Untitled - Imaginarius
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EDITORIAL Em Setembro de 2015, a Circostrada Network, em parceria com a FiraTàrrega, organizou o FRESH STREET#1, o primeiro seminário Europeu para o desenvolvimento das Artes de Rua. Mais de 200 agentes culturais da Europa e além-fronteiras juntaram-se em Barcelona e Tàrrega (Catalunha, Espanha). Este evento singular possibilitou uma visão panorâmica do sector na Europa, na atualidade, e uma reflexão sobre o futuro das Artes de Rua. Uma equipa de trabalho interna à rede, constituída por 8 organizações culturais Europeias focadas nas Artes de Rua, delineou a programação deste seminário sem igual. Conjuntamente, mas cada um com a sua própria visão, encheram três dias de reflexão e intercâmbio com o objetivo de estabelecer a razão de ser e elaborar um conjunto de recomendações para a estruturação e desenvolvimento das Artes de Rua na Europa. Sendo o primeiro encontro Europeu desta dimensão a retratar o futuro das Artes de Rua, o objetivo da equipa de trabalho centrou-se no debate dos principais problemas, por forma a lançar as bases para futuros diálogos de relevância. Deste modo, os delegados foram incitados a discutir a situação e o papel das Artes de Rua, ações de sensibilização, o espaço público, a mobilidade e a formação. A discussão foi conduzida através de sessões plenárias e sessões temáticas com profissionais reconhecidos de toda a Europa. As sessões de FRESG STREET procuraram traçar rotas para o futuro do setor: onde estamos e como continuaremos a crescer? Nesta publicação encontrará as conclusões dinâmicas de cada uma destas sessões, destacando o que está em causa e os fatores-chave. As mesmas destacam os objetivos pretendidos e o que se prevê que venham a ser as Artes de Rua no futuro. Artes de Rua têm uma característica singular ao aproximar as pessoas, independentemente do seu passado, nacionalidade e classe económica. Transcende a esfera linguística e geopolítica. Oferece um palco para liberdade de expressão e convida os espetadores e artistas a reavaliar as cidades, vilas e espaços públicos que servem de cenário. No centro do FRESH STREET#1 esteve a vontade de projetar o futuro deste importante setor a uma escala Europeia, refletindo conjuntamente acerca dos desafios e potencialidades e como contribuir para uma Europa Cultural, transpondo a diversidade das muitas nações Europeias. A Circostrada Network pretende que o FRESH STREET venha a ser um evento bianual, obrigatório para todos os agentes culturais e um pilar de refleção sobre a evolução das Artes de Rua a uma escala Europeia e Mundial. O FRESH STREET#2 servirá de ponto de situação dos progressos almejados, debate dos desafios e identificação das novas oportunidades. Todos estão convidados a participar. O futuro das Artes de Rua está nas nossas mãos. Sejamos responsáveis, sejamos defensores, sejamos participativos, sejamos ativos e trabalhando juntos conseguiremos construir uma Europa melhor através das Artes de Rua. A Coordenação da Circostrada e o Grupo de Trabalho do FRESH STREET#1 FRESH STREET#1 EM NÚMEROS 240 PARTICIPANTES 30 PAÍSES DE 4 CONTINENTES 8 MODERADORES 23 ORADORES 5 CURADORES 3 DIAS DE SEMINÁRIO 3 SESSÕES PLENÁRIAS "Construir a Europa através das Artes de Rua" "Step outside!" "As Artes de Rua no século XXI" 4 SESSÕES TEMÁTICAS "Artes de Rua, pessoas e espaço público" "Diga-o alto: quem somos e o que fazemos" "Para Além da Mobilidade: Fortalecer Parcerias" "Formação e Capacitação” 2 CIDADES 2 ACTIVIDADES DE PARTILHA E CONVÍVIO UM PROGRAMA REPLETO DE ARTES DE RUA TABELA DE CONTEÚDOS Painel de Abertura: "Construir a Europa através das Artes de Rua" · Relatório de Josephine Burns, Without Walls (Reino Unido) 07 Sessão Temática #1: "Artes de Rua, Pessoas e Espaço Público" · Relatório de Anais Biaux, XTRAX (Reino Unido) 10 Sessão Temática #2: "Diga-o Alto: Quem Somos e o que Fazemos · Relatório de Bettina Lindstrum, Arts Agenda (Reino Unido) 13 Sessão Temática #3: "Para Além da Mobilidade: Fortalecer Parcerias" · Relatório de Marie le Sourd, On the Move (Bélgica) 16 Sessão Temática #4: "Formação e Capacitação" · Relatório de Susan Haedicke, Universidade de Warwick (Reino Unido) 19 Painel: "Step Outside!" · Relatório de Josephine Burns, Without Walls 22 Organizadores e Parceiros do FRESH STREET#1 26 Todas as fotografias desta publicação são da autoria de Marti E. Berenguer. O apoio da Comissão Europeia para o desenvolvimento desta publicação não constitui apoio ou aval do seu conteúdo, que reflete apenas as opiniões dos seus autores, sendo que a Comissão não poderá ser responsabilizada por qualquer uso da informação contida nesta publicação. PAINEL DE ABERTURA: CONSTRUIR A EUROPA ATRAVÉS DAS ARTES DE RUA Relatório de Josephine Burns, Without Walls (Reino Unido) Moderador: Oradores: Curador: Josephine Burns, Without Walls (Reino Unido) Trevor Davies, KIT - Københavns Internationale Teater (Dinamarca); Clair Howells, IFAPS - Federação Internacional de Arte em Espaços Públicos (Alemanha); Julien Rosemberg, HorsLesMurs - Centro Nacional de Recursos Francês para Artes de Rua e Novo Circo (França) Maggie Clarke, XTRAX (Reino Unido) A posição das Artes de Rua na Europa A sessão de abertura foi desenhada para delinear todo o “cenário” do debate da conferência A sessão de abertura foi desenhada para delinear todo o “cenário” do debate da conferência, explorando o contexto atual das Artes de Rua na Europa e refletindo o futuro desta forma artística. Incitamos o painel dos três ilustres comentadores a refletir acerca dos seguintes temas e convidámos o público a juntar-se à conversa: As Artes de Rua nos Países Europeus Quais pensamos ser os principais os avanços-chave nas Artes de Rua nos últimos 7 anos (desde a recessão económica) e quais são as maiores ameaças que o setor atravessa nos próximos anos, na Europa? Como lidar com eles? Europa num contexto internacional alargado De que forma devemos trabalhar junto dos nossos colegas europeus de modo a reforçar a posição das Artes de Rua em toda a Europa – tornando-se mais fortes, tendo em conta os diferentes recursos nos diferentes países, e de que forma é que as Artes de Rua assumem diferentes estatutos e posições de pais para pais? Como promover uma melhor colaboração e cooperação a um nível Europeu e Internacional? Quais são as medidas mais importantes? Perspetiva europeia É possível identificar uma abordagem “Europeia” às Artes de Rua? Será isto um conceito útil? Qual é a posição que a Europa ocupa nas Artes de Rua? É possível definir isto? Quais são os traços comuns às Artes de Rua nos diferentes países europeus? Quais são as forças e debilidades das Artes de Rua na Europa e que cooperações existem para enfrentar os desafios? 07 Desenvolver as Artes de Rua: parcerias, redes e celebração da diversidade A Europa é rica na sua diversidade cultural, as Artes de Rua realçam os nossos direitos democráticos, identidades e vozes que representam, comunicam e constroem a sociedade do futuro. A diversidade Europeia - social, política, económica e cultural – tem definido os diferentes ritmos de desenvolvimento de políticas para as Artes de Rua nos diversos países durante o século XX. Contudo, existem grandes divergências por toda a Europa no reconhecimento das Artes de Rua como uma forma de arte. Em alguns países, as Artes de Rua não são consideradas uma área distinta da prática artística, como, por exemplo, a Suíça. A importância de trabalhar em parceria foi referida repetidamente. Redes - nacionais e internacionais - têm contribuído para a afirmação do estatuto e perfil das Artes de Rua para os artistas, festivais e organizadores. Na França, o HorsLesMurs, a Federation des Arts de La Rue, entre outros têm dado voz ao setor. No Reino Unido, as redes ISAN, NASA, Without Walls, entre outras têm contribuído para o crescimento do setor. O crescimento da Federação Internacional das Artes em Espaços Públicos (IFAPS) oferece a oportunidade de desenvolver uma rede internacional de organizações relacionadas com as Artes de Rua com o potencial de influenciar financiadores e legisladores a reforçar a legitimidade do sector. Está nas mãos das diferentes federações nacionais trazer uma voz autoritária e representativa. É essencial reconhecer as muitas plataformas em que Artes de Rua se desdobram. Embora os festivais e mostras são importantes, é necessário reconhecer que as Artes de Rua também se manifestam noutros contextos - espaços públicos, bairros, comunidades, áreas rurais - como peça fundamental do nosso contexto operacional. podemos assegurar que o trabalho não é impulsionado pelo “entretenimento” das