- Núcleo de Ensino e Estudos em Forragicultura
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Comportamento ingestivo de cordeiros deslanados alimentados com diferentes dietas em sistema de alimentação privativa Diego Fernandes Vieira Bernardes1, Carlos Eduardo Mendes de Alencar2, William de Jesus Ericeira Mochel Filho3, Leane Veras da Silva4, Roberto Cláudio Fernandes Franco Pompeu5, Magno José Duarte Cândido6 1 Discente do curso de Agronomia, Integrante ao Núcleo de Ensino e Estudos em Forragicultura (NEEF) da Universidade Federal do Ceará (UFC), Bolsista IC/CNPQ . email: [email protected] 2 Discente do curso de Zootecnia, Integrante ao Núcleo de Ensino e Estudos em Forragicultura (NEEF) da Universidade Federal do Ceará (UFC), Bolsista ITI/CNPQ. email: [email protected] 3 Aluno do Prog. Doutorado Integrado em Zootecnia-PDIZ/UFC/UFPB/UFRPE. [email protected] 4 Discente do curso de Zootecnia, Integrante ao Núcleo de Ensino e Estudos em Forragicultura (NEEF) da Universidade Federal do Ceará (UFC), Bolsista ITI/CNPQ. email: [email protected] 5 Pesquisador visitante do Depto. de Zootecnia/UFC. Bolsista da CAPES/PNPD . email: [email protected] 6 Prof. Adj. Depto. de Zootecnia/CCA/UFC, Fortaleza-CE, Pesquisador do CNPQ. email: [email protected] Resumo: Avaliou-se o efeito de três diferentes tipos de dietas sobre o comportamento ingestivo de cordeiros em sistema de alimentação privativa (creep-feeding), sendo as dietas: 100% Feno de tifton-85 (F), 50:50 de Feno:Concentrado (FC) e 100 % de Concentrado (C) e a ração concentrada a base de farelo de milho, farelo de soja, sal mineral, calcário calcítico, fosfato bicálcico e sucedâneo do leite em pó. Adotou-se um delineamento de blocos ao acaso (dois blocos, machos e fêmeas) com três tratamentos e três repetições (ovinos). Estimou-se o tempo de alimentação (TAL), tempo de ruminação (TUR), tempo de mastigação total (TMT), número de bolos ruminais por dia (NBR), número de mastigações mericicas por dia (MMnd), número de mastigações mericicas por bolo ruminal (MMnb) e o tempo de mastigações mericicas por bolo ruminal (MMtb). O TAL decresceu (P<0,05) com a diminuição da participação de fibra da dieta, assim como MMnd. Enquanto TRU, TMT e NBR foram influenciados pela presença ou não do volumoso na dieta. Não houve efeito significativo (P>0,05) quando as variáveis foram comparadas entre os sexos. As dietas afetaram o comportamento ingestivo dos cordeiros, mostrando assim que esses resultados devem ser associados a informações de desempenho dos animais para a recomendação da melhor dieta para a alimentação de cordeiros em sistema de alimentação privativa. Palavras–chave: concentrado, creep feeding, mastigação merícica, ovinos, suplementação, volumoso Ingestive behavior of lambs fed with different diets in creep-feeding Abstract: This study Aimed to Evaluate the influence of three different diets on the feeding behavior of lambs in a system of creep-feeding, with the diets: 100% hay or Tifton-85 grass (F), 50:50 Hay : Concentrate (FC) and 100% of concentrate (C) and a concentrate diet based on corn meal, soybean meal, mineral salt, limestone, dicalcium phosphate, and milk replacer powder. We adopted a randomized block design (two blocks, male and female) with three treatments and three replicates (sheep). It was estimated feeding time (TAL), rumination time (TUR), total chewing time (TMT), number of ruminal bolus daily (NBR), number of chews ruminations per day (MMnd), number of chews by ruminal bolus (MMnb) and time of chews per bolus rumen (MMtb). The TAL decreased (P <0.05) with decreasing participation of dietary fiber, as well as MMnd. While TRU, TMT and NBR were influenced by the presence or absence of roughage in the diet. There was no significant effect (P> 0.05) when the variables were compared between the sexes. The diets affected the