O uso do Bortezomibe no tratamento do Mieloma Múltiplo refratário
Transcrição
O uso do Bortezomibe no tratamento do Mieloma Múltiplo refratário
O uso do Bortezomibe no tratamento do Mieloma Múltiplo refratário Brasília – DF Novembro/2010 MINISTÉRIO DA SAÚDE Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos Departamento de Ciência e Tecnologia Parecer Técnico-Científico: Uso do bortezomibe no tratamento do mieloma múltiplo refratário Brasília – DF Novembro/2010 2010 Ministério da Saúde. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte e que não seja para venda ou qualquer fim comercial. A responsabilidade pelos direitos autorais de textos e imagens desta obra é da área técnica. Este estudo foi financiado pelo Departamento de Ciência e Tecnologia (DECIT/MS) e não expressa decisão formal do Ministério da Saúde para fins de incorporação no Sistema Único de Saúde (SUS). Informações: MINISTÉRIO DA SAÚDE Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos Departamento de Ciência e Tecnologia Esplanada dos Ministérios, Bloco G, Edifício Sede, 8° andar, sala 852 CEP: 70058-900, Brasília – DF Tel.: (61) 3315-3633 E-mail: [email protected] [email protected] Home Page: http://www.saude.gov.br/rebrats Elaboração: Revisão Técnica: Marcela de Andrade Conti (CGATS/DECIT/SCTIE/MS) Mário Henrique Osanai (CGATS/DECIT/SCTIE/MS) Priscila Gebrim Louly (CGATS/DECIT/SCTIE/MS) Flávia Cristina Ribeiro Salomon (CGATS/DECIT/SCTIE/MS) Marcus Tolentino Silva (CGATS/DECIT/SCTIE/MS) Fernanda de Oliveira Laranjeira (CGATS/DECIT/SCTIE/MS) Marcos Bastos (Unimed-BH) Izabel Cristina Alves Mendonça (Unimed-BH) Silvana Márcia Bruschi Kelles (Unimed-BH) Flávia Tavares Silva Elias (CGATS/DECIT/SCTIE/MS) RESUMO Intensidade das recomendações: B1 O mieloma múltiplo é uma proliferação maligna de células plasmáticas derivadas de uma única célula, geralmente da medula óssea, principalmente de ossos pélvicos, coluna vertebral, costelas e crânio, formando tumores e produzindo grande quantidade de anticorpos anormais. É a segunda neoplasia hematológica mais freqüente. No Brasil, sua incidência é desconhecida, principalmente porque não está contemplada nas estimativas anuais do Instituto Nacional de Câncer (Inca), e a sobrevida mediana dos pacientes é de aproximadamente três anos, com alta variabilidade no prognóstico. O tratamento de escolha depende da idade, desempenho do paciente e progressão da doença. Todos os pacientes apresentam recaídas eventuais. Algumas opções específicas para o tratamento do mieloma múltiplo incluem: melfalana ou ciclofosfamida, e talidomida. Quando ocorre falha terapêutica ou refratariedade, algumas opções de tratamento são: repetir a terapia inicial; altas doses de quimioterapia; associação de vincristina, doxorrubicina e dexametasona; associação de melfalana e prednisona; associação de vincristina, carmustina, melfalana, ciclofosfamida e prednisona; altas doses de dexametasona; talidomida; ou altas doses de quimioterapia associadas ao transplante de medula óssea autólogo. Bortezomibe é um medicamento antineoplásico citotóxico que age por meio da inibição do proteassoma, impedindo o crescimento e promovendo a morte das células tumorais. Sua principal indicação é o tratamento de pacientes com mieloma múltiplo que tenham recebido pelo menos dois tratamentos anteriores e demonstrado progressão da doença. Realizou-se busca nas bases de dados Medline (via Pubmed), The Cochrane Library e Centre for Reviews and Dissemination e selecionou-se uma revisão sistemática de estudos prospectivos, três ensaios clínicos randomizados (ECR) e três avaliações de tecnologia em saúde publicadas por agências internacionais. Os estudos selecionados, sobre o uso de bortezomibe em pacientes com mieloma múltiplo recidivado ou refratário, apresentaram métodos de qualidade limitada e resultados que sugeriram que bortezomibe pode ser eficaz para essa indicação. Comparado ao tratamento com altas doses de dexametasona, o uso de bortezomibe apresentou risco relativo de 0,76 (IC95% 0,69-0,83) para resposta completa ou parcial, sendo necessário tratar, em média, 5 pessoas (IC95% 4 - 7) para que uma apresente resposta parcial ou completa ao tratamento com bortezomibe. Algumas das reações adversas mais graves incluem insuficiência cardíaca congestiva (15%), vômito (3536%), trombocitopenia (35%) e pneumonia (rara). Até o momento, a melhor evidência científica disponível sugere apenas que bortezomibe por via intravenosa não seria inferior à administração de altas doses de dexametasona por via oral para o tratamento de pacientes com mieloma múltiplo recidivado ou refratário. Apesar de apresentarem resultados favoráveis, os estudos apresentam limitações metodológicas e intervalos de confiança com grande variabilidade, sendo necessários estudos com métodos de melhor qualidade para comprovar sua superioridade à dexametasona e às outras terapias já estabelecidas. 1 Representa ensaios clínicos controlados randomizados de menor qualidade, que traduz intensidade de recomendação razoável. iii SUMÁRIO Contexto ............................................................................................................................... 5 Pergunta ............................................................................................................................... 