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BENTO XVI, ANGELUS, DOMINGO, 7 DE AGOSTO “Coragem, sou eu. Não tenhais medo” GEORGES COTTIER. Os Padres do primeiro milênio, o Concílio Vaticano II e a luz refletida da Igreja ANO XXIX - N.7/8 - 2011 R$ 15,00 - € 5 na Igreja e no mundo www.30giorni.it MENSILE SPED. IN ABB. POST. Tar. Economy Taxe Percue Tassa Riscossa Roma. ED. TRENTA GIORNI SOC. COOP. A R. L. ISSN 1827-627X In caso di mancato recapito rinviare a Uff. Poste Roma Romanina per la restituzione al mittente previo addebito. If undelivered please return to sender, postage prepaid, via Romanina post office, Roma, Italy. En cas de non distribution, renvoyer pour restitution à lʼexpéditeur, en port dû, à: Ufficio Poste Roma Romanina, Italie nella Chiesa e nel mondo Diretor: Giulio Andreotti ano XXIX N. Sumário 7 / 8 ano 2011 Na capa: Jesus salva Pedro das águas, mosaico da Catedral de Monreale, Palermo EDITORIAL A Democracia Cristã e o fascínio do nome cristão 4 — por Giulio Andreotti CAPA ANGELUS “Unicamente com as tuas forças, não consegues p. 52 São Carlos Borromeu O olhar dirigido a São Carlos. O discurso do arcebispo emérito de Milão no Meeting de Rímini 3OGIORNI nella Chiesa e nel mondo Diretor Giulio Andreotti levantar-te. Segura na mão d'Aquele que desce até ti” Bento XVI, Palácio Apostólico de Castel Gandolfo, Domingo, 7 de agosto de 2011 42 NESTE NÚMERO ECCLESIAM SUAM A percepção da Igreja como “luz refletida” que une os Padres do primeiro milênio e o Concílio Vaticano II REDAÇÃO Via Vincenzo Manzini, 45 00173 Roma Tel.+39 06 72.64.041 Fax +39 06 72.63.33.95 Internet: www.30giorni.it E- mail: [email protected] Vice-Diretores Roberto Rotondo - [email protected] Giovanni Cubeddu - [email protected] Secretaria de redação [email protected] 3OGIORNI nella Chiesa e nel mondo é uma publicação mensal registrada junto ao Tribunal de Roma na data 11/11/1993 n. 501. A publicação beneficia-se de subsídios públicos diretos de acordo com a lei de 7 de agosto de 1990, n. 250 Redação Alessandra Francioni - [email protected] Davide Malacaria - [email protected] Paolo Mattei - [email protected] Massimo Quattrucci [email protected] Gianni Valente - [email protected] SOCIEDADE EDITORA Trenta Giorni soc. coop. a r. l. Sede legale: Via Vincenzo Manzini, 45 00173 Roma Gráfica Marco Pigliapoco - [email protected] Vincenzo Scicolone - [email protected] Marco Viola - [email protected] Conselho de Administração Giampaolo Frezza (presidente), Massimo Quattrucci (vice-presidente), Giovanni Cubeddu, Paolo Mattei, Roberto Rotondo, Michele Sancioni, Gianni Valente Imagens Paolo Galosi - [email protected] Colaboradores Pierluca Azzaro, Françoise-Marie Babinet, Marie-Ange Beaugrand, Maurizio Benzi, Lorenzo Bianchi, Massimo Borghesi, Lucio Brunelli, Rodolfo Caporale, Pina Baglioni, Lorenzo Cappelletti, Gianni Cardinale, Stefania Falasca, Giuseppe Frangi, Silvia Kritzenberger, Walter Montini, Jane Nogara, Stefano M. Paci, Felix Palacios, Tommaso Ricci, Giovanni Ricciardi Diretor responsável Roberto Rotondo Tipografia Arti Grafiche La Moderna Via di Tor Cervara, 171 - Roma ESCRITÓRIO PARA ASSINATURA E DIFUSÃO Via Vincenzo Manzini, 45 - 00173 Roma Tel. +39 06 72.64.041 Fax +39 06 72.63.33.95 E-mail: [email protected] De segunda a sexta-feira das 9h às 18h e-mail: [email protected] Colaboraram neste número Cardeal Georges Cottier, Cardeal Dionigi Tettamanzi Este número foi concluído na redação dia 4 de setembro de 2011 Escritório Legal Davide Ramazzotti - [email protected] Impressão concluída no mês de outubro de 2011 CRÉDITOS FOTOGRÁFICOS: Enzo LoVerso: Capa, pp.43,44-45; Giorgio Deganello Editore: pp.6-7,8,10-11,18,19,20-21, 22, 23,24,25,26,27,28,29,32,33; Foto Scala, Florença: p.9; Archivi Alinari, Florença: pp.14,17; Getty Images/De Agostini/G.Dagli Orti: p.36; Romano Siciliani: pp.46,49; Associated Press/LaPresse: pp.49,50,51; LaPresse: p.51; Assessoria de imprensa do Meeting Rimini: p.52. — pelo cardeal Georges Cottier, O.P. 36 IGREJA São Carlos Borromeu. A casa construída sobre a rocha — pelo cardeal Dionigi Tettamanzi 52 AUGUSTO DEL NOCE A modernidade não é o “inimigo” Entrevista com Massimo Borghesi — por G. Valente 60 ARTE Rembrandt comovido pelo rosto de Jesus 64 — por G. Frangi SEÇÕES CARTAS DOS MOSTEIROS 6 LEITURA ESPIRITUAL 10 CARTAS DAS MISSÕES 30 CORREIO DO DIRETOR 35 30DIAS NA IGREJA E NO MUNDO 42 30DIAS Nº 7/8 - 2011 3 Editorial A Democracia Cristã e o fascínio do nome cristão por Giulio Andreotti A Democracia Cristã representou para mim – mas acredito que também para muitos outros que ali militaram – o convite constante a considerar não ocasional o que acontece dia após dia, como se fossem muitos fatos desconectados entre si; mas, ao contrário, a considerar tudo como correlacionado, como através de uma teia de aranha que permite colher o sentido profundo das coisas que acontecem e que passam. Neste livro, uma sintética releitura de alguns momentos importantes da história democrata-cristã escrita por Giovanni Di Capua e Paolo Messa, encontrei citado também o meu primeiro encontro com De Gasperi. Várias vezes tive a oportunidade de contá-lo: eu nunca tinha visto De Gasperi e não sabia quem era ele. Eu não provinha de uma família que se dedicava à política. Ao invés, fui notado por De Gasperi, por ser presidente da Federação dos Católicos Universitários. Um dia eu estava na Biblioteca Vaticana revirando os documentos da Marinha Pontifícia para escrever um ensaio, quando um desconhecido dirigiu-se a mim perguntando se eu não tinha nada melhor para fazer, para depois retirar-se com uma certa frieza. Eu não sabia que aquele senhor era De Gasperi, mas o teria conhecido melhor alguns dias depois, quando Giuseppe Spataro disse-me: “Venha, que De Gasperi quer O editorial deste número é o prefácio do nosso diretor ao livro de Giovanni Di Capua e Paolo Messa, DC. Il partito che fece l'Italia, [Democracia Cristã. O partido que fez a Itália] ed. Marsilio, Veneza, 2011, 292 pp. 4 30DIAS Nº 7/8 - 2011 Mesmo havendo essa preocupação de defesa contra o comunismo, o estímulo era de caráter positivo: era o fascínio que o nome cristão conseguia causar em tudo o que podia ser o desenrolar-se do dia a dia da vida de cada um de nós encontrar você”. Eu seria exagerado se dissesse que então já imaginava o que aconteceria depois daquele encontro, mas para nós jovens, ao nosso redor, tudo era novo e havia um fascínio difícil de explicar na motivação, mas que estava bem presente no nosso espírito. Os primeiros anos do pós-guerra foram intensos, e é limitante dizer que o único objetivo e o elemento agregador da Democracia Cristã era colocar um freio ao perigo comunista. Mesmo havendo essa preocupação de defesa contra o comunismo, o estímulo era de caráter positivo: era o fascínio que o nome cristão conseguia causar em tudo o que podia ser o desenrolar-se do dia a dia da vida de cada um de nós. Uma lição que emerge da história da Democracia Cristã, e que pode valer ainda hoje, é que sem um ponto de referência que esteja além do ocasional, o contingente, é quase impossível criar um novo sujeito político. O itinerário para a criação de um novo movimento político não pode ser inicialmente organizativo, tanto que os pais fundadores democratas-cristãos partiram À esquerda, Andreotti com monsenhor Giovanni de ideias, do Código de Camaldoli. Se falta a base moral, diria também espiritual, é difícil depois ser capaz de atrair as pessoas e em particular os jovens. Nos tempos da Democracia Cristã, tivemos muitas crises, mas hoje há menos impulso de caráter teórico e cultural, e maior motivação material. Saber olhar para o alto era um costume que talvez ao longo do caminho tenhamos perdido. No livro de Di Capua e Messa aparece também o problema das correntes internas da Democracia Cristã. Estas também podiam ser um estímulo espiritual e cultural (algumas reformas importantes como a agrária e a lei para favorecer o Sul da Itália devem-se a estas correntes), mas dolorosamente podiam ser motivo de dramáticas divisões, colocando uns contra os outros. De Gasperi não as queria porque, ao invés de ativar uma competição positiva, podiam ativar uma concorrência deletéria, em um espírito “comercial” que é a última coisa que serve neste âmbito. Apesar da longa militância nunca me senti um estranho na Democracia Cristã; era atraído sentimentalmente, além de racionalmente, e jamais pensei que o meu caminho pudesse ser um outro. Havia sempre um estímulo para ir adiante sem se tornar frágil por olhar demais para trás. Ainda hoje acredito que a orientação que deve prevalecer seja a de olhar sempre adiante, ou melhor, sempre alto. Este “olhar alto” permite-me fazer uma nota sobre um aspecto que é tratado no livro: a chave para entender a relação que houve entre a Democracia Cristã e a Igreja está nas pessoas. É preciso considerar a grandeza de alguns eclesiásticos com os quais crescemos e caminhamos por algum tempo. Dos hábitos que tinham, Montini era um exemplo disso, de saber olhar os problemas não apenas no seu âmbito material, contingente. Sabiam olhar acima de nós e justamente por isso estavam um passo adiante, sabiam olhar alto. Concluo: repercorrer a história da Democracia Cristã é muito oportuno, para meditar e não correr o risco de dar hoje como essencial aquilo que é absolutamente marginal e vice-versa. Os tempos que passam trazem sempre novidades, porém jamais se deve considerar que se está no início da criação. Há momentos em que meditar serve para não esquecer aquilo que nos trouxe até aqui. q Battista Montini na igreja de Santa Maria dos Anjos, Roma, a 5 de outubro de 1947 Abaixo, Alcide De Gasperi com Giulio Andreotti É preciso considerar a grandeza de alguns eclesiásticos com os quais crescemos e caminhamos por algum tempo. Dos hábitos que tinham, Montini era um exemplo disso, de saber olhar os problemas não apenas no seu âmbito material, contingente. Sabiam olhar acima de nós e justamente por isso estavam um passo adiante, sabiam olhar alto 30DIAS Nº 7/8 - 2011 5 Cartas dos mosteiros Cartas dos mosteiros BENEDITINAS DA ADORAÇÃO PERPÉTUA BENEDITINAS DO MOSTEIRO SÃO DO SANTÍSSIMO SACRAMENTO JOÃO BATISTA Piedimonte Matese, Caserta Roma Consideramos 30Giorni altamente formadora Piedimonte Matese, 5 de julho de 2011 Prezado senador, escrevemos mais uma vez ao senhor para comunicar-lhe nossos mais fervorosos agradecimentos pelo envio da revista 30Giorni, que consideramos altamente formadora do ponto de vista cultural e espiritual. Temos particular apreço pelos artigos relativos à patrística, ao magistério e à palavra do Santo Padre. Nós lhe agradecemos pela generosidade com que trata tantos mosteiros do mundo todo, aos quais permite uma atualização contínua não limitada às questões do momento, garantindo, como dizíamos, a “formação permanente” que deveria caracterizar a vida de cada um de nós, consagrados. Que o Senhor torne fecunda a obra de apostolado realizada por intermédio da revista e seu serviço à verdade, tão difícil nestes tempos de confusão e de triunfo da mentira. Unimos à nossa manifestação de gratidão a promessa de oração comunitária por suas intenções e pelas de seus colaboradores. Com estima, a prioresa madre Saveria Marra e comunidade Convite à oração A redação de 30Giorni convida a todos, em particular as pessoas consagradas dos mosteiros de clausura, a rezarem por padre Giacomo Tantardini. Há alguns meses ele vem-se tratando de um câncer de pulmão. Que o Senhor conceda pedir com confiança o milagre da cura. Aos sacerdotes que apreciam e querem bem a 30Giorni pedimos para que celebrem a santa missa segundo esta intenção. Aos pais pedimos a caridade de fazerem os seus filhos rezarem. 6 30DIAS Nº 7/8 - 2011 Obrigadas pelo CD com os cantos gregorianos Roma, 5 de julho de 2011 Estimado senador Giulio Andreotti, parece que receber a correspondência na Itália está-se tornando um luxo! Acolhemos com gratidão em nossa comunidade a sua revista, formativa e informativa. As outras irmãs do mosteiro, sobretudo as mais jovens, a esperam e, quando demora, por causa dos extravios postais, perguntam: “E a 30Giorni? Não vai chegar?”. Depois lá aparece ela numa pilha de jornais e revistas de uma semana inteira! O número 4/5 trazia um CD com cantos gregorianos. Obrigada! O gregoriano realmente desafia o tempo. É considerado a oração da Igreja por excelência, como o livro dos Salmos. Quando cantamos, essas melodias sacras fazem pensar no perfume do incenso que sobe até Anunciação: esta imagem e todas as que ilustram as páginas das Cartas e da Leitura espiritual foram extraídas do ciclo de afrescos do século XIV do Batistério de Pádua Cartas dos mosteiros Cartas dos mosteiros Deus: “Dirigatur, Domine, oratio mea, sicut incensum in conspectu tuo”. Na oração litúrgica, procuramos mantê-lo “in auge”, apesar de nos termos tornado um pequeno rebanho, mas orante e fiel por graça de Deus. Expressamos novamente a nossa gratidão. Deus lhes tome como mérito o que conseguem realizar para glória e honra de toda a Igreja. Em comunhão de oração e de fé, madre Ildefonsa Paluzzi, O.S.B., e irmãs da comunidade BENEDITINAS DA ABADIA NOTRE DAME DE FIDÉLITÉ Jouques, França Natividade Les chants de la Tradition para os nossos amigos no Benin Recebemos também de presente o livrinho e o CD Les chants de la Tradition e lhe agradecemos de coração. Para nós, que ainda temos em nossa abadia o canto gregoriano, isso foi um grande prazer. Logo pensamos no mosteiro que fundamos na África, no Benin, onde temos muitos sacerdotes amigos da nossa comunidade que procuram cantar os cantos gregorianos. O senhor poderia, na sua bondade, presentear-nos com vinte desses CDs e livrinhos, para que os possamos dar a eles? Estou certa de sua resposta generosa, e a nossa madre abadessa deu-me o encargo de lhe assegurar de nossa intensa oração por todas as suas intenções e em particular pelo sucesso da elevada missão em favor da Igreja realizada por intermédio de sua revista. Jouques, 18 de julho de 2011 Prezado senhor, somos cinquenta e sete monjas beneditinas francesas e recebemos com grande interesse a sua revista tão apaixonante. 30Giorni nos põe no coração da Igreja e nos dá as notícias que normalmente não temos possibilidade de receber. Graças ao senhor descobrimos, no último número, a rica personalidade do novo prefeito da Congregação para os Religiosos. irmã Monique, O.S.B. AGOSTINIANOS DO PRIORADO SAINT THOMAS DE VILLANOVA Pietà, Malta Obrigado por Who prays is saved e pelo CD de cantos gregorianos Pietà, 21 de julho de 2011 Prezado senador Andreotti, desejo agradecer-lhe pela revista 30Giorni que foi enviada a nós, padres agostinianos do Saint Thomas of Villanova Priory. Obrigado também pelo livro Who ¬ 30DIAS Nº 7/8 - 2011 7 Cartas dos mosteiros Cartas dos mosteiros prays is saved e por seu último presente, sobre o canto gregoriano. Foi uma ótima ideia propor outra vez o canto gregoriano, visto que em muitos lugares desapareceu completamente. Em Malta usamos ainda a Missa de Angelis e outros cantos marianos – em particular durante o nosso retiro anual e nas quartas-feiras, quando, depois das completas, cantamos os cantos marianos para cada tempo do ano –, além do Veni creator e de muitos outros que vocês foram tão gentis em registrar em seu CD. Gostaria de perguntar-lhe se vocês pretendem publicar o livro Chi prega si salva em maltês. Nós nos viramos mesmo em outras línguas, mas, se quiserem, estou disposto a traduzi-lo sem custos. Traduzi o livro Augustine day by day [Agostinho dia após dia], do padre John Rotelle, O.S.A. (já falecido), e é possível lê-lo na rede no site dos agostinianos malteses. À espera de sua resposta, agradeço-lhe por seu precioso trabalho. Deus o abençoe. Gostaria além disso de lhe pedir, se possível, que envie um exemplar de 30Giorni à Sociedade da Doutrina Cristã, fundada por São Jorge Preca. É uma associação católica que prepara as crianças para a primeira comunhão e para a crisma. Creio que seria uma grande ajuda para eles. Obrigado. Seu, em Cristo, padre Paul Aquilina, O.S.A., prior Adoração dos Reis Magos O mundo de hoje precisa de boas leituras para conhecer o amor de Deus e todo o trabalho da santa Igreja. Rezamos muito por sua intenção e agradecemos muito a sua bondade e gentileza. Que Deus o recompense com muitas graças e bênçãos para o seu trabalho e família. Com amizade e gratidão, pela comunidade madre Maria Celina, O.I.C. IRMÃS CONCEPCIONISTAS DO MOSTEIRO DA IMACULADA CONCEIÇÃO DE MARIA Piracicaba, São Paulo, Brasil DOMINICANAS DO MOSTEIRO QUEEN OF ANGELS Agradecemos também o CD com os cantos litúrgicos Piracicaba, 22 de julho de 2011 Prezado senhor Andreotti Somos Irmãs Concepcionistas da Ordem da Imaculada Conceição. Agradecemos profundamente pela gentileza de enviar-nos esta preciosa revista e o belo CD com os cantos litúrgicos! Que Deus abençoe o seu trabalho para a santa Igreja escrevendo artigos maravilhosos da santa Igreja e do mundo! 8 30DIAS Nº 7/8 - 2011 Bocaue, Filipinas Who prays is saved para compartilhar com os nossos amigos Bocaue, 22 de julho de 2011 Prezado diretor, somos as irmãs dominicanas do Queen of Angels Monastery [mosteiro Rainha dos Anjos], nas Filipinas, e somos muito gratas por sua sábia generosidade ao nos enviar a revista 30Days. Toda Cartas dos mosteiros Cartas dos mosteiros vez que a recebemos, seus artigos são lidos no refeitório. Agradecemos muitíssimo. Estamos também interessadas em receber alguns exemplares do seu livrinho Who prays is saved, para dar a cada uma de nossas irmãs e compartilhar também com outras pessoas. Seria certamente uma forma muito instrutiva de dar a conhecer às pessoas o verdadeiro significado da oração e a sua importância nas nossas vidas. Seria uma bênção se fosse possível doar ao menos cinquenta exemplares do livrinho ao nosso mosteiro Queen of Angels, para nos permitir depois compartilhá-los com os nossos amigos, benfeitores e fiéis que todos os dias vêm visitar a capela da adoração e, dessa forma, oferecer a eles um guia para que compreendam o quanto as orações são importantes não apenas para a vida deles, mas também para a dos outros, e que dessa forma salvarão sua alma do inferno. Que o amor pela oração se difunda cada vez mais. Amém! Mais uma vez agradecemos pela assinatura da revista 30Days e antecipadamente pelos exemplares de Who prays is saved. Lembrando de vocês e de sua missão em nossas orações, as dominicanas de Bocaue Apresentação no templo CLARISSAS DO MOSTEIRO IMMACULATE CONCEPTION Palos Park, Illinois, EUA Obrigada por 30Days e por todos os presentes que nos dão Palos Park, 24 de julho de 2011 Prezado diretor Andreotti, parece ter chegado o momento de lhe agradecer mais uma vez pelo presente que é o envio mensal de sua revista 30Days, rica em notáveis artigos e imagens. Gostamos muito do tributo feito na última edição ao beato papa João Paulo II e também ao papa Paulo VI, que pronunciou o Credo do povo de Deus. Rezamos para que sua causa, como também a do papa Pio XII, chegue a bom termo num futuro próximo. E não nos esquecemos do amado papa João Paulo I e dos artigos ricos em reflexões que vocês publicaram sobre ele. Nós lhes agradecemos também pelos presentes que chegaram com a revista, como a meditação sobre a Santa Páscoa que recentemente recebemos e lemos juntas em comunidade durante a nossa semana de retiro, e que achamos rica em pontos de reflexão. E agora, com este número, a belíssima reedição do livrinho Iubilate Deo com os cantos do CD. Eles nos são muito caros e continuamos a cantar muitos cantos gregorianos, os hinos, o ordinário da missa e os cantos próprios de algumas missas. Gostamos, além disso, das muitas e belíssimas imagens de obras de arte, particularmente dos mosteiros, como por exemplo os encantadores oratórios marianos apresentados na edição deste mês. Recordaremos suas intenções à nossa madre Santa Clara na novena solene neste ano do oitavo centenário da fundação da ordem. Com gratidão, em nossa mãe Santa Clara, a abadessa madre Maria Teresita, P.C.C., e comunidade segue na p. 26 30DIAS Nº 7/8 - 2011 9 Leitura espiritual Leitura espiritual/43 «Confiteor unum baptisma in remissionem peccatorum» Decretum de peccato originali, can. 4 Si quis parvulos recentes ab uteris matrum baptizandos negat, etiam si fuerint a baptizatis parentibus orti, aut dicit, in remissionem quidem peccatorum eos baptizari, sed nihil ex Adam trahere originalis peccati, quod regenerationis lavacro necesse sit expiari ad vitam aeternam consequendam, unde fit consequens, ut in eis forma baptismatis “in remissionem peccatorum” non vera, sed falsa intellegatur: anathema sit. Quoniam non aliter intellegendum est id, quod dicit Apostolus: «Per unum hominem peccatum intravit in mundum, et per peccatum mors, et ita in omnes homines mors pertransiit, in quo omnes peccaverunt» (Rm 5, 12), nisi quemadmodum Ecclesia catholica ubique diffusa semper intellexit. Propter hanc enim regulam fidei, ex traditione Apostolorum, etiam parvuli, qui nihil peccatorum in semetipsis adhuc committere potuerunt, ideo in remissionem peccatorum veraciter baptizantur, ut in eis regeneratione mundetur, quod generatione contraxerunt. «Nisi enim quis renatus fuerit ex aqua et Spiritu Sancto, non potest introire in regnum Dei» (Gv 3, 5) (Denzinger 1514). 