Criar e preservar valor na cadeia de fornecimento têxtil e
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Criar e preservar valor na cadeia de fornecimento têxtil e
Quinta da Maia – Av. Do Brasil Apartado 265 · 4760-010 V. N. Famalicão Tel. 252 30 20 20 · Fax 252 31 61 42 [email protected] www.portugaltextil.com/cenestap Criar e preservar valor na cadeia de fornecimento têxtil e vestuário Data: Janeiro 2005 Autor: Observatório Têxtil do CENESTAP FEDER Criar e preservar valor na cadeia de fornecimento têxtil e vestuário A cadeia de fornecimento têxtil e de vestuário – desde a fibra ao retalho – está a demonstrar uma tendência de queda nos preços tornando a redução de custos a chave da sobrevivência. Esta situação forçou os intervenientes a repensar o seu papel dentro desta cadeia. Uma vez que a nível operativo a eficiência já é bastante elevada os intervenientes da cadeia de fornecimento necessitam de encontrar outras estratégias para além da redução de custos do trabalho de forma a aumentar os ganhos. As duas áreas em que se devem focar são a colaboração com os parceiros da cadeia de fornecimento e a inovação. A gestão do inventário e da produção, através de uma melhor utilização da capacidade de produção e de taxas de rejeição mais baixas. O investimento na inovação dos produtos, serviços e gestão de negócios pode resultar em ganhos elevados na rentabilidade de uma empresa. O crescimento significativo nos lucros só acontecerá com a apresentação de produtos e serviços novos e interessantes aos clientes. Estes estão sempre abertos a produtos novos, úteis e com boa apresentação estando dispostos a pagar preços mais elevados por estes. CENESTAP – Centro de Estudos Têxteis Aplicados 2 [email protected] Introdução O Comércio internacional de têxteis e vestuário ultrapassou os 360 mil milhões de dólares em 2002, o que representa um crescimento de 4% relativamente ao ano anterior. Contudo, os mercados principais como os EUA, Europa Ocidental e Japão são altamente instáveis e são caracterizados por: • ciclos de vida curtos; • procura não previsível; • consumidores específicos; • padrões múltiplos de comércio; • dificuldades no comércio além fronteiras; • estagnação das condições económicas. Apesar de o comércio internacional estar em crescimento a indústria encontra-se grandemente pressionada pelos preços. Esta pressão deverá piorar aquando da eliminação das quotas que restringem as exportações, (1 de Janeiro de 2005) segundo o ATC (Acordo de Têxteis e Vestuário). De acordo com o ATC, as quotas equivalentes a uma determinada percentagem das importações de um país ou região serão alvo de uma eliminação gradual realizada em três fases: 16 % em Janeiro de 1995; 17% em Janeiro de 1998 e 18% em Janeiro de 2002. Esta divisão faz com que 49% da liberalização do comércio ocorra no início de 2005, data em que o ATC expira. A liberalização de quase metade das importações num só dia poderá ser dramática. Em 2005, prevê-se que o fornecimento de têxteis e vestuário para o mercado mundial aumente significativamente levando a preços mais baixos e como consequência a uma grande redução nas margens de lucro para todos os intervenientes desta cadeia. Na verdade, a realidade pode ainda ser pior. Ao redigir o ATC as partes intervenientes acordaram que as percentagens anteriormente referidas se baseariam nos níveis de importações de 1990. Desde então as importações para os países desenvolvidos aumentaram dramaticamente. A previsão de que os preços irão cair drasticamente tem como ponto de referência as quedas verificadas nas anteriores fases da eliminação de quotas. Em quase todos os casos registou-se uma queda entre os 10 e 20% nos preços dos fornecedores no prazo de um ano para cada categoria de produto. Dois exemplos desta situação são os roupões de banho e vestuário infantil e juvenil. Em ambos os casos, as quotas foram eliminadas em Janeiro de 2002. Relativamente aos roupões de banho (tanto de algodão como de fibras não-naturais) o preço médio caiu de cerca de CENESTAP – Centro de Estudos Têxteis Aplicados 3 [email protected] 18% entre Janeiro/Maio de 2001 e Janeiro/Maio de 2002. No que diz respeito ao vestuário infantil e juvenil a queda situou-se em cerca de 9%. Perante esta situação é primordial que as empresas eliminem custos indirectos na cadeia de fornecimento se querem manter-se competitivas. Este esforço não pode limitar-se apenas a alguns fornecedores, para que uma empresa obtenha sucesso todo os elos da cadeia de fornecimento têm de levar a cabo as mesmas alterações. Neste processo, todos os