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Boletim técnico da Produção de Petróleo, Rio de Janeiro - volume 4, n° 1, p. 9-38 o y Carlos Alberto Capela Moraes y Luiz Philipe Martinez Marins y André Sampaio Monteiro y Fabrício Soares da Silva y Marcos Aurélio de Souza y Luiz Fernando Barca y João Américo Aguirre Oliveira Jr. y Lucilla Coelho de Almeida Desenvolvimento de válvulas ciclônicas /Development of cyclonic valves resumo PALAVRAS-CHAVE: válvula de controle válvula choke quebra de gotículas cisalhamento de emulsão geração de emulsão turbulência Este trabalho aborda um dos mais sérios problemas de processamento primário de petróleo, principalmente no que tange à separação óleoágua de óleos pesados e viscosos, que é a geração de emulsões severas, que ocorre durante os processos de produção e mesmo durante o processamento primário, pela ação das válvulas convencionais. O trabalho apresenta ainda o desenvolvimento de um novo conceito e um novo equipamento derivado desse conceito, obtidos e desenvolvidos como uma das vertentes do projeto de P&D − Desenvolvimento de Tecnologias Ciclônicas, em andamento no Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes). Esse novo equipamento é capaz de evitar ou, pelo menos, minimizar consideravelmente o problema citado. Trata-se de uma nova válvula para controle de processo de linhas bifásicas óleo-água ou multifásicas gás- óleo- abstract KEYWORDS: control valve choke valve droplet break-up emulsion generation emulsion shearing turbulence This study proposes a possible solution for one of the most severe problems encountered in primary oil-water separation - the formation of stable emulsions. This is largely due to the action of the conventional valves used in the production process and in primary processing activities. Choke and control valves, widely used devices in a production plant, are designed to inflict a significant pressure drop on a fluid stream to control process variables (flow-rate, liquid levels etc.). However, despite facilitating the production plant controllability, these pressure drops can cause deleterious effects on the primary processing activities, mainly on phase separation. Multiphase (oil + water or even gas + oil + water) streams are severely disturbed by the punctual high rate of turbulent energy dissipation due to the passage of the multiphase stream through the valve openings. The high turbulence level acts as a dispersion tool causing the formation of very severe oil in water and water in oil emulsions. This study describes a R&D project based on a new concept for a low shearing valve capable of imposing the required pressure drop on a multiphase process stream without creating emulsions and, in fact, helping to separate the distinct stream phases. Petrobras has protected the intellectual proprietary rights of this concept with registered 9 o o Desenvolvimento de válvulas ciclônicas – Moraes et al. água. Essa nova válvula pode substituir, com grandes vantagens relativamente ao posterior processamento das correntes multifásicas, as válvulas de controle convencionais e mesmo as válvulas choke de produção, também denominadas beam, uma vez que esse grupo de válvulas constitui “geradores de emulsão”. O projeto partiu de uma nova concepção Petrobras de válvula (Patente – PI0505620-9, depositada em 2005) que tem a característica de impor uma queda de pressão na corrente, não pela dissipação turbulenta da energia de pressão, como nas válvulas convencionais, mas pela conversão dessa energia em energia cinética de rotação. Com base nesse novo conceito, o projeto incluiu a investigação experimental com uso de modelos em acrílico de uma das versões dessas novas concepções. Prosseguiu com discussões que culminaram em uma primeira versão de um protótipo mecânico, construído em aço e bronze, e testado experimentalmente com fluidos reais (óleo do campo de Albacora), no laboratório SepFas da Unifei, apresentando resultados apenas parcialmente de acordo com o esperado. Isso levou a uma profunda análise dos resultados abstract patents. The conceptual design was further developed in a set of mechanical designs and prototypes. These were successfully tested by comparing their performance in terms of pressure drop characteristics and emulsion generation with those of conventional control valves. The concept and equipment have been completely proved and the next project stage will include the optimization of the valve geometry and contacting an equipment maker to study industrial production and commercialization. (Expanded abstract available at the end of the paper). o 10 obtidos, com a identificação dos problemas inerentes a essa primeira versão. Após discussões técnicas, foram desenvolvidas novas concepções para o equipamento, cujos novos protótipos foram também testados, desta vez com absoluto sucesso, como será mostrado. Utilizando essa última concepção, foram ainda construídos protótipos de maior escala, visando comprovar a efetividade do conceito mesmo em válvulas de maior capacidade (scaleup). Todas as etapas desse projeto serão aqui descritas, dando-se ênfase aos resultados obtidos. introdução e histórico do projeto principais problemas do processamento primário de petróleo Nas atividades de produção de petróleo, o fluido efluente de um poço, tratado genericamente, no jargão da produção, por petróleo, na verdade constitui-se de diversos compostos naturais, dentre os quais se destacam os hidrocarbonetos (óleo e gás) e a água de formação. Esta, com o envelhecimento do campo, atinge os canhoneados dos poços produtores e é, portanto, produzida junto com os hidrocarbonetos, recebendo a denominação de água produzida. Nas instalações de processamento primário, é feita a separação das fases produzidas, de modo a possibilitar o descarte da água e dos eventuais sólidos produzidos e o condicionamento aos requisitos de utilização e comercialização do óleo e do gás. O processamento primário de petróleo constitui-se, portanto, nas atividades que visam à obtenção dos produtos citados, nas qualidades requeridas, sejam para descarte (água e sólidos), sejam para utilização (óleo e gás). A corrente produzida do reservatório de petróleo alcança a cabeça do poço produtor com um valor relativamente elevado de pressão, em função das características do reservatório e/ou do método de elevação empregado. Neste ponto, é comum a utilização da válvula choke para quebrar a pressão da corrente produzida e permitir o controle da vazão do poço produtor, harmonizando-a à pressão de Boletim técnico da Produção de Petróleo, Rio de Janeiro - volume 4, n° 1, p. 9-38 o trabalho dos equipamentos a jusante. Assim, o controle da produção de determinado poço é realizado pela utilização dessa válvula choke (ou beam, no jargão da produção). A pressão de separação dos fluidos, particularmente no que concerne à remoção do gás da corrente produzida, não pode ser muito baixa, pois o gás deverá ser comprimido a pressões elevadas para a desidratação, utilização na própria plataforma (como lift gas e como gás combustível) e exportação para outras instalações offshore e onshore. Assim, no caso dos óleos pesados e médios da Petrobras, o primeiro estágio de separação normalmente é realizado em pressões em torno de 10 bar. O último estágio de separação é normalmente realizado em pressões próximas à atmosférica, pela necessidade de estabilizar o óleo a ser exportado. Desse modo, é preciso impor uma quebra de pressão de cerca de 10 bar à corrente oleosa efluente do primeiro estágio antes da alimentação do segundo estágio. Essas quebras de pressão são obtidas pela utilização, na linha de saída de óleo do estágio de separação a montante, de uma válvula de controle (normalmente do tipo “válvula globo”) de atuação contínua, comandada por um controlador de nível de líquido nesse separador a montante. As duas situações acima descritas – tanto a válvula choke, quanto a válvula de controle – mostram que esses dispositivos têm como objetivo impor uma perda de carga localizada, no primeiro caso, na corrente multifásica de fluidos produzidos, e, no segundo caso, na corrente de óleo separado do primeiro estágio, que normalmente ainda possui elevado teor de água, que somente é removida nos estágios subsequentes de separação (normalmente após aquecimento e tratamento eletrostático). No projeto dessas válvulas não há nenhuma preocupação com o efeito que essa quebra de pressão localizada possa ter sobre a corrente multifásica, efeito esse que pode acentuar o grau de dispersão das fases presentes. de emulsões, quando misturas multifásicas que contêm duas fases líquidas imiscíveis fluem por elas (ver detalhes no anexo I). Esse problema se acentua com a elevação da perda de carga pela válvula (menor área de passagem para uma mesma vazão ou maior vazão para uma mesma área de passagem − ver exemplo na figura 1). Para as menores aberturas, portanto maiores valores de dissipação turbulenta, a distribuição correspondente desloca-se para a região de menores tamanhos. problema associado às válvulas atualmente utilizadas descrição do problema das válvulas atuais As válvulas de controle de fluxo, nas aplicações acima citadas, estão entre os mais eficientes geradores O princípio de funcionamento das válvulas choke e de controle existentes no mercado consiste, usualmente, Figura 1 – Distribuição de tamanhos de gotículas medidas a jusante de uma válvula agulha, operando com a mesma vazão, para três aberturas distintas; sistema constituído de água e querosene (medidas efetuadas com instrumento ParTec®, no âmbito do Projeto Multicliente DIPSS). Figure 1 – Measured droplet size distribution downstream of a needle valve operating with the same flow rate and distinct openings; system is constituted by querosene in water dispersion (measurement using ParTec®, in Joint Industry Project DIPSS). 