Revista Educação Agrícola Superior ABEAS
Transcrição
Revista Educação Agrícola Superior ABEAS
Revista Educação Agrícola Superior Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior - ABEAS V 25, N 02, 2010 Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011. ABEAS Presidente: Engenheiro Agrônomo: José Geraldo de Vasconcelos Baracuhy [email protected] / [email protected] 1º Vice-Presidente Ricardo Antônio de Arruda Veiga - [email protected] 2º Vice-Presidente Eugênio Nilmar dos Santos - [email protected] 1º Secretário Geraldo Antônio de Andrade Araújo - [email protected] 2° Secretário Moacir Cerqueira da Silva - [email protected] 1º Tesoureiro Pedro Roberto de Azambuja Madruga - [email protected] 2º Tesoureiro Raimundo Pinheiro Neto - [email protected] Secretário Executivo Engenheiro Agrônomo: Ronaldo Pereira de Sousa - [email protected] Coordenação Técnica deste Número Dermeval Araújo Furtado - [email protected] Editoração Eletrônica deste Número Elvis Andrade Soares - [email protected] Revista Educação Agrícola Superior Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior - ABEAS V 25, N 02, 2010 Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011. Sumário E IMPORTÂNCIA DA MONITORIA PARA O MELHORAMENTO DO APRENDIZADO MATEMÁTICO DOS ESTUDANTES DA ÁREA DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS 52 A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO INSTRUMENTO METODOLÓGICO DE POTENCIALIDADE DE POLITIZAÇÃO 57 INFLUÊNCIA DA PRÁTICA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA FORMAÇÃO DO SUJEITO ECOLÓGICO 62 EDUCAMPO – PROJETO PILOTO DE INSERÇÃO DE CONTEÚDOS AGRÍCOLAS E AMBIENTAIS NAS ESCOLAS DA ZONA RURAL DE BARREIRAS – BA 65 ANÁLISE EXPLORATÓRIA DA EVOLUÇÃO DO NÚMERO DE VAGAS OFERECIDAS EM VESTIBULAR PELA UFRPE NO PERÍODO DE 2004 A 2009 70 ASPECTOS LEGAIS DA COBRANÇA DE ÁGUA NO BRASIL 74 EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM CACHOEIRA DOS ÍNDIOS - PB 79 LICENCIATURA EM CIÊNCIAS AGRÍCOLAS: “MEIA IDADE” DE FORMAÇÃO SÓCIOPROFISSIONAL DE DOCENTES PARA O ENSINO AGRÍCOLA NA UFRRJ 84 PRODUÇÃO DE TELHAS COM RESÍDUOS INDUSTRIAIS E FIBRAS 87 O REUSO DE ÁGUA COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS: NECESSIDADE DE REGULAMENTAÇÃO DO REUSO PARA FINS AGRÍCOLAS 93 INSTALAÇÕES PARA CAPRINOS 99 CONDIÇÕES DE SAÚDE DA POPULAÇÃO RURAL EM UMA MICROBACIA HIDROGRÁFICA DO CARIRI PARAIBANO 104 CONDIÇÕES DE VIDA DA POPULAÇÃO IDOSA DA BACIA HIDROGRÁFICA DE RIBEIRA/PB: UMA AVALIAÇÃO DO PRESENTE E PASSADO 113 PAPEL DA ANÁLISE SENSORIAL COMO FERRAMENTA DE APOIO NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS ALIMENTÍCIOS 120 Revista Educação Agrícola Superior Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior - ABEAS - v.25, n.2,p.52-56, 2010. A IMPORTÂNCIA DA MONITORIA PARA O MELHORAMENTO DO APRENDIZADO MATEMÁTICO DOS ESTUDANTES DA ÁREA DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS Edmilson I. B. Almeida2; Péricles F. Borges1; Wellington S. Ribeiro2 1 Professor Associados do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba. 2 Aluno de Graduação em Agronomia CCA/UFPB e-mail:[email protected] INTRODUÇÃO Há muito tempo busca-se um consenso quanto à definição do que é a Matemática. No entanto, nas últimas décadas do século XX tomou forma uma definição que tem ampla aceitação entre os matemáticos: matemática é a ciência das regularidades (padrões). Segundo esta definição, o trabalho do matemático consiste em examinar padrões abstratos, tanto reais como imaginários visuais ou mentais. Ou seja, os matemáticos procuram regularidades nos números, no espaço, na ciência e na imaginação e as teorias matemáticas tentam explicar as relações entre elas. A matemática é a ciência dos números e dos cálculos e desde a antiguidade, o homem a utiliza para facilitar a vida e organizar a sociedade. O desenvolvimento da matemática permeou as primeiras civilizações, e tornou possível o desenvolvimento de aplicações concretas: o comércio, o manejo de plantações, a medição de terra, a previsão de eventos astronômicos, e por vezes, a realização de rituais religiosos. Tais desenvolvimentos são creditados às civilizações acadiana, babilônica, egípcia, chinesa, ou ainda, àquelas do vale dos hindus. A matemática foi usada pelos egípcios na construção de pirâmides, diques, canais de irrigação e estudos de astronomia; pelos gregos antigos tais como, Thalles de Mileto e Pitágoras no desenvolvimento de vários teoremas e conceitos matemáticos; pela civilização islâmica permitindo que a herança grega fosse conservada, e propiciando seu confronto com as descobertas chinesas e hindus, notadamente na questão da representação numérica, onde os trabalhos matemáticos foram desenvolvidos, consideravelmente, na trigonometria e na aritmética. Como observamos no pequeno histórico matemático citado, anteriormente, a Matemática desempenhou grande importância no desenvolvimento e manutenção das civilizações antigas, pois a atividade econômica principal e fonte de subsistência da época era a agricultura. Grande E importância da monitoria para o melhoramento do aprendizado matemático dos parte dos estudos e modelos matemáticos dos estudiosos e cientistas da antiguidade foram direcionados para essa área, à procura de técnicas de sustentabilidade local e acúmulo de renda de forma exata e eficaz para os que estavam mais no pico da pirâmide social. Algumas sociedades por não saberem utilizar os conhecimentos matemáticos para fins agrícolas e não saberem manusear a terra de forma precisa acabaram sendo extintas quando os primeiros problemas (salinização do solo, seca, acidez do solo) nas áreas em que viviam começaram a surgir. Atualmente, os modelos matemáticos assim como no passado buscam alternativas modernas e cada vez mais precisas para o desenvolvimento agrícola, constituindo grande expressão em áreas como a agrometeorologia, irrigação, mecanização agrícola, construção rural, hidráulica agrícola, dentre outras. “Vários autores definem as características e atribuições do monitor. Alguns citam que o monitor deve oferecer apoio didático ao aluno, buscando solucionar dúvidas, identificar características individuais, motivar os alunos despertando interesses individuais e coletivos, ser responsável pela avaliação. Na verdade eles estão bastante corretos ao fazerem essa afirmação, pois o monitor tem uma função de suprir a ausência do professor em determinados momentos, e tem como principal objetivo aproveitar esse tempo para traçar estratégias nas soluções de questões às quais os alunos despertaram dúvidas, fazendo com que esses aprendam e se tornem mais confiantes para as cobranças futuras” (França, 2000). Sendo assim, o presente trabalho tem o objetivo de demonstrar a importância do projeto de monitoria de Matemática aplicada às Ciências Agrárias, tendo em vista o reflexo deste projeto no índice de aprovação dos alunos matriculados nas disciplinas de Matemática I, Matemática II, Fundamentos da Matemática e Matemática Aplicada a Zootecnia. Será feita uma comparação entre os índices de aprovação dos alunos destas disciplinas desde o período 2006.1 no qual o projeto foi criado até o período 2008.1, pois os resultados do período 2008.2, no qual o meu contrato foi realmente encerra- 53 do, não poderam ser anexados ao trabalho, devido às datas de entrega deste relatório final. DESCRIÇÃO E METODOLOGIA Ao decorrer das atividades referentes ao projeto de monitoria durante o intervalo de tempo de sete meses e meio, tempo este que corresponde no calendário universitário aos períodos 2008.1 e 2008.2, as aulas foram realizadas no Prédio Correia de Vasconcelos (Prédio da mata) situado, mais precisamente, no Departamento de Ciências Fundamentais e Socias (DCFS) pertencente ao Centro de Ciências Agrárias do Campus II da Universidade Federal da Paraíba. As aulas ocorreram em horários diurnos e noturnos durante doze horas semanais. A variação dos horários em diferentes períodos dos dias (manhã, tarde e noite) visou uma maior acessibilidade dos alunos para estas aulas de monitoria semanais. Desde o início procurou-se criar estratégias didáticas para facilitar o entendimento dos assuntos propostos pelo professor, tendo sempre como foco principal aqueles alunos que demonstravam maiores dificuldades para assimilação do conteúdo e resolução de questões. No primeiro período de trabalho (2008.1), tendo como material de trabalho, listas de estudo dirigido propostas pelo professor das disciplinas de Matemática I; Matemática II; e Fundamentos da Matemática, as aulas de monitoria enfatizaram a resolução e discussão destas listas com aqueles alunos que compareciam nas aulas de monitoria. Porém não eram todos os exercícios que eram resolvidos em quadro negro, eram na verdade discutidas as estratégias de como solucionar as questões para que deste modo os alunos matriculados na disciplina e presentes nestas aulas de monitoria pudessem raciocinar matematicamente e chegar aos resultados desejados, assimilando desta maneira o conteúdo proposto. Após a transição do período 2008.1 para o período 2008.2 o professor das disciplinas (Matemática I e II e Fundamentos da Matemática), às quais este projeto de monitoria foi direcionado alterou a estratégia didática àquelas turmas de matemática II, adotando uma apostila Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.52-56, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 54 E. I. B. Almeida et al. de estudo, na qual o assunto era bem mais detalhado para o aluno. Com essa nova estratégia, o professor visou um maior aproveitamento do tempo de aula e resolução de maior número de atividades, o que acabou por aumentar o rendimento dos alunos. A assiduidade dos alunos nas aulas de monitoria continuou na média do período anterior e as estratégias didáticas utilizadas nestas aulas foram bem semelhantes àquelas citadas anteriormente. Visou-se no intervalo de tempo deste projeto de monitoria observar a influência das aulas de monitoria sobre o índice de aprovação dos alunos nas disciplinas de Matemática I, Matemática II e Fundamentos da Matemática em relação a períodos anteriores. RESULTADOS E DISCUSSÃO O número de alunos matriculados ressaltado nas figuras abaixo foi obtido pela diferença entre o número de alunos matriculados nas disciplinas e o número de alunos que efetuaram o trancamento das disciplinas, para que desta forma estes alunos que realizaram trancamento não influam sobre o resultado dos aprovados esboço nas figuras. A figura 1 representa uma relação entre a quantidade de alunos matriculados e alunos aprovados, nos períodos de 2006.1 e 2006.2. Pode-se observar pela figura 1 que no período 2006.1 no qual o projet o de monitoria de Matemática começou a ser executado, o número totalitário de alunos matriculados nas disciplinas de Matemática I; Matemática II e Fundamentos da Matemática foi de 171 alunos, em contrapartida o número total de alunos aprovados neste mesmo período foi de 136, o que gerou um saldo de 35 reprovados no período 2006.1. Na disciplina de Matemática I foram matriculados 91 alunos, porém foram aprovados, aproximadamente 72,5% (66 alunos) dos alunos. Na disciplina de Matemática II foram matriculados 42 estudantes e destes 88,1% (37 alunos) foram aprovados. Na disciplina de Fundamentos da Matemática foram matriculados 38 alunos e destes foram 88,1% (33 alunos) aprovados. De acordo com o figura 1, no período 2006. 2, onde a disciplina de Fundamentos da Matemática ser ausente, devido a ocorrência de uma chamada pela comissão da UFPB, o projeto de monitoria começou a surtir efeito sobre o índice total de aprovação dos alunos nas disciplinas de Matemática I e Matemática II. Houve um aumento de 7% (mais 10 alunos aprovados) na porcentagem de alunos aprovados na disciplina Matemática I em comparação ao período de 2006.2. Na disciplina de Matemática II, também aconteceu um pequeno aumento no índice de aprovados em relação ao período anterior. Figura 1. Número de alunos matriculados em comparação ao número de alunos aprovados nas disciplinas, nos períodosdos v 06. 1 e 06.2 Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.52-56, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 E importância da monitoria para o melhoramento do aprendizado matemático dos 55 Figura 2. Número de alunos matriculados em comparação ao número de alunos aprovados nas disciplinas, nos períodosdos v 07.1 e 07.2 É importante frisar que no período 2006.2, dos 122 alunos matriculados nas disciplinas de Matemática I e II, 104 foram aprovados, o que gerou um saldo de 18 alunos reprovados, saldo este bastante diminuto em relação ao período 2006.1, onde a quantidade total de alunos reprovados foi de 35, o que demonstra a influência do projeto de monitoria em relação ao período anterior. A figura 2 representa uma relação entre a quantidade de alunos matriculados e alunos aprovados, nos períodos de 2007.1 e 2007.2. Conforme a figura 2, no período 2007.1 a quantidade total de alunos matriculados nas disciplinas de Matemática I e II e Fundamentos da Matemática, alcançou o número de 194 alunos, e a quantidade de alunos aprovados neste mesmo período foi de 175 alunos, o que gerou um saldo de apenas 19 reprovados. Este saldo de apenas 19 reprovados dos 194 alunos matriculados denota a importância da monitoria de Matemática sobre o índice de aprovação dos alunos, já que a cada período o índice de aprovação dos alunos matriculados tem tendido a elevar. Figura 3.. Número de alunos matriculados em comparação ao número de alunos aprovados nas disciplinas do período 08.1 Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.52-56, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 56 E. I. B. Almeida et al. De acordo com a figura no período 2007.2, o número de alunos aprovados na disciplina de Matemática I aumentou 20,27% em relação ao período 2006.1. O número de alunos aprovados na disciplina de Matemática II, também sofreu um leve acréscimo em relação ao período anterior. A figura 3 representa uma relação entre a quantidade de alunos matriculados e alunos aprovados, nos períodos de 2008.1 e 2008.2. Segundo a figura 3, a quantidade de alunos aprovados nas disciplinas de Matemática I e II, Matemática Aplicada a Zootecnia e Fundamentos da Matemática tendeu a aumentar bruscamente em relação aos períodos anteriores, destacando-se a quantidade de alunos aprovados na disciplina de Matemática Aplicada a Zootecnia que foi de 100%. CONCLUSÃO Embora alguns alunos às vezes se precipitem e acabem realizando alguns trancamentos precoces das disciplinas para as quais este projeto de monitoria está sendo direcionado, a quantidade de alunos aprovados em relação ao numero de alunos matriculados nas disciplinas de Matemática I, Matemática II, Fundamentos da Matemática e Matemática Aplicada à Zootecnia têm aumentado a cada período (2006. 1 a 2008.1), conforme o amadurecimento maior deste projeto monitoria. REFERÊNCIAS BOYER, C. B. História da Matemática. São Paulo: Edgard Blücher, 1974. FERREIRA, R. S. Matemática Aplicada às Ciências Agrárias: análise de dados e modelos. 1ª. Ed. Viçosa: Editora UFV 1999, 333 p. FERRETTI, C. J; ZIBAS, D. M. L.; MADEIRA, F. R.; RANCO, M. L. P. B. Tecnologias, Trabalho e Educação: um debate multidisciplinar. Petrópolis/RJ: Vozes, 1994. FRANÇA, G. Curso de preparação de monitores para a educação a distância. São Paulo: Rede Brasileira de EAD LTDA, 2000. SMOLE, K. S.; DINIZ, M. I. Ler, Escrever e Resolver Problemas: Habilidades Básicas para Aprender Matemática. Porto Alegre: Artmed. 2001. OHSE, Marcos. História da Matemática: a matemática na antiguidade. Disponível em: <http:// www.somatematica.com.br/história.php> Acesso:05 de março de 2009. TRIPODORO, J. C. V. “Geometria Fractal com DERIVE. Tratamiento de imágenes”. Epsilon: Revista de La Sociedad Andaluza de Educación Matemática “Thales” no. 51, 2001, 419-424. 76 Recursos e estratégias propostas para aulas de matemática em cursos de ciências agrárias Revista Educação. Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.52-56, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 Revista Educação Agrícola Superior Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior - ABEAS - v.25, n.2, p.57-61, 2010. A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO INSTRUMENTO METODOLÓGICO DE POTENCIALIDADE DE POLITIZAÇÃO Ângela M. C. Ramalho 1; Sandra S. F. da Silva1; Gesinaldo A. Cândido1 & Viviane B. M. Nogueira1 1 Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais, Universidade Federal de Campina Grande – UFCG. Av. Aprigio Veloso, nº 882. Bodocongó, Campina Grande – PB. [email protected], [email protected], [email protected], [email protected] RESUMO O estudo versa sobre uma análise da relevância do desenvolvimento de uma educação ambiental como instrumento de politização da problemática ambiental, entendida como qualidade formal e política, ou seja, a capacidade de fazer sujeito crítico e atuante, incorporando a ética da responsabilidade ambiental e social nas suas preocupações e práticas da vida cotidiana. O meio ambiente como perspectiva social e política crítica do modelo de desenvolvimento econômico e cultural têm possibilitado vários debates em todas as áreas do conhecimento, estimulando a participação da população na tentativa de minimizar os complexos problemas ambientais. Sobretudo à educação ambiental como uma proposta que altera profundamente a educação como a que conhecemos. Trata-se de uma educação que visa não só o uso racional de recursos naturais, mais basicamente a participação dos cidadãos nas discussões sobre questões ambientais para que seus direitos sejam afirmados. Como uma política que reivindica e prepara os sujeitos sociais para agir dialeticamente como elemento transformador das relações com o meio ambiente, com novo propósito: contribuir efetivamente para a construção de uma sociedade includente e ecologicamente sustentável. Nesse sentido, a educação deve ser vista como um fazer dialético e político com práticas educativas mais comprometidas com a realidade social e ambiental. PALAVRAS-CHAVE: política, educação ambiental, educação ENVIRONMENTAL EDUCATION AS AN INSTRUMENT OF METHODOLOGICAL POTENTIAL TO POLITICIZE ABSTRACT The study deals with an analysis of the importance of developing an environmental education as an instrument of politicization of environmental concerns, understood as formal quality and political, that is, the ability to make critical and active subject, the ethics of incorporating environmental and social responsibility in their concerns and practices of everyday life. The environment as a social and political critique of the model of economic and cultural development have enabled various discussions in all areas of knowledge, encouraging the participation of the population in an attempt to minimize the complex environmental problems. Especially environmental education as a proposal that makes significant changes to education as we know. This is an education that covers not only the rational use of natural resources, more basically citizen’s participation in discussions about environmental issues so that their rights are affirmed. As a policy claims and prepares social subjects to act as an element dialectically transforming relations with the environment, with new purpose: to contribute effectively to building a society inclusive and environmentally sustainable. In this sense, education must be seen as dialectic to political and educational practices with more committed to social and environmental reality. KEYWORDS: policy, environmental education, education 58 A. M. C. Ramalho et al. INTRODUÇÃO O estudo versa sobre a relevância do desenvolvimento de uma educação ambiental como instrumento de politização da problemática ambiental, entendida como qualidade formal e política, ou seja, a capacidade de fazer sujeito crítico e atuante, incorporando a ética da responsabilidade ambiental e social nas suas preocupações e práticas da vida cotidiana. Esta discussão revela a necessidade de perceber o meio ambiente como perspectiva social e política crítica do modelo de desenvolvimento econômico que têm possibilitado vários debates em todas as áreas do conhecimento, configura-se como uma das atividades que estimula a participação da população na tentativa de minimizar os complexos problemas ambientais. Sobretudo à educação ambiental como uma proposta que altera profundamente a educação como à que conhecemos. Trata-se de uma educação que visa não só o uso racional de recursos naturais, mas principalmente a participação dos cidadãos nas discussões sobre questões ambientais para aprender, de modo reconstrutivo político, tomado como uma das definições mais essenciais da vida, sinalizando sua estrutura dialética ambivalente, sempre interdisciplinar. “Buscando refletir sobre a complexa organização entre os saberes globais e saberes locais, implicados no horizonte da construção social da sustentabilidade” (MORIN, 2004, p. 11). Uma educação ambiental com uma função social política que prepara os cidadãos para agir dialeticamente como elemento de transformação das relações dos atores sociais com o meio ambiente, com um novo propósito: contribuir para a construção de uma sociedade mais humanitária, includente e ecologicamente sustentável. A educação deve ser vista como um fazer dialético e político com práticas educativas mais comprometidas com a realidade social e ambiental. Considerando “[...] que a educação é sempre uma atividade intencional, a ser medida pela referência a uma finalidade ou projeto, ela configura práticas sociais movidas por interesses inerentes à cultura, felicidade dos indiví- duos e sobrevivência da espécie humana” (CUNHA, 2004). Nesse sentido, a educação/escola deve funcionar como um laboratório, um espaço indicado para a discussão, interpretação e aprendizado de vários problemas da atualidade como resultado da sua importância na formação dos cidadãos. É evidente que a escola deve estar sempre aberta ao conhecimento, inquietações e propostas de sua época, procurando consolidar inovações pedagógicas e metodológicas que contribuam efetivamente para práxis da sua função social. A contribuição da educação ambiental, na sua plenitude indica a busca de respostas aos desafios, oferecendo alternativas sintonizadas com a sociedade contemporânea cujos conflitos, diferenças e riscos colocam em dúvida a possibilidade de continuidade de vida no planeta terra. Nessa perspectiva, é imperativo que se busque uma reorientação do ensino no sentido da promoção da elevação da consciência crítica cidadã, a fim de fortalecer as conexões e o compromisso com a problemática ambiental. Para tanto é preciso à incorporação de conhecimentos e informações sobre todas as tomadas de decisões e formulação política, fazendo de cada cidadão usuário e provedor de informação, contribuindo sobremaneira para melhoria da comunicação, aproximação e cooperação entre os povos. Portanto, o exercício do pensamento crítico e a constante intervenção cidadã continuam mais válidos do que nunca, pois, querendo ou não, os conservadores são os fundamentos que poderão garantir a continuidade de vida e a possibilidade de existência digna no planeta. MATERIAL E MÉTODOS O percurso metodológico desenvolvido foi uma pesquisa teórica sobre a necessidade de se construir uma proposta de educação ambiental com perspectiva social e política, com sujeitos que sabe pensar e aprender a aprender, conjugando qualidade formal e política. Capazes de compreender um mundo em crise, que tem sua origem na racionalidade burguesa, cujo princípio é o determinante das relações entre os seres Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.57-61, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 A educação ambiental como instrumento metodológico de potencialidade de humanos e entre estes e a natureza e nas relações humanas de produção e sociabilidade. Neste contexto, a educação deve ser politicamente contextuada, porque se trata de sujeitos históricos capazes de história própria; um dos rasgos mais potentes do conhecimento é precisamente o desenvolvimento da capacidade de fazer história própria, de interferir com originalidade, demarcando espaços alternativos. O estudo faz uma reflexão que transita em meio às misérias de nosso tempo, nos devolvendo ao nosso real normandismo, essa condição comum de seres humanos sem territórios garantidos. Em tempos marcados pela violência, exclusão e morte, o princípio da prudência assume o posto de regra básica na orientação de nossas condutas, capaz de superar as crises para que seja gerada uma nova comunidade. Desse modo, a educação se configura mais do que uma proposta é uma ação política, pois incita a orientar nossas práticas educativas por uma lógica do agir frente aos problemas ambientais de forma coletiva como construtores de práticas políticas: educadores e a escola vivenciando efetivamente sua função social. Diante da proposta pedagógica apresentada de ação política, sentimos a necessidade de aprofundarmos uma pesquisa teórica sobre a temática, a partir da proposta de estudo desenvolvemos leituras em obras que tratam das reflexões epistemológicas sobre a problemática ambiental, principalmente da educação ambiental numa perspectiva política dialética no modo de agir dos sujeitos sociais. Num segundo momento, intencionamos desenvolver uma pesquisa participante com educadores/educandos canalizando a observação para identificar como os educadores trabalham a educação ambiental numa perspectiva política no modo de agir de cada cidadão, com um projeto individual e coletivo, como elemento de transformação dos laços sociabilidade e de relação com a natureza a partir de uma nova racionalidade. RESULTADOS E DISCUSSÃO A humanidade vê-se hoje imersa em uma materialidade que impede de concretizar o seu impulso vital. Os sistemas econômicos, mesmo 59 com todas as falhas que deles apresentam na história, foram formas de organizar a sociedade para que ela pudesse manter as vidas humanas que compunham. Mesmo os sistemas baseados na exploração incluíam o ser humano e lhe davam possibilidades de viver, seja como exploradores, seja como explorado em condições mínimas de vida. No entanto, a partir do momento em que esses sistemas não conseguiram mais atender à necessidade de inclusão de seres humanos eles entraram em decadência, agindo em quem deles era excluído, organizando novas formas de economia. Formas alternativas que se projetaram e conquistaram toda a humanidade. A sociedade contemporânea vive uma das principais crises que abalam a humanidade no limiar do século XXI refiro-me a crise ambiental como mudanças climáticas, efeito estufa, o desaparecimento da biodiversidade, a produção de armas nucleares, as chuvas ácidas, o crescimento demográfico etc. Dizem respeito a todos os habitantes do planeta, não obedecendo aos limites das fronteiras nacionais. Buscando a partir de um princípio de cooperação adquirir força política e possibilidades de ruptura e quebra do monopólio dos discursos dominantes, profundamente ligadas às suas identidades étnicas, de gênero, aliadas à qualidade das suas representações sociais, refletem o que foi “deglutido” recriado no seu percurso histórico. No processo de interdependência global, as relações sociais não ocorreram só entre os iguais, mas predominantemente entre os opostos e adversos, daí a sua dificuldade e sua riqueza, já que toda voz só adquire validade quando em confronto ou diálogo com o “outro”, que não é um modelo a ser seguido ou copiado, mas sim um opositor, referência, espelho ou interlocutor a ser ‘DEVORADO”. Leonardo Boff observa que o homem para viver humanamente ele inventou vários segmentos de sociabilidade, todavia não buscou inaugurar o princípio da cooperação, levando-o apenas à lógica da competitividade de todos com todos, de um lado uma acumulação de benefícios de poucos, de outro, uma exclusão social da maioria das pessoas, dos grupos e nações, pro- Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.57-61, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 60 A. M. C. Ramalho et al. movendo substancialmente a crise nos laços de solidariedade. Para conviver humanamente inventamos, a política, a cultura, a ética e a religião. Mas nos últimos séculos o fizemos sob inspiração da competição que gera o individualismo. Esse tempo acabou. Agora temos que inaugurar a inspiração da cooperação que gera a comunidade e a participação de todo em tudo o que interessa a todos (BOFF, 2002,). Portanto, urge o estabelecimento de uma teia de conexões entre todos os homens, fazendo-nos seres cooperativos e solidários. CONCLUSÕES O século XXI com toda sua complexidade política, cultural, social, econômica e ecológica, nos coloca diante de inúmeros desafios, e a educação deve procurar fazer frente a eles para que continue exercendo sua função na sociedade. A escola tem sido historicamente o espaço indicado para a discussão e o aprendizado de vários temas urgentes e de atualidade como resultado da sua importância na formação dos cidadãos. Éevidente que a escola deve estar sempre aberta ao conhecimento, inquietações e propostas de sua época, procurando consolidar inovações pedagógicas que contribuem para cumprir sua função social. A contribuição da educação ambiental, na sua plenitude indica a busca de respostas a esses desafios, oferecendo alternativas sintonizadas com a sociedade contemporânea em que vivemos cujos conflitos, diferenças e riscos colocam em dúvida a possibilidade de continuidade de vida no planeta terra. A educação ambiental, na escola ou fora dela, precisa ser uma concepção radical de educação, não porque prefere ser uma tendência rebelde do pensamento educacional contemporâneo, mas sim porque nossa época e herança histórica exigem alternativas radicais, justas e pacíficas. Como educadores temos a responsabilidade de buscar formas pertinentes de educação diante desses desafios. Conscientizar-se das circunstâncias de nossa sociedade local, regional, nacional e planetária à condição básica para encontrar a melhor possibilidade de atuação educativa, visualizar respostas e alternativas cidadãs aos complexos problemas contemporâneos. Precisamos adotar como referencial na nossa prática educativa uma proposta de educação ambiental referenciada, não preocupada em apenas transmitir conhecimento sobre a ecologia, nem com memorização dos conceitos científicos, mas fazer com que os educandos entendam a relação da ciência com o cotidiano para a problemática ecológica e importância de participação política dos cidadãos. O homem precisa cotidianamente buscar práticas alternativas para o mundo, fundamentadas na inclusão, solidariedade e principalmente cooperação com o outro e com a natureza, vivenciar a práxis, pois seguindo o pensamento de Marx (1977, p.57) “é na prática que o homem deve comprovar a verdade, isto é, a realidade efetiva e a força, o caráter terrestre de seu pensamento. A disputa referente à realidade ou não realidade efetiva do pensamento, isolada da práxis, é uma questão puramente escolástica”. A educação ambiental deve tornar-se uma filosofia que considera a escola como um espaço de questionamento e produção de alternativas sociais, políticas e culturais mais sincronizada com a realidade social. Diante das transformações espaciais e temporais muitas questões nos desafiam: como formamos novas identidades culturais, sociais e nacionais diante das noções fragmentadas de tempo e espaço, não defendidas somente pelos aspectos concretos, visíveis, objetivos? Como construir possibilidades pacíficas e solidárias de intervenção cidadã em espaços educativos no nosso cotidiano cujas fronteiras dificultam o processo de diálogo e cooperação entre os pares? Como conscientizar educadores e educandos, assim como nós mesmos, de que a nossa presença no mundo qualquer que seja a latitude ou longitude onde estejamos, e as ações que praticamos no presente influenciam para melhorar ou piorar a qualidade de vida no planeta? Não temos a pretensão de dar respostas e a essas questões, mesmo porque nossas reflexões e pesquisas não se esgotam aqui, as respostas devem surgir de um esforço coletivo de Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.57-61, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 A educação ambiental como instrumento metodológico de potencialidade de pessoas de diferentes horizontes culturais e sociais. Mas acreditamos que todos aqueles que de uma forma ou de outra estão relacionados com as práticas de educação ambiental, buscam alternativas aos desafios às questões ligadas à problemática sócio-ambiental. O exercício do pensamento crítico e a constante intervenção cidadã continuam mais válidos do que nunca, pois querendo ou não os conservadores são esses fundamentos que poderão garantir a continuidade de vida e a possibilidade de existência digna na terra. A educação em geral e a educação ambiental em particular na contemporaneidade, não têm a pretensão de dar respostas prontas acabadas e definitivas, mas sim instigar questionamentos sobre as nossas relações com natureza, a alteridade, principalmente com a sociedade em que vivemos com o nosso presente e com o nosso eventual vir a ser. Portanto, a reflexão deve ser fincada na mente de cada um de nós. Como “guisa conclusiva seguimos o pensamento do filósofo Maurício Abdalla (2003, p.139):” A vida do ser humano precisa ser preservada. A troca competitiva e todas as relações nela fundamentada têm nos conduzido à morte. 