intervenientes desta cadeia precisam de avaliar a totalidade de soluções possíveis para criar e preservar o valor dentro da cadeia. Para isto terão de examinar várias formas de gestão de negócios para identificar áreas que possibilitem a redução de custos e um acréscimo de valor. CENESTAP – Centro de Estudos Têxteis Aplicados 4 [email protected] Características da cadeia de fornecimento têxtil A maior parte das categorias de produtos podem ser segmentadas sob dois tipos diferentes de uma rede económica internacional: • cadeias de fornecimento conduzidas pelo produtor; • cadeias de fornecimento conduzidas pelo comprador. Cadeias de fornecimento conduzidas pelo produtor: neste caso os grandes produtores transnacionais detêm o papel principal na coordenação das redes de produção. As indústrias caracterizadas por esta orientação são sectores tipicamente de capital e tecnologia como os sectores automóvel, aéreo e informático. Cadeias de fornecimento conduzidas pelo comprador: neste caso, os grandes retalhistas, os responsáveis pela divulgação e os produtores de bens de marca têm um papel principal na criação de unidades de produção descentralizada em vários países de exportação. As indústrias de produtos como vestuário, calçado, brinquedos, aparelhos eléctricos e artesanato seguem esta orientação. Retalhistas como Wal-Mart e Sears, empresas de calçado como a Nike e Reebok e marcas como Gap e Liz Claiborne fornecem os seus produtos a partir de unidades intensivas de mão-de-obra em países em desenvolvimento. As características da cadeia de fornecimento conduzidas pelo comprador são as seguintes: • estas cadeias tendem a ser intensivas em mão-de-obra fazendo com que a produção seja tendencialmente transferida para países de baixo custo. • a natureza descentralizada destas cadeias faz com que sejam altamente competitivas. • grande parte destas cadeias têm barreiras de entradas diminutas. Ao contrário das cadeias de fornecimento conduzidas pelo produtor, que têm grandes produtores como a IBM, Airbus Industries, General Motors e Intel a controlar a cadeia, a grande alavanca da cadeia de fornecimento orientada pelo comprador é accionada pelos responsáveis pela divulgação e pelos merchandisers. A cadeia de fornecimento têxtil e vestuário é um exemplo clássico da cadeia de fornecimento conduzida pelo comprador. Embora a cadeia abranja várias fases o “poder” está inteiramente nas CENESTAP – Centro de Estudos Têxteis Aplicados 5 [email protected] mãos de quem “expõe”, ou seja, a fase da cadeia de fornecimento que está mais perto do consumidor. Os retalhistas, por exemplo, decidem qual a colecção da época. Sara Lee, uma empresa que está próxima dos consumidores e que por isso consegue perceber as suas necessidades, desenhou o Wonderbra que levou ao desenvolvimento de um novo produto. Durante este processo criou um valor adicional para os consumidores, não se importando estes de pagar mais por ele. A necessidade de criar e preservar valor na cadeia de fornecimento têxtil e de vestuário A cadeia de fornecimento têxtil e vestuário está a sofrer e sofrerá com: • a consolidação do retalho; • a tendência de queda nos preços; • a liberalização do comércio em 2005. Consolidação do retalho O sector do retalho está a sofrer uma grande reestruturação nos EUA e noutros países desenvolvidos. O retalho global é dominado por grandes organizações como a Wal-Mart e Target as quais se diferenciam pelo preço. Para ir de encontro ao preço pretendido estes retalhistas estão a abastecer em países de baixo custo e estão a desenvolver laços fortes com fornecedores globais. Até 1995, os cinco principais retalhistas dos EUA eram responsáveis por 68% de todas as vendas de vestuário. Em 2003 os dois principais outlets controlavam um quarto em volume de todo o vestuário vendido nos EUA. Globalmente, a KSA prevê que os dez principais retalhistas poderiam estar em posição para controlar quase 130 mil milhões de dólares do comércio têxtil e de vestuário mundial até 2010, representando 25-30% do total previsto para esse ano. A verificar-se esta situação marcaria a era da consolidação do retalho. É interessante notar que apesar da taxa de crescimento nas vendas dos principais 200 retalhistas ter vindo a desacelerar, os dez maiores registaram um crescimento notável de 28% em 2000, algo que nunca acontecera no passado. CENESTAP – Centro de Estudos Têxteis Aplicados 6 [email protected] Embora os retalhistas não exerçam o “poder” último, a consolidação levou a um aumento da sua influência na cadeia de fornecimento têxtil e de vestuário. Tendência