Untitled - Imaginarius

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Untitled - Imaginarius
EDITORIAL
Em Setembro de 2015, a Circostrada Network, em parceria com a FiraTàrrega, organizou o FRESH
STREET#1, o primeiro seminário Europeu para o desenvolvimento das Artes de Rua.
Mais de 200 agentes culturais da Europa e além-fronteiras juntaram-se em Barcelona e Tàrrega (Catalunha,
Espanha). Este evento singular possibilitou uma visão panorâmica do sector na Europa, na atualidade, e
uma reflexão sobre o futuro das Artes de Rua.
Uma equipa de trabalho interna à rede, constituída por 8 organizações culturais Europeias focadas nas
Artes de Rua, delineou a programação deste seminário sem igual. Conjuntamente, mas cada um com a
sua própria visão, encheram três dias de reflexão e intercâmbio com o objetivo de estabelecer a razão
de ser e elaborar um conjunto de recomendações para a estruturação e desenvolvimento das Artes de
Rua na Europa.
Sendo o primeiro encontro Europeu desta dimensão a retratar o futuro das Artes de Rua, o objetivo da
equipa de trabalho centrou-se no debate dos principais problemas, por forma a lançar as bases para
futuros diálogos de relevância. Deste modo, os delegados foram incitados a discutir a situação e o papel
das Artes de Rua, ações de sensibilização, o espaço público, a mobilidade e a formação. A discussão foi
conduzida através de sessões plenárias e sessões temáticas com profissionais reconhecidos de toda a
Europa. As sessões de FRESG STREET procuraram traçar rotas para o futuro do setor: onde estamos
e como continuaremos a crescer?
Nesta publicação encontrará as conclusões dinâmicas de cada uma destas sessões, destacando o que
está em causa e os fatores-chave. As mesmas destacam os objetivos pretendidos e o que se prevê que
venham a ser as Artes de Rua no futuro.
Artes de Rua têm uma característica singular ao aproximar as pessoas, independentemente do seu
passado, nacionalidade e classe económica. Transcende a esfera linguística e geopolítica. Oferece um
palco para liberdade de expressão e convida os espetadores e artistas a reavaliar as cidades, vilas e
espaços públicos que servem de cenário. No centro do FRESH STREET#1 esteve a vontade de projetar
o futuro deste importante setor a uma escala Europeia, refletindo conjuntamente acerca dos desafios e
potencialidades e como contribuir para uma Europa Cultural, transpondo a diversidade das muitas nações
Europeias.
A Circostrada Network pretende que o FRESH STREET venha a ser um evento bianual, obrigatório para
todos os agentes culturais e um pilar de refleção sobre a evolução das Artes de Rua a uma escala Europeia
e Mundial. O FRESH STREET#2 servirá de ponto de situação dos progressos almejados, debate dos
desafios e identificação das novas oportunidades. Todos estão convidados a participar.
O futuro das Artes de Rua está nas nossas mãos. Sejamos responsáveis, sejamos defensores, sejamos
participativos, sejamos ativos e trabalhando juntos conseguiremos construir uma Europa melhor através
das Artes de Rua.
A Coordenação da Circostrada e o Grupo de Trabalho do FRESH STREET#1
FRESH STREET#1 EM NÚMEROS
240 PARTICIPANTES
30 PAÍSES DE 4 CONTINENTES
8 MODERADORES
23 ORADORES
5 CURADORES
3 DIAS DE SEMINÁRIO
3 SESSÕES PLENÁRIAS
"Construir a Europa através das Artes de Rua"
"Step outside!"
"As Artes de Rua no século XXI"
4 SESSÕES TEMÁTICAS
"Artes de Rua, pessoas e espaço público"
"Diga-o alto: quem somos e o que fazemos"
"Para Além da Mobilidade: Fortalecer Parcerias"
"Formação e Capacitação”
2 CIDADES
2 ACTIVIDADES DE PARTILHA E CONVÍVIO
UM PROGRAMA REPLETO DE ARTES DE RUA
TABELA DE CONTEÚDOS
Painel de Abertura: "Construir a Europa através das Artes de Rua"
· Relatório de Josephine Burns, Without Walls (Reino Unido)
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Sessão Temática #1: "Artes de Rua, Pessoas e Espaço Público"
· Relatório de Anais Biaux, XTRAX (Reino Unido)
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Sessão Temática #2: "Diga-o Alto: Quem Somos e o que Fazemos
· Relatório de Bettina Lindstrum, Arts Agenda (Reino Unido)
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Sessão Temática #3: "Para Além da Mobilidade: Fortalecer Parcerias"
· Relatório de Marie le Sourd, On the Move (Bélgica)
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Sessão Temática #4: "Formação e Capacitação"
· Relatório de Susan Haedicke, Universidade de Warwick (Reino Unido)
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Painel: "Step Outside!"
· Relatório de Josephine Burns, Without Walls
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Organizadores e Parceiros do FRESH STREET#1
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Todas as fotografias desta publicação são da autoria de Marti E. Berenguer.
O apoio da Comissão Europeia para o desenvolvimento desta publicação não constitui apoio ou aval do seu conteúdo,
que reflete apenas as opiniões dos seus autores, sendo que a Comissão não poderá ser responsabilizada por qualquer
uso da informação contida nesta publicação.
PAINEL DE ABERTURA: CONSTRUIR A EUROPA
ATRAVÉS DAS ARTES DE RUA
Relatório de Josephine Burns,
Without Walls (Reino Unido)
Moderador:
Oradores:
Curador:
Josephine Burns, Without Walls (Reino Unido)
Trevor Davies, KIT - Københavns Internationale Teater (Dinamarca); Clair Howells,
IFAPS - Federação Internacional de Arte em Espaços Públicos (Alemanha); Julien
Rosemberg, HorsLesMurs - Centro Nacional de Recursos Francês para Artes de Rua
e Novo Circo (França)
Maggie Clarke, XTRAX (Reino Unido)
A posição das Artes de Rua na Europa
A sessão de abertura foi
desenhada para delinear
todo o “cenário” do debate
da conferência
A sessão de abertura foi desenhada para delinear
todo o “cenário” do debate da conferência,
explorando o contexto atual das Artes de Rua na
Europa e refletindo o futuro desta forma artística.
Incitamos o painel dos três ilustres comentadores
a refletir acerca dos seguintes temas e convidámos
o público a juntar-se à conversa:
As Artes de Rua nos Países Europeus
Quais pensamos ser os principais os avanços-chave nas Artes de Rua nos últimos 7 anos (desde a
recessão económica) e quais são as maiores
ameaças que o setor atravessa nos próximos anos,
na Europa? Como lidar com eles?
Europa num contexto internacional
alargado
De que forma devemos trabalhar junto dos nossos
colegas europeus de modo a reforçar a posição
das Artes de Rua em toda a Europa – tornando-se mais fortes, tendo em conta os diferentes
recursos nos diferentes países, e de que forma é
que as Artes de Rua assumem diferentes estatutos
e posições de pais para pais? Como promover
uma melhor colaboração e cooperação a um nível
Europeu e Internacional? Quais são as medidas
mais importantes?
Perspetiva europeia
É possível identificar uma abordagem “Europeia”
às Artes de Rua? Será isto um conceito útil? Qual
é a posição que a Europa ocupa nas Artes de Rua?
É possível definir isto? Quais são os traços comuns
às Artes de Rua nos diferentes países europeus?
Quais são as forças e debilidades das Artes de
Rua na Europa e que cooperações existem para
enfrentar os desafios?
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Desenvolver as Artes de Rua:
parcerias, redes e celebração da diversidade
A Europa é rica na sua diversidade cultural, as
Artes de Rua realçam os nossos direitos
democráticos, identidades e vozes que
representam, comunicam e constroem a sociedade
do futuro.
A diversidade Europeia - social, política,
económica e cultural – tem definido os
diferentes ritmos de desenvolvimento de
políticas para as Artes de Rua nos diversos
países durante o século XX.
Contudo, existem grandes divergências por toda
a Europa no reconhecimento das Artes de Rua
como uma forma de arte. Em alguns países, as
Artes de Rua não são consideradas uma área
distinta da prática artística, como, por exemplo, a
Suíça.
A importância de trabalhar em parceria foi referida
repetidamente. Redes - nacionais e internacionais
- têm contribuído para a afirmação do estatuto e
perfil das Artes de Rua para os artistas, festivais e
organizadores. Na França, o HorsLesMurs, a
Federation des Arts de La Rue, entre outros têm
dado voz ao setor. No Reino Unido, as redes ISAN,
NASA, Without Walls, entre outras têm contribuído
para o crescimento do setor. O crescimento da
Federação Internacional das Artes em Espaços
Públicos (IFAPS) oferece a oportunidade de
desenvolver uma rede internacional de
organizações relacionadas com as Artes de Rua
com o potencial de influenciar financiadores e
legisladores a reforçar a legitimidade do sector.
