Teixeira, David José Varela. O Ecomuseu de Barroso. A nova

Transcrição

Teixeira, David José Varela. O Ecomuseu de Barroso. A nova
Universidade do Minho
Instituto de Ciências Sociais
Novembro
2005
O Ecomuseu de Barroso.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
Dissertação apresentada para a obtenção do grau de Mestre, em Património e Turismo,
sob a orientação do Professor Doutor Jean-Yves Dominique Durand.
David José Varela Teixeira
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
i
Ecomuseu de Barroso
AGRADECIMENTO
A Todos que me ensinaram
A admirar a Natureza, respeitando-a sempre;
Criando com ela uma relação serena, de total empatia.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
ii
Ecomuseu de Barroso
Resumo da Tese
O vasto território de Barroso é um dos vectores de actuação do Ecomuseu. O termo
Ecomuseu está ligado à política francesa de desenvolvimento iniciada no ano de 1963.
Caracteriza-se por ser um espaço aberto, um espaço da povoação, do ordenamento do
território, da identidade da população, tendo em atenção os valores do presente, do
passado e do futuro. Neste espaço o visitante converte-se em actor-participante.
O Ecomuseu situa objectos no seu contexto, preserva conhecimentos técnicos e saberes
locais, consciencializa e educa acerca dos valores do património cultural; implica
interpretar os diferentes espaços que compõem uma paisagem; permite desenvolver
programas de participação popular e contribui para o desenvolvimento da comunidade.
O Ecomuseu de Barroso tem dado continuidade ao trabalho de pesquisa sistemática, já
iniciado, tarefa que permite inventariar a globalidade de património construído do
território de Montalegre, tendo em vista a posterior salvaguarda e valorização dos
espécimes seleccionados pelo seu particular interesse patrimonial. A análise das construções
associadas à conservação e à transformação dos produtos tem permitido um melhor
conhecimento da arquitectura popular da região, nomeadamente dos canastros, dos
moinhos, dos fornos, das fontes, dos pisões e dos lagares, entre outros edifícios de
produção agrícola que contribuirão para o reencontro com a identidade cultural local.
A ideia de um Ecomuseu para a região de Barroso resulta da consciência, mas também
da preocupação de salvaguardar um património, nas suas múltiplas componentes, natural,
cultural e socio-económica, com uma finalidade de contribuir para o desenvolvimento das
populações. Por isso se adopta um conceito de Museu do Território, o qual repousa na
valorização dos seus recursos chave: as populações e o património natural e cultural.
Procurando manter os níveis de sustentabilidade do desenvolvimento e alcançar mesmo
uma revitalização agrícola do território, o Ecomuseu de Barroso, em colaboração com a
Comunidade envolvida, procura incentivar os processos de diversificação das actividades,
nomeadamente as associadas ao ecoturismo e outras que propiciem uma melhoria socioeconómica e permitam encontrar novos motivos de fixação à terra.
O Ecomuseu de Barroso é um espaço de memória vocacionado para o desenvolvimento.
Nenhum desenvolvimento poderá ser sustentável, num concelho com 805 quilómetros
quadrados, se a população local não reconhecer as riquezas do local onde vive e se não
começar a ter dividendos da valorização desses sítios, a que alguns chamam património
enquanto outros apenas vêem “patrimonos”. Esta nova visão terá implicação no modo de
vida da população e na sua forma de encarar o futuro.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Ecomuseu de Barroso
Resumo da Tese em Francês
Le vaste territoire du Barroso est l'un des vecteurs de l'action de l'écomusée. Le terme
Ecomusée provient d'une politique de développement française qui débuta en 1963. Il se
caractérise par un espace ouvert, un espace de peuplement, de la planification du
territoire, de l'identité des populations avec une attention aux valeurs du présent, du passé
et du futur.
Dans cet espace le visiteur se transforme en acteur-participant.
L’écomusée situe les objets dans leur contexte, préserve les connaissances techniques et
les savoirs locaux, il rend conscient et éduque à propos des valeurs du patrimoine culturel ;
il implique l’'nterprétation des différents espaces qui composent un paysage ; il permet de
développer des programmes de participation populaire et contribue au développement de
la communauté.
L’Écomusée de Barroso prolonge le travail de recherche systématique, déjà commencé,
entreprise qui a permis d'inventorier la globalité du patrimoine construit du territoire de
Montalegre, en vue de l'ultérieure défense et valorisation des spécimens choisi pour leur
particulier intérêt patrimonial. L’analyse des constructions associées à la conservation et à la
transformation des produits locaux a permis une meilleure connaissance de l’architecture
populaire de la région, particulièrement des greniers à maïs, des moulins, des fours, des
fontaines, des foulons et des pressoirs, entre autres édifices liés à la production agricole qui
contribuiront à une nouvelle rencontre avec l’identité culturel locale.
L’idée d'un écomusée pour la région du Barroso résulte de la conscience de l'existence
d'un patrinoine, mais aussi de la préoccupation de le protéger, dans ces multiples aspects
naturels, culturels et socio-économiques, dans le but de contribuer au développement des
populations. C’est pour cela que fut adopté un concept de Musée du Territoire, qui repose
sur la valorisation des ressources-clés: les populations et le patrimoine naturel et culturel.
Cherchant à garantir la durabilité du développement et même à réussir une
revitalisation agricole du territoire, l’Écomusée de Barroso, en coopération avec la
communauté locale, cherche à stimuler les processus de diversification des activités,
notamment celles associées à l'écotourisme et celles permettent une amélioration socioéconomique et l'apparition de nouvelles raisons de fixation dans la région.
L´Écomusée de Barroso est un espace de mémoire ayant pour vocation le
développement. Aucun développement ne pourra être durable, dans un (Concelho)
(«canton») de 805 kilomètres carrés, si la population locale ne reconnaît pas les richesses
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Ecomuseu de Barroso
de la région ou elle vit et si elle ne commence pas à tirer quelque profit de leur
valorisation, certains appelant patrimoine ce que d'autres ne voient que comme des
«patrimonos», des traces d'un passé définitivement tué par sa muséalisation. Cette nouvelle
vision aura des conséquences sur le mode de vie de la population et sur sa forme
d'envisager le futur.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Ecomuseu de Barroso
Índice
RESUMO DA TESE.......................................................................................................................................... III
RESUMO DA TESE EM FRANCES ................................................................................................................... IV
ÍNDICE ........................................................................................................................................................... VI
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ........................................................................................................... VIII
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................... IX
1. A NOVA MUSEOLOGIA - TENTATIVA DE MUSEUS AO AR LIVRE ............................................................ 1
2. O CONCEITO “ECOMUSEU” EM OPOSIÇÃO AOS MUSEUS CLÁSSICOS................................................... 1
3. A ECOMUSEOLOGIA.................................................................................................................................. 5
3.1. OS ECOMUSEUS EM PORTUGAL ................................................................................................................6
4. CARACTERIZAÇÃO DO ESPAÇO............................................................................................................. 10
4.1. O PARQUE NACIONAL DA PENEDA GERÊS............................................................................................... 10
4.2. CARACTERIZAÇÃO DA REGIÃO .............................................................................................................. 16
4.2.1. Caracterização Socio-económica................................................................................................ 18
4.2.1.1. Demografia ......................................................................................................................................... 18
4.2.1.2. Transportes e Comunicações .............................................................................................................. 22
4.2.1.3. Saúde Pública e Segurança.................................................................................................................. 26
4.2.1.4. O Ensino .............................................................................................................................................. 27
4.2.1.5. Cultura, Recreio e Desporto ................................................................................................................ 28
4.2.1.6. Serviços e Comércio ............................................................................................................................ 31
4.2.1.7. Desenvolvimento Económico .............................................................................................................. 32
4.2.1.8. Povoamento e Espaço Construído..................................................................................................... 34
4.2.1.9. O Sector Turístico em Montalegre .................................................................................................... 38
4.2.1.10. Actividades Turísticas Existentes na Região .................................................................................. 40
4.2.1.11. Alojamento........................................................................................................................................ 41
4.2.1.12. A Restauração e os seus empresários............................................................................................. 42
4.2.1.13. Artesanato......................................................................................................................................... 44
5. PATRIMÓNIO LOCAL .............................................................................................................................. 45
5.1. ALDEIAS A VISITAR .............................................................................................................................. 45
5.2. .PATRIMÓNIO ARQUEOLÓGICO ............................................................................................................. 49
5.3. O PATRIMÓNIO PAISAGÍSTICO ............................................................................................................... 52
5.3.1. Energia Limpa ou Poluição Visual ................................................................................................... 53
5.3.2. A Natureza e o Desporto ............................................................................................................... 54
5.4. PATRIMÓNIO ARTÍSTICO ....................................................................................................................... 55
5.5. PATRIMÓNIO SOCIAL E CULTURAL .......................................................................................................... 56
5.6. O PATRIMÓNIO HISTÓRICO MAIS RELEVANTE ........................................................................................... 56
6. HISTÓRIA E EVOLUÇÃO DO ECOMUSEU DE BARROSO ........................................................................ 58
6.1. A CRIAÇÃO DO ECOMUSEU DE BARROSO ................................................................................................ 63
6.2. O FINANCIAMENTO COMUNITÁRIO ........................................................................................................ 67
6.3. PLANO DE ACTIVIDADES....................................................................................................................... 68
6.3.1. Actividades de 2003..................................................................................................................... 68
6.3.2. Actividades de 2004 ..................................................................................................................... 70
6.3.2.1. Actividades relevantes......................................................................................................................... 71
6.3.3. Actividades de 2005 .................................................................................................................... 72
7. O PROJECTO DE MUSEALIZAÇÃO .......................................................................................................... 73
7.1. OS ESPAÇOS MUSEOLÓGICOS ................................................................................................................ 73
7.2. A SEDE DO ECOMUSEU DE BARROSO ...................................................................................................... 73
7.3. PÓLO MUSEOLÓGICO – CASA DO CAPITÃO DE SALTO ............................................................................... 79
7.4. PÓLO MUSEOLÓGICO DE PITÕES DAS JÚNIAS ........................................................................................... 80
7.5. PÓLO MUSEOLÓGICO DE TOURÉM .......................................................................................................... 81
8. PÓLOS A DESENVOLVER NO FUTURO.................................................................................................... 83
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Ecomuseu de Barroso
8.1. O CASTELO DE MONTALEGRE ................................................................................................................ 83
8.2. MUSEU DA MÚSICA E DOS CANTARES POPULARES / MUSEU DA MEMÓRIA .................................................... 83
8.3. CENTRO DE INTERPRETAÇÃO ARQUEOLÓGICO .......................................................................................... 84
8.4. MUSEU DAS CRENÇAS POPULARES.......................................................................................................... 85
8.5. MUSEU DO TEMPO ............................................................................................................................... 86
8.6. MUSEU DO ESPAÇO .............................................................................................................................. 87
8.7. CASA DO FUMEIRO .............................................................................................................................. 88
8.7.1. A Gastronomia............................................................................................................................... 88
8.8. MUSEU DA TERRA ................................................................................................................................ 90
8.9. FORNO E FORJA DE PAREDES DE RIO ...................................................................................................... 90
8.10. FORJA DE MONTALEGRE ..................................................................................................................... 91
8.11. PISÃO DE TABUADELA ........................................................................................................................ 92
8.12. FORNO DE TOURÉM............................................................................................................................ 93
8.13. LAGAR DE AZEITE DE CABRIL ............................................................................................................... 94
8.14. MUSEU DA PESSOA - NO BARROSO ..................................................................................................... 94
8.15. COMPLEXO INDUSTRIAL E MINEIRO DA BORALHA ................................................................................... 94
9. A IMAGEM DE MARCA DO CONCELHO.................................................................................................. 96
9.1. A RAÇA AUTÓCTONE - BARROSÃ ........................................................................................................... 96
9.2. A CHEGA DE BOIS ................................................................................................................................ 97
10. FEIRAS, FESTAS E ACTIVIDADES RECREATIVAS E DE LAZER ............................................................. 100
11. INVESTIGAÇÃO E DESENVOLVIMENTO .............................................................................................. 102
12. REVITALIZAÇÃO DA MEMÓRIA.......................................................................................................... 104
12.1. O CANTAR DOS REIS NA ALDEIA DE COVELÃES .................................................................................... 104
12.2. A SEGADA E MALHADA DO CENTEIO EM PAREDES DO RIO ..................................................................... 105
12.3. MATANÇA DO PORCO DE RAÇA BÍSARA .............................................................................................. 106
12.4. O JANTAR CULTURAL ....................................................................................................................... 107
12.6. ENCONTRO DE COGUMELOS ............................................................................................................... 107
12.5. ENCONTRO DE MUSEOLOGIA DO MINOM .......................................................................................... 108
14. PROJECTOS SIMILARES........................................................................................................................ 109
14.1. ECOMUSEUS FRANCESES VISITADOS .................................................................................................... 109
14.1.1. Ecoumuseu de Margeride ...................................................................................................... 109
14.1.2. Écomusée de la Bresse bourguignonne........................................................................................ 112
14.2. ECOMUSEUS ESPANHOIS VISITADOS .................................................................................................. 114
14.2.1. Ecomuseu de Saja-Nansa, na Cantábria............................................................................. 114
14.2.2. Ecomuseu de Somiedo, nas Astúrias...................................................................................... 115
CONCLUSÃO .............................................................................................................................................. 117
BIBLIOGRAFIA............................................................................................................................................ 121
ANEXO I – COMISSÃO LOCAL PARA O PATRIMÓNIO E ECOMUSEU...................................................... 125
ANEXO II - REDE DE PERCURSOS PEDESTRES DE BARROSO .................................................................... 132
ANEXO III - ENCONTRO DO MINOM ........................................................................................................ 159
ANEXO IV - ESTUDO DE MERCADO .......................................................................................................... 166
ANEXO V - JANELAS DE BARROSO PARA O MUNDO............................................................................. 186
ANEXO VI – ÁLBUM DE BARROSO –MEMÓRIA E HISTÓRIA.................................................................... 197
ANEXO VII - O RELATADOR DAS CHEGAS DE BOIS................................................................................. 213
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Ecomuseu de Barroso
Lista de abreviaturas e siglas
APOM – Associação Portuguesa de Museologia
CCDR-N – Comissão de Coordenação da Região Norte
CLPE - Comissão local para o Património e Ecomuseu
CMM – Câmara Municipal e Montalegre
DGT – Direcção Geral de Turismo
ICN – Instituto de Conservação da Natureza
lCOM - International Council of Museums – Conselho Internacional de Museus
IPA - Instituto Português do Património Arqueológico
IPM – Instituto Português de Museus
IPPAR – Instituto Português do Património Arquitectónico
GR – Percurso Grande Rota
MINOM – Movimento para uma nova Museologia
PAC - Política Agrícola Comum
PNPG – Parque Nacional da Peneda Geres
PR – Percurso de Pequena Rota
RPM – Rede Portuguesa de Museus
SIG – Sistema de Informação Geográfica
SNPRCN - Serviço Nacional de Parques, Reservas e Conservação da Natureza
UTAD – Universidade de Trás-os-Montes e alto Douro
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Ecomuseu de Barroso
Introdução
É no “País Barrosão”, território de fronteira com a Galiza, plantado nos vales dos rios
Cavado e Rabagão, com as serras das Alturas e do Larouco, sempre vigilantes, e um terço
do seu território classificado com único Parque Nacional Português, o do Geres, que se
centra toda a análise e reflexão sobre o desenvolvimento local e os projectos de turismo
sustentado que dão corpo a uma política desconcentrada e descentralizada.
A localiza do concelho de Montalegre é fabulosa, tem um clima frio a maior parte do
ano, mas onde chove pouco, o que se revela muito importante para a realização de
eventos ao ar livre, de contacto directo com a natureza. As suas gentes são à imagem do
clima, frias no inicio da relação, mas acolhedoras e sem fingimento ou desconfiança. É
desta região, que se conhece a expressão “Entre quem é…”, para qualquer pessoa que
bata à porta, só depois se preocupa de saber quem entrou.
As acessibilidades não são as melhores, embora sejam essenciais para o aumento do
número de visitantes, elas são também as grandes responsáveis da não destruição massiva
e da existência de tanto património, espalhado por todo o concelho.
Temos uma paisagem única, a fazer inveja aos picos da Europa, temos um clima frio,
mas também boas lareiras, temos muito património, temos uma gastronomia que atrai
qualquer “bom garfo”, temos segurança e meios de primeiros socorros de qualidade, temos
gente acolhedora que gosta sempre de oferecer o melhor e que não se preocupa muito
com a especulação económica, que preza mais o seu bem estar e a sua vida pacata do
que o stress dos grandes encargos. Aqui começam as nossas dificuldades de imprimir uma
dinâmica saudável de desenvolvimento local sustentável. É que as gerações mais novas, têm
a mesma mentalidade, mas como a agricultura e a pastorícia estão numa fase de algum
desalento e de algum abandono, eles precisam de ter rendimentos suficientes para que
decidam permanecer nas aldeias. A ideia que passa por todas as gerações, um pouco
através do inconsciente colectivo “é que em terras pequenas não há homens grandes”.
Esta região é linda para passar férias, mas para os jovens viverem todos os dias, terão
de abdicar de muito conforto, e limpeza nas ruas, de actividades culturais, de preços
baixos nos centros comerciais, de serviços de saúde rápidos e de vias rápidas ou auto
estradas.
É neste palco que surge a necessidade de criação de um Ecomuseu, que aproveitando o
que de melhor a região ainda conserva, consiga gerar uma dinâmica num primeiro
momento local e só depois esta comunidade se abra aos turistas e saiba concretamente o
que vai oferecer e o seu real valor.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Ecomuseu de Barroso
Estamos conscientes que a discussão teórica se encontra inclinada para o abandono o
termo “ecomuseu”, mas que nós conhecendo o verdadeiro conceito de ecomuseu e qual a
intenção dos seus criadores, assumimos o risco de atribuir a este projecto o nome de
Ecomuseu de Barroso.
A ideia de um Ecomuseu para a região de Barroso resulta da consciência, mas também
da preocupação de salvaguardar um património, nas suas múltiplas componentes, natural,
cultural e socio-económica, com uma finalidade de contribuir para o desenvolvimento das
populações. Por isso se adopta um conceito de Museu do Território, o qual repousa na
valorização dos seus recursos chave: as populações e o património natural e cultural.
O Ecomuseu de Barroso tem dado continuidade ao trabalho de pesquisa sistemática, já
iniciado, tarefa que permite inventariar a globalidade de património construído do
território de Montalegre, tendo em vista a posterior salvaguarda e valorização dos
espécimes seleccionados pelo seu particular interesse patrimonial. A análise das construções
associadas à conservação e à transformação dos produtos, tem permitido um melhor
conhecimento da arquitectura popular da região, nomeadamente dos canastros, dos
moinhos, dos fornos, das fontes, dos pisões e dos lagares, entre outros edifícios de
produção agrícola que contribuirão para o reencontro com a identidade cultural local.
Procurando manter os níveis de sustentabilidade do desenvolvimento e alcançar uma
revitalização agrícola do território, o Ecomuseu de Barroso, em colaboração com a
comunidade local, procura incentivar os processos de diversificação das actividades,
nomeadamente as associadas ao ecoturismo e outras que propiciem uma melhoria socioeconómica e permitam encontrar novos motivos de fixação à terra.
O Ecomuseu situa objectos no seu contexto, preserva conhecimentos técnicos e saberes
locais, consciencializa e educa para os valores do património cultural; permite desenvolver
programas de participação popular e contribui para o desenvolvimento da própria
comunidade.
Os museus devem agentes turísticos de qualidade, com capacidade de cativar novos
públicos e de os fixar durante vários dias na descoberta dos valores da região. Nesta
perspectiva, o museu é um gerador de dinâmicas culturais e como está ao serviço do
interesse geral da população, terá como missão ser um agitador de ideias.
Ao longo deste trabalho, proponho-me lançar um olhar crítico, sobre a questão da
museologia, mas sobretudo da ecomuseologia, começando por um resenha histórica dos
conceitos e do seu enquadramento, quer no mundo, quer em Portugal. Farei um paralelismo
entre a missão dos parques naturais, a sua inoperacionalidade e a necessidade urgente de
criação de novas estruturas para colmatar essas falhas. Fica-me, por vezes a sensação de
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Ecomuseu de Barroso
que os parques são feitos contra os seus habitantes e este é o pior pressuposto que por si
só justifica o insucesso destas iniciativas, lideradas de gabinetes a muitos quilómetros de
distancia.
De seguida, farei uma caracterização aprofundada do concelho de Montalegre,
realçando os seus pontos fortes e pontos francos, as suas oportunidades e ameaças, para
que se entenda o aparecimento do Ecomuseu de Barroso e quais deverão ser as linhas
orientadoras para o futuro.
O aparecimento do Ecomuseu, as suas iniciativas, as ideias em excussão, as edições, a
dependência no organigrama da Câmara, as dificuldades, a falta de pessoal, a
oportunidade de realização de diversos estágios, como força de trabalho privilegiada,
bem como os projectos futuros mais emblemáticos, serão o corpo central deste trabalho,
que não pretende ser mais do que um olhar crítico, mas apaixonado por um projecto que é
muito mais que um simples museu.
No final, irei apresentar de forma sumária o resultado de umas férias, a percorrer
projectos similares em Espanha e França e que em muito tem a ver com este ecomuseu. Os
anexos servem para comprovar o funcionamento do projecto, é o caso do regulamento
interno, da comissão local para o património e ecomuseu, do projecto da rede de percursos
pedestres de Barros, de um estudo de mercado, sobre os visitantes de Montalegre, de uma
recolha das páginas web que existem sobre barroso e que são veículo de divulgação
deste região, de um recorte de jornal sobre uma realidade inédita no mundo, que é o
relatador de chega de bois e um álbum de fotos da região e das actividades do Ecomuseu
de Barroso.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Ecomuseu de Barroso
1. A Nova Museologia - Tentativa de Museus ao ar livre
O conceito de Nova Museologia começou a delinear-se a partir dos anos 60/70, com
maior incidência a partir da Mesa Redonda de Santiago do Chile, realizada em 1972 no
âmbito do Conselho Internacional dos Museus (lCOM). A Nova Museologia surge então, como
forma de renovação da Museologia Tradicional, na medida em que mantém, como afirma
César Lopes, “uma relação de oposição a tudo o que é velho, baseando-se no princípio de que
os detentores de uma identidade cultural e de um saber deverão ser os protagonistas dessa
mesma cultura. Isto é, em vez de consumidores de um certo produto cultural que lhe é estranho e
integrador, deverão ser os indivíduos e as comunidades a criar a sua própria cultura, o seu
próprio desenvolvimento, a serem os actores da mudança, utilizando o seu património como um
instrumento útil a estes objectivos”. 1
É neste novo contexto que se inserem os Novos Museus, que representam uma nova
concepção da museologia, na qual em vez de um edifício, considera-se uma região, em vez
de uma colecção, um património regional, em vez de um público consumidor,
uma
comunidade regional participativa.
Através deste novo conceito, o objecto deixa de estar no centro das atenções do museu,
valorizando-se cada vez mais o sujeito social. A memória colectiva torna-se o património por
excelência destes museus e a interdisciplinaridade a linha de conduta dos programas
desenvolvidos com a participação activa das populações.
A museologia começa assim a desenvolver-se a nível local, dando origem a
diferenciados tipos de museus. Não existe uma única metodologia na Nova Museologia, pois
cada região é caracterizada de forma diversa. O tratamento museográfico e a
metodologia a adoptar varia conforme a diversidade e os condicionalismos de cada região.
No contexto da Nova Museologia, desenvolveram-se em diversos países, importantes e
inovadoras experiências que revelam de forma exemplar, aquilo que vulgarmente escapa
ao museu tradicional – a identidade de cada região.
2. O Conceito “Ecomuseu” em oposição aos Museus Clássicos
Este conceito surgiu em França após a II Guerra Mundial, graças aos trabalhos
desenvolvidos por Georges Henri Rivière e Hughes de Varine, homens de ideologia política
de esquerda. Por outro lado, a importância que exerceram a nível museológico deve-se
1
César Lopes, 1991, pag. 53
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
1
Ecomuseu de Barroso
também ao facto de terem sido os primeiros secretários gerais do lCOM (International
Council of Museums – Conselho Internacional de Museus). Rivière é mesmo considerado, por
muitos como o grande homem da museologia moderna, tendo sido o criador do Museu do
Homem e do Museu das Artes e Tradições Populares em Paris, animador da criação do
museu da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa e fundador de museus e de ecomuseus
em todo o mundo.
O nascimento dos ecomuseus está estreitamente ligado às transformações da sociedade
francesa dos anos 60. Este facto deve-se, segundo François Hubert (cit in Rivière, 1989, pag
128), por um lado, ao desenvolvimento de uma política favorável à sua realização e por outro
porque os ecomuseus se vão alimentar das novas preocupações que surgiram na sociedade.
De facto, nos anos 50 e início dos anos 60, o estado Francês consciencializa-se do seu
excessivo centralismo, da ausência de uma política económica adequada. Daí resultaram
problemas como o êxodo rural, o baixo nível de vida e o aumento dos encargos colectivos
nas grandes vilas devido às concentrações industriais. Assim, a partir de 1963, inicia-se a
aplicação de uma política de ordenamento do território, que terá a seu cargo o turismo, o
qual se tornou uma grande fonte de receita.
Esta política beneficiará determinadas zonas rurais, fundamentalmente aquelas que se
situam em áreas protegidas, com a criação em 1967 dos parques naturais regionais. Estas
decisões revelam-se de extrema importância, na medida em que estando situados nas
proximidades dos grandes centros urbanos assumem-se como o pulmão verde dessas regiões
e oferecem potencialidades económicas e turísticas relevantes.
Por outro lado, trata-se de regiões privilegiadas sob o ponto de vista da sua gestão,
onde se dá particular atenção à salvaguarda do património natural e cultural e às relações
entre as comunidades e o meio ambiente, valorizando-se a participação activa das
populações locais. Deste modo, os financiamentos de que beneficiam os parques permitem a
criação de estruturas museográficas susceptíveis de atrair visitantes e de valorizar o meio
rural.
A partir dos finais dos anos 60 com a criação dos Parques Naturais Franceses, as ideias
de Rivière vão sendo postas em prática de forma mais concreta, e na década seguinte,
encontram-se pelnamente implantadas, até porque também correspondem às preocupações
dos homens do seu tempo.
É de facto na década de 70 que o conceito de ecomuseu se implanta e se desenvolve,
criando um estatuto próprio. Por conseguinte, nos finais dessa década assiste-se a uma
multiplicidade de ecomuseus em França, registando-se então o interesse de outros países
nessa matéria, como por exemplo a região do Quebeque, no Canadá.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
2
Ecomuseu de Barroso
O ecomuseu nasceu, como acabamos de referir, de um novo contexto político, económico
e social, que proporcionou a sua valorização e que se opõe ao museu tradicional, templo da
cultura, universal e intemporal.
Mas, apesar da ecomuseologia ter nascido em França, como afirmou vincadamente
Rivière (1989), a sua história é indissociável da do lCOM, não só pelo facto dos seus
criadores estarem ligados a essa organização, mas sobretudo porque, como diz Hubert (cit
in Rivière, 1989), só somos capazes de a compreender à luz da experiência internacional e da
Nova Museologia.
O conceito de ecomuseu é evolutivo e como tal não pode ser definido de forma estática,
acompanha pois a evolução da sociedade, é uma instituição dinâmica, como afirma G. H.
Rivière. Sendo assim, não é possível prever concretamente no que se tornará.
Por tudo o que foi referido, os investigadores da ecomuseologia consideram impraticável
avançar com um modelo único de ecomuseu, pois a multiplicidade de aspectos a considerar e
a especificidade de cada região, limitam à partida a possibilidade de consenso e a
capacidade de abarcar num único modelo todas as componentes do ecomuseu.
No entanto, ele pretende ser, de acordo com as palavras de quem o imaginou, “um
espelho onde a população se contempla, para nele se reconhecer, onde ela procura a
explicação do território a que está ligada, juntamente com a das populações que a precederam,
da descontinuidade ou continuidade das gerações. Um espelho que a população mostra aos seus
hóspedes para que eles a compreendam melhor, no respeito pelo seu trabalho, pelo seu
comportamento, pela sua intimidade”.2
Assim o ecomuseu combina o tempo, o espaço e o contexto social, ou seja, tem que ter
obrigatoriamente por base um território determinado, no qual vive uma população com uma
identidade própria, caso contrário, como atesta Rivière, não conseguirá subsistir.
A noção de ecomuseu inspira-se, segundo Hubert (cit in Rivière), na ideia de um “museu
integral”. Isto remete-nos de imediato para dois aspectos essenciais de qualquer ecomuseu: o
espaço e o tempo. A este propósito o Arquitecto Paisagista Fernando Pessoa3 acrescenta: “é
ao mesmo tempo um museu do tempo e do espaço, congregando a exposição do fio condutor
da duração dos séculos com a presença real do espaço que guarda as marcas do passado".
O ecomuseu é apenas um fio condutor da História, subscrita a um espaço físico definido,
em que as populações que dele fazem parte são os seus principais protagonistas. De facto,
trata-se de um museu que se dirige em primeiro lugar à comunidade local, para que ela se
Rivière, 1989., pag142
Exerceu as funções de Director do Parque Natural da Serra da Estrela e a Presidência do Serviço Nacional de Parques, Reservas e
Conservação da Natureza.
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A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Ecomuseu de Barroso
reconheça, para que reanime a sua vida no conhecimento das suas raízes, perpetuando
assim, o legado deixado pelos seus antepassados, a sua identidade.
Por outro lado, a possibilidade de gestão local do ecomuseu, permite-lhe gerir a sua
própria imagem de identidade cultural e social, aproximando-o o mais possível das
populações locais e do saber fazer artesanal, salvaguardando e valorizando os recursos
locais, naturais e culturais, dando um novo uso social e didáctico a esse património.
Este tipo de museu compreende pólos museológicos temáticos, distribuídos por um
território bem definido. Deste modo, o ecomuseu pretende situar os objectos no espaço e no
tempo, recorrendo àqueles que sempre utilizaram esses objectos para o continuarem a
fazer, dando-lhes vida e restituindo-lhes o seu sentido prático, pois faz parte do ecomuseu
tudo quanto tem valor cultural e tudo o que está vivo e é utilizável pela população.
O enraizamento do ecomuseu na comunidade local é fundamental e isso só é possível
com a participação activa e voluntária da população nas actividades desenvolvidas. Assim,
é essencial motivar, esclarecer, auscultar e acima de tudo envolver essa população nos
projectos a criar.
Neste sentido, o ecomuseu assume-se como o agente da identidade cultural de um grupo,
o motor cultural polivalente. Torna-se o espelho das comunidades locais, onde estas se
revêem e se identificam.
O ecomuseu, muito mais que uma simples instituição museológica, é uma instituição
política, cultural e regional. Não se pretende negar ao homem rural os benefícios da
tecnologia moderna pois se assim fosse haveria o risco, como afirma Rivière, de colocar uma
população numa gaiola e o risco de a manipular. Trata-se sim, de procurar que ela encontre
tais benefícios sem alienação da personalidade própria da comunidade a que pertence.
O papel de G. H. Rivière foi fundamental em todo este processo, porque ele, muito mais
do que inventar a ecomuseologia, como afirma Hubert (cit in Rivière), inventou um sistema
que coloca o museu a prestar atenção ao seu tempo.
Assim, podemos afirmar que o ecomuseu é a revelação do dinamismo duma vida humana
local intimamente ligada à natureza e ao território, de forte equilíbrio ecológico, que tem
como um dos principais objectivos, o desenvolvimento local. De facto, a interligação entre o
património construído e o património natural, assume-se como ponto de partida no
desenvolvimento do turismo local.
A componente científica é também indispensável num ecomuseu. Neste sentido, o
ecomuseu assume-se como o meio por excelência da investigação científica das comunidades
e do seu meio, favorecendo a formação de especialistas nesses domínios, em cooperação
com as entidades exteriores de investigação, nomeadamente as universidades.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Ecomuseu de Barroso
Por outro lado, as dificuldades que os museus locais enfrentam são variadas, mas na sua
maior parte prendem-se com aspectos financeiros. A nível do financiamento existe uma
grande disparidade de museu para museu. Enquanto alguns estão inteiramente a cargo das
colectividades territoriais, outros vivem com dificuldades, dependendo de subsídios
reduzidos. Outros ainda, têm uma parte de autofinanciamento tão importante que se tornam
verdadeiras empresas culturais. Deste modo, para ultrapassar problemas financeiros, museus
e algumas empresas de carácter artesanal, procuram cada vez mais o autofinanciamento,
noção cada vez mais indispensável para a viabilidade dos investimentos.
3. A Ecomuseologia
A economuseologia tem, nos dias de hoje, um papel de destaque na museologia. Em
países como o Canadá, sobretudo na região do Quebeque, este conceito tem tido bastante
êxito, levando mesmo até à criação da Fundação dos Economuseus do Quebeque, fundada
por Cyril Simard, o autor deste novo conceito museológico.
O economuseu é pois um conceito museológico e, traduz, cada vez mais, uma opção
cultural, segundo a qual a pequena empresa artesanal é associada à museologia. Consiste
num sistema misto de empresa/museu, tendo como objectivos principais o auto-financiamento,
a originalidade, a qualidade de produto e a valorização da empresa/museu, numa
perspectiva cultural e ambiental, tendo em vista o turismo cultural e científico.
Em princípio, trata-se de uma pequena empresa, de tipo artesanal, que está em
funcionamento, produzindo objectos tradicionais e/ou contemporâneos que, pela sua
especificidade ou originalidade, mostram a identidade cultural de um povo. De certa forma,
procura-se promover a inovação numa pequena empresa, respeitando as suas raízes.
Por outro lado, é fundamental a existência no local de um centro de animação e
interpretação, ou seja, uma oficina para que o visitante se aperceba do processo de fabrico
daquilo que é produzido. Em resumo, podemos dizer que se trata de valorizar
museologicamente uma pequena actividade artesanal, a qual tem que ser rentável, o que
implica uma boa gestão, dinamismo e criatividade.
Este tipo de museologia está perfeitamente bem implantado no Quebeque, onde
experiências deste género têm tido um enorme sucesso. Um exemplo específico é a
Papelaria de Saint-Gilles. Trata-se de uma antiga oficina de fabrico artesanal de papel de
qualidade que, após a morte do seu fundador e proprietário entrou em falência. A sua
reconversão em economuseu contribuiu para o êxito que actualmente tem. É um espaço
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Ecomuseu de Barroso
expositivo dedicado ao seu fundador, um atelier de fabrico de papel feito à mão e de um
centro de interpretação de produção artesanal, de uma exposição de colecções de objectos
de arte e utilitários actuais, em papel, um centro de documentação e arquivo, uma sala
polivalente com a passagem continua de um vídeo sobre a Iocalidade e uma papelaria.
Nesta sala estão também dispostos os objectos para venda, cujas receitas contribuem para o
seu auto-financiamento. Este papel artesanal, de alta qualidade e criatividade, tornou-se
rapidamente matéria nobre, sendo utilizado por artistas, políticos e empresários como um
produto requintado e de elevado valor cultural.
3.1. Os Ecomuseus em Portugal
Em Portugal, a partir de 25 de Abril de 1974, assistiu-se a um acentuado
desenvolvimento da museologia, nomeadamente a nível da Nova Museologia, com um
crescente interesse na problemática da cultura local e do seu aproveitamento museográfico.
Por isso, como afirma António Nabais, os museus locais saíram beneficiados com os efeitos
da política democrática em geral e da gestão autárquica em particular, que os desenvolveu
e dinamizou.
Os novos conceitos no campo museológico, entram assim em Portugal e a ideia de criar
um ecomuseu surgiu nos finais da década de 70. À semelhança do que aconteceu em França,
também no nosso país o ecomuseu nasce associado ás áreas protegidas, com a valorização
da realidade homem/natureza, na sua complexa interligação.
Em 1977 veio a Portugal, por iniciativa do então Serviço Nacional de Parques, Reservas
e Conservação da Natureza4, Georges Henri Rivière em visita ao Parque Natural da Serra
da Estrela, com a finalidade de aí se criar um ecomuseu. Supervisiona um grupo de trabalho,
de que faziam parte ilustres nomes das universidades portuguesas, estabelecendo-se
contactos com a população local, recolhendo-se material etnográfico, adquirindo-se edifícios
de arquitectura de características locais e iniciou a pesquisa científica com base na
interdisciplinaridade. O projecto não avançou por razões de carácter político, que se devem
á instabilidade dos governos da altura, cujos interesses se viravam mais para as realizações
de resultado a curto prazo.
Posteriormente Rivière voltou a Portugal, proferindo conferências, estabelecendo planos
de execução, sensibilizando as entidades para a riqueza dos seus valores patrimoniais e
4
Actualmente Instituto da Conservação da Natureza - ICN
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Ecomuseu de Barroso
para a necessidade de os preservar. Neste sentido, terá afirmado que em Portugal o
ecomuseu não precisa ser inventado, pois ele existe à espera que o organizem; não é
preciso mandar fazer ferramentas ou oficinas, elas existem ; não é preciso treinar os
artesãos, os agricultores, os pastores, eles são ainda hoje intervenientes da vida local, nos
campos e nas montanhas.
Apesar do insucesso dos ecomuseus em Portugal como criação do Serviço Nacional de
Parques, Reservas e Conservação da Natureza, eles acabam por se implantar no nosso país
a partir da década de oitenta, através do esforço empreendido, fundamentalmente pelas
entidades locais, como é o caso das autarquias, das associações de desenvolvimento, das
empresas, etc.
É de facto a partir desta altura, que surge "um novo conceito de património museológico
e de museu [o qual] tem orientado a criação de novos museus locais”.
Assim, a mudança gerada no campo museológico, com os novos conceitos, novos espaços
e novas colecções, gera diferentes designações como, ecomuseu, vila museu, museu
polinucleado, museu multipolar, museu local, museu de região, museu de aldeia, que têm
campos de intervenção que vão para além do edifício e das colecções.
Trata-se de práticas museológicas que tentam encontrar soluções adequadas a situações
concretas. Deste modo, procuram representar a identidade própria de cada região o mais
fielmente possível, tendo em conta as necessidades, interesses e problemas da sua
comunidade.
Neste contexto, podemos enumerar diversas experiências bem sucedidas, levadas a
cabo em diferentes regiões do país e que traduzem plenamente a problemática das novas
práticas museológicas. Temos como exemplo, o Ecomuseu Municipal do Seixal, o Museu de
Mértola, o Museu Municipal de Alcochete, o Museu Rural do Vinho do Concelho do Cartaxo,
o Museu Municipal de Loures e o Museu de Monte Redondo.
O Ecomuseu Municipal do Seixal e o Museu de Mértola são exemplos privilegiados e
inovadores de instituições vivas, participativas, de carácter pluridisciplinar em que o museu
não se limita de forma alguma a um edifício que recebe os objectos. Bem pelo contrário, são
museus polinucleados que abrangem um território definido, onde os bens são preservados e
valorizados, sempre que possível, in situ e em actividade.
Estas duas unidades museológicas são experiências de grande sucesso, apesar de se
distinguirem em vários aspectos, na medida em que, se inserem em realidades económicas,
sociais e culturais específicas. Enquanto no Seixal a Câmara Municipal financia os projectos e
o funcionamento de uma estrutura com cerca de 50 técnicos, em Mértola esta situação é
diferente, pelo facto da autarquia não possuir autonomia financeiras, para assegurar o
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Ecomuseu de Barroso
funcionamento e execução dos projectos. Por isso, os técnicos e os investigadores, que na sua
maior parte não fazem parte dos quadros do município, candidatam-se a bolsas de
investigação, promovem cursos de formação profissional, recorrem ao financiamento de
programas comunitários e ao mecenato, através de várias associações que se coordenam
entre si.
O Ecomuseu do Seixal valoriza muito a vertente didáctica do museu, existindo uma
grande ligação às escolas do concelho. Por outro lado, o Museu de Mértola, dá mais
atenção à investigação do património cultural, o seu grande potencial endógeno.
Como podemos constatar, há diferenças a nível da estrutura e funcionamento destes
museus. Mas, a Nova Museologia não pretende criar um protótipo definido, antes pelo
contrário, considera-se essencial a adaptação destes museus à sua realidade. Além disso, o
campo de acção do ecomuseu não é estanque, verifica-se mesmo que o conceito se tem
alargado cada vez mais, devido ás características e problemas específicos de cada
comunidade. Por exemplo, em Mértola, como afirma Cláudio Torres, o trabalho desenvolvido
está em primeiro lugar virado para a sua região, mas sem nunca se fechar ao exterior, diz
mesmo, que não se deve criar uma fronteira artificial e por isso a equipa de trabalho de
Mértola, faz trabalhos de investigação cientifica nos concelhos limítrofes. Desta forma
recolhe elementos importantes sobre a sua área de intervenção original, colaborando com
as outras autarquias no seu desenvolvimento.
Nos dois locais verifica-se uma convergência no que é essencial, o desenvolvimento
global da região. Neste âmbito, tem como principais objectivos, a salvaguarda e
valorização do património cultural e natural em benefício das comunidades locais; investigar
de forma pluridisciplinar o meio em que se inserem; sensibilizar as populações para a sua
participação activa nos projectos a desenvolver; incrementar o turismo cultural; etc., etc.
No caso de Mértola o combate á desertificação humana assumiu especial interesse e
prioridade dada a proporção que esta assumia. Como causas, salienta-se a pouca
produtividade dos solos e a Política Agrícola Comum (PAC), que torna inviável a agricultura
com baixas taxas de produção. Estes dois factos, associados a secas cíclicas levavam as
populações a partir para os grandes centros urbanos do país ou a emigrar, na procura de
melhores condições de vida. Aqui a criação de emprego assumia uma grande importância
para absorver mão de obra excedentária da agricultura. A cultura e o turismo foram os
grandes vectores de inversão da situação. Assim, recrear artes e ofícios tradicionais,
musealizar sítios, envolver a população nos projectos de investigação científica,
acompanhada de uma boa promoção turística, foi a forma de se criar uma nova dinâmica
económica no meio rural.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
8
Ecomuseu de Barroso
A componente natural é também muito valorizada na Nova Museologia. Em Mértola foi
implantado uma das últimas áreas protegidas – o Parque Natural do Vale do Guadiana que contribui para a preservação do património natural e cultural. Se as águias, abutres,
lontras e outras espécies protegidas que povoam o Alentejo são beneficiadas pela
protecção e controlo da capacidade de carga, que vai ser exercida sobre o meio, também
a população vai ser beneficiada com as acções a desenvolver, pela qualidade de vida, com
o homem como parte integrante do meio, a viver em equilíbrio e a valorizar a sua
preservação.
Como vemos, os objectivos destes museus não se traduzem na simples acumulação de
colecções num determinado local, pelo contrário, procuram a utilização dos testemunhos
materiais e imateriais que ajudem a compreender, explicar e experimentar a realidade
social, económica, tecno1ógica e histórica das diversas comunidades locais (Nabais, 1989).5
Trata-se pois, de espaços museológicos que se estendem ao seu território com os seus
vestígios materiais, monumentos, sítios e conjuntos e que pretende responder aos problemas
e necessidades da população.
Paralelamente as instituições museais passam a ser vistas de forma diferente, pois graças
às suas atitudes, permitem criar condições para o desenvolvimento económico, turístico e
comunitário, na medida em que se criam postos de trabalho, incrementam a produção
tradicional, levam à atracção turística, desenvolvem o comércio e valorizam a identidade
cultural.
Como podemos concluir, as novas práticas museológicas que vão proliferando no nosso
país, funcionam por um lado, como instrumentos de protecção e valorização dos nossos
valores culturais e patrimoniais e por outro lado, mostram a individualidade de cada região.
Vivendo numa Europa sem fronteiras, numa Europa das regiões, torna-se importante a
afirmação de cada região, pelo que promover e incrementar estas práticas, ajudará a
preservar, valorizar e promover a nossa identidade.
5
Nabais, 1989, pág 47.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Ecomuseu de Barroso
4. Caracterização do espaço
4.1. O Parque Nacional da Peneda Gerês
A serra do Gerês tem um comprimento de 35 km entre Fonte Fria, 3km a NO de Pitões
das Júnias, no concelho de Montalegre, e o Rio Caldo, 5km a Sul das Caldas do Gerês; a
sua largura máxima é de 18km. No cume dos Carris a serra atinge 1507 metros de altitude,
atingindo junto à raia, o pico da Cabreira 1534 metros e o Altar dos Cabrões 1544 metros.
O Parque Nacional da Peneda Gerês (PNPG) foi criado em 1971, abrangendo a serra do
Gerês entre o Cávado e o Lima e parte da serra da Peneda, constituindo um todo com a
área de 71 422 hectares.
Esta serra integra-se no Maciço Ibérico que constitui uma das unidades estruturais da
Península Ibérica e um segmento da Cordilheira Varisca da Europa. O Maciço Ibérico
apresenta-se zonado, definindo-se habitualmente cinco zonas com características
paleogeográficas, tectónicas, magmáticas e metamórficas distintas. A área do PNPG situase na Zona Centro-Ibérica (a zona mais interna da Cadeia Varisca). Esta zona é
genericamente caracterizada pela existência de rochas muito deformadas e afectadas por
elevado grau de metamorfismo e ainda pela predominância de rochas graníticas.
“Zonas paleogeográficas e tectónicas do Maciço Ibérico segundo Lotze (1945), ZC- Zona
Cantábrica; ZAL- Zona Asturo-Leonesa; ZCI- Zona Centro-Ibérica; ZOM- Zona de OssaMorena; ZSP- Zona Sul Portuguesa.”6
À semelhança de toda a região Noroeste de Portugal, predominam, no Parque rochas
graníticas que se instalaram na crusta terrestre no decurso da orogenia Varisca. As rochas
graníticas mais antigas (aprox. 320-310 Ma) afloram na Serra do Soajo, Serra Amarela,
planalto de Castro Laboreiro e no extremo oriental da Serra do Gerês. Na restante área
afloram os granitos mais recentes, com cerca de 297-290 Ma de idade. Estes granitos
destacam-se perfeitamente na paisagem dado que conferem àquelas serras um relevo mais
vigoroso e desnudado do que a área circundante. 7
A fauna e a flora da serra são as mais ricas de Portugal. A esta riqueza singular alia a
amplitude da paisagem e a abundância das águas que alimentam os rios Cávado e Homem.
Não admira por isso que o homem nela tenha deixado sinais da sua presença desde os
tempos pré-históricos, reforçando o já notável valor ecológico com valiosos elementos
culturais.
6
7
Conf. www.serra-do-geres.com
Directiva 92/43/CEE (Directiva Habitats)
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Ecomuseu de Barroso
Acima dos 1400 m. de altitude apenas subsistem arbustos rasteiros. Entre os 1400 e os
1200 m. encontram-se o teixo, o vidoeiro e o pinheiro que por vezes atinge entre 15 e
20mt. de altura, o que não sucede noutro lugar em Portugal. Até aos 1200 mt. a
arborização é densa, apresentando exemplares de grande porte, espécies arbóreas como o
carvalho e o medronheiro, entre outras. A Iris boissieii é um lírio violáceo que apenas se vê
no Gerês, outra flor violácea e também rosácea é a Prythroninca deuscanis, produzida por
uma árvore muito rara; a Hypericum androsaemum, de flor amarela, constitui o hipericãodo-gerês usado com fins medicinais.8
No respeitante à fauna esta é a região do País mais rica em caça grossa, apesar de ter
sido extinta, pela acção do homem, a cabra selvagem. Além de javalis e de lobos, a serra
tem veados, texugos, lontras, martas, tourões, etc. A águia-real, apesar de rara, persiste na
vigilância dos cumes do Gerês, como também subsiste a perdiz-cinzenta, espécie pouco
comum.
À diversidade da flora corresponde a diversidade da fauna, sendo a última mais
vulnerável sofrendo com as alterações da flora, que já não apresenta a riqueza que, em
tempos passados, fazia do Gerês um verdadeiro santuário faunístico.
O Norte de Portugal, com influência Atlântica, Sub-atlântica e Mediterrânica é dominado
por florestas de folhosas, Quercus – carvalhais – que deveriam constituir a formação vegetal
dominante, associadas a coníferas - Pinus, Juniperus.
É possível encontrar, em regiões de altitude intermédia, algumas manchas florestais de
dimensão razoável e que podemos considerar como representativas da floresta primitiva (a
mata de Albergaria, a mata de Cabril, a mata do Beredo, a mata do Ramiscal e os
carvalhais da Peneda). Todas estas zonas estão incluídas em áreas de reserva, pelo que é
condicionada a sua visita.
Os matos arbustivos, que ocupam grande área do Parque, resultam fundamentalmente
da degradação da floresta climácica pela actividade humana, como consequência de uma
pastorícia à base do fogo. São compostos essencialmente por tojos e urzes e, apesar de
constituírem sistemas degradados, encontram-se geralmente em situação estável,
albergando uma comunidade animal rica. Em zonas próximas dos 1300 a 1400 metros
podemos encontrar matos tipicamente de altitude e que não resultam da degradação
antropogénica da floresta. Constituem a transição das zonas florestais para as de
vegetação alpina, e que têm pouca representatividade devido à escassa altitude máxima
do Parque. Estas regiões são de difícil acesso e apresentam formas de relevo de grande
beleza.
8
Apoio do Biólogo Francisco Álvares
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Ecomuseu de Barroso
As zonas agrícolas dos grandes vales e dos planaltos elevados apresentam grandes
diferenças entre si. Condicionadas pelo relevo, pelo clima e pela natureza dos solos, as
populações humanas adoptaram soluções distintas para garantir a sua sobrevivência.
Instaladas sobre solos aluvionais, as populações das zonas mais baixas conseguem bons
níveis de produtividade agrícola, mesmo que à custa de uma completa humanização da
paisagem. Regiões de elevada densidade populacional, nelas não há grande espaço para
a vida selvagem.
Nas regiões mais elevadas, como as que correspondem às zonas agrícolas dos planaltos
de Castro Laboreiro e da Mourela, porque assentes em solos mais pobres, apenas suportam
culturas arvenses de sequeiro e de regadio. É a área produtora de gado por excelência e
das pequenas aldeias de montanha. Em redor destas aldeias forma-se um sistema misto de
campos de cultivo, lameiros e florestas, unidos por corredores florestais, que dão à
paisagem de montanha um aspecto característico. A flora e a fauna destes sistemas são de
uma grande riqueza, dependendo intimamente da actividade humana para a sua
manutenção.9
Foi devido ao relativo isolamento de parte importante da sua superfície, que ainda
persistem algumas das espécies que mais nos atraem, ligadas ao nosso imaginário, como é o
caso da águia-real, do lobo Ibérico, do corço e dos garranos.
Animal forte, de rija têmpera, o garrano tem por habitat principal o vale do Gerês
alimentando-se de grande variedade de vegetais. Apesar dos sucessivos cruzamentos que
suportou ao longo dos séculos, o garrano é provavelmente um representante longínquo da
fauna glacial do fim do Paleolítico. 10
Já Fr. Bernardo de Brito, na sua Geographia Antiga da Lusitânia, observava possuir o
Gerês «grande número de veação, como são cabras selvagens, corças, Porcos-monteses,
veados e alguns ursos».11
O urso terá desaparecido da região no decorrer do século XVIII, vítima da caça, dos
incêndios e das transformações entretanto ocorridas no seu habitat. A mesma sorte, aliás,
teve um outro animal, a cabra-do-gerês, de que a última referência data de 1892, e que
frequentava a vasta zona serrana compreendida entre a Portela do Homem e os Cornos da
Fonte Fria, ao longo da raia de Espanha. Resta-nos a esperança de que um casal desta raça
que fugido do parque espanhol começa a aumentar a sua descendência, a olhos vistos, nas
áreas de Pitões das Júnias.
Conf. www.atahca.pt/mixobotao-6.html
Conf. www.serra-do-geres.com/inicial.htm
11 Ibidem.
9
10
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Ecomuseu de Barroso
Com o urso extinto, restam-nos as cilhas. Com o isolamento que caracteriza esta zona
serrana e a protecção acrescida que deriva da própria natureza do terreno, está criada a
possibilidade de permanência de toda uma variedade de animais, com especial referência
para a avifauna, em que se destacam as aves de presa diurnas - águia-real, milhafre-real,
águia-de-asa-redonda, falcão, etc. - para além de nocturnas, como o bufo-real, a corujado-mato e o mocho-de-orelhas-pequenas.
Quanto aos répteis, podem citar-se a víbora-negra, a cobra-d'água e o Lagartod'água, tritões e salamandras.
