Caderno de Resumos - Hospedagemdesites.Ws
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CADERNO DE RESUMOS ISSN 2175-6910 FICHA CATALOGRÁFICA Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) (Biblioteca Central - UEM, Maringá – PR., Brasil) C749 Congresso Internacional de História (7. : 2015 : Maringá, PR) Caderno de Resumos do VII Congresso Internacional de História / editor Angelo Priori. -- Maringá,PR : UEM/PPH/DHI, 2015. 276 p. ISSN 2175-6910 Simultaneamente ao VII Congresso Internacional de História foram realizados o XXXV Encuentro Regional de GeoHistoria e a XX Semana de História da UEM. 1. História. 2. Política. 3. Cultura. 4. Narrativas 5. América Latina. I. Priori, Angelo. II. Universidade Estadual de Maringá, Programa de Posgraduação em História, Departamento de História. III. Título. CDD 21. ed.981 COORDENAÇÃO GERAL Dr. Angelo A. Priori (UEM) Dra. Solange Ramos de Andrade (UEM) VICE - COORDENAÇÃO Dr. Luiz Felipe Viel Moreira (UEM) Dra. Maria Laura Salinas (UNNE) COMISSÃO ORGANIZADORA Dra. Maria Silvia Leoni (UNNE) Dra. Maria Belén Carpio (UNNE) Dra. Mariana Giordano (UNNE) Dra. Ivana Guilherme Simili Dra. Ivone Bertonha (UEM) Dr. José Carlos Gimenez (UEM) Dr. Lúcio Tadeu Mota (UEM) Dra. Vanda Fortuna Serafim (UEM) Dra. Renata Lopes Biazotto Venturini (UEM) SECRETARIA GERAL Giselle Moraes e Silva SECRETARIA ADMINISTRATIVA Fábio Carneiro Barbosa Manoel José de Oliveira GERÊNCIA FINANCEIRA Instituto de Tecnologia e Ciência Ambiental 3 SUMÁRIO ST 01 – AS CRENÇAS E SUAS PRÁTICAS: OLHARES A PARTIR DA AMÉRICA LATINA ...................... 5 ST 02 – HISTÓRIA, LITERATURA E MÚSICA: NARRATIVAS LITERÁRIAS E MUSICAIS NA AMÉRICA LATINA......................................................................................................................................... 18 ST 03 – HISTORIA ORAL, MEMORIA E MIGRAÇÕES REFLEXOES SOBRE DESLOCAMENTOS E ORALIDADES NA AMERICA LATINA CONTEMPORANEA.............................................................. 30 ST04: PROCESSOS DE HEGEMONIA E PENSAMENTO DE DIREITA NA AMERICA LATINA ............ 39 ST06 NARRATIVAS E CULTURAS POLITICAS NA PENINSULA IBERICA MEDIEVAL ........................ 56 ST07 HISTORIA ANTIGA FONTES E METODOS............................................................................. 62 ST08 A IDADE MEDIA EM DEBATE PERSPECTIVAS INTERDISCIPLINARES.................................... 68 ST09 A AMERICA PORTUGUESA NOS SECULOS XVI E XVII .......................................................... 78 ST10 CONHECIMENTO HISTORICO O NOSSO E O DOS OUTROS MODOS DE USOS DO PASSADO CULTURAS E PUBLICOS DE MEMORIA......................................................................................... 86 ST 11 POLITICA E MOVIMENTOS SOCIAIS ................................................................................... 98 ST12 – AS ROUPAS, AS APARENCIAS E A MODA NAS NARRATIVAS DA HISTORIA .................... 121 ST13 – HISTORIA DA INFANCIA ADOLESCENCIA E JUVENTUDE ................................................ 140 ST 14 HISTORIA E RELAÇÕES DE GENERO REFLEXOES EM PAUTA ............................................ 146 ST 15 FEMINILIDADES, MASCULINIDADES E AS (RE)DEFINIÇÕES DE ESPAÇOS SIMBOLICOS ... 161 ST 16 ENSINO E APRENDIZADO HISTORICO METODOLOGIAS DE PESQUISA, FONTES E PROBLEMATICAS ATUAIS .......................................................................................................... 164 ST 17 ESTUDOS SOBRE A AMERICA PORTUGUESA ................................................................... 182 ST 18 CULTURA NEGRA: HISTÓRIA, POLÍTICA E MEMÓRIA....................................................... 186 ST19 ENSINO E PESQUISA DE HISTORIA DA ÁFRIA,HOJE .......................................................... 190 ST20 CULTURA E PODER – UMA ABORDAGEM DAS INSTITUIÇÕES POLICIAIS E JUDICIAIS ...... 195 ST21 HISTORIAS E MEMORIAS DA COUPAÇÃO DAS REGIOES PARANAENSES NO SECULO XX: (RE)OCUPAÇÃO, MIGRAÇÕES, POLÍTICAS E IDENTIDADES ....................................................... 202 ST22 PATRIMONIO E MEMORIA: PARADIGMAS DA PRESERVAÇÃO E DA EDUCAÇÃO PATRIMONIAL NO ENSINO DE HISTÓRIA E NAS INSTITUIÇÕES MUSEAIS ................................. 218 ST 23 PESQUISAS DE IC, PIBID E PET ......................................................................................... 234 4 ST 01 – AS CRENÇAS E SUAS PRÁTICAS: OLHARES A PARTIR DA AMÉRICA LATINA A CANTORIA DE SANTINHO NO POVO NOVO – RS: DO IMAGINÁRIO AO PATRIMÔNIO Alexandre da Silva Borges (UFPel) O presente trabalho visa apresentar a trajetória de uma manifestação cultural, festiva e religiosa do 3º distrito do Rio Grande – RS, Povo Novo, denominada Cantoria de Santinho. Trata-se da prática do último Terno de Santos da localidade, o qual canta aos santos do mês de junho (Santo Antônio, São João e São Pedro) em prol de bênçãos às casas daqueles que abrem suas portas; num trajeto silencioso até a entoação do primeiro verso. Em outras discussões fora apresentado a Cantoria como um característico patrimônio imaterial, em situação vulnerável, dada sua raridade, e relevante no que tange à formação cultural da comunidade que o “pertence”. Em voga, o objetivo deste trabalho é discutir como a Cantoria de Santinho chega a inflamar o sentimento de pertencimento e a disponibilidade de comunhão daqueles que usufruem do seu rito cosmificante, inserindo esta discussão entre as balizas da História e da Cultura. Para tal empreitada, o viés teórico e metodológico do Imaginário, bem como seu atento para os símbolos e imagens, é mais que conveniente, já que, como diria Gilbert Durand, é desta natureza (ritualística, religiosa, artística e mágica) que a teoria do Imaginário, ou da Imaginação Simbólica, se encarrega e vela, ou seja, o não-sensível, ou o supra-real; da mesma forma, intenta-se incluir nesta abordagem amplificadora o flanco a-histórico do homem, como trata Mircea Eliande daquilo que encontramos em qualquer cultura, tempo ou espaço, ou seja, as entranhas do antropo em sua formação. As conclusões deste trabalho se esbarram nas indagações que dele surgirão. Palavras-chave: Cantoria de Santinho; Patrimônio Imaterial; Imaginário; Povo Novo – RS. Agência financiadora: CAPES MARIA BUENO: UM ESTUDO DAS DEVOÇÕES Tônia Kio Fuzihara Piccoli (UEM) A presente comunicação objetiva apresentar o projeto de Mestrado intitulado “Crença e devoção: as representações de Maria Bueno enquanto santa de cemitério (Paraná, séculos XIX-XXI)” que tem como objetivo compreender a crença e a devoção a Maria Bueno, no Paraná, entre séculos XIX a XXI, tomando como fontes históricas o cemitério São Francisco de Paula enquanto espaço de culto e devoção, por meio da pesquisa de campo e da aplicação de questionários e análise dos ex-votos; e as notícias publicadas em jornais, tais como A República e A Federação, sobre o assassinato de Maria Bueno. Jovem curitibana, parda e pobre, assim é descrita Maria da Conceição Bueno, nascida a 08 de dezembro de 1854 na cidade de Rio da Prata, próxima à Morretes, no Paraná. Décadas depois, Maria morreu degolada, vítima do soldado Ignácio 5 José Diniz. Este momento é muito importante à reflexão, pois é a partir dele que abre um emaranhado de narrativas e explicações. O momento da morte de Maria Bueno seria, portanto, o que Mircea Eliade (1992) denominou “mito fundante”, ou seja, o evento priorizado para a organização dos demais. A opção teórica parte, principalmente, das noções de "táticas" e "estratégias" de Michel de Certeau (1998), "apropriações" e "representações" de Roger Chartier (1990, 2002) e “religiosidade católica” de Solange Ramos de Andrade (2010). Palavras-chave: Maria Bueno; santa de cemitério; devoções. Agência financiadora: CAPES. A NARRATIVA HAGIOGRÁFICA SOBRE MARIA BUENO Tônia Kio Fuzihara Piccoli (UEM) A presente comunicação está vinculada ao projeto de Mestrado intitulado “Crença e devoção: as representações de Maria Bueno enquanto santa de cemitério (Paraná, séculos XIX-XXI)” e objetiva discutir a construção da santidade de Maria Bueno por meio do romance Maria Bueno (1948) de Sebastião Izidoro Pereira, aqui tomado como fonte histórica. Problematizar o livro de Pereira (1948) é importante por ter sido a primeira fonte impressa, mais abrangente, sobre Maria Bueno. E a primeira, também, que cita com riquezas de detalhes a figura de Maria Bueno como uma santa. Além disto, muito das representações criadas em torno de Maria Bueno está presente nessa obra. A devoção em si aos poucos foi instaurada, mas a obra de Pereira (1948) contribuiu para a divulgação da figura mítica e também para o preenchimento de lacunas, em seu romance partes da vida de Maria Bueno que pareciam obscuras ou totalmente confusas foram ganhando forma. Parte-se para tanto da discussão sobre hagiografia presente em Michel de Certeau e das reflexões sobre santidade realizadas por André Vauchez. Palavras-chave: Maria Bueno; Hagiografia; Santidade. Agência financiadora: CAPES. RICHARD DAWKINS E OS ARGUMENTOS RELIGIOSOS: BREVE ANÁLISE DISCURSIVA Maria Helena Azevedo Ferreira (UEM) A comunicação a ser apresentada é um dos desdobramentos da pesquisa de mestrado em andamento “A ideia de religião em Deus, um delírio de Richard Dawkins (Inglaterra, século XXI)”. Temos como objetivo apresentar os argumentos teológicos que são refutados por Dawkins em sua obra Deus, um delírio (2007), buscando a historicidade desses argumentos e os associando ao modo como o autor faz sua abordagem. A partir disso, torna-se possível analisar o teor da sua refutação, bem como propor como esses ainda se apresentam enquanto objetos de inquietação para Richard Dawkins na atualidade. Assim, os argumentos levantados, sendo formalmente instituídos ou não, ganham nova forma no discurso do autor, que os assume enquanto falaciosos, fazendo “usos” específicos dos mesmos e consequentemente 6 promovendo suas próprias convicções. Para compreender esta dinâmica, procuramos por meio de Georges Minois (2014) contextualizar os argumentos teológicos, correlacionando com a construção histórica do ateísmo reminiscente na figura de Dawkins. Além disso, utilizaremos como aporte teórico-metodológico, as considerações de Michel de Certeau (1998, 2011) acerca da produção de “verdades” e os “usos” distintos das ideias, assim como Michel Foucault (2008), para analisar as especificidades do discurso. Palavras-chave: Richard Dawkins; religião; teologia. Agência financiadora: CAPES GENE EGOÍSTA E SUAS INFLUÊNCIAS A PARTIR DA PERSPECTIVA DE RICHARD DAWKINS Maria Helena Azevedo Ferreira (UEM) Esta comunicação tem como objetivo analisar como o biólogo Richard Dawkins empreende uma auto-reflexão acerca do processo de escrita de sua primeira obra O gene egoísta (2007), para isso tomaremos enquanto fonte sua autobiografia An appetite for wonder: the making of a scientist (2013). Nesta obra, entre outras temáticas, Dawkins realiza uma apresentação sequencial dos fatos que para ele se mostraram relevantes para a escrita de seu livro. A partir disso, notamos que o autor atribui uma enfâse especial no que diz respeito a circulação de ideias entre intelectuais, assumindo relevância de determinadas questões na elaboração de O gene egoísta (2007) . Partindo dessas reflexões, Dawkins percebe-se enquanto sujeito influenciado e influenciador e com base nisso constrói uma narrativa sobre si e sua produção. Para problematizar essa construção narrativa operacionalizaremos as considerações de Pierre Boudieu (2005) acerca da produção biográfica. Além disso, com o intuito de teorizar a respeito da dinâmica das ideias presentes no discurso de Dawkins partimos das colocações de Edgar Morin (2005). Por fim, compreendendo o espaço de produção dessas ideias, também utilizaremos o conceito de “campo científico” elaborado por Pierre Bourdieu (2004). Palavras-chave: Richard Dawkins; biografia; intelectualidade. Agência financiadora: CAPES CULTURA, RELIGIOSIDADE E FESTA: OS FESTEJOS EM HONRA AO DIVINO NA CIDADE DE PONTA GROSSA/PR Vanderley de Paula Rocha (PPGH/UEPG) Esse trabalho problematiza os festejos em honra ao Divino Espírito Santo na cidade de Ponta Grossa/PR. De acordo com os registros, 1882 é a data de início desses nesta cidade, quando segundo a tradição, foi encontrada a imagem da representação do Divino Espírito Santo, uma pomba de asas abertas, gravada em um pedaço de madeira, por Maria Julio Cesarino Xavier e, até os dias de hoje continuam sendo realizados. Procuramos entender o movimento devocional por meio da festividade religiosa e identificar a relação que a Igreja Católica estabeleceu com essas práticas. Utilizamos como fontes 7 jornais, ex-votos e folhetos de divulgação dos festejos. Amparados nos conceitos de Táticas/Estratégias de Michel de Certeau e Representação de Roger Chartier, compreendemos que é, através dos festejos, que os indivíduos, considerados devotos do Divino, estabelecem ligação com o transcendente, ao mesmo tempo em que fazem desses um momento de sociabilidade. Percebemos que a “Casa do Divino”, espaço onde ocorrem às celebrações dedicadas ao Espírito Santo em Ponta Grossa possui significativa importância para os devotos, pois é considerado um “lugar sagrado”. Por fim, compreendemos que os festejos no decorrer dos anos foram apropriados pela Igreja Católica que, efetivamente, determinou os espaços de ocorrência e as formas de expressão desses, remete, portanto, para o entendimento do exercício dos poderes estabelecidos, do reconhecimento de papéis sociais, das hierarquias. Palavras-chave: Festejos; Divino; Devoção; Igreja Católica. Agência Financiadora: CAPES/Fundação Araucária. O CONCEITO DE “CRENÇAS” E AS POSSIBILIDADES DE PESQUISA EM HISTÓRIA. Vanda Fortuna Serafim (UEM) A comunicação objetiva refletir sobre o conceito de crenças e as possibilidades de pesquisa que o mesmo pode possibilitar em História. Partindo da experiência de orientações junto ao Laboratório de estudos em religiões e religiosidades da Universidade Estadual de Maringá, o intuito é apresentar a trajetória das temáticas de pesquisa e aportes teóricos e metodológicos utilizados tanto pelos alunos da iniciação científica, quanto pelos que já desenvolvem pesquisas de mestrado sob minha orientação, destacando as propostas de apreensão da realidade dos universos simbólicos e religiosos por eles elaboradas. Considerando que a organização da história é relativa a um lugar e à um tempo e que isso deve-se inicialmente as suas técnicas e produção, uma vez que, cada sociedade se pensa historicamente com os instrumentos que lhe são próprios. (CERTEAU, 1982), pretendesse demonstrar as articulações teóricas por meio dos projetos de pesquisa docente que permitiram articular temáticas tão variadas buscando atender à uma topografia de interesses. Parte-se, para, do conceito de crenças elaborado por Michel de Certeau ao defender que, entende “[...] por ‘crença’ não o objeto do crer (um dogma, um programa etc.), mas o investimento das pessoas em uma proposição, o ato de enunciá-la considerando-a verdadeira – noutros termos, uma ‘modalidade’ da afirmação e não seu conteúdo” (CERTEAU, 1998, p. 278). Palavras-chave: Crenças; Historiografia; pesquisa histórica. 8 PRÁTICAS E CRENÇAS RELIGIOSAS AFRO-BRASILEIRAS EM MARINGÁ-PR (1947-2014). Giovane Marrafon Gonzaga (UEM) O presente trabalho visa discutir percepções na análise das práticas relacionadas às crenças afro-brasileiras, na cidade de Maringá-PR, entre os períodos de 1947 a 2014. Com esse fim, objetiva-se definir condições para mapear os espaços de crenças e manifestações afro-brasileiras em MaringáPR, perceber a relação entre essas práticas e a tradição católica maringaense, contribuindo aos estudos da História das Crenças e das ideias religiosas dentro da perspectiva de sua formação regional e da cultura afro-brasileira. Esta proposta se apoia teoricamente nos conceitos de M. Certeau (1994), tática e estratégia, R. Chartier (2002), práticas instituídas, auxiliados pela ideia de homem religioso desenvolvida por M. Eliade (1992). A metodologia pretendida estabelece relações com a micro-história operacionalizada por C. Ginzburg (1990), entendendo que o espaço e a história das crenças afro-brasileiras podem ser apreendidos se não por seus indícios e vestígios. Considera-se a particularidade de um estudo cujo objeto ainda não foi abordado pela historiografia, se considerado o recorte à cidade maringaense. Dessa forma, discute a importância do levantamento de fontes para a realização do trabalho, entendendo que elas podem ser constituídas através dos periódicos publicados na cidade, da própria localização e dados geográficos desses espaços no município, e da possibilidade de entrevistas, sobretudo com as lideranças religiosas nesses locais. Por fim, o trabalho elabora caminhos para um diálogo entre a História das religiões em Maringá-PR, o espaço das crenças afrobrasileiras na cidade, e os resultados capturáveis desses encontros. Palavras-chave: Afro-brasileira; Chartier; Certeau; Religiosidade; Maringá; Agência financiadora: CAPES UMA ANÁLISE DO ESPAÇO DAS CRENÇAS AFRO-BRASILEIRAS NAS PUBLICAÇÕES DE “O DIÁRIO”, ENTRE OS ANOS 2000 E 2010. Giovane Marrafon Gonzaga (UEM) O presente trabalho procura alguns paralelos traçáveis para a representação das práticas e crenças religiosas afro-brasileiras na mentalidade da população de Maringá-PR. A preocupação deste artigo se concentra sobre o material, relacionado à temática, presente nas publicações do periódico “O Diário”, entre os anos 2000 e 2010. A análise tem como objetivo demonstrar os discursos de dois espaços ocupados pelas crenças afro-brasileiras no jornal: o corpo informativo e os classificados. É problematizado de que forma, assuntos referentes à religiosidade afro-brasileira, são tratados no corpo informativo do jornal e o que anunciam os classificados, onde essa religiosidade parece oferecer uma espécie de serviço ou resolução para problemas do cotidiano de um homem religioso e ordinário. Os conceitos operacionalizados nesse estudo são o de representação (CHARTIER, 2002), homem religioso (ELIADE, 1992), homem ordinário, táticas e estratégias (CERTEAU, 1994), também as diferenciações entre amor eros e kairòs (LATOUR, 2004). O trato metodológico se auxilia das apreciações de T. De Luca (2005) sobre os campos semânticos, 9 interditos e silêncios encontrados nos periódicos. A ideia de dispositivos discursivos instituídos, observada por M. Mouillaud (2012) justifica a possibilidade de se observar, dentro de alguns limites, o conteúdo “d’O Diário” enquanto reflexo da mentalidade maringaense tradicional. Define-se que, embora marcadas por um discurso algumas vezes preconceituoso, as crenças afro-brasileiras encontram espaços nos periódicos definíveis enquanto pontoscegos do olhar institucionalmente dominante. Como observamos através de uma análise daquilo que é oferecido nos classificados do jornal. Palavras-chave: Crenças; Afro-brasileiras; Periódicos; Amor; Agência financiadora: CAPES OS RITOS DE INICIAÇÃO AFRO-BRASILEIROS EM NINA RODRIGUES E JOÃO DO RIO (BRASIL - PRIMEIRA REPÚBLICA) Ana Paula de Assis Souza (LERR-UEM) A presente comunicação visa apresentar Nina Rodrigues e João do Rio. Ambos foram importantes pensadores que, ao final do século XIX e início do século XX, produziram, respectivamente em Salvador e no Rio de Janeiro, estudos sobre a cultura e religiosidade de matriz africana. Nesse sentido, o intuito desta comunicação é pensar a importância destes dois autores no que concerne ao estudo das crenças afro-brasileiras, pensando a iniciação, sobretudo, na adesão individual a uma cultura coletiva. Trata-se de evidenciar uma cultura que visava à legitimidade religiosa de um determinado grupo social por meio de suas manifestações de cunho religioso, ao qual os dois intelectuais descrevem em suas narrativas; O animismo fetichista dos negros bahianos (RODRIGUES, 1935) e As religiões no Rio (RIO, 1906). Palavras-chave: Ritos de Iniciação; Nina Rodrigues, João do Rio. O CERDO DO “CANDOMBLÉ” DE ESCOLASTICA: NOTÍCIA DE UMA BATIDA POLICIAL NO TEREIRO DO GANTOIS EM 1926 Bárbara Santana Nogueira (UFRB) Essa comunicação tem como objetivo apresentar e analisar o posicionamento do periódico soteropolitano A Tarde frente à repressão à prática do candomblé em Salvador com foco na notícia da batida policial ao terreiro de Mãe Menininha em 1926. Realizaremos análise de conteúdos que versam sobre a perseguição, a prática religiosa de matriz africana na cidade de Salvador e sobre o terreiro do Gantois. Este artigo irá contribuir com a percepção sobre a temática analisada, bem como com o papel desempenhado por um dos maiores jornais do Estado e sobre as práticas religiosas de matriz africana, além de apresentar um destino para os objetos de culto apreendidos nas ações policiais de repressão ao povo de santo em Salvador. Palavras-chave: A Tarde; Gantois; Candomblé; Perseguição policial. 10 BREVES CONSIDERAÇÕES ACERCA DA REPRESENTAÇÃO DA VIRGEM MARIA E DO SEU CULTO: NICOLAU DIAS E O LIVRO DO ROSÁRIO DE NOSSA SENHORA (1573) André Rocha Cordeiro (UEM) Propomos neste artigo realizar breves considerações da pesquisa em andamento acerca da representação de Maria e de seu culto, a partir da hagiografia Livro do Rosário de Nossa Senhora, escrita pelo dominicano Nicolau Dias (1525? – 1596), no ano de 1573 em Portugal. Nosso recorte espaço-temporal é delimitado pela nossa fonte, sendo portanto, Portugal do século XVI. Buscamos por objetivo geral compreender o modo que o culto a Virgem Maria é representado pelo teólogo, na referida obra, em consonância com o contexto histórico ao qual pertence o escrito hagiográfico, especialmente a Reforma Católica. Respaldando-se na discussão acerca da história das religiões e religiosidades e dos conceitos de “lugar social” e “representação”, propostos por Michel de Certeau (1982) e Roger Chartier (1990; 1991), respectivamente, buscamos analisar como o discurso católico, incorporado por Nicolau Dias, expressa e representa o culto à Mãe de Deus. Compreendendo também nenhum documento é inócuo e/ou inocente, e que é resultante de toda uma conjuntura e construção que o faz compreensivo e expressão, buscamos compreender o processo de construção e “(re)afirmação do culto à Maria diante do contexto português, no século XVI. Fonte pouco estudada até o presente momento, o Livro do Rosário de Nossa Senhora (1573), em nossa perspectiva, é uma obra de expressão e relevância para os estudos da História das Religiões e Religiosidade, principalmente da História da Igreja Católica Portuguesa. Consideramos que o discurso empreendido por Nicolau Dias, apresenta o posicionamento da Igreja em Portugal, diante dos questionamentos levantados pelo protestantismo, que se alastrava pelo continente europeu. Palavras-chave: Virgem Maria; culto mariano; Nicolau Dias; Portugal, Igreja Católica. “DEVOÇÃO TÃO ACEITA À DEUS E A VIRGEM GLORIOSA”:O DISCURSO ESTRATÉGICO DA IGREJA PARA A PROMOÇÃO DO ROSÁRIO NO SÉCULO XVI André Rocha Cordeiro (UEM) O presente artigo propõe abordar de que forma se constrói o discurso da Igreja Católica Apostólica Romana com a finalidade de promover a devoção mariana do rosário. Utilizamos como fonte a obra do dominicano Nicolau Dias (1525? – 1596) intitulada Livro do Rosário de Nossa Senhora, publicado em Lisboa – Portugal, em 1573. No século XVI a Igreja enfrenta uma de suas maiores crises e contestações de sua história: a Reforma Protestante. Dentre as várias contendas entre católicos e protestantes, a figura de Maria é tema de debates e questionamentos pelo protestantismo. Na perspectiva de se reafirmar no campo religioso a instituição católica se organiza por meio do Concílio de Trento (1545 – 1576) e toma atitudes e medidas, a fim de combater a “nova heresia” que a ameaçava. Dentre estratégias tomadas a promoção da devoção 11 do rosário da Virgem Maria é fortemente propagada à cristandade católica. Diante desse contexto, compreendemos que a obra de Nicolau Dias é um documento de grande relevância para o estudo do catolicismo institucional, se mostrando expressão do discurso e estratégia da Igreja Católica. Dessa forma, nos respaldamos na discussão teórico-metodológica de Michel de Certeau (1982; 1998) acerca do “lugar social” e do uso de “estratégias” pela Igreja Católica, em Portugal, na perspectiva de se legitimar como instituição religiosa. Palavras-chave: Nicolau Dias; Portugal, Igreja Católica; Rosário. O INFERNO DE DANTE: CONFINS ENTRE A MITOLOGIA GRECOROMANA E A MITOLOGIA CRISTÃ Daniel Lula Costa (UFSC) Neste trabalho nosso objetivo é identificar elementos que demonstrem a apropriação e ressignificação da mitologia greco-romana e da mitologia cristã na Divina Comédia de Dante Alighieri, principalmente de sua primeira parte: Inferno. O poeta florentino, ao dar movimento à memória e às imagens de tempos antigos dá novos significados ao pós-morte cristão unindo elementos de mitologias diversas, como por exemplo, os seres híbridos. É por meio desses seres e de suas várias emergências em temporalidades diversas que buscaremos o contato entre mitologias e o pós-vida dessas imagens, sendo constantemente ressignificadas. Para identificar esses elementos utilizaremos a metodologia de Warburg, quem define o movimento das imagens ao associála a vivência de um tempo e com a sua reminiscência em diversas temporalidades, o que ele denomina por nachleben (pós-vida). Nesse caso buscamos os confins entre mitologias, como definido por Cacciari, o ponto de conexão entre uma e outra. A longa duração se faz necessária para verificarmos os rastros das imagens antigas e medievais construídas em obras artísticas. Propomo-nos a analisar os seres híbridos e os processos de significação que os atingiram ao longo do tempo para identificarmos como Dante os interpreta em seu momento histórico. A Divina Comédia, escrita no século XIV, é permeada de seres híbridos, os quais dão significado ao ambiente em que estão inseridos e, alegoricamente, funcionam como um reflexo temporal das imagens antigas ressignificadas em sua função mitológica e histórico-cultural, construídas pela visão de mundo de um tempo que é lido e interpretado pelo olhar de Dante Alighieri. Palavras-chave: seres híbridos; inferno; Dante; mitologia. Agência financiadora: CAPES O DISCURSO PAPAL ACERCA DO COMPORTAMENTO FEMININO (1914-1958) Solange Ramos de Andrade (UEM) Diante do processo de secularização que, em fins do século XIX, preocupava o pontificado romano, a Igreja Católica se fechou em seus dogmas, reforçou sua hierarquia, centralizou seu poder e passou a promover um intenso processo de 12 evangelização e de ações voltadas aos leigos para a manutenção de seu “status quo”. Um dos segmentos a serem mantidos era a família e, em seu interior, as moças católicas e a ação institucional pode ser identificada desde fins do século XIX até a primeira metade do século XX. Na construção do ideal da mulher católica, seu corpo martirizado, dócil, virginal é o protótipo do “corpo feminino” desejado pela instituição eclesiástica. Um corpo que se dobra diante os dogmas desta instituição, um corpo que “não peca”, que prefere o suplício, a violência a perder sua pureza. Um “corpo feminino” constantemente representado pelos documentos da oficialidade como a “virgem” ou “mãe”. Enfim, tratava-se de um projeto missionário católico que, dentre outras estratégias visava preservar a “alma feminina” dos males do mundo e, por seu intermédio, garantir a entrada dos princípios e valores católicos em muitos lares e o papel das encíclicas e cartas pastorais era “defender e recuperar o rebanho católico”, não deixando o mesmo “perder-se” com as novas possibilidades do mundo moderno. Minha proposta consiste em apresentar a construção do discurso papal sobre como as moças católicas deveriam se comportar na primeira metade do século XX. Serão analisados os documentos escritos pelos papas Bento XV (1914-1922); Pio XI (1922-1939) e Pio XII (1939-1958). Palavras-chave: Igreja católica; modéstia; valores católicos. Agência financiadora: Fundação Araucária. A CONCEPÇÃO ANTROPOLÓGICA DAS ENCÍCLICAS DO CONCÍLIO VATICANO II (1962-1965) Marlei Correia (UNICENTRO) Estudo dos Fundamentos da Educação amplia a compreensão do fenômeno educativo lançando luzes para o sentido que se pretende dar à formação das pessoas. Considerando-se que ninguém escapa da educação, todo sujeito é formado de acordo com um projeto de pessoa, de mundo e de sociedade que concorrerão para dar-lhe uma identidade e para inseri-lo em algum grupo social. O pensamento da Igreja da década de 60 é carregado de concepções antropológicas e ideológicas que resultaram das reflexões do Concílio Ecumênico Vaticano II. Nesse período, a Igreja pensa um ideal de formação humana, abrindo-se à contemporaneidade, cujas propostas de ações se encontram nas dezesseis encíclicas do Concílio. Convém nesse estudo, investigar qual foi o modelo antropológico formativo que a Igreja pensou para os cristãos e como ele se organizou na sociedade. Para atingir tais objetivos, recorreu-se ao estudo aprofundado de oito das dezesseis encíclicas pontifícias que melhor expressam esse modelo de homem, de sociedade e de educação idealizada pela Igreja. Esse estudo de natureza documental nos permite verificar muitas das estratégias da Igreja não se efetivaram na prática, em decorrência de questões de ordem social, política e cultural, que nem sempre contribuíram para a emancipação do homem contemporâneo, dificultando a aproximação da Igreja na vida das pessoas. Palavras-chave: Concílio Vaticano II; antropologia; formação humana; cristianismo. 13 PARA UMA NOVA HISTÓRIA DA IGREJA NA AMÉRICA LATINA NOS ANOS 1970: UMA ANÁLISE DA CONSTRUÇÃO DO CONCEITO DE Maurício de Aquino (UENP) Este texto discute alguns aspectos da chamada Nova História da Igreja na América Latina que despontou com a criação da Comisión para el Estudio de la Historia de la Iglesia en Latino América (CEHILA), no ano de 1973, na cidade de Quito, Equador, no contexto de consolidação da Teologia da Libertação em face da qual essa Nova História da Igreja se apresenta, duplamente, como fundamento e expressão. No Brasil, o grupo CEHILA foi coordenado por Eduardo Hoornaert que liderou a produção de ensaios e artigos publicados na Revista Eclesiástica Brasileira (REB), então sob a chefia editorial do frei Leonardo Boff que um ano antes, em 1972, havia publicado um dos livroschave da Teologia da Libertação: Jesus Cristo Libertador: ensaio de Cristologia crítica para nosso tempo. Partindo dessas considerações este texto apresenta, problematiza e demonstra as relações entre a Teologia da Libertação e a História Renovada da Igreja produzida pelo grupo CEHILA mediada pelos artigos publicados na REB, delimitados ao conceito de romanização do catolicismo brasileiro – uma das noções centrais da produção historiográfica CEHILA com importante repercussão nacional e internacional. O trabalho encerra-se com algumas reflexões sobre o papel social, intelectual, teológico e político da REB nos anos 1970 e início dos anos 1980, bem como com uma caracterização da Nova História da Igreja produzida nesse contexto desde o conceito de romanização do catolicismo brasileiro e de suas relações com a Teologia da Libertação. Palavras-chave: História da Igreja; América Latina; Romanização; Revista Eclesiástica Brasileira. A EDUCAÇÃO CATEQUÉTICA NO DISCURSO DO CONCÍLIO VATICANO II (1962-1965) Marlei Correia (UNICENTRO) Dentre as atividades institucionalizadas pela Igreja Católica, a catequese se configura como uma das organizações educacionais que melhor se estruturam no âmbito pastoral. Todos os anos inúmeras crianças, jovens e adultos procuram a Pastoral Catequética com o intuito de receber uma formação baseada na educação a fim de se tornarem pessoas inseridas nos ideais do cristianismo. A partir do Concílio Vaticano II, na década de 60, a Igreja perpassa por um período de renovação pastoral e a catequese sofre modificações metodológicas e alterações de linguagens. Esta proposta tem como objetivo refletir sob a ótica da antropológica das encíclicas do Concílio Vaticano II, o perfil do cristão, tipo de educação e formação humana pensada pela Igreja e como a catequese sistematizou tais ideias. Os procedimentos metodológicos dessa pesquisa se dão por meio de estudos de natureza teórica e documental, utilizando-se da literatura especializada, como documentos pontifícios, orientações da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), manuais catequéticos e revistas de catequese. Embora já existisse uma estrutura organizacional da catequese, sobretudo no Brasil, funcionava por 14 meio de transmissão dos conteúdos da fé, pelos quais eram ensinadas determinadas práticas cristãs, de forma tradicional e fragmentada, fiel ao modelo definido ainda no Concílio de Trento (1545 a 1563). Era uma prática essencialmente doutrinária e sacramentalista, cuja metodologia consistia na memorização e recitação. O Concílio Vaticano II representou a ruptura desse modelo e implantou novos paradigmas nas pastorais da Igreja católica, sobretudo para a catequese, quando se passa a pensar um novo tipo de homem. Palavras-chave: Concílio Vaticano II; catequese; educação confessional; antropologia. TINA MODOTTI E A (RE)CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE CULTURAL MEXICANA NO PERÍODO PÓS-REVOLCUIONÁRIO (1920-1940) Fabiane Tais Muzardo (UFPR) A proposta deste projeto é a análise da (re)construção da identidade cultural mexicana no período pós-revolucionário a partir das fotografias de Tina Modotti. A referida fotógrafa italiana se mudou para o México em meados de 1920, período conhecido como Renascimento Cultural. Essa (re)construção pautou-se pelo resgate das tradições mexicanas e pelo rompimento com os padrões artísticos e culturais vigentes até aquele momento, provenientes da Europa. De acordo com Manjarrez (1999), os artistas que foram para o México na década de 1920 encontraram um meio cultural favorável à integração entre suas propostas artísticas e a busca pela construção de uma cultura caracterizada por valores e formas artísticas que valorizassem o elemento nacional. Discutir-se-á, por conseguinte, a participação e influência dos artistas estrangeiros, com destaque para Modotti, na (re)construção da identidade cultural nacional, analisando a identificação destes com o México. Para isso, serão utilizados os conceitos de cultura, identidade e hibridação cultural, de Canclini. A reflexão terá como ponto central as fotografias produzidas para o livro Ídolos tras los altares (1983), de Anita Brenner, que contou com a participação ativa de Modotti. Esse livro é uma obra pioneira por ter sido o primeiro livro especializado sobre o Renascimento Cultural Mexicano e por ter difundido, também pela primeira vez, esse momento da arte mexicana ao exterior. Palavras-chave: México; Tina Modotti; Fotografia; Cultura; Identidade. Agência financiadora: CNPQ A PRÁTICA DO RITO PASCAL ENTRE OS DESCENDENTES DE UCRANIANOS DE ARIRANHA DO IVAÍ-PR. Fernanda Mazuco de Abreu (UEPG) Devanir Leite (UEPG) Este trabalho se propõe a analisar a Prática do Rito Pascal entre os descendentes de ucranianos de Ariranha do Ivaí-PR. A colonização desse município ocorreu entre as décadas de 1940 e 1960 e entre os colonizadores 15 estavam os ucranianos e seus descendentes que até nos dias atuais são adeptos da religião católica ucraniana. Na atualidade há em média entre 10 a 12 famílias que praticam as cerimônias religiosas na Capela São Miguel Arcanjo, onde a Páscoa é vivenciada por essas pessoas como a maior festa da igreja. A memória e o sentimento de ininterrupção colaboram para que o Rito Pascal seja praticado há milênios pelos ucranianos e seus descendentes. Celebrar a ressurreição de Jesus Cristo é uma maneira de preservar os costumes místicos dos ancestrais. Os documentos das Igrejas Orientais sublimam e destacam o Rito da Divina Liturgia Pascal como o ápice da fé católica ucraniana. É a Celebração de maior valor religioso para este povo. Esse Rito possui em sua essência cânticos, orações e a bençãos preparados para a ocasião. A presente pesquisa foi realizada com base em revisão bibliográfica e observação da celebração Pascal. Foram utilizadas fontes orais que permitem através das rememorações interpretar fragmentos de um fato passado. Documentos clericais e canônicos foram analisados para a compreensão da Litúrgica Pascal Palavras-chave: Rito Pascal; Descendentes de Ucranianos; Memória. FREI ULRICO GOEVERT: PRIMEIRAS AÇÕES MISSIONÁRIAS EM PARANAVAÍ-PR Leide Barbosa Rocha Schuelter (UEM) Frei Ulrico Goevert (1902-1983) foi o primeiro missionário pertencente a Província Carmelita de Bamberg a ser enviado ao Brasil. Este artigo analisa suas primeiras ações, enquanto missionário na região de Paranavaí-PR entre os anos de 1951-1958. A análise terá como fonte central os artigos escritos pelo religioso e publicados no periódico católico alemão: a Revista Karmelstimmen. Posteriormente essa documentação foi traduzida e intitulada: “História e memórias de Paranavaí” (1992). Como aportes teóricos trabalhamos com o conceito de estratégias (CERTEAU, 1994) e formalização das práticas (CERTEAU, 1982), para evidenciarmos que as primeiras ações empreendidas por Frei Ulrico, foram no sentido de levar a comunidade a abandonar as práticas religiosas desenvolvidas até então, levando-os a, paulatinamente se aproximarem das práticas religiosas que propagava o missionário. Sua produção permite analisar a influência que acarretou a instalação da Ordem dos “Irmãos da Bem-Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo” e a consequente institucionalização do catolicismo em Paranavaí-PR, visto neste trabalho como a introdução de uma nova forma de vivenciar o catolicismo. Assim, Frei Ulrico, o precursor do projeto missionário, teve um relevante papel social na cidade de Paranavaí-PR, a partir principalmente da criação da Escola Paroquial Nossa Senhora do Carmo (1952). Palavras-chave: Carmelitas; Paranavaí-PR; Catolicismo; Estratégias. 16 ARMINIANISMO: A CRENÇA DA SALVAÇÃO NA IGREJA DO EVANGELHO QUADRANGULAR Lidiana Gonçalves Godoy Zanati (UFMS) A salvação é uma crença religiosa adquirida a partir do entendimento de seu significado de resgate e libertação espiritual, neste caso, articulada através das manifestações que delimitam a identidade e os valores de instituições cristãs que a entendem mediante a presença da figura de Jesus Cristo, como salvador dos perdidos e libertador dos pecadores, para a salvação eterna da alma. Esta comunicação tem como objetivo apresentar as principais diferenças entre o calvinismo e o arminianismo, os sistemas teológicos da maioria das igrejas protestantes da América Latina, que surgiram no século XVI. Neste sentido, busco destacar não apenas as diferenças referentes à crença da salvação, mas analisar esta crença religiosa da salvação na Igreja do Evangelho Quadrangular a partir dos fundamentos arminianos, mais especificamente as representações coletivas e as práticas provenientes dessa abordagem, conforme quer Chartier. Para isso analisarei documentos da instituição, como o Estatuto e a Declaração de Fé, assim como os Cânones de Dort de 1618-1619, para comparação e reflexão metodológica no que se refere ao entendimento da salvação através de Jesus Cristo e os pensamentos que se divergem dicotomicamente entre os calvinistas e os arminianos, quanto à sua manifestação e aplicação, influenciando em conceitos religiosos e discursos que identificam suas crenças. Palavras-chave: Religião. Protestante. Arminanismo. Quadrangular. Salvação. 17 ST 02 – HISTÓRIA, LITERATURA E MÚSICA: NARRATIVAS LITERÁRIAS E MUSICAIS NA AMÉRICA LATINA O “BANQUETE DOS MORTÍCOLAS”: REFLEXÕES SOBRE A DESCONFIANÇA, O MEDO E A AVERSÃO ÀS PRÁTICAS MÉDICAS EM G.C.P.A., DE GASTÃO CRULS Andressa Marzani (UFSC) O século XX surge em meio a diversas transformações de ordem econômica, política, social e cultural. A gênese desse processo está localizada nas mudanças tecnológicas e científicas ocorridas entre os séculos XVIII a XX. Como aponta Nicolau Sevcenko (1998), as mudanças advindas com a Revolução Industrial transformaram a vida das pessoas de modo inédito. Suas implicações vão além do âmbito econômico; antes, afetaram desde as hierarquias sociais até as noções de tempo e espaço e os relacionamentos interpessoais. Destarte, diferentes correntes de pensamento surgiram, com o fim de dar conta desse mundo novo. É também neste contexto que uma parcela do produzido na literatura de fins do século XIX e início do XX procurou dialogar com as transformações a seu redor, caracterizando de diferentes maneiras essa sociedade. Em terras brasileiras, Gastão Cruls, um médico sanitarista que se aventurou pelo mundo literário, em plena explosão do Movimento Modernista, exemplifica bem esses anseios. Muitos de seus contos e romances abordam temas relacionados ao exercício da medicina, ao saber médico e afins. Partindo do conto G.C.P.A., publicado no livro Coivara (1920), o presente estudo pretende aprofundar as reflexões sobre a desconfiança, o medo e a aversão causados pelas práticas médicas. Para tanto, serão abordadas as discussões entre literatura e sociedade propostas por Raymond Williams (2011; 1977) e Antonio Candido (2006). Entender como a narrativa ficcional delineia aspectos negativos do exercício médico, bem como relacionálos às experiências mais amplas de seu autor e de seu contexto histórico, será a linha traçada por esta discussão. Palavras-chave: literatura brasileira; pulp fiction; Gastão Cruls; cientificismo; medicina. Agência financiadora: CAPES. O CORPO FEMININO NA DRAMATURGIA DE NELSON RODRIGUES David Ferreira de Paula (UEM) Esta comunicação tem por objetivo analisar as transformações do corpo feminino na peça Dorotéia de Nelson Rodrigues. Analisaremos as três personagens em conflito com seus corpos do ponto de vista semiótico e discutiremos as soluções por elas encontras. Palavras-chave: corpo, mulher, dramartugia, representação e conflito 18 REPRESENTAÇÃO DO NEGRO NA OBRA “MENINO DE ENGENHO” UM TEMA PROBLEMÁTICO PARA O ROMANCE DE 30 Edilon de Freitas dos Santos (UFRB) O presente artigo problematiza a inserção do negro como tema\personagem principal na tradição literária da década de 1930, identificando como o regionalista paraibano José Lins do Rego na obra Menino de Engenho (1932) conduziu e representou o outro. Assim, ao fazermos análise da narrativa acreditamos na possibilidade da literatura ser um elemento de compreensão da realidade social brasileira de tempos passados. Tendo como premissa a hipótese de que Menino de Engenho pode ser tomado como um importante revelador das tensões socioculturais no nordeste pós-abolição. Para tanto, vislumbramos o circuito intelectual próximo de José Lins do Rego, com vistas para a relação dinâmica que ele mantivera com o sociólogo Gilberto Freyre e que certamente influenciou fortemente nas representações construídas acerca da população de cor. Verificaremos o papel da memória do escritor afim de compreender em que medida seu passado patriarcal debitou traços na condução dos personagens. Além, dessas questões analisamos ligeiramente algumas polemicas estéticas e politicas travadas pelo romancista ao longo de sua trajetória. Palavras-chave: literatura, Menino de Engenho, representação, negro, circuito intelectual. A ARTE DE SER LOUCO: ANÁLISE DA AUTOBIOGRAFIA EM QUADRINHOS “PARAFUSOS” DE ELLEN FORNEY Diego Luiz dos Santos (UNIOESTE) Esta comunicação tem como objetivo apresentar a pesquisa de mestrado, ainda em fase inicial, intitulada “Artista, Louca e Genial: Uma análise da autobiografia em quadrinhos ‘Parafusos’ de Ellen Forney”. A Pesquisa, que se insere na área dos estudos da Psiquiatria e da Loucura, tem como fonte a autobiografia em quadrinhos escrita e desenhada por uma artista norteamericana portadora de uma condição mental popularmente conhecida como Transtorno Bipolar. O livro foi lançado em 2012 nos Estados Unidos e chegou ao Brasil em 2014 pela editora Martins Fontes, com tradução de Marcelo Brandão Cipolla. É possível observar na autobiografia uma tentativa da autora de afastar de si o estigma da “louca alienada”, buscando construir-se como uma “Louca Genial”. Além de conter uma descrição, partindo do ponto de vista da própria paciente, das oscilações entre a “mania” e a “depressão”, a obra em questão traz anotações pessoais da autora, como recortes de diários e jornais, reproduções de fotografias e blocos de desenho, o que torna o livro uma importante fonte nos estudos autobiográficos relacionados à história da psiquiatria, principalmente pelo fato de os quadrinhos serem um tipo de mídia pouco utilizado nesta área historiográfica. Palavras-chave: Quadrinhos; Psiquiatria; Autobiografia Agência financiadora: CAPES 19 “SELVA TRÁGICA” E “DE GALPÃO EM GALPÃO” A PERCEPÇÃO DO DISCURSO LITERÁRIO NA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE Leandro Baller (UFMS) O sul do antigo Mato Grosso foi entre o final do século XIX e início do XX um ambiente ocupado por grande contingente de estrangeiros, em especial paraguaios que eram experientes na lida da erva-mate. O objetivo da comunicação é discutir fragmentos dos livros “Selva Trágica” de Hernâni Donato (1956?), e “De Galpão em Galpão” de Hélio Serejo (1962), entendendo como a construção discursiva no interior deles contribuiu para a percepção da formação da identidade regional na porção sul do Mato Grosso nas primeiras décadas do século XX (1910-1930), atentando, nesse momento especialmente ao ciclo dos trabalhadores dos ervais no que atualmente se conhece como o Conesul de Mato Grosso do Sul. A discussão ocorre a partir de recortes aleatórios de crônicas e contos de ambos os livros, e é permeada pela experiência histórica desse contexto, assim procura-se compreender como os grupos, às vezes semelhantes, e às vezes diferentes entre si, se unem, e formam aspectos culturais que fomentam uma comunidade. Os discursos não perpassam necessariamente como objetivos específicos, expostos e supostos por Donato e Serejo para a construção da identidade, o debate é uma análise comparativa entre os dois autores para mostrar as representações da vida nos ervais, presentes nos discursos de ambos, exclusivamente nestes dois livros, o que não pode ser generalizado para a obra completa dos autores. As fontes são os livros “Selva Trágica” e “De Galpão em Galpão”, e metodologicamente, a base de análise é pautada na ordem do discurso. Palavras-chave: Discurso, Identidade, Literatura, Historia Regional “QUANTOS POETAS PERDIDOS PARA SEMPRE, QUANTA RIMA DESTINADA AO OLVIDO DA HUMANIDADE!” PRODUÇÃO E CIRCULAÇÃO DE POESIAS NO RIODE JANEIRO DE FINS DO SECULO XIX E INICIO DO SECULO XX Silvia Cristina Martins de Souza (UEL) Esta comunicação elege como locus de observação a cidade do Rio de Janeiro, no período que abrange de fins do século XIX e início do XX. Nela, busca-se analisar a produção e circulação de poesias compostas por pessoas comuns, de pouca ou nenhuma formação letrada, e os possíveis usos e funções que seus autores e receptores a elas conferiram, um tema que vem despertando a atenção da academia nas últimas décadas, em diferentes áreas de conhecimento, dentre elas a História. O corpus documental selecionado é composto por registros fragmentados e dispersos que são, na sua maioria, indiretos e comprometidos com a visão de mundo de sujeitos que não faziam parte dos mesmos segmentos sociais dos autores e receptores das poesias que aqui serão privilegiadas, os quais projetaram sobre os mesmos suas avaliações parciais e muitas vezes preconceituosas. Em função desta especificidade, estes documentos serão lidos nas suas entrelinhas, para que deles se possa vislumbrar um quadro mais amplo sobre diferentes formas de circulação, apropriação e resignificação, que apontam para as dinâmicas entre 20 os níveis “popular” e “erudito” no campo da cultura, pensados nas suas interelações recíprocas, num processo constante de circularidade. Palavras-chave: História; Poesia; Rio De Janeiro; Século XIX A ATUAÇÃO DE GASPAR DA SILVA NA COLUNA LETTRAS E ARTES ‘A PROVÍNCIA DE SÃO PAULO: DIVULGADOR E MEDIADOR SULTURAL ENTRE BRASIL E PORTUGAL Célia Regina da Silveira (UEL) A atuação de portugueses na imprensa brasileira foi profusa durante quase todo o século XIX, fosse como colaboradores fosse como criadores de jornais e revistas literárias. Um dos nomes d’além mar que aportou no Brasil em 1876 – tendo participado ativamente das discussões político-literárias do último quadriênio do século XIX – foi o de Gaspar da Silva. Além de livreiro na cidade de Campinas, foi um atuante divulgador das letras lusitanas nas páginas de diversos jornais brasileiros, com ênfase para A Província de São Paulo, bem como difundiu escritores brasileiros na imprensa portuguesa. Fundou, também, um dos jornais considerados mais literários de São Paulo na época – O Diário Mercantil (1884-1890) – que acolheu jovens escritores da época, como Raul Pompéia e Olavo Bilac. Neste aspecto, o seu jornal teria tido um papel similar ao da Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro, de Ferreira de Araújo. No entanto, o seu nome e sua importância como mediador cultural entre Brasil e Portugal, foram nublados pela memória histórica. Esta pesquisa, intenta (re) compor a sua trajetória no universo letrado paulista com vistas a delinear o debate político-literário que se deu no período, marcado pelo embate entre o romantismo e as ideias científicas. Nesse sentido, para esta comunicação, optou-se, por elaborar um pequeno recorte da pesquisa mais ampla. Por meio da coluna Lettras e Artes do jornal A Província de São Paulo, procurar-se-á mostrar o (em) debate inaugurado por Gaspar da Silva acerca do Romantismo e Realismo, especialmente na poesia. Palavras-chave: Mediador cultural; Gaspar da Silva; Imprensa O POETA MODERNISTA SOBE A SERRA: ETNICIDADES EM MOVIMENTO NA POESIA DE ERNANI FORNARI Luciana Murari (PUCRS) Em 1928, Ernani Fornari publicou o livro de poemas “Trem da Serra”, narração de uma viagem ferroviária de Porto Alegre às regiões de colonização italiana e alemã da Serra Gaúcha, seguida de uma observação empática de seu cotidiano. Nesse trabalho, analisaremos o poema sob o ponto de vista do encontro de etnicidades na região, atentando para os modos literários de representação de convergências, embates e amálgamas culturais.Buscamos analisar como, através da linguagem poética modernista, Fornari insere-se no debate acerca da incorporação do elemento imigrante nas sociedades sul-riograndense e brasileira, a partir de questionamentos sobre identidade, miscigenação e raízes históricas. Será utilizado, para tanto, um procedimento 21 de leitura dialógica e contrastiva em que o poema de Fornari é posto em debate com a obra de outros autores – escritores, críticos, políticos, polemistas – que, naquele momento, também refletiam sobre o impacto cultural da imigração europeia não lusa no Brasil. Em questão estava a pretensa ameaça que aquelas comunidades poderiam representar para a unidade do país e, ao mesmo tempo, a contribuição material e humana de outros povos para sua afirmação como nacionalidade. Palavras-chave: imigração; colonização estrangeira; modernismo literário; Ernani Fornari; identidade nacional brasileira. Agência financiadora: CNPq O MANIFESTO ROCK DE LUIS ALBERTO SPINETTA COMO ELEMENTO DE ANÁLISE SOCIOCULTURAL DA ARGENTINA DE 73 Karin Helena Antunes de Moraes (Univ. Fed. da Integração Latino-Americana) Em 1973, Luis Alberto Spinetta lançou o disco Artaud ainda sob o nome de sua antiga banda, Pescado Rabioso. Durante a apresentação do álbum em 23 de outubro no teatro Astral de Buenos Aires o músico distribuiu o manifesto Rock: música dura, a suicidada pela sociedade. Este documento aliado à obra musical que se apresentava são elementos essenciais na historiografia do rock nacional e formam um interessante material para compreensão da Argentina do início dos anos 70. Objetivo: O presente trabalho busca a convergência do manifesto de Spinetta com o cenário musical ao qual o músico denuncia e pretende compreender de que forma o contexto cultural da Argentina do início da década de 70 está refletida na crítica do músico. Metodologia: Através da análise do discurso, verifica-se como este manuscrito é fonte relevante para a compreensão cultural, social e política não apenas no âmbito das gravadoras, criticadas por Spinetta, mas também como o documento pode ser lido como um reflexo sociocultural da Argentina. Discussão: O manifesto rock faz um convite ao pensamento crítico sobre a exploração discográfica e se expande para o conturbado contexto político da Argentina cuja esperança democrática renascia com a realização de eleições livres para a presidência em março daquele ano. Conclusão: O manifesto de Spinetta abre espaço para questionar o que significa fazer música neste contexto e é uma negação ao cerceamento ideológico e moral, além de ser uma defesa do rock como liberador de mentes e sentimentos. Palavras-chave: manifesto; rock; sociocultural; política Agência financiadora: Demanda Social Unila ENTRE RIOS, SONORIDADES E MEMÓRIAS: A CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE(S) CULTURAIS A PARTIR DE DIÁLOGOS MUSICAIS NA TRÍPLICE FRONTEIRA BRASIL / PARAGUAI / ARGENTINA Emilio Gonzalez (PUC/SP – UTFPR) O trabalho apresenta alguns resultados de uma pesquisa de doutorado em História em andamento, na qual investigamos construções e apropriações 22 identitárias realizadas na região da tríplice fronteira Brasil / Paraguai / Argentina, tomando como base para este diálogo a musica popular, regional, notadamente a do gênero conhecido como “folklore”. A pesquisa entende que a musica, neste caso, opera como importante elemento de expressão, que permite ao artista a construção de narrativas e memórias sobre processos históricos por eles vivenciados e/ou problematizados como parte de sua trajetória, tais como: relações de trabalho, migração, integração fronteiriça, identidades culturais híbridas ou nacionais, etc. Nesse sentido, abordar a musica nessa perspectiva possibilita pensar que o artista também participa da construção e/ou reafirmação de discursos identitários que tentam interpretar a fronteira, produzindo novos elementos e/ou reinterpretando antigas noções existentes sobre esse espaço geográfico e cultural, dando novos sentidos as narrativas sobre sua constituição histórica e cultural/identitária. O trabalho, iniciado em 2014, também busca apontar para possibilidades metodológicas no entrecruzamento do trabalho com fontes musicais e orais (História Oral), ampliando o horizonte de trabalho e o campo geralmente destinado a estes dois elementos, quais sejam: a música, e a fala (oralidade), ambas compreendidas aqui como interlocutoras legítimas a produzirem discursos identitários sobre essa região de fronteira. Palavras-chave: Musica Popular; Fronteira; Identidade; Oralidade Agência financiadora: CAPES “O QUE TEMOS PRA HOJE É SAUDADE”: UMA ANÁLISE SOBRE O “FENÔMENO” CRISTIANO ARAÚJO E O MERCADO DA MÚSICA SERTANEJA UNIVERSITÁRIA Gabriel Barbosa Rossi da Silva (UNIOESTE) O objetivo desta comunicação é apresentar algumas questões que possibilitem uma análise do mercado, no século XXI, da música sertaneja dirigida ao público jovem, considerando a dimensão que esse setor ganhou a partir de finais do século XX. A partir da morte do cantor Cristiano Araújo em Junho de 2015, discussões foram levantadas pela grande mídia, sobre quais espaços são ocupados pelo segmento da música sertaneja atual dentro do mercado fonográfico. Existe um Sertanejo Universitário que participa das grandes redes com, por exemplo, Michel Teló. Cantor que conseguiu produzir um hit que alcançou outro patamar da música dentro desse mercado, com a canção “Ai se eu te pego”. Porém existem também artistas mais regionais, que surgem de forma “artesanal”, e que tentam também se impor dentro desse mercado, mas ainda compõem um mercado alternativo, que acabam por fazer parte esses cantores tão conhecidos e ao mesmo tempo anônimos, caso de Cristiano Araújo que mesmo dispondo de uma quantidade significativa de fãs, gerou grande discussão com a pergunta: “Quem era Cristiano Araújo?”. Palavras-chave: Música Sertaneja; Sertanejo Universitário; Cristiano Araújo Agência financiadora: Fundação Araucária 23 DO RAP À LITERATURA: O DISCURSO E A MENTALIDADE DA PERIFERIA NO LIVRO ‘A GUERRA NÃO DECLARADA DA VISÃO DE UM FAVELADO’, DO RAPPER MANO EDUARDO – FACÇÃO CENTRAL Luiz Gustavo Cossari (UEL) Em 2012, o rapper paulistano conhecido como Mano Eduardo, ex-MC (mestre de cerimônias) do grupo de rap Facção Central, publicou seu primeiro livro. Intitulado “A guerra não declarada na visão de um favelado”, mantêm o teor radical e panfletário, a agressividade e a denúncia da exclusão, miséria e da violência como forma de resistência, características marcantes das canções do grupo que chegou a ter o videoclipe “Isso aqui é uma guerra” apreendido pelo Ministério Público de São Paulo por apologia ao crime. Abordando temas como criminalidade, violência, policial ou não, opressão, falta de oportunidades, cotidiano violento das periferias, desigualdade, corrupção, a falta de oportunidades e o desamparo estatal para com as populações menos favorecidas. Para essa tarefa contaremos com as reflexões, referências teóricas e metodologias contidas no livro A Cultura da mídia, de Douglas Kellner, que nos capítulos O rap e o discurso negro radical e Resistência, contra-hegemonia e dia-a-dia, onde o autor analisa a cultura hip-hop e suas expressões como veiculação de discursos de identidade, autoafirmação, autoestima, autodeterminação e resistência, bem como forma de dar voz aos grupos marginais da sociedade americana. O objetivo é analisar a narrativa do livro, um manifesto de 614 páginas, no qual através da literatura, o músico expressa suas reflexões, visão de mundo e opiniões políticas que, além de constituir uma expressão de sua mentalidade e a ideologia, pretender dar voz, através de seu discurso, àqueles que, na margem da sociedade, quase nunca são vistos, ouvidos ou lembrados pela sociedade e autoridades. Palavras-chave: Rap; mentalidade; política; narrativa; violência. Agência financiadora: CAPES. LINHAS DE FRENTE DAS BANDAS MARCIAIS DE SÃO PAULO: TENSÃO E NEGOCIAÇÃO Elizeu de Miranda Corrêa (PUC – SP) A possibilidade de novos objetos de estudos na seara da História Cultural, permitiu a visibilidade para temas até então não inseridos no debate do universo acadêmico, deste modo esse trabalho tem como objetivo efetuar uma análise sobe as tensões que permearam o embate entre as Linhas de Frente e o Corpo Musical das Bandas Marciais em São Paulo, na década de 1980. Para tanto recorreu-se a análise de fontes que permitissem efetuar uma leitura sobre essa prática cultural, a partir de reportagens de jornais, fotografias e filmagens, regulamentos de concursos do gênero e planilha de julgamento. As Linhas das Bandas Marciais de São Paulo tiveram grande ascendência na década de 1980, após o termino da Ditadura Militar, por romperem com as características das coreografias marciais e adapta-las ao estilo cênico, sugerindo uma espetacularização dessa prática cultural, despertando grande interesse do espectador. Diante disso, houve grande embate com o Corpo Musical pela disputa do espaço. Nesse sentido, foi percebido que nesse universo há tensão 24 e negociação, nas relações entre a cultura popular (subalterna) e a cultura erudita (dominante), a qual revelou o reconhecimento de sujeitos excluídos socialmente. Palavras-chave: Linha de Frente; Bandas; Fanfarras; Corpo Coreográfico. Agência financiadora: CAPES CANTAR A HISTÓRIA, PENSAR O BRASIL Geni Rosa Duarte (UNIOESTE) A escrita da história não é função exclusiva dos historiadores. Músicos e compositores também voltam seus olhares sobre o passado, problematizam seu presente e constroem sobre ambos interpretações que até mesmo dialogam com a historiografia acadêmica. duarteEste trabalho tem por objetivo analisar algumas composições que estabelecem parâmetros para pensar tais diálogos, interpretando questões relativas à composição étnica da população, à miscigenação e à identidade afrodescendente, confirmando ou negando o mito das três raças formadoras e a suposta democracia racial. Ou seja, construindo uma interpretação do Brasil que, de certa forma, acompanha as mudanças que a própria historiografia vivencia. O tema tem propiciado discussões que envolvem tanto a comunidade acadêmica quanto os movimentos sociais que propõem encaminhamentos a esse respeito, redundando em propostas curriculares que buscam dar algumas respostas a essas questões, e essas diferenças se expressam também na música popular brasileira Palavras-chave: música popular; historiografia. identidades; afrodescendentes. LIVING IN THE MATERIAL WORLD: MÚSICA E ESPIRITUALIDADE DE GEORGE HARRISON Marcelo Henrique Violin (UEL) O tema do presente artigo é a relação do músico George Harrison com a milenar cultura espiritual da Índia: a cultura védica. Analisarei a letra da composição Living In The Material World de George Harrison em sua carreira solo após o fim dos Beatles. Na letra, identifico sua devoção por Krishna e a influência da filosofia do movimento Hare Krishna presente nos livros do mestre Prabhupada. A tradição Gaudiya- Vaishnava, conhecida popularmente como Movimento Hare Krishna, foi disseminada nos países ocidentais por A. C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada, que foi aos Estados Unidos em 1965 com a missão de propagar o conhecimento védico e a tradição Vaishnava. O movimento Hare Krishna foi inaugurado por Caitanya Mahaprabhu, que espalhou o canto congregacional do mantra Hare Krishna por toda a Índia no século XVI e restabeleceu a sucessão discipular que se segue até os dias atuais. Prabhupada visitou os quatro continentes do globo, iniciou muitos discípulos, escreveu cerca de setenta obras de traduções e comentários da literatura védica e fundou a ISKCON, a Sociedade Internacional para Consciência de Krishna. George Harrison conheceu Prabhupada e foi instruído espiritualmente por ele, o que mudou profundamente sua jornada existencial. 25 Na mídia em geral, enfatiza-se a relação do músico com o mestre Maharishi, entretanto, George Harrison teve uma estreita relação com Prabhupada, o que é evidenciado neste artigo. Palavras-chave: Letra de música; História das religiões; História Cultural. O ENSINO DA MÚSICA NAS ESCOLAS MUNICIPAIS DE GUARAPUAVA: UMA ANÁLISE NA PERSPECTIVA ADORNIANA Marcia Rickli (UNICENTRO) Esta pesquisa propõe a elaboração de um projeto na área do ensino da música através de uma revisão bibliográfica, tendo como parâmetro teórico o referencial Adorniano. Este servirá de base à investigação do contexto escolar da rede municipal de ensino de Guarapuava quanto à aplicabilidade da lei federal nº 11.769, a qual estabelece a obrigatoriedade do ensino da música nas escolas de educação básica do país. A ampliação da presença da música através de um ato legal não resultou, por si só, em ações palpáveis para a prática pedagógica e sua democratização. Questões desde políticas públicas, até um melhor entendimento do papel da música na formação das crianças e jovens, emergem neste cenário. A qualidade do ensino musical como processo pedagógico requer a elaboração de programas sérios que visem superar os mecanismos de exclusão presentes no contexto escolar, reproduzindo a estrutura de classes e conflitos sociais. Ao não fornecer esquemas perceptivos necessários para apreensão de formas complexas de música, legitima a semiformação expondo-os, sem critérios, aos modismos, evidenciando acesso diferenciado a cultura, arte e música. A pesquisa fomentará o debate sobre estas questões com base na potencialidade das concepções de Theodor Adorno sobre estética, arte, música, formação e indústria cultural. Após elucidação destes pressupostos a pesquisa se desdobrará na investigação em sala de aula, identificando o potencial formativo destes conceitos e como isso se efetiva no ensino musical, construindo alternativas que fortaleçam seu caráter formativo, favoreçam a superação da estereotipia e a resistência ao apelo da Indústria Cultural. Palavras-chave: Música; Theodor Adorno; Ensino; Formação; Cultura CRÍTICA LITERÁRIA, EXÍLIO E POLÍTICA NA REVISTA LITERATURA CHILENA EN EL EXILIO: REFLEXÕES A PARTIR DAS RESENHAS BIBLIOGRÁFICAS Raphael Coelho Neto (UFMG) Literatura Chilena en el Exilio (1977-1980) foi uma revista cultural, de forte caráter político, fundada e dirigida no exílio em Los Angeles, EUA, no contexto da ditadura militar no Chile, pelos escritores e críticos literários Fernando Alegría e David Valjalo, ambos ex-integrantes do governo de Salvador Allende. Essa publicação trimestral divulgou, amplamente, em suas páginas, crítica e textos literários de resistência política que, por vezes, difundiram ideias, discursos e valores vinculados às culturas políticas de esquerda chilenas. 26 Entendemos, por cultura política, com base nos estudos de Serge Berstein e Rodrigo Patto Sá Motta, um conjunto de valores, tradições, práticas e representações políticas compartilhado por determinado grupo, expressando, dessa forma, identidades coletivas, fornecendo leituras e modos de ver comuns do passado, bem como para projetos futuros. Assim, o objetivo desta proposta de comunicação consiste em analisar as relações entre literatura, exílio e política nas resenhas de livros publicadas em Literatura Chilena en el Exilio. Tendo esse impresso como fonte e objeto de pesquisa, estabelecemos como central em nossa apresentação refletir de que maneira as resenhas críticas analisadas dialogaram com o editorialismo programático da revista. A expressão editorialismo programático foi cunhada por Fernanda Beigel, referência metodológica nos estudos sobre revista cultural, e compreende a linha editorial política e militante de determinado periódico, associada a suas projeções artístico-culturais. De antemão, apresentamos que a crítica literária chilena, publicada em Literatura Chilena en el Exilio, no afã de se opor ao governo de Augusto Pinochet, deu especial atenção à literatura política de caráter testemunhal produzida tanto no exílio quanto no Chile. Palavras-chave: Literatura Chilena en el Exilio; Exílio; Crítica Literária; Editorialismo Programático; Culturas Políticas Agência financiadora: CAPES O ELEMENTO ESTÉTICO NA RELAÇÃO HISTÓRIA E LITERATURA: UMA CONTRIBUIÇÃO DE ANTONIO CANDIDO Lucas André Berno Kölln (UNIOESTE) Os estudos historiográficos a partir da literatura têm se desenvolvido intensamente nos últimos anos, e têm se desdobrado em diversas direções e temas à medida que os historiadores recorrem aos escritos literários para tentar aplacar suas inquietações. Apesar disso, o interesse por essa fonte nem sempre vem acompanhado pela preocupação quanto à dimensão estéticoformal das obras literárias, fazendo-o redundar, algumas vezes, num uso algo "utilitarista" da literatura ou, então, na secundarização de um aspecto com relevante potencial epistemológico. Levar em conta os caracteres formais da obra literária permite identificar e perceber significados, interesses e sentidos que de outro modo poderiam ficar obscurecidos ou mesmo ignorados, ajudando, assim, a revelar escolhas que são tão estilísticas quanto sociohistóricas. Além disso, dar relevo analítico à dimensão estético-formal evita o sufocamento da autonomia própria da literatura, dando a possibilidade de perscrutá-la também como objeto, e não somente como fonte. Não se trata, portanto, de capricho ou perfeccionismo intelectual, mas de condição para a apropriação historiográfica de qualquer escrito literário. No intuito de evitar as insuficiências supramencionadas, algumas das questões debatidas por Antonio Candido servem como possibilidade crítica para um mais justo e prolífico uso historiográfico da literatura, sendo nessa contribuição que esse trabalho pretende focar-se, especialmente quando o crítico literário busca vencer a dicotomia "internalidade-externalidade" na exegese da literatura. Palavras-chave: Historiografia; Literatura; Antonio Candido; Estética 27 CONFLITOS POLÍTICOS E CIENTÍFICOS TRANSFORMADOS EM ROMANCES: A LITERATURA DE AFRÂNIO PEIXOTO NA PRIMEIRA REPÚBLICA (1910-1920) Eucléia Gonçalves Santos (UFPR) O objetivo deste artigo é analisar a obra literária do médico, cientista, político e literato Afrânio Peixoto (1876-1947) a partir das contribuições da literatura como fonte histórica. Tomando como ponto de partida as propostas metodológicas de Quentin Skinner pretendemos analisar o texto a partir do seu diálogo com o contexto, ou seja, desvendar os atos de fala presentes na construção das obras literárias, particularmente as que foram escritas entre os anos de 1910-1920, identificando com quem Afrânio Peixoto dialogava, quais eram seus interlocutores e quais os diálogos tecidos na obra literária que apontavam os conflitos presenciados pelo intelectual no campo científico e político. Palavras-chave: conflitos políticos e científicos, romances, Afranio Peixoto Agência financiadora: CAPES LOS TRES CABALLEROS E AS REPRESENTAÇÕES DO DISCURSO PANAMERICANISTA PARA A AMÉRICA LATINA Mayra Coan Lago (USP) Com o advento da Segunda Guerra Mundial acirrou-se as disputas comerciais, políticas e ideológicas das grandes potências, sobretudo dos Estados Unidos e da Alemanha, pela América Latina. Entre as disputas do momento pretendemos destacar a ideológica e, mais particularmente, um dos mecanismos utilizados pelos Estados Unidos, para difundir o discurso panamericanista para a América Latina: o cinema. Procurando atender aos objetivos da Política da Boa Vizinhança, os filmes norteamericanos deveriam seguir as diretrizes da Divisão de Informações, ligada diretamente ao Office of the Coordinator of Inter-American Affairs (OCIAA). Entre os filmes e personagens produzidos no momento, gostaríamos de destacar os “tres caballeros” da Disney, comumente conhecidos como Zé Carioca, Pato Donald e Panchito para pensar: de que forma a América Latina seria apresentada? como a América Latina seria representada por estes personagens? que elementos seriam selecionados para tal representação? que relação seria forjada entre os personagens, sobretudo Zé Carioca e Panchito com o Pato Donald? Eis algumas das perguntas que norteiam este estudo inicial, que tem como objetivo apresentar as representações do discurso pan-americanistapara a América Latina, a partir dos personagens selecionados nos filmes “Alô Amigos” de 1942 e “Los tres caballeros” ou “Você já foi a Bahia?” de 1945. Consideramos estes personagens emblemáticos para observarmos um dos mecanismos utilizados pelos Estados Unidos para a difusão do discurso panamericanista, tal como para refletirmos sobre as projeções de imagens pelo “outro” sobre os latinoamericanos, seja por uma dimensão de identidade mais 28 “geral” como de uma identidade “nacional”, de cada um dos países, representados pelos personagens. Palavras-chave: Zé Carioca; Pato Donald; Panchito; Pan-Americanismo; América Latina. AVENIDA DROPSIE: A RELAÇÃO DE WILL EISNER E A NOVA YORK DO SECULO XX Rodolfo Grande Neto (UNICENTRO) O Romance Gráfico escrito por Will Eisner na segunda metade da década de 1990 acontece como uma tentativa de legitimar e reforçar uma memória sobre a cidade de Nova York a partir da ótica dos imigrantes que chegaram à cidade ainda no final do século XIX. A motivação expressa por Eisner em desenvolver essa obra une-se aos projetos de revitalização dos bairros da cidade de Nova York propostos pelo poder público na segunda metade do século XX, tornando sua obra uma ferramenta que busca conscientizar, concretizar e reforçar uma memória coletiva que está para além da história oficial dos EUA. Avenida Dropsie de Eisner trata-se da representação das vivências e experiências que do próprio autor ou que este teve contato durante a infância junto aos imigrantes da cidade. O discurso presente nas produções artísticas é tomado como testemunho. Compreender o que é testemunhado, como é testemunhado, bem como as nuances do discurso e as práticas representacionais que analisam a relação entre arte e verdade, fazem parte do campo que tange os interesses da História Cultural. O presente trabalho pretende discutir a arte enquanto ferramenta de representação de experiências pessoais e coletivas e também pode vir a servir como monumento para a forja e manutenção de uma memória coletiva, reconhecendo na narrativa não apenas uma forma artística, mas também dotada de um fazer político calcado na importância de dar voz e tornar público esses sujeitos e suas histórias de vida como também fazendo parte da construção da cidade de Nova York. Palavras-chave: Arte Sequencial; Memória; Representação; Romance Gráfico Agência financiadora: CAPES. 29 ST 03 – HISTORIA ORAL, MEMORIA E MIGRAÇÕES REFLEXOES SOBRE DESLOCAMENTOS E ORALIDADES NA AMERICA LATINA CONTEMPORANEA. CAMPANHA DE NACIONALIZAÇÃO E REPRESSÃO NO VALE DO TAQUARI (RS) Bibiana Werle (UDESC) A Campanha de Nacionalização projetada pelo governo Getúlio Vargas durante o Estado Novo (1937-1945), foi um dos momentos em que a tensão entre “nós” e “eles” esteve presente na história do Brasil. Elaborada para construir uma versão da identidade nacional brasileira, as ações “nacionalizantes” de agentes do governo reprimiram diversas representações étnicas e culturais que não se enquadravam no perfil do considerado genuíno brasileiro. No caso especificado neste trabalho – os imigrantes alemães e seus descendentes – buscamos, através de fontes institucionais como termos de inspeção escolares, fonogramas e correspondências encontrados na Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil e jornais da região do Vale do Taquari, no Rio Grande do Sul, analisar a repressão a que este grupo étnico foi passível durante a Campanha de Nacionalização, agravada pela declaração de guerra do Brasil à Alemanha, em 1942. Situações como o fechamento de instituições de cunho étnico germânico, a proibição da fala em idioma alemão em ambientes como escolas, igrejas e bailes, assim como a prisão e tortura daqueles que fossem suspeitos de confabularem contra o governo, eram justificadas por representarem uma ameaça à unidade nacional. Através do conjunto de fontes anunciadas, é possível compreender a maneira como a nacionalização forçada dos anos 1930 e 1940 atingiu uma gama diversificada de instituições na região abordada, além de ter acirrado antagonismos entre os diferentes grupos étnicos locais. Palavras-chave: Nacionalização; Identidade Étnica; Rio Grande do Sul A IMIGRAÇÃO ITALIANA E A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE ÍTALO-BRASILEIRA ATRAVÉS DA GASTRONOMIA Gabriela Ferreira Horvatich Beffa (UEL) Guilherme Luis Pampu (UEL) O propósito desse trabalho é de entender a imigração italiana para o Brasil e também o quanto a alimentação interferiu nesse movimento de imigração e na fixação desses imigrantes em solo brasileiro. Serão retratados os motivos que os levaram a sair da Itália, como as guerras de unificação e a industrialização do país; o trajeto até o Brasil nos navios de imigrantes; o trajeto até o destino final, já em terras brasileiras; porque a escolha do Brasil como destino; e em que a cultura alimentar desse povo ajudou ou atrapalhou a adaptação destes no Brasil. Veremos como se deu a fixação desses imigrantes em terras brasileiras, mais precisamente no Rio Grande do Sul. Pretende-se analisar a construção da identidade dos imigrantes e descendentes de imigrantes 30 italianos que viviam no Rio Grande do Sul no período de 1977 a 1981 através de entrevistas publicadas em um livro organizado por Luis De Boni e Nelci Gomes. A partir de entrevistas contidas nesse livro, pretende-se colocar um foco maior na contribuição que a gastronomia e a alimentação tiveram na construção dessa identidade do imigrante, fazendo uma análise do discurso contido nessas entrevistas e a partir delas, nos será possível discorrer sobre o cotidiano desse imigrante, ao podermos entrar em contato com relatos sobre como viviam, onde moravam, e o nosso maior foco, como comiam. Palavras-chave: Imigração italiana; Identidade; Alimentação. MIGRAÇÃO NA REGIÃO CENTRO SUL DO PARANÁ: UM ESTUDO DE CASO NO MUNICÍPIO DE TURVO/PR Nayara Fernanda dos Santos (UNICENTRO) Cassiano Martins Neumann (UNICENTRO) O ir e vir das pessoas faz parte da história da sociedade e dos territórios, assim, o processo de migração é muito antigo e ocorre em todas as partes do globo ainda hoje. O Sul do Brasil recebeu várias correntes migratórias ao longo da história, compondo o processo de urbanização e utilização desse território. Além de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, o Paraná recebeu um grande contingente de imigrantes: alemães, ucranianos, libaneses, poloneses e japoneses. Dentro desta perspectiva, este trabalho tem como objetivo analisar o processo de imigração ocorrido no município de Turvo estado do Paraná, onde há uma presença significativa de alemães que ocuparam uma determinada área, há mais de 100 anos, conhecida como Arroio Fundo dos Neumann. Turvo passou a receber famílias de imigrantes como os eslavos, alemães e também italianos, principalmente aqueles que escolheram não morar nas colônias que haviam sido oferecidas pelo governo (IBGE, 2015).Para entender esse processo, num primeiro momento recorremos a fontes bibliográficas e estatísticas concernentes ao tema, que permitiu compreender o contexto e elementos envolvidos nas migrações. Em seguida, procuramos entender como ocorreu o processo de migração dos alemães no município de Turvo por meio da história oral, o que deu subsídio para analisar a formação do Arroio Fundo dos Neumann. Dessa maneira, entendemos que a localidade com a presença desses imigrantes alemães no município de Turvo, apresenta algumas peculiaridades que a diferem do seu entorno, a partir da adoção de costumes que foram repassados de geração para geração. Palavras-chave: Migração; município de Turvo; Arroio Fundo dos Neumann O SONHO DE INSTRUIR OS FILHOS NA NOVA PÁTRIA Selma Antonia Pszdzimirski Viechnieski (UEPG) O presente artigo trata das questões educacionais nos primórdios da colonização da Colônia Amola Faca, hoje Virmond, uma colônia polonesa que enfrentou grandes desafios para garantir a instrução dos filhos no início do século XX. Como outras colônias polonesas, não pôde contar com apoio 31 governamental naquele momento e se viu obrigada a encontrar uma solução para resolver seus problemas, organizando as sociedades-escolas, que, aos poucos, vão construindo um sistema educacional próprio, para poder realizar o sonho dos imigrantes em instruir seus filhos e ao mesmo tempo manter viva a memória de sua terra natal, fortalecendo uma identidade cultural. Inicialmente com aulas somente em polonês, aos poucos vão tendo que se integrar a nação brasileira, ensinando também a língua portuguesa, até a nacionalização do governo de Vargas, com a completa proibição do ensino da língua estrangeira. O estudo realizado constitui-se como parte do projeto de pesquisa que está sendo desenvolvido no Programa de Mestrado da UEPG. Toda discussão está pautada especialmente no estudo de publicações de jornais do período, traduzidas para este fim, e em fontes orais, com entrevistas de imigrantes e descendentes, além de literatura especializada. Palavras-chave: Identidade. Imigrantes; Poloneses; Sociedade-escola; Educação; ESTUDO SOBRE A IMIGRAÇÃO: REFLEXÕES SOBRE OS ESPAÇOS E SOCIABILIDADES EM IMIGRANTES JAPONESES E NIPO-BRASILEIROS EM URAÍ-PR José Junio Da Silva (UFPR) Esta comunicação busca entender características particulares da imigração de japoneses para Uraí-Pr, antiga Colônia Pirianito, fundada em 1936 com a participação da Companhia Nambei Tochi Kabushiki Kaisha, de capital japonês. A presença de imigrantes japoneses em Uraí insere-se no avanço da colonização no Norte Pioneiro do estado do Paraná, bem como no deslocamento imigratório produzido pela expansão industrial capitalista que no Japão, inicia-se no século XIX e se expande para o XX. As balizas temporais compreendem o ano de fundação da colônia (1936) e o da venda dos remanescentes de suas terras para a Companhia Brasileira de Rami, em 1956. Os objetivos do estudo convergem para a análise do deslocamento imigratório de sujeitos de origem japonesa e nas reflexões acerca da configuração de novas sociabilidades nesse espaço particular. A perspectiva metodológica da micro-história se faz presente neste trabalho, tendo em vista o objeto em questão e a dinâmica das imigrações, que no século XX fez o governo japonês disponibilizar capital para investimento em terras no Norte Pioneiro do estado do Paraná. Ressaltamos a importância da memória dos imigrantes e de seus descendentes, nipo-brasileiros, para a realização desta pesquisa. Buscamos, por meio de entrevistas geracionais, utilizando três gerações de “japoneses”, dados para o entendimento das sociabilidades e da configuração identitária neste espaço em particular. A relevância e pertinência da pesquisa se justificam pela sua particularidade, pelas especificidades do objeto e dos referenciais de análise que demarcam a historiografia no campo de estudos sobre imigração japonesa no Brasil. A multiplicidade de experiências vivenciadas circunscritas na cultura japonesa, as estratégias desenvolvidas pelos vários sujeitos envolvidos, a pluralidade de seus contextos de referência, são trabalhadas nesta comunicação. Como resultado da pesquisa, entendemos que os sujeitos em estudo formaram um grupo heterogêneo, com identidades 32 múltiplas. A identidade nipônica foi configurada, adquirindo características particulares e próprias, adaptada ao espaço de Uraí. Palavras-chave: imigração japonesa; espaços e sociabilidades; identidades. A REGIÃO DO NOROESTE PAULISTA E A IMAGEM DO GRANDE SERTÃO Natalia Scarabeli Zancanari (UFGD) Busca-se neste trabalho traçar uma interpretação da dinâmica cultural e sócio econômica da pecuária na região Noroeste paulista nos séculos XIX e XX, numa época em que a demanda do mercado econômico se voltou, sobretudo, no desenvolvimento da pecuária. Esse processo desencadeou a ida de migrantes mineiros e matogrossenses especializados em criar gado para a região do Noroeste paulista, prática que incentivou a ocupação da região dada à proximidade de rios, como também pontos de fácil travessia e qualidade das terras para o pasto. Esses recriadores de gado estenderiam suas fazendas nos limites de Barretos em direção ao Porto do Taboado, nas margens do rio Paraná, incluindo a beira da Estrada Boiadeira.Tal caminho permitia a permanência de trocas comerciais ligadas à pecuária entre os estados de Mato Grosso e São Paulo. Desse modo, foram coletados relatos com antigos moradores e peões de boiadeiros que se instalaram na região, de modo a considerar o significado dado pelas experiências vividas e as representações simbólicas que faziam pela estrada. Outras fontes como letras de musica e recortes de jornais também fizeram parte do material empírico para o presente trabalho. Assim, pretende-se descrever o universo cultural desses sujeitos que ali se instalaram dentro da estrutura e cotidiano de seu trabalho. De modo a enfatizar sua contribuição não apenas na configuração social e econômica, mas também cultural da região Noroeste paulista. Palavras-chave: Estrada Boiadeira; Pecuária; Noroeste paulista. A MEMÓRIA SOCIAL DAS FAMÍLIAS PARANAENSES ATRAVÉS DAS FOTOPINTURAS (1950 A 2000) Valdir Machado Guimarães (Colégio São Bento- Pitanga-PR) Esta pesquisa tem como objetivo o estudo das fotopinturas no cenário do estado do Paraná, no período de 1950 a 2000. Para este fim, foi selecionado como objeto de análise um conjunto imagens de famílias paranaenses, no qual será realizada a análise das imagens, bem como as entrevistas com os retratados ou seus descendentes, na busca por desvelar as possíveis interpretações que condicionam este tratamento imagético e seus discursos, repensando um cenário de identidades através do âmbito visual e oral. O trabalho fundamenta-se num quadro teórico que privilegia a reflexão sobre as práticas e linguagens culturais que condicionavam este produto nesta referida região brasileira, na busca por focar o universo de seus sistemas imaginários, suas apropriações históricas, reinserindo as diferenças estéticas locais, dentro da mediação do fotógrafo no tracejamento e na constituição de espaços que condicionam e redefinem estas imagens, como um cenário relevante do 33 contexto regional. As fotopinturas são objetos de estudos históricos, que permitem pensar a perpetuação imagética, a percepção da paisagem familiar, representações, além das sensibilidades do ambiente que integram a articulação e a produção da memória familiar, compreendendo o estabelecimento de um cenário de visualidade presente nestes retratos, constituindo um dos possíveis vieses da identidade paranaense. Palavras-chave: História; Fotopintura; Paraná; Memória. DA ‘VELHA’ À ‘NOVA’ ITUETA: MEMÓRIAS DE UMA REALOCAÇÃO COMPULSÓRIA Thiago Martins Santos (UNIVALE) Sueli Siqueira (UNIVALE) Itueta, cidade localizada no leste mineiro, surgiu nas primeiras décadas do século XX, com a ocupação das matas por descendentes de italianos e germânicos, provenientes do Espírito Santo, e por desbravadores oriundos da Zona da Mata mineira, interessados em desenvolver atividades agropecuárias e extrativistas. A emancipação política ocorreu em 1948. Em fins dos anos 1990, iniciaram os contatos para a realocação de Itueta, em função da construção da Usina Hidrelétrica de Aimorés, pelo Consórcio Vale-Cemig, processo finalizado em 2005, com o assentamento da população na ‘nova’ Itueta e a demolição da Itueta ‘velha’. Nesse cenário, procuramos analisar as representações e significados dessa realocação, por meio dos relatos memorialísticos de um grupo de moradores envolvidos no processo. O referencial teórico considera as contribuições de autores que se alinham à vertente culturalista de território, pensando a cidade como espaço do vivido. Os resultados mostram que a formação histórica de Itueta contempla a ocupação de um espaço e sua configuração em território. Perpassa uma longa trajetória de articulação e, posterior, desarticulação, em função da construção da usina, que provocou a realocação da cidade, apesar dos enfrentamentos empreendidos pela população. É possível concluir que a realocação pôs fim ao território físico, já que a antiga cidade não existe mais. No entanto, para os moradores, essa destruição é apenas física, uma vez que a ‘velha’ Itueta continua existindo como território simbólico em suas memórias. O deslocamento e destruição da cidade antiga não apagaram os significados e representações desse território para aqueles que lá viveram. Palavras-chave: Território; Memórias; Realocação Agência financiadora: FAPEMIG ETNICIDADE E O ENCONTRO COM O OUTRO: VIVÊNCIAS DE MIGRANTES NORDESTINOS EM COXIM MT\MS (1958-1996) Eliene Dias de Oliveira (UFMS) A presente comunicação pretende abordar múltiplas possibilidades de interpretações das vivências migrantes no território que os acolheu, percebendo o papel protagonístico de migrantes nordestinos que se 34 estabeleceram no município de Coxim (no antigo estado de MT, hoje território do MS). E, a partir da análise de suas experiências e memórias, evidenciar seu sentimento de sujeitos desse processo. Serão analisadas suas vivências, nem sempre harmoniosas, em território coxinense em relação à convivência com outros grupos, a hospitalidade em terras estranhas e os seus olhares acerca do que significou/significa viver Coxim cotianamente no ontem e no hoje. Cotidiano esse marcado pelo encontro com outros grupos étnicos que, em Coxim, se fazem representar de forma mais acentuada pelo grupo de migrantes gaúchos que, principalmente a partir da década de 70 do século XX, a partir de um contexto de crise agrária na região Sul do país e de incentivos governamentais, migraram para a região Centro Oeste do Brasil, chegando a diversas cidades do Antigo Mato Grosso, entre elas Coxim. Na identificação étnica explicitada o gaúcho é o especializado na agricultura, com formação e capital para desenvolvimento da produção agrícola. O nordestino é o retirante, sem formação escolar, sem capital, é o extrativista. Nesse olhar, a percepção do Outro se apresenta marcada pela ausência de alteridade e pela presença de homogeneização que simplifica e reduz. Palavras-chave: migração; estereotipia; etnicidade Agência financiadora: CAPES; ENCONTROS E DESENCONTROS FRONTEIRIÇOS: PROBLEMÁTICAS RURAIS Leandro Baller (UFMS) Aborda a intrínseca relação que ocorre no Paraguai em função da propriedade de terras de brasileiros, que deriva desde os primórdios da segunda metade do século XX, com maior ênfase a partir da década de 1970, e que povoa grande parte da região leste do país vizinho. O objetivo gira em torno de mostrar de que maneira os enfrentamentos entre os campesinos paraguaios e as autoridades do Paraguai – tanto políticas, quanto policiais – negociam esta questão, dado que cerca de 50% das terras estão em mãos de brasileiros, e, sobretudo, nesse momento perceber como a imprensa paraguaia explora esse conflito em um emaranhado de discursos e imagens. As análises realizadas são resultado de pesquisas realizadas nas fronteiras físicas dos dois países para o doutoramento em História na UFGD-BR com estágio doutoral na UNAPY. Nesse caso a fronteira torna-se local de encontros e desencontros de interesses, que vão desde as práticas sociais desenvolvidas pelas pessoas que vivificam este ambiente – os fronteiriços –, até os conflitos teóricos que passaram a ganhar maior atenção dos pesquisadores, especialmente no decorrer das últimas duas décadas. Em síntese, mostrar como esta condição de trabalhador rural, em alguns casos lhe outorga até mesmo uma nova denominação social como é o caso do brasiguaio, e como esses enfrentamentos conduzem na tomada de decisões políticas importantes, como é o caso do impeachment do ex-presidente Fernando Lugo do Paraguai, essas são algumas das problemáticas que se inserem no decorrer da História Presente que permeia os dois países. Palavras-chave: Brasil; Paraguai; Brasiguaios; Fronteiras. 