de queda nos preços A tendência de queda dos preços é favorável para os consumidores mas constitui um pesadelo para os retalhistas. No altamente competitivo mundo do retalho de vestuário, a queda dos preços põe as margens de lucro sob pressão contínua. Consequentemente, todas as oportunidades para reduzir os custos de fornecimento são perseguidas ansiosamente. As importações americanas caíram até 8,5% entre 2001 e 2002. Liberalização das quotas a partir de 1 de Janeiro de 2005 As quotas restantes desaparecerão no início de 2005. Depois de mais de 40 anos de protecção formalizada o mercado tornar-se-á aberto. O mercado global contará com mais intervenientes conduzindo a mais pressão para baixar os preços e melhorar o tempo de resposta. Os retalhistas passarão mais responsabilidades para os fornecedores. Oportunidades para criar e preservar valor na cadeia de fornecimento têxtil e de vestuário Criar e preservar valor pode ajudar as empresas têxteis e de vestuário a tornarem-se mais competitivas ganhando assim mais mercado. O valor pode ser criado ou preservado através: • da redução de custos; • do melhoramento dos produtos através da inovação o que resultará no acréscimo de valor. Reduzir custos pode ajudar a melhorar as margens de lucro. Estes podem ser reduzidos através: • do melhoramento do processo de produção para aumentar a produtividade; • da optimização do processo de negociação através da colaboração. Melhorar os produtos através da inovação irá gerar maior procura e consequentemente um acréscimo no valor. Os consumidores estão frequentemente dispostos a pagar mais por produtos que se diferenciam e que vão de encontro às suas necessidades. Oportunidades para a redução de custos Para identificar áreas de melhoramento é essencial analisar a distribuição do custo e do valor acrescido ao longo da cadeia de fornecimento têxtil e de vestuário. O que acontece a 1 kg de algodão e como é que este é processado até chegar ao produto final para o consumidor? 1 kg de CENESTAP – Centro de Estudos Têxteis Aplicados 7 [email protected] algodão que custe 1 dólar passa a custar 23 dólares no retalho quando transformado numa camisa e 37,50 dólares quando transformado numas calças. Alguns produtos podem mesmo chegar a custar cinco vezes mais do que o preço a que foi produzido. Quadro 1 Acréscimo de valor na cadeia de fornecimento nas camisas masculinas de popelina e calças desportivas caqui Fibra Camisas de masculinas a Fio Tecido Peça de vestuário Retalho popelina Quantidade b 2,20 lbs O,80 kg 4,85 m 2,1 camisas 2,1 camisas Valor e (US$) 1,00 2,05 4,70 9,85 22,75 Acréscimo de valor d (US$) n/d 1,05 2,65 5,15 12,90 Acréscimo de valor como %e 4 5 12 23 57 1 kg O,75 kg 2,30 m 2 calças 2 calças 1,00 2,25 7,50 15,50 37,50 Acréscimo de valor d (US$) n/d 1,25 5,25 7,00 23,00 Acréscimo de valor como %e 3 3 14 19 61 Calças desportivas caqui f Quantidade b Valor e (US$) NB: dados para cada fase do processo excepto retalho dizem respeito à produção na Índia. feito de 132x72 peça tingida de popelina em tear eléctrico tingida para uma cor média, tecida a partir de fio penteado de título Ne 40 100% algodão. b calculado como 1 kg de fibra resultando no número de itens de vestuário depois de considerados todos os desperdícios na cadeia. c valor do produto final na fase indicada. d diferença de valor entre as duas fases. e % do acréscimo d o valor global da peça de vestuário no retalho. f feito de sarja de fio penteado Ne2/ 40. Fonte: Análise KSA Technopak a Uma análise do acréscimo do preço em cada fase demonstra que o maior acréscimo acontece na passagem para o retalho. Na realidade o valor duplica nesta altura. As poupanças na cadeia de fornecimento podem ser feitas através da colaboração, de uma melhor planeamento e tempos de resposta menores. CENESTAP – Centro de Estudos Têxteis Aplicados 8 [email protected] Categorização do custo Os custos podem ser “desmontados” em três grandes categorias: • custos de produção; • custos de gestão de negócio; • custos com logística. Os custos de produção são atribuídos unicamente a operações de produção incluindo custos de trabalho, custos com água e luz, despesas de produção, custos de financiamento da administração e do projecto. Os custos do processo de negociação estão relacionados com o planeamento, desenvolvimento do produto, amostras, administração, marketing, salários do pessoal não produtor e outras despesas. Os custos de logística surgem do transporte e realização do inventário. Quadro 2 Quota dos custos de manufactura, da gestão de negócio e de logística por