Quanto aos mamíferos, o Gerês alberga lobos, corços, javalis, garranos selvagens,
lontras, gatos-bravos, fuinhas e recentemente a cabra selvagem, a velha cabra montês. De
entre todas as espécies mencionadas há, no entanto, algumas em perigo de extinção ou
muito ameaçadas, pelas profundas relações que desde há muito mantêm com o quotidiano
local e pelo modo como nós próprios as encaramos.
Quantas histórias e quantas lendas se contaram acerca do lobo, animal que desde logo
se associa ao agreste da paisagem. Perseguido por toda a parte e dado como extinto na
maioria do continente europeu, a espécie ainda ocorre em Portugal ao longo da fronteira
norte e numa ou outra região de Montanha do Norte e Centro. Abatido como predador de
gado, sobretudo ovino, sobrevivendo com dificuldade devido ao desaparecimento da caça
maior, outra fonte importante da sua alimentação, e profundamente afectado pelas
alterações ocorridas no seu habitat natural, o lobo é de facto uma espécie ameaçada.
Estudos recentes do Biólogo Francisco Álvares, sobre as alcateias locais trazem nova
esperança a esta espécie, a viver na Região do Barroso. Em causa fica a política de
indemnizações praticada pelo Parque Nacional da Peneda-Gêres aos produtores
prejudicados e a maldade de muitos que para apanhar javalis vão destruindo espécies mais
ameaçadas.
À fauna selvagem há, que acrescentar duas espécies domésticas de elevado valor: o cão
de Castro Laboreiro e o Boi-Barrosão. Nativo da serra do Soajo e do planalto de Castro
Laborei, este cão é um animal de aspecto rude e bravo, que outrora era utilizado na caça
grossa. Apesar de manso e fiel guardador, ainda hoje muita gente o considera aparentado
ao lobo, ideia que é reforçada pelo facto de este cão sorver a água em vez de a lamber.
O boi-barrosão, presente sobretudo no sector oriental do Parque Nacional, tal como
todas as raças serranas, apresenta notáveis características de resistência e grande
adaptabilidade ao trabalho. «Estas qualidades» de acordo com Vergílio Taborda, «a
tornam estimada nestas terras montanhosas. São as vacas que fazem todo o trabalho da
lavoura, já de si limitado e fácil pela grande quantidade de animais que o agricultor possui.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
13
Ecomuseu de Barroso
O trabalho jamais aperta; de resto, o agricultor tem o cuidado de poupar o seu gado, que
para ele vale sobretudo pela criação.» 12
Os povos serranos governaram-se durante séculos por um regime comunitário tradicional,
o comunitarismo, escolhendo cada povoado os seus organismos próprios para zelarem pelos
interesses comuns dos moradores; deste regime subsistem ainda alguns usos relativos à
utilização de certas zonas de pastoreio e à lavoura dos campos.
O homem teve e tem um papel fundamental na modelação destas paisagens magníficas,
as quais constituem quadros vivos, dignos de um Museu a céu aberto, em permanente
mutação visual ao longo do ano e onde a dinâmica da vida encontrou sábia sequência no
equilíbrio entre a natureza e a cultura.
Os primeiros vestígios de uma permanência humana remontam ao quarto e terceiro
milénio antes de Cristo, ocupavam povoados muito possivelmente sazonais, cujas marcas
estão ainda por identificar. São as necrópoles de dólmenes e mamoas que melhor
documentam esta primeira ocupação efectiva da região, vincando uma forte religiosidade
ligada essencialmente ao fenómeno da morte física. Ainda hoje, atestando a solidez destas
primitivas construções funerárias e territoriais, vastas necrópoles megalíticas (das maiores em
número de todo o Norte de Portugal) pontilham quer os planaltos elevados de Castro
Laboreiro e da Mourela, quer as inúmeras chãs das diversas serranias», e elas
desenvolveram sistemas peculiares de agricultura, assentes sobretudo na exploração do
gado.
Os testemunhos mais antigos das Terras do Gerês referem-se, à cultura megalítica,
representada por dólmenes e cistas com cerca de seis mil anos. Dos finais do Neolítico ou do
início da idade do Bronze, surgem menires e gravações em rochas. É, no entanto, durante a
idade do Bronze e a do Ferro que se processa o povoamento sistemático das mais
importantes cumeadas que separam as águas dos rios. Os povos constróem castros e
desenvolvem uma agricultura primitiva de sequeiro e a pastorícia.
São desta época os castros de Calcedónia, Outeiro, Castelo e Ermida. Foi, porém, a
Romanização, após uma possível influência Grega, que deu origem à actual estrutura
paisagística assente numa economia de subsistência no que diz respeito à agricultura e em
que o gado é, e continuará a ser, a principal fonte de riqueza da população.
Aos Romanos se deve o desbravamento do fundo dos vales, da vegetação selvagem que
os revestia e, portanto, o inicio da descida das populações das cumeadas para o sopé das
encostas. A Geira (estrada romana) que segue o vale do rio Homem e quatro conjuntos de
marcos miliários (Bico da Geira, Volta do Covo, Albergaria e Portela do Homem) atestam a
12
Conf. www.serra-do-geres.com
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Ecomuseu de Barroso
acção decisiva da romanização neste território. Estas acções são imediatamente continuadas
pelos primeiros conventos e cenóbios cristãos, que cimentam a cultura anterior com a
influência germânica que se lhe seguiu de Suevos e Godos.
Quando chegava a Páscoa, as famílias subiam para maiores altitudes, acima dos mil
metros, onde passavam na «branda» a Primavera, o Verão e parte do Outono. Aí, os gados
encontravam pastos mais viçosos e frescos.
A agressividade do clima, o isolamento das aldeias e os recursos parcos que obrigavam
a uma gestão sábia deram origem a hábitos comunitários, de que ainda perduram alguns
vestígios.
Cada aldeia era uma comunidade organizada, onde as questões de justiça e os assuntos
de interesse colectivo eram resolvidos por um conselho dos homens-bons da terra, que
reuniam no largo do pelourinho, existindo por vezes uma bancada ou recinto especialmente
concebidos para essas reuniões.
Os rebanhos pastavam em comum nos baldios (a vezeira), o pão de cada família era
cozido (e ainda hoje o é, em alguns povoados) no forno do povo e a farinha moída no
moinho comunitário, existia em cada aldeia o boi do povo, para a cobrição e para lutar (as
chegas de bois) que era alimentado por todos; azenhas, pisões, fontes e lavadouros, forjas,
enfim, as principais actividades de subsistência eram tratadas em regime comunitário.
Esta forma de vida tende a desaparecer, mas para já é uma fonte de espanto e de
atracção de turistas desejosos de uma vida calma, onde possam saborear o tempo a passar,
onde o sol seja o único relógio e os amigos sejam os responsáveis pela alteração desta paz
e tranquilidade que só o interior ainda conserva, enquanto não for invadido de turistas que
querem tudo que vêm, não se importando de sujar e destruir o que quer que seja.
É talvez este o ponto chave para os locais recusarem as auto-estradas e defenderem o
seu isolamento.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
15
Ecomuseu de Barroso
4.2. Caracterização da Região
Montalegre ocupa o coração do planalto Barrosão, com um grande território de
805Km2, abrangendo um conjunto de 35 freguesias e 136 aldeias. Este planalto situa-se a
NoroEste do distrito de Vila Real, limitado a Norte pela província da Galiza (75 km de
fronteira com Espanha), a Poente pelo município de Terras de Bouro, a Sul pelos municípios
de Vieira do Minho e Cabeceiras de Basto, e a Nascente pelos municípios de Boticas e
Chaves.
Situa-se a 35 Km de Chaves e 90 km de Braga. O percurso de e para esta última
cidade é de uma beleza única, porque a EN 103 contorna a serra da Cabreira com os
penhascos do Gerês a seu lado, avistando de onde a onde lençóis de água, as albufeiras
dos rios Cávado e Rabagão.
O Barroso está enquadrado no maciço Galaico/Douriense, sendo delimitado pelas
serras do Gerês (1.434 mt. de alt.) a Oeste, do Larouco (1.525 mt. de alt.) a Nordeste, da
Cabreira (1.262 mt. de alt.) a Sueste, das Alturas (ou Barroso) (1.279 mt. de alt.) a Sul e do
Leiranco (1.156 mt. de alt.) a Nordeste/Sudeste.
Os antepassados de há 3500-4000 anos deixaram manifestações que revelam
preocupações com o além da morte, erguendo rudes monumentos funerários como as antas
da Mourela e da Veiga ou a cista da Vila da Ponte. Estes vestígios juntam-se a tantos outros
que provam que a área do concelho de Montalegre já era povoada na época dos metais, a
fazer fé nesses vestígios que nos chegam da longínqua pré-história.
Os Celtas “semearam”, neste território castros em número pelo menos igual ao das
povoações do concelho. Com a chegada dos romanos, a região é atravessada pela Via
Imperial – Via XVII e suas pontes, altura em que são também romanizados alguns castros.
Existiram, nesta região, grandes cidades romanas, de referir:
Praesidium (na aldeia da Vila da Ponte, chamada popularmente como Sabaraz) e
Caladunum (no castro de Pedrário), das quais há alguns vestígios.13 Esta terá sido a sede de
uma Casta que povoou toda esta região, “os Caladuni”.
Dos Mouros não há indícios documentais que atestem a sua presença, exceptuando a
tradição oral que lhes atribui tudo quanto de extraordinário e antiquíssimo existe.
Com o nascimento da nacionalidade, D. Afonso Henriques doou porções de terra ou
coutos onde floresceram albergarias (Salto), hospitais (Vilar de Perdizes e Dornelas) ou
mosteiros (Pitões). Sendo uma zona de fronteira com o reino da Galiza, são erguidos com
preocupações defensivas; o castelo de Tourém - da Piconha e mais tarde o castelo do
13
Costa, João Gonçalves da – Montalegre e Terras de Barroso, p. 52
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
16
Ecomuseu de Barroso
Portelo em Sendim, junto á Vila de Montalegre. São atribuídos forais a Tourém,
provavelmente por D. Sancho I em 1187, como cabeça das Terras da Piconha. Só em 9
Junho de 1273 é que D. Afonso III, em carta de foral, funda a vila de Montalegre e o
respectivo alcácer tornando-se cabeça das Terras de Barroso. Este foral é depois
confirmado por D. Dinis em 1289, por D. Afonso IV em 1340, por D. João II em 1491 e em
1515 D. Manuel converte-o em Foral Novo.
Fig. da Diciopédia 99, da Porto Editora.
Na sequência da Guerra da Independência, no reinado de D. João I, as Terras de
Barroso são oferecidas a D. Nuno, o Condestável do Reino. Estava formada a personalidade
deste povo afastado do mundo, pelo que as tropas Francesas tiveram problemas de grande
monta com os Barrosões, na ponte da Misarela, em 1809. 14
O concelho de Montalegre foi dividido em 6 de Novembro de 1836, criando-se o
município de Boticas e perderam-se, para o município de Vieira do Minho, o município de
Vilar de Vacas (sediado em Ruivães) e logo a seguir, o “Couto Misto” de Santiago de
Rubiás, Meaus, ficando o “enclave” de Tourém, com a rectificação da linha da Fronteira.
A história recente de Montalegre é igual a tantas outras das regiões do interior,
marcadas por uma forte emigração, pobreza económica e abandono crescente das
actividades económicas tradicionais, com excepção do fumeiro, actualmente a actividade
económica mais rentável, para um grande número de Barrosões.
O isolamento a que esteve votado durante muitos anos, acaba por se tornar o grande
responsável da sua mais valia, a sua pureza e genuinidade. O que é muito divulgado é
muito destruído.
14
Baptista, José Dias – O Castelo de Montalegre.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
17
Ecomuseu de Barroso
4.2.1. Caracterização Socio-económica
4.2.1.1. Demografia
O crescimento demográfico que se vinha a registar desde o século anterior tem o seu
ponto máximo nos anos 50. As primeiras perdas populacionais ocorrem com as migrações
ultramarinas de princípios do século. No entanto, é nos anos 20, e consequência da epidemia
pneumónica de 1919, que a queda se generaliza. Nos anos 60/70 registam-se perdas
substanciais como consequência da excessiva pressão demográfica pelo elevado número de
habitantes, a par do tipo de intervenção dos serviços florestais nos baldios, num meio onde a
produção estava vocacionada para a subsistência.
Só depois de 1974 os baldios voltaram a ser geridos pelas populações que, em muitos
casos, procederam à queima sistemática de grande parte da área florestada, para
recuperação de pastos, reanimando desta forma o sistema tradicional.
Dá-se uma profunda mudança da estrutura demográfica com a diminuição e o
envelhecimento da população. O desequilíbrio da organização social implica alguns
reajustes na quantidade de gado, tendo como principal consequência a descida do número
de efectivos.
Consequentemente, a diminuição da diversidade na utilização do espaço e a maior
dependência do exterior fazem com que o sistema actual de gestão seja frágil e vulnerável.
Contudo, as mudanças recentes põem em relevo, com maior evidência, a fragilidade da
montanha e sobretudo tornam-na muito vulnerável ao apoiar-se, o seu sistema produtivo
numa pequena porção do espaço económico disponível.
A obtenção da máxima produtividade por indivíduo para equiparar os seus salários aos
habitantes de outras zonas, passará pela especialização produtiva em produtos de alta
qualidade, assim como pela complementaridade com outras actividades não agrícolas, como
o turismo ou actividades relacionadas com o meio.
A nível demográfico é essencial referir a crescente diminuição da população residente,
com especial incidência o período de 1991 a 2001.
Ao analisarmos os dados dos períodos anteriores a 1991 é curioso vermos a evolução
populacional e o seu acentuado decréscimo. De facto, a população residente no concelho em
1960 era quase o dobro do que era em 1991. A diminuição mais drástica da população
ocorre entre as décadas de 60 e 70 devido ao fenómeno imigratório ter afectado com
acentuada intensidade a região.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
18
Ecomuseu de Barroso
Quadro 1: Evolução da População Residente em Montalegre entre 1960 e 2001
1060
1970
1981
1991
2001
Taxa de variação 1960/1970
Taxa de variação 1981/1990
Taxa de variação 1991/2000
32 728
22 925
19 403
15 464
12 762
- 34.7%
- 20.3%
- 17,47%
Fonte: INE
Inicialmente o fluxo migratório ocorria com maior evidência para o Brasil e para os EUA.
Contudo, hoje em dia as preferências alteraram-se para destinos como França, Alemanha e
Suíça. De facto, por ser uma zona de fronteira, as fugas para outros países está fortemente
marcada, especialmente para a vizinha Espanha/Andorra. Mas, não é só os fluxos
migratórios externos que acentuam o declínio da população residente, este é afectado
também pelos fluxos migratórios internos para os centros urbanos, de modo especial Braga,
onde quase existem prédios inteiros dos Barrosões.
É de salientar ainda que nenhuma das freguesias do concelho, nem mesmo a própria
sede do concelho, conseguiu apresentar um crescimento populacional entre 1991 e 2001,
como se pode verificar no Quadro 2.
Quadro 2: População Residente nas Freguesias do Concelho de Montalegre em
1991 e 2001 e Variação
Freguesias
Cabril
Cambeses do Rio
Cervos
Chã
Contim
Covelães
Covelo do Gerês
Donões
Ferral
Fervidelas
Fiães do Rio
Gralhas
Meixedo
Meixide
Montalegre
Morgade
Mourilhe
Negrões
Outeiro
Padornelos
1991
721
210
428
1 042
138
246
302
83
646
152
152
339
334
127
1 990
317
197
222
238
198
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
2001
640
141
328
928
100
186
254
72
547
116
104
235
235
127
1 817
275
144
196
203
151
Variação - %
-11,23
-33,85
-23,36
-10,94
-27,93
-24,39
-15,89
-13,25
-15,32
-23,68
-31,57
-30,67
-29,64
0
-8,69
-13,25
-26,9
-11,71
-14,7
-23,73
19
Ecomuseu de Barroso
Padroso
Paradela
Pitões das Júnias
Pondras
Reigoso
Salto
Santo André
Vilar de Perdizes
Sarraquinhos
Sezelhe
Solveira
Tourém
Venda Nova
Viade de Baixo
Vila da Ponte
140
274
226
268
280
2 375
329
587
509
183
266
218
421
1 001
305
119
221
201
193
200
1 867
271
532
378
145
214
185
401
781
255
-15
-19,34
-11,06
-27,98
-28,57
-21,39
-17,63
-9,37
-25,73
-20,76
-19,54
-15,13
-4,75
-21,97
-16,39
Fonte: INE
Ao analisarmos o Quadro 3 e comparando com as regiões mais próximas, constatamos
que o concelho de Montalegre regista uma densidade populacional muito reduzida. Esta
realidade pode ser causada pela dimensão do concelho, mas também pela oferta não ser
atractiva e não cativar a permanência de novas pessoas.
Ao compararmos a estrutura da população por idades entre 1991 e 2001,
representado no Quadro 3, verificamos que o concelho de Montalegre tem tido um
decréscimo em todos os grandes grupos de idades menos nos mais idosos, ou seja, o grupo
com 65 anos ou mais, em que houve um aumento, fazendo assim, com que o índice de
envelhecimento15 se tenha vindo a agravar.
Quadro 3: Estrutura da População por Grandes Grupos de Idade em 1991 e 2001
Boticas
Chaves
Montalegre
Valpaços
Vila Pouca de Aguiar
0 a 14 anos
1991 2001
1 561 821
8 236 6 269
3 120 1 671
4 523 2 654
3 946 2275
15 a 24 anos
1991 2001
1 141 819
6 626 6 251
2 079 1639
3 633 2 504
2 766 2151
25 a 64 anos
1991
2001
3 718
3 046
19 671 22 511
7 086
5 960
10 550 9507
7 800
7471
65 e mais anos
1991
2001
1 516 1 731
6 407 8 636
3 179 3 492
3 880 4847
2 569 3101
No caso do concelho de Montalegre, o envelhecimento populacional traduz-se
especialmente em situações de isolamento face à sociedade exterior16, abandono e declínio
social das pessoas, más condições de habitabilidade e de alimentação, forte apego à casa
e pouco envolvimento e participação na vida social. Acresce, que nesta região a forte
dispersão geográfica condiciona o contacto e as redes de relações sociais.
15
16
Relação entre a população residente com mais de 65 anos e a população dos 15 aos 64 anos
Muitos idosos encontram-se em situações de abandono e de solidão especialmente porque os seus familiares mais próximos emigraram
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
20
Ecomuseu de Barroso
Contudo, é de salientar os esforços por parte de algumas associações que prestam apoio
domiciliário e que têm proporcionado uma diminuição do grau de isolamento e de abandono
dos idosos.
O envelhecimento populacional é na generalidade acompanhado por um aumento de
dependência pecuniária face às prestações sociais do Estado e crescente incapacidade de
dinamização de uma agricultura de sobrevivência, anterior salvação para situações de
precariedade económica. Aqui a maioria da população activa trabalha no sector primário.
Sendo que as qualificações profissionais são muito carenciadas, o que acaba por ter
incidências negativas a nível de acesso e a nível da criação de novos empregos. Como tal, é
evidente a carência de recursos humanos tecnicamente qualificados, bem como actividades
empresariais que possibilitem oportunidades de emprego e capacidade de fixação local,
especialmente das camadas mais jovens. Torna-se crucial a aposta na educação e na
formação. Pois segundo dados de 2001 o concelho apresentou uma taxa de analfabetismo de
32,85 %.
Quadro 4: Taxa de Analfabetismo nas Freguesias do Concelho
de Montalegre em 2001
Freguesias
%
Cabril
33,9
Cambeses do Rio
28,7
Cervos
23,9
Chã
23,1
Contim
42,4
Covelães
32,9
Covelo do Gerês
24,5
Donões
24,7
Ferral
22,1
Fervidelas
28,9
Fiães do Rio
21,7
Gralhas
42,5
Meixedo
33,7
Meixide
22,2
Montalegre
11
Morgade
34,6
Mourilhe
42,7
Negrões
41,5
Outeiro
30,3
Padornelos
32,6
Padroso
20,6
Paradela
29,3
Pitões das Júnias
32,3
Pondras
16,5
Reigoso
22,3
Salto
16,9
Santo André
18,5
Vilar de Perdizes
24,2
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
21
Ecomuseu de Barroso
Sarraquinhos
Sezelhe
Solveira
Tourém
Venda Nova
Viade de Baixo
Vila da Ponte
Concelho
27,8
38,2
49,3
28,3
15
25,4
19,2
32,85
Fonte: INE
Resumindo, as dinâmicas demográficas do concelho de Montalegre são marcadas por
um progressivo e persistente envelhecimento populacional e apelam a um reconhecimento
desse factor bem como para a existência de um esforço no sentido de um maior
reconhecimento social das idades pós-activas, através da criação de incentivos para a criação
de novas oportunidades de emprego e re-inserção social. Por outro lado, conjugando as
principais características demográficas com as debilidades das competências educativas e
profissionais da população, num contexto de emprego marcadamente insuficiente e
tradicional, poderemos antever a necessidade de reestruturação urgente da oferta de
formação e de educação e da dinâmica empresarial local no intuito de responder à
composição e ao perfil da mão-de-obra local. A falta de dinamismo populacional torna
evidente a falta de dinamismo da economia local.
Em termos de estrangulamentos populacionais, podemos apontar a manutenção dos
movimentos migratórios, a estrutura etária duplamente envelhecida, o continuo decréscimo
populacional, a incapacidade de renovação das gerações, as projecções demográficas
negativas, a perda generalizada de população em quase todos os aglomerados e o
isolamento da população mais jovem.
Quanto a potencialidades populacionais, podemos indicar os movimentos internos de
população para os centros principais, o crescimento populacional, a melhoria da oferta de
equipamentos e serviços, a diversificação económica e a melhoria da qualidade de vida na
vila de Montalegre.
4.2.1.2. Transportes e Comunicações
O concelho de Montalegre dispõe de uma central de camionagem localizada na sede
do concelho, que diariamente efectua viagem entre Montalegre – Chaves/Chaves –
Montalegre; Montalegre – Braga/Braga – Montalegre; Montalegre – Venda Nova.
Em termos de taxis existentes no concelho, salienta-se que quase todas as freguesias
dispõem de, pelo menos, um taxi, como se pode verificar no quadro abaixo.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
22
Ecomuseu de Barroso
Quadro 5: Nº de Táxis no Concelho
Freguesia
Cabril
Cervos
Chã
Covelães
Ferral
Gralhas
Montalegre
Morgade
Mourilhe
Outeiro
Paradela
Pitões das Júnias
Salto
Tourém
Venda Nova
Viade de Baixo
Vila da Ponte
Vilar de Perdizes
Nº de Táxis
3
1
2
1
1
1
6
1
1
1
2
1
4
1
2
2
1
1
Fonte: INE
Quanto a telefones públicos é de salientar que algumas freguesias do concelho têm um
ou mais, e há outras que continuam sem telefones públicos, como se pode confirmar no
quadro número 5, ilustrado abaixo.
Quadro 6: Número de Telefones Públicos no Concelho
Freguesia
Cabril
Cambeses do Rio
Cervos
Chã
Contim
Covelães
Covelo do Gerês
Donões
Ferral
Fervidelas
Fiães do Rio
Gralhas
Meixedo
Meixide
Montalegre
Morgade
Mourilhe
Negrões
Outeiro
Padornelos
Padroso
Paradela
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
N.º de Telefones Públicos
6
0
1
1
1
0
1
0
0
1
1
1
1
1
1
0
3
0
1
1
1
1
23
Ecomuseu de Barroso
Pitões das Júnias
Pondras
Reigoso
Salto
Santo André
Vilar de Perdizes
Sarraquinhos
Sezelhe
Solveira
Tourém
Venda Nova
Viade de Baixo
Vila da Ponte
1
1
1
1
1
0
1
1
0
1
1
1
0
Fonte: INE
Em termos de meios de divulgação da região, são muitas as pequenas publicações locais
que vão dando vida a este local. Existem os jornais dos tempos da 1ª República que
iniciaram a publicação em 1912: “O Barrosão” e “O Povo de Barroso”; em 1913 “O
Montalegrense”, “O Combate”, “Voz da Democracia” e o “O Crente de Barroso”.
Os jornais sempre contribuíram para o conhecimento dessa época e desta região.
Actualmente a comunicação social em Montalegre atravessa uma fase de nítida expansão. A
imprensa escrita, bem como a Rádio de Montalegre apostam cada vez mais na
modernização.
Nota-se que há uma revitalização na estrutura dos órgãos informativos com o intuito de
acompanharem a restruturação da região e do concelho, de forma especial, a nível das
tecnologias, com o surgimento de muitas páginas web, portais e mesmo bloogs.17
Actualmente existem os seguintes meios de divulgação da região, na impressa escrita:
17
Correio do Planalto
Dir. Dr. Bento da Cruz
Mensal
Fundado em 1974
R. Rodrigo Álvares, 61, 2º D.º
4300 PORTO
Tel. 276 512 575
Fax. 225 503 367
O Povo de Barroso
Dir. Prof. Roque
Quinzenal
Centro Comercial Cabrilho
Loja12, Apartado 36
5470 MONTALEGRE
Tel. 276 512 285
Fax. 276 511 079
Barroso a Terra e a Gente
Dir. Manuel António Pereira
Mensal
Residência Paroquial de
Montalegre
5470 MONTALEGRE
Tel. 276 512 153
Fax. 276 512 188
Notícias de Barroso
Dir. Padre Lourenço Fontes
Mensal
Fundado em 1972
VILAR DE PERDIZES
5470 MONTALEGRE
Tel. 276 536 143
Fax. 276 536 143
Vide anexo V – Janelas de Barroso para o mundo
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
24
Ecomuseu de Barroso
Terras de Barroso
Boletim da Câmara
Dir. Presidente da Câmara
Fundado em 1986
Câmara Municipal de Montalegre
Praça do Município
5470 Montalegre
Telefones: 276 512 254 – 276 512 256
Fax: 276 512 871
Email: [email protected]
Rádio Montalegre
Emite em 97.5 FM
Dir. Dr. Ricardo Moura
Travessa Luís de Camões
5470 Montalegre
Tel. 276 511 048
Fax. 276 511 064
Montalegrense
Dir. Carvalho de Moura
Mensal
Montalegre
Repórter TRANSMONTANO
Dir. Jorge Sousa
Semanário
Tel. 255 432 900
Notícias de Chaves
Semanário Regionalista
Rua de S. António, 39 –
Apartado 66
5400 Chaves
A Voz de Chaves
Semanário
Rua Artur Maria Afonso, 26
Apartado 125 - 5400 Chaves
[email protected]
Trás-os-Montes possui, ainda, actualmente, a RTP regional, e correspondentes da SIC e
TVI; muitas rádios locais e os correspondentes da Rádio Renascença e TSF. As pequenas
publicações, além de animarem a vida local permitem uma ligação muito desejada aos
emigrantes que se encontram espalhados por todo o mundo, sendo estes os leitores mais
assíduos.
Existem também vários sites de Internet que divulgam e promovem a região.18
As vias de comunicação existentes no concelho são as seguintes:
¾ EN 103 – Viana do Castelo – Barcelos – Póvoa de Lanhoso – Vieira do Minho –
Montalegre – Boticas – Chaves – Vinhais – Bragança;
¾ EN 103 – 8 – Montalegre – proximidade de Vieira do Minho;
¾ EN 308 – Montalegre – proximidades de Vieira do Minho;
¾ EN 308 – 4 – Montalegre;
¾ EN 308 – 5 – Montalegre;
¾ EN 311 – Fafe – Cabeceiras de Basto – Montalegre – Boticas – Chaves;
¾ EN 311 – 1 – Montalegre.
A rede viária apresenta condições físicas desfavoráveis (território bastante
acidentado), apresenta uma fraca acessibilidade inter-regional e às grandes vias
18
Vide Anexo V – Janelas de Barroso para o mundo
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
25
Ecomuseu de Barroso
estruturantes da região e apresenta deficiências na largura, pavimentação e traçado das
vias existentes.
Contudo, a rede viária apresenta, também, potencialidades tais como: a manutenção
das estradas 103 e parte da 308 na rede nacional, a melhoria de parte das estradas que
ligam o concelho ao exterior e conectam com aglomerados importantes, as intervenções nos
acessos à sede de concelho e a existência de programas de apoio financeiro à melhoria das
acessibilidades.
A região não tem muitas alternativas de transporte, pois não é coberta por uma rede
ferroviária nem por uma rede aérea.
No que diz respeito aos transportes e às vias de comunicação podemos constatar que
entre alguns aglomerados e a sede de concelho os transportes públicos estão ausentes,
existe uma rarefacção da procura de transportes públicos dificultando a rentabilização de
novos circuitos, o número de telefones é reduzido e no quadrante sul do concelho existem
equipamentos reduzidos nos serviços de correios. Mas existem programas que financiam o
melhoramento das redes nas áreas rurais, que podem ser usados para as melhorar.
4.2.1.3. Saúde Pública e Segurança
O Centro de Saúde de Montalegre encontra-se subaproveitado devido à falta de
médicos e técnicos de saúde. A distribuição da população, a dispersão das aldeias e as
acessibilidades das freguesias, exigem nove Extensões do Centro de Saúde espalhadas pelo
concelho.
As farmácias existentes no concelho são 6, distribuídos por apenas 4 freguesias.
A inexistência de serviços médicos especializados, obriga, muitas vezes, a população a
procurá-los nos concelhos vizinhos de Chaves e Braga e também na vizinha Galiza.
Existem 11 Jardins-de-infância no concelho, em que os das freguesias de Montalegre e
de Salto se encontram sobreocupados e os restantes sub-ocupados devido à falta de
crianças.
O concelho dispõe apenas de 2 Lares de Idosos, um da Santa Casa da Misericórdia –
Lar de São José – localizado na sede do concelho e outro na freguesia de Salto e um Centro
de Dia na freguesia de Vilar de Perdizes.
No concelho existem estrangulamentos na saúde e na segurança social nomeadamente o
sub-aproveitamento das instalações e equipamentos do Centro de Saúde de Montalegre, o
reduzido leque de serviços e valências prestados, dificuldades de fixação de médicos e
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
26
Ecomuseu de Barroso
técnicos de saúde no concelho, penalização da população na obtenção de cuidados
diferenciados, dificuldades de responder à procura no período estival, estrangulamento
funcional da extensão de Saúde de Salto, inexistência de rede de equipamentos de apoio à
terceira idade, sobrecarga do lar de S. José em Montalegre e apoio domiciliário à terceira
idade pouco divulgado.
Contudo no concelho também existe um número e distribuição espacial dos equipamentos
de saúde adequados à população, melhoria da acessibilidade aos equipamentos, boas
instalações do Lar de S. José e iniciativas espontâneas de apoio aos idosos.
No que respeita à Protecção Civil, embora os meios disponíveis apresentem capacidade
de resposta às solicitações, o concelho apresenta um baixo índice de profissionalismo das
associações de Bombeiros e a inexistência de instalações próprias para os Bombeiros do
Baixo Barroso – Salto.
Existe também um posto da GNR na vila de Montalegre e um em Venda Nova.
4.2.1.4. O Ensino
No concelho existem os seguintes estabelecimentos de ensino:
Î Nº de estabelecimentos de educação pré-escolar – 18;
Î Nº de estabelecimentos de ensino básico de 1º Ciclo – 57;
Î Nº de estabelecimentos de ensino Básico 2º Ciclo – 2;
Î Nº de estabelecimentos de ensino Básico 3º Ciclo – 2.
No geral os equipamentos de educação apresentam alguns estrangulamentos,
nomeadamente o forte isolamento dos alunos; a escassez de equipamentos e infra-estruturas
de apoio, na maioria das escolas; necessidade de obras de conservação em alguns
estabelecimentos; fraca integração da escola na comunidade; a restruturação da rede
escolar que trás encargos suplementares à autarquia; população adversa ao encerramento
de escolas; pulverização de competências e consequentemente compartimentação de visões.
Os jardins de infância apresentam condições precárias de funcionamento, reduzido
número de utentes em aglomerados isolados e sobrelotação e prestação de serviços
complementares em más condições no jardim-de-infância de Montalegre.
Cerca de 50% das escolas do 1º ciclo funcionam com menos de 10 alunos.
No 2º, 3º ciclo e secundário existem em funcionamento várias tele-escolas com razoável
número de alunos, existe uma escola preparatória em instalações provisórias, existe uma
dificuldade de acesso ao ensino secundário da população das freguesias mais excêntricas e
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
27
Ecomuseu de Barroso
existe uma fraca diversificação e adequação local/regional do ensino vocacional e técnicoprofissional.
Contudo, o concelho apresenta também algumas potencialidades, como o funcionamento de
um novo jardim-de-infância em Montalegre, o encerramento de equipamentos sub-lotados e
isolados e consequente melhoria das escolas a funcionar, a existência da Escola Profissional da
Borralha, equipamentos de ensino ajustados à distribuição da população e a abrangência
razoável da rede de transportes escolares.
4.2.1.5. Cultura, Recreio e Desporto
O concelho de Montalegre dispõe de uma Biblioteca Municipal aberta ao público
localizada na vila de Montalegre.
Abriu muito recentemente um espaço dedicado à Internet, na vila de Montalegre, que
pode ser utilizado a titulo gratuito.
Neste momento está encerrado para obras, o Museu de Montalegre que se encontra
instalado no Castelo e onde se podem encontrar achados arqueológicos e variadas peças
de artesanato local. Também existe uma exposição do património etnográfico na sala do
Centro Social e Cultural de Vilar de Perdizes.
Quadro 7: Núcleos Culturais, Associações Desportivas e Recreativas
Freguesia
Cabril
Cervos
Chã
Covelães
Covelo do Gerês
Gralhas
Meixide
Montalegre
Nome da Associação
Associação de Caçadores de Cabril
Associação de Caçadores de Fafião
Cooperativa de Ocupação dos Tempos Livres – Trote Gerês
Associação “A Colmeia”.- Barracão
Associação de Caçadores do Leiranco
Clube de Caça e Pesca do Alto Rabagão
Associação de Caçadores da Mourela
Associação de Caçadores de Covelo do Gerês
Associação Cultural de Gralhas
Grupo Etnográfico de Meixide
AJAB – Associação de Jovens Agricultores de Barroso
Associação Clube de Caça e Pesca “Os Barrosões
Associação Cultural de Barroso
Associação de Caçadores e Pescadores Montalegrenses
Associação de Defesa e Animação do Património Cultural de
Barroso - “A Croça”
Associação Defesa do Ambiente
Associação Animalegres - Monteatro
Associação “O Boi do Povo”
Associação “O Burel”
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
28
Ecomuseu de Barroso
Morgade
Outeiro
Padornelos
Paradela
Pitões das Júnias
Salto
Travassos
Venda Nova
Viade de Baixo
Vilar de Perdizes
Centro Desportivo e Cultural de Montalegre
Grupo Desportivo e Cultural de Montalegre
Grupo Nacional de Escutas – Agrupamento 1115 Montalegre
Papaventos – Clube de Desportos de Montanha
Associação Desportiva e Cultural Colmeia
Associação Amigos da Cabana – Associação Cultural e
Recreativa
Associação de Caçadores e Pescadores “A Cernada”
Associação Cinegética do Larouco
Associação de Caçadores e Pescadores “A Cernada”
Centro Cultural de Paradela
Clube de Caça e Pesca de Paradela do Rio
Associação de Caçadores da Mourela
O Fiadeiro de Pitões das Júnias
Rancho Folclórico de Pitões
Associação das Minas da Borralha
Associação de Caçadores da “Serra da Maça” - Minas da
Borralha
Associação de Caçadores do Alto da Seixa
Associação Florestal do Barroso
Grupo de Cantares de Salto
Grupo Desportivo e Cultural das Minas da Borralha
Grupo Desportivo e Cultural de Salto
Grupo do Jogo do Pau
Associação de Caçadores de Sezelhe
Rancho Folclórico de Venda Nova
Associação Cultural de Parafita
Associação de Caça de Vilar de Perdizes
Associação de Defesa o Património Cultural de Vilar de
Perdizes
Carqueja – Plantas Aromáticas de Vilar de Perdizes
Grupo Desportivo e Associação Cultural e Recreativa de Vilar
de Perdizes
Grupo Desportivo de Vilar de Perdizes
Grupo Etnográfico de Vilar de Perdizes
Rancho Folclórico de Vilar de perdizes
Fonte: Câmara Municipal de Montalegre
Em termos de equipamentos desportivos, o concelho dispõem essencialmente, de
equipamentos virados para o futebol, como se pode verificar pelo quadro abaixo ilustrado,
embora recentemente tenham aberto as Piscinas Municipais, e estão neste momento a iniciar
as obras do futuro pavilhão multiusos.
Quadro 8: Equipamentos Existentes no Concelho
Freguesia
Cabril
Cambeses do Rio
Cervos
Chã
Covelães
Equipamento
3 Grandes Campos de Jogos
Grande Campo de Jogos
Grande Campo de Jogos
Campo Eiras
Campo Penedo
Grande Campo de Jogos
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
29
Ecomuseu de Barroso
Covelo do Gerês
Ferral
Fervidelas
Gralhas
Meixedo
Meixide
Montalegre
Morgade
Mourilhe
Padroso
Paradela
Pitões das Júnias
Salto
Santo André
Serraquinhos
Sezelhe
Solveira
Tourém
Venda Nova
Viade de Baixo
Vilar de Perdizes
2 Grandes Campos de Jogos
EDP – Vila Nova
Grande Campo de Jogos
Grande Campo de Jogos
Campo Bola
Grande Campo de Jogos
Campo Rolo
Campo Rolo – Pista de Atletismo
Escola secundária – Polidespostivo
Pavilhão Gimnodesportivo – Sala de
desporto
Pavilhão Gimnodesportivo (C.M.M.)
Piscinas Municipais
Campo Criande
Campo Futebol
Grande Campo de Jogos
Campo Beiçais
Grande Campo de Jogos
Campo Outeiro Seco
Campo P. Manuel Jorge
Campo António Santos – Borralha
Pavilhão Polivalente – Borralha
Grande Campo de Jogos
Campo Moutas
Campo Futebol
Grande Campo de Jogos
Campo Futebol Lomba
Grande Campo de Jogos
Grande Campo de Jogos
Grande Campo de Jogos
Campo Laje
Fonte: Câmara Municipal de Montalegre
O concelho dispõe também de alguns salões de festas utilizados em diversas ocasiões.
Quadro 9: Salões de Festas Existentes no Concelho
Freguesia
Chã
Covelo do Gerês
Ferral
Montalegre
Paradela
Santo André
Número de Salões de Festas
1
1
1
1
1
1
Fonte: Câmara Municipal de Montalegre
Em todo o Concelho de Montalegre existem apenas duas escolas de música/dança e
artes: uma na freguesia de Ferral e outra na vila de Montalegre.
Em termos de estrangulamentos na área da cultura, recreio e desporto existem
dificuldades de manutenção e dinamização das associações culturais e recreativas, existe
uma precariedade da capacidade financeira das associações, existe uma oferta pouco
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
30
Ecomuseu de Barroso
diversificada de iniciativas (essencialmente desportivas), predominam os equipamentos
desportivos de base, existe uma degradação de alguns equipamentos desportivos por falta
de uso, existem dificuldades no equipamento e manutenção da Biblioteca Municipal e existe
pouca abertura e integração dos equipamentos topo de gama com a realidade local.
Contudo, o concelho apresenta também algumas potencialidades como um número e
distribuição espacial aceitável de associações de carácter recreativo e cultural,
apresentação de um forte dinamismo das associações locais, a instalação recente da
Biblioteca Municipal, com um espólio de 20 000 livros, a constituição do Ecomuseu do
Barroso, o contributo do turismo para a dinamização de iniciativas e dos equipamentos
existentes e a exploração do património cultural e natural existente no concelho.
4.2.1.6. Serviços e Comércio
As instituições públicas como a Repartição de Finanças, o Cartório Notarial, a
Conservatória do Registo Civil, a Conservatória do Registo Predial, a Conservatória do
Registo Comercial, o Tribunal e o Posto Policial estão localizadas na sede de Concelho.
O concelho dispõe da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Montalegre
e da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Baixo Barroso na freguesia de
Salto.
Existem 5 agências bancárias na freguesia de Montalegre e uma na freguesia de Salto
que disponibilizam também serviço de multibanco.
Também somente localizadas na vila de Montalegre existem uma agência de seguros,
uma agência imobiliária, uma agência de viagens, seis escritórios de advocacia, o mercado
municipal e dois gabinetes de construção civil.
No que respeita a escolas de condução, existem duas no concelho: uma na freguesia de
Montalegre e uma na freguesia de Salto.
Quanto a gabinetes de contabilidade existem três na freguesia de Montalegre e um na
freguesia de Salto.
Respeitante a reparação de veículos motorizados existem 5 postos na freguesia de
Montalegre e três na freguesia de Salto.
Referente a mercearias que oferecem vários serviços, a realidade é que existe pelo
menos uma em cada freguesia do concelho.
Em termos de lojas mais especializadas estas encontram-se especialmente localizadas na
freguesia de Montalegre.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
31
Ecomuseu de Barroso
4.2.1.7. Desenvolvimento Económico
Montalegre enquadra-se na região agrária de Trás-os-Montes, caracterizada por um
território de matriz predominante rural, onde se podem encontrar alguns núcleos urbanos de
pequena dimensão.
Os constantes movimentos migratórios e as tendências de regressão demográfica têm
atingido a vida rural e a própria agricultura numa tendência de desequilíbrio e de
retracção.
Hoje, a agricultura, para além da sua função primordial, que se prende com a produção
de bens alimentares, cumpre ainda outras funções de grande relevância para a estruturação
do território: a sua ocupação geográfica, a dinamização de outras actividades no meio
rural, como por exemplo o artesanato, o turismo, a gastronomia, a manutenção das
paisagens, dos agro-sistemas, do ambiente, etc.
Em comparação com as regiões do Alto Tâmega, o concelho de Montalegre é o que
apresenta maior área de terrenos incultos, na sua maioria utilizados fundamentalmente com
prados e pastagens comunitárias (baldios).
A base produtiva do sector agrícola assenta em explorações fundiárias de pequena
dimensão, e na maior parte dos casos de natureza familiar, onde predomina uma
agricultura de subsistência em minifúndio. O sector é, por isso, pouco produtivo, pouco
rentável, pouco modernizado, sem recurso a novas tecnologias, praticado por uma
população maioritariamente idosa e sem qualificação escolar e profissional.19 Devido a
estes factos, os agregados familiares, em especial os do sexo masculino, têm vindo a
procurar outras fontes de rendimento, principalmente na construção civil.
Em termos de tipologia de utilização da terra assumem especial relevo os prados e as
pastagens permanentes, os cereais para grão, a batata de semente, as hortas familiares, os
prados temporários e os prados e pastagens permanentes. Contudo, o grande destaque do
concelho de Montalegre prende-se com a produção de carne e do fumeiro tradicional.
A comercialização dos produtos locais é ainda realizada sob moldes tradicionais, sendo
de destacar a existência de dificuldades a nível de escoamento de produtos devido à
deficiente rede de acessos ao concelho e à debilidade de estruturas de comercialização e
de normalização a nível local.
Devido a diversos factores que estão neste momento a debilitar o sector agrícola e até o
abandono da actividade, é imperioso encontrar novas formas de reestruturação das áreas
rurais.
António Fragata e José Portela, “Agricultores idosos de Trás-os-Montes: Exclusão e Reconhecimento”, in Análise Social, n.º 156, Vol.
XXXV, 2000
19
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
32
Ecomuseu de Barroso
A riqueza patrimonial e paisagística do concelho pode ser rentabilizada através de uma
série de usos com fins recreativos, lúdicos e de entretenimento. A crescente procura do
concelho pode proporcionar o desenvolvimento de actividades económicas que se
relacionam directa e indirectamente com o turismo.
O aumento da procura de residências secundárias nas aldeias, assume um papel
importante de recuperação ou reconstrução de casas degradadas, que podem e devem
manter a traça arquitectónica tradicional.
Predomina a agricultura familiar, praticada por uma população envelhecida e pouco
qualificada, com fracos escoamentos de produtos, financeiramente debilitada, mas
produtora de uma grande diversidade agro-ecológica e com produtos de reconhecido valor.
Devido às alterações sofridas pelo meio rural, o aproveitamento dos espaços de grande
qualidade ambiental e paisagística é feito através de actividades de lazer20.
As actividades primárias apresentam uma forte dependência, a integração sectorial é
reduzida, a diversificação e o dinamismo do tecido produtivo é fraca, com uma dependência
do mercado local reduzido e pouco exigente, com um fraco dinamismo empresarial, existem
empresas de pequenas dimensões com estrutura familiar; má qualificação dos empresários e
da mão-de-obra, e um desconhecimento geral dos sistemas de incentivos à actividade
produtiva e existe um sub-aproveitamento dos recursos endógenos.
A população activa no concelho de Montalegre é de 3 818. Apresentando o sector
primário 1035 activos, o sector secundário 1011 e o sector terciário 1718 (na sua grande
maioria da função pública.
A actividade mais representativa no sector secundário é o ramo da construção civil,
obras públicas que tem um peso maior, seguido pela extracção de minerais.
A fraca capacidade empresarial instalada e canais de comercialização pouco
desenvolvidos, impedem a fixação dos investimentos. O PIB deste território é um dos mais
baixos do país, o que traduz a necessidade de concertar forças e formas de criação de
riqueza regional.
No sector primário, há uma reduzida dimensão e elevada fragmentação das
explorações, com uma área irrigada pouco significativa, e um forte envelhecimento dos
empresários agrícolas, existe uma fraca integração do sector animal e vegetal, e uma baixa
taxa de arborização, com um carácter depreciativo e residual que a floresta assumiu e
grandes dificuldades de escoamento dos produtos.
20 Muito ligado à liberdade de escolha. É um conceito mais restrito que tempo livre. Tempo em que, depois (e dentro do tempo livre) de
todas as obrigações realizadas, temos para fazer actividades de que gostamos (passeio) está relacionado com o conceito de tempo e
espaço, tenho de ter espaço para praticar as actividades. Está ligado a uma actividade de espirito.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
33
Ecomuseu de Barroso
No respeitante ao sector secundário existe uma reduzida representatividade do sector
industrial e o recurso a tecnologias, métodos de trabalho e de gestão tradicionais.
No respeitante ao sector terciário não existem instalações específicas para o comércio
retalhista no Sul do concelho, mas sim um fraco desenvolvimento e diversificação do sector;
os serviços existentes coincidem praticamente com a administração pública e os de apoio à
população (educação e saúde) e existe uma fraca qualidade na prestação de serviços,
nomeadamente na hotelaria e restauração.
No entanto, o concelho apresenta também potencialidades como a especialização em
culturas adaptadas às condições climáticas (ex. batata de semente); condições propícias ao
incremento das culturas forrageiras; condições fortemente favoráveis ao desenvolvimento da
pecuária; produção de madeiras de qualidade; existência de regimes de dupla-actividade
e pluri-rendimento; existência de um pólo da Direcção Regional de Agricultura, e potencial
investigação da agricultura de montanha; possibilidade de desenvolver a articulação
sectorial, onde os produtos primários sejam transformados no concelho através, por exemplo,
das artes e ofícios tradicionais; implementação da área industrial de Montalegre;
desenvolvimento de aquacultura nas águas das albufeiras; condições favoráveis à
exploração de rochas ornamentais; temos condições extremamente favoráveis às
actividades turísticas (recursos cinegéticos, riquíssimo património natural, histórico e
arqueológico, gastronomia, etnografia e qualidade da paisagem) e o concelho encontra-se
integrado numa região de turismo; consumo de serviços em crescimento e os sistemas de
incentivos existentes, para os três sectores de actividade, apresentam majoração na taxa de
subsídios.
4.2.1.8. Povoamento e Espaço Construído
Devido à existência de uma população com fracos recursos financeiros, as condições de
habitabilidade e de conforto não são agradáveis, uma vez que ainda faltam infraestruturas básicas nos alojamentos e muitas casas têm carência de conservação.
A população emigrante tem tendência a construir, fora do centro da aldeia, casas de
materiais não tradicionais, que não respeitam a arquitectura tradicional e que desfigura a
paisagem. Contudo, a crescente procura de casas nas aldeias para residência secundária é
um veículo motor para a dinamização de espaços abandonados.
O topo da serra, tem como recurso fundamental o pasto, que em alguns casos é
completado pelo cultivo de terras. A intensificação agrícola é apoiada pela fertilização das
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
34
Ecomuseu de Barroso
terras por parte do gado, assim como pela presença permanente de água para rega,
principalmente dos pastos.
O nível de culturas permanentes situa-se nas partes baixas das encostas onde os solos
são mais profundos e férteis pelos contínuos fornecimentos minerais, orgânicos e hídricos
desde as vertentes, assim como pelo uso continuado, com o consequente aumento de
fertilizantes ou condicionamento do terreno.
Nos meses de verão, a falta de precipitações, a estagnação dos cursos de água, de
carácter pluvial e o forte escoamento produzido pelos acentuados declives, resulta num
défice hídrico, dependendo das possibilidades de regas. A criação de uma rede de
regadios que traduzem água captada nas partes mais altas da montanhas, nas nascentes
dos cursos de água, e durante quilómetros de percurso é distribuída pelos campos através
de um complexo para rega.
A organização social baseia-se na abundância de mão-de-obra e uma forte coesão nas
relações de trabalho. Uma vez que só assim se podem manter os sistemas de pastoreio
(vezeiras) e investiram-se grandes esforços na conservação das estruturas de exploração
(trilhos, etc.) e na sustentação de práticas comunitárias na gestão do espaço.
As condições naturais unidas à forte fragmentação do relevo, provocam a divisão do
meio condicionando a sua ocupação. A distribuição do povoamento reflecte a influência dum
conjunto de condicionantes físicas muito marcadas, consequência da evolução do meio e dos
processos que afectaram o espaço geográfico, tanto do ponto de vista dos processos
naturais como dos de carácter humano. Assim, a ocupação do espaço relaciona-se com a
actividade económica, com os diferentes usos do solo no que diz respeito à sua aptidão, e
com o comportamento integral de toda a área como consequência das fortes restrições que
o meio impõe.
Os núcleos de povoamento concentram-se numa reduzida área, no sopé das montanhas,
ficando a maior parte do território isenta de ocupação habitacional se bem que não de uso.
O funcionamento em sistema fechado e auto-suficiente implicou um mecanismo autolimitante: o território foi explorado ao máximo das suas capacidades sem ultrapassar os
seus limites de produção e renovação, sob pena de destruir o património natural e os
suportes produtivos para as gerações futuras. Trata-se de um sistema inteligentemente
estruturado e funcional, com um longuíssimo tempo de amadurecimento, a aptação e
experimentação, o qual, pela sua solidez resistiu às adversidades políticas, sociais e
económicas ao longo dos anos, permanecendo em funcionamento até aos nossos dias.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
35
Ecomuseu de Barroso
Da observação do terreno parece ser que os primeiros lugares, num processo de
ocupação progressiva, foram localizados nas áreas mais favoráveis, onde puderam, com
menor dificuldade, explorar maior área de cultivo.
Ao abordar o habitat rural em zonas de montanha, deparamos com invariáveis nos
factores de localização dos lugares – o Homem elegeu a implantação da sua ladeia em
função de condicionantes e requisitos básicos ao desenvolvimento da actividade agropastoril. Respondeu à localização numa área intermédia entre campos e serra, ao
aproveitamento máximo do terreno arável, à escolha de um local protegido das enxurradas,
aprovisionado de água, resguardado dos ventos e bem orientado.
Para além da condicionante geográfica, o modelo cultural e a economia agro-pastoril
têm também um papel decisivo na interpretação do aglomerado. Cada núcleo em si, resulta
de um processo de ocupação relativamente alargado no tempo. Deste decurso no tempo
resulta necessariamente um conjunto de imponderáveis traduzido no carácter espontâneo
que achamos na fisionomia dos aglomerados.
Embora a forma dos aglomerados surja assim condicionada por factores físicos e
humanos e cada um dos locais de implantação dê lugar a soluções próprias, existem, dado
que se trata de uma mesma concepção de espaços e de uma idêntica cultura aplicadas em
situações distintas, esquemas funcionais e de estrutura semelhantes.
A forma do núcleo aproxima-se à da área de menor ou nula aptidão agrícola,
seleccionada para a sua implantação. A estrutura da rede de caminhos no interior do
aglomerado é condicionada pela necessidade de acesso aos campos, aos regadios, às eiras
e aos locais de trabalho. O conjunto edificado adquire um carácter homogéneo, resultado
da repetição constante de pequenas unidades de construção que se associam por forma a
criar uma variedade de soluções. À excepção das eiras, os espaços livres entre construções
são os estritamente necessários para a passagem de pessoas, carros de bois e para
algumas actividades de trabalho.