35 A OCUPAÇÃO DA GLEBA SANTA IDALINA: UM ESTUDO DE CASO SOBRE OS BRASIGUAIOS Nelson de Lima Junior (UFGD) A comunicação tem como objetivo discutir sobre a ocupação da Gleba Santa Idalina em Ivinhema (MS) na década de 1980, por um grupo de aproximadamente mil famílias de brasiguaios. Buscamos pensar a ocupação deste território a partir dos movimentos sociais de luta pela terra e o termo brasiguaio, como uma bandeira de luta utilizada por imigrantes brasileiros que retornaram do Paraguai no ano de 1985. Assim, a questão central a ser analisada é o deslocamento desses trabalhadores rurais brasileiros para o Paraguai à partir da década de 1970 e posteriormente o retorno e a ocupação da Gleba Santa Idalina. Notamos que na Nova República as ocupações de terra se tornaram uma forma de luta e resistência e uma estratégia para se ter acesso à terra. Buscamos desta forma pensar as trajetórias dos brasiguaios que participaram da ocupação da Gleba evidenciando suas experiências, sonhos, ilusões, conquistas e desencontros. Para tanto, recorremos a fontes orais produzidas a partir de entrevistas realizadas com famílias brasiguaias em comunidades rurais do Município de Novo Horizonte do Sul (MS), bem como fontes impressas, com a análise do Jornal O Progresso e Jornal dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Palavras-chave: Ocupação, Brasiguaios, Movimentos sociais de luta pela terra. Agência financiadora: CAPES PARAGUAIOS NA ARGENTINA: O CASO DE VÍCTOR MORÍNIGO Marcela Cristina Quinteros (USP) Durante o século XX, os movimentos migratórios fronteiriços na região rioplatense foram adquirindo cada vez mais relevância pelas mudanças sociais, econômicas e políticas, tanto nos países de expulsão quanto nos receptores. No caso argentino, após a crise econômica de 1929, os imigrantes “limítrofes” foram se impondo paulatinamente aos imigrantes europeus nas estatísticas imigratórias anuais. Os motivos de deslocamento entre os países do cone sul obedeciam a razões econômicas, sociais, políticas, facilitadas pelas correntes migratórias, entre outros fatores. No caso dos imigrantes paraguaios, o fator político teve um peso decisivo ao longo de todo o século, mas em alguns momentos, o trânsito entre Assunção – a capital do Paraguai – e Clorinda – cidade argentina na margem oposta a Assunção – foi particularmente intenso. Um dos políticos e intelectuais que vivenciou este processo em inúmeras ocasiões foi o colorado Víctor Morínigo (1898-1981). Nas missivas enviadas a seu amigo e também colorado Juan Natalicio González (fundador do movimento Guión Rojo dentro do Partido Colorado paraguaio), Morínigo deixou registrada sua percepção como “exilado”, “deslocado”, “desterrado”, “perseguido”, etc. A análise da escrita auto referencial de Morínigo permite identificar as diferentes imagens construídas sobre o próprio ostracismo; qual era a opinião sobre a Argentina como país receptor, em geral, e de Clorinda, 36 em particular; qual a relação entre os colorados do Guión Rojo e o peronismo; ao mesmo tempo em que ajuda na análise da relação entre diferentes grupos políticos do Paraguai. Palavras-chave: Imigração limítrofe; Argentina; Paraguai; Víctor Morínigo. Agência financiadora: CAPES. VIVÊNCIAS INTERCULTURAIS NA CIDADE: A PRESENÇA DE ESTUDANTES LATINO-AMERICANOS EM FOZ DO IGUAÇU – PR (2007-2015) Thiago Reisdorfer (UNICENTRO) Esta comunicação tem por objetivo pensar historicamente vivências de jovens estudantes universitários latino-americanos. Constituídas e constituintes da trama intercultural vivenciada na e através da cidade de Foz do Iguaçu-PR a partir de sua inserção na Universidade Federal de Integração Latino Americana - UNILA. Neste sentido, pretendo abordar e problematizar suas memórias, bem como, suas (res)significações identitárias. Estas são aqui entendidas enquanto processualidades históricas em contínua (re)construção, expressas e elaboradas nas narrativas orais, tomadas como fontes centrais para a análise e discussão. Tais problemáticas serão pensadas enquanto experimentadas e construídas na e através da cidade, espacialidade constitutiva de suas práticas sociais. Para tanto, toma-se enquanto recorte histórico o período entre os anos de 2007, momento de fundação da Unila à 2015, momento em que se constrói a pesquisa. Tanto a condição transfroiteiriça, quanto as transformações e construção de temporalidades experimentadas na Unila contribuem para uma reconstrução identitária. Por um lado, o diálogo intercultural construído na relação universidade/cidade/fronteira permite uma reconstrução de sentidos atribuídos por esses sujeitos tanto a si mesmos quanto em suas relações com a sociedade. Assim, tanto suas identidades nacionais, quanto de gênero, políticas, entre outros, passam por um processo de ressignificação. Por outro lado, a experiência juvenil universitária, permite e demanda, uma relocalização do sujeito perante a sociedade. Compromissos profissionais, políticos, pessoais devem ser construídos a partir do percurso universitário gerando esse processo de transformação identitária. Ao mesmo tempo, há um conjunto de relações constituídos na urbanidade em que se inserem. Palavras-chave: Identidade; Fronteira; Universidade. CIDADE, MEMÓRIAS E MIGRAÇÕES: DIFERENÇA E DESIGUALDADE NA FORMAÇÃO DO MUNICÍPIO DE TOLEDO-PR (1950-2012) Jiani Fernando Langaro (UFGD) O trabalho versa sobre os processos migratórios para a cidade de Toledo, estado do Paraná, e procura lançar luz sobre a diversidade cultural e a desigualdade social que permeou a formação do município. Utilizando-se da metodologia de trabalho com narrativas orais, cruzando-as com materiais de imprensa e crônicas de memorialistas, analisa como os trabalhadores 37 chamados “paraguaios” e “caboclos” oriundos do próprio Oeste paranaense foram sujeitos marcantes no processo histórico local. Da documentação pesquisada, emerge uma cidade em que a década de 1950 é marcada pela presença desses trabalhadores e pelas serrarias. Isso nos leva a problematizar as “memórias oficiais” do município, que caracterizam uma cidade agrícola, povoada por “pioneiros” vindos dos demais estados do sul do Brasil, em sua maioria empresários e agricultores. Entretanto, isso não significa que outros sujeitos não tenham conquistado visibilidade nessas “memórias oficiais” da cidade, a questão é que não se reconheceu seu protagonismo nesse processo histórico. Por outro lado, além de serem relegados à condição de coadjuvantes, também se cristalizou a noção de que esses trabalhadores somente compuseram a paisagem local nas décadas de 1940 e 1960, diferentemente do que se constata, em que se verifica suas presenças ao longo de todo o processo histórico local. De maneira geral, esses grupos sociais fizeram parte da classe trabalhadora de Toledo e, no período posterior à década de 1970, tiveram importante participação no processo de agroindustrialização local. Palavras-chave: paraguaios; Oeste do Paraná; caboclos; ESTUDO HISTORIOGRÁFICO ACERCA DA PRÁTICA ESPORTIVA DO BOXE EM LONDRINA Paulo Sérgio Micali Junior (UEL) O boxe é uma modalidade de luta esportiva praticada há séculos. Já em Londrina, sua prática regulamentada e sob a supervisão de profissionais conta com, aproximadamente, quarenta anos. Sendo Londrina uma cidade jovem com apenas oitenta anos -, pode-se dizer que o boxe esteve presente em sua história por um considerável período de tempo, período esse marcado por importantes disputas nacionais e internacionais, surgimento de campeões além da matrícula de mais de cinco mil alunos em apenas duas das academias de boxe da cidade. Assim, busca-se por meio desse artigo apresentar os resultados de um estudo referente ao desenvolvimento da prática esportiva do boxe nesse município. Para tal, elaborou-se uma pesquisa qualitativa baseada nos depoimentos de importantes indivíduos dentro do universo pugilísticos londrinense, como campeões estaduais, nacionais, professores além do diretor técnico da Federação Paranaense de Pugilismo (FPP), que se situa em Londrina. Para a coleta daqueles depoimentos - objetos de estudo dessa pesquisa -, utilizou-se da Metodologia de Historia Oral proposta por Verena Alberti (2005). Após coletadas, então, aquelas entrevistas foram fragmentadas e suas parcelas foram analisadas, comparadas e dispostas no corpus do texto de forma a proporcionar uma compreensão renovada acerca do objeto, como o sugere Roque de Morais (2003) em sua Metodologia de Análise Textual Discursiva. Por fim, pôde-se melhor compreender o desenvolvimento da prática esportiva do pugilismo em Londrina, sua inserção nesse universo de práticas e consumos assim como o caráter desse esporte enquanto patrimônio cultural daquele município. Palavras-chave: História; Londrina; Pugilismo; História oral, Análise Textual discursiva. 38 ST04 – PROCESSOS DE HEGEMONIA E PENSAMENTO DE DIREITA NA AMERICA LATINA COMBATE AO PERIGO VERMELHO NO CENÁRIO BRASILEIRO DURANTE OS ANOS 1930 Tiago Siqueira de Oliveira (UNESP – Câmpus Marília) Esta comunicação visa divulgar os resultados parciais do projeto de pesquisa desenvolvido em doutoramento junto ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, o qual objetiva identificar às nuances da agenda política da Liga de Defesa Nacional, no período entre 1930 até 1964. A entidade operou, neste período, uma mudança em seu projeto de modernização conservadora para uma intervenção contra o comunismo. Esta abordagem tem como ponto de partida a Revolução de 1930, momento de ajustamento ideológico da entidade aos interesses de Estado capitaneado pelos líderes da Entidade. A posterior ação intitulada de “Intentona Comunista” em 1935, foi a suposta justificativa para o fechamento do regime, devido ao “perigo vermelho”. Esta comunicação analisa as ações da LDN para implementar o combate a disseminação do comunismo no Brasil, no período de 1930 a 1940, notadamente até a II Guerra Mundial, quando o Brasil inicia os ajustes de seus interesses com a política externa Estadunidense, que teve seus reflexos seguidos pela bipolaridade mundial URSS X EUA, culminando no golpe civilmilitar em 1964. Portanto, nesta comunicação o objetivo central será verificar a participação da Instituição no cenário político a partir dos anos 1930 e a construção de um discurso político anticomunista. Em suma, buscaremos avaliar a interação da Liga de Defesa Nacional na política brasileira, traçando como hipótese que a Entidade, supostamente, se reconfigurou enquanto expressão de um Partido Militar, por meio de uma solidariedade ideológica, reunindo militares e civis numa agenda modernizadora com o objetivo de combater a disseminação do Comunismo no Brasil. Palavras-chave: Partido Militar; Liga da Defesa Nacional; anticomunismo; O CINEMA COMO INSTRUMENTO DE PROPAGANDA POLÍTICA DA AIB (1932-1937) Giceli Warmling do Nascimento (UEM) A Ação Integralista Brasileira (1932-1937) é considerada o primeiro partido político de massas do Brasil, pois conseguiu conquistar um número expressivo de militantes. Para isso, se valeu de diversos meios de comunicação com o objetivo de divulgar a sua propaganda política. O cinema foi um dos veículos utilizados para que o Integralismo conquistasse seus objetivos políticos. Nesse trabalho pretendemos discutir a importância que o cinema desempenhou para o movimento, apresentar os cineastas e alguns filmes realizados sobre a AIB. Utilizaremos o periódico “Monitor Integralista” para discutir como o cinema era visto pelo integralismo e através da documentação depositada na Cinemateca Brasileira, apresentar os cineastas e filmes sobre o movimento. Alguns desses 39 cineastas possuíam relações diretas com a AIB, como Américo Mastrangola, Frederico Rummert Jr e Alfredo Baumgarten, outros como João Baptista Groff e João Manoel Carriço, embora não tenham ligações diretas com o movimento também contribuíram para divulgação das atividades integralistas através de seus cinejornais e documentários. Embora grande parte de toda produção tenha desaparecido por fatores como enchentes e incêndios nas Cinematecas ou mesmo, incêndios propositais neste acervo, é possível verificar através da descrição de alguns desses filmes contidas em jornais da época, toda uma preocupação em “registrar” a grandiosidade e organização da AIB contribuindo assim, para a divulgação do movimento. Palavras-chave: integralismo; cinema; propaganda política. TRANSFORMAÇÃO OU MODERNIZAÇÃO DO CAMPO? TENENTISMO E A QUESTÃO AGRÁRIA (1930-1935) Guilherme Pigozzi Bravo (UNESP – Marília) Esta comunicação pretende, como parte de nossa pesquisa de doutorado, analisar as diferentes propostas de reforma agrária formuladas pelo movimento tenentista, no período de 1930 a 1935. Para tanto, é mister verificar a sua gênese e evolução política, nas décadas de 1920 e 1930, já que o movimento viveu contradições e cisões ao longo deste período. Assim, nascem duas vertentes no movimento que exercerão um papel de destaque no cenário político nacional dos anos 1930: a de esquerda, cuja maior expressão é Luiz Carlos Prestes e outros militares que ingressam no PCB, mas que engloba, também, os tenentes de orientação esquerdista, porém, não comunistas. A outra, caracterizada como autoritário-reformista, congregava a maioria dos militares, sendo Juarez Távora uma das suas principais lideranças. Enquanto a primeira, de conduta mais radical, entendia ser a reforma agrária parte de uma agenda democrática na qual a questão fundiária estava conjugada ao combate às oligarquias latifundiárias, ao fascismo e ao imperialismo, a segunda, mais conservadora, apresentava um programa de modernização capitalista do panorama agrícola brasileiro, no qual o Estado, centralizado, aparece como o responsável pela implantação de núcleos coloniais e, também, pela distribuição de lotes de terra. Visto que a questão agrária representou um importante fator explicativo, no que se refere às diversas configurações que o Estado brasileiro assumiu ao longo da sua História, revisitar as diferentes propostas do movimento tenentista, acerca da reforma agrária, é reacender um debate necessário e, ainda, atual, em um país que ainda não resolveu a sua grave situação fundiária. Palavras-chave: Tenentismo; Reforma Agrária; Modernização; 40 RELAÇÕES BRASIL-EUA DURANTE O SEGUNDO GOVERNO VARGAS: O DEBATE POLÍTICO EM TORNO DA LEI DE REMESSA DE LUCROS NO JORNAL ÚLTIMA HORA (1951-1952) Natália Abreu Damasceno (UEM) Este trabalho consiste na análise das narrativas veiculadas entre 1951 e 1952 pelo jornal Última Hora (UH) a respeito das relações comerciais e financeiras entre Brasil e EUA no contexto da lei de remessa de lucros promulgada durante o Segundo Governo Vargas. O estudo orienta-se de modo a possibilitar o mapeamento da construção e difusão de estereótipos legitimadores de posturas amigáveis, e de seus hiatos, que delinearam as relações entre ambos os países naquele período. Isso foi efetuado por meio da análise das publicações do UH, influente jornal carioca de circulação nacional e porta-voz dos desígnios do Governo. À luz dos princípios da Nova História Política, buscamos investigar quais imagens mentais e conjuntos de sentidos e significados foram compartilhados e difundidos a fim de que a lógica da “barganha nacionalista” obtivesse respaldo no seio da opinião pública brasileira. Os estereótipos evocados nesse debate nos ajudam a compreender o que estava em jogo nas relações Brasil-EUA à época e o poder simbólico do discurso que os círculos políticos varguistas lançavam mão a fim de legitimar o seu projeto de emancipação econômica do Brasil e de modificar o perfil da dependência brasileira em relação à potência estadunidense em plena vigência da Doutrina Truman. Palavras-chave: Última Hora; Relações Brasil-EUA; Lei de remessa de lucros. Agência financiadora: CAPES A INVENÇÃO DA «PAZ E PROGRESSO»: IMAGENS E PROPAGANDA NA DITADURA STROESSNER NO PARAGUAI. Paulo Renato da Silva (UNILA) Rosangela de Jesus Silva (UNILA) O general Alfredo Stroessner (1912-2006) governou o Paraguai entre 1954 e 1989, em uma das ditaduras mais longas da história latino-americana. Um dos principais slogans da ditadura era “Paz y Progreso con Stroessner”. Esse lema e suas variações estavam presentes nas transmissões de rádio, de televisão, na imprensa, em cartazes, em letreiros e em vários outros espaços e instrumentos de propaganda. Nesta comunicação, o nosso objetivo é analisar as representações da “paz” e do “progresso” em imagens publicadas na “literatura stronista”, formada por um conjunto de livros que visavam difundir os “feitos” da ditadura e do ditador. Há nestes a recorrência de algumas fotografias como de edifícios públicos, empreendimentos ligados à infraestrutura, “modernização” agrícola, reuniões populares em honra ao presidente e inúmeros retratos do mesmo. Esses livros eram escritos, sobretudo, por civis e militares colorados e serviam, também, para os autores se promoverem política e economicamente. Consideramos que um dos objetivos destes livros – e destas imagens – era estimular e manter o apoio à ditadura entre os próprios colorados e, desta forma, conter as divergências 41 internas. A partir de referenciais teórico-metodológicos da História Cultural, consideramos que o significado e a repercussão destes livros iam muito além de seus autores e de seus leitores imediatos e potenciais. Assim, os livros da «literatura stronista» e suas imagens devem ser analisados a partir das tensões que havia entre uma opinião pública existente – ou supostamente existente – e outra que a ditadura desejava formar ou consolidar. Palavras-chave: Paraguai; Stroessner; ditadura; imagens; propaganda. Agência financiadora: CNPq A REVOLUÇÃO MEXICANA NA CRÍTICA DA INTELECTUALIDADE CONSERVADORA CATÓLICA BRASILEIRA NOS ANOS 20: O DISCURSO DA REVISTA A ORDEM SOBRE O MÉXICO REVOLUCIONÁRIO Natally Vieira Dias (UEM) A Guerra Cristera (1926-1929), conflito armado que opôs o Estado mexicano aos chamados “soldados de Cristo”, liderados pela Igreja Católica, foi um dos desdobramentos mais significativos da Revolução Mexicana. Os combates bélicos foram o culminar de uma crescente hostilidade entre a Igreja Católica e o Estado pós-revolucionário, por causa da efetivação dos artigos anticlericais da Constituição de 1917. O conflito mexicano foi alvo de várias intervenções públicas por parte de intelectuais brasileiros que se identificavam ao conservadorismo católico, tendo repercutido amplamente na revista A Ordem, órgão editado pelo Centro Dom Vital, principal núcleo articulador da intelectualidade católica brasileira no período. Analisamos o discurso dessa revista em torno do México revolucionário com vistas a mostrar qual foi a leitura da Revolução Mexicana realizada por seu grupo editor. Nossa análise do discurso de A Ordem sobre o México se fundamenta na história intelectual, particularmente na perspectiva contextualista de Quentin Skinner, ao considerar que os discursos produzidos por intelectuais devem ser tomados como “atos discursivos”, carregados de intensões e objetivos políticos, que são dimensionáveis na medida em que conseguimos captar seus contextos de escrita e publicação. Mostramos que a intervenção pública dos intelectuais conservadores católicos brasileiros sobre o México revolucionário, nos anos 20, deve ser lida como parte de um debate/combate de ideias mais amplo que opunha essa vertente a grupos mais progressistas da intelectualidade brasileira – particularmente os socialistas –, que apoiavam as medidas anticlericais do Estado mexicano e tomavam a Revolução Mexicana como um exemplo para o Brasil. Palavras-chave: Intelectuais brasileiros; Primeira República; conservadorismo católico; revista A Ordem; Revolução Mexicana. 42 BREVES APONTAMENTOS SOBRE A POLÍTICA EXTERNA DOS EUA PARA A AMÉRICA LATINA EM MEADOS DO SÉCULO XX Antonio Battisti Bianchet Junior (UFRJ) O presente trabalho tem como objetivo fazer uma introdução ao estudo das relações entre os Estados Unidos e a América Latina durante o início da década de 1960, visando situar a análise mais específica do caso brasileiro, que leva em consideração a conjuntura de crise política e econômica culminante na deposição do presidente João Goulart e no golpe de Estado de 1964. Trata-se de uma contextualização a servir de base para a análise da documentação diplomática produzida pelo Departamento de Estado dos EUA entre 1961 e 1964, que consiste em nosso objeto principal. Assim, buscamos discutir a conformação de um ideário de ação no cerne da administração Kennedy que envolveu os principais agentes diplomáticos, executivos e intelectuais em um esforço de reinterpretação e renovação dos padrões de relacionamento entre os EUA e a América Latina que vinham sendo praticados desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Em um primeiro momento, discutiremos alguns conceitos-chave para a compreensão da política externa estadunidense seja qual for o recorte cronológico: etnocentrismo, fronteira e missão civilizatória. Em segundo lugar, analisaremos a política hemisférica no pós-Segunda Guerra Mundial, tendo em vista o pano de fundo da Guerra Fria e o anticomunismo. Por fim, discutiremos a noção de nova fronteira no contexto da administração Kennedy e o papel dos intelectuais no delineamento da política externa dos EUA para com a América Latina. Palavras-chave: Governo Kennedy; Guerra Fria; Aliança para o Progresso. Agência financiadora: CNPq TERRA, GADO, CIÊNCIA E INFLUÊNCIA: O PODER LOCAL E INTERNACIONAL DOS CRIADORES DE ZEBU Joana Medrado (UNICAMP/UNESPAR) Desde o final do século XIX os fazendeiros fluminenses e do Triângulo Mineiro começaram uma campanha em favor da introdução de reprodutores bovinos da Índia para incrementar a pecuária brasileira. A racialização do rebanho era compreendida como elemento fundamental da modernização das fazendas, e o zebu era argumentado especificamente em razão da sua rusticidade e produtividade em regime de pasto, o que na prática significava a reprodução da estrutura latifundiária brasileira. A partir da década de 1930 teses da eugenia também justificaram a introdução de bovinos indianos, como incremento civilizacional ariano; em 1950 foi respaldada pelo discurso de uma nacionalidade luso-tropical freireana, favorecendo a aproximação entre os países. Na primeira década do século XXI a retomada nas importações de embriões foi um facilitador do diálogo Brasil-Índia e justificado inclusive no âmbito dos BRICS. O objetivo dessa comunicação é analisar o significado que as viagens para a Índia e a introdução do zebu tiveram na consolidação do poder de classe dominante rural desses grupos pecuaristas. Serão analisados elementos de distinção mobilizados por eles, especialmente a memória de suas viagens registradas em diários, entrevistas e publicações, onde reiteram uma 43 autoimagem heroica, desbravadora e empreendedora, não obstante suas ideologias conservadoras e racialistas. A partir da análise das importações de zebu serão discutidos o processo através do qual os zebuinocultores se destacaram no cenário nacional tornando seu discurso hegemônico entre os ruralistas, e também como as negociações desses fazendeiros com a Índia (paradiplomacia) foram marcadas por posturas subimperialistas mais do que pelo fortalecimento sul-sul. Palavras-chave: Ruralismo; Pecuária; Brasil-Índia; subimperialismo. Agência financiadora: CNPQ MAPEAMENTO DE ORGANIZAÇÕES GRUPUSCULARES SKINHEADS BRASILEIRAS A PARTIR DA ANÁLISE TIPOLÓGICA SEUS DOCUMENTOS SONOROS: O CASO DA “DIVISÃO 18” Alexandre de Almeida (USP) A comunicação irá apresentar os primeiros resultados de uma ampla investigação, ainda em andamento, a respeito das organizações grupusculares Skinheads brasileiras vinculadas às ideologias Nacional Socialista e Integralista, com foco, neste caso, na Divisão 18, uma organização paulista de Skinheads White Power, atuante na década de 1990. Inicialmente, serão apresentadas a trajetória da organização e o perfil de sua base doutrinária. Em seguida será discutida a forma como as canções se configuravam com a principal forma de ativismo metapolítico da organização. As canções produzidas pelas bandas, “porta vozes” de tais organização (no caso da Divisão 18, a banda “Brigada NS”) é considerada a forma mais eficiente e abrangente de ativismo e a partir da análise tipológica das canções, buscando identificar, em especial, suas funções, é possível compreender como elas são utilizadas para cooptação de neófitos, tensionamento social, difusão de agenda política e elementos ideológicos essenciais.A necessidade do aprofundamento da análise de tais organizações, buscando por suas especifidades, a partir da utilização do método da análise tipológica, é a principal conclusão desta comunicação. Palavras-chave: Metapolítica; Música; Skinheads; Neonazismo. A NOVA DIREITA BRASILEIRA: UMA ANÁLISE SOBRE OS MOVIMENTOS DAS MANIFESTAÇÕES DE 2015 João Vicente Nascimento Lins (UNESP – Campus Marília) As manifestações de massa com bandeiras de direita, que ocorreram no Brasil em março e abril de 2015, abrem espaço para indagar, se o país vive a emergência de um movimento fascista. Este trabalho analisará os principais novos movimentos da nova direita brasileira – Movimento Brasil Livre; Movimento Vem Pra Rua; Revoltados Online – tentando compreender se eles de fato são movimentos de cunho fascista, ou seja, compreender se houve mudanças estruturais no país que levaram a uma extrema polarização no país, redundando no aparecimento de movimentos com pautas da extrema direita. 44 Para tanto analisa-se documentos elaborados pelos próprios movimentos e entrevistas na imprensa com seus principais líderes. A hipótese presente neste trabalho, é de que tais movimentos, indicam uma alteração conjuntural no país, com o desenvolvimento de uma direita militante, ou mesmo com a disseminação de ideais conservadores entre a classe trabalhadora. Esses elementos, no entanto, não indicam o desenvolvimento de um momento semelhante à outros períodos históricos, que possibilitaram o surgimento de movimentos de cunho fascista – tanto em sua vertente clássica, como moderna – em países de desenvolvimento tardio do capitalismo, como Alemanha e Itália. Uma segunda hipótese é que a defesa desses movimentos de direita, enquanto fascistas, serve à propósitos políticos específicos em um momento delicado da política brasileira. Palavras-chave: Fascismo; Governos Lula e Dilma; Nova Direita; Jornadas de Junho de 2013. SILAS MALAFAIA E A TEOLOGIA DA PROSPERIDADE. Jonas Christmann Koren (UNIOESTE) O objetivo desse artigo é compreender como a teologia da prosperidade é entendida, pregada e defendida pelo fundador, porta voz e principal pregador da Associação Vitória em Cristo, o pastor Silas Malafaia. Pretendemos perceber no discurso do pastor as formas utilizadas para convencer o público e legitimar a teologia da prosperidade como sendo um valor essencialmente cristão. Para isso, analisaremos uma entrevista concedida pelo pastor à Revista Veja, na qual responde algumas questões sobre o tema e uma mensagem que foi ao ar em seu programa de televisão, o Vitória em Cristo. A teologia da prosperidade subverte o pensamento das denominações pentecostais clássicas que desvalorizavam as riquezas terrenas e pregavam uma vida ascética. Prega que os cristãos estão destinados a serem prósperos materialmente, felizes, saudáveis e vitoriosos em todos os seus empreendimentos mundanos. Os fiéis devem buscar as bem-aventuranças, outrora prometidas no paraíso, na terra, principalmente através do crescimento financeiro e do consumo. Além de incentivar as doação dos telespectadores para a sua associação, a teologia da prosperidade também difunde visões de mundo e conforma um consenso entre seu público. Prega que a pobreza é fruto da incompetência individual, e a riqueza é fruto de benção divina ao mesmo tempo em que transforma a relação das pessoas com Deus em uma espécie de transação financeira. Como veremos, essas visões de mundo são totalmente adequadas à sociedade burguesa e a ocultação da dominação de classe. Palavras-chave: Silas Malafaia; Teologia da Prosperidade; Ideologia. Agência financiadora: CAPES 45 A PECULIARIDADE DISCURSIVA DE OLAVO DE CARVALHO E DO MÍDIA SEM MÁSCARA: O HUMOR E A VIOLÊNCIA COMO DERRISÃO. Lucas Patschiki (UFG) Este artigo consiste em um trecho da Dissertação de Mestrado em História defendida na Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE) cujo objeto principal foi a ação partidária do grupo formado em torno do site Mídia Sem Máscara (www.midiasemmascara.org) e seu principal articulador, o autointitulado filósofo Olavo de Carvalho. Abordaremos aqui sua peculiaridade linguística, sua capacidade de se fazer reconhecível, marcada pela utilização de chavões humorísticos estereotipados como chave-formadora de seus discursos de propaganda, apropriando-se de imagens cristalizadas no “senso comum” de determinados grupos sociais, notadamente entre a pequena burguesia e nova pequena burguesia – assim intentando disseminar seu discurso ideológico de maneira efetiva entre estes. Entre todos os recursos linguísticos utilizados sobressai-se o uso da derrisão, a técnica que une no discurso o humor e a violência, supostamente impedindo que o sujeito pronunciador do discurso seja suscetível a sanções jurídicas. Assinalando que os posicionamentos ideológicos divulgados através do seu discurso vão além desta dimensão do real, sendo apropriados como palavras de ordem para a atuação efetiva, para seu posicionamento estratégico, sob a forma da guerra de posições. Aqui apresentaremos introdutoriamente o Mídia Sem Máscara, o público alvo que intende atingir e em seguida iremos analisar alguns exemplos do uso da derrisão em seu discurso ideológico. Palavras-chave: Propaganda; Humor; Fascismo. Agência financiadora: Fundação Araucária. SKINHEADS WHITE POWER NA AMÉRICA DO SUL: A INTERNACIONALIZAÇÃO NO DISCURSO NACIONAL-SOCIALISTA DA BLOOD & HONOUR Samoel Ramos de Alcântara (UNESP) O presente trabalho trata-se de uma investigação sobre manifestações políticas de extremismo de direita na América do Sul contemporânea, em específico, a atuação da organização skinhead internacional denominada Blood and Honour, no Brasil. Privilegiando o debate da categoria nacional-socialismo através de fundamentos da Ciência Política a das Relações Internacionais. Nem todo skinhead é uma apoiador do nazismo, assim como nem todo entusiasta da suástica é um skinhead, no entanto existem grupos que se autodenominam enquanto skinheads que apoiam e militam em prol de uma organização social racialista baseada em uma suposta supremacia branca, esses ficaram conhecidos como skinheads White Power. Através dessa pesquisa buscou-se estudar o pensamento e atuação política disseminada e empreendida pela Blood and Honour, apontando, mais especificamente, para sua articulação na América do Sul. Foram analisadas as características constitutivas do pensamento nacional socialista difundido pela organização principalmente através de sites na internet, buscando-se compreender como o nacional socialismo foi, enquanto categoria analítica, modificado para melhor servir os 46 objetivos da Blood and Honour, com enfoque maior nas concepções de internacionalização do movimento. Observou-se que a internacionalização presente no pensamento nacional socialista da Blood and Honour, está pautada em uma organização racial supra estatal baseada na união de indivíduos ou grupo de indivíduos supostamente herdeiros de uma ancestralidade ariana; diferentemente da concepção nacional socialista alemã das décadas de 1920 e 1930 que buscava uma internacionalização através da expansão do domínio nazista, esse ultimo altamente pautado na ação estatal e em uma concepção de nacionalidade cívica. Palavras-chave: Extrema direita; Skinheads Socialismo; Blood & Honour; América Latina. White Power; Nacional A AÇÃO DEMOCRÁTICA FEMININA GAÚCHA (ADFG): AS DIREITAS DURANTE OS PRIMEIROS ANOS DA DITADURA MILITAR Eduardo dos Santos Chaves (UFRGS) A comunicação pretende discutir a formação e atuação da Ação Democrática Feminina Gaúcha (ADFG), organização criada em março de 1964, na cidade de Porto Alegre, com objetivos de desestabilizar o governo Jango e “conscientizar” a população dos perigos que o comunismo representava. A partir dos livros de atas da organização e o pequeno material divulgado na imprensa da época, o trabalho apresentará as primeiras ações da ADFG após o golpe civil-militar de 1964 voltadas para o assistencialismo e o voluntarismo, bem como a tentativa de colaborar com o “governo revolucionário”. Nesse sentido, o trabalho pretende analisar a atuação da ADFG em um cenário de construção social da ditadura brasileira, no qual foram tecidas complexas relações entre o regime e a sociedade brasileira. Palavras-chave: Direitas; ADFG; Ditadura militar IDEOLOGIAS E REGIMES AUTOCRÁTICOS CHAUVINISTAS: FUNDAMENTOS E INFLUENCIAS. Jefferson Rodrigues Barbosa (UNESP) As ideologias chauvinistas são expressões de pensamentos nacionalistas exacerbados, caracterizados por debilidades argumentativas e fundamentalismos, que legitimam princípios de ordenamento social de caráter autocrático. A presente pesquisa investiga os fundamentos argumentativos presentes nos escritos de Benito Mussolini e Adolf Hitler, como expressões das concepções em questão. Em perspectiva crítica através da análise histórica e dos fundamentos da Teoria Política marxista, temas como Estado, partido e nação serão privilegiados com o objetivo de compreensão das aproximações e distanciamentos destas concepções legitimadoras de Estados de Exceção nas primeiras décadas do século XX, com experiências que ocorreram na América do Sul, especificamente o integralismo brasileiro. Palavras-chave: Fascismo; Nacionalsocialismo; Integralismo; Autocracias Chauvinistas. 47 HAYEK E A DISCUSSÃO DO MODELO DE POLÍTICA NEOLIBERAL: REESTRUTURAÇÃO E IMPASSES A ORGANIZAÇÃO POLÍTICA ECONÔMICA DOS PAÍSES MENOS DESENVOLVIDOS Paulo Cruz Correia ( UNESPAR/Apucarana) Artur Palu Filho (UNESPAR – Apucarana) Marcelo Jesus da Matta, (FAP – Nova Esperança) Noelia Felipe (UNESPAR/Apucarana) Economia e política são áreas que se interpenetram em boa medida, devido à influência de políticas públicas que cada vez mais se fazem necessárias na regulação dos desequilíbrios econômicos aliadas à crescente disputa, da movimentação dos ciclos de capitais entre a maioria dos países. Este artigo aborda a referida temática a partir do debate em torno do modelo concentrador neoliberalista, da concentração e desconcentração do capital e da importância da ideologia neoliberalista para a recuperação dos lucros capitalistas. O objetivo é discutir a teoria e a influência do modelo neoliberal no processo de desenvolvimento econômico, principalmente a partir de Hayek. Trata da importância de rever os novos padrões éticos do capital, a estabilidade e necessidade de ajustes de sua concentração, num momento de amplo debate em que todos se voltam para a expectativa de incerteza de regulação para a desconcentração da economia. A metodologia utilizada é a da pesquisa bibliográfica, por meio de recentes fontes, como artigos, livros e revistas científicas. A conclusão é a de que a atual crise em que vivemos, iniciada em 2008 exige um estado forte para resolver o problema do crescimento e voltar a distribuir renda, em relação a isso o modelo neoliberal apresenta graves inconsistências em suas relações imperialistas de poder; e, na atual conjuntura vem impelindo reduzir as conquistas trabalhistas, ampliando o volume de concentração e desigualdade existente. Palavras-chave: Política neoliberal; Concentração de Renda; e, poder. UM RESGATE CRITICO DAS FORÇAS ARMADAS NO CHILE Rodolfo Sanches (UNESP - Marília) O presente texto tem por objetivo demonstrar as influências das correntes teórico-filosóficas na formação do ideário militar chileno. Parte deste estudo é de muita importância para observar quais os fundamentos estiveram sobressaltados na composição da idéia de (re) fundação do país, como era explicitado por Augusto Pinochet. É sabido por nós que as Forças Armadas no Chile sempre desempenharam um papel expressivo na vida política nacional. Desde subversões armadas até golpes de Estado reacionários. Este espectro pode ser observado na dinâmica existente na correlação de forças na década de 1920. O desenrolar da história se mostrou favorável a participação dos militares na vida política. O general Ibáñez, em 1927 e depois 1952, expressa com clareza a agitação sócio-política de que o Exército era parte. A ampliação dos quadros militares acoplado com o alargamento social das camadas médias possibilita a verificação de um embate intenso no interior da Instituição. Compreender os fundamentos centrais de uma corporação que se colocou como opção política para o País é parte do estudo para o entendimento de 48 quais influências teórico-políticas o Exército sofreu e se podemos qualificá-lo como um intelectual coletivo e orgânico de destaque na disputa hegemônica chilena. Palavras-chave: Forças Armadas chilena; disputas hegemônicas; intelectual coletivo orgânico OPORTUNISMO IDEOLÓGICO?AS RELAÇÕES ECONÔMICAS ENTRE A UNIÃO SOVIÉTICA E A DITADURA MILITAR. Philipp R. L. Gerhard (Universidade de Tübingen, Alemanha) Foram interrompidas já na administração Dutra as relações diplomáticas entre o Brasil e a União Soviética. Seguindo as primeiras atividades comerciais durante o segundo governo Vargas que intensificavam-se nos próximos dois governos, estas relações bilaterais só foram reestabelecidas por João Goulart em 1961. A intensa cooperação, não só no setor econômico mas também nas esferas culturais e políticas, deixou presunçosos os entreguistas/direitistas ligados tradicionalmente aos Estados Unidos. O golpe militar em 1964 piorava as relações Brasil-União Soviética mas, ao contrário do que ocorreu com as relações com Cuba, não foram descartadas. Os EUA recompensavam a virada política e a privatização de estatais e o Brasil posicionou-se novamente como sátelite privelegiado no hemisfério. As cooperações, porém, não foram prorrogadas e a administração Carter distanciou-se do Brasil. Começaram-se então a retomar os contatos com o bloco comunista para diversificar o comércio exterior. O suposto milagre econômico durante o governo Médici chamou a atenção para um mútuo benefício da USSR nas negociações com o Brasil. Até 1982 puderam ser registrados intensos intercâmbios tecnoeconômicos entre os dois países e também a conformidade na diplomacia internacional. O trabalho tem por objetivo mostrar exemplos dessa cooperação, predominantemente entre os setores de energia (úsinas hidrelétricas, exploração petrolífera, ethanol), analisar as relações do Brasil com as duas superpotências e, ligado a isso, examinar as aspirações do Estado-nação. Por isso são usadas de um lado a teoria da hegemonia gramsciana, e, de outro lado, a percepção high modernity de James C. Scott para compreender a dinâmica ideológica do desenvolvimentismo. Palavras-chave: Brasil e a União Soviética; Guerra Fria; relações econômicas; desenvolvimentismo; obras faraônicas HEGEMONIA E PODER POLÍTICO NO BRASIL: NOTAS INTRODUTÓRIAS SOBRE A EXPERIÊNCIA DO PARTIDO DOS TRABALHADORES Cássius Marcelus Tales Marcusso Bernardes de Brito (UEM) O fim da ditadura militar iniciada em 1964 e as perspectivas de abertura democrática recolocaram, sob o contexto de uma crise político-social, a problemática da construção de uma outra articulação para o processo de dominação no Brasil. Este trabalho tem o objetivo de discutir como as possibilidades de saída para a crise da ditadura podem ser compreendidas a 49 partir do debate em torno da construção da hegemonia e de como a experiência do Partido dos Trabalhadores se insere neste processo. Para isso, recorreremos a uma revisão bibliográfica que integre a discussão teórica geral e as circunstâncias históricas particulares do período brasileiro recente. A conjuntura de crise provocou uma profunda instabilidade na reprodução do poder burguês, dando duas opções à ordem vigente: recrudescimento de uma “ditadura sem hegemonia” ou a “construção da hegemonia”. Para a viabilização desta, não poderia ser a própria classe dominante a executora direta da sua dominação na direção do Estado. A direção deste projeto deve ficar a cargo dos representantes dos subalternos, mas é necessário que eles passem por um processo de transformismo, de moderação política, pois os pilares fundamentais da ordem burguesa precisam ser mantidos. Este tipo de hegemonia é produzida a partir do momento em que a modernização burguesa é dirigida por representantes dos subalternos, que administram as concessões nos limites que não contradigam o projeto maior de viabilização do desenvolvimento capitalista. O papel do Partido dos Trabalhados neste contexto ganha relevância para compreensão da organização do Estado e do poder político no Brasil. Palavras-chave: crise política, hegemonia, partido dos trabalhadores, Estado, poder político. OS GOVERNOS KIRCHNER E AS “NOVAS” ESTRATÉGIAS DE DESENVOLVIMENTO NA ARGENTINA Anderson Sabino da Silva (UEM) Após o fim da Guerra Fria, a América Latina sofreu a implementação da política econômica neoliberal, nos termos do Consenso de Washington. Ao fim desse ciclo, os governos neoliberais foram substituídos por candidaturas com discursos opostos. Este trabalho procura apresentar os primeiros resultados das analises dos aspectos das políticas econômicas da Argentina durante os governos de Néstor e Cristina Kirchner, em contraste com o contexto econômico global e com as políticas econômicas de governos anteriores do país. São analisados discursos oficiais, cobertura da imprensa local e produção acadêmica disponível para traçar um panorama do ambiente econômico argentino no período Kirchner e identificar os principais aspectos da mudança de posicionamento suposta, tanto pelo ponto de vista oficial como do ponto de vista de observadores externos, no caso da imprensa. A hipótese levantada é que os governos Kirchner representam uma alteração de posicionamento da nação, quando se leva em consideração o receituário econômico das potências econômicas mundiais, especialmente os Estados Unidos, que historicamente tem influência decisiva nos assuntos internos de países da América Latina. O material estudado permite confirmar a hipótese, na medida em que a política econômica kirchnerista é fortemente voltada para o mercado interno e, na política externa, não se alinha aos EUA. Por outro lado, é importante ressaltar que essa orientação política tem como prioridade a perpetuação do grupo kirchnerista no poder, para além de um projeto de desenvolvimento do país propriamente. Palavras-chave: Kirchner; Políticas Econômicas; Argentina. Agência financiadora: PIBIC 50 A TERRA E OS NOMES: SENTIDOS E DEMARCAÇÕES DA AMÉRICA LATINA E DO CARIBE. Raony Palicer (UEM) Este trabalho realiza um levantamento histórico-teórico dos diferentes termos utilizados para denominar as regiões da América Latina e do Caribe – com foco nestes últimos por sua preponderância atual – bem como as diferentes formulações que tem definido tais termos e delimitado sua abrangência. Desse modo, fazemos uso da metodologia de revisão bibliográfica para visualizar o surgimento, os significados, as mudanças e as apropriações dessas nomenclaturas ao longo da história. Observamos que os diferentes termos partem normalmente da visão do colonizador, sem a preocupação com uma ligação coerente entre o nome dado e a terra representada, mesmo quando utiliza-se palavras retiradas de língua nativas, elas são depostas de seu sentido original. Entretanto, as denominações são objetos de disputas, sendo comum o caso de transformação de um termo colonial pejorativo em símbolo local valorativo. Isto ocorre com os dois termos focados pelo estudo, América Latina e Caribe, que passam por um processo de ressignificação, tornando-se elementos centrais de movimentos de resistência latinistas e caribenhos. Portanto, concluímos admitindo a inexistência de um significado único e fixo para os termos que definem a região e alertando para o cuidado metodológico envolvido em seus usos, pois pressupõe-se o conhecimento da carga histórica de tais termos e o esclarecimento político do autor disposto a trabalha-los. Palavras-chave: América Latina; Caribe; História; Geopolítica. AS MULHERES E A REVOLUÇÃO SANDINISTA: A CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA HEGEMONIA Nicolle Montalvão Pereira (UEM) As mulheres estão à margem de toda a história da humanidade. Porém, mesmo marginalizadas, elas sempre estiveram presentes, contribuindo de várias formas para as lutas travadas. Na Revolução Sandinista (1979 – 1990), ou Nicaraguense, não foi diferente. Este peculiar processo de insurreição popular derrubou, através da luta armada liderada pela Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), a ditadura da família Somoza, a mais duradoura de toda a América Latina, e reconstruiu um país em ruínas. Assim como a revolução cubana serviu de modelo para as revoluções nos anos 1960-70, a Nicarágua inspirou as dos anos 1980, particularmente em El Salvador e Guatemala. No entanto, seu caráter paradigmático não impediu que em seu processo as mulheres nicaraguenses encontrassem inúmeros desafios, até mesmo dentro da própria FSLN. Elas estiveram presentes nos dois momentos do processo revolucionário: no primeiro momento, de guerrilhas urbanas e no campo e da inevitável guerra civil – que derruba o regime somozista –, ocupando diversas funções, inclusive no comando de exércitos; e no segundo momento, de construção da Nova Nicarágua, isto é, de mudanças na sociedade nicaraguense – a população tinha em suas mãos a tarefa de reerguer o país e transformá-lo conforme seus anseios e necessidades –, onde estas mulheres permaneceram organizadas, exigindo direitos e liderando 51 povoados inteiros. Por vias de um resgate histórico e bibliográfico, este artigo visa problematizar e trazer à tona a importância da organização das mulheres enquanto a organização dos subalternos, dentro do processo de construção de uma nova hegemonia: a revolução sandinista. Palavras-chave: Revolução Sandinista; FSLN; mulheres; grupos subalternos; hegemonia. O QUE RESTOU DAS “NOVAS ESQUERDAS LATINO-AMERICANAS”? Guilherme Tadeu de Paula (UEM) Vanessa Alves Bertolleti (UNESPAR) Na última década do século XX e primeira do XXI, povos de diferentes países latino-americanos encontraram a saída para a crise decorrente do projeto de expansão neoliberal pelo qual o continente passou na década anterior, na imagem de lideranças que emprestaram símbolos, retórica e “agendas” de esquerda. Neste contexto, a vitória eleitoral de nomes como Hugo Chávez na Venezuela, Lula no Brasil, os Kirschner na Argentina, Rafael Correia no Equador, Evo Morales na Bolívia, Daniel Ortega na Nicarágua, Tabaré Vázquez no Uruguai e Richard Lugo no Paraguai, foram comumente tratadas como expressão do avanço das “novas esquerdas latino-americanas”. Quase duas décadas depois do início deste processo, esta pesquisa visa refletir a partir de duas indagações condutoras: a) quais as possibilidades e as limitações analíticas de se considerar esse grupo tão distinto de personalidades, contextos e disputas sob o mesmo “guarda-chuva” analítico a ponto de nomeálos um conjunto de “governos de esquerda”? b) qual a capacidade que estes governos tiveram para, depois de anos no poder, saciar as necessidades que os conduziram às vitórias nas urnas: o que significa perguntar se estes de fato, tiveram algum êxito em interromper a escalada neoliberal e propiciar uma vida melhor aos povos oprimidos da América Latina. Palavras-chave: novas esquerdas latino-americanas, Lulismo, Chavismo, Kischner, América Latina. A DIPLOMACIA PÚBLICA VENEZUELANA Érico Sousa Matos (Facultad Latina Americana de Ciencias Sociales – FLACSO/Argentina) Diplomatas e políticos, cada vez mais, realizam consultas aos meios de comunicação internacionais com a finalidade de se manter atualizados, de maneira quase instantânea, sobre os acontecimentos globais. Isso reflete um processo que determinados autores denominam de "midiatização" das relações internacionais. Aonde promover as ações de política exterior é tão importante quanto o ato de fazer com que as mensagens emitidas se difundam internacionalmente através dos meios de comunicação e assim transmita as atuações promovidas por determinado Estado. Deste modo, surge o que alguns autores denominam de “Diplomacia Pública” que, a rigor, se caracteriza como uma ferramenta diplomática e de comunicação política internacional. 52 Utilizada, principalmente, em países desenvolvidos com o objetivo de gerar influência internacional. O principal objetivo é criar uma imagem positiva do Estado internacionalmente que, sob determinado ponto de vista, pode contribuir para um melhor desenvolvimento das relações internacionais. Este estudo propõe uma discussão sobre os conceitos de diplomacia pública efetivamente aplicados à realidade da América do Sul. E, indaga, em particular, sobre a utilização desse modelo de diplomacia pelo governo venezuelano, Hugo Chávez, através do canal TELESUR. Canal utilizado como principal ferramenta para difundir notícias relevantes ao Estado venezuelano frente à opinião pública internacional. Portanto, a TELESUR atuaria como um instrumento para a promoção da política exterior venezuelana. Cabe esclarecer que, neste estudo, a metodologia de estudo utiliza a análise das notícias transmitidas pelo canal TELESUR em 2014. Nota-se, porém, que o interesse acadêmico em compreender as novas estratégias adotadas na diplomacia moderna concentrou-se no estudo sobre as estratégias utilizadas pelos países centrais, contudo, os países periféricos, como os Estados da América do Sul, não estão fora das transformações que o cenário diplomático produziu e, nesse sentido, estão a utilizar dessas novas estratégias em sua política internacional. Palavras-chave: Diplomacia; Poder; Canais de Comunicação; Notícias; Política internacional. OS AVANÇOS DA COMUNIDADE DOS ESTADOS LATINO-AMERICANOS E O CARIBE NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA HEGEMONIA Thais Palhares Pimentel (UEM) A Comunidade dos Estados Latino-americanos e o Caribe (CELAC) é um novo organismo político que, pela primeira vez na história, reúne o conjunto de 33 países da América Latina com uma nova proposta de aliança regional, visando consolidar estratégias para um desenvolvimento da região que possa suplantar suas assimetrias e promover a cooperação dessas nações, em âmbito não apenas econômico, mas também político e social. Ademais, a exclusão dos Estados Unidos e o Canadá do bloco denota significativa diferença de posicionamento entre a CELAC e a Organização dos Estados Americanos (OEA). Nosso trabalho resulta do processo de análise dos Boletins veiculados pelo Sistema Econômico Latino-americano (SELA) — em referência à CELAC —, demonstrando avanços e tendências que a organização vem consolidando dentro do cenário internacional. Para substanciar a discussão, elencamos os principais temas que a tangenciam. Demonstrando o que há de específico na forma como os países membros se inserem na dinâmica capitalista, identificando aspectos próprios do desenvolvimento da região, e retomamos a questão nacional, evidenciando os processos de constituição das sociedades nacionais e — essencialmente — a relação entre interno e externo, particular nessas sociedades que terminaram por ocupar uma posição periférica, numa condição subalterna na estrutura de poder. Assim, pudemos avaliar de que forma a agenda e proposta de integração regional da CELAC vêm se dando: 53 afastando-se da construção de uma nova hegemonia e nova força política no campo internacional e adequando-se, ainda, a uma lógica competitiva, encarando o desenvolvimento enquanto forma de integração da ordem social. Palavras-chave: CELAC, América Latina, Hegemonia, Desenvolvimento, SELA PARA PENSAR A AMÉRICA LATINA: PODER E HEGEMONIA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS. Meire Mathias (UEM) A complexidade das relações internacionais e em particular, as condições de atuação da América Latina no cenário internacional, demanda novos estudos acerca de política internacional. Todavia, o tema implica que se considere a concepção de sistema internacional que, a nosso ver, não se configura homogêneo. Ao contrário, permanece determinada estrutura de poder mundial, ajustada ao domínio das grandes potências, onde países periféricos enfrentam condições desiguais de inserção internacional. O ensaio busca demonstrar que as mudanças na economia política internacional refletem um processo de reorganização do sistema mundial que altera a natureza dos seus integrantes, sua maneira de se relacionar uns com os outros e a maneira como funciona e se reproduz. Nesse contexto, para pensar a América Latina no sistema internacional, a reflexão sobre o exercício da função hegemônica ganha centralidade, porque, de maneira antagônica a concepção de supremacia, em Gramsci, hegemonia é uma forma bastante estável e duradoura de dominação, sendo que na perspectiva das relações internacionais, indica a combinação de consenso, cooptação e coerção. A construção de hegemonias, certamente, implica em disputas, portanto, apreender o sistema internacional enquanto “sistema hegemônico”, significa considerar os Estados como unidades competitivas, mas também, os nexos entre as dimensões interna x externa das nações, entre Estado e sociedade, entre economia e política, entre coerção e persuasão na configuração do poder. Palavra chaves: Hegemonia; América Latina; Política Internacional; Poder. CELSO FURTADO: O INTERPRETE DA CEPAL NO BRASIL Neilaine R. Rocha de Lima (UEM / Unesp) O presente trabalho tem como objetivo analisar o pensamento do economista Celso Furtado como representante da Cepal (Comissão Econômica para América Latina) no Brasil, instituição essa que se caracterizou como um grupo de intelectuais que elaboraram estudos que buscavam soluções para a superação do subdesenvolvimento na América Latina, produzindo assim perspectivas que serviriam de base para ações políticas dos governos latinos. A teoria desenvolvida pela Cepal analisava as desvantagens que teriam os países periféricos na dinâmica do mercado externo, preconizando assim a necessidade do processo de industrialização para a superação desse quadro. No Brasil Furtado desenvolveu sua tese principalmente nos anos 1950 e 1960. 54 Em várias obras do autor é visível seu alinhamento a concepção desenvolvimentista da Cepal, que almejava a superação do atraso e dependência econômica da América Latina através do planejamento estatal. Outro elemento em suas obras fora o uso da história para alcançar a justificativa de sua teoria, observando ser um problema estrutural a falta de dinamismo econômico da América Latina. Através da análise do pensamento do autor torna-se notável como as ideias desse intelectual foram importantes para o projeto político do governo de Juscelino Kubitschek, que se alinhava a um projeto político latino americano de desenvolvimento. Sendo assim a pesquisa faz o uso das ideias como fontes para a compreensão do campo político na História. Palavras-chave: Celso Furtado; Cepal; Política; Desenvolvimento. 55 ST06 - NARRATIVAS E CULTURAS POLITICAS NA PENINSULA IBERICA MEDIEVAL DE ALIADOS A TRAIDORES, AS RELAÇÕES DE PODER NA PENÍNSULA IBÉRICA MEDIEVAL Fátima Regina Fernandes (UFPR) As relações de poder entre a monarquia e a sua sociedade política passam por importantes transformações ao longo da diacronia medieval. O reino português na tardo-medievalidade observa dois processos significativos que se alimentam mutuamente, por um lado uma atualização identitária da nobreza que cerca os reis aproximando-a dos padrões de uma nobreza de serviço e por outro a monarquia em processo de crescente institucionalização amparada pelos conceitos e mecanismos do Direito Comum que de Bolonha se espalhavam pela Cristandade latina como modelo de governação. Através de um estudo de caso e aplicação de uma metodologia prosopográfica de base abordaremos um conjunto de nobres galegos de origem que em 1369, após o assassinato de seu rei, Pedro, o Cruel de Castela e consequente usurpação por parte de seu irmão bastardo, Enrique Trastâmara passam ao reino português e oferecem o trono ao rei D. Fernando de Portugal sendo recebidos como aliados frente às pretensões portuguesas. Após duas guerras lusocastelhanas para as quais estes nobres liderados por Fernando Peres de Castro teriam contribuído e das quais resultariam duas derrotas portuguesas, seriam expulsos do reino português sob acusação de traição e condenados ao degredo em 1373. Analisaremos a partir de quais critérios ocorre esta transformação de uma condição de aliado a traidor, discutindo à luz da legislação vigente à época, os conceitos de naturalidade, fidelidade e o quanto as iniciativas destes nobres correspondem a uma perspectiva de poder e papel da sociedade política anacrônicos em relação ao contexto de Guerra dos Cem Anos e Exílio de Avignon no qual se desenrolam estes eventos. Palavras-chave: monarquia medieval ibérica; relações régio-nobiliárquicas; nobreza medieval ibérica; Ius Commune. Agência financiadora: CNPQ O CASAMENTO DO INFANTE D. AFONSO, SENHOR DE PORTALEGRE: BALIZA CRONOLÓGICA. Carlos Eduardo Zlatic (UFPR) Entre os anos de 1271 e 1273 o rei português Afonso III outorgou as vilas de Marvão, Portalegre, Arronches e Vide ao seu filho homônimo e secundogênito. Esse domínio senhorial de elevada importância política e militar – por se localizar em uma área estratégica junto à fronteira luso-castelhana – foi palco de três confrontos entre esse D. Afonso, senhor de Portalegre, e D. Dinis, seu 56 irmão e rei de Portugal. Mais do que o embate entre dois atores sociais, esses conflitos mobilizaram tropas e interesses e ambos os lados, para os quais convergiram as alianças políticas que cada um mantinha. Enquanto o rei português recorria a rede de vassalos – nobres e conselhos – para lhe apoiar nessas guerras, o infante buscava suporte junto à alta nobreza castelhana, com a qual estava ligado por seu vínculo matrimonial com D. Violante, filha de D. Manuel e sobrinha de Alfonso X de Castela. O presente estudo se concentrará justamente nesse casamento, objetivando contribuir para um debate historiográfico acerca de sua datação, a qual permanece em aberto e flutuando entre dois possíveis marcos: os finais do reinado de Afonso III – como defende Felix Lopes – ou o princípio do reinado de D. Dinis – como sustentado por José Mattoso. Recorrendo a documentação régia, crônicas e a bibliografia, este contributo busca discutir tais hipóteses, corroborando aquele segundo período como o mais provável para a efetivação do enlace entre o português e a castelhana. Palavras-chave: História Medieval Ibérica; D. Dinis; Alfonso X. Agência financiadora: CAPES “NARRATIVAS PEDAGÓGICAS PARA A FORMAÇÃO DO PRÍNCIPE NA OBRA DE RAMON LLULL” Fabiana de Oliveira ( UNIFAL-MG) A presente reflexão tem como objetivo discutir os princípios pedagógicos para a formação política do príncipe, enquanto “bom governante”, presentes em duas obras de Ramon Llull (1274-1276) que são as seguintes: “A Árvore Imperial” e “Doutrina para Crianças” que datam do século XIII. A metodologia utilizada se caracteriza como qualitativa e histórica por meio do estudo das obras de Ramon Llull citadas anteriormente, sendo que a análise do material foi realizada por meio da técnica de análise de conteúdo. As obras analisadas se caracterizam como fontes de formação religiosa e política. Podemos fazer referência destas obras aos “manuais de civilidade” ou “espelhos de príncipe” enquanto narrativas medievais por meio das quais se difundia “modos” e “hábitos”, ou seja, formas de ser e estar no mundo Ibérico Medieval considerando os aspectos culturais, religiosos e políticos. A formação educacional da criança se projetava na imagem do homem enquanto um ser completo em detrimento à criança que não tinha importância nesse período histórico, por isso a preocupação com a educação da criança estava no seu “vir-a-ser”. O que se visava era a humanidade futura dessa criança, ou seja, sua maturidade presente na “forma-homem”, por isso sua educação tinha como meta principal aproximá-la dos bons ensinamentos, entenda-se, “bons ensinamentos” sendo os cristãos, para que este sujeito desde cedo pudesse aprender a amar e temer Deus visando alcançar o Paraíso e a salvação de sua alma, por isso, o “bom príncipe”, de acordo com Llull, “deve ser a imagem de Deus na terra”. Palavras-chave: Educação; Península Ibérica; Ramon Llull 57 A POLÍTICA PAPAL DE ROMANIZAÇÃO NA IGREJA DE SANTIAGO DE COMPOSTELA Jordano Viçose (UNIFAL-MG) A política papal de romanização estava inserida em um movimento políticoeclesiástico mais amplo que ficou conhecido na historiografia como Reforma Gregoriana. Dentre às ordenações da Igreja de Roma estava a padronização da liturgia e dos costumes do clero para toda a Cristandade, o que, por consequência, implicava no reconhecimento da liderança espiritual e temporal exercida pelo sucessor de São Pedro. À adesão aos princípios romanizadores pela Igreja de Santiago de Compostela foi de fundamental importância para a sua ascensão eclesiástica, verificada na primeira metade do século XII, sob o bispado de Dom Diego Gelmírez (1101-1140). Nesta comunicação, apresentaremos às alianças envolvendo a Sé de Compostela e a Santa Sé que contribuíram, por um lado, para o alinhamento da Igreja de Santiago à Igreja de Roma e, por outro, para o recebimento de dignidades eclesiásticas pela Igreja do apóstolo evangelizador da Hispânia. A principal fonte utilizada no estudo é a Historia Compostelana, obra elaborada na primeira metade do século XII na cidade de Compostela a pedido do bispo Gelmírez. O estudo que apresentaremos na forma de comunicação compõem parte da problemática da pesquisa que desenvolvemos no Programa de Pós-Graduação em História Ibérica da Universidade Federal de Alfenas (PPGHI/UNIFAL-MG), sob a orientação do Prof. Dr. Adailson José Rui. Palavras-chave: Romanização; Santiago de Compostela; Século XII. O CULTO À RELÍQUIA DO SANTO LENHO NA IDADE MÉDIA: PODER SIMBÓLICO E POLÍTICO Renata Cristina de Sousa Nascimento (UFG/UEG/PUC-Go) O objetivo principal desta comunicação é analisar um importante símbolo da paixão de Cristo existente em Vera Cruz do Marmelar, desde o século XIII, considerado um fragmento do Santo Lenho. Em Portugal a Ordem Militar de São João de Jerusalém ou do Hospital tornou-se a guardiã desta relíquia, que se preserva ainda hoje na Igreja de Vera Cruz de Marmelar, freguesia do município de Portel, sendo o rei D. Afonso III o promotor da formação do senhorio de Portel em 1257. A Comenda da Vera Cruz de Marmelar, tornou-se neste cenário de proteção de fronteiras pós- reconquista e fortalecimento do poder real, veículo importante da presença hospitalária na região. As relíquias representam a memória espiritual do cristianismo e, neste sentido, a cruz é o principal símbolo da paixão de Cristo. O ato de lembrar é, sobretudo, o trabalho de localizar lembranças no tempo e no espaço. As santas relíquias são memórias portáteis, que podem ser transladadas de um lugar para o outro, podendo ser reposicionadas. Para a comunidade receptora, a chegada de uma relíquia era uma grande honra, representando o pertencimento de um determinado local à história cristã, sendo também fator de identidade religiosa para esta comunidade. Assim, é fundamental analisar a intensificação do culto ao Santo Lenho na Idade Média, enfatizando a carga histórica e simbólica que 58 a Igreja de Vera Cruz, (em Marmelar) representa. O conceito de memória central nesta abordagem. Tomemos também, por norte investigativo conceitual o que Halbwachs (1990), entende por memória coletiva, onde passado é permanentemente reconstruído e revivificado, enquanto ressignificado. é e o é Palavras-chave: Imaginário; poder; relíquias. DOUTRINA MILITAR: A MILÍCIA COMO UMA ARTE A SERVIÇO DA MONARQUIA E DA FÉ CATÓLICA. José Carlos Gimenez (UEM) Inspirado nas histórias das guerras e batalhas do passado, e nos grandes feitos dos lideres que delas participaram, o italiano Bartolomeu Scarion de Pavia publicou, em 1598, o livro Doutrina Militar. A narrativa dessa obra tem por objetivo mostrar aos leitores, aos governantes, e principalmente aos combatentes, como uma batalha regida com técnica e racionalidade pode favorecer e perpetuar as monarquias, especialmente a Monarquia Ibérica conduzida por Felipe II de Espanha, I de Portugal (1527-1598). Sem romper definitivamente com as tradições teológicas da política medieval, essa obra também possibilita uma leitura sobre como a guerra realizada com paixão, discernimento, propósitos cristãos, e vontade de divina, pode favorecer a governança dos Reis e engrandecer as Monarquias, assim como, dignificar os beligerantes que lutam pela Pátria e pela religião cristã. Palavras-chave: Doutrina Militar, Monarquias Ibéricas, Século XVI. ENTRE AVIS E AVEIRO: UM ESTUDO BIOGRÁFICO SOBRE A PRINCESA DONA JOANA DE PORTUGAL Gabrieu de Queiros Souza (UFPR) A beata Princesa Dona Joana de Portugal, conhecida popularmente como Santa Joana de Portugal, nasceu em Lisboa no dia 06 de fevereiro de 1452. Filha do Rei D. Afonso V (1432-1481, rei desde 1438) com a Rainha D. Isabel, faleceu em Aveiro no dia 12 de maio de 1490. Joana de Portugal foi jurada herdeira da corte portuguesa, título que ostentaria até a sua morte. Por volta dos 20 anos de idade Joana optou pela vida religiosa no Mosteiro de Jesus de Aveiro, pertencente à ordem dominicana. No claustro, assim como na corte, a princesa desempenhou as funções que lhe cabiam no momento, sendo um exemplo de religiosidade a ser seguido. Entretanto, devemos atentar que seja na corte ou no claustro Joana não deixou de desempenhar sua dupla função: princesa herdeira e cristã fervorosa. Para que possamos entender esses papéis desempenhados por Joana, utilizaremos como fontes duas obras de caráter hagiográfico, além das crônicas régias do período em que a Princesa viveu. Desta forma, por meio da análise das fontes primárias, poderemos ampliar nossa visão e abordar biograficamente a Princesa Joana de Portugal e 59 os papéis que a mesma desempenhou nos meios sociais do Reino de Portugal no “outono da Idade Média”. Palavras-chave: Princesa Dona Joana de Portugal; Biografia; Baixa Idade Média Portuguesa; Dinastia de Avis; Mosteiro de Jesus de Aveiro Agência financiadora: CNPq OS PARALELOS DA INSTITUCIONALIZAÇÃO DO MODELO DE CONDOTTIERI POR MAQUIAVEL E DA NOBREZA DE SERVIÇO POR FERNÃO LOPES. Lucca Zanetti (UFPR) A partir da análise de fontes, crítica interna e externa das obras e sua inserção em seu contexto histórico de acordo com a bibliografia levantada, o seguinte trabalho se propõe a explorar as relações perante os conceitos, atributos, características e virtudes observadas na criação da nobreza de serviço, aparente no cronista português Fernão Lopes, e a imagem do condottiere idealizado nos textos de Maquiavel. Tanto a nobreza de serviço portuguesa quanto os condottieri italianos exercem papéis de cunho militar aonde a eficiência no combate acaba por ser mais relevante do que as características atribuídas aos bons homens, como as virtudes cristãs, o comportamento honrado, entre outros atributos anteriormente idealizados na literatura medieval – principalmente personificados na instituição da Cavalaria. Esse estudo comparativo também explora assim modelos propostos evidenciando uma nova condição da figura militar, entre os séculos XV e XVI – através da identificação de atributos paralelos assim como díspares, e como o contexto no qual são estabelecidos é fundamental para seu advento. Sua articulação contínua demonstra como, em espaços geográficos diferentes, a funcionalidade das atribuições militares toma relevância fundamental perante projetos políticos distanciados. Tomando assim a obra La Vita di Castruccio Castracane, de Maquiavel, e a Crônica de Dom João, de Fernão Lopes, exploramos assim obras compostas por autores formados dentro de tradições literárias similares – ambos fruto de um movimento de valorização da funcionalidade em todos os ambientes da sociedade medieval; principalmente no ambiente da profissão de armas. Palavras-chave: Idade Média; Maquiavel; Fernão Lopes; Teoria Política Agência financiadora: PIBIC/Fundação A IMAGEM DE CARLOS MAGNO NA CRÔNICA PSEUDO-TURPIN: UMA PROPAGAÇÃO DE HERÓIS FRANCOS NA PENÍNSULA IBÉRICA. Ronison Penha de Paula (UNIFAL-MG) A imagem de Carlos Magno na Crônica Pseudo-Turpin foi o título de uma pesquisa realizada durante o trabalho de conclusão de curso de História da UNIFAL-MG, que desdobrou em outra investigação, agora no mestrado da mesma instituição. As preocupações iniciais basearam-se na tentativa de compreender a construção da representação do rei e imperador carolíngio, mas 60 com o desdobramento posterior, voltamos nossas atenções para o impacto dessa literatura épica para a construção da identidade ibérica, especificamente no reino de Castela no período da Reconquista. Neste evento pretendemos apresentar os principais aspectos da imagem de Carlos Magno conforme representado na crônica Pseudo-Turpin e fazer uma discussão acerca da propagação de heróis medievais francos, como ele, na região ibérica, no intuito de introduzir outras considerações preliminares de que a construção de aspectos da identidade ibérica, perceptíveis na literatura épica castelhana, ocorreu a partir da recusa dos elementos externos até então fortemente influenciáveis na região. Essas considerações partirão de uma perspectiva comparativa entre obras elaboradas em reino franco, como Pseudo-Turpin e um exemplar da épica castelhana como Cantar de Mio Cid. Palavras-chave: Península Ibérica; Identidade; Reino Franco. A ASTÚCIA DE UMA RAINHA: BERENGUELA I E O PROCESSO DE UNIFICAÇÃO ENTRE CASTELA E LEÃO SEGUNDO A PRIMERA CRÓNICA GENERAL DE ESPAÑA Adailson José Rui (UNIFAL-MG Na presente comunicação temos como objetivos a análise de dois momentos específicos referentes ao processo de sucessão ocorrido nos reinos de Castela e Leão na primeira metade do século XIII. O primeiro refere-se à sucessão de Alfonso VIII, falecido em 1214 e o segundo a situação gerada após o falecimento de Alfonso IX de Leão ocorrido em 1230. Nos processos mencionados, destaca-se o papel de liderança desempenhado pela filha de Alfonso VIII em prol do reino de Castela. O mesmo desempenho da infanta acontece também, quando, em 1217, ocorre a morte de Henrique I, seu irmão. De maneira astuta Berenguela garante para si a coroa de Castela e a transfere de imediato a seu filho Fernando, mantendo para si a tutoria do rei e, impedindo que Alfonso IX, seu ex esposo e pai de Fernando pleiteie a coroa de Castela. Como defensora de Castela, agirá com astúcia garantindo também a coroa de Leão para seu filho. Analisamos o processo mencionado a partir dos relatos contidos na Primera Crónica General de España, cuja análise por meio dos ensinamentos da História Política demonstra a atuação da rainha como sendo mulher de fé e de sabedoria na arte da política, características que a tornaram na liderança que conduziu os interesses do reino de Castela-Leão colaborando na administração do reino e na formação de seu filho, Fernando III, na a arte de governar. Palavras-chave: Sucessão régia, Berenguela I; Castela; Leão; Século XIII 61 ST07 - HISTORIA ANTIGA FONTES E METODOS TÁCITO E PLUTARCO: A VIDA DE OTÃO Adriele Andrade Ceola (UEM) Ao lançarmos nosso olhar para a narrativa histórica e para a biografia, somos levados a identificar muitas diferenças entre os dois estilos, ou até mesmo considerar a biografia como um modelo inferior quando comparado ao outro. No entanto, o presente trabalho tem como propósito identificar semelhanças entre os dois modelos literários com base nas Histórias de Públio Cornélio Tácito e a Vida de Otão de Plutarco, principalmente em questões de conteúdo e construção textual, visto que os dois ensaios buscam relatar e dar ênfase as ocorrências políticas e militares, mais do que a vida do imperador sujeito. Essa proximidade de temática, de certa forma não é usual entre os estilos, principalmente quando relacionamos os dois autores. Considerado historiador por excelência, Tácito nascido provavelmente no ano de 56 d. C. e viveu até 120 d. C., homo novus, proveniente de uma rica família romanizada da província da Gália, exerceu diversos cargos nas magistraturas romanas. Plutarco que viveu provavelmente entre os anos de 45 d. C. até 120 d. C., também homo novus, originário de rica família local de Queroneia (Beócia), ao contrário do historiador latino se reconhece como biógrafo. Suas composições dizem respeito às vidas e não a histórias, pois prioriza a descrição das ações que evidenciam os vícios ou as virtudes, deixando os fatos célebres aos renomados historiadores políticos. Palavras-chave: Narrativa Histórica; Biografia; Principado Agência financiadora: CAPES DA HISPÂNIA A ROMA: A ASCENSÃO DO IMPERADOR TRAJANO Alex Aparecido da Costa (UEM) Em fins do século I d. C. e início do século II d. C. o império romano atingiu sua máxima extensão territorial, prosperidade interna e relativa paz nas fronteiras. Esse contexto permitiu e foi impulsionado pela concessão mais ampla de direitos de cidadania aos membros das elites provinciais, bem como seu acesso às magistraturas, o que resultou em uma participação política mais ampla por parte das populações do império. Tendo essa conjuntura como pano de fundo, esta comunicação pretende apresentar os principais momentos da carreira política de Marco Ulpio Trajano. A partir da bibliografia e da obra de Plínio, o Jovem, que pertenceu ao círculo pessoal do imperador podemos compreender como a ordem senatorial viu sua chegada ao poder. Membro de uma família pertencente à elite da província romana da Hispânia teve seu caminho ao poder pavimentado por uma série de circunstancias que serão apresentadas. Entre elas, além do aumento geral da importância das regiões periféricas do império, deve-se ressaltar a adesão da Hispânia a Vespasiano durante a crise de 69 d. C. que resultou em sua chegada o poder, em contrapartida a província foi beneficiada durante a dinastia do Flávios. Nesse 62 período o pai de Trajano alcançou a distinção senatorial abrindo caminho para que seu filho trilhasse uma carreira militar que o levaria ao governo do império. Palavras-chave:Elite provincial; Hispânia; principado romano; Trajano. PRINCEPS ET TYRANNUS: O BOM E O MAU GOVERNANTE NA ÉPOCA DO ALTO IMPÉRIO ROMANO Alex Aparecido da Costa (UEM) Durante o Alto império romano, a noção de princeps condensava os aspectos que caracterizavam a figura do bom governante, enquanto a ideia de tyrannus funcionava como sua antítese, pois representava o conjunto de posturas, atitudes e comportamentos a serem evitados. Diante disso, esta comunicação tem por objetivo apresentar os principais traços que delineavam a postura tirânica do homem político, especialmente do imperador, na visão dos romanos. Para isso, nossa proposta colocará em tela algumas discussões pautadas na bibliografia específica sobre o assunto e a análise de trechos da obra Panegírico de Trajano, de Plínio, o Jovem. Senador de origem equestre, Plínio construiu sua carreira pública em estreita colaboração com o poder imperial, exerceu os primeiros cargos durante a época dos Flávios, mas alcançou as mais altas magistraturas sob os Antoninos. Foi em homenagem ao segundo imperador desta dinastia, Trajano, que Plínio escreveu o discurso que leva o nome do governante. Nele, o autor constrói uma imagem favorável do césar por meio de uma elaborada oratória, na qual se utilizou, dentre outros elementos, da comparação. Ao opor as ideias de príncipe e tirano Plínio associou a primeira a Trajano e a segunda a Domiciano, fundamentando o elogio do primeiro a partir da desconstrução do segundo, baseando-se em valores reconhecidos pela ordem senatorial e respaldados pela filosofia estoica e pelas tradições morais romanas. Palavras-chave: Discurso; Império romano; Plínio, o Jovem; Trajano. A DOCUMENTAÇÃO PLINIANA E AS POSSIBILIDADES DE ABORDAGENS: A CRIAÇÃO DO CENTRO DE PESQUISA E ESTUDOS PLINIANOS Andrea Lúcia Dorini de Oliveira Carvalho Rossi (UNESP) Em síntese o projeto de criação do Centro de Pesquisa e Estudos Plinianos – CPEP é baseado na criação de um portal na worldwide web composto por um banco de dados de toda a documentação de Plínio, o Jovem de fontes latinas transcritas e traduzidas para o português. A base documental pelo projeto é composta com as fontes relacionadas a Plínio, o Jovem e seus interlocutores. Nesse rol de documentação complementar constam Plínio, o Velho, Quintiliano, Suetônio, Tácito, Suetônio, Marcial e Juvenal. O projeto visa transcrever, traduzir e publicar as fontes para o português assim como incentivar e publicar resultados de pesquisas sobre esses autores tanto para pesquisadores de Estudos Clássicos. O principal objetivo do projeto é criar um centro fomentador de pesquisa em Estudos Latinos do Principado Romano nos seus dois 63 primeiros séculos a partir do estudo acadêmico e científico. Dentre as metodologias do projeto, serão usadas a Análise do Discurso, assim como as teorias do gênero epistolar e da tradução literária. Palavras-chave: Plínio, o Jovem; Centro de Pesquisa; Interlocução. Agência financiadora: UNESP/PROEX – Pró-Reitoria de Extensão Universitária. CONSIDERAÇÕES SOBRE PLUTARCO E A BIOGRAFIA DE CATÃO, O JOVEM Camila Santiago Luz (UEM) O senador republicano Catão, o Jovem (95 - 46 a.C) passou para a história romana como um modelo de virtude a ser seguido. Diversos foram os autores da antiguidade (Sêneca, Valério Máximo e Lucano) que o elogiaram em seus escritos por sua conduta ética e austera. O político romano foi uma das personalidades biografadas por Plutarco em sua obra Vidas Paralelas. No presente estudo procuramos entender de que forma o autor grego construiu em sua narrativa a imagem de Catão. Levando em conta que este foi um notório seguidor da corrente filosófica estóica a qual Plutarco se opunha. O estoicismo criado por Zenon de Cítio (336- 264 a.C) surgiu na pólis de Atenas por volta do ano 301 a.C. Contudo foi na Roma dos imperadores, mais precisamente durante os dois primeiros séculos da era atual que ele florescera. A filosofia estóica tinha como premissa a busca pela extinção das paixões (apatia) e o engajamento na vida pública objetivando o bem comum. Observamos que a figura de Catão é retratada com qualidades que seu biógrafo julgava importante para o bom governante, a saber, a justiça, a humanitas e a concórdia. Contudo, ela tece uma forte crítica ao estoicismo quando relacionado com a atividade política. Lembrando que a época de Plutarco esta corrente filosófica era muito popular entre os políticos romanos. Desta forma, entendemos que Vida do magistrado serve a um propósito político que não pode ser entendida somente por seu aspecto moral e educacional. Palavras-chave: Plutarco;Estoicismo;Catão, o Jovem A UTILIDADE DA HISTÓRIA NAS CARTAS DE PLÍNIO O JOVEM Renata Lopes Biazotto Venturini (UEM) A história em oposição ao passado heróico presente nos poemas homéricos nasce com Heródoto (480-425 a.C.) e Tucídides (460-400 a.C.). O primeiro propõe a investigação dos fatos narrados. Tal investigação sistemática é designada como o desenvolvimento do hístor; o historiador seria aquele que não economiza nem seu tempo, nem sua pena, nem seu dinheiro para percorrer espaços e ver com os próprios olhos (HARTOG, 2001). Trata-se, portanto, de uma preocupação com os testemunhos, mais recorrente na narrativa de Tucídides para quem o passado, por ser produto do tempo, é fabuloso – mythódes -. Com o objetivo de discutirmos a história como o discurso que se difere da eloquência, a história e sua utilidade nas missivas 64 plinianas, Cornélio Tácito (55-117 d.C.) ocupa um lugar visivelmente importante, tanto pela frequência quanto pela natureza das relações epistolares. Alguns anos mais velho (aos 46 anos Plínio escreve “nós temos quase a mesma idade” – Ep.VII.20 -, aproximadamente sete anos de diferença ) era o modelo para nosso autor. Homem público atuante na política imperial, Plínio o jovem (62-113 d.C.), considera Tácito seu condiscípulo. Embora não se questionasse a respeito da escrita da história, Plínio escreveu a seu modo um discurso histórico, para quem a utilidade da história residia na possibilidade do renome e no exemplo à posteridade. O caminho que percorre encontra em Tácito a satisfação desse propósito. Palavras-chave:História; Plínio o jovem; Tácito; Cartas. VISÕES DA CRISE IMPERIAL NO SÉCULO III D.C. Douglas Raphael Machado Gobato (UEM) Frequentemente associada ao período subsequente ao governo de Marco Aurélio (161-180 d.C.), a crise que se perpetuou pelo mundo romano durante o século III, atingiu os diferentes segmentos da sociedade e provocou alterações nas instituições imperiais. Diante da crescente instabilidade dentro e fora das fronteiras de Roma, as autoridades esforçaram-se para solucionar os problemas decorrentes da crise adotando novas medidas fiscais, centralizando a administração pública, promovendo reformas no exército e buscando minimizar os efeitos negativos sobre a opinião pública através do resgate as tradições do passado e do fortalecimento da religião estatal por meio da exaltação da figura do imperador. Distinguidos por sua religião, os cristãos foram considerados inimigos do Império e passaram a ser perseguidos em todos os lugares. Esse quadro de transformações sociais, não passou despercebido aos observadores da época. Tanto autores cristãos como adeptos do politeísmo, se posicionaram a respeito das mudanças que presenciavam. Por meio da análise de alguns desses testemunhos, a exemplo de Dião Cássio, Herodiano, Arnóbio e Lactâncio, buscamos identificar as causas que os contemporâneos atribuíram a crise e quais as soluções que eventualmente propuseram para remediar suas implicações. Esses depoimentos, revelam os anseios e as intencionalidades desses indivíduos, ajudando-nos a compreender as medidas políticas tomadas pelo Estado na tentativa de garantir a preservação da sociedade imperial no século III. Palavras-chave: Crise do Império Romano; Política Imperial; Cristianismo. ETNICIDADE NO ANTIGO ORIENTE PRÓXIMO: UM ESTUDO SOBRE OS HITITAS Leonardo Candido Batista (UEL) O propósito deste artigo é analisar a formação de uma identidade no Antigo reino Hitita, tentar entender o surgimento de uma etnicidade através do hibridismo ocorrido na Anatólia entre a população local e remessas de invasões indo-europeias, isso porque os Hititas mantiveram diversas características da 65 cultura existente que pode ser percebida através da língua, arte, cultura e religião. O objetivo é analisar a formação da identidade entre os Hititas, discutindo o espaço da Anatólia mostrando como desde o período neolítico ali foi um lugar de complexas civilizações, um lugar que já se demarcava com grandes centros, os povos ali existentes antes da chegada dos indo-europeus possuíam uma cultura rica e dinâmica. É importante analisar essas características, pois o povo que se consagrou com o nome “Hitita” era uma complexa rede de diversas etnias, com características diversas e de origens diferentes em vários aspectos culturais, sociais, religiosos e até político. O termo “Hitita” será também estudado, pois dar um nome a uma sociedade tão complexa como essa que existiu na Anatólia é muito complicado se analisarmos os contextos étnicos em jogo. O Estudo dos Hititas também traz grandes contribuições para a análise das etnicidades no mundo antigo, pois como já foi explicado, eram diversos povos que moldaram uma sociedade com diversas características culturais. Esse estudo traz também formas de pensar a identidade no mundo antigo, tentar ver como elas se estabeleciam em um mundo onde a guerra era constante e diversas mudanças políticas aconteciam. Palavras-chave: Hititas; Anatólia; etnicidade O FESTEJAR RELIGIOSO EM SOLO EGÍPCIO DURANTE O NOVO IMPÉRIO: A FESTA DE BASTET EM BÚBASTIS Maura Regina Petruski (UEPG) O presente trabalho aborda uma das festividades religiosas que ocorreram em solo egípcio durante o Novo Império em honra a deusa gata Bastet. Esta se realizava na cidade de Bubástis, no tempo da estação da semeadura egípcia chamada de Peret. Com esse trabalho, objetiva-se conhecer outra faceta da história da terra dos faraós que até então era pouco explorada, buscando investigar como essa celebração se desenrolava, identificando quais eram as suas etapas festivas bem como as simbologias e rituais que dela faziam parte. Essa comemoração esteve presente desde o período do antigo império egípcio, porém ganhou maior significância sob o reinado dos faraós da décima segunda dinastia, quando Bastet passou a condição de divindade nacional. Era durante esse momento festivo que a deusa homenageada deixava o seu templo e saía às ruas em cortejo em sua barca sagrada, sendo esse um momento ímpar para que a população entrasse em contato mais próximo com a sua divindade. As informações sobre essa modalidade de cultura se fazem presentes nas representações iconográficas templária e funerária, nas estelas e na literatura egípcia. Por meio de tais festividades percebe-se que os valores religiosos egípcios são confirmados bem como a manutenção e a reafirmação do poder real. Palavras-chave: festivais; celebração; religiosidade; poder. 66 A BIOGRAFIA IMPERIAL DE MARCO AURÉLIO SEGUNDO A NARRATIVA DA HISTORIA AUGUSTA Stéfani de Almeida Onesko (UEM) O presente trabalho pretende analisar a biografia do imperador romano Marco Aurélio (121-180 d.C), tendo em vista suas ações e as características de seu governo (161-181 d.C), segundo a coletânea de biografias imperiais, conhecida como Historia Augusta (392-423 d.C). Ao longo da narrativa analisada encontramos um conjunto de biografias que procura evidenciar as qualidades pessoais dos imperadores descrevendo as virtudes dos príncipes romanos que considerou, por assim dizer, “bons/ clementes” ou “maus/tiranos” durante o período que exerceram o imperium. A Historia Augusta constroi mediante a imagem de Marco Aurélio um estereótipo concentrando-se nas boas ações do imperador e em sua conduta em geral. Neste sentido, enfatiza suas virtudes identificando-o como um modelo de imperador. As virtudes assim definidas levam em consideração a moral estoica. O estoicismo se apoiava num rigor fundamental: era uma receita, uma fonte de utilidade prática e de progresso moral. Nas relações entre o estoicismo e imperium, destacamos que as qualidades descritas não tinham como objetivo enaltecerem a pessoa do principis, mas seus fins políticos, bem como os princípios que legitimavam e que justificavam sua presença à frente do poder imperial. Com isso buscavase, no plano do discurso, resgatar os antigos valores que orientariam a “classe política” de Roma. Palavras-chave: Estoicismo; Biografia Imperial; Marco Aurélio; Historia Augusta. 