massas e contra a capacidade dos artistas em criar um trabalho desafiante? Como podemos proteger a arte de se tornar num instrumento dos investidores? Quando tantos festivais são financiados pelo turismo e fundos de regeneração, será que a liberdade artística está em causa? As formas de financiamento do setor nos diferentes países são muito variadas tendo cada uma delas diferentes desafios. Por exemplo, na Holanda, artistas conseguem financiar as suas tournées e a exportação do seu trabalho, no entanto o financiamento da criação artística é mais limitada. Festivais são aclamados pela diversidade cultural que oferecem, facto reforçado pela imigração massiva que tem aumentado as diferenças culturais, mas contribuído para a riqueza cultural Europeia. Os festivais e as Artes de Rua criam um tecido de ligação que aproxima comunidades multiculturais e funcionam como uma terapia à fricção social. Os espetadores tornam-se cidadãos. As grandes audiências que as diferentes Artes de Rua conseguem atrair podem levar artistas a criar trabalhos movidos pelo entretenimento; Como Aprendizagem mútua e partilha de conhecimento As intervenções do painel incitaram um debate que se estendeu aos muitos delegados da conferência que se encontravam na plateia que partilharam as suas experiências pessoais conquistas, desafios e esperanças para o futuro. Ficou claro que o setor na Europa está em crescimento e a obter um reconhecimento cada 08 vez maior, mas cada país tem uma abordagem diferente determinada pela sua história e fatores geopolíticos. Embora cada país seja e sempre será diferente, há muito que podemos aprender da experiência de cada um, oportunidades de partilha de informação devem ser promovidas e encorajadas. E isto não As Artes de Rua realçam os nossos direitos democráticos, identidades e vozes que representam, comunicam e constroem a sociedade do futuro se limita aos países Europeus, se houvesse uma maior organização poderia existir uma maior partilha a um nível internacional. As Artes de Rua têm um papel fundamental na construção e fusão de culturas; como um dos oradores referiu: “É acupunctura cultural”. Devemos cultivar a ideia de aprendizagem mútua e encontrar caminhos para partilhar conhecimento. Reposicionamento do reconhecimento e a legitimação das Artes de Rua Existem diferentes níveis de reconhecimento e estatuto para as Artes de Rua nos diversos países, mas isto não constitui necessariamente um obstáculo ao crescimento e desenvolvimento do setor; na medida em que cada um tem algo novo e distinto para partilhar. Estas redes podem prestar apoio e defender aqueles que se encontrem em países onde as Artes de Rua não são reconhecidas. Por exemplo, através da organização de reuniões com os representantes culturais para demonstrar o valor do trabalho realizado. O papel das redes é crucial - quer formais quer informais. Promovendo e despendendo tempo em organizações existentes, como a Circostrada, é importante e pode levar à criação de novos organismos como é o caso da IFAPS - que leva a criação artística em espaços públicos a debates políticos transnacionais. Necessitamos que as redes se foquem na investigação, recolha e análise de dados, exemplificativamente, sobre os espectadores; e s e podermos fazer isto entre países (através das nossas federações) nesse caso conseguiremos ter um impacto enorme na Europa e além-fronteiras ao defender a importância das Artes de Rua. Moderador Oradores JOSEPHINE BURNS é uma consultora altamente experiente, especialista em arte, cultura e economia criativa e ocupa o lugar de Presidente Executivo da Without Walls Consortium. Com a saída da Arts Council em 1991, Josephine fundou a BOP Consulting, empresa responsável por inúmeros projetos, entre os quais, o relatório do impacto dos festivais em Edimburgo, trabalhos ligados a empresas tais como a Glasgow Citizens Theatre, LIFT, Streetwise Opera e a revisão do programa de desenvolvimento de talentos financiado pela fundação Esmee Fairbairn. A título pessoal, Josephine está ligada a um conjunto de organizações que incluí o Fringe Festival de Amesterdão. TREVOR DAVIES fundou KIT - Københavns Internationale Teater (Dinamarca) em 1979, que ainda co-dirige com Katrien Verwilt. Foi o secretário geral do festical Aarhus (1985-1990) e do Copenhagen 96 - ECOC (1992-97). Em 2000, no Reino Unido, foi Diretor do Festival Internacional de Salisbury e do New Writing Partnership em Norwich. Entre 2008 e 2013 foi diretor do projeto Aarhus 2017 - ECOC. Curador: Maggie Clarke, XTRAX (Reino Unido) CLAIR HOWELLS é um dos membros fundadores e presidente da IFAPS (Federação Internacional de Arte em Espaços Públicos) e da Federação Internacional de Teatro em Espaços Públicos. Clair é a directora do Titanick Theatre Münster-Leipzip, Alemanha. Estudou representação na Scuola Internazionale di Teatro em Roma e com Philippe Gaulier em Paris. Já lecionou na FAI-AR (Marselha) e promoveu workshops e seminários em todo Mundo. JULIEN ROSEMBERG é o Diretor da HorsLesMurs, Centro Nacional de Recursos Francês para as Artes de Rua e Novo Circo. Trabalha com diversas universidades em cursos relacionados com as práticas sociológicas e política cultural, leciona história e análise crítica de espetáculos circenses na ENACR (França) e ESAC (Bélgica) e colabora com diversas revistas artísticas. 09 SESSÃO TEMÁTICA #1: ARTES DE RUA, PESSOAS E ESPAÇO PÚBLICO Relatório de Anaïs Biaux, XTRAX (Reino Unido) Moderador: Oradores: Curador: Anaïs Biaux, XTRAX (Reino Unido) Carlos Martins, Opium Lda (Portugal); Morgane Le Gallic, Ville de Pantin -Théâtre du Fil de l'Eau (França); T.V. Honan, Spraoi Festival (Irlanda) Elodie Peltier, Coopérative de Rue et de Cirque, 2r2c (França) Artes de Rua e Espaço Público As Artes de Rua transformam e moldam espaços públicos em palcos de imaginação e criatividade, influenciando o espaço e a audiência envolvente. A liberdade artística das Artes de Rua transformam-na numa das mais inclusivas e democráticas formas de arte. Nos últimos anos, os eventos e festivais de Artes de Rua têm-se tornado num importante fator de política urbana na Europa e as Artes de Rua são frequentemente considerado um “instrumento cultural” de coesão social, reabilitação urbanística e desenvolvimento económico. Mas qual é o verdadeiro impacto da Artes de Rua nas pessoas e nos espaços? Como é que as Arte de Rua se relacionam com as pessoas? Como podemos medir o impacto económico, educacional e social das Artes de Rua? Com que utilidade? Nesta sessão, o painel e os participantes debateram a dinâmica entre as Artes de Rua, as pessoas e os espaços públicos e como se influenciam mutuamente. Este diálogo enriquecedor permitiu estabelecer um conjunto de recomendações que esperemos ajudar a moldar as Artes de Rua do futuro. Políticas Urbanas e o papel das Artes de Rua A Arte de Rua tem sido considerado um importante mecanismo de transformação da percepção urbana e de refortalecimento da comunidade, tornando-se um poderoso instrumento de reabilitação urbanística e de mudança social. 10 Nos últimos anos, as Artes de Rua têm-se transformado num instrumento chave de política urbana em toda a Europa. Para Morgane Le Gallic, do le Théâtre du Fil de l'Eau esclarece que em Pantin (França), as Artes de Rua têm sido um importante mecanismo de transformação da perceção urbana e de refortalecimento da comunidade, tornando-se num poderoso instrumento de reabilitação urbanística e de mudança social. As Artes de Rua não se restringem aos festivais, manifesta-se fora desta esfera. Exibições diárias são uma forma de reconhecimento e democratização cultural do trabalho e permite a criação de uma relação intimista entre o trabalho artístico, o espaço público e as pessoas. Mas nem tudo é fácil, o trabalho artístico enfrenta obstáculos e está obrigado a obedecer a regras rígidas. O trabalho artístico é muitas vezes dificultado por causa destas restrições. Enquanto em alguns países, como é o caso do Brasil, os organizadores ou artistas se limitam a informar as autoridades locais das suas atividades em espaços públicos, na Europa, estes são obrigados a pedir autorização, que muitas vezes é negada. Tornou-se evidente que os espaços públicos não são tão públicos quando gostaríamos e que a linha que separa o que é privado do que é publico é turva. Espaços públicos estão a passar um período de mudança radical, tornando-se segmentados, resultando numa justaposição de espaços privados com pouco espaço para criação artística. A reapropriação do espaço público por artistas e cidadãos é, deste modo, crucial nas sociedades modernas e o principal desafio ao futuro das Artes de Rua. Artes de