As aldeias Barrosãs são pequenas e estreitamente aglomeradas, e localizam-se distantes
umas das outras, nos vales ou nas encostas, protegidas assim contra as ventanias. As casas,
alinhadas ao longo de ruelas tortuosas, em regra toscamente calcetadas, são ajustadas a
uma economia pobre e de pequena propriedade; extremamente rudes e primitivas, de
granito, pequenas, quase sempre em blocos apenas talhados à medida e sem qualquer
reboco exterior, têm dois pisos, com escassas e toscas aberturas, antigamente com cobertura
de colmo, e abrigam, algumas delas, as pessoas no andar de cima e os animais e produtos
da terra no andar de baixo.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
36
Ecomuseu de Barroso
Estas aldeias possuíam uma organização e determinadas instituições de tipo comunitário,
que ainda podem ser visíveis hoje; ex. a Vezeira – cada pessoa levava, à vez, para os
pastos do monte o boi do povo que tinha estábulo e pastagens próprias, a cargo de todos;
cada aldeia dispunha de um conselho, onde em conjunto deliberavam acerca de questões
que respeitavam à comunidade, utilização de baldios comunais, a vezeira, o boi do povo,
etc.; há moinhos, forjas, fornos do pão, etc.
De economia ainda hoje rural, agrícola e pastoril e o isolamento em que o Barroso viveu
até há poucos decénios dão a razão de uma atmosfera muito especial, de um grande
arcaísmo e cariz comunitário, que se respeita nestas aldeias, e da sobrevivência, de algumas
destas remotas formas, respeitantes ás actividades pastoris e à criação de gado, e também
a determinados aspectos da vida do grupo, em especial aqueles em que se evidencia um
forte sentido de unidade e coesão vicinal como os trabalhos agrícolas que requerem muita
gente e animais ao mesmo tempo.
Com a melhoria das condições de vida das populações, devida em grande parte à
emigração, iniciou-se um grande surto de construção, com utilização de novos materiais
actualmente disponíveis, mas nem sempre bem utilizados construtiva e economicamente.
O desperdício de dinheiro começa quase sempre pela demolição das casas velhas, sem
condições de habitabilidade, para que no espaço deixado livre se erga um novo edifício
que vá enfim proporcionar a comodidade desejada. Mas cada vez que uma casa velha é
destruída, desaparece um pouco da vivência colectiva.
O homem construía as casas para se defender e abrigar da própria natureza. As casas
tradicionais são o resultado de milhares de anos de aperfeiçoamento e adaptação ao meio
ambiente. Os homens construíam as próprias casas, com os materiais que a experiência
recomendava e a maneira de construir era um conhecimento comum, pois pertencia à cultura
dos povos.
Todos os povos têm a sua cultura e a arquitectura popular é sem dúvida um dos seus
aspectos mais importantes. Com a evolução da técnica, surgiram novos materiais de
construção cuja aplicação garante bons resultados, mas não resultam da experiência e
conhecimento popular. Com a aplicação destes novos materiais e de outras formas e
processos de construção, trazidos de outras terras e aos quais se chegou pelas condições
climatéricas e ambientais desses locais, vem-se perdendo o conhecimento popular da
construção, ou seja, parte da própria cultura.
O desaparecimento constante de construções que testemunham toda uma organização
agro-pastoril do mundo rural, tem preocupado várias gerações. Os espigueiros, moinhos,
fornos, lagares de azeite, pisões, serrações de madeira e abrigos do gado e do pastor são
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
37
Ecomuseu de Barroso
peças etnográficas e arquitectónicas de elevado valor que fazem parte do nosso património
histórico e antropológico. O seu enquadramento paisagístico, as diversas formas de
adaptação ao local, os vários exemplos de aproveitamento energético, todo o tipo de
trabalhos comunitários que os envolve, entre outros aspectos, fazem deles elementos
importantes na história destas comunidades serranas. Representam importantes testemunhos
de um tipo de organização sócio-económica, de raiz antiga e aperfeiçoada geração após
geração em que o Homem dominava uma tecnologia simples de aplicação de força animal e
energia hidráulica, enfrentando no dia-a-dia o desafio da auto-suficiencia e da
sobrevivência com os simples trunfos da perseverança, da solidariedade da comunidade e
do respeito pela natureza.
4.2.1.9. O Sector Turístico em Montalegre
A região de Montalegre aparenta problemas de carácter estrutural, uma posição
periférica e marginal no território e no processo de desenvolvimento nacional, acentuada
por uma acessibilidade reduzida, pela insuficiência de recursos humanos jovens qualificados,
pela desvitalização social das comunidades locais e pela fraca capacidade reivindicativa
face à administração central.
Apresenta ainda estrangulamentos específicos no sector do turismo, bem como
algumas potencialidades:
Estrangulamentos
Reduzida capacidade de alojamento turístico
e crescente degradação de alguma oferta
mais antiga
Escassez de equipamentos complementares e
de apoio ao turismo e de animação turística
Subaproveitamento dos recursos endógenos
e dos instrumentos de apoio ao
desenvolvimento do turismo
Grande dependência face a operadores de
viagens e turismo externo à região
Afastamento dos principais centros emissores
de turistas e fraca procura turística interna
Potencialidades
Reservas naturais de grande valor
Grandiosidade e originalidade
paisagística
Riqueza de património histórico,
arquitectónico e cultural
Elevado potencial par a prática de
desportos aquáticos, pesca e caça
Expansão e modernização da oferta
de alojamento hoteleiro e de
parques de campismo
Escassez de recursos humanos e falta de Participação crescente da população
formação profissional e empresarial ligada nas iniciativas turísticas
ao sector
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
38
Ecomuseu de Barroso
Insuficiente promoção turística
Pouca capacidade de investimento
Aumento dos fluxos turísticos interregionais de âmbito peninsular
Possibilidade de coordenação e
cooperação turística ao nível
transfronteiriço
É necessário ter em conta que o novo quadro de acessibilidades e o posicionamento
fronteiriço são potenciadores do incremento das relações com outras regiões do país e com o
território espanhol.
O desenvolvimento da região passa também pelo desenvolvimento turístico que deve ser
apostado não só pela Região de Turismo do Alto Tâmega e Barroso mas, primeiramente
pela Município de Montalegre.
A região, só pela oferta existente é uma grande atracção turística, digna de ser visitada
durante todo o ano, quer por turistas nacionais, quer por estrangeiros.
Em termos de turismo podemos constatar que a actividade económica tradicional está a
diminuir progressivamente, que a falta de profissionais na área recreativa é uma ameaça
para o desenvolvimento turístico da região e que os estabelecimentos existentes empregam
profissionais sem formação e sem qualificação.
Contudo, em termos turísticos, a região pode fazer um melhor aproveitamento da rede
viária transfronteiriça, onde as relações vivas com a Galiza podem ser dinamizadas através
da criação de áreas de influência por parte de entidades responsáveis de Portugal e
Espanha. O acréscimo de fluxos turísticos transfronteiriços através da aposta na maior
divulgação da região é uma oportunidade existente, bem como a oferta de um turismo
diversificado: turismo ambiental21, turismo rural, turismo cultural e a valorização do
património histórico existente.
Ainda em termos de turismo a região detém alguns pontos fracos, nomeadamente: a
falta de qualificação no comércio tradicional, a falta de actividades de âmbito cultural; a
falta de espaços recreativos e culturais, a falta de profissionais na área recreativa e a falta
de apoio à preservação do património histórico existente.
Por último, em termos de turismo, a região detém também alguns pontos fortes, tais
como: a facilidade da entrada de fluxos turísticos de Espanha; a facilidade de prática de
actividades como a caça, a pesca, desportos de aventura, pedestrianismo, bicicleta todo o
terreno, entre outras; a possibilidade de certificação de produtos de produção local e a
oferta gastronómica fortemente ligada aos produtos regionais pode ser inserida em
programas de promoção turística.
21 Orienta-se para actividades em áreas remotas de interesse paisagístico, referindo-se a turistas que viajam para um determinado sítio
natural tendo apenas em conta a amenidade e o valor recreativo resultantes do contacto com alguns aspectos do mundo natural.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
39
Ecomuseu de Barroso
Nesta região, a aposta numa estratégia de desenvolvimento turístico passará por:
•
Aproveitamento do potencial turístico das albufeiras e rios do concelho;
•
Valorização do património natural, cultural e histórico através do encorajamento aos
jovens para a prática de actividades de lazer, através de promoção de eventos
gastronómicos e de artesanato, através do levantamento do património histórico
existente, através de uma sinalética de informação turística de qualidade;
•
Formação de recursos humanos através da informação aos estabelecimentos de
turismo rural existentes, através do apoio a cursos de formação de activos na área
da hotelaria e restauração em colaboração com o Centro de Formação Profissional;
•
Estabelecimento de parcerias entre o sector publico e o sector privado através da
promoção de sessões de esclarecimento sobre a qualificação profissional no sector
turístico;
•
Plano de marketing proposto por entidades responsáveis onde seria envolvida toda
a comunidade relacionada directa e indirectamente com o turismo.
4.2.1.10. Actividades Turísticas Existentes na Região
As actividades de lazer praticadas na região são variadas: percursos pedestres,
bicicleta todo terreno, escalada, montanhismo, orientação e parapente.22
Quadro 10: Empresas de Animação Turística que Actuam no Concelho
Empresa
Contactos
Tipo de Actividades
Glaciar Aventura e Lazer
Av. Cidade de Orense - Lote- Actividades de montanha,
2, Loja- 2
5000 – 673 Vila Real
www.glaciaraventura.com
Desafios Desporto & Aventura, Vila Fria – Silva Escura
Actividades de montanha
L.da
3740-343 Sever do Vouga
www.desafios-lda.pt
NaTurBarroso – Promoção e Terreiro do Açougue
Percursos pedestres, BTT e
Organização de Eventos, L.da 5470 Montalegre
escalada
Existe um clube de desportos de montanha chamado Papaventos com sede em
Montalegre, que organiza percursos pedestres, passeios de bicicleta todo terreno, mas está
mais virado para o parapente, e em 2003 organizou o Campeonato Mundial a ter lugar na
Serra do Larouco.
22
Vide anexo IV – Estudo de mercado.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
40
Ecomuseu de Barroso
As práticas possíveis de desportos de Natureza no concelho de Montalegre, que
constituem um enorme ponto atractivo dos quais se irão tirar vantagens, passam por:
•
Pedestrianismo – em toda a área de percursos marcados, ou dentro dos limites do
Ecomuseu;
•
Escalada – Ponteira – Paradela do Rio;
•
Orientação – nos locais já com mapa de orientação;
•
Actividades Equestres – em toda a área do concelho de Montalegre, em especial na
Serra do Larouco e Salto;
•
Ciclismo – estradões de Montalegre e percursos no mapa oficial;
•
B.T.T. – em toda a área com percursos marcados e caminhos antigos;
•
Desportos de Recreio Motorizado – pista de Karting de Montalegre;
•
Desportos aquáticos e náuticos não motorizados – barragens;
•
Desportos náuticos motorizados – Barragem do Alto Rabagão desde que sejam
utilizados motor e combustível ecológicos e controlada a sua utilização nas barragens
de forma a não haverem impactes negativos;
•
Voo Livre – Serras do Larouco e Ourigo;
•
Jogos Populares – em áreas preparadas para esse fim, no concelho de Montalegre.
4.2.1.11. Alojamento
Embora existam estabelecimentos de alojamento em todo o concelho enunciam-se
somente os que de maior qualidade. A imagem e a dimensão do turismo, em Montalegre
está intimamente ligada com a capacidade de alojamento de grupos e a satisfação do
cliente em relação à imagem que o turista tem do concelho. Isto é alojamento simples, limpo,
agradável e quente para contrastar com o clima.
Quadro 11: Alojamento Existente no Concelho
Nome
Morada
Albergaria do Castelo R. do Castelo, 5470-242
MONTALEGRE
Albergaria Pedreira
Av. D. Afonso III, 5740242 MONTALEGRE
Casa da Travessa – TR Paredes do Rio, 5470-092
COVELÃES
Casa Sala do Capitão S. Vicente de Chã, 5470- Casa de Campo
077 CHÃ
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
Telefone e Fax N.º de Quartos
Tel.: 276 512 501
16
Tel.: 276 512 501
14
Tel. 276 566 121
Fax: 276 566 121
Tel.: 276 549330
3
3 suites
3
41
Ecomuseu de Barroso
Hospedaria Girassol
Hotel Quality Inn ****
O Rocha
Residencial Fidalgo
Residencial Girassol
Turismo de Aldeia
Hotel Rural
Casa do Outão
Hotel Rural
Casa dos Braganças
Casa dos Freitas
R. da Portela, 5470-219
MONTALEGRE
R. do Avelar, 2, 5470-235
MONTALEGRE
Paredes do Rio, 5470-092
COVELÃES
R. da Corujeira, 5470-219
MONTALEGRE
R. Lama do Moinho, 5470370 MONTALEGRE
Inatel Linhares Penedones, 5470
MONTALEGRE
Mourilhe
5470-490 Tourém
Montalegre
Tel.: 276 512 462
7
Tel.: 276 510 220
Fax: 276 510 229
Tel.: 276 566 147
42
Tel.: 276 512 462
10
Tel.: 276 512 715
7
Tel.: 253 613 320
Fax: 253 214 202
13
Tel. 276 510 260
16
Tel. 276 579 138
Tm. 919869300
965437143
10
12
8
Uma falha que a nossa oferta de alojamento ainda não resolveu, é não responder à
necessidade de estadia dos mais novos, que não se importam de dormir em camaratas ou
abrigos de montanha, desde que seja um local limpo e com aquecimento. O mesmo se passa
com os praticantes de actividades de montanha e radicais, gente disposta a gastar o seu
dinheiro em comida e actividades do que num alojamento que pouco tempo lá vão estar,
preferem desfrutar da região e das coisas boas que ela tenha para lhe oferecer.
4.2.1.12. A Restauração e os seus empresários
Não existe uma gastronomia específica desta região. Ela enquadra-se na típica
gastronomia minhota e transmontana com os seus pratos suculentos, abundantes e variados.
Essa variedade é dada tanto pela diversidade da paisagem como, também, pela
diversidade de povos que têm vindo a habitar esta região.
Predominam claramente as carnes, quer as fumadas (enchidos, presunto), quer as frescas
(porco, vitela, vaca), quer a caça. As sopas, à base de carne e legumes. Peixes, a truta, ou
espécies estranhas introduzidas agora nas albufeiras (barbo, boga e escalo), ou o bacalhau
tradicional.
A bola de carne ou folar; Feijoada e cozido, são pratos fortes desta região. Abóbora,
chila, noz, amêndoa, são frequentemente empregues na doçaria, onde pode entrar também
o sangue de porco. Mas , dentro deste contexto o Alto Barroso apresenta especificidade.
Uma sopa de água de unto; uma truta frita, com presunto; um bacalhau assado com pão
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
42
Ecomuseu de Barroso
centeio ou um bacalhau podre; um arroz de afogado, à base de sangue e miúdos de
cabrito; filhós no dia da matança, onde participa o sangue sacrificado do suíno.
Há porco fumado, cabrito estufado, assado ou em caldeirada, vitela barrosã assada,
cozida, frita ou grelhada, chouriça ou alheira com grelos.
Segue-se a apresentação dos restaurantes existentes no concelho, que podem servir
também de chamariz para a prova da gastronomia local.
Quadro 12: Restaurantes Existentes no Concelho
Nome
Adega O Fumeiro
D. João
Falta d'Ar
Floresta
Foz do Rabagão
Girassol
Nevada
O Brasileiro
O Pote Barrosão
Pedreira
Piano Bar O Castelo
Pizzaria Avenida
Quality Inn
Ricotero
Rocha
Rua
Terra Fria
Terra Fria II - A
Muralha
Morada
R. D. Afonso III
5470-241 MONTALEGRE
R. dos Ferradores
5470-242 MONTALEGRE
R. do Avelar
5470-235 MONTALEGRE
R. da Corujeira
5470-219 MONTALEGRE
S. Vicente da Chã
5470-071 CHÃ
R. Lama do Moinho
5470-370 MONTALEGRE
Bairro do Crasto
5470-362 MONTALEGRE
Praça do Município
5470-214 MONTALEGRE
R. do Outeiro
5470-237 MONTALEGRE
Av. D. Afonso III
5470-241 MONTALEGRE
Terreiro do Açougue
5470-235 MONTALEGRE
Av. Nun'Alvares Pereira
5470-203 MONTALEGRE
R. do Avelar
5470-225 MONTALEGRE
R.Reigoso
5470-238 MONTALEGRE
Paredes
5470-092 COVELÃES
S. Vicente da Chã
5470-071 CHÃ
R. Dr. Victor Branco
5470-245 MONTALEGRE
R. do Reigoso
5470-238 MONTALEGRE
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
Telefone
276 512 501
276 512 705
276 512 644
276 512 420
276 549 328
276 512 715
276 512 411
276 512 161
276 512 152
276 512 501
276 511 237
276 512 558
276 510 220 /
29
276 512 122
276 566 147
276 512 101
276 512 240
43
Ecomuseu de Barroso
4.2.1.13. Artesanato
Sendo esta uma região com uma cultura própria e antiga é natural que ao longo deste
território se encontrem vários saberes.
O artesanato é essencialmente de teor agrícola. Desde os jugos, arados, cestos, à capa
de burel usada nos dias frios de Inverno, até à croça de juncos usada pelos pastores,
passando pelos socos, pelas rendes e bordados em linho e trabalhos em tecelagem, o povo
de Barroso ocupa bem o seu tempo com trabalhos artesanais.
Quadro 13: Artesãos Existentes no Concelho
Nome do
Estabelecimento
Arte da Terra
ModaBarr
Localidade
Paradela do Rio
Parafita
Salto
Ponteira
Montalegre
Montalegre
Santo André
Montalegre
Caniço – Salto
Montalegre
Vila da Ponte
Montalegre
Outeiro
Outeiro
Covelães
Covelães
Tabuadela - Salto
Padornelos
Vilar de Perdizes
Artesãos
José Teixeira
Maria Carvalho
Justina Afonso
Constantino Fernandes
Maria Pereira
João Baptista
Manuel Barroso
António Rolo
Manuel Alves Duarte
Abrão Dias Pereira
Agnès Pires
José do Alvar
Maria Joaquina Moreira
Maria da Glória Rodrigues
Ana Afonso Miranda
Clorinda dos Anjos Pires
Senhorinha Dias do Canto
António Afonso Alves
Lucas
Material
Barro
Croças
Croças
Croças
Couros
Latoaria
Madeira
Madeira
Madeira
Roupa
Pedra
Rendas
Bordados
Tecedeira
Tecedeira
Tecedeira
Tecedeira
Pisoeiro
Madeira
Madeira
e
A longo prazo teremos um problema, difícil de resolver, a idade avançada dos artesãos.
Não há nenhum com menos de quarenta anos e a grande maioria tem mais de sessenta. O
desafio, neste campo é duplo. Temos de ser capazes de criar artesanato que tenha utilidade
e não apenas decorativo, e dentro desta nova perspectiva teremos de saber cativar novos
talentos para estas artes. Possivelmente teremos de colocar novos designers a pegar nos
materiais tradicionais.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
44
Ecomuseu de Barroso
5. Património local
5.1. Aldeias a Visitar
Pitões das Júnias no cerne da serra do Gerês tem um convento encaixado num vale, por
onde corre o rio Campesinho. O Mosteiro visto de cima, distingue-se-lhe nitidamente a
distribuição dos espaços em que está repartido. O conjunto edificado é modesto, e os
escassos arcos que restam do claustro, pela sua escala tão reduzida, dão a ideia do que foi
este Convento Cisterciense dedicado a Santa Maria. De todas as construções, apenas a
Igreja se conserva telhada, sendo o resto paredes de ruína.
Este Mosteiro de Santa Maria de Júnias fica em território outrora completamente isolado
e inóspito, consagrado à Senhora que o povo crismou de Senhora das Unhas, por
simplificação fonética. A casa religiosa era independente do poder episcopal e estava
submetida ao Convento de Santa Maria de Ouseira, Mosteiro Cisterciense da irmã e vizinha
Galiza, instalado a umas três dezenas de quilómetros a norte de Ourense.
Como noutros casos análogos, o tempo, a história, as suas brumas, escondem o
nascimento do Mosteiro. A ausência de dados faz com que se lhe aplique um modelo comum
para explicar as raízes e a formação de outros mosteiros, assente numa lenda.
Tudo começa nos finais do século IX, com ermitas sequiosos de solidão que se
estabelecem neste vale estreito onde corre a ribeira de Campesinho. Depois, juntam-se e
organizam-se passando a reger-se pelas regras de vida comunitária traçadas por S. Bento
de Núrsia, o fundador do Mosteiro Itálico de Monte Cassino, no século VI. Esta adopção da
regra Beneditina ocorreria no deserto de Pitões no final do século XI, início do seguinte.
É já em meados do século XIII, em 1247, que o Papa Inocêncio IV trata de intimidar o
arcebispo de Braga a renunciar à sua oposição a que o mosteiro se filie na ordem
cisterciense fundada por Bernardo de Claraval, determinação a que, em 1248, o arcebispo
João Egas declara submeter-se. A filiação fez-se, nesta altura, ao Mosteiro de Santa Maria
do Bouro, tendo Júnias passado depois, em data indeterminada, a depender do Convento
Galego de Ouseira - Ourense.
A verdade, porém, é que alguma relação de dependência de Ouseira estaria
estabelecida quase um século antes de Santa Maria de Júnias ter começado a reger-se
pelos estatutos Bernardinos. É o que um autor deduz, a partir de um documento datado de
1157 e referido a um certo «canal de Olleros», priorado de Ouseira.23 O documento, que
tem aposta a assinatura do abade de Júnias, permitiria estabelecer tais laços entre os dois
23
http://www.geira.pt/pnpg/index.html
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
45
Ecomuseu de Barroso
conventos, o Galego e o Português (de facto ambos galegos, no sentido mais fundo da
designação).
A antiguidade do edifício da Igreja, para além da datação que possa fazer-se através
da análise tipológica dos seus elementos, é atestada pela inscrição gravada na face
exterior do muro da Igreja que delimita o cemitério, junto à porta lateral: ERA: MCLXXXV
(segundo estudo de Lourenço Fontes, assim gravada: É MCSXXXV), em leitura feita em
Quinhentos. De qualquer maneira, reduzindo a era de César à de Cristo, este ano de 1147
será a data provável da fundação do Mosteiro das Júnias, meia dúzia de anos apenas após
a fundação da casa de Ouseira (em 1141)24.
A história do modesto cenóbio (os
documentos que se lhe referem encontram-se fundamentalmente no Arquivo Provincial de
Ourense) não deixou grandes traços. Personagem digna de nota ligado ao convento é Frei
Gonçalo Coelho, a quem a desgraça e santidade conferem lugar de monta. Flaviense, já
devota fama no mosteiro Beneditino de Santo Tirso, donde viera, o frade é nomeado abade
de Júnias em 1499.
Paroquiando Pitões e Cela (do outro lado da fronteira), achou-se, nos primeiros dias de
Fevereiro de 1501 no meio de um nevão quando regressava da paróquia Galega. Pois ali,
à vista dos Cornos da Fria, se quedou o abade enregelado, enterrado na neve. Já Santo de
fama, voou-lhe a fama mais ainda e Frei Gonçalo mais Santo e venerado ficou.
Como relíquia adoraram-lhe a cabeça que se quedou ali na igreja do convento,
juntamente com outros venerados e preciosos fragmentos destacados de Santa Maria
Madalena e de S. Martinho. Levada, mais tarde, a cabeça de S. Gonçalo para a Igreja de
Pitões, não teve a relíquia boa fortuna pois, no século XVII, durante as guerras da
restauração no trono de uma dinastia portuguesa, um magote de Espanhóis decidiu atacar a
aldeia. Chegados a Pitões, culminaram os nossos caríssimos irmãos as tropelias bélicas com
uma fogueira que abrasou todo o povoado, incluindo a cabeça de S. Gonçalo.
Em Janeiro de l533 Edme de Saulieu, abade visitador de Claraval, desembocando em
Júnias, lamenta-se amargamente por encontrar o Convento em ruínas e deserto de frades.
De pé mantinha-se a Igreja. Mas durante os séculos seguintes o Mosteiro revive e repovoase. Sabe-se, por exemplo, que no início do segundo quartel do século XVIII se fizeram obras
de certo vulto na parte conventual do edifício.
No momento da extinção das ordens religiosas, em 1834, o Mosteiro estava habitado.
Frei Benito Gonçalves era um religioso espanhol que ali professava, e veio a ser cura de
Pitões, tendo morrido em 1850. Já na segunda metade de Oitocentos, uns «moços foliões»,
24
Idem
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
46
Ecomuseu de Barroso
como são designados no Guia de Portugal, fizeram arder as instalações conventuais, mas a
pobre da igreja, na sua modéstia, lá escapou ao incêndio.
Chega-se ao Mosteiro por uma calçada, seguida de um caminho de pé posto, a partir
do cemitério de Pitões. Do alto da ladeira íngreme que leva a Sta. Maria de Júnias tem-se
uma bela visão de conjunto dos edifícios que compõem o cenóbio e da sua envolvente,
ficando a dúvida se este seria um local de sacrifícios ou de belo repouso luxuoso.
O espaço ocupado forma um quadrado irregular. Sobre a nossa esquerda, o corpo da
igreja com a fachada principal virada para nós e a capela-mor junto ao ribeiro (o
Campesinho corre no sentido NE/SO). Mais para a esquerda da Igreja, murado, o espaço
do cemitério. Para o lado oposto, a partir da fachada principal, a portaria, com acesso ao
conjunto dos edifícios residenciais, virados para um pátio central.
No centro do quadrado, o vazio do claustro de que restam apenas três arcadas quase
anãs. Perpendicular à Igreja, nascendo da capela-mor e acompanhando o correr do ribeiro,
o resto de um corpo de dois pisos que compreenderia, a partir do templo, a sacristia e a
casa do abade.
A Aldeia de Tourém fica a 30 Km a NO de Montalegre, perto da fronteira com a
Galiza, com um cruzeiro mutilado, casas toscas e ruelas tortuosas e a memória do seu
Castelo de Piconha, altaneiro frente à vizinha aldeia galega de Randim.
Múltiplos encantos podem ser citados sobre Tourém, em primeiro lugar o conjunto do
casario granítico, que as casas novas vão descaracterizando. Individualizando, talvez fosse
de destacar, antes de mais, pelo seu significado social e pela sua tipologia, o forno comum.
É um edifício em pedra, com o próprio telhado composto de lajes de granito, certamente
para prevenir os perigos que a sua função, de rotina acarreta.
Não ficará no esquecimento, quem fez por se dar a conhecer às gerações futuras. É
prova disso a Igreja granítica de Tourém, provavelmente quinhentista, característica também
da linha do extremo oriental transmontano (portal de volta redonda, de sete aduelas).
Tourém é um naco de terra portuguesa que mais se afigura uma seta cravada em
Espanha. Esta aldeia portuguesa quase perdida lá pelos montados do Barroso onde
Portugal e Espanha quase se confundem dada a dificuldade em localizarem em que sítio um
país acaba e outro começa. É o chamado Couto Misto, território que não se submetia nem ás
leis Espanholas, nem ás leis Portuguesas. Aldeias onde: "vivem misturados galegos e
portugueses, uns metidos por outros e não acerta divisão entre uns nem outros".25 Foi o
primeiro exemplo de democracia.
25
Etnografia do Barroso. Padre Fontes. Pag 51.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
47
Ecomuseu de Barroso
Tourém cultiva, no entanto, a identidade cultural ainda que as suas gentes se sintam
esquecidas por quem tem a obrigação de também olhar por elas. Até meados do século XIX,
imperava entre eles uma certa indefinição relativamente às suas raízes. Reza o velho
manuscrito que, quando os habitantes "fazer casa nova, perguntam aí se a fazem por de
Portugal se por de Galiza e, se dizem por de Portugal, são-no, e se de Galiza, também; e
hoje são todos galegos e amanhã portugueses”.
Em função da assinatura, há cerca de 130 anos, do Tratado de Limites, o povo de
Tourém viu definida a sua nacionalidade e, a partir de então, Portugal passou a ser, de
facto, a sua Pátria, tal como a sua língua, que não deixam poluir com o castelhano.
O Forno do Povo é um edifício feito inteiramente em pedra: fachada sustentada por três
pesados e grossos gigantes sobre os quais descarregam os arcos que, sustentam a
cobertura. No interior pode observar-se, em frente à porta, o tendal, lage comprida,
coberta de colmo de centeio, sobre o qual é colocado o lençol que embrulha a massa
trazida de casa pelas mulheres e onde estas tendem o pão. À direita, sobre um balcão de
pedra, está o forno. No lado oposto, saliente da parede fica uma capoeira.
Todas as segundas-feiras há um homem, o quentador, a quem cabe a vez de aquecer o
forno. Essa tarefa é distribuída ao longo do ano "à roda pelo povo".
A aldeia de Paredes do Rio é sede de um engenho fabuloso digno de uma viagem de
vários quilómetros para ser visitado: O Pisão. Num só edifício de pedra coberto de colmo e
com a mesma levada de água acciona vários serviços: O Moinho, o dínamo, a serra de
madeira e o pisão que pisoava a lã, ao mesmo tempo que era banhada com água a ferver
até atingir as características de isolamento do burel. Também o seu forno ainda em uso, a
Igreja, os espigueiros e a casa de Turismo Rural justificam uma visita.
Cervos é uma pequena Aldeia, sede de freguesia, com uma construção de granito
invejável e uma variedade de estilos e formas de construção que pasmam qualquer
visitante; não esquecendo a sua localização elevada, perto da serra do Leiranco,
desfrutando da bela paisagem do vale do Rabagão. No Património construído salienta-se a
Igreja, a fonte de mergulho, o forno e as muitas casas de lavradores abastados. O Castro e
a via Romana reforçam a ideia de importância e valor, desta pequena aldeia por vezes
esquecida.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
48
Ecomuseu de Barroso
5.2. .Património Arqueológico
As mamoas localizam-se em terrenos aptos para a agricultura e apropriados para um
cultivo de cereais em rotação com prado, mas também há algumas em baixo monte ou
rochedo por falta de matérias primas. São de terra e pedra, quase sempre de forma
aproximada a uma semi-esfera, que assinalam o lugar de um ou vários enterramentos. Os
diâmetros oscilam entre os 15 e os 25-30 metros, mas alguns túmulos não chegam a
alcançar, em alguns casos, os 10 metros.
O túmulo devia cumprir uma função polivalente, que iria desde a própria finalidade de
suporte das pressões exercidas pela estrutura sepulcral, até outra de tipo ritual no sentido
de ocultação do enterramento. Por outro lado, a mamoa deve considerar-se como um todo
ordenado no que a massa tumular é tão importante como a sepultura que guarda o seu
interior.
Em geral no centro da mamoa encontra-se um sepulcro de câmara poligonal com ou sem
corredor, normalmente orientado para o Leste.
Em linhas gerais, as antas apresentam 4 variantes bem definidas:
a)
câmaras poligonais fechadas de tamanho pequeno;
b)
câmaras poligonais com porta e sem corredor;
c)
câmaras poligonais com tendência ao circulo e corredor curto;
d)
câmaras rectangulares, tipo cista megalítica.
A região do Barroso foi habitada pelo homem desde os longínquos tempos da préhistória. Os documentos mais antigos que conhecemos sobre o Barroso da Idade da Pedra
datam de há quatro ou cinco mil anos. É extraordinariamente grande o número de resíduos
dolménicos que a região possui. Fernando Braga Barreiros inventariou a região em 1914, e
publicou-o no Arqueólo Português, em 1919.
Localização
Cambezes
Cervos
Covelães
Férvidas
Frades da chã
Frades do Rio
Medeiros
Meixedo
Montalegre
Padroso
Padornelos
Paradela
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
Achado
Arqueológico
1 dólmen
1 anta
3 dólmenes
8 dólmenes
diversas antas
diversas antas
4 dólmenes
1 dólmen
13 dólmenes
10 dólmenes
5 dólmenes
diversas antas
49
Ecomuseu de Barroso
Pedrário
Penedones
Pitões
Santo André
São Vicente
Sarraquinhos
Tourém
Travassos da chã
Vilar de Perdizes
2 dólmenes
3 dólmenes
4 dólmenes
2 dólmenes
3 dólmenes
1 anta
diversos dólmenes
1 anta
4 dólmenes
Infelizmente, muitos destes singulares edifícios pré-históricos estão arruinados e alguns
quase irreconhecíveis. Dos objectos achados, de trabalho ou de guerra, recolhidos de alguns
destes dólmenes, importa destacar quatro utensílios de bronze (um machado de latão, duas
pontas de lança e uma espécie de garfo de trinchar), provenientes da freguesia de Solveira,
e cinco machados planos de bronze encontrados a uns 600 metros a Norte de Montalegre,
num local chamado Agro Velho.
As pontas de lança encontradas testemunham, pelo menos a partir do final da Idade do
Bronze, que o Barrosão empregava o bronze no fabrico de armas bélicas.
Por volta do ano mil antes da nossa Era, a região do Barroso era habitada pelos
Oestrímnios, povo que ocupava o Noroeste da Península. Nos fins do século VII a. C. ou nos
princípios do século seguinte, todo o Noroeste da Península, parece ter sido invadido por
uma das torrentes emigratórias dos Celtas. Após os primeiros tempos de lutas, invasores e
autóctones teriam compreendido a necessidade da conciliação. Daí teria nascido a
designada cultura dos castros.
Para a construção do castro, escolhiam-se lugares naturalmente de defesa, como
pequenos montes de forma cónica, esporões íngremes, colinas de difícil acesso, etc.
Passada a etapa de ensaio de diversas formas (séculos VIII – IV aC.), adquire-se uma
consolidação dos elementos que se vêem definindo como características do mundo castrejo,
com uma arquitectura mais acabada na que se faz patente a experiência secular adquirida
no trabalho da pedra (séculos IV - I aC.).
Entre finais do século I a.c. e a primeira metade do século I - dC., dá-se a fase do clímax
da cultura castreja, na que alcançam a sua plenitude todas as manifestações que se vêem
considerando tradicionalmente características deste mundo.
Já nos finais dos século I - dC. assiste–se à fase de declínio, coincidindo com o apogeu
da romanização, que afecta todos os âmbitos da cultura, desde os aspectos técnicos aos
aspectos religiosos, produz-se a transformação do mundo castrejo, por um processo de
aculturação, na cultura galaico-romana, uma de tantas variedades da cultura provincial
romana das áreas periféricas. A partir desta altura abandonaram-se um número muito
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
50
Ecomuseu de Barroso
elevado de castros tradicionais, pois o seu papel já não tinha sentido no contexto da nova
sociedade.
O número de castros que a região possui é significativo. Braga Barreiros tentou
inventariá-los, e registou 53, embora se pense que poderão ser mais.
Grande parte das aldeias têm a sua origem nas vizinhanças de um castro. Este facto é
evidente pela toponímia das aldeias. Exemplos: Castro de Montalegre, Castro da Veiga,
Castro do Portelo, Castro de Soutelo, Castro da Mina, Castro de Pedrário, Castro de
Medeiros, Castro de S. Vicente da Chã, Castro de São Romão, Castro de Codeçoso do Arco,
Castro de Pitões, Castro de Tourém, Castro da Piconha, Castro de Frades e Castro de
Donões.
Na via romana que atravessava Barroso pelo vale do Rabagão, de Vilarinho dos
Padrões a Arcos, havia numerosos marcos miliários. Alguns foram levados para Braga, outros
destruíram-se com o tempo, muitos foram utilizados na construção de casas ou de muros de
propriedades.
Local
Vilarinho de
Padrões
Saguinhedo
Lama do
Carvalhal (entre
Codeçoso e
Currais)
Antigo de Arcos
Arcos
Nº de
Descrição
Marcos
3
Um do Século XVIII, outro marcava a distância de
42 000 passos e outro era dedicado a Tibério, e
indicava a distancia de 20 000 passos.
3
Um dedicado a Cláudio, aponta a distancia de 35
000 passos e é do ano 44 da nossa era; outro
dedicado ao imperador Adriano e aponta a
distancia de 42 000 passos, sendo datado de 104;
o outro dedicado a Trajano marca 42 000 passos
(referentes a Chaves).
1
Dedicado a Tibério
1
1
Dedicado a Tibério, com indicação de 59 000
passos (referentes a Braga)
Dedicado a Cláudio
Foram encontradas diversas moedas romanas e metais nesta região. Em Penedones
foram encontradas, há mais de um século, quinze moedas romanas dos imperadores Trajano
e Vespasiano; Em 1954, no couto mineiro da Borralha, foram descobertas três mil moedas
romanas do imperador Galieno, Cláudio, Gaio, Valeriano, Emiliano, Macrino, Quintilo,
Aureliano, e outros. Recentemente a Câmara Municipal adquiriu, de um particular, moedas
romanas, encontradas em Montalegre, que estão neste momento a ser estudadas.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
51
Ecomuseu de Barroso
O concelho é atravessado por três vias militares, imperiais: uma que proviria de
Slamonche e Ruivães, por Venda Nova, Codeçoso, Pondras, Vila da Ponte, Penedones: outra
que ligaria Montalegre com Chaves, Zebral, Ardãos, Pastoria, Noval, Vale de Anta, e a
terceira, que em Venda Nova se desviava da primeira para se reencontrar em Sapiãos,
passando pelas Cova de Barroso, Carvalhelhos e Boticas.
5.3. O Património Paisagístico
O concelho de Montalegre é detentor de cenários deslumbrantes, as quais têm pontos de
degradação, que urge recuperar. Assim a requalificação de zonas degradadas (tratamento
das escombreiras das minas da Borralha), mas também a recolha de detritos e de monstros
abandonados à beira dos caminhos é uma acção prioritária, pois a paisagem assume-se
cada vez mais como um valor económico, fundamental para o desenvolvimento regional.
Pretende-se também fazer a valorização dos centros cívicos das freguesias, dando ao
centro das aldeias (local onde se reúne habitualmente o povo) uma melhor imagem,
melhorando o bem estar das populações locais e atraindo os visitantes e turistas que
passarão ou ficarão nas aldeias percorrendo os percursos pedestres ou alojando-se nas
unidades de Turismo em Espaço Rural.
Fundamental será também a identificação dos aglomerados rurais e espaços naturais de
interesse paisagístico e fazer todo o processo de possível classificação quer municipal, quer
nacional, a fim de se proteger essas áreas (Carvalhal do Avelar e do Vale do Cávado,
serra do Cávado e Barragem dos Pisões).
A elaboração de um regulamento municipal a incluir no futuro Plano Director Municipal,
de definição de tipologias construtivas, de materiais e cores a utilizar na edificação em
aglomerados rurais e em construções isoladas, será um aspecto de grande importância para
o início do processo de recuperação da paisagem, cujo primeiro passo será não piorar a
situação actual.
Os edifícios agrícolas de construção recente são um outro elemento de degradação da
paisagem rural, pelo que será fundamental a redefinição das tipologias aceites, das
volumetrias, da localização e dos materiais de construção.
Para uma melhor interpretação da paisagem, será fundamental a colocação de leitores
de paisagens nos miradouros e nos percursos de visita sempre com um intuito formativo.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
52
Ecomuseu de Barroso
A marcação de percursos por todo o concelho de Montalegre será uma das melhores
formas de permitir ao visitante uma melhor usufruição da paisagem e observação da fauna
e flora.26
5.3.1. Energia Limpa ou Poluição Visual
O ano 2ooo trouxe ao concelho de Montalegre uma polémica que dividiu as opiniões,
não só dos políticos como da população anónima. Apostar ou não nas energias alternativas?
A criação dos Parques Eólicos seria uma “mina” para o futuro? Estaremos a hipotecar o
futuro? Será que todos os montes têm de ser vendidos da mesma forma? Quando os parques
forem desactivados que terá de os desmantelar?
Se os argumentos a favor das energias limpas conseguiam demover um pequeno reduto
já desacreditado com a história recente da EDP, a localização dos aerogeradores foi a
batalha mais dura que não conseguiu reunir consensos.
As grande empresas tiveram uma postura demasiado empresarial, fizeram contractos
com todos os presidentes das Juntas de freguesia que tinham serra. A oferta variava entre
os dois mil e quinhentos euros e os cinco mil euros, para cada junta. Quando os presidentes
tentavam negociar entre as duas ou três empresas interessadas a oferta de uma carrinha de
nove lugares forçava a opção. Neste momento temos todos os montes com contractos de
exclusividade de uso dos terrenos por dez anos, contracto renovável automaticamente até
dez anos, desde que a empresa não o denuncie, que o parque eólico nasça ou não.
Parque Eólico do Alto do Cabeço está situado na Serra do Larouco, freguesia de
Mourilhe junto da Aldeia de Sabuzedo, que deverá produzir energia eléctrica suficiente
para responder ao consumo de um aglomerado de cerca de 15.000 habitantes.
Uma das exigências da Câmara de Montalegre foi a constituição de uma empresa com
sede em Montalegre para que as contribuições fossem geradoras de capitais locais. Essa
empresa é a PESL (Parque Eólico Serra do Larouco) com (250.000 contos) 1.246.994 Euros
de Capital Social e (1.688.000 contos) 8.419.708 Euros de Capital Próprio, para criar e
gerir dois Parques, um no Alto do Cabeço em Montalegre, com 9 Aerogeradores e um outro
na Lomba da Seixa em Salto, com 10 Aerogeradores. A PESL, SA foi constituída em 27 de
Novembro de 1997 com o objectivo de promover a produção de energia eléctrica no sector
das energias renováveis no concelho de Montalegre. É produto da vontade dos seus
26
Vide anexo II - Rede de percursos pedestres de Barroso
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
53
Ecomuseu de Barroso
principais promotores, ENERSIS, SA que se dedica exclusivamente a este sector desde a sua
constituição em 15 de Maio de 1988 e EHATB, SA que representa os municípios do Alto
Tâmega e Barroso, com 20% de um capital social de 1,25 milhoes de Euros, que darão
origem a 3.392 Euros de facturação/ano.
Cabeço Alto
Investimento
2.800.000 contos /13.966
Empréstimos
1.100.000 contos /
Lomba da Seixa
341Euros
5.486 776 Euros
2.600.000 contos
/ 12.968 745 Euros
1.070.000 contos /
5.337 137 Euros
Taxa 0 Progr. Energia
Empréstimo da PESL
800.000 contos /
3.990 383 Euros
Potência
9 Aerogeradores – 11.700KW
10 Aerogeradores–13.000KW
Produção /ano
27 GWH/Ano
30 GWH/Ano
Facturação / Ano
324.000 contos / 1.616 105 Euros 360.000 contos / 1.795 672 Euros
800.000 contos
/ 3.990 383
5.3.2. A Natureza e o Desporto
A região de Montalegre, distingue-se pela beleza que reside nas suas serras, regatos
límpidos com trutas saltitantes, ribeiros gelados, vales e pequenos planaltos, aldeias
concentradas com suas gentes boas. A vegetação local pinta-a ao longo das estações de
verdes, amarelos e castanhos compondo paisagens que deslumbram qualquer olhar curioso.
Para relaxar, o visitante poderá fazer passeios pedestres27 ou de BTT (estão sinalizados
com as marcações oficiais, com a homologação da Federação Portuguesa de Campismo, em
6 percursos), escolhendo o percurso conforme o tipo de paisagem que mais gosta. Os
desportos aquáticos podem ser praticados nas albufeiras. A barragem do Alto-Rabagão
cria um espelho de água deslumbrante, desafiando á prática de desportos como o remo, a
vela, a canoagem, a natação e por vezes as motas de água. Também a pesca é uma
actividade muito praticada, quer seja nas barragens, quer seja nos Rios Cávado e Rabagão,
ou em qualquer regato de águas frias da montanha as trutas, o escalo e a boga são os
ingredientes de luxo, para muitos apaixonados deste desporto.
27
Vide anexo II - Rede de percursos pedestres de Barroso
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
54
Ecomuseu de Barroso
O rappel e a escalada são das actividades radicais que se fazem esporadicamente,
embora as condições no terreno sejam boas para sua prática. Já o Canyoning e o rafting
não encontram condições de rápidos com caudal suficiente para a sua execução. Os
amantes da caça, embora de forma discutível, juntam as estas paisagens maravilhosas a
emoção de um tiro certeiro. Esta pode ser praticada nos regimes cinégico geral ou cinégico
associativo e em crescente está a zona de caça municipal. Nesta paisagem podemos
encontrar espécies muito variadas como a rola, pombo, codorniz, o pato bravo, galinhola a
perdiz vermelha, a galinha d’água, a lebre, o coelho bravo e o javali.
O Centro Hípico da Serra do Larouco e a Trote Gerês impulsionam os passeios a cavalo,
quer em recinto fechado como em plena serra, para os mais conhecedores.
Tendo a Serra do Larouco 1525 metros de altura é um constante desafio às
modalidades aéreas, sendo o Parapente e a Asa Delta as mais praticadas. Os voos
começaram à cinco anos chegando, hoje a ser considerada, pelos praticantes da
modalidade, o ex-libris deste desporto, afirmando depois da realização do Campeonato do
Mundo, que esta é a melhor pista artificial do mundo. O clube local Papaventos colabora em
várias provas como o Campeonato Nacional, Campeonato de Espanha, Taça Luso-Galaica,
Taça do Mundo e Campeonato do Mundo de Parapente de Montalegre 2003.
A apanha dos cogumelos silvestres, tem nos meses de Outubro e Novembro o seu ponto
alto e arrasta ao concelho de Montalegre centenas de pessoas.
5.4. Património Artístico
No âmbito deste projecto está previsto a divulgação do Castelo de Montalegre, do
Mosteiro de Santa Maria das Júnias – em Pitões das Júnias e da Igreja de S. Vicente da
Chã, todos classificados como Monumentos Nacionais.
Para se manter e incrementar o desenvolvimento de actividades está planeado a
organização de uma escola de artesãos, em madeira, cantaria, croças, burel, bordados, lã,
soqueiro, cesteiro, latoeiro, tecedeira, criando assim postos de trabalho e aumentando a
oferta de produtos de origem local.
A arquitectura religiosa é muito importante, pois o Barroso tem inúmeras igrejas e
capelas, distribuídas por todas as aldeias, algumas com rica decoração e de alto nível
artístico, que é urgente inventariar e salvaguardar. Para além do caso do Mosteiro de Santa
Maria das Júnias, há monumentos praticamente desconhecidos, que se poderão revelar,
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
55
Ecomuseu de Barroso
como os restos românicos da igreja de Tourém, entre outros. Algumas igrejas e capelas
necessitam de ser restauradas, podendo, no seu conjunto e quando for suficientemente
significativas, integrar-se em trilhos interpretados. Pensamos, que se deve promover a
recuperação de outros elementos religiosos, como as vias sacras, dando como exemplo as
aldeias de Paredes do Rio e Tourém e as suas alminhas, existentes praticamente em todas as
aldeias.
5.5. Património Social e Cultural
Está previsto a realização de estudos sobre a vida tradicional, estudos etnológicos e
etnográficos. Estes estudos devem versar sobre a cozinha Barrosã e o seu papel na
organização do espaço habitacional, procedendo-se a um inventário das cozinhas
tradicionais, ao levantamento e sistematização da gastronomia Barrosã, e à sua promoção
em concursos feiras gastronómicos, como já se vêm realizando.
Outros estudos se deverão realizar sobre a presença do lobo na mitologia e no
imaginário e nos fojos, sobre as lendas e tradições populares, as saberes populares e a
farmacopeia popular; os curandeiros e a medicina tradicional popular e as mulheres do
Barroso e o que é visto como a psicologia do Barrosão, conhecido pela sua franqueza na
relação e disponibilidade no receber, sempre com o seu convite barrosão: “entre quem é…”
Também extremamente importante será estudar a água na região, com os sistemas de
rega e os moinhos. Enfim, a importância dos ciclos da água, do linho e do pão no Barroso.
Em resumo, a identidade cultural de Barroso, é e será o que dá coesão e sentido à criação
de um Ecomuseu neste concelho.
5.6. O Património histórico mais relevante
A história de Montalegre remonta há muitos séculos atrás, sendo a sua origem datada
do Neolítico. Foram muitos os povos que passaram nestas terras, ficando mais ou menos
tempo, mas todos deixando sinais da sua Identidade e estilo de vida ancestral. Segue-se
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
56
Ecomuseu de Barroso
uma apresentação de algum do vasto património28 que ao longo dos séculos foi sendo
construído:
Património e Pontos de Interesse
•
Casa do Cerrado - Montalegre
•
Igreja do Castelo - Montalegre
•
Casa da Fonte – Corva (Salto)
•
Mamoas da Veiga - Montalegre
•
Casa do Navegador Cabrilho - Lapela
•
Mosteiro de Pitões das Júnias
•
Casa do Outão – Mourilhe
•
Paço de Vilar de Perdizes
•
Casa dos Queridos – Viade de Baixo
•
Ponte da Misarela em Ferral
•
Casa do Seminário de Gralhas
•
Ponte Romana de Peirezes
•
Castelo de Montalegre
•
Sepulturas Antropomórficas
•
Castro de Pedrário
•
Marcos Miliários
•
Igreja Românica de S. Vicente
•
Via Romana Vila da Ponte
Património Etnográfico e Comunitário
•
Espigueiro com relógio de Sol - Paredes
•
Forno de Tourém
•
Fonte Romana de Arcos
•
Lagar de Azeite – Cabril
•
Fojo do Lobo – Fafião
•
Moinho de Paredes
•
Fojo do Lobo – Parada
•
Moinho de Vila da Ponte
•
Forno de Padornelos
•
Pisão Hidráulico - Paredes
Locais de Interesse Paisagístico e Ecológico
28
•
Serra do Larouco
•
Cornos das Alturas
•
Albufeira dos Pisões; Salas; Venda Nova
•
S. João da Fraga – Pitões
•
Miradouro da Corujeira - Montalegre
•
Pedra Bolideira – Ponteira
•
Miradouro da Senhora das Treburas
•
Lagoas do Gerês
•
Cascata de Pitões
•
Cistas da Vila da Ponte
•
Mata do Avelar
•
Currais de Lama Longa – Gerês
•
Olas de Santa – Marinha
•
Capela da Santa Barbara
•
Piscinas Naturais no rio Fafião
•
Toco – Cascata, Piscinas Naturais
Confrontar anexo VI – Álbum de fotos de Barroso
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
57
Ecomuseu de Barroso
6. História e Evolução do Ecomuseu de Barroso
O Ecomuseu de Barroso é um projecto que abrange todo o concelho de Montalegre, mas
poderá alargar-se a toda a região do Barroso, permitindo , através do envolvimento de
todos os seus agentes, o desenvolvimento de uma forma equilibrada e sustentada,
optimizando os pontos de vista cultural e natural.
A terra do Barroso é uma região única, chamada terra fria transmontana, dos frios e
rigorosos Invernos e dos escaldantes Verões. A identidade desta região é tão evidente que
muitos autores a classificam mesmo como o País Barrosão, com uma especificidade que lhe
advém de ser uma região de ligação do Minho a Trás-os-Montes, entre o individualismo
minhoto e o gregarismo comunitarista transmontano.
O Barroso é uma mancha de amplos horizontes, terras elevadas, graníticas, nevadas e
ventosas, onde os aldeamentos são concentrados e a dureza dos elementos aproximou as
gentes. As comunidades aldeãs do Barroso, que outrora formavam uma espécie de
pequenas repúblicas regidas por leis próprias, que o direito consuetudinário de há muito
consagrara, trouxeram até aos nossos dias um conjunto de costumes e de tradições que há
muito se julgavam perdidas.
O projecto do “Ecomuseu do Barroso,” teve o seu início há longa data, remontando a
uma das visitas de Georges Henri Revière a Portugal, nos anos 70. Este antropólogo sugeriu
a realização de determinadas acções nesta região, como a criação do Museu do Tempo e
do Espaço. Assim, o projecto inovador da criação do “Ecomuseu do Barroso”, por ele
proposto era penas para as aldeias dentro do Parque Nacional.
António Martinho Baptista e Fernando Pessoa, arqueólogo e arquitecto paisagista,
respectivamente, do então Serviço Nacional de Parques, Reservas e Conservação da
Natureza (SNPRCN), são duas personagens que iniciaram o projecto que depois será
apresentado, ampliado uma vez que expandiu a sua área territorial para fora do Parque
Nacional da Peneda Gerês, abrangendo a sede do concelho Montalegre e a aldeia de
Vilar de Perdizes, deram sugestões e soluções que ainda hoje se encontram perfeitamente
actuais, razão pela qual se mantêm no projecto que actualmente se começou a implementar.