67 ST08 - A IDADE MEDIA EM DEBATE PERSPECTIVAS INTERDISCIPLINARES LIBRE DE CONEXENSES DE SPÍCIES: UM MANUAL IBÉRICO MEDIEVAL DE MERCADORIA Jaime Estevão dos Reis (UEM) Esta comunicação tem como objetivo refletir acerca dos manuais de mercadores medievais. Tais manuais fazem parte de um gênero literário que começa a se difundir no contexto da chamada “revolução comercial” da Idade Média. A maioria dos manuais conhecidos foi compilada por mercadores vinculados às grandes companhias de comércio, sobretudo as pertencentes às cidades comerciais italianas de Florença, Gênova e Veneza. Entretanto, existe um importante manual redigido fora das repúblicas comerciais italianas, mais precisamente, em Barcelona em fins do século XIV. Trata-se do Libre de conexenses de spícies, publicado por Miguel Gual Camarena em 1981, sob o título de El primer manual hispánico de mercaderia. Apresentaremos esse manual, inserindo-o no contexto dos manuais italianos, como o Zibaldone da Canal e o Pratica della Mercatura, ambos redigidos na mesma época do manual barcelonês. Palavras-chave: Manuais; Mercadores; Idade Média. OS HOSPITALÁRIOS E OS PRIMEIROS ANOS APÓS A RECONQUISTA DE JERUSALÉM (1100-1118) Bruno Mosconi Ruy (UEM) À luz da reconquista de Jerusalém, os primeiros anos do século XII trouxeram muitas oportunidades e percalços para os irmãos serventes do Hospital. Como o número de peregrinos que visitavam a Terra Santa aumentou exponencialmente, os primeiros Hospitalários enfrentaram um sério problema de alojamento para aqueles que clamavam por ajuda – e, mais além, uma série de barreiras administrativas e religiosas para o seu crescimento. Neste trabalho, procuramos efetuar uma análise da constituição e do desenvolvimento dos principais arcabouços teóricos e das principais condições materiais para o estabelecimento e expansão do Hospital na Terra Santa. Utilizaremos como fontes de pesquisa as compilações documentais de Joseph Delaville Le Roulx (1747-1803), o primeiro volume da série “The History Of The Knights Hospitallers Of St. John Of Jerusalem”, do Abade de Vertot (16551735), a Regra Beneditina e a Regra de Raymond du Puy. Tentaremos esmiuçar a dimensão da adaptabilidade e da influência política da instituição no Oriente Médio e na Europa, atentando à sua estreita ligação com o Papado, seus conflitos com o Patriarcado e bispado de Jerusalém e ao gradual fortalecimento das figuras dos primeiros Grão-Mestres Hospitalários. Através 68 disso, procuraremos estabelecer as bases para a independência econômica e para o desenvolvimento hierárquico do Hospital, e sua eventual conversão em Ordem Militar. Palavras-chave: Ordem do Hospital; Jerusalém; Idade Média. A NOBREZA CASTELHANO-LEONESA NO PROCESSO DE CONSOLIDAÇÃO TERRITORIAL DE FERNANDO III (1217-1252) Augusto João Moretti Junior (UEM) Essa comunicação tem como objetivo analisar a participação da nobreza castelhano-leonesa no processo de retomada dos territórios cristãos durante o reinado de Fernando III (1217-1252). Para isso é necessário compreender as relações estabelecidas entre a monarquia e nobreza ao longo de tal processo. Na Idade Média, a nobreza podia interferir de forma decisiva no desenvolvimento do reino devido sua fortuna, territórios e exércitos privados. Isso ocorria em todo o Ocidente, porém, nos reinos hispânicos o contínuo conflito com o inimigo comum – os muçulmanos – forçou a criação de uma sociedade militarizada fundamental para o processo de Reconquista. Fernando III foi o monarca que incorporou a maior extensão territorial na história da luta entre cristãos e muçulmanos na Península ibérica. É possível afirmar que o seu sucesso deveu-se ao estreitamento das relações com a nobreza e a participação efetiva da mesma em suas campanhas militares. Dentre as fontes utilizadas nesta pesquisa, destacamos a Crónica de Veinte Reyes, a Crónica Latina de los Reyes de Castilla e a Primera Crónica General de España. Palavras-chave: Fernando III; Nobreza; Reconquista. AS RELAÇÕES ANGLO-NORMANDAS ÀS VÉSPERAS DA BATALHA DE HASTINGS DE 1066 Lucio Carlos Ferrarese (UEM) Nesta comunicação temos como objetivo analisar os conflitos políticos entre a Inglaterra e a Normandia no século XI, que levaram à Batalha de Hastings de 1066. Tal batalha deu-se em função da disputa entre Guilherme da Normandia e Haroldo Godwinson da Inglaterra pela sucessão do trono da Inglaterra. Como fontes para tal estudo fazemos uso da Tapeçaria de Bayeux, a Crônica de Guilherme de Poitiers e a Crônica Anglo-Saxônica, fontes estas criadas ainda da geração dos combatentes da mencionada batalha. Como bibliografia para a análise destas fontes, utilizamos trabalhos tais como os de Christopher Gravett, Hastings 1066 (1994), de Jacob Abbot, History of William the Conqueror (2009), de Asa Briggs, História Social de Inglaterra (1998), de Maurice Keen, Historia de la guerra em la Edad Media (2005), e Lewis Thorpe, The Bayeux Tapestry and the Norman Invasion (1973). Discutimos que a proximidade geográfica entre a Normandia e a Inglaterra facilitou a existência de laços políticos e familiares entre aquele ducado e este reino, e visto essas ligações concluímos que estes conflitos políticos levaram à subsequente Batalha de 69 Hastings. Este conflito uniria ambos os territórios sob um mesmo reinado e acabaria por afetar a história entre a França e a Inglaterra a longo prazo. Palavras-chave: Inglaterra; Normandia; Batalha de Hastings. CRÔNICA DE GUILHERME DE POITIERS E CRÔNICA ANGLO-SAXÔNICA: FONTES PARA O ESTUDO DA BATALHA DE HASTINGS (1066) Lucio Carlos Ferrarese (UEM) A Batalha de Hastings de 1066 foi um conflito de grande influência na formação da Inglaterra medieval. Nela, dois líderes entraram em conflito pela sucessão do trono inglês, os combatentes Guilherme da Normandia e Haroldo Godwinson da Inglaterra. Para o estudo desse conflito, esta comunicação tem por objetivo apresentar duas fontes contemporâneas ao mesmo, a saber a Crônica de Guilherme de Poitiers e a Crônica Anglo-Saxônica. A primeira se trata de uma crônica contendo a história da família do vencedor Guilherme da Normandia, tendo sido criada por Guilherme de Poitiers, o qual era seu capelão. A segunda é uma reunião de manuscritos e calendários, escritos ano a ano pelos monges ingleses, incluso relatos favoráveis ao derrotado Haroldo Godwinson. Para a compreensão destas fontes, utilizamos trabalhos tais como os de Pamela Porter, La guerra medieval en los manuscritos (2006), de Paul Zumthor, A letra e a voz (1993), de G. N. Garmonsway, The anglo-saxon chronicle (1990), e de R. H. C. Davis e Marjorie Chibnall, The GESTA GVILLELMI of Williams of Poitiers (2006). Nossa discussão parte do princípio de que as crônicas são fontes essenciais para a compreensão da sociedade em destaque, e concluímos que o estudos das mesmas permite ao historiador brevemente entrever a visão que os homens do passado tinham sobre si e sobre os eventos que vivenciavam, tais como a adesão ou rejeição de um novo rei como Guilherme da Normandia. Palavras-chave: Fontes; Crônicas; Batalha de Hastings. CRÔNICA DE ALFONSO X: A CONSTRUÇÃO DE UM PERFIL REAL. Luiz Augusto Oliveira Ribeiro (UEM) O gênero cronístico durante a Idade Média representou uma importante forma de escrita da História e, portanto, a Crônica de Alfonso X, produzida provavelmente por volta de 1344 também assumiu essa característica. Evidencia-se no documento em questão, a representação da figura real de Alfonso X, desde que assumiu a coroa, até sua morte. Característica comum dos cronistas, Fernán Sanchez de Valladolid expressa um perfil de rei nesta documentação, que administra, faz política e, no caso de Alfonso X, está relacionado aos assuntos culturais e científicos da coroa. Refletir acerca de uma crônica medieval pressupõe a compreensão do gênero e da forma como se dava a produção deste material, contratados pelos reis, os cronistas se dispunham a escrever parte da História dos reinos, baseando-se nas conquistas e na busca por poder e dominações. Desta maneira, buscamos 70 neste trabalho a compreensão do perfil de rei expresso nas entrelinhas desta documentação produzida no século XIV a pedidos de Alfonso XI, bisneto de Alfonso X. Um rei cuidadosamente preparado para assumir suas atribuições na vida adulta, que apresenta o mais alto nível de formação da Europa Medieval, Alfonso X unia em si aspectos formativos cristãos, militares, culturais e intelectuais, contando ainda com uma atuação expressiva como príncipe regente durante o reinado de seu pai, Fernando III. Palavras-chave: Alfonso X; Crônica Medieval; Rei. Agência financiadora: CAPES DE INFANTE A REI SÁBIO: O INÍCIO DO REINADO SEGUNDO A CRÔNICA DE ALFONSO X. Luiz Augusto Oliveira Ribeiro (UEM) Alfonso X ascendeu à Coroa de Castela em 1252. Deu prosseguimento à política de expansão territorial de seu pai Fernando III e empreendeu o processo de centralização jurídica, atingindo diretamente aos nobres e aqueles que detinham privilégios com os antigos códigos. Antes mesmo de se tornar rei, Alfonso já participava ativamente dos assuntos da coroa, seja na administração, nos assuntos militares, ou no âmbito intelectual/ cultural do reino, auxiliando os intelectuais em importantes trabalhos. Com uma formação de excelência no campo militar, o jovem Alfonso foi preparado, por um aio ao longo de sua vida, para assumir as atribuições reais. Narrado pela Crônica de Alfonso X, o Sábio, o momento inicial do reinado de Alfonso X representou um período de reorganização do território e da busca pela estabilização políticoadministrativa, medidas de organização monetárias, proteção às fronteiras frente aos mouros, e a necessidade de legitimação do poder real são alguns dos elementos próprios deste período da história castelhana. Escrita em 1344, a documentação descreve, de maneira narrativa, os primeiros anos do reinado de Alfonso X, que apesar de alguns erros e imprecisões, já observados pela historiografia espanhola, torna possível dimensionar e refletir este momento inicial de importantes tomadas de decisões políticas, com suas intencionalidades e particularidades. Palavras-chave: Idade Média; Alfonso X; Crônica. Agência financiadora: CAPES NICOLÁS DE ORESME: A SIMBIOSE ENTRE PODER E MOEDA NO OCIDENTE MEDIEVAL DO SÉCULO XIII Talles Henrique P. Maffei (UEM) O presente trabalho utiliza-se da obra Pequeno Tratado da Primeira Invenção das Moedas como fonte histórica a fim de analisar a problemática histórica envolvida no contexto do século XIV, relacionando o poder político, a crescente 71 monetarização e o crescimento econômico observado desde meados do século X de forma mais ou menos generalizada por todo o Ocidente europeu. Além disso, a obra de Oresme é importante pela sua peculiaridade, especialmente pela sua tentativa de harmonização entre os preceitos cristãos e as tentativas monárquicas de ambição pelo poder, unindo tais elementos antagônicos pela premissa da manutenção da boa moeda enquanto fator determinante na estabilidade do reino bem como uma virtude principesca pela honestidade perante seus súditos, evitando o roubo por meio da alteração das moedas, visto que isto significa a retirada de parcela de seu poder de compra. Palavras-chave: Nicolás de Oresme, Idade Média, Pensamento Econômico Medieval Agência financiadora: CAPES VIDA COETÂNEA E O LIVRO DA ORDEM DE CAVALARIA: UMA REFLEXÃO SOBRE O TEMPO DE PREPARAÇÃO PARA A AÇÃO EDUCATIVA EM RAIMUNDO LÚLIO (1232 – 1315) Paula Carolina Teixeira Marroni (UEM) Terezinha Oliveira (UEM) Este trabalho tem como objeto de reflexão o tempo de preparação para a ação educativa sob a ótica de Raimundo Lúlio. Objetivamos apresentar uma análise de duas obras do autor, Vida Coetânea (1311) e O Livro da ordem de Cavalaria (1272-1283). Em ambas as obras, encontramos formulações de Lúlio acerca do tempo que o homem deve dedicar-se aos estudos e à preparação geral para que possa, depois dessa preparação, apresentar-se pronto para viver em sociedade e desempenhar sua ação educativa. Lúlio, que viveu entre 1232 e 1315, nascido em palma de Maiorca, Espanha, escreveu a respeito dos nove anos de dedicação ao estudo da língua árabe em Vida Coetânea, sua autobiografia. Somente após esse período de preparação, Lúlio considerava-se capaz de convencer muçulmano, na língua do infiel, que a fé católica era superior à fé islâmica. Em O Livro da Ordem de Cavalaria, Lúlio salienta a importância da reflexão, da preparação e do conhecimento para que o escudeiro desenvolva suas virtudes antes de partir para suas ações dentro de sua ocupação social de defender as terras e a fé cristã, tornando-se um exemplo para os mais fracos. Sob a perspectiva da História Social, levando em consideração o século XIII e as transformações sociais da época, bem como as especificidades geográficas da Península Ibérica, o trabalho desenvolve-se no sentido de demonstrar que, para Lúlio, era importante, antes de agir na sociedade, um tempo de reflexão, estudos e preparação para enfrentar as questões que permeiam uma ocupação consciente dentro da tela relações sociais na qual, cada pessoa, desempenha funções especificas. Palavras-chave: Raimundo Lúlio, Vida Coetânea, Cavalaria, História Social, preparação. Agência financiadora: CAPES/ CNPQ 72 A IDADE MÉDIA E AS MANIFESTAÇÕES LITERÁRIAS Clarice Zamonaro Cortez (UEM) A definição do conceito de Idade Média foi-se desenvolvendo e construindo a partir da conscientização renascentista da oposição entre Antigos e Modernos. Caracterizou-se por valores culturais de inspiração clássica, porém, cristianizados e subordinados a finalidades éticas e religiosas. Autores clássicos como Aristóteles, Cícero, Sêneca, Virgílio e Ovídio foram lidos e estudados, embora suas obras tenham sido selecionadas e adaptadas à nova mentalidade, de inspiração cristã, assimilou valores culturais adequados aos seus princípios morais e religiosos. Os primeiros centros difusores da cultura medieval foram os conventos e a língua culta, o latim, expresso por meio de obras religiosas, morais e filosóficas. Paralelamente, surgiu uma cultura profana em língua vulgar, refletindo a atmosfera cavaleiresca, aspirando um novo ideal e afirmando um conceito de vida alheio aos valores religiosos, sendo que transmitida pela escola poética provençal. Engloba composições líricas (cantigas de amor e de amigo) e satíricas (cantigas de escárnio e de maldizer), reunidas em três cancioneiros. Seus autores são oriundos da Península Ibérica, portugueses e galegos, frequentadores das cortes de D. Fernando III e do seu sucessor, D. Alfonso X, reis de Leão e Castela, bem como de D. Afonso III e D. Dinis. Além desse panorama geral, o nosso objetivo é ressaltar textos pertencentes à categoria lírica que tratam das transformações e dos relacionamentos sociais de tão importante período. Palavras-chave: Idade Média; manifestações literárias; evolução; diversidade. A CAVALARIA SEGUNDO JOHAN HUIZINGA. Jeferson Silva Ribeiro (UEM) Esta comunicação objetiva discutir a visão do historiador holandês Johan Huizinga (1872 – 1945) sobre a cavalaria medieval. Este historiador, procura abordar a história a partir de uma visão subjetiva, contrariando os anseios científicos do período para a formação do discurso histórico. Pensadores como Karl Lamprecht (1856 – 1915), objetivavam aproximar a História às ciências exatas (naturais), apregoando uma sistematicidade que proporcionaria a descoberta, ou o saber objetivo sobre o passado. Huizinga, historiador da cultura, defende que a História é, também, ciência, mas ciência inexata, pois não pode entender o passado sem entender as sensações que ele proporcionava aos contemporâneos. Partindo dessa abordagem que ele escreverá sua grande obra, o Outono da Idade Média (1919). Neste livro, Huizinga analisa os séculos XIV e XV (Baixa Idade Média), procurando mostrar as percepções dos contemporâneos às transformações que ocorriam neste momento. Entre os temas, ali abordados pelo autor, está o da cavalaria medieval. Para ele a cavalaria, ou melhor, os ideais de cavalaria, são resultados de uma fuga ficcional, resultante das dificuldades enfrentadas, e criados a partir da aspiração de uma vida mais sublime. Tal abordagem suscitou algumas polêmicas, como a afirmação de Maurice Keen, em La Caballeria (1986), de que Huizinga havia dito que o período da cavalaria nunca existira, sendo apenas uma produção ficcional de um mundo em crise. Porém, 73 em En torno a la definición del concepto de História (1929), Huizinga apresenta uma metodologia que tentará aproximar a ficção da realidade, para melhor entender a cultura de um certo período. Palavras-chave: Idade Média, Cavalaria, Johan Huizinga. O LUGAR DE MARIA: A MANDORLA DO MANUSCRITO BM REIMS 295 Pamela Wanessa Godoi (UEL) Segundo o texto “Tractatus de Assumptione beatae Mariae virginis”, atribuído a Agostinho, Maria concebeu Jesus e permaneceu virgem. Se a exceção da dor do parto, e maternidade sem a perda da virgindade, foi possível a Maria pela graça divina, é possível também que Deus tenha permitido que sua mãe carnal tivesse a dádiva de não sofrer a corrupção do corpo após a morte. Segundo o autor do tradado, escrito no século IV, Maria foi elevada ao céu, em corpo e alma, e levada para junto de seu Filho. Tornada dogma apenas em 1950, a Assunção de Maria foi celebrada na liturgia por todo o medievo, e o tratado atribuído a Agostinho, chegou a nós copiado em vários manuscritos do período. Em Reims, o texto copiado no século XI, em um Lecionário da Catedral, destaca-se pela grande letra Q em forma de mandorla que inicia o texto. Na inicial foi pintada a imagem de Maria em majestade com o menino Jesus ao colo. Apontamos para escolhas por opções iconográficas que buscaram evidenciar o lugar especial ocupado por ela, como o caso da forma da letra: uma mandorla, que enquadra a grande Virgem; sentada sobre um banco, ela torna-se o trono do Menino Jesus. A mandorla, como uma identificação geométrica do não-espaço, possível de ser ocupado apenas pela divindade, foi escolhida, neste códice, para ser o local que Maria ocupou, estabelecendo uma ligação com a questão apresentada pelo texto. A imagem dialoga com o texto para, a partir de recursos imagéticos, reafirmar sua conclusão, reforçando a Assunção de Maria como uma verdade. O estudo das relações de opções iconográficas da imagem com argumentos assinalados no texto, apontam um caminho para identificar o lugar da imagem mariana no manuscrito BM Reims 295. Palavras-chave: iluminura; Maria; Reims; mandorla. Agência financiadora: CAPES. BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A CRISTIANIZAÇÃO DA ESCANDINÁVIA Flávio Guadagnucci Palamin (UEM) O texto objetiva uma discussão acerca do processo de conversão da Escandinávia ao cristianismo a partir do século X. Ainda que esses povos tenham tido contato com o cristianismo logo no início da Era Viking (séculos VIII-XII), a antiga religião pré-cristã prosperou por séculos, graças às características de seus deuses, que correspondiam às expectativas dessas sociedades permeadas por uma cultura de violência. A conversão da Dinamarca ao cristianismo tem início com o batismo do rei Harald Bluetooth, 74 poucos anos após sua ascensão ao trono, em 963. Na Suécia, o processo ocorre nas décadas próximas ao ano 1100 e na Noruega entre os anos 995 e 1000. É importante ressaltar que os três reinos apresentam longa e violenta resistência à nova religião, com revoltas e tomadas de poder, na defesa da antiga religião pagã – a transição do culto aos deuses pagãos para Cristo, na Suécia, por exemplo, durou cerca de um século. Na Islândia, ilha colonizada, principalmente, por vikings noruegueses, dinamarqueses e suecos, a conversão ocorre por decisão majoritária da Althing, assembleia geral islandesa, no ano 1000, como um ato político pacífico. Para Peter Brown, devido à falta de chefes e à distância que separava os povoados da Islândia, “a lei era a única coisa que tinham em comum. A divisão entre pagãos e cristãos destruiria necessariamente o pouco consenso que existia nestas sociedades frágeis.” (1999, p.318). Desse modo, as novas leis islandesas demonstram flexibilidade com as práticas pagãs. Temos, portanto, um processo lento, com resistências, que evidencia a força da antiga religião pré-cristã. Palavras-chave: Escandinávia; Era Viking; Cristianização. BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE OS MODELOS LEGAIS DA ESCANDINÁVIA DURANTE A ERA VIKING Flávio Guadagnucci Palamin (UEM) Desde o século XIX as pesquisas acerca da Escandinávia medieval e sobre os Vikings, fora do Brasil, são amplamente abordadas. No Brasil, presenciamos um crescente interesse acadêmico na temática a partir dos anos 2000. Desse modo, propomos uma revisão bibliográfica sobre um tema amplo, mas ainda pouco abordado em língua portuguesa. No presente trabalho, objetivamos a discussão acerca dos modelos políticos e legislações vigentes na Escandinávia da Era Viking. Abordaremos, entre outras, as funções da Thing (assembleias), do Godi (chefe), da Logretta (legislativo), do lawspeaker (recitador das leis), bem como as fontes que representam tais instituições, como a Íslendingabók, saga Islandesa escrita por Ari Thorgilsson no século XII que apresenta relatos desde a colonização da Islândia, a chegada das leis e formação das assembleias até sua conversão. Não temos muitas fontes que fazem alusão aos modelos políticos na Escandinávia da era Viking (séculos VIII-XII). Todavia, é de comum acordo entre os pesquisadores que o modelo político, aplicado na Islândia, em muito se assemelhava ao dos outros países escandinavos (Noruega, Dinamarca e Suécia) do mesmo período, sendo que sobre o modelo político islandês temos fontes suficientes. Assim, esperamos que nossa discussão possa, além de romper estereótipos sobre os Vikings, apresentar algumas características dessas sociedades, bem como possíveis referenciais bibliográficos. Palavras-chave: Escandinávia; Era Viking; Modelos Políticos; Legislação. 75 PARA UMA POSSÍVEL RELAÇÃO ENTRE O BESTIÁRIO DE BRUNETTO LATINI E A DIVINA COMÉDIA DE DANTE ALIGHIERI Daniel Lula Costa (UFSC) Neste trabalho nos propomos verificar uma possível relação entre o Li Livres du Tresor, escrito por Brunetto Latini no século XIII, mais precisamente o Volume I que é composto por um Bestiário, e a Divina Comédia, de Dante Alighieri. No século XIII, Brunetto Latini escreve sua obra Li Livres du Tresor, que ficou mais conhecida na Toscana como Il Tesoro, um livro escrito na língua francesa, provavelmente entre 1260 e 1266. Esta obra é dividida em três volumes que tratam de teórica, ética e política, considerada uma das primeiras enciclopédias na língua vernácula. Entre o momento em que Latini escreve sua obra e a sua publicação, Dante Alighieri nasce em Florença, em 1265. Dante Alighieri escreveu a Divina Comédia entre 1304 e 1321. Esta obra foi dividida em três partes, sendo respectivamente: Inferno, Purgatório e Paraíso. Nesse sentido buscamos os elementos bestiais na obra de Brunetto que foram ressignificados por Dante ao inseri-los nos ambientes do pós-morte cristão. Nosso objetivo é analisar uma possível relação entre o Bestiário de Brunetto Latini e a descrição de alguns dos seres presentes na obra Inferno, de Dante Alighieri. Para isso nos propomos a investigar a imagem da pantera, do leão e da loba; esses seres não foram inseridos nos círculos do Inferno, pois foram descritos no início do poema, quando o personagem Dante encontra-se perdido numa selva escura. Palavras-chave: bestas; inferno; Dante; Brunetto. Agência financiadora: CAPES O CORPO E A PESSOA NA EUROPA MEDIEVAL: UMA ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR Bruno Hermes de Oliveira Santos (UNIFAL-MG) Carlos Tadeu Siepierski (UNIFAL-MG) As representações sociais do corpo e da pessoa no mundo europeu medieval constituem-se, dentro da disciplina de história, tema de inúmeros debates. Tal discussão se adensa à medida que outras áreas do saber, em especial a antropologia, ao renovar seus instrumentais teórico-conceituais sobre o tema, possibilita ao historiador a apropriação e aplicação desses novos instrumentais, agora, numa perspectiva diacrônica. Com isso, verifica-se, não raras vezes, uma ampliação das possibilidades de renovação de um saber histórico tradicionalmente consolidado. Mais recentemente um dos autores que explorou essa interface entre antropologia e história pelo viés das representações sociais do corpo e da pessoa foi o antropólogo David Le Breton. Assim, partir de uma revisão bibliográfica, o presente trabalho tem por objetivo tecer algumas considerações de âmbito teórico-conceitual sobre as concepções de corpo e pessoa na Idade Média. Segundo Le Breton, este período é predominantemente caracterizado por uma “antropologia cósmica” em que a 76 pessoa não está distinguida da trama comunitária na qual se insere. Deste modo, a carne do homem e a carne do mundo compartilham de uma mesma substância, sendo o corpo humano, nas tradições populares, o vetor de inclusão da pessoa em todas as outras energias visíveis e invisíveis que percorrem o cosmos. Palavras-chave: Europa medieval; Le Breton; corpo; pessoa. 77 ST09 - A AMERICA PORTUGUESA NOS SECULOS XVI E XVII ENCOBERTO E DESCOBERTO: A DUPLICIDADE EM PADRE ANTÔNIO VIEIRA José Maria Tadeu Magalhães Silva (UNIFAL-MG) Carlos Tadeu Siepierski (UNIFAL-MG) O trabalho propõe analisar perspectiva dúplice na pessoa do jesuíta Antônio Vieira (1608 – 1697). As fontes utilizadas são seus sermões e cartas, bem como biografias. O percurso analítico perpassa três caminhos: o primeiro se utiliza de momentos da vida do jesuíta e procura desmistificá-los, apresentando o homem no mito. O segundo utilizando de fontes como o Sermão de São Sebastião, evidencia a intencionalidade dúplice em sua elaboração, apresentando aqui o homem na obra. Por fim em revisão bibliográfica em obras de Azevedo, Basselaar, Pécora, Hermann e Hansenn a constatação da perspectiva dúplice em Vieira e traz-se à luz o homem não visto pelas obras. Aluno inicialmente tido por medíocre adiante será aclamado pela capacidade intelectual, mudança atribuída a um “estalo” mental sob os pés da imagem da Virgem Maria. Um dia “perdido” pelas ruas de Salvador foi “socorrido”, por um anjo. A vocação missionária se apresenta quando “deixa” o convento e se refugia no interior da capitania, quando da 1ª invasão Holandesa a Salvador. Criticado por não se opor à escravidão negra não titubeou em se opor à ameríndia. Evidenciar a duplicidade existencial do personagem contribui para melhor compreensão de sua vida e obra, além de possibilitar maior entendimento do seu legado. Tal perspectiva analítica vem ao encontro do crescente interesse pelos estudos relativos à América Portuguesa, bem como pela diversidade de enfoques. Palavras-chave: Antônio Vieira; Jesuíta; duplicidade; diversidade. “NAM SE PODEM DIZER NEM ESCREVER AS COUSAS DESTE RIO”: O SUL DA AMÉRICA NOS MAPAS E OBRAS DO SÉCULO XVI Tiago Bonato (UFPR) A partir das primeiras décadas do século XVI, o território americano foi constantemente descrito e mapeado pelos europeus. Acompanhando a historiografia mais recente sobre a cartografia dos novos mundos, parto do pressuposto que esse processo de representação não foi linear no sentido da precisão geográfica. Muitos outros fatores entram em cena quando se trata de colocar no papel um território ainda praticamente desconhecido. A porção meridional da América do Sul é um cenário privilegiado para tentar entender como se deu a compreensão do Novo Mundo pelos europeus nos primeiros séculos de colonização. Além de ser uma região de fronteira indefinida entre os impérios ibéricos, contava com uma circulação constante de aventureiros, conquistadores, funcionários reais e contrabandistas. Nesse espaço os rios tiveram papel fundamental como principal via de acesso ao interior do desconhecido território. Esse protagonismo se reflete em sua constante presença nas descrições e mapas do período. Partindo dessas premissas, a 78 intenção desse trabalho é entender como eram representados os três grandes rios da região: Paraná, Paraguai e Uruguai. Essa tríade fluvial, formadora do rio de La Plata, funcionou muitas vezes como demarcação natural das litigiosas fronteiras ibéricas na América, ora superestimando ora atrofiando os territórios de Portugal e Espanha. A ênfase da análise está nos rios, nas montanhas que os acompanham e na toponímia utilizada. Ao longo do século XVI, a América foi descoberta, inventada, compreendida, descrita e mapeada pelos europeus. No que diz respeito à representação do território, esse processo não foi linear nem mesmo homogêneo. Palavras-chave: cartografia histórica; toponímia; representação do espaço; América do Sul; América Ibérica. Agência financiadora: CAPES DEMÔNIOS DE LÁ, QUE RESSURGEM ACÁ: DEMONOLOGIA, MISSÃO E ALTERIDADE JESUÍTICA NA AMÉRICA PORTUGUESA Fábio Eduardo Cressoni (UNIARARAS) Parte dos documentos produzidos pela Companhia de Jesus ao longo da missão estabelecida na América portuguesa no decorrer do século XVI que chegaram até nós indicam-nos supostas dificuldades no projeto de conversão e, portanto, incorporação dos Tupinambá que habitavam o litoral brasílico ao grêmio da cristandade estabelecido pelo Império português neste período em função da presença de um lócus (inferno) e de um personagem específico (demônio) entre os membros deste grupo indígena. Neste sentido, o objetivo deste trabalho é identificar semelhanças entre elementos da demonologia europeia moderna, em especial a portuguesa e a jesuítica, e o cotidiano da missão inaciana aqui estabelecida, na perspectiva de se compreender as origens da alteridade construída pelos integrantes dessa Ordem em função do contato estabelecido com o grupo mencionado. Para tanto, será empregada a seguinte metodologia: análise documental, de fontes iconográficas e impressas relativas à demonologia europeia, portuguesa e jesuítica, estudadas em conjunto com uma série de fontes relativas à missionação desempenhada na América portuguesa. O principal referencial a ser adotado para o estabelecimento da discussão proposta se fundamenta no conceito de alteridade proposto pelo historiador francês François Hartog. A parte da confluência das fontes analisadas, em consonância com os referenciais adotados, observar-se-á como os textos relativos a missionação jesuítica na América portuguesa possuem aproximações com a iconografia e narrativas relativas a ideia de demonologia gestadas no interior do mundo europeu. Palavras-chave: Alteridade. Demonologia; América portuguesa; Missão; Jesuítas; EDUCAÇÃO JESUÍTICA EM SÃO PAULO DE PIRATININGA: UM PROJETO DE DEFESA DA ORDEM PAUTADO NA APRENDIZAGEM DA FÉ Iara Bottan (Diretoria de Ensino Região de Piracicaba/SP) 79 Nosso trabalho tem por objetivo compreender a educação jesuítica na Vila de São Paulo de Piratininga, e seu compromisso de manter e restaurar o modelo social de viver. A educação jesuítica configurou-se como um instrumento de renovação cristã, voltado para a formação do bom cristão, através do cultivo da disciplina, fraternidade e amor a Deus. Nossa pesquisa está ancorada na História Cultural, o que nos permite pensar, com Roger Chartier (1990), a realidade social que se construía e como essa realidade se apresentava na relação entre os sujeitos que interagiam no Planalto, a saber, indígenas, jesuítas e colonos. Com Michel De Certeau (2002) pensamos a aprendizagem na instauração da ordem, e a função do saber em promover a unidade nacional por meio da “aquisição catequética do conhecimento”. Nessa perspectiva, para o bom governo do Brasil a conversão dos naturais da terra se fazia necessária. A introdução dos cristãos nas leis que regulamentavam a vida em sociedade fez parte do projeto educacional dos jesuítas. A defesa da ordem exercitada na aprendizagem das normas de convivência social instituídas pela Coroa portuguesa, o exercício dos bons costumes cristãos e a aprendizagem da fé católica constituiu o cotidiano de ensinamentos da Companhia de Jesus no Planalto Piratiningano. Através da ação educativa dos padres jesuítas eram inculcadas a religiosidade cristã católica e a cultura pautada na experiência portuguesa quinhentista. Sendo assim, a educação caracterizava-se como um instrumento de aprendizado social. Palavras-chave: São Paulo de Piratininga; Educação Jesuítica; Defesa da Ordem; Aprendizado Social. Agência financiadora: CAPES NARRATIVAS DE VIAGEM: CONTACTANTO A NATUREZA DA AMÉRICA PORTUGUESA DO SÉCULO XVI. Aline Cristina da Silva Oliveira (UEM) O século XVI assistiu ao inicio do processo da expansão marítima europeia. Os ibéricos, mais dedicados à expansão ultramarina foram os percussores das navegações por mares desconhecidos. Percorriam a costa atlântica da África em busca de ouro e prata, bem como de especiarias e, no curso deste expansionismo, alcançaram terras ao sul de um Novo Mundo. Ao primeiro contato adentraram na densa Mata Atlântica, e a natureza da América, que tornar-se-ia Portuguesa, perpetuou-se por sua particularidade. Desde o início da colonização esta floresta fomentou motivos e inspiração para que viajantes, exploradores e jesuítas redigissem uma série de descrições sobre o mundo natural. Nosso objetivo é investigar as descrições deste bioma, preciso à fauna, bem como entender o processo de adaptação e sobrevivência dos colonizadores portugueses na América do início da era moderna. Iremos utilizar como fontes o “Tratado descritivo do Brasil”, escrito pelo português Gabriel Soares de Sousa, “O Tratado da gente e terra do Brasil” do padre jesuíta português Fernão Cardim e “A Viagem a terra do Brasil” de autoria do missionário calvinista francês Jean de Léry. Estes relatos foram escritos no 80 século XVI e retratam as terras do Brasil, sua geografia, clima, plantas e as espécies de animais (mamíferos, aves, peixes, invertebrados) em que identifica seu habitat, hábitos, aspectos físicos, bem como eram caçadas. Tais crônicas são fontes para entendermos a literatura de viagem do século XVI. São textos que tratam sobre o universo físico da América Portuguesa, bem como trazem aspectos da mentalidade e percepções dos cronistas quinhentistas. Palavras-chave: América Portuguesa; século XVI; narrativas; fauna; caça. TARTARUGAS, PEIXES-BOI E PIRARUCUS: O QUE OS REGISTROS HISTÓRICOS SOBRE A CAÇA E A PESCA REVELAM SOBRE A COLONIZAÇÃO DA AMAZÔNIA? Marlon Marcel Fiori( UEM) Na década de 1610, os colonizadores portugueses começaram a ocupar a Amazônia. Desde então, todos os anos, sobretudo no verão, milhares de tartarugas e seus ovos eram recolhidos nas praias, durante o período de nidificação. A estação de seca igualmente assinalava a época em que as caçadas aos peixes-boi e a atividade pesqueira eram mais intensas. Analisar os fatores que teriam contribuído para que tartarugas, peixes e peixes-boi fossem tão largamente explorados é um dos principais objetivos da obra A carne, a gordura e os ovos: colonização, caça e pesca na Amazônia. Utilizando uma série de registros históricos, a pesquisa demonstra que, por fornecerem uma fonte abundante e relativamente confiável de carne e gordura, tais recursos da fauna aquática se tornaram essenciais para os portugueses na colonização da maior floresta equatorial do globo. Ao mesmo tempo, comparando informações das fontes com os dados ecológicos atuais, os resultados sugerem que esse processo acarretou em uma diminuição considerável das populações de tartarugas e peixes-boi, algo que tem sido pouco abordado ou subestimado por historiadores e biólogos. Palavras-chave: Amazônia; Colonização; Tartarugas; Peixes; Peixes-boi. Agência financiadora: CNPq AS MARCAS DAS RELAÇÕES INDÍGENA E NÃO INDÍGENA NAS CARTAS DE PERO VAZ DE CAMINHA E DE CABEZA DE VACA Arléto Pereira Rocha (UEM Esta é uma pesquisa interdisciplinar face às diferentes áreas de conhecimento dos pesquisadores - Geografia, Letras, História – sobre os primeiros documentos oficiais escritos na conquista europeia no espaço hoje brasileiro: a Carta de Pero Vaz de Caminha e Comentários de Cabeza de Vaca. Os escritos estiveram sob o olhar da Análise do Discurso, objetivando compreender as diferentes perspectivas do colonizador e do colonizado, por meio de uma abordagem dialética dos documentos, interpretando assim as marcas 81 discursivas presentes. Nesta análise, pelo dispositivo da Analise de Discurso, procurou-se extrair a voz do indígena na sua naturalidade intrínseca, nas técnicas de subsistência, nas marcas de sua organização social, habitação e crenças. Averiguou-se que o colonizado teve seu discurso diluído para a assunção da supremacia do discurso colonizador, não por interesses totalmente ideológicos premeditados, mas sim conduzido pela sua personalidade inconsciente e inerente de subjugação. Palavras-chave: Análise do Discurso; Indígenas; Não-indígenas; Relações sociais/ culturais. COMERCIANTES LUSOS EM TERRAS BRASILEIRAS: CONSIDERAÇÕES ACERCA DAS REGRAS DE CONDUTA Caio Cobianchi da Silva (UEM) No início do século XVIII, o mercador lisboeta Francisco Pinheiro resolveu enviar representantes comerciais para estabelecerem negócios no Brasil, já que a exploração das minas de ouro propiciou oportunidades notáveis para o comércio colonial português. A comunicação entre o mercador e seus representantes era realizada por cartas que, para além dos projetos e das complexas relações de negócios, informavam sobre os acontecimentos do dia a dia. O grupo com o qual Pinheiro estabelecia conversações dividia com ele as angústias, dificuldades e impressões acerca do ambiente que os cercava. Contudo, Pinheiro não era mais um comerciante entre os outros, era quem comandava os negócios, o homem mais interessado em fazer fortuna e quem impunha sua liderança por meio de sanções à conduta de seus representantes, acrescentando reflexões acerca de quais valores eram indispensáveis para um homem de negócios. O que propomos, portanto, é um estudo das formas de se comportar dos comerciantes, ou melhor, das regras de conduta que se exigia deles. O recorte espacial é o Rio de Janeiro e o recorte temporal a duração da rede mercantil estabelecida entre Francisco Pinheiro, Luiz Pretto Pinheiro e João Francisco Muzzi, de 1721 a 1726. Palavras-chave: América portuguesa, comércio; Francisco Pinheiro; Rio de Janeiro. FRANCISCO XAVIER E FERNÃO MENDES PINTO: O MISSIONÁRIO E O MERCADOR FRENTE AO IMPÉRIO PORTUGUÊS NO ORIENTE Karla Katherine de Souza Seule (UNICESUMAR) Esse trabalho tem por objetivo a análise das relações entre portugueses e populações asiáticas no século XVI, em meio a expansão ultramarina portuguesa que conferiu aos primeiros uma rede de entrepostos comerciais no Oceano Índico. Para tanto, analisamos as cartas e escritos do padre jesuíta Francisco Xavier, enviado pelo Padroado da Coroa portuguesa para a fundação e o controle de todas as missões jesuíticas que se estendiam do cabo da Boa Esperança ao Japão, assim como alguns escritos sobre o viajante português Fernão Mendes Pinto e a sua obra Peregrinação que reúne relatos 82 do mesmo a respeito das suas aventuras enquanto esteve por 15 anos percorrendo os entrepostos portugueses do Oriente. Ambos os personagens históricos, o missionário e o mercador, estiveram inseridos nas relações políticas entre portugueses e populações asiáticas em uma expansão ultramarina que combinava entre os seus principais objetivos o comércio de especiarias e a expansão da fé católica. Verificamos que tal combinação nem sempre foi pacífica, mercadores e missionários em muitas ocasiões expressaram interesses opostos o que resultava em embates entre os diferentes grupos que compunham a ação portuguesa na região, dificultando a obra missionária, bem como o sucesso comercial e político português na região. Desse modo, a análise de tais fontes se torna importantíssima para entendermos os diversos elementos dos processos de expansão e as condições em que se fazia a presença dos portugueses no Oriente. Palavras-chave: Expansão Ultramarina Portuguesa, Companhia de Jesus, Francisco Xavier, Fernão Mendes Pinto. ARREPENDEI-VOS, POIS O FIM ESTÁ PRÓXIMO: MESSIANISMO, MILENARISMO E AS ANGÚSTIAS DOS MEDOS ESCATOLÓGICOS EM PORTUGAL (SÉCULOS XV E XVI) Saulo Henrique Justiniano Silva (UEM) Os séculos que sucederam a Peste Negra foram marcados por um sentimento descrito por Jean Delumeau como os tempos da “angústia escatológica”. As transformações, que vão além das mazelas proporcionadas pelas epidemias, deram vazão às sucessivas interpretações dos acontecimentos reais como predecessores dos últimos tempos. Em Portugal, a conversão forçada, somado a difusão da cabala, floresceu entre os antigos judeus, ideais que viam aquele momento como as dores do parto da “Era Messiânica” previsto nas escrituras sagradas. Entre os cristãos lusitanos a crença largamente difundida pela Igreja sobre os temores do ano mil, baseados nos textos bíblicos, foram enormemente repetidas. Também existia, como lembra-nos Luís Filipe Tomaz, o sentimento de que D. Manuel I era o monarca escolhido por Deus para expandir a fé cristã para o mundo e tornar Portugal no Quinto Império que antecederia a volta de Cristo. Para além da Península Ibérica, havia um cenário europeu que propiciava a ideia de que aqueles eram os tempos derradeiros. O objetivo deste trabalho é mapear as ondas escatológicas em Portugal, ligadas às ideias messiânicas, no caso cristão-novo e milenarista, no caso católico. Palavras-chave: Idade Moderna; Portugal; Angústia Escatológica. BREVE DEBATE HISTORIOGRÁFICO DAS ELITES E DO BRASIL-HOLANDÊS. Thiago Cavalcante dos Santos (UNESP/Assis) O presente artigo pretende fazer uma breve discussão da historiografia do Brasil – Holandês a luz da análise do papel das elites na insurreição pernambucana. Para tanto, será feito um recorte a partir de leituras da 83 historiografia brasileira e brasilianista entre os séculos XIX e XX. Possuindo um dos maiores acervos documentais da América portuguesa, os decênios dominados pelos holandeses não apenas modificaram o mapa geopolítico no contexto do mercantilismo, mas também trouxeram alterações nas dinâmicas do poder metropolitano nas suas extensões coloniais. A importância dos sujeitos que compunham o quadro insurrecional já havia sido apontada na nascente historiografia brasileira do século XIX, que enxergava no papel dos insurretos luso-brasileiros uma incipiente brasilidade. Deve-se ressaltar que a discussão circunscrita ao Brasil-Holandês seria apenas reflexo de uma história geral do poder na América portuguesa. Ao longo do século XX, a valorização de outros objetos de estudo como o social, econômico e cultural trouxe um hiato nos estudos do poder e do político colonial que só foi rompido na década de 1970. Na nova roupagem, a discussão de uma nacionalidade perdia sua relevância, cedendo espaço a um embate entre ideias que argumentavam em favor de uma forte presença do Estado português na colonização da suas possessões, e outro que apontava para uma maior descentralização do poder metropolitano sobre a sua colônia, em um mecanismo de concessão de privilégios a uma elite local, com condições de acender socialmente, tornar-se parte do poder português na colônia e quando possível, pressionar a Coroa a atender suas demandas. Assim, o presente trabalho objetiva discutir a relevância do debate entre um poder centralizado, comumente chamado de Antigo Sistema Colonial (ASC) e um poder com autoridades negociadas, o Antigo Regime nos Trópicos (ART) dentro do Brasil-Holandês, realçando que os fatores que outrora foram percebidos como nacionais, podem ser percebidos como mecanismos de troca na administração portuguesa em suas possessões coloniais. Palavras-chave: Brasil-Holandês; Elites; Poder. A ORIGEM DOS CRISTÃOS-NOVOS E AS RAÍZES JUDAICAS DO BRASIL Alfeo Seibert Filho (UEM) O trabalho analisa o processo do envolvimento do povo judeu na formação étnica, social e cultural do Brasil. Trata-se de um resgate historiográfico sobre a participação dos judeus sefartidas, que se tornaram influentes e prósperos nos séculos IX ao XVI na sociedade ibérica, analisando também as suas contribuições no processo dos descobrimentos das novas terras e da colonização do Brasil. Nesse sentido, é importante ressaltar a instauração do Tribunal do Santo Ofício na Espanha, em 1478 e o Édito de Expulsão dos judeus em Portugal no ano de 1496. Em 1536, o Tribunal do Santo Ofício é instaurado em Portugal. Com a instalação do tribunal, os judeus que haviam sido convertidos forçadamente ao cristianismo, passam a ser perseguidos sob a acusação de práticas judaizantes. Ou seja, convertidos ao cristianismo por determinação régia, passam a ser perseguidos por “criptojudaísmo”. A ênfase do estudo é a análise da natureza e objetividade do Tribunal do Santo Ofício, assim como o aprofundamento da discussão historiográfica pela maneira como se desenvolveu o sentimento antissemita e as inúmeras formas de constrangimentos sofridos por aqueles que foram chamados cristãos novos, para serem distinguidos dos antigos cristãos. A pesquisa procura ainda 84 demonstrar que os cristãos-novos foram fundamentais para que o descobrimento das novas terras e para a colonização portuguesa da América nas atividades de exploração do pau-brasil, na produção e no comércio de açúcar e, principalmente, na contribuição social e na formação étnica do Brasil. Palavras-chave: Colonização do Brasil; Cristãos-novos; Judeus. OS JESUÍTAS, O COLÉGIO DE SANTO ANTÃO E O ESTUDO DA NATUREZA EM PORTUGAL NOS SÉCULOS XVI E XVII. Sezinando Luiz Menezes (UEM) O trabalho analisa o desenvolvimento, em Portugal, na modernidade, de um novo conhecimento sobre o mundo natural, e, por conseguinte, discute as construções historiográficas que afirmam que os lusitanos tenham permanecido à margem da construção de um novo saber naquele período. Buscaremos demonstrar que os estudos desenvolvidos no âmbito da “aula da esfera”, no Colégio de Santo Antão, da Companhia de Jesus, estavam em sintonia com os estudos “científicos” desenvolvidos em outras regiões da Europa naquele período. Nossa hipótese é que o estudo da natureza pelos inacianos relacionava-se a duas questões. Para os homens dos séculos XVI e XVII, o conhecimento empírico do mundo natural era, também, uma forma de conhecer e se aproximar de Deus. Para aqueles homens, Deus havia legado à humanidade dois escritos fundamentais: a Bíblia e a natureza. Essa concepção da natureza como um “livro aberto”, inspirava membros do clero, pois conhecer o mundo era conhecer a Deus. Estudar o mundo natural era tão importante quando estudar a Bíblia. Segundo, mas não menos importante, os conhecimentos científicos, principalmente de astronomia, foram extremamente importantes nos embates travados com os sábios chineses nos esforços dos jesuítas para a expansão do cristianismo no Oriente. Palavras-chave: Colégio de Santo Antão, Ciência, Jesuítas 85 ST10 - CONHECIMENTO HISTORICO O NOSSO E O DOS OUTROS MODOS DE USOS DO PASSADO CULTURAS E PUBLICOS DE MEMORIA EXPERIÊNCIA SOCIAL, CINEMA E HISTÓRIA ENGAJADA: A FORMAÇÃO DO SABER HISTÓRICO A PARTIR DE UM DIÁLOGO COM O DOCUMENTÁRIO ‘CARNEOSSO Aparecida Darc de Souza (UNIOESTE/Marechal Candido Rondon) Rodrigo Ribeiro Paziani (UNIOESTE/Marechal Candido Rondon) A proposta central deste trabalho será de apresentar e problematizar uma experiência de ensino produzida no PIBID História da Unioeste, Campus de Marechal Candido Rondon, envolvendo o emprego de documentário no ensino de História para jovens do ensino médio. Um dos objetivos deste projeto PIBID foi (e continua sendo) o de promover uma reflexão sobre as perspectivas de construção de conhecimentos históricos em sala de aula a partir da articulação entre experiência social e produção audiovisual. Nesta comunicação, trataremos especificamente da análise de um trabalho feito com o documentário CarneOsso juntamente aos jovens do ensino médio de escolas públicas vinculadas ao projeto Pibid. Trata-se de discutir as possibilidades e os limites do uso da linguagem audiovisual numa relação de ensino que contemple o dialogo entre os saberes constituídos na experiência social e o saber sistematizado e acadêmico. Este diálogo toma referência as indagações feitas por E. P. Thompson acerca da relação contraditória entre experiência e educação, saber erudito e saber popular recolocando assim o(s) processo(s) de construção de conhecimento no terreno da luta de classes e da disputa social. Neste sentido, o que buscamos também é problematizar à maneira indicada por Chesneuax o sentido do ensino de História em sua relação com os interesses e horizontes dos setores populares. Palavras-chave: Cinema; Ensino de História; Experiência; Educação; Setores Populares. Agência financiadora: CAPES. O ÍNDIO EM MAGALHÃES: CIVILIDADE NA BARBÁRIE Helena Azevedo Paulo de Almeida (UFOP) No decorrer do século XIX, ocorreu uma acirrada discussão sobre o lugar do índio na constituição da sociedade brasileira. Podemos destacar duas vertentes principais de abordagem: a romântica, que, mesmo na expectativa de decréscimo populacional ameríndio, exaltava-os como honrados, corajosos e futuros cristãos em seu papel de construção da identidade nacional, e uma outra vertente, fortemente vinculada ao IHGB, de que o indígena faria parte de um passado remoto ou mesmo de uma perspectiva histórica de vitória do processo civilizatório sobre a barbárie. Gonçalves de Magalhães, tido como um dos fundadores do romantismo brasileiro, escreveu três textos fundamentais para entender o indígena contemporâneo do século XIX, a saber: “História da 86 Literatura Brasileira” (1836), “Confederação dos Tamoios” (1856) e “Os Indígenas do Brasil perante a História: memória oferecida ao Instituto Histórico e Geográfico do Brasil” (1860). Por meio destes textos percebemos a importância da utilização do conceito de “alteridade”, e uma possibilidade para o entendimento do indígena acerca de seu próprio mundo, evitando assim, a percepção dos grupos étnicos como Outros, mediante o etnocentrismo. O trabalho a ser apresentado é referente ao primeiro capítulo de dissertação de mestrado, ainda a ser defendida, que tem por intenção discutir as permanências (e possíveis modificações) dos discursos novecentistas no início do século XX. Mediante análise do material escolar, especificamente os livros de leitura, amplamente utilizados nas primeiras décadas do século XX, temos por objetivo entender a utilização, ou a falta desta, do conceito de alteridade. Palavras-chave: índio; Gonçalves de Magalhães; alteridade; escrita da história indígena. ROBERTO MANGE: VISIONÁRIO DO ENSINO INDUSTRIAL NO BRASIL INTELECTUAL, TÉCNICO, ADMINSTRADOR E FILÓSOFO? Desiré Luciane Dominschek (UNICAMP) Este texto apresenta reflexões sobre o movimento de organização do ensino técnico profissional no Brasil a partir do início do século XX. Para configurarmos este movimento destacamos a figura de Roberto Mange, um dos idealizadores das escolas do SENAI. O inicio do século XX, remonta as ideias de modernidade, e Mange reflete sua formação na organização das escolas senasianas. Apresentamos Roberto Mange, como um intelectual de seu tempo, destacamos ele como intelectual do ensino profissional visto o seu engajamento político, cultural e científico no campo do ensino industrial. Este trabalho discute parte da trajetória de ensino concebida por Roberto Mange para as escolas do SENAI. Roberto Mange trouxe para o SENAI sua longa experiência como diretor do IDORT e como professor de engenharia mecânica na escola politécnica, e sua enorme bagagem intelectual, com teorias sobre métodos adequados para a formação e socialização dos industriários aprendizes. Consta do acervo do Arquivo Edgard Leuenroth Centro de Pesquisa e Documentação Social Instituto de Filosofia e Ciências Humanas Universidade Estadual de Campinas, vasta documentação sobre Roberto Mange, materiais que apresentamos como fontes primárias para a análise deste texto, com o objetivo de compreender as visões deste homem para a educação profissional brasileira. Palavras-chave: Intelectuais História da Educação 87 Profissional; Roberto Mange; “ENTRE A CÂMERA E O FUZIL”: PROPAGANDA POLÍTICO-IDEOLÓGICA NA CONSTRUÇÃO DE UMA HISTÓRIA NACIONAL ATRAVÉS DO CINEMA OFICIAL.DITADURAS MILITARES NO BRASIL E ARGENTINA, (1966-1979) Bruno José Zeni (UNESP-Assis) Em consenso com a proposta do Simpósio temático 10. Propõem-se apresentar as ideias iniciais dessa pesquisa. As quais são analisar de que maneira as Ditaduras Militares, tanto brasileira como argentina utilizaram-se do cinema para veicular a propaganda politica do regime. Para atingir esse objetivo, utilizaremos duas produções cinematográficas de cada país. No caso brasileiro, as películas utilizadas para a pesquisa serão “Independência ou Morte” (1972) e “A Batalha de Guararapes” (1978), e, no caso argentino, “Dos Locos em el Aire” (1976) e “De Cara ao Cielo” (1979). Assim, a metodologia utilizada será composta pela análise do contexto de produção, além de analisar os diversos pontos que compõem um filme, e não apenas o enredo principal, Problematizando assim o porquê das adaptações e omissões. Entre os anos de 1966 e 1973 o regime militar brasileiro voltou seus olhos para o cinema nacional criando nesse período órgãos governamentais para fomento, produção e divulgação de seus feitos. Um destes foi a Empresa Brasileira de Filmes S. A. (EMBRAFILME) que garantia aos cineastas o financiamento, a produção e a divulgação dos filmes que contivessem o selo da empresa estatal. No caso argentino, desde 1957 já existia órgão semelhante, que nos anos ditatoriais da década de 1970 ganhou novo formato, atuando no sentido de controle da produção cinematográfica daquele país. Neste sentido, é possível pensar que os filmes produzidos de forma oficial por estes órgãos possam ter sido veículos de propaganda dos sistemas que aos poucos se erigiam ao longo regimes militares em questão. Palavras-chave: Ditaduras Militares; Cinema; Propaganda. SOCIEDADE DE CONSUMO E PÓS-MODERNIDADE: UM OLHAR CRÍTICO AO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO Bárbara Cristina Kruse (UEPG) No regime feudalista (aproximadamente entre os séc. V ao séc. XV), existiam cidades espalhadas pela Europa que funcionavam como centros comerciais manufatureiros. Naquele período, a população tinha ideia de que era desprezível a atividade e o espírito comercial. Entre os séculos XI a XIII, houve profundas mudanças tecnológicas na agricultura, as quais possibilitaram aumentar a produção econômica e engendrar o crescimento populacional. Vicejaram as cidades na Europa. Considerável contingente de trabalhadores abandonaram suas terras e migraram para as cidades, tornando-se artesãos, comerciantes, ocupados com as atividades da vida citadina. Concomitante com esta realidade, aproximadamente no século XV e XVI ocorreu uma renovação de ideias denominada outrora de renascimento. Tais desdobramentos possibilitaram a Primeira e a Segunda Revolução Industrial. Nasce a era moderna e um novo estilo de vida entrou em ascensão, qual seja capitalista. Esta nova ordem mundial compreende a ampliação do volume produzido, elevação dos lucros e redução dos preços. Nesta nova realidade, o consumo é 88 pregado como necessidade primordial do ser-humano, criando cada vez mais necessidades supérfluas e alienando a população a sempre consumir. Os produtos devem constantemente atualizar-se antes que ultrapassem sua data de vencimento. Palavras-chave: pós-modernidade, consumo, alienação Agência financiadora: Fundação Araucária CULTURA VISUAL, CULTURA HISTÓRICA: QUADRINHOS E IMAGENS Janaina de Paula do Espírito Santo (UFG/ UEPG) Maristela Carneiro (UFG) Neste texto, delineamos algumas considerações sobre a cultura visual, o impacto dela no âmbito mais amplo da cultura histórica e algumas possibilidades do trabalho com imagem no ofício do historiador, tanto na pesquisa quanto na sala de aula. Busca-se um diálogo entre a especificidade do quadrinho, enquanto objeto de estudo e suas possíveis intersecções com a história da arte e o estudo das imagens. Na análise proposta – construiu-se reflexão sobre a especificidade dos quadrinhos, e seu diálogo teórico metodológico, com o universo da história da arte e do uso público do conhecimento histórico, entendendo que o espaço de tensão entre cultura e consumo acabam figurando como elementos balizadores da cultura histórica em uma esfera pública, hoje, já, de alguma maneira “naturalizada” na relação que estabelecemos com o conhecimento (a própria expressão indústria cultural é usada livremente para definir uma grande parte de nossa cultura). Assim, ao propormos uma observação a partir da expressão simbólica elaborada pelo artista há uma busca por explicitar as interpretações e vivências sociais em torno de questões definidoras de uma obra, na busca por espaços de ruptura e também as confluências que marcam as relações entre estética e comunicação, entre o símbolo e o político, mercado e arte, no sentido que sujeito e objeto fazem parte de um mesmo conjunto de interpretação. Palavras-chave: Quadrinhos, Cultura Visual, Cultura Histórica. ESPAÇOS PRATICADOS: HISTÓRIA E REGIÃO Megi Monique Maria Dias (UNICENTRO/PR) As estratégias sociais e de poder que permeiam a legitimação histórica de uma cultura demonstra a necessidade da realização de estudos que pensem sobre as práticas e representações sociais e políticas nos discursos considerando que estes se alteram de acordo com as demandas das ‘lutas simbólicas’ por um determinado espaço, através da busca pela legitimação de um dado discurso, observamos os efeitos da construção do simbólico nas práticas e saberes que confirmam seu reconhecimento definitivo ou temporário. Desta maneira, a história e a região se apresentam como espaços praticados, realidades pautadas em relações sociais que são estabelecidas para tornar dizível e visível um espaço, de maneira que este se desdobra, também, como espaço simbólico, enquanto resultado do desenvolvimento de um processo 89 histórico e social. Sendo assim, é importante que a região passe a ser pronunciada e descrita de modo que seja possível desmistificar o poder e a força dos discursos instituídos por atividades intelectuais, culturais e políticas de uma determinada ideia de região. Intenta-se para uma reflexão histórica da ideia de região que, neste caso, deve ser pensada como um conceito em constante transformação e que se configura através de discursos e tramas performativos, que sustentam a concepção de uma construção mediada por lutas de forças simbólicas entre os indivíduos de um dado espaço social, conformados em práticas que dão sentido ao que denominamos região. Palavras-chave: Região; História; Discursos; Simbólico Agência financiadora: CAPES. NEM POPULISTA, NEM CARISMÁTICO: UMA ANÁLISE DO PERFIL POLÍTICO DE JOSÉ MUJICA ENTRE 2010 E 2015 Dércio Fernando Moraes Ferrari (UNIOESTE) O objetivo deste trabalho é analisar o perfil político de José Mujica veiculado nas mídias digitais durante seu período na presidência uruguaia (2010-2015), visando identificar características carismáticas e populistas. Ao chegar ao poder em 2010, Mujica passou a ganhar extrema visibilidade da mídia internacional. As ações desenvolvidas pelo ex-presidente a partir daquele momento foram as responsáveis por tal notoriedade e por configurar o perfil político de Mujica. A chegada de Mujica ao poder traz o foco midiático não só para o Uruguai, mas também para a América do Sul de um modo geral, onde o presidente representa, de acordo com alguns autores e junto com outros líderes locais, a nova esquerda latino-americana. A fuga do padrão associado à um chefe de Estado, os discursos longos, questionadores e sua forma austera de vida, colocaram ainda o ex-tupamaro e o país sul-americano como centro das atenções da mídia internacional. Para o desenvolvimento deste trabalho são revisitadas a teoria weberiana de líder carismático e o conceito de líder populista, onde por meio destas análises espera-se identificar a construção desse perfil político dentre estas correntes, onde observa-se que embora com características de ambas as vertentes, a figura de Mujica constitui-se como uma figura alternativa a esses conceitos no cenário nacional e mundial. Esta pesquisa, que está em andamento, busca identificar o perfil político desempenhado por Mujica, onde como método analítico são utilizados os mais variados meios de comunicação web e redes sociais. Palavras-chave: José Mujica; Uruguai; Líder carismático; Populismo. Agência financiadora: CAPES/Fundação Araucária. MEMÓRIA E HISTÓRIA: UMA DISCUSSÃO TEÓRICA Bruna da Silva Garcia (FURG) Não é de hoje que o assunto “memória” vem ocupando espaço dentro da academia. Inúmeros são os trabalhos e a diversidade de fontes bibliográficas que dialogam entre essa temática e a História. Pensando nessa aproximação e 90 nessa conversa, este trabalho tem o intuito de discutir, a partir de uma revisão bibliografica, sobre os avanços e os limites da memória na História. Este trabalho é resultado parcial da dissertação de mestrado da proponente e tem como objetivo traçar um estudo teórico sobre a memória e suas aproximações com a História. O trabalho, inicialmente se valeu dos clássicos “A Memória Coletiva” do sociólogo Maurice Halbwachs (2003); “Matéria e Memória” (2011) do filósofo francês Henri Bergson; “A memória, a história, o esquecimento” (2012) do filósofo francês Paul Ricoeur; “Antropologia da Memória” (2005) e “Memória e Identidade” (2012) do antropólogo francês Jöel Candau e do artigo “Memória, Esquecimento, Silêncio” (1989) do sociólogo e historiador austríaco Michel Pollak, na tentativa de estabelecer um percurso historiografico sobre a tema. Sabemos que a memória sustenta a vida e a História. A partir de uma conclusão parcial podemos compreender que que existem muitas similitudes entre ela e muitas potencialidades; e que alguns limites foram vencidos. Palavras-chave: Memória; História; Teoria; Filosofia. INTELECTUAIS, CENTRO E PERIFERIA: REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA DE INTELECTUAIS A PARTIR DO CENTRO CULTURAL EUCLIDES DA CUNHA, PONTA GROSSA (PR),ANOS 1950. Erivan Cassiano Karvat (UEPG) A presente comunicação, em diálogo com a História Intelectual, pretende problematizar um aspecto de natureza epistemológica para o estudo regional/local de intelectuais: a relação entre centro e periferia como possibilidade para uma caracterização de intelectuais alocados fora de espaços considerados como centros de produção intelectual, geralmente situados historicamente nas capitais de estado ou em universidades consolidadas. Ressalte-se que a preocupação que guia esta discussão advém de um problema empírico, uma vez que foi originado a partir de reflexões em torno de intelectuais – notadamente “provincianos” – e que na passagem da década da primeira para a segunda metade do século XX produziram na cidade de Ponta Grossa, interior do Estado do Paraná, vinculados a um espaço de sociabilidade intelectual, o Centro Cultural Euclides da Cunha, criado em fins da década de 1940. Portanto, na dificuldade de se estabelecer uma melhor compreensão destas personagens, vimos a necessidade de pensá-los relacionalmente, principalmente a partir dos dilemas e questionamentos em relação ao conhecimento proveniente dos centros, caracterizado tendencialmente como um conhecimento especializado e/ou progressista, ao contrário daquele cenário periférico, de viés marcadamente conservador. A partir de tal questão é possível também focar-se questões vinculadas à escrita (ou políticas da escrita) da história de intelectuais, do pensamento social e/ou uma história da historiografia, pensando-se acerca dos mecanismos desta escrita, suas exclusões e silenciamentos. Palavras-chave: intelectuais regionais; centro e periferia; história intelectual 91 HISTÓRIA E INSTITUIÇÃO ESCOLAR: GRUPO ESCOLAR “MOURA ANDRADE” (1958-1970) João Carlos Zoti (UFGD) A pesquisa sobre instituições escolares vem ganhando força desde os anos 1990, a partir da análise de uma história cultural pode-se ater a um estudo histórico desde o surgimento da instituição escolar até sua importância na sociedade. O direcionamento da pesquisa vem de encontra aos estudos de instituições escolares relacionada ao contexto histórico, na busca de compreender as mudanças educacionais em concordância com social e cultural de determinada sociedade. Neste sentido, partindo da história da cidade, será estudado a primeira escola de Nova Andradina (1954 – 1970), que será o enfoque principal do trabalho, na busca de entender a integralidade do Grupo Escolar “Moura Andrade” no processo de formação de uma sociedade. A pesquisa segue com a finalidade de reconstrução histórica das relações sociais em Instituições escolares, para isso inicialmente será trabalhado com fontes históricas oficiais, como: Projeto Político Pedagógico (PPP), regimento escolar, atas de reunião, decretos, relatórios de alunos, processos, etc. Como as fontes oficias não são suficientes para o fazer histórico da Instituição Escolar, e não sendo assim único tipo de fonte a ser utilizado. Os relatos de pessoas que participaram da vivencia escolar como alunos, diretores, professores, funcionário e fundadores da cidade darão um maior apoio e suporte a pesquisa. Palavras-chave: Grupo Escolar; Instituição escolar; Ensino; História da Educação. HISTÓRIA, SEM DÚVIDAS. Bruno Flávio Lontra Fagundes (UNESPAR - Campo Mourão) A disciplina História encontra-se longe de seu grande público de colegiais pela fragilidade do nexo que, tradicionalmente, os vinculava: seu ensino. Mesmo abalado esse nexo, verifica-se que a história está viva, não a história ensinada, mas a disponível por meios que merecem o crédito de lugares de conhecimento. A premissa de escolares como comunidade receptora passiva de história vinda da academia não se sustenta. Essa realidade enseja sério desafio à História: obter prestígio público que não seja mera retórica de um discurso celebrativo e leva os que a desejam como escolha de vida à dura realidade de ter de optar por uma formação que pouco promete em termos de futuro profissional. A comunicação objetiva avaliar experiência bem-sucedida em busca de um diagnóstico. Por alguns pontos de vista – do professor, do pesquisador, do prestador de serviços, do profissional autônomo – a disciplina pode ser discutida numa perspectiva epistemológica de sua constituição como ciência e seu distanciamento das vivências ordinárias da vida pública. E assim o fará por exposição de um curso de formação em História que não dava dúvidas: o curso de Mestrado em História da Universidade Federal do Paraná durante os anos 1970 e 1980 considerado curso “referencial” no Brasil. Averiguar o desenho institucional do curso articulado a definição de “historiador” como alguém de prestígio social relevante por seus intercâmbios 92 com intelectuais e cientistas internacionais e por suas afinidades políticoideológicas com as diretrizes das políticas governamentais para o ensino superior que enfatizavam, no Brasil daqueles anos, a ciência como desenvolvimento técnico e tecnológico. Palavras-chave: História da História, ensino, Brasil, ciência e desenvolvimento tecnológico Agência financiadora: CNPQ TEORIA DA HISTÓRIA NO BRASIL: O CASO JOSÉ HONÓRIO RODRIGUES Cesar Leonardo Van Kan Saad (UFRGS) O presente estudo tem como prerrogativa investigar a noção de Teoria da História na obra Teoria da História do Brasil (THB) de José Honório Rodrigues, publicada em 1949. Parte-se de uma reflexão sobre o modo como o historiador entendeu e constituiu esta noção e os seus usos, entre significações e empregos que realizou ao longo de seu texto. Por meio de um olhar retrospectivo, o problema se objeta no modo como foi significado, e também em quais os sentidos atribuídos à Teoria da História. Teoria da História do Brasil é constituída de forma ensaística como uma baliza para a reflexão epistemológica, tendo como base a história disciplinar. Ademais, constitui-se historicamente em uma narrativa que traz reflexões sobre as concepções teóricas e historiográficas contemporâneas ao autor, bem como, é carregada com indicações das próprias experiências intelectuais do mesmo, ambicionando um projeto sistemático de renovação dos estudos históricos brasileiros. Neste sentido, algumas questões emergem: quais os elementos de legitimação dos enunciados teóricos em THB? De que modo, um projeto de renovação dos estudos históricos no Brasil assenta-se sobre o rol de uma Teoria da História? THB não estaria enunciando uma delimitação de fronteiras na especialização do trabalho historiográfico em vista à formação do historiador como profissional? Palavras-chave: Teoria da História; José Honório Rodrigues; História da Historiografia. A IMPORTÂNCIA DOS MITOS PARA AS SOCIEDADES INDÍGENAS Rosa Cristina Ribeiro (UFMS) Julia Falgeti Luna (UEPG) A comunicação busca compreender a importância da mitologia para as comunidades indígenas, por meio de pesquisa oral e fonte documental. Questiona-se, se estes se fazem presente nos dias atuais, além de procurar uma melhor compreensão do que são os mitos, pois todas as sociedades possuem um conjunto de ideias e reflexões próprias sobre a origem do mundo, 93 como foram criados os seres e elementos. Portanto é comum que essas ideias e reflexões sejam narradas na forma de histórias denominadas mitos. Dessa forma nos apoiaremos metodologicamente nos autores Everardo Rocha, Moses Finley, Darcy Ribeiro, Claude Levi-Staruss entre outros. Nas comunidades indígenas a recorrência à mitologia é uma prática cultural comum para se identificarem e para que sua própria existência tenha uma explicação. No entanto essa prática com o passar do tempo foi diminuindo consideravelmente em algumas sociedades, delegando aos integrantes mais antigos o conhecimento de tais signos. De acordo com as leituras das obras acima indicadas foi possível interpelar que o mito não é uma mentira como muitos imaginam, ele é verdadeiro para quem o vive, sendo bem mais do que um simples contar de história. Sua verdade não obedece à verdade da lógica, concluindo que o mito é um relato do que se quer explicar, visto como uma forma de registro da história acontecida nas comunidades indígenas, porém não é algo particular. Palavras-chave: mitologia; mitos; comunidade indígena O CAMINHO DE PEABIRU : IMPLICAÇÕES EM SEU TOMBAMENTO COMO PATRIMÔNIO MATERIAL E IMATERIAL Arléto Pereira Rocha (UEM) Tematizou-se o Caminho de Peabiru em seu possível processo de Patrimonializacão na Mesorregião Centro-Ocidental do Paraná. O trabalho objetivou discutir as implicações de transformar o Caminho em patrimônio cultural material e imaterial da região inserido no problema de pesquisa, o qual é fundamentado na possibilidade de tombamento do Caminho de Peabiru conciliando os interesses indígenas e não-indígenas. Assim, a pesquisa justificou-se pela singularidade do assunto e necessidade de postar o tema a baila de maiores deliberações. Metodologicamente a pesquisa teve caráter interdisciplinar (História, Geografia, Turismo e Meio Ambiente) com abordagem dialética, exploratória e qualitativa, por meio de revisão bibliográfica em livros, revistas e artigos, impressos e/ou digitalizadas. Teve como estribo teórico as falas sobre o Caminho de Peabiru ao viés cosmogênico, imaterial e cultural de Rosana Bond e ao viés arqueológico e material de Igor Chmyz. Observou-se que neste processo de patrimonializacão há carência de discussões para uma conciliação de interesses. Paira a cristalização recíproca de representações comportamentais indígenas e não indígenas, as quais devem ser ressignificadas sem a sobreposição de uma cultura sobre outra. Constatou-se que o tombamento pode suscitar temores nos agricultores por causa de uma possível desapropriação de terras, uma vez que o advento da agricultura apagou os vestígios do caminho, sendo necessária a realização de estudos arqueológicos, o que não descarta demarcações em rotas simbólicas. Concluise que se deve buscar a verve da interculturalidade no trato do assunto, considerando todas as opiniões, indígenas e não-indígenas seja no âmbito turístico, patrimonial, histórico e/ou cultural. Palavras-chave: Caminho de Peabiru; Tombamento; Patrimônio; Espaço; Interculturalidade. 94 UMA TRADIÇÃO A SE VALORIZAR E UM PASSADO A SER SUPERADO: POSSIBILIDADES ACERCA DA TEMPORALIDADE EM RETRATO DO BRASIL DE PAULO PRADO Clayton José Ferreira (UFOP) Investigaremos o livro Retratos do Brasil: ensaio sobre a tristeza brasileira (1928) de Paulo Prado a partir da hipótese de que, na experiência de tempo acelerada vivenciada por este e outros autores de seu tempo, o passado não se apresentava apenas como algo a ser superado, oferecia também possibilidades de orientação. As perspectivas teórico/metodológicas deste trabalho estão formuladas principalmente nas compreensões sobre experiência de tempo e na história dos conceitos de Reinhart Koselleck, na “historia da historiografia como analítica da historicidade” de Valdei Lopes de Araujo, na presença realizada pela linguagem, nos “efeitos de presença” e “sentido” e a stimmung de Hans Ulrich Gumbrecht além da noção de melancolia de Marcelo de Mello Rangel. Ao se estabelecer as relações entre ensaio histórico e escrita da história, algumas hipóteses podem ser apontadas de maneira que os objetivos a serem buscados se tornem tanto mais compreensíveis. Uma delas seria realizar a síntese interpretativa sobre a formação da nação brasileira e apresentar um projeto sobre a possibilidade de ação e transformação social, tarefa encampada, sobretudo, pela história literária. Acredito, porém, que a característica principal que encontramos nos ensaios, ao menos da geração de 1870 a 1930, é o esforço de se orientar em uma experiência de tempo marcada por realidades inéditas. Ao menos em muitos dos ensaios do período, as possibilidades de norteamento parecem apontar para a compreensão de processos históricos, da necessidade de repensar a escrita da história que predicava e intervinha, a todo momento, nas escolhas políticas. Resultados financiados pela CAPES. Palavras-chave: Primeira República, História da Historiografia, História Intelectual CONHECIMENTOS PRODUZIDOS EM FRONTEIRAS: HISTÓRIA, HISTORIOGRAFIA, SUJEITOS E SABERES EM LIMITES José Carlos dos Santos ( Fronteiras é um termo amplo e difuso. Em se tratando de discussões sobre história e historiografia, ele nos serve para indicar senão um lugar territorial, pelo menos uma forma de identificação daqueles que produzem um determinado conhecimento performático, ou seja, enquadrado em um formato institucional, ou ideológico, ou – o que dá quase no mesmo – exercício corporativo profissional, como se apontará nesta apresentação. Palavras-chave: fronteiras, interdisciplinaridade, atores sociais, educação, historiografia 95 REFLEXÃO SOBRE O CORPO E O ESPAÇO NA ESCRITA DA HISTÓRIA DA COLONIZAÇÃO DE CAMPO MOURÃO (1930-1950) Astor Weber (UNESPAR - Campo Mourão) A pesquisa tem como objetivo estudar o corpo e o espaço na escrita da história da colonização de Campo Mourão, referentes principalmente as décadas de 1930 a 1950. Para realizar esse estudo utiliza-se de livros, de teses e de dissertações e de entrevistas de moradores dadas a um jornal local. A pesquisa se inicia com o estudo da historiografia que debate os projetos de colonização e suas implicações para a formação do estado paranaense. Depois como a questão da colonização da região de Campo Mourão é apresentada por teses, dissertações e produções locais. A análise das produções locais torna-se primordial em função de servir de referência a produção da memória da história local. Por fim, como alguns moradores se posicionam em relação à colonização de Campo Mourão. Com isso espera-se compreender como o corpo e o espaço foram reordenados e repensados para que os projetos de colonização estatais fossem realizados ao longo da história da ocupação da região. O Estado em seu discurso projeta para essa região uma ocupação justificada ora pelo índio, ora pelo bandeirante-paulista, ora pelo caboclo, ora pelo migrante/imigrante, ora pela mescla desses grupos (o paranaense). Outra contribuição é de perceber como as narrativas e os entrevistados posicionam-se em relação a essa intervenção estatal na colonização da região. Algumas narrativas tendem a colaborar com as mesmas premissas do Estado que objetiva para a colonização da região a constituição de um homem agora fixado ao solo e produtivo em nome do seu progresso e desenvolvimento. Palavras-chave: Corpo; Espaço; Estado; Colonização; Narrativas. A REVOLUÇÃO MEXICANA EM TELA: CONSTRUÇÕES DO IMAGINÁRIO ATRAVÉS DO CINEMA Ernando Brito Gonçalves Junior (UFPR) A proposta de investigação que aqui se apresenta, faz parte de uma pesquisa de doutorado ainda em andamento, tendo o intuito de discutir a maneira com que a Revolução Mexicana e alguns de seus principais protagonistas, mais especificamente José Doroteo Arango (Pacho Villa) e Emiliano Zapata, foram representados no cinema dos Estados Unidos e do México. Levando em consideração tal proposta de pesquisa, serão elencados seis filmes para análise, a saber: Viva Villa (1934), Vamonos con Pancho Villa (1936) Viva Zapata (1952) e Emiliano Zapata (1970). Nesse sentido, para construir nosso arcabouço teórico sobre as tensões entre história e cinema, utilizaremos as propostas dos historiadores Robert Rosenstone e Marc Ferro. Assim, percebemos que o cinema é uma importante ferramenta de divulgação de projetos políticos e analisar filmes produzidos em determinados contextos históricos podem nos apresentar diversos elementos da sociedade que o produziu. Logo, as representações cinematográficas de Villa e Zapata estão intimamente relacionas a forma com que cada produção cinematográfica em 96 seus respectivos contextos concebiam e ressignificavam esses personagens e, de uma maneira mais ampla, a história da própria Revolução mexicana. Palavras-chave: Cinema; Revolução Mexicana; Francisco Villa; Emiliano Zapata. Agência financiadora: CAPES 97 ST 11 - POLITICA E MOVIMENTOS SOCIAIS O JORNAL A PLEBE E A LUTA ANARQUISTA CONTRA O MINISTÉRIO DO TRABALHO (1932-1935) André Rodrigues (UEM) O presente artigo tem por objetivo analisar a luta dos anarquistas contra o Ministério do Trabalho na década de 1930, por meio do periódico A Plebe. O jornal analisado foi uma das principais publicações anarquistas que circularam no Brasil, sendo publicado apesar dos momentos de interrupção, entre 1917 e 1951. Com a sua ótica “indisciplinar”, o jornal em suas edições que circularam na década de 1930, se opôs aos órgãos governamentais que procuravam obter alguma espécie de interferência ou controle sobre as organizações de classe dos trabalhadores, sendo o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio; o mais assiduamente criticado, chamado em muitos momentos de “organização fascista”. Contra a intromissão do Estado nos sindicatos, o jornal defendia a ideia de que os trabalhadores deveriam buscar formas de organização que garantissem a autonomia operária, mantidas à margem da política institucional, preferencialmente no sindicalismo revolucionário. Nesse período, os anarquistas foram responsáveis pela reorganização da Federação Operária de São Paulo (Fosp), que se tornou uma das mais fortes organizações sindicais do Estado de São Paulo. A Fosp combateu como veemência o projeto corporativista da era Vargas, sendo que publicou com certa regularidade, uma série de notas oficiais contra o Ministério do Trabalho no jornal A Plebe, que foi um de seus porta-vozes nos anos 30. Palavras-chave: Ministério do Trabalho; anarquismo; A Plebe; Federação Operária de São Paulo (Fosp); sindicalismo revolucionário. O PRIMEIRO DE MAIO NOS JORNAIS ANARQUISTAS A PLEBE E A LANTERNA NA DÉCADA DE 1930 (1932-1935) André Rodrigues (UEM) O presente artigo tem por objetivo analisar as comemorações do Primeiro de Maio na cidade de São Paulo, realizadas na década de 1930, por meio dos jornais anarquistas A Plebe e A Lanterna. Para desenvolver nosso estudo sobre o anarquismo, a partir dos discursos veiculados pelos jornais sobre o Primeiro de Maio, partimos do conceito de cultura política que é proposto pelo historiador francês Serge Berstein (2009) para designar um grupo coeso de representações, que são compostas por uma série de normas e valores que constituem a identidade das grandes famílias políticas e que ultrapassam a noção reducionista de partido político. Na cultura política anarquista o Primeiro de Maio é visto como uma data símbolo da luta dos trabalhadores por melhores condições de trabalho, mas também de luto, em memória dos Mártires de Chicago (1886). Por meio dos jornais analisados pode-se ter uma dimensão de como era organizado e celebrado o Dia do Trabalho, como também compreender os valores e símbolos utilizados por A Plebe e A Lanterna para 98 divulgar a cultura política anarquista nessa data. A divulgação dessas celebrações nos jornais analisados mostra que, no período abordado, apesar da intensa repressão policial, os anarquistas de São Paulo mantiveram-se firmes em sua convicção de celebrar publicamente o Primeiro de Maio. Palavras-chave: cultura política anarquista no Brasil nos anos 30; comemorações do Primeiro de Maio; jornais anarquistas; Mártires de Chicago; São Paulo. ENTRE NEUTRA E OFICIOSA: A REVISTA A DIVULGAÇÃO E SUAS RELAÇÕES COM OS GOVERNOS PARANAENSES (1947 – 1965) Gilvana de Fátima Figueiredo Gomes (UNESP/Assis) Os anos compreendidos entre 1945 e 1965 correspondem, na História da Imprensa Brasileira, ao momento em que diferentes periódicos impressos buscavam construir-se de maneira neutra e objetiva, especialmente, no que diz respeito a assuntos de Estado. Fundada em 1947, a revista curitibana A Divulgação estabeleceu relações intimas com aqueles que governaram o Paraná entre os anos de 1947 e 1965. Entre editoriais que constantemente afirmavam distanciamento político e dossiês das ações do governo do Estado ambos publicados frequentemente nos mesmos números d’A Divulgação - se torna possível uma análise que avalie os interesses em jogo, os projetos apregoados, os caminhos seguidos por esse veículo de imprensa e o lugar por ele ocupado entre as revistas congêneres. A interface entre História da Imprensa e História Política, promovida especialmente no final século XX, fundamenta está análise e permite observar a flexibilidade de projetos, as relações culturais estabelecidas entre imprensa e política no Paraná, as linhas tênues que separam intelectuais de políticos. Por outro lado, a imprensa periódica, cada vez mais consciente do seu poder, passa a ocupar um lugar nos jogos políticos e usa este espaço como forma da garantir a perenidade de sua publicação. Ainda, por estar localizada temporalmente entre os anos de 1947 e 1965, está análise avança sobre as interações desenvolvidas na curta experiência democrática vivida naquele período. Palavras-chave: História da Imprensa; História Política; Intelectuais; Paraná. Agência financiadora: CAPES. A PERSPECTIVA DO JORNAL DO BRASIL SOBRE O PROCESSO DE TRANSIÇÃO ENTRE O GOVERNO MILITAR DE CASTELO BRANCO PARA O GOVERNO DE COSTA E SILVA Dayane Cristina Guarnieri (UEL) O artigo pretende abordar a transição do governo de Castelo Branco para o Governo de Costa e Silva. A pesquisa visa investigar como o Jornal do Brasil, um periódico que integrava a grande imprensa, avalia os resultados do primeiro governo militar e qual a sua expectativa em torno do segundo governo militar. O texto destaca os editoriais do Jornal do Brasil no período situado entre 1966 e 1967. Nesse momento, o periódico produz uma abundante legislação sobre o 99 governo militar, principalmente, após o segundo Ato Institucional. O periódico enfatiza a necessidade de uniformizar a legislação do país para garantir a legitimidade do governo vigente. O JB articula, simultaneamente, a crítica e o apoio ao governo militar em temas que sobressaem a discussão sobre a legalidade, cujos assuntos são: a Constituinte e a Constituição de 1967. O JB afirmava que a sua lógica democrática desejava uma sucessão presidencial com um candidato civil, mas sua opinião, em outros momentos colocava em dúvida essa premissa. Assim, apesar da defesa da supremacia civil, o periódico se contradiz quando aponta o receio de deixar o país sob o comando dos políticos civis, cuja debilidade e corrupção são responsáveis pelo desfecho ocorrido em 1964, assim como, pelas frequentes interferências das Forças Armadas na vida política brasileira. Palavras-chave: Governos militares, Jornal do Brasil, Legalidade O GOVERNO HAROLDO LEON PERES (1971): NOTAS INICIAIS DE UMA PESQUISA. Cássio Augusto S. A. Guilherme (UNIFESSPA) Tendo assumido em março de 1971 o cargo de governador do estado do Paraná, por indicação do então ditador Emílio Garrastazu Médici e a revelia dos lideres políticos locais Paulo Pimentel e Ney Braga, Haroldo Leon Peres renunciou ao cargo em novembro daquele mesmo ano. Sua passagem pelo Palácio Iguaçu ainda não rendeu as necessárias pesquisas acadêmicas que o analisem. Não há trabalhos específicos sobre o tema e as referências bibliográficas são curtas. Neste texto, apresentamos os dados iniciais da pesquisa que iniciamos sobre seu governo, tendo como base além das fontes bibliográficas, os jornais O Estado do Paraná, Gazeta do Povo, Diário do Paraná e Folha de Londrina, edições da revista Veja e uma entrevista concedida por Haroldo Peres, dez anos após sua renúncia. O motivo para a renúncia ainda não é claro: segundo reportagem da revista Veja em dezembro daquele ano, impedida de circular pela censura ditatorial, Leon Peres havia sido pressionado pela Ditadura após ter supostamente exigido propina de um empresário local, fato negado pelo ex-governador, que argumenta ter sido vitima de conchavos políticos liderados por Paulo Pimentel e Ney Braga, que não o queriam no governo do estado. Palavras-chave: Paraná, Ditadura, Leon Peres. “A DEMOCRACIA COMO VALOR UNIVERSAL” DE CARLOS NELSON COUTINHO E A REESTRUTURAÇÃO DA ESQUERDA BRASILEIRA NO PERÍODO DA REDEMOCRATIZAÇÃO Guilherme Tadeu De Paula (UEM) Vanessa Alves Bertolleti (UNESPAR) Poucos textos tiveram tanta relevância e influência no debate público de ideias que tomou o Brasil no período de reestruturação da esquerda no processo de redemocratização do país quanto o hoje clássico “A democracia como valor 100 universal” do gramsciano carioca Carlos Nelson Coutinho. Como tratou-se de um trabalho catalisador de dissidências e debates desde a sua publicação, em 1979, este estudo percorrerá um itinerário para compreendê-lo em duas dimensões: 1) a compreensão do conteúdo do ensaio, inscrevendo a leitura no período em que se situou sua produção, ou seja, no processo de organização da redemocratização que o país passaria nos anos seguintes - após duas décadas de governo civil-militar no poder; 2) a recepção que este teve nos ambientes da esquerda naquele contexto, uma vez que uma das chaves analíticas de Coutinho foi a exploração teórica e, consequentemente, programática, da associação entre socialismo e democracia. Como parte deste itinerário analítico e metodológico, passaremos, consequentemente, pela própria discussão de hegemonia proposta pelo filósofo italiano Antonio Gramsci, principal inspirador do texto que nos é mote, com o intuito de problematizar a democracia – compreendida em sua forma e conteúdo, como propõe Carlos Nelson Coutinho. A partir destes pressupostos analíticos, examinaremos os desdobramentos da recepção da proposta de Coutinho no rearranjo da esquerda brasileira na década de 1980, abordando a reconfiguração dos partidos políticos de tipo clássico – que naquele contexto de abertura política, puderam se organizar fora da clandestinidade, bem como os movimentos sociais de pautas específicas, que tiveram, no contexto da Constituinte, um dos seus momentos mais relevantes. Palavras-chave: Carlos Nelson Coutinho; Gramsci; Democracia; Socialismo; Esquerda no Brasil A CONCEPÇÃO DE INOVAÇÃO, DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E DEPENDÊNCIA POLÍTICA EM FHC Paula Tissiany Carneiro (UNESPAR/Apucarana) Paulo Cruz Correia (UNESPAR/Apucarana(UNIFAL-MG) Marcelo Vargas (UNESPAR/Apucarana(UNIFAL-MG) Acir Bacon ( UNESPAR/Apucarana(UNIFAL-MG) O objetivo deste trabalho é de ressaltar as principais preocupações de FHC quanto aos aspectos da importância da inovação para a política de desenvolvimento e dependência, mediante a metodologia de compilação bibliográfica e sua inter-relação com a corrente teórico-econômica desenvolvimentista. O desenvolvimento nacional vive um momento de convalidação de suas fronteiras, mediante uma multiplicidade de elementos econômicos e políticos envoltos na consolidação de suas instituições e na busca da resposta a um capitalismo nacional menos desigual em formação. A abordagem inovacionista retoma o pensamento de FHC em relação ao desenvolvimento e a teoria da dependência, com a inserção das economias menos desenvolvidas e das nações cêntricas no centro do debate. Em sua tese de doutorado, FHC estuda política e desenvolvimento nas sociedades dependentes de 1962, a luz de Gramsci, Lukakis e Marx, realiza uma pesquisa empírica, entrevistando o empresariado e confronta ideias desses empresários com o que está nos modelos científicos. Constata que capitalismo e parlamento pouco se aproximam, questiona com que segmentos os empresários querem alianças? A resposta vem com a classe média e outras, os trabalhadores só 101 aparecem no sétimo lugar. A conclusão é a de que o modelo democrático participativo não passa pelas aspirações dos empresários, pois estes não propõem, nem se coadunam com uma revolução política burguesa que inclua os trabalhadores. Palavras-chave: Econômica. Inovação; Desenvolvimento; Dependência Política; e, DESMEMBRAMENTO TERRITORIAL NA GRANDE SÃO PAULO EM MEADOS DO SÉCULO XX Adalberto de Carvalho Graciano (USP) Em meados do século XX, o desmembramento territorial na região denominada Grande São Paulo é possível, primeiramente, pelo processo de urbanização que ocorre no entorno da capital paulista e, também, pela promulgação da Constituição de 1946. Como parte da pesquisa em andamento, pretendemos analisar como o caso específico do município de Taboão da Serra, localizado na Região Sudoeste de São Paulo, e seu processo emancipatório que se deu em 1959. Para trabalharmos com aspectos referentes aos problemas da pesquisa, consultamos o acervo histórico da Assembleia Legislativa, em especial, as atas das sessões legislativas que trataram sobre as emancipações. Além disso, existem jornais e documentos da época da emancipação no Museu Histórico e de Memória de Itapecerica da Serra com recortes de jornais. Este processo emancipatório está inserido em um contexto de urbanização e industrialização que eclodiu nos anos de 1950 e que teve como polo irradiador a cidade de São Paulo. Além disso, a Constituição de 1946 é um suporte jurídico fundamental na criação de novos municípios. Trabalhamos com a chamada história local, mas sem desconsiderar contextos mais amplos. Por isso, merece a nossa atenção os contextos nacional e estadual para conseguirmos compreender as especificidades da emancipação em Taboão da Serra e entendermos as razões que levaram esta cidade à autonomia, mesmo sem ela ter uma atividade econômica proeminente. Qual o interesse em ter esta cidade autônoma? Por que emancipar territórios que sofreriam com falta de recursos financeiros para sobreviver? Palavras-chave: Criação de municípios; República Populista; Constituição de 1946 UMA ANÁLISE HISTÓRICA DO PROCESSO DE LUTA PELA TERRA E O SURGIMENTO E DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO COMO UMA POLÍTICA PÚBLICA Camilla Samira de Simoni Bolonhhezi (UEM) O presente trabalho tem como objetivo apresentar a minha proposta de dissertação de mestrado em desenvolvimento na Universidade Estadual de Maringá. Nesta pesquisa estou analisando a questão da Educação no Campo, apontando de que como esta política pública foi pensada e estruturada no Brasil. Para isto, utilizo-me da experiência da Escola Milton Santos, localizada 102 no município de Paiçandu, que tem se destacado neste tipo de metodologia educacional. Com o projeto pretendemos analisar a educação no campo a partir das últimas décadas, e pensar as suas relações com os movimentos e organizações sociais. Objetiva ainda destacar que os trabalhadores rurais e seus movimentos organizados cumprem um papel fundamental dentro desse processo histórico de criação de uma política pública pensada especialmente para atender essa população: as escolas do campo. Palavras-chave: Educação do Campo; Movimentos sociais; Políticas públicas. REPRESENTAÇÕES DO MST SOBRE O PRESIDENTE COLLOR, POR MEIO DO JORNAL SEM TERRA (1990-1992) Fabiano Coelho (UFGD) Em três décadas de existência, o Movimento dos Trabalhadores Rurais (MST) se consolidou como um dos movimentos sociais mais expressivos da história brasileira. Ao lutar por terra e demais aspectos que envolvem a vida nos assentamentos e acampamentos, o Movimento se insere no campo político e se manifesta criando representações sobre diversas questões e personagens políticos do país. O trabalho analisa as representações construídas pelo MST sobre o presidente Fernando Collor de Mello, através do seu periódico, o Jornal Sem Terra, entre os anos de 1990 e 1992. Nesse sentido, a fonte central de investigação são os editoriais produzidos no Jornal Sem Terra, haja vista que, os mesmos são de responsabilidade da Direção Nacional do Movimento. O trabalho se envereda em torno dos aportes teóricos e metodológicos da história cultural, e o conceito “representação” se configura como basilar para as reflexões. As relações MST e Collor foram tensas antes mesmo de sua vitória eleitoral, em 1989. Collor e seu governo foram muito criticados pelo MST e representados como extensão das elites no comando do Brasil. Palavras-chave: MST; Collor; representações. JORNALISTAS ENGAJADOS NA LUTA PELA TERRA: UMA CAMPANHA PELA REVOGAÇÃO DA LEI DE SEGURANÇA NACIONAL Fernando Perli (UFGD) No início da década de 1980, lideranças religiosas, ativistas dos direitos humanos, estudantes universitários e jornalistas, engajaram-se na produção do Boletim Sem Terra, um informativo de divulgação da campanha de solidariedade aos agricultores acampados da Encruzilhada Natalino, no município de Ronda Alta (RS). O anonimato dos produtores do impresso, representados pelo Comitê de Apoio, retratou a repressão exercida pela Lei de Segurança Nacional (LSN) sobre meios de comunicação que assessoravam movimentos sociais e representavam posições contrárias a ditadura civil-militar. Neste sentido, a presente comunicação tem por objetivo analisar o lugar de 103 jornalistas na produção do boletim, considerando estratégias e articulações políticas que contribuíram para a organização de uma campanha pela revogação da LSN e a arregimentação de lideranças sem-terra na formação de um movimento social rural de abrangência nacional. Palavras-chave: Jornalistas; Luta pela terra; Lei de Segurança Nacional O MESSIANISMO COMO ELEMENTO DA CULTURA POPULAR E ERUDITA NO CENTENÁRIO DA GUERRA DO CONTESTADO (1912-1916) Rui Bragado Sousa (UEM) O A Guerra do Contestado é seguramente o movimento social brasileiro com maior conotação messiânica e milenarista, ao ponto de alguns sociólogos a caracterizarem como “guerra santa”, ou como um messianismo do tipo clássico. Dentre os diversos elementos que tornam este conflito bastante multifacetado, o messianismo é um dos fatores mais complexos, pois escapa aos olhos do investigador. Termo evanescente e por vezes hermético, confunde os pesquisadores e o senso-comum. Assim ocorre com as fontes utilizadas na análise do Contestado, afinal o Messias não aparece explicitamente nos documentos, é preciso interpretá-lo. A dificuldade na análise do milenarismo produziu interpretações reducionistas e factuais, de cunho positivista com forte influência de Euclides da Cunha, onde os rebeldes sertanejos foram adjetivados de forma pejorativa como culturalmente arcaicos e atrasados e o messianismo associado à degeneração racial. Os caboclos, portanto, legaram o atributo inglório de fanatismo e ignorância, epíteto que carregam ainda hoje. A hermenêutica sociológica do messianismo representou um salto qualitativo quanto à definição conceitual do termo, porém não houve um diálogo efetivo entre a sociologia e a historiografia, fator que relegou o messianismo como um epifenômeno na recente produção historiográfica. Este trabalho objetiva corrigir esse “hiato” na recente literatura do Contestado, relacionando a cultura popular dos sertanejos da “guerra santa” com a cultura erudita na filosofia de Walter Benjamin e Ernst Bloch, uma hipótese de circularidade cultural. A teoria fornece os conceitos para pensar o messianismo como uma tradição cultural no ocidente e a prática (os rebeldes e o monge José Maria) demonstra a tentativa da construção do milenarismo na terra. Palavras-chave: Guerra do Contestado; Messianismo; Circularidade cultural. O PROJETO CARBONO FLORESTAL SURUÍ: GERAÇÃO DE RENDA E DEFESA DO TERRITÓRIO Zeus Moreno Romero (UEM) O Projeto de Carbono Florestal Suruí (PCFS) é o primeiro projeto de Redução de emissões decorrentes do desmatamento e da degradação de florestas (REDD+) proposto em Terras Indígenas no Brasil. Consiste na proteção da 104 terra indígena Sete de Setembro, região que se encontra bastante ameaçada por invasões, extração ilegal de madeira e desmatamento. O projeto é liderado pela Associação Metareilá do Povo Indígena Suruí – representante do povo Paiter Suruí, mas somente foi possível através da parceria de diversas instituições, entre elas: a Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé; o Forest Trends e o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio). Este tipo de projeto, inserido na economia verde, tem o intuito de preservar a terra indígena dos Paiter Suruí, gerar renda mediante diversos projetos para melhorar o bem viver da comunidade e ajuda-los a inserir-se no mundo globalizado. Sendo assim, o objetivo deste artigo é analisar o percurso histórico vivenciado pelos Paiter Suruí, que os conduziu a ser os primeiros indígenas do Brasil a vender créditos de carbono. Para tal finalidade, são utilizados os documentos oficiais gerados pelas associações da comunidade e pelas organizações colaboradoras, além da bibliografia referente a História Paiter Suruí e suas parceiras no Projeto de Carbono Florestal Suruí. O artigo também evidencia que este tipo de projetos está sendo discutido em âmbito global. E conclui-se que os Paiter Suruí mediante sua forma de governança decidiram vender créditos de carbono, mas tendo que enfrentar uma divisão interna dos indígenas que não acreditam no projeto. Palavras-chave: Paiter Suruí; Créditos de carbono; História do tempo presente. SAÚDE E SOCIEDADE: EPIDEMIA DE HIV/AIDS EM ITAPETININGA (1989-1996) Gustavo Vargas Laprovitera Boechat (FMUSP) Para além de um fenômeno estritamente biológico, as doenças são fenômenos históricos pois a forma que a sociedade a vivencia é demonstrada por meio de pensamentos e práticas em torno de sua definição, prevenção, transmissão e cura. No caso específico do HIV/AIDS, a historiografia vem elaborando estudos sobre a epidemia no sentido da compreensão histórica das experiências vividas pelas diferentes coletividades, com suas particularidades geográficas, bem como suas respostas, conceitos e preconceitos construídos em torno de diferentes grupos sociais. Nesse sentido, esse estudo tem como objeto de análise o estudo da epidemia de HIV/AIDS na cidade de Itapetininga entre os anos de 1989-1996. Buscamos a compreensão das particularidades, pelos fios dos documentos, de como foram incorporados discursos e práticas sobre a AIDS no universo sócio-político e simbólico de uma cidade do interior paulista. Por meio da leitura da produção jornalística local e do levantamento dos prontuários médicos da Santa Casa de Misericórdia de Itapetinga, busca-se a reconstrução dessas vivências e de suas representações, apontando para dimensões conhecidas e desconhecidas em torno da doença e do doente. Palavras-chave: Epidemia HIV/AIDS; História Local; Representações; Imprensa Jornalística; Prontuários Médicos. 