estágios do processo de produção (%quotas) Fiação Tecelagem Processamento Produção da peça Produção 90 85 65 55 Processo de negociação 8 10 30 40 Logística 2 5 5 5 100 100 100 100 Total NB: os dados de cada fase do processo dizem respeito à produção na Índia. Fonte: pesquisa KSA Technopak Na fiação e na tecelagem a produção é sem dúvidas o componente mais dispendioso. No entanto, grande parte das operações na fiação e tecelagem têm níveis elevados de eficiência – 96% em média na fiação e quase 85-90% no caso da tecelagem. Desta forma as hipóteses de melhoramento das eficiências e consequentemente do lucro são limitadas a não ser que surjam CENESTAP – Centro de Estudos Têxteis Aplicados 9 [email protected] grandes inovações na tecnologia. No que diz respeito ao processamento do tecido – tinturaria, estampagem e acabamento – tem havido na Índia e também em muitos outros países em desenvolvimento preocupação em melhorar a tecnologia. As inovações tecnológicas já estão a ser implantadas resultando em custos mais baixos no que diz respeito à água e energia. Esperam-se mais alguns desenvolvimentos no futuro que irão também possibilitar redução de custos noutras áreas. Custos da gestão de negócio Em direcção ao final da cadeia de fornecimento verifica-se um aumento na importância relativa dos custos da gestão de negócio. Reduzir estes custos nestas áreas dará lugar a um aumento significativo das margens de lucro. Estes custos poderiam ser reduzidos tornando a gestão de negócio mais eficiente. Custos totais O potencial total para uma redução de custos ao longo da cadeia de fornecimento é de cerca de 35% (no preço de retalho). Contudo, existe maior potencial para aumentar as margens de lucro na produção de vestuário e no retalho do que na fiação, tecelagem ou elaboração do produto (quadro 3). Poderão conseguir-se mais margens no retalho através da colaboração e de parcerias. Quadro 3 Potencial para redução de custos na cadeia de fornecimento têxtil e de vestuário (%) Fiação Tecelagem Processamento Produção da peça Retalho Total Produção 1 1 10 15 n/d n/d Processo de negociação <1 <2 2 20 35 n/d Logística <1 <1 <1 1 10 n/d Total 2 3 13 35 45 n/d Redução no custo como uma % do valor do produto final <1 <1 <1 8 Potencial poupança de custos a (% dos custos totais em cada fase) 35 25 a NB: os números poderão não somar precisamente devido a arredondamento. cada número representa a poupança potencial no custo do componente (indicado no título da fila) expresso como uma percentagem do custo total do componente na fase da cadeia de fornecimento têxtil indicado no título das colunas. Fonte: análise da KSA Technopak CENESTAP – Centro de Estudos Têxteis Aplicados 10 [email protected] Redução dos custos de produção Para as empresas equipadas com tecnologia moderna o potencial para reduzir custos através de mais melhorias na produtividade é mínimo na fiação e na tecelagem. As máquinas nestes sectores têm níveis de eficiência relativamente elevados e comparativamente à produção de vestuário estão em grande parte automatizadas. No entanto, estão a ocorrer um número de inovações tecnológicas no processamento. Uma das inovações é maquinaria que combina diferentes passos dentro do processo de produção poupando assim custos e tempo. A energia e o vapor são responsáveis por grande parte dos custos totais durante a produção. Actualmente tem vindo a adoptar-se medidas de forma a diminuir o consumo de água durante a produção com o objectivo de reduzir ainda mais os custos. A eficiência de produção em fábricas de vestuário pode ser bastante melhorada. As eficiências podem ser aumentadas até cerca de 15-20%, tendo como consequência uma redução no custo de cerca de 10%. Uma vez que a produção de vestuário é intensiva em mão-de-obra, os métodos utilizados e a formação da força de trabalho são factores chave para alcançar melhorias na produtividade. Em particular, uma análise cuidada das seguintes áreas pode reduzir os custos de produção: • utilização de práticas de engenharia estandardizadas nas fábricas de vestuário: - seguindo standards de produção precisos; - focando-se na melhoria dos métodos; - usando maquinaria e acessórios avançados e especializados; - usando uma disposição das máquinas de acordo com a produção do item a ser fabricado. • gerência eficiente da produção; • flexibilidade nas operações, reduzindo assim tempos mortos; • formação dos operadores; • formação dos quadros médios; • melhoria da qualidade. Redução de custos através da optimização do processo de negociação: Colaboração Retalhistas e fornecedores