10 30DIAS Nº 7/8 - 2011 Leitura espiritual Leitura espiritual Leitura espiritual Vista do interior do Batistério de Pádua, com a fonte batismal “Confesso um só batismo para a remissão dos pecados” Decreto sobre o pecado original, cân. 4 Se alguém afirma que as crianças recém-saídas do ventre da mãe não devem ser batizadas, embora nascidas de pais batizados, ou defende que sejam batizadas para a remissão dos pecados, mas que não contraem de Adão qualquer elemento do pecado original que seja necessário purificar com o lavacro da regeneração para conseguir a vida eterna, do que deriva que a forma do batismo “para a remissão dos pecados” não deve ser tomada por verdadeira, mas por falsa, seja excomungado. De fato, o que diz o Apóstolo: “O pecado entrou no mundo por um só homem e, por intermédio do pecado, a morte; e a morte passou para todos os homens, porque todos pecaram” (Rm 5,12), não deve ser entendido de modo diferente do modo como a Igreja Católica espalhada pelo mundo todo sempre entendeu. É por essa norma de fé que, por tradição apostólica, também as crianças, que por si mesmas ainda não puderam cometer nenhum pecado, são batizadas realmente para a remissão dos pecados, para que nelas seja purificado com a regeneração aquilo que contraíram com a geração. De fato, “se alguém não nascer da água e do Espírito, não poderá entrar no Reino de Deus” (Jo 3,5). Leitura espiritual Leitura espiritual omo comentário ao cânon 4 do Decretum de peccato originali do Concílio de Trento (Denzinger 1514), em que, seguindo fielmente o Credo Niceno-Constantinopolitano (“confesso um só batismo para a remissão dos pecados”), afirma-se que o batismo das crianças, as quais não puderam cometer nenhum pecado pessoal, também é para a remissão dos pecados, voltamos a publicar, para conforto da fé e como oração, os trechos do Credo do povo de Deus de Paulo VI em que ele reapresenta essa doutrina de fé. Sempre nos surpreendeu observar como Santo Agostinho, quando lembra o momento em que o diabo é solto (cf. Ap 20,3.7) – é desencadeado, desencadeia-se –, indica como sinal da fidelidade do Senhor à Sua Igreja, e portanto como sinal de esperança, o fato de os pais cristãos batizarem suas crianças (cf. De civitate Dei XX, 8, 3). Por isso, ainda como comentário do cânon 4 do Decretum de peccato originali do Concílio de Trento, propomos a leitura de algumas notas extraídas da palestra de padre Giacomo Tantardini sobre esse trecho do De civitate Dei de Agostinho. As notas da palestra, proferida na Universidade Livre São Pio V, de Roma, em 5 de maio de 1999, circularam entre os estudantes numa apostila intitulada Convite à leitura de Santo Agostinho. Notas das palestras de padre Giacomo Tantardini na Universidade Livre São Pio V, de Roma sobre “A cidade de Deus e os ordenamentos dos Estados”, Ano acadêmico 1998-1999 (promanuscripto), Associazione San Gabriele, Roma. C O pecado original e a expulsão do Paraíso terrestre 12 30DIAS Nº 7/8 - 2011 Leitura espiritual Leitura espiritual Pecado original e batismo das crianças Paulo VI, Credo do povo de Deus Cremos que todos pecaram em Adão; isto significa que a culpa original, cometida por ele, fez com que a natureza, comum a todos os homens, caísse num estado no qual padece as consequências dessa culpa. Tal estado já não é aquele em que no princípio se encontrava a natureza humana em nossos primeiros pais, uma vez que se achavam constituídos em santidade e justiça, e o homem estava isento do mal e da morte. Portanto, é esta natureza assim decaída, despojada de dom da graça que antes a adornava, ferida em suas próprias forças naturais e submetida ao domínio da morte, é esta que é transmitida a todos os homens. Exatamente neste sentido, todo homem nasce em pecado. Professamos pois, segundo o Concílio de Trento, que o pecado original é transmitido juntamente com a natureza humana, “pela propagação e não por imitação”, e se acha “em cada um como próprio” (cf. Denzinger 1513). Cremos que Nosso Senhor Jesus Cristo, pelo Sacrifício da Cruz, nos remiu do pecado original e de todos os pecados pessoais, cometidos por cada um de nós; de sorte que se impõe como verdadeira a sentença do Apóstolo: “Onde abundou o delito, superabundou a graça” (cf. Rm 5,20). Cremos professando num só Batismo, instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo para a remissão dos pecados. O Batismo deve ser administrado também às crianças que não tenham podido cometer por si mesmas pecado algum; de modo que, tendo nascido com a privação da graça sobrenatural, renasçam “da água e do Espírito Santo” para a vida divina em Jesus Cristo (cf. Denzinger 1514). Leitura espiritual Leitura espiritual Notas da palestra proferida por padre Giacomo Tantardini na Universidade Livre São Pio V, de Roma, em 5 de maio de 1999 “Mesmo quando o diabo for solto, haverá pais tão fortes que farão batizar suas crianças” (De civitate Dei XX, 8, 3) s quatro últimos livros do De civitate Dei descrevem o fim, o termo das duas cidades. O terceiro trecho que leremos hoje é extraído do vigésimo livro do De civitate Dei: é uma das passagens mais belas. No capítulo 8 do vigésimo livro1, Agostinho comenta alguns versículos do Apocalipse. De modo particular, começa a comentar aquele versículo (Ap 20,3) em que lemos que “‘Post haec oportet eum solvi brevi tempore’ / ‘Depois dessas coisas, é necessário que ele [o diabo] seja solto, por breve tempo’”. João fala dos mil anos em que o diabo estivera amarrado; do breve tempo em que o diabo estará solto; dos mil anos em que os santos reinarão sobre a terra. Agostinho faz dessas imagens do discípulo predileto a leitura que a Igreja assumiu como pró- O pria e sempre propôs. É interessante notar que há toda uma tradição cultural, que parte de Joaquim de Fiore, contrária à leitura de Agostinho. Há um livro muito interessante de Ratzinger sobre esse tema2. Agostinho diz que entre a ascensão do Senhor e Seu retorno glorioso, com a ressurreição dos mortos e o juízo final, existe só o tempo da memória. Nesse “breve tempo”3, entre a ascensão do Senhor e o Seu retorno glorioso, nada acontece de diferente4. A memória, de fato, é o acontecimento sempre novo, como novo início, daquele único e mesmo acontecimento definitivo. Portanto, tanto os mil anos em que o diabo está amarrado quanto o breve tempo em que está solto e os mil anos em que os santos reinam pertencem todos a esse tempo da Igreja antes do 1 Cf. De civitate Dei XX, 8, 1-3. 2 Cf. Ratzinger, J. San Bonaventura e la teologia della storia. Firenze: Nardini Editore, 1991. 3 Agostinho. In Evangelium Ioannis CI, 1.6. 4 Concílio Ecumênico Vaticano II, constituição dogmática sobre a divina revelação Dei Verbum, n. 4: “Oeconomia ergo chris- tiana, utpote foedus novum et definitivum, numquam praeteribit, et nulla iam nova revelatio publica expectanda est ante gloriosam manifestationem Domini nostri Iesu Christi / A economia cristã, pois, como aliança nova e definitiva, jamais passará e já não há que esperar nenhuma nova revelação pública antes da gloriosa manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo (cf. 1Tm 6,14 e Tt 2,13)”. 14 30DIAS Nº 7/8 - 2011 Leitura espiritual Leitura espiritual A fera que quer devorar o menino que a mulher vestida de sol deu à luz juízo final, são expressões que descrevem condições desse tempo da Igreja. Santo Agostinho supera de maneira definitiva o milenarismo. Os mil anos em que os santos reinarão sobre a terra não serão um tempo diferente do tempo da Igreja. De fato, diz Agostinho numa de suas observações mais belas, reinam já agora, existe esse reino já agora5. Esse é o contexto em que devem ser inseridas as palavras de Agostinho. E a interpretação de Agostinho fica ainda mais realista se acei- tarmos as sugestões que o professor Eugenio Corsini nos dá para ler o Apocalipse6, o qual, segundo ele, se refere em primeiro lugar à morte e à ressurreição do Senhor, àqueles três dias em que se cumpriu de uma vez para sempre “a revelação de Jesus Cristo” (Ap 1,1). O tempo da Igreja vive da memória desse acontecimento e da espera de sua manifestação definitiva. Portanto, o Apocalipse é mais um livro de memória que de perspectivas futuras. ¬ 5 Cf. De civitate Dei XX, 9, 1; vide adiante, pp. 21ss. 6 Cf. de la Potterie, I. O apocalipse já aconteceu. 30Dias, n. 8, set. 1995, pp. 60-61. 30DIAS Nº 7/8 - 2011 15 Leitura espiritual Leitura espiritual A mulher vestida de sol e o menino, detalhe Que significa, pergunta-se portanto Agostinho, que o diabo será solto por breve tempo? Quando for solto, poderá seduzir a Igreja? “Absit; / Que isso nunca aconteça; / numquam enim ab illo Ecclesia seducetur / de fato, jamais será por ele [o diabo] seduzida a Igreja, / praedestinata et electa ante mundi constitutionem, / que foi predestinada e eleita antes da criação do mundo, / de qua dictum est: “Novit Dominus qui sunt eius”. / da qual foi dito: ‘O Senhor conhece quem são os seus’”. Na Quaresma de 1995, sugeri imprimir um pequeno cartão com a Oração a São José, o Me16 30DIAS Nº 7/8 - 2011 morare, o Anjo do Senhor e uma das frases mais belas que Giussani havia dito em janeiro-fevereiro daquele mesmo ano: “Nós vivemos numa tal degradação universal, que não existe mais nada que seja receptivo ao cristianismo, a não ser a simples realidade criatural. Por isso, é o momento do início do cristianismo, é o momento em que o cristianismo surge, é o momento da ressurreição do cristianismo. E a ressurreição do cristianismo tem um grande e único instrumento. Qual é ele? O milagre. É o tempo do milagre. É preciso dizer ao povo que invoque os santos, porque os santos foram feitos para isso”. Pois, embora outros tam- Leitura espiritual Leitura espiritual bém realizem milagres7, os santos foram feitos para isso. Contaram-me que segunda-feira passada, durante o programa de tevê Porta a Porta, que tinha como tema a beatificação de Padre Pio, diante de alguns depoimentos que afirmavam que os santos são canonizados por sua cultura, Andreotti, que estava presente no programa, disse com ironia que, se isso fosse verdade, só Santo Tomás de Aquino seria santo. Os santos são o que são graças aos milagres. No mesmo cartão para a Quaresma de 1995, mandei escrever três frases. A primeira é extraída do Salmo 5: “Destruís o mentiroso. Ó Senhor, abominais o sanguinário, o perverso e enganador”. A segunda vem do Apocalipse (Ap 13,11.16-17): “Eu vi ainda outra fera sair da terra. [...] Ela faz com que todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e escravos, recebam uma marca na mão direita ou na fronte. E ninguém pode comprar ou vender [pode fazer carreira], se não tiver a marca que é o nome da Fera, aliás, o número do seu nome”. A terceira frase é extraída da Segunda Carta de Paulo a Timóteo (2Tm 2,19): “No entanto, o sólido fundamento posto por Deus continua firme, marcado por estas sentenças: ‘O Senhor conhece os que são d’Ele’ e ‘Afaste-se da iniquidade todo aquele que invoca o Nome do Senhor’”. Essa terceira frase é a que Agostinho diz valer sobretudo no tempo em que o diabo está solto. 7 Continuemos a leitura de Agostinho: “Et tamen hic erit etiam illo tempore, quo solvendus est diabolus, / No entanto a Igreja existirá neste mundo também no tempo em que o diabo tiver sido solto, / sicut, ex quo est instituta, hic fuit et erit omni tempore, in suis utique qui succedunt nascendo morientibus / tal como, desde a sua fundação, existiu e existirá neste mundo em todos os tempos em seus membros, que sempre se alternam, nascendo, com aqueles que morrem”: a Igreja vive nos que são d’Ele. Não existe Igreja abstratamente. Existe a Igreja que vive nos que são d’Ele, que vive de maneira perfeita n’Aquela que foi Sua mãe. Quando dizemos em todas as missas “não olheis para os nossos pecados, mas para a fé da vossa Igreja”, a primeira pessoa em que penso é Nossa Senhora. Pois de fato quem viveu a fé da Sua Igreja, de maneira excelente, humilde e excelente, numa plenitude de graça que é insuperável, foi essa menina. Se não tivesse existido ninguém que tivesse vivido assim, essa oração não seria tão real. Depois Agostinho comenta outro trecho do Apocalipse (20,9ss), em que João diz que todas as nações “cinxerunt castra sanctorum et dilectam civitatem, / cercaram em assédio o acampamento dos santos e a cidade que Deus ama, / et descendit ignis de caelo a Deo et comedit eos [...] / mas um fogo desceu do céu enviado por Deus e de- ¬ Giussani, L. Cristo è tutto in tutti. Appunti dalle meditazioni di Luigi Giussani per gli Esercizi della Fraternità di Comunione e liberazione, Rimini 1999. Suplemento de Litterae Communionis-Tracce, n. 7, jul.-ago. 1999, p. 54: “Vocês se lembram de quando Jesus – como o descreve o segundo livro da Escola de Comunidade –, andando pelos campos com os seus apóstolos, viu perto de uma cidadezinha que se chamava Naim uma mulher que chorava e soluçava atrás do féretro do filho morto? E Ele foi lá; não lhe disse: ‘Vou ressuscitar o seu filho’. Mas: ‘Mulher, não chores’, com uma ternura, afirmando uma ternura e um amor ao ser humano inconfundíveis! E, com efeito, depois, deu-lhe também o filho vivo. Mas não é isso, pois outros também podem fazer milagres, mas esse, essa caridade, esse amor ao homem próprio de Cristo não tem nenhuma comparação com nada!”. 30DIAS Nº 7/8 - 2011 17 Leitura espiritual A fera que emerge do mar vorou aqueles que [...]” estavam para conquistar a cidade amada... Agostinho, como eu mencionava antes, quando comenta essa passagem afirma que a vitória definitiva “iam ad iudicium novissimum pertinet / pertence ao juízo final”. Com relação ao breve tempo em que o diabo está solto, Agostinho diz: “[...] ne quis existimet eo ipso parvo tempore, quo solvetur diabolus, in hac terra Ecclesiam non futuram, illo hic eam vel non inveniente, cum fuerit solutus, vel absumente, cum fuerit 8 modis omnibus persecutus / [...] ninguém pense que nesse breve tempo em que o diabo estará solto a Igreja não existirá sobre a terra, quer porque o diabo não a encontrará quando for solto, quer porque a aniquilará depois de têla perseguido de todas as formas”. Mas, se o diabo é solto, isso significa que esteve amarrado. Que significa estar amarrado? “[...] sed alligatio diaboli est non permitti exserere totam temptationem quam potest / [...] o fato de o diabo estar amarrado significa que não lhe é permitido exercer toda a tentação da qual é capaz, / vel vi vel dolo ad seducendos homines / pela força ou pelo engano, para seduzir os homens”, para dissuadir os homens de viverem a fé. Essa é a expressão máxima da tentação. Todas as tentações do diabo são tentações, assim como são pecados capitais todos os sete pecados capitais8. Mas a tentação a que tendem todas as tentações é aquela que se dá quando o diabo quer destruir a fé. Como sempre dizia padre Leopoldo Mandic quando confessava: “O que importa é preservar a fé”9. Esse é o critério para os padres, quando confessam; e é o fim último pelo qual uma pessoa se confessa. Assim, é um enorme conforto confessar-se de qualquer pecado para preservar a fé. A fé é a raiz de tudo. Assim voltamos a ser inocentes, pequenos, puros de coração. “Pela força ou pelo engano”, o diabo se mobiliza para destruir a fé. “Pela força ou pelo engano”. “Vi / pela força”. Por exemplo, pela ameaça. Ante as mortes inesperadas que marcaram estes anos, eu algumas vezes disse que, de certo ponto Cf. Quem reza se salva. Roma: 30Giorni, 2009, p. 15: “Os sete pecados capitais: 1. soberba; 2. avareza; 3. luxúria; 4. ira; 5. gula; 6. inveja; 7. preguiça”. 9 18 Leitura espiritual Cf. Falasca, S. É o Senhor que opera. 30Dias, n. 1, jan. 1999, p. 55-59. 30DIAS Nº 7/8 - 2011 Leitura espiritual Leitura espiritual de vista, para que essas mortes sejam usadas como ameaça contra quem crê, não é importante que tenham ocorrido por homicídio ou por acaso (em última instância, não são nunca por acaso no desígnio da providência do Senhor). De fato, essas mortes podem ser usadas como ameaça contra quem crê, mesmo que não sejam realmente homicídios. Diante de certas mortes inesperadas, a pessoa pode dizer a uma outra: “Não vá fazer o mesmo, senão vai acabar como aquela pessoa”. Portanto, as mortes inesperadas são usadas como ameaça, mesmo que não sejam realmente homicídios, mesmo que sejam mortes, digamos assim, naturais. “Dolo / pelo engano”. A maior parte das pessoas é seduzida pelo engano. Para usar termos modernos, poderíamos falar de homologação, realizada, entre outros fatores, pelos meios de comunicação de massa. Engano midiático. Para enganar as pessoas, o diabo se vale do pecado da soberba. De fato, é aos pequenos e aos simples, ou seja, aos humildes (“Qui sunt parvuli? Humiles”10) que o Senhor dá a sabedoria. “Vossa palavra, ao revelar-se, me ilumina, ela dá sabedoria aos pequeninos” (Sl 118,130). Por isso, quando Agostinho fala dessa perseguição observa que a sabedoria é importante. Em outras palavras, é importante a inteligência que se aproveita do momento. Diz isso mais adiante: “Omnes insidias eius atque impetus et caverent sapientissime et patientissime sustinerent / para esquivarse com suma sabedoria das insídias e dos assaltos [do diabo] e para suportá-los com suma paciência”. Agostinho insiste nessa inteligência, embora seja evidente que o fato de permanecermos fiéis na perseguição é um dom de graça particular. Sobretudo quando a perseguição se torna cruenta, como Giussani previu, em abril de 199211. Continua Agostinho: “in partem suam cogendo violenter fraudolenterve fallendo / obrigando-os ¬ 10 Agostinho. Sermones 67, 5, 8. 11 Giussani, L. Un avvenimento di vita, cioè una storia (in- troduzione del cardinale Joseph Ratzinger), Edit-Il Sabato, Roma, 1993, p. 104: “Isso mesmo. A ira do mundo, hoje, não se ergue diante da palavra Igreja, fica quieta até diante da ideia de alguém se dizer católico, ou diante da figura do Papa como autoridade moral. Aliás, existe uma reverência formal e até sincera. O ódio explode – mal se contém, e logo transborda – diante de católicos que se apresentam como tais, católicos que se movem na simplicidade da Tradição”. (Cf. trad. em português extraída de “Um evento, eis por que nos odeiam”. Trad. Juliana P. Perez e Francesco Tremolada. In: O eu, o poder, as O anjo que abate a fera com a pedra de moinho obras. São Paulo: Cidade Nova, 2001, p. 220). 