açúcar - JM Madeira
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açúcar - JM Madeira
talvez a revista mais doce da madeira O VIAJANTE Amsterdão NA MODA De regresso ao trabalho BOCA DOCE açucar 25 | este suplemento não pode ser vendido separadamente do JM | foto capa - Albino Encarnação 16 perguntas a Edgar Costa Franco em entrevista Nem só de mar se faz um homem 2 | açúcar | SÁB 17 SET 2016 a [short stories] António Dacosta Modus Operandi Lentamente os detritos apoderam-se da pólis. Súbita derrocada ou iniciação plena do caos. Palavras em forma de lixo e um deus que se aproxima na sua transparência ou sinónimo de uma voz sem rosto. Eduardo Quina Professor/escritor [email protected] 2. Abres a porta para que os animais se apoderem da casa. Multiplicam-se nos seus corpos e constroem insuspeitadamen- te todas as confidências. Nas suas patas sombrias todos os gestos são meticulosos. Na ardósia, de forma vagarosa, é tecido o destino da hibernação. Os animais antropomórficos enraízam os tecidos corpóreos na água gelada. Depois, atravessando o inverno a transformação dolorosa do finamento. Estação de destinos sim- ples e a incerteza do processo. Transformação para a deformação. Depois a manhã de dias felizes e tu no incerto percurso da infância. Respiras dentro da humidade. Os dedos entreabertos tacteiam a sombra. Os animais furtivos ramificam-se pela cidade. Catástrofe de ruídos luminosos. Alguém controla o abate. Aprendizagem de um homem só. Lentamente os detritos apoderam-se da pólis. Súbita derrocada ou iniciação plena do caos. Palavras em forma de lixo e um deus que se aproxima na sua transparência ou sinónimo de uma voz sem rosto. Aqui os mortos não têm nome, apenas um número. a SÁB 17 SET 2016 | açúcar | 3 a 0 viajante Amesterdão Diogo C. Pinto [email protected] c heguei a Schiphol com um amigo meu, vínhamos de Londres impregnados daquele frenesim típico. Estávamos quase nos trinta anos. Saímos do avião em busca de um transporte que nos levasse ao centro de Amesterdão. No percurso, ao percorrer os diversos corredores do aeroporto, uma sensação de estranheza crescia. Ao contrário de onde vinha, não se ouvia grande barulho, além de tudo estar impecavelmente limpo. Embora a Holanda seja um país relativamente pequeno dentro da Europa, aterrei numa grande capital em pleno agosto, seria expectável o alvoroço normal destes locais nesta altura do ano. As escolhas de transporte para chegar a Amesterdão são múltiplas e em diversos horários: comboio, autocarro ou táxi. Escolhemos o primeiro, Viajar também é viver um pouco a idealização que tínhamos construído do nosso destino antes de o conhecermos pela primeira vez. Amesterdão, cidade cenário, presta-se a isso, à criação de um devaneio sobre ela. que nos foi deixar no centro da cidade, na Amsterdam Centraal, uma das principais estações ferroviárias dos Países Baixos. O comboio é a melhor maneira de chegarmos a uma cidade pela primeira vez. A velocidade lenta das carruagens a deslizar pelas avenidas, vai desembrulhando vagarosamente a cidade enamorando o olhar. O céu lim- po com um sol resplandecente iluminava as centenas de canais do rio Amstel (que deu o nome à cidade) que bordavam toda a urbe numa teia geométrica. Nas margens, erguia-se a sua peculiar arquitetura, casas estreitas e altas, coladas umas às outras, inclinadas para a frente. Estas construções particulares e engenhosas têm a ver com a conhecida luta holandesa com as águas e a sua demanda de criar território em zonas pantanosas, facilmente assoladas por inundações. Houve a necessidade de construir prédios que fizessem frente a essas calamidades, o facto de estarem juntos deve-se ao tipo de solo instável em que foram edificados. Deste modo, protegem-se para não cair. Outra das suas singularidades, é que são ligeiramente inclinados para a frente. Como as escadarias são demasiado estreitas, o mobiliário 4 | açúcar | SÁB 17 SET 2016 tem de entrar pelas janelas dos andares de cima e a inclinação previne que não batam nas paredes. Alojamo-nos no “Flying Pig” perto da Praça Daam, a tradução literal de Porco Voador é bastante sugestiva, um hostel permanentemente em festa para jovens travellers que se sujeitavam a partilhar um quarto a baixo custo com dezenas de pessoas. Na época, uma boa opção para quem queria conhecer a Europa e gastar pouco dinheiro. abrir a porta. O ciclista fez-lhe um gesto que não havia nenhuma amolgadela e o outro confiou. Logo que saímos do hostel, fomos em direção a um coffeeshop, espaços de convívio onde os holandeses com o seu ar descontraído e super cool, passam o seu tempo a conviver sem precisarem de se esconder. Saímos com uma fome gigante e procuramos um sítio para comer, comprámos qualquer coisa num a belo alourado e um ar displicente, praticamente sem maquilhagem, e grandes artifícios flutuavam de bicicleta pelas ruas. No resto dos dias, fomos calmamente conhecendo alguns museus e monumentos: Museu Van Gogh, Museu Nacional, Casa Anne Frank e a Casa de Rembrandt. Numa das noites deambulamos pelo Red Light District, o bairro boémio, dos mais antigos da cidade, com as prostitutas nas montras, sex shops e casas No Porto de Amesterdão há marinheiros que cantam os sonhos que os atormentam ao largo de Amesterdão, há marinheiros que dormem como estandartes ao longo de muralhas sombrias. No Porto de Amesterdão há marinheiros que morrem às primeiras luzes do dia, cheios de cerveja e de dramas, e há marinheiros que nascem no calor espesso dos langores do oceano. No Porto de Amesterdão há marinheiros que comem caldeiradas de peixe, sobre toalhas muito brancas. Exibem dentes prontos a despedaçar fortunas, capazes de abocanhar a lua e estraçalhar enxárcias. E sente-se o cheiro a bacalhau até dentro das batatas fritas que as suas mãos grandes não se cansam de pedir. Depois levantam-se, rindo numa grande algazarra, apertam as braguilhas e saem arrotando... Alugámos duas bicicletas. Em Amesterdão é obrigatório fazê-lo para entrarmos no