Rua e as Pessoas A aposta das Artes de Rua em espaços públicos surge da necessidade de captar um publico novo e diversificado, principalmente os que não perderam ou nunca tiveram contacto com as Artes de Rua - os espetadores casuais. Como demonstrou T.V. Honan do Festival Internacional de Artes de Rua Spraoi (Irlanda), é essencial que as pessoas se identifiquem com o festival e que se percebam que foi desenhada para eles. No festival Spraoi, a comunidade local é convidada a participar no evento o que permite um laço de ligação maior com o festival. O Spraoi torna-se no o elo da ligação entre os dois, encorajando a comunidade a tornar-se um espectador ativo. Contudo, a colaboração com as comunidades locais não está imune a desafios e para muitas organizações o desafio surge na criação de confiança e a sua manutenção ao longo do ano. Dados os recursos escassos e a falta de recursos humanos fora da época dos eventos, a sustentabilização destas relações é muitas vezes dificultada. Trabalho Artístico e o Meio Ambiente “O espaço público transforma tanto o trabalho como o trabalho transforma o espaço público” Morgane Le Gallic A criação artística ao ar livre requer que o artista pondere o enquadramento da proposta artística no meio ambiente. Alguns projetos são desenhados para locais específicos respondendo às especificidades desse local. Podendo ter sido inspirados pela arquitetura, população ou valor simbólico do espaço. Outros projetos podem considerar a capacidade de digressão do espetáculo, e por este motivo são criados de forma a não ser necessária demasiada transformação para ser apresentados noutros locais. Muitos espetadores enfatizam que apesar do trabalho artístico ser fortemente influenciado pelo ambiente, as interações entre o ambiente e o trabalho estão intimamente interligadas. “O espaço público transforma tanto o trabalho como o trabalho transforma o espaço público” relembrou Morgane Le Gallic. Mensuração do Impacto das Artes de Rua As Artes de Rua podem ter um impacto considerável sobre a regeneração urbana. Mas se alguns dos projetos ou eventos são efémeros, são passiveis de transformar o relacionamento entre o espaço e os habitantes. Similarmente, as Artes de Rua contribuiem significativamente para mudar a forma como as sociedades modernas percecionam e usam o espaço público. É sempre difícil falar sobre o impacto das Artes de Rua (mas também das artes em geral) na coesão social e na economia local. Esta dificuldade é devida parcialmente ao facto de as Artes de Rua terem essencialmente um impacto simbólico na cidade e este impacto continue a ser de difícil mensuração, em termos de categorias económicas e estatísticas. Alcançando Legitimidade Através do Envolvimento com Diversas Disciplinas A compreensão dos espetadores de Artes de Rua é uma ferramenta crucial para o reconhecimento público e legitimidade do sector e ter evidências tangíveis são as chaves para ajudar o sector a requerer um maior reconhecimento, apoio e investimento do setor artístico em geral e afins. Como referiu Carlos Martins da Opium Lda (Portugal), precisamos de estabelecer uma relação com as administrações publicas, agências culturais, universidades, cidadãos e os meios de comunicação. Precisamos de dialogar com eles; eles podem ajudar-nos a medir o impacto social, educacional e económico do nosso trabalho. Esta reaproximação com a sociedade fora dos eventos de Artes de Rua e períodos de festivais é apenas uma das formas estratégicas de captar as audiências de uma forma diferente. 11 Alcançando Legitimidade Através do Envolvimento com Diversas Disciplinas A compreensão dos espetadores de Artes de Rua é uma ferramenta crucial para o reconhecimento público e legitimidade do sector e ter evidências tangíveis são as chaves para ajudar o sector a requerer um maior reconhecimento, apoio e investimento do setor artístico em geral e afins. Como referiu Carlos Martins da Opium Lda (Portugal), precisamos de estabelecer uma relação com as administrações publicas, agências culturais, universidades, cidadãos e os meios de comunicação. Precisamos de dialogar com eles; eles podem ajudar-nos a medir o impacto social, educacional e económico do nosso trabalho. Esta reaproximação com a sociedade fora dos eventos de Artes de Rua e períodos de festivais é apenas uma das formas estratégicas de captar as audiências de uma forma diferente. Desenvolvendo as Artes de Rua do Futuro O espaço público ocupa um papel central na prática das Artes de Rua - é a tela de um artista, o palco, um espaço para criatividade Espaços públicos são lugares de assembleia, feiras, festivais, justiça, teatro, brincadeira, reunião, luto, conversação, religião, carnaval e demonstrações de unidade nacional. Dentro deste contexto, o uso de espaços públicos deveria ser um direito, não uma exceção. O espaço público ocupa um papel central na prática das Artes de Rua - é a tela, palco e um espaço para a criatividade do artista - onde o processo criativo requer o mesmo tempo e respeito que é dado às outras formas artísticas. Criatividade em espaços públicos muitas vezes está limitada pelos nossos decisores políticos, no entanto, juntos, devíamos lutar para mudar isto. trabalhar mais com especialistas de diferentes áreas para nos ajudar a mensurar o impacto social, educacional e económico do nosso trabalho e para nos ajudar a requerer um maior reconhecimento, financiamento e investimento. Como sector, é necessário tornar as Artes de Rua mais pertinentes, mais próximas do trabalho desenvolvido pelos governos locais, das organizações culturais, das instituições de ensino superior e da vida dos cidadãos. Através disto, há uma verdadeira oportunidade de elevar o papel das Artes de Rua ao principal catalisador da regeneração urbana e de mudança social e assim reclamar o espaço público, tornando-o verdadeiramente público. Recorrendo as palavras de Carlos Martins da Opium Lda, as Artes de Rua necessitam de Moderador ANAÏS BIAUX é produtora e diretora de projeto na XTRAX (entidade que apoia projetos de rua inspiradores através da concretização de projetos, festivais e showcases desenhados para promover trabalhos inovadores de artistas do Reino Unido e internacionais) com vasto conhecimento do setor da Arte de Rua do Reino Unido e Internacional. Desenvolveu largas competências em tournées e desenvolvimento de audiências através do seu trabalho de direção na Without Walls Associate Touring Network, e produtora assistente da Wired Aerial Theatre. Curador: Elodie Peltier, Coopérative de Rue et de Cirque (2r2c) (França) Oradores T.V. HONAN é o diretor e fundador do Festival Internacional Waterford (Irlanda). O festival foi fundado em 1993 e está sedeado no centro Waterford Spraoi, um centro de criação de artes de rua e produção de espetáculos. Waterford Spraoi também desenvolve produções para 12 festivais e eventos em toda a Irlanda incluindo: a cerimónia de abertura da Capital Europeia da Cultura, a Corrida The Tall Ships e a cerimónia de abertura da World Fire and Police Games. MORGANE LE GALLIC trabalha para a cidade de Pantin - Théâtre du Fil de l'Eau, desde 2009. Dirige o teatro da cidade e programa espetáculos de Artes de Rua. A sua organização também lançou o festival «la BUS» que explora os possíveis elos de ligação entre o desenvolvimento da cidade e o teatro de rua. Anteriormente, trabalhou na Hors Les Murs e na Coopérative de Rue et de Cirque, como coordenadora. CARLOS MARTINS é o fundador e sóciogerente da Opium Lda. empresa de criatividade e programação (Portugal). Foi presidente da ADDICT (Agência para o Desenvolvimento das Indústrias Criativas) e membro do Conselho Nacional da Cultura (Portugal). Foi Vereador da Cultura, Turismo e Desenvolvimento Económico em Santa Maria da Feira, durante sete anos. Diretor Executivo do Porto 2.0 - Festival para a Nova Cidade e Festival do Norte. Foi, também, Presidente Executivo do Guimarães 2012 Capital Europeia da Cultura. SESSÃO TEMÁTICA #2: DIGA-O ALTO QUEM SOMOS E O QUE FAZEMOS Relatório de Bettina Linstrum, Arts Agenda (Reino Unido) Moderador: Oradores: Curador: Bettina Linstrum, Arts Agenda (Reino Unido) Delphine Hesters, Flanders Arts Institute (Bélgica); Martins Kibers, Festival RE RE RIGA! (Letónia); Angus MacKechnie, ISAN (Reino Unido) Celine Verkest, MiramirO Festival (Bélgica) O Estado atual do reconhecimento Será que a amplitude e a diversidade da forma de arte são parte do problema? “Diga-o Alto” juntou delegados da conferência para em conjunto debater, partilhar preocupações e encontrar soluções práticas a volta da questão: Como conseguir um maior reconhecimento para as Artes de Rua? Para iniciar