61 “O princípio de cooperação pode manter-nos vivo”. REFERÊNCIAS ARRUDA, M; BOFF, L. Globalização: desafios socioeconômicos, éticos e educativos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000. BOFF, L. Saber cuidar - ética do humano - compaixão pela terra. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999. CUNHA, J A. Coleção educação em debate. In: GONSALVES, Elisa Pereira. Da ciência e de outros saberes: trilhas da investigação científica na Pós-modernidade. Campina, SP: Alínea, 2004. DEMO, P. Educação conhecimento: relação necessária, insuficiente e controversa.Petrópolis, RJ: Vozes,2000. ______, Desafios modernos da educação. Petrópolis< RJ: Vozes, 2000. GONSALVES, E. P. Da ciência e de outros saberes: trilhas da investigação científica na Pósmodernidade. Campina, SP: Alínea, 2004. KUNH, T. A estrutura das revoluções científicas. 5.ed.São Paulo: Perspectiva, 1997. MORIN, E. Saberes Globais e saberes locais: um olhar transdisciplinar.Rio de janeiro: Garamond, 2004. SANTOS, B de S. Introdução a uma ciência pósmoderna. 3. ed. Rio de Janeiro: Graal, 1989. Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.57-61, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 Revista Educação Agrícola Superior Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior - ABEAS - v.25, n.2, p.62-64, 2010. INFLUÊNCIA DA PRÁTICA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA FORMAÇÃO DO SUJEITO ECOLÓGICO Maiza G. R. Pereira¹; Lia M. T. de Oliveira²; Larissa A. da S. Cabral¹; Dária H. de M. Bastos¹ 1 Discente do Curso de Lic. em Ciências Agrícolas/UFRRJ estagiaria do SINTEEG no Projeto “Espaço com Cheiro de Verde” do CAIC/Paulo Dacorso Filho e da área de Ensino Agrícola do DTPE. [email protected], [email protected], [email protected]. 2 Prof. do DTPE/IE, Membro do GEPEADS/UFRRJ. [email protected] RESUMO O presente trabalho tem como objetivo socializar a experiência do Projeto Espaço com Cheiro de Verde, no CAIC Paulo Dacorso Filho, escola de ensino fundamental vinculado à UFRRJ. Interessante enfocar a interação entre a temática meio ambiente e o princípio curricular da interdisciplinaridade, bem como a concepção de indivíduo como sujeito ecológico, que constrói cotidianamente a relação com a natureza/sociedade. O Espaço com Cheiro de Verde também está orientado por objetivos do campo das ciências humanas e sociais que aproximam a realidade escolar do universo de pesquisa/ensino aos das ciências agroecológicas, posto que a produção no âmbito da Horta e da Agrofloresta reflete a necessidade de interligar atitudes investigativas e valores humanos ao conhecimento científico. As práticas de ensino junto às turmas dos dois segmentos do ensino fundamental visam aperfeiçoar os conteúdos e as metodologias ligando as diferentes áreas específicas numa perspectiva interdisciplinar; sobretudo, ainda, investem em práticas agroflorestais indispensáveis aos estudos sobre a noção de sustentabilidade ambiental, tal como prevê os PCN’s e os Temas Transversais. Todos os envolvidos trabalham tomando a idéia de formação dos sujeitos ecológicos que interagindo com a natureza e o ambiente é um dos responsáveis por sustentar a teia da vida. Essa idéia de Carvalho (2005) e Capra (2006) é o fundamento para podermos desenvolver também as metodologias de ensino crítico-dialéticas e participativas. O presente trabalho visa a importância da interdisciplinaridade através da educação ambiental despertando nos alunos envolvidos a auto-crítica para questões relacionadas ao meio ambiente e a cidadania. PALAVRAS-CHAVE: Interdisciplinaridade, criticidade, educação ambiental INFLUENCE OF THE PRACTICE OF ENVIRONMENTAL EDUCATION IN THE SUBJECT OF ECOLOGICAL EDUCATION ABSTRACT This paper aims to socialize the experience of the Project Espaço com Cheiro de Verde, the CAIC Dacorso Paulo Filho, elementary school linked to UFRRJ. Interesting focus on the interaction between the thematic environment and the principle of interdisciplinary curriculum, as well as the design of individual and ecological self, which constructs a daily relationship with nature and society. The Espaço com Cheiro de Verde project is also guided by the objectives of the humanities and social approach to school reality of the universe of research and teaching to the agro-ecological sciences, since the production in the garden and agroforestry reflects the need to link investigative attitudes and human values to scientific knowledge. Teaching practices with classes of the two segments of the primary aim to improve the content and methodology linking the specific areas in an interdisciplinary perspective, above all, still, invest in agroforestry practices essential to studies on the concept of environmental sustainability, as provided NCP’s and themes. All work involved taking the idea of formation of subjects ecological interacting with nature and the environment is one of those responsible for sustaining the web of life. This idea of Carvalho (2005) and Capra (2006) is the foundation that we can also develop methodologies for teaching critical-dialectical and participatory. The present work aims the importance of interdisciplinary environmental education by raising the students involved in self-critical issues related to the environment and citizenship. KEYWORDS: Interdisciplinarity, criticality, environmental education Influência da prática da educação ambiental na formação do sujeito ecológico 63 INTRODUÇÃO MATERIAL E MÉTODOS A Educação Ambiental procura desenvolver um aprendizado consolidado (TAMAIO, 2002), onde a construção do seu conceito se dá num processo e é feita de uma forma coletiva compondo alunos, professores, pais, funcionários, autoridades, ou seja, todos que diretamente ou indiretamente fazem parte de uma instituição de ensino. Essa consolidação desenvolvida tem como seu alicerce a escola onde a partir da socialização das experiências do Projeto Espaço com Cheiro de Verde no CAIC, vinculado à UFRRJ, tem sido enfocado as temáticas, o principio curricular da interdisciplinaridade e a concepção dos sujeitos que estão envolvidos nessa prática educativa sobre meio ambiente, sociedade, natureza e produção. Desde a década de 1980 que o governo Federal emitiu o Parecer N° 226/87, de 11 de março de 1987 (MEC, 1987), assim indicando um caráter interdisciplinar da Educação Ambiental e recomendando sua realização em todos os níveis de ensino. Para Travassos, não se trata, portanto, de uma nova disciplina, mas sim, de uma nova dimensão do sistema de educação, que precisa absorver os resultados da aceitação da complexidade e da urgência dos problemas ambientais na sociedade contemporânea (2004; p.13). Este trabalho tem como objetivo trazer a discussão sobre como a implantação e consolidação de certos temas, conceitos e práticas do projeto Espaço Com Cheiro Verde têm provocado aberturas para que a comunidade do CAIC busque novas referências de como abordar a questão ambiental na escola. Ao contrário do pensamento de Carvalho (2004) experimentamos no Projeto a sensação de que mesmo os projetos que não são contemplados nas disciplinas podem fazer mudanças porque na verdade são partes do todo que é o projeto político pedagógico da escola. Dessa forma o trabalho da educação ambiental remete ao desafio de motivar os alunos para que sejam agentes multiplicadores de contextos ambientais sustentáveis, contribuindo também com a sua formação crítica a respeito da construção do novo modelo de sociedade. O projeto vem sendo desenvolvido no Centro de Atenção Integral à Criança – Paulo Dacorso Filho, localizado na BR 465 – Km 8, Seropédica/UFRRJ – RJ, que vem se apresentando como uma prática interdisciplinar, construindo espaços de reflexões, tomando como instrumentos pedagógicos salas de atividades, horta escolar, espaços de agrofloresta, acreditando que tudo em nossa volta possa ser permanentemente redimensionado na perspectiva de uma metodologia da reflexão-ação-reflexão. Sobretudo, as explicações e procedimentos previstos na publicação “PCN’s e Temas Transversais”, na atualidade vem sendo revisto de forma a acompanhar as mudanças que a comunidade escolar vem fazendo a partir da pratica cotidiana em educação ambiental. As atividades são realizadas na forma de debates e aula-oficina em 17 turmas do ensino fundamental, do primeiro ao nono ano de escolaridade, com atividades lúdicas e educativas, buscando uma integração entre as diversas disciplinas, que para tanto, lançamos mão da agrofloresta, sala de atividades que é usada como um espaço para momentos de reflexão em debates, da horta escola como uma ponte facilitadora da aprendizagem e um campo de possibilidades para ampliar conhecimentos sobre ambiente (sustentabilidade, ecologia, biodiversidades alimentação, redução de consumo valores e sociedade). Quanto ao aspecto do conhecimento, buscamos as atividades e conteúdos adequados à realidade das crianças e do contexto ambiental onde a interdisciplinaridade se constitui como algo natural, o que facilita o entendimento das interações existentes entre os elementos da natureza e o ser humano. A avaliação se realiza por meio de trabalhos em grupo ou individualizados no decorrer das experiências, considerando sempre a modalidade diagnóstico-formativa associada aos instrumentos de registros, como anedotários ou diários de campo. Usamos como a principal ferramenta de construção de conhecimento a participação deliberada das crianças no projeto, de modo que possamos sensibilizá-los a se tornarem agentes ativos neste processo educativo, a partir de suas Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.62-64, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 64 M. G. R. Pereira et al. próprias problemáticas e contextos. Por isso, trabalhamos na avaliação considerando: grupos de debate, delegação de tarefas, trabalhos em grupos e jogos, dramatização, etc. RESULTADOS E DISCUSSÃO O resultado é a materialização da interação entre as diversas disciplinas, o conhecimento sobre os elementos da natureza e dos processos de produção no que aproxima o rural e o urbano, o consumo e a agricultura, a alimentação e a saúde, onde assim o individuo constrói uma mudança de postura no que diz respeito do processo de apropriação e de transformação do mundo natural. É fundamental entendermos que a prática é mediada pela linguagem e pelo outro, dentro de uma sociedade desigual cultural e economicamente, onde o jogo de interesses estão consolidados (TAMAIO, 2002). Nessa leitura do outro na interação contribui para entendermos que é no processo de desenvolvimento de nossos alunos na elaboração dos conceitos científicos, a educação ambiental nos permite remodelarmos o contexto social vivido. Também, verifica-se que o projeto vem contribuindo como excelente instrumento didático-curricular para definição da prática pedagógica, também sendo um eficiente instrumento de complementação dos conteúdos trabalhados pelos professores. A partir das experiências do CAIC-Paulo Dacorso Filho, pode-se afirmar que o Projeto Espaço com Cheiro de Verde tem despertado bastante a curiosidade e o espírito investigativo das crianças, porque busca trabalhar considerando a relação entre os valores humanos e os temas sociais ao contexto ambiental, sobretudo, considerando também que a descoberta se configura como uma expressão inerente à infância e a juventude. CONCLUSÕES Apostamos nas experiências cotidianas em educação ambiental que as nossas crianças e jovens do CAIC nos mostram como espaços de construção de conhecimentos e de prática docente; é importante para a nossa formação e aprendizado, visto que somente trocamos subjetividades quando utilizamos o diálogo entre as instituições formadoras de professores e a escola, de forma coletiva fazendo uma releitura permanente da educação em bases interdisciplinares e ambientais. REFERÊNCIAS BRASIL. Lei no 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, no 79, Seção 1,p.l-3,28 abr. 1999. CARVALHO, I.C.M. A invenção do sujeito ecológico: identidades e subjetividade na formação dos educadores ambientais. In: Carvalho, I. C. M. (orgs). Educação Ambiental: A formação do sujeito ecológico. CAPRA, F. A Alfabetização Ecológica: a educação de crianças para um mundo sustentável. São Paulo: Cultrix, 2006. FIGUEIRA, F.A. R. Educação Ambiental; pesquisa e desafios. Porto Alegre, Artmed, 2005. LEFF, H. Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. Petrópolis, RJ: Vozes , 2001. TRAVASSOS, E. G. A prática da educação ambiental nas escolas. 2006. Porto Alegre.Editora Mediação. TAMAIO, I. O professor na construção do conceito de natureza: uma experiência de educação ambiental, 2002. São Paulo. Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.62-64, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 Revista Educação Agrícola Superior Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior - ABEAS - v.25, n.2, p.65-69, 2010. EDUCAMPO – PROJETO PILOTO DE INSERÇÃO DE CONTEÚDOS AGRÍCOLAS E AMBIENTAIS NAS ESCOLAS DA ZONA RURAL DE BARREIRAS - BA Alexandro P. Andrade1, Danilo G. de Quadros2, Maria A. M. Miranda2, Tatiane A. G. de Quadros3 1 Mestrando em Zootecnia, Univ. Federal da Paraíba - PPGZ - Campus II - Areia - PB, [email protected] 2 Prof. Univ. do Estado da Bahia. Campus IX, Barreiras - BA. [email protected] 3 Psicopedagoga RESUMO Objetivou-se por meio deste trabalho realizar um diagnóstico sócio-educacional dos alunos das escolas do campo de Barreiras contemplados com o projeto piloto EDUCAMPO – Inserção de conteúdos agrícolas e ambientais. Este trabalho foi realizado em três escolas da zona rural de Barreiras, em cinco semanas intercaladas, com encontros a cada 15 dias, em abril de 2008. Os dados foram tabulados no Programa Excel (Microsoft®) e calculados os percentuais relativos. Mais de 68% das famílias dos alunos praticam atividades agrícolas e mais 50% tem também exploração pecuária, sendo a principal fonte de economia das famílias, tendo como culturas principais: feijão, milho, frutas e hortaliças, além das criações de: bovinos, aves e suínos. Cerca de 70% dos alunos já realizou ou realiza trabalhos com os pais no campo, sendo que, muitos deles já faltaram aula para ajudar os pais no trabalho. A inserção de conteúdos agrícolas e ambientais no contexto escolar foi de grande importância principalmente por oferecer aos alunos a oportunidade de se apropriarem destes ensinamentos como instrumentos para refletir e mudar suas próprias vidas e suas realidades, melhorando assim, a produção agrícola e conseqüentemente a sua qualidade de vida. PALAVRAS-CHAVE: Agricultura familiar, educação EDUCAMPO – PILOT PROJECT TO INSERTION OF AGRICULTURAL AND ENVIRONMENTAL CONTENTS IN THE SCHOOLS OF RURAL AREA OF BARREIRAS – BA ABSTRACT The objective through this work was a diagnosis of socio-educational students and entering content in agricultural and environmental context of rural schools of Barreiras, Bahia, Brazil. This study was conducted in three schools in rural area in five weeks interspersed with meetings every 15 days. Data were analyzed on Excel Program (Microsoft®) and calculated using relative proportions. More than 68% of the families of students practice agricultural activities, and another 50% have also farm and the main source of domestic economies, with the main crop beans, corn, fruits and vegetables, and animal husbandry were the main cattle, poultry and pigs. About 70% of students have performed or performs work with parents in the field, and that many of them have skipped school to help parents work. Agricultural and environmental lessons were really important for offering students the opportunity to take ownership of these lessons as tools to reflect and change their own lives and their realities, improving agricultural production and therefore their quality of life. KEYWORDS: smallholder farmers, education 66 A. P. Andrade et al. INTRODUÇÃO A Bahia conta com a maior proporção de população na zona rural do Brasil. Existem cerca de 600 mil famílias na agricultura familiar no Estado (IBGE, 2006). No município de Barreiras, a atividade rural predomina, proporcionando divisas e desenvolvimento econômico. Entretanto, os agricultores que produzem em pequena escala convivem com problemas de insegurança alimentar (quantidade, diversificação, sanidade e qualidade dos produtos), bem como falta de informações técnicas. VEIGA (2002) mostra que, apesar da intensa urbanização ocorrida nas últimas décadas, quase 20% da população do País encontra-se na zona rural, no Nordeste chega a mais de 30%, enquanto que na Bahia é bem mais que a média do País, chegando a cerca de 40%. Considerando os dados oficiais, os cerca de 32 milhões de pessoas que residem na área rural encontram-se em franca desvantagem, tanto em termos de capital físico (recursos financeiros), quanto de capital sociocultural (escolaridade e freqüência à escola) em comparação aos que residem na área urbana. A agricultura familiar é uma forma de produção onde predomina a interação entre gestão e trabalho; são os agricultores familiares que dirigem o processo produtivo, dando ênfase na diversificação e utilizando o trabalho familiar, eventualmente complementado pelo trabalho assalariado. A partir dos estudos desenvolvidos pelo convênio Food and Agriculture Organization – FAO/ Instituto Nacional de Reforma Agrária - / INCRA -, caracterizou-se a agricultura familiar por três elementos: gestão familiar, tempo de trabalho dedicado à unidade produtiva e área do estabelecimento. FERREIRA et al. (2003) constataram a importância da agricultura familiar, do ponto de vista estratégico, para manutenção e recuperação do emprego, para redistribuição da renda, para garantia de alimentos e para o desenvolvimento sustentável. O município de Barreiras conta com 38 (trinta oito) escolas na zona rural sendo filhos e filhas de agricultores familiares e de trabalhadores rurais, em sua maioria, que no dia-a-dia con- vivem com a produção agrícola. Contudo, no sistema de ensino, são escassas informações técnicas que desenvolvem os conceitos de produção agrícola sustentável. Segundo ARROYO & FERNANDES (1999), uma questão crucial a ser considerada é o fraco desempenho escolar na educação básica contribuindo para o aumento do abandono e da evasão. Alguns especialistas defendem o argumento que o desempenho escolar é o resultado de dois fatores: o capital sociocultural e a qualidade da oferta. Diante da precariedade do capital sociocultural, decorrente do desamparo histórico a que a população do campo vem sendo submetido, e que se reflete nos altos índices de analfabetismo, a oferta de um ensino de qualidade se transforma numa das ações prioritárias para o resgate social dessa população. A educação, isoladamente, pode não resolver os problemas do campo e da sociedade, mas é um dos caminhos para a promoção da inclusão social e do desenvolvimento sustentável. Objetivou-se realizar um diagnóstico sócioeducacional dos alunos e inserir conteúdos agrícolas e ambientais no contexto das escolas rurais de Barreiras, visando o desenvolvimento educacional, social, econômico e ambiental da população discente que reside no campo, através de aulas práticas e teóricas que deslumbrem a sua realidade empírica local à complexidade de conhecimento. MATERIAL E MÉTODOS Este trabalho foi realizado em três escolas na zona rural de Barreiras. Essas escolas foram escolhidas pela Secretária Municipal de Educação, tendo como critério utilizado nas comunidades em que há um engajamento com a exploração agrícola, como Baraúna, Mucambo e Buriti (abrangendo Barreiras Norte). As escolas assistidas pelo projeto foram: Escola Municipal 1º grau Povoado Baraúna (Baraúna), realizado na turma de 8ª série do turno Vespertino, contando com 21 alunos; Escola Municipal Dr. Abílio Farias (Mucambo), assistida por turmas formadas por alunos de 6ª a 8ª série no turno Vespertino e com 22 alunos presentes; e a Escola Valdete Piedade de Holanda (Buriti) for- Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.65-69, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 Educampo – projeto piloto de inserção de conteúdos agrícolas e ambientais nas mado por uma turma de 4ª série também no turno Vespertino, registrando 25 alunos nesta unidade de ensino, totalizando 68 alunos assistidos pelo projeto. Percebeu-se a necessidade de fazer um levantamento da situação social, cultural e ambiental dos alunos e pais das escolas a serem trabalhadas, foi elaborada e aplicada uma ficha diagnóstica, no qual os dados foram tabulados e analisados no Programa Excel (Microsoft, 2007). Este trabalho foi realizado em 5 semanas intercaladas, com encontros a cada 15 dias, com uma diversificação de temas para melhor aproveitamento do tempo. Na 1ª semana foi apresentado o projeto aos alunos, em seguida foi houve uma explanação sobre impactos ambientais, em que se realizou uma dinâmica recreativa, em que os alunos saíram em tornos de suas escolas para fazerem um diagnóstico sobre as degradações sofridas pela comunidade. Retornando à sala de aula, foi aplicada uma ficha diagnóstica sobre a situação sócio-cultural e ambiental dos alunos e seus pais. Na 2ª semana o tema abordado foi de Olericultura, fazendo uma explanação sobre sistema de plantio, cultivo e comercialização dos produtos, com finalização da construção de uma horta escolar pelos alunos. Na 3ª semana foi explicado em sala de aula sobre os solos, com uma exposição teórica em sala e seguindo para área dos canteiros para explanação prática sobre o assunto. Na 4ª semana foi realizada uma abordagem sobre Zootecnia, enfatizando sobre os sistemas de criação e importância comercial, dividindo o tempo de aula para caracterização sobre os monogástricos e ruminantes. E na última Escola Valdete Piedade 67 semana foi realizada uma visita em propriedades locais com criação animal, para demonstração em aulas práticas sobre os assuntos abordados em sala. RESULTADOS E DISCUSSÃO Com base nos questionários aplicados aos alunos, no primeiro encontro, podemos relacionar alguns dados importantes respondido por eles sobre os aspectos sociais, culturais, econômicos e ambientais. Na Figura 1, mostra que a maioria das famílias dos alunos tem exploração agrícola como à atividade econômica principal. Para as famílias dos alunos da escola Valdete Piedade, as maiores atividades exercidas são: produção de frutas, feijão, hortaliças, milho e mandioca, respectivamente. Para as famílias dos alunos da escola da Baraúna, situado no povoado da Baraúna, as maiores atividades exercidas são as de feijão, milho, frutas, hortaliças e mandioca, respectivamente. Já para as famílias dos alunos da escola Dr. Abílio Farias, situado no povoado do Mucambo, as maiores atividades exploradas são as hortaliças, o milho, as frutas e a mandioca, sendo que o feijão não foi citado nas respostas dos alunos. Dentre as atividades de fruticultura estão: o maracujá, o limão, a banana, o caju, a manga, coco e o mamão, sendo os mais cultivados respectivamente. E de hortaliças estão: o quiabo, a batata-doce, a cebola, o tomate, o pimentão, o coentro, a abóbora e a cebolinha, respectivamente, sendo que este fato se dá por estas famílias situarem próximo ao Perímetro Irrigado Barreiras – Norte. Os dados são condizentes descritos pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário que a Escola Dr. Abílio Farias Escola da Baraúna 19% 15% 12,5% 10% 13% 87,5% 0,0% 68% Sim Não 75% NS/NR Figura 1. Realização de atividades agrícolas desenvolvidas pelas famílias dos alunos, Barreiras – BA, 2008. Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.65-69, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 68 A. P. Andrade et al. agricultura familiar é a principal responsável pela segurança alimentar do país. É responsável por 67% da produção nacional de feijão, 97% do fumo, 84% da mandioca, 31% do arroz, 49% do milho, 25% do café e 32% da soja; produz 38% do Valor Bruto da Produção (VBP) nacional (MDA, 2007). A produção de hortaliças, tanto comercial como para a subsistência, possui um papel importante para a atividade agrícola familiar, contribuindo para o seu fortalecimento e garantindo sua sustentabilidade. Trata-se de uma cultura que necessita de uma extensão de terra muito pequena, em relação a outras produções agrícolas, para que seja economicamente viável, além de exigir pouco conhecimento técnico e um baixo nível de investimento para se iniciar a atividade. Por outro lado, a alta perecibilidade desses produtos, somada a sua distribuição pulverizada e falta de homogeneidade, impõe vários problemas à comercialização. Foram questionados aos alunos se as famílias exercem atividades de exploração pecuária. Os presentes estão dispostos na Figura 2, que retrata as famílias dos alunos da escola Valdete Piedade, escola municipal da Baraúna e da escola Dr. Abílio Farias, estas exercem respectivamente 55 %, 75% e 75 %, mostrando que além de produção agrícolas eles também atuam com criação animal. Assim, foram analisados os dados de criação animal, demonstrando que as famílias dos alunos da escola Valdete Piedade possuem maior criação de bovinos, aves, eqüinos, caprinos, suínos e peixes, respectivamente. Já para as famílias dos alunos da escola municipal da Baraúna possuem maior criação de bovinos e aves, seEscola Valdete Piedade Escola Dr. Abílio Farias Escola da Baraúna 25% 20% guidos de suínos, eqüinos, peixes e ovinos, respectivamente. E para as famílias dos alunos da escola Dr. Abílio Farias, as maiores criação bovinos, aves, suínos, eqüinos e caprinos, respectivamente. Dentre a criação bovina que é a maioria para as famílias dos alunos em das escolas da Baraúna e Dr. Abílio Farias, os bovinos de leite é maioria, por ocuparem pequenas áreas, e por terem um menor rebanho. A agricultura familiar é a principal responsável por 52% do leite, 59% de suínos, 40% de aves e ovos (MDA, 2007). Foram questionados aos alunos se eles desempenhavam atividades agrícolas com a família (Tabela 1). Para os alunos da escola Valdete Piedade, escola municipal da Baraúna e escola Dr. Abílio Farias desempenham atividades respectivamente, 75%; 75 % e 69%. Com isso, também foi perguntado se alguns deles já faltaram aulas para realização de atividades agropecuária com a família, e para os alunos da escola Valdete Piedade, escola municipal da Baraúna e escola Dr. Abílio Farias já faltaram aula para trabalhar com pais nas atividades agrárias, 5%; 50% e 19%, respectivamente. Para as aulas de hortaliças, foram bem sucedidas nas escolas, pois as famílias de grande parte dos alunos fazem este cultivo, mais o foque da produção das hortaliças se deu também nas escolas, pois estes plantaram seus canteiros e estes puderam fazer uso na merenda escolar. Para as aulas de solos, os alunos utilizaram bastante às práticas, pois estes não tinham noções sobre a textura do solo, sua importância, o melhor aproveitamento da água, a necessidade de conservação do solo e medidas de preven- 12,50 12,5% 75,0% 12,5% 75,00 12,50 55% Sim Não NS/NR Figura 2. Realização de criação animal desenvolvidas pelas famílias dos alunos, Barreiras – BA, 2008 Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.65-69, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 Educampo – projeto piloto de inserção de conteúdos agrícolas e ambientais nas Tabela 1. Número e Percentuais dos alunos que desenvolve atividades agropecuárias e que já faltaram aulas para realizar atividades agropecuárias. Realização de atividade agrícola Faltaram aulas Unidade Escolar Escola Valdete Piedade Escola Municipal da Baraúna Escola Dr. Abílio Farias Sim Não Sim Nº 15 5 1 Não 19 % 75% 25% 5% 95% Nº 12 5 8 8 % 75% 25% 50% 50% Nº 11 5 3 13 % 69% 31% 19% 81% ção foram apresentadas aos mesmos. Sendo assim, foi abordado sobre a utilização de cobertura vegetal evitando deixar o solo descoberto para que não ocorra escoamento superficial da água no solo, o que poderia haver um carregamento de solo. As dúvidas sugiram quanto à adubação e quais os nutrientes necessários para as plantas, e como eles poderiam ser aplicados nas culturas. Durante as atividades de zootecnia pôde – se demonstrar sobre os aspectos da criação animal, pois é também um meio de sustento para as famílias destes alunos. A maioria destes vive em contato direto com a criação de bovino, e até ajudam seus pais a fazerem à ordenha das vacas, e levam a alimentação nos currais. Também foi abordado sobre a importância da criação de aves, pois eles possuem em suas propriedades criação de galinhas do tipo caipira, sendo essencialmente para a produção de ovos e para consumo familiar, em que, depois vai para abate caseiro mesmo. Foi comentado nas aulas sobre a alimentação das galinhas caipira, com a importância de uma dieta balanceada com a utilização de rações. Porém, os alunos disseram que a alimentação é feita somente com milho, e não utilizam nenhuma fonte protéica. CONCLUSÕES O aprendizado talvez seja de grande importância principalmente por oferecer aos alu- 69 nos a oportunidade de se apropriarem destes ensinamentos como instrumentos para refletir e mudar suas próprias vidas e suas realidades, melhorando assim, a produção agrícola e conseqüentemente a sua qualidade de vida, apesar de que ainda não podermos aferir estas mudanças agora nas propriedades, mas que num futuro próximo estes tragam bons resultados. REFERÊNCIAS ARROYO, M., FERNANDES, B. M.; A educação básica e o movimento social do campo. Articulação Nacional Por uma Educação Básica do Campo. São Paulo. 