6 Introdução ............................................................................................................................ 7 Aspectos epidemiológicos, demográficos e sociais........................................................... 7 Descrição do medicamento avaliado e alternativas terapêuticas.................................... 8 Bortezomibe.................................................................................................................. 8 Alternativas terapêuticas ........................................................................................... 11 Bases de dados e estratégia de busca ................................................................................. 13 Critérios de seleção e exclusão de artigos.......................................................................... 14 Avaliação da qualidade da evidência ................................................................................ 14 Resultados .......................................................................................................................... 17 Apresentação dos resultados dos estudos ...................................................................... 17 Interpretação dos resultados ......................................................................................... 19 Recomendações .................................................................................................................. 21 Referências bibliográficas.................................................................................................. 22 iv Contexto Este Parecer Técnico-Científico (PTC) foi elaborado pela Área de Avaliação de Tecnologias em Saúde do DECIT/SCTIE/MS para avaliar as evidências científicas disponíveis atualmente acerca da eficácia e segurança da tecnologia em questão, visando ao bem comum e à eficiência do Sistema Único de Saúde (SUS). Este PTC tem a finalidade de subsidiar a tomada de decisão do Ministério da Saúde e dos demais gestores do SUS, e não expressa a decisão formal do Ministério da Saúde para fins de incorporação. 5 Pergunta O objetivo desse PTC é analisar as evidências científicas disponíveis atualmente sobre a eficácia e a segurança do bortezomibe para tratamento do mieloma múltiplo. Para sua elaboração, estabeleceu-se a seguinte pergunta, cuja estruturação encontra-se apresentada no quadro 1: Quadro 1: Pergunta estruturada para elaboração do PTC Pacientes com mieloma múltiplo refratário População bortezomibe Intervenção (tecnologia) Alternativas terapêuticas disponíveis no SUS Comparação Eficácia e segurança Parâmetros Mortalidade, tempo para a progressão da doença, duração Desfechos (resultados e qualidade da resposta ao tratamento em saúde) Pergunta: O uso de bortezomibe em pacientes com mieloma múltiplo refratário é eficaz e seguro em relação à mortalidade, tempo para a progressão da doença, duração e qualidade da resposta ao tratamento quando comparado às alternativas terapêuticas disponíveis no SUS? 6 Introdução Aspectos epidemiológicos, demográficos e sociais O mieloma múltiplo é uma proliferação maligna de células plasmáticas derivadas de uma única célula, geralmente da medula óssea, principalmente de ossos pélvicos, coluna vertebral, costelas e crânio, formando tumores e produzindo grande quantidade de anticorpos anormais que se acumulam no sangue ou na urina. Ocasionalmente, ocorre em áreas fora dos ossos, particularmente nos pulmões e nos órgãos reprodutivos. 1 Com a produção excessiva de anticorpos anormais pelos plasmócitos diferenciados, há redução no número de anticorpos normais, tornando os indivíduos com mieloma múltiplo mais susceptíveis a infecções. Os fragmentos de anticorpos anormais freqüentemente depositam-se nos rins, podendo lesá-los e levar à insuficiência renal.1 Além dessas, algumas complicações do mieloma múltiplo são: dor óssea ou fratura, anemia, hipercalcemia, sintomas neurológicos e manifestações vasculares de hiperviscosidade.2 A causa do mieloma múltiplo permanece desconhecida, não havendo nenhum fator isolado associado de forma consistente à doença e sendo encontrada uma variedade de alterações cromossomais em pacientes com a doença. Sabe-se, no entanto, que afeta igualmente homens e mulheres e é muito raro em crianças, adolescentes e adultos jovens, sendo mais freqüente em indivíduos na faixa de 50 a 70 anos. Além disso, revelou-se maior incidência em indivíduos expostos à radiação nuclear e algumas substâncias, como derivados do petróleo. Outras possíveis causas que se encontram em investigação são as infecções por HIV, vírus da hepatite, citomegalovírus mutado, dentre outros.1 O mieloma múltiplo é a segunda neoplasia hematológica mais freqüente.3 Nos Estados Unidos da América, representa aproximadamente 1% de todos os tipos de câncer, sendo diagnosticados, aproximadamente, 12.500 novos casos ao ano. No geral, há poucos registros sobre sua incidência e os aspectos clínicos em grupos étnicos da América Latina. No Brasil, sua incidência é desconhecida, principalmente porque não está contemplada nas estimativas anuais do Instituto Nacional de Câncer (INCA).1 7 Atualmente, a sobrevida mediana de pacientes com mieloma múltiplo é de aproximadamente três anos. Há, porém, uma alta variabilidade no prognóstico devido aos fatores relacionados ao