Está nas mãos das diferentes federações nacionais
trazer uma voz autoritária e representativa. É
essencial reconhecer as muitas plataformas em
que Artes de Rua se desdobram. Embora os
festivais e mostras são importantes, é necessário
reconhecer que as Artes de Rua também se
manifestam noutros contextos - espaços públicos,
bairros, comunidades, áreas rurais - como peça
fundamental do nosso contexto operacional.
podemos assegurar que o trabalho não é
impulsionado pelo “entretenimento” das massas e
contra a capacidade dos artistas em criar um
trabalho desafiante? Como podemos proteger a
arte de se tornar num instrumento dos investidores?
Quando tantos festivais são financiados pelo
turismo e fundos de regeneração, será que a
liberdade artística está em causa?
As formas de financiamento do setor nos diferentes
países são muito variadas tendo cada uma delas
diferentes desafios. Por exemplo, na Holanda,
artistas conseguem financiar as suas tournées e a
exportação do seu trabalho, no entanto o
financiamento da criação artística é mais limitada.
Festivais são aclamados pela diversidade cultural
que oferecem, facto reforçado pela imigração
massiva que tem aumentado as diferenças culturais,
mas contribuído para a riqueza cultural Europeia.
Os festivais e as Artes de Rua criam um tecido de
ligação que aproxima comunidades multiculturais
e funcionam como uma terapia à fricção social. Os
espetadores tornam-se cidadãos.
As grandes audiências que as diferentes Artes de
Rua conseguem atrair podem levar artistas a criar
trabalhos movidos pelo entretenimento; Como
Aprendizagem mútua e partilha de conhecimento
As intervenções do painel incitaram um debate
que se estendeu aos muitos delegados da
conferência que se encontravam na plateia que
partilharam as suas experiências pessoais conquistas, desafios e esperanças para o futuro.
Ficou claro que o setor na Europa está em
crescimento e a obter um reconhecimento cada
08
vez maior, mas cada país tem uma abordagem
diferente determinada pela sua história e fatores
geopolíticos.
Embora cada país seja e sempre será diferente, há
muito que podemos aprender da experiência de
cada um, oportunidades de partilha de informação
devem ser promovidas e encorajadas. E isto não
As Artes de Rua realçam os
nossos direitos democráticos,
identidades e vozes que
representam, comunicam
e constroem a sociedade
do futuro
se limita aos países Europeus, se houvesse uma
maior organização poderia existir uma maior
partilha a um nível internacional.
As Artes de Rua têm um papel fundamental na
construção e fusão de culturas; como um dos
oradores referiu: “É acupunctura cultural”.
Devemos cultivar a ideia de aprendizagem mútua
e encontrar caminhos para partilhar conhecimento.
Reposicionamento do reconhecimento e a legitimação
das Artes de Rua
Existem diferentes níveis de reconhecimento e
estatuto para as Artes de Rua nos diversos países,
mas isto não constitui necessariamente um
obstáculo ao crescimento e desenvolvimento do
setor; na medida em que cada um tem algo novo
e distinto para partilhar.
Estas redes podem prestar apoio e defender
aqueles que se encontrem em países onde as Artes
de Rua não são reconhecidas. Por exemplo, através
da organização de reuniões com os representantes
culturais para demonstrar o valor do trabalho
realizado.
O papel das redes é crucial - quer formais quer
informais. Promovendo e despendendo tempo em
organizações existentes, como a Circostrada, é
importante e pode levar à criação de novos
organismos como é o caso da IFAPS - que leva a
criação artística em espaços públicos a debates
políticos transnacionais.
Necessitamos que as redes se foquem na
investigação, recolha e análise de dados,
exemplificativamente, sobre os espectadores; e s
e podermos fazer isto entre países (através das
nossas federações) nesse caso conseguiremos ter
um impacto enorme na Europa e além-fronteiras
ao defender a importância das Artes de Rua.
Moderador
Oradores
JOSEPHINE BURNS é uma consultora
altamente experiente, especialista em arte, cultura
e economia criativa e ocupa o lugar de Presidente
Executivo da Without Walls Consortium. Com a
saída da Arts Council em 1991, Josephine fundou
a BOP Consulting, empresa responsável por
inúmeros projetos, entre os quais, o relatório do
impacto dos festivais em Edimburgo, trabalhos
ligados a empresas tais como a Glasgow Citizens
Theatre, LIFT, Streetwise Opera e a revisão do
programa de desenvolvimento de talentos
financiado pela fundação Esmee Fairbairn. A título
pessoal, Josephine está ligada a um conjunto de
organizações que incluí o Fringe Festival de
Amesterdão.
TREVOR DAVIES fundou KIT - Københavns
Internationale Teater (Dinamarca) em 1979, que
ainda co-dirige com Katrien Verwilt. Foi o secretário
geral do festical Aarhus (1985-1990) e do
Copenhagen 96 - ECOC (1992-97). Em 2000,
no Reino Unido, foi Diretor do Festival Internacional
de Salisbury e do New Writing Partnership em
Norwich. Entre 2008 e 2013 foi diretor do projeto
Aarhus 2017 - ECOC.
Curador: Maggie Clarke, XTRAX (Reino Unido)
CLAIR HOWELLS é um dos membros
fundadores e presidente da IFAPS (Federação
Internacional de Arte em Espaços Públicos) e da
Federação Internacional de Teatro em Espaços
Públicos. Clair é a directora do Titanick Theatre
Münster-Leipzip, Alemanha. Estudou
representação na Scuola Internazionale di Teatro
em Roma e com Philippe Gaulier em Paris. Já
lecionou na FAI-AR (Marselha) e promoveu
workshops e seminários em todo Mundo.
JULIEN ROSEMBERG é o Diretor da
HorsLesMurs, Centro Nacional de Recursos
Francês para as Artes de Rua e Novo Circo.
Trabalha com diversas universidades em cursos
relacionados com as práticas sociológicas e política
cultural, leciona história e análise crítica de
espetáculos circenses na ENACR (França) e
ESAC (Bélgica) e colabora com diversas revistas
artísticas.
09
SESSÃO TEMÁTICA #1:
ARTES DE RUA, PESSOAS E ESPAÇO PÚBLICO
Relatório de Anaïs Biaux,
XTRAX (Reino Unido)
Moderador:
Oradores:
Curador:
Anaïs Biaux, XTRAX (Reino Unido)
Carlos Martins, Opium Lda (Portugal); Morgane Le Gallic, Ville de Pantin -Théâtre
du Fil de l'Eau (França); T.V. Honan, Spraoi Festival (Irlanda)
Elodie Peltier, Coopérative de Rue et de Cirque, 2r2c (França)
Artes de Rua e Espaço Público
As Artes de Rua transformam e moldam espaços
públicos em palcos de imaginação e criatividade,
influenciando o espaço e a audiência envolvente.
A liberdade artística das Artes de Rua transformam-na numa das mais inclusivas e democráticas formas de arte.
Nos últimos anos, os eventos e festivais de Artes
de Rua têm-se tornado num importante fator de
política urbana na Europa e as Artes de Rua são
frequentemente considerado um “instrumento
cultural” de coesão social, reabilitação urbanística
e desenvolvimento económico. Mas qual é o
verdadeiro impacto da Artes de Rua nas pessoas
e nos espaços? Como é que as Arte de Rua se
relacionam com as pessoas? Como podemos
medir o impacto económico, educacional e social
das Artes de Rua? Com que utilidade?
Nesta sessão, o painel e os participantes debateram
a dinâmica entre as Artes de Rua, as pessoas e os
espaços públicos e como se influenciam
mutuamente. Este diálogo enriquecedor permitiu
estabelecer um conjunto de recomendações que
esperemos ajudar a moldar as Artes de Rua do
futuro.
Políticas Urbanas e o papel das Artes de Rua
A Arte de Rua tem sido
considerado um importante
mecanismo de transformação da percepção urbana
e de refortalecimento da
comunidade, tornando-se
um poderoso instrumento
de reabilitação urbanística
e de mudança social.
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Nos últimos anos, as Artes de Rua têm-se
transformado num instrumento chave de política
urbana em toda a Europa. Para Morgane Le Gallic,
do le Théâtre du Fil de l'Eau esclarece que em
Pantin (França), as Artes de Rua têm sido um
importante mecanismo de transformação da
perceção urbana e de refortalecimento da
comunidade, tornando-se num poderoso
instrumento de reabilitação urbanística e de
mudança social.
As Artes de Rua não se restringem aos festivais,
manifesta-se fora desta esfera. Exibições diárias
são uma forma de reconhecimento e
democratização cultural do trabalho e permite a
criação de uma relação intimista entre o trabalho
artístico, o espaço público e as pessoas. Mas nem
tudo é fácil, o trabalho artístico enfrenta obstáculos
e está obrigado a obedecer a regras rígidas.
O trabalho artístico é muitas vezes dificultado por
causa destas restrições. Enquanto em alguns países,
como é o caso do Brasil, os organizadores ou
artistas se limitam a informar as autoridades locais
das suas atividades em espaços públicos, na
Europa, estes são obrigados a pedir autorização,
que muitas vezes é negada.