11 o o Desenvolvimento de válvulas ciclônicas – Moraes et al. em estrangular o escoamento, provocando uma forte turbulência no fluxo do fluido petrolífero. A turbulência é gerada por um orifício regulador variável, de tal modo que haja uma perda de carga do escoamento do fluido durante a passagem por esse orifício, sendo essa energia dissipada termicamente. A taxa de dissipação de energia deve ser elevada, pois a passagem do fluxo de fluidos por estes dispositivos é bastante rápida. Esta turbulência gerada com o estrangulamento do escoamento, visando ao controle de fluxo, além de proporcionar a redução desejada na pressão, ocasiona também a emulsão das fases líquidas presentes no fluido produzido (ver detalhes no anexo I). Este fenômeno é verificado, de modo flagrante, nos fluidos imediatamente após a válvula choke, situada na saída do poço produtor. Mas este não é um fenômeno restrito às válvulas localizadas nas saídas de poços produtores, pois ocorre com válvulas empregadas ao longo das tubulações da planta de processamento, como as válvulas de controle de nível dos vasos separadores da planta de processamento primário de petróleo. Até o momento, as válvulas choke e as válvulas de controle de processo convencionais têm sido projetadas para oferecer a maior capacidade possível de quebra de pressão e, portanto, regulagem de vazão, dividindo o circuito, no ponto em que são aplicadas, em uma zona a montante, de pressão mais alta, e outra a jusante, de menor pressão. Os projetistas deste tipo de válvula não têm tido nenhuma preocupação com o nível de emulsificação dos componentes da mistura multifásica gerado pela aplicação da válvula no circuito. Por outro lado, o nível de emulsificação dos componentes é uma preocupação constante dos projetistas dos equipamentos de processamento primário de petróleo, pois afeta notadamente o desempenho dos equipamentos e sistemas de separação óleo-água. Como detalhado no anexo I, diversas pesquisas têm sido conduzidas em relação ao fenômeno de dispersão de óleo e água em escoamentos após a passagem por válvulas de restrição. Esses trabalhos são unânimes em mostrar que a turbulência induzida na corrente que passa por estas válvulas ocasiona emulsões de difícil tratamento. o 12 projeto conceitual e investigações preliminares da válvula ciclônica descrição da alternativa proposta Com o objetivo de evitar os problemas descritos, o Grupo de Processamento de Correntes Oleosas do Cenpes/TPAP propôs o desenvolvimento de um novo tipo de válvula que atenda aos requisitos de quebra de pressão do processo, e que, simultaneamente, evite a emulsificação dos líquidos presentes e contribua para a separação dos mesmos. Esses efeitos são obtidos por meio da conversão da energia de pressão da corrente de fluidos em energia cinética de rotação desses fluidos, até que sua dissipação ocorra pelo atrito molecular, evitando a dissipação caótica provocada pela turbulência das válvulas convencionais. A nova válvula, denominada ciclônica, tem os seguintes objetivos: • Alcançar a perda de carga necessária pelo movimento de rotação do fluido, e não pelo seu cisalhamento; • Controlar o escoamento, evitando o cisalhamento dos grânulos de fluido dispersos já existentes; • Iniciar um processo de separação das fases do fluido; • Facilitar o trabalho de equipamentos separadores a jusante; • Permitir projeto de separadores de fase mais compactos e de menor custo; • Diminuir a necessidade de injeção, nos fluidos, de produtos químicos utilizados na quebra de emulsão (desemulsificantes); • Permitir projetar uma planta de processamento primário com componentes de menor custo e mais eficientes. características da concepção inicial A concepção de válvula, a seguir descrita, está protegida pela Patente Petrobras, PI-0505620-9, depositada em 2006. A válvula apresenta os componentes básicos Boletim técnico da Produção de Petróleo, Rio de Janeiro - volume 4, n° 1, p. 9-38 o necessários ao controle de vazão, tais como orifício regulável por meio de haste com elemento de vedação, que atua sobre uma sede. A diferença fundamental em relação às válvulas convencionais reside na configuração dos internos da válvula, projetados de modo que o escoamento interno dos fluidos se verifique com rotação ao redor do eixo da válvula. Esta rotação forçará a transformação da energia de pressão (potencial) em energia cinética de rotação, e o campo centrífugo resultante acarretará a separação das fases presentes, sempre que tiverem densidades diferentes. O fluido, com suas fases segregadas, é então descarregado por um único bocal de saída localizado na extremidade inferior (concepção denominada válvula ciclônica de fluxo direto – figura 2-A) ou superior ao dito corpo da válvula (concepção denominada válvula ciclônica de fluxo reverso – figura 2-B). O corpo da válvula foi considerado inicialmente com forma cônica, de modo a manter elevada magnitude do componente de rotação (azimutal) da velocidade pela conservação do momento angular, pois, com a diminuição do raio (com a corrente de fluidos caminhando na direção do vértice do cone), a conservação do momento angular implica um aumento da velocidade azimutal. A rotação pode ser imposta ao fluxo por uma alimentação tangencial ou pela utilização de anteparas direcionais internas que forçam rotação à corrente da alimentação, que será mantida pela própria geometria interna do corpo da válvula. (fig. 2-C). resultados da análise numérica sobre o projeto conceitual As configurações acima descritas têm seu comportamento fluidodinâmico analisado numericamente com a utilização de CFD. Para essa análise foi considerada apenas uma corrente monofásica. Nesse caso, as tensões de cisalhamento, bem como os perfis radiais de pressão e de velocidade azimutal estão sendo comparados, para diferentes concepções dos internos das válvulas (fig. 3 – A e B). As figuras de 4 a 6 mostram alguns resultados da análise numérica do escoamento pela válvula ciclônica de fluxo reverso. Esses resultados são de um estudo da configuração mais adequada do conjunto sede/elemento de regulagem/vedação. Foram consideradas, para análise comparativa, duas configurações bastante distintas, mostradas na figura 3. (A) (B) Figura 2 – Diferentes configurações para a válvula ciclônica. A) válvula ciclônica de fluxo direto; B) válvula ciclônica de fluxo reverso; C) utilização de involuta para induzir o fluxo de entrada a um movimento circular. Figure 2 – Distinct conceptual configurations for the cyclonic valve. A) direct flow cyclonic valve; B) reversed flow cyclonic valve; C) use of internal to induce inlet stream rotation. Figura 3 − Configurações analisadas para o sistema sede e obturador de vedação, na válvula ciclônica de fluxo reverso. A) obturador em forma de disco; B) obturador em forma de elipsoide. Figure 3 − Analysed configurations for the seat-plug in reversed flow cyclonic valve. A) disc shape plug; B) ellipsoidal plug. 13 o o Desenvolvimento de válvulas ciclônicas – Moraes et al. (A) (B) Figura 4 – Comparação dos campos de velocidade azimutal do fluido (rotação ao redor do eixo) obtido por simulação numérica para escoamento monofásico em válvula ciclônica de fluxo reverso. A) obturador em forma de disco; B) obturador em forma de elipsoide. Figure 4 – Comparison of azimuthal velocity component (rotation around the axis) field in reversed flow cyclonic valve; A) disc shape plug; B) ellipsoidal plug. A figura 4 indica que, para as mesmas condições de alimentação e mesma abertura da válvula (área livre de passagem), o conjunto com sede e elemento de regulagem e vedação em formato hidrodinâmico, ou seja, em formato que permite o desenvolvimento de linhas de corrente com curvatura mais suave, resultou em maiores velocidades de rotação do fluido. Assim, o conjunto com elemento de regulagem e vedação plano impôs ao escoamento uma perda do efeito centrífugo. (A) As figuras 5 e 6 mostram que as taxas de deformação no sistema com o conjunto elemento de regulagem e vedação/ sede hidrodinâmicos resultaram em uma distribuição mais uniforme, sem apresentar os elevados valores em regiões localizadas verificados na outra concepção do sistema elemento de regulagem e vedação/sede. Deve-se ter em mente que altas taxas de deformação, ainda que localizadas, podem resultar no cisalhamento das gotículas dispersas, contribuindo para o emulsionamento do fluido e dificultando a separação nos equipamentos situados a jusante. (B) Figura 5 – Comparação das taxas de deformação do fluido. A) plug em forma de disco; B) plug em forma de elipsoide. Figure 5 – Comparison of fluid deformation rate field − in reversed flow cyclonic valve. A) disc shape plug; B) ellipsoidal plug. o 14 Boletim técnico da Produção de Petróleo, Rio de Janeiro - volume 4, n° 1, p. 9-38 o (A) (B) Figura 6 – Comparação das taxas de deformação do fluido (detalhe). A) plug em forma de disco; B) plug em forma de elipsoide. Figure 6 – Comparison of fluid deformation rate field − in reversed flow cyclonic valve (detail). A) disc shape plug; B) ellipsoidal plug. As primeiras simulações da concepção da válvula mostram que a perda de carga localizada na região da sede/ obturador com a concepção sede na forma de disco cônico mostrou que, nessa região, as perdas de carga localizadas são elevadas, bem como a taxa de cisalhamento do fluido. Isto deve contribuir para a quebra dos glóbulos de cada fase dos fluidos em escoamento, criando ou tornando mais severas as emulsões. Tal fato levou a se modificar a geometria do obturador para uma forma elipsoide e uma forma correspondente para a sede. Essa nova configuração permitiu uma acomodação mais suave das linhas de corrente, o que se traduziu em menores perdas localizadas nessa região e também em menores taxas de cisalhamento do fluido, observadas quando da simulação numérica dessa primeira variação da concepção da válvula ciclônica. Verificou-se ainda, das simulações numéricas, que, no caso de válvula bastante estrangulada (para gerar altas perdas de carga), associada a uma vazão não muito baixa, a rotação do fluido é significativamente amortecida na passagem do fluxo pela abertura obturador/sede. Embora as simulações realizadas fossem monofásicas, esses resultados indicavam que parte do efeito ciclônico produzido no interior do corpo da válvula, que tem a função de separar os fluidos, poderia ser perdido e até mesmo sobrepujado pela perda localizada na passagem do fluido pela referida abertura. Verificou-se ainda que, quando a área de passagem obturador/sede não está significativamente estrangulada, o amortecimento da rotação é muito menor, e a rotação com efeito ciclônico (aumento da velocidade de rotação para menores raios) ainda pode ser percebida (fig. 7). Foi construído um modelo físico da válvula ciclônica de fluxo direto, em acrílico, com essa nova concepção de par sede/obturador, para realizar medições do campo Figura 7 – Mapa das intensidades de rotação no modelo conceitual da válvula ciclônica de fluxo direto. Figure 7 – Fluid rotation intensity map – direct flow conceptual cyclonic valve. 