1999. BRASIL. Ministério da Educação. Referências para uma política nacional de educação do campo. Brasília, 2003. FAO - FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION /INCRA – INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA. Diretrizes da Política Agrária e Desenvolvimento Sustentável. FAO/ INCRA,Brasília, 1995. FERREIRA, V.R., SOUZA, P. N.; A fruticultura como alternativa para a produção familiar no âmbito do PRONAF nos municípios de Campos dos Goytacazes e São Francisco do Itabapoana - RJ. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, vol.25, n.3, p.436 – 439, 2003. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Produção Agrícola Municipal, v. 33, 2006. Disponível em: www.ibge.com.br. Acesso em 30/05/2008. MDA – Ministério do Desenvolvimento Agrário. Secretaria de Desenvolvimento Territorial, 2006. Disponível em: <http: www.pronaf.gov.br/infra-estrutura> . Acesso: 28/05/2008 às 17:30 h. VEIGA, J. E. O Brasil rural ainda não encontrou seu eixo de desenvolvimento. Revista Estudos Avançados,n.15, p.101-119. Ministério do Desenvolvimento Agrário. Brasília, 2001. Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.65-69, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 Revista Educação Agrícola Superior Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior - ABEAS - v.25, n.2, p.70-73, 2010. ANÁLISE EXPLORATÓRIA DA EVOLUÇÃO DO NÚMERO DE VAGAS OFERECIDAS EM VESTIBULAR PELA UFRPE NO PERÍODO DE 2004 A 2009 Énery G. de S. Melo1 & Maria de F. Santiago2 1 2 Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), [email protected] Departamento de Ciências Domésticas, Universidade Federal Rural de Pernambuco UFRPE, [email protected] RESUMO Objetivou-se por meio deste trabalho analisar a evolução no número de vagas ofertadas no Vestibular de uma Instituição de Ensino Superior nos últimos cinco anos. Os dados foram coletados a partir da análise de documentos e informações disponibilizadas pela Instituição e da organizadora do Vestibular. A análise foi realizada por meio da planilha eletrônica Excel. A partir da reunião de cursos em áreas de conhecimento foram criadas as categorias: Agrárias, Humanas e Sociais, Licenciaturas, Saúde e Biológicas, Alimentos e Computação-Informática. Foi possível identificar, através dos dados coletados, acréscimo no total de vagas de mais de 150%. Os aumentos mais expressivos foram verificadas nos grupos Agrárias e Licenciaturas, cerca de 95% e 151% respectivamente. PALAVRAS-CHAVE: Vestibular, graduação e ensino presencial EXPLORATORY ANALYSIS OF THE EVOLUTION OF THE NUMBER OF PLACES OFFERED IN VESTIBULAR UFRPE FOR THE PERIOD 2004 TO 2009 ABSTRACT The aim of this work was to analyze the evolution in the number of students accepted in the University in the last five years. Data were collected from the analysis of documents and information provided by the institution and the organizer of the Vestibular. The analysis was performed using the spreadsheet Excel. From the meeting of courses in areas of knowledge were created categories: Crop Science, Human and Social Sciences, Teacher Education, Health & Medicine, Food and Computer-Hardware. It could be identified through the data collected, an increase in total vacancies of more than 150%. The most significant increases were observed in groups Crop Science and Teacher Education, about 95% and 151% respectively. KEYWORDS: vestibular, graduate school attendance Análise exploratória da evolução do número de vagas oferecidas em vestibular pela O governo brasileiro vem destinando cada vez mais recursos ao ensino superior com o objetivo de ampliar o seu acesso, levando às regiões mais distantes das capitais, promovendo o desenvolvimento dessas regiões. Um dos projetos de maior destaque é o Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI) instituído por meio do Decreto Nº 6.096 de 24 de Abril de 2007. Este programa, que contou com a adesão de todas as Universidades Federais, pretende contribuir com a expansão das vagas do Ensino Superior, convergindo com as metas do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), o qual prevê um aumento mínimo de 30% dos jovens na faixa de 18 a 24 anos, até o final da década. Além disso, o REUNI tem como meta global a elevação gradual da taxa de conclusão média dos cursos de graduação para 90%, reduzindo a evasão. A Universidade Federal Rural de Pernambuco foi uma das Instituições que aderiu ao REUNI. Antes mesmo da implantação do seu Projeto, a UFRPE já tomava ações no sentido da expandir e interioriza a oferta dos seus cursos. Nos anos de 2004 e 2005, criou duas novas Unidades Acadêmicas nas cidades de Garanhuns e Serra Talhada. Diante do exposto, este trabalho tem por objetivo apresentar o resultado de um estudo exploratório sobre o aumento do número de vagas ofertadas em Vestibular por esta Instituição. A metodologia aplicada nesta pesquisa baseou-se na análise documental. A partir dos resultados pretende-se promover certa compreensão do impacto da implantação do REUNI nesta Instituição, produzindo elementos para discussão sobre o assunto e motivando o desenvolvimento de pesquisas mais aprofundadas. MATERIAL E MÉTODOS A pesquisa pode ser classificada como exploratória, tendo em vista que pretendemos fazer uma abordagem ao tema. A pesquisa exploratória é definida como aquela que tem por objetivo “dar uma explicação geral sobre determinado fato, através da delimitação do estudo, levantamento bibliográfico, leitura e análise de documentos” (OLIVEIRA, p. 71, 2005). Foram considerados os concursos vestibulares do período de 2004 a 2009. As informações necessárias foram obtidas através do site da organizadora do Vestibular da UFRPE, a COVEST, e da análise de documentos da PróReitoria de Ensino de Graduação (PREG) e da Pró-Reitoria de Planejamento (PROPLAN) da UFRPE. Os dados foram analisados e gerados gráficos por meio de planilha eletrônica, a qual fornece ferramentas para efetuar cálculos, disponibilizada pelo Windows, o Excel. O primeiro gráfico (Figura 1), apresentado na seção resultados e discussão, expressa de maneira geral a evolução do número de vagas de ofertadas pela UFRPE no período de 2004 a 2009. Evolução de Vagas Vestibular 3500 3060 3000 Total de Vagas INTRODUÇÃO 71 2500 2160 2000 1900 1500 1000 2140 1420 1220 500 0 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Ano Figura 1. Evolução do número de vagas ofertadas no periodo de 2004 a 2009 pela UFRPE em cursos de Graduação Presencial. A Figura 2 foi levantada a partir do estudo da variação do número de vagas dos grupos formados pelos cursos. Os cursos foram reunidos em 6 (cinco) grupos: Ciências Humanas e Sociais (Administração, Ciências Econômicas e Ciências Sociais), Ciências Agrárias (Agronomia, Economia Doméstica, Engenharia de Pesca, Engenharia Florestal, Zootecnia e Engenharia Agrícola e Ambiental), Saúde e Ciências Biológicas (Medicina Veterinária e Bacharelado em Biologia), Licenciaturas (as Licenciaturas em Biologia, Matemática, Computação, Química, Letras, Pedagogia, Física e História), Ciências dos Alimentos (Gastronomia e Segurança Ali- Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.70-73, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 72 E. G. de S. Melo et al. Evolução Vagas Vestibular por Grupo Número de Vagas 1200 Agrárias 1000 Humanas e Sociais 800 600 Licenciaturas 400 Saúde e Biológicas 200 Alimentos 0 2004 2005 2006 2007 Ano 2008 2009 Computação e Informática Figura 2. Evolução do número de vagas oferecidas por meio de Vestibular por grupos de cursos de graduação presencial, no período de 2004 a 2009 mentar e Engenharia de Alimentos) e Computação-Informática (Sistemas de Informação e Bacharelado em Ciência da Computação). O agrupamento destes cursos foi realizado de maneira diferente da encontrada no Catálogo dos Cursos da Instituição, reunimos todas as licenciaturas em um grupo e os demais cursos foram agrupados conforme afinidades descritas nos Projetos Pedagógicos dos mesmos. RESULTADOS E DISCUSSÃO Para uma melhor compreensão dos resultados, faz-se necessário descrever algumas ações tomadas pela Universidade Federal Rural de Pernambuco no período estudado. Em 2005, a UFRPE implantou uma Unidade Acadêmica na cidade de Garanhuns, oferecendo 4 (quatro) cursos (Pedagogia, Agronomia, Zootecnia e Medicina Veterinária). No ano seguinte, foi criada a Unidade Acadêmica de Serra Talhada, funcionando os cursos de Agronomia, Bacharelado em Ciências Biológicas, Bacharelado em Ciências Econômicas, Licenciatura em Química, Engenharia de Pesca e Bacharelado em Sistemas de Informação. Por meio da Figura 1 abaixo é possível analisar a evolução do número de vagas ofertadas em Vestibular no período de 2004 a 2009 pela Instituição para cursos de Graduação da modalidade presencial. Comparando os valores apresentados, percebe-se que em 2004 a UFRPE oferecia 1220 vagas. No ano de 2009, o total de vagas passou para 3060, esse aumento representa o percentual de 150%. Fazendo uma análise mais detalhada, considerando a variação entre os anos do período, destaca-se o aumento apresentado no de 2006 em relação ao ano anterior 2005, aproximadamente 34%. Essa expansão das vagas ocorreu devido ao projeto de interiorização da UFRPE quando entraram em funcionamento as suas duas Unidades Acadêmicas. De 2008 a 2009, o acréscimo foi ainda mais expressivo, cerca de 42%. Nesse período, a UFRPE iniciou a implantação do seu Projeto REUNI, o qual prevê a criação de 1.050 (Um mil e cinquenta) vagas, através da oferta de onze cursos e do aumento do número de vagas em cursos existentes. No ano de 2009 foram criados três cursos em Recife (Administração, Sistemas de Informação e Licenciatura em Letras) e três cursos em cada uma das Unidades Acadêmicas: em Garanhuns (Licenciatura em Letras, Bacharelado em Ciência da Computação e Engenharia de Alimentos) e em Serra Talhada (Administração, Zootecnia e Licenciatura em Letras). Nesse mesmo ano, a UFRPE aumento o número de vagas dos cursos, Engenharia de Pesca, Engenharia Florestal e das Licenciaturas em Computação, em Matemática, em Química e Biologia. A partir da Figura 2 abaixo, pode-se analisar o aumento da oferta de vagas por área de conhecimento. Cada linha do gráfico possui cor diferente, representando uma das categorias criadas: linha rosa Ciências Agrárias, cor laranja Ciências Humanas e Sociais, azul todas Licenciaturas, violeta os cursos de Saúde e Biológicas, na cor verde os cursos da área de Alimentos e na cor marrom os cursos das Ciências da Computação-Informática. Observa-se na Figura 2 que todos os grupos tiveram aumento da oferta de vagas. Ressalta-se que em 2004 não eram ofertados cursos dos grupos de Ciências dos Alimentos e de Computação-Informática. Em 2006, foi ofertado o primeiro curso, da área de ComputaçãoInformática, o Bacharelado em Sistemas de In- Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.70-73, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 Análise exploratória da evolução do número de vagas oferecidas em vestibular pela formação. Em 2009, a UFRPE ofereceu três cursos dessa área, dois cursos de Bacharelado em Sistemas de Informação e um Bacharelado em Ciência da Computação, ofertando o total de 240 vagas. Quanto ao grupo de Ciências dos Alimentos, em 2004 foi criado o curso de Gastronomia e Segurança Alimentar com 40 vagas anuais. Em 2009, além desse curso a Instituição passou a oferecer Engenharia dos Alimentos com 80 vagas. O total de vagas ofertadas nesse ano, na área de Ciências dos Alimentos foi 120. O grupo de cursos categorizados como Agrárias apresentou em 2009, uma elevação em torno de 95%. No período de 2004 a 2009 foram criados 5 (cinco) cursos nesse grupo, sendo 2 (dois) de Agronomia, 2 (dois) de Zootecnia e 1 (um) de Engenharia de Pesca. Além disso, 3 (três) cursos que já vinham sendo ofertadas pela UFRPE teve aumento no número de suas vagas (Engenharia de Pesca, Engenharia Agrícola e Ambiental e Engenharia Florestal). Em 2004, a Instituição oferecia 450 vagas, no ano de 2009 o número foi de 880. Provavelmente, o impacto maior do aumento de vagas na Instituição Pesquisada ocorreu no grupo das Licenciaturas. Em 2004, a UFRPE oferecia 6 (seis) Licenciaturas que com um total de 430 vagas. A partir desse ano, foram criados mais 6 (seis) cursos, sendo 2 (dois) na sede em Recife (Letras e Pedagogia), 2 (dois) em Garanhuns (Letras e Pedagogia) e 2 (dois) em Serra Talhada (Letras e Química). Além disso, 3 (três) cursos já existentes na sede, as Licenciatura em Computação, Química e Biologia, sofreram aumento nas suas vagas. Diante de tudo isso, em 2009 o grupo apresentou o total de 1080 vagas, o que implicou em uma variação positiva de aproximadamente 151 %. O grupo dos cursos das Ciências Humanas e Sociais foi o que apresentou menor variação no período, de 50%. A UFRPE no ano de 2006 criou um curso de Bacharelado em Ciências Econômicas na sua unidade em Serra Talhada. Em 2009, foram ofertados 2 (dois) novos cursos de Administração. 73 No grupo denominado Saúde e Ciências Biológicas foi identificado o aumento de aproximadamente 89%. Este aumento ocorreu devido a criação de 2 (dois) cursos, Medicina Veterinária, em Garanhuns, e Bacharelado em Ciências Biológicas, em Serra Talhada. CONCLUSÕES A Instituição pesquisada através de incentivo do Governo Federal e das suas políticas públicas, como o REUNI, vem expandido o número das vagas ofertadas para os cursos presenciais de Graduação. No período pesquisado (2004-2009) o aumento foi maior que 150%. Inferi-se que a UFRPE privilegiou o aumento da oferta vagas para os cursos da categoria Licenciaturas, aproximadamente 151%, e de cursos das Ciências Agrárias, cerca de 95%. Os resultados acima não encerram a pesquisa proposta, pelo contrário, sugere o desenvolvimento de pesquisas mais detalhadas e aprofundadas, buscando estudar os efeitos da implantação desses cursos nos seus contextos sociais. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Educação. Decreto 6096. Institui o programa de apoio a planos de reestruturação e expansão das universidades federais – REUNI. 2007. Brasília. Disponível em: http://www.ufrpe.br/download.php ?endArquivo=noticias/4248_Decreto de criação do REUNI.mht. Acessado em 18 de Setembro de 2009. BRASIL. Ministério da Educação. O Plano de desenvolvimento da educação: razões, princípios e programas. 2007. Brasília. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/arquivos/livro/ index.htm. Acessado em 20 de Setembro de 2009. OLIVEIRA, M. M. Como fazer pesquisa qualitativa. 2005. 192p. Recife: Editora Bargaço. UFRPE. Reestruturação e expansão da universidade federal rural de pernambuco. 2008. Disponível em: http://www.ufrpe.br/reuni/ 1.pdf. Acessado em 18 de Setembro de 2009. Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.70-73, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 Revista Educação Agrícola Superior Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior - ABEAS - v.25, n.2, p.74-78, 2010. ASPECTOS LEGAIS DA COBRANÇA DE ÁGUA NO BRASIL Joelma S. dos Santos1; José G. V. Baracuhy2 & Vera L. A. de Lima2 1 Aluna de Doutorado de Engenharia Agrícola, Bolsista do CNPq. DEAG/UFCG. Av. Aprígio Veloso, nº 882. Bodocongó, Campina Grande, PB. E-mail: [email protected] 2 Professor do Departamento de Engenharia Agrícola, Universidade Federal de Campina Grande, UFCG. E-mail: [email protected] e [email protected] RESUMO Devido à importância adquirida pela água nas últimas décadas, objetivou-se por meio deste trabalho analisar as leis e decretos que legalizam a cobrança pelo uso no Brasil. Assim sendo, a cobrança surge como incentivo ao consumo consciente dos recursos hídricos, tendo em vista sua escassez em determinadas regiões do país mesmo aquelas que tradicionalmente não sofria com esse problema. A constituição federal fornece todo um aparato de leis que regulariza a cobrança como um ato constitucional de um bem comum, a água. A experiência desse ato tem demonstrado uma redução no consumo exagerado dessa substância, que com as mudanças climáticas ocorridas nas últimas décadas, pode se tornar inexistente em algumas regiões impossibilitando o desenvolvimento de vidas no planeta. PALAVRAS-CHAVE: Bem comum, acesso, incentivo, leis LEGAL ASPECTS OF THE CHARGES OF WATER IN BRAZIL ABSTRACT Due to the importance gained by the water in recent decades, aimed to work through this review the laws and ordinances that legalize the use charges in Brazil. Therefore, the recovery appears to encourage the conscious consumption of water resources, due to its scarcity in certain regions of the country even those that traditionally have not suffered from this problem. The federal constitution provides a whole apparatus of law that regulates the collection as a constitutional act of welfare, the water. The experience of this act has shown a reduction in excessive consumption of that substance, which with climate change over recent decades, may become non-existent in some areas preventing the development of life on the planet. KEYWORDS: Welfare, access, incentive, laws Aspectos legais da cobrança de água no Brasil INTRODUÇÃO A água é um dos bens mais preciosos e importantes da atualidade, por ser imprescindível para a sobrevivência humana e dos ecossistemas. Contudo, com o crescimento demográfico e o desenvolvimento industrial e tecnológico acelerados, as poucas fontes disponíveis estão comprometidas ou correndo risco de deteriorização. A poluição dos mananciais, o desmatamento, o assoreamento dos rios, o uso inadequado de irrigação, a impermeabilização do solo, entre tantas outras ações antrópicas, são responsáveis pela contaminação da água. O Brasil, por suas dimensões continentais e diversidade geográfica, apresenta situações bastante distintas quanto à disponibilidade hídrica intra e inter-regionais, sendo afetado tanto pela escassez hídrica, quanto pela degradação dos recursos causada pela poluição de origem doméstica e industrial. A região sul/sudeste com relativa abundância de recursos hídricos comprometida pela poluição de origem doméstica e industrial, apresentando áreas de escassez como a região metropolitana de São Paulo. A região semi-árida do nordeste com graves problemas de escassez gerados pela má distribuição das chuvas e agravados por poluição doméstica, e apresentando ainda poluição industrial em níveis relativamente baixos. A região Centro-Oeste e Norte com grande disponibilidade hídrica, baixa poluição tanto doméstica como industrial devido a uma ocupação urbana ainda rarefeita, mas inserida em dois ecossistemas: Pantanal e Amazônia, que demandam estratégias especiais de proteção (SANTOS, 2002). A existência de normas relacionadas à utilização dos Recursos Hídricos garante uma relação harmônica entre as atividades humanas e o meio ambiente, além de equilibrar as forças entre os diversos segmentos da economia (FIESP/ CIESP, 2009). Para Conejo (2000), a cobrança pelo uso da água é ainda um instrumento que promove o equilíbrio da qualidade de vida dos habitantes da bacia hidrografia. Dar valor econômico à água é preservar a vida, pois a cobrança permite investir, entre outras coisas, em saneamento básico, agindo de forma econômica em saúde pre- 75 ventiva, reduzindo drasticamente os índices de mortalidade infantil e melhorando as condições ambientais para a preservação da diversidade nos diversos ecossistemas das bacias hidrografias. A cobrança pelo direito de uso da água é um ato legal previsto pela constituição federal brasileira e tem como objetivo principal o incentivo a redução do uso desse recurso. Nesse sentido, esse trabalho apresenta um breve comentário das leis que regularizam a cobrança pelo uso de água no Brasil. Aspectos jurídicos que legalizam a cobrança pelo uso da água no país Em termos jurídicos, um bem é público quando pertence a toda coletividade que pode ou não autorizar a sua apropriação por agentes privados. No Brasil, a Constituição Federal de 1988 tornou públicas todas às águas quando repartiu-as entre a União e os Estados “são bens da União os lagos, rios e quaisquer correntes em terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um Estado da federação, sirvam de limite com outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais”. (art. 20, III e art. 26, I). Quanto a remuneração do uso desse bem, várias leis e decretos tornam constitucional sua cobrança: 1. Código Civil – Dispõe que o uso comum dos bens públicos pode ser gratuito ou retribuído conforme as leis da união, dos estados ou municípios a cuja administração pertencer (art. 68). Tornando a cobrança pelo uso da água um ato constitucional garantido em lei. Art. 68. Quando a alteração não houver sido aprovada por votação unânime, os administradores da fundação, ao submeterem o estatuto ao órgão do Ministério Público, requererão que se dê ciência a minoria vencida para impugná-la, se quiser, em dez dias. 2. Código de Águas (Decreto Federal no. 24.643 de 10.07.1934) – O Código de Águas apresenta texto bastante semelhante ao do Código Civil dispondo que o uso comum das águas pode ser gratuito ou retribuído conforme leis e regulamentos da circunscrição administra- Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.74-78, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 76 J. S. Santos et al. tiva a que pertencerem município, estado ou união. O referido Código assegura o uso gratuito de qualquer corrente ou nascente de água para as primeiras necessidades da vida e permite a todos usar as águas públicas, de acordo com a regulamentação administrativa. Porém, estabelece também que ninguém pode ficar ilícito quando, de alguma forma, contaminar os recursos hídricos causando prejuízos a terceiros. O código consubstancia a legislação nacional básica de águas. No entanto, necessita ser atualizado, principalmente para ser ajustado à Constituição Federal de 1988, à Lei nº. 9.433/ 97, e de regulamentação de muitos de seus aspectos. 3. Lei no 6.662 (25.06.79) da Política Nacional de Irrigação (regulamentada pelo Decreto no 89.496/84) – Dispõe que o uso de águas públicas para fins de irrigação e atividades decorrentes dependerá de remuneração (art. 21 da Lei). Um dos motivos que justifica a cobrança nesse setor de grande importância na economia brasileira é a grande demanda por água, cerca de 70%, o que aliado a falta de manejo adequado pode contaminar diversos corpos d’ água. Art. 21 - A utilização de águas públicas, para fins de irrigação e atividades decorrentes, dependerá de remuneração a ser fixada de acordo com a sistemática estabelecida em regulamento. 4. Lei no. 6.938 (31.08.1981) da Política Nacional do Meio Ambiente – Adota os princípios poluidor-pagador e usuário-pagador aplicados aos recursos ambientais e inclui entre estes, os recursos hídricos. A Lei dispõe que a Política visará à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos (art. 4, VII). VII – a imposição, ao poluidor e ao pagador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos. 5. Lei no. 7.990 (28.12.1989) – Institui aos estados, distrito federal e municípios compensação financeira pelo uso da exploração de recursos hídricos para fins de geração de energia elétrica, justificada pela perda econômica decorrente da inundação, artigo 20 (parágrafo 1) da Constituição Federal. Art. 2º - A compensação pela utilização de recursos hídricos, para fins de geração de energia elétrica, será de 6% (seis por cento) sobre o valor da energia produzida, a ser paga pelos concessionários de serviço de energia elétrica aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, em cujos territórios se localizarem instalações destinadas à produção de energia elétrica, ou que tenha áreas invadidas por águas dos respectivos reservatórios (Revogado pela Lei nº. 9.648, de 27.5.98). 6. Lei no. 9.433 (08.01.1997, da Política e Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos – Entende a cobrança pelo uso da água como um dos seus instrumentos de gestão dos recursos hídricos (art. 5, IV). Entre outros aspectos, determina que: são passíveis de cobrança todos os usos da água sujeitos à outorga, porém na fixação dos valores a serem cobrados deve ser observado o volume efetivo a ser retirado. Acrescenta ainda que, cabe aos Comitês de Bacias Hidrográficas estabelecer os mecanismos de cobrança, e sugerirem os valores a serem cobrados ao Conselho Estadual de Recursos Hídricos (CRH), no âmbito de suas competências. Art. 5º São instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos: I - os Planos de Recursos Hídricos; II - o enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos preponderantes da água; III - a outorga dos direitos de uso de recursos hídricos; IV - a cobrança pelo uso de recursos hídricos; V - a compensação a municípios; VI - o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos. Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.74-78, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 Aspectos legais da cobrança de água no Brasil A Lei no. 9.433/97 se utiliza do termo genérico “cobrança pelo uso dos recursos hídricos”. Essa cobrança (ou “contraprestação pela utilização das águas públicas”) conforme (Pompeu, 1997): i) não configura imposto (já que este “destina-se a cobrir despesas feitas no interesse comum, sem ter em conta as vantagens particulares obtidas pelos contribuintes”); ii) não é taxa (já que, “não se está diante do exercício de poder de polícia – taxa de polícia – ou da utilização efetiva ou potencial de serviço público – taxa de serviço”); iii) não é contribuição de melhoria. A cobrança pelo uso de recursos hídricos no Brasil, segundo disposto na Lei no. 9.433/ 97, deve atender tanto ao objetivo econômico como ao financeiro. Esse último está explicitamente considerado no artigo 19, inciso III da Lei. O objetivo financeiro também está presente no artigo 22 da Lei que define que os valores cobrados deverão financiar não apenas os estudos, programas, projetos e obras dos Planos de Recursos Hídricos (I), mas também a implantação e custeio administrativo do Sistema Nacional de Gerenciamento (II). O aspecto econômico é admitido no artigo 19 que informa que a cobrança intenciona reconhecer a água como bem econômico (I) e incentivar a racionalização de seu uso (II). O inciso I desse artigo dispõe, inclusive, que deve ser dado ao usuário uma indicação do real valor da água. Isto pode ser interpretado como a cobrança de um valor que seja indicativo dos custos externos que o uso da água esteja provocando. A Lei estabelece critérios gerais para a cobrança das derivações, captações e extrações de volumes de água (art. 21, I) e para os lançamentos de esgotos e demais resíduos (art. 21, II). No entanto, é omissa quanto aos critérios para os demais usos sujeitos à outorga definidos no artigo 12, inciso IV (aproveitamento dos potenciais hidrelétricos) e inciso V (outros usos que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade da água existente em um corpo de água). Além de incentivar a preservação da bacia hidrográfica onde se encontra o corpo d’água em questão. A outorga na Lei 9.433 está descrita de acordo com o artigo 11 como sendo “(...) o con- 77 trole quantitativo e qualitativo dos usos da água e o efetivo exercício dos direitos de acesso à água”; o artigo 12 as modalidades requerentes de outorga e no artigo 16 o prazo máximo de 35 anos para essa. Competindo a União concedêla, segundo a Constituição Federal no seu artigo 21, inciso XIX, ou de conceder esse poder aos estados e distrito federal conforme dispõe o art. 14 da referida lei. No artigo 20 da lei se prevê a cobrança dos usos quantitativos dos recursos hídricos sujeitos a outorga referido no artigo 12, o que denota que a cobrança pressupõe a outorga. No estado da Paraíba a cobrança têm sido motivos de diversos fóruns para sua regulamentação. O modelo aqui proposto tem princípio na Lei n°. 6.308/96, em alguns pontos diverge da Lei 9.433/97 e promete alguns conflitos, sugere que os valores cobrados pelo uso da água utilizados em melhorias para bacia de origem e também para fora da bacia onde foram arrecadados. CONCLUSÕES No âmbito nacional a cobrança é garantida por lei. Em alguns estados já é praticada a alguns anos, na Paraíba essa prática esta sendo discutida e seu modelo é baseado na lei 9.433/97 propondo como diferencia que o valor arrecadado seja utilizado dentro e fora da bacia. No Brasil, a principal dificuldade para a implantação da cobrança está no desconhecimento de sua prática, custos e benefícios, tanto no setor que cobrará quanto no que será cobrado, o que gera inseguranças e predisposições negativas. A Lei nº. 9.433/97 introduziu a cobrança pelo uso da água como um instrumento de gestão e como um instrumento econômico, a ser aplicada tanto para os usos quantitativos quanto para os usos qualitativos. Seja como for, as experiências internacional e nacional da cobrança pelo uso da água têm demonstrado que se trata de um processo permanente de aprimoramento das ferramentas administrativas e da participação dos agentes envolvidos na gestão. Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.74-78, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 78 J. S. Santos et al. REFERÊNCIAS BRASIL. Lei nº. 6.662, de 25 de junho de 1979, que Dispõe sobre a Política Nacional de Irrigação e dá outras providências. Diário Oficial (da República Federativa do Brasil), Brasília, 26 jun. 1979. CONEJO, J.G.L. O sistema paulista de gerenciamento de recursos hídricos e a cobrança pelo uso da água. In: THAME, A.C.M. et al. A cobrança pelo uso da água. São Paulo: Instituto de Qualificação e Editoração, 2000. BRASIL. Decreto nº. 24.643, de 10 de julho de 1934, Decreta o Código de Águas. BRASIL. Lei Federal nº. 6.938 de 31 de agosto de 1981, que Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Diário Oficial (da República Federativa do Brasil), Brasília, 1 set. 1981. BRASIL. Lei Federal nº. 7.900 de 28 de dezembro de 1989, que Regulamenta o pagamento da compensação financeira de que trata a Lei. BRASIL. Lei n°. 9.433, de 08 de janeiro de 1997, que Estabelece normas de orientação à Política Estadual de Recursos Hídricos bem como ao Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Diário Oficial (da República Federativa do Brasil), Brasília, 9 jan. 1997. BRASIL. Lei n°. 6.308/96, Governo do Estado da Paraíba. Recursos Hídricos - Leis e Decretos. Secretaria de Recursos Hídricos, 1996. FIESP/CIESP. Conservação e reúso de água: Manual de orientações para o setor industrial. FIESP/CIESP/ANA: vol. 1. Disponível em: <http://www.ana.gov.br/Destaque/docs/d179reuso.pdf > Acesso em 30 de jul. de 2009. POMPEU, C. T. Fundamentos jurídicos do anteprojeto de cobrança pela utilização das águas do domínio do Estado de São Paulo. In: Audiência Pública sobre Anteprojeto de Lei de Cobrança pelo Uso da Água. São Paulo, 1997. SANTOS, D. G. A Cobrança pelo Uso da Água. 2002. 100p. Dissertação (Mestrado em Gestão Econômica do Meio Ambiente). Universidade de Brasília, 2002. Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.74-78, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 Revista Educação Agrícola Superior Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior - ABEAS - v.25, n.2, p.79-83, 2010. EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM CACHOEIRA DOS ÍNDIOS-PB José D. de S. Barros1, Maria de F. P. da Silva2 1 Mestrando em Recursos Naturais, Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). Av. Aprígio Veloso, 882, Bodocongó, 58109-970, Campina Grande – PB. E-mail: [email protected] 2 Licenciada em Letras, Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). E-mail: [email protected] RESUMO O presente trabalho é resultado de uma pesquisa realizada com estudantes da Educação de Jovens e Adultos da Cidade de Cachoeira dos Índios – PB, tem como objetivo compreender a percepção ambiental desses alunos nos aspectos da Educação Ambiental. A pesquisa foi realizada no período de 03 a 18 de setembro de 2009, contendo uma amostra de 40 alunos. Foi realizada visitas as escolas e aplicado um questionário contendo questões objetivas e subjetivas abordando os aspectos socioeconômico e também a compreensão que os educandos construíram a cerca das definições de meio ambiente e dos problemas que os mesmos presenciam no seu cotidiano. PALAVRAS-CHAVE: percepção ambiental, educação ambiental, meio ambiente ENVIRONMENTAL EDUCATION IN THE YOUTH AND ADULTS IN CACHOEIRA DOS ÍNDIOS-PB ABSTRACT This paper is the result of a research of students in the Education of Young Adults and the City of Cachoeira dos Índios - PB, it aims to understand the environmental awareness of students in aspects of environmental education. This research was conducted in a period of 03 to 18 September 2009, containing a sample of 40 students. Was carried out school visits and a questionnaire containing objective and subjective questions addressing the socioeconomic aspects and also the understanding that students have built some of the definitions of the environment and the problems they witness in their daily lives. KEYWORDS: environmental awareness, environmental education, environment 80 J. D. de S. Barros et al. INTRODUÇÃO Educar é uma atividade complexa caracteriza-se pela dedicação na busca de criação de projetos de ação na construção e reconstrução do conhecimento através da reflexão crítica de sua própria prática docente e dos currículos escolares (TRAVASSOS, 2001). Para Teixeira (2007) a educação ambiental é composta de conhecimentos teóricos e práticos com o objetivo de proporcionar à compreensão e o despertar da reflexão sobre as práticas dos indivíduos voltadas para a conservação e preservação do meio ambiente em beneficio da coletividade. A educação ambiental, a partir da conferencia Intergovernamental sobre Educação Ambiental realizada em Tsibilisi (EUA), em 1977, inicia um relevante processo em nível global proporcionando reflexões no sentido de tomar consciência sobre o valor dos bens naturais e reorientar a produção de conhecimento baseada nos métodos de interdisciplinaridade e nos princípios da complexidade (JACOBI, 2003). O documento produzido a partir da Conferência internacional sobre Meio Ambiente e Sociedade, Educação e Consciência Pública para a Sustentabilidade, realizada em Tessalônica (Grécia), destacou a necessidade de implementar ações de educação ambiental fundamentada nos preceitos de ética e sustentabilidade, identidade cultural e diversidade, mobilização, participação e práticas interdisciplinares (JACOBI, 1998). O Brasil vem conquistando espaço crescente devido as necessidades de conservar os recursos naturais, tendo em vista as necessidades de reverter o quadro de degradação ambiental que ora vivenciamos, através da efetivação de práticas socialmente justa, ecologicamente correta e economicamente viável, colocando em prática os preceitos do desenvolvimento sustentável, através da compreensão e da busca de novos padrões de desenvolvimento, procurando suprir as necessidades da atual geração sem comprometer as gerações futuras. As propostas de educação ambiental estão contidas principalmente nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) como tema transversal, contemplando todas as disciplinas do currículo (BARROS, 2009). Essa modalidade de educação procura implantar novos modelos de valores e práticas, fundamentada em uma postura crítica e democrática, contribuindo assim para a construção da cidadania, buscando contribuir assim com a sensibilização para as questões ambientais. Essa educação influência diretamente o modo de viver da sociedade, desenvolvendo os hábitos de responsabilidade, de respeito com os homens e com os outros componentes da natureza, preservando de forma consciente os recursos naturais e respeitando os ciclos de renovação e reciclagem natural (FUNICELLI e STORI, 2008). A educação ambiental articulada com as práticas sociais, no contexto atual de degradação crescente dos ecossistemas envolve uma necessária produção de conhecimentos por parte dos educadores, envolvendo um conjunto crescente destes atores sociais, potencializando o engajament o e a aplicação da interdisciplinaridade. Visando interpretar as interrelações do meio social e do meio natural, no intuito de buscar alternativas sustentáveis para o desenvolvimento socioambiental (JACOBI, 2003). De acordo com Leff (2001) não é possível resolver os problemas sociais e ambientais da humanidade ou mitigar os efeitos dessa degradação gerados pelo sistema de racionalidade vigente baseado no modelo econômico de desenvolvimento vigente. Tem-se intensificado nos últimos anos uma preocupação crescente da sociedade com os problemas ambientais, diante desse fato tem tomado corpo a tendência de educação ambiental na educação básica. Essa problemática é um tema desafiador na transposição didática dos conteúdos, nas ultimas décadas vários documentos oficiais no Brasil ressaltando a relevância do emprego de temas ambientais como facilitadores da aprendizagem e dessa tomada de consciência pelos atores sociais (BARROS, 2009). METODOLOGIA A pesquisa foi realizada através de acompanhamentos dos alunos matriculados no 7º e 9º anos na modalidade de Educação de Jovens e Adultos na Escola Municipal de Ensino Infantil Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.79-83, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 Educação ambiental na educação de jovens e adultos em Cachoeira dos Índios - PB e Fundamental Maria Cândido de Oliveira e Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Cachoeira dos Índios. Para a realização da pesquisa foi utilizada uma amostra aleatória contendo 40 alunos, realizada no período 03 a 18 de setembro de 2009. Tendo como instrumento de pesquisa um questionário contendo questões objetivas e subjetivas, abordando definições e conceitos referentes a educação ambiental e os problemas ambientais presenciados no cotidiano dos alunos. 81 80,00% 70,00% 60,00% 50,00% 40,00% 30,00% 73,30% 20,00% 10,00% 0,00% 26,70% Zona Rural Zona urbana Origem dos alunos regularmente matriculados RESULTADOS E DISCUSSÃO Os dados coletados correspondem a 40 alunos da modalidade de educação de Jovens e Adultos da cidade de Cachoeira dos Índios – PB, matriculados nas escolas citadas anteriormente, após analise dos dados constou-se que os educandos apresentam uma média de idade de 21 anos e que 53,3% dos alunos são do sexo masculino. Freitas et al., (2009) verificaram em um estudo com a modalidade de jovens e adultos que a idade entre os alunos eram proporcional 50% para casa sexo. 54,00% 52,00% 50,00% 48,00% 53,30% 46,00% 46,70% 44,00% 10,00% 3,30% 6,70%3,30% 66,70% Tudo que nos cerca Lugar onde vivemos Relações entre seres vivos Conjunto de recursos naturais Condições que regem e abrigam a vida Compreensão dos alunos a cerca do conceito de meio ambiente Ambiente, no artigo 3o, Inciso I, assim define: “meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”. Assim, os alunos demonstram carência do correto conceito de meio ambiente. 42,00% Masculino Feminino Sexo dos alunos 26,70% Questionados a cerca da origem 73,3% dos alunos são da zona rural do município. Esse fato é comum no município que apresenta uma população residente na zona rural superior a população que reside na zona urbana. Questionados a cerca do conceitos que os mesmos construíram sobre a definição de meio ambiente 66,7% dos entrevistados compreendem que meio ambiente é a relação entre os seres vivos. Segundo a Lei Federal no. 6.938/81, que dispõe sobre a política nacional do Meio 30% 10% 33,30% Ato de preservar a natureza Ensinar sobre meio ambiente Não jogar lixo no chão Colocar em prática atitudes como a reciclagem Percepção dos alunos a cerca da educação ambiental Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.79-83, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 82 J. D. de S. Barros et al. Em relação a educação ambiental 30,3% dos alunos entendem que educação ambiental é colocar em prática atitudes como não jogar lixo no chão. Segundo a L ei Federal no 9.795/99, no seu artigo 1o, assim define: “Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade”. 6,70%0,00% 10% 13,30% 70% Poluição da água Poluição sonora Desmatamentos e queimadas Lixo em terreno baldio Esgotos a céu aberto Principais problemas ambientais observado no município de Cachoeira dos Índios – PB 80,00% 70,00% 60,00% 50,00% 73,30% 40,00% 30,00% 20,00% 23,40% 10,00% 3,30% 0,00% Ciências Geografia História Disciplinas que abordam temática ambiental a Inquiridos sobre as disciplinas que abordam temas relacionados a meio ambiente 73,3% dos educandos responderam que já estudaram temas relacionados sobre meio ambiente na disciplina Ciências. Faz-se necessário o engajamento de todas as disciplinas nesse processo de construção do pensamento ecológico, 3,30% 6,70% visto que, a lei citada anteriormente assegura no seu artigo 4o inciso III: “o pluralismo de idéias e concepções pedagógicas, na perspectiva da inter, multi e transdisciplinaridade” Procurando saber a compreensão dos alunos a cerca do que eles compreendam sobre poluição ambiental 46,7% responderam que poluição ambiental é a interferências das ações antropicas no solo, ar e água. Em pesquisa realizada com alunos da EJA por Moura et al., (2009) verificaram que 45% dos educandos afirmaram que poluição ambiental é tudo que contribui para a degradação do meio ambiente e que prejudica o equilíbrio biológico. Com o objetivo de identificar a compreensão dos alunos a cerca dos problemas ambientais locais foi perguntado aos quais os principais problemas ambientais observado no município de Cachoeira dos Índios – PB, 70% responderam que o principal problema que interfere na vida 46,70% 10% 20% 43,30% 23,30% 16,70% 30% Lixo proveniente de diferentes fontes Tudo que interfere no meio ambiente Tudo que prejudica a saúde dos seres vivos Interferências no solo, ar e água Percepção dos alunos referente ao conceito de poluição ambiental Reciclagem do lixo Aumento de cestos de lixo nas ruas Saneamento básico eficiente Preservação dos recursos naturais Conscientização da população local Soluções apresentadas pelos alunos para mitigar os problemas ambientais no município de Cachoeira dos Índios – PB Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.79-83, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 Educação ambiental na educação de jovens e adultos em Cachoeira dos Índios - PB cotidiana das pessoas desse município são os esgotos a céu aberto. Procurou-se também identificar quais as sugestões dos alunos para mitigar os problemas ambientais identificados no município supracitado 30% afirmaram que faz-se necessário a implantação de um sistema de saneamento básico eficiente. Segundo Souza (2007), a insuficiência de saneamento básico no Brasil tem preocupado todos os setores da sociedade, devido a sua relevância na preservação de doenças e na conservação do ambiente. CONCLUSÕES O processo de construção do conhecimento tendo por base a educação ambiental possibilita reflexões relevantes, proporcionando a cada sujeito a tomada de decisão tornando-se responsável pelas mesmas e ao mesmo tempo refletindo sobre seus atos. Neste sentido, objetivar a sustentabilidade ambiental implica ações práticas e teóricas de educação ambiental. Educar para a sustentabilidade antecede toda a mobilização política e econômica no intuito de atingirmos o equilíbrio entre o desejável e o inevitável, assim para atingir a sustentabilidade um dos caminhos é invest irmos em educação ambiental e a escola é um espaço público em que ocorre o desenvolvimento da socialização e sistematização do conhecimento. Os problemas ambientais ganharam mais notoriedade e passaram a ser interpretados de forma global e não apenas isolados ou dicotomizados. REFERÊNCIAS BARROS, J. D. de S.; BARROS, J. L. EDUCAÇÃO AMBENTAL E MUDANÇAS CLIMÁTICAS. IN: SEABRA, G. de F.; MENDONÇA, I. T. L. Educação Ambiental para a sociedade sustentável e saúde global. João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2009. p. 1267-1272. 83 BRASIL. Constituição (1988). Lei Federal no . 6.938/81. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Disponível em: < http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6938.htm >. Acesso em: 18/09/2009. BRASIL. Constituição (1988). Lei Federal no . 9.795/99. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ LEIS/L9795.htm >. Acesso em: 18/09/2009. FREITAS, A. C. S.; SANTOS, J. E. O.; BARRETO. Educação de Jovens e Adultos. Centro Cientifico Conhecer – Enciclopédia Biosfera, Goiânia, v. 5, n. 8, 2009. FUNICELLI, A. C dos; STORI, N. Desafios Frente ao Processo Educativo: Considerações Gerais. Revista Educação, v.3, n.1, p. 35 – 43, 2008. JACOBI, P. Educação Ambiental, Cidadania e Sustentabilidade. Cadernos de Pesquisa, n. 118, p. 189-205, março, 2003. JACOBI, P. et al. (orgs.). Educação, meio ambiente e cidadania: reflexões e experiências. São Paulo: SMA.1998. p.27-32. LEFF, E. Epistemologia ambiental. São Paulo: Cortez, 2001. MOURA, H. F. N.; ABREU, E. L. MORAIS, M. A. C. de. EDUCAÇÃO AMBENTAL NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: REFLETINDO SOBRE AS CONCEPÇÕES DOS ALUNOS DO PROEJA SOBRE MEIO AMBIENTE E EDUCAÇÃO AMBIENTAL. IN: SEABRA, G. de F.; MENDONÇA, I. T. L. Educação Ambiental para a sociedade sustentável e saúde global. João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2009. p. 663-669. SOUZA, C. M. N. Relação Saneamento-SaúdeAmbiente: os discursos preventivista e da promoção da saúde. Saúde e Sociedade, São Paulo, v.16, n.3, p.125-137, 2007. TEIXEIRA, A. C. Educação ambiental: caminho para a sustentabilidade. Revista Brasileira de Educação Ambiental. Brasília: Rede Brasileira de Educação Ambiental, n. 2 fev., 2007. TRAVASSOS, E. G. A educação ambiental nos currículos: dificuldades e desafios. Revista de Biologia e Ciência da Terra, v. 1, n. 2, 2001. Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.79-83, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 Revista Educação Agrícola Superior Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior - ABEAS - v.25, n.2, p.84-86, 2010. LICENCIATURA EM CIÊNCIAS AGRÍCOLAS: “MEIA IDADE” DE FORMAÇÃO SÓCIO-PROFISSIONAL DE DOCENTES PARA O ENSINO AGRÍCOLA NA UFRRJ 1 Carla L. O. de Souza ³; Antonieta S. Lopes ³; Maíza G. R. Pereira³ & Lia M. T. de Oliveira4 ³Graduandas em Licenciatura em Ciências Agrícolas da UFRRJ, e-mail : [email protected], [email protected] , [email protected] 4 Doutora em Ciências Sócias em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade, Professora do DTPE/IE/UFRRJ, membro do GEPEADS e do Laboratório de Estudos e Pesquisas Diálogos e Saberes Cotidianos, área temática de Identidades e Representações do mundo rural e Educação Agrícola, e-mail: [email protected] RESUMO O presente trabalho tem por objetivo trazer a discussão sobre um curso da UFRRJ que profissionaliza docentes para o ensino técnico agrícola (denominada educação profissional e tecnológica). A idéia é tecer considerações histórico-sociais, buscando demonstrar que o mesmo é um caso paradigmático de licenciatura, posto que durante as décadas de 1960 e 1970 praticamente foi o único curso regular e pleno institucionalizado para profissionalizar docentes para o ensino agrícola. Há 46 anos forma os professores da educação profissional e tecnológica, no entanto, mesmo sendo sufocado pela proposta pedagógica das Escolas Agrotécnicas Federais, do Sistema Escola-Fazenda, o curso superou essa tentativa de homogeneizar a profissionalização de professores para atender esse modelo agrícola e na atualidade vem respondendo também ao que se denomina de educação do campo. Nesse sentido, vale reconstituir o processo de criação do curso de Licenciatura em Ciências Agrícolas – LICA – da UFRRJ, ressaltando aspectos institucionais e sociais que caracterizam a trajetória do curso no Ministério da Agricultura até os dias atuais, no Ministério de Educação. PALAVRAS-CHAVE: LICA, Agrotécnica, Educação Técnica DEGREE IN AGRICULTURAL SCIENCES: “MID-AGE” OF THE SOCIOPROFESSIONAL TRAINING OF TEACHERS TO TEACH AGRICULTURE IN UFRRJ. ABSTRACT This work aims to bring the discussion on a course of UFRRJ that professionalized teachers to teach agriculture (so-called professional and technical education). The idea is to weave historical and social considerations, seeking to show that it is a paradigmatic case of degree, since during the 1960 and 1970 was virtually the only regular course fully institutionalized and to train teachers to teach agricultural. 46 years ago as the teachers of vocational and technological education, however, despite being choked by the pedagogical Schools Federal Agrotechnical, the Farm School System, the course overcame this attempt to mix the professionalization of teachers to meet this model of agriculture and currently has responded well to what is called the field of education. In this sense, it reconstitutes the process of creation of the Degree in Agricultural Sciences - LICA - the UFRRJ, highlighting the institutional and social values of the trajectory of the course at the Ministry of Agriculture to the present day, the Ministry of Education. KEYWORDS: LICA, Agrotechnical, Technical Education Licenciatura em ciências agrícolas: “meia idade” de formação sócio-profissional de INTRODUÇÃO “Quase Cinqüenta numa instituição Centenária” A Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro é uma Instituição de Ensino público e gratuito que existe há 99 anos, sendo inicialmente uma escola de agricultura e veterinária, a ESAMV. Cada curso desta universidade foi criado para atender as necessidades da sociedade, mas também interesses políticos e econômicos, já que inicialmente como ESAMV e logo após ENA e ENV (Escola Nacional de Agronomia e Escola Nacional de Veterinária), a sua criação esteve ligada aos anseios do Ministério da Agricultura para formar técnicos dirigentes e servidores públicos para as políticas governamentais desenvolvimentistas e descomprometidas coma Reforma Agrária. O Curso de Licenciatura em Ciências Agrícolas primeiro da América do Sul sendo o quarto mais antigo da universidade foi criado, em 1963, com a denominação de Escola Superior de Educação Técnica, atendendo ao disposto no Artigo 59 da lei 4024/61 (Diretrizes e Bases da Educação Nacional), cumprindo também uma exigência de se agrupar às escolas de Agronomia, Veterinária e Florestal, uma escola pedagógica para consolidar a instituição como Universidade e atender ao projeto de expansão do sistema escola-fazenda. METODOLOGIA O Curso de Licenciatura em Ciências Agrícolas, da UFRRJ foi reconhecido pelo Decreto 79486/77. Trata-se de uma licenciatura plena, envolvendo uma carga de 2855 horas, com o objetivo de formar professores de Ensino Fundamental e Médio em disciplinas da área de Ciências Agrárias. Já contamos em nível nacional com 14 cursos entre universidades públicas e privadas. No final da década de1970, devido à expansão e revitalização do ensino técnico agrícola e das crescentes exigências pedagógicas para profissionalização do magistério em todos os níveis e ramos do ensino, a licenciatura em Ciências Agrícolas ganha credibilidade e sedimenta a 85 sua importância no interior da Universidade, período em que o ensino agrícola deixa de ser considerado ensino especial e passa a ser vinculado ao MEC. Mas é na criação do Instituto de Educação que o curso ganha a sua identidade multidisciplinar, posto que o seu currículo diretamente influenciado pela área progressista de conhecimentos pedagógicos daquela Unidade Acadêmica, consegue avançar num modelo de formação que não somente atenderia os interesses da rede federal das agrotécnicas, mas também aos colégios agrícolas de São Paulo, as fundações ligadas às escolas agrícolas do Sul e também o ensino fundamental com a disciplina de técnicas agrícolas. Todavia a não submissão do CLCA às agrotécnicas não significou afastamento delas e nem corte de relações, mas sim a luta de boa parte dos docentes da UFRRJ, professores do curso, pela autonomia universitária, que entre os anos de 1970 à início de 1990, esses docentes mantiveram-se em greve e paralisações pelo ensino progressist a, socialmente referenciado, comprometido com a redemocratização das instituições públicas e não limitado ao produtivismo ou ao cientificismo. Também nesse período os estudantes do Curso de Licenciatura em Ciências Agrícolas mantiveram-se militando e unidos no seu Diretório (DARF) e no DCE (ver DE PAULA, 2003) que traz o nome de Raimundo Ferreira, líder camponês da Guerrilha do Araguaia (segundo FÉLIX, 2009). Oliveira (1998) ao investigar a memória do curso na sua pesquisa, 1 fez entrevistas com o fundador e primeiro coordenador do curso de LICA, professor Karl R. Mathias, que definiu o profissional de educação agrícola da Universidade Rural do Brasil – URB (atual UFRRJ), fortemente assegurado nas raízes da renomada Escola Nacional de Agronomia – ENA. Dizia ele que era “um profissional técnico agrícola, sensível às questões da educação tecnológica” (p.74). RESULTADOS E DISCUSSÃO A t ítulo de informação sobre a profissionalização inicial, podemos constatar algumas pesquisas como Oliveira (1998), Dantas (2003) e Ayukawa (2007) que trazem a impor- Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.84-86, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 86 C. L. de O. Souza et al. tância do profissional formado da área agrária com formação pedagógica em suas atividades de trabalho relacionado com o desenvolvimento rural. A institucionalização da Licenciatura em Ciências Agrícolas fixou um modelo de profissionalização docente reforçado pelo entendimento de um docente especialista nos assuntos e conhecimentos da política de ensino agrícola e agrária, por isso que nas mudanças curriculares subseqüentes se ampliaria o leque de formação para as Escolas da Família Agrícola e escolas de assentados, o que amplia o mercado de trabalho para as redes estaduais e municipais. Isso ampliaria a função docente também, quando a tendência progressista em educação no final dos anos 1980 questiona o tecnicismo de professores do curso, sobretudo, questiona o tecnicismo do Sistema Escola Fazenda. Tal fato foi tomando dimensão, o que originaria, em 1987, a constituição de uma Comissão de Estudo e Reformulação Curricular, obtendo consistência na formação humanística, visão crítica, visão ética e ambiental. Os trabalhos dessa Comissão redimensionaram o perfil de formação profissional do curso, “que na atualidade se defronta não só com os requisitos dos movimentos sociais e ambientalistas, mas também se defronta com as disputas de paradigmas científicos e interpretativos do conhecimento e da realidade social da profissão” (OLIVEIRA, p. 4). CONCLUSÃO A partir do trabalho de investigação do DARF, professores e estudantes envolvidos com a busca de fontes documentais, literárias e de memória sobre o curso para os eventos em 2007 e 2008, vinculados à comemoração dos 45 anos do Curso de LICA, pode-se afirmar que a cada década o curso reconfigura a sua proposta curricular. Uma vez que por ser formação eclética nas ciências humanas, sociais, ambientais e agrárias, os egressos do curso têm se espalhado pelo Brasil a fora, em instituições de ensino, pesquisa e extensão como educadores, professores universitários, membros de equipes de formuladores de políticas no MEC/SETEC, pesquisadores da EMBRAPA, professores de CEFET’s, EAF’s, IFET’s, Escolas da Família Agrícola, empresários, etc. Atualmente, pretende-se incluir uma habilitação: a Educação do Campo que atenderia as demandas dos movimentos sociais. Nesse sentido o curso teria a opção de habilitar para as disciplinas pedagógicas ligadas às questões agrárias e sociológicas e mais ainda a agroecologia e segurança alimentar. REFERÊNCIAS APLICA. O Licenciado em Ciências Agrícolas. Folder de divulgação. Mimeo; s/d. AYUKAWA, M. L. A formação de professores e a concepção de agroecologia no currículo do Curso Técnico Agrícola. Revista Brasileira de Agroecologia. UFRGS, 2007. CAPDEVILLE, G. O Ensino Superior Agrícola no Brasil, Viçosa/MG: UFV, Imprensa Universitária, 1991. OLIVEIRA, L.M.T.; ESTOLANO CORDEIRO, L.C. A Formação de Professores para o Ensino Técnico Agrícola: um olhar sobre o processo. In: Revista Universidade Rural, v. 24, série Ciências Humanas. Seropédica/RJ: EdUR, 2002. OLIVEIRA, L. M. T. A Licenciatura em Ciências Agrícolas: Perfil e Contextualizações. Seropédica-RJ,1998 (Tese de Mestrado). PETEROSSI, H.G. A formação do professor para o ensino técnico. São Paulo: Loyola, 1994. FÉLIX, C.; Coordenação do Curso de Licenciatura em Ciências Agrícolas (org.). Informativo sobre os 45 anos do curso de Licenciatura em Ciências Agrícolas. Seropédica/RJ: 2009. SILVA, Maria do Socorro. Educação do Campo e Desenvolvimento: uma relação construída ao longo da história. http://www.contag.org.br/ i m a g e n s / f244Educacao_do_Campo_e_Desenvolvimento_Sustentavel.pdf SOARES, A.M.D. Política educacional e configurações dos cursos de formação de técnicos em agropecuária nos anos 90: regulação ou emancipação? Rio de Janeiro: CPDA/UFRRJ, 2003 (tese). SOUZA, J. A Modernização Seletiva: uma reinterpretação do dilema brasileiro. Brasília: Editora UNB, 2004. Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.84-86, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 Revista Educação Agrícola Superior Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior - ABEAS - v.25, n.2, p.87-92, 2010. PRODUÇÃO DE TELHAS COM RESÍDUOS INDUSTRIAIS E FIBRAS Elvis A. Soares¹;Antonio F. Leal² & Felipe N. M. Costa³ ¹ Eng. Civil. Banco do Nordeste do Brasil. Fone 85 3299 5335. [email protected] ² Prof. Unidade Acadêmica de Eng. Agricola.83 2101 1490. [email protected] ³ Pibic – UFCG/CNPq. Graduando em Eng.Civil INTRODUÇÃO Existem inúmeras pesquisas que estudam a reciclagem dos mais diversos resíduos originados dos setores industriais. Devido à complexidade com que estas pesquisas se desenvolvem e pela necessidade de integrar conhecimentos característicos de diferentes especificações, há um envolvimento de profissionais de várias áreas, como engenharia de materiais, química, biologia, saneamento, marketing, etc. Esses profissionais estão cada vez mais envolvidos e fazendo relevantes descobertas quanto ao potencial que certos resíduos industriais possuem como material de construção civil. São trabalhos que enriquecem e contribuem de forma significante os workshops, congressos e seminários sobre reciclagem. Baseado neste preceito, este projeto de pesquisa procura mostrar a viabilidade da utilização de resíduos industriais como materiais de construção alternativos aos convencionais. Pretende-se confeccionar telhas com resíduos gerados em indústrias de Campina Grande – PB, utilizando fibras naturais e artificiais como reforço estrutural. Espera-se um produto inovador que resulte em melhoria da qualidade da obra, e que reduza o impacto ambiental causado pela incorreta destinação desses resíduos. Já é tempo de despertar a consciência dos geradores dos resíduos para as vantagens do investimento em programas de reciclagem/reaproveitamento que poderão ser uma nova fonte de receita. O desconhecimento sobre as possibilidades de reaproveitamento dos seus próprios resíduos é um problema tão grave quanto o da falta de espaço para depositá-los adequadamente. Este projeto busca soluções que assegurem destinos finais sem risco aos futuros usuários dos produtos com resíduos incorporados. Portanto, esta pesquisa propõe a reciclagem de resíduos industriais, utilizando-os na produção de telhas. 