década de 80 surge à campanha
da fraternidade que trazia consigo o lema, “saúde para todo” e o povo vai às ruas pedindo
melhorias nos séricos de saúde e reivindicando o retorno da democracia, nesta época
surgem as associações de moradores em todo o país, que juntos pediam uma saúde pública
de caráter universal, descentralizadas com programas visando à realidade de cada município
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e que a população pudesse participar das decisões e das elaborações de políticas voltadas
para a saúde.
E como resultado, em Março de 86 acontece a VIII Conferência que contou com a
participação dos profissionais da saúde e da sociedade que lutavam pela efetivação dos seus
direitos, como melhores serviços, universalização do acesso, saúde como direito social, foi
um acontecimento importante para a classe trabalhadora, porque a partir dessa conferência
surgiu a politização da saúde como primeira meta a ser implantada, e os objetivos eram de
aprofundar o nível de consciência sanitária, visibilizar mudanças necessárias, para se buscar
melhorias na saúde pública. Esse foi um fator marcante e fundamental para a discussão da
questão da saúde no Brasil começando na preparação e realização da VIII Conferência
Nacional de Saúde realizada na capital federal Brasília - DF numa articulação bem diversa
das anteriores e contou com a participação de cerca de 4.500 pessoas, dentre as quais mil
eram delegados.
Esse acontecimento representou inegavelmente um marco na história da saúde pública no
Brasil, pois foi a partir de então que se introduziram no cenário da discussão, a saúde e a
sociedade, os debates saíram dos seus fóruns específicos e assumiram outra dimensão com
a participação de entidades representativas da população. A questão da saúde ultrapassou a
análise setorial, referindo-se á sociedade como um todo, propondo-se assim, não somente a
reforma sanitária, mas o Sistema Único de Saúde (CADERNO DA UNB, 2000, p. 109).
A história mostra que a década de 80 foi marcada pelas conquistas da sociedade,
conseguida por meio dos movimentos sociais, conselhos e conferências. A proposta da
Reforma Sanitária nos movimentos tinha como objetivo mudanças na maneira de lidar com
a saúde, porque até o momento priorizavam-se tão somente os períodos de epidemias.
Percebe-se que nesse período, a classe subalterna luta por sua sobrevivência, organiza-se e
apela para o atendimento de seus direitos sociais, como trabalho, remuneração,
alimentação, saúde, moradia, educação. Esses movimentos envolvem processos de
esclarecimentos, arregimentação, debate e mobilização, que supõe a liberdade, a resistência
e a opressão (SPOSATI, 2003, p. 37).
O foco principal dos movimentos, era a Reforma Sanitária que tinha como objetivos, o
direito universal, a coletividade, a descentralização e melhor atendimento na área de saúde.
E outros direitos entre os quais moradia adequada, educação, lazer e saúde. Vale lembra
que todos esses direitos são pré-requisito para que a população tenha condições de vida
digna. Outro objetivo era o direito universal á saúde como dever do Estado que visava
unificar o direto de todos à saúde e o fim das descriminações existentes entre segurado/não
segurado, rural/urbano. A partir de então, as ações e serviços de saúde passaram a ser
considerados de relevância pública, cabendo ao poder públicos sua regulamentação,
fiscalização e controle. Além da Constituição do Sistema Único de Saúde que agora passa a
integrar aos demais serviços públicos, configurando-se como uma rede hierarquizada,
regionalizada, descentralizada e de atendimento integral, garantindo a participação da
comunidade. E a regulamentação do setor privado no sistema de saúde como de caráter
complementar, vedando a destinação de recursos públicos para subvenção ás instituições
com fins lucrativos (UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA, 2000, p. 110).
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Assim, o Estado passa ser o principal responsável de assegurar e garantir a estrutura de
saúde pública, sendo obrigado a oferecer tratamento preventivo de saúde que foram
conquistados a partir da conferência. A partir de então a saúde adentra a agenda do
governo e passa a fazer parte das políticas públicas conforme assegura a Constituição
Federal, 1988 no seu art.196 em que rege que a saúde é direito de todos e dever do Estado,
garantido mediante políticas sociais e econômicas que visam á redução do risco de doença e
de outros agravos e ao acesso universal e igualitário ás ações e serviços para sua promoção,
proteção e recuperação.
Com a Constituição federal, a saúde passou a ser um direito universal e atingindo a
coletividade, houve o aprofundamento da consciência nacional a respeito da saúde, a
população passa ser assistida através dos serviços públicos de saúde, previdência e
assistência social. Segundo Luís (2001, p. 27-28) a Constituição de 1988 ao incorporar a
proposta do Movimento Sanitário, cria a Seguridade Social objetivando a universalidade da
cobertura e do atendimento, uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços à
população urbana e rural, seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e
serviços, irredutibilidade do valor dos benefícios, equidade na forma de participação no
custeio, diversidade da base de financiamento, caráter democrático e descentralizado da
gestão administrativa, com participação da comunidade, em especial de trabalhadores,
empresários e aposentados.
A década de 90 ficou marcada pelos movimentos que garantiram a inclusão do direito a
saúde na Constituição Federal de 1988 e o acesso da população aos serviços de saúde
pública por meio do Sistema Único de Saúde (SUS) que veio para assegura a saúde como
direito de todos e dever do Estado e ainda regulamentar a forma de financiamento, ou seja,
os serviços de saúde serão financiados pelos recursos do orçamento da seguridade social,
da União dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes.
1.1.2 Constituição da República Federativa do Brasil e saúde Pública
A Constituição Federal no art.198 rege que as ações e serviços públicos de saúde integram
uma rede regionalizada e hierarquizada que constituem um sistema único de saúde,
organizado de acordo com as seguintes diretrizes, descentralização, ou seja, com direção
única em cada esfera do governo, atendimento integral, com prioridade para as atividades
preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais. A C.F. estabelece que o Sistema Único
de Saúde seja financiado com os recursos do orçamento da Seguridade Social, da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes, em
conformidade com os termos do artigo 195.
A C.F. determina que a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão
aplicar anualmente em ações e serviços públicos de saúde os recursos mínimos derivados
da aplicação de percentuais calculados da seguinte forma, no caso da União, na forma
definida nos termos do artigo 195 da C.F. e da lei complementar prevista para o
financiamento da seguridade social, já que a saúde juntamente com a assistência e
previdência formam o tripé da seguridade social.
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Assim, o financiamento será feito por meio dos impostos arrecadados do empregador, de
empresas e da entidade a ela equiparada, da folha de salários e demais rendimentos do
trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço,
mesmo sem vínculo empregatício; da receita ou o faturamento; do lucro; do trabalhador e
dos demais segurados da previdência social, sobre a receita de concursos de prognósticos,
como a loteria federal, do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a
ele equiparar, Já as receitas dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios destinadas à
seguridade social constará dos respectivos orçamentos, não integrando o orçamento da
União.
Os critérios de custeio dos recursos da União vinculados à saúde destinada aos Estados, ao
Distrito Federal e aos Municípios, e dos Estados destinados aos seus respectivos
Municípios, terá como objetivo a progressiva redução das disparidades regionais, a
fiscalização, avaliação e controle das despesas com saúde nas esferas federal, estadual,
distrital e municipal.
Além das diretrizes, houve também a regulamentação da Previdência Social garantido por
meio do decreto lei nº. 3.048 de 6 de Maio de 1999 que veio assegurar aos trabalhadores
alguns benefícios garantidos na Constituição no artigo 201, como a garantia de cobertura
dos eventos de doenças, invalidez, morte e idade avançada, a proteção á maternidade e
especialmente as gestantes, a proteção ao trabalhador em situação de desemprego
involuntário, garantia do salário família e do auxílio-reclusão para os dependentes dos
segurados de baixa renda, pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge
ou companheiro e dependentes.
1.1.3 Princípios e diretrizes do SUS
O artigo 7º da lei 8.080 de 19 de setembro de 1990 dispõe sobre os princípios e diretrizes
do SUS. Assim, os serviços de saúde devem se nortear nos seguintes princípios.
Universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência significa
dizer que todos têm direito ao atendimento independente de cor, raça, religião, local de
moradia, atuação de emprego ou renda, entre outros. Significa que a saúde é direito de
cidadania e dever dos governos Municipal, Estadual e Federal. Estas medidas foram feitas
para que deixem de existir os indigentes, como aqueles brasileiros que não estavam
incluídos no mercado formal de trabalho.
Integralidade da assistência, ou seja, é o conjunto articulado e continuo das ações e serviços
preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis
de complexidade do sistema.
O Princípio da Equidade refere-se que todo cidadão é igual perante o Sistema Único de
Saúde e será atendido conforme suas necessidades. Os serviços de saúde devem considerar
que em cada população existem grupos que vivem de forma diferente, ou seja, cada grupo
ou classe social ou região tem seus problemas específicos, tem diferença no modo de viver,
de adoecer e de ter oportunidades de satisfazer suas necessidades de vida. Significa dizer
que devemos tratar desigualmente os desiguais e trabalhar conforme a clientela.
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Preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade física e moral. Este é o
princípio da Integralidade que vem afirmar que as ações de saúde devem ser combinadas,
voltadas ao mesmo tempo para prevenção e a cura. Assim, os serviços de saúde devem
funcionar atendendo o indivíduo como um ser humano integral que está submetido á mais
diferentes situações de vida e trabalho, que o leva a adoecer e a morrer.
O principio da autonomia vem afirmar que o indivíduo não deve ser visto como um
amontoado de partes (coração, fígado, pulmão, entre outros) e solto no mundo.
Psicologicamente, e socialmente está sujeito a risco de morte. Desta forma o atendimento
deve ser feito para a sua saúde e não somente para as suas doenças, isto é, exige que o
atendimento seja feito também para erradicar as causas e diminuir os riscos, além de tratar
os danos. Assim, às ações de promoção e proteção, devem volta-se para as áreas de
habitação, meio ambiente, educação, saneamento básico, imunização, ações coletivas e
preventivas, vigilância a saúde e sanitária. E as ações de recuperação devem funcionar com
atendimento médico, tratamento e reabilitação para os doentes. As ações de promoção,
proteção e de recuperação formam um todo individual que não podem ser
compartimentalizados. As unidades prestadoras de serviços com seus diversos graus de
complexidade formam também um todo individual, configurando um sistema capaz de
prestar assistência integral ao individuo. Desta forma, a saúde deve envolver todos os
setores, com prevenção, atender o cidadão de maneira integral até descobrir o mal que o
acomete. Isso envolve promoção, proteção e recuperação da saúde.
Igualdade de assistência á saúde sem preconceitos ou privilégios de qualquer espécie,
refere-se ao princípio da hierarquização o que significa dizer que a rede de serviço do SUS
deve ser organizada de forma regionalizada e hierarquizada, permitindo um conhecimento
maior dos problemas de saúde da população de uma área delimitada, favorecendo ações de
vigilância epidemiológica, sanitária, controle de vetores, educação em saúde, além das ações
de atenção ambulatorial e hospitalar em todos os níveis de complexidade. Assim, o acesso á
rede deve se dar através dos serviços de nível primário de atenção, o mesmo deve estar
qualificado para atender e resolver os principais problemas que demandam serviços de
saúde. Os que não forem resolvidos neste nível deverão ser encaminhados para os serviços
de maior complexidade e amparo tecnológico, que é o nível terciário de atenção á saúde
onde estão os hospitais de referências e equipados para realizar procedimentos que envolva
maior complexidade. No nível secundário estão os centros de especialidades, no nível
primário, estão as unidades básica de saúde, primeira porta de entrada nos programas de
saúde pública do SUS.
De acordo com Lei 8.080, as ações e serviços de saúde oferecidos pelo SUS hão de ser
entendidos em seus objetivos finais que são, prestar assistência á população baseada no
modelo da promoção, proteção e recuperação da saúde para que assim, busquemos os
meios capazes de alcançar os objetivos propostos com eficiência e eficácia e, torna-lo
efetivo em nosso país. Assim, os meios orientados pelos princípios organizativos de
descentralização, regionalização, hierarquização, resolutividade, participação social e
complementaridade do setor privado, devem constituir-se em objetivos e estratégias que
deem concretude ao modelo de atenção á saúde desejada para o Sistema Único de Saúde.
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Garantindo ao individuo, o acesso às informações sobre sua saúde, quanto ao potencial dos
serviços de saúde e a sua utilização pelo usuário. A utilização da epidemiologia pelo SUS
deve servir para o esclarecimento de prioridades, a alocação de recursos e a orientação
programática. Além de garantir a participação da comunidade na elaboração e nas decisões
relacionadas à saúde.
Desta forma, o SUS há de ser entendido como um sistema descentralizado políticoadministrativa, com direção única em cada esfera de governo, com ênfase na
descentralização dos serviços para os Municípios, garantindo desta forma a regionalização e
hierarquização da rede de serviços de saúde.
1.1.4 Responsabilização dos Municípios na área da saúde
De acordo com a Constituição Federal art. 30 e a lei 8. 080 e as Normas Operacionais
Básicas de Saúde, por se encontrar mais próximo da sua população, compete aos
Municípios prestar com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, os
serviços de atendimento á saúde da população, cabendo, portanto aos gestores municipais a
maior responsabilidade na implantação das ações da saúde diretamente voltada para os seus
cidadãos.
1.1.5 Participação do setor privado na saúde pública
A lei 8. 080 determina que a participação do setor privado na área de saúde pública se dará
quando houver insuficiência nos serviços do SUS, conforme rege a C.F no artigo 24 em
que definem que quando for necessária a contratação de serviços privados essa contratação
se dará sob três condições, primeiro quando as disponibilidades forem insuficientes para
garantir a cobertura assistencial á população de uma determinada área, mediante esses
critérios, o SUS poderá recorrer aos serviços ofertados pela iniciativa privada. Segundo a
celebração do contrato, deve-se dá conforme as normas do SUS, ou seja, em torno de
posições definidas na rede regionalizada e hierarquizada dos serviços, dentre os serviços
privados devem ter preferência os serviços não lucrativos como os hospitais filantrópicos,
Santas Casa entre outros. A C.F no seu Art. 199. Determina que cada gestor deva planejar
primeiro o setor público e na sequencia quando necessário, complementar a rede de
assistência com o setor privado.
De acordo com as diretrizes do SUS, será garantido o exercício e a participação da iniciativa
privada na saúde, porém devem ser regulamentadas pelas disposições e princípios gerais de
atenção á saúde, ou seja, a rede privada ao ser contratada para prestar serviços de saúde no
SUS, deve seguir os princípios e diretrizes do SUS, como a universalidade, regionalidade
entre outros.
1.1.6 Leis que regulamentam o SUS
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Tabela 1. Legislação do SUS
C.F- 1988
Constituição Federal. Arts. 1995 a 200. Trata da a assistência à saúde.
Lei 8.080
De 19 de Setembro de 1990 e 8.142 de 28 de Dezembro de 1990, que passou a
constituir a Lei Orgânica da Saúde – LOS. São consideradas Leis
Infraconstitucionais que disciplinam legalmente o cumprimento do
mandamento constitucional da proteção e da defesa da saúde.
Lei 8.080/90
Disciplina a descentralização político-administrativa do SUS, dispõe sobre as
condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o
funcionamento dos serviços de saúde.
Lei 8.142/90
É fruto de grande negociação ocorrida na época entre vários atores envolvidos
no processo de construção do SUS no Brasil. Ela repara os veto feitos pelo
chefe do executivo á lei 8.080/90 e dispões sobre a participação da comunidade
na gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) e sobre transferência
intergovernamental de recursos financeiros na área da saúde.
Lei 8.080/90
Explicita no artigo 33 sobre a garantia e transferência dos recursos financeiros
para o Sistema Único de Saúde em conta especial de cada esfera de governo e
movimentado sob a fiscalização dos respectivos Conselhos de Saúde.
Fonte: Andrade (2001, p. 29)
Percebe-se que a implantação do SUS não trouxe melhorias na área da saúde pública para a
população como se esperava o que ficou visível a pós-análise da trajetória da saúde pública
no Brasil desde seu surgimento. Primeiro porque a política previdenciária e de saúde no seu
inicio não atendia todos os trabalhadores. Segundo, foi às condições precárias agravadas
pela falta de investimento no setor e principalmente devido o processo de industrialização
que impulsionou o êxito rural causando grande concentração da população que vinha do
campo para cidade. Terceiro porque trouxe varias alterações e precarização na vida e na
saúde do trabalhador, já que o modelo de saúde previdenciária atendia somente os
trabalhadores ligados ao mercado formal com isto o surto de morbidade e mortalidade
aumentou devido à restrição, ou seja, esse modelo deixava de fora os trabalhadores
desvinculados da previdência. As alterações ocorridas na sociedade brasileira a partir da
década de 30 tinham como indicadores mais visíveis o processo de industrialização, a
redefinição do papel do Estado, o surgimento das políticas sociais, além de outras respostas
ás reivindicações dos trabalhadores (UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA, 2000, p. 105).
Após a segunda guerra mundial, criou-se o Serviço Especial de Saúde Pública - SESP, que
oferecia o atendimento básico de saúde e mesmo assim não resolveu o surto de morbidade
e mortalidade porque o SESP atendia somente as regiões mais distantes e tinha como
enfoque o combate das endemias. A Política Nacional de Saúde, que se esboçava desde
1930, foi consolidada entre os períodos de 1945 a 1950. O Serviço Especial de Saúde
Pública – SESP foi criado por meio de convênio firmado entre órgãos do governo
americano e da Fundação Rockefeller (UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA, 2000, p. 106).
No ano de 1964 os serviços de saúde eram oferecidos pelo Instituto Social, porém, não era
um modelo de atendimento universal, o que possibilitou o fortalecimento do setor privado.
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O modelo burguês pós-64 modelou o país com a lógica da coerção implantado com
ditadura militar, fazendo que os trabalhadores ficassem alijados sem poder participar do
processo e das decisões políticas do país. Conforme destaca Bravo (2004, p. 27).
A instauração da ditadura militar expressou a derrota das forças democráticas. Sendo que
agora o desafio para superar a crise era o de lutar contra a forma de dominação burguesa
instaurada no Brasil. A partir de então o Estado passa a intervir na questão social por meio
do binômio repressão-assistência, burocratizando e modernizando a máquina estatal com a
finalidade de aumentar o poder de regulação sobre a sociedade, de reduzir as tensões
sociais e de conseguir legitimidade para o regime.
Foi somente nas décadas de 70 e 80, que o Estado resolveu mudar sua relação com a
sociedade, por meio de mudanças nas políticas públicas, onde procurou atender as
reivindicações dos trabalhadores, que nesse período obtiveram várias conquistas
trabalhistas, e apesar disso o Estado não conseguiu obter grande êxito, a partir de então
houve a união e o fortalecimento dos movimentos dos trabalhadores e da sociedade civil
organizada que juntos reivindicaram seus direitos que mais tarde, mais precisamente em
1988 que se consolidou na Constituição Federal do Brasil e concretizada pela legislação do
SUS, este considerado até hoje como a maior conquista da sociedade na área da saúde.
Sobre o assunto, Bravo (2004, p. 27) reforça que a partir de 74, o bloco de poder, por não
ter conseguido consolidar sua hegemonia ao longo de dez anos, modificou gradualmente
sua relação com a sociedade civil.
O direito aos serviços de saúde garantidos nas décadas de 80 e 90 não se cosolidou
efetivamente, isso faz com que a população não acreditasse mais na política de saúde, já
que a mesma não respondeu a altura ao que a sociedade esperava, assim, os movimentos
sociais se retiram do cenário político, o Estado por sua vez adapta suas políticas
trabalhando a favor da lógica do mercado o que fez surgir a refilântropização das políticas
sociais e o fortalecimento das instituições privadas de saúde. Nos anos 80 a sociedade
brasileira ao mesmo tempo em que vivenciou um processo de democratização política,
superando o regime ditatorial instaurado em 1964, experimentou uma profunda e
prolongada crise econômica cujos efeitos persistem até os dias atuais. As decepções com a
transição democrática ocorreram, principalmente com seu giro conservador após 1988, não
se traduzindo em ganhos materiais para a massa da população (UNIVERSIDADE DE
BRASÍLIA, 2000, p. 108-109).
Mesmo com a criação do SUS, a população brasileira não teve seus direitos concretizados,
principalmente porque o Estado não fiscalizava os serviços, deixando desta forma, espaço
para que o setor privado atuasse, a partir de então, os que tem condições financeiras vai se
filiar ao setor privado por meio dos planos de saúde os quem não tem, ficam com os
serviços de saúde oferecido pelo SUS, mas esse atendimento vai de forma burocrática e
fragmentado. No entanto, o setor privado que deveria ser de caráter complementar do
SUS, agora passa a ser gestor das políticas públicas de saúde. O Estado por sua vez passa
ser apenas fiscalizador dos recursos públicos que são repassados ao setor privado para
serem aplicados em serviços de saúde. Como destaca Vasconcelos (2003, p. 82) ao falar que
a política de saúde oscila entre a atenção secundária e terciária privatizada via consórcios e
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organizações sociais, e para os pobres e miseráveis resta somente o programa de saúde da
família.
A mesma autora argumenta ainda que nesse período o projeto da reforma sanitária é
questionado e consolida-se na segunda metade dos anos 90, porém, é um projeto de saúde
articulado ao mercado privatista. Este último, pautado na política de ajuste, tendo como
tendências a contenção dos gastos com a racionalização da oferta e a descentralização com
isenção de responsabilidade do poder central. Ao Estado cabe garantir um mínimo aos que
não podem pagar ficando para o setor privado o atendimento aos “cidadãos
consumidores”. Sendo que as principais características desse modelo destacam-se o caráter
focalizador para atender a população vulnerável, a desconcentração dos serviços e o
questionamento da universalidade do acesso. Todo esse processo aprofundou a fragilidade
em relação á saúde dos trabalhadores que agora se encontram na precariedade apesar das
medidas adotadas por meio das políticas públicas de saúde voltadas para essa classe, estas
que não conseguir atingir àqueles que realmente precisam, primeiro porque não há
divulgação e principalmente, porque os trabalhadores ligados as instituições de atenção à
saúde do trabalhador como os sindicatos, estão atrelados ao mercado agindo de acordo
com as determinações desses.
No entanto, isso não seria incorreto, se esses profissionais em geral não fossem contratados
apenas para preencher um requisito legal e satisfizer a uma eventual fiscalização. Também
são conhecidos casos em que as empresas pressionam por meio de seus prepostos os
médicos de convênios a subdiagnosticarem doenças ocupacionais. E aos profissionais de
saúde e segurança no trabalho cabe a ousadia de não se conformar com o papel que muitas
vezes lhe é imposto o de amortecer os conflitos entre empregados e empregadores
(BRASIL, 2005, p. 59).
O Ministério da Saúde por intermédio dos órgãos de diagnóstico, tratamento, reabilitação,
prevenção e fisiopatologia das lesões por esforços repetitivos e das doenças osteo-muscular
relacionadas aos trabalhos - LER/DORT, recomenda que o médico responsável pelo
programa de controle médico de saúde ocupacional - PCMSO de uma empresa
principalmente aquelas que apresentam fatores de risco para a ocorrência de LER/DORT
deve pensar na melhor maneira de prevenir e diagnosticar precocemente os casos de
doenças e acidentes de trabalho. Reforça ainda que o médico ocupacional deve planejar
ações em conjunto com o Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e medicina
do trabalhador – SESMT, com os responsáveis pelo programa de Prevenção de Risco
Ambientais - PPRA, com a comissão interna de prevenção de acidentes - CIPA e demais
trabalhadores que visem à prevenção e promoção de saúde do trabalhador (BRASIL, 2005,
p. 55).
Vale ressaltar que apesar das inúmeras conquistas a população brasileira, principalmente a
classe trabalhadoras não vive em condições favoráveis de trabalho e de saúde. Conforme
explicita Brigagão (1997) isso se deve ao processo de globalização, que é um processo
excludente que serve apenas aos interesses daqueles poucos em condições de
competitividade, diz que nossos indicadores sociais são precários com grandes índices de
analfabetismo e mortalidade infantil, pequena expectativa de vida, grande concentração de
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riquezas, aumento das classes menos favorecidas entre outros. O autor destaca também
que no Brasil dispomos de um leito para cada grupo de 277 habitantes, enquanto na
Argentina em 1987 havia um leito para cada grupo de 141 pessoas. Afirma que na Europa
cada país possui em média 80 pacientes para cada leito. Destaca que os serviços médicos
apontam à mesma defasagem em outros Países da América Latina, Cuba por exemplo,
trabalha com um médico para cada grupo de 255 pessoas, diz que nos vizinhos do
MERCOSUL, existem grandes diferenças como na Argentina onde a relação é de um leito
para cada 303 pessoas, no Uruguai é de um para 344 pessoas, enquanto que no Brasil é de
um para cada grupo de 640 pessoas. Com isso perdemos em qualidade conclui o autor.
Se por um lado a economia global trouxe avanços para a sociedade, por outro, aprofundou
a desigualdades entre os povos e a separação entre os que tem e os que não têm, os que
têm recursos financeiro suficiente recorrem ao setor privado de saúde e quem não tem vai
ficar com o mínimo que o Estado oferece e até mesmo para conseguir usufruir deste
mínimo é preciso paciência porque ele vai se oferecido de forma fragmentada e seletiva, ou
seja, para conseguir uma consulta é preciso que chegue de madrugada na unidade básica de
saúde ou clinicas referenciada e quando esse indivíduo consegue a ficha o atendimento em
muitos casos ainda vai ser agendado. Vale ressaltar aqui, que muitas das vezes, devido as
dificuldades e por medo de perder o emprego o trabalhador deixar de procurar os cuidados
de saúde. No Brasil o desemprego estrutural vai além de crises econômicas, existe também
a dificuldade decorrente dessa via crusis. as quais os pacientes são obrigados a se submeter.
Além dos obstáculos impostos pelo a atendimento e procedimento de cada perito no INSS,
existe uma queda absoluta e relativa dos ganhos mensais, porque o paciente precisa se
deslocar para vários serviços, varias vezes por semana, o que aumenta os gastos com saúde
e com a subrevivencia. Além de ficar fora dos reajustes que são feitos em sua categoria
profissional para aqueles que estão afastados do trabalho (BRASIL, 2005, p. 15).
Observa-se que o trabalhador, além de todos esse processo, ao ser atendimento e expor sua
queixar, dificilmente o perito do INSS perguntará sobre seu trabalho, ou seu cotidiano, e
para piorar a situação, grande parte dos trabalhadores não conhecem a CAT e muitos
médicos principalmente os peritos insinuam que eles estão com preguiça de trabalhar e
passam a culpar o paciente pela sua situação. Sobre o assunto Freitas (2006, p. 32) esclarce
que afinal a pobreza e a miséria são por “culpa” do próprio trabalhador que vive
arrumando uma forma de não trabalhar, não se busca conhecer a precariedade dos locais de
trabalho e a exploração extensiva imposta a estes trabalhadores principalmente (motoristas
e cobradores do transporte coletivo). Tomando-se por base esse argumento, em analogia
aos processos ergonômicos que envolvem o motorista em sua atividade diária, tem-se a
noção exata do que as condições de trabalho podem propiciar nas manifestações de
desgaste, tanto somático quanto mentais.
Desta forma, a burocracia existente no oferecimento dos serviços púublicos de saúde
torna-se um obstaculo já que muitos trabalhadores não são estimulados a procurar auxilio
quando começam a sentir dor, tentando superá-lo pelos seus próprios meios, sem
orientações adequadas, tudo pelo medo de que sejam descobertos pela chefias ou colegas.
Além de não terem amparo nem uma estrutura de tratamento e reabilitação adequada para
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que possam se recuperar e voltar a ter um desempenho satisfatório, apesar dos ganhos
infinitamente menores que os atletas consagrados, a experiência mostra que tentam se
manter trabalhando, “sucumbindo á dor” apenas quando não suportam mais. Brasil (2005,
p. 20), percebe-se que a burocracia existente nos serviços de saúde pública, faz que os
trabalhadores não procurem atendimento e continuem trabalhando mesmo sentindo dores,
os médicos das empresas por sua vez não procuram conhecer os casos de doenças do
trabalho entre os colaboradores dentro da empresa e continuam a submetê-los a jornadas
de trabalho intensas, agravando ainda mais o problema de saúde.
Observa-se que tanto os trabalhadores empregados como os desempregados, sofrem as
consequências do capitalismo, já que aqueles que estão fora do mercado de trabalho sofrem
com a situaão econômicas de um trabalhador desempregado e o trabalhador empregado
teme em sofrer a marginalização social enfrentada pelos desprovidos de ocupação
remunerada. Com isso a necessidade de manter o emprego a qualquer custo traz então um
cotidiano de trabalho muitas vezes repleto de resignação e impossibilidade de mudanças o
que gera incômodo no contexto laboral, fazendo que o trabalhador se submeta à condição
de trabalho, muitas vezes incompatíveis com a saúde (BRASIL, 2005, p. 31).
Enquanto os trabalhadores são submetidos a uma jornada de trabalho intensa colocando
em risco sua saúde, por outro lado existe um contingente de desempregados que não
conseguem trabalhar porque os trabalhadores empregados estão ocupando postos de
trabalho que deveriam ser ocupado por outro trabalhador, configurando assim a exploração
e a extração da mais-valia, e quem se sobressai é o empresário que acumula capital
enquanto que o trabalhador acumula desgaste e doenças decorrentes do esforço ao qual é
submetido. (FREITAS, 2006) fala que as cargas de trabalho devem está relacionadas entre
as categorias definidas para estudar e avaliar o impacto produzido pelos processos de
trabalho sobre a saúde física e mental dos trabalhadores.