Num texto produzido em 1992 para o ICN, intitulado “museologia das áreas protegidas” no
que diz respeito ao Parque Nacional Peneda-Gerês, essa proposta museológica
contemplava a criação do Ecomuseu das Terras de Barroso, instituição museológica á qual
dedicariam um estudo pormenorizado da organização dos respectivos museus do Tempo e
do Espaço.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
58
Ecomuseu de Barroso
Com o título de “Ecomuseu do Barroso”, António Martinho Baptista elabora nesse ano um
documento que enuncia os limites territoriais desse Ecomuseu: “todo o território do concelho
de Montalegre integrado no PNPG, alargando-se ainda o seu âmbito, pelo menos à região
entre a fronteira galaico-portuguesa e o rio Cávado”.
É anunciada também uma “rede de infra-estruturas locais” e avançadas as acções a
desenvolver no território de Montalegre abrangido pelo Parque Nacional.
Neste pré-projecto previa-se, para além da criação de um edifício-sede do ecomuseu,
também a construção do museu do Espaço – servindo de centro informativo dos motivos de
interesse da área contemplada, entre os quais uma rede de trilhos “interpretados” etnográficos, históricos e naturais - remetendo os visitantes para a descoberta do território, e
ainda a criação de antenas museológicas – constituídas por edifícios, sítios ou paisagens
“interpretadas”, sempre em ligação com a referida rede de trilhos.
Na edição de 31 de Agosto de 1993 do jornal “O Povo de Barroso”, num completo
artigo intitulado “Ecomuseu do Barroso”, este mesmo autor dá a conhecer publicamente estas
propostas. Em vários números seguintes, respondendo ao repto lançado, várias
personalidades da cultura local dão a sua opinião – ora mais entusiasta, ora mais cautelosa
– quanto à implementação do ecomuseu.
Com referência de 1994 e intitulado “Museu de Interpretação das Terras de Barroso”,
num texto também do ICN, Santos Pessoa retoma, com ligeira reformulação, o fundamental
das propostas do relatório anterior, realçando que esse museu pode ser – e deve ser - um
projecto ambicioso.
Contudo, no final desse texto, deixa uma frase premonitória: “Montalegre, sede do
concelho, com muito interesse patrimonial, e uma Câmara Municipal a acreditar disponibilizando os meios ao seu alcance - que o Parque vai mesmo criar o seu Museu!
Vamos a ver se o Parque cumpre!” Mas apesar das tentativas de renascimento destes
projectos por parte do ICN, a verdade é que nenhum deles foi concretizado devido, como
mais tarde diria este mesmo autor, “à incompreensão de alguns e ao desinteresse declarado
de outros”.
As aldeias de Barroso possuem de um modo geral um grande valor cénico e cultural,
pelo que estas povoações devem ser consideradas, no seu conjunto como partes do
Ecomuseu. Esta ideia sempre esteve e sempre presidirá aos planos de acção deste projecto
que cada vez mais se afirma como um Projecto de Desenvolvimento Local. Senão vejamos. As
aldeias que faziam parte do projecto original do “Ecomuseu do Barroso” são quatro,
designadamente, Travassos do Rio, Paredes, núcleo antigo de Pitões das Júnias e Fafião.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
59
Ecomuseu de Barroso
A aldeia de Travassos do Rio, é uma aldeia com muito interesse arquitectónico, sendo
aqui que se situava o Museu do Tempo, um dos principais pólos do Ecomuseu. Nesta aldeia
pretendia-se musealizar a moagem do cereal no moinho existente, onde estava prevista uma
sala temática sobre o tempo, o fabrico do pão no forno comunitário. Junto do moinho e
ocupando parte dele, previa-se colocar uma exposição demonstrativa do ciclo do pão,
desde o cereal ao fabrico do pão.
Fig. 1 – Proposta para conjunto rural de Travassos do Rio, do Arq. Sérgio Infante
Um outro espaço que era tido em conta neste projecto era a corte do boi do povo,
através do qual seria possível fazer-se uma homenagem ao “boi Barrosão”. Nesta aldeia
estava previsto ficar a sede do Ecomuseu do Barroso, num conjunto muito interessante de
construções adquiridas pela Câmara Municipal de Montalegre e para as quais se apresentou
na altura um esboço de adaptação. Nesta aldeia, contava-se a história da vida da região,
com documentos, peças de uso diário, artesanato, gravuras, tudo quanto possa documentar
de forma simples e dinâmica esta região.
A aldeia de Paredes, era um dos pólos do Museu, onde estava previsto recuperar
algumas das habitações. Existe um pisão que foi na altura reconstruído e numa casa que se
pretendia reabilitar pensava-se instalar uma sala temática dedicada ao conhecimento das
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
60
Ecomuseu de Barroso
práticas agrícolas e das culturas tradicionais da batata e o centeio. Próximo deste espaço,
estava previsto uma horta onde se mantivessem as culturas locais como as frutas, os legumes,
os cereais, e as batatas.
Em relação a Pitões das Júnias, já na altura era referido a necessidade de reabilitação
urbana dos edifícios do núcleo antigo da aldeia para travar o avanço da descaracterização
com construções aberrantes. Esta necessidade é hoje muito mais notória, pois a degradação
do aglomerado continuou, pelo que o objectivo deve continuar a ser um dos principais
objectivos da Câmara Municipal de Montalegre e do PNPG. Pretendia-se que a Câmara
Municipal adquirisse alguns edifícios para aí instalar uma sala temática, dedicada ao
comunitarismo, suas raízes e práticas; e um espaço dedicado ao fumeiro da região. Na sala
do fumeiro estava planeado que ao visitante fosse facultado, através do bilhete de ingresso,
uma prova de fumeiro acompanhada de pão e vinho regionais.
O Mosteiro de Santa Maria29, após a sua reconstrução, estava planeada a sua
musealização tendo em conta a temática das crenças e medicinas populares. No jardim do
Mosteiro previa-se instalar uma colecção de plantas medicinais e aromáticas, prática que
esteve sempre ligada aos conventos.
A aldeia de Tourém, é já em si um museu vivo, onde se pretendia instalar um espaço
temático sobre a vida social tradicional e as relações de vizinhança com a Espanha e o
Couto Franco (Couto Misto) que permaneceu até aos nossos dias.
Fafião é uma aldeia ainda com muito interesse, onde existe um lagar de azeite, que
necessitava de ser reconstruído e um fojo de lobo (de paredes convergentes) que também
deverá fazer parte do projecto do museu. Aqui instalava-se um espaço temático dedicada
ao boi do Povo.
No Castelo de Montalegre, que é uma bela peça de arquitectura militar medieval,
previa-se a colocação de uma exposição temática sobre a arquitectura do Barroso, desde
as construções megalíticas às dos vários séculos subsequentes, tanto civis como religiosas e
militares.
Sugeria-se neste primeiro projecto a construção de uma Pousada Regional, aliada ao
Ecomuseu. Um dos aspectos caracterizadores da vida do Barroso era e é a sua gastronomia
e especificidade da vida caseira, daí a importância da pousada, com mobiliário antigo e
utensílios domésticos tradicionais, para um acolhimento de qualidade. Em termos
gastronómicos já na altura se pensava em fazer um regulamento que estipule a cozinha
regional a fornecer obrigatoriamente, por uma questão de identidade local. A pousada,
pensava-se vir a ocupar um antigo solar ou casa senhorial, de que há belos exemplares em
29
Foto no anexo VI – Álbum de Fotos de Barroso.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
61
Ecomuseu de Barroso
várias aldeias. Pitões das Júnias, por exemplo, possui uma excelente casa de lavrador
abastado, onde existe espaço para a finalidade de uma pequena pousada e restaurante,
onde o acolhimento e a gastronomia se complementem sob as formas tradicionais do
Barroso.
As estruturas interpretadas em utilização, estavam intimamente relacionadas com o
Museu do Tempo e com o Museu do Espaço.
O Museu do Tempo, possuía a sua estrutura central, museológica, em Travassos do Rio.
Adquirir alguns anexos permitiria a realização de uma intervenção arquitectónica de
qualidade, onde simultaneamente se resguarde o ambiente típico de aldeia, se historie o
passado barrosão e se projecte a visão de um Barroso do nosso tempo. O Museu do Tempo,
conta toda a história do Barroso, desde a sua formação e evolução geomorfológica e
geológica, aos ecossistemas que se constituíram, aos grupos humanos que se fixaram na
região, até aos nossos dias.
No Museu do Espaço, estava já previsto recorrer-se às mais modernas técnicas de
intervenção museológica e museográfica, em que toda a região seria sinteticamente
interpretada e sinalizados todos os seus motivos de interesse nas suas mais diversas áreas.
Assim, quer as redes de trilhos interpretados (históricos, arqueológicos, naturais ou de
descoberta da natureza), quer a gastronomia regional, o artesanato, a própria vida
económica no seu todo, entre outros aspectos, aqui seriam sistematizadas, esclarecendo e
remetendo os visitantes interessados à descoberta de todas as situações.
Os Museus do Espaço e do Tempo, estavam intimamente ligados ás estruturas de
interpretação em utilização e ás estruturas fora de uso, pois este conjunto de estruturas em
harmonioso funcionamento e não individualmente, iriam valorizar, dinamizar a história da
região e da sua vida económica.
Deste projecto inicial apenas alguns elementos patrimoniais foram recuperados e alguma
documentação foi editada pelo S.N.P.R.C.N. As principais razões devem-se à escassez de
recursos financeiros e às mudanças governativas, nomeadamente a saída da presidência do
S.N.P.R.C.N. do principal impulsionador deste projecto, o Arq. Fernando Pessoa.
Apesar de pouco se ter implementado no terreno o Ecomuseu do Barroso, marcou vários
elementos ligados ao projecto e deixou uma semente que se quer agora pôr a germinar. A
este projecto, associaram-se diversos estudos regionais, muito importantes para as
comunidades envolventes, pois nestes estudos e investigações contemplou-se a inventariação
dos bens patrimoniais (naturais e arquitectónicos) existentes.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
62
Ecomuseu de Barroso
6.1. A criação do Ecomuseu de Barroso
O nome do Projecto é fruto de uma evolução. Nasceu “Ecomuseu do Barroso” sendo a
designação usada publicamente, mas nuca foi consensual, até que com o contributo da
Comissão local para o património e ecomuseu se concluiu que o mais correcto deveria ser
“Ecomuseu de Barroso”.30
A decisão da implementação em definitivo do “Ecomuseu do Barroso” remonta ao ano
2000, quando o Professor Fernando Rodrigues, Presidente da Câmara Municipal de
Montalegre contratou a empresa Quaternaire Portugal para a elaboração de um estudo
para caracterização da região e apontasse um plano de trabalhos para a implementação,
nos próximos anos, de um ecomuseu.
A Quaternaire Portugal, depois do trabalho de campo, orientado pelo Dr. Hugues de
Varine, apresentou em Maio de 2001 o seu relatório final intitulado: “Estudo de Concepção e
de Programa do Ecomuseu do Barroso.” Este trabalho contou com o apoio de muitas
organizações e pessoas locais, sempre dirigido por uma equipa de base, coordenado pela
Dr.ª Elisa Pérez Babo, com a Eng. Mariana Brandão e Eng. Paula Guerra, estando a
consultoria externa a cargo de um especialista, co-criador do conceito do ecomuseu, de
mérito reconhecido mundialmente, o Dr. Hugues de Varine.
Sendo o Ecomuseu assumido como projecto municipal, desde novembro de 2001 começou
a ser constituída uma equipa local para a sua implantação. Em reunião, no Salão Nobre da
Câmara Municipal, onde estiveram diversos técnicos das associação de desenvolvimento
local e regional, da Câmara Municipal, os técnicos da Quaternaire e algumas pessoas
convidadas. Hugues de Varine transmitiu a ideia de um Ecomuseu – Projecto de
desenvolvimento local, levando os presentes a tentar escolher para a liderança uma equipa
dinâmica e com iniciativa. O Senhor Presidente propôs o nome do Dr. Montalvão Machado,
da Associação de Desenvolvimento Regional do Alto Tâmega – ADRAT, para coordenar o
projecto, mas este argumentou que daria todo o apoio mas devia ficar uma pessoa nova e
de Montalegre, a liderar o Ecomuseu.
Foi contratado a termo certo por dois anos o técnico David José Varela Teixeira. A
escolha terá sido pelo trabalho feito na Empresa de Promoção e Organização de eventos,
em Montalegre, a NaTurBarroso e por ser a primeira pessoa do concelho que possuía
formação Superior em Turismo. Para que o Ecomuseu de Barroso tivesse o seu aparecimento
nas aldeias e de entre as associações, o técnico teria de ser alguém em quem a população
local tivesse confiança. Para trabalhar com as pessoas simples, o conhecer a mãe, o pai e a
30
Vido logótipo anexo VI.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
63
Ecomuseu de Barroso
avó é o primeiro passo para merecer a adesão dos Barrosões, e neste caso o neto da Sr.ª
Maria do correio, reunia essas características. A minha avó e o meu pai eram as pessoas que
faziam o correio para as aldeias de Meixedo, Gralhas, Sto. André, Solveira e Vilar de
Perdizes. Claro que a avó tinha como meio de transporte o burro, que utilizava para levar e
trazer favores a todos que lhe pediam, como ela dizia muitas vezes: “os alforges do meu
burro andavam sempre cheios” e “os meus filhos nunca tiveram fome”. O meu pai, já rapaz
novo, quando não havia neve e gelo trocava o burro pela bicicleta. Não transportava tantas
coisas, mas tinha a vantagem de ler as cartas, às velhinhas, dos filhos que estavam na
França ou na América, ou mesmo da guerra do ultramar, para onde acabou por ir cumprir o
serviço militar. O ser neta da Maria do correio, foi sinónimo do ser recebido sem
desconfianças, mas foi também sinónimo de grande apego à terra e às gentes, que cá
vivem. Fui sempre um elemento activo nas associações locais e mesmo na paróquia. Quando
estudava no Porto, o não vir a Montalegre todas as semanas era o suficiente para uma
semana tensa e aborrecida. Confidenciava muitas vezes aos colegas de viagem, quando
começava a descer para a Vila e respirava o ar da serra, “já podia voltar para o Porto, já
respirei este arzinho…” e o desejo de voltar à terra e conseguir desenvolver um projecto em
que aumentassem as condições de vida das pessoas tornou-se possível.
O desafio tinha tanto de belo como de megalómano. Aquilo que aterrorizava a maioria
dos colegas “velhos do restelo” era o que mais me incentivou a agarrar este projecto. A
ideia de um Ecomuseu para o Barroso resultava da consciência e da necessidade de
salvaguardar o património do Barroso, nas suas múltiplas componentes, naturais, culturais,
históricas e socio-económicas, aliando-se a tudo isto a finalidade de contribuir para o
desenvolvimento das populações locais, assumindo a valorização dos recursos humanos e do
património existente, em paralelo com a criação de uma nova imagem dos produtos locais,
aumentando a sua rentabilidade. O território surge como matriz de referência das pessoas
a um património natural e cultural, matriz de identidade(s), cada vez mais decisiva na
formação de uma sociedade global que procura não perder o sentido do local.
Nesta medida o Ecomuseu de Barroso pretende afirmar-se como espaço de valorização
e divulgação dos recursos e do património do Barroso, de representação identitária, de
formação, de participação e de cidadania, de concertação e de cooperação e, de inovação
e de mobilização das pessoas para novas actividades.
O Ecomuseu pretende no futuro diversificar os meios e os espaços de exposição e
divulgação dos seus recursos, abordando discursos expositivos diferenciados. Serão
progressivamente constituídos, ou consolidados, núcleos museológicos, em diferentes aldeias,
que possam conter exposições de várias colecções, enriquecidas com elementos noutros
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
64
Ecomuseu de Barroso
suportes comunicacionais, como vídeo, multimédia ou outros; percursos no territórios
(homologados pela Federação Portuguesa de Campismo), circuitos de património, pontos de
interpretação da cultura e do ambiente desta região, locais de experimentação ou de
aprendizagem de saberes, costumes e saberes-fazer tradicionais.
Para além do efeito mobilizador interno, o Ecomuseu do Barroso assume-se como espaço
de ligação desta comunidade com o exterior, privilegiando atitudes e iniciativas de
cooperação e de parceria com outros museus e outros territórios. Este projecto terá sempre
presente a promoção turística da região como actividade geradora de riqueza.
Os primeiros meses foram passados a conhecer o estudo de concepção e a definir a
prioridade dos projectos. Com a assessoria da Quaternaire durante 6 meses, fui definindo
os espaços necessários no projecto arquitectónico do núcleo central a instalar nas casas
antigas, junto ao Castelo de Montalegre. O projecto de arquitectura deu início à criação de
acompanhamento pela Rede Portuguesa de Museus e pelo IPPAR, e a necessidade de
financiamento impulsionou a elaboração de uma candidatura à medida 1.4 da ON, na
CCDR-N. no Porto.
Do apoio da Rede Portuguesa de Museus surgiu a necessidade de contracto de um
Antropólogo, com formação em Museologia para se iniciar o inventário do Património e
cumprir a exigência de ter quadros com a formação adequada. João Azenha foi o
Antropólogo escolhido no concurso e que deu início à equipa do Ecomuseu de Barroso.
Neste momento, várias parcerias foram criadas, entre universidades e diversas
organizações, como o PNPG, a Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho, A
Universidade Fernando Pessoa, associações locais e juntas de freguesia, dando origem a
diversos projecto, já em excussão. Em parceria com a UTAD ( Universidade de Trás-osMontes e Alto Douro) temos um protocolo de estágios curriculares. No ano 2003 dois alunos
de Antropologia e um de Recreação, Turismo e Lazer, estagiaram no Ecomuseu. Com o apoio
do Centro de emprego teve lugar um estágio profissional para uma licenciada em Turismo e
Ambiente. Com a escola secundária Dr. Bento da Cruz estamos a desenvolver uma parceria
com o grupo de estagiários de Biologia / Geologia que no ano lectivo 2002/2003 resultou
na caracterização geológica dos percurso pedestres editados pelo Ecomuseu e uma sessão
de sensibilização ambiental na escola que culminou na libertação de duas Águias de asa
redonda (Buteos Buteos). No presente ano lectivo está a ser criado um roteiro geológico na
aldeia de Vilar de Perdizes.
Além do inventário do património que continuamos a realizar, estamos a desenvolver os
projectos museológicos para o núcleo sede, para o pólo de Pitões das Júnias, para o pólo
de Tourém e para a casa do Capitão, em Salto, bem como todo o apoio concedido às
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Ecomuseu de Barroso
escolas do concelho, nas suas áreas de projecto e acompanhamos grupos de alunos que nos
solicitam visitas temáticas.
Um trabalho que nos tem ocupado muito tempo é a realização e acompanhamento de
algumas candidaturas a financiamento de diversos projectos:
Rede de Percursos Pedestres do Barroso, com o agrupamento de Escuteiros 1115 de
Montalegre; recuperação do Forno Comunitário de Paredes do rio, com a Associação Social
e Cultural de Paredes do Rio – recuperação e valorização do forno e forja; recuperação da
Forja do Vilarelho, candidatura em parceria com o Ferreiro; recuperação do Pisão de
Tabuadela, com o Pisoeiro, todos candidatados ao Programa LEADER+.
Foi aprovado INTERREG III A para a revalorização da Via Romana (Via XVII de Braga a
Astorga) em que participaram todos os municípios, por onde passa a VIA. Hoje temos o
problema de dois presidentes da junta da Aldeia de Currais e de Cervos, que vendo o
aumento do número de visitantes aos traços de calçada original, decidiram melhorar os
caminhos para que mais facilmente as pessoas circulem. Não sendo fácil fazer-lhes entender
que o valor patrimonial está na calçada tosca e não na história da passagem dos romanos
que se conta.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
66
Ecomuseu de Barroso
6.2. O Financiamento Comunitário
Os pólos temáticos, situados nas aldeias de Pitões as Júnias e Tourém, sendo espaços
comunitário, têm a parceria do ecomuseu na elaboração e execução de candidaturas ao
programa AGRIS, medida 7.1. À espera de aprovação estão as candidaturas das Aldeias
de Fafião, Sirvozelo e Borralha. Tendo havido unidade de Gestão dia 16 de Abril de 2004
foram aprovadas as candidaturas de Sirvozelo e Fafião, foram homologadas pelo Sr.
Ministro da Agricultura, e estão em execução.
O programa AGRIS – medida 7.1 permite o investimento em espaços públicos e em
espaços privados, o que possibilita uma recuperação de espaços e edifícios numa lógica de
concentração de investimento e de exemplaridade de experiências. Os espaços públicos que
estão a ser valorizados e beneficiam todos os habitantes são os seguintes: na aldeia de
Pitões das Júnias, o forno comunitário, um canastro, um moinho ( que mesmo sendo de
herdeiros foi por estes cedido para visitas livres, embora o uso/fruto apenas seja dos
antigos herdeiros e também dois percursos de acesso ao porto da lage e ao mosteiro de
Sta Maria das Júnias. O maior investimento é feito na antiga corte do boi, que se irá
converter em pólo temático. No investimento privado, que é cerca de 50% da totalidade do
projecto apenas se pode recuperar fachadas me caixilharias e telhados.
Na aldeia de Tourém a recuperação dos espaços públicos incidirá no largo do forno, na
recuperação das fontes sua envolvente e a recuperação da corte do boi para espaço de
exposição, como pólo do Ecomuseu. Esta aldeia possui um forno comunitário de arquitectura
medieval que está a sofrer obras de melhoramento, financiadas pelo Programa POA –
Programa Operacional do Ambiente, lideradas pelo PNPG.
A candidatura à CCDR-N, medida 1.4 – Promoção e Valorização do Ecomuseu de
Barroso foi aprovada finalmente, em Janeiro de 2004. Esta candidatura permitirá a
constituição do Arquivo Audio-Visual, com a Universidade Fernando Pessoa, teremos
financiamento para material informático, para a produção de painéis expositores de
sensibilização e educação para o património e para uma linha de edições de 2 livros e 5
desdobráveis temáticos, fruto do inventário que se tem vindo a fazer.
A recuperação da Forja do Bilarelho, do Forno e forja de Paredes do Rio, na aldeia de
paredes do Rio, com o apoio da Associação Social e Cultural de Paredes do rio e a Criação
da Rede de Percurso Pedestres de Barroso, com a parceria doo Agrupamento de Escutas de
Montalegre 1115, foram financiadas pelo Programa LEADRE +, sendo o processo liderado
pelo ecomuseu.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
67
Ecomuseu de Barroso
6.3. Plano de Actividades
O Ecomuseu de Barroso, definiu como filosofia de trabalho, procurar sempre parcerias
para organizar qualquer evento, não por razões financeiras, ou por escassez de pessoal,
mas ao trabalhar em equipa, estamos a sensibilizar um conjunto de pessoas para os temas
em questão.
O maior exemplo deste diálogo com a comunidade é a criação da “Comissão Local
para o Património e Ecomuseu (CLPE)” que reúne de dois em dois meses como espaço de
discussão e de propostas para influenciar a orientação do projecto.31
A CLPE é constituída por quinze pessoas, com trabalho feito na área da cultura, do
artesanato, da agricultura, do turismo, do PNPG e dos desportos de montanha, que se
comportam como olhos do Ecomuseu no meu das sua organização social e têm a capacidade
de transportar para o ecomuseu as dificuldades e os desafios da comunidade.
6.3.1. Actividades de 2003
4 de Janeiro – “Cantar dos Reis” aldeia de Covelães
4 de Março – “Carnaval de Tourém” aldeia de Tourém
13 de Junho – “Noite das Bruxas” em Montalegre
Agosto – “Malhada Tradicional” aldeia de Paredes do Rio
11 de Novembro – “ Magusto de S. Martinho” aldeia de Pitões das Júnias
Dezembro – “Matança do Porco Bísaro” aldeia de Paredes
* Actividades realizadas em parceria o PNPG e Associações locais
CCR - Registo Audio-Visual de âmbito alargado (eventos, etnografia, memória oral...)
Inventário do Património
Edição de pelo menos uma obra (ex. moinhos; alminhas; ... do concelho de Montalegre)
Edição de painéis promocionais da região
Apoio às escolas no desenvolvimento de trabalhos de Área Escola e Área de Projecto
Apoio ao Museu da Pessoa – projecto “Barroso e suas Histórias de Vida” – U.Minho
Estudo e intervenção nas Turfeiras; com a Universidade de Santiago de Compostela
31
Vide anexo I - CLPE
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Ecomuseu de Barroso
Continuação da parceria com a UTAD e com a Unidade de Arqueologia da U. Minho
Elaboração de projectos com a Comissão Local para o Património e Ecomuseu
1,2,3,4 de Maio – IV Jornadas Nacionais de Pedestrianismo
-
Marcação de 6 Percursos Pedestres com cerca de 120 Km
Apoio à execução do AGRIS de Tourém – Projecto museológico da Corte do Boi
Apoio à execução do AGRIS de Pitões – Projecto museológico da Corte do Boi
Parceria com o PNPG e a Zona Agrária na elaboração do “Plano de Acção Local –PAL”
Núcleo Central – acompanhamento do projecto de Arquitectura e definição do projecto
Museológico. Inicio das Obras.
Apoio aos espaços expositivos existentes: (inventário e técnicas de conservação e exposição)
•
Vilar de Perdizes; Viade de Baixo; Vila da Ponte; Barracão; Posto Experimental;
Paradela; Venda Nova e Borralha.
INTERREG em Parceria com PNPG:
* Escola da Pedra – 8 pessoas
Escola de Recuperação Ambiental e de sítios arqueológicos – 12 Pessoas
SIG – Sistema de Informação Geográfica
Central de Reservas e um gabinete de apoio aos empreendimentos turísticos
Recuperação de 5 lagares de Azeite, moinhos e pisão de Paredes
* Valorização da Via Romana e dos caminhos de Santiago
* Projecto museológico do Núcleo Central do Ecomuseu
* Projecto museológico para a Casa da Capitão de Salto e para as Minas da Borralha
Apoio ao Programa LEADER + para a Forja de Montalegre e Forno de Paredes
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Ecomuseu de Barroso
6.3.2. Actividades de 2004
Janeiro
Cantar dos Reis - Aldeia de Covelães
Fevereiro
Dia 13 Noite de Bruxas
Dia 22 Desfile do Entrudo – Aldeia de Tourém
Dia 24 Desfile do Entrudo – Aldeia de Vilar de Perdizes
Março
Dia 21 Percurso Pedestre GR 25.1 – com as Escolas do Concelho
Abril
Dia 10 Queima do Judas
Maio
Tratamento do acervo recolhido nas aldeias (Polo de Salto, Pitões e Tourém)
Junho
Dia 5 Grande Caminhada Ibérica – 46 Km (Conjunto de 3 circuitos a iniciar e finalizar na
CMM) – Chamadas Carrilheiras de Barroso.
Dia 6 Percurso Pedestre; PR4 Trilho do Rio – 23 Km
Julho
Prova de Parapente
Encontro anual das escolas com Clube do “Ar Livre”, do Norte de Portugal
Agosto
Dia 8 Segada e malhada do centeio, com malhos – Aldeia de Paredes do Rio
Malhada do centeio, com malhadeira – Aldeia de Sto. André
Dia 13 Noite Celta / Noite das Bruxas
Setembro
Percurso Pedestre, PR5 Trilho do Rabagão
Outubro
Percurso Pedestre, PR2 Trilho do Leiranco
Exposição de Níscaros
Novembro
Magusto de S. Martinho – Aldeia de Pitões das Júnias
Dezembro
Dia 5 Matança Tradicional do Porco – Aldeia de Paredes do Rio
CANDIDATURAS ELABORADAS EM 2004
ON - CCDR-N medida 1.4:
Promoção e Valorização do Ecomuseu de Barroso – Aprovada
LEADER +:
Forja do Vilarelho, Montalegre – Aprovada em execução
Forno e Forja de Paredes do rio – Aprovada e concluída
Rede de Percurso Pedestres de Barroso – Aprovada em execução
Pisão de Tabualdela – Recusada (integrada numa candidatura INTERREG III A)
INTERREG III A: (segunda Fase)
VIAS AUGUSTAS – Via Romana – em execução ( INTERREG III A – 1ª Fase)
VIAS AUGUSTAS II – Carta arqueológica
Recuperação de Património Fronteiriço
Ecologia – Centro de reentrodução de espécies, limpeza de barragens e plantação
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Ecomuseu de Barroso
Campo Lameiro – margens do Cávado, Edições temáticas, SIG e central de reservas
Couto Mixto – Sinalética turística e recuperação de património
POA :
Ecomuseu núcleo sede – aguarda parecer
AGRIS medida 7.1:
Aldeia de Fafião – Aprovada aguarda homologação
Aldeia de Sirvozelo – Aprovada aguarda homologação
Aldeia da Borralha – Aguarda parecer
6.3.2.1. Actividades relevantes
Salientamos a recuperação do Fojo do Avelar
Carrilheiras de Barroso pareceria com as caminhadas galegas de Allariz e Entrimo,
encontro Luso Galaico – 50 km.
Campeonato Absoluto de Orientação em BTT - 8 e 9 de Maio, pareceria do clube
montes e vales e Papaventos, decisão dos campeões Nacionais, que representarão
Portugal na Autrália.
Jantar cultural – dia 4 de Junho
Noite das Bruxas e o Festival de musica Celta
Jornadas micológicas
Trabalho dos estagiários da UTAD
Os serviços educativos – parceria coma as escolas do 1º ciclo:
Vilar de Perdizes, Escola de Viade de Baixo, Escola nº2 de Montalegre, Escola de Pitões
das Júnias e o Projecto do Espigueiro – Novas tecnologias, pág. Web.
Dias 17 e 24 de Junho recepção das escolas do 1º Ciclo de Esposende com parceria com
turmas do 1º ciclo de Montalegre sob o tema “Rio Cávado da nascente até à Foz”.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Ecomuseu de Barroso
6.3.3. Actividades de 2005
Encontro do Movimento da Nova Museologia
Feira Medieval – Sexta 13 de Maio
Pequenas edições Temáticas
Manutenção e criação de um percurso pedestre
Musealização do Núcleo sede do Ecomuseu
Musealização/equipamento do pólo de Tourém
Musealização/equipamento do pólo de Pitões
Musealização/equipamento do pólo da Casa do Capitão
Candidaturas:
Medida 1.4 CCDR – em execução
INTERREG III B – com a AdDRAT
AGRIS medida 7.1 – Borralha
Apoio em materiais para a reconstrução de moinhos, fornos e canastros, por nós
seleccionados.
Actividades tradicionais:
Cantar dos Reis
Entrudo
Segada e Malhada de Centeio
Matança do Porco
Magusto
Parapente Prova Ibérica
Carrilheiras de Barroso
Festival de Música Celta
Parque de campismo
Edição do Livro – Memórias paroquiais e Antologia da Chega dos Bois
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Ecomuseu de Barroso
7. O Projecto de Musealização
7.1. Os Espaços Museológicos
Sendo a filosofia de acção do Ecomuseu de Barroso a valorização do património “in
sito” em toda a extensão do concelho, sempre que isso seja possível, propomos a criação de
vários pólos museológicos, com uma ligação permanente ao Núcleo Sede, representando a
identidade mais específica da área em que está inserido, envolvendo sempre as populações
locais, para que elas reconheçam e aproveitem as novas possibilidades de rendimentos
extra ás suas profissões tradicionais.
“O museu procura fazer descobrir o património de um território aos seus habitantes e aos
seus visitantes. Diversifica a oferta cultura…”32
7.2. A Sede do Ecomuseu de Barroso
O desenvolvimento do projecto do espaço central do Ecomuseu a instalar na zona
histórica de Montalegre exige um esforço concentrado dos parcos recursos humanos.
O Núcleo sede será instalado na envolvente do Castelo de Montalegre sendo o projecto
de arquitectura da responsabilidade do Arq. Jaime Eusébio, que tem trabalhado com os
técnicos do Ecomuseu no terreno e recebeu o apoio da Arq. Teresa, da Rede Portuguesa de
Museus, para facilitar uma coerência entre o projecto de arquitectura e o programa
museológico. Deste programa dependem as opções arquitectónicas em matéria de
iluminação natural e artificial, de controlo de temperatura, de humidade e de organização
dos espaços (implantação de aberturas, circuitos de visita, acessos a pessoas diminuídas
fisicas, revestimentos, condições acústicas, infra-estruturas informáticas, sinalética e elementos
gráficos e segurança).
Foi um ano de trabalho em equipa com algumas viagens ao Porto, para sucessivas
negociações com os técnicos do IPPAR, que ao contrário da imagem generalizada, sempre se
mostraram muito dispostos a dialogar a abertos às nossas propostas. O projecto é um bom
projecto, o local pequeno e recortado exigia uma proposta imaginativa e funcional e penso
que foi conseguido. Na fase de excussão da obra, registo uma critica ao IPPAR, não
acompanha o evoluir da obra e se algo não é feito como desejavam, apenas apontam o
dedo, sem terem feito uma “medicação preventiva” de acompanhamento.
32
François Sauty, pag 13.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
73
Ecomuseu de Barroso
Os objectivos gerais formulados para esta estrutura são concentrar as funções de
natureza organizativa centrais com vista à dinamização e gestão do Ecomuseu de Barroso;
dotar o Ecomuseu de recursos e competências necessários ao desempenho das funções de
natureza científica, museológica e de comunicação/educação (interpretação e exposição) no
âmbito da valorização e promoção do património do Barroso. Na perspectiva do apoio
técnico a fornecer aos diferentes pólos a criar nas unidades distribuídas pelo território e da
colaboração com outras instituições locais e regionais no sentido de uma qualificação das
capacidades existentes e; dotar o Ecomuseu de instalações adequadas ao funcionamento do
seu
dispositivo
de
coordenação
operacional
e
de
representação
institucional,
designadamente, da equipa técnica responsável pela coordenação do projecto na sua fase
de arranque.
A criação do núcleo sede do Ecomuseu não deverá ter por objectivos nem a
centralização das funções museológicas e de gestão do património, nem a concentração nas
suas instalações do acervo a constituir. Trata-se, pelo contrário, de constituir uma unidade
dentro do projecto global que assuma algumas das funções de gestão, orientação e apoio
técnico às inúmeras iniciativas e actividades distribuídas pelo território e pelos seus actores,
em função das capacidades locais de mobilização das pessoas e da emergência de pólos
de animação.
As instalações da sede do Ecomuseu de Barroso são concebidas e projectadas para
responder às necessidades de implementação das actividades de estudo, documentação,
preservação e reserva preventiva, interpretação do património do Barroso e orientação dos
públicos, para o conhecimento deste território, gestão e apoio técnico, especialmente
vocacionado para o suporte o funcionamento dos pólos museológicos e de actividades
integrantes do Ecomuseu.
Os edifícios e instalações do núcleo sede do Ecomuseu estão organizados segundo três
categorias de espaços:
- Espaços públicos: acessíveis a todos, sem restrições, segundo um regulamento a
estabelecer e a fazer cumprir, onde sejam estipulados designadamente os preços de
entrada e os horários de acesso;
- Espaços semi-públicos: acessíveis a pessoas do exterior sujeitos a modalidades
prefiguradas, incluindo, marcação de visitas guiadas, seminários, estudos ou investigações,
animações organizadas (escolares e outras), para outras prestações de serviço, etc.;
- Espaços privados: acessíveis exclusivamente aos membros da equipa ou a pessoas
autorizadas (políticos, pessoal dos serviços municipais, investigadores, colaboradores ou
prestadores de serviços, etc.).
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
74
Ecomuseu de Barroso
Neste projecto considera-se que deverão fazer parte das várias categorias de espaços
as seguintes componentes:
- Espaços públicos: os espaços exteriores entre os edifícios (que serão objecto de
tratamento paisagístico), a recepção e átrio de entrada, incluindo serviços (balcão de venda
de bilhetes, bengaleiro, W.C., outros), a sala ou espaço de audiovisual, o circuito de
exposição e a sala de exposições temporárias, a loja turística, o centro de informação e o
parque de estacionamento.
- Espaços Semi-públicos: sala pedagógica, sala de reuniões, sala de inventário do
património, reservas.
- Espaços Privados: gabinetes, atelier de montagem e manutenção,
recepção para
elementos de exposição, ateliers gerais (técnicos, de construção e de conservação).
Propomos um circuito permanente de exposição em que o seu conteúdo deverá ser
actualizado e evolutivo, com revisões eventualmente anuais, em função da avaliação da sua
eficácia e da evolução do próprio projecto do Ecomuseu no seu todo. Neste sentido, as
soluções expositivas e museográficas não deverão ser nem demasiado rígidas nem
demasiado onerosas, de modo a viabilizar as alterações pretendidas.
Relativamente aos conteúdos museográficos a inserir na exposição permanente, não se
pretende com a exposição tratar o Barroso de forma exaustiva, temática ou sintética.
Pressupõe-se, de acordo com os princípios de construção do Ecomuseu, que seja o próprio
território a integrar as suas colecções, pelo que é necessário visitá-lo e usufrui-lo. Para além
disso, os diferentes temas com interesse serão abordados quer nos pólos territoriais, quer em
exposições temporárias, quer em actividades complementares à exposição permanente,
como podem ser alguns suportes audiovisuais, conferências, debates e publicações.
Neste sentido, partimos dos seguintes elementos preliminares para trabalhar o discurso
expositivo e as soluções museográficas da exposição:
Painel da escadaria: o objectivo central da mensagem é a tomada de conhecimento do
Barroso com base numa apresentação cartográfica de qualidade, uma dimensão entre os 4
e os 6 metros de altura, com a informação a constar será relativa às paisagens, aos sítios
mais importantes e da multiplicidade de pólos territoriais, assim como das entradas e saídas
do território.
Sala dos cinco sentidos – Dedicada à descoberta sensitiva do Barroso, através dos 5
sentidos, designadamente:
- Visão, através de audiovisuais curtos e interactivos (da paisagem natural e humana);
- Audição, por gravações de vozes, pequenos contos, dos sons dos animais, dos barulhos
das cascatas e rios, do barulho do vento, dos teares, das alfaias agrícolas;
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
75
Ecomuseu de Barroso
- Tacto, pelo toque de amostras de pedra e de terra, de folhas, de tecidos naturais;
- Gosto, pela prova de pequenos pedaços de fumeiro, de frutas da época, da batata;
- Olfacto, através da oferta de cheiros característicos, flores de montanha, ervas
aromáticas, fumo;
Este conjunto de elementos /informação sensitiva deverá inserir-se numa exposição de
fotografias e de objectos representativos do habitat, da vida quotidiana, das tradições, do
ambiente, da religião, do clima, etc., dispensando um discurso pedagógico, mas apelando à
imaginação dos visitantes e fornecendo dimensões variadas do território.
Sala de orientação – Será uma espécie de central de encaminhamento, onde o visitante
poderá escolher o que pretende fazer para descobrir o Barroso, para percorrer a região,
para conhecer: - escolha do modo de transporte (carro, bicicleta, marcha, individual ou em
grupo, acompanhado ou não), escolha do destino e do tempo de visita, detalhes sobre os
diferentes sectores oferecidos à visita, etc.
O objectivo será fornecer informação suficiente de modo a suscitar nos visitantes o
desejo de conhecer melhor e permitir a escolha, mas sem se tornar exaustivo. Esta área
expositiva será, sem sombra de dúvidas, a que maior flexibilidade deverá ter, uma vez que
a oferta apresentada deverá mudar sistematicamente a par da evolução e do crescimento
do Ecomuseu.
As informações dadas nesta sala de orientação poderão ser aprofundadas com material
disponível na loja, incluindo guias, cartas/mapas e publicações, que se destinem igualmente
a apoiar as visitas no terreno.
Sala do simbólico – Dedicada à compreensão das componentes simbólicas da região do
Barroso, da sua cultura e das suas gentes, dos seus modos de vida.
Esta sala poderá utilizar o “léxico” do território e da população como um dos elementos
de identificação e interpretação dessa dimensão, para além de outras formas de linguagem
(imagens, objectos, música).
Esta parte da exposição apela a uma grande participação das competências locais. A
compreensão das tradições (vida comunitária, forno do povo, as crenças, as festas, etc.), das
relações pessoais e familiares, das actividades económicas de base (a pastorícia, o fumeiro,
as produções agrícolas, etc.), das particularidades linguísticas, de outras manifestações
sociais como o contrabando, a emigração, a bruxaria, a água e a serra poderão ser
exploradas através de diferentes formas de linguagem.
A concepção e produção desta exposição, na sua globalidade, deverá envolver um
grupo de trabalho que associe profissionais com voluntários, no sentido de chegar a um
programa detalhado, incluindo cenário museológico e sua posterior execução.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Ecomuseu de Barroso
A concepção e produção da exposição permanente, incluindo estes vários espaços,
deverá entrar em consideração com a diversidade de público-alvo a que se destina.
Teremos neste núcleo central do Ecomuseu fundamentalmente quatro grandes segmentos de
público, com motivações, interesses e capacidades de interpretação diferenciados:
- o público escolar, que em princípio vem acompanhado por alguém que assume um
papel de intermediação em relação à exposição e que, abarca motivações e interesses
muito diferentes em função do seu grupo etário;
- a população do Barroso, que vem principalmente para ver o que lhe pertence, que tem
facilidade de apreensão dos códigos presentes, de interpretação dos objectos, com
motivações essencialmente voltadas para o acompanhamento de amigos ou para a busca de
momentos de convívio, de recordação e de sociabilidade;
- os visitantes portugueses, que dominam alguns dos códigos presentes na exposição;
- os visitantes estrangeiros que não possuem qualquer conhecimento desses códigos, não
dominam a língua e que vêm essencialmente por motivos turísticos.
Destes quatro segmentos aqueles com quem, à partida, poderá ser mais difícil o diálogo
são os dos visitantes portugueses e estrangeiros. Colocam-se dois tipos de problemas, na
escolha das imagens e na escolha dos textos explicativos. O texto deverá ser sobretudo
orientado para os visitantes portugueses, que dominam a língua. A apresentação audiovisual
a inserir no início do percurso da visita deverá ser orientada especialmente para os
visitantes estrangeiros e, por isso mesmo, ter como objectivo central a divulgação e
promoção turísticas.
Há outros espaços públicos que devem ser pensados como complemento à visita da
exposição permanente, mas igualmente com a possibilidade de se aceder a eles sem ter
necessariamente de se fazer a visita dessa exposição de introdução do Barroso.
Inclui-se neste grupo de espaços públicos os seguintes:
Espaço audiovisual – Esta sala (ou área), que fica situada na proximidade da entrada e
do acolhimento do Núcleo central, deverá ser orientada para diferentes segmentos de
público e diferentes utilizações. Deverá estar equipado com tecnologias audiovisuais e
multimédia modernas e deverá ser dotado de um isolamento acústico bem adequado face
ao interior e ao exterior.
Preferencialmente será destinada aos visitantes exteriores, portugueses e estrangeiros,
que têm necessidade de uma iniciação ao Barroso ou que desejam aprofundar um tema
particular; é necessário dispor de produtos audiovisuais multilingues e ter uma articulação
estreita com a mediateca do museu e com outros equipamentos ou instituições municipais ou
locais.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Ecomuseu de Barroso
Será utilizada por grupos escolares e de estudantes, com sessões formativas ou ainda
para os habitantes (pessoas/recursos, membros dos grupos locais), para o conhecimento
geral do território, para a apresentação de certas partes desse território ou para ver
alguns documentos audiovisuais específicos.
A programação desta sala audiovisual deve cumprir um esquema que permita uma
utilização partilhada pelos diferentes segmentos de público, sem problemas de sobreposição
de interesses e concorrência.
A utilização que se pretende vir a fazer do audiovisual como suporte de informação e
de interpretação neste núcleo central do Ecomuseu, exige, desde já, um esforço na
realização de alguns produtos ou na eventual aquisição (por exemplo, o filme realizado em
Tourém sobre o ciclo do linho, o filme de Per-Uno Agren sobre os sistemas de drenagemirrigação dos lameiros, o Boi do Povo), no sentido de poder dispor de material no momento
da inauguração.
Sala de exposições temporárias – Será destinada a exposições temáticas ou itinerantes.
Loja Turística – Será destinada à venda de produtos do Ecomuseu, do Barroso e dos seus
artífices; espaço que deverá ter acesso livre.
Centro de informação e comunicação – Tem uma concepção mais ampla que um posto de
informação ao visitante, especialmente de natureza turística, podendo abranger o apoio a
diferentes segmentos de destinatários:
- os visitantes, que procuram informação de natureza especialmente turística, incluindo
informação sobre alojamentos, restauração, transportes, horários dos serviços, eventos,
informação esta que extravase a informação mais cultural oferecida pelo Ecomuseu;
- a população local, que poderá dirigir-se a este centro para se inteirar das actividades
do Ecomuseu, das oportunidades que este lhe oferece em matéria de actividades, de
escoamento de produtos, de participação em actividades culturais e de valorização do
património, ou ainda, para obtenção de informações sobre programas e projectos que
favoreçam a sua actividade e lhes facultem oportunidades de uma participação no processo
de desenvolvimento económico e social do concelho;
- os correspondentes de fora, que podem, via Internet, comunicar com o Ecomuseu no
sentido de acompanharem as actividades e projectos em curso ou de oferecerem informação
sobre outras experiências.
O programa deste núcleo central admite a integração de actividades monitoradas e
orientadas pelos serviços do Ecomuseu, designadamente de natureza educativa e
pedagógica. Nesta medida entende-se que o espaço mais importante seja:
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Ecomuseu de Barroso
A sala pedagógica para acolhimento de grupos de visitantes, na sua maioria grupos
escolares, mas também grupos organizados. A sua capacidade máxima deverá permitir a
instalação de cerca de 25/30 pessoas, com flexibilidade para funcionar em formato de
sala de formação ou de auditório, com equipamento audiovisual e multimédia, incluindo um
écran, podendo incluir acções de formação em oficina de trabalho (exemplos como no
campo do artesanato).
A sala de documentação que deverá ser dotada de equipamentos informáticos e
multimédia adequados e de mobiliário de armazenagem de documentos (papel, fotos,
filmes, cassetes, etc.), com acesso previsto a investigadores e colaboradores do Ecomuseu
que poderão aí trabalhar e aceder à informação documental existente em suporte de
sistema de bases informatizado;
Haverá espaços privados destinados ao funcionamento normal e quotidiano do
Ecomuseu, que não se limitando ao funcionamento do seu núcleo central, são reservados à
sua equipa técnica e aos seus colaboradores temporários ou permanentes. É o caso dos
gabinetes e outras dependências a eles associadas, da reserva de objectos de pequena
dimensão e da oficina.
7.3. Pólo Museológico – Casa do Capitão de Salto
É uma grande casa Senhorial antiga, em granito, que foi adquirida pela Câmara
Municipal de Montalegre, depois de ter sofrido um grande incêndio e ter ficado
abandonada durante alguns anos. Este edifício pertenceu ao Capitão da Aldeia, digníssimo
representante da autoridade e do poder, a nível local.
Este espaço teve uma reconstrução atribulada, devido á dificuldade de reconstrução que
foi apresentando, devido ao incêndio que tinha danificado mais do que esperado a
estrutura do edifício. A primeira empresa, da aldeia de Salto pouco mais fez do que
destruir o existente e reconstruir de forma tosca e atabalhoada algumas das paredes em
granito. A segunda empresa que pegou na obra, é do concelho de Valpaços, tentou terminar
o que já tinha começado mal e a nível de acabamentos também não foi muito feliz.,
especialmente a colocação de uma grande clarabóia que ainda ninguém conseguiu que
vedasse a água da chuva.
Estando a obra praticamente terminada surgiu o desafio do Sr. Presidente da Câmara
ao Ecomuseu, para apresentar uma proposta de utilização deste espaço. O local era bonito
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Ecomuseu de Barroso
mas as deficiências de construção eram demasiado evidentes para uma ocupação
museológica. Mas algo teria de ser feito e com estas condições maior era o desafio.
Os técnicos do Ecomuseu combinaram uma reunião com o Vice Presidente e vereador da
cultura que é também morador da aldeia de Salto, para em conjunto desenharem uma
proposta de utilização. Surge mais uma dificuldade, o Sr. Vereador sonhava criar um centro
cultural, com uma decoração mais pessoal e regional.
Depois de apresentadas as diferentes expectativas de uso do espaço, e já com o apoio
de um Arquitecto que teria de resolver as diligências da casa, o Sr. Presidente decide pela
proposta de criação de um Pólo do Ecomuseu, na senda do projecto do núcleo sede.
A Casa do Capitão será um museu que disponibiliza aos seus visitantes um conjunto de
serviços, que fará com que eles façam as pazes com este espaço. A recepção estará ligada
em rede com o município e permitirá pagar a água e os saneamento aos munícipes, tem um
gabinete para que o Vice Presidente possa fazer atendimento ao público uma vez por
semana, uma pequena biblioteca e um auditório para visionamento de filmes do ecomuseu
ou reuniões de trabalho. Os restantes espaços permitem um percurso museológico coerente.
No rés do chão ficam as alfaias agrícolas de grande porte, que permitiam o cultivo da
terra, na galaria de acesso ao auditório evocamos as minas de volfrâmio da Borralha, no
piso superior apresentamos o pau e os seus diferentes usos, no dia-a-dia. A sala maior
tratará os ofícios (artes e saberes) bem como o tema do pastoreio e da raça autóctone
Barrosã. Esta fará a ligação do tema dos cereais á grande cozinha tradicional que é
indispensável nestas casa. O percurso não ficará completo sem evocar o D. Nuno Alves
Pereira, que tanto tempo calcorreou estas terras, treinando as suas tropas no monte da
corneta, aqui tão perto. Todos estes saberes poderão ser reflectidos degustando os sabores
locais, na cafetaria do museu, que tem ao seu dispor os chás de ervas medicinais e os licores,
as compotas caseiras, o pão centeio e o fumeiro de Barroso.
7.4. Pólo Museológico de Pitões das Júnias
Será instalado na antiga corte do boi, lugar onde eram guardados os dois Bois do Povo.
Esta era uma das poucas Aldeias que tinha possibilidade para manter dois bois, um para
garantir a descendência das vacas limpas (fêmea que nuca abortou) e outro para as vacas
estragadas (vacas que já abortaram), e ambos defendiam a honra da aldeia nas
tradicionais “chegas dos bois”.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Ecomuseu de Barroso
Esta valorização integra- se num plano mais vasto de recuperação de alguns espaços da
aldeia, financiado pelo programa comunitário AGRIS medida 7.1, na qual alguns privados
obtêm ajuda para a requalificação de fachadas, caixilharias e telhados.
Nos espaços comunitários, pretendemos requalificar o forno da aldeia que irá dar apoio
a uma padaria de Pitões, o canastro, o moinho no largo do eiró e o percurso pedonal para
o Mosteiros e para a capelinha de S. João da Fraga. Na corte do Boi ficará instalado o
pólo do Ecomuseu, com as seguintes temáticas: A pastorícia em regime extensivo, a
agricultura de montanha, o boi do povo, o lobo ibérico e o Parque Nacional da Peneda
Gerês. O inventário do Património imóvel foi inventariado durante três meses, por uma
estagiária de Antropologia, no Ecomuseu. Está também, a ser feito o programa museológico
do pólo sendo feito o registo de algumas peças particulares, que têm interesse para o
museu. Este pólo terá uma pequena loja de produtos da terra e de artesanato local, que se
pretende que seja um ponto de divulgação e de rentabilidade, ficando uma pequena
percentagem para os gastos de funcionamento do espaço. As entradas terão um pequeno
valor, mais para controlo de entradas, que poderá não ser pago desde que os visitantes
sejam convidados de um habitante da aldeia e que seja ele próprio a acompanhar a visita.
Nos meses de maior turismo, haverá uma pessoa permanente, nos restantes meses as
visitas serão marcadas previamente e acompanhadas pelos técnicos d a sede.
7.5. Pólo Museológico de Tourém
O espaço comunitário escolhido para a instalação do pólo é a corte do Boi do Povo,
antiga casa de colmo, abandonada, faz já algumas dezenas de anos. Este projecto está,
também enquadrado no âmbito de AGRIS 7.1.
Nesta aldeia de fronteira, onde o comércio atinge uma expressão de muito peso na
economia da aldeia, as temáticas a tratar diferem um pouco, do habitual. Será tratado o
tema da fronteira e das suas implicação, do contrabando, da presença dos guerrilheiros
anti-franquistas, dos casamentos ibéricos, do couto misto e do imenso património natural
existente, especialmente aves na barragem de Sallas.