105 História das REPRESSÃO NO REGIME MILITAR BRASILEIRO: A ACUSAÇÃO CONTRA OS IRMÃOS BONESSO (1964) Angélica Ramos Alvares ( UEM) Ângelo Aparecido Priori (UEM) O objetivo deste trabalho é analisar o processo de indiciamento de três irmãos Edmundo Bonesso, Alcides Bonesso e Alexis Bonesso - que já no inicio do regime militar, 1964, foram perseguidos e presos por fazerem parte de uma Associação de Trabalhadores Rurais, no município de Andirá, norte do Estado do Paraná. Os irmãos Bonesso foram indiciados em um Inquérito Policial Militar (IPM), posteriormente nomeado pelo projeto Brasil Nunca Mais de BNM 238. Como salienta Carlo Ginzburg em “O inquisidor como antropólogo”, “qualquer relato registrado é apropriado e remodelado por quem cita” (1991, p.16), posto isso, “devemos aprender a desenredar os diferentes fios que formam o tecido factual desses diálogos” (p.15) que trazem consigo dissonantes vozes. Nesse processo, os réus são nomeados de comunistas e subversivos e são acusados de realizarem agitação política e social junto aos trabalhadores. Mesmo sem provas concretas, a promotoria militar insistiu na acusação e punição dos trabalhadores, pautados na ideia de que os acusados “praticaram atos de subversão”. Isto porque, a partir de 1964 os sindicatos e as associações rurais, em defesa e reinvindicação dos direitos sociais e trabalhistas, passaram a ser tachados pelo Estado e pela polícia política de “subversivos” e “comunistas”. Palavras–chave: Trabalhadores rurais; Inquérito policial militar; Norte do Paraná; Repressão. Agência financiadora: CAPES A REVOLTA QUE NÃO HOUVE: ADEMAR DE BARROS E A ARTICULAÇÃO CONTRA O GOLPE CIVIL-MILITAR (1964-66) Carlos Henrique dos Santos Ruiz (UNESP-Marília) Em 1º de Abril de 1964, ocorre o Golpe Civil-Militar, sendo derrubado o presidente constitucional da República João Goulart. Com a instalação do novo regime, muitos de seus participantes e apoiadores acreditavam que os militares logo devolveriam o poder aos civis. Com a prorrogação do mandato do General Castelo Branco, e a conseqüente cassação de expoentes históricos civis que apoiaram o golpe como Juscelino Kubitschek, outras lideranças começaram perceber que um grupo dos militares procurava se hegemonizar no poder, e estava conquistando espaço, com projeto político próprio. Ao que tudo indica, o Governador de São Paulo Ademar de Barros entendeu que seria o próximo político a ser cassado. Face à impopularidade do regime devido à crise econômica, ele se alia a segmentos descontentes, inclusive militares, como o general Amaury Kruel; a FIESP e associações rurais; Assis Chateaubriand; bem como setores da esquerda ligados ao PCB, e conjuntamente planejou-se com ele à frente um contra golpe. A revolta foi abortada pelo fato dele, Ademar de Barros ter tido o mandato de governador cassado e os direitos políticos suspensos por dez anos. A contribuição política sobre a revolta que não houve, é o objetivo deste projeto. A metodologia utilizará analise teórica, sendo através de livros, teses e dissertações do período; e pesquisas em arquivos como o 106 CPDOC/FGV e o Arquivo Público do Estado de São Paulo. Como a pesquisa está em andamento, ainda não é possível definir as conclusões finais do projeto. Palavras-chave: Ademar de Barros; Golpe Civil-Militar; Militares; Articulação Política; Força Pública Agência financiadora: FAPESP NOSSOS COMERCIAIS, POR FAVOR: A PROPAGANDA BRASILEIRA E DITADURA MILITAR (1964-1985). David A. Castro Netto (UFPR) Atualmente, a historiografia sobre a ditadura-militar tem se debruçado sobre uma questão até então pouco explorada nas pesquisas dedicadas ao período: os focos da sociedade civil que sustentaram a existência de 21 anos de ditadura militar no Brasil. A partir desta constatação, nosso trabalho tem como objetivo entender um destes focos de apoio, as agências de propaganda. A partir do levantamento das contas das agências é possível observar uma estreita relação com os militares que passava por, ao menos, dois vieses: o econômico, a partir de 1968 é criado o Consórcio Brasileiro das Agências de Propaganda, que monopolizava as contas das empresas governamentais, além da lei 4.860/1965, que promovia a reserva de mercado, ao condicionar descontos sobre preços exclusivamente as agências (o que garantia alta rentabilidade) e, o aspecto político, seja ele, o alinhamento ideológico dos donos das agências com a doutrina política outorgada pelos que ocupavam o centro do poder. Essa equação tem como resultado uma relação que produz um ‘discurso’ que, ao mesmo tempo, vende os produtos e tenta dar sustentação ao regime de diversas maneiras, vivendo a euforia do “país do futuro”, nos anos do “milagre econômico” e promovendo o otimismo em relação ao futuro, no momento da crise de 1974 e do ressurgimento dos movimentos sociais. Palavras-chave: Ditadura militar; propaganda; otimismo. Agência financiadora: CAPES. O FESTIVAL INTERNACIONAL DE LONDRINA E A DITADURA: PRÁTICAS ESTUDANTIS E MOVIMENTOS CULTURAIS NA DÉCADA DE 1960 Giovana Maria Carvalho Martins (UEL) Raquel de Medeiros Deliberado (UEL) O Festival Internacional de Londrina (Filo), criado em 1968, teve suas atividades iniciais marcadas pela participação estudantil. Estas práticas culturais são aqui analisadas considerando-se seu contexto cultural nacional, buscando vincular o cenário londrinense ao brasileiro na referida época. Para tanto, nos utilizamos principalmente dos trabalhos de Fico (2004) e Ridenti (2003), que abordam sobre a Ditadura Militar brasileira, além de autores que pesquisam sobre o teatro em Londrina e sobre o Festival em questão, como Rosa (1995) e Previatto (2003). Desta forma, este trabalho pretende refletir 107 sobre a gestação do Filo, e busca analisar as motivações de suas atividades e se as mesmas se centraram em uma revolução de costumes à época da ditadura, em atividades ligadas à política ou em ambos – e se existiu algum vínculo com a UNE (União Nacional dos Estudantes). Hoje, trata-se de um importante Festival internacional realizado há mais de 40 anos e que contou com diversos episódios de censura em seus primórdios, como narrado por diversos atores que fizeram parte de sua fundação. Nos utilizamos também de relatos de diversos personagens relevantes na fundação e crescimento do Filo, e a conclusão foi de que tratou-se primordialmente de uma revolução de costumes, sem vínculo explícito com a UNE e ligado especialmente à carência de atividades culturais na cidade de Londrina quando de sua criação – o que não impediu que diversas obras ligadas ao Festival sofressem censura do Regime Militar. Palavras-chave: Ditadura Militar; Londrina; FILO; Estudantes; movimentos culturais. É PROIBIDO PROIBIR Natália Martins Besagio (UEM) Uma onda de rebeldia varrera o mundo. Manifestações contra a sociedade de consumo e a alienação eclodiram nos Estados Unidos, na Europa e chegaram ao Brasil. Na década de 1960 jovens cabeludos espalharam-se pelas praças ao som do rock n’roll. Não queriam acabar com os regimes vigentes, queriam apenas desestabilizá-los. Influenciado por este movimento que, apesar da ditadura, disseminou-se em terras tupiniquins, um grupo de jovens irreverentes iria colocar de ‘cabeça para baixo’ o cenário musical. Os tropicalistas, cujos principais expoentes foram Caetano Veloso e Gilberto Gil, representaram o movimento contracultural que sacudira a juventude brasileira. Além deles, o teatro, através da encenação de Roda Viva, colocara em xeque a moral e os bons costumes, tão caros ao regime militar. Diante deste panorama, o presente artigo tem como objetivo discorrer a respeito das diferentes manifestações contraculturais que irromperam no Brasil nos anos 1960 a fim de responder ao seguinte questionamento: tais movimentos caracterizam-se como arte engajada? Para tanto utiliza como base as publicações de Luiz Carlos Maciel, referência no cenário contracultural brasileiro. A parir de então, levanta-se a possibilidade de uma arte não somente preocupada com valores estéticos, mas associada a um movimento de caráter político, que teria como objetivo combater os desmandos do governo em período de ditadura militar. Palavras-chave: Ditadura; Contracultura; Arte engajada; PONTOS DE ATRITO NA HISTORIOGRAFIA SOBRE O GOVERNO JOÃO GOULART E O GOLPE DE 1964 Antonio Battisti Bianchet Junior (UFRJ) Pouco tempo após golpe de 1964 que destituiu o presidente João Goulart, começaram a ser elaboradas as primeiras análises sobre a crise que tensionou 108 a sociedade brasileira e levou ao rompimento da legalidade entre os meses de março e abril. Nos períodos posteriores, o objeto foi analisado sob diversos olhares e trabalhado a partir de diferentes perspectivas teóricas e metodológicas, por um crescente número de autores em variadas áreas das Ciências Humanas. Neste trabalho, portanto, buscamos discutir alguns aspectos de obras que tiveram importância na conformação de um campo de estudos sobre o tema na área de História no Brasil. A escolha dos trabalhos é, obviamente, arbitrária, pois dados os limites do formato e a amplitude da produção científica sobre o assunto, torna-se inviável uma discussão de maior dimensão. Feita esta ressalva, nosso objetivo é demonstrar alguns pontos de atrito entre dois grupos de análises definidos arbitrariamente: as obras definidas como clássicas, que incluem os autores René Armand Dreifuss, Alfred Stepan e Guillermo O’Donnell, e as classificadas como revisionistas, que têm como um dos marcos iniciais a obra de Argelina Cheibub Figueiredo. Como a corrente aqui denominada revisionista é posterior, buscaremos discutir como esta se referiu à corrente clássica em seu esforço de consolidação como análise interpretativa de uma realidade passada tendo em vista os condicionamentos de sua contemporaneidade. Palavras-chave: Governo Goulart; golpe de 1964; historiografia; revisionismo Agência financiadora: CNPq A LUTA POR UM PARTIDO DE MASSAS: O PCB E OS COMITÊS DEMOCRÁTICOS POPULARES NO PARANÁ (1945-1947) Claudia Monteiro (UNIOESTE) Os Comitês Democráticos Populares foram órgãos criados pelos militantes do PCB (Partido Comunista do Brasil) em diversas cidades paranaenses em meados de 1945, quando foi conquistada a legalização da legenda do partido depois de longos anos de proscrição e perseguições vividas pelos militantes, principalmente durante o Estado Novo. Com a abertura política estes Comitês faziam parte de uma estratégia nacional do partido no intuito de ampliar suas bases e conquistar adeptos e eleitores entre moradores dos bairros, donas-decasa, estudantes, profissionais liberais, trabalhadores rurais e urbanos. No Paraná, os Comitês permitiram o surgimento de um ambiente de debates em que seriam discutidos os anseios e as esperanças de indivíduos que até então não conheciam na prática o que era a luta por direitos. Nesse espaço, além de serem levantadas as diversas reivindicações locais, relacionadas especificamente à “carestia de vida”, às condições do trabalho ou à infraestrutura dos bairros, também eram discutidas questões mais extensas como a importância de se colocar publicamente, reivindicar direitos e se posicionar no processo eleitoral. Este trabalho visa refletir sobre as contribuições destes Comitês, principalmente em seu papel de dinamizar e incluir novos personagens na esfera pública no cenário da política paranaense, e tem como base documental pesquisa realizada no Arquivo Público do Paraná, especificamente o acervo da Delegacia de Ordem Político e Social (DOPS). Palavras-chave: Comunistas; legalidade; democracia; esfera pública. 109 ANTICOMUNISMO NO BRASIL RECENTE: A INTERPRETAÇÃO DOS PARTIDOS COMUNISTAS. Marcos Meinerz (UFPR) Lucas Patschiki (UFG) Desde a eleição presidencial de Luis Inácio Lula da Silva do Partido dos Trabalhadores (PT) a mídia hegemônica brasileira encarregou-se de dar o tom para um novo vagalhão anticomunista, instrumento de pressão sob o partido para cumprir os acordos acertados com o capital (IASI, 2012). Sobre as funções que o anticomunismo cumpre para direita muito já foi escrito (SILVA, 2000; RODEGHERO, 2002; MOTTA, 2000): este discurso organiza uma lógica ideológica que entende a realidade numa lógica idealizada, onde as premissas históricas da ação política passam a pautarem-se por termos do imaginário social, articulando as contradições em torno da ação de um inimigo comum (geralmente organizado de maneira escusa, que atua pelo complô). Conformase a cisão do campo político de maneira maniqueísta, cindindo os sujeitos de modo essencialista e cuja ação dar-se-ia somente em torno de um fim histórico definido (a revolução comunista, a jihad, etc.) (MEINERZ, 2013; PATSCHIKI, 2012). Entendendo que não interessa que a ação desses sujeitos seja assumida como “comunista”, mas sim o que os que acusam entendam assim, nos questionamos sobre o posicionamento dos partidos que se reivindicam como comunistas sobre esse novo anticomunismo. Interrogaremos os posicionamentos do Partido Comunista Brasileiro (PCB), Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados (PSTU) e algumas tendências internas do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) – nesse artigo deixamos de fora as correntes internas do PT, por entender que necessitam de leitura mais específica, vide-se o processo de transformismo deste (COELHO, 2005) e as tendências organizadas fora e além dos partidos institucionalizados. Palavras-chave: Campo político; “nova direita”; fascismo. Agência financiadora: CAPES. ANAUÊ! (1935-37): O COMUNISMO EM PÁGINAS VERDES Rodolfo Fiorucci (IFPR/Jacarezinho) O trabalho tem como objetivo demonstrar a forma superficial com que as questões ideológicas foram tratadas na revista integralista Anauê!, em especial o comunismo, identificado como o inimigo mais preocupante da nação (e do mundo) no contexto dos anos 1930. Importa compreender os mecanismos de doutrinação, utilizados por um partido político que dialogava com o fascismo, para a sedução de novos leitores e para a construção de “verdades” que careciam de substrato do mundo real. Palavras-chave: Revista Anauê!; Comunismo; Integralismo. Agência financiadora: CAPES 110 NAS ENTRELINHAS DA DELAÇÃO: A CONTRIBUIÇÃO DOS INFORMANTES NO PARANÁ (1960-1970) Rodrigo Pereira da Silva (UEM) A partir de 1964, com a instalação da Ditadura Militar no Brasil, intensas transformações foram desencadeadas no cenário político e social. Nesse contexto, em nome da Segurança Nacional, diversos mecanismos do aparelho repressivo foram postos em ação e, também criados, para combater qualquer espécie de atividade, realizada por indivíduos ou grupos que pudesse configurar um ato subversivo. No conjunto dessa estrutura que se formatou a partir de então, o papel desempenhado pela figura do informante se mostrou de grande importância para a prevenção e o combate da subversão e também para a manutenção da ordem estabelecida. Além de contar com informações coletadas pelos agentes do próprio regime - infiltrados nos núcleos considerados potencialmente subversivos – a polícia política também contava com a colaboração espontânea de informantes simpatizantes do regime. Nesse sentido, nosso objetivo consiste em pensar a figura do informante, enquanto peça fundamental para desenvolvimento e legitimação das ações desenvolvidas ao longo do Regime Militar, enfatizando principalmente atuação, dos mesmos, no Estado do Paraná no período compreendido entre os anos de 1960 e 1970, tomando como base a documentação arquivada na Delegacia de Ordem Política e Social (DOPS/PR). Entretanto para tal entendimento, se faz necessário a compreensão do conceito de imaginário (principalmente anticomunista) que se desenvolveu no meio social nesse período. Para pensarmos tal conceito, nosso referencial teórico se volta para Bronislaw Baczko (1985), cujo conceito de imaginário social nos possibilita refletir sobre a associação entre imaginário e poder presentes no período em tela. Palavras-chave: Ditadura Militar; Informantes; Imaginário Social. Agência financiadora: CAPES. O DOPS E A CONSTRUÇÃO DO MITO DA CONSPIRAÇÃO COMUNISTA NO PARANÁ (1945-1953) Verônica Karina Ipólito (Unesp/Assis-SP) Este trabalho analisa os mitos políticos modernos que se formaram na relação entre a Delegacia de Ordem Política e Social (DOPS/PR) com o comunismo e atividades desenvolvidas pelo Partido Comunista do Brasil (PCB) no Paraná durante os anos de 1945 a 1953. Ao realizar um trabalho meticuloso de vigilância e repressão, a polícia política não somente coletou, registrou e ofereceu dados sobre suspeitos a outros setores ou Delegacias Regionais, mas associou o comunismo a características negativas, atribuiu a seus adeptos um alto grau de periculosidade e identificou na doutrina comunista elementos que supostamente visavam destruir o mundo ocidental e seus valores. Tais características contribuíram para a formação do mito da conspiração comunista, o qual se alimentava da disseminação do medo de que o “inimigo vermelho” poderia estar em todos os lugares, com grande força e blindado por suas características maléficas. O aumento significativo da participação popular em discussões sobre temas variados preocupava as autoridades, as quais não 111 tardaram em confeccionar mecanismos jurídicos destinados a minar a atuação de inimigos internos e externos. A Lei de Segurança Nacional (LSN) de 1953 foi um desses dispositivos de intimidação. Para a escrita do trabalho foram utilizadas fontes de natureza imagética, jornalística, entrevistas, depoimentos, relatórios e demais evidências arquivadas no Fundo DOPS do Arquivo Público do Estado do Paraná e no Arquivo Particular da jornalista Teresa Urban. O foco principal se concentrou no esforço de identificar na documentação indícios de mitos políticos modernos, em especial o mito da conspiração comunista. Palavras-chave: DOPS-PR; PCB-PR; mitos políticos modernos. A HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA DE 1980: PERSPECTIVAS SOBRE A CLASSE OPERÁRIA Angelita Cristina Maquera (UEM) Durante a década de 1980, proliferaram no Brasil trabalhos sobre a história da classe operária brasileira do início do século XX. Este trabalho busca apresentar as principais características desses estudos, ressaltando seus aspectos teóricos e metodológicos. Para além de compreender a emergência dos movimentos sociais a partir de 1978, o estímulo para a realização daqueles estudos, se relacionam com problemáticas legítimas na qual a sociedade brasileira do início do século XX estava inserida. Desse modo, ao retratar os principais aspectos de tais obras, encontramos o ano de 1917 como um marco “indiscutível”, devido as grandes manifestações ocorridas em todo o brasil naquele ano, relacionadas a problemas específicos da nossa sociedade, como por exemplo, as condições de trabalho no campo e na cidade. Ressalta-se também, a influência do contexto internacional, como a Revolução Russa. No entanto, não entendemos que tais manifestações sejam meras importações de ideias, (anarquismo, socialismo), mas, mobilizações legítimas em busca de solução para problemas autênticos. Assim, ao analisar os principais trabalhos publicados na década de 1980, observamos uma série de aspectos que nos fazem compreender os debates específicos da historiografia daquele período e ainda análises valiosas para o estudo do Brasil Republicano. Palavras-chave: Historiografia; greve de 1917, Brasil. Agência financiadora: CAPES PRECARIZAÇÃO, ADOECIMENTO E RESISTÊNCIAS: AS INTERFACES DO MUNDO DO TRABALHO E O MAL-ESTAR DOCENTE NA SEE-SP Mariana Esteves de Oliveira (UFMS) Na presente comunicação, objetivamos socializar as perspectivas e alguns resultados de pesquisa acerca da precarização do trabalho docente na Secretaria Estadual de Educação de São Paulo. Sob o olhar materialista da História e Mundos do Trabalho, analisamos a constituição do cenário neoliberal de precarização docente e suas consequências junto aos sujeitos da pesquisa. Como objetivo, o escopo fundamental se ampara no auscultar dos sentimentos, vivências e experiências docentes no decurso das três últimas décadas, 112 marcadas pelo desmonte das condições de trabalho e proletarização da categoria. Para dar conta disso, do ponto de vista empírico metodológico, a pesquisa se desenvolve com cerca de 130 docentes vinculados às seis escolas públicas estaduais de Andradina-SP, por meio de questionários estruturados com perguntas objetivas e abertas, privilegiando análises qualitativas na perspectiva dialética. Ainda em processo de investigação, já é possível depreender, por um lado, as intenções políticas do projeto neoliberal paulista, afinado ao capital internacional, materializadas em: arrocho salarial, intensificação do trabalho, fragmentação contratual da categoria, programas meritocráticos avaliacionistas, e retirada de direitos outrora conquistados. Por outro lado, vislumbramos experiências docentes que oscilam entre a tradição e a resistência, ora suscitando nostalgicamente a deferência e o reconhecimento docente da origem burguesa da categoria, ora aproximando-se do movimento operário no fazer-se de greves e manifestações. Em meio ao cenário engendrado (precarização e resistência), destacam-se ainda as consequências vivenciadas cotidianamente pelos professores, tais como o adoecimento e a insegurança nas escolas, a balizarem o trabalho docente pelo sofrimento e a crise da educação pública na contemporaneidade. Palavras-chave: História Social do Trabalho, Precarização do trabalho docente; Adoecimento; Resistência docente. CURITIBA E A “GUERRA DO COTIDIANO”: AS POLÌTICAS DE MOBILIZAÇÃO SOCIAL E A CRIAÇÃO DE UM “FRONT INTERNO” NA CAPITAL PARANAENSE DURANTE A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL Márcio José Pereira (UNESPAR) As políticas de mobilização de um “front interno” no Brasil foram amparadas pela criação de órgãos federais e estaduais, como comitês, ligas e departamentos que visavam o controle social e econômico através de campanhas, movimentos e ações sociais/comunitárias. O Paraná abrigou várias filiais desses órgãos a fim de manter firmes os propósitos governamentais e mobilizar a população, fomentando um sentimento de terror frente as possibilidades da Segunda Guerra Mundial se desdobrar em solo paranaense. Instalaram-se no Estado a Liga de Defesa Nacional, o Comitê de Defesa Antiaérea, o Comitê de Defesa Passiva, a Liga dos Jovens Patriotas, a Liga Brasileira de Assistência, a Cruz Vermelha, etc., bem como, foram realizadas por esses estabelecimentos campanhas específicas de arrecadação e engajamento da população. Esses órgãos governamentais figuraram na vida dos curitibanos através da presença física de seus imponentes edifícios e nos desdobramentos no cotidiano, através da participação nas ações por eles incentivadas. A fim de entender a ação desses "braços" do Estado na vida cotidiana de Curitiba, objetivamos apresentar, sob a ótica analítica do filosofo colombiano Bernardo Toro, uma análise da documentação reunida pela antiga Delegacia de Ordem Política e Social e pelas manchetes veiculadas nos principais jornais da capital, sendo eles, respectivamente: a Gazeta do Povo e 113 o Diário da Tarde, para concluirmos que a existência desses órgãos serviram não só para perpetuar uma espécie de assistencialismo populista, mas para, incutir um sentimento de “experimentar a guerra”, visando um alinhamento imediato entre a população e o anseios do governo Vargas. Palavras-chave: Curitiba, mobilização social, sentimento e Segunda Guerra Mundial Agência financiadora: CAPES/CNPQ O ESTADO NOVO VARGUISTA: REPRESSÃO E DITADURA, POR QUÊ? Fabiano Ribeiro (UEL) A proposta deste estudo sobre a temática “O Estado Novo Varguista: Repressão e Ditadura, Por quê?”, tem como objetivo uma peculiar reflexão sobre a jornada histórica-política brasileira de 1937, tendo como base em nossos estudos a obra “Golpe Silencioso”, da historiadora Aspásia Camargo, que em seus escritos, faz referência a um dos maiores personagens de nossa política contemporânea. Sabemos da importância e necessidade de reabertura de novas discussões e capilarizar nossa historiografia brasileira, o que faremos ao analisar as reais motivações de Vargas ao uso do autoritarismo em função da manutenção do poder. Dessa forma, nos propomos pensar sobre a política da época sob à perspectiva e olhar de Getúlio Vargas, sendo a política brasileira metaforicamente um tabuleiro de “xadrez humano” e que mexer as peças estrategicamente, munido de logicidade e domínio espacial e temporal, representaria o sucesso de um projeto de permanência no governo central. Lançamo-nos também ao desafio de uma nova leitura política getulista, esta que se constituiu por caminhos tortuosos e que sobrevivera a uma instituição política regada a fortes pressões. Portanto, nosso olhar analítico e criticidade tornam-se peça chave ao processo de emancipação do pensamento político e, o pensar na realidade desse período de 1937, ainda nos instiga e nos reporta a historicidade do passado em vias ao entendimento do presente, fazendo-nos ousar entender a brilhante trajetória varguista às sombras de estigmas políticos de um país em transição. Palavras-chave: Estado Novo; Repressão e Ditadura; Golpe Silencioso. O 1º GRUPO DE AVIAÇÃO DE CAÇA DO BRASIL NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL: MISSÕES. Heitor Esperança Henrique (FAFIMAN) O 1º Grupo de Aviação de Caça era a unidade aérea com 48 pilotos e aproximadamente 450 integrantes de apoio que representou a Força Aérea Brasileira (FAB) na Segunda Guerra Mundial. O objetivo do trabalho é demonstrar e discutir as missões de guerra cumpridas pelo grupo, que junto de outros três esquadrões formavam o 350º Fighter Group sob o comando do XXII Comando Tático Aéreo, que apoiava o V Exército norte-americano, do qual fazia parte a Força Expedicionária Brasileira (FEB). Foram 444 missões 114 realizadas entre 31 de outubro de 1944 e 2 de maio de 1945. A metodologia baseia-se na análise de fontes referentes as missões citadas. As informações sobre as missões foram retiradas do Daily Report originais, e cedidas pelo Brigadeiro Rui Moreira Lima, ex-combatente e integrante do grupo, encontradas no site http://www.sentandoapua.com.br/portal/. Através da análise da documentação é possível concluir que o grupo brasileiro cumpriu suas missões, individualmente ou em conjunto com os demais esquadrões norte-americanos, de acordo com o que era esperado por seus comandantes. Palavras–chaves: 1º Grupo de Aviação de Caça; Força Aérea Brasileira; Segunda Guerra Mundial; Missões; Pilotos. O COTIDIANO DO 1º GRUPO DE DO BRASIL AVIAÇÃO DE CAÇA DURANTE A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL Heitor Esperança Henrique (FAFIMAN) O 1º Grupo de Aviação de Caça é a unidade aérea que representou a Força Aérea Brasileira (FAB) na Segunda Guerra Mundial. Este grupo viveu uma realidade de guerra entre treinamentos, ocorridos no Brasil, Panamá e Estados Unidos, e combates, na Itália, no biênio de 1944-1945. O Objetivo deste trabalho é demonstrar o cotidiano do grupo entre treinamentos e combates e os momentos fora das atividades bélicas, como lazer e descanso. Nas diferentes cidades e locais de treinamento e batalhas, entre aulas teóricas e práticas e as atividades de guerra, os integrantes do grupo se distraiam com a prática de esportes e visitas às praias, casas de show e bares noturnos das regiões onde se encontravam. As fontes utilizadas para a realização do trabalho são relatos e memórias publicadas em forma de livro ou entrevistas pelos ex-combatentes do grupo e iconografia da unidade aérea. Pode-se concluir que o cotidiano do grupo era repleto de atmosferas diferentes, entre treinamentos, guerras, perdas e morte, e descanso e lazer em conjunto com os companheiros do grupo e os citadinos dos locais onde estavam instalados. Palavras-chave: 1º Grupo de Aviação de Caça; Força Aérea Brasileira; Segunda Guerra Mundial; Cotidiano; Pilotos. SILAS MALAFAIA E A TEOLOGIA DA PROSPERIDADE. Jonas Christmann Koren (UNIOESTE) O objetivo desse artigo é compreender como a teologia da prosperidade é entendida, pregada e defendida pelo fundador, porta voz e principal pregador da Associação Vitória em Cristo, o pastor Silas Malafaia. Pretendemos perceber no discurso do pastor as formas utilizadas para convencer o público e legitimar a teologia da prosperidade como sendo um valor essencialmente cristão. Para isso, analisaremos uma entrevista concedida pelo pastor à Revista Veja, na qual responde algumas questões sobre o tema e uma mensagem que foi ao ar em seu programa de televisão, o Vitória em Cristo. A teologia da prosperidade subverte o pensamento das denominações pentecostais clássicas que desvalorizavam as riquezas terrenas e pregavam 115 uma vida ascética. Prega que os cristãos estão destinados a serem prósperos materialmente, felizes, saudáveis e vitoriosos em todos os seus empreendimentos mundanos. Os fiéis devem buscar as bem-aventuranças, outrora prometidas no paraíso, na terra, principalmente através do crescimento financeiro e do consumo. Além de incentivar as doação dos telespectadores para a sua associação, a teologia da prosperidade também difunde visões de mundo e conforma um consenso entre seu público. Prega que a pobreza é fruto da incompetência individual, e a riqueza é fruto de benção divina ao mesmo tempo em que transforma a relação das pessoas com Deus em uma espécie de transação financeira. Como veremos, essas visões de mundo são totalmente adequadas à sociedade burguesa e a ocultação da dominação de classe. Palavras-chave: Silas Malafaia; Teologia da Prosperidade; Ideologia. Agência financiadora: CAPES BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A POLÍTICA Luiz Miguel do Nascimento (UEM) Esta comunicação é fruto de um diálogo com as obras de alguns pensadores que, a nosso ver, levantaram questões indispensáveis para se entender o significado e a importância da política para a vida em sociedade. Nessa direção, apesar do profundo descrédito em que se encontra a atividade política em nossos dias o trabalho defende a ideia de que ela é fundamental para a sociedade, tanto no plano coletivo quanto individual. Pensamos que não é nenhum exagero afirmar que sem essa dimensão da vida coletiva ainda viveríamos em um estado natural sob a violência e a lei dos mais fortes. Logo, compartilhamos da ideia de que não é possível existir vida social organizada e civilizada sem a política. Assim, mesmo correndo o risco de estar idealizando muito a arte de governar, esse princípio serve para nos lembrar que as decisões em política sempre devem se basear no diálogo e na persuasão e não no uso da força e da violência. Outrossim, em termos de procedimento metodológico, para encaminhar essa discussão, o trabalho se inspira na Nova História Política e nas reflexões de alguns autores das áreas da Ciência Política, da Sociologia e da Filosofia que abordam a importância e o significado da política. Trata-se, portanto, de uma análise textual da bibliografia escolhida para abordar o tema. Palavras-chave. Política; diálogo; civilização; HISTÓRIA DO TEMPO PRESENTE Murilo Sanchez Zulato (UEM/UNICESUMAR) Priscilla Campiolo Manesco Paixão (UNICESUMAR) Vivian Fernandes Carvalho de Almeida (UNICESUMAR) Acreditamos que um dos papéis da História seja o de fomentar a reflexão sobre o nosso próprio tempo, assim, temos como proposta uma análise sobre a História do Tempo Presente. Buscamos refletir sobre a importância desse 116 campo de estudo, quais são as dificuldades com que o historiador se depara ao produzir análises sobre seu próprio contexto, quais são seus métodos para o empreendimento dessa tarefa, objetivos recorrentes dos autores que se arriscam nesse campo da História e, por fim, os limites de atuação desse tipo de produção. Para tanto, procuramos estabelecer um diálogo com o pensamento de Edward Palmer Thompson, Eric Hobsbawm e François Bèdaridá acerca do assunto. Na iniciativa de apresentar um aporte teórico dotado de metodologia apropriada ao estudo do Tempo Presente no campo da História, analisaremos alguns fatores considerados como essenciais a esse campo de estudo, tais como a cautela necessária a esse tipo de trabalho e as dificuldades e benefícios que o historiador pode se deparar ao longo de sua produção. Em suma, foi pretendida uma produção que evidenciasse a importância do Tempo Presente à historiografia, afinal, o presente é o tempo dos futuros fatos históricos. Não menos importante, buscamos sublinhar o papel da História do Tempo Presente no próprio contexto em que o historiador se insere, pois, ao analisarmos o nosso próprio tempo, produzimos – ou ao menos buscamos produzir - impacto sobre ele. Palavras-chave: História; Tempo Presente; Metodologia; Teoria. ENTRE FAUSTO E QUIXOTE: REPRESENTAÇÕES DO MODERNISMO E DO ROMANTISMO NO SOCIALISMO DE OSWALD DE ANDRADE. Marcio L Carreri (UENP-PR) Estefania K. C.Fraga (PUC-SP) A presente comunicação pretende apresentar resultados parciais de um estudo sobre o pensamento e prática política do escritor paulista Oswald de Andrade (1890-1954), apresentados no ambiente cultural e político de São Paulo na década de 1930. O objetivo é analisar a filosofia marxista e a adesão ao PCB, marcas da inflexão do escritor, que, de esteta e ponta-de-lança do movimento modernista adentra ao conturbado mundo político da época, construindo, na luta partidária e política, sua visão de mundo. Fragmentos do pensamento do autor e formas de inserção no Partido serão considerados para a apresentação. O texto é divido em três partes, na primeira apresentará as contradições e afirmações de sua proposta, localizada na tensão entre o Moderno, representado na figura de Fausto; e o romântico, compreendido na expressão de Quixote; na segunda parte problematizamos a as relações entre a Antropofagia e o Marxismo resultando, na perspectiva do literato, num processo híbrido, uma espécie de socialismo mestiço e que, no âmbito das questões interculturais, onde localizamos Oswald de Andrade, foi pouco trabalhada na produção acadêmica. Finalmente, na terceira parte, analisamos a leitura que Oswald fez de Marx, que resultou na sua particular compreensão e no processo de formação de seu marxismo. Palavras-chave: Oswald de Andrade; socialismo; antropofagia; marxismo 117 A PARTICIPAÇÃO BRASILEIRA NA EXPOSIÇÃO DE ARTES E TÉCNICAS DA VIDA MODERNA EM PARIS - 1937 Wellington Durães Dias (UNESP/Assis) Este trabalho tem como objeto de estudo a participação do Brasil na sétima e última exposição universal realizada em Paris no ano de 1937. Esta feira contou com a participação de 44 países e reuniu 31 milhões de visitantes durante seis meses. Concentrando obras de artistas e industriais, o evento expôs iniciativas que visavam elevar o padrão de vida humano, promover do pacifismo em um contexto de instabilidade política internacional e reaquecer o mercado internacional após a grande depressão. Mas também foi o palco de disputa e tensões entre nações e ideologias. Ignorada pela historiografia, a presença brasileira na exposição de 1937 ocorreu momentos antes do estabelecimento do Estado Novo e as vésperas da Segunda Guerra Mundial. Neste contexto de profundas transformações políticas e agitação social, o objetivo deste trabalho foi dissertar sobre a representação construída pelo governo brasileiro sobre a nação. Por meio do estudo dos objetos expostos no pavilhão, procuramos evidenciar os conflitos inerentes à sociedade brasileira. Foram utilizados como fonte periódicos brasileiros e franceses. Uma vez formadas séries completas e aventadas suas características materiais, foram lidos e os artigos sobre a exposição catalogados em um banco de dados. Por meio dos relatórios do banco, as evidências foram organizadas e interpretadas por meio de diversos conceitos. O principal empregado foi a noção de comunidades imaginadas de Benedict Anderson, com o qual analisamos a representação brasileira na feira. As pesquisas revelaram as contradições de uma nação que quer modernizar-se sem romper com os arcaísmos de seu passado colonial. Palavras-chave: Exposições Universais; Impressos Periódicos; Comunidade Imaginada. Agência financiadora: CNPq-CAPES. HATE ROCK - INSTRUMENTO POLÍTICO PARA OS FASCISMOS DO PRESENTE NOS ESTADOS UNIDOS E NO BRASIL (1990-2010) Pedro Carvalho Oliveira (UEM) Desde o fim dos anos 1970, o chamado Hate Rock cumpre um papel múltiplo em movimentos neofascismas europeus, atuando como ferramenta de recrutamento, de idealização nacional e de expressão e organização política. Entre os anos 1980 e 1990, esse gênero musical alcançou diversos países, a exemplo de Brasil e Estados Unidos. O fim da ditadura militar e a queda da União Soviética deu aos dois países novos terrenos e desafios políticos, nos quais ideologias neofascistas acabaram encontrando espaço. O presente trabalho tem por objetivo analisar os discursos políticos presentes nas músicas de oito bandas desses dois territórios, produzidas entre os anos de 1990 e 2010. Por meio desta investigação, baseada na transcrição das letras e interpretação sistemática de seu conteúdo, identificaremos importantes caraterísticas políticas idealizadas por agentes sociais do tempo presente. Este projeto, ainda em fase inicial, pretende, com o uso de perspectiva comparada, 118 na qual é possível realizar afastamentos e proximidades entre ambos os contextos, alcançar uma síntese que aponte razões para a existência de um mesmo fenômeno político em duas sociedades tão diferentes. Assim, poderemos observar como ideologias atreladas ao passado são possíveis nos dias atuais. Palavras-chave: Hate Rock; nofascismos; tempo presente; Brasil; Estados Unidos Agência financiadora: CAPES POLÍTICAS PÚBLICAS AFIRMATIVAS E O ENSINO DE HISTÓRIA: A DISCUSSÃO ÉTNICO-RACIAL NA REGIÃO DO VALE DO IVAÍ/PR Leandro Brunelo (UEM) A efetivação de políticas públicas no campo da educação brasileira, especialmente aquelas centradas nos debates sobre as relações étnico-raciais, almeja não apenas discutir as noções de cultura, de diversidade cultural e de identidade, mas objetiva, também, fazer da escola um ambiente inclusivo. Nesse sentido, almeja-se com a realização dessa pesquisa, entender em que medida os trabalhos e as ações didático-pedagógicas desenvolvidas na área do Núcleo Regional de Educação de Ivaiporã/Pr são estruturados a partir das orientações da Lei 10.639/03, que torna obrigatório o ensino de história da cultura afro-brasileira e africana nas escolas e, além disso, compreender como essa discussão étnico-racial aparece nos Projetos Político-Pedagógicos (PPPs) das escolas do NRE de Ivaiporã/Pr. A lei 10.639/03 e os demais documentos oriundos a partir dela (instruções, resoluções, etc.), em âmbito estadual e federal, sinalizam uma ideia-força muito marcante no início dos anos 2000 que é a de articulação de projetos voltados para a promoção da cidadania, da valorização da diversidade e das diferentes etnias formadoras históricas da nação brasileira. Ao estudarmos as políticas públicas educacionais étnicoraciais, podemos perceber como o Estado, enquanto instituição, procura responder a dinamicidade social e as reivindicações advindas dos variados grupos sociais, em especial do movimento negro. Além disso, é possível refletir sobre como essas políticas públicas são pensadas no espaço escolar. Palavras-chave: políticas públicas, lei 10.639/03, ensino de história, questões étnico -raciais. O POVO, A RELIGIÃO E A POLÍTICA NO INSTITUTO ADMINISTRATIVO JESUS BOM PASTOR (ANDRADINA/SP, DÉCADAS DE 1970 A 1990) Marcos Sanches da Costa (UFGD) O Instituto Administrativo Jesus Bom Pastor (IAJES), em toda a sua trajetória, entre os anos de 1970 e 1996, atuou junto aos movimentos de base de Andradina/SP. Ligado à Igreja Católica, esse Instituto esteve sob a orientação da Teologia da Libertação fundamentando as diversas atividades, tanto do IAJES quanto dos grupos que organizava, lutando por direitos básicos e propondo uma nova forma de oposição ao regime civil-militar no Brasil. Este 119 projeto tem o objetivo de estudar como se davam essas atividades, principalmente as atividades desenvolvidas pelas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e pela Sociedade Amigos de Bairro (SABs) andradinenses, sob o olhar da Nova História Política. Pretende-se ainda, discutir a inter-relação entre religião e política presente nos discursos e ações desses sujeitos e grupos. Palavras-chave: Igreja Católica, Ditadura civil-militar, Teologia da Libertação. 120 ST12 – AS ROUPAS, AS APARENCIAS E A MODA NAS NARRATIVAS DA HISTORIA O LUXO NAS FRONTEIRAS DO IMPÉRIO PORTUGUÊS: AS SEDAS E JÓIAS FEMININAS EM SÃO PAULO NO SÉCULO XVII. Juliana de Mello Moraes (FURB) Esse estudo explora a relação entre a aquisição de bens de luxo e as estratégias de distinção das mulheres em São Paulo na segunda metade do século XVII. De acordo com a historiografia, esse período foi marcado pela conformação de uma sociedade hierarquizada e com forte concentração de riqueza entre aqueles dedicados à produção e ao comércio, determinando a afirmação e sedimentação da elite paulista. A partir dos inventários post mortem é possível verificar os bens dos mais abastados, destacando-se a existência de jóias e vestuário refinado nos espólios das senhoras. Nesse sentido, a análise centra-se nos vínculos entre os jogos de aparência, através do uso de indumentária suntuosa, e o papel desempenhado pelas mulheres naquela sociedade, pois elas congregavam, por meio dos seus dotes, parte significativa dos cabedais no momento da formação de novas famílias. Os bens das mulheres não somente corroboravam as hierarquias estamentais, inclusive em cenários afastados dos centros político-administrativos ou econômicos do império português, mas também expressavam a complexidade inerente a cultura consumo e as relações de gênero. Enquanto elemento inseparável da realidade circundante, o consumo de bens, mais do que o desejo de ostentação ou mimetismo social, emerge como um dos aspectos relevantes para a consolidação da elite paulista, especialmente entre as mulheres, sinalizando sua visibilidade e proeminência naquele contexto. Palavras-chave: Indumentária feminina; São Paulo; século XVII; consumo MODERNIDADE AO SUL DO BRASIL: A MODA E O CICLISMO EM PORTO ALEGRE (1895-1905) Natália de Noronha Santucc (PUCRS) Na Porto Alegre dos primeiros anos da República diversas forças de mudança atuavam simultaneamente – uma nova ordem social se estabelecia por meio da burguesia teuto-brasileira em ascenção, da consolidação do castilhismo de matriz positivista, da demanda por reformas urbanas, entre outros fatores, como a abolição dos escravos. Um aspecto marcante da época foi a introdução práticas esportivas inéditas na cidade, que originavam novos espaços de sociabilidade e estimulavam uma vida social em esfera pública, diferente dos eventos domiciliares promovidos até então. Neste texto, por meio da análise de imagens e notícias, observaremos a indumentária dos ciclistas e buscaremos compreender os processos de moda nos quais estavam inseridos tanto os trajes dos frequentadores dos clubes de ciclismo, que surgiram nesse período, quanto a própria prática esportiva. Discutiremos a influência da globalização simples e da criação e manutenção de identidades na opção por estas roupas 121 e atividades, abordando brevemente questões relacionadas a uniformes e papéis de gênero, levando em consideração o desejo de modernidade propagado pelas elites e tendo exemplos de outras localidades como pontos de referência. Notamos que as bicicletas, o vestuário e as fotografias, as mesmas que circulavam na capital gaúcha na virada do século e nos servem agora como fonte, eram adventos dessa modernidade, ainda que o sonho da “Porto Alegre metrópole”, nos moldes das capitais modernizadas, como Paris, ainda estivesse distante da realização. Palavras-chave: História da Moda; História do Esporte; Indumentária; Ciclismo; Modernidade. Agência financiadora: CAPES. A REPRESENTAÇÃO FEMININA/FEMINISTA DAS MELINDROSAS NOS ANOS 1920 DURANTE A BELLE ÉPOQUE CARIOCA Herculanum Ghirello Pires (UEM) O presente trabalho abordará a construção social das melindrosas e a representação que suas vestes, e o seu estilo de vida alternativo, produziu como resistência ao discurso dominante de feminilidade. Na época, início do século XX, o Brasil passava por algumas mudanças em seu cenário cultural, social e econômico devido à sua inserção no mercado financeiro mundial, época que ficou conhecida como Belle Époque. A Federação Brasileira para o Progresso Feminino (FBPF) criado em 1922, por Berta Lutz, constitui-se em marco da organização das mulheres para agirem em conjunto e lutarem por seus direitos. Até que ponto a representação da melindrosa contribuíu para a expressão do feminismo nacional e desta federação? Se contribuíram, em quais pontos? Para o estudo das vestes do período Mendes e Haye (2009) tornam-se indispensáveis; para o estudo simbólico das roupas como meio de comunicação não verbal Crane (2012) traz elementos fundamentais a análise. As notícias sobre moda e crônicas da Revista Fon-Fon! e da Revista da Semana conduzirão a análise e a narrativa que caminhará no sentido de identificar como a moda foi significada pelas melindrosas em suas atuações e estilo de vida. Palavras-chave: Melindrosas; Moda; Rio de Janeiro; Feminismo; Federação Brasileira pelo Progresso Feminino; Gênero UM OLHAR SOBRE MODA E MODERNIDADE NAS CARICATURAS DE BELMONTE (1924-1927) Marissa Gorberg (FGV) O presente trabalho visa à investigação das caricaturas de Belmonte que têm a moda como tema, publicadas nas revistas cariocas Frou-Frou e Careta entre 1923 e 1927. A análise dessas representações é capaz de oferecer valorosa contribuição para o entendimento de práticas sociais e escolhas vestimentais de feição burguesa na então capital metropolitana do país. Pretendemos propor uma reflexão sobre mudanças da indumentária, do arquétipo feminino e das 122 relações de gênero, num período de disseminação da cultura das aparências e do fomento à estetização da vida cotidiana, em pleno curso da modernidade urbana. Como recurso metodológico, pretendemos seguir o caminho trilhado pelo sociólogo Georg Simmel, cuja obra, na virada dos séculos XIX-XX, tratou de forma pioneira temas decorrentes da vida citadina. No que tange especificamente à moda no Rio de Janeiro, nos remetemos à visão do historiador americano Jeffrey Needell, que em seu livro Belle Époque Tropical (1993) desenvolve densa reflexão sobre o contexto histórico-socio-cultural no qual as elites brasileiras exerciam escolhas e traçavam diretrizes para suas ações.As caricaturas de Belmonte revelam-se uma expressão de linguagem capaz de sentir e perceber a sociedade, contribuindo para o entendimento de algumas das suas faces; o recurso gráfico informa as transformações formais da moda e do lugar da mulher na sociedade, permitindo o exame de ações distintivas e inclusivas, estratégias para auto-afirmação, aprovação ou até mesmo para alargamento de fronteiras morais, em meio a mudanças de valores, convenções e desejos na segunda década do século XX. Palavras-chave: Belmonte; moda; modernidade; caricaturas. ESTILO DE VIDA, FIGURINOS E ELEGÂNCIAS: A BELLE ÉPOQUE NA “MODA À “LA LAURINDA SANTOS LOBO”. Andresa Taís Bortoloto de Lima (UEM) No inicio do século XX, no Brasil, os espaços das cidades e os figurinos das mulheres modificam-se. No Rio de Janeiro, o projeto de transformação e de modernização da cidade, marcou a emergência de estilos de vida modernos que, influenciados pelas concepções da cultura francesa, foram assimilados e propagados principalmente pelas mulheres de elite. Esta pesquisa focaliza o percurso de Laurinda Santos Lobo (1878-1946), considerando-a como representante e representando o estilo de vida que emerge e se dissemina no período de 1903-1946 entre os segmentos da elite, promovendo-as às difusoras de moda. A realização de festas e recepções no Palacete localizado em Santa Tereza; a rede de amizades estabelecidas com personalidades masculinas e femininas que detinham poder e prestigio nos universos da vida artística e politica; a visibilidade conquistada na imprensa, mediante a divulgação de suas presenças e figurinos nas sociabilidades da elite como “Marechala da elegância”, fornecem as pistas acerca das contribuições da personagem para alavancar por meio de seu estilo de vida novas práticas e representações de moda que se conectavam à modernidade e à modernização da cidade. São as novas maneiras de as pessoas se relacionarem, de se vestirem, de se exporem e se apresentarem publicamente que vislumbramos nas fontes consultadas, constituídas pelas Revistas Fon-Fon, Revista da Semana e Revista Para todos. As notas e imagens da imprensa em conjunto com as fontes biográficas/memorialísticas e os estudos das mulheres permitem evidenciar o papel desempenhado pela moda à “la-Laurinda” naquele contexto. Palavras-chave: Moda; Sociabilidades; Laurinda Santos Lobo; Rio de Janeiro; Modernização; 123 O VESTUÁRIO COMO CULTURA MATERIAL: COSTURANDO A MEMÓRIA E O VESTIDO DE NOIVA DAS MULHERES EM MARINGÁ - PARANÁ ENTRE 1960 A 1970 Rizia Ferrelli Loures Loyola Franco (UNICESUMAR) O presente estudo etnográfico trata de mulheres que têm entre 60 e 75 anos, moradoras de Maringá-Paraná e que tiveram alguma relação com a atividade da costura. A pesquisa tem como tema o vestuário como cultura material. O objetivo é investigar o vestuário que essas mulheres produziram ou adquiriram e o que foi guardado para conhecer os valores sociais. Na pesquisa de campo etnográfica, ocorrem as técnicas de observação direta, coletando-se dados orais, comportamentais e análise da cultura material: o que são os objetos guardados, como esses objetos são guardados, suas descrições, histórias, usos e significados. Busca-se, assim, analisar o vestuário como elemento para a produção de si, por meio do vestido de noiva que diferenciavam essas mulheres em suas respectivas fases da vida e as faziam pertencer a diferentes grupos sociais. As análises do vestuário, como uma segunda pele, fazem emergir os valores sociais das mulheres. Algumas dessas construções corpóreas estão vinculadas à ostentação de um físico dentro dos padrões de beleza. Além disso, essas aparências são marcas de feminilidade, evidenciando o recato e o esmero. Nesta pesquisa, constatou-se que as mulheres atribuem ao corpo com cintura marcada e a um vestuário que evidencie tal construção a identidade social e a memória. Assim, o vestido de noiva mais uma vez foi relacionado aos atributos de muitas mulheres como distinção social. Palavras-chave: Vestuário feminino; Costura; Identidade; Distinções sociais. MEMÓRIAS DO VESTIR NO CORPO: OS ENXOVAIS NA MODA Débora Pinguello Morgado (UEM) As heranças têxteis provenientes de antigos enxovais, que se constituem em roupas de cama, mesa e banho, são parte de um acervo histórico familiar e revelam muito sobre a história das mulheres e suas relações com os tecidos que decoram as casas. As artes confeccionadas na superfície dos “paninhos”, por meio dos saberes e fazeres femininos, guardadas na gaveta do esquecimento, podem recriar e traduzir um passado, cujas lembranças serão os vetores para o reconhecimento e o fortalecimento da identidade do indivíduo que percebe sua história revelada pelos tecidos. A comunicação e transformação dos têxteis podem ser feitas por meio da moda e do reaproveitamento, ou seja, transformar as toalhas e colchas, por exemplo, em roupas que portam memórias. A metodologia do artigo perpassa pelos diálogos sobre memória e identidade, relacionando-os com a história das mulheres e o fazer moda – fazer esse que pode ser veículo para a compreensão dos encontros entre dois universos culturais: o feminino e as roupas. A reflexão completa-se com a materialidade de peças de roupas que, seguindo as trilhas 124 da criação de moda, mediante o reaproveitamento de panos da casa, permitirão dimensionar visualmente as técnicas para a reutilização de têxteis histórico-culturais. Nesse ponto, as imagens fotográficas das roupas apresentadas no Trabalho de Conclusão de Curso de Moda (UEM), dão o tom da narrativa. Por meio delas evidenciamos como valorizar os bens intangíveis os sentimentos e os afetos – que ligam os panos às memórias femininas. Palavras-chave: Heranças têxteis; Memória; Identidade; Reaproveitamento; História feminina REFLEXÕES ACERCA DA MODA MEDIEVAL NAS LEIS SUNTUÁRIAS DA PENÍNSULA IBÉRICA Thaiana Gomes Vieira (UFJF/IAD/PPGACL) O presente trabalho é elaborado sob a orientação da Professora Maria Claudia Bonadio, da Universidade Federal de Juiz de Fora. O trabalho refere-se à etapa inicial das reflexões da minha pesquisa individual, com a finalidade de redigir a dissertação do mestrado em Artes, na linha de pesquisa “Moda e Arte: História e Cultura”. O objetivo não é realizar uma simples descrição linear sobre a história da moda, mas pensar a moda como objeto representativo da história, pois se articula a diversos fenômenos sociais. Nessa comunicação vamos tratar da moda na Baixa Idade Média na Peninsúla Ibérica, a partir das cortes de Valladolid de 1385 e 1351. Analisamos o que a lei outorga e porque a mesma fora criada. Para pesquisar as leis utilizamos a análise retórica, em que destaca-se a figura retórica utilizada nos textos, é adequado para textos jurídicos. Para investigar as circunstâncias de produção do texto, o emissor e que lugar social e político ele ocupa, a região de produção, as motivações para elaboração das fontes, a ação de editores nas mesmas, entre outros, utilizamos a análise da historiografia sobre o tema. As obras sobre a história da moda, em geral, tratam de diversos temas: roupas usadas nos diferentes períodos, as variações nas vestimentas; as restrições de cores, tecidos, modelos e adornos para cada camada social; as caracterizações regionais, e o uso da indumentária como aparato e sua funcionalidade. As conclusões estão abertas, mas as reflexões apontam para motivações econômicas e sociais para a elaboração das leis. Palavras-chave: Moda; Idade Média; Moda Medieval; Leis suntuárias. DRAG KING: CORPO E ARTE VESTINDO MASCULINIDADES Marcela Silvestrim (UEM) Patrícia Lessa (UEM) Nossa apresentação tem o objetivo de divulgar os resultados das oficinas Drag King, que chegaram ao Brasil com a visita da escritora queer francesa MarieHélène Bourcier através de um Intercâmbio entre a Universidade Federal de Santa Catarina, Universidade Federal da Bahia e a Universidade Estadual de Maringá (UEM). Com esse espírito no dia 29 de julho de 2014, uma terça feira, 125 aconteceu a Oficina de Drag King realizada no Atari Bar, das 18hs até 22hs, a oficina contou com aproximadamente 22 participantes entre docentes, estudantes da UEM e com ativistas do Coletivo Maria Lacerda de Moura. O termo masculinidades sem homens se insere nas discussões alavancadas por Judith Halberstain e nos permite incluir todas aquelas pessoas que desafiam os limites do sexo e de gênero, tanto na moda como na arte. Masculinidade não é sinônimo de 'homens', nas performances abrem-se possíveis modos de libertar nos corpos presos no papel de destino e recriar um modo mais lúdico, um modo transviado de masculinidade, que inclui o papel da vestimenta na configuração de gênero. É importante destacar que, através dos jogos performativos da vestimenta, cada vez mais pessoas, independentemente da sua orientação sexual, podem ter acesso a modos novos de romper os laços entre a compulsão para a heterossexualidade e a dominação de um gênero sobre o outro, pois, o que conta é a perda de referência ou a encenação de um gênero específico. Palavras-chave: Drag King; Masculinidades; Artivismo; Atari Bar; Performance. Agência financiadora: PVE/CNPq; ECI/UEM GRUPOS FOLCLÓRICOS EM MARINGÁ; ELEMENTOS DE IDENTIDADE IMIGRANTE; O GRUPO “OS LUSÍADAS” Emilio Carlos Boschilia (UFPR) Márcio José Pereira(UNESPAR) Em nível contextual, esta pesquisa aborda aspectos relativos aos processos de imigração e colonização do estado do Paraná, bem como da construção identitária dos grupos étnicos que compõem seu amalgama sócio-cultural. Em nível específico, apropria elementos históricos referentes à ocupação pioneira da região norte-paranaense e sua respectiva formação étnico-cultural. Tece considerações sobre as heranças culturais recebidas dos grupos étnicos primordiais e dos imigrantes não europeus advindos desde o início do século XIX. Aborda as estratégias de agregação étnico-cultural baseadas na viabilização de organizações sociais (igrejas, associações, centros, clubes etc.) e da (re) aviventação de tradições, dentre as quais aquelas relativas aos grupos de danças de natureza folclórica. As atenções gerais estão voltadas para os grupos de dança de natureza folclórica, cuja criação e atuação resulta de dispositivos de (re) aviventação identitária levados a efeito por alguns dos grupos étnicos no Paraná. Em Maringá, dentre os vários grupos folclóricos, o foco específico recai sobre “Os Lusíadas”, grupo este criado e em funcionamento no âmbito do Centro Português, organização social maringaense relacionada com a comunidade portuguesa, e sobre o qual são pesquisadas as origens, métodos de trabalho, componentes, instrumentos, músicas, danças e, de modo específico, os trajes típicos. Um dos objetivos deste projeto é a documentação fotográfica e descritiva dos trajes típicos pertinentes a este grupo, respectivas características, origens regionais, utilidades/costumes de suas respectivas utilizações. Também foca, entre outros aspectos, as estratégias e ações desenvolvidas pelo grupo para manter a 126 fieldade com os aspectos tradicionais de origem relacionados com os trajes típicos. Palavras-chave: formação étnica; grupos de dança folclórica; trajes típicos; tradição; reaviventação identitária Agência financiadora: Programa de Apoio Cultural da Secretaria Municipal da Cultura de Maringá/PR A COMPOSIÇÃO VISUAL POR MEIO VESTUÁRIO COMO ESTRATÉGIA DE DISTINÇÃO Ana Caroline Siqueira Martins (UEM) Como objeto de pesquisa, de fato, a moda é um fenômeno completo, pois propicia um discurso histórico, econômico, etnológico e tecnológico, sendo também um sistema de signos por meio do qual o ser humano esquematiza a sua posição no mundo e a sua relação com ele (BARNARD, 2003). Nesse sentido, a composição e expressão visual por meio do vestuário tornam-se, por vezes, mecanismos de classificação e distinção que influenciam na relação dos sujeitos em determinados espaços sociais. Este artigo, parte de uma dissertação de mestrado em Ciências Sociais que aborda a configuração do setor industrial de moda na cidade de Cianorte/PR a partir do século XXI, bem como as práticas dos agentes envolvidos com ele (costureiras(os), estilistas, empresárias(os)), tem como objetivo discorrer sobre as disputas, estratégias e poder simbólico articulados no interior de uma industria de moda da cidade, concentrando-se nas táticas de composição e expressão visual por meio do vestuário Utilizou-se como referencial teórico, sobretudo, a obra de Pierre Bourdieu e como abordagem metodológica a pesquisa bibliográfica e a pesquisa de campo que consistiu no uso da técnica observação participante além da coleta de dados e entrevistas com agentes do setor. As análises revelaram tensões entre as(os), pesquisadas(os), que procuram distinguiremse por meio do discurso (verbal e não verbal), da reprodução de um habitus incorporado no campo da moda e de sistemas classificatórios, no intuito de transformarem ou conservarem suas posições sociais e de conquistarem status privilegiado, o que se apresentou como o princípio gerador das práticas neste contexto. Palavras-chave: Estratégias; Composição visual; Indústria de moda; CianortePr. SHOPPING CENTER: A ROUPA COMO TERRITÓRIO SIMBÓLICO Rachel de Aguiar Cordeiro Mazzarino (UNIVAP) Maria Aparecida Papali (UNIVAP) O shopping center é visto, hoje, não apenas como ambiente de consumo, mas próprio para o convívio em grupo, ao circular por ele o indivíduo abre mão do vestuário para a construção de processos identitários, por isso, acredita-se ser possível identificar os diferentes territórios construídos através das roupas dos 127 indivíduos enquanto “habitantes” do shopping center. O território estudado aqui é o que Haesbaert defende ligado à posse e à dominação, tem referência com as fronteiras culturais construídas através da simbologia que o vestuário carrega. Com o objetivo de analisar algumas manifestações de territórios simbólicos presentes no ValeSul Shopping da cidade de São José dos Campos em São Paulo, se faz necessário, primeiro, compreender a história dos shopping centers na sociedade brasileira, para então compreender as especificidades do ValeSul Shopping. Para isso, optou-se por uma pesquisa em campo qualitativa – por registrar apenas pessoas que possuem roupas fora do comum; experimental e não participativa – pela forma de registro informal (em câmera de celular), e por não interferir na circulação da pessoa. A roupa constrói as mensagens enviadas, representa a realidade, a identidade, a história e a compreensão de mundo de quem a usa. A mutabilidade do homem torna-se cada vez mais ligada à efemeridade da moda, do vestuário, e à necessidade de renovação. Simmel aponta que a vida de acordo com a moda é, uma eterna destruição e construção do indivíduo, uma busca de renovação da imagem que deverá ser oferecida para o outro. Palavras-chave: shopping center; identidade; território; vestuário ESTILISTAS DA MODA AFRO-BRASILEIRA: A IDENTIDADE QUE SE TRADUZ EM ROUPA Patrícia Helena Campestrini Harger (UTFPR) Marivânia Conceição de Araújo (UEM) A identidade afro-brasileira está associada aos objetos, conceitos, linguagens e imagens que podem estar atribuídos a uma peça do vestuário podendo influenciar comportamento e atitude de quem veste. Os elementos valorizados nas indumentárias e nos acessórios da moda afro-brasileira são capazes de desempenhar um papel importante na construção da identidade cultural. O objetivo desse trabalho é analisar como está representada a identidade do estilista através das suas criações e a questão central é descobrir como a identidade afro-brasileira pode ser representada através de roupas.Será realizada uma pesquisa bibliográfica, a fim de aprofundar o conhecimento sobre a temática proposta, também será selecionada uma estilista representante do segmento de moda afro-brasileira e por meio de entrevista semiestruturada serão abordados assuntos que visam descobrir como a identidade individual e os elementos empregados refletem nas criações de coleções de moda, podendo assim pensar como os estilistas buscam fazer as representações da moda afro-brasileira e como traduzem os anseios da procura pela ancestralidade e por manter viva as raízes e as tradições utilizando a moda como suporte dessa simbologia. É imprescindível fomentar discussões acerca da moda afro-brasileira que faz parte da cultura do nosso país, é um mercado que está em crescimento e carece por visibilidade. Palavras-chave: moda afro-brasileira; identidade; estilistas. 128 DO CROQUI À ACADEMIA: A BIOGRAFIA CULTURAL DE UM VESTIDO Aline Lopes Rochedo (PPGAS/UFRG) Um vestido criado há mais de quatro décadas pelo estilista Rui Spohr, em Porto Alegre, e adquirido por Heloisa Pinto Ribeiro, membro da aristocracia rural gaúcha, conduz esta pesquisa que resultou em minha dissertação de mestrado em Antropologia Social (2015). Ao ingressar no campo, no final de 2012, identifiquei três eventos que alteraram significativamente o status do vestido e sua relação com os sujeitos a ele ligados: a criação/apresentação/venda do bem, em 1971; o resgate da roupa do próprio roupeiro pela proprietária para sua festa de 80 anos, em 2011; e uma exposição temporária sobre moda realizada no Museu de Arte Brasileira (MAB), em 2012, em São Paulo, onde o artefato sintetizou a carreira de quase seis décadas do criador durante dois meses. Após este último evento, a roupa retornou à capital gaúcha e continuou provocando os sujeitos a ela alinhavados. Converteu-se, por exemplo, em alvo de disputa entre o estilista e a cliente: para Rui, a peça se tornou “obra de arte” e deveria ser doada ao seu acervo de “artista”; para Heloisa, o mais importante estaria no fato de ela, a dona, ter guardado e zelado pelo item por 40 anos, e este deveria permanecer em seu roupeiro. A partir de um mesmo objeto, portanto, dois personagens constroem narrativas divergentes, cada um se impondo como protagonista. Seguindo o método etnográfico, tranço as três trajetórias e me esforço para demonstrar como este vestido exerce agência por onde e com quem circula, adquirindo novos capitais. Palavras-chave: Objeto biográfico; biografia cultural; agência; etnografia Agência financiadora: CAPES DE BRASILIA A WASHIGNTON: RELAÇÕES ENTRE MODA E PODER A PARTIR DO ENCONTRO NIXON- MÉDICI Renata Fratton Noronha (PUCRS) Waldemar Dalenogare Neto (PUCRS) O presente artigo busca refletir sobre as relações entre o vestir e a legitimação de uma imagem de poder através do encontro político entre os presidentes Emílio Garrastazu Médici e Richard Nixon. O notório crescimento brasileiro nos dois primeiros anos de Médici no poder foi o estopim para Nixon buscar uma aproximação definitiva com os militares do Brasil. Através da Embaixada americana, os diplomatas Charles Burke Elbrick (1970) e William M. Rountree (1971) organizaram um encontro entre os dois chefes de Estado com o objetivo de estreitar os laços de amizade. Se os americanos tinham planos de fazer apenas uma recepção formal na Casa Branca, Médici via a oportunidade de se encontrar com o homem mais poderoso do mundo com outros olhos: ao mesmo tempo que representaria a consolidação do ditador brasileiro, também mostrava uma direção positiva do projeto de levar um país emergente ao centro das discussões dos grandes dominadores da hierarquia global de poder.Durante a visita oficial, iniciada no dia 7 de dezembro de 1971, o guarda129 roupa da primeira dama Scila Nogueira Médici, mereceu especial atenção. O costureiro gaúcho Rui Spohr foi o responsável pela elaboração dos modelos, levando em conta as solenidades previstas. Os registros encontrados no acervo de Rui deixam claro o interesse de se criar para a primeira dama uma imagem contemporânea e ao mesmo tempo representativa do “milagre brasileiro”. Palavras-chave: moda; política; Nixon-Médici Agência financiadora: CNPQ ALTA-COSTURA OU PRÊT-À-PORTER? A EXPERIÊNCIA DO COSTUREIRO DENER PAMPLONA DE ABREU NAS DÉCADAS DE 1960 E 1970 Débora Russi Frasquete (UEM) Ivana Guilherme Simili (UEM) No Brasil, a produção de roupas, como bens culturais da moda, sofreu mudanças significativas entre os anos 1960 e 1970. O sistema produtivo do prêt-à-porter (produção em massa), pela indústria da confecção, altera as dinâmicas do consumo. Face às mudanças, a moda de luxo praticada pelos costureiros da alta-costura redefine-se. São as estratégias desenvolvidas por um dos representantes da moda que vestia as mulheres ricas do país que o texto focaliza. Seu nome? Dener Pamplona de Abreu (1937-1978). Como costureiro considerado criador de uma moda nacional, seus principais traços no estilismo foram a incorporação de particularidades brasileiras nas roupas, como estampas, tecidos nacionais, assim como considerando em suas criações o clima brasileiro que muito diferia do europeu – enquanto utilizava a elegância como motivação, busca incansável à boa estética, da qual faziam parte as vestimentas, a maquiagem e os acessórios. Assim, conquistou a sociedade brasileira, em particular, o gosto das mulheres da elite, transformadas em clientes. A clientela fez a diferença em seu percurso. Por meio dela projetou o Brasil como produtor de alta-costura que tinha identidade nacional. Nessa construção identitária cruzou os tecidos, as cores e o design com o biótipo da brasileira. Porém, os anos 1970, marcam o fim dos anos áureos da altacostura. Para costureiros, como Dener, as novas dinâmicas do mercado ditadas pelo prêt-à-porter significaram adequações e mudanças nas estratégias de produção e consumo. Diversas foram as iniciativas do costureiro a fim de manter a alta-costura nesse período de transição que a moda brasileira presenciava. Além de incentivar a criação da Câmara de Alta Costura Brasileira, Dener participa de publicações periódicas em jornais como Correio da Manhã e revistas como Manequim, assim como lança em 1972 um dos símbolos de suas estratégias: o Método de Corte e Costura que se propunha a ensinar moda para mulheres. Ensinamentos sobre como fazer roupas, o que usar e como se tornar elegante compõem a coleção do Método, organizado em três volumes. Associado às narrativas biográficas de Dener, neste texto, nosso olhar se volta para as décadas de 1960 e 1970, devido as iniciativas do costureiro em manter a alta-costura em meio a esse período de transição que a moda brasileira presenciava. Iniciativas percebidas como recursos do costureiro para a autoafirmação da elegância e da alta-costura, que mostram 130 seus esforços para a manutenção de um período histórico que estava se modificando, dando lugar aos poucos à modernidade produtiva da moda. Palavras-chave: Dener; Alta-costura; Prêt-à-porter; 1960; 1970. NEY BARROCAS: UM ESTUDO SOBRE SUA PARTICIPAÇÃO NO JORNAL CORREIO DA MANHÃ NA DÉCADA DE 1970 Débora Russi Frasquete (UEM) Rafaela Gini Volpin (UEM) Ney Barrocas (1938-1999), foi um costureiro atuante principalmente nas décadas de 1960 e 1970, que empreendeu uma carreira na moda brasileira, além do estilismo. Fora criar suas próprias coleções, no decorrer de sua carreira, Barrocas trabalhou como figurinista em peças teatrais e em carnavais de escolas de samba. Era também modelista e esses conhecimentos com a prática de linhas e agulhas foram transpostos para sua participação como colunista no Jornal Correio da Manhã, no suplemento destinado às mulheres chamado “Bela”. Essa participação do costureiro semanalmente no jornal carioca na década de 1970, foi importante para a difusão da prática de costura do “faça você mesmo”, e dos modelos criados por Barrocas, apresentando um desenho de sua criação, ao mesmo tempo em que disponibilizava os moldes do mesmo para que as mulheres o confeccionassem em casa. Essa facilitação se dava por conta dos moldes prontos para o corte distribuídos em duas páginas do jornal, associados à representação do modelo, e as descrições das informações consideradas importantes para sua confecção. Nesse sentido, o artigo analisa sua participação no jornal Correio da Manhã, por meio de suas publicações e traços biográficos, buscando reforçar a sua importância para a difusão da prática de costura. Considera-se Barrocas como parte do grupo de costureiros que ainda incentivavam essa prática na década de 1970, período de mudanças com a da modernização da moda brasileira, e ao proporcionar a produção caseira de uma peça Ney Barrocas, o costureiro difundia alta-costura, de forma acessível, porém, com sua própria etiqueta. Palavras-chave: Ney Barrocas; Costura; Alta-costura; Correio da Manhã; 1970. HISTÓRIA DA ALPARGATA: UM MODELO RESISTENTE AO TEMPO E AO MODISMO Heliana Marcia Santos (UNESP/ Bauru) Bruno Montanari Razza (UEM/ Cianorte) João Eduardo Guarnetti dos Santos (UNESP/ Bauru) O sapato como artefato cultural tem relevância em estudos históricos e sua evolução acompanhou o desenvolvimento da indumentária, refletindo o modo de vida e cultura dos povos, pois assim como a roupa, o sapato tinha função de 131 proteção em relação às intempéries climáticas e, posteriormente, observa-se que a evolução da roupa e do calçado passou a simbolizar uma hierarquia social e situação econômica de quem vestia. Os modelos dos calçados femininos derivaram dos modelos masculinos que eram adaptados aos pés femininos. Neste artigo focamos na alpargata, um calçado constituído de um solado de corda e cabedal (parte superior) em tecido. De origem árabe, foi introduzida na Península Ibérica e no sul da França, ganhando o nome de Espadrilles. No Brasil, ficou conhecida inicialmente como calçado espanhol, devido à imigração espanhola no fim do século XIX e pela influência da Argentina e Uruguai, onde já eram populares. A primeira produção industrial ocorreu em 1907 com a Fábrica Brasileira de Alpargatas e Calçados, difundindo a alpargata no mercado nacional. Nos anos 1950 a marca já estava consolidada, com grandes investimentos em publicidade enfatizando o baixo custo, o conforto do produto e a indiferenciação de gênero. Num país de pés descalços, a alpargata foi também importante em campanhas governamentais e introduzida como uniforme escolar. Esta pesquisa teve como objetivo compreender os significados e características da alpargata, utilizando referências bibliográficas e propagandas impressas. A alpargata é um modelo de vanguarda, tem importante papel social e cultural, é um calçado confortável e democrático. Palavras-chave: História da Moda; Calçado; Alpargata; Consumo de Moda; Publicidade de Moda. Agência financiadora: FAPESP A PRIMEIRA REVISTA DE MODA DO BRASIL UMA ANALISE DE IMAGENS DOS PRIMEIROS EDITORIAIS DA REVISTA MANEQUIM (1960-1965) Paula Rafaela da Silva (PUCRS) Esse texto pertence ao desenvolvimento da pesquisa de doutorado inserida no Programa de Pós-graduação em História da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, financiado pela CAPES e tem como objetivo pensar questões sobre cultura visual referente ao corpo que veste e ao processo de internacionalização da roupa através da comparação das revistas de molde Burda® (Alemanha) e Manequim® (Brasil) na década de 1960.Neste ensaio procurei problematizar sob a perspectiva da cultura visual abordando brevemente o conceito de performance do corpo, a partir da análise das fotografias dos editoriais da revista Manequim® da primeira metade da década de 1960. Dentre as percepções, podemos ver uma prática de cultura visual que, embora, priorize destacar a roupa em detrimento da modelo, exibe uma modelo com gestos delicados, que lembram bailarinas leves, graciosas e comportadas. Apontando para uma característica de época na qual as roupas recatadas, de cortes retos e adequados se unem a situações que eram guiadas pela revista. Como um manual, mais do que o molde da roupa, a Manequim® ensinava como e onde usar as peças; ensinava as regras performáticas do corpo que iria vestir a roupa. Através da linguagem 132 fotográfica, apresentava uma visualidade que parecia assegurar, a quem seguisse a orientação, de estar bem vestido, adequado e inserido no meio social. Palavras-chave: Moda, Cultura Visual, performance, corpo, história. Agência financiadora: CAPES DA ROUPA AO PROCESSO: REFLEXÕES SOBRE O ACERVO DO ESTILISTA PARAENSE ANDRÉ LIMA. Yorrana P. Maia de Souza (UNAMA) Deleuze (1988-1989) discute na letra I, em seu abecedário, questões relacionadas a ideia. Para o autor, criar é ter uma ideia, e as ideias são uma obsessão: elas vão e voltam, se afastam, tomam formas diversas. O que acontece é que a ideia não nasce pronta e precisa; é necessário construí-la. Para o filósofo, o criador dá consistência a um conjunto de percepções e sensações que vão além daquele que a sente, que são os perceptos. E não existe perceptos sem os afectos que são os devires, os encontros.Na pesquisa de acervos museológicos de moda surge a importância do estudo dessas variáveis do processo de construção de uma ideia para a compreensão dos territórios existenciais do estilista, para então estabelecer conexões e sentidos nas roupas criadas por ele. Considerando, assim, nas práticas museológicas um olhar rizomático que busca passagem do objeto aos processos. Portanto, propomos a observação e reflexão de um lugar de trânsito entre os perceptos e afectos, através dos documentos do processo de criação, e as roupas do acervo que foi doado pelo estilista paraense André Lima para a UFPA, em 2015. Trata-se de um acervo que revela um estilista que transita por territórios sampleados, dramáticos, místicos, selvagens, sofisticados, femininos e às vezes andrógenos, mas quase sempre delirantes sem pudores em misturar tudo isso. Parte de seus devires que retratam a sua percepção de Si e do mundo que o cerca. Palavras-chave: Acervo; roupa; perceptos; afectos; André Lima TROPICÁLIA: MODA E CONTRACULTURA EM FINS DA DÉCADA DE 60 Patrícia Marcondes de Barros (UNISANTOS) O movimento contracultural dos anos 60, teve por objetivo rebelar-se contra os valores instituídos pela sociedade norte-americana, engendrando uma cultura marginal que se pautava pela transcendência do mundo capitalista e tecnocrático. Através dos êxtases propiciados pelas drogas e filosofias orientalistas, do rock, da colocação do sexo como proposição social, da formação das comunidades hippies, a exemplo, tentava-se buscar a reintegração da totalidade humana, aspirando por uma volta à natureza e retribalização. Sua forma de expressão e diferenciação foi assinalada por uma linguagem universalista que se deu através de gírias, de danças, das roupas excêntricas, coloridas e adereços artesanais, da barba e dos cabelos compridos e ganhou contornos próprios em cada lugar do planeta revelando o 133 anseio ideológico de ruptura com os padrões estéticos vigentes. O presente trabalho tem como objetivo analisar a face contracultural brasileira com o Movimento Tropicalista e sua fabricação de sentidos e identidades através da Moda. Através de pesquisa qualitativa e fontes de época, como impressos alternativos e peças publicitárias, refletir-se-á sobre a apropriação das roupas por grupos sociais e culturais específicos. A Moda revela as tensões e os debates estabelecidos naqueles anos em torno das aparências e dos comportamentos que tiveram palco no país, fabricando significados para a indumentária e a aparência, afirmando identidades, resistências e contestação dos segmentos jovens da época. Palavras-chave: Moda; Contracultura; Tropicalismo; Ditadura Militar. A HISTÓRIA PELOS FIOS DA IMAGEM: MODA E MEMÓRIA Joana Bosak (UFRGS) A história contada pelas imagens nem sempre foi reconhecida como verossímil. De acordo com Peter Burke, pode-se sim, retomar o fato ocorrido através do testemunho da imagem. O presente artigo pretende analisar as imagens de arte que colocam a indumentária do final do século XIX no Rio Grande do Sul como documentos de compreensão de uma época e como retrato de época dos humores, saberes, fazeres e sensibilidades. Artistas como o pintor Pedro Weingartner tiveram papel decisivo na construção de uma visualidade de indumentária e mesmo de moda no Rio Grande do Sul do final dos 1800. A ele, no início do século XX se soma o fotógrafo amador Lunara, que compõe imagens carregadas de significado em sua montagem cenográfica das ruas de Porto Alegre da primeira década de 1900. O estudo de Athos Damasceno Ferreira, de 1957, é, desta forma, complementado pelas imagens dos dois artistas, que tornam visível, através das imagens pintadas e fotografadas, aquilo que no texto de Damasceno - bem como em outros textos literários, não historiográficos - ficava no âmbito do imaginado. Desta forma, pintura e fotografia atestam, através da imagem, a existência da história existente apenas através da palavra escrita. O interessante aqui, é que as imagens são anteriores à palavra. Palavras-chave: história através de imagens; indumentária; pintura; fotografia. HISTÓRIA MILITAR, MODA E GÊNERO: ABORDAGENS Patrick Aparecido Trento (UEM) Salientamos por meio das abordagens que remetem aos estudos da nova história militar, de gênero e moda, a proposição de temáticas que admitam essa discussão e permeiem os âmbitos dessa interdisciplinaridade. Focalizamos como possibilidade a descrição do até aqui levado a cabo na linha de Fronteiras, Populações e Bens Culturais do Mestrado do Programa de Pós Graduação em História da Universidade Estadual de Maringá, que tem por projeto a asserção da Força Expedicionária Brasileira enquanto objeto para o exame das emergências de masculinidades múltiplas em seu interior, a partir 134 da contraposição com a imagem homogênea no que tange o propósito da identidade do ser homem, discursada pelos meios militares. A moda assim, bem como a aparência se tornam caminhos onde podem se inscrever as diferentes maneiras de ser do masculino, comunicando-se não-verbalmente e desvelando brechas nas distintas e rígidas hierarquias perpetradas pelas disciplinas no seio da caserna. Esperamos contribuir e suscitar questões ao debate de novas frentes para a historiografia, principalmente na área cultural, local no qual as categorias de masculino e de cultura militar ainda podem e devem ser bem melhor explorados, a fim de termos melhores quadros de apreensão que elucidem com maior clareza suas complexidades e contradições, suas diversas perspectivas e contingências nas formações de fronteiras de identidade. Palavras-chave: Militar; Moda; Gênero. REPRESENTAÇÕES SOCIAIS CINEMATOGRÁFICAS DA ARISTOCRACIA BRITÂNICA DO INÍCIO DO SÉCULO XX – UMA ANÁLISE DA SÉRIE TELEVISIVA DOWNTON ABBEY Dércio Fernando Moraes Ferrari (UNIOESTE) André Esteves de Oliveira (UNIPAR) O presente trabalho busca analisar as representações sociais transmitidas pela série televisiva Downton Abbey através da moda e suas implicações na hierarquia social. A série, que é criação de Julian Fellowes, tem seu tema baseado na aristocracia britânica. A trama se passa no Highclere Castle, onde os Crawley, uma típica família aristocrática britânica, vivencia uma série de eventos históricos que vão apresentando gradativamente uma ruptura com os anos gloriosos e a entrada da família na modernidade. O programa ainda é responsável por uma precisa análise social da época, onde vestimentas, festas e o próprio modo de vida são temas centrais da série, apresentando suas desigualdades. Como objetivo deste trabalho também se configura uma análise dos problemas sociais e os preconceitos apresentados pela série, como o divórcio, o racismo, a xenofobia e a própria superioridade defendida por alguns membros da família Crawley em relação a outras classes sociais. Dentre os eventos históricos analisados estão o advento da eletricidade, do telefone, a Primeira Guerra Mundial, a crise da aristocracia, as revoltas proletárias do século XX e os casamentos arranjados. A série que inicia sua 6ª e última temporada em 2015, está inclinada a apresentar uma ruptura com os valores aristocráticos e uma abertura ao contexto inglês de meados do século XX. Outro tema de análise são as relações sociais desenvolvidas entre os trabalhadores de Downton Abbey, que vivem na propriedade para desenvolver suas atividades laborais e estão ao mesmo tempo muito distantes da realidade vivenciada pelos Crawley. Palavras-chave: Aristocracia; Downton Abbey; Representações Sociais; Moda. 135 MODA E IMAGEM NA COMUNICAÇÃO REGIONAL CONTEMPORÂNEA: ANÁLISE IMAGÉTICA DO SUPLEMENTO DE MODA FASHION D, DA REVISTA D MARÍLIA Danieli Assunção Cardozo (UNESP-Marília) Luiz Gustavo Leme (UNESP-Marília) Na história da humanidade é fato que o corpo foi recoberto, de acordo com o tempo e o espaço. Assim, é possível afirmar que a moda é uma referência para o estudo da sociologia, o que permite diversas possibilidades para a análise dos grupos sociais e de suas influências sobre o indivíduo. A indumentária fornece os artifícios para indicar a importância das pessoas e a emissão de julgamentos com base no que estão vestindo, propiciando um discurso histórico, econômico, etnológico e tecnológico, sendo um “sistema de signos” por meio do qual o ser humano delineia a sua posição no mundo e a sua relação com ele. Este projeto pesquisa os aspectos da indumentária feminina da sociedade mariliense contemporânea, tomando como instrumento de análise a Revista Fashion D, parte integrante da Revista D Marília, periódico regional bimestral. A pesquisa se utiliza de análise de conteúdo dos editoriais de moda do caderno citado, com base na análise semiótica da imagem. Assim, a análise iconográfica da referida editoria é complementada pela análise iconológica dos signos contidos enquanto informação e, também, publicidade de moda. Esta pesquisa identifica, analisa e interpreta as mudanças estéticas, no sentido de compreender como as mensagens visuais foram construídas, tendo em conta seus destinatários. A pesquisa, ainda em processo de análise, já pode perceber o quanto o “fazer revista de moda”, tanto para o nicho regional, quanto como o fazem as grandes publicações, são semelhantes nos artifícios utilizados para atender seus objetivos, como a exploração imagética até outros aspectos iconográficos. Palavras-chave: moda; comunicação; sociologia da moda; comunicação regional SOBRE MODA & E APARÊNCIAS: PERCEPÇÕES PROTESTANTES EM JORNAIS RELIGIOSOS Carlos Barros Gonçalves (UFGD) O chamado protestantismo histórico, ou de missão, instalou-se no Brasil a partir das últimas décadas do século XIX. Esse ramo cristão foi representado pelas igrejas Presbiteriana, Batista, Metodista, Congregacional e Episcopal. Uma das primeiras ações de lideranças dessas confissões foi investir na confecção de periódicos. Algumas dessas publicações permanecem em circulação nos dias atuais. O foco dessa comunicação é refletir sobre um tema pouquíssimo estudado pelos historiadores do protestantismo brasileiro: as percepções de protestantes a respeito da moda e das aparências (o vestir, a estética, o corpo). O objetivo é compreender como fiéis e lideranças, por meio dos jornais denominacionais, se apropriaram e forjaram significados a respeito da visualidade corporal entre os membros das diversas igrejas, em fins do século XIX e primeiras décadas do século XX. Nos periódicos religiosos os códigos utilizados para a transmissão de uma mensagem “educativa” tendiam a 136 ser diretos, ainda que não explícitos. Em tais publicações sobressaíram os exemplos de comportamentos “certos” ou “errados e suas consequências” (MARTINO, 2003, p. 137, 138). Para essa abordagem os periódicos foram apreendidos como práticas sociais constituinte da realidade social, que direcionou maneiras de pensar, agir e definiu papéis culturais, generalizou posições e interpretações que se pretendiam universais (MACIEL, 2004, p. 15). Nesse sentido, é possível afirmar que por meio desses impressos as diferentes igrejas moldaram comportamentos, definiram papéis sociais, considerados como saudáveis e mais adequadas ao viver religioso então evocado. Palavras-chave: protestantismo; moda; jornais. GÊNERO E PUBLICIDADE: UM OLHAR HISTÓRICO Camila Carmona Dias (IFRS) O trabalho visa pesquisar e analisar a publicidade direcionada às mulheres dos anos 1950 veiculada na revista O Cruzeiro com foco na moda e beleza, relacionando tal investigação com o comportamento feminino. O desenvolvimento da pesquisa centra-se na análise das representações simbólicas sobre a publicidade de produtos de moda e beleza direcionada para mulheres no período informado. Assim, a pesquisa busca analisar a sociedade do consumo de moda e beleza. O trabalho busca agregar saberes e ressignificar alguns conceitos tidos como universais, no que diz respeito à constituição da formação de identidades femininas por meio da publicidade da época propagada pela revista O Cruzeiro. Partindo desse objetivo, o objeto de estudo será abordado sob uma perspectiva histórica. Os instrumentos utilizados para o desenvolvimento deste trabalho são a pesquisa bibliográfica e a documental. Na década de 1950, a mulher é eleita como o ícone da sociedade em transformação, a personagem principal da maioria das publicidades, mesmo quando o produto não lhe é especificamente dirigido. Já que ela é a responsável pelo bem-estar de toda a família e do lar, nada mais óbvio do que lhe oferecer produtos destinados ao esposo, aos filhos, às tarefas domésticas. Na ideologia dos anos dourados, acentua-se a compreensão da beleza como construção, investimento e obrigação pessoais. Nessa mesma ideologia, a maternidade, o matrimônio e a dedicação ao lar fazem parte da essência feminina, sem possibilidade de negociação ou contestação. Existem, contudo, no período, mulheres que lutam para soltar as amarras do tradicionalismo, da opressão, na busca por reconhecimento, por emancipação, por autonomia, enfim, para simplesmente ser mulher. Palavras-chave: Mulher, moda, beleza, anos dourados, publicidade. Agência financiadora: Fomento Interno de Pesquisa do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS) – Campus Erechim. 137 A DIVERSIDADE NA PUBLICIDADE DE MODA – UMA REFLEXÃO Julia Rosolino Pasqualinotto (UEM) Ana Caroline Siqueira Marins (UEM) “A moda é o espelho da história” afirmou Luís XIV, referindo-se a importância do fenômeno como reflexo dos acontecimentos e valores histórico/sociais. Na contemporaneidade, gradualmente, os padrões e estereótipos relacionados a questões estéticas, sociais e econômicas vêm sendo desmistificados, trazendo a diversidade – de gênero, étnica, de idade e aparência – a tona, sendo um dos principais reflexos da cultura atual. Neste sentido, a moda, por estar carregada de códigos e ser um meio de expressão, individual e coletiva, se torna importante na disseminação de vertentes do comportamento da sociedade, seja por motivos ideológicos e/ou por interesses econômicos. Nota-se que parte das atuais campanhas publicitárias de moda tem difundido conceitos em prol da diversidade, inclusão social, cultural e estética, por isso, o objetivo é discutir como a publicidade de moda tem tratado o tema diversidade e qual discussões tem gerado, a fim de analisar e expor uma pequena amostra das diversas faces do tema no universo fashion. A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica e o estudo de caso, realizado com uma marca de moda de projeção nacional que recentemente (2015) lançou uma campanha nesta vertente. Foi possível perceber que a aceitação do público ficou dividida entre aqueles que apoiaram a campanha e aqueles que não aceitaram a nova proposta, o que demonstra a própria discussão e divergência em relação ao tema, embora, publicitariamente, no caso da marca pesquisada, a proposta gerou resultados positivos em relação ao posicionamento da marca no âmbito nacional. Palavras-chave: Moda; Publicidade; Diversidade. NARRATIVAS COTIDIANAS NOS BLOGS DE MODA Patrícia Carla Mucelin (UDESC) Novas relações de consumo se estabeleceram entre internautas e produtores culturais, especialmente a partir do surgimento dos blogs de moda e beleza. A tese que estamos desenvolvendo para o doutorado em história investiga o processo de ascensão das blogueiras brasileiras Camila Coelho, Camila Coutinho, Lala Rudge, Thássia Naves e Helena Bordon que foram celebrizadas no campo da moda, especialmente a partir da publicação da edição de julho de 2013 da revista Glamour, em que elas apareceram na capa e no conteúdo da edição. Neste artigo discutimos sobre os comerciais de divulgação da revista glamour em contraponto com o depoimento da blogueira Camila Coelho sobre o sucesso que atingiu por meio do blog. Por meio dos levantamentos teóricometodológicos de Sant’Anna (2014), que procura mostrar que a sociedade contemporânea é também uma sociedade da moda e da aparência; Alexander Freund (2014) que elucidou as questões sobre como elaborar pesquisas através de histórias orais arquivadas como processo gerador de dados; Pierre Bordieu (1993) sobre o conceito de campo e sobre a ilusão biográfica e Néstor Canclini (2009) sobre o conceito de Interculturalidade, procuramos compreender como a subjetividade das blogueiras é expressa através da fala 138 sobre os seus cotidianos e da experiência de vivenciar a legitimação da profissão de blogueiras. Os blogs criam estratégias de poder, isso desencadeia um consumo no sentido amplo, de modelo de vida, pois se por um lado as blogueiras se utilizam da moda como símbolo de prestígio social, elas também corroboram para o fortalecimento da cultura de consumo. Palavras-chave: Blogueiras; moda; cotidiano; Revista Glamour. Agência financiadora: PROMOP. 