88 E. A. Soares et al. MATERIAL E MÉTODOS A atividade industrial é uma grande geradora de resíduos. Uma parte considerável desse resíduo é destinada aos lixões das cidades. O aproveitamento desses resíduos, confinados em uma argamassa contribuiria para a solução desse problema ambiental e traria benefícios à construção civil (peso próprio, isolamento térmico e acústico, baixos custos, etc.). Os resíduos sólidos resultantes dos processos industriais ainda não são considerados como matéria-prima nos meios construtivos. Estes resíduos têm um alto potencial de aproveitamento e com os devidos cuidados podem até otimizar os componentes de uma construção. O descarte inapropriado em aterros e o grande volume gerado tornam esses resíduos numa ameaça ambiental, além do descarte inapropriado, a incineração é um dos processos mais utilizados para solucionar o problema desses resíduos. Na Figura 1 podem ser vistos alguns exemplos: a) Resíduos de Cerâmica c) Resíduos de Caulim b) Resíduos de Calçados d) Resíduos de Rochas Figura 1. Resíduos sólidos gerados em indústrias O número ainda reduzido de trabalhos com abordagens práticas sobre o aproveitamento de resíduos industriais na construção civil e o potencial dos grupos de pesquisa da UFCG, somados às questões levantadas anteriormente, encorajaram o desenvolvimento dessa pesquisa. O presente projeto faz parte de uma pesquisa maior intitulada: “Materiais Não-conven- cionais para uma Engenharia Sustentável”, sob a coordenação geral da PUC-RIO, envolvendo ainda USP-Pirassununga, UFPB, CEFET-MG e UFCG como co-responsáveis. Os trabalhos foram desenvolvidos nos laboratórios existentes nas diversas unidades acadêmicas do Centro de Ciências e Tecnologia – CCT e do Centro de Tecnologia e Recursos Naturais - CTRN, principalmente no Laboratório de Construções Rurais e Ambiência da UA de Engenharia Agrícola e do Laboratório de Caracterização de Materiais da UA de Engenharia de Materiais. Contou-se também com o apoio dos técnicos no desenvolvimento das atividades programadas. Fibras de sisal Utilizou-se a fibra de sisal produzida no município de Pocinhos, PB. No preparo dos compósitos usou-se um teor de fibras igual a 2% em relação ao volume do compósito, cerca de 3,6% da massa do aglomerante presente na mistura. As fibras de sisal foram cortadas através de uma guilhotina manual em comprimentos variando entre 25-30mm, seguindo recomendações de TOLÊDO FILHO (1997). Aglomerante Para produção dos compósitos, utilizou-se cimento Portland tipo CPI. Este cimento não contém material pozolânico incorporado na sua composição, segundo dados do fabricante, que também forneceu a sua análise físico-química. O cimento foi adquirido acondicionado em sacos de papel do tipo “Kraft” de 50kg. Para evitar a hidratação prematura, o cimento foi acondicionado em sacos plásticos, sendo lacrados e armazenados em estantes de madeira. Agregado miúdo Foi utilizada uma areia originária do leito do rio Paraíba. A granulometria da areia foi determinada segundo a NBR 7217/87 e classificada de acordo com a norma NBR 7211/83, que classifica os agregados para uso em concreto. A massa unitária em estado solto foi determinada de acordo com a NBR 7251/82. Antes do ensaio de granulometria, objetivando conseguir uma maior compacidade da matriz e visando a produção de compósitos Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.87-92, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 Produção de telhas com resíduos industriais e fibras de pequena espessura (<2,0cm) com um bom acabamento superficial, a areia escolhida foi passada na peneira de 2mm de abertura para retirada de pedregulhos, impurezas e da sua fração grossa. Resíduo cerâmico Foram utilizados resíduos provenientes da Cerâmica Caiongo Ltda., localizada no município de Santa Rita, PB. Esses resíduos foram gerados na produção de blocos cerâmicos, provenientes de peças defeituosas, quebradas ou fora dos padrões comerciais (coloração, riscos, textura, etc.). Os resíduos foram coletados e trazidos ao laboratório, sendo esmiuçados em um moinho de bola até que 100% do material moído passasse na peneira ABNT no100 (abertura de malha, #0,15mm), Figuras 2 e 3. O material que passou na peneira ABNT no200 (#0,075mm) foi escolhido e uma amostra 89 foi enviada para o Laboratório da Companhia Paraibana de Cimento Portland – CIMEPAR, na cidade de João Pessoa, PB, que realizou a sua análise físico-química. Conforme já descrito, os resíduos foram processados visando à incorporação como matérias-primas alternativas no desenvolvimento das telhas em substituição aos materiais convencionais. Moldagem das Telhas As telhas foram produzidas no traço 1:1,5 (aglomerante:areia), em massa, sendo elaboradas três misturas. A primeira mistura, sem fibras e sem substituição parcial do cimento, serve como matriz de referência. Na segunda mistura também não houve substituição do cimento, porém foi inserido 2% de fibra de sisal, em volume. Já na terceira mistura houve 30% de substituição do cimento Portland pelo material pozolânico proveniente do resíduo moído de blocos cerâmicos e foi utilizado 2% de fibra de sisal, em volume. A Tabela 1 mostra um resumo das misturas produzidas. Tabela 1. Misturas desenvolvidas para produção das telhas Mistura Traço Figura 2. Resíduos de blocos cerâmicos antes da moagem Figura 3. Resíduos de blocos cerâmicos após moagem Agregado Fibra Fator RMBC (areia) (%) a/agl 1 0 1,5 0 0,7 0,3 1,5 2 0,3 1,5 2 Cimento 1:1,5 0,7 M MS Aglomerante (massa) M30S 0,45 RMBC – resíduo moído de bloco cerâmico; a/agl – água/aglomerante Foram seguidos os seguintes critérios: · teor de fibra de sisal: 2%, em volume, o equivalente a 3,6% da massa do cimento; · comprimento das fibras de sisal: 2,5 – 3,0cm; · mistura, moldagem e vibração: manuais; · cura imersa durante 3 dias e ao ar até a data dos ensaios. Foi idealizada uma forma simples, produzida em chapa de madeira compensada de 10mm (lastro) e em chapa metálica dobrada em forma de trapézio, formando um ângulo de 45º com a horizontal. As laterais, em madeira maciça, são aparafusadas ao lastro, dando rigidez ao con- Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.87-92, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 90 E. A. Soares et al. junto. As chapas metálicas são colocadas no lastro por deslizamento, através das aberturas nos frontais da forma (Figura 4) e fixadas às laterais com espaçadores de madeira (bitolas). A espessura da telha é de 8mm. O peso do conjunto vazio é cerca de 21kg, e quando cheio, em torno de 36kg, podendo ser manuseado por uma só pessoa e mais facilmente por duas. 20cm 15cm 21,4cm Chapa Metálica 26,4cm 110cm 15 ou 20cm 3,2cm Lateral em madeira 11,0cm 3,2cm 21,4 ou 26,4cm 4,0cm 3,0cm Figura 5. Esquema da forma para moldagens das telhas (sem escala) Figura 4. Molde em madeira e chapa metálica para confecção das telhas horas. Após esse período, foram curadas ao ar em ambiente de laboratório até o dia dos ensaios. Após 30 dias de cura ao ar, as telhas foram separadas aleatoriamente em dois lotes para futura realização dos ensaios. RESULTADOS E DISCUSSÃO Este modelo de telha minimiza o custo do madeiramento de cobertura, dispensando o uso de caibros, ripas, pregos e diminuindo a mãode-obra. Permite um vão livre de 1,0m e requer apenas as terças de apoio nos extremos do vão. Foi utilizada uma tecnologia de produção que pode ser facilmente absorvida na construção popular, onde os usuários podem produzir para o seu próprio consumo. Foram confeccionadas duas formas para realização do experimento, o que permitiu a produção simultânea de quatro telhas. A mistura era lançada sobre a chapa metálica e socada com uma espátula nas laterais entre a madeira e a chapa metálica. Após ser preenchida, a forma era vibrada através de golpes de martelo de borracha por cerca de um minuto, até a retirada das bolhas de ar existentes. O esquema apresentado na Figura 5 mostra alguns detalhes e medidas das formas utilizadas. Uma relação água/cimento igual a 0,45 foi necessária para garantir a homogeneidade dos compósitos durante a mistura, em decorrência do emprego das fibras e de sua absorção de água. Após 24 horas de repouso, as telhas eram retiradas das formas e imersas em água por 72 As propriedades físicas e mecânicas de fibras de sisal produzidas no município de Pocinhos-PB estão apresentadas na Tabela 2. Tabela 2. Propriedades físicas e mecânicas de fibras de sisal f ABS t (%) (mm) (kN/m3) (MPa) CEPED (1982) nd 12,7 240 458 Mukherjee et al (1984) 0,1-0,3 14,5 Nd 530-630 Agopyan (1991) 0,2-0,3 12-13 123-137 374-378 Tolêdo Filho (1996) 0,08-0,3 7,5-11 190-250 227-1002 Referência MOEf fu (GPa) (%) 15,2 4,2 17-22 4,3 nd 5-5,5 11-27 2-4,2 nd - não determinado Fonte: (TOLÊDO FILHO, 1997) Areia O resultado do ensaio da composição granulométrica da areia está apresentado na Tabela 3 e a curva granulométrica na Figura 6, apresentando módulo de finura (MF) igual a 1,63 e Tabela 3. Composição granulométrica da areia utilizada Abertura da peneira (mm) 2,0 1,2 0,6 0,3 0,15 Resto % Retida 0 5,40 7,84 33,83 49,80 3,13 % Retida acumulada 0 5,40 13,24 47,07 96,87 100,00 Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.87-92, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 % que passa da amostra total 100,00 94,60 86,76 52,93 3,13 0,00 0 100 10 90 20 80 30 70 40 60 50 50 60 40 70 30 80 20 90 10 100 Porcentagem que Passa (%) Porcentagem Retida (%) Produção de telhas com resíduos industriais e fibras 0 0,15 0,30 0,60 1,20 2,00 4,80 9,50 Abertura das Peneiras (mm) Areia Lim superior Lim inferior Figura 6. Curva granulométrica da areia utilizada dimensão máxima de 0,6mm. A sua massa unitária em estado solto foi igual a 1435kg/m3. Verifica-se que este agregado enquadra-se nos limites da Zona 1 da NBR 7211/83, sendo classificada como areia muito fina. Esta granulometria irá ajudar na compacidade da matriz, diminuindo a porosidade e melhorando a interface fibramatriz. SAVASTANO JR. (2000) utilizou uma areia com MF=2,12 e dimensão máxima de 2,4mm. Resíduo moído de blocos cerâmicos Os resultados da análise físico-química do resíduo de blocos cerâmicos estão apresentados na Tabela 4. Os óxidos de silício e alumínio totalizam cerca de 81% dos constituintes do resíduo de bloco moído, segundo a ASTM C618/01 essa soma não pode ser inferior a 70% para que um material seja considerado uma pozolana. Esses são os óxidos que reagem com o hidróxido de cálcio formando os silicatos. O teor de óxido de Tabela 4. Caracterização química e física do resíduo de blocos cerâmicos Características SiO2 (Dióxido de Silício) Al2O3 (Óxido de Alumínio) Fe2O3 (Óxido de Ferro) CaO (Óxido de Cálcio) MgO (Óxido de Magnésio) K2O (Óxido de Potássio) Na2O (Óxido de Sódio) Perda ao Fogo Massa Específica Área Específica (Blaine) Unidade % % % % % % % % g/cm3 cm2/g Resultado 63,54 17,54 8,45 2,69 1,86 0,60 0,07 2,36 2,65 4060 91 ferro, de cerca de 8,45%, fez com que as argamassas produzidas com resíduo moído de bloco cerâmico tivessem um tom avermelhado. REFERÊNCIAS ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. “Resíduos sólidos NBR 10004”. Rio de Janeiro, 1987. ____. “Agregado em estado solto – determinação da massa unitária”, NBR 7251. Rio de Janeiro, 1982. ____. “Amostragem de resíduos” - NBR 10007. Rio de Janeiro, 1987. ____. “Lixiviação de resíduos” - NBR 10005. Rio de Janeiro, 1987. ____. “Solubilização de resíduos” - NBR 10006. Rio de Janeiro, 1987. ______. “Agregado para concreto”, NBR 7211. Rio de Janeiro, 1983. ______. “Agregados - determinação da composição granulométrica”, NBR 7217. Rio de Janeiro, 1987. AGOPYAN, V. “Materias reforçados com fibras para construção civil nos países em desenvolvimento: o uso de fibras vegetais”. Tese (Livre-Docência). Universidade de São Paulo. São Paulo, 1991. 204p. CEPED - Centro de Pesquisas e Desenvolvimento. “Cartilha para fabricação de telhão em argamassa armada”. BNH. Rio de Janeiro, 1985. 25p. CEPED - Centro de Pesquisas e Desenvolvimento. “Utilização de fibras vegetais no fibrocimento e no concreto”. BNH. Rio de Janeiro, 1982. LEAL, A. F. ; NEVES, D. V. A. ; NASCIMENTO, R. T. . Utilização de resíduos das industrias de calçados e de cerâmica na obtenção de elementos de construção a base de cimento. Revista Pesquisa, v. 1, p. 37-43, 2007. LIDDLE, B. T. “Construction for sustainability and the sustainability of the construction industry”. In: CIB TG 16 Sustainable Construction. Tampa, Florida, November 6-9, 1994, p.47-56. (apud JOHN, 2000). MUKHERJEE, K. G., “Structure and properties of some vegetable fibres. part 1: sisal fibre”, Journal of Materials Science 19, 1984, p.39253934. REZENDE, M. L. M.; NASCIMENTO, J. W. B. ; LEAL, A. F. . Utilização do Resíduo de Caulim em Blocos de Vedação. Revista da Escola de Minas, v. 61, p. 285-290, 2008. Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.87-92, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 92 E. A. Soares et al. SAVASTANO Jr., H. “Materiais a base de cimento reforçados com fibra vegetal: reciclagem de resíduos para a construção de baixo custo”. Tese (Livre docência). Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2000. 144p. SILVA, E. P. “Incorporação de resíduo da indústria de calçados (EVA – Etileno Vinil Acetato) em tijolos prensados de terra crua”. Campina Grande, 2003. 81p. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Campina Grande. SILVA, F. A. “Durabilidade e Propriedades Mecânicas de Compósitos Cimentícios Reforçados por Fibras de Sisal”. Rio de Janeiro, RJ. 2009. 243 p. Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Rio de Janeiro/COPPE. STANCATO, A. C. “Caracterização de compósitos à base de resíduos vegetais e argamassa de cimento modificada pela adição de polímeros para a fabricação de blocos vazados”. Campinas, SP. 2006. 189p. Tese (Doutorado) - Universidade Estadual de Campinas. TOLÊDO FILHO, R. D.; GHAVAMI, K. “Tensile properties of sisal and compression behaviour of cement mortar sisal composite”. In: International conference on composite engineering. New Orleans, USA. 1996. TOLÊDO FILHO, R. D., “Materiais compósitos reforçados com fibras Naturais: caracterização experimental”, Tese (Doutorado), DEC-PUC, Rio de Janeiro, 1997. 472p. Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.87-92, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 Revista Educação Agrícola Superior Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior - ABEAS - v.25, n.2, p.93-98, 2010. O REUSO DE ÁGUA COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS: NECESSIDADE DE REGULAMENTAÇÃO DO REUSO PARA FINS AGRÍCOLAS Geórgia K. R. M. M. de Melo1 1 Universidade Federal de Campina Grande, Centro de Tecnologia em Recursos Naturais, Programa de Pós-graduação em Recursos Naturais, [email protected] INTRODUÇÃO Em escala mundial, a água, apesar de sua importância para a sobrevivência dos seres vivos, é um recurso cada vez mais escasso, seja pelo crescimento da população e das atividades econômicas, seja pela redução da oferta de água, especialmente em razão da poluição dos mananciais. Diante do crescente processo de escassez, o valor desse bem tende a ficar cada vez mais alto, tornando premente a necessidade de reduzir a poluição hídrica e buscar alternativas viáveis de aumento da oferta de água de modo a redefinir a utilização desse recurso, haja vista que a conjuntura atual exige cada vez mais a busca por metodologias de trabalho que induzam a um aumento da disponibilidade de água ao mesmo tempo em que considere também a qualidade da água disponível e seus múltiplos usos. É nesse cenário que se insere o reuso de água como uma das alternativas mais viáveis para minimizar o problema da escassez hídrica. A utilização de águas residuárias para os mais diversos fins já é uma realidade em diversos países do mundo e há muito tempo, inclusive no Brasil. No entanto, embora já se faça reuso em nosso país, essa prática carece de regulamentação específica. Assim, o presente trabalho, trata de justificar a necessidade de reconhecimento do reuso de água como instrumento de gestão da Política Nacional de Recursos Hídricos e a possibilidade de sua regulamentação a nível local e de acordo com os usos a que se destina, a exemplo do reuso para fins agrícolas. 94 G. K. R. M. M. de Melo et al. METODOLOGIA Nossa pesquisa é analítico-descritiva, partindo de uma análise geral do tema, para uma particular, na tentativa de fornecer um embasamento teórico sobre o assunto, e posteriormente, entender melhor suas peculiaridades. Além disso, se desenvolveu por meio de pesquisa bibliográfica, quando foram consultadas doutrinas, legislação, regras e princípios atinentes à Política Nacional de Recursos Hídricos que contribuíram para análise do tema em discussão. Reuso de Água Inúmeros são os problemas ambientais da at ualidade: aqueciment o glo bal, desertificação, desmatamento, extinção de espécies, falta de tratamento dos resíduos industriais, acúmulo de lixo, vazamento de petróleo etc. Porém, o maior problema ambiental atual e em nível mundial refere-se a água ou a escassez dela. Com efeito, nenhuma das questões ambientais que afligem a humanidade, parece-nos pior do que a possibilidade de escassez completa de água; e é a exploração desordenada dos recursos hídricos, seja nas simples atividades domésticas ou naquelas de produção e consumo de bens e serviços, que vem paulatinamente agravando o problema da disponibilidade desse recurso natural. Diante da preocupação com a disponibilidade de água potável que surge a necessidade de reconhecimento do reuso de água como alternativa de gestão; isso porque, a utilização das águas residuárias nos possibilita inúmeros benefícios: as águas tidas como de segunda qualidade podem ser utilizadas de forma benéfica para diversas finalidades, haja vista que, os usos menos exigentes podem ser atendidos com água de qualidade inferior ao passo que aumentará a disponibilidade hídrica, possibilitando ainda uma oferta maior de água de boa qualidade, diminuição da poluição, etc. Assim, a substituição das fontes de coleta de água para os múltiplos usos é atualmente a melhor alternativa para satisfazer as demandas menos restritivas, li- berando as águas de melhor qualidade para usos mais nobres. Com efeito, as águas ditas de qualidade inferior podem, através do uso de tecnologias apropriadas, servir como fonte alternativa e como uma das soluções para o problema da falta de água. Face a essa situação se faz necessário o desenvolvimento de políticas públicas e culturas dentro da sociedade que induzam a uma maior conservação da água, de modo que a utilização dos recursos ainda disponíveis seja sustentável e um dos mecanismos aptos a atingir essa finalidade é o reuso consciente e planejado de águas de baixa qualidade – assim consideradas aquelas advindas da drenagem agrícola, as águas salobras, águas de chuva e, principalmente, os esgotos domésticos e industriais. Conceito de Reuso e finalidade Definindo reuso de água, Mancuso e Brega Filho nos fornecem o seguinte conceito: Reuso de água: é o aproveitamento de águas previamente utilizadas, uma ou mais vezes, em alguma atividade humana, para suprir as necessidades de outros usos benéficos, inclusive o original. Pode ser direto ou indireto, bem como decorrer de ações planejadas o u não planejadas. (MANCUSO; BREGA FILHO, 2005, p. 25). Por meio do reuso da água, há a possibilidade de tratar os efluentes e descarregálos de forma planejada nos corpos hídricos para que sejam utilizados de diversos modos. A água proveniente de reuso pode ser utilizada para irrigação paisagística, irrigação de campos para cultivos, usos industriais, recarga de aqüíferos, usos urbanos não-potáveis e out ros usos diversos como a aqüicultura, construção civil, etc. Conforme cada destinação do reuso, a água deve apresentar determinadas “características físicas, químicas e biológicas que garantam a segurança dos usuários, a qualidade do produto final e a integridade dos componentes com os quais entrará em contato”(MIERZWA; HESPANHOL, 2005, p. 12) inclusive por- Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.93-98, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 O reuso de água como instrumento de gestão dos recursos hídricos: necessidade de que a mesma água pode ser destinada a mais de um tipo de reuso. As águas denominadas de qualidade inferior e utilizadas para o reuso são as provenientes de esgotos, especialmente os de origem doméstica, águas de drenagem agrícola e águas salobras, posto que são consideradas como fontes alternativas para usos menos restritivos. A grande vantagem do reuso é a diminuição da demanda sobre os mananciais de água devido à substituição da água potável por uma água de qualidade inferior, mas que atenderá de forma satisfatória o uso a que se destina sem necessariamente desperdiçar água apta a usos mais nobres. Com efeito, considerando os múltiplos usos da água reciclada, a sua utilização para qualquer finalidade proporciona um custo menor, já que a água de primeira qualidade ficará disponível para usos mais nobres. Reuso de água para fins agrícolas A agricultura hoje não mais se resume ao aumento da produção apenas por meio da expansão de terra cultivada, mas, sobretudo, depende do suprimento de água a um nível tal que a sustentabilidade da produção de alimentos não poderá ser mantida sem que critérios inovadores de gestão sejam estabelecidos e implementados em curto prazo. A grande questão posta aos órgãos de gestão dos recursos hídricos é a controvérsia existente entre oferta e demanda de água para o atendimento das crescentes necessidades da agricultura irrigada. De acordo com Hespanhol (2005, p. 38) o uso de água para agricultura irrigada no nosso país é de 70% atualmente, enquanto os outros 30% destinam-se aos usos domésticos e industriais em frações iguais. A estimativa é de que até 2010 este uso de água para agricultura irrigada aumente até 80%, o que aumentará também os conflitos já existentes na maioria das bacias hidrográficas, especialmente nas bacias onde há desenvolvimento agrícola e crescimento urbano significativo. Assim, a utilização de água de reuso para irrigação de culturas é indispensável para a gestão racional e adequada dos recursos hídricos. No entanto, seja qual for o uso a que se destina, 95 há a necessidade de regulamentação da prática de forma adequada. Regulamentação do Reuso de Água Embora o Brasil seja relativamente privilegiado em se tratando de Recursos Hídricos, a disponibilidade de água varia no tempo e no espaço, ou seja, obedece as condições climáticas de cada região e período do ano além de ser sensivelmente afetada pelas atividades humanas, ora pela demanda de água para as mais diversas atividades, ora em razão da poluição provocada por essas mesmas atividades. O Brasil dispõe de normas tanto em âmbito federal quanto estadual que determinam os padrões de lançamento de efluentes, classificando os recursos de acordo com suas características físicas, químicas e biológicas e com a destinação desse recurso. Na esfera federal, uma das primeiras legislações a tratar da água foi o Decreto 24.643 de 10 de julho de 1934, o denominado Código de Águas; este Decreto definiu os tipos de água, critérios de aproveitamento além de dispor sobre a contaminação dos corpos hídricos. Outra Resolução importante em termos de disciplina das águas é a Resolução CONAMA 20/1986, revogada pela 357 de 17 de março de 2005; esta última trata da classificação das águas de acordo com suas utilizações e respectivos padrões de qualidade. Com a Constituição Federal de 1988 a água passou a ser considerada como bem ambiental finito e a possibilidade de sua escassez a transformou num bem público e dotado de valor econômico a partir da Lei 9433/97, que instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos. A partir da instituição da Política Nacional de Recursos Hídricos, passou-se a se considerar como princípios norteadores da gestão de água, os seguintes: (1) a água deve ser considerada como bem público; (2) a bacia hidrográfica deve ser adotada como unidade de planejamento e de gestão; (3) deve-se estimular o uso múltiplo das águas; (4) a água deve ser reconhecida como um bem finito, vulnerável e dotado de valor econômico. Impende salientar que, embora a gestão seja descentralizada, a competência para legislar sobre recursos hídricos é da Constituição Federal, consoante art. 22, IV; apenas por Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.93-98, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 96 G. K. R. M. M. de Melo et al. lei complementar, os Estados poderão legislar sobre águas. A resolução 20/1986 foi o instrumento legal utilizado por muito tempo para disciplinar a dinâmica de utilização das águas, até a instituição da Política Nacional de Recursos Hídricos. Esta última envolve a implementação de normas internas de gestão e conservação considerando a água como bem ambiental limitado dotado de valor econômico, assegurando que sua gestão deva sempre proporcionar o uso múltiplo das águas, e estabelecendo a bacia hidrográfica como unidade territorial e a descentralização das atividades para a concretização de Políticas Nacionais de Recursos Hídricos. A Lei 9433/97 não dispôs de forma explicita acerca do reuso de água como instrumento de gestão dos recursos hídricos, dispondo de forma expressa apenas sobre o uso primário da água. No entanto, vários dispositivos desta lei apontam na direção do reuso de água como alternativa para racionalização desse recurso, de sorte que o reuso carece de regulação específica e que seja adequada a cada uma de suas espécies. Dentro da Política Nacional de Recursos Hídricos, o reuso tem fundamental importância haja vista que, ao passo que a cobrança pelo uso da água bruta é instituída já como instrumento de gestão consagrado expressamente pela Política Nacional de Recursos Hídricos, emerge, em contrapartida, o mercado de reuso de água também como instrumento de gestão e, ao mesmo tempo, como alternativa para redução dos custos. As possibilidades e formas potenciais de reuso dependem, evidentemente, de características, condições e fatores locais, que vão desde a decisão política até os fatores ambientais, econômicos, sociais e culturais de cada região. Neste diapasão, entendemos que a regulamentação do reuso deve obedecer às características de cada região onde este é realizado (condições geográficas, climáticas, demanda de utilização da água, etc.), a destinação e disponibilidade hídrica e a própria finalidade do reuso, se para fins agrícolas, industriais, domésticos, dentre outros. O reuso de água proveniente de esgotos por exemplo, é uma prática que vem aumentando significativamente e que de acordo com Hespanhol (2005, p. 58), deve-se aos seguintes fatores: dificuldade de identificar alternativas de água para irrigação, custo elevado de fertilizantes, a segurança de que as águas se tratadas de forma adequada, não representam qualquer risco à saúde pública, a segurança de que os impactos sobre o solo são insignificantes, a aceitação sócio-cultural desta prática de reuso, e, finalmente, o reconhecimento dos órgãos de gestão dos recursos hídricos de que esta prática é eficaz. José Tavares de Sousa (2005, p. 260) aduz que No Brasil não existem normas nem critérios próprios para reuso de água de qualidade inferior, apesar da utilização de esgotos domésticos na agricultura ser uma prática milenar realizada em todos os continentes. Para o uso adequado de esgotos na irrigação se faz necessário o seu tratamento para, além de garantir a qualidade higiênica, corrigir certas características indesejáveis tais como: alta concentração de solos e matéria orgânica putrescível. Para Hespanhol (op. Cit.), a regulamentação do reuso deverá ser elaborada de modo a considerar: a necessidade de que se estabeleçam códigos e padrões associados ao reuso; a criação de uma nova instit uição para operacionalizar e fiscalizar o reuso ou a delegação de poderes a uma instituição já existente, atribuição de competências às agencias locais e nacionais associadas ao setor de recursos hídricos, estabelecendo inclusive a cooperação mútua entre essas agências, garantir o direito dos usuários inclusive no que pertine ao acesso e apropriação dos esgotos, a regulamentação pública desses esgotos e a questão da posse da terra na qual será desenvolvido o reuso. No entanto, a regulamentação adequada esbarra em duas situações, a saber: a primeira, depende da instituição de uma Lei Complementar que autorize os Estados a legislarem em matéria de competência privativa da União e, na segunda situação, definir se o reuso de água será tratado como recurso hídrico ou à luz da legisla- Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.93-98, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 O reuso de água como instrumento de gestão dos recursos hídricos: necessidade de ção que versa sobre saneamento básico. Na primeira situação, vejamos o que diz o art. 22 da Constituição Federal: Art. 22 - Compete privativamente à União legislar sobre: IV - águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão; Parágrafo único - Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste artigo. Assim, de acordo com o dispositivo legal supra, apenas mediante Lei Complementar os Estados estarão autorizados a legislar sobre águas, caso o reuso seja considerado recurso hídrico, que é a segunda situação; isso porque, a disposição de efluentes é assunto afeto às questões de saneamento básico que são regidas inclusive por política própria, A Política Nacional de Saneamento Básico disciplinada pela Lei 11.445/07. À primeira vista, poderia parecer mais adequado que o reuso fosse tratado como matéria referente ao saneamento básico, no entanto, para um melhor esclarecimento, trazemos à baila a diferença entre água e recurso hídrico. “Água” é um mineral presente no meio ambiente nos estados sólido, líquido e gasoso, que se renova pelos processos físicos do ciclo hidrológico; é um recurso natural essencial à vida e a existência de todos os seres vivos. Já o vocábulo “recurso hídrico” refere-se à água quando dotada de valor econômico, consoante definido pela Política Nacional de Recursos Hídricos, em seu art. 1º. , cuja utilização atualmente depende de outorga do Poder Público, além do pagamento de certa quantia pelo usuário desse recurso. Com efeito, o reuso deve ser reconhecido como instrumento de gestão que visa reduzir o gasto de água potável aumentando a sua disponibilidade para usos mais nobres, e deve por consequência, ser reconhecido como recurso hídrico, embora de qualidade inferior, vez que, após o seu tratamento e disposição adequada, terá a mesma utilidade do recurso hídrico “água potável”, no entanto, para fins menos restritivos. 97 CONCLUSÃO O reuso de água é aproveitamento da água já utilizada pelas mais diversas atividades humanas e sua destinação para outros usos menos exigentes. Por meio do reuso há o tratamento de efluentes e sua reutilização para irrigação paisagística, irrigação de campos para cultivos, usos industriais, recarga de aqüíferos, usos urbanos não-potáveis e outros usos diversos como a aqüicultura, dentre outros. O reuso apresenta como objetivo principal a diminuição da demanda de água e o desgaste dos mananciais de sorte que é possível concluir que o reuso de água é importante instrumento de gestão racional dos recursos hídricos e embora não tenha sido contemplado pela Lei 9.433/97. Portanto, é de extrema necessidade o reconhecimento do reuso de água como instrumento de gestão da Política Nacional de Recursos Hídricos e a sua regulamentação a nível local, especialmente, no que diz respeito ao reuso de água para fins agrícolas visto que, este já é feito há muito tempo, mas sem qualquer disciplina específica que o regule. REFERÊNCIAS ANTUNES, Paulo de Bessa. Política nacional do meio ambiente – PNMA: comentários à Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2005. BECK, Ulrich. Ciência: inovação e risco. In Revista Fórum: outro mundo em debate, edição nº 50 – São Paulo: Editora Publisher do Brasil, maio 2007, p. 26. FARIAS, Talden. Direito ambiental: tópicos especiais. – João Pessoa: Editora Universitária, 2007. FIORILLO, Celso Antonio Pachêco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: 2003, Saraiva. HESPANHOL, Ivanildo. Potencial de reuso de água no Brasil: agricultura, industria, município e recarga de aqüíferos. In MANCUSO, Pedro Caetano Sanches, SANTOS, Hilton Felício dos. Reúso de Água. - São Paulo: Manole, 2003. MANCUSO, Pedro Caetano Sanches, BREGA FILHO, Darcy. Conceito de reuso de água. In MANCUSO, Pedro Caetano Sanches, SANTOS, Hilton Felício dos. Reúso de Água. - São Paulo: Manole, 2003. Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.93-98, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 98 G. K. R. M. M. de Melo et al. MIERZWA, José Car los, HESPANHOL, Ivanildo. Água na indústria: uso racional e reúso. - São Paulo: Oficina de textos, 2005. MILARÉ, Edis. Direito do ambiente, 3. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2004. SILVA, José Afonso da. Direito Constitucional Ambiental. 4ª edição. São Paulo: Forense, 1995. SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 15ª edição. São Paulo: Malheiros, 1998. SOUSA, José Tavares de. HAANDEL, Adrianus Cornelius Van. CAVALCANTI, Paula Frassinetti Feitosa. FIGUEIREDO, Ana Mitchielle Fernandes de.Tratamento de esgoto para uso na agricultura do semi-árido nordestino. Disponível em: http:// www.univer soambienta l.com.br /novo/ artigos_ler.php?canal=1&canallocal=1&canalsub2=1&id=9. Acesso em 27 de outubro de 2008. TRIGUEIRO, André (organizador). Meio Ambiente no Século 21. Rio de Janeiro: 2003, Sextante. Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.93-98, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 Revista Educação Agrícola Superior Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior - ABEAS - v.25, n.2, p.99-103, 2010. INSTALAÇÕES PARA CAPRINOS Valneide R. da Silva1, Dermeval A. Furtado1 , Marluce. A. Azevedo1 & José Wallace B. do Nascimento1 1 DEAG/UFCG. Av. Aprigio Veloso, nº 882. Bodocongó, Campina Grande – PB. [email protected] ; [email protected]; [email protected]; wallace@@deag.ufcg.edu.br; RESUMO As instalações são os palcos dos acontecimentos de toda a atividade, auxiliando o bom desempenho da mão-de-obra e do rebanho, estando seu planejamento baseado na seguinte tríade: funcionalidade, economicidade e durabilidade. Portanto o objetivo da instalação é facilitar o manejo geral de um rebanho caprino ou ovino, sem causar estresse aos animais, otimizando o emprego da mão-de-obra, reduzindo custos e favorecendo a produção e a produtividade do empréstimo. Como resultado vários fatores irão influenciar nos custos de construção do capril, destacando-se os seguintes: objetivos da criação, material utilizado, sistema de produção, condições climáticas da região, adaptação de outra estruturas e disponibilidade de capital. PALAVRAS-CHAVE: Rebanho, conforto, produção INSTALLATIONS FOR GOATS ABSTRACT The facilities are the venue of the events of all activity, supporting the good performance of the labor force and the flock, with their planning based on the following three: functionality, economy and durability. Therefore, the purpose of the facility is to facilitate the overall management of a herd goats or sheep, without causing stress to animals, optimizing the employment of the labor force, reducing costs and encouraging the production and productivity of the loan. As a result of several factors will influence the cost of building the farm, highlighting the following: setting objectives, materials used, production system, the region’s climatic conditions, and adaptation of other structures and availability of capital. KEYWORDS: Flock, comfort, production 100 V. R. da Silva et al. INTRODUÇÃO A importância das instalações está fundamentada na extrema capacidade que elas têm em buscar a otimização da relação homem/animal/ambiente, dentro de um processo de produção, isto é: elas facilitam e reduzem o uso da mão de obra para as tarefas diárias, favorecem o manuseio do rebanho e o controle de doenças, protegem e dão segurança aos animais, dividem pastagens, armazenam e reduzem o desperdício de alimentos, entre outras. O sucesso da empresa rural depende, basicamente, de competência técnica e administrativa para o melhor aproveitamento dos fatores de produção: terra, capital, trabalho e informação. Normalmente, devido a maior escassez de capital frente aos demais fatores de produção, as decisões de investimento são de grande importância para o produtor, tanto com referencia à aplicação de recursos próprios quanto à aplicação de recursos de terceiros, via credito rural. Segundo Noronha (1987), os investimentos tem maior chance de sucesso quando são realizados de acordo com o plano de crescimento da empresa, adequado às necessidades de curto e longo prazo. Ao analisar projetos de investimentos, o produtor deve considerar que determinada decisão pode afetar, no futuro, a estrutura de capital e a viabilidade de sua empresa. Segundo Sette e Guimarães (1998), benfeitorias são todas as construções e melhoramentos existentes na empresa que, associados à tecnologia adequada e ao trabalho, permitem ao produtor alcançar seus objetivos. São recursos materiais de transformação que participam do processo produtivo, não sendo incorporados ao produto final. As instalações são os palcos dos acontecimentos de toda a atividade, auxiliando o bom desempenho da mão-de-obra e do rebanho, estando seu planejamento baseado na seguinte tríade: funcionalidade, economicidade e durabilidade. Como investimento as instalações devem apresentar o máximo de vida útil, para que o desembolso inicial seja pago satisfatoriamente ao longo dos vários períodos de produção. Além de duráveis, convém que as instalações sejam construídas de maneira econômica, a fim de minimizar este in- vestimento inicial. Contudo, é importante não economizar com itens fundamentais (altura do pé direito, área por animal, largura dos corredores) a fim de não comprometer sua funcionalidade, o que, invariavelmente, acarretará em aumento nos custos de produção (Neto, 1994). Ao planejar as instalações, o produtor deve considerar a possibilidade de futuras ampliações, a serem financiadas pelos recursos obtidos da própria atividade. Desta forma, os investimentos em benfeitorias precisam atender a determinados requisitos de modo a proporcionar efetivamente o retorno esperado. Esses requisitos dizem respeito à necessidade das instalações servirem ao seu propósito básico: dar suporte à produtividade do sistema e garantir a qualidade dos produtos. O objetivo das instalações é viabilizar e facilitar o manejo geral de um rebanho caprino ou ovino, sem causar estresse aos animais, otimizando o emprego da mão-de-obra, reduzindo custos e favorecendo a produção e a produtividade do empreendimento. MATERIAL E MÉTODOS Objetivo da criação As instalações devem estar de acordo com o objetivo da criação, variando consideravelmente a complexidade do projeto e as exigências de investimento e detalhamento conforme cada situação (subsistência, hoppy, turismo ou produção comercial de leite e/ou derivados). É fundamental que o produtor tenha clareza na definição deste objetivo, o que permite definir o tamanho do empreendimento, a infra-estrutura e mão-de-obra necessária, a escolha do tipo de animal, a demanda permanente de insumos, principalmente daqueles relacionados à alimentação do rebanho, a respectiva inserção na cadeia produtiva e a viabilidade do projeto. Sistema de produção As instalações devem atender ao sistema de produção definido pelo produtor, de acordo com seus objetivos e possibilidades financeiras. Quando o produtor define por um sistema extensivo a campo ou por um sistema intensivo a pasto, as instalações podem ser mais simples, contemplando apenas unidades para ordenha e Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.99-103, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 Instalações para caprinos manejo dos animais. Quando sua opção é por um sistema intensivo semiconfinado ou confinado, o projeto é mais complexo e deve ter, além destas, outras construções voltadas para a estocagem dos alimentos e confinamento dos animais. Localização Sempre que possível, as instalações devem ser construídas em locais de topografia suave e de fácil acesso, com disponibilidade de água e energia elétrica, evitando, assim. Maiores investimentos. Instalações mal localizadas podem onerar consideravelmente os custos de produção, seja pelo aumento nos gastos com transporte e mão-de-obra, caso dificultem as atividades diárias, seja pela queda no desempenho dos animais, caso apresentam condições ambientais desfavoráveis (umidade associada ao frio ou calor, vento). Para toda construção, a sua localização é de extrema importância, na medida em que ela deve atender aspectos de ambiente, de espaço, de tempo e de segurança, no desenvolvimento das atividades diárias com um rebanho. Em caso de apriscos, por exemplo: eles devem ser construídos em terreno elevado, bem drenado, ventilado, longe de estradas e próximo à casa do manejador. Adaptação de outras estruturas A existência na propriedade de estruturas ociosas que possam ser facilmente adaptadas deve merecer grande consideração. Casa de vegetação, barracões de avicultura, suinocultura e estábulos tem sido adaptados com relativo sucesso e baixo investimento para atender às necessidade de alojamento dos animais, sala de ordenha ou depósitos. Entretanto, a decisão de aproveitar estas estruturas deve sofrer rigorosa avaliação de benefício-custo, já que uma adaptação inadequada pode comprometer seriamente a funcionalidade da instalação, o conforto dos animais e dos funcionários e as condições gerais de higiene e sanidade, aumentando os custos de produção. Conforto ambiental Na busca de maior eficiência os produtores estão utilizando, cada vez mais, animais de alto potencial para produção de leite. Frequen- 101 temente, as instalações e o manejo oferecidos a estes animais são inadequados e o estresse causado pelos diferentes elementos climáticos (principalmente temperatura e umidade) afetam de maneira negativa os processos básicos de crescimento, reprodução e lactação). Quando os animais são submetidos ao estresse pelo calor, naturalmente ocorre redução da ingestão de alimentos, da ruminação e da mobilidade do trato digestivo, além da queda da resistência imunológica, resultando na queda da produção e na alteração da composição do leite. Deste modo, as instalações de caprinos leiteiros devem ser construídas com material adequado, adaptadas às condições climáticas da região, ao tipo de animal e ao sistema de redução adotado. Devem ser bem arejadas, mas protegidas do vento e da umidade e pouco sujeitas às variações climáticas (RIBEIRO, 1998; BORGES, 2001). Tipo de piso Normalmente as instalações de piso ripado suspenso apresent am maior cust o de implementação, pois além da qualidade da madeira a ser utilizada no ripado propriamente dito, existe a necessidade de toda uma estrutura reforçada de sustentação, já que o ripado deve estar a uma altura suficiente de modo a facilitar a operação de remoção e transporte de dejetos. A principal vantagem desse sistema é o fato de os animais ficarem afastados da umidade, sendo uma boa alternativa para regiões muito úmidas ou onde seja difícil a aquisiçãomidas ou onde seja difici a aquisiçados da umidade, sendo uma boa alternativa para regidade de toda uma estrutura reforçada de de material para cama. Já as instalações com piso de cama demandam menores investimentos na implementação, entretanto, seu custo de manutenção pode tornar-se elevado, dependendo da disponibilidade e custo de aquisição do material utilizado. Dentre os materiais orgânicos tradicionais, a casca de arroz, casca de café, palha, serragem e maravalhas são os mais populares. Dentre os mat eriais inorgânicos, a areia é o mais utilizado. Na escolha do material, deve-se considerar, além do custo, o conforto do animal. Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.99-103, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 102 V. R. da Silva et al. Dimensionamento Instalações bemdimensionadas proporcionam um ambiente com higiene e conforto para os animais, favorecendo o manejo diário, a manutenção da saúde do rebanho e a produção higiênica do leite. Além disso, permitem a separação das diferentes categorias animais e garantem espaço suficiente para livre movimentação, evitando traumatismos no membros e úbere (BORGES,2000). RESULTADOS E DISCUSSÃO Com relação ao dimensionamento da área das baias destinadas aos animais, deve se considerar que quanto maior for o lote de animais, menor será a área necessária por individuo e, consequentemente, menor o custo total de construção por animal instalado. Outra vantagem da condução do rebanho em lotes maiores é a racionalização do uso da mão-de-obra, principalmente nas atividades de distribuição dos alimentos e ordenha, possibilitando economia significativa. As principais instalações para caprinos são: centros de manejo, saleiros (As dimensões recomendadas para os saleiros são: 30 a 40 cm de altura acima do piso; 20 cm de profundidade por 30 cm de largura e o comprimento não deve ultrapassar os dois m),apriscos, cochos (Recomenda-se 0,2 a 0,25 m linear para cada animal, ou seja utilizar 4 a 5 animais por metro linear de cocho), pedilúvio (comprimento = 2,0 m; profundidade = 0,10 m; largura = a mesma largura da porteira), currais, esterqueiras (A esterqueira pode ser de alvenaria, medindo 4,0 m de largura x 2,0 m de profundidade e 1,5 m de altura), bretes (comprimento = 08 m; largura = 0,25 m na base inferior e 0,35 m na base superior; altura = 0,85 m), cercas (TABELA 1), comedouros, bebedouros (Uma caixa dágua com 50litros alimenta 10-12 bebedouros), galpões e salas de ordenha (EMBRAPA, 2009). A sala de ordenha é o coração de uma instalação para animais leiteiros, pois além de ser o local de obtenção do leite, principal produto da atividade, é o local que consome de 50 a 70% do tempo total da mão-de-obra empregada nas tarefas diárias. O desempenho do ordenhador (número de cabras ordenhadas por hora) está diretamente relacionado ao desenho da sala de ordenha, que deve Tabela 1. Distância entre fios e altura de cerca para caprinos e ovinos . Do solo ao primeiro fio Do primeiro ao segundo fio Do segundo ao terceiro fio Do terceiro ao quarto fio Do quarto ao quinto fio Do quinto ao sexto fio Do sexto ao sétimo fio Do sétimo ao oitavo fio Altura Tipo de cercas Externa 0,20 0,13 0,13 0,13 0,13 0,14 0,15 0,20 1,21 Interna 0,20 0,13 0,13 0,13 0,13 0,15 0,20 1,07 favorecer o fluxo dos animais. Para a definição do tamanho e do modelo da sala de ordenha devem ser determinados os seguintes fatores associados à sua otimização: tamanho do rebanho, nível de produção das cabras, disponibilidade de mão-de-obra e custos. De maneira geral, é comum entre produtores e técnicos a noção de que o piso ripado suspenso exige menos trabalho para limpeza do que o piso de cama, além de oferecer melhores condições sanitárias aos animais. Entretanto, para a manutenção de condições adequadas de higiene, os dois sistemas demandam o mesmo trabalho, porém, com freqüência e intensidade diferentes. Quanto ao piso, deve-se utilizar material que permita uma boa compactação com uma boa drenagem. Escolher uma área com declive em torno de 2 % a 5 %. Recomenda-se, limpeza quinzenal no período seco e diário no período chuvoso. Aconselha-se construir, no compartimento destinado às crias, um estrado de madeira para o piso com ripões de 3,0 cm de largura, espaçado de 1,0 cm entre si. No que se referem ao aspecto sanitário, Costa et. al. (1987) não observaram redução na carga de vermes entre caprinos mantidos em piso ripado suspensos e animais mantidos em peso de cama. Quanto a influencia do tio de piso sobre a saúde da glândula mamária de caprinos leiteiros, Cordeiro et al. (2001) observaram contagens de células somáticas significativamente menores em cabras mantidas em piso de cama quando comparado com cabras mantidas em piso ripado suspenso. Em regiões de clima seco, a acomodação dos animais pode Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.99-103, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 Instalações para caprinos ser feita diretamente sobre o piso de terra batida, devendo-se considerar a freqüência de limpeza do local. O tamanho ou a área de uma instalação diz respeito tão somente ao tamanho do rebanho. Seja para o pastoreio ou alimentação no cocho, seja para o descanso ou repouso noturno dos animais, o que se espera é que a instalação disponibilize espaço apenas o suficiente para propiciar condições favoráveis ao desempenho dos animais (Tabela 2). Tabela 2. Tamanho das áreas cobertas e descoberta (área de exercício) de um aprisco para caprinos e/ou ovinos, em Cab/m2 Área (m2) Coberta Descoberta Matrizes 1,0 > 2,0 Animais jovens 0,8 > 1,5 Crias 0,5 > 1,0 Reprodutores 3,0 > 6,0 CONCLUSÕES O planejamento da construção de instalações deve estar baseado na seguinte tríade: funcionalidade, economicidade e durabilidade. Vários fatores irão influenciar nos custos de cons- 103 trução do capril, destacando-se os seguintes: objetivos da criação, material utilizado, sistema de produção, condições climáticas da região, adaptação de outras estruturas e disponibilidade de capital. REFERÊNCIAS BORGES, C.H.P. Manejo sanitário de caprinos. In: Conferência Sul-Americana de Medicina Veterinária, Rio de Janeiro, 2000. Anais ... Rio de Janeiro: ANCLIVEPA, 2000, p.54-63. COSTA, C.A.F.,Vieira,L.S. Influência do aprisco de piso ripado suspenso sobre a incidência de nematódeos intestinais em caprinos. Revista Cabras e Bodes, 3:10, 1987. CORDEIRO, P.R.C.,Borges,C.H.P.,Bresslau,S. Dados comparativos da contagem de células somáticas do leite de cabra em rebanhos alojados em piso ripado suspenso e piso tipo cama. In: XXIX Congresso Brasileiro De Medicina Veterinária, 29,Salvador, 2001. Anais ... Salvador: , 2001. NETO, S.L. Instalações e benfeitorias. São Paulo: SDF editores, 1994.96p. NORONHA, J.F. Projetos agropecuários: administração financeira, orçamento e viabilidade econômica. 2ed. São Paulo:Atlas, 1987. 269p. RIBEIRO,S.D.A. Caprinocultura: criação racional de caprinos. São Paulo:Nobel, 1998.318p. SETTE, R.S., GUIMARÃES, J.M.P. Administração da produção. Lavras: UFLA/FAEPE,1998. 88p. Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.99-103, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 Revista Educação Agrícola Superior Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior - ABEAS - v.25, n.2, p.104-112, 2010. CONDIÇÕES DE SAÚDE DA POPULAÇÃO RURAL EM UMA MICROBACIA HIDROGRÁFICA DO CARIRI PARAIBANO Pollyana S. A. Morais1, Heronides S. Pereira2, Suely O. P. Costa3 & Bruno S. Abreu4 1 UNIPÊ/Dep. de Fisioterapia, BR 230, Água Fria, CEP: 58053-000, João Pessoa-PB. Fone: (83) 2106-9200. E-mail: [email protected] 2 UEPB/CCBS, Rua Baraúnas, 351, Bairro Universitário, CEP: 58429-500, Campina Grande-PB. Fone: (83) 3315-3300. E-mail: [email protected] 3 UFCG/CFP, Rua Sérgio Moreira de Figueiredo s/n, Casas Populares, CEP: 58900-000, Cajazeiras-PB. Fone:((83) 3532-2000. E-mail: [email protected] 4 UFCG/CTRN, Rua Aprígio Veloso, 882, Bairro Universitário, CEP: 58429-140, Campina Grande-PB. Fone: (83) 2101-1000. E-mail: [email protected] RESUMO A população do semiárido nordestino sofre com as adversidades ligadas ao próprio ambiente, o que provoca grandes impactos sociais, econômicos e ambientais. Por ser uma região vulnerável, precisa de políticas públicas que minimizem as carências e privações das famílias, gerando renda e melhorando a qualidade de vida. Devido à complexidade das interações dos recursos naturais, torna-se importante o manejo integrado de bacias hidrográficas, onde se faz necessário a participação da sociedade na avaliação das diversidades físicas, bióticas, demográficas, econômicas, sociais e culturais. Tal manejo visa à recuperação ambiental, equilibrando os ecossistemas e buscando a sustentabilidade através da elaboração e aplicação de diagnósticos qualitativos e quantitativos. Dessa maneira, levando-se em consideração que a saúde interfere diretamente na qualidade de vida, o diagnóstico de saúde deverá fazer parte da avaliação. O objetivo desse trabalho foi avaliar as condições de saúde da população rural, residente em uma microbacia localizada nas proximidades do município de Cabaceiras-PB, traçando assim um perfil epidemiológico. Através de uma análise estatística, foi demonstrado que o sobrepeso e níveis elevados de pressão são os fatores de risco apresentados pela população. PALAVRAS-CHAVE: diagnóstico, qualidade de vida, manejo integrado HEALTH CONDITIONS OF THE RURAL POPULATION IN A WATERSHED CARIRI FROM PARAIBA ABSTRACT Population of the semiarid Northeast suffers the hardships related to the environment itself, causing great social, economic and environmental impact. Being a vulnerable region, it needs public politics that minimize necessities and deprivations of the families, bringing income and improving the quality of life. Due to the complexity of the interactions of natural resources, it becomes important the integrated management of watersheds where society’s participation is necessary in the evaluation of the physical, biological, demographic, economic, social and cultural diversities. Such management aims environmental restoration, balancing ecosystems and seeking sustainability through the elaboration and application of qualitative and quantitative diagnostics. Thus, considering that health directly affects quality of life, health diagnosis should make part of the evaluation . The aim of this study was to evaluate health conditions of the rural population, living in a watershed located near the city of Cabaceiras-PB, thus tracing out an epidemiological profile. Through a statistical analysis, it was shown that overweight and high pressure are risk factors presented by the population. KEYWORDS: diagnosis, quality of life, integrated management Condições de saúde da população rural em uma microbacia hidrográfica do cariri INTRODUÇÃO A população rural se estende por todo o território Brasileiro e se apresenta de forma diversificada com características que contemplam uma grande especificidade cultural, racial, regional, entre outros, represent ando a heterogeneidade social que caracteriza o País. A mesma sofre com as adversidades ligadas ao próprio ambiente como, por exemplo, seca, aridez da terra e enchentes, que muitas vezes a impedem de utilizar a terra e o que nela produzem no seu extremo potencial (Pinheiro et al., 2004). Além disso, outras dificuldades também são observadas como a falta de acesso as ações governamentais que devem garantir a cidadania e qualidade de vida como educação, saneamento e saúde. No semi-árido nordestino, mais precisamente paraibano, a população está cada vez mais susceptível aos impactos dos perigos naturais. As secas, por exemplo, são uma constante nessa região, em maior ou menor intensidade, provocando grandes impactos sociais, econômicos e ambientais, dependentes das limitações da população. Mediante tal situação, a população do campo que reside no semi-árido é bastante vulnerável. Vulnerabilidade esta que, segundo Confalonieri (2001), é definida como a exposição de indivíduos ou grupos ao estresse, resultante de mudanças sócio-ambientais. A vulnerabilidade é algo inerente a uma população determinada e varia de acordo com suas possibilidades culturais, sociais e econômicas. Assim, aqueles que possuem menos recursos serão os que mais dificilmente se adaptarão e, portanto, são também os mais vulneráveis (Sousa et al., 2008). Notoriamente, por ser uma região vulnerável, precisa de políticas públicas que minimizem, de forma eficiente, as carências e privações das famílias, ou seja, políticas que gerem renda e melhorem a qualidade de vida. De acordo com Maciel (2006), a qualidade de vida dos indivíduos é influenciada por diversos fatores e, dessa maneira, a compreensão da relação entre os componentes que exercem tal influência é bastante importante no que 105 concerne a avaliação e definição de tratamentos, especialmente para a elaboração de estratégias de prevenção. Particularmente em países como o Brasil e outros da América Latina, a péssima distribuição de renda, o analfabetismo e o baixo grau de escolaridade, assim como as condições precárias de moradia têm um papel muito importante nas condições de sobrevivência, assim como na qualidade de vida. Sabendo-se da busca incessante por condições adequadas de vida e de saúde, em particular, pelas pessoas em todo o mundo; das alternativas que são pensadas, das reformas organizadas, cabe a colocação da Organização Mundial de Saúde - OMS (1986) sobre a Carta de Ottawa, ao conceituar a saúde como um recurso para o progresso pessoal, econômico e social e como um conceito positivo que transcende o setor sanitário, tendo como requisitos para a sua garantia a paz, a educação, a moradia, a alimentação, a renda, um ecossistema estável, justiça social e equidade. Diante do exposto e devido à complexidade das interações dos recursos naturais, tornase importante o manejo integrado de bacias hidrográficas, onde se faz necessário a participação da sociedade, inclusive na avaliação das diversidades físicas, bióticas, demográficas, econômicas, sociais e culturais (Baracuhy, 2001). Conforme Rocha & Kurtz (2001), o manejo integrado de bacia hidrográfica visa à recuperação ambiental, equilibrando os ecossistemas e buscando a sustentabilidade dos recursos naturais renováveis, através da elaboração e aplicação de diagnósticos qualitativos e quantitativos. O diagnóstico socioeconômico busca soluções para resolver os problemas da qualidade de vida das pessoas que vivem nas sub-bacias hidrográficas (Franco et al., 2005). Levando-se em consideração que a saúde interfere diretamente na qualidade de vida, o diagnóstico de saúde deverá fazer parte da avaliação. Esse trabalho teve como objetivo avaliar as condições de saúde da população residente em uma microbacia localizada nas proximidades do município de Cabaceiras-PB, traçando Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.104-112, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 106 P. S. A. Morais et al. assim um perfil epidemiológico, principalmente acerca dos fatores de risco cardiovascular, uma vez que as doenças do aparelho circulatório estão relacionadas a alterações no estilo de vida geralmente relacionadas com aumento da expectativa de vida e das condições econômicas dos países. MATERIAL E MÉTODOS O estudo foi realizado numa microbacia hidrográfica nas proximidades do município de Cabaceiras, localizado na Microrregião do Cariri e Mesorregião Borborema do Estado da Paraíba. Segundo CPRM (2005), a área do município é de 400 km², representando 0.7091% do Estado, 0.0258% da Região e 0.0047% de todo o território Brasileiro. A sede do município tem uma altitude aproximada de 388 metros, sendo distante 162,3602 Km da capital. O município criado em 1834, apresenta população de 4.907 habitantes e um Índice de Desenvolvimento Humano de 0,682. Em 2007, oito indivíduos foram a óbito, sendo 7 do sexo masculino e apenas 1 do sexo feminino, onde as causas mortis de maior incidência foram as do aparelho circulatório e as relacionadas ao período perinatal (IBGE, 2009; Ministério da saúde, 2007; Atlas do desenvolvimento humano no Brasil, 2000). A presente pesquisa é caracterizada como sendo de campo, exploratória e descritiva, tendo sido desenvolvida no mês de abril de 2009, com uma amostra de 16 indivíduos, de ambos os sexos, com faixa etária variando entre 20 e 80 anos, que residiam na zona rural nos limites da microbacia hidrográfica pré-determinada. As informações foram obtidas através da aplicação de um questionário padronizado de entrevista pelos próprios pesquisadores, quais sejam: uma fisioterapeuta, um bioquímico e uma bióloga, através da visita in loco, do qual fizeram parte às seguintes variáveis: sexo, idade, peso (Kg), altura (m), fatores de risco (tabagismo, etilismo, hipertensão e diabetes) e saúde bucal. Além disso, foram realizados exames como o eritrograma, para avaliar a presença de anemia e, a glicemia capilar, buscando a avaliação da taxa de glicose. Os exames acima mencionados foram realizados por um bioquímico, seguindo todos os padrões de assepsia e, avaliados pelo mesmo no Centro de Hematologia e Análises Clínicas Ltda - HEMOCLIN, situado no município de Campina Grande-PB. Foram realizadas também, medidas antropométricas (índice de massa corporal IMC, circunferência abdominal e relação cintura-quadril – RCQ) para avaliação dos riscos cardiovasculares e a medição da pressão arterial. A Pressão Arterial (PA), em mmHg, foi medida com esfignomanômetro padrão para adultos. As medidas foram realizadas no braço esquerdo, com os indivíduos sentados, no início e no fim da avaliação. A Glicemia Capilar, em mg/dl, foi avaliada através de sangue capilar obtido por punção de polpa digital realizada com lanceta, com o auxílio de fita reagente (Glucostix — Laboratórios Miles do Brasil Ltda.) e do glicosímetro. Com relação ao peso, em quilos, este foi aferido em balança antropométrica, onde o avaliado posicionou-se no centro da mesma. Já a altura, em metros, foi medida pelo antropômetro da balança, estando o indivíduo com os pés descalços e unidos.O índice de massa corporal (IMC) foi calculado através da fórmula: peso (Kg) /altura (m)2, enquanto que a circunferência abdominal, em centímetros, e a circunferência do quadril, também em centímetros, foram mensurados com uma fita métrica não distensível, ajustada ao nível da cicatriz umbilical e porção medial dos glúteos, respectivamente. Os perímetros de cintura e quadril possibilitaram a construção do RCQ, obtido pelo quociente entre a circunferência abdominal e a circunferência do quadril. No que concerne aos dados, estes foram analisados estatisticamente, levando-se em consideração variáveis quantitativas e qualitativas. Os mesmos foram imputados de forma descritiva, sendo os resultados expostos através de gráficos e tabelas, permitindo uma melhor visualização e entendimento. Com relação à análise qualitativa foi utilizada a metodologia de Rocha (1997), baseada na Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.104-112, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 Condições de saúde da população rural em uma microbacia hidrográfica do cariri avaliação através de diagnósticos, onde são atribuídos pesos a diferentes problemas de acordo com sua gravidade e importância. Ao final da avaliação fora gerada uma reta de deterioração que demonstra a situação vivenciada pela população na microbacia analisada. RESULTADOS E DISCUSSÃO O estudo contou com a participação de 16 indivíduos, sendo 8 (50%) do sexo masculino e 8 (50%) do sexo feminino. A faixa etária variou entre 20 e 80 anos, apresentando maiores freqüências nas faixas que varia de 20 a 30 anos, perfazendo um total de 25% e, na faixa compreendida entre 31 e 40 anos, correspondendo também a 25%. A menor freqüência correspondeu à faixa etária compreendida entre 51 e 60 anos, perfazendo um total de 6,25% da população estudada. Esse estudo foi marcado pela avaliação dos fatores de risco cardiovasculares, uma vez que as doenças do sistema circulatório representam um grave problema de saúde pública e constituem a principal causa de óbitos no país (32%) e em todas as regiões (Rezende et al., 2006). Segundo Morales [(200_)], a prevalência de doenças cardiovasculares é maior nas populações com piores condições socioeconômicas, assim como a mortalidade. Nos países em desenvolvimento, conforme a epidemia avança, a carga dos grupos de rendas alta e média vai sendo transferida para os grupos menos favorecidos. Um dos principais fatores de risco mais discutido é sem dúvida o tabagismo. Este está relacionado a múltiplas doenças, entre elas a doença cardiovascular, juntamente com doenças pulmonares e muitas formas de câncer (Morales, 200_). Ainda de acordo com o mesmo autor, o consumo de cigarros e de outros produtos derivados de tabaco é a principal causa de mortalidade passível de prevenção no mundo. Os fumantes têm taxas de mortalidade duas a três vezes maiores, e estima-se que ocorrerão 500 milhões de mortes prematuras por tabagismo, 70% das quais em países em desenvolvimento. Na população estudada foi verificado que apenas 12% apresentavam o hábito de fumar. 107 A maioria, que corresponde a 63%, não apresentava tal hábito, favorecendo uma melhor condição de saúde em termos significativos. Nessa amostra ainda foram identificados os ex-fumantes (25%) que, embora já não possuam o hábito, encontram-se no grupo de risco devido às alterações causadas pelos constituintes do cigarro (Figura 1). Vale salientar que os riscos aumentam com o maior número de cigarros fumados por dia relacionado ao tempo de fumo. Não Fumante Fumante EX-fumante 25% 12% 62% Figura 1. Distribuição da freqüência quanto ao hábito de fumar De acordo com a V Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial (2006), o consumo elevado de bebidas alcoólicas aumenta a pressão arterial. O efeito varia com o gênero e a magnitude está associada à quantidade de etanol e à freqüência de ingestão. O efeito do consumo leve a moderado de etanol não está definitivamente estabelecido. Verifica-se redução média de 3,3 mmHg na pressão sistólica e 2,0 mmHg na pressão diastólica com a redução no consumo do álcool. Na Figura 2, observa-se que a maioria (62%) dos indivíduos participantes da pesquisa não fazia uso de bebidas alcoólicas, enquanto que 38% bebiam ocasionalmente conforme relatado. Segundo Morales [(200_)], a freqüência de hipertensão arterial no mundo é de aproximadamente 20% da população, e estima-se que aproximadamente 600 milhões de pessoas hipertensas estejam sob risco de sofrer um infarto do miocárdio, eventos vasculares cerebrais e insuficiência cardíaca. A hipertensão arterial causa 7,1 milhões de mortes anualmente, 13% de todas as fatalidades globais. Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.104-112, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 108 P. S. A. Morais et al. Não Etilista Etilista 38% 62% Figura 2. Distribuição da freqüência quanto à ingestão de bebidas alcoólicas Com relação à população estudada foi verificada uma equivalência quanto à pressão arterial, onde 44% apresentaram-se hipertensa e outros 44%, dentro dos parâmetros de normalidade. Apenas 12% foram considerados limítrofes (Figura 3). Os resultados foram classificados de acordo com a V Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial (2006). Observa-se, então, que uma boa parte da amostra apresenta como fator de risco considerável a hipertensão. Contudo, considerando que a pressão arterial foi verificada duas vezes em cada indivíduo, fazendo-se necessário uma avaliação clínica para comprovação de diagnóstico. As pessoas com valores pressóricos acima do ideal devem ser orientadas a modificar o es- Figura 3. Distribuição da freqüência quanto à avaliação da pressão arterial tilo de vida e afastar os fatores de risco, uma vez que há grande possibilidade em desenvolver complicações futuras. De acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes (2009), hoje há uma estimativa de 255.250.572 milhões de pessoas no mundo com diagnóstico de diabetes. No Brasil, essa estimativa perfaz um total de 228.991 mil casos. Para efeitos de risco cardiovascular, a glicemia elevada é um fator de risco independente que age de forma contínua e não categórica, ou seja, que não se limita à presença de diabetes, porque o risco começa a ser significativo desde etapas prévias, como o pré-diabetes (Morales, 200_). De acordo com o mesmo autor, a maioria das pessoas com diabetes costuma ter outros fatores de risco e nos estudos observacionais seu risco global costuma ser maior que 20% em dez anos. O impacto do diabetes mellitus sobre as doenças cardiovasculares é tão grande que esta chega a ser responsável por 75% das mortes entre homens, 57% entre as mulheres, sendo este é um dos principais fatores de risco das doenças cardiovasculares. A taxa de glicose sanguínea foi avaliada a nível capilar medida em períodos pós-prandiais, encontrando-se um percentual de 12% de glicemia elevada. A grande maioria (88%) da população apresentou níveis normoglicêmicos, visualizados na Figura 4. Segundo Morales [(200_)], o diagnóstico de diabetes é feito quando uma pessoa tem uma glicemia de jejum maior ou igual a 126mg/dl Figura 4. Distribuição da freqüência quanto à taxa de glicemia capilar Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.104-112, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 Condições de saúde da população rural em uma microbacia hidrográfica do cariri acompanhada de sintomas ou repetida em duas ou mais ocasiões. O estado nutricional é considerado um indicador importante na aferição das condições de saúde e de vida de uma população. Em um país como o Brasil onde as desigualdades sociais e regionais são imensas é importante destacar que garantia da segurança alimentar e nutricional pressupõe a necessidade de estratégias de saúde pública capazes de dar conta de um modelo de atenção à saúde e cuidado nutricional direcionados para desnutrição e sobrepeso/obesidade, uma vez que estes distúrbios nutricionais e, todas as doenças relacionadas à alimentação e nutrição, revelam duas faces, diversas e aparentemente paradoxais, de um mesmo problema: a insegurança alimentar e nutricional da população brasileira (Pinheiro et al., 2004). A prevalência de obesidade tem aumentado em todo o mundo e vem se tornando o maior problema de saúde na sociedade moderna na maioria dos países desenvolvidos e em desenvolvimento. Quando comparados aos indivíduos com peso normal, aqueles com sobrepeso possuem maior risco de desenvolver diabetes mellitus (DM), dislipidemia e hipertensão arterial (HAS), condições que favorecem o desenvolvimento de doenças cardiovasculares (Carneiro et al., 2003). Muitos estudos na população em geral identificam a obesidade por meio do índice de massa corporal (IMC), e a distribuição central de gordura corpórea, segundo a relação cintura-quadril (RCQ) e a circunferência abdominal (CA), como fatores de risco para a mortalidade (Cabrera, 2005). Diante desse novo cenário epidemiológico, os achados da pesquisa corroboram com um índice considerável de risco cardiovascular, uma vez que 50% da população encontra-se com sobrepeso, podendo evoluir para a obesidade (Figura 5). O aumento da prevalência da obesidade no Brasil se torna ainda mais relevante, ao considerar que este aumento, apesar de estar distribuído em todas as regiões do país e nos diferentes estratos socioeconômicos da população, é pro- 109 Figura 5. Distribuição da freqüência quanto ao estado nutricional porcionalmente mais elevado nas famílias de baixa renda. Cabe destacar que embora não existam dados científicos que descrevam o perfil nutricional atual da população do campo, na zona rural é grande a concentração de famílias de baixa renda (Cabrera, 2005). A importância de se conhecer o padrão de gordura e não somente o grau de obesidade relaciona-se com o prognóstico de risco de saúde. Já que a obesidade, principalmente abdominal, associa-se a importantes alterações metabólicas, como dislipidemias, intolerância a glicose ou diabetes e hipertensão, é necessário a avaliação da circunferência abdominal. Na Figura 6 pode se observar que 56% (9) da população avaliada apresentou a medida da circunferência abdominal dentro dos parâmetros de normalidade, enquanto que 44% (7) apresentou essa medida acima dos valores Normal Elevada 44% 56% Figura 6. Distribuição da freqüência quanto à avaliação da circunferência abdominal Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.104-112, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 110 P. S. A. Morais et al. pré-determinados, a saber: 102 cm para o sexo masculino e 88 cm para o sexo feminino. Há muito se sabe que as pessoas diferem em relação à localização da gordura corpórea. Homens, em particular, tendem a ter maior proporção de gordura abdominal, conferindo-lhes o chamado padrão masculino ou andróide de distribuição de gordura. As mulheres, por outro lado, tendem a ter maior quantidade de gordura na região glútea e por isso têm maiores perímetros dos quadris, apresentando o padrão feminino ou ginóide de distribuição de gordura corporal. Este padrão pode ser avaliado pela razão abdominal/glútea, que é obtida pela divisão das medidas dos perímetros da cintura e do quadril razão cintura/quadril (Pereira et al., 1999). Segundo os mesmos autores, a utilização dessas medidas na estimação da distribuição de gordura corpórea tem a vantagem da simplicidade de determinação e de basear-se em medidas de fácil obtenção. Por isso, a sua introdução entre os indicadores antropométricos, seja na prática clínica, na vigilância nutricional ou na pesquisa, torna-se um instrumento de grande valia. Para avaliar a distribuição de gordura corpórea, estudos epidemiológicos utilizam, desde a década de 70, a relação cintura-quadril (RCQ), obtida pela divisão dos perímetros da cintura (cm) e do quadril (cm). Dentre os pontos de cortes estabelecidos para discriminar valores adequados dos inadequados de RCQ, o mais utilizado tem sido 0,8 para o sexo feminino e 1,0 para o masculino. Estudos nacionais e internacionais demonstram que a utilização dos pontos de corte de 0,95 para homens e 0,80 para mulheres associava-se melhor à predição da hipertensão arterial. A distribuição de gordura corporal tem forte determinação genética, mas fatores como sexo, idade, e outros comportamentais, como tabagismo e at ividade física, podem ser determinantes. A menopausa tem sido também associada à maior acúmulo de gordura no abdômen (Machado & Sichieri, 2002). Conforme visualizado na Figura 7, 10 (62,5%) dos indivíduos participantes da pesquisa apresentaram a relação cintura-quadril dentro Normal Elevada 37,5% 62,5% Figura 7. Distribuição da freqüência quanto à avaliação da relação cintura/quadril dos parâmetros de normalidade. Já 6 (37,5%) indivíduos apresentaram um valor elevado nessa relação. Outro ponto considerável com relação à saúde da população é a presença ou não de anemia, decorrente muitas vezes da carência alimentar. A anemia, entretanto, não é considerada um fator de risco para as doenças cardiovasculares. Em termos de magnitude, as anemias configuram a principal endemia carencial do mundo, ocorrendo em cerca de 2.150 milhões de pessoas e se difundindo entre todos os continentes, grupos sociais e segmentos biológicos, embora predominando amplamente nas regiões pobres, nas famílias de baixa renda, no grupo de mulheres no período reprodutivo e em crianças menores de cinco anos (Silva et al., 2008). Deve-se esclarecer que, embora como problema de patologia humana, as anemias possam compreender o desfecho isolado ou combinado de variados fatores, desde os de natureza genética até múltiplas condições ambientais; na prática o que predomina em nível populacional é a gênese carencial, envolvendo, sobretudo, a deficiência qualitativa ou quantitativa de ferro alimentar (Silva et al., 2008). A pesquisa mostrou que 31% da população apresenta anemia discreta e 13%, anemia moderada. Outra parte, representada por 56%, encontra-se dentro dos parâmetros de normalidade. Levando-se em consideração todos os achados da pesquisa, ao final desta, foi eviden- Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.104-112, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 Condições de saúde da população rural em uma microbacia hidrográfica do cariri ciado um pequeno grau de deterioração em relação à saúde da população avaliada, perfazendo um total de 20%, visualizada a seguir (Figura 8), quando utilizou-se a equação da reta proposta por Rocha (1997). Figura 8. Grau de deterioração em relação à saúde da população através da equação da reta CONCLUSÕES Os resultados encontrados na pesquisa demonstram que, o sobrepeso e os níveis elevados da pressão arterial, estiveram presentes em uma parte considerável da população em estudo. Isso evidencia que dentre os fatores de risco cardiovascular avaliados, os dois acima mencionados merecem uma avaliação mais precisa, em decorrência do que isso possa vir a causar à saúde dos indivíduos futuramente. No entanto, as famílias rurais da microbacia hidrográfica estudada, quanto à avaliação acerca da equação da reta, apresentaram um índice de 20% evidenciando que o grau de deterioração com relação às condições de saúde, de uma forma geral, é bastante pequeno, o que os mantém com um perfil epidemiológico satisfatório no quesito qualidade de vida associada à saúde. REFERÊNCIAS Atlas do desenvolvimento humano do Brasil, 2000. Disponível em:<http://www.fpg.gov.br/produtos/cees/idh/Atlas_idh.php>. Acesso em: 26/ 04/2009. Baracuhy, J.G.V. Manejo integrado de microbacias no semi-árido nordestino: estudo de um caso. Tese (Doutorado em Recursos Naturais). Campina Grande: UFPB, 2001. 111 Cabrera, M.A.S. et al. Relação do índice de massa corporal, da relação cintura-quadril e da circunferência abdominal com a mortalidade em mulheres idosas: seguimento de 5 anos. Cadernos de Saúde Pública, v.21, n. 3, Rio de Janeiro, 2005. Carneiro, G. et al. Influência da distribuição da gordura corporal sobre a prevalência de hipertensão arterial e outros fatores de risco cardiovascular em indivíduos obesos. Revista da Associação Médica Brasileira, v.49, n. 3, São Paulo, 2003. Cofalonieri, U.E.C. Global environmental change ande health in Brazil: review of the present situation and proposal for indicators for monitoring these effects. In: HOGAN, H.J.; TOLMASQUIM, M.T. Human dimensions of global environmental change – Brazilian perspectives. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Ciências, 2001. CPRM – Serviço Geológico do Brasil. Diagnóstico do município de Cabaceiras, 2005. Disponível em: <http://www.cprm.gov.br>. Acesso em: 29/04/2009. Diretrizes da sociedade brasileira de diabetes. Tratamento e acompanhamento do diabetes mellitus, 2007. Franco, E.S. et al. Diagnóstico socioeconômico e ambiental de uma microbacia no município de Boqueirão-PB. Revista de engenharia ambiental, v.2, n. 1, Espírito Santo do Pinhal, 2005. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Cidades. Disponível em: <www.ibge.gov.br/cidadesat/default.php>. Acesso em: 30/04/2009. Maciel, E.S. Qualidade de vida: análise da influência do consumo de alimentos e estilo de vida. Dissertação (Mestrado em Ciências e Tecnologia) – Universidade de São Paulo, 2006. Machado, P.A.M.; Sichieri, R. Relação cintura-quadril e fatores de dieta em adultos. Revista de Saúde Pública, v. 36, n. 2, São Paulo, 2002. Ministério da Saúde. Morbimortalidade hospitalares do município de Cabaceiras, 2007. In: IBGE. Cidades. Disponível em: <www.ibge.gov.br/cidadesat/default.php>. Acesso em: 30/04/2009. Morales, A.J.R. Manual de diagnóstico e tratamento das dislipidemias. São Paulo: Atha Comunicação e Editora LTDA, 200_. Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.104-112, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 112 P. S. A. Morais et al. Pereira, R.A.; Sichieri, R.; Martins, V.M.R. Razão cintura/quadril como preditor de hipertensão arterial. Cadernos de Saúde Pública, v.15, n. 2, Rio de Janeiro, 1999. Pinheiro, A.R.O. et al. Diagnóstico de saúde e nutrição da população do campo: levantamento de dados. Ministério da saúde, Secretaria de atenção à saúde, Departamento de ação básica, Coordenação geral da política de alimentação e nutrição, 2004. Disponível em: <nut r i ca o. sa ude. gov. br / diagnostico_saude.pdf>. Acesso em: 28/04/ 2009. Rezende, F.A.C. et al. Índice de massa corporal e circunferência abdominal: associação com fatores de risco cardiovascular. Arq. Bras. Cardiologia, v. 87, n.6, São Paulo: 2006. Rocha, J.S.M. Manual de projetos ambientais. Santa Maria: Imprensa Universitária, 1997. Rocha, J.S.M.; Kurtz, S.M.J.M. Manual de manejo integrado de bacias hidrográficas. 4 ed. Santa Maria: Edições CCR/UFSM, 2001. Silva, S.C.L.; Filho, M.B.; Miglioli, T.C. Prevalência e fatores de risco de anemia em mães e filhos no Estado de Pernambuco. Revista Brasileira de Epidemiologia, v.11, n.2, São Paulo, 2008. Sociedade Brasileira de Diabetes. Disponível em: <www.E:/diagnostico/sociedade brasileira de diabetes/homepage.mht>. Acesso em: 1/05/ 2009. Soar, C.; Vasconcelos, F.A.G.; Assis, M.A.A. A relação cintura quadril e o perímetro da cintura associados ao índice de massa corporal em estudo com escolares. Cadernos de Saúde Pública, v. 20, n. 6, Rio de Janeiro, 2004. Sousa, R.F. et al. Vulnerabilidade e impactos socioeconômicos e ambientais em municípios do cariri paraibano. Revista de engenharia ambiental, v.5, n. 3, Espírito Santo do Pinhal, 2008. V Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial. Fatores de risco para hipertensão arterial, 2006. Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.104-112, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 Revista Educação Agrícola Superior Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior - ABEAS - v.25, n.2, p.113-119, 2010. CONDIÇÕES DE VIDA DA POPULAÇÃO IDOSA DA BACIA HIDROGRÁFICA DE RIBEIRA/PB: UMA AVALIAÇÃO DO PRESENTE E PASSADO André A. de Farias1, José G. de V. Baracuhy2, Marcelo M. Leite3, Telma L. B. Alves 4 1 Licenciado em Ciências Agrárias e Mestrando em Recursos Naturais, UFCG, Centro de Tecnologia e Recursos Naturais – CTRN, UFCG. E-mail: [email protected]; 2 Prof. Dr. do Dept. de Engenharia Agrícola, UFCG. E-mail:[email protected]; 3 Eng. Eletrônico, MBA Gestão e Marketing, Mestrando em Recursos Naturais, UFCG. Email: [email protected]; 4 Graduada em Geografia pela Universidade Estadual da Paraíba – UEPB, Mestranda em Recursos Naturais na Universidade Federal de Campina Grande – UFCG. Email:[email protected] RESUMO O estudo teve como foco a população idosa da Ribeira, distrito da cidade de Cabaceiras, na região do cariri do Estado da Paraíba. O objetivo foi avaliar as condições de vida de hoje em comparação à realidade regional cinquenta anos atrás, principalmente considerando as condições sócio-ambientais. Para tanto foi feita uma pesquisa de campo com a apresentação de questionário específico visando a registrar os conhecimentos e a experiência dos idosos, levando-os a relatar modificações ocorridas na ambiência ao longo do período em estudo, assim como as possíveis melhorias ou prejuízos nas condições de vida da população. A partir dos dados obtidos foi possível observar uma grande evolução no nível das variáveis avaliadas, bem como no nível geral de satisfação. Foi possível ainda constatar que apesar do desenvolvimento apresentado e da urbanização consequente, a população mantém os hábitos de cultivo/criação de parte dos seus alimentos. Foi possível ainda observar que não houve dano ambiental considerável. PALAVRAS-CHAVE: desenvolvimento rural, aspectos sociais, modificações na ambiência, alimentação LIFE CONDITIONS OF ELDERLY PEOPLE IN RIBEIRA BASIN COMMUNITY / STATE OF PARAIBA: AN EVALUATION OF PRESENT AND PAST CONDITIONS ABSTRACT The study focused on the elderly population of Ribeira, district of the city of Cabaceiras, in cariri region of Paraiba State. It aimed to evaluate today’s life conditions compared to those of fifty years ago, mainly considering social and environmental conditions. It was performed a field research using a specific survey form to register the knowledge and the experience of the elderly, leading them to cite changes occurred in the ambience over the period under study, as well as possible improvements or impairments in people’s lives conditions. From the data obtained it was possible to observe a significant evolution in the level of studied variables, as well as in the general satisfaction level. It was still possible to see that despite the development, and consequent urbanization, the people continue creating and cultivating part of their food. Finally, it was observed that, contrary to expectation, the development has caused no significant environmental damage. KEYWORDS: rural development, social aspects, changes in ambience, food 114 A. A. de Farias et al. INTRODUÇÃO Desde os tempos antigos os seres humanos têm uma relação direta com a natureza, utilizando a mesma para garantir a manutenção da espécie. De modo que, com o passar dos anos, e devido à revolução industrial, observa-se uma intensa utilização dos recursos naturais disponíveis, gerando verdadeiras agressões ao meio ambiente e comprometendo o seu equilíbrio. Desta maneira é válida a investigação dos residentes veteranos de um determinado local, com vistas à aquisição de informações concernentes às modificações percebidas pelos atores locais ao longo do tempo nos mais variados aspectos, como: sociais, ambientais, econômicos, alimentícios e culturais. O presente estudo procura identificar e qualificar a condição de idoso, e paralelamente analisar os elementos ligados as condições de vida hoje, comparando com as condições em um horizonte de 50 anos atrás. Para essa caracterização é fundamental definir uma base territorial que contemple uma comunidade de pessoas e ao mesmo tempo um conjunto de recursos naturais passíveis de alterações. A bacia hidrográfica da Ribeira atende a estas necessidades, propiciando uma produção de conhecimentos a respeito dos aspectos tradicionais e contemporâneos. De acordo com a Lei n° 10. 741/2003 os idosos são pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, sendo obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito a vida, a saúde, a alimentação, a educação, a cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho a cidadania, a liberdade, a dignidade, ao respeito e a convivência familiar e comunitária. Nesse sentido, é necessário identificar aspectos relacionados às condições de vida, que estejam ou não ligados as questões ambientais, compreendendo que o meio ambiente não se refere somente aos aspectos dos recursos da natureza, mas também todos os elementos que compõem o habitat da comunidade (BRASIL, 2003). Atualmente, o Brasil é um país que envelhece a passos largos. As alterações na dinâmi- ca populacional são claras, inexoráveis e irreversíveis. No ano 2000, a população brasileira de idosos apresentou crescimento oito vezes maior quando comparada às taxas de crescimento da população jovem, estando previsto, que em 2025, o país venha a ocupar o sexto lugar na classificação mundial em número de idosos, isto é, terá cerca de 34 milhões, chegando à marca de 15% da população total. Em um intervalo de 25 anos “ 1980 a 2005, o crescimento total da população foi de 55,3%; o referente a idosos superou 126,3%. Destaca-se, nesses números, a faixa de idade com mais de 80 anos, que apresentou um crescimento de 246,0%, refletindo a ocorrência do que se denomina como transição demográfica acelerada (INOUYE, 2008; IBGE, 2005). Santos et al (2002) dizem que avaliar as condições de vida do idoso se reveste de grande importância científica e social por permitir a implementação de alternativas válidas de intervenção, tanto em programas gerontogeriátricos, quanto em políticas sociais gerais, no intuito de promover o bem-estar das pessoas maduras, particularmente, no nosso contexto, onde os atuais idosos são aqueles que conseguiram sobreviver às condições adversas. Devido à sua grande experiência de vida, um dos papéis sociais atribuídos ao idoso é o de ser a memória coletiva de seu grupo social, na arte de contar histórias e de transmitir seu legado cultural. A sobrevivência do passado depende das lembranças que emergem da memória e que são traduzidas para outrem. Apropriar-se da memória e transmitir esse legado cultural é reconstruir o passado, dar a ele a possibilidade de ser atualizado e narrado de uma forma diferente. É ter de volta o sentimento de pertencer a uma história ou mesmo à própria sociedade (CORREA & FRANÇA, 2006). De acordo com Santos et al., (2007), a memória é um instrumento constituidor da identidade, da percepção de si e dos outros, e busca assegurar a continuidade do tempo e resistir à alteridade, às rupturas. Da mesma forma que as informações “antigas” são postergadas pelas recentes, as experiências de vida vêm sendo desvalorizadas e, Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.113-119, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 Condições de vida da população idosa da bacia hidrográfica de Ribeira/PB: uma muitas vezes, descartadas. Na sociedade contemporânea, o passado, seja ele advindo de uma história de vida ou mesmo de acontecimentos do cotidiano, é relativamente privado de expressão no meio social. A experiência narrativa nem sempre encontra interlocutores para dialogar (CORREA & FRANÇA, 2006). O papel da memória precisa ser valorizado para que as ações já efetivadas possam receber críticas adequadas, levando a soluções inéditas e transformadoras. Não podemos desperdiçar a experiência de quem já percorreu uma longa estrada. O idoso pode trazer do passado, o que os mais jovens não vivenciaram, experiências para o presente, que conjuguem a possibilidade entre o idealizado e o possível (MACHADO et al., 2006). No entanto, relembrar o passado, reviver tradições e dividir histórias pessoais pode ser uma importante tarefa para que o idoso se sinta valorizado e possa ter uma maior participação social, facilitando a intergeratividade (SIMSON & GIGLIO, 2001). Nesse sentido, a proposta de que os idosos transmitam informações sobre as transformações sociais, econômicas e do meio ambiente para os mais jovens confere um modelo alternativo extra-escolar desses conhecimentos, o conhecimento do que assistiram no passado (MACHADO et al., 2006). Nesse contexto de investigação, os aspectos relacionados ao meio ambiente, como acesso a água, produção de alimentos, consumo de alimentos orgânicos, utilização de agrotóxicos são elementos fundamentais para se efetuar um comparativo das práticas passadas com o presente, assumindo papel relevante para o conhecimento agrícola. Por razões múltiplas a bacia hidrográfica é entendida como uma importante unidade territorial, delimitada nat uralment e, correspondendo a uma área limitada por um divisor de águas que drena a água de chuvas por ravinas, canais e tributários, para um curso principal, desaguando diretamente no oceano ou num lago, onde é possível realizar vários diagnósticos (Ambiental, Físico-Conservacionista e Sócio-econômico) sendo o diagnóstico da população idosa um conjunto de informações que 115 enriquece o conhecimento e as percepções sobre qualidade de vida e do meio ambiente de uma determinada região. A bacia hidrográfica é entendida como sendo uma unidade básica de análise e planejamento ambiental, por permitir conhecer e avaliar os seus diversos componentes, processos e interações. Pressupõe ainda, múltiplas dimensões e expressões espaciais (bacias de ordem zero, microbacias e sub-bacias). Por isso, numa bacia é possível avaliar de forma integrada as ações humanas sobre o ambiente e seus desdobramentos sobre o equilíbrio hidrológico (BOTELHO & SILVA, 2004). Não se pretende avaliar a Qualidade de Vida (QV) desta população, uma vez que esta variável não tem um significado consensual, apresentando características multidimencionais, dinâmicas e subjetivas. Este trabalho objetivou fazer um levantamento das condições de vida, a partir de aspectos gerais, com o intuito de averiguar se houve mudanças significativas de hábitos, acesso a serviços, estilo de vida, alterações ambientais e principalmente o registro da percepção e leitura, da comunidade e da realidade vivenciada, feita pelo idoso, utilizando como delimitação e base territorial a bacia hidrográfica. METODOLOGIA A pesquisa foi realizada na comunidade do distrito de Ribeira, pertencente ao município de Cabaceiras, estado da Paraíba, localizada nas coordenadas geográficas 07º 29’ 20" Sul e 36º 17’ 13" Oeste. Foram registrados os conhecimentos, vivências e experiências dos idosos, visando à identificação de modificações ocorridas na ambiência ao longo dos últimos cinquenta anos, bem como as possíveis melhorias e/ou prejuízos as condições de vida na comunidade. A coleta de dados, incluindo elaboração/ produção e aplicação dos questionários teve duração de um mês. Os critérios de elegibilidade da amostra foram: ter 60 anos ou mais e ser residente atualmente na comunidade de Ribeira – PB. Um roteiro de entrevista sobre o idoso foi empregado para obter informações sobre alimentação, acesso a água, condições de vida no Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.113-115, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 116 A. A. de Farias et al. meio rural e preservação ambiental. Foi feito um paralelo e comparativo dessas informações no passado e no presente, evidenciando-se os processos de mudanças ao longo das últimas cinco décadas. Para a coleta de dados referentes às variáveis de cada item, os sujeitos do estudo responderam a um questionário contendo 71 perguntas. Atribuiu-se pontuação 1 para “péssimo/ muito baixo/ muito difícil”, 2 para “ruim/ baixo/ difícil”, 3 para “regular” e 4 para “Bom”, e 5 para “Excelente”. No presente trabalho foram consideradas as respostas referentes a 18 itens, devendo as demais serem abordadas em trabalhos futuros. Do total de perguntas realizadas (71), sete correspondem a perguntas abertas, onde o entrevistador anotou em espaço de linhas deixado para esse fim o que foi falado pelo entrevistado. A análise das respostas das questões aberta é constituída de três fases: 1 - pré-análise, 2 - exploração do material e 3 - tratamento dos resultados, inferências e a interpretação. Porém, no presente trabalho também não foram utilizados e analisados todos os itens das questões abertas. Todos os dados coletados foram digitados em um banco de dados no programa Microsoft Excel. 