procuraram no passado cortar custos no geral minimizando os custos relacionados com a força de trabalho. Contudo, encontram-se agora sob pressão para encontrar alternativas a estas estratégias. CENESTAP – Centro de Estudos Têxteis Aplicados 11 [email protected] A necessidade de uma mudança de abordagem foi provocada pela tendência de queda dos preços no retalho de vestuário e pelas poucas possibilidades de redução de custos na produção. As hipóteses de reduzir custos através do aumento da produtividade são mínimas e a existência de um mercado mais atento e interessado faz com que o tempo e a imprevisibilidade se tenham tornado factores decisivos para os retalhistas. Para tornar a cadeia de fornecimento eficiente a colaboração está a revelar-se uma necessidade. Os retalhistas preferem formar parcerias com os fornecedores que já se adiantaram e implementaram processos e sistemas que facilitam a colaboração. As empresas do sector de produtos duráveis (automóveis, mobília, electrodomésticos) já vêm a ter esta atitude há algum tempo. Os vendedores trabalham muito de perto com os produtores das marcas nesses sectores. A indústria têxtil e de vestuário precisa de passar para este nível de coordenação do sistema de fornecimento. A colaboração entre compradores e fornecedores é particularmente vantajosa na cadeia de fornecimento têxtil e de vestuário. Pode ser usada para: • reduzir a exposição da empresa a certos riscos; • reduzir o stock; • aumentar a capacidade de produção; • optimizar a logística; • reduzir as despesas de desenvolvimento do produto. Os factores chave para qualquer colaboração entre compradores e fornecedores são: • dedicação de alguma da capacidade de produção ao comprador; • um sistema de contabilidade de custos transparentes; • processos e controles estandardizados; • optimização de logística e trajectos; • troca de dados sobre as vendas para um melhor planeamento. Para um retalhista líder europeu alguns dos benefícios conseguidos através da colaboração com os fornecedores foram: • uma redução de 20% no tempo do ciclo de produção; • um aumento de 40% na utilização da capacidade de produção; CENESTAP – Centro de Estudos Têxteis Aplicados 12 [email protected] • uma redução de 96% em custos de devolução devido a um sistema de encomendas mais eficaz; • uma melhoria na percentagem de encomendas entregues atempadamente de mais de 98% ; • uma taxa de rejeição inferior a 1% através da implementação de procedimentos de controlo de qualidade; • uma melhoria na taxa de adopção de amostras atingindo em alguns casos os 70%. A tecnologia tem se tornado um facilitador muito relevante na partilha de informação ao longo da cadeia de fornecimento. Estima-se que a oportunidade de aumentar os ganhos poderá ser tão elevada como 45%. Este benefício poderia então posteriormente ser usado no resto da cadeia. Para um fornecedor colaborar com empresas e retalhistas que produzem artigos de marca precisam de desenvolver eficazmente: • processos back end; • a produção; • processos front end; O desenvolvimento de processos back end eficientes necessita; • de uma força de trabalho eficiente na área das vendas e do marketing; • do fornecimento de materiais e gestão de stocks eficazes; • de previsões precisas; • de capacidade de desenvolvimento do produto; • de utilização de processos estandardizados. O desenvolvimento de uma produção eficaz necessita: • de planeamento eficaz da produção; • da redução do trabalho em curso; • de operações eficientes; • da coordenação e colaboração com o desenvolvimento do produto. O desenvolvimento de processos front end eficazes necessita: • de operações do centro de operações eficientes; CENESTAP – Centro de Estudos Têxteis Aplicados 13 [email protected] • da capacidade de informar o cliente sobre o estado da sua encomenda através da tecnologia; • serviços de valor acrescentado como: - planeamento, previsão e reposição feitos conjuntamente; - gestão do stock pelo vendedor; - entrega directa na loja; - troca electrónica de dados. A tecnologia de planeamento, previsão e reposição conjunta está a ajudar os fornecedores a planear os seus carregamentos de artigos para que estes sejam entregues quando necessário em vez de manter um stock dispendioso. A responsabilidade da tarefa de gerir as encomendas de reposição deveria estar presente em toda a cadeia de fornecimento. A tecnologia do stock gerido pelo vendedor permite aos fornecedores estar informados acerca das compras dos seus clientes (retalhistas). Os fornecedores têm a responsabilidade de enviar o que foi acordado nas