Horacio Costa
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Horacio Costa
Horácio Costa Horácio Costa (São Paulo-SP, 14/12/54). Formado em Arquitetura e Urbanismo (FAUUSP, 1978); Mestre em Letras (New York University, 1983), PhD em Yale (1994). Professor na UNAM (México), 1987-2001. Desde então, é professor da FFLCH-USP. A obra de Horácio Costa mostra, ao lado da poesia de Josely Vianna-Baptista e Claudio Daniel, a aclimatação peculiar que o neobarroco latino-americano teve no Brasil. Esse conceito — normalmente associado aos cubanos Lezama Lima, Severo Sarduy e Alejo Carpentier — foi cunhado por Haroldo de Campos, que em ensaio de 1955 afirmou que o barroco moderno atendia às "necessidades morfológico-culturais da expressão artística contemporânea". Fora daqui, o termo também assumiu a conotação política de resistência aos determinismos da colonização. O sincretismo americano de línguas, raças e civilizações foi elevado pelo neobarroco à categoria de mito fundador, identidade trans-histórica à qual podiam ser anexadas outras culturas. Assumir o caráter proteiforme da história latino-americana (e da história enquanto tal) seria o primeiro passo para tomar suas rédeas, reescrever o livro do mundo, determinar o próprio destino. Na literatura brasileira, porém, o neobarroco ficou mais circunscrito à dimensão de uma subjetividade que sobrevive ao naufrágio dos discursos nacionais, recriando seu mundo através de uma mitologia pessoal que se apropria de diferentes tradições literárias. Horácio Costa é o exemplo máximo dessa retração brasileira do neobarroco. Sua poesia é narrativa (dentro da tradição latino-americana do poema longo), abundante de imagens e citações, indo na contramão da tendência modernista à concisão e à escrita antimetafórica. O Menino e o Travesseiro (1994), por exemplo, é uma epopéia em surdina na qual se cruzam memória coletiva e pessoal, "poema de formação" em que um menino contempla o batismo das coisas. E em "Quadragésimo" — paráfrase do poema "A Máquina do Mundo", de Drummond — a tradição literária brasileira entra não como paradigma poético, mas como plataforma para uma escrita alucinada, autobiográfica e (pelo viés barroquizante) antimodernista. Nessa poética marcada pelo homoerotismo, o corpo é a unidade mínima da história (segundo expressão do próprio Horário Costa), já que todos os discursos e teorias se esfacelaram diante da pluralidade do mundo. A metáfora primeira do poema, portanto, é a pele; a escrita é como uma tatuagem que não representa o real, mas o ritualiza. Daí o caráter imagético e sensorial que se encontra também na poesia de Josely Vianna-Baptista e Claudio Daniel. No caso da poeta de Corpografia (1992), temos um cancelamento dos limites entre o dentro e o fora do corpo, um vaivém entre o êxtase sensual e a pulsação física dos objetos, uma "desgeografia" que dissolve o eu numa "fala hermafrodita". E, em A Sombra do Leopardo (2001), Claudio Daniel constitui sua subjetividade polimorfa através de uma poesia que procura reproduzir a simultaneidade simbólica dos ideogramas, numa espécie de neobarroco em chave orientalista. Principais Obras: Satori (Iluminuras, 1989), O Livro dos Fracta (Iluminuras, 1990), O Menino e o Travesseiro (1994, reeditado pela Geração Editorial em 2003), Quadragésimo (Ateliê, 1999). AUTO-RETRATO NUM ESPELHO DE HOTEL Horácio Costa Nu, toalha nenhuma amarrada estrategicamente Na cintura, a barba enrolada em cachinhos não Mas desenhada como a de Prince, primeiro Role-model, Incide a luz como tem que ser: da direita inferior E difunde-se para quem me vê como uma aparição Poderosa, um Andrea Doria overweighted Pintado por Bronzino não Mas visto através da lente De uma Diane Arbus Compassiva. “Ventripotent”, aprendi quando não tinha pança, Na Aliança Francesa; logo depois os burgueses De Hals me ensinaram que pode-se parecer bêbado E próspero. Mas a minha cor Raramente transparece a rosácea Que floresce na derme holandesa: Sou da tez, da consistência Do Bacchino malato de Caravaggio, Da dúbia cor dos romanos Do Sodoma. Um corpo que fora bem torneado Pensa-se Tritão, ostras e mariscos Pendurando-se pelo torso, por ti Surpreendido face ao espelho. Pensa-se Tritão, vê-se Netuno: Nada melhor do que a tênue Asa da mitologia Para encobrir A cor, o tempo, a pança. (escrito no Sanborn’s Del Ángel, MexCy 19/IX/00) O BARCO BRANCO Horácio Costa Em memória de João Guimarães Rosa à distância discreta da terra um barco viaja