o debate, colocamos duas questões: Que tipo de reconhecimento queremos? e Qual é o tipo do reconhecimento? O consenso foi que de que cada país e cidade experiencia diferentes desafios em torno da promoção dos seus trabalhos, e que o reconhecimento é dependente da localização e do contexto. Por exemplo no Reino Unido, um dos desafios do setor é atrair os meios de comunicação e os jornalistas, encorajando debates críticos, enquanto que na Letónia, o país ainda está a descobrir a socialização em espaços públicos, tendo o primeiro espetáculo de Artes de Rua ter surgido, nos últimos anos, num festival em Riga, mas para os cidadãos é uma forma de arte completamente inovadora. Após o debate exaustivo em torno do reconhecimento, o painel rapidamente associou esta matéria à necessidade de esforços de sensibilização para o setor das Artes de Rua, subsequentemente, levantando a questão se a falta de uma definição clara do setor interferia diretamente com o sucesso na sensibilização da mesma? Será que a amplitude e a diversidade das formas de arte são parte do problema? Será que uma sensibilização para a arte em geral seria melhor, não pondo em causa rivalidades com outros setores melhores reconhecidas e estabelecidas? Reconhecimento em toda a Europa: Autoridades Locais e Financiamento Público para as Artes de Rua Em alguns países, o termo “Artes de Rua” não é usado, noutros é reconhecido e o sistema de financiamento público tem especialistas com conhecimento do setor. Frequentemente esta forma artística é reconhecida pelos organismos de financiamento, no entanto as verbas orçamentais alocadas ao setor não são iguais quando comparado com ao teatro convencional. Na Bélgica, não há uma distinção entre as Artes de Rua e os projetos desenvolvidos para espaços interiores, o que significa que estes projetos são avaliados com os mesmos parâmetros. Embora o Novo Circo esteja noutra categoria com um sistema de financiamento dedicado, as Artes de Rua, devido à sua natureza multidisciplinar, às vezes acaba por cair entre as duas categorias. 13 Será o espaço público verdadeiramente público? Em muitos países, as normas de saúde e segurança definem que os espaços públicos sejam cada vez mais difíceis de utilizar para eventos, tornando os espaços privados opções mais viáveis. Grande parte das verbas (frequentemente subsídios públicos) são utilizados na produção e negociação com as autoridades, procurando alternativas de contornar as regras, negociação que se tem vindo dificultar ano após ano. É frequente que seja um indivíduo numa posição de autoridade que faz a diferença. A quem agradar? Direção de Turismo, filantropos, patrocinadores, financiadores ou espectadores. As necessidades das partes interessadas são variadas, e é impossível satisfazer todos a todos os níveis. As artes, e em particular, as Artes de Rua e a sua capacidade de tocar as pessoas de todas as classes, correm o risco de serem utilizadas para resolver problemas sociais. Estes benefícios “colaterais” das Artes de Rua não devem ser o fator decisivo, a instrumentalização da arte pode ajudar a apoiar o argumento, mas a qualidade da experiência deve ser o principal motivador. Esforços de sensibilização e reconhecimento na Europa Os membros do painel foram incitados a dar exemplos de esforços de sensibilização no seu país de origem: experiência. Este é o maior inquérito alguma vez conduzido no setor mundialmente, e as conclusões iniciais já influenciaram as políticas do Arts Council do Reino Unido (Entidade de Financiamento Nacional). Esforços de sensibilização na Bélgica As categorias para subsídios são muito abrangentes: qualquer disciplina artística (ou uma combinação de disciplinas artísticas) pode candidatar-se na designação “outro” ou “multidisciplinar”. Artistas e organizações podem candidatar-se a subsídios identificando os seus planos nas seguintes categorias (ou uma combinação delas): desenvolvimento, produção, apresentação, participação e reflexão. O processo de avaliação é essencialmente qualitativo, simultaneamente para o plano artístico e de negócios. Os projetos não têm de preencher os requisitos quantitativos e os organismos com apoios estruturais só necessitam de angariar 5 ou 12% da sua receita - um nível que todas as organizações atingem facilmente. Daí e embora que as Artes de Rua não seja expressamente mencionada na lista de disciplinas artísticas, o sistema não a exclui. Esforços de sensibilização no Reino Unido Um desenvolvimento recente no setor das artes ao ar livre no Reino Unido é um destaque e disponibilidade para o financiamento à Investigação e Desenvolvimento de audiências. A Independent Street Arts Network (ISAN), juntamente com a Audience Agency está a realizar um projeto de 3 anos para melhor compreender os espectadores, o seu percurso pessoal, a sua motivação e a sua 14 Esforços de sensibilização na Letónia Como não há precedente para a forma artística, não há nenhum artista local para o representar. Daí que o ponto de partida seja um pouco diferente, e muito do trabalho base tem de ser feito. A imprensa e os meios de comunicação são parceiros importantes para o desenvolvimento da audiência e o festival RE RE RIGA! no passado teve um workshop sobre o setor para os jornalistas. Como abordar a sensibilização Sensibilização é uma oportunidade; não basta “apenas” falar com políticos; não é uma mera prova do trabalho realizado; é uma oportunidade para criar uma comunidade, uma audiência, uma forma de disseminar conhecimento sobre a forma artística. O que é evidente no exercício de identificação dos problemas para o reconhecimento e sensibilização é a sua grande variabilidade de país para país, ou mesmo de região para região. É impossível encontrar uma estratégia universal. Nem todas as ideias de sensibilização são transversais a todas as culturas, mas exemplos de colegas em todo o mundo poderão ajudar a saber o que pode ser feito ou ser utilizado como referência. nossa mensagem, como é entendido, e quem nos pode ajudar - o que facilita planearmos o caminho para uma meta alcançável. É importante ter clareza sobre quais são os desafios particulares, quem queremos defender, qual é a Podemos fazer isto, trabalhando em conjunto e partilhando informação: instituições e organismos públicos raramente respondem às preocupações individuais, mas eles têm de responder às Federações, redes e grupos que estão de alguma forma organizadas e representativas. Outros colegas estão a enfrentar desafios semelhantes, aprendam uns com os outros e compartilhem informação, repliquem o trabalho uns dos outros, e não o façam sozinhos. Ações de sensibilização são uma forma de criar uma rede pessoal, entre as pessoas que já conhecemos, os nossos colegas, as nossas comunidades, o público e outras indústrias. Moderador Oradores BETTINA LINSTRUM é a diretora e fundadora da Arts Agenda, uma empresa de produção artística dedicada às Artes de Rua site-specific. Iniciou a sua carreira na Kulturbüro em Colónia (Alemanha). Anteriormente, trabalhou como diretora interina do ISAN (Reino Unido), com a XTRAX, para o desenvolvimento de ligações com festivais de rua alemães, e como gestora de projeto da Caravan (plataforma internacional do Festival de Brighton). Atualmente fomenta um programa de liderança para o desenvolvimento artístico UZ Arts, sedeada em Glasgow. DELPHINE HESTERS é a coodenadora do Instituto de Arte Flamengo, e uma especialista em investigação e política. É membro do Comité Consultivo para as Artes do Governo Flamengo. No Instituto de Arte Flamengo o seu trabalho centra-se primordialmente no papel dos artistas no setor cultural, no interculturalismo do setor das artes e na nova “Lei Flamenga para as Artes”. O Instituto de Arte Flamengo é o principal ponto de referência para os profissionais de arte Flamenga. Sensibilização é uma oportunidade; não basta “apenas” falar com políticos; não é uma mera prova do trabalho realizado; é uma oportunidade para criar uma comunidade, uma audiência, uma forma de disseminar conhecimento sobre a forma artística. Curador: Céline Verkest, MiramirO festival (Bélgica) MARTINS KIBERS é Produtor do Festival Contemporâneo de Artes de Rua e Novo Circo “RE RE Riga”. É produtor do festival local para as indústrias criativas «Awards» desde 2004 e produtor das instalações de iluminação e espetáculos de performance dentro do enquadramento do Festival Staro (Riga). É o fundador e membro do conselho de uma organização não-governamental “Pievilcigas Pilsetvides Biedriba” (desde 2011), e produtor, diretor e membro do conselho de gestão da Mentols Ltd. (desde 2000), empresa organizadora de eventos de entretenimento. ANGUS MACKECHNIE é o diretor executivo do ISAN, a organização no Reino Unido responsável pela sensibilização do setor de Artes de Rua. Trabalhou para National Theatre (Londres) durante mais de trinte anos e foi produtor e programador do Watch This Space Festival durante dez anos. Trabalhou como ator, diretor e escritor. Também trabalhou como diretor da companhia de acrobacia Joli Vynn's, e é membro do conselho de gestão da Mimbre e Upswing. 