2007 para realização de análises estatísticas, com o objetivo de caracterizar o perfil do grupo de idosos e suas principais características. Para o tratamento estatístico foi utilizada a moda, o valor que ocorre com maior frequência em uma série de valores (CRESPO,1996). Quanto aos aspectos éticos, todas as etapas deste trabalho obedeceram às diretrizes da Resolução Nº 196 de 10 de Outubro de 1996, onde os participantes foram informados dos objetivos do trabalho, consultados sobre a disponibilidade em participar do estudo e assegurados do sigilo das informações individuais, além de concordarem com a publicação científica dos resultados compilados, assinando o termo de consentimento competente. RESULTADOS E DISCUSSÃO Em geral, o perfil dos entrevistados foi o seguinte: 56% têm entre 60 e 70 anos; 44 % têm entre 70 e 80 anos; 67% habitam a região desde que nasceram, 17% há mais de 50 anos e 16% há mais de 30 anos. O nível de instrução consta de 72% alfabetizados, 22% com ensino fundamental e apenas 1 pessoa, 6% tem o ensino médio. A investigação contou com uma amostra composta por 18 idosos pertencentes ao Clube Social da Melhor Idade, com sede na comunidade de Ribeira. Este número é equivalente a aproximadamente 20% da população idosa local. Com relação à alimentação foram reunidos em seis grupos os principais alimentos para uma dieta nutritiva, a fim de averiguar a disponibilidade e consumo dos mesmos no presente e no passado. Os resultados obtidos mostraram que atualmente as pessoas têm acesso a uma diversidade maior de alimentos do que no passado, apresentando moda 4 (consumo dos seis grupos pelo menos seis vezes por semana). Isso pode ser justificado pela aquisição de uma renda fixa (aposentadoria), como também a ampliação de pontos comerciais de distribuição dos alimentos. Os entrevistados enfatizaram que no passado as condições de acesso a alimentos era muito mais difíceis, sobretudo pela falta de recursos e dificuldade de deslocamento até a sede municipal, Cabaceiras, sem falar nas secas que impossibilitavam as colheitas. Os alimentos, no aspecto qualidade: quanto à idade e conservação, foram considerados como eram velhos e mal conservados no passado, ocorrendo o contrário no presente. Isso se explica pela utilização de geladeiras e freezers e da existência atual de controle de qualidade quanto à composição e validade dos produtos. Antigamente os alimentos eram acondicionados em tonéis de zinco, envolvidos em “papel de embrulho” e dispostos em feiras livres sem padronização. Conhecia-se a procedência das carnes, mas não existia, nem existe ainda, na comunidade controle de qualidade ou observância de aspectos sanitários, exceto quando se consome a carne industrializada. Uma informação muito importante que se obteve foi com relação aos alimentos orgânicos, observando-se que no passado mais da metade dos alimentos consumidos eram orgânicos, pro- Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.113-119, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 Condições de vida da população idosa da bacia hidrográfica de Ribeira/PB: uma duzidos localmente sem agrotóxicos, e no presente consome-se mais “alimentos industrializados” cuja procedência não se conhece, mas se subentende que foram cultivados com agrotóxicos. Com o surgimento da Revolução Verde e com a expectativa de aumentar potencialmente a produção e a resistência das culturas, houve uma expansão e proliferação da utilização de defensivos agrícolas, para atender a demanda de uma população que estava deixando de ser predominantemente rural, para se tornar urbana, necessitando de abastecimento. Esse dado corrobora com a análise do item “Alimentos produzidos na propriedade”, ficando evidenciado que essa população produzia mais da metade do que consumia e atualmente produz menos da metade ou quase nada, sendo a produção orgânica local mínima. Foram questionados o consumo de açúcar, a fonte de gordura e o tipo e origem de ovos e aves (frangos, galinhas, perus etc.). No passado as pessoas da comunidade utilizavam apenas o açúcar como adoçante. Com o transcorrer das décadas (cinco, no mínimo), passou-se a utilizar além do açúcar o adoçante dietético. Observando-se, entretanto, que o consumo de antes era oriundo de fontes como a rapadura e em quantidade muito menor do que a consumida atualmente. A fonte de gordura era o toucinho, banha ou sebo e o consumo de aves e ovos era oriundo de criatórios domiciliares. Atualmente são utilizados o óleo vegetal e a margarina, e incorporado ao consumo de ovos e aves de criatórios aqueles derivados de “granjas”, ou seja, industrializados. A Figura 1 sintetiza as informações supracitadas. Pode-se observar que no passado as famílias utilizavam a caatinga, mas de forma sustentável. O entendimento corrente era que devido à população ser bem menor não se cogitava a possibilidade da madeira acabar, e também não havia maiores demandas de recursos naturais por parte de olarias e panificadoras, entre outros encontrados nos dias de hoje. O desmatamento irracional vem transformando várias regiões, no Brasil e no mundo, em 117 Figura 1. Condições de vida na Ribeira: Alimentação verdadeiros desertos. A região do semiárido paraibano, que ao longo dos últimos anos vem passando por sérios processos de tendência a desertificação, é caracterizada por condições sociais e ambientais bastante vulneráveis, onde a intervenção das atividades humanas tem propiciado a degradação acentuada dos recursos naturais. Nos dias atuais não se extrai mais a lenha da caatinga e a caça de animais diminuiu bastante. Isso se deve ao uso do fogão a gás e da erradicação da caça na região. A percepção de cada indivíduo sobre as mudanças que o ser humano impõe à natureza é importante para minimizar os conflitos com o meio ambiente, respeitar as leis naturais e assim defender a vida. Para os entrevistados, no passado houve danos de baixas proporções ao meio ambiente. Estes danos foram provocados pelo uso de recursos naturais para sobreviver e ter mais segurança. Porém a opinião geral é que havia tempo e condições para a se recuperar desses impactos. Hoje, entretanto, existem na comunidade danos ao meio ambiente de grandes proporções. Foi citado como exemplo, a poluição do rio Taperoá, oriunda de outras regiões e não da comunidade. Na região existe apenas a atividade couro-calçadista como potencial poluente dos recursos hídricos. Entretanto, a escala industrial ainda não é grande o suficiente para provocar danos substanciais no rio Em todas as casas o tipo de água utilizada no passado era de rios, cacimbas ou lajedo, sem Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.113-115, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 118 A. A. de Farias et al. tratamento e a uma distância média superior a um kilômetro de suas residências. Outro grande problema era que devido essas águas serem originárias de pequenos açudes, cacimbas ou rios, elas secavam durante o período de estiagem, principalmente durante as secas prolongadas. Atualmente a água encanada já está disponível em todas as residências. No passado o lixo era jogado a céu aberto, provocando diversos problemas como: poluição do solo, e das fontes de água, proliferação de insetos transmissores de doenças e o aglomerado de materiais não degradáveis ou tóxicos. A decomposição da parte orgânica, libera gases e um líquido chamado chorume, ambos muito poluentes. Atualmente, apesar de ainda não haver a coleta, o lixo á queimado por todos os integrantes da comunidade. Pela Figura 2 abaixo é possível se comparar as condições de vida de hoje com as do passado, ficando evidente a melhoria em todos os aspectos. A renda no passado era muito baixa e as pessoas sobreviviam com o pouco que produziam na agricultura. Entretanto, observou-se que mesmo sem uma renda fixa o nível da satisfação ainda era alto. Hoje todos são aposentados, apresentando uma evidente melhoria da renda e das condições de vida. Também proporcionado pela chegada da energia elétrica na região e pela facilidade para a aquisição de bens de consumo. Hoje as famílias dispõem de aparelhos como televisão, computador, som, dvd, geladeira, entre outros. Com a industrialização e o desenvolvimento, esses utensílios se tornaram mais acessíveis à população, gerando melhoria das condições de vida. Com relação à habitação, no passado as casas eram de alvenaria sem acabamento eram bem conservadas, porém a população ficava muito vulnerável a certas doenças como a Doença de Chagas, pois o transmissor dessa doença, o barbeiro tem habito noturno e costuma ficar dentro das paredes, isso dificulta que a população o encontre. Hoje a população tem suas casas de alvenaria com acabamento, podendo se observar uma melhoria nas condições dessas casas e o mais importante que essa população fica menos vulnerável a riscos e desastres. No passado as casas não tinham privada o que causava diversos problemas, pois os dejetos eram jogados ao ar livre, onde os animais tinham contato com esses dejetos, as águas das chuvas também poderiam carrear esses resíduos para dentro de rios e açudes e causar diversos problemas de saúde. Hoje todas têm privada em casa com descarga, isso certamente vem gerando diversas melhorias nas condições de vida da população. CONCLUSÕES Figura 2. Condições de vida na Ribeira: Condições gerais A partir dos dados coletados, foi possível verificar uma melhoria significativa nas condições de vida gerais da população pesquisada. Esta melhoria pode ser atribuída, principalmente, à disponibilização de melhores subsídios por parte do poder público, na forma de aposentadorias com maior poder de compra. A disponibilização da energia elétrica no meio rural, além do aumento da renda e da acessibilidade aos eletrodomésticos, tem possibilitado um aumento gradativo na melhoria das condições de vida da população, como Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.113-119, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 Condições de vida da população idosa da bacia hidrográfica de Ribeira/PB: uma a utilização de geladeiras para a conservação dos alimentos. A utilização massiva de aparelhos de televisão permite o conheciment o de impo r t ant es infor maçõ es globalizadas, principalmente no que diz respeito à preservação do meio ambiente, como as técnicas de manuseio do lixo. Foi verificada uma melhoria generalizada nas condições alimentícias. Esta melhoria foi gerada pela facilidade de aquisição, pela diversidade, pelo aumento da quantidade consumida e conservação dos produtos. Por outro lado, houve uma queda na produção local de alimentos, bem como uma diminuição da qualidade dos mesmos devido ao consumo de gêneros cultivados com a utilização de defensivos agrícolas. Ficou constatado um aumento no consumo de produtos industrializados (frangos, ovos, adoçante, óleo), fazendo-se necessárias pesquisas futuras mais detalhadas sobre implicações em decorrência dessas adições e/ ou substituições na alimentação dos idosos e da população em geral. Pode-se concluir que a melhoria das condições de vida está fortemente relacionada a: qualidade e disponibilidade de alimentos, de água encanada e tratada, habitação bem acabada e com sanitário, utilização de fogão a gás e de eletrodomésticos básicos. Isto favorece a ocorrência de um meio ambiente mais equilibrado. REFERÊNCIAS BRASIL. Lei n° 10. 741/2003. Estatuto do Idoso. BOTELLHO, R. G. M. & SILVA, A. S. da. Bacia Hidrográfica e Qualidade Ambiental. In: VITTE, Antonio C.; GUERRA, Antonio José T. (Orgs.). Reflexões sobre a Geografia Física no Brasil. Rio e Janeiro: Bertrand Brasil, 2004. 280p. 119 CORREA, M.R.; FRANÇA, S. A. M. Histórias do arco da velha: memória e experiência narrativa com idosos. In: XIX Encontro de Psicologia e VI Encontro de Pós-Graduação, 2006, Assis. XIX Encontro de Psicologia e VI Encontro de PósGraduação: Percursos e Perspectivas. CRESPO, A. A. Estatística Fácil. São Paulo: Saraiva, 1996. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2005. Sintese de Indicadores Sociais, 2002. Disponível em: < www.ibge.com.br >. Acesso em: 01/04/2011. INOUYE, Keika; PEDRAZZANI, Elisete Silva e PAVARINI, Sofia Cristina Iost. Octogenários e cuidadores: perfil sóciodemográfico e correlação da variável qualidade de vida. Texto contexto - enferm. [online]. 2008, vol.17, n.2, pp. 350-357. MACHADO, R.F.O.; VELASCO, F.L.C.G.; AMIM, V. O Encontro da Política Nacional da Educação Ambiental com a Política Nacional do Idoso. Saúde e Sociedade v.15, n.3, p.162-169, set-dez 2006. SANTOS, Sérgio Ribeiro dos; SANTOS, Iolanda Beserra da Costa; FERNANDES, Maria das Graças M. and HENRIQUES, Maria Emília Romero M.. Qualidade de vida do idoso na comunidade: aplicação da Escala de Flanagan. Rev. Latino-Am. Enfermagem [online]. 2002, vol.10, n.6, pp. 757-764. ISSN 0104-1169. SANTOS, K. C., QUINTINO, V. L. B., SANTOS, M. A. Um percurso para a pesquisa com narrativas orais no norte de Minas Gerais. Revista Eletrônica do Instituto de Humanidades, Volume 5, Número 20 - Jan-Mar 2007 SIMSON, O. R. M.; GIGLIO, Z. G. A arte de recriar o passado: historia oral e velhice bem sucedida. In: Neri, A. L. (Org.) Desenvolvimento e Envelhecimento. Campinas- SP: Papirus Editora 160 p. 2001. Sustainable Society Foundation – SSF. Sustainable World Report 2010. Disponível em < http:// www.ssfindex.com/ Acesso em: 15 de março de 2.011. Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.113-115, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 Revista Educação Agrícola Superior Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior - ABEAS - v.25, n.2, p.120-126, 2010. PAPEL DA ANÁLISE SENSORIAL COMO FERRAMENTA DE APOIO NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS ALIMENTÍCIOS Silvana N. de Oliveira¹; Maria do C. P. Rodrigues² 1 Pós-Graduanda em Engenharia Agrícola e Recursos Naturais – UFCG. Email:[email protected] 2 Doutora em Tecnologia de Alimentos, Professora, Departamento de Tecnologia de Alimentos – UFC. E-mail: [email protected] RESUMO Considerando o binômio alimento-qualidade, a avaliação sensorial tem um papel fundamental no Processo de Desenvolvimento de Produtos Alimentícios (PDPA), uma vez que é utilizada como instrumento chave para a seleção de produtos, pesquisa e desenvolvimento de novos produtos, definição do padrão de identidade e qualidade do alimento e na avaliação da aceitação pelo consumidor. A atividade de desenvolver produtos na indústria alimentícia é um processo que necessita ser gerido com maior controle e segurança. Esta revisão teve como objetivo apresentar informações sobre o papel da análise sensorial como ferramenta de apoio e gestão para o sucesso global no Processo de Desenvolvimento de Produtos (PDP) na indústria alimentícia. PALAVRAS-CHAVE: Avaliação sensorial, PDPA, desenvolvimento de produtos, alimentos ROLE OF SENSORY ANALYSIS AS TOOL OF SUPPORT FOR DEVELOPMENT OF FOOD PRODUCTS ABSTRACT Considering the binomial food-quality, sensory evaluation has a key role in the Development Process of Food Products (PDPA), since it is used as a key tool for product selection, research and development of new products, the standard-definition identity and quality of food and assessment of consumer acceptance. The activity of developing products in the food indust ry is a process that needs t o be managed with great er control and security. This review aims to present information on the role of sensory analysis as a tool to support and manage the overall success of the Product Development Process (PDP) in the food industry. KEYWORDS: Sensory evaluation, PDPA, product development, food Papel da análise sensorial como ferramenta de apoio no processo de INTRODUÇÃO A atividade de desenvolver produtos, na maioria das vezes encarada como uma seqüência de esforços técnico-científicos, necessita ser gerida com maior segurança, de maneira a buscar a otimização de fatores como rapidez, qualidade e custo (POLIGNANO e DRUMOND, apud CLARK, K. B. & WHEELWRIGHT, 1992). Complementando a Gestão do Processo de Desenvolvimento de Produtos, são utilizadas varias ferramentas de apoio, a fim de que, as empresas possam compreender melhor os interesses do mercado e por conseguinte gerenciar e conduzir o Processo de Desenvolvimento de Produtos (PDP) de modo a suprir as necessidades dos clientes e garantir o sucesso do produto. BOSI (2003) cita alguns exemplos de ferramentas de apoio ao PDP, sendo estes: Desdobramento da Função Qualidade (QFD), benchmarking de produto, engenharia simultânea, gestão de portfolio, Projeto Auxiliado de Computador ou Computer Aied Design (CAD), pesquisa de mercado, planejamento de experimentos, Análise Sensorial e Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC), entre outras. Este trabalho faz um recorte das ferramentas de apoio ao PDP, abordando especificamente a análise sensorial, a partir de uma breve apresentação e discussão das etapas do PDP na industria de alimentos, do papel da análise sensorial como uma ferramenta de apoio a este processo e seus métodos e testes mais utilizados para o sucesso global no PDP na industria alimentícia. A análise sensorial é uma ferramenta que permite analisar vários parâmetros de qualidade em alimentos e também em outros produtos, sendo que testes de diferentes enfoques são utilizados para atingir diferentes graus de respostas. Segundo NORONHA (2003), a Análise Sensorial permite caracterizar e medir atributos sensoriais dos produtos ou determinar se as diferenças nos produtos são detectadas e aceitas ou não pelo consumidor. No desenvolvimento 121 de produtos ou no controle de qualidade, a compreensão, determinação e avaliação das características sensoriais dos produtos tornam-se importantes e essenciais em muitas situações. Atualmente a procura do consumidor por alimentos diversificados, práticos, seguros e de qualidade é uma forte tendência de mercado e a análise sensorial integra-se ao PDP na industria alimentícia, como uma ciência capaz de fornecer informações decisivas que definem até que nível pode variar a qualidade de um produto sem que sua imagem seja prejudicada perante o mercado consumidor. (MARTINS, 2002). REVISÃO DE LITERATURA Processamento de alimentos e classificação de produtos alimentícios EVANGELISTA (1994), cita que os objetivos da Tecnologia de Alimentos buscam garantir que seja apresentado aos consumidores, produtos nutritivos, apetitosos, bem apresentados e com maior tempo de vida útil ou de prateleira. Atualmente, considera-se que a verdadeira inovação tecnológica não se baseia mais no aumento da produção, e sim, na diminuição de perdas, que é o discurso da melhoria da produção, somado à melhoria das condições de industrialização, das próprias industrias e da produtividade. BARUFFALDI e OLIVEIRA (1998). Segundo BOSI apud PROENÇA (2003) a classificação dos produtos alimentícios se dá baseada no grau de transformação dos mesmos após o ciclo de produção, havendo a correlação deste processamento com o nível de conveniência dos produtos. BARRUFALDI e OLIVEIRA (1998), apresentam a seguinte classificação: - Produtos alimentícios sem modificação: Quando os tratamentos industriais praticamente não interferem na composição e nos aspectos originais da matéria-prima. Como por exemplos, hortaliças frescas, água mineral, ovos. - Produtos alimentícios com pequena ou ligeira modificação: Estes produtos não apresentam alterações químicas da matéria-prima que lhes deu origem. Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.120-126, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 122 S. N. de Oliveira et al. - Produtos alimentícios com grande modificação: Estes produtos sofrem, durante a industrialização, alterações nas características da matéria-prima que lhes deu origem. Além daquelas modificações de ordem física ocorrem também modificações químicas e estruturais nas macromoléculas constituintes do alimento. - Produtos alimentícios transformados: São aqueles que após a industrialização não apresentam mais nenhuma das características da matéria-prima de origem. São obtidos por processos que transformam a matéria-prima em um produto alimentício novo e peculiar. Processo de Desenvolvimento de Produtos Alimentícios Um processo é uma serie de etapas ou atividades que transformam um conjunto de entradas em um conjunto de saídas”. (WILLE, 2004). Na indústria de alimentos podemos dizer que essas entradas são informações advindas dos consumidores, das novas tendências tecnológicas, dos interesses de mercado, internas à empresa, entre outras fontes. Sendo as saídas um produto ou linha de produtos que respondam as estas novas demandas dos consumidores, do mercado e da própria empresa. Atualmente, o rápido desenvolvimento tecnológico, acompanhado da melhoria no padrão de vida dos consumidores, traz às empresas grandes oportunidades para o desenvolvimento de produtos e conseqüentemente seu próprio desenvolvimento. (BOSI apud EARLE, 2003). Segundo MARTINS (2002), os projetos de desenvolvimento de produtos são classificados em três grandes grupos, conforme a origem do seu desenvolvimento, sendo estes: - Desenvolvimento de novos produtos baseados numa nova tecnologia: São produtos totalmente novos e inovadores. Não existindo produtos similares para referência. - Desenvolvimento de novos produtos criados por sistemas integrados: São produtos novos, sem semelhantes no mercado, mas que utilizam tecnologias ou sistemas já existentes. - Desenvolvimento de produtos criados pelo melhoramento de um produto existen- te: São produtos lançados no mercado e que, constantemente, são sujeitos a melhorias. Este autor relata ainda que o ultimo grupo é o de ocorrência mais freqüente, sendo ainda assim, considerado como um novo produto para o mercado. Para desenvolver novos produtos é necessário, planejamento, pesquisa, controle e uso de métodos sistemáticos, capazes de integrar e otimizar os diferentes aspectos envolvidos. Por isso são adotados modelos sistemáticos, com apoio de métodos e ferramentas, que auxiliam as equipes de PDP a resolverem problemas durante o processo de desenvolvimento. (SANTOS e FORCELLINI, 2004). Segundo WILLE apud KAMINSKY (2004), existem três componentes básicos em um projeto de PDP: o processo de tomada de decisão, o processo de fluxo do trabalho e os sistemas paralelos de suporte de processo. A análise sensorial e o desenvolvimento de produtos alimentícios Um alimento deve além de ser nutritivo, produzir também satisfação e ser agradável ao consumidor, isto é conseguido por meio do equilíbrio de diferentes parâmetros de qualidade sensorial. Para o sucesso efetivo do PDP é imprescindível otimizar parâmetros, como forma, cor, aparência, odor, sabor, textura, consistência e a interação dos diferentes componentes, com a finalidade de alcançar um equilíbrio integral que se traduza em uma qualidade excelente e que seja de boa aceitabilidade para o consumidor (BARBOZA apud PENNA, 2003). Análise Sensorial é uma metodologia destinada a avaliar a aceitação de produtos no mercado, pesquisando os gostos e preferências de consumidores. Com base nos resultados, é possível medir, avaliar e interpretar a percepção sensorial em relação ao produto analisado. (SBRT, 2007) A analise sensorial, atualmente tem recebido um grande impulso no sentido de encontrar maior aplicação no setor produtivo (MARTINS apud ALMEIDA et al., 2002). Esse impulso deve-se a uma maior divulgação e utilização dessa ciência. Pode-se facilmente constatar isso, observando a constante utilização da avaliação Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.120-126, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 Papel da análise sensorial como ferramenta de apoio no processo de 123 Tabela 1. As Fases de desenvolvimento de produtos e seus desdobramentos Fases de desenvolvimento de produtos 1. Definição do produto 2. Geração e seleção de idéias, projeto e desenvolvimento do produto 3. Desenvolvimento técnico do produto e obtenção da produção, garantia da qualidade e estratégia de marketing. 4.Lançamento comercialização e acompanhamento Desdobramentos do Processo de Desenvolvimento de Produto Possibilidades de produtos a serem desenvolvidos Projetos de desenvolvimento específicos Alinhamento com estratégia da empresa. Análise de mercado Análise da tecnologia disponível. Análise financeira. Definir revisões de Portfólio. Formulação do plano de desenvolvimento Definição dos objetivos do projeto e suas limitações Conceituação do produto Geração e triagem de idéias. Determinar viabilidade técnica-econômica. Protótipos do produto Fluxograma do processo e suas condições Compatibilidade do projeto com a estratégia organizacional Análise crítica da conceituação do produto e mercado alvo Análise do consumidor e avaliação tecnológica dos protótipos Testes de produto Produto final e mercado alvo, posicionamento e imagem do produto Método de controle de processo Método de produção e determinação da linha de produção Análise de perigos e definição dos pontos críticos de controle (APPCC) Estratégia de marketing e planejamento Custos, preço, lucro, investimento e risco Avaliação da previsão de sucesso no mercado Avaliação da segurança do processo e do produto/alimento Lançamento no mercado Melhoria do processo de produção e qualidade do Produto Estudo da qualidade do produto e eficiência da Produção Estudo do comportamento de compra, atitudes dos consumidores e métodos de marketing Melhoria do posicionamento do produto, mercado alvo e métodos de marketing Reavaliação de custos e preços Previsão e planejamento do futuro do produto Fonte: Adaptado de BOSI (2003) Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.120-126, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 124 S. N. de Oliveira et al. sensorial em publicações relacionadas com investigações em alimentos. NORONHA (2003) afirma que a análise sensorial responde a três tipos de questões distintas: Questões de Descrição Quais são as suas características sensoriais percebidas no produto? De que modo a qualidade do produto difere de outro produto? Quais são as consequências de uma modificação no processo, formulação, embalagem ou condições de armazenamento nos atributos do produto? Onde as respostas à estas questões traduzem a percepção das diferenças sensoriais entre produtos ou amostras na sua globalidade ou num dado atributo. (NORONHA, 2003) Questões de Discriminação Será que o consumidor nota a diferença? Quantos consumidores detectariam esta diferença? Estes produtos são diferentes? Qual a magnitude da diferença? Onde as respostas apresentam são a descrição/caracterização de um dado produto. (NORONHA, 2003). Questões de Preferência ou Hedônicas Quantas pessoas gostam deste produto? O produto é aceitável? Este produto é tão bom quanto o concorrente? Será que este produto é melhor que o anterior? Quais são as características mais apreciadas? Será o preferido pelo consumidor? As respostas a estas questões permitem apresentar o caráter de preferencial por um produto ou atributo do mesmo, pois estão diretamente ligadas aos desejos do consumidor, o que vem a casar estreitamente com o processo de desenvolvimento de produtos na industria alimentícia, devido esta ter como meta a ampliação de seu mercado consumidor devendo e para isto, atender cada vez mais às necessidades e tendências de mercado da massa consumidora (NORONHA, 2003; BARBOZA apud PENNA, 2003). AAnálise Sensorial permite determinar diferenças, caracterizar e medir atributos sensoriais dos produtos ou determinar se as diferenças nos produtos são detectadas e aceitas ou não pelo consumidor. Seja com a finalidade de desenvolver produtos ou de controlar a qualidade destes, a compreensão, determinação e avaliação das características sensoriais dos produtos é de relevante importância para a indústria de alimentos (NORONHA, 2003). No próximo ponto será tratada especificamente da analise sensorial como ferramenta de apoio ao PDP alimentício. A qualidade sensorial de alguns produtos industrializados somente pode ser amplamente medida através da avaliação sensorial de algumas propriedades. Na indústria de alimentos, onde os técnicos de desenvolvimento de produtos estão constantemente envolvidos com tarefas de coletar e processar dados avaliados em painel sensorial. Daí pode-se verificar o quão imprescindível se faz à utilização da analise sensorial como ferramenta no PDP alimentício (MARTINS apud FOGLIATO, ALBIN e SILVA, 2002). A avaliação sensorial intervém nas diferentes etapas do ciclo de desenvolvimento de produtos; como na seleção e caracterização de matérias primas, na seleção do processo de elaboração, no estabelecimento das especificações das variáveis das diferentes etapas do processo, na otimização da formulação, na seleção dos sistemas de envase e das condições de armazenamento e no estudo de vida útil do produto final. Um bom planejamento dos testes, uma criteriosa seleção dos julgadores e uma correta interpretação dos testes são fatores muito importantes para obter respostas confiáveis (BARBOZA apud PENNA, 2003). Os testes sensoriais são incluídos como garantia de qualidade por serem uma medida multidimensional integrada, possuindo importantes vantagens, tais como: ser capaz de identificar a presença ou ausência de diferenças perceptíveis, definir características sensoriais importantes de um produto de forma rápida e ser capaz de detectar particularidades que não podem ser detectadas por outros procedimentos analíticos. (SBRT, 2007). A NBR 12994 classifica os métodos de análise sensorial dos alimentos e bebidas em discriminativos, descritivos e subjetivos. Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.120-126, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 Papel da análise sensorial como ferramenta de apoio no processo de 125 Tabela 2. Classificação dos métodos de avaliação sensorial em função dos objetivos globais e seu uso no PDP Método de Questões Aplicação no PDPA Objetivo Global análise relacionadas - Manutenção de produtos - Fornece descrição detalhada dos - Otimização de atributos dos produtos. - Quais os atributos produtos - Permite avaliar a intensidade dos Análises dos produtos? - Novos produtos atributos sensoriais de um produto. descritivas - Que atributos tem - Correlação com - Determina se existe diferença diferenças? atributos físicos significante entre dois produtos, e em - Correlação com consiste esta diferença. preferência dos consumidores - Manutenção de - O produto é - Determina se a diferença entre dois produtos Análises diferente? produtos é significante. - Otimização de discriminativas - A diferença é - São avaliadas as diferenças produtos perceptível? sensoriais entre dois ou mais produtos - Novos produtos - Manutenção de produtos - Avalia a aceitação e preferência dos - Gosta ou - Otimização de consumidores em relação a um ou mais desgosta? produtos produtos Testes Afetivos - Qual prefere? - A avaliação pode ser realizada - Novos produtos - O que mais - Correlação com separadamente ou como parte da gosta? preferência dos análise de mercado. consumidores Fonte: Adaptado de Souza Filho e Nantes (2004) CONSIDERAÇÕES FINAIS O consumidor atual apresenta um melhor padrão de vida e de acesso a informações, o que influencia diretamente nas suas escolhas no supermercado. A busca por melhoria na qualidade de vida com o mínimo de esforço é um exemplo disso, e atrelada a essa busca está uma fatia em ascensão no setor alimentício; os alimentos funcionais, os enriquecidos com vitaminas, lights, diets e etc. Este novo quadro do mercado consumidor reflete em grandes oportunidades para as empresas no desenvolvimento de produtos e conseqüentemente seu próprio desenvolvimento. (BOSI apud EARLE, 2003). Fazendo com que cada vez mais as industriais invistam no desenvolvimento de novos produtos e na otimização deste processo dentro da empresa. O objetivo principal de uma empresa é vender os produtos que fabrica. Para tanto, torna-se imprescindível às industrias de alimentos se aperfeiçoarem e otimizarem seus processos para o desenvolvimento e fabrico de produtos, a fim de melhor satisfazerem as exigências do consumidor. Ao discutir como se dá o Processo de Desenvolvimento de Produtos na Industria de Alimentos visamos explicitar aos gestores deste setor o quanto é importante à consolidação dos departamentos de Pesquisa e Desenvolvimentos (P& D) neste segmento e que para isso, faz-se necessário a contratação de profissionais capacitados e o comprometimento da alta gerencia para um efetivo sucesso no desenvolvimento de produtos com qualidade e segurança. Sabe-se que as características finais apresentadas nos produtos alimentícios dependem da qualificação e quantificação de todas as suas propriedades sensoriais, dos efeitos dos ingredientes, da influência dos Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.120-126, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011 126 S. N. de Oliveira et al. parâmetros de processo, dos métodos de conservação empregados e das embalagens utilizadas. Em contra partida o conhecimento das características requeridas pelos consumidores, bem como a qualidade final dos produtos alimentícios são fatores imprescindíveis ao desenvolvimento de produtos na industria de alimentos. Sendo está as aplicações mais importantes da Análise Sensorial no desenvolvimento de novos produtos e no marketing. (NORONHA, 2003). Verifica-se o quanto se torna necessária a utilização da analise sensorial no PDPA, tanto em suas fases iniciais quanto nas avaliações pós-lançamento de produtos. O que irá conferir maior controle sobre as formulações, maiores possibilidades de adequação em embalagens e/ou formulações (quando necessárias) e o desenvolvimento de novos produtos com uma maior segurança por parte das empresas. Pois com a utilização desta ferramenta a industria adquire um “raio-X” de dados informacionais, quer seja sobre o produto, que seja, sobre as percepções do ser humano diante do mesmo. E pode através desse perfil traçar novas estratégias para acompanhamento e melhoramento de seus processos e produtos baseados em dados reais. REFERÊNCIAS BARBOZA, L. M.; FREITAS, R. J. S.; WASZCZYNSKYJ, N. Desenvolvimento de produtos e analise sensorial, Revista Brasil Alimentos, n.18, p.34-35, 2003. BARUFFALDI, R.; OLIVEIRA, M.N. Fundamentos de tecnologia de alimentos. São Paulo: Atheneu, 1998. BOSI, M.G. Caracterização da gestão e de atividades de capacitação para o processo de desenvolvimento de produto alimentício: estudo de caso. São Carlos, 2003. Dissertação de mestrado, Universidade Federal de São Carlos, UFSCar. EVANGELISTA, J. Tecnologia de alimentos. São Paulo: Atheneu, 1994. MARTINS, C. M. R.; Proposta metodológica para otimização experimental de formulações: um estudo de caso no setor alimentício. 2002. Dissertação de mestrado, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS. NORONHA, J. F. Apontamentos de analise sensorial, Coimbra, 2003. Disponível em <http:// www.esac.pt/noronha/A.S/Apontamentos/ sebenta_v_1_0.pdf.>, Acesso em 14 fev. 2008. POLIGNANO, L.A.C.; DRUMOND, F.B. O papel da pesquisa de mercado durante o desenvolvimento de produtos. In: 3º Congresso Brasileiro de Gestão de Desenvolvimetno de Produto, Florianópolis, 1992. SANTOS, A.C.; FORCELLINI, F.A. O projeto do processo no PDP na industria de alimentos. In: IV Congresso Brasileiro Gestão e Desenvolvimento de Produtos – Gramado, 2004. SERVIÇO BRASILEIRO DE RESPOSTAS TÉCNICAS. Analise Sensorial. CETEC - Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais, 2007. Disponível em: <http://www.sbrt.ibict.br/upload/ sbrt5887.pdf>. Acesso em 18 de agosto de 2008. SOUSA FILHO, M.S.M.; NATES, J.F.D. O QFD e a analise sensorial no desenvolvimento do produto na industria de alimentos: Perspectivas para futuras pesquisas, In: XI Simpósio de Engenharia de Produção, Bauru. Disponível em <http:// w w w. g ep a i . d e p . u f s c a r . b r / p u b l i c a c oesbusca.php?buscanome=Hildo% 20Meire lles%20de%20Souza%20Filho#gepai>, Acesso em 22 ago. 2008. Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.120-126, 2010. Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011