feeding behavior of lambs, showing that these results should be linked to performance information on animals for the recommendation of the best diet to feed lambs on creep-feeding. Keywords: concentrate, creep-feeding, rumination chews, sheep, supplementation, roughage Introdução A produção de ovinos vem se expandindo a cada dia no Brasil, e ganhando novos espaços e adeptos. Seja pelo aumento nos investimentos no setor, em busca de uma produção de carne vermelha de ciclo curto, tentando dessa forma diminuir o tempo de retorno do capital investido, como também tentar maximizar a produção de animais por hectare por ano, ou seja pelo aumento no consumo da carne de ovinos, consumo esse em parte impulsionado pelo aumento no poder aquisitivo da população, os quais estão à procura de uma melhor opção alimentar, como fonte de proteína animal, de elevada qualidade com preços acessíveis. Isso insere o Nordeste brasileiro, em uma das mais visadas rotas de investimentos na área da ovinocultura, por já ter tradição na produção, como também pelas próprias características apresentadas pelos animais nessa região, como por exemplo, a presença de uma poliestria contínua, desde que suprida suas exigências nutricionais e sanitárias. O que possibilita ao produtor uma melhor organização dos produtos a serem ofertados, pois sua produção não vai está limitada em grande parte pela época do ano em si, mas sim pelo bom aporte nutricional ou não dado ao rebanho. Nesse contexto, é inserida a estratégia de suplementação em sistema de alimentação privativa para cordeiros (creep-feeding). O qual pode se tornar um requisito indispensável para diminuir o tempo final de terminação dos animais para o abate, além de proporcionar as matrizes um relativo descanso, assim, possibilitando uma recuperação das suas reservas corporais e também a melhoria das funções reprodutivas. Nesse sentido, o presente trabalho foi conduzido com o objetivo de avaliar o comportamento ingestivo de cordeiros mestiços de Morada Nova alimentados com diferentes dietas em sistema de alimentação privativa (creep-feeding). Material e Métodos O trabalho foi conduzido no Núcleo de Ensino e Estudos em Forragicultura NEEF/DZ/CCA/UFC em Fortaleza, Ceará, no período de julho a outubro de 2009. O município de Fortaleza situa-se na zona litorânea a 15,49 m de altitude, 3º43’02” de latitude sul e 38º32’35” de longitude oeste. Foram utilizadas 39 matrizes (½ Morada Nova var. Vermelha x ½ SPRD) e 54 cordeiros (¾Morada Nova var. Vermelha x ¼ SPRD), sendo 26 machos inteiros e 28 fêmeas, com peso médio inicial de 4,9±0,9 kg e idade média de 21dias, sendo distribuídos em delineamento de blocos ao acaso (dois blocos, machos e fêmeas) com três tratamentos e três repetições, divididas em três lotes. Destes, 13 matrizes e 18 cordeiros (9 machos e 9 fêmeas) no grupo recebendo como dieta apenas feno de Tifton-85 (F), um segundo lote composto de 13 matrizes e 18 cordeiros (9 machos e 9 fêmeas) recebendo como dieta feno de Tifton-85 e concentrado 50:50 (FC) e um terceiro lote composto de 13 matrizes e 18 cordeiros (8 machos e 10 fêmeas) recebendo como dieta apenas concentrado (C). Cada lote ficou em uma baia individual, com acesso a solário e na parede da baia foi feito uma passagem para uma baia vizinha menor, baia de creep-feeding, onde por ela só passavam os cordeiros, que tinham livre acesso durante todo o tempo, e onde foram colocados cochos apropriados para os mesmos, e onde eram fornecidos as rações experimentais, com relação ao suprimento de água, a mesma era ofertada tanto na baia principal como na baia de creep-feeding. As matrizes dos três lotes foram mantidas em pastejo sob lotação rotativa em Brachiaria decumbens com 24 dias de período de descanso e quatro dias de período de pastejo. Elas eram levadas ao pasto às 17 horas, nesse período os cordeiros permaneciam