15 SESSÃO TEMÁTICA #3: PARA ALÉM DA MOBILIDADE: REFORÇO DA COLABORAÇÃO Relatório de Marie Le Sourd, On the Move (Belgium) Moderador: Oradores: Curador: Marie Le Sourd, On the Move (Bélgica) Luisa Cuttini, Associazione Culturale C.L.A.P Spettacolodalvivo (Itália); Jens Frimann Hansen, Passage Festival (Dinamarca/Suécia); Marc Van Vliet, Theater Tuig (Holanda) Tanja Ruiter, HH Producties (Holanda) Mobilidade Cultural como Mentalidade Táticas-chave e formas estratégicas de fortalecer as colaborações de médio e longo prazo com membros do setor das Artes de Rua e não só Mobilidade Cultural faz parte do ADN das Artes de Rua. Para muitos artistas, comunidades e empresas, a mobilidade cultural faz parte de uma estratégia de sobrevivência para a criação de novos trabalhos e chegar a novos públicos. Colaborações de longo prazo requerem um conjunto de competências, recursos e informação que os participantes do FRESH STREET#1 tentaram definir e que vão para além dos desafios administrativos e financeiros levantados por colaborações europeias e internacionais. Mais do que um conjunto de recomendações, esta sessão formulou algumas táticas-chave e formas estratégicas de fortalecer as colaborações de médio e longo prazo com membros do setor das Artes de Rua e não só. Estas são aqui representadas como um mapa, que indivíduos e organizações, à procura de estabelecer colaborações duradouras podem socorrer-se. Compreender o processo e visão dos outros Há uma necessidade - através de encontros de redes europeias, festivais, workshops e outros meios de partilha de informações semelhantes de entender melhor como os programadores trabalham; como eles escolhem os artistas, os projetos e como eles definem a visão global dos seus festivais e/ ou eventos. Por outro lado, as necessidades dos artistas requerem atenção constante, especialmente para a proteção do seu espaço de liberdade criativa. Eles devem ser informados das regras e dos regulamentos do espaço público em que trabalham, mas afastados dos encargos adicionais, impostos, por exemplo, por razões de logística ou de financiamento. Fora do setor imediato, as 16 estratégias de apoio dos financiadores e decisores políticos devem ser bem definidas no que diz respeito às Artes de Rua para evitar qualquer tipo de utilização política do setor que, potencialmente, terá um grande impacto sobre o público, a população local, a vizinhança e outros. Como um todo, acreditamos que uma abordagem holística das partes intervenientes no desenvolvimento das Artes de Rua - sem esquecer os espetadores e as comunidades locais - deve ser constantemente procurada. A transferência de conhecimento entre o setor e, por exemplo, as autoridades locais é uma área a ser explorada pelas Artes de Rua e a ser programado de forma mais consistente. Acesso a novos modelos de parceria Parcerias entre os diferentes sectores devem ser procuradas – desde dos sectores das artes e da cultura, ao do urbanismo, da segurança e ambiental Ligando a necessidade de uma abordagem abrangente às expectativas de todas as partes interessadas, há uma urgente necessidade de explorar novos modelos de parcerias a vários níveis de competências tanto mais para as Artes de Rua - que com a sua abordagem plurissectorial - pode ser um setor muito interessante para tais experimentações. Sempre que possível, parcerias recíprocas entre regiões, cidades e/ou países devem ser encorajadas a apoiar intercâmbios bidirecionais e evitar mobilidades num só sentido, consequentemente limitando a diversidade de formas artísticas apresentadas ao público. As parcerias entre os diferentes setores devem ser procuradas - desde os setores das artes e da cultura, ao do urbanismo, da segurança e do ambiente - uma vez que arte e a cultura são muitas vezes consideradas ferramentas de desenvolvimento da participação social que transcende a sua força estética. Voltando ao setor das Artes de Rua, as parcerias entre diferentes festivais e eventos devem ser encorajados para a partilha de conhecimento, custos e, em última análise, diminuir o impacto ambiental. A partilha de recursos deve ser regra, por exemplo, para construir materiais no local da performance, para encontrar alojamento ou para partilha de meios de transporte. Acesso à Informação Esta é uma questão transversal a todos os assuntos acima mencionados para melhorar a colaboração e implementá-la de uma forma mais suave e mais flexível. Por exemplo, problemas administrativo, incluindo mas não limitado a - proteção social, fiscalidade, vistos, autorizações para representar no espaço público - devem ser abordados desde o início dos projetos e centros de contacto para informações devem ser incentivadas. Oportunidades de financiamento e mecanismos para o setor devem ser identificadas e partilhadas, tanto quanto possível e informações sobre festivais - desde as datas à programação - devem ser comunicadas entre os profissionais para evitar duplicações e oportunidades perdidas para a colaboração. As especificidades do setor foram destacadas, nomeadamente, o desafio em definir regras e regulamentos para o setor, que variam de país para país e até de região para região. Acesso a Redes Redes baseadas em modelos de parcerias estruturados como a Circostrada, ou em esquemas mais pessoais e flexíveis de conexões requerem tempo, investimento, generosidade e abertura. Este investimento parece valer a pena para quem está interessado em ir mais além do que um único tipo de intercâmbio e se envolver num processo de colabo- ração de mais longa duração. As redes a nível regional, nacional e europeu são forças de sensibilização que dão voz ao setor, ainda para mais quando as Artes de Rua estão no centro do pensamento estratégico local, regional e europeu. 17 Moderador Oradores MARIE LE SOURD é a secretária-geral da 'On the Move', a rede de informação europeia sobre mobilidade cultural. Esta organização fornece informações sobre as oportunidades de mobilidade e de financiamento culturais na Europa e em todo o mundo, e aborda várias questões relacionadas com a mobilidade cultural. Marie também contribui em projetos da rede europeia IN SITU. De 2006 a 2011 foi diretora do Centro Cultural Francês em Yogyakarta (Indonésia) depois de ter gerido o departamento de intercâmbio cultural da Fundação Ásia-Europa - ASEF (Singapura) durante 7 anos LUISA CUTTINI é diretora do CLAPSpettacolodalvivo (Circuito Multidisciplinar de Arte de Entretenimento ao Vivo da Lombardia) reconhecido e apoiado pelo Ministério do Património, da Cultura e do Turismo Italiano. Luisa começou a trabalhar como organizadora e diretora, programadora de festivais e redes em 2000. Coordenou o “Circuito Danza Lombardia” e o “Circuito Urbano Lombardia Teatro” apoiado pelo Ministério da Cultura e a Região da Lombardia desde 2004. Ela também organiza a “Plataforma NID” (New Plataforma de Dança Italiana, Brescia) e é membro da “Anticorpi XL” e da rede “Dancing Cities European”. Curador: Tanja Ruiter, HH Producties (Holanda) JENS FRIMANN HANSEN é diretor artístico do PASSAGE - festival de teatro de rua transnacional em Helsingør (Dinamarca) e Helsingborg (Suécia), e Presidente de um comité para o teatro em espaços públicos no âmbito do Conselho de Artes Dinamarquês. Detém vários cargos de confiança no setor das artes performativas na Dinamarca e na Suécia. A sua principal área de interesse é a exploração de estruturas abertas na representação artística que desafiem os conceitos de teatro tradicional. A sua investigação centra-se no papel do teatro, artistas e público na globalização, assim como o papel que as artes performativas desempenham quer nas áreas rurais e quer nas urbanas. MARC VAN VLIET é um artista visual e designer do grupo teatral Tuig (Holanda), compahia fundada em 1999. Nos últimos 17 anos, tornou-se conhecido pelas múltiplas performances e instalações com a companhia Tuig, que são caracterizadas pela sua distinta transposição entre imagens, movimento e som. O seu mais recente trabalho focou-se em instalações de arte de terra. Desde 1980, a sua investigação abrange o design de figurinos e a construção decorativa de interiores e de exteriores. 