139 ST13 – HISTORIA DA INFANCIA ADOLESCENCIA E JUVENTUDE NEGRINHOS NO TOMBADILHO: A TRAFICÂNCIA DE CRIANÇAS ESCRAVAS NOS NAVIOS NEGREIROS NOS SECULOS XVIII - XIX Robson Roberto da Silva (UNESP–Assis/UEL) Esse artigo acadêmico tem por objetivo analisar a efetiva presença de crianças negras no processo de traficância de escravos entre a costa africana e a colônia do Brasil entre os séculos XVIII e XIX. A Historiografia Tradicional confirmava que o número de crianças traficadas era ínfimo; devido principalmente à necessidade de homens formados para o trabalho nas plantações monocultoras e na mineração, as crianças eram preteridas pelos senhores de escravos. Porém, novos estudos historiográficos e antropológicos de pesquisadores norte-americanos e brasileiros revelam que mesmo em número inferior, as crianças tiveram participação marcante nas etapas do trafico negreiro: captura, embarque, travessia e venda no mercado. Primeiramente será analisado o funcionamento sócio-cultural da escravidão na África antes da chegada dos portugueses e como o comércio de escravos já era praticado no continente africano; mas com características diferentes, pois era de ordem patriarcal, com assimilação dos cativos a família senhorial. Em seguida será descrito o embarque das crianças negras e as péssimas condições durante a travessia rumo à costa das Américas, especialmente para os portos brasileiros. Essas crianças, conhecidas como crias, ficavam enfileiradas em um setor separado dos adultos, perto do tombadilho e lhes era permitido andarem pelo convés; entretanto, sua situação não era menos degradante, comiam mal e muitas morriam pelo caminho devido às doenças nos navios negreiros. E por fim, será descrito as condições deploráveis das crianças escravas que chegavam aos portos brasileiros. As poucas sobreviventes eram separadas de suas famílias e vendidas nas casas comercias para os senhores de escravos. Palavras-chave: crianças escravas, tráfico de escravos, navios negreiros Agência financiadora: CNPq – CAPES. A HORA DAS CRIANÇAS, DE WALTER BENJAMIN, E A PEDAGOGIA ANTIFASCISTA Rui Bragado Sousa (UEM) A proposta desse trabalho é analisar a recente obra traduzida ao português (A hora das crianças) como parte integrante do pensamento de Walter Benjamin, onde surgem didaticamente conceitos complexos, como a aproximação de materialismo histórico e messianismo, a crítica à concepção de tempo vazia e homogênea, meramente evolucionista da social-democracia alemã, à noção de progresso positivista, concepção que – conforme Benjamin – produziu uma avaliação equivocada do Fascismo e a impotência em deter a ascensão de Hitler. Os vinte e nove pequenos textos, redigidos em forma palestras 140 radiofônicas, foram traduzidos diretamente das obras completas de Walter Benjamin em alemão, organizadas por Rolf Tiedermann. Foram escritas e narradas pelo próprio Benjamin entre os anos de 1927 e 1932, apresentados em duas rádios alemãs, em programas com cerca de vinte minutos de duração. Mas a pergunta que deve ser feita antes da análise o livro é por que Benjamin se interessou pela cultura infantil e juvenil num período catastrófico na Alemanha, de crises econômicas e de tensões políticas com a escalada nazista? Sabe-se que Benjamin foi um dos mais eminentes pensadores do século XX, filósofo por formação, tradutor dos poemas de Baudelaire, historiador da cultura e em certo sentido também foi também teólogo. Mas poucos estudiosos legaram devida atenção ao seu perfil de brilhante... pedagogo. A pedagogia de Benjamin avalia a perda de experiência do homem moderno (transformado em autômato) e ao mesmo tempo visa o rompimento desse estado de reificação de que (denominou “perda da aura”) através da interrupção, da cesura, do choque. Há um síntese entre Marx, Freud e Baudelaire no pensamento de Benjamin direcionado às crianças. Esta comunicação tem por objetivo esclarecer esses pontos. Palavras-chave: Walter Benjamin; História da infância; fascismo alemão. APONTAMENTOS DE PESQUISA: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA A PARTIR DA CATEGORIA “MENOR” Nicolle Taner de Lima (UDESC) O presente trabalho pretende apresentar os apontamentos iniciais de uma pesquisa que tem como ponto de partida a Casa do Pequeno Jornaleiro de Curitiba, entre o período de 1960 e 1985. A Casa foi criada em 1943, com intenção de amparar e prestar assistência a menores, na cidade de Curitiba, através da educação, religião e trabalho. A pesquisa que realizarei no mestrado pretende analisar como se dava a seleção e categorização destes meninos, quem eram, sua origem e composição familiar, a partir dos registros de entrada e fichas documentais da instituição, disponíveis para consulta no Arquivo Municipal da capital paranaense, buscando contextualizar o termo menor utilizado nos registros e materiais da imprensa dentro de discussões políticas e das práticas assistencialistas que marcam a segunda metade do século XX no Brasil, do conceito de disciplina e moralização pelo trabalho. Nesta apresentação, no entanto, pretendo expor as análises iniciais da revisão bibliográfica a partir do termo ‘menor’, muito enfatizada nos relatórios da CAPEJO: um levantamento sobre as principais políticas públicas direcionadas ao menor, e como se deu o estabelecimento e manutenção deste termo, bem como a mudança de significados e categorias que o menor se enquadraria, e de permanências, principalmente no que diz respeito à criminalização da criança pobre e do entendimento de que a família desestruturada e o abandono culminariam na criminalidade. Palavras-chave: Menor, Infância; História da Infância; Políticas Públicas para a Infância; Casa do Pequeno Jornaleiro. 141 O QUE VOCÊ PENSA QUE ESTÁ PENSANDO? OS DISCURSOS AOS JOVENS PROTESTANTES ACADÊMICOS (1968-1990) Natan Alves David (UFSC) Pensar a juventude é pensar uma parcela da vida humana em que se encontra um conjunto de ideários tão significativos e intensos, terrenos instáveis e transitórios, aos quais se anseiam aspirações vindouras ao choque com sentidos do presente, que demonstram toda a incompletude e audácia da sua volatilidade. Intenso também é perceber, do ponto de vista crítico e analítico, as formas de pensamento e os processos de construção de pensamento desta juventude. A partir de múltiplos discursos, serão percebidos nesta comunicação, os jovens protestantes em período acadêmico no Brasil. Percebe-se uma significativa produção e apropriação de sentidos nestes discursos, que possuíam um poder simbólico na mobilização e inclinação da juventude às práticas tidas como verdades aos grupos. Nos espaços universitários, os jovens protestantes entravam em choque com uma realidade ainda não experimentada, e, abria-se a possibilidade da formação de novas subjetividades. Neste cenário há um interessante processo de formação de sentidos, mobilizando receios e vigilâncias. As igrejas colocaram-se preocupadas com suas juventudes, estabelecendo relações com intento de formar uma nova mentalidade, buscando compreender seus contextos energéticos, como também, necessitando forjar na juventude cristã um conjunto de ideário, instruindo-os a agir e influenciar a sociedade secular com as práticas cristãs. Pastores, líderes, presbíteros, publicavam seus textos nas revistas de juventude; postulavam sobre estes nortes juntos aos púlpitos dominicais; durante os congressos, acampamentos, e eventos de juventude, os ensinamentos possuíam uma preocupação com a vida fora das paredes da igreja. Os objetivos confluíam para um mesmo horizonte: o jovem cristão deveria viver em retidão, afastar-se de preceitos seculares, mas influenciá-los com um testemunho exemplar, e não se macular com os contextos juvenis de outros setores da sociedade, mas entusiasmar cada esfera ao qual se situava. As leituras, o compromisso com a fé, o respeito com o próximo, a busca pela excelência acadêmica, a retidão dos passos e a não maculação com os vícios e prazeres vão revelar espaços de produção de sentido, e uma cúmplice apropriação de relações de poder. Os mecanismos institucionais de saberes comuns aos processos educacionais, como também na esfera religiosa, serão evidencias de que estas experiências são de fato amostras visíveis de relações de poder em que não se valida um ambiente de um poder exercido por um alguém centralizado, ou por uma estratégia previamente executada, e sim, pela presença destes espaços de produção de poder, um jogo em que há trocas e densas relações de poder, em que orientam a prática subjetiva no coletivo, fabricado pelo exercício do poder sobre o individual. Palavras-chave: juventude cristã, juventude academica, jovens protestantes. Agência financiadora: CAPES 142 MOVIMENTO ANARCO PUNK EM MARINGÁ – O INÍCIO Antonio Marcos Tavares (UEM) Nasce em Maringá entre as décadas de 1970 e 1990 o movimento anarco punk, e a partir de entrevistas trabalho a busca do entendimento histórico deste fenômeno. O objetivo é analisar o movimento anarco punk entre jovens de 14 a 25 no período citado. Para isto analiso principalmente as memórias dos principais envolvidos neste movimento. Maringá nesse período, mesmo antes de configurar como sede de região metropolitana, possuía grande representatividade regional, porém, tendo em si um fenômeno típico de grandes metrópoles, já que ainda é uma cidade interiorana com traços de conservadorismo social, cultural, político e religioso. Como estes novos atores chegam dentro neste recorte espacial e como isto se desenvolve, são algumas das buscas de entendimento. Por meio de entrevistas, com a memória viva os entrevistados fazem valer a história oral, a principal fonte usada de valor imensurável para a construção histórica da juventude maringaense. Materiais e métodos usados são vídeo entrevistas, buscando resgatar as memórias buscando o máximo possível de informações com imparcialidade. Resultados e Discussão com entrevistas transcritas analiso o contexto. A história oral trabalhada de forma intensa demonstrou grande potencial no que diz sobre o problematizar a história deste fenômeno que outrora fora de jovens. Palavras-chave: anarquismo; juventude; Maringá; punk; cultura. Agência financiadora: PIBIC-AF-IS UEM RESPONSABILIZAÇÃO DE ADOLESCENTES E JOVEM-ADULTOS NO BRASIL: OS TRATOS HISTÓRICOS COM A JUVENTUDE EM CONFLITO COM A LEI Glória Christina de Souza Cardozo (UEM) Verônica Regina Muller (UEM) O trabalho compõe investigação realizada para a dissertação de Mestrado em Educação que analisou a atual constituição do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo. A pesquisa envolveu a discussão sobre a construção de políticas públicas para a execução de medidas socioeducativas, especialmente a de internação, a partir da reflexão sobre os sujeitos de direitos submetidos a seu cumprimento. Abordam-se por ora os tratos históricos que no Brasil foram utilizados na responsabilização de adolescentes e jovem-adultos autores de atos infracionais. Trata-se de trabalho, inscrito na abordagem qualitativa (RICHARDSON, 1999), empregando técnica investigativa construída a partir da pesquisa narrativa (BOLDARINE, 2010), das abordagens (auto) biográficas (NÓVOA, 1993) e da memória profissional (FENELON, 2008; SOUZA, 2007; SARLO, 1997) sendo complementada pela análise documental (LÜDKE; ANDRÉ, 2010) para a reconstituição das trajetórias de vida de adolescentes responsabilizados pela prática de ato infracional com a medida socioeducativa de internação, inseridos no SINASE. O movimento de denúncia ou de anúncio da desproteção e da violação de direitos que caracteriza o trabalho, frente a percepção que temos dos direitos infantojuvenis, é válido na medida em que explicita que a formalização dos direitos por meio da sanção de 143 leis não é suficiente para a proteção integral de crianças e adolescentes, tendo estes ou não envolvimento com a prática infracional. Entretanto a existência das leis e a reivindicação de seu cumprimento por meio da construção e implementação das políticas públicas se insere na luta política pela compreensão de que, conforme Costa (2006a) a legislação infantojuvenil cria condições para sua exigibilidade. Palavras-chave: Adolescentes em Conflito Socioeducativas; SINASE; Educação Social. com a Lei; Medidas OLHARES SOBRE A JUVENTUDE EM BLUMENAU/SC: UMA HISTÓRIA DA LEI ORDINÁRIA Nº 5211 Leonardo Brandão (FURB) Esta pesquisa foi concebida no domínio historiográfico conhecido como “História da Juventude”. Tomamos como objeto de estudo o movimento dos jovens skatistas de Blumenau/SC, em especial durante o período de proibição desta atividade na cidade. A proibição foi decretada pela Lei Ordinária de número 5211, que entrou em vigor no dia 17 de maio de 1999 e foi revogada somente em 2008, durante a gestão do prefeito João Paulo Kleinübing. O objetivo central foi compreender os motivos que levaram o poder público a decretar a proibição desta atividade e como a existência dessa lei afetou muitos jovens, interferindo em suas práticas de lazer e, em vários casos, marginalizando tanto a prática quanto seus praticantes. Além disso, através do método da História Oral, foi realizado um trabalho de entrevistas com os sujeitos remanescentes desta época. Muitos relataram casos de repressão e abuso de autoridade policial, como violência física, agressões verbais e multas. Concluiu-se que, embora a proibição dessa atividade juvenil tenha sido decretada por lei municipal no ano de 1999, uma coibição bastante rígida a ela já existia desde o final da década de 1980 em Blumenau. Além disso, o retorno à legalidade, ocorrido com a revogação da lei no ano de 2008, foi conquistado através da pressão organizada pelos jovens na câmara dos vereadores e junto ao prefeito. A legalização foi acompanhada pela construção de uma pista pública de skate no Parque Ramiro Ruediger, próximo ao centro da cidade. Palavras-chave: História; Juventude; Skate; Blumenau. A CRIANÇA E O MUSEU: SILENCIAR PARA EDUCAR? Martha Helena Loeblein Becker Morales (INDEX Informação Integrada/ Museu Paranaense) Atualmente o visitante mais habitual de museus de cunho histórico é a criança em situações de mediação de turmas escolares, previamente agendada pelo professor responsável. No entanto, surpreende o quanto a criança está subrepresentada nos circuitos expográficos destes mesmos museus, vislumbrada não raro como um adulto em formação e não como um sujeito em si. O objetivo deste trabalho é contextualizar estas afirmações, por meio de levantamento da historiografia que se preocupa com a musealização da infância, mas também 144 apresentar um breve estudo de caso centrado no Museu Paranaense. Instituição centenária, este museu oferece um cenário propício ao estudo de silenciamentos e ênfases que determinam o tipo de construção histórica que chega ao grande público, uma vez que seu circuito expositivo de longa duração se propõe a abordar a ocupação do território paranaense desde 10 mil anos antes do presente até a atualidade. Neste conjunto de materialidades e interpretações, percebe-se um grau de passividade esperado do visitante que adentra os muros institucionais para ser educado pelo olhar. Dessa forma, a criança, assídua em suas excursões escolares, não é sujeito presente nas vitrines caracterizadas pelo adulto, beligerante e grandioso, nem é convidada a tornar-se sujeito por meio da crítica e do questionamento, numa relação de educação vertical que não considera sua participação. Somente repensando esta relação entre gerações, entre público e especialista, bem como reconfigurando o arranjo expográfico, será possível transpor a ideia de uma educação por meio do silêncio e da passividade dos visitantes. Palavras-chave: criança; Museu Paranaense; cultura material; expografia 145 ST 14 - HISTORIA E RELAÇÕES DE GENERO REFLEXOES EM PAUTA ECONOMIA FAMILIAR E ADMINISTRAÇÃO DO PATRIMÔNIO FAMILIAR PELAS MULHERES DE SANTIAGO DO CHILE, 1580-1600. Andrea Margarita Armijo Reyes (Universidade de Santiago de Chile. O dote matrimonial era destinado a fornecer o novo casamento com um capital em dinheiro e bens materiais como mecanismo de apoio ao marido para satisfazer as necessidades da futura família. O dote era propriedade exclusiva das mulheres e só foi dado ao marido para a sua administração. Através de uma perspectiva de gênero, o objetivo é analisar a participação econômica das mulheres casadas e viúvas no contexto familiar e trabalho. Os documentos de dote são analisados para identificar os bens e capitais que entraram no casamento, que forneceriam a base econômica da nova família. Também e examinada a sua participação como administradoras dos bens e recursos da família no momento que ficaram sozinhas, o que permitiu a sua intromissão em atividades consideradas típicas dos homens. Como metodologia para refletir sobre a administração patrimonial temos registrado 35 cartas e recibos de dote do acervo documental “Escribanos” do Arquivo Histórico Nacional, investigando anualmente entre dois e sete dotes. Os anos de 1595 até 1597 ficaram registradas o maior número de cartas de doação, sete dotes; no ano de 1596 cinco e no ano 1600 quatro. Também foi realizado um seguimento das mulheres casadas e viúvas que fizeram testamentos para analisar como se desenvolveram na administração do patrimônio familiar. Portanto, o estudo é importante para a compreensão da história social colonial em um aspecto tão vital como a importância da mulher na reprodução sócio-econômica de Santiago do Chile durante o século XVI, deixando de lado a suposta invisibilidade, atitude submissa e sem figuração das mulheres. Palavras-chave: Relações administração patrimonial. de gênero; mulheres; dote matrimonial; REPRESENTAÇÕES SOBRE A HONRA E A SEXUALIDADE DA MULHER NO LIVRO V DAS ORDENAÇÕES FILIPINAS: HISTÓRIA, DIREITO E GENÊRO NA AMÉRICA PORTUGUESA DOS TEMPOS DA UNIÃO IBÉRICA (1580-1640) Vanessa Caroline da Cruz (UEL) O chamado período da União das Coroas Ibéricas corresponde a um momento histórico de grandes transformações para Portugal, Espanha e suas respectivas colônias. Nele, houve a compilação das Ordenações Filipinas, importante conjunto de leis dividido em cinco tomos, que versavam sobre uma ampla gama de assuntos, buscando regular a convivência social e ainda, definir regras para as mais variadas matérias jurídicas, tendo vigorado por longa data (aproximadamente até o século XIX). Em nosso trabalho, o Livro V 146 apresenta especial interesse, pois nele está presente uma série de títulos que dizem respeito aos comportamentos esperados de mulheres e de homens, elaboradas a partir do olhar daqueles que coligiram as Ordenações, prevendo também a criminalização dos atos que não se adequassem às condutas aí referenciadas como ideais. Nosso objetivo será investigar as representações sobre a honra e a sexualidade feminina nele constituídas, numa leitura da fonte feita à contrapelo. Como metodologia, propomos a utilização das contribuições de Thompson para pensar a história das chamadas “classes subalternas” ou “populares”, por vezes escamoteadas dos documentos oficiais e um intenso diálogo entre história, gênero e direitos, compreendendo os instrumentos judiciais não como um corpo coerente de regras, mas como um campo onde se instauram batalhas entre os mais diversos atores sociais por suas concepções de legitimidades e justiças, visando à busca pelas vozes daqueles, por vezes, excluídos da história dita “oficial”. Palavras-chave: mulheres; gênero; Ordenações Filipinas; Livro V. AGÊNCIA FEMININA NA ANTIGUIDADE: POSSIBILIDADES A PARTIR DOS ESTUDOS DE GÊNERO Ingrid Cristini Kroich Frandji (UFPR) O presente trabalho visa analisar a constituição do campo dos estudos de gênero e qual o impacto decorrente deste na História Antiga, ressaltando de que maneira esta categoria de análise auxilia na construção de narrativas acerca de sujeitos históricos até então marginalizados pela história oficial. Para tal, serão examinadas obras de diversos autores (Moses Finley, Sarah Pomeroy, Eva Cantarella, Suzanne Dixon, entre outros) acerca do mundo antigo e quais novas concepções podem ser observadas com a introdução dos estudos de gênero neste contexto específico, ressaltando a possibilidade de ação de novos sujeitos – mulheres –, que constituem uma narrativa própria e diferenciada sobre o passado. Além disso, a análise se dará para compreender de que maneira o impacto do feminismo nos estudos sobre a Antiguidade busca reestruturar os horizontes da disciplina, notadamente de caráter tradicionalista. É importante ressaltar que as pautas do movimento feminista e o impacto destas dentro do ambiente acadêmico mudaram ao longo dos anos, modificando também as problematizações construídas a partir das fontes. Com isso, procura-se estabelecer de que maneira há uma mudança no conceito de gênero e na sua utilização na História Antiga, que permite não apenas o estudo de mulheres na Antiguidade, mas também a construção de narrativas paralelas que enriquecem os estudos históricos. Palavras-chave: Estudos de Gênero; História Antiga; Feminismo. Agência financiadora: CNPq. 147 UM MUNDO NOVO: A EXPERIÊNCIA UNIVERSITÁRIA DE HISTORIADORAS BRASILEIRAS (1960-1970) Carmem Silvia da Fonseca Kummer Liblik (UFPR) O ingresso em universidades públicas a partir da década de 1960 tornou-se uma realidade concreta e mais abrangente para muitas mulheres que desejavam realizar o ensino superior no Brasil. Esse processo significava inserir-se num espaço público, misto, fora do restrito controle moral imposto pela religião e pelas famílias, no qual as mulheres estariam expostas à influência de um ambiente intelectual, laico e à convivência com jovens de origens sociais e culturais diferentes. A partir desse cenário, o objetivo deste trabalho é problematizar a trajetória acadêmica de uma geração de historiadoras universitárias brasileiras da USP, UFRJ, UFF, Unicamp, UFSC e UFPR, que ingressaram nos cursos de História no final da década de 1960 e início de 1970. As múltiplas experiências vividas no curso superior em História foram marcadas por novas descobertas, desafios, redes de sociabilidade, visões de mundo e possibilidades reais de ingresso no mercado de trabalho que afetaram definitivamente a trajetória de vida dessas mulheres. Tais experiências são narradas por meio de depoimentos e entrevistas baseadas pela metodologia da História Oral, cujo principal destaque que oferecemos a esta análise diz respeito ao papel da memória na reconstituição da trajetória de vida e acadêmica das historiadoras em questão. Ao final de 16 entrevistas realizadas entre 2013 e 2105, conclui-se que as relações de gênero constituem um elemento de fundamental importância para se compreender as primeiras vivências no espaço universitário e os rumos tomados posteriormente na vida profissional acadêmica. Palavras-chave: historiadoras, trajetória, gênero, universidade. Agência financiadora: CAPES. AS MULHERES: ONDE ESTÃO? A PROTAGONIZAÇÃO FEMININA EM ANAHY DE LAS MISIONES Rosenéia do Rocio Prestes Hauer (UEPG) Nas narrativas clássicas que retratam o período de guerra entre 1835 e 1845, no Rio Grande do Sul, o protagonismo fica por conta do discurso falocêntrico. Na maioria das histórias, o referente para a organização da sociedade é a dicotomia homem X mulher, com as suas atribuições impostas pelas convenções sociais e pelo poder masculino. A estratégia do diretor Sérgio Silva, no filme “Anahy de las misiones” (1996), é lançar aos olhos do leitor outra possibilidade de interpretação da Guerra dos Farrapos. Pretendemos, neste trabalho, discutir quais foram essas estratégias que modificaram esse discurso e trouxeram para frente da obra uma mulher marginalizada, subalterna e que, segundo Butler (2014), possui um gênero flutuante. Além disso, avaliar qual a relevância do período histórico em que o filme foi produzido, o qual permitiu essa nova possibilidade de leitura sobre uma época em que o poder era hegemonicamente masculino. A metodologia consiste em extrair trechos do discurso de Anahy e articular com os estudos de Hilda Hübner Flores, Fernando Osório e Marilene Weinhardt. Nesse sentido, iremos explorar e 148 readequar a leitura histórica que o filme faz sobre o período farroupilha, identificando em Anahy as formas de resistência a opressão e a dominação do universo masculino. Sendo o gênero um campo primário onde se articula o poder, podemos extrair do filme “Anahy de las misiones teorias que nos permitam articular novos pensamentos sobre identidade de gênero, numa tentativa de subverter a hierarquia masculina sobre a construção do sujeito. Palavras-chave: História; cinema; identidade de gênero Agência financiadora: CAPES/CNPq “DORMINDO COM O INIMIGO”: A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER RETRATADA NO CINEMA HOLLYWOODIANO Pedro Henrique Miranda (UNIOESTE) A análise inicial do filme trata-se de um resultado parcial da pesquisa intitulada “Gênero e Cinema: o retrato da violência contra a mulher em produções hollywoodianas” que estou desenvolvendo no Programa de Pós-graduação em História da UNIOESTE. O objetivo dessa comunicação é apresentar uma breve análise sobre o modo como o cinema hollywoodiano aborda a questão da violência contra as mulheres em suas produções cinematográficas. Utilizamos para a pesquisa o filme Dormindo com o Inimigo (Sleeping with the Enemy), do diretor Joseph Ruben, lançado no ano de 1991 nos Estados Unidos. A história é centrada em Laura (Julia Roberts) e Martin (Patrick Bergin), casados há quatro anos, num relacionamento que parece ser próspero, perfeito e feliz. Aparentando ser um casal modelo para a vizinhança, porém, Martin é um rapaz obsessivo, espanca a sua esposa regularmente e Laura vive em um estado de medo constante. No filme somos apresentados a diversas situações de violência de gênero inseridos no cotidiano da protagonista, seja no âmbito privado/familiar ou social. Os traumas psicológicos e físicos sofridos ao decorrer da narrativa e as possíveis alternativas encontradas para sair dessas situações trágicas. O presente trabalho pretende também debater a importância do cinema como prática social, e a construção de representações das figuras femininas e masculinas no filme elencado. Palavras-chave: Gênero; Cinema; Violência Contra a Mulher; Hollywood Agência financiadora: Fundação Araucária NÚS MASCULINOS: SUA INSERÇÃO NO JORNAL LAMPIÃO DA ESQUINA Ronielyssom Cezar Souza Pereira (UNIOESTE) Entre abril de 1978 e julho de 1981 circulou, principalmente, nas grandes capitais brasileiras, o jornal Lampião da Esquina, um periódico feito por e para homossexuais, cuja proposta não se restringia apenas ao público homossexual e se propunha a “ir mais longe, dando voz a todos os grupos injustamente discriminados - dos negros, índios, mulheres”. O objetivo da análise foi verificar a concordância, discrepância ou ainda divergência, entre as imagens do corpo masculino e o discurso produzido no referido periódico. Na metodologia, não se 149 tomou o jornal como um todo, houve o recorte das principais representações sobre como o corpo masculino estava expresso pictograficamente, que corresponde a problematização levantada. Sobre esse foco é que se inserem as análises de discurso e de imagens, tendo em mente as representações das homossexualidades. O jornal Lampião da Esquina primava por questionar, problematizar e subverter o discurso heteronormativo, primordialmente no que tange a sexualidade. Por conta dessa intenção se propôs colocar em evidência a figura dos homossexuais perante uma sociedade heteronormativa. Mas como isso se materializa no periódico? Uma das formas encontradas foi o uso de imagens, as quais tornam-se fontes dessa análise parcial. Após verificar as relações estabelecidas entre as imagens, suas representações e os discursos atrelados, foi possível considerar que houve uma inserção do nu masculino, e que esta reflete uma dupla posição tanto sob a lógica econômica quanto de caráter político-social, sendo a configuração do nu masculino um interstício, entre erotismo e pornografia. Palavras-chave: Gênero; Homossexualidade masculina; Nú masculino; Homoerotismo. Agência financiadora: CAPES. O FARDO DA BONDADE: PRÁTICAS DA BENEMERÊNCIA FEMININA NO BRASIL ENTRE OS SÉCULOS XIX E XX Ana Paula Vosne Martins (UFPR) Ao tratar do processo de definição das políticas sociais brasileiras pela assistência aos necessitados o protagonismo parece ter sido restrito aos agentes políticos governamentais, como Vargas e Capanema, ou então às associações, geralmente representadas por dirigentes que se apresentam na documentação ou nas correspondências como homens respeitáveis e reconhecidos por sua benemerência e caridade. Entretanto, o discurso da assistência foi construído e reproduzido socialmente a partir de um léxico sentimental e marcado pelo gênero. Ao realizarmos pesquisa como bolsista de produtividade do CNPq (2012-2015) percebemos como o gênero foi uma dimensão das políticas de assistência, dimensão esta menos conhecida e ausente dos estudos sobre o tema. As políticas sociais estão ligadas intrinsecamente a uma visão de mundo sobre os cuidados, marcados pelo sentimento, pela compaixão e por representações de feminilidade e de masculinidade. A definição das políticas sociais de assistência revela a maneira como o gênero migrou da esfera privada para significar decisões e ações da esfera pública e política. A benevolência é uma disposição moral e sentimental que pode ser praticada por homens e mulheres, entretanto, na construção histórica da ideologia de gênero a benevolência é instituinte da feminilidade normal, supostamente ancorada na natureza que prepara as mulheres para a expressão máxima da disposição benevolente que é a maternidade. Desta forma, propomos apresentar um quadro da organização assistencial feminina no Brasil desde finais do século XIX, com forte influência religiosa e suas transformações ao longo das primeiras décadas do século XX e durante o Estado Novo, quando por meio das práticas assistenciais, o poder benevolente das mulheres caridosas e filantropas passou a se assemelhar e a compartilhar 150 o significado do poder benevolente do Estado, numa recriação imaginária e política da família protetora dos fracos e miseráveis que “lhes pertenciam”. Palavras-chave: gênero; filantropia; bondade; associativismo feminino Agência financiadora: Bolsa de Produtividade do CNPq AS MULHERES DO DIVINO EM PONTA GROSSA/PR Vanderley de Paula Rocha (UEPG) Esta comunicação problematiza o papel desenvolvido pelas mulheres da família Xavier, em quatro gerações, na manutenção da devoção ao Divino Espírito Santo na cidade de Ponta Grossa/PR. 1882, de acordo com os registros, é a data de início de diversas práticas desenvolvidas em honra ao Divino Espírito Santo na referida cidade. Segundo a tradição, essas iniciaram após D. Maria Julio Cesarino Xavier, ter encontrado a imagem da representação do Divino Espírito Santo, uma pomba de asas abertas, gravada em um pedaço de madeira, em um olho d’água. Após o fato ocorrido, D. Maria abrigou a imagem do Divino em sua casa, fazendo desse local, um espaço de peregrinação e devoção na cidade. Nesses mais de 130 anos de devoção ao Divino em Ponta Grossa, foram as mulheres da família Xavier que realizaram as diversas práticas em honra ao Divino na cidade, fazendo desse espaço, um importante lugar de atuação feminina. Sendo um espaço de religiosidade católica se contrapõe ao papel desempenhado pelas mulheres na instituição Igreja Católica, portanto, perpassamos pela discussão do oficial e do oficioso, identificando o papel desempenhado pelas mulheres nessas duas esferas. Nos aparamos nas discussões promovidas por Joan Scott na discussão de gênero e práticas religiosas em Michel de Certeau. Nosso conjunto documental são periódicos locais, ex-votos e entrevistas. A partir de nossas problematizações compreendemos o papel desempenhado pelas mulheres na manutenção dessa devoção ao mesmo tempo em que entendemos a maneira com que essas expressavam suas relações com o sagrado. Palavras-chave: Mulheres, feminilidade, Divino, Ponta Grossa. Agência financiadora: CAPES/Fundação Araucária. MULHERES SEM FILHOS E A REVISTA PAIS E FILHOS: ENTRE MEMÓRIA E REPRESENTAÇÕES Georgiane Garabely Heil Vázquez (UEPG) Este trabalho propõe a análise é baseado nos pressupostos da história de gênero, e visa abordar a ausência da experiência de maternidade. Assim, busca-se problematizar sobre como mulheres não-mães reconstroem suas recordações a respeito da maternidade, ou seja, como elas se colocam diante de tão vasta campanha desfraldada ao longo do século XX em prol da obrigação feminina em ser mãe. Para fins metodológicos esta pesquisa se ancora nos princípios da história oral com o intuito de debater sobre as reconstruções e significações da memória feminina sobre a experiência de não ser mãe. As entrevistas das mulheres não-mães estão divididas em três 151 grandes grupos. O primeiro grupo é ocupado por mulheres que nasceram nas décadas de 1920 e 1930, que nesta pesquisa estão classificadas como de 1º geração. O segundo grupo é composto por mulheres que nasceram nas décadas de 1940 a 1950, que compõem a 2º geração. Já o terceiro grupo é formado por jovens senhoras que nasceram em plena revolução sexual, isto é, nas décadas de 1960 e 1970 e assim iniciaram sua vida sexual e reprodutiva nas décadas após a chamada "revolução sexual", ocorrida na metade do século XX. Com o intuito de verificar a consolidação do estereótipo materno ao longo do século XX optamos por analisar a revista Pais e Filhos, fundada em 1968, esta publicação mensal foi a primeira em território nacional a se voltar exclusivamente para os assuntos da maternidade e da infância. Os exemplares da revista analisados para esta pesquisa compõem a temporalidade de 1968(data da fundação do periódico), até o ano 2000, data final para o século XX. Enquanto a revista formula um padrão de mulheres sem filhos, articulandoas a imagens de patologia e ao sofrimento, as entrevistas nos mostram a imensa pluralidade existente entre essas mulheres não mães, o que demonstra as infinitas formas de sonhar a felicidade, viver e amar. Palavras-chave: maternidade; memórias; subjetividades; representações. ‘FILHO NÃO ME METE MEDO’: REPRESENTAÇÕES E VIVENCIAS DA MATERNIDADE NAS CAMADAS POPULARES Tânia Maria Gomes Silva (UNIFAMMA) Este artigo, tendo como suporte teórico metodológico os estudos de gênero e a história oral, busca perceber representações e vivências da maternidade das mulheres das camadas populares. Sustenta-se em vinte entrevistas, ocorridas de janeiro a agosto de 2004 e retomadas em 2013, quando se lançou um novo olhar sobre a documentação. Percebeu-se que os modos de pensar e de viver a maternidade eram um elemento unificador nos depoimentos. A pesquisa empírica evidenciou que para as mulheres pobres “ser mãe” é um forte elemento de identificação e de construção de identidade. Palavras-chave: Gênero; Maternidade; história oral OS CLUBES DE MÃES DA ZONA SUL DE SÃO PAULO; MOBILIZAÇÃO SOCIAL E PARTICIPAÇÃO POLÍTICA DAS MULHERES DA PERIFERIA DE SÃO PAULO EM TEMPOS DE DITADURA E AS POSSIBILIDADES DE ANÁLISE NA PERSPECTIVA DOS ESTUDOS DE GÊNERO. Carlos Alberto Nogueira Diniz (UNESP-Assis) Nesse trabalho pretendo fazer uma breve reflexão sobre as possibilidades de análise da atuação dos Clubes de Mães da Zona Sul a partir da perspectiva dos estudos de gênero. Os Clubes de Mães da Zona Sul de São Paulo que pouco tempo depois se tornou o Movimento Custo de Vida embrião dos movimentos sociais que ressurgiram no final dos anos 1970 e inicio dos anos 1980. A partir das reuniões voltadas para aprendizagem de ofícios domésticos, mulheres de origem simples da periferia de São Paulo passaram a questionar o 152 preço dos alimentos, as condições de moradia, o bairro, enfim a exigir mudanças. A dificuldade de prover as necessidades básicas mobilizou essas mulheres na luta por melhores condições de vida, saúde e educação para suas famílias, nesse sentido o Movimento Custo de Vida ajudou a construir junto com CEB`s pequenos espaços de democracia e participação política em tempos de censura e repressão. Foi um dos mais importantes movimentos de contestação ao regime civil-militar e no processo de redemocratização do Brasil, mas pouco lembrado pela historiografia e instituições ligadas a questão da memória nacional. O acervo dedicado ao Clube de Mães da Zona Sul de São Paulo está localizado no Centro de Documentação e Memória de Unesp (CEDEM) e se constitui em um importante legado do movimentos social brasileiro. Palavra-chave: Estudos de Gênero; Clube de Mães; Movimento Custo de Vida; Movimento Social Agência financiadora: CAPES. PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO: A POLÊMICA EM TORNO DOS ESTUDOS DE GÊNERO Nadia Maria Guariza (UNICENTRO-IRATI) Neste ano de 2015, por orientação do governo federal, municípios e estados deviam aprovar os seus planos com as metas na educação para os próximos dez anos. As metas foram construídas nos últimos anos a partir da discussão de educadores e dos movimentos sociais. No último mês de junho os planos municipais e estaduais passaram pela aprovação pelas câmaras municipais e assembléias estaduais, o que surpreendeu foi a polêmica gerada em torno dos estudos de gênero e a sua inserção na educação básica. Grupos religiosos ligados a igrejas neopentecostais e Igreja Católica se posicionaram fortemente contrários a inserção do que eles chamam de “Ideologia de gênero” nos currículos escolares. A presente comunicação pretende discutir os documentos que tratam da temática gênero na educação nos últimos 20 anos, bem como, analisar alguns discursos produzidos pelos grupos religiosos, sobretudo católicos, que se opõem a discussão de gênero na escola. Palavras-chave: Educação, Gênero, Religião. A CONSTRUÇÃO DA FEMINILIDADE NA IMAGEM FIXA DA MULHER EM LIVROS DIDÁTICOS Marília Alcântara Bernardelli (UEL) Com intuito de compreender as possíveis representações da imagem da mulher presente em nove coleções de livros didáticos de História para os anos iniciais, aceitos no Plano Nacional de Educação do ano de 2013, esta pesquisa tem como proposta analisar as suas imagens por meio do método analítico das relações de gênero concomitantemente com a metodologia iconológica, ambas nos darão suporte de entendimento no que tange a construção das características feminina e masculina destinadas aos corpos sexuados. 153 Partimos da premissa da necessidade da reflexão do livro didático, da linguagem e da imagem fixa como práticas culturais de modelos na sociedade, sendo potentes forças na formação das percepções sobre o corpo e as suas manifestações materializadas pela sexualidade e pelas relações de convívio que se mantêm através dele. Este trabalho se objetiva pela possibilidade da desconstrução de pensamentos normatizadores que findam por si só a um segmento único de vivência dos corpos, estratificando a posição dos indivíduos com a difícil possibilidade de transgressão de ideias e comportamentos. Salientamos também que esta pesquisa está sendo desenvolvida no Programa de Mestrado em Educação/UEL. A pesquisa sobre a mulher e as relações de gênero nos LD pode auxiliar na forma de propiciar o diálogo entre pesquisadores, docentes e discentes que atuam ou pesquisam nas escolas possibilitando a reflexão das formas que nos colocam a pensar sobre os assuntos. Palavras-chave: Imagem da mulher; Relações de gênero; Livro didático. Agência financiadora: CAPES HORA DO CHÁ: BOAS MENINAS E SEUS BRINQUEDOS NA HISTÓRIA DA CULTURA MATERIAL DA INFÂNCIA Martha Helena Loeblein Becker Morales (INDEX Informação Integrada/ Museu Paranaense) Os brinquedos infantis oferecem uma oportunidade interessante à análise da atribuição dos papéis de gênero desde idades tenras, aliando o estudo da cultura material à formação dos ideais de ‘ser menina’, por exemplo. O objetivo deste trabalho é investigar um conjunto de peças doadas recentemente ao acervo do Museu Paranaense, entre os quais se encontram jogos de chá em louça, de fabricação estrangeira e nacional, que desde a primeira metade do século XX pertenceram a meninas de famílias tradicionais de Curitiba. Por meio da bibliografia referente à história da cultura material e à arqueologia histórica, a análise se dá em termos da materialização das relações sociais, refletindo acerca das formas dos objetos, dos seus usos e desusos como códigos de inserção e pertencimento a determinados grupos. Neste caso, considera-se a prática de presentear meninas com estes jogos como um meio de educá-las nas maneira corretas de comportamento e adequação a um ideal do gênero feminino. Além disso, o hábito do chá como uma cerimônia de sociabilidade inserida entre as classes mais abastadas no século XIX é um fator essencial ao pensar esta miniaturização das práticas adultas com o intuito de educar as crianças para o futuro. Por fim, este trabalho visa demonstrar o papel ativo da cultura material da infância na consolidação de papéis de gênero que não apenas se estendem à vida adulta como também são transmitidos para outras gerações. Palavras-chave: cultura material; gênero; aparelho de chá; infância 154 REPRESENTAÇÕES DE GÊNERO: UM OLHAR SOBRE “NOSSA SENHORA IMACULADA CONCEIÇÃO” Camila de Brito Quadros Lara (UFGD) Nossa Senhora Imaculada Conceição, um dos títulos atribuídos à Maria, mãe de Cristo, é uma das mais importantes figuras da religião católica. Refere-se a um dogma através do qual a Igreja Católica declarou que a concepção de Maria foi realizada sem a mancha do pecado original e que desde o primeiro instante de sua existência, foi preservada do pecado pela graça de Deus. O objetivo deste artigo é investigar e analisar as representações de gênero relacionadas à imagem de Nossa Senhora Imaculada Conceição, vinculadas à figura de Maria, enquanto símbolo de devoção católica mundial. A metodologia utilizada foi o levantamento exploratório de fontes escritas e análise de fontes teóricas teológicas, além da utilização da imagem sacra e de uma canção católica devocional a fim de estabelecer e compreender tais representações. As representações que serão apresentadas sobre Nossa Senhora Imaculada Conceição e que são, através da figura de Maria relacionadas e mais evidenciadas são: “sem a marca do pecado”, virgindade, maternidade divina e assexuada, contemplação e silêncio, fragilidade e submissão. Dessa forma, podemos dizer que é possível observar na figura de Nossa Senhora Imaculada Conceição, a constituição de um sistema de representações de gênero que visa a ordenar e classificar as mulheres que legitimam suas ações através de figuras representativas e que, dentro da doutrina católica, são estimuladas à devoção e seguidas através das práticas de fé cristã. Palavras-chave: Nossa Senhora Imaculada Conceição, representações de gênero, Igreja Católica. GÊNERO E RELIGIÃO: MODELOS DE SUBJETIVIDADES NA ESCRITA LITERÁRIA DE LOUISA MAY ALCOTT Maralice Maschio (UFPR) O presente trabalho pretende contribuir com as reflexões acerca da importância da literatura como um aporte histórico. Trata-se de um olhar mais voltado para o papel dos sentimentos, das paixões e do processo de subjetivação no espaço público e no espaço privado. A partir da obra Mulherzinhas, de Louisa May Alcott, procurar-se-á perceber como determinados modelos de subjetividades femininas foram produzidos e influenciados por elementos como a presença forte da religião na modernidade. Atenta-se, também, para o impacto de determinadas figuras de gênero, importantes na definição de personagens, por vezes cumprindo com relevantes papeis sociais. O século XIX é marcado por discursos que se aproximam do caráter, do corpo, da literatura, do psicológico, do sexo, das raças. Por conseguinte, procura-se indagar sobre como os poderes podem fazer os homens se autorepresentar, se autosujeitar, se autosubjetivar. Tais elementos permitem o lançamento da seguinte problemática: Como Louisa May Alcott instabiliza determinadas subjetividades que parecem tão calcadas num terreno mais geral? No caso do gênero feminino, a submissão pode virar negociação; e, para isso, figuras, personagens e autoras não necessariamente precisam ser revolucionárias. 155 Elementos como a amizade entre homens e mulheres, o casamento entre homens e mulheres com papeis iguais, a escolha de mulheres por determinadas profissões, entre outros, elucidam e desdobram-se de eixos como o casamento, a maternidade, o patriarcalismo e a individualidade feminina. Palavras-chave: Gênero; Religião; Literatura; Subjetividades Agência financiadora: CAPES CORPOS CENSURADOS: MORALISMO NO PERÍODO DA DITADURA CIVIL-MILITAR E A LITERATURA DE CASSANDRA RIOS Adriane Piovezan (FIES) Antonio Fontoura Jr. (UFPR) Cassandra Rios é uma das autoras de maior sucesso na história do mercado editorial brasileiro. Em suas obras, explora a sensualidade, as angústias a respeito das identidades sexuais e, de uma forma geral, discute a problemática da construção de subjetividades sexuadas, especialmente em um período em que as sexualidades desviantes eram perseguidas dentro de fora das obras artísticas. Este trabalho tem como objetivo compreender as formas pelas quais o trabalho de Cassandra Rios era representado na mídia periódica brasileira durante o regime civil-militar (1964-1985), procurando descobrir especialmente as maneiras pelas quais o corpo lésbico, considerado transgressor e presente em sua obra, era considerado atentatório a um modelo de feminilidade que se julgava adequado – uma percepção que acabaria por justificar a constante perseguição às suas obras, tornando-a a autora mais censurada do país. A partir da análise de artigos, resenhas e notícias na imprensa de São Paulo e Rio de Janeiro, procurou-se determinar as maneiras pelas quais Cassandra Rios era representada, como suas obras eram descritas, e os momentos e que seus textos e personagens eram tratados. Demonstrou-se que, de mãos dadas com sua popularidade, havia um temor do pensamento conservador nacional da sensualidade presente em suas obras, aliados ao repúdio ao corpo lésbico, desviante dos modelos normativos de sexualidade conjugal defendidos no e pelo regime ditatorial. Palavras-chave: Cassandra Rios; Sexualidade; Literatura. MULHERES E ARTE: UMA BREVE REFLEXÃO Claudia Priori (UNESPAR- Campo Mourão) Essa comunicação tem o intuito de apresentar uma breve discussão sobre a temática da participação das mulheres na arte, assunto ainda carente de atenção por parte da historiografia. Motivos que nos estimulam a buscar a presença e/ou ausência das mulheres nas manifestações artísticas, especificamente na sociedade paranaense, no final do século XIX e começo do século XX, uma vez que as áreas da educação, da arte e da cultura eram restritas e pouco desenvolvidas na recém-emancipada província do Paraná. Além disso, o mundo da arte e da ciência era majoritariamente dominado pelos 156 homens, enquanto às mulheres pouco espaço era reservado. Diante disso, nosso objetivo é trazer para o debate histórico a presença feminina na arte, analisando como a relação entre gênero e manifestação artística implicaria na inserção das mulheres nesse campo e também nas suas formas de expressão. Para isso, nos pautamos no levantamento de estudos históricos e da arte que tratam da temática, bem como em revistas que tenham divulgado as produções artísticas de mulheres no recorte temporal, investigando os traços, sinais e evidências de como representavam o mundo e a sociedade. Esperamos com esse trabalho ampliar o leque de discussão entre história e arte, compreendendo como as relações de gênero teriam influenciado no contexto sociocultural analisado. Palavras-chave: Mulheres; Arte; História Agência financiadora: CNPq “UM GUIA PARA AS CONSCIÊNCIAS”: ULTRAMONTANISMO E RELAÇÕES DE GÊNERO NO DISCURSO DE PEDRO SINZIG Fernanda Cássia dos Santos (UFPR) A passagem do século XIX para o XX no Brasil foi marcada por intensas transformações de caráter político, social e cultural. Com o alvorecer da República houve a separação entre a Igreja Católica e o Estado brasileiro, o que fez com que a Igreja precisasse se reorganizar, ajustando-se a esse novo contexto. Tal reestruturação foi permeada por discursos conservadores, que recorriam ao catolicismo ultramontano e buscavam uma nova forma de inserção da Igreja Católica na sociedade. Através da literatura, escritores da época registram a modernização e as mudanças que ocorriam nos costumes e nos papéis sociais destinados a homens e mulheres. Muitas delas foram vistas como ameaças pela Igreja Católica, preocupada em recatolicizar os seus fiéis. Sendo assim, religiosos envolveram-se em debates sobre a “boa” e a “má” literatura, passando a reivindicar a censura de obras literárias que atentassem contra a moral e aos bons costumes. Nesse sentido, o presente trabalho, busca compreender como se estruturou esse controle às obras literárias, motivado pelo discurso religioso. Para tanto, foi analisada a produção do franciscano Pedro Sinzig, cuja principal obra publicada foi Através de Romances: Guia para as Consciências, uma espécie de índex com recomendações para leitores católicos. A análise das fontes demonstrou que ao combater a “imoralidade” em textos literários, religiosos como Pedro Sinzig defenderam determinados modelos de masculinidade e de feminilidade. Por esta razão, o conceito de gênero tornou-se essencial para o desenvolvimento da pesquisa, assim como o de catolicismo ultramontano. Palavras-chave: Gênero; Censura;Catolicismo Ultramontano. Agência financiadora: CAPES 157 PARA ALÉM DO GÊNERO: A(S) IDENTIDADE(S) FEMININA(S) EM A TECELÃ DE SONHOS Mirian Cardoso da Silva ( UEM) Lucia Osana Zolin (UEM) Com os estudos contemporâneos da literatura de autoria feminina brasileira, temos nos deparado com personagens cujos conflitos se desdobram para uma questão além do gênero. Descortinam-se, nessas obras, personagens femininas que não mais estabelecem a dicotomia homem/mulher e suas ambivalências, mas sim aquelas que buscam a construção de identidades e descobertas de si, ansiando por algo a mais, algo que transcenda a questão de gênero, fazendo com que busquem sua liberdade e vivenciem identidades múltiplas ao longo das suas trajetórias. Sob a luz das teorias de Bauman (1998; 2004), Silva (2000), Showalter (1985), Hall (2011), Rago (1995-96), entre outros, este artigo pretende estudar como as características pós-modernas corroboram a tessitura de obras não mais preocupadas apenas com as questões de gênero. Nessa perspectiva, o objetivo desse trabalho é analisar a complexa e, por vezes, contraditória construção de identidade(s) da personagem Berenice, protagonista do romance A tecelã de sonhos (2008), de Angela Dutra de Menezes. Palavras-chave: Pós-modernidade. Literatura de autoria feminina. Construção de identidades. É TAMBÉM FEMINISTA O CINEMA DE LÚCIA MURAT? Jônatas Xavier de Souza (UFPE) A cineasta carioca Lúcia Maria Murat de Vasconcelos era uma menina quando os militares derrubaram o governo constitucional de João Goulart no Brasil, ela tinha apenas 15 anos. Leitora voraz de Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir, Murat entrou para a Faculdade de Economia da UFRJ em 1967, lá conheceu seus grandes amigos de militância política, alguns deles assassinados pela ditadura militar. Em março de 1971 foi presa no Rio de Janeiro, sendo bastante torturada nos dois meses e meio em que esteve no DOI-Codi carioca, um acontecimento de “força eruptiva” que de modo direto ou indireto está presente no universo da sua produção cinematográfica, uma rede de narrativas autobiográficas que busco problematizar na chave teórica aberta por Michel Foucault quando discute “a escrita de si” como uma prática da liberdade constitutiva das “artes do viver”, das “estéticas da existência”. Nessa perspectiva, dialogo com os deslocamentos analíticos suscitados pela historiadora Margareth Rago quando explora os discursos autobiográficos de mulheres históricas, ex-militantes políticas contra a ditadura, a partir da linguagem que elas mantêm como prática da relação renovada de si para consigo e também para com o outro, na perspectiva ética que emerge das lutas feministas. Nesse domínio histórico, busco construir argumentos que apontem 158 semelhanças e diferenças entre os modos de ação do sujeito Lúcia Murat e os discursos que permeiam o feminismo pós-estruturalista. Palavras-chave: Lúcia Murat; Ditadura; Cinema; Escrita de Si; Feminismos Agência financiadora: (CNPq) GÊNERO, RAÇA E NAÇÃO NO DISCURSO EUGÊNICO BRASILEIRO DO PERÍODO ENTRE GUERRAS. Marcela Cristiane Cavalheiro Miranda Francescon (UNICENTRO) A eugenia enquanto movimento social concentrou-se na reprodução humana como espaço de atuação da ciência e das políticas sociais; caracterizou corpos e comportamentos como “disgênicos”, explicados pela hereditariedade, assinalando diferenças de sexo e gênero. As construções de gênero e raça presentes no discurso do movimento eugênico brasileiro do período entre guerras são objeto de análise desse trabalho. O intuito é analisar o discurso eugênico, procurando perceber as construções de gênero formuladas e respaldadas a partir das discussões científicas, aplicada na construção de feminino e masculino e, acima de tudo, na definição do papel feminino no controle da reprodução humana e da regeneração racial das futuras gerações. Para tanto, a metodologia desse trabalho se dará mediante analise de fontes escritas, como periódicos científicos, em especial o Boletim de Eugenia, a Revista do Brasil e os Archivos Brasileiros de Higiene Mental, Os Annais de Eugenia da Sociedade Eugênica de São Paulo, as atas do 1º Congresso Brasileiro de Eugenia (1929), além de artigos publicados em jornais e revistas semanais e livros publicados por eugenistas. Este trabalho fará um dialogo entre as concepções teóricas e metodológicas relacionadas à perspectiva da historia cultural, a história das ciências e a história intelectual. As análises de Bourdieu nos permitem refletir sobre as complexidades e o poder simbólico do discurso, neste caso, sobre as construções de gênero presentes no discurso eugênico. Nessa perspectiva, todo discurso é uma violação simbólica, que tem a intencionalidade de impor uma legitimidade de verdade. Palavras-chave: Eugenia no Brasil, história da ciência; Gênero; Raça. “QUEM É BOM JÁ NASCE FEITO”: A EUGENIA NO BRASIL E DEBATE SOBRE CONTROLE DA REPRODUÇÃO HUMANA, RAÇA E GÊNERO NO BRASIL DO ENTRE GUERRA. Vanderlei Sebastião de Souza (UNICENTRO) O objetivo desta comunicação consiste em apresentar alguns aspectos da pesquisa que venho desenvolvendo sobre as idéias eugênicas no Brasil. Meu interesse é discutir o modo como os eugenistas brasileiros lidaram com o controle da reprodução humana no início do século XX, procurando compreender quais eram as idéias sobre raça e gênero que acompanhavam esse debate. Embora o movimento eugênico brasileiro tenha se caracterizado pela adoção de um modelo de eugenia menos radical, em oposição àquele que 159 se desenvolveu nos Estados Unidos e em alguns países da Europa, o controle da reprodução humana foi amplamente discutido entre os adeptos da eugenia no Brasil, especialmente por integrantes da comunidade médica. Com os olhos voltados para o aperfeiçoamento da nacionalidade e o futuro da nação, parte dos eugenistas entendia que o meio mais eficiente para “evitar as proles degeneradas” seria através da educação sexual, da aplicação do exame prénupcial e da esterilização dos indivíduos considerados como “inaptos”. Devido à importância que as idéias eugênicas vinham assumindo nos fóruns intelectuais do país, nos anos 1920 e 1930 a imprensa carioca chegou a promover inquéritos, entre os intelectuais brasileiros, para discutir o significado do exame médico pré-nupcial e a “esterilização dos indesejáveis” na constituição da “raça nacional”. Desse discurso, as idéias acerca da questão racial, do controle matrimonial e da natalidade, além do próprio papel da mulher no processo de reprodução, emergiam como temas centrais que definiam uma ampla agenda de discussões entre as autoridades políticas e intelectuais. No que diz respeito ao debate sobre gênero e reprodução humana, é importante destacar que desde o século XIX a ciência entendia que a mulher era, por convenção, vista como o sexo reprodutivo por excelência, considerada como a chave da reprodução biológica da raça e da garantia de uma nação eugenicamente mais saudável. Palavras-chave: eugenia; raça; reprodução humana; gênero. 160 ST 15 - FEMINILIDADES, MASCULINIDADES E AS (RE)DEFINIÇÕES DE ESPAÇOS SIMBOLICOS ESTUPRO: CONSTRUÇÃO DE MASCULINIDADES NO ACESSO SEXUAL AO CORPO FEMININO NO PARANÁ DOS ANOS 1950 Kety Carla de March (UNICENTRO) A partir da análise dos discursos contidos em 34 processos criminais de estupro instaurados nas comarcas de Curitiba e Guarapuava nos anos 1950, objetivamos problematizar a construção das masculinidades de homens que estavam no limiar entre a necessidade de demonstração de virilidade e dominação, representada na posse sexual do corpo feminino, e a anormalidade da violência sexual. Em que medida esses homens dialogavam com a masculinidade hegemônica deste contexto específico? Como jogavam discursivamente para produzir uma zona de sombra que lhes permitisse não serem julgados anormais pelos seus pares? O estupro durante muito tempo foi considerado como ato de poucos e degenerados maníacos sexuais. Mas, em meados do século XX, o entendimento sobre esse crime foi sendo modificado, deixando a margem social da experiência cotidiana para ser compreendido como uma relação de força e poder de homens sobre mulheres. Relação esta legitimada socialmente como parte integrante da formação das subjetividades masculinas. Nesse contexto em que as mulheres estavam cada vez mais envolvidas com o mundo público, o estupro passava a funcionar como um dispositivo de modelação de condutas sexuais e sociais que operava na construção do medo da presença em espaços de vulnerabilidade feminina. Essa tipologia criminal ainda é pouco explorada, especialmente no que concerne a pensar os discursos produzidos sobre os acusados. Trabalhar com essa temática permite o diálogo com autores como Foucault (1988), Bourdieu (2007), Vigarello (1998), Tomaselli e Porter (1992), Machado (2004), entre outros que nos auxiliam na compreensão da produção dos discursos sobre sexualidade e violência. Palavras-chave: Masculinidades; Violência Sexual; Subjetividades Agência financiadora: CAPES EROTISMO E PORNOGRAFIA NA DITADURA MILITAR: REVISTAS MASCULINAS E A AFIRMAÇÃO DAS IDENTIDADES Anderson Francisco Ribeiro (UNESP-Assis) Intensamente discutido, o lugar da pornografia na sociedade brasileira foi, aos poucos, proibido, re-articulado e ressignificado durante toda a época da ditadura militar. Tal fato ocorrera em setores diversos, como na imprensa, na literatura, no teatro, na medicina, no direito e, também, na política, tanto através das grandes e pequenas editoras e jornais, quanto das pessoas que produziam artesanalmente a pornografia. A “revolução sexual”, juntamente com a “nova imoralidade” estrangeira, trouxeram novos questionamentos e novas formas de identidades ao Brasil, e entraram diretamente em choque com a 161 cultura cristã, de forma a tornar cada vez mais difícil o diálogo entre tradição e modernidade, traduzindo se em uma guerra constante para a afirmação das identidades. Entre os periódicos, as revistas erótico-pornográficas se tornaram um importante espaço na luta da afirmação das identidades. Dessa forma, com a chegada de várias influências estrangeiras, como as revistas conhecidas como tijuanas-bibles e a revista Playboy (EUA), a revista Private (Suécia), a revista Penthouse (Inglaterra) e os desenhos mangás (Japão), colocaram em cheque alguns pontos do projeto de modernização brasileira. Para essa empreitada usaremos os estudos históricos genealógicos de matriz foucautiana. Entre as publicações, revistas de cunho erótico começaram a ser publicadas com discurso normalizador, como a revista Ele Ela (1969), Status (1974), Homem (1975), e Playboy (1978), e outra mais explícita, hardcore, transgressora de discursos e consumida principalmente pelas classes populares, como os “catecismos” de Carlos Zéfiro (década de 50 a 70), assim como as publicações das editoras Edrel (São Paulo) e Grafipar (Curitiba-PR). Palavras-chave: Erotismo; Pornografia; Foucault; Identidades Agência financiadora: CAPES A CONSTRUÇÃO DA BIOGRAFIA E DA HEROÍNA CUBANA CÉLIA SANCHEZ NA REVISTA BOHEMIA NO ANO DE 1980 Andréa Mazurok Schactae (UEPG) A construção das identidades nacionais latino-americanas e as identidades das instituições armadas são reconstrutores de diferenças de gênero historicamente construídas, pois são identificadores de masculinidade(s). Portanto, é importante analisar o ideal de feminilidade que é apresentado na biografia de uma mulher que fez parte de um espaço dominado pelas armas, a guerrilha. A identificação dos agentes que compõe esse espaço é marcada por características identificadoras de um ideal de masculinidade que historicamente são percebidas como pertence aos heróis – a virilidade, a força, a coragem, a destreza no manejo das armas. Analisar o ideal de feminilidade apresentado na composição da heroína e guerrilheira Célia Sánchez Manduley, em Cuba, é importante para refletir sobre as alterações na construção das identidades nacionais. Ela nasceu em 09 de maio de 1920 e faleceu em 11 de janeiro de 1980, sendo que, desde a década de 1950 até a sua morte ela ocupou espaços de poder no Estado Cubano. Após a sua morte iniciou-se o processo de construção da imagem da heroína. A biografia se constitui na principal ferramenta de construção e legitimação da guerrilheira Célia como heroína nacional, bem como, é definidora de um ideal de feminilidade apresentado pelo Estado Cubano. A leitura e análise das biografias, publicadas na Revista Bohemia. Palavras-chave: biografia; gênero e política; heroína nacional. 162 BALDASSARE CASTIGLIONE E A LITERATURA DE VALORIZAÇÃO DA FEMINILIDADE NO ALVORECER DA MODERNIDADE Patrícia Govaski. (UFPR) Os tratados humanistas voltados à educação ou modulação comportamental refletem mudanças de grandes proporções nas relações de sociabilidade que se estabeleceram nas cortes europeias na transição do Medievo para a Modernidade. Pautados em uma tradição de escrita clássica e medieval, esses escritos visavam o controle e a perfeição para uma sociedade caracterizada por uma ininterrupta circulação de grupos e indivíduos numa ordem social mais aberta. Assim, elementos como o gestual, as regras de vestuário, as expressões faciais, o comportamento externo dos indivíduos, dentre outros, não escaparam ao exame e crítica dos autores desses textos. Utilizando o gênero como uma categoria de análise historiográfica, a presente proposta de comunicação tem como objetivo apresentar a valorização da figura e das capacidades intelectuais femininas na obra de Baldassare Castiglione. Para esse fim, utilizaremos como fonte principal o terceiro capítulo d’O Cortesão, obra publicada no ano de 1528, com o objetivo de construir um modelo exemplar de indivíduo, pautado em um ideal de perfeição e no controle social das emoções. Assim, esta proposta tem por objetivo apresentar a interlocução existente entre o livro e as ideias de Castiglione com uma tradição de escrita enaltecedora da feminilidade que precede sua obra, da qual fazem parte autores como Cristina Pizán, buscando entender seu pensamento em um contexto maior, assim como apresentar de que forma O Cortesão aborda e revela a existência de uma literatura de valorização da feminilidade em um espaço marcadamente masculino como as cortes renascentistas. Palavras-chave: feminilidade; modulação comportamental; Baldassare Castiglione. MASCULINIDADES E FEMINILIDADES NO JORNAL ESQUEMA OESTE (1970): ENTRE E A ORDEM E A VIOLÊNCIA Rosemeri Moreira (UNICENTRO) a pesquisa tem por objetivo discutir a construção e representação (s) de masculinidades no jornal Esquema Oeste (Guarapuava – PR), no decorrer da década de 1970. O foco principal é analisar a apresentação do jornal no que se refere as masculinidades relacionadas a criminalidade. Para tanto, discuto a construção da masculinidade posta como hegemônica (CONNEL) por essa mídia e a contraposição com masculinidades periféricas, além de analisar também representações de feminilidades postas no jornal. Os usos sociais da violência formam um núcleo central na estrutura das relações hierárquicas de gênero e na construção do corpo como espaço simbólico, carregado de significados fronteiriços e/ou dicotômicos. Preocupada com a construção do Corpo, das identidades de gênero (raça, etnia e geração) e com os usos sociais da violência, proponho a reflexão sobre a construção das masculinidades e feminilidades a partir da análise dos enunciados produzidos sobre a criminalidade, a partir desse periódico como fonte. Palavras-chave: Imprensa; Masculinidades; feminilidades 163 ST 16 - ENSINO E APRENDIZADO HISTORICO METODOLOGIAS DE PESQUISA, FONTES E PROBLEMATICAS ATUAIS PENSANDO OS RUMOS DA DISCIPLINA HISTÓRIA NO PARANÁ: CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE O CADERNO DE EXPECTATIVAS DE APRENDIZAGEM Jeferson Rodrigo da Silva (Rede pública de ensino do Paraná) Ao longo do governo Beto Richa (2011-2014), ocorreram diversas mudanças na educação pública do Paraná. Entre elas, o caderno de expectativas de aprendizagem se destaca devido às tensões desencadeadas entre o Estado, o sindicato e os educadores durante o seu processo de construção. Para a História, este documento curricular mostrou-se como uma verticalização dos conteúdos básicos presentes nas diretrizes estaduais, o que tornou mais claros e objetivos os temas a serem trabalhados em cada ano escolar. A proposta deste trabalho é discutir este documento curricular, sob uma perspectiva histórica, analisando as tensões que permearam o seu processo de elaboração no ano de 2011 até a publicação oficial em 2012 além de abordar algumas de suas características avaliando os benefícios e prejuízos em potencial que este documento trouxe para os educadores em suas práticas de ensino de História. Conclui-se que o documento apresenta algumas possibilidades interessantes para o trabalho em sala, embora sua dimensão política indique a existência de outras prioridades que secundarizam a valorização da História escolar. Em meio às grandes mudanças curriculares que ocorrem em todo o país, discutir o caderno de expectativas de aprendizagem torna-se mais uma possibilidade de compreender a importância da disciplina História no tempo presente para aqueles que têm o poder determinar o que e como se deve trabalhar em sala. Palavras-chave: caderno de expectativas de aprendizagem; currículo; ensino de História. AS EQUIPES MULTIDISCIPLINARES NO PARANÁ: BREVE HISTÓRIA, A ORGANIZAÇÃO E OS DESAFIOS Camila Bertagna (UEM) Alisson Sano (UEM) As Equipes Multidisciplinares são propostas do Governo do Paraná para orientar e auxiliar o desenvolvimento de ações voltadas ao estudo das relações étnico-raciais e o ensino de História e cultura afro-brasileira, africana e indígena nas escolas do Estado. Tais Equipes tem uma história e um contexto de criação e execução específico, portanto neste trabalho pretendemos fazer uma das possíveis leituras da história da criação das E.M’s, da composição destas, além dos principais objetivos e desafios enfrentados. O alicerce fundamental destas Equipes são as ideias de inter e multidisciplinaridade, onde todos os 164 professores e funcionários das escolas, de todas as áreas de atuação e de conhecimento podem contribuir. No entanto, percebe-se no funcionamento de algumas E.M’s a dificuldade desta interação entre as diversas disciplinas, áreas de atuação e conhecimento, por problemas, que em nossa interpretação se devem pela dificuldade em lidar com a ideias da inter e da multidisciplinaridade. Far-se-á uma contextualização geral com relação às lutas e pautas dos povos indígenas e também da chegada das ideias do multiculturalismo ao Brasil por meio dos escritos de Faustino (2006) e Novak (2014), além dos resultados provocados por este encontro, das lutas e do multiculturalismo, refletidos na constituição de 1988 e nas políticas públicas que irão se constituir. À luz do conceito de interdisciplinaridade com as ideias de Zanirato e Silva, Fonseca (2003) se discutirá as dificuldades e desafios do trabalho das E.M’s. Ressaltamos que as informações e análises contidas neste trabalho são fruto de participação e observação em duas E.M’s. Palavras-chave: Equipe Multidisciplinar; Multiculturalismo; Interdisciplinaridade; Educação; Indígenas. Agência financiadora: CAPES. O PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL NO PARANÁ (PDE): REFLEXÕES SOBRE OS RESULTADOS DO DESENVOLVIMENTO DOS PROJETOS DE INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA NA ÁREA DE HISTÓRIA Isabel Cristina Rodrigues (UEM) Na esteira das imposições do Repensando a Educação nos anos 1980 e subsequentes pressões dos educadores brasileiros, uma série de políticas públicas voltadas ao campo educacional brasileiro vem sendo promovidas em âmbito federal e, consequentemente, estadual nas últimas décadas. No Estado do Paraná, além das reformulações curriculares nas últimas décadas, destacamos a criação do Programa de Desenvolvimento Educacional, o PDE. Esse programa visa promover trocas de saberes entre os professores do ensino superior e os da educação básica de maneira a produzir conhecimento e mudanças qualitativas na prática escolar da escola pública paranaense. Contraditórias, inovadoras, irreais? Apesar do muito que tem se discutido sobre a existência de ações, voltadas ao propósito de melhorar a qualidade da instituição escolar pública, notamos a ausência de estudos que analisem e avaliem, além da essência dessas políticas, se os objetivos vêm sendo atingidos, cumpridos e em que medida. Nesse sentido, a proposta desta comunicação é preencher uma dessas lacunas, parcialmente, ao apresentar um diagnóstico fracionário do PDE, ou seja, fazer uma análise dos trabalhos realizados na área de História no Núcleo Regional de Educação de Maringá em parceria com a Universidade Estadual de Maringá – UEM. Palavras-chave: PDE; educação; ensino de história; professores. 165 ENSINOS E APRENDIZADOS EM HISTÓRIA: OLHARES PARA AS UNIVERSIDADES BAIANAS Célia Santana Silva (UNEB/UDESC) Este trabalho apresenta algumas reflexões identificadas através de analises dos Projetos Pedagógicos dos Cursos de Licenciatura em História nas Universidades Estaduais do Estado da Bahia. Esta discussão é recorte de pesquisa de doutorado desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade do Estado de Santa Catarina/UDESC, sob orientação da professora Cristiani Bereta da Silva e que objetiva analisar como os Cursos de Licenciaturas em História das Universidades Estaduais do Estado da Bahia estão formando seus graduandos para atuarem na Educação Básica, desde o ano de 2002. Identificar e problematizar quais saber e saber-fazer têm sido exigidos do futuro professor de história para atuar nos anos finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio na Bahia é de grande relevância, bem como o diálogo com as respostas oferecidas pelos especialistas, mediante literatura específica. A análise e os desenhos dos currículos reformados na década passada constituem o corpo geral da pesquisa. A metodologia empregada para a pesquisa, além da análise documental, fará uso dos Regimentos Setoriais de estágios dessas Universidades, os documentos de recadastramento dos cursos de História das Estaduais, bem como os Projetos Políticos Pedagógicos das referidas Universidades. Palavras-chave: Currículo; Ensino de História; Licenciaturas em História; Diretrizes Curriculares. REFLEXÕES ACERCA DA TEMÁTICA DAS POPULAÇÕES NATIVAS NA ESCOLA NO SÉCULO XXI Cintia Régia Rodrigues (FURB) O presente trabalho visa apresentar um panorama sobre a questão das populações nativas a partir da elaboração da Constituição Nacional de 1988 até a efetiva implantação da Lei Federal Nº 11.645/08, que estabelece as diretrizes e bases da educação brasileira para incluir no currículo oficial das redes de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura AfroBrasileira e Indígena. Ao longo do processo de colonização da América espanhola e portuguesa, construiu-se uma identidade para as populações nativas. A identidade se expressa através dos signos, que definem a ideia e o sentimento de pertencer a um grupo e a alteridade. As construções de “índio” foram estruturadas a partir dos signos e significados que estavam contidos na própria cultura europeia. Objetiva-se refletir a importância da temática das populações nativas no contexto escolar e o processo de construção da referida lei acima disposta, em meio as discussões em torno da pluralidade étnica existentes no Brasil. Além de tratar sobre a importância da formação continuada dos professores de História nesse processo de demandas interétnicas. Para tanto serão utilizadas fontes diversas, como artigos, teses, 166 leis, dentre outros, para a ponderação da referida proposta. Por fim, pretendese contribuir para o diálogo sobre a Educação Interétnica no Brasil. Palavras-chave: Populações Nativas; Lei Federal Nº 11.645/08; Formação Continuada; Educação Interétnica O ENSINO DE HISTÓRIA REGIONAL E LOCAL NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL DO MUNICÍPIO DE TOLEDO Leandro de Araújo Crestani (Universidade de Évora) O presente estudo analisa o ensino de história regional e local nos anos iniciais do Ensino Fundamental da Rede Pública Municipal de Educação de Toledo, região Oeste do Estado do Paraná. Compartilha-se do pressuposto de que o material destinado ao Ensino de “Historia Regional e Local” nesse município visa reproduzir a história da elite e a valorização do protótipo do pioneiro como herói. A perspectiva metodologia aqui adotada aponta para a necessidade de uma abordagem historiográfica que desconstrua o ensino da História Oficial pautado nesses valores. Busca-se, assim, reinterpretar o passado da colonização do município sob a ótica dos colonos que foram excluídos da memória oficial e apontar caminhos para desenvolver um material didático como instrumento pedagógico crítico para o cotidiano escolar. A opção pela História Regional e Local como objeto de análise deve-se, inicialmente, a necessidade de confrontar, identificar, compreender, recuperar e tirar do silêncio as memórias que foram esquecidas na versão da História Oficial. Dessa forma, este estudo pretende contribuir para a promoção de um ensino de História Regional e Local que não reproduza aos educandos a ideia de que o processo de colonização da cidade tenha se dado de forma linear, sem contradições nem conflitos. Nessa mesma perspectiva, objetiva-se problematizar o ensino ainda hoje praticado na rede municipal de Educação de Toledo enquanto cidade intrinsecamente ligada à versão colonial do “pioneirismo”, que impõe os acontecimentos sob a ótica dos vencedores. Palavras-chave: Ensino; História Regional e Local; Pioneiro; Toledo. MÚSICA E DITADURA MILITAR ATRAVÉS DE NARRATIVAS DE ALUNOS DO CURSO DE HISTÓRIA DA UEL: PODEMOS FALAR EM UMA LITERACIA MUSICAL? Maria de Fátima da Cunha (UEL) Este projeto de pesquisa pretende analisar quais ideias os alunos do 1º. Ano do curso de história da UEL (2014), manhã e noite trazem de sua formação básica sobre o período da Ditadura Militar, utilizando-nos da canção como mediação. Desta forma, pretendemos através de canções deste período verificar quais narrativas são construídas pelos alunos sobre este período, mais especificamente entre 1968 a 1973 que entendemos como o ápice da censura 167 do período. Assim, partimos do pressuposto de que os alunos trazem construções sobre este período, elaboradas a partir de vários objetos mediadores, entre eles as canções, em especial as chamadas canções de protesto. As perguntas que nos movem seriam: quais canções deste período eles conhecem? Quais eles mais identificam com a Ditadura Militar? Quais ideias eles trazem como prontas sobre a Ditadura, através das canções? Onde eles aprenderam estas ideias: na escola, com a família, ou nas mídias? Quais outros estilos musicais deste período eles conhecem? Quando os alunos trazem uma compreensão da Ditadura Militar pós-64, seja ela qual for, através de canções de protestos, ou outras, poderíamos falar de uma literacia musical? Ou seja, seria mais fácil para os alunos elaborar uma compreensão de um dado momento histórico, tendo a canção como mediação?Para entendermos estas e outras questões pensamos em aplicar um questionário aos alunos do primeiro ano do curso de história (2014), para obter as suas narrativas e posterior análise. Palavras-chave: História e Ensino. Música. Literacia Histórica TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS E ENSINO DE HISTÓRIA: UM ESTUDO SOBRE A METODOLOGIA WEBQUEST Adaiane Giovanni (UNESPAR/Campo Mourão) A presente pesquisa investiga a metodologia WebQuest aplicada a disciplina de História. A WebQuest é uma metodologia elaborada com suporte na Web 2.0, na qual o aluno realiza investigação orientada de temáticas definidas pelo professor, em que a maior parte das informações com as quais interagem estão alocadas na internet. O público alvo deste estudo são alunos em idade/série do 3º ano do Ensino Médio da rede pública de cinco escolas de cidades da Mesorregião Centro Ocidental do Paraná, a saber: Barbosa Ferraz, Campina da Lagoa, Iretama, Moreira Sales e Terra Boa. A pesquisa tem caráter misto, ou seja, qualitativa e quantitativa, e utiliza-se de questionário socioeconômico e educacional para o mapeamento do perfil dos envolvidos na investigação. Objetiva avaliar a contribuição dessa metodologia no que se refere a aprendizagem com o auxílio das tecnologias educacionais. Com base em resultados iniciais, obtidos com a aplicação dos questionários, observa-se a aceitação dos alunos quanto ao uso de recursos tecnológicos para a aprendizagem, seja no âmbito geral, ou especificamente para a disciplina de História, do qual trata essa pesquisa. Por fim, após a conclusão do estudo no campo de aplicação, o que se pretende a partir das análises dos dados e da experiência com a metodologia, é contribuir com os debates referentes ao campo do ensino de História, considerando o avanço tecnológico cada vez mais presente no cotidiano dos alunos e no ambiente escolar. Palavras-chave: Ensino de História; WebQuest; Tecnologias educacionais Agência financiadora: CNPq 168 “NORTEIAM O DIA A DIA NA SALA DE AULA”. O QUE DIZEM OS PROFESSORES SOBRE O CURRÍCULO DO ESTADO DE SÃO PAULO? José Antonio Gonçalves Caetano (UEL) Desde sua adoção enquanto disciplina escolar ainda no século XIX no Brasil, o Ensino de História foi um campo de usos políticos. Quando se privilegia aquilo que deve ou não ser adotado no currículo da disciplina, se privilegia o ideal de sociedade que se pretende formar a partir da educação, pelos grupos dominantes. Tais objetivos do Estado em relação à disciplina nem sempre estão explícitos no cotidiano escolar ou na prática pedagógica dos professores, mas, é possível encontrá-los implicitamente nos programas, currículos ou diretrizes da matéria, os interesses do Estado estão ali, escondidos nas entrelinhas do documento. O presente artigo faz parte da pesquisa em andamento no curso de Mestrado em Educação da Universidade Estadual de Londrina. Tem por objetivo de estudar de forma analítica e qualitativa a visão e apropriação que os professores da rede estadual de São Paulo da disciplina de História fazem dos documentos reguladores, como o Currículo do Estado de São Paulo de Ciências Humanas e Suas Tecnologias, para a História e os Cadernos do Aluno e do Professor, e como tais documentos influenciam e definem os conteúdos que são ensinados na sala de aula. Para isso neste texto elencamos os resultados parciais obtidos através da análise do documento curricular estadual, dos materiais didáticos, tal como questionários aplicados a oito professores da rede estadual atuantes na cidade de Santa Cruz do Rio Pardo – SP, o resultado e as impressões preliminares da aplicação dos questionários serão aqui expostos. Palavras-chave: Ensino de História; Currículo; Currículo do Estado de São Paulo. Agência financiadora: CAPES – CNPq MEMÓRIA E TEMPORALIDADE NO ENSINO DE HISTÓRIA: QUESTÕES CONCEITUAIS E POSSIBILIDADES METODOLÓGICAS Maurício de Aquino (UENP Este texto apresenta algumas questões conceituais e possibilidades metodológicas implicadas na relação entre memória, temporalidade e ensino de história desde o diálogo crítico e a articulação das ideias de alguns autores selecionados para esta reflexão. Na primeira parte, envida-se uma discussão sobre a memória em que foram mobilizadas as ideias de Ulpiano Bezerra de Meneses, Pierre Nora, Michel Pollack, Jacques Le Goff, Michel de Certeau. Na segunda parte, encaminha-se um debate sobre a temporalidade no qual despontam as perspectivas de Adauto Novaes, Norbert Elias e François Hartog. Na terceira parte do texto procede-se a uma apreciação analítica de algumas possibilidades metodológicas que articulam memória e temporalidade no ensino de história: trata-se da abordagem de atividades sobre a construção da noção de tempo pelas crianças, sobre as relações entre calendário civil e 169 memória histórica, sobre patrimônio histórico e historicidade dos lugares, bem como sobre as relações entre filme, ensino de história, tempo e memória. O texto se encerra com algumas considerações finais que ressaltam a importância das categorias de memória e temporalidade na aprendizagem histórica em vista dos seus objetivos de formação política, humanista e intelectual. Palavras-chave: Ensino de História; Memória; Temporalidade. A RELEVÂNCIA METODOLÓGICA DA TEORIA POPERIANA PARA O DESENVOLVIMENTO DO CONHECIMENTO Noelia Felipe (UNESPAR/Apucarana) Paulo Cruz Correia (UNESPAR/Apucarana) Tânia Terezinha Rissa de Souza (UNESPAR/Apucarana) Artur Palu Filho ( UNESPAR/Apucarana) Este artigo apresenta as ideias básicas de Popper, analisando seu impacto pautadas nas discussões metodológicas para a formação do conhecimento científico, especialmente sobre a questão do falseacionismo e suas conjecturas, refutação, ou corroboração de uma teoria. Em termos gerais quanto ao que diz respeito à própria ciência. O texto, utilizando-se de uma metodologia descritiva crítica, lança questionamentos a respeito de como o pensamento popperiano tem influenciado as questões de posicionamento científico metodológico. Apresenta ainda, algumas indicações de como a teoria popperiana tem marcado a busca científica, mas tem deixado algumas inconsistências sem respostas, ou incita muitos questionamentos e críticas em relação ao seu apego à causa empírica e prática formalizativa defendida. Buscar-se-á, por meio desta discussão, identificar - ainda que preliminarmente - no limite básico da teoria metodológica popperiana, como determinada forma de tratar a teoria pode razoavelmente melhor explicar o aparato constitutivo da exploração científica, necessária à construção do conhecimento em seus diferentes níveis de reflexão. São diferentes approaches teóricos mais ou menos descritivos, os quais visam sugerir que medida indica como os agentes promotores de ciência tendem a agir na construção do conhecimento. O conhecimento, no entanto, é uma criação e também precisa de organização. Se se acredita que uma só corrente teórica responde a tudo, o indivíduo tornase dogmático e refém de suas crenças. As conclusões preliminares são de que as ideias básicas poperianas tendem a dogmatização do conhecimento e são, portanto, insuficientes para uma investigação de articulação entre teoria e prática. Palavras-chave: Conhecimento; e, Metodologia Científica Popperiana. USOS DIDÁTICOS DE DOCUMENTOS NO ENSINO DE HISTÓRIA Vivian Fernandes Carvalho de Almeida (UNICESUMAR) Veroni Friedrich (UNICESUMAR) Priscilla Campiolo Manesco Paixão (UNICESUMAR) Murilo Sanchez Zulato (UNICESUMAR) 170 A utilização de documentos como materiais didáticos tem sido defendida a pouco tempo, mas justifica-se por vários motivos. Quando bem utilizados são instrumentos pedagógicos inigualáveis, por tornarem possível a proximidade do aluno com situações concretas que ocorreram no passado. Além disso, eles podem favorecer no desenvolvimento do intelecto dos alunos, ao exigirem mais que a simples assimilação de conteúdos propostos pelos livros didáticos. Podemos destacar também, o aumento da atratividade de nossas aulas, uma vez que não podemos ignorar a dificuldade que os alunos têm de se concentrar. Contudo, o professor necessita de um conhecimento significativo para utilizar os possíveis recursos documentais como materiais didáticos e não apenas como meros atrativos. Nesse sentido, este trabalho apresentará uma discussão sobre as premissas básicas para o ensino de História no ambiente escolar, de forma a sublinhar a importância do uso dos documentos históricos em sala de aula, uma vez que não há ensino de história sem a problematização dos mesmos. Nosso trabalho foi elaborado a partir de análises dos pensamentos de Cierce Bittencourt, Fernando Becker, Jörn Rüsen, Alberto Marson e Sonia Nikitiuk. Em síntese, acreditamos que os documentos devidamente explorados, enriquecem as aulas de História e contribuem para que o discente faça sua análise (diferenciações/abstrações) permitindo-lhe interpretar as distintas temporalidades as quais estamos inseridos. Palavras-chave: Documentos; História; Prática de ensino. O USO DE IMAGENS EM SALA DE AULA: EXPERIÊNCIAS COM A CAIXA DE HISTÓRIA Adaiane Giovanni (UNESPAR - Campo Mourão A Caixa de História’ visa colocar os alunos em contato direto com fontes - ou reproduções destas, escolhidas pelo professor - de maneira que possam apreender e significar esse material de acordo com suas próprias interpretações. Essa metodologia foi aplicada para alunos de duas turmas de primeiro ano do Ensino Médio pertencentes ao subprojeto de História do PIBID da UNESPAR campus de Campo Mourão, e teve por temática, manifestações sociais. Foram utilizadas reproduções de imagens e de matérias jornalísticas de épocas diferentes. A atividade foi composta por quatro fases, a) levantamento de temas para a elaboração da proposta, b) confecção da caixa, c) aula introdutória sobre fontes históricas e, d) aplicação da atividade. A metodologia segue o seguinte roteiro: cada aluno deve retirar de dentro da caixa uma fotografia ou um fragmento de texto, em seguida deve procurar o colega que está com a fotografia do mesmo local e o documento que explica parte da história destas fotografias. Após a junção desses materiais precisam analisá-los em conjunto e elaborar uma narrativa sobre o tema, na qual devem apontar as percepções que tiveram ao compará-las. Pode-se perceber nas análises dos resultados, em andamento, que os alunos conseguem notar diferenças referentes ao deslocamento temporal dos fatos com os quais estão em contato. Fica também, a constatação de que a atividade favorece a 171 compreensão dos alunos no que se refere à noção de fonte histórica, e de que há outras possibilidades de se aprender História para além dos métodos usuais. Palavras-chave: Ensino de História; Fontes imagéticas; Caixa de História Agência financiadora: PIBID/CAPES A APRENDIZAGEM HISTÓRICA PENSADA A PARTIR DO USO DE FONTES EM SALA DE AULA Ana Paula Rodrigues Carvalho (UEL) Este trabalho propõe como tema analisar de que forma ocorre a aprendizagem histórica nos alunos a partir do uso da fonte, o jornal fascista, La Provincia di Bolzano em sala de aula por meio da categorização das narrativas produzidas. A pesquisa será realizada com os alunos do 9º ano do Ensino Fundamental de duas escola Estaduais da cidade de Guarapuava/Pr. A partir da problematização do jornal em sala de aula serão trabalhados o conteúdo substantivo fascismo e os conceitos de segunda ordem evidência e empatia. A utilização de trechos do jornal será útil para que os alunos percebam as evidências presentes nesta fonte e tracem vínculos de empatia com as pessoas que viveram na cidade de Bolzano e que passaram pelo processo de italianizzazione. Esta análise será possível, pois a partir da sequência didática trabalhada em sala de aula os alunos produzirão narrativas sobre o conteúdo substantivo: fascismo. O intuito de analisar a narrativa produzida pelos alunos consiste em perceber como ocorre a aprendizagem histórica fruto do pensamento histórico desenvolvido com o auxílio de uma fonte. Sabe-se que não existe uma metodologia única e eficiente para que ocorra uma aprendizagem de qualidade. Todavia, espera-se que este projeto possa explicitar e pensar as possibilidades necessárias para que as aulas se tornem realmente um lugar de interação dialógica que possibilite o desenvolvimento de uma consciência genético - crítica que comporta a autonomia dos alunos como cidadãos conscientes do seu papel de sujeitos históricos na sociedade. Palavras-chave: Aprendizagem histórica, Ensino de História, Jornal, Fascismo Agência financiadora: CAPES A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO DE TEMPO EM SALA DE AULA: ANÁLISE SOBRE AS EXPERIÊNCIAS DE PROFESSORES DE HISTÓRIA DA REDE MUNICIPAL E ESTADUAL DE ENSINO DE BRASILÂNDIA/MS Anilton Diogo dos Santos (UEL) Esta pesquisa, em andamento no programa de mestrado em educação da UEL, alocada na linha: Perspectivas Filosóficas, Históricas e Políticas da Educação e no núcleo: História da Educação e Ensino de História, sob a orientação da professora doutora Marlene Rosa Cainelli busca investigar, por meio da educação histórica, como professores de História da rede Municipal e Estadual de ensino de Brasilândia no Mato grosso do Sul constroem, organizam e empregam conceitos ligados a Temporalidade Histórica no 172 exercício da docência em História. Para construir essa reflexão embasaremos nossas ações em uma abordagem qualitativa com triangulação de dados, em que pretendemos por meio de entrevistas com os professores traçar um perfil destes profissionais no que tange sua formação profissional e conceitual, para então, fazermos um paralelo e entendermos como ocorre a construção dos conceitos que esses usam em suas atividades docentes. Outro momento consistirá em analisar planejamentos e observar a aplicação destes nas aulas. Por fim através da leitura das atividades (presentes nos planejamentos) e das avaliações desenvolvidas por esses professores, em sala de aula, identificaremos os múltiplos conhecimentos sobre tempo e temporalidade. Entender qual a formação teórica, como esses professores fazem suas escolhas metodológicas e como eles a partir dos conceitos de temporalidade elaboram seu currículo informal (aquele elaborado no cotidiano da ação docente no processo ensino/aprendizagem), pode auxiliar a entender como se desenvolve este processo de ensino aprendizagem. Palavras-chave: Ensino de História; Educação Histórica, Cultura escolar; Tempo e Temporalidade Histórica POR UMA HISTÓRIA PELA VIDA: RELAÇÕES ENTRE NIETZSCHE E RÜSEN João Augusto Martin Nantes dos Santos (UEL) Em meio às reflexões acerca da formação histórica é comum nos depararmos com uma questão que provoca certa aflição. “Para que serve a História?”. Percebemos a importância de se estabelecer respostas convincentes sobre esta questão, pois a seleção dos conteúdos históricos, dos temas, instrumentos metodológicos, fontes... Todas essas atividades são desempenhadas de acordo com entendimentos ligados ao uso da História na vida. Estimulados por esta indagação, aspiramos compreender para relacionar os pensadores alemães Friedrich Nietzsche (1844-1900) e Jörn Rüsen (1938), na maneira como concebem seus estudos históricos atrelados à vida. Apesar da distância temporal e de posicionamentos, acreditamos que é possível traçar aproximações e distanciamentos importantes para a compreensão desses autores. Para alcançar o objetivo deste texto, estabelecemos o seguinte roteiro de pesquisa teórica: observar as críticas dos autores à tradição historiográfica, com ênfase ao seu apelo à vida; delinear definições gerais acerca de suas teorias, destacando o método sugerido por cada pensador; para que por fim, possamos analisar possíveis afinidades e desacordos no uso da história para a vida de Nietzsche e Rüsen. Até o atual momento da pesquisa, conseguimos concluir que ambos idealizam um conhecimento histórico útil à vida, tecem críticas às historiografias de seus tempos e recriminam também a teleologia na História. Ao tipificarem os sentidos históricos percebemos também grandes aproximações entre os autores. Palavras-chave: Formação Histórica; Utilidade da História; F. Nietzsche; J. Rüsen; Sentidos Históricos. 173 O USO DA “TEORIA FUNDAMENTADA” PARA ENTENDER AS APROPRIAÇÕES DE ALUNOS SOBRE A HISTÓRIA DE LONDRINA – PR Márcia Elisa Teté Ramos (UEL) Apresenta-se as técnicas vinculadas à “teoria fundamentada” (Grounded theory) para apreender as apropriações que alunos do Ensino Médio fazem sobre a história de Londrina – PR. A pesquisa dividiu-se em três fases: 1) estudo exploratório, quando foi utilizada a técnica de Grupos Focais e de brainstorming (chuva de ideias); 2) estudo piloto, com questionário semiestruturado através de plataforma survey, junto aos alunos e também a técnica de “história hipotética” e 3) estudo principal, onde se explora reportagens, uma da revista Veja e outras duas do Jornal de Londrina sobre a cidade de Londrina, sendo que a primeira reportagem fala da “imigração inglesa” de Londrina e as outras duas, contrapõem dois pesquisadores e um jornalista sobre o “vazio demográfico” no início da colonização da região. Por intermédio destas técnicas de pesquisa aproximadas da pesquisa etnográfica, o referido estudo concluiu que existe a tendência de os alunos pensarem que a cidade de Londrina foi formada por “pioneiros”, ou seja, alguns homens considerados heróis, desbravadores, empreendedores e corajosos, desta forma, excluindo outros grupos da história da cidade. E ainda: permanece a ideia de que na região não habitava nenhum grupo humano antes da colonização. Nesta comunicação, em especial, procura-se destacar a “teoria fundamentada” como possibilidade de fornecer dados para empreender as categorizações e as análises que sustaram este tipo pesquisa voltada para o ensino e aprendizado histórico. Palavras-chave: Apropriações; Cidade; Ensino Médio; Teoria fundamentada; Metodologia. “LITERACIA HISTÓRICA”, REVISTA CAPRICHO E PENSAMENTO HISTÓRICO DE JOVENS SOBRE “GÊNERO”. Flávia Mantovani (UEL) Pretende-se neste trabalho problematizar os resultados da pesquisa concluída em 2014 no PPGHS-UEL, na qual objetivou-se investigar o pensamento histórico de jovens sobre “gênero” a partir da revista Capricho (abr/2005mar/2006). Interessou-nos, na investigação, observar se os estudantes – de um então 2º ano/Ensino Médio do Colégio de Aplicação, Londrina/PR – construíram/mobilizaram uma “literacia histórica” na leitura da revista, focando tais análises nas questões de gênero presentes em suas páginas. Para apreendermos o raciocínio histórico destes estudantes, utilizamos a técnica de grupos focais articulada ao modelo de aula-oficina proposto por Isabel Barca, buscando desenvolver, em uma prática didático-pedagógica pautada no uso 174 escolar de fontes históricas, uma interpretação/leitura das fontes e sua compreensão contextualizada. Em três aulas gravadas e transcritas, coletou-se ideias prévias de estudantes e suas interpretações da fonte, através da qual trabalha-se a construção de uma “literacia histórica” – entendida, a partir de Peter Lee, como um modo de ler e interpretar o mundo historicamente. Assim, analisa-se a leitura (histórica) dos jovens sobre as identidades de gênero discursadas na Capricho. Ainda, consideramos que estes discursos podem ser (re)apropriados pela leitora, o que nos permite dizer que foi possível uma literacia histórica por parte dos estudantes. Concluímos que os jovens estudantes trouxeram primeiro concepções de gênero que reproduziam os discursos da revista mas, posteriormente, demonstraram capacidade de observar e historicizar tais questões, lendo a revista como uma fonte histórica e contextualizando seus discursos, o que significa uma “literacia histórica”. Palavras-chave: literacia histórica, revista Capricho, ensino de história e gênero. REVOLUÇÃO FRANCESA: A ICONOGRAFIA COMO SUPORTE PARA O ENSINO DE HISTÓRIA Isabela Candeloro Campoi (UNESPAR - Paranavaí) A proposta desta comunicação é apresentar os resultados de pesquisa financiada pela Fundação Araucária e que se pautou no levantamento iconográfico referente à Revolução Francesa. Tal evento é considerado importante marco histórico e, segundo a divisão quadripartite da História, é entendido como inaugural da Idade Contemporânea, por isso tradicionalmente contemplado nos currículos tanto da educação básica quanto do ensino superior. Além do estudo sobre esse acontecimento histórico, a investigação proporcionou a problematização da produção e divulgação de imagens como veículo propagandístico antes e depois do estopim revolucionário (1789). Os símbolos, ícones e representações adquiriram posicionamentos políticos através do uso de cores e objetos, em verdadeira batalha simbólica, contemplada oficialmente pela Revolução, que tampouco foi homogenia. A abordagem valeu-se das contribuições da Nova História, linha teórica interpretativa que ampliou fontes, objetos e abordagens. As imagens como fonte para a reflexão histórica são, da mesma forma, importantes aliadas do ensino de História. A produção imagética sobre a Revolução Francesa foi pensada como suporte didático-metodológico em sala de aula. Através do estudo iconográfico, foram identificados os temas mais visitados e a partir deles produziu-se um banco de imagens, sugerido como material e suporte às aulas de História, cujo tema seja a Revolução Francesa. Palavras-chave: Revolução Francesa; iconografia; ensino de História; material didático Agência financiadora: Fundação Araucária. 