15 o o Desenvolvimento de válvulas ciclônicas – Moraes et al. de velocidades do escoamento monofásico pela válvula, utilizando técnicas de velocimetria a laser (Particle Image Velocimetry − PIV), cujos resultados são mostrados neste trabalho. medições experimentais no modelo conceitual modificado, utilizando a técnica PIV A figura 8 mostra o modelo em acrílico da concepção original da válvula ciclônica de fluxo direto construído para medições velocimétricas, utilizando a técnica PIV. Figura 8 – Modelo em acrílico da concepção da válvula ciclônica de fluxo direto. Figura 10 – Perfis de velocidade azimutal em três seções ao longo da válvula ciclônica. Figure 10 – Measured radial profiles of the azimuthal velocity component in three distinct cross sections of the cyclonic valve. Observa-se na figura 10 que, mesmo na última seção transversal, situada a 600mm da alimentação, quase no ápice do cone, ainda é mantido o efeito ciclônico (crescimento da velocidade com a diminuição do raio) de intensidade semelhante à observada nas outras duas seções. Isso indica que a conicidade adotada é suficiente para manter os mesmos níveis de rotação (conservação do momento angular). Figure 8 – Transparent model of cyclonic direct flow cyclonic valve. primeiro projeto mecânico dos protótipos das válvulas ciclônicas de fluxo direto e reverso características do primeiro projeto mecânico Figura 9 − Detalhe sede/obturador do modelo em acrílico. Figure 9 – Detail of seat-plug in transparent model. o 16 Tendo em vista a facilidade construtiva das válvulas ciclônicas, foram discutidas e propostas novas formas geométricas das válvulas ciclônicas de fluxo direto e reverso (figs. 11 e 12, respectivamente). Nessas novas concepções, foram mantidas as características principais das propostas conceituais originais, a fim de preservar a função de separação ciclônica da válvula, ou seja, para assegurar que boa parte da denominada “perda de carga” da corrente multifásica, ao passar pela válvula, decorresse da conversão da energia de pressão e energia cinética de rotação do fluido. Boletim técnico da Produção de Petróleo, Rio de Janeiro - volume 4, n° 1, p. 9-38 o Observa-se na figura 11 que se evitou, na concepção mecânica da válvula ciclônica de fluxo direto, uma característica existente na concepção original, que é a colocação de uma longa haste de comando dentro do cone de escoamento, mantendo-se um obturador de forma hidrodinâmica. Para não perturbar significativamente o escoamento e não aumentar muito as dimensões da válvula, essa haste teria que ser bastante esbelta. Tal esbeltez, associada ao escoamento em presseção do vórtice central do escoamento, poderia ocasionar a vibração do conjunto haste/obturador, levando à perturbação do escoamento pela interação entre a haste vibrante e o escoamento. De fato, essa vibração da haste foi observada nos ensaios com o modelo em acrílico da concepção original. Figura 11 − Primeira concepção mecânica da válvula ciclônica de fluxo direto. Figure 11 – First mechanical design of the direct flow cyclonic valve. Figura 13 − Mapa das intensidades de rotação na primeira concepção mecânica da válvula ciclônica de fluxo reverso. Figure 13 – Map of intensity of fluid rotation in the simulation of the first mechanical design of the reversed flow cyclonic valve. Algumas análises numéricas foram também realizadas, para determinar o melhor passo para o helicoide indutor da rotação nas primeiras concepções mecânicas. As figuras 14 e 15 mostram que a utilização de menores passos do helicoide é mais efetiva na produção de maiores intensidades de rotação. Figura 12 – Primeira concepção mecânica da válvula ciclônica de fluxo reverso. Figure 12 – First mechanical design of the reversed flow cyclonic valve. simulações numéricas com o primeiro projeto mecânico Figura 14 – Mapa das intensidades de rotação, válvula ciclônica de fluxo direto – maior passo no helicoide de entrada. Também nas simulações realizadas com a geometria das concepções mecânicas foi verificado o mesmo comportamento citado no parágrafo anterior (fig. 13). Figure 14 – Map of intensity of fluid rotation in the simulation of the first mechanical design of the direct flow cyclonic valve – big inlet helicoldal pass. 17 o o Desenvolvimento de válvulas ciclônicas – Moraes et al. Figura 15 − Mapa das intensidades de rotação, válvula ciclônica de fluxo direto – menor passo no helicoide de entrada. Figure 15 – Map of intensity of fluid rotation in the simulation of the first mechanical design of the direct flow cyclonic valve – small inlet helicoldal pass. Uma vez que as simulações foram feitas com escoamento monofásico, não foi possível verificar o impacto desse aumento na emulsificação, o que somente pôde ser feito nos experimentos físicos, com os protótipos metálicos. Figura 16 – Detalhe dos protótipos das válvulas ciclônicas (fluxos direto e reverso) montados no banco de testes do laboratório SepFas na Unifei. Figure 16 – Detail of cyclonic valve prototypes installed in the test bench at SepFas Lab in Federal University of Itajubá. resultados experimentais – protótipo da primeira configuração mecânica Foram construídos dois protótipos, um da concepção mecânica de fluxo direto e outro da de fluxo reverso. Ambos os protótipos foram projetados considerando-se vazão de projeto de 30 litros/minuto. As válvulas foram montadas no banco de testes do laboratório SepFas, na Unifei (figs. 16 e 17). Os ensaios foram realizados em condições controladas, com óleo do campo de Albacora e água da rede pública de abastecimento. O primeiro trabalho realizado foi o levantamento das curvas do coeficiente de vazão dos dois protótipos, que podem ser vistas na figura 18. As curvas representam para cada abertura da válvula o valor da vazão necessária para ocasionar uma perda de carga de 1 [bar]. o 18 Figura 17 – Vista geral do banco de testes do laboratório SepFas (Unifei), com os protótipos das válvulas ciclônicas montados no banco. Figure 17 – General view of the test bench in SepFas Lab at Federal University of Itajubá. Boletim técnico da Produção de Petróleo, Rio de Janeiro - volume 4, n° 1, p. 9-38 o Figura 18 – Curva dos coeficientes de vazão Kv das válvulas ciclônicas. Figure 18 – Comparative flow coefficient for both direct flow cyclonic valve and reversed flow cyclonic valve. De posse das curvas de vazão, selecionou-se uma válvula comercial que apresentou uma curva muito semelhante à da válvula ciclônica de fluxo reverso (fig. 19). Já para a válvula ciclônica de fluxo direto foi necessário modificar o interno de uma válvula globo comercial, para obter uma curva de Kv análoga. Com os protótipos das válvulas montados no banco de testes do laboratório SepFas (Unifei), foram realizados testes preliminares para verificar se as concepções geométricas adotadas na primeira versão do projeto mecânico, operando com uma mistura de óleo (Albacora) e água, eram capazes de gerar a mesma perda de carga da válvula convencional, porém com menor nível de emulsificação. Os resultados obtidos com a válvula aberta comprovaram que era possível obter a jusante da válvula ciclônica Figura 19 − Curva de Kv para a válvula de fluxo reverso e uma válvula globo comercial. Figure 19 – Comparative flow coefficient curve for both reversed flow cyclonic valve and globe valve. uma mistura com pelo menos o mesmo grau de segregação existente a montante da válvula. A válvula globo convencional, operando com os mesmos ΔP (2 bar a 4 bar), entretanto, resultou numa mistura muito menos segregada (fig. 20). O frasco da direita representa a mistura alimentada às válvulas, no centro tem-se a saída da válvula ciclônica, e à esquerda a saída da válvula globo convencional. Para se obter os dois níveis de ΔP citados acima, não se alterou a abertura da válvula, que permaneceu no seu máximo. A diferença nos ΔP foi obtida aumentando-se a vazão pelas válvulas e, portanto, a pressão de alimentação das mesmas. 19 o o Desenvolvimento de válvulas ciclônicas – Moraes et al. elevado), o nível de rotação a jusante da válvula era significativamente reduzido. Assim, optou-se por introduzir modificações no conjunto obturador/sede, de forma a evitar esse problema. Isto levou a novas geometrias de concepção mecânica para as válvulas ciclônicas de fluxo direto e reverso. segundo projeto mecânico – segunda geração das válvulas ciclônicas Figura 20 – Amostras dos fluidos (testes com válvula aberta). Figure 20 – Samples of fluids (tests with valve totally opened). Foi possível ainda observar que, quando bolsões de óleo passavam pela válvula ciclônica, na corrente de jusante da válvula, devido à rotação remanescente, o óleo concentrava-se na área central do fluxo. Apesar desses resultados preliminares promissores, quando se tentou operar as válvulas ciclônicas com aberturas menores, para obter maiores ΔP, verificou-se que o grau de cisalhamento a que a mistura bifásica era submetida ao passar pela estreita abertura obturador/ sede era tão elevado, que praticamente todo o efeito de separação resultante do campo centrífugo no corpo da válvula ciclônica era anulado pela turbulência localizada quando o fluido passava por essa abertura, pois as misturas a jusante da válvula ciclônica e da válvula convencional eram indistinguíveis. Esse último resultado levou à conclusão de que seria necessário modificar o projeto da concepção mecânica das válvulas ciclônicas. Um dos fenômenos observados nas simulações, como já mencionado, foi o efeito do estrangulamento na passagem pela abertura obturador/sede sobre a rotação. Verificou-se que, para altas velocidades nessa abertura (válvula operando com ΔP o 20 características gerais do segundo projeto mecânico Após análise detalhada dos resultados