espírito da cidade. Existem leis do código da estrada que protegem os ciclistas, havendo um grande respeito por parte dos condutores de outros veículos por eles. Lembro-me de ir a caminho do porto e um ciclista deu um toque na traseira de um carro. O condutor do automóvel nem sequer esboçou um movimento para supermercado, e instalámo-nos nas escadas de um canal qualquer perto do imperdível Mercado das Flores. Em Amesterdão, são um espaço privilegiado, pelo menos no Verão, para desfrutar da cidade e conhecer pessoas. Ficámos horas a fruir do movimento. Nunca vi tanta concentração de mulheres bonitas como aqui, anjos bronzeados com o seu ca- de live sex. Viajar também é viver um pouco a idealização que tínhamos construído do nosso destino antes de o conhecermos pela primeira vez. Amesterdão, cidade cenário, presta-se a isso, à criação de um devaneio sobre ela. Lembrei-me de Jacques Brel e de "Amsterdam" com os seus marinheiros lascivos, empanturrando-se de cerveja e mulheres da vida junto ao porto. a No Porto de Amesterdão há marinheiros que dançam esfregando a pança na pança das mulheres. E giram, e dançam, como sóis escarrados ao som dilacerado de um acordeão rançoso, e torcem o pescoço para melhor se ouvirem rir, até que de repente o acordeão se cala, e então, com um gesto grave e com um olhar altivo, eles invocam os seus antepassados, já em plena luz do dia... No Porto de Amesterdão há marinheiros que bebem, e que bebem, e tornam a beber, e que bebem mais uma vez. Bebem à saúde das putas de Amesterdão, de Hamburgo, e doutros portos, por esse mundo... Enfim, bebem à saúde das mulheres que lhes oferecem os seus corpos lindos, que lhes oferecem a sua virtude por uma moeda de ouro. E quando estão bem bebidos, empinam o nariz, assoam-se nas estrelas, e mijam, como eu choro, sobre as mulheres infiéis. No Porto de Amesterdão... “ Tradução do texto ”Amsterdam” em http://cantodobrel.blogspot.pt/2010/02/amsterdam.html a SÁB 17 SET 2016 | açúcar | 5 ©Albino Encarnação «Fui gozado durante anos por sair de casa vestido de fato» Francisco Freitas é Franco «para o mundo», professor Francisco para os seus alunos e Chico para os amigos. Nesta entrevista à Açúcar, tratamo-lo por Franco, nome que designa o seu ambicioso projeto a solo e o transformou numa marca do pop/rock. Natural de Câmara de Lobos, e descendente de uma família de pescadores, o cantor e compositor deu os primeiros passos na música como trompetista, na Banda Instrumental “Os Infantes”, e rumou mais tarde ao Conservatório da Madeira, de onde saiu com uma média de 19,45 valores. Sem estômago para acompanhar o pai na faina – vomitava ao balanço do barco e ao cheiro do isco – entregou-se à música. New Dawn, gravado no Reino Unido, é o seu álbum de estreia. 6 | açúcar | SÁB 17 SET 2016 ENTREVISTA Susana de Figueiredo [email protected] É fácil reconhecer os homens que se orgulham das suas raízes, e Franco é, decididamente, um deles. Não são só as palavras que o denunciam, basta um olhar mais atento para percebê-lo, até mesmo na luz que lhe atravessa o rosto bronzeado pela beira-mar, no exato momento em que nos sentamos à conversa numa das esplanadas junto à baía de Câmara de Lobos. Os outros ilhos da terra passam por nós e reparam-no de soslaio. Franco ergue várias vezes a mão para cumprimentar os amigos dali - talvez os de sempre -, mas nunca se desprende da entrevista. q uando o desafiei para esta entrevista, disse-me logo que fazia questão de ser entrevistado aqui, em Câmara de Lobos. Isto tem a ver com o orgulho que tem nas suas raízes? Sim, adoro a minha terra, mesmo com todos os seus defeitos… Vivo aqui e é aqui que eu quero estar, embora, de vez em quando, precise de sair, de viajar. E ser músico – ser o Franco – deu-lhe essa oportunidade... Até que ponto o sucesso que alcançou redimensionou o seu mundo? É verdade, e, de facto, mudou muita coisa na minha vida. Lembro-me que, quando entrei no Conservatório e comecei a andar mais pelo Funchal, era visto como um “tristezinho”, um “xavelha” de Câmara de Lobos. Hoje, orgulho-me do caminho que já fiz, e sinto que as pessoas me respeitam, ainda que muitas tenham dificuldade em admitir o meu sucesso. A inveja é um sentimento muito feio. Refere-se a algumas das pessoas de Câmara de Lobos, que o conhecem desde criança? Infelizmente, sim. Achei que, com o tempo, isso iria esbater-se, ou até desaparecer, mas afinal, acho que nada mudou… Alguns dos miúdos daqui continuam a ter a mesma mentalidade de há anos atrás. E isso custa-lhe? Custa muito. Tenho essa mágoa. Quando começou a des- a tacar-se na música, sentiu de forma particular essa “retaliação”? Senti. Recordo-me que, quando tocava na banda filarmónica e saía de casa vestido de fato, era gozado, fui gozado durante anos. Quem se destacasse, não prestava, e eu sofri bastante com essa “retaliação”, como diz. Creio que este tipo de sentimento, este mal-estar com o sucesso alheio, é, lamentavelmente, muito característico da ilha. nunca se opôs à minha escolha, e embora tenha sido sempre muito contido nas suas manifestações, percebi que me apoiava, tal como a minha mãe. De qualquer modo, eu nunca poderia ser pescador, sempre que o meu pai me levava com ele para o mar, enjoava imenso, quer com o balanço do barco, quer com o cheiro intenso do isco salgado, era um horror. Vomitava uma e outra vez, odiava aquilo. A música sempre foi um sonho? Bem, o meu sonho era ser futebolista, como todos os miúdos, sobretudo os de Câmara de Lobos. Por aqui era assim, os miúdos queriam todos ser futebolistas e as miúdas cantoras [risos]. Por altura das festas de São Pedro, esta zona [baía de Câmara de Lobos] transformava-se num campo de futebol, os barcos eram recuados e, para nós, era quase como se participássemos nos Jogos Olímpicos [risos]. Então, fugiu da faina para o Conservatório? De certa forma, sim. Julgo que a minha mãe pensou que a ideia da professora Zélia Gomes era uma boa maneira de o filho escapar à faina [risos]. Sei que