pelas costas do Brasil todas as noites, só pelas noites nele não brilham luzes nem vem dissimulado lá está sempre que alguém se lembra de procurá-lo do alto da amurada de uma avenida tropical das varandas panorâmicas dos arranha céus ou das encostas dos morros, das favelas está ele a boiar sem vida a bordo e contra a escuridão do mar que se perde no horizonte parece ancorar-se num só lugar parece que o lugar onde aparece é seu lugar mas não dura muito esta visão para os que se recordam acalentá-la porque tem o barco branco moto próprio e seu destino é contar sempre os mesmos sítios verificar se cada baía, cada pedra ou praia seguem lá onde ele as havia deixado se do Forte dos Reis Magos à boca do Amazonas o movimento das dunas não se descontrolou se a Ilha do Mel no Paraná ainda brinca entre a Serra e a fria correnteza antártica se o Monte Pascoal não foi de todo desmatado se de Torres ao Uruguai nos mangues os patos fazem imemorialmente os ninhos sua missão é voltar a medir a altura das torres da Igreja da Conceição da Praia em Salvador observar a estabilidade ou a ressaca nos estuários dos rios que revelam se houve chuvas no interior se os casais de turistas de São Paulo continuam a fazer o amor repetidamente, aos bandos, aos gritos, nas areias nem sempre limpas de Monguaguá não tem descanso, o barco não tem sossego vela pelo litoral do país que mergulha nas tintas foscas de um mar soturno não há ninguém a bordo que possa ser surpreendido dormindo por um evento inesperado ninguém que se responsabilize por sua rota pelo quê naquela noite ele há-de reencontrar ninguém que se encapriche por um rincão nenhum provinciano que queira guardar melhor as costas do seu estado ele segue, mais nada, todas as noites e branco, e este brilho que tu vês nele vem das estrelas além no céu e do plâncton que o circunda à flor d'água, à distância discreta da terra entre o Brasil e o nada (New Haven, Connecticut, 1985) ONZE TEMPOS DE PASSEIO PELA PAULISTA Horácio Costa Um Joaquim Eugênio de Lima Não queria ver o que vejo na tela de teus cinemas enormes teus templos consentidos. Dois Campinas Que merda andar na chuva suja da Paulista não queria não queria oh cidade teu sortilégio que me fascina. Três Pamplona Viajo prismas de vidro tua constante cidade que é viaduto para alguma coisa. Quatro Museu de Arte de São Paulo Penso repenso muito tempo teu sortilégio que é meu viaduto onde renasço frágil com raiva teu observador tornado prisma carne branca como a cal das tuas construções ah eu renasço sempre nos teus viadutos de onde me carregas para algum lugar cidade. Cinco Peixoto Gomide Banho na cal. Banho-me cotidiano de cal cidade Tu me banhas de ti com tua cal Ah cidade meus glóbulos brancos São feitos de tua cal. Seis Rocha Azevedo Ah teu fígado! somos teu fígado. Ah tua cirrose! queremos tua cirrose, mesquinha fruta da cal sua pedra branca cidade suja. Sete Frei Caneca Onanismos em todos organismos. Cidade merda taí devolvemos teu sortilégio de cidade suja onde começa a minha raiva onde me descubro também filho da tua cal espécie do meu sangue incapaz de te afogar no jorro que quisera. Oito Augusta Nos afogas na cal. Nove Haddock Lobo Não me finques teu orgulho de Metrópole! eu fico por teu orgulho de metrópole cega. Dez Bela Cintra Fico para cegar, Os que nascemos Com a boca cheia de cal (tua sina tua sarna teu cheque em branco) que se confunde aos dentes teus nossos dentes cariados de cidade. Onze Consolação Observamos len-ta-men-te empapados empapando-nos de tua chuva hostil, cidade suja, calcinada. (São Paulo, 1976) DEZESSEIS GRAUS NA PAULISTA Horácio Costa I dezesseis graus na Paulista tinha o verso tão estruturado esta manhã e dirijo no fluxo nunca houve lugar mais belo nem cidadão mais fiel II chamam-te floresta de concreto urbe d'aço exageros tomo emprestado olhares migrantes aves d'arribação fixei a ventania que juntou montes d'outonais folhas na sarjeta o céu brilhava diadema d'Imperatriz mulher que nunca tive III pude voltar com o meu olhar estranho que sabe desnudar as tuas topografias luxo supremo agridoce: ninguém dirá que és "um ninho de pelicanos" por aqui nenhuma falésia ainda que gratuitas adornem bromélias as tuas árvores IV Clima de serra disse a Vera o momento exalou inspiração quase ninguém conecta com ele teus uma vez pristinos rios transformados em esgotos — quem o negaria? exiges um olhar educado em constante educação que restitua a matéria para lá do coriáceo do teu