universidade federal da paraiba centro de ciências agrarias
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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIBA CENTRO DE CIÊNCIAS AGRARIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRONOMIA MORFOLOGIA E FENOLOGIA REPRODUTIVA DO ARIRI (Syagrus vagans (Bondar) Hawkes)-ARECACEAE- NUMA ÁREA DE CAATINGA DO MUNICÍPIO DE SENHOR DO BONFIM-BA Valdeci da Silva Lopes Areia – Paraíba 2007 MORFOLOGIA E FENOLOGIA REPRODUTIVA DO ARIRI (Syagrus vagans (Bondar) Hawkes)-ARECACEAE- NUMA ÁREA DE CAATINGA DO MUNICÍPIO DE SENHOR DO BONFIM-BA. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Agronomia do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba, em cumprimento as exigências para obtenção do título de Mestre em Agronomia. Comitê de orientação: Prof. Dr. Alberício Pereira de Andrade Prof. Dr. Leonardo Pessoa Felix Profª. Drª. Riselane de Lucena Alcântara Bruno Areia – Paraíba 2007 ii Ficha Catalográfica Elaborada na Seção de Processos Técnicos da Biblioteca Setorial de Areia-PB, CCA/UFPB. Bibliotecária: Elisabete Sirino da Silva CRB-4/905 905. L 864 m Lopes,Valdeci da Silva Morfologia e fenologia reprodutiva do ariri (Syagrus vagans(Bondar) Hawkes)Arecaceae-numa área de caatinga do município de Senhor do Bonfim-BA../ Valdeci da Silva Lopes—Areia-PB: CCA/UFPB, 2007 70f. : il. Dissertação (Mestrado em Agronomia) - Universidade Federal da Paraíba-Centro de Ciências Agrárias, Areia, 2007. Bibliografia. Orientadores: Alberício Pereira de Andrade Leonardo Pessoa Félix Riselane de Lucena Alcântara Bruno 1. Palmeira-desenvolvimento reprodutivo 2. Palmeira-biometria 3. Palmeira morfologia-fenologia 4.Ariri (Syagrus vagans (Bondar) Hawkes)-ReproduçãoCaatinga-Bahia I. Andrade, Albericio Pereira; Félix Leonardo Pessoa; Bruno,Riselane de Lucena Alcântara (Orientadores) II. Título CDU: 582.545:631.53.02 (043.3) iii UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIBA CENTRO DE CIÊNCIAS AGRARIAS PROGRAMA DE POS-GRADUAÇÃO EM AGRONOMIA TÍTULO: MORFOLOGIA E FENOLOGIA REPRODUTIVA DO ARIRI (Syagrus vagans (Bondar) Hawkes)-ARECACEAE- NUMA ÁREA DE CAATINGA DO MUNICÍPIO DE SENHOR DO BONFIM-BA. AUTORA: VALDECI DA SILVA LOPES Dissertação aprovada como parte das exigências para obtenção do título de MESTRE em AGRONOMIA - Área de concentração SEMENTES pela Comissão Examinadora composta por: ___________________________________ PROF. Dr. ALBERICIO PEREIRA DE ANDRADE Departamento de Solos e Engenharia Rural- UFPB/CCA ______________________________________ PROF. Dr. LEONARDO PESSOA FELIX Departamento de Fitotecnia - UFPB/CCA ________________________________________ PROFª. Drª. MARIA REGINA VASCONCELOS BARBOSA CCEN/UFPB _________________________________________ PROF. Dr. JACOB SILVA SOUTO UFCG iv Saudades “Assim como os universos foram criados pela palavra de Deus, assim também nossos pequenos mundos individuais são criados pelas nossas palavras. E as palavras são manifestações dos pensamentos, a fim de criar um mundo de paz e beleza, de saúde e felicidade, através de palavras amáveis e delicadas, corteses e animadoras.” (Minutos de Sabedoria) O Prof. Bruno durante o breve tempo de nossa convivência mostrou-se uma pessoa amiga, que com sua sabedoria soube criar em torno de si um mundo de paz e tranqüilidade. Sempre tinha uma palavra amiga e um sorriso nos lábios para com seus orientados. Agradeço a Deus pela oportunidade de conhecê-lo. Sempre terei em minha memória o seu exemplo de tranqüilidade, paz, bondade e acima de qualquer coisa seu discernimento no uso da palavra. Pois a palavra uma vez proferida, nada mais a destrói. v DEDICO Ao DEUS criador que sempre me abençoou e está comigo em todos os dias de minha vida. Aos meus pais, Erundina Francisca Lopes e Estevão da Silva Lopes, por não medirem esforços para proporcionar escolaridade e bem estar e pelo apoio incondicional em todos os momentos de minha vida. Terei sempre vocês no meu coração. Aos meus filhos ANNA MARYA, LUIS ANTONIO e CHARLIANE, por trazem luz, paz, amor e muito colorido a minha vida. Eu ammmmo vocês de todo o meu coração e com toda a minha alma. Deus os abençoe e os proteja sempre! Aos meus irmãos Vivaldo e Valéria pelo apoio. Aos meus sobrinhos, Elaine, Edson, Fernanda, Débora, Douglas, Helen, Isis, Elton e Kelly pela existência de vocês, que sempre trouxe alegria e colorido a minha vida. A Sogerlândo e Wellington todo meu carinho pelo apoio recebido, pelos dias de campo e cansaço. Sem vocês parte desse trabalho não teria sido realizada. A todos os meus amigos pelo incentivo e apoio: Edvanda Rocha, Elaine, Viviane Brito, Enaide Maciel, Izabel Ramalho, Marlene Mata, Leonardo Félix, Nairan Porto, Flávia Cartaxo. Ao Grupo de Pesquisa Lavoura Xerófila da Universidade Federal da ParaíbaCCA na pessoa do Prof. Albericio Pereira de Andrade por tão bela iniciativa, quando da criação do Grupo. Precisamos de mentes pensantes e brilhantes preocupadas com o nosso Semi-árido. Nós ‘’caatingueiros’’ não somos sobreviventes! Somos sim, valentes, perseverantes, lutadores, batalhadores, nós sim, “não desistimos nunca!”. vi AGRADECIMENTOS À Universidade Federal da Paraíba e ao Centro de Ciências Agrárias pela oportunidade de realizar o curso de mestrado. A Escola Agrotécnica Federal de Senhor do Bonfim pela liberação para realização do curso. Ao Instituto Nacional do Semi-árido (INSA) pelo apoio financeiro para realização da pesquisa. À professora Riselane de L. Alcântara Bruno pela orientação, amizade. Tudo de bom para você. Ao professor Albericio Pereira de Andrade pela orientação, interesse, ajuda e sugestões para a melhoria deste trabalho. Ao professor Leonardo Pessoa Felix pelo apoio incondicional, incentivo e, acima de tudo, pela amizade e conselhos. Você é muito especial para mim, muito obrigada! Ao amigo Sogerlândo que muitas vezes abriu mão de seu trabalho e do convívio com seus familiares para dar-me apoio e auxiliar-me nas atividades de campo. Agradeço de coração. Deus o abençoe sempre! À Márcia pelo empréstimo do maridão e pelo amor que tem a meus filhos. Sempre terei um carinho especial por vocês. Beijos. A meu afilhado, Welligton, por todas as vezes que trocou seu jogo de futebol ou a curtição com os amigos para estar comigo no campo realizando as pesquisas. Muitíssimo obrigada e que Deus o proteja sempre! Eu te amo de coração. vii As amigas Nairan Porto, Izabel Ramalho, Marlene Mata e Noelma, que além da inestimável ajuda e incentivo, foram meus “orelhões” particulares. Obrigada pelo convívio e momentos de descontração. Adoro vocês! A Flávia Cartaxo por todas as vezes que emprestou seu ombro para os meus desabafos e histerias, pelas dificuldades em est viii SUMÁRIO LISTA DE TABELAS .............................................................................................. x LISTA DE FIGURAS ..............................................................................................xi RESUMO GERAL ................................................................................................ xiv ABSTRACT ......................................................................................................... xvi 1. INTRODUÇÃO GERAL....................................................................................... 1 2. REVISÃO DE LITERATURA .............................................................................. 4 2.1 Família Arecaceae ...........................................................................................4 2.1.1. Distribuição geográfica...............................................................................5 2.1.2. Importância econômica e ecológica ..........................................................6 2.1.3. Gênero Syagrus ...........................................................................................7 2.1.4. Descrição da espécie ..................................................................................8 2.2. Morfologia de frutos, sementes, germinação e plântula. ...........................9 2.3. Fenologia de palmeiras................................................................................10 3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................13 CAPITULO I - CARACTERIZAÇÃO MORFOLÓGICA DE INFLORESCÊNCIAS, FRUTOS, SEMENTES, GERMINAÇÃO E PLANTULA E DESCRIÇÃO DAS ETAPAS DO PROCESSO GERMINATIVO DE ARIRI - Syagrus vagans (Bondar) Hawkes (ARECACEAE) RESUMO ...............................................................................................................19 ABSTRACT...........................................................................................................20 1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................21 2. MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................23 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................26 3.1. Caracterização morfológica da inflorescência ..........................................26 3.2.Caracterização Morfológica do fruto e semente .........................................32 3.2.1. Frutos de Syagrus vagans........................................................................32 3.2.2. Semente .....................................................................................................34 3.3. Etapas do processo germinativo e morfologia da plântula ......................37 3.4. Rendimento do ariri e seus componentes .................................................... 40 5. CONCLUSÃO ...................................................................................................42 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................43 ix CAPITULO II - FENOLOGIA REPRODUTIVA DE UMA POPULAÇÃO DE ARIRI Syagrus vagans (Bondar) Hawkes NA CAATINGA DE SENHOR DO BONFIM-BA RESUMO ...............................................................................................................47 ABSTRACT...........................................................................................................48 1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................49 2. MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................51 2.1. Caracterização do município e da área experimental ...............................51 2.2. Coleta de dados ...........................................................................................52 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................56 3.1. Caracterização climática..............................................................................56 3.2. Desenvolvimento Reprodutivo do Ariri ......................................................57 3.3. Fenofases......................................................................................................59 3.3.1. Fenofase de floração ................... x . LISTA DE TABELAS CAPITULO I Tabela 1- Biometria de inflorescência de S. vagans nas condições edafoclimáticas do município de Senhor do Bonfim –BA, 2005. ........27 Tabela 2- Biometria das flores de S. vagans nas condições edafoclimáticas do município de Senhor do Bonfim –BA, 2005. ......................................29 Tabela 3- Biometria de frutos, pirênios, sementes e embrião de S. vagans, nas condições edafoclimáticas do município de Senhor do Bonfim – BA, 2005 ...................................................................................................34 Tabela 4- Produtividade de Syagrus vagans nas condições edafoclimáticas de Senhor do Bonfim-BA, 2006. ..............................................................41 CAPITULO II Tabela 1 - Caracterização utilizada na descrição das fenofases segundo o estádio de desenvolvimento do ariri ..................................................53 xi LISTA DE FIGURAS CAPÍTULO I Figura 1 - Aspectos da espata de Syagrus vagans no momento da abertura: Avisão externa; B-visão interna. ...........................................................26 Figura 2 - A- Raquila de Syagrus vagans. B-detalhe das flores estaminadas; Cdetalhe da tríade. ................................................................................28 Figura 3 - Desenvolvimento da flor pistilada do ariri (A - F) ..................................30 Figura 4 – A-Detalhe do ovário; B-secção transversal mediano do ovário; Csecção transversal basal do ovário.. ..................................................31 Figura 5 - A- Flores estaminadas de ariri; 1- flores da tríade; 2- flores da região mediana