datas e locais previstos. Cada vez mais retalhistas estão a pedir aos fornecedores para entregar os produtos directamente nas suas lojas de forma a reduzir o tempo de espera e também os custos de stocks. A entrega directa na loja reduz o tempo de espera da entrega dos artigos e a sua disponibilidade na loja. A troca de informação através de EDI (troca de dados electrónica) ajuda todos os intervenientes na cadeia de fornecimento. Um retalhista envia ao fornecedor encomendas e especificações do produto através do sistema EDI. O fornecedor pode consultar as vendas dos produtos através dos sistemas de partilha de informação EPOS (consulta electrónica da situação de vendas). Actualmente espera-se que um fornecedor seja capaz de oferecer um leque de serviços abrangentes aos compradores, desde o desenvolvimento e design do produto até ao stock gerido pelo vendedor para responder às encomendas de reposição. Contudo, muitos compradores estão dispostos a pagar um prémio às empresas que disponibilizem pacotes de serviço completos. As empresas melhores posicionadas para fornecer este tipo de serviços são as verticalmente integradas. Consequentemente, são estes fornecedores que têm maiores probabilidades de beneficiar destes prémios. As empresas Luen Thai e Li & Fung, sedeadas em Hong Kong, estão a beneficiar e a crescer preenchendo várias necessidades dos compradores. CENESTAP – Centro de Estudos Têxteis Aplicados Essas necessidades incluem o 14 [email protected] desenvolvimento e design do produto, fornecimento de matéria-prima, logística dos produtos acabados, tecnologia de informação, EDI e e-commerce. Melhoramento através da inovação Criar valor através da inovação pode ser difícil, particularmente numa indústria como a da moda onde se têm verificado poucas mudanças significativas. Desta forma, a indústria do vestuário contrasta grandemente com a de sectores como o automóvel e telecomunicações. O vestuário quase não tem sofrido alterações excepto na área da funcionalidade. O crescimento significativo dos lucros só acontecerá quando se apresentar aos clientes novos serviços e produtos surpreendentes. Conseguir alcançar este objectivo não é fácil, especialmente em empresas que estão concentradas em cumprir prazos diários. A percentagem de rendimentos que os consumidores gastam com o vestuário tem vindo a diminuir ao longo dos anos. No entanto, estes interessar-se-ão sempre por algo novo, útil e bem apresentado. A chave é dar-lhes algo novo e excitante. Os preços do retalho têm vindo a descer continuamente fazendo com que as empresas aceitam margens mais baixas e procurem formas de reduzir custos. Para alterar esta continuidade na queda de preços é necessário inovação radical. As empresas podem melhorar significativamente os seus resultados modernizando os seus esforços na área do desenvolvimento do produto. Para por em marcha este processo precisam de: • Colaborar com os outros intervenientes da cadeia de fornecimento; • Obter informação sobre as necessidades do consumidor, moda e retalho. Tornar a inovação parte da cultura empresarial Os empresários têm de passar a considerar a inovação como um conceito próprio e essencial de negócio. Os pioneiros não adoptam conceitos já existentes, mas criam de raiz novas formas de gerar mais valor. Por exemplo, DELL, Starbucks e Wal-Mart criaram novos modelos de negócio. A inovação tem de surgir do topo, mas esta não acontece apenas com o esforço e interesse da gestão. Toda a empresa deve integrar o conceito de inovação. A gerência age como filtro das ideias válidas. Como tornar a inovação parte da cultura empresarial? CENESTAP – Centro de Estudos Têxteis Aplicados 15 [email protected] • Definir o que significa inovação para a empresa e manter essa definição simples. • Manter a inovação focada no consumidor. Utilizar a pesquisa de mercado e a informação relativa às tendências do consumidor para compreender o estilo de vida, aspirações, necessidades da sociedade e os padrões de compra dos consumidores alvo. • Usar a intuição para se centrar no futuro e antecipar os desejos do consumidor e as necessidades do consumidor do segmento. • Inovar de forma a acrescer o valor e gerar novas ideias. Testar o conceito no mercado. • Encorajar a inovação fomentando ideias, paixão e compromisso dentro da organização. As empresas não devem encarar a inovação como uma actividade excepcional, uma estrutura específica ou um projecto ocasional. As pessoas que apresentarem novas ideias devem ser recompensadas. • Consciencializar. Nunca é em demasia consciencializar os consumidores. Esta