corpo V pude voltar luxo supremo Koh-I-Noor da coroa inexistente só intuída para sofrer as epifanias necessárias cidade vestibular vestíbulo para alguma coisa não lírica também lírica présemiparametapósantetrás- VI já o sabia há trinta anos o sabia não passou o tempo o deambular permanece quando não me encontro perto ou dentro de ti exilo-me e dói — quem compreenderia? os capazes de extrair beleza do pó acumulado sobre um arame farpado? VII Boa noute professor de esquina Sweet ladies oh flowers of England boa noute um uruguaio havia há pouco na sauna ou paraguaio um cearense um italiano de membro parrudo como o de Michelangelo um coreano trabalhadores teus cidade viril ou amante virago suculenta virago transformas em espetáculo os teus corpos densos que ao olhar educam e satisfazem VIII vi o paraguaio extraviar-se na noite perder-se em tua magnífica maquete e me confessei a palavra agridoce — que impressões ficarão de seus tênis sobre a rugosidade do meio-fio? partículas de desamparo aquele frotar oitocentos metros rumo ao metrô breve subirá o dia prevê-se uma manhã nublada como uma estocada IX dezesseis graus na Avenida Paulista sucedem-se esquinas Peixoto Gomide Rocha Azevedo Joaquim Eugênio de Lima Frei Caneca Augusta conselheiros do Império o urbanista uruguaio o religioso autonomista a rua que remete a Lisboa e tudo atravessa o teu nome de cidade apostólica: sob o signo de Saulo anuncias o nosso caminho a Damasco e levarás o seu nome a todos os rincões esta a tua vertigem clima de serra esta a tua missão até as bromélias e as epífitas concordam e entoam teu hino X incessantemente aqui não importa ser noite ou dia claro no chiaroscuro pinta algum Caravaggio anônimo a Paulista é teu caminho a Damasco na América you will prevail — as folhas mortas estarão recolhidas amanhã antes que as hélices dos teus helicópteros as desfaçam irei com elas para o nunca jamais te abandonarei como faço agora XI onze tempos de passeio redivivos te percorro em três minutos cubos cubos cubos folhas que se dispersam sim vou com elas rumo ao meu santuário interior no chiaroscuro me ilumino deslindo o que há o agora o agora é o que há o onde é o agora sob os teus cascos (São Paulo, 17-19/VII/05) TRANSFORMAÇÃO DO OBJETO Horácio Costa Objeto transformado: Eis-me aqui procurando em tua re-forma Teu trabalho anterior, tua sombra Que se alongou em minha memória tua, Em minha sempre nossa memória de contatos cotidianos, Que afastaram tua presença de meus olhos, Tornando-te privilégio De meus dedos compressores. Retomo agora nosso contato, Re-amigo arrependido, Consciente de teu poder maior que o meu — Teu poder silencioso, Tua alma que é tabela de claros e escuros, Onde me insiro Com docilidade. Manso animal Na esteira dos teus dias e noites, Recupero as dobras De meu Nome. Que me levas ao sonho De te transformar/mos Ainda mais: Quero te ver/mos Mutantes Burlando a fronteira do tempo E do espaço. (São Paulo, 1976) OBJETO A Horácio Costa I Cada vez mais fugidio O Objeto A. Neste plano, ainda Visível contra o horizonte. Os contornos já não fotográficos, Sujeitos a um olhar desfocado Ou tremulante. Ainda. Objeto A fui eu naquela tarde Chuvosa no roseiral, com a Maria Nadyr. Quisemos transformar-nos Em nuvem ou vento. As rosas Estavam à mão: espinhosas, Não nos inspiraram. O dia Conjugava-se inconsciente de que Seria rememorado quarenta anos depois. E logo, o silêncio. II Ou o barulho. O número do contribuinte Não esquiva a ficção ruidosa Da qual descende. Passei pelo revendedor De rações e lá consumi a minha. Sob um sol escarninho. A pele Rizomatizando-se em samambaias. Os dentes alinhando-se num mudo Relincho. O Objeto A parece irisar-se Antes do ponto de sua fissura Ao final da tarde. Sou parte Dessa condução, penetro um agora Que mantém a aura. Ainda. O teto de madeira, a 5,40 metros, As vigas musicais, o crepitar Infinitamente reconfortante Enquanto durou. Ou durava. Já não sei qual a conjugação Adequada. III Objeto A: eis-te aqui ainda Sujeito a uma cifra crepuscular. Nenhum sinal de que não sobrevives A não ser em mim e pouco. O tangível Nada envia em sinais. Não sou o mesmo e já Não identifico as, sim, Correspondências. Afasta-se Rumo ao nada o Objeto A? Perdê-lo para lá do horizonte Será também perder-me? Apenas a memória satisfará, Despida de sentimento e míope? E sua sobrevivência simples, À morte já não equivalerá? Afasta-se o Objeto A. (São Paulo, 1º-4/VI/2006) INVENTÁRIO Horácio Costa