2 - Revista Brasileira de Terapia Intensiva
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Volume 14 • nº 2 Abril/Junho 2002 ISSN 0103-507X NESTA EDIÇÃO EDITORIAL Em direção a uma melhor qualidade de produção científica Artigo Original Avaliação da eficácia de um método educativo na rotina de lavar as mãos em UTI Artigo Original Ventilação mecânica em pacientes com fístula broncopleural – Relato de 2 Casos Artigo Original Meningite Meningocócica em Idoso – Relato de um caso Artigo Original Embolia arterial por mercúrio Artigo Original Hipertensão intracraniana em pediatria: Revisão sobre fisiopatologia, monitorização e tratamento Artigo Original Análise de uma população de doentes atendidos em unidade de terapia intensiva - estudo observacional de sete anos (1992 - 1999) Volume 14 - Número 2 - Abril/Junho 2002 Fundada em 1980 SUMÁRIO Diretoria para o Biênio 2002-2003 Presidente Dr. Jairo C. Bitencourt Othero Vice-Presidente Dr. Jefferson Pedro Piva 1º Secretário Dr. Luiz Alexandre A. Borges 2º Secretário Dr. José Maria da Costa Orlando 1º Tesoureiro Dr. Marcelo Moock 2º Tesoureiro Dr. Odin Barbosa da Silva EDITORIAL Em direção a uma melhor qualidade de produção científica Cleovaldo T. S. Pinheiro Artigo Original Avaliação da eficácia de um método educativo na rotina de lavar as mãos em UTI 52 Evaluation of the efficacy of an educative method in the routine of hand washing in the ICU Vilto Michels Jr, Glauco A. Westphal, Anderson R.R. Gonçalves, Milton Caldeira Filho Artigo Original Ventilação mecânica em pacientes com fístula broncopleural Relato de 2 Casos 55 Maria Gabriela Cavicchia* , Silvia M.T.P. Soares**, Desanka Dragosavac***, Sebastião Araújo**** Artigo Original Meningite Meningocócica em Idoso – Relato de um caso Associação de Medicina Intensiva Brasileira Rua Domingos de Moraes, 814 Bloco 2 – Conj. 23 Vila Mariana – CEP 04010-100 São Paulo – SP Tel.: (11) 5575-3832 [email protected] Meningococcal Meningitidis in elderly – Case Report Alberto Gomes Taques Fonseca, Lina Wang, Vanessa de Souza Cobra Figueira, Fátima Barbosa Cordeiro, Elcio Tarkieltaub Indexada na base de dados Lilacs Artigo Original Hipertensão intracraniana em pediatria: Revisão sobre fisiopatologia, monitorização e tratamento A REVISTA BRASILEIRA DE TERAPIA INTENSIVA reservase todos os direitos, inclusive os de tradução, em todos os países signatários da Convenção PanAmericana e da Convenção Internacional sobre os Direitos Autorais. Os trabalhos publicados terão seus direitos autorais resguardados pela AMIB, que em qualquer situação agirá como detentora dos mesmos. 51 Artigo Original Embolia arterial por mercúrio 59 63 Arterial emboli by mercury Wladmir Faustino Saporito*, Andréa Cristina Oliveira Freitas***, Adilson Casemiro Pires**, Antônio de Pádua Prestes Miramontes **** 65 Intracranial Hypertension in Pediatrics: Review about Physiopathology, Monitoring and Treatment Claudia Laura Barberio Kunrath*, Kátia Giugno**, Tânia Rohde Maia***, Jorge Bizzi **** Artigo Original Análise de uma população de doentes atendidos em unidade de terapia intensiva - estudo observacional de sete anos (1992 - 1999) 73 A prevalence survey of critically ill patients in an Adult Medical Intensive Care Unit - an observational study from 1992 to 1999 Sergio AR Paiva1; Olivia Matai2; Nicola O Resende2; Alvaro O Campana3 Volume 14 - Número 2 - Abril/Junho 2002 49 NORMAS PARA PUBLICAÇÃO NESTA REVISTA RBTI REVISTA BRASILEIRA DE TERAPIA INTENSIVA Editor Cleovaldo T. S. Pinheiro (RS) Secretário Luciano de Brito Editor Associado Werther Brunow de Carvalho (SP) Conselho Editorial Álvaro Réa Neto (PR) Antonio Nuno da Conceição (BA) Cid Marcos Nascimento David (RJ) Edson Stefanini (SP) Eliezer Silva (SP) Fernando Osni Machado (SC) Flávio de Barros Maciel (SP) Gilberto Friedman (RS) José Luiz Comes do Amaral (SP) José Luiz do Amorin Ratton (MG) José Raimundo de A. Azevedo (MA) Odin Barbosa da Silva (PE) Paulo César Ribeiro (SP) Paulo Gabriel Bastos (RJ) Paulo Sérgio S. Beraldo (DF) Rosane Goldweisser (RJ) Sayonara de Fátima F. Barbosa (SC) Vera Regina Fernandes (SC) Jornalista Responsável Marcelo Sassine - Mtb 22.869 Diretora de Arte Anete Salviano A Revista Brasileira de Terapia Intensiva é publicada trimestralmente (março, junho, setembro a dezembro) em um único volume anual, editada pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) e destina-se a publicar artigos originais, conferências, editoriais, notas prévias, resumos selecionados, temas de atualização e de revisão, relatos de casos, notas sobre novas técnicas e novos aparelhos, condensação de teses, cartas ao editor e outras matérias concernentes à terapia intensiva e especialidades correlatas. Os textos devem ser inéditos, escritos preferencialmente em português. Serão aceitos os trabalhos escritos em inglês ou em espanhol, quando os mesmos forem realizados em serviços estrangeiros de língua inglesa ou espanhola, ou quando forem escritos por experts convidados. Todos os trabalhos deverão ser acompanhados de um Abstract (resenha condensada), necessariamente em inglês, com 150 a 300 palavras para artigos maiores, e até 150 para menores, a fim de oferecer aos leitores estrangeiros ampla idéia do tema estudado. O texto deve se fazer seguir de um resumo na língua em que foi escrito (resumo, summary, resumen). O texto deve ser digitado em espaço duplo e apresentado na seguinte ordem: Página de rosto, Título em inglês, Abstract, Key Words, Introdução (deve ser feita, mas o título “Introdução” deve ser omitido), Material e Métodos, Resultados, Discussão, Resumo, Unitermos, Agradecimentos, Referências, Tabelas, Figuras, Legendas das Tabelas e das Figuras. A Página de Rosto deve ocorrer: Título de artigo; Nome(s) do(s) autor(es) e respectivos títulos; Nome do Serviço ou Instituição em que foi realizado o trabalho; Nome e endereço do autor principal para correspondência (a sair publicado); Telefone do autor para contato com o editor de texto; Fonte de patrocínio (bolsas, subvenções, ofertas de produtos). Abaixo do resumo na língua em que foi escrito, enumerar, até um máximo de cinco, as palavras ou expressões indicativas do conteúdo do artigo (Unitermos), de preferência com base no Index Medicus, para maior facilidade na indexação. Os trabalhos deverão ser enviados em três vias e em disquete (sendo o texto salvo em Word, letra Times New Roman, tamanho 12 e espaço 1,5). Não deverão ultrapassar 15 páginas digitadas, salvo casos autorizados pelo Conselho Editorial. Esses trabalhos serão apreciados pelo Conselho Editorial que se reserva o direito de recusá-los e de fazer sugestões quanto à sua estrutura ou à sua redação. As Referências devem incluir o material estritamente necessário, realmente citado no texto. As revistas devem ser referidas de forma abreviada, segundo critérios internacionais. As citações no texto devem ser feitas por números índices, correspondendo às respectivas referências listadas por ordem cronológica, não-alfabética. Os livros devem ser referidos pelo autor, título, cidade-sede da casa editora, nome da casa editora, número da edição (a partir da 2ª), volume, ano da impressão, e páginas inicial e final citadas. Se se tratar de capítulo de livro, fazer constar: autor do capítulo, título do capítulo, a palavra In (grifada), dois pontos, nome dos editores indicando com a abreviação eds., título do livro (grifado), cidade da editora, nome da editora, nº da edição (a partir da 2ª), volume, ano da publicação, páginas citadas. Quando o artigo tiver mais de três autores deverão ser citados os três primeiros seguidos de et al. EXEMPLOS: Referências 1. 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À margem de cada Tabela ou Figura, ou no verso, devem ser grafados a lápis sua numeração, título do trabalho e nome do autor, ou outras indicações que facilitem sua absoluta clareza. Cada Tabela e cada Figura devem estar montadas ou feitas em folhas separadas (uma para cada elemento) e também em disquetes. As legendas das Tabelas e das Figuras devem ser digitadas com claras indicações a que se referem. Esta Revista deve ser referida com as seguintes abreviações: Rev Bras Terap Intens. Capa ImageBank A correspondência para publicação deve ser endereçada para: Projeto Gráfico e Produção Editorial MWS Design Fone: (11) 3399-3028 www.mwsnet.com.br 50 RBTI - Revista Brasileira de Terapia Intensiva AMIB Rua Domingos de Moraes, 814 – Bloco 2 – Conj. 23 Vila Mariana – CEP 04010-100 – São Paulo – SP Tel.: (11) 5575-3832 E-mail:[email protected] Volume 14 - Número 2 - Abril/Junho 2002 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva EDITORIAL Em dir eção a uma melhor direção qualidade de pr odução científica produção N o último congresso brasileiro de terapia intensi- pré-selecionados, por apresentarem algum tipo de va, realizado na cidade do Rio de Janeiro, sob o metodologia, testando alguma hipótese; fato que inte- patrocínio de uma empresa da indústria farmacêutica, ressaria ao corpo editorial para uma nova seleção com realizou-se o julgamento final dos trabalhos inscritos para texto integral com vistas a uma eventual publicação. um prêmio de quinze mil dólares a ser conferido ao jul- Nosso propósito esbarrou na falta de endereços ou outro gado como melhor dentro de determinados critérios es- meio de contato com os autores. Aqueles cujos e-mails tabelecidos aprioristicamente. O trabalhos selecionados eram disponíveis foram contatados, e muito poucos res- para essa avaliação final, que eram em número de qua- ponderam. Para os congressos futuros, os departamentos tro, haviam sido destacados dentre algumas dezenas de científicos das organizações do congresso deverão ser inscritos após uma criteriosa análise de méritos. estimuladas a participarem ca captação de material publicável. Surpreendeu nesse processo de seleção a alta qualidade do material enviado, demonstrando claramente que Outro aspecto a ser considerado num futuro próximo existe uma produção científica, que embora ainda peque- pelo conselho editorial da RBTI será o nível de compro- na, de comparável a que se realiza em grandes centros. metimento dos membros do próprio conselho. Aqueles convidados que aceitarem a participação como editores A direção da AMIB, sensibilizada pelo evento, deci- associados deverão contribuir ativamente na captação de diu propor a continuidade do processo. No próximo con- material de duas formas: a primeira, como material de gresso será instituído um prêmio AMIB para os traba- própria autoria; e a segunda, com uma busca ativa em lhos inscritos com um valor de premiação que não ficará seus serviços de papers, com cotas a serem preenchidas muito aquém da anterior. anualmente. Dois novos processos de captação de material para A RBTI deve ter um aumento de número e de quali- publicação na RBTI serão desencadeados nos próximos dade após a implantação destas medidas, rompendo um congressos. O primeiro será embasado no próprio Prê- ciclo vicioso de não receber muitos bons artigos por não mio AMIB. Todos os trabalhos inscritos para concorre- estar melhor qualificada e não se qualificar por não rem ao prêmio deverão ficar a disposição do corpo edito- recebê-los. rial da RBTI, que deverá participar do conselho de avaliação dos trabalhos. Caso aprovados os trabalhos serão Com a participação e o envolvimento de todos subi- publicados na RBTI. O segundo deverá passar pelos te- remos mais um degrau nessa luta pela melhor qualidade. mas livres. Dr. Cleovaldo T. S. Pinheiro No último congresso cerca de 250 trabalhos foram Volume 14 - Número 2 - Abril/Junho 2002 Editor Chefe 51 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva ARTIGO ORIGINAL Avaliação da eficácia de um método educativo na rrotina otina de lavar as mãos em UTI Evaluation of the efficacy of an educative method in the routine of hand washing in the ICU Vilto Michels Jr, Glauco A. Westphal, Anderson R.R. Gonçalves, Milton Caldeira Filho ABSTRACT Nosocomial infections are a great problem in the ICUs and hand washing is the best way to control it. The objective of this study is to evaluate the efficacy of an educative method in the routine of hand washing in the ICU before and after having contact with the patient. The study was performed in a general ICU with eight beds and is composed of two parts. In the firs part an anonymous observer checked all the times an ICU professional had contact with the patients and whether washed or not his hands before and after this contact. This was repeated in the second part of the study after a doctor had oriented the professionals with lecture, written material and posters. At none part of the study the professionals were noticed about its existence. At the first part there were 515 contacts. Hand washing occurred in 25 (4,8%) opportunities before and in 62 (12%) after contact with the patients. In the second part there were 473 contacts with hand washing in 87 (18,5%) times before and 141 (29,6%) after having the contact. The aderence to hand washing was significantly better after orientation (p<0,0001) before and after the contacts but still is very unsatisfactory, showing the importance of frequently remembering the importance of this habit. KEY WORDS: Hand washing, Gloves, ICU, Mechanical ventilators Vilto Michels Jr – Residente de Terapia Intensiva do HMSJ Glauco A. Westphal – Especialista em Terapia Intensivista pela AMIB – Coordenador Médico da UTI do Centro Hospitalar Unimed Anderson R.R. Gonçalves – Especialista em Terapia Intensivista pela AMIB Milton Caldeira Filho – Especialista em Terapia Intensivista pela AMIB – Coordenador Médico das UTIs do HMSJ e Hospital Dona Helena – Coordenador da Residência de Terapia Intensiva do Hospital Municipal São José Local: Residência de Terapia Intensiva do Hospital Municipal São José (HMSJ), Joinville, SC Endereço para correspondência: Vilto Michels Junior Rua Felipe Schmidt 652 - apto 801 - Centro 88010-001 - Florianópolis - SC Fone: (048) 225 4849 ou 225 2062 – em SP-91070760 e-mail: [email protected] 52 s infecções nosocomiais são um grande problema nas UTIs e o ato de lavar as mãos é a maneira mais eficiente de minimizá-lo. O objetivo deste estudo é avaliar a eficácia de um método educativo em estimular o hábito de lavar as mãos antes e após o manuseio dos pacientes. O estudo foi realizado em uma UTI geral de 8 leitos e composto de duas fases. Na primeira fase um observador anônimo anotou todas as vezes que um profissional da UTI lavou ou não as mãos antes e depois de manipular os pacientes. O método foi repetido na segunda fase, mas antes os funcionários foram orientados por meio de preleção, material por escrito e cartazes. Os funcionários não foram cientificados da existência do estudo em nenhuma das fases. Na primeira fase houve 515 contatos. Observou-se a lavagem das mãos em 25 (4,8%) oportunidades antes e em 62 (12%) depois da manipulação dos pacientes. Na segunda fase foram 473 contatos, com lavagem das mãos em 87 (18,5%) vezes antes e 141 (29,6%) depois de manusear o paciente. Houve aumento significativo, embora ainda insatisfatório, da aderência ao procedimento (p<0,0001) antes e depois dos contatos após orientação educativa, mostrando a importância da enfatizar com freqüência a necessidade deste hábito. A AVALIAÇÃO DA EFICÁCIA DE UM MÉTODO EDUCATIVO NA ROTINA DE LAVAR AS MÃOS EM UTI. As infecções nosocomiais complicam 5.7% das internações hospitalares, totalizando quase 2 milhões de infecções por ano nos EUA. São a causa direta da morte de pelo menos 80000 pessoas por ano naquele país.1,2,3 As infecções adquiridas nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) somam mais de 20% das infecções nosocomiais, apesar de apenas 5% dos leitos hospitalares serem de UTIs.4,5,6,7 A lavagem das mãos é a medida isolada mais importante para prevenir a disseminação de infecções em hospitais. Não aderir a esta medida simples repercute na disseminação cruzada de germes patogênicos.8,9,10,11 O objetivo deste estudo é avaliar de maneira prospectiva Volume 14 - Número 2 - Abril/Junho 2002 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva a eficácia de medidas educativas na rotina de lavar as mãos em UTI. MATERIAIS E MÉTODOS: O trabalho foi realizado numa UTI geral composta de 08 leitos. Fazem parte do quadro funcional desta UTI um médico plantonista, três médicos residentes, uma enfermeira e cinco auxiliares e/ou técnicos de enfermagem por turno. Também têm contato com os pacientes as equipes da fisioterapia e de terapia ocupacional com seus estagiários e orientadores. Foram selecionados todos os pacientes internados no período da avaliação independente de sua patologia. O estudo foi aprovado pela Comissão de Ética do Hospital. O período de observação foi constituído de duas fases de 15 dias com uma hora diária randomizada para a coleta dos dados. Na primeira fase de coleta de dados nenhuma instrução foi dada aos profissionais e ninguém soube da existência do projeto. Para a segunda fase de coleta de dados os funcionários foram orientados na forma de preleção, entrega de material por escrito e fixação pelos próprios funcionários de placas na cabeceira dos leitos com a inscrição: “Lave as Mãos”. Os funcionários de todos os turnos foram orientados pelo mesmo médico. Durante essa segunda fase, todos continuaram desconhecendo a avaliação. A coleta de dados foi feita da mesma maneira e por apenas um observador nas duas fases. Foram contabilizados todos os contatos feitos com os pacientes no período de observação e verificados os atos de lavar as mãos ou o uso de luvas estéreis, ou de procedimento, antes e depois desses contatos. Não foi levada em conta a técnica utilizada para a lavagem das mãos. Foi considerado contato com o paciente qualquer manuseio do próprio paciente ou com o equipamento que fica localizado na área física que é destinada ao seu cuidado. Quando algum profissional fizesse contato com algum material fora dessa área, um novo contato era contabilizado. O manuseio do paciente após contato com a própria roupa ou corpo foram considerados novos contatos. O teste do χ2 foi utilizado para a análise estatística. RESULTADOS: Na primeira fase (Tabela 1) foram observados 515 contatos. Vinte e cinco (4,8%) dos contatos foram precedidos de lavagem das mãos e 62 (12%) sucedidos pelo procedimento. Na segunda fase (Tabela 1) foram contabilizados 473 contatos. A lavagem das mãos foi registrada em 87(18,5%) oportunidades antes e em 141(29,6%) após o contato. A freqüência da lavagem das mãos antes dos contatos com o paciente foi 13,7% maior (p<0,0001) na segunda fase em relação à primeira. Após os contatos o incremento foi de 17,6% (p<0,0001) entre as duas fases. DISCUSSÃO: Os pacientes de UTI são mais susceptíveis às infecções nosocomiais.12,13 Destas, as mais comuns em ordem de ARTIGO ORIGINAL freqüência são: pneumonia, infecção urinária e bacteriana.6 Os profissionais de saúde quando deixam de lavar as mãos são os maiores responsáveis pela transmissão cruzada de microorganismos, colonização e infecção dos pacientes na UTI.14,15,16,17 As mãos devem ser lavadas antes e depois de qualquer procedimento com o paciente, após o manuseio de material potencialmente contaminado (sangue, secreções ou equipamentos para o cuidado do paciente), e após a remoção das luvas.10 Embora o ‘Center for Disease Control’ (CDC) recomende a lavagem das mãos com sabão comum na maioria das vezes,10 há evidências de que o uso da anti-sepsia ou desinfecção das mãos pode ser útil em ocasiões de alto risco.11,18,19,20 No entanto a adesão à lavagem das mãos é geralmente baixa,18,21,22,23,24,25,26 particularmente entre médicos.27,28 Deve-se procurar maneiras de lembrar a importância deste hábito. Neste estudo observamos que medidas simples influenciam o comportamento. Percebemos diferença significativa na rotina de lavar as mãos entre os dois períodos de observação. No entanto a Comparação da freqüência do ato de lavar as mãos, em porcentagem, nas duas fases do estudo, antes e depois do contato com o paciente. Volume 14 - Número 2 - Abril/Junho 2002 53 ARTIGO ORIGINAL situação ainda está longe do ideal mesmo sem levar em conta a técnica utilizada, sugerindo que esse método deva ser aplicado continuamente, além de buscar alternativas que aumentem a adesão. A introdução de solução com álcool livre de água em dispensários de fácil acesso é um exemplo.29,30 Wurtz et al 31 relataram um pequeno aumento na adesão com a instalação de três máquinas de lavagem de mãos em uma UTI cirúrgica. Kelleghan et al 32 constataram que a criação de programas para controle de infecção podem significantemente reduzir taxas endêmicas de pneumonia nosocomial associada a ventilação mecânica. Nishimura et al 21 sugere que as mãos sejam lavadas sempre que se entre na UTI. CONCLUSÃO: O hábito de lavar as mãos é muito pouco freqüente na nossa UTI. Medidas simples como as adotadas no estudo aumentaram a adesão ao ato de lavar as mãos de maneira significativa mas ainda insuficiente. Este método deve ser continuamente enfatizado e somado a outros que o complementem. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 1. Haley RW, Culver DH, White jW, et al. The efficacy of infection surveillance and control programs in preventing nosocomial infections in US hospitals. Am J Epidemiol 1985; 121:182-205. 2. Haley RW, Gaynew RP, Abner RC, Bennett JV. Surveillance of nosocomial infections in hospital infections. 3rd ed. In: Bennett JV, Brachman PS, eds. Hospital Infections. Boston: Little, Brown 1992; 79-108. 3. Centers for Disease Control. Nosocomial Infection Surveillance, 1980-1982. CDC Surveillance Summaries 1983; 32:1SS-16SS. 4. Brown J, Froese-Fretz A, Luckey D, et al. 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Doebbeling BN, Stanley GL, Sheetz CT, et 19. 20. 21. 22. 23. 24. 25. 26. 27. 28. 29. 30. 31. 32. al: Comparative efficacy of alternative handwashing agents in reducing nosocomial infections in intensive care units. N Engl J Med 1992; 327:88-93. Ehrenkranz NJ: Bland soap handwash or hand antisepsis? The pressing need for clarity. Infect Control Hosp Epidemiol 1992; 13:299-301. Hospital Infection Control Practices Advisory Committee: Recommendations for preventing the spread of vancomycin resistance. Infect Control Hosp Epidemiol 1996; 16:105-113. Nishimura S, Kagehira M, Kono F, et al. Handwashing before entering the intensive care unit: What we learned from continuous video-camera surveillance. AJIC AM J Infect Control 1999; 27:367-369. Albert RK, Condie F. Hand-Washing patterns in medical intensive care units. N Engl J Med 1981; 304:1465-6. Graham M: Frequency and duration of handwashing in an intensive care unit. Am J Infect Control 1990; 18:77-80. 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The most commom causes are the surgeries, pneumonias, radiotherapy and mechanical ventilation. The positive pressure ventilation (IPPV) forces the bronchies and increases the tendency of borders to pull apart. Besides that, due to hemodinamic instability, neurologic deficit and infections, the use of IPPV can be prolongued. The present study describes the evolution of two patients with different ventilatory treatments. In the first case pressure controledventilation with PEEP (positive end expiratory pressure) otimized were used. In the second case, volume controled ventilation and noninvasive mechanical ventilation were used. In patients with bronchopleural fistula different ventilatory strategies can be used, once current volume, PEEP and intrathoracic pressure are low together with permissive hipercarbia. Key Words: bronchopleural fistula, mechanical ventilation Trabalho realizado na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital de Clínicas da Universidade Estadual de Campinas/SP. * Fisioterapeuta, Aprimoranda em Fisioterapia Respiratória em UTI UNICAMP ** Fisioterapeuta da UTI - HC/UNICAMP. *** Médica , Prof. Dra. Colaboradora do Departamento de Cirurgia da FCM UNICAMP. ****Médico, Prof. Assistente Dr. do Departamento de Cirurgia da FCM UNICAMP. Autora Principal: Maria Gabriela Cavicchia Endereço: Rua Manoel Cavalheiro n. 4 - Centro CEP 13920-000 - Pedreira / SP Telefone (0XX19): 3893-1799 Volume 14 - Número 2 - Abril/Junho 2002 fístula broncopleural é uma complicação grave que pode ocorrer em pacientes submetidos à ventilação mecânica. Ela se traduz por fuga aérea para dentro do espaço pleural, podendo ser decorrente de lesões da árvore traqueobrônquica ou do parênquima pulmonar. Manifesta-se por pneumotórax que, após drenagem, resulta em perda aérea para o exterior. Dentre as suas principais causas, podemos citar: a pneumonia, a radioterapia, os tumores, a tuberculose, a cirurgia, o trauma, as intubações recorrentes e a ventilação mecânica prolongada. Especial atenção deve ser dada, na vigência de fístula, a pacientes submetidos à ventilação mecânica. O uso da pressão positiva exerce uma força na sutura brônquica, acentuando o mecanismo de mola e aumentando ainda mais a tendência das bordas a se distanciarem1. A este problema somam-se outros comprometimentos que podem prolongar o tempo de ventilação mecânica, como a instabilidade hemodinâmica, o déficit neurológico e as infecções nosocomiais. Além disso, a presença de secreção brônquica acentua e perpetua a contaminação da mesma, diminuindo sua resistência ou formando microabcessos que provocarão a deiscência da cicatriz lesional. A presença de drenos em aspiração pode perpetuar a fuga aérea, e os ajustes ventilatórios também podem acentuar a lesão. Diante da necessidade dos cuidados ventilatórios otimizados para esses doentes, as estratégias ventilatórias são muito discutidas e controversas. As fístulas broncopleurais merecem particular atenção, por se tornarem um evento praticamente fatal em pacientes com escape maior de 50% do volume corrente. Nesse estudo de caso, relatamos duas situações em que os pacientes apresentaram fístula broncopleural na vigência de ventilação mecânica, sendo manuseados com diferentes estratégias ventilatórias, na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital de Clínicas – UNICAMP, Campinas / SP. A 55 ARTIGO ORIGINAL RELATO DE CASOS Caso 1. Paciente A. O., 69 anos, HC-765711-7, com neoplasia gástrica avançada, pneumonia e empiema à direita. Foi drenado o tórax à direita, evoluindo com fístula broncopleural, sepse, insuficiência respiratória e renal (não oligúrica), sendo encaminhado para a UTI. Na admissão apresentava-se sedado, traqueostomizado, com PA 110 X 60 mmHg, FC de 100 bpm, em anasarca, com 2 drenos torácicos à direita. O dreno anterior apresentava borbulhamento intenso e, o posterior, saída de secreção purulenta. Ambos foram colocados em aspiração contínua. O paciente fazia uso de dopamina (dose dopaminérgica) e estava no segundo dia de tratamento com Ceftriaxone e Metronidazol (cultura de líquido pleural positiva para Streptococcus pneumoniae). A ausculta pulmonar estava bastante comprometida à D devido à fístula, e o murmúrio vesicular estava muito diminuído à E. Foi levantada a hipótese de pneumotórax hipertensivo à E, sendo realizada a drenagem torácica. A adaptação ventilatória foi no modo pressão controlada, com 20 cmH2O, FR de 12 ipm, PEEP de 8 cmH2O e FiO2 de 1,0. Na gasometria, a PaCO2 era de 55 mmHg e a PaO2 de 107 mmHg. No segundo dia, paciente evoluiu com melhora gasométrica, já com FiO 2 = 0,65, sendo iniciada hemofiltração contínua. No dia seguinte, foi observada uma piora do enfisema subcutâneo, sendo diminuída a PEEP para 5 cmH2O e aumentada a FiO 2 para 0,85. Após essas alterações, houve piora da relação PaO2/FiO2 de 123,23 para 78,37, com acentuada hipercarbia. Foi então aumentada a FiO2 para 1,0 e reduzida a PEEP para 8 cmH2O, resultando em aumento da relação PaO 2 /FiO 2 de 61,1 para 153,0 (Figuras 1 e 2). No quarto 56 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva dia, o paciente evoluiu com instabilidade hemodinâmica, hipotermia e hipotensão durante a diálise, sendo introduzida noradrenalina. Os drenos torácicos apresentaram débitos de 1500 ml e 200 ml, à direita e à esquerda, respectivamente, num período de 24 horas. Houve piora da troca gasosa, com queda da relação PaO2/FiO2 para 59,8, aumento de PaCO2 de 72,2 para 108 mmHg (Figura 3) e fuga aérea acentuada (o volume exalado diminuiu de 555 ml para 280 ml com a mesma pressão inspiratória). Paciente foi a óbito no quinto dia de internação. Figura 1. Evolução da PaO2/FiO2 durante a internação (caso1). * M – Manhã; T – Tarde; D – Dia; N – Noite. Figura 2. Valores de PEEP (cmH2O) utilizados durante a internação (caso1). * M – Manhã; T – Tarde; D – Dia; N – Noite. Figura 3. Correlação entre volume exalado, PaCO2 e valores de pressão controlada (PC) (caso 1). * M – Manhã; T – Tarde, D – Dia; N – Noite. Volume 14 - Número 2 - Abril/Junho 2002 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva Caso 2. Paciente M.C.S.A., 27 anos, HC-403613-0, portadora de lupus eritematoso sistêmico, insuficiência renal crônica, hiperparatireoidismo secundário à tumor marrom em coluna torácica, foi submetida à artrodese desse mesmo segmento. No pós-operatório tardio, apresentou atelectasia à esquerda tratada com broncoscopia, e hemotórax também à esquerda (drenado). Devido a sangramento, foi submetida a toracotomia com esvaziamento de aproximadamente 2.000 ml de coágulos mais 500 ml de sangue, sendo realizada cauterização de lesões tumorais sangrantes. O dreno torácico foi trocado devido a obstrução, tendo evoluído com bradicardia e fibrilação ventricular durante o procedimento. Paciente foi reanimada e encaminhada para a UTI. Na admissão encontrava-se sedada, em mau estado geral, hipertensa, febril, sem drogas vasoativas. Foi adaptada em ventilação mecânica com volume controlado. A radiografia de tórax mostrava velamento completo do hemitórax esquerdo. Foi extubada no 1º PO, mantevese febril e foi iniciada hemodiálise. No quinto dia de UTI foi observado