1.1.7 Algumas conquistas dos trabalhadores, na área da assistência social e da saúde
Vale destacar, que houveram algumas conquistas da classe trabalhadores na área da
assistência social e no que diz respeito aos direitos trabalhistas, a partir da década de vinte
até os dias atuais, porém nem todas as conquistas foram fruto de benovelencia do Estado,
mas de muito esforço da classe por meio dos movimentos sociais, greves, conferências
entre ouros.
Pereira (2002, p. 131) reforça que na década de 30 com a criação de varios orgãos do
Governo como os Ministérios do trabalho, da Indústria e Comercio; a criação da Carteira
do trabalho, da Legislação Trabalhista com a CLT, do Ministério da Educação, da Saúde,
dos Institutos de aposentadorias e Pensões; a Promulgação da Constituição Federal de
1934, que contemplou tanto os ideais do liberalismo político quanto os do reformismo
econômico imposto pelo Estado Novo, da Constituição de 1937 inspirada nos modelos
constitucionais corporativo-facistas; a criação do Conselho Nacional de Serviço Social em
1938, orgão ligado ao Ministério da Educação e Saúde, cujos objetivos eram de normalizar
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e fiscalizar as ações de assistência social, preponderantemente desenvolvidas por entidades
privadas.
Tabela 2. Conquistas da classe trabalhadora
1923 – Lei Eloy Chaves.
Criação dos CAPS, e garantia da assistência social na área da saúde
e previdência para os trabalhadores.
1932 – Criação dos IAPS.
Criação dos Institutos de Aposentadorias e pensões - IAPS para
prestar assistência médica e aposentadorias aos trabalhadores.
1934 - promulgação
Constituição Federal.
da
Proibe o pagamento de salario inferior ao salario mininmo a
qualquer trabalhador.
1936 – criação do salário
mínimo.
Estabelece a remuneração mínima devida a todo trabalhador
adulto, sem distinção de sexo, por dia normal de serviço e capaz
de satisfazer as suas necessidades normais de alimentação,
habitação, vestuário, higiene e transporte entre outros.
1937
–
Criação
do Criado para prestar e garantir a assistência social e trabalhistas aos
Ministério do Trabalho.
trabalhadores.
1938 – Criação do Conselho Criado com a finalidade de normatizar e fiscalizar as ações de
Nacional de Serviço Social. assistência social principalmente aquelas prestadas por entidades
privadas.
1943 – promulgação das leis
do trabalho CLT.
Criada para consolidar e garantir os direitos dos trabalhadores,
ente os quais a saúde e a assistência social.
Fonte: Pereira (2002); UNB (2000).
Vale reforçar mais uma vez que essas conquistas foi mérito da classe trabalhadora,
conquistado por meio dos movimentos sociais organizados que possibilitou a incorporação
dos direitos trabalhistas, de saúde e segurança no trabalho como também a criação da CLT
considerada o marco maior da história do trabalhador Brasileiro. Apesar de inúmeras
vitórias, o trabalhador brasileiro ainda trabalha em condições desfavoráveis que causam
danos a saúde, principalmente devido aos esforços repetitivos, trabalho em postura estática
e contínua exigência por produção, além das condições organizacionais desfavoráveis como
a exposição á vibração, ao frio, sobrecarga continua das estruturas anatômicas ou falta de
tempo para se recuperar no trabalho (BRASIL, 2005, p. 29). Percebe-se que estes são os
pricipais fatores de maior incidência para o surgirnento das LER/DORT, entre outras
doenças relacionadas ao trabalho, muitas delas nao são reconhecidas como doenças
ocupacionais como é o caso da LER e a hérnia de disco, mas que aos poucos estão sendo
debatidas e reconhecidas como doenças ocupacionais que provocam incapacidade ao
trabalhador.
A Medida Provisória N° 316 de agosto de 2006 no seu art. 21 esclarece que é caracterizada
incapacidade acidentária quando se estabelece o nexo técnico epidemiológico entre o
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trabalho e o agravo decorrente da relação entre a atividade da empresa e a entidade móbida
motivadora da incapacidade, ou seja, o técnico ou médico de segurança no trabalho devem
fazer sempre esse diagnóstico em trabalhadores doentes ou nao, visando desta forma, a
prevenção de doenças do trabalho ou relacionadas ao trabalho, como tabém assegurar que
aqueles que adoeceram em decorrencia das condições precarias de trabalho possam ter seus
direitos previdenciarios garantidos (BRASIL, 2006).
Asseguir apontaremos os contúedos tematicos da 1, 2 e 3 conferências para tratar da
questao da saúde do trabalhador no Brasil. As conferências são de alta importância para a
classe trabalhadora, porque é na conferência que eles podem participar das decisões e
principalmente aquelas relacionadas à saúde do trabalhador, nesse espaço os problemas
podem ser apontados e debatidos. Há algumas décadas a classe trabalhadora não
participava das decisões politicas, com isso, as políticas eram formuladas de cima para
baixo sem se conhecer a realidade da população. As conquistas vieram após vários
movimentos trabalhistas com lutas e greves organizadas por lideres dos movimentos
operários como a Central Única dos Trabalhadores - CUT e o Partido do Trabalhador - PT
liderado na época pelo ex-presidente da República, Luís Inacio Lula da Silva (LULA).
1.1.8 Deliberações das 1º, 2º e 3º conferências nacional de saúde do trabalhador
Tabela 3. 1º Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador.
Data
Realizada no periodo de 01 a 12 de dezembro de 1986.
Local
Brasília – DF.
Tema
Situando a questão saúde e trabalho
Diagnostico da situação de saúde e segurança dos Trabalhadores.
Assunto
Novas Alternativas de Atenção á Saúde dos Trabalhadores.
Política Nacional de Saúde e Segurança dos Trabalhadores.
Objetivos
Estabelecer um Sistema Nacional de Saúde, situando a questão saúde e
trabalho.
Participantes
A conferência contou com 526 pessoas, das quais 399 foram delegados.
Fonte: Caderno da 3º CNST (2005) “Trabalhador, Sim! Adoecer, Não!”
A primeira CNST foi o primeiro e mais expressivo acontecimento para a classe
trabalhadora devido seu enfoque na questão da saúde, os temas debatidos nesta
conferencia, priorizou a relação do problema da saúde com questões que não eram
relacionadas ao espaço de trabalho, considerando assim, que as condições econômica,
políticos e social são fatores que envolve a vida do trabalhador e sendo condicionantes
para o surgimento de problemas da saúde. Desta forma, passa a considerar que para
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garantir a saúde dos trabalhador significa propocionar condições dignas de vida, pleno
emprego, trabalho estável e bem remunerado; garantia de oportunidade de lazer; de
organização e participação livre; da autônoma e representatividade de classe; da informação
sobre todos os dados que digam respeito a sua situação de vida, saúde e trabalho; garantia
do acesso a serviços de saúde com capacidade resolutiva em todos os níveis; da recusa ao
trabalho em sobcondições como aqueles que desconsideram estes e outros tantos direitos.
Desta feita, ao se tratar dos direito trabalhistas e quando se refere ao direito á saúde entre
outros, é preciso expressar também o direito ao trabalho, direito á informação, direito á
participação e o direito ao lazer (BRASIL, 2005, p. 9).
Apartir da primeira Conferência buscou-se elaborar propostas para construir as bases
referentes à saúde do trabalhador, debater medidas referentes à reformulação do SUS para
propor melhorias no diagnóstico e atendimento aos trabalhadores, fortalecer o setor
político, ampliar a reforma sanitária, contemplar os anseios dos trabalhadores
demonstrados através das lutas históricas, garantir a intengralidade e a transversalidade da
ação do Estado referente à saúde do trabalhador, e ainda modificar a notificação dos
acidentes de trabalho visando à garantia de estatísticas condizentes com a realidade.
Tabela 4. 2º Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador
Data
Realizada no periodo de 13 a 16 de Março de 1994.
Local
Brasília – DF.
Tema Central
Garantir a integralidade e transversalidade da ação do Estado em saúde dos (as)
trabalhadores (as).
Assunto
Garantia de qualidade de vida, proteção, manutenção e recuperação da saúde.
Objetivo
Construir uma política de saúde do trabalhador e subsidiar as discussões na 3º
CNST.
Participante
A conferência contou com 919 pessoas das quais 560 foram delegados.
Fonte: Caderno da 3º CNST (2005) “Trabalhador, Sim! Adoecer, Não!”
A segunda conferência teve como objetivo discutir os eixos temáticos para a terceira
conferência, entre os quais a garantia dos direitos fundamentais em relação à saúde,
educação, assistência social, garantir a proteção, a recuperação e a manutenção da saúde do
trabalhador para que ele tenha qualidade de vida. Além da garantia a universalização dos
direitos a todos os trabalhadores, independentes do vínculo empregatício, seja ele
trabalhador rural, da esfera pública ou privada, formal ou informal, garantindo atendimento
ambulatorial, hospitalar, reabilitação, ou seja, a integralidade na saúde do trabalhador em
toda rede pública de saúde, garantia de medicamentos básicos. Nesta conferência ficou
definido a competência dos Municípios no que se refere a questão da saúde do trabalhador
cabendo aos gestores municipais garantir a capacidade de emissão da Comunicação de
Acidente do Trabalho – CAT, agilizar o pagamento dos beneficios previdenciaros com os
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valores corrigidos as vitímas de acidentes de trabalho, portadores de doenças profissionais
entre outros (BRASIL, 2005).
Apesar de todos esses avanços, ainda ha muito a ser feito, e nessa conferencia, foi debatido
outros mecanismos visando impedir as demissões no período de estabilidade no emprego,
como a garantir e assegurar o direito ao trabalho e lutar contra qualquer tipo de
descriminação, a necessidade de notificação de todos os acidentes e doenças do trabalho as
autoridades sanitária local, realizada por todos os órgãos prestadores de assistência médica.
Percebe-se que no Brasil a questão da saúde do trabalhador vem ganhando espaço dentro
das políticas e programas do Governo Federal conquistados por meio das confêrencias
onde foram discutidas as estratégias com os debates realizados entre governo e
profissionais que lidam com a questao da saúde do trabalhador visando garantir a qualidade
de vida e a proteção da saúde do trabalhador, principalmente nos postos de trabalho, onde
o índice de doenças relacionadas ao trabalho e acidentes de trabalho é alarmante.
As informações asseguir, referem-se apenas aos trabalhadores empregados e cobertos pelo
seguro dos acidentes do trabalho - SAT da Previdência Social, que representa cerca de um
terço da Populaçao Economicamente Ativa – PEA, de acordo com os dados da pesquisa
realizada no período de 1999 a 2003 pelo Ministério da Previdencia Social – MPS, onde a
Previdência Social registrou 875.190 acidentes de trabalho, sendo 15.293 com óbito e
72.020 com incapacidade permanente, uma média de 30.059 óbitos/ano entre os
trabalhadores formais, ficando na média de 22.9 milhões em 2002. De acordo com os
dados, o coeficiente médio de mortalidade nesse período foi de 14,84 para cada 100.000
trabalhadores (MPS, 2003). A comparação deste coeficiente com os de outros países como
a Finlândia é de 2,1 em 2001, na França de 4,4 em 2000, no Canadá 7,2 em 2002 e na
Espanha de 8,3 em 2003, enquanto que no mesmo período o Instituto Nacional de Serviço
Social - INSS concedeu 854.147 benefícios por incapacidade temporária ou permanente
devido a acidente de trabalho, ou seja, uma média de 3.235 auxílios-doença e
aposentadorias por invalidez por dia útil. No mesmo período foram registrados 105.514
casos de doenças relacionadas ao trabalho (BRASIL, 2005, p. 180).
A pesar da preocupação com a saúde e segurança do trabalhador no Brasil, o índice de
acidentes e doenças relacionados ao trabalho é maior que o registrado devido a
subnotificação dos casos, muitas empresas não preenchem a CAT quando o trabalhador é
acidentado ou afastado por doença do trabalho, causando desta forma, inumeros prejuizos
ao trabalhador, ja que a doença não eserá notificada como doença do trabalho nas
estatísticas do INSS passando a ser tratadas como doenças comun ao inves de doença do
trabalho. Esta ultima que garante ao trabalhador receber beneficios adicicionais.
Segundo o Ministro da Previdência Social, Nelson Machado um dos principais desafios do
encontro que se realizou depois de 11 anos da segunda CNST, é discutir e aprovar a
Política Nacional de Segurança e Saúde do Trabalhador, cujo objetivo é enfrentar um
panorama crônico sobre mortes e acidentes do trabalho no Brasil. O Ministro aponta que a
cada hora três brasileiros sofrem acidentes durante suas atividades, ou nos trajetos de ida e
volta dos locais de trabalho, ao mesmo tempo, diz ele, duas mortes acontecem a cada três
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horas. Porém, os dados se referem apenas aos trabalhadores com carteiras assinadas, que
representam menos da metade da população economicamente ativa do País.
Tabela 5. 3º Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador
Data
Realizada de 09 a 12 de Dezembro de 2005.
Local
Brasília – DF.
Tema Central
“Trabalhador, Sim! Adoecer, Não!”.
Assunto
Discutir e aprovar a Política Nacional de Saúde do Trabalhador.
Objetivo
Enfrentar um panorama crônico sobre mortes e acidentes no trabalho no País.
Participantes
A 3º CNST contou com mais de mil pessoas entre trabalhadores do Sistema
Único de Saúed (SUS), profissionais da Previdência e da fiscalização do trabalho
e representantes do governo federal.
Resultado
Fonte: Caderno da 3º CNST (2005) “Trabalhador, Sim! Adoecer, Não”!
Machado estima que a carência de segurança nos ambientes de trabalho tenha gerado em
2004 um custo de 37,2 bilhões para o País, deste total 9,2 bilhões correspondem aos gastos
com benefícios acidentários e aposentadorias especiais da Previdência, o restante, segundo
ele é gasto com assistência, tratamento e reinsenções no mercado de trabalho.Já o Ministro
da Saúde, Saraiva Felipe, reforçou o compromisso do governo Lula de ampliar para 200 o
número de Centros de Referências em Saúde do Trabalhador - CEREST, são as unidades
que incentivam a prevenção, a vigilância e o atendimento especializado para as diversas
doenças, como as intoxicações e lesões crônicas. O Ministro diz que a partir desses debates
surgiram propostas e recomendações para subsidiar as discussões do encontro nacional em
relação aos acidentes de trabalho no País. Os problemas regionais de doença relacionada ao
trabalho foi um dos temas discutidos que foi levados para a etapa nacional. Entre os eixos
de debate da Conferência constava á garantia da integralidade e a transversalidade da ação
do Estado em serviços de saúde do trabalhador, a incorporação da saúde do trabalhador
nas políticas de desenvolvimento sustentável do País, a efetivação e a ampliação do
controle social em saúde do trabalhador. O Ministro afirma que é preciso ampliar os dados
sobre á saúde do trabalhador no Brasil, mas também é priciso ampliar a notificação das
doenças e acidentes de trabalho, e ainda propocionar a inclusão dos trabalhadores
informais, e otimizar os levantamentos realizados pelo Departamento de Informação e
Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS). Segundo ele, com a atualização dos
dados será possível formular políticas públicas de saúde voltada para o aperfeiçoamento da
prevenção, fiscalização e atendimento ao trabalhador.
Outro estudo realizado pela faculdade de medicina da Universidade Estadual Paulista, em
Botucatu - SP, por meio de um mapeamento do padrão de vida e do índice de
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desenvolvimento humano - IDH, apontou a ocorrência de 4,1% casos de acidentes de
trabalho, sendo que 22.4% foram registrados na Previdência Social, significa dizer que
deste total, somente 0.9 foram notificada. Para a Organização Mundial de Saúde - OMS,
apenas 1% a 4% das doenças relacionadas ao trabalho são registradas na América Latina
(BRASIL, 2005). No Brasil o sistema nacional de informação do Sistema único de Saúde
ainda não inclui os acidentes de trabalho, nem os casos de LER/DORT, nos seus dados o
que prejudica a possibilidade de se ter dados epidemiológicas da totalidade dos
trabalhadores, sejam daqueles com registro conforme rege a Consolidação das Leis
Trabalhistas - CLT, sejam aqueles considerados autônomos, ou ainda os prestadores de
serviços, ou os funcionários públicas, ou aqueles do mercado informal (BRASIL, 2005, p.
15).
O Ministro da saúde Saraiva Felipe, afirma que os dados que se tem conhecimento
referem-se somente aqueles que foram registrados na Previdência, ou seja, dos
trabalhadores do mercado formal com contrato regido pela CLT, totalizando menos de
50% da população economicamente ativa-PEA, segundo o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística-IBGE os trabalhadores do mercado informal, os funcionários
públicos efetivos, os empregados domésticos e o trabalhadores autônomos ficam excluídos
das estatísticas. Por outro lado sabe-se que os acidentes de trabalho e as doenças
relacionadas ao trabalho são subnotiticados.
2. Os problemas mais frequentes no transporte coletivo de Manaus
Nesse capitulo, será expostos alguns problemas diagnósticados no transporte coletivo de
Manaus, as questões relacionadas as condições de saúde de motoristas e cobradore e
também apontar os direitos dos usuários e dos trabalhadores assegurados por lei. Desta
forma, pretende-se monstrar que os problemas existentes nos transportes coletivos possam
está diretamente ligados às condições de vida, saúde e de trabalho de motoristas e
cobradores, ou seja, motorista e cobradores, que tem na execução de seus trabalhos uma
relação direta com os usuários, estes por sua vez são as princiapis vitímas do descaso,
devido a precaridade existente no trabalho de motoristas e cobradores, já que esses
profissionais podem está doente não somente de doenças patológica, mas também nos seus
aspectos biopsicosocial, tornando-se um fator determinante para os desentendimentos no
interior dos coletivos.
Enquanto não levar em consideração esses aspectos, provavelmente haverá números
alarmantes de denuncias no Instituto Municipal de Transportes Urbanos - IMTU como é o
caso dos maus tratos a passageiros, queima de paradas, problemas com o troco entre
outros. Se o Município sendo o principal responsável pelo oferecimento dos serviços de
transportes públicos juntamente com as empresas prestadoras de serviço no transporte
coletivo de Manaus, não se articularem para que juntos possam desenvolverem um trabalho
que envolva a resolutividade destes problemas, dificilmente haverá melhorias nos serviços
de transportes público e muito menos redução das reclamações.
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Assim, para que o transporte coletivo seja realmente urbanizado é preciso desenvolver
políticas públicas voltadas para esse setor e pera a questão da saúde de motoristas e
cobradores e demais trabalhadores do transporte público, já que grande parte dos
motoristas e cobradores dos transportes coletivos está doente, seja de estresses, este que
pode ser considerado como um dos principais fatores relacionados aos problemas de
relacionamento interpessoal entre motorista/usuáríos e cobrador/usuario, somado a estes,
vem as dores articulares como a lombalgia, a falta de descanso e ausencia de vida social.
Acredita-se que grande parte destes sintomas esteja relacionados aos assaltos que estão cada
vez mais frequentes na cidade de Manaus, além disso, existe ainda a questão das longas
jornadas de trabalho em que esses trabalhadores ficam por longo periodo em posição
sentada e estática o que sobrecarrega os discos vertebrais conforme afirma os especialistas.
Vale ressaltar que entre estes trabalhadores é “normal” que motoristas e cobradores sofram
de alguma patologia principalmente na coluna, ou nos ouvidos devido ao longo tempo
expostos ao barulho do motor e das janelas com vidros soltos que ficam batendo causando
muito barulho e desconforto. Para Rios e Pires (2004) apud Freitas (2006, p. 38) a posição
sentada possibilita pouca margem de movimentação, tendo como consequência uma carga
estática sobre certos segmentos corporais, os autores afirmam que a postura sentada, por
melhor que seja, impõe uma carga biomecânica significativa sobre os discos intervertebrais,
principalmente na região lombar. Para eles, entre as diversas alterações que podem ocorrer
em um profissional que necessita ficar tempo prolongado na posição sentada durante suas
atividades diárias de trabalho, foi detectada a pressão nos discos intervertebrais da coluna
lombar como a mais importante.
Parece-nos que a precária condição de saúde desses trabalhadores esteja relacionada aos
estresses e as péssimas condições dos ônibus, estes que se encontram danificados com os
amortecedores quebrados, fazendo que o impacto sobre a coluna seja ainda mais violento.
Por fazer parte do sistema de transporte coletivo da Cidade de Manaus por quase 12 anos,
posso afirmar que é comum encontrar cadeiras apoiadas com pedaços de pau no local do
amortecedor, este que serve para amenizar o impacto na coluna quando o veiculo passa em
buracos ou quebra molas. Porém, muitos desses ônihus não são vistos nos grandes centros
urbanos, porque são colocados para circular nos bairros periféricos na alimentação dos
terminais de integração justamente para que não sejam vistos pela fiscalização.
Vale ressaltar que essa prática adotada pelas empresas, quem sofre com o descaso são
motoristas, cobradores e usuários já que são obrigados a suportar diariamente os ditos
“latas velhas”4. Além dsses fatores, existem ainda aqueles referentes à organização da
empresa, como as cobranças constantes, inflexibilidade, ritmo de trabalho intenso,
movimentos repetitivos com grande quantidade, músculos sobrecarregados, paradas
frequentes, cadeiras desconfortáveis, falta de descanso entre outros, é evidente que o
adoecimento e os sintomas dos homens têm relação tanto com a sociedade em que vivem
como com suas características individuais, e mesmo essas características têm forte
4
Expressão usada por usuários, motoristas e cobradores quando o ônibus está muito velho.
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influência do meio. Por exemplo, o nível de tolerância á dor, considerando característica
individual, depende muito do meio cultural (BRASIL, 2005).
Os dados reveleram que 50% das reclamações registradas no IMTU no ano de 2006,
referem-se aos motorista que trafegam com as portas do veiculo abertas colocando em
risco a vida dos usuários, isso mostrar porque deixar de atender as determinações do IMTU
aparece com 15%, já que o IMTU determina que é proibido ao motorista trafegar com as
portas do ônibus abertas. A atitude inconveniente e falta de urbanidade no trato com o
usuário somou 16% das infrações registradas. Deixar de atender ao sinal de parada para
embarque e desembarque de passageiros aparece com 8%. O problema com a falta de
troco é frequente no interior dos coletivos e aparece com 4% no total das denúncias, e as
denúncias contra motoristas que alteram o itinerário sem justificativa somou 3%, e dirigir
com velocidade acima do recomendado para as vias com 2%. Para o veiculo afastado da
guia de calçada, ou meio fio não somou 1%, porém, este é um problema gravíssimo, que
será discutido mais adiante. Acredita-se que isso se deve a falta de hábito dos usuários de
não denunciarem as infrações sofridas ao IMTU. Já que esse é um dos problemas
presenciado frequentemente no transporte coletivo.
Tabela 6. Os problemas do transporte coletivo de Manaus
N0
Infrações registradas em 2006
%
1
Deixar de atender ao sinal de parada para embarque e desembarque
de passageiros
8
2
Atitude inconveniente e falta de urbanidade no trato com o usuário
16
3
Deixar de atender as determinações do IMTU
15
4
Parar ou arrancar bruscamente
2
5
Parar o veiculo afastado da guia de calçada, meio fio etc.
0
6
Dirigir com velocidade acima do recomendado para as vias
2
7
Alterar o itinerário sem justificativa
3
8
Retenção do troco
4
9
Trafegar com as portas abertas
50
Fonte: Instituto Municipal de Transportes Urbanos - IMTU
Conforme rege a legislação, o transporte público é um direito fundamental do cidadão e
dever do Estado, cabendo ao poder público Municipal como principal responsável, zelar
pelos serviços prestados a população, assim como fiscalizar e gerenciar as operações uma
vez que a Constituição Federal de 1998 e a Lei 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, que
dispõe sobre o regime de concessão ou permissão da prestação de serviços públicos, e
ainda a Lei 9.074, de 07 de julho de 1995, que estabelece que as normas para outorga e
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prorrogações das concessões e permissões de serviços públicos, seja sob-regime de
concessão ou permissão, estabelecem que deverá ser sempre através de licitação para
prestação de serviços públicos.
O transporte coletivo por ser tratar da venda de serviço, deve assegurar todos os direitos
do consumidor conforme previsto em lei, já que o usuário do transporte coletivo paga por
esse serviço, no entanto, boa parte desses direitos não são assegurados, conforme mostra
os dados registrados em de 2006 pelo IMTU no registro das infrações cometidas pelas
empresas e por colaboradores prestadores de serviço para a população usuária do
transporte coletivo.
A Lei Orgânica do Município de Manaus lei 8.984 de 1995 no art. 24 estabelece que aos
prestadores de serviços de transporte coletivo urbano de passageiros deve cumprir
rigorosamente as ordens de serviços emitidas pelo Órgão Municipal Gestor dos
Transportes, manter em condições de pleno funcionamento os serviços delegados a sua
responsabilidade, prestar os serviços cumprindo rigorosamente os horários, as frequências,
as linhas, a tarifa, o itinerário, os pontos de parada e as demais condições definidas pelo
Órgão Municipais Gestor dos Transportes.
2.1 Deixar de atender ao sinal de parada para embarque e desembarque de
passageiros
Pecebe-se que o não cumprimento do sinal de parada para embarque e desembarque é um
dos problema que aparece com maior frequencia no transporte coletivo. Acredita-se que os
motoristas não param para embarque, porque quando o coletivo chega a determinado
ponto já esteja com sua lotação máxima, fazendo que o usuário saia prejudicado já que
precisa chegar no trabalho no horario. Cabe lembrar que diante dos problema nao devemos
responsabilizar somente o motorista. mas tabém as empresas, estas por não
disponibilizarem de frota suficiente para atender a população, principalmente nos horários
de pico, violando desta forma os direito dos usuarios assegurado por lei.
No que se refre ao sinal de parada, conforma legislação especifica o motorista é obrigado a
parar mesmo que o coletivo esteja lotado e o usuário embarca se achar conveniente. De
acordo com o Decreto lei. N°. 8.297, de 10 de fevereiro de 2006 art.39, o sinal de parada
para embarque e desembarque de passageiros é obrigatório, a empresa será multada caso o
motorista não atenda ao sinal de parada em dois UFM. A LOMAN no art. 263, determina
que as paradas de ônihus devem ser obrigatoriamente instaladas o mais próximo possível
dos estabelecimentos de ensino, no mesmo artigo está assegurado aos usuários que entre
22h e 5h da manhã é obrigatória a pararada para embarque e desembarque de passageiro
em qualquer local, independente de abrigos ou placas indicativa para tal, bastando somente
o sinal de parada ou a pedido do usuário.
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2.1.2 Atitude inconveniente e falta de urbanidade no trato com o usuario
A falta de urbanidade no transporte coletivo de Manaus foi um dos problemas que
apareceu com alto índice dentre as reclamações no IMTU. Acredita-se que esse problema,
como já citado anteriormente, possa está relacionado aos outros problema existente no
transporte coletivo aos quais os motorista e cobradores estao expostos, e possivelmente
seja um dos fatores que contribui para o aumento da carga de estresse, tanto em
trabalhadores como nos usuários, o que vai gerar impaciência tanto num quanto no outro
causando assim as desavenças no interior dos coletivos.
No entanto, é preciso reconhecer que o descaso com esses trabalhadores possa ser
também outro fator causador da violência entre usuários e operadores, porém, acredita-se
que quando os problemas relacionados aos pontos de parada, a questão da superlotação, a
falta de troco, horário inrregulares e a falta de segurança entre outros, forem solucionados,
espera-se que com essas medidas a urbanidade aconteca no transporte coletivo, já que
usuários e operadores são vitimas do descaso por parte do poder público, que como rege a
lei é o responsável direto pelos serviços de transportes públicos. Espare-se que com a
amenização desses problemas, os operadores possam se sentir amparados e ao perceberem
que o Estado de fato está preocupado com suas vidas, segurança, saúde e seu trabalho.
Desta forma, poderá refletir sobre seu modo de agir e com o trato com os usuários. Porém,
é necessário que algumas medidas urgente sejam tomadas principalmente em relação à
segurança de trabalhadores e usuários no interior dos coletivos.
Vale lembrar que essas medidas estão longe de acontecer, porque prercebe-se que só tocam
no assunto e em adotar medidas referentes à segurança, quando acontecem as fatalidades
como a que aconteceu com o motorista Antonio. Pode ser que os oporadores também não
se preocupem com seu modo de agir com os usuários porque percebem que ninguém se
preocupa com a situação deles e principalmente devido ao medo e o estresse aos quais
estao submetidos diariaamente. Assim, é preciso tratar os trabalhadores dos transportes
coletivos, com uma visao integral, ou seja, olhado-os como um todo e trabalhar nos seus
aspectos biopsicosocial e não somente o individuo. Somente sssim, empressarios e gestores
poderão exigir que eles ofereçam um tratamento urbanizado aos usuarios, o qual se exigem
tanto hoje.