hospedeiro e à heterogeneidade na biologia do mieloma múltiplo.3 Descrição do medicamento avaliado e alternativas terapêuticas Bortezomibe Bortezomibe é um medicamento antineoplásico citotóxico, com classificação ATCb L01XX32, que age por meio da inibição do proteassoma, um complexo enzimático responsável pela degradação e recomposição de proteínas dentro das células. Esse processo é necessário à regularização do ciclo celular e à liberação de importantes componentes para o crescimento e reprodução das células, tanto normais como tumorais. Assim, por meio do comprometimento do ciclo celular, bortezomibe impede o crescimento e promove a morte das células tumorais.4 Está registrado no Brasil, na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)5, desde janeiro de 2005, sob o nome comercial Velcade®. É produzido na forma de pó para solução injetável em frascos-ampola de 3,5 mg pelo laboratório Janssen-Cilag Farmacêutica Ltda. Também está disponível em mais de 50 países, incluindo Austrália6, Canadá7, Estados Unidos8, a maioria dos países da Europa9, vários países da América Latina e sudeste asiático.4 Sua principal indicação é o tratamento de pacientes com mieloma múltiplo que tenham recebido pelo menos dois tratamentos anteriores e demonstrado progressão da doença. Também está indicado, em alguns países, como segunda linha para tratamento de pacientes com linfoma de células do manto.4 Esse medicamento está contra-indicado em casos de hipersensibilidade ao fármaco, manitol ou boro. Em alguns casos, outras precauções devem ser tomadas, como nas seguintes situações: uso concomitante de anti-hipertensivos, desidratação, doença cardíaca, insuficiência hepática, mielossupressão, neuropatia periférica ou outras complicações neurológicas, doença pulmonar, insuficiência renal, tumor de grande volume prévio ao tratamento e história de síncopes. Casos graves de neuropatia periférica prévios ao tratamento devem ser avaliados cuidadosamente quanto ao risco-benefício do uso de bortezomibe. Além disso, enquadra-se na categoria “D” da classificação do FDA8, que representa indícios de b Classificação Anatômico-terapêutico-química. 8 risco para o feto humano, porém com possibilidade de uso do medicamento por gestantes devido aos potenciais benefícios do medicamento.4 A inibição do proteassoma é dose-dependente e reversível. Sua meia-vida de eliminação é curta, de 9 a 15 horas, e é rapidamente distribuído pelo organismo, concentrando-se nos tecidos do trato gastrintestinal e fígado. Apresenta 83% de ligação a proteínas plasmáticas e volume de distribuição de, no mínimo, 500 litros. A duração da sua ação varia de 48 a 72 horas e sua excreção ocorre por meio da urina e da bile.4 Por apresentar metabolismo hepático, principalmente pelas isoenzimas do citocromo P450, CYP3A4 e CYP1A2, há possibilidade de interação do bortezomibe com medicamentos que induzem ou inibem essas enzimas. Pacientes em uso de hipoglicemiantes orais concomitantemente apresentaram quadros de hiper e hipoglicemia. Cuidados especiais devem ser tomados quando houver administração de bortezomibe com medicamentos associados à neuropatia periférica ou hipotensão.4 A posologia recomendada é de 1,3 mg/m2 administrado em 3 a 5 segundos, como injeção intravenosa em bolus, 2 vezes por semana durante 2 semanas (dias 1, 4, 8 e 11), seguido por período de repouso de 10 dias (dias 12-21). Deve ser observado um intervalo mínimo de 72 horas entre as doses. Esse período de 3 semanas é considerado um ciclo de tratamento. Recomenda-se que pacientes que respondam ao medicamento recebam até 8 ciclos de tratamento. Para extensão além desse período, bortezomibe pode ser administrado no esquema padrão ou de manutenção, sendo a administração uma vez por semana por 4 semanas (dias 1, 8, 15 e 22), seguidas por um período de repouso de 13 dias (dias 23 a 35).4 O fabricante recomenda que pacientes com resposta completa confirmada recebam dois ciclos adicionais de tratamento.10 O tratamento deve ser interrompido ao início de qualquer evidência de toxicidade não hematológica de grau 3c ou hematológica de grau 4, excluindo neuropatia, cujo ajuste de dose está apresentado na tabela a seguir. Após a remissão dos sintomas de toxicidade, o tratamento com bortezomibe pode ser reiniciado com 1,0 mg/m², 75% da dose padrão.10 c Gravidade dos sinais e sintomas de neuropatia periférica: grau 1 (parestesia, fraqueza e/ou perda dos reflexos), grau 2 (interfere nas funções, mas não nas atividades diárias), grau 3 (dor ou perturbações funcionais que interferem nas atividades diárias) e grau 4 (parestesia ou disestesia persistentes que sejam incapacitantes ou com risco de morte). 