ARTE EGÍPCIA
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ARTE EGÍPCIA
ARTE EGÍPCIA M MA ASS O OQ QU UE EÉ ÉC CIIV VIIL LIIZ ZA AÇ ÇÃ ÃO O?? Outro dia minha mãe assistia na televisão ao show da banda Cannibal Corpse, uma banda norte americana de “death metal”, formada na década de oitenta. Minha mãe mantinha os olhos fixos na imagem da teve, respiração suspensa e boca levemente aberta. O som ensurdecedor das guitarras invadia a sala a agressividade movimentada das imagens provocava uma sutil dilatação das pupilas da espectadora petrificada. Os jovens cantores agitavam freneticamente suas fartas cabeleiras acompanhados por uma platéia ensandecida que parecia completamente entregue e hipnotizada pela voz rouca e grave do vocalista George Fisher. Minha mãe sempre tão agitada e falante estava muda e catatônica. ― Mas o que é isso? Que música é essa? Balbuciou enfim a velha senhora. ― Aquele rapaz vai engolir o microfone. Isso não é música de gente civilizada. Essa gente não tem a menor noção do que é música e civilidade. Essas frases mórbidas falando de morte, violência e terror, apavoram qualquer cristão! Embora eu tenha entendido perfeitamente o significado que minha mãe atribuiu ao comportamento dos jovens roqueiros, aqui em nosso estudo, o vocábulo civilização derivado do latim civita que designa cidade e civile (civil) o seu habitante, terá um sentido um pouco diferente, embora no raciocínio superficial de minha mãe, o som do Cannibal Corpse seja o resultado de um surto psicótico-social que promove a desagregação do ser humano consigo e com seu meio. Para nós pesquisadores da arte, comprometidos com uma visão mais democrática sobre “diversidade cultural”, o conceito de civilização passa pela existência das primeiras cidades, ou melhor, é um estágio da cultura humana, onde percebemos a existência de uma organização política mais complexa, principalmente se comparada a das sociedades primitivas analisada no capítulo anterior. Essa complexidade é marcada, sobretudo pelo surgimento do Estado (dirigido por um governo que normalmente possui soberania reconhecida e legitimada tanto pela população interna, como por outras civilizações). “Desde que o mundo é mundo existem pobres e ricos”, dizem os filósofos de plantão, que fazem dos bares, janelas e calçadas o seu púlpito. Consideramos o aparecimento das classes sociais um dos acontecimentos marcantes do surgimento das civilizações. A revolução neolítica e seu desenvolvimento agrícola fixam as comunidades a terra e o aprimoramento técnico faz crescer a produção de cereais, frutas e artesanato. A produção de excedente (sobras) de produtos passa a ser armazenada e as comunidades passam a desenvolver trocas comerciais. 1 Aqueles que conseguiam armazenar maior quantidade de artigos passaram a fazer o registro de peso de seus artigos, desenvolvendo a escrita, a numeração e o calendário. As diferenças entre ricos e pobres facilitou o surgimento do Estado que em um primeiro momento, passou a garantir a “propriedade privada” dos bens, além de atuar na administração e na defesa militar das cidades. A região do planeta onde foram encontrados registros das primeiras cidades é chamada de crescente fértil e corresponde à região do nordeste da África, as terras do corredor mediterrâneo e a região da Mesopotâmia (egípcios, babilônios, assírios, fenícios, hebreus, persas). Entretanto encontraremos civilizações estruturalmente semelhantes na Índia, China e na América précolombiana. É preciso lembrar que por tratarem de civilizações de economia agrícola, essas comunidades eram formadas por camponeses submetidos a um regime de servidão coletiva, garantida por um Estado representado pela figura de um imperador, rei ou faraó, que se apropriava do excedente agrícola e recolhia tributos para a manutenção de sua “corte”. A servidão coletiva era a forma de “pagamento” ao rei pelo uso das terras. Esses Estados (governos) são chamados de Estados Teocráticos, ou seja, o soberano é também o sacerdote ou líder religioso que governa segundo o desejo de uma divindade. ""E EU U FFA AL LE EII FFA AR RA AÓ Ó"" –– E EG GIIT TO O Como não teremos muito tempo para nos dedicarmos ao estudo detalhado de todas as civilizações mencionadas, escolhemos nos aprofundar um pouco mais no estudo de duas regiões (Egito e Mesopotâmia) onde encontraremos em diferentes períodos civilizações cuja produção artística e científica tem grande influência sobre a cultura ocidental. 