Sabe-se que os assaltos acontecem frequentemente nos coletivos devido à falta de
segurança para usuários e operadores, estes que são as principais vitimas. Motoristas e
cobradores ainda mais, já que trabalham com a incerteza se voltarão para casa depois de
mais um dia de trabalho. E principalmente por não verem nenhuma medida ser adotada
frente aos problemas. Observa-se ainda que esses operadores sentem-se condenados à
própria sorte. Mesmo depois das paralizações, os casos continuam acontecendo, o que
pode ser confirmado com os dados da Secretária de Segurança Pública SSP-AM, onde
registrou nos dois primeiros meses deste ano, 77 assaltos á ônibus na cidade. Em fevereiro
foram 39 assaltos contra 38 registrados em janeiro. De acordo com a Secretária o
aumento em relação ao mesmo período do ano passado foi de 2,6%, em janeiro de 2004
foram registrados 38 assaltos e em fevereiro 36. Sendo que a média de assalto a ônibus na
capital do amazonas somou de 1,8 por dia. Ainda segundo a SSP os dados são parciais
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porque não foram fechados totalmente, já que ainda aguardavam números de algumas
delegacias, mais que contabilizaram 28 roubos a ônibus no mês de março, 18 em abril, 11
em maio e 8 em junho do memo ano. O problema está tão alarmante que se tornou
manchete diariamente nos jornais da cidade. Felizmente o único assalto com vitima fatal
em 2005 foi o que culminou na morte do motorista Antonio Lourenço, conforme materia
vnculada em jornal5. Depois dessa tragédia, motorista e cobradores trabalham com medo
constante de serem abordados por badido, como cobrar que estes trabalhadores tratem os
usuários com urbanidade se eles proprios estão constantemente preocupados com sua
própria segurança? Como é que esse trabalhador vai se preocupar com seu próximo se
durante o turno vive preocupado com a ação dos bandidos? E principalmente por não
terem certeza se vão conseguir terminar o turno com vida sem que nada de ruim tenha lhe
acontecido. Sem terem a certeza que vaão volta para casa com em segurança.
2.1.3 Deixar de atender as determinações do IMTU
Deixar de atender as determinações do IMTU foi um dos problemas registrados no índice
de infrações, conforme o decreto lei n°. 8. 297, de 10 de fevereiro de 2006, todos os
prestadores de serviço do transporte coletivo deverão atender as determinações do IMTU,
e em seu artigo 24 estabelece que o prestador de serviço de transporte coletivo urbano de
passageiros deverá submeter-se a fiscalização do Órgão Municipal Gestor dos transportes e
das autoridades de transito, facilitando a ação e o cumprimento das determinações do
poder público.
2.1.4 Parar ou arrancar bruscamente
Para ou arrancar bruscamente foi e é um dos problemas mais sérios que ocorre no
transporte coletivo, porque agindo assim o motorista esta colocando em risco a vida do
usuário tanto no embarque quanto no desembarque. Muitas vezes os motoristas não
esperam o usuário embarcar ou desembarcar do veicúlo e arrancam em seguida causando a
queda dos usuários, como o corrido com a passageira Cíntia de Sousa 19 anos,
universitária, na época cursava o 3° período do curso de Serviço Social e foi vitima da
pressa do motorista da linha 650 na Avenida Tefé, caso osrrido no dia quatro de outubro
de 2005, quando a passageira embarcou no coletivo, não teve tempo de se segurar foi
quando o motorista arrancou bruscamente cuspindo-a de volta no chão bantendo com a
cabeça no meio fio, Cíntia sofreu traumatismo craniano, ficou em coma na UTI do Pronto
Socorro João Lucio, indo à obito no dia dezessete do mesmo mês, levando consigo todo
um sonho e um futuro interrompido pela fatalidade. É preciso resolver este e outros
problema dos transportes coletivos para que nao venha acometer com outros usuários já
que isso está evidente caso não se tome providências imediatas.
5
Jornal Diário do Amazonas de 23 de julho de 2005.
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2.1.5 Parar o veículo afastado da guia de calçada, ou meio fio
Os motoristas precisam sere melhor e orientados quanto ao estacionamento do ônihus para
o embarque e desembarque é necessário alertar os motoristas que quando eles param
afastados do meio fio ou das calçadas estão dificultando o embarque ou desembarque dos
passageiros, além de colocar em risco a segurança do usuário, que corre o risco de cair,
principalmente os idosos que merecem um cuidado especial devido sua fragilidade.
O usuário merece um serviço de qualidade, pois está pagando pelos serviços, a partir do
momento em que embarca no coletivo, o passageiro merece um serviço adequado e de
qualidade, conforme estabelecido na lei n°. 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, que dispõe
sobre o regime de concessão e permissão de prestação de serviços públicos previsto
tamabém no artigo 175 da Constituição Federal, da lei 9. 648, de 27 de maio de 1998,
artigo 22 e na lei n°. 9.791, de 24 de março de 1999 art. 6°, que dispõe sobre os serviços
adequados, ou seja, toda concessão ou permissão pressupõe a prestação de serviço
adequado ao pleno atendimento dos usuários, conforme estabelecido em lei, nas normas
pertinentes e no respectivo contrato, no § lº assegura que o serviço adequado refere-se
aquele que satisfaça as condições de regularidade, continuidade, eficiência, segurança,
atualidade, generalidade, cortesia na sua prestação e modicidade das tarifas. No § 2° reforça
que atualidade compreende a modernidade das técnicas, do equipamento e das instalações e
a sua conservação, bem como a melhoria e expansão do serviço. No § 3° esclarece que não
se caracteriza como descontinuidade do serviço a sua interrupção em situação de
emergência ou após prévio aviso, quando motivada por razões de ordem técnica ou de
segurança das instalações e por inadimplemento do usuário, considerado o interesse da
coletividade.
2.1.6 Dirigir com velocidade além da permitida para as vias
Dirigir em alta velocidade coloca em risco a vida dos usuários e do próprio motorista e
cobrador, se o veiculo apresentar um problema mecânico poderá acontecer um acidente
grave, além de colocar em risco a vida de todos os passageiros, como o ocorrido com o
expresso que se chocou no murro de uma residência quando o motorista perdeu o controle
do veiculo que quebrou a barra de direção, felizmente o acidente nao causou grande danos
porque o veiculo estava com velocidade baixa, porém se estivesse em alta velocidade,
poderia ter acontecido um acidente com vitimas fatal. Conforme o noticiário de um dos
maiores jornais da cidade Manaus em reportagem onde noticiou que um ônibus articulado
da empresa Vitória Régia perdeu a direção e chocou-se com o murro da casa do
industriário Ivan Furtado, na Avenida Santa Cruz Machado, no Japiim, zona sul de Manaus.
Apenas uma mulher que estava entre os 20 passageiros ficou ferida no pulso, mas sem
gravidade6.
Percebe-se os problemas do transportes coletivos são varios e a velocidade e a pressa são
problemas que os usuários enfrentam constantemente e muitas vezes esperam horas pelo
coletivo e quando ele vem o motorista não para, seja porque está lotado, ou porque está
6
Jornal a Critica do dia 23 de maio de 2005 carderno A8.
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com pressa ou atrasado e quem sofrem com isso é o usuário, já que as empresas não
dispõem de ônibus suficiente para atender a demanda. Além disso, o percurso da viagem é
estipulado de acordo com a duração para cada linha, significa dizer que, se o motorista
pegar engarrafamentos vai atrasar o horário da próxima viagem e consequentemente sua
largada e para evitar que isso acontecça ele acaba dirigindo em alta velocidade e muitas
vezes deixando usuários no ponto.
2.1.7 Alterar o itinerário sem justificativa
Este mais um dos problema que infelizmente ja é considerado comum nas empresas,
apesar de terem justificativas, mas o maior problemas é porque muitas vezes alteram o
itinerário sem comunicar os usuários que saem prejudicados, enquanto que a lei Municipal,
8.984, art.257, assegura que são direitos dos usuários, dispor de amplo acesso às
informações referentes à intinerário, ao horário, as alterações de rotas, ao número de
veículos, aos pontos de paradas e terminais e outros dados pertinentes à operação de
linhas que possibilitem uma fiscalização informal do sistema. E ainda fiscalizar o
cumprimento dos itinerários, das viagens, dos horários, dos pontos de paradas e dos
terminais, sendo postos respectivos de reclamações os terminais e o órgão da administração
central do sistema, propor medidas que objetivem a melhoria do serviço e do sistema,
diretamente à administração, ou por via de representação comunitária. Conforme o decreto
lei n°. 8.297, art.20, de 10 de fevereiro de 2006, a definição de intinerários e a implantação
de pontos de parada serão de competência exclusiva do Órgão Municipal Gestor dos
Transportes.
Ainda no referido decreto art.24 assegura que são obrigações dos prestadores de serviços
de transportes coletivos urbanos de passageiros, cumprir rigorosamente as ordens de
serviços emitidas pelo Orgão Municipal Gestor dos Transportes, manter em condições de
pleno funcionamento os serviços delegados à sua responsabilidade, prestar os serviços
cumprindo rigorosamente os horários, as frequências, as linhas, a tarifa, o itinerário, os
pontos de parada e as condições definida pelo Órgão Municipal Gestor dos Transportes
como; submeter-se à fiscalização do Órgão Municipal Gestor dos Transportes e das
autoridades de trânsito, facilitando a ação e o cumprimento das determinações do Poder
Público.
2.1.8 Retenção do troco
Quanto ao problema com a falta de troco nos transportes coletivos, faz-se necessário uma
lei que responsabilize as empresas com o fornecimento de moedas para facilitar o troco do
usuário, já que o cobrador não deve ser o único responsável de providenciar as moedas
para fornecer o troco ao usuário. Desta forma, cabe a empresa disponibilizar dinheiro
miúdo para o cobradore repor seu caixa de viagem ou pelo menos dispor nas garagens de
moedas suficientes para que os cobradores possam trocar e assim garantir o troco dos
usuários.
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Enquanto as empresa não fornecem o dinheiro meúdo, os cobradores (as) são vitimas de
humilhação, agressão e ainda são taxados de ladrões pelos usuários por não terem o troco,
o usuário por sua vez não copreendem que as empresas não fornecem moedas para o
cobrador passar o troco, além disso, muitos usuários não os compreendem que o cobrador
além de trabalhador tem suas responsabilidades como pai de família e não tem condições
de tirar uma quantia mensal do seu salário para repor caixa de viagem todos os dias. Para
exemplificar, suponha que em uma catraca passem uma média de 400 a 500 pessoas por
turno e 70% desse total entegou uma nota de um real ao cobrador para pagar meia
passagem, ou uma nota de dois reais para pagar uma passagem inteira. Agora imaginemos
que para dar o troco do passageiro que pagou a passagem inteira e do outro que pagou
meia, seria necessário trinta centavos, sendo dez para um e vinte para outro, considerando
que o valor da passagem é de R$ 1.00,00. Agora vamos calcular 70% de quinhentas
passagens teremos trezentos e cinquenta passageiros, suponhamos que destes trezentos e
cinquenta, duzentos pagaram a passagem inteira cabendo a cada um o troco de R$ 0,020
centavos, que multiplicado por duzentos, ou seja, os que pagaram a passagem inteira,
teremos R$ 40. 00 Real, está seria a quantia necessaria para dar o troco somente aos
usuários que pagaram passagem inteira durante um o turno.
Digamos que dos 350 passageiros, 150 são pagantes de meia passagem e cada um terá
direito a R$ 0,010 centavos considerando a tarifa de R$ 1, 080, multiplicaremos os cento e
cinqüentas que pagaram meia passagem por R$ 0,010 centavos teremos R$ 15,00 Reais,
quantia necessária para dar o troco somente dos estudantes, somando-se os R$ 40,00
+15,00 teremos a quantia de R$ 55,00 Reais. Agora fica a questão, será que o cobrador tem
condições financeiras para guardar mensalmente esta quantia para trocar por moedas e
assim facilitar a execução do seu trabalho? Já que esse valor não pode ser investido, tendo
que está disponivel para repor o caixa todos os dias, ou será que mesmo ele tendo
condições de guardar esta quantia, ele vai conseguir encontrar moedas para trocar, já que as
mesmas estão escassas? E será que ele dispõe de tempo para sair para trocar o dinheiro
graúdo por moedas, levando em consideração que o seu trabalho consome maior parte de
seu tempo?
Observe o que diz a lei em relação ao troco no transporte coletivo de Manaus, o artigo 257
da LOMAN assegura que são direitos do usuário, receber troco integral quando efetuar o
pagamento com a moeda mais próxima de 05 (cinco) vezes o valor de uma passagem
inteira, sendo o passageiro transportado gratuitamente em caso de inexistência do troco
integral. O § 1° assegura aos estudantes do ensino fundamental e médio, de curso de prévestibular, aos universitários, dos cursos supletivos e aos professores do ensino
fundamental, médio e superior tanto da rede pública e particular o direito a 120 (cento e
vinte) passes por mês que ganta o pagamento da meia passagem nos transportes coletivos
urbanos de passageiros. De acordo com o parágrafo anterior, a garantia dos 120 (cento e
vinte) passes em todos os meses do ano, para tanto o estudante deverá apresentar a carteira
de identidade estudantil, ou funcional para professores, de instituição de ensino
devidamente cadastrado no órgão competente, podendo o estudante efetuar o pagamento,
opcionalmente, na catraca, em moeda corrente ou pelo sistema pré-pago nos postos
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autorizados. (o pagamento em especie atualmente não é mais permitido nos transportes
coletivos da Cidade de Manaus).
No § 3° do mesmo artigo, estabelece que o valor da meia passagem será a metade do valor
da tarifa, arredondada a menor para valor múltiplo de 5 ou 10, sendo o empresário
obrigado a publicitar, através de cartazes no interior dos ônibus, o valor da moeda com a
indicação do artigo e parágrafo da LOMAN que obriga o troco integral. Pode-se observar
que em nenhum momento a lei responsabiliza as empresas a dispor de moedas suficientes
para o cobrador trabalhar, caso que em algumas lojas como os supermercados ver-se que
os funcionários dispõe de moedas para trabalhar e evitar problemas com os clientes.
Toda via, as empresas deveriam ser obrigadas por lei a disponibilizar de moedas nas
garagens para o cobrador e assim garantir que ele possa trocar e executar seu trabalho com
isso, evtitar os atrito entre cobradores e os usuários, já que as mesmas não fornecem do
seu próprio rendimento as moedas para repor caixa de viagem. Diante da problematica,
será preciso que se tome algumas providências caso contrário sempre que a tarifa for
reajustada em quantia fracionária o problema com a falta de troco continuará e os
desentendimentos entre cobradores e usuários também.
2.2.1 Direitos do usuário e dos trababalhadores do transporte coletivo de Manaus
Conforme pode-se observar a lei 8.984 da LOMAN, art. 257, determina que as empresas de
transporte coletivo seletivo ou não, devem manter os veiculos em plena condições de
segurança, conforto, higiene, a preço justo, garantir o amplo acesso às informações
referentes a itinerário, horário, alterações de rotas, número de veículos, pontos de paradas e
terminais e outros dados pertinentes à operação de linhas que possibilitem uma fiscalização
informal do sistema.
No entanto, a questão da segurança é um dos principais desafio a serem vencidos pelo
poder publico e empresários da cidade de Manaus que nos ultimos anos vem enfrentando
uma onda de assalto a coletivos. A violência como é o caso dos assaltos a ônibus, é um dos
problemas que mais aflingem os motoristas, cobradores e usuários, já que frequentemente
são vitimados, sofrendo as sequelas, pois sabe-se que na abordagem, motorista, cobradores
e passageiros, sofrem pressões psicológicas e muitos deles ficam com problemas sérios de
saúde. existem casos em que alguns cobradores ficaram com sequelas cerebrais depois de
uma serie de assaltos sofridos, muitos deles se encontram afastados do trabalhos para
tratamento. Existe casos de cobradores que tiveram problemas de saúde considerado
irreversíveis pelos peritos do INSS e foram aposentados por invalidez.
Tudo isso é lamentavel principalmente porque em muitos deses assaltos o desfexo termina
com vitimas fatais tornando noticia em todos os jornais, como o que aconteceu com o
motorista Antonio, 47 anos idade, 11 deles dedicados á profissão foi alvejado com um tiro
na cabeça depois de um assalto ocorrido na linha 054 poucos minutos depois de ter saído
do terminal de número 3 no bairro da Cidade Nova (T3) onde voltou num cortejo
fúnebre, a cena do corpo do motorista em um caixão, marcou o histórico de violência nos
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transportes coletivos da cidade de Manaus e gerou estado de constentação aos usuários7.
Infelizmente esse nao é um caso isolado, ja houveram varios obitos de motoristas e
cobradores em decorrencia de assaltos a ônibus. Quando estava concluindo esse estudo, o
Município de Manaus registrou mais um caso de violência grave no transporte coletivo, o
que deixou evidente a falta de segurança tanto para os usuários como para motoristas e
cobradores, por mais que existam as leis que asseguram seus direito como é o caso da lei
8.984 - LOMAN, onde no art. 258,§ em que determina que a administração pública,
permissionárias e as concessionárias de transporte púplico deve garantir a segurança entre
outros serviços, porém não é o que se vê no interior dos coletivos, isso gera um medo
excessivo entre os usuários, motoristas e cobradores de serem abordados por bandidos.
Outro assalto a ônibus que foi noticia nos jornais aconteceu na cidade de Manaus na linha
422 no dia 07 de Maio de 2007, quando um cobrador foi alvejado com um tiro de escopeta
indo a óbito, a morte do cobrador de ônibus Gilberto Alves de Oliveira, 23 anos de idade,
baleado por um assaltante no bairro do Parque das Laranjeiras, zona centro sul da cida, o
caso levou a direção do Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários a realizar um protesto
contra a falta de segurança no transporte coletivo, paralisando terminais e impedindo a
passagem dos coletivos em alguns pontos do centro de Manaus. Segundo os diretores do
sindicato dois homens entraram no veículo da linha 422 da empresa Eucatur na altura do
Parque das Laranjeiras e anunciaram o assalto. Sem esboçar reação, Gilberto entregou parte
da renda que estava na gaveta. Os assaltantes desceram e sairam andando normalmente.
Um deles voltou e atirou atingindo o cobrador nas costas que morreu no local8.
Percebe-se que o transporte coletivo de Manaus precisa de políticas públicas que sejam a
curto e médio prazo, e tenham como objetivo principal resolver a questão da segurança e
da saúde dos trabalhadores. Vale ressaltar que estas políticas devam ser elaboradas e
implantadas de acordo com a realidade do Município de Manaus. É importante deixar claro
aqui que a população não pode mais aceitar o descaso por parte do Municipio e dos
empresários quando se refere aos problemas nos transportes coletivos de Manaus e
principalmente com a falta de segurança. Observa-se que as autoridades vem agindo como
se tudo isso fosse normal, já só se falam no assunto quando acontece uma fatalidade e cai
na midia, depois o problema é abafado e engavetado, enquanto isso trabalhadores e
população fica a mercê da propria sorte.
Além dos motoristas e cobradores sofrerem com os danos psicológicas causados pelos
assaltantes,os cobradores quando sobrevivem ao assalto ainda são obrigados a pagar pela
quantia que foi roubada, mesmo que ele tenha feito a ocorrência na delegacia de policia.
Ver-se que este é mais um dos problemas que os motoristas e cobradores e os usuários
enfrentam nos transportes coletivos de Manaus, estes ultimos são vitimas tanto da violencia
psicologica quanto dos danos materiais, já que os bandidos levam todos os seus pertences e
até o momento ninguém se responsabiliza por esse dano. Além dos problemas acima,
existem outros tão quanto piores como é o caso dos pontos de paradas que não oferecem
7
8
Jornal Diário do Amazonas do dia 23 de julho de 2005.
Jornal a Critica de 07 de Maio de 2007.
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conforto nem segurança para os usuarios, percebe-se que em muitos pontos não ha
cobertura, assentos para os ususarios que esperam pelo coletivo em pé e muito menos as
placas de identificação das linhas, aqueles que possuem as placas, muitas delas estão
desatualizadas, outros estão com iluminação précaria quando não estão sem iluminação o
que eleva o índice de assaltos a passageiros nos pontos.
Outro prolema comun é a falta de iluminação nas plataformas dos ônibus Expressos,
principalmente aquelas localizado nas zonas norte e leste da cidade de Manaus, o que
provalmente contribuí para o aumento dos assaltos principalmente durante a noite. Em
entrevista cedida ao Jornal um passageiro declarou que se sente ameaçado com a constante
ação dos criminosos disse que por duas vezes foi roubado em uma plataforma. Outro
passageiro, o comerciante Mario José Cardoso de 45 anos afirmou que o medo da violência
o fez parar de usar o Sistema Expresso durante á noite. E disse que se seinte inseguro nas
plataformas, local que segundo ele, “antes servia de pontto de ônibus, mas agora é
território de bandidos”9.
Além dos problemas acima mencionados, existe ainda aqueles refentes aos pontos em que
as ruas estão esburacadas, acumulando água da chuva e quando os carros passam molham
os usuários, estes que ainda são obrigados a esperar pelo transportes público expostos ao
sol e a chuvas. Em entrevista cedida a um Jornal, a idosa dona Ondina de Souza Lima, 74
anos, reclamou da demora das linhas 501 e 502 que passam no Parque Municipal do Idoso
no bairro Nossa Senhora das Graças, Zona Centro Sul de Manaus. A aposentada afirma
que os ônibus que atendem a essas linham chegam a demorar cerca de duas horas para
passar nos ponto de parada, disse que os idosos são obririgados espera debaixo de chuvas e
sol. Afirmou também que eles já levaram o problema a diretoria do Parque, mas eles não
podem resolver porque não é de sua competência, disse ainda que os ônibus estão velhos e
apresentam constantes problemas10.
Possivelmente os problemas que os usuários enfrentam nos pontos de ônibus refletem no
interior dos mesmo, pode ser também que o usuário já embarque revoltados com a demora
dos ônihus, isso somado aos demais problemas, pode ser um dos fotores geradores dos
conflitos como as discussaoes entre os usuarios/cobradores e entre usuarios/motoristas.
Estes ultimos por sua vez também já estão estressados devido à jornadas extensas de
trabalho, outro problema que pode ser considerado outro fator causadores das desavenças
entre usuários e operadores.
De acordo com os dados do IMTU, Manaus tem mais de cinco mil pontos de ônihus sem
abrigo. Ainda segundo esse o órgão, a prefeitura mantém apenas 600 paradas de ônibus que
são protegidos por telhas de barro. Sendo a empresa Cemusa responsável por outros 364
pontos em aço e acrilico. Cerca de 10% dos 600 dos abrigos de paradas de ônibus estão
com telhado comprometido e outros 90% precisam de manutenção, como limpeza e
pintura. Em entrvista cedida a um jornal, os usuários reclamaram que nos meses de maior
incidência de chuvas como os meses de fevereiro, março e abril, eles precisam se proteger
9
10
Jornal Diário do Amazonas, reportagem do dia 18 de julho de 2006.
Jornal Diário do Amazonas edição do dia 22 de fevereiro de 2005.
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com guarda-chuvas enquanto esperam pelo ônibus. A maioria dos pontos sem coberturas
estão nos bairros da periferia, mas os conjuntos residenciais nas áreas nobres da cidade
também enfrentam os mesmos problemas11.
Conforme consta na LOMAN, a definição de itinerários e a implantação de pontos de
parada são de competência exclusiva do Órgão Municipal Gestor dos Transportes público.
Percebe-se que lei estabelece que o Município como órgão responsável polos serviços, deve
construir e preservar os pontos de ônibus em perfeito estado, estabelece ainda que os
contratos de publicações serão firmados exclusivamente com o Município através do
Órgão Municipal de Administração do transportes urbanos, os recursos provenientes de
publicação, se incorporarão ao fundo de desenvolvimento urbano devendo ser destinando
exclusivamente para a recuperação e conservação das vias públicas de uso do sistema e
construção e manutenção dos pontos de captação de passageiros.
3. Resultados e discursão
A pesquisa foi realizada na ANAT/AM, com os motoristas e cobradores que se
econtravam afastados do trabalho por motivo de doenças e eram associados da
ANAT/AM. Segundo o responsavél, doutor Aparecido Gomes dos Santos, a ANAT/AM,
foi idealizada por ele, pelo Dr. Nina Barreto e pelos usuários do INSS, que no dia 18 de
fevereiro de 2006, após fazerem uma denúncia ao Ministério Público Federal contra as
arbitrariedades cometidas pelos médicos peritos da Previdência Social contra os
trabalhadores adoecidos, e aqueles que necessitam de auxilio doença, benefícios e
aposentadorias, resolveram fundar uma associação para juntos lutarem em busca de seus
direitos.
A associação foi fundada dentro do Ministério Público Federal, após uma reunião com os
trabalhadores, e nesta data o senhor Sandro Passos, administrador de linha da empresa
União Cascavel de Transportes Urbanos e Turismos EUCATUR, comprometeu-se em
assumir a formação da Associação Nacional de Apoio aos Trabalhadores Portadores de
Patologia no Estado do Amazonas - ANAT/AM e formar uma diretoria juntamnente com
os Trabalhadores dos transporte coletivo de Manaus. Em entrevista, doutor Aparecido
afirmou que o objetivo da ANAT/AM é amparar os trabalhadores e suas famílias, garantir
através do Ministério Público Federal e do Estado do Amazonas os seus direitos, tendo
como o público alvo todos os trabalhadores de todas as profissões que se sentirem
marginalizados pelas empresas ou pelo governo seja Municipal, Estadual ou Federal, diz
que a associação oferece aos associados, acesso a advogados, médicos, fisioterapia e
farmácia, enfatiza que o projeto pretende fundar outras filias em cidades brasileiras com
mais de 200 mil habitantes.
Conforme observado em documentos, a ANAT/AM possui 359 associados, sendo que
185 são motoristas de ônibus urbanos, 108 são cobradores e 66 são de outras profissões
entre as quais podemos citar vigilantes, radialistas, marceneiros, agente comunitário de
saúde, operador de estação de tratamento de água (ETA), laboratorista, técnico de
11
Jornal Diário do Amazonas do dia 18 de julho 2006.
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enfermagem, administrador de linha, operador de máquina pesadas, serventes, costureiras,
domésticas, auxiliar de conzinha, auxiliar de refrigeração, pedreiro, comerciante, soldador,
careteiro e servidor público municipal entre outros.
De acordo com o Doutor Aparecido, a ANAT/AM, até o momento não recebia recursos
por parte dos poderes Municipais, Estaduais e Federal, mantendo-se com as mensalidades
pagas pelos associados, cujo valor corresponde a 10% do salário mínimo, além de eventos
realizados pelo presidente juntamente com os associados. Diz que a associação está em
processo de reconhecimento até porque, foi fundada há um ano, estando em processo de
cadastramento para o requerimento do CNPJ. Doutor Aparecido ressalta que dos serviços
oferecidos o mais importante são as palestras referente aos direitos trabalhistas e de
previdência social já que todos os associados são trabalhadores que se encontram afastados
do trabalho devido alguma patologia, sobrevivendo com o salário advindo do auxilio
doença.
Os dados da pesquisa de campo expostos a seguir apontam que a saúde destes
trabalhadores está precária.
Tabela 7. Dados da pesquisa de campo
TEMPO DE TRABALHO
%
De 1 a 5 anos
23
De 6 a 10 anos
23
De 10 a 15 anos
54
TEMPO DE AFASTAMENTO
%
De 2 meses a 1 ano
32
De 2 a 4 anos
54
De 5 a 6 anos
14
DOENÇA ADQUIRIDA
%
Depressão
6
Hérnia de disco
54
Artrose
9
Busite
20
Labirintite
6
Outros
5
VOCÊ TEM CONHECIMENTO SOBRE SUA DOENÇA?
%
Sim
23
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200
Não
77
COMO VOCÊ SE SENTIU COM A DESCOBERTA DA DOENÇA?
%
Triste
27
Preocupado
27
Sensação de incapacidade
9
Angustia
37
VOCÊ POSSUIA ALGUMA DOENÇA ANTES DE EMTRAR NA EMPRESA?
%
Sim
5
Não
95
COMO VOCÊ CLASSIFICA O ATENDIMENTO NO INSS?
%
Normal
14
Ruim
14
Regular
49
Péssimo
23
COMO FOI O ATENDIMENTO NA EMPRESA?
%
Bom
5
Regular
41
Péssimo
54
QUAL ERA SUA JORNADA DE TRABALHO?
%
Sete horas e vinte
4
Oito horas
13
Nove horas
4
Dez horas
35
Mais de dez horas
44
VOCÊ FAZIE VIRADA?
%
Sim
82
Não
18
PORQUE VOCÊ FAZIA AS VIRADAS?
%
Por falta de funcionário
18
Por necessidades financeiras
64
Era pressionado pela chefia
18
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201
VOCÊ SENTIA SONO NO VOLANTE
%
Sim
82
Não
18
COMO ERA FEITO O PAGAMENTO DAS HORAS EXTRAS (VIRADAS)?
%
No contra cheque
14
Recibo diário
18
Nos finais de semana
36
Como horas normais
18
Em banco de horas
14
PRA VOCÊ QUAL É A RESPONSSABILIDADE DO SINDICATO?
%
Lutar em prol da categoria
36
Viabilizar os direitos da categoria
64
Fonte: Dados coletados em pesquisa de campo na ANAT/AM, em março de 2007.