30DIAS Nº 7/8 - 2011 19 Leitura espiritual a vir para o seu lado pela violência ou enganando-os pela mentira”. O diabo não tenta os homens em primeiro lugar para que pequem (embora só os possa obrigar a passar para a sua parte pela violência e pelo engano por meio do pecado12), mas para que passem para o seu lado. Este é o objetivo: que passem para o seu lado. Se não percebemos isso, não percebemos uma dimensão essencial da história da Igreja. Não podemos descrever a história da Igreja apenas como história de graça e de pecados. Lembro-me de que uma vez eu estava de carro com Giussani em Roma. Antes de chegar à praça Venezia, Giussani me disse: “Veja, três são os fatores da história da Igreja: a graça, o pecado e o anticristo. Se não levarmos em conta o anticristo, a relação entre graça e pecados pode ser concebida de um jeito moralista”. O anticristo, por meio do pecado, quer levar você para o lado dele. “In partem suam cogendo violenter fraudolenterve fallendo / obrigando-os a vir para o seu lado pela violência ou enganando-os pela mentira.” Pergunta-se Agostinho: por que o diabo é solto? Abro um breve parênteses. Alguém me lembrou um sonho de São João Bosco. Dom Bosco sonha, se não me engano, com uma aposta entre Deus e o diabo, em que o diabo diz a Deus que é capaz de destruir a fé em um século. E o Senhor lhe teria dito: tudo bem, eu te dou um século, podes fazer o que quiseres. Veremos no fim se conseguirás destruir completamente a fé dentro da 12 Leitura espiritual minha Igreja. Diante de qualquer profecia particular, como podem ser classificados os sonhos de Dom Bosco, somos livres para crer ou não crer. Aliás, propriamente, não cremos nelas, apenas podemos dar-lhes crédito ou não. Pois não são objeto da fé. As profecias particulares, no entanto, podem ser hipóteses inteligentes para ler a realidade. As profecias particulares, inclusive as aparições de Nossa Senhora, podem ser sugestões à inteligência iluminada pela fé para olhar para a realidade. Pensem na profecia de Paulo VI em setembro de 197713 e no juízo ainda mais “Non enim nisi peccatis homines separantur a Deo / De fato, somente pelos pecados os homens se separam de Deus” (De ci- vitate Dei X, 22); “Non deserit, si non deseratur / Não abandona, se não é abandonado” (Agostinho, De natura et gratia 26, 29); Concílio de Trento, Decretum de iustificatione, cap. 11: De observatione mandatorum, deque illius necessitate et possibilitate, (Denzinger 1536-1539, particularmente 1537); Concílio Vaticano I, constituição dogmática sobre a fé católica Dei Filius, (Denzinger 3014). 13 20 Cf. Giussani, L. Un avvenimento di vita, cioè una storia. Introdução do cardeal Joseph Ratzinger. Roma: Edit-Il Sabato, 1993, 30DIAS Nº 7/8 - 2011 Leitura espiritual Leitura espiritual dramaticamente realista de Giussani em dezembro de 1998 a respeito do pequeno resto14. Uma profecia particular – na qual não cremos propriamente falando, mas à qual simplesmente damos crédito, porque a fé nasce apenas por atração da graça15 – pode ser um ponto de partida extremamente útil para olhar com atenção e com aceitação a realidade tal como ela é. Então, por que o diabo é solto? “Si autem numquam solveretur, minus appareret eius maligna potentia, / Se nunca fosse solto, ficaria menos patente a sua força maléfica, / minus sanctae civitatis fidelissima patientia probaretur, / seria menos posta à prova a fidelíssima paciência da cidade santa, / minus denique perspiceretur, quam magno eius malo tam bene fuerit usus Omnipotens [...] / mas, sobretudo, ver-se- ¬ A fera que emerge do mar, detalhe p. 72-73: “Nos últimos anos o senhor tem desejado que sejam repetidas e conhecidas por todos as palavras que Paulo VI disse ao amigo Jean Guitton, em 8 de setembro de 1977, nas quais o Papa fala de ‘um pensamento não católico’ e da resistência de um ‘pequeno rebanho’. Por quê? Luigi Giussani: Porque é isso que está acontecendo. Peço-lhe que me releia essas palavras. Pois bem: ‘Há uma grande perturbação neste momento no mundo da Igreja, e o que está em questão é a fé. Vejo-me obrigado hoje a repetir a frase obscura de Jesus no Evangelho de São Lucas: ‘Quando o Filho do Homem voltar, encontrará ainda a fé sobre a face da terra?’. Hoje em dia saem livros em que a fé bate em retirada em relação a pontos importantes, os episcopados se calam, e esses livros não são achados estranhos. Isso, para mim, é que é estranho. Releio às vezes o Evangelho do fim dos tempos e constato que neste momento aparecem alguns sinais desse fim. Estamos próximos do fim? Isso nunca saberemos. É preciso que estejamos sempre prontos, mas tudo pode durar ainda muito tempo. O que me impressiona, quando considero o mundo católico, é que dentro do catolicismo parece às vezes predominar um pensamento de tipo não católico, e pode acontecer que esse pensamento não católico dentro do catolicismo se torne no futuro o pensamento mais forte. Mas ele nunca representará o pensamento da Igreja. É preciso que subsista um pequeno rebanho, por menor que seja’”. 14 Giussani, L. Cristo é parte presente do real. 30Dias, n. 12, dez. 1998, p. 61: “Hoje o fato de Cristo existir – quem é, onde es- tá, que caminho percorrer para chegar até Ele – é vivido por pouquíssimos, quase um resto de Israel, e mesmo esses muitas vezes infiltrados ou imobilizados pela influência da mentalidade comum”. 15 Tomás de Aquino. Summa theologiae II-II q. 4 a. 4 ad 3: “Gratia facit fidem non solum quando fides de novo incipit esse in homine, sed etiam quamdiu fides durat / A graça gera a fé não apenas quando a fé nasce numa pessoa, mas por todo o tempo em que a fé perdura”. 30DIAS Nº 7/8 - 2011 21 Leitura espiritual Oração de São Miguel Arcanjo São Miguel Arcanjo, defendei-nos no combate, sede o nosso refúgio contra as maldades e ciladas do demônio. Ordenai-lhe Deus, instantemente o pedimos, e vós, príncipe da milícia celeste, pela virtude divina, encadeai no inferno a Satanás e aos outros espíritos malignos, que andam pelo mundo para perder as almas. Amém. O quinto anjo derrama o cálice da ira de Deus sobre o trono da fera Leitura espiritual ia menos claramente como Aquele que é onipotente pode usar um mal tão grande para um bem ainda maior [...] / In eorum sane, qui tunc futuri sunt, sanctorum atque fidelium comparatione quid sumus? / Em comparação com os santos e fiéis que viverão então [quando o diabo for solto], que somos nós?”. Essa pergunta nascia espontaneamente para Agostinho, pois ele vivia num tempo em que milhares e milhares de pessoas se tornavam cristãs. Tanto assim, que para Agostinho o milagre evidente que leva a crer em Cristo é a multitudo, a multidão de pessoas que se tornam cristãs. Agostinho estava cercado pelo milagre de milhares e milhares de pessoas que se tornavam cristãs. Uma multitudo de ignorantes e pecadores que encontravam o cristianismo16. Não dá para comparar a evidência dos milagres que confortam a fé17 no tempo de Agostinho com a situação de hoje, em que, como observava a 30Dias um bispo de Laos, a Igreja é como uma criança pequena salva das águas18. Agostinho podia dizer: “O milagre mais evidente é que os vossos templos e os vossos teatros estão vazios, en- 16 Cf. Ratzinger, J. Popolo e casa di Dio in sant’Agostino. Milano: Jaca Book, 1971, particularmente p. 33-38: “Deus fez isso [providenciar uma outra encarnação para a sabedoria que a conduza também até o olho do tolo] primeiramente por meio dos milagres, depois por intermédio da multitudo. Para Agostinho, a multidão dos povos que pertencem à Igreja constitui um sinal divino evidente que realmente só o próprio Deus poderia dar” (p. 35). 17 Cf. Concílio Ecumênico Vaticano I, constituição dog- mática sobre a fé católica Dei Filius (Denzinger 3009). 18 Cf. Paci, S. M. Para nós é suficiente uma Ave Maria. En- trevista com dom Jean Khamsé Vithavong, vigário-apostólico de Vientiane, no Laos. 30Dias, n. 3, mar. 1999, pp. 14-17. Leitura espiritual Leitura espiritual quanto as igrejas estão cheias de povo”. Hoje é literalmente o contrário. Por isso me parece possível ler o tempo atual ou momentos do nosso tempo como tempo ou momentos em que o diabo está solto. Digo isso de um ponto de vista realista, de constatação19. A própria oração do papa Leão XIII a São Miguel Arcanjo, que, antes da reforma litúrgica, era rezada ao final da santa missa, sugeria essa hipótese, ao pedir: “... e vós, príncipe da milícia celeste, pela virtude divina, encadeia no inferno a Satanás e aos outros espíritos malignos...”20. “[...] Usque in illum finem sine dubio convertentur; [...] / [...] Até o fim [mesmo quando o diabo for solto] haverá aqueles que se converterão; [...] / qui oderint christianos, in quorum quotidie, velut in abysso, caecis et profundis cordibus includatur / [e haverá também] aqueles que odiarão os cristãos; na profundidade dos corações cegos dos quais o diabo está encerrado todos os dias como no abismo”: creio que dificilmente Agostinho tenha dado sobre alguém um juízo tão trágico como esse sobre quem odeia os cristãos enquanto tais, ou seja, aqueles “que se movem na simplicidade da Tradição”21. 19 “Immo vero id potius est credendum, / É preciso crer / nec qui cadant de Ecclesia nec qui accedant Ecclesiae illo tempore defuturos, / que também nesse tempo não faltarão nem aqueles que se afastam da Igreja nem aqueles que a encontram, / sed profecto tam fortes erunt et parentes pro baptizandis parvulis suis / mas certamente seja os pais que farão batizar suas crianças [essa observação é muito bonita, precisamente como maneira de olhar para as coisas que têm ocorrido nestes anos] / et hi, qui tunc primitus credituri sunt, ut illum fortem vincant etiam non ligatum, / seja aqueles que nesse tempo terão acabado de dar os primeiros passos na fé serão tão fortes a ponto de vencer a força do diabo mesmo solto, / id est omnibus, qualibus antea numquam, vel artibus insidiantem vel urgentem viribus, et vigilanter intellegant et toleranter ferant; ac sic illi etiam non ligato eripiantur / ou se- ¬ Cf. Ratzinger, J. A angústia de uma ausência: três medita- ções sobre o Sábado Santo. 30Dias, n. 3, mar. 1994. pp.37-44. 20 Parece que foi depois que ficou profundamente pertur- bado por uma visão que teve ao final da celebração de uma missa a que assistia que o papa Leão XIII compôs a oração a São Miguel Arcanjo, em 1886, e a enviou a todos os bispos, para que mandassem os fiéis rezarem-na de joelhos ao final de cada santa missa (cf. Ephemerides liturgicae 69 [1955], p. 59, nota 9). A oração foi também incluída num exorcismo especial que Leão XIII mandou inserir no Ritual Romano (aparecia no título XII, na edição de 1954). 21 Cf., acima, a nota 11. Cristo no cavalo branco, seguido pelos exércitos celestes 30DIAS Nº 7/8 - 2011 23 Leitura espiritual Leitura espiritual O Cordeiro no trono, entre os quatro seres vivos e os vinte e quatro anciãos ja, que estarão prontos a compreender com atenção e serão capazes de resistir com paciência ao diabo, que, como nunca antes, insidiará com todas as artes e assaltará com todas as forças, a ponto de dele serem libertados, embora não esteja amarrado”: não são eles que vencem, mas são eles que pela graça de Deus são arrancados das garras da força que ameaça e do engano. Enfim, no capítulo 9 do vigésimo livro22, Agostinho comenta os mil anos em que os eleitos reinam sobre a terra: “Interea dum mille annis ligatus est diabolus, sancti regnant cum Christo etiam ipsi mille annis, eisdem sine dubio et eodem modo intellegendis, id est, isto iam tempore prioris eius adventus. / Portanto, enquanto o diabo está amarrado por mil anos, os santos reinam com Cristo também por mil anos, que devem também ser entendidos sem dúvida do mesmo modo, ou seja, já neste tempo do Seu primeiro advento. / Excepto quippe illo regno, de quo in fine dicturus est: ‘Venite, benedicti 22 24 Cf. De civitate Dei XX, 9, 1. 30DIAS Nº 7/8 - 2011 Patris mei, possidete paratum vobis regnum’, / Pois, para além daquele reino do qual no fim se dirá: ‘Vinde, benditos de meu Pai, recebei o reino preparado para vós’, / nisi alio aliquo modo, longe quidem impari, iam nunc regnarent cum illo sancti eius, / se mesmo hoje, neste tempo, ainda que de um modo muito diferente [do Paraíso], não reinassem com ele os seus santos, / quibus ait: ‘Ecce ego vobiscum sum usque in consummationem saeculi’; / aos quais o Senhor diz: ‘Eis que estou convosco até o fim dos tempos’, / profecto non etiam nunc diceretur Ecclesia regnum eius regnumve caelorum / certamente não se diria que a Igreja já agora é o Seu reino, o reino dos céus”: seus fiéis reinam graças à Sua presença. Pois, estando já hoje presente o Senhor, reinar é como o reflexo no coração e nos gestos, ou seja, nas boas obras, da presença d’Ele e da Sua ação. “[...] Ergo et nunc Ecclesia regnum Christi est regnumque caelorum. / [...] De fato, já agora a Igreja é o reino de Cristo e o reino dos céus. / Leitura espiritual Leitura espiritual Regnant itaque cum illo etiam nunc sancti eius, / Também agora, portanto, os seus santos reinam com Ele, / aliter quidem quam tunc regnabunt; / de um modo diferente de como reinarão então [no Paraíso]; / nec tamen cum illo regnant zizania, quamvis in Ecclesia cum tritico crescant / mas todavia com Ele não reina a cizânia, embora na Igreja cresça com o trigo”. O que faz a diferença, na Igreja, é justamente o reinar. A diferença é a experiência da surpresa que a Sua presença gera. Ou seja, a diferença é estar ou não estar na graça de Deus23. A cizânia também está na Igreja, a cizânia também pertence à Igreja, a cizânia também pode participar dos sacramentos da Igreja, pode estar entre os chefes da Igreja24, mas não reina. Pois reinar é simplesmente o reflexo no coração e nas boas obras da surpresa da Sua graça: “[...] Postremo regnant cum illo, qui eo modo sunt in regno eius ut sint etiam ipsi regnum eius / [...] Enfim, reinam com Ele aqueles que estão de tal modo em Seu reino a ponto de serem eles mesmos o Seu reino”. 23 O Cordeiro no monte Sião e os cento e quarenta e quatro mil eleitos Cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, constituição dogmática sobre a Igreja Lumen gentium, n. 14: “Non salvatur tamen, li- cet Ecclesiae incorporetur, qui in caritate non perseverans, in Ecclesiae sinu ‘corpore’ quidem, sed non ‘corde’ remanet. Memores autem sint omnes Ecclesiae filii condicionem suam eximiam non propriis meritis, sed peculiari gratiae Christi esse adscribendam; cui si cogitatione, verbo et opere non respondent, nedum salventur, severius iudicabuntur / Não se salva contudo, embora incorporado à Igreja, aquele que, não perseverando na caridade, permanece no seio da Igreja ‘com o corpo’, mas não ‘com o coração’. Lembrem-se todos os filhos da Igreja que a condição sem igual em que estão se deve não a seus próprios méritos, mas a uma peculiar graça de Cristo. Se a ela não corresponderem por pensamentos, palavras e obras, longe de se salvarem, serão julgados com maior severidade (Lc 12,48: “A quem muito foi dado, muito lhe será pedido”. Cf. Mt 5,19-20; 7,21-22; 25,41-46; Tg 2,14)”. 24 Cf. Giussani, L. L’uomo e il suo destino: In cammino. Genova: Marietti, 1999, p. 27-28: “Aqui, gostaria de fazer uma obser- vação. O que dissemos antes a respeito do poder vale como aspecto vertiginoso também para a autoridade, da forma como poderia ser vivida na Igreja. Se a autoridade não é paternal, e portanto maternal, pode-se tornar fonte de equívoco supremo, instrumento enganador e destrutivo nas mãos da mentira, de Satanás, pai da mentira (cf. Jo 8,44). Ao passo que sempre, de modo desconcertante, a autoridade da Igreja em última instância deve ser obedecida, paradoxalmente”. 30DIAS Nº 7/8 - 2011 25 Cartas dos mosteiros Cartas dos mosteiros segue da p. 9 Vocação de Mateus AGOSTINIANAS RICOLETAS DO MOSTEIRO SAINT EZEKIEL MORENO Bacolod City, Filipinas Who prays is saved para as crianças das favelas O motivo pelo qual lhe escrevemos não é apenas o de expressar nossa gratidão, mas também para bater humildemente à porta de seus corações, ou seja, para receber, se possível, alguns exemplares gratuitos do fantástico livrinho de orações Who prays is saved. Todos os anos, durante todo o mês de maio, damos aulas simples de catecismo às crianças pobres que vivem em favelas muito próximas de nosso mosteiro. Nossa intenção é dar a elas pelo menos as noções fundamentais da nossa fé ou mesmo apenas ensinar como fazer corretamente o sinal da cruz, particularmente às menores. Pensávamos que seria de grande ajuda que eles aprendessem de cor também as orações principais. Mas não temos recursos financeiros para levar adiante os nossos projetos. Poder ter cem exemplares desses livrinhos seria de enorme ajuda para nós e para quem ensina a essas crianças. Senhor diretor, sabemos que tudo isso será possível somente graças à sua solicitude e generosidade. Nós só podemos oferecer nossas incessantes orações diante do Santíssimo e nossa infinita gratidão. Com corações gratos, lhe agradecemos, irmã Maria E. Catalonia, O.A.R., pela prioresa, irmã Lourdes Eizaguirre, O.A.R. Bacolod City, 25 de julho de 2011 CLARISSAS DA ADORAÇÃO PERPÉTUA Prezado senhor Andreotti, saudações em Cristo! Estamos realmente felizes e gratas ao senhor e a seus diligentes colaboradores pelo grande serviço que prestam à nossa Igreja. Se não estou errada, já faz cinco anos que nos beneficiamos de sua benévola caridade. Cada número da revista nos agrada muitíssimo e somos gratas por seu esforço em destacar da melhor maneira possível o que a nossa Igreja faz pelo bem de todos. A sua revista, com seus excelentes artigos, é um farol que resplandece luminoso, sem nunca desencorajar, mas fazendo sempre esperar que ainda seja possível encontrar coisas boas nestes tempos de trevas e desorientação. 