Tornou-se evidente que os espaços públicos não
são tão públicos quando gostaríamos e que a linha
que separa o que é privado do que é publico é
turva. Espaços públicos estão a passar um
período de mudança radical, tornando-se
segmentados, resultando numa
justaposição de espaços privados com
pouco espaço para criação artística. A
reapropriação do espaço público por artistas e
cidadãos é, deste modo, crucial nas sociedades
modernas e o principal desafio ao futuro das Artes
de Rua.
Artes de Rua e as Pessoas
A aposta das Artes de Rua em espaços públicos
surge da necessidade de captar um publico novo
e diversificado, principalmente os que não
perderam ou nunca tiveram contacto com as Artes
de Rua - os espetadores casuais. Como
demonstrou T.V. Honan do Festival Internacional
de Artes de Rua Spraoi (Irlanda), é essencial que
as pessoas se identifiquem com o festival e que se
percebam que foi desenhada para eles. No festival
Spraoi, a comunidade local é convidada a participar
no evento o que permite um laço de ligação maior
com o festival. O Spraoi torna-se no o elo da
ligação entre os dois, encorajando a comunidade
a tornar-se um espectador ativo.
Contudo, a colaboração com as comunidades
locais não está imune a desafios e para muitas
organizações o desafio surge na criação de
confiança e a sua manutenção ao longo do ano.
Dados os recursos escassos e a falta de recursos
humanos fora da época dos eventos, a
sustentabilização destas relações é muitas vezes
dificultada.
Trabalho Artístico e o Meio Ambiente
“O espaço público transforma tanto o trabalho como
o trabalho transforma o espaço público”
Morgane Le Gallic
A criação artística ao ar livre requer que o artista
pondere o enquadramento da proposta artística
no meio ambiente. Alguns projetos são desenhados
para locais específicos respondendo às
especificidades desse local. Podendo ter sido
inspirados pela arquitetura, população ou valor
simbólico do espaço. Outros projetos podem
considerar a capacidade de digressão do
espetáculo, e por este motivo são criados de forma
a não ser necessária demasiada transformação
para ser apresentados noutros locais. Muitos
espetadores enfatizam que apesar do trabalho
artístico ser fortemente influenciado pelo ambiente,
as interações entre o ambiente e o trabalho estão
intimamente interligadas. “O espaço público
transforma tanto o trabalho como o trabalho
transforma o espaço público” relembrou Morgane
Le Gallic.
Mensuração do Impacto das Artes de Rua
As Artes de Rua podem ter um impacto
considerável sobre a regeneração urbana. Mas se
alguns dos projetos ou eventos são efémeros, são
passiveis de transformar o relacionamento entre o
espaço e os habitantes. Similarmente, as Artes de
Rua contribuiem significativamente para mudar a
forma como as sociedades modernas percecionam
e usam o espaço público.
É sempre difícil falar sobre o impacto das Artes de
Rua (mas também das artes em geral) na coesão
social e na economia local. Esta dificuldade é devida
parcialmente ao facto de as Artes de Rua terem
essencialmente um impacto simbólico na cidade
e este impacto continue a ser de difícil mensuração,
em termos de categorias económicas e estatísticas.
Alcançando Legitimidade Através do Envolvimento
com Diversas Disciplinas
A compreensão dos espetadores de Artes de Rua
é uma ferramenta crucial para o reconhecimento
público e legitimidade do sector e ter evidências
tangíveis são as chaves para ajudar o sector a
requerer um maior reconhecimento, apoio e
investimento do setor artístico em geral e afins.
Como referiu Carlos Martins da Opium Lda
(Portugal), precisamos de estabelecer uma relação
com as administrações publicas, agências culturais,
universidades, cidadãos e os meios de
comunicação. Precisamos de dialogar com eles;
eles podem ajudar-nos a medir o impacto social,
educacional e económico do nosso trabalho. Esta
reaproximação com a sociedade fora dos eventos
de Artes de Rua e períodos de festivais é apenas
uma das formas estratégicas de captar as
audiências de uma forma diferente.
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Alcançando Legitimidade Através do Envolvimento
com Diversas Disciplinas
A compreensão dos espetadores de Artes de Rua
é uma ferramenta crucial para o reconhecimento
público e legitimidade do sector e ter evidências
tangíveis são as chaves para ajudar o sector a
requerer um maior reconhecimento, apoio e
investimento do setor artístico em geral e afins.
Como referiu Carlos Martins da Opium Lda
(Portugal), precisamos de estabelecer uma relação
com as administrações publicas, agências culturais,
universidades, cidadãos e os meios de
comunicação. Precisamos de dialogar com eles;
eles podem ajudar-nos a medir o impacto social,
educacional e económico do nosso trabalho. Esta
reaproximação com a sociedade fora dos eventos
de Artes de Rua e períodos de festivais é apenas
uma das formas estratégicas de captar as
audiências de uma forma diferente.
Desenvolvendo as Artes de Rua do Futuro
O espaço público ocupa um
papel central na prática das
Artes de Rua - é a tela de um
artista, o palco, um espaço
para criatividade
Espaços públicos são lugares de assembleia, feiras,
festivais, justiça, teatro, brincadeira, reunião, luto,
conversação, religião, carnaval e demonstrações
de unidade nacional. Dentro deste contexto, o uso
de espaços públicos deveria ser um direito, não
uma exceção. O espaço público ocupa um papel
central na prática das Artes de Rua - é a tela, palco
e um espaço para a criatividade do artista - onde
o processo criativo requer o mesmo tempo e
respeito que é dado às outras formas artísticas.
Criatividade em espaços públicos muitas vezes
está limitada pelos nossos decisores políticos, no
entanto, juntos, devíamos lutar para mudar isto.
trabalhar mais com especialistas de diferentes áreas
para nos ajudar a mensurar o impacto social,
educacional e económico do nosso trabalho e
para nos ajudar a requerer um maior
reconhecimento, financiamento e investimento.
Como sector, é necessário tornar as Artes de Rua
mais pertinentes, mais próximas do trabalho
desenvolvido pelos governos locais, das
organizações culturais, das instituições de ensino
superior e da vida dos cidadãos. Através disto, há
uma verdadeira oportunidade de elevar o papel
das Artes de Rua ao principal catalisador da
regeneração urbana e de mudança social e assim
reclamar o espaço público, tornando-o
verdadeiramente público.
Recorrendo as palavras de Carlos Martins da
Opium Lda, as Artes de Rua necessitam de
Moderador
ANAÏS BIAUX é produtora e diretora de projeto
na XTRAX (entidade que apoia projetos de rua
inspiradores através da concretização de projetos,
festivais e showcases desenhados para promover
trabalhos inovadores de artistas do Reino Unido
e internacionais) com vasto conhecimento do setor
da Arte de Rua do Reino Unido e Internacional.
Desenvolveu largas competências em tournées e
desenvolvimento de audiências através do seu
trabalho de direção na Without Walls Associate
Touring Network, e produtora assistente da Wired
Aerial Theatre.
Curador: Elodie Peltier, Coopérative de Rue et
de Cirque (2r2c) (França)
Oradores
T.V. HONAN é o diretor e fundador do Festival
Internacional Waterford (Irlanda). O festival foi
fundado em 1993 e está sedeado no centro
Waterford Spraoi, um centro de criação de artes
de rua e produção de espetáculos. Waterford
Spraoi também desenvolve produções para
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festivais e eventos em toda a Irlanda incluindo: a
cerimónia de abertura da Capital Europeia da
Cultura, a Corrida The Tall Ships e a cerimónia de
abertura da World Fire and Police Games.
MORGANE LE GALLIC trabalha para a cidade
de Pantin - Théâtre du Fil de l'Eau, desde 2009.
Dirige o teatro da cidade e programa espetáculos
de Artes de Rua. A sua organização também
lançou o festival «la BUS» que explora os possíveis
elos de ligação entre o desenvolvimento da cidade
e o teatro de rua. Anteriormente, trabalhou na Hors
Les Murs e na Coopérative de Rue et de Cirque,
como coordenadora.
CARLOS MARTINS é o fundador e sóciogerente da Opium Lda. empresa de criatividade
e programação (Portugal). Foi presidente da
ADDICT (Agência para o Desenvolvimento das
Indústrias Criativas) e membro do Conselho
Nacional da Cultura (Portugal). Foi Vereador da
Cultura, Turismo e Desenvolvimento Económico
em Santa Maria da Feira, durante sete anos. Diretor
Executivo do Porto 2.0 - Festival para a Nova
Cidade e Festival do Norte. Foi, também,
Presidente Executivo do Guimarães 2012 Capital
Europeia da Cultura.
SESSÃO TEMÁTICA #2: DIGA-O ALTO
QUEM SOMOS E O QUE FAZEMOS
Relatório de Bettina Linstrum,
Arts Agenda (Reino Unido)
Moderador:
Oradores:
Curador:
Bettina Linstrum, Arts Agenda (Reino Unido)
Delphine Hesters, Flanders Arts Institute (Bélgica); Martins Kibers, Festival RE RE
RIGA! (Letónia); Angus MacKechnie, ISAN (Reino Unido)
Celine Verkest, MiramirO Festival (Bélgica)
O Estado atual do reconhecimento
Será que a amplitude e a diversidade da forma de arte
são parte do problema?