chegou a jogar no Marítimo. Cheguei, mas tornou-se uma despesa incomportável para os meus pais, e foi precisamente nesse momento que a minha mãe me pôs entre a espada e a parede… “Tens de escolher, o futebol ou a música?” Foi difícil, chorei muito, mas optei pela música. Tinha 9 anos. E o seu pai, como reagiu? O meu pai, que era pescador e levava os quatro filhos para a pesca, estava convencido de que eu lhe seguiria as pisadas, como fez um dos meus irmãos [somos quatro rapazes e uma rapariga], chateava-me para ser pescador [risos], mas Quando entrou no Conservatório, sentiu que começava a traçar um novo rumo para a sua vida? Na verdade, tenho de dizer-lhe que, nos primeiros dois anos, limitei-me a jogar futebol no relvado à frente do Conservatório. Levei uns bons “cascudos” da minha mãe por ter perdido esses dois anos [risos], e não me fizeram mal nenhum. Depois, no terceiro ano, fez-se um “clique”, que devo ao professor José Luís, de quem gostei muito. Ele abriu-me os olhos e, então, comecei a estudar a sério. E antes de chegar ao Conservatório, que relação tinha com a música? É preciso perceber que, naquela época, não havia a oferta musical e cultural que há hoje. Lembro-me de ser sedento de informação, ouvia falar nos Beatles, Supertramp, Eagles, Led Zeppelin, mas na rádio só se ouvia a Amália Rodrigues. Até tenho um trauma com aquele fado bem conhecido: “Foi por vontade de Deus, que eu vivo nesta ansiedade...” É que aquela “ansiedade” era a da minha mãe [risos]. Ela costumava cantar esse fado enquanto fazia a lida doméstica, e quando ela cantava... Era mau sinal, significava que estava de mau humor e que eu estava habilitado a levar umas palmadas, se não me comportasse como deve ser [risos]. SÁB 17 SET 2016 | açúcar | 7 «Nas “vendas”, comprávamos um quarto de pão com molho, era uma festa! Aquelas moedas [“mergulhança”] davam-nos uma possibilidade extra de comermos» Essa escassez de sonoridades diversificadas aguçou ainda mais a sua curiosidade e a sua expetativa relativamente à música? Sem dúvida. E, nesse aspeto, o Conservatório abriu-me um novo mundo. Ali, encontrei outras pessoas, outros instrumentos e, sobretudo, pude confrontar-me com mentalidades diferentes. fascinado com um álbum de Supertramp que um amigo me deu a conhecer. Foram eles a minha primeira grande influência exterior, mas a nível regional foram as bandas filarmónicas, onde comecei a formarme como músico. As bandas filarmónicas eram, e continuam a ser, as maiores escolas de música da Madeira. Recorda-se do primeiro artista ou banda que admirou? Fiquei absolutamente E onde ouvia música? Quais eram os seus rituais? Havia uma loja no Fun- chal, a Valentim de Carvalho, que ficava na Avenida Arriaga, onde eu comecei a ir quando entrei para o Conservatório. Passava lá horas a ouvir CDs, e também em casa de alguns amigos que tinham capacidade financeira para comprar música. O Conservatório representou para si muito mais do que uma experiência meramente académica. Se a sua mãe não tivesse seguido o conselho da professora ©Albino Encarnação a Zélia Gomes, hoje o “Franco” existiria? Provavelmente não, até porque foi lá que me cruzei com pessoas que foram cruciais na minha construção enquanto músico e que fazem parte daquilo que sou hoje. Uma dessas pessoas foi o Duarte Andrade, pianista, compositor e orquestrador de formação, que me orientou no improviso e na música ligeira. E quando concluiu o curso de música, sentiu que estava, finalmente, pronto para se fazer ao mundo? Foi, sem dúvida, uma etapa importantíssima do meu percurso, e orgulho-me muito de ter terminado o curso com média de 19,45 valores. Nada mal para quem perdeu os dois primeiros anos a jogar à bola… [Risos] Pois é, quando meto uma coisa na cabeça, nada me demove do meu objetivo. É obstinado. Muito! Sou uma pessoa de objetivos, é isso que me obriga a estar focado. Se não tenho um objetivo, fico perdido, e não gosto nada dessa sensação. Um momento marcante do seu início de carreira? Ter atuado na Expo 98, em Lisboa, com o projeto “Max”[tributo ao popular cantor madeirense], cujo diretor artístico era o Duarte Andrade. Subi ao palco com promissores artistas madeirenses daquela altura, como o Bruno Aguilar, com quem mais tarde viria a tocar nos hotéis da Madeira. Nessa época ainda não era vocalista. Não. Tocava trompete e fazia “backing vocals”. 8 | açúcar | SÁB 17 SET 2016 Só uns anos mais tarde, já nos Kontraband, se assume como líder. Sim, porque fui obrigado a fazê-lo, tive de preencher a vaga deixada pelo vocalista, o Eduardo Abreu, que, sem avisar, partiu para a África do Sul, creio que por amor [risos]. Então, o Juan Freitas, outro elemento da banda, disse-me “vais ter de cantar”. Foi numa quinta-feira, no bar onde tocávamos, o O’Briens Irish Pub, eu tremi de nervos, mas cantei e, durante as duas semanas que se seguiram, ganhei um traquejo enorme. Saí da zona de conforto e as pessoas gostaram. É assim que nasce a semente do Chico Freitas. Mantém-se há 14 anos como líder dos Kontraband, mas parece-me que é no projeto Franco que encontra a sua verdadeira identidade artística. Terei razão? Tem. Chegou um momento em que comecei a sonhar com um projeto de originais, algo mais autêntico, e sim, acabei por me encontrar a solo, no Franco. Mas, até poder, vou manter-me nos Kontraband. Franco significa, precisamente, verdadeiro, autêntico. Não é só um nome que fica no ouvido… Escolhi o nome pelo seu significado, porque me define como pessoa, mas também porque tem uma sonoridade interessante e universal. Cheguei a pensar que as pessoas podiam associá-lo ao ditador espanhol [risos]… O vocalista de uma banda de música latina começa, então, a compor música pop. É um salto arrojado… Confesso que pensei não ser capaz de compor música pop, apesar de, na altura, já ter experimentado outros registos e de, inclusive, ter criado várias músicas infantis e ganho três festivais da Canção Infantil da Madeira. Ter conseguido surpreendeu-o? De certa