Inventario. Eu não sou filho do Dr. Delamare — o dos bebês rosados e sadios— mas poderia sê-lo. Sucrilhos. Nasci em '54, quarto centenário Da metrópole sul-brasileira. Entre a III e a IV Bienais. Meses apos o suicídio de Vargas. Com o "Anna Nery" ia-se à terra do Salvador Ouvir Caymmi. O styling sugeria amebas, Dominando o plástico e as harmonias Cromáticas ligeiramente desarmônicas. Quase todo mundo era real e socialista, Com náusea só de vez em quando, numas De ser sartriano e V.I.P. Para ficar Chegara a Volkswagen. Do Brasil. S.A. Boeing-boeing. O Marechal Lott seria preso, Domiciliarmente, logo adiante. Na esquina Do meu segundo aniversário. No momento Embrional de Brasília. A.B.C. O amor nas classes médias: piegas, Com sonoridades jazzísticas no Club Pinheiros. Nos Jardins — metáfora! — edificavam-se mansões E mansões neocoloniais. Vários rios quiseram Imitar o Reno. Desconhecia-se, Totalmente, o Pico da Neblina, Em Roraima. Alguns já choravam Os escombros do Barroco Mineiro. Esta terra acontece em ciclos. Quer um exemplo? Bem, a Escola Militar Do Realengo mudara-se pras Agulhas Negras, onde a paisagem é sublime. Mirus-Rove. Manhã cedo, e mamãe Me compraria o primeiro par De sapatos. No Externato Santa Rita Aprenderia que, depois do café, Estávamos vivendo o ciclo da Policultura & Industralização. Meu pai adorava o que havia de tralha americana. Cortadeira de gramado, torradeira elétrica. Na U.S.P. franceses pontificavam. Não me lembro mais se Murilo Mendes Já morava em Roma. Quanto a Hemingway, Sei perfeitamente que estava em Cuba. Aparelho ultra-violeta. Filmadora. Nunca Dancei cha-cha-chá. Entrei direto No roque. Jackson Pollock orgasmava Colorido, dançando sobre telas enormes. Satchmo. O Banco do Brasil e a Boîte Oásis. O negócio era estudar no I.T.A. E virar bom partido. Pelos domingos Íamos ao Planetário, novinho, em folhas De alumínio. Sólidas formações humanísticas Seguiam discordando de Einstein, na Egrégia Academia Brasileira de Letras. A TV Tupi Canal 3 foi minha madrinha. Peter Pan, Sininho. Não fazia a menor idéia do que me esperava. Teve kits pra tudo: navios, cidades, Posições do Kama-Sutra. Ignorava-se a China, Bem como o Piauí. Tudo devia ser funcional Pratico lavável. Sorria-se com os dentes À mostra. Folclorizar as favelas — uma forma De absorvê-las. No Brasil sempre faltaram Pescadores de águas turvas. Ban-lon. (No Monte Athos há mil anos os monges rezam missa. Estou decidido a queimar todo o meu karma. Ontem/hoje/amanhã. Mantiqueira, Mantiqueira. Com Jece Valadão, Cacilda Becker Filmou "Floradas na Serra". Acho que vou morar Em Nova Iorque, mesmo, Que se está transformando Em ruína Maia). Os bandidos, os místicos e os líderes carismáticos Tinham nome. Lampião, Dom Bosco e Kubitschek. Todos os demais nessas categorias estavam além De nossas fronteiras. Aragarças. Não faltava quem vigilasse. Salazares Embaixo da mesa, dentro do armário. O número De baleias que subia das Falklands até Natal Era maior, bem maior que hoje em dia. Vol d'oiseau, darling, você usa, deix'eu verc — óculos gatinho. De slacks guia Buicks. O Bikini Atoll foi apenas uma forma de maillot. Na cidade Vestibular quero só ver você transcender. Bar-dot. Eu abria a boca, feliz. Mamãe Tacava sucrilho, papinha. Em caso De dúvida telefonava pras primas, Consultava o livro do Dr. Delamare Ou o "Médico do Lar". Deu certo, creio. Tenho 1,85 metro, peso 80 kg e posso compor Um inventário parcial poético. Poesia feita De bits. No consultório do Professor Carlos Prado tinha um enorme aquário, por si Produto anos '50. Nasci com a chegada Esperada dos primeiros baianos. Nossa Baiana chamava-se: Maria. Maria Gorda. São Paulo inchava feito óleo Nos campos de Piratininga. Óleo Pensado pra lubrificar. Para ferver? Jamais! Capitalismo a berrar nos desertos D'América. Isto continua, no meio Da minha vida toda. Só gravames E agravantes, convenientemente gravados Nos corredores da memória. Zé Horacinho. Outsider- — sim, senhor — on the left. Trabalho cotidiano o esquecer de pouca coisa. Hypochryte lecteur, mon semblable, mon frère, Encontre também o teu Kellogg's/vomitório. Não deixe que algum aventureiro Lance mão do teu Nome. Ou seja, desta inteira Estranheza. (São Paulo, 1980) INVENTÁRIO (25 anos depois) Horácio Costa Ponho novamente a tocar Os monges de Simonopetra. De profundis. Nunca, entretanto, Visitei como quisera o Monte Athos: Em Tessalônica disseram-me Que o visto demoraria meses. Tivesse 26 