2 A civilização egípcia se desenvolveu durante mais de três mil anos no árido nordeste da África, em uma estreita faixa de terra fértil ao longo do rio Nilo. As enchentes do rio asseguravam a alta produtividade da terra que era complementada pela construção de engenhosos canais de irrigação que levavam a água a regiões mais distantes. Mesmo oscilando períodos de grande poder político e decadência, os egípcios desenvolveram a matemática, a astronomia, a medicina, a engenharia hidráulica e se dedicaram a construção de grandes monumentos arquitetônicos que comprovam a amplitude de seu conhecimento científico e a complexidade de sua cultura. A sociedade egípcia era estratificada, existiam diversas camadas sociais. No posto mais alto estava o faraó, que concentrava o poder político e era visto como um deus vivo de autoridade absoluta. Ele estava rodeado por nobres, sacerdotes e escribas que participavam cada um de sua maneira, da administração do Estado. Os egípcios eram politeístas, ou seja, adoravam diversos deuses, dentre os quais se destacam os cultos a Amon-Rá, Osíris, Ísis e Hórus. Eles acreditavam na vida após a morte, por isso criaram técnicas de conservação do corpo dos mortos, conhecidas como mumificação, que tentavam garantir sua utilização após a absolvição divina. Os corpos dos nobres eram guardados em sarcófagos, dentro de túmulos e acompanhados de alimentos, roupas, jóias e um exemplar do Livro dos Mortos. Pintura do túmulo de Sennedjen, em Tebas, onde podemos ver o deus Anúbis, guardião das necrópoles, com seu corpo de homem e cabeça de chacal , junto ao defunto já mumificado. 3 Os deuses egípcios eram antropozoomorfos, ou seja, possuíam características físicas humanas e de animais. Esse era o caso de Anúbis, filho de Seth e Nefti, mestre dos cemitérios, patrono dos embalsamamentos, que possuía corpo de homem e cabeça de chacal. A A PPIIN NTTU UR RA A No Egito Antigo gravação e pintura em relevo freqüentemente aparecem juntas. Seja na produção visual do Antigo Império (4000-2050 a.C.), do Médio Império (2050-1550 a.C.), ou do Novo Império (1550-1075), a pintura fazia parte dos baixos-relevos que revestiam as paredes de edifícios destinados ao uso público ou que ocupavam o espaço ritualístico e religioso como, por exemplo, no caso das tumbas, ilustrando cenas que glorificavam o faraó ou os deuses. Uma das técnicas mais importante utilizada pelos egípcios na pintura sobre paredes, era a técnica do “falso afresco” (que os italianos denominaram de fresco secco). Essa técnica previa a utilização da têmpera aplicada à argamassa já seca, ao contrário do que aconteceu, mais tarde, com a verdadeira pintura a fresco (buon fresco), onde a têmpera era aplicada sobre a argamassa úmida. No decorrer de 3000 anos, a civilização egípcia pouco modificou suas técnicas e seus rígidos cânones de representação da figura humana. Assim, pode-se pensar que o artista egípcio obedecia a cânones estabelecidos e expressava sobretudo a sensibilidade de uma era e não sua visão particular e individual de mundo. A respeito do cânone figurativo egípcio, o historiador da arte Magalhães explica que acima de tudo, o artista egípcio dividia o mundo visível em formas bidimensionais, que eram depois reunidas de modo a apresentar o tema de maneira claramente reconhecível. A figura humana, por exemplo, era o produto de dois pontos de vista diferentes, a frontal e a lateral. Retratavam-se os olhos, as orelhas, e a parte superior do corpo virada para frente, enquanto a cabeça, os quadris e os membros eram retratados de perfil. (Lei da frontalidade) A representação por inteiro da figura humana organizava-se