borbulhamento no dreno anterior à direita, com saída de secreção piosangüinolenta. Uma hemocultura foi positiva para S. Aureus multiresistente. Paciente evoluiu agitada, confusa, taquipneica e taquicárdica, sendo reintubada. Foi adaptada no respirador, no modo pressão controlada. A antibioticoterapia foi otimizada (com vancomicina, floxacina e metronidazol) e manteve-se em diálise contínua. Fez tomografia de tórax evidenciando um padrão condensado, pouco expandido, porém sem atelectasias e sem líquidos. Paciente foi extubada dois dias depois. No 13º dia, paciente apresentou piora gasométrica (PaO 2 de 51,7 mmHg e saturação de 84,7%), mantinha borbulhamento pelo dreno torácico (com saída de líquido turvo), sendo então optado pela ventilação mecânica não invasiva. Fez uso desse recurso por 28 horas, havendo melhora clínica e gasométrica. No 14º dia, paciente evoluiu com piora do estado geral, sendo novamente intubada e ventilada com volume controlado. A cobertura para o quadro infeccioso foi ampliada para vancomicina, imipenem e anfotericina B (culturas positivas para Acinetobacter baumanii). Outra tomografia foi realizada, mostrando um encarceramento pulmonar à esquerda. Paciente foi traqueostomizada, sedada, não necessitando de drogas vasoativas, com bom padrão gasométrico. No 19º dia de internação, houve piora do quadro séptico, com hemoculturas positivas para S. Aureus e A. baumanii multirresistentes, evoluindo para óbito no dia seguinte. DISCUSSÃO Um dos dilemas da ventilação mecânica em pacientes com fistula broncopleural é a manutenção de uma adequada ventilação alveolar, enquanto ocorrem perdas ventilatórias através da fístula, levando a um aumento das pressões parciais de CO2 alveolar e sangüínea. No caso 1, a retenção do CO2 esteve evidente desde a admissão (PaCO2 de 55 mmHg; pH de 7,20). Outro dilema está voltado para o fechamento da fístula, e este é influenciado pela estratégia ventilatória usada. A passagem de ar através da fístula é determinada pela diferença de pressão da via aérea e a “pressão crítica de abertura” da fístula2. Quando a pressão da via aérea excede a pressão de abertura, o ar flui livremente através da fístula. Se a pressão da via aérea permanece abaixo da pressão Volume 14 - Número 2 - Abril/Junho 2002 ARTIGO ORIGINAL de abertura, não ocorre fluxo de ar através da mesma. Um dos fatores relacionados ao fechamento da fístula é o seu débito, ou seja, a fuga aérea, que, quanto maior, especialmente aproximando-se de 50% do volume corrente, mais severa é a acidose respiratória e maior a mortalidade 3. Isso pôde ser visto comparando o caso 1 com o 2. No caso 2, a fuga aérea era menor, e, portanto, apresentava bons padrões gasométricos, enquanto que no caso 1, devido ao maior débito da fístula, a paciente mostrava acidose respiratória importante. Diante desses conceitos, a ventilação controlada a volume é mais freqüentemente usada, porém as pressões aéreas quando não bem controladas, tornam o fechamento da fístula dificultoso. Sendo assim, a ventilação controlada por pressão pode ser a melhor escolha, uma vez que as pressões intratorácicas máximas serão conhecidas. No caso 1, a opção ventilatória foi o de controlar as pressões intratorácicas, as quais variaram de 14 a 20 cmH2O. Inicialmente, o paciente manteve bons níveis de volume exalado, porém, apesar da manutenção das pressões inspiratórias baixas, houve aumento progressivo do débito da fístula (volume exalado caiu de 555 ml para 280 ml no D4 de UTI, com pressão controlada de 14 cmH2O) (Figura 3). Esse fato provavelmente foi acentuado pela infecção pulmonar associada. Quanto à pressão positiva expiratória final (PEEP), a literatura não a recomenda por acentuar o mecanismo de mola, com exceção dos casos imprescindíveis. Rafferty e cols4 abordam que se forem necessárias PEEPs mais altas, deve-se associá-las a volumes correntes baixos, na tentativa de promover uma diminuição da fuga aérea. No caso 1, fizemos uso de uma PEEP de 8 cmH2O desde sua admissão, 57 ARTIGO ORIGINAL porém, quando se optou por reduzi-la para valores de 5 cmH 2O, observou-se uma queda importante na relação PaO 2 /FiO 2 , e, ao retornarmos a PEEP para 8 cmH2O, conseguimos otimizar a oxigenação do doente (Figuras 1 e 2). Já no caso 2, não houve a necessidade de valores altos de PEEP, uma vez que a paciente mantinha boa troca gasosa. O uso da ventilação mecânica não invasiva (VMNI) se deu pela hipoxemia e taquidispnéia (caso 2), com a qual obtivemos bons resultados iniciais. A literatura mostra, e nesse caso pôde ser observado, que a VMNI não aumenta o vazamento de ar pela fístula 5. No caso de hipercarbia persistente e/ou fuga aérea grande, a literatura recomenda a instituição da ventilação de alta freqüência, podendo ser associada com a ventilação mecânica independente, para um melhor gerenciamento daquele pulmão com fístula2. Em nossa unidade, temos utilizado a ventilação convencional, porém com otimização dos parâmetros ventilatórios. CONCLUSÃO Em pacientes com fístula broncopleural que necessitam de ventilação mecânica, cada caso deve ser conduzido individualmente, porém, em todos, a estratégia venti- 58 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva latória deve ser baseada em volumes correntes baixos, PEEPs baixas e pressões intratorácicas baixas, aceitando-se a hipercarbia acentuada. Sempre que possível, deve-se optar pela ventilação mecânica não invasiva, devido às menores pressões geradas nas vias aéreas, e, conseqüentemente, menor fuga aérea. RESUMO A fístula broncopleural se traduz por fuga aérea para dentro do espaço pleural. Dentre as causas mais comuns de fístula, podemos citar as cirurgias, as pneumonias, a radioterapia e a ventilação mecânica. O uso da ventilação por pressão positiva (VPPI) exerce uma força na sutura brônquica, acentuando o mecanismo de mola e aumentando a tendência das bordas a se distanciarem. Além disso, o uso da VPPI pode se prolongar diante da instabilidade hemodinâmica, do déficit neurológico e das infecções nosocomiais, pois esses fatores dificultam ou impedem o desmame ventilatório. Considerando-se a necessidade de cuidados ventilatórios otimizados, o presente estudo relata a evolução de dois pacientes cujas abordagens ventilatórias foram diferentes. No primeiro caso, utilizou-se a modalidade pressão controlada e PEEP otimizada, aceitando-se a hipercarbia acentuada. No segundo caso, utilizou-se a modalidade volume controlado e a ventilação mecânica não invasiva. Na conduta do paciente com fístula broncopleural podem ser usadas várias modalidades ventilatórias, desde que se trabalhe com volume corrente, PEEP e pressão intratorácica baixos, além da hipercarbia permissiva. Unitermos: fístula broncopleural, ventilação mecânica, estratégias ventilatórias. REFERÊNCIAS 1- Forte V. Fístula broncopleural pósressecções pulmonares. In: Margarido NF, Roberto Saad Jr. R, Cecconello I, et al., eds. Complicações em Cirurgia. São Paulo: Robe, 1993; 1-460. 2- Schinco MA, Formosa VA, Santora TA. Ventilatory management of a bronchopleural fistula following thoracic surgery. Respiratory Care 1998; 43: 1064-9. 3- Pierson DJ, Horton CA, Bates PW. Persistent bronchopleural air leak during mechanical ventilation. Chest 1986; 90: 321-3. 4- Rafferty T, Palma J, Motoyama EK, et al. Management of a bronchopleural fistula with differential lung ventilation and positive end-expiratory pressure. Respiratory Care 1980; 25: 654-7. 5- Aguilo R, Togores B, Pons S, et al. Noninvasive ventilatory support after lung resectional surgery. Chest 1997 ; 112: 117-21. Volume 14 - Número 2 - Abril/Junho 2002 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva ARTIGO ORIGINAL Meningite Meningocócica em Idoso Relato de um caso Meningococcal Meningitidis in elderly Case Report Alberto Gomes Taques Fonseca, Lina Wang, Vanessa de Souza Cobra Figueira, Fátima Barbosa Cordeiro, Elcio Tarkieltaub ABSTRACT The article shows a meningococcal disease’s case in an old woman-82, which reached in our hospital presenting acute stupor ,dysarthria and intense asthenia plus stiff neck and mild elevation of the blood pressure. First, we thought in a cerebrovascular disease, probably a hemorrhagic stroke, remaining the metabolic disorders and the infectious diseases of the nervous system like differential diagnosis.Cerebrospinal fluid examination showed a bacterial meningitides pattern ( Neisseria Meningitidis isolated in the culture – not frequent in this age ).The patient evolved to meningococcemia ,showing a hemodinamic pattern of septic shock ,being necessary the use of vasoactive drugs and invasive monitoring with a good response of the hemodinamic patterns .However, after some days , the patient presented an increase of serum creatinine and BUN, being submitted to ultra filtration with a good response in the beginning, with later event of ventricular arrhythmias and death. The inclusion of the Meningococcal Disease in the differential diagnosis of stupor and coma in the elderly – even not frequent – need to be remembered because the sooner the diagnosis make clear, the better the prognosis of the patient KEY WORDS: MENINGOCOCCAL DISEASE, ELDERLY, COMA, STUPOR M eningite é um processo inflamatório do espaço subaracnóideo e das membranas leptomeninges. Podem ser causados por bactéria, vírus, fungos, espiroquetas, protozoários e outros (1). Os microorganismos mais prevalentes entre os seis anos e a senilidade são os Pneumococos e os Meningococos, sendo estes responsáveis por cerca de 5,89 % dos casos em pacientes acima de quarenta anos (tabela 1), diminuindo muito em pacientes acima de sessenta e quatro anos (2). No município de São Paulo o sorotipo B foi o mais prevalente (tabela 2). Em 1999, foram observados 523 casos com coeficiente de incidência de 5,23 %, e coeficiente de letalidade de 16,63 % (tabela 3). Em nosso hospital, no mesmo ano, foram observados 17 casos novos com apenas dois óbitos - coeficiente de letalidade de 11,76% (tabela 4). RELATO DE CASO D.R.R., 82 anos, natural e procedente de São Paulo, deu entrada no pronto-socorro trazida por familiares devido a rebaixamento súbito do nível de consciência, disartria e astenia. Ao exame físico apresentava-se (dados relevantes) em regular estado geral, torporosa, moderadamente descorada, bastante desidratada, taquipneica (F.R. = 30 ipm), TABELA 1 – Porcentagem de doença meningocócica segundo a faixa etária – 1995 a 1999 (1) Alberto Gomes Taques Fonseca- R1 de Clínica Médica do Hospital Municipal Prof. Dr. Alípio Corrêa Netto (2) Lina Wang - R1 de Cirurgia Geral do Hospital Municipal Prof. Dr. Alípio Corrêa Netto (3) Vanessa de Souza Cobra Figueira - Acadêmica do quarto ano da Faculdade de Ciências Médicas de Santos (4) Fátima Barbosa Cordeiro - Encarregada de enfermagem da UTI adulto do Hospital Municipal Prof. Dr. Alípio Corrêa Netto (5) Elcio Tarkieltaub- Médico Chefe da UTI adulto do Hospital Municipal Prof. Dr. Alípio Corrêa Netto, Mestrando de Clínica Médica da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Instituição: Hospital Municipal Prof. Dr. Alípio Corrêa Netto – Ermelino Matarazzo. Alameda Rodrigo de Brunn, 1989 , cep 03807-230 Ermelino Matarazzo, São Paulo – SP A/C UTI ADULTO Volume 14 - Número 2 - Abril/Junho 2002 faixa etária\ ano 1995 1996 1997 1998 1999 < 1 ano 20,39% 19,06% 19,11% 22,83% 19,27% 1-4a 37,86% 35,73% 37,96% 32,03% 33,08% 5-9a 17,06% 18,52% 16,28% 16,84% 17,56% 10 -14 a 7,23% 8,80% 8,40% 7,81% 7,92% 15 - 19 a 4,63% 5,40% 5,31% 4,69% 4,71% 20 - 39 a 8,53% 8,18% 9,17% 8,68% 8,03% > ou = 40 a 4,14% 4,32% 3,68% 4,86% 5,89% ignorado 0,16% 0,00% 0,09% 2,26% 3,53% Fonte: SVE – D.D.T.Respiratória – C.V.E. (até 1997) SINAN – 1998/1999 (dados provisórios em 28/03/2000) POPULAÇÃO :SEADE – censos de 1980,1991 e 1996 59 ARTIGO ORIGINAL RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva TABELA 2 – Doença meningocócica – porcentagem de casos segundo sorogrupo específico no município de São Paulo, 1996. mês\soro grupo % A B C W135 Janeiro 0 63,64 36,36 0 0 Fevereiro 5,88 70,59 23,53 0 0 Março OUTROS 5,26 57,89 36,84 0 0 Abril 0 43,48 56,52 0 0 Maio 0 75 20,83 4,17 0 Junho 0 60 33,33 6,67 0 Julho 0 65,63 31,25 0 3,13 2,33 53,49 41,86 2,33 0 Setembro 0 81,82 18,18 0 0 Outubro 0 50 30 20 0 Agosto Novembro 0 57,89 42,11 0 0 Dezembro 0 53,33 46,67 0 0 taquicárdica, (F.C. =148) e com pressão arterial (PA) de 150 x 100 mmhg. À ausculta cardíaca apresentava bulhas rítmicas normofonéticas taquicárdicas em dois tempos, sem sopros audíveis. O sistema tegumentar apresentava lesões maculares e petequiais disseminadas por todo o corpo, associadas a livedo reticularis distribuídas principalmente em face medial de coxas. (foto 1) Fonte: SVE – CVE/SESSP Tabela 3 – Casos, coeficiente de incidência (por 100.000 hab.) óbitos e letalidades de doença meningocócica de São Paulo – 1995 a 1999 Ano Casos Incidência Óbitos Letalidade 1995 813 8,13 181 22,86 1996 812 8,26 154 18,97 1997 704 7,14 114 16,19 1998 644 6,44 102 15,84 1999 523 5,23 83 16.63 Fonte: SVE – D.D.T Respiratória – CVE (até 1997) SINAN – 1998/1999 (dados provisórios em 28/03/00) População: SEADE: - censos de 1980, 1991 e 1996 TABELA 4 – Doença meningocócica : casos, óbitos e letalidade dos internados nos hospitais municipais do município de São Paulo, 1999. Hospitais Municipais Casos Óbitos Letalidade 11 4 36,36 5 1 20 H. Campo Limpo 20 8 40 H.Ermelino Matarazzo 17 2 11,76 8 0 0 0 H. Artur R.Sabóia H. Benedito Montenegro H. I.P.Gouveia H. M.Jardim Sarah 0 0 15 0 0 H. Zeferino Vaz 0 0 0 H. Tatuapé 9 1 11,11 H. Tide Setubal 6 3 50 H. Vila Maria 3 2 66,67 H. Menino Jesus H. Vila Nhocuné 7 0 0 H. W.de Paula 17 2 11,76 H. José S.Hungria 15 5 33,33 2 1 50 135 29 21,48 H. S.P.M. Total Fonte : SVE/CVE – SP/CEPI - SMS 60 Foto 1 Ao exame neurológico apresentava-se com abertura ocular espontânea, emitindo sons incompreensíveis, localizando estímulos dolorosos, pupilas anisocóricas, (miótica à direita), sem déficits motores e sensitivos com moderada rigidez de nuca, sinais de Kernig (limitação dolorosa da extensão da perna, quando se traciona positivamente a coxa sobre a bacia, mantendo o joelho articulado – a perna oposta mantida estendida tende a se flexionar), Laségue (reação dolorosa à movimentação passiva da coxa sobre a bacia – mantendo a perna estendida, secundariamente há flexão ativa concomitante da outra coxa sobre a bacia) e Brudzinski (limitação, pela dor, da flexão do pescoço, acompanhada secundariamente de flexão dos joelhos) negativos. Nos antecedentes pessoais era observado Miocardiopatia Dilatada associada à Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), em uso regular de digoxina 0,25 mg/d, furosemida 40 mg/d e nifedipina retard 20 mg, 12/12 h. Inicialmente, devido à idade e ao quadro clínico de rebaixamento do nível de consciência associado a sinais localizatórios e disartria foi levantada a hipótese de Acidente Vascular Encefálico (AVE), provavelmente hemorrágico. Feitos diagnósticos