da ráquila; ............................................................................31 Figura 6 - . A-detalhe da flor estaminada ; B-. detalhe da antera ..........................32 Figura 7 - Aspectos dos frutos maduros, pirênios e pericarpo de Syagrus vagans ................................................................................................33 Figura 8 - 1-Semente de Syagrus vagans; 2- frutos mostrando detalhes da semente ..............................................................................................35 Figura 9 - 1- A e B - embriões; C e D - segmentos de sementes de Syagrus vagans mostrando posição do embrião ..............................................36 Figura 10 - Pirênio de Syagrus vagans:................................................................37 xii Figura 11 - Estágios do processo de germinação. A - opérculo; B- protusão do pecíolo cotiledonar; C- surgimento da raiz primária; D- emissão da primeira bainha; E- emissão da segunda bainha; F- emissão de raízes terciárias; G- emissão do eófilo................................................38 Figura 12 - Plântula de Syagrus vagans com 70 dias...........................................39 CAPÍTULO II Figura 1 - Localização do Município de Senhor do Bonfim -BA ............................51 Figura 2 - Vista de plantas de ariri na fase de floração e frutificação, nas condições edafoclimáticas do município de Senhor do Bonfim –BA, em 2005.. ...........................................................................................54 Figura 3 - Evolução da média mensal da precipitação, temperatura, insolação e umidade relativa do ar, no período de 2000 a 2006, no município de Senhor do Bonfim-BA .........................................................................56 Figura 4 - Evolução da média mensal da precipitação, temperatura, insolação e umidade relativa do ar, no período de agosto de 2005 a outubro 2006, no município de Senhor do Bonfim-BA .....................................57 Figura 5 - Evolução das fenofases do ariri nas condições edafoclimáticas de Senhor do Bonfim-BA no período de outubro de 2005 a outubro de 2006....................................................................................................58 Figura 6 - Evolução fenológica da floração do ariri, da precipitação e da temperatura, no município de Senhor do Bonfim-BA, no período de outubro de 2005 a outubro de 2006 ...................................................60 Figura 7 - Evolução fenológica da frutificação da espécie Syagrus vagans, no município de Senhor do Bonfim-BA, no período de outubro de 2005 a outubro de 2006. ............................................................................61 xiii Figura 8. - Evolução fenológica da frutificação em Syagrus vagans e da precipitação e temperatura no município de Senhor do Bonfim-BA no período de outubro de 2005 a outubro de 2006 ..........................62 Figura 9 - Evolução do desenvolvimento vegetativo do ariri, da precipitação pluvial e temperatura do ar no município de Senhor do Bonfim-BA, no período de outubro/2005 a out/2006..............................................63 xiv MORFOLOGIA E FENOLOGIA REPRODUTIVA DO ARIRI (Syagrus vagans (Bondar) Hawkes)-ARECACEAE-, NUMA ÁREA DE CAATINGA DO MUNICÍPIO DE SENHOR DO BONFIM-BA. RESUMO - O Ariri (Syagrus vagans) de ocorrência endêmica na região centronorte do estado da Bahia e norte de Minas Gerais é pouco conhecido cientificamente apesar de sua importância para as localidades onde se encontra, sendo necessário iniciar pesquisas, no tocante à tecnologia de sementes, com essa palmácea. Desse modo, este trabalho objetiva ampliar a base de conhecimentos sobre a biologia do Ariri, com respeito à fenologia reprodutiva, caracterização morfológica (inflorescência, frutos, pirênios, sementes e plântulas), visando contribuir para a preservação, exploração econômica e o manejo sustentável dessa espécie. O material biológico para análise morfológica foi obtido na Reserva Legal da Escola Agrotécnica Federal de Senhor de Bonfim, localizada no município de Senhor do Bonfim, no estado da Bahia, e transportado para os laboratórios de Análise de Sementes e de Botânica, do Centro de Ciências Agrárias, Universidade Federal da Paraíba, Areia-PB, onde se procedeu à descrição das estruturas e a biometria dos frutos. As observações referentes às fases fenológicas (floração, frutificação e vegetativa) foram realizadas na mesma área de coleta, no período de outubro de 2005 a outubro de 2006; com leituras semanais (fase reprodutiva) e quinzenais (fase vegetativa). Ao tempo que se acompanharam as mudanças das fenofases de desenvolvimento reprodutivo, procurou-se relacioná-las com as evoluções da distribuição de precipitação pluvial, da temperatura do período. As inflorescências de ariri tinham raquis com comprimento de 41,8 cm; ráquilas com número variandol de 14 a 31 e comprimento de 10 a 25 cm; com registro de 149 flores pistiladas e 1546 flores estaminadas. Os frutos de ariri são simples, carnosos, do tipo drupa, indeiscentes, com 2,88 cm de comprimento e 1,17 cm de largura; coloração amarela-esverdeada a amarela; os pirênios têm em média 2,52 cm de comprimento por 1,34 cm de largura e coloração marrom. O embrião é geralmente linear, alojado da cavidade central do endosperma, próximo ao poro germinativo, medindo 4,21 mm de comprimento e 1,18 mm de largura (região proximal). A germinação foi classificada como hipógea, modalidade tubular remota não ligulada e criptocotiledonar, iniciando-se pela xv emissão do pecíolo cotiledonar, a partir do nono dia de semeadura, e a emergência do primeiro eófilo aos 60 dias após semeadura. A floração (emissão de espata) teve início em agosto, com maior concentração de espata fechada em outubro (estação seca); espata aberta e antese das flores pistiladas com pico em novembro (período de transição seco-chuvoso), enquanto o período de frutificação ocorreu entre os meses de fevereiro a maio, com pico em março (estação chuvosa). Há indícios que a floração e a frutificação sejam anuais e sazonais. Os caracteres morfológicos estudados são características das Arecaceae ou representam sinapomorfias utilizadas na delimitação do grupo taxonômico como subfamílias ou níveis hierárquicos mais baixos. As mudanças das fenofases como sugerem os dados são afetadas pelas variações climáticas, notadamente as distribuições anuais da precipitação pluvial que é muito variável no tempo. Palavras chave: desenvolvimento reprodutivo, biometria, palmeira. xvi MORFOLOGY AND REPRODUCTIVE PHENOLOGY OF ARIRI, ON AREA OF CAATINGA IN THE MUNICIPAL DISTRICT OF SENHOR DO BONFIM—BA Abstract: Ariri (Syagrus vagans (Bondar) Hawkes) of endemic occurrence on center-north of Bahia and north of Minas Gerais States and less known cientifically spite the importance to local areas, being necessary to iniciate the research. So, this work has the aim to enlarge knowledge about Ariri’s biology, to reproductive phenology, morphological featuring trying to contribute preservation, economic exploitation and sustainable management. Biologycal material was obtained in the Legal Reservation of the School Federal Agrarian Techniques Senhor do Bonfim, Bahia and taking to laboratories of Analyze de Seeds and Botany-CCA, UFPB in Areia-PB, where had a structural description and fruits biometry. Observations were carried out in the same collect during October 2005- October 2006, with weekly readings (reproduction) and at 15 days (vegetative period). Changes used relating with evolution of distribution of rainfall, temperature and sun periods. Inflorescences of Ariri had rachis of 41,8cm, raquiles with 14 to 31 and width of 10-25cm, registration of 149 flowers female and 1546 flowers male. Fruits are simple, drupe type, indehiscent with 2,88 cm length and 1,17 cm width, yellow-greenish coloration, pyrene have 2,52 cm length x 1,34 width and brown coloring. The embryo is usually lineal, on scope of central endosperm, with 4,12 mm length and 1,18 mm width. Germination was hipogeous of the type remote tube not lingulate and criptocotiledon, beginning by emission of cotyledon peciolous in the ninth day of seedling, and emergency to 60 days after seedlings. Flowering began on August with bigger concentration in October (dry period); open spate with peak in November (dry-raing) and fructification occurred in February-May, Studied morphological are features of Arecaceae or represent used sinapormophies of taxonomic group as sub-families or other levees lower. Changing of phenolperiod is damaged by climatic variations, on yearly rainfall which is variable on weather. Key words: reproductive development, biometry, palm. xvii 1. INTRODUÇÃO GERAL A família Arecaceae Schultz Sch, também conhecida como Palmae, única família da ordem Arecales é, conforme Noblick (1996) depois das gramíneas, o segundo grupo das monocotiledôneas em importância econômica. As palmeiras são consideradas as aristocratas do reino vegetal, sendo denominadas pelos botânicos de “Príncipes das florestas", em decorrência do porte altaneiro e elegante que as destaca facilmente de outros vegetais (BONDAR, 1964, LORENZI et al, 1996). As palmeiras, conforme dados paleontológicos, surgiram no período Paleozóico Superior, evoluíram na Era Mesozóica, no Período Cretáceo Superior e apresentaram maior desenvolvimento e disseminação no Período Terciário, ocupando todos os continentes atuais, principalmente as regiões tropicais e subtropicais. Registros históricos constatam a ocorrência de mais de 80 espécies de palmeiras fósseis. Destas, são existentes até a atualidade: Astrocarym G. Mey., Cocos L., Geonoma Willd., Manicaria Gaertn., Nipa Thunb., Phoenix L., Sabal Adans. e Tthrinax Sw.. As restantes são protótipos dos gêneros atuais (BONDAR, 1964; NOBLICK, 1986; ALVES e DEMATTÊ, 1987; LORENZI et al, 1996). Atualmente, a família Arecaceae, conforme Stevens (2001) é representada por aproximadamente 187 gêneros e 2.000 espécies com distribuição pantropical. Os maiores centros de diversidade dessa família ocorrem nas regiões tropicais da Ásia, Indonésia, Ilhas do Pacífico e América do Sul e Central. Nas Américas, sete gêneros apresentam distribuição ampla: Euterpe Mart., Prestoea Hook.f., Desmoncus Mart., Bactris Jacq. ex Scop., Geonoma Willd., Chamaedorea Willd. e Acrocomia Mart., sendo os demais restritos a uma determinada área com características edafoclimáticas específicas (HENDERSON et al, 1995). Segundo Noblick (1986), algumas espécies têm distribuição tão limitada que são endêmicas a determinadas regiões, como Syagrus werdernannii Burret (Caetité-BA), S. harleyi Glassman (Mucugê-BA) e S. microphyilal Burret (Moro do Chapéu-BA). As florestas brasileiras apresentam grande diversidade de espécies da família Arecaceae. Segundo Rodrigues (1903), existiam no Brasil 42 gêneros e 382 espécies. De acordo com Henderson e Scariot (1992), ocorrem 200 espécies distribuídas em 39 gêneros. Dessas, apenas uma pequena quantidade tem sido objeto de pesquisas. O estudo das palmeiras nativas é de fundamental importância, pois muitas possuem grande potencial sócio-econômico para as diversas comunidades (JARDIM e STEWART 1994). Mesmo algumas espécies que já são industrializadas têm um potencial de uso doméstico e de uso como cultura de subsistência muito além do geralmente suposto, como é o caso do babaçu (MAY et al. 1985). As palmeiras têm grande importância econômica pelos diferentes produtos que delas podem ser obtidos. Conforme a espécie, estas palmeiras fornecem madeira de construção, folhas e talos para a cobertura de moradias e cercas de quintais e para a fabricação de esteiras, cordas, sacos, cestos, chapéus, etc. As folhas, frutos e sementes são consumidas tanto pelos animais domésticos como os silvestres. Dos produtos destinados à alimentação humana, pode-se citar o óleo, o leite, palmito, vinho, amido, amêndoa e os frutos, que podem ser consumidos frescos, como também empregados na preparação de bebidas e sorvetes (BONDAR, 1964; NOBLICK, 1984; LORENZI et al, 1996; LEITE, 2001). Além dos usos comerciais, as palmeiras são de grande importância para o paisagismo e para os trabalhos de recomposição dos ecossistemas florestais (LEITE, 2001). Na Bahia, ocorrem 15 gêneros de palmeiras, dos quais oito são encontrados no semi-árido. Essas palmeiras têm grande importância na economia de subsistência nas comunidades locais. Entre as espécies encontradas na Bahia, destaca-se a Syagrus vagans (Bondar) A.E. Hawker, vulgarmente denominada de ariri, licuriroba ou pindoba das caatingas (CREPALDI, 2004). Essa espécie apresenta grande importância social nos municípios onde ocorre, já que dela pode ser aproveitado praticamente todo o corpo da planta, da qual se obtém uma enorme variedade de produtos e artefatos. Na pecuária, a palha, flores e frutos in natura são fornecidos nos períodos da seca para os bovinos, ovinos e caprinos e as amêndoas são utilizadas como ração para aves e suínos (BONDAR, 1964; NOBLICK, 1986). 