novamente Arriscaria um emprego E esperaria servindo café. Things a celebrated poet won't dare Exposing himself to. No lungomare Desfiei memórias como quando só Como agora. Já próximo está O momento de calar-me: percebo O abraço do silêncio temido Tanto como sedutor contumaz. Já não se me ocorrem palavras Quando espelho o meu corpo Quando saltam nexos fortuitos Quando sobe o soluço tão-só mental. Ainda, surge o poema que não inventaria A cidade a idade a trama e os joanetes, Os ligamentos rotos, a artrose herdada Com o grisalhismo e os olhos castanhos. A recusa à depressão, ao ódio E à promiscuidade. Sendo-me congenial A alegria, exploro-a terminadamente Como o asfalto à terra batida E o colunista à notícia de ontem. Nenhuma afora esta: 25 anos Depois de publicado o meu livro Primeiro 28/6 preparo-me ao silêncio à espreita para que se cumpra o destino do poeta que dia a dia me habita, corpo duplo aparte. Sedutor de horas e instantes e abandonante de mim. Com suas milhentas formas de calar-me e a dedicação de um devoto ortodoxo. Enquanto não desce a cortina Inventario as palavras que escrevo Em profunda estranheza, e calo. E ouço ainda uma vez as vozes De Simonopetra. (São Paulo, 4/V/06) EU SOU AGORA KEM EU KERO Q VC SEJA SEMPRE Marcio Giannetti/Horácio Costa (São Paulo, 6/VIII/05) A TERCEIRA FACE DE JANO Horácio Costa não olha ao futuro nem mede o passado a terceira face de Jano mora em São Paulo olha para o lado tenta virar o rosto não pode: aí estão as siamesmas faces irmãs a do futuro cega como Borges a do passado rouca como Proust e nenhuma que veja a Marginal do Pinheiros sobrou para ti terceira imobilizada face perplexa estar face a face com o presente (São Paulo, 16/V/06) A FRONTEIRA DO DIZER Horácio Costa A Haroldo de Campos, in memoriam — Conecta com isso. E é uma pedra. — Conecta com isso. É terra. — Conecta com isso. É nuvem. Tem a forma do dragão. — Conecta com isso. É onda. Tem a forma da onda. — Conecta com isso. É chip. Parece Shangri-lah. Não é sílica. Nem silêncio. Nem palavra. Conecta com isso. (Struga, Macedônia, 27/III) CAIXA DE ÁGUA AZUL Horácio Costa Entre a ramagem da árvore desconhecida, Caducifólia, nem de Jessé ou genealógica, Um volume azul sobre uma laje, caixa de água De polietileno ou poliuretano. Notação distante na paisagem urbana, Obsedante recordação no agora-agora, Calle Río Poo 108, Colonia Cuauhtémoc, Suites Parioli, México, Capital. O mar, não. O mar, não. O mar, não. O mar, não. Um exagero de zéfiros, então: o expresso Descia a serra em Simcas-Chambord tangerina, Rumo à baía divisada entre montanhas: Ao longe, o porto e as torres, guindastes e praias; Ao pé a pantanosa terra, como espaguete, úmida. O talento da oitava real quereríamos, O seu sempre imarcessível horizonte. Nele seguia a senhora duas vezes por ano, Qual a ordem das vogais, dos ritos identitários, às vilegiaturas; se lhe encolhera o mundo à mínima possível transumância. Para lá da paisagem, a sós uiva o engenho, Aquilo que em linguagem transforma a língua. A árvore que se agita em eterno lenho Enraíza no presente o espectro que mingua. Ia a senhora, olhos de pomba, um único anel De coral; cruzou-se a morte entre ela e o poema. O mar, não. Caixa de água azul entre prédios alheios. Este o horizonte, marchetado em fragmentos, Reduzido a um puzzle no qual o montador A si se vê como uma das peças faltantes. O agora não sabe o que diz: memoria vincitrix. Desce uma vez mais o expresso a estrada de Santos. (Cidade do México, 9-X/00) CANÇÕES DO MURO Horácio Costa 1 Quem botou o reboco neste muro não tinha bom domínio de espátula, ignorava a mescla correta da argamassa, não era bom pedreiro. Ou será o tempo apenas o culpado pela destruição do seu trabalho? Não faz assim tantos anos que levantaram este muro. Pintaram-no de branco e várias vezes repintaram-no, de branco primeiro, depois só de tons ocres. 2 O sol batia a pino sobre o muro que parecia estar ali desde que é o mundo mundo: os passantes não o percebiam mais. Usaram-no como suporte de campanhas políticas & publicitárias, Kolynos & logos & siglas & partidos impressos com tinta barata. 3 Usaram-no também para grafites: escreveram sobre rostos & restos de affiches & argamassa como se sobre uma folha em branco. Virou a carne do muro uma espécie de pasta: um Tàpies esquecido num canto de cidade, obra in progress de significado igual & forma instável (do lado de lá, escondia-se / esconde-se o velho jardim de rosas). 