obtidos com o primeiro projeto mecânico das novas válvulas e discussões profundas sobre as causas dos problemas acima descritos, partiu-se para uma nova concepção mecânica. Nessa nova concepção, evitou-se uma configuração que fornecesse ao escoamento multifásico pela válvula uma passagem sob a forma de coroa circular, que foi associada à causa dos problemas observados na concepção anterior. Em lugar dessa passagem, optou-se por adotar novas concepções para o conjunto obturador/sede. Foram concebidas diversas configurações geométricas para esses novos conjuntos de internos e foi dado início ao pedido de depósito de patente dessas novas concepções. Uma dessas configurações foi arbitrariamente eleita, para a construção do novo protótipo em aço e bronze, para novas avaliações experimentais. Como se trata de concepções ainda em processo de patente, os detalhes das características geométricas consideradas não serão aqui exibidos. A figura 21 mostra a vista externa dos dois novos protótipos. As características mencionadas foram implementadas, tanto em projeto, como na fabricação dos novos protótipos, para as duas versões de válvula ciclônica (de fluxo direto e fluxo reverso). As novas concepções das válvulas não permitem o fechamento destas com garantia de estanqueidade Boletim técnico da Produção de Petróleo, Rio de Janeiro - volume 4, n° 1, p. 9-38 o Figura 22 − Velocidade de rotação na válvula ciclônica de fluxo direto (nova concepção mecânica). Figura 21 – Novos protótipos das válvulas de fluxo direto (esquerda) e reverso (direita). Figure 22 – Swirl velocity – direct flow cyclonic valve (new mechanical conception). Figure 21 – New prototypes of cyclonic valves – direct flow (on the right) and reverse flow (on the left). absoluta ao fluxo. Para obter estanqueidade, é necessária a criação de uma segunda sede e a atuação de um segundo obturador (ainda não considerados no projeto) ou ainda a montagem de uma válvula esfera, por exemplo, em série com esta válvula de controle. Essa característica não é considerada problemática, em se tratando de válvula de controle, pois o mesmo ocorre com as válvulas de controle convencionais. simulações numéricas com o segundo projeto mecânico Foram realizadas simulações com as geometrias das novas concepções mecânicas das válvulas ciclônicas de fluxo direto e reverso. Os resultados parciais dessas simulações, ainda em andamento, parecem indicar que, nessa nova concepção, não havendo nenhuma seção de estrangulamento acentuado após a indução da rotação, o efeito ciclônico é obtido. Alguns resultados da análise numérica se encontram nas figuras de 22 a 24. Figura 23 – Perfil radial da velocidade de rotação na válvula ciclônica de fluxo direto (nova concepção mecânica). Figure 23 – Radial profile of swirl velocity (new mechanical conception. 21 o o Desenvolvimento de válvulas ciclônicas – Moraes et al. Figura 24 − Mapa da velocidade de rotação na válvula ciclônica de fluxo reverso (nova concepção mecânica) – solução não convergida. Figure 24 – Swirl velocity map – reversed flow cyclonic valve (new mechanical conception). As figuras 22 e 23 foram obtidas com a válvula direta bastante estrangulada, ou seja, numa condição em que a perda de carga total pela válvula é elevada. Mesmo nessas condições, o efeito ciclônico é obtido (maiores velocidades de rotação, para menores distâncias ao eixo). Outro ponto a observar é que, embora velocidades elevadas sejam obtidas nos canais do obturador e, portanto, a perda de carga nessa região seja elevada, a “perda de carga” é, na verdade, conversão de energia de pressão em energia cinética de rotação, no corpo cônico (fig. 22). A válvula ciclônica de fluxo reverso possui um vortex finder que, com certeza, influencia o desempenho da mesma, como pode ser visto na figura 24. O finder objetiva guiar o fluxo de saída, criando uma câmara que isola a porção de fluxo que está entrando da porção que está saindo. No entanto, ele também atua de forma a dissipar parte da energia de rotação que o fluido adquiriu na entrada, e isto não é conveniente. Os testes de protótipo permitiram, como se verá à frente, analisar a influência desse dispositivo interno. resultados experimentais – protótipos da segunda geração de válvulas ciclônicas – segundo projeto mecânico realizados ensaios de desempenho comparativo com válvula globo convencional. Além da válvula globo antes utilizada, também foram realizados ensaios comparativos com uma válvula de controle especificada e adquirida especialmente para atender aos mesmos requisitos das válvulas ciclônicas em termos de curvas de coeficientes de vazão. A figura 25 mostra a válvula de controle globo, fornecida pela Sansom. A figura 26 apresenta as curvas de coeficiente de vazão das quatro válvulas, levantadas experimentalmente. Figura 25 – Válvula de controle convencional fornecida pela Sansom. Figure 25 – Conventional control valve supplied by Sansom. levantamento experimental do comportamento das válvulas convencionais Similarmente ao que foi feito com a primeira versão do projeto mecânico das válvulas ciclônicas, para avaliar essas novas versões de válvulas ciclônicas também foram o 22 Foram realizados testes com as válvulas convencionais globo e de controle Sansom para verificar o efeito das Boletim técnico da Produção de Petróleo, Rio de Janeiro - volume 4, n° 1, p. 9-38 o Figura 27 – Variação do TOG na saída com a perda de carga para válvula globo de ¼ pol. Figure 27 – Variation of oil content downstream in sampled water (after settling time) for ¼” globe valve. Figura 26 – Curvas dos coeficientes de vazão das válvulas testadas. Figure 26 – Flow rate coefficient curves of the tested valves. mesmas na geração de emulsões. Para isso, foram instaladas no banco de testes e testadas simultaneamente uma válvula ciclônica e uma convencional. Foram geradas misturas de água e óleo no banco de testes, que foram alimentadas simultaneamente à válvula ciclônica e à válvula convencional. Amostras a jusante das duas válvulas foram coletadas, também simultaneamente, em funis graduados (fig. 30) e deixadas em repouso por um mesmo tempo. Após esse período, o fundo dos funis foi drenado para um balão de amostragem, que foi submetido ao procedimento normalizado de determinação de TOG. Os resultados para as válvulas convencionais são apresentados nas figuras 27 (válvula globo) e 28 (válvula de controle Sansom). Figura 28 – Variação do TOG na saída com a perda de carga para válvula globo Samson. Figure 28 – Variation of oil content downstream in sampled water (after settling time) for Sansom control valve. resultados obtidos com a válvula ciclônica de fluxo direto Foram inicialmente realizados testes com o novo protótipo da válvula ciclônica de fluxo direto. A figura 29 23 o o Desenvolvimento de válvulas ciclônicas – Moraes et al. mostra essa válvula montada no banco de testes do laboratório SepFas na Unifei durante a campanha de testes. Os resultados obtidos com essa válvula mostraram que a válvula ciclônica, para as mesmas condições operacionais que a válvula globo convencional ou mesmo que a válvula de controle convencional (Sansom), apresentou muito menos geração de emulsão. As figuras de 31 a 34 mostram, qualitativamente, alguns resultados obtidos. Figura 31 – Amostras obtidas do líquido drenado pelo fundo do funil graduado, 4 a 5 minutos após a coleta. Amostra 1: válvula globo e amostra 2: válvula ciclônica. Vazão: 15,80 kg/ min; pressão a montante da válvula: 2,39 bar; pressão a jusante, perda de carga em 3m de mangueira ¾” + 2,5m de coluna de líquido; concentração de óleo na alimentação: 3,8%. Figure 31 − Samples of liquid drained from the bottom of the sample collectors after 4 to 5 minutes of settling time. Sample 1: globe valve and sample 2: cyclonic valve. Flow rate: 15.8 kg/min; upstream pressure: 2.39 bar; downstream pressure: less than 0.3 bar; oil concentration: 3.8%. Figura 29 – Válvula ciclônica de fluxo direto, montada no banco de ensaios da Unifei, ao lado da válvula globo de CV similar. Figure 29 − Prototype of direct flow cyclonic valve, in test at Unifei Campus, in parallel with a globe valve of similar CV. Figura 32 – Amostras obtidas do líquido drenado pelo fundo do funil graduado, aproximadamente 10 minutos após a coleta. Amostra 1A: válvula globo e amostra 2A: válvula ciclônica. Vazão: 15,80 kg/min; pressão a montante da válvula: 2,39 bar; pressão a jusante, perda de carga em 3m de mangueira ¾” + 2,5m de coluna de líquido; concentração de óleo na alimentação: 3,8%. Figura 30 – Funis de coleta e decantação das amostras efluentes das válvulas. Figure 30 – Sample collecting and settling containers. o 24 Figure 32 – Samples of liquid drained from the bottom of the sample collectors after 10 minutes of settling time. Sample 1A: globe valve and sample 2A: cyclonic valve. Flow rate: 15,8 kg/min; upstream pressure: 2.39 bar; downstream pressure: less than 0.3 bar; oil concentration: 3.8%. Boletim técnico da Produção de Petróleo, Rio de Janeiro - volume 4, n° 1, p. 9-38 o Figura 33 – Amostras obtidas do líquido drenado pelo fundo do funil graduado, 4 a 5 minutos após a coleta. Amostra 5: válvula globo e amostra 6: válvula ciclônica. Vazão: 16,40 kg/min; pressão a montante da válvula: 4,03 bar; pressão a jusante, perda de carga em 3m de mangueira ¾” + 2,5m de coluna de líquido; concentração de óleo na alimentação: 16,1%. Figure 33 − Samples of liquid drained from the bottom of the sample collectors after 4 to 5 minutes of settling time. Sample 5: globe valve and sample 6: cyclonic valve. Flow rate: 16.4 kg/min; upstream pressure: 4.03 bar; downstream pressure: less than 0.3 bar; oil concentration: 3.8%. Figura 34 –Igual às anteriores, com as seguintes características: amostras 9 (válvula globo) e 10 (válvula ciclônica). Q: 9,20 kg/min; P: 4,05 bar; C: 25% de óleo. Amostras 11 (válvula globo) e 12 (válvula ciclônica). Q: 13 kg/min; P: 7,45 bar; C: 25% de óleo. Figure 34 − Same as above, with the following characteristics: sample 9 (globe valve), sample 10 (cyclonic valve). Q: 9,20 kg/min; P: 4,05 bar; oil concentration: 25%. Qualitativamente, todas as amostras de águas retiradas dos funis de coleta das correntes a jusante da válvula ciclônica de fluxo direto (amostras pares) apresentam um teor de óleo significativamente inferior ao teor de óleo encontrado nas amostras retiradas dos funis de coleta das correntes a jusante da válvula globo (amostras ímpares). A figura 35 contém os valores dos teores de óleo medidos na água do fundo dos funis, coletada nos balões amostrados da válvula ciclônica de fluxo direto. Comparando-se as curvas da figura 35 com as das figuras 27 e 28, observa-se que o teor de óleo incorporado à água pela ação da válvula ciclônica é quantitativamente muito inferior ao incorporado tanto pela válvula globo convencional, como pela válvula de controle (também do tipo globo) fornecida pela Sansom. Por exemplo, para o caso de vazão na alimentação de ambas as válvulas de 17 kg/min, com teor de óleo dessa corrente de 40%, para um ∆P de cerca de 12 bar, a válvula Sansom resultou num teor de óleo incorporado à água de cerca de seis a sete vezes o teor incorporado pela válvula ciclônica de fluxo direto. resultados obtidos com a válvula ciclônica de fluxo reverso Similarmente ao realizado com a válvula ciclônica de fluxo direto, foram realizados testes comparativos com a válvula ciclônica de fluxo reverso. A figura 36 mostra essa válvula instalada em paralelo à globo convencional no banco de testes do laboratório SepFas na Unifei. 