2 O conhecimento sobre morfologia de frutos, sementes e germinação é indispensável na classificação de grupos ecológicos e identificação botânica das espécies permitindo, assim, seu reconhecimento em bancos de sementes do solo e em fases de plântulas em formações florestais (CRUZ et al. 2001; MELO et al. 2004). Toledo e Marcos–Filho (1977) ressaltam que as estruturas morfológicas do embrião, a posição que o mesmo ocupa na semente é muito distinta entre os diferentes grupos taxonômicos, o que permite a identificação de famílias, gêneros e até espécies. Na visão de Araújo et al. (2004), há carência de estudos sobre morfologia e biometria de frutos, sementes e plântulas de espécies florestais tanto nativas como exóticas. Em relação às palmeiras, Belin-Depoux e Queiroz (1998) ressaltaram que a morfologia da germinação das palmeiras ainda é pouco estudada. Aspectos morfológicos da germinação foram descritos para as espécies Euterpe oleracea Mart. (PINHEIRO, 1992), Euterpe edulis Mart. (BELIN-DEPOUX e QUEIROZ 1998), Phoenix roebelenii O’Brien (IOSSI, 2002) e Euterpe precatoria Mart. (AGUIAR e MENDONÇA 2002). Foram encontradas na literatura, pesquisas enfocando a morfologia de frutos e sementes somente para Syagrus romanzoffiana (Cham.) Glassman, Leite (2001), Attalea maripa (Aubl.) Mart., Araújo et al. (2000), Euterpe precatória Mart., Aguiar e Mendonça (2001). Com relação à espécie Syagrus vagans, encontra-se o trabalho de Bondar (1939b), abordando apenas descrição da espécie. O presente trabalho objetivou ampliar a base de conhecimento sobre a biologia do ariri através da caracterização morfológica da inflorescência, frutos, sementes e plântulas; descrição as etapas do processo germinativo, e estudo da fenologia reprodutiva, contribuindo assim para a preservação, exploração econômica e seu manejo sustentável. 3 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Família Arecaceae A familia Arecaceae, conhecida antigamente como Palmae, é constituída por plantas pertencentes à divisão Magnoliophyts, classe Liliopsida, e é a única família botânica da ordem Aracales. As palmeiras são plantas perenes, arborescentes, com representantes dióicos e monóicos, de morfologia variada. As raízes podem ser subterrâneas ou aéreas. Os estipes são geralmente lenhosos, simples, solitários ou ocasionalmente ramificados formando touceiras, mas por vezes se apresentando como acaule (caule subterrâneo). Quando áereo, em geral, o estipe pode apresentar-se liso ou densamente coberto por espinhos. As folhas são formadas essencialmente por um eixo no qual são distinguidas três regiões: bainha, pecíolo e limbo. O limbo é uma lâmina foliar constituída pela raque que é a continuidade do peciolo. O limbo pode variar dentro do gênero e da espécie e até mesmo durante o desenvolvimento da planta. Quanto à disposição dos folíolos as folhas podem ser pinadas ou palmadas. São pinadas quando os folíolos dispõem-se ao longo da raque de espaço a espaço e, palmadas, quando a raque é muito curta ou inexistente. As inflorescências podem ser interfoliares, intrafoliares ou axilares, paniculadas e constituída por bracteas, espata e raquis. A raquis é o eixo principal da inflorescência e pode apresentar ramificações de diversas ordens – as ráquilas. As flores são pequenas e numerosas, curto-pediceladas ou sésseis, pouco vistosas, unissexuadas ou raramente bissexuais, trímeras, actinomorfas, geralmente diclamídeas, heteroclamídeas ou raramente monoclamídeas. O androceu tem 6 estames dispostos em 2 séries de 3, com estaminóides presentes. O gineceu, geralmente, gamecarpelar, ovário súpero, tricarpelar, trilocular, triovular, mas freqüentemente com apenas um fértil (MARCATO e PIRANI, 2001; SOUZA e LORENZI, 2005). Os frutos são do tipo drupa ou baga, variáveis no tipo, cor, tamanho e forma e geralmente apresentam três camadas: exocarpo, mesocarpo e 4 endocarpo. O exocarpo pode ser liso, com presença de espinhos ou escamoso, o mesocarpo é de natureza fibrosa, seca ou fibrosa-suculenta e o endocarpo pode ser fino, membranoso, celulósico, espesso ou lignificado. As plântulas possuem folhas inteiras, bifidas ou pinadas (MIRANDA et al, 2001). 2.1.1. Distribuição geográfica A família Arecaceae apresenta distribuição pantropical, sendo especialmente diversificada na Ásia Tropical e América do Sul. Embora as palmeiras desenvolvam-se melhor nos trópicos, há espécies típicas dos desertos, espécies de montanhas e outras em clima frio ou temperado (ALVES e DEMATTÊ, 1987). Segundo Svenning (2001), os padrões de diversidade e abundância de palmeiras em escala geográfica nos neotrópicos são, primeiramente, relacionados com o total e a sazonalidade da precipitação e temperatura e, secundariamente, com condições edáficas. Nas Américas, são encontrados 67 gêneros e aproximadamente 1.440 espécies, das quais cerca de 200 espécies e 39 gêneros são registrados para o Brasil (PIVARI & FORZZA, 2004). Segundo Alves e Demattê (1987), os gêneros Acrocomia Mart., Allogoptera Nees., Astrocarrym G. Mey., Attalea Kunth., Bactris Jacq. ex Scop., Butiá (Becc.) Becc., Genoma Willd., Iriartea Ruiz e Pav. e Syagrus Mart., são encontrados em todo o país; os gêneros Aiphanes Willd., Elaeis Jacq., Leopoldinia Mart., Lepidocaryum Mart., e Phytelephas Ruiz e Pav, são endêmicos da região norte, enquanto que o gênero Lytocaryum Toledo é endêmico da região sudeste e Trithrinax Mart. da região sul. Conforme Alves e Demattê (1987) e Noblick (1986), muitas espécies apresentam distribuição restrita, como por exemplo, Syagrus duartei Glassman (Serra do Cipó-MG), Syagrus glaucescens Glaz. ex Becc (Diamantina-MG)., Syagrus werdermannii Burret (Caititté- Ba), Syagrus harleyi Glasman (MucugêBa) e Syagrus microphylla Burret (Morro do Chapéu-BA), Aiphanes ernestii (Burret) Burret no Acre e Bactris hylophila Spruce na Amazônia. De acordo com Henderson & Medeiros-Costa (2006), no Nordeste encontram-se 16 gêneros e setenta espécies de palmeiras, sendo os gêneros 5 Syagrus (16), Bactris (15) e Attalea (11) os que apresentam maior número de espécies. Encontram-se ainda, segundo Alves e Demattê (1987), nas regiões norte e nordeste do Brasil, densas populações de palmeiras que são denominadas Zonas de Cocais, caracterizadas pelos babaçuais, carnaubais e buritizais. 2.1.2. Importância econômica e ecológica As palmeiras são freqüentemente chamadas de “espécie chave” (DONATTI, 2004) por apresentarem pouca sincronia de frutificação, se comparada com outras espécies de um mesmo bioma e, portanto, em épocas de escassez de alimentos, seus frutos estão disponíveis para a fauna. Seus frutos são consumidos por aves, mamíferos, répteis, peixes e insetos (GALETTI e ALEIXO, 1998). Economicamente, as palmeiras apresentam uma grande variedade de utilidades, sendo aproveitadas da planta tanto as estruturas reprodutivas como vegetativas. No semi-árido baiano, os frutos das palmeiras Ariri (Syagrus vagans) e Licuri (Syagrus coronata (Mart.) Becc) são usados para alimentação de animais domésticos e silvestres, na preparação de bebidas e sorvetes, óleo, ração, farofa, cocada, leite de coco. As folhas são utilizadas na cobertura de casas rústicas, como fontes de cera, material fibroso para fazer chapéus, capas de chuva, redes, cestos e como forragens para animais em período de secas e os estipes na construção de móveis, cercas, etc. pelas comunidades locais (BONDAR, 1964; NOBLICK, 1986). Do fruto de algumas palmeiras é produzido vinho (Acrocomia., Jubaea, Euterpe). Comercialmente as palmeiras mais importantes são os coqueiros (Cocos nucifera L.) e o dendê (Elaeis oleifera (Kunth) Cortés), ambas são fontes de óleo vegetal. Do coqueiro, utilizam-se as fibras da casca e endocarpo para artesanato, da amêndoa, extrai-se o leite de coco e, finalmente, a seiva da inflorescência é usada como bebida, fermentada ou não, e também serve como açúcar, álcool e vinagre (NOBLICK, 1986). 6 2.1.3. Gênero Syagrus. O gênero Syagrus pertence à sub-família Arecoideae, possui 30 espécies distribuídas na América do Sul, com maior diversidade na região central do Brasil. Sendo que 16 espécies concentram-se na região nordeste e 14 são registradas para a floresta Atlântica (HENDERSON et al. 1995, NOBLICK, 1996; HENDERSON e MEDEIROS-COSTA, 2006). Algumas espécies do território brasileiro também são encontradas em países vizinhos, como Syagrus arenicola e Syagrus oleracea (Mart.) Becc. no Paraguai; Syagrus capitata no Uruguai, Syagrus romanzoffiana no Paraguai, Uruguai e Argentina; e Syagrus inajai (Spruce) Becc. na Guiana Francesa, Suriname e Colômbia (ALVES e DEMATTÊ 1987). Conforme Noblick (1996) e Marcato e Pirani (2001), as palmeiras do gênero Syagrus podem ter porte pequeno a grande, solitárias ou cespitosas, tronco muito curto, subterrâneo a ereto e alto. As folhas são pinadas com o comprimento variando de 7 cm a 3 metros, são espiraladamente arranjadas ou mais ou menos arranjadas em 5 linhas verticais, com folíolos poucos a numerosos, regular ou irregularmente arranjados, dispostos em um ou muitos planos, lineares. As inflorescências algumas vezes são espiciforme, usualmente ramificada, brácteas pedunculares mais ou menos lenhosas, raro coriáceas ou papiráceas, glabras, glaucas ou pubescentes e longitudinalmente sulcada. Os mesmos autores afirmam que as flores estaminadas são mais ou menos assimétricas, possuem seis estames e pistilo diminuto. As flores pistiladas são levemente menores a muito maiores que as estaminadas, com anel de estaminódios membranoso podendo estar presente ou não. O gineceu apresenta forma colunar a cônico ou ovóide. Os frutos variam de tamanho sendo que o comprimento pode oscilar de 1,5 a 2,5 cm até 6 a 7 cm e o diâmetro de 1,5 a 2,5cm, apresentam forma esférica, ovóide ou elíptica e a coloração variando entre verde-amarelada a amarela ou avermelhada, algumas vezes rostrado, o perianto e anel de estaminódios persistentes. O fruto apresenta três camadas; o epicarpo que pode apresentar-se liso ou longitudinalmente estriado, glabro ou piloso; o mesocarpo com consistência 7 de carnoso a seco; endocarpo espesso, lenhoso com poros basais a subbasais. A cavidade do endocarpo pode ser irregular ou mais comumente circular, raro triangular na secção transversal e geralmente com uma única semente. 2.1.4. Descrição da espécie O Syagrus vagans (Bondar) A. D. Hawkes é uma palmeira xerófila que ocorre na região centro norte do estado da Bahia e norte de Minas Gerais (HENDERSON et al., 1995), O epífeto vagans de seu nome, segundo Lorenzi (1996), deve-se ao crescimento subterrâneo do caule que resulta na mudança progressiva de lugar (vagar). É uma palmeira com caule subterrâneo, de 10 a 15 cm de diâmetro, prostrado horizontalmente a uma profundidade de 15 a 30 cm, algumas vezes visível próxima à superfície e fortemente enraizado no seu comprimento. Possui folhas eretas variando de 20 a 30, com até 3 metros de altura, com numerosos folíolos verde-escuros, lineares, em ângulos agudos, a raques, de 30 a 50 cm de comprimento e 1,5 a 2,5 cm de largura (BONDAR, 1939b). A espata é ereta em média com 1,8 m de comprimento e 7 a 8 cm de largura. A inflorescência do mesmo comprimento da espata, paniculada axilar, O pedúnculo é de 4-5 vezes mais comprido que a raquis, sendo que a raquis e ráquilas têm aproximadamente 30-40 cm de comprimento. As flores femininas têm formato redondo piramidal e coloração amarelo-pálida, com 5 mm de largura por 4 mm de comprimento; são acompanhadas de duas masculinas de 3 a 4 mm de comprimento, formando as tríades (BONDAR, 1939b). Produz infrutescência em média com 100 frutos, elipsóide do tipo drupa, de coloração verde a alaranjado quando maduros, medindo cerca de 3 cm de comprimento por 1, 8 cm de largura (LORENZI, et al. 1996). Diferentes usos são dados a esta palmeira. Entre eles, podem-se citar o potencial ornamental e as folhas, inflorescências e frutos que servem como forragem para o gado, pela facilidade de acesso (BONDAR, 1939a, 1964). As folhas produzem pequena quantidade de cera e são usadas na cobertura de casas e confecções de artesanatos. O endosperma é usado na alimentação de 8 galináceos e suínos e a extração da amêndoa para o comércio e para as indústrias de óleos (LORENZI et al. 1996; NOBLICK, 1984). 