18 SESSÃO TEMÁTICA #4: FORMAÇÃO E CAPACITAÇÃO Relatório de Susan Haedicke, Departamento de Estudos de Teatro e Performance; Universidade de Warwick (Reino Unido) Moderador: Oradores: Curador: Susan Haedicke, Departamento de Estudos de Teatro e Performance; Univerdade de Warwick (Reino Unido) Ebru Gokdâg, EFETSA - Federação Europeia de Educação e Formação em Arte de Rua & Universidade de Anadolu (Turquia); Julieta Aurora Santos, Associação Cultural Contra-Regra, Teatro do Mar (Portugal); Jean-Sebastien Steil, FAI-AR (França) Jordi Duran, FiraTàrrega (Espanha) Definir Formação e Capacitação no contexto das Artes de Rua Formação e capacitação são questões-chave para o desenvolvimento profissional das Artes de Rua na atualidade. Nos últimos anos, muitos projetos, formais e informais, de programas de educação têm surgido. Os principais problemas que se procuraram abordar nesta sessão foram: resumir os modelos pedagógicos atualmente existentes, imaginar novos modelos pedagógicos para a formação em Artes de Rua no futuro e explorar obstáculos que complicam a sua aplicação. Começamos por esclarecer o que entendemos por "formação" e "capacitação". Formação, consideramos literalmente como os modelos formais e informais para educar os futuros artistas profissionais, muitas vezes através de programas profissionais, cursos universitários - licenciaturas e programas de mestrado - em parceria ou não com organizações profissionais de Artes de Rua programas informais e workshops ocasionais e residências artísticas. A capacitação foi definida não só como a informação que deve ser transmitida aos alunos, mas também como podemos educar audiências, decisores políticos, urbanistas e outros players no mercado das Artes de Rua, e o valor da mesma para as cidades do futuro. Os Modelos Europeus e o Valor de Formação e Capacitação Os oradores foram convidados para abordar um conjunto de temas, incluindo: Quais são os programas de formação disponíveis para os artistas hoje? O que precisa ser ensinado, como deve ser ensinado, e quem deve ser ensinado? Qual é o valor destes na especialização das Artes de Rua? Que outros modelos pedagógicos ainda não existentes podemos imaginar para a futura formação de artistas de rua e como podemos implementá-los? Como podemos transmitir informação/análise sobre o valor das Artes de Rua? Como podemos capacitar o espetadores, os decisores políticos, urbanistas, jornalistas? E, finalmente, qual é o papel da investigação académica? Em resposta, Julieta Aurora Santos do Teatro do Mar (Portugal) defendeu uma pedagogia radical, onde alunos e professores aprendem conjuntamente. Para ela, o elemento-chave será proporcionar aos futuros artistas a visão do seu papel na consciencialização do mundo e, como elementos provocadores de mudança social. Ela insistiu que a prática era essencial: "a rua é o tema e a sala de aula principal". Jean-Sebastien Steil da FAI-AR - Formation Avancee et Itinerante des Arts de la Rue (França) resumiu o estado fragmentado atual da formação em Artes de Rua e sugeriu um "programa utópico de Artes de Rua" que validaria as múltiplas ou singulares ideias de cada aluno, que por "acidente" ou acaso, interrogando questões 19 “a rua é o tema e a sala de aula principal” Julieta Aurora Santos de cidadania juntamente com questões de criação artística preparassem futuros artistas para serem “inventores” à medida que desenvolvem a sua própria autonomia. Também foi enfatizado o papel importante da investigação em qualquer criação. Ebru Gokdag da EFETSA - Federação Europeia de Educação e Formação em Arte de Rua (Turquia) também abordou questões de cidadania argumentando que "um cidadão não viveu apenas num lugar, mas mudou algo nele". Que a mudança social, para ela, deve desempenhar um papelchave no processo artístico. Ela também insistiu que um manual online de workshop/ técnicas de formação deva ser criado. O diálogo nas duas sessões foi além de formação formal para explorar pedagogias criativas e noções de capacitação. Debatemos as ideias contemporâneas sugeridas pelas perguntas: O que queremos dizer com pedagogias criativas para as Artes de Rua onde se incluem quer os artistas quer os espectadores futuros? Como podemos educar os espetadores, decisores políticos, urbanistas, jornalistas e outros membros do público; qual é o valor da transmissão de conhecimento sobre teatro de rua que vai além do setor das Artes de Rua; e quais são os tipos de informação mais importante ou útil? Também nos questionamos acerca do tipo de investigação que é necessária para validar a importância das Artes de Rua na cultura atual? O que entendemos por formação teórica em Artes de Rua? Qual é o papel da investigação académica? Como podemos incentivar os investigadores académicos a estudar 20 as Artes de Rua? As sessões de formação e capacitação foram promovidas com um espírito de discussão aberto e de descoberta em vez de fechados e conclusivos. Questionamos qual poderia ser o modelo de formação em Artes de Rua no futuro e exploramos a mudança para um modelo pedagógico baseado na partilha de conhecimento entre aluno e professor. Formação em Artes de Rua deve reconhecer a aprendizagem ao longo da vida e incentivar futuros artistas a reverem-se como a "consciência das sociedades", como agentes de mudança social. Todas estas são grandes ideias, mas, perguntamos, como as ensinamos? Como se ensina a criatividade? Não há respostas fáceis, mas as nossas ideias tenderam a girar em torno da criação de espaços pedagógicos alternativos propícios à criatividade, quer sejam espaços de "aprender a ouvir", espaços de energia, espaços que se opõem à autocensura e comemorem o pensamento “fora da caixa”, espaços para ouvir a própria voz e para a praticá-la, ou espaços para explorar diversas formas de investigação. Também discutimos a importância de validar processos criativos com determinados grupos de pessoas exteriores ao setor das Artes de Rua e incentivamos a cooperação com várias instituições para promover a mudança social a partir de dentro. Perguntamo-nos se este tipo de cooperação poderia ser visto como resistência. Também enfatizamos a importância de educar o público. Apoio e formação aos artistas de amanhã Como treinar os artistas de amanhã a construir, provocar e capacitar as cidades do futuro e a serem cidadãos ativos? Nós pensamos que a formação de artistas do futuro não se baseia apenas nos programas e nas suas capacidades, é necessário envolver a construção, a provocação e a regeneração das cidades do futuro para que sejam habitáveis, inovadoras e produtivas em termos de ideias e possibilidades inimagináveis . Algumas das sugestões mais específicas para as novas orientações na formação em Artes de Rua que se manifestaram durante estas sessões, incluem o desenvolvimento de pedagogias de Artes de Rua assentes em três pilares: investigação e capacidades artísticas/práticas, visão/criatividade artística e a capacidade de desenvolvimento de um relacio- namento com os espetadores; o estabelecimento de uma base de dados de oportunidades de formação disponíveis na UE; e o desenvolvimento de uma rede internacional que liga os diferentes programas. O painel também sublinhou a importância de pensar em programas de formação que vão para além do ensino de capacidades, e considerar o treino dos artistas de amanhã a construir, provocar e capacitar as cidades do futuro e a serem cidadãos ativos; a criar novas formas de educar o público, urbanistas, decisores políticos, jornalistas e outros nas Artes de Rua; e para estimular colaborações entre artistas, professores, arquitetos, paisagistas e outros envolvidos no desenvolvimento das cidades do futuro. Moderador Oradores SUSAN HAEDICKE é professora associada em estudos de teatro e performance na Universidade de Warwick (Reino Unido). A sua investigação sobre o teatro foi publicada em artigos e em livro - Artes de Rua Contemporânea Europeia: Estética e Política (2013). Como especialista neste setor, foi nomeada para avaliar projetos finais dos alunos na FAI-AR (Marselha, França) e assumiu o papel de júri na “Grand Prix MiramirO” (Bélgica). Ela também é dramaturga profissional em França, EUA e Reino Unido. EBRU GÖKDA é participante ativa na SAWA (Academia de Inverno de Arte de Rua) e membro fundador da EFETSA (Federação Europeia de Educação e Formação em Arte de Rua). É professora associada no Departamento de Artes Performativas na Universidade Anadolu (Turquia), com larga experiência nas técnicas do "Teatro do Oprimido", tema que desenvolveu no seu Doutoramento em Teatro na Texas A&M University e no seu Mestrado em Teatro na Universidade de Nebraska-Lincoln. Curador: Jordi Duran, FiraTàrrega (Espanha) JULIETA AURORA SANTOS é presidente da associação cultural Contra-Regra e fundadora e Diretora da Companhia Teatro do Mar (Portugal). Assumiu o papel de diretora e produtora de vários projetos de natureza cultural, social, educativo e artística. Autora, diretora e dramaturga de mais de 50 criações do Teatro do Mar que foram apresentadas em mais de uma centena de festivais internacionais. JEAN-SÉBASTIEN STEIL é o diretor da FAIAR, programa de formação avançada para as artes em espaços públicos. Da sua formação em geografia manteve o interesse no sul do Mar Mediterrâneo e um profundo interesse pela forma como a arte transforma as cidades, paisagens e territórios. Ex-Coordenador da Rede Europeia IN SITU (2003-2011) e ex-diretor de l' Usine em Tournefeuille, tendo vastos conhecimentos em arte em espaços públicos a nível nacional e internacional. 