25 o o Desenvolvimento de válvulas ciclônicas – Moraes et al. Figura 35 – Teor de óleo na água para diferentes perdas de carga na válvula ciclônica de fluxo direto. Figure 35 – Amount of oil in water in the samples collected downstream of the direct flow cyclonic valve. Figura 36 – Válvula ciclônica de fluxo reverso, montada no banco de ensaios da Unifei, ao lado da válvula globo de CV similar. Figure 36 - Reverse flow cyclonic valve mounted on the test bench next to a similar CV globe valve . – Unifei. Assim como observado para a válvula de fluxo direto, também para a válvula ciclônica de fluxo reverso obteve-se, com o mesmo procedimento descrito (coleta em funis e drenagem de fundo após determinado tempo de decantação), uma superioridade qualitativa da válvula ciclônica de fluxo reverso, comparada às válvulas convencionais (figs. 37 e 38). Comparando-se a figura 41 e as figuras 27 e 28, observa-se que, similarmente ao que ocorreu com a válvula o 26 ciclônica de fluxo direto, a de fluxo reverso também se mostra quantitativamente bem superior à válvula globo convencional no que tange à produção de emulsões estáveis. Deve-se observar ainda que, ao se compararem as curvas das figuras 35 e 41, parece haver sistematicamente um melhor desempenho da válvula ciclônica de fluxo reverso em relação à de fluxo direto, ainda que em alguns casos esse desempenho superior seja apenas marginal. Boletim técnico da Produção de Petróleo, Rio de Janeiro - volume 4, n° 1, p. 9-38 o Figura 37 – Águas oleosas obtidas do fundo do funil amostrador, coletadas após 15 minutos de repouso da amostra coletada. Vazão de 17 kg/min por válvula e pressão DP nas válvulas de cerca de 12 kgf/cm2. Teor de óleo na alimentação: ~ 20%. Figure 37 − Samples of liquid drained from the bottom of the sample collectors after 15 minutes of settling time. Sample on the left: globe valve and sample on the right: cyclonic valve. Flow rate: 17 kg/min; upstream pressure: ~ 12 bar; downstream pressure: less than 0.3 bar; oil concentration: ~ 20%. Figura 38 – Águas oleosas obtidas do fundo do funil amostrador, coletadas após 15 minutos de repouso da amostra coletada. Vazão de 17 kg/min por válvula e pressão DP nas válvulas de cerca de 7 kgf/ cm2. Teor de óleo na alimentação: ~ 20%. Observar que o efluente da válvula ciclônica (centro) está praticamente igual (qualitativamente) à água de alimentação (esquerda). Figure 38 – Samples of liquid drained from the bottom of the sample collectors after 15 minutes of settling time. Sample on the left: globe valve and sample on the right: cyclonic valve. Flow rate: 17 kg/min; upstream pressure: ~ 7 bar; downstream pressure: less than 0.3 bar; oil concentration: ~ 20%. Observe that the effluent from cyclonic valve (center) is qualitatively equal to the inlet water (on the left). Figura 39 – Águas oleosas obtidas do fundo do funil amostrador, coletadas após 15 minutos de repouso da amostra coletada. Vazão de 17 kg/min por válvula e pressão DP nas válvulas de cerca de 3 kgf/cm2. Teor de óleo na alimentação de 40%. Figure 39 − Samples of liquid drained from the bottom of the sample collectors after 15 minutes of settling time. Sample on the left: cyclonic valve and sample on the right: globe valve. Flow rate: 17 kg/min; upstream pressure: ~ 3 bar; downstream pressure: less than 0.3 bar; oil concentration: ~ 40%. 27 o o Desenvolvimento de válvulas ciclônicas – Moraes et al. Figura 40 – Águas oleosas obtidas do fundo do funil amostrador, coletadas após 15 minutos de repouso da amostra coletada. Vazão de 17 kg/min por válvula e pressão DP nas válvulas de cerca de 12 kgf/cm2. Teor de óleo na alimentação de 40%. Figure 40 – Samples of liquid drained from the bottom of the sample collectors after 15 minutes of settling time. Sample on the left: cyclonic valve and sample on the right: globe valve. Flow rate: 17 kg/min; upstream pressure: ~ 12 bar; downstream pressure: less than 0.3 bar; oil concentration: ~ 40%. Diferença entre TOG de saída e TOG de entrada com a perda de carga para vazão de 10 Kg/min e conc. 20% Figura 41 – Variação do TOG na saída com a perda de carga para válvula ciclônica de fluxo reverso. Figura 42 – Comportamento das quatro válvulas testadas (duas convencionais e duas ciclônicas). Figure 41 – TOG output variation in the pressure drop for a reverse flow cyclonic valve. Figure 42 – Behavior of the four tested valves (two conventional and two cyclonic). Entretanto, deve ser lembrado que a válvula de fluxo direto tem maior capacidade, para as mesmas dimensões globais, o que justifica a continuidade do desenvolvimento de ambos os tipos de válvula. Alguns dos resultados mostrados acima podem ser sumarizados nas curvas da figura 42, que compara as quatro válvulas para determinada condição de vazão total de líquido e teor de óleo na alimentação. o 28 atividades futuras Considerando-se em particular os resultados experimentais obtidos com a última versão do projeto mecânico das válvulas ciclônicas, comprovou-se experimentalmente o conceito desse novo tipo de válvula (que é patente Petrobras), mostrando sua superioridade, do ponto de Boletim técnico da Produção de Petróleo, Rio de Janeiro - volume 4, n° 1, p. 9-38 o vista das atividades de processamento primário, frente às válvulas convencionais, pois permite impor ao processo a perda de carga requerida por este e evita a formação de emulsões severas decorrente do emprego das válvulas convencionais. Mesmo considerando que, nesta etapa do projeto de desenvolvimento, ainda não foi obtida uma geometria otimizada das válvulas ciclônicas e mesmo com a realização ainda limitada de estudos de scale-up dessas válvulas, o fato é que a segunda versão mecânica das válvulas ciclônicas de fluxos direto e reverso, pelas vantagens observadas nos testes, já pode ser objeto de desenvolvimento subsequente, visando sua transformação em produto comercial. O projeto executivo, elaborado pela Unifei, constitui o ponto de partida necessário para essa primeira transformação em produto comercial. Estamos iniciando negociações com uma empresa de construção mecânica de grande porte para proceder ao desenvolvimento desse produto. O plano de trabalho a ser elaborado pela parceira tecnológica deverá englobar a adaptação dos projetos executivos das válvulas ciclônicas de fluxo direto e reverso, elaborados pela Unifei, para atender aos requisitos e normas de válvulas aplicáveis à indústria do petróleo. Assim, pelo menos os seguintes aspectos, dentre outros a serem definidos por essa empresa, deverão ser objeto desse plano de trabalho: • atendimento aos requisitos API e outros aplic áveis a válv ulas choke e d e controle d e processos para instalações de produção de petróleo (exemplo: Especificação Técnica Petrobras: ET-3500.00-1514-270-PGT-002); • adaptação do projeto para considerar conexões por flanges; • materiais a serem empregados para o corpo e internos (incluindo materiais especiais para fluidos corrosivos – contendo H2S, por exemplo); • processos de fabricação (fundição do corpo, usinagem de internos, etc.) • tratamento superficial/revestimentos especiais nas regiões internas dos fusos macho e fêmea, e superfície interna do cone do corpo para resistir à erosão e abrasão provocada por fluidos que carreiam sólidos; • projetos para diferentes classes de pressão; • projetos para diferentes diâmetros de tubulação; • compatibilidade com a especificação técnica Petrobras – ET-3000.00-1200-PCI-200-01, conhecida como Especificação de Engenharia ET-200-03 – Materiais de Tubulação para Instalações de Produção e Processo, em sua última revisão; • construção de um ou mais protótipos industriais para ambos os tipos de válvula (de fluxo direto e reverso), para testes em campo (NUEX). Além do trabalho acima citado, a ser desenvolvido em Termo de Cooperação com a parceira tecnológica, outras atividades relativas ao projeto de desenvolvimento de válvulas ciclônicas serão continuadas em paralelo, preferencialmente pela Unifei, com o objetivo de abordar os seguintes tópicos: • novas concepções construtivas para ambas as válvulas (de fluxo direto e reverso) que preservem e otimizem o efeito obtido nas concepções atuais; • otimização da concepção construtiva, levando em conta também o fator de escala; • realização de testes controlados com ampla faixa de condições operacionais, no que diz respeito a: − variabilidade das características do óleo; − variabilidade dos teores das fases óleo e água, estudando desde emulsões de fase contínua água, com pouco óleo, até fase contínua óleo, com pouca água; − investigação da influência da presença de gás no desempenho; − investigação da influência da presença de sólidos (análise acelerada de desgaste erosivo). Os trabalhos de transformação da válvula ciclônica em produto e de otimização de novas concepções devem ser abordados simultaneamente, uma vez que ambas as atividades fornecerão informações