segundo a chamada “regra de proporção” um rígido quadriculado, com dezoito unidades de igual tamanho, que garantia a repetição da forma ideal egípcia em quaisquer escala e posição. Este sistema estabelecia as distâncias exatas entre as partes do corpo e as proporções corretas de representação. Por meio deste recurso, os artistas desenhavam o quadriculado na superfície de trabalho e então ajustavam ali dentro a figura que pretendiam desenhar, padronizando-a segundo as tendências. Na composição, as figuras eram em geral distribuídas simetricamente e um grupo de figuras era muitas vezes contrabalançado por outro grupo, representado como uma imagem 4 espelhada. Na produção visual egípcia, a linha inferior de cada tira desenhada agia como uma linha de base em que se apoiavam as figuras. A distância dos pés desta linha determinava a profundidade da figura em relação ao pano de fundo criando uma sensação de “espaço visual” no suporte bidimensional. Outras regras eram aplicadas rigorosamente na produção visual egípcia como a de pintar a tez do rosto masculino mais escura e a do feminino mais clara. Segundo Magalhães esta distinção provavelmente se referia ao fato de que homens trabalhavam ao ar livre enquanto as mulheres passavam a maior parte do tempo em lugares fechados, cuidando de assuntos domésticos. Encontra-se uma correlação semelhante na tendência em pintar as mulheres com as pernas juntas e os homens com as pernas separadas, podendo indicar que os homens eram mais ativos enquanto as mulheres desempenhavam um papel mais passivo na sociedade egípcia. Na representação da figura humana, é importante lembrar que o tamanho da figura determinava sua importância na sociedade (hierarquia visual). Por isso, na produção egípcia, a mulher é geralmente representada de um tamanho menor respeito ao marido, da mesma forma que os súditos aparecem visualmente inferiores se comparados com o faraó. Importante: Cânones de representação egípcia * Regra de Proporção * Lei da Frontalidade * Hierarquia Visual * Simetria * Profundidade Seqüencial Cena de caça a aves selvagens, da tumba de Nebamun, Tebas, Egito, 14000 a. C., 81 cm de altura. “A vida selvagem nos brejos de papiros e o gato de caça de Nebamun são mostrados com muita minúcia, mas a cena é idealizada. O nobre está de pé em seu barco, segurando na mão 5 direta três aves que acabou de abater e na esquerda uma espécie de bumerangue. É acompanhado pela esposa, que segura um buquê e usa um traje complexo, com um cone perfumado na cabeça. Entre as pernas, a pequena figura apanha na água uma flor de loto (a composição é um exemplo de como de convencionava determinar as dimensões das figuras conforme a hierarquia social e familiar). Na origem, a obra era parte de uma obra maior que também incluía cenas de pesca.” (BECKETT:1997, 12) Na obra apresentada é possível distinguir algumas das características e da pintura egípcia como, por exemplo, a utilização da lei da frontalidade, da hierarquia visual, da profundidade seqüencial (um plano visual após outro em seqüência). A A EESSC CU ULLTTU UR RA A A escultura egípcia seguia, a princípio, os cânones elaborados na pintura. A rigidez quase formal que transpirava das formas “cúbicas”, entalhadas na pedra, denotava a necessidade de preservar ad eternum a forma humana. A hierarquia visual mantida como modelo representativo, revelava a posição social e familiar de cada indivíduo retratado e a expressão que emanava do corpo e do rosto mostrava um distanciamento material que revelava o espírito divino da personalidade representada. As figuras eram geralmente representadas de frente ou de perfil da maneira mais clara e objetiva possível, inicialmente apoiadas de costas a um suporte de pedra (a mesma pedra usada para esculpir as figuras) e, mais tarde, chegando a distanciar-se do suporte e dando espaço a movimentos articulados. Faraó Miquerinos e sua Esposa, de Gizé. C. 2500 a. C. Ardósia. Atura 1,42 cm. Museu de Belas Artes, Boston, EUA. © picasaweb.google.com 6 “No grupo de faraó Miquerinos e sua