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Gary Krause
Por Gary Krause
Tradução: Sérgio Quevedo de Jesus
1901
- O primeiro ano do século XX. Em Nova York, a reforma da Lei de Habitação
de 1901 culminou anos de esforços para tornar habitações miseráveis e perigosas em lugares mais seguros e saudáveis. O pânico de 1901 começou com
a primeira queda na Bolsa de Valores de Nova Iork – o que levou milhares de
pequenos investidores à falência.
Como se não bastasse, no verão desse ano, a cidade de Nova York murchou sob a maior onda de calor
mortal em sua história. Em uma semana, pelo menos 989 pessoas morreram no clima que Cole Thompson descreveu como “tão quente que derreteu asfalto e fez com que dezenas de nova-iorquinos ficassem
insanos”1. Ele acrescenta:
Durante uma semana nova-iorquinos amaldiçoados desmaiaram, jogaram-se em poços, pularam
para a morte de pontes, superlotaram necrotérios
e sobrecarregaran policiais e hospitais com cargas
de trabalho além de seu limite. Centenas de cavalos eram encontradas mortas na rua, impedindo o
serviço de ambulância e remoção dos mortos 2.
Se alguém estava planejando fugir da cidade
em busca de paz na região rural, não haveria uma
época melhor do que o ano de 1901.
Esse também foi o ano em que o veterano líder e
evangelista adventista Stephen Haskell, aos 60 anos,
junto a sua esposa Hetty, mudou-se para Nova York.
Alguns podem se perguntar se eles estavam ignorando o conselho de Ellen White. Pelo contrário, ela
disse aos Haskells que Deus estava à frente deles3.
Após quatro dias à procura de uma casa, eles encontraram um apartamento. Na periferia da cidade?
Em um posto rural com um hectare de grama verde,
vacas dóceis e uma horta? Não. No coração da cidade, a duas quadras do canto sudeste do Central Park.
“Não deixe que os nossos irmãos se esqueçam de
orar por nós”, escreveu Haskell. “Não se esqueça do
endereço. É 400 West 57th St., New York City”4.
Haskell estava maravilhado com a selva urbana, a
qual ele e sua esposa agora chamavam de lar. “Nesta
cidade há alguns edifícios com mais de trinta andares
de altura”, escreveu ele. “No prédio onde moramos
há cinquenta e três famílias. O prédio tem sete andares e dois elevadores funcionando dia e noite”5.
Os Haskells estavam seguindo o conselho de
Ellen White quando ela orientou que, ao invés de
apenas pregar para as pessoas, os seguidores de
Cristo deveriam seguir o modelo encarnacional
(tornar-se carne) do ministério de Cristo, o que
significa viver e ministrar entre as pessoas da comunidade6. “É através das relações sociais que
o cristianismo entra em contato com o mundo”,
escreveu ela. E mais adiante: “[...] nossos trabalhadores experientes devem se esforçar para colocarem-se onde eles vão entrar em contato direto
com aqueles que necessitam de ajuda”7. Foi assim
que, em novembro de 1901, Haskell escreveu diretamente do coração de Nova York: “[Nós] trabalhamos com todas as classes de pessoas”8.
Centros de influência
O imenso desafio missionário em áreas urbanas
de rápido crescimento, onde a maioria da população mundial vive agora, é assustador. Somos como
Davi enfrentando uma multidão de Golias. Como
podemos melhor utilizar nossos recursos limitados para atingir essas pessoas? Que metodologias
devemos tentar? Como podemos sequer começar
a tentar envolver os diferentes grupos de pessoas,
origens culturais, crenças religiosas e convicções
não religiosas?
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Como seguidores de Jesus, não podemos nos contentar apenas com
uma missão controle remoto, à distância, de passagem, em curto prazo.
Jesus não se contentou em ficar no céu ministrando de longe. Ele desceu,
tornou-se um de nós, armou a sua tenda entre nós, bebeu a mesma água,
comeu a mesma comida, derramou lágrimas humanas. Ele quebrou todas as barreiras sociais, culturais ou religiosas entre Ele e nós (cf. Ef 2).
Ellen White resume bem a abordagem de Jesus, a qual ela diz ser o
único método que trará o verdadeiro sucesso. O Salvador:
1. Misturava-se com as pessoas, desejando-lhes o bem;
2. Mostrava simpatia;
3. Ministrava às necessidades;
4. Ganhava confiança;
5. Convidava as pessoas para segui-Lo.9
Ellen White previu centros de ministério integrais, que ela chamou
de Centros de Influência, sendo estabelecidos em cada cidade ao redor
do mundo10. Estes centros urbanos tinham o objetivo de tirar os membros dos bancos das igrejas imergindo-os em suas comunidades. Eles
deveriam ser plataformas de onde o método de ministério de Jesus fosse
colocado em prática.