diferenciais com quadros metabólicos e infecciosos do SNC e intoxicações exógenas. Familiares negavam história de intoxicação. A favor do diagnóstico de processo infeccioso do SNC, observava-se o fato da paciente ter sintomas que cursavam com sinais sugestivo de vasculite sistêmica associada à rigidez de nuca, tornando provável o diagnóstico de meningite. Solicitado bioquímico completo e hemograma que mostravam anemia normocrômica normocítica (Hb = 10g/dl, Volume 14 - Número 2 - Abril/Junho 2002 ARTIGO ORIGINAL RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva VCM=91 CHCM= 32g/dl), plaquetopenia (120.000), leucocitose com desvio à esquerda (24.400, 11-82-0-0-3-4), tempo de atividade de protrombina (TAP) = 23 “– 32,5%, tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPA) = 51”, sódio (Na) =146, potássio (K) = 5.7, uréia (U) = 139, creatinina (Cr) = 3.8, glicemia (Gli) = 138. Tomografia de crânio com atrofia cortical difusa – compatível com a idade da paciente. Associando o quadro clínico e os achados laboratoriais, o diagnóstico de síndrome infecciosa do SNC com provável origem meníngea, foi o que mais se adequava à paciente, apesar da faixa etária não ser habitualmente afetada. Feito exame do líquor que evidenciou aspecto turvo, com 27036 leucócitos (predomínio de polimorfonucleares – 88 %), 427 hemáceas, glicose = 7 g/dl, proteínas = 1140, Cl = 118. Na bacterioscopia, foram visualizados numerosos diplococos gram negativos, identificados através do látex, como Neisseria Meningitidis tipo B, fechando o diagnóstico de meningite meningocócica com meningococcemia, sendo transferida para Unidade de Terapia Intensiva (UTI). À admissão na UTI, a paciente necessitou de intubação orotraqueal devido dispnéia intensa (p H = 7.26, p CO2 = 25 mmhg, p O2 = 62 mmhg, sat O2 = 81%, bicarbonato = 10 mmol/l), e de drogas vasoativas devido ao quadro de choque que havia se instalado. Optou-se inicialmente por noradrenalina na dose de 0,26 micrograma/kg. Introduzido Ceftriaxona 2g IV de 12/12 h. Submetida a monitorização invasiva para estabelecer melhores diretrizes terapêuticas, demonstrou-se inicialmente um padrão de choque distributivo (séptico), com índice de trabalho de ventrículo esquerdo diminuído, sendo submetida ao uso de dobutamina (ajustando as doses de acordo com as necessidades). (foto 2). Evoluiu com recuperação hemodinâmica completa, não mais apresentando febre, com melhora do nível de consciência e dos padrões hematológicos, porém com piora dos níveis elevados das escórias nitrogenadas (U = 226, Cr = 8.4), sendo submetida a hemodiafiltração veno-venosa (foto 3), com evolução inicial satisfatória (U = 103, Cr = 2.3). Todavia, após dois dias, desenvolveu quadro de fibrilação Foto 2 Volume 14 - Número 2 - Abril/Junho 2002 Foto 3 ventricular, evoluindo para parada cardio-respiratória, sem sucesso às manobras de reanimação (detectado na ocasião hipocalemia – K = 2.7). DISCUSSÃO A Doença Meningocócica foi primeiramente descrita por Vieusseux em 1805 (1), sendo o agente etiológico – Neisseria Meningitidis isolada em 1887(1). Trata-se de diplococos aeróbios gram negativos responsáveis por ampla gama de quadros infecciosos abrangendo quadros meníngeos, focais (conjuntivite, artrite séptica e uretrite) e sistêmicos (meningococcemia) (2). Doença se distribui por todo o ano, mas com prevalência no inverno e começo da primavera (5). O ser humano é o único hospedeiro (6), infectando-se através de gotículas de secreção da nasofaringe infectadas ou contato oral direto e indireto (6). Estima-se que cerca de 5-10% da população são assintomáticos (7,8). Pacientes com comprometimento do sistema imunológico (esplenectomizados, deficiência de properdina e deficiência dos componentes terminais do sistema complemento) apresentam maior predisposição para desenvolver a doença. (9,10). O tabagismo e a ocorrência de infecções respiratórias altas também favorecem a instalação do quadro, na medida em que prejudica o movimento ciliar e compromete a integridade da barreira mucosa. (11, 12,13). A meningite meningocócica pode se apresentar com febre alta, calafrios, dor abdominal, nas costas ou em extremidades, associados em boa parte das vezes a náuseas e vômitos (2). Ao exame físico observa-se rigidez cervical, apresentando em cerca de 50% dos casos sinais de Kernig, Laségue e Brudzinski positivos (14). Em cerca de 75% dos casos podem aparecer lesões maculopapulares, petequiais ou equimóticas por todo o tronco e membros inferiores (2 a 10 cm de diâmetro) (6), podendo estar presente também em outras formas de meningite (vírus Echo tipo 9; Staphilococos Aureus; espécies de Acinetobacter; e raramente Streptococos Pneumoniae e Haemophilus Influenzae), 61 ARTIGO ORIGINAL febre maculosa das montanhas rochosas, endocardite por Staphilococos Aureus, sepse maciça e púrpura trombocitopênica trombótica. (14) Ao depararmos com caso suspeito, devemos solicitar além do hemograma completo e coagulograma, raios-X de tórax, gasometria arterial, bioquímico completo (incluindo Na, K, U, Cr, e Gli) e análise do líquor (assim como o sangue deve ser submetido à cultura, contraimunoeletroforese – CIE e aglutinação pelo látex) (15). Tipicamente o líquor apresenta-se com pleiocitose, com predomínio de polimorfonucleares, proteína diminuída, glicose aumentada, bacterioscopia e cultura realizada em Agar chocolate positiva. Deve ser solitado tomografia de crânio para excluir outras lesões ou complicações, como por exemplo, abscesso encefálico. O tratamento pode ser realizado com penicilina cristalina 24.000.000 UI /24 h, fracionadas de 4/4 h, ou ceftriaxona 2g IV de 12/12 h. Antes de 1920 a mortalidade da doença meningocócica chegava a 70 % (14), porém com antibioticoterapia adequada associado à melhora nos cuidados gerais, nos últimos quinze anos os índices de mortalidade não têm oscilado de forma significativa, nos últimos anos, variando entre 5-7 %, chegando a 12,41 % em pacientes que desenvolvem meningococcemia. (tabela 5). Dos sobreviventes cerca de 11-19 % desenvolvem algum grau de seqüela (17,18) A profilaxia está indicada nos contactuantes íntimos tanto no domicilio do paciente quanto no serviço de saúde procurado, e em pessoas que tenham mantido contato oral com caso-índice (respiração boca-a-boca e intubação orotraqueal) (5,6), apresentando eficácia duvidosa após 14 dias do contato (19). Administra-se Rifampicina (contra-indicado em menores de 1 ano) 600 mg VO de 12/12 h até completar 2400mg; Ciprofloxacina 500 mg VO, dose única, como opção para adultos; oun ainda Ceftriaxona 250 mg IM, 62 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva dose única como opção para crianças (se < 12 anos, 125 mg) e gestantes. CONCLUSÃO Apesar de muito rara em pacientes acima de 64 anos, devemos estar atentos para o diagnóstico diferencial de doença meningocócica em vista do grande impacto do tratamento precoce nos índices de mortalidade. RESUMO O artigo descreve um caso de uma mulher de 82 anos que deu entrada em nosso serviço com quadro de confusão mental de inicio súbito, disartria e astenia intensa,associada ainda à rigidez de nuca e moderado aumento dos níveis pressóricos. Inicialmente atribuímos tal sintomatologia à doença cerebrovascular de etiologia hemorrágica, permanecendo os quadros metabólicos e infecciosos, como diagnósticos diferenciais. Realizada análise do líquor sendo observado um padrão compatível com meningite bacteriana (isolado Neisseria Meningitidis na cultura - infrequente nesta faixa etária). Paciente evoluiu com meningococcemia, apresentando padrão hemodinâmico compatível com choque distributivo sendo necessário uso de drogas vasoativas e monitorização invasiva com recuperação completa dos padrões hemodinâmicos e do quadro clínico em geral. Porém, após alguns dias, apresentou aumento das escórias nitrogenadas sendo submetida a hemodiafiltração veno-venosa evoluindo inicialmente bem mas com posterior aparecimento de arritmias ventriculares e óbito. A inclusão da Doença Meningocócica no diagnóstico diferencial dos quadros confusionais do paciente idoso, apesar de infrequente, deve ser sempre lembrada, pois quanto mais precoce o diagnóstico e a instituição do tratamento, melhor a evolução do paciente. Unitermos: doença meningocócica, idoso, estupor, coma BIBLIOGRAFIA 1) FOCACCIA, R. – in: VERONESI, R. Tratado de infectologia. Atheneu, São Paulo, vol 1, cap. 66, p. 805-19, 1996. 2) ROSENSTEIN, N.E.; et al. – Meningococcal Disease. 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KEY WORDS: Arterial Emboli, Mercury, Cardiac Surgery * Professor Auxiliar de Ensino da Disciplina de Cirurgia Torácica da FMABC e Especialista em Medicina Intensiva pela AMIB e Chefe do Serviço de Terapia Intensiva da Santa Casa de Misericórdia de Tatui ** Professor Titular da Disciplina de Cirurgia Torácica da FMABC *** Residente de Cirurgia Geral da FMABC **** Medico da UTI da Santa Casa de Misericordia de Tatui Faculdade de Medicina do ABC e Santa Casa de Misericordia de Tatui Disciplina de Cirurgia Torácica da FMABC End. para correspondência: Rua Maneco Pereira, 299 – Fone/Fax: (PABX) (0—15) 251-2666 – CEP 18.270-400 – Tatuí/SP - Brasil Telefone para contato com o editor de texto: F (0—11) 9977. 0333 Volume 14 - Número 2 - Abril/Junho 2002 embolia por mercúrio é uma entidade rara, podendo ser intencional ou acidental, arterial ou venosa. A maioria dos casos descritos até hoje se refere à embolia venosa, ressaltando vários aspectos sobre sua toxicidade e efeitos agudos e subagudos (1-6). Os autores relatam um caso de embolia arterial em mão esquerda, associada ao uso do manômetro de mercúrio no controle da pressão arterial média (PAm) durante cirurgia cardíaca eletiva. A RELATO DO CASO M.I.L., 56 anos, casada, nascida em São Paulo, RG hospitalar n° 79494, portadora de angina pectoris pós infarto agudo do miocárdio e com cineangicoronariografia apresentado lesões importantes nas artérias coronárias passíveis de tratamento cirúrgico. Internada efetivamente para cirurgia de revascularização do miocárdio onde se realizou “by pass” da artéria torácica interna esquerda para artéria interventricular anterior e veia safena da aorta para artéria primeira diagonal sem uso de circulação extracopórea. A cirurgia transcorreu sem intercorrências cardíacas, porém no pós operatório a paciente apresentou quadro de isquemia em mão esquerda, local da punção da artéria radial para monitorização da pressão arterial media através de manômetro de mercúrio como é realizado rotineiramente neste tipo de cirurgia. Há de se ressaltar que previamente ao procedimento realizou-se teste de Allen que mostrava bom fluxo pelo arco palmar. Após investigação das possíveis causas, verificou-se a presença de embolia pela artéria radial por material radiopaco, visível ao radiograma simples, provavelmente proveniente da monitorização de pressão arterial média realizada com utilização de manômetro de mercúrio (foto 1). A paciente evoluiu com lesão neurológica em mão direita que se encontra em melhora gradativa. Não ocorreram outros eventos sugestivos de intoxicação sistêmica. DISCUSSÃO O mercúrio metálico é facilmente identificado radiograficamente em virtude de seu alto número atômico (80), 63 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva ARTIGO ORIGINAL o uso dos manômetros de mercúrio, substituindo por outros métodos mais seguros. No Brasil ainda encontramos muitos serviços que utilizam o sistema de manômetro de mercúrio, devendo ficar o alerta que os mesmos devem ser aposentados e substituídos. Êmbolos de mercúrio na mão esquerda ( frete e perfil) peso atômico (200,61) e gravidade específica (13,55). No plasma permanece na forma líquida, circulando na forma de múltiplas esferas, que podem coalescer e impactar. Muitas causas têm sido atribuídas à injeção do mercúrio subcutâneo ou intravascular. Há relatos desta prática na América Central ou do Sul, na tentativa de aumentar a força muscular. Ainda se relacionam os abusos de drogas, tentativa de suicídio e injeção inadvertida do metal usado durante o cateterismo cardíaco ou no manômetro, para controle de pressão arterial média no intraoperatório (1, 3,6). Segundo Berger e cols (1) , a embolia por mercúrio pós monitorização de PAm se manifesta em cerca de dois dias. O contato do metal com o intravascular estaria relacionado à sua capacidade de gravitação, do manômetro até a artéria ou à aspiração inadvertida durante coleta sangüínea. Assim, os efeitos variam de isquemia digital transitória até embolização arterial sistêmica. Neste relato, a paciente apresentou embolia limitada à mão esquerda. A deformidade manifestada 64 como mão em garra neste caso possivelmente se relaciona à axonopatia periférica, causada pela toxicidade do mercúrio, salientada por Dell´Olmo e cols (4). Por outro lado, Burton e cols (2) ressaltam que a pequena quantidade de mercúrio das embolias arteriais geralmente é insuficiente para produzir sintomas sistêmicos, sendo assim incomuns os acometimentos pulmonar ou renal. O diagnóstico pode ser facilmente confirmado radiologicamente, pela presença de múltiplas densidades metálicas. Nenhuma relação foi constatada entre os níveis séricos ou urinários de mercúrio e os sinais e sintomas de sua toxicidade, tendo relevância apenas como confirmação diagnóstica e não no seguimento destes pacientes (6). A mortalidade é rara e normalmente decorre da toxicidade do mercúrio, causando falência respiratória ou renal. Por outro lado, em alguns pacientes podem ser observadas evidências da toxicidade do metal mesmo após anos da injeção intravenosa (4). Berger e cols (1) sugerem que seria possível reduzir o risco da embolia por mercúrio abandonando RESUMO A embolia arterial por mercúrio é um evento raro e grave que ocorre principalmente por acidente ou tentativa de suicídio. Os autores descrevem um caso de embolia artérial por mercúrio ocorrida durante ato cirúrgico devido a monitorização de pressão arterial utilizando manômetro de mercúrio, analisando os principais aspectos da toxicidade e risco de uso. UNITERMOS: Embolia arterial, Mercúrio, Cirurgia cardíaca REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. BERGER, R. L.; MADOFF, I. M.; RYAN, T. L. Mercury embolization during arterial pressure monitoring. Journal of Thoracic and Cardiovascular Surgery, 53 (2): 285-7, 1967. 2. BURTON, E. M. & WEAVER, D. L. Repeated Systemic Mercury Embolization. Southern Medical Journal, 81 (9): 11902, 1988. 3. CASSAR-PULLICINO, V. N.; TAYLOR, D N.; FITZPATRICK, J. D. Multiple metallic mercury emboli. The British Journal of Radiology, 58 (1): 470-4, 1985. 4. 