26 30DIAS Nº 7/8 - 2011 Cochin, Kerala, Índia Obrigada por The chants of Tradition Cochin, 27 de julho de 2011 Caros senhor Andreotti e amigos de 30Giorni, como lhes somos gratas pelo CD e pelo livrinho The chants of Tradition! Sua magnânima generosidade é fantástica! Que bela revista, rica em cores e imagens, e que papel de ótima qualidade! E de vez em quando também acompanhada de livrinhos, e tudo dado de presente por um coração tão grande como o seu! Cartas dos mosteiros Cartas dos mosteiros Como podemos agradecer-lhes por tudo o que fizeram por nós? Lançaremos flechas de amor ao Santíssimo Coração de Jesus para que continue a fazer chover suas graças sobre vocês e sobre a redação e para que a obra de bem que começaram prossiga com sucesso para chegar a tocar as almas e instigá-las até a conquista da coroa da santidade. Nosso Senhor, em sua magnificência, os recompense em abundância neste tempo e pela eternidade! irmã Mary Denise Nazareth e a comunidade das clarissas da Adoração Perpétua CLARISSAS DO MOSTEIRO DE ANDOVER Andover, Massachusetts, EUA Agradecemos, dos EUA, por The chants of Tradition Andover, 1º de agosto de 2011 Prezado senhor Andreotti, as palavras não conseguem expressar a nossa gratidão pelo senhor pelo envio gratuito de 30Giorni, sua revista de extraordinária beleza, e, este mês, por The chants of Tradition, acompanhado pelo CD. O nosso Deus de amor abençoe copiosamente a sua bondade e generosidade! Como o senhor nos enriquece! Pedimos à nossa querida mãe Santa Clara que una a sua forte oração às nossas pelas necessidades e intenções suas e de todos os seus entes queridos. Abençoe-nos também com suas boas orações. Com corações gratos em oração por toda a bondade que demonstra por nós, as suas clarissas de Andover Vocação de Pedro e André CLARISSAS DO MOSTEIRO DE BELLO Bello, Antioquia, Colômbia Trinta e sete monjas que dia e noite rezam diante de Jesus Sacramentado Bello, 2 de agosto de 2011 Ilustre senhor Andreotti, receba nossa cordial saudação franciscana de paz e bem, em Deus nosso Pai e em seu Filho Jesus Cristo, que com a promessa cumprida do Espírito Santo enche as nossas vidas de paz e alegria, de confiança e esperança. Um sacerdote próximo da comunidade nos emprestou alguns exemplares da revista 30Giorni; reconhecemos que é um precioso instrumento espiritual que nos atualiza em matéria eclesial e sobre outros temas interessantes, uma vez que nos aproxima do mistério de Cristo, visível em nossos irmãos mais necessitados. Com esta carta, desejamos pedir-lhe que nos envie mais vezes e gratuitamente os exemplares dessa revista maravilhosa e, se possível, um exemplar de Quien reza se salva. É uma ótima oportunidade para crescer na vida do espírito. Nós o recompensaremos com a nossa oração assídua diante de Jesus Sacramentado; assim, em todos os seus projetos terá sempre a luz destas trinta e sete irmãs que dia e noite rezam pelo senhor e por seus mais próximos colaboradores. ¬ Cartas dos mosteiros Cartas dos mosteiros As bodas de Caná Seremos gratas se puder acolher favoravelmente esta súplica que lhe apresentamos por intercessão dos nossos seráficos pais, São Francisco e Santa Clara, os pobres de Assis, que do alto dispensarão abundantes graças e bênçãos sobre sua vida. Deus o abençoe e aumente o espírito fraterno e solidário com muitas pessoas que usufruem deste material espiritual. Em Jesus e Maria, a abadessa, irmã Margarita María del Sagrado Corazón, O.S.C., e comunidade que é a sua revista 30Days, que vocês nos enviam regularmente há alguns anos e que nos mantém informadas sobre o que acontece no mundo exterior, para tornar viva a nossa oração e abrir os nossos corações aos sofrimentos dos nossos irmãos e das nossas irmãs. Obrigada também pelo CD e pelo livrinho com os simples cantos gregorianos que ficamos enormemente felizes de receber. Esteja certo das nossas orações pelo senhor e pelo seu trabalho, e por todos os seus colaboradores. A sua irmã em Nosso Senhor eucarístico, irmã Maria Teresita CLARISSAS DA ADORAÇÃO PERPÉTUA Eluru, Andhra Pradesh, Índia DOMINICANAS DO MOSTEIRO OUR LADY OF GRACE North Guilford, Connecticut, EUA 30Days nos mantém informadas para revigorar a nossa oração A saúde e a paz de Cristo, dos EUA Eluru, 4 de agosto de 2011 North Guilford, 21 de agosto de 2011 Prezado senador Andreotti, minhas irmãs da comunidade se unem a mim ao lhe agradecer de todo o coração pelo precioso presente Prezado senador Andreotti, a saúde e a paz de Cristo! Obrigada pelo presente que nos envia com 30Days, que 28 30DIAS Nº 7/8 - 2011 Cartas dos mosteiros Cartas dos mosteiros considero uma ótima revista pela sua visão da Igreja e do mundo. Agora, um pedido. Seria possível enviarem um exemplar da meditação de padre Giacomo Tantardini “The Son cannot do anything on his own”? Obrigada, e que Deus o abençoe! irmã Susan Early, O.P. DOMINICANAS DO MOSTEIRO DE SANTA CATARINA Santorini, Grécia Quem reza se salva é uma joia para o nosso tempo Santorini, 26 de agosto de 2011 Eu lhes seria grata se pudessem enviar-me vinte exemplares em espanhol e um em italiano, português, francês, inglês e alemão do livrinho Chi prega si salva: é uma joia para o nosso tempo. O Senhor já os abençoa por este trabalho. Muito obrigada. Que o Senhor continue a tornar frutuoso o seu trabalho. irmã María de la Iglesia, O.P. CARMELITAS DO CARMELO ASHRAM Vijayawada, Andhra Pradesh, Índia 30Days nos mantém em comunhão com a Igreja inteira Vijayawada, 27 de agosto de 2011 Prezado senhor Andreotti, afetuosas saudações em oração no preciosíssimo nome de nosso Senhor Jesus Cristo! Com profunda gratidão desejo agradecer-lhe pela extraordinária revista 30Days, que com tanta generosidade e constância há anos o senhor nos envia. Que o bom Deus o abençoe e recompense de modo cada vez mais copioso. Agrada-nos muito essa bela revista, rica em informações importantes e dignas de nota, de grande interesse, estímulo e utilidade para nós, irmãs de clausura, que não recebemos muitas boas notícias do mundo exterior. 30Days nos mantém em comunhão com a Igreja inteira e o mundo de hoje. Achamos assim oportunidade e motivação para oferecer nossas vidas a Deus com maior entusiasmo, como sacrifício do doce perfume, pelas necessidades mais instigantes da Igreja e do mundo, segundo o nosso carisma. Somos também muito gratas pelos suplementos que de vez em quando nos envia. Gostamos de modo particular de The chants of Tradition, com o CD. Nossas jovens irmãs ficaram encantadas ao ouvir pela primeira vez o canto gregoriano em latim. Gostaríamos de receber a meditação sobre a Santa Páscoa. Esteja certo das nossas incessantes orações por todas as suas intenções e o seu apostolado rico em frutos. Que as suas boas obras continuem a ser abençoadas por uma abundância de graça e pela inspiração do Espírito Santo. Abençoe-o e o guie a nossa Bem-Aventurada Virgem do Carmelo. Com renovados agradecimentos e apreço pelo que o senhor nos faz, sou sua, com afeto, em Cristo, irmã Emmanuel of Saint Joseph e comunidade Milagres de Jesus 30DIAS Nº 7/8 - 2011 29 Cartas das missões Cartas das missões MISSIONÁRIOS JESUÍTAS DON BOSCO TECHNICAL COLLEGE Kannur, Kerala, Índia Adua, Etiópia Chi prega si salva, um livrinho milagroso 30Days na Etiópia Kannur, 20 de junho de 2011 Adua, 5 de julho de 2011 Caríssimo diretor, como aqui há muitos missionários e missionárias que estiveram na Itália, eu lhe seria muito grato se me enviasse alguns exemplares em italiano de seu milagroso livrinho Chi prega si salva. Esses missionários sabem muito bem o italiano. Eu lhe agradeço em nome deles e em meu nome pelo grande bem espiritual que realiza com esses belos livrinhos. Com grande afeto e gratidão, e em união de orações, sou seu para sempre afeiçoadíssimo co-missionário, Prezado senhor Andreotti, somos muito gratos ao senhor pelo envio da revista 30Giorni. A nossa comunidade é composta de cinco pessoas, e quatro de nós compreendem melhor o inglês que o italiano. Perguntamos gentilmente se seria possível recebermos a edição em inglês em vez da em italiano. Obrigado. Saudações da Etiópia, padre L. M. Zucol, S.J. padre Tesfay Kidane, reitor MISSIONÁRIOS COMBONIANOS Lirangwe, Malawi Interiorizar a fé por meio da oração Kannur, 22 de julho de 2011 Lirangwe, 9 de julho de 2011 Caríssimo senador Andreotti, agradeço-lhe realmente de coração pelos dois pacotes de seu maravilhoso livrinho Chi prega si salva. Já comecei a distribuí-lo a muitas pessoas e também o traduzi em malayalam para dá-lo aos meus novos convertidos. Assim, todas as almas que forem salvas mediante a leitura e as orações de seus livrinhos rezarão por suas intenções e obterão de Nosso Senhor um elevado lugar no céu. Nós todos rezamos pelo seu grande apostolado da imprensa, realizado também mediante a sua belíssima revista 30Giorni, que leio com grande proveito espiritual. Com grande afeto, gratidão e orações mútuas. Sou seu gratíssimo co-missionário, padre L. M. Zucol, S.J. 30 30DIAS Nº 7/8 - 2011 Peço-lhes que me enviem, se possível, dois exemplares do livrinho Chi prega si salva (no formato pequeno), um em inglês e outro em italiano. Gostaria ainda de lhes pedir autorização para traduzir e imprimir esse livrinho em língua local (chichewa). Estou certo de que faria uma imensidão de bem a todos, desde o clero até os cristãos dispersos nos vilarejos mais distantes. Creio que a atual fase do nosso trabalho missionário seja a de levar os africanos à interiorização da sua fé, justamente por meio da oração. Vivo há trinta e sete anos na África e estou convicto de que, se não cumprirmos, com a graça de Deus, esta fase, a África corre o risco de se tornar como a América Latina da época de Pio XII, com festas triunfalistas de massa, rallies, cada vez mais famílias em desagregação, pessoas pertencendo de modo fluido e superficial a Cristo e à Igreja. São muitos os católicos que “viram casaca”, procurando nas seitas e nas deno- Cartas das missões Cartas das missões PARÓQUIA DE LʼASSOMPTION Boma, República Democrática do Congo Qui prie sauve son âme nos ajudou para a catequese Boma, 19 de julho de 2011 Caro diretor, as crianças da nossa paróquia que receberam a primeira comunhão e seus catequistas lhe agradecem pelos exemplares de Qui prie sauve son âme, que os ajudaram no ano de formação catequética que acaba de terminar. Rogam a Deus que encha de graça e de bênçãos o senhor e seus colaboradores. Nós lhe pedimos um número igual de livrinhos em francês para as crianças que começarão sua formação em outubro, no novo ano de catequese. minações protestantes um maior alimento de Palavra de Deus e uma fé mais profunda e menos barulhenta. Digam-me se poderei pagar pelos livrinhos e as despesas postais da remessa por via aérea. Recebam meus votos de sucesso cada vez maior em seu apostolado. padre Anastasio Tricarico XAVERIAN HOUSE Daca, Bangladesh Peço o livro de Joseph Ratzinger, Lʼunità delle nazioni Daca, 15 de julho de 2011 Caro senador Giulio Andreotti, desejo renovar-lhe meu muito obrigado pelas contribuições tão estimulantes da sua revista. Ao mesmo tempo, renovo-lhe também meus votos de que, Os jovens da primeira comunhão da paróquia L’Assomption, em Boma Queira receber, senhor diretor, a expressão da nossa gratidão. P.S. Sou aquele com a camisa amarela na foto. Roger Phanzu-Kumbu considerando o peso dos anos, o senhor tenha ainda a leveza necessária para sair-se bem na direção de 30Giorni. No passado recebi alguns de seus livros, que me foram muito úteis. Gosto muito das meditações agostinianas de padre Tantardini. Recentemente, um confrade meu que trabalha com os estrangeiros residentes em Daca me pediu um exemplar da edição em inglês de Chi prega si salva. Para mim, ouso acrescentar o pedido do livro de Joseph Ratzinger, L’unità delle nazioni. Um obrigado e uma oração, padre Silvano Garello Cartas das missões Cartas das missões ser sentida e vivida. Se nós, que herdamos esta música sacra, a perdermos, deixando-a cair em desuso, como poderá ser transmitida? A sua iniciativa, portanto, é bem-vinda, artística, instrumento secular de oração, e necessária. Nós lhe agradecemos por sua generosidade e atenção, e ao senhor voltamos nossa oração. irmã Viviana Zanesco, em nome de toda a comunidade ARQUIDIOCESE DE PRETÓRIA Phalaborwa, África do Sul Foi uma verdadeira maravilha ler 30Days IRMÃS MISSIONÁRIAS DA CONSOLATA DA NAZARETH HOUSE Phalaborwa, 22 de julho de 2011 Nairóbi, Quênia Agradecimentos, em particular, pelo CD I canti della Tradizione Nairóbi, 21 de julho de 2011 Prezado senador Giulio Andreotti, temos uma dívida de gratidão com o senhor pelo presente que é a sua publicação 30Giorni, que recebemos regularmente e que lemos com interesse, pelas notícias e pelos artigos específicos, que de outra forma não poderíamos aproveitar. Aceite nossas congratulações pelo objetivo louvável de sua revista: formar, informar, explicar, e também louvar e estimar o bem e esclarecer sobre possíveis erros. Transparece também, nas entrelinhas, a sua personalidade, que conhecemos há anos; mas o seu editorial preciso nos permite conhecer ainda melhor seus valores pessoais. Obrigada por essa partilha, não apenas da revista. Agradecemos, de modo particular, pelo CD I canti della Tradizione anexado ao número 4/5. Nós o ouvimos imediatamente e as vozes do coral, precisas, vibrantes, disciplinadas, de estilo e execução encantadores segundo a tradição gregoriana, encheram o nosso coração. Se na Europa esses cantos hoje são ouvidos raramente, aqui já nem é possível ensiná-los. Uma música carregada de séculos de devoção e tradição não pode apenas ser ensinada: deve 32 30DIAS Nº 7/8 - 2011 Senhor, sou um sacerdote católico romano incardinado na arquidiocese de Pretória e no momento atuo em Phalaborwa, no extremo norte do país. Chegou a minhas mãos a sua revista, embora tenha sido um exemplar já datado, de 2007. Eu a percorri, folheando as páginas rapidamente, e no fim a li toda. Foi uma verdadeira maravilha lê-la: os temas tratados são de grande relevo e oferecem muitas informações para um católico. Vocês estão fazendo uma obra notável e de grande inspiração. A última ceia A crucifixão CASA DO CLERO DE BUENOS AIRES Entusiasmado pela qualidade da revista, pedi informações e gostaria de recebê-la regularmente, mas não tenho os meios financeiros para arcar com as despesas de uma assinatura. Meu humilde pedido é de poder ter uma assinatura gratuita da edição em inglês. Espero e tenho confiança de que meu pedido seja levado favoravelmente em consideração e que não seja um excessivo ônus econômico. Agradeço antecipadamente. Cordiais saudações, padre S. Rangwaga Buenos Aires, Argentina Chi prega si salva para a catequese dos adultos Buenos Aires, 29 de julho de 2011 Caros amigos, sou um sacerdote argentino e desejo pedir-lhes um favor: eu precisaria de 10 exemplares em espanhol e 3 em italiano de Chi prega si salva. Utilizo o livrinho para a catequese dos adultos. Agradeço muito desde já. padre Francisco Caggia 30DIAS Nº 7/8 - 2011 33 Cartas das missões Buenos Aires, 18 de agosto de 2011 Caros irmãos, obrigado pelo envio do utilíssimo Quien reza se salva, que comecei a distribuir no mesmo dia em que chegou. Deus lhes conceda as forças e os meios para continuar. De novo muitíssimo obrigado e em união de oração. padre Francisco Caggia PARÓQUIA DE SANTO EUSÉBIO Inhassoro, Moçambique Alguns exemplares de Quem reza se salva para os nossos catequistas padre Giacomo Biasotto Inhassoro, 4 de agosto de 2011 DIOCESE DE SANTIAGO DE CABO VERDE Praia, Cabo Verde Prezado diretor, agradeço-lhe de coração pelo CD de cantos gregorianos: ouvi-los aqui na África me levou de volta à minha juventude no seminário. Recebemos com prazer a sua revista. Mando-lhe algumas fotos da nossa igreja há pouco consagrada. Cordiais saudações, padre Pio Bono P.S. Se puder, nos envie alguns exemplares de Quem reza se salva para os nossos catequistas. MISSIONÁRIOS COMBONIANOS Dondi, República Democrática do Congo São momentos de serenidade aqueles em que leio 30Jours Dondi, 6 de agosto de 2011 Com a presente, desejo expressar-lhes minha gratidão pela revista 30Jours, que recebo quase regularmente na República Democrática do Congo. Se digo “quase” é pelo mal funcionamento dos correios locais. Embora 34 30DIAS Nº 7/8 - 2011 não receba todas as edições, a revista me agrada muito pelas notícias, pelos artigos, pelas reflexões e pelas belíssimas fotos. São para mim momentos de serenidade e distensão aqueles em que tenho a possibilidade de percorrer as páginas de 30Jours. Creio dar-lhes prazer ao lhes enviar uma de minhas fotos, em que estou com alguns catequistas que em março deste ano frequentaram um curso de formação no centro pastoral e social que dirigimos em nossa missão de Dondi (Watsa), no nordeste da República Democrática do Congo. Ao expressar-lhes meus sentimentos de grande estima e o desejo de longa vida, apresento-lhes minhas respeitosas saudações e a garantia de minha oração ao Senhor. Cem exemplares de Quem reza se salva Praia, 8 de agosto de 2011 É com muita alegria e profundo reconhecimento que acuso a recepção da bela, rica e importante revista 30Giorni em português, fruto de generosidade e espírito de bem servir do seu Diretor e da sua equipe. Agradeço o envio espontâneo e gratuito dessa interessante revista às Igrejas das missões, assim como o suplemento 4/5 de 2011, contendo o livrinho e o CD “Os Cantos da Tradição”, com músicas gregorianas. Deus vos recompense. Gostaria também de pedir cem exemplares do livrinho Quem reza se salva. Embora eu pessoalmente não o conheça, estou convencido de que se trata de um livro oportuno, capaz de ajudar as pessoas que querem e precisam de rezar, mas que necessitam de algum suporte. Esses livrinhos serão distribuídos a essas pessoas. Com os votos das maiores bênçãos do Senhor, aproveito para apresentar ao ilustríssimo senhor Giulio Andreotti os meus respeitosos cumprimentos em Cristo Jesus. Arlindo Gomes Furtado, bispo de Santiago de Cabo Verde Correio do Diretor ARQUIDIOCESE DE KARACHI Karachi, Paquistão Obrigado pela sua fidelidade à Igreja Karachi, 25 de julho de 2011 Estimado senhor Andreotti, muito obrigado pela remessa regular de 30Giorni/30Days. Além do livrinho Who prays is saved, agora devo agradecer-lhe pelo The chants of Tradition. É um belo presente da parte sua e dos seus colaboradores. Obrigado por tudo o que fazem por muitíssimas pessoas, particularmente nas missões. Obrigado pela sua fidelidade à Igreja. Deus abençoe o senhor e os seus colaboradores na sua obra de amor. Peço suas orações pela nossa Igreja no Paquistão. Com os melhores votos e bênçãos, sinceramente seu em Cristo, As capas de Who prays is saved e The chants of Tradition CAPELA DE MARIA MÃE DE DEUS Kuching, Sarawak, Malésia Sempre li 30Giorni com muito prazer pelos artigos doutrinais e as entrevistas Evarist Pinto, arcebispo de Karachi Senhor pela minha saúde e pela ajuda por não perder o espírito sacerdotal. Com os melhores votos, agradecido no Senhor, Peter Chung Hoan Ting, arcebispo emérito de Kuching DIOCESE DE SAN ANGELO Kuching, 20 de julho de 2011 San Angelo, Texas, EUA Prezado Diretor, há muitos anos recebo regularmente um exemplar de brinde da sua revista. Agradeço-lhe de coração. Sempre li com grande prazer, particularmente os artigos doutrinais e as entrevistas. Agradeço-lhe também por acrescentar, algumas vezes, alguns livrinhos, como o mais recente, The chants of Tradition. Rezarei pelo senhor e pelos seus colaboradores, e também pelo prosseguimento da revista. Ficaria muito agradecido se continuassem a enviá-la. Deixei o meu cargo em 2003, mas continuo a praticar ativamente o ministério sacerdotal, oferecendo a minha ajuda a paróquias e às pessoas. Agradeço ao Agradeço de coração pelo CD e o livrinho de cantos gregorianos San Angelo, 28 de julho de 2011 Caros e estimados amigos, agradeço-lhes de coração pelo CD e o belo livrinho de cantos gregorianos. Aprecio muito este presente especial e anexo uma doação para exprimir a minha gratidão. A paz de Deus esteja convosco. Sinceramente em Cristo e Maria, Michael D. Pfeifer, O.M.I., bispo de San Angelo 30DIAS Nº 7/8 - 2011 35 A percepção da Igreja como “luz refletida” que une os Padres do primeiro milênio e o Concílio Vaticano II pelo cardeal Georges Cottier, O.P. teólogo emérito da Casa Pontifícia No já próximo 2012 vão se completar os cinquenta anos do início do Concílio Vaticano II. Meio século depois, esse que foi um acontecimento maior na vida da Igreja continua a suscitar debates – que provavelmente se intensificarão nos próximos meses – a respeito de qual é a interpretação mais adequada daquela assembleia conciliar. As disputas de caráter hermenêutico, embora certamente importantes, correm o risco de se tornar controvérsias para especialistas. Ao passo que pode interessar a todos, sobretudo no momento O portal central da Catedral de Chartres, séculos XII-XIII, França 36 30DIAS Nº 7/8 - 2011 presente, descobrir qual foi a fonte inspiradora que animou o Concílio Vaticano II. A resposta mais comum reconhece que aquele evento era movido pelo desejo de renovar a vida interior da Igreja e também adaptar sua disciplina às novas exigências, para voltar a propor com novo vigor sua missão no mundo atual, atenta, na fé, aos “sinais dos tempos”. Mas, para ir mais a fundo, é preciso perceber qual era o rosto mais íntimo da Igreja que o Concílio se