forma, sim. O Franco surge quase aos 40 anos. Em algum momento sentiu que o sonho foi concretizado tardiamente? Acho que se concretizou no momento certo. Se tivesse acontecido aos 30 teria sido um projeto completamente diferente deste. Menos franco? Menos maduro? Exato. Só recentemente é que pude entregar-me a sério, antes estava focado na minha família, em organizar a minha vida. É um homem de família? Sou. A família foi sempre a minha prioridade. Ter um filho mudou-o muito? Mudou, fui pai aos 30 anos. Quando ouvi o coração dele pela primeira vez, na ecografia, chorei que nem um tonto, acho que foi só naquele momento que acreditei que ia ser pai [risos]. A paternidade tornou-me mais calmo. Como é que ele vê o pai Franco? Ele acha que eu mereço o sucesso que tenho, porque vê como trabalho e me dedico. E o melhor ensinamento é precisamente aquilo que ele observa em mim. … Espere, já que falamos «Sou uma pessoa de objetivos, é isso que me obriga a estar focado. Se não tenho um objetivo, ico perdido, e não gosto nada dessa sensação» em família, estava aqui a pensar que uma pergunta engraçada que me podia fazer era “Quem foi o grande impulsionador do projeto Franco?” Eu ia lá chegar [risos], mas não há problema, podemos atalhar caminho. Quem foi? A minha mulher. Se não fosse o incentivo dela, provavelmente não estaríamos a ter esta conversa. Eu dei sempre prioridade às minhas responsabilidades familiares, estive durante muito tempo focado nisso, depois nasceu o meu filho, e eu quis primeiro organizar a vida, ter estabilidade. O Franco surge quando o meu filho já tinha 9 anos, foi aí que a Patrícia me disse: “Já pensaste em nós, agora vai lutar pelo teu sonho”. É por isso que, além de minha mulher, ela é a minha ©Albino Encarnação E não desejava “ir para a frente”? Admito que tinha esse sonho desde cedo, mas enquanto estava na “penumbra”, não pensava muito nisso. Digamos que estava na minha zona de conforto [risos]. a SÁB 17 SET 2016 | açúcar | 9 a melhor amiga. Às vezes, há críticas que me deitam abaixo, mas a Patrícia dá-me sempre força para me reerguer. Estão juntos há quanto tempo? Conhecemo-nos tinha eu 19 anos e ela 15. Ela tinha namorado, não me ligava nenhuma, mas um dia, quando a convidei para uma festa em minha casa, apresentei-a à minha mãe da seguinte forma: «É a Patrícia, a sua futura nora». E assim a conquistou… Pois, entretanto ela terminou a relação com o namorado e começámos a namorar. Nessa altura já trabalhava? Sim, já tinha terminado o curso no Conservatório e era professor na Escola do Estreito de Câmara de Lobos. Digamos que já tinha um certo estatuto [risos]. «Sempre fui o menino da mamã [risos], como não gostava da pesca, o meu pai levava com ele os meus irmãos e eu icava com a minha mãe» Aos 41 anos, sente-se um homem realizado? Posso dizer que sim, a única coisa que me falta é alcançar sucesso lá fora, mas se não conseguir, também não é grave. Estou bem assim. É um lutador, conquistou tudo a pulso. De onde vem toda esta determinação para vencer? Da educação que os meus pais me deram, dos valores que me transmitiram desde muito cedo. Eles ensinaram-me a ter os pés assentes na terra, a não me deslumbrar e a não ser demasiado otimista, por isso, ainda hoje, quando vou para cima do palco, embora saiba do que sou capaz, não vou com excesso de confiança. E como reagiram eles à sua ascensão? Com grande orgulho, mas foram sempre muito discretos nas suas manifestações. Sei que a minha mãe guarda posters meus, entrevistas e reportagens onde apareço. O meu pai, que infelizmente já faleceu, no ano passado era mais contido, dava-me aquela “mãozada” e pouco mais, mas estava lá, na linha da frente. É notório o orgulho que tem nos seus pais. Sim, sou um filho orgulhoso, e procuro passar para o meu filho tudo aquilo que recebi deles. O importante é que ele seja educado e tenha caráter, independentemente do caminho que escolher. Um curso é apenas uma ferramenta para chegarmos mais além. É também esta a mensagem que tento transmitir aos meus alunos. Quais são as melhores recordações que guarda da infância? Eu sempre fui o menino da mamã [risos], como não gostava da pesca, o meu pai levava com ele os meus irmãos e eu ficava com a minha mãe. Passava imenso tempo com ela, é uma boa recordação…Outra, é o tempo que eu passava no calhau, o calhau era um mundo para mim, e mergulhar para ir buscar as moedas que os estrangeiros atiravam ao mar… «A minha mulher foi a grande impulsionadora do projeto Franco» A sério? Tenho uma visão bastante negativa desse gesto dos estrangeiros… Muita gente tem essa visão, mas para os miúdos aquilo era brutal, adorávamos! Criava-se um espírito de competição entre nós, era ver quem conseguia mergulhar mais fundo para apanhar a moeda. E a isso juntava-se a nossa vaidade na proeza, ganhava quem tinha mais fôlego. Graças ao mergulho ganhei pulmão, sou um peixe [risos]. As minhas primeiras palavras em inglês foram “money for water”. Entendo… Era como um jogo para vocês, mas continuo a achar triste a atitude de quem atirava a moeda… Acredite, não víamos isso como uma coisa má, não acho que os estrangeiros nos quisessem rebaixar. De algum modo, tranquiliza-me sabê-lo. Ah, e com eles vinham as bonitas filhas [risos]… Estou a ver… E as moedas, onde as gastavam? Nas “vendas”, comprávamos um quarto de pão com molho, era uma festa! Aquelas moedas davam-nos uma possibilidade extra de comermos. A infância era vivida de forma diferente. Não seria mais fácil, nessa altura, encontrar felicidade nas coisas simples? E dar mais valor a esses “extras”? Claro que era. Uma san- des de espada, por exemplo, era caviar para nós, o pão fresco era uma iguaria, então se fosse com manteiga… [risos]. Hoje, são coisas banais, que não se valorizam. Depois, naquela época, não era preciso mandar ninguém para a cama às nove da noite, porque chegávamos a casa estafados de andar no calhau. Eu até gosto de “gadgets”, mas reconheço que aquilo é que era viver a sério. Hoje, o