O inventário do património imóvel, foi realizado pelos estagiários de Antropologia da
Universidade de Trás-os-Montes, Paula Alves e Victor Chaves, que durante três meses
viveram nesta aldeia, acompanhando pastores, visitando todas as casas, gravando histórias,
registando saberes, que a memória vai atraiçoando cada dia, recordando histórias de vida
de uma relação difícil com a fronteira e a pobreza.
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Ecomuseu de Barroso
Os pólos do Ecomuseu de Barroso estarão ligados em rede ao núcleo sede, fazendo este
a gestão dos mesmos, marcando visitas, acompanhando grupos, dando sequencia ao
inventário do património. A sede e a casa do Capitão estarão permanentemente abertos
por causa dos serviços municipais que disponibilizam. Os restantes, apenas abrem ao fim de
semana e feriados, e permanentemente apenas nos dias de verão (Julho a Outubro)
assumindo a Câmara os encargos financeiros. As restantes visitas serão marcadas com
antecedência e poderão ter o acompanhamento dos técnicos da sede ou requisitar guias dos
pólos.
Também este espaço terá uma área - loja rural, para os habitantes locais poderem
expor e vender os produtos da terra e ajudar á dinamização do museu e ao financiamento
dos gastos correntes.
Importa salientar que esta aldeia está a fazer uma recuperação das habitações, de
forma exemplar, tornando-se a aldeia mais bem conservada do concelho, motivo suficiente
para que haja investimentos avultados, como é o caso do Hotel rural “Casa dos Braganças”
e futuramente uma nova residencial.
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8. Pólos a desenvolver no futuro
8.1. O Castelo de Montalegre
Mandado construir no ano 1273 por D. Afonso III, sofreu rudes ataques na defesa da
região, sendo parcialmente destruído algumas vezes. É uma construção com quatro torres, de
diferentes alturas, ligadas entre si por robusta muralha, conhecidas por torre de "menagem",
"furada", do "relógio" e "pequena". A torre de "menagem", a mais alta, do lado Norte, de
planta quadrada, é rematada por ameias pentagonais, e o andar superior rodeado por
mata-cães e alongadas mísulas. O interior , com acesso através de uma porta elevada, tem
quatro pisos, três deles em soalho e o terceiro assente em interessante abóbada de cantaria
de granito. A torre "furada", também chamada de “Torre da Rainha”, mais baixa, do lado
Sul, de planta quadrada, tem acesso através da "praça de armas", e uma porta ao nível do
adarve mas sem comunicação com o mesmo. Tem algumas frestas e é rematada igualmente
por ameias pentagonais. As torres do "relógio" e "pequena" só têm acesso através do
adarve e são constituídas por um único espaço interior de forma rectangular. A muralha,
simples, com adarve (reconstruído) descoberto, tem uma porta a nascente e configura a
"praça de armas" de forma circular, onde se abre uma cisterna, bastante profunda, com
acesso através de uma escada que se desenvolve no seu perímetro. Circundavam o castelo
duas linhas de muralhamento, com fossos, hoje entulhados. Junto à torre de menagem,
existem ainda vestígios de duas barbacãs.
Este Castelo encontra-se em fase de consolidação de estruturas internas para albergar,
posteriormente, nas duas torres maiores duas exposições: uma sobre a história da Vila de
Montalegre e uma outra sobre a arquitectura militar e a história do próprio Castelo. Pena é
que este Castelo não seja o local escolhido para uma exposição arqueológica
representativa do deste concelho, desde os marcos miliário da Via XVII, alguns exemplares
do tesouro de moedas romanas do baixo Império até aos torques de ouro e materiais
recolhidos nos diversos castros.
8.2. Museu da Música e dos Cantares Populares / Museu da memória
Pretende-se construir um pequeno auditório, e centro de investigação e recolha de
património musical (cantares ao desafio, bandas musicais, cantigas de lavoura, musicas de
raiz Celta), no novo edifício que vai ser construído para a escola de música da Banda de
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Parafita. Este projecto será desenvolver na aldeia de Parafita, com o apoio da Banda
Musical de Parafita ou em Pitões das Júnias com o apoio do grupo de Gaiteiros. O auditório
servirá para os ensaios do grupo e para pequenas actuações locais e o centro de
investigação e recolha servirá para compilar a história do grupo e da música do concelho.
Pretendemos com este desafio despertar a sociedade local, para a necessidade urgente
de compilação e recolha de muitas das canções de trabalho e histórias ditas nos fornos
comunitários e às lareiras, que todos os dias nos desaparecem e se tornam mais distantes.
Queremos que este espaço tenha todas as condições de gravação e tratamento de som, que
qualquer espaço de recolha da memória necessita.
8.3. Centro de Interpretação Arqueológico
Pretende-se criar um Centro de Interpretação Arqueológico junto ao Castro de
Codeçoso, na Venda Nova, devido ao seu estado de conservação e à sua proximidade com
a Via Romana, que neste momento se encontra submersa, nesse local, pelas águas da
barragem da Venda Nova. Este local terá um trabalho de limpeza e valorização e servirá
como de “Porta de entrada” no concelho de Montalegre, de quem se desloca de Braga,
pela estrada nacional (EN)103, fazendo uma breve abordagem do grande projecto do
Ecomuseu de Barroso e estará sempre em ligação com o Núcleo Sede - Montalegre
Um outro centro de interpretação arqueológico será valorizado na Aldeia de Vilar de
Perdizes, onde se situam diversas gravuras rupestres, penedo de Ramezeiros, penedo de
Caparinho, altar de Penascrita, pegadas da burrinha e onde as sucessivas escavações
arqueológicas têm revelado achados de grande valor. Os últimos achados foram dois
moinhos e um pequeno vaso, do paleolítico superior. É um local que pelas suas características
permite fazer a reconstituição da ocupação deste espaço desde . á milhões de anos.
Serão expostas as moedas encontradas nas escavações arqueológicas e as 1000
moedas romanas do Baixo Império adquiridas pela Câmara Municipal de Montalegre e os
machados de Bronze encontrados na aldeia de Solveira, datados de cerca do ano 1000
a.C. e se possível a cista, vaso com 4000 anos, bem como os torques de ouro, actualmente
no museu nacional de arqueologia, no Mosteiro dos Jerónimos.
Os monumentos arqueológicos, podem revelar a cultura, sociedade, economia e os
aspectos religiosos na região da história que nos antecede. Assim, deve-se proceder à
escavação de certos monumentos, como a cidade de Grou, o Castro de Codeçoso na Venda
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Ecomuseu de Barroso
Nova, no Castelo de Montalegre e as Mamoas da Veiga de Montalegre e do planalto da
Mourela, começados a pesquisar há mais de um século e justificando actualmente uma
revisão.
Devem ser realizadas escavações, em diversos lugares, nomeadamente no Castelo
Roqueiro do Juríz e na aldeia anexa, entre outros sítios que se revelem pertinentes. As
gravuras rupestres, santuários de ar livre, castros, castelos, necessitam de uma intervenção no
sentido da sua investigação e preparação para receber visitantes.
A arqueologia é uma ciência de investigação que se baseia em aspectos das ciências
sociais e físicas. Para melhor se conhecer a história de Montalegre, é necessário a criação de
uma unidade de investigação, que vá recolhendo os vestígios e efectuando escavações de
emergência e outras devidamente programadas. Assim dever-se-ia criar um Gabinete de
Arqueologia para funcionar como uma unidade local em inter-relação com universidades e
museus nacionais e regionais.
Um outro aspecto de grande valor para um melhor conhecimento do património local
seria a limpeza e sinalização da Via Romana que ligava Bracara Augusta a Aqua Flavia,
hoje Braga e Chaves, apontando para pequenos pólos de interesse e manchas de valor
natural e cultural, e Marcos Miliários existentes. Este trabalho está já a ser realizado com o
apoio finaceiro do INTERREG III A – VIAS AUGUSTAS, cujo chefe de fila é Astorga.
Seria também importante a criação de circuitos arqueológicos, valorizando o traçado da
Via Romana e os diversos elementos patrimoniais que existem de um passado longínquo.
Para uma melhor sistematização da informação e gestão do património será
fundamental a criação da carta Arqueológica Municipal, cujo aspecto mais significativos
será o conhecimento e a localização dos sítios, para assim melhor se poder actuar em termos
de protecção desses locais. O conteúdo dessa carta deveria verter para o Plano Director
Municipal, para assim poder ter valor legal.
8.4. Museu das Crenças Populares
Antes de mais, importa esclarecer que o uso do termo “crenças” está aplicado no sentido
do acreditar popular, num crer pela experiência feita ao longo dos anos, embora nada ou
muito pouco esteja provado cientificamente. Não é usado na perspectiva da fé cega e
subserviente, pelo consumidor dependente de bruxarias e adivinhações que muito pouco
ajudam quem a si recorre, mas aumenta de forma considerável a conta de quem encarna
esses papeis de representação.
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A farmacopeia popular, com os curandeiros e plantas de virtude, podem constituir um
núcleo museológico só dedicado a este tema, pois os Congressos de Medicina Popular,
organizados, na aldeia de Vilar de Perdizes pelo Padre Lourenço Fontes, têm ganho muitos
adeptos nos últimos anos. O congresso tem o apoio do Município de Montalegre, que nos
últimos anos tem sido pressionado para atribuir a organização do Congresso, ao Ecomuseu,
para que seja possível que da apresentação livre dos temas, haja uma análise séria e de
toda a discussão sejam editados todos os anos uma separata com as conclusões a que se vai
chegando, para que se vá fazendo saber.
Uma outra ideia, que ajudaria a credibilizar o congresso seria arranjar um espaço, e o
mais indicado passaria por um acordo com o proprietário do Paço, pelas características
únicas deste edifício e pela existência da botica, dos caminhos de Santiago situada bem no
coração deste conjunto arquitectónico invejável, para instalar o tão desejado museu. Este
museu pouco mais seria que revitalizar a antiga botica.
Vilar de Perdizes necessita de uma forte reabilitação urbana, pois a imagem que foi
transmitida pelos meios de comunicação social, desilude qualquer visitante pelos caos
urbanístico da aldeia. Uma forte arborização parece ser a solução mais viável para o
enquadramento das construções de diferentes tipologias, volumes e formas.
A necessidade de abrir grandes espaços públicos é inquestionável, para que a grande
afluência de visitantes não impeça normal fervilhar da vida agrícola, ainda tão arreigada
nesta aldeia de fortes tradições de contrabando. O tema do contrabando reúne aqui todas
as condições para ser tratado e estudado, mas dado que o Pólo de Tourém estará mais
vocacionado para este tipo de relações de fronteira, ficará com a responsabilidade de
congregar toda esta memória.
8.5. Museu do Tempo
A aldeia de Travassos do Rio, é uma aldeia com um grande interesse arquitectónico,
sendo aqui que estava previsto inicialmente o Museu do Tempo. Tendo em conta o avançado
estado de degradação da casa escolhida, este edifício será encaminhado para turismo em
espaço rural.
Nesta aldeia pretende-se musealizar uma “Casa Típica” do Barroso, de uma família de
lavrador e uma moagem de cereal, o moinho - com uma sala temática sobre o tempo, o
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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fabrico do pão no forno comunitário. Junto do moinho e ocupando parte dele, previa-se
colocar uma exposição demonstrativa do ciclo do pão, desde o cereal ao fabrico do pão.
Seria um local de passagem obrigatória no âmbito do percurso do pão que se pretende
implantar, em conjunto com as aldeias vizinhas de Covelães e Paredes do Rio onde a
Associação local, todos os anos sega e malha o centeio de forma artesanal, transformando
esses dia em motivo de forte atracção turística e grande dinâmica local.
Nesta actividade tradicional, vivida pela população da aldeia, não há representações,
há sim um povo que volta a encontrar com a sua história, com o seu passado, que revive os
seus saberes e tem imenso orgulho em os ensinar aos mais novos e aos visitantes. Sobressai,
nestes dias o valor do sentido de festa, do lúdico em si mesmo, como momento de libertação
das regras rígidas do antigo comunitarismo, por vezes severo e violador do gosto própria e
mesmo da privacidade familiar.
A recolha de imagens, foto e vídeo, da região e especialmente destes recortes da vida
tradicional, torna-se urgente a elaboração um filme genérico e explicativo do Ecomuseu e
de diversos filmes temáticos.
8.6. Museu do Espaço
No Museu do Espaço, pretende-se recorrer-se às mais modernas técnicas de intervenção
museológica e museográfica, tal como estava inicialmente previsto, em que toda a região
será sinteticamente interpretada, e sinalizados todos os seus motivos de interesse nas suas
mais diversas áreas. Assim, quer a rede de trilhos interpretados (históricos, arqueológicos,
naturais ou de descoberta da natureza), quer a gastronomia regional, o artesanato, a
própria vida económica no seu todo, entre outros aspectos, aqui seriam sistematizados,
esclarecendo e remetendo os visitantes interessados à descoberta de todas as situações.
Desejamos conseguir, muito em breve georeferenciar todo o património e todos os pontos
de interesse, para que possamos disponibilizar guias electrónicos, as PDA com GPS, para
que os visitantes possam escolher a rota que mais lhe interessa e na tranquilidade da sua
família ou ao ritmo do seu grupo, possa ir recebendo toda a informação disponível. Estes
equipamentos poderão ser adquiridos nos hotéis ou residenciais, quer do concelho quer fora
dele e garantir a permanência dos visitantes por mais tempo.
O Museu do Espaço e do Tempo, está intimamente ligados ás estruturas de interpretação
em utilização e ás estruturas fora dela, pois este conjunto de estruturas em harmonioso
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Ecomuseu de Barroso
funcionamento e não individualmente, irão valorizar, dinamizar a história da região e a
economia.
Pretende-se fazer um filme sobre a evolução geomorfológica, geologia e da tectónica
do Barroso e o seu enquadramento no Noroeste Ibérico, para a sua inclusão no Museu do
Espaço.
8.7. Casa do Fumeiro
Pretende-se que a Câmara Municipal venha a adquire uma casa típica da região, com
uma construção tradicional, possivelmente em Cambeses ou Travassos da Chã, para aí
instalar uma sala temática dedicada ao fumeiro da região. A casa barrosã será
musealizada, como garante de preservação da forma de vida deste povo.
Sendo a qualidade do fumeiro, actualmente, um dos ex-libris promocionais deste
concelho, vendendo na feira anual do fumeiro mais de 50 toneladas, o desafio está em criar
condições para que durante o ano este produto de qualidade possa ser vendido e ajude a
rentabilizar este pólo museológico.
Na sala do fumeiro (junta á lareira) poderá ser facultado ao visitante uma prova de
fumeiro acompanhada de pão centeio e vinho maduro para acompanhar. Este espaço seria
uma verdadeira tasquinha, onde apenas se dava a provar o fumeiro da região, abrindo,
assim o apetite dos mais gulosos para carregar os sacos para a viagem.
Este investimento teria, ainda mais duas vantagens, por um lado permitia a divulgação
do saber fazer ancestral do fumeiro de barroso e por outro possibilitava às pessoas que
não têm um espaço para fumar as carnes, que o utilizassem sem impedimento.
8.7.1. A Gastronomia
A gastronomia é uma das mais valias desta região pela qualidade dos produtos aqui
produzidos. O serviço não corresponde à qualidade dos alimentos que aqui são
confeccionados, pelo que a formação profissional nesta área é fundamental, para dar
resposta às exigências de um fluxo turístico de qualidade.
Sopa: Caldo do Lavrador, Sopa de Pedra, Sopa de Ortigas
Peixe: Truta da pinta vermelha (do rio) e Truta Salmonada da Albufeira
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Ecomuseu de Barroso
Carne: Javali com Batata Cozida, coelho e perdiz do monte, Cozido à Barrosã, Vitela do
Barroso (a posta e o churrasco), Presunto e qualquer prato de enchidos
Doces: (É Sazonal) Doce de Cabaça com amêndoas
Vinho: Como se compra é do melhor.
A restauração tem, sem dúvida, uma perspectiva de investimento com maior margem de
sucesso, com boas possibilidades de ainda crescer. Embora sintamos uma grande
dificuldade, para estruturar a oferta da restauração, homogeneizando serviço, as ementas e
os preços, isto devido ao facto de os donos dos restaurantes terem outras profissões e não
viverem exclusivamente do resultado obtido no restaurante. Uma outra dificuldade sente-se
durante a realização dos grandes eventos, em Montalegre, pois os restaurantes não têm
capacidade para sentar muita gente e servi-la bem, não se aproveitando, na hora de
pagar.
Sendo o turismo gastronómico um grande vector do turismo local, tem havido um grande
empenho na valorização dos produtos regionais, com a realização de grandes eventos
gastronómicos como a Feira do Fumeiro e presunto do Barroso, Festival Gastronómico do
Cabrito, Feira da Vitela dos Lameiros de Barroso, Feira da Batata e do pão centeio, Feira
do Prémio do Gado Barrosão, Maronês e Mirandês e feira Agro-Barroso numa realização
bianual.
Uma das medidas que se pretende implantar é a valorização dos produtos locais, com a
certificação da vitela dos lameiros do Barroso, o cabrito e os fumeiros, com uma
denominação de origem. Esta aposta, está integrada em acções de organização de
exposições, melhoria da embalagem e da imagem do produto.
Nas aldeias havia geralmente em cada uma delas uma mercearia local, que fornecia os
alimentos complementares à corte, à horta e à seara. A recuperação das mercearias de
aldeia é uma forma de revitalizar o espaço rural, transformando-as em lojas de tradição,
continuando com a função de comercialização dos géneros de apoio à população, com a
comercialização de produtos locais e fornecimento de pratos da gastronomia tradicional,
articulados com os percursos temáticos a desenvolver no concelho. O turismo será assim um
elemento de suporte de um estabelecimento comercial rural.
Esta mudança de venda tradicional para loja de tradição implicará atender um novo
público muito mais exigente em termos de higiene e segurança no trabalho, gastronomia,
atendimento e comercialização. Assim será necessário implementar pequenos cursos de
formação nestas áreas.
A criação de rotas temáticas, designadamente a rota do pão, que englobará os moinhos
de cereais, os fornos, os campos de cultivo de cereais e as comidas á base de pão (pão de
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
89
Ecomuseu de Barroso
centeio, sopas de burro cansado, açorda de presunto, alheiras e as águas de unto) serão
também uma forma de promoção destas pequenas lojas de tradição e dos restaurantes que
têm vindo a abrir um pouco por todo o concelho.
Os excursionistas e grupos com menores recursos económicos trazem por vezes os seus
farnéis, pelo que será importante a criação de novos parques de merendas, em locais de
acesso rodoviário como o Parque da Corujeira e a variante do Rio Cávado..
8.8. Museu da Terra
Com a criação do Museu da Terra, no local do antigo posto experimental agrícola, com
forte expressão nas pessoas, nas culturas, nos animais e sobretudo na evolução das alfaias
agrícolas. Este espaço apesar de magnífico pela sua paisagem, tem todo um ambiente
agrícola que convida à musealização, não cristalizada mas numa dinâmica de eventos
cíclicos representativos da verdadeira cultura Barrosã.
Interligando com este museu serão criados sítios musealizados, todos eles relacionados
com as lides do mundo rural, reactivando-se deste modo práticas que cada vez mais vão
sendo esquecidas.
Será, também neste local paradisíaco que se irá manter genuína as raças autóctones
Barrosã, do porco bísaro, do garrano e do burro mirandês. Pretende-se que estes animais
sejam de raça pura e que a sua reprodução, além de benefício para o Ecomuseu, sirva para
a promoção das espécies por todo o concelho.
8.9. Forno e Forja de Paredes de Rio
O Forno e a Forja de Paredes do Rio, foi recentemente vendido, pela família Gil à
Associação Social e Cultural criada na mesma aldeia, para que esta o reconstrua e o
devolva ao povo que ainda o usa.
Este forno é o símbolo da vida comunitária, concentrando em si histórias de acordos entre
o povo e a família do Gil. Recorda muitas noites em que abrigou “os da volta”, o que
originou o incêndio que o destruiu dando origem à cobertura em lousa. Foi testemunha de
muitas expressões de saber e sobretudo de saber fazer que só prepetuadas em vídeo nos
deixa a esperança de não as perdermos completamente.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Ecomuseu de Barroso
O Ecomuseu de Barroso em conjunto com a Associação Cultural de Paredes promoveu
uma candidatura ao programa de financiamento LEADER + para a sua reconstrução
imediata, pois é um forno que ainda serve a população da aldeia.
8.10. Forja de Montalegre
A Forja do Bilarelho é um dos projectos mais interessantes pelo facto de ser um local de
trabalho, com todas as ferramentas ainda em uso e que, o proprietário se disponibiliza a
ordenar (musealizar) o espaço continuando a laborar e diponibilizando-se a receber
qualquer tipo de visitantes.
O actual proprietário é o Sr. Fernando Xavier Carvalhal. Nasceu e mora no piso superior
da forja. Desde criança que ali trabalha, embora tenha mudado de profissão, ficou sempre
a trabalhar na forja, de modo subsidiário. O seu apego ao local faz com que comprasse o
edifício aos seus irmãos.
Foi o seu pai que construiu a forja, era ele o ferreiro da zona, fazia arados, foices,
foicinhos e outras “ferramentas da lavoura”.
O equipamento técnico da forja é constituído por malho- pilão que serve para “bater o
ferro”, sobretudo para bater o “ferro grosso”, como é exemplo o ferro dos arados (o ferro
dos arados era a peça que o actual dono mais gostava de fazer e continua, ainda hoje, a
fazer).
Este malho-pilão que foi comprado, já usado no Alto da Lixa, está fixo a uma grande
coluna de pedra que tem cerca de 1m, abaixo do chão, para conferir maior solidez ao
conjunto; a pedra para esta coluna, cortada na altura para o efeito, veio da pedreira de
Gralhas. Este mecanismo está fixo a meio do espaço da forja.
A forja, propriamente dita, consta de uma fornalha de pedra, sobre a qual se aquecia,
e ainda aquece, o ferro para ser batido. O ferro não é temperado, mas o aço exige uma
tempera (a temperatura necessária para não partir ou esmurrar). Quando atinge a
temperatura desejada, acaba-se de arrefecer o metal, o aço: nalguns casos é arrefecido na
água, noutros casos ao ar, sendo outros ainda enterrados na terra que se encontra junto ao
malho- pilão. Todos os elementos da natureza são usados.
O cepo (de carvalho), a bigorna e a “safra” servem para bater o ferro, à mão, na fase
de acabamento das peças saídas do malho. Ao lado, a pia da pedra, para “temperar” a
ferramenta tem dentro a pedra tosca que serve para amaciar as peças saídas do esmeril,
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Ecomuseu de Barroso
três tenazes para pegar nos objectos quentes saídos da fornalha, e um ferro de arado, tudo
mergulhado na água da pia.
Ao lado da fornalha, encontra-se a carvoeira, depósito do carvão que alimenta a
fornalha. Na parede que separa este espaço da fornalha, foi instalada há já vários anos
uma ventoinha que veio substituir o antigo fole.
Tratando-se de um oficio em vias de desaparecimento, seria relevante proceder à
recuperação do edifício (limpeza de paredes, renovação das portas e da janela, colocação
de revestimento, talvez pedra de calçada, colocação da placa divisória dos pisos), e à
promoção deste ofício, com fins didácticos- o ferreiro disponibiliza-se a ensinar os mais
novos.
Edifício com a candidatura aprovada no programa LEADER + está terminada a sua
requalificação.
8.11. Pisão de Tabuadela
O Pisão de Tabuadela, situa-se na aldeia de Tabuadela, freguesia de Salto, no concelho
de Montalegre. Enquanto na área de Montalegre a lã é retirada uma vez ao ano, na zona
do Salto tiram a lã às ovelhas 2 vezes por ano, o que faz com que haja mais matéria prima.
Pela altura do S. Miguel, como havia muitas mantas para apisoar, e/ou havia falta de
água, o pai do actual proprietário chegava a pedir ao dono do pisão de Bucos para lá ir
pisoar, ao que este acedia. Hoje quase não se faz o borel branco, só do negro e do riscado
(foi há pouco feito de “riscas quadradas” para Bucos). O pagamento era feito segundo a
quantidade de pano pisoado, medido com uma vara. Além da vara para medir, havia uma
vara de enrolar o borel. Este local comporta ainda um lagar, onde o pai do actual dono
fazia e bebia o seu vinho.
O Ecomuseu do Barroso irá ter em conta a realidade do Pisão e do seu dono e decidir
apoiar a candidatura ao programa LEADER +, para que as condições de trabalho
aumentem e possam dar mais rentabilidade aos seus promotores. Foi também inserido numa
candidatura global de 250.000 Euros feita pela Câmara de Montalegre ao programa de
financiamento INTERREG III A, para recuperação de património construído. Se este
financiamento comunitário não for conseguido, tudo faremos para que o Município de
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Ecomuseu de Barroso
Montalegre financie a reconstrução deste edifício, único no concelho e possivelmente no
mundo.
O pisão será um pólo - vivo, do Ecomuseu, cheio de todo o saber que só o Sr. Francisco
consegue carregar tal responsabilidade. A visita a este espaço será indispensável para se
compreender o ciclo da lã, e também muito pedagógico na temática das energias
alternativas.
8.12. Forno de Tourém
O Forno de Tourém é um edifício emblemático na região, situado no Parque Nacional da
Peneda-Gêres. Este forno comunitário data dos meados do século IX e é totalmente
construído de pedra para evitar que algum pedinte mais friorento lhe ateasse fogo.
É um edifício de planta sub-rectangular, massa simples, coberto por telhado de duas
águas formado por cápeas de granito, reforçado por contrafortes exteriores de secção
rectangular. Porta de verga recta situada lateralmente entre o cunhal do edifício e o
primeiro contraforte. Interior com cobertura assente em estrutura de 3 arcos diafragma, de
volta perfeita, pavimento de terra batida, iluminado por fresta de recorte rectangular
situada em plano elevado entre o primeiro e o segundo arco. Defronte da entrada,
adossada às paredes, uma banca "de tender" de grande dimensão, maciça e de frontal de
alvenaria. À direita, sobre plataforma, a estrutura do forno, possuindo câmara de
pavimento lajeado e estrutura abobadada de frontal de alvenaria com abertura larga de
verga recta. Inserido na parede de topo, à esquerda, nicho quadrado, de verga recta e
mesa sub-circular, espessa e saliente. Na ombreira esquerda da porta está a data de 1868.
Este forno continua a exercer a sua função pelo que os seus utilizadores pedem obras
que recomponham o chão do forno e diminuam o seu tamanho, porque as fornadas grandes
já não são necessárias e o custo de aquecer tamanho forno não se justifica. As obras terão
uma equipa de trabalho tripartida: PNPG; Junta de Freguesia (população da aldeia) e o
Ecomuseu de Barroso. Importa salientar que este forno terá painéis interpretativos, sobre o
ciclo do pão e o seu uso ancestral.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Ecomuseu de Barroso
8.13. Lagar de Azeite de Cabril
O Lagar de Azeite de Cabril, engenho hidráulico que se situa junto á entrada da Aldeia
(vindo de Montalegre), e possibilitou durante muitos anos a feitura do azeite desta região.
Actualmente já não funciona, seja por falta de azeitonas, seja por existirem meios mais
simples e que não exijam quantidades tão grandes, ou pelo mau estado do engenho.
O seu estado de conservação não é muito bom, mas possui os elementos essenciais para
ser musealizado com muito rigor e permitir a recuperação da tradição para fins de registo
filmico.
A candidatura pretende pôr o engenho a funcionar de novo embora numa perspectiva
demonstrativa e formativa, assegurando que o problema das águas russas não será
deixado de lado.
8.14. Museu da Pessoa - no Barroso
O Museu da Pessoa existe em colaboração com a Biblioteca Municipal de Montalegre e
a Universidade do Minho, em parceria com algumas escolas primárias do nosso concelho. É
um projecto com um produto final virtual, “um Museu Virtual” sendo apenas visitável, o seu
acervo pela Internet. Consiste na recolha da memória Oral Barrosã, intitulando-se o projecto:
“ Barroso e suas histórias de Vida”
Este museu tem um engenheiro de sistemas e uma técnica superior do Departamento de
Ciências Sociais a fazer todo o trabalho de formação aos professores e de tratamento de
dados recolhidos, tendo no primeiro ano editado em livro todo o trabalho recolhido.
Este projecto museológico deverá marcar presença em todos os pólos Ecomuseológicos,
em especial no antigo complexo mineiro da Borralha, como mais um elemento revitalizador
da aldeia mineira.
8.15. Complexo Industrial e Mineiro da Boralha
O antigo complexo industrial e mineiro da Borralha é um espaço degradado do ponte
de vista biofísico e social. A extracção de volfrâmio já não tem viabilidade económica, pelo
que a população se encontra maioritariamente desempregada e reformada, sendo de
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Ecomuseu de Barroso
grande importância encontrar soluções de dinamização económica e social do espaço.
Pretende-se com este projecto instalar num edifício das minas da Borralha um Museu Mineiro,
tendo em conta a história da Borralha e a importância que chegou a atingir no
desenvolvimento do concelho. É de extrema importância a valorização de alguns pólos como
os compressores, o arquivo (ainda intacto) e uma galaria.
Pretende-se criar um centro de estudos universitários, provocando o aparecimento de
alguns investimentos privados e consequente aumento de empregos que muita falta faz aos
residentes, numa grande percentagem em idade laboral.
Mais do que musealizar todo o complexo (o que é economicamente impossível) o
Ecomuseu pretende criar uma dinâmica de acções e projectos numa consonância com uma
Universidade que valorize um centro de estudos nesta área. É prioritária uma intervenção a
nível ambiental para minorar impactos, sejam eles de que ordem forem.
O espaço poderá também dar origem a um complexo turístico, que permita recuperar
alguns dos muitos edifícios que se encontram abandonados.
Todos estes investimentos estruturam a oferta turística de qualidade, abrem caminho a
uma dinâmica cultural diversificada, criam empregos directos e geram outros indirectos. Com
uma diversidade tão grande de opções, o turista sentir-se-á tentado a percorrer alguns
quilómetros em busca de um património de qualidade. É neste âmbito que a população local
tem uma grande responsabilidade de preservação e divulgação do seu património, sendo
ela mesma a principal beneficiária da rentabilidade desse mesmo património.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Ecomuseu de Barroso
9. A Imagem de Marca do Concelho
9.1. A Raça autóctone - Barrosã
Os bovinos de pelagem da cor do barro, com fêmeas de estatura média e chifres em
forma de lira, força desmedida, mas feitio dócil e mimado; e machos corpulentos, garantes
da descendência e da honra da aldeia, são a ração Barrosã. Esta raça é em si mesma o
garante de uma imagem para este concelho, pelas suas qualidades de resistência física e de
docilidade afectiva, embora os bois tourões sejam mais violentos e possantes. Estes animais,
porque nasceram em montanha, foram a força aliada do Barrosão, no cultivo da terra, nos
carretos da lenha, nas carradas do centeio, nas zorras que arrastão as pedras maiores para
as paredes de casas e lameiros ou mesmo quando garantem a sua descendência, irão
permitir a única entrada de dinheiro vivo em casa, a quando da venda dos vitelos.
“ A raça barrosã produz-se principalmente nas terras que na província de Trás-os-Montes se
estendem desde a raia da Galiza ao rio Tâmega… formando o país conhecido de há muito
tempo pelo nome de Barroso. … compreende ele dois concelhos: o de Montalegre e o de
Boticas. É principalmente nas terras do concelho de Montalegre e nas da freguesia das Alturas,
que pertence ao de Boticas, isto é, na parte mais elevada, fria e ingrata do país, no alto
Barroso, onde a raça barrosã tem o seu centro de produção, o seu verdadeiro solar.”33
Com a liberalização do mercado e o fim das fronteiras começaram a ser conhecidas
outras raças, umas mais corpulentas, outras mais leiteiras, apenas para o trabalho não
apareceram grandes novidades. A realidade é demasiado dura para os amantes da raça
barrosã, as vitelas barrosãs crescem metade de outros animais de outras raças. É neste
ponto que a Associação dos Produtores de raça Barrosã se têm batido e conseguiram apoios
financeiros importantes para compensar este desfasamento no crescimento.
Pessoalmente estou convencido que a diferenciação terá de ser feita no preço de venda
da carne, porque esta carne barrosã é incomparavelmente mais saborosa que a restante e
não nos podemos esquecer que até hoje não há registo de aparecimento de qualquer
exemplar com o doença das vacas loucas.
A cooperativa agrícola de Montalegre, cometeu um erro histórico, quando por uma
guerra de protagonismo com Boticas, para ser a detentora do livro genealógico da raça e a
sua certificação, decide criar uma denominação de origem para o gado “Cruzado dos
lameiros de Barroso”, que mais não é do que aproveitar o cruzamento possível entre seis
33
LIMA, Silvestre Bernardo. “Bovídeos e Suídeos” Boletim do Ministério da Agricultura. 1919. Pag 10 e 11.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Ecomuseu de Barroso
raças diferentes e dizer que se vivem neste concelho, são boas. Teve uma vantagem,
protegeu a raça barrosã de ser comida completamente, num ano ou dois de boas vendas.
Aceito o argumento científico que afirma que oitenta porcento da qualidade da carne
está directamente ligado com o tipo de alimentação do animal, mas tenho certeza absoluta
que a raça barrosã é autóctone de Barroso (até deu o nome á região), e que a qualidade
da carne é superior a qualquer outra. A promoção deste concelho de montanha, onde a
maioria da riqueza que se produz vem da pastorícia, não pode perder as suas pérolas, de
sanidade animal e as qualidades da raça autóctone. Estes são os melhores argumentos para
uma promoção que se deseja de sucesso.
9.2. A Chega de Bois
A “chega dos bois” é a maior manifestação cultural representativa da identidade
barrosã, não só de cada aldeia mas também do ser de um povo com características bem
definidas.
Se o Ecomuseu de Barroso quiser apresentar um símbolo ou uma manifestação cultural
que por si só seja o logótipo da região, onde tanto os locais como os visitantes reconheçam a
imagem da região, apenas a “Chega dos Bois “ será consensual.
A chega de bois teve a sua origem na existência do Boi do povo. Este animal sendo
muito corpulento era difícil de alimentar, por apenas um agricultor. Uma vez que as nossas
aldeias viviam de forma comunitária, a existência do boi do Povo era uma necessidade
inquestionável. Eram os mais novos que mais se ocupavam do tratamento de tal animal,
desde roubar milho e centeio nos terrenos das aldeias vizinhas, a pernoitar no sobrado da
corte do boi para que ninguém ou solte de noite para fazer alguma chega nocturna. O boi
tinha tratamento vip, sendo mesmo considerado uma peça central na organização da
comunidade, exemplo disso é a existência de sino na sua corte, ter uma “lama” um lameiro
para pastar sozinho ou mesmo a torre sineira de Travassos do Rio com a cabeça do touro,
no torreão. O bicho apenas tinha de se empenhar na garantia da descendência na aldeia e
representar o orgulho da aldeia nas lutas, ou seja nas chegas dos bois.
O boi era tão importante na vida da aldeia, que em aldeias mais ricas havia dois
animais, para que um fosse o reprodutor na vacas que nunca abortaram e o outro fosse
usado nas vacas “estragadas”, aquelas que abortaram ou tinham alguma doença.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Ecomuseu de Barroso
Os dias de chega eram dias muito importantes na aldeia. Os rituais começavam semanas
antes com os longos passeios á serra, para que o boi tivesse maior preparação física.
Nessas semanas dormia sempre alguém no palheiro, para não permitir que os rapazes das
aldeias vizinha tentassem qualquer brincadeira de mau gosto, que seria soltar o animal,
dar-lhe alguma coisa para o adoecer, ou leva-lo a fazer a chega com o outro boi que viria
a turrar mais tarde, para lhe baterem para que ele apanhe medo ao outro boi e quando
for a chega oficial este fuja. No dia anterior leva-se o boi a conhecer o terreno combinado
para a chega e à noite a aldeia reúne-se e reza o terço, dando voltas, atrás do boi no adro
da capela do padroeiro da aldeia. No dia combinado está tudo a postos, o boi com os
corno afiados, os paus escondidos estrategicamente pelos membros da aldeia, para que se
as coisas não estiverem a correr bem (o que acontecia quase sempre), os aldeões tivessem
algo a que recorrer. Como era proibido andar de pau, apenas o que tocava o boi, o podia
fazer, se perdiam a chega teriam de ganhar à paulada.
Para quem ganhava a chega era o êxtase total. Começava ali um jogo erótico em que
as moças novas tiravam os saiotes (que nesse dia era sempre vermelho) para os colocar nos
cornos do boi, dando início ao cortejo de vitória de regresso á aldeia, onde as mulheres
mais velhas já tinham preparado uns petiscos e muito vinho, para todos, não esquecendo o
boi. Esta festa podia demorar dois ou três dias, dependendo se a aldeia perdedora era
mais ou menos rival. Ao rival perdedor só lhe resta um fim, como dizem ainda hoje os
Barrosões de verdade: “Boi que perde vai para o talho.”
O boi, era o garante da honra e da supremacia sobre os povos vizinhos. Compreendese, agora melhor o lugar de destaque que o boi do povo atingiu nas nossa aldeias barrosãs.
Hoje, com o aumento da riqueza das famílias, o boi do povo perde importância, apenas
existe um, na aldeia de Covelães, porque os grandes agricultores têm capacidade de o
manter. Isto leva a que as chegas se tornem um negócio de dinheiro, o que leva a que os
animais façam mais chegas e os espectáculos sejam mais fracos. Aparece uma componente
nova do acontecimento que é o bilhete para ver a chega e está destruído o orgulho da
aldeia.
Em Montalegre, surge uma nova vertente do espectáculo, o relatador da chega. Ainda
só há um, o Sr. Fernando do Barracão, que não perde uma chega e grava para a rádio
Montalegre o relato, como de um jogo de futebol se tratasse. Entrevista os donos, recolhe as
suas impressões para a chega e no final dá-lhes voz para que possam desculpar se da
derrota do seu boi. 34
34
JN, dia 07-11-2005, pag. 12
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Ecomuseu de Barroso
Mesmo tendo perdido o fulgor e o radicalismo, possivelmente exagerado de
antigamente, as chegas dos bois continuam a ser o grande acontecimento que arrasta
milhares de pessoas. Agora as chegas começam a ser feitas por bois de várias raças que
não a barrosã, o que fez perder muito do brilho que a ração barrosã proporciona, no jogo
e som dos cornos, bem como da capacidade de garra para a luta. No mês de Agosto é a
loucura dos nossos emigrantes, povo que cristalizou de forma sólida o modo de vida que
tinham antes de sair do país. São eles os melhores informantes relativamente às tradições
que se baseiem em vivências.
A chega dos bois está sempre presente em qualquer comício politico, como motor de
movimentação de multidões e como predisposição para a festa e a alegria que estes
momentos necessitam.
Muitos escritores se sentiram inspirados a escrever sobre algo, que não é único no mundo,
também o Irão, a indonésia e o Japão as têm embora mais na vertente das apostas. Em
Montalegre a única aposta que pode acontecer é ser feita uma chega de “rapa” o boi que
perder fica a pertencer ao dono do outro boi, mas isto acontece cada vez menos vezes,
talvez os donos tenham deixado de ser tão corajosos ou os bois não sejam tanto de
confiança.
Para guardar esta memória colectiva e perpetuar os inúmeros artigos publicados sobre
as chegas dos bois, quer pelos escritores locais, quer por grandes nomes como Miguel Torga,
o Ecomuseu tem preparada uma edição muito interessante: “As Chegas de Bois – Uma
Antologia” que será lançada no mercado até dia ao final do ano de 20005.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Ecomuseu de Barroso
10. Feiras, Festas e Actividades recreativas e de Lazer
Quinzenalmente realiza-se a feira de Montalegre, para que as pessoas das aldeias se
possam adquirir roupas, sapatos, ferragens, alfaias agrícolas, ou mesmo vender o seu gado,
não esquecendo o importante ponto de encontro dos amigos das mais variadas aldeias, que
à “mesa” almoçam a dose de polvo espanhol.
Regularmente fazem-se as conhecidas Chega de Bois, não caindo na exploração
desumana dos animais, mas mantendo uma tradição identitária da região, que possa dar
aos agricultores locais um extra financeiro, para continuar a sustentar os grandes bois
tourões. Cada aldeia tinha o seu boi, que se trás para o recinto do espectáculo, para que
estes lutem entre si numa demonstração de força, em que o mais fraco abandona por si a
arena. Perante a desilusão da comunidade a quem pertencia o boi.
A valorização dos usos e costumes tradicionais em termos de festas populares é uma das
acções a implementar, não concentrando as festas num só dia mas fomentar que cada
aldeia continue a fazer a sua festa popular mantendo as especificidades próprias, devendo
ser mais publicitadas dentro e fora do concelho de Montalegre, especialmente no tempo de
verão com os emigrantes. Estamos a pensar na cegada e malhada do centeio, o cantar dos
reis pelo povo da aldeia, a matança do porco, o magusto no forno da aldeia ou a festa do
fumeiro que temos vindo a divulgar e cada vez contamos com a presença de mais vizitantes,
quer locais quer de fora.
Uma das acções que se aconselha é a realização de concertos de música (percussão e
Gaitas de foles com inspiração Celta) nos meses de Verão e de eventos de forte
atractividade em relação ao Norte de Portugal e Galiza. Neste sentido, foi realizada no
mês de Julho de 2005 a primeira Feira Celta, com a presensa de diversos artesãos locais e
convidados, culminando numa ceia colectiva para mais de duzentos comensais. Este evento
teve nas duas noites a realização do segundo festival de Musica Celta – CELTIROCK, que é
organizado por uma Associação Juvenil – Invensons, com o apoio do ecomuseu e a Câmara
municipal de Montalegre.
A criação de um desfile de moda artesanal, baseada em linho, lãs e burel é uma acção
promocional dos produtos tradicionais a implementar, a que se associa um aspecto de
modernidade, projectando pelo brilho das luzes os tecidos, feitos em velhos teares. Este
poderia ser o momento alto de uma feira de produtos da terra, onde os locais
apresentavam o que de melhor se cultiva no Barroso.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Ecomuseu de Barroso
As actividades náuticas nas barragens em termos de campeonatos nacionais de
hoovercraft, vela, remo e mota de água, geram fluxos turísticos significativos, que ocupam as
unidades de alojamento e as unidades de restauração, deixando mais valias localmente.
A organização de actividades radicais de contacto com a natureza, como o rapel e o
parapente, tal como as actividades náuticas, geram fluxos turísticos com capacidade
económica, que são naturalmente importantes para um concelho em que quase não há
industria.
O turismo activo pode contar com duas actividades crescentes em Montalehgre, que
muito têm projectado esta região no mundo, é o caso do parapente na serra do larouco e os
percursos pedestres, com mais de cento e vinte kilometros homologados pela Federação
Portuguesa de Montanhismo.
A criação de uma zona de caça municipal vai captar um outro segmento de mercado,
permitindo uma melhor ocupação na época baixa. A gestão seria repartida entre os clubes
de caça locais e a Câmara Municipal de Montalegre.
Uma área de lazer junto ao rio Cávado, dentro da Vila de Montalegre com espaços
para desportos e criação de uma estrutura permanente de desportos radicais junta á
albufeira dos Pisões e ao parque de campismo municipal servirão a população local, mas
também os visitantes que terão um local agradável para usufruir.
A organização de eventos ligados à pesca é também uma forma de dinamização
territorial, aproveitando o valioso potencial piscícola, quer dos rios Cávado e Rabagão,
quer das albufeiras, ou mesmo dos inúmeros regatos de montanha.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Ecomuseu de Barroso
11. Investigação e Desenvolvimento
A criação do Ecomuseu de Barroso, que se pretende que venha a envolver toda a região
do Barroso, neste momento apenas inclui o concelho de Montalegre. Apesar disso a
investigação e os projectos de desenvolvimento deverão ser mais amplos que o concelho,
num processo de cooperação trans-regional e transnacional.
Para que um processo de desenvolvimento se construa mais facilmente é necessário a
organização da informação existente para lhe melhor aceder e melhorar o processo de
decisão. Essas bases de dados e de informação existentes estão por vezes desconexas e de
difícil acesso, pelo que se pretende fazer a sua organização num Sistema de Informação
Geográfica (SIG). Este sistema de informação será construído a vários níveis, consoante a
tipologia da informação a introduzir.
O projecto para ser implementado necessita de estudos a vários níveis, pelo que
poderia receber contributos variados de investigadores, residentes, estagiários, pelo que se
entende ser importante a criação de um Centro de Estudos sobre o Barroso, que poderá
ficar localizado junto da sede do Ecomuseu do Barroso, a qual teria como função estimular a
concentração de estudos sobre o Barroso, direccionar áreas de investigação, organizar
encontros, e outras acções de interesse cultural.
A criação de um gabinete e de uma equipa técnica permanente (sendo fundamental
incluir na equipa um desenhador etnográfico), que funcionará em paralelo com outra equipa
de terreno, constituída esta pelo menos por três elementos. As equipas devem fazer uma
prospecção sistemática dos diversos valores locais, inventariar todos os seus recursos e abrir
as portas a toda a investigação de base. A equipa de base deve ser constituída por um ou
mesmo dois habitantes locais. A equipa deve ter um carácter de permanência, devido à
vastidão do projecto e à necessidade de canalizar o dinamismo entretanto desperto nas
populações.
A realização de estudos sobre “Os Caminhos de Santiago” no Barroso, pensamos, que é
muito importante, pois é uma forma de reanimar a mística que caracterizam estes caminhos e
de revaloriza-los de forma a que voltem a ser calcorreados, a exemplo do que foi feito com
todos os municípios de Braga a Astorga, com a valorização da Via Romana XVII, do
itinerário de Antonino, permitindo a sua circulação pedestre (GR 117 – Via Romana)
percurso pedestre de Grande Rota homologado pela Federação de Montanhismo de
Portugal. Este projecto conseguiu trazer para a discussão a necessidade de classificação da
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Ecomuseu de Barroso
Via, de forma urgente todos os tramos de calçada original, ainda tão bem conservados. No
nosso concelho tivemos a dificuldade de em dois dos melhores traçados, na aldeia de
Currais (cerca de 3 Km de calçada) e na Aldeia de Arcos (mais de 2 km de passadiço)
depois da inauguração os presidentes da junta decidirem cobrir tudo de terra, com o medo
de não poderem melhorar o caminho, depois de classificado. Só a intervenção inérgica do
Ecomuseu, do IPA e do Sr. Presidente da Câmara dão esperança de preservação do
património, neste caso difícil. Eu tento compreender a população e a sua necessidade de
passar com tractores e máquinas maiores nestas calçadas romanas e não ser nada
agradável, mas um desenvolvimento sustentado terá de ser capaz de abrir novos caminhos
com maiores condições de acessibilidades e preservar a Via Romana que começa a atrair
visitantes à aldeia.
Em parceria com a Universidade Fernando Pessoa, estamos a desenvolver o Arquivo
Áudio Visual do Ecomuseu. Desta parceria está a nascer o sistema informático que permitirá
fazer o inventário das colecções deste ecomuseu, tendo as fichas de inventário feitas à
medida do inventariante, num processo que nunca está terminado e em qualquer momento se
pode atribuir novos campos ou criar novas relações entre fichas.
A grande mais valia desta base de dados, é possibilitar que um informação apenas seja
introduzida uma vez e possa aparecer relacionada com todas as fichas que foram
construídas e que têm algo a ver com ela.
Tendo este inventário por base iremos disponibilizar toda a informação recolhida num
portal web – www.ecomuseu.org, onde desejamos que todos tenham acesso, diferenciamos a
oferta para públicos especiais, desde crianças a investigadores. Queremos que esta seja a
janela privilegiada de todos os visitantes na busca da descoberta da verdadeira identidade
barrosã. O Ecomuseu pretende ser um agente turístico
35
como é suposto que um ecomuseu
crie processos culturais dinâmicos, cada vez mais ao serviço do desenvolvimento local. Ao
criar a loja dos produtos da terra virtual, estamos a criar um espaço onde os agentes locais
possam divulgar os seus produtos e desenvolver o seu negócio.
35
SAUTY, François – Écomusées et musées de société au service du développement local, utopie ou réalité? SOURCE. Pag.26
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Ecomuseu de Barroso
12. Revitalização da Memória
O ecomuseu tem como princípio organizar eventos, sempre em parceria com as forças
vivas do concelho. O envolvimento da população local é essencial, porque facilita a sua
sensibilização e mais facilmente se vai criando um movimento de preservação, garantido
assim a sustentabilidade das organizações.
Os eventos organizados pelo ecomuseu têm duas vertentes. A mais usual é a
recuperação de tradições que se encontram em risco de desaparecer, como é o caso das
antigas cegadas do centeio á mão, a malhada a malho ou com a velhinha malhadeira ou
mesmo a volta á aldeia para cantar os reis aos vizinhos. Uma outra razão para a
organização de novos eventos é a tentativa de despertar a população para novos desafios
que tendo a veia do turismo sustentado, como regra de desenvolvimento, podemos criar
novas profissões e dará conhecer pequenos nichos de mercado que merecem ser
desenvolvidos e aproveitados, como é o caso da apanha de cogumelo silvestres e a
organização de provas de turismo activo de natureza, de BTT e pedestres (Carrilheiras de
Barrosos).
12.1. O cantar dos Reis na Aldeia de Covelães
É uma tradição que corre sérios risco de desaparecer. Esta tradição remonta a tempos
imemoriais quando os jovens saiam à rua para catar uma sequencia de versos, de cariz
religiosos e passando de casa em casa vão recolhendo bens e dinheiro que depois irão
leiloar, no adro da Igreja, revertendo o dinheiro para a Igreja. Claro está, que não o
faziam só pela fé, aproveitavam para trazer consigo, enquanto cantavam, um segundo saco
para ir lembrando os vizinhos que podem oferecer alguma coisa para que no final, possam
fazer um convívio.
Na aldeia de Covelães a tradição continua a ser vivida, no dia 6 de Janeiro, pelos mais
idosos, que são agora a grande maioria dos habitantes da aldeia e está a tornar-se, com o
apoio do ecomuseu, um acontecimento turístico, com algumas dezenas de visitantes, que
acompanham a volta à aldeia, terminando com um convívio comunitário, onde se degusta o
que de melhor foi oferecido.
O leilão, para a Igreja continua a ser feito e tendo em conta que o que mais é oferecido
é fumeiro, o leilão termina rapidamente amealhando a Santa Igreja uma boa quantia em
euros.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Ecomuseu de Barroso
12.2. A Segada e Malhada do Centeio em Paredes do Rio
Esta é a actividade que mais pessoas reúne na segunda semana de Agosto, na Aldeia
de Paredes do Rio. Por um lado o regresso dos emigrantes, por outro o tempo que
habitualmente está convidativo a este tipo de actividades agrárias de sequeiro e a alegria
que a população local tem em receber e ensinar o modo de vida de há quarenta ou
cinquenta anos atrás.
Este evento acontece em dois dias. No primeiro dia, os habitantes da aldeia reúnem-se
pela tarde, ao grito do dono da terra que repete: “à terra… à terra…” e dirigem-se para a
seara. Chegando à terra decidem o melhor lado para iniciar a ceifa e ao som de cânticos o
centeio lá vai caindo aos molhos, pela terra fora. Depois de atados serão carregados no
carro das vacas e levados ate à eira para nascer a meda. O sinal de que a ceifa terminou
é a entrega do ramo, pelo chefe do grupo dos ceifeiros, ao dono da terra, que retribui com
a oferta da merenda.36
No dia seguinte, bem cedo o som que ecoa pelas ruas da aldeia, convida a todos para
o inicio dos trabalhos: “à eiraaaa… à eiraaaaa…”. Tem início a malhada do centeio, onde
se separa o grão da palha e se escolhe a palha maior e mais direita - o colmo, para ser
usada como cobertura de casas e palheiros. Este é um dia de esforço físico, como todos os
trabalhos agrícolas exigem numa agricultura artesanal. O centeio é espalhado, na eira de
pedra, em quantidade suficiente para que ao bater com os malhos, de madeira, o grão
salte sem a pancada ser muito violenta, no chão. O rimo é cadenciado e lento, cinco homens
de cada lado, vão percorrendo toda a área da eira, batendo com força até que a palha
não tenha a semente. As mulheres pegam num lençol de estopa e protegem o grão para que
ao bater com os malhos, perto da lateral da eira, este não seja projectado para fora e se
perca. A meio da manhã são distribuídas as “sopas de burro cansado” para dar energia, não
esqueçamos que é pão ensopado em vinho e açúcar.
