Recolhedores Sem Fronteiras de Materiais Recicláveis
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Recolhedores Sem Fronteiras de Materiais Recicláveis
Asociación de Recicladores de Bogota Recolhedores Sem Fronteiras de Materiais Recicláveis 1ª Conferência Mundial e 3ª Conferência da América Latina dos Recolhedores de Materiais Recicláveis Asociación Nacional de Recicladores Bogotá, Colômbia 1 - 4 de Março 2008 Relatório do Protocolo da Conferência Red Latino Americana ÍNDICE Introdução................................................................................................. 4 Objectivos da Conferência......................................................................... 4 Comissão Directiva Internacional............................................................... 5 Apoio Financeiro........................................................................................ 5 Presente Relatório...................................................................................... 5 Sumário Executivo................................................................................... 6 Declarações.............................................................................................. 9 Declaração Global da 1ª Conferência Mundial de Recolhedores de Materiais Recicláveis............................................................................. 9 Declaração da 3ª Conferência Regional de Recolhedores de Materiais Recicláveis da América Latina............................................... 9 Protocolo da Conferência...................................................................... 11 Primeiro Dia: Comemoração do Dia Nacional de Recolhedores de Materiais Recicláveis na Colômbia................... 11 Inauguração............................................................................................. 11 Comemoração.......................................................................................... 15 Prémios.................................................................................................... 16 Resumo Geral a Nível Internacional: Apresentações............................... 16 Martin Medina, Resumo Geral das Actividades dos Recolhedores de Materiais Recicláveis a Nível Mundial....... 16 Dr. Gunther Weherpohl, Deutsche Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit (GTZ), O Impacto Económico do Sector Informal na Gestão de Resíduos Sólidos..................... 17 Painel: Estado, Sector Empresarial e os Recolhedores de Materiais Recicláveis na Gestão de Resíduos Sólidos................................................... 17 Cecilia Rodriguez, anterior Ministra do Ambiente da Colômbia, Considerações para um Modelo Político Sustentável a Nível Social, Ambiental e Financeiro na Gestão de Resíduos Sólidos.. 17 Luzia Hilda e Maria Mónica da Silva, Vida Limpa (Clean Life), Modelo Diadema, São Paulo, Brasil, Integração dos Recolhedores de Materiais Recicláveis no Sistema Público de GRS ................ 17 Jorge Pablo Seghezzo, Modelo Municipalidade de Rosário, Argentina ..................................................................................... 18 Pedro Villares, Natura, Desafios da Responsabilidade Social das Empresas na Promoção da Inclusão Social................................. 18 Conclusões do Dia................................................................................... 19 Bernardo Toro, Conselheiro, Fundação Avina, O Recolhedor de Materiais Recicláveis: a professionalização no Século XXI.... 19 Segundo Dia: Partilha de Experiências................................................ 20 Saudação por Parte da Comissão Directiva............................................ 20 2 Experiências de Organização: Apresentações Chave............................. 20 Severino Lima e Eduardo Ferreira de Paula, MNCR, Brasil........ 20 Laxmi Narayan, KKPKP, India...................................................... 21 Assuntos Importantes Relativos aos Recolhedores de Materiais Recicláveis: Sessões Paralelas............................................................... 22 Experiências de Organização dos Recolhedores de Materiais Recicláveis Informais............................................... 22 Cadeia de Valor/Productividade no Sector Informa - Cadeia de Reciclagem............................................................... 24 Tendências Técnicas de Privatização e as Respectivas Implicações para os Recolhedores de Materiais Recicláveis....... 25 Responsabilidade Social das Empresas e Alianças Estratégicas.28 Sistema Público de Recolha de Materiais Recicláveis e os Recolhedores de Materiais Recicláveis........................................ 31 Painel: Políticas Públicas: Perspectivas Económicas, Socias e de Género.................................................................................. 34 Carlos Julio Ramirez, Comissão Nacional de Reciclagem, Colômbia............................................................. 34 Terceiro Dia: Criação de Redes de Apoio............................................ 35 Painel: Integração de Esforços nas Redes Globais................................. 35 Roberto Laureano, Rede Local, Catasampa, Brasil..................... 35 Pat Horn, Rede Global, StreetNet Internacional........................... 35 Sessões Paralelas: Grupos Regionais..................................................... 37 Plenário da Conferência........................................................................... 37 Dr. Liu Kaiming, Instituto de Observação Contemporânea, Assuntos Laborais e Recolhedores de Materiais Recicláveis na China ...................................................................................... 37 Ana Luzia Florisbela dos Santos, Diferenças entre Homens e Mulheres na Gestão de Resíduos Sólidos.................................. 38 Óscar Espinoza, IPES, Avaliação do Sector Local de Reciclagem Utilizando o Equilíbrio de Materiais..................... 38 Manali Shah, SEWA, Redes Regionais: O Exemplo da HomeNet no Sul da Ásia............................................................................... 38 Conclusões Apresentadas ao Plenário pelos Grupos Regionais............. 39 Asia............................................................................................... 39 América Latina . ........................................................................... 41 África e Europa............................................................................. 45 Declarações e Fecho............................................................................... 47 Lista de Participantes............................................................................ 48 Todas as fotografias são da autoria de Marty Chen, Leslie Tuttle, Lucía Fernández, ARB (Associção de Recolhedores de Materiais Recicláveis de Bogotá) [ARB Association of Waste Pickers of Bogota] e de Chris Bonner. 3 INTRODUÇÃO A presente Conferência resultou de um esforço conjunto por parte de organizações de recolhedores de materiais recicláveis e seus apoiantes de vários países. Reuniu dois eventos programados: a 3ª Conferência da América Latina dos Recolhedores de Materiais Recicláveis, organizada pela Rede de Recolhedores de Materiais Recicláveis da América Latina e apoiada pela Fundação AVINA, e a 1ª Conferência Mundial de Recolhedores de Materiais Recicláveis, por iniciativa da WIEGO - Mulheres em Trabalho Informal: Globalização e Organização (Women in Informal Employment: Globalizing and Organizing). ‘‘ O pão de cada dia está na origem da nossa luta, dá-nos a força para não ficarmos nas nossas casas, construídas de madeira ou de latão, mas, pelo contrário, para sairmos para o trabalho. O cidadão comum não compreende, mas a nossa é uma luta diária, uma luta que se ’’ trava nas ruas, e nas lixeiras. Exequiel Estay, Secretário da Rede de Recolhedores de Materiais Recicláveis da América Latina. A Conferência foi organizada por uma Comissão Directiva Internacional constituída por catorze membros vindos de nove países (ver abaixo). Os anfitriões da Conferência foram a Associação de Recolhedores de Materiais Recicláveis de Bogotá (ARB) (Association of Wastepickers of Bogota) e a comissão organizadora local, que desempenharam um papel fundamental em todos os aspectos da organização práctica, na elaboração do programa e na gestão do orçamento. Objectivos da Conferência Os objectivos da conferência eram o reforço da organização e o estreitamento dos laços entre os recolhedores de materiais recicláveis informais a nível global, em especial as mulheres, com o propósito de: • tornar visível o seu contributo, enquanto trabalhadores, para a protecção do ambiente, saúde, e economia e para o sistema municipal formal de gestão de resíduos sólidos; • assegurar a sua participação efectiva e representação em todos os fóruns que possam afectar a sua vida profissional e posição social, especialmente: 1. a partilha de experiências entre recolhedores informais de materiais recicláveis vindos de diversos países; 2. o aumento da compreensão e confiança no papel e no contributo dos trabalhadores informais na cadeia da gestão de resíduos sólidos; 3. o desenvolvimento de estratégias e abordagens de desafios comuns a todos, tais como políticas governamentais; 4. o desenvolvimento de estratégias que intensifiquem a organização dos recolhedores de materiais recicláveis na região da América Latina e a nível global; 5. a angariação do eventual apoio de outras organizações, governos, agências internacionais, etc.; 6. a criação e reforço de associações em conjunto com outros activistas e movimentos interessados; 7. o planeamento do caminho a seguir para o desenvolvimento de redes de apoio a nível regional e internacional. 