que sente o Chico Freitas quando o chamam Franco? Fico com um bom sentimento, porque isso significa que o projeto está a resultar. Gosto de ver o meu trabalho reconhecido, porque tudo o que conquistei é fruto de muita entrega e sacrifício. Embora haja quem pense o contrário, ninguém me deu nada, para chegar até aqui tive de investir muito dinheiro que fui poupando. Os madeirenses já se renderam à tua música. O mercado internacional é o próximo passo? É, até porque considero que é esse o mercado do Franco. Foi por essa razão que fiz questão de gravar o álbum [New Dawn] lá fora, no Reino Unido. Tive oportunidade de gravá-lo no continente, mas queria ir ao centro do mundo da música pop. Resultou, o álbum está muito bom, é um trabalho sério e tem um cunho internacional muito forte, tal como eu pretendia. Como correram as gravações? Quando cheguei ao estúdio [em Londres], intimidei-me… Era um espaço enorme, mas depois fluiu tudo muito bem, escrevi a letra do “Won't let you go” em 20 minutos, e chorei muito, de emoção, quando terminei; nem sequer pensei que teria capacidade para tal, julguei que fosse apenas um momento de inspiração, no entanto, aconteceu o mesmo com os outros temas, com exceção do “New Dawn”… É uma música dedicada ao meu pai, que compus quando ele já estava bastante doente no hospital e, então, bloqueei. Quão importante foi ter gravado em Londres? A experiência num país tão grande, num estúdio tão grande marcou um ponto de viragem, fez-se um “clique”, foi ali que senti o sonho como possível, que tive perfeita noção daquilo que era capaz de fazer. Lembrome de ter pensado “isto vai resultar.” Ainda hoje, quando interpreto “Won't let you go”, é como se revivesse aquele momento. Sou muito de emoções. Foi bater ao sítio certo, na hora certa. Seguiu mais a sua intuição ou a ambição de abarcar o mundo? Creio que ambas. Acredito muito no poder da energia e que tudo acontece por uma razão, não há coincidências, o universo está muito bem construído. E, se tivermos esta perspetiva, a vida correrá melhor, com toda a certeza. Alguma vez lhe passou pela cabeça mudar-se para Londres? O ideal seria eu estar baseado lá, mas como tenho a vida organizada aqui na Madeira, uma família linda e os meus alunos – adoro dar aulas -, só daria essa passo se do outro lado encontrasse algo muito sólido, que valesse realmente a pena. E a verdade é que eu sou feliz aqui, na minha terra. a 10 | açúcar | SÁB 17 SET 2016 a feliz com menos A pirâmide da necessidade: tudo o que pode fazer antes de comprar Débora G. Pereira www.simplesmentenatural.com N a nossa sociedade, adquirir bens materiais é relativamente fácil, aliás, as estratégias de marketing estão tão sofisticadas que o difícil mesmo é não o fazer. Atualmente, com o desenvolvimento da indústria e o aparecimento das grandes superfícies, apareceram as promoções, os preços baixaram e a aquisição e acumulação de pequenos bens aumentou em larga medida. Comprar algo não é por si só uma coisa negativa, o problema surge quando adquirimos bens sem, de facto, necessitarmos deles. Pois é, caro leitor, a necessidade não é de todo o único motivo pelo qual gastamos dinheiro, sendo que, na maioria das vezes nem é a principal razão. Compramos, também, por conforto emocional, por prazer, por impulso, por hábito e pela oportunidade. Ainda por cima, por detrás do pano existe a propaganda, em que alguém é pago precisamente para nos fazer crer que algo que não necessitávamos há cinco minutos passou a ser absolutamente indispensável. Antes de ceder ao primeiro impulso, tire um tempo para refletir um pouco sobre vários aspetos da importância do objeto em si. Se tiver consistência no seguimento desta pirâmi- de que encontrei algures online, perde apenas alguns minutos e na volta ainda poupa uns trocos. Saliente-se, então, a reflexão como base deste processo, isto porque, comprar sem pensar é, de facto, o maior problema e, sabendo disso, há quem a use como estratégia de marketing fazendo grandes promoções de um ou dois dias. A pessoa tem de comprar naquele período de tempo ou perde a oportunidade. Obviamente que, neste âmbito, tende a querer aproveitar e não tem a janela de abertura temporal necessária para pensar sobre o assunto. Vamos à pirâmide! Em primeiro lugar, usar aquilo que já se tem. Muitas vezes, já temos algo em casa com a mesma função daquilo que vamos comprar, o facto de ser mais bonito ou moderno em nada acrescenta á utilidade do mesmo. “Pronto, não tenho, vou comprar!” Não, ainda não. Ainda pode recorrer ao empréstimo. Não raramente, aquilo de que necessitamos não é algo para utilizar com frequência. Recorrer ao empréstimo é inteligente, no entanto, tenha em atenção de também de ser solícito para com o outro na mesma proporção. Trocar também é válido, embora seja algo mais definitivo que o empréstimo. As crianças fazem-no naturalmente, mas é interessante como este comportamento incomoda os adultos. Uma interessante maneira Aedes aegypti Bruno Olim Farmacêutico [email protected] N estas últimas semanas, assistese paulatinamente a um aumento da incidência das picadas de mosquito, maioritariamente, pela característica da picada do nosso já bem conhecido Aedes aegypti. É importante conhecer bem este invasor, que encerra em si um potencial muito grande como vetor de uma panóplia de vírus, tais como, Dengue, West Nile Vírus, Chikungunya e Zika. Sabemos, no entanto, que para ocorrer um surto necessitamos, primeiro, da presença de alguém infetado com o vírus, e o vetor (mosquito) encarrega-se de propagar o mesmo, pelo que devemos estar vigilantes, mas não alarmados. O Aedes aegypti é um mosquito que mede menos de um centímetro, apresenta uma cor escura (café ou preto) e é listado a branco em toda a sua extensão. Ao contrário de outros mosquitos, pica de dia e de noite (preferencialmente nas alturas em que o sol não está tão forte), é a fêmea que pica (é hematófaga), tem como alvo preferencial o ser humano, não emite som audível, sendo o seu