A estatura de Churchill revelou

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A estatura de Churchill revelou
"A estatura de Churchill revelou-se perante a gravidade da ameaça" - Renascença
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GABRIELLE - OUT OF REACH
JOÃO CARLOS ESPADA
"A estatura de Churchill revelou-se perante a gravidade da
ameaça"
EM DESTAQUE
Pedofilia. Condenação de
médicos não implica
afastamento imediato
Dezenas de ucranianos procuram
refúgio em Portugal
Foto: Arquivos do governo britânico
O país à janela de um pequeno avião
Vídeo O que
procurou Churchill
na Madeira? Sol,
vinho e um lugar
para pintar
45
Benfica-FC Porto em risco. Árbitros
metem dispensa para as últimas
jornadas
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Cinquenta anos depois da morte de Churchill, o presidente da secção portuguesa
da International Churchill Society defende o legado do estadista.
24-01-2015 9:00 por Matilde Torres Pereira
Fonte
SAIBA MAIS
O que procurou Churchill na
Madeira? Sol, vinho e um
lugar para pintar
Churchill: 19 factos sobre o
estadista que chorava e
pintava
Conservador, liberal, rebelde, cáustico e inconformista,
Winston Churchill foi tudo isto e mais. Morreu há 50 anos, a
24 de Janeiro de 1965.
Sucessor de Costa anuncia
programa de habitação com "rendas
acessíveis"
Lobos continuam a matar gado.
Pastores desesperam
Grécia exige quase 280 mil milhões
pela ocupação nazi
A carregar...
Ao longo de uma carreira política que durou seis décadas,
lutou veementemente contra o nazismo e liderou a Inglaterra
e a Europa até à vitória na II Guerra Mundial.
Em entrevista à Renascença, o presidente da secção
portuguesa da International Churchill Society, João Carlos Espada, traça o retrato de
Churchill como alguém com "uma grande força de vontade, uma grande resistência e
sobretudo uma grande fé na tradição ocidental da liberdade, uma convicção que explica
a persistência em enfrentar os dois grandes inimigos da sociedade aberta no século XX,
o comunismo e o nazismo".
Diz que é importante recordar Churchill nos dias de
hoje. Porquê?
Churchill teve um papel fundamental no século XX, na
defesa das nossas democracias ocidentais, e um papel que
podemos mesmo alvitrar que sem ele, em 1940, na chefia
do governo britânico, era possível que o resultado não
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2015-04-07
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tivesse sido o mesmo. O nazismo estava triunfante no
continente europeu, as forças armadas britânicas estavam
altamente fragilizadas depois da retirada de Dunkirk. Do
ponto de vista estritamente racional era possível pensar
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que o triunfo do nazismo era inevitável. Foi Churchill que assumiu a responsabilidade da
defesa da liberdade ocidental.
O que teria acontecido à Europa sem Churchill?
Há um livro muito interessante, publicado em português, que se chama "Cinco Dias em
Londres, Maio de 1940", de John Lukacs, em que ele reconstitui a situação no gabinete
de guerra britânico, logo a seguir a Churchill ser nomeado primeiro-ministro. Nessa
altura, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Lord Halifax, propõe uma negociação de
paz entre a Inglaterra e a Alemanha nazi, e essa proposta poderia ter ido para a frente
se não tivesse sido a oposição de Churchill. Ele teve um papel crucial naquele momento,
naqueles dias, na escolha da resistência ao nazismo. E tinha passado a década anterior
praticamente isolado, criticando o seu próprio governo pelas tentativas de
apaziguamento de Hitler e alertando que a única política consistente seria enfrentá-lo.