Dos 22 entrevistados, 14 exerciam a função de cobrador e 8 de motorista. O profissional
motorista do transporte coletivo no exercício de sua profissão sofre inúmeras pressões, por
parte das empresas que fazem cobranças constantes, do IMTU órgão responsável pela
fiscalização do sistema viário e do transporte coletivo e dos usuários em relação ao ponto
de parada que muitas vezes o motorista não para, seja porque está com presa ou porque
não ouve o sinal de parada e passa do ponto gerando desavenças dentro do coletivo.
Os principais fatores que influênciam no má desempenho de motoristas como aponta
Almeida (1991) apud (Freitas, 2006, p. 31) definem-se como externo e internos, os fatores
externos são considerados aqueles relacionados a segurança física, as exigências dos
usuários, as condições do tempo, as condições das vias, o trânsito lento,
congestionamentos, as deficiências nas sinalizações, poluição sonora, poluição visual,
iluminação deficiente, temperatura do motor e condições de trabalho em geral. Como
fatores internos podemos apontar as doenças crônicas ou agudas, problemas de visão
auditivos, automedicação, fadiga (devido as jornadas de trabalho extensas), estresses, calor,
cansaço, desrespeito ás leis de trânsito, o desrespeito de outros motoristas, álcool e drogas
e problemas pessoal. A profissão de motorista exige movimentos repetitivos, concentração
e responsabilidade uma vez que está transportando vidas. Devido a estes fatores a profissão
se torna estressante e reflete na saúde destes profissionais. Já a função de cobrador se torna
estressante devido a grande lotação, pela reclamação dos usuarios ao cobrador como se ele
fosse o responsável pelo problema da lotação, o problema do troco que é escasso tornando
dificil trabalhar, os assaltos que afetam diretamente o cobrador por ser ele o responsável
pela renda, vale lembrar aqui que muitos cobradores já foram vitimas de assaltos sofrendo
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violência física e psicológica, outros perderam a vida, além destes problemas eles ainda são
obrigados a pagar a quantia roubada.
Apesar da existir um acordo realizado entre o Ministério do Trabalho e Emprego e o
Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários de Manaus e o Sindicato das
Empresas de Transporte - SINETRAN com a presença dos respectivos representante
como o Sr. César Tadeu Teixeira diretor executivo do SINETRAN, o Sr. Josildo de
Oliveira Silva, vice-presidente, o Sr. Elcio Campos Rêgo e o diretor Gilvancir de Oliveira
Silva, representando o Sindicato dos rodoviários o acordo foi realizado em 01 de setembro
de 2006. Processo n° 192. mediado pelo Sr. Francisco das Chagas O. Rodrigues chefe de
relação do trabalho do Sindicato dos Rodoviários. Francisco Rodrigues fala que o
descontentamento da categoria é percebido pela constante ameaça de paralização,
principalmente em virtude dos descontos de valores em assaltos, o que fez que a Delegacia
do Trabalho convidasse as partes para uma mesa redonda, para discutir o assunto e buscar
um entendimento conjunto, o Sr Rodrigues afirma que apesar de serem justas as
reivindicações dos trabalhadores é preciso analisar o problema com cautela.
No processo ficou estabelecido que havendo assalto do empregado é descontado o valor
somente se for superior a R$ 75,00 reais, porque considera-se que se o roubo foi superir a
R$ 75,00, significa que o empregado não colocou o excesso no cofre, conforme a claúsula
42ª e parágrafos da Sentença Normativa de Trabalho, que regulamenta as relações de
trabalho da categoria. Rodrigues diz que existe uma sentença normativa a situação e o
caminho para resolver deve ser o legal, conforme previsto no art. 873 da CLT, e afirma que
o SINETRAN prevê solução a curto prazo para reduzir os assaltos a ônibus, entre os quais,
a suspenão do vale transporte e do passe estudantil, diz que essas medidas serão tomadas
com a implantação total do sistema de integração temporal, previsto para o início do
próximo ano, e segundo ele com isso, praticamente não haverá mais pagamento em
dinheiro nas catracas com isso se espera resolver o problema de assaltos nos coletivos.
O documento regula o uso dos cofres pelos cobradores e estabelece que caso o cofre não
esteja em perfeito estado de funcionamento e conservação, para permitir que o empregado
o use quer no primeiro ou nos demais turnos, o empregado não pode ser responsabilizado.
Tal situação poderá ser constatada na delegacia, quando os empregados forem lavrar
boletim de ocorrência, se a empresa não permitir que o empregado coloque a renda no
cofre no primeiro turno e nos demais, por qualquer motivo, o empregado não poderá ser
responsabilizado, terceiro a empresa é responsável pela abertura e conferência do cofre e
deverá propiciar as condições para fazê-lo com rapidez pois o cobrador não poderá sofrer
prejuízo por isto, inclusive de horário o empregado só assinará o ponto deppois da
conferência do cofre, conforme cláusula 14ª da convenção coletiva, devendo o empregado
receber horas extras se estrapolar o horário.
No entanto, ja se passaram quase um ano após este acordo e até o momento nem uma
medida foi tomada referente ao pagamento de valores roubados em assaltos á ônibus, os
cobradores continuam pagando o prejuízo dos empresários e quando se recusam são
punidos ou até mesmo demitidos. O maior problema dos cofres é porque quando o
cobrador não coloca a renda no cofre e se recusa entregá-la aos bandidos no momento do
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assalto, eles são assassinados, e quando colocam a renda no cofre eles são assassinados ou
espancados como aconteceu com a cobradora da linha 611 que teve as mãos esfaqueada
por não ter renda para dar aos bandidos, eles ficam revoltados por não encontrarem
dinheiro no caixa e espancamo cobrador. O prior de tudo isso é que quando o cobrador
nao é assassinado ele ainda é obrigado a pagar a quantia levada pelo bandido.
O SINETRAN implantou o sistema passa fácil recentemente para tentar solucionar o
problema, porém a meia passagem ainda é paga em espécie o que não resolveu o problema
do troco e dos assaltos já que ainda existe dinheiro circulando mesmo sendo em menor
quantidade, mas que para os bandidos não importa a quantia.
Os dados da pesquisa apontaram que o tempo de trabalho na mesma empresa foi 23%
entre 1 e 5 anos, 6 e 10 anos 23%, entre 10 e 15 anos 54%. Percebe-se que o tempo de
trabalho desses trabalhadores pode ser um dos fatores para surgimento das doenças
relacionadas ao trabalho já que estudos apontam que essas doenças estão associadas ao
tempo e duração do trabalho. Uma pessoa que trabalha mais de dez horas por dia por mais
de dez anos na mesma atividade, esta propensa a adquirir LER/DORT, doenças do
trabalho ou relacionada ao trabalho, além destes fatores, existem outros que contribuem
para o surgimento de doenças do trabalho ou relacionada ao trabalho.
O trabalho muscular estático ocorre, por exemplo, quando um membro é mantido em
determinada posição, lutando contra a gravidade e quando as estruturas músculosesqueléticos devem suportar o peso desse membro, como no caso do trabalho com os
braços elevados, acima do nível da cintura escapular, outro exemplo seria o trabalho em
postura
sentada
(BRASIL, 2005, 27). Os autores Rios e Pires (2004) apud Freitas (2006, p. 38) também
argumentam que a posição sentada possibilita pouca margem de movimentação, tendo
como consequência uma carga estática sobre certos segmentos corporais.
Observa-se que motoristas e cobradores desenvolvem suas atividades em posição sentada e
estática, o motorista trabalha com os braços elevados, executa movimentos laterais com a
cabeça para observar a porta traseira na hora do embarque ou desembarque ou para olhar o
retrovisor, está comprimido entre a cadeira e o volante, trabalha por longo tempo sem
poder movimentar as pernas o que com o tempo poderá refletir na sua saúde e
proporcionar para o surgimento de doenças como a hérnia de disco artrose e outras
doenças relacionadas ao trabalho. A postura inadequada é assumida pelos trabalhadores
para realizarem as operações do ciclo de trabalho quando o posto de trabalho é inadaptado
para cada articulação, pode-se definir uma postura de base em que as exigências ligadas à
sua manutenção são mínimas e as estruturas anatômicas estão em posições favoráveis
(BRASIL, 2005, p. 25).
Desta forma, o trabalho sentado, a temporalidade, a repetitividade, o ritmo, e a exigência de
produção, contribuem para a sobrecarga dos músculos e para o surgimento das doenças na
coluna, já que está suporta o peso do tronco, contribuindo assim para o surgimento de
doenças na coluna vertebral como a hérnia de disco.
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Os dados apontaram que alguns trabalhadores estavam afastados do trabalho por mais de
cinco anos, mostrando o porquê da Previdência Social está sobrecarregada com o indice
elevado de trabalhadores doentes. Sendo que a qualidade dos serviços e dos profissionais e
a dinâmica interdisciplinar de uma equipe de saúde são fundamentais para haver melhoras
significativas no atendimento de paciente com LER/DORT, assim o tempo de
afastamento será tanto menor quanto maior for a eficácia do tratamento, e que é
extremamente desejável ao paciente, à empresa e à Previdência Social (BRASIL, 2005, p.
25).
No entanto, muitos trabalhadores ainda ficam afastados do trabalho por um longo período
devido à falta de diagnóstico da doença principalmente, as LER/DORT das quais se inclui
a hérnia de disco considerada doença decorrente do trabalho, de acordo com a Lista de
Doenças Relacionadas ao Trabalho, Portaria n°. 1.339 /GM. De 18 de novembro de 1999.
2° edição. 2005 e a Classificação Internacional de Doenças (CID). Parecenos que a
dificuldade de diagnosticar a doença faz que os médicos peritos da Previdência mandem os
trabalhadores principalmente motoristas e cobradores acometidos por hérnia de disco,
voltarem ao trabalho por não procurer relacionar a doença com as atividades laborais do
trabalhador, este que ao receber alta fica preocupado com sua saúde tornando-se debilitado
e ancioso em relação ao destino.
O correto diagnóstico de LER/DORT implica em conceder benefícios Previdenciários
específicos a acidentes do trabalho. Essa decisão exige rigor, qualidade, aliás, necessária em
qualquer campo de atuação. Brasil (2005), a fragilidade existente no trato com a questão
saúde do trabalhador faz que muitos fiquem afastados por um longo período, e ao
retornarem as atividades acabam não suportando a dor e retorna novamente ao INSS.
Como os médicos não encaminham para reabilitação e também não encaminham para
aposentadoria eles ficam como se fossem “ ping-pongs” jogados de um lado para outro, ou
seja, o médico manda para a empresa e a empresa manda para o INSS, porque trabalhador
doente não gera lucro por isso não interessa para a empresa.
Em relação às doenças motivadoras do afastastamento do trabalho, 6% dos entrevistados
responderam ser devido à depressão, 54% hérnia de disco, 20% artrose, 9% bursite e 6%
labirintite. Destes, 5% responderam que estavam afetados por mais de uma patologia
como, por exemplo, a hérnia de disco e depressão. Davidoff (2001, p. 553) descreve a
depressão como sendo é um estado mais intenso e persistente diz que durante a depressão
profunda, as pessoas sentem-se desesperançosas e desanimadas e o tempo custa a passar.
Os Pacientes com LER/DORT apresentam evidencia de depressão ansiedade e angustia,
porém, em geral, trata-se de quadros decorrentes de situações concretas de perda da
identidade no trabalho, na família e no círculo social, além da penosidade de se submeter os
tratamentos longos, de resultados lentos e incertos, e perícia nas quais estão sendo
constantemente questionados como se estivessem querendo “está doente”. Observa-se
que as pessoas com problemas geralmente eram consideras rápidas no trabalho, eficientes e
às vezes competitivas, porém, acredita-se que essas características são determinadas e/ou
reforçadas pela organização do trabalho (BRASIL, 2005, p. 25).
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A hérnia de disco aparece com índice muito alto entre os entrevistados. Brunner (2000)
explica que a herniação do disco intervertebral (ruptura de disco), se dar quando o núcleo
do disco faz protrusão para dentro do ânulo (anel fibroso ao redor do disco), com
subsequente compressão nervosa. Protrusão ou ruptura do núcleo pulposo geralmente é
precedida por alterações degenerativas que ocorrem com o envelhecimento. Ainda segundo
o autor, a perda de polissacarídeos protéicos no disco aumenta o conteúdo hídrico do
núcleo pulposo. O desenvolvimento de fissuras irradiadas no ânulo enfraquece a resistência
à herniacão do núcleo que depois de um trauma (quedas, acidentes e estresse menores
repetidos, como o levantamento), a cartilagem pode ser lesada.
Hermógenes (1973) decreve que nossa coluna é composta, por 33 ossinhos alinhados uns
sobre os outro, são as vértebras, a coluna é a estrutura mais importante do nosso corpo, é
ela que suporta todo peso do corpo, cada vértebra é igual a um anel que sobre postas uma
sobre outra, forma um tubo, um canal chamado de canal raquidiano por onde corre a
médula, responsável de levar os impulsos nervosos transmitidos pelo cérebro. O autor
sfirma que a médula é considerada a condutora de transmissão ligando o cérebro ás
diversas partes do corpo, esse trabalho realizado pela médula se dar através dos burracos de
conjugação, formados no espaço entre uma vértebra e outra, os nervos raquidianos levam o
impulso motor que comanda as funções e os movimentos de órgão, vísceras, músculos e
glândulas e transmitem a médula ás sensações que vem da periferia. Diz que, existe entre
uma vértebra e outra um disco intervertebral cartilaginoso, para reduzir os impactos,
amaciar choques e traumatismos, esses discos são comparados a uma almofada, fala que
existem também os músculos e os ligamentos responsáveis de manter as pecas e os discos
no seu devido lugar.
Conforme doutor Hemogenes, a coluna possui quatro regiões, cervical composta por sete
vértebras, que se encontra acima do pescoço e define a nuca, a dorsal composta por doze
vértebras, e se encontra abaixo dos ombros e vai até a cintura, a lombar composta por
cinco vértebras e vai um pouco acima das nádegas e a sacro-coccígea composta por nove
vértebras. Afirma atambém que, quando a coluna não está bem, todo o corpo sofre os
efeitos principalmente quando o individuo está com hérnia de disco, doença que acomete
principalmente as pessoas que se submetem a muito esforço ou que mantém uma postura
errônea por muito tempo.
Smeltzer (2000. p. 1671) por sua vez reforça que com a degeneração do disco, a cápsula
faz pressão para trás, para dentro do canal medular, ou pode romper-se e permitir que o
núcleo pulposo seja empurrado para trás, contra o saco dural ou contra um nervo espinhal,
quando ele emerge a partir da coluna vertebral. Essa sequência produz dor devido á
pressão na área de distribuição das terminações nervosas envolvidas (radiculopatia). A
pressão continuada pode produzir alterações degenerativas no nervo afetado, como as
alterações na sensação e na ação reflexa. Para Smeltzer (2000) um disco hérniado com dor
acompanhante, pode ocorrer em qualquer porção da coluna vertebral, cervical, torácica
(rara) ou lombar. A manifestação clinica dependem da localização, velocidade de
desenvolvimento (aguda ou crônica) e efeito sobre as estruturas circunvizinhas, o outor diz
que um disco hérniado é uma placa cartilaginosa que forma um alcochoamento entre os
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corpos vertebrais. Esse material fibroso e áspero é incorporado em uma cápsula. Um
alcochoamento semelhante a uma bola no centro do disco é chamado de núcleo pulposo.
Neste sentido, podemos afirma que estresses, quebra molas, posição incorreta, falta de
exercício físico, ruas esburacadas, jornada de trabalho intensa, cobrança, concentração no
trânsito e falta de descanso, podem contribuir para o surgimento de doenças na coluna de
motoristas e cobradores. Todavia as queixas de dores na coluna entre estes profissionais
são frequentes e em muitos casos só procuram cuidados médicos quando a doença já está
num grau bem avançado o que dificulta o tratamento. Pode-se afirmar também que as
condições precárias dos ônibus podem contribui para o agravo da saúde desses
trabalhadores, já a maior parte da frota se encontra danificada e sem condições de circular,
estes que além de não oferecer segurança e conforto, muitos estão com as cadeiras soltas e
os amortecedores quebrados e não amortecem os impactos sobre a coluna dos usuários e
trabalhadores, por outro lado existem as janelas com vidros soltos que batem emitindo
barulhos que irritam e causam danos auditivos.
Na verdade, a hérnia de disco em motoristas e cobradores está relacionada à jornada de
trabalho que vai além do recomendado, muitos fazem as “viradas”, ou seja, trabalham nos
dois turnos, sobrecarregando os músculos comprometendo e causando danos a saúde que
depois muitos anos na mesma atividade começam a sentir o efeito na coluna e vão somarse a outros trabalhadores usuários da Previdência Social, causando despesas aos cofres
públicos. Acredita-se que se houvesse fiscalização do Ministério Público do Trabalho nas
empresas, o problema poderia ser amenizado.
Quando perguntado se os entrevistados tinham conhecimento da sua doença, 23%
responderam que sim e 77% responderam não, é importante que haja uma procura ativa e
não uma espera passiva no ambulatório médico. Sabe-se que o trabalhador frequentemente
posterga a procura de auxilio médico, por motivos diversos e alguns deles seja por falta de
informação, dificuldade em perceber e assumir que está com sintomas, medo de ser
marginalizado e demitido, não procuram por cuidados médicos precocemente (BRASIL,
2005).
Observa-se que a falta de conhecimento da doença faz que os trabalhadores sejam lesados
quanto aos seus direitos, uma vez que as doenças do trabalho ou relacionadas ao trabalho e
as doenças comuns merecem tratamentos diferenciados, assim, as doenças ocupacionais ou
decorrentes do trabalho, quando diagnosticadas serão notificadas sob o código 91 e o
trabalhador terá direito aos benefícios adquiridos como o recolhimento do FGTS,
estabilidade no emprego por um ano após o retorno, a cesta básica e os medicamentos
necessários até ficar curado.
Conforme manchete circulada em jornal impresso, o presidente Luiz Inácio da Silva,
afirmou que os trabalhadores têm dificuldade de comprovar que as doenças como as Lesão
por Esforço Repetitivo – LER, por exemplo, foram causadas pelo trabalho. Com isso, eles
acabam recorrendo ao INSS por meio do auxilio doença, quando deveriam ter direito ao
auxilio doença acidentário, o que garante o depósito mensal do FGTS e estabilidade de 12
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meses no emprego após a licença12. Assim, as doenças comuns serão notificadas sob o
código 31 e não causam percas para o trabalhador, porém quando o INSS notifica a doença
do trabalho como doença comum, o trabalhador perde todos os direitos, que teria se a
doença fosse notificada como decorrente do trabalho, como os trabalhadores não tem
conhecimento, terminam não procurando seus direitos. Contudo, existem motoristas e
cobradores com diagnóstico de hérnia de disco, que estão recebendo o auxilio doença ao
invés de estarem recebendo auxilio doença acidentária, uma vez que a hérnia de disco foi
adquirida no trabalho devido as atividade que este profissional desnvolvem, a hérnia de
disco é considerada no CID-10 como doença de natureza ocupacional, e considerada como
a principal causa das dorsalgia (M54. -); cervicalgia (M54. - 2); ciática (M 54. - 3); lumbago
com ciática (M54. 4) e artroses (M19.); posições forçadas e gestos repetitivos (Z57. 8),
ritmo de trabalho penoso (Z56. 3), condições dificies de trabalho (Z56. 5) (BRASIL, 2005).
Sebe-se que tramita no senado federal a reformulação da lei 8.212, que deverá ser
sanciondada pelo Presidente da República, a MP n°. 316 de agosto 2006, vem com intuito
de facilitar a comprovação de doenças relacionadas ao trabalho, estabelecendo a relação
entre a doença e o local de trabalho, atualmente há maior espaço social e cultural para a
manifestação das pessoas com LER/DORT e ouros quadros de queixas subjetivas e de
dificil visualização física, por exemplo, pessoa que há 30 anos padeciam do que hoje é
conhecido como sindrome do pánico,costumavam ser condenadas a viver como as
‘‘esquisitas da família’’ e eram frequentemente marginalizadas (BRASIL, 2005, p. 14). No
entanto, hoje as possibilidades de tratamento e vida integrada dessas pessoas são muito
maiores. A própria idéia de saúde, bem-estar e qualidade de vida vêm mudando com o
tempo, exigindo da sociedade uma resposta frente a esse problema.
Porém no caso de hérnia de disco, ainda não há aceitação por parte dos peritos do INSS de
que seja uma doença decorrente do trabalho mesmo que constando no CID - 10 na lista de
doenças relacionadas ao trabalho. Com isso os trabalhadores do transporte coletivo,
principalmente aqueles que se encontram afastados por diagnóstico de hérnia de disco, são
os que mais sofrem as consequências, principalmente devido à falta de conhecimento da
doença, ou por falta de vontade de alguns peritos, já que muitos estão sem condições de
trabalhar e mesmo assim é obrigada a volta ao trabalho. Ao voltar para o trabalho nessas
circunstâncias, alguns meses depois começam a sentir dor devido às atividades que
desenvolvem na posição sentada, fazendo que a coluna fique forçada por muito tempo
agravando ainda mais o problema e reotandando novamente ao INSS. Os quadros de
ciática (M54. 3), e lumbago com ciática (M64. 4) são aumento de pressão intra-abdominal
(tosse, espirros, defecação) e que irradia pela face posterior da coxa até a face lateral do
tornozelo e pé. Esse quadro pode evoluir para uma degeneração do disco intervertebral,
causando a hérnia de disco, osteoartroses e/ou osteofitose da coluna e história de trauma
da coluna (BRASIL, 2001, p. 453).
Ao questioná-los sobre qual o sentimento com a descoberta da doença, 27% responderam
que sentiram tristeza, 27 % deisseram que ficaram preocupados, 9 % disse sentir-se
12
Jornal A Cririca edição de 2006 caderno A15.
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incapaz de cuidar dos filhos e esposa e 37 % disseram que sentiram-se angustiados. Grande
maioria dos pacientes com LER/DORT apresenta sofrimento mental, muitas vezes
traduzido por angustia, inquietações indefinidas, reclamações e choros constantes,
depressões, tristezas, etc. Diz ainda que esse sofrimento deriva de características peculiares
da doença que precisam ser compreendidas pelos profissionais que se propõe a diagnosticála e tratar. (BRASIL, 2005). Isso comprova o porque a maioria esva com mais de uma
doença, como é o caso da depressão.
Totavia, os trabalhadores após adoecer ficam fragilizados devido à ausência de apoio
principalmente dentro da família que por não vê a doença fisicamente acham que o
individuo está com fingimento e não quer trabalhar. Neste sentido uma das características
principais de LER/DORT é a presença de dor, que por ser uma sensação, por definição é
subjetiva, por outro lado, somente o paciente sente e isso dificulta a cura porque no
momento que as pessoas começam a duvidar eles se sentem angustiados e preocupados
principalmente com a volta ao trabalho porque sabem o que irão sentir na execuçao das
atividades. Há uma fase bem inicial na qual os sintomas são fruto basicamente de um
processo de fadiga incipiente ou inflamação. É a fase na qual o paciente sente desconforto
e não necessariamente dor, e passa despercebida em muitos casos, pode-se obter um
completo restabelecimento orgânico e funcional, caso haja orientação ao paciente e
afastamento das causas. A manutenção das atividades laborais executadas da mesma
maneira em geral agrava o quadro clinico, levando o paciente a um quadro de dor,
formigamento, dormência, choque, fadiga precoce, entre outros sintomas, e á incapacidade
laboral, nas fases mais avançadas nas quais estão envolvidos mecanismos neurogênicos e de
hiperalgesia secundaria, e nos quais já há uma alteração do sistema modulador da dor, o que
se pode obter é o controle e o equilíbrio dos sintomas, mas dificilmente a sua regressão
total (BRASIL, 2005, p. 9).
Nos casos de motoristas e cobradores que voltam ao trabalho mesmo estando com a
coluna doente devido à hérnia de disco e retornado ao INSS logo em seguida, dessa vez
com a doença mais avançada por trabalhar horas em posição estática, os peritos do INSS
não conseguem ou não querem reconhecer a hérnia de disco como doença do trabalho e
não acreditam no que diz os trabalhadores quando se queixam de dores muito fortes na
coluna, por sua vez, os peritos dizem que eles estão com fingimento para não trabalhar,
quem responderá pelo danos causados a estes trabalhadores?
Quando perguntado se o trabalhador tinha algum tipo de doença na coluna antes de entrar
na empresa, 5% responderam que sim, e 95% disseram que não. Os dados apontam que
muitos trabalhadores adquirem as doenças osteo-musculares, devidas às condições de
trabalho as quais estão expostos, já que as condições de trabalho inadequadas são fatores
que causam danos à saúde do trabalhador. De acordo com o CID – 10, os agentes tóxicos,
carga intensa de trabalho, estresses, cobranças por produção, trabalho penoso, e outros,
propiciam o surgimento das doenças oste-omusculares. Sabe-se que a ocorrência dessas
doenças associa-se em geral, a situação descontrolada e a inexistência de medidas de
controle, não decorre de impossibilidades técnicas, mas sim de opções gerenciais e políticas
por parte de empresários e seus pressupostos (BRASIL, 2005, p. 5).
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Com o surgimento da indústria, a revolução industrial e tecnológica e com a substituição
das máquinas modernas por microeletrônicos e a robótica, as empresas começaram a
cobrar mais do trabalhador, que passou a produzir mais com menor intervalo de tempo e
com movimentos rápidos e repetitivos sobrecarregando os músculos e a mente e ainda a
crescente cobrança da chefia por produção, levou o aumento desordenado de
trabalhadores com LER/DORT.
Os fatores que contribuem para o surgimento da LER/DORT são em decorrência da
indução por fadiga neuromuscular causada por trabalho realizado em posição fixa (trabalho
estático) ou com movimentos repetitivos, principalmente de membros superiores; falta de
tempo de recuperação pós-contratação e fadiga (falta de flexibilidade de tempo, ritmo
elevado de trabalho); quadro clínico variado incluindo queixas de dor, formigamento,
dormência, choque, peso de fadiga precoce; presença de entidades ortopédicas definidas
como tendinite, tenossinovite, sinusite, perintedinite, em particular de ombros, cotovelos,
punhos e mãos; epicondilete, tenossinovite, estenosante (De Quervain), dedo em gatilho,
cisto, síndrome de túnel do carpo, síndrome de túnel ulnar (nível de cotovelo), síndrome
do pronador redondo, síndrome do desfiladeiro torácico, síndrome cervical ou
radiculopatia cervical, neurite digital e também a presença de um quadro de repercussões
mais extensa ou generalizada como a síndrome mio facial, mialgia, síndrome da tensão do
pescoço, distrofia simpático-reflexa, síndrome complexa de dor regional (BRASIL, 2005, p.
7).
Quando se trata de trabalhadores como os motoristas e cobradores do transporte coletivo,
em que as doenças aparecem depois de longos anos de trabalho com jornada de trabalho
além do permitido, noites mal dormidas, condições de trabalho difícil, já que esses
trabalhadores executam suas atividades dentro de um ônibus sobre pressão e pânico, em
posição estática, com o veiculo quase sempre com lotação máxima, se sujeitando as
reclamações dos usuários que se queixam da péssima condição do transporte como se o
motorista ou cobrador fossem os responsáveis pela situação, por outro lado, enfrentam um
transito mais estressante ainda.
Quanto ao atendimento no INSS, foi relatado pelos os trabalhadores que os peritos tratam
- os como se tivessem pedindo esmola, os pacientes são recebidos com brutalidade,
muitos não olham se quer para o paciente, não deixam o paciente relatar suas queixas e
sintomas, desconfiam dos laudos cedidos por outros médicos, não perguntam ao paciente
que atividade exerce para poder relacionar a causa da doença com o trabalho desenvolvido
o que seria correto. Sabe-se que o médico-perito do INSS com base no relato do médico
assistente, deverá conclui pelo estabelecimento do nexo causal ou ainda o não
reconhecimento da existência de uma doença ocupacional, somente depois pela concessão
ou não do auxilio doença por acidente de trabalho, ou pelo reconhecimento de
incapacidade laboral ou não (BRASIL, 2005, p. 14).
Os dados da pesquisa sobre o atendimento no INSS, na verdade veio comprovar a
realidade enfrentada pelos trabalhadores que procuram por assistência na Previdência em
busca do auxílio-doença, muitas das vezes por motivo de doenças do trabalho,
principalmente a hérnia de disco. Dos entrevistados, 14% disseram que consideram o
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atendimento no INSS normal, 14% ruim e 23% e 49% consideram o atendimento
péssimo. Desta forma, pode-se dizer que existe um atendimento precário dos postos da
Previdência como maus tratos e afirmações preconceituosas por parte de alguns peritos
(BRASIL, 2005).