ataque mais eficaz, apresentando a capacidade de atravessar roupa mais espessa como a ganga. Tem um teto de voo baixo, daí se percebe a grande incidência de picadas a nível de tornozelos e mãos. No momento da picada, o individuo não se apercebe, pois é indolor e, no imediato, não provoca prurido. A diversidade de criadouros deste mosquito torna a sua erradicação muito difícil. Esta versatilidade, aliada ao facto de haver deposição dos seus ovos em águas turvas ou de poupar é não comprar logo que sente essa necessidade e deixar passar um ou dois meses. Se após esse período ainda se lembrar de tal aquisição, então é porque se calhar vale a pena considerá-la. Pode ainda considerar fazer. Por vezes, pensamos que não somos capazes ou não temos tempo, quando, na verdade, a conclusão de algo produzido por nós, traria imenso prazer ou momentos muito agradáveis em família. Em suma, se necessitar de algo que ainda não tem, que não dá para trocar ou emprestar e que não consegue fazer, vá em frente e compre-o sem culpa, mas não esqueça, já diziam os meus avós, no poupar é que está o ganho! a saúde insalubres, ou em locais à espera do contacto de água (onde resistem por vários meses), tornam hercúlea a tarefa da sua eliminação. Conhecendo quem estamos a enfrentar torna-se mais fácil a prevenção do confronto. Prevenção essa que passa pela utilização de redes mosquiteiras, uso de roupa clara de mangas compridas e utilização de repelentes, sendo de extrema relevância as medidas de prevenção ambiental, para o controlo da população do mosquito. Estas passam por eliminar as fontes de água parada/estagnada, começando nos pratos dos vasos, as plantas que armazenam água, passan- do pelas piscinas, caleiras, pneus, garrafas, todo o tipo de lixo suscetível à acumulação de água, bebedouros dos animais, etc. A utilização de peixes em lagos decorativos ou extensões de águas paradas, e mais recentemente a introdução de Aedes modificados geneticamente, levaram à redução da população dos mesmos. Quanto ao tratamento da picada, deverá ser analisada caso a caso pelo profissional de saúde, sendo, na maior parte das vezes, necessária a aplicação de uma pomada antipruriginosa, a toma de um antihistamínico oral e a aplicação de um anti-séptico no local da picada. a SÁB 17 SET 2016 | açúcar | 11 a feliz com mais Um café para a despedida SideDish Moustache [email protected] As variações da baga de Deus são mais que muitas. Englobam também as versões pecadoras, se destas abusar irá bater ao inferno... Não, ao inferno não, mas a uma manhã de ressaca é provável. O irish coffee, café misturado com whisky, é, provavelmente, a mescla mais famosa nesse departamento, mas também temos cafés misturados com brandy, gin, Tia Maria – não a minha tia, mas sim o licor, rum, vodka e por aí fora. T udo tem um princípio, um meio e um fim... Tudo começa e acaba, assim como uma refeição. A melhor maneira, pelo menos no meu entender, é com um café, bem tirado, de preferência, com a quantidade certa de espuma e com a intensidade certa do mesmo, não queremos o café demasiado aguado ou queimado. Depois, temos vários tipos ou um tipo de café com o vários nomes, por exemplo, o expresso ou o cimbalino, ou a bica ou o cortado, o típico café português, servido como um shot de cafeína que poderá ser degustado em todo o país, consoante a linguagem ou a expressão que usar. Caso tenha dúvidas, peça sempre um café que, assim, não corre o risco de passar pelo Nicola, em Lisboa, e pedir um cimbalino, ou chegar ao Majestic, no Porto, e solicitar uma bica. Siga este conselho e evite que olhem para si como se fosse de outro planeta. Mas nem só de bicas, cimbalinos e expressos vive o homem. O mundo do café é vasto, bem vasto. Desde o simples café preto, aquele que é feito de forma parecida à do chá, ou seja, água a ferver e as bagas do café lá para dentro, até aos mais complexos, cappuccinos, machiattos, afogatos, etc., existem mil e uma formar de servir as bagas de café em formato liquido. O tempo, quando ajuda, pede um desses mais elaborados em que o simples prazer de colocar os lábios numa chávena coberta de espuma do leite de um cappuccino atenção(!!!) espuma de leite, não chantilly - parece que, atualmente, nos esquecemos deste pequeno por maior; em que o que chega primeiro às papilas gustativas é essa espuma seguida do calor e do amargo do café, a fazer despertar sentimentos que ficam adormecidos durante os meses de mais calor. Não pense, caro leitor, que o café só deve de ser tomado em alturas do ano em que a temperatura é mais baixa, é uma bebida polivalente, devo acrescentar. A famosa bica/cimbalino/expresso, fruto do seu tamanho, sempre ouvi dizer que mais vale pequenina e trabalhadora do que grande e preguiçosa, é a multi-estação. Tomamola a qualquer altura do campeonato, e sabe sempre bem. Depois, temos as variações aptas para o enfrentar os meses mais quentes, podemos dizer que estas variações são os calções e os chinelos do café. Os frappés entram em campo com a vestimenta necessária para atacar o verão; frescos, saborosos e igualmente calóricos como os seus companheiros de inverno, fazem as delícias de quem quer arrefecer com um gostinho a café. As variações da baga de Deus são mais que muitas. Englobam também as versões pecadoras, se destas abusar irá bater ao inferno... Não, ao inferno não, mas a uma manhã de ressaca é provável. O irish coffee, café misturado com whisky, é, provavelmente, a mescla mais famosa nesse departamento, mas também temos cafés misturados com brandy, gin, Tia Maria – não a minha tia, mas sim o licor, rum, vodka e por aí fora. Agora, caro leitor, é tempo de me despedir e pedir o tal café que me aquece a alma e me faz ficar com a espuma no bigode. Até um dia destes... a 12 | açúcar | SÁB 17 SET 2016 horas vagas Sandra Sousa http://estrelasnocolo.wordpress.com D orothy Koomson é indiscutivelmente uma autora cheia de talento, e é sempre uma alegria saber que vai sair um livro novo. “Um novo