9 Tabela 1: Recomendação para modificação do esquema posológico de bortezomibe em casos de dor neuropática e/ou neuropatia periférica sensitiva ou motora relacionada ao tratamento Gravidade dos sinais e sintomas de neuropatia periférica Modificação do esquema posológico Grau 1 (parestesia, fraqueza e/ou perda dos reflexos) sem dor Nenhuma ação ou perda de atividade Grau 1 com dor ou Grau 2 (interferindo com a função, mas não Reduzir a dose de bortezomibe para 1,0 nas atividades diárias) mg/m² Grau 2 com dor ou Grau 3 (interferindo com as atividades Interromper o tratamento com bortezomibe diárias) até a remissão da toxicidade. Posteriormente, reiniciar o tratamento com dose de 0,7 mg/m², alterando o esquema de tratamento para uma vez por semana. Grau 4 Neuropatia sensitiva incapacitante ou neuropatia Interromper o tratamento com bortezomibe motora com risco de morte ou que ocasione paralisia Fonte: Adaptada do Micromedex e da bula do fabricante (Velcade®) Não há necessidade de ajuste de dose em pacientes com insuficiência renal, e em casos de diálise, a administração de bortezomibe deve ser posterior ao procedimento. Pacientes com insuficiência hepática devem ser monitorados periodicamente, pois a depuração do fármaco pode diminuir.4 As reações adversas mais comuns com o uso de bortezomibe são: hipotensão (1112%), erupções cutâneas (18-21%), constipação (30-43%), diminuição do apetite (34-43%), diarréia (37-57%), náusea (52-64%), anemia (26-48%), artralgia (14-26%), dor óssea (14%), mialgia (12-14%), cólica (12-14%), astenia (61-65%), neuropatia periférica (19-32%), visão turva (11%), distúrbio psiquiátrico (35%), infecção do trato respiratório inferior (15%), febre (35-36%). Algumas das reações adversas mais graves incluem insuficiência cardíaca congestiva (15%), vômito (35-36%), trombocitopenia (35%) e pneumonia (rara).4 Ambiente e procedimentos semelhantes à manipulação de quimioterápicos são necessários para a preparação de bortezomibe, como sala exclusiva para preparação de antineoplásicos, cabine de segurança biológica, materiais e equipamentos de emergência médica11. Frascos intactos devem ser armazenados em temperatura ambiente, em suas embalagens originais para proteção contra a luz. O fabricante recomenda que, após a reconstituição, a solução deve ser armazenada também em temperatura ambiente por até 8 horas em sua embalagem original ou seringa.4 10 Alternativas terapêuticas Os principais objetivos do tratamento do mieloma múltiplo são destruir as células plasmáticas anormais, prevenir e aliviar os sintomas, melhorar a qualidade de vida e prolongar a sobrevida do paciente. Pacientes assintomáticos devem ser cuidadosamente monitorados quanto à progressão da doença e comprometimento dos órgãos.1 Em pacientes assintomáticos, mieloma indolente, não há indicação de tratamento. Em pacientes idosos, com idade acima de 65 anos, não elegíveis para quimioterapia de alta dose e transplante de células-tronco, o tratamento padrão é a combinação oral de melfalana mais prednisona (9 mg/m2/dia por 4 dias) e prednisona (30 mg/m2/dia por 4 dias). Os ciclos são repetidos a cada 4 a 6 semanas até que se atinja resposta estável. Em pacientes com idade abaixo de 65 anos, em boas condições clínicas, a quimioterapia de alta dose com transplante autólogo de células-tronco é o tratamento padrão.12 Essas informações são corroboradas pela National Comprehensive Cancer Network (NCCN).13 O tratamento de escolha depende da idade, desempenho do paciente e progressão da doença. Todos os pacientes apresentam recaídas eventuais. 14 Algumas opções específicas para o tratamento do mieloma múltiplo incluem: Melfalana ou ciclofosfamida, associada ou não à prednisona oral;4 Talidomida: pode ser utilizada por pacientes do sexo masculino; pacientes do sexo feminino comprovadamente estéreis ou que não estejam em idade reprodutiva; pacientes com mieloma múltiplo refratário a quimioterapia convencional, sendo que o tratamento somente pode continuar após 3 meses se houver comprovação laboratorial da remissão da doença.15 Quando ocorre falha terapêutica ou refratariedade da doença, algumas opções de tratamento são 3,14: Repetir a terapia inicial; Altas doses de quimioterapia; VAD (vincristina, doxorrubicina e dexametasona) ou esquemas similares; Melfalana e prednisona; 11 VBMCP (vincristina, carmustina, melfalana, ciclofosfamida e prednisona) ou esquemas similares; Altas doses de dexametasona; Talidomida como monoterapia ou associada a outros medicamentos; Lenalidomida (não aprovada no Brasil) como monoterapia ou associada a outros medicamentos; Altas doses de quimioterapia associadas a transplante de medula óssea autólogo, particularmente em pacientes jovens. O tratamento sintomático inclui o uso de analgésicos e radioterapia para dor óssea, e prednisona e bifosfonados para hipercalcemia e lesões ósseas associadas à doença. Em alguns casos, é necessário tratamento de insuficiência renal. 14, 10 Os custos de alguns medicamentos utilizados para o tratamento do mieloma múltiplo recidivado ou refratário e do bortezomibe estão apresentados na tabela a seguir: Tabela 2: Preço de alguns medicamentos para tratamento do mieloma múltiplo Posologia Custo mínimod Custo máximod 2 f 1,3 mg/m 2x/semana por 2 semanas (8 ciclos ou 40 R$ 100.770,88 R$ 142.727,68g e semanas) dexametasona 40 mg VO 12x/ciclo por 4 ciclos, seguidos de 4x/ciclo por cinco ciclos R$ 539,24h R$ 745,96i (40 semanas) talidomida 200mg/dia, acrescentados de 200mg a cada 2 semanas com R$ 849,52j R$ 12.846,40k limite de 800mg/dia (40 semanas) Fonte: Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED). Disponível em: http://portal.anvisa.gov.br Medicamento bortezomibe d Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED). Consideraram-se os valores mínimo e máximo (PFAB 17% e PMC 19%). [Para a talidomida, os únicos valores localizados foram PFAB 0% e PMC 0%]. Disponível em: http://www.anvisa.gov.br e Considerou-se a área corporal média de 1,73 