4 Quem reparou na progressão das gretas sobre a sua superfície & mediu a deslavagem & a erosão milimétricos? Quem leu as pautas que se formavam? Quem viu o reboco cair como icebergs no oceano da calçada? A sós se desfazia / se desfaz o muro, sua música para ninguém cantada, surdina para surdos, cantochão para o chão, nu descendo a escada numa casa vazia, natividade num museu antártico. 5 Por isso cantaria eu o muro? Por isso eximiria eu o pedreiro do mau reboco de seu mau trabalho de há quarenta & mais anos? Sua obra resultou em obra d'arte -que vive na retina, que não no espaço-, mas não é esta a razão, nem este poema a sua defesa nem a épica do descobrimento súbito do muro. 6 Canto o muro porque sim, porque sua pele & a minha se assemelham posto que também já tomei sol & tomei chuva, posto que sobre o meu corpo discursos & campanhas se imprimiram / imprimi: já tive tantas caras & sorri como foram da minha vida os meses & as idéias políticas ou não que se sobrepuseram umas sobre as outras. 7 Canto-o & dou-lhe olhos & ouvidos para cantar-me a mim; ao emprestar-lhe minha voz / tomá-lo emprestado para a minha voz canto-me a mim: edificado por acaso numa esquina do tempo (do outro lado, o velho jardim de rosas) ruminando, cantarolando o que me apraz (sim que há rosas, me disseram) & os Tàpies, os topázios sobre a minha pele (& as pétalas) 8 & as fraturas & os desmoronamentos & as cantigas da gravidade & o caminho ao pó o meu caminho & o muro. (Cidade do México, 25/VIII/96) CONVERSAÇÃO COM TÀPIES Horácio Costa I há uma montanha de lixo ao lado do mercado há peixes que bóiam na lagoa, o rio transformou-se em espuma — que me dizes? como conciliar tais detritos com o pai-olhar e a ur-palavra? II Tàpies ensina: com o gesto. Ouço o barulho do graveto que incide sobre a superfície rugosa da caixa de papelão desdobrada em intenção de anatomia e observo a incisão de mais um alfabeto que nasce com cara infante sobre o balcão do invisível III Tàpies, há desmesura nessa tua empresa: o caixote resgatado canta agora o seu epos: foste tu ao seu encontro ou veio ele ao teu? quando termina a matéria, quando começa a história? e o xingamento, quando se faz oração? IV posso dizer-te que era de manhã: pela última vez nomeou o meu olhar a radical estátua disforme — o Tamanduateí se escondeu no pêndulo do instante detrás da montanha de alface pisada detrás da montanha de frutas passadas e as varejeiras bordavam o ar como filosofemas e então eu vi: eu vi o meu olhar nomear a descoberta (noite iluninada, manhã da alma) e transferir o montante para a certeza de uma das tuas telas V quantas vezes me debruço contigo sobre São Paulo? sobre as superfícies sempre um borrão, sobre as idéias sempre uma ranhura, mesmo sobre a música de fundo sempre uma cruz que alimenta-se do agora e sobre a fainéante canção dos muros a epifania dos graffiti que desvelas? meu olhar é tanto teu quanto pode um olhar pertencer a um outro preciso — porisso, porisso contigo converso e vejo contigo e através de ti VI (um rio que é tinta) um ranho que é alma um lenço que é lírio um anjo que é tudo (e as varejeiras) e joga um jogo imemorial o acaso com o ser e o ser com o sentido VII monta-se aí for a a nuvem da chuva: era o que faltava para a minha/nossa estátua (efêmera) / tela (mental) — um rabisco de água, asa sobre a cidade, instantâneo petrificado anunciação profana VIII e a unha que cresce? e o cobertor do mendigo? e o fato isolado? o editorial sistemático? a aldeia global, o pêlo na cama, os pêlos nas pernas, a espuma no rio? e o biografema, o caixote de livros, a juba estrelada, o cordeiro Luís XV, e o fundamental? IX e Tàpies responde com um gesto que enquadra o monturo e inclui a sua aura: que tudo o que há se anuncia livre belo nobre ágil — anjos esverdeados no momento da transformação. (São Paulo, 9/X/05) ANIVERSÁRIOS Horácio Costa Vinte Anos Depois é um romance de Alexandre Dumas duas décadas não são nada é a média de vida do homem primitivo do escravo romano é a idade de um cão muito muito velho é a média de glória de um artista maior o tempo sem celulite de uma cortesã o lapso de procriação depois do casamento quatro ou cinco mandatos políticos o auge de um Império vinte anos levou a Constantino reformar Bizâncio vinte anos fizeram a fortuna de Frick Morgan e Du Pont vinte anos entre a apresentação no Templo e a crucificação vinte anos é a matéria dos memorialistas vinte anos e o povo se cansa da Revolução vinte anos depois