E ele nessa posição estava relativamente só…
Estava relativamente só. Havia um grupo de deputados conservadores que gradualmente
O seu NIB pode estar a pagar as contas de outra
pessoa
Co­piloto fez despenhar "deliberadamente" o A320
Não há sobreviventes da queda do avião a sul dos
Alpes franceses
Germanwings. Atestados médicos encontrados
indicam que co­piloto não devia estar a voar
Cofres cheios? Passos revela o que vai fazer ao
dinheiro
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foram constituindo uma espécie de gabinete sombra do seu próprio partido, uma
situação bastante peculiar, e esse gabinete era dirigido por Churchill. Foram reunindo um
conjunto de altos funcionários públicos britânicos, que também é muito peculiar e
invulgar, que começaram a dar informações sobre o rearmamento da Alemanha, dados
confidenciais que Churchill começa a levar ao parlamento. Em 1939, Churchill é chamado
para o Ministério da Marinha pelo primeiro-ministro, Neville Chamberlain, líder da política
de apaziguamento, e ao chamá-lo já é um sinal de que o isolamento está a terminar. A
imprensa apoia-o abertamente, e passa a ter uma grande popularidade. Quando
Churchill é nomeado, um célebre jornal da altura traz em manchete "Winston is Back".
O livro do autarca de Londres, Boris Johnson, "The Churchill Factor", pinta o
retrato de um homem que por si só pôde fazer a diferença, atribuindo-lhe
totalmente o crédito na vitória da II Guerra Mundial. Concorda com este
retrato?
Concordo com o papel crucial que Churchill teve na liderança da resistência britânica,
mas não foi ele que fez a resistência sozinho, aliás ele refere-se a isso várias vezes: diz
que o "leão" era o povo britânico e que ele apenas "fez o rugido". Sozinho não teria
podido enfrentar Hitler, mas sem a sua liderança decisiva, seria muito difícil haver
resistência, porque em Maio de 1940 o próprio gabinete de guerra estava dividido.
Churchill foi, de facto, absolutamente decisivo.
Ele foi visto como um "maverick", um rebelde, um não conformista, um contrarevolucionário. Esta imagem corresponde à realidade?
Ele era bastante inconformista, mas não era um contra-revolucionário. A expressão
sugere um revolucionário com um sinal político contrário, e na verdade Churchill era
contrário a todas as correntes revolucionárias, quaisquer que fossem a cor política.
Desde a revolução comunista na Rússia em 1917, Churchill é um crítico acérrimo, um
opositor da revolução bolchevique na Rússia, e também, desde a emergência do
nazismo, ele é um crítico acérrimo do nazismo.
Não lhe chamaria um contra-revolucionário. Churchill era um conservador liberal, que
tinha muito orgulho na tradição inglesa, no regime parlamentar, na monarquia
parlamentar, do governo limitado pela lei, do estado de direito, do governo que presta
contas ao parlamento - esse era o ideário político de Churchill, e que definia a GrãBretanha há vários séculos.
E tanto o nazismo como o comunismo traziam propostas muito intrusivas à vida
particular de cada cidadão, uma coisa que para os ingleses é muito negativa.
Há aquela famosa frase: "An Englishman's home is his castle", que é muito este espírito
de que os modos de vida estão protegidos pela lei, o governo está não acima mas abaixo
da lei, incluindo o rei. Quer o nazismo, quer o comunismo apresentaram-se como ideias
inovadoras, modernas, e acusavam o sistema parlamentar de ser ultrapassado,
envelhecido, incapaz de produzir os resultados que deviam produzir. Eram mensagens de
inovação revolucionária, e contra isso Churchill foi sempre imune. Um aspecto
importante do posicionamento político dele é a ideia de que a democracia moderna não é
uma ruptura com o passado, é o resultado de uma evolução gradual que remonta às
origens da civilização ocidental, à tradição grega, romana, ao cristianismo, e portanto,
para Churchill, a ideia de que temos de romper com o passado era anátema.
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Num artigo, escreve que Churchill traçou um perfil de Hitler como alguém que
vivia com uma raiva latente: não tinha sido aceite na Academia de Belas Artes
de Viena, vinha de uma família operária. Era alguém cheio de ressentimentos.
Hitler era de facto um marginal. Era muito ressentido contra a sociedade estabelecida,
contra aquilo que chamamos em tom crítico o "establishment", ele era claramente contra
o "establishment", porque tinha tido um conjunto de dificuldades na vida. Na Áustria
tinha concorrido duas vezes à Academia de Artes e foi recusado. E aqui um "à parte"
curioso: Churchill concorreu duas vezes à Academia Militar e só à terceira é que entrou.
Mas não ficou ressentido com ninguém.