m2, representando uma pessoa de 70 kg com 1,60 metro de altura. A dose calculada são 2,25 mg de bortezomibe por administração intravenosa, sendo necessário 1 frasco-ampola para cada aplicação, num total de 32 frascos por paciente em 8 ciclos de tratamento. f Preço mínimo por frasco: R$ 3.149,09 g Preço máximo por frasco: R$ 4.460,24 h Preço mínimo por dose de 40 mg: R$ 7,93 i Preço máximo por dose de 40 mg: R$ 10,97 j Preço mínimo por comprimido: R$ 0,41 k Preço máximo por comprimido: R$ 6,20 12 Bases de dados e estratégia de busca Os descritores MeSHl utilizados para realizar a busca por evidências científicas em bases de dados eletrônicas foram “bortezomib or Velcade” e “multiple myeloma”. A estratégia de busca por evidências científicas utilizada nas bases de dados está apresentada na tabela 3. Tabela 3: Pesquisa em bases de dados eletrônicas realizada em 03/11/2010. Base Termos The Cochrane Library (via bireme)16 Centre for Reviews and Dissemination17 18 Medline (via Pubmed) Resultados Estudos selecionados Estudos disponíveis 107 2 2 5 1 1 23 1 1 35 4 3 (bortezomib or velcade) and (multiple myeloma) (bortezomib or velcade) and (multiple myeloma) systematic[sb] AND ("bortezomib "[Substance Name] or Velcade) AND ("Multiple Myeloma"[Mesh]) (Therapy/Narrow[filter]) AND (("bortezomib "[Substance Name] or Velcade) AND ("Multiple Myeloma"[Mesh])) Busca realizada na The Cochrane Library retornou 107 resultados. Desses, 100 correspondiam a ensaios controlados registrados na base Cochrane, 1 a resumos de revisão sistemática com qualidade avaliada, 5 a resumos da Rede Internacional de Agências de Avaliação de Tecnologias em Saúde (INAHTA)19 ou outras agências de Avaliação de Tecnologias em Saúde, e 1 à avaliação econômica do National Health Service (NHS)20. No Centre for Reviews and Dissemination, foram obtidos 7 resultados, sendo 5 avaliações de tecnologia em saúde, 1 avaliação econômica e 1 guia sobre utilização de bortezomibe no tratamento do mieloma múltiplo. Todos correspondiam a resultados já obtidos na busca realizada na Biblioteca Cochrane. Na busca por revisões sistemáticas realizada por meio do Medline (via Pubmed), obtiveram-se 30 resultados. Utilizando a mesma ferramenta, visando encontrar ensaios clínicos randomizados, foram obtidos 37 resultados. l Medical Subject Headings 13 Critérios de seleção e exclusão de artigos Por se tratar de uma questão sobre a eficácia de um medicamento para o tratamento de determinada doença, as melhores evidências são revisões sistemáticas de estudos clínicos controlados randomizados, seguidas de ensaios clínicos controlados randomizados. O principal critério de seleção para esse parecer é que o desenho do estudo contemple uma dessas classificações. Apenas estudos incluindo pacientes com mieloma múltiplo tratados com bortezomibe foram considerados. Avaliações de tecnologia em saúde sobre a eficácia de bortezomibe no tratamento do mieloma múltiplo também foram selecionadas. Alguns critérios de exclusão foram determinados: registros de ensaios controlados em andamento, estudos de custo-efetividade, avaliações econômicas, revisões narrativas, estudos de fase I ou II. Com base nesses critérios de inclusão e exclusão, foram selecionados 3 ensaios clínicos randomizados (ECR) e 1 revisão sistemática. Excluíram-se 39 estudos por apresentarem as seguintes características: revisão narrativa, revisão sobre outro medicamento, revisão de ensaios pré-clínicos e clínicos primários, inclusão de pacientes que não apresentavam mieloma múltiplo, revisão sistemática sobre outros tratamentos para o mieloma múltiplo, estudos de fase I/II, dentre outras. Avaliação da qualidade da evidência Para a avaliação da qualidade da evidência apresentada, utilizou-se o modelo para avaliação da qualidade de ensaios clínicos randomizados proposto por Guyatt e colaboradores.21 Os três ensaios clínicos randomizados (ECR) selecionados apresentam nível de evidência “2B”, por serem ensaios clínicos de qualidade limitada, com as seguintes características: randomizados, abertos, grupos de tratamento semelhantes em relação aos fatores de prognóstico conhecidos, seguimento completo, desfechos relevantes, resultados com amplo intervalo de confiança, entre outros aspectos. 14 A revisão sistemática selecionada apresenta nível de evidência “2A”, por tratar-se de revisão sistemática de estudos de coorte prospectivos, contendo apenas um ensaio clínico randomizado de qualidade limitada. Nos três ECRs comparando bortezomibe a altas doses de dexametasona, houve possibilidade de crossover entre os grupos, o que prejudicou a análise dos dados, inclusive no estudo de seguimento realizado pelo mesmo grupo de pesquisadores. Também merece destaque a informação de que os autores dos estudos declararam seus conflitos de interesses, apresentando algum tipo de vínculo com os fabricantes do medicamento, sendo esses os patrocinadores dos quatro estudos. Diante da qualidade das evidências, este parecer apresenta intensidade de “B” para as recomendações apresentadas, de acordo com os níveis de evidência estabelecidos pelo Oxford Centre for Evidence-based Medicine Levels of Evidence.22 O resultado da avaliação da qualidade da evidência é apresentado nas tabelas 4 e 5. Tabela 4: Resultado da avaliação da qualidade da revisão sistemática incluída no PTC Estudo