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ABSTRACT The authors review de physiological mechanisms of intracranial hypertension and the indications of monitoring and treatment of this entity in various clinical settings. Keywords: Intracranial pressure monitoring, children, Intracranial hypertension management. *Plantonista da UTI do Hospital da Criança Santo Antônio/Irmandade Santa Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. ** Professora da Fundação Faculdade Federal de Ciências de Porto Alegre. Coordenadora da UTI do Hospital da Criança Santo Antônio/Irmandade Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. Mestre em Pediatria pela UFRGS. ***Professora da Fundação Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre. Coordenadora da UTI do Hospital da Criança Santo Antônio/Irmandade Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. ****Neurocirurgião do Hospital da Criança Santo Antônio/ Irmandade Santa Casa de Misericórdia de Porto alegre. Professor de Neurocirurgia da Universidade Luterana do Brasil de Canoas-RS. Doutor em neurocirurgia pela UFRGS. -Instituição: Hospital da Criança Santo Antônio/ Irmandade Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre - Serviço de Terapia Intensiva. -Autor principal: Claudia L.B.Kunrath. Rua Estácio de Sá 721. POA-RS. CEP 91330.430. Email: [email protected] Volume 14 - Número 2 - Abril/Junho 2002 árias anormalidades cerebrais e sistêmicas podem levar a hipertensão intracraniana (HIC), que é causa importante de morbimortalidade na faixa etária pediátrica1, 2. A compreensão clara dos mecanismos que causam HIC pode levar a um manejo mais adequado, com conseqüente melhora da sobrevida dos pacientes1. Para tratar a criança com disfunção severa do sistema nervoso central (SNC), o intensivista precisa monitorizar continuamente a função e o estado cerebral, usando uma variedade de meios clínicos e tecnológicos. O exame clínico nem sempre fornece dados para a avaliação da HIC2, 3 e, alguns métodos de aferição, como a medida de fluxo sangüíneo cerebral (FSC) e a extração cerebral de oxigênio (ECO2), devem ser usados cautelosamente pois apresentam limitações4,5,6. Já a monitorização da pressão intracraniana (PIC) é mundialmente aceita como ferramenta importante no diagnóstico e tratamento da HIC em algumas situações clínicas , mostrando-se um método seguro para uso pediátrico7. Em relação ao tratamento, ainda existem muitas dúvidas sobre quais intervenções já estabelecidas são realmente eficazes8 e, ao mesmo tempo, já estão surgindo novas medidas de controle da PIC9. V FISIOPATOLOGIA Pressão intracraniana Os valores normais da PIC em adultos são bem estabelecidos, aceitando-se como valor máximo 15 mm Hg2,10. No entanto, os valores normais em crianças ainda geram certos debates10.O limite superior da pressão intracraniana normal varia com a idade. Em recém nascidos é tolerada a PIC de 2 mm Hg2,10. Já em lactentes é tolerada a PIC de até 5 mm Hg e, dos 2 aos 7 anos é considerada normal a PIC entre 6 e 13mm Hg2,10. Em crianças maiores é aceita como normal a PIC de 15 mm Hg2,10,11. 65 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva ARTIGO ORIGINAL Segundo a teoria de MonroKellie, a pressão intracraniana é mantida constante dentro de seus valores normais se o volume intracraniano não se modificar11,12. O conteúdo intracraniano é composto de tecido cerebral, líquor e sangue, sendo responsáveis por 80, 10 e 10% do volume intracraniano, respectivamente 1. Qualquer situação que aumente o volume de um componente, precisa ser compensada pela diminuição de volume dos outros para que não haja um aumento da PIC. A compensação em geral ocorre em função da diminuição do volume sangüíneo e do líquor, já que a massa cerebral é menos compressível11. O líquor é responsável por 30% da capacidade de diminuição do volume cerebral, sendo deslocado para o espaço espinhal subaracnóide ou absorvido pelas granulações aracnóides11. Se o aumento de volume intracraniano for muito rápido ou se os mecanismos de compensação forem esgotados, a PIC aumenta13. A elevação da PIC pode diminuir a perfusão tecidual levando a isquemia e morte cerebral11. Os lactentes podem apresentar crescimento do perímetro cefálico como um mecanismo extra na compensação do aumento de volume intracraniano, mantendo a PIC normal11. Entretanto, as fontanelas aber- tas não protegem a criança de desenvolver HIC agudamente11. Fluxo sangüíneo cerebral As alterações do FSC são muito importantes na fisiopatologia da HIC, principalmente no trauma4,14. O fluxo sangüíneo cerebral normal varia conforme a idade. Em lactentes, o valor normal é de 40ml/ 100g de tecido cerebral/ min, em crianças varia de 75 a 110ml/ 100g/ min. Já em adolescentes o valor é semelhante aos adultos, em torno de 50ml/ 100g/ min4,5,15. O fluxo sangüíneo cerebral responde a variações da pressão arterial média (PAM), pressão parcial de gás carbônico (paCO2) e pressão parcial de oxigênio (pa02)13.Quando a pa02 é inferior a 50mm Hg, ocorre vasodilatação progressiva, e, se a pa02 chega a 25mm Hg, pode se observar um aumento de até 300% no FSC15. O gás carbônico é um potente vasodilatador cerebral. Para cada mm Hg diminuído da paCO2, diminui 1,1ml/ 100g min do fluxo sangüíneo cerebral, ou seja, 3%2,15. A resposta à alteração na paCO2 é rápida, sendo o ponto de equilíbrio atingido em 8 a 12 minutos; já a eficácia é limitada a um período de 24 a 48 horas2 sendo que em alguns pacientes o efeito pode durar apenas 20 minutos12. O FSC é controlado pelo metabo- lismo2. Quanto maior o metabolismo regional, maior o fluxo sangüíneo para a área13. Dor, hipertermia e estímulos sonoros aumentam o metabolismo cerebral13. A taxa metabólica cerebral de oxigênio (TMCO2) é igual ao FSC x DAVO2 onde: FSC = 50ml/ 100g/ min (com paCO 2 de 40 mmHg) DAVO2 = diferença no conteúdo arterial e venoso de O2 (extraído do bulbo da jugular) que é aproximadamente 6,3 ml/dl 2,15. Quando a TMCO2 está dentro dos limites da normalidade, significa que o FSC está adequado e o cérebro está bem perfundido 2,15. O fluxo sangüíneo cerebral também depende da pressão de perfusão cerebral12. A pressão de perfusão cerebral (PPC) A PPC é igual à diferença entre a PAM e a PIC, que normalmente deve ser mantida acima de 50 mm Hg. Se a PPC se mantiver abaixo de 50 mm Hg, haverá uma redução no fluxo sangüíneo cerebral proporcional à diminuição da PPC com risco de isquemia cerebral1,6. É possível que crianças pequenas suportem uma PPC menor que 50 mm Hg sem desenvolver isquemia11,14. A capacidade de manter o FSC independentemente da PAM, dentro de um certo limite, é conhecida como autoregulação cerebral12,16. Causas de hipertensão intracraniana em relação ao componente cerebral primariamente envolvido11 Cérebro Neoplasia Encefalopatia metabólica Hipóxia Isquemia Meningites/ Encefalites/ Cerebrite Hiponatremia Intravascular/ Venoso MAVa Trombose dos seios durais Síndrome da veia cava superior ICbdireita Compressão jugular PEEPc Intravascular/ Arterial Aneurisma Crise convulsiva Hipertensão maligna Hipercapnia Anestésicos inalados hipóxia Líquor Hidrocefalia Pseudo tumor cerebri Cisto aracnóide Obstrução de shunt Neoplasia de plexo coróide Outros Hematoma Corpo estranho Tumores de crânio Pneumocéfalo Craniostenose a MAV=Malformação artério-venosa IC=Insuficiência cardíaca c PEEP=Pressão expiratória final positiva b 66 Volume 14 - Número 2 - Abril/Junho 2002 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva QUADRO CLÍNICO O quadro clínico depende da rapidez da instalação da hipertensão e da capacidade de acomodação do volume cerebral dentro da calota craniana1, 2. Cefaléia, vômitos, diplopia, cegueira episódica e movimentos desconjugados intermitentes dos olhos são queixas do paciente ainda consciente. A tríade de Cushing nem sempre é encontrada em crianças: bradicardia, hipertensão arterial e bradipnéia 1,17. Em lactentes, o aumento progressivo do perímetro cefálico pode ser o único sinal de HIC11. Existindo aumento de pressão em um dos hemisférios cerebrais, pode ocorrer herniação uncal. A pupila ipsilateral se torna fixa e dilatada, com desvio para baixo e para fora. Com a progressão da herniação, ocorre hemiplegia contralateral1. Havendo aumento de pressão em ambos hemisférios cerebrais, pode ocorrer herniação central. No primeiro momento existe uma diminuição da consciência e respiração de Cheyne-Stokes. Com a progressão do quadro, as pupilas se tornam não reagentes à luz e inicia a hiperpnéia neurogênica. A postura se torna decorticada, há apnéia e queda da pressão arterial1. É importante ressaltar que nem sempre os sinais clínicos de HIC estão presentes3. ARTIGO ORIGINAL MONITORIZAÇÃO CEREBRAL NA HIPERTENSÃO INTRACRANIANA A) Monitorização da PIC É o único meio confiável para excluirmos ou confirmarmos a presença da HIC no paciente comatoso2. ao procedimento1. • Sensor intraparenquimatoso: Tecnicamente esses dispositivos são fáceis de inserir e manter1. A desvantagem é não permitir a drenagem liquórica e, o risco de mau funcionamento varia de 9 a 40 % 12 . O monitor de fibra óptica Camino® tem sido usado mostrando baixo risco de infecção, em torno de 0,3%7. É uma opção quando os ventrículos estão colabados11. • Sensores subaracnóide , subdural e epidural: Pouco usados atualmente pois as leituras nem sempre são fidedignas1,12. Técnicas: • Cateter ventricular: Padrão ouro da medida da PIC, apresenta como vantagem a possibilidade de drenagem liquórica1,7. O risco de infecção varia de 3 a 5 %, sendo que alguns autores relatam uma incidência de até 22 %1,7. Em geral é utilizado antibiótico profilático, mas esta prática não evita a infecção11. A tunelização do cateter pode proteger contra infecção1. O risco de hemorragia intracraniana na inserção é menor que 2 % 1,11 , mas a coagulopatia é uma contraindicação Formas das ondas de pressão Existem três tipos de ondas: A, B, e C19. • As ondas A, também conhecidas como ondas em platô, surgem quando os níveis da PIC atingem valores acima de 50mm Hg2,3. Elas representam a perda da auto-regulação cerebral e são de mau prognóstico3. (figura 1) • As ondas B são de amplitude menor (em geral abaixo de 50 mm Hg) e ocorrem mais freqüentemente, sendo associadas a piora do nível de consciência3. (figura 2) • As ondas C são as de menor Quanto maior o desvio da linha média, maior a chance do paciente apresentar HIC11. Achados sugestivos de edema cerebral: borramento das substâncias branca e cinza cerebrais, perda do espaço subaracnóide, compressão ventricular18. Figura 1. Monitorização da Pressão intracraniana, ondas A19. ACHADOS TOMOGRÁFICOS A tomografia de crânio é importante para que seja estabelecido o diagnóstico etiológico e topográfico das eventuais lesões11. A presença de aumento do volume encefálico, evidenciada por compressão ou obliteração das cisternas mesencefálicas, é fortemente associada com subseqüente desenvolvimento de HIC principalmente em pacientes com trauma crânio encefálico (TCE)11. Volume 14 - Número 2 - Abril/Junho 2002 67 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva ARTIGO ORIGINAL Figura 2. Monitorização da pressão intracraniana, ondas B19. amplitude (0 a 20 mm Hg) e parecem ser o resultado das flutuações da pressão arterial sistêmica e disfunção cerebral3. Ondas C de alta amplitude podem surgir no paciente pré terminal12. (figura 3) Manejo: O objetivo é a manutenção da pressão de perfusão cerebral acima de 50mm Hg e a PIC menor ou igual a 15mm Hg9, 13. A Fundação do Trauma Cerebral defende iniciar o tratamento para HIC quando a PIC for maior que 20 ou 25 mm Hg, com a opção de manter a PPC acima de 70 mm Hg9. Entretanto, essas recomendações seriam mais direcionadas para adultos. Em crianças, recomenda-se tratamento quando a PIC se mantiver acima de 15 mm Hg por mais de 5 minutos15. Figura 3. Monitorização da pressão intrracraniana, ondas C19. B) Extração cerebral de oxigênio (ECO2) Uma das formas de avaliar isquemia cerebral é realizada através da determinação da diferença arteriovenosa de 02 (DAV02). Isto é, a diferença no conteúdo do oxigênio entre o sangue arterial (carotídeo) e venoso (jugular)2,15. A DAV02 também é conhecida como ECO218. A ECO2 é igual à taxa metabólica cerebral de oxigênio dividida pelo FSC. Sob condições normais, a ECO2 situa-se em torno de 6,3 ml/ dl (o sangue arterial contém 12 ml de oxigênio por 100 ml de sangue, e o sangue jugular contém 6 ml de oxigênio por 100 ml de sangue)15. Quando a ECO2 for maior que 6, significa que há uma oferta insuficiente de sangue ou hipermetabolismo, de forma a ocorrer uma exagerada extração de oxigênio. Quando a ECO2 for menor que 6, pressupõe-se que haja excesso de oferta (hiperemia ou diminuição do metabolismo)15. Alguns autores consideram que existe isquemia quando a ECO2 for igual ou maior a 9ml/ dl e hiperemia quando for menor que 4ml/ dl12. Essa medida em crianças não faz parte da rotina das unidades de tratamento intensivo, pois são necessárias amostras concomitantes de sangue carotídeo e jugular. Discute-se que a canulação da veia jugular poderia inclusive diminuir o retorno venoso e aumentar a PIC13. Segundo Gayle et al20, a canulação do bulbo da veia jugular por inserção retrógrada é segura mesmo em recém nascidos com risco de infecção semelhante à inserção de outros cateteres. C) Monitorização da saturação de oxigênio jugular (S02J) Com a cateterização do bulbo da veia jugular, é possível fazer múltiplas coletas e controlar a saturação12. A S02J normal é superior a 50% e, dessaturações freqüentes estão relacionadas a um pior prognóstico12. 