Quando perguntado como eles são tratados na empresa após retornarem do INSS, 41 %
responderam que o tratamento pode ser considerado regular, 5 % respondeu que era bom
e 54% responderam que o atendimento na empresa era péssimo. Segundo os entrevistados,
isso se deve principalmente devido ao pessimo atendimento dos médicos da empresa, que
segundo os mesmos, estes tratam os trabalhadores com má vontade. De acordo com as
norma do Ministério do Trabalho, o médico do INSS, tem por obrigação conhecer os
processos produtivos e o ambiente de trabalho da empresa, avaliar o trabalhador, tentando
adaptar o trabalho ás condições do trabalhador, indicar sua alocação para trabalhos
compatíveis com sua situação de saúde, dar conhecimento aos empresários, trabalhadores,
comissões de saúde, Comissão Internas de Prevenção de Acidente - CIPA e representantes
sindicais dos riscos existentes no ambiente de trabalho. E ainda documentar as
informações, notificar o órgão público, competente, por meio de documentos apropriados,
quando houver suspeita ou comprovação de transtornos da saúde atribuíveis ao trabalho,
fornecer uma cópia da CAT para o trabalhador acidentado ou doente, atuar junto á
empresa para eliminar ou atenuar a nocividade dos processos de produção e organização
do trabalho (BRASIL, 2005, p. 23).
É preciso que haja mais interesse por parte dos empresários em relação á segurança e saúde
dos trabalhadores, eles precisam ser ouvidos e expor suas ideias, receber atendimento
adequado e de qualidade pelo médico especialista em medicina do trabalho, este tem o
dever de esclarecer ao paciente sobre sua saúde, cabe ao médico do trabalho, a
responsabilidade solidária com o empregador, no caso de agravo á saúde dos trabalhadores
da empresa (BRASIL, 2005, p. 23).
Quando perguntado sobre a jornada de trabalho, 4% disseram que trabalhavam sete horas
e vinte, 13% oito horas, 4% nove horas, 35% dez horas e 44% responderam que
trabalhavam mais de dez horas por dia. Percebe-se que os motoristas e cobradores do
transporte coletivo de Manaus estão sendo explorados, não tendo seus direitos trabalhistas
assegurados conforme rege a Consolidação das Leis Trabalhista - CLT, no art. 58 em que
asseguram que a duração normal do trabalho para os empregados em qualquer atividade
privada, não excederá de oito horas diárias, desde que não seja fixado expressamente outro
limite. No entanto, as empresas de transportes coletivos de Manaus estão funcionando com
o número de funcionários reduzidos, e para manter a frota, utilizam os funcionários já
existentes para fazer as ditas viradas13, assim, acumulam capital já que não precisam gastar
contatando novos trabalhadores e ainda lucram extraindo a mais-valia dos trabalhadores
que são obrigados a fazer horas extras, com isso às empresas aumentam também a
demanda do INSS, com os trabalhadores que estão adoecendo e vão em busca do auxilio
doença, uma vez que a maioria dos afastados está com hérnia de disco devida o excesso de
13
Termo usado, quando o motorista ou cobrador (a) trabalham nos dois turnos.
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trabalho ao qual são submetidos. O que ficou comprovado já que 44% dos entrevistados
responderam que trabalhava mais de dez horas por dia, ou seja, além da jornada de trabalho
estabelecida na CLT, os mesmo que naquele momento faziam parte da demanda do INSS.
Freitas (2006, p. 30) aponta que a jornada de trabalho está relacionada entre as categorias
definidas para estudar e avaliar o impacto produzido pelos processos de trabalho sobre a
saúde física e mental dos trabalhadores.
Quanto à jornada de trabalho, 18% dos entrevistados responderam que raramente
trabalhavam nos dois turnos e 82% responderam que trabalhavam nos dois turnos com
frequência. Quando perguntado por que eles trabalhavam nos dois turnos (ou faziam
viradas), 18% disse que era devido à falta de funcionários, 18% responderam ser por
dificuldade financeira e 64% confirmaram que eram obrigados pela chefia. De acordo com
a Constituição Federal de 1998, art. 5º. Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer
alguma coisa senão em virtude de lei, esclarece que ninguém será submetido à tortura nem
a tratamento desumano ou degradante. Segundo relatatos dos entrevistados, eles e eram
convocados a fazer as viradas e tinham medo de recusar porque poderiam perder o
emprego, por isso aceitava mesmo estando cansado, isso ajudava a preservar seu emprego.
Freitas (2006, p. 30) relata que a atividade que requer esforço físico e mental, como o ato
de dirigir, sofre influencia de fatores que experimentam com a carga de trabalho e emergem
da própria realização das tarefas. Para Rios e Pires (2004) apud Freitas (2006, p. 38) a
posição sentada possibilita pouca margem de movimento, tendo como consequência uma
carga estática sobre certos segmentos corporais. A postura sentada, conforme os autores,
por melhor que seja, impõe carga hiomecânica significativa sobre os discos intervertebrais,
principalmente da região lombar. Entre as diversas alterações que podem ocorrer em um
profissional que necessita ficar tempo prolongado na posição sentada durante sua atividade
diária de trabalho, foi destacada a pressão nos discos intervertebrais da coluna lombar
como a mais importante.
Desta forma, pode-se concluir que a jornada de trabalho intensa desses trabalhadores pode
ser considerada como um dos fatores que contribuem para ocorrência de doenças
relacionadas ao trabalho e vem contribuído para o auto índice de doenças na coluna entre
as quais a hérnia de disco, bastante comum entre motorista e cobradores. Os entrevistados
confirmaram que o trabalho nos dois turnos é comum nas empresas de transporte coletivo.
Isso nos leva a crer que os trabalhadores que hoje estão doentes são os mesmos que faziam
as “viradas” anos atrás, assim, os trabalhadores que estão na ativa estão sendo explorados
vivendo as mesmas condições vividas por aqueles que estão afastados. Segundo os
entrevistados os empresários não querem contratar funcionário e os motorista e cobradores
que estão ativos, estão cumprindo jornadas esxecivas de trabalho. Vale ressaltar que caso
não sejam tornadas as providencias cabíveis, os motoristas e cobradores atuantes serão
futuramente a demanda da Previdência Social.
A Constituiçao Federal de 1988 no artigo 7º refere-se aos direitos dos trabalhadore e
estalelece que a duração do trabalho normal não deva ser superior a oito horas diárias e
quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada,
mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho, assegura ainda a jornada de seis horas
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para o trabalho realizado em turno ineterruptos de revezamento, salvo negociação coletiva,
garante repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos, remuneração do
serviço extraordinário superior, no mínimo, em cinquenta por cento á do normal.
Alguns entrevistados fizeram questão de descrever outros motivos que os levava a trabalhar
nos dois turnos, além dos já citados anteriormente, o participante (J) fala que “o colega
que ia pegar o turno seguinte faltava e eu tinha que virar”, outro disse o seguinte, “quem
não fizer as viradas fica fora da escala ou é trocado de linha, principalmente para as linhas
que a gente não gosta de trabalhar e para evitar que isso aconteça, a gente acabavam
trabalhando nos dois turno mesmo estando exaustos”. Segundo os entrevistados já houve
varias demissões de motorista e cobradores que se recusaram de fazer as virada, segundo
eles, os chefes agiam desta forma para mostrar que se eles não virassem poderiam ser
demitidos, e isso era um motivo para que eles virassem porque tinham medo de perder o
emprego também ou de ficar na lista “negra”, segundo os trabalhadores ,essa é uma
expressão usada pelos chefes para indicar aqueles que estão marcados por não fazer
viradas. Outro entrevistado comenta que aceitava fazer as viradas porque diz ele “eu pensei
que ia melhorar minha vida mais piorei, eu fazia virada diariamente e com o passar do
tempo acabei adquirindo uma hérnia de disco e hoje vivo com o salário auxilio - doença
que recebo do INSS”.
Os motoristas Foram questionados se sentiam sono ao dirigir, 82 % responderam que
sentiam sono no volante, principalmente quando faziam viradas. É evidente que os
motoristas do transporte coletivo de Manaus estão trabalhando em situações precária e
desumana, na verdade estes e os demais problemas discutidos neste trabalho, vão se refletir
no dia-a-dia destes profissionais que se mostram cada vez mais impacientes no trato com
os usuários, provavelmente seja devido à alta carga de estresse, o mau humor desencadeado
por noites mal dormidas e o excesso de trabalho, o que fica visível na falta de paciência
para lidar com os usuários. A CLT, Lei, 5.452, de maio de 1943, arts 66 e 71, estabelece
que o trabalhador tenha direito a um descanso por período de trabalho, assegura ainda que,
entre duas jornadas de trabalho haverá um período mínimo de onze horas consecutivas
para descanso, de acordo com a CLT, em qualquer trabalho contínuo, cuja duração exceda
de seis horas, é obrigatório à concessão de intervalo para repouso ou alimentação, o qual
será no mínimo, de uma hora e, salvo acordo escrito ou contrato coletivo em contrario,
não poderá exceder de duas horas.
Vela destacar que com minha própria experiência vivenciada como cobradora e com os
relatos dos entrevistados, a maioria dos trabalhadores do transporte coletivo, sai de suas
casas às quatro horas da manhã, e retornam depois das vinte e duas horas, dormindo
menos que o recomendado. Na verdade, esses motoristas ao pegarem o volante depois de
uma noite mal dormida não oferece segurança aos usuários e pedestre, já que um cochilo
seu poderá causar acidente grave. Os motoristas, além de dormirem mal, não dispõem de
descanso como recomendado e os trabalhadores entrevistados relatam que quando estão
escalados para folgar muitas das vezes são chamados para trabalhar porque faltou algum
funcionários. E quando se recusam são chamados atenção e já ficam marcados pela chefia.
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Quanto ao pagamento de horas extras, de acordo com os entrevistados, 14% a firmou que
recebia no contra cheque, 18% disse receber através de recibo, 36% disse que recebiam aos
finais de semanas sem nenhum comprovante, 18% disse que as horas extras eram pagas
como horas normais, indo contra a CLT. No art.59 da CLT, estabelece que a duração
normal do trabalho possa ser acrescida de duas horas suplementares, em número não
excedente de duas, horas mediante acordo escrito entre empregador e empregado, ou
mediante contrato coletivo de trabalho, o art.59, § 1º rege que no contrato coletivo de
trabalho deverá constar obrigatoriamente, a importância da remuneração da hora
suplementar, que será pelo menos vinte por cento superiores à da jornada normal.
Observa-se que o pagamento de horas extras nas empresas de transporte coletivo não
obedece a legislação, muitas empresas, segundo os entrevistados utilizam o banco de hora,
ou “caixa dois” expressão utilizadas pelos trabalhadores para designar o acumulo de horas
extras que em muitas empresas são pagas trimestral ou semestralmente. Todavia, o
sindicato que devirá lutar em prol da categoria, não se manifesta frente à questão, não se
elege sindicalistas com possibilidade de fazer uma leitura das relações históricas entre
capital / trabalho, e que esteja comprometido com a classe trabalhadora e muito menos
que tomem medida satisfatória em relação à saúde do trabalhador.
Outra questão posta aos motoristas se referia aos sindicatos, onde eles deveriam responder
o que eles achavam que o sindicato deveria fazer frente a questão? 36% responderam que
os sindicalistas deveriam lutar em prol da categoria e 64% que eles deveriam viabilizar
direitos. De fato os sindicalistas deverá estar qualificados para trabalhar em prol da classe
trabalhadores, desta forma, os sindicalizados poderiam confiar no seu órgão, porém, os
sindicatos que deveriam ficar do lado dos trabalhadores, formam parcerias com os
empresários como tem ocorrido em Manaus. Pereira (2001, p. 152) reforça essa ideia, ao
argumentar que os sindicatos do 3º milênio têm, desde logo, de compreender as profundas
modificações ocorridas quer na organização da produção capitalista, quer na própria
estrutura de classes na sociedade, com a drástica “terceirização” da atividade econômica,
como o surgimento de novas categorias de “criadores de valor”, ou seja, de novos
operários, com a afirmação da superação. Na verdade o sindicato não é atuante como
antigamente, aonde os sindicalistas iam às ruas juntamente com os trabalhadores para
reivindicar direitos, no entanto, após a globalização da economia em que o capital é quem
manda, nota-se que o sindicato mudou de lado, já não luta a favor da classe trabalhadora,
nem pelo fim da exploração, parece até que o sindicato faz parte da empresa e não da classe
trabalhadora, pecebe-se que o sindicato atualmente passou apenas a obedecer ao que os
empresarios determinam.
Todavia, alguns movimentos que surgem de vez enquando não passam de uma manobra
para conter os trabalhadores quando querem se rebelar contra a empresa. Pereira (2001)
por sua vez diz que o sindicato deveria romper com as condições de dominado, romper
com a aceitação passiva de condições de valores e se assumir como órgão de luta política
em defesa dos trabalhadores, lutar contra a exploração e a opressão e em defesa da
cidadania. É fato que cabe ao sindicato, adotar uma posição de rebeldia e de ofensiva e não
mais de compromisso e ir em busca da verdadeira causa dos fenômenos para dar respostas
cocretas as questões referentes a orçamento, de segurança, social e criar novas formas de
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solidariedade com viabilização de emprego, defesa da qualidade de vida, defesa da divisão
equitativa do trabalho e assumir os padrões mínimos de inclusão social.
Por outro lado, o sindicato não deve ceder á chantagens de empresários e nem coperar com
situações que gerem prejuizos e violação de direitos como social, salarial e desemprego e
assumir os desempregados e aqueles que estão à procura do primeiro emprego, os
excluídos, defender a formação profissional, exigir e regulamentar novas formas de
organizações empresariais, internacionalizar os movimentos sindicais para facilitar o
manejo das multinacionais para que haja condições de lutas a nível global. Impor medidas
como a redução da jornada de trabalho, para que desta forma os postos de trabalho sejam
disponíbilizados para outros trabalhadores, ainda a imposições de direito laborais a nível
mundial.
Percebe-se que o sindicato dos rodoviários de Manaus, não luta em prol dos direitos dos
trabalhadores, fica evidente que os rodoviários estão sendo explorados pelos empresários,
que por sua vez não contratam novos funcionários, sobrecarregando os trabalhadores
ativos, estes são obrigados a manter o transporte coletivo em circulação, muitos trabalham
os dois turnos por falta de funcionário para continuar o turno seguinte, com isso muitos
estão doentes e o sindicato que deveria tomar frente não se mobiliza para tentar resolver o
problema. Por fim, será preciso que o sindicato dos rodoviários rompa com o vínculo que
tem com as empresas e se volte para a categoria que está jogada a própria sorte, muitos
trabalhadores já morreram devido o descaso, e ainda sofrem com a falta de segurança,
péssima condição de trabalho e salário defasados, fica a indagação até quando esta situação
irá continuar?
4. Considerações finais
Na realidade, este estudo buscou conhecer o tema saúde do trabalhador: uma análise dos
problemas enfrentados no transporte coletivo da Cidade de Manaus, com ênfase a hérnia
de disco, doença que acomete motorista e cobradores, junto a ANAT/AM. Teve como
objetivos, descrever as principais doenças que acomentem os motoristas e cobradores que
se encontram afastastados do trabalho, e ainda analisar e descrever os problemas
diagnosticados no transporte coletivo de Manaus, cabe afirma aqui, que os objetivos forma
respondidos de forma satisfatória, já que os dados coletados, possibilitou analisar e
descrever os problemas mais gritantes nos transportes públicos de Manaus, com as
respostas dos entrevistados, também foi possível conhecer as principais doenças que
acometem esses trabalhadores. Onde foi possível ainda concluir que o modo de conduzir
suas empresas, e de controlar a força de trabalho, utilizada pelos empresários do transporte
coletivo de Manaus está acontecendo de forma desumana e inaceitavel para os
trabalhadores e sociedade de modo geral, ja que os transportes coletivos, como o proprio
termo diz, são de uso público, de todos. Nota-se ainda que os empresarios não dispõem de
funcionários suficientes para a execução do trabalho, neste contexto, as empresas
submetem os trabalhadores a intensas jornadas de trabalho, situação controlada por meio
da coerção,
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Observa-se que poucas ou nehuma empresa de transporte coletivo de Manaus, tem no seu
quadro de funcionario um profissional de Serviço Social, diante disso, faz-se necessária a
presença do Assistente Social, no sentido de humanizar o trabalho e ajudar o trabalhador a
enfrentar o despotismo dentro das empresas. Cabe ao Serviço Social, dentro desse
seguimento, trabalhar em prol promoção e prevenção da saúde do trabalhador, lutar em
busca de viabilização de direitos, combater a violação de direitos dos trabalhadores para
sejam respeitados, e ainda lutar para resgatar a dignidade, o respitos e os valores desses
trabalhadores. Desta forma, possamos resggatar os trabalhadors das condições precárias as
quais se encontram. Que estes, sejam os princípios norteadores para a inserção do Serviço
Social nas empresas de transportes coletivos da cidade de Manaus e que tornanem-se as
princiapias metas de trabalhho desse profissional detro da empresas. O Assistente Social,
pelo seu conhecimento teórico em relação ao embate entre capital trabalho, poderá vir a
contribui para a formação da sociabilidade do trabalhador e no comportamento compatível
com as exigências de urbanização do transporte coletivo, assim como contribuir para o
tratamento das questões de natureza psicossocial ou pssicorganizacional, que não estão
relacionadas diretamente com o processo de trabalho, mas que extrapolam o âmbito do
trabalho, buscando trabalhar com as questões relacionadas á vida particular do trabalhador
e que possivelmente interferem no seu desempenho profissional.
Desta forma, suas atribuições dentro da empresa, devem ser direcionadas ao clima
organizacional e a prestação de Serviços Sociais, concessão de beneficios, trabalhos
educativos e assistenciais junto aos empregados e suas famílias. Além, de responder aos
problemas sociais destes trabalhadores, que o Serviço Social na empresa, procure associar
as carências materiais, financeiras que possivelmente esses trabalhadores enfrentam, aos
comportamentos inadequados e inadaptação ao trabalho. Por outro lado, o Assistente
Social, deve conhecer a questão da saúde do trabalhador e orientar motoristas e cobradores,
quanto aos seus direitos, principalmente em relação ao auxilio doença e aposentadorias.
Em relação aos direitos previdenciarios, sabe-se que temos trabalhadores recebendo o
auxilio doença no código 31 que trata das doenças comuns, em que não surge muito efeito
no seu contrato de trabalho, enquanto que estes deveriam receber seus beneficios no
código 91, que especifica a doença como decorrentes do trabalho e garante ao trabalhador,
os benefícios que recebia antes de adoecer como recolhimento do FGTS, cestas básicas e
estabilidade de 12 meses no emprego após a licença.
Assim, os problemas dos trabalhadores devem ser objeto de considerações nas avaliações
de desempenho no trabalho e no trato com os usuários, que este marco possa também vir a
ser um marco fundamental para uma nova racionalização e modernização do transporte
público do Municipio de Manaus e das relações de trabalho. Que o Serviço Social inserido
nas empresas de transportes coletivos, possa ser responsável pelos problemas e pelas
pessoas, voltado para as questões sociais que afetam o cotidiano dos trabalhadores,
considerando que este profissional no exercio de sua função tem um contato mais próximo
com os trabalhadores, além da capacidade de compreender, de programar e administrar
novos padrões de organizações no seu trabalho, possue uma capacitação técnica, e a
capacidade de assimilar rapidamente as condições do sujeito ao problema.
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O estudo teve algumas limitações, primeiro, refre-se a pouca experiencia da pesquisadora
com questões referentes ao critério de seleção da amostra, nota-se que o quantitavivo de
participante foi pequeno em relação a quantidade de motoristas e cobradores associados
na ANAT, o que só foi possivel conhecer quando inicou o levantamento documental.
Porém, acredita-se que os dados sejam relevantes pra mostrar os problemas dectados e
buscar solucioná-los. Segundo, porque a bibliografia relacionada ao assunto é escassa e isso
nos fez recorrer a varias reportagem de jornais para tentar expor problema.
Diante das dificuldades de encontrar trabalhos sobre o assunto, sugerimos que novos
estudos sobre os transportes coletivos principalmente da cidade de Manaus sejam
realizados, ja que ficou evidente que são inumeros os problemas a serem estudados e
debatidos pela sociedade, principalmente no meio cientifico.
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Sensibilização e reflexão sobre o aspecto
profissional através do Psicodrama
SANDRA REGINA PERES
Resumo
Esse trabalho foi desenvolvido em uma empresa nacional no ramo editorial. A empresa
implantou um plano de carreira para seus funcionários em meados de 1996, exigindo-se
alguns requisitos para acesso aos cargos, dentre eles formação acadêmica. Em função disso,
os funcionários demonstraram interesse por investir em suas carreiras profissionais,
principalmente no que se referia à formação acadêmica. Contudo, alguns profissionais
apresentaram dificuldades em optar por cursos em nível superior. Esse Programa surgiu
para suprir as necessidades de alguns funcionários de Recursos Humanos na escolha do
curso superior. O objetivo desse trabalho foi levar os participantes a uma sensibilização e
reflexão sobre o seu desempenho profissional, através de vivências e da experimentação
dos futuros papéis profissionais. A Metodologia utilizada foi: entrevistas pessoais,
utilizando como técnica psicodramática “O Átomo Social”, Questionário de Interesses
Profissionais (LIP), Redações cujo objetivo principal foi da análise grafológica; jogos
Psicodramáticos e Role-playing e vivências. Os resultados foram atingidos entre os
participantes do grupo piloto, pois em média 80% dos orientandos concluíram o programa
com uma profissão definida e os demais tinham material didático e vivencial suficientes
para decidirem sobre a futura profissão. Esse programa atingiu o seu objetivo que era
propiciar uma escolha Profissional consciente baseada na descoberta dos talentos e
potencialidades dos orientandos, enfatizando o mercado de trabalho contemporâneo e a
importância de autogerenciamento da carreira.
Palavras-chave: carreira profissional; escolha de curso superior; orientação profissional;
desempenho profissional; talentos individuais; mercado de trabalho; autogerenciamento da
carreira.
Introdução
Em meados do ano de 1995, em uma empresa do ramo editorial, foi implantado um plano
de carreira para seus funcionários, exigindo-se assim, alguns requisitos para acesso aos
cargos.
Em função disso, os funcionários demonstraram interesse por investir em suas carreiras
profissionais e no que se refere à formação acadêmica. Contudo, alguns funcionários
apresentaram dificuldades em optar por cursos em nível universitário.

Mestranda em Psicologia da Saúde pela Universidade Metodista de São Paulo.
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Este programa surgiu para suprir necessidades de alguns funcionários de Recursos
Humanos na escolha de suas carreiras.
Foi elaborado e implantado o Programa de Orientação Profissional, independente dos
funcionários escolherem profissões nas quais eles poderiam fazer carreira dentro ou fora da
empresa.
O programa visa aprimorar a qualidade de vida e o bem-estar dos funcionários. Para tanto,
foi realizado um projeto deste programa e apresentado para a supervisão da área de
Recrutamento e Seleção e Gerência de Recursos Humanos.
Após aprovação, foi divulgado o programa, sendo marcada uma data específica para
apresentação do mesmo aos funcionários interessados. Essa apresentação foi feita em dois
horários diferentes, para que os setores não ficassem defasados. A duração de cada
apresentação foi de uma hora. Após esta apresentação, os funcionários receberam uma
ficha de inscrição, com prazo de três dias para a entrega, caso tivessem interesse em
participar do Programa de Orientação Vocacional. Nessa apresentação, foi definida qual
era a população a ser atingida e o número de participantes de cada grupo.
Posteriormente foram marcadas entrevistas individuais, a fim de se detectar o real motivo
do interesse do programa e garantir um grupo homogêneo em termos de expectativas,
vivências pessoais. Verificou-se se pessoas tinham condições psicológicas para participar
deste programa.
Nesse segundo momento, o diretor entrou mais profundamente no que envolvia o
programa, salientou que a escolha dependia de cada um deles, por isso a necessidade da
exposição individual que aconteceria diante dos colegas de trabalho.
No trabalho, foi usado um Levantamento de Interesses Profissionais (LIP), somente para
nortear os funcionários, mas o diretor informou que todo o programa seria baseado num
processo de descoberta individual.
Essas entrevistas foram feitas com 16 funcionários e a técnica Psicodramática utilizada foi
o Átomo Social. Após a entrevista foi solicitado aos funcionários que fizessem uma redação
sobre o tema “Quais as suas expectativas com relação ao Programa?” Essa redação teve
como objetivo principal, para o diretor, a análise grafológica, verificando características de
personalidade, bem como: iniciativa, dinamismo, criatividade, disposição para enfrentar
novos desafios e até grau de maturidade pessoal e profissional, para participarem de um
programa como esse dentro da organização, onde trabalham.
Nosso objetivo não foi, de forma alguma, o de expor as pessoas em seu ambiente de
trabalho, e sim facilitar uma escolha profissional madura e consciente, na qual os
orientandos fossem autor de sua escolha, através dos jogos psicodramáticos.
Depois dessas entrevistas foi verificada, pelo diretor, a necessidade de se formar
dois
grupos, uma vez que vários funcionários da mesma área tinham interesse no Programa.
Juntamente com a Supervisão da Área de Recrutamento e Seleção, foi decidido que haveria
dois grupos. Embora fosse interessante que esses acontecessem simultaneamente isso não
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foi possível, devido haver três pessoas da equipe de Recrutamento e Seleção envolvidas no
Programa.
O critério utilizado para a definição do 1o. grupo foi o seguinte:
1.
pessoas que estavam em fase pré-vestibular ;
2.
pessoas que já tinham se inscrito em vestibular;
3.
pessoas que cursavam 1o. ano do nível superior , porém estavam com dúvidas na
escolha do curso;
4.
nos demais casos os próprios funcionários é que decidiam quem iria participar do 1o.
grupo.
Neste momento ficou acordado com os demais funcionários que o 2o. grupo aconteceria
em janeiro de 1997.
É importante ressaltar que, no nosso estudo nos prendemos somente àqueles adultos que já
têm uma atividade profissional dentro de uma organização, mas que, de certa forma,
encontram-se desmotivados, perdidos ou insatisfeitos, buscando uma profissão com a qual
se identifiquem e que, na maioria das vezes, consigam permanecer e desenvolver-se dentro
dessa organização. Mas temos consciência de que quando nos deparamos com dificuldades,
obstáculos e principalmente mudanças, isto amedronta o “ser humano”; cavalgar em terras
desconhecidas requer muita coragem, determinação e abertura para enfrentar o novo, pois
nem sempre encontramos o que imaginamos. A realidade, muitas vezes, é diferente da
fantasia. Por isso, “os participantes que fizeram parte" deste projeto piloto, foram muito
corajosos e persistentes, bem como a equipe que realizou este trabalho inédito dentro da
organização, principalmente num momento como esse em que vivemos; onde o país passa
por tantas crises econômicas, sociais, políticas e culturais, e no qual o conceito da palavra
“trabalho” está mudando. Hoje os valores também estão se alterando e os empresários
estão buscando excelentes profissionais e que sejam consultores externos.
Em função desta nova visão de trabalho é que foi implantado esse programa, buscava-se
que os participantes decidissem sobre suas escolhas profissionais de uma forma mais
autônoma, livre, espontânea e criativa. Para tanto, utilizamos jogos dramáticos, role-playing
e várias vivências. Este trabalho foi realizado em nove sessões, as quais serão descritas no
capítulo III.
1. Histórico da orientação vocacional
A Orientação Vocacional é um tema muito abrangente que recebe várias influências
familiares, sociais, escolares e do meio ambiente.
Essa escolha depende unicamente do
adolescente.
orientando que, na maioria das vezes, é um
Para os adolescentes, o futuro tem uma importância atual-ativa enquanto programa, faz
parte da estrutura de sua personalidade; neste momento não existe ninguém que esteja no
futuro, mesmo que na fantasia do adolescente.
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“Seria necessário, também, incluir a dimensão temporal num modelo dos problemas
vocacionais não somente mudará o adolescente, como também e ao mesmo tempo seu
contexto, numa forma talvez impossível de se prever.
Desta maneira estrutural, poderiam vincular-se melhor muitos termos dispersos que
incidam na orientação vocacional, por exemplo, como o contexto social mais amplo influi
nela.
O sistema de valores, prevalecente em uma determinada comunidade sobre o destino das
pessoas e do peso que tem a educação na posição social de seus membros, determinará o
sentimento e até a existência do campo da Orientação Vocacional. Basta pensar em que
sentido teria a Orientação Vocacional numa estrutura de castas, onde atividades dos filhos
estariam predeterminadas segundo a posição social de seus pais. Ou como pode variar a
orientação vocacional conforme for aplicada numa sociedade de economia planejada e não
planejada.
O contexto social também influi em relação aos sistemas de gratificação. Em termos
bastante gerais, estes se relacionam não só com o nível de receita dos diferentes
profissionais, mas também com outras formas de gratificação que as pessoas possam
encontrar em seu trabalho. Por exemplo, muito adolescentes estabelecem “gosto disso, mas
não quero morrer de fome”, outros querem escolher uma carreira como “trabalho” e
outras como “hobby”. O conflito do primeiro caso e a dissociação do segundo são
peculiares ao adolescente, mas não resta dúvida que expressam uma dissociação existente
nos contextos dos valores sociais mais amplos.
São muitos poucos os indivíduos que podem obter as gratificações que “depositam no
hobby e no trabalho, integrado numa mesma tarefa” (BOHOSLAVSKY, 1977).
“A educação nada mais é do que um meio para aderir a um papel
ocupacional adulto. Receber a instrução, a formação e o enriquecimento
necessários para exercer uma ocupação produtiva dentro da comunidade e
deixar de ocupar, um papel fundamentalmente receptivo, é a função
primordial - nem sempre assumida da educação sistemática”
(BOHOSLAVSKY, 1977).