“Diga-o Alto” juntou delegados da conferência
para em conjunto debater, partilhar preocupações
e encontrar soluções práticas a volta da questão:
Como conseguir um maior reconhecimento para
as Artes de Rua?
Para iniciar o debate, colocamos duas questões:
Que tipo de reconhecimento queremos? e Qual
é o tipo do reconhecimento?
O consenso foi que de que cada país e cidade
experiencia diferentes desafios em torno da
promoção dos seus trabalhos, e que o
reconhecimento é dependente da localização e
do contexto. Por exemplo no Reino Unido, um dos
desafios do setor é atrair os meios de comunicação
e os jornalistas, encorajando debates críticos,
enquanto que na Letónia, o país ainda está a
descobrir a socialização em espaços públicos,
tendo o primeiro espetáculo de Artes de Rua ter
surgido, nos últimos anos, num festival em Riga,
mas para os cidadãos é uma forma de arte
completamente inovadora.
Após o debate exaustivo em torno do
reconhecimento, o painel rapidamente associou
esta matéria à necessidade de esforços de
sensibilização para o setor das Artes de Rua,
subsequentemente, levantando a questão se a falta
de uma definição clara do setor interferia
diretamente com o sucesso na sensibilização da
mesma? Será que a amplitude e a diversidade das
formas de arte são parte do problema? Será que
uma sensibilização para a arte em geral seria
melhor, não pondo em causa rivalidades com
outros setores melhores reconhecidas e
estabelecidas?
Reconhecimento em toda a Europa: Autoridades Locais
e Financiamento Público para as Artes de Rua
Em alguns países, o termo “Artes de Rua” não é
usado, noutros é reconhecido e o sistema de
financiamento público tem especialistas com
conhecimento do setor. Frequentemente esta forma
artística é reconhecida pelos organismos de
financiamento, no entanto as verbas orçamentais
alocadas ao setor não são iguais quando
comparado com ao teatro convencional.
Na Bélgica, não há uma distinção entre as Artes
de Rua e os projetos desenvolvidos para espaços
interiores, o que significa que estes projetos são
avaliados com os mesmos parâmetros. Embora o
Novo Circo esteja noutra categoria com um
sistema de financiamento dedicado, as Artes de
Rua, devido à sua natureza multidisciplinar, às vezes
acaba por cair entre as duas categorias.
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Será o espaço público verdadeiramente público?
Em muitos países, as normas de saúde e segurança
definem que os espaços públicos sejam cada vez
mais difíceis de utilizar para eventos, tornando os
espaços privados opções mais viáveis. Grande
parte das verbas (frequentemente subsídios públicos) são utilizados na produção e negociação com
as autoridades, procurando alternativas de
contornar as regras, negociação que se tem vindo
dificultar ano após ano. É frequente que seja um
indivíduo numa posição de autoridade que faz a
diferença.
A quem agradar? Direção de Turismo, filantropos,
patrocinadores, financiadores ou espectadores.
As necessidades das partes interessadas são
variadas, e é impossível satisfazer todos a todos
os níveis. As artes, e em particular, as Artes de Rua
e a sua capacidade de tocar as pessoas de todas
as classes, correm o risco de serem utilizadas para
resolver problemas sociais.
Estes benefícios “colaterais” das Artes de Rua não
devem ser o fator decisivo, a instrumentalização
da arte pode ajudar a apoiar o argumento, mas a
qualidade da experiência deve ser o principal
motivador.
Esforços de sensibilização e reconhecimento na Europa
Os membros do painel foram incitados a dar
exemplos de esforços de sensibilização no seu
país de origem:
experiência. Este é o maior inquérito alguma vez
conduzido no setor mundialmente, e as conclusões
iniciais já influenciaram as políticas do Arts Council
do Reino Unido (Entidade de Financiamento
Nacional).
Esforços de sensibilização na Bélgica
As categorias para subsídios são muito
abrangentes: qualquer disciplina artística (ou uma
combinação de disciplinas artísticas) pode
candidatar-se na designação “outro” ou
“multidisciplinar”. Artistas e organizações podem
candidatar-se a subsídios identificando os seus
planos nas seguintes categorias (ou uma
combinação delas): desenvolvimento, produção,
apresentação, participação e reflexão. O processo
de avaliação é essencialmente qualitativo,
simultaneamente para o plano artístico e de
negócios. Os projetos não têm de preencher os
requisitos quantitativos e os organismos com apoios
estruturais só necessitam de angariar 5 ou 12% da
sua receita - um nível que todas as organizações
atingem facilmente. Daí e embora que as Artes de
Rua não seja expressamente mencionada na lista
de disciplinas artísticas, o sistema não a exclui.
Esforços de sensibilização no Reino Unido
Um desenvolvimento recente no setor das artes
ao ar livre no Reino Unido é um destaque e
disponibilidade para o financiamento à Investigação
e Desenvolvimento de audiências. A Independent
Street Arts Network (ISAN), juntamente com a
Audience Agency está a realizar um projeto de 3
anos para melhor compreender os espectadores,
o seu percurso pessoal, a sua motivação e a sua
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Esforços de sensibilização na Letónia
Como não há precedente para a forma artística,
não há nenhum artista local para o representar.
Daí que o ponto de partida seja um pouco diferente,
e muito do trabalho base tem de ser feito. A
imprensa e os meios de comunicação são parceiros
importantes para o desenvolvimento da audiência
e o festival RE RE RIGA! no passado teve um
workshop sobre o setor para os jornalistas.
Como abordar a sensibilização
Sensibilização é uma oportunidade; não basta “apenas”
falar com políticos; não é uma
mera prova do trabalho realizado; é uma oportunidade
para criar uma comunidade,
uma audiência, uma forma de
disseminar conhecimento sobre a forma artística.
O que é evidente no exercício de identificação
dos problemas para o reconhecimento e
sensibilização é a sua grande variabilidade de país
para país, ou mesmo de região para região. É
impossível encontrar uma estratégia universal. Nem
todas as ideias de sensibilização são transversais
a todas as culturas, mas exemplos de colegas em
todo o mundo poderão ajudar a saber o que pode
ser feito ou ser utilizado como referência.
nossa mensagem, como é entendido, e quem nos
pode ajudar - o que facilita planearmos o caminho
para uma meta alcançável.
É importante ter clareza sobre quais são os desafios
particulares, quem queremos defender, qual é a
Podemos fazer isto, trabalhando em conjunto e
partilhando informação: instituições e organismos
públicos raramente respondem às preocupações
individuais, mas eles têm de responder às
Federações, redes e grupos que estão de alguma
forma organizadas e representativas. Outros
colegas estão a enfrentar desafios semelhantes,
aprendam uns com os outros e compartilhem
informação, repliquem o trabalho uns dos outros,
e não o façam sozinhos. Ações de sensibilização
são uma forma de criar uma rede pessoal, entre
as pessoas que já conhecemos, os nossos colegas,
as nossas comunidades, o público e outras
indústrias.
Moderador
Oradores
BETTINA LINSTRUM é a diretora e fundadora
da Arts Agenda, uma empresa de produção
artística dedicada às Artes de Rua site-specific.
Iniciou a sua carreira na Kulturbüro em Colónia
(Alemanha). Anteriormente, trabalhou como
diretora interina do ISAN (Reino Unido), com a
XTRAX, para o desenvolvimento de ligações com
festivais de rua alemães, e como gestora de projeto
da Caravan (plataforma internacional do Festival
de Brighton). Atualmente fomenta um programa
de liderança para o desenvolvimento artístico UZ
Arts, sedeada em Glasgow.
DELPHINE HESTERS é a coodenadora do
Instituto de Arte Flamengo, e uma especialista em
investigação e política. É membro do Comité
Consultivo para as Artes do Governo Flamengo.
No Instituto de Arte Flamengo o seu trabalho
centra-se primordialmente no papel dos artistas
no setor cultural, no interculturalismo do setor das
artes e na nova “Lei Flamenga para as Artes”. O
Instituto de Arte Flamengo é o principal ponto de
referência para os profissionais de arte Flamenga.
Sensibilização é uma oportunidade; não basta
“apenas” falar com políticos; não é uma mera prova
do trabalho realizado; é uma oportunidade para
criar uma comunidade, uma audiência, uma forma
de disseminar conhecimento sobre a forma artística.
Curador: Céline Verkest, MiramirO festival
(Bélgica)
MARTINS KIBERS é Produtor do Festival
Contemporâneo de Artes de Rua e Novo Circo
“RE RE Riga”. É produtor do festival local para as
indústrias criativas «Awards» desde 2004 e
produtor das instalações de iluminação e
espetáculos de performance dentro do
enquadramento do Festival Staro (Riga). É o
fundador e membro do conselho de uma
organização não-governamental “Pievilcigas
Pilsetvides Biedriba” (desde 2011), e produtor,
diretor e membro do conselho de gestão da
Mentols Ltd. (desde 2000), empresa organizadora
de eventos de entretenimento.