2.2. Morfologia de frutos, sementes, germinação e plântula. Em monocotiledôneas, especificamente com a família Arecaceae, alguns trabalhos de morfologia foram desenvolvidos, como por exemplo, os estudos morfoanatômicos realizados por Aguiar e Mendonça (2001, 2002) para a semente e embrião de Euterpe precatoria Mart.; e Leite (2001) que estudou a divergência morfométrica em Syagrus romanzoffiana. A germinação da semente, nas monocotiledôneas, segue um de dois esquemas fundamentais. No primeiro caso, os cotilédones mantêm-se no interior da semente, característica básica das gramíneas. No segundo caso, o cotilédone sai para o exterior e tem conecção com a plântula em desenvolvimento, características de alguns gêneros de palmeiras como Syagrus , Phoenix e Euterpe (FERRI, 1983; AGUIAR, 1998; IOSSI, 2002). Uma das características das sementes de palmeiras é apresentar variação no número de dias necessários para a germinação. Bovi e Cardoso (1978) observaram para açaí (Euterpe oleracea Mart), em condições adequadas de umidade e temperatura, que a germinação iniciou-se com 30 dias após semeadura e prolongou-se até 300 dias do seu início. Matthes e Castro (1987) registraram de 42 a 334 dias para que o processo germinativo ocorresse em sementes de Syagrus coronata. Em outro trabalho com germinação de açaí, Bovi e Cardoso (1976), utilizando sete tratamentos com o objetivo de abreviar o processo germinativo, observaram que as sementes iniciaram a germinação após 57 dias da semeadura, prolongando–se aproximadamente até 240 dias. Nascimento et. al. (2002), pesquisando a influência da posição de semeadura na germinação de bacabinha (Oenocarpus mapora karsten), observaram que o tempo médio de germinação foi de 15 a 27 dias. A germinação das sementes de palmeiras é do tipo hipógea, uma vez que a folha cotiledonar não emerge do solo, ficando nele parcialmente ou totalmente contida (PINHEIRO e ARAÚJO NETO, 1985). Tomlinson (1960) classificou a germinação das palmeiras, usando como critério a extensão 9 assumida pelas diferentes partes do cotilédone durante o processo germinativo em três: remota lígula (eixo cotiledonar estendido com lígula), remota não ligular (eixo cotiledonar estendido sem lígula) e adjacente ligulada (eixo cotiledonar não estendido e lígula geralmente presente). 2.3. Fenologia de palmeiras As características fenológicas das espécies florestais são valiosas de ponto de vista botânico e ecológico, possibilitando melhor compreensão sobre a biologia das populações, na organização e estrutura das comunidades. Estas podem influir diretamente no fluxo gênico de plantas determinado pelo comportamento de polinizadores e/ou visitadores e na evolução de estratégias reprodutivas. Ainda permitem a previsão da época de reprodução e caracterização desse processo, a deciduidade e ciclo de crescimento vegetativo - parâmetros que podem ser utilizados para o manejo adequado da flora (RIBEIRO e CASTRO, 1986; JARDIM e KAGEYAMA, 1994; ALENCAR 1994;). Bencke e Morellato (2002), observaram que as fenofases de queda de folhas, brotamento e floração (espécies arbóreas da floresta Atlântica), ocorreram com maior intensidade na estação super-úmida e a de frutificação ocorreu no final da estação super-úmida e prolongando-se até meados da estação menos úmida. Os autores observaram ainda, em Syagrus pseudococos, que a floração foi anual, com duração de quatro meses, iniciando-se no final da estação super úmida e cessando no início da estação menos úmida. Já a frutificação, ocorreu com maior intensidade durante a estação super-úmida; enquanto que para Euterpe edulis, a frutificação ocorreu no final da estação super-úmida, estendendo-se por um ou dois meses na estação menos úmida. Diversos trabalhos foram realizados em área de Cerrado de diversas regiões do país (ARAÚJO et al. 1987; MONTOVANI e MARTINS, 1988; NASCIMENTO et al., 2002; REYS et al., 2005;). Nesses trabalhos observou-se que geralmente a queda de folhas ocorre durante o período mais seco do ano e a produção de folhas novas no final da estação seca e no início da estação 10 chuvosa. No entanto, Antunes & Ribeiro (1999), observaram que algumas espécies por eles estudadas emitiram folhas novas no período de seca. Na região amazônica, existem diversos trabalhos sobre fenologia tanto em Arecaceae como em outras famílias. Ruiz & Alencar (2004), ao estudarem a palmeira patauá (Oenocarpus bataua Mart), afirmaram que as fenofases, cachos com frutos caindo e cachos com frutos caídos, apresentaram correlações positivas significativas com temperatura média e máxima, umidade relativa e insolação. No entanto, apresentaram correlações negativas com precipitação e umidade relativa. Henderson et al. (2000) relacionou índice pluviométrico com o período de floração de diversas espécies de palmeiras. Os autores observaram que o gênero Bactris floresceu durante a estação chuvosa, enquanto as palmeiras Hyospathe elegans e Geonoma maxima var. spixiana floresceram na estação seca. Jardim & Kageyama (1994) observaram para Euterpe oleracea que os picos de floração e frutificação ocorreram nas estações chuvosa e seca respectivamente. Na região sudeste, Castro (2003) estudou o comportamento fenológico de frutificação em Euterpe edulis, em três formações florestais na Mata Atlântica-SP, com diferentes altitudes e relacionando-o com fatores climáticos. Observou que a espécie não manteve os mesmos padrões fenológicos nos três tipos de florestas. Resultados esses que o autor relacionou às prováveis variações climáticas (temperatura e precipitação) e às condições edáficas. Fisch et al. (2002) estudaram a mesma espécie em região montanhosa na Mata Atlântica-SP, e observaram que o padrão é comum ao encontrado por Castro, uma vez que ambos verificaram a ocorrência simultânea de inflorescências com infrutescências imaturas e verdes e, em nenhum momento, observaram inflorescência simultaneamente com infrutescências maduras. O pico de floração em ambos os trabalhos ocorreu no mês de novembro, e a maturação de frutos variou, tendo ocorrido principalmente em abril, maio e junho. Jardim e Kageyama (1994) também observaram para Euterpe oleracea que os picos de floração e frutificação ocorreram nas estações chuvosa e seca. Na região nordeste, Leite e Encarnação (2002) estudaram a fenologia em cultivares de coqueiro, na Zona da Mata em Pernambuco, e relatam que as fenofases de brotação, floração e frutificação ocorrem tanto no período 11 chuvoso como no seco. Porém na estação chuvosa a brotação foi mais freqüente, enquanto que ocorreu redução na produção de inflorescências. Barbosa et al., (1989), analisaram as fenofases de brotamento, floração, frutificação e síndromes de dispersão para espécies lenhosas no Agreste Pernambucano. Eles observaram que as espécies estudadas apresentaram dois picos das fenofases de brotamento, floração, frutificação, um na estação chuvosa e outro na seca, sendo que a maior intensidade das mesmas ocorreu na estação chuvosa. Locatelli e Machado (2003) observaram que Attalea oleifera Barb. Rodr., em Mata Serrana ( brejo de altitude) em Pernambuco, floresce na estação seca e inicia a frutificação no período de transição entre o período seco e o chuvoso, estendendo-se até o período chuvoso. 12 3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGUIAR, M. D. Morfo-anatomia da semente, germinação e plântula de Euterpe precatória Mart. (Açaí-solteiro). Manaus: 1998. 80f. Dissertação (Mestrado em Biologia Tropical e Recursos Naturais) Instituto de Pesquisas da Amazônia, Universidade do Amazonas, Manaus. AGUIAR, M.O.; MENDONÇA M.S. de. 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Principes, v.4, nº 2, p:56-63, 1960. 18 CAPÍTULO I-CARACTERIZAÇÃO MORFOLÓGICA DE INFLORESCÊNCIAS, FRUTOS, SEMENTES, E PLÂNTULA E DESCRIÇÃO DAS ETAPAS DO PROCESSO GERMINATIVO DE ARIRI - Syagrus vagans (Bondar) Hawkes (ARECACEAE). RESUMO - Syagrus vagans (Bondar) A.D.Hawkes é uma palmeira de pequeno porte, com caule subterrâneo e distribuição restrita à região centro norte da Bahia e norte de Minas Gerais. O presente trabalho teve como objetivo caracterizar esta espécie através da descrição morfológica da inflorescência, fruto, semente, estágios de germinação e plântula, bem como esclarecer alguns aspectos da sua biologia reprodutiva. As inflorescências têm raquis com 41,8 cm de comprimento em média, entre 14 e 31 ráquilas, com comprimento variando de 10 a 25 cm, e em média 253 flores pisitiladas e 2035 flores estaminadas. Os frutos são do tipo drupa carnosa, medindo em média 2,88 cm de comprimento e 1,17cm de largura, coloração amarelo-esverdeada a amarela. Os pirênios têm em média 2,52 cm de comprimento por 1,34 cm de largura e coloração marrom. O embrião é geralmente linear alojado no interior da cavidade central do endosperma com 4,21 mm de comprimento e 1,18 mm de largura (região proximal). A germinação é do tipo remota não ligulada e criptocotiledonar. A emergência do primeiro eófilo ocorre em média aos 60 dias após semeadura. Os caracteres morfológicos estudados são característicos das Arecaceae ou representam sinapomorfias utilizadas na delimitação do grupo taxonômico como subfamílias ou níveis hierárquicos mais baixos. Palavras chave: palmeira, biometria de sementes, caatinga. 19 MORPHOLOGYCAL CHARACTERIZATION OF INFLUORESCENCE, FRUITS, SEEDS, STAGES OF GERMINATION AND SEEDLING OF THE ARIRI PALM – Syagrus vegans (Bondar) Hawkes (ARECACEAE) ABSTRACT: Syagrus vagans (Bondar) Hawkes is a small palm, with underground stem and endemic to center north of Bahia and north of Minas Gerais States. This paper had as objective to characterize this species through the morphologic description of the inflorescence, fruit, seed, phase of germination, seedling, and clarifying some aspects of their reproductive biology. In mean, the rachis were 41,8 cm long, with 14 – 31 rachilla, theses with 10 at 25 cm long and circa of 149 female and 1546 male flowers. The fruits are drupe with 2,88 cm length by 1,17 width, yellow-greenish to yellow. The embryo is located in the central portion of the endosperm, with 4,21 mm length by 1,18 m width. The germination is of the tubular remote type and criptocotiledonar. The morphological features of S. vagans is typical of the Arecaceae family or are sinapormophy used in the taxonomic delimitation of sub-families and others hierarchical levels. Key words: palm, fruits biometry, caatinga. 20 1. INTRODUÇÃO A família Arecaceae compreende plantas de importante valor econômico pela produção de coco, palmito, sagu, açúcar, óleo, tâmaras, fibras e material para construções (ALVES & DEMATTÊ, 1987). Nas Américas, são referidos 67 gêneros e aproximadamente 1.440 espécies de palmeiras, das quais cerca de 200 espécies e 39 gêneros são registrados para o Brasil (PIVARI & FORZZA, 2004). Para a Região Nordeste ocorrem 16 gêneros e 70 espécies. Os gêneros que apresentam maior diversidade de espécies são Syagrus Mart. (16), Bactris Jacq. Ex. Scop (15) e Attalea Kunth (11) (HENDERSON e MEDEIROS-COSTA, 2006). O gênero Syagrus é incluído na subfamília Arecoideae (ASMUSSEN et al., 2006), possui um total de 44 espécies de distribuição exclusivamente Neotrópica, das quais 39 ocorrem no Brasil (ALVES e DEMATTÊ 1987), e 16 para a Região Nordeste (HENDERSON e MEDEIROS-COSTA, 2006). Segundo Crepaldi et al (2004), na flora da Bahia ocorrem 15 gêneros de palmeiras, dos quais oito são encontrados no semi-árido. Dentre estes, o gênero Syagrus é representado por sete espécies: S. coronata (Mart.) Becc., S. vagans (Bondar) A.E. Hawker, S. x matafome (Bondar) Glassman, S. Flexuosa (Mart.) Becc., S. comosa (Mart) Mart,. S. werdermannii Burret e S. microphylla Burret (NOBLICK, 1986). Nesse Estado, as palmeiras são responsáveis pela economia de subsistência de muitas comunidades locais, destacando-se S. vagans e S. coronata, que constituem fonte de renda considerável para as comunidades locais onde ocorrem. Syagrus vagans tem caule subterrâneo de vários metros de comprimento, posicionado horizontalmente, algumas vezes parcialmente visível. Ocorre na região centro norte do estado da Bahia e norte de Minas gerais formando grandes populações, geralmente associado à S. coronata. (HENDERSON, et al., 1995). As folhas são utilizadas na cobertura de casas rústicas, nas atividades de artesanato e, juntamente com as inflorescências e frutos são usados como forragem para o gado no período da seca. Seu endosperma, que constitui a amêndoa, é usado na alimentação humana e de animais domésticos e silvestres. E, segundo Lorenzi et al. (1996), tem grande potencial ornamental. 