175 ENSINO DE HISTÓRIA E ARTE SEQUENCIAL: ALGUMAS REFLEXÕES Janaina de Paula do Espírito Santo (UEPG) Ligiane de Meira (UNICESUMAR) O presente texto se dedica a uma reflexão sobre a bibliografia disponível acerca das história em quadrinho e suas possíveis relações com o ensino de história. Dentro do ensino de história as História em Quadrinhos geralmente são utilizadas para exemplificar um fato histórico, como um recurso de ilustração, um complemento ao trabalho usual do professor. Esta opção, ao ignorar outros fatores presente nesse tipo de mídia empobrecem sua presença na sala de aula. Há possibilidade de se trabalhar o contexto histórico expresso pelos personagens, o momento histórico da produção da HQ e os conceitos históricos aplicados àquela história em quadrinhos, fazendo com que a mídia seja explorada de uma forma mais completa e efetiva. Nossa proposta é, ao unir as reflexões dos estudos sobre quadrinhos com as proposições de aprendizagem histórica e cultura histórica do teórico alemão Jörn Rüsen, fortalecer o entendimento dos quadrinhos como um espaço de formação de conceitos históricos: a linguagem iconográfica aliada a linguagem textual possibilitam que os conceitos sejam exemplificados e absorvidos pelo leitor de forma mais efetiva, trazendo o leitor e/ou aluno para o papel de protagonista na formação do seu próprio pensamento histórico, ainda que só seja possível perante a mediação do professor de história. Palavras-chave: história em quadrinhos, ensino de história, cultura histórica. OS PARADIDÁTICOS NO ENSINO DE HISTÓRIA: “A PANACEIA DE TODOS OS PROBLEMAS”? Ana Beatriz Accorsi Thomson (UEL) As reflexões dentro âmbito da Educação Histórica têm buscado analisar e compreender as diversas práticas em sala aula, as relações entre professores e alunos, a construção do conhecimento histórico, das narrativas e, também, como os materiais didáticos e paradidáticos se articulam ao processo de aprendizagem. Assim, para essa dissertação, realizada no programa de Mestrado em História Social da Universidade Estadual de Londrina e orientada pela Prof. Dra. Marlene Cainelli, temos como objetivo refletir sobre a utilização dos paradidáticos no ensino e analisar como os professores se relacionam e entendem tais materiais na atualidade. Nesse sentido, buscaremos, inicialmente, investigar o contexto de surgimento dos materiais paradidáticos voltados ao ensino de história, que, segundo Ernesta Zamboni (1991), surgiram para sanar todas as dificuldades e servir como “panaceia” dos problemas educacionais. Também, priorizaremos o trabalho com livros paradidáticos relacionados à história da África, com o intuito de investigar como tem sido as discussões sobre esse tema em sala de aula e quais são as possibilidades de explorá-lo por meio de materiais alternativos ao livro didático. Nesse sentido, pretende-se adotar a perspectiva metodológica de investigação qualitativa, realizando questionamentos e entrevistas com professores de História envolvidos com os anos finais do Ensino Fundamental. Buscaremos verificar a 176 hipótese de que a utilização desse tipo de material possa expandir os conteúdos que normalmente são abordados pelos professores no ensino de história da África, valorizando principalmente os aspectos culturais e podendo representar também um incentivo à formação do aluno-leitor. Palavras-chave: Paradidático; Ensino; História da África. O ENSINO DA DIÁSPORA AFRICANA ATRAVÉS DO JOGO PROTAGONIZADO NO ENSINO MÉDIO TÉCNICO INTEGRADO DO CURSO DE ALIMENTOS Joycimara de Morais Rodrigues (IFRN – CURRAIS NOVOS) Jogo protagonizado é um jogo de representação relacionado ao desenvolvimento intelectual do indivíduo e que é baseado nas relações sociais estabelecidas pelos mesmos. Neste trabalho, abordamos o jogo protagonizado através do RPG, possibilitando a abordagem sobre a Diáspora Africana por meio da vivência, o que faz do jogo um dispositivo mediador entre os alunos e o conhecimento histórico, baseado na experiência realizada com os alunos do terceiro ano do Ensino Médio Integrado do curso de Alimentos no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte, campus Currais Novos. A metodologia adotada em nossa pesquisa foi a pesquisa-ação, onde o pesquisador interage diretamente com os sujeitos, tendo como objetivo modificar uma situação, que no caso era a visão dos jogadores sobre a África. Nosso trabalho mostrou que através do RPG os jogadores puderam desenvolver uma outra visão de si mesmo, baseados na imersão lúdica da história e cultura africana e afro-brasileira no período da Diáspora Africana, permitindo que estes desenvolvessem uma nova visão identitária de si mesmos e da sociedade brasileira, contribuindo assim para repensar os paradigmas racistas presentes em nossa sociedade e assim colocarem em prática os objetivos da Lei 10.639/03 no contexto cultural do IFRN Campus Currais Novos. Palavras-chave: Jogo Protagonizado; Ensino Médio Integrado; Diáspora Africana; RPG;Vivência. JOGOS VIRTUAIS NA CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTOS HISTÓRICOS DE ESTUDANTES DE 7º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL Marcela da Silva Soares (UEPG) A pesquisa teve por objetivo analisar os conhecimentos históricos mobilizados por estudantes do 7º ano a participarem de jogos eletrônicos envolvendo conteúdos da disciplina de História. O estudo foi desenvolvido com alunos da Escola Estadual Professora Shirley Saurin- Ensino Fundamental situada no município de Palotina-Pr. A coleta de dados foi realizada por meio de questionário com todos os alunos da escola para identificar a importância e a proporção em que esta tecnologia estava inserida no contexto dos alunos. Com a tabulação e análise dos resultados estabeleci critérios para escolha de uma turma para aplicar um jogo virtual. A turma que mais se identificou com este 177 recurso da cultura digital, mais especificamente o jogo, foi o 7º ano, e o jogo escolhido foi “A Aldeia Virtual,” do site Pibmirum que vinha ao encontro dos conteúdos das aulas que estavam sendo desenvolvidas ao longo do ano. Com o desenvolvimento do projeto foi possível identificar alguns traços de mobilização de conhecimento histórico, principalmente, porque os alunos se sentiram valorizados por ter uma professora mostrando interesse em melhorar o nível de aprendizagem dos mesmos. Além disso, observou-se nos alunos uma maior facilidade de expressão e na escrita, mesmo por se tratar de um jogo simples comparado ao habitualmente jogado pelos alunos. O nível de interesse pelo jogo e por todo o conteúdo que permeou as aulas anteriores e posteriores ao jogo foi alto, o que evidencia que os alunos querem jogar na escola. Esta pesquisa também me proporcionou repensar e melhorar a prática pedagógica enquanto professora da educação básica. Palavras-chave: Ensino de História, Cibercultura, Jogos virtuais. CULTURAS AFRO-BRASILEIRAS E INDÍGENAS: CONTANDO OUTRAS HISTÓRIAS Maria Celma Borges (UFMS) Esta comunicação objetiva discorrer sobre as culturas afro-brasileiras e indígenas, a partir da narrativa de uma experiência de produção de material paradidático intitulado “Outras histórias... Culturas afro-brasileiras e indígenas”, produzido no ano de 2012, em Mato Grosso do Sul, para as séries iniciais do Ensino Fundamental, e centrado na compreensão da cultura como processo dinâmico. Escrito a “dez mãos”, contando com professores da área de História e da Educação, este material busca apresentar as culturas indígenas e afrobrasileiras como carregadas de vida, contradições e de ambiguidades, mas ainda de expressão de diversos saberes que se constituíram (e se constituem) na experiência dos agentes sociais, negros e negras, assim como dos povos originários, ao longo da história do Brasil, da América e do continente africano, em diálogo com outras culturas. Destacamos, então, os encontros e desencontros em meio a este processo. Ao trabalharmos com quatro Unidades norteadoras: “Quem sou eu, quem é o outro, quem somos nós?”; “De onde viemos?”; “E as nossas raízes?” e, por fim: “E os nossos direitos?”, este material visa contemplar aspectos da história e da cultura indígena e afrobrasileira que possam contribuir para combater a discriminação vivenciada por esses dois grupos. Objetivamos contribuir também para a compreensão da história do Brasil e da Afro-América, em sua dinamicidade, de forma dialógica, para quem sabe um dia as diferenças, as belezas e as contradições que compõem este mosaico que somos nós, possam vir as ser vividas e respeitadas em sua plenitude como algo positivo. Palavras-chave: culturas afro-brasileiras; indígenas; história; livro paradidático 178 ARTE MUSIVA E O ENSINO DE HISTÓRIA DA ROMA ANTIGA Moisés Antiqueira (UNIOESTE) Este trabalho é fruto de reflexões empreendidas no decorrer de minhas atividades como pesquisador na área de História Antiga e como docente da mesma disciplina junto ao Curso de Graduação em História oferecido pela Unioeste. Saliente-se, pois, duas questões: ainda que essencial para a prática do futuro docente, a carga horária dedicada à História Antiga nas licenciaturas em História é, via de regra, limitada. Por outro lado, os livros didáticos permanecem como um dos principais veículos de difusão da História Antiga no ambiente escolar. Não se apregoa o abandono do livro didático mas, antes, que a universidade forneça maiores subsídios para a construção do saber escolar, para além do ensino na graduação. Neste sentido, o ensino da história romana nas escolas poderá adquirir significado para os alunos se conseguirmos aproximá-los da diversidade cultural característica do mundo imperial romano, como observada por meio de fontes materiais. Proponho, assim, a elaboração de atividade didática pautada na arte musiva (mosaicos) produzida à época do Império romano, que contenha representações dos jogos gladiatoriais. Diante disso, parto da perspectiva de que o trabalho com fontes em sala de aula permite que os discentes tenham ciência acerca da relatividade do conhecimento histórico, condição atrelada ao uso de fontes dotadas das mais diferentes linguagens. Logo, julgo que tal atividade estimula reflexões sobre a espetacularização da violência tanto no passado quanto no presente, de modo que o trabalho com a História Antiga propicia que temas relevantes para o nosso cotidiano sejam problematizados no interior da escola. Palavras-chave: Arte Musiva; Ensino de História; Roma Antiga. O FANTÁSTICO MUNDO DA ANIMAÇÃO: UMA BREVE REFLEXÃO SOBRE O USO DOS DESENHOS DE WALT DISNEY EM SALA DE AULA. Priscila Estevo de Oliveira (UEL) A mídia, hoje mais do nunca, é algo que permeia a sociedade, tudo passa ou acontece através dela, e devido a essa influência, as grandes empresas da publicidade e do entretenimento aproveitam para difundir determinadas ideias, gostos, valores, comportamentos e hábitos, vindos principalmente das terras do Tio Sam. Os Estados Unidos se tornou uma referência para os brasileiros, que consomem de sua cultura, isso não quer dizer que os mesmos não tenham senso crítico e não percebam o que se passa através das mensagens em filmes ou músicas, que ensinam a partir de um determinado ponto de vista e seus objetivos acabam indo além da venda de produtos, como é o caso da Disney. A Disney é uma poderosa máquina de entretenimento, que tem objetivo proteger sempre seu status de inocência e virtude, escondendo sempre através da fantasia a sua visão conservadora de mundo. Pensando nisso, busca-se analisar alguns vídeos dessa grande indústria do entretenimento, criados entre 1942-1944, intitulados: Education for Death e Der Fuhrer’s face, com o objetivo de mostrar como a Disney representa a guerra, quais mensagens transmitiam, de que forma chamavam a atenção do público, como protegiam sua imagem num cenário de guerra, e como podem ser 179 utilizados em sala de aula, discutindo a possibilidade de construção da literacia histórica através dos vídeos. Palavras-chave: Mídia; Disney; Literacia histórica. “EDUCAÇÃO, CINEMA E FORMAÇÃO DE PROFESSORES: EXPERIÊNCIAS DE ENSINO E APRENDIZADO HISTÓRICO ATRAVÉS DA PRODUÇÃO DE CURTAS METRAGENS”. Rodrigo Ribeiro Paziani (UNIOESTE/Marechal Candido Rondon) Humberto Perinelli Neto (UNESP/São José do Rio Preto) Rafael Cardoso de Mello (Centro Universitário Barão de Mauá/Ribeirão Pret) A importância social alcançada pelas narrativas cinematográficas guarda vínculo com a transformação do próprio olhar humano e da maneira de conhecer. A capacidade de provocar encantamento e de intervir na construção da visão de mundo gerou o desenvolvimento de várias experiências em torno do emprego de filmes na educação e, em particular, no ensino de História. As possibilidades abertas pelas TIC têm incentivado a produção e o compartilhamento de vídeos, ampliando assim os espaços e as ocasiões em que a visualização dos filmes se faz presente e o emprego consciente e critico destes no ensino e aprendizagem histórico. Tomando por base os resultados de um projeto de pesquisa e de um curso de extensão desenvolvidos no curso de Pedagogia da UNESP/IBILCE/São José do Rio Preto/SP, desde 2010, é que propomos nesta comunicação abordar o processo formativo de alunos/as do referido curso, através da produção de curtas metragens relacionados aos conhecimentos históricos escolares e à realidade empírica da cidade em questão. Valendo-nos de numa metodologia de pesquisa qualitativa, fruto de observações e entrevistas orais, e fundamentados num diálogo intrínseco com as reflexões de Paulo Freire, enfatizamos o valor heurístico do cinema, na medida em que ele tem se constituído numa fonte indispensável para (re)construção de saberes históricos (temporalidades, sujeitos, contextos, representações, práticas etc.) relevantes para uma formação inicial de professores alicerçada na autonomia pedagógica e na consciência histórica. Palavras-chave: Cinema; Educação; Saberes Históricos; Formação de Professores; Estudo local. COLORINDO OU HISTORICIZANDO?: UM ESTUDO HISTÓRICO SOBRE AS FONTES ICONOGRÁFICAS PRESENTES NOS LIVROS DIDÁTICOS DE HISTÓRIA Willys Bezerra dos Santos (UFRB) O livro didático (LD) é o recurso mais acessível e usado pelos docentes na rede pública, ocupando um lugar privilegiado na sala de aula; logo, é o recurso didático mais analisado, problematizado e criticado nas pesquisas. O livro deve sempre ser um ponto de partida e nunca o ponto de chegada do processo ensino-aprendizado. Tal ressalva se faz necessária uma vez que, através do uso contínuo e onipresente do LD, este instrumento poderá, simplista e 180 equivocadamente, ser considerado como único recurso didático ou única fonte de estudo e pesquisa do professor e dos alunos. Objetiva-se que os livros didáticos de história tragam em suas páginas os atuais debates historiográficos, questões problemas e diversos documentos/fontes históricas para que os alunos possam conhecer como é construído e, ao mesmo tempo, construir o conhecimento histórico. Desta forma, o presente trabalho buscou analisar como as fontes iconográficas foram abordadas/trabalhadas nos LDs de História durante a década 1970 a 2010. Escolhemos cinco fontes iconográficas, selecionamos três livros de cada década pesquisada, totalizando 12 livros, onde confrontamos o uso das fontes com os objetivos expostos pelos autores na apresentação dos livros e com os debates historiográficos do período. Concluímos que nem todos os autores historicizam e exploram as fontes históricas e, quando o fazem, privilegiam os documentos escritos. As fontes iconográficas, ricas em informações, normalmente são usadas como meras ilustrações, como forma de “comprovar” o que os textos dizem. Palavras-chave: livro didático; imagens; fontes históricas; ensino 181 ST 17 - ESTUDOS SOBRE A AMERICA PORTUGUESA GOVERNANÇA, FISCALIDADE E NEGÓCIOS: A EMISSÃO DE PASSAPORTES MARÍTIMOS E A REGULAMENTAÇÃO DA NAVEGAÇÃO MERCANTIL NA CAPITANIA/PROVÍNCIA DE SÃO PAULO (1808-1821) Renato de Mattos (USP) Nos meses que se seguiram à transmigração da família real portuguesa para o Rio de Janeiro, a manutenção da governabilidade de todo o vasto império a partir dos domínios americanos alicerçou-se não apenas na instalação de instituições semelhantes àquelas existentes na antiga metrópole. A esse processo devem ser acrescidos os esforços dos integrantes do governo joanino em reproduzir tipos documentais essenciais ao funcionamento das secretarias, tribunais e repartições até então inexistentes nas diversas instâncias da administração colonial. Reconstituindo os processos de criação e circulação dos passaportes expedidos às embarcações – expediente instituído na América portuguesa em agosto de 1808 pela recém-instalada Secretaria de Estado dos Negócios da Marinha e Domínios Ultramarinos – discutiremos as dimensões do funcionamento do aparato administrativo joanino, bem como as transformações verificadas nas relações mercantis entre os grupos radicados na capitania/província de São Paulo e os negociantes da praça do Rio de Janeiro após a transferência da Corte portuguesa. Ademais, a partir do exame das circunstâncias que presidiram a implantação dos passaportes, problematizaremos as repercussões da Abertura dos Portos no âmbito do comércio marítimo praticado em São Paulo, evidenciando em que medida teria essa decisão efetivamente constituído um marco do ponto de vista socioeconômico no Centro-Sul da colônia. Palavras-chave: São Paulo; Império luso-brasileiro; Abertura dos Portos; comércio marítimo; período joanino INSTITUCIONALIZAÇÃO DE TROPAS DE PRETOS E PARDOS NAS CAPITANIAS DA BAHIA E DO RIO DE JANEIRO – SÉCULO XVIII Francielly Giachini Barbosa Menim (UFPR) O presente trabalho pretende discutir os êxitos e reveses do processo de institucionalização de tropas de pretos e pardos nas capitanias da Bahia e do Rio de Janeiro no século XVIII. As fontes utilizadas para esta discussão provêm do arquivo digital do “Projeto Resgate” do Arquivo Histórico Ultramarino e do Projeto Periódicos Extintos da Fundação Biblioteca Nacional. O principal objetivo é perceber a postura das duas capitanias diante da ordem da Carta Régia de 13 de Janeiro de 1731, a qual demandava que as tropas formadas pelo critério de cor fossem extintas e novos arranjos fossem formados conforme os distritos das capitanias. É interessante perceber que o governador do Rio de Janeiro obedeceu à ordem da missiva sem uma detectável reivindicação dos integrantes das tropas de homens de cor. Enquanto que na Bahia, diferentemente, o governador, os oficiais e os soldados resistiram à demanda e conseguiram manter suas tropas. Diante disso, percebe-se que a 182 diferença de ações está muito ligada ao próprio processo de enraizamento e institucionalização desta experiência social. Muito mais longeva no caso da Bahia, cuja corporação foi formada em 1638, no contexto das invasões holandesas. Enquanto que no Rio de Janeiro, este tipo de instituição era ainda muito recente, datada no fim do século XVII. Palavras-chave: Institucionalização; Tropas; Pretos; e Pardos. Agência financiadora: CAPES HOMENS PARA UMA FUNÇÃO: DINÂMICAS DE CARREIRAS DOS OUVIDORES RÉGIOS NA CAPITANIA DE SÃO PAULO (PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XVIII) Jonas Wilson Pegoraro (UEPG) Esta comunicação visa propor uma discussão a respeito das instituições que compuseram o aparato jurídico-administrativo na América portuguesa, mais especificamente a Ouvidoria, bem como a atuação dos homens que foram designados para ocupar o posto de ouvidor nas comarcas de São Paulo e de Paranaguá. Como bem observado por Maria de Fátima Gouvêa existia uma “relação simbiótica” entre a Coroa e os magistrados, estes devotando sua confiança na estrutura jurídico-administrativa da Coroa e aplicando a justiça do rei, o que significaria reconhecer a autoridade do monarca como soberano e com isso assegurar as prerrogativas régias no ultramar. Por outro lado, os agentes da Coroa poderiam se utilizar do poder politico régio transmitido pelas mercês com o intuito de ascender socialmente. Desta forma, estabeleceu-se uma hierarquia no ultramar português, formando grandes redes governativas. Na mesma perspectiva, por se confundirem o sujeito com a instituição, investigar quem ocupou o cargo de ouvidor tem grande valia para analisar estes locais de exercício do poder régio. Valendo-se para esta análise das mercês régias, leituras de bacharéis, documentação produzida pelos ouvidores e das ordens régias no período delimitado será apresentada uma comparação entre as carreiras dos ouvidores Rafael Pires Pardinho e de Gregório Dias da Silva, sujeitos que progrediram na estrutura jurídico-administrativa, com as carreiras daqueles que optaram por interromper suas trajetórias nos quadros jurídico-adminsitrativos e se estabelecerem, por meio do matrimônio, em Paranaguá. Foram os casos de Antonio dos Santos Soares e Manuel dos Santos Lobato. Palavras-chave: Ouvidores régios; dinâmicas de carreiras; Ouvidoria de São Paulo e de Paranaguá; História comparada. AS REDES MERCANTIS NA AMÉRICA PORTUGUESA DO INÍCIO DO SÉCULO XVIII: AMIZADE, PARENTESCO E INFLUÊNCIA POLÍTICA Caio Cobianchi da Silva (UEM) O trabalho realiza uma discussão acerca das redes mercantis estabelecidas na América portuguesa no início do século XVIII. O comerciante português Francisco Pinheiro encarregou seus comissários, dentre os quais amigos e 183 parentes, para administrarem seus negócios nas várias capitanias da colônia. Neste trabalho, analisaremos a casa comercial estabelecida em 1712, no Rio de Janeiro, por Lourenço Antunes Vianna, Manoel Nogueira da Silva e Antônio Pinheiro Netto, irmão de Francisco Pinheiro. Francisco Pinheiro, homem influente no Reino, membro da Ordem de Cristo, possuía relações próximas com oficiais régios e arrematava contratos, como os de monopólio ou de cobrança de impostos, que favoreciam a atividade de seus representantes na colônia. Observamos assim a criação de laços de dependência dos emissários, menos abastados, em relação ao seu patrão, o que consolidava sua posição social nas diversas possessões do Império. Por outro lado, Pinheiro também se tornava dependente dos representantes, pois só estes possuíam informações sobre o mercado local e, por se encontrarem a uma distância considerável do Reino, poderiam não cumprir com suas obrigações, não arcando com suas dívidas ou, como aconteceu com o capitão Cubellos, fugindo com as mercadorias de Pinheiro. Podemos, assim, observar que, neste caso, as relações econômicas eram marcadas por laços familiares, de afetividade e também pela política, uma vez que o sucesso dos negócios dependia muito de certos privilégios. Palavras-chave: Brasil colonial; comércio; Francisco Pinheiro; Rio de Janeiro. “LEMBRANÇA QUE FAÇO DE MINHA VIDA PARA QUE NÃO ME CORRA EM DEBALDE”: ESTRATÉGIAS INDIVIDUAIS E FAMILIARES DE UMA PEQUENA NOBREZA EM ESPAÇOS FRONTEIRIÇOS DA AMÉRICA PORTUGUESA COLONIAL (CURITIBA, SÉCULOS XVII-XVIII) Milton Stanczyk Filho (UNIOESTE) Esta comunicação tem por objetivo analisar, numa perspectiva de trajetória do curso de vida, a relação existente entre as estratégias individuais de nobilitação e o vínculo familiar dos moradores dos sertões de Curitiba durante a passagem dos seiscentos para o setecentos. Para tal, um questionamento conceitual sobre a noção de “estratégia” alicerçada ao passado faz-se necessário: seria apenas uma maneira enfática de combinar motivações pessoais com restrições definidas pelo ambiente, talvez econômicas, talvez demográficas, de indivíduos de um tempo pretérito? É possível evidenciar empiricamente que determinados planos eram traçados a longo prazo de forma consciente por seus atores sociais e que os mesmos eram reconhecidos e aceitos por seus pares? O conceito dá conta de distinguir entre aqueles sujeitos que os fazem, daqueles que são afetados por determinada estratégia? Utilizando-se de testamentos e inventários post-mortem, dos assentos paroquiais de batismo, casamento e óbito, das cartas de sesmarias, recompôs-se as ‘estratégias de bem viver’ de três reconhecidos “homens bons” radicados naquelas paragens: os capitães Antônio Luiz Tigre, Manoel Gonçalves de Aguiar e Antônio Gomes Campos. Compreende-se tais estratégias enquanto o conjunto de decisões tomadas ao longo de suas vidas, especialmente aqueles relativas a: 1) Formação e estabelecimento de laços de parentesco, principalmente por meio do casamento e do compadrio; 2) pertencimento às instâncias administrativas de controle e ordenamento populacional; 3) posse e aquisição de terras e de outros homens. 184 Palavras-chave: América Portuguesa Colonial; Estratégias; Trajetórias; Curitiba setecentista História da Família; A AMÉRICA PORTUGUESA NOS LIVROS DIDÁTICOS Karla Maria da Silva (UEM) Lupércio Antonio Pereira (UEM) Este trabalho apresenta os resultados parciais de uma pesquisa ainda em execução, que consiste em analisar o distanciamento entre o debate acadêmico e o contido nos livros didáticos de História, no que diz respeito aos conteúdos referentes ao Brasil do período colonial. Nesta comunicação, discutimos a forma como estes conteúdos são apresentados em livros didáticos de Ensino Fundamental e Médio, de circulação nacional, adotados em MaringáPr. Em relação a tal temática, tem se verificado no universo acadêmico significativa retomada de seus estudos, o que vem trazendo novos elementos para sua compreensão e delineando uma ruptura com antigas abordagens históricas. As novas análises questionam o binômio colônia versus metrópole e apontam a relação entre Brasil e Portugal como uma questão mais complexa do que sugerem as análises clássicas; a partir da ideia de “império marítimo português” e de pesquisas que focam a dinâmica interna da América portuguesa, essa nova historiografia chegou a problematizar o próprio conceito de antigo sistema colonial e a criticar a ênfase deste modelo explicativo na produção voltada para fora, considerando-o insuficiente para entender a complexidade da sociedade então estabelecida . Até o momento, a análise dos livros didáticos tem indicado que, apesar dessa renovação em torno dos estudos do Brasil colonial, o modelo teórico-metodológico aplicado aos conteúdos em questão, ainda não apresenta uma renovação significativa, e continua vinculado às abordagens tradicionais, o que de fato evidencia uma defasagem e um descompasso entre o saber acadêmico e o saber escolar, como sugeria a hipótese inicial da pesquisa. Palavras-chave: América portugesa; Historiografia; Livro Didático. 185 ST 18 - CULTURA NEGRA: HISTÓRIA, POLÍTICA E MEMÓRIA CONTOS AFRO-BRASILEIROS DE MESTRE DIDI: GUARDIONS DA MEMÓRIA E DA ANCESTRALIDADE. Antonio Marcos dos Santos Cajé (UFRB) Pretendo, com este trabalho, apontar e interpretar o papel dos símbolos através da visão cultural dos contos de Mestre Didi que foi o Alapini, supremo sacerdote do culto aos ancestrais africanos e afro-brasileiros, ao longo de sua vida; aprofundou com dignidade e sabedoria a intrínseca relação entre a ancestralidade e a cultura. Os livros de contos de Mestre Didi possuem uma importância ideológica, histórica e literária, construindo em suas obras uma consciência de identidades diaspóricas entre África e Brasil. Entretanto, não se trata de símbolos que estão ocultos nas narrativas dos contos, mas de elementos intrínsecos a elas, que se investem de valores simbólicos para a cultura e a história. A motivação que instigou a construção tanto deste artigo como da pesquisa subjacente foi o interesse em relação aos elementos dos contos nas ações populares das tradições orais que surgem, conforme a leitura, no discurso narrativo da obra de Mestre Didi. O sistema simbólico permite abarcar os olhares epistemológicos e o senso comum pelos quais estes símbolos e signos trazem representações do inconsciente coletivo de um povo. A metodologia utilizada é bibliográfica. Palavras-chave: Contos; Ancestralidade; Símbolos; História Agência financiadora: Fapesb COMPADRIO EM TEMPOS DE GUERRA: TRAJETÓRIA, EXPERIÊNCIA E ESTRATÉGIA DO PARDO LIBERTO MARTINHO ZEFERINO DA CUNHA Daniela Vallandro de Carvalho (UNICENTRO-Guarapuava) Em consonância com a proposta do Simpósio Temático 18 – “Cultura Negra no Brasil: História, Política e Memória”, sobretudo no tocante a ideia de pensar sobre as formas de atuação política e estratégias criadas por negros e negras e as diversas resistências operadas pelos mesmos, propõem-se apresentar uma discussão sobre compadrio em tempos de guerra, através da trajetória de um negro/soldado junto a seu chefe e compadre, como forma de buscarmos pensar através da ótica da trajetória, do alargamento do conceito de resistência e de forma microscópica, como determinados indivíduos agenciaram junto a seus senhores, condições de mobilidade ascendente, em um contexto turbulento aberto pela guerra. Estamos nos referindo a Martinho Zeferino da Cunha e de Antonio Vicente da Fontoura, respectivamente, um velho negro soldado da Guerra Civil Farroupilha e de seu respectivo comandante, um dos importantes líderes do movimento deflagrado na Província do Rio Grande do Sul, a partir de 1835. O aporte teórico-metodológico está amparado nas discussões da micro-história, mas também orientados por discussões maiores presentes na História social da escravidão, postura que vem sendo trabalhada 186 por uma historiografia específica que tem já um longo percurso de discussões no Brasil. Palavras-chave: compadrio; escravidão; liberdade, estratégias, mobilidade social. AS PERIPÉCIAS DE BENEDITA: AS ESTRATÉGIAS DE UMA EX-ESCRAVA FRENTE A JUSTIÇA DO XIX Ilton Cesar Martins (UNESPAR/UEPG) Em 03 de maio de 1861 é instaurado um auto de averiguação contra o subdelegado de Castro por supostas lesões contra Benedicta, parda, liberta, lavadeira e outros ofícios próprios do seo sexo e condição, filha de Maria Cacanje e Joao Jose da Silva, na Provincia de São Paulo. Após 10 dias, em 13 de maio de 1861 o auto de averiguação converteu-se num processo por abuso de autoridade, lesão corporal, lesão corporal a fim de injuriar, o que correspondia aos artigos 145, 201 e 206 do Código Criminal do Império. O objetivo desta comunicação, embora centrando-se na figura de Benedita, é analisar as estratégias e táticas que os negros, homens e mulheres, colocavam em prática frente a justiça e seus agentes no século XIX, considerando aqui a região dos campos gerais do Paraná. Retomando um pouco as lições de Foucault (2003) em seu “A vida dos homens infames”, objetivamos explorar a história de pessoas que não chegariam ao nosso conhecimento não fosse sua existência obscura e desventurada, retidas nos fragmentos dos processos, queixas e denúncias, mas que de forma alguma soam como estranhas e patéticas mas que ainda nos causam um certa estranheza dada as imagens que projetamos sobre nosso passado e seus agentes. Explorando processoscrime pretendemos apontar que os homens e mulheres, escravos ou não, forçaram consciente e consistentemente as bases das sociedades em que viviam, manejando as possibilidades que dispunham em cada situação e momento específico, com resultados surpreendentes, como é o de Banedita. Palavras-chave: escravidão, justiça, Castro, século XIX Agência financiadora: PNPD/CAPES “BUBICINHA” COMIDA ELABORADA NA SENZALA POR ESCRAVO REPRODUTOR Tereza de Fatima Mascarin (USP) O presente artigo é parte sumária da tese de doutorado em desenvolvimento pelo programa Diversitas USP intitulada: Preparo de Alimentos em Rituais Afrobrasileiro Enfoque: Terreiro Senzala em Maringá-Pr 2003 a 2019. Utilizamos os pressupostos metodológicos da história oral e da pesquisa participante. Conseguimos com este método obter informações relevantes sobre como preparar e qual a finalidade da “bubicinha”, um dos pratos que teve importância para a alimentação de vários negros escravos no Brasil. Elaborada na senzala em meados do século XIX, segundo relato de Mestre Raiz, que é neto e bisneto de escravo, o qual aprendeu a fazer esta comida com seu avô. 187 Preparada à base de milho entre outros alimentos servia para revigorar negros que a consumia em sua dieta. Porém existia um ritual próprio para o preparo, o qual também dependia das condições mediúnicas do preparador e do respeito, por exemplo, às fases da lua para seu feitio. Os escravos trazidos do continente africano que elaboravam este alimento eram aqueles escolhidos como reprodutores nas senzalas, traziam consigo sua cultura, suas crenças, porém, eram obrigados a “enxertarem” as negras selecionadas pelos senhores das fazendas para gerarem mais escravos para o trabalho. Ao encontrarem negros de outras senzalas, aqueles que estavam em condições espirituais para preparar este prato o faziam para servir como revigorante aos reprodutores de outras fazendas. Servindo, portanto, este alimento como “remédio”. Na atualidade Mestre Raiz em seu terreiro denominado Terreiro Senzala mantém esta tradição e crença afro-brasileira de seus ancestrais. Palavras-chave: Historia oral; Negros escravos; Preparo de alimento; Terreiro Senzala; MULHERES NEGRAS ESCRAVIZADAS, LIBERTAS, POBRES E LIVRES: POSSIBILIDADES DE PESQUISA EM SANTANA DE PARANAÍBA, SUL DA PROVÍNCIA DE MATO GROSSO (1830-1888) Rejane Trindade Rodrigues (UFGD) A presente pesquisa objetiva compreender as relações de poder e de violência física e simbólica vivenciadas pelas mulheres negras escravizadas, libertas, pobres e livres, no século XIX, no Sul de Mato Grosso, precisamente em Santana de Paranaíba, entre os anos de 1830-1888. A análise dos processos criminais nos permitiu constatar que as mulheres, fossem como vítimas ou réus, agiam também de acordo com seus interesses e anseios. Analisar essas mulheres é possibilitar a visibilidade de sujeitos historicamente marginalizados nas produções historiográficas sobre o Sul de Mato Grosso. Neste sentido, a pesquisa também discute a noção de fontes, apontando, sobretudo, para as possibilidades de utilização dos documentos oficiais na análise da vida dessas mulheres, atentando principalmente para as formas de resistência e de consentimento vividas em ações cotidianas na Vila de Santana e seus arredores, tanto na esfera pública quanto privada. Palavras-chave: Relações de Poder; mulheres; processos crimes. QUILOMBOLAS NO NORTE DO ESTADO DO TOCANTINS: CARACTERISTICAS E SIGNIFICADOS DE UMA EXPERIÊNCIA. Gerson Alves de Oliveira (UNESP –Marília) Este trabalho tem como base a tentativa de introduzir uma análise acerca da formação da comunidade de remanescente quilombola de Cocalino, situada no extremo norte do estado do Tocantins a cerca de 450 (quatrocentos e cinqüenta) quilômetros da capital Palmas. A proposta é compreender a tradição, a cultura e o território enquanto constructors que dão significados a um dado sistema de representação identitária que constitui-se em uma 188 realidade vivenciada e experienciada por uma praxe cotidiana. Portanto, não é só uma história como expressão do passado, mas, sobretudo, uma realidade que faz sentido quando comparada com as experiências quilombolas de outrora. Isto é, entende-se que o importante para definir uma identidade quilombola não é a tentativa de transpor um passado remoto, seja no tempo ou no espaço, mas, a capacidade de perceber no presente realidades singulares que podem ser vistas a partir de um patrimônio cultural e simbólico enquanto expressão de uma sociabilidade singular. Assim, por meio de uma análise etnográfica, pretende-se compreender os aspectos simbólicos presente no imaginário da população sobre sua realidade cultural e histórica, bem como evidenciar uma identidade própria vinculada ao processo de formação da sociedade no âmbito global. Palavras-chave: Quilombola, Identidade; Tradição; Cultura; Território. EDUCAÇÃO DA POPULAÇÃO NEGRA BRASILEIRA NA FORMAÇÃO DA IDENTIDADE NACIONAL Delton Aparecido Felipe (UEM) Fabiane Freire França (UNESPAR-Campo Mourão) Este artigo tem como objetivo discutir a relação entre a educação da população negra e a formação da identidade nacional brasileira. Utiliza-se para isso, o eixo explicativo dos Estudos Culturais, somado as teorizações foucaultiana. Argumenta-se que para organizar o Brasil frente às transformações que estavam ocorrendo no mundo no final de século XIX e início do século XX, a educação escolar foi vista como um dos caminhos que levaria o país rumo ao desenvolvimento econômico e com isso equiparar-se às nações europeias. No entanto, na formação do Estado moderno brasileiro, houve uma série de dispositivos de marginalização da população negra como as políticas de branqueamento, mito democracia racial e os discursos sobre a miscigenação. Apesar dessas marginalizações, houve também uma série de denúncias, em especial, dos movimentos negros desses processos de exclusão e é nesse contexto de resistência uma identidade nacional eurocêntrica que a educação escolar passou a ser vista pelos negros e pelas negras como um espaço essencial para a inclusão de suas caraterísticas culturais e políticas na identidade nacional. Conclui-se que apesar de algumas reivindicações dessa população ser incorporada no projeto de brasilidade, é necessário perguntar como essas marginalizações, que foram historicamente construídas, localizam a negritude no tecido social atualmente. Palavras-chave: Educação escolar; População negra; Marginalizações; Identidade nacional. 189 ST19 - ENSINO E PESQUISA DE HISTORIA DA ÁFRIA,HOJE CULTURA E HISTÓRIA DA POPULAÇÃO AFRO-BRASILEIRA E AFRICANA NO CURRÍCULO ESCOLAR: ETNIA E SOCIABILIDADE. Gerson Alves de Oliveira (UNESP-Marília) A inserção da cultura e historia da população afro-brasileira e africana no currículo escolar, gerou a necessidade de uma releitura acerca do lugar que as tradições de ancestralidade africanas ocupam na ordem social dominante no Brasil, bem como significou uma ruptura no plano teórico com as abordagens que se caracterizavam com a desumanização da população negra em nosso país. Neste sentido, a proposta deste texto é pensar de que modo podemos identificar costumes, hábitos e valores, definidores de um sentimento étnico no que tange a população afro-brasileira e africana, além de tentar elaborar um caminho que aponte para uma prática escolar, capaz de ir além da lei em si. Isto é, pensar a relação entre teoria e prática na realidade como algo interconectado, capaz de revelar mais que meros indivíduos herdeiros de uma herança cultural e, sim, observar o “espaço negro proibido”, lugar onde uma identidade se reforça e se reconstrói por meio de uma sociabilidade que aparece nas práticas sociais de uma população, cujas experiências e vivências revelam uma ancestralidade africana. Palavras-chave: Etnia; Sociabilidade; Cultura; História; Escola. REPRESENTAÇÕES QUE ALUNOS DO ENSINO MÉDIO CONSTROEM ACERCA DA ÁFRICA. Rubia Caroline Janz (UEPG) Dones C. Janz Jr. (UEPG) O preconceito racial parece existir na história humana desde a gênese das relações de poder entre os homens. Todavia, desde a Antiguidade até os dias atuais, muito se avançou em termos de direitos humanos e instrumentos de enfrentamento, o que poderia nos levar a crer que tal prática é um problema em vias de se resolver. Entretanto, percebemos que o racismo assume novas facetas, mais discretas e maquiadas, mas não deixa de fazer parte das sociedades humanas. Isso é muito claro no Brasil, onde existe um racismo cordial, silencioso e sem atores, sobretudo, em relação aos afrodescendentes. Uma das conquistas mais recentes por melhores condições de vida para essa população é representada pela Lei 10.639/03 a qual tornou obrigatório o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana na educação básica. A fim de perceber como a lei está reverberando nas escolas, esse trabalho tem como objetivo levantar dados a partir de um questionário semi-estruturado aplicado a alunos da cidade de Ponta Grossa, no Paraná. Ele foi elaborado a partir de estudos das Diretrizes Curriculares Nacionais em consonância com o que a lei 10639/13 propõe e será analisado tanto por um viés quantitativo como por um qualitativo. No presente artigo serão apresentados e explorados os resultados concernentes à questão específica sobre quais representações os alunos 190 constroem acerca da história da África e suas características sociais, econômicas e culturais. Palavras-chave: Racismo; Representações; Lei 10639/03; Ensino de História; África. TEORIA DA HISTÓRIA AFRICANA: COLONIALISMO, INDEPENDÊNCIA E REVOLUÇÃO EM FRANTZ FANON Danilo Ferreira da Fonseca (UNIOESTE) Os processos de independências do continente africano e asiático produziram também uma série de intelectuais ativistas para problematizar a temporalidade em que viviam. Entre estes intelectuais está Frantz Fanon que refletiu acerca da natureza do sistema colonial do século XX e os diferentes modos para produzir uma sociedade mais justa. Neste sentido, a presente comunicação busca elaborar conceitos chaves de Frantz Fanon, principalmente no que tange o colonialismo, a independência e a revolução, obtendo assim, um entendimento mais amplo de um dos mais importantes intelectuais africanos e que tem muito o que colaborar com a historiografia contemporânea. Para atingir tal reflexão é necessário fazer um amplo levantamento bibliográfico acerca dos distintos modos que Frantz Fanon é compreendido, além de mergulhar nas suas principais obras, como é o caso de Os condenados da Terra de 1961. O que é fascinante na obra e na construção reflexiva de Fanon é o modo que ele parte da África para a África, elaborando conceitos que batem de frente com certezas da teoria da história ocidental, tornando-se, de muitas maneiras, um intelectual que incomoda o mundo europeu, conforme destaca Jean Paul Sartre. Assim, Frantz Fanon abre espaço para pensamentos que visam entender de uma maneira mais ampla o que é o continente africano e as suas relações históricas com a Europa. A presente comunicação é fruto de um projeto de pesquisa individual em andamento intitulado “Teoria da História africana: Colonialismo, resistências e direitos humanos”. Palavras-chave: África; Colonialismo; Independência; Revolução; Frantz Fanon. ANÁLISES DO EMBAIXADOR BRASILEIRO EM PORTUGAL, CARLOS ALBERTO DA FONTOURA SOBRE AS “PROVÍNCIAS ULTRAMARINAS”, NO PROCESSO DE INDEPENDÊNCIA DOS PAÍSES AFRICANOS SOBRE DOMÍNIO PORTUGUÊS (1974) José Francisco dos Santos (UEM) A presente comunicação faz parte do primeiro capítulo da tese intitulada “Angola: Ação diplomática brasileira no processo de independência dos países africanos em conflito com Portugal no cenário da Guerra Fria (2015)”, o então chefe do Serviço de Informação Nacional, o famigerado SNI, em plena Revolução dos Cravos (1974) é designado pela ditadura Civil-Militar para ser embaixador em Portugal, mesmo sobre manifestações contrárias do governo de esquerda português, Carlos Aberto da Fontoura assumi. No período de sua 191 gestão produz o “Relatório da Embaixada do Brasil em Lisboa “Portugal (continente) - Territórios Africanos de Expressão Portuguesa: Perspectivas das Relações com o Brasil”, 31 de Outubro de 1974”. O relatório entre os diversos assuntos inerentes ao processo revolucionário em Portugal procura fazer um diagnostico sobre as denominadas “Províncias-Ultramarinas” entre elas Angola, Cabo-Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe, essa analise tinha o intuito de ver quais as possibilidades econômicas e politicas do Estado brasileira, no sentido de substitui a influencia portuguesa. Sendo assim o nosso trabalho foi de analisar essas fontes junto com outras produções bibliográficas e de forma crítica ver os reais motivos do interesse do Brasil no processo de independências das “Províncias-Ultramarinas”. Palavras-chave: Processo de independência dos países africanos de “expressão portuguesa”; Diplomacia brasileira; Revolução dos Cravos; Ditadura Civil – Militar; Guerra Fria. Agência financiadora: CNPq/CAPES. O RELATO DE VIAGEM DE VICTOR GIRAUD: UMA FONTE HISTÓRICA SOBRE O INTERIOR DA ÁFRICA ORIENTAL NO SÉCULO XIX Carlos Eduardo Rodrigues (UEM) As crônicas de europeus sobre a África são tão detalhadas que possibilitam aos pesquisadores uma fonte histórica quase que inesgotável. No contexto atual, pós-lei 10.639/03, vários estudos foram feitos sobre essas crônicas e caminhando na direção dessa tendência acadêmica, me propus a pesquisar a África Oriental e sua relação com o Mundo. A metodologia de trabalho consiste em: exame criterioso da obra levando em consideração o contexto em que ela foi produzida, as informações centrais sobre a África e a sua importância como fonte histórica, confrontando-a com a bibliografia acadêmica especializada. Deste modo, essa comunicação tem como propósito apresentar ao público pesquisador alguns aspectos do relato de viagem de Victor Giraud: Los lagos del Africa Ecuatorial: Expedición tras los pasos del Dr. Livingstone, uma interessante fonte histórica para se compreender diversos aspectos da vida cotidiana do interior da África Oriental no final do século XIX. Procurando ressaltar a organização social dos habitantes e como se dava as relações sociais entre os africanos dentro do interior do continente e como eles se comunicavam com os africanos do litoral. Palavras-chave: África Oriental; Relato de Viagem; Século XIX; Victor Giraud. ENSAIO SOBRE HISTÓRIA DA ÁFRICA: O USO DA ANTROPOLOGIA PARA ANÁLISE DOS RELATOS DE VIAJANTES Carlos Eduardo Rodrigues (UEM) Muitos viajantes foram a para África ao longo do século XIX com o objetivo de desbravar o chamado “continente misterioso”. No decorrer do percurso, esses viajantes entraram em contato com os habitantes do interior e descreveram seu cotidiano em relatos de viagens. Em meio às descrições, encontramos 192 informações sobre as relações econômicas, que constituem o nosso objeto de investigação. Assim, a função dessa comunicação é apresentar ao público as possibilidades que a teoria antropológica tem para investigar sistemas econômicos não capitalistas, o objetivo é aplicar essa teoria nos relatos de viajantes que foram para África ao longo do século XIX. Com base em autores que discutem a relação entre antropologia, cultura e econômica, como Belshaw, Shalins, Mintz e outros, a metodologia de trabalho será dividida em três frentes: 1) contextualizar e analisar os relatos de viajantes com base nos referenciais teórico da história; 2) selecionar, dentro dos relatos de viajantes, as menções ao comércio, em especial, as narrativas que apontam os produtos, os consumidores, os locais de trocas, etc.; 3) depois de selecionado os trechos, aplicam-se os referenciais teóricos da antropologia, para assim alavancarmos algumas questões sobre o funcionamento desse comércio: Quem comprava? Quem vendia? Como funcionavam as trocas? Quais eram os lugares de comércio? Quais as transformações que isso ocasionou no interior do continente? Entre outras. Com isso esperamos que a antropologia auxilie na compreensão das relações de comércio no interior da África e traga conhecimentos novos e mais detalhados acerca da história deste continente. Palavras-chave: Antropologia; História da África; Relatos de viajantes. RELATOS DE VIAGEM COMO FONTES PARA A HISTÓRIA DA ÁFRICA José Roberto Braga Portella (UFPR) Tomo como fonte e objeto o material textual produzido por funcionários coloniais, militares e cientistas portugueses na segunda metade do século XVIII. A imagem do território, presente nos diferentes testemunhos escritos e cartográficos, foi construída enquanto uma configuração textual que não se esgota na representação do espaço resultante da experiência sensorial. Os documentos escritos – assim como a cartografia e a iconografia –, testemunham um processo de percepção e representação dos territórios, ilustram um esforço de localizar e decifrar o real, e resultam de uma tentativa de registro desse mesmo conhecimento construído. Como é possível perceber, por exemplo, através dos Diários de viagem (1798) de Francisco José de Lacerda e Almeida, trata-se de um processo dinâmico de tentativas de superação e aprimoramento das representações, que também passa pelo confronto com os testemunhos anteriores. Os diferentes esboços do território remetem para a possibilidade de inter-relacionar o tipo de representação adotado com o espaço físico conhecido e, naturalmente, com o contexto no qual os sujeitos se apropriam desse mesmo espaço. A alternativa adotada por Inácio Caetano Xavier, permite distinguir a literatura de viagens da literatura puramente geográfica. Os relatos examinados submetem-se ao objetivo prático e imediato de orientar um futuro viajante. Predominantemente costeiros, só aos poucos vão se deixando contaminar por outros aspectos, acolhendo excursos que, funcionando como sinais para a navegação, não deixam de freqüentar o terreno da retórica sobre a excelência da terra, ou sobre a atitude amistosa ou belicosa dos homens da terra. Palkavras-chave: literatura de viagem; relatos de viagem; África Oriental 193 DE MUHAMMAD IKHSHIDID A KAFUR, O EUNUCO NÚBIO: UM EMIRADO AUTÔNOMO NO EGITO, 935-969 José Henrique Rollo (UEM) De meados do século IX até as últimas décadas do século X, a província egípcia do Califado dos Abássidas conheceu duas tentativas relativamente bem sucedidas de construção de emirados autônomos. A primeira esteve ligada à dinastia dos Tulunidas (868-905) e a segunda à dinastia dos Ikhshidids (935-969). Alguns aspectos gerais desta última constituem o objeto desta comunicação. São particularmente enfatizados: (a) os principais vetores centrífugos que debilitaram a ordem imperial abássida; (b) os padrões de relacionamento entre a elite dirigente de origem turca e a sociedade egípcia; (c) os mecanismos de reprodução da dinastia reinante, os Ikhshidids; (d) o governo regencial de Abu al-Misk Kafur (Cânfora Almiscarada), eunuco que assumiu o poder efetivo no emirado e o conduziu até as vésperas de sua dissolução decorrente da tomada do Egito pelos Fatimidas. Mais especificamente, discute-se em clave empírica a hipótese de cunho estruturalfuncionalista segundo a qual soldados-escravos e eunucos são recursos organizacionais eventualmente acionados por elites dirigentes (islâmicas ou não) tendo em vista a ampliação da eficácia administrativa do Estado por meio da formação de elites médias altamente dependentes dos titulares da autoridade governamental Palavras-chave: organizacionais. Islã Medieval; Emirados; 194 escravidão; recursos ST20 - CULTURA E PODER – UMA ABORDAGEM DAS INSTITUIÇÕES POLICIAIS E JUDICIAIS UMA GENEALOGIA DAS PRISÕES: A EMERGÊNCIA DO DISCURSO PRISIONAL NO IMPÉRIO DO BRASIL (1830 – 1850) Vinícius de Castro Lima Vieira (UERJ) A pesquisa que se apresenta versa sobre as prisões; mais especificamente, se debruça na emergência do discurso penitenciário no Império do Brasil, entre os anos de 1830 e 1850. Para tal, primeiramente, analisa os descolamentos das formas penais, que, no Brasil, possuem como marco a publicação do Código Criminal do Império, em 1830. Esse código induz ao encarceramento, ao estipular como pena a privação de liberdade para a maior parte dos crimes tipificados; além disso, a sua formulação está ancorada nos teóricos do utilitarismo penal. Não obstante o Código pressupor o encarceramento como punição, as prisões existentes no Brasil eram acanhadas e, sobretudo, não possuíam caráter penal. Assim, o segundo momento deste trabalho investiga as narrativas que dispõem sobre as condições das prisões existentes no município da Corte, as quais ressaltam, além da superlotação, o péssimo estado de conservação e de salubridade. Tais narrativas também alardeavam a necessidade de construção de instituições destinadas ao cumprimento da pena de prisão. Nesse sentido, a mudança das formas penais e, por conseguinte, a construção de instituições penitenciárias, se inserem nas iniciativas do Império produzir imagens de pertencimento ao mundo considerado civilizado. Por fim, deve-se dizer que as problematizações apresentadas se pautam no uso de fontes basicamente textuais, entre as quais destacam-se, além do Código Criminal, os relatórios do Ministério da Justiça e o Regulamento da Casa de Correção da Corte. A operacionalização de tais fontes é realizada nas noções de genealogia e práticas discursivas, seguindo algumas precauções metodológicas sugeridas por Michel Foucault. Palavras-chave: discurso penitenciário; Império do Brasil; Casa de Correção da Corte Agência financiadora: FAPERJ. NOS BASTIDORES DA LEI: O DECRETO Nº 562 DE 1850 E O PROCESSO DE CENTRALIZAÇÃO POLÍTICA DO IMPÉRIO Francisco Ferreira Junior (UFRGS) O presente trabalho pretende analisar o Decreto nº 562, de 2 de Julho de 1850, que modifica a maneira como são processados e julgados os crimes de moeda falsa, roubo, homicídio e tirada de presos, entre outros. Em 1849, José Maria Candido Ribeiro, pintor reconhecido na capital da província da Bahia, é preso em Salvador portanto indícios contundente de fabricação de moeda falsa. Apesar das provas, Ribeiro seria inocentado pelo júri em seu primeiro julgamento, o que causou escândalo na imprensa local, que acusava os jurados de cumplicidade com o crime. Em novo julgamento, Candido Ribeiro é 195 condenado a galés-perpétuas. No ano seguinte, após debates nas câmaras legislativas, publicava-se o Decreto nº 562, que retirava do júri e atribuía ao juiz de direito o julgamento do crime de moeda falsa. O caso de Ribeiro demonstra a tensão existente entre os poderes locais, que podiam compor ou interferir no júri, e os poderes centrais, representados pelos agentes do governo. Á luz dessa tensão pretendo discutir as mudanças legislativas que, como o decreto de 1850, visavam atribuir um maior controle dos agentes do Ministério de Justiça sobre os processos judiciários locais. Para além das discussões pontuais reside a hipótese da permanência de práticas judiciárias características das monarquias corporativas no sistema punitivo do Império do Brasil. Como embasamento teórico utilizo os trabalhos sobre pluralismo jurídico nas monarquias corporativas de Antônio Manuel Hespanha e sobre a reciprocidade mediterrânea, de Giovani Levi. A fontes utilizadas são documentos legislativos do período, periódicos e correspondências oficiais. Palavras-chave: império, justiça, moeda falsa, pluralismo jurídico. O SERVIÇO NACIONAL DE INFORMAÇÕES E A LÓGICA REPRESSIVA: EM BUSCA DO INIMIGO VERMELHO NA DITADURA CIVIL-MILITAR BRASILEIRA Daniel Trevisan Samways (IFSP) A ditadura civil-militar brasileira foi um período de grande repressão e violência. Contando com o apoio de diferentes segmentos da sociedade, os militares implantaram um forte aparato de vigilância em uma incessante busca por suspeitos de subversão, acusados de colocarem em risco a segurança nacional. Este trabalho busca analisar a atuação do Serviço Nacional de Informações (SNI) durante o período ditatorial e a vigilância a supostos inimigos políticos, bem como o forte anticomunismo que marcou a comunidade de informações. O século XX foi caracterizado por grande perseguição a comunistas em diversos países e pela produção de milhares de análises sobre os comunistas. Nas ditaduras latino-americanas, os diferentes serviços de inteligências viam no comunismo a principal ameaça, estando permeados por certa paranoia ao acreditar que esse “inimigo” possuía grande força e que estava em todo o lugar. A mesma noção motivava uma visão distorcida sobre esse “outro”, entendido como perigoso, mas também com diversas características negativas. Esse “outro” merecia, aos olhos dos agentes repressivos e dos órgãos de informação, toda a violência e brutalidade, pois, para essa mesma comunidade, supostamente colocaria em risco a segurança nacional. Tendo como base uma documentação produzida pelo SNI, chamada “Comunismo Internacional”, busca-se analisar a visão da comunidade de informações sobre o comunismo e os comunistas, mas também refletir sobre como esse olhar sobre o “outro” no campo político pode potencializar a violência, ou mesmo justificá-la em nome de determinados valores ou da manutenção da ordem, da moral e dons bons costumes. Palavras-chave: Ditadura civil-militar; Serviço Nacional de Informações; repressão; anticomunismo. 196 MEMÓRIAS INDÍGENAS NA DITADURA:CÁRCERE E TORTURA NO REFORMATÓRIO KRENAK-MG Marcos Rodrigues Barreto (UNIRIO) Edylane Eiterer (Colégio de Aplicação João XXIII) O presente trabalho busca abordar o processo de construção discursiva de dominação da ditadura militar instaurada no Brasil a partir de 1964, e de suas ações repressivas, através das quais foram criados reformatórios, casas de tortura e centros de formação militar para grupos indígenas. Partindo da perspectiva que o confinamento de indígenas colaborou para expansão do agronegócio, do loteamento de suas terras, buscando justificar a escravidão, a tortura e o cárcere através do discurso civilizatório, apresentaremos a investigação do processo de cristalização do discurso sobre as culturas e espaços indígenas, homogeneização étnica e a invisibilização, propondo uma análise do discurso civilizatório sobre o indígena na memória coletiva. Elencamos como metodologia a análise do levantamento arquivístico, cartográfico e etnográfico, onde lançaremos luz às dinâmicas de resistência desenvolvidas atualmente para sobrevivência das memórias da militância e resistência política em face aos mecanismos de opressão de Estado. Destacaremos a importância da percepção do conceito de justiça de transição, e das possibilidades de reparação simbólica, a partir de movimentos sociais que concebem uma cadeia de disputas, no que compete ao direito à memória que podem ser sociais, políticas ou culturais - assim como da abertura dos arquivos, emergem novos testemunhos, sujeitos e histórias. Sob este prisma, em que medida o confinamento nos postos indígenas pode ser considerado ferramenta de civilização/proteção dos nativos ou como uma nova forma de escravidão? Palavras-chave: Cárcere, Ditadura, Indígenas. A SUBVERSÃO DA IMAGEM E A CENSURA NO JORNAL ÚLTIMA HORARJ: SINAIS E ÍCONES DO ESQUADRÃO DA MORTE (1968-1969) Mariana Dias Antonio (UFPR) Com a Ditadura Militar em 1964 e suas respectivas medidas, a censura aos meios de comunicação da época resultara no uso de dissimulações, sobretudo no fotojornalismo.Desta forma, pretende-se investigar como se deu esta prática, por meio de uma análise concomitantemente histórica, semiótica e sociológica, da alteração presente nas noticias veiculadas pela imprensa da época, tendo como foco a representação fotográfica do Esquadrão da Morte no jornal Última Hora -RJ entre os anos de 1968 e 1969. A finalidade dentro deste objeto de estudo é o de estabelecer um paralelo entre as fotografias e os textos noticiados, evidenciando através da tríade fotografia–lead–corpo textual das matérias do jornal UH sua linha editorial, postura em relação aos preceitos políticos da Ditadura Militar e as influências provocadas na imprensa do referido período, além de por em voga o uso de diferentes fontes documentais, sobretudo os jornais e a fotografia como importantes suportes historiográficos que possibilitam novos olhares ao período. É importante ressaltar que este 197 trabalho encontra-se em andamento e, portanto, as conclusões aqui apresentadas são preliminares. Palavras-chave: Censura; fotojornalismo; representação; Esquadrão da Morte; influências Agência financiadora: CAPES A PARTICIPAÇÃO BRASILEIRA NA ONU: O CASO DA III ASSEMBLEIA GERAL NAS PÁGINAS DO JORNAL DO BRASIL (1948) Jonathan Marcel Scholz (UEM) Com a criação da Organização das Nações Unidas (ONU) em outubro de 1945, abriu-se um novo espaço de discussão internacional para mediar as questões relacionadas à segurança e à paz mundiais. Com tal órgão, o Brasil intensificou e expandiu suas relações internacionais, sobretudo com alguns países do Ocidente (e, em especial, os Estados Unidos), num primeiro momento da guerra fria. A partir dessa ideia preliminar, sugere-se para a presente comunicação oral analisar a participação brasileira dentro da ONU, em especial na III Assembleia Geral da ONU, realizada em 1948 na capital francesa, Paris. Através da compilação dos discursos, notícias e entrevistas publicadas pelo Jornal do Brasil durante o evento destacado, investiga-se a atuação dos delegados e participantes brasileiros nas discussões (como, por exemplo, sobre a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a entrada de novos membros na ONU, internacionalização de Jerusalém, resolução do conflito na Palestina e em outros países, etc.) elencadas nos diversos comitês de debate (como os comitês político, econômico e social), procurando, por meio dos discursos, intervenções e debates realizados, investigar os posicionamentos políticos e ideológicos defendidos e, que de algum modo, representavam os interesses e posturas tanto do Jornal do Brasil como do governo brasileiro, à época dirigido por Eurico Gaspar Dutra (PSD). Palavras-chave: Brasil; Organização das Nações Unidas; III Assembleia Geral da ONU (1948); Guerra Fria. O PROCESSO DE REPRESSÃO DAS EDIÇÕES DAS OBRAS COMPLETAS DO MARQUÊS DE SADE EM 1956: JEAN-JACQUES PAUVERT E DISCURSOS EM TORNO DA LIBERDADE DE LEITURA Sara Vicelli de Carvalho (UEL) Nos séculos posteriores ao Marquês de Sade sua literatura ganhou força, sendo cada vez mais republicada e explorada. Seus escritos tornaram-se referência no cenário do século XX, ganhando um lugar de honra, sobretudo entre as gerações que se reuniam em torno dos surrealistas. Contudo, apesar da literatura sadeana não consistir em nenhum grande “segredo”, ainda não era totalmente bem quista e havia os que continuavam a condenar suas obras.Jean-Jacques Pauvert, que nos anos de 1950 a 1960 publicou centenas de livros de caráter transgressor, vivenciou ações de censura no que se refere à literatura do Marquês. Seu empreendimento, no ano de 1947, para dar início 198 à edição das obras completas de Sade, até então exiladas no Enfer da Biblioteca Nacional da França, culminou em processo judicial no ano de 1956, no qual foi acusado de publicar livros imorais que se enquadravam na qualidade de perigosos de acordo com a Comissão Nacional do Livro, em Parecer emitido em 1955.Inquietando-nos sobre os discursos acerca da liberdade de leitura, entendemos que o julgamento de Pauvert constitui um paradoxo entre o que almejavam certas parcelas da sociedade francesa e aquilo que uma instituição – a Comissão Nacional do Livro – definiu e impôs. Esse trabalho visa, entre outras coisas, dar a nosso leitor a oportunidade de pensar as interpretações feitas das obras de Sade e respectivas apropriações por parte das personagens envolvidas – leitores desse contexto histórico, focando-nos nos surrealistas, que representavam parte fundamental da cultura francesa, e no Estado francês, como instância de imposição. Palavras-chave: Liberdade de leitura; surrealistas; Comissão Nacional do Livro. Agência financiadora: CAPES BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE O PAPEL DOS TRABALHADORES NA CRIAÇÃO DO PARTIDO TRABALHISTA BRASILEIRO E DO PARTIDO LABORISTA ARGENTINO Mayra Coan Lago (USP) O Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e o Partido Laborista argentino foram criados em 1945. Ainda que tenham o ano em comum, os partidos emergiram no Brasil e na Argentina em contextos sócio-históricos distintos, sendo que no caso brasileiro, o PTB foi criado no fim da ditadura do Estado Novo, enquanto no caso argentino, o PL foi criado no fim do governo da “Revolução Nacional”. Apesar de contextos distintos há, pelo menos, um aspecto comum entre estes partidos: o foco no trabalhador, ao menos em seus títulos. Consideramos este aspecto comum interessante para refletirmos sobre as distintas formas de tratar e de pensar o papel e a atuação dos trabalhadores no Brasil e na Argentina, a partir destes partidos, no momento de sua criação. Como estes partidos foram criados? Quais eram suas propostas? Que relações estabeleceriam com Getúlio Vargas e Juan Domingo Perón? Com relação à ação e atuação dos trabalhadores nestes partidos, que semelhanças e diferenças encontramos entre o PTB e o PL? Estas são algumas das perguntas deste estudo que tem como objetivo apresentar breves considerações sobre o papel dos trabalhadores na criação do PTB e do PL, assim como a comparação entre os papéis dos trabalhadores nestes partidos. Para lograr o objetivo analisaremos os documentos do momento da criação dos partidos, como as cartas orgânicas e algumas reuniões. Palavras-chave: Partido Trabalhista Brasileiro; Partido Laborista; Partidos Políticos; Trabalhadores. 199 O ACASO PALESTINO: QUANDO UM ACIDENTE DE CARRO MODIFICOU AS RELAÇÕES ENTRE PALESTINA E ISRAEL (1987-1992) José Rodolfo Vieira (UEL) Em 08 de janeiro de 1987 um acidente de carro entre um comerciante israelense e quatro palestinos resultou na morte de todos os envolvidos. O que não se esperava era que deste acidente eclodiria a Primeira Intifada Palestina, ou “levante das pedras”. Portanto, o objetivo desta pesquisa é analisar por meio de documentos emitidos pela ONU em janeiro de 1988 e o periódico Shalom para contrapor a afirmação do jornalista estadunidense Joe Sacco, em seu quadrinho ‘Palestina’, sobre os fatos que iniciaram a Intifada de 1987. Para tanto, dialogaremos com o trabalho de Will Eisner (2010) no intuito de compreendermos a linguagem das histórias em quadrinhos e as representações (CHARTIER, 2002) empreendidas pelo autor. Sendo um acontecimento isolado e inesperado do litígio entre palestinos e israelenses, abordaremos por meio de Kosseleck (2006) o acontecimento histórico como fato do acaso. Portanto, analisar um acidente de carro no conflito israelopalestino, percebemos que tal acontecimento, dentro de uma perspectiva política de eventos, levou os palestinos as ruas contra a opressão exercida pelo Estado de Israel desde 1948. Palavras-chave: Quadrinhos; Intifada; Israel; Palestina Agência financiadora: CAPES UMA ANÁLISE DA LEI ROUANET COMO ELEMENTO DE POLÍTICA CULTURAL Bárbara Cristina Kruse (UEPG) A palavra cultura é vista como o modo de vida global e característico de um determinado povo. Neste viés, cada povo possui sua própria cultura, historicamente e materialmente determinada, a qual é exprimida por diferentes valores, estruturas, individualidades e símbolos próprios. Como consequência, são necessários instrumentos que garantam a preservação da cultura de cada povo-nação. Ocorre que, em um Estado que segue a ideologia liberal, as empresas são angariadas a buscar constantemente o lucro. Desta forma, quaisquer investimentos que não visem às demandas mercadológicas são descartados. Surgem assim, conflitos de interesses entre as empresas privadas e o interesse coletivo. Não obstante, a Constituição Federal de 1988 (CF/88) acaba por instituir um rol de direitos e garantias fundamentais aos indivíduos e, neste viés, institui que a cultura como uma garantia constitucional. Neste contexto, incumbiu-se ao Estado institucionalizar políticas que possibilitem aos seus cidadãos exercerem seus direitos culturais. No início dos anos 90, emerge a Lei Rouanet, um modelo de política cultural com parceria de empresas privadas que através de incentivo fiscal passaram a atuar como viabilizadoras de projetos culturais, juntamente com a participação do Estado. Entrementes, como estes incentivos fiscais canalizam recursos públicos para um determinado segmento, é que se verifica a importância de analisar a efetividade da Lei Rouanet, culturalmente falando. Isto porque, de acordo com a CF/88, é dever do Estado instituir políticas públicas que garantam o acesso 200 cultural a todos os seus cidadãos, além de que o incentivo fiscal concedido para os apoiadores da Lei Rouanet é dinheiro público e portanto, deve ser revertido em prol da sociedade. Palavras-chave: Lei Rouanet, incentivo fiscal, cultura. Agência financiadora: Fundação Araucária DIREITO DE FAMÍLIA E O AFETO NAS NOVAS CONFIGURAÇÕES FAMILIARES: RESPONDENDO AS EXIGÊNCIAS DOS NOVOS CONTEXTOS HISTÓRICOS, SOCIAIS E CULTURAIS. Bárbara Vedan Silva (UEPG) A proposta de trabalho fundamenta-se nos debates atuais sobre as transformações sociais e culturais ocorridas na sociedade brasileira contemporânea e a influência destas na instituição familiar. O objetivo consiste em refletir sobre a nova tendência legislativa brasileira na preservação do afeto nas relações familiares como garantidor da dignidade da pessoa humana. Apoiados, sobretudo, nas elaborações teóricas, defendidas por Maria Berenice Dias, procedemos a uma revisão bibliográfica e legislativa. Embora a atualização normativa contemple as novas configurações familiares é fato que o legislador, como reflexo de mecanismos culturais enraizados em modelos familiares fundamentados no patriarcado, esbarra em entraves que dificultam a aplicação e aceitação, pela sociedade, dos avanços legais. Embasada, em especial, na autora já citada é prudente reforçar que o aparato legislativo precisa ser oxigenado para que mudanças efetivas possam ocorrer e as velhas relações, nutridas pelo poder e pela repressão, sejam substituídas por arranjos familiares alicerçados no afeto humano. Importa destacar a família como célula mater da sociedade, posto ser a família o primeiro agente socializador do indivíduo, razão pela qual recebe atenção especial do Estado. Os estudos demonstram que a supressão dos instintos humanos nas relações familiares representa uma exigência do processo civilizatório e marca a inserção do indivíduo no mundo da cultura, decorre daí a necessidade defendida por Ruzyik de uma maneira de proteger sem sufocar e de regular sem engessar. Palavras-chave: legislativa. relações familiares; cultura; Estado; poder; evolução IDEIAS PENAIS NO BRASIL REPUBLICANO: ENTRE OS LIMITES DA ASSISTÊNCIA E OS EXCESSOS DA PUNIÇÃO Rivail Carvalho Rolim (UEM) O objetivo deste trabalho é fazer uma análise histórica dos principios do ordenamento jurídico penal acerca da aplicação das sanções penais, promulgados no início da década de 1940, com a finalidade de mostrar a tensão entre os limites da assistência e os excessos da punição, bem como as mudanças que foram submetidas durante as últimas décadas do século XX debido a uma nova cultura do controle do crime. Palavras-chave: cultura jurídico-penal; práticas penais, prisões. 201 ST21 - HISTORIAS E MEMORIAS DA COUPAÇÃO DAS REGIOES PARANAENSES NO SECULO XX: (RE)OCUPAÇÃO, MIGRAÇÕES, POLÍTICAS E IDENTIDADES O SISTEMA FAXINAL NO CENTRO-SUL DO PARANÁ: O PROCESSO DE FORMAÇÃO E A IDENTIDADE FAXINALENSE Adriane Martinhuk Kutzmy (UNICENTRO) Sergio Luiz Kutzmy (UNICENTRO) O presente trabalho tem por objetivo apresentar uma análise, em torno do processo de formação do sistema faxinal e da identidade faxinalense no Centro-Sul do Paraná. Os procedimentos metodológicos utilizados contemplam revisões bibliográficas referentes ao surgimento deste sistema e atividades de campo para verificação das condições atuais do faxinal assim como, da identidade dos faxinalenses. O sistema faxinal proporciona um estilo de vida singular, no qual é possível encontrar diferentes caracterizações como a agricultura de subsistência, um modo de criação comunitária e cooperativa, uma possibilidade de preservação florestal, diversas expressões culturais e religiosas únicas. No entanto, nos últimos anos o sistema de faxinal vem sofrendo grandes intervenções e ameaças no seu sistema tradicional, devido à inserção da agricultura, reflorestamento e o cercamento de algumas áreas internas, principalmente por pessoas com outras culturas que acabam não se inserindo ao sistema faxinal. Diante destas condições a população faxinalense teve interferências na sua identidade e nas atividades mediante as transformações e inserções decorrentes do mundo moderno. No entanto, ao mesmo tempo em que estas transformações modificaram o sistema, o estilo de vida da população faxinalense, também possibilitaram a sua reestruturação a partir da articulação e mobilização dos membros diante do contato com os centros universitários e políticas publicas que resultaram na valorização da identidade faxinalense. Palavras-chave: Sistema faxinal; Formação; Identidade; Paraná. A REGIÃO ESTÁ NOS OLHOS DE QUEM VÊ: A CONSTRUÇÃO DO PARANÁ DE SEBASTIÃO PARANÁ Tiago Vicente Penteado Bomfim (UNICENTRO) Este trabalho faz parte de minha pesquisa de mestrado e tem como objetivo analisar as representações do escritor e educador Sebastião Paraná de Sá Sottomaior referentes à formação do Paraná através de sua produção intelectual publicada em fins do século XIX e inicio do século XX. Para isso, utilizaremos as obras Chorographia do Paraná (1889), O Brasil e o Paraná (1925), e também serão analisadas algumas edições das Revistas Esphynge (1899), A Escola (1906). Obras Biográficas sobre Sebastião Paraná serão utilizadas na pesquisa, como o livro Historiadores do Paraná do Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico do Paraná. Assim, a metodologia utilizada será Identificar o “lugar social” de onde o autor da obra esta narrando, 202 contextualizando o momento histórico em que produz sua narrativa; o espaço, a paisagem, enfim, aspectos que sejam identificados enquanto representações de uma sociedade e, mais, um individuo que carrega tais concepções. Buscarse-á utilizar, além dos relatos em si, historicizando não só sua produção como seu autor, considerando conceitos como identidade, região, fronteira, espaço e paisagem; discutindo em que sociedade viveu e ajudou a construir o autor Sebastião Paraná. Destaca-se que as ideias do autor nos permitirão compreender as diversas representações de Paraná do período, assim como mapear em que medida essa prática é analisada por Sebastião Paraná, para estabelecer os parâmetros pelos quais seus argumentos foram construídos na transição do Império à República paranaense. Palavras-chave: Região, Identidade, Sebastião Paraná, Representação, Trajetória Intelectual. RITO BIZANTINO UCRANIANO -ELEMENTO CONSTITUTIVO DE IDENTIDADE ÉTNICA Fernanda Mazuco de Abreu (UEPG) Devanir Leite (UEPG) Esta pesquisa revela o Rito Bizantino como elemento constitutivo na manutenção de identidade étnica entre os descendentes de ucranianos de Ariranha do Ivaí-PR. A colonização desse município ocorreu entre as décadas de 1940 e 1960 e entre os colonizadores estavam os ucranianos e seus descendentes que até nos dias atuais são adeptos da religião católica ucraniana. O Rito praticado por esse grupo possui particularidades singulares, no modo como o Padre celebra as cerimônias religiosas, nas orações, cânticos e bençãos . É um momento de desligar-se do real e conectar-se a um mundo simbólico. É nessa pratica ritual que essas pessoas encontram uma espécie de demarcador de fronteira étnica, ou seja, as suas práticas rituais os diferenciam dos demais grupos. A memória e o sentimento de ininterrupção colaboram para que este Rito seja praticado há milênios pelos ucranianos e seus descendentes. Em Ariranha do Ivaí na atualidade há em média entre 10 a 12 famílias que praticam o Rito Bizantino na Capela São Miguel Arcanjo. Sabe-se que na contemporaneidade as identidades estão cada vez mais dinâmicas e variáveis, porém percebe-se um certo desvelo pelo grupo estudado para manter a pratica ritual de forma contínua. A pesquisa foi realizada com base em revisão bibliográfica, fontes orais e observações de algumas cerimônias e orações bizantinas ucranianas. Também foram analisados livros de bençãos clericais e documentos da Igreja Católica Ucraniana que descrevem aspectos do Rito pesquisado. Palavras-chave: Rito Bizantino, Descendentes de Ucranianos, Memória; Identidade Étnica. 203 A FÉ COMO MARCA DO IMIGRANTE Selma Antonia Pszdzimirski Viechnieski (UEPG) Este artigo trata da religiosidade na constituição de Virmond, uma colônia de imigrantes poloneses, fundada no início do século XX, discutindo as possíveis relações entre a Igreja Católica e a formação identitária, e como essa relação teria marcado a vida dos moradores, estabelecendo práticas e saberes. Para essa compreensão foi necessário estabelecer conexões com as mudanças que ocorriam no interior da Igreja Católica naquele momento, de caráter global, conhecido como romanização do catolicismo, e também as mudanças em nível nacional, com a busca da afirmação da igreja católica no Brasil. A religiosidade presente entre os imigrantes, marcando sua identidade, com o desejo da continuidade de exercer sua fé vão estar presentes ao longo de todo texto. Quando se refere à colonização dos imigrantes trata-se ainda de questões como identidades individuais e coletivas, permanências e mudanças, e a construção da memória. A fé católica, a nacionalidade, o desejo de construir uma nova vida com a manutenção da polonidade se constituem nos laços que estruturam a identidade da colônia. O conceito de identidade perpassa a análise de todas as questões propostas. O estudo realizado constitui-se como parte do projeto de pesquisa que está sendo desenvolvido no Programa de Mestrado da UEPG. Toda discussão está pautada especialmente no estudo de fontes pouco exploradas como publicações de jornais do período, traduzidas para este fim, e em fontes orais, com entrevistas de imigrantes e descendentes, além de literatura especializada. Palavras-chave: imigrantes poloneses; religiosidade; catolicismo; identidade; polonidade. CULTURA HIBRIDA E ENSINO: UM ESTUDO NOS MEANDROS DE UMA COMUNIDADE/ESCOLA DE DESCENDENTES DE UCRANIANOS EM PRUDENTÓPOLIS – PR Adriane Martinhuk Kutzmy (UNICENTRO) Sergio Luiz Kutzmy ( UNICENTRO) A presente pesquisa é resultante do estudo em uma comunidade de descendentes de eslavos predominantemente ucranianos na zona rural do município de Prudentópolis, Paraná. O contato com a cultura e o domínio da língua/dialeto falado, por sermos descendentes de ucranianos, resultam em inquietações com a forma com que a cultura e o dialeto estão se apagando, suscitando o interesse pela pesquisa. Diante das aparentes condições de hibridação das línguas em contato, português/ucraniano, nas mais distintas variações faladas na comunidade cristalizaram a problemática da pesquisa. Assim sendo buscou-se identificar a hibridação cultural que ocorre no contato de ambas e o papel da educação local à conservação da cultura e do dialeto ucraniano orolocal na perspectiva da língua culta nas modalidades oral e escrita e analisar como advêm às hibridações culturais nas escolas do interior do município, do ponto de vista dos entrevistados que são professores e alunos. Buscamos nos fundamentar nos estudos de Canclini (1997) e outros, de modo particular no que se faz referência ao conceito de hibridação cultural, 204 Identidade e de cultura de forma mais ampla. Em decorrência ao estudo, ratificou-se o anseio de grande parte dos docentes e discentes, de adquirirem a língua e a cultura ucraniana mais preservada e exercitada nos meandros da escola na comunidade analisada. Palavras-chave: Cultura hibrida; Educação; Identidade; Descendentes. AS FRONTEIRAS DE UMA UNIVERSIDADE: O MUNICÍPIO DE REALEZA/PR E A INSTALAÇÃO DO CAMPUS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL – UFFS (2005 – 2015) Fernanda Nichterwitz (UNIOESTE) O trabalho de dissertação de mestrado que será apresentado pretende compreender e refletir sobre a instalação de um campus da Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS na cidade de Realeza/PR, e como tal implementação foi percebida pela população do município, e permeia a construção e manutenção de sua identidade.Na época da aprovação do projeto de criação da UFFS, em 2007, o município de Realeza contava com cerca de 15 mil habitantes, segundo o IBGE. Após a instalação do campus da UFFS, em 2010, o município passou a contar com quase 17 mil habitantes, aumentando o número quase dois mil, em apenas poucos anos. Pensando em tão grande crescimento populacional se questionou como a população da cidade recebeu a Universidade, seus serviços, os migrantes (alunos, professores, funcionários, os familiares que os acompanham, entre outros), além de seus hábitos e práticas; e especialmente, questionar como a população da cidade passou a se perceber em relação ao novo grupo de migrantes.Assim, pretende-se, a partir da observação por meio de entrevistas, relatos orais e fontes jornalísticas apresentar o processo de instalação do campus da UFFS no município de Realeza/PR enquanto estudo de caso do projeto de expansão das Universidades Federais do governo Lula (2006-2010); a percepção dialética do “outro” entre a população da cidade de Realeza e os usuários da UFFS, e como a implementação do campus da Universidade revalidou, reconstruiu e questionou a identidade dos realezenses. Palavras-chave: identidade; universidade; Realeza/PR. MEMÓRIA PIONEIRA VERSUS MEMÓRIA INDÍGENA: PERSISTÊNCIAS E CONTRADIÇÕES NO NORTE DO PARANÁ Pedro Henrique Cezar (UEL) Kawanni dos Santos Gonçalves (UEL) Em comemoração aos 80 anos de Londrina, 104 pioneiros foram homenageados na sede do Instituto Agronômico do Paraná, em dezembro de 2014. A presença dessa figura compõe o imaginário social da colonização do norte do Paraná. Entre os festejos do referido aniversário, não houve homenagens ou referências aos povos indígenas que residiram (e residem) nessa região há séculos. Embora estudos na área da arqueologia e da história 205 apontem indícios da presença desses povos nos séculos passados, a ideia do “vazio demográfico” ainda persiste, entre alguns segmentos sociais. Em função disso, desenvolvemos um projetoi que visa estudar as coleções etnográficas do Museu Histórico de Londrina, ainda pouco exploradas, conferindo visibilidade e reconhecimento aos exemplares da cultura indígena. Resgatar a memória de um grupo significa, entre muitas questões, (re)afirmar sua identidade. Para tanto, a princípio, discutiremos como foi construída essa memória/mito do “vazio demográfico” no início do século XX, e como se deu sua extensão e permanência ao longo dos anos - temática abordada neste artigo. Utilizaremos, com essa finalidade, recortes de jornais e entrevistas disponíveis na referida instituição museal. Pretendemos, também, explanar a bibliografia que discorre sobre disputa de memória e/ou hegemonias culturais, a fim de endossar nossos propósitos. Palavras-chave: Memória; Pioneirismo; “Vazio-demográfico”; Indígenas. OS ALDEAMENTOS INDÍGENAS E A POLÍTICA DE CATEQUESE NO PARANÁ REPÚBLICA (1889-1900) Éder da Silva Novak (UEM) A primeira década republicana foi marcada por todo um debate em torno da política indigenista: por um lado os influenciados pelo pensamento positivista, defendendo uma política protecionista, com mecanismos de transformação do indígena em trabalhador nacional; por outro lado representantes da igreja, monarquistas, que pregavam a continuidade do serviço de catequese e a conversão do indígena. O governo do Paraná, durante os primeiros anos da república, manteve a política de catequese, como tentativa de agrupar os indígenas em locais delimitados e “convertê-los à civilização”, no intuito de liberar terras para as frentes colonizadoras. O objetivo aqui é analisar as atividades de catequização desenvolvidas nos aldeamentos de São Jerônimo e São Pedro de Alcântara, nas margens no rio Tibagi, obtendo recursos públicos, para atender as demandas dos responsáveis pela administração dos aldeamentos e dos grupos indígenas ali instalados. Tais aldeamentos tiveram suas atividades encerradas apenas em julho de 1900. Enquanto perduraram os indígenas utilizaram destes locais para a obtenção de equipamentos, objetos, ferramentas, brindes, alimentos, bem como uma forma de refúgio e proteção, devido a embates com grupos rivais. Contudo, não ficavam aldeados na escassez de recursos e voltavam a seus territórios de outrora quando não tinham mais interesses nas atividades dos aldeamentos. Dessa forma, trata-se de um contexto com múltiplos atores: governo, elites agrárias, imigrantes, colonos, indígenas, com objetivos diferentes e estratégias políticas próprias, no qual todos buscavam garantir suas vontades, traçando ações estratégicas a cada novo acontecimento. Palavras-chave: Aldeamentos Indígenas; Serviço de Catequese; Povos Indígenas; Paraná. 206 PASSO RUIM 1868: AS GUERRAS DOS XOKLENG NAS FRONTEIRAS DE SEUS TERRITÓRIOS DO ALTO RIO ITAJAÍ E NEGRO Lúcio Tadeu Mota (UEM) Na noite do dia 13 de janeiro de 1868, um grupo de índios Xokleng atacou e matou seis pessoas num lugar chamado Passo Ruim na Estrada da Mata próximo da vila de Rio Negro, então província do Paraná. Esse acontecimento será abordado dentro das complexas relações sócio-históricas e culturais que permearam o processo de desterritorialização do Xokleng do alto vale do Rio Itajaí do Norte e Rio Negro na segunda metade do século XIX. O foco da análise será o ataque dos índios, as medidas tomadas pelo governo provincial e seus desdobramentos durante o ano de 1868. Buscar-se-á a percepção que eles tinham dos invasores e como desenvolveram estratégias para lidar com cada um deles. Primeiro será feito um panorama do processo de ocupação da região mostrando que os Xokleng estavam acompanhando cada passo que os colonizadores davam em seus territórios. Em seguida, o foco será a análise dos acontecimentos de Passo Ruim, procurando desvendar como o grupo que ali atuava se relacionou com as expedições enviadas em seu encalço realçando seu protagonismo diante das ações da população do entorno e das autoridades provinciais e imperiais. Palavras-chave: Índios Xokleng; Relações socioculturais; Fronteiras e Populações; FREI TIMÓTEO DE CASTELNUOVO: MISSÃO, UTOPIA E REALIDADE NO ALDEAMENTO SÃO PEDRO DE ALCÂNTARA DE JATAÍZINHO/PR (1855-1895) Edson Claiton Guedes (PUC) Este artigo apresenta um estudo desenvolvido acerca da vida do Frei Capuchinho Timóteo de Castelnuovo e sua atuação junto aos indígenas do aldeamento São Pedro de Alcântara de Jataizinho, Paraná, localizado às margens do Rio Tibagi. Partimos do pressuposto de que, conhecer e analisar a vida e ação daqueles que fizeram a história no passado requer um olhar crítico e cauteloso a fim de que não olhemos para os fatos passados impregnados pelos conceitos que temos da realidade do presente. Por isso, a análise da vida e atuação do frei Capuchinho italiano aqui apresentada, buscou considerá-lo no contexto social no qual se insere o que, implica no conhecimento das relações culturais que envolvem a reconstrução da história. Destarte, o presente artigo buscou responder aos seguintes questionamentos: Quem foi Timóteo de Castelnuovo? A quem interessava a estruturação do aldeamento? Qual a importância da atuação do frade capuchinho junto aos indígenas? Para esta pesquisa utilizamos as bibliografias de terceiros e o testemunho do próprio frade, catalogados e documentados por seu biógrafo, Frei Cassimiro de Orleans. Concluímos que a mudança da política Imperial quanto ao aldeamento 207 pode explicar a falência do programa, que terminou com a morte do missionário. Palavras-chave: Biografia. Frei Timóteo de Castelnuovo. Aldeamento São Pedro de Alcântara de Jataizinho. Utopia franciscana MEMÓRIAS E HISTÓRIAS DOS MIGRANTES DE MARUMBI E BOM SUCESSO NO PARANÁ João Paulo Pacheco Rodrigues (UEM) Este trabalho se propõe a apresentar algumas reflexões sobre o processo de (re)ocupação da região Norte do Paraná e como os municípios de Marumbi e Bom Sucesso estão intrinsecamente relacionados a essa dinâmica. As memórias reveladas nos depoimentos em forma de entrevista, os vídeos documentário, “Histórico de Marumbi” e “Paróquia Senhor Bom Jesus De Marumbi – Jubileu De Ouro”, e as imagens do acervo das prefeituras municipais serviram como valiosas fontes para a compreensão desse fenômeno comum nas cidades do Norte paranaense. É por meio do conhecimento da história de uma cidade que podemos perceber a importância da figura dos primeiros migrantes no processo de (re)ocupação de região. Assim se torna essencial o estudo de história regional como forma de desvendar espaços e contextos que ficam esquecidos e não considerados pela historiografia tradicional. Podemos constatar que Marumbi e Bom Sucesso, assim como as demais cidades, configuram-se como um pequeno núcleo urbano. Esses municípios tiveram como principal produto a cafeicultura, até a segunda metade do século XX, uma prática agrícola que absorvia principalmente a mãodeobra familiar, entrecortada de outras culturas para sustento das respectivas famílias. Após a geada de 1975 paulatinamente a cultura cafeeira foi substituída pela lavoura branca como a soja, milho, trigo e, principalmente,cana-de-açúcar. Palavras-chave: História do Paraná, Memória, História Oral AS MEMÓRIAS DE BRAZ PONCE MARTINS E A EXPANSÃO CAFEEIRA PARA O OESTE DO PARANÁ Gelise Cristine Ponce Martins (SEED/PR) Este trabalho discute a colonização de Jesuítas, cidade do Oeste do Paraná, a partir da autobiografia de Braz Ponce Martins, “Memorial de um Século de Cafeicultores” (2003), na qual conta a história de um sítio adquirido da Sociedade Imobiliária Noroeste do Paraná, em 1959, no então município de Formosa. Nosso objetivo é investigar o cotidiano desta pequena propriedade, com base nas lembranças de Braz, que narra em detalhes o modo de aquisição dos lotes, as formas de pagamento, as dificuldades de estabelecimento na terra, os tipos de mão de obra empregada, os produtos cultivados, a fauna, a flora e as péssimas condições das estradas de rodagem da região. O embasamento teórico-metodológico centra-se nas relações entre memória, história e cotidiano. Parte-se do pressuposto de que as lembranças 208 pessoais se apoiam na memória coletiva, visto que para evocar seu passado, o indivíduo apela para lembranças que existem fora dele, na sociedade. Logo, toda história de vida faz parte da história geral, esta que é feita por pessoas comuns. Na análise crítica da fonte, comparamos as memórias com a bibliografia sobre a temática, reconstruindo o contexto histórico. Conclui-se que as memórias são um testemunho relevante para a compreensão da expansão da cafeicultura do Norte para o Oeste do Paraná. Palavras-chave: Memória; Cotidiano; Cafeicultura; Colonização do Oeste do Paraná. QUEM SOU EU? A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE ÍTALO-BRASILEIRA DO COMBATENTE NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL A PARTIR DA ANÁLISE DE EPISTOLARES (1945) João Paulo Massi (UEL) Pretende-se, na pesquisa proposta, analisar como a identidade ítalo-brasileira sofre transformações diante do contexto histórico marcado pela política de nacionalização do Estado Novo (1937-1945). Como fonte, são utilizados documentos epistolares. Um deles é a carta escrita pelo 2º Sargento Benedito Ravedutti, ítalo-brasileiro que fez parte da Força Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra Mundial, em resposta à chamada “madrinha dos combatentes”, Osmilda, aluna do Colégio Mãe de Deus de Londrina (Paraná). Além disso, são analisadas duas das cartas da esposa de Benedito, Odette Barros Ravedutti, escritas no ano de 1945. As missivas em questão inserem-se no contexto da Legião Brasileira de Assistência (LBA), que tinha o objetivo de oferecer suporte ideológico e afetivo aos combatentes brasileiros no fronte de batalha. Os conteúdos dessas cartas indicam um sentimento de extremo nacionalismo brasileiro de um soldado nascido em meio à cultura ítalobrasileira. Serão aplicadas as proposições metodológicas de Natalie Zemon Davis para a compreensão das epístolas, ressaltando aspectos como elementos pré-existentes, local de produção e que situações envolviam os personagens que produziram essas cartas. Será ressaltada também a materialidade das cartas, atinando para elementos simbólicos e afetivos que fazem parte dos documentos, bem como os instrumentos utilizados em sua produção. Como fundamentação teórica, serão utilizados os conceitos de identidade e negociação propostos por autores como Stuart Hall e Jeffrey Lesser. Palavras-chave: Identidade; Força Expedicionária Brasileira; Segunda Guerra Mundial; Legião Brasileira de Assistência; Cartas. RELATOS DE UM REFUGIADO EM MEIO A MATA: OS CADERNOS DE MEMÓRIA DE MICHAEL TRAUMANN (ROLANDIA 1930 -1945) Helena Ragusa (UEL) Esta pesquisa atenta para os cadernos de memória escritos por Michael Traumann, um refugiado alemão de ascendência judaica que em 1935, 209 juntamente com sua família, veio se estabelecer na atual cidade de Rolândia PR. Os escritos revelam dentre outros, indícios de uma formação obtida quando ainda vivia na Alemanha presente nas práticas, nas relações e nas representações constituídas na nova sociedade que passou a integrar. Objetiva-se portanto, compreender, por meio das fontes pessoais de Traumann, os marcos identitários que caracterizam sua vivência, como alemão ao mesmo tempo que assimilado aos novos valores. No sentido de dialogar com tais registros, recorreremos a pesquisa bibliográfica e também uma reflexão sobre os dados teóricos e metodológicos que nos permitiram pensar a escrita destes cadernos nos apoiando em Philippe Artières (1998), e suas observações acerca desta prática de arquivamento do eu; os estudos realizados por Marco Antônio Neves Soares (2012), sobre a presença judaica em Rolândia; Wilhelm von Humbolt (2004), e o fenômeno da formação na Alemanha do século XIX para compreendermos este alemão de ascendência judaica e Yi-Fu Tuan (2012), para pensarmos os elos de afetividade que estes imigrantes criaram tanto com a Alemanha, ainda quando era paisagem até sua constituição enquanto nação, e, depois, com Rolândia, enfim, as relações entre estes espaços, a memória e a identidade. Palavras-chave: Fuga, Legados, Memória. LEMBRANÇAS DE UM PASSADO SILENCIADO: MEMÓRIAS DA EXCLUSÃO E O LEGADO CONSERVADOR NA CONTEMPORANEIDADE Marcelo Hansen Schlachta (UNIOESTE / IFPR Uma análise dos sujeitos sociais que não se enquadram na memória oficial de Cascavel - PR e região foi pouco explorada pela investigação histórica. Há pesquisas sobre a colonização da região Oeste do Paraná, sobre a presença e participação da Igreja Católica, sobre os conflitos agrários, entre outras abordagens, entretanto não há trabalhos que estudam a mentalidade e as práticas conservadoras no presente da sociedade e na política cascavelense e oestina, atrelando esse imaginário a elementos da colonização, bem como ao silenciamento de memórias daqueles que não se encaixam no perfil delineado pela identidade social hegemônica. Nesta perspectiva, além de um viés até então inexplorado, a presente proposta de pesquisa, que desenvolvo no programa de doutorado em História da UNIOESTE, possibilitará desvelar a maneira pela qual se costuram as relações entre Estado, latifundiários, pequenos proprietários, pioneiros e da própria Igreja, em relação a indígenas, posseiros, migrantes de origem negra, bem como moradores das periferias que são silenciados no discurso oficial. Outro viés até então desconhecido, diz respeito ao cotejamento entre a literatura acerca da colonização da região com entrevistas produzidas com moradores antigos, bem como com documentos e entrevistas produzidas pela Comissão Nacional da Verdade (que realizou audiências em Cascavel no ano de 2013), e que trazem depoimentos de indígenas, agricultores, integrantes de movimentos sociais e até mesmo envolvidos no MR-8. A discussão histórica aqui proposta possibilitará também uma análise mais ampla acerca da realidade estudada, perfazendo também um movimento prospectivo para tentar compreender no presente alguns aspectos da mentalidade conservadora da sociedade oestina. 