Análise de vínculos
A orientação vocacional também é influenciada pelos vínculos que o adolescente/adulto
estabelece no decorrer de suas vidas. O fato é que “a escolha sempre se relaciona com os
outros reais ou imaginados. O futuro profissional nunca é pensado abstratamente. Nunca
se pensa numa carreira ou numa faculdade despersonificadas. Será sempre essa carreira ou
essa faculdade ou esse trabalho, que cristaliza relações interpessoais passadas, presentes e
futuras. Devem-se examinar as relações com os outros (membros das famílias, do mesmo
ou do outro sexo, professores, técnicos e chefias). Algumas dessas pessoas podem
influenciar diretamente sobre o futuro de quem escolhe uma profissão (orientando). O
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orientando quer ser como tal pessoa, real ou imaginada que tem tais e quais possibilidades e
atributos que, supostamente, os possuem em virtude da posição ocupacional que exerce”
(BOHOSLAVSKY, 1977) .
A pessoa que escolhe
“Na maioria dos casos, quem escolhe é um adolescente. Torna-se, pois, redundante
estabelecer que por sê-lo, está em idade de experimentar grandes mudanças. Estas são tão
contínuas, tão amplas, tão características da idade adolescente, que fazem pensar num
indivíduo submetido a uma crise contínua” (BOHOSLAVSKY, 1977).
Percebemos que estas mesmas dúvidas imperam nos indivíduos adultos, que no período da
adolescência não decidiram sobre suas profissões ou até aqueles que tomaram decisões
errôneas, muitas vezes baseados em “status”, “poder”, “dinheiro”, etc.
2. Sensibilização e reflexão sobre o aspecto profissional dos funcionários através do
psicodrama
Método
Título do projeto:
Psicodrama
Sensibilização e Reflexão sobre o Aspecto Profissional através do
Unidade funcional
Diretor: Sandra Regina Peres
Ego-Auxiliar: M. S. M.
Observador: J. P.
Objetivos
Objetivo Geral
Levar os participantes a uma sensibilização e reflexão sobre o seu desempenho profissional.
Objetivos Específicos
. Diagnóstico dentro do contexto grupal;
.
Trabalhar com os papéis profissionais, favorecendo a espontaneidade e criatividade;
.
Treinar e adequar às escolhas profissionais;
.
Levar os participantes às escolhas profissionais;
.
Levar os participantes a uma escolha assertiva de sua profissão.
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Justificativa
O trabalho foi escolhido devido à necessidade de orientação vocacional aos seus
funcionários para a definição de suas carreiras.
A orientação vocacional visa a “interface” entre os objetivos pessoais de cada funcionário
e os objetivos da empresa, fazendo um “link” entre o plano de carreira e as necessidades
individuais dos funcionários.
O “projeto piloto”, tem também como objetivo
Psicodramatista da funcionária Sandra Regina Peres.
complementar a formação de
Dados complementares da entidade provedora dessa formação:
Entidade Provedora: ABPS - Associação Brasileira de Psicodrama e Sociodrama.
Curso: Psicodrama Aplicado.
Supervisora Responsável: Madalena Cabral Rehder.
População
Número de Participantes: 09 funcionários
Sexo: Masculino e Feminino
Idade: 18 a 31 anos
Estado Civil: Solteiros, Casados e Separados.
Cargo / Função: analistas de administração de pessoal JR / PL; analista de recursos
humanos JR; assistente de Comunicação; coordenador administrativo; assistente
administrativo; auxiliar Administrativo; recepcionista
Local do estágio
Entidade: Empresa do ramo editorial.
Área de Estágio: Organizacional
Planejamento do programa
Número de Sessões Previstas: 08
Número de Sessões Concluídas: 09
Carga Horária Total Prevista: 20 horas
Carga Horária Total Concluída: 31h30min
Duração das Sessões: 2h à 2h30min
Previsão do Início: 1a. quinzena de Novembro/96
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Previsão do Término: 1a. quinzena de Dezembro/96
Observação: foram realizadas antes do início do Programa, entrevistas individuais com os
interessados. A técnica psicodramática utilizada foi o “Átomo Social”, totalizando 9 horas.
Plano geral
Nesse Programa de Orientação Vocacional, serão utilizadas as técnicas psicodramáticas,
objetivando facilitar a escolha profissional de cada orientando.
As técnicas psicodramáticas utilizadas serão as seguintes:
a) Átomo Social (entrevistas individuais) - “Para Moreno átomo social é a configuração
social das relações interpessoais que se desenvolvem a partir do nascimento. Em sua
origem compreende: a mãe e o filho. Com o correr do tempo vai amamentando em
amplitude com todas as pessoas que entram no círculo da criança, e que lhe são agradáveis
ou desagradáveis e para as quais reciprocamente, ela é agradável ou desagradável. As
pessoas que não lhe causam impressão alguma, nem positiva nem negativa, ficam fora do
átomo social como “menos conhecidos”. É por isso que o “átomo social, tem uma teleestrutura característica, é uma constelação em permanente mudança”. Com efeito, uma vez
que a imagem que o indivíduo tem de si mesmo, suas crenças
e convicções podem
mudar, é preciso levar em conta que a transformação da auto-imagem, das relações que
cada um tem consigo mesmo, podem alterar o átomo social e vice-versa” (GONÇALVES,
WOLFF, CASTELLO, 1988).
Jogos Psicodramáticos - “ No psicodrama o Jogo Dramático apresenta muitas definições e
diversas formas de interpretações. Nos livros e escritos psicodramáticos encontramos duas
direções: uma voltada ao campo terapêutico e outra, ao aplicado. Nosso propósito é
ampliar a conceituação e o uso de jogos dentro deste último campo, embora encontremos
muitos autores que transitam entre eles.
Regina F. Monteiro é a psicodramatista pioneira ao estabelecer de uma forma objetiva,
conceito e aplicações de jogos das mais diversas formas. Segundo ela, “o jogo é uma
atividade que propicia ao indivíduo expressar livremente as criações de seu mundo interno,
realizando-as na forma de representação de um papel, pela produção mental de uma
fantasia ou por uma determinada atividade corporal” (MONTEIRO, 1994).
Silva Junior (1982) define o jogo dramático “como um recurso adequado que se insere na
brecha entre a fantasia e realidade internas do indivíduo para possibilitar-se o exercício da
passagem realidade / fantasia / fantasia / realidade... livre e espontaneamente”.
Motta (1994) afirma que “o jogo é a ação da realidade suplementar, onde a unidade criativa
pode estar presente”. Cita ainda que o jogo em si é um instrumento rico em possibilidades.
A mão humana que lhe dá a direção é que define a ética do seu uso. “Ter conhecimento
implica a responsabilidade no uso do saber”.
Rodrigues (1994) considera que um jogo é dramático porque o prazer e a diversão se
originam fundamentalmente da representação. Ainda que o jogo possa envolver
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competição, acaso ou habilidade, o foco do prazer do jogo dramático não está em
competir, ter sorte ou acertar”. Afirma ainda que o jogo dramático, como qualquer outro,
tem o objetivo de brincar, expandir, relaxar e obter prazer”. Já Castanho (1990) afirma que
“jogo dramático, portanto, difere de outros jogos por acontecer no contexto dramático e,
além disso, por envolver os participantes, emocionalmente, na atividade de expressar as
criações de seu mundo interno”.
O jogo dramático está inserido na Teoria do Psicodrama, diferenciando-se do termo “Jogos
Dramáticos” utilizado no Teatro com o objetivo de desenvolver somente o papel de ator.
Além disso, os conflitos emergem em detrimento dos objetivos e critérios estabelecidos
pelo diretor e estes, são trabalhados. Elas são a diferença vital, ou seja, é jogo porque
promove o lúdico, é o dramático pela proposta em trabalhar os conflitos que surgem.
Conflitos estes que, no nosso enfoque, restringem-se somente ao papel profissional e aos
objetivos propostos pelo diretor.
Se considerarmos, por exemplo, o desenvolvimento do papel de gerentes numa empresa,
que têm por critérios e objetivos a liderança, poderemos encontrar indivíduos que
demonstrem dificuldades de ordem pessoal. O jogo dramático, neste caso, revela-se um
instrumento com muitos recursos e extremamente eficiente, podendo aflorar tais
dificuldades. Compete ao diretor trabalhar somente o seu papel profissional, limitando-se a
avaliar e/ou denunciar tais aspectos.
Outra característica fundamental, tanto para o diretor como para os participantes, é a
importância do conceito de espontaneidade proposto por Moreno, que é “a resposta de um
indivíduo ante uma situação nova e a nova resposta a uma situação velha, pois o homem a
bloqueia em função das regras e normas sociais ou condicionamentos (MORENO, 1978).
Com isto, não há possibilidade de criar, ele perde esta capacidade através dos modelos
anteriores preestabelecidos, que são apresentados no decorrer de sua vida.
O jogo dramático leva o indivíduo a soltar-se, liberar sua espontaneidade e criatividade, ou
seja, é “um meio de desentorpecer o corpo e a mente dos condicionamentos da vida atual”
(BOAL, 1993), não permitindo a massificação dentro das conservas culturais.
"Além disso, é preciso que esteja em campo relaxado para jogar, pois crescem as
possibilidades de relações que permitem ao indivíduo alcançar uma solução de seus
conflitos” (MONTEIRO, 1993, p.211) isto é, havendo ampliação do campo relaxado,
diminui-se o ponto fixo de tensão. O indivíduo em campo tenso impede esta ampliação de
respostas.
O conceito de campo relaxado e campo tenso foi introduzido por Bally. Exemplificando,
podemos emitir um foco de luz sob um prisma num único sentido e obteremos um feixe
direcional, ou seja, produzimos uma resposta limitada, concentrada (campo tenso). Se, no
entanto, alterarmos a direção deste foco, as possibilidades aumentam a cada mudança,
permitindo maior amplitude de respostas e uma visão mais global desse prisma (campo
relaxado).
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Um dos objetivos, portanto, é o de criar um campo relaxado, desenvolvendo uma liberdade
de ação e atuação dos indivíduos, possibilitando o resgate de sua espontaneidade criativa.
Nas empresas e instituições em geral, o primeiro contato com um grupo gera campo tenso.
É a expectativa do que está por vir. Em situações como esta, podemos aplicar jogos
infantis adaptados, de apresentação e/ou sensibilização com o objetivo de produzir campo
relaxado, pois sem isso não haverá possibilidade de obter bons resultados. O resgate do
lúdico confere aos participantes uma predisposição para jogar e, conseqüentemente, a
diminuição de suas resistências para o desenvolvimento do trabalho em si.
Outro fator relevante é a forma da comunicação. Estamos habituados e condicionados a
verbalizar, a racionalizar nossas emoções. Com o jogo dramático podemos utilizar a
comunicação não-verbal, propiciando uma leitura mais precisa do indivíduo. Contrapõe-se,
neste aspecto, a diferença entre seu falar e agir. Waltzlawick (1981, p.61) a define da
seguinte forma: “A linguagem dígita é uma sintaxe lógica sumamente complexa e poderosa,
mas carente de adequada semântica no campo das relações, ao passo que a linguagem
analógica possui a semântica, mas não uma sintaxe adequada para a definição não-ambígua
da natureza das relações.”. Em outras palavras, é necessário que haja uma fusão, uma
complementaridade coesa nessa díade.
b) Role-Playing do Papel Profissional - o “Playing Role” preocupa-se com o desempenho
do papel, e aqui a finalidade é a percepção objetiva dos sentimentos e das atitudes dos
outros, que desempenham o contrapapel”, e a resposta mais apropriada à situação.
O termo role-playing deve ser diferenciado segundo sua utilização em sentido lato ou
estatuto. Em senso lato, a expressão refere-se ao jogo de papéis, representação teatral e,
portanto, está presente nas várias formas de abordagem socionômica. Em senso estrito roleplaying relaciona-se a uma das etapas de estruturação do papel (entre role-talking e role-creating),
e também ao jogo de um certo papel e seu “contrapapel” dentro de um currículo
específico. Por exemplo, role-playing da relação médico e parente.
A finalidade do jogo psicodramático de papéis (role-playing) é proporcionar ao ator uma
visão dos pontos de vista de outras pessoas, ao atuar no papel de outras, ou seja, em cena
seja na vida real.
O role-playing é um método de interação humana que implica o comportamento realista em
situações imaginárias.
A expressão “intérprete de papéis” (role-player) é uma tradução literal da palavra alemã
rollenspieler, inicialmente utilizada por Moreno.
Existe uma diferença entre tomada ou aceitação do papel (o fato de aceitar um papel já
pronto e inteiramente constituído, que não permite à pessoa a menor fantasia com o texto
estabelecido); o desempenho do papel (que tolera certo grau de liberdade); e a criação do
papel (que deixa ampla margem à iniciativa do ator, como é o caso do ator espontâneo).
Teremos então, o receptor de papéis, o intérprete de papéis e o criador de papéis.
Chamamos de role-talking o processo de tomar ou aceitar um papel, desempenhando-o de
forma convencional, sem nele colocar muitas características pessoais. Já o desempenho de
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papel, feito com certo grau de liberdade, é chamado, como vimos, de role-playing. Tomar um
papel social é convertê-lo em psicodramático, como acontece quando um indivíduo utiliza
duas espontaneidades, é o processo chamado de role-creating” (MONTEIRO, 1993).
Essas técnicas foram empregadas para facilitar a escolha dos orientandos. As entrevistas
individuais foram realizadas utilizando-se a técnica do átomo social, pois trabalhamos com
todos os papéis desempenhados pelos orientandos. Nesta técnica o diretor entregou aos
orientandos uma folha de papel sulfite e deu à seguinte consigna:
Com o material disponível (etiquetas coloridas autocolantes e clips coloridos), vocês
devem se colocar nessa folha de sulfite, bem como todos os papéis que desempenham
diariamente. "Os papéis que são desempenhados diariamente em suas vidas, coloquem
mais perto e os menos frequentes, mais distantes”.
Após o orientando ter realizado o átomo social, o diretor inverte os papéis. Ex: O que o L.
tem a falar para o papel de filho? Posteriormente invertem-se os papéis, até que ele
converse com todos os seus papéis, também ocorrendo à inversão de papéis.
Os jogos dramáticos também fizeram parte das técnicas psicodramáticas escolhidas pelo
diretor, pois, através delas, o orientando pode experimentar por meio do lúdico, o
desempenho de alguns papéis que eles ainda não desenvolveram em suas vidas. Podem
também tornar-se mais espontâneos e criativos para que dessa forma possam jogar no
“como se”.
Finalmente utilizamos o role-playing a fim de facilitar aos orientandos o “experimentar”
através da ação, os papéis profissionais que poderiam ser escolhidos por eles futuramente.
Para tanto, o diretor forneceu aos orientandos duas situações (role-playing); previamente
estabelecidos, com profissões escolhidas por eles, através do LIP (Levantamento de
Interesses Profissionais). O último role-playing foi elaborado pelo próprio grupo e cada
orientando decidiu qual papel profissional desempenharia durante esse role-playing.
Além dessas técnicas psicodramáticas serão utilizados:
.
Questionário de Levantamento de Interesses Profissionais;
.
Material Didático, para pesquisa das profissões em decorrência de interesses
individuais. Esse material tem por objetivo aumentar o conhecimento da atuação
profissional de cada orientando;
.
Realização de trabalhos em grupos, bem como criação de personagens através de
sucatas e jornais.
Esse programa de Orientação Vocacional baseia-se na ação e na prática onde através de
simulações, os orientandos poderão tomar uma decisão mais efetiva.
3. Relatórios das sessões
As sessões foram elaboradas respeitando o momento do grupo, sendo que esta
programação pode variar de grupo para grupo. É traçado um esquema de trabalho que
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atenda às necessidades e interesses emergentes do grupo. Todas as sessões têm seus
objetivos específicos e compõem-se de três partes:
. Aquecimento;
. Jogos dramáticos;
. Role-Playing;
. Comentários.
Cada sessão de psicodrama consta de:
a)Três contextos
. Contexto Social: É constituído pela realidade social tal “como é”; pelo tempo
cronológico. Das folhinhas e relógio, e pelo espaço concreto, geográfico. Cada
comunidade ou sociedade tem características próprias, antropológicas, culturais,
econômicas e políticas; daí resultam as leis, as normas e regras que regulam e
disciplinam. Muitas informações, relatos e vivências de clientes referem-se ao meio
social de onde provêm. Também os primeiros papéis do sujeito, pertence ao contexto
social, bem como o seu “Átomo Social”.
.
Contexto Grupal: É constituído pela realidade tal “como é”; pelo tempo cronológico
dentro de um intervalo previamente estabelecido e combinado, e pelo espaço
concreto, que pode ser escolhido e delimitado. Contexto grupal psicodramático
pressupõe uma estrutura desvinculada de modelos controladores, coercitivos e
destrutivos. O grupo, em seu contexto, pode representar a “miniatura” ora de família,
ora de uma sociedade, ou ainda, constitui-se como uma nova Matriz de Identidade.
.
Contexto Dramático: É constituído pela realidade dramática no “como se”, pelo tempo
fenomelógico subjetivo e espaço também fenomenológico, virtual construído sobre o
espaço concreto, devidamente marcado. Para a compreensão fundamental deste
contexto, é preciso lembrar que nele tudo ocorre no “como se fosse” do imaginário e
da fantasia.
b)Três etapas:
. Aquecimento: Momento em que se dá a escolha do protagonista e a preparação para a
dramatização. Temos dois tipos de aquecimento inespecífico e específico.
.
Dramatização: “Nessa etapa é que se dá a ação dramática propriamente dita. O
protagonista, já devidamente aquecido, começa a representar, no contexto dramático,
as figuras de seu mundo interno, presentificando seu conflito no cenário”
(GONÇALVES, et. al. 1988).
.
Compartilhar: Nesta etapa cada elemento do grupo pode expressar, em primeiro lugar,
aquilo que o tocou e emocionou na dramatização, os sentimentos nele despertados e
também sua própria vivência de conflitos semelhantes. Em seguida são feitos outros
comentários a respeito da cena a que assistiu. Ao solicitar o “compartilhar”, o diretor
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faz com que cada indivíduo também se exponha e fique em igualdade de condições
com o protagonista” (GONÇALVES, et. al. 1988). No final de cada sessão, ocorre o
“compartilhar” das experiências e vivências do grupo, onde cada participante expressa
seus sentimentos e emoções. O diretor correlacionava com o que era levantando, com
as expectativas dos participantes em relação ao programa. Esse “Feed-Back” do grupo é
que norteava o diretor para prosseguir o que havia sido estabelecido ou fazer mudanças
no programa.
c) Cinco instrumentos:
. Público ou Platéia: “É o conjunto dos demais participantes da sessão psicodramática".
.
Protagonista: Sujeito que emerge para a ação dramática, simbolizando os sentimentos
comuns que permeiam o grupo, recebendo por parte deste a aquiescência para
representá-lo, a partir da dinâmica sociométrica (GONÇALVES, et. al. 1988).
.
Diretor ou Facilitador: “É o terapeuta que coordena a sessão. Exerce três funções: diretor
da cena propriamente dita, terapeuta do protagonista e do grupo e analista social. O
diretor promove o aquecimento, aguça sua sensibilidade para procurar, juntamente com
o protagonista e os egos-auxiliares, a melhor direção para a encenação do drama,
mantendo o “tele”1 com o público. Como terapeuta está atento a sua interação com o
protagonista e aos sentimentos, emoções e pensamentos que ocorrem na inter-relação.
Como analista social, juntamente com os egos-auxiliares, comenta com o protagonista,
na fase do compartilhar, ou no momento que lhe parece oportuno, o que compreendeu
da situação vivida em cena” (GONÇALVES, et. al. 1988).
.
Ego-Auxiliar: É o terapeuta que interage em cena com o protagonista. Também tem
função tríplice as quais descreveremos a seguir:
Ator - representa Papéis
Terapeuta - facilita a catarse e “Insights” no protagonista
Observador Social - observa as inter-relações da micro - sociedade reproduzida em
cena do ponto de vista de alguém que dela participa.
.
Cenário: É um espaço multidimensional “projetado de acordo com as necessidades
terapêuticas”.
Relatório da 1ª Sessão
duração: 15 h às 17 h 45 min.
número de presentes: 09
tele: capacidade de se perceber de forma objetiva o que ocorre nas situações e o que se passa entre as
pessoas.
1
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Objetivo da sessão:
. Integrar os componentes do grupo.
.
Levantar as Expectativas
.
Estabelecer o contrato com os funcionários
.
Aplicar um Inventário de Interesses (LIP)
.
Sensibilizar para a necessidade de que o processo decisório depende do
comprometimento e desvencilhamento das conservas culturais
Tabela 1. Cronograma de atividades da 1ª sessão
ATIVIDADES
1. Levantamento de Expectativas / Correlação com o objetivo
do Programa.
2. Contrato
3. Jogo das Sensações
4. Jogo de Apresentação
Elaboração
Apresentação 5 minutos para cada grupo
5. Teste LIP
6. Comentários
Tempo Total
TEMPO DE
DURAÇÃO
10 min
10 min
10 min
35 min
10 min
25 min
40 min
10 min
2 h30min
Aquecimento
Aquecimento Inespecífico: Jogo das Sensações (Parte I)
Aquecimento Específico: Jogo das Sensações ( Parte II)
Jogo das sensações
Consigna (Parte I): Vocês deverão andar pela sala descontraidamente. Depois, o diretor
deverá dar a seguintes instruções: Vocês deverão andar no frio, no quente, na linha do
trem, no algodão, nas pedras, na areia do mar e no mar. Vocês deverão andar nas pontas
dos pés, com o calcanhar, com o lado do pé, com a parte de dentro do pé, com os pés para
dentro.
Consigna (Parte II): Para finalizar, o diretor deverá pedir para os participantes que
comecem perceber o ambiente a sua volta, comecem a se olhar, a sorrir a se despedir do
outro. Comecem agora a pensar, quais seriam as pessoas que vocês escolheriam para
realizar uma atividade em grupo. Agora vocês deverão se reunir em grupo de três pessoas.
Jogo de apresentação
Consigna: Vocês deverão se subdividir em grupos de duas ou três pessoas, dependendo do
tamanho do grupo. Imaginem uma situação qualquer, na qual vocês estejam juntos e se
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apresentem. Nessa apresentação vocês deverão abordar: nome; idade; departamento onde
trabalham; do que mais gostam e do que menos gostam de executar na atividade atual;
quais as profissões que vocês gostariam de seguir e por quê?
Desenvolvimento da sessão: a sessão iniciou-se, com a retomada das expectativas dos
funcionários com relação ao programa. Foi solicitado que as pessoas falassem quais eram as
suas expectativas e o Ego-auxiliar foi colocando no “Flip-Chart”. O Diretor correlacionava
com o objetivo do programa aproveitando neste momento para reforçar o que havia sido
explanado na sua apresentação e nas entrevistas individuais.
O diretor achou importante retomar esse assunto, pois era a oportunidade de, em grupo,
aparar as arestas e algumas possíveis dúvidas, que eventualmente pudessem ter
permanecido com relação ao programa. Também foi uma técnica para chamá-los para uma
co-participação e co-responsabilidade, em seus processos decisórios.
Posteriormente, o diretor introduziu o contrato que foi bem mais abrangente e profundo,
devido ao fato de conhecermos bem a população com a qual estávamos trabalhando. Este
contrato também teve por objetivo especificar as mudanças de papéis tanto dos
participantes como da equipe responsável pelo projeto. Uma vez, que a mesma faz parte do
setor de recrutamento e seleção, nas quais eram duas Analistas de RH e a Supervisora do
Departamento. Dentre os participantes três pessoas faziam parte dessa equipe de
Recrutamento e Seleção. Nesse momento, o diretor tentou deixar clara a mudança dos
papéis sociais, a fim de tranqüilizar os participantes.
Nesse contrato foram abordados os seguintes itens: objetivo, número de sessões, duração
da sessão, calendário, horário, metodologia, sigilo, foco nos aspectos profissionais,
dificuldades individuais, compromisso do grupo quanto à assiduidade e pontualidadem,
respeito com o colega de trabalho, não misturar “papel desempenhado no grupo” com o
“papel profissional”
Posteriormente, foi introduzido o Jogo das Sensações e apresentação. Para finalizar, o
Diretor aplicou um Inventário de Interesses, que é o Levantamento de Interesses
Profissionais (LIP).
Comentários do grupo: o grupo colocou que esse 1o. encontro foi muito bom para
tranqüilizá-los e diminuir a ansiedade, e estavam mais confiantes com relação à proposta do
Programa.
Leitura grupal: foi percebido que as pessoas ainda estavam meio apreensivas quanto ao
Programa e que estavam procurando identificar-se nesses novos papéis, que eram
diferentes dos vividos no seu dia-a-dia de trabalho. Mas apesar disso, elas estavam mais
confiantes e pré-dispostas a participar do Programa de Orientação Profissional.
Avaliação do diretor e da equipe responsável (unidade funcional): nesse primeiro
encontro, os participantes estavam, ainda, um pouco resistentes quanto ao programa, mas
os jogos facilitaram uma certa espontaneidade.
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Percebeu-se que o grupo estava na primeira fase da Matriz de Identidade, onde as pessoas
sentavam de acordo com suas proximidades ou afinidades.
A maioria delas teve dificuldade de expressar-se na atividade atual que mais gostam e
menos gostam de fazer principalmente no que se refere à segunda.
O diretor percebe que essa situação é bastante desconfortável para a maioria dos
componentes do grupo.
Relatório da 2ª sessão
duraçaõ: 15h ás 17h30min
número de presentes: 09
Objetivo da sessão:
. Propiciar a reflexão sobre as profissões;
.
Facilitar o reconhecimento do Eu;
.
Sensibilizar os participantes para o aprimoramento da auto-percepção.
Tabela 2. Cronograma das atividades da 2ª sessão
ATIVIDADES
1. Resgate da Sessão Anterior
2. Leitura e Reflexão das Profissões levantadas através do
LIP
2.1.
Verificação
das
profissões
dos
Colegas
(Semelhanças/Diferenças)
2.2. Comentários
2.3. Escolha do Orientando das 5 Profissões
3. Colagem de Profissões/Mímica das profissões 3 minutos, para
cada participante.
4. Relaxamento
5. Apresentação dos participantes como profissionais, 2o. o Lip.
Cada participante terá 3 minutos para apresentar-se.
6. Comentários
7. Fechamento/Encerramento
TEMPO TOTAL
TEMPO DE
DURAÇÃO
5 min
5 min
5 min
5 min
10 min
1h10 min
15 min
45 min
10 min
5 min
2h45min
Jogos
Colagem das profissões
Consigna: O diretor recolheu as cinco profissões escolhidas pelos orientandos,
embaralhou e pediu para que pegassem uma, mas eles não poderiam ver a profissão
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sorteada. O diretor colou essa profissão nas costas de cada um. Posteriormente foi
solicitado que andassem pela sala, e que verificassem quais eram as profissões de seus
colegas. Os participantes não poderiam revelar as profissões afixadas nas costas de cada um
deles. Quando todos os participantes já tinham visto as profissões de todos os seus colegas,
foi solicitado que eles se sentassem e o diretor pediu um voluntário para iniciar o jogo.
Então, M foi o voluntário e o diretor perguntou ao grupo quem gostaria de representar
através de mímica a profissão afixada nas costas de M, a fim de que ele tentasse descobri-la.
Esse procedimento foi realizado com todos os participantes.
Observação: Todos os participantes conseguiram identificar as profissões afixadas em suas
costas, não havendo necessidade de interferências do diretor.
Relaxamento
Consigna: Vocês devem relaxar, sentir a respiração, partes de tensão, dedos dos pés,
tornozelo, pernas, joelho, coxas, órgãos genitais, abdômen, barriga, tórax, ombros,
pescoço, musculatura da face, boca, nariz, olhos, testa, orelha. Agora vocês sentem uma
agradável sensação fluindo por todo seu corpo. Imaginem essa profissão que saiu em suas
costas. Pensem no perfil desse profissional.
.
Quais características que você tem e que esse profissional necessita possuir?
.
Vocês devem se imaginar trabalhando nessa profissão. Quais seriam os lugares onde
vocês estariam trabalhando como profissional desta área?
.
Com quais pessoas vocês estariam trabalhando?
.
Com quais profissionais vocês estariam interagindo?
.
Apresentação dos participantes como profissionais: vocês deverão se apresentar como
se fossem o profissional que imaginaram durante o relaxamento.
Aquecimento
Aquecimento Inespecífico: O diretor fornece aos participantes um envelope com as várias
profissões que foram levantadas através do LIP(*). O diretor solicita aos participantes que
coloquem a sua frente todas as profissões levantadas no LIP. É solicitado que eles
observem atentamente as profissões, refletindo em que elas têm a ver com eles. Verifiquem
se a(s) profissão (ões), que vocês acreditam estarem interessadas aparece no meio dessas. O
diretor salienta que os participantes não conversem.
Aquecimento Específico: Posteriormente, foi solicitado aos participantes que escolhessem
as profissões de acordo com as suas preferências dentre aquelas que foram levantadas no
LIP. Estas cinco profissões é que serão trabalhadas durante os encontros seguintes. O
diretor, após essa seleção (na qual cada elemento estabelece um critério para a escolha das
cinco profissões), solicita que os participantes levantem e observem as escolhas de todos os
outros componentes do grupo. Percebam no que elas se assemelham e diferem das suas.