amanhã” é uma novidade recente e traz ao leitor a história de duas meninas Virgílio Jesus [email protected] R ealizado pelo arrojado Robert Zemeckis (Regresso ao Futuro, Forrest Gump, Polar Express), The Walk é convictamente um desafio cinematográfico para todos. Com uma interpretação curiosa de Joseph Gordon-Levitt este é um filme que celebra as Torres Gémeas do World Trade Center, E m primeiro lugar, é incrivelmente relevante assinalar a estreia de um filme português nas salas de cinema madeirenses, sobretudo tratando-se de um projeto com densidade dramática, não fosse a sua história sobre a Guerra Colonial Portuguesa (1961-1974). Na verdade, não encontramos uma Por E.V. T música enho vários ídolos a nível musical, de facto são demasiados para serem enumerados, penso que a cada dia que passa acrescento um na lista. Um deles, um dos maiores, é o Nick, sim, só Nick, penso que posso ter conversas com ele sobre as suas músicas, sobre a reli- a [livro, filme, música] livro Um novo amanhã que partilham a mesma paixão, mas quando um homem destrói o sonho destas crianças parece que o mundo de ambas desaba e acaba por as afastar. Depois de muitos anos, ambas querem mudar de vida e o desejo é forte, tão Dorothy Koomson forte que faz com que consigam lutar por aquilo que não conseguiram quando eram ainda crianças. Como já vem sendo habitual este é novamente mais um livro intenso de Dorothy. Não é fácil para o leitor imaginar que su- cedem coisas destas no dia-a-dia de várias crianças, pelo mundo fora. Este é um livro comovente, com segredos e reviravoltas, e que certamente deixará o leitor com o coração apertado. Mas valerá a pena cada minuto da sua leitura! a televisão & cinema antes de terem sido destruídas no 11 de setembro de 2001, e fá-lo com romance, aventura e drama. A história já havia sido explorada no documentário Man on Wire, de James Marsh, vencedor do Óscar na categoria, porém Zemeckis ao romancear um pouco a narrativa, mantém o espetador preso às emoções de um cinema que é, ainda, referenciado como bigger-than-life (maior do que a vida). The Walk - O Desafio é um filme memorável que mostra como os efeitos especiais podem não ser o centro da narrativa, mas aquilo que a sustenta, confrontando, também, as dimensões do real com a construção de uma memória. a história genérica sobre o assunto, mas uma das estórias entre histórias. Baseado nas memórias do escritor António Lobo Antunes, Cartas da Guerra é um verdadeiro marco cinematográfico do ano de 2016, ao relembrar um acontecimento que moldou e alterou as vidas dos nossos cidadãos. Prima pela poesia conferida à narrativa, sem filmar imagens nauseantes e ensanguentadas dos homens que perderam as suas vidas, e ao apontar ao inesquecível realismo de Hiroshima, Meu Amor ou a êxitos de guerra como Apocalypse Now e A Barreira Invisível. Um filme, também, para os mais jovens compreenderem o nosso valioso passado. a The Walk - O Desafio TV Cine 1 Domingo 18 de setembro - 21h30 Realizado por: Robert Zemeckis Elenco: Joseph Gordon-Levitt, Charlotte Le Bon e Ben Kingsley Género: Drama, Aventura, Família Cartas da Guerra (já nos cinemas) Realizado por: Ivo M. Ferreira Elenco: Miguel Nunes, Margarida Vila-Nova e Ricardo Pereira Género: Drama, Guerra, Biografia Nick Cave & The Bad Seeds – Skeleton Tree gião, morte, amor, uma treta metafísica qualquer, e por aí fora. Há momentos em que a música e as letras fazem “click” e juntam-se para formar algo inédito, algo que só diz respeito ao ouvinte e ao intérprete, é isso que sinto quando oiço o Nick e é por aí que se desenvolve a conversa com um amigo, um companheiro de luta, se é que o podemos chamar. Neste último álbum cabeme o papel de ouvir, só ouvir, os lamentos dele, a angústia, o luto que se abateu sobre o Nick, a morte de um filho, imagino, deve ser das piores dores que alguém pode ter, e durante os 39 minu- tos e 42 segundos de duração do Skeleton Tree é isso que sentimos: dor, luto, e cabe a mim, a nós, ouvir esses magníficos lamentos. Em “I need you” o verso que acaba a música é de um suplício tremendo, Nick mostra-nos a aflição de um pai ao perder um filho, “just breath”/apenas respira, é a suplica final de alguém que está à beira do desespero. Skeleton Tree é o esqueleto de uma derivação para um Nick mais negro, mais poético e menos romancista, e mais grandioso que a própria vida. É a dor inserida num álbum que só ele podia fazer e só eu poderia ouvir. a SÁB 17 SET 2016 | açúcar | 13 a na moda De regresso ao trabalho la: Mango; Top, calções e ma sapatos: Zara Saia e mala: Zara; ngo top e sapatos: Ma e mala: Zara; Calças: Mango; top M sandálias: H& a.com; s: mytheres Calções e sapatilha la: Zara ma top: BCBG.com; t.com; Saia e top: theoutne om; a.c res the my sapatos: mala: Zara ra; Vestido e mala: Za rter.com sandálias: net-a-po Laura Capontes lauracapontes@[email protected] foto © Laura Capontes a s férias terminaram, dias de praia e descanso dão lugar ao regresso ao trabalho e às rotinas. Para voltar ao trabalho em grande estilo, torna-se imprescindível deixar de lado as roupas de praia e demasiado informais. E isso implica abdicar do conforto? Não, apenas ter uma imagem mais cuidada e sofisticada. As escolhas dos looks deverão ter em conta o ambiente em que trabalha, se é menos ou mais descontraído. Dos looks mais clássicos aos mais arrojados, o importante é que sejam sempre do seu gosto, fiéis ao seu estilo, que lhe transmitam confiança e, claro, que vão de encontro ao “dress code” do seu local de trabalho. Depois das férias ficamos Aproveite para conjugar peças “statement” da nova estação com outras peças que já tem. sempre mais confusas e sem criatividade na hora de voltar a escolher os outfits para o dia a dia, estamos a entrar numa nova temporada, mas o tempo ainda é de verão, por isso, trate de desfrutá-lo ao máximo e aproveite para conjugar peças “statement” da nova estação com outras peças que já tem. Aposte nas que são versáteis, que servem tanto para