21 O estudo das características morfológicas de frutos e diásporos de espécies florestais é importante para o conhecimento da biologia das espécies, e na diferenciação de espécies próximas (BARROSO et al,1999; SILVA et al, 2003; ARAÚJO et al.2004). Muitos aspectos morfológicos das plântulas podem ser empregados, tanto para identificação de plantas de uma determinada região, quanto para facilitar a interpretação de testes de germinação em laboratório (OLIVEIRA, 1993). Em relação ao gênero Syagrus, com exceção do trabalho de Leite (2001) que analisou a divergência morfométrica de frutos e diásporos de S. romanzoffiana (Cham.) Glassman, não foram encontrados, na literatura, trabalhos abordando aspectos da morfologia de frutos, sementes e plântulas para outras espécies do gênero. Visando suprir essa deficiência e contribuir para conhecimento desse aspecto biológico, este trabalho teve como objetivos caracterizar morfologicamente frutos, pirênios, sementes, e plântula e descrever as etapas do processo germinativo de Syagrus vagans (ariri). 22 2. MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi realizado em duas etapas: a primeira (morfologia da inflorescência e a produtividade do ariri) foi realizada na Escola Agrotécnica Federal de Senhor do Bonfim (EAF-SB), localizada no município Senhor do Bonfim-BA e a segunda etapa (morfologia de flores, frutos, sementes,plântulas e descrição dos estágios germinativos) no Centro de Ciências Agrárias-UFPBPB. O estudo morfológico de dez inflorescências foi realizado em uma área de caatinga, localizada na Reserva Legal da EAF-SB. No momento da abertura da espata foram mensurados o pedúnculo, raquis, ráquilas, número de flores estaminadas e pistiladas. Observou-se também a coloração do conjunto e a disposição das flores nas ráquilas. Ainda em campo, foram colhidas ao acaso 10 infrutescências no mesmo estágio de maturação e transportadas para o laboratório de Biologia da EAFSB. Utilizando-se balança comercial com capacidade de até 15Kg, determinou-se o peso das infrutescências, com e sem frutos, o peso de frutos e o número de frutos por infrutescências. Para determinar o número de frutos por quilograma foram retiradas ao acaso 10 amostras de um quilograma em um lote de 1500 frutos. Após a pesagem, os frutos foram despolpados manualmente e pesados novamente para determinar o número de pirênios por quilo. Para a descrição morfológica das flores pistiladas e estaminadas foi coletada uma ráquila na região basal, uma na mediana e uma na terminal de 10 inflorescências. Essas foram conservadas em álcool (45%) e transportadas para o Laboratório de Botânica do Centro de Ciências Agrárias-UFPB. Os frutos utilizados na caracterização morfológica e para a descrição do processo germinativo foram acondicionados em caixa de isopor, transportados e conservados em câmara fria no Laboratório de Sementes-CCA/ UFPB, até o momento das análises. A determinação do conteúdo de água dos frutos e pirênios foi feita por pesagem, após a secagem do material em estufa a 105ºC ± 3ºC, durante 24 horas (BRASIL, 1992), e os cálculos equivalentes ao peso de mil frutos foram feitos segundo as Regras para Análise de Sementes (BRASIL, 1992). 23 Para as avaliações morfométricas, os frutos foram misturados em um único lote de 1500 frutos, de onde foram retiradas 100 unidades e tomadas às medidas de comprimento e largura (região mediana) para frutos, pirênios e sementes. Considerou-se como comprimento, a distância entre a base e o ápice e a largura foi medida na região mais larga. Foi adotada a definição de Barroso et al (1999) para frutos como sendo a estrutura que representa o ultimo estágio de desenvolvimento do gineceu fecundado ou partenocárpico; pirênios, como sendo o fruto desprovido do pericarpo (ROJAS, 2002) e sementes a unidade formada pelo embrião, endosperma e pelos envoltórios protetores (PAOLI, 2006). As dimensões foram obtidas utilizando-se paquímetro digital e as medidas de peso em balança analítica. Além disso, foram ainda selecionadas 30 sementes para a retirada do embrião e observada sua posição, tamanho, forma, coloração e demais estruturas internas. As ilustrações foram obtidas através de máquina fotográfica digital acoplada ao microscópio binocular estereoscópico. Os dados dos estágios do processo germinativo e da morfologia da plântula foram obtidos de 70 frutos, dos quais se retirou manualmente o mesocarpo, obtendo-se os pirênios (endocarpo + amêndoa). Para a germinação, os pirênios foram tratados com antifúngico (Captan 750 TS), secos à sombra e acondicionados sobre papel germiteste, umedecido com água destilada, contendo nistatina a 0,2% (antifúngico) e, em seguida, distribuídos no interior de sacos de polietileno preto e mantidos em condições não controladas de laboratório. Dez dias após a maioria dos pirênios emitiu pecíolos cotiledonares, sendo então divididos em 10 grupos, e repicados para bandejas plásticas com substrato de areia e terra vegetal na proporção 1:1. A cada 10 dias após a repicagem, determinou-se nas plântulas, o comprimento e diâmetro do pecíolo cotiledonar, da raiz primária, da bainha cotiledonar (onde se localiza a plúmula); número de raízes secundárias e terciárias; altura da plântula obtida através da medição da região do colo até o ápice do eófilo e altura das bainhas, medidas desde a região do colo até o ápice. 24 A termologia usada na descrição de inflorescência, flores, frutos maduros, semente, embrião e plântula, foi adaptada de Barroso et al (1999), Rojas (2002), Henderson (2006). Na análise dos dados quantitativos, referentes aos frutos pirênios e semente; utilizou-se a estatística descritiva e, a análise de variância na comparação das médias. 25 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1. Caracterização morfológica da inflorescência O ramo florífero de Syagrus vagans é intrafoliar, ou seja, surge na axila de uma folha modificada - a espata, uma estrutura lenhosa, persistente, medindo 97 a 167 cm de comprimento. Quando próxima da emissão da inflorescência, a espata apresenta aspecto intumescido devido ao aumento do tamanho dos botões florais, e sua abertura ocorre através de uma fenda longitudinal mediana. Quando aberta, a espata apresenta externamente bordas de coloração verde e porção mediana central amarronzada, áspera, glabra. Já a face interna é lisa de coloração amarelo-clara (Figura 1). Após a senescência das flores masculinas, a espata adquire externamente uma coloração marrom escura e internamente marrom-claro. A B Figura 1. Aspectos da espata de Syagrus vagans no momento da abertura: A - visão externa; B - visão interna. Em seu conjunto, a inflorescência, no momento da abertura da espata, apresenta coloração amarelo-clara, pedúnculo medindo 10-40 cm de comprimento, raquis, entre 26-62 cm e ráquilas com 5-43 cm de comprimento (Tabela1), diminuindo progressivamente de tamanho da base para o ápice. 26 Tabela 1. Biometria da inflorescência de S. vagans nas condições edafoclimáticas do município de Senhor do Bonfim-BA, 2005. t Valores Média Máxima Mínimo Desvio padrão Nº. de Comprimento. Comprimento. Comprimento. Nº de Nº. de flores flores Espata raques ráquilas ráquilas estaminadas pistiladas -----------------cm ---------------------------- unidade ---------------139,1 41,8 14,68 22 2015,1 168,4 167 62 25,08 31 2580 377 97 26 10,03 14 1281 69 22,93 11,87 4,41 5,18 356,8 91,32 As flores pistiladas são sésseis e estão localizadas da base até a porção mediana das ráquilas (Figura 2A), cada umas delas ladeada por duas flores estaminadas menores, formando tríades (Figura 2C), inseridas em depressões espiraladamente arranjadas em padrão de Fibonacci. As demais flores estaminadas do ariri são maiores, sésseis e estão agrupadas desde a região mediana até a extremidade das ráquilas (Figura 2B). Cada ráquila apresenta até 23 tríades com flores pistiladas e de 65 a 120 flores estaminadas, perfazendo na inflorescência um total de 253 flores pisitiladas e 2035 flores estaminadas. As flores estaminadas iniciam a antese dois dias após a abertura da espata e permanecem abertas por aproximadamente uma semana. A abscisão total das flores estaminadas ocorre duas semanas após a abertura da espata, quando então, inicia-se a antese das flores pistiladas. a As características estrutur 27 B B A C C A Figura 2. A - Ráquila de Syagrus vagans. B - detalhe das flores estaminadas; C - detalhe da tríade. 28 Estas são adaptações que a planta desenvolve e que muitas vezes são mantidas em clados inteiros, constituindo sinapomorfias utilizadas na delimitação de grupos e na caracterização de linhagens monofiléticas (JUDD et al., 1999). Contudo, alguns caracteres florais na família Arecaceae, assim como em outros grupos de plantas, evoluíram paralelamente em grupos não relacionados, como a ocorrência de espinhos e tríades de flores em diferentes subfamílias (DAHLGREN et al., 1985; JUDD et al., 1999; OLIVEIRA et al., 2003). O número de estruturas florais por inflorescência também é variável nas palmeiras. Em Acrocomia aculeata (SCARIOT et al. 1991) por inflorescência o número de ráquila varia desde 94 a 158, o número de flores estaminadas variando de 45.000 a 90.000 e o número de flores pistiladas varia de 0 a 646. Em Bactris gasipaes Kunth o número médio de ráquilas gira em torno de 55 por inflorescência e medem em torno de 29 cm de comprimento (FERREIRA, 2006). As flores pistiladas do ariri são trímeras, diclamídea, hipogínicas, com formato redondo-piramidal, em média 6,04 mm de comprimento e 4,68 mm de largura (Tabela 2). O perianto é heteroclamídeo, dialissépalo, dialipétalo, persistente; cálice e a corola possuem coloração amarelo pálido quando jovem, e após o amadurecimento dos frutos as sépalas adquirem coloração amarronzada e as pétalas coloração verde com as extremidades amarronzadas. Tabela 2. Biometria das flores de S. vagans nas condições edafoclimáticas do município de Senhor do Bonfim –BA. 2005. Valores Média Maximo Mínimo Desvio padrão Flores pistiladas em pré-antese compriment o largura 6,04 7,56 4,43 4,68 6,66 3,46 0,745 0,744 Flores pistiladas em antese compriment o largura mm 7,9 5,79 9,22 6,49 6,74 5,02 0,61 0,32 Flores estaminadas em pré-antese compriment o largura 4,56 7,16 3,25 1,75 2,36 1,07 0,72 0,29 29 As flores pistiladas do ariri têm desenvolvimento tardio em relação a flores estaminadas, sendo o botão floral completamente envolvido pelo cálice (Figura 3A) e, na pré-antese aparecem as pétalas que envolvem quase que completamente o pistilo (Fig. 3C e 3D) que só é exposto após a antese ser iniciada (Figura 3E e 3F). Apresentam gineceu sincárpico, tricarpelar, ovário súpero, trilocular, triovulado; estigma trífido e séssil (Figuras 4A, 4B e 4C). P P CA ES A B ES D C ES-s E OV F mm Figura 3. Desenvolvimento da flor pistilada de ariri. Legenda. CA: cálice; P: pétala; Es: estigma; OV: ovário; ES-s estigma seco. 30 óvulos A mm A mm mm B C Figura 4 A-Detalhe do ovário; B-secção transversal mediano do ovário;C-secção transversal basal do ovário. As flores estaminadas do ariri apresentam perianto heteroclamídeo, alaranjado, sépalas basalmente soldadas; pétalas, maiores, cuneiformes, livres (Figura 5). São trímeras, diplostêmones, com seis estames e três pistilóides (Figura 6A), têm em média 4,56 mm de comprimento e 1,75 mm de largura (Tabela 2). PE 2 1 CA mm A Figura 5. A - Flores estaminadas de ariri; 1- flores da tríade; 2- flores da região mediana da ráquila. Legenda. CA-cálice; PE-pétalas; 31 T AN PE PO PI A mm B mm Figura 6. A-detalhe da flor estaminada ; B- detalhe da antera. Legenda. AN-antera; PE-pétalas; PI –pistilóide; T-teca; PO-polén. Bondar (1939) observou medidas ligeiramente distintas para as flores de S. vagans no município de Santa Terezinha-Ba: as flores pistiladas com cerca de 4,0 mm de comprimento e de 3,0 a 4,0 mm de comprimento para flores estaminadas. As características florais mais marcantes da espécie estudada, especialmente a distribuição das flores nas ráquilas, assim como a formação de tríades, são freqüentes nas Arecaceae (DAHLGREN et al., 1985), sendo as tríades uma sinapomorfia que comprova a monofilia da subfamília Arecoideae (ASMUSSEN et al. 2006), provavelmente uma característica importante para o estabelecimento e diversidade dessa linhagem. 