Busca Prince et al., 2007 Muito ampla (Medline, Embase, Cochrane, referências dos estudos, dados do fabricante, resumos de congressos) Número de estudos incluídos 16 (1 sobre bortezomibe e 15 sobre talidomida) Qualidade dos estudos primários Não há informações sobre a qualidade, citando apenas a semelhança entre os pacientes dos 16 estudos. Avaliação Dois revisores para extração dos dados, mas não foi citada a avaliação para inclusão dos estudos na revisão. Perfil dos participantes Pacientes com mieloma múltiplo recidivado ou refratário. Intervenção Monoterapia com bortezomibe ou talidomida. Conflitos de interesse Revisão patrocinada pela Janssen-Cilag. Todos os pesquisadores apresentaram seus conflitos de interesses, tendo algum tipo de vínculo com a Janssen Cilag ou Covance. Fonte: Adaptado de Guyatt & Rennie, 2006 15 Tabela 5: Resultado da avaliação da qualidade dos ensaios clínicos incluídos no PTC Parâmetros/Estudos O estudo é randomizado? Richardson et al (2005) Richardson et al (2007b) Não Sim, mas dexametasona foi interrompida e iniciado bortezomibe em pacientes com progressão da doença Richardson et al (2007a) Estudo de seguimento com crossover. O estudo principal foi randomizado. Não Sim, mas dexametasona foi interrompida e iniciado bortezomibe em pacientes com progressão da doença Sim Sim Sim Não Não Não Sim Sim Sim Sim Sim Sim Pacientes com mieloma múltiplo recidivado ou refratário a uma a três linhas de tratamento. Pacientes com mieloma múltiplo recidivado ou refratário a uma a três linhas de tratamento. Pacientes com mais de 65 anos, com mieloma múltiplo recidivado ou refratário a uma a três linhas de tratamento. Avaliaram-se tempo para a progressão da doença, sobrevivência, taxa e duração da resposta, tempo para a primeira resposta, tempo para a primeira infecção grave, incidência de infecção grave, tempo para o primeiro evento ósseo, incluindo novas fraturas. Avaliaram-se mortalidade e qualidade da resposta ao tratamento. Avaliaram-se tempo para a progressão da doença, sobrevivência em 1 ano e taxa de resposta, incidência de reações adversas graves e grau ¾. Sim Sim Sim. Sim. A maioria dos pesquisadores apresentava vínculo com a empresa patrocinadora: Millennium Pharmaceuticals. Sim. A maioria dos pesquisadores apresentava vínculo com as empresas patrocinadoras: Millennium Pharmaceuticals e Johnson & Johnson Pharmaceuticals Research & Development. Estudo patrocinado pela Millennium Pharmaceuticals e Johnson & Johnson Pharmaceuticals Research & Development. Sim A alocação foi sigilosa? Os pacientes foram analisados nos grupos aos quais foram randomizados? Os grupos eram semelhantes com relação a fatores de prognóstico previamente conhecidos? O estudo foi cego? Fora a intervenção experimental, os grupos foram tratados igualmente? Seguimento foi completo? Perfil dos pacientes Consideraram-se todos os desfechos importantes? Os benefícios causados superam os prejuízos e os custos? Houve declaração de conflito de interesse? Sim Não Sim Fonte: Adaptado de Guyatt & Rennie, 2006 16 Resultados Apresentação dos resultados dos estudos Os resultados dos estudos selecionados estão apresentados na tabela 6. ESTUDOS Prince et al., 2007 23 Tabela 6: Resultados dos estudos selecionados TIPO DE ESTUDO/ PARÂMETROS POPULAÇÃO Revisão Sistemática de Taxa de redução da estudos prospectivos concentração publicados entre 1966 e plasmática de proteína2005. M Bortezomibe: 1 estudo com N=669. Taxa de resposta pelos critérios EBMT RESULTADOS (IC95%) BTZ: 53% (47-58% vs TAL: 32% (29-36) BTZ: 41% (35-46%) vs TAL: 22% (18-28%) Talidomida: 15 estudos, com N=1007. Richardson et al., 2005 24 Ensaio Clínico Randomizado (ECR) multicêntrico Desfecho primário: Tempo para a progressão da doença (TTP) N=669 Intervenção: tratamento com bortezomibe IV (BTZ) vs altas doses de dexametasona VO (DXM). Duração média do tratamento: 6 ciclos (aproximadamente 24 semanas) Seguimento por 360 dias em ambos os grupos. Pacientes que completaram os 8 ciclos iniciais para o tratamento de bortezomibe: 29% Crossover de 147 pacientes (44%) tratados com dexametasona para tratamento com bortezomibe devido à progressão da doença. Desfechos secundários: Sobrevivência após 1 ano 6,22 meses (BTZ) vs 3,49 meses (DXM), Razão de risco=0,55; P=0,001. 80% (BTZ) vs 66% (DXM), RR=0,57; P=0,003. RRA=4,6% (0,23-8,97%), NNT=22 (11-438). Taxa de resposta (completa e parcial) 38% (BTZ) vs 18% (DXM), RR=0,76 (0,69-0,83); P=0,001. RRA=20% (13-17%), NNT=5 (4-7). Duração da resposta 8 meses (BTZ) vs 5,6 meses (DXM). Tempo para a primeira resposta Média de 43 dias para ambos os grupos. Tempo para a primeira infecção grave Não relatado. Incidência de infecção grave 13% (BTZ) vs 16% (DXM), P=0,19. Diferença não significativa entre os grupos. Tempo para o primeiro evento ósseo, incluindo novas fraturas. P=0,32. Diferença não significativa entre os grupos. Análise por intenção-detratar. 