Churchill foi tido como um herói. Mas a sua carreira política é frequentemente
pontuada por erros – um dos quais a indexação da libra ao padrão ouro, um
decisão que teve consequências muito negativas. Como é que ele foi capaz de
sobreviver politicamente a estas peripécias?
Quando hoje recordamos Churchill e o papel insubstituível que ele teve na altura na
defesa da liberdade ocidental, com isso não estamos a dizer que Churchill não tenha
cometido erros e alguns graves. Ele não era infalível. O ponto interessante é que
conseguia recuperar. Tinha uma grande força de vontade, uma grande resistência, e
sobretudo uma grande fé na tradição ocidental da liberdade. Logo a seguir à guerra ele
faz um discurso importantíssimo em Zurique, em 46, em que faz um apelo à
reconciliação entre a França e a Alemanha e à criação de uma comunidade europeia,
uma espécie de "Estados Unidos da Europa". Ele tinha uma grande confiança, uma
grande fé e convicção na tradição da liberdade, e via a posição britânica como coluna
dorsal dessa tradição. E foi essa convicção e visão que explica a persistência e a decisão
de enfrentar os dois grandes inimigos da sociedade aberta no século XX, o comunismo e
o nazismo.
Ao contrário do que é costume atribuir-se aos conservadores, Churchill era
sensível às condições sociais dos pobres. Isto demonstra, de alguma maneira,
que era um político que extravasava os limites da direita e da esquerda?
Em 1904 ele abandona a bancada conservadora e junta-se à bancada liberal por duas
razões. Uma é o "free trade", o comércio livre que os conservadores eram contra, tinham
a posição proteccionista, que considerava ser uma das principais alavancas para
melhorar a condição de vida de todos e em particular dos menos favorecidos, porque
permitia aos consumidores terem acesso a produtos mais baratos. A segunda razão, que
está particularmente relacionada com a protecção dos mais desfavorecidos, era a
chamada questão social.
Churchill é a favor de uma série de reformas de natureza social. Ele e Lloyd George
introduzem os fundamentos do Estado Social nos governos liberais. Em relação a superar
um pouco as divisões dos partidos, é um ponto muito interessante. Em Londres há a
tradição dos clubes, dos "gentlemen's clubs", e ele cria um novo clube, chamado "The
Other Club", que devia ser um ponto de encontro entre pessoas do centro-esquerda e do
centro-direita para que pudessem dialogar e reflectir de uma forma mais
descomprometida em relação ao clubismo dos partidos tradicionais. Ele procurava
promover um diálogo para além das estruturas partidárias, mas não contra.
O que é que o atrai na figura de Churchill e por que dedicou tanto tempo a
estudá-lo?
Quando pela primeira vez visitei [o filósofo] Karl Popper, em Inglaterra, em 1987, em
casa dele, ao olhar para a biblioteca percebi que os livros eram muito seleccionados. Ele
não era um coleccionador, tinha os livros fundamentais dos grandes autores. E a certa
altura, chego a uma estante que está cheia de livros de Churchill e sobre Churchill.
Lembro-me perfeitamente que fiquei muito surpreendido e perguntei: "Por que é que
tem aqui uma estante cheia de livros sobre o Churchill, ele era basicamente um político".
Eu disse aquilo num tom um bocadinho paternalista, um bocado irreverente, mas saiume espontaneamente, porque era um contraste com Platão e Aristóteles.
Mandou-me sentar e disse: "Você não sabe porquê, então vou ter de lhe explicar". Então
deu-me uma "lecture" que demorou imenso tempo. E disse "você tem de saber que se
não fosse este homem nós teríamos perdido a liberdade na Europa". E depois começou a
falar no papel dele e no que ele representava – no fundo, a ideia da sociedade aberta
que Karl Popper tinha defendido. A seguir fui fazer o doutoramento aqui em Oxford e,
desde essa conversa, fui começando a ler e à procura de coisas sobre Churchill.
Começou assim.
Há hoje alguém, ou houve entretanto, que se possa considerar como o herdeiro
político de Winston Churchill?