propunha a reconhecer e a representar para o mundo, em seu intento de atualização. O título e as primeiras linhas da constituição dogmática conciliar Lumen gentium, dedicada à Igreja, são iluminadores, nesse sentido, em sua clareza e simplicidade: “Sendo Cristo a luz dos povos, este Sacrossanto Sínodo, congregado no Espírito Santo, deseja ardentemente anunciar o Evangelho a toda criatura e iluminar todos os homens com a claridade de Cristo que resplandece na face da Igreja”. No incipit de seu documento mais importante, o último Concílio reconhece que o ponto de origem da Igreja não é a própria Igreja, mas a presença viva de Cristo, que edifica pessoalmente a Igreja. A luz que é Cristo se reflete, como num espelho, na Igreja. A consciência desse dado elementar (a Igreja é, no mundo, o reflexo da presença e da ação de Cristo) esclarece tudo o que o último Concílio disse sobre a Igreja. O teólogo belga Gérard Philips, que foi o principal redator da constituição Lumen gentium, evidencia justamente esse dado no início de seu monumental comentário ao texto conciliar. Segundo ele, “a Constituição sobre a Igreja adota desde o início a perspectiva cristocêntrica, perspectiva que se afirmará com insistência ao longo de toda a exposição. A Igreja está profundamente convencida disto: a luz dos povos se irradia não dela, mas de seu divino Fundador; ao mesmo tempo, a Igreja sabe muito ¬ REFLEXÕES SOBRE O MISTÉRIO E A VIDA DA IGREJA A Transfiguração, mosaico da primeira metade do século XI do mosteiro de Hosios Loukas, Chaidari, Atenas O último Concílio reconhece que o ponto de origem da Igreja não é a própria Igreja, mas a presença viva de Cristo, que edifica pessoalmente a Igreja. A luz que é Cristo se reflete, como num espelho, na Igreja 30DIAS Nº 7/8 - 2011 37 A missão dos apóstolos, afresco do século X, Tokali Kilise, Göreme, Turquia Ao mesmo tempo, devemos perceber como um dado objetivo a correspondência entre a percepção da Igreja expressa na Lumen gentium e a já compartilhada nos primeiros séculos do cristianismo. Em outras palavras, a Igreja não deve ser pressuposta como um sujeito fechado em si mesmo, preestabelecido. A Igreja se atém ao dado de que a sua presença no mundo floresce e permanece como reconhecimento da presença e da ação de Cristo bem que, refletindo-se em seu rosto, essa irradiação alcança a humanidade inteira” (La Chiesa e il suo mistero nel Concilio Vaticano II: storia, testo e commento della costituzione Lumen gentium. Milano: Jaca Book, 1975, v. I, p. 69). Uma perspectiva que Philips retoma até as últimas linhas de seu comentário, em que repete que “não nos cabe profetizar sobre o 38 30DIAS Nº 7/8 - 2011 futuro da Igreja, sobre seus insucessos e desenvolvimentos. O futuro desta Igreja, que Deus quis fazer o reflexo de Cristo, Luz dos Povos, está em Suas mãos” (ibid., v. II, p. 314). A percepção da Igreja como reflexo da luz de Cristo aproxima o Concílio Vaticano dos Padres da Igreja, que desde os primeiros séculos recorriam à ima- gem do mysterium lunae, o mistério da lua, para sugerir qual era a natureza da Igreja e a ação que lhe convém. Como a lua, “a Igreja resplandece não por luz própria, mas pela luz de Cristo” (“fulget Ecclesia non suo sed Christi lumine”), diz Santo Ambrósio. Para Cirilo de Alexandria, “a Igreja é iluminada pela luz divina de Cristo, que é a única luz no reino das almas. Há, portanto, uma só luz: nessa única luz resplende todavia também a Igreja, que não é porém o próprio Cristo”. Nesse sentido, merece atenção a opinião dada recentemente pelo historiador Enrico Morini, num artigo publicado no site www.chiesa.espressonline.it, de Sandro Magister. Segundo Morini – que é professor de História do Cristianismo e das Igrejas na Universidade de Bolonha –, o Concílio Vaticano II pôs-se “na perspectiva da mais absoluta continuidade com a tradição do primeiro milênio, segundo uma periodização não puramente matemática, mas essencial, uma vez que o primeiro milênio de história da Igreja foi o da Igreja de sete concílios, ainda indivisa [...]. Promovendo a renovação da Igreja, o Concílio não pretendeu introduzir algo novo – como desejam e temem, respectivamente, progressistas e conservadores –, mas retornar ao que se havia perdido”. A observação pode gerar equívocos, se for confundida com o mito historiográfico segundo o qual o itinerário histórico da Igreja é uma progressiva decadência e um distanciamento crescente de Cristo e do Evangelho. Também não é possível dar crédito a contraposições artificiosas, segundo as quais o desenvolvimento dogmático do segundo milênio não seria conforme à Tradição compartilhada durante o primeiro milênio da Igreja indivisa. Como evidenciou o cardeal Charles Journet, apoiando-se também no beato John Henry Newman e em seu ensaio sobre o desenvolvimento do dogma, o depositum que recebemos não é um depósito morto, mas vivo. E tudo o que é vivo se mantém vivo desenvolvendo-se. Ao mesmo tempo, devemos perceber como um dado objetivo a correspondência entre a percepção da Igreja expressa na Lumen gentium e a já compartilhada nos primeiros séculos do cristianismo. Em outras palavras, a Igreja não deve ser pressuposta como um sujeito fechado em si mesmo, preestabelecido. A Igreja se atém ao dado de que a sua presença no mundo floresce e permanece como reconhecimento da presença e da ação de Cristo. Às vezes, também em nossa mais recente atualidade eclesial, essa percepção do ponto de origem da Igreja parece para muitos cristãos ofuscar-se, e parece acontecer uma espécie de reviravolta: de reflexo da presença de Cristo (que com o dom de Seu Espírito edifica a Igreja), passa-se a perceber a Igreja como uma realidade material e idealmente empenhada em atestar e realizar por si mesma sua presença na história. Desse segundo modelo de percepção da natureza da Igreja, que não é conforme à fé, derivam consequências concretas. Se a Igreja percebe-se no mundo como reflexo da presença de Cristo, como deve ser, o anúncio do Evangelho só pode acontecer no diálogo e de modo livre, renunciando a qualquer meio de coerção, quer material, quer espiritual. É o caminho indicado por Paulo VI em sua primeira encíclica, Ecclesiam Suam, publicada em 1964, que expressa perfeitamente o olhar para a Igreja que é próprio do Concílio. O modo como o Concílio encarou as divisões entre os cristãos e, depois, entre os fiéis de outras religiões reflete a mesma percepção da Igreja. Assim, o pedido de perdão pelas culpas dos cristãos, que surpreendeu e ge- Os apóstolos Paulo, João, Tiago Maior, Tiago Menor e Bartolomeu, portal sul da Catedral de Chartres rou discussões no corpo eclesial quando foi apresentado por João Paulo II, também é perfeitamente consoante com a consciência de Igreja que até aqui descrevi. A Igreja pede perdão não por seguir lógicas de etiqueta mundanas, mas porque reconhece que os pecados de seus filhos ofuscam a luz de Cristo, que ela é chamada a refletir em seu rosto. Todos os seus filhos são pecadores chamados pela ação da graça à santidade. Uma santificação que é sempre dom da misericórdia de Deus, que deseja que nenhum pecador – por mais horrível que seja o seu pecado – seja acorrentado pelo maligno na via da perdição. Assim, podemos compreender a fórmula do cardeal Journet: a Igreja é sem pecado, mas não sem pecadores. A referência à verdadeira natureza da Igreja como reflexo da luz de Cristo têm também implicações pastorais imediatas. Infelizmente, no atual contexto, registramos a tendência de alguns bispos a exercerem seu ¬ 30DIAS Nº 7/8 - 2011 39 Pentecostes, mosaico da primeira metade do século XI do mosteiro de Hosios Loukas, Chaidari, Atenas Talvez, no mundo atual, fosse mais simples e reconfortante poder ouvir pastores que falam a todos sem dar a fé por pressuposta. Como reconheceu Bento XVI durante sua homilia em Lisboa em 11 de maio de 2010, “muitas vezes preocupamo-nos afanosamente com as consequências sociais, culturais e políticas da fé, dando por suposto que esta fé existe, o que é cada vez menos realista” magistério por meio de pronunciamentos pela mídia, em que frequentemente se dão prescrições, instruções e indicações sobre o que devem ou não devem fazer os cristãos. Como se a presença dos cristãos no mundo fosse o produto de estratégias e prescrições e não surgisse da fé, ou seja, do reconhecimento da presença de Cristo e de sua mensagem. Talvez, no mundo atual, 40 30DIAS Nº 7/8 - 2011 fosse mais simples e reconfortante poder ouvir pastores que falam a todos sem dar a fé por pressuposta. Como reconheceu Bento XVI durante sua homilia em Lisboa em 11 de maio de 2010, “muitas vezes preocupamo-nos afanosamente com as consequências sociais, culturais e políticas da fé, dando por suposto que esta fé existe, o que é cada vez menos realista”. q Um patrimônio que une arte, cultura e espiritualidade na maravilhosa paisagem natu ral dos Montes “Simbruini” O patrimônio artístico e cultural desta região é fascinante. Os Mosteiros são jóias de inestimável valor pelas suas elaboradas arquiteturas, seus raros afrescos e o exclusivo patrimônio bibliográfico e de museus. A ESTRUTURA OFERECE HOSPITALIDADE INDIVIDUALMENTE E PARA GRUPOS E DISPÕE DE: u Quartos com 1 a 4 camas com banheiro autônomo, telefone, capacidade total para 65 pessoas. u Sala Aabadia de Santa Escolástica, situada a poucos passos de Subiaco, foi fundada por S. Bento no século VI. São de particular interesse histórico o campanário românico, construído no século XI, os três claustros (renascentista, gótico e cosmatesco) e a bela igreja neoclássica de Quarenghi. Bar e TV Sat 2000. u Restaurante com capacidade para 500 pessoas. Principais distâncias: 60 km de Roma, u 2 Salas para Congressos, coligadas com áudio-vídeo. u Estacionamento interno. 18 km de Fiuggi parque. u Capela. TODOS OS AMBIENTES SÃO ACESSÍVEIS A DEFICIENTES FÍSICOS RIETI Firenze ‡ u Grande 30 km de Tívoli, L’Aquila - Pescara Borgorose Vicovaro Mandela Subiaco ROMA La Foresteria Frascati Fiuggi Anagni Pomezia Velletri Anagni Fiuggi Guarcino Alatri Sora FROSINONE Cassino LATINA MOSTEIRO DE Sta. 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Pelo contrário – narra são Mateus – pediu que os discípulos entrassem na barca a fim de “O preceder na outra margem” (Mt 14, 22), para os encontrar de novo. Entrementes, “já a uma boa distância da margem, a barca era agitada pelas ondas, pois o vento era contrário” (v. 24), e eis que “pela quarta vigília da noite, Jesus veio até eles, caminhando sobre o mar” (v. 25); os discípulos ficaram transtornados e, pensando que se tratava de um fantasma, “soltaram gritos de terror” (v. 26), pois não O reconheceram, não compreenderam que era o Senhor. Mas Jesus tranquiliza-os: “Coragem, sou eu. Não tenhais medo!” (v. 27). Trata-se de um episódio, do qual os 42 30DIAS Nº 7/8 - 2011 Padres da Igreja hauriram uma grandiosa riqueza de significado. O mar simboliza a vida presente, a instabilidade do mundo visível; a tempestade indica todos os tipos de tribulação, de dificuldade que oprime o homem. A barca, ao contrário, representa a Igreja construída por Cristo e norteada pelos apóstolos. Jesus deseja educar os discípulos a suportar com coragem as adversidades da vida, confiando em Deus, n’Aquele que se revelou ao profeta Elias no monte Horeb, no “murmúrio de uma bri- ¬ Santo Agostinho, imaginando que se dirigia ao apóstolo, comenta: o Senhor “humilhou-se e pegou-te pela mão. Unicamente com as tuas forças, não consegues levantar-te. Segura na mão d'Aquele que desce até ti” (Enarrationes in Psalmos 95, 7), e diz isto não apenas a Pedro, mas di-lo também a nós urtas Curtas Curtas Curtas 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO Jesus salva Pedro das águas, mosaico da Catedral de Monreale, Palermo 30DIAS Nº 7/8 - 2011 43 Curtas Curtas Curtas Cu 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUN Jesus salva Pedro das águas, detalhe sa ligeira” (1 Rs 19, 12). Depois, este trecho continua com o gesto do apóstolo Pedro que, tomado por um impulso de amor pelo Mestre, pediu para ir ao seu encontro, caminhando sobre as águas. “Mas, redobrando a violência do vento, teve medo e, começando a afundar, gritou: ‘Senhor, salva-me!’” (Mt 14, 30). Santo Agostinho, imaginando que se dirigia ao apóstolo, comenta: o Senhor “humilhou-se e pegou-te pela mão. Unicamente com as tuas forças, não consegues levantar-te. Segura na mão d’Aquele que desce até ti” (Enarrationes in Psalmos 95, 7), e diz isto não apenas a Pedro, mas di-lo também a nós. Pedro caminha sobre as águas não pelas suas pró- O grande pensador Romano Guardini escreve que o Senhor “está sempre próximo, dado que se encontra na raiz do nosso próprio ser. Todavia, temos que experimentar o nosso relacionamento com Deus entre os polos da distância e da proximidade. Pela proximidade somos fortalecidos, pela distância, postos à prova” 44 30DIAS Nº 7/8 - 2011 prias força, mas pela graça divina, na qual crê, e quando se sente dominado pela dúvida, quando deixa de fixar o olhar em Jesus e tem medo do vento, quando não confia plenamente na palavra do Mestre, quer dizer que, interiormente, se está a afastar dele, e é então que corre o risco de afundar no mar da vida, e é assim também para nós: se olharmos unicamente para nós mesmos, tornamo-nos dependentes dos ventos e já não conseguimos atravessar as tempestades, as águas da vida. O grande pensador Romano Guardini es- urtas Curtas Curtas Curtas NDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO Invoquemos a Virgem Maria, modelo de confiança plena em Deus para que, no meio de tantas preocupações, problemas e dificuldades que agitam o mar da nossa vida, ressoe no nosso coração a palavra tranquilizadora de Jesus que nos diz, também a nós: Coragem, sou eu, não tenhais medo!, e aumente a nossa fé n'Ele creve que o Senhor “está sempre próximo, dado que se encontra na raiz do nosso próprio ser. Todavia, temos que experimentar o nosso relacionamento com Deus entre os polos da distância e da proximidade. Pela proximidade somos fortalecidos, pela distância, postos à prova” (Accettare se stessi, Brescia 1992, p. 71) [Em português, A aceitação de si mesmo, Ed. Palas Athenas]. Caros amigos, a experiência do profeta Elias, que ouviu a passagem de Deus, e a dificuldade da fé do apóstolo Pedro levam- nos a compreender que o Senhor, ainda antes que O procuremos ou invoquemos, é Ele mesmo que vem ao nosso encontro, abaixa o céu para nos estender a sua mão e nos elevar à sua altura; Ele espera unicamente que nos confiemos de maneira total a Ele, que seguremos realmente a sua mão. Invoquemos a Virgem Maria, modelo de confiança plena em Deus para que, no meio de tantas preocupações, problemas e dificuldades que agitam o mar da nossa vida, ressoe no nosso coração a palavra tranquilizadora de Jesus que nos diz, também a nós: Coragem, sou eu, não tenhais medo!, e aumente a nossa fé n’Ele.culdades que agitam o mar da nossa vida, ressoe no nosso coração a palavra tranquilizadora de Jesus que nos diz, também a nós: Coragem, sou eu, não tenhais medo!, e aumente a nossa fé n’Ele. 30DIAS Nº 7/8 - 2011 45 Curtas Curtas Curtas Cu 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUN IGREJA/1 Primeiro milênio. Notas de método Settimo cielo, o blog do vaticanista Sandro Magister para a revista L’Espresso, apresentou um debate sobre a Tradição católica e o Concílio Vaticano II. Este é o incipit de um escrito do professor Enrico Morini, professor de História do cristianismo e das Igrejas junto à Universidade de Bolonha, publicado em 15 de julho: “O problema já não é o que se entenda por tradição, mas se houve um momento em que no Ocidente tenha acontecido alguma coisa pela qual este fluxo vital, que nunca se interrompeu – não quero por nada colocar em dúvida esta fidelidade da minha Igreja à tradição! –, tenha-se, assim por dizer, turvado. Na minha opinião, isso aconteceu de modo relevante justamente no final do primeiro milênio, donde a minha individuação de um critério hermenêutico do Concílio Vaticano II precisamente na volta à experiência comum da Igreja indivisa. Também a Ortodoxia seria igualmente necessitada de uma tal “reforma” da sua vida eclesial – mesmo se em medida sensivelmente menor em relação ao Ocidente católico-romano –, sempre seguindo o mesmo critério. Aliás, já começou a fazê-la (pode-se pensar na ‘volta aos Padres’ iniciada pela teologia russa da emigração) e na eventualidade de que este retorno à própria tradição chegasse também às fontes da eclesiologia ortodoxa – libertando-a dos elementos impróprios acumulados em séculos de polêmicas – então até mesmo o grande problema do primado romano seria talvez suscetível a soluções ainda hoje não imagináveis. Neste âmbito da Igreja Católica ainda há muita estrada a ser feita [...] isso foi demonstrado alguns dias atrás na preconizada sucessão da cátedra episcopal milanesa: sem a menor objeção sobre a qualidade da escolha – considerada a elevadíssima personalidade do eleito – o método deixou-me 46 30DIAS Nº 7/8 - 2011 A Basílica patriarcal de Santa Maria Assunta em Aquileia atônito. Transferir um bispo de uma grande Igreja que conta com raízes apostólicas (Aquileia – Grado – Veneza) a uma outra grande Igreja, que conta, ao lado de um grande presente, igualmente um grande passado (é suficiente pensar na tradição ambrosiana) recorda com muita proximidade a transferência de um funcionário, merecedor, de uma prefeitura a uma outra mais prestigiosa e comprometedora. O episódio pareceu-me o sintoma de um grande desequilíbrio eclesiológico”. IGREJA/2 Como nos dias do assassinato de Aldo Moro. (9 de maio de 1978) No Corriere della Sera de 28 de agosto, Alberto Melloni reflete A descoberta do cadáver de Aldo Moro na Via Caetani em Roma, a 9 de maio de 1978 urtas Curtas Curtas Curtas NDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO sobre a introdução do “8 por mil” (a contribuição do Estado italiano para a Igreja): “O dinheiro dado à CEI (Conferência Episcopal Italiana), de fato, foi gasto (quase sempre) muito bem: colocou em ordem um patrimônio que a Fundação de edifícios de Culto do Ministério do Interior não podia manter, financiou muita solidariedade. Não faltam as sombras: certamente financiou interesses e comprou consensos à venda, deu confiança a incompetentes em finanças e em cultura, protegeu operações mesquinhas (por outro lado, como explicava um grande cardeal italiano, em assunto de dinheiro “os padres criminosos confiam sempre em criminosos, porque eles mes- como caminho necessário da Igreja, segundo o límpido ditado da constituição conciliar Lumen gentium, 8. Porque – como ensinou o emergir dos crimes de pedofilia – cada conselho evangélico pode ser vivido de modo extrínseco ou profundo: e como a superficialidade exalta as imoralidades, a sinceridade mesmo fraca aumenta as virtudes. Assim a pouca confiança, pode-se dizer assim, na pobreza subtraiu à Igreja uma credibilidade da qual hoje teria necessidade, para participar na virada que estamos vivendo como um fator de unidade profunda do país. [...] Alguma coisa que seja límpida e não política como um tal ato de fé – com todas as consequências de rigor e ¬ Paulo VI durante a missa de sufrágio de Aldo Moro, a 13 de maio de 1978, na Basílica de São João de Latrão mos são criminosos; os padres bons confiam nos criminosos porque são bons”). [...] Porém aquele dinheiro corroeu alguma coisa mais profunda para a Igreja italiana: foi a sua fé na pobreza de transparência que isso comporta – daria aos bispos ou mesmo acrescentaria aquele crédito do qual eles, espectadores de lamentos e de lutas de carreira eclesiástica despudoradas, ne- cessitam e do que mais precisa o país. Nos dias mais