ANGUS MACKECHNIE é o diretor executivo
do ISAN, a organização no Reino Unido
responsável pela sensibilização do setor de Artes
de Rua. Trabalhou para National Theatre (Londres)
durante mais de trinte anos e foi produtor e
programador do Watch This Space Festival durante
dez anos. Trabalhou como ator, diretor e escritor.
Também trabalhou como diretor da companhia
de acrobacia Joli Vynn's, e é membro do conselho
de gestão da Mimbre e Upswing.
15
SESSÃO TEMÁTICA #3: PARA ALÉM DA MOBILIDADE:
REFORÇO DA COLABORAÇÃO
Relatório de Marie Le Sourd,
On the Move (Belgium)
Moderador:
Oradores:
Curador:
Marie Le Sourd, On the Move (Bélgica)
Luisa Cuttini, Associazione Culturale C.L.A.P Spettacolodalvivo (Itália); Jens Frimann
Hansen, Passage Festival (Dinamarca/Suécia); Marc Van Vliet, Theater Tuig (Holanda)
Tanja Ruiter, HH Producties (Holanda)
Mobilidade Cultural como Mentalidade
Táticas-chave e formas estratégicas de fortalecer as colaborações de médio e longo
prazo com membros do setor
das Artes de Rua e não só
Mobilidade Cultural faz parte do ADN das
Artes de Rua. Para muitos artistas, comunidades e empresas, a mobilidade cultural
faz parte de uma estratégia de sobrevivência para a criação de novos trabalhos e
chegar a novos públicos. Colaborações de
longo prazo requerem um conjunto de competências, recursos e informação que os participantes
do FRESH STREET#1 tentaram definir e que vão
para além dos desafios administrativos e financeiros
levantados por colaborações europeias e internacionais.
Mais do que um conjunto de recomendações, esta
sessão formulou algumas táticas-chave e formas
estratégicas de fortalecer as colaborações de
médio e longo prazo com membros do setor das
Artes de Rua e não só. Estas são aqui representadas
como um mapa, que indivíduos e organizações, à
procura de estabelecer colaborações duradouras
podem socorrer-se.
Compreender o processo e visão dos outros
Há uma necessidade - através de encontros de
redes europeias, festivais, workshops e outros
meios de partilha de informações semelhantes de entender melhor como os programadores
trabalham; como eles escolhem os artistas, os
projetos e como eles definem a visão global dos
seus festivais e/ ou eventos.
Por outro lado, as necessidades dos artistas
requerem atenção constante, especialmente para
a proteção do seu espaço de liberdade criativa.
Eles devem ser informados das regras e dos
regulamentos do espaço público em que
trabalham, mas afastados dos encargos adicionais,
impostos, por exemplo, por razões de logística ou
de financiamento. Fora do setor imediato, as
16
estratégias de apoio dos financiadores e decisores
políticos devem ser bem definidas no que diz
respeito às Artes de Rua para evitar qualquer tipo
de utilização política do setor que, potencialmente,
terá um grande impacto sobre o público, a
população local, a vizinhança e outros.
Como um todo, acreditamos que uma abordagem
holística das partes intervenientes no
desenvolvimento das Artes de Rua - sem esquecer
os espetadores e as comunidades locais - deve
ser constantemente procurada. A transferência de
conhecimento entre o setor e, por exemplo, as
autoridades locais é uma área a ser explorada
pelas Artes de Rua e a ser programado de forma
mais consistente.
Acesso a novos modelos de parceria
Parcerias entre os diferentes
sectores devem ser procuradas – desde dos sectores das
artes e da cultura, ao do urbanismo, da segurança e ambiental
Ligando a necessidade de uma abordagem
abrangente às expectativas de todas as partes
interessadas, há uma urgente necessidade
de explorar novos modelos de parcerias a
vários níveis de competências tanto mais
para as Artes de Rua - que com a sua
abordagem plurissectorial - pode ser um
setor muito interessante para tais
experimentações. Sempre que possível,
parcerias recíprocas entre regiões, cidades e/ou
países devem ser encorajadas a apoiar
intercâmbios bidirecionais e evitar mobilidades
num só sentido, consequentemente limitando a
diversidade de formas artísticas apresentadas ao
público. As parcerias entre os diferentes setores
devem ser procuradas - desde os setores das artes
e da cultura, ao do urbanismo, da segurança e do
ambiente - uma vez que arte e a cultura são muitas
vezes consideradas ferramentas de
desenvolvimento da participação social que
transcende a sua força estética. Voltando ao setor
das Artes de Rua, as parcerias entre diferentes
festivais e eventos devem ser encorajados para a
partilha de conhecimento, custos e, em última
análise, diminuir o impacto ambiental. A partilha
de recursos deve ser regra, por exemplo, para
construir materiais no local da performance, para
encontrar alojamento ou para partilha de meios
de transporte.
Acesso à Informação
Esta é uma questão transversal a todos os assuntos
acima mencionados para melhorar a colaboração
e implementá-la de uma forma mais suave e mais
flexível. Por exemplo, problemas administrativo,
incluindo mas não limitado a - proteção social,
fiscalidade, vistos, autorizações para representar
no espaço público - devem ser abordados desde
o início dos projetos e centros de contacto para
informações devem ser incentivadas. Oportunidades de financiamento e mecanismos para o setor
devem ser identificadas e partilhadas, tanto quanto
possível e informações sobre festivais - desde as
datas à programação - devem ser comunicadas
entre os profissionais para evitar duplicações e
oportunidades perdidas para a colaboração.
As especificidades do setor foram destacadas,
nomeadamente, o desafio em definir regras e
regulamentos para o setor, que variam de país
para país e até de região para região.
Acesso a Redes
Redes baseadas em modelos de parcerias estruturados como a Circostrada, ou em esquemas mais
pessoais e flexíveis de conexões requerem tempo,
investimento, generosidade e abertura. Este investimento parece valer a pena para quem está interessado em ir mais além do que um único tipo de intercâmbio e se envolver num processo de colabo-
ração de mais longa duração.
As redes a nível regional, nacional e europeu são
forças de sensibilização que dão voz ao setor,
ainda para mais quando as Artes de Rua estão no
centro do pensamento estratégico local, regional
e europeu.
17
Moderador
Oradores
MARIE LE SOURD é a secretária-geral da 'On
the Move', a rede de informação europeia sobre
mobilidade cultural. Esta organização fornece
informações sobre as oportunidades de mobilidade
e de financiamento culturais na Europa e em todo
o mundo, e aborda várias questões relacionadas
com a mobilidade cultural. Marie também contribui
em projetos da rede europeia IN SITU. De 2006
a 2011 foi diretora do Centro Cultural Francês em
Yogyakarta (Indonésia) depois de ter gerido o
departamento de intercâmbio cultural da Fundação
Ásia-Europa - ASEF (Singapura) durante 7 anos
LUISA CUTTINI é diretora do CLAPSpettacolodalvivo
(Circuito Multidisciplinar de Arte de Entretenimento
ao Vivo da Lombardia) reconhecido e apoiado
pelo Ministério do Património, da Cultura e do
Turismo Italiano. Luisa começou a trabalhar como
organizadora e diretora, programadora de festivais
e redes em 2000. Coordenou o “Circuito Danza
Lombardia” e o “Circuito Urbano Lombardia
Teatro” apoiado pelo Ministério da Cultura e a
Região da Lombardia desde 2004. Ela também
organiza a “Plataforma NID” (New Plataforma de
Dança Italiana, Brescia) e é membro da “Anticorpi
XL” e da rede “Dancing Cities European”.
Curador: Tanja Ruiter, HH Producties (Holanda)
JENS FRIMANN HANSEN é diretor artístico
do PASSAGE - festival de teatro de rua
transnacional em Helsingør (Dinamarca) e
Helsingborg (Suécia), e Presidente de um comité
para o teatro em espaços públicos no âmbito do
Conselho de Artes Dinamarquês. Detém vários
cargos de confiança no setor das artes
performativas na Dinamarca e na Suécia. A sua
principal área de interesse é a exploração de
estruturas abertas na representação artística que
desafiem os conceitos de teatro tradicional. A sua
investigação centra-se no papel do teatro, artistas
e público na globalização, assim como o papel
que as artes performativas desempenham quer
nas áreas rurais e quer nas urbanas.
MARC VAN VLIET é um artista visual e designer
do grupo teatral Tuig (Holanda), compahia fundada
em 1999. Nos últimos 17 anos, tornou-se
conhecido pelas múltiplas performances e
instalações com a companhia Tuig, que são
caracterizadas pela sua distinta transposição entre
imagens, movimento e som. O seu mais recente
trabalho focou-se em instalações de arte de terra.
Desde 1980, a sua investigação abrange o design
de figurinos e a construção decorativa de interiores
e de exteriores.