3.2. Caracterização morfológica do fruto e semente 3.2.1. Frutos de Syagrus vagans Syagrus vagans apresenta fruto do tipo drupa carnosa, sincárpico, geralmente monospérmico, raramente dispérmicos ou trispérmico, com perianto e estigma persistentes (Figura 7A e 7B). Essa característica é comum 32 ao gênero e a outras palmeiras, como em Attalea maripa (Aubl.) Mart.(Araújo et al., 2000). Para efeito de descrição, pode ser dividido em pericarpo e semente. cm cm Figura 7. Aspectos dos frutos maduros, pirênios e pericarpo de Syagrus vagans. Legenda: A - fragmento de ráquila; B - perianto; C - epicarpo; D - mesocarpo; E - endocarpo O pericarpo, que constitui a parede do fruto, é formado por três camadas perceptíveis: epicarpo, mesocarpo e endocarpo (SOUZA, 2003). O epicarpo é fibroso, piloso, de coloração verde-clara quando imaturo e verde amarelado, com raros tricomas na maturação; mesocarpo mucilaginoso, fibroso, geralmente de coloração amarela, com polpa adocicada quando maduro (Figura 7C e 7D). O endocarpo é lignificado, e juntamente com a amêndoa forma em seu conjunto, o pirênio (Figura 7E). Esse apresenta a superfície opaca com cicatrizes longitudinais causadas pelas fibras mesocárpicas; três suturas carpelares longitudinais e três poros germinativos basais. Possui formato e tamanho variáveis, de ovóides a elipsóides, com 2,52 cm de comprimento por 1,34 cm de largura (Tabela 3). Geralmente contém apenas uma amêndoa, embora apresentem, em média, 1% de frutos com duas ou três amêndoas. 33 Tabela 3 - Biometria de frutos, pirênios, sementes e embriões de S. vagans, nas condições edafoclimáticas do município de Senhor do Bonfim – BA, 2005. Valores Frutos Compr. Média Máximo Mínino Desvio padrão 2,88 3,68 2,6 0,20 Larg. 1,71 1,99 1,44 0,09 Pirênios Compr. cm 2,52 3,19 2,16 0,21 Larg. 1,34 1,74 1,03 0,12 Sementes Compr. Larg. 2,05 2,74 1,72 0,18 1,08 1,30 0,86 0,09 Embrião Compr. Larg. mm 4,21 1,18 6,51 1,4 1,61 0,8 1,14 0,14 Assim, é interessante observar que os dados referentes à produtividade do ariri (Tabela 4) e os das características morfológicas dos frutos, sugerem que a quantidade é muito mais susceptível a uma alta variação do que as que caracterizam os frutos. Portanto, foi observado que as características morfológicas dos frutos tendem a manter um padrão, enquanto a produtividade é muito variável. O gênero Syagrus é bastante plástico em relação ao formato e tamanho dos frutos (LORENZI et al. 1996), o que parece estar relacionado a dispersores específicos, geralmente animais. De acordo com Rojas (2002), a sinzoocoria é caracterizada pelo fato dos diásporos conterem substâncias de reserva que são utilizadas como alimento pelos dispersores. Em S. romanzoffiana, a dispersão ocorre por roedores (GUIMARÃES et al., 2005), enquanto Orbignia, Atalea (ROJAS, 2002) e S. coronata (SANTOS & SANTOS, 2004) são dispersos por araras. Nesses casos, as aves consomem o mesocarpo carnoso deixando cair o pirênio, o que justificaria no caso de S. vagans, a ocorrência de um mesocarpo carnoso e adocicado próprio para a dispersão sinzoocórica, uma vez que a dispersão nesta espécie é feita principalmente por formigas e aves. 3.2.2. Semente B A semente é albuminada, apresenta tegma fino aderido ao endosperma e três fragmentos do tegumento externo dispostos longitudinalmente em direção aos poros (Figura 8.1). Possui forma elipsóide, tamanho variável, desde 1,72 a 2,74 cm de comprimento e 0,86 a 1,30 cm de largura (Tabela 3). 34 C O endosperma é volumoso, sólido, de coloração esbranquiçada, correspondendo a quase totalidade do volume da amêndoa, exceto o embrião (Figura 8.2). Figura 8. 1-Semente de Syagrus vagans; 2- frutos em secção transversal (A) e longitudinal (B) mostrando detalhes da semente. O embrião é pequeno em relação ao volume total do endosperma, medindo entre 1,61 a 6,51 mm de comprimento e 0,8 a 1,40 mm de largura (Tabela 3). O formato varia entre curvo e linear, (Figura 9A e 9B) e encontra-se alojado lateralmente no endosperma, pró 35 Rd Rd Bg mm Rp A mm B Teg End Bg Pg C mm D mm Figura 9. A e B-Embriões; C-segmentos de sementes de Syagrus vagans mostrando posição do embrião; D-detalhe do poro e botão germinativo. Legenda: Rd-região distal; Rp-região proximal; end-endosperma; Teg-tegumento; Bg-botão germinativo; Pg-poro germinativo. 36 3.3. Etapas do processo germinativo e Morfologia da plântula O início da germinação em S. vagans ocorreu ao décimo dia após a semeadura e foi marcada pelo aparecimento do pecíolo cotiledonar, uma estrutura cilíndrica, amarela esbranquiçada, em cujo interior encontra-se o eixo embrionário (Figura 10), medindo aproximadamente 0,5 cm de comprimento. Ontologicamente, esta estrutura corresponde ao alongamento do cotilédone, que internamente passa a funcionar como órgão de absorção de nutrientes, denominado haustório (PINHEIRO, 1986). pc A cm Figura 10. Pirênio de Syagrus vagans: Legenda: pc-pecíolo cotiledonar No momento da protusão, o pecíolo cotiledonar pressiona o tegumento que se destaca em forma de disco. À medida que o pecíolo cotiledonar se alonga, pode-se observar uma dilatação na sua porção posterior que, segundo Henderson (2006), corresponde à bainha cotiledonar que envolve o eixo plumular-radicular, que dará origem a parte aérea da planta (Figura 11 E). 37 op pc pi A B rp C D b1 pe rp 2b 1b rt bc E F rs G cm Figura 11. Estágios do processo de germinação. A - opérculo; B-protusão do pecíolo cotiledonar; C-surgimento da raiz primária; D-emissão da primeira bainha; E-emissão da segunda bainha; F-emissão de raízes terciárias; G-emissão do eófilo. Legenda: op-opérculo; pc - pecíolo cotiledonar; rp- raiz primária;1b- primeira bainha; 2bsegunda bainha; rs- raiz secundaria; rt- raiz terciária; pe- primeiro eófilo; pi- pirênio; bc-bainha cotiledonar. Com trinta dias de semeadura, observou-se a emissão da raiz primária a partir da extremidade posterior do pecíolo cotiledonar, e das raízes secundárias e terciárias. Na seqüência, ocorreu o intumescimento do pecíolo cotiledonar seguido da abertura de uma fenda longitudinal por onde surgiu a primeira bainha, com formato alongado e ápice pontiagudo (Figura 11 D). A segunda bainha também com formato alongado e ápice agudo emergiu aos 30 dias após a semeadura, rompendo-se e permitindo a emergência do eófilo, (Figuras11 F e 11G). À medida que a plântula se desenvolvia, o pecíolo cotiledonar e o endocarpo continuavam aderidos à plântula, apresentando coloração 38 amarronzada, permanecendo aderidos até mais de 70 dias. As raízes primária, secundária e terciária apresentam-se glabras de coloração amarelada, ou amarelo–esbranquiçada. O número de raízes secundárias variou entre 4 e 30 e de raízes terciárias de 9 a 25. O comprimento de ambas ficou em torno de 2,5 cm. Observou-se ainda que o crescimento da raiz primária é mais rápido que o da plúmula (Figura 11C e 11D), na primeira plântula que emergiu aos 60 dias, a raiz primária apresentava comprimento de 10,3 cm. Aos setenta dias, a circunferência da bainha cotiledonar apresentou variação entre 1,7 a 3,8 cm; o do pecíolo cotiledonar de 0,8 a 11,6 cm de comprimento e o eófilo apresentava-se inteiro, linear-lanceolado, plicado, glabro de ápice pontiagudo (Figura 12). A germinação do ariri é do tipo hipógea, modalidade remota não ligulada, caracterizada pelo desenvolvimento da plântula distante da semente e criptocotiledonar devido à permanência do limbo cotiledonar dentro da semente (TOMLINSON, 1960). pe 2b pc rt pi bc rt rp rp cm rs rs Figura 12. Plântula de Syagrus vagans com 70 dias. Legenda: pc pecíolo cotiledonar; rp-raiz primária; rs-raiz secundaria; rt raiz terciária; 2b-segunda bainha;pe-primeiro eófilo; pi- pirênio; bc -bainha cotiledonar. 39 O número de dias requeridos para a germinação em palmeiras do gênero Syagrus é muito variável. Em S. coronata, por exemplo, Matthes e Castro (1987) constataram que a emergência ocorreu entre 42 e 334 dias em condições de viveiro. Já para S. oleracea ,conforme Nascente et al. (2000) a germinação ocorreu entre 60 e 120 dias e para S. romanzoffiana, Leite (2001) a partir do quarto mês após semeadura. Em relação a S. vagans, os dados obtidos no presente trabalho divergiram daqueles obtidos por Matthes e Castro (1987) que obtiveram a emergência aos 77 dias após a semeadura. Em nosso trabalho, embora não tenha sido formalmente testada a germinação nesta espécie, as sementes antes de serem dispostas no substrato foram tratadas com fungicida e colocadas em saco plástico fechado com papel "germiteste" umedecido para otimizar a absorção da água, reduzindo assim o tempo necessário para a germinação. Analisando-se os padrões de germinação na tribo Cocoeae da subfamília Arecoideae como um todo, Henderson (2006) observou que os gêneros Syagrus e Allagoptera apresentam no geral, padrões germinativos morfológicos semelhantes, divergindo apenas na posição da semente em relação à porção intumescida do eixo plumular-radicular e na forma de plicação. Esses dois gêneros formaram um clado com 60% de suporte de bootstrap com base no sequenciamento de oito genes plastidiais e nucleares (ASMUSSEN et al., 2006). Ao nível tribal, todos os gêneros das Cocoeae apresentam eófilo peniforme, nervuras convergindo para o ápice e número de bainhas constante. De acordo com autor, nas outras tribos da mesma subfamília, foram observadas variações em relação ao eixo plumular-radicular, a persistência ou não da raiz primária, a ramificação das raízes secundárias, ao desenvolvimento do pecíolo cotiledonar, presença, ausência e tipo de abertura da bainha cotiledonar. 3.4. Produtividade do ariri Nas condições edafoclimáticas da área em que se procedeu à avaliação dos frutos de ariri, verificou-se que o peso de mil frutos foi de 5062g e dos diásporos, 2537g, o que corresponde em média a 204 frutos com polpa e 691 40 diásporos por quilograma, e o peso por fruto variando de 6 a 8 gramas. O teor de água nos frutos maduros recém-coletados foi 60,97%, enquanto os pirênios tiveram 30,48%. É importante ressaltar que as condições edafoclimáticas de uma região podem afetar essas variáveis, portanto, em uma mesma espécie á certamente há variações temporal e espacial. Esses valores são variáveis no próprio gênero Syagrus Embora não existam dados para muitas espécies, Nascente et al. (2000), encontraram em Syagrus oleracea Becc., de 19 a 62 frutos por kg, enquanto Leite (2001), encontrou em S. romanzoffiana, em média 184 frutos e 497 diásporos por Kg. m Em outras espécies de Arecaceae, pôde ser observado desde frutos com 20/kg a em Lodoicea maldivica (J.F.Gmelin) Persoon, 41 5. CONCLUSÃO Tanto os frutos, quanto os pirênios e as sementes do ariri apresentam os caracteres morfológicos em relação ao comprimento, largura e coloração, homogêneos. Essas características, portanto, são confiáveis para serem usadas em estudos de diversas finalidades, como por exemplo, a identificação da espécie em banco de semente do solo. Os caracteres morfológicos estudados são características das Arecaceae ou representam sinapomorfias, utilizadas na delimitação do grupo taxonômico como subfamílias ou níveis hierárquicos mais baixos. As plântulas de ariri possuem características morfológicas típicas do gênero Syagrus, tais como presença de bainhas e eófilo inteiro, linearlanceolado, plicado, glabro de ápice pontiagudo, tornando-se difícil a identificação das mesmas em campo quando da ocorrência de outras palmeiras do gênero na mesma área. Só um estudo anatômico do eófilo poderia permitir uma identificação segura da plântula dessa espécie no campo. 42 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGUIAR, M.O.; MENDONÇA M.S. de. Aspectos morfológicos da germinação e do desenvolvimento plantular em Euterpe precatória Mart. (Açaí-doAmazonas). Acta Amazônica, Manaus, v. 31, n. 4, p.687-691, 2001. AGUIAR, M.O.; MENDONÇA M. S. de. Aspectos morfo-anatômicos do embrião de Euterpe precatória Mart. durante o processo germinativo. Acta Botânica Brasílica, Porto Alegre, v. 16, n. 3, p. 241-249, 2002. ALVES, M. R. P.; DEMATTÊ, M. E. S. P. Palmeiras: características botânicas e evolução. Campinas, Fundação Cargiil, 1987. 129p. 