21 PAINEL: STEP OUTSIDE! Relatório de Susan Haedicke, Departamento de Estudos de Teatro e Performance; Universidade de Warwick (Reino Unido) Moderador: Oradores: Curador: Josephine Burns, Chair of Without Walls François Delarozière, La Machine (France); Miki Espuma, La Fura Dels Baus (Espanha); Arantza Goikoetxea, Hortzmuga Teatroa (Espanha); Mario Gumina, Teatro Necessario (Itália); Noeline Kavanagh, Macnas (Irlanda); Anthony Missen, Company Chameleon (Reino Unido); Wendy Moonen, Theater Tuig (Holanda); Pierre Sauvageot, Lieux Publics (França) Maggie Clarke, XTRAX (Reino Unido) Desenvolvimento das Artes de Rua no Século XXI As Artes de Rua abrangem todas as formas de arte, géneros, disciplinas e escalas. Como um setor primordialmente definido pelo local onde surge, será possível identificar algum aspeto estético distintivo e qualitativo nas Artes de Rua? Um painel de oito artistas e representantes de companhias produtoras de toda a Europa exploraram quais são e poderam vir a ser as possibilidades das Artes de Rua no século XXI. Este painel foi constituído para explorar a estética das Artes de Rua na Europa. Os membros do painel foram convidados a responder a várias perguntas: Quais são as principais qualidades do trabalho artístico nas Artes de Rua do seu país e como estam a modificar e desenvolver? Como é que a localização de um festival/evento numa rua, parque ou local específico afeta o trabalho das Artea de Rua? Como é que as intenções/políticas/objetivos/audiências de festivais afetam o trabalho que faz? Os principais temas são aqui resumidos com uma seleção de citações do painel: A Política do Lugar Para muitos dos artistas do painel, era importante afirmar a importância política que os artistas ocupam no espaço público. Para alguns - como o Miki Espuma da companhia catalã La Fura Dels Baus - os primeiros trabalhos da companhia estavam diretamente relacionados com o contexto social e político e foram criados como um meio de recuperar a ideia de celebração pública de Franco. Hoje, este espírito continua, e a importância política de haver arte em espaços públicos foi repetida por Arantza Goikoetxea da companhia basca Hortzmuga Teatroa, e por muitos artistas na plateia. 22 Mesmo quando a motivação para criar o trabalho não é diretamente política, existem inúmeras maneiras como o próprio espaço público influência a criação do trabalho. Para Anthony Missen da companhia Chameleon (Reino Unido), a apresentação do trabalho num espaço público, permite que o espírito de partilha dissemine o projeto. A política aqui não está propriamente na forma artística, mas em retirar a arte de instituições e torná-la visível e acessível a todos. A Arte do Lugar Criadores de Artes de Rua como especialistas na "cidade", permitindo momentos de transformação em todos os aspetos da cidade: comerciais, urbanos, residenciais e sociais. "Somos engenheiros da imaginação e tornamos o invisível visível" Noeline Kavanagh No entanto, de muitas formas, o espaço em si é uma parte fundamental da arte. François Delarozière da companhia La Machine (França) falou dos criadores de Artes de Rua como especialistas na "cidade", permitindo momentos de transformação em todos os aspetos da cidade: comerciais, urbanos, residenciais e sociais. Isto é certamente verdade para uma companhia como La Machine, onde o trabalho é desenhado para dar resposta à geografia da cidade, e a sua escala significa que o seu impacto será sentido pelos residentes, trabalhadores e visitantes. Esta afinidade entre a arte e a localização não está apenas presente em trabalhos numa cidade; Wendy Moonen explicou que no trabalho do Teatro Tuig (Holanda) há uma diferença entre a ideia de "Artes de Rua" e "Performance ao ar livre"; a química da localização (não sendo necessariamente urbana) e o espetáculo criam uma experiência compartilhada especial para os espetadores. Da mesma forma, Pierre Sauvageot do Lieux Publics (França) mencionou o poder das Artes de Rua em capturar momentos únicos no tempo e espaço, recordando um momento especialmente marcante quando chuva forte invadiu o Champ Harmonique criando um elemento memorável adicional na performance. Todos os membros do painel esforçaram-se para de alguma forma captar estes momentos no seu trabalho; "Somos engenheiros da imaginação e tornamos o invisível visível", disse Noeline Kavanagh da Macnas (Irlanda). Esta ideia foi repetida pelo Mario Gumina, do Teatro Necessario (Itália) que assumiu que como artistas, a obra criada iria refletir a política, mas traria poesia e magia para estas reflexões. Espetadores e Cidadãos Houve uma divergência de opiniões no painel sobre o lugar dos espetadores: "Ninguém pensa nos espectadores ao criar um trabalho - não até que eles estejam lá", disse um; embora outros discordassem: "Eu penso sempre nos espetadores. Esse é o meu papel como artista - criar um trabalho para uma plateia". Houve uma longa discussão sobre a forma como a relação entre o artista e os espetadores está a mudar no mundo das Artes de Rua. A plateia é muitas vezes mais do que um mero espetador; em alguns casos, os artistas chamam os espetadores para participar num workshop, outras vezes, convidam-nos para participar no próprio espetáculo, ou, ainda, criam o espetáculo em torno da interação com os mesmos. Em tais casos, a participação não se limita à criação do trabalho, faz parte do papel maior do artista em fortalecer a comunidade e cultivar cidadania. As Artes de Rua estão a ter um papel significativo no desenvolvimento desta área (muitas vezes ligada ao uso e ocupação do espaço público) e isso pode ser visto como um novo desenvolvimento nesta forma de arte. Novas Tecnologias O painel explorou o impacto das novas tecnologias sobre no mundo das Artes de Rua. Todos concordaram que as Artes de Rua trabalham "no momento" e isto não se traduz numa plataforma digital. No entanto, é frequente, ver centenas de membros da audiência a fotografar e a filmar as performances com o seu telemóvel e as partilhar estes momentos através das redes sociais; isto permite uma rápida divulgação dos eventos ao mesmo tempo que acontecem, e a maior parte dos artistas valorizam a divulgação imediata e direta que as redes sociais permitem entre os artistas e o público; embora a questão de saber se isto afeta a experiência do espectador foi levantada. 23 Parcerias entre Artistas e Organizadores Diretores de festivais e organizadores de eventos conhecem os diversos espetadores que podem vir a assistir a um dos seus eventos, planeando adequadamente, considerando as condições de saúde e de segurança, trabalhando conjuntamente com as autoridades locais, e garantindo a adequabilidade do trabalho ao público de todas as idades e culturas; o painel questionou se isto cria limitações ou restrições ao trabalho dos artistas. Será que existe o perigo de, ao tentar garantir a adequabilidade para todos, estamos sanificar ou censurar o trabalho? Havia um forte entendimento entre os membros do painel da importância de proteger os artistas das restrições onerosas e um desejo que o trabalho dos artistas e dos organizadores tivesse uma colaboração mais direta, conhecendo a agenda comum. Foi acordado que os artistas e os organizadores precisam de trabalhar juntos, entendendo as necessidades de cada um e educando os legisladores. Partilha de Conhecimento e Trabalhos em Rede O painel e os delegados da conferência concordaram que poderíamos aprender mais, não só entre si, mas também das outras formas artísticas e tecnologias. O levantamento evidências fortes a partir dos casos de estudo, bem como dos dados - poderia ajudar-nos a estabelecer parcerias construtivas onde as Artes de Rua poderão sonhar com ambições mais vastas. Com o crescimento do respeito e reconhecimento pelas Artes de Rua, podemos encorajar novas parcerias e criar novos trabalhos ambiciosos. Com o crescimento do respeito e reconhecimento pelas Artes de Rua, podemos encorajar novas parcerias e criar novos trabalhos ambiciosos. Recomendações Para a celebração da diversidade nas Artes de Rua e a compreensão de como está a crescer o setor, precisamos de partilhar e desenvolver a compreensão da variedade de formas em que trabalhamos em espaços ao ar livre - desde das ruas, às paisagens, ao trabalho sitespecific e em muitos tipos de celebração, desde grandes festivais a momentos íntimos na vida das comunidades. Temos de recolher informações dos diversos tipos de parcerias com as quais nos envolvemos para que possamos aprender como estas alianças são desenvolvidas - entre financiadores, artistas, promotores, e os legisladores - e compreender melhor o valor das novas formas de participação dos diferentes espetadores, em papéis diferentes - como comunidades, participantes e observadores. 