difíceis da sua história pós-fascista – 8 de setembro de 1943 e 9 de maio de 1978 – a Itália encontrou na Igreja um apoio insubstituível e naqueles gestos de coragem a Igreja ganhou uma credibilidade que foi capitalizada por décadas. Ninguém pode excluir que dias, felizmente diferentes na forma, mas não menos comprometedores na substância, estejam atualmente diante do país”. IGREJA/3 Messori: o primeiro milênio e a Igreja que não é nossa mas Sua Vittorio Messori, no Corriere della Sera de 31 de agosto, reflete sobre a queda de vocações que investiu várias congregações religiosas. Essa foi a sua conclusão: “Certamente é doloroso assistir ao declínio de instituições beneméritas e mães de tantos santos e constatar a dor dos cristãos que deram a vida a Famílias que amavam e que, agora veem extinguirse. Mas, na perspectiva de fé, não pode existir nada realmente preocupante. A Providência que guia a história (e muito mais a Igreja, próprio corpo de Cristo) sabe o que faz: ‘Tudo é Graça’, repetindo as últimas palavras do cura da campanha de Bernanos. A Igreja não é um fóssil, mas uma árvore viva onde, sempre, alguns ramos tornam-se áridos, enquanto outros desabrocham e florescem. Quem conhece a sua história sabe que nela, a exemplo do Fundador, a morte é seguida pela ressurreição, muitas vezes em formas humanamente imprevistas. Não deve ser esquecido que no primeiro milênio cristão havia apenas padres seculares e monges: todas as famílias religiosas apareceram apenas a partir do segundo milênio. Frades e irmãs não existiram por muitos séculos, portanto, mesmo deixando uma recordação gloriosa e nostálgica, poderiam não mais existir no futuro ¬ 30DIAS Nº 7/8 - 2011 47 Curtas Curtas Curtas Cu 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUN RESENHA Movimentos e descristianização O Corriere della Sera de 25 de agosto fez a recensão de um minucioso estudo de Roberto Cartocci sobre o catolicismo na Itália publicado pela editora Il Mulino. As estatísticas do estudo mostram uma Itália dividida em um Norte descristianizado e um Sul no qual a devoção católica ainda está presente. Eis a recensão do jornal: “Cartocci releva também que à secularização acompanha-se um processo oposto, pela presença de movimentos que reforçariam o catolicismo italiano, garantindo à Igreja um peso político decisivo. É assim mesmo? A pesquisa indica uma aceleração da secularização na metade da década de 1980. No Congresso de Loreto de 1985, a Igreja italiana deslocou o baricentro das tradicionais associações que tinham como base a paróquia (Ação Católica, Acli, Scout) para os novos movimentos (Comunhão e Libertação, Santo Egídio, entre outros). Deu-se fim assim, a um período de grande articulação do catolicismo italiano, que, pagando o preço de alguns conflitos, cobria um amplo espectro de sensibilidades e, pela dimensão nacional das associações, toda a península. Os movimentos mostram, ao invés, um arraigamento geográfico limitado, não influenciando nas particularidades da Igreja meridioRoberto Cartocci, Geografia dell'Italia cattolica [Geografia da Itália católica], ed. Il Mulino, Bolonha, 2011, 182 pp. (é uma hipóteses extrema) ou, ao menos, ter sempre menos peso e influência. A certeza é que, em cada geração, em muitos cristãos continuará a se acender a necessidade de viver o Evangelho sine glossa, na sua radicalidade. Qual novo rosto assumirá a vida consagrada por inteiro ao aperfeiçoamento pessoal e a serviço do próximo? Bem, o conhecimento do futuro nos é impedido, é monopólio d’Aquele que, através de pobres homens, guia uma Igreja que não é nossa, mas Sua”. 48 30DIAS Nº 7/8 - 2011 João Paulo II discursa no Congresso eclesial “Reconciliação cristã e comunidade dos homens”, Loreto, abril de 1985 nal relevadas por Cartocci. Se por um lado criouse a impressão de força do núcleo firme do catolicismo italiano, por outro, a redução da sua articulação interna levou à aceleração da secularização justamente nas áreas nas quais é mais forte a presença dos movimentos (indicativo o caso de Comunhão e Libertação e da Lombardia). Contrastar a secularização não é fácil, provavelmente nem mesmo possível. É legítimo perguntar-se se escolhas diferentes teriam atenuado a fratura denunciada por Cartocci”. SAGRADO COLÉGIO A morte dos cardeais Noè, Ambrozic e Deskur No dia 24 de julho faleceu o cardeal italiano da região da Lombardia, Virgilio Noè, 89 anos, arcipreste emérito da Basílica de São Pedro no Vaticano. No dia 26 de agosto faleceu o cardeal canadense Aloysius Matthew Ambrozic, 81 anos, arcebispo emérito de Toronto. No dia 3 de setembro faleceu o cardeal polonês Andrzej Maria Deskur, 87 anos, presidente emé- rito do Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais. Naquela data, o Sagrado Colégio resultava composto por 193 membros dos quais 114 eleitores. SANTA SÉ/1 Bertello e Sciacca na cúpula do Governatorato vaticano No dia 3 de setembro, Bento XVI aceitou a renúncia do cardeal Giovanni Lajolo, 76 anos, do cargo de presidente da Pontifícia Comissão urtas Curtas Curtas Curtas NDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO para o Estado da Cidade do Vaticano e presidente do Governatorato do mesmo Estado, “solicitando para que permaneça no cargo até dia 1º de outubro de 2011, com todas as faculdades inerentes a tais ofícios”. Ao mesmo tempo o Papa nomeou como sucessor de Lajolo o arcebispo da região do Piemonte Giuseppe Bertello, 69 anos, desde 2007 núncio Apostólico na Itália e na República de San Marino, “o qual assumirá os citados ofícios dia 1º de outubro próximo”. Ainda no dia 3 de setembro Bento XVI nomeou como secretário do Governatorato, elevando-o à sede episcopal titular de Vittoriana, monsenhor Giuseppe Sciacca: nascido em Catânia 56 anos atrás, consagrado sacerdote em 1978 pela diocese de Acireale, desde 1999 Sciacca era prelado auditor do tribunal da Rota Romana. SANTA SÉ/2 O’Brien pró-grão-mestre da Ordem do Santo Sepulcro No dia 29 de agosto o Papa aceitou as demissões do cardeal John Patrick Foley, 76 anos, do cargo de grão-mestre da Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém e nomeou como pró-grãomestre monsenhor Edwin Frederick O’Brien, 72 anos, que desde 2007 era arcebispo de Baltimore. Giuseppe Bertello versa entrevista concedida à revista polonesa Politika e retomada, na Itália, pelo Corriere della Sera de 2 de setembro. ORIENTE MÉDIO/2 Grossman, o messianismo e o estreito caminho da paz “‘A guerra não é o nosso destino’. Com um caloroso apelo, o escritor israelense David Grossman continua a pensar que exis- ta um estreito caminho para a paz, mesmo agora que os ventos de guerra voltaram a soprar forte. ‘Hoje parece-nos muito difícil imaginá-lo porque significaria aceitar compromissos dolorosos’. [...] ‘Obviamente’, continua, ‘sempre existirá o risco de novos fanáticos de um lado como de outro que farão de tudo para acabar com a paz em nascimento’”. Este é o incipit de um artigo publicado no La Repubblica de 21 de agosto que prossegue apresentando uma outra reflexão do escritor israelense: “Se formos bastante inteligentes, corajosos e afortunados para chegar à paz, o mundo ficará surpreso em ver como os israelenses e os palestinos podem trabalhar juntos e utilizar seus talentos para começar uma vida normal”. Depois, falando sobre a situação interna do seu país, o escritor concluiu: “Há uma constante retroação da democracia. Um grupo de judeus messiânicos sequestrou o Estado inteiro. Uma pequena minoria impõe o nosso sistema de valores, a nossa política, o nosso futuro. [...] Não tenho confiança na boa vontade dos países árabes. Mas o exército não pode ser o único meio para permanecer aqui”. ¬ ORIENTE MÉDIO/1 Israel e o terror da paz “Os políticos israelenses estão terrorizados pela paz. Tremem, com o terror da possibilidade da paz. Porque sem guerra e sem mobilização geral, não sabem como viver. Israel não vê como um mal absoluto os mísseis que caem sobre os vilarejos ao longo da fronteira. Ao contrário: os políticos ficariam preocupados, até mesmo alarmados, se não caísse esse fogo”. Estas são as palavras de Zygmunt Bauman, judeu polonês que sofreu o horror do Shoah e do grande expurgo de Stálin, em uma contro- Crianças palestinas em Gaza 30DIAS Nº 7/8 - 2011 49 Curtas Curtas Curtas Cu 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUN MUNDO Construtores do inimigo islâmico A Mesquita Azul, visitada por Bento XVI em 30 de novembro de 2006, Istambul Quarenta e dois milhões de dólares. É o valor que sete fundações americanas teriam concedido nos últimos dez anos para financiar a fábrica do medo do islã, uma rede de atividades destinadas a desacreditar os muçulmanos e a gerar no público um verdadeiro e próprio terror dos seguidores de Maomé. A acusação está presente em um relatório de FINANÇAS/1 As finanças e a criminalidade organizada não querem vínculos “Os Estados sempre se fundamentaram em duas bases: o poder (ou seja, fazer as coisas) e a política (ou seja, imaginá-las e organizá-las). A globalização move-se sem política. Precisa de rapidez. Odeia vínculos. Mais ou menos como o banditismo. As regras são um obstáculo. Por isso no mundo, os mercados mais prósperos são os criminosos e os financeiros. Não importa se sejam sujos ou limpos. Isso não nos Uma sede da Lehman Brothers 50 30DIAS Nº 7/8 - 2011 138 páginas escrito para o “Center for American Progress”, por uma equipe de seis pesquisadores. O relatório denuncia a crescente islamofobia americana, definida como “o excesso de temor, o ódio e a hostilidade contra o islã e os muçulmanos, perpetrados através de estereótipos negativos dos quais nascem o preconceito, a descriminação, a marginalização e a exclusão dos muçulmanos da vida social, política e civil americana”. Exemplos clamorosos, as campanhas contra as mesquitas e a Sharia, a lei islâmica. Segundo o relatório, as faces da “Fear Inc.”, da “Medo Corporation” seriam cinco: os financiamentos, os especialistas islamófobos, as organizações de militantes em grande parte ligadas à direita religiosa, a mídia e os políticos”. Notícia publicada no Corriere della Sera de 29 de agosto. urtas Curtas Curtas Curtas NDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO faz refletir? Palavras de Zygmunt Bauman, sociólogo e filósofo no jornal La Stampa de 7 de agosto. CULTURA Totti não é apenas futebol FINANÇAS/2 O New York Times e as dúvidas sobre as agências de rating Logo depois do rebaixamento do rating dos Estados Unidos por parte da agência Standard & Poor’s, que teve consequências trágicas para a economia mundial, Paul Krugman, prêmio Nobel para a economia e respeitável colunista do The New York Times, escreveu: “O enorme déficit de balanço dos Estados Unidos é antes de mais nada o produto da recessão econômica que seguiu à crise financeira de 2008. Com as suas parceiras – as outras agências de rating – S&P Polêmicas de verão sobre Francesco Totti. Em um artigo publicado no Corriere della Sera, Giovanni Bianconi escreveu, explicando porque o capitão do Roma não é apenas um jogador, mas também um símbolo do Roma e de Roma, “um pouco Pasquino, um pouco Marquês del Grillo. E um pouco como Catão, o Censor interpretado por Vittorio Gassman, que adverte Marcello Mastroianni no papel de Cipião Africano: “Esta não é a República de Platão, mas a lamacenta cidade de Rômulo. É preciso que te acalmes um pouco”. O artigo foi publicado em 4 de setembro com o título: De Catão a Pasquino. Porque Totti não é apenas futebol. desmentia ter cometido qualquer erro. Portanto são essas as pessoas que agora se pronunciam em mérito de confiabilidade creditícia dos Estados Unidos da América?”. O artigo foi republicado no La Repubblica de 9 de agosto. ESTADOS UNIDOS Warren Buffet Quando o Estado tutela os mais fortes teve um papel determinante na ativação desta crise, estabelecendo um rating AAA para asset garantidos por financiamentos hipotecários que se revelaram em seguida um lixo tóxico. Mas as suas avaliações erradas não se limitam a isso. Sabe-se que S&P deu um rating A para Lehman Brothers – cuja falência causou pânico em nível global – até o próprio mês da sua quebra. E como reagiu a agência de rating quando faliu esta sociedade à qual tinha dado um rating A? Fazendo uma declaração oficial com a qual “Enquanto a maior parte dos americanos têm dificuldade de chegar ao fim do mês com seu salário, nós super-ricos continuamos a gozar de facilidades fiscais extraordinárias. [...] Essas e outras vantagens nos caem do céu, graças aos legisladores de Washington, que se sentem obrigados a proteger-nos, quase como se fôssemos corujas malhadas ou outras espécies em via de extinção”. É um trecho do discurso do magnata americano Warren Buffet no The New York Times, republicado no La Repubblica de 17 de Francesco Totti agosto, que provocou vários debates nos Estados Unidos e no mundo. DIPLOMACIA/1 Relações diplomáticas entre a Santa Sé e a Malásia No dia 27 de julho foi anunciada oficialmente a decisão da Santa Sé e da Malásia de estabelecer plenas relações diplomáticas. DIPLOMACIA/2 Novos núncios em Cuba e no Japão No dia 6 de agosto o arcebispo italiano da região da Apúlia, Bruno Musarò, 63 anos, foi nomeado núncio em Cuba; desde 2009 era representante no Peru. Em 15 de agosto o arcebispo indiano Joseph Chennoth, 68 anos, foi nomeado núncio no Japão; desde 2005 era representante pontifício na Tanzânia. q 30DIAS Nº 7/8 - 2011 51 Igreja SÃO CARLOS BORROMEU A casa construída sobre a rocha “Tudo o que São Carlos fez e realizou, o edificou sobre a rocha indestrutível que é Cristo, na plena coerência e fidelidade ao Evangelho, no amor incondicionado pela Igreja do Senhor”. O discurso do arcebispo emérito de Milão no Meeting de Rímini O cardeal Dionigi Tettamanzi Cardeal Dionigi Tettamanzi Tudo é graça: o olhar dirigido a São Carlos Sim, “tudo é graça”. Também esse nosso encontro. Sinto sobre mim a mão da providência de Deus. É esta providência que fez com que meu último ano como guia pastoral da diocese de Milão coincidisse com o IV centenário da canonização de São Carlos Borromeu, ocorrida em 1º de novembro de 1610 com o papa Paulo V. Sinto que devo agradecer ao Senhor porque este foi um ano muito intenso, rico de iniciativas de grande significado espiritual, pastoral e cultural para a Igreja ambrosiana. Permito-me assinalar apenas alguns fatos, recordando antes de tudo o início deste centenário que teve como importante evento a carta apostólica de Bento XVI Lumen caritatis, de 1º de novembro de 2010, no mesmo dia do aniversário da canonização, evento importante e para mim particularmente feliz pela possibilidade de ler e apresentar a carta do Papa 52 30DIAS Nº 7/8 - 2011 Acima, São Carlos visita e cuida dos pestilentos, Giovanni Battista Crespi, chamado o Cerano, Catedral de Milão. No hino da liturgia em honra de São Carlos, Urbis parentem Carolum, fala-se da caridade materna do bispo ao se dedicar aos doentes de peste: «Dum saevit annus letifer, ut mater aegris assidet / Enquanto infúria o ano da peste, como uma mãe cuida dos doentes» aos fiéis ambrosianos na solenidade de São Carlos, dia 4 de novembro do ano passado. Na, carta o Santo Padre delineia em síntese alguns aspectos fundamentais da santidade de Borromeu. Gostaria de recordá-los. O primeiro aspecto recorda a sua obra como bispo reformador. São Carlos, colocando em ação com sabedoria e originalidade os decretos do Concílio de Trento, reformou a Igreja que ele amava profundamente; aliás, justamente porque a amava com um amor sincero, quis renová-la, contribuindo para dar-lhe novamente o seu rosto mais belo, o da Esposa de Cristo, uma esposa sem manchas e sem rugas. Um segundo aspecto da santidade de Carlos Borromeu: foi um homem de oração, de oração convicta, intensa, prolongada, reforçada e florescente na sua vida de pastor. Se São Carlos foi apaixonado pela Igreja, o foi porque antes ainda fora apaixonado pelo Senhor Jesus, presente e operante na Igreja, na sua tradição doutrinal e espiritual, presente na Eucaristia, na Palavra de Deus. Principalmente foi apaixonado por Cristo crucificado, como nos documenta a iconografia que, não por acaso, é-nos transmitida com a imagem deste santo em contemplação e em adoração da Paixão e da Cruz do Senhor. ¬ São Carlos salvo milagrosamente do atentado, Giovanni Battista della Rovere, chamado o Fiammenghino, Catedral de Milão 30DIAS Nº 7/8 - 2011 53 Igreja Enfim, Carlos Borromeu foi santo – recorda-nos o Papa – porque soube encarnar a figura do pastor zelante e generoso, e pelo o rebanho que lhe fora confiado aos seus cuidados estava pronto a sacrificar toda a própria vida: São Carlos foi realmente “onipresente” na diocese de Milão, com suas visitas pastorais, foi preocupado de maneira profética e incisiva com os problemas do seu tempo; principalmente, como os grandes bispos da Idade Média, foi autenticamente pater pauperum, pai dos mais pobres e dos mais fracos: é suficiente pensar no que soube realizar também do ponto de vista caritativo e assistencial durante os dramáticos momentos de carestias e da peste de 1576. A carta do Papa intitulase justamente Lumen caritatis, porque refere-se de modo explícito à caridade pastoral que diariamente e de maneira heroica São Carlos soube viver e praticar. Na verdade, assim como Cristo deu sua vida pela nossa salvação, São Carlos literalmente “dissolveu” a própria vida na caridade pastoral. Desde o momento em que se tornou bispo de Milão, de modo programático e sistemático ele antepôs a causa do Evangelho e o bem da Igreja a tudo: às próprias comodidades, aos interesses particulares e pessoais, aos interesses da família ou do círculo de amizades, ao próprio tempo livre, a tal ponto que não tinha mais tempo para si mesmo, visto que todo o tempo à disposição de um bispo – dizia o próprio São Carlos – deve ser usado para a salvação das almas. O centenário de Milão a Rímini Para mim é uma grande alegria que o centenário de São Carlos, iniciado com a palavra do Papa, em um certo sentido se conclua aqui em Rímini, com este evento que se apresenta com sua dupla face; cultural e espiritual. Sem qualquer dúvida há o aspecto cultural: com efeito, hoje é inaugurada uma mostra didática sobre a vida e a obra pastoral de Carlos Borromeu; há painéis, legendas, materiais de multimídia; há um catálogo com contribuições científicas. Tudo isso é importan54 30DIAS Nº 7/8 - 2011 O milagre de Carlino Nava, Giulio Cesare Procaccini, Catedral de Milão te, porque permite que se conheça sempre melhor, além das muitas simplificações e outras leituras parciais ou até mesmo ideologicamente preconceituosas, a verdadeira face deste grande bispo, autêntico intérprete da reforma tridentina da Igreja. Pessoalmente, faço questão de evidenciar principalmente o aspecto espiritual da iniciativa, como claramente emerge no título escolhido pelos organizadores para esta mostra: “A casa construída sobre a rocha”. A referência é à célebre página que conclui o Discurso da Montanha, com a parábola dos dois homens que constroem a sua casa, o primeiro sobre a areia, e o outro sobre a rocha. O resultado é obviamente previsível: a casa do primeiro, diante das primeiras adversidades da vida e às tempestades da história, desaba inexoravelmente; a casa do segundo, apesar das dificuldades da vida e dos transtornos da história fica em pé e resiste. E a rocha sobre a qual a casa foi construída é Cristo Senhor, é o seu Evangelho de verdade e de vida (cf. Mt 7, 24-27). Na verdade essa parábola pode ser referida de modo particular a São Carlos e à sua obra: tudo o que ele fez e realizou, o edificou sobre a rocha indestrutível que é Cristo, na plena coerência e fidelidade ao Evangelho, no amor incondiciona- SÃO