4 Comissão Directiva Internacional A Comissão Directiva foi composta por representantes de diversos países, vindos dos países abaixo mencionados, e pela Coordenadora da Conferência, Lucia Fernandez: • Associação de Recolhedores de Materiais Recicláveis de Bogotá (ARB) da Colômbia (Association of Wastepickers of Bogota) • Associação Nacional de Recolhedores de Materiais Recicláveis da Colômbia (ANR) (National Association of Wastepickers of Colombia) • Rede dos Recolhedores de Materiais Recicláveis da América Latina (Latin American Network of Waste Pickers), com representantes do Brasil, Chile e Colômbia • Sindicato de Recolhedores de Materiais Recicláveis (KKPKP) (Trade Union of Waste-Pickers), India • Mulheres em Trabalho Informal: Globalização e Organização (WIEGO) (Women in Informal Employment: Globalizing and Organizing) do Perú, África do Sul e EUA • Fundação AVINA do Brasil e Colômbia • Grupo de Trabalho Colaborativo de Gestão de Resíduos Sólidos em Países de Baixo e Médio Rendimento (CWG) do Egipto e Brasil Apoio Financeiro Os organizadores da Conferência gostariam de apresentar os seus agradecimentos a todos os que deram um contributo financeiro para a Conferência, incluindo aqueles que financiaram viagens individuais, alojamento ou outras despesas. Em especial gostaríamos de agradecer à Fundação Ford, à Fundação AVINA e à NATURA pelo seu apoio e generosidade. Gostarímos ainda de agradecer a todos aqueles que voluntariamente cederam o seu tempo para planear, organizar e participar nesta Conferência. Presente Relatório Este relatório pretende ser um registo sumário dos eventos da Conferência. Para obter mais informações, ver as fotografias da Conferência e consultar as apresentações na sua totalidade, devem visitar a página na Internet da Conferência em www.recicladores.net ou www.wiego.org. 5 Sumário Executivo Primeira Conferência Mundial e Terceira Conferência da América Latina dos Recolhedores de Materiais Recicláveis A Primeira Conferência Mundial de de Recolhedores de Materiais Recicláveis realizou-se em Bogotá, na Colômbia, de 1 a 4 de Março de 2008. Neste evento, que reuniu participantes vindos da América Latina, Ásia, Europa, América do Norte e África, estiveram representados trinta e quatro países. Entre os participantes encontravam-se recolhedores de resíduos sólidos, mas também representantes de agências de apoio ao desenvolvimento, de organizações não governamentais, e dos sectors privado e oficial. As sessões da Conferência realizaram-se sob diversos formatos como, por exemplo, apresentações ao plenário e debates em pequenos grupos, sobre temas específicos e decorrendo em sessões paralelas e, ainda, trabalhos de grupo, organizados consoante os participantes e as regiões. A Conferência realizou-se principalmente em Espanhol, com traduções simultâneas em Português e em Inglês. ‘‘ Os recolhedores de materiais recicláveis contribuem para a economia e beneficiam o ambiente. No entanto, estão sujeitos à desigualdade social e à discriminação, e são maltratados pelo público em geral e esquecidos pelos gover- ’’ nos, que os consideram inoportunos. Marty Chen, WIEGO Primeiro Dia da Conferência foi a Comemoração do Dia Nacional de Recolhedores de Materiais Recicláveis na Colômbia, onde participaram cerca de 700 pessoas, incluindo participantes de outros países e um grande número de recolhedores vindos de todos os cantos da Colômbia. Neste dia realizaram-se diversas sessões plenárias que deram a conhecer a experiência Colombiana, mas que também situaram a actividade de recolha de materiais recicláveis no contexto mundial. Apresentaram trabalhos as autoridades Colombianas, o Ministro do Ambiente e um anterior juíz do Tribunal Constitucional da Colômbia, tal como representantes de organizações recolhedoras de todo o mundo. Uma apresentação muito interessante foi feita por Adriana Ruiz Restrepo, que deu a conhecer a experiência de recolhedores Colombianos, os quais utilizaram meios legais para defender o seu direito à participação no sistema público de gestão de resíduos sólidos e o seu acesso aos resíduos. Martin Medina, autor de um livro recentemente publicado sobre os recolhedores de todo o mundo, contribuíu com uma apresentação sobre a visão geral da situação da reciclagem e dos recolhedores de materiais recicláveis em todo mundo, partindo das origens da actividade, nos séculos passados, até ao presente. Outras apresentações focaram os aspectos financeiros da actividade informal de recolha de materiais recicláveis, incluindo casos onde foram formadas alianças entre empresas, sob a égide dos princípios da Responsabilidade Social das Empresas (CRS). O dia terminou com a apresentação de Bernardo Toro, conselheiro especial da Fundação AVINA, cuja intervenção seguiu uma 6 metodologia estruturada, para demonstrar ser a profissão de recolhedor umas das mais importantes do século XXI. Segundo Dia deu aos participantes a oportunidade de assistir a uma das cinco sessões temáticas paralelas onde poderiam partilhar experiências. Estas sessões foram precedidas por duas apresentações chave, onde forma descritas duas importantes experiências de organização por parte do Movimento Nacional de Recolhedores de Materiais Recicláveis do Brasil (MNCR - National Movement of Wastepickers of Brazil) e pelo Sindicato de Recolhedores de Materiais Recicláveis de Pune, India (KKPKP - Trade Union of Waste-pickers of Pune). Estas apresentações explicaram as estratégias de organização dos recolhedores nos seus respectivos países, tal como os momentos chave na evolução das suas organizações. Seguiram-se cinco sessões paralelas, durante as quais os participantes compartilharam vivências sobre os seguintes temas: experiências organizativas dos recolhedores, a evolução dos recolhedores na cadeia de valor da reciclagem, oportunidades e riscos das mudanças tecnológicas e da privatização, a responsabilidade social das empresas, e o papel dos recolhedores no sistema público de gestão de resíduos sólidos. Os facilitadores de cada sessão, ambos nomeados pela Comissão Directiva, foram um recolhedor e um técnico apoiante, cujo papel era tomar notas. Foi dada aos participantes de cada sessão uma série de possíveis questões, no sentido de orientar o debate no final das apresentações. As conclusões de cada sessão foram então transmitidas ao plenário. Entre as quais se encontravam os seguintes temas: cadeias de valor que começam com a triagem do materiais recicláveis na sua origem, dando aos recolhedores um papel de relevo na recolha selectiva; alianças com as municipalidades que valorizam a actividade dos recolhedores; o reforço das organizações dos recolhedores; formação em técnicas de reciclagem, de produção de adubo e bio-gás, tal como em técnicas de gestão das organizações; negociação política com as autoridades e a formação de alianças com as comunidades vizinhas e com o sector privado. O dia terminou com uma apresentação sobre as experiências da Comissão Nacional de Reciclagem da Colômbia. Terceiro Dia: Começou por oferecer algumas experiências bem sucedidas de redes de apoio, com uma apresentação por parte de uma rede de apoio local, Catasampa do Brasil, e outra por parte de uma rede global, a rede internacional de vendedores de rua, a StreetNet. Ambas apresentaram pontos de vista pertinentes sobre as dificuldades e as vantagens de reunir esforços e formar redes de apoio. De seguida, os