68 Volume 14 - Número 2 - Abril/Junho 2002 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva D ) Fluxo sangüíneo cerebral A medida do FSC é considerada a única maneira segura de verificar a presença da autoregulação cerebral 21. As melhores técnicas disponíveis no momento para avaliar o FSC são bastante invasivas, sendo difícil aplicá-las no paciente gravemente enfermo 4,5. A utilização do Xenônio 133 inalado 3,22 é uma das melhores técnicas para calcular o FSC mas não é ideal, pois o Xenônio apresenta efeitos anestésicos sobre o cérebro, além de aumentar o FSC 4. Esperamos que num futuro próximo existam técnicas mais simples e com menos paraefeitos para que possamos utilizar este parâmetro tão importante na rotina das unidades de terapia intensiva. INDICAÇÕES DE MONITORIZAÇÃO DA PIC A monitorização da PIC pode ser indicada em toda a criança com doença cerebral aguda e alterações significativas do nível de consciência e com potencial desenvolvimento de HIC 2. No entanto, a principal indicação de monitorização da PIC é no trauma craniano, excluído o hematoma cerebral8. No trauma o aumento da PIC pode ser causado pela hiperemia cerebral e /ou edema, ambos potencialmente tratáveis 1,15 . Atualmente indica-se a monitorização nos pacientes com Glasgow menor ou igual a oito, deterioração clínica e/ ou choque8. Tem sido questionada a validade da monitorização da PIC nas encefalopatias hipóxico-isquêmicas como no quase-afogamento e na parada cárdio-respiratória 23. Os autores que a defendem, referem que a monitorização da PIC colaboraria na definição do prognóstico das crianças pois encontraram 100% de mortalidade nos pacientes com PIC maior ou igual a 20 mm Hg24. Entretanto, o que parece claro nos acidentes hipóxico-isquêmicos é que o prognóstico está mais relacionado ao tempo de submersão25 ou parada cárdio-respiratória do que a monitorização e tratamento da PIC. A monitorização da PIC deve ser considerada nos casos de encefalite e meningite10. Mais de 80% dos pacientes com meningite e Glasgow menor ou igual a sete podem desenvolver HIC precocemente 26. Nas primeiras 6 horas parece haver um aumento do fluxo sangüíneo cerebral e, após este período, o aumento da PIC é por oclusão das granulações aracnóides, edema vasogênico e citotóxico e síndrome da secreção inapropriada de hormônio antidiurético 3,26. Goiten et al 23 concluiu que o tratamento precoce da HIC em lactentes com meningite pode prevenir subseqüente dano cerebral. Merino et al 27, defende a monitorização da PIC nos casos de encefalomielite aguda. Na síndrome de Reye é indicada monitorização da PIC quando a criança apresenta-se no estágio quatro ou cinco, mas não tem melhorado a sobrevida28. TRATAMENTO Medidas gerais: A) Posição: Manter a cabeça em posição neutra, elevada a trinta graus para melhorar o retorno venoso29. Quando houver necessidade de mobilização do paciente, manter a cabeça em alinhamento com a coluna 13 . Movimentos de rotação para a direita podem aumentar mais a PIC do que movimentos para a esquerda13. A posição prona deve ser evitada por aumentar a pressão intrabdominal e intratorácica com aumento da PIC 2. Volume 14 - Número 2 - Abril/Junho 2002 ARTIGO ORIGINAL B) Sedação/Analgesia: Devemos manter o paciente sem dor e agitação, evitando estímulos sempre que possível13. Antes da aspiração/ intubação, usar lidocaína 1 mg/ kg endovenoso pois evita o aumento da PIC12. As drogas comumente usadas são a morfina, midazolan e fentanyl1 e, algumas vezes, também é necessário o emprego de paralisia muscular com agentes derivados do curare13. A infusão do propofol deve ser limitada a 12 horas pelo risco de hipotensão2,12. C) Temperatura corporal: Manter o paciente normotérmico e evitar agressivamente a hipertermia, pois esta pode aumentar o metabolismo cerebral12,13. Já a hipotermia prolongada pode diminuir os leucócitos aumentando o risco de infecção, além de não melhorar a morbimortalidade em vários insultos neurológicos30. Ainda pode causar distúrbios na condução ventricular e na cascata da coagulação29. D) Evitar crises convulsivas: As crises convulsivas podem levar a hipoxemia e hipercarbia com aumento da PIC e do FSC 2. Pacientes curarizados podem não manifestar a crise, sendo recomendável a monitorização eletroencefalográfica 12. Estudos em adultos mostram eficácia no uso profilático da fenitoína na primeira semana pós trauma diminuindo o número das crises convulsivas15. Em crianças é indicado o uso de anticonvulsivantes se: crise convulsiva repetida, epilepsia prévia, evidência de contusão cortical severa ou evidência de laceração à cirurgia2. E) Monitorização hemodinâmica: Instalar cateter arterial para medida de PAM contínua e cateter central com medida de pressão ve- 69 ARTIGO ORIGINAL nosa central (PVC)11. Tratar agressivamente a hipotensão com uso de drogas vasoativas, inclusive noradrenalina, pois esta não aumenta o FSC21. Tolerar hipertensão arterial sistêmica (HAS) leve, pois esta pode ser compensatória para manter a PPC2. Nas situações de perda da autoregulação cerebral, como nos acidentes hipóxico-isquêmicos29,qualquer alteração de pressão pode ser diretamente transmitida aos vasos cerebrais, com maior risco de edema ou isquemia12. Nestes casos utiliza-se nitroprussiato se o paciente não estiver taquicárdico e beta-bloqueadores se o paciente estiver taquicárdico12. F) Manejo respiratório: Manter a pa02 entre 80 e 90 mm Hg15; evitando valores superiores a 200 mm Hg, que podem aumentar a produção de radicais livres e o risco de edema tardio principalmente nos acidentes hipóxico-isquêmicos 29 . Manter o hematócrito em torno de 35%2,13. Intubar o paciente se sinais de HIC, Glasgow menor ou igual a 8, presença de sofrimento respiratório ou hipoxemia refratária, 11,12. Manter a paC0 2 em torno de 35 mm Hg e não usar hiperventilação profilática12. Devemos tentar manter uma freqüência respiratória baixa, pois o tempo expiratório mais prolongado facilita o retorno venoso 15. A utilização de pressão expiratória final positiva (PEEP) não é contra-indicada, havendo relatos de elevação até 10 cm de H 2O sem alteração significativa da PIC12. G) Cuidados gerais: Iniciar alimentação do paciente precocemente, preferindo-se a via enteral 2. Se o paciente estiver recebendo barbitúricos, pode ser necessário o uso de nutrição parenteral em função do íleo adinâmico12. 70 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva A restrição da ração hídrica, é indicada no paciente com hiponatremia dilucional 11 . Além disso, devemos monitorizar eletrólitos e osmolaridade regularmente observando que a tendência atual é manter o paciente com o sódio mais elevado 9. A hiperglicemia deve ser evitada nas crianças12 mas, nos recém nascidos, devemos manter a glicemia acima de 90mg/dl e abaixo de 200mg/dl29. Manter controle rigoroso do débito urinário, principalmente na vigência de diuréticos, para evitar a desidratação11. Manejo específico 1) Drenagem liquórica: Recurso imediato para redução da PIC no paciente com cateter intraventricular11. Deve-se retirar alíquotas de 3 a 5 ml de líquor com reavaliação da PIC12. 2) Diuréticos osmóticos: • Manitol: Inicialmente causa expansão plasmática reduzindo o hematócrito e a viscosidade sangüínea, aumentando o fluxo sangüíneo e o aporte de oxigênio ao cérebro11,12. Em um segundo momento, aumenta a osmolaridade sérica, desidratando o parênquima cerebral11,12. Quando administrado em bolo, seu efeito na redução da PIC ocorre em 1 a 5 minutos, com o pico máximo em 20 a 60 minutos12. No controle da PIC utilizase a dose de 1g / kg que deve ser administrada em aproximadamente 20 minutos12,29. O manitol é dramaticamente efetivo revertendo sinais de herniação transtentorial 8. Na manutenção do tratamento, deve-se administrar 0,25 a 0,5 g / kg a cada 2 a 4 horas, conforme a PIC. Monitoriza-se a osmolaridade sérica que deve ser mantida em tor, no de 320 mOsm/L2 12,13. Se for usado por um período prolongado, o manitol pode causar aumento da PIC por atravessar a barreira hemato-encefálica9,12. Quando for retirado, as dosagens devem ser diminuídas gradativamente pelo risco de HIC rebote12. • Furosemide: Pode se usado na dose de 1 mg / kg até de 6 em 6 horas para diminuir a produção de líquor, principalmente se a PIC se mantiver elevada com o uso do manitol 1,11,12 . Não utilizá-lo se osmolaridade sérica maior que 320mOsml/L 12 . Alguns autores desconsideram a sua utilidade11. 3) Hiperventilação: A hiperventilação somente deve ser utilizada nos casos de herniação transtentorial ou PIC persistentemente elevada, refratária a outros recursos, pelo risco de isquemia cerebral 11,12. Além disso, reduzindo o PaCO 2 para menos de 30 mm Hg, pode-se causar a perda da autoregulação cerebral 12. Iniciar com o objetivo de manter a PaCO 2 entre 30-35 mm Hg progredindo para 25-30 mm Hg numa segunda etapa2,11,12. É importante evitar agressivamente PaCO 2 menor ou igual a 25 mm Hg 11,12 e, quando não há mais necessidade de hiperventilação, o retorno a normoventilação deve ser lento pelo risco de HIC rebote 11,12. 4) Corticosteróides: A dexametasona diminui o edema vasogênico associado a tumores e abscessos1, mas o seu uso é contra-indicado em outros casos de HIC como no TCE12. 5) Barbitúricos: Diminuem a PIC por intermédio da diminuição do metabolismo cerebral e conseqüente diminuição do FSC11,12. O fator limitante na terapia é a diminuição do tônus simpático que ocorre em até 50% dos pacientes mesmo com o uso adequado de Volume 14 - Número 2 - Abril/Junho 2002 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva expansores e dopamina11,12,21. O uso de barbitúricos deve ser reservado naquelas situações onde a PIC mantém-se elevada com o uso das medidas terapêuticas descritas acima11,12. • Pentobarbital: (não é disponível no Brasil) Iniciar com uma dose de ataque de 10mg/ kg em 30 minutos. Subseqüentemente, 5mg / kg/ hora em 3 horas. A dose de manutenção varia de 1 a 3mg / kg/ hora, dependendo do nível sérico (3-4mg/ dl) e do eletroencefalograma 1,11,12. O tratamento deve ser mantido por no mínimo 48 horas após o controle da PIC, com diminuição gradativa do pentobarbital 1,12 . Persistindo a PIC elevada com níveis séricos adequados ou ocorrendo hipotensão persistente, suspender a terapêutica 1,12. • Tiopental: Iniciar com uma dose de ataque de 5mg/ kg em 10 minutos12. Subseqüentemente manter infusão contínua de 1 a 5mg / kg/ hora por 24 horas, com doses de reforço de 2,5mg/ kg se necessário, monitorizando a PIC e o EEG12. Após 24 horas do controle da HIC, reduzir a infusão para 2,5mg/ kg/ hora. Os níveis séricos terapêuticos devem ser mantidos entre 6-8,5mg/ dl12. Manejo prático da HIC A melhora do prognóstico em alguns casos de HIC é devido ao uso mais racional das terapêuticas já conhecidas do que o surgimento de novos tipos de tratamento11. Existem 3 etapas de terapêutica: básica, avançada e intensiva11,12. A progressão de uma etapa para outra deve acontecer conforme a utilização ótima de cada medida. Além disso, faz-se uma reavaliação clínica, com repetição da tomografia de crânio quando necessário11. A)Terapêutica básica: -medidas gerais B)Terapêutica avançada: 1-Drenagem de líquor 2-Manitol 3-Hiperventilação moderada (PaCO2 entre 30-35 mm Hg) C)Terapêutica intensiva 1-Barbitúricos 2-Hiperventilação profunda (PaCO2 entre 25 e 30 mm Hg) Novas estratégias Como o tratamento de rotina nem sempre controla a HIC no trauma, novos estudos têm se voltado para o uso de soluções hipertônicas como o cloreto de sódio (NaCl 3%) que cotrolam a HIC e, ao mesmo tempo, mantêm o volume intravascular 9, 21. O mecanismo de ação dessas soluções hipertônicas seria a produção de um gradiente osmótico na barreira hematoencefálica intacta, reduzindo o volume cerebral 9. O objetivo é elevar o sódio até 160 mEq/ L e manter a osmolaridade em torno de 330mOsm/ L 21. Para não ocorrer edema cerebral de rebote, a estratégia seria evitar a queda da osmolaridade muito rapidamente 21 . Khanna et al 21 encontraram uma diminuição estatisticamente significante na necessidade de hiperventilação, uso de tiopental e manitol quando era administrada a solução hipertônica. O risco de desenvolvimento de mielinólise pontina, hemorragia cerebral e insuficiência renal aguda é baixo9,21,31. A administração do NaCl 3% deve ser em infusão contínua, com controle de sódio a cada 6 horas, respeitando-se um aumento máximo de sódio em torno de 15 mEq/ L/ dia. Usar a fórmula: (Na desejado – Na encontrado) × 0,6 × peso. Na retirada, diminuir no máximo 10 mEq/ L/ dia 21. Peterson et al 31 sugerem a infusão contínua de NaCl 3% variando de 0,1 a 1 ml/ Volume 14 - Número 2 - Abril/Junho 2002 ARTIGO ORIGINAL kg/ hora, dependendo da concentração de sódio e da ração hídrica desejada. É importante ressaltar que estes são estudos preliminares, mas em alguns centros o protocolo de uso de solução hipertônica no controle de HIC no trauma está sendo usado em casos isolados9. CONCLUSÃO O único meio confiável para excluirmos ou confirmarmos a presença da HIC é através da monitorização da pressão intracraniana. Os diversos tipos de tratamento disponíveis no momento têm efeitos colaterais importantes podendo inclusive piorar o prognóstico neurológico, por isso a importância do diagnóstico correto de HIC. O objetivo maior no tratamento da HIC é a sobrevivência do paciente com o mínimo grau de morbidade neurológica, e, para tanto, devemos tentar usar todos os métodos disponíveis no manejo desta entidade clínica. Apesar de todos os avanços tecnológicos na monitorização e tratamento da HIC, existem poucos trabalhos relacionando tratamento com melhora do prognóstico neurológico. Portanto, não podemos esquecer de conscientizar os pais dos nossos pacientes que a prevenção dos acidentes e das doenças são primordiais na manutenção da saúde das nossas crianças. RESUMO Os autores revisam os mecanismos fisiopatológicos da hipertensão intracraniana e as indicações de monitorização e tratamento em diversas situações clínicas. Unitermos: monitorização da pressão intracraniana, crianças, manejo da hipertensão intracraniana. 71 ARTIGO ORIGINAL REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Shapiro K. Increased intracranial pressure. In: Levin D, Morriss F. Pediatric Intensive Care. New York: Churchill Livingstone., 2nd ed. ,1997; 43-7. 2. Daré S. Hipertensão intracraniana. In: Matsumoto T, Carvalho W, Hirschheimer MR Terapia Intensiva Pediátrica. São Paulo: Atheneu., 2a ed., 1997; 435-448. 3. Shetty A, Dessele B, Craver R, et al. Fatal cerebral herniation after lumbar puncture in a patient with a normal computed tomography scan. Pediatrics 1999; 103: 1284-87. 4. 