Odette está casada e Mareei morto a roda o computador pessoal a moda das perucas brancas se popularizam em não mais de vinte anos Quéfren e Miquerinos construíram suas pirâmides em vinte curtos anos vinte anos depois o cadáver está frio olvidadíssimo vinte anos de exercício e o êxtase desce ao asceta nada nada são duas décadas vinte vezes nada a ponte nova entre aqui e ali está congestionada hoje a então chamada ponte do futuro já não serve mais agora quando estás nela também estás aqui tinhas o cabelo solto tinhas a rédea solta soltas tinhas as palavras há vinte anos entre aqui e ali (Poema introdutório de QUADRAGÉSIMO. São Paulo: Ateliê Editorial, 1999. A primeira edição do livro saiu no México, em 1996, pela Editorial Aldus). CAIXA DE ÁGUA AZUL Horácio Costa Entre a ramagem da árvore desconhecida, Caducifólia, nem de Jessé ou genealógica, Um volume azul sobre uma laje, caixa de água De polietileno ou poliuretano. Notação distante na paisagem urbana, Obsedante recordação no agora-agora, Calle Río Poo 108, Colonia Cuauhtémoc, Suites Parioli, México, Capital. O mar, não. O mar, não. O mar, não. O mar, não. Um exagero de zéfiros, então: o expresso Descia a serra em Simcas-Chambord tangerina, Rumo à baía divisada entre montanhas: Ao longe, o porto e as torres, guindastes e praias; Ao pé a pantanosa terra, como espaguete, úmida. O talento da oitava real quereríamos, O seu sempre imarcessível horizonte. Nele seguia a senhora duas vezes por ano, Qual a ordem das vogais, dos ritos identitários, às vilegiaturas; se lhe encolhera o mundo à mínima possível transumância. Para lá da paisagem, a sós uiva o engenho, Aquilo que em linguagem transforma a língua. A árvore que se agita em eterno lenho Enraíza no presente o espectro que mingua. Ia a senhora, olhos de pomba, um único anel De coral; cruzou-se a morte entre ela e o poema. O mar, não. Caixa de água azul entre prédios alheios. Este o horizonte, marchetado em fragmentos, Reduzido a um puzzle no qual o montador A si se vê como uma das peças faltantes. O agora não sabe o que diz: memoria vincitrix. Desce uma vez mais o expresso a estrada de Santos. MexCy9/10IX00 NA MESA DE CABECEIRA Horácio Costa Para Maria Aparecida Santilli Na mesa de cabeceira, Um exemplar da edição d’Os Lusíadas Daquele velho professor secundário do Porto, Remember, abundantemente comentada, E um guia do Estado de Chiapas Elaborado depois do EZLN, portanto Tão preocupado em descrever as fachadas barrocas De San Cristóbal de Las Casas como Em falar das tribos coloridas & Perseguidas. Que mundos se juntam em quarenta centímetros quadrados, O velho Camões sofrendo talvez pela vizinhança Insuspeitada –mais distante hoje Chiapas de Calecute Que há quinhentos anos. Mas quem junta os objetos sou eu, Quem lê estes livros simultaneamente É este nômade dado À teatralização do mínimo. Talvez deste encontro fora do acaso Não possa originar-se boa poesia. Nas estantes convivem em ordem alfabética O Mein Kampf e o Manifesto, Um tratado sobre botânica com um sobre os amigos, A loucura de Aliosha e as práticas de Santa Teresinha de Lisieux: A contigüidade bibliográfica Prevê terremotos para quem pára e reflete Ao ler a lombada dos livros. Mas neste hotel não há estantes: Há uma espécie de mesa de cabeceira Que testemunha como se babelizam e se lambuzam – Haverá bacanal mais surpreendente a esta hora da noite?- Os protegidos de Las Casas e o bardo lusitano 2x1 (“n˜ua mão a pena e noutra a lança”). No caracol do ouvido distingo O ritmo que executam Em sua vital promiscuidade – Dançando não sobre a cabeça de um alfinete de prata Mas sobre um criado mudo. MexCy 17IX00 A RÃO Horácio Costa Sim, naquele volet gauche Da visão terrível do El Bosco Lá nas Janelas Verdes, Bem sobre o Mar da Palha Sim, em Lisboa, Ulissipona, Lixbona, Lá vive extirpada do Paraíso (No volet droit) E num delírio de deslugar Sem topografia nem imaginário Mas com epistemé epistemé, Lá, enfim, vestida de batráquio, De meio ostra também Ou pró-dinossáuria Só que com as asas arrancadas E inda por cima com pelezinha Cor-de-rosa e clorofila, As penas rasuradas Por um profissional da imagem, Com a boca que vc conhece, Baconiana sim, Bem baconiana, Sem cérebro, Estricnina, A-que-volta-sempre, A-mais-presente-que-aspirina, A-pós-impoluta, A-da-abadia, A-do-puteiro, A-que-diz-que-disse, A linguaruda, Densa de glossolalia, Deusa da glossolalia, A Rão. Também vive na equação comum, Fractal. Às vezes me visita. De tamancos. Sempre