participantes organizaram-se em pequenos grupos, de acordo com as respectivas regiões de origem, para debaterem possibilidades de colaboração em redes no futuro próximo. No final, os participantes vindos 7 da Ásia, América Latina, África e Europa partilharam as conclusões dos seus debates com o plenário. Os recolhedores de cada uma destas regiões nomearam um representante, respectivamente, para formar uma comissão a qual se reuniu e emitiu uma declaração final conjunta sobre a conferência. A Declaração Final da Conferência promoveu a inclusão social e financeira dos recolhedores de materiais recicláveis e o relevo que lhes deve ser dado no sistema de gestão de resíduos sólidos; rejeitou tecnologias de processamento basedas na incineração e aterro, uma vez que estas técnicas são opostas aos costumes da economia do povo; defendeu tecnologias que maximizem a utilização de resíduos sólidos, tal como a produção de adubos; comprometeu-se em manter o contacto entre recolhedores do mundo inteiro para lhe facilitar a troca de tecnologias e de experiências mútuas; e propôs-se rever leis e políticas governamentais para que estas passem a incluir as organizações de recolhedores e a promover a professionalização da actividade. (Esta declaração aparece na próxima seccão deste documento.) Durante os debates regionais, o grupo maior, vindo da América Latina, dividiu-se em duas sessões distintas, uma para recolhedores de materiais recicláveis e outra para o pessoal de apoio técnico. Este último grupo subdividiu-se ainda em quatro grupos compostos por fundações e organizações não lucrativas, pessoal técnico que trabalha em cooperativas de recolhedores, sector privado, e sector público, respectivamente. O grupo composto pelos recolhedores elegeu um representante por cada país (12 no total) para dar continuação ao debate sobre o futuro da Rede de Recolhedores de Materiais Recicláveis da América Latina. A Rede elegeu um novo secretariado, passando este agora a ser dirigido pelo Movimento Nacional de Recolhedores de Materiais Recicláveis do Brasil, e emitiu a sua própria Declaração da 3ª Conferência Regional de Recolhedores de Materiais Recicláveis da América Latina. (A declaração aparece na próxima seccão deste documento.) Quarto Dia: Deu aos participantes a oportunidade de visitar os projectos dos recolhedores de Bogotá. Houve duas possibilidades de visitas guiadas, que incluiram visitas a locais tais como o Centro de Reciclagem de Alqueria, a sede da Associação de Recolhedores de Materiais Recicláveis de Bogotá, a Associação Nacional de Recolhedores de Materiais Recicláveis da Colômbia, a comunidade realojada de recicladores em Pedro León Trabuch e o Centro Colector de El Porvenir. Estas visitas permitiram aos participantes compreender melhor a participação organizada dos recolhedores da Colômbia nas políticas governamentais das suas respectivas cidades, tal como a evolução do movimento organizador dos recolhedores. Realizaram-se ainda várias actividades interessantes fora da sala da Conferência. Havia uma exposição fotográfica de recolhedores de materiais recicláveis de todo o mundo, através dos séculos. Algumas organizações trouxeram ainda amostras dos seus productos fabricados a partir de materiais recicláveis e que se destinam a ser comercializados. 8 Contou-se ainda com a presença de vários grupos culturais que graciaram os participantes com música, canto e dança. Os participantes manifestaram uma sincera gratidão para com os organizadores da Conferência, em especial para com a Associação de Recolhedores de Materiais Recicláveis de Bogotá e a Associação Nacional de Recolhedores de Materiais Recicláveis da Colômbia. Sem a sua liderança, visão e dedicação este encontro não teria sido possível. 9 DECLARAÇÕES I. DECLARAÇÃO GERAL DA 1ª CONFERÊNCIA MUNDIAL DE RECOLHEDORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS ‘‘ Com base na experiência dos recolhedores de materiais recicláveis de Bogotá, os meios legais foram úteis para defender o seu direito ao trabalho quando o sector privado se interessou ’’ por este tipo de negócio, tentando retirar-lhes o acesso aos materiais re- cicláveis, visto ser esta a segunda indústria mais rentável do mundo. Adriana Ruiz Restrepo, Advogada Pro Bono para a ARB Durante a Primeira Conferência Mundial de Recolhedores de Materiais Recicláveis organizações populares de recolhedores e recolhedoras, vindas de todos os cantos do mundo reuniram-se em Bogotá, na Colômbia, de 1 a 4 de Março de 2008, em representação de recolhedores da Ásia, África, Europa e América Latina e, em conjunto com delegados actuando como conselheiros técnicos, organizações de apoio técnico, representantes governamentais, ONG’s, universidades, empresas, micro-empresas, e outros representantes da sociedade civil, fizeram uma declaração ao público, aos governos, às agências de apoio, à sociedade em geral, e ás suas próprias organizações: Declaramos 1. O nosso compromisso para trabalhar em prol da inclusão social e económica da população de recolhedores de materiais recicláveis, promover e fortalecer as suas respectivas organizações, apoiálos no incremento da cadeia de valores, e articulação com os sistemas formais de Gestão de Resíduos Sólidos, que deveriam dar prioridade aos recolhedores e suas organizações. 2. O nosso acordo em rejeitar tecnologias de processamento baseadas em incineração e aterro, exigir e ter como meta a utilização máxima de materiais recicláveis, uma vez que as actividades de reutilização, reciclagem, e produção de adubos representam alternativas económicas populares para os sectores informais e marginalizados da população mundial. 3. O nosso empenho em continuar com a partilha de conhecimentos, experiências e tecnologias, visto que este procedimento irá promover e acelerar o acesso ao maior número possível de recolhedores e suas organizações pelo mundo fora, tornando vísivel as suas condições de vida e de trabalho e o seu contributo para um desenvolvimento sustentável. 4. A nossa resolução de lutar por leis e políticas governamentais mais favoráveis, de modo a que a sua formulação envolva de facto as organizações de recolhedores de materiais recicláveis. Os recolhedores e recolhedoras devem tornar-se protagonistas nos processos de tomada de decisões, na busca de melhores condições para todos, e em actividades que aumentem a sua eficiência e conhecimentos, de modo a que alcancem a profissionalização e o seu trabalho seja reconhecido. 10 II. Declaração da 3ª Conferência REGIONAL de Recolhedores de Materiais Recicláveis da América Latina Em Bogotá, entre os dias 1 e 4 de Março de 2008, os delegados de 15 países da América Latina, a Argentina, Chile, Perú, Brasil, Bolívia, México, Puerto Rico, Costa Rica, Guatemala, Equador, Paraguai, Venezuela, Nicarágua, Haiti, e Colómbia, declaram, enquanto membros de organizações populares de recolhedores de materiais recicláveis, também conhecidos como pepenadores, cartoneros, cirujas, clasificadores, buceadores, guajeros, minadores, catadores, Thawis, barequeros, e inúmeras outras designações, conforme o seu local de origem, assumir os seguintes compromissos, dentro dos parâmetros da Terceira Conferência da América Latina de Recolhedores de Materiais Recicláveis, em relação ao público, governos, comunidades, a sociedade em geral, agências de cooperação e as suas respectivas organizações. 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. Proclaman Promover o reconhecimento global da profissão de recolhedor de materiais recicláveis e suas respectivas organizações, através da criação de fóruns onde o debate seja possível, e desenvolver estratégias que lhes permita terem voz activa nesses mesmo fóruns. Desenvolver acções e estratégias que promovam o reconhecimento das organizações pertencentes à Rede de Recolhedores de Materiais Recicláveis da América Latina e certificar o trabalho e a profissão dos recolhedores e de suas organizações. O nosso empenho em partilhar com e trazer conhecimentos aos recolhedores e suas organizações nacionais, aos grupos locais e aos membros de movimentos diversos. Promover a evolução dos recolhedores e recolhedoras e das suas organizações na cadeia de valor para que possam ter acesso e usufruir dos benefícios gerados por esta actividade. Contribuir para a mobilização mundial, através de um esforço concertado, que promova a criação de um Dia Mundial do Recolhedor de Materiais Recicláveis, tendo como objectivo o reconhecimento da actividade e das pessoas que nela trabalham. Os participantes no congresso exigem que os governos dêem prioridade às organizações que representam os recolhedores dentro do sistema de gestão de resíduos sólidos, dando-lhes as condições necessárias à sua inclusão, através de acções afirmativas a nível social, financeiro, e ambiental. Rever leis e políticas governamentais, de modo a que as organizações que representam os recolhedores passem a ser incluídas na sua formulação e tidas como protagonistas nos processos de tomada de decisões. As organizações participantes comprometem-se a criar maior eficiência, a proporcionar acções formativas e a partilhar conhecimentos no sentido de levar à profissionalização da actividade. O compromisso global de promover o contacto entre o maior número possível de recolhedores e recolhedoras e entre as organizações suas representantes. 