importantes que podem afetar reciprocamente esses trabalhos. Assim, por exemplo, uma exigência de materiais ou de processo de fabricação poderá nortear ou impor restrições ao desenvolvimento de uma nova concepção da válvula mais eficiente para fins de processo; concomitantemente, 29 o o Desenvolvimento de válvulas ciclônicas – Moraes et al. uma nova concepção de interno que melhore de forma expressiva o processo poderá implicar um procedimento de fabricação ou o emprego de um material distinto daquele que estiver sendo considerado. conclusões Os resultados até agora obtidos neste projeto de pesquisa e desenvolvimento tecnológico permitem estabelecer com segurança as vantagens das válvulas ciclônicas sobre as válvulas convencionais quanto à separação de fases que ocorre a jusante numa planta de processamento primário de petróleo. As válvulas ciclônicas atuam como as válvulas convencionais, para fins de controle de variáveis de processo, quando operam com correntes multifásicas. Para uma mesma perda de carga, a válvula convencional resultou, frequentemente, em emulsões de óleo em água com dez vezes mais óleo do que o obtido com a válvula ciclônica. Embora medições do efeito sobre a dispersão das gotículas de água em óleo não tenham sido obtidas nos testes realizados, acredita-se que o efeito gerador desse tipo de emulsão pela válvula ciclônica também seja significativamente menor que o das válvulas de controle convencionais. Estudos que partiram do projeto conceitual permitiram o projeto de conjuntos obturador/sede de perfil hidrodinâmico, minimizando as zonas com elevadas taxas de cisalhamento no escoamento interno da válvula. Os problemas observados na primeira geração de protótipos (primeira concepção mecânica), que, quando operando em situação de grande estrangulamento, não apresentou significativa vantagem em comparação à válvula convencional, mostraram a necessidade de se aprimorar ainda mais a concepção para reduzir as regiões de perdas localizadas. O cuidadoso estudo desses resultados e as discussões técnicas que se seguiram conduziram ao projeto da segunda geração de protótipos de válvulas ciclônicas. Essa segunda geração mostrou-se bem-sucedida, mesmo quando operando com grande estrangulamento. A utilização de uma configuração para a região de estrangulamento que permite a geração de grandes magnitudes do componente azimutal de velocidade do fluido contribuiu para o 30 minimizar o efeito dispersor sobre a emulsão dessa região de escoamento interno da válvula. A necessidade de estudar, discutir resultados e reprojetar componentes de protótipos, ao contrário do que ocorre em projetos tradicionais de engenharia, é não somente esperada, mas integra a dinâmica natural dos projetos de pesquisa e desenvolvimento (P&D) de novas tecnologias, cujas rotas inicialmente planejadas sofrem alterações no curso do projeto, em função dos resultados experimentais. Com o desenvolvimento das etapas mencionadas no capítulo anterior, objetiva-se transformar esse projeto num produto que seja comercialmente colocado à disposição da Petrobras. Boletim técnico da Produção de Petróleo, Rio de Janeiro - volume 4, n° 1, p. 9-38 o referências bibliográficas y DALMAZZONE, C. Génération mécanique des emulsions. Oil & y PETRÓLEO BRASILEIRO S.A. Carlos Alberto Capela Moraes; Luiz Gás Science and Technology, Paris, v. 55, n. 3, p.281-305, 2000. Philipe Matinez Marins; Dárley Carrijo de Melo. Válvula de controle ciclônica. BR n. PI-0505620-9 A2, 21 dez. 2005. y DAVIES, J. T., Drop Sizes of emulsions related to turbulent energy dissipation rates. Chemical Engineering Science, Oxford, v. 40,n. y SPROW, F. B., Distribution of drop size produced in turbulent 5, p. 839-842, 1985. liquid-liquid dispersion. Chemical Engineering Science, Oxford, v. 22, p.435-442, 1967. y HINZE, J. O. Fundamentals of the hydrodynamics mechanism of spliting in dispersion processes. AIChE Journal, New York, v. 1, n. y WALSTRA, P. Principles of emulsion formation. Chemical Engi- 3, p.289-295, 1955. neering Science, Oxford, v. 48, p. 333-349, 1993. y KOLMOGOROV, A. N. Doklady Akademii Nauk SSSR. Moscou, v. 66, no. 5, p. 825-828, [1949]. bibliografia y CFX – 5.10: reference manual. Canonsburg: ANSYS, 2006. y MORAES, C. A. C. Curso de Hidrociclones e sistemas de separação ciclônica. Rio de Janeiro: Universidade Petrobras, Escola y MORAES, C. A. C.; MARINS, L.P.M.; MELO, D. C. Desenvolvimento de Ciências e Tecnologia E&P, 2006. Apostila. de válvulas ciclônicas. In: SEMINÁRIO DE PROCESSAMENTO E INSTALAÇÕES DE PRODUÇÃO, 3., 2006. [Trabalhos apresentados...] Búzios: E&P ENGP. TPP. PMF, 2006. anexo I alguns conceitos sobre a geração de uma dispersão Um glóbulo (porção de forma indefinida, gota ou gotícula) de fluido, disperso em outro fluido imiscível, vai interagir com este por meio de forças que atuam na superfície desse glóbulo. Essas forças, no caso geral, variam ponto a ponto na superfície do glóbulo de fluido disperso e variam também com o tempo, já que resultam do escoamento da fase externa. Assim, uma melhor análise desse fenômeno pode ser empreendida se trabalharmos com a tensão local (força por unidade de área) na interface entre a fase contínua/glóbulo disperso. Essa tensão é uma função do ponto e do tempo e é representada por t. Essa tensão imposta sobre a gotícula é produzida pelas tensões cisalhantes (tangencial à interface) e pela 31 o o Desenvolvimento de válvulas ciclônicas – Moraes et al. pressão dinâmica (normal à interface), ambas decorrentes do escoamento do fluido contínuo e que provocam deformação da interface. Essa deformação da gotícula, por sua vez, gera uma distribuição de tensões cisalhantes e pressão dinâmica interna ao fluido que forma a gotícula. Como se trata de dois fluidos imiscíveis (já que são duas fases), a chamada tensão interfacial dos dois fluidos − que também pode ser entendida como a energia livre por unidade de superfície, pois representa o trabalho requerido para vencer a coesão entre as moléculas da gotícula – tende a se opor à deformação. Essa força restauradora, por unidade de área, decorrente da tensão interfacial é proporcional a s /d, onde d é o diâmetro da gotícula e s é a tensão interfacial dos dois fluidos (nas condições reinantes no escoamento). Essa expressão é facilmente deduzida considerando o equilíbrio das tensões normais à interface dado por: onde o índice d se refere à fase dispersa (gotícula), o índice c refere-se à fase contínua, p é a pressão e tnn são os componentes normais do chamado tensor desviador, s é a tensão interfacial, e R1 e R2 são os dois principais raios de curvatura da interface no ponto considerado. Para uma gotícula esférica R1 = R2 = d/2 e o membro da direita reduz-se a 4s /d. Diversos pesquisadores, ao longo de mais de meio século, estudaram as interações dos fluidos nos sistemas dispersos e os mecanismos de quebra das gotas da fase dispersa (Kolmogoroff, 1949; Hinze, 1955; Sprow, 1967; Davies, 1985; Walstra, 1993; Dalmazzone, 2000, entre outros). Vamos resumir aqui algumas das conclusões desses trabalhos, com ênfase na ruptura do glóbulo de fluido disperso, em um escoamento turbulento. A abordagem adotada por Hinze é bastante didática. Ele parte de uma análise de ordens de grandeza das forças envolvidas, postulando que, nos primeiros instantes da dinâmica de deformação e ruptura da gotícula, a pressão dinâmica que se estabelece internamente à gotícula será da mesma ordem de grandeza das forças por unidade de área que atuam sobre a mesma, ou seja, da ordem de t e, portanto, as velocidades internas o 32 à gotícula, decorrentes dessa interação, serão dessa mesma ordem, ou seja: ou Considerando tal magnitude para o máximo do campo de velocidades que se estabelece internamente às gotículas, a ordem de grandeza das tensões viscosas internas à gotícula é dada pela expressão a seguir, que expressa a tensão viscosa de um fluido newtoniano, ou seja, tal tensão é o produto da viscosidade pelo gradiente de velocidade, na forma: Das considerações anteriores, conclui-se que numa gotícula de fluido dispersa em outro fluido atuam quatro forças. Três delas, como será visto adiante, são forças superficiais cujos valores (por unidade de área da interface gotícula/fase contínua) têm a ordem de grandeza dada pelas expressões acima. A quarta é uma força de corpo, isto é, proporcional ao volume da gotícula, que, em geral, nos equipamentos de processamento primário, é devida ao campo gravitacional, mas poderá também ser produzida por movimento de rotação do fluido, como no caso de centrífugas e hidrociclones, ou até mesmo por campo elétrico, caso as moléculas do fluido que compõem a gotícula sejam polares, ou existam íons salinos dissolvidos, como ocorre nos tratadores eletrostáticos. Essa força de campo, proporcional à diferença entre as massas específicas das duas fases, é responsável pela migração da fase dispersa para uma determinada região do equipamento de separação. Porém, em geral, não desempenha papel direto na ruptura/coalescência das gotículas, exceto pelo fato de que, ao concentrá-las numa determinada região, a coalescência torna-se mais provável, pelo aumento da concentração populacional de gotículas. As três forças de superfície, que atuam na gotícula distribuem-se pela área superficial da mesma e são diretamente responsáveis pela sua deformação e ruptura. Essas forças podem ser então resumidas assim: • tensões impostas pelo escoamento da fase contínua sobre a gotícula, que tendem a deformá-la. Essa Boletim técnico da Produção de Petróleo, Rio de Janeiro - volume 4, n° 1, p. 9-38 o força é proporcional ao valor das tensões t aplicadas pelo fluido que circunda a gotícula; • tensão interfacial, produzida pela coesão das moléculas do fluido que constituem a fase dispersa – ou seja, a chamada pressão capilar – e que tende a se opor à deformação da gotícula. Essa força é proporcional a s /d, definido anteriormente; • tensões viscosas geradas pelo gradiente de velocidade interno à própria gotícula, nas hipóteses assumidas acima, são proporcionais a: Assim, das expressões acima, de acordo com Hinze, o critério para a ruptura da gotícula dispersa é que a tensão aplicada pela fase contínua exceda a resistência constituída