CARLOS BORROMEU. A casa construída sobre a rocha sando os aspectos salientes da santidade de Carlos Borromeu, se ele ainda hoje é realmente um santo “atual”: ou seja, se tem alguma coisa de grande significado para dizer ao nosso presente, se ainda hoje é para nós – como foi quatrocentos anos atrás – um modelo de vida evangélica não apenas para admirar, mas também de várias maneiras para imitar. Talvez seja uma pergunta meio desnecessária, à qual podemos sem dúvida responder positivamente: sim! Ainda hoje São Carlos fala a nós, ainda hoje para nós é um válido modelo de santidade. E a carta do Papa da qual nos inspiramos, a própria mostra organizada aqui em Rímini, as iniciativas de vários tipos que constelaram este ano “carolino”, provam isso de maneira irrevogável. Certamente não podemos correr o risco de cair em algum anacronismo, porque devemos reconhecer abertamente que muitas coisas na Igreja e no mundo de hoje mudaram com relação à situação da Igreja e da sociedade do final do séc. XVI. Devemos também reconhecer que alguns aspecdo pela Igreja do Senhor. Por isso o que São Carlos edificou resistiu às tempestades dos seus tempos; resistiu também às intempéries dos séculos que passam, como testemunha o fato de que hoje muitas das suas intuições, muitas das soluções pastorais e institucionais propostas por ele ou prefiguradas conservam uma sua permanente validade, uma sua incisiva atualidade, não apenas para a diocese de Milão, para também para toda a Igreja latina ocidental. Um santo atual ou inatual? Não falo por acaso de “atualidade”, porque devo confessar a vocês que muitas vezes, durante este centenário, perguntei-me, repas- O anel episcopal de São Carlos, Museu da Catedral de Milão tos da ação pastoral de São Carlos – assim como alguns aspectos do seu estilo de vida (pensemos principalmente à sua rigorosíssima ascese penitencial) – não são material e automaticamente reproponíveis hoje sem necessárias e adequadas mediações. Mas, apesar desta óbvia constatação, que por outro lado vale sempre quando nos referimos aos personagens do passado, há alguns pontos salientes da santidade de Carlos Borromeu que, no seu significado mais profundo e evangélico, realmente têm um valor perene. E portanto um valor também para a nossa vida de cristãos do terceiro milênio, na medida em que também nós, hoje como ele quatrocentos anos atrás, queremos “construir a nossa casa sobre a rocha”, como “homens sábios”. E ainda assim, deste ponto de vista, a figura de São Carlos é muito provocatória, porque coloca em crise muitos aspectos do modo de pensar e de viver do mundo atual. É por isso que durante o centenário, reunindo algumas experiências e recordações pessoais do meu aproximar-me e do entrar em relação com a figura de Borromeu, decidi escrever também um livro com um título sugestivo e estimulante: São Carlos, um reformador inatual. Gostaria de deter-me um pouco nesse adjetivo. “Inatual”, com efeito, contrapõe-se imediatamente a “atual”. Porém, são dois termos que só aparentemente se contrapõem, porque um pode facilmente traspassar no outro. Assim, se por exemplo por “atual” entende-se “segundo a moda do momento”, “segundo a mentalidade do tempo presente”, “segundo a opinião partilhada pela maioria”, é claro que São Carlos é “inatual”. Já dissemos isso e queremos sublinhar para uma melhor compreensão da atualidade-inatualidade: os tempos de Borromeu não são os nossos; o seu modo de ler os problemas e de resolvê-los não é o nosso, nem mecanicamente podemos tomar algumas das suas soluções e aplicálas ao nosso mundo, “atual” precisamente. ¬ 30DIAS Nº 7/8 - 2011 55 Igreja E vice-versa: se por “inatual” entende-se aquilo que se enraíza nos valores fundamentais da tradição cristã, se por “inatual” entende-se ficar ancorados àquela rocha que é Jesus Cristo e que dá verdadeira firmeza à toda a construção da casa, se tudo isso é julgado inatual apenas porque não se adapta àquilo que hoje é considerado “politicamente correto”, devemos então perguntar-nos se a inatualidade de São Carlos não se transforma em uma singular e urgente “atualidade” de reconsideração, de reavaliação das nossas medidas de juízo, de reforma do nosso modo de viver e de conviver. A inatualidade profética e benéfica para o nosso tempo Nessa linha, tomando-os da biografia de São Carlos, apresento três exemplos, procurando aplicar-lhes aos nossos tempos “atuais”. O primeiro refere-se à fidelidade ao dever do próprio estado de vida como forma própria da identidade do cristão. Borromeu teve a consciência muito viva do que poderia significar ser bispo de uma importante diocese em tempos difíceis de transição, de reforma e de mudança: e justamente por isso procurou sempre adequar as suas escolhas e as suas ações a uma verdadeira “deontologia”, à qual permaneceu fiel de maneira heroica e diante da qual soube sacrificar todo o resto. São Carlos solicitava este sentido de dever também aos seus padres, pelos ofícios que estes deveriam cumprir; e o solicitava aos fiéis leigos, homens e mulheres, segundo a sua condição. Era o primeiro que não aceitava os meios-termos e os acomodamentos, com um fácil rebaixamento em nome de uma pálida mediocridade. Os historiadores nos recordam que quando era jovem O báculo de São Carlos, Museu da Catedral de Milão 56 30DIAS Nº 7/8 - 2011 cardeal em Roma, antes da sua chamada “conversão”, tinha vivido um “cristianismo sem infâmias e sem louvores”. Este é justamente o risco que todos nós cristãos corremos, os próprios padres e bispos: contentar-se de uma vida cristã insípida, na qual evita-se justamente o mal “macroscópico” (que poderia causar-nos infâmias), mas que se reduz ao mínimo indispensável para colocar em ordem a própria consciência, sem muitos abalos. Hoje, quando todos nós sentimo-nos já prontos e não queremos saber de muitos desassossegos, falar de “conversão” poderia, justamente, parecer “inatual”, ou pelo menos inoportuno. Ao contrário o exemplo de São Carlos é atualíssimo e particularmente urgente, porque sempre na Igreja os cristãos, todos os cristãos, de todos os níveis, são chamados a “converterem-se” de um cristianismo “sem infâmia e sem louvores”, de um cristianismo incolor e insípido (ou seja, sem a luz e o sal do Evangelho), a uma vida cristã convicta, lúcida e vigilante, no exercício fiel do próprio dever sempre e em todos os lugares, à busca de um caminho de perfeição que nos conforma sempre mais ao modelo de toda a perfeição: Cristo Jesus, nosso Senhor. É exatamente o que São Carlos fez de modo programático e sistemático: o seu exemplo não nos permite desculpas ou diversivos. Ele é realmente sempre atual, porque chama os cristãos de todos os tempos, chama também a nós cristãos do terceiro milênio à perene e irrenunciável necessidade de nos colocarmos em discussão. Particularmente devo dizer que da leitura dos escritos de São Carlos e das suas indicações pastorais tive bem clara a impressão de que ele vivesse com uma grande inquietude a distância – que por outro lado sempre existe – entre a meta altíssima à qual o Senhor nos chama (a santidade) e a nossa concreta resposta. Se São Carlos sentia-se em falta – e disso nascia a sua inquietude, o seu não sentir-se com a consciência tranquila –, o que nós podemos dizer ou fazer? Então surge uma pergunta à qual não podemos nos subtrair: onde, em quais âmbitos da nossa vida, do nosso dever de estado, devemos ainda “converternos”, imitando São Carlos, para sair de uma vida cristã medíocre, “sem infâmia e sem louvores”? Carlos Borromeu é atual também por um outro aspecto: a formidável capacidade de saber conjugar de modo equilibrado a ação e a contemplação. Todos conhecemos as muitas imagens de São Carlos absorvido na oração, principalmente diante do Crucifixo, imerso em verdadeiras e próprias experiências místicas. Mas a forte dimensão contemplativa que ele sempre soube incutir à própria vida jamais afastou-o do próprio dever de pastor de almas. Ao contrário, podemos afirmar que ele tornou-se um dos grandes modelos de bispo e de pastor justamente porque a sua atividade pastoral era profundamente permeada de oração e de contemplação. São Carlos “fez” muito na sua vida, foram inúmeras as obras que levou a termo; aliás perguntamo-nos maravilhados como fazia para encontrar tempo e forças para fazer tudo o que fez. Vem-nos espontâneo dizer que tudo o que fez tem algo milagroso: é isso mesmo! Realmente há algo milagroso porque tudo era pleno de oração, de conversa com Deus, permeado de contemplação amorosa dos mistérios da salvação de Cristo, começando pela Sua paixão, morte e ressurreição. Essa é a mensagem sempre atual que nos vem de São Carlos: a comunhão com Deus, a oração, a contemplação não nos arrancam da história, mas nela nos imergem em profundidade, dando-nos a força de fazer também milagres no mundo e para o mundo. No entanto o nosso é um tempo adoecido pelo ativismo, frenético em fazer, comprometido em produzir bens e serviços se não se quer desperdiçá-lo. Desse modo o nosso tempo acaba O milagre de Virginio Casati, anônimo lombardo, Catedral de Milão por avaliar a pessoa não pelo que é mas pelo que produz. Em semelhante contexto, não se deve talvez falar de contemplação, de meditação, de oração e de silêncio, como o que de mais “inatual” o nosso tempo poderia experimentar? Porém a verdade é exatamente o contrário. São Carlos apela para que não nos deixemos enganar por es- sa espécie de droga, mas para que reportemos ordem na nossa vida, recuperando o primado de Deus sobre tudo, na certeza de que o resto virá como consequência. É a mesma advertência do Senhor: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo” (Mt 6, 33). E se há um aspecto de atividade pastoral de São Carlos que mais do que outro impressionou os seus contemporâneos a ponto de que justamente por isso começaram a considerá-lo excepcional, foi a sua atividade caritativa. Principalmente durante a terrível peste de 1576 ele privou-se literalmente de tudo, dos bens de família, dos bens pes- ¬ 30DIAS Nº 7/8 - 2011 57 Igreja soais, não apenas das coisas supérfluas, mas mesmo das coisas indispensáveis desde que pudesse ajudar o povo de Milão atingido pela epidemia. E não se prodigou apenas nos momentos de emergência, fez com que algumas instituições caritativas se mantivessem além do da emergência da peste, consciente de que a pobreza, a necessidade, a marginalização, a degradação social e moral são uma emergência de sempre, de todos os momentos. De fato, em todos os momentos São Carlos brilhou como paterno socorredor dos pobres, de cada pobre, de qualquer um que estendesse a mão para pedir-lhe ajuda. E foi também – para usar uma terminologia da nossa cultura atual – um “santo social”: soube ler à luz do Evangelho os problemas sociais do seu tempo, indicou algumas soluções concretas, não teve nenhum medo de denunciar as pragas da sociedade, como a corrupção pública, a prática da usura, os privilégios de algumas castas, a falta do que hoje chamaríamos “consciência cívica” ou “atenção ao bem comum”. Mas há ainda um outro aspecto da santidade de Borromeu que me- O cálice de São Carlos, Museu da Catedral de Milão 58 30DIAS Nº 7/8 - 2011 São Carlos se prepara à morte no Sacro Monte de Varallo, detalhe, Giovanni Battista della Rovere, chamado o Fiammenghino, Catedral de Milão rece ser evidenciado: é a dimensão ascética da sua vida. Neste ponto ele foi muito rigoroso, a ponto de causar fortes críticas e mal-entendidos entre os que viviam ao seu lado. Foi pobre, casto, humilde, penitente, praticava com grande seriedade o jejum, prolongava a oração nas horas noturnas para não diminuir o tempo diurno dos compromissos pastorais, reduzia seu repouso ao mínimo, aliás tinha a tendência de não repousar por nada. Sabemos que os médicos sempre o repreendiam por não cuidar-se suficientemente, e ele, como resposta, dizia que, se alguém obedece aos médicos, não pode ser um bom bispo! A morte chegou quando tinha apenas 46 anos, selou uma vida que se tinha consumido literalmente nas práticas ascéticas. Esse é um aspecto que nos deixa maravilhados, como ficaram seus contemporâneos que justamente perguntavam-se se São Carlos fosse imitável nestas virtudes devido a seu caráter de heroicidade. E hoje também nós nos perguntamos, porém sem cair na insídia de julgar excessivo o exercício das virtudes ascéticas assim como as viveu São Carlos, ou seja, julgá-lo “inatual” segundo os parâmetros da nossa sensibilidade atual. Semelhante juízo não poderia ser um modo tranquilizante de autoeximir-se da tarefa de imitálo? É-nos solicitando, antes de mais nada, a honestidade de descobrir nisso um aspecto de grande atualidade: com efeito, falar hoje de “ascese”, de “penitência”, de “renúncia”, expõe-nos ao risco de sermos zombados e julgados pessoas fora do tempo e do mundo, justamente pertencentes a um mundo de muitos séculos atrás. E no entanto, exatamente nós temos necessidade de uma chamada intensa para purificar o nosso estilo de vida e torná-lo mais sóbrio, a redescobrir o autocontrole e o domínio dos sentidos, dos instintos e das paixões incontroladas: como caminho de uma liberdade interior que nos torna donos de nós mesmos e do nosso autêntico caminho para o verdadeiro, o bem, o justo e o belo. O anel, o báculo, o cálice Concluo voltando a falar da mostra que hoje é inaugurada, chamando a atenção a uma parte original. No centro da mostra estão expostas SÃO CARLOS BORROMEU. A casa construída sobre a rocha não três obras de arte, mas três autênticas relíquias, que de algum modo revelam a personalidade de São Carlos, são uma epifania do seu coração, uma manifestação do seu segredo espiritual. Antes de tudo encontramos o anel de Borromeu. E o anel de um bispo fala-nos simbolicamente da sua ligação esponsal com a Igreja que lhe foi confiada. Portanto é o sinal do amor pastoral, da fidelidade ao ministério, da própria dedicação total. Depois encontramos o bastão pastoral: é o símbolo da autoridade e do governo do bispo. Mas, como sabemos, está em questão uma autoridade que não poderá jamais ser atuada como puro exercício de poder. A imitação de Cristo – o Bom Pastor por antonomásia – o exercício do governo pastoral coincide com a oferta da própria vida até a plena consumação de si. Assim fez Cristo, assim fizeram os santos pastores, como Carlos Borromeu. Enfim pode-se ver o seu cálice, o que foi usado por ele para celebrar o sacrifício eucarístico. Este coloca-se como testemunho da vida de oração que o bispo deve ter; como chamada que, em última análise, é o sacrifício de Cristo sobre a cruz, são a sua palavra e os seus sacramentos – nos quais é presente e eficaz a sua ação de salvação – a edificar a Igreja, a iluminá-la, animá-la e guiá-la. Como eu dizia no início, com o IV centenário da canonização de São Carlos cheguei à conclusão do meu mandato pastoral na Igreja de Milão. Pois bem, devo confessar que estes três “símbolos” expostos (o anel, o báculo e o cálice de São Carlos) acendem em mim uma profunda alegria espiritual, ao pensamento de que como os recebi dos meus predecessores logo também eu os transmitirei ao meu sucessor. É o belíssimo mistério da “traditio”, da tradição viva da Igreja, que – como nos ensinou São Carlos – é verdadeiramente “a casa construída sobre a rocha”! Sim, “caiu a chuva, vieram as enchentes, os ventos deram contra a casa, mas a casa não desabou, porque estava construída sobre a rocha” (Mt 7, 25). Isso vale para a Igreja que nos antecedeu no tempo, para a Igreja que estamos vivendo agora, para a Igreja que se abre ao futuro: uma Igreja sempre cheia da graça e do amor do seu Esposo e Senhor. É então que sem nenhum medo, mas com a inalterável e sobrepujante confiança que nos vem de Cristo, que todos juntos somos chamados a prosseguir o nosso caminho para a santidade, ouvindo a sua palavra e tornando-a experiência cotidiana de vida: “Portanto, quem ouve estas minhas palavras e as põe em prática é como um homem sensato, que construiu sua casa sobre a rocha” (Mt 7, 24). Que São Carlos possa nos ajudar! q 30DIAS Nº 7/8 - 2011 59 Augusto Del Noce A modernidade não é o “inimigo” Il Mulino, editora laica de Bolonha, consagrou o filósofo católico Augusto Del Noce como autor nacional italiano, mostrando a fecundidade de seu ponto de vista. Uma demonstração de abertura crítica para o moderno, que antecipava o Concílio Vaticano II. Entrevista com Massimo Borghesi, professor titular de Filosofia Moral por Gianni Valente hegou há pouco às livrarias italianas o ensaio de Massimo Bor ghesi, Augusto Del Noce. La legittimazione critica del moderno [Augusto Del Noce. A legitimação crítica da modernidade] (Marietti 1820). São 370 páginas que documentam densamente a aventura intelectual do grande filósofo católico. Massimo Borghesi é professor titular de Filosofia Moral na Universidade de Perúgia. C Professor, mais de vinte anos após a morte de Augusto Del Noce (1910-1989) continuam a ser escritos livros sobre ele, um dos maiores intelectuais italianos do século XX. Qual é a novidade deste último livro, que acaba de sair pela Marietti? MASSIMO BORGHESI: Há essencialmente duas novidades. Do ponto de vista historiográfico, é a primeira vez que alguém tenta reconstruir organicamente o desenvolvimento do pensamento de Del Noce, no intervalo de tempo que vai de 1943 a 1978, numa profunda conexão entre o momento filosófico e o histórico-político. Normalmente, a abordagem que faziam desse autor privilegiava o tratamento de blocos temáticos distintos, sem que ficasse clara a relação entre eles. A segunda novidade é de cunho interpretativo. A finalidade desse livro, como o 60 30DIAS Nº 7/8 - 2011 Para Maritain, nisso seguido por Del Noce, a modernidade, que vem depois das guerras de religião e da divisão da Igreja, já não pode pressupor a fé como “a priori”, como paradigma comum já prefixado e pacificamente acolhido. O moderno é o tempo em que a verdade pode e deve ser buscada e proposta na liberdade subtítulo deixa bem claro, é evidenciar “a legitimação crítica do moderno” realizada por Del Noce. Trata-se de uma leitura que de fato liberta o filósofo do estereótipo de pensador, certamente genial, mas voltado para o passado, crítico conservador do tempo presente. Uma etiqueta que pesou por muito tempo sobre Del Noce, e que foi acolhida acriticamente também por muitos católicos. De que modo a sua revisão atinge esse objetivo? Em primeiro lugar, esclarecendo qual é o ponto genético da reflexão delnociana. Para Del Noce, o verdadeiro ponto de início, em sentido especulativo, é 1943, o ano da queda do regime fascista, um evento que o provoca a pensar sobre o tempo histórico. É aqui que a obra de Jacques Maritain, o grande filósofo católico francês, se revela decisiva. Del Noce, como ele mesmo lembrava na entrevista que deu a 30Giorni em abril de 1984, leu o Humanisme intégral de Maritain assim que saiu na França, em 1936. Es- se foi o ano da guerra italiana contra a Etiópia, um evento que marcaria o período de maior consenso em torno do regime fascista, e que provocaria em Del Noce, ao contrário, um sentimento de repulsa e de oposição moral a Mussolini e ao fascismo, considerado como mero reino da força, de uma força brutal sem justiça. É preciso que se diga que essa oposição tinha um ponto de referência importante em Aldo Capitini – o futuro organizador das marchas pela paz Perúgia-Assis, que Del Noce conheceu em 1935, justamente em Assis. Lido nesse contexto, o livro de Maritain esclareceu a Del Noce a inconciliabilidade ideal entre catolicismo e totalitarismo. Isso, de fato, libertava os católicos da utopia “medievalista”, antimoderna, que impelia muitos deles a uma adesão ao fascismo, entendido, erroneamente, como