A palha retirada para colmar as beiradas fica em molhos, a restante palha é colocada
em meda para se conservar durante o Inverno e por vezes mais de um ano. Se o grão for
muito e a aldeia tiver mais malhadas para fazer o centeio é empurrado para a tulha e
espera dias mais calmos, das lides agrícolas para ser crivado e limpo do cosco. Se o centeio
for pouco, o que acontece neste pito de eventos, depois de retirada a palha, as mulheres
varem a eira e começam a limpar o grão. Os sacos de cereal são cheios e levados para as
grandes caixas de armazenamento, onde se espera que os ratos não tenham acesso.
36
Ver anexo VI.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Ecomuseu de Barroso
Deste local, o centeio sai para dar de comer aos animais ou para moer, nos moinhos de
água para se transformar em farinha e depois de amassado e levedado, ir ao forno a
lenha, para se tornar o gostoso pão centeio.
Este evento é de uma riqueza imensa, no que diz respeito ao repositório da memória.
Aqui a população não representa para turista ver, ela vive e tem gosto em ensinar como se
faz, porque a plena consciência de que poucos sabem fazer aquilo que eles sempre fizeram.
Também o sentido de festa que estes trabalhos comunitários exigem, é central neste reviver
das tradições e acaba por ser uma das grandes razões da participação dos elementos da
comunidade local.
12.3. Matança do porco de raça Bísara
Aconteceu no dia 12 de Dezembro de 2004, a terceira iniciativa comunitária que a
edição do Jornal de Notícias de segunda-feira, seguinte relata.
Esta deve ser a tradição que não corre risco de desaparecer, pois a maioria dos
habitantes do concelho ainda matam o seu porquinho, que desde sempre garantiu que não
houvesse fome neste concelho.
O que pode desaparecer é o encontro comunitário, dos vizinhos mais amigos que
marcavam um dia para cada um fazer a matança do porco. O dia começava, logo cedo
com o “mata bicho”, uma espécie de pequeno almoço mais guarnecido onde não falta o
cálice de bagaço. De seguida os mais velhos picam os porcos, na corte, para dificultar as
coisas aos mais novos que irão ter de os agarrar, ou fugir á sua frente. Depois de mortos,
chamuscados e lavados, o matador, personagem com tratamento fidalgo, abre o porco
deixando-o pronto para escorrer pendurado numa trave da despensa.37
Todo este processo é cumprido fielmente, neste dia de festa do porco, que se revela,
cada vez mais com muitos adeptos. Tudo termina com um grande cozido à Barrosã, para
todos os presentes, locais e visitantes. É à mesa que se recordam histórias de lobos, de tornas
de água e de caçadas nocturnas ao javali.
37
Ver anexo VI.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Ecomuseu de Barroso
12.4. O Jantar Cultural
Teve lugar no Salão de eventos do Hotel Quality Inn Montalegre, dinamizado pelo tão
conhecido Elísio Amaral Neves, de Vila Real, com todo o apoio da divisão sócio-cultura, em
Maio de 2004.
A ementa é bem antiga. Para entrada presunto e chouriça de barros, como prato
principal bifes de presunto refogado com cebola na sertã, acompanhados com batata
cozida e para sobremesa doce de abóbora com amêndoa, repasto que foi degustado por
mais de 60 pessoas.
A animação foi de grande nível cultura, recordando histórias do contrabando e das
guerras com os “noestros hermanos” Galegos. Foram leiloados diversos quadros de fotos
antigas de Montalegre e também alguns postais. Houve tempo para ouvir algumas músicas
tocadas ao acordeão, por um convidado flaviense.
Em Julho de 2005 teve lugar o Jantar Celta, dentro das muralhas do castelo de
Montalegre, ficando a animação a cargo do grupo de teatro Viv’Arte, que tiveram como
público 200 comensais bem divertidos e animados.
12.6. Encontro de cogumelos
Este evento é realizado todos os anos, no mês de Outubro, altura de maiores chuvas, com
algumas abertas de sol, o que proporciona as melhores condições para o aparecimento de
deste tipo de fungo.
Este encontro, começa por uma saída de campo, que serve para recolha da maior
quantidade possível de diferentes espécies cogumelos silvestre, para posterior identificação.
A exposição é desejável que se faça por grandes grupos: “bons comestíveis”, “sem valor
gastronómico”, “venenosos” e “mortais”.38 A degustação desta iguaria oferecida pelos deus,
é o ponto alto do encontro que termina com uma apresentação de uma ou duas
comunicações, sempre subordinadas ao tema do encontro.
O objectivo de reunir centenas de pessoas nestes encontros, não é apenas promover
turisticamente a região, mas sobretudo fazer despertar os habitantes locais para a riqueza
que todos os anos deixam escapar, quando seria tão fácil fazer uma recolha selectiva e
organizada, para colmatar as necessidades dos restaurantes locais. Se a ambição for maior,
a qualidade dos cogumelos desta região é tanta que poderão ser vendidos para o mercado
espanhol e depressa os introduzem nos circuitos franceses. Os mesmos “Boletus Edulis” que
38
Vide anexo VI.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Ecomuseu de Barroso
saem de Montalegre a oito euros o quilo, depois de uma pequena transformação podem ser
vendidos a cinquenta euros o quilo, ao consumidor final. Este é uma possibilidade de negócio
que desejamos que seja agarrada por um conjunto de habitantes locais, para que sirvam de
motor de arranque.
Um outro objectivo, na organização deste evento, que conta com a parceria do Clube de
Montanha Papaventos, é levar os restaurantes locais a oferecerem os seus clientes, clientes
com cogumelos locais, que são de excelente qualidade.
O desenvolvimento de uma região só se consegue concertando esforços para que todos
em conjunto dinamizem a máquina económica, que põe em funcionamento todos os agentes
que façam parte desta cadeia. Parece-me que uma zona deprimida e afastada dos
grandes centros terá de saber aproveitar muito bem os seus recurso e não ser permeável a
produtos que venham de fora, quando têm os seus de tão boa qualidade.
12.5. Encontro de Museologia do MINOM
As XVI Jornadas sobre a Função Social do Museu39, com o tema “Ecomuseologia –
Identidade e desenvolvimento” decorreram nos dias 28, 29 e 30 de Outubro de 2005, em
Montalegre e foram um momento privilegiado de reflexão e de apresentação pública do
Ecomuseu de Barroso.
O encontro teve inicio no dia vinte e oito, pelas dez horas da manhã, com os discursos do
representante do MINOM40 (movimento internacional para uma nova museologia) e do vice
Presidente da Câmara Municipal de Montalegre, professor Orlando Alves, que fez uma
apresentação da região salientando os seus estrangulamentos, as oportunidades e a falta
de ambição dos locais.
De seguida, o fiz uma apresentação do Ecomuseu de Barroso, os projectos em curso e os
pólos que estão, já em obra. De tarde foi feita a apresentação dos temas e a discussão por
grupos. A noite terminou com um jantar no hotel do Padre Fontes, animado por um serão de
contos à lareira contados pelo anfitrião, pelo Dr. José Batista e pelo Sr. Fernando do
Barracão.
No sábado visitamos e reflectimos sobre os pólos de Salto, Pitões das Júnias e também
Vilar de Perdizes, fonte das medicinas alternativas. No domingo foi feito o debate e
apresentadas as conclusões.
39
40
Ver Anexo III
idem
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Ecomuseu de Barroso
14. Projectos Similares
14.1. Ecomuseus Franceses visitados
14.1.1. Ecoumuseu de Margeride
Na Aldeia de Loubaresse:
Visita ao Polo da Casa Agrícola típica:
Casa feita de granito trabalhado do Séc. XVIII, onde animais e pessoas vivem
partilhando o mesmo espaço apenas divido por madeira (caixa de madeira ao entrar a
porta – os porcos ficavam fora desse espaço); depois ampliada no Séc. XIX pelo filho Pierre
Alegre, que separa a habitação dos agricultores dos espaços dos animais, os avós em baixo
e o casal novo em cima.
Esteve ocupada até 1950, desenvolvendo-se todas as actividades tradicionais.
Em 1972 Guy Brun - foi o homem que começou a ideia de Ecomuseu, pessoa vulgar que
ainda hoje participa no apoio ao ecomuseu. O povo da aldeia é que decidiu que esta casa
devia ficar para lembrar o tempo passado.
A estrutura do Ecomuseu está baseada numa Associação com 5 pessoas, os restantes
membros são funcionários da Câmara; os pólos apenas abrem de Maio a Setembro.
Há um espaço de carpintaria que era usado pelos carpinteiros da terra durante o
Inverno pelo facto de estarem mais quentes.
Há um pequeno jardim de plantas aromáticas, medicinais e para compotas do museu. O
forno da casa, que se situa em frente da casa tradicional, foi também musealizado
A casa tem dois funcionários: Jardineiro e Animadora (guias de grupos visitantes).
No verão, o pastor da casa levava o gado para a montanha e tinha uma cabana em
cima de um carro de vacas (roulote). Na montanha tinha um abrigo onde fazia o queijo.
No piso superior, por cima dos animais, fica o celeiro onde hoje estão musealizados os
ciclos do Centeio e do linho.
Na casa de habitação encontramos:
Lareira, burra, cremalheira, mesa, leiteira e canto para fazer o queijo, espaço escuro
para conservar os alimentos, uma cama pequena onde o dono da casa dormia quase
sentado porque o dormir deitado era sinónimo de morte.
No núcleo central encontramos uma Torre Medieval, com:
Jardins muito bem tratados, com plantas da região, quer medicinais, quer selvagens.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Ecomuseu de Barroso
Exposição sobre as colheitas, desde a era nómada. Um Título das Exposição: “ As giestas
uma planta com muitos usos”, As plantas medicinais e alimentares, Os comumelos, os licanes,
Jornais antigos, paisagem com neve. Caixa com cheiros para identificar a planta...
Nos Jardins foram reconstituídas as paisagens selvagens, o que facilita a explicação
sobre as alterações que a região sofreu comparando com a paisagem actual do outro lado
do vale. Aqui se encontram pequenas caixas com um texto a enquadrar o tema, perguntas
mais usuais e as respostas. Os pequenos canteiros de flores pululam por tudo o lado e além
da beleza preservam o tipo de canteiros usados na região.
No Pólo - Escola Primária
Até ao ano 1983 era uma escola normal, que ficou sem alunos e daí começaram a reunir
acervo.
1930 foi a época que quiseram musealizada. Começaram com a recolha de testemunhos
dos antigos alunos e ainda hoje apoiam as visitas, recordando a sua história.
Tem a sala de aula pronta para leccionar (nessa época), mesas com material escolar em
cima, tinteiros, lavabo das mãos, pequena biblioteca. Todos os dias o professor escrevia um
pensamento no quadro que depois era fixado em papel na sala.
Há uma pequena loja de venda de produtos turísticos, ligados à realidade escola.
Vão inaugurar Percursos pedestres dos caminhos pedestres que os alunos faziam para
ira ás suas escolas.
Este pólo está aberto de Junho a Setembro, depois as visitas apenas se realizam por
marcação prévia.
No 1º andar deste edifício há:
Uma exposição intitulada: “As mudanças dos caminhos de acesso à Escola”
A exposição incorpora: Objectos que os alunos levavam, as roupas, os livros, o calçado,
o autocarro, fotos antigas, uma foto da fachada (Escala quase normal) e por detrás há uma
pequena sala de aula, uma mesa e um quadro.
Fizeram rotas dos caminhos de acesso às escolas e editaram um guia que fala das
escolas, da arquitectura, das histórias interessantes (lendas).
Têm um conselho de administração com sete membros que decide os destinos do
Ecomuseu e é quem financia: Governo Cultura, departamento, concelho, comunidade,
associação...
Têm uma verba por ano e tem um contrato por objectivos para 3 anos.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Ecomuseu de Barroso
As visitas não mostram só como se fazia no passado mas com marcação pode-se
acompanhar um agricultor para que se veja a evolução da técnica.
30% do orçamento vem das receitas das lojas nos pólos musealizados.
Este Ecomuseu, situado numa zona montanhosa, perto dos grandes centros populacionais,
também tem dificuldades de acessibilidades, e dificuldades de orçamentação. Tem um bom
funcionamento em rede, com os pólos e a garantia do seu funcionamento está dependente
do financiamento do governo. Os pólos são iniciativas bem enquadradas na comunidade
local e apenas se destaca como ponte negativo a falta de sinalização.
Comparando com o Ecomuseu que se segue, de Bresse, as coisas mudam de situação. Este
é um museu instalado num Castela, com muito dinheiro para gastar e com uma estrutura de
pólos muito bem montada. Os desdobráveis temáticos muito apelativos, embora as secções
que no núcleo sede têm a obrigação de promover os pólos não sejam muito motivantes.
A sede funciona muito bem, tem uma boa exposição sobre a identidade da região. Tem
uma equipa de voluntários guias interessante, preocupam-se em rentabilizar todos os
espaços, criando albergues para grupos, tendo todas as condições para a realização de
grandes eventos. É um exemplo a seguir, tanto na filosofia de museu poli-nucleado, como na
dinâmica cultural conseguida, para divulgação e rentabilização económica do projecto.
Uma sugestão apenas, este ecomuseu merece um plano de marketing a sério,
desenvolvendo mais a atractividade dos temas dos pólos representados no castelo, e se
possível aumentar a possibilidade de tocar as coisas, aos visitantes.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Ecomuseu de Barroso
14.1.2. Écomusée de la Bresse bourguignonne
A sede é um Château de 1671 – monumento nacional em Pierre-de-Bresse:
31 anos de construção, propriedade de uma família nobre do tempo de Luís XIV.
Desde o ano 2000 há 3 anos para cá, anualmente faz-se a reconstituição sobre a
História da Familia e logo a História de França.
É gerido por uma Associação criada para o efeito:
O Conselho de Administração é o conjunto de todas as forças vivas da região e do
estado central; por exemplo o conselho Geral, o Distrito, o departamento...
O Projecto tem 7 Pessoas a tempo Inteiro: o Conservador é do Estado-Director,
informático, Recherche (recolhas), documentalista, ...
Temporariamente tem 5 pessoas no acolhimento (de Maio a Setembro)
Os Funcionários gerais são pagos pelo Distrito (ex. jardineiros)
Financiamento: Ministério da Cultura, Con. Geral, Con. Regional, Comuna.
Há Voluntários que pagam uma quota anual para ser Sócio do Ecomuseu; estes assumem
os Pólos aos Domingos; tudo que é organizado pelo Ecomuseu são convidados (incluindo
edições) e sempre que visitam a exposição permanente – Castelo com outras pessoas elas
têm desconto. Uma vez por mês há uma reunião para calendarizar as actividades. São
ouvidos para as grandes decisões. É feito todo um trabalho de mentalização das vantagens
do Ecomuseu e de cada decisão – para que eles sejam os difusores dessas ideias.
O Núcleo central nasceu em 1981 e abre em 1983.
Em cada exposição os artesãos pagam para expor e ainda deixam algumas peças para
o museu, como forma de financiamento.
O Edifício – O Castelo - é do Departamento, o acervo é da Associação, porque vai
sendo incorporado pelos técnicos de museologia a trabalhar.
1ª SALA
História da Família, do Castelo e de França
Maqueta, Fotos antigas, pedaços de uma antiga escada. Explica como se fazia as folhas
de decoração das paredes (com moldes de plástico e cada cor é adicionado por sua vez.
Têm uma sala sobre o membro da Família que ficou pobre pois a Mina de carvão na
Bélgica fechou. Apareceram livros com o brasão da família em Paris, que foram comprados
para o museu.
A Família do Castelo – THIARD
2ª SALA da REGIÃO
Mostra de argila. Forma de divisão dos terrenos. Forma de drenagem dos lagos.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Ecomuseu de Barroso
Há m3 Rios isso cria vários lagos. Os lagos todos os anos são esvaziados e leiloados os
peixes
As florestas – apenas plantavam madeiras úteis carvalho – Mobílias; vidueiro – socos e
os arbustos para o aquecimento.
3ª SALA História da Região
Apresenta móveis construídos na região.
Apresenta os Pólos (acervo oferecido ) cadeiras de palha, Florestas – cortes, telhas –
cerâmica, milho, pão;
Haverá pólos futuros – Música, moinhos
O Soqueiro além da sua função, tem uma réplica da construção, onde a estrutura de
madeira que o enquadra, representa a estrutura base das casas do Séc XVII, XVIII, e XIX.
Aparecem coisas típicas da Quinta (tarefas e objectos) ligados ao leite e às actividades.
O Termo Ecomuseu neste museu surge do envolvimento da população (testemunhos) e das
suas ofertas.
Na Sala do Mobiliário, os enfeites surgem do uso de madeiras diferentes na mesma
peça.
A Sala da evolução da região tem uma pequena casita com aparecimento das torneiras,
luz e aparelhos.
Fotos de ordenhas, máquinas agrícolas, possilgas em grande escala
Novas técnicas: uso do plástico, máquina de depenar, produção de móveis hoje.
Na Sala de áudio visual há um painel com 7 possibilidades:
Milho, cavalos, matança, abate de arvores, ferrar cavalos, um pais Braise... que os
visitantes escolhem e assistem ao decomentário.
Tem um albergue com 31 camas, sala de reuniões, biblioteca, pequena lavandaria,
cozinha industrial, 2 salas almoço, jogos antigos. O preço é de 14 Euros por pessoa.
n.b. ver a folha de condições de acesso a sócios voluntários do Ecomuseu
Os pólos apenas abrem de Maio a Setembro.
Os técnicos dos pólos são colocados pela câmara, o problema é quando essas pessoas
são sempre diferentes.
Há possibilidade de comprar um passe único para visitar todos os pólos.
O museu está a tentar recuperar a raça de porco autóctone, à semelhança qo que cá se
anda a fazer em relação à raça Bisara, ou porco celta, como lhe chamam vulgarmente os
mais velhos e os galegos. Esta é uma medida que visa a preservação do património genético
de uma região e que vai permitir fazer a certificação de produtos com denominação de
origem, o que será uma mais vali para a região.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Ecomuseu de Barroso
14.2. Ecomuseus Espanhois Visitados
14.2.1. Ecomuseu de Saja-Nansa, na Cantábria
É um projecto com características muito próprias, devido à especificidade do sítio em que
se localiza, “a Catária”, entre os rios Saja e Nansa. Este Ecomuseu abarca a comarca de
Saja-Nansa, com quase 1.000 km quadrados, em que a paisagem varia desde o nível do
mar, até aos 2.000 metros de altitude. É de salientar que nesta comarca há diversos
pequenos Parques Naturais. O Ecomuseu é gerido por uma Associação que tem os Alcaides
da comarca como conselho de administração, a definir-lhe as linhas orientadoras e
subsidiando uma estrutura mínima que garanta a divulgação dos materiais produzidos por
cada um.
A missão deste Ecomuseu é divulgar os pólos municipais que se enquadram neste espírito
de recuperação e preservação do património, mas não têm qualquer responsabilidade de
manutenção nem de acompanhamento nas visitas.
Este Ecomuseu adoptou como seu símbolo uma “canga” artefacto de madeira que serve
para prender as vacas pela cabeça, nas manjedouras, o que só por si lhe confere um
espírito popular e de atenção constante à população local. Também eles sentem a falta de
população jovem e fazem todos os possíveis por acarinhar os maiores e os emigrantes no
verão para este projecto.
Tem dois edifícios da responsabilidade do Ecomuseu. O pólo de recepção do Ecomuseu
situado no núcleo de Puente Pumar, num vale paradisíaco que pretende ser a porta de
acesso ao Ecomuseu. Este centro é um edifício antigo reconstruído, muito bonito, onde
apresentam a região e a sua identidade, têm também um espaço para exposições
temporárias, no momento estava patente uma exposição de pintura de um artista da região,
Ángel Valdés, uma recepção e um espaço para venda de produtos da região. Além disto
tem um Bar, um restaurante e 4 quartos para turismo rural, procurando ser auto suficiente.
Nas redondezas há vários percursos pedestres que alguns populares da aldeia percorrem
com frequência, por vezes como guias responsabilizando-se pela sua manutenção.
Em Cuevas (Roiz) está situado um pólo – El molino, que devido á sua localização central
está a funcionar como centro administrativo e de decisão.
Muitos dos elementos do Ecomuseu são visíveis pelo simples facto de existirem na natureza,
mas outros que já caíram em desuso tiveram de ser recuperados, como é o caso da “Ferraria
de Cades” o ferreiro da zona, um exemplo de uma antiga actividade industrial, que apenas
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Ecomuseu de Barroso
se pode visitar aos sábados no verão, podendo desfrutar de uma demonstração por volta
das 12 horas.
14.2.2. Ecomuseu de Somiedo, nas Astúrias
É o projecto que mais se assemelha ao Ecomuseu de Barroso. É um Ecomuseu Municipal, o
primeiro que visitei até hoje. Foi criado numa área em que já existe um Parque Natural de
Somiedo, o que lhe confere mais uma semelhança com a nossa realidade e do Parque
Nacional da Peneda Gerês. O Urso ocupa o lugar central no esforço de protecção dos
asturianos, enquanto nós, no Gerês preocupamo-nos com o Lobo Ibérico, a Águia Real e a
Cabra do Monte. Em ambos os parques há lagos glaciares, só que lá estão rentabilizados,
podem visitar-se acompanhados de guias, e criaram um conjunto de material de divulgação,
com muita qualidade, que provoca uma entrada de receita.
A realidade humana é semelhante, aldeias muito envelhecidas, inexistência de
industrialização, o investimentos turísticos timidamente a dar os primeiros passos, os eventos
culturais de qualidade distavam cerca de 100 km na cidade que atrai toda a juventude aos
fins de semana, Oviedo.
O Logotipo do Ecomuseu de Somiedo é inspirado nas antigas casa de “escoba” –
cobertas de giestas, casas que agora apenas servem para currais de gado na montanha e
as conservadas pelo Ecomuseu, que dão aos visitantes uma ideia da evolução da casa
somedana ao longo dos tempos. Estas casa fizeram uma evolução em tudo idênticas às de
Montalegre, de espaço amplo, para a divisão do quarto e posteriormente para a evolução
para dois pisos, um para os donos outro para o gado, a única diferença é que as nossas
casas são cobertas de colmo, a palha de centeio maior e mais perfeita.
Como museu tem um edifício, em Somiedo onde apresentam os artesãos e a sua arte e
que funciona como cérebro de toda a organização de qualquer visita guiada aos lagos ou
ás pequenas aldeias em que recuperaram os moinhos ou os locais onde colocavam as
leiteiras, e que como nós criaram pequenos percursos pedestres, com um ou dois painéis
informativos. As dificuldades financeiras são desvendadas pela evidente falta de espaço,
pela falta de equipa técnica permanente e exclusiva, mas nunca no discurso das pessoas que
nos acompanham, estas projectam as dificuldades em projectos futuros e objectivos a
alcançar.
Têm uma grande vantagem, em relação a nós, o trabalho diário é feito em perfeita
sintonia com o parque natural, inclusivamente no uso de parte a parte das instalações e da
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Ecomuseu de Barroso
informação sobre Somiedo, exposição permanente que o parque tem patente, com grande
qualidade e do museu dos ofícios tradicionais do Ecomuseu.
É um projecto que tem todo o sentido e que espero que venhamos a criar uma parceria e
que nós poderemos contribuir com a nossa experiência de certificação de produtos locais,
que contribua como uma mais valia para os produtores e que eles necessitam.
Em jeito de conclusão, saliento a maior semelhança do ecomuseu com o ecomuseu de
Somiedo, a região também é muito semelhante, a agricultura é semelhante, os telhados das
casas são semelhantes, embora nós usemos palha e eles giestas, nós preservamos o lobo
ibérico, eles o urso. Os dois projectos estão inseridos em locais classificados, só que em
Somiedo ecomuseu e parque natural confundem-se, porque convergem nos objectivos a
alcançar, que é a preservação do território, a fixação das gentes e a necessidade de uma
estruturação forte para atrair turistas, que justifiquem a existência deste projecto.
A grande lição é a interacção e a capacidade de conjugação de esforços conjunta,
numa região deprimida e em risco de passar ao lado do desenvolvimento.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
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Ecomuseu de Barroso
Conclusão
Analisando as características do segundo maior concelho, em área do país, com oitenta
porcento da população com um estilo de vida essencialmente agro-pastoril, e o nível etário
médio a aumentar vertiginosamente, o desenvolvimento local está no mínimo hipotecado. É
urgente sensibilizar a população local para os riscos de desertificação, de aumento de
pobreza e mesmo de uma mais do que possível “desinculturação” das nossas aldeias, que
em cada dia vêem as suas casas antigas compradas por urbanistas sem qualquer ligação à
terra, mas sedentos de uma reforma tranquila e relaxada.
Esta região, só tem duas possibilidades de inverter esta situação. A primeira é uma
valorização imediata do seu património natural e cultural, vendo nele
o seu melhor
investimento a prazo. Claro está que esta valorização, tem de ter a coragem de aplicação
de um preço, porque a cultura tem um custo em qualquer parte do mundo, menos no mundo
rural e aqui esbarramos, por vezes na falta de ambição monetária que os barrosões sofrem
desde há muitos séculos. Preferem oferecer o presunto do que por um preço para um lanche
regional. Exemplo disso é a actual feira do fumeiro, que nas suas primeiras edições, a
câmara como organizadora, teve de pagar aos lavradores para exporem simplesmente o
seu fumeiro durante três dia. Hoje, catorze anos depois, são vendidas na feira mais de
cinquenta toneladas de fumeiro (presunto, chouriça, chouriço, alheiras, farinhotas e
sangueiras), fora o que sai directamente de casa dos produtores, para aqueles clientes já
fidelizados. Mas, a falta de capacidade de empreendedora tem impedido os produtores de
se associarem e de criarem uma casa de fumeiro, onde teriam todas as condições para
vender fumeiro todo o ano e daí lançar os primeiros passos para a criação de canais de
comercialização, sem intermediários avarentos.
O recurso turístico mais explorado em Portugal é indubitavelmente o sol e mar,
proporcionado por um clima aprazível e uma faixa costeira extensa e diversificada. No
entanto, o nosso país tem uma diversidade imensa de outros recursos que podem constituir-se
em segmentos de mercado importantes, se adequadamente promovidos e dotados das
necessárias infra-estruturas, como prova o estudo de mercado deste trabalho.
Assim, estes recursos passam por aldeias preservadas, com valores paisagísticos e
culturais únicos; casas senhoriais recuperadas que permitem o turismo de habitação, bem
como a prática de desportos em contacto com a natureza; estâncias termais de diversos
tipos e diversas localizações. Uma grande vantagem que Portugal apresenta enquanto
destino turístico é o facto de ser possível, num espaço geográfico pequeno, e percorrendo
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
117
Ecomuseu de Barroso
pequenas distâncias, responder a motivações turísticas muito diferenciadas, beneficiando em
todos os pontos do país de uma cultura rica, uma gastronomia única e património religioso.
O Barrosão é solidário, gregário, social. O comunitarismo agro-pastoril é disso um
exemplo; assim como as «instituições» criadas para reger a vida em comunidade, apoiadas
em fortes laços de solidariedade. A cultura barrosã assenta nesta interajuda entre vizinhos,
desde os trabalhos no campo, à partilha dos momentos bons e maus. A vida social dos
barrosões, mercê das condicionantes económicas e ambientais, cimentou estes laços, criando
regras, respeitando costumes e tradições que resistem às exigências e mentalidades
modernas.
Esta realidade está a ser alvo de uma atenção especial: investir nos equipamentos
estruturantes e apoiar fortemente a criação da estrutura hoteleira de cariz turístico é o
objectivo fundamental da Câmara Municipal através do projecto Ecomuseu de Barroso que
tem no turismo um poderoso recurso para o desenvolvimento económico e social do concelho.
Trata-se, no fundo, de aproveitar os enormes recursos do concelho, na área do turismo
em espaço rural, ecoturismo, turismo de habitação, gastronomia e agro-turismo, turismo
desportivo de natureza, criando uma nova imagem aos produtos regionais, áreas onde a
criação de riqueza é compatível com a manutenção do equilíbrio ambiental e a preservação
da identidade do seu povo e respectivas tradições.
O Ecomuseu de Barroso está no momento da sua afirmação local, porque ao fim de
quatro anos em que o projecto não foi usado como bandeira política, todos os pólos estão
em obra, esperando-se inaugurar, até ao final do ano o pólo de Salto. Uma das grandes
vantagens deste projecto é ser municipal, porque todas as experiências que conheço, que
tinham associações de desenvolvimento local, a gerir, vêem o final dos quadros comunitários
com grande apreensão, pois estas iniciativas demoram muitos anos até serem auto
suficientes, exemplo disso são alguns projectos já não têm dinheiro para pagar aos seus
técnicos.
Sendo um projecto municipal, o ecomuseu não está isento de dificuldades, essencialmente
económicas. Usamos o carro da divisão sócio-cultural, o que significa que é usado por cerca
de dez pessoas. Apenas estão contratados dois técnicos superiores, nos quadros do museu,
os restantes colaboradores têm sido estagiários, para estágio curricular e para estágio
profissional, nas áreas da arqueologia, biologia, turismo e antropologia. Isto dificulta imenso
a divisão de tarefas e a estruturação do trabalho a médio prazo. Uma outra dificuldade é o
esforço físico que vaias actividades acarretam, como é o caso da marcação dos percursos
pedestres e as actividades tradicionais como a malhada e a cegada, em que faltam os
colaboradores mais robustos.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
118
Ecomuseu de Barroso
Estamos a viver o inicio de mais uma grande dificuldade, que será a abertura dos pólos
temáticos, com a já anunciada dificuldade de contratação de administrativos. Teremos de
partir para a marcação prévia de visitas durante o anos e durante os meses de verão
recorrer a OTLs e a parcerias com as juntas de freguesia para facilitar o acesso aos pólos.
Mas como a nossa ideia é fazer de todos os habitantes da aldeia, onde o pólo está, guias
do museu, e para isso quem for acompanhado com os habitantes locais não irá pagar
entrada no museu, porque o museu é deles e ninguém falará melhor das suas experiências
de vida do que eles próprios.
Um lamento em relação às denominações de origem e às certificações dos produtos
locais que são de excelente qualidade, mas que deviam reverter para o produtor, como
maior receita e infelizmente representa mais um custo e não se vislumbram canais de
comercialização sérios, que incentivem o aumento de produção animal e agrícola. Fica a
dúvida para a real importância da cooperativa dos produtores de batata de semente do
barroso, para os agricultores do concelho.
Um segundo lamento para a falta de visão de futuro, com o não aproveitamento da
marca Parque Nacional da Peneda Geres (PNPG) nos produtos de qualidade que são
cultivados, nos concelhos que integram o parque nacional. Esta deverá ser a imagem de
pureza e sanidade de tudo que tem origem nesta região. Claro está, que terá de haver uma
ou mais equipas de verificação da qualidade dos produtos, que se funcionassem poderiam
ser as cooperativas.
Montalegre enquadra-se na região chamada "Terra Fria", zona de profundos contrastes
com Verões quentes e Invernos rigorosos. Diz o ditado popular "nove meses de Inverno e três
de Inferno". Uma mais–valia muito importante desta região, foi o contrabando que originou
uma fácil ligação com as terras Galegas e com os grandes centros de Chaves e Braga, com
os quais há um grande intercâmbio de pessoas, bens e serviços.
As gentes são hospitaleiras e trabalhadoras, espontâneas no trato e solidárias entre si e
com quem as visita, pouco desconfiadas e muito justiceiras. Zona de uma pureza quase
intocável, oferece aos visitantes paisagens de um colorido intenso, mas breve, produzido
pelo curso das estações.
É deslumbrante o esplendor dos seus carvalhais seculares, o urzeiral intenso, os giesteiros
garridos - refúgio de uma fauna ímpar e variada, que povoa os cabeços castigados pela
neve do Inverno e do calor do "Inferno". Nas zonas mais baixas e planas estendem-se
ladrilhos de mil verdes, recortados por muros de pedra solta, onde o Barrosão produz o
essencial para a sua alimentação, sobretudo as manadas de vacas, rebanhos, garranos. No
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
119
Ecomuseu de Barroso
Outono apanha a delicia dos cogumelos e miscaros tão abundantes. São 805 Km2 repletos
de variados ecossistemas e paisagens, que surpreendem todos os visitantes.
Subir às serras do Larouco, Barroso, Mourela, Leiranco ou Gerês é descobrir um «país
maravilhoso» construído e conservado pelos Barrosões ao longo de séculos, havendo fartos
vestígios antiquíssimos em cada pedaço de terra. A imponência destas serras oferece outro
tipo de aventuras e emoções, que começam a ter a sua expressividade, com as iniciativas
dos grupos mais radicais. Também a paisagem se vende e tem cada vez mais clientes à
procura de qualidade.
Penso que há novos empregos que o ecomuseu está a provocar, há um turismo crescente,
que não se pretende de massas, mas que deixe de ser tão sazonal. O futuro desta região
não passa pelo abandono da pastorícia nem da agricultura mas elas são essenciais para a
preservação deste tipo de paisagem, claro está, acrescidas de um extra que virá da
procura turística.
Na minha opinião pessoal, fica bem definida a diferença entre a museologia clássica e a
ecomuseologia, bem como o papel da comunidade na criação deste projecto de
desenvolvimento local, que será tão forte quanto o empenho que os barrosões puserem nas
pomadas de decisão que forem necessárias.
Termino com uma frase do amigo pessoal e do Ecomuseu de Barrosos Hugues de
Varine:”Os processos e métodos de desenvolvimento local apoiam-se, necessariamente, sobre a
cultura viva dos cidadãos: nenhum desenvolvimento pode ser sustentável sem uma participação
dos cidadãos, participação essa que deve fazer-se na linguagem da cultura”.(...)
Parece que a máxima bem conhecida em Portugal que “para lá do Marão mandam os
que lá estão” continua a ter ser actual.
VIVA BARROSO.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
120
Ecomuseu de Barroso
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A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
124
Ecomuseu de Barroso
Anexo I – Comissão Local para o Património e Ecomuseu
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
125
Ecomuseu de Barroso
ECOMUSEU DE BARROSO
Regulamento Interno
Comissão Local para o Património e Ecomuseu
Montalegre
Aprovados Maio de 2002
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
126
Ecomuseu de Barroso
Comissão Local para o Património e Ecomuseu
Preâmbulo
A constituição de um grupo de personalidades locais que se designa “Comissão Local para
o Património e Ecomuseu”, considera-se fundamental pelo valor acrescentado que algumas
pessoas, residentes ou não no concelho, podem trazer para o processo de criação e
consolidação do Ecomuseu do Barroso. Esse contributo pode derivar das suas próprias
experiências profissionais e pessoais, como garantia acrescida da sua participação no processo
de desenvolvimento deste território e das oportunidades criadas de relacionamento desse grupo
de pessoas com os pólos territoriais e com os grupos locais.
Esta Comissão deverá assumir um estatuto de órgão consultivo municipal e de sensibilização da
população para as temáticas do património e para o projecto do Ecomuseu do Barroso.
Deverá ser composta por pessoas com forte ligação ao território, com o estatuto de
voluntários, que possuam conhecimentos e uma experiência de terreno em matéria de
património, podendo ser envolvidos em proveito do projecto e do desenvolvimento da
população local. Poder-se-á comparar este grupo de pessoas a uma “Academia do Barroso”,
uma estrutura prestigiada que contribua para aconselhar, desenvolver iniciativas, ser
referência para o Ecomuseu e servir de intermediação com outras pessoas ou grupos de
pessoas distribuídas pelo território.
Será conveniente, por outro lado, que se venham a representar nesta Comissão as várias
dimensões do desenvolvimento e do projecto do Ecomuseu, especialmente numa relação com
o património do território de referência, designadamente as áreas da ecologia, da
agricultura, da história local, da economia, do desporto, das artes e artesanato, das
tradições, da linguística, do turismo, etc.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
127
Ecomuseu de Barroso
Regulamento Interno
Designação
“Comissão Local para o Património e Ecomuseu”
Âmbito
A Comissão Local para o Património e Ecomuseu tem um âmbito municipal.
Objecto
A Comissão tem por objecto:
a) o aconselhamento e acompanhamento da acção do Projecto do Ecomuseu do Barroso, desenvolvido pela
Câmara Municipal em matéria de preservação, valorização e divulgação do Património de todo o concelho de
Montalegre,
b) a sensibilização da população do concelho de Montalegre, de instituições sediadas no concelho e de outras
entidades (públicas e privadas) que intervenham no concelho com o objectivo de promover o conhecimento, o
estudo, a recuperação e a valorização do património local (nas suas diversas vertentes, imóvel, móvel, imaterial
e fungível),
c) a divulgação e promoção no exterior dos valores patrimoniais e da cultura do Barroso, nomeadamente,
suportando a sua acção na estrutura do próprio Ecomuseu do Barroso,
d) a representação da sociedade civil local em matéria de manifestações e outros eventos que se venham a
realizar dentro destas temáticas, do Património e da cultura Barrosã, dentro ou fora do território municipal.
Formas de intervenção
Para a prossecução dos seus objectivos, a Comissão poderá / deverá recorrer a diversas formas de intervenção,
nomeadamente:
a)
a elaboração de contributos de reflexão e opinião sobre projectos do Ecomuseu em matéria de
Património natural e cultural;
b) a promoção ou participação em debates públicos, seminários, colóquios, reuniões, nomeadamente de
natureza temática, sobre o Património do Barroso e sobre o Ecomuseu;
c)
o apoio a campanhas de sensibilização local para o Património;
d) o patrocínio institucional de eventos e de iniciativas particulares relacionadas com o património do
Barroso;
e)
a dinamização ou apoio a grupos locais vocacionados para a intervenção no campo da defesa,
preservação e valorização do Património, incluindo a sua articulação com a acção do Ecomuseu;
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
128
Ecomuseu de Barroso
f)
o apoio na promoção de estudos, documentação e publicações sobre o Património e a cultura local;
g) a participação noutras actividades ou eventos de natureza mais alargada, dentro das mesmas temáticas
de abordagem ao Património e cultura local;
h) o apoio na representação do Ecomuseu no exterior;
i)
o intercâmbio com outras entidades exteriores com vista a dar a conhecer o projecto e a facilitar
potenciais parcerias ou outro tipo de colaborações com o Ecomuseu.
Composição
A Comissão deverá ser composta por personalidades que demonstrem interesse, apreço e conhecimento em
matéria do Património e da cultura local e, que no seu conjunto, abarquem um leque alargado de temáticas
disciplinares, incluindo a história (local), a economia, a antropologia, a ecologia, o desporto, a agricultura, as
artes e tradições, a linguística, etc.
O número de pessoas a integrar esta Comissão deverá ser limitado, por razões que se prendem com a sua
funcionalidade41.
Integração de novos membros
Os membros da Comissão Local devem ser convidados pelo Ecomuseu do Barroso para integrarem esta
Comissão.
Os membros fundadores (no máximo de 10/15 pessoas), devem assumir como prioridade a revisão do
Regulamento Interno e a elaboração de um “Documento Fundador” da Comissão Local para o Património e
Ecomuseu.
Quanto à integração ou saída de qualquer membro, o processo poderá ser suscitado, quer pela equipa do
Ecomuseu, quer pela própria Comissão, e deverá ser apreciada pela Comissão e consequentemente,
comunicada à Câmara Municipal de Montalegre.
Direitos dos membros
Os membros pertencentes à “Comissão Local para o Património e Ecomuseu” têm os seguintes direitos:
a) Ser informados e ouvidos sobre projectos e acções do Ecomuseu do Barroso, no âmbito do
património natural e cultural do concelho de Montalegre;
A Comissão poderá futuramente vir a integrar, a nível de freguesia, grupos locais de acção patrimonial, desde que as suas funções
sejam similares.
41
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
129
Ecomuseu de Barroso
b) Ser informados sobre outros projectos e acções da Câmara Municipal, no âmbito do Ecomuseu, cujo
impacto sobre o património cultural e natural local seja significativo, podendo traduzir-se em situações de
conflitualidade com os objectivos do Ecomuseu;
c) Usufruir de actividades do Ecomuseu desde que necessárias para o cumprimento da sua actividade, dentro
das competências que lhe são atribuídas, e desde que compatíveis com o plano de actividades e orçamento
afecto ao Ecomuseu.
Deveres dos membros
Os membros pertencentes à Comissão Local para o Património e Ecomuseu têm os seguintes deveres:
a) Desempenhar todas as tarefas que decorrem das suas competências e funções enquanto membros desta
Comissão, salvaguardando os interesses da população de Montalegre e das instituições que a representam,
nomeadamente, as instituições autárquicas;
b) Informar a Câmara Municipal sobre qualquer assunto respeitante à sua actividade enquanto membro desta
Comissão Local, desde que para isso seja solicitado;
c) Informar previamente o Ecomuseu do Barroso sobre actividades ou plano de acções que venham a ser
elaborados, desde que estes assumam carácter público.
Orgânica
A Comissão terá uma Direcção, composta pelos técnicos do Ecomuseu, a qual fica responsável por fazer a
ligação com a Câmara Municipal e os restantes membros que serão o plenário.
A direcção é responsável pela apresentação junto da Câmara Municipal de planos e propostas de actividades,
bem como pela sua execução.
Os restantes membros da Comissão (plenário) deverão, sempre que possível acompanhar a execução das
actividades por si propostas.
Funcionamento
A Comissão funciona em instalações do Ecomuseu do Barroso, segundo um regulamento que deverá ser
estabelecido no início de cada ano, entre a Comissão e o responsável do Ecomuseu do Barroso.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
130
Ecomuseu de Barroso
Os membros da “Comissão Local para o Património e Ecomuseu” concordam e
subscrevem os termos deste Regulamento Interno:
Dr. José Dias Baptista
Dr. Francisco Álvares
Eng. Agrónomo Alberto José Vilhena Gusmão
Dr. Bento da Cruz
Prof. José António Carvalho de Moura
Padre Dr. António Lourenço Fontes
Padre João Gonçalves Costa
Eng. Agrário Fidalgo
Sr. José Manuel Arantes
Profª. Maria do Carmo
Eng. Lúcia Araújo Jorge
Dr.ª Irene Esteves Alves
Sr. João António Machado
Representante da Associação dos antigos Mineiros da Borralha
Prof. Doutor Helder Fernando Vilamarim do Alvar
Dr. João Carlos Azenha
Dr. David José Varela Teixeira
Montalegre, 03 de Maio de 2003
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
131
Ecomuseu de Barroso
Anexo II - Rede de Percursos Pedestres de Barroso
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
132
Ecomuseu de Barroso
Os percursos Pedestres
A criação de uma rede de percursos pedestres, no concelho de Montalegre, foi um
momento importante para a afirmação das potencialidades desta região no âmbito do
turismo activo.
O pedestrianismo, ou caminhada, é tão antigo como o homem. Praticar pedestrianismo é
andar, algo que o ser humano teve de fazer desde sempre para se deslocar de um lugar
para outro. Na verdade, muitos dos caminhos que se percorrem na prática do
pedestrianismo parecem ter sempre existido, para ir de uma aldeia para a outra, para
chegar a uma pequena ermida ou para aceder a velhas ruínas.
As calçadas romanas poderiam ser um primeiro e claro antecedente do pedestrianismo.
Outros antecedentes encontram-se nos famosos Caminhos de Santiago, um longuíssimo
caminho que passou a fazer parte dos percursos catalogados e que só em Espanha conta com
mais de 800 km.
Esta actividade nasceu em França há quase cinco décadas. Ali começaram a criar-se os
Percursos de Grande Rota (GR). Pouco depois outros países europeus seguiram o exemplo
francês, e em alguns ocorreu um espectacular desenvolvimento dos GR. Na actualidade a
Alemanha conta com mais de 210 000 km sinalizados.
Características essenciais do pedestrianismo:
•
Consiste em percorrer a pé os Percursos de Grande Rota;
•
Não se trata de um desporto de competição – não há meta a alcançar;
•
O caminho é um meio, não um fim;
•
Embora se considere um desporto de aventura, o pedestrianismo não inclui o
factor risco;
•
Os percursos, salvo raras excepções, não acarretam grandes dificuldades;
•
Para a sua prática não se requer treino nem conhecimento de técnicas
especializadas, podendo ser praticado por pessoas de todas as idades;
•
As rotas abrangem locais de interesse paisagístico ou cultural;
•
É uma mistura de desporto e turismo;
•
Não existe um meio ambiente específico para praticar o pedestrianismo, que
inclui rotas por todas as zonas: litoral, montanha, campo, etc.;
•
Evitam-se, sempre que possível, as estradas e as vias muito frequentadas.
O risco e a emoção são o denominador comum de todos os desportos de aventura. No
entanto, o risco vivido em cada desporto de aventura é desigual.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
133
Ecomuseu de Barroso
Não se pode dizer que o pedestrianismo é um desporto arriscado. Salvo alguns cominhos
de alta montanha, os Percursos de Grande Rota não implicam perigo algum, nem exigem
uma forma física de alto nível. Trata-se de uma actividade simultaneamente agradável e
relaxante. E, embora seja incluída nos desportos de aventura, esta actividade é adequada
a todas as pessoas, sem grandes riscos. Para o caminheiro a aventura pode consistir em
preparar uma longa viagem a pé que o permite atravessar a Europa ou simplesmente
descobrir e realizar um curto percurso a poucos quilómetros de casa.
Do ponto de vista desportivo o pedestrianismo é um desporto não competitivo nem
agressivo praticado em plena natureza, e que não requer um equipamento sofisticado,
material técnico ou conhecimentos prévios de cartografia.
O pedestrianismo no aspecto ambiental e de protecção da natureza permite o
conhecimento e a sensibilização ambiental promovendo a protecção da natureza; é um
pretexto para a conservação dos caminhos, das fontes, calçadas, lugares de interesse
histórico, etc.; estimula a observação do meio natural e, a observação da fauna e flora,
promovendo o seu respeito e admiração e influência a conservação e protecção do meio
rural cujas pessoas e modos de vida são o nosso património mais importante.
As novas tendências turísticas estão cada vez mais viradas par um turismo mais activo,
mais verde e mais natural, sendo o pedestrianismo um elemento muito forte. No aspecto do
turismo cultural o pedestrianismo aproxima as pessoas ao meio rural, promovendo-o;
recupera os caminhos antigos para novos usos podendo revitalizar a economia das regiões
rurais e de montanha; pode dinamizar iniciativas que complementam a economia ligada às
actividades tradicionais, fomenta o intercâmbio cultural e contribui para a rentabilização da
oferta hoteleira, restauração, alojamento rural, turismo de habitação, campismo, etc.
Os Percursos
Os percursos pedestres são, segundo Clawson, recursos turísticos orientados para o
recurso. Aqui o ponto primordial é a qualidade do recurso: o nível de desenvolvimento é
muito baixo e as facilidades criadas pelo Homem são muito poucas.
De acordo com a Federação Portuguesa de Campismo(FPC) um Percurso Pedestre “É um
percurso previamente sinalizado, com marcas próprias, que tem por objectivo fazer-nos
chegar àqueles lugares que pela sua singularidade paisagística, riqueza arquitectónica,
cultural ou outra, são dignos de visitar e contemplar. Os percursos pedestres podem ser (são)
infra-estruturas de desporto e de lazer que poderão prestar um forte contributo para o
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desenvolvimento sócio-económico das zonas rurais, sendo ainda um meio de conhecimento e
de protecção da natureza numa perspectiva de educação ambiental na formação das
gerações actuais e formas de testemunho para as vindouras. São ainda uma ferramenta
para a preservação e conservação de caminhos antigos, históricos, públicos e tradicionais.”
No pedestrianismo foram aparecendo pequenas variações dos Percursos de Grande
Rota: de pequena rota, circulares, ecológicos e os internacionais europeus. Em seguida
enumeram-se os pormenores que os diferenciam:
Percursos de Grande Rota – são os percursos com extensão igual ou superior a 50 km.
Poderiam definir-se como os percursos principais em redor dos quais se estendem todos os
restantes. Os Percursos de Grande Rota identificam-se pelas letras GR e um número (e.g.
GR-6). Se existir alguma variante, esta identifica-se como outro número depois de um ponto
(e.g. GR-8.1).
Percursos de Pequena Rota – costumam estar ligados aos GR, criando em redor destes
uma rede de caminhos locais. A sua extensão raramente alcança os 50 km. Os Percursos de
Pequena Rota têm a numeração correspondente precedida da sigla PR. Quando se trata de
um percurso circular, acrescenta-se a letra C (e.g. PRC-1).
Percursos de Pequena Rota Circulares – este tipo de caminhos, também chamados
simplesmente Percursos Circulares, caracteriza-se por começar e terminar num mesmo ponto.
Percursos Internacionais Europeus – são aqueles que têm continuidade em países
vizinhos e chegam a alcançar extensões realmente espectaculares. O seu traçado costuma
coincidir, nas passagens pelos diversos países, com a GR de cada um deles. Identificam-se
com a letra e um número atribuído (e.g. E-8).
Os percursos pedestres de Grande Rota têm mais de um dia de jornada e são
sinalizados a banco e vermelho. Os Percursos Pedestres de Pequena Rota são até um dia de
jornada e não mais de 30 Km e são sinalizados a amarelo e vermelho.
Desenho e Planificação dos Percursos
Fase precedente à ida ao terreno
O primeiro passo para elaborar qualquer trabalho é a definição de objectivos a atingir.
Ou seja, saber com que intenção e para quê se desenham os percursos.
Deve-se definir o público-alvo que pretendemos atingir, mesmo que seja o público em
geral, desde caminhantes ocasionais até caminhantes experientes que tenham sensibilidade
ambiental.
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Deve-se atribuir uma tipologia dos percursos: de Pequena Rota(PR) ou de Grande Rota
(GR).
Tem que se definir a forma como os percursos irão ser apresentados ao público: através
de sinalização no terreno ou numa publicação.
Deve-se fazer uma pesquisa e definir um tema para cada percurso. Esta temática pode
revelar-se muito importante como factor motivacional para o potencial realizador de um
percurso. Assim, ao estabelecermos elementos dentro de uma ou mais áreas de interesse ao
longo do percurso, pode fazer com que um indivíduo que pouco se interesse pela
actividades físicas em si possa sentir-se motivado para as realizar.
Deve-se analisar o mapa de forma a identificar os pontos de interesse por onde os
percursos possam passar, privilegiando caminhos de terra batida e calçada de modo a
evitar, sempre que possível, o alcatrão. Tem de se saber se os caminhos são públicos ou de
serventia, para passar nos que não são será necessário obter uma autorização para poder
passar neles. Deve-se traçar o percurso seguindo o modelo ideal, ou seja, que conseguisse
garantir a máxima segurança para os seus executantes, tendo inicialmente uma zona plana
de aproximadamente 500 metros considerada como área de aquecimento, onde o
executante teria a possibilidade de adaptar e preparar o seu organismo para o esforço, de
seguida apareceria o maior desnível do percurso de declive positivo (subida), seguindo de
uma zona relativamente plana que permitisse a recuperação. Após esta zona de
restabelecimento, viria a parte do percurso de declive negativo (descida) que culminaria
com uma zona plana.
Deve-se fazer uma estimativa da duração e extensão do percurso, ou seja tempo que
demora a realizar o trajecto e a distância real percorrido e respectivas paragens, tendo
por base que por hora podem-se fazer 3 quilómetros.
Deve-se definir a orientação do percurso: se é circular (o ponto de a partida e de
chegada coincidem) ou linear (se o ponto de partida e chegada diferem).
Reconhecimento dos Percursos no Terreno
Aquando da ida ao terreno, deve ser feita a medição da distância real e a duração do
percurso.
Deve ser feito o levantamento das características do piso e do relevo ao longo do trajecto
do percurso. Confirmando, posteriormente, o sentido para a realização do percurso, uma
vez que só neste momento temos a percepção do esforço realizado nas subidas, quais as
paisagens mais interessantes e qual o tipo de piso que encontramos.
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É nesta altura que também que se devem identificar todos os pontos de água potável
encontrados ao longo do percurso.
Depois da Visita ao Terreno
Devem ser definidos os traçados definitivos do percurso no mapa.
Devem ser calculados os desníveis acumulados e feita a representação gráfica ao longo
do percurso, sendo esta informação muito importante para que o utilizador saiba quantas
subidas e descidas irá ter de realizar e o grau de inclinação que apresentam.
É também nesta altura que se decide quais serão os melhores meses do ano para a
realização do percurso, ponderando qual a altura de maior beleza, qual a época de menos
chuva, etc.
De seguida deve ser elaborada uma pequena lista do equipamento necessário para
a realização do percurso, para que os caminheiros não sejam apanhados desprevenidos.