é a chave para comercializar a inovação. A Lycra é um líder não apenas devido a ter adicionado funcionalidade, mas também pela divulgação do produto feita pelo seu anterior proprietário DuPont. Uma sondagem realizada pela Strategic Insights Inc, em Junho de 2002, revelou que 83% dos inquiridos na Ásia e 99% na América Latina conheciam a marca Lycra. Inovações actuais As inovações na indústria têxtil e de vestuário utilizam uma grande variedade de tecnologias e estão direccionadas para os mais diversos usos finais. Uma das mais recentes inovações foi a lã lavável na máquina. Entre as mais novas tecnologias encontram-se fibras bio degradáveis elaboradas a partir de fontes renováveis como amido de milho e a utilização de enzimas lipase para remover ceras e óleos de tecidos. Existe já também vestuário que consegue diagnosticar a condição física do utilizador. Outras inovações são na área das técnicas de tecelagem que tornam possível produzir um artigo de vestuário a partir de uma peça única de tecido sem costuras. Outras áreas e produtos que estão a ser desenvolvidos presentemente incluem: • tecidos com propriedades anti microbianas; • tecidos com características como capacidade de gestão de humidade, elasticidade, impermeabilidade e respirabilidade, controlo da temperatura, resistência extrema e durabilidade. • tecidos inteligentes; • tecidos sem fios; CENESTAP – Centro de Estudos Têxteis Aplicados 16 [email protected] • nano tecnologia; • micro encapsulação. Conclusões Com o fim das quotas em 2005 o fornecimento tornar-se-á extremamente competitivo. Contudo, ainda existem possibilidades de melhorar os ganhos. Prevê-se ser possível uma redução de custos no preço do retalho na ordem dos 35% ao libertar o potencial “aprisionado” devido a ineficiências na grande cadeia de fornecimento da indústria têxtil. Os intervenientes da cadeia de fornecimento têxtil podem extrair benefícios “escondidos” utilizando qualquer um dos seguintes processos: • trabalhar para atingir a excelência operacional; • colaboração com os compradores; • inovação. Trabalhar para atingir a excelência operacional As empresas precisam de se consciencializar que à medida que o mercado se está a tornar extremamente competitivo só a excelência operacional e níveis elevados de qualidade permitirão a sua sobrevivência. Para manter níveis elevados de eficácia as empresas terão de fazer o seguinte: • Realizar uma auditoria interna das operações fabris. Isto ajudará a estabelecer níveis de eficiência na fábrica. Enquanto se realiza a auditoria todas as áreas devem ser alvo de estudo, incluindo a eficiência da produção, sistemas e controlos, planeamento e capacidades de gestão. • Benchmarking e estabelecer áreas que necessitam de ser melhoradas. • Formar um comité directivo responsável pelas melhorias operacionais. O papel deste comité seria o de elaborar um plano de implementação para as áreas identificadas na auditoria. Deveria formar-se uma equipa que se centraria na reestruturação das operações. • Reestruturar as operações fabris. Certificar-se que os alvos e prazos estão claramente definidos. Realizar visitas regulares para assegurar que a reestruturação está a realizar-se como planeado. • Adoptar a melhoria da performance como um processo contínuo. No final do processo de reestruturação, os processos definidos deverão tornar-se parte do CENESTAP – Centro de Estudos Têxteis Aplicados 17 [email protected] funcionamento diário da empresa e devem ser totalmente praticados pela equipa de operações. Colaborar com os compradores Podem ser maximizados benefícios através da colaboração com os compradores, que na sua maioria tem vindo a procurar reduzir as suas bases de fornecimento e abastecer-se junto de intervenientes verticalmente integrados. Estes estão dispostos a investir em colaborações que resultem em benefícios para todos. Os passos seguintes indicam o caminho a seguir para uma empresa que quer colaborar: • Identificar restrições nos negócios em todas as vertentes do negócio, incluindo planeamento, calendário de produção e desenvolvimento do produto. • Identificar um parceiro de colaboração cujas necessidades a empresa possa satisfazer e que esteja interessado em investir na colaboração. Para uma parceria bem sucedida é importante ter uma visão comum, compatibilidade cultural, dedicação à qualidade, tecnologia e confiança. • Compreender as restrições negociais de cada um. Os parceiros de colaboração têm de compreender as restrições de cada um. As expectativas da empresa e do cliente devem ser realistas e resultar numa