uma força conservadora, uma espécie de precioso aliado na luta contra a modernidade. Mas o encontro com Maritain serviu para Del Noce ape- Massimo Borghesi. Augusto Del Noce. La legittimazione critica del moderno. Genova - Milano: Marietti 1820, 2011, 368 pp. nas como antídoto para o clericofascismo? Maritain foi quem, entre 1943 e 1945, libertou Del Noce do “complexo” de Benedetto Croce, segundo o qual os católicos, enquanto católicos, não podiam, em razão de sua fé (integralista e autoritária), ser liberais e antifascistas como os leigos. Maritain demonstrava, ao contrário, que só a perspectiva religiosa podia preservar a liberdade e os direitos da pessoa. Para isso precisava, porém, distinguir entre cristianismo e cristandade, entre a fé e suas realizações históricas, sempre contingentes. Nisso se incluía também a cristanda- ¬ Paulo VI e Jacques Maritain durante a cerimônia de encerramento do Concílio Ecumênico Vaticano II, em 8 de dezembro de 1965 30DIAS Nº 7/8 - 2011 61 Augusto Del Noce Para dar fôlego ao projeto político do estadista, era preciso sair do integrismo reacionário e de seu oposto especular, o modernismo, um e outro herdeiros da filosofia da história do século XIX, marcada, para os católicos, pelo medievalismo e pela oposição ao moderno. Só assim a Democracia Cristã podia conciliar democracia e cristianismo de medieval, assumida como modelo por aqueles cristãos que olhavam com desconfiança para todo o mundo moderno e contrapunham verdade e liberdade, acabando por desposar qualquer possível autoritarismo clerical. Para Maritain, nisso seguido por Del Noce, a modernidade, que vem depois das guerras de religião e da divisão da Igreja, já não pode pressupor a fé como “a priori”, como paradigma comum já prefixado e pacificamente acolhido. O moderno é o tempo em que a verdade pode e deve ser buscada e proposta na liberdade. Essa convicção é o ponto fundamental que está na origem da “legitimação crítica do moderno” de Del Noce. Nos escritos de 1943-1946 há afirmações que antecipam, com grande lucidez, as conclusões do Concílio Vaticano II sobre a liberdade religiosa. O ponto mais significativo é que Del Noce põe suas afirmações num horizonte que retoma Santo Agostinho: se a fé é, segundo a doutrina cristã, obra da graça, então não pode ser imposta de forma coercitiva. A prioridade da graça leva ao reconhecimento do momento insubstituível da liberdade, até em sentido político. Daqui vem também a superioridade da democracia, concebida, com Capitini, como lugar do “convencimento” e da não violência. Como se articula o projeto de Del Noce para estabelecer um encontro positivo entre o catolicismo e liberdades modernas? Esse projeto se desenvolve em dois planos: um político e um filosófico. No plano político, nós o vemos empenhado ao longo de toda 62 30DIAS Nº 7/8 - 2011 a década de 1950 na tarefa de revestir teoricamente o projeto de Democracia Cristã formulado por Alcide De Gasperi, a sua concepção do quadro democrático girando em torno da aliança entre católicos, leigos e socialistas democráticos. Del Noce tem a secreta ambição de ser o “filósofo de De Gasperi”. Para dar fôlego ao projeto político do estadista, era preciso sair do integrismo reacionário e de seu oposto especular, o modernismo, um e outro herdeiros da filosofia da história do século XIX, marcada, para os católicos, pelo medievalismo e pela oposição ao moderno. Só assim a Democracia Cristã podia conciliar democracia e cristianismo. Para tanto, e esta é a segunda linha de investigação da intensa reflexão delnociana, era preciso desconstruir todo o quadro do pensamento moder no: aquele quadro codificado por Hegel e pelo idealismo, aceito pelo marxismo e compartilhado, ainda que em forma de oposição, pela neoescolástica tomista. Para esse pensamento, o moderno é o tempo da secularização (ou do ateísmo), em que a emancipação e a liberdade do homem caminham pari passu com o seu distanciamento de Deus e da fé. Entre 1954 e 1958, Del Noce subverte essa perspectiva. De que modo? Reconhecendo que a modernidade não é una, é “dupla”. Não parte de Descartes apenas o filão do racionalismo que culmina em Hegel e Marx. De Descartes parte também um filão agostiniano, cristão-moderno, que passa por Pascal, Malebranche, Vico, e culmina em Antonio Rosmini, o pen- Augusto Del Noce Acima, as capas das primeiras edições de duas obras de Augusto Del Noce publicadas por Il Mulino: Il problema dell’ateismo, de 1964, e Riforma cattolica e filosofia moderna, volume I: Cartesio, de 1965 sador em que catolicismo e liberdade encontram sua síntese. Era o filão personalista do moderno, que liga a liberdade do homem à existência de Deus, contraposto ao espinoziano-hegeliano, em que panteísmo e ateísmo culmi- nam no totalitarismo político. Tratava-se de uma verdadeira descoberta, graças à qual a posição reacionária era definitivamente superada e o encontro entre cristianismo e democracia liberal e personalista podia, enfim, obter legitimação. Em seu livro, todo um capítulo é dedicado à relação entre Del Noce e a editora Il Mulino. Trata-se, certamente, de um capítulo original. Del Noce colaborou assiduamente com a editora de 1957 a 1965. Ali, publicou, além de muitos ensaios na revista Il Mulino, duas de suas obras mais importantes: Il problema dell’ateismo, em 1964, e Riforma cattolica e filosofia moderna, volume I: Cartesio, em 1965. Il Mulino tinha nascido na esteira do diálogo e do confronto de posições entre católicos, leigos e socialistas. Del Noce entrou em sintonia particularmente com Nicola Matteucci e Luigi Pedrazzi. Os pontos de contato eram a valorização do quadripartido de De Gasperi, a superação das tendências integristas, presentes tanto entre os católicos quanto entre os leigos, e também a passagem do antifascismo ideológico – promovido pelo Partido Comunista – para o pós-fascismo. A época de Il Mulino é extremamente fecunda. Não só a editora consagra Del Noce como um autor nacional, mas ele tem a oportunidade de pôr à prova a fecundidade do seu ponto de vista, segundo o qual o catolicismo é original só quando não é subalterno, ou seja, quando não parte da contraposição a um adversário na definição de si mesmo. Por isso, tanto a posição reacionária quanto a modernista fracassam. Como ele mesmo escreveria em 1968: “A oposição à sociedade do bem-estar não pode ser feita do ponto de vista reacionário, e isso simplesmente porque a oposição entre progressivo e reacionário é interna a sua linguagem”. O que significa isso, especificamente, na relação entre cristianismo e modernidade? Significa, para Del Noce, que não é possível valorizar a tradição, quer a filosófica, quer a religiosa, permanecendo numa perspectiva reacionária. E a valorização da tradição, de suas “virtualidades”, como as chama Del Noce seguindo Newman, permite encontrar as exigências mais autênticas do moderno. É nesse sentido preciso que a sua perspectiva coincidia com a do Vaticano II. Um aspecto interessante e inédito levantado pela sua pesquisa é que na década de 1960 Del Noce reatou relações com Franco Rodano, o autor com quem tinha compartilhado a experiência católico-comunis- Franco Rodano ta durante a fase de “resistência”, entre o outono de 1943 e a primavera de 1944. É verdade. Sempre salientam, e com justiça, a crítica de Del Noce a Rodano contida em Il cattolico comunista, publicado em 1981. Mas se esquecem de que do início da década de 1960 até o Congresso de Lucca, em 1967, Del Noce e Rodano tinham reatado relações por meio de uma correspondência, infelizmente ainda inédita. A noção de “sociedade opulenta”, que está no centro do ensaio de 1963 Appunti sull’irreligione occidentale, contido em Il problema dell’ateismo, derivou de Franco Rodano. O ano de 1963 marca o início de uma nova fase da reflexão de Del Noce. De fato, ele percebe que uma época estava-se concluindo: a era pós-bélica da reconstrução, a era crociano-degasperiana, marcada pelo encontro entre as componentes laico-liberais e as cristãs. A nova sociedade do bem-estar já não precisava das forças religiosas para se opor ao comunismo. O novo Ocidente já era capaz de vencer pela dilatação da sociedade do bem-estar. Uma sociedade marcada pelo primado da razão instrumental, mais irreligiosa que o ateísmo comunista, vitoriosa no próprio terreno do comunismo, o do materialismo. Assim, em 1963 Del Noce intui, também à luz de Rodano, o novo adversário da fé na era pós-marxista. Em outras palavras, ele vislumbra um tempo em que a relativização de qualquer ideal virá a se encontrar com uma visão tecnocrática do mundo. É essa perspectiva que lhe permite valorizar, em 1975, a lição de Pier Paolo Pasolini, como mais lúcido intérprete do novo totalitarismo da dissolução. Em relação a essa perspectiva, bastante dramática, o Del Noce da década de 1960 vislumbra alguma saída? Ele enxergava possibilidades, sem, todavia, poder indicar positivamente onde desembocariam. O momento histórico expunha duas questões que conflitavam entre si. De um lado, a crise do marxismo – embora este viesse a conhecer um inesperado revival depois da contestação de 1968 – dava lugar a um retorno ideal do pari, da aposta pascaliana: no exato momento em que o ateísmo perdia seu revestimento científico, a possibilidade de uma revitalização da opção religiosa voltava a ser atual. Mas era apenas uma possibilidade, não necessariamente algo efetivo. Del Noce nunca deduziu filosoficamente a necessidade da opção religiosa. De outro lado, havia o triunfo da sociedade opulenta, e portanto o da irreligião ocidental sobre o marxismo, que esvaziava qualquer possível renascimento religioso. Duas dinâmicas conflitantes, que o Del Noce da década de 1960 não pôde nem queria solucionar. q 30DIAS Nº 7/8 - 2011 63 Arte Rembrandt comovido pelo rosto de Jesus por Giuseppe Frangi m julho de 1656, Rembrandt, à beira da bancarrota, decidiu leiloar todos os bens conservados na grande casa de Jodenbreestraat. Como parte do procedimento, em 24 e 25 daquele mês foi realizado o inventário pela Desolate Boedelskamer de Amsterdã. Um inventário extremamente longo, no qual a certa altura são listadas três tábuas com pinturas do rosto de Cristo. Uma em particular é definida nestes termos: “Cristus tronie nae’t leven”. Literalmente: “Cabeça de Cristo a partir do real”. O que indicava essa especificação “a partir do real”? O primeiro estudioso que publicou esse inventário, em 1834, pensou que se tratasse de um deslize do magistrado holandês, e não achou nada melhor para fazer senão fingir que não era nada e suprimir essa nota. Dois anos depois, um observador atento notou essa censura e, para resolver o enigma, propôs uma interpretação decididamente forçada: “em tamanho natural”. Mas, em holandês, esse “nae’t leven”, contração de “naar het leven”, não deixa espaço para ambiguidades: significa “tomado a partir do real”, ou seja, de modelo vivo. Por que o anônimo inventarista teria sentido a necessidade de especificar isso, quase como se se tratasse de um traço identificador dessa série de pequenas cabeças de Cristo? Para responder a essa pergunta, o Louvre e os museus da Philadelphia e de Detroit uniram forças para organizar uma das mais extraordinárias mostras dos últimos anos. A mostra, que em Paris é intitulada Rembrandt e a figura de Cristo – e que nas etapas americanas da Filadélfia (até 30 de outubro) e de Detroit (de novembro a fevereiro de 2012) terá um título muito mais direto: Rem- E 64 30DIAS Nº 7/8 - 2011 MOSTRA. Rembrandt e o rosto de Cristo O grande artista holandês pintou uma série de “retratos” do Senhor, fazendo posar como modelo um judeu de Amsterdã. Para chegar o mais próximo possível da verdade. Pela primeira vez essas obras, geralmente pouco consideradas pela crítica, foram reunidas numa bela mostra, que, depois de passar por Paris, chegou aos Estados Unidos Rembrandt, A ceia de Emaús, 1648, Museu do Louvre, Paris; abaixo, o detalhe do rosto de Cristo brandt e o rosto de Cristo –, vem acompanhada por um belíssimo catálogo, publicado por uma editora italiana (Officina Libraria). O coração da mostra, que reuniu algumas obras-primas absolutas, como as variantes que Rembrandt pintou sobre o tema da Ceia de Emaús, é constituído pela sala em que as três cabeças citadas no inventário foram reunidas e outras quatro, todas em tábua, que a crítica com o tempo recuperou. A importância particular desses quadros para o pintor é demonstrada pelo fato de que dois deles, segundo o inventário, estavam pendurados em seu quarto de dormir: mas isso não bastou para convencer a crítica de sua autografia. Assim, o Rembrandt Research Project, uma instituição que é chamada a “certificar”, entre a imensa massa de obras atribuídas ao mestre holandês, as que são seguramente de sua mão, chegou a suprimir as sete tábuas do catálogo. Hoje, o trabalho desse time de críticos, apoiado também em análises científicas realizadas sobre as obras, voltou a garantir a autografia de quatro dessas Cabeças, deixando para as outras uma atribuição “no ateliê de Rembrandt”. Nesse meio-tempo apareceram também alguns exemplares que certamente documentam uma série de outros originais perdidos. Sinal de que esse era um tema de grande importância para Rembrandt, e de que muitos o pediam a ele. Mas qual é o motivo de um tão sutil ostracismo da crítica perante essas obras? Certamente tem a ver com aquele “nae’t leven” que deixou confusos os estudiosos por tanto tempo. Rembrandt vivia numa sociedade já solidamente protestante, em que também a concepção da arte tinha mudado profundamente. Décadas antes, em 1566, o conflito com o catolicismo desembocara numa violenta campanha iconoclasta, com a destruição de muitíssimas obras nas igrejas dos Países Baixos. Ao sul do rio Escalda, os católicos tinham retomado o controle da situação, voltando a encher as igrejas de Antuérpia graças à energia fluvial de Pieter Paul Rubens; ao norte, ao contrário, a história foi mudada para sempre. Os artistas tinham-se desviado para cenas da vida cotidiana, alimentando um mercado que já não era caracterizado por grandes encomendas, mas por uma nova classe de ricos compradores. Os temas religiosos tinhamse rarefeito muito, com um claro ¬ 30DIAS Nº 7/8 - 2011 65 Arte prevalecimento de cenas do Antigo Testamento. A imagem de Jesus estava no centro de um debate acalorado: um dos alunos de Rembrandt, Jan Victors, chegou mesmo a afirmar que havia o risco de uma “idolatria”. Nesse contexto, no entanto, Rembrandt agiu com absoluta liberdade. É claro que sua produção circulava privadamente, quando não ficava restrita a ele mesmo. Mas é evidente que ele sentia uma necessidade profunda, quase insuprimível, de estar frente a frente com a figura de Cristo. A experiência de Caravaggio, que tinha tirado as representações da vida de Jesus da perspectiva idealista e as levara a um horizonte de credibilidade realista, forneceram a Rembrandt uma referência essencial. Rembrandt vai além nesse caminho, lidando com o contexto em que se encontrava. Estava muito atento às fontes, pelos pormenores concretos que podiam fornecer. Tinha estudado a história de Flávio José, como demonstra uma gravura de 1659, São Pedro e São Paulo à porta do Templo, em que o edifício é desenhado seguindo as indicações extraídas das Antiguidades judaicas. O “nae’t leven” de que fala o inventário sugere, nesse sentido, um elemento essencial. Rembrandt, como escreve Lloyd DeWitt, um dos curadores da mostra, procurou um modelo na comunidade judaica de Amsterdã, um pouco para confirmar as boas relações que o ligavam àquela comunidade, mas sobretudo para ter diante de si um tipo humano “etnograficamente próximo de Cristo”. Isso representava “uma recusa tanto dos estereótipos iconográficos quanto da idolatria, por meio do realismo”. Não é por acaso que a mostra e as descobertas relacionadas foram amplamente destacadas pela imprensa israelense. De modo particular pelo jornal Haaretz, que publicou um artigo de título muito significativo: “Rembrandt’s Jewish Iesus”. Segundo outro crítico, Willem Adolph Visser’t Hooft, “à primeira vista, o retrato parece o de um rabino, o mais profundo e delicado possível. Mas percebemos logo que há qualquer coisa de misterio66 30DIAS Nº 7/8 - 2011 Acima, Rembrandt, Cabeça de Cristo, aproximadamente 1648, Museum Bredius, Haia, Países Baixos; à esquerda, Rembrandt, Retrato do busto de um jovem judeu, 1663, Kimbell Art Museum, Fort Worth, Texas, EUA so. Esse Cristo está longe de nos impressionar por sua majestade. Ao contrário, é ‘sem forma nem beleza’, não ‘eleva a voz’”. Nessas observações está a substância das imagens de Cristo pintadas por Rembrandt. “Sem forma nem beleza” indica a ausência de qualquer retórica, de qualquer idealismo estético. Cristo nos surpreende num contexto de absoluta normalidade, tanto na ambientação quanto na calma reflexiva de sua atitude. E “não eleva a voz”, pois Rembrandt o imagina num instante de diálogo profundo e amigável com quem está à sua volta. Cristo é imaginado num momento de intimidade, nos bastidores da sua aventura pública. Um Cristo anti-heroico, verdadeiro na paixão do seu olhar e na ternura do vínculo que instaura com seu interlocutor. São imagens que se inseriam em continuidade ambiental em relação aos lugares a que eram destinadas, como se sublinhassem sua contemporaneidade. É isso que provavelmente Rembrandt buscava, antes de tudo para si, mas depois também para uma pequena comunidade de pessoas que não se rendia àquele vazio que o protestantismo tinha imposto. Hoje suas Cabeças de Cristo convencem justamente porque em sua elementaridade iconográfica não precisam de chaves de interpretação, não requerem uma “preparação” particular. Pedem apenas que sejam olhadas. q ASSINATURAS COMO ASSINAR Enviar o formulário ao endereço do escritório de assinaturas escrito abaixo Destinação Período de assinatura 1 ano 2 anos Preço (€) Brasil, África 25,00 Itália 45,00 Europa 60,00 Resto do mundo 70,00 Brasil, África 40,00 Itália 80,00 Europa 110,00 Resto do mundo 125,00 é a revista mensal internacional mais informada sobre a vida da Igreja. Nas suas páginas estão presentes os acontecimentos políticos e eclesiásticos mais importantes comentados pelos protagonistas. Em cada número, reconstruções históricas, reportagens e serviços especiais de todo o mundo, eventos literários e artísticos, inéditos. PREENCHER E ENVIAR ESTE MÓDULO OU MANDAR POR FAX AO ESCRITÓRIO DE ASSINATURAS A assinatura será enviada a: Assinatura nova Renovação Nome e Sobrenome .................................................................................................................................................................... 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Elas nos acompanham durante todas as vicissitudes da nossa vida e nos ajudam a celebrar a liturgia da Igreja rezando. Faço votos de que este pequeno livro possa se tornar um companheiro de viagem para muitos cristãos. da apresentação do cardeal Joseph Ratzinger (eleito Papa em 19 de abril de 2005 com o nome de Bento XVI) QUEM REZA SE SALVA O livrinho Quem reza se salva que 30Dias já distribuiu centenas de milhares de exemplares, contém as orações mais simples da vida cristã como as da manhã e da noite, e tudo o que ajuda para uma boa confissão. CUSTA APENAS 1€ o exemplar mais despesas de expedição. AS OUTRAS EDIÇÕES EM LÍNGUA ITALIANA, FRANCESA, ESPANHOLA, INGLESA, ALEMà E CINESA É possível solicitar exemplares de todas as edições (a edição italiana apresenta-se em dois formatos, grande e pequeno), escrevendo a 30GIORNI via Vincenzo Manzini,45 - 00173 Roma Ou ao endereço e-mail: [email protected]
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