17 ESTUDOS Richardson et al., 2007a 25 TIPO DE ESTUDO/ POPULAÇÃO Estudo de seguimento de ECR, aberto Intervenção: pacientes tratados inicialmente com bortezomibe (N=333) vs pacientes que interroperam dexametasona e iniciaram bortezomibe (N=113) vs pacientes tratados inicialmente com dexametasona (N=336) Duração do estudo: 39 semanas PARÂMETROS Sobrevida média RESULTADOS (IC95%) BTZ: 29,8 meses (23,2infinito) vs DXM: 23,7 meses (18,7-29,1), Razão de Risco=0,77; P=0,027. Taxa de resposta (completa e parcial) 43% (BTZ) vs 18% (DXM), RR=0,70 (0,62-0,88); RRA=25% (18-32%), NNT=4 (36). Tempo para a progressão da doença (TTP), duração da resposta e tempo para a primeira resposta Não houve alterações dos resultados do ECR (Richardson et al.,2005) Taxa de resposta (completa e parcial) 40% (BTZ) vs 18% (DXM), RR=0,73; P=0,0004. RRA=22% (11-33%), NNT=5 (39). Tempo para a progressão da doença (TTP) 5,5 meses (BTZ) vs 4,3 meses (DXM), P=0,002. Sobrevivência após 1 ano 79% (BTZ) vs 63% (DXM), RR=0,57; P=0,009. RRA=16% (4,8-27,2%), NNT=6 (4-21). Incidência de reação adversa grave 46% (BTZ) vs 47% (DXM). Diferença não significativa entre os grupos. Pacientes que completaram os 8 ciclos iniciais para o tratamento de bortezomibe: 39% Richardson et al., 2007b 26 ECR multicêntrico: análise de subgrupo de alto risco (pacientes ≥ 65 anos ou submetidos a mais de uma linha de tratamento ou sistema internacional de escore prognóstico graus II/III ou mieloma múltiplo refratário à 1ª linha de tratamento) Intervenção: tratamento com bortezomibe IV (BTZ) vs altas doses de dexametasona VO (DXM). Legenda: ECR: ensaio clínico randomizado, BTZ: bortezomibe, DXM: dexametasona, RRA: redução do risco absoluto, IC: intervalo de confiança, NNT: número necessário para tratar, EBMT: Grupo Europeu para transplantes hematopoéticos e de medula óssea. 18 Interpretação dos resultados Os estudos selecionados apresentaram métodos de qualidade limitada e resultados semelhantes. A revisão sistemática de estudos prospectivos apresenta nível de evidência “2A”, enquanto os ensaios clínicos randomizados apresentaram métodos limitados e amplo intervalo de confiança, sendo classificados com nível de evidência “2B”. A revisão sistemática considerou estudos que tivessem como intervenção talidomida ou bortezomibe em monoterapia. Foi incluído um ECRm comparando bortezomibe a altas doses de dexametasona por via oral e 15 estudos sobre talidomida, incluindo estudos de coorte prospectivos e ensaios clínicos de fase II. Dentre os três ECR considerados, um foi publicado em 2005m e os outros dois correspondem a estudos de seguimento desse ECR: uma análise de subgrupo sob alto risco e outro com acompanhamento médio de 22 meses. Todos os quatro estudos considerados apresentaram perfil de pacientes semelhantes: mieloma múltiplo recidivado ou refratário. Os desfechos avaliados são considerados relevantes devido ao mau prognóstico da doença: tempo para progressão da doença, taxa de resposta (completa ou parcial), duração da resposta, tempo para a primeira resposta, sobrevivência após um ano, sobrevida média, tempo para a primeira infecção grave, incidência de infecção grave entre outros. O ECR de Richardson et al., 2005, que foi incluído em todos os estudos considerados neste parecer, considerou como desfecho primário o tempo para a progressão da doença (TTP). A razão de risco para esse desfecho entre os grupos bortezomibe vs altas doses de dexametasona foi 0,55, com diferença de 82 dias entre os grupos não sendo apresentado o intervalo de confiança. Não houve resultados diferentes para o estudo de seguimento e, na análise do subgrupo sob alto risco, essa diferença foi menor: 36 dias, também sem apresentação do intervalo de confiança. Para sobrevivência após um ano, apesar de haver diferenças significativas entre os grupos, com risco relativo de 0,57, a redução do risco absoluto e o número necessário para m Richardson, PG et al.Bortezomib or high-dose dexamethasone for relapsed multiple myeloma. N Engl J Med 2005; 352:2487-98. 19 tratar apresentaram intervalo de confiança amplo, demonstrando possibilidade de alta variação entre os resultados, como apresentado na tabela 5. A taxa de resposta, completa ou parcial, apresentou diferença significativa entre os grupos, com número necessário para tratar variando de 3 a 9. O tempo para a primeira resposta foi semelhante entre os grupos, sendo, em média, 43 dias. A duração da resposta apresentou diferença de 2,4 meses (72 dias) entre os grupos, não sendo apresentado o intervalo de confiança. Não houve diferença significativa entre os grupos para os desfechos incidência de reação adversa ou infecção grave e tempo para o primeiro evento ósseo, incluindo novas fraturas, demonstrando a semelhança do perfil de segurança para o tratamento com bortezomibe ou altas doses de dexametasona. Em relação ao estudo de Richardson24 et al., 2005, foram publicadas cartas27,28 sugerindo importantes problemas metodológicos, como curto tempo de seguimento e censura de dados na análise do desfecho de progressão de doença, além da perda de pacientes no seguimento para análise de sobrevida. Em resposta, os próprios autores admitem as falhas. 