Deve ser elaborado um pequeno texto de apresentação do percurso, resumindo o que
poderá ser encontrado ao longo do trajecto.
Deve ser elaborada uma lista de algumas regras de conduta a ter em consideração.
Deve ser feita uma reunião e compilação de toda a informação a disponibilizar ao
utente. Esta deve ser o mais clara, concisa, suficiente e útil possível, de forma a que o
utilizador se sinta apoiado e acompanhado na sua actividade física, sentindo-se, assim, em
segurança para os requisitos físicos necessários e o nível do percurso.
É nesta fase que é elaborada a proposta de homologação do percurso, que é
posteriormente enviada à Federação Portuguesa de Campismo. A homologação do percurso
pedestre significa torná-lo oficial perante o organismo que tutela o pedestrianismo em
Portugal, passando pelo seu registo oficial e pela sua marcação no terreno através das
marcas utilizadas a nível de Pequena Rota ou de Grande Rota.
Devem ser identificadas estruturas físicas de apoio à caminhada, tais como:
Î
Parque de estacionamento – condicionado e bem controlado, sem agredir o
meio ambiente e com o objectivo de proporcionar alguma comodidade aqueles que se
desloquem em veiculo próprio até ao inicio do percurso;
Î
Balneários ou fontes de água – é necessário proporcionar locais onde as
pessoas possam cuidar da sua higiene e hidratação;
Î
Locais de exposição, museus ou pontos de interpretação – como forma de
ajuda à melhor compreensão do meio e afins;
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Î
Alojamentos adequados – num cenário que cada vez se torna mais frequente
no estrangeiro, existe muita oferta de alojamento do mais variado para apoio aos
percursos que durem dias ou temporadas incluindo estruturas autorizadas de apoio ao
campismo;
Î
Pontos de venda de material especifico ou outros – par os mais
desprevenidos e como local de distribuição de documentação alusiva ao local e ao
percursos;
Î
Local de telefone de emergência – para uma eventualidade.
Marcação no Terreno
Nesta fase é necessário adquirir material para a marcação do percurso. Os materiais
necessários são os seguintes:
Î Número de postes de confragem de pinho recomendados pela F.P.C.
(utilizados com postes de suporte à marcação);
Î Tinta plástica nas cores vermelha e amarela (PR) ou vermelha e
branca (GR);
Î Pincéis nº 4 e nº 16;
Î Escova de aço;
Î Podoa;
Î Tesoura de Poda.
Como Sinalizar um Percurso
As normas para a marcação de percursos foram publicadas em “Percursos Pedestres
– Normas Para Implantação e Marcação” editado pelo Centro de Estudos e Formação
Desportiva, ISBN 972 – 8460 – 23 – 6, Depósito Legal 163342/01. É segundo estas
normas que os percursos pedestres são registados e homologados.
Para o efeito, foi criado o Registo Nacional de Percursos Pedestres, serviço da
Federação Portuguesa de Campismo, que tem por finalidade registar os percursos pedestres
de todas as entidades que a ele recorram, atribuir-lhe a numeração, fazer a sua
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homologação de acordo com os pré-requisitos estabelecidos e fazer a sua divulgação a
nível nacional e internacional.
O pedido de registo é feito em impresso próprio a fornecer pela Federação, ficando
a sua homologação condicionada pelo seguinte:
Î O percurso pedestre tem de estar implantado de acordo com as
normas, especialmente no que diz respeito às marcações e cores utilizadas;
Î Tem que reunir condições de segurança e os trilhos devem estar
transitáveis;
Î Não pode ser implantado em cima de outro percurso registado e
homologado anteriormente;
Î O percurso pedestre deve estar tão bem marcado que possa ser
percorrido por qualquer praticante, mesmo o menos experiente, sem recurso
a guia, mapa, bússola, roteiro, etc.;
Î A entidade promotora terá que assumir a sua manutenção durante, no
mínimo, 5 anos;
Î Terá de ser editado um folheto promocional e de informação.
A homologação é feita após visita técnica aos trabalhos de implantação, a pedido da
entidade promotora, sendo confirmada através da atribuição da Carta de Homologação
devendo esta ser entendida como um certificado de qualidade.
São registados por concelhos sendo-lhes atribuída uma numeração que inicia no nº 1,
constituindo redes concelhias. Se um percurso percorre no espaço de divisão territorial de
dois concelhos, é-lhe atribuída a numeração do referente ao concelho com mais território
abrangido.
A numeração pode ser acompanhada com as letras desiganativas do concelho ex: PR1 –
MTR. (Pequena Rota; numeração concelhia; letras designativas do concelho[facultativo]).
Actualmente existem várias soluções de sinalização que satisfazem praticamente quase
todas as necessidades. De acordo com o objectivo do percurso e com aquilo que se quer
assinalar, podem aplicar-se placas de maiores ou menores dimensões ou caso se pretenda
apenas marcar o trajecto pode recorrer-se às marcas de tinta.
Infelizmente, não existe ainda, a nível europeu uma política comum de marcação de
percursos pedestres. Por isso cabe às organizações nacionais de cada país ou região
autónoma, a sua regulamentação (sendo a região autónoma da Madeira a única em
Portugal com regulamentação própria).
A sinalização com pintura é a base para a orientação do caminheiro. Neste caso
específico desenham-se marcas nas vedações, postes de electricidade ou telefone, muros,
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penedos, etc. e utilizam-se setas e placas como complemento. O número de marcas a colocar
deve ser o suficiente para que o caminheiro as consiga seguir, devendo-se sempre ter em
atenção que o caminheiro desconhece a região. A marca deve saltar à vista e ter em conta
que as diferentes condições climatéricas como a chuva, o nevoeiro ou a neve, podem
dificultar a sua visibilidade. As marcas devem-se avistar de umas para as outras, nos dois
sentidos de marcha, à excepção de caminhos bem marcados, onde poderão estar mais
distanciadas.
Para a sinalização complementar utilizam-se as placas de forma quadrada (15cm lado),
que devem ser feitas de material resistente e pintadas a vermelho com indicações a
amarelo, caso seja PR.
As placas com forma de seta têm o objectivo de informar a proximidade de uma
povoação, miradouro, fonte, etc. Deverão ser rectangulares de 12 centímetros de largura
por 40 centímetros de comprimento, com um dos lados em forma de seta que indica a
direcção do local. Devem ser pintadas de branco com uma bordadura com cerca de 2
centímetros a azul. Na cauda da seta está um quadrado com fundo vermelho e a indicação
da rota a que pertence. Todas as outras indicações são em azul.
As placas devem ser enterradas com um sistema anti-arranque, ficando cerca de 1,5
metros acima do solo.
Os painéis, de formas e tamanhos diversos, devem apresentar um esquema aproximado
do percurso pedestre e informações gerais sobre os locais por onde passa.
Embora existam muitos troços sem sinalização, ao longo de um percurso pedestre
encontra-se uma série de sinais, baseados num código internacional adoptado por todas as
organizações europeias que se dedicam ao pedestrianismo. Estas marcas podem indicar que
se trata de um percurso de pequena ou grande rota, que se está a seguir o caminho
correcto ou que há uma mudança de direcção nos próximos metros.
•
As cores: vermelho associa-se aos GR, o amarelo aos PR.
•
Onde encontrá-las: em rochas, troncos de árvores, postes, marcos e montículos
de pedras.
•
Sinais complementares: placas e flechas
•
A informação: indica a direcção a seguir, a sigla e o número do percurso, a
distância e o tempo de marcha até ao seguinte ponto de interesse e os serviços que se vão
encontrar.
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Manutenção dos Percursos
Com o tempo, as alterações climatéricas, o aumento do coberto vegetal de uma zona, as
transformações induzidas pelo homem, é natural que as marcas ou placas sofram algum
desgaste, deixando de se ver ou desaparecendo. É por isso necessária a visita periódica ao
terreno e a manutenção para assegurar que todas as marcas se encontrem visíveis e nos
correctos sítios. E também a manutenção dos percursos que assegura a segurança dos seus
utilizadores. A manutenção deve ser assegurada pela entidade responsável pelo percurso,
durante, no mínimo, 5 anos.
Conselhos Úteis Para Praticantes de Pedestrianismo
Ao contrário de outros desportos não existe uma tabela oficial ou um critério
preestabelecido de dificuldade para os Percursos Pedestres. Para conhecer a dificuldade de
um percurso é preciso obter informações complementares sobre as características da rota e
deduzir a sua dificuldade.
Dispondo de dados suficientes, pode partir-se de três factores básicos para estabelecer
o grau de dificuldade. Estes são a extensão, o tipo de terreno e o desnível. A climatologia
também é importante.
As rotas bem sinalizadas sã mais seguras, no sentido de que é menos provável uma
pessoa perder-se. Em rotas com sinalização deficiente ou inexistente, ter-se-á de compensar
esta lacuna mediante bons conhecimentos de orientação.
Equipamento
O calçado – Os pés são o elemento básico a proteger e como o pedestrianismo é, acima
de tudo, caminhar, a escolha correcta do calçado torna-se, pois, fundamental. O tipo de
sapato escolhido tem de ser cómodo: será preciso andar muitas horas. O isolamento é
também um factor primordial. Para optimizar o conforto e o isolamento, o uso de peúgas
apropriadas é tão importante como a escolha do calçado adequado.
Trata-se de uma combinação entre as resistentes e rígidas botas de montanha e as
cómodas e anatómicas sapatilhas desportivas. Costumam ser confeccionadas em lona grossa
e forradas com gore-tex (um tecido sintético microporoso impermeável que permite a
transpiração). Têm grandes vantagens: são resistentes, impermeáveis e cómodas. São mais
seguras e resistentes do que o calçado desportivo e, apesar de terem uma sola rígida e
cano alto para protecção dos tornozelos, são também muito mais cómodas do que as botas
de montanha. São apropriadas para qualquer tipo de terreno.
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A bengala – Não é apenas um instrumento para a terceira idade ou para turistas de
férias na montanha. Uma boa utilização da bengala de marcha faz com que a performance
do caminhante melhore incrivelmente. É também muito útil para conservar o equilíbrio
quando andamos em solo íngreme.
O vestuário – Na escolha do vestuário há que esquecer as modas e a estética e ser
completamente prático. Comodidade, pouco peso e protecção contra o frio, a humidade e o
vento. É isto, em geral, o que se deve exigir aos artigos e vestuário para a prática do
pedestrianismo.
A roupa tem de estar em consonância com as condições climatéricas. Há que prever que
o tempo pode mudar durante o percurso.
Com o exercício, o corpo vai ficando mais quente. Por conseguinte, é preciso adoptar um
vestuário que permita pôr ou tirar roupas de modo a regular a temperatura do corpo, para
garantir o conforto e não acabar banhado em suor. Vestir várias camadas de roupa
também assegura uma melhor protecção contra o frio. As roupas em si não produzem calor,
a única coisa que fazem é manter o calor libertado pelo próprio corpo e evitar a entrada
do frio. O melhor isolamento térmico consegue-se quando se forma uma camada de ar
quente em volta do corpo. Por isso, duas camisolas finas, por exemplo, resguardam mais do
que uma mais grossa.
Em geral, é recomendável que se vistam três camadas. Mas são as condições climatéricas
que determinam qual o vestuário mais adequado e quais os materiais mais apropriados.
Como vestir-se no Inverno – nesta estação do ano, o objectivo principal será proteger-se
do frio. Mas é necessário sublinhar que a sensação da temperatura não se relaciona apenas
com os graus que o termómetro marca. O vento e a humidade aumentam bastante a
sensação de frio. Há que procurar um vestuário que proteja de ambos os factores.
A roupa interior – o tronco é protegido por várias peças visto que se trata da parte do
corpo que mais necessita de regulação térmica. Convém que as peças que estão em contacto
com a pele sejam de um material que não absorva a humidade, como o plipropileno e a
clorofibra, que a expulsam das roupas. No inverno há que evitar as camisolas interiores de
algodão, embora se tenha de reconhecer que este material é talvez mais confortável e
agradável ao tacto do que os mateiras sintéticos. A lã também absorve a humidade, mas
não perde, como o algodão as suas qualidades térmicas. As peças de angora são
especialmente recomendáveis.
A camada intermédia – para a segunda camada, sem dúvida alguma, o material mais
adequado é a chamada “fibra polar”. Este tecido proporciona o mesmo isolamento térmico
que a lã, mas tem metade do peso. O único inconveniente é o preço um pouco mais elevado.
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As peças exteriores – para a camada exterior, há que escolher uma peça isoladora que
proteja também do vento e da chuva. O gor-tex á a melhor opção. Impede a passagem das
gotas de água, mas permite que o suor, em forma de vapor de água, possa sair. Quase
todos os modelos têm um capuz incorporado.
As calças – há que vestir, evidentemente, calças compridas, para protecção não só do
frio, mas também de possíveis arranhões causados por ramos, pedras, etc. esta peça deve
ser, acima de tudo cómoda.
Complementos – algumas partes do corpo, como os pés e as mãos, são mais propensas a
esfriarem. Nos dias frios serão imprescindíveis uma boas luvas; podem ser de lã ou de fibras
sintéticas. Para os pés, aplica-se também o principio das camadas múltiplas. O complemento
ideal para umas botas de pedestrianismo é um par de meias de esqui (não têm calcanhar
nem costuras), com peúgas finas de algodão por baixo. É preferível que não sejam 100%
algodão, já que com o suor se enrugam e podem causar bolhas.
Para proteger a cabeça e o pescoço das baixas temperaturas, deve usar-se um cachecol
e um bom gorro de lã que cubra as orelhas.
Óculos de sol são a melhor protecção para os olhos quando o vento é frio e intenso.
Como vestir-se no verão - Os conselhos para o vestuário em época estival são muito mais
simples. Pouco se pode fazer para a protecção do calor, além de vestir roupas leves e
frescas. O material mais apropriado é o algodão.
O uniforme estival do caminheiro é composto por uma simples camisola de manga curta
em algodão e uns calções. No entanto, caso se siga por carreiros muito estreitos entre
vegetação, será aconselhável vestir calças compridas.
O pior inimigo, nesta época do ano, é o sol. O mais importante é proteger a cabeça. Um
boné com pala, um chapéu de linho ou palha, ou um lenço. Os óculos de sol e um creme
protector solar também são imprescindíveis.
A mochila – existe uma grande variedade de modelos, de qualidades muito diversas e
com diferentes capacidades.
Como critério geral, qualquer que seja o tipo de mochila que se adquira, é necessário
avaliar a sua resistência e impermeabilidade. Materiais como a lona ou a fibra de nylon
impermeabilizada satisfazem ambas as exigências.
Não é recomendável utilizar uma mochila muito grande quando se transporta pouco
peso. E nem sempre se fazem saídas de vários dias que exijam levar muito material. O
normal é ter duas mochilas e utilizar a mais conveniente. Para as excursões de um só dia,
uma mochila de 30 litros de capacidade é mais do que suficiente, ao passo que para uma
saída de vários dias será necessária uma mochila de 40 a 60 litros.
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A parte rígida que se apoia directamente sobre as costas é a armação. A sua forma é
importante. Visto que distribui o peso de maneira uniforme entre a zona lombar e dorsal.
Uma placa de poliuretano cosida na parte de trás é suficiente. Um alcochoado exterior
tornará mais cómodo o seu transporte.
O ritmo da marcha – neste desporto não existe nenhuma lei universal que determine qual
o ritmo de marcha apropriado. Cada um deve encontrar a sua regra pessoal. O ritmo
dependerá não só da forma física da pessoa, mas também de factores externos, que tornem
o percurso mais ou menos duro, como as condições climatéricas e, principalmente, a
inclinação do terreno.
Embora cada desportista possa avançar como o seu próprio ritmo, o importante é
manter uma marcha constante. As frequentes mudanças de ritmos só aumentam o cansaço.
Como regra prática, a velocidade de marcha é a adequada quando se pode avançar
respirando pelo nariz.
Deve começar-se com um ritmo suave, dando tempo para que o coração e os músculos e
adaptem ao exercício. Passados cerca de vinte minutes de marcha, o corpo já aqueceu.
Pode fazer-se então uma pequena paragem para adaptar o vestuário à nossa temperatura
e retomar o caminho com um pouco mais de energia.
Se não existirem circunstancias especiais que aconselhem um início do percurso mais
tarde, o melhor é partir de manhã cedo.
Num terreno plano ou com desníveis muito suaves, o melhor é avançar cerca de 3 ou 4
km por hora. Para calcular o tempo total que se gastará num percurso, há que ter em conta
que também se demorará muito tempo em paragens quer para descansar, comer, observar
a paisagem ou tirar fotografias. Um cálculo bastante aproximado obter-se-á somando mais
30 ou 40% do tempo previsto de marcha.
Quando é necessário efectuar uma jornada muito longa, torna-se conveniente moderar
as forças para chegar até ao fim. Se o que conta é avançar, um bom ritmo de marcha
assume então maior importância. Há que evitar as aragens muito frequentes. Quando se
sente cansaço é preferível não parar, mas sim diminuir a velocidade. Se faz muito calor e se
se caminha ao sol, não é necessário que os descansos sejam muito longos: cinco minutos
bastam. Convém parar em lugares onde haja sombra e, sobretudo, aproveitar cada
descanso para beber.
Beber – quando se realiza qualquer tipo de exercício continuado, é preciso ingerir
líquidos para evitar a desidratação. Na verdade, quando surge a sensação de sede, o
corpo já perdeu grande quantidade de água.
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As perdas de água serão maiores no verão do que no inverno. Embora também se
possam tomar refrescos ou sumos, as bebidas doces causam mais sede. Deve beber-se água.
Se faz calor, há que levar uma provisão de um litro de água por cada 3Km a percorrer e
beber o equivalente a um copo de água de meia em meia hora. No inverno, o consumo
reduz-se para metade: meio litro para cada 3km. Com baixas temperaturas será bom tomar
uma bebida quente.
Comer – deverão transportar-se na mochila pequenas provisões, além dos alimentos
principais, como frutos secos, bolachas, barras de cereais, etc. o chocolate também poderá
incluir-se na lista, mas derrete com muita facilidade. Estes alimentos energéticos serão uma
boa ajuda durante o caminho, já que o organismoos assimila rapidamente. Quando sentimos
uma “fome canina” é já demasiado tarde para se ultrapassar o défice.
Devemos obrigar-nos a, no inicio de uma marcha, termos o estômago apenas o suficiente
cheio.
Problemas mais frequentes
Com os pés – os pés merecem uma atenção especial. Se doerem, o pedestrianismo deixa
de ser uma fonte de divertimento ou de sensações agradáveis, e cada passo pode tornar-se
uma pequena tortura.
Deve cuidar-se regularmente dos pés para prevenir a formação de bolhas. Antes de
iniciar uma excursão, faça-se uma revisão geral e cubra-se com adesivo os pontos mais
sensíveis onde podem produzir-se feridas ou irritações. Também, é importante verificar se as
unhas dos pés estão bem cortadas.
Levar calçado cómodo e já usado, acompanhando de meias absorventes, também ajuda
a evitar problemas.
Por vezes, a prevenção revela-se insuficiente e acabam por surgir feridas e bolhas. Se a
pele só está avermelhada pela irritação e ainda não surgiu a bolha, basta cobrir a parte
afectada com um adesivo, bem esticado e sem almofada, e trocar de peúga. Se apareceu
uma bolha, o mais apropriado é picá-la com uma agulha para extrair o liquido.
Dores musculares – surgem quando se realiza um esforço considerável ou quando se faz
exercício sem estar bem trinado. No tecido muscular acumulam-se produtos metabólicos,
como o ácido láctico, em virtude de uma irrigação sanguínea insuficiente. As dores
musculares só se eliminam mediante uma melhor irrigação do sangue. O que se consegue
fornecendo calor às partes afectadas através de massagens e continuando a marcha,
embora a princípio seja doloroso.
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Plantas e insectos – é muito frequente a presença de urtigas nos carreiros. Causam uma
irritação ligeira e que leva várias horas a desaparecer. No verão, caso se usem calções,
deve ter-se cuidado com estas plantas.
Durante o caminho, pode cair-se na tentação e comer bagas, como por exemplo amoras.
Devem comer-se apenas aquelas que se conhecem perfeitamente.
Os insectos também constituem uma pequena ameaça. Em caso de picada, deve extrairse com muito cuidado o ferrão, para que não rebente a pequena bolsa de veneno que
contém na sua base. Aproximando um cigarro ou uma brasa várias vezes, mantendo o calor
o mais junto possível da pele durante alguns minutos, destrói-se o veneno. Para prevenir as
picadas dos mosquitos aplicar uma loção repelente quando for necessário.
Orientação e informação –
Mapas – um mapa é a representação gráfica de uma extensão de terreno sobre um
plano. Sob este conceito geral, podem encontrar-se diferentes tipos de mapas: estradas,
temáticos, topográficos, de orientação, entre outros. Para a prática do pedestrianismo
utilizam-se principalmente os topográficos e os de orientação.
Como interpretá-los – a escala – expressa a proporção em que se reduziu a realidade
para a representar no mapa. Ao consultar um mapa à escala de 1 : 25 000, cada unidade
de medida que se considerar no mapa é 25000 vezes maior na realidade. Por exemplo, um
centímetro equivalerá a 250m.
Utiliza-se este tipo de mapas para o pedestrianismo porque são os que oferecem uma
reprodução mais parecida do terreno.
As curvas de nível – num mapa aparecem geralmente linhas de cor avermelhada, de
formas sinuosas: são as curvas de nível. Estas linhas unem pontos situados a uma mesma
altitude acima do nível do mar.
Não é fácil imaginar como são os relevos que representam na realidade. Tem de se
pensar que cada linha é uma “talhada horizontal” do relevo. Consoante a escala do mapa,
varia a equidistância das curvas. Num mapa á escala de 1 - 25 000, a equidistância nas
zonas de montanha é de 10m.
Uma referência prática para interpretar o mapa é a seguinte: quanto mais apertadas
então as linhas, mais acentuado é o desnível. Em contrapartida, se as curvas estão muito
afastadas entre si, isso significa que os declives são mais suaves.
Para calcular uma distância em linha recta, basta medir com uma régua o espaço entre
dois pontos e multiplicar os centímetros pelo valor da escala numérica, por exemplo, para
encontrar a distância correspondente a 3 cm num mapa à escala de 1 : 25 000, há que
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multiplicar 3 por 25 000, a distância real é de 75 000 cm, o que equivale a uma distância
de 750 m.
Se é necessário calcular uma distância com curvas, torna-se muito prático fazer coincidir
um cordel como desenho do troço e medir. Depois, estende-se o cordel, obtendo assim a
distância equivalente em linha recta. Mede-se o cordel com uma régua e multiplica- se os
centímetros pela escala numérica do mapa.
Os topoguias ou roteiros – estes livros, de pequeno formato, incluem todo o tipo de
informações sobre cada percurso pedestre. Há topoguias de quase todos os GR que existem
actualmente. No canto superior direito da capa aparece um quadrado com as letras GR e o
número do percurso pedestre correspondente em cor branca sobre fundo vermelho.
Os topoguias oferecem uma descrição do itinerário, com os mapas correspondentes,
também costumam incluir um perfil do percurso pedestre, onde se indicam os desníveis a
superar.
Também se incluem desenhos ou fotografias dos lugares mais importantes, assim como
todo o tipo de dados e informações sobre a região.
Percursos Pedestres Existentes na Região
No concelho não existem percursos pedestres homologados pela Federação
Portuguesa de Campismo. O Parque Nacional da Peneda Gerês tem dois percursos
pedestres, na área deste concelho, que estão em fase de homologação. Um destes percursos
é uma Grande Rota que atravessa toda a área do Parque e o outro é uma Pequena Rota
perto da aldeia de Pitões das Júnias até á cascata da mesma aldeia.
Futuramente, e com a aprovação da candidatura efectuada ao programa INTERREG
III A, irá haver um percurso de Grande Rota da antiga estrada romana – A Via XVII e outro
dos caminhos de Santiago.
Surgimento dos Percursos Pedestres no Âmbito do Ecomuseu
Estes percursos pedestres surgem no âmbito do estudo efectuado pela empresa
Quaternaire Portugal, onde foi sugerida a criação dos mesmos. Esta sugestão consistia na
criação de sete percursos pedestres distribuídos pelas várias áreas do concelho, o que serviu
de base para a elaboração do plano deste trabalho. Depois chegou-se à conclusão que o
melhor seria, numa primeira fase, implementar apenas cinco.
Foram tidos em consideração alguns princípios de desenvolvimento sustentável na
elaboração destes percursos de modo a não existir uma colisão, nomeadamente:
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
147
Ecomuseu de Barroso
¾ A manutenção física da herança no contexto da forma de vida dos locais em
desenvolvimento;
¾ Permitir o máximo acesso a infra-estruturas disponíveis, sítios turísticos,
parques ou outros espaços verdes;
¾ Consolidação da viabilidade cultural e social da comunidade local;
¾ Equilíbrio de interesses de residentes e visitantes;
¾ Viabilidade económica;
¾ Minimizar impactes ecológicos adversos dos locais resultantes dos transportes.
Para alcançar estes objectivos tivemos em consideração as parcerias que podem ser
criadas para o desenvolvimento e promoção do turismo sustentável e os papéis dos
governantes locais e de que forma estes podem apoiar o estabelecimento destas parcerias
locais de acordo com o conhecimento dos seus próprios interesses.
Passos para a Elaboração do Projecto
Para os percursos serem homologados pela Federação Portuguesa de Campismo, têm
que ter, cada um, um projecto que deverá ser enviado à mesma para apreciação e,
posteriormente, ser dado o número do percurso. O projecto enviado foi basicamente a
informação que se segue nas secções seguintes.
Como já foi dito anteriormente as populações locais são o elemento humano mais
importante neste trabalho. Por conseguinte, escrevi uma carta ao pároco de cada aldeia e
uma outra a cada presidente de Junta de Freguesia para que estes avisassem a população
do que iria ser feito e foi elaborado um folheto para ser colocado nas aldeias por onde
passaria o percurso
Fase precedente à ida ao terreno:
O primeiro passo neste trabalho foi a definição de objectivos a atingir. Ou seja, saber
com que intenção e para quê se desenham os percursos. Estes objectivos foram iguais para
todos os percursos da rede de percursos pedestres do Ecomuseu. Os objectivos definidos são
os seguintes:
•
Promover o Pedestrianismo na região do Barroso;
•
Divulgar esta região;
•
Descentralizar o turismo das áreas saturadas;
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
148
Ecomuseu de Barroso
•
Envolver a população local, na marcação e manutenção dos percursos;
•
Incentivar a população local a fazer novos investimentos e/ou encontrar novas fontes
de rendimento;
•
Fomentar na população mais jovem um maior conhecimento e defesa do património;
•
Reforçar a sua Identidade Cultural;
•
Criar maior ligação entre as aldeias;
•
Proporcionar à região uma maior dinâmica trazida pelos caminhantes;
•
Diversificar a oferta de actividades de lazer.
O público-alvo que pretendíamos atingir era o público em geral, desde caminhantes
ocasionais até caminhantes experientes que tenham sensibilidade ambiental.
A tipologia dos percursos é de Pequena Rota(PR) uma vez que são de pequena extensão,
realizam-se num dia e têm o objectivo de conhecer e contactar com a região do concelho de
Montalegre.
Foi definido que a forma como os percursos iriam ser apresentados ao público seria
através de sinalização no terreno.
Foi feita uma pesquisa e definido um tema para cada percurso. Esta temática pode
revelar-se muito importante como factor motivacional para o potencial realizador de um
percurso. Assim, ao estabelecermos elementos dentro de uma ou mais áreas de interesse ao
longo do percurso, pode fazer com que um indivíduo que pouco se interesse pela
actividades físicas em si possa sentir-se motivado para as realizar. Foi definida uma
temática segundo a classificação de percursos da Federação Portuguesa de Campismo.
Portanto, tendo em conta que estes percursos proporcionam um contacto com o património
natural através da paisagem; cultural através do contacto com as populações locais e
histórico através do encontro de monumentos, construções comunitárias e caminhos antigos, a
sua classificação seria de percursos histórico-ambientais.
Embora os percursos implementados tivessem sido primeiramente traçados no mapa pela
empresa que elaborou o projecto para o Ecomuseu, o mapa foi novamente analisado de
forma a identificar mais pontos de interesse por onde os percursos pudessem passar. Foram,
então, identificados outros pontos de interesse no mapa e foi esboçado um desenho dos
percursos, contudo este esboço ainda foi alterado mais vezes aquando do reconhecimento
dos percursos no terreno. Foram privilegiados caminhos de terra batida e calçada de modo
a evitar, sempre que possível, o alcatrão. Os caminhos são na sua grande maioria públicos
ou de serventia. Em relação ao traçado do percurso, este foi feito seguindo o modelo ideal,
ou seja, que conseguisse garantir a máxima segurança para os seus executantes, tendo
inicialmente uma zona plana de aproximadamente 500 metros considerada como área de
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
149
Ecomuseu de Barroso
aquecimento, onde o executante teria a possibilidade de adaptar e preparar o seu
organismo para o esforço, de seguida apareceria o maior desnível do percurso de declive
positivo (subida), seguindo de uma zona relativamente plana que permitisse a recuperação.
Após esta zona de restabelecimento, viria a parte do percurso de declive negativo (descida)
que culminaria com uma zona plana.
Quanto à estimativa da duração e extensão dos percursos, ou seja, o tempo que demora a
realizar o trajecto e a distância real percorrida e respectivas paragens, serão apresentadas
mais à frente na caracterização dos percursos, mas pode-se adiantar que foi feita tendo
por base que por hora podem-se fazer 3 quilómetros.
A definição da orientação dos percursos foi três percursos circulares (uma vez que a
partida e a chegada coincidem) e dois lineares (uma vez que a partida e a chegada
diferem).
Reconhecimento dos Percursos no Terreno
Aquando da ida ao terreno, foi feita a medição da distância real e a duração de cada
percurso, explicada mais adiante.
Foi feito o levantamento das características do piso e do relevo ao longo do trajecto de
cada um dos percursos. Confirmando, posteriormente, o sentido para a realização do
percurso, uma vez que só neste momento tivemos a percepção do esforço realizado nas
subidas, quais as paisagens mais interessantes e qual o tipo de piso que encontrámos.
É nesta altura que também se identificaram todos os pontos de água potável encontrados
ao longo de cada um dos percursos.
Como se tratavam de percursos que iriam ser sinalizados foram contabilizadas as unidades
a utilizar e identificados os locais no mapa onde se iriam colocar placas.
Depois da Visita ao Terreno:
Foram definidos os traçados definitivos de cada percurso no mapa.
Foram calculados os desníveis acumulados e foi feita a representação gráfica ao longo de
cada percurso, sendo esta informação muito importante para que o utilizador saiba quantas
subidas e descidas irá ter de realizar e o grau de inclinação que apresentam.
Foi também nesta altura que decidimos qual seriam os melhores meses do ano para a
realização de cada um dos percursos, ponderando qual a altura de maior beleza, qual a
época de menos chuva, etc.
De seguida elaborou-se uma pequena lista do equipamento necessário para a realização
dos percursos, de forma a que os caminheiros não sejam apanhados desprevenidos.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
150
Ecomuseu de Barroso
Elaborou-se um pequeno texto de apresentação para cada percurso, resumindo o que
poderá ser encontrado ao longo do trajecto.
Elaborou-se uma lista de algumas regras de conduta a ter em consideração.
Foi feita uma reunião e compilação de toda a informação a disponibilizar ao utente. Esta
foi o mais clara, concisa, suficiente e útil possível. De forma a que o utilizador se sinta
apoiado e acompanhado na sua actividade física, sentindo-se, assim, em segurança para os
requisitos físicos necessários e o nível de cada percurso.
É nesta fase que é elaborada a proposta de homologação dos percursos, que é
posteriormente enviada à Federação Portuguesa de Campismo. A homologação dos
percursos pedestres significa torná-los oficiais perante o organismo que tutela o
pedestrianismo em Portugal, passando pelo seu registo oficial e pela sua marcação o
terreno através das marcas utilizadas a nível de Pequena Rota.
Nesta fase foi elaborado um relatório progresso apresentado ao Presidente da Câmara
Municipal.
Nesta fase é necessário adquirir material para a marcação do percurso, sendo que já
existiam alguns na Câmara Municipal. O orçamento dos barrotes de caufragem de pinho
recomendados pela F.P.C. (utilizados com postes de suporte à marcação) e a tinta plástica
nas cores vermelha e amarela será apresentado mais á frente; os pincéis nº 4 e nº 16 já
existiam no Clube Papaventos; a escova de aço adquirida foi de 2.50Euros; a podoa foi de
17.25Euros.
Entidade Promotora
A entidade promotora da rede de Percursos do Ecomuseu de Barroso é a Câmara
Municipal de Montalegre, localizada na Praça do Município – Apartado 32, 5470 – 214
MONTALEGRE.
Justificação da Criação da Rede de Percursos Pedestres do Ecomuseu do Barroso
Os percursos pedestres contribuem para a divulgação e valorização da região, pois dão
a conhecer o património natural, histórico e cultural do concelho.
Estes percursos pedestres são uma forma de aproveitar e reavivar caminhos tradicionais,
que constituem um dos mais valiosos recursos existentes nesta região rural de montanha.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
151
Ecomuseu de Barroso
Dada a crescente procura por um turismo mais activo, esta rede de percursos constitui um
meio de diversificar a oferta turística da região, permitindo combater a sazonalidade que
afecta este sector.
A ideia da criação de uma rede de percursos pedestres no concelho de Montalegre, está
integrada na criação do Ecomuseu do Barroso que neste momento contempla apenas este
concelho, mas que futuramente se prevê o seu alargamento ao concelho de Boticas.
Os objectivos deste projecto são vários:
•
Dar a conhecer os locais e as populações por onde passam cada um dos percursos;
•
Promover e divulgar a prática do Pedestrianismo,
•
Registar os Percursos Pedestres, na Federação Portuguesa de Campismo, permitindo
que estes sejam feitos por qualquer praticante, mesmo o menos experiente, sem
recurso a mapa, bússola ou roteiro;
•
Aproximar as pessoas ao meio rural, promovendo o desenvolvimento sócio-económico
das populações locais;
•
Manter e preservar os caminhos rurais antigos, as aldeias, os costumes, o património
natural e construído, a história e a cultura;
•
Fomentar a comunicação e o intercâmbio cultural entre a população local e os
caminheiros;
•
Promover a protecção da Natureza, através da conservação e limpeza de caminhos,
calçadas, fontes, etc.;
•
Sensibilizar os praticantes desta modalidade para a importância dos valores
naturais deste concelho;
•
Despertar o interesse pela observação do meio natural envolvente em cada um dos
percursos.
Apresentação da Rede de Percursos
A rede de percursos apresentada é constituída por um conjunto de cinco percursos que se
encontram na área do Concelho de Montalegre. São eles: o Trilho do Leiranco, o Trilho do
Ourigo, o Trilho da Serra da Vila, o Trilho do Rio e o Trilho do Rabagão.
A paisagem onde foram implementados cada um destes percursos é bastante
diversificada e teve como principal preocupação a utilização de caminhos de terra batida,
salvo raras excepções, onde foi impossível a sua utilização. Três dos cinco percursos são
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
152
Ecomuseu de Barroso
circulares e dois deles são lineares, pretendendo-se com estes últimos obter, futuramente com
o alargamento do Ecomuseu do Barroso ao concelho de Boticas, percursos transconcelhios de
ligação dos dois concelhos integrados neste Ecomuseu. Estes percursos de Pequena Rota
privilegiam o contacto com os valores naturais, históricos e culturais de cada área.
De seguida é feita a apresentação, sucinta, de cada um dos percursos.
PR1 - Trilho do Leiranco
Descrição Resumida do Percurso
O Trilho do Leiranco é um percurso de Pequena Rota (PR), com 11,750 quilómetros de
extensão, de forma linear, de nível médio, com início na aldeia de Zebral (localizada a 932
metros de altitude) e fim na aldeia de Cervos (localizada a 854 metros de altitude).
Ao percorrer o percurso passa-se por diversos pontos de interesse, entre os quais
caminhos antigos dos pastores e de ligação de aldeias, com passagem pelos núcleos rurais
de Cortiço e Arcos.
Este percurso faz-nos entrar em contacto com a cultura local e a vivência quotidiana nas
aldeias. Permite-nos atravessar paisagens verdejantes e paisagens de campos cultivados.
Este percurso inicia na aldeia de Zebral, situada no sopé Oeste da Serra do Leiranco,
ao longo do vale do Beça.
Dentro das aldeias o piso é em geral asfaltado, mas ao longo do percurso de ligação
de aldeias o piso é de terra batida e na sua maioria caminhos antigos de ligação de
aldeias e caminhos antigos de pastores. Muitos troços dos caminhos são murados, o que
embeleza o percurso.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
153
Ecomuseu de Barroso
Ficha Técnica do Percurso
Partida: Zebral
Chegada: Cervos
Âmbito: Cultural, ambiental e paisagístico
Tipo de Percurso: De Pequena Rota, por caminhos rurais e tradicionais
Distância a Percorrer: 11,750 Km em linha
Duração do Percurso: Cerca de 4 horas
Grau de Dificuldade: Médio
Desníveis: Mediamente acentuados, com um grande ascendente
Altimetria: Ponto mais alto – 976 metros
Ponto mais baixo – 830 metros
Época Aconselhada: Todo o ano
Pontos de Interesse
Aldeia de Zebral – lameiros ladeados de castanheiros, capela da Senhora a Natividade com
Sepulturas Antropomórficas, cruzeiro, carvalhal;
Aldeia de Cortiço – portal do Lameiro a 100m, Rio Beça, Ponte Romana, Moinho no Rio Beça
a 30m, Capela de Santa Barbara, Matos de Altitude;
Aldeia de Arcos – Forno do Povo, Fonte e lavadouro, moinhos junto à Ribeira da Portagem;
Aldeia de Cervos – Fonte e lavadouro, forno do povo, Igreja Matriz, casas de lavradores
abastados.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
154
Ecomuseu de Barroso
PR 3 - Trilho do Ourigo
Descrição do Percurso
O Trilho do Ourigo é um percurso de Pequena Rota (PR), com 21.100 metros de
extensão, de forma circular, de nível médio/alto, com início e fim na Vila de Montalegre
(localizada a 1006 metros de altitude).
Passando por diversos pontos de interesse, entre os quais caminhos antigos dos pastores,
com passagem pelos núcleos rurais de Torgueda, Castanheira e Cambezes. Este percurso
faz-nos atravessar paisagens verdejantes, bonitas áreas de carvalhal e paisagens de
campos de cultura.
Ficha Técnica do Percurso
Partida e Chegada: Montalegre
Âmbito: Cultural, ambiental e paisagístico
Tipo de Percurso: De Pequena Rota, por caminhos rurais
Distância a Percorrer: 21,1 Km - circular
Duração do Percurso: Cerca de 6 horas
Nível de Dificuldade: Médio/Alto
Desníveis: Mediamente acentuados, com um grande ascendente
Altimetria: Ponto mais alto – 1190 metros
Ponto mais baixo – 920 metros
Época Aconselhada: Todo o ano
Pontos de Interesse
Montalegre – Capela de São Sebastião, Casa do Cerrado, Carvalho da Forca, Carvalhal do
Avelar, Fojo do Lobo do Avelar, miradouro e Capela da Senhora das Treburas;
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
155
Ecomuseu de Barroso
Aldeia de Torgueda – conjunto de Fonte de Mergulho, Moinho e forno do Povo, capela;
Aldeia de Castanheira – antiga escola primária, Forno do Povo a 10 metros, Capela a 20
metros;
Antigas Casas dos Guardas Florestais no Ourigo
Aldeia de Cambezes – Forno do Povo, largo com construções rurais típicas, Igreja, parte da
via sacra.
PR2 – Trilho da Serra da Vila
Descrição do Percurso
O Trilho da Serra da Vila é um percurso de Pequena Rota (PR), com 19.800 metros de
extensão, de forma circular, de nível médio, com início e fim na Vila de Montalegre.
Passando por diversos pontos de interesse, entre os quais caminhos antigos dos pastores,
com passagem pelos núcleos rurais de Donões, Padroso e Padornelos.
Este percurso faz-nos atravessar paisagens de campos de cultivo e manchas de
carvalhal.
Ficha Técnica do Percurso
Partida e Chegada: Montalegre
Âmbito: Cultural, ambiental e paisagístico
Tipo de Percurso: De Pequena Rota, por caminhos rurais
Distância a Percorrer: 19,8 Km - circular
Duração do Percurso: Cerca de 5 horas
Nível de Dificuldade: Médio
Desníveis: Mediamente acentuados, com um grande ascendente
Altimetria: Ponto mais alto – 1100 metros
Ponto mais baixo – 900 metros
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
156
Ecomuseu de Barroso
Época Aconselhada: Todo o ano
Pontos de Interesse
Montalegre - Castelo, Capela do Castelo, Capela de Santo Adrião com sepulturas
antropomórficas, Capela da Senhora das Neves a 600 metros e capela de São Frutuoso a
450 metros;
Aldeia de Donões – Alminhas, Capela, Igreja a 15 metros;
Aldeia de Padroso – Igreja, alminhas; Forno comunitário;
Aldeia de Padornelos – Forno do Povo, corte do boi do povo, Serra do Larouco, pista de
parapente e pista automóvel;
PR4 - Trilho do Rio
Descrição do Percurso
O Trilho do Rio é um percurso de Pequena Rota (PR), com 19.950 metros de extensão,
de forma circular, de nível médio/alto, com início e fim na aldeia de Vilaça que fica
localizada a 946 metros de altitude.
Passando por diversos pontos de interesse, entre os quais caminhos antigos dos pastores
e de ligação de aldeais,. com passagem pelos núcleos rurais de Paredes, Covelães,
Travassos, Sezelhe, Frades e São Pedro.
Este percurso faz-nos entrar em contacto com a cultura local e a vivência quotidiana
existente nas aldeias. Permite-nos atravessar paisagens verdejantes, bonitas áreas de
carvalhal e paisagens de campos cultivados em volta do rio Cávado.
Dentro das aldeias o piso é em geral calcetado, mas ao longo do percurso de ligação
de aldeias o piso é de terra batida e na sua maioria caminhos antigos de ligação de
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
157
Ecomuseu de Barroso
aldeias e caminhos antigos de pastores. Muitos troços dos caminhos são murados, o que
embeleza o percurso.
Ficha Técnica do Percurso
Partida e Chegada: Vilaça
Âmbito: Cultural, ambiental e paisagístico
Tipo de Percurso: De Pequena Rota, por caminhos rurais e de ligação de aldeias
Distância a Percorrer: 19,950 Km em circuito
Duração do Percurso: Cerca de 7 horas
Nível de Dificuldade: Médio/Alto
Desníveis: Mediamente acentuados, com um grande ascendente
Altimetria: Ponto mais alto – 1056 metros
Ponto mais baixo – 830 metros
Época Aconselhada: Todo o ano
Pontos de Interesse
Aldeia de Vilaça – Capela, alminhas;
Aldeia de Paredes – conjunto de moinho e pisão a 20 metros, Igreja e espigueiros a 15
metros, espigueiros com relógio de sol a 250 metros;
Aldeia de Covelães – Igreja, canastro recuperado pelo Parque Nacional da Peneda Gerês;
Aldeia de Travassos – Torre sineira do Boi, Ponte dos Galegos, Capela da Senhora da Vila
de Abril a 600 metros;
Aldeia de Sezelhe – Casa Abrigo, Igreja, Forno do povo, Albufeira do Alto Cávado, Capela
de Santa Luzia a 1 Km;
Aldeia de Frades – Igreja a 200 metros, Forno do Povo a 250 metros, Fonte de Mergulho a 300 metros;
Aldeia de São Pedro -
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
158
Ecomuseu de Barroso
Anexo III - Encontro do MINOM
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
159
Ecomuseu de Barroso
XVI JORNADAS SOBRE A FUNÇÃO SOCIAL DO MUSEU
“ECOMUSEOLOGIA – IDENTIDADE E DESENVOLVIMENTO”
MONTALEGRE 2005
INTERVENÇÃO DO REPRESENTANTE DO MINOM-Portugal
(na sessão de abertura do encontro)
Senhor Vice-Presidente e Vereador da Cultura da Câmara Municipal de Montalegre; Senhor
Dr. David Teixeira, representante do Ecomuseu do Barroso, Prof. JeanYves Durand da
Universidade do Minho, caros membros do MINOM, caros amigos, Senhoras e Senhores.
Foi com prazer que o MINOM-Portugal aceitou o convite para que as XVI Jornadas sobre a
Função Social do museu se realizassem em Montalegre. Queremos agradecer vivamente o
acolhimento e o empenhamento do Ecomuseu do Barroso e do Município de Montalegre que
viabilizaram a organização destas Jornadas. Também queremos agradecer e dar as boasvindas a todos os participantes.
Ecomuseologia- Identidade e Desenvolvimento é um tema cujo debate nunca se esgota e que
é particularmente caro a um Movimento como o MINOM- Movimento Internacional para uma
Nova Museologia que se preocupa com a função social que os museus devem desempenhar
no âmbito da construção do desenvolvimento.
Acreditamos que não há desenvolvimento sustentável sem auto-estima e consciência de
identidade por parte das comunidades que o procuram construir. Todos sabemos que não há
identidade sem memória e memória sem património. Conhecê-lo e compreender porque as
comunidades o reconhecem como tal é, por isso, uma tarefa da maior importância.
Sendo o MINOM um espaço de debate, de reflexão e trocas de experiências em torno
desta maneira de pensar o museu, as Jornadas sobre a Função Social do Museu são sempre
um momento fundamental da sua actividade, inspirador de novas dinâmicas e novas
perspectivas que vão dando corpo ao movimento para uma nova museologia.
Desejamos que as XVI Jornadas possam contribuir para o aprofundamento desse debate em
torno dos patrimónios a que o Ecomuseu do Barroso se refere e sobre os quais reflecte e que
esse debate seja proveitoso para os Barrosões e para os seus convidados.
Liliana Póvoas
em representação da Direcção
do MINOM- Portugal
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
160
Ecomuseu de Barroso
Relatório da Sessão de Trabalho.
Montalegre – de 28 a 30 de Outubro 2005.
Sub-tema 1 – “O Património Imaterial e a Museologia”
Sub-tema 2 – “A globalização e os Museu – Relações Transfronteiriças”
De acordo com a metodologia de trabalho do MINOM – Portugal, reuniu-se em 28
de Outubro de 2005 em Montalegre, os grupos temáticos, supra citados, para um exercício
de reflexão.
Da reflexão reconhece-se que:
ƒ
O processo de globalização implica uma nova postura social dos cidadãos;
ƒ
O processo de globalização não significa apenas um processo de dominação
económica;
ƒ
A importância da postura política de cada indivíduo dentro dos processos
museológicos, entendidos na sua complexidade, implica e condiciona as relações dos
museus nas problemáticas da sociedade;
ƒ
O Museu como “espaço museológico” e “instrumento de comunicação” assume
posturas diferentes na sociedade;
ƒ
Como instrumento de comunicação e mediador, o museu fomenta a relação entre os
indivíduos e os patrimónios e, entre estes e o território;
ƒ
Historicamente os museus tratavam do Património material;
ƒ
As transformações sociais, profissionais e epistemológicas ao longo da segunda
metade do século XX levaram a que estas instituições se voltassem para o estudo das
relações ente as pessoas, das memórias colectivas e dos patrimónios imateriais;
ƒ
Uma das funções dos museus é o tratamento da carga simbólica do Património;
ƒ
A recolha oral e o tratamento dessa memória colectiva é uma obrigação dos museus;
ƒ
O Isolamento da instituição museológica e das suas acções configura-se um perigo
para a sua existência;
ƒ
A interdisciplinaridade na museologia torna-se essencial para garantir a “leitura”,
“releituras” e tratamento transversal do bem cultural;
ƒ
Há incapacidade dos museus renovarem seus públicos envolverem a comunidade de
vizinhança;
ƒ
Há incapacidade dos museus reconhecerem e distinguirem seus públicos: alvo,
potenciais e efectivos;
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
161
Ecomuseu de Barroso
ƒ
Há necessidade de aplicar metodologias de avaliação e auto-avaliação nos museus;
ƒ
A inexistência de objectivos estratégicos previamente definidos condiciona a
programação da instituição museal;
ƒ
As políticas transnacionais influenciam directamente as politicas culturais de âmbito
nacional, assim como as políticas e acções museológicas
ƒ
O papel da Unesco tem sido um referencial para a mudança de atitude e mudança
conceptual no campo conceptual da museologia e do património;
ƒ
Há o perigo de estabelecermos fronteiras rígidas entre as categorias patrimoniais
(tangível e intangível) se tomarmos como referencial teórico apenas as definições da
Unesco;
ƒ
Que a adopção exclusiva das definições da Unesco podem ser limitadoras da acção
museológica, por conta do seu reducionismo;
ƒ
Que a Unesco tem assumido a diversidade cultural e o património intercultural nas
suas novas linhas de discussão;
ƒ
Que a busca e valorização da “pureza” e “originalidade” do património podem ser
limitadores da acção museológica;
ƒ
É importante que os museus respeitem e divulguem a interculturalidade;
ƒ
A musealização/ ecomusealização dos patrimónios (materiais, imateriais e humanos)
pode ser um recurso (eco) museológico para a criação e disponibilização de serviços;
ƒ
Os ecomuseus como um espelho no qual as populações se revêem.
ƒ
A incapacidade, da generalidade dos museus, utilizar e apropriarem do audiovisual
como instrumento de trabalho.
ƒ
A identificação, reconhecimento e valorização dos Tesouros Humanos Vivos poderá
ser uma base para a construção das identidades colectivas;
Assim recomenda-se:
ƒ
A criação e definição de metodologias, técnicas e éticas para os processos de
recolha, tratamento e divulgação dos patrimónios imateriais;
ƒ
Normalizar os processos de recolha e tratamento, pelos museus, da história oral
ƒ
O respeito pelas vontades das populações e actores sociais, em relação a
comunicação/ divulgação das histórias orais;
ƒ
Que os museus definam os seus objectivos estratégicos e procurem adequar suas
programações de acordo com esses objectivos;
ƒ
Que os museu, a partir da definição da sua missão, clarifiquem seus objectivos;
ƒ
Que a missão dos museus deve ser divulgada/ partilhada com os sues utilizadores;
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
162
Ecomuseu de Barroso
ƒ
Que os museus, a partir dos seus objectivos e missão, definam os serviços que estão
capacitados a fornecer às comunidades;
ƒ
A criação de redes de parcerias entre os museus e instituições universitárias e de
investigação para regular metodologias e garantir a plena interdisciplinaridade;
ƒ
A busca de novas soluções expográficas para que o processo de comunicação nos
museus esteja mais próximo das necessidades dos seus utilizadores/beneficiários/
visitante.
ƒ
A formação do museólogo nas áreas do marketing, gestão e comunicação para os
capacitar a gerir os objectivos e a missão da instituição museal de forma articulada;
ƒ
A utilização da avaliação como ferramenta para o ajuste dos objectivos/missões e
serviços prestados;
ƒ
A integração no processo de musealização das hibridações culturais como valor
simbólico acrescentado;
ƒ
O respeito, tratamento e valorização museológica dos processos interculturais;
ƒ
A clara definição e divulgação dos objectivos estratégicos institucionais que insiram a
avaliação como ferramenta que expresse os reais desafios do Museu;
ƒ
A releitura da definição do conceito de Ecomuseus desenvolvido por Georges Henri
Rivière para o entendimento pleno das suas palavras e sua aplicação nos modelos
museais que se auto intitulam ecomuseus;
ƒ
A utilização do audiovisual como ferramenta de recolha, inventariação, divulgação e
comunicação que poderá ser produzido pelo Museus, pela comunidade e /ou pela
parceria museu-comunidade.
O Grupo de trabalho reforça como recomendação:
ƒ
A necessidade de criar e definir metodologias, técnicas e éticas para sustentar e
legitimar os processos de recolha, tratamento e divulgação dos patrimónios
imateriais;
ƒ
Que os museus definam e divulguem aos seus utilizadores/ públicos/ vizinhança/
beneficiário, sua missão e os seus serviços.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
163
Ecomuseu de Barroso
XVI JORNADAS SOBRE A FUNÇÃO SOCIAL DO MUSEU
“ECOMUSEOLOGIA – IDENTIDADE E DESENVOLVIMENTO”
MONTALEGRE 2005
REFLEXÕES DO GRUPO DE TRABALHO SOBRE O SUB-TEMA 3:
“PATRIMÓNIOS – Mineiro, Arqueológico, Etnológico, Natural”
O grupo começou por debater questões suscitadas pela intervenção do Prof. Jean Yves
Durand, respeitantes à definição de critérios que permitam aferir da genuinidade de
património etnológico e, portanto, conduzir à sua certificação. A discussão desenvolveu-se
em torno de aspectos do estudo em curso com vista à certificação dos lenços de namorados.