situações mais formais como para as informais. Os básicos facilitam sempre em caso de dúvidas e, bem conjugados, criam looks sofisticados e elegantes.Inspire-se nos looks! a 14 | açúcar | SÁB 17 SET 2016 a mais açúcar Alfajores ingredientes modo de preparação 150g de amido de milho 70g de farinha 70g de açúcar em pó 1cc de fermento em pó 120g de manteiga 2 gemas de ovo 1/2 cc de extracto de baunilha Doce de leite para rechear Bater a manteiga com o açúcar. Adicionar as gemas e o extrato de baunilha. Por fim, adicionar a farinha, o amido de milho e o fermento em pó. Formar uma bola com a massa, envolver em película e refrigerar por uma hora. Estender a massa sobre superfície enfarinhada com uma espessura de 3mm e cortar as bolachas com um cortador redondo. Colocar num tabuleiro forrado a papel vegetal e levar a forno pré-aquecido a 180º durante cerca de 10 minutos. Depois de completamente arrefecidas, rechear as bolachas com o doce de leite. a Joana Gonçalves Sachertorte Chef Pasteleira - Eleven, Lisboa [email protected] ingredientes modo de preparação Bolo de chocolate 200g de chocolate 8 gemas 10 claras 120g de manteiga 180g de açúcar 120g de farinha 1 colher de extrato de baunilha Derreter o chocolate com a manteiga em banho-maria. Bater as gemas e juntar o chocolate derretido. Adicionar o extracto de baunilha. Bater as claras em castelo com o açúcar Juntar a farinha e as claras em castelo ao creme de chocolate, alternadamente. Dividir a massa por duas formas forradas a papel vegetal e untadas com manteiga. Levar a forno pré-aquecido a 180º durante cerca de 30 minutos. Para o creme, levar o chocolate, açúcar natas e baunilha ao lume e deixar ferver por 5 minutos. Retirar do lume e adicionar a gema. Mexer bem. Colocar uma camada da compota de alperce, passada por um coador, sobre um bolo. Cobrir com o segundo bolo. Verter o creme de chocolate morno sobre o bolo. Refrigerar durante 3 horas. Retirar do frigorífico 30 minutos antes de servir. Servir com natas batidas. Cobertura de chocolate 150g de chocolate 150g de açúcar em pó 250g de natas 1 colher de café de baunilha 1 gema de ovo 200g de compota de alperce a LÁ AO FUNDO come-se e muito bem! O que acontece quando se mistura Goa, Moçambique e Madeira é facilmente explicável no “Restaurante Lá ao Fundo”, na zona velha da cidade, à Rua Portão de São Tiago, ou para ser mais fácil, na rua que vai para o forte de São Tiago, lá ao fundo, à esquerda. Um restaurante cujo proprietário e chefe de cozinha e escanção e relações públicas, sim, caro leitor, o Jaime Cruz faz isto tudo como ninguém e, para além disso, recebe a todos de braços abertos e um sorriso contagiante, é meio caminho andado para nos sentirmos em casa. Se juntarmos ao que atrás foi escrito uma cozinha genuinamente influenciada pelas raízes do Jaime, “goesomoçambicananoportuguesa”, temos aquilo a que se chama um restaurante com ALMA, coisa rara nesta terra. Em relação à cozinha, e devido ao caldo cultural que está na base deste restaurante, muito bem interpretado nos pratos, poderá encontrar chamuças de carne com tika massala, caril de gambas (senhoras gambas, a pro- por António Janela pósito) à moçambicana, deixem-me dizer que não resisto a este prato, simplesmente maravilhoso, polvo com puré de grão de bico e bobó de camarão. Mas há mais sugestões, todas criativas, e onde se misturam com mestria os diferentes ingredientes do triângulo dourado (Goa, Moçambique e Portugal) que é, no fundo, aquilo que o Jaime constitui. Não quero ser panegírico, por respeito aos leitores e por dever de consciência, mas este restaurante e, sobretudo, esta cozinha com alma, enche-me as medidas, e confesso-vos que o Lá ao Fundo está no top 5 dos meus restaurantes preferidos no Funchal. Para terminar em grande, aqui poderá, também, encontrar uma garrafeira muitíssimo interessante a preços razoáveis e com aconselhamento profissional, já que o Jaime também é um autêntico “cromo” dos vinhos. Vale a pena a visita porque este é um restaurante com muita Alma. a SÁB 17 SET 2016 | açúcar | 15 a boca doce Edgar Costa Jogador de futebol do Marítimo 1 12 O que distingue um madeirense de um continental? Regra geral, acho que somos mais simpáticos e acessíveis. Três características da sua personalidade que melhor a definem? Sou sincero, honesto e amigo. 2 13 A crítica mais construtiva que já lhe fizeram? E a mais injusta ou absurda? Que tinha de aprender com os erros. Quanto às injustas, simplesmente não ligo. Que opinião tem dos madeirenses que escondem o sotaque? Não comento… [risos] 14 3 Que expressões madeirenses usa com maior frequência? “À ‘paz”, “estás tonto”. A decisão mais importante que teve de tomar? Tornar o futebol como prioridade na minha vida. Chegar a um altura e decidir que isto era para mim, pois antes era mais malandro. A quem gostaria de pagar uma poncha? A quem ainda não provou, pois não sabem o que perdem. 4 A sua dúvida mais persistente? O meu rendimento em campo. Nunca sei se vou jogar bem e se estou a dar uma boa educação ao meu filho. 5 Um arrependimento? Ter deixar a escola cedo. 15 6 10 Um ato de coragem? Talvez no último jogo com o Benfica, em que meti os dedos na boca do meu colega, Maurício, para ele não se afogar. Quem são os seus heróis na vida real? Os meus pais e o meu filho. 7 Uma atitude imperdoável? Que me tentem enganar. 8 A companhia ideal para uma conversa metafísica? A minha mulher, converso com ela sobre tudo. 9 Qual a sua maior extravagância? Já fiz muitas, mas quando era pequeno subia muros para ir buscar bolas e houve uma vez em que caí e parti o braço. 11 Uma doce memória da infância? Sair da escola, não jantar e ir para a rua jogar futebol, num campo a descer e com uma rotunda a meio. 16 Segredos da Ilha… Local: Câmara de Lobos Hotel: Pestana Promenade Restaurante: Santo António, no Estreito de Câmara de Lobos Atividade ao ar livre: Jogar futebol e brincar com o meu filho Loja: Beauty 4 U
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