pelas outras duas forças, ou seja: Hinze obtém dois grupos adimensionais independentes tomando a razão entre duas das três forças acima citadas. Um desses grupos é dado pela razão entre as tensões externas e a tensão interfacial, denominado número de Weber generalizado, como será visto abaixo, e é representado por NWe = t d/s sobre o qual focaremos nossa análise. A denominação “generalizada”, proposta por Hinze, deve-se a que, estritamente falando, o número de Weber é usualmente apresentado na forma rcU2d/s, onde rcU2 é a pressão dinâmica do escoamento (sendo rc a massa específica da fase contínua, e U a velocidade dessa fase). No caso da força externa ser decorrente de uma tensão viscosa, o mesmo adimensional é expresso por NWe = mcGd/s , onde G é o gradiente de velocidade da fase contínua nas vizinhanças da gota e recebe a denominação de número de capilaridade. Dessa forma, temos que, quanto maior o valor de NWe, isto é, quanto maior a resultante das forças externas t comparada com a força contrária proporcionada pela tensão interfacial 4s /d, maior a deformação. Num valor crítico do número de Weber (NWe )crit , ocorre a ruptura da gota. O (NWe )crit será dependente do padrão de escoamento local, ao redor do glóbulo, como, por exemplo, quando a fase contínua estiver em escoamento turbulento, o valor de (NWe )crit não será o mesmo para todos os glóbulos presentes no campo de escoamento. Evidentemente, esse valor crítico não seria, portanto, único, num dado escoamento, mas algum valor médio estatístico de (NWe )crit pode ser associado ao tamanho médio dos maiores glóbulos que ainda estão aptos a resistir às forças de ruptura, no campo de escoamento considerado. Para se obter um valor médio estatístico significativo no escoamento em análise, um maior peso deve ser atribuído àqueles padrões de escoamento e tipos de deformação que produzem um menor valor de (NWe )crit . Considerando a hipótese de não recoalescência, hipótese em princípio aplicável somente em baixas concentrações da fase dispersa, Hinze faz uma análise da ruptura das gotículas dispersas em um fluido em escoamento turbulento. Esse autor observa que, principalmente em função dos trabalhos de Taylor sobre o escoamento cisalhante viscoso, muitos investigadores têm frequentemente acreditado que, também no escoamento turbulento, a ruptura de gotas é um resultado da ação do cisalhamento viscoso. Entretanto, um primeiro requisito para tal ruptura de gotas é que não somente a gota não deformada, mas também a gota alongada sejam pequenas, quando comparadas com as regiões locais do escoamento viscoso. Para valores não tão reduzidos do número de Reynolds, as dimensões espaciais de tais regiões locais são muito pequenas, comparadas, pelo menos, com as gotas maiores observadas na emulsão. Assim, é mais lógico assumir que as forças decorrentes da pressão dinâmica do escoamento turbulento sejam o fator determinante do tamanho das gotas maiores. Essas forças de pressão dinâmica são causadas por mudanças de velocidade em distâncias muito curtas do escoamento, distâncias no máximo iguais ao diâmetro da gota. Também Walstra (1993) ressalta a supremacia da turbulência na geração das emulsões. Esse autor afirma que o escoamento laminar é, na maioria das vezes, não muito adequado para a quebra de gotas suspensas em água ou outro líquido de baixa viscosidade. Para que essa quebra ocorra, as condições de escoamento têm de ser (intensamente) turbulentas. Dalmazzone (2000) confirma também esses resultados. 33 o o Desenvolvimento de válvulas ciclônicas – Moraes et al. Com base na teoria acima, Hinze faz a análise da ruptura dos glóbulos da fase dispersa imersa num fluido em escoamento turbulento, visando à obtenção do diâmetro máximo da gotícula dispersa. No escoamento turbulento, a velocidade de escoamento local varia de modo caótico, e as flutuações são frequentemente caracterizadas por u’, isto é, a média da raiz quadrada do quadrado da diferença entre a velocidade instantânea u e a velocidade média U. Se a turbulência é isotrópica (o que será aproximadamente verdadeiro se o número de Reynolds for elevado e a escala de comprimentos considerada for pequena), o escoamento pode ser caracterizado de um modo simples, de acordo com a teoria de Kolmogoroff . Há um espectro dos tamanhos de vórtices turbulentos, e quanto menores eles forem, maiores seus gradientes de velocidade (u’/x), até que eles se tornam tão altos que os vórtices dissipam sua energia cinética em calor; o tamanho dos menores vórtices x0 é chamado de escala de Kolmogoroff, e gotículas menores que essa escala não são usualmente muito deformadas. Vórtices um pouco maiores são chamados de vórtices que contêm energia e eles são os principais responsáveis pela quebra das gotículas. A abordagem de Hinze sobre o problema de quebra da gota em regime turbulento se inicia com uma análise dos tipos de escoamento local que seriam os mais prováveis responsáveis pela quebra das gotas. Esse autor relaciona alguns tipos básicos de escoamentos locais (região ao redor da gota) como os mais prováveis responsáveis pela quebra das maiores gotas. São eles: o escoamento hiperbólico, o escoamento axissimétrico e o escoamento de Couette. A energia cinética da flutuação turbulenta cresce com o crescimento do comprimento de onda da flutuação (associada ao tamanho do vórtice turbulento). Desse modo, diferenças de velocidade devidas a flutuações turbulentas com um comprimento de onda igual a duas vezes o diâmetro da gota irão produzir uma pressão dinâmica mais elevada que aquelas devidas a flutuações com comprimentos de onda mais curtos. Se assumirmos que flutuações são responsáveis pela quebra das gotas, o (NWe )crit assume o valor: onde u’2 é o valor médio em todo o campo de escoamento do quadrado das diferenças de velocidade observáveis em distâncias iguais a dmax. Para relacionar essa energia cinética média a essa distância, consideramos o caso mais simples, um campo de turbulência isotrópica. Para esse caso de turbulência, a principal contribuição para a energia cinética é feita pelas flutuações na região de comprimentos de onda onde a expressão de distribuição de energia turbulenta de Kolmogoroff é válida. Nessa região, o padrão de turbulência é determinado unicamente pela taxa de fornecimento de energia ao escoamento e por unidade de massa. Pode ser mostrado que, para essa região, u’2 = C1(ed)2/3 onde C1 ≈ 2.0. Assumindo que a influência da viscosidade do fluido do glóbulo disperso pode ser desprezada, então da equação 1 obtém-se: ou (2) onde C é uma constante. Se esse resultado for aplicado a campos de escoamento turbulento não isotrópicos, deve ser assumido que o padrão de turbulência é praticamente isotrópico nas regiões de comprimentos de onda comparáveis ao tamanho das gotas maiores. De fato, muitos escoamentos turbulentos reais, não isotrópicos, apresentam um espectro de energia (nas maiores energias) que pode ser, com frequência, aproximado pelo espectro de Kolmogoroff (vide referência em Hinze,1955). O autor aplicou a equação 2 aos resultados experimentais obtidos por Clay (ver referência em Hinze, 1955). Com um arranjo gerador de emulsão consistindo em dois cilindros coaxiais, com o interno girando ao redor do eixo, Clay determinou as distribuições de tamanhos dessas gotas, o valor de d95; isto é, o valor para o qual 95% (em volume) das gotas está contido em gotas de d < d95 . Considerando dmax ≈ d95 e aplicando a teoria a esse d95, Hinze obteve de 2a: (2a) (1) com um desvio padrão de 0,315. o 34 Boletim técnico da Produção de Petróleo, Rio de Janeiro - volume 4, n° 1, p. 9-38 o Apesar das limitações acima descritas, o modelo obtido representa razoavelmente bem resultados experimentais compilados por Davies (1985) para diversos sistemas de geração de emulsão, conforme mostra a tabela 1, que inclui, entre os diversos dispositivos emulsionadores, uma válvula. Essa tabela compara os valores medidos dos diâmetros de gotículas dispersas geradas pelo dispositivo, com os valores obtidos pela expressão 2a, considerando a taxa de dissipação de energia correspondente. Como se pode observar, os valores de dmax obtidos da expressão, que é um modelo bastante simples, estão próximos dos medidos experimentalmente. A tabela 1 mostra ainda a superioridade, na geração de emulsão, da utilização de uma válvula estrangulada sobre os demais dispositivos geradores de emulsão, devido à elevada taxa de dissipação turbulenta proporcionada por esse dispositivo. Corroborando essas conclusões, resultados experimentais do tamanho das gotículas dispersas geradas numa corrente de água oleosa por uma válvula agulha com diferentes aberturas, obtidos no âmbito do projeto multicliente Design and Instrumentation of Primary Separation Systems (DIPSS), liderado pela Universidade de Manchester (Reino Unido), em 1997, mostram o efeito dramático da abertura de uma válvula agulha sobre a distribuição de tamanhos de gotas de uma emulsão de óleo em água, conforme pode ser visto na figura 1, no corpo principal deste artigo. Deve-se observar que, nessa figura, sendo a vazão circulante constante, menores aberturas implicam maiores perdas de carga na válvula e portanto, maiores dissipações turbulentas. Escala de comp. dmax de Kolmogorov Calculado da dmax lk (mm) equação *** Res.exper. (mm) (mm) Tipo de equipamento Taxa de dissipação de energia (média típica na região de dispersão) W/kg Flutuação de velocidade local típica (m/s) Válvula homogeneizadora (abertura estreita) 400x106 12 0,22 0,7 ~1 ~0,05 Moinho coloidal 0,44x106 1,6 1,3 10,5 6 0,1 Sopradores de fluido 12x106 3 0,5 2 2 <0,1 Impelidores de agitadores 6x106 0,2 3,6 70 50 12 dmin Res. exper. (mm) Tabela 1 – Comparação entre os diâmetros máximos para alguns dispositivos geradores de emulsão (Davies, 1985). Table 1 – Comparison of maximum disperse phase diameter obtained using some distinct emulsion generator devices (from Davies, 1985). 