De acordo com White, os Centros de Influência podem ser estabelecidos na forma de restaurantes vegetarianos, salas de tratamento, livrarias, salas de leitura, educação sobre estilo de vida, reuniões de pequenos grupos, literatura, instrução acerca de como preparar alimentos
saudáveis, reuniões públicas e ministérios de colheita; qualquer coisa
que fosse preciso para se conectar com a comunidade.
O Departamento de Missão Adventista está trabalhando para ressuscitar este conceito para o século XXI e estabelecer uma rede de Centros
de Influência autossustentáveis em áreas urbanas específicas ao redor do
mundo, chamada de Centro Esperança de Vida. Estes centros irão operar
sob os mesmos princípios teológicos e espirituais, mas irão variar em forma, tamanho e sofisticação, dependendo da cidade. Sua aparência, estilo e
características serão moldados às situações locais, no entanto, a filosofia e
os princípios de funcionamento serão constantes.
Estes centros têm o objetivo de tornarem-se financeiramente autossustentáveis, e, sempre que possível, serão vinculados a alguma
empresa privada, como uma clínica médica ou odontológica. Eles vão
utilizar trabalhadores adventistas locais e voluntários, e farão parcerias
com departamentos das igrejas, instituições e organizações leigas. Eles
também devem conectar-se a pequenos grupos e iniciativas de plantio
de igrejas urbanas. O objetivo é que sejam projetos bem embasados de
longo prazo.11
Na década de 1890, Ellen White elogiou o trabalho da jovem Igreja
Adventista de San Francisco, que ela chamou de “colmeia”. Membros da
Igreja visitavam “os doentes e necessitados”, estabeleciam orfanatos e
encontravam empregos para os desempregados. Eles faziam visitas de
casa em casa, dando aulas sobre vida saudável e distribuíam literatura.
Começaram uma escola para crianças no centro da cidade, em Laguna
Street, e mantiveram uma missão médica.
Junto à prefeitura, na Market Street, eles mantinham salas de tratamento como uma extensão do que hoje é o St. Helena Hospital. Eles
também mantinham uma loja de alimentos naturais no mesmo local.
Ainda mais perto do coração da cidade, um restaurante vegetariano servia comida saudável seis dias por semana. Na Baía de São Francisco, em
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frente ao mar, os adventistas ministravam aos marinheiros. E como
se eles já não tivessem o suficiente para fazer ali, também realizavam
reuniões públicas em prefeituras.12 Eles se misturaram, mostravam
simpatia, ministravam às necessidades, ganhavam confiança e convidavam as pessoas para seguir Jesus.
A missão urbana adventista não pode se concentrar exclusivamente na tentativa de atrair as pessoas, como um ímã espiritual, das
ruas para os prédios de igrejas. Claro que nossas igrejas devem ser
atraentes e amigáveis. É óbvio também que deveríamos ter pregações
cativantes e boa música. Devemos fazer programas e atividades interessantes. No entanto, o principal papel da igreja deve ser inspirar,
treinar e lançar os membros dos seus bancos para a comunidade.
Muitas vezes o nosso foco como cristãos é para dentro, ao invés
de para fora. E, mais frequentemente do que gostaríamos, outros têm
estado à nossa frente. Michael Baer escreveu:
Certa vez perguntei a uma cristã da Indonésia por que o país tornou-se tão predominantemente muçulmano. Ela disse que quando os
cristãos ocidentais vieram, [...] eles construíram bases missionárias e
igrejas missionárias e esperaram o povo indonésio chegar até eles. Os
muçulmanos, por outro lado, vieram como comerciantes, agricultores
e empresários, e simplesmente viveram entre os nativos [...]. Hoje,
a Indonésia é a nação mulçumana mais populosa do mundo. Eu me
pergunto quão diferente isto poderia ter sido?13
Nossa missão urbana deve ser encarnacional (como Jesus que se
tornou carne e habitou entre nós). Devemos tomar cuidado para que
ministremos com as pessoas não para ou nas pessoas. Sempre que
possível, devemos participar de organizações comunitárias já existentes, programas e atividades. Devemos recrutar crentes e descrentes
para trabalhar conosco em boas causas. Devemos buscar cada oportunidade para capacitar as pessoas a lidarem de forma cada vez mais
eficaz com seus próprios problemas, desafios e necessidades.
A Igreja Adventista do Sétimo Dia não é chamada para tornar-se
apenas mais uma agência de bem-estar social, mesmo que essas
agências sejam muito importantes. A moldura espiritual e a motivação
do nosso ministério devem basear e direcionar tudo o que fazemos cada prato de sopa que servimos, cada seminário que apresentamos
sobre como lidar com o estresse e cada restaurante vegetariano que
estabelecemos. Com certeza é errado até sugerir que alguém deve
aceitar a nossa mensagem antes de satisfazermos suas necessidades físicas. Nosso trabalho comunitário deve mostrar compaixão sem
esperar retorno. Mas isso não significa que devemos separar o atendimento humanitário do testemunho cristão.14
Não podemos nos contentar em apenas nos misturar, mostrar
simpatia, ministrar às necessidades e ganhar confiança. Devemos
orar pela orientação do Espírito Santo para que possamos dar o passo
final e vital: levar pessoas a Cristo. Isso não é um tipo de ideia artificial
que colocamos em cima todo o resto. Ela flui naturalmente das outras
dimensões do método de Cristo.