210 Palavras-chave: Memórias; Representações; Identidade; Conservadorismo; Comissão Nacional da Verdade. APUCARANA - PROCESSO DE OCUPAÇÃO E COLONIZAÇÃO Maria do Carmo Carvalho Faria (FAP) O presente trabalho apresenta o processo de ocupação e colonização do município de Apucarana-PR. Esse processo ocorreu em três períodos e está também intimamente ligado a colonização do Norte do Paraná. A colonização foi realizada pela Companhia de Terras Norte do Paraná (CTNP) e sua sucessora Companhia de Melhoramentos Norte do Paraná (CMNP). O objetivo desse artigo consiste em mostrar as características de cada um dos três períodos distintamente. Será abordado também de forma resumida o processo de ocupação e colonização do norte do Paraná e a influência da companhia colonizadora no município de Apucarana. A metodologia abordada foi o levantamento bibliográfico. No final do século XIX a região do município era denominada de “sertão”, isso devido a distância dos lugares mais habitados e a floresta tropical que recobria a região. Com a aquisição dessas terras pela CTNP no início do século XX, iniciou-se a ocupação e a colonização. Durante esse período foram construídas estradas, fundadas cidades, houve o prolongamento da estrada de ferro do estado de São Paulo para o interior do Paraná, passando também pelo município de Apucarana que tinha a função de ser um pequeno núcleo de abastecimento da zona rural. Na atualidade é um dos municípios relevantes do norte do Paraná. Palavras-chave: Companhia; período; pioneirismo, emancipação, município; OCUPAÇÃO E CONFLITOS DE TERRAS: O OLHAR DOS VIAJANTES ARGENTINOS E BRASILEIROS SOBRE FRONTEIRA TRANSNACIONAL (1850-1930) Leandro de Araújo Crestani (Universidade de Évora) O presente trabalho visa analisar as relações conflituosas que se forjaram no processo de ocupação da fronteira transnacional entre Argentina e Brasil a partir de relatos de viajantes argentinos e brasileiros no período correspondente entre 1850 e 1930. O objeto de estudo desta pesquisa é a fronteira transnacional entre a Província do Paraná (Brasil), a Oeste e a Província de Misiones (Argentina), a Nordeste. A análise aqui estabelecida se baseia numa perspectiva comparada e transnacional que busca compreender de que forma se deu a ocupação deste espaço e quais conflitos marcaram a posse da terra e a colonização nas fronteiras internas destas províncias. Há, nos relatos dos viajantes, uma acentuada preocupação em torno da apresentação do tipo de sujeito que habitava a fronteira. Busca-se, desta forma, reconstituir o processo de colonização da fronteira com base nas práticas sociais presentes nos relatos destes viajantes e perceber as relações de poder que o norteou, inventariando e tipificando os conflitos existentes no exercício da hegemonia de grupos locais e regionais. Estes relatos apontam semelhanças e diferenças na intervenção estatal, militar e policial de cada país 211 e contribuem para apresentar a faixa de fronteira como um espaço de cenários contraditórios e de conflitos pela posse da terra entre ervateiros, colonos (imigrantes) e indígenas. Palavras-chave: Conflitos de Terras; Ocupação; Viajantes argentinos e brasileiros; Fronteira Transnacional. CONFLITOS AGRÁRIOS NO OESTE DO PARANÁ - O CASO DO “GRILO SANTA CRUZ” NA COLONIZAÇÃO DE NOVA AURORA (1952-1958) Maurílio Rompatto (UNESPAR-Apucarana) A disputa pela terra no sudoeste do Paraná ocorrida na década de 1950 é um assunto bastante debatido pela historiografia paranaense, mas poucos sabem que na mesma época, em Nova Aurora, oeste do estado, houve um conflito muito semelhante. Nova Aurora surgiu do loteamento de uma área de terras conhecida pelo nome de imóvel Santa Cruz. Quando em 1952, a Sociedade Colonizadora União D’Oeste Ltda. se apossou dos títulos deste imóvel, este era ocupado por posseiros que acreditavam ocupar terras devolutas do estado. Alegando que os títulos da fazenda Santa Cruz, que se encontrava em posse da “União do Oeste”, eram falsos e, portanto, constituindo-se em um grilo de terras, no ano de 1953, o governo do estado entrou com uma ação judicial para anulá-los. O processo durou de 1953 a 1958 e desencadeou uma longa disputa entre as partes. Neste período, os colonizadores da “União do Oeste” tentaram por todos os meios expulsar os posseiros que se encontravam na área, provocando um grande conflito pela posse da terra em Nova Aurora e que resultou em um levante de posseiro muito parecido com o que ocorreu no sudoeste. Pretendo apresentar neste artigo algumas particularidades deste levante que, a exemplo do ocorrido no sudoeste, também teve sua importância e merece ser discutido. Palavras-chave: conflitos agrários; oeste do Paraná; Nova Aurora. REPRESSÃO NO NORTE DO ESTADO DO PARANÁ (1964) João Paulo de Medeiros Reggiani (UNINGÁ) O presente trabalho tem como propósito analisar a repressão desencadeada no norte do Estado do Paraná, que ocorreu a partir do golpe civil-militar em abril de 1964. Com o golpe o governo militar iniciou um forte processo repressivo com a imposição do Ato Institucional Número 1 (AI-1) destinado a servir de apoio à chamada “Operação Limpeza”. Nesse contexto teremos como intuito perceber como se deu a repressão no norte paranaense logo após o desfecho político que retirou o presidente João Goulart do poder e instaurou um Estado de exceção no país. A “Operação Limpeza” se materializou na suspensão dos direitos democráticos, em intervenções de sindicatos, nas cassações de direitos políticos, expurgos de militares nas forças armadas e funcionários do serviço público, e também na instauração de centenas de Inquéritos Policial-Militares que apurou atividades consideradas subversivas em todo o país. Nesse âmbito, temos o propósito de analisar a ação repressiva 212 do Estado em sua forma de agir, e também conhecer pessoas que no interior do país foram perseguidas durante os primeiros momentos do período militar. Todos os cidadãos que tivessem a ideia afinada com movimentos pertencentes à esquerda eram prováveis alvos, passíveis de repressão e considerados uma ameaça à Segurança Nacional. Nosso interesse é analisar a perseguição do regime militar a pessoas que foram investigadas pelo “IPM zona norte do Paraná”. Palavras-chave: Repressão; Norte paranaense; IPM zona norte. OS ARQUIVOS DA DOPS/PARANÁ SOBRE O EXTREMO NOROESTE DO PARANÁ (1950-1980) Cássio Augusto S. A. Guilherme ( UNIFESSPA) O presente trabalho se utiliza de fontes documentais, trinta e cinco pastas, produzidas pela Delegacia de Ordem Política e Social (DOPS) entre as décadas de 1950-1980 sobre a região do extremo noroeste do estado do Paraná e arquivadas no Departamento de Arquivo Público do estado do Paraná (DEAP). O objetivo é que sirva para instigar outras pesquisas mais aprofundadas sobre os arquivos aqui analisados e destacar a existência de tal documentação, bem como a sua facilidade para acesso público. Apresentamos alguns casos expressivos encontrados na documentação, em especial nos municípios de Paranavaí, Loanda, Querência do Norte e Terra Rica, para ao final concluirmos que os órgãos de inteligência da polícia política não centravam a sua atenção e repressão apenas nos grandes centros urbanos, mas também nas regiões interioranas do estado, onde o noroeste se destaca por ser local de grande migração camponesa naqueles anos. Palavras-chave: DOPS; Paraná; Repressão. NARRATIVAS DE COLONOS E POSSEIROS NA LUTA PELA TERRA: A (RE)CRIAÇÃO DA MEMÓRIA DA REVOLTA DE TRÊS BARRAS NO PARANÁ, 1964-2014 Mayara da Fontoura das Chagas (UNIOESTE) A revolta de Três Barras ocorreu entre os dias 6 e 8 de agosto do ano de 1964, no distrito de Três Barras, em Catanduvas, região oeste do estado do Paraná. Esse conflito se deu quando os colonos e posseiros sublevaram-se e prenderam alguns profissionais do Departamento de Geografia, Terras e Colonização – DGTC – que realizavam a medição das terras na região representando a empresa Bellé & Simioni. O presente trabalho tem por objetivo analisar como as memórias sobre a revolta de Três Barras são narradas, explicitando como os sujeitos interpretam e atribuem significados a esse conflito social pela posse da terra. Nesse sentido, buscamos perceber nas fontes selecionadas, narrativas orais, no livro sobre Três Barras do Paraná e no processo 147/64 -“Três Barras”, as diferentes versões que constituem uma memória social compartilhada desse momento histórico. Assim, pensar como as memórias sobre a revolta de Três Barras são narradas, explicitando como 213 os sujeitos interpretam e atribuem significados a esse conflito, nos diz muito mais do que simplesmente apresentar versões sobre como a revolta ocorreu, diz-nos como as memórias desses sujeitos podem ser rearticuladas e (re) criadas, levando em consideração os lugares sociais que estes ocupam no presente. Analisar as diferentes narrativas selecionadas nos possibilita compreender como os sujeitos se posicionam frente a essas memórias, como as resignificam (re)construindo identidades e atribuindo, por meio de suas experiências, sentidos diversos a esse momento de luta. Palavras-chave: Revolta de Três Barras; Memória; Narrativa; Conflitos Agrários; Colonos e Posseiros. (RE)OCUPAÇÃO E MUDANÇAS NA PAISAGEM: UMA LEITURA DE HISTÓRIA AMBIENTAL DOS PROCESSOS MIGRATÓRIOS E CAFEICULTURA NO NORTE DO PARANÁ Lucas Mores (UFSC) Aspectos ambientais são um dos principais elementos quando pensamos em processos migratórios, sejam estes importantes nos motivos da chegada ou mesmo na modificação ocorrida depois da ocupação de determinado território. A história da implantação e domesticação da cafeicultura no Brasil está intimamente ligada ao tema de processos migratórios de seres humanos ou não humanos, sendo estes deslocamentos voluntários ou não. Neste sentido, este trabalho visa analisar as intersecções entre migrantes e a alteração do território no norte do Paraná por meio de uma leitura do campo de História Ambiental. A principal implicação desta perspectiva, é perceber como grupos não humanos, por exemplo insetos, solo, geadas e o fogo, foram ativos neste processo de implantação do monocultivo e adaptação as novas paisagens, e não, como a interpretação tradicional que coloca todo o peso sobre o trabalho humano. Outro elemento importante visa problematizar como cada etnia se relaciona com o seu ambiente construído, ou seja, a monocultura. Diferentes etnias geriram os monocultivos de café no norte do Paraná a partir de diferentes lógicas e práticas, podemos assim, perceber que a História Ambiental não elimina outras esferas da historiografia como economia, política e cultura, mas busca ampliar estes debates para compreender os grupos não humanos. A metodologia para este trabalho se valerá do cruzamento de diferentes documentos como fotografias, periódicos, relatos de imigrantes e relatórios técnicos. Palavras-chave: Paraná; Monocultivo, História Ambiental; A HISTORIOGRAFIA DO PARANÁ REFERENTE AO ESPAÇO PARANAENSE: NOTAS DE PESQUISA Wander de Lara Proença (UEL) O presente texto apresenta resultados de pesquisa sobre produções historiográficas, no ambiente das universidades do Paraná, que tomam o espaço paranaense como objeto de estudo. Busca-se perceber como os 214 autores dialogam com o campo de saber estabelecido como “História do Paraná” e suas definições de espacialidade e temporalidade, além de identificar as transformações temáticas, conceituais e metodológicas nas práticas desses historiadores. Com base em Pierre Bourdieu, é possível analisar o poder simbólico expresso nas conjunturas intelectuais e políticas do campo educacional no período, subjacente no próprio discurso que se nomeia de “história regional” e as relações de poder que ele pressupõe; a partir de François Hartog, cabe a compreensão dos regimes de historicidade, que vinculam os historiadores e sua disciplina à consciência do tempo, como ciência da mudança e da transformação, também em si mesma. Textos de geógrafos e sociólogos que abordaram o Paraná nos anos 1950, somados às produções de uma matriz historiográfica dos anos 60 no ambiente da UFPR, serviram de base para trabalhos acadêmicos que replicaram representações de pioneirismo, vazio demográfico e ocupação pacífica pelos empreendimentos colonizadores, por exemplo, em diferentes regiões do estado. Buscando transpor esses limites, produções historiográficas recentes incluem novos enfoques temáticos e valorizam outros grupos sociais, destacando, por exemplo, questões ambientais, religiosidades, identidades e variedades culturais. O emprego de novas fontes e perspectivas metodológicas, com apreço ao uso de depoimentos orais, ritos, símbolos, imaginário, costumes, imagens e representações, contribuem diretamente para redefinições do olhar historiográfico sobre o espaço paranaense. Palavras-chave: Historiografia paranaense; universidades; espacialidade; temporalidade. Agência financiadora: CNPq A NATUREZA, O URBANO E O PASSADO: A CONSTRUÇÃO DE UMA NARRATIVA EM UMA CIDADE DE FRONTEIRA –LONDRINA-PR Gilmar Arruda (UEL) O processo de incorporação do ´sertão´ do Brasil à modernidade, provocou uma radical transformação da paisagem: mudando formas de apropriação da natureza e tendo surgido centenas de pequenas cidades no espaço da mata atlântica. Nestas cidades, as narrativas sobre o passado, tanto a memória como a história, usam a transformação da natureza e o surgimento do urbano como "evidências", articulando o passado e o presente, indicando qual futuro se almeja. Em Londrina, as narrativas aparecem em dois murais em azulejaria comemorativos dos 25 e 50 anos da sua fundação - 1959 e 1984. São reproduções ampliadas e colorizadas de fotografias de dois tempos históricos. Nessa comunicação, usando os conceitos de monumento, semióforo e cronotropo, pretendo analisar os sentidos dessa narrativa e suas funções contemporâneas. Palavras-chave: natureza, memória, monumentos, semióforos 215 O SUDOESTE DOS GAÚCHOS: ANÁLISES SOBRE IMIGRAÇÃO E COLONIZAÇÃO Jonathan Marcel Scholz (UEM) O espaço físico chamado hoje de Sudoeste do Paraná conta atualmente com quarenta e dois (42) municípios e mais de seiscentos mil habitantes, segundo os dados da Associação dos Municípios do Sudoeste do Paraná (AMSOP). Contudo, apesar de os campos de Palmas serem conhecidos desde a administração lusitana de D. João VI (1808-1822), tal região compõe uma das últimas fronteiras a ser colonizadas pelo estado brasileiro no Paraná. O sudoeste não existiu enquanto região geopolítica do estado paranaense até, aproximadamente, a década de 1950. É a partir desta ideia preliminar, que se sugere para a presente comunicação oral analisar a participação dos sul-riograndenses na imigração e colonização da supracitada área. Compreendendo que, desde a criação do Território Federal do Iguaçu (1943) por Getúlio Vargas, os gaúchos eram os indivíduos preferenciais para a colonização desta faixa à Oeste do Paraná, investigar-se-á, do mesmo modo, a atuação dos sul-riograndenses na formação das elites políticas que ajudaram a forjar uma ideia de sudoeste paranaense. Assim, ao conceber as fronteiras territoriais enquanto espaços altamente dinâmicos e plurais destaca-se que o sudoeste paranaense é fruto de uma idealização política, ideológica e econômica coletiva, de um dado momento. Para contemplar a análise proposta, optou-se pela teorização da ideia de região para Durval Muniz de Albuquerque Junior e do conceito de “cultura política” na acepção de Serge Berstein. Palavras-chave: Sudoeste do Paraná; sul-rio-grandenses; colonização; fronteiras. IMAGENS DO COTIDIANO, REGIÕES DO VIVIDO E POVOS TRADICIONAIS DO SUL DO BRASIL (1900-2014). José Adilçon Campigoto (UNICENTRO) Estudo a respeito da aplicação do conceito de região para a escrita da história, enfocando os faxinalenses, categoria de povos tradicionais existente no sul do Brasil. Com base no conceito de espaço praticado, define-se a região a ser investigada, neste caso, a experiência vivida por estes agricultores de economia de subsistência é área de contato entre a cultura faxinalense e a educação formal. As fontes utilizadas são, na maioria, imagens fotográficas produzidas em visitas a campo ou digitalizadas a partir de material fotográfico cedido por faxinalenses. Reproduções de documentos imagéticos já publicados ou armazenados em arquivos locais. A metodologia para o trabalho com as fotografias consiste em pensa-las como região (ou parte) de um todo visual. Assim, o todo é posto em relação com os seus elementos possibilitando uma efetuação de sentido, isto é, de significado histórico. No espaço assim definido, praticou-se desde o início do século XX até a década de 1930, as escolas étnicas religiosas, as ‘sociedades-escolas’ que tinham em comum o ensino da cultura e da língua materna do grupo. As estradas de ferro e de rodagem, dividiram algumas áreas de criatório comum, mas também trouxeram escolas e professores para o faxinal. A comparação entre imagens dos prédios escolares 216 do presente e do passado permite a percepção de mudanças e permanências significativas na paisagem e no cotidiano dessa região em que a convivência entre a câmara dos humanos e do não-humanos inicia ainda na infância. Palavras-chave: Ruralidade, Povos Tradicionais, História e Regiões, Cultura. Agência financiadora: CAPES- Observatório da Educação. TRABALHADORES MIGRANTES: UMA PROPOSTA DE PESQUISA A PARTIR DAS FONTES ECLESIAIS DA IGREJA NOSSA SENHORA APARECIDA DE LOANDA Adriana de Carvalho Medeiros (UFU/ FACINOR) O processo de reocupação do extremo noroeste do Paraná ocorreu a partir década de 1950, através da ação do capital imobiliário e do governo do estado do Paraná. As empresas imobiliárias foram as responsáveis por lotear parte das terras e criar os primeiros núcleos urbanos, com equipamentos muitas vezes obtidos a partir de disputas entre as várias empresas, junto ao estado. O estabelecimento da Igreja Católica na região se deu a partir da designação do Padre ucraniano Pedro Plonka na cidade de Loanda, mas que atendia as cidades da região realizando cerimônias e rituais. Neste sentido, atualmente os “proclamas”, ou processos pré-nupciais, podem ser considerados importantes documentos históricos, pois reúnem um importante conjunto de informações sobre população que se estabeleceu na região a partir da década de 1950. Este artigo tem como objetivo, a partir de pesquisa qualitativa e quantitativa, investigar as origens e cultura dos trabalhadores migrantes, tendo como referencia os processos pré-nupciais registrados na Igreja Matriz Nossa Senhora Aparecida de Loanda nos anos de 1955 a 1957. Palavras-chave: trabalhadores migrantes; documentos eclesiásticos; noroeste Paraná. 217 ST22 - PATRIMONIO E MEMORIA: PARADIGMAS DA PRESERVAÇÃO E DA EDUCAÇÃO PATRIMONIAL NO ENSINO DE HISTÓRIA E NAS INSTITUIÇÕES MUSEAIS DOURADOS: PONDERAÇÕES SOBRE O PATRIMÔNIO CULTURAL E A CIDADE Márcia Bortoli Uliana (UFGD) O presente trabalho tem por objetivo traçar reflexões e desdobramentos sobre experiências com extensão universitária, através do projeto “Patrimônio cultural e políticas públicas: problematizando discursos e práticas em Dourados/MS”, desenvolvido entre os anos de 2011-2012. Para isso abordaremos brevemente, num primeiro momento, a ação de extensão. Em seguida, trataremos das fontes históricas que esta ação nos legou, a exemplo das ações civis públicas vinculadas ao patrimônio cultural, em Dourados, MS. E, em específico sobre um determinado bem cultural, a Usina Senador Filinto Muller, mais conhecida como “Usina Velha”. Palavras-chave: Patrimônio cultural, extensão universitária, ações civis públicas, Dourados. Agência financiadora: UFGD O PATRIMÔNIO MATERIAL E SUA SALVAGUARDA: A MEMÓRIA NO MUNDO GLOBALIZADO Jacqueline Rodrigues Antonio (UEM) A primeira metade do século XX no Brasil ficou marcada pelas discussões politicas acerca da escolha dos bens que representam o ser brasileiro e da salvaguarda do patrimônio nacional, com ênfase para a cultura material. Neste contexto foi tombado pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), o atual Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), a Igreja e Residência dos Reis Magos, em Nova Almeida, Espírito Santo. Assim, o presente texto tem por objetivo discorrer a respeito da preservação dessa memória no contexto da globalização do mundo atual. Para tanto, terá como base para este trabalho a História Cultural e os estudos da cultura na pós-modernidade de Bauman. A apreensão da pluralidade na cultura popular é essencial na busca da maneira que a memória dos bens materiais é compreendida no mundo atual, assim são visualizadas as questões da globalização influenciando nas formas de salvaguarda do patrimônio cultural de uma sociedade. Portanto, ao colocar os pontos sobre a salvaguarda da memória do patrimônio cultural brasileiro com as demandas da globalização no objeto de pesquisa da minha dissertação (um painel sob o tema dos Reis Magos, confeccionado, oficialmente, no século XVI e localizado na Igreja e Residência dos Reis Magos em Nova Almeida), que na década de 1940 foi 218 considerada uma herança colonial digna de ser preservada pelo Estado e atualmente é ponderada como mercadoria no contexto da globalização dentro da política do turismo histórico. Palavras-chave: História Cultural; Cultura Material; Reis Magos. Agência financiadora: CAPES O NEGRO NA EXPOSIÇÃO DO TRABALHO Gabriela Vasconcelos Torres. (UEL) Este trabalho tem como objetivo principal analisar a exposição de longa duração do Museu Histórico de Londrina, principal e um dos mais antigos lugares de memória da cidade, optando por um recorte em relação ao segundo módulo, evidenciando, entre outros aspectos, a produção de silêncio em relação aos negros. Embasado nas ideias de Michael Pollak, localizamos o museu como palco de conflitos e disputas de poder entre grupos sociais com interesses conflitantes e que veem o espaço museal como estratégico nos embates pela dominação dentro do processo de construção da memória coletiva. A exposição de longa duração é fruto de um processo de revitalização da instituição, iniciado em 1995, financiado em grande parte pela iniciativa privada. Embora vinculado à Universidade Estadual de Londrina, constituindo-se como museu universitário, o MHL preservou a narrativa tradicional a cerca da história local e o eixo sobre o trabalho como norteadores da composição museográfica da sua exposição. Essa narrativa teve como resultado a exclusão de vários atores sociais, também partícipes do processo de formação da cidade. Palavras-chave: Museu Histórico; memória; história VENTURAS E DESVENTURAS DA PRESERVAÇÃO DA IGREJA NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO DOS HOMENS PRETOS (SÃO PAULO/BRASIL) Sandra C. A. Pelegrini (UEM) Esta comunicação visa a apresentação dos resultados parciais de uma pesquisa sobre a igreja “Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos”, vinculada às atividades desenvolvidas no Centro de Estudos da Artes e do Patrimônio Cultural, da Universidade Estadual de Maringá (CEAPAC/UEM). O templo supracitado foi inicialmente erguido no Largo do Rosário por escravos, mulatos e alforriados, nas décadas iniciais do século XVIII, na então província de São Paulo/Brasil, mas acabou sendo demolido durante o advento da urbanização da cidade e reerguido no Largo do Paissandu, um logradouro mais afastado, contudo, ainda próximo do antigo lugar onde se situava. A relevância dessa investigação se justifica pela constatada força de resistência dos negros e expressa nessa igreja; por atestar os sentidos de pertença da comunidade que frequenta esse híbrido “lugar do sagrado”. A partir de tais argumentos e do universo conceitual e metodológico da História Cultural, interessa-nos abordar aqui como se deu o processo de edificação desse santuário; identificar as suas características arquitetônicas e seu atual estado de conservação; e também, observar se a sua preservação e salvaguarda conta com a colaboração do 219 Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (CONDEPHAAT), da Secretaria de Cultura de São Paulo (PMSP). Certo é que a manutenção desse templo e do seu entorno tornaram-se referências das tradições afrobrasileiras do município. Palavras-chave: Arte e História; Memórias; Patrimônio Cultural. LADÁRIO/ MS E SEU PATRIMÔNIO CULTURAL: MAIS DE 100 ANOS DE HISTÓRIA Daiane Lima dos Santos (UFGD) O patrimônio cultural que o município de Ladário/ MS abriga, é dinâmico e significativo, com isso, demanda políticas para sua preservação. Nessa perspectiva, este trabalho tem por objetivo apresentar a diversidade do patrimônio cultural em Ladário e as ações que veem sendo feitas para garantir a preservação e reconhecimento desses bens que se constituem tanto em natureza material quanto imaterial. Nesse sentido, vale ressaltar que ainda não são tombados a nível municipal, sendo, desta forma, somente o Pórtico do Arsenal de Marinha o único bem reconhecido e tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico Artístico e Nacional (IPHAN). A dimensão simbólica e política são formas de pensar estratégias para a preservação e valorização patrimonial e devem ser reforçadas afim de que garantam, a preservação da memória e da história local. Por meio da pesquisa e visita aos locais, é possível apresentar e dialogar sobre o patrimonial que a cidade possui. A partir disso, é possível investir em políticas de preservação e valorização, possibilitando desta forma, que as futuras gerações conheçam a própria história e sobretudo, tenham orgulho dela, despertando desta forma, o sentimento de pertença e identidade. Palavras-chave: Ladário; Patrimônio; bens móveis e imóveis. OS TRAÇADOS INVISÍVEIS DE PEDRO OSÓRIO (RS): UMA PROPOSTA INTERDISCIPLINAR NA ESCOLA MUNICIPAL DE ENSINO FUNDAMENTAL GETÚLIO VARGAS Tatiana Carrilho Pastorini Torres (FURG) Maria Fernanda Botelho (GVM) A presente proposta de trabalho visa relatar uma experiência interdisciplinar de Ensino de Arte, Geografia e História na Escola Municipal de Ensino Fundamental Getúlio Vargas, localizada no município de Pedro Osório, Rio Grande do Sul. A proposição do trabalho envolveu o estabelecimento de percursos escolhidos pelos alunos, a fim de se propiciar um olhar diferenciado sobre a cidade. Neste sentido, buscou-se uma visão que vai além de prédios, ruas e demais limitações do espaço urbano; enfim, uma leitura da cidade como produto histórico-social delineado pela vivência, na qual se constitui a memória e o patrimônio. Para tanto, optou-se pelo uso da fotografia como forma de registro, posto que tal recurso oferece ao observador uma gama de possibilidades, enquadramento e infinitas releituras. Além disso, auxilia no 220 desenvolvimento da poética que, por sua vez, corrobora com a sensibilização e percepção dos traçados invisíveis aos olhares despreparados. Sendo assim, possibilitou-se uma construção interdisciplinar de conhecimento, com o propósito de valorizar e incentivar o fortalecimento dos vínculos identitários e patrimoniais da comunidade local. Palavras-chave: Cidade; Fotografia; Poética; Memória; Patrimônio. A CAVALGADA DE SÃO SEBASTIÃO EM CAMBIRA-PR João Paulo Pacheco Rodrigues (UEM) Celebrada há mais de 15 anos no município de Cambira -PR, a cavalgada de São Sebastião vem se constituindo como uma prática cultural local. Neste trabalho, centralizaremos a discussão sobre a “Cavalgada” realizada na cidade homônima, desde 1998. Apesar de a ocupação da cidade ter ocorrido no final da década de 1930, a partir do desenvolvimento da agricultura cafeeira, as cavalgadas geraram o interesse da população residente há pouco mais de dez anos e estão relacionadas à sedimentação das atividades pecuárias. O objetivo principal deste estudo centra-se na compreensão das práticas de sociabilidade estabelecidas pela comunidade cambirense durante a cavalgada e como essas podem se configurar como um bem imaterial da população residente. Nessa festividade detectamos a convivência entre elementos sagrados e profanos que se hibridam durante todo o evento, nos sermões do padre que chama a atenção para a necessidade da preservação do meio e dos bens naturais; já os sinais profanos da festa se manifestam na comensalidade, na dança e nas músicas sertanejas. O festejo também permite o convívio entre homens, mulheres e crianças de distintos seguimentos sociais, propiciando trocas culturais e religiosas. Nas cavalgadas, as famílias que haviam convivido nas décadas de 1950, 1960 e 1970 reencontraram os antigos companheiros de labuta ou os amigos de infância e com orgulho apresentaram os netos e demais descendentes da família. Palavras-chave: Patrimônio Imaterial, História do Paraná, Cambira. EDUCAÇÃO PATRIMONIAL E AS AULAS DE HISTÓRIA Camila Rola Alves (FURG) Esta proposta de comunicação oral tem por objetivo destacar alguns pontos do trabalho realizado com uma turma do 4° ano na cidade do Rio Grande, no ano de 2014. Para tanto, utilizamos a metodologia da Educação Patrimonial, a qual tem como objetivo levar os sujeitos, independente da idade, a um processo de conhecimento, valorização e preservação dos bens culturais; sendo assim, a Educação Patrimonial representa uma ferramenta muito interessante de ser utilizada na sala de aula, já que a mesma promove o contato direto do individuo com os bens culturais. Ao trabalharmos com esta metodologia na sala de aula, buscamos atividades que aproximassem os alunos dos seus bens culturais. Realizamos a atividade “Os bens culturais e suas histórias”. Para este exercício foi solicitado ao aluno para trazer de casa um objeto que goste, então contaram 221 a história do seu patrimônio para os colegas. Outra atividade realizada foi uma leitura e roda de conversa sobre o livro “As aventuras do Gato Caixeiro em Londrina”, este busca valorizar a relação da família a partir do ato de sentar e escutar as histórias dos mais velhos. A partir da leitura e discussão sobre este livro, foi proposto para os alunos que eles entrevistassem seus avôs, pessoas mais velhas as quais eles conheçam para saber como era a cidade antigamente. Tendo em vista que, ao pensarmos a Educação Patrimonial no espaço escolar, objetivamos trabalhar com as crianças buscando a educação, o despertar do olhar à preservação e trabalho com a história e as memórias locais. Palavras-chave: Bens Culturais; Educação Patrimonial; Ensino de História PATRIMÔNIO E ENSINO: O ACERVO DA FÁBRICA RHEINGANTZ (RS) COMO SUBSÍDIO AO TRABALHO COM A HISTÓRIA LOCAL Carmem G. Burgert Schiavon (FURG) Daniel Porciuncula Prado (FURG) A presente proposta de comunicação consiste em apresentar dados parciais do Programa de Extensão voltado ao inventário do patrimônio cultural do Município do Rio Grande (RS), financiado pelo ProExt (Programa de Extensão Universitária do Ministério da Educação), o qual se constitui como um espaço para aproximar docentes, discentes, pesquisadores e gestores do campo do patrimônio e da educação com o objetivo de que estes reflitam acerca das transformações culturais, sociais e ambientais contemporâneas vivenciadas na atualidade. Para tanto, busca-se a partir da metodologia da Educação Patrimonial, a identificação de diferentes tipologias patrimoniais locais e, ao mesmo tempo, as noções de patrimônio oriundas de cada uma das comunidades, as quais são imprescindíveis à construção de práticas educativas e políticas públicas voltadas à valorização e à preservação do legado histórico e cultural destas. A partir destes pressupostos, trabalha-se com o patrimônio documental da Fábrica Rheingantz, fundada no ano de 1873 e primeira fábrica de tecidos do Estado do Rio Grande do Sul, como subsídios à história local e ao desenvolvimento de atividades de Educação Patrimonial com o objetivo de um (re) pensar acerca da relação política pública, patrimônio e educação, em suas mais diferentes perspectivas. Palavras-chave: Patrimônio; Ensino; Fábrica Rheingantz; Rio Grande. Agência financiadora: ProExt (Programa de Extensão Universitária do Ministério da Educação). A FORMAÇÃO DAS COLEÇÕES NO MUSEU HISTÓRICO DE LONDRINA/PR (1970/80) Cláudia Eliane P. Marques Martinez (UEL) Das primeiras iniciativas de preservação do patrimônio no Brasil, no início do século XX, ao amplo processo de patrimonialização na sociedade brasileira contemporânea, o pensamento e as práticas patrimoniais se alteraram substancialmente. Deve-se acrescentar, ainda, o papel e a proliferação de 222 instituições de memória, a exemplo dos museus, espaços a partir dos quais se pode compreender criticamente os pressupostos que orientaram (e orientam) a formação e guarda de acervos. Tendo como premissa as questões que nortearam as diretrizes patrimoniais e as práticas museais, ao longo do século XX, essa comunicação tomou como foco de estudo as coleções do Museu Histórico de Londrina (MHL). Estudar as coleções implica conhecer, em detalhes, suas concepções, suas características e o papel que adquiriram na instituição, ao longo do tempo. Para isso, analisou-se os Livros de registros dos objetos doados ao museu, na sua primeira década de atuação, 1970/80. Essa documentação permitiu, não só dimensionar quais peças passaram a compor o acervo institucional, mas, também, quem eram os indivíduos, segmentos e/ou famílias que participaram desse processo. A investigação até o momento constatou uma complexa e variada tipologia de objetos ofertados ao MHL. Pratos de louças, panelas de barro, mobiliário, bule japonês, instrumentos musicais, urnas funerárias, pedras polidas, machados de pedras, foram alguns dos muitos exemplos encontrados na referida documentação. Problematizar os objetos que ajudaram a formar as coleções do MHL possibilitou, por fim, refletir sobre várias questões pertinentes às instituições museais no Brasil, principalmente, aquelas relacionadas às políticas de aquisição e comunicação de acervos. Palavras-chave: Museu; coleção; artefatos; doação; aquisição UMA BREVE HISTÓRIA DO MUSEU DE ARQUEOLOGIA E ARTES POPULARES DE PARANAGUÁ Vinícius Augusto Andrade de Assis (UEL) Neste trabalho visa-se discutir os resultados iniciais da pesquisa: “Patrimônio e Museu: Do Colégio Jesuíta ao Museu de Arqueologia e Artes Populares de Paranaguá/PR (1938-1963)”. O objetivo desta pesquisa é compreender o processo de institucionalização do Museu de Arqueologia e Artes Populares de Paranaguá, no edifício do antigo colégio dos Jesuítas, entre 1938 e 1963, tendo em vista as políticas culturais no Brasil e tendo como pano de fundo o movimento de renovação dos museus com as novas demandas da sociedade. As análises de Françoise Choay (2006) darão suporte teórico para o tema aqui em questão, ou seja, a percepção e a identidade da sociedade em relação ao seu patrimônio. A ressignificação do colégio Jesuíta como Museu irá permitir analisar as políticas patrimoniais, museológicas e práticas de preservação em perspectiva histórica. Além das discussões bibliográficas referentes ao tema, serão analisados também os dossiês de tombamento, os relatos de viajantes estrangeiros do século XIX e por fim os documentos de fundação do museu que se encontram em sua reserva técnica. Atualmente, com a ascensão dos estudos patrimoniais nas graduações, mestrados e doutorados em História, vemos a oportunidade de discutir as transformações de alguns museus brasileiros, contribuindo assim para a preservação do patrimônio cultural e da memória coletiva. Palavras-chave: Memória; Museu; Patrimônio; Paranaguá. 223 O ACERVO DO MUSEU DA BACIA DO PARANÁ (MBP/UEM) João Batista da Silva (UEM) O Museu da Bacia do Paraná, órgão suplementar da Universidade Estadual de Maringá (UEM), foi criado em 15 de outubro de 1979, através da Portaria n.º 583/79-GRE. As negociações entre a UEM e a Cia. Melhoramentos Norte do Paraná/CMNP resultaram na doação da parte mais significativa do acervo, as fotografias, mapas e outros documentos referentes ao loteamento de terras efetuado pela CMNP. Essa transferência do acervo histórico da companhia e a doação da primeira casa construída em Maringá para ser a sede definitiva do MBP ocorreu no início da década de 1980. Em 1983, a habitação foi desmontada (com as tábuas numeradas) e transferida para o atual campus sede da UEM. Essa casa pode ser considerada a principal peça do acervo dessa instituição museológica, pois é representativa do ponto de vista da arquitetura em madeira de Maringá e também por, sob a ótica da nova Museologia, ser denominada “MUSEU-CASA”. O tombamento dessa edificação, inaugurada oficialmente como um museu se deu no dia 14 de abril de 1984, pela Secretaria de Cultura da Prefeitura de Maringá (PMM), consolidará o reconhecimento da preciosidade do acervo que conta com mais de 7 mil peças, parte da cultura material que nos remete aos usos e costumes dos primeiros moradores dessa região do estado do Paraná. Palavras-chave: História, patrimônios e acervos. HISTÓRIA, ACERVO E IMAGEM: O CASO DO MUSEU HISTÓRICO DE LONDRINA E SUA COLEÇÃO “FAMÍLIAS” Amanda Camargo Rocha (UEL) Desde tempos remotos, a produção de imagens tem sido utilizada pelo ser humano como forma de expressão e comunicação. A ideia de que vivemos em uma sociedade visual tem sido discutida cada vez mais e em diferentes campos de conhecimento. Essa característica acaba por repercutir também na pesquisa em História, que progressivamente tem utilizado imagens como fonte de estudo. Dessa maneira, torna-se necessário que também sejam realizadas reflexões a respeito das instituições de memória responsáveis pela preservação e disponibilização de parte significativa dessas documentações para o desenvolvimento de pesquisas. A forma como um acervo se constitui, é arranjado e classificado, reflete na escolha da documentação por parte do pesquisador e, consequentemente, nos resultados obtidos, cabendo ao historiador ponderar também a respeito do assunto. Tendo em vista tal premissa, este trabalho tem por objetivo pensar o acervo fotográfico do Museu Histórico de Londrina (MHL), especialmente o conjunto intitulado por “Famílias” e como este foi formado e organizado pela instituição. Para tanto, serão analisadas as fotografias, os livros de registro e as informações recebidas quando estas passaram a incorporar o arquivo. Sabe-se que a maior parte do acervo foi adquirida por doações de moradores ou ex-moradores de Londrina e região, sendo que os itens documentais representam unidades familiares e suas atividades (sociais, econômicas e políticas) ao longo do desenvolvimento de Londrina e seus entornos. Trata-se, portanto, de material de grande valor 224 para o andamento da historiografia norte-paranaense e que evidencia os jogos de poder de uma memória que está em constante construção. Palavras-chave: Acervo; memória; coleção; fotografia. A FORMAÇÃO HISTÓRICA NO MUSEU HISTÓRICO DE LONDRINA Pe. CARLOS WEISS. Erica da Silva Xavier (UEL) O presente trabalho é resultado do projeto de extensão “A formação histórica no museu histórico de Londrina Pe. Carlos Weiss” oferecido para disciplina de Estágio Supervisionado no curso de História da Universidade Estadual de Londrina, em 2013. Considerando que no âmbito da formação de professores de História há necessidade de garantir uma noção mais ampliada das competências didático-pedagógicas deste professor, pensar outros espaços de Educação Histórica que não somente a escola é essencial, uma vez que os processos de aprendizagem em história não acontecem apenas em espaços formais, mas em diversos contextos e de diversas formas que influem diretamente na formação da consciência histórica dos indivíduos. Assim, o objetivo foi oferecer subsídio para a formação do futuro professor de História, considerando o trabalho de mediação com o público visitante do espaço museal, de modo a promover a leitura crítico-histórica da cultura material que se encontra no Museu Histórico de Londrina. O projeto contou com 22 participantes e atendeu um público de aproximadamente 854 visitantes de escolas públicas e particulares de Londrina e região. O trabalho foi composto das seguintes etapas: Leitura e debate de textos historiográficos e metodológicos, visita técnica ao museu, observação do espaço e das monitorias realizadas no museu pela ação educativa e trabalho como monitores do museu. Palavras-chave: Ensino de História; Estágio Supervisionado; Museu Histórico. MUSEUS CASTRO MAYA: A COLEÇÃO BRASILIANA DE JEAN-BAPTISTE DEBRET Mariane Pimentel Tutui (UEM) A coleção Brasiliana é formada por estudos e obras realizadas por estrangeiros no Brasil. O artista francês Jean-Baptiste Debret (1768-1848) ganha destaque com uma grande série de aquarelas, desenhos, guaches e gravuras que compõem a coleção de Brasiliana dos Museus Castro Maya, localizado na cidade do Rio de Janeiro. Debret esteve no Brasil na primeira metade do século XIX e nos trópicos adquiriu novas formas de abordagens temáticas em seus registros pictóricos. Por quase um século, seus originais permaneceram distantes do alcance dos brasileiros. Entretanto, com a intensa discussão sobre o nacionalismo, realizadas no âmbito do movimento modernista (na primeira metade do século XX), fez com que colecionadores e estudiosos de arte passassem a ter interesse pelas obras do século passado, o que influencia na formação de grandes coleções de Brasiliana. Na década de 1940, o 225 colecionador de arte, mecenas e industrial Raymundo Ottoni de Castro Maya (1894-1968) traz de volta ao Rio de Janeiro as obras debretianas realizadas durante sua estadia nos trópicos, ao adquirir na França e repatriar para o Brasil mais de 500 originais do artista. Este conjunto de obras integra a coleção Brasiliana dos Museus Castro Maya, a qual não somente recuperou a memória do Brasil oitocentista, como também, à celebração de seu patrimônio natural, histórico e cultural. Palavras-chave: Jean-Baptiste Debret; Museus Castro Maya; coleção Brasiliana EXPERIENCIA MUSEAL: POR UMA EDUCAÇÃO HISTÓRICA Larissa S. Chicareli José (UEL) Quando pensamos o museu como ferramenta auxiliar e como espaço de suscetíveis problemáticas, este nos ajuda na construção do ensino e do aprendizado de História, deixando de ser um local engessado, passando a ser visto como lugar de conhecimento e reconhecimento. Logo, o presente trabalho busca refletir sobre o museu como ferramenta auxiliar e espaço de suscetíveis problemáticas, visando-o como instrumento educacional, pensando-o como lugar de memória coletiva, na qual a experiência museal tornará a aprendizagem mais enriquecedora e, portanto mais significativa. Propomos pensar o museu como ponte para os alunos empreender investigações e saciar suas inquietações. Não obstante, o aluno passa a ser visto como agente da história, contada ou não ali no museu, e assim, se envolve com a narrativa apresentada e percebe-se como integrante de uma história. Desta forma, tendo como base a reflexão histórica e o modelo desenvolvido por Isabel Barca, de aula oficina, pretende-se, por meio de questionários e rodas de conversas com alguns alunos do ensino básico de educação, tentar construir estratégias para fazer do museu uma ferramenta educacional ativa no processo de ensinoaprendizagem. Contudo, tal pesquisa originou-se de um trabalho anterior, realizado durante o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), na qual nos deparamos com algumas respostas de estudantes do Ensino Médio a respeito de suas visões sobre o museu da cidade de Londrina. Palavras-chave: Museu; memória; educação histórica; experiência. A CIDADE COMO SALA DE AULA: POSSIBILIDADES DE TRABALHO COM O PATRIMÔNIO CULTURAL LOCAL E A HISTÓRIA Edylane Eiterer (Colégio de Aplicação João XXIII) Marcos Rodrigues Barreto (UNIRIO) Dentro das Ciências Humanas uma das atribuições é que os alunos possam dominar linguagens, compreender fenômenos, construir argumentações, enfrentar situações-problema e elaborar propostas. Nesse contexto, deve ser abordada a interação entre o homem, o espaço, as identidades, os sistemas culturais, os papéis históricos desempenhados, as transformações sociopolíticas e econômicas que acabam tocando o Patrimônio Cultural. No 226 CAp João XXIII/UFJF, através de uma proposta de aulas com temas alternativos chamados de Ágoras, na disciplina de História, foi considerada a importância do relacionamento dos estudantes com o Patrimônio Cultural local. Entendendo que o espaço urbano é um grande laboratório de aprendizagem e saber contextualizá-lo com o ensino de História é uma das competências que os estudantes precisam desenvolver, o trabalho toca o Patrimônio Cultural local e os temas que se ligam diretamente a ele como a memória, a identidade e a diversidade cultural, em seu cotidiano escolar e social, e se desenvolve em dois momentos: um teórico e outro prático, com aulas de campo pelas ruas da cidade, sendo, também, reconhecida como uma metodologia de Educação Patrimonial. As aulas de campo se dão nas ruas e praças da cidade, tombados ou não, e até no cemitério municipal, observando-se as relações de poder e organização social post mortem nesse espaço. Também são visitados museus e prédios tombados, transformando o aluno em um turista de sua cidade local, em um atividade de reflexão e (re)construção de visões sobre o espaço urbano, o cotidiano e a História, que passa a ser vivenciada. Palavras-chave: Educação Patrimonial. Ensino de História. Patrimônio Cultural. Identidade. Memória O USO DA OBRA ARTÍSTICA DE E. P. SIGAUD NAS AULAS DE HISTÓRIA: CONEXÕES ENTRE A EDUCAÇÃO HISTÓRICA E A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL. Luciana de Fátima Marinho Evangelista (UEM) Quando lançamos um olhar panorâmico para a gama de bens até o momento tombados no Estado do Paraná somos convidados a refletir o quanto há por se fazer, sem desmerecermos os caminhos já trilhados, rumo à democratização da representatividade dos diversos grupos sociais categorização daquilo que deve ser legado às sociedades futuras. Por outro lado, aqueles bens já tombados, para além das ações preservacionistas ou de conservação, ensejam pela promoção de atos educativos, pelos quais, a sobrevivência ao tempo seria acompanhada por uma construção de um sentido e significados a serem internalizados pela população em geral. Essa demanda, conciliadas ao currículo e aos objetivos do ensino de história, impulsionou-nos a propor uma aula-oficina, a luz das orientações da Educação História, sobre o trabalho na República brasileira, a partir das pinturas tombadas de Eugênio de Proença Sigaud na Catedral Diocesana de Jacarezinho-PR, de maneira a não só tornar a aulas de História mais atraentes, como também proporcionar aos estudantes um contato mais próximo com o trabalho desse artista que ficou conhecido nacionalmente como o “pintor dos operários”, Palavras-chave: Eugênio de Proença Sigaud; aula-oficina; História do Brasil; patrimônio. 227 MEMÓRIA E HISTÓRIA DA CAMISA DE FUTEBOL DA SELEÇÃO BRASILEIRA: UM OLHAR TÊXTIL Fabrício de Souza Fortunato (UEM Ronaldo Salvador Vasques (UEM) Márcia Regina Paiva (UEM) Pelo fato do futebol ser um dos esportes mais populares, e tendo seu uniforme uma função primordial no desempenho do atleta. Pensou-se na história e memória da camisa utilizada pela Seleção Brasileira de Futebol, e identificouse que no ano de 1914, quando oito associações se reuniram para a criação da Federação Brasileira de Sports, o Brasil disputou sua primeira partida da história, jogando com um uniforme todo branco e apenas com um friso azul em cada manga. Uma camisa totalmente desconfortável com “cadarços” no pescoço. No entanto, o artigo tem como objetivo apresentar algumas particularidades da camisa do uniforme esportivo da seleção brasileira no período entre 1914-2014, na perspectiva da história, memória e identidades no âmbito do patrimônio cultural. Sendo o futebol um patrimônio cultural brasileiro, dessa maneira a camisa utilizada é a identidade, e demarca um tempo. A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica para a elaboração teórica e a identificação da utilização da matéria-prima para a confecção, e as imagens das camisas utilizadas nesse período. Percebeu-se que as particularidades e etapas da transformação do tipo de poliéster garrafa PET, utilizado pela empresa Nike e aprovado pela Federação Brasileira Futebol (CBF). Portanto, fica evidente que a tecnologia aplicada na confecção da camisa influencia no desempenho do atleta, é irrefutável a importância do produto têxtil com leveza e confortabilidade. ao mesmo tempo que demonstra-a como objeto históricocultural. Palavras-chave: Uniformes de futebol; Memória; História; Preservação têxtil; Patrimônio cultural. AS CARICATURAS DE ÂNGELO AGOSTINI NA HISTORIOGRAFIA Danilo A. Champan Rocha (UEM) Ângelo Agostini (1843-1910), natural de Piemonte, foi um reconhecido caricaturista que abraçou a causa abolicionista no Brasil Império. Em 1859, vindo de Paris, desembarcou no Rio de Janeiro, onde exerceu diversas atividades, sem nenhuma relação com a imprensa. Apenas em 1864, Agostini iniciou sua carreira na imprensa ilustrada ao contribuir com seus desenhos para o jornal Diabo Coxo, semanário humorístico e contrário ao regime político vigente, fundado na província de São Paulo. Em 1867, com a interrupção da produção da revista Cabrião, também ilustrada pelo caricaturista, Agostini retornou a corte do Império. No auge de sua carreira, no Rio de Janeiro, o piemontês trabalhou em vários periódicos e na Revista Illustrada, onde era proprietário, fundador e principal caricaturista. Nas últimas décadas, os trabalhos de Ângelo Agostini receberam destaque nas produções historiográficas, com um número crescente de dissertações e teses sobre o artista. Diante deste quadro, o presente trabalho tem como objetivo analisar os trabalhos produzidos sobre a temática e, a partir de um método comparativo, 228 estabelecer as diferenças e as convergências interpretativas entre os autores. Com isso, buscamos discutir as diferentes abordagens utilizadas na análise do objeto de estudo e os referenciais teóricos de cada pesquisador. Palavras-chave: Brasil Império; Historiografia; Ângelo Agostini. PATRIMÔNIO ARTÍSTICO PARANAENSE: A ARTE MODERNA NA OBRA DE VIOLETA FRANCO Mauricio Marcelino Lima (UEM) Esta comunicação tem como objeto de estudo a obra de Violeta Franco tomada como patrimônio artístico, uma vez que essa artista paranaense optou pela estética modernista e atuou como uma importante personagem no processo de ruptura com a arte clássica no Paraná, principalmente entre as décadas de 1950 e 1970. Suas obras podem ser entendidas como uma forma de representação, envolvendo memórias individuais e coletivas acerca da sociedade e da cultura. Deste modo, realizamos a análise das telas: “Janela nº 1” (1968) e “Pássaro” (1975); composições criadas durante o Governo Militar, portadoras de aspectos estético-formais inovadores e temas referentes a esse contexto histórico. A relevância dessa pesquisa se justifica por suscitar reflexões sobre uma época que ficou “eternizada” na memória social dos paranaenses e demais cidadãos brasileiros. O método de análise aqui adotado baseou-se na Iconologia, postulada por Erwin Panofsky; e nos apontamentos de Peter Burke sobre o adequado tratamento das imagens como evidências históricas. A análise dessas telas se faz importante porque fomenta a ideia de que o Paraná, assim como outros estados da União, possui um significativo patrimônio artístico modernista, responsável por questionamentos acerca do contexto histórico da época, a partir da “visão” de uma mulher. Palavras-chave: Patrimônio Artístico, Arte Moderna Paranaense, Violeta Franco. FOTOGRAFIA DO PASSADO MARINGAENSE COMO RECURSO PEDAGÓGICO E METODOLÓGICO PARA O ENSINO DE HISTÓRIA Valéria Garcia Fernandes Leite (SEED) Ao se falar de fotografia e o seu uso em sala de aula, notadamente na disciplina de História, é necessário uma compreensão do que ela constitui enquanto produção humana e fonte documental, qual a sua utilidade, o seu leque de possibilidades de análises, bem como suas limitações. A partir deste entendimento é que podemos estabelecer parâmetros e análises sobre a forma de se utilizar este documento, não meramente como ilustração, mas como fonte de apreensão, compreensão e produção de conhecimentos. O objetivo não é colocar a fotografia, como fonte única do saber histórico, mas considerá-la como um documento que deve ser investigado, interrogado, uma vez que é constituída, historicamente de critérios ideológicos e sociais. Metodologicamente, utililar-se-à uma fotografia do passado maringaense, pertencente ao Museu Bacia do Paraná, localizado na Universidade Estadual de Maringá – UEM. 229 Primeiramente se propõe, através de registros escritos, uma análise iconográfica, destacando a identificação da fotografia pautada na investigação de sua origem, natureza, autoria, datação e características. Em seguida, propomos uma interpretação iconológica, pois entendemos que o significado mais profundo da imagem não se encontra necessariamente explícito. Acreditamos que tais registros possibilitará ao aluno participar da experiência empírica no âmbito da História, pois permitem realizar uma leitura histórica da fotografia, de forma a favorecer o desenvolvimento da consciência crítica e compreensão dos conteúdos estudados, em especial do patrimônio cultural. Palavras-chave: Fotografia; Análise Iconográfica; Interpretação Iconológica; Patrimônio Cultural AS ILUSTRAÇÕES E AS TEMÁTICAS DOS JORNAIS PAULISTANOS “DIABO COXO” E “CABRIÃO” Danilo A. Champan Rocha (UEM) A vinda da Família Real para o Novo Mundo em 1808 provocou grandes mudanças nas estruturas econômicas, políticas e socioculturais do Brasil Colônia. O tratado de Abertura dos Portos acordado entre a Coroa Portuguesa e a Inglaterra constituiu o fim do monopólio régio ao permitir trocas comerciais sem o intermédio da metrópole. No entanto, além da comercialização de mercadorias, também houve a penetração de ideologias contrárias ao Antigo Regime por meio de jornais britânicos e norte-americanos. O enfraquecimento da monarquia absolutista levou a Corte a aprovar um decreto em 1808, o qual permitiu o estabelecimento de tipografias no Brasil. Dessa forma, neste trabalho, buscamos reconstruir a história da imprensa e analisar os usos e o consumo estabelecido entre os periódicos e os grupos sociais envolvidos. Como recorte temporal, limitamos a nossa pesquisa até a década de 1860, ao abordarmos especificamente Diabo Coxo e o Cabrião, ambos os jornais fundados na província de São Paulo e ilustrados por Ângelo Agostini. Por fim, tencionamos observar as permanências e as rupturas contidas nos semanários com relação aos demais periódicos que circularam até então, destacando o caráter inovador do Diabo Coxo e do Cabrião na imprensa, a partir do uso de ilustrações em suas páginas e da incorporação de novos temas nas pautas jornalísticas. Palavras-chave: Imprensa; Diabo Coxo e Cabrão; Ângelo Agostini; caricatura. OS CERAMISTAS TUPIGUARANI E ITARARÉ-TAQUARA:OCUPAÇÃO, HISTÓRIA E PRESENÇA EM LONDRINA/PR Maquieli Elisabete Menegusso (UEL) Antes da chegada dos colonizadores, o estado do Paraná já era habitado por diferentes populações indígenas, como atesta ampla bibliografia a respeito. Indícios arqueológicos comprovam essa presença há pelo menos 10.000 anos, porém, a ocupação da região metropolitana de Londrina, como é habitualmente referida pelo discurso do pioneirismo e do vazio demográfico, dificulta a 230 compreensão do papel e da importância dessas populações na formação histórica e na construção de sua identidade cultural. Desenvolvendo um diálogo com a arqueologia e a etno-história, a presente comunicação irá focar a trajetória das Tradições Tupiguarani e Itararé-Taquara, onde a presença está marcada nos sítios arqueológicos da região e cuja principal característica é a cerâmica, chegando a seus possíveis descendentes Kaingangs e Guaranis que não usam mais a olaria em suas tradições. Será dada ênfase ao processo de aculturamento dos indígenas - transição do pré-contato para o pós-contato destacando-os não somente como vítimas de uma gênese do homem branco, mas como sujeitos e protagonistas históricos. As fontes serão baseadas em bibliografias acerca do tema proposto, análise da cultura material presente nos museus e visitas as terras indígenas da área em estudo para observação direta e coleta de testemunhos orais. Durante quase cinco séculos, os índios foram pensados como seres efêmeros, em transição: transição para a cristandade, a civilização, o desaparecimento. Reconhecer esta presença não é invalidar toda a história que veio depois, mas mostrar outra visão, a de que os indígenas também fazem parte do processo de povoamento da região metropolitana de Londrina. Palavras-chave: Etno-história; arqueologia; povoamento indígena; cultura; remanescentes. CULTURA MATERIAL: HISTÓRIA E IDENTIDADE INDÍGENA Julia Falgeti Luna (UEPG) A presente comunicação tem por objetivo o estudo da cultura material enquanto documentação histórica, museológica e, sobretudo, como fonte de identificaçãoentre os povos indígenas. Considerando a cultura material uma expressão histórica e simbólica, pois refletem em valores, costumes e tradições dos grupos humanos, bem como objeto de identificação social e cultural dos indivíduos. Dessa forma nos apoiaremos metodologicamente na escrita de autores como: Manuela Carneiro da Cunha, Berta Ribeiro, Marcelo Rede, Pedro Paulo Funari, Jacques Le Goff entre outros. O museu comumente passou a ser utilizado como fonte de pesquisa para o trabalho do historiador, corriqueiramente recorre-se a esse espaço de documentação na tentativa de investigação sobre o passado de sociedades que apresenta uma escassez de registros, no caso da história indígena observamos abusca pelas coleções etnográficas coletadas por viajantes, antropólogos, indigenistas e exploradores dos séculos passados. O museu é um espaço multifacetado de representações pelos quais os sujeitos históricos constroem/construíram suas trajetórias, ora reconhecidas ora relegada ao segundo plano, desse modo objetiva-se neste trabalho inserir discussões a partir dos objetos e das coleções, para circulação de ideias que valorizem a importância dos estudos de cultura material, bem como compreender os diferentes graus de alteridade que sãos constitutivos das nossas características identitárias. Palavras-chave: Cultura material; História indígena; Museus. 231 PATRIMÔNIO CULTURAL, MEMÓRIA E HISTÓRIA ORAL Bruna Morante Lacerda Martins (UEM) Neste texto, teceremos algumas reflexões sobre o modo de fazer do Carneiro no Buraco de Campo Mourão – PR, com propósito de discutir a História Oral tanto como procedimento metodológico, quanto para a produção de fontes sobre o patrimônio cultural. Partimos do pressuposto, segundo o qual o patrimônio imaterial se constitui de um processo de interatividade entre a “tradição” e a “inovação”, e também, envolve percepção dos sujeitos sobre os acontecimentos que o envolvem e se dispõem a narrar as suas “experiências do vivido” (PORTELLI, 1997; ALBERTI, 2004). Assim entendemos que a metodologia proposta pela História Oral permite ao pesquisador a realização de entrevistas, as quais possibilitam o acesso a aspectos fundamentais para pesquisa supracitada (FERREIRA, 2012). Ao historicizar um “saber-fazer” e uma festividade como essa, nos deparamos com um desafio inerente ao estudo da imaterialidade, ou seja, o bem patrimonial não possui apenas “solidez no tempo”, mas sim “matéria” e “espírito” – elementos passíveis de apreensão por meio das memórias impressas em depoimentos e entrevistas daqueles que vivenciaram tais experiências e as transformaram (GONÇALVES, 2009). Por essa razão, tomaremos a análise da entrevista com o cozinheiro responsável pelo prato “Carneiro no Buraco”, Walter Tonelli, e vamos discorrer sobre as etapas do preparo dessa iguaria que necessita de 12 horas para aferventar. Ressaltamos que essa abordagem integra uma pesquisa mais ampla e em desenvolvimento, junto ao Mestrado do Programa de PósGraduação em História, da Universidade Estadual de Maringá, financiado pela CAPES e orientado pela Profa. Dra. Sandra C. A. Pelegrini. Palavras-chave: Patrimônio Imaterial; Carneiro no Buraco; Festa. Agência financiadora: CAPES CONSIDERAÇÕES SOBRE A DISCIPLINA ENSINO RELIGIOSO E A PROMOÇÃO DA EDUCAÇÃO PARA O PATRIMÔNIO CULTURAL. Veroni Friedrich. (UNICESUMAR) A disciplina Ensino Religioso (ER) integra o currículo da educação básica no Brasil. Os fundamentos que regem a sua inserção na grade curricular advogam a necessidade da promoção de conhecimentos sobre o âmbito do sagrado, objetivam a construção de uma reflexão acerca do impacto do fenômeno religioso na construção da trajetória humana e, em especial, visam educar para o quanto o âmbito religioso é marcado pela diversidade na forma de compreender e praticar o Sagrado. Tal como os outros saberes que compreendem a educação básica, essa disciplina é permeada de possibilidades e desafios à sua execução pedagógica. Dessa forma, o objetivo dessa pesquisa é sondar a importância, os aspectos positivos e as dificuldades do ER na promoção de um conhecimento sobre o patrimônio cultural religioso. A metodologia para esse estudo é o acompanhamento e o estudos de casos situados no tempo presente. Esses nos permitirão sondar os rumos da disciplina ensino religioso e auferir seu papel na promoção de saberes sobre a diversidade que marca a cultura religiosa. Ressalta-se que levar adiante tal discussão, no campo da história, se faz 232 pertinente. Aos historiadores também é legítimo a ministração de aulas na disciplina Ensino Religioso. A historicidade do fenômeno religioso, o impacto desse na organização das sociedades e a diversidade cultural religiosa são assuntos também para o campo da história e historiadores. Palavras-chave: ensino religioso, bens culturais religiosos, historia e religiões. PATRIMÔNIO CULTURAL NEGRO NO PARANÁ: A COMUNIDADE QUILOMBOLA PAIOL DE TELHA Delton Aparecido Felipe (UEM) Discutir Patrimônio cultural negro no Paraná implica em entender que as práticas de vida da população afro-brasileira estive em processo de conflito com o projeto nacional brasileiro. Os territórios tradicionais além de assegurar a sobrevivência dos povos e comunidades tradicionais, constituem a base para a produção e a reprodução de todo o seu patrimônio cultural. Na Comunidade Quilombola Paiol de Telha no centro sul do Paraná os saberes e as práticas são transmitidos por gerações e envolvem um acúmulo de conhecimentos sobre os modos de vida dos descendentes de homens e de mulheres escravizados no Brasil, em seus diversos núcleos, a Comunidade resguardar suas tradições e a memória negra no Paraná, por meio de suas festas, rezas, culinária e artesanato. O que nos leva a supor que o quilombo se apresentar como um “lugar de memória”, que consiste na necessidade de registrar a memória. Ou seja, o quilombo é um espaço em que o grupo demonstra definir também sua identidade. Sendo assim, os moradores são herdeiros não apenas da terra que seus antepassados moravam, mas também de um capital cultural simbólico que remonta a práticas antigas, ligadas à tradição. Salvaguardar os territórios quilombolas paranaenses como patrimônio cultural reflete a necessidade de mudanças que permitam a estes povos e comunidades a experiência de viver sua cidadania, sem que tenham que abrir mão de suas práticas culturais, sociais e econômicas. Palavras-chave: Paiol de Telha; Patrimônio cultural; Práticas de vida; Memória; Paraná 233 ST 23 PESQUISAS DE IC, PIBID E PET ARTE E MODA NA “COLEÇÃO RECOSTURANDO PORTINARI” DE RONALDO FRAGA Isabella Regina Rizzo Xavier (UEM) Ivana Guilherme Simili (UEM) Há estreita relação entre a arte e a moda. Essa pesquisa tem por objetivo examinar as apropriações e os diálogos estéticos entre os campos da arte plástica e da moda por meio da análise da coleção de roupas criadas por Ronaldo Fraga em 2014. Trata-se da coleção “Recosturando Portinari”, por meio da qual o estilista inspira-se e transforma as telas de Portinari em temas para a criação de têxteis e roupas. Para tanto propõem-se identificar como a arte do pintor é reconfigurada e significada nas peças indumentárias é o encaminhamento proposto para o estudo. Os vídeos com a exposição do estilista na Casa Fiat, em Belo Horizonte e as publicações da imprensa, em particular, as análises e comentários sobre a produção estético-visual oferecida ao público, difundidas pelos jornais e revistas de circulação nacional bem como os “cadernos de croquis”, com os desenhos das peças, compõem o rol de documentos. No que tange à perspectiva teórica e metodológica, a análise e a narrativa envolverão os instrumentos que permitam dimensionar os processos de significação e de ressignificação de imagens, ponto nodal da transformação de obras pictóricas em indumentárias. Na tradução da pintura em roupas, pressupomos o encontro histórico e cultural entre os artistas e as produções artístico-visuais que pode ser assim determinada - das tintas para os tecidos e vestimentas. Palavras-chave: Arte; Moda; Cultura Agência financiadora: PIBIC/CNPq A MODA VESTE O CENTRO: O PAPEL DAS ROUPAS NA INSERÇÃO SOCIAL Ana Heloísa Ben-Hur de Almeida de Souza (UTFPR) Márcio Roberto Ghizzo (UTFPR) Este trabalho é resultado de um projeto de iniciação científica que abordou o processo de comodificação, defendido por Bauman (2008), termo que expressa a transformação do indivíduo em mercadoria e sua autopromoção para fins de inserção social. No intuito de estudar este processo e a simbologia do consumo de moda, optou-se por realizar a pesquisa no Shopping Pátio Batel em Curitiba-PR. Trata-se de um espaço de consumo elitizado no qual entende-se que a comodificação acontece de forma exacerbada. Afinal, a aceitação social ocorre por meio do consumo conspícuo e, neste caso, pela indumentária, gerando status e diferenciação social, seja pelas logomarcas, cores e/ou formas. Assim, realizou-se uma pesquisa qualitativa, pautada em questionário semiestruturado, aplicado informal e aleatoriamente com consumidores do shopping. O objetivo foi verificar qual influência este espaço exerce no modo de 234 vestir destas pessoas, bem como conhecer quais impressões elas têm ao observar como os outros estão vestidos, sempre na intenção de alcançar inserção e pertencimento social. As respostas ratificaram o processo de comodificação e a influência que o ambiente frequentado gera na forma das pessoas se apresentarem, em suas aparências e como serão vistas por outros olhares. Como o espaço da pesquisa é destinado às classes mais abastadas, nota-se uma relativa preocupação em demonstrar pertencimento à este grupo, negando a rejeição e buscando a aceitação social mesmo que, para ter tal, haja a necessidade de consumir produtos de moda que representem o perfil desejado, muitas vezes divergentes à sua real posição social. Palavras-chave: comodificação, moda, Pátio Batel, Curitiba. Agência financiadora: Fundação Araucária. TECIDOS CULTURAIS: A CHITA NO CARNAVAL PERNAMBUCANO Priscila Barbeiro (UEM) No trabalho, a relação entre arte e cultura é examinada por intermédio da análise das apropriações da chita, um tecido que caracteriza a cultura brasileira, na criação de visualidades de livros destinados aos segmentos infantis. A obra constituída como documento para análise é “O rapto do Galo” (2014), de Fabiana Karla. No livro são abordados aspectos envolvidos nas festividades populares de Pernambuco, em específico o carnaval, narradas com personagens ilustrados com vestimentas de chita. Da produção visual encontrada no livro, procuramos identificar como a chita, um tecido que participa da cultura brasileira foi incorporado à narrativa da história contada na obra. Por meio deste procedimento, revelamos as articulações entre literatura infantil, arte e tecidos na fabricação de significados para a memória e a história das culturas regionais e, por conseguinte, para a preservação do patrimônio cultural nacional. Face ao exposto, na análise, consideramos que os usos da chita nas ilustrações constituem-se em linguagens e visualidades que comunicam e veiculam representações da cultura brasileira. No plano teórico e metodológico, as concepções de linguagens e narrativas visuais fundamentam as análises das ilustrações para entender as representações de arte, literatura e cultura brasileira, e o sentido produzido e comunicado aos leitores e leitoras infantis. Palavras-chave: Chita; Cultura; Literatura; Arte. O SUMÔ LONDRINENSE: UMA HISTÓRIA DE CULTURA E TRABALHO Cássio Joaquim Gomes (FACINOR) A história do sumô em Londrina, confunde-se com a história do estabelecimento da BRATAC (indústria de fiação da seda) em Londrina e do 235 fortalecimento da cultura japonesa entre a classe trabalhadora. Na década de 1970, ao chegar á cidade de Londrina, o senhor Chuichi Yakushijin engenheiro têxtil, defrontou-se com prática do sumô entre trabalhadores migrantes de pequenas comunidades agrícolas nas cidades de Uraí, Santa Cecília do Pavão, Arapongas e Ibiporã. A pedido dos gerentes da empresa, o engenheiro estabeleceu contato com estas comunidades iniciando atividades que eram realizadas na Vila Nova e na Central Rubiassa voltado para os trabalhadores da Bratac e comunidade em geral. Assim, temos objetivo investigar como a prática do sumô foi organizada entre os trabalhadores da Bratac, evidenciando as relações entre cultura e trabalho. Para tanto, pretendemos utilizar de entrevistas orais realizadas no tempo presente com estes trabalhadores e levantamento bibliográfico a fim de problematizar como o sumô foi inserido em um contexto de industrialização e migração na cidade de Londrina. Palavras-chave: Sumô; Trabalho; Migrantes. ENSINO DE HISTÓRIA E A IMPORTANCIA DOS CONCEITOS HISTÓRICOS Cristiane Brito Santana Alves (UEM) Para que o aluno possa construir o conhecimento histórico, é imprescindível que os conceitos históricos que permeiam o discurso do professor também sejam compartilhados pelo aluno. Nota-se que o simples verbalismo, explicando um conceito com outro, não atende satisfatoriamente essa necessidade. Ambientes de ensino onde existe a centralização da figura do professor se mostram desestimulantes para a construção de conceitos, entendido aqui como condição para aplicar esquemas gerais a situações particulares, e por outro lado, assimilar situações particulares a esquemas gerais disponíveis. O presente trabalho teve inicio no ano de 2014 no Colégio de Aplicação Pedagógica (CAP) da Universidade Estadual de Maringá, com um grupo de bolsistas do PIBID em História, juntamente com a professora supervisora. Após várias discussões, concluiu-se que é necessário trabalhar conceitos históricos com os alunos, visto que o entendimento desses conceitos é fundamental para a aprendizagem dos conteúdos de História. O grupo fez uma compilação de alguns conceitos históricos essenciais para o ensino nas séries do fundamental II, tendo como referência o livro didático em uso no colégio. A partir desse levantamento, questionários foram elaborados e aplicados, visando obter informações sobre o nível de conhecimento dos alunos. Após analisar os dados obtidos, métodos e estratégias de ensino devem ser elaborados para proporcionar uma aprendizagem significativa dos conceitos históricos. Palavras-chave: ensino de história; conceitos; aprendizagem. Agência financiadora: CAPES 236 CONCEITOS E ENSINO DE HISTÓRIA: A APRENDIZAGEM DE CONCEITOS HISTÓRICOS PARA A FORMAÇÃO DO ALUNO Elton Pedroso Correa (UEM) Gustavo Pereira Salomão (UEM) Cristiane BritoSantana Alves (UEM) Ayla Alves Chanthe (UEM) Glas Kali Araujo Batista (UEM) Felipe Fernandes Gurgatz (UEM) Maria Romilda Santelli (UEM) Este trabalho tem por objetivo apontar a necessidade de um olhar mais cuidadoso sobre o ensino e a aprendizagem de conceitos históricos, e a sua contribuição para uma melhor compreensão dos conteúdos na disciplina de História. A pesquisa baseia-se na teoria da aprendizagem significativa, com um enfoque vigotskyano. Levando em consideração o meio social dos educandos, os seus conhecimentos prévios, o tempo e espaço em que o conceito está inserido e sua capacidade de aprendizagem, busca-se uma estratégia de verificação dos conhecimentos prévios dos alunos, que supere a superficialidade da verificação baseada em questionários mecânicos. Questionários estes acabam sendo a norma na maioria dos livros didáticos, não só do estado do Paraná, como também de todo o país. Uma estratégia de verificação que se identifica com esta proposta pedagógica consiste na utilização e construção de mapas conceituais. A partir de um diagnóstico mais completo, pode-se pensar em propostas de ensino que proporcione uma aprendizagem mais significativa dos conceitos, superando o ensino e a aprendizagem mecânicos. Palavras-chave: conceitos históricos, aprendizagem; narrativa; museu. ANÁLISE COMPARATIVA SOBRE A GREVE DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ EM 2015 NAS CIDADES DE CALIFÓRNIA E MARINGÁ. Ayla Alves Chanthe (UEM) Carlos Elias Barros Sobreira Rodrigues (UEM) Eliane Maria Vicentin (UEM) Eloa Lamin da Gama (UEM) Leticia Samara Andreussi Diniz (UEM) Luiz Augusto Voltareli Pereira (UEM) Neste artigo buscamos, pela ótica de acadêmicos do curso de História-UEM, bolsistas do PIBID desenvolvendo atividades no Colégio Estadual Joao XXIII, estabelecer uma observação sobre consciência política dos professores, funcionários e membros da comunidade escolar, nas cidades de Califórnia e Maringá com relação aos movimentos de greve das escolas públicas do estado do Paraná, ocorrido no primeiro semestre de 2015 que movimentaram o panorama político estadual. Nosso objetivo é perceber as diferentes visões das comunidades escolares sobre o movimento grevista nas cidades citadas acima, 237 tendo em vista as especificidades locais e diferenças do número populacional de cada uma. Realizamos trabalhos de pesquisa comparativa no Colégio Estadual Talita Bresolin- Ensino Fundamental e Médio (Califórnia), aplicando os mesmos instrumentos de pesquisa no Colégio Estadual João XXIII- Ensino Fundamental, Médio e Profissionalizante. Para realizarmos nossa pesquisa adotamos como aporte teórico a História Oral (DELGADO, 2003; THOMPSON, 1992), e, como metodologia entrevistas e aplicação de questionários referentes aos acontecimentos. Contaremos com a História Política (RADMANN, 2001; COSTA, 2005) para analisarmos a influência e a relação com as políticas públicas adotadas pelas autoridades governamentais para a educação pública no estado do Paraná e, também compreender a organização sindical dos profissionais lotados na SEED, filiados à APP Sindicato. Palavras-chave: greve, educação, Paraná, mobilização, sindicato. COLONIZAÇÃO DAS REGIÕES NORTE E OESTE DO TERRITÓRIO PARANAENSE: UMA ANÁLISE COMPARATIVA A PARTIR DE PRODUÇÕES HISTORIOGRÁFICAS RECENTES Bruna Lambardi Parronchi (UEL) Os apontamentos desse texto representam parte dos resultados obtidos com o desenvolvimento do projeto “A Historiografia do Paraná (1970-2012) - os historiadores, seus lugares e suas regiões”, que objetiva analisar a relação entre obras que tematizam o espaço do Estado paranaense e o lugar social de produção em que se situam os respectivos autores. Dentro desta perspectiva são analisadas as obras dos autores inseridos no lugar social de universidades estaduais paranaenses e a construção um tipo de saber historiográfico a partir da segunda metade do século XX, em termos conceituais e metodológicos. Recortam-se como temática de estudo a colonização das regiões Norte e Oeste do Estado, buscando-se perceber também o modo como a historiografia passou por mudanças nas últimas décadas, atentando-se para as influências recebidas e as repercussões promovidas no espaço simbólico das instituições paranaenses de ensino superior. Selecionam-se como fontes quatro obras, que são comparativamente analisadas, buscando-se investigar: como o passado de cada região é reconstruído e interpretado, considerando-se aspectos políticos, sociais, culturais e econômicos. A partir da fundamentação teórica de Pierre Bourdieu e François Hartog, objetiva-se perceber o poder simbólico, os regimes de historicidade e as regras vigentes no interior do campo acadêmico em que tais obras foram produzidas e disseminadas. Palavras-chave: Historiografia paranaense, Norte e Oeste paranaense, colonização, universidades. 238 A COLONIZAÇÃO PORTUGUESA E A EXPLORAÇÃO DE PAU-CRAVO NA AMAZÔNIA Cinthia V. Zúniga de Souza Donini (UEM) Marlon Marcel Fiori (UEM) Desde o início da ocupação da Amazônia, na década de 1610, os colonizadores portugueses se dedicaram ao reconhecimento, extração e comercialização de frutos, fibras, raízes, óleos, resinas e cascas, conhecidos como drogas-do-sertão. Dentre tais drogas, podemos citar a salsa-parrilha, baunilha, óleo de copaíba, cacau e a casca de pau-cravo (Dicypellium caryophyllaceum), espécie abordada neste trabalho. Pesquisas recentes realizadas na floresta amazônica constataram que a espécie está em perigo crítico de extinção, pois restam apenas duas pequenas populações desta árvore. Isso contrasta fortemente com os registros históricos. Por volta de 1700, as fontes documentais (relatos, ofícios, diário de viagens, cartas, corografias) indicam que as populações de pau-cravo na Amazônia eram consideravelmente abundantes. Esta pesquisa busca compreender aspectos históricos acerca da exploração e padrões de distribuição de Dicypellium caryophyllaceum há trezentos anos. Os resultados sugerem que, anteriormente, o pau-cravo tinha uma distribuição ampla, sendo encontrado em vários rios amazônicos. Além disso, os colonizadores portugueses parecem ter contribuído fortemente para a exaustão dessa espécie nativa, pois uma quantidade assustadora de árvores foi derrubada, para a retirada de sua valiosa casca aromática. A pesquisa pode, portanto, ajudar a compreender um aspecto interessante do impacto ambiental da colonização na maior floresta tropical do globo, algo que tem sido pouco abordado por historiadores e biólogos. Palavras-chave: Amazônia; Século XVIII; Colonização portuguesa; Pau-cravo; Dicypellium caryophyllaceum. Agência Financiadora: CNPq HISTÓRIAS E MITOS DA COLONIZAÇÃO DO NORTE DO PARANÁ E DO DESENVOLVIMENTO DE APUCARANA Erika Leonel Ferreira (UNESPAR-Apucarana) Maurílio Rompatto (UNESPAR-Apucarana) A história da (re)ocupação de terra na região norte do Paraná que aconteceu a partir da década de 1930 é tema bastante debatido pela historiografia paranaense, sobretudo entre os pesquisadores universitários da região. Porém, o objetivo deste artigo é desconstruir mitos criados pela historiografia oficial e reproduzidos pela historiografia acadêmica sobre a história da colonização desta região do estado. A metodologia usada neste artigo foi o da pesquisa bibliográfica e documental. Em relação à pesquisa bibliográfica foi realizado um levantamento do que já foi escrito sobre a história recente da região. Dentre as obras levantadas destaca-se o livro “Colonização e Desenvolvimento do Norte do Paraná” publicado em 1975, pela própria Companhia Melhoramentos Norte do Paraná, a antiga Companhia de Terras Norte do Paraná, para enaltecer seu trabalho de colonização. Ao abordar o assunto, o livro acabou por construir 239 alguns mitos acerca desta sua atuação. Entre os mitos construídos, o livro destaca a companhia como pioneira no processo de colonização da região, como a que primou pela distribuição da terra na forma da pequena propriedade e como esta sua iniciativa, além de ser pioneira, constituiu-se em um verdadeiro projeto de “reforma agrária” para a região. E, por último, o livro construiu a ideia de que a colonização planejada da CTNP/CMNP foi responsável pelo progresso das cidades do norte do estado, a exemplo de Apucarana, cujo desenvolvimento teria sido planejado por esta colonizadora. Palavras-chave: Colonização; Mitos; Desconstrução. BRASIL DOS VIAJANTES: REPRESENTAÇÕES DA ARTE VISUAL NA PROVÍNCIA DE MATO GROSSO NO SÉCULO XIX. Fernando Santos Maciel (UFGD) Marcia Bortoli Uliana (UFGD) Leonardo Alonso Carreiro (UFGD) Vanessa de Souza Ramos (UFGD) Este trabalho é resultado de uma oficina realizada na Escola Estadual Professor Alício Araújo, em Dourados, Mato Grosso do Sul, no início do segundo semestre do ano de 2015. Está oficina está vinculada ao curso de História da UFGD, através do PIBID e, em específico, do projeto Representações no ensino de História: articulações de materiais didáticos e usos de linguagens no ensino médio. A oficina teve por objetivo analisar o período conhecido como Brasil Império (1822-89), buscando problematizar a visão dos artistas viajantes, sobre a província de Mato Grosso, em especial sobre onde hoje é território de Mato Grosso do Sul, através de exercícios de leitura visual e interpretação de fontes históricas, de um pintor viajante em específico, Hercule Florence, um dos pintores viajantes da expedição Langsdorff (1826-1829). A feitura da oficina iniciou com leituras sobre artigos, dissertações entre outros trabalhos acadêmicos. Foram construídos pelos “pibidianos” sequências didáticas como suporte e/ou material didático para a discussão inicial em sala de aula. O enfoque da oficina foi analisar a obra produzida por Florence e tentar mapear suas representações acerca do “outro” retratado por ele, o indígena, em especial, os guanás, os guatós e os bororos. Após discussões em sala de aula, os alunos produziram releituras acerca de suas impressões e/ou representações sobre o “outro” (não necessariamente o índio). Palavras-chave: Florence, imagens, representações, Pibid, História. Agência financiadora: CAPES CINEMA E HISTÓRIA: A REPRESENTAÇÃO DO INDIGENA NORTEAMERICANO NO FILME DANÇA COM LOBOS Jayne Priscilla Pastori (UEPG) O uso de temáticas históricas como enredo fílmico pode ser datado desde o início das produções cinematográficas, porém a história tardiamente passou a 240 se preocupar com a análise dos estereótipos e ideologias divulgadas pela sétima arte. Com a criação da Escola dos Annales em 1929 novas possibilidades de pesquisas surgiram aos historiadores. Nos anos 1970 o historiador e precursor na área Marc Ferro passou a utilizar filmes como fonte para o estudo da sociedade em que os mesmos são produzidos. Desde então o cinema tem ganhado espaço no meio acadêmico. Assim, pretende-se por meio da análise do filme “Dança com Lobos” (1990) de Kevin Costner, entender de que forma o indígena americano é representado, e ainda o contexto de sua produção e a mudança de visão contida no filme, já que o indígena deixa de ser o “bandido” eterno dos filmes de faroeste para tornar-se vítima da sociedade branca e dita civilizada. Palavras-chave: Cinema; História; Indígena. MAFALDA: REPRESENTAÇÕES DOS QUADRINHOS SOBRE OS ANOS 1960. Luciana Berbel Rodrigues (UFGD) Marcia Bortoli Uliana (UFGD) Jéssica Souza Gomes (UFGD) Jayne Martins Zanon (UFGD) Este trabalho é resultado de uma oficina realizada na Escola Estadual Professor Alício Araújo, em Dourados, Mato Grosso do Sul, no início do segundo semestre do ano de 2015. Está oficina está vinculada ao curso de História da UFGD, através do PIBID e, em específico, do projeto Representações no ensino de História: articulações de materiais didáticos e usos de linguagens no ensino médio. A oficina teve por objetivo analisar as representações dos quadrinhos sobre os anos 1960, por meio de um personagem bastante conhecido, mas pouco analisado no ambiente escolar: Mafalda. A feitura da oficina iniciou com leituras acerca das tirinhas de Mafalda e sobre artigos, dissertações entre outros trabalhos acadêmicos que trataram dessa personagem e/ou de sua obra. Foram construídos pelos “pibidianos” banners e folders como suporte e/ou material didático para a discussão inicial em sala de aula. O enfoque da oficina foi a bipolarização presente na Guerra Fria, entre os EUA e a URSS. O “mundo segundo Mafalda” será observado em tiras que tratam também do comunismo, do socialismo, do imperialismo, da democracia, do consumismo, da difusão da TV, etc. Após discussões em sala de aula, os alunos produziram releituras das tirinhas analisadas construindo quadrinhos que contestassem temas ou questões vividas por eles. Além disso, as tiras de Mafalda, foram analisadas como fonte histórica, a ser explorada em sua singularidade na sala de aula. Palavras-chave: Mafalda, quadrinhos, representações, Pibid, História. Agência financiadora: CAPES 241 OS KURAKAS ANDINOS NA OBRA DE GUAMAN POMA Vinicius Soares Lima (UEM) Felipe Guaman Poma de Ayala (1525? - 1615?) foi um dos mais importantes cronistas peruanos do século XVI. Sua única obra conhecida, a Nueva Corónica y buen gobierno, tem 1188 páginas e mais de 300 desenhos, que oferecem um apoio visual imprescindível para o estudo da história do período colonial. O autor se destaca entre a maioria dos cronistas peruanos por ser um kuraka – ou cacique – descendente da nobreza não-Inca. No império Inca, os kurakas eram os líderes das unidades familiares andinas, conhecidas como ayllu. Seu papel principal era fazer cumprir entre seus súditos os desígnios imperiais. Guaman Poma foi alfabetizado em espanhol, adotou o cristianismo e trabalhou para os colonizadores para tentar legitimar a posição que afirmava ter. De acordo com especialistas, ele é um exemplo do papel que essas lideranças nativas desempenharam no pós-conquista. A atitude de Ayala parece ambígua. A princípio cooperou com os colonizadores espanhóis, atuando como intérprete e assistente. Tem participação documentada em vários dos mais importantes episódios importantes da história do Peru – as extirpações de idolatrias, a repressão ao Taki Ongoy, a mineração, as reduções toledanas, entre outros. Além disso, ele chegou a participar da audiência de Lima em pelo menos duas ocasiões. Documentos coloniais mostram uma extensa atividade jurídica do autor, que lutava pelo direito de posse às terras que outrora pertenceram a seus ancestrais. Tudo isso leva a crer que o cronista era bem informado sobre seu mundo e que estava próximo dos principais centros de decisão do Peru colonial. O objetivo deste trabalho será analisar como a figura do kuraka andino pós-conquista está representada na crônica, se essa representação foi mais influenciada por elementos andinos ou europeus e, por fim, o que muda para essas lideranças nativas após a conquista. Palavras-chave: Guaman Poma; Peru colonial; Kurakas andinos. AS EXPRESSÕES DO PATRIARCALISMO NA EXPERIÊNCIA DE MULHERES IDOSAS Eduardo Augusto Farias (UNESPAR-Campus Apucarana) Latif Antonia Cassab (UNESPAR-Campus Apucarana) Poucos são os esclarecimentos sobre as expressões do patriarcalismo na vida das mulheres idosas, havendo o que se denomina de invisibilidade das mulheres, condição essencial para a manutenção do patriarcado. A visibilidade da experiência e a recusa à intimidação ameaçam os valores patriarcais. O presente trabalho expressa o resultado de uma pesquisa qualitativa, desenvolvida em 2015, com o objetivo de conhecer os reflexos do paradigma patriarcal nas experiências de vida das mulheres idosas, atendidas no Centro de Referência de Assistência Social de São João do Ivaí/PR. Por meio da História Oral, através da técnica do relato de vida, empreendemos entrevistas, conhecendo a vivência das mesmas, problematizando as desigualdades de gênero e a conduta de opressão e exploração a que foram e são submetidas. Apresentamos, ainda, os papéis exercidos na sociedade machista e sexista, 242 permitindo problematizar as condições históricas nas quais se inscrevem as relações sociais pautadas na cultura patriarcal, cujo poder/autoridade é exercido pelo homem sobre a família e, quase sempre, de forma violenta sobre as mulheres. O resultado investigativo revelou pedaços de vida encharcados por sutis violências, fosse nas relações empreendidas com os pais, irmãos, companheiros e mesmo na forma como educaram seus filhos. Palavras-chave: relatos de vida; patriarcalismo; gênero. ESPAÇO DE RESSOCIALIZAÇÃO:ATENÇÃO AO EGRESSO E À FAMÍLIA, COMARCA DE APUCARANA, PR Latif Antonia Cassab (UNESPAR) Márcia Josefina Beffa (UNESPAR) Bruna Balthazar de Paula (UNESPAR) Amanda da Costa Mattos (UNESPAR) Gleyce Hellen Souza Estivam (UNESPAR) Crisangela Rodrigues Assis (UNESPAR) O presente trabalho tem como objetivo apresentar o Projeto de Extensão “Atenção ao Egresso e à Família”, iniciativa do Curso de Serviço Social, UNESPAR-Campus Apucarana, aprovado e financiado pela Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e Secretaria de Justiça do Estado do Paraná. Com início em agosto de 2013, este estudo apresenta os empreendimentos realizados no período de setembro de 2013 a junho de 2015. A equipe é composta por profissionais de Serviço Social, Psicologia, Direito, Pedagogia e Administração, com o objetivo de desenvolver ações psicossociais e jurídicas, com base na assistência direta ao egresso (assistido) e ao estreitamento de seus vínculos familiares. Sua operacionalização se realiza em atendimentos individuais/grupais e encaminhamentos aos diversos serviços oferecidos pela Comarca de Apucarana. No período supracitado foram realizados 2393 atendimentos nas diversas áreas de atuação. Ao término do mencionado projeto, pretende-se que a Prefeitura Municipal de Apucarana construa um Núcleo de Estudos e Atendimento aos egressos e familiares, no âmbito municipal, com capacidade de atendimento a 500 assistidos/mês, imprimindo outra qualidade na condição de vida aos mesmos. Nesta perspectiva, considera-se que tal projeto seja essencial para o processo de ressocialização e reinserção do indivíduo como sujeito ativo na sociedade, permitindo a visibilidade do papel da universidade no contexto de mudança social. Palavras-chave: egresso, atuação interdisciplinar, ações psicossociais e jurídicas. Agência financiadora: Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Secretaria de Estado da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos e Secretaria da Segurança Pública e Administração Penitenciária do Paraná. 