O que aqui apresentamos são os traços que marcaram o debate, alguns dos quais
suscitaram consensos.
Foi referido que processos de certificação de património etnológico não devem levar à
cristalização de um paradigma de perfeição relativo a produtos artesanais num
determinado momento histórico uma vez que, produtos culturais que são, estão em constante
transformação acompanhando a evolução dos contextos sócio-culturais em que são
produzidos; que a certificação não deve ser fossilização; que, quando procedemos à
certificação, podemos estar a ser conservadores e paternalistas, salvo se a necessidade de
certificação desse património emanar da comunidade que o produz.
Na sequência deste debate concluiu-se que os critérios de certificação se deverão centrar
nos contextos de produção, nos conceitos e não nos objectos em si, ou seja, certificar a
produção e não o produto, pois só a identidade cultural genuína manterá ou recriará, a
autêntica memória.
Levantada a questão da produção industrial inspirada em artefactos tradicionais foi
considerado que não é possível garantir o respeito pela genuinidade, mesmo quando houve
recurso ao design, pois o contexto de produção é outro, e ainda que será a evolução do
mercado e da actividade cultural que decidirá da sobrevivência desses produtos industriais.
Foi afirmado que, do ponto de vista da antropologia, o património deve-se observar,
registar, mas não se deve cristalizar porque as próprias culturas não permanecem: nascem e
morrem, dando lugar a outras. Foi, ainda, defendido que “não destruir património cultural é
destruí-lo” uma vez que na essência do património cultural está a sua própria transformação.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
164
Ecomuseu de Barroso
Mas também foi referido que outros patrimónios há, como o natural ou o arqueológico, em
relação aos quais o registo não é suficiente. É, mesmo, necessário preservar porque é preciso
assegurar as novas leituras que, sabemos, serão possíveis no futuro graças à evolução da
ciência e da técnica.
Na impossibilidade de se preservar tudo, ou mesmo de se registar tudo, foi reconhecida a
necessidade de se seleccionar o que é necessário preservar para o futuro porque mais
significativo ou representativo, mesmo sabendo-se que os critérios de selecção de hoje não
serão, necessariamente, os de outras épocas. A selecção deveria implicar inventário prévio e
definição de que entidades poderiam proceder a essa selecção.
Concluiu-se que diferentes patrimónios implicam diferentes soluções no que respeita a
preservação. E foi igualmente afirmado que não é só para salvaguardar a memória do
passado que se preserva mas, também, para não se perder saberes-fazer (muitos deles
patrimónios imateriais) e manter vivos, e em condições de aplicabilidade, conhecimentos
técnicos e científicos. Foi referido como exemplo o caso do património mineiro (geologia,
arqueologia industrial, engenharia de minas, tradição oral) que, além do mais, pode
constituir um recurso para a sustentabilidade económica e cultural das populações desses
territórios.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
165
Ecomuseu de Barroso
Anexo IV - Estudo de Mercado
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
166
Ecomuseu de Barroso
Caracterização do Inquérito
O Inquérito surge da necessidade sentida pelos vários agentes turísticos, a trabalhar no
Concelho de Montalegre, de caracterizar correctamente o turista que os visita. A nível
Autárquico tem-se notado um esforço enorme por colocar Montalegre no “mapa” e em todos
os roteiros turísticos. Montalegre tem sido palco de grandes investimentos e de alguns
eventos de interesse Nacional, quer seja a nível de Parapente, desporto Automóvel, corridas
de Orientação, quer a nível de feiras como a do Fumeiro e da Vitela que só por si trazem a
Montalegre milhares de Pessoas. No entanto, ninguém sabe muito bem quais as apostas que
melhor irão responder ao turista que se desloca frequentemente a esta região.
Este inquérito foi realizado por 100 pessoas não residentes em Montalegre, entre os
meses de Janeiro e Março de 2001e teve dois locais que serviram de apoio; o restaurante
Piano Bar – O Castelo e o Hotel Quality Inn****, dois agentes turísticos que abrangem
turistas de diferentes níveis sociais.
O Inquérito anónimo divide-se em quatro grandes grupos, que são indispensáveis para
bem caracterizar o visitante de Montalegre.
No ponto 1 – conhecem-se os dados pessoais (mantendo o anonimato):
A sua idade, o estado civil, se tem filhos, o seu grau de formação académica
e a cidade donde se desloca.
No ponto 2 – Caracterizam-se os hábitos turísticos do visitante:
Qual a frequência com que costuma viajar, para onde se desloca
frequentemente, os motivos que o levam a viajar e com quem o costuma fazer, como se
desloca para férias, quanto gasta em média e a duração dessas viagens, que actividades
gosta de experimentar, quais os serviços que mais utiliza e quais as características que mais
valoriza.
No ponto 3 – Fixa o registo da sua opinião sobre a região do Barroso e mais
especificamente de Montalegre:
Saber se é a primeira vez que vem a Montalegre e como conheceu esta
região, o que mais admira nesta terra, como classifica os serviços a nível turístico, quais as
maiores dificuldades com que se debateu nesta região, se deseja voltar e qual o motivo,
que actividades gostaria de realizar ao voltar a Montalegre. No Concelho de Montalegre
qual a zona que mais aprecia, que acontecimento associa ao Barroso e facilmente se torna
ex-libris desta região.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
167
Ecomuseu de Barroso
No ponto 4 – breves questões sobre a empresa de Animação Turística –
NaTurBarroso, que se preocupa com a preservação do ambiente, a divulgação e a
promoção da região; terminando com uma questão aberta: “ Um desejo para a região “
Objectivos a alcançar
Perfil do turista visitante de Montalegre
1 - Identificação:
Qual a Zona do País que mais visita Montalegre? Qual a sua idade média? Qual a sua
formação académica?
Qual o seu estado civil? Saber o número de filhos deste turista?
2 – Caracterização de hábitos:
Saber a frequência das suas viagens de turismo? Saber para onde se desloca mais vezes?
Identificar os Motivos que o levam a deslocar-se a Montalegre?
Com quem costuma viajar? Quanto gasta habitualmente por pessoa? Qual a duração
das suas viagens? (Cruzando as alíneas F e G temos o valor médio deixado pelo turista)
A alínea (H*) dá-nos aquilo que o turista faz habitualmente?
(I*) mostra quais os
serviços que normalmente utiliza? (J*) mostra como se desloca para férias?
(K*) mostra-nos o que este turista mais valoriza nos locais de visita?
3 – Opinião sobre a região do Barroso – Montalegre
Revela como conheceu Montalegre? Mostra se é a primeira vez que vem a Montalegre?
Na alínea:
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
168
Ecomuseu de Barroso
D* mostra o que mais admira no concelho de Montalegre?
E* Classificação dos agentes turísticos de Montalegre?
F* identifica as dificuldades com que um turista se debate em Montalegre?
H* revela as razões que o fazem voltar a Montalegre?
I* Revela o que mais gostará de fazer quando voltar?
J* quais as zonas preferidas do visitante?
K* qual a realidade mais emblemática de Montalegre?
L* qual a palavra que melhor associa á região?
4 - A NaTurBarroso como empresa de Animação Turística e EcoTurismo, sabe se:
A sua existência é importante para a Região?
Como conheceu esta?
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
169
Ecomuseu de Barroso
Inquérito
O Turismo Natureza em Montalegre
1. IDENTIFICAÇÃO
Cidade de Origem (morada): ________________________________
Formação: ______________________________________________
Idade:________
Estado Civil:
Tem Filhos?
Sim
Casado
Solteiro
Viúvo
Divorciado
Quantos? _______
Não
2. CARACTERIZAÇÃO DE HÁBITOS
a) COSTUMA FAZER VIAGENS DE TURISMO?
Sim
Não
b) SE SIM COM QUE FREQUÊNCIA?
Semanalmente
Mensalmente
2 x Mês
1 por ano
Ocasionalmente
Sempre que
possível
Férias
Semestralmente
C) PARA ONDE SE DESLOCA MAIS
FREQUENTEMENTE?
Dentro do seu Distrito
Região Norte
Trás os Montes
Montalegre / Barroso
Todo o pais
Galiza
Espanha
d) MOTIVOS QUE O LEVAM A DESLOCAR-SE A MONTALEGRE:
Desfrutar de novas
Fugir ao stress
actividades
Lazer
Conviver com a natureza
Passear com amigos
Gastronomia
Novas sensações
Conhecer novos locais
Fumeiro
e) NAS SUAS VIAGENS DE LAZER, VIAJA:
Sozinho
Casal
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
Com amigos
Excursões
170
Ecomuseu de Barroso
f) NAS SUAS DESLOCAÇÕES QUANTO GASTA, EM MÉDIA, POR PESSOA E POR DIA?
Menos de 5000$00
5000$00 a 10000$00
Mais de 20000$00
10000 a 20000$00
g) NAS SUAS VIAGENS DE TURISMO E LAZER, QUAL A DURAÇÃO?
1 a 4 dias
1 semana
Mais de 1 semana
h) QUAIS AS ACTIVIDADES QUE REALIZA NAS SUAS VIAGENS TURÍSTICAS?
Visita a locais de interesse
Visita Monumentos
Health Club
Desportos radicais
Trilhos pela Natureza
i) QUAIS OS SERVIÇOS QUE NORMALMENTE UTILIZA?
Hotel
Restaurante
Aluguer de carros
Casa de Turismo Rural
Residenciais
J)
Posto de Turismo
Lojas de Artesanato
Empresas de Desportos Radicais
Outros; Especifique
COMO SE DESLOCA PARA FÉRIAS?
Carro próprio
Jipe
Outro; Especifique:
K)
Comboio
Avião
Autocarro
QUAIS AS CARACTERÍSTICAS QUE MAIS VALORIZA NOS LOCAIS QUE VISITA
Simpatia
Gastronomia
Disponibilidade de guias
Alojamento
Natureza
Afectividade da população local
Paisagens
Cultura
3. EM
RELAÇÃO A ESTA BELA REGIÃO DO
EXPRESSE OS SEUS PONTOS DE VISTA:
a) JÁ CONHECIA MONTALEGRE?
Não
BARROSO
E Á SUA CAPITAL
Sim
MONTALEGRE,
b) Como a conheceu?
¾
¾
¾
¾
¾
¾
Revistas e Jornais
Rádios e TV
Amigos
Eventos locais (Feira fumeiro e vitela, Congresso med. Popular, Pista)
Empresas Turísticas
Outro; Especifique
b) JÁ CÁ TINHA ESTADO?
Não
Sim
Quantos vezes?
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
171
Ecomuseu de Barroso
c) O QUE É QUE MAIS ADMIRA NO CONCELHO DE MONTALEGRE?
Cultura
Natureza
Paisagens
Gastronomia
Fumeiro
Artesanato
Simpatia
Desportos
Outros:
d) COMO CLASSIFICA NA REGIÃO OS SEGUINTES SERVIÇOS?
M Bom
Bom
Razoável
Mau
M.
Mau
Alojamento
Restauração
Animação
Guias
Eventos
Artesanato
Recepção
Posto de Turismo
Desportos Natureza
Outros:
e) QUAIS SÃO AS MAIORES DIFICULDADES COM QUE UM TURISTA SE DEBATE EM MONTALEGRE?
Falta de Informação
Falta de animação
Outros:
f)
ESTÁ A PENSAR VOLTAR?
Falta de profissionalismo
Falta o que Fazer
Não
Sim
g) PORQUÊ?
Pelos Amigos
Pelo Clima
Pelos Desportos
Pela Natureza
Pela Gastronomia
Outros:
h) SE VOLTASSE A MONTALEGRE O QUE MAIS GOSTARIA DE FAZER?
Circuitos Ambientais
Circuitos Culturais
Circuitos Gastronómicos
Circuitos TT
Desportos radicais
Outros; Especifique:
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
Ver uma Chegas de Bois
Passeios de Cavalo
Corridas de Karting
Pesca e caça
Health Club
172
Ecomuseu de Barroso
i)
DO CONCELHO DE MONTALEGRE, QUAL A ZONA DE QUE MAIS GOSTA?
Vila de Montalegre
Vilar de Perdizes
Barragem dos Pisões
Cabril
j)
Salto
Pitões das Junias
PNPG
Outro; Especifique
A QUAL DOS SEGUINTES ITENS ASSOCIA O BARROSO?
Congresso Med. Popular
Chega de Bois
Feira do Fumeiro
Paisagens Naturais
PNPG
Cultura Celta
Outro; Especifique
l) QUAL A PALAVRA QUE MELHOR ASSOCIA Á REGIÃO?
Natureza
Cultura
Simpatia
Desportos radicais
Misticismo
Gastronomia
Albufeiras
Outro; Especifique
4. SURGIU
EM MONTALEGRE UMA NOVA EMPRESA QUE SE DEDICA Á ANIMAÇÃO
TURÍSTICA, CUJO NOME É “NATURBARROSO”– ORG. E PROMOÇÃO DE EVENTOS
a) PENSA QUE SERÁ IMPORTANTE PARA A
REGIÃO?
Não
Sim
b)
Não
Sim
JÁ TINHA OUVIDO FALAR DELA?
c) SE SIM DIGA COMO?
Amigos
TV
Jornais
Revistas
Participou em eventos
Internet
Outra:
UM DESEJO PARA ESTA REGIÃO:
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
173
Ecomuseu de Barroso
Linhas força da resposta aberta
“ Um desejo para esta Região”:
Preservar a Natureza e as Aldeias
Distinguir desenvolvimento de crescimento
Que se promova mais
Que mantenha a sua simpatia e o seu acolhimento
Que se desenvolva sem perder a sua Identidade
Que mantenha a Região Ordenada
Melhores acessos
Melhor sinalização
Mais animação
Mais desportos náuticos
Mais Turismo em Espaço Rural
Mudança de mentalidades para um turismo mais inteligente
Desenvolvimento integrado, que satisfaça quem cá vive; o respeito pela Natureza, a
divulgação de uma cultura que não pode extinguir-se, antes pelo contrário deve manter-se
com os valores e o respeito de uma cultura multissecular, original, com grande potencial para
o Turismo Natureza.
Estes desejos deixados de livre vontade, estão ordenados por ordem decrescente,
sabendo que os quatro (primeiros) mais vezes expressos foram referidos por cerca de
metade dos inquiridos, chegando mesmo a pedir para que a NaTurBarroso tome uma
posição perante os respectivos responsáveis.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
174
Ecomuseu de Barroso
Análise dos dados do Inquérito
Observando os gráficos identificamos os locais emissores do turista que visita Montalegre
, agrupando-o por idades: 76% destes visitantes deslocam-se da zona Norte, ou seja vêm
de uma região relativamente perto. A grande surpresa são os 18% de visitantes que se
deslocam da zona Sul e que supera de longe os 5% da zona Centro e a própria Espanha
com apenas 1%, de visitantes, apesar de ter um poder de compra superior ao Português.
Local de Origem dos Turistas
Idades dos Visitantes
9%
31%
zona Norte
18%
1%
zona Centro
5%
zona Sul
Espannha
76%
até 30 anos
entre 31 e 50
mais de 51
60%
Caracterizando este visitante vê-se que a sua idade média são os 37 anos, podendo
agrupar em três grandes grupos para simplificar a leitura dos dados. Constatamos que é
um turista bastante jovem, o que já indicia alguns comportamentos que denotam uma maior
capacidade de mobilidade e um espírito de descoberta muito grande.
Nº de filhos
Estado civil
60
80
50
60
40
20
casado
40
solteiro
30
divorciado
20
Nenhum
entre 1 e 2
mais de 2
4 filhos
10
0
0
Perante estes dois gráficos torna-se evidente que este turista se encontra no auge da sua
vida, pessoal e profissional; está casado, tem entre 1 a 2 filhos, e um bom nível de formação
o que lhe permite ter um bom emprego, logo um bom nível de vida:
•
60% tem formação de nível superior.
•
19% tem um curso médio, especialmente tirado há já alguns anos atrás.
•
18% tem formação até ao 12º Ano.
Estes dados estão intimamente ligados e influenciam as respostas dadas à pergunta
sobre o valor que costuma gastar por dia (por pessoa) nos locais que visita:
à
36% afirmou gastar entre 10.000$00 e 20.000$00, pessoa dia
à
33% disse gastar entre 5.000$00 e 10.000$00, pessoa dia
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
175
Ecomuseu de Barroso
à
17% afirmou gastar mais de 20.000$00, pessoa dia
à
Apenas 9% referiram gastar menos de 5.000$00 por pessoa / dia
Uma vez que temos dados sobre a duração média das viagens podemos fazer uma
previsão do valor deixado na região por este tipo de turista.
Frequência das Viagens de Turismo
%
Sempre que possível
Semestralmente
Mensalmente
2 vezes por mês
Semanalmente
1 vez por Ano
Ocasionalmente
Férias
Não viaja
28
23
21
9
7
5
2
2
3
Podemos aprofundar ainda mais estas percentagens, pormenorizando o primeiro item
(Sempre que possível) que é muito amplo:
à
70% afirma que as suas viagens duram entre 1 a 3 dias
à
20% diz viajar de 3 dias a 1 semana
à
6% afirma que viaja mais de 1 semana.
Se tentar-mos saber os ganhos directos para a região que recebe estes visitantes, temo
de ter em conta a sazonalidade deste tipo de turismo.
O valor gasto por cada turista não é muito elevado, se comparado com o valor
deixado, por cada membro de um Congresso internacional, que se realize na mesma região.
Porém, os valores podem ser esbatidos uma vez que o Turismo Natureza que ocorre em
Montalegre tem a possibilidade de se realizar continuamente, com o mesmo turista, com
programas diferentes. Isto é, enquanto um congressista visita uma região uma vez na vida e
sozinho, o Turismo Natureza tem a capacidade de atrair vária vezes o mesmo turista e a sua
família elevando assim a receita económica para a região e tornando este visitante fiel á
região incentivando investimentos, por vezes avultados, apostando no meio de publicidade
mais importante.
Perante os resultados: 55% viaja com a família, 35% viaja com amigos, não
especificando se o faz em casal ou pessoalmente. Apenas 9% é o chamado aventureiro
solitário, temos de acreditar que este tipo de promoção em breve estará a dar os seus
frutos.
Depois de conhecermos as características sócio - económicas dos nossos visitantes, vamos
conhecer as suas preferencias turísticas e as razões que os motivam a deslocar-se e a gastar
o seu dinheiro.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
176
Ecomuseu de Barroso
Quais os Motivos que o levam a deslocar-se?
Solteiros
Casados
Totais
Motivos
Sim %
Não %
Sim %
Não %
Sim
Pela Natureza
Pelos Amigos
Lazer
Pela Gastronomia
Fugir ao Stress
Novos Locais
Novas sensações
Fumeiro
Novas actividades
14
9
13
7
11
9
1
1
2
8
13
9
15
11
13
21
21
20
37
32
24
29
21
27
7
8
5
33
37
46
41
40
43
63
61
65
53 %
44 %
39 %
38 %
37 %
37 %
9%
9%
7%
Este quadro é de extrema importância para melhor caracterizar o turista que visita
Montalegre, podendo mesmo fazer uma distinção entre solteiros (mais novos) e casados
(mais velhos). É de realçar neste quadro a ordem crescente das motivações. A maioria das
pessoas sabe muito bem o que procura e elege os seus destinos de acordo com as suas
preferencias. A Natureza é felizmente a grande vencedora desta lista de motivações, sendo
a única a ultrapassar os 50% das opiniões expressas em todos os inquéritos.
São merecedores de toda a atenção os valores expressos pelos solteiros em relação à
busca de lazer e a fuga ao
Actividades que realiza nas Viagens
stress, que revelam que a
adulta
60
50
40
30
20
10
0
obtida
nos
at
ur
ez
a
is
ca
ub
pe
to
s
la
R
N
ad
i
cl
th
ea
l
or
s
Tr
i lh
os
percentagem
Lo
ca
i
Temos neste gráfico a
de
mundo natural e rural.
H
ao
en
to
s
regular
se
ligação
in
te
re
s
uma
ter
es
p
equilíbrio e tudo fará para
o seu
D
saberá como pode conseguir
on
um
geração
M
próxima
inquéritos perante cinco actividades passíveis de serem utilizadas pelos turistas que nos
visitam.
Os locais de interesse, nesta região são naturais: grandes paisagens, cascatas e
albufeiras fazendo esquecer o mundo.
Do cruzamento de várias perguntas sabe-se que estes visitantes são amantes da
natureza. Falta-nos saber que serviços costumam utilizar, para que possamos confrontar a
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
177
Ecomuseu de Barroso
sua expectativa no serviços que usa e os serviços disponíveis em Montalegre ficando claro o
seu grau de satisfação e a sua fidelização a esta região ou não.
Serviços
Hotel
Restaurante
Casa de Turismo
Lojas de Artesanato
Residencial
Aluguer de carros
Empresas de Desportos Radicais
Sim
70 %
63 %
37 %
27 %
11 %
7%
7%
Depois de analisados os serviço mais usados nas viagens turísticas, são apresentadas as
características que este tipo de turista mais valoriza nos locais que o recebe, para que seja
possível aumentar o seu grau de satisfação. A forma de receber Barrosã, pura e sem receios
é o que mais cativa as pessoas que nos visitam.
Características da Região
Simpatia
Paisagem
Gastronomia
Natureza
Alojamento
Afectividade da População
Cultura
Guias
Sim
82 %
71 %
62 %
58 %
50 %
44 %
42 %
15 %
Os valores obtidos são no mínimo curiosos. A simpatia das pessoas é preponderante
para que se criem laços e se construam amizades. A frase de acolhimento dos Barrosões,
ainda tem todo o sentido: “ Entre quem é...”
Tendo presente as preferências dos inquiridos, sabemos que quem se desloca a
Montalegre o faz pela natureza, pela paz que aí encontra. Vem para descansar e para
passar um bom bocado, logo gosta de se sentir bem tratado e de não ter pressão de guias,
ou roteiros culturais previamente marcados. Usa os melhores serviços que encontra ao seu
dispor sem fazer contas muito apertadas a quanto vai gastar. É o turista que vai á
descoberta porque acredita que as suas expectativas não ficam defraudadas.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
178
Ecomuseu de Barroso
No ponto 3 do inquérito aprofunda-se a análise, tentando conhecer a imagem da região
do Barroso, mais especificamente Montalegre, com os olhos do turista que nos visita, para
que seja possível corrigir erros e alterar estratégias de venda da Região.
Sendo Montalegre uma Vila do interior onde só se vai quando se deseja lá ir, pois não
fica a caminho de nenhum centro importante surge a primeira dúvida:
- Como conheceram os visitantes esta região?
Forma como conheceu Montalegre
Não conhecia
40
34
30
Revista e Jorn
25
Rádio, TV
17
20
Amigos
12
10
4
7
Eventos locais
0
Empresas Turisticas
Este gráfico é motivo de grande esperança, porque revela que Montalegre está a ser
publicitado da melhor forma: os amigos. Este será o grande investimento que não poderá ser
relegado para o esquecimento, pois tem muito mais peso numa decisão a opinião de um
amigo que ficou satisfeito na sua estadia em Montalegre, do que muitas reportagens em
revistas e jornais, embora todas elas tenham o seu publico alvo.
Estes valores têm mais sentido, ainda se tivermos em conta que:
à
36% dos inquiridos estava em Montalegre pela 1ª vez
à
40% dos Inquiridos veio menos de 3 vezes a Montalegre.
à
22% dos inquiridos já veio a Montalegre mais de 3 vezes.
Estes valores são a prova de que há uma grande rotação de visitantes, o que acarreta
uma maior responsabilidade de fazer com que estes visitantes sintam vontade de voltar em
breve.
O que Admira em Montalegre
Paisagens
Natureza
Gastronomia
Simpatia
Fumeiro
Cultura
Artesanato
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
Sim
81%
77%
70%
46%
21%
19%
13%
179
Ecomuseu de Barroso
Esta tabela apresenta-nos uma lista do que mais admira, o visitante, em Montalegre. Se
confrontarmos estes dados com os anteriores, vemos que coincidem com as respostas dadas
na questão dos motivos que o fizeram sair de casa, e inverte um pouco a ordem de
preferencias em relação às respostas ao pedido de caracterização da região.
Para uma melhor caracterização da região foi pedida uma classificação dos serviços
que visita, pois eles são a razão de ser de todo este esforço e só com uma contínua
predisposição de aperfeiçoamento se irá construindo uma região acolhedora capaz de
movimentar pessoas desejosas de paz e de contacto relaxado com uma natureza pura e um
ambiente familiar.
Distinguimos as respostas de solteiros e casados resultantes do pedido de
classificação de vários serviços, na região e obtivemos os dados necessários
para que possamos ter o grau de satisfação dos visitantes:
Casados
Média D. P.
Alojamento
Restauração
Animação
Guias
Eventos
Artesanato
Recepção
Posto Turismo
Desp. Natureza
1.72
1.92
2.41
1.79
2.38
2.44
1.58
2.26
1.97
0.74
2.74
1.19
1.07
1.24
1.24
0.85
1.58
1.08
Solteiros
Média D. P.
1.90
2.00
3.06
3.13
3.00
2.60
1.94
3.78
2.33
Teste Estatístico
t
p
0.85
0.94
0.77
1.46
0.87
0.97
0.97
0.97
1.07
0.82
0.19
2.04
2.05
1.41
0.37
1.41
2.69
1.01
n. s.
n. s.
0.046
0.004
n. s.
n. s.
n. s.
0.011
n. s.
N.B. A graduação foi entre 5= Muito Bom, 4= Bom, 3= Razoável, 2=Mau e 1= Muito Mau
Foi feita uma correlação entre as respostas dos solteiros e dos casados, tendo concluído
que as respostas não divergem muito, apenas há dados significativos em relação à
animação, aos guias e ao Posto de Turismo, sendo os mais jovens a dar maiores pontuações;
o que significa que estão mais satisfeitos com esses três serviços.
Perante a avaliação do quadro seguinte ficam patentes as maiores dificuldades sentidas
pelos turistas que se deslocam a Montalegre; o resultado é elucidativo:
Dificuldades sentidas
Falta de informação
Falta de Animação
Falta de profissionalismo
Falta o que fazer
Não respondem
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
Sim
34%
20%
9%
4%
33%
180
Ecomuseu de Barroso
São de salientar os 33% de inquiridos que não apontam nada que os deixe desgostosos.
A Falta de informação está directamente relacionada com a falta de uma “Loja Turística”
que congregue toda a informação de produtos turísticos, agentes turísticos a operar na
região e a bibliografia das publicações, da região, para consulta. Esta falha poderia ser
minorada pelo Posto de Turismo, mas este porque é de gestão Camarária, apenas está
aberto aos fins de semana, no mês de Agosto. A sua localização embora à entrada da Vila,
tem o seu acesso escondido, não sendo só por si tentador de uma visita.
A falta de animação tem duas explicações muito distintas: Por um lado Montalegre tem
pouca gente nova e a sua maioria está a estudar ou a trabalhar fora o que provoca a sua
dispersão, por outro as pessoas da terra ainda não vivem para o turismo e não gostam
muito de “confusão” ou seja de estar com muita gente. Os Barrosões usam os fins-de-semana
para ir até à barragem, ir às compras a Chaves ou a Braga ou mesmo divertir-se à vizinha
Espanha.
As restantes falhas apontadas têm a sua razão de ser nas pessoas de Montalegre, que
ainda não fizeram do turismo a sua forma de vida, o que iria provocar nelas um sentimento
de obrigação, quer no receber “bem”, quer no servir “bem.”
Surge uma questão:
Será que estes inquiridos pensam voltar e quais as razões do seu regresso?
Os resultados mantêm-se fiéis ao que foi eleito como prioritário nas suas viagens
turísticas e naquilo que mais apreciam em Montalegre:
Pensa Voltar?
Pela Natureza
Sim
74%
Pela Gastronomia
Pelos Amigos
Pelo Clima
Pelos Desportos
64%
41%
17%
15%
Qual a zona que mais
gosta?
Vila de Montalegre
Barragem dos Pisões
Pitões das Júnias
P.N.P.G.
Vilar de Perdizes
Salto
Sim
37%
30%
11%
7%
3%
1%
Mais uma vez fica bem espelhada a imagem que Montalegre provoca nos seus visitantes
e que deve ser uma mais valia, que não se pode deixar destruir, por ambiciosos sem
escrúpulos, que põe em primeiro lugar o lucro rápido e fácil e não o bem da região, que
acabará por ser o seu próprio bem.
Sendo o Concelho de Montalegre muito grande e tendo numerosas fontes de atracção, é
imperioso saber qual a zona que mais impacto causou nos visitantes e a barragem dos
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
181
Ecomuseu de Barroso
Pisões aparece como uma grande surpresa, superando mesmo a fama da Aldeia de Pitões
das Júnias.
É de salientar que 30% de respostas foram para a Barragem dos Pisões ou Alto
Rabagão; pois as várias barragens do concelho de Montalegre criam paisagens lindíssimas
e ecossistemas únicos e não são muitas vezes reconhecidas como um polo de atracção de
visitantes. A pesca é a única actividade que lhes trás alguma expressividade mas estas
manchas de água com um potencial enorme estão sub-aproveitadas especialmente na
vertente desportiva / aventura. O clima demasiado frio e ventoso ajudou a que todas as
tentativas de aproveitamento desportivo da água não tivessem grande expressividade.
Tendo em conta a percentagem de inquiridos que desejam voltar, surge a dúvida: o que
desejarão eles fazer?
Gostaria de Fazer
Circuitos Ambientais
Sim
55%
Passeios a Cavalo
Circuitos TT
Ver Chegas de Bois
Karting
Circuitos Temáticos
Circuitos Gastronómicos
Circuitos Culturais
Desportos Radicais
Jogos populares
Caça e pesca
Health Club
40%
38%
30%
29%
28%
28%
26%
24%
22%
13%
13%
A resposta, mais uma vez mostra a seriedade e a coerência das respostas, deixando
bem vincado qual será o rumo que o turismo em Montalegre deve seguir. Há que salientar a
boa posição conseguida pelo “Karting”, embora a pista ainda se encontra em projecto, é um
sinal evidente de que o turismo activo e sobretudo o turismo motorizado consegue associarse facilmente á imagem desta região. Não por uma semelhança de comportamentos mas
porque os visitantes desta região desejam relaxar e o esforço físico é muitas vezes
associado á facilidade de relaxamento.
A tabela que se segue regista a visão do visitante em relação ao termo “Montalegre”.
Ficam assim reunidos dados suficientes para uma boa leitura da realidade do Turismo.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
182
Ecomuseu de Barroso
Items que associa ao Barroso
%
Palavra que é imagem da Região
%
Paisagens Naturais
Feira do Fumeiro
Chegas de Bois
Cong. Medicina Popular
P.N.P.G.
45
23
10
7
6
Natureza
Gastronomia
Simpatia
Misticismo
Desportos Radicais
Albufeiras
Cultura
63
11
9
8
3
2
1
O isolamento geográfico a que as “Terras do Barroso” estiveram votadas até há algumas
décadas atrás, devido aos difíceis acessos a esta região montanhosa, que fizeram com que
um rico e bastante bem conservado património sobrevivesse até aos nossos dias.
Com efeito, no Barroso podemos encontrar vestígios arqueológicos e arquitectónicos de
diferentes períodos da nossa história, aldeias de construção tradicional cujos habitantes
ainda se dedicam a uma actividade agro-pastoril de montanha e manchas extensas de
carvalhais autóctones que são abrigo de um grande número de espécies de plantas e animais
raros a nível nacional e mundial.
Contudo, recentemente este património tem sido adulterado e ameaçado de forma
crescente, na expectativa de obtenção de lucro rápido e fácil, apesar das suas potencialidades
turísticas e económicas, bastante significativas numa área de montanha cujas populações
ainda praticam uma economia de subsistência.
É neste sentido, que nos falta uma abordagem à única empresa do Concelho de
Montalegre a trabalhar na Animação Turística e no Turismo Natureza.
É a NaTurBarroso, Promoção e Organização de Eventos, L.da, que tem um ano de
existência. Esta empresa disponibiliza um conjunto de actividades em profundo convívio
com a natureza, apostando e especializando-se no EcoTurismo ou Turismo Natureza como
alguns preferem chamar-lhe.
Todas estas actividades estão enquadradas no ambiente típico da cultura local, com
gastronomia regional, alojamento e animação local.
Este desafio de divulgação doseado de um enorme esforço de preservação acarretam
por vezes mais prejuízos do que lucros. Mas para quem ama esta região o preço a pagar
pela manutenção de tantos cenários idílicos, que muitos julgam apenas existir em contos de
fadas, não assusta.
A NaTurBarroso pretende trazer a Montalegre apenas os verdadeiros amantes da
Natureza e não todos aqueles que tendo dinheiro decidem comprar tudo que existe. Todas
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
183
Ecomuseu de Barroso
as actividades têm um toque educativo e de sensibilização ambiental, para que cada
pessoa que faz uma actividade, fique uma apaixonada pela Natureza e uma eterna
defensora do ambiente.
É algo que vai sendo conseguido tendo em conta as frases abertas que cada inquirido
escreveu no estudo de mercado que serve de base a este trabalho. As respostas não
divergiram muito e todas tiveram em conta a vertente ambiental e a preservação da traça
tradicional das aldeias do Barroso, como poderão ver na página 30.
Deixo-vos uma frase que ouvi a um casal numa das caminhadas organizadas pela
NaTurBarroso: “ A vossa maior riqueza é o vosso atraso. “ Não se referiam à pobreza mas
conseguiram entender que o isolamento a que esta região esteve votada, apenas permitiu o
acesso a quem gostava de facto da natureza e não às avalanches de curiosos desejosos de
levar uma recordação qualquer, mesmo que não fique nada para ver a quem passar
depois.
Que projecção terá esta empresa:
Conhece a NaTurBarroso?
Não
Amigos
Jornais
Revistas
Internet
Participou em eventos
Embora não seja muito conhecida pelos visitantes, pois tem um ano de idade, a
NaTurBarroso está a fazer um grande esforço de promoção através dos clientes que trás a
Montalegre, tentando que eles sejam os seus comerciais junto dos amigos e nos locais que
frequentam.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
184
Ecomuseu de Barroso
Uma grande alegria é que dos que conhecem a NaTurBarroso 95% acha que ela é
muito importante para a Região.
A nível local começa a ser reconhecida pela sua filosofia de actuação e os agentes
turísticos começam a fazer contactos para usufruir dos seus serviços, porque é demasiado
evidente que a vertente ambiental é o ex-libris desta região e a grande fonte de
subsistência daqui a alguns anos, pois a agricultura e a pastorícia deixaram de fixar
pessoas em Montalegre.
É uma região impar, com enormes potencialidades para o turismo, apenas terá de ter
em conta que é de extrema importância a criação de uma estrutura capaz de coordenar as
iniciativas turísticas. A estrutura que irá fazer interagir os operadores turísticos está a nascer
e irá chamar-se o “Ecomuseu do Barroso” e se tudo correr como previsto dentro de alguns
anos o Barroso será um Museu a céu aberto, pronto a ser visitado.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
185
Ecomuseu de Barroso
Anexo V - Janelas de Barroso para o Mundo
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
186
Ecomuseu de Barroso
Janelas de Barroso para o Mundo
Câmara Municipal
www.cm-montalegre.pt/
Montalegre - Localização e caracterização deste concelho situado no Norte de Portugal.
Desporto e gastronomia. Monumentos e feiras. Postais electrónicos. Fotos.
http://members.xoom.com/joao_xavier/
Concelho de Montalegre - Resenha histórica, património histórico-cultural, artesanato,
economia, ensino, comunicação social e informações úteis.
http://www.amvc.pt/Site/concelhos/montalegre/
Estalagem Vista Bela - Montalegre - Sobre as paisagens agrestes da transição entre o
Gerês e o Barroso, um lugar que convida ao descanso e à contemplação. Informações sobre
a localização, reservas, restaurante e roteiro de lazer.
www.estalagemvistabela.co.pt/
Banda Musical de Parafita - Montalegre - Página elaborada por José Manuel Gonçalves
Alves com informações sobre os elementos da banda e o repertório para o ano 2000.
http://go.to/bandaparafita
Chaves - Mapa dos concelhos de Montalegre, Chaves, Boticas, Valpaços e Vila Pouca
http://www.geocities.com/chaves_cidade/
Rui Ramos - Informações sobre Castro de S.Lourenço, Vila de Montalegre, Esposende.
Rubrica dedicada a gente famosa.
http://www.terravista.pt/ancora/3222/
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
187
Ecomuseu de Barroso
João Miguel Sousa - Apresentação e dados pessoais do autor e visita guiada a Montalegre:
história, natureza, tradições e locais de divertimento da vila; de onde é natural o autor.
http://www.alunos.ipb.pt/~ei5602/
Papaventos - Clube de Desportos de Montanha
Clube fundado em Março de 1997 e sediado em Montalegre que se dedica à prática e ao
ensino do Parapente e à promoção dos desportos de montanha.
http://www.terravista.pt/nazare/3822/
Cristina Caldas - Página pessoal de Cristina Caldas, natural de Montalegre e residente em
Braga. É formada em Sociologia e actualmente frequenta um curso na área da multimédia.
http://www.terravista.pt/ilhadomel/1671/
Património Natural - Montalegre
Gorgulão. Paisagem humanizada
http://www.uportucalense.pt/dh/Fotografias/patrimonio/montalegre.htm
Lista de Solicitadores
Lista de Solicitadores - Círculo Judicial: CHAVES
http://www.camara-solicitadores.pt/norte/montalegre.html
TVP: vila_real/montalegre/montalegre - Vila Real/Montalegre Montalegre Províncias e
Regiões Autónomas Trás-os-Montes
http://tvp.ua.pt/vila_real/montalegre/montalegre/index.pt.html
TVP: vila_real/montalegre - Vila Real, Montalegre, Freguesias. Cabril, Cambeses do Rio,
Cervos, Chã, Contim, Covelães, Covelo do Geres, Donões, Ferral, Fervidelas, Fiães do Rio,
Gralhas, Meixedo, Meixide, Morgade, Mourilhe, Negrões, Outeiro.
http://tvp.ua.pt/vila_real/montalegre/index.pt.html
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
188
Ecomuseu de Barroso
AUTARQUIAS - Município de Montalegre - PortugalPress
Ex-libris : Castelo de Montalegre. - História : A vila de Montalegre nasceu e cresceu em
redor do morro onde se situa
http://www.portugalpress.pt/distritos/montalegre.html
Montalegre Fonte: INE, DCI/Serviço de Coordenação Estatística - Vilas 1997
http://infoline.ine.pt/inf/prodserv/nomenclaturas/refter/tema01/sb0104/htm/1997/013986.HT
M
LN - Distrito de Vila Real - Montalegre
Lazeres Nortenhos - Distrito de Vila Real – Montalegre
http://www.dwebd.net/lazeresnortenhos/distrito/vreal_montalegre.htm
Centro Desportivo e Cultural de Montalegre
Centro Desportivo e Cultural de Montalegre
Fundação:1964; Estádio Dr. Diogo Alves Vaz Pereira
http://www.infoalgarve.com/montalegre/main.htm
VISITE MONTALEGRE - Montalegre, capital da região de Barroso, situada entre o
Minho
e
a
cidade
de
Chaves
vive
cercada
por
várias
serras:
(Gerês,Larouco,Cabreira,Alturas)
http://www.alunos.ipb.pt/~ei5602/montalegre1.html
Montalegre - ALTO TRáS- -OS-MONTESREGIãO DO NORTEDEMOGRAFIA
http://www.ccr-n.pt/municipios/montaleg.html
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
189
Ecomuseu de Barroso
Portugal Travel & Hotels Guide: Montalegre - Complete database of Portugal hotels &
other lodging. Prices, e-mail addresses and secure discounted online reservations (instant
confirmation thru one of the largest international services).
http://portugal-hotels.com/movrmo1.htm
Escalada no Larouco - Montalegre - FORUM MONTANHA Escalada no Larouco
Autor: Nelson Email: [email protected] clube
http://www.jba.pt/montanha/forum/_forum/000005e5.htm
MONTALEGRE, Visconde de
VISCONDE DE MONTALEGRE
Visconde Foi 1.º visconde Manuel Pinto de Morais Bacelar que nasceu em Vilar de Ossos,
concelho de Vinhais, em 4.11.1742 e morreu em Lamego em 1.5.1816
http://www.bragancanet.pt/filustres/vmontalegre.html
Montalegre, Centro Integrado de Lazer do Barroso (Inatel)
Centro Integrado de Lazer do Barroso (Inatel) Endereço Penedones 5470-069 CHã
http://www.malhatlantica.pt/turmasviajam/montalegre.htm
Cartuja de Montalegre
Cartoixa de Santa María de MONTALEGRE
www.chartreux.org/maisons/Montalegre/Montalegre.htm
Montalegre
Montalegre ergue-se num morro granítico a 980 m de altitude no topo Norte de Portugal,
abrange uma área 802 Km que se repercute por 35 freguesias e 135 aldeias
www.diariodetrasosmontes.com/vilareal/montalegre.html
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
190
Ecomuseu de Barroso
Património Natural - Montalegre
MONTALEGRE - Paisagem humanizada.
www.uportu.pt/dh/Fotografias/patrimonio/montalegre.htm
www.cm-montalegre.pt/
L'Arxiu de la Cartoixa de Montalegre : evolució històrica, ...
Handle: ReLIS:jul:rajcgq:y:1997:v:11:p:31-43. Title: L'Arxiu de la Cartoixa de Montalegre
: evolució històrica, segles XVI-XIX. ...
dois.mimas.ac.uk/DoIS/data/Articles/julrajcgqy:1997:v:11:p:31-43.html
International Civic Heraldry- Portugal - MONTALEGRE
Portuguese Civic Heraldry. MONTALEGRE. District: Vila Real. Origin/Meaning:
Unfortunately I have no background information on these arms. Any information is ...
www.ngw.nl/int/por/m/montaleg.htm
Cantar dos Reis (Donões, Montalegre)//popular: Trás-os-Montes/ ...
Trás-os-Montes : Cantar dos Reis (Donões, Montalegre).
shiva.di.uminho.pt/~jj/musica/html/popular-reisDonoes.html
Serra do Larouco
Orense e Portugal. Para lá chegar tem duas alternativas: Porto, Vila Real, Montalegre, ou,
Porto, Braga, Barragem da Caniçada, da Venda Nova, do Alto Rabagão ...
www.nca.pt/havefun/plarouc.html
Serra do Larouco - Montalegre
SERRA DO LAROUCO, ...
www.nca.pt/havefun/elarouc.html
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
191
Ecomuseu de Barroso
Montalegre
www.amvc.pt/Site/ingles/concelhos/montalegre/
Montalegre
www.amvc.pt/Site/concelhos/montalegre/
Quality Inn Montalegre - Montalegre, Portugal, Hotel
Montalegre, Portugal, Hotel
bestlodging.com/sites/33703/index.shtml
Guia de Viagens em Portugal: Montalegre
Montalegre, Perdido?
portugal-hotels.com/movrmo0.htm
Clix * Canal Viajar: Montalegre
Montanhas > Vila Real > Montalegre.
Clique no mapa para ampliar Montalegre [ Dormir | Comer | Fazer | Chegar ]
viajar.clix.pt/pt/dst3031.php3
Castelo de Montalegre
Castelos → Portugal → Vila Real → Montalegre → Castelo.
Montalegre planeta.clix.pt/castelos/vrl/mtr/montalegre.html
montalegre
Restaurantes
paginas.teleweb.pt/~redskull/Rest/montalegre.htm
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
192
Ecomuseu de Barroso
Roteiro Gastronómico de Portugal - Guia de Restaurantes
Guia de Restaurantes por distrito >Montalegre. Restaurantes, Bares, Snacks, Pastelarias,
Cafés...
www.informcomputadores.net/roteiro/pub/Vila_Real/Montalegre/
MONTALEGRE RELATÓRIO DO PROJECTO DE CARTOGRAFIA DE RISCO DE
INCÊNDIO FLORESTAL CRIF-2 Fase. ... 11.2 Critério de Risco de Incêndio. ...
snig.cnig.pt/pub/cartas/crif/relatorios/montalegre/monta.html
Fotos de Portugal
Castelo de Montalegre
alfarrabio.um.geira.pt/vercial/fotos/vreal/mont01.htm
www.dgo.pt/oe/2000/Proposta/Mapas/map10a_vreal-2000.pdf
DE BASTO Vilar de Ferreiros 7.474 MONDIM DE BASTO Total 55.132
MONTALEGRE Cabril 7.906 MONTALEGRE Cambeses do Rio 2.500
MONTALEGRE Cervos 4.023
BARREIROS, FB(1920). Materiais para a arqueologia do Concelho de Montalegre.
Arqueólogo Português, 24, 1919-20, pp. 58-87
www.geira.pt/arqueo/html/biblio107.html
www.diariodetrasosmontes.com
Arqueologia... Lugar : Capela da Senhora das Neves Freguesia : Montalegre Concelho :
Montalegre Código Administrativo : 170615 Latitude : 542,2 Longitude : 230,3 Altitude ...
www.geira.pt/arqueo/html/sitio101.html
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
193
Ecomuseu de Barroso
Diario do Norte
Protesto contra a utilização do terreno, que consideram indevida.
Montalegre Feira do Fumeiro conta com 158 produtores
www.diariodonorte.com/dn/seccaoc.asp?cod_seccao=4053
Página Principal dos Sapadores Florestais
Conselho Directivo dos Baldios de Couto de Dornelas, 1, Boticas. Conselho Directivo dos
Baldios do Cabril, 1, Montalegre. ...
www.dgf.min-agricultura.pt/flor/sapador/disteq_2000.htm
Apresentação Gastronómica do Concelho de Montalegre, Pelo Dr. Fernando José Gomes
Rodrigues, presidente da Câmara Municipal 6 de Junho de 2000 - SAPO
spg.sapo.pt/i85/
SAPO - Portugal Online!
Apresentação Gastronómica do Concelho de Montalegre Pelo Dr. Fernando José Gomes
Rodrigues, presidente da Câmara Municipal 9 de Outubro, 2000 - SAPO
spg.sapo.pt/iH72/
Night and Day - Vila Real- Bares/Pubs
Montalegre. Bar Honoris Causa Rua Dr Vítor Branco Lj 5 - 5470 MONTALEGRE
Tel:276 - 511166 Disco Pub a Noite Praça Luís Camões
www.jre.pt/bares-pubs/vila-real/vreal_bar.html
Paço de Vilar de Perdizes
PAÇO DE VILAR DE PERDIZES São Miguel de Vilar de Perdizes 5470-461 Montalegre
www.uehha.org/po/Norte/perdizes_en-dt.htm
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
194
Ecomuseu de Barroso
EXPRESSO - Bruxas à la carte
Em Montalegre e Vilar de Perdizes, contudo, essas ceias das bruxas ganham um aliado
poderoso: são organizadas pelo padre Fontes
www.expresso.pt/ed1460/v171.asp?ls
O POVO DE BARROSO.
QUINZENÁRIO. 1.600. CORREIO DO PLANALTO. MENSAL.
www.publimpor.com/jornais_vreal.htm
Antonio Fontes
ANTÓNIO LOURENÇO FONTES. Nasceu em Cambezes do Rio, (Montalegre) a
22/02/1340; Terminou o curso de Teologia no Seminário de Vila Real em Junho de 1963
www.eixoatlantico.com/eixopor/paxinas/publicac/contos/alouren.htm
Parque Nacional da Peneda-Gerês
Delegações Técnicas: Arcos de Valdevez - Tel. (351)(258) 65338.
Caldas do Gerês - Tel. (351)(253) 391181. Montalegre - Tel. (351)(276) 52281.
www.icn.pt/antigo/parques/pnpg/f_tec.html
Cabrito do Barroso
Cooperativa Agrícola de Produtores de Batata para Semente de Montalegre
www.maff.gov.uk/foodrin/foodname/meatoff/portugal/cabrito.htm
Presunto do Barroso
COOPERATIVA AGRÍCOLA DOS PRODUTORES
MONTAELGRE, CRL. Address: 470 Montalegre
DE
BATATA
PARA
DE
www.maff.gov.uk/foodrin/foodname/meatbase/portugal/barroso.htm
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
195
Ecomuseu de Barroso
Empresa de EcoTurismo e Desportos de Aventura em Natureza
Contactos: [email protected]
Tel. 276 511237, Fax. 276 512302, Tm. 935663065
SPG.sapo.pt/programas.htm.
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
196
Ecomuseu de Barroso
Anexo VI – Álbum de Barroso –memória e história
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
197
Ecomuseu de Barroso
Retratos do Ecomuseu de Barroso
Exemplo de aplicação do logótipo do Ecomuseu de Barroso
Património Natural
Caminho rural – Travassos do Rio
Boqueiro de Lameiro – Travassos do Rio
Narcisos – Travassos do Rio
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
198
Ecomuseu de Barroso
Barragem de Paradela
Vista sobre os lameiros
Vido – Travassos do Rio
Cascata – Travassos do Rio
Castro de S. Vicente – Montalegre
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
199
Ecomuseu de Barroso
Património Construído
Relógio de Sol – Travassos de Rio
Torre do Boi – Travassos do Rio
Aldeia de Outeiro – Montalegre
Igreja Paroquial – Travassos do Rio
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
Mosteiro de St. Mª das Júnias (Pitões das Júnias)
200
Ecomuseu de Barroso
Vacas Barrosãs – Salto
Canastro com milho
Milho
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
Obras no Núcleo Sede do Ecomuseu de Barroso
Canastro cobertura de colmo – Paredes do Rio
Alminhas de Sabuzedo
201
Ecomuseu de Barroso
Moinho (rodízio) – Paredes do Rio
Interior de Moinho
Moinho – Donões
Fojo do Lobo do Avelar – Montalegre
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
Forno Comunitário – Travassos da Chã
202
Ecomuseu de Barroso
Património Imaterial
Desfile Etnográfico – Montalegre
Chega de Galos – Vilar de Perdizes
Malhada do Centeio – Paredes do Rio
Segada do Centeio – Solveira
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
Malhada mecânica - Parafita
203
Ecomuseu de Barroso
Bancelho do Centeio – Solveira
Fiadeira – Pitões das Júnias
VIII Encontro Micológico em Montalegre
Apanha de Míscaros
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
Licores de Vilar de Perdizes
204
Ecomuseu de Barroso
Jogo do Pau – Salto
Apanha da Castanha (Magusto)
XVI Jornadas sobre a Função Social do Museu em Montalegre (2005)
Grupo de Teatro “Carrada das Bestas”
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
Grupo de Teatro “Carrada das Bestas
205
Ecomuseu de Barroso
Carrilheiras de Barroso (2004)
Carrilheiras de Barroso (2004)
Prova de Parapente – Serra do Larouco
BTT – junto à aldeia de Vilarinho de Negrões
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
Todo o Terreno
206
Ecomuseu de Barroso
Campeonato Nacional Eco Aventura
Almoço Comunitário – Parafita
Tocadores Concertina – Montalegre
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
Canoagem – Rio Rabagão
“Sopas de Burro Cansado” – Paredes do Rio
Cantadores ao desafio
207
Ecomuseu de Barroso
Tocador de Acordeão –Sr. Fernando Moura
Pastores da Vezeira – Fafião
Vezeira das Vacas – PNPG / Fafião
Vezeira – Padornelos
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
208
Ecomuseu de Barroso
Colmar do Pisão – Paredes do Rio
Colmar do Pisão – Paredes do Rio
Recolha de peças – Jugos
Jugo – Tourém
Ferreiro – Paredes do Rio
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
209
Ecomuseu de Barroso
Crabunhador – Paredes do Rio
Arranque da Batata – Padornelos
Desfolhada do Milho
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
Trabalhos agrícolas – Paredes do Rio
Padeiras – Santo André
Sementeira do Linho – S. Vicente
210
Ecomuseu de Barroso
Entrudo – Vilar de Perdizes
Recuperação da Forja do Vilarelho
Matança do Porco (2004) Paredes do Rio
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
Projecto com as escolas – Vilar de Perdizes
Visitas Temáticas: PR2- Fojo do Lobo
Queima do Judas (2005) Montalegre
211
Ecomuseu de Barroso
I Feira Celta – Montalegre
I Feira Celta – Montalegre
Cantar dos Reis – Covelães
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
212
Ecomuseu de Barroso
Anexo VII - O Relatador das Chegas de Bois
A nova museologia ao serviço do desenvolvimento local.
213