18
SESSÃO TEMÁTICA #4:
FORMAÇÃO E CAPACITAÇÃO
Relatório de Susan Haedicke, Departamento de Estudos de
Teatro e Performance; Universidade de Warwick (Reino Unido)
Moderador:
Oradores:
Curador:
Susan Haedicke, Departamento de Estudos de Teatro e Performance; Univerdade de
Warwick (Reino Unido)
Ebru Gokdâg, EFETSA - Federação Europeia de Educação e Formação em Arte de
Rua & Universidade de Anadolu (Turquia); Julieta Aurora Santos, Associação Cultural
Contra-Regra, Teatro do Mar (Portugal); Jean-Sebastien Steil, FAI-AR (França)
Jordi Duran, FiraTàrrega (Espanha)
Definir Formação e Capacitação
no contexto das Artes de Rua
Formação e capacitação são questões-chave para
o desenvolvimento profissional das Artes de Rua
na atualidade. Nos últimos anos, muitos projetos,
formais e informais, de programas de educação
têm surgido. Os principais problemas que se
procuraram abordar nesta sessão foram: resumir
os modelos pedagógicos atualmente existentes,
imaginar novos modelos pedagógicos para a
formação em Artes de Rua no futuro e explorar
obstáculos que complicam a sua aplicação.
Começamos por esclarecer o que entendemos
por "formação" e "capacitação". Formação,
consideramos literalmente como os modelos
formais e informais para educar os futuros artistas
profissionais, muitas vezes através de programas
profissionais, cursos universitários - licenciaturas e
programas de mestrado - em parceria ou não com
organizações profissionais de Artes de Rua programas informais e workshops ocasionais e
residências artísticas.
A capacitação foi definida não só como a
informação que deve ser transmitida aos alunos,
mas também como podemos educar audiências,
decisores políticos, urbanistas e outros players no
mercado das Artes de Rua, e o valor da mesma
para as cidades do futuro.
Os Modelos Europeus e o Valor
de Formação e Capacitação
Os oradores foram convidados para abordar um
conjunto de temas, incluindo: Quais são os
programas de formação disponíveis para os artistas
hoje? O que precisa ser ensinado, como deve ser
ensinado, e quem deve ser ensinado? Qual é o
valor destes na especialização das Artes de Rua?
Que outros modelos pedagógicos ainda não
existentes podemos imaginar para a futura
formação de artistas de rua e como podemos
implementá-los? Como podemos transmitir
informação/análise sobre o valor das Artes de
Rua? Como podemos capacitar o espetadores,
os decisores políticos, urbanistas, jornalistas? E,
finalmente, qual é o papel da investigação
académica?
Em resposta, Julieta Aurora Santos do Teatro do
Mar (Portugal) defendeu uma pedagogia radical,
onde alunos e professores aprendem
conjuntamente. Para ela, o elemento-chave será
proporcionar aos futuros artistas a visão do seu
papel na consciencialização do mundo e, como
elementos provocadores de mudança social. Ela
insistiu que a prática era essencial: "a rua é o tema
e a sala de aula principal". Jean-Sebastien Steil da
FAI-AR - Formation Avancee et Itinerante des Arts
de la Rue (França) resumiu o estado fragmentado
atual da formação em Artes de Rua e sugeriu um
"programa utópico de Artes de Rua" que validaria
as múltiplas ou singulares ideias de cada aluno,
que por "acidente" ou acaso, interrogando questões
19
“a rua é o tema e a sala de
aula principal”
Julieta Aurora Santos
de cidadania juntamente com questões de criação
artística preparassem futuros artistas para serem
“inventores” à medida que desenvolvem a sua
própria autonomia. Também foi enfatizado o papel
importante da investigação em qualquer criação.
Ebru Gokdag da EFETSA - Federação Europeia
de Educação e Formação em Arte de Rua
(Turquia) também abordou questões de cidadania
argumentando que "um cidadão não viveu apenas
num lugar, mas mudou algo nele". Que a mudança
social, para ela, deve desempenhar um papelchave no processo artístico. Ela também insistiu
que um manual online de workshop/ técnicas de
formação deva ser criado.
O diálogo nas duas sessões foi além de formação
formal para explorar pedagogias criativas e noções
de capacitação. Debatemos as ideias
contemporâneas sugeridas pelas perguntas: O
que queremos dizer com pedagogias criativas
para as Artes de Rua onde se incluem quer os
artistas quer os espectadores futuros? Como
podemos educar os espetadores, decisores
políticos, urbanistas, jornalistas e outros membros
do público; qual é o valor da transmissão de
conhecimento sobre teatro de rua que vai além
do setor das Artes de Rua; e quais são os tipos de
informação mais importante ou útil? Também nos
questionamos acerca do tipo de investigação que
é necessária para validar a importância das Artes
de Rua na cultura atual? O que entendemos por
formação teórica em Artes de Rua? Qual é o papel
da investigação académica? Como podemos
incentivar os investigadores académicos a estudar
20
as Artes de Rua?
As sessões de formação e capacitação foram
promovidas com um espírito de discussão aberto
e de descoberta em vez de fechados e conclusivos.
Questionamos qual poderia ser o modelo de
formação em Artes de Rua no futuro e exploramos
a mudança para um modelo pedagógico baseado
na partilha de conhecimento entre aluno e professor. Formação em Artes de Rua deve reconhecer a aprendizagem ao longo da vida
e incentivar futuros artistas a reverem-se
como a "consciência das sociedades", como
agentes de mudança social.
Todas estas são grandes ideias, mas, perguntamos,
como as ensinamos? Como se ensina a
criatividade? Não há respostas fáceis, mas as
nossas ideias tenderam a girar em torno da criação
de espaços pedagógicos alternativos propícios à
criatividade, quer sejam espaços de "aprender a
ouvir", espaços de energia, espaços que se opõem
à autocensura e comemorem o pensamento “fora
da caixa”, espaços para ouvir a própria voz e para
a praticá-la, ou espaços para explorar diversas
formas de investigação.
Também discutimos a importância de validar
processos criativos com determinados grupos de
pessoas exteriores ao setor das Artes de Rua e
incentivamos a cooperação com várias instituições
para promover a mudança social a partir de dentro.
Perguntamo-nos se este tipo de cooperação
poderia ser visto como resistência. Também
enfatizamos a importância de educar o público.
Apoio e formação aos artistas de amanhã
Como treinar os artistas de
amanhã a construir, provocar
e capacitar as cidades do futuro e a serem cidadãos ativos?
Nós pensamos que a formação de artistas do futuro
não se baseia apenas nos programas e nas suas
capacidades, é necessário envolver a construção,
a provocação e a regeneração das cidades do
futuro para que sejam habitáveis, inovadoras e
produtivas em termos de ideias e possibilidades
inimagináveis .
Algumas das sugestões mais específicas para as
novas orientações na formação em Artes de Rua
que se manifestaram durante estas sessões, incluem
o desenvolvimento de pedagogias de Artes de
Rua assentes em três pilares: investigação e capacidades artísticas/práticas, visão/criatividade artística
e a capacidade de desenvolvimento de um relacio-
namento com os espetadores; o estabelecimento
de uma base de dados de oportunidades de formação disponíveis na UE; e o desenvolvimento de
uma rede internacional que liga os diferentes programas. O painel também sublinhou a importância
de pensar em programas de formação que vão
para além do ensino de capacidades, e considerar
o treino dos artistas de amanhã a construir, provocar e capacitar as cidades do futuro e a serem cidadãos ativos; a criar novas formas de educar o
público, urbanistas, decisores políticos, jornalistas
e outros nas Artes de Rua; e para estimular colaborações entre artistas, professores, arquitetos, paisagistas e outros envolvidos no desenvolvimento das
cidades do futuro.
Moderador
Oradores
SUSAN HAEDICKE é professora associada em
estudos de teatro e performance na Universidade
de Warwick (Reino Unido). A sua investigação
sobre o teatro foi publicada em artigos e em livro
- Artes de Rua Contemporânea Europeia: Estética
e Política (2013). Como especialista neste setor,
foi nomeada para avaliar projetos finais dos alunos
na FAI-AR (Marselha, França) e assumiu o papel
de júri na “Grand Prix MiramirO” (Bélgica). Ela
também é dramaturga profissional em França, EUA
e Reino Unido.
EBRU GÖKDA é participante ativa na SAWA
(Academia de Inverno de Arte de Rua) e membro
fundador da EFETSA (Federação Europeia de
Educação e Formação em Arte de Rua). É
professora associada no Departamento de Artes
Performativas na Universidade Anadolu (Turquia),
com larga experiência nas técnicas do "Teatro do
Oprimido", tema que desenvolveu no seu
Doutoramento em Teatro na Texas A&M University
e no seu Mestrado em Teatro na Universidade de
Nebraska-Lincoln.
Curador: Jordi Duran, FiraTàrrega (Espanha)
JULIETA AURORA SANTOS é presidente
da associação cultural Contra-Regra e fundadora
e Diretora da Companhia Teatro do Mar
(Portugal). Assumiu o papel de diretora e produtora
de vários projetos de natureza cultural, social,
educativo e artística. Autora, diretora e dramaturga
de mais de 50 criações do Teatro do Mar que
foram apresentadas em mais de uma centena de
festivais internacionais.