agenda conjunta. • Quantificar os benefícios a ganhar através do processo de colaboração. Acordar os parâmetros da parceria e definir o status quo. Identificar oportunidades, ameaças, benefícios e sinergias na parceria. Definir o que pode ser melhorado. • Estabelecer um caminho de colaboração e desenvolver um mapa. Usar a avaliação dos parceiros feita anteriormente para estabelecer áreas de melhoramento rápido. Definir a prioridade das actividades com responsabilidades e prazos. Fazer um esboço do melhoramento possível e os investimentos necessários. Definir os passos seguintes. • Implementar as mudanças. Uma vez identificadas as áreas de melhoramento e definido o mapa a seguir uma equipa do projecto precisará de ser formada para dar início às alterações. A troca de informação com os parceiros deverá ser incluída nas actividades diárias. • Monitorizar e evoluir. Definir o sistema de monitorização e rever a parceria num prazo estabelecido. Monitorizar os processos através de índices chave de performance. Monitorizar continuamente os benefícios alcançados através da parceria e continuar a melhorar a gestão de negócios para incorporar novas necessidades na colaboração. CENESTAP – Centro de Estudos Têxteis Aplicados 18 [email protected] Inovação Contrariamente aos dois outros processos – trabalhar para atingir a excelência operacional e colaboração com parceiros – o investimento na inovação pode resultar em saltos significativos na rentabilidade da empresa. A chave é diferenciar-se de outros fornecedores oferecendo ao cliente produtos e serviços diferentes. Uma empresa pode tornar-se inovadora apenas se a totalidade desta estiver direccionada para a inovação. Isolar a inovação da corrente principal do negócio pode ter um efeito cultural secundário perigoso: uma noção que a criatividade e liderança são opostos. Só quando os inovadores gozarem da credibilidade dos líderes é que a inovação se tornará uma parte produtiva do negócio diário. As organizações inovadoras são conduzidas por líderes inovadores. Consequentemente, os quadros superiores têm de estar profunda e pessoalmente envolvidos no processo de inovação. Os passos para criar uma empresa centrada na inovação são os seguintes: • Definir inovação para a empresa em questão. A inovação pode ter significados diferentes para empresas diferentes. Pode ser inovação nos serviços, produtos, tecnologia ou modelos de negócio. Cada empresa precisa de definir a sua área de interesse. • Fazer da inovação a norma. Pensar na criatividade não como um dom de algumas pessoas talentosas, mas como uma tarefa diária de não fazer as ligações óbvias – juntar coisas que normalmente não se combinam. Encorajar a inovação a todos os níveis. É essencial construir uma cultura onde não existe o conceito de “ideia má”. Realizar regularmente sessões de brainstorming para promover a sugestão de novas ideias. As ideias tornam-se depois problemas colectivos ou puzzles que circulam no grupo. Mais tarde alguém poderá ter uma ideia que permita à empresa avançar. • Usar inputs provindos do consumidor e do mercado. A melhor forma de incentivar a inovação é o conhecimento. As boas ideias surgem muitas vezes da observação atenta dos consumidores, competidores e do negócio no geral. • Inovar. Uma vez encontrada uma nova ideia deve-se trabalha-la a toda a velocidade usando todos os recursos da empresa. Não se deve colocar muitas restrições aos investigadores. Os quadros superiores devem estabelecer o ponto-chave, fixar objectivos razoáveis e definir prazos para a equipa do projecto. • Divulgar a inovação através da marca. Invista na divulgação da inovação através de uma marca comercializando o investimento feito. Crie uma diferenciação, posicione-a correctamente e rentabilize-a ao máximo. CENESTAP – Centro de Estudos Têxteis Aplicados 19 [email protected] O maior potencial para eliminar ineficiências e alcançar melhorias na cadeia reside na colaboração e integração na cadeia de fornecimento. Cada interveniente da cadeia deverá contribuir para tornar a parte da cadeia mais próxima do consumidor mais eficiente. A colaboração entre os intervenientes da cadeia de fornecimento têxtil e de vestuário ajudaria a alcançar melhores margens e a construir sistemas de entrega melhores no que diz respeito à fase do retalho. No entanto, para além da colaboração a indústria precisa de perpetuar a cultura da inovação e da comercialização da inovação. A inovação de produtos e serviços são a chave para o crescimento a longo prazo. CENESTAP – Centro de Estudos Têxteis Aplicados 20 [email protected]