24 Moderador JOSEPHINE BURNS é uma consultora altamente experiente, especialista em arte, cultura e economia criativa e ocupa o lugar de Presidente Executivo da Without Walls Consortium. Com a saída da Arts Council em 1991, Josephine fundou a BOP Consulting, empresa responsável por inúmeros projetos, entre os quais, o relatório do impacto dos festivais em Edimburgo, trabalhos ligados a empresas tais como a Glasgow Citizens Theatre, LIFT, Streetwise Opera e a revisão do programa de desenvolvimento de talentos financiado pela fundação Esmee Fairbairn. A título pessoal, Josephine está ligada a um conjunto de organizações que incluí o Fringe Festival de Amesterdão. Oradores FRANÇOIS DELAROZIÈRE é diretor artístico e fundador da companhia 'La Machine' (França). Cenógrafo e construtor, que nunca deixa de explorar o mundo do teatro e da cidade. Professor do Departamento de Palco e Cenografia na Escola Nacional de Arquitetura em Nantes. Membro da "Writing for the Street”, uma comissão da DGCA (Ministério da Cultura e da Comunicação, França) e do conselho consultivo que deu origem à FAIAR, Formation Supérieure d'art en espace public. MIKI ESPUMA é um dos seis diretores artísticos da companhia catalã “La Fura dels Baus”. Em 1980, juntou-se ao grupo como músico e diretor criativo para um conjunto de performances e projetos da companhia. Em 1992, assumiu a direção artística do espetáculo de encerramento dos Jogos Paraolímpicos em Barcelona. Ele compôs a música e dirigiu os espetáculos no Festival de Singapura e no Festival Sziget, em Budapeste. Atualmente trabalha como diretor, compositor e coordenar de todos os aspetos musicais dos “La Fura dels Baus”. NOELINE KAVANAGH é a diretora artística na Macnas (Irlanda), companhia de performance e espetáculo sedeada na NUIG (Universidade Nacional da Irlanda Galway). Iniciou a sua carreira no Festival de Teatro de Dublin, em 1994. Trabalhou como diretora em várias companhias. As suas produções na Macnas incluem espetáculos premiados no Festival Absolut Fringe (2010) e no Festival de Primavera Chaoyang em Pequim (2013). Macnas já circulou na China, Austrália, Moscou, Lituânia e Reino Unido. ANTHONY MISSEN é o diretor artístico da companhia Chameleon, que ele cofundou em 2007. Produziu e coreografou performances de palco e rua aclamadas pela crítica. Foi membro fundador da New Movement Coletive. Desenvolveu diversos programas educacionais bem-sucedidos em diferentes países, com um foco social em jovens, crianças desfavorecidas e crianças em risco. Já lecionou na maioria das grandes instituições de dança contemporânea britânicas e em várias companhias de dança profissionais em pelo mundo. WENDY MOONEN é a produtora do Teatro Tuig, uma companhia fundada em 1999, constituída por membros de uma variedade de disciplinas artísticas que cria apresentações convencionais e site-specific combinando música, imagem e teatro. Também trabalha como programadora e produtora de vários festivais e eventos culturais, especializados no circo e teatro de rua, como o Circo Circolo e festival Oerol. PIERRE SAUVAGEOT é o diretor da Lieux Publics, o Centro de Criação Nacional francês para as artes em espaço público. Lieux Publics é o coordenador da IN SITU, a rede de criação de artes em espaço público, apoiada pela Comissão Europeia, desde 2003, que ao longo dos anos tem apoiado mais de 150 artistas europeus. Pierre é um compositor e designer de som autodidata, muitas vezes requisitado pelo La Strada. ARANTZA GOIKOETXEA é uma membro da companhia artística Basca, Hortzmuga Teatroa, desde 2001. O seu trabalho consiste na representação, conceção e desenvolvimento de espetáculos. Estudou interpretação dramática na Antzerki Eskola de Basauri, e teve formação em dança, canto e criação artística. Tem mais de 15 anos de experiência como artista de teatro de rua, em espaços convencionais e não-convencionais. MARIO GUMINA é um ator e diretor da Companhia de Teatro Necessario (Itália), fundada em 2001. Já dirigiu vários espetáculos qu e foram apresentados em todo o mundo. Formou-se na escola de Marcel Marceau, com o Ctibor Turba e Pierre Byland. Desde então, tem criado e dirigido programas que combinam circo contemporâneo e teatro. O seu trabalho inclui várias colaborações como diretor com o Teatro Laboratorio di Brescia (Itália) e como co-diretor da Companhia “L'Excuse” em Lyon (França). Curador: Maggie Clarke, XTRAX (Reino Unido) 25 ORGANIZADORES E PARCERIAS Organizadores Parceiros Com o apoio: Desde 2003, a Circostrada Network trabalha para desenvolver e estruturar os sectores das Artes de Rua e Novo Circo na Europa e além-fronteiras. Com mais de 70 membros, contribui o desenvolvimento de um futuro sustentável para o setor fazendo com qsue os agentes culturais adquiram os conhecimentos necessários através de ações de observação, investigação, intercâmbio profissional, sensibilização, reforço das capacidades e informação. Com a participação: HorsLesMurs é coordenado pelo centro de recursos nacional Francês para as Artes de Rua e Novo Circo. Fundado em 1993 e financiado pelo ministério da Cultura e Comunicação, trabalha para o desenvolvimento destes setores através de atividades de documentação, formação, consultadoria, estabelecimento de redes de contactos, investigação e divulgação. FiraTàrrega é uma feira internacional de artes performativas anual que tem lugar na segunda semana de Setembro, em Tàrrega. Fundada em 1981, é uma montra do panorama atual da arte, com um foco especial nas Arte de Rua, espetáculos visuais e não-convencionais. Os principais objetivos da FiraTàrrega são a promoção do mercado das artes de palco, abrindo a porta à internacionalização das companhias, acompanhamento e promoção de criações de artistas emergentes, incentivo à formação, com foco na criação artística e gestão de criação e de alianças estratégicas para desenvolvimento de circuitos ou produções transnacionais de Artes de Rua. Um agradecimento a: Todos os curadores, moderadores e oradores das sessões, Antonia Andúgar, Esther Campabadal e os diretores oficiais do Governo da Catalunha e da União Europa, Elena Díaz (AC/E), Teresa Carranza e Susana Millet (IRL), Yannick Rascouët e Carme Muntané (Institut Français de Barcelone), Àlex Navarro (Subprograma de Media da Europa Criativa, Catalunha), David Marín (Nau Ivanow), David Berga, Gijs van Bon, Toni Tomàs e Toti Toronell, a equipa do iCub e da La Caldera Les Corts, Carles Gabernet e Joan Pla (infraestructures.cat), Koen Allary e ao Grupo de Advocacia da Circostrada, Josep M. Cucurull e toda a equipa da FiraTàrrega e HorsLesMurs . 26 Créditos Grupo de Trabalho FRESH STREET#1: Coordenador: Mike Ribalta FiraTàrrega (Espanha) Maggie Clarke XTRAX (Reino Unido) Bruno Costa & Daniel Vilar Festival Imaginarius (Portugal) Jordi Duran FiraTàrrega (Espanha) Lucy Medlycott ISACS (Irland) Goro Osojnik Ana Desnetica (Eslovênia) Elodie Peltier & Remy Bovis Coopérative de Rue et de Cirque (2r2c) (França) Tanja Ruiter & Huub Heye HH Producties (Holanda) Celine Verkest MiramirO (Bélgica) Coordenação: Montse Balcells Nadal FiraTàrrega Marion Marchand & Anne-Louise Cottet Circostrada Network Caterina Massana Ministério da Cultura, Governo da Catalunha Produção: Berta Pérez de Tudela, Elisabet Rius & Vera Erenbourg FiraTàrrega SEMINÁRIOS FRESH Capa Maura Morales / TIME, Dusseldorf (2012) © Gorka Bravo Design Frédéric Schaffar Design tradução portuguesa Sérgio Dias Janeiro 2016 Pode encontrar todas as publicações da Circostrada, assim como outros recursos e notícias sobre a rede e os seus membros em: www. circostrada.org (Rede Europeia do Circo e Artes de Rua) [email protected] + 33 (0)1 55 28 10 10 HorsLesMurs 68 rue de la Folie-Méricourt 75011 Paris, France