rainha o artista deve ter começado por delinear os planos frontal e lateral nas superfícies de um bloco retangular, em seguida, trabalhado para dentro, até que esses planos se encontraram. Só desse modo ele poderia ter obtido figuras de uma firmeza e imobilidade tridimensionais tão intensas. Que magnífico recipiente para a moradia do Ka! [ a “alma”]. Ambas estão com o pé esquerdo para diante, e todavia nada leva a pensar em um movimento para frente. O grupo também apresenta uma comparação interessante entre a beleza feminina e a masculina segundo a concepção de um excelente escultor, que não apenas soube contrastar a estrutura de dois corpos, mas também enfatizar as formas suaves e salientes da rainha através de um vestido leve e ajustado ao corpo.”(JANSON, 1996:25) Os escultores policromavam frequentemente suas obras e confeccionavam os olhos com pedras de diferentes cores. A escultura egípcia referia-se também ao caráter monumental a fim de celebrar feitos e representar a natureza divina dos faraós. Assim, esculturas de grandes dimensões eram realizadas utilizando, na maior parte das vezes, a pedra, porém madeira e metal também foram empregados. A AA AR RQ QU UIITTEETTU UR RA AN NO OA AN NTTIIG GO O IIM MPPÉÉR RIIO O Há ainda muito para se aprender sobre a origem e o significado das sepulturas egípcias. Em seu estudo, Janson deixa claro que o culto da imortalidade relacionado à construção e à manutenção de grandes e suntuosas tumbas, era uma prática acessível a uma elite privilegiada, enquanto a maioria da população recorria a um tipo de tumba bem mais modesta. As sepulturas foram se modificando no decorrer do tempo, demonstrando assim, a versatilidade da arquitetura sacra egípcia. Mastaba egípcia Mastaba egípcia © commons.wikimedia.org (interior) © anticoegitto.virtuale.org 7 A mastaba representava a forma “original” e padronizada destas sepulturas e consistia em um túmulo de forma trapezoidal recoberto de tijolos ou pedra, onde acima era localizada uma câmara mortuária que ficava abaixo do solo e que ligava-se à mastaba por meio de um poço. No interior da mastaba havia uma capela para as ofertas do ka e um cubículo secreto para a estátua do morto. As mastabas reais tornaram–se cada vez maiores e imponentes e logo se transformaram em pirâmides. A pirâmide de degraus Pirâmide de degraus, monumento funerário do rei Djoser (Zoser), construída por seu arquiteto, Imhotep em Sakkarah, c. 2500 a. C. © www.geocities.com “Observando o desenho abaixo, é possível entender melhor a transformação que a arquitetura funerária egípcia sofreu no decorrer do tempo. A pirâmide de Djoser tem seis degraus e atinge a altura de cerca de 60 metros, equivalente a de um prédio de 20 andares. A base da pirâmide é retangular medindo 125 metros na direção leste/oeste e 110 metros na direção norte/sul, totalizando uma área de 13750 m². Segundo o parecer dos especialistas, parece que o monumento sofreu modificações no decorrer de sua construção e algumas delas são claramente perceptíveis. O núcleo do monumento é uma estrutura de pedra em forma de caixa quadrada, com 63 metros de lado e oito de altura (1). Em seguida essa base foi ampliada com mais quatro metros de cada lado. Mais tarde, na face leste (na ilustração à esquerda), houve um acréscimo de cerca de oito metros e 53 centímetros. Finalmente, foram ampliados cada um dos lados em mais três metros, aproximadamente, e foi transformada a base no primeiro estágio de uma pirâmide de quatro 8 degraus (2). Nessa etapa a pirâmide alcançou 43 metros de altura. Numa última fase a pirâmide foi ampliada nas direções norte e oeste e a altura aumentada com o acréscimo de mais dois degraus, alcançando os 60 metros (3). Por baixo da pirâmide há uma câmara mortuária e um conjunto de passagens e pequenas câmaras usadas para armazenar o equipamento funerário e para o sepultamento dos membros da família real. De tais galerias subterrâneas foram desenterrados, por exemplo, milhares de belíssimos pratos, travessas e vasos de alabastro, xisto, cristal de quartzo e de