Nesse momento, o diretor tem por objetivo que os participantes comecem a reconhecer a
si mesmo e o outro, pois eles se encontram na 1a. fase da matriz.
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Desenvolvimento da sessão: a sessão iniciou-se com o resgate da sessão anterior,
percebeu-se que os participantes não queriam se colocar, por isso, não trouxeram muitas
contribuições.
O diretor respeitou o momento do grupo, então, falou sobre as atividades do encontro
desse dia. Os participantes ficaram muito interessados no resultado do LIP2. O diretor
advertiu que nesse Levantamento de Interesses Profissionais, o resultado é dado por áreas e
devido a esse fato tinham saído tantas profissões.
A seguir para efeito didático, descreveremos as áreas segundo o LIP:
1. CF : Ciências Físicas
2. CB: Ciências Biológicas
3. C : Calculísticas
4. P : PersuasivasBA: Administrativas
5. S : Sociais
6. L : Lingüísticas
7. A : Artísticas
Dentre essa gama de profissões, os participantes escolheram cinco com as quais
trabalhariam até o final do Programa de Orientação Vocacional.
Para efeito de esclarecimento dos leitores, as profissões as quais
escolhidas, encontravam-se dentre as fornecidas pelo LIP.
acreditavam ser
A seguir, descreveremos as profissões escolhidas pelos orientandos.
M: Comunicação, Publicidade e Propaganda, Engenharia Técnica de Alimentos,
Engenharia Eletrônica e Turismo.
C: Publicidade e Propaganda, Relações Públicas, Turismo, Administração de Empresas e
Comércio Exterior.
AJ. Comunicação, Relações Públicas, Turismo, Serviço Social e Publicidade e Propaganda
I: Psicologia, Arquitetura e Urbanismo, Pedagogia, Serviço Social e Letras
AC: Arquitetura e Urbanismo, Sociologia, Tradutor Intérprete, Música e Psicologia
R: Publicidade e Propaganda, Comunicação, Relações Públicas, Direito e Psicologia
K: Direito, Relações Públicas, Professorado, Diplomacia e Turismo
L: Biologia, Psicologia, Farmácia e Bioquímica, Veterinária e Zootecnia
F: Psicologia, Orientador Educacional, Sociologia, Jornalismo e Direito
2 LIP: Levantamento de Interesses Profissionais.
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A seguir o diretor utiliza-se do jogo dramático da Mímica das Profissões. Posteriormente
foi utilizado o Relaxamento e em seguida a Apresentação dos Participantes como
Profissionais.
Comentários do grupo: o grupo considerou boas essas atividades. A maioria gostou do
relaxamento, pois conseguiram se identificar com as profissões.
Alguns componentes não conseguiram se colocar nas profissões sorteadas, e sim nas quais
gostariam de seguir.
Como foi o caso do AC, a profissão sorteada foi Arquitetura e Urbanismo, pensou em
Sociologia e posteriormente, viu-se num consultório como Psicólogo Clínico. Na última
profissão, sentiu-se melhor.
O L teve a profissão sorteada Biologia, mas no decorrer do exercício, atuou nas diferentes
profissões. Relatou que teve dificuldade para realizar o relaxamento e disse ter dormido.
Leitura grupal: foi percebido que a atividade de relaxamento tranqüilizou os
participantes, pois esses vêm ao programa apreensivos, o que é normal, pois todos nós
sentimos medo do desconhecido, do novo e das mudanças.
O diretor informou a inexistência de problemas às pessoas que não definiram suas
profissões, pois o programa estava no começo, sendo que elas têm muito tempo para
chegar a uma conclusão. Cada pessoa tem o seu ritmo próprio e vamos respeitá-lo.
O diretor percebeu que alguns papéis se misturam porque é assim que eles estavam se
sentindo, apresentaram também dificuldade de deixar de lado o papel profissional que
desempenham diariamente.
Os demais componentes tiveram facilidade para fazer o exercício. Todos disseram que
gostaram muito da técnica e gostariam que tivesse mais relaxamentos nos próximos
encontros.
Todos, afirmaram que foi um encontro mais tranqüilo, e que estavam sentindo maior
confiança no Programa e no diretor.
Avaliação do diretor e da equipe responsável: percebeu-se que nesse segundo encontro,
os participantes já estavam mais relaxados e mais confiantes na Equipe Responsável.
Porém, ainda tinham receios e dúvidas quanto ao desconhecido. Devido a isso, algumas
pessoas dormiram e misturaram os papéis, esses relatos demostraram como alguns
participantes estão se sentindo (confusos, com medo, com dificuldade de assumirem esses
novos papéis, medo das mudanças e do desconhecido).
O grupo ainda se encontra na 1a. Fase da Matriz, buscando reconhecimento do Eu.
As pessoas, ainda, estabelecem uma rede sociométrica de acordo com os vínculos
existentes em ambientes de trabalho.
Percebe-se que eles necessitam da aprovação de algumas estrelas.
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Existem 02 estrelas sociométricas no grupo. Uma “estrela” exerce um poder positivo
sobre o grupo e a outra “estrela” não tem tanta aceitação sobre o grupo, mas é crítica,
questionadora e argumenta com coerência e consistência. Embora essa 2a. exerça um
poder negativo dentro do grupo. Devido às características acima salientadas, ela acaba
exercendo o poder sobre algumas pessoas do grupo.
Relatório da 3ª sessão
duração: 15h às 16h50min
número de presentes: 09
Objetivo da sessão:
. Propiciar uma reflexão sobre a atuação profissional do presente e do futuro.
.
Concretizar essa reflexão a fim de que os orientandos estabeleçam uma relação entre a
fantasia e a realidade.
Tabela 3. Cronograma de atividades da 3ª sessão
ATIVIDADE
1. Jogo de Aquecimento “Carinha no dedo indicador”
2. Comentários
3. Resgate da Sessão Anterior
4. Elaboração: “O que eu sou hoje profissionalmente e o que
imagino ser no futuro”.
5. Apresentação da construção “O que eu sou hoje
profissionalmente e o que imagino ser no futuro”.
6. Comentários
7. Jogo do Andar / Ritmo
8. Comentários
9. Fechamento / Comentários
TEMPO TOTAL
TEMPO DE
DURAÇÃO
20 min
10 min
10 min
10 min
45 min
10 min
30 min
10 min
20 min
2h45 min
Jogos
Carinha no dedo indicador
Consigna: Vocês deverão desenhar uma “carinha” no dedo indicador para expressar como
estão se sentindo, por exemplo: triste, preocupado, indiferente, ansioso, alegre, com raiva,
frustado, com medo. Após a elaboração das “carinhas”, o diretor pede aos participantes
que se levantem e circulem pela sala mostrando a sua “carinha” para as outras pessoas,
inicialmente sem o verbal. Posteriormente, deve-se colocar o verbal. Cada participante dirá
para o outro como está se sentindo, criando um diálogo entre as “carinhas”.
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O que eu sou hoje profissionalmente e o que imagino ser no futuro
Consigna: Pensem em como vocês são hoje profissionalmente, e o que imaginam ser no
futuro. Vocês deverão, individualmente, confeccionar com este material disponível, como
se sentem profissionalmente hoje e o que imaginam ser no futuro. Procurem escolher a
profissão na qual têm maior interesse. Para aqueles cuja opção ainda não está clara,
escolham uma das cinco, de preferência diferente daquela que foi trabalhada no encontro
anterior. Pensando no futuro, como vocês se vêem profissionalmente? Quais são seus
medos, anseios, expectativas, sonhos e frustrações com essa futura profissão?
Andar em duplas
Consigna: Vocês deverão andar em duplas com um pé grudado no pé do colega. Andem
para todos os lados da sala, percebam como é o ritmo do outro. Tentem perceber se
quando vocês trocam de parceiro existe alguma diferença.
Observação: O diretor pede para trocarem de par, até que os orientandos tenham feito o
exercício com todo o grupo.
Aquecimento
Aquecimento Inespecífico: Jogo das carinhas no dedo indicador
Aquecimento Específico: Jogo de como eu sou hoje profissionalmente e o que imagino que
ser no futuro.
Desenvolvimento da sessão: a sessão foi iniciada com o jogo de Aquecimento das
“carinhas no dedo indicador”, percebeu-se que a maioria dos componentes do grupo estava
preocupados, indiferentes, ansiosos e cansados.
O diretor tentou verificar porque os componentes, estavam sentindo-se desta forma, mas
os mesmos não conseguiram verbalizar. Contudo, os componentes confirmaram que não
havia nenhum motivo aparentemente específico, para que eles estivessem com esses
sentimentos.
Os participantes disseram que o encontro anterior foi bom e que gostaram do relaxamento.
Mas alguns perguntaram se teria relaxamento neste encontro. O diretor, rapidamente, falou
sobre o que aconteceria neste dia e iniciou os trabalhos. Posteriormente o diretor aplicou o
jogo “carinha no dedo indicador”, “Como sou hoje profissionalmente e o que imagino que
ser no futuro” e o jogo “Andar em duplas”.
Observação: o encontro teve que ser reduzido, devido a forte carga emocional negativa
do grupo. O diretor compartilhou com o grupo se eles queriam parar e os mesmos
disseram que sim. Os componentes só falavam que não estavam conseguindo se fixar no
“Aqui e Agora”. O diretor falou que ele tinha programado outras atividades, mas que
ficaria a critério do grupo dar continuidade ou não ao encontro. O grupo teve muita
dificuldade em expressar o que estava sentindo, porém achava que qualquer outra atividade
não seria produtiva. O diretor respeitou o grupo, pois ele estava num momento de
ensimesmamento, sem condições e vontade de falar ou fazer qualquer outra atividade.
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Comentários do grupo: o grupo considerou que a sessão tinha sido difícil e não sabia o
porquê, mas estava cansado e desgastado. A maioria dos participantes não gostou desse
encontro.
Leitura grupal: o diretor percebeu que o grupo ficou muito apreensivo com o jogo de
aquecimento “carinha”, devido às dificuldades internas dos componentes. Mas foi muito
importante à leitura do diretor após os comentários dos participantes, pois estes ficaram
mais reflexivos e introspectivos.
O diretor informou que naquele momento, eles estavam percebendo a responsabilidade do
processo decisório, e percebiam que a cada encontro eles tinham que se expor mais e que
esta escolha dependia somente deles, que o programa estava baseado no autoconhecimento a fim de propiciar um auto-descobrimento e que ninguém poderia ajudálos, somente apoiá-los nesse momento difícil. O diretor salientou o quanto a sessão era
difícil para eles, uma vez que a equipe responsável era de Recrutamento e Seleção,
principalmente no momento em que vivíamos dentro da organização.
O setor de RH está passando por Revisão de Processo, as pessoas estão se sentindo
preocupadas e inseguras.
Novamente o diretor retomou o papel da Equipe, falando que o programa nada tinha
relação com o Plano de Carreira da empresa. Este programa é voltado para escolha,
unicamente, dos funcionários. O diretor relembrou a confidencialidade do que era
trabalhado nesses encontros.
O grupo ficou em silêncio olhando para o diretor, mas ninguém se manifestou nem mesmo
para concordar ou discordar do que havia sido explanado.
Avaliação do diretor e da equipe responsável: o diretor percebeu que o grupo estava
muito preocupado e apreensivo, devido não saber muito bem o que iria acontecer.
Percebeu-se que o grupo não conseguiu deixar a criatividade e a espontaneidade fluírem, as
pessoas estão bastante presas aos seus papéis profissionais desempenhados dentro da
organização.
Ainda preocupam-se com seus colegas, procuram aprovações entre eles. Alguns devido à
grande dificuldade de “Reconhecimento do Eu”, acabam brincando durante as atividades.
Contudo, nos comentários eles se apercebem e dizem que sentem que está muito difícil. O
diretor salienta que tudo tem o seu momento, que devemos respeitar o nosso ritmo e que
cada um tem o seu ritmo interno.
Posteriormente ele aplica o jogo do andar em duplas, a fim de proporcionar a relação de
corredor. Somente pede que andem em duplas devido o grupo encontrar-se ainda na um 1
a. Fase da Matriz e iniciando a 2a. Fase da Matriz de Identidade.
Percebe-se que alguns elementos não saíram da 1a. Fase da Matriz, enquanto outros estão
iniciando a 2a. Fase da Matriz de Identidade. Em decorrência deste desequilíbrio do grupo
no exercício da “carinha no dedo indicador” o grupo retornou ao Caótico e Indiferenciado.
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Relatório da 4ª sessão
duraçaõ: 15h ás 17h50min
número de presentes: 09
Objetivo da sessão:
. propiciar o conhecimento teórico de cada profissão, através do material fornecido.
Tabela 4. Cronograma de atividades da 4ª sessão
ATIVIDADES
1. Aquecimento: Jogo dos Pássaros
2. Resgate da Sessão Anterior
3. Pesquisa das Profissões - FIP do CIEE. (05 profissões
escolhidas)
4. Entrega questionário para levarem para casa e refletirem
5. Leitura do questionário
6. Levantamento de dúvidas sobre os cursos e profissões
7. Fechamento / comentários
TEMPO TOTAL
TEMPO DE
DURAÇÃO
10 min
10 min
40 min
50 min
10 min
25 min
10 min
2h3 5min
Jogos
Jogo dos pássaros
Consigna: O diretor solicita que os componentes sentem em círculo e depois conta uma
história. Cada vez que mencionar o nome de um pássaro, todos devem erguer a mão direita
e fazê-la flutuar, imitando um pássaro em vôo. Se mencionar um grupo de pássaros, ambas
as mãos deverão flutuar. Se mencionar um animal que não voe, deverão ficar imóveis, com
as mãos sobre os joelhos. Quem errar sairá do jogo, porém ficará no grupo auxiliando na
fiscalização dos outros.
Aquecimento
Aquecimento Inespecífico: Jogo dos Pássaros
Desenvolvimento da sessão: a sessão iniciou-se com o Aquecimento que foi o Jogo dos
Pássaros. Em seguida foi resgatada a sessão anterior. Finalmente, a equipe responsável
entregou xerox do material pesquisado sobre as 05 profissões de cada componente.
A bibliografia utilizada foi:
.
FIP - Folha de Informação Profissional do CIEE;
.
Dicionário das Profissões CIEE;
.
Guia do Estudante - Editora Abril;
.
Recortes de Revistas e Jornais.
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Inicialmente os componentes do grupo leram individualmente o material sobre suas
profissões. Posteriormente reuniram-se em grupos segundo as escolhas semelhantes. Esse
momento foi para que discutissem e levantassem dúvidas sobre aquelas profissões.
Depois se formou um plenário onde cada representante de cada grupo colocava as dúvidas.
O diretor verificava se alguém do grupo sabia responder as questões. Para finalizar a
equipe respondia as questões que tinham a resposta e as que desconheciam ficou para
pesquisar e responder até o último encontro.
A seguir, descreveremos algumas dúvidas que pesquisamos, bem como a inicial do nome
do interessado:
L. Perguntou se existem universidades nos E.U.A e Inglaterra de Veterinária. Quais as
melhores e se existe mestrado desse mesmo curso.
I. Arquiteto pode lecionar? O curso de arquitetura e Urbanismo já habilita para Paisagismo
e Decoração?
C. Qual é o mercado de trabalho, para o profissional de Turismo?
K. No currículo de Turismo existe a obrigatoriedade da língua estrangeira?
A . Quais são as faculdades de Turismo?
Após essa pesquisa, entregamos o questionário para reflexão (anexo 2), enfatizando que
este questionário seria somente respondido por eles não havendo necessidade de entregarnos.
Os participantes leram o questionário em voz alta e aproveitaram para sanar todas suas
dúvidas.
Observação: Essa sessão foi mais teórica, devido à equipe responsável perceber a
necessidade do grupo necessitar de fontes de pesquisa para decidirem sobre as profissões.
A sessão foi mudada em função da necessidade do grupo.
Comentários do grupo: os participantes falaram sobre a importância dessas
informações, pois eles já estavam ficando perdidos sem a parte teórica.
Salientaram que a leitura individual foi muito proveitosa. e, quando se reuniram em
grupos, houve uma interação. Essa troca foi muito importante, pois algumas dúvidas foram
sanadas entre eles.
Leitura grupal: o grupo estava mais coeso, as pessoas já se reuniram com outros critérios,
ou seja, o da escolha e não o da rede sociométrica, estabelecida no ambiente de trabalho.
O grupo estava mais tranqüilo, entretanto essa atividade é mais intelectual, fazendo com
que eles se sentissem menos ameaçados.
A atividade não exigia uma exposição e estava totalmente no campo racional, não
abrangendo o campo emocional, o que tornou a situação muito mais confortável para os
participantes.
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Avaliação do diretor e da equipe responsável: os componentes do grupo estavam
bastante envolvidos nas atividades. Nesse encontro houve um maior respeito entre os
colegas, podendo observar que o comportamento de brincadeiras e risos era uma forma de
extravasar os medos e as ansiedades geradas pelo programa.
Relatório da 5ª sessão
duração: 15h30min às 18h00
número de presentes: 08
Objetivo da sessão:
. Evidenciar o papel profissional através do role-playing.
.
Facilitar maior compreensão do desempenho do papel profissional.
.
Utilizar a espontaneidade e criatividade, através dos papeis preestabelecidos.
Tabela 5. Cronograma das atividades da 5ª sessão
ATIVIDADE
1. Aquecimento: Jogo da Bola Imaginária
2. Comentários
3. Resgate do encontro anterior / questionário de reflexão
4. Jogo “Partes dos Corpos”
5. Dramatização
6. Fechamento / Comentários
TEMPO TOTAL
TEMPO DE
DURAÇÃO
20 min
10 min
20 min
15 min
30 min
10 min
1h45min
Jogos
Jogo da bola imaginária
Os participantes deverão estar deitados e com os olhos fechados no início do jogo.
Consigna: Vocês deverão imaginar uma bola. Essa bola é de vocês, portanto imaginem a
cor, textura, tamanho e forma dessa bola. Agora, lentamente, vocês irão começar a brincar
com a sua bola, peguem na bola, sintam essa bola, percebam a textura, o tamanho e o peso
dela. Vocês devem jogar essa bola para o alto. Passem essa bola pelo seu corpo lentamente.
Despeçam-se dessa bola, e dêem um destino para a mesma. Vocês deverão agora abrir os
olhos.
Partes dos corpos
Consigna: Vocês deverão andar descontraidamente, contudo no centro da sala deve ficar
um espaço livre. Deverão andar e em alguns momentos vou pedir que coloquem cinco
mãos no centro da sala, duas cabeças e assim por diante.
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Observação: Após 3 minutos de jogo, o diretor deve explicar que quem errar deve sair do
jogo, porém ficará de fora auxiliando na observação dos participantes.
Aquecimento
Aquecimento Inespecífico: Jogo da “Bola Imaginária”
Aquecimento Específico: Jogo “Partes dos Corpos”
Desenvolvimento da sessão: a sessão iniciou-se com o jogo da “Bola Imaginária”, depois
passamos para o Resgate da Sessão Anterior e do Questionário de Reflexão. Nesse
momento o diretor solicitou que os participantes falassem sobre como foi responder o
questionário. Contudo, constou-se que ninguém respondeu o mesmo.
As atividades seguintes foram o Jogo dos Corpos e a Dramatização.
Dramatização: Os orientandos receberam uma situação e papéis preestabelecidos (Anexo
3), segundo as suas escolhas profissionais. O diretor escolheu uma profissão que eles ainda
não tinham vivenciado em nenhum exercício.
Durante a dramatização, o diretor utilizou as técnicas psicodramáticas tais como:
Solilóquio, Inversão de Papéis, Espelho e Interpolação de Resistência.
O Ego-Auxiliar entrou na reunião como o Dono do Hotel, interpolando o Administrador
de Empresas, bem como a Jornalista.
Comentários do grupo: o grupo gostou da atividade e mencionou não conseguir imaginar
como iriam vivenciar os papéis profissionais.
Alguns gostaram do papel profissional desempenhado e outros, não.
A opinião do grupo ficou dividida, quatro pessoas gostaram do papel desempenhado e
sentiram-se bem nos mesmos, sendo que as outras quatro não gostaram dele e sentiram-se
mal no seu desempenho.
Leitura grupal: o diretor percebeu que o grupo está funcionando como “Um Grupo”, já
existindo uma relação estabelecida nele: as pessoas seguem as normas e existem líderes.
O grupo respeitou o limite de cada um, desenvolveu o trabalho com seriedade.
As pessoas estão percebendo que, mesmo quando estamos nos referindo à profissão do
colega, é importante ouvir e respeitar. Todas as pessoas são importantes no grupo e têm a
sua função dentro do mesmo.
Ao exercer uma profissão, há o relacionamento com os outros profissionais e a
dependência deles. No desempenho da função, existem atividades boas e ruins, em tudo há
o lado positivo e o negativo. Mas à medida que gostamos das nossas profissões, fica muito
mais fácil enfrentarmos as dificuldades.
Avaliação do diretor e da equipe responsável: a sessão foi muito proveitosa, podemos
observar que o grupo está mais maduro e integrado, sendo que a cada encontro os
componentes ficam mais envolvidos e próximos uns dos outros.
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Em decorrência do acima exposto, levantamos a hipótese de que o grupo encontra-se na
2a. Fase da Matriz de Identidade, no Reconhecimento Eu - Tu.
A Rede Sociométrica já se estabeleceu, existem duas lideranças, as quais estabeleceram
visualmente uma Mutualidade Negativa.
Algumas pessoas já conseguem ser mais espontâneas e criativas.
A dramatização não teve um protagonista devido ter ocorrido um Sociodrama, ou seja,
todo o grupo participou.
Relatório da 6ª sessão
duração: 15hs às 17h50min
número de presentes: 09
Objetivo da sessão:
. Verificar as diferenças individuais bem como as necessidades de cada componente
.
Observar os diferentes ritmos das pessoas
.
Propiciar o reconhecimento do EU (EU-TU)
.
Vivenciar o papel profissional através do Role-Playing
.
Utilizar a espontaneidade e criatividade através dos papéis preestabelecidos.
Jogos
Jogo da chuva
Observação: Os participantes deverão estar deitados e de olhos fechados.
Consigna: Procure relaxar seus corpos, liberando suas tensões... Pouco a pouco seu corpo
começa a ficar leve... Muito leve, transformando-se numa nuvem... Vocês começam a
levitar, atravessando a sala, de encontro ao céu... Procurem explorar-se enquanto nuvem...
Veja como é a sua forma, sua cor, sua textura... Verifiquem como deslizam pelo céu,
avistando a Terra lá em baixo... Vocês se encontram com outras nuvens e, com a junção,
formam-se nuvens de chuva... Os pingos começam a cair vagarosamente. Aproximam-se
das árvores, caindo sobre as folhas. Delicadamente no início, intensificando-se em
seguida... de repente, a chuva fica mais forte. Ela aumenta mais e mais... E aos poucos vai
diminuindo.
Jogo dos ritmos
Consigna: Vocês devem andar pela sala explorando o ambiente, vasculhem cada canto da
sala, tentem conhecer, ao máximo cada pedaço dela. Fechem os olhos, mas continuem
andando pela sala; tentem perceber quais são os seus sentimentos e suas sensações. Não se
preocupem com as janelas, pois a equipe responsável está alerta quanto a isso. (A sala é
toda de vidro e estávamos no 2o. andar).
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Tabela 6. Cronograma de atividades da 6ª sessão
ATIVIDADE
1. Aquecimento - A Chuva
2. Comentários
3. Resgate do Encontro Anterior
4. Jogo dos Ritmos (andar pela sala de olhos fechados)
5. Comentários
6. Role-Playing
7. Comentários
8. Fechamento / comentários
TEMPO TOTAL
TEMPO DE
DURAÇÃO
20 min
10 min
10 min
10 min
5 min
50 min
10 min
10 min
2h5min
Aquecimento
Aquecimento Inespecífico: Jogo da Chuva
Aquecimento Específico: Jogo dos Ritmos
Desenvolvimento da sessão: a sessão iniciou-se com o aquecimento que deixou os
participantes bastante tranqüilos e em campo relaxado.
O resgate do encontro anterior foi breve, depois aplicamos o jogo dos ritmos e por
último, foi aplicado um Role-Playing do papel profissional e o fechamento.
Dramatização: os orientandos receberam todos uma situação (Anexo 4) e papéis
preestabelecidos segundo as suas escolhas profissionais. O diretor escolheu outras
profissões que não foram vivenciadas.
Essa 2a. dramatização foi tumultuada e as pessoas tiveram muita dificuldade para entrar em
seus papéis; por vezes, muitos orientandos começaram a rir. O diretor tentava trazê-los
para o papel, mas, às vezes, era inútil.
Este fato gerou polêmica entre os orientandos e eles não conseguiram dar um desfecho
para a situação. Por diversas vezes o diretor congelou as cenas e pediu “O Solilóquio” 3. Os
orientandos manifestaram os seus sentimentos, porém ficou difícil fazer os participantes
desempenhar seus papéis.
Solilóquio: recurso utilizado durante a dramatização, propondo-se ao protagonista que verbalize o que ele
sente de fato e não está sendo expresso na ação. Assim, o paciente formula seus pensamentos em voz alta,
mas virando a cabeça de lado para dissociar bem o que ele diz na ação e o que ele pensa em voz alta.
3
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O diretor, para impor o limite, informou que eles tinham 10 minutos para concluir a
situação, com muita dificuldade, eles conseguiram terminar a dramatização, porém sem
nenhuma coerência.
Comentários do grupo: os orientandos acharam confusa a dramatização, julgaram que a
própria situação não ajudou, devido ser uma situação de tensão e tumulto. Algumas pessoas
admitiram que brincaram o tempo todo. A maioria dos orientandos disse que não gostou
do papel desempenhado.
Leitura grupal: o diretor verificou que foi difícil os orientandos assumir os papéis, devido
estar também difícil à escolha profissional. Eles estavam constatando que a decisão
dependia somente deles mesmos. Essa decisão, na maioria das vezes requer entrar em
confronto com familiares, amigos, chefes, etc...
O diretor colocou que existiam duas opções, ou eles continuariam deixando essa
responsabilidade “na mão” de outras pessoas ou assumiriam as rédeas de suas próprias
vidas.
No final, o diretor perguntou se o grupo gostaria de realizar mais Role-Playing. A resposta
do grupo foi positiva.
Avaliação do diretor e da equipe responsável: o diretor verificou que o grupo estava o
tempo todo desaquecido, as pessoas não conseguiram entrar nos papéis, devido à situação
ser distante da sua realidade e por não ter sido construída e escolhida pelos mesmos. Os
orientandos estavam com dificuldade de assumir o seu envolvimento e responsabilidade
nesse processo de escolha profissional.
Em função da reação do grupo, o diretor percebeu que deveria ter suspendido a
dramatização e aplicado outro exercício.
Relatório da 7ª sessão
duração: 15h00 às 17h50min
número de presentes: 09
Objetivo da sessão:
. Propiciar maior percepção de si e do outro;
.
Responder as questões pendentes no 4o. Encontro;
.
Avaliar seu desempenho / comprometimento no grupo, bem como desempenho do
outro.
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Tabela 7. Cronograma de atividades da 7ª sessão
ATIVIDADES
1. Qualidades e manias
2. Comentários
3. Resgate do encontro anterior
4. Posição de como será o encontro
5. Esclarecimento das dúvidas / Fornecimento de material
/ Retorno individual
6. Jogo do andar para reflexão
7. Comentários
8. Expectativas do último encontro
9. Fechamento / Comentários
TEMPO TOTAL
TEMPO DE
DURAÇÃO
15 min
10 min
10 min
5 min
50 min
40 min
10 min
10 min
15 min
2 h 45 min
Jogos
Qualidades e manias
Consigna: Vocês deverão escrever num pedaço de papel duas qualidades e duas manias.
Não deixem ninguém ver. Em seguida entreguem-me esse papel. Representem através de
mímica tais características, e o grupo deve tentar descobri-las e quem é o autor das
mesmas.
Jogo do andar para reflexão / avaliação
Consigna: Comecem a andar pela sala, sintam como está à respiração, o seu corpo, em que
pontos estão sentindo tensões, tentem relaxar, soltem os braços, os ombros, o pescoço e a
cabeça. Comecem a pensar em como foi o desempenho de cada participante e em que você
acredita que ele contribuiu para o desenvolvimento das atividades do grupo. Tentem pensar
nos participantes de forma individual.
Observação: Posteriormente os participantes deverão sentar-se em círculo e cada um falará
do desempenho e da contribuição dos outros oito. Nesse momento cada pessoa deverá
somente ouvir e no final, cada um falará se concorda ou discorda das observações feitas
pelos colegas.
Aquecimento
Aquecimento Inespecífico: Jogos “Qualidades e Manias”
Aquecimento Específico: Jogo “Andar para Reflexão / Avaliação”
Desenvolvimento da sessão: a sessão iniciou-se com o jogo “Qualidades e Manias”, a fim
de descontrair e provocar um campo relaxado no grupo. Depois passamos para resgate
do encontro anterior, tendo como objetivo esclarecer algumas dúvidas sobre as profissões,


O diretor recolhe os papéis, mistura e redistribui de modo que ninguém fique com o seu.
O autor deverá explicar o porquê de tais escolhas.