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Crit Care Med 1998; 26: 1265-1270. Volume 14 - Número 2 - Abril/Junho 2002 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva ARTIGO ORIGINAL Análise de uma população de doentes atendidos em unidade de terapia intensiva - estudo observacional de sete anos (1992 - 1999) A pr evalence survey of critically ill patients in an Adult Medical prevalence Intensive Car e Unit - an observational study fr om 1992 to 1999 Care from Sergio AR Paiva1; Olivia Matai2; Nicola O Resende2; Alvaro O Campana3 ABSTRACT Objective: The aim of this work was to assess length of stay, morbidity and mortality rate of patients of an intensive care unit (ICU) in a university hospital. Methods: Data were collected from the book of medical records of patients admitted to the ICU over a period of seven years, from 1992 to 1999. Results and Conclusions: Patients (968 men and 725 women) were alloted to three groups according to age: 12-20 y, 21-60 y and more than 60 y. The duration of ICU stay ranged from 2,5 to 5,2 days, according to the age range; the stay was longer (more than seven days) in around 17% of patients. The mortality rate was 29,7% for men and 29% for women; it increased with age, being greater in the older patients. In the older groups, acute myocardial infarction and acute respiratory failure were the most frequent diagnoses in both sexes; in men, the third most frequent clinical condition was upper gastrointestinal bleeding and in women, septic shock. In the younger group, the most frequent diagnoses were acute intoxication in males (mainly drugs) and diabetic ketoacidosis in females. The frequency of myocardial infarction was higher in men (19,5% against 13,5% in women). Clinical conditions more strongly associated with death were acute respiratory failure and septic shock. The mortality rate in the cases of acute myocardial infarction was significantly higher in women. In women, the mortality rate was also higher in upper gastrointestinal bleeding and in acute pulmonary edema; in men, it was higher in septic shock. Keywords: Adult intensive care unit, mortality rate, duration of ICU stay, frequency of diagnoses. Departamento de Clínica Médica, Faculdade de Medicina de Botucatu, Universidade Estadual Paulista - UNESP 1 Prof. Dr. da Disciplina de Clínica Médica Geral 2 Alunos de Medicina 3 Prof. Titular do Departamento de Clínica Médica Correspondência: Alvaro O Campana – Departamento de Clínica Médica – Faculdade de Medicina de Botucatu Rubião Júnior s/n, Botucatu, SP, Brasil – CEP 18618-000 – Fone (0XX )14 68222969, Fax (0XX )14 68222238 – Email [email protected] Volume 14 - Número 2 - Abril/Junho 2002 as últimas décadas, os progressos da cirurgia invasiva e dos procedimentos clínicos, diagnósticos e terapêuticos, acompanharamse da criação de unidades que contavam com equipe especializada de médicos, enfermeiros e outros profissionais, apoiada por equipamentos para monitorização e intervenções de emergência. Proliferaram, com o decorrer do tempo, as unidades de recuperação pós-operatória, de assistência respiratória, as relacionadas ao choque e ao trauma e, por fim, as unidades visando ao suporte cardiopulmonar de pacientes clínicos ou cirúrgicos graves. Estas unidades é que deram origem às modernas unidades de terapia intensiva (UTI). As unidades de terapia intensiva ocupam espaço apropriado e usualmente dispõem de equipamentos necessários para o desempenho de intervenções médicas de difícil execução em enfermarias normais. O atendimento, nesses centros, fica aos cuidados de equipe permanente de médicos e de pessoal da enfermagem, além de outros profissionais da saúde. A equipe deve ter preparo e inclinação para o atendimento do tipo de doente em questão e, obviamente, conhecimentos teóricos relacionados à área específica da terapia intensiva. A experiência prática, conseqüente ao acompanhamento dos doentes que passam pela unidade, é também fator importante do sucesso da UTI, no que concerne à recuperação dos seus pacientes. No Hospital das Clínicas de Botucatu, além da UTI Central, existem, atuantes, centros de terapia intensiva em diversas enfermarias. Um deles está agregado à enfermaria de Clínica Médica, implantado em 1992, devido ao aumento da freqüência de casos graves nessa enfermaria. Recentemente, considerou-se de importância proceder à análise dos casos atendidos pela Unidade desde sua implantação, visando fornecer N 73 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva ARTIGO ORIGINAL subsídios para o diagnóstico e a terapêutica e, adicionalmente, para a adaptação da UTI ao atendimento dos problemas médicos mais freqüentes e importantes. Levando em conta o referido, realizou-se este trabalho com o objetivo de analisar o perfil diagnóstico, os dados demográficos e algumas características da evolução dos pacientes internados no período de 1992 a 1999 na UTI da Enfermaria de Clínica Médica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina do Campus de Botucatu - UNESP. CASUÍSTICA E MÉTODOS O Hospital das Clínicas de Botucatu é um hospital geral, universitário, de nível terciário e dispõe de 400 leitos. A UTI agregada ao Departamento de Clínica Médica tem capacidade para atender quatro pacientes por vez. Sua clientela é constituída por pacientes internados na Enfermaria de Clínica Médica que apresentam, em algum momento da evolução, um evento clínico que exige atendimento intensivo, bem como por pacientes com afecções clínicas graves, provenientes do Pronto Socorro do Hospital das Clínicas, internados na Clínica Médica. Tais pacientes são encaminhados para a UTI; estabelecido o diagnóstico que motivou a admissão na UTI, este é aposto em livro de registro das internações. Neste livro, são anotados os dados pessoais dos doentes, sua evolução, outros diagnósticos e seu tempo de permanência. Os dados do presente trabalho foram obtidos a partir da consulta do livro de registro e relacionamse com as internações ocorridas no período de 09/03/ 1992 a 09/07/1999, no total de 1.693 pacientes. Todos os pacientes internados nesse período foram considerados. Para análise das informações, os doentes foram agrupados por sexo e faixa etária. Foram consideradas três faixas: de 12 a 20, 21 a 60 e de mais de 60 anos de idade. Foi analisado o tempo de permanência dos pacientes na UTI e calculada a distribuição dos doentes segundo o tempo de permanência, maior ou menor que sete dias, de acordo com o sexo e a faixa etária. Foram analisados os diagnósticos que motivaram a internação na UTI e a mortalidade associada aos diagnósticos mais freqüentes. Quanto à evolução, consideraram-se os pacientes que se mantiveram vivos (incluídos os que tiveram alta em boas condições, em condições regulares ou más e os transferidos para outras unidades) e os que faleceram. Foi aplicado o teste do quiquadrado ou o teste exato de Fischer nas comparações entre as proporções (1); na comparação entre mais de dois grupos 74 independentes, para determinar a diferença entre os grupos, foi utilizado o teste de Goodman (2,3). O nível de significância adotado foi de 5%. O pacote estatístico “MANAP”, desenvolvido pela Unidade de Processamento de Dados de Rubião Júnior - Campus de Botucatu, foi utilizado para tratamento dos resultados. Os dados foram digitados e trabalhados de acordo com o programa Excel. RESULTADOS No período de estudo, foram internados 1.693 pacientes, sendo 968 (57,2%) do sexo masculino e 725 (42,8%) do sexo feminino. Em cada uma das faixas etárias, não houve diferença significante entre sexos quanto ao número e porcentagem dos pacientes atendidos. Maior freqüência de atendimentos foi observada nas duas faixas etárias, de 21 a 60 anos e de mais de 60 anos (Tabela 1). Tabela 1 - Distribuição dos Pacientes segundo Sexo e Faixa Etária FAIXA ETÁRIA - ANOS SEXO n 12 - 20 21 - 60 > 60 Masculino 3,3a∀ 49,8a∃ 46,9a∃ 968 Feminino 5,7a∀ 46,1a∃ 48,2a∃ 725 a - indica diferença não significante entre sexos em cada uma das faixas etárias. ∀ e ∃ - indicam diferença significante entre faixas etárias em cada um dos sexos. O tempo médio de permanência dos pacientes na UTI variou, de acordo com as faixas etárias, de 2,5 a 5,2 dias; em valores absolutos, este tempo estendeuse de algumas horas a 93 dias. Dezessete por cento dos homens e 17,9% das mulheres permaneceram internados por mais de 7 dias. A Tabela 2 contém os dados e as estatísticas relacionadas com a permanência dos doentes em período maior ou menor que 7 dias. Verificou-se: 1) que o tempo de permanência não sofreu influência do sexo e da faixa etária; 2) que o acometimento, em cada sexo, não sofreu influência da faixa etária e do tempo de permanência; 3) que a faixa etária teve efeito significante sobre a distribuição dos casos, esta sendo predominante nas duas faixas de mais idade, nos dois sexos. Observouse, ainda, que menor número de casos manteve-se internado mais de 7 dias, tanto no sexo masculino (164 casos), como no sexo feminino (130 casos), sendo não significante (P = 0,588), nesse grupo, a Volume 14 - Número 2 - Abril/Junho 2002 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva ARTIGO ORIGINAL Tabela 2 - Distribuição Porcentual dos Pacientes Segundo o Tempo de Permanência na UTI, Levando em Consideração Sexo e Faixa Etária SEXO TEMPO DE PERMANÊNCIA FAIXA ETÁRIA - ANOS 12 - 20 21 - 60 aA• aA• n* > 60 Masculino < 7d 3,2 51,4 45,3aA• 801 Masculino > 7d 1,8aA• 42,7aA• 55,5aA• 164 Feminino < 7d 5,3aA• 46,2aA• 48,6aA• 587 Feminino > 7d 3,1aA• 47,8aA• 49,2aA• 130 a, b - em cada sexo e em cada faixa etária, letras diferentes indicam diferença significante entre tempos de permanência. A e B em cada tempo de permanência e em cada faixa etária, letras diferentes indicam diferença significante entre sexos. •, • em cada sexo e em cada tempo de permanência, letras diferentes indicam diferença significante entre cada faixa etária. * Não foram incluídos, nos grupos, os dados de alguns pacientes em razão de não se dispor, nesses casos, das datas da alta ou da transferência da UTI. diferença entre sexos. Na Tabela 3, estão registrados os dados concernentes à evolução dos pacientes, considerando, de um lado, os que faleceram na UTI e, de outro, os que tiveram alta, em bom estado geral ou não, além daqueles que foram transferidos para outras unidades do Hospital. Verificou-se: 1) as distribuições entre vivos e falecidos, na faixa mais jovem, não se mostraram diferentes nos sexos masculino e feminino; contudo, na faixa de 21 a 60 anos, a distribuição indicou maior sobrevivência no sexo masculino e, na faixa de mais de 60 anos, maior mortalidade em Tabela 3 - Distribuição Porcentual dos Pacientes de acordo com a Evolução: Pacientes que Faleceram e os que Permaneceram Vivos SEXO EVOLUÇÃO FAIXA ETÁRIA - ANOS 12 - 20 21 - 60 Masculino óbito aA• 1,4 aA• n > 60 38,9 aA• 59,7aA• 288 bA• bA• 680 Masculino vivo 4,1 54,4 41,5 Feminino óbito 4,3aA• 38,1aA• 57,6aA• 210 Feminino vivo 6,2aA• 49,4aA• 44,4bA• 514 a,b - em cada sexo e em cada faixa etária, letras diferentes indicam diferença significante entre porcentagem de óbitos e vivos. A,B - letras diferentes indicam diferenças entre sexos ao levarem-se em conta a evolução do caso (óbito ou sobrevida) e a faixa etária. •,• - letras diferentes indicam diferenças significantes entre cada faixa etária, levando-se em conta óbito/sobrevida e sexos. Volume 14 - Número 2 - Abril/Junho 2002 ambos os sexos; 2) a distribuição dos achados não trouxe evidências para a influência das outras variáveis consideradas em relação aos sexos masculino e feminino; 3) aumento da mortalidade acompanhando o aumento da faixa etária. Em conjunto, observou-se mortalidade de 29,7% no sexo masculino e de 29% no sexo feminino, diferença esta não significante (P = 0,780). Estão registradas, na Tabela 4, as freqüências das condições clínicas de maior prevalência na UTI no período examinado. No sexo masculino, nas duas faixas de maior idade, destacam-se, com freqüência decrescente, os diagnósticos: infarto agudo de miocárdio, insuficiência respiratória aguda, angina instável, hemorragia digestiva alta e choque séptico; no sexo feminino, também em ordem decrescente: infarto agudo do miocárdio, insuficiência respiratória aguda, choque séptico, angina instável e edema agudo de pulmão. A ordem das freqüências das condições clínicas estudadas mostrou-se semelhante, mas não igual, ao considerar os sexos. Assim, a hemorragia digestiva alta que, no sexo masculino, foi a quarta causa mais freqüente de internação, correspondeu à sétima causa nas mulheres. Na faixa de doentes dos 12 aos 20 anos, a causa mais freqüente de internação, no sexo masculino, foi a intoxicação exógena e, no feminino, a cetoacidose diabética. A seguir, estão em segundo lugar, nos homens, a insuficiência respiratória, a cetoacidose diabética e o choque séptico e, nas mulheres, a intoxicação exógena e a insuficiência respiratória. Nas Tabelas 5, 6, 7 e 8, estão registrados os dados e as estatísticas relacionadas com o diagnóstico mais freqüente como causa de internação na UTI (infarto agudo do miocárdio), as estatísticas relativas a diagnósticos em que a simples inspeção dos dados sugeriu existir diferença entre sexos ou faixas etárias (hemorragia digestiva alta e choque séptico), bem como os dados que mostram a freqüência elevada da intoxicação exógena entre os jovens de 12 a 20 anos, tanto no sexo masculino quanto no feminino. Verificou-se, na Tabela 5: 1) não ocorrer o diagnóstico de IAM nas faixas de 12 a 20 anos em ambos os sexos; 2) não haver diferença de porcentagens de pacientes com ou sem IAM, em ambos os sexos, nas faixas de 21 a 60 e mais de 60 anos; 3) não terem sido observadas diferenças significantes da freqüência de casos de IAM+ e IAM- entre os pacientes masculinos e femininos em todas as faixas etárias; 4) não terem sido observadas diferenças de freqüência de casos, nas faixas etárias de 21 a 60 e mais de 60 anos e nos dois sexos, quanto à presença ou ausência de IAM. 75 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva ARTIGO ORIGINAL Tabela 4 - Condições Clínicas de Maior Prevalência (Diagnósticos Primários) nos Sexos Masculino e Feminino, nas Três Faixas Etárias - Porcentagens Relacionadas ao Número de Casos em Cada Sexo DIAGNÓSTICOS SEXO MASCULINO – ANOS SEXO FEMININO – ANOS 12 - 20 21 - 60 > 60 12 - 20 21 - 60 > 60 Acidente Vascular Cerebral 0 0 1.8 0 0 0 Angina instável 0 6.2 4.2 0 6.9 6.3 Cetoacidose Diabética 9.4 1.9 0 22 3.6 2.3 Choque cardiogênico 0 0 1.8 0 2.4 0 Choque séptico 9.4 3.1 5.1 2.4 9.9 5.4 Coma hipoglicêmico 0 0.6 0 0 0 4.9 Edema Agudo de Pulmão 0 0 2.9 4.9 6 4.9 Embolia Pulmonar 0 1.5 3.5 0 0 0 Encefalopatia hepática 0 4.4 0.4 0 1.5 0 Endocardite Bacteriana 0 0.8 0 0 0 0 Hemorragia Digestiva Alta 6.3 5.8 2.6 0 3 5.4 Infarto agudo do miocárdio 0 20.1 20.3 0 12.3 16.3 0 2.5 3.3 0 0 2.3 Insuficiência Respiratória Aguda 9.4 10 15.4 14.6 9 12.3 Intoxicação exógena 15.6 2.1 0.2 14.6 1.5 0 Lupus Eritematoso 0 0 0 2.4 3.3 0 Pancreatite aguda 0 0.8 0 0 0 0 Pneumonia 6.3 0 5.5 0 0 3.7 32 482 454 41 334 350 Insuficiência Cardíaca Congestiva Número de pacientes de cada grupo Tabela 5 - Distribuição Percentual dos Pacientes de Acordo com Positividade ou Negatividade do Diagnóstico Primário de Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) SEXO DIAGNÓSTICO IAM FAIXA ETÁRIA ANOS 12 - 20 21 - 60 Masc Masc Fem Fem + + - 0aA? bA? 4,1 aA? 0 bA? 6,5 n > 60 51,3aA• 48,7aA• 49,4 aA• 41,8 aA• 46,7 aA• 189 46,5 aA• 779 58,2 aA• 98 46,7 aA• 627 + diagnóstico presente; - diagnóstico ausente; Masc = masculino, Fem = feminino. a,b em cada sexo e em cada faixa etária, letras diferentes indicam diferença significante entre porcentagem de pacientes com o diagnóstico de IAM+ ou -. A,B em cada grupo de pacientes com diagnóstico de IAM+ ou IAM-, e em cada faixa etária, letras diferentes indicam diferença significante entre os sexos. •,• em cada sexo e em cada grupo de pacientes com o diagnóstico de IAM+ ou IAM-, letras diferentes indicam diferença significante entre cada faixa etária. 