Para muitos pós-modernos e crentes de outras religiões mundiais,
a ideia de entrar pelas portas de uma igreja cristã é um obstáculo
gigantesco. Muitos simplesmente não podem fazê-lo, não tem problema. Nós vamos para onde deveríamos ir - encontrá-los em seu
contexto. Pequenos grupos para
estudar assuntos espirituais
surgirão naturalmente dos Centros de Influência e eles poderão
se reunir em casas, locais públicos e nos próprios centros.
Mas e se alguém não aceitar Jesus? Será que o deixamos
para lá e passamos mais tempo em “campos mais férteis”?
Claro que não. Nós apenas seguimos o “método de Cristo”
porque é o método de Cristo.
Misturamo-nos com as pessoas, porque Ele se misturava.
Mostramos simpatia porque Ele
também o fez. Ministramos às
necessidades, porque Ele ministrava. Esse ministério não
pode ser condicionado às pessoas aceitarem a Cristo. Quando
as pessoas ignoravam o convite
de Jesus, Ele não as descartava.
Ele continuava as amando.
O Dr. David Paulson, que juntamente ao Dr. John Harvey Kellogg foi pioneiro Adventista na
missão urbana integral no final
de 1800, escreveu:
O homem que está interessado apenas naqueles que ele acha
que podem tornar-se membros
da Igreja, como resultado de seu
ministério, vai encontrar cada vez
menos abertura para o trabalho
missionário; pois ele desenvolve
gradualmente nos outros um espírito de desconfiança e suspeita,
que fecha cada vez mais portas
para ele; enquanto que, por outro
lado, o obreiro que tem permitido
que as necessidades da humanidade toquem o seu coração, vai
tentar beneficiar os “nove leprosos”, mesmo sabendo perfeitamente bem que eles nunca irão
se juntar à sua igreja.15
Estamos satisfeitos quando
as pessoas não respondem ao
chamado de Jesus? Não. Nós
paramos de amar e cuidar deles
quando eles não respondem?
Claro que não.
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Quem irá?
Já se passou mais de um século desde que os Haskells se mudaram
para 400 West 57th Street a fim de “arregaçar as mangas” na cidade de
Nova York. Durante esse tempo, o desafio da missão urbana não desapareceu, e certamente não diminuiu. Hoje podem existir muitos métodos novos
e criativos para a missão urbana. Mas, se esses métodos têm algum sucesso é porque devem estar firmemente baseados no método de Cristo, e
no método de Cristo apenas.
1 THOMPSON, Cole, Tornado on the Hudson. Disponível em: http://myinwood.net/tornado-on-the-hudson, acessado em
20/10/2012.
2 Ibid.
3 WHITE, Ellen G. Letter 132. 1901. Citado em Ella M. Robinson, S. N. Haskell Man of Action. Washington, D.C: Review and
Herald Publishing Association, 1967, p. 194.
4 Stephen Haskell, Adventist Review and Sabbath Herald, July 9, 1901, 448
5 HASKELL, Stephen. “The Bible Training School”, Adventist Review and Sabbath Herald, 12/11/1901, p. 739.
6 WHITE, Ellen G. Gospel Workers. Hagerstown, MD: Review and Herald Publishing, 2005, p. 480.
7 Idem, Testimonies for the Church, vol. 8. Mountain View, Califórnia: Pacific Press Publishing Association, p. 76.
8 HASKELL, Stephen. 12/11/1901, op.cit.
9 WHITE, Ellen G. Ministry of Healing. Mountain View, Califórnia: Pacific Press Publishing Association, 1942, p. 143.
10 WHITE, Ellen G. Testimonies for the Church, vol. 7, Mountain View, Califórnia: Pacific Press.
11 For more information about Life Hope Centers visit www.lifehopecenters.org, www.missiontothecities.org and www.AdventistMission.org.
12 Ellen G. White, “Notes of Travel—No. 3: The Judgments of God on Our Cities,” Advent Review and Sabbath Herald, July 5, 1906, 8
13 BAER, Michael R. Business as Mission. YWAM Publishing. 01/09/2006, p. 81.
14 Idem.
15 PAULSON, David. The True Motive of Christian Service, Advent Review and Sabbath Herald, 5/11/1901, p. 5.
Nota: Para mais informações sobre como estabelecer centros de influência em sua cidade, acesse agora www.
lifehopecenters.org, www.missiontothecities.org, www.adventistmission.org. A Associação Geral da IASD está disponibilizando recursos para os projetos que forem aprovados.
GARY KRAUSE
Gary Krause é o diretor do Departamento de Missão Adventista da Associação Geral
dos Adventistas do Sétimo dia. Ele é australiano, filho de pais missionários em Fiji.
É casado com sua melhor amiga, Bettina, com quem tem uma bela filha de sete
anos, Bethany.
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