11 10.Avançar conjuntamente com comissões internacionais, regionais e locais, com o objectivo de controlar a cadeia de valor e seu rendimento, através de redes e de centros de produção. 11.Trabalhar no sentido de implementar os objectivos mencionados na Declaração do Segundo Congresso da América Latina de Recolhedores de Materiais Recicláveis. 12 PROTOCOLO DA CONFERÊNCIA Primeira Conferência Mundial e Terceira Conferência da América Latina dos Recolhedores de Materiais Recicláveis Dia 1: 1 de Março de 2008: Dia Nacional do Recolhedor de Materiais Recicláveis na Colômbia Durante o primeiro dia da Conferência, celebrou-se o Dia Nacional do Recolhedor de Materiais Recicláveis da Colômbia e o primeiro dia da Conferência Internacional de Recolhedores de Materiais Recicláveis. O conteúdo das apresentações reflectiu estas duas ocasiões. Estiveram presentes 700 participantes, vindos de 34 países, contando ainda com a ampla participação de associações representativas dos recolhedores e recolhedoras de todos os cantos da Colômbia. Inauguração do Evento O parágrafo a seguir ao nome de cada orador parafraseia os comentários desse orador na terceira pessoa ou é um excerto de uma citação desse orador. ‘‘ Seleccão na origem, valor acrescentado, oferecer mais serviços, e fabricar produtos de materiais reciclados, são também opções para ’’ melhorar a situação dos recolhedores. Martin Medina Presidente: Nohra Padilla, Associação de Recolhedores de Materiais Recicláveis de Bogotá Nohra deu as boas-vindas aos participantes e apresentou as pessoas que iriam inaugurar o evento. Cantou-se o Hino Nacional da Colômbia, juntamente com o hino de Bogotá e com o hino dos recolhedores da América Latina. A banda ‘’Ladiguana’’ tocou uma pequena peça utilizando materiais reciclados como instrumentos. Foi então observado um minuto de silêncio em memória dos recolhedores e das recolhedoras que perderam a vida no decorrer do seu trabalho. Foram ainda apresentados agradecimentos aos organizadores e patrocinadores: a Associação Nacional de Recolhedores de Materiais Recicláveis da Colômbia, a Associação de Recolhedores de Materiais Recicláveis de Bogotá, a Fundação AVINA, a Fundação Ford, WIEGO, Natura, Grupo de Trabalho Colaborativo de Gestão de Resíduos Sólidos em Países de Baixo e Médio Rendimento (CWG), e a Kagad Kach Patra Kashtakari Panchayat (KKPKP) da Índia. Eduardo Galeano, Escritor. Mensagem via vídeo, transmissão O Sr. Galeano fez uma gravação prévia desta mensagem. A gravação foi exibida durante a conferência. ‘’Um homem pobre passou grande parte da sua vida na prisão. Um dia Deus pediu-lhe que fizesse um inventário geral do mundo mas, enquanto ele o preparava, chegou a morte. O inventário que o homem estava a preparar num hospital para doentes mentais do Rio era composto por papelão, vassouras partidas, pedaços de vidro, veias cansadas, cartas de despedida, madeira velha, água da chuva. No ano da sua morte, houve uma demonstração na Colômbia realizada pelos ‘’Colombianos 13 descartáveis’’. Um amigo contou aos ditos ‘’descartáveis’’ a história verdadeira da Criação: A Deus sobrou-lhe pequenos restos de tudo o que tinha criado. Esquecera-se de criar o homem e a mulher. Quando se apercebeu desta distracção, Ele deitou mão a todos os restos que tinha. E assim, nascemos das sobras, temos pedaços de nós feitos de plantas, do sol, da chuva, do tempo, dos animais.’’ Wendy Arenas, AVINA Colômbia A Senhora Arenas felicitou os presentes porque o movimento dos recolhedores de materiais recicláveis não se limita à Colômbia sendo, pelo contrário, um movimento mundial. ‘’Nos dias que se seguirão, iremos falar sobre o impacto económico, ambiental, e social que os recolhedores têm no mundo.’’ Ela sugeriu que este fosse um encontro emocinal e não só racional, para que todos se permitissem sonhar com o que está para vir. Felicitou ainda a ARB e a ANR por terem reunido mais de 500 recolhedores de todo o mundo e transmitiu que, para a AVINA Colômbia, este esforço tinha implicado a coordenação entre diversos grupos nacionais e de todos os cantos do mundo. Martha Chen, WIEGO A Senhora Chen representa uma rede global de apoio, com políticas de accão e investigação, que procura aumentar a visibilidade e a voz daqueles que trabalham na economia informal. Esta agência apoia as organizações representantes de trabalhadores informais, tais como vendedores de rua, trabalhadores domiciliares e trabalhadores domésticos, promovendo a ligação entre eles a nível global. ‘’Reconhecemos que os recolhedores e as recolhedoras são trabalhadores árduos e empreendedores, que fazem parte, em âmbito alargado, da cadeia de valor da gestão de resíduos sólido e que contribuem para a economia e beneficiam o ambiente. No entanto, estão sujeitos à desigualdade social e à discriminação e são maltratados pelo público em geral e esquecidos pelos governos, que os consideram inoportunos. Gostavamos de nos juntar à vossa luta para obtenção de um sentido de identidade própria e maior dignidade, para se tornarem mais fortes através da organização, e para conseguirem uma voz representativa.’’ A Doutora Chen agradeceu aos organizadores e recordou uma viagem anterior que fizera a Bogotá em 1964, altura em que ficara impressionada com os recolhedores de materiais recicláveis da cidade, que hoje são os anfitriões desta Conferência. Maldemar Oliveira Neto-Maneto, Fundação Avina, Brasil ‘Os sonhos que transformam o mundo são aqueles que sonhamos em conjunto. Há dois anos eu tive a oportunidade de conhecer o sonho do Sílvio e da Nohra de realizarem este evento na Colômbia. Ficamos depois a saber que este sonho se podia aliar com o sonho de outras pessoas que ambicionavam realizar um evento a nível mundial. Isto é só o princípio. Os recolhedores são um projecto de futuro para a humanidade, uma nova economia sustentável construída sobre os alicerces da justiça social.’’ 14 Exequiel Estay, Secretário, Rede de Recolhedores de Materiais Recicláveis da América Latina Durante o Segundo Congresso da América Latina de Recolhedores de Materiais Recicláveis, o Exequiel dizia que o sol que nasce sobre o Atlântico é o mesmo sol que nasce sobre as montanhas do Chile e ilumina a luta dos recolhedores de materiais recicláveis. Agora ele também já pode dizer que se trata do mesmo sol que ilumina os recolhedores de todo o mundo e nos dá força. Ele convidou os participantes a juntarem-se a ele na repetição do seguinte lema ‘’o recolhedor organizado jamais será pisado’’ (do Espanhol, recicladores organizados jamás serán pisados’’). “O pão de cada dia está na origem da nossa luta, dá-nos a força para não ficarmos nas nossas casas,construídas de madeira ou de latão, mas sim para sairmos para o trabalho. Os cidadãos não uas, e nas lixeiras.” Alejandro Martinez Caballero, Anterior Juíz do Venerável Tribunal Constitucional da Colômbia, Anterior Conselheiro de Bogotá O Sr. Martinez encorajou os participantes a procurar trabalho que ofereça condições decentes/dignas, cumprindo com a norma constitucional sobre a igualdade de facto. Ele pediu ao Ministro do Ambiente que respeite a necessidade dos recolhedores de trabalharem. Encorajou ainda os recolhedores e recolhedoras do mundo inteiro a continuarem a trabalhar em prol de condições decentes e de iguladade de direitos. Juan Lozano, Ministro do Ambiente ‘’Este é um evento significativo. Foca aqueles cujos trabalho diário contribui para evitar a degradação e destruição do ambiente. Reconhecemos que ao longo dos anos o nosso Governo não tem estado à altura neste sector. Precisamos recuperar o tempo perdido. Necessitamos de políticas governamentais eficientes e de diálogo social. O Estado é ainda fraco na forma como trata os assuntos relacionados com a reciclagem. Necessitamos de um sector forte para a recolha de resíduos. Os recolhedores de materiais recicláveis mostraram-nos o caminho. Precisamos agora que o sector de produção seja responsável.’’ O Ministro explicou ainda que o horário nobre de Domingo à tarde, pelas19:30, estava à disponibilidade da Conferência. Fez notar que, se tivesse havido uma demonstração, um protesto ou estradas bloqueadas, teria havido a cobertura dos meios de comunicação mas, uma vez que se tratou de um evento pacífico, não gerou o mesmo nível de interesse. Dário Castro, Associação Nacional de Recolhedores de Materiais Recicláveis da Colômbia ‘Estamos a comemorar o dia 1 de Março de há 16 anos quando 11 recolhedores foram mortos na universidade e os seus orgãos usados como material didáctico. Um deles fingiu que estava morto e foi pedir socorro. O decreto-lei 511 fez do dia 1 de Março o Dia do Recolhedor de Materiais Recicláveis. Bogotá é considerada a nona cidade do mundo 15 mais limpa. O contributo dos recolhedores para este estatuto é muito importante. Mas, apesar de nos termos organizado, continuamos a lutar para que reconheçam os nossos direitos enquanto trabalhadores. Por exemplo, retiraram-nos dos aterros. Tiraram-nos os nossos carros de mão e as nossas carretas. Porque não podemos continuar nos aterros?’’ Dário Castro desafiou o Ministro em relação ao seu discurso apoiante, mas notou que o discurso não tinha em consideração o tratamento dado aos recolhedores, tais como aqueles que trabalham nos aterros. Adriana Ruiz Restrepo, advogada pro bono da ARB, A Luta Contra a Pobreza por Meios Legais: a Experiência da Associação de Recolhedores de Materiais Recicláveis de Bogotá como Exemplo de Concessão Legal de Plenos Poderes ‘Daqui a 6 meses será comunicada a nova agenda internacional para a luta contra a pobreza por meios legais. O Direito é semelhante a um grão de café: tem dois lados que são complementos um do outro, leis e decreto-leis no topo, e direitos humanos por baixo. A concessão legal de plenos poderes significa que populações vulneráveis podem aceder à justiça através do Direito. Na experiência dos recolhedores de materiais recicláveis de Bogotá, o Direito foi útil para os ajudar a defender o seu direito ao trabalho, quando o sector privado se interessou por este tipo de negócio, visto ser esta a segunda indústria mais rentável do mundo, tentando retirar-lhes o acesso aos materiais recicláveis. Aquando de uma greve que houve na cidade, os recolhedores mostraram que poderiam fazer mover 700 toneladas de resíduos sólidos por dia. Estavam decididos a fazê-lo de forma mais permanente, participando nos concursos públicos municipais como empresários. A lei proibíu-os de o fazer uma vez que apenas um tipo de empresa específico, sociedade por quotas, está habilitada a fornecer serviços públicos. O Tribunal Constitucional emitiu então uma ordem judicial de protecção dos direitos humanos de forma a proteger os rendimentos dos recolhdores. Isto foi feito quando os concursos exigiam que as empresas estivessem há mais de 5 anos em funcionamento e a operar em cidades com mais de 500,000 habitantes. Posteriormente, o Tribunal estabeleceu que seria ilegal realizar quaisquer concursos públicos relativos à gestão de resíduos sólidos sem primeiro consultar os recolhedores e permitir que estes concorressem. É assim que se pode fazer uso dos meios legais. Meios legais também foram utilizados para criminalizar os recolhedores por acederem ao materiais recicláveis. A lei dizia que uma vez que os resíduos se encontrassem no exterior dos edifícios, tornavam-se propriedade privada do empreiteiro responsável pela gestão dos resíduos designado para a zona. Esta lei também foi modificada. Na vida não existe apenas uma só solução, existem forças. Essas forças devem ser criadas e as soluções seguirão. Não são necessárias grandes máquinas de filmar quando se pode transmitir imagens através do You-Tube, Facebook e Myspace. O comité das Nações Unidas 16 ‘‘ Ficou decidido que (a rede local Catasampa, Brasil) não seria uma organização formada por qualquer outra entidade. Deveria ser uma organização que, desde o início, seria con- ’’ struída pelos próprios recolhedores. Roberto Laureano, Catasampa, Brasil para a ‘’Concessão Legal de Plenos Poderes aos Pobres’’ ficou muito bem impressionado pela aplicação legal feita pela associação dos recolhedores de Bogotá que, de uma forma executiva, administrativa e empresarial, se serviu da via constitucional para obter os seus plenos poderes na sua área de actividade, sendo eles próprios pobres. Este caso será estudado em universidades estrangeiras para mostrar como o Direito pode ser utilizado para avançar as justas causas dos pobres.’’ A Senhora Ruiz agradeceu aos advogados que prestaram o seu auxílio pro bono nestes casos. Hamit Temel, Associação de Reciclagem de Ancara, Túrquia O Sr. Temel é o presidente da primeira associação de recolhedores de materiais recicláveis da Túrquia. Ele gostaria que este evento se realizasse anualmente. Em nome de todos os recolhedores, ele ofereceu o seu apoio à Conferência, que ele está certo virá a obter bons resultados. Laxmi Narayan, KKPKP, Índia, Ásia Em nome dos recolhedores de materiais recicláveis da Índia e da Ásia, a Senhora Narayan desejou os melhores êxitos para a conferência. A situação dos recolhedores de materiais recicláveis na Índia é muito diferente da que se vive na Colômbia. Ela antevê que ocorrerá uma troca positiva de experiências e aprendizagens mútuas. Hani Shaker, Egipto O Sr. Shaker trouxe saudações dos 60,000 recolhedores de materiais recicláveis do Cairo, os quais não se encontram numa fase tão avançada como os da América Latina. Não conseguiram ainda leis favoráveis. O Sr. Shaker está certo que muito se irá aprender nos próximos dias e que estas aprendizagens irão beneficiar todos os participantes. Ignácia Osório, México A Senhora Osório manifestou-se satisfeita por estar presente no evento, com a possibilidade de partilhar experiências e usufruir de novas aprendizagens. Severino Lima, Movimento Nacional de Recolhedores de Materiais Recicláveis do Brasil (MNCR) ‘’Já participamos noutras Conferências, onde as pessoas começam a formar como que uma família. Já aprendemos muito ao nível da América Latina. Espero que os assuntos abordados aqui não deixarão ninguém com dúvidas sobre a importância da organização e da reciclagem.’’ Nohra Padilla, Associação de Recolhedores de Materiais Recicláveis de Bogotá (ARB) Nohra agradeceu à equipa de comunicações da ARB, aos meios de comunicação alternativos e a todos aqueles que estão dispostos a transmitir, de diferentes locais, o que se está a passar aqui. 17 Carlos Garay, Presidente da FEDERINCOL, Federação Colombiana de Recicladores Independentes O Sr. Garay felicitou o movimento nacional e o movimento de Bogotá por terem convocado esta conferência. A FEDERINCOL foi criada durante o Congresso Nacional de Recolhedores/Recicladores de Manizales, Colômbia. A organização abrange milhares de recolhedores e recolhedoras independentes, ao mesmo tempo que respeita as estruturas da ARB e da Associação Nacional de Recolhedores de Materiais Recicláveis da Colômbia. No entanto, os recolhedores são o primeiro elo na cadeia de valor. Os intermediários e a indústria são quem obtem a maioria dos benefícios. Estão a tentar levar este assunto à atenção da Comissão Nacional de Reciclagem da Colômbia, onde a indústria também está representada. Apenas 10% das 300,000 pessoas que recorrem à recolha de materiais recicláveis estão organizadas. Deveriam existir muitas associações como a ARB. Eles lutam pela adopção de um decreto-lei que irá criar um Fundo Nacional para a Reciclagem, para que o trabalho dos recolhedores de materiais recicláveis possa ser apoiado. Comemoração do Dia Nacional de Recolhedores de Materiais Recicláveis Sílvio Ruiz Grizales, Associação de Recolhedores de Materiais Recicláveis de Bogotá (ARB) O Sr. Grizales deu as boas-vindas a todos os tipos de recolhedores pelo mundo fora, que partilham um passado comum mas que tem sido transparente. ‘’Hoje, graças ao esforço de todos, celebramos na Colômbia o dia Nacional do Recolhedor de Materiais Recicláveis, lembrando-nos dos colegas que faleceram, após de 40 ou 50 anos a trabalharem na recolha do materiais recicláveis, sem seguros de saúde, pensões, alojamento ou segurança. Nós os recolhedores manteremos as mãos dentro dos sacos do lixo que nos fornecem o nosso modo de vida, mas a cabeça fora do saco, para lutar pelas políticas governamentais de que tanto necessitamos para melhorar a nossa situação. Os intermediários aguardam comfortavelmente nos seus armazéns e aos recolhedores cabe a tarefa dura da recolha. Os materiais recicláveis não deveriam pertencer aos intermediários, mas sim aos recolhedores e recolhedoras que fazem todo o trabalho. Unidos poderemos lutar por aquilo de que necessitamos.’’ Prémios Os organizadores da ARB e da Associação Nacional de Recolhedores de Materiais Recicláveis da Colômbia ofereceram placas comemorativas às seguintes instituições e pessoas, como forma de agradecimento pela sua colaboração e compromisso: v Fundação Avina v WIEGO v Revista 14-6 v Natura 18 v Movimento Nacional de Recolhedores de Materiais Recicláveis do Brasil v Sindicato de Recolhedores de Materiais Recicláveis de Pune, India, KKPKP v Conselheiro Alejandro Martínez e Sr. Eduardo Diaz v Cooperativa de Recolhedores de Materiais Recicláveis de Antioquía Oriental, Alborada v Cooperativa de Recolhedores de Materiais Recicláveis de Cume, Cucuaraos v Cooperativa de Bogotá v Chapinharon, Chapico Cooperativa de Recolhedores de Materiais Recicláveis v Santo Espólito Murillo e Myriam Herrera Resumo Geral a Nível Internacional: Apresentações Martin Medina, Resumo Geral das Actividades dos Recolhedores de Materiais Recicláveis a Nível Mundial O Martin mostrou uma série de ilustrações e de fotografias de tempos passados, para demonstrar que a reciclagem não é uma actividade recente, mas sim algo que existe desde tempos remotos. Existem registos que provam que os metais têm vindo a ser reciclados desde há pelo menos 5000 anos. No final do século 19, havia recolhedores de materiais recicláveis no Japão, EUA, França e Inglaterra, e até exportações de trapos e papel da França e da Inglaterra. No presente, calcula-se que 1% da população urbana da África, Ásia e América Latina está envolvida em activades de recolha de materiais recicláveiss. O Martin partilhou fotografias que mostravam a actividade na Indonésia, China, Argentina, Filipinas, Câmbodia e outros países. Os recolhedores de materiais recicláveis enfrentam problemas, tais como falta de compreensão por parte da sociedade e das autoridades, riscos para a saúde e segurança, exploração por parte de intermediários, e controle por parte de líderes e de partidos políticos. Estes problemas podem ser abordados através da criação de organizações fortes e através de mudanças a nível de orientação legal e de políticas governamentais mais favoráveis aos pobres. A ARB e a ANR são pioneiras a nível mundial em ambos os sentidos, através da promoção que fazem da professionalização dos recolhedores. “La segregación en la fuente (“coleta selectiva”), la agregación de v’’ Seleccão na origem, valor acrescentado, oferecer mais serviços, e fabricar produtos de materiais reciclados, são também opções para melhorar a situação dos recolhedores.’’ O Movimento Nacional de Recolhedores de Materiais Recicláveis Brasileiro alcançou a realização de reuniões anuais com o Presidente Lula para darem a conhecer a sua situação e apresentar as suas reivindicações. A privatização de serviços públicos e a globalização constituem desafios adicionais para os 19 recolhedores de materiais recicláveis. O trabalho dos recolhedores é um exemplo perfeito de desenvolvimento sustentável. Dr. Gunther Weherpohl, Deutsche Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit (GTZ), O Impacto Económico do Sector Informal na Gestão de Resíduos Sólidos Esta apresentação demonstra o quanto é importante a medição do impacto económico da actividade dos recolhedores de modo a obter informação, que poderá ser útil nas negociações com as municipalidades. A nível micro-económico, os recolhedores informais têm como objectivo a separação na origem ou em locais designados, e requerem menos capital do que o sector formal. Os governos protestam porque os recolhedores não pagam impostos. A nível macro-económico, a actividade dos recolhedores aumenta a poupança, uma vez que são necessárias menos matérias primas. Em conclusão, a distinção entre o sector formal e informal não é o assunto chave, mas sim a possibilidade de proporcionar trabalho dignificado a uma população marginalizada. Painel: Estado, Sector Empresarial e os Recolhedores de Materiais Recicláveis na Gestão de Resíduos Sólidos Cecilia Rodriguez, anterior Ministra do Ambiente da Colômbia, Considerações para um Modelo Político Sustentável a Nível Social, Ambiental e Financeiro na Gestão de Resíduos Sólidos ‘’O Estado tem de perceber que há três componentes inerentes à gestão de resíduos sólidos: o financeiro, o social e o ambiental. Há muito tempo que domina o componente financeiro, uma vez que a gestão de resíduos sólidos se encontra sob o âmbito do Ministério das Finanças. Nesta perspectiva, os recolhedores de materiais recicláveis são invisíveis, apesar do quanto lhes devemos pelo seu trabalho de há longos anos no sentido de reduzir a quantidade de lixo nas ruas da cidade. Os recolhedores de materiais recicláveis fizeram parte dos grupos de trabalho que modificaram a legislação respeitante à posse dos resíduos. A ideia não é lutar pelos resíduos sólidos, mas sim conseguir um modelo onde todos possam sair a ganhar, incluindo o ambiente e os recolhedores. O estado deveria promover incentivos que garantissem a sustentabilidade dessa tripé, financeira, social e ambiental. O perfil psicológico dos recolhedores de materiais recicláveis é do tipo empresarial e deveria ser apoiado. Encontros como este deveriam realizar-se anualmente em cada país, com a participação do Estado e de todos os protogonistas na cadeia de valor.’’ Luzia Hilda e Maria Mónica da Silva, Vida Limpa (Clean Life) Modelo Diadema, São Paulo, Brasil, Integração dos Recolhedores de Materiais Recicláveis no Sistema Público de GRS O Município de Diadema tem uma alta densidade populacional. Produz 400 toneladas de resíduos sólidos por dia, sendo a colecta feita pelo governo da cidade e colocada num aterro sanitário, pagando-se 5 20 milhões de Reais anualmente por este serviço. Foi feito um acordo entre a população, o governo e os recolhedores. Os recolhedores organizaram-se em grupos em auto-gestão para fazerem uma colecta selectiva. Também possuem uma rede com pontos de entrega, zonas de processamento, um programa educativo de esclarecimento ambiental onde os vizinhos podem participar, tal como mecanismos que asseguram o cumprimento. ‘’Para nós, mais que um programa de selecção, trata-se de um programa de solidariedade.’’ María Mónica da Silva Os próprios recolhedores são responsáveis pela colecta selectiva estabelecendo uma relação com os vizinhos. Possuem 6 entrepostos na cidade mas tendo como objectivo conseguir ter 13. Nos entrepostos é feita a triagem e a compactação dos resíduos que lá são depositados. No momento actual, entre os seus clientes encontram-se algumas indústrias de reciclagem. Possuem ainda 4 produtos que podem vender ao comprador final, sem necessidade de intermediários. Empregam jovens que precisam de trabalhar, alguns deles que já estiveram envolvidos na droga. ‘’Há quatro anos, eu era uma simples recolhedora de materiais recicláveis nas ruas da cidade quando me deram a conhecer o programa Vida Limpa e lá descobri a minha capacidade de liderança. Eu luto pelos nossos direitos. Tenho orgulho na nossa classe.’’ Jorge Pablo Seghezzo, Modelo Municipalidade de Rosário, Argentina Rosário é uma cidade com um milhão de habitantes. Em 2001, a crise na Argentina aumentou o número de famílias que recorriam à recolha de materiais recicláveis, de 800 em 1994 para 1,400. São grupos independentes constituídos por famílias. Não se encontram organizados. A gestão de resíduos sólidos não pode ser separada da actividade dos recolhedores de materiais recicláveis. Presentemente, a separação na origem cobre 10% dos bairros, com a intenção de se atingir os 50%. Os recolhedores trabalham com contentores de entrega e com carretas. A municipalidade tem um estreito relacionamento com os recolhedores. O orador não recomenda o modelo de levar o lixo para outro lado para ser seleccionado, uma vez que isso pode criar mercados negros disfarçados. ‘’Em Rosário, não existe o orgulho a que a Mónica se referiu na apresentação anterior como ‘orgulho na classe’, nós precisamos de maior integração social. A classe média na nossa cidade não quer ver os recolhedores pelas ruas.’’ Pedro Villares, Natura, Desafios da Responsabilidade Social das Empresas na Promoção da Inclusão Social A Natura é uma firma Brasileira de cosmética em operação há 40 anos. Funciona por meio de ‘’consultores’’ de venda directa (pessoa a pessoa). No Brasil têm 700 mil consultores de vendas e 100 mil no total noutros países da América Latina, operando no Chile, Bolívia, México, Colômbia, Argentina e França. No próximo ano iniciarão a sua actividade nos EUA. Como parte da sua responsabilidade social enquanto empresa, a Natura enfrenta o desafio de realizar resultados a nível financeiro, social e ambiental. Com esse objectivo em mente, promovem a reciclagem das suas embalagens e a compra de matérias primas, tais como nozes do Brasil e outros frutos, a grupos produtores que trabalham de modo sustentável e garantem ordenados justos. Há um mês atrás, deram 21 início a um projecto de reciclagem na Colômbia, onde 2 mil consultores de venda estão a trabalhar, em Bogotá, juntamente com recolhedores de materiais recicláveis organizados. Em apenas um mês já obtiveram resultados impressionantes. Conclusões do Dia Bernardo Toro, Conselheiro, Fundação Avina, O Recolhedor de Materiais Recicláveis: a Professionalização no Século XXI O recolhedor é um profissional do século XXI. Uma profissão torna-se relevante quando resolve um problema importante na sociedade e o faz agindo dentro de um sistema. Professores asseguram a aprendizagem das crianças, e fazem-no através do sistema educativo. Se o problema desaparecer, o sistema começa a desaparecer. Por exemplo, no tempo das carroças puxadas por cavalos, havia ferreiros. Hoje temos mais oficinas de automóvel e os seus sistemas são, cada vez mais, computerizados. O valor que a população em geral atribui a uma profissão é muito importante: os jogadores de futebol ganham muito dinheiro porque o mundo valoriza os golos. De início, a reciclagem era uma opção criada para ultrapassar a exclusão causada pelo desemprego mas, uma vez que as profissões de apoio são as profissões do futuro, os recolhedores têm um valor único na sociedade, dado que são eles e elas que cuidam do ambiente como valor social. É muito difícil violar os direitos humanos de grupos organizados. Todas as agências financiadoras reconhecem que os projectos de sucesso são aqueles realizados por organizações fortes. No entanto, ninguém financia a formação de organizações. Na Colômbia, a ARB e a ANR receberam muito apoio da Fundação Social. 22 Dia 2: 2 de Março de 2008, Partilha de Experiências Saudação por Parte da Comissão Directiva Apresentação do Programa da Conferência, Sílvio Ruiz Grizales (ARB) e Chris Bonner (WIEGO) Os representantes da Comissão Directiva apresentaram, em linhas gerais, os Objectivos e Programa da Conferência. Fizeram notar que a Comissão Directiva da Conferência, que planeara este evento conjuntamente com organizações de todo o mundo, era composta por 14 pessoas, vindas de nove países. Enfrentaram uma problemas vários, incluindo diferenças de fusos horários, línguas e maneiras diferentes de falar a mesma língua, tal como o Inglês da África do Sul, da Índia e da América do Norte. Experiências de Organização: Apresentações Chave Severino Lima, Movimento Nacional de Recolhedores de Materiais Recicláveis do Brasil (MNCR) ‘’Não é fácil os recolhedores de materiais recicláveis terem oportunidades de se encontram e, para o fazerem, têm de se deslocar longas distâncias. Fazer parte do grupo que planeou esta iniciativa foi um grande esforço. Procuramos coordenar uma ligação política mundial. Também temos como objectivo fortalecer a rede da América Latina e motivar os delegados vindos de outros continentes a sonhar com a realização de encontros destes nos seus respectivos continentes.’’ ‘‘ Ultrapassaremos o medo, passou o tempo das lágrimas, saberemos impôr-nos, divertir-nos, faremos parte da cria- ’’ ção de um mundo novo. Canção Indiana Eduardo Ferreira de Paula, Movimento Nacional de Recolhedores de Materiais Recicláveis do Brasil ‘’A nossa meta é alcançar mudanças políticas e queremos também exigir os nossos direitos. Há mais de 50 anos que fornecemos serviços ao Brasil. Hoje estamos melhor organizados, mas ainda há gente a utilizar carretas no seu dia a dia, tal como no logotipo. Há uma enorme discriminação contra os recolhedores de materiais recicláveis que trabalham nas ruas. Eles são molestados e expulsos e as suas carretas são lhes retiradas. Muitas vezes são presos por fazerem o seu trabalho. O Primeiro Congresso de Recolhedores de Materiais Recicláveis no Brasil em 2001 começou com várias centenas de recolhedores. Hoje em dia já alcançaram várias vitórias, graças à sua luta, às demonstrações e acções directas. Entre as vitórias contam com a criação de uma comissão interministerial para promoção da inclusão social dos recolhedores. O Ministério do Trabalho reconhece a sua actividade e foi instituído o Dia Nacional do Recolhedor de Materiais Recicláveis, o qual se celebra no dia 7 de Junho. Existe ainda uma lei nacional datada de 2003 que declara que todas as entidades federais (estatais) devem ceder às coopertivas de recolhedores as colectas já triadas. Esta lei foi 23 desenvolvida com a participação directa dos recolhedores. Em 2007, foi aprovada outra lei que permite aos recolhedores praticar a triagem dos resíduos sem serem obrigados a entrar nos processos de concursos públicos. Uma vez por ano, os representantes da MNCR encontram-se com o Presidente Lul para discutirem as suas reivindicações e festejar o Natal. A organização existe não para o recolhedor a nível individual, mas para os 800 mil recolhedores no Brasil - organizados ou não. Existem ainda intermediários que acrescentam valor aos produtos vendendo a preços mais elevados do que aqueles pagos aos recolhedores. Contudo, também fornecemos material directamente à indústria de reciclagem, temos até a nossa própria indústria de reciclagem, tal como a fábrica de plásticos em Belo Horizonte. Os recolhedores são a fonte de 90% dos materiais fornecidos à indústria de reciclagem. A responsabilidade social a nível das empresas está ligada a interesses que não são os dos recolhedores. Dialogamos mais com as empresas para que estas possam estar melhor esclarecidas sobre as suas actividades e objectivos. Laxmi Narayan, Secretária-Geral do Sindicato KKPKP, India A Laxmi partilhou a letra da canção que os respresentantes da Índia iriam executar no plenário: ‘’Ultrapassaremos o medo, passou o tempo das lágrimas, saberemos impôr-nos, divertir-nos, faremos parte da criação de um mundo novo.’’ A Laxmi explicou, através de fotografias, quais os diferentes tipos de recolhedores de materiais recicláveis que existem na Índia e traçou o seu perfil pessoal: recolhedores das lixeiras, recolhedores dos contentores, recolhedores de rua, compradores ambulantes que circulam com as suas carretas a comprar aos populares, os recolhedores porta-a- porta (os cidadãos pagam uma taxa e o recolhedor usa uma carreta municipal). ‘’A maioria dos recolhedores das lixeiras, dos contentores e da rua são mulheres. Noventa por cento dos recolhedores são mulheres, 90% são analfabetas, e 5% dos recolhedores são crianças, a maioria meninas. A maior parte veio de zonas rurais para as cidades devido a secas e por outras razões. São também oprimidas dentro as suas castas. Moram em pequenos bairros de lata e o rendimento diário que conseguem assegurar é em média de $2. São vítimas de agressões. Quando lhes perguntamos como vêem o seu futuro, não têm qualquer perspectiva pessoal. A triagem das colectas normalmente acontece em frente às lojas dos comerciantes de ferro-velho, que são muito pequenas. O sistema municipal incide sobre a colecta e transporte e não sobre a recuperação. Os recolhedores já deram provas ao sistema que o seu meio de transporte é mais flexível, mais barato e permite a recuperação de maior quantidade de materiais recicláveis. Hoje em dia o sistema formal já engloba os recolhedores e recolhedoras. Existem poucas experiências de centros de processamento.’’ 