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Os objetivos deste estudo foram descrever o comportamento fenológico reprodutivo de indivíduos de ariri, relacionando-o com os fatores climáticos, a fim de determinar o período de reprodução e a sincronia das fenofases, no município de Senhor do BonfimBA. A floração teve início na estação seca (agosto) e se concentrou nos meses de outubro e novembro, enquanto a frutificação ocorreu no início das chuvas e a maturação, entre fevereiro e maio, com pico em março (estação chuvosa). As observações indicaram que a fenologia reprodutiva da espécie é anual e sazonal, sugerindo uma estreita relação entre o estágio reprodutivo e o período das chuvas. Palavras chave: desenvolvimento reprodutivo, floração, frutificação. 47 REPRODUCTIVE PHENOLOGY OF ARIRI (Syagrus vagans) IN ÁREA OF CAATINGA OF SENHOR DO BONFIM - BA ABSTRACT: Syagrus vagans (Bondar) Hawkes, is a endemic palm of the center north of Bahia and north of Minas Gerais states, has social importance due local use, however, is little studied and not have knowledge of its phenology. This study aim know the reproductive phenology of this species, relative at the synchrony of the climatic factors in the city of the Senhor do Bonfim-BA. The Flowering had beginning in the dry season (August) and has been highly in October and November, while the fructification was in the beginning of rains and the maturation, between February and May, with peak in March (rainy season). These data suggest what the reproductive phenology of the species is annual and sazonal, suggesting a narrow relation between the reproductive period and the rainy season. Key words: reproductive development, flowering, fructification. 48 1. INTRODUÇÃO A família Arecaceae é constituída por um grupo de espécies genericamente conhecidas como palmeiras, com distribuição pantropical. Destaca-se economicamente, pelos diferentes produtos que delas podem ser obtidos, representando um importante recurso alimentar para diversas espécies da fauna nos ecossistemas onde estão inseridas. A palmeira Syagrus vagans (Bondar) A.D.Hawkes tem distribuição geográfica restrita a região centro norte do estado da Bahia até o norte de Minas Gerais (HENDERSON et al. 1995). É vulgarmente chamada de ariri, licuriroba ou ariroba. A espécie é monóica com caule subterrâneo de vários metros de comprimento, posicionado horizontalmente no solo, algumas vezes, visível quando próximo à superfície e apresenta crescimento subterrâneo que resulta na mudança progressiva de lugar. Nas atividades de subsistência, o ariri apresenta grande importância social nos municípios onde ocorre. Praticamente toda a planta é aproveitada, da qual se obtém uma enorme variedade de produtos e artefatos. As folhas são utilizadas na confecção de chapéus e cobertura de casas, na pecuária as amêndoas são utilizadas como ração para aves e suínos e nos períodos de seca, as folhas, flores e os frutos ‘in natura’ são fornecidos aos bovinos, ovinos e caprinos (BONDAR, 1939). Apesar da importância dessa palmeira para os pequenos produtores rurais, poucos estudos têm sido feito sobre seu crescimento e desenvolvimento nos diferentes ecossistemas da caatinga, onde ocorre de forma natural. Infelizmente tem se dado maior atenção a outras palmeiras, inclusive de menor expressão em termos de uso regional, e deixado de lado o ariri, possivelmente, pelo seu porte. Assim, estudos expressivos sobre sua fenologia se fazem necessário, já que, praticamente, não se encontram na literatura científica citações referentes a esta palmeira. A fenologia estuda a ocorrência de eventos biológicos repetitivos e sua relação com mudanças no ambiente biótico e abiótico. Geralmente os estudos são realizados em dois níveis de abordagem: populações ou comunidades podendo ter caráter quantitativo ou qualitativo (BENCKE e MONTOVANI 2002; FOURNIER, 1974). Segundo Fournier (1975), a amostragem de 10 indivíduos 49 por espécie é suficiente, considerando como critério de seleção, a ordem de surgimento do mesmo na população. O conhecimento dos padrões fenológicos reúne informações sobre o estabelecimento e dinâmica das espécies, período de crescimento vegetativo e reprodutivo (floração e frutificação), alocação de recursos para polinizadores e dispersores e uma melhor compreensão das cadeias alimentares disponíveis para a fauna (MORELLATO e LEITÃO FILHO, 1990). De acordo com Alencar (1994) as informações fenológicas são valiosas do ponto de vista ecológico e botânico, permitindo a compreensão da biologia das espécies. A fase reprodutiva (floração e frutificação) corresponde ao período mais crítico da vida do vegetal, levando-se em conta as variações dos fatores abióticos e bióticos da comunidade (FISCH et al., 2000). Os fatores abióticos podem limitar diretamente a época de floração, afetando a habilidade de produzir flores, ou indiretamente, afetando os vetores de pólen, podendo também limitar a época de amadurecimento dos frutos (FISCH et al, 2000; STEVEN et al., 1987). O conhecimento das fases fenológicas das espécies ocorrentes nas caatingas nordestinas é ainda escasso, destacando-se os trabalhos de Machado et al. (1997), Oliveira et al. (1988), Barbosa et al. (1989), Pereira et al. (1989), Barbosa et al. (2003), Locatelli e Machado (2003) e com palmeiras, evidencia o trabalho de Leite e Encarnação (2002) que pesquisaram a fenologia em variedades de Cocos nucifera. Em relação ao estudo da fenologia em Arecaceae, pode-se citar Steven et al. (1987), Scariot e Lieras (1995), Fisch et al. (2000); Leite e Encarnação (2000), Fernandes-Bulhão et al., (2002), Castro (2003), Rui e Alencar (2004), Lorenzi (2006). No entanto, dados fenológicos de S. vagans são escassos na literatura, assim como informações da fenologia de outras espécies do gênero. Dessa forma, considerando que S. vagans é uma espécie nativa e de interesse para a ecologia e economia da região, e pouco estudada, esta pesquisa objetivou descrever o comportamento fenológico da floração e da frutificação, relacionando-o com os fatores climáticos, com evidência às precipitações pluviais, contribuindo assim com informações sobre a biologia desta espécie em seu habitat natural. 50 2. MATERIAL E MÉTODOS 2.1. Caracterização do município e da área experimental O município de Senhor do Bonfim-BA situa-se na messoregião centro norte baiano, nas coordenadas 10º28’00’’ de latitude Sul e 40º11’00’’ de longitude oeste do mediano de Greenwich e, altitude de 558,24m (INMET,2006) ( Figura 1). Figura 1. Localização do Município de Senhor do Bonfim –BA (SEI,2006) A área de estudo de 52 hactares encontra-se inserida na Reserva Legal da Escola Agrotécnica Federal de Senhor do Bonfim-BA. O relevo do município é constituído pelo Pediplano Sertanejo, pelos Tabuleiros Interioranos e pela Serra de Jacobina, predominando os solos do tipo Latossolo Vermelho Amarelo distrófico (SECRETARIA DE GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE, PREFEITURA DE SENHOR DO BONFIM, 2006). São solos profundos, bem drenados, porosos, friáveis, com horizonte superficial pouco espesso, contendo baixos teores de matéria orgânica, baixa CTC, baixa fertilidade, com textura média, sendo predominantemente ácidos (JACOMINE, 1996; EMBRAPA,1977). 51 A vegetação local é classificada como caatinga hipoxerófila arbórea aberta, com palmeiras e, caatinga hipoxerofila arbórea aberta, sem palmeira. Na área domina o clima 4bTH (tropical quente de seca média), segundo Gaussen, com índices xerotérmicos entre 100 e 150 mm e, 5 a 6 meses secos (EMBRAPA,1977; SECRETARIA DE GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE, 2006); Na área são encontrados grande número de ouricuri, ariris, mimosas, mandacarus, quipás, facheiros, braúnas, icós, quixabeiras, umbuzeiros, bromélias, etc. 2.2. Coleta de dados Seleção dos indivíduos – Em outubro de 2005, selecionaram-se ao acaso, trinta palmeiras em uma área de um hectare, que foi dividida em subáreas de 100 m2. Em seguida, procedeu-se à identificação de quais sub-áreas continham ariri e, posteriormente, fez-se um sorteio com o objetivo de selecionar quais dessas sub-áreas poderiam ser utilizadas de forma casualizadas, conforme critérios pré-estabelecidos. O critério adotado para a utilização de uma planta para acompanhamento das fenofases foi o de somente selecionar indivíduos que estivessem na mesma fase reprodutiva (com espatas) e com bom aspecto fitossanitário. Em cada indivíduo foi colocada uma etiqueta feita de placa de alumínio, indicando o número do indivíduo. Registro de dados - As observações e registros das fenofases, durante o período de outubro de 2005 a outubro de 2006, foram feitas quinzenalmente durante a fase de desenvolvimento vegetativo e, semanalmente, na fase de desenvolvimento reprodutivo (Figura 2). Na descrição das fenofases durante o período reprodutivo fez-se uma adaptação da metodologia usada por Leite e Encarnação (2002) e Ruiz e Alencar (2004), conforme a Tabela 1. 52 Tabela 1. Caracterização utilizada na descrição das fenofases segundo o estádio de desenvolvimento do ariri. Desenvolvimento Fenofase Código Ocorrência Vegetativo Vegetativa 01 Ausência de estruturas reprodutivas Reprodutivo Floração 02 Espata fechada; 03 Abertura da espata: com exposição da inflorescência; Frutificação 04 Antese da flor pistilada; 05 Fruto imaturo: quando os frutos eram facilmente abertos com a unha; 06 Fruto verde: quando os frutos estavam próximos ao tamanho do fruto maduro, mas com coloração verde; 07 Fruto maduro: quando os frutos apresentaram inicio de mudança de coloração 53 1-F. vegetativa 2-F. espata fechada 3-F. abertura de espata 4-F. antese da flor pistilada 5-F. fruto imaturo 6- F.fruto verde 7-F. fruto maduro Figura 2. Vista de plantas de ariri nas fenofases de floração e frutificação, nas condições edafoclimáticas do município de Senhor do Bonfim –BA, em 2005. 54 Análise dos dados - Os dados coletados, semanalmente, ou quinzenalmente, foram totalizados e representados graficamente pelo mês de ocorrência do evento fenológico. Foi aplicado o Índice de Atividade (ou porcentagem de indivíduos na fenofase). Esse método tem caráter quantitativo e consiste no registro de presença ou ausência das fenofases, possibilitando estimar a sincronia entre os indivíduos e indicar a proporção desses que estão manifestando determinado evento fenológico. A estratégia de floração da população foi classificada de acordo com Newstron et al. (1994). Procurou-se relacionar a ocorrência dos eventos fenológicos à distribuição da precipitação pluvial, temperatura, estimadas no período experimental. Os dados climáticos utilizados no presente trabalho foram fornecidos pelo Instituto Nacional de Meteorologia (INMET,2007) e coletados na estação climática principal de Senhor do Bonfim-BA, a aproximadamente 5 km da área de estudo. 55 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1. Caracterização climática Os dados climáticos relativos aos anos de 2000 a 2006 da região centro norte da Bahia, onde está localizada a área experimental, mostra que o período de ocorrência das maiores precipitações se dá de janeiro a junho, caracterizando o período chuvoso. A precipitação média mensal do período foi de 83,2 mm. O período seco, comumente ocorre de agosto a outubro com precipitação média mensal de 36,9 mm, sendo os meses de setembro (27,7 mm) e outubro (19 mm) os que apresentam as menores precipitações. Os meses de novembro e dezembro (precipitação média mensal de 63,7 mm) caracterizam um período intermediário entre o período seco e chuvoso, época em que, comumente, ocorrem as chamadas trovoadas. O mês de novembro teve uma média de 81,5 mm, portanto muito próxima da média do período chuvoso A umidade relativa do ar média, no período, foi de 65,43%, e a insolação de 191,87 horas e temperatura de 24 ºC (Figura 3). 