nas baias, e as mesmas retornavam ao aprisco e eram reinseridas junto aos cordeiros às 08 horas da manhã. Aos cordeiros dos lotes FC e C a ração concentrada fornecida continha em sua composição centesinal, 62% de farelo de milho, 32% de farelo de soja, 1,5% de sal mineral, 0,3% de calcário calcítico, 1,2% de fosfato bicálcico e 3% de sucedâneo do leite em pó e foi formulada visando atender as exigências nutricionais de cordeiros, conforme o NRC (2007). As rações experimentais foram fornecidas em cocho de acesso exclusivo dos cordeiros diariamente, duas vezes ao dia, metade às 8 h e metade às 16 h, para garantir um alimento sempre fresco, sendo coletadas no dia seguinte as sobras para determinação do consumo diário do lote e, assim, três vezes por semana era ajustado o consumo para manter nível de sobras em torno de 15%. Após 68 dias fora realizado a avaliação referente ao comportamento ingestivo dos cordeiros. Foram identificados 6 cordeiros por tratamento, com numeração feita com tinta em bastão na região dorso-lombar, sendo destes 3 machos e 3 fêmeas. Para a avaliação do comportamento ingestivo, por dois dias consecutivos os animais foram observados visualmente. Em um dia, foi quantificado durante 24 horas/dia, o tempo despendido em alimentação, ruminação, ócio e outras atividades, por meio da observação visual dos animais a cada dez minutos por três observadores (JOHNSON e COMBS, 1991). Seis observadores revezaram-se, em turnos de seis horas, posicionados de forma a interferir o mínimo possível no comportamento dos animais. No intervalo entre duas observações, foi computada a freqüência de defecação, micção e ingestão de água. No dia seguinte, os animais foram avaliados durante três períodos de duas horas (8 às 10; 14 às 16; e 18 às 20 horas), para obtenção das médias das mastigações e do tempo, mensurando o número de mastigações merícicas por bolo ruminal e, com auxílio de cronômetro digital, o tempo despendido de mastigação merícica por bolo ruminal. Vale ressaltar que durante a observação noturna dos animais as luzes foram mantidas acesas no ambiente de avaliação. As variáveis do comportamento ingestivo foram obtidas pelas seguintes relações: TMT = TAL + TRU; NBR = TRU/MMtb; MMnd = NBR x MMnb; onde: TMT (h/dia) = tempo de mastigação total; TAL (h/dia) = tempo de alimentação; TRU (h/dia) = tempo de ruminação; NBR (n°/dia) = número de bolos ruminais; MMtb (s/bolo) = tempo de mastigação merícica por bolo ruminal (POLLI et al., 1996); MMnd (n°/dia) = número de mastigações merícicas por dia; e MMnb (n°/bolo) = número de mastigações merícicas por bolo. Os dados foram submetidos à análise de variância e teste de comparação de médias pelo teste de Tukey (P<0,05), com auxílio do procedimento GLM do pacote computacional SAS (SAS INSTITUTE, 2003). Resultados e Discussão Houve interação (P<0,05) para quase todas variáveis analisadas, com exceção do tempo de mastigações mericicas por bolo ruminal, que não variou por tratamento (Tabela 1). Dessa forma, observou-se maior tempo de alimentação nos cordeiros alimentados exclusivamente de feno, devido ao maior tempo gasto pelos animais em selecionar os alimentos ingeridos e à dificuldade de mastigação do feno, que possuía teor de FDN de 82,11%. O tempo de ruminação não apresentou diferença significativa entre os tratamentos que continham feno, diferindo e sendo bem inferior no tratamento C. Segundo VAN SOEST (1994) o tempo gasto em ruminação e ingestão de ração é proporcional ao teor de parede celular dos alimentos, assim, no que concerne a ruminação ao elevar o conteúdo de FDN das dietas haverá um aumento no tempo dispendido com esse comportamento, já no que consiste a ingestão de ração, quanto maior a participação da fibra na dieta ocorrerá um incremento no efeito físico do enchimento do rúmen, assim, levando o animal a um estado de