JEAN-SÉBASTIEN STEIL é o diretor da FAIAR, programa de formação avançada para as artes
em espaços públicos. Da sua formação em
geografia manteve o interesse no sul do Mar
Mediterrâneo e um profundo interesse pela forma
como a arte transforma as cidades, paisagens e
territórios. Ex-Coordenador da Rede Europeia IN
SITU (2003-2011) e ex-diretor de l' Usine em
Tournefeuille, tendo vastos conhecimentos em arte
em espaços públicos a nível nacional e
internacional.
21
PAINEL: STEP OUTSIDE!
Relatório de Susan Haedicke, Departamento de Estudos de
Teatro e Performance; Universidade de Warwick (Reino Unido)
Moderador:
Oradores:
Curador:
Josephine Burns, Chair of Without Walls
François Delarozière, La Machine (France); Miki Espuma, La Fura Dels Baus (Espanha);
Arantza Goikoetxea, Hortzmuga Teatroa (Espanha); Mario Gumina, Teatro Necessario
(Itália); Noeline Kavanagh, Macnas (Irlanda); Anthony Missen, Company Chameleon
(Reino Unido); Wendy Moonen, Theater Tuig (Holanda); Pierre Sauvageot, Lieux
Publics (França)
Maggie Clarke, XTRAX (Reino Unido)
Desenvolvimento das Artes
de Rua no Século XXI
As Artes de Rua abrangem todas as formas de
arte, géneros, disciplinas e escalas. Como um setor
primordialmente definido pelo local onde surge,
será possível identificar algum aspeto estético
distintivo e qualitativo nas Artes de Rua? Um painel
de oito artistas e representantes de companhias
produtoras de toda a Europa exploraram quais
são e poderam vir a ser as possibilidades das Artes
de Rua no século XXI.
Este painel foi constituído para explorar a estética
das Artes de Rua na Europa. Os membros do
painel foram convidados a responder a várias
perguntas: Quais são as principais qualidades do
trabalho artístico nas Artes de Rua do seu país e
como estam a modificar e desenvolver? Como é
que a localização de um festival/evento numa rua,
parque ou local específico afeta o trabalho das
Artea de Rua? Como é que as
intenções/políticas/objetivos/audiências de festivais
afetam o trabalho que faz?
Os principais temas são aqui resumidos com uma
seleção de citações do painel:
A Política do Lugar
Para muitos dos artistas do painel, era importante
afirmar a importância política que os artistas
ocupam no espaço público. Para alguns - como o
Miki Espuma da companhia catalã La Fura Dels
Baus - os primeiros trabalhos da companhia
estavam diretamente relacionados com o contexto
social e político e foram criados como um meio
de recuperar a ideia de celebração pública de
Franco. Hoje, este espírito continua, e a importância
política de haver arte em espaços públicos foi
repetida por Arantza Goikoetxea da companhia
basca Hortzmuga Teatroa, e por muitos artistas
na plateia.
22
Mesmo quando a motivação para criar o trabalho
não é diretamente política, existem inúmeras
maneiras como o próprio espaço público influência
a criação do trabalho.
Para Anthony Missen da companhia Chameleon
(Reino Unido), a apresentação do trabalho
num espaço público, permite que o espírito
de partilha dissemine o projeto. A política
aqui não está propriamente na forma
artística, mas em retirar a arte de
instituições e torná-la visível e acessível a
todos.
A Arte do Lugar
Criadores de Artes de Rua
como especialistas na "cidade", permitindo momentos
de transformação em todos
os aspetos da cidade: comerciais, urbanos, residenciais
e sociais.
"Somos engenheiros da imaginação e tornamos o invisível
visível"
Noeline Kavanagh
No entanto, de muitas formas, o espaço em si é
uma parte fundamental da arte.
François Delarozière da companhia La Machine
(França) falou dos criadores de Artes de Rua como
especialistas na "cidade", permitindo momentos
de transformação em todos os aspetos da cidade:
comerciais, urbanos, residenciais e sociais. Isto é
certamente verdade para uma companhia como
La Machine, onde o trabalho é desenhado para
dar resposta à geografia da cidade, e a sua escala
significa que o seu impacto será sentido pelos
residentes, trabalhadores e visitantes. Esta afinidade
entre a arte e a localização não está apenas
presente em trabalhos numa cidade; Wendy
Moonen explicou que no trabalho do Teatro Tuig
(Holanda) há uma diferença entre a ideia de "Artes
de Rua" e "Performance ao ar livre"; a química da
localização (não sendo necessariamente urbana)
e o espetáculo criam uma experiência
compartilhada especial para os espetadores. Da
mesma forma, Pierre Sauvageot do Lieux Publics
(França) mencionou o poder das Artes de Rua em
capturar momentos únicos no tempo e espaço,
recordando um momento especialmente marcante
quando chuva forte invadiu o Champ Harmonique
criando um elemento memorável adicional na
performance. Todos os membros do painel
esforçaram-se para de alguma forma captar estes
momentos no seu trabalho; "Somos engenheiros
da imaginação e tornamos o invisível visível", disse
Noeline Kavanagh da Macnas (Irlanda). Esta ideia
foi repetida pelo Mario Gumina, do Teatro
Necessario (Itália) que assumiu que como artistas,
a obra criada iria refletir a política, mas traria poesia
e magia para estas reflexões.
Espetadores e Cidadãos
Houve uma divergência de opiniões no painel
sobre o lugar dos espetadores: "Ninguém pensa
nos espectadores ao criar um trabalho - não até
que eles estejam lá", disse um; embora outros
discordassem: "Eu penso sempre nos espetadores.
Esse é o meu papel como artista - criar um trabalho
para uma plateia".
Houve uma longa discussão sobre a forma como
a relação entre o artista e os espetadores está a
mudar no mundo das Artes de Rua. A plateia é
muitas vezes mais do que um mero espetador; em
alguns casos, os artistas chamam os espetadores
para participar num workshop, outras vezes,
convidam-nos para participar no próprio
espetáculo, ou, ainda, criam o espetáculo em torno
da interação com os mesmos. Em tais casos, a
participação não se limita à criação do trabalho,
faz parte do papel maior do artista em fortalecer
a comunidade e cultivar cidadania. As Artes de
Rua estão a ter um papel significativo no
desenvolvimento desta área (muitas vezes ligada
ao uso e ocupação do espaço público) e isso pode
ser visto como um novo desenvolvimento nesta
forma de arte.
Novas Tecnologias
O painel explorou o impacto das novas tecnologias
sobre no mundo das Artes de Rua. Todos
concordaram que as Artes de Rua trabalham "no
momento" e isto não se traduz numa plataforma
digital. No entanto, é frequente, ver centenas de
membros da audiência a fotografar e a filmar as
performances com o seu telemóvel e as partilhar
estes momentos através das redes sociais; isto
permite uma rápida divulgação dos eventos ao
mesmo tempo que acontecem, e a maior parte
dos artistas valorizam a divulgação imediata e direta
que as redes sociais permitem entre os artistas e
o público; embora a questão de saber se isto afeta
a experiência do espectador foi levantada.
23
Parcerias entre Artistas
e Organizadores
Diretores de festivais e organizadores de eventos
conhecem os diversos espetadores que podem
vir a assistir a um dos seus eventos, planeando
adequadamente, considerando as condições de
saúde e de segurança, trabalhando conjuntamente
com as autoridades locais, e garantindo a
adequabilidade do trabalho ao público de todas
as idades e culturas; o painel questionou se isto
cria limitações ou restrições ao trabalho dos artistas.
Será que existe o perigo de, ao tentar garantir a
adequabilidade para todos, estamos sanificar ou
censurar o trabalho? Havia um forte entendimento
entre os membros do painel da importância de
proteger os artistas das restrições onerosas e um
desejo que o trabalho dos artistas e dos
organizadores tivesse uma colaboração mais direta,
conhecendo a agenda comum. Foi acordado que
os artistas e os organizadores precisam de trabalhar
juntos, entendendo as necessidades de cada um
e educando os legisladores.
Partilha de Conhecimento
e Trabalhos em Rede
O painel e os delegados da conferência
concordaram que poderíamos aprender mais, não
só entre si, mas também das outras formas artísticas
e tecnologias. O levantamento evidências fortes a partir dos casos de estudo, bem como dos dados
- poderia ajudar-nos a estabelecer parcerias
construtivas onde as Artes de Rua poderão sonhar
com ambições mais vastas.
Com o crescimento do respeito e reconhecimento pelas
Artes de Rua, podemos encorajar novas parcerias e criar
novos trabalhos ambiciosos.
Com o crescimento do respeito e reconhecimento
pelas Artes de Rua, podemos encorajar novas
parcerias e criar novos trabalhos ambiciosos.
Recomendações
Para a celebração da diversidade nas Artes de
Rua e a compreensão de como está a crescer o
setor, precisamos de partilhar e desenvolver
a compreensão da variedade de formas
em que trabalhamos em espaços ao ar livre
- desde das ruas, às paisagens, ao trabalho sitespecific e em muitos tipos de celebração, desde
grandes festivais a momentos íntimos na vida das
comunidades. Temos de recolher informações dos
diversos tipos de parcerias com as quais nos
envolvemos para que possamos aprender como
estas alianças são desenvolvidas - entre
financiadores, artistas, promotores, e os legisladores
- e compreender melhor o valor das novas formas
de participação dos diferentes espetadores, em
papéis diferentes - como comunidades,
participantes e observadores.