20 Recomendações Atualmente, o Sistema Único de Saúde (SUS) tem disponível para o tratamento do mieloma múltiplo recidivado ou refratário: dexametasona, talidomida, melfalana, prednisona, doxorrubicina e vincristina, além do transplante autólogo de medula óssea. Os estudos selecionados apresentaram métodos de qualidade limitada, sendo utilizada uma revisão sistemática de estudos prospectivos e três ensaios clínicos randomizados e abertos. Os resultados dos estudos demonstram eficácia do bortezomibe por via intravenosa em relação a altas doses de dexametasona por via oral. Entretanto, as limitações dos estudos não permitem concluir que bortezomibe seja superior à dexametasona. Não há estudo randomizado e controlado que compare bortezomibe à talidomida, não sendo possível também afirmar superioridade de um em relação ao outro. Assim, até o momento, com intensidade de recomendação “B”n, a melhor evidência científica disponível sugere apenas que bortezomibe por via intravenosa não seria inferior à administração de altas doses de dexametasona por via oral para o tratamento de pacientes com mieloma múltiplo recidivado ou refratário. Apesar de apresentarem resultados favoráveis, os estudos apresentam limitações metodológicas e intervalos de confiança amplos, sendo necessários estudos com métodos de melhor qualidade para comprovar sua superioridade à dexametasona e às outras terapias já estabelecidas. O preço para tratamento anual com bortezomibe varia de R$ 100.770,88 a R$ 142.727,68. n Representa ensaios clínicos controlados randomizados de menor qualidade, que traduz intensidade de recomendação razoável. 21 Referências bibliográficas 1 Beers MH, Berkow R, editors. The Merck Manual of Diagnosis and Therapy. 17th ed. Centennial edition. Whitehouse Station (NJ): Merck Research Laboratories; 1999 2 Braunwald E, Fauci AS, Kasper DL, Hauser SL, Longo DL, Jameson JL, et al. Harrison Medicina interna. 16ª ed. Rio de Janeiro: McGraw-Hill Interamericana do Brasil; 2006. 3 Hungria, VTM. Tratamento do Mieloma Múltiplo recidivado. Rev. Bras. Hematol. Hemoter. 2007; 29(1):4853. 4 Hutchison TA & Shahan DR (Eds): DRUGDEX® System. MICROMEDEX Inc., Greenwood Village, 2007. Disponível em: <http://www.portaldapesquisa.com.br>. Acessado em: 03 de novembro de 2010. 5 Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br>. Acessado em: 03 de novembro de 2010. 6 Australian Government. Department of Health and Ageing. Disponível em: <http://www.health.gov.au>. Acessado em: 03 de novembro de 2010. 7 Health Canadá. Disponível em: <http://www.hc-sc.gc.ca/>. Acessado em: 03 de novembro de 2010. 8 Food and Drug Administration. Disponível em: <http://www.fda.gov>. Acessado em: 03 de novembro de 2010. 9 European Medicines Agency. Disponível em: <http://www.ema.europa.eu>. Acessado em: 03 de novembro de 2010. 10 Bula do medicamento Velcade®. 11 ANVISA. Resolução RDC nº 220, de 21 de setembro de 2004. Disponível em: http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/7b26a200431cdb8eba58ba9c579bb600/RDC+N%C2%BA+2202004.pdf?MOD=AJPERES. Acessado em: 30 de novembro de 2010. 12 Harousseau JL, Dreyling M. ESMO Guidelines Working Group. Multiple myeloma: ESMO clinical recommendations for diagnosis, treatment and follow-up. Ann Oncol. 2008 May;19 Suppl 2:ii55-7. 13 The NCCN Multiple Myeloma Clinical Practice Guidelines in Oncology (Version 2.2008). © 2008 National Comprehensive Cancer Network, Inc. Disponível em: <http://www.nccn.org>. Acessado em: 03 de novembro de 2010. 14 The University of Birmingham. Bortezomib for relapsed and/or refractory multiple myeloma. Health Technology Assessment. National Horizon Scanning Centre. 2003. 15 ANVISA. Portaria Conjunta nº 25, de 30 de janeiro de 2002. Disponível http://www.anvisa.gov.br/legis/portarias/25_02.htm. Acessado em: 03 de novembro de 2010. em: 16 Biblioteca Cochrane. Disponível em: http://cochrane.bvsalud.org/portal/php/index.php?lang=pt. Acessado em: 03 de novembro de 2010. 17 Centre for Reviews and Dissemination. Disponível em <http://www.crd.york.ac.uk/crdweb>. Acessado em: 03 de novembro de 2010. 18 Medline (via Pubmed). Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/sites/entrez>. Acessado em: 03 de novembro de 2010. 19 INAHTA. International Network of Agencies for Health Technology Assessment. Disponível em: http://www.inahta.org 20 NHS. National Health Service. Sistema Nacional de Saúde do Reino Unido. Disponível em: http://www.nhs.uk 21 Guyatt G, Rennie D. Diretrizes para Utilização da Literatura Médica – Fundamentos para a prática clínica da medicina baseada em evidências. Porto Alegre, Artmed, 2006. 22 22 Oxford Centre for Evidence-based Medicine Levels of Evidence. http://www.cebm.net/index.aspx?o=1025>. Acessado em: 03 de novembro de 2010. Disponível em: < 23 Prince, HM et al. Efficacy of single-agent bortezomib vs. single-agent thalidomide in patients with relapsed or refractory multiple myeloma: a systematic comparison. European Journal of Haematology 2007: 79 (93–99). 24 Richardson, PG et al.Bortezomib or high-dose dexamethasone for relapsed multiple myeloma. N Engl J Med 2005; 352:2487-98. 25 Richardson, PG et al. Extended follow-up of a phase 3 trial in relapsed multiple myeloma: final time-to-event results of the APEX trial. Blood 2007, vol 110,10: 3557-3560. 26 Richardson, PG et al. Safety and efficacy of bortezomib in high-risk and elderly patients with relapsed multiple myeloma. British Journal of Haematology, 2007; 137, 429–435. 27 Cecchi M, Caccese E, Messori A.Bortezomib in multiple myeloma.N Engl J Med. 2005 Sep 22;353(12):12978; author reply 1297-8.Comment on: N Engl J Med. 2005 Jun 16;352(24):2487-98. 28 Vandenbroucke JP, Kroep JR.Bortezomib in multiple myeloma. N Engl J Med. 2005 Sep 22;353(12):1297-8; author reply 1297-8. Comment on: N Engl J Med. 2005 Jun 16;352(24):2487-98. N Engl J Med. 2005 Jun 16;352(24):2546-8. 23