saciedade. Mesmo não havendo diferença significativa, nota-se em valores absolutos que realmente, o TRU do tratamento FC foi um pouco menor do que o F, provavelmente não houve um efeito maior pelo primeiro apresentar um consumo bem superior ao tratamento F(dados não apresentados), gerando assim um efeito compensatório na variável TRU. Provavelmente, provocado devido ao aumento da palatabilidade desse alimento, a partir da participação do concentrado na dieta e até uma maior ingestão de volumoso pelos animais por estarem em busca de selecionarem o concentrado. Passando assim mais tempo ruminando, não por que passou mais tempo se alimentando, mas sim por que conseguiu ingerir mais alimento em um espaço de tempo inferior ao que foi apresentado em F. Devido a isso, se tem um tempo de mastigação total e um número de bolos ruminais por dia bem superiores nos tratamentos F e FC não diferindo significativamente, enquanto que observa-se valores bem inferiores em C diferindo dos demais(P<0,05), o que já era esperado, já que o TMT é o somatório do TAL e TRU, enquanto que o número de NBR é proporcional ao TRU, que por sua vez é altamente correlacionado com o consumo de FDN. Com relação aos dados de mastigação mericica, o MMnd decresceu linearmente, com a diminuição do teores de fibra das dietas. Segundo DULPHY et al. (1980), citado por BÜRGER et al. (2000), quando decrescem os constituintes da parede celular da dieta, aumentando o teor de amido, decresce o tempo total de mastigação, o que pode ser observado com a redução linear verificada. Não houve efeito de bloco(P>0,05), entre as variáveis estudadas. Tabela 1. Médias das Características do comportamento ingestivo de cordeiros deslanados alimentados com diferentes dietas em creep-feeding. Tipos de Dietas Sexo Variáveis CV% Feno Feno + Concentrado Concentrado Macho Fêmea TAL (h/dia) TRU (h/dia) TMT (h/dia) NBR (nº/dia) MMnd (nº/dia) MMnb (nº/bolo) MMtb (seg/bolo) 5,50A 9,95A 15,45A 728,1A 54584A 80,77A 84,42A 4,72AB 8,22A 12,94A 782,1A 33485B 48,60B 67,80A 3,72B 3,22B 6,94B 316,0B 20276C 65,90AB 81,32A 4,63nd 7,43nd 12,05nd 671,00nd 38323nd 66,19 nd 77,37 nd 4,67nd 6,83nd 11,50nd 575,23nd 35612nd 63,75 nd 77,95 nd 25,28 17,54 17,73 27,45 20,86 19,73 25,23 TAL: tempo de alimentação; TRU: tempo de ruminação; TMT: tempo de mastigação total; NBR: número de bolos ruminais; MMnd: número de mastigações merícicas por dia; MMnb: número de mastigações merícicas por bolo; MMtb: tempo de mastigação merícica por bolo ruminal. Médias seguidas da mesma letra maiúscula na mesma linha para cada variável não difere ao nível de probabilidade de 5% pelo teste de Tukey. Conclusões As dietas afetaram o comportamento ingestivo dos cordeiros, mostrando assim que esses resultados devem ser associados a informações de desempenho dos animais para a recomendação da melhor dieta para a alimentação de cordeiros em sistema de alimentação privativa. Agradecimentos Ao Núcleo de Ensino e Estudos em Forragicultura - NEEF/DZ/CCA/UFC pelo apoio oferecendo o espaço físico e logístico para a realização do presente estudo. Literatura citada JOHNSON, T.R.; COMBS, D.K. Effects of prepartum diete, inert rumen bulk, and dietary polyethylene glycol on dry matter intake of lactating dairy cows. Journal of Dairy Science, v. 74, n. 3, p. 933-944, 1991. NATIONAL RESEARCH COUNCIL - NRC. Nutrient requirements of dairy cattle. New York: National Academy Press, 2007. 271p. POLLI, V.A.; RESTLE, J.; SENNA, D.B. et al. Aspectos relativos à ruminação de bovinos e bubalinos em regime de confinamento. Revista Brasileira de Zootecnia, v.25, n.5, p.987-993, 1996. STATISTICAL ANALYSIS SYSTEM - SAS. SAS system for windows. Version 8.0. Cary: SAS Institute, 2003. (CD-ROM). VAN SOEST, P.J. Nutritional ecology of the ruminant. 2.ed. London: Constock, 1994. 476p.
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