243 A HISTÓRIA PSICOLÓGICA DE LUCIEN FEBVRE E MARC BLOCH Lucineide Demori Santos (UEM) Lucien Febvre e Mac Bloch editam obras no primeiro meado do século XX que caracterizam uma metodologia diferenciada das escolas históricas consolidadas até então, inaugurando a história problema alicerçada pela interdisciplinaridade, e pela apreensão da produção mental, ou utensilagem mental da época em recorte, construindo uma História Psicológica através da instrumentalização de categorias como Crenças, Religiões e Religiosidades. Este artigo discute através das obras Os Reis Taumaturgos: O Caráter Sobrenatural do Poder Régio em França e Inglaterra; O Problema da Incredulidade no Século XVI: A Religião de Rabelais; e Martinho Lutero, Um Destino, a História Psicológica dos fundadores da Escola de Annales, e o papel que as Crenças exercem nessa historiografia. As referências elencadas permitem adentrar o estudo que contextualiza as obras e as insere num debate sobre a identidade da Historia frente as demais ciências sociais, abrindo um leque de possibilidades sobre a inovação que a História Psicológica promove à historiografia. Palavras-chave: História Psicológica; Psicologia Coletiva; Crenças. Agência financiadora: Fundação Araucária. ÁFRICA DO SUL: UM ESTUDO COMPARADO ENTRE A HISTÓRIA E A LITERATURA DE J.M. COETZEE Ruane Maciel Kaminski Alves (UNIOESTE) Os novos estudos envolvendo os conceitos de cultura, identidade e alteridade, assim como, as investigações sobre literatura pós-colonial, literatura e resistência e literatura e pós-modernidade, incentivaram a pesquisa por novos autores, não considerados pertencentes ao cânone literário, mas de áreas marginais, como os literatos da África, em especial, da África do Sul. Esta pesquisa tem como propósito um estudo comparado entre a história précolonial, a colonização e as lutas de resistência que culminaram no período pós-colonial da África do Sul, em relação com as produções literárias Age of Iron (1990) e Disgrace (1999) do autor sul-africano J.M. Coetzee, destacando as imagens de identidade e alteridade além dos conceitos de pós-colonialismo e resistência na literatura. A proposta de um estudo comparado coloca-se como profícua para refletir sobre o diálogo instaurado pelas obras, ao trazerem o fato histórico relido esteticamente, a partir de um contexto histórico e social, que faz emergir imagens do Outro, o colonizado, invocando também uma reflexão sobre a alteridade, identidade e resistência. A análise toma como pressupostos teóricos os conceitos de identidade, alteridade, resistência e póscolonialismo expostos por Franz Fanon (1979), Alfredo Bosi (2002), Stuart Hall (2003), Homi Bhabha (2003), Thomas Bonnici (2009), entre outros. Palavras-chave: pós-colonialismo; resistência; alteridade; contexto colonial; literatura sul-africana. Agência financiadora: CAPES 244 ESTUDOS DE GÊNERO E MULHERES NEGRAS NO ENSINO SUPERIOR: MAPEAMENTO DE TESES E DISSERTAÇÕES DA CAPES (2011-2012) Tamires Almeida Ribeiro (UNESPAR-Campo Mourão) Fabiane Freire França (UNESPAR-Campo Mourão) Delton Aparecido Felipe (UEM) O presente artigo tem como objetivo mapear as teorizações sobre os estudos de mulheres e de gênero encontradas no Banco de Dissertações e Teses da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) durante o período de 2011 a 2012, com as seguintes Palavras-chave: educação, estudos de gênero, estudos de mulheres negras, raça e Ensino Superior. Destaca-se nesse texto a tese “Negros e negras no ensino superior privado: um estudo sobre raça e gênero”, de autoria de Ana Luiza dos Santos Julio, por ser a única tese encontrada. A área denominada “Estudos de Mulheres” refere-se ao movimento da década de 1960 que propunha discussões de emancipação das mulheres no espaço público. Na década de 1980 são produzidos os “Estudos de Relações de Gênero” como categoria de análise das relações entre homens e mulheres. Em vista disso, o presente texto problematiza: quais as produções atuais sobre os estudos de mulheres negras no ensino superior brasileiro encontradas no banco de Teses da CAPES? Para atender aos objetivos e responder a questão desta pesquisa foi realizado um mapeamento no banco de dados de teses e dissertações da CAPES na área da educação sobre estudos de mulheres e gênero no Ensino Superior com base no referencial teórico dos estudos de gênero. Concluímos com essa busca a necessidade de maiores discussões sobre gênero e mulheres negras no ensino superior nos cursos de pós graduação strictu sensu, mestrado e doutorado. Palavras-chave: Educação; Estudos de Gênero, Estudos de mulheres negras; Ensino Superior. ESTUDO DA REGRA DA ORDEM MILITAR DE SANTIAGO DA ESPADA Thais do Rosário (UEM) A Península Ibérica viveu do século VIII ao XV (XIII para o território que atualmente corresponde a Portugal) um período bastante conflituoso que se convencionou chamar Reconquista, no qual reinos cristãos lutavam contra os muçulmanos que ocupavam o território peninsular. A fundação da Ordem de Santiago da Espada ocorreu dentro desse contexto, mais especificamente no ano de 1170. A Ordem nasceu como uma confraria de nobres cavaleiros apoiada pelo rei Fernando II de Leão e convocada por ele a lutar pela reconquista leonesa da cidade de Cáceres. Já no ano seguinte, através de um acordo feito com o arcebispo de Santiago, a confraria é recebida pela Igreja e passa a levar o nome e lutar sob o estandarte do patrono espanhol. Em 1173, Pedro Fernández, então mestre da Ordem, leva à curia romana o esboço de uma regra cuja promulgação se deu no ano de 1175. Existiram algumas versões da regra santiaguista, mas seus conteúdos não se distanciaram muito desta primeira e seu prólogo histórico foi mantido. Pretende-se com este texto demonstrar que o estudo desse documento normativo pode revelar traços da 245 instituição em questão, porquanto através dele é que eram estabelecidas suas formas de organização e de conduta para seus membros. Palavras-chave: Reconquista; Ordem de Santiago; Regra. A ADMINISTRAÇÃO CIVIL DAS VILAS SANTIAGUISTAS NO SÉCULO XIII Thais do Rosário (UEM) A Ordem de Santiago da Espada nasceu no reino de Leão na segunda metade do século XII e, como outras Ordens militares hispânicas, teve como objetivo maior o combate aos muçulmanos no processo da Reconquista. Durante esse período não havia uma união dos reinos cristãos e, muitas vezes, eles ainda competiam entre si, mas as Ordens militares lutavam pela defesa da cristandade como um todo e não de um único reino. Dessa forma, ainda que tenha nascido sob a proteção de um rei leonês, a Ordem de Santiago lutou pelos diferentes reinos cristãos, dos quais obteve grande quantidade de doações de bens e propriedades. Havia a necessidade de repovoamento das áreas reintegradas ao território cristão, posto que não fazê-lo facilitaria quaisquer tentativas muçulmanas de retomar essas zonas, e as Ordens militares da Península Ibérica também participaram desse processo de repovoamento. Essa participação se intensificou no século XIII, sobretudo após a significativa derrota muçulmana na batalha de Las Navas de Tolosa, em 1212, aumentando o número de propriedades doadas às Ordens militares. Propomo-nos neste trabalho a apresentar um panorama geral da administração civil das vilas que estavam sob a responsabilidade da Ordem de Santiago nessa centuria, o faremos a partir de uma bibliografia santiaguista que tratou de analisar a documentação do período, em especial manuscritos de caráter normativo elaborados nos foros realizados nas maiores e mais relevantes áreas para a Ordem. Palavras-chave: Ordem de Santiago; Vilas; Reconquista; Península Ibérica. O ENSINO DE HISTÓRIA SOBRE O PARANÁ COLONIAL NAS ESCOLAS Alef Guilherme Zangari da Silva (UEM) Rodrigo Correa Barboza (UEM) O objetivo deste trabalho é discutir como está sendo discutida a temática sobre o “Paraná no período colonial” nas escolas, com ênfase na experiência do Colégio Estadual Antônio Diniz Pereira, da cidade de Ivaiporã/PR. Este texto faz parte das ações do PIBID. O referido projeto de ensino está sendo aplicado em períodos de contra-turnos visando pensar a disciplina de História do Paraná em sala de aula, partindo do pressuposto de que estes conteúdos muitas vezes não são ensinados, provocando deficiências na aprendizagem histórica dos alunos. Pretende-se com isso chamar a atenção para a importância de se ensinar esse período da história do Paraná, contribuindo assim, para ampliar o conhecimento dos alunos do Colégio Estadual Antônio Diniz Pereira. Palavras-chave: História do Paraná; Período Colonial; Ensino; Pibid. 246 O ENSINO DE HISTÓRIA DO PARANÁ IMPERIAL NAS ESCOLAS: DAS LUTAS EMANCIPACIONISTAS ÀS ORGANIZAÇÕES DO ESTADO E DA SOCIEDADE Ana Paula Mariano dos Santos ( UEM) João Guilherme Israel Ferreira (UEM) O objetivo deste trabalho é fazer uma discussão acerca de como está sendo trabalhada a temática sobre “História do Paraná” nas escolas, tendo como foco o período imperial e as políticas de emancipação da Província. Para isto estamos tomando como parâmetro o processo de ensino/aprendizagem desenvolvido no Colégio Estadual Antônio Diniz Pereira, da cidade de Ivaiporã/PR. Este trabalho integra as ações do PIBID. O referido projeto de ensino está sendo aplicado em períodos de contra-turnos visando pensar a disciplina de História do Paraná em sala de aula, partindo do pressuposto de que estes conteúdos muitas vezes não são ensinados, provocando deficiências na aprendizagem histórica dos alunos. Pretende-se com isso fortalecer a política pública de se ensinar História do Paraná, sobretudo no atendimento da Lei Estadual nº 13.381, de 18 de dezembro de 2001, que institui a obrigatoriedade do ensino de História do Paraná nas escolas. Palavras-chave: História do Paraná; Período Imperial; Ensino; Pibid. Agência financiadora: CAPES. PATRIMÔNIO CULTURAL, HISTÓRIA E EDUCAÇÃO PATRIMONIAL: ABORDAGENS PARA O ENSINO DE HISTÓRIA Caroline Cassoli Gonçalves (UFMS) Jaqueline Aparecida Martins Zarbato (UFMS) Na atualidade, uma das questões cruciais no ensino de história é a retomada da valorização de elementos da memória e recuperação dos elementos culturais dos grupos que vivenciam suas experiências em diferentes sociedades. Neste sentido, ao investigar a memória histórica regional e a história local, as questões que envolvem o patrimônio cultural emergem como elementos importantes para ensinar história para jovens e crianças. A pesquisa visa fundamentar as discussões sobre memória, patrimônio cultural, fontes históricas para o ensino de história. Uma vez que, percebe-se que as questões que envolvem a cultura local e regional apresentam-se raramente na sala de aula. Ou quando são apresentadas ressaltam um modelo tradicional, com a valorização de determinadas culturas em detrimento de outras. Visa-se investigar, a partir da metodologia da Educação patrimonial, os elementos constitutivos das identidades e cultura material/ imaterial de Três Lagoas, fundamentando os encaminhamentos metateóricos da didática da história para o ensino de história. Neste sentido, alguns encaminhamentos constituem-se como importantes para fundamentar novas práticas de ensinar a história e cultura local e regional, entre elas, o reconhecimento dos patrimônios materiais e imateriais que compõem o mosaico de experiências das pessoas.Além disso, 247 a pesquisa contribuirá com o conhecimento sobre a diversidade cultural, étnica, religiosa e de trabalho articuladas à problemática do patrimônio cultural material e imaterial. Palavras-chave: patrimônio cultural; ensino de história; educação patrimonial. Agência financiadora: PIBIC – CNPq PONTA GROSSA EM CRÔNICAS: A PRODUÇÃO DE DAILY LUIZ WAMBIER Amanda Pereira Chiquito (UEPG) Entender um intelectual em seu tempo implica em compreender seus vínculos com a própria sociedade, uma vez que esta personagem se mostra como produtor de ideias e também receptor, apresentando e definindo a comunidade em seus discursos. Assim, entender o discurso dos intelectuais nos faz recorrer a relação deles com os lugares aos quais pertencem e sobre os quais elaboram suas falas. Este trabalho, se volta, portanto, a investigação em torno de Daily Luiz Wambier (1908 – 1965) – pontagrossense, político, radialista, jornalista e cronista – e seu acervo, procurando perceber a historicidade de/em seus discursos. Busca-se então, problematizar este intelectual, principalmente sua relação com os problemas cotidianos e citadinos, como por exemplo, a educação das crianças, os rumos que a sociedade tomava e principalmente a moral e os bons costumes.Desta forma, volta-se, aqui, à leitura da produção de Wambier e ao seu programa de rádio chamado Comentário do Dia que foi ao ar na Rádio Clube Pontagrossense PRJ2 diariamente de 1951 a 1956. Esta investigação originou-se do contato com fontes primárias (acervo do intelectual), a partir do trabalho de leitura, higienização, seleção e problematização deste acervo, acompanhado da análise bibliográfica. Wambier, em seus comentários, parece acenar para incômodos de sua época, preocupado com as transformações que afetavam a cidade e o modo de vida urbana, caracterizando-se por textos que clamavam pela “conservação” de um tempo que parecia ter passado. Ainda assim, sua produção contribuiu ao nos deixar relatos de seu tempo, crônicas e inúmeros documentos; de modo que possibilita futuras pesquisas. Palavras-chave: Intelectuais; produção; imprensa; crônicas; discurso. Agência financiadora: Fundação Araucária. O NORTE E OESTE SETECENTISTAS: PERSPECTIVAS HISTÓRICAS DOS RELATOS DE ALEXANDRE RODRIGUES FERREIRA M SUA VIAGEM FILOSÓFICA (1783 – 1793) Bruno Cezar Bio Augusto (UFMS) Este trabalho apresentará uma discussão em que serão abordadas questões antropológicas e históricas, embasadas na expedição filosófica chefiada por Alexandre Rodrigues Ferreira, no século XVIII, ano de 1783. Propõe-se uma reflexão sobre a “imagem do outro” encontrada nos relatos dessa diligência. A análise consiste em um estudo sobre o “choque cultural” entre colonizadores 248 brancos e os ameríndios dessas regiões por onde Alexandre Rodrigues Ferreira passou com a sua comitiva. Após quase dez anos de expedição (1783 – 1792) percorrendo o Grão-Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiabá o autor nos deixa uma coleção textual e iconográfica encontrada na obra Viagens Filosóficas pela Capitânia do Grão-Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiabá. Memórias Antropológicas. O estudo também se fundamentará em uma revisão bibliográfica para tentarmos entender a relação dos “homens de cabedais” com a margem olvidada do sistema colonial: em especial os negros e/ou indígenas, agentes importantes neste contexto colonial interiorano. O estudo da obra de Ferreira pode nos fazer entender parte do discurso colonizador da região norte e oeste do território, visto que, mesmo após quase quatro séculos, ele ainda perpetua no cotidiano de ações políticas civis brasileiras. A obra Viagens Filosófica é importante para compreendermos os meandros das ações dos que adentravam os “sertões”, os denominados “sertanistas”, e as suas práticas pelo interior colonial, saqueando terras, expulsando ou mesmo dizimando pessoas em especial, os povos originários -, e estacando fronteiras. Palavras-chave: Ameríndios; Setecentista; Sertanistas; expedição. Agência financiadora: CNPq MUSEU CONTEMPORÂNEO DA CONFECÇÃO DE CIANORTE: CONSIDERAÇÕES SOBRE A CRIAÇÃO DE UM ESPAÇO HISTÓRICOCULTURAL PARA O MUNICÍPIO. Mariáh Majolo (UEM) Mariana Lucon (PUC) Ronaldo Salvador Vasques (UEM) A principal fonte de renda do Paraná na década de 1970 era o café, empregando milhares de famílias e sendo o sustento da grande parte da população. Em 1975 a grande e trágica geada mudou definitivamente o rumo da vida de todos que dependiam do café para sua sobrevivência. É justamente nesse momento crítico que Chebli Nabhan com sua intuição empreendedora toma uma decisão de investir na confecção. Cianorte, que antes pertencia à agricultura foi sendo moldada pelo empresário que é conhecido até hoje como o precursor da futura capital do vestuário. Atualmente a cidade tem mais de 500 grifes e detém 25% da produção nacional através do jeans através da Lavinorte, maior lavanderia de jeans da América Latina, chegando a produzir por mês mais de 1 milhão de calças. Este artigo aborda as conclusões da parceria entre o Projeto de Iniciação Científica desenvolvido pela UEMCampus de Cianorte e o Trabalho de Conclusão de Curso apresentado no curso de Arquitetura da PUC- Curitiba sobre o Museu Contemporâneo da Confecção de Cianorte. O estudo correu através de investigações por meio de fontes orais e análise de arquivos pessoais, como fotografias, documentos e objetos do senhor Chebli Nabhan e de outras duas pioneiras da confecção cianortense, Sra Marlene Resende e Sra Cássia Nabhan, além de apresentar um projeto arquitetônico inicial para a estrutura do museu. Buscamos 249 Evidenciar com a pesquisa a importância de documentar e arquivar em um local apropriado os objetos e documentos que retomam o início da confecção no município. Palavras-chave: Museu ; Cianorte ; História ; Confecção. ENTRE CONCEITOS E CONTEXTOS: JOÃO BAPTISTA DE LACERDA, AS TEORIAS RACIAIS E O DEBATE SOBRE MISCIGENAÇÃO NO INÍCIO DA REPÚBLICA Osvaldo Carneiro de Matos Neto (UNICENTRO) Este trabalho se enquadra na perspectiva da História Social das Ideias e da História da Ciência, e tem por objetivo analisar a centralidade das discussões sobre as teorias raciais nas explicações sobre o Brasil. Como se sabe, o debate sobre ciência, raça e nação foram amplamente visitados por intelectuais brasileiros no período entre 1870 e 1930, produzindo uma série de interpretações sobre os problemas sociais, políticos e econômicos enfrentados pelo Brasil durante o contexto que uniu o fim da escravidão ao conturbado florescimento da República. Segundo Lília Moritz Schwarcz as pesquisas levadas a cabo pelos ‘homens de sciencia’ no fim do século XIX foram tomadas como uma ‘subciência’ por historiadores formados nas nascentes universidades brasileiras do século XX, os quais viam a utilização das teorias raciais como meras cópias de um conjunto de ideias estrangeiras. Sendo assim, buscando esclarecer de que forma estes ‘homens de sciencia’ enfrentaram os limites teóricos impostos por um conjunto de ideias deterministas e as barreiras políticas construídas por uma sociedade rigidamente hierarquizada no tocante a inclusão de negros e mestiços, analisamos, como fonte histórica, dois textos do médico e antropólogo físico brasileiro João Baptista de Lacerda; o ensaio Sobre os mestiços no Brasil e a redarguição intitulada Réplica a Crítica. Objetivando, então, esclarecer de que forma os ‘poderosos’ brasileiros – nas palavras de Lacerda – esperavam que este cientista divulgasse o país no exterior, tendo em vista que tal ensaio fora publicado, em forma de discurso, no Congresso Internacional de Raças, em Londres, no ano de 1911. Palavras-chave: Teorias raciais; República; História da Ciência. Agência financiadora: MEC – Programa de Educação Tutorial – PET/História. EUGENIA E CONTROLE MATRIMONIAL NO BRASIL: UMA ANÁLISE A PARTIR DO PRIMEIRO CONGRESSO BRASILEIRO DE EUGENIA DE 1929 Francielle Uchak (UNICENTRO) O objetivo do presente trabalho é analisar, a partir da perspectiva da História da Ciência, os debates da Eugenia no Brasil que permeou entre os intelectuais de vários campos do conhecimento no início do século XX. Nesse sentido, é observado a importância do Primeiro Congresso Brasileiro de Eugenia, realizado em 1929 na cidade do Rio de Janeiro. Esse evento fez parte das comemorações do Centenário da Academia Nacional de Medicina e contou 250 com a presença de importantes figuras do cenário político, médico e intelectual do país. Desse modo, a partir dos textos apresentados durante o Congresso, os quais são aqui tomados como fonte, e que se encontram no volume das “Actas e Trabalhos”, é analisada as mais variadas concepções presentes no movimento eugênico brasileiro nesse período. Sendo assim, a abordagem do referido congresso se torna palco onde diferentes idéias eugênicas foram debatidas, relacionadas às discussões sobre raça, miscigenação e formação da nação brasileira. Para esta comunicação, analise-se especialmente o texto apresentado por Joaquim Moreira da Fonseca, que tem como título “Casamento e Eugenia”. Em seu texto, o congressista traz a reflexão sobre a questão eugênica em relação ao casamento e as medidas que deveriam ser tomadas sobre esse assunto em um momento em que não era “aceitável” que houvesse degenerados na sociedade brasileira. Neste sentido, o objetivo é problematizar a maneira como o controle e a educação matrimonial é pensado como um dos elementos centrais da eugenia brasileira, que visava a formação de uma nação racialmente regenerada e moralmente civilizada. Palavras-chave: Eugenia, raça, matrimonio, história da ciência no Brasil. Agência financiadora: MEC/PET OS ESTADOS UNIDOS E O GOVERNO JOÃO GOULART: O BRASIL COMO PALCO DA GUERRA FRIA (1961-1963) José Victor de Lara (UEM) O objetivo central deste trabalho é analisar as relações entre o Brasil e os Estados Unidos durante o governo João Goulart, inserindo a discussão no contexto mundial da Guerra Fria, concentrando-se nos conflitos do continente latino-americano e seus reflexos. O presente trabalho parte da premissa, já consolidada pela historiografia, que a participação dos EUA na campanha de desestabilização do governo Goulart foi fundamental para a consolidação do golpe civil-militar em março/abril de 1964. As interpretações dos funcionários da diplomacia estadunidense sobre a crise política e econômica vigente no Brasil no período em estudo, demostra que os EUA consideravam o governo de Goulart perigos, endossado e associado a setores de esquerda; motivando os EUA a agirem contra o presidente brasileiro por meio de apoio direto as forças golpistas. O trabalho faz uso de documentos diplomáticos produzidos pelo Departamento de Estado dos EUA, pondo os fatos históricos à luz da documentação disponível. Inicia-se com uma análise do contexto mundial da Guerra Fria na América Latina, pontuando os mecanismos utilizados pelo governo estadunidense e as suas motivações para intervir diretamente no cenário político brasileiro. Ao longo do texto trata-se de construir uma análise sobre as relações internacionais entre ambos os países e como esta foi sendo abalada devido a radicalização dos discursos, tendo como elemento central a Guerra Fria na América Latina e suas implicações. A discussão parte de dois elementos centrais: a Aliança para o Progresso no Brasil e a Política Externa Independente do governo Goulart. Palavras-chave: Estados Unidos; João Goulart; Guerra Fria; Política Externa. 251 A CRISE POLÍTICA E A DESINTEGRAÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA SOCIALISTA DA IUGOSLÁVIA Leonardo Pires da Silva Belançon (UEM) Sob influência da crise do comunismo, no final da década de 1980, o mapa geopolítico da região sudeste da Europa passou por algumas alterações, sendo a Iugoslávia o país que mais se modificou ao longo da primeira metade da década de 1990. A região abriga diferentes povos, religiões e idiomas, que devido a esta característica multicultural, passaram por diversos conflitos ao longo de sua história. Quando no século XX foram unidos sob o estandarte de uma mesma república federada, os povos da Eslovênia, Croácia, BósniaHerzegovina, Sérvia, Montenegro e Macedônia, tiveram que se perceber como uma mesma nação iugoslava, mesmo sem que esse reconhecimento identitário de fato existisse. Após pouco mais de quarenta anos, essas diferenças, que durante séculos de história causaram conflitos, voltam a aflorar entre estes grupos e somado à crise do sistema político sob o qual viviam e a uma crise econômica enfrentada pela Iugoslávia, surgem os desejos de independência e as aspirações nacionalistas que levam a região a ser palco de alguns dos conflitos mais violentos da década de 1990. Assim, neste paper busca-se analisar um panorama do contexto histórico e político que levou à dissolução da Republica Federativa da Iugoslávia e compreender os motivos que levaram aos conflitos civis que desembocaram em perseguições étnicas e na prática de crimes de guerra, considerados por muitos autores como genocídio. Trata-se de uma breve análise da História Contemporânea da Iugoslávia, tendo como limite temporal o fim da guerra de independência da Bósnia-Herzegovina, em 1995. Palavras-chave: Conflitos; Independências; Nacionalismo. BRASIL: UMA INTERNACIONALIZAÇÃO “REPAGINADA” PELO WIKILEAKS Letícia Augustin (UEM) O jornalista e ciberativista australiano, Julian Assange fundou o Wikileaks em 2006. Desde a sua criação, a página da organização divulga informações e documentos diplomáticos secretos ou confidenciais. A palavra de origem inglesa é formada pela junção de wiki, de Wikipedia, e leaks de vazamento. Os Estados Unidos da América são o governo mais pesquisado no banco de dados do site. O trabalho teve como objetivo analisar a relação bilateral Estados Unidos da América com o Brasil. O material utilizado é encontrado no site da organização. Para esta pesquisa, foram selecionados e-mails e telegramas de âmbito econômico e diplomático escritos pelos representantes do governo estadunidense sobre o governo brasileiro. Estudos sobre a relação entre esses dois países foram necessárias para compreender a visão que os Estados Unidos da América têm sobre nosso país. Concluiu-se ao final do trabalho que a publicação de documentos diplomáticos sensíveis por meio do ciberativismo tem impactado de alguma forma as relações internacionais. Todavia, considera-se a necessidade de estudos mais aprofundados para que se possa aferir os níveis de influência dessas informações nas relações 252 internacionais. Também concluiu-se que o Wikileaks vai além de publicar informações, faz parte de um novo marco da internet. As informações publicadas pelo Wikileaks podem influenciar os estudos da história do tempo presente, pois o site da organização se torna uma fonte de rápido acesso, o que facilita o desenvolvimento de pesquisas relacionadas a temas correlatos às relações internacionais contemporâneas. A organização também simboliza uma nova forma de ativismo político, o ciberativismo. Palavras-chave: Wikileaks; Diplomacia; Ciberativismo; História do Tempo Presente. Agência financiadora: PIBIC/CNPQ – Fundação Araucária – UEM AS RELAÇÕES BILATERAIS ENTRE PARAGUAI E BRASIL NA DITADURA STROESSNER: REVISIONISMO HISTÓRICO, NACIONALISMO E DISCURSO DESENVOLVIMENTISTA. Leticia Consalter de Lima (UNILA) A Ditadura Stroessner (1954-1989) dispôs de um sistema de mecanismos de controle que foram essenciais para sua longevidade, dentre estes mecanismos estavam às estratégias adotadas para legitimar o regime, entre essas estratégias destacamos o uso de um discurso nacionalista apoiado no revisionismo da história paraguaia utilizado pelo regime para vincular Alfredo Stroessner aos heróis nacionais, recriados a partir da revisão do passado histórico paraguaio, movimento este denominado de revisionismo histórico que ocorreu após o fim da Guerra do Chaco (1932-1935). O regime também se utilizava da memória da Guerra da Tríplice Aliança para instigar um sentimento nacionalista, ao mesmo tempo em que procurava justificar as suas relações bilaterais com o Brasil, antigo inimigo de guerra. Este trabalho procurou analisar as relações bilaterais entre Paraguai e Brasil e suas justificativas, os usos do revisionismo histórico pelo regime stronista e as contradições entre as duas conjunturas. Além disso, através das reflexões que apresentamos, procuramos amenizar as lacunas e silêncios da história paraguaia, pois com exceção da Guerra do Chaco, a história do Paraguai após a Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870) carece de estudos historiográficos dentro e fora do Paraguai, assim como a história de suas relações internacionais. Na mesma realidade encontram-se os estudos sobre a Ditadura Stroessner, episódio marcante da história paraguaia, mas que é pouco explorada principalmente pela historiografia paraguaia, mais assolador é a extrema carência dos estudos sobre o regime stronista e as relações com o Brasil, posicionado como um dos principais apoiadores externos deste longo regime ditatorial paraguaio. Palavras-chave: Paraguai; Ditadura Stroessner; relações bilaterais ParaguaiBrasil; revisionismo histórico. Agência financiadora: Fundação Araucária 253 UMA INVESTIGAÇÃO ACERCA DAS POLÍTICAS PARA O FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO PARANÁ (1990-2010) Raquel Alessandra de Deus Silva (UEM) Jani Alves da Silva Moreira (UEM) Este trabalho é resultado de uma pesquisa de iniciação científica, na qual o objetivo é analisar a configuração das políticas para o financiamento da Educação de Jovens e Adultos no Paraná. O recorte temporal para a análise se dá entre os anos 1990 a 2010, pois se refere a um contexto no qual se desenvolveram várias medidas institucionais que caracterizaram uma ampla reforma educacional no país. Para esta análise realiza-se a compreensão dos pressupostos históricos da EJA e a apresentação das principais políticas presentes nas leis e normativas que regulamentam a estrutura e a organização desta modalidade no sistema educacional brasileiro. Por fim, pretende-se elucidar as relevantes políticas para o financiamento da EJA no Brasil e no Paraná, no período em questão. O referente trabalho consiste em uma análise bibliográfica e documental, tendo como referencial teórico o materialismohistórico. A partir da apreensão das principais diretrizes políticas de EJA, conclui-se que, em consonância com o cenário nacional, as políticas para o financiamento da educação no Paraná deixaram a EJA em posição marginal às demais modalidades. O analfabetismo na população jovem e adulta foi e ainda é um grande problema a ser enfrentado. No entanto, faz-se necessário planejamento adequado à elaboração de políticas educacionais direcionadas à EJA. Tais políticas devem ser implementadas de forma efetiva para proporcionar uma educação de qualidade a este público. Palavras-chave: Educação de Jovens e Adultos; Política Educacional; Leis; Estado; Paraná. A INFLUÊNCIA DO BANCO MUNDIAL NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA NO BRASIL Renata Valério da Silva (UEM) Jani Alves da Silva Moreira (UEM) Maria Eunice França Volsi (UEM) Este texto é resultado de uma pesquisa de Iniciação Científica (PIC/UEM) que teve como objetivo investigar a influência que o Banco Mundial exerce na determinação das políticas para formação de professores da educação básica no Brasil. Essa análise documental baseou-se nos documentos do Banco Mundial e tais orientações foram verificadas a partir da leitura e interpretação dos documentos Prioridades y Estrategias para la Educacion (1995) e Mejorar la enseñanza y el aprendizaje por medio de incentivos (2005). Além disso, analisou-se a legislação produzida no período em que os documentos foram publicados e que estabeleceu as diretrizes para a formação de professores no Brasil, bem como outras fontes que abordam esse tema. Verificou-se que a legislação e as políticas para formação de professores atenderam diversas orientações estabelecidas pelo Banco Mundial, as quais atribuem aos professores a responsabilidade pelo sucesso ou fracasso escolar dos alunos. 254 Essa situação foi verificada por meio de avaliações externas e com base no desempenho diagnosticado que sugerem políticas de incentivos remuneratórios aos professores. Palavras-chave: Professores; Formação; Políticas educacionais; Banco Mundial. A ATUAÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS NOS FAXINAIS Sonia Vanessa Langaro (UNICENTRO) Os Faxinais correspondem a uma forma de organização camponesa, tradicional, familiar e comunitária, tendo como principais características a presença de florestas nativas, uso coletivo das terras, criadouro comum, e práticas sociais, culturais e religiosas peculiares. Porém, com o forte avanço do capitalismo nas áreas rurais paranaenses no século XX é possível perceber as modificações ambientais e também nas práticas cotidianas faxinalenses, sendo tais modificações consideradas ameaçadoras ao sistema. A presente pesquisa abarca considerações acerca das características constituintes dos Faxinais, suas transformações ao longo do tempo e influências das políticas públicas neste contexto diante da necessidade faxinalense de preservar seus aspectos culturais e físicos. O recorte espacial utilizado é uma comunidade rural denominada como Faxinal do Salto, localizada no município de RebouçasParaná, considerando aprofundamentos a partir da década de 1980 até os dias atuais. No decorrer deste trabalho, foram utilizados alguns procedimentos metodológicos, como o método de pesquisa qualitativo, sendo aplicado através de observações, entrevistas com questionários abertos e análise das informações. Destaca-se também a revisão bibliográfica e busca por dados em sites governamentais. Analisando todo este contexto envolvendo o Faxinal do Salto, vê-se o mesmo como alvo de destruição e desagregação devido às explorações ambientais e pressões capitalistas, gerando modificações culturais e ambientais, colocando em risco a identidade faxinalense. Desta forma, podese ressaltar a importância da contribuição positiva das políticas públicas na luta contra a diluição deste sistema, sendo a criação de leis, projetos, programas governamentais e fiscalização consideradas ações de grande importância para a manutenção dos Faxinais e garantia da identidade faxinalense. Palavras-chave: Faxinal; Faxinal do Salto; políticas públicas; identidade; transformações. A CRIPTOMOEDA BITCOIN: COOPERAÇÃO OU CONCORRENTE DA MOEDA OFICIAL DOS PAISES Ygor Mazali Honorato (UNESPAR – Apucarana) Helio Magdalena Neto ( UNESPAR/Apucarana) Natália Francine Cipriano Barbosa ( UNESPAR/Apucarana) Paulo Cruz Correia ( UNESPAR/Apucarana) Nasce um novo paradigma para as relações de transações econômica mundial, a moeda digital Bitcoin. Com o desenvolvimento tecnológico da criptografia, 255 acompanhado do poder da internet, desenvolveu-se um novo sistema de moeda, privado, anônimo e sem qualquer tipo de controle de governos e/ou instituições, esse é a moeda chamada Bitcoin. Aceitos em vários estabelecimentos de comércios e serviços nas economias centrais e em muitas economias em desenvolvimento, de forma totalmente anônima, são feitas transações na casa dos milhões de dólares todos os dias. Sem quaisquer restrições e taxações financeiras e fronteiriças. Esta forma de liberdade tem atravessado fronteiras de países de economias fechadas como China e Síria; alguns segmentos das sociedades vêm deliberadamente se utilizando dessa forma de meda transacional em suas atividades comerciais. A nova moeda é uma realidade e seus impactos na macroeconomia são uma nova realidade a ser estudada. Diante disso o objetivo é conhecer e examinar em que medida a moeda bitcoin, pode ser concorrente, ou aliada da moeda tradicional. A metodologia utilizada é a da pesquisa bibliográfica, por meio de recentes fontes, como artigos, livros e revistas científicas. A conclusão é a de que a atual crise em que vivemos, iniciada em 2008, favoreceu o nascimento da nova modalidade transacional; e, seu baixo custo de operação vem sendo um fator favorável ao aumento de sua preferência, por empresários e agentes econômicos em geral. Palavras-chave: Criptomoeda; Dinheiro Virtual; e, Bitcoin A REVISTA CULTURA POLÍTICA E SUA RELAÇÃO COM A AMERICANIZAÇÃO DA CULTURA BRASILEIRA NO ANO DE 1942. Felipe Adriano Alves de Oliveira (Faculdades Integradas de Itararé) O objetivo desse trabalho é analisar as representações do ideário políticosocial da Política de Boa Vizinhança presentes em um artigo da Revista Cultura Política publicado em Junho de 1942. O processo da implantação da Política da Boa Vizinhança proposta pelo governo norte-americano iniciou-se durante a eclosão da Segunda Guerra Mundial. Vale destacar, que à compreensão do contexto em que a revista estava inserida é fundamental para a interpretação do artigo que foi selecionado. A metodologia utilizada para o desenvolvimento do trabalho é a análise do conteúdo do artigo. De acordo com Luca (2005) é preciso filtrar as informações de relevância fazendo uma análise rigorosa, visando compreender o que está sendo analisado, relacionando as informações com o contexto de produção do documento. Segundo Bardin (2009) é preciso ter cuidado com os resultados coletados, fazendo o uso da interpretação e contextualização. A pesquisa se insere no campo de estudos da História Cultural e utiliza como referencial teórico os conceitos de representação, discutido por Chartier (2002), e de Cultura Política, apresentado por Lena Júnior (2012). A análise das representações da “Política da Boa Vizinhança” permitirá compreender características que construíram a relação entre Brasil e Estados Unidos, sendo uma relação alimentada pela necessidade de uma aliança devida às circunstâncias de interesses entre ambos no contexto de crise econômica e Guerra Mundial. A revista permite 256 identificar a construção de uma representação da admiração dos brasileiros pelo imperialismo norte-americano. Palavras-chave: Política da Boa Vizinhança; representações políticas; influência cultural norte-americana. A POMICULTURA, A HÚBRIS AGRONÔMICA E A REGIÃO DE GUARAPUAVA/PR, NOS ANOS 1980: UMA LEITURA DE HISTÓRIA AMBIENTAL Fabiana Carla Guarez (UNICENTRO) Esta comunicação tem como intuito apresentar um estudo que discuta a emergência da húbris agronômica em meio a projetos de monocultura no Brasil, especificamente na fruticultura de clima temperado na região de Guarapuava entre os anos de 1980. Nesse sentido, fez-se necessário perceber de que maneira são construídos os discursos sobre a agricultura moderna, problematizando a temática da plantation na historiografia ambiental. Deste modo possibilitar novas visões de mundo sobre a agricultura em termos históricos, tais como as relações entre humanos e não humanos e a forma com que estes indivíduos se relacionam com a natureza, anteriormente não problematizadas. Para tal, as fontes analisadas foram as edições do Jornal Esquema Oeste, de 1974 a 1991, investigando a forma com que esse processo de modernização da agricultura contribuiu para a constituição da pomicultura na região. Dentre as edições analisadas, foram compulsadas 66 notícias sendo que seus conteúdos no que tange a pomicultura variavam muito de acordo com o volume de maçãs produzidas em determinadas safras, a diminuição da colheita em outras, crises em virtude da importação nacional da maçã e discussões sobre o uso de agrotóxicos. Contemplam ainda dados sobre as festividades e eventos realizados na localidade em função da produção da fruta o que possibilitou percebê-la em sua dimensão tanto biológica quanto econômica, social e política. Por fim, também foi possível perceber naquele momento que o papel da imprensa foi fundamental para a difusão do cultivo da maçã estimulando a expansão do setor. Palavras-chave: história ambiental; plantation; modernização; periódicos; Guarapuava. Agência financiadora: PIBIC/Fundação Araucária ECONOMIA DOMÉSTICA: O DESAFIO DO PLANEJAMENTO DOS GASTOS FAMILIARES EM ÉPOCA DE CRISE Franciele Henrique ( UNESPAR-Apucarana) Nathália Francine Cipriano Barbosa (UNESPAR-Apucarana) Ygor Mazali Honorato (UNESPAR-Apucarana) Paulo Cruz Correia (UNESPAR-Apucarana) Este trabalho tem por objetivo analisar questões relacionadas ao perfil financeiro de pessoas com diferentes níveis de poder aquisitivo. Utilizando a 257 Economia Doméstica como principal ferramenta, será analisado o conhecimento dos indivíduos em relação ao seu nível social e econômico, a fim de saber se as pessoas conhecem o seu poder de compra e fazem uso do controle financeiro em seu cotidiano. Ressalta-se a importância da educação financeira para a obtenção de bons resultados na economia pessoal e familiar, também será abordado no presente trabalho os meios pelos quais os indivíduos podem conhecer e praticar a economia doméstica. A metodologia utilizada foi por meio de aplicação de formulário de pesquisa, em três importantes colégios estaduais da cidade e município de Apucarana (PR), em 2014. Pela catalogação da pesquisa foi possível extrair e apresentar o conhecimento a cerca da economia doméstica para cinqüenta e oito pessoas, de diferente poder aquisitivo, entre 23 e 62 anos. Foi possível observar uma crescente preocupação com a economia doméstica, embora esta seja um assunto ainda pouco estudado; a maioria dos estudos considera o perfil do consumidor e sua disposição ao consumo, como resposta para estratégias de márketing das empresas. Entretanto, especificamente em momentos de retração econômica o planejamento doméstico ganha importância e mais pessoas buscam conhecer os conceitos econômicos que lhes possam orientar a vencer os momentos de crise. Contudo, concluiu-se que 58%, aproximadamente das pessoas entrevistadas, não se planejam para o controle e realização de seus gastos. Palavras-chave: Economia Doméstica; e, Planejamento Financeiro. JUVENTUDE, TRABALHO E EDUCAÇÃO: UM ESTUDO CRÍTICO DO ESTATUTO DA JUVENTUDE Igor Mateus Batista (UNESPAR –Paranavaí Historicamente se observou uma lacuna no Estado brasileiro em relação à definição de políticas públicas amparadas numa concepção de direitos para a juventude. Nesse sentido o Estatuto da Juventude, sancionado em 2013, de forma ampla, pode ser considerado um avanço na relação do Estado para com o segmento jovem brasileiro. O Estatuto é definido num contexto de um governo desenvolvimentista, onde a concepção de direitos encontra-se imbricado com a tese de inclusão pelo trabalho, numa perspectiva liberal desenvolvimentista, justamente quando o Brasil alcança seu platô de juventude, ou seja, disponibilizando 51 milhões de jovens como força de trabalho ao capital. O objetivo de nossa pesquisa é analisar as contradições sociais expressas nas diretrizes do Estatuto e sua concepção de juventude. Utilizamos para isso, uma bibliografia sobre juventude, trabalho e educação, para apropriação de uma base teórica que nos permita cumprir nossos objetivos. Através de nossa pesquisa, é possível verificar que há uma contradição entre a proposta de autonomia e liberdade apresentada pelo Estatuto, com a realidade social contemporânea dos jovens. Pois observa-se que o Estatuto, baseado na tese da inclusão dos jovens nos espaços decisórios de formulação de políticas de juventude do Estado, visa condicionar as subjetividades dos jovens entorno de um tipo padrão/ideal de jovem qualificado para o trabalho, domesticado de comportamento dócil. Portanto verifica-se que a intenção do Estatuto é promover a institucionalização das 258 ações juvenis, corroborando no esvaziamento do conteúdo radical e autônomo das mobilizações juvenis deste segmento da população brasileira. Palavras-chave: Juventude; Lei 12.852; Estatuto da Juventude. Agência financiadora: Fundação Araucária. O PERFIL DO EGRESSO INSERIDO NO PROJETO DE EXTENSÃO“ATENÇÃO AO EGRESSO E À FAMÍLIA”, COMARCA DE APUCARANA/PR Ana Paula de Melo Sotério (UNESPAR-Campus de Apucarana) Latif Antonia Cassab (UNESPAR-Campus de Apucarana) A segurança pública brasileira traduz como solução dos conflitos sociais, da violência e da criminalidade a punição por encarceramento, buscando moldar o indivíduo, despojar sua identidade e modificar suas ideias e comportamentos. O Brasil possui a terceira maior população carcerária do mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, com 2.297.400, e da China, com 1.620.000 apenados – estima-se que em 2034 a população prisional brasileira superará a dos Estados Unidos. O trabalho que apresentamos tem como objetivo conhecer o perfil dos beneficiários do Projeto de Extensão “Atenção ao egresso e à família”, financiado pelo Programa Universidade sem Fronteiras, Subincubadora Patronato e Secretaria de Segurança Pública, da Comarca de Apucarana, Paraná. A investigação, de natureza qualitativa, foi desenvolvida através da pesquisa documental, com as fichas de atendimentos realizados pelos profissionais de Direito, Serviço Social, Psicologia e Pedagogia que compõem o referido Projeto de Extensão. Seu resultado desvelou, entre outros dados, adultos jovens, com baixa escolaridade, réus primários, sendo o tráfico de drogas o delito mais praticado. Pretendemos que o conhecimento obtido contribua para qualificar as atividades socioassistenciais e educativas engendradas pela equipe de profissionais e, ainda, subsidiar a aplicação de políticas públicas, no âmbito municipal, que minimizem e/ou superem as necessidades dos egressos. Palavras-chave: patronato; egresso penitenciário; perfil. Agência financiadora: Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Secretaria de Estado da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos e Secretaria da Segurança Pública e Administração Penitenciária do Paraná. O FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO BÁSICA NO BRASIL: EM DISCUSSÃO A VINCULAÇÃO DE RECURSOS Vinicius Renan Rigolin de Vicente (UEM) Carlos Vinícius Ramos (UEM) Jani Alves da Silva Moreira (UEM) O texto refere-se aos resultados da pesquisa de iniciação científica (PIC/UEM) sobre o processo histórico da vinculação constitucional de impostos para a educação. O referencial teórico utilizado para a mediação das análises aqui evidenciadas tem como intuito compreender as definições políticas 259 concernentes a vinculação de recursos para a educação à luz da totalidade histórica, ou seja, na compreensão do objeto inserido no âmbito das determinações econômicas, políticas e históricas. Trata-se de uma análise crítica que prioriza uma compreensão histórica do financiamento da educação no Brasil. Discute-se sobre a polêmica da vinculação de recursos, ora ausente e ora presente nas Constituições brasileiras. Em seguida, compreende-se as políticas para o financiamento inseridas no contexto das transformações políticas ocorridas especificamente com a reforma do Estado nos anos de 1980 e 1990 em meio às definições de ajustes estruturais neoliberais. Os resultados evidenciam que não basta ter apenas um percentual mínimo de divisas financeiras destinadas a educação, o que é essencial. Porém, deve-se ter uma maior fiscalização dos recursos financeiros destinados à educação básica no Brasil. Neste aspecto, pondera-se algumas discussões sobre a definição de um padrão mínimo de qualidade para a educação, no qual a Constituição Federal (CF) de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) Nº 9.394/1996 estabelecem. Palavras-chave: Educação; Política; financiamento. AS DIVERSIDADES DO MORAR: UM BREVE ENSAIO SOBRE AS CASAS DE MADEIRA DO CENTRO DE LONDRINA Matheus Henrique Marques Sussai (UEL) Nessa comunicação propomos apresentar o resultado de uma pesquisa, primeiramente de Iniciação Científica, que apresentou desdobramentos. Um deles resultou numa exposição realizada no Museu Histórico de Londrina Pe. Carlos Weiss a respeito da casa de madeira. Por meio do mapeamento das casas de madeira localizadas na região central da cidade de Londrina (PR), um recorte espacial foi delimitado e resultou na catalogação de 138 casas de madeira com fotografias e informações sobre as mesmas. Nessa comunicação centrarei a exposição rápida no processo da pesquisa, e me deterei mais nos resultados, sobretudo, os relativos à exposição composta por artefatos do Museu Histórico, mas, sobretudo, pelas fotografias e informações que foram registradas durante o processo de pesquisa. Essas que, ao narrar a história da casa durante o trabalho, foram expostos no Museu Histórico de Londrina com o intuito de chamar a atenção do morador da cidade sobre sua composição de palimpsesto, como aborda Michel de Certeau, que conforma suas muitas cidades internas (CALVINO, 1990), também sua importância como um documento sobre a história e memória da cidade (LE GOFF, 1992). A apropriação que o comércio fez no uso das casas, a sensibilidade do morador proprietário e o utilitário do morador de aluguel, também será uma das abordagens presentes no texto. Palavras-chave: História; Memória; Casa de madeira; Exposição. Agência financiadora: Fundação Araucária. 260 SOBRE A COMPLEXA RELAÇÃO ENTRE HUMANOS E NÃO HUMANOS: REFLEXÕES ANTROPOLÓGICAS SOBRE DESDOBRAMENTOS POSSÍVEIS ENTRE MEDICINA HUMANA E MEDICINA VETERINÁRIA Rosimery Medeiros de Mello (UEM) A partir dos anos 70 a fronteira natureza e cultura passou a ser repensada pela antropologia, estabelecendo um novo debate que coloca em perspectiva uma nova maneira de se pensar humanidade e animalidade. Essa relação estabelecida entre humanos e não humanos vêm de longa data na história da humanidade, sofrendo transformações nas ultimas décadas, estreitando as relações entre humanos e os animais hoje chamados “domésticos”. Estudos recentes têm demonstrado que esses animais compartilham de hábitos, casas, alimentação, problemas de saúde – como depressão e obesidade – necessidades e tecnologias humanas. Essa pesquisa ainda em andamento tem por objetivo analisar os estudos recentes da medicina veterinária ao qual estão em debate as questões relacionadas e compartilhadas entre humanos e animais de estimação, principalmente, aquelas que envolvem o compartilhamento de doenças, medicalização, tratamentos e comportamentos. Destarte, os desdobramentos da medicina humana para a medicina veterinária tem se tornado cada vez mais recorrente, fazendo suscitar debates que passam por outros segmentos da ciência, como, estudos dos historiadores, antropólogos, sociólogos, filósofos e biólogos que pretendem entender as transformações históricas, sociais, culturais e biológicas causadas por essa proximidade entre humanos e não humanos. A perspectiva teórica metodológica tem como análise os periódicos que privilegiam as novas reconfigurações do tema aqui proposto: humanos e não humanos. Considerando que as construções teóricas objetivadas também são fatos científicos criados. Temos concluído que esse fenômeno da proximidade entre humanos e animais, não somente tem modificado a composição do que entendemos como “social”, como também trás benefícios para ambos, seja na convivência ou na descoberta de novos tratamentos que podem salvar vidas e modificar a história das doenças humanas. Palavras-chave: antropologia; humanos e não humanos; medicina humana; medicina veterinária; doenças e tratamentos. OS HISTORIADORES, SEUS LUGARES E SUAS REGIÕES: A PRODUÇÃO HISTORIOGRÁFICA DA UNICENTRO SOBRE A REGIÃO PARANAENSE Darlan Damasceno (UEL) Pensando a História enquanto uma área do saber que se utiliza de procedimentos e métodos de caráter científico, justifica-se que o historiador tome um olhar crítico com relação à temática e aos contextos de produção de sua própria disciplina. Partindo deste princípio, este estudo consiste em uma análise da produção historiográfica de professores e pesquisadores vinculados à Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO), que situam suas abordagens na área compreendida como "História Regional", bem como a construção do espaço de saber e o lugar social pertinente a esses pesquisadores, isto é, a universidade. Define-se como recorte de análise 261 produções que tomam a região centro-sul do Estado, que destacam especialmente as expressões culturais das populações de imigrantes da região, assim como de grupos indígenas e quilombolas. São estabelecidas como fontes as obras dos professores e produções vinculadas a programas de pós-graduação da UNICENTRO, por se constituir em referência acadêmica da região proposta para estudo. A pesquisa toma como referência a noção conceitual de “regime de historicidade” proposta por François Hartog e seu procedimento metodológico para a análise de produção bibliográfica ou acadêmica, que utiliza como fontes especialmente os prefácios e outras formas de apresentação da obra, buscando com isso perceber influências que o tempo e o lugar social exercem sobre o autor na produção de seu trabalho. Palavras-chave: Historiografia; Paraná; Regime de Historicidade; História Regional Agência financiadora: PROIC/UEL O ENSINO DA PRÉ-HISTÓRIA DO PARANÁ NAS ESCOLAS ESTADUAIS Cezar Felipe Cardozo Farias (UEM) Caio Cezar Inacio dos Santos (UEM) A presente comunicação objetiva apresentar a nossa proposta de ensino da pré-história do Paraná nas escolas estaduais, tomando como referência o projeto desenvolvido junto ao Colégio Estadual Antonio Diniz Pereira, na cidade de Ivaiporã/PR. Essa atividade faz parte do PIBID. Estamos aplicando este projeto nos períodos de contraturnos, com o intuito de ampliar o conhecimento dos alunos sobre a História do Paraná, já que esta temática específica (a préhistória do Paraná) é pouca ou quase não trabalhada em sala de aula. Mesmo com a Lei 13.381/01 que torna obrigatório, no Ensino Fundamental e Médio da Rede Pública Estadual, os conteúdos de História do Paraná, essa demanda não consegue ser cumprida, causando aos alunos a carência de tais conteúdos. Palavras-chave: História do Paraná. Pré-história; Ensino; Pibid. Agência financiadora: CAPES/Pibid. OS POVOS INDÍGENAS DO PARANÁ DURANTE A DITADURA MILITAR: FONTES E MÉTODOS Beatriz Rosa do Carmo Silva (UEM) Éder da Silva Novak (UEM) Lúcio Tadeu Mota (UEM Entre os mecanismos de repressão e controle criados pela Ditadura Militar estava a Assessoria de Segurança e Informação (ASI), que atuava como um órgão de espionagem, no interior das instituições públicas, para coibir ações contra o regime autoritário. Um exemplo foi a ASI instalada dentro da FUNAI, para averiguar os funcionários dos postos indígenas, representantes do movimento indigenista e lideranças dos povos originários. Com as ações da Comissão Nacional da Verdade foi permitido o acesso à documentação 262 produzida pela ASI. Trata-se de uma vasta documentação que revela as ações dos agentes militares por todo o Brasil, no interior das comunidades indígenas e no controle do movimento indigenista, como braço direito do Sistema Nacional de Informações (SNI). O objetivo aqui é demonstrar os resultados iniciais da pesquisa desenvolvida com estes documentos da ASI/FUNAI, que tratam das terras e grupos indígenas do Estado do Paraná. A metodologia consiste na leitura do acervo de fontes e sistematização destas em planilhas que contenham dados sobre o documento, autor, destinatário, qual terra indígena se refere, cidade, etnia e uma síntese do seu conteúdo, entre outras informações, que serão utilizadas para novas pesquisas sobre os povos indígenas do Paraná. Pelas leituras já realizadas se pode comprovar as contínuas ações dos indígenas em defesa dos seus interesses, sobretudo seus territórios, evidenciadas em recortes de jornais, cartas endereçadas as autoridades da FUNAI e demais documentos que reforçam a tese do protagonismo indígena. Palavras-chave: Ditadura Militar; Povos Indígenas; Paraná. O ENSINO DE HISTÓRIA DA ÁFRICA: UMA ABORDAGEM DO PAÍS SOMÁLIA APRESENTADO EM SALA DE AULA. Deidiane Rosolen (UEM) Daniele Cristina de Oliveira (UEM O trabalho tem como objetivo discutir o Ensino de História da África em sala de aula. Esta atividade faz parte do PIBID de História da UEM/CRV. Para isto, estamos utilizando como referência um país do continente africano, a Somália. Ao apresentar informações sobre um determinado país, discutimos os aspectos históricos de todo o continente. A ideia é perceber como os alunos reagem sobre estas informações, observando suas opiniões e reflexões diante do tema. Por fim, estamos contribuindo para o atendimento da lei 10639/03, que definiu que conteúdos da cultura africana e da História da África devem trabalhados em sala de aula. Palavras-chave: Ensino de história da África; História Somália; Ensino. Pibid. Agência Financiadora: PIBID POLÍTICAS ATUAIS PARA O FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO Taluana Paula Bernardinelli (UEM) Esta pesquisa tem como principal objetivo estudar e compreender a meta 20 do Projeto de Lei n° 8.035/2010 que foi sancionado no dia 25 de junho de 2014 tornando-se Lei Ordinária n° 13.005/2014, que aprova o novo Plano Nacional de Educação o qual prevê ampliar o investimento público em prol da educação. A pesquisa refere-se a uma análise das estratégias e providências que serão tomadas a partir da referida lei. Sendo assim, a prioridade é compreender as 263 diretrizes e, o financiamento da educação de maneira a se dedicar à análise do conteúdo da meta 20. As metas previstas no referido plano, deverão ser cumpridas no prazo de vigência de 10 (dez) anos, a contar da aprovação desta Lei. A organização do sistema educacional brasileiro caracteriza-se pela divisão de competências e responsabilidades entre a União, estados e municípios, o que se aplica também ao financiamento e à manutenção dos diferentes níveis, etapas e modalidades da educação e do ensino. O Estado por sua vez, estabelece uma política social responsável definida como obrigatoriedade, autorização de funcionamento, planejamento, diretriz e financimaneto da educação. Sendo assim, esta pesquisa visa estudar os investimentos públicos em educação e as condições no âmbito educacional que ainda, em muitas regiões brasileiras são precárias. Palavras-chave: Meta 20; Plano Nacional de Educação; Lei; financiamento da educação. A TEMÁTICA INDÍGENA NA ESCOLA EXPERIÊNCIAS DE UMA AULA OFICINA Tatiane Ananias Fernandes Freitas (UEM) Rosa Cruz dos Santos Kruse (UEM) O trabalho a ser apresentado traz alguns apontamentos a respeito da experiência vivida pelas pibidianas no Colégio Estadual Alfredo Moisés Maluf (NRE/Maringá). O tema se deu em função do cumprimento da Lei 11.645/08, que inclui no currículo oficial a obrigatoriedade do ensino da história e cultura dos povos indígenas no Brasil, tendo em vista que esta tem sido cumprida muito timidamente pelas escolas e pelos livros didáticos brasileiros. A abordagem é um enfrentamento à interpretação mais comum, dada por editoras/autores de livros didáticos/escolas brasileiras à temática indígena até o momento, que não tem atingido as proposições legais de promover abordagens que considerem a pluralidade, diversidade e alteridade indígenas, mediante a ausência de informações sobre as trocas estabelecidas entre os povos indígenas com a sociedade envolvente, e, principalmente sobre o protagonismo indígena. A metodologia está calcada no modelo de “aula oficina” proposto por Isabel Barca (2004), em que o professor assume papel de pesquisador social disposto a aprender e interpretar o mundo conceitual dos seus alunos, para que essa sua compreensão o ajude a modificar positivamente a conceitualização dos mesmos, de modo que o aluno seja efetivamente um agente na produção do próprio conhecimento. Sendo assim, o ensino de história está aqui compreendido como um processo de instrumentalização dos sujeitos; que os convida a desenvolver o raciocínio histórico, e não permutar um enredo repetitivo constituído. Palavras-chave: PIBID, aula oficina, história, história indígena, índio Kaingang. Agência financiadora: PIBID/CAPES. 264 O USO DE LITERATURA COMO FONTE HISTÓRICA E A RELAÇÃO ENTRE LITERATURA E HISTÓRIA Giovana Maria Carvalho Martins (UEL) O presente artigo se propõe a discutir acerca do uso da Literatura como fonte para a pesquisa em História, trazendo à baila o fato de que as fontes literárias podem, muitas vezes, se apresentar como objetos de estudo complexos para o trabalho historiográfico, como evidencia Darnton (1986). Porém, apesar disto, o trabalho com tais fontes pode ser realizado sob diversos aspectos e abre um grande leque de possibilidades para os historiadores que se propõem a utilizálas, podendo a Literatura se apresentar até mesmo como fonte privilegiada para a História por conter aspectos que outros objetos não possuem, como questões relacionadas ao imaginário da época que se estuda. Deve-se levar em conta que um livro é expressão tanto de um autor quanto de sua época e também de seus leitores, já que não se pode imaginar a Literatura sem levar em conta sua recepção. Buscaremos também evidenciar a relação entre Literatura e História, levando em consideração que o diálogo entre ambas é um campo de pesquisa que se desenvolveu significativamente no Brasil a partir dos anos 1990, e se insere no âmbito da História Cultural. Utilizaremos, para tanto, trabalhos de autores significativos que desenvolvem pesquisas relacionadas à temática proposta, como Pesavento (2006), Chartier (2009), Sevcenko (2003), entre outros. Muitos deles apresentam opiniões divergentes, que pretendemos expor ao longo do texto, levando em consideração que é um trabalho de revisão bibliográfica. Palavras-chave: História; Literatura; fonte histórica; História Cultural. SEXUALIDADE E MATRIMÔNIO NAS FOLHAS DO JORNAL FOLHA DO NORTE DO PARANÁ (1976) Gessica Aline Silva (UNESPAR – Campus de Campo Mourão) A presente proposta visa investigar as representações acerca da sexualidade e do matrimônio veiculadas nas páginas do jornal Folha do Norte do Paraná, no ano de 1976. Para atingir esse objetivo, procura-se identificar discursos, comportamentos e conselhos que buscam naturalizar determinados modelos de ação e uniões matrimoniais. A partir da leitura e tabulação das edições do jornal, identificamos os editoriais, notícias, imagens, entre outros, que discutem os problemas familiares, bem como as relações sexuais. O Jornal circulou entre 1960 e 1970 em boa parte da região norte do Paraná e, mesmo sendo considerado laico – e com isso tendo características comerciais –, o periódico manteve durante todo seu período de circulação vínculos com a Igreja Católica da diocese de Maringá. A pesquisa está inserida em contexto marcado pela pós-comemoração do Ano Internacional da Mulher (1975), discussões sobre a aprovação da lei do divórcio no Brasil e a inserção, cada vez maior, da mulher no espaço público. Em geral, percebe-se nas matérias publicadas a construção de representações de uma sexualidade heteronormativa restrita à procriação – 265 problematizando assim a possibilidade e adoção de métodos contraceptivos – e ao casamento, considerado um sacramento universal e indissolúvel. Palavras-chave: Sexualidade; Jornal; Catolicismo. Agência financiadora: CNPq. BIOGRAFIA(S) DE MULHER(ES) GUERREIRAS(S) NO BRASIL (XVI-XIX) Janaina Sepanhaki Opuchkevich (UEPG) Na história, nota-se a atribuição ao masculino no espaço das armas. Somente estudos recentes preocupam-se em desconstruir esse estigma masculinizado do campo de batalha, mostrando de fato que mulheres pegaram em armas. No âmbito de gênero, há uma análise sobre práticas, símbolos e leis pertencentes as instituições armadas. Diante dessa perspectiva, observa-se que mulheres deixam de ocupar cargos construídos ao feminino, como por exemplo, cozinhar, lavar, cuidar dos feridos, e passam a executar funções masculinas para muitas vezes se defenderem, ou até mesmo movidas pelo desejo de guerrear. A utilização da biografia como fonte permite problematizar a forma como os autores viam essas mulheres guerreiras.O objetivo do presente trabalho é apontar biografias de mulheres que lutaram de fato nos conflitos armados no Brasil durante os séculos XVI e XIX. Com auxílio de teses desenvolvidas e livros voltados a biografias foi possível criar um arquivo com informações dessas mulheres. Os modelos de feminilidades pautados pelos autores das biografias sofrerem uma avaliação sob a perspectiva do método de análise de conteúdo de Bardin. Como resultado esperado da pesquisa de iniciação cientifica, revelou-se diversos nomes de mulheres presentes em variados conflitos no Brasil, quebrando com o estigma de um espaço somente dominado pelo masculino. Na análise, em relação como os autores construiram as biografias, o modelo mais percebido foi de atribuir questões maternais a essas mulheres, como por exemplo, matrimônios, questões de filhos, lar. Palavras-chave: Biografia; Mulheres Guerreiras; Feminilidades; Genêro. Agência financiadora: Fundação Araucária. A PARTICIPAÇÃO POPULAR NA REVOLUÇÃO MEXICANA ATRAVÉS DAOBRA DE JOSÉ CLEMENTE OROZCO: OS MURAIS LA DESPEDIDA, LA FAMILIA E MUJERES (1926) Danielle Thais Vital Gonçalves (UEM) Este texto expõe resultados parciais de uma pesquisa de iniciação científica ainda em desenvolvimento sobre a obra do pintor mexicano José Clemente Orozco. Analisamos os murais La despedida, La familia e Mujeres, que foram pintados em 1926 nas paredes do pátio da Escola Nacional Preparatória, na Cidade do México, como parte de uma série de murais em alusão ao período da guerra civil da Revolução Mexicana, a década de 1910. Buscamos mostrar que a experiência de vida do pintor, descrita em sua Autobiografia, ajuda a entender suas representações visuais enquanto realistas, já que ele encontrava-se no México na época da guerra civil e participou indiretamente da 266 mesma, ajudando principalmente a cuidar dos feridos. Assim, analisamos os murais paralelamente com autobiografia com o objetivo de demonstrar que a obra de Orozco, que geralmente é vista como pessimista e sombria, pode revelar uma faceta mais positiva e até mesmo romântica, quando observamos suas representações da participação popular na Revolução. O objetivo principal é analisar a representação do “popular”, vinculado ao tema da Revolução Mexicana, nos três murais tomados como fonte. Para realizar essa análise, tomamos como base a metodologia da História Visual, conforme proposta pelo historiador Ulpiano Bezerra de Meneses, e no que tange à análise dos murais, pensamos a produção dessas pinturas por Orozco como um artista-intelectual, que divulgava suas convicções estéticas e políticas através da expressão artística muralista. Palavras-chave: José Clemente Orozco; Muralismo; Revolução Mexicana; História Visual. HISTÓRIA E MEDO: O PLANETA DOS MACACOS (1968) Carlos Alberto Plath Junior (UEM) A comunicação objetiva apresentar o Projeto de Iniciação Científica “O medo enquanto objeto da História: um estudo a partir de O Planeta dos Macacos (1968)”. A proposta do mesmo consiste em realizar uma discussão teórica sobre o medo enquanto objeto da História e mapear as representações do medo presentes na narrativa fílmica O Planeta dos Macacos (1968). Com o contexto fílmico situado no futuro, no ano de 3978, permite refletir sobre dois aspectos que tem se tornado temas de interesse da História: cinema e ficção científica. Entendidas, pela História Cultural como formas de “representações coletivas”, constituem-se como objeto de estudo, na medida em que permitem identificar o modo como em diferentes lugares e momentos uma determinada realidade social é construída, pensada e dada a ler. (CHARTIER, 1990). Nesse sentido, podemos indagar qual realidade a trama cinematográfica pretende construir, mas do que isto, ao trabalhar como ideia de futuro e fim do mundo, qual “paisagem do medo” (TUAN, 2005) é projeto no momento de produção do filme, sobre as formas de destruição e extermínio da raça humana. Articulados desta maneira, Cinema e Ficção Cientifica tornam-se fontes históricas que nos permitem mapear as “representações” do medo e torna-lo objeto da História. Palavras-chave: História das crenças; Medo; Extermínio da Raça Humana. A HISTÓRIA DA ÁFRICA ATRAVÉS DO CINEMA David Teodoro Ohashi Lopes (UEM) Dionas Pavanello (UEM) O presente trabalho tem como objetivo apresentar as atividades que estamos realizando em sala de aula através de uma mostra de cinema sobre História da África. Esta atividade faz parte do PIBID. Através da mostra de cinema, apresentamos para os alunos de ensino fundamental e médio do Colégio Estadual Geremias Lunardelli situado na cidade de Lunardelli, alguns filmes 267 sobre a História da África, visando contribuir na reflexão sobre aquele continente. Com a linguagem cinematográfica é possível explorar as mais variadas formas de interpretações no âmbito político, social, econômico, religioso e cultural. Com isso esperamos não só auxiliar os alunos no processo de ensino/aprendizagem, bem como contribuir com a diminuição da evasão escolar, ao mesmo tempo que aproximamos os alunos de uma temática fundamental, que é a história da África. Palavras-chave: Cinema em sala de aula; História da África; Ensino; Pibid. Agência financiadora: PIBID/CAPES MIGUEL BAKUN E OS DISCURSOS SOBRE A MODERNIZAÇÃO DE CURITIBA (PARANÁ). Edilza Maria de Lima (UEM) Essa reflexão resulta do desenvolvimento de uma pesquisa de Iniciação Científica (PIC), realizada na Universidade Estadual de Maringá, sob a orientação da Profa. Dra. Sandra C. A. Pelegrini, e que versa sobre as conexões entre os temas abordados pelo pintor paranaense Miguel Bakun (1909-1963) e a retórica dos “discursos” políticos “progressistas” vigentes nas décadas de 1930 e 1950, em especial na capital do Estado do Paraná, em Curitiba (Brasil). Nosso objetivo é demonstrar, por meio das telas do artista, representações da opulência da elite rural que vivia nos arrabaldes da cidade nesse período. Para tanto, procuramos fundamentar nossa análise nos pressupostos da Escola dos Annales, da História Cultural e da Semiótica – ciência que estuda os signos e seus significados, e também, nos auxilia a decodificar as composições pictóricas. Utilizamos as pinturas como fonte na pesquisa histórica, pois entendemos que sua importância vai além da ilustração. Palavras-chave: Arte e História; Pintura Paranaense; Cultura e Poder. AS ARTES DE NUTRIR EM O BEBÊ DE ROSEMARY Rafaela Arienti Barbieri (UEM) Objetiva-se nesse trabalho tecer uma análise que compreenda o filme O bebê de Rosemary, dirigido por Roman Polanski em 1968, enquanto um documento histórico dotado da possibilidade de mostrar determinados aspectos do contexto histórico da década de 1960 nos Estados Unidos. Parte-se aqui dos conceitos estratégia e tática articulados por (CERTEAU, 1994) procurando notar como são evidenciados no filme os hábitos alimentares de determinados personagens, como Minnie (Ruth Gordon) e Roman (Sidney Blackmer) Castevet, e ainda Rosemary (Mia Farrow) e Guy (John Cassavetes). Nesse sentido, utiliza-se como base as análises de (GIARD, 1996) sobre o que denominou enquanto artes de nutrir em função de uma melhor problematização da narrativa e práticas identificadas no filme. Cabe enfatizar que tais hábitos alimentares e as práticas chamadas táticas estão, por muito, inseridas no ambiente cotidiano de tais personagens, o qual gira em torno de seus vizinhos 268 e marido, o que permite a pensar a partir de (CERTEAU, 1996) e (GIARD, 1996) e (MAYOL, 1996) questões relativas ao ambiente do bairro e demais locais públicos e privados percebidos na narrativa. Palavras-chave: Cinema; história; cotidiano Agência financiadora: CNPQ O FILME “O JUDEU ETERNO” DE 1940 E A LINGUAGEM E PROPAGANDA NAZISTA Raquel de Medeiros Deliberador (UEL) Em um mundo em que o dinamismo está presente nas mais diferentes formas de comunicação; a mídia, cada vez mais acessível, se expande através de uma saturação de imagens, e propagação de ideias todas carregadas de um discurso, uma intencionalidade, visto serem produzidas ligadas ao seu contexto histórico, social, político e econômico. As inovações técnicas possibilitaram diferentes produções artísticas, as quais, apresentam um alcance cada vez maior, sobretudo às massas. Essas produções não devem ter seu valor subestimado no âmbito da política. Como todo regime político para alcançar o poder, foi necessária uma proposta ideológica que gerasse e atendesse aos anseios da população. Os regimes totalitários, como o Nazismo, se utilizaram da propaganda para difundir amplamente seus ideias através de literaturas, panfletos, cartazes, charges, imagens e filmes. A partir de considerações acerca dos estudos sobre a linguagem e as representações, e da imagem e do cinema como fonte histórica, este subprojeto de iniciação científica se propõe a aprofundar os conhecimentos acerca da linguagem e propaganda nazista para poder refletir sobre como a produção cinematográfica em específico o filme com estrutura documental “O Judeu Eterno” de 1940, do diretor Fritz Hippler foi parte de uma estratégia de propaganda da ideologia antissemita do partido nazista. Palavras-chave: Nazismo; Propaganda; Representação; Cinema. Agência financiadora: CNPQ CONSIDERAÇÕES SOBRE O CINEMA E A ANÁLISE FÍLMICA NO CAMPO DA HISTÓRIA Rebecca Carolline Moraes da Silva (UEL) O historiador tem uma grande gama de fontes passíveis de serem analisadas. Por muito tempo os filmes ficaram de fora desta categoria, pois não eram considerados à altura dos documentos históricos (oficiais, positivados). Com a abertura da História para novos olhares, por meio da revolução documental, os filmes puderam entrar no arsenal de fontes históricas dos historiadores, podendo ser chamado, conforme a proposta de Jacques Le Goff (1996), monumentalizador do passado. A partir de uma revisão bibliográfica, que passa pelas ideias de Marc Ferro (1975; 2010) a Marcos Napolitano (2011), estudiosos emblemáticos dessa área, este trabalho objetiva abordar a utilização dos filmes como documentos históricos, os entraves de sua alocação 269 como fonte dos historiadores, levando em conta, também, alguns aspectos da análise fílmica. Também é observado o caráter educativo deste tipo de fonte, como formador de conhecimentos de base, o que influencia diretamente na maneira de lidar com sua análise historiográfica. Ou seja, ao proceder uma análise fílmica, o historiador deve atentar-se a o que a historiografia diz sobre o passado e como determinado filme diz isto, para, assim, verificar o que o espectador comum absorve desta fonte, pois ela funciona, intencionalmente ou não, como formadora de conhecimento histórico. Por fim, conforme sugere o autor Pierre Sorlin (apud NAPOLITANO), uma análise fílmica no campo da História deve observar como o filme representa determinada sociedade, com suas hierarquias e conflitos, e também qual o apelo ao espectador, ou seja, qual reação o filme provoca em que o vê. Palavras-chave: Cinema; fontes históricas; análise fílmica. DA CORRELAÇÃO ENTRE A INTERPRETAÇÃO DAS FONTES E OS FUNDAMENTOS METODOLÓGICOS DE ANÁLISE. Bárbara Valente de Deus Duarte (UEM Esta pesquisa do campo das teorias da história visa relacionar a escolha e a interpretação das fontes com os seus referenciais metodológicos. O ponto de partida é analisar a diferenciação dos pesos e das prioridades que distintas escolas de pensamento atribuem às fontes de pesquisa histórica. Em suma, trata-se então de um exame das vertentes historicista e austríaca, focalizando alguns dos seus principais expoentes teóricos, os seus elementos metodológicos de análise, o nexo existente entre eles e o tratamento teórico dado às fontes de pesquisa. Seguindo o referencial convencional para estudos do tipo essencialmente qualitativo, esse trabalho se dividiu em duas fases, sendo a primeira focada substancialmente na análise e interpretação de cada uma das escola e a segunda uma ponderação e contraposição das duas correntes caracterizando e diferenciando o modo como propõem o uso das fontes de pesquisa. Comparando-as, concluiu-se que enquanto os Historicistas priorizam fontes tais como documentos oficiais, fatos e datas inserindo o objeto de estudo em um dado local histórico, os Austríacos oferecem uma abordagem priorizando a história das ideias. Esta seria para eles a fonte essencial para entender as conexões entre as relações de indivíduos e instituições no contexto do individualismo metodológico subjetivista. Palavras-chave: Teorias da História; Historiografia; Fontes de Pesquisa História; Historicismo; Escola Austríaca. A HISTORIOGRAFIA SOBRE O ESPAÇO PARANAENSE PRODUZIDA POR PESQUISADORES DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA Taiane Vanessa da Silva (UEL) O presente texto tem o propósito de expor resultados do subprojeto integrado ao projeto “A historiografia no Paraná (1970-2012) - os historiadores, seus lugares e suas regiões”. As pesquisas têm como foco a análise da historiografia 270 produzida pós década de 1970 nas universidades paranaenses ligadas à temática da “História Regional”. Como ponto central tem-se o “lugar social” – no qual o conhecimento histórico é disseminado – da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e, por conseguinte, a análise de obras de pesquisadores deste ambiente, que as produziram neste “lugar social” ou em outros, concernentes a “História do Paraná”. Acerca do procedimento metodológico, utilizamos a análise de produção bibliográfica ou acadêmica, proposta por François Hartog, tendo como fontes de análise prefácios e outras formas de apresentação da obra. O embasamento teórico se pauta no conceito de “regime de historicidade”, discutido pelo mesmo autor, que colabora para a percepção de influências que o tempo e o “lugar social” operam sobre o autor na elaboração de seu trabalho. Em linhas gerais, com a análise das obras escolhidas, pretendemos mostrar: a relação dos historiadores com seu próprio contexto, os quais buscaram titulações de mestrado e doutorado, por exemplo, em programas de pós-graduação, e as influências do ambiente no qual o conhecimento histórico foi produzido. Palavras-chave: Historiografia paranaense; universidade; espacialidades; temporalidades. O PARTIDO DOS TRABALHADORES DE SANTA HELENA-PR: O USO DE ENTIDADES COLETIVAS COMO INSERÇÃO POLÍTICA Diná Schmidt (UNIOESTE/UNICENTRO) Este trabalho tem por objetivo analisar como militantes do Partido dos Trabalhadores do município de Santa Helena-PR utilizaram, ao logo da década de 1990, caminhos alternativos ao seu partido político para colocar em prática projetos sociais e políticos que não eram factíveis, por meio do partido, em função de sua dificuldade de inserção nos meios executivo e legislativo do espectro político daquele município. Para este fim abordarei a Academia Cultural de Santa Helena (ACULT), a Rádio Comunitária Liberdade, mantidas e administradas pela primeira, e a AMPAS, Associação Municipal dos Pequenos Agricultores de Santa Helena. Embora essas entidades não tenham sido de atuação exclusiva de membros do Partido dos Trabalhadores, elas se configuraram como espaços importantes de inserção social e política, tanto individualmente, como para o partido. Esta abordagem é feita a partir de narrativas orais, produzidas por mim, e documentos produzidos por estas entidades, como atas, relatórios e materiais de divulgação. O suporte teórico e metodológico utilizado para a produção da pesquisa vem do diálogo com referências acadêmicas que propiciam a reflexão sobre a experiência da militância política, as relações entre narrativa e memória, e ainda bibliografia que ampara a historicização do Partido dos Trabalhadores (THOMPSON, ARFUCH, MENEGUELLO e etc.). Palavras-chave: Partido dos Trabalhadores; experiência; narrativa; memória. Agência financiadora: CNPq. 271 A PRÁTICA DA REPRESENTAÇÃO DO COMITENTE NA IMAGEM RELIGIOSA: O CASO DO CRUCIFIXO DE GIUNTA PISANO André Luiz Marcondes Pelegrinelli (UEL) Frei Elias, ministro-geral da Ordem dos Frades Menores entre os anos 1233 e 1239 fez-se representar em uma imagem, prática corrente na imagética medieval. O “grande crucifixo” de Giunta Pisano produzido em 1236 para a Basílica de São Francisco, Assis, trazia aos pés de Cristo a imagem do frade que anos depois seria deposto do cargo pela oposição de numerosos frades e do papado. Essa imagem alcançou tamanho prestígio e reconhecimento que se tornou modelo para um grande número de cruzes que se alastraram pelas igrejas italianas do baixo medievo (NESSI: 1994, 207), e contribuiu para a construção de uma tradição iconográfica franciscana. Acontece que essa imagem se perdeu, provavelmente destruída, no século XVII. Como estudar uma imagem que foi perdida? Escritos, como os de Ângela de Foligno, século XIII; Giuseppe Rotondi , século XVII e do Frei Francesco Maria Angeli, século XVIII, fazem referência ao crucifixo de Giunta. Além destes relatos, as mais importantes referências a obra de Giunta são outros crucifixos, afinal, as imagens se citam: esse crucifixo possui uma imagem próxima, produzida pelo mesmo artista, para a Igreja de Santa Maria degli Angeli; um outro, perugino, produzida pelo “Mestre de São Francisco” também recebeu influência do protótipo de Giunta; ainda outro, produzida pelo “Mestre de Santa Clara”, para a Basílica de Santa Clara, Assis, fazem referência ao crucifixo aqui estudado. Palavras-chave: Giunta Pisano; Frei Elias; Crucifixo. A INQUISIÇÃO E A SUA INFLUÊNCIA NA SOCIEDADE LUSITANA DOS SÉCULOS XVI E XVII Andreza da Silva (UEM) O trabalho analisa a Inquisição Portuguesa, instituída em 1536 por D. João III. O estabelecimento da Inquisição em Portugal decorre de acontecimentos externos e internos ao Reino de Portugal. Nosso objetivo foi compreender o que ocorria dentro dos estabelecimentos da Inquisição. Quais eram os procedimentos, como se chegava as acusações, os métodos de obtenção de “provas” e as confissões. Com base no documento “Notícias Recônditas sobre o modo de Proceder a Inquisição de Portugal com seus presos”, em textos contemporâneos à Inquisição e na historiografia, podemos observar que grande parte das acusações que levavam as pessoas a serem acusadas, presas, julgadas e condenadas não tinham fundamento. Eram, frutos de um sistema opressor que, ao longo do processo obrigava aquele que estava sendo processado a acrescentar novas transgressões à aquela que dará origem ao processo e a denunciar outros “hereges”. Mesmo após cumprirem suas penas, os sentenciados continuavam a ser estigmatizados e sofrendo as consequências de terem passado pelos cárceres da “Fortaleza do Rossio”. Palavras-chave: Cárcere; Cristãos-novos; Ideologia; Inquisição. 272 A HISTÓRIA DA MAÇONARIA EM GOIOERÊ: SIMBOLOGIAS, CRENÇAS, VALORES E INTERAÇÕES SOCIAIS. Eduardo Ferreira Evangelista (UNICESUMAR) Esse trabalho tem como objetivo apresentar a proposta de pesquisa que estamos desenvolvendo em forma de Projeto de Iniciação Científica, cujo desígnio é analisar o papel dos maçons na sociedade, revisitando as suas origens e se voltando para a construção e instalação da maçonaria na cidade de Goioerê. Nesse contexto, abordaremos uma visão holística referente às memorias dessa instituição. Procuraremos primeiro analisar o surgimento da maçonaria planetária e sua disseminação no território brasileiro, pautando-se no entendimento de suas simbologias, crenças, valores e interações sociais. Em um segundo plano buscaremos fazer um levantamento de figuras importantes na história brasileira, que eram integrantes da maçonaria e enfatizaremos suas contribuições no ambiente político, econômico e social, de maneira que possibilite uma compreensão dessa instituição. Por último, nos voltaremos a construção e instalação maçonaria em Goioerê, analisando suas relações, postura social e ações desenvolvidas no município. O conjunto do presente trabalho pretende utilizar-se de revisão bibliográfica acerca do tema proposto, bem como as contribuições de autores no meio acadêmico, oportunizando uma reflexão sobre o papel desenvolvido pelo maçom na sociedade, desejando assim compreender os estereótipos sociais relacionados aos membros das instituições maçônicas, formados por meio de paradigmas, fundamentados em crenças que criam no imaginário popular, um ambiente de ocultismos e magia. Palavras-chave: Maçonaria, Maçom, Sociedade Agência financiadora: Banco do Brasil. DO ORIXÁ AO SANTO: UMA ABORDAGEM DO PRÉ CONCEITO E DO SINCRETISMO RELIGIOSO EM SALA DE AULA. Emeline Calloi Palosi (UEM) Mariana Rodrigues da Silva (UEM) Sirlei Maria Siofre (UEM) A presente comunicação visa discutir e analisar a metodologia de trabalho utilizada em uma atividade desenvolvida com uma turma de 7º ano do ensino fundamental do Colégio Estadual Alfredo Moisés Maluf por meio do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação a Docência (PIBID) do curso de História (sede) da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Tal atividade apresentou um duplo objetivo: o de desconstruir o misticismo criado em torno das religiões de matriz afro realizando com os alunos um retorno histórico que fornecesse uma melhor compreensão das origens deste fenômeno religioso bem como suas modificações ao longo do tempo e o de possibilitar o entendimento dos elementos que levaram a necessidade do sincretismo religioso, destacando como tema principal os pontos em comum entre o orixá e o santo sincretizado, simbologia comum de algumas religiões afro-brasileiras. A discussão da metodologia se realiza a partir das observações da professora e das pibidianas 273 responsáveis pela aplicação da atividade. O trabalho leva em conta a reação, participação e o comportamento dos alunos do momento inicial da apresentação da proposta de trabalho até a produção final da atividade, destinada a exposição cultural da semana da consciência negra realizada no colégio, para toda a comunidade, em novembro de 2014. Palavras-chave: Sincretismo religioso; PIBID; Orixá; Santo. CONSIDERAÇÕES SOBRE PRESENÇA DO HALLEL EM MARINGÁ – PR (1995-2015) Mariane Rosa Emerenciano da Silva (UEM) A presente comunicação está vinculada ao Projeto de Iniciação Científica intitulado “A presença do Hallel em Maringá – Pr (1995-2015)” cuja problemática consiste em compreender a relação entre os movimentos leigos e a Igreja Católica pós Concilio Ecumênico do Vaticano II; analisar o contexto de surgimento do Hallel em Maringá, sendo realizado sua primeira edição no dia 30 de julho de 1995, organizado por um movimento de leigos da Igreja Católica o Projeto Mais Vida; contribuir ao estudo da história do catolicismo de Maringá e observar a repercussão do evento por meio das fontes periódicas, assim como observar por meio da pesquisa, a construção do movimento leigo e de seu papel na história da religião Católica de Maringá. As fontes utilizadas referem-se ao jornal impresso O Diário do Norte do Paraná. Os aportes teóricos iniciais da pesquisa são Jacques Le Goff (2013) e a discussão acerca dos documentos/monumentos, Roger Chartier (1991) e a noção de “representação” e Tania Regina de Luca (2008), por meio de suas reflexões sobre o trato metodológico para com jornais. Palavras-chave: Hallel; Catolicismo; Maringá; jornais. Agência financiadora: CNPQ O SURGIMENTO DO SAGRADO COM A FIGURA DO MONGE JOÃO MARIA DE JESUS Rodrigo Correia Barboza (UEM) Thiago Caetano Custódio (UEM) Nesse artigo, analisamos o universo das crenças e religiosidades presentes em Faxinal-PR observando o contexto da Guerra do Contestado identificamos o Monge João Maria um religioso que contribui gradativamente para a sociedade e a cultura paranaense, nos concentramos em analisar a presença do sagrado na figura religiosa do Monge manifestada em uma capelinha desta cidade. A lenda diz que ele passava pelos lugares falando de Deus muitas pessoas o acompanhavam, nessa pesquisa vamos identificar o contexto em que o Monge apareceu, seus milagres, o culto sua diferença com o catolicismo ortodoxo. O foco geral foi ver qual o papel que o monge exercia na cultura dessa cidade, para isso utilizamos o historiador francês Roger Chartier, da qual identificamos um conceito importante para seguir na pesquisa. A representação cultural proposta por Chartier fez com que percebemos o papel do Monge João Maria 274 na cultura local a partir disso a representação da crença por meio da fé na capelinha construída para homenagear o Monge. Diante esse campo presenciamos fatos e relatos que nos remetem aos milagres Para realizamos essa análise prosseguimos com o referencial teórico direcionado na proposta de representação de sagrado e profano proposta pelo historiador Mircea Eliade, o historiador Renato Mocellin possibilitou o nosso estudo nos aspectos da Guerra do Contestado da qual identificamos, o papel do Monge João Maria na sociedade da época. O historiador Ruy Christovam Wachowicz sintetiza fatores econômicos e sociais da história do Paraná, pois com estes esclarecimentos podemos compreender importância da figura religiosa neste contexto. Palavras-chave: Monge; sagrado; cultura. A SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRA: VANTAGENS E DESVANTAGENS PARA EMPRESAS OPTANTES PELO SIMPLES NACIONAL Benedito Alberto da Silva ( UNESPAR-Apucarana) Yandra Cristine Maciel Bezerra (UNESPAR-Apucarana) Bruno Barros de Lima ( UNESPAR-Apucarana) Paulo Cruz Correia ( UNESPAR-Apucarana) A redução da atividade econômica, por força da crise internacional desde 2008, envolve atualmente a retração do crescimento econômico e dos investimentos empresariais brasileiros. Diante disso, novas modalidades de pagamentos de tributos estão sendo lançados pelo governo brasileiro. O presente artigo busca analisar o impacto do ICMS – pago pelas empresas optantes pelo Simples Nacional, em relação às vantagens e desvantagens principalmente para as micro e pequenas empresas. A metodologia utilizada é a da pesquisa bibliográfica, através de recentes fontes, como artigos, livros, revista e sites e pesquisa documental; e, por observatório em escritório da área contábil. O imposto ICMS é medido pelo valor estimado das indústrias em todas as cadeias, quando estas operam os produtos enquadrados pelo regime de substituição tributária. Se a nova adesão ao simples permite às empresas simplificarem o modo de recolhimento, por outro lado, através deste estudo, foi possível indicar a contrariedade prevista na Lei Complementar 123 de 2006; que trata do estatuto da microempresa demonstrando a controvérsia, através de cálculo nas operações de compras e vendas destas empresas; e, ainda foi possível verificar que as referidas empresas não possuem tratamento diferenciado, quando operam produtos nas cadeias do ICMS; apontando dificuldades para que essas empresas mantenham-se no mercado. Além disso, elas deixam o direito de crédito desse imposto previsto na Constituição Federal. Palavras-chave: Substituição Tributária; Imposto; e, Simples Nacional. 275 MEMÓRIA, TRADIÇÃO E COSTUME DOS KAINGANG DA T.I. IVAÍ (PR): DOCUMENTAÇÃO E ETNOGRAFIA Tatiane Ananias Fernandes Freitas Bolsista (UEM) As sociedades tradicionais frequentemente são tratadas como submetidas (e submissas) às dominações, e continuam sendo consideradas como sociedades do consentimento e da passividade. Buscando evitar o reducionismo, a polarização e a simplificação das relações entre a população indígena Kaingang do Ivaí e a população não indígena, mas evidenciar sua complexidade, essa pesquisa segue ancorada nos estudos antropológicos e etno-históricos, que buscam evidenciar a atuação dessa população etnicamente diferenciada na manutenção dos seus modos de vida tradicionais, mediante processos que se desenvolvem na dinâmica da realidade cotidiana, sendo socialmente construídos. Dentro da perspectiva de estudar a relação entre memória, tradição e costume dos Kaingang da Terra Indígena Ivaí, este recorte pretende contribuir com os estudos documentais e etnográficos, a partir da metodologia da história oral. Sob uma abordagem historiográfica que considera e valoriza o protagonismo indígena, esse estudo procura compreender a lógica própria da cultura Kaingang e os modos pelos quais essa comunidade foi capaz de empreender uma resistência que, mesmo diante das perdas irreparáveis, do ponto de vista cultural, que o contato com os não indígenas e sua cultura diferente acarretou, mantêm vivas as suas histórias, tradições, mitos, ritos, memórias e costumes nas práticas cotidianas, e que, na busca por sua existência e continuidade, transitam a alteram convenientemente, individual ou coletivamente, as categorias de mudança e permanência/ruptura e continuidade. Palavras-chave: Kaingang; resistência; tradição; modernidade; história oral. 276