diversas outras pedras. No interior da maioria de tais vasilhames não foi encontrada comida ou qualquer outra substância. Ao que parece, bastava a presença do recipiente e a recitação de uma fórmula mágica pelos sacerdotes para que se assegurasse ao rei um suprimento constante daquilo que eventualmente deveria estar contido nos vasos. A câmara mortuária está centralizada no fundo de um poço (4) de sete metros de lado e que atinge a profundidade de 28 metros. A câmara em si (5), um compartimento de aproximadamente dois metros e 97 centímetros por um metro e 67 centímetros, foi construída inteiramente com o granito rosa de Assuã. A altura da câmara é de um metro e 67 centímetros e em seu teto foi feita uma abertura para permitir a descida do corpo do faraó durante o funeral. Após a colocação do corpo em seu lugar, tal abertura foi obstruída com um tampão de granito de quase dois metros de comprimento e pesando cerca de três toneladas e todo o restante do poço foi entulhado com pedras. No interior da câmara foi encontrado um cadáver, mas não há prova de que o corpo tenha pertencido ao faraó Djoser. No lado leste da pirâmide foram cavados no solo onze poços (6) até a profundidade de cerca de 32 metros. Do fundo de cada poço sai um corredor que passa por baixo da estrutura da pirâmide. No fim de um desses corredores os arqueólogos encontraram dois ataúdes de alabastro, um dos quais continha a múmia de um menino. Era forrado com seis camadas de madeira, cada uma das quais com espessura de menos de um quarto de polegada. Tais camadas estavam unidas por meio de pequenas cavilhas de madeira e alguns vestígios sugerem que originalmente eram revestidas de ouro. Em alguns dos demais corredores foram achados pedestais de pedra calcária destinados a ataúdes similares. Torna-se óbvio que os poços e corredores eram túmulos, muito provavelmente destinados a membros da família real. O templo mortuário, destinado à prática do culto funerário do rei, era uma grande construção retangular erigida junto à face norte do degrau inferior da pirâmide e nele se penetrava através de um umbral aberto na sua parede leste. Essa entrada não tinha porta, mas na parede de pedra, ao lado direito do umbral, foi esculpida a imitação de uma porta aberta, na medida exata da abertura. Passada a entrada um longo corredor levava a dois pátios ao ar livre, 9 de um dos quais uma escada descia em direção aos subterrâneos da pirâmide. Em cada pátio havia três passagens que abriam para uma larga galeria. Outros dois cômodos a oeste dos pátios, cada um com um tanque de pedra no piso, e um santuário completavam as dependências do templo.” Referência: As informações obtidas no site antigoegito.tripod.com/degraus.htm O distrito funerário de Zoser (templos, e outras edificações interligadas onde aconteciam grandes celebrações durante e após a vida do faraó) foi criado por Imhotep o primeiro arquiteto do qual conhecemos o nome e que trouxe diversas inovações no campo da construção como, a substituição da antiga estrutura de tijolos de argila, madeira, junco e outros materiais leves, por um suporte de pedra talhada. Para Janson, o ponto culminante do desenvolvimento das pirâmides aconteceu na Quarta Dinastia. A pirâmide de Micerinos (c. 2470 a. C.), Quéfrem (c. 2500 a. C.) e Quéops (2530 a. C.), conhecidas como o complexo das grandes pirâmides de Gizé, revelam uma forma de elaboração diferente, que dispensa os degraus e introduz paredes lisas e cobertas por um revestimento exterior cuidadosamente polido de pedra branca. (hoje visível somente na ponta das pirâmides). De esquerda para direita: Pirâmide de Miquerinos, pirâmide de Quéfren, de Quéops. © www.paises-africa.com 10 A AA AR RT TE E PPA AR RA AE ET TE ER RN NIID DA AD DE E Por Hernst Gombrich Todos sabem que o Egito é a terra das pirâmides, essas montanhas de pedra que se erguem no longínquo da história como marcos desgastados pelas intempéries. Por mais remotas e misteriosas que pareçam, elas nos revelam muito da sua história. Falam-nos de uma terá que estava tão