24
Moderador
JOSEPHINE BURNS é uma consultora
altamente experiente, especialista em arte, cultura
e economia criativa e ocupa o lugar de Presidente
Executivo da Without Walls Consortium. Com a
saída da Arts Council em 1991, Josephine fundou
a BOP Consulting, empresa responsável por
inúmeros projetos, entre os quais, o relatório do
impacto dos festivais em Edimburgo, trabalhos
ligados a empresas tais como a Glasgow Citizens
Theatre, LIFT, Streetwise Opera e a revisão do
programa de desenvolvimento de talentos
financiado pela fundação Esmee Fairbairn. A título
pessoal, Josephine está ligada a um conjunto de
organizações que incluí o Fringe Festival de
Amesterdão.
Oradores
FRANÇOIS DELAROZIÈRE é diretor artístico
e fundador da companhia 'La Machine' (França).
Cenógrafo e construtor, que nunca deixa de
explorar o mundo do teatro e da cidade. Professor
do Departamento de Palco e Cenografia na Escola
Nacional de Arquitetura em Nantes. Membro da
"Writing for the Street”, uma comissão da DGCA
(Ministério da Cultura e da Comunicação, França)
e do conselho consultivo que deu origem à FAIAR, Formation Supérieure d'art en espace public.
MIKI ESPUMA é um dos seis diretores artísticos
da companhia catalã “La Fura dels Baus”. Em 1980,
juntou-se ao grupo como músico e diretor criativo
para um conjunto de performances e projetos da
companhia. Em 1992, assumiu a direção artística
do espetáculo de encerramento dos Jogos
Paraolímpicos em Barcelona. Ele compôs a música
e dirigiu os espetáculos no Festival de Singapura
e no Festival Sziget, em Budapeste. Atualmente
trabalha como diretor, compositor e coordenar de
todos os aspetos musicais dos “La Fura dels Baus”.
NOELINE KAVANAGH é a diretora artística
na Macnas (Irlanda), companhia de performance
e espetáculo sedeada na NUIG (Universidade
Nacional da Irlanda Galway). Iniciou a sua carreira
no Festival de Teatro de Dublin, em 1994.
Trabalhou como diretora em várias companhias.
As suas produções na Macnas incluem espetáculos
premiados no Festival Absolut Fringe (2010) e no
Festival de Primavera Chaoyang em Pequim
(2013). Macnas já circulou na China, Austrália,
Moscou, Lituânia e Reino Unido.
ANTHONY MISSEN é o diretor artístico da
companhia Chameleon, que ele cofundou em
2007. Produziu e coreografou performances de
palco e rua aclamadas pela crítica. Foi membro
fundador da New Movement Coletive.
Desenvolveu diversos programas educacionais
bem-sucedidos em diferentes países, com um foco
social em jovens, crianças desfavorecidas e crianças
em risco. Já lecionou na maioria das grandes
instituições de dança contemporânea britânicas e
em várias companhias de dança profissionais em
pelo mundo.
WENDY MOONEN é a produtora do Teatro
Tuig, uma companhia fundada em 1999, constituída
por membros de uma variedade de disciplinas
artísticas que cria apresentações convencionais e
site-specific combinando música, imagem e teatro.
Também trabalha como programadora e
produtora de vários festivais e eventos culturais,
especializados no circo e teatro de rua, como o
Circo Circolo e festival Oerol.
PIERRE SAUVAGEOT é o diretor da Lieux
Publics, o Centro de Criação Nacional francês
para as artes em espaço público. Lieux Publics é
o coordenador da IN SITU, a rede de criação de
artes em espaço público, apoiada pela Comissão
Europeia, desde 2003, que ao longo dos anos
tem apoiado mais de 150 artistas europeus. Pierre
é um compositor e designer de som autodidata,
muitas vezes requisitado pelo La Strada.
ARANTZA GOIKOETXEA é uma membro
da companhia artística Basca, Hortzmuga Teatroa,
desde 2001. O seu trabalho consiste na
representação, conceção e desenvolvimento de
espetáculos. Estudou interpretação dramática na
Antzerki Eskola de Basauri, e teve formação em
dança, canto e criação artística. Tem mais de 15
anos de experiência como artista de teatro de rua,
em espaços convencionais e não-convencionais.
MARIO GUMINA é um ator e diretor da
Companhia de Teatro Necessario (Itália), fundada
em 2001. Já dirigiu vários espetáculos qu e foram
apresentados em todo o mundo. Formou-se na
escola de Marcel Marceau, com o Ctibor Turba e
Pierre Byland. Desde então, tem criado e dirigido
programas que combinam circo contemporâneo
e teatro. O seu trabalho inclui várias colaborações
como diretor com o Teatro Laboratorio di Brescia
(Itália) e como co-diretor da Companhia “L'Excuse”
em Lyon (França).
Curador: Maggie Clarke, XTRAX
(Reino Unido)
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ORGANIZADORES E PARCERIAS
Organizadores
Parceiros
Com o apoio:
Desde 2003, a Circostrada Network trabalha para
desenvolver e estruturar os sectores das Artes de Rua e
Novo Circo na Europa e além-fronteiras. Com mais de
70 membros, contribui o desenvolvimento de um futuro
sustentável para o setor fazendo com qsue os agentes
culturais adquiram os conhecimentos necessários através
de ações de observação, investigação, intercâmbio
profissional, sensibilização, reforço das capacidades e
informação.
Com a participação:
HorsLesMurs é coordenado pelo centro de recursos
nacional Francês para as Artes de Rua e Novo Circo.
Fundado em 1993 e financiado pelo ministério da Cultura
e Comunicação, trabalha para o desenvolvimento destes
setores através de atividades de documentação,
formação, consultadoria, estabelecimento de redes de
contactos, investigação e divulgação.
FiraTàrrega é uma feira internacional de artes
performativas anual que tem lugar na segunda semana
de Setembro, em Tàrrega. Fundada em 1981, é uma
montra do panorama atual da arte, com um foco especial
nas Arte de Rua, espetáculos visuais e não-convencionais.
Os principais objetivos da FiraTàrrega são a promoção
do mercado das artes de palco, abrindo a porta à
internacionalização das companhias, acompanhamento
e promoção de criações de artistas emergentes, incentivo
à formação, com foco na criação artística e gestão de
criação e de alianças estratégicas para desenvolvimento
de circuitos ou produções transnacionais de Artes de
Rua.
Um agradecimento a:
Todos os curadores, moderadores e oradores das
sessões, Antonia Andúgar, Esther Campabadal e os
diretores oficiais do Governo da Catalunha e da União
Europa, Elena Díaz (AC/E), Teresa Carranza e Susana
Millet (IRL), Yannick Rascouët e Carme Muntané (Institut
Français de Barcelone), Àlex Navarro (Subprograma de
Media da Europa Criativa, Catalunha), David Marín (Nau
Ivanow), David Berga, Gijs van Bon, Toni Tomàs e Toti
Toronell, a equipa do iCub e da La Caldera Les Corts,
Carles Gabernet e Joan Pla (infraestructures.cat), Koen
Allary e ao Grupo de Advocacia da Circostrada, Josep
M. Cucurull e toda a equipa da FiraTàrrega e
HorsLesMurs .
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Créditos
Grupo de Trabalho FRESH STREET#1:
Coordenador: Mike Ribalta FiraTàrrega (Espanha)
Maggie Clarke XTRAX (Reino Unido)
Bruno Costa & Daniel Vilar Festival Imaginarius (Portugal)
Jordi Duran FiraTàrrega (Espanha)
Lucy Medlycott ISACS (Irland)
Goro Osojnik Ana Desnetica (Eslovênia)
Elodie Peltier & Remy Bovis Coopérative de Rue et de
Cirque (2r2c) (França)
Tanja Ruiter & Huub Heye HH Producties (Holanda)
Celine Verkest MiramirO (Bélgica)
Coordenação:
Montse Balcells Nadal FiraTàrrega
Marion Marchand & Anne-Louise Cottet Circostrada
Network
Caterina Massana Ministério da Cultura, Governo da
Catalunha
Produção:
Berta Pérez de Tudela, Elisabet Rius & Vera Erenbourg
FiraTàrrega
SEMINÁRIOS
FRESH
Capa
Maura Morales /
TIME, Dusseldorf (2012)
© Gorka Bravo
Design
Frédéric Schaffar
Design tradução portuguesa
Sérgio Dias
Janeiro 2016
Pode encontrar
todas as
publicações da
Circostrada,
assim como outros
recursos e notícias
sobre a rede e os
seus membros em:
www. circostrada.org
(Rede Europeia do Circo e Artes de Rua)
[email protected]
+ 33 (0)1 55 28 10 10
HorsLesMurs
68 rue de la Folie-Méricourt
75011 Paris, France