Acho que não. Houve vários líderes que consideraram Churchill como referência. O nome
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que vem imediatamente à memória é o de Margaret Thatcher, ela insistia muito em citar
Churchill. Agora, daí a chamar-lhe herdeira dele, não diria isso. Penso que, felizmente,
depois da guerra, todos os nossos grandes líderes políticos do Ocidente se reconhecem
na tradição de Churchill.
E como figura é também difícil encontrar alguém com essas características.
Acho que sim, mas de certa maneira felizmente, porque não tivemos de enfrentar uma
situação com a gravidade dos anos 40. O facto de não encontrarmos ninguém com
aquela estatura, não diria isso num sentido pejorativo, porque a verdade é que a
estatura de Churchill revelou-se perante a gravidade da ameaça. É importante recordar
que todos os líderes políticos das democracias reconhecem o papel e o legado de
Churchill na defesa destes valores comuns a todas as democracias, o estado de direito, o
governo limitado pela lei, isso é um valor adquirido muito importante. Essa memória do
papel de Churchill e dos valores que representou e pelos quais se bateu... O importante
é não a perder e, sobretudo, que as novas gerações possam ter contacto com essa
história da defesa da liberdade.
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Comentários (4)
» Rob J, California, 25­01­2015 0:08
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Obrigado pelo artigo. Ele talvez seja o maior figura do século 20
» Luís António Campos, Porto, 24­01­2015 21:14
^ topo
Boa tarde, A figura de Churchill é essencial e deve ser honrada pelo exemplo de representar uma
comunidade e com ela lutar contra essa doença do espírito que foi o Nazismo. Quando analisamos a
História convém não introduzir imagens que nada têm de real. Foi Churchill que abriu o caminho e se os
líderes actuais reconhecem esse legado nada fazem de essencial, porque os líderes actuais esquecem­se
dessa frase essencial de Churhill, "Attitude is a little thing that makes a big difference". Atitude é o que
os líderes actuais não têm. Não possuem a dignidade e o carisma da decência de que Churchill dá
exemplo, mesmo nas questões internas, nos planos da economia e do social. Falemos da História como
um processo social, cultural e político sem achegas irrelevantes sobre os grandes valores do estado
direito de quem actualmente apenas se preocupa com o seu "little job, nothing else". Sejamos frontais e
assertivos a falar da grandeza de outros, sem transportar para o presente valores que não são vividos. O
exemplo de Churchill deve ser honrado e deve ser estudado por novas gerações. São elas o mais
importante. Obrigado. Atenciosamente Luís Campos
» Fernando, Lisboa, 24­01­2015 16:28
^ topo
Churchill é um estadista visionário, íntegro e com grande capacidade de trabalho. Não demorou
tempo a reconhecer valores e a definir o adversário. Começam hoje a despontar algumas verdades
sobre o controle que ele exerceu sobre Salazar. Percebe os medos de Salazar (medo da guerra e medo
de uma invasão) e joga com isso a seu favor. Salazar terá sido usado como um agente ingénuo do
double cross inglês, cujo controlador seria Churchill. A conferência de Arcádia que se prolonga por dois
meses no final de 1940 e princípio de 1941 são um exemplo: trava a invasão dos Açores pelos
americanos e definem aquilo que será a Sociedade das Nações, mais tarde ONU, a criar no final da
guerra. Os EUA só entram na guerra contra os Alemães em agosto de 1941 e com os japoneses depois
do dia da infâmia. A paz relativa com que Salazar vive no pós guerra com os aliados, não é fruto de
esquecimento, mas sim de interesses de tal modo que compra muito material de guerra originário do
excedente Americano e Inglês. Claro que para a plebe nacional, confundir um nazista de um ditador é a
mesma coisa. Churchill viu de modo diferente, percebeu, jogou, controlou e ganhou.
» Anonimo, mnklj, 24­01­2015 14:44
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2015-04-07
"A estatura de Churchill revelou-se perante a gravidade da ameaça" - Renascença
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Para ter uma visão total do ser humano que era Churchil ­ de facto um personagem que fica na história ­
aconselho a ler o artigo do jornal ingles "The Independent" Saturday 24 January 2015 Saturday 24
January 2015 Winston Churchill: From accusations of anti­Semitism to the blunt refusal that led to the
deaths of millions
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