perfeitamente organizada que foi capaz de empilhar esses gigantescos morros tumulares durante a vida de um único monarca, e falam-nos de reis que eram tão ricos e poderosos que puderam forçar milhares e milhares de trabalhadores ou escravos a labutar para eles, ano após anos, a cortar pedras no nas canteiras, a arrastá-las ao local da construção e a deslocá-las com recursos sumariamente primitivos até o túmulo ficar pronto para receber o faraó. Nenhum povo teria suportado semelhante gasto e passado por tantas dificuldades se tratasse da criação de um mero monumento. Sabemos, porém, que as pirâmides tinham, de fato, importância prática aos olhos dos reis e seus súditos. O faraó era considerado um ser divino que exercia completo domínio sobre seu povo e que, ao partir deste mundo, voltava para junto dos deuses dos quais viera. As pirâmides, erguendo-se em direção ao céu, ajudá-lo-iam provavelmente a realizar essa ascensão. Em todo caso, elas preservariam seu corpo sagrado da decomposição. Pois os egípcios acreditavam que o corpo tinha que ser preservado a fim de que a alma pudesse continuar vivendo no além. Por isso impediam a desintegração do cadáver, graças a um elaborado método de embalsamar e enfaixar em tiras de pano. Era para a múmia do rei que a pirâmide fora erguida, e seu corpo ficava depositado justamente no centro da gigantesca montanha de pedra, num pétreo esquife. Em toda a volta da câmara funerária eram escritos fórmulas mágicas e encantamentos para ajudá-lo em sua jornada para o outro mundo. Relevo de Akhenaton e Nefertiti, Novo Império © www.auladearte.com.br Para conhecer mais sobre as pirâmides e seus processos de construção, consulte no www.youtube.com os videos do History Channel: Construindo um império - Egito. 11 O ON NO OV VO O IIM MPPÉÉR RIIO O No estudo da arte egípcia é importante lembrar das mudanças ocorridas no decorrer do Novo Império. A arte produzida neste momento abrange uma vasta gama de estilos e técnicas. Continua mantendo os cânones clássicos, mas, ao mesmo tempo, introduz elementos mais criativos e delicados. Para Janson parece ser quase impossível fazer uma síntese em termo de amostragem representativas. O que cabe ressaltar, é que o desenvolvimento do culto de Aton, representado pelo disco do sol, por parte de Amenofis IV (mais tarde Akhenaton), trouxe mudanças no que diz respeito à representação da figura humana na pintura e na escultura. Akhenaton introduziu um novo ideal de beleza onde a personalidade do retratado se sobressai à concepção ideal (cânone preestabelecido). Os traços são enfatizados para revelar as características interiores e a obra do artista torna-se cada vez mais fiel ao que pode ser enxergado através do olhar sensível do que do método conceitual. © www.digitalsecrets.net © womenshistory.about.com A rainha Nefertiti. C. 1360 a.C. Calcário, altura 51 cm. Museu do Estado, Berlim As cenas familiares e íntimas passam a construir o repertório iconográfico da produção da época, como mostra o detalhe de talha dourada e pintada proveniente do trono encontrado no túmulo de Tutankhamon (sucessor de Akhenaton). Essas imagens revelam um “lado mais humano” do faraó. A representação artística encurta parcialmente o distanciamento criado anteriormente pelos artistas do Novo Império mostrando momentos inéditos para os fieis. 12 Tutankhamon e sua esposa, c. 1330 a. C. Detalhe de uma talha dourada e pintada proveniente do trono encontrado em seu túmulo. Museu egípcio, Cairo © www.geocities.com A este respeito Gombrich (1999:68) escreve: “Algumas de suas obras ainda têm o estilo moderno da religião de Aton, em especial o espalador do trono real, o qual mostra o rei e a rainha num idílio doméstico. Ele está sentado numa atitude que poderia ter escandalizado os rígidos conservadores do seu tempo, quase refestelado pelos padrões egípcios. A esposa não é menor do que ele, e gentilmente coloca a mão no ombro do reio, enquanto o deus-Sol, outra vez, estende suas mãos numa benção a ambos” 13
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