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como por exemplo:
Tradutor e Intérprete: deve traduzir exatamente o que o interlocutor falou, em hipótese
alguma filtrar, acrescentar, ou suprimir a fala do interlocutor.
Posteriormente, a sessão teve um enfoque mais didático, a fim de propiciar um maior
esclarecimento para os participantes. Essa atividade teve também como objetivo buscar um
maior comprometimento / envolvimento dos participantes.
A seguir, aplicamos o “Jogo do Andar” para Reflexão / Avaliação, objetivando um maior
comprometimento dos participantes, bem como a percepção no desempenho e
contribuição de cada orientando dentro do grupo.
Comentários do grupo: o grupo todo informou que não gostou de fazer as avaliações dos
colegas, achando que seria mais fácil fazer uma auto-avaliação.
Alguns orientandos mencionaram que não gostaram de ouvir as avaliações, contudo, não se
sentiram desrespeitados pelos colegas. Todos os orientandos não gostaram desse encontro.
Leitura grupal: o diretor mencionou que é muito difícil ouvirmos o que as pessoas
pensam a nosso respeito, porém, é muito mais difícil falarmos o que pensamos do outro,
olhando nos olhos dessas pessoas. Mas essas avaliações e comentários já tinham sido feitas
e estavam sendo comentadas pelos próprios participantes nos corredores da empresa,
embora tivesse sido acordado que esse fato não poderia ocorrer.
O grupo precisava passar por esse estágio, a fim de amadurecer.
O diretor salientou que, naquele momento eles eram realmente um grupo, que tinham
deixado os papéis desempenhados diariamente fora da sala de treinamento.
O diretor colocou que foi importante algumas pessoas perceberem que mesmo sendo
amigo do “outro”, pode-se dizer o que se pensa a respeito dessa pessoa. Não há
necessidade de se concordar com tudo o que ele diz e faz, nem por isso se deixa de ser
amigo.
No final do encontro, o diretor perguntou aos orientandos se eles queriam fazer mais um
Role-Playing, como tinha sido combinado e todos deram uma resposta positiva.
Avaliação do diretor e da equipe responsável: a sessão foi muito importante, pois
através das vivências, os participantes tiveram a possibilidade de avaliar o seu próprio
desempenho no grupo bem como o seu comprometimento e envolvimento com a
proposta.
Nesse momento ficou claro, para algumas pessoas, que elas estavam transferindo a
responsabilidade da decisão para a equipe responsável pelo programa.
Relatório da 8ª sessão
duração: 14h30min às 17h50min
número de presentes: 08
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Objetivo da sessão:
. Vivenciar o papel profissional, através do Role-Playing;
.
Facilitar a decisão da escolha profissional;
.
Integrar os participantes, para o alcance do objetivo;
.
Fortalecer o vínculo estabelecido no grupo;
.
Atingir a Identidade Grupal.
Tabela 8. Cronograma de atividades da 8ª sessão
ATIVIDADE
1. Aquecimento - Escultura
2. Comentários
3. Resgate do encontro anterior
4. Jogo do Andar
5. Role-Playing
6. Comentários
7. Fechamento
TEMPO TOTAL
TEMPO DE DURAÇÃO
20 min
5 min
50 min
10 min
40 min
10 min
10 min
3h
Jogos
Jogo da escultura
Consigna: Um voluntário deve começar esculpindo com as próprias mãos algo que foi
significativo no seu processo decisório no que se refere à profissão. Posteriormente deve
passar para o lado. A pessoa que a recebeu pode acrescentar ou modificar o objeto e deve
passar para o próximo até que todos tenham recebido a escultura.
Observação: O grupo deverá estar sentado em círculo. A escultura deve passar por todos
os orientados.
Jogo do andar
O Diretor solicitou que os participantes andassem pela sala tentando relaxar, verificando a
respiração, o ritmo, como eles estavam se sentindo no momento, que deveriam se
desprender das preocupações do dia-a-dia e se concentrar no “Aqui e Agora”.
Consigna: Vocês devem pensar qual o papel profissional que gostariam de vivenciar aqui;
tentem selecionar apenas um. Aqueles que já o vivenciaram, gostariam de vivenciá-lo
novamente? Podem fazê-lo. Imaginem onde poderiam trabalhar nessa profissão, quais
serão as pessoas com as quais estarão trabalhando e qual o local de trabalho de vocês.
Devem imaginar uma situação de trabalho, ou seja, uma situação onde vocês estão
desempenhando esse papel profissional. Agora vocês devem sentar e conversar para formar
uma única situação na qual todos vocês deverão participar desempenhando o papel
profissional em que cada componente do grupo pensou.
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Aquecimento
Aquecimento Inespecífico: Escultura
Aquecimento Específico: Jogo do Andar
Dramatização
Essa situação foi desenvolvida pelo grupo. A dramatização aconteceu em três momentos.
O 1o. momento foi em uma empresa de propaganda e publicidade, o 2o. em uma escola e
o 3o. , foi num consultório psicológico.
Os participantes criaram uma situação que acontecia na empresa, posteriormente os
mesmos componentes tinham que se relacionar nos diversos papéis (papel de pai, papel de
cliente psicológico) desempenhados por eles fora da empresa.
Na escola dos filhos, estavam tendo problemas com o rendimento escolar. Um funcionário
buscou na terapia, com o psicólogo, auxílio profissional, pois estava desequilibrado
emocionalmente, devido às mudanças e reestruturação na empresa.
Desenvolvimento da sessão: a sessão iniciou-se com o “Jogo da Escultura”, depois
houve o resgate da sessão anterior. Nesse resgate os participantes colocaram que não lhes
agradou avaliar o desempenho dos colegas, que preferiam avaliar o seu próprio
desempenho. Algumas pessoas não queriam vir para essa sessão, porém achavam que esse
sentimento deveria ser trabalhado dentro da própria sessão. Inicialmentwe houve um
porta-voz, depois os outros começaram a se manifestar. O diretor trabalhou esse
sentimento dos participantes; devido a esse fato, o resgate se estendeu por mais tempo.
Posteriormente foi aplicado o “Jogo do Andar” a fim de que eles elaborassem um único
Role-Playing. Após o “Role-Playing”, aconteceram os comentários. Nesse momento, o diretor
informou que tinha programado mais dois jogos, sendo que um deles era o da avaliação. O
diretor mencionou que achava necessário mais um encontro e perguntou o que o grupo
achava. A resposta do grupo foi que era muito importante mais um encontro para que
pudessem “fechar” esse programa. Para finalizar, o diretor solicitou que o grupo se
abraçasse, devido ainda estarem “mexidos”, em função do que havia sido trabalhado na 7a.
e 8a. sessões.
No final o diretor levantou a necessidade de se promover um outro encontro, por não se
ter tempo de aplicar o exercício de avaliação. Essa decisão foi tomada junto com o grupo,
sendo que o mesmo concordou da importância de mais um encontro. A data e horário
foram preestabelecidas de acordo com a disponibilidade dos participantes.
Comentários do Grupo: o grupo mencionou que gostou das atividades desenvolvidas e
que o Role-Playing, ficou muito bom. Todos se envolveram nos papéis e a representação
ficou bem mais fácil. Falaram também sobre a importância de se ter mais um encontro.
Leitura grupal: o grupo estava muito mais coeso, os participantes respeitaram os seus
limites e os dos seus colegas.
Os orientandos não falaram todos juntos, foi percebido que o grupo estava junto para
atingir um só objetivo: “A decisão de escolha profissional”. Mas, com a dramatização, eles
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demostraram que a vida é uma constante mudança e que todos os dias temos que tomar
várias decisões. Contudo, quando gostamos do que fazemos, tudo fica mais fácil.
Avaliação do diretor e da equipe responsável: o grupo está no início da 3a. Fase Matriz
de Identidade. As atividades desenvolvidas tiveram muito sucesso e foram muito
proveitosas. O grupo todo estava envolvido no trabalho.
Os orientandos estavam tranqüilos e relaxados, facilitando a espontaneidade e criatividade
durante as atividades.
A equipe responsável, também estava mais coesa. O acontecimento da sessão anterior fez
com que a equipe avaliasse mais profundamente os fatos ocorridos.
Relatório da 9ª sessão
duração: 14h30min às 17h50min
número de presentes: 09
Objetivo da sessão:
. Propiciar uma melhor compreensão de todo o processo de decisão da escolha
profissional;
.
Facilitar o encerramento da etapa;
.
Incutir nos participantes a compreensão de que a capacidade decisória é mutante.
Tabela9. Cronograma de atividades da 9ª sessão
ATIVIDADE
1. Aquecimento - Jogo das Palmas
2. Comentários
3. Resgate do Encontro Anterior
4. Relaxamento / Semente
5. Comentários
6. Avaliação Final do Programa
7. Comentários
8. Fechamento / Comentários
TEMPO TOTAL
TEMPO DE DURAÇÃO
20 min
10 min
20 min
30 min
15 min
30 min
20 min
30 min
2h55min
Jogos
Jogos das palmas
Consigna: Vocês deverão andar descontraidamente pela sala, podem andar para onde
quiserem. Quando “EU” bater palmas, vocês devem prestar atenção em quantas palmas
“EU” bati e formar subgrupos. Por exemplo: se eu bater duas palmas, vocês deverão se
subdividir em duplas, se eu bater três palmas, vocês deverão se subdividir em trios e assim
por diante.
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Observação: Nos primeiros dois minutos o diretor não deve tirar ninguém, depois quem
errar sai e auxilia na fiscalização dos outros.
Jogo da semente
Consigna: Vocês devem relaxar (o diretor fala de todos os pontos começando dos pés até o
couro cabeludo). Agora devem despir-se de todos os papéis que desempenham
diariamente, deixando de lado todas as preocupações e se concentrando no “aqui e Agora”.
Imaginem que vocês são uma semente, pode ser a semente de uma planta, árvore, flor ou
do que vocês quiserem. Agora vocês vão ser plantados. Em que solo vocês gostariam de
ser plantados (solo árido, fofo, terra fértil, etc)? Vocês já estão sendo plantados, prestem
atenção no solo, percebam como é tocar o solo e ser plantado. Vocês estão brotando,
prestem atenção em como é brotar, nascer, respirar, como é o sol tocando seus brotos.
Vocês começam a crescer, prestem atenção em como é o crescimento, o aparecimento dos
galhos. Pássaros vêm pousar nos seus galhos ou caule, como são os pássaros pousando em
cada um de vocês? Quem é uma flor, os pássaros vêm se alimentar do seu pólen. Como
estão se sentindo enquanto planta? Olhem ao seu redor, veja se há outras plantas iguais a
vocês. Começam a aparecer outras plantas. Chegou à primavera e vocês começam a
germinar, produzindo sementes, que caem no solo e começam a fecundar outras plantas
como vocês. Como vocês se sentem produzindo sementes que vão gerar outras plantas?
Observação: Após esse jogo solicitar que as pessoas se dividam de acordo com a espécie da
planta. Exemplo: Árvore frutífera, flores, coqueiro, árvore de flores, plantas, etc.
Posteriormente cada subgrupo vai falar ao outro como o vê. Depois o diretor solicita que
formem um grande pomar. Os participantes devem mencionar como se sentem nesse
pomar. O diretor pede para o ego-auxiliar entrar e assumir a posição de cada pessoa, nesse
momento o diretor deve pedir o solilóquio. Depois que todos os componentes se viram
através da técnica do espelho, o diretor verifica se eles querem mudar algo nesse pomar.
Jogo da avaliação final do programa
O diretor faz uma reta no chão dividindo-o em dois lados.
Consigna: Vocês deverão pensar em dois objetos, um objeto deve representar . Como
vocês chegaram ao programa e outro deverá representar como ao programa e o outro
deverá representar como vocês estão saindo do mesmo. Do lado direito vocês devem
colocar o objeto que representa como vocês chegaram e do lado esquerdo como estão
saindo.
Observação: Cada participante fala do objeto e o que ele representa. Posteriormente, o
diretor solicitou que cada componente fizesse uma imagem que representasse o que eles
estivam sentindo naquele momento. Para finalizar, eles devam fazer uma imagem única do
grupo.
Aquecimento
Aquecimento Inespecífico: Jogo das Palmas

Solilóquio: recurso utilizado durante a dramatização, propondo-se ao protagonista que verbalize o que ele
sente de fato e não está sendo expresso na ação. Assim, o paciente formula seus pensamentos em voz alta,
mas virando a cabeça de lado para dissociar bem o que ele diz na ação e o que ele pensa em voz alta.
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Aquecimento Específico: Jogo das Sementes
Desenvolvimento da sessão: a sessão iniciou-se com o Jogo das Palmas, depois foi
realizado o resgate da sessão anterior e o relaxamento da semente. Passamos para o Jogo da
Avaliação Final, onde cada orientando fez uma imagem para representar seu sentimento
naquele momento. A seguir, o diretor pediu que o grupo fizesse uma imagem única
objetivando expressar o sentimento do grupo.
Para concluir, foi realizado o fechamento e os comentários. Essa sessão transcorreu num
clima agradável e descontraído. Os orientandos estavam bem mais tranqüilos e relaxados,
percebeu-se que o grupo estava bastante comprometido e coeso com o seu objetivo.
Comentários do Grupo: todos os participantes gostaram dos exercícios, sendo que
trouxeram contribuições muito significativas. Para efeito didático descreveremos
sucintamente o que cada orientando disse Jogo do Relaxamento / Semente):
R. : Dormiu, não conseguiu fazer o exercício
L. : Dormiu
M.: Cecóia - árvore grande com muito tempo de vida. Foi bom o exercício.
K. : Samambaia de Metro - muito bonita. Não conseguiu ver germinar, preferiu crescer,
ignorou o comando do diretor, preferiu crescer sozinha.
C. : Não gostou de ser plantada, estava aflita queria nascer logo. Foi uma orquídea, porém
queria andar, então ficou deprimida. Queria sair dali e conhecer coisas novas.
AC.: Sensação boa, não foi uma árvore específica tinha copa grande. As sementes
germinando significam novo ciclo, nova etapa e transformação.
AJ.: Passou muito rápido de semente para árvore, sensação gostosa de prazer. Significou
crescimento, fortalecimento e fases da vida.
I. : Rosa Vermelha, só havia ela plantada, não gostou de ficar tanto tempo parada. Sentiuse intranqüila
F. : Flores Vermelhas, estava sozinha, havia outras flores, mas não iguais a ela. Sensação de
utilidade.
Leitura grupal: os orientandos já estavam conscientes das suas decisões e do que cada
uma envolve. Sempre quando escolhemos algo, em contrapartida, perdemos algo. Todas as
decisões têm os seus “prós” e “contras”.
Os orientandos já estavam mais maduros e fortalecidos, embora eles não tenham gostado
da sessão anterior, ela facilitou para o fechamento do programa. Percebemos que todas as
pessoas já possuem uma direção e que têm condições de fazer uma escolha consciente e
mais segura. Mesmo aqueles que ainda possuem algum tipo de dúvida sabem que têm
tempo e informações suficientes tanto em didática como em auto-conhecimento para
decidirem.
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Observação: O diretor nessa última sessão deixa um canal aberto com os orientandos para
que eles possam procurar a equipe responsável a qualquer momento. O material didático
está à disposição na biblioteca para ser consultado.
Avaliação do diretor e da equipe responsável: o Programa Piloto de Orientação
Vocacional atingiu o seu objetivo e foi muito bem aceito entre os participantes. Todos os
participantes acharam válido o programa e o indicariam para outros funcionários.
O Programa, para ser implantado, necessita de alguns ajustes, no que se refere à carga
horária.
Na última sessão foi solicitado que os orientandos fizessem verbalmente uma avaliação do
Programa. A equipe responsável entregou-lhes um questionário de avaliação o qual
deveriam responder e entregar posteriormente, não havendo necessidade de se
identificarem. O questionário encontra-se no anexo 5.
4. Correlações entre a teoria psicodramática e orientação vocacional
A teoria do Átomo Social nas Ciências Sociais
“A palavra átomo é derivada do grego “átomos” que significa qualquer coisa muito
pequena.
Podemos aprender mais sobre o significado da estrutura atômica a partir dos estudos
sociométricos do que jamais aprendemos nos estudos da física.
Existem duas significativas formações microscópicas do átomo, o átomo social e o cultural.
Podemos discernir padrão de atração, repulsa e indiferença no limite entre indivíduo e
grupos. Esse padrão é chamado átomo social. É a menor unidade funcional dentro do
grupo social. Toda pessoa é relacionada positiva ou negativamente, a número indefinido de
“Socii” que por sua vez, podem estar a ela relacionados também positiva ou negativamente.
Além destas relações bilaterais, podemos observar as relações unilaterais. O indivíduo tem
desde o seu nascimento, estrutura de relacionamento ao seu redor: mãe, pai, avó e outros
membros de seu ambiente primitivo. "O volume do átomo social expande-se
continuamente à medida que crescemos, é dentro dele que vivemos mais concretamente”
(MORENO, 1992).
Psicodrama
“Psicodrama pode ser definido, portanto, como o a ciência que explora a “verdade”
através de métodos dramáticos. Trata de relações interpessoais e de mundos particulares”
(MORENO, 1992).
Através, do psicodrama podemos solucionar vários conflitos dos indivíduos, pois o
psicodrama utiliza-se da ação, é o “Aqui e Agora” que importa através do Psicodrama o
adulto consegue recuperar a sua espontaneidade e criatividade, que ficou perdida dentro
dos padrões sociais, das entidades das quais ele fez parte, bem como nas organizações das
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quais ele foi inserido. O indivíduo adulto deve corresponder ao meio, ou seja, dar respostas
que o meio espere dele. Para realizar esse trabalho de Orientação Vocacional, tentamos
resgatar o indivíduo espontâneo e criativo, do qual Moreno, mencionava em suas obras.
Espontaneidade: “é a capacidade de agir de modo “adequado” diante de situações novas,
criando uma resposta inédita ou renovadora ou, ainda transformadora de situações
preestabelecidas (GONÇALVES, et. al. 1988).
Criatividade: “É a disponibilidade do ser humano para o ato criador, assim considerando
qualquer ato que acarrete uma transformação integradora, no sentido do crescimento e da
maturação, naquele que o realiza e também no meio que o rodeia.
Martinez Bouquet diz: A criatividade é a capacidade de originar formas a partir de estágios
elevados do ser em planos formais mais próximos do âmbito manifesto” (MENEGAZZO,
ZURETTI, TOMASSI, 1995).
Nesse trabalho de Orientação Vocacional, tentamos buscar o resgate do ser espontâneo,
criativo segundo Moreno. O nosso objetivo principal é fazer com que o indivíduo deixasse
de lado as conservas culturais e tentasse buscar a sua verdadeira vocação, baseando em
seus interesses, anseios, sonhos e desejos. Contudo, sem deixar de lado a realidade, ou seja,
propiciamos uma reflexão nos orientandos para que eles pudessem perceber se na futura
profissão, eles conseguiriam um retorno financeiro e se encontrariam um mercado de
trabalho.
Trabalhamos basicamente com a teoria dos papéis, Moreno definiu papel como a menor
necessidade observável de conduta. Apesar das várias formas e modalidades de definição
que se possam atribuir aos papéis, convêm salientar que, para a teoria moreniana, todo
papel é uma fusão de elementos privados e coletivos. Um papel compõe-se de duas partes:
o seu denominador coletivo e o seu diferencial individual” (GONÇALVES, et. al. 1988).
As teorias psicodramáticas levam o conceito de papel a todos as dimensões da vida com
efeito, elas o utilizam para abordar a situação do crescimento, e a existência, enquanto
modo de participação na sociedade” (GONÇALVES, et. al. 1988).
O indivíduo em sociedade tem funções determinadas quer por sua condição sócioeconômica, cultural, religiosa, política e social.
Em todos os grupos dos quais fazemos parte desempenhamos um determinado papel
como, por exemplo, papel de filho, irmão, pai, mãe, marido, esposa, estudante, professor,
chefe, funcionário etc.
Mas vamos nos prender mais aos papéis profissionais no nosso trabalho desempenhamos
papéis profissionais, onde devemos corresponder às expectativas das organizações para as
quais trabalhamos nessas organizações existem várias normas e padrões vigentes.
O indivíduo deve tentar manter a sua criatividade e espontaneidade, mesmo dentro do
trabalho, lembrando que ser espontâneo é dar uma resposta nova e adequada, para uma
situação preestabelecida.
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Os papéis surgem no indivíduo através da Matriz de Identidade, onde se constitui a base
psicológica para todos os desempenhos de papéis.
“Para Moreno o ego deriva de papéis” e o que se costuma chamar de “personalidade”
deriva de fatores GETA: genéticos, espontaneidade, tele e ambiente. Ora esses fatores, por
definição, estão presentes desde a 1a. fase da Matriz de Identidade” (GONÇALVES, et. al.
1988).
A seguir descreveremos as 3 fases da Matriz de Identidade:
1a Fase da Matriz de Identidade - Total e Indiferenciada (fase do duplo);
2a Fase da Matriz de Identidade - Total Diferenciada ou de Realidade (fase do Espelho);
3a Fase da Matriz de Identidade - Brecha entre a Fantasia e Realidade (fase da Inversão de
Papéis).
A criança segundo Moreno passa por essas 3 fases da Matriz de Identidade:
A)
Na 1a. fase ela busca a Identidade do Eu (fase do duplo). A mãe atua como Ego-Auxiliar
da criança agindo como se fosse seu “duplo” uma vez que não há distinção entre EU e
o Tu, está misturada ao mundo.
B)
Na 2a. fase ela busca Reconhecimento do Eu (fase do Espelho) - A criança começa a se
perceber enquanto indivíduo, separa dos outros (EU-TU).
C)
Na 3a. fase da Matriz ela busca o reconhecimento do Tu (fase da Inversão de Papéis). A
criança tem a capacidade de se colocar no papel de sua mãe, já que garante o
reconhecimento de si mesma. Para isso, há o Role-Talking do papel (tomada, adoção)
para, posteriormente, haver a Inversão de Papéis concomitantemente (EU-ELE)”
(YOZO, 1996).
“Moreno em sua teoria de papéis ressalta que um papel apresenta 3 fases distintas roletalking, que é a adoção a tomada de um papel, role-playing, que é o jogar com o papel e o
role-creating, que é a fase final, onde o indivíduo cria sobre o papel” (YOZO, 1996).
No trabalho de Orientação Vocacional, trabalhamos muito o role-playing do papel
profissional. À medida que os orientandos simularam situações nas quais envolvia uma
ação, ou seja, tinham que desempenharem efetivamente o papel profissional, isso facilitava
uma aproximação com a talvez futura profissão. Durante o role-playing, o diretor poderá
perceber quais são as fantasias, medos e anseios de cada orientando. Durante o roleplaying essas questões serão trabalhadas com cada participante à medida que forem
surgindo.
A dificuldade maior de cada orientando era decidir qual profissão seguir, depois ela, em
princípio é para a vida toda. No caso desses orientandos os participantes tinham de 18 a 31
anos e estavam
inseridos num contexto empresarial. A responsabilidade e o
comprometimento são consequentemente maiores.
A cada sessão percebíamos que a evolução do grupo aumentava e novas relações, se
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estabeleciam diferente das existentes fora do trabalho.
A utilização do Psicodrama em Orientação Vocacional é muito rico e facilita a escolha. O
Psicodrama trabalha com o “Aqui e Agora” e com Ação é a escolha da profissão é algo
dinâmica e mutante.
Esse programa de Orientação Vocacional tenta resgatar o indivíduo espontâneo e criativo,
fazendo com que os orientandos deixassem de lado as relações cristalizadas e se
permitissem descobrir, brincar jogar com outras relações e formas de atuação. À medida
que deixamos de lado as respostas cristalizadas, nós permitimos experimentar e criar.
No programa isso foi notório no 8o. encontro, no qual o grupo elaborou role-playing, foi
percebido que eles estavam muito mais envolvidos, mantendo relações télicas. O
desempenho do papel profissional foi muito mais eficaz, em decorrência de cada
orientando ter decidido qual era o papel profissional que desempenharia. Entretanto, nesse
encontro os orientandos estavam no início da 3a. fase da Matriz de Identidade, o que
facilitou que eles trabalhassem com autonomia. Cada orientando pode resgatar o seu EU
espontâneo e criativo. Contudo, esse processo variou de indivíduo para indivíduo, em
decorrência das experiências vividas anteriormente pelos mesmos.
5. Resultados
Considerando o universo composto por 9 orientandos concluímos que 80% terminaram
o programa com uma profissão definida e, os demais, tinham material didático e vivencial
suficientes para decidirem sobre a futura profissão.
Os orientandos verbalizaram que o programa superou as suas expectativas, no sentido de
contribuir para a escolha profissional.
Eles mencionaram durante as sessões que tanto a prática vivencial como o material
didático, sobre o material das profissões apresentadas no programa, contribuíram, em
grande medida, para a escolha profissional, bem como, para uma decisão assertiva sobre
qual curso superior ingressar no ano de 1998.
Esse programa teve uma boa aceitação pelos dirigentes da empresa, levando a solicitação
da ampliação do programa para a área de Call Center da empresa, porém devido às
reestruturações no departamento de Recursos Humanos, não foi possível, inviabilizando o
prosseguimento do programa.
6. Conclusão
O objetivo do trabalho exigiu a necessidade do conhecimento do mundo empresarial, no
qual nossos orientandos estavam inseridos. Desde o seu início, sabíamos que deveríamos
analisá-los sob o enfoque social, cultural, religioso, político e econômico; pois todos esses
fatores interferem diretamente na vida dessas pessoas. O “ser humano” é um todo,
portanto, não podemos avaliar a sua vocação profissional de forma isolada.
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Essa forma de orientação vocacional mais livre e espontânea, através de jogos dramáticos,
role-playing e desempenho do papel profissional, efetivamente facilitaram as escolhas do
caminho profissional. As vivências propiciaram a espontaneidade e criatividade, sendo que
à medida que o grupo trocava experiências, algumas dúvidas e dificuldades eram
compartilhadas e sanadas.
A Orientação Vocacional com as técnicas psicodramáticas visa levar o orientando para a
ação, onde ele deve trabalhar no “Aqui e Agora”, experimentando todos os entraves do
processo decisório.
O orientando deve estar envolvido e comprometido nesse processo, necessitando
desenvolver auto-conhecimento. Esse aspecto deve-se ao fato de que essa escolha é, na
maioria das vezes, para a vida toda.
A premissa básica para o “sucesso profissional” é se fizermos o que gostamos, tudo ficará
mais
fácil,
a
prática
do
papel
profissional
torna-se
prazerosa.
Através do psicodrama buscamos facilitar a escolha profissional e outras especializações
vêm surgindo num curto período de tempo. Em decorrência desses fatores, se junta à
necessidade das pessoas para serem adaptáveis a um mundo mutante e predispostas para
desempenhar diferentes papéis profissionais a fim de que esses orientandos tornem-se
empregáveis. O programa de Orientação Vocacional também teve a responsabilidade de
preparar os orientandos para a nova visão de trabalho a partir do processo em que vivemos
da globalização, que está exigindo dos profissionais perfis mais generalistas, maior
capacidade de adaptação às mudanças, bem como constante reciclagem, para que esses
profissionais consigam permanecer no mercado de trabalho. Contudo aquela relação de
trabalho com a qual estávamos acostumados está mudando, hoje as empresas estão
revendo a sua forma de trabalho, já temos profissionais autônomos, vários setores
terceirizados e pensa-se até em horários flexíveis.
O Psicodrama tem como premissa básica a “Ação”, então através do “Aqui e Agora” do
como “se fosse”, é que nos alicerçamos para efetuar o programa. Buscamos resgatar a
essência do homem espontâneo e criativo, bem como as relações télicas, as quais ele deverá
ter no desempenho de seus papéis profissionais.
“A Orientação Profissional Psicodramática proporciona a aprendizagem de um método
que leve o orientando a alcançar as suas maneiras de ser”. A decisão profissional e,
principalmente a responsabilidade pelas próprias decisões seriam consequência natural
dessa aprendizagem.
Na Orientação Profissional Psicodramática não se determina “a priori” a sequência a
tomar, deve-se começar pela informação e seguir abordando características individuais ou
valores pessoais. Cada grupo ou cada orientando, através da ação dramática, vai
delimitando o que lhe é necessário abordar - no aqui e agora e em que ordem. Esta
maleabilidade e valorização à atividade, característica do psicodrama -" método que busca
a verdade mediante a ação”- está em consonância com o grande destaque que se dá
atualmente, em Educação, aos métodos ativos em geral”.
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Esse programa piloto atingiu o seu objetivo uma vez que a maioria dos participantes
terminaram a Orientação Vocacional com uma profissão definida ou mesmo aqueles que
não chegaram a uma conclusão, tinham material didático e vivencial suficientes para
tomarem uma decisão futura. Sabemos que as pessoas têm “times” diferentes, bem como
estão em momentos de vida também diferentes.
Nesse programa procuramos enfatizar que essa escolha pode ser mutante, que, portanto,
devemos estar preparados para no decorrer de nossas carreiras, seguirmos outras
profissões, já pensando na empregabilidade.
O nosso programa foi realista no sentido de propiciar aos orientandos uma reflexão de que
a futura profissão fosse algo rentável, com a qual eles pudessem sobreviver, devido a todos
os orientandos serem adultos e a alguns serem casados e possuírem famílias para proverem
o sustento.
Referências
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através do teatro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1993.
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