35 o o Desenvolvimento de válvulas ciclônicas – Moraes et al. autores Carlos Alberto Capela Moraes Luiz Philipe Martinez Marins \\Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes) \\Gerência de Tecnologia de Processamento Primário e Avaliação de Petróleos \\Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes) \\Gerência de Tecnologia de Processamento Primário e Avaliação de Petróleos [email protected] [email protected] Carlos Alberto Capela Moraes é graduado em Engenharia Civil pela Escola Politécnica da USP (1977), com mestrado em Engenharia Química pela Coppe/UFRJ (1994) e doutorado em Engenharia Mecânica pela Coppe/UFRJ (2003). Ingressou na Petrobras em 1978, tendo atuado no Cenpes, na área de Projeto de Básico de E&P, em processamento primário de petróleo (PPP). Por 12 anos foi responsável pela disciplina de Processo, na Engenharia Básica, em diversos projetos de plataformas de produção para a Bacia de Campos. Passou a atuar na área de projetos de P&D, também em PPP, tendo coordenado e participado, ao longo dos últimos 15 anos, de vários projetos de P&D, sendo que coordena o projeto aqui apresentado. É especialista em tecnologias ciclônicas, atuando como instrutor na UP e na UERJ em cursos da área de PPP. André Sampaio Monteiro Fabrício Soares da Silva \\Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes) \\Gerência de Tecnologia de Processamento Primário e Avaliação de Petróleos \\Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes) \\Gerência de Tecnologia de Processamento Primário e Avaliação de Petróleos [email protected] [email protected] André Sampaio Monteiro é graduado em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em 2003, com mestrado em Engenharia Mecânica pela Coppe/UFRJ em 2005. Trabalhou quatro anos como bolsista de iniciação científica do CNPQ no Laboratório de Mecânica da Turbulência (Coppe/UFRJ). Trabalhou dois anos na Embraer (área de análise estrutural). Especializou-se na técnica de anemometria a laser doppler no laboratório de fluidos da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto/Portugal. Atualmente, trabalha no Laboratório de Mecânica dos Fluidos do Cenpes/PDP/TPAP, com diversas técnicas de medição de escoamentos. o 36 Luiz Philipe Martinez Marins é graduado em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em 1997, com mestrado em Engenharia Mecânica pela Coppe/UFRJ em 2007. Iniciou as atividades no Cenpes em 1998 pela Fundação Gorceix. Ingressou na Petrobras em 2002 para o cargo de engenheiro de petróleo e desde então vem atuando na área de processamento primário. Atuou no laboratório de mecânica dos fluidos do Cenpes, utilizando tecnologia de ponta para caracterização de escoamentos complexos em separadores. Atualmente, coordena a atividade de implantação de uma planta piloto de processamento primário de petróleo. Fabrício Soares da Silva é graduado em Química Industrial pela Escola de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (2004). Ingressou na Petrobras em 2004 como operador de produção na UN-BC, onde participou de curso de formação e trabalhou na plataforma de produção P-18. Em 2006, foi reclassificado, por meio de concurso, para o cargo de químico de petróleo, tendo participado, nesse mesmo ano, do curso de formação em Salvador. Atualmente, no Cenpes, participa de vários projetos de P&D na área de processamento primário de petróleo. Boletim técnico da Produção de Petróleo, Rio de Janeiro - volume 4, n° 1, p. 9-38 o autores Marcos Aurélio de Souza Luiz Fernando Barca \\Universidade Federal de Itajubá \\Instituto de Engenharia Mecânica \\Universidade Federal de Itajubá \\Instituto de Engenharia Mecânica [email protected] [email protected] Marcos Aurélio de Souza é engenheiro mecânico formado pela Escola Federal de Engenharia de Itajubá (1989), mestre em Engenharia Mecânica pela POLI/USP (1998), com mais de 30 anos de experiência na área de usinagem e projetos mecânicos. Atualmente, é professor do Instituto de Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Itajubá, tendo como área de atuação processos de fabricação e automação da manufatura, além da condução e participação em projetos de pesquisa e desenvolvimento na área de processamento primário de petróleo, com ênfase no desenvolvimento de equipamentos de separação de O/W e W/O compactos. Luiz Fernando Barca é engenheiro mecânico e mestre em Engenharia de Produção pela Escola Federal de Engenharia de Itajubá (EFEI, atual Unifei). É professor assistente no Instituto de Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Itajubá desde 1996, tendo atuado em disciplinas de Processos de Fabricação, Metrologia e Estatística Aplicada. Pesquisador no Laboratório de Separação de Fases (SEPFAS), onde atua em atividades relacionadas à geração e caracterização de emulsões de óleo em água e de água em óleo, e projeto e análise de desempenho de separadores. João Américo Aguirre Oliveira Jr. Lucilla Coelho de Almeida \\Engineering Simulation and Scientific Software (ESSS) \\Engineering Simulation and Scientific Software (ESSS) [email protected] [email protected] João Américo Aguirre Oliveira Jr. é engenheiro mecânico formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul em 2003. Obteve o título de mestre em Engenharia Mecânica em 2006, também na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com foco em modelagem de escoamentos turbulentos e simulação de grandes escalas (LES) de escoamentos turbulentos. Trabalha na ESSS desde 2006 como especialista em CFD, atuando no Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes) concentrado na simulação numérica de escoamentos da indústria do petróleo, onde estuda a modelagem de problemas multifásicos e turbulentos. Lucilla Coelho de Almeida é engenheira química formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em 2009, com ênfase em refino e processamento pelo PRH-13 (Programa de Formação de Recursos Humanos da ANP). Atualmente cursa mestrado em Engenharia Química na Coppe/UFRJ, com foco em simulação computacional de escoamentos multifásicos. Trabalha na ESSS desde 2009 como especialista em CFD, atuando no Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes) com foco na simulação numérica de escoamentos da indústria de petróleo, abordando problemas multifásicos e turbulentos. 37 o o Desenvolvimento de válvulas ciclônicas – Moraes et al. expanded abstract This paper describes all the activities developed in the course of a Research and Development Project aimed at solving the problem of severe emulsion formation due to multiphase flow through production choke valves and process control valves. This project resulted in the project and construction of a new kind of low shearing valves, capable of substituting chokes and control valves in multiphase flow without causing emulsion formation. Although choke and control valves are necessary devices in a production plant so as to allow proper control of the process variables, such as, level, flow-rate, pressure, etc., they are designed to inflict a significant localized pressure drop on a fluid stream. Many times, this high pressure drop is beyond the required pressure drop to achieve the control purposes, but it is in fact required due to difference in the operating pressures of the upstream and downstream equipment in a process plant. The very high rate of turbulence dissipation imposed on the multiphase flow by these conventional valves shears the droplets of the dispersed phases resulting in the formation of very severe emulsions, either oil in water and water in oil types. Many researchers have studied droplet brake-up in dispersed system flows. From these studies it was concluded that turbulence dissipation rate is a key parameter in establishing the maximum droplet size for the dispersed phase. Hinze [1955] proposed the known -2/5 exponent expression, where the maximum diameter of the droplet of the dispersed phase is given by where C is a constant, s is the interfacial tension, rc is the density of the continuous phase and e is the turbulent energy dissipation rate. Any choking valve is designed to generate a punctual high rate of turbulent energy dissipation due to the passage of the stream trough the choking openings. As mentioned above, in the case of multiphase streams, the high level of turbulence acts as a dispersion tool which results in the formation of very o 38 severe oil in water and water in oil emulsions. In order to avoid the generation of small droplet diameters which would result in tight emulsions it is necessary to decrease the turbulent energy dissipation rate. A R&D project was initiated from the conception of a new low shearing valve capable of providing the required pressure drop, without generating very much turbulence. The concept of this new kind of valves was based on the flow in hydrocyclones, which are equipment that convert pressure energy into kinetics energy of rotation. The crucial idea was to convert (at least partially) the inlet pressure stream into rotation kinetics energy, to achieve the required downstream pressure. Two different kinds of new conceptual valves were generated in this conceptual phase, they were called direct flow cyclonic valve and reverse flow cyclonic valve. Both concepts were studied making use of CFD simulations. Besides numerical simulations, some experiments using laser measuring instruments (LDA and PIV) were carried on Plexiglas models of one of these valves operating in a single phase flow. Present paper shows the activities developed during this R&D project, including the following: 1) Conceptual design, including CFD simulations, 2) Mechanical design of the first generation of cyclonic valves, 3) Performance tests carried out with these prototypes, 4) Discussion of test results and mechanical design of the second generation of cyclonic valves, including CFD analysis, 5) Prototype tests of the second generation valves, showing they are capable of imposing the required pressure drop to a multiphase process stream resulting in much less severe emulsions comparing to conventional control valves, 6) Design and construction of high capacity valves, based on the second generation valve design (to check possible scale-up problems), 7) Result analysis and future activities. Concept hypothesis and equipment prototypes are now completely proved and next phase of project will include optimization of the geometry of the valve and contact with equipment maker to study industrial production and commercialization.