de tamancos. Depois de comer muito alho, Muito alho sempre. E bafeja: Às vezes retenho caligrama, Se não os esqueço Ou sublimo. A Rão não me quer E nem a ti Nem a si Nem ninguém. Quando visita Esqueço o linóleo abacate, Os pés da menininha, O formulário. E desisto Da água. Creio que Isto lhe faz gosto: Mantém-me com a boca seca E sem beber E quando lhe lambo Os flancos orvalhados A Rão retorce-se de gozo. (no Hospital Universitário; SP 6 VIII 02) MANJAR BRANCO Horácio Costa Escrevo um poema depois De ter escrito um poema sobre Uma paisagem. Isto é mais manjado Do que manjar branco, ou que o era Nos idos não de março, nenhum Júlio César que não o toxicômano Semi-suicida filho do marceneiro, Nenhum cônsul procônsul princeps De Roma nenhuma, nos idos não de março Mas de março de 1964, ano da morte de meu pai E da Redentora. Auto-ungida, veio redimir-nos de nós mesmos, Os ingovernáveis de memória curta Ou de longa memória, os ingovernáveis Que sempre nos paralisamos diante De uma sobremesa tremulantemente Branca, com ameixas em conservas Como calda, ou diante de conclaves Que tais, que pizza imitam Fi-gu-ra-ti-va-men-te. Conto as sílabas, os anos que se passaram Daquele revolucionário manjar, e eis-me En-ve-lhe-cen-do diante de tais culinárias Grandezas. Oferecem-me “dobrada à moda”, À moda tripeira, como ao Álvaro de Campos: Numa civilização na qual tem tal predominância O trato intestinal, que há-de Esperar-se? Ouvi o teu fado, José Dirceu, Bem ouvi-o. E houve na oitiva a memória de um Jovem explorado (eu) De boa índole (eu) Quase “desaparecido” (eu) Devido às tuas veleidades e de Ana Corbisier, De terroristas que com identidades falsas Abusaram da nossa hospitalidade, Minha e da Sônia, lá por 1975: De salva-pátrias glutão E grande consumidor: Indicam-no as tuas gordas bochechas Cevadas por manjares brancos E muitas, muitas caldas de ameixas. Não havia os que te saciassem, certo? Nenhum açúcar mais potente Do que o poder que experimentaste. E que, previsivelmente para mim, feriste de morte. Deixa-nos com gosto amargo na boca E azia no trato. E lambo os meus beiços no poema. Rio de Janeiro, 24 VI 05 DA LEITURA Horácio Costa O luxo do esquecimento e a necessidade da memória lutam, se anulam, amam-se gerações afora. Vem o teu corpo, penetra-me, logo me abandona. Vejo tornar-me alternadamente eu e outro, apenas eu, apenas outro, o outro e eu. Neste trânsito nos igualamos os dois, sempre famintos e súbito satisfeitos a cada minuto, ou cada movimento. Não há memória que não preveja esquecimento. Nele, sólidos, carregam-se os fatos que medram no Tempo. Teus olhos percorrem-me e me interrompem. Parte, inconcluso, permeado deste meu moto, significando moinhos de vento. Pois que a leitura não se completa nunca, deixo agora de estar aqui. Assobia-me meu começo, que já reside em ti. Nova Iorque, 1981 De SATORI (Poemas) São Paulo: Iluminuras, 1989 ESCRITO ÀS SEIS DA MANHÃ Horácio Costa entre vegetação e céu às seis da manhã em ponto dão voltas sobre si mesmos os quatro vasos de avenca suspensos sobre um abismo planetas desconhecidos flutuam no além-momento herdeiros de Assurbanipal herdeiros do Führer louco um fio os ata à árvore amantes da gravidade são como a História inteira são vida em estado puro dão voltas, cai um império dão voltas, o mundo é pouco às seis da manhã em ponto suspensos sobre um abismo (um fio os ata à árvore) dão voltas sobre si mesmos os quatro vasos de avenca De SATORI (Poemas) São Paulo: Iluminuras, 1989 EXCRITO NA AULA DE JACQUES DERRIDA Horácio Costa Vamos. Conversemos com a eternidade deste espaço em branco. Nenhum Mallarmé rompe a linha da língua da página que flui como uma norma. Deixemos pro futuro um ambiente no papel fechado: janelas neogóticas, alunos novoingleses, um “mot” neolatino que habita novas traduções em expansão. O filósofo disserta infindavelmente proliferando intenções. O som da voz bate e reverbera nos cristais e encontra seu limite nos bordes deste plano. Coscruza o branco. Lá fora uma cidade quase dorme depois da chuva. A alteridade é percebê-la em stillness, enquanto avança a noite e se corrompem as palavras. De SATORI (Poemas) São Paulo: Iluminuras, 1989 Protegido pela Lei do Direito Autoral LEI Nº 9.610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998 Permitido o uso apenas para fins educacionais. Este material pode ser redistribuído livremente, desde que não seja alterado, modificado e que as informações sejam mantidas.