76 Em conjunto, observou-se freqüência de IAM de 19,5% no sexo masculino, porcentagem significantemente maior (P = 0,001) que a encontrada no sexo feminino (13,5%). Verifica-se na Tabela 6 que, no sexo masculino, nas três faixas etárias e, no sexo feminino, nas faixas de 21 a 60 e de mais de 60 anos, a proporção de doentes não sujeitos à hemorragia digestiva alta não foi diferente da proporção que a apresentou. Não houve casos de HDA no grupo do sexo feminino de 12 a 20 anos de idade. Os resultados mostraram, também, proporção maior de mulheres sofrendo de HDA, em relação ao sexo masculino, na faixa de mais de 60 anos. Quanto à idade, a proporção de indivíduos afetados pla HDA aumentou com a idade, mais claramente no sexo feminino. Registraram-se frequências de HDA de 4,3% no sexo masculino e de 4,0% no sexo feminino, diferença esta não significante (P = 0,825). Quanto aos dados relativos ao choque séptico, verificou-se (Tabela 7): 1) não haver diferença Volume 14 - Número 2 - Abril/Junho 2002 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva ARTIGO ORIGINAL Tabela 6 - Distribuição Percentual dos Pacientes de acordo com Positividade ou Negatividade do Diagnóstico Primário de Hemorragia Digestiva Alta (HDA) SEXO DIAGNÓSTICO HDA FAIXA ETÁRIA ANOS 12 - 20 21 - 60 Masc Masc Fem Fem + + - aA• 4,8 aA• 3,2 0 aA• bA• 5,9 66,7 aA• 49,0 aA• 34,5 aA• 46,6 aA• n Tabela 8 - Distribuição Percentual de Pacientes de acordo com Positividade ou Negatividade do Diagnóstico Primário de Intoxicação Exógena (IE) SEXO DIAGNÓSTICO IE > 60 28,6 aA• 47,7 aA• 65,5 aB• 47,5 aA• 42 926 29 696 Masc + Masc Fem + Fem - FAIXA ETÁRIA ANOS n 12 - 20 21 - 60 > 60 aA•• 62,5 aA• 6,3aA• 49,6 aA• 45,5 aA• 46,1 aA• 31,3 aA• 2,8 54,5 aA• aA• 4,9 47,6 0 16 bA• 952 aA• bA• 49 11 714 + diagnóstico presente; - diagnóstico ausente; Masc = masculino, Fem = feminino. a,b letras diferentes indicam diferença significante entre porcentagem de pacientes com diagnóstico + e -. A,B letras diferentes indicam diferença entre sexos. •,• letras diferentes indicam diferença entre faixas etárias (ver rodapé da Tabela 5). + diagnóstico presente; - diagnóstico ausente; Masc = masculino, Fem = feminino. a,b letras diferentes indicam diferença significante entre porcentagem de pacientes com diagnóstico + e -. A,B letras diferentes indicam diferença entre sexos. •,• letras diferentes indicam diferença entre faixas etárias (ver rodapé da Tabela 5). Tabela 7 - Distribuição Percentual de Pacientes de acordo com Positividade ou Negatividade do Diagnóstico Primário de Choque Séptico (CS) e não comprometidos evidenciadas nos doentes do sexo feminino de 12 a 20 anos e em mulheres e homens de mais de 60 anos; neste último grupo, houve predominância do diagnóstico negativo em homens e, em mulheres, não ocorreu nenhum caso de intoxicação exógena; 2) não foram detectadas diferenças quanto à distribuição entre sexos; 3) diferenças de acordo com a idade, sendo a prevalência muito baixa nos homens de mais de 60 anos e não tendo sido encontrado nenhum caso entre as mulheres dessa idade. Registraram-se freqüências de intoxicação exógena de 1,7% no sexo masculino e de SEXO DIAGNÓSTICO CS FAIXA ETÁRIA ANOS 12 - 20 21 - 60 Masc + aA• 7,3 aA• n > 60 36,6 aA• 56,1aA• aA• aA• 46,5 41 Masc - 3,1 50,4 927 Fem + 1,9aA• 62,3aA• 35,8aA• 53 Fem - 6,0aA• 44,8aA• 49,2aA• 672 + diagnóstico presente; - diagnóstico ausente; Masc = masculino, Fem = feminino. a,b letras diferentes indicam diferença significante entre porcentagem de pacientes com diagnóstico + e -. A,B letras diferentes indicam diferença entre sexos. •,• letras diferentes indicam diferença entre faixas etárias (ver rodapé da Tabela 5). significante da freqüência entre os afetados e os não afetados pelo choque séptico em todas as faixas etárias, tanto no sexo masculino quanto no feminino; 2) não haver diferença das freqüências ao comparar sexos, considerando afetados ou não afetados pelo choque, em cada faixa etária; 3) em ambos os sexos, o choque séptico foi mais freqüente nas duas faixas etárias de maior idade. Registraram-se freqüências de choque séptico de 4,2% no sexo masculino e de 7,3% feminino, diferença esta estatisticamente significante (P = 0,008). Quanto à intoxicação exógena, verificou-se (Tabela 8): 1) diferenças entre grupos comprometidos Volume 14 - Número 2 - Abril/Junho 2002 Tabela 9 - Evolução para Óbito Considerando os Principais Diagnósticos dos Pacientes Admitidos na UTI - Idade: 21-60 e > 60 Anos DIAGNÓSTICO SEXO SEXO MASCULINO FEMININO VALOR DE P % (Nº DE % (Nº DE CASOS) CASOS) Infarto Agudo do Miocárdio 7,4 (189) 16,3 (98) 0.032 Insuficiência Respiratória Aguda 43,0 (121) 38,0 (79) 0.578 Hemorragia Digestiva Alta 19,0 (42) 44,8 (29) 0.038 Choque Séptico 73,2 (41) 47,2 (53) 0.02 Edema Agudo de Pulmão 0 (13) 28,2 (39) 1 77 ARTIGO ORIGINAL 1,5% no sexo feminino; a diferença de porcentagem entre os sexos não foi significante (P = 0,981). Procurou-se, também, verificar a porcentagem dos afetados que evoluiu para óbito em cada uma das principais causas de internação na UTI. Esses dados estão registrados na Tabela 9; os dados de cada sexo foram considerados separadamente. A porcentagem de mortalidade foi alta nos casos de insuficiência respiratória aguda, não tendo havido diferença entre homens e mulheres. A letalidade foi também alta nos casos de choque séptico; neste caso, a mortalidade, entre os homens, foi significantemente maior. Verificou-se que porcentagem significantemente maior de mulheres com infarto do miocárdio evoluiu para óbito, o mesmo ocorrendo nos casos de hemorragia digestiva alta. Nos casos de edema agudo de pulmão, o óbito ocorreu apenas entre as mulheres. Quanto aos indivíduos de 12 a 20 anos de idade, evoluíram para óbito 1 de 3 pacientes do sexo masculino com choque séptico e, no caso do sexo feminino, 2 de 6 pacientes com intoxicação exógena e 3 de 6, com insuficiência respiratória aguda. DISCUSSÃO Os resultados do presente trabalho mostram que a clientela atendida pela UTI da Clínica Médica incluiu doentes desde os 12 anos até a faixa de mais de 60 anos (Tabela 1). O grupo de doentes de 12 a 20 anos foi o menos numeroso, representando perto de 5% do total dos casos; por outro lado, 40% dos doentes atendidos tinham mais que 60 anos de idade. Porcentagens elevadas de atendimento de pacientes com idade acima de 50 anos têm sido relatadas em publicações relacionadas com UTI. 78 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva Hernández et al. (4) verificaram, em 513 pacientes de hospital geral, em Cuba, que o grupo etário mais afetado era o de 60 a 74 anos. Medeiros et al (5), por sua vez, mencionam que 33,7% de 1320 internações em UTI geral de hospital, no Rio de Janeiro, tinham mais de 60 anos e Souza et al (6) referem média de idade acima de 50 anos para um grupo de 316 pacientes atendidos em UTI, em período de seis meses. É habitual que o tempo de internação em UTI seja curto, sendo citadas, na literatura, permanências de duração de 1 dia e de 2 a 4 dias; contudo, há internações de 5 a 10 dias (6). São referidas médias ou medianas de permanência de 3 (com intervalo interquartil de 1,8 e 5 dias) (7) de 3,8 (5,8), de 3,13 e de 5,74 dias (9). A permanência na UTI depende de vários fatores, como, por exemplo, a natureza da doença básica e as exigências terapêuticas decorrentes das complicações; assim, em doentes submetidos à cirurgia cardíaca, Kolh et al. (10) relataram um período médio de permanência de 16,8 dias, e, em pancreatite aguda grave, foi referida por Appelros et al (11) permanência média de 18,9 dias, numa faixa de 1 a 320 dias. Nossa média de permanência variou de 2,5 a 5,2 dias; em nosso trabalho, separamos os casos de acordo com sua permanência nos leitos da UTI; verificamos que 17% dos homens e 17,9% das mulheres permaneceram internados por mais de sete dias, os restantes pacientes tendo sido atendidos por períodos menores que sete dias (Tabela 2). Dados da literatura apontam ligeiro predomínio do sexo masculino entre os pacientes de UTI (5,6). Hernández et al. (4) referem, também, o sexo masculino como o mais afetado, desde que não sejam consideradas a cetoacidose diabética e a asma brônquica. Nossa casuística incluiu, de fato, maior número de homens (968) que mulheres (724) (Tabela 1). Contudo, a análise estatística não mostrou existir diferença significante entre sexos, em cada uma das três faixas etárias. A mortalidade, em nosso trabalho foi 29,7% no sexo masculino e 29% no sexo feminino. Em alguns estudos, os valores referidos foram menores que os de nossa casuística. Assim, em unidade de cuidados intensivos incluindo casos clínicos, pacientes em pós-operatório e após traumatismo, Hernández et al. referiram mortalidade de 16,9% e, em unidade de terapia semiintensiva de pós-operatório (4), Rocco & Japiassú observaram taxa de mortalidade de 23% (9). Em unidade de terapia intensiva para atendimento de afecções clínicas e de natureza cirúrgica, um estudo prospectivo de 93 pacientes mostrou taxa de mortalidade de 20,4% (7). Entretanto, porcentagens de mortalidade semelhantes à nossa foram observadas no Centro de Tratamento Intensivo do Hopital Universitário Clementino Fraga Filho (25,8%, segundo Rocco & Japiassú (9)) e em UTI Geral para atendimento de pacientes predominantemente em pós-operatório (27,65%, de acordo com Medeiros et al. (5)). Gut et al. referiram mortalidade de 26,4% em 576 doentes admitidos na UTI Central de Adultos do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu, no período de 1994 a 1997 (12); essa unidade atende doentes provenientes do Pronto Socorro, do Centro Cirúrgico e das enfermarias cirúrgicas. Em nossa casuística, a morta- Volume 14 - Número 2 - Abril/Junho 2002 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva lidade foi menor na faixa mais jovem dos pacientes, aumentou com a idade e foi maior na faixa de mais de 60 anos, onde, em ambos os sexos, a freqüência de óbitos foi maior que a dos que permaneceram vivos (Tabela 3). O infarto agudo do miocárdio constituiu a causa principal de internação na UTI, com exceção do grupo etário jovem, no qual este diagnóstico não foi registrado (Tabelas 4 e 5). Ao considerar cada faixa etária, não houve diferença da freqüência de infarto entre sexos (Tabela 5); contudo, globalmente, a freqüência foi maior no sexo masculino (19,5% no sexo masculino e 13,5% no sexo feminino, P = 0,001). Diagnósticos mais freqüentes, em nossa casuística, além do infarto agudo do miocárdio, foram, acima dos 21 anos de idade, a insuficiência respiratória aguda, a angina instável, o choque séptico e a hemorragia digestiva alta (Tabelas 4, 6 e 7) e, na faixa de 12 a 20 anos, a cetoacidose diabética, a intoxicação exógena e a insuficiência respiratória aguda (Tabelas 4 e 8). Na casuística, destaca-se a hemorragia digestiva alta, ausente apenas na faixa mais jovem, no sexo feminino (Tabelas 4 e 6). A cetoacidose foi diagnosticada, em mulheres, em todas as faixas etárias e somente nos homens não o foi na faixa de mais de 60 anos de idade (Tabela 4). Chama, ainda, a atenção a porcentagem alta de casos de intoxicação exógena, principalmente associada a drogas, na faixa etária de 12 a 20 anos de idade, tanto no sexo masculino, como no feminino. Entretanto, o número de casos de intoxicação diminuiu na faixa acima de 60 anos, não tendo sido registrado nenhum caso entre as mulheres dessa idade (Tabelas 4 e 8). O infarto agudo do miocárdio foi também apontado por Hernández et al. como causa principal da admissão em unidade de cuidados intensivos; em seqüência, são citadas a intoxicação exógena aguda, a angina aguda instável, a cetoacidose diabética e o pós-operatório de grandes cirurgias (4). A presença desses diagnósticos, na lista de Hernández et al., mostra pontos de contacto de sua casuística com o grupo estudado em Botucatu. Deve-se considerar a eventualidade da existência de alguma discrepância entre os diagnósticos de admissão e os estabelecidos de acordo com critérios mais apurados. Entretanto, este aspecto já tem sido mencionado na literatura (13,14,15). De fato, em nosso meio, a comparação de diagnósticos clínicos com os fornecidos pela necrópsia, mostrou correspondência de diagnósticos em 67% dos casos (12). Desta maneira, deve-se contar com eventualidade da existência de algum tipo de erro diagnóstico no presente estudo. Na Tabela 9, foi apresentada a evolução para óbito, considerando os principais diagnósticos dos pacientes admitidos na UTI. A insuficiência respiratória aguda e o choque séptico foram as condições clínicas em que se registraram as mais altas porcentagens de evolução dos casos para óbito. Quanto ao infarto agudo do miocárdio, a mortalidade, no caso de homens, foi de 7,4% e, de mulheres, 16,3%, diferença estatisticamente significante. Valores de mortalidade mais altos foram observados na publicação de Hernández et al (49%) (4), referente a doentes acompanhados em unidade de terapia intensiva, e de Zornoff et al. (22%) (16), relativa a pacientes admitidos em Centro Volume 14 - Número 2 - Abril/Junho 2002 ARTIGO ORIGINAL de Terapia Intensiva do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu e acompanhados durante 30 dias. Entretanto, nossos dados são bem próximos daqueles referidos por Pimenta et al. em estudo envolvendo 600 pacientes com diagnóstico de infarto agudo de miocárdio, atendidos em hospital privado de atendimento emergencial primário e em hospital universitário terciário, na cidade do Rio de Janeiro (17). Na casuística de Pimenta et al., a mortalidade no sexo masculino foi de 9,9% e, no sexo feminino, 23%, sendo esses valores significantemente diferentes. Nossos dados indicam, também, existir uma diferença entre homens e mulheres no que concerne à evolução para óbito em casos de hemorragia digestiva alta, edema agudo de pulmão e choque séptico. No caso das duas primeiras condições, o grupo mais afetado foi o das mulheres e, na última, os homens. Agradecimentos: Aos membros da Disciplina de Clínica Médica Geral, ao Prof. Dr Carlos Roberto Padovani e a Sra Ana Maria Mengue pela colaboração prestada. RESUMO O objetivo deste trabalho foi analisar o perfil diagnóstico, os dados demográficos e algumas características da evolução de pacientes internados em unidade de terapia intensiva, no período de 1992 a 1999. Casuística e Métodos: Os dados foram obtidos a partir da consulta do livro de registro clínico da unidade; os doentes foram agrupados por sexo e faixa etária; foram consideradas três faixas: de 12 a 20, de 21 a 60 e de mais de 60 anos de idade. Resultados e Conclusões: A 79 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva ARTIGO ORIGINAL casuística incluiu 968 pacientes masculinos e 725, femininos; 46,9% dos homens e 48,2% das mulheres tinham mais de 60 anos de idade. 17% dos homens e 17,9% das mulheres permaneceram internados por mais de sete dias. A mortalidade foi de 29,7% nos homens e de 29%, nas mulheres; houve aumento da mortalidade, acompanhando o aumento da faixa etária: a freqüência de óbitos foi maior na faixa de mais de 60 anos, em ambos os sexos. Os diagnósticos mais freqüentes, acima dos 21 anos, foram o infarto agudo do miocárdio e a insuficiência respiratória aguda. Na faixa etária mais jovem, os diagnósticos mais freqüentes foram a intoxicação exógena (homens) e a cetoacidose diabética (mulheres). O infarto agudo do miocárdio foi o diagnóstico mais freqüente nos pacientes adultos, nos dois sexos. A freqüência de infarto foi significantemente maior nos homens, entretanto, a freqüência de mortalidade foi maior nas mulheres. A insuficiência respiratória aguda e o choque séptico foram as condições que apresentaram mais altas porcentagens de evolução para óbito. Palavras chave: UTI, taxa de mortalidade, permanência, freqüência de diagnósticos 80 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Glantz SA. Primer of biostatistics. 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