250 200 100 80 60 40 150 100 (horas) (%) (mm) ( ºC) 140 120 50 20 0 JU N JU L AG O SE T O U T NO V DE Z M AI JA N FE V M AR AB R 0 Período 2000 a 2006 Precipitação/ média(mm) Temperatura / média(ºC) Insolação/mensal (horas) Umidade/ média (%) Figura 3. Evolução da média mensal da precipitação, temperatura, insolação e umidade relativa do ar, no período de 2000 a 2006, no município de Senhor do Bonfim-BA. Foi observado no período experimental (Figura 4), que o mês de janeiro em 2006 apresentou a mais baixa precipitação dos últimos sete anos (2,4 mm), 56 muito inferior à média do período de 2000 a 2006 para o referido mês, que foi de 115,9 mm. Ao contrário, os dados de temperatura, insolação e umidade relativa do ar neste período, não mudam de forma proeminente de um ano para outro, ou seja, são semelhantes entre os anos. Os dados climáticos sugerem que a precipitação na região, tal como ocorre no semi-árido, é muito variável entre os anos, enquanto a temperatura e o número de horas de insolação do 160 140 120 100 80 60 40 20 0 300 200 150 100 ( horas) (%) 250 50 0 ag o/ 0 se 5 t/0 ou 5 t/0 no 5 v/ de 05 z/ 0 ja 5 n/ 06 fe v/ m 06 ar /0 ab 6 r/ m 06 ai /0 ju 6 n/ 06 ju l/ ag 06 o/ 0 se 6 t/0 ou 6 t/0 6 (mm) (ºC) dia são mais estáveis. Período de observação precipitação/ mensal(mm) Temperatura / média mensal(ºC) Insolação/ total mensal(horas) Umidade/ média mensal (%) Figura 4. Evolução da média mensal da precipitação, temperatura, insolação e umidade relativa do ar, no período de agosto de 2005 a outubro 2006, no município de Senhor do Bonfim-BA. 3.2. Desenvolvimento Reprodutivo do Ariri Durante o período reprodutivo do ariri, foram observadas no máximo duas inflorescência por indivíduo e mais de uma fenofase, em uma mesma planta. Também, observou-se que a ocorrência de espata fechada e aberta se dá de forma simultânea, assim como a antese das flores pistiladas e fruto imaturo. No entanto, em nenhum momento do período de observação foi encontrado inflorescência simultaneamente com infrutescência madura (Figura 5). 57 ou t/ 0 no 5 v/ 0 de 5 z/ 0 ja 5 n/ 0 fe 6 v/ m 06 ar /0 ab 6 r/ 0 m 6 ai /0 6 ju n/ 06 ju l/ ag 06 o/ 0 se 6 t/ 0 ou 6 t/ 0 6 Quantidade (%) 120 100 80 60 40 20 0 Período de observação espata fechada (%) espata aberta (%) antese de flores pisitladas (%) fenofase fruto verde (%) fenofase fruto imaturo (%) fenofase fruto maduro (%) Figura 5. Evolução das fenofases do ariri nas condições edafoclimáticas de Senhor do Bonfim-BA, no período de outubro de 2005 a outubro de 2006. Observou-se, que o período de mudança de coloração dos frutos, de verde para verde-amarelados e/ ou amarelos, ocorreu em torno de 15 dias, iniciando-se a mudança de coloração a partir da base em direção ao ápice do fruto, sendo relativamente rápido, se comparado com todo o processo de frutificação, ou seja, o período de amadurecimento foi muito mais rápido do que o de frutificação. No momento de emissão da inflorescência constatou-se que existiam algumas flores estaminadas na fase de antese, enquanto as demais flores iniciaram a antese dois dias após a abertura da espata, e em seguida a antese iniciou-se a abscisão. A antese das flores pistiladas ocorreu de duas a três semanas após o rompimento da espata. A maturação das flores et ad r es t e rs tre s r a c r a t c or a iaur a 58 a É interessante ressaltar que plantas de ariri localizadas próximas ou sob a copa de outras espécies, portanto com baixa incidência da radiação solar direta, foram induzidas ao aborto total das flores pistiladas. Os umbuzeiros e umburanas bem exemplificam essas espécies que provocam sombras. Fenômeno semelhante também foi observado por Fernandes-Bulhão et al. (2002) em Syagrus flexuosa, pois como enfatizaram esses pesquisadores, quando esta se encontrava sombreada, portanto exposta a menor taxa de luminosidade apresentaram valores inferiores para floração e frutificação em relação a indivíduos presentes em clareiras. Certamente, outros fatores podem provocar aumento na taxa de flores abortadas, como exemplo o déficit hídrico do solo. 3.3- Fenofases 3.3.1- Fenofase de floração Antes de se iniciar a fase experimental propriamente dita, fizeram-se algumas observações preliminares em que se constatou que o início da floração ocorreu em agosto de 2005, com emissão da espata. Os dados coletados durante o período experimental mostraram que a maior incidência de espata fechada foi observada no mês de outubro, quando 96,6% dos indivíduos estavam nesta fenofase, e o seu término se deu em janeiro, época em que apenas um indivíduo apresentava esta fenofase, ou seja, 3,3% dos indivíduos amostrados. As fenofases abertura de espata (emissão da inflorescência) e antese das flores pistiladas iniciaram em outubro, com pico em novembro, quando 56,6 % dos indivíduos apresentavam espatas abertas e 53,6% das flores pistiladas em antese, terminando em janeiro, com 3,3 % dos indivíduos nestas fenofases. O pico da abertura de espatas e da antese das flores pistiladas coincidiu com o início das chuvas que comumente ocorrem em novembro e/ou dezembro (Figura 6). Este comportamento fenológico também foi observado em outros gêneros de palmeiras como, por exemplo, em Cocos nucifera observado por Leite e Encarnação (2002), embora essa espécie floresça e frutifique durante 59 todo o ano, esses autores observaram que no período seco há um aumento no processo reprodutivo. Em Acrocomia aculeata Lorenzi (2006), observou que o período de floração caracterizou-se como sendo no final da estação seca (agosto e setembro) e início da estação chuvosa (outubro a novembro). Locatelli e Machado (2003) observaram em Attalea oleifera Barb. Rodr., encontrada em mata serrana em Pernambuco, floresce na estação seca. Bencke e Morellato (2002) citam a floração de Syagrus pseudococos iniciandose no final da estação super-úmida e cessando no início da estação menos 160 140 120 100 80 60 40 20 0 (ºC) (mm) 120 100 80 60 40 20 0 ou t/0 no 5 v/ de 05 z/ 0 ja 5 n/ 0 fe 6 v/ m 06 ar /0 ab 6 r/ m 06 ai /0 ju 6 n/ 0 jul 6 / ag 06 o/ 0 se 6 t/0 ou 6 t/0 6 Quantidade (%) úmida, com duração de quatro meses. Período de observação espata fechada (%) espata aberta (%) antese de flores pisitladas (%) Temperatura (ºC) Precipitação (mm) Figura 6. Evolução fenológica da floração do ariri em função da Precipitação e da Temperatura, no município de Senhor do Bonfim-BA, no período de outubro de 2005 a outubro de 2006. Para Borchert (1996), o período de estresse hídrico inibe a atividade meristemática e tem como resultado indireto à sincronização da floração. Barbosa et al. (2003) afirmam que a floração no período de seca indica menor dependência da água, sugerindo ritmos endógenos provenientes das adaptações morfo-anatômicas e fisiológicas. Considerando esta afirmativa pode-se dizer que o ariri é uma espécie resistente à seca, estando plenament e a 60 3.3.2 - Fenofase de frutificação A frutificação de S. vagans iniciou no mês de novembro e se estendeu até o mês de maio, entretanto, constatou-se que durante a fase de desenvolvimento de frutos até a fase de maturação houve redução gradual do número de frutos por espata devido à abscisão. Observou-se que a presença de frutos imaturos se deu de novembro a janeiro, com o pico em dezembro (43,3% dos indivíduos), e de frutos verdes de dezembro a março, com o pico em fevereiro (70%). A ocorrência de fruto maduro concentrou-se, principalmente, entre março a maio, ocorrendo o pico 80 60 40 20 out/06 set/06 ago/06 jul/06 jun/06 mai/06 abr/06 mar/06 fev/06 jan/06 dez/05 nov/05 0 out/05 Quantidade (%) em março (43,3%), como pode ser constatado na Figura 7. Período de observação fenofase fruto imaturo (%) fenofase fruto maduro (%) fenofase fruto verde (%) Figura 7. Evolução fenológica da frutificação da espécie Syagrus vagans, no município de Senhor do Bonfim-BA, no período de outubro de 2005 a outubro de 2006. O início do período de frutificação (frutos imaturos) coincidiu com as chuvas que ocorreram principalmente no final de novembro [26/11 (41,8 mm) e 28/11 (64,5 mm)] e início de dezembro (50,4 mm), que juntos somaram 156,7 mm. Estes dados sugerem que deve haver uma relação entre a frutificação e as precipitações que ocorreram neste período, uma vez que o processo de frutificação iniciou-se no período em que há maior índice de precipitação. 61 (mm) (ºc) 5 n/ 06 fe v/ 0 m 6 ar /0 6 ab r/0 m 6 ai /0 6 ju n/ 06 ju l/ 0 6 ag o/ 06 se t/ 0 6 ou t/0 6 ja z/ 0 de v/ 0 no ou 5 160 140 120 100 80 60 40 20 0 t/0 5 quantidade (%) 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Período de observação fenofase fruto imaturo (%) fenofase fruto verde (%) fenofase fruto maduro (%) Precipitaçãol (mm) Temperatura (ºC) Figura 8. Evolução fenológica da frutificação em Syagrus vagans e da Precipitação e Temperatura, no município de Senhor do Bonfim-BA, no período de outubro de 2005 a outubro de 2006. Embora o período de frutificação do ariri, na área em estudo, tenha ocorrido na estação chuvosa, observou-se na literatura que em diferentes espécies de palmeiras, situadas em uma mesma região, o período de frutificação pode ocorrer tanto na estação seca como na chuvosa. Por exemplo, na região centro-oeste, Fernandes-Bulhão et al. (2002) observou que a fenofase de frutificação em Syagrus flexuosa ocorreu no período seco. Entretanto, Lorenzi (2006) constatou que em Acrocomia aculeata na região centro-oeste, formação dos frutos concentrou-se na estação chuvosa, e os frutos amadureceram no final da estação chuvosa e início da estação seca. Na região Norte do Brasil o gênero Bactris apresentou floração no período chuvoso, enquanto que as espécies Hyospathe elegans e Geonoma maxima var. spixiana floresceram na estação seca (HENDERSON et al. 2000) e Jardim & Kageyama (1987), observaram para Euterpe oleracea que o pico da frutificação ocorreu na estação seca. Já em Brejos de Altitude em Pernambuco, Locatelli e Machado (2003) constataram que Attalea oleifera, frutifica no período de transição entre o período seco e o chuvoso, estendendo-se até o período chuvoso. Bondar (1939), em Santa Terezinha na Bahia, constatou que o período de floração para Syagrus vagans se dá entre os meses de março e abril e o 62 período de frutificação nos meses de julho a agosto. Esta discrepância, em relação ao que se encontrou nesta pesquisa, certamente deve estar associada às diferenças ambientais, como clima, solo, relevo, dentre outros, uma vez que, notadamente, essas fenofases são dependentes do ambiente onde se desenvolvem como demonstrado em trabalhos realizados em populações localizadas em diferentes ecossistemas (STEVEN et al , 1987; Castro, 2003). De acordo com Alencar (1994), também as condições endógenas das espécies (genéticas e fisiológicas), edáficas e os vetores ecológicos (polinização, predação, competição) afetam os padrões fenológicos vegetativos e reprodutivos, tanto quanto o clima. 3.4 - Desenvolvimento vegetativo Observou-se que a fase de crescimento vegetativo do ariri se dá com maior evidência, durante a estação chuvosa, período em que deve ocorrer maior atividade microbiana no solo, propiciada pela maior umidade e menor temperatura do solo nas camadas superficiais. Desta forma, a velocidade de decomposição da serrapilheira acumulada será maior, possibilitando a maior absorção de nutrientes da solução do solo, pelo sistema radicular das plantas o que favorece os processos fisiológicos e dá início, desta maneira, ao processo 160 140 120 100 80 60 40 20 0 30 25 15 (ºC) 20 10 5 out/06 set/06 ago/06 jul/06 jun/06 mai/06 abr/06 mar/06 fev/06 jan/06 dez/05 nov/05 0 out/05 (%) (mm) reprodutivo na estação seca. Período de observação vegetativa (%) Precipitação (mm) Temperatura ( ºC) Figura 9. Evolução do desenvolvimento vegetativo do ariri, da precipitação pluvial e temperatura do ar, no município de Senhor do Bonfim-BA, no período de outubro de 2005 a outubro de 2006. 63 Os dados obtidos na pesquisa sugerem que a estratégia de floração e frutificação da população de ariri é anual e sazonal (fenofases ocorrem na mesma época a cada ano, após intervalos regulares), de acordo com classificação adotada por Newstron et al. (1994). 64 4. CONCLUSÕES Nas condições edafoclimáticas em que foram realizadas as avaliações experimentais, pode-se concluir que: O período reprodutivo do ariri se deu em torno de 10 meses, e o período de floração (emissão da espata até a sua abertura) em 16 semanas, enquanto que o de frutificação (frutos imaturos até maturação) em torno de 24 semanas; A fenofase de floração iniciou-se na estação seca e a frutificação se estendeu ao longo do período chuvoso; Os desencadeamentos dos processos fisiológicos que induzem as fenofases de floração e frutificação do ariri devem estar relacionados com a ocorrência da precipitação, tanto na estação seca como na chuvosa. 65 5. SUGESTÕES Para melhor compreensão da dinâmica das fenofases de floração e frutificação e o atrelamento das relações dessas fenofases com as variáveis climáticas, seria necessário maior tempo de acompanhamento para que se pudesse estabelecer o padrão fenológico dessa espécie na região de ocorrência. 66 6. 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