24 ‘’O KKPKP começou como um programa para crianças numa universidade, de modo a que estas pudessem frequentar a escola uma vez findo o trabalho nas lixeiras. As mulhers disseram que permiteriam que as crianças frequentassem a escola se fossem melhoradas as condições de trabalho dos adultos. A emissão de cartões de identidade para os recolhedores foi um passo importante que se mostrou muito útil na sua luta. No passado, caso fossem interceptados pela polícia, não possuíam qualquer identidade. O KKPKP é um sindicato registado, o que demonstra a importância social, económica e ambiental que tem o trabalho dos recolhedores de materiais recicláveis. O sindicato reivindica melhores condições de trabalho e segurança de emprego, enquanto rejeita o trabalho infantil. O KKPKP rejeita ainda as tecnologias baseadas na incineração uma vez que estas tiram o trablaho aos recolhedores. Os seus sócios reivindicam reconhecimento, respeito, dignidade e segurança social. O KKPKP é uma organização das massas que nos permite negociar com os políticos, os quais apenas se interessam pelos votos. É em simultâneo um sindicato e uma cooperativa, o que permite a formalização do trabalho junto dos comerciantes e do público em geral. A organização não pode rejeitar a privatização mas pode defender o seu papel nesse processo. Os Resíduos São Importantes (Waste Matters) é o nome de um programa ao abrigo do qual os recolhedores portaa-porta vão de casa em casa fazer a colecta,o que por si só promove a separação dos resíduos. Este método é descentralizado e muito mais económico do que o sistema público de colecta, recupera maior quantidade de materiais, e até tem um programa para processamento de resíduos orgânicos. Mais, garante a segurança de emprego dos recolhedores, reduz o volume de trânsito e a poluição e aumenta a longevidade dos aterros. As atitudes do público em geral estão a mudar, existindo uma maior predisposição para que este serviço seja remunerado. É este um mecanismo viável de apoio a modalidades que permitem aos recolhedores ganhar a vida, o que por si só faz sentido em termos económicos e ambientais e actua a favor da mão de obra.’’ Assuntos Importantes Relativos aos Recolhedores de Materiais Recicláveis: Sessões Paralelas Ocorreram em simultâneo cinco sessões com temáticas diferentes. Em cada sessão havia um recolhedor ou recolhedora actuando como facilitador e um elemento do pessoal técnico de apoio que tomava notas. Todas as sessões incluiram vários testemunhos de experiências vividas, seguidas por um período de tempo no final para se fazer uma análise colectiva das questões pertinentes e proceder ao diálogo. As conclusões destes debates, no final das sessões, foram depois comunicadas ao plenário. 25 Experiências de Organização dos Recolhedores de Materiais Recicláveis Informais: Grupo 1 Relatório Apresentado ao Plenário Grupo 1 analisou as seguintes questões: • Porque são importantes as organizações? • O que faz com que uma organização seja forte? • Quais os obstáculos à formação de organizações? • Como ultrapassar esses obstáculos? Conclusões Porque são importantes as organizações e o que faz com que uma organização seja forte? • Os recolhedores organizados têm, em geral, uma melhor qualidade de vida e são menos perseguidos • Os objectivos das organizações devem ser claros. As metas devem ser comuns • A unidade entre os líderes da organização e os seus membros é importante • Ajuda a obter recursos e a ser ouvido • Formação e aumento de conhecimentos • Os recolhedores estão em melhor posição para negociar com governantes Quais os obstáculos à sua formação? • Inveja, atitudes negativas de algumas pessoas • Falta de apoio técnico • Falta de atenção/escutar por parte das municipalidades • Não sabemos quantos somos. Necessidade de realizar um censo a nível municipal em todos os países • Não somos considerados nos concursos públicos • Como competir com grandes empresas e com as multinacionais Como ultrapassar estes obstáculos? • Obter apoio técnico, ajuda profissional • Criar organizações fortes • Promover a participação, aprender a participar Partilha de Experiências pelos Participantes As seguintes vivências foram partilhadas nesta sessão. Todas as apresentações podem ser consultadas no seguinte endereço: www. recicladores.net Egipto e África do Sul (SDI) grupos de recolhedores, Laila Iskander No Cairo não existe qualquer organização formal de recolhedores de materiais recicláveis, mas existem associações a nível de bairros. Há mais de 50 anos que fazem colectas e reciclam. A sua força está na sua participação na cadeia de valor e na sua competência técnica e não na organização formal. A organização Moradores de Bairros de Lata/Barracas (SDI) tem como 26 interesse principal terras e alojamento, por intermédio de grupos de poupança. Mais recentemente começou a focar modos de emprego e de reciclagem com alguns grupos, investindo as suas poupanças em projectos de reciclagem. Participaram num intercâmbio entre 3 países/ cidades para observar diversas actividades de reciclagem - Cairo-Egípto, Cidade do Cabo-África do Sul e Nairobi-Kenya Cambódia, Organização Comunitária de Saneamento e Reciclagem (CSARO), Heng Yon Kora Esta organização dá formação aos recolhedores de materiais recicláveis sobre gestão de grupos, reciclagem de papel e plásticos e adubos, entre outras coisas. Túrquia, Associação de Reciclagem de Ancara, Hamit Temel Esta orgnização foi formada em 2005. Defende o direito ao trabalho e reivindica o reconhecimento e o fim da violência contra os recolhedores de materiais recicláveis. São marginalizados e as suas condições de trabalho são difíceis. ‘‘ Foi com espanto que os vendedores de rua viram como os recolhedores se estão a organizar. E ver os problemas comuns a ambos, como quando o ganha pão dos catado- ’’ res é cedido a empresas privadas. Pat Horn, StreetNet Internacional Índia, Associação de Recicladores de Harit, Shashi Bushan Esta associação defende o direito de acesso aos materiais recicláveis e promove a tomada de consciência em relação à reciclagem junto de várias agências governamentais. Em 2007, criou um sindicato que, à hora actual, tem 12,000 sócios a pagar taxas. Promovem formas de segurança social alternativas para os recolhedores, entre outras reivindicações. Argentina, Cooperativa de Sonhos de Reciclagem, Trabalho e Transformação, La Matanza, Província de Buenos Aires Esta cooperativa encontra a sua força na sua capacidade de organização, o que lhes tem permitido funcionar sob a égide municipal de triagem na origem (separação em casa). Possuem ‘’promotores do ambiente’’, colectores, e uma equipa de classificadores num local cedido pelo Município. Comercializam tudo o que é reciclável. Todos os protogonistas devem ter um papel no processo. Chile, Associação de Recolhedores de Materiais Recicláveis de Peñalolen Possuem um centro chamado Centro Laboral para a Acção e Desenvolvimento Social, que trabalha em estreita colaboração com a Municipalidade. Recebem empréstimos do Estado para compra de carretas. Após camapanhas realizadas junto da vizinhança, fazem colectas selectivas ao domicílio. Aliam-se a grandes empresas recicladoras. Oferecem aos recolhedores de materiais recicláveis formação sobre assuntos relacionados com o ambiente, relações com a comunidade, técnicas de reciclagem e a criação de artesanato feito a partir de materiais reciclados. Pretendem incorporar mais recolhedores na sua organização e têm como objectivo reproduzir a sua experiência noutras cidades Chilenas. 27 México, Cooperativa Chen kolelo ob (só mulheres), Celestún, Yucatán Esta cooperativa faz a reciclagem de plásticos. A Municipalidade cedeulhes um espaço com infraestruturas básicas onde podem trabalhar. Os próprios sócios ajudaram na construção deste local. Encontram-se em negociações com a empresa de reciclagem PET no sentido de obterem melhores condições de trabalho e patrocinadores. Produtividade/Cadeia de Valor no Sector Informal: Pirâmide de Reciclagem: Grupo 2 Relatório Apresentado ao Plenário Grupo 2 analisou as seguintes questões: • Explique/determine a cadeia de valor/mercado que lhe diz respeito • Que obstáculos têm sido levantados à participação dos recolhedores na cadeia de valores? • Como é que os recolhedores podem entrar na cadeia de valor dos resíduos sólidos e a que nível, de modo a maximizarem os seus benefícios? • Quais as alianças instrumentais à introdução de recolhedores na cadeia de valor? Conclusões • Há discriminação contra o trabalho dos recolhedores, o público prefere a privatização • Na Índia o sistema de castas, níveis hierárquicos na sociedade, complica mais as coisas • Uma das dificuldades é o conhecimento científico e técnico necessário, mas que os recolhedores carecem Partilha de Experiências pelos Participantes As seguintes vivências foram partilhadas nesta sessão. Todas as apresentações podem ser consultadas no seguinte endereço: www. recicladores.net Costa Rica, A Questão de Género (Masculino/ Feminino) na Gestão de Resíduos Sólidos, GTZ, Martins Kolb Descreve uma abordagem do tipo microempresarial nas iniciativas de reciclagem na Costa Rica. A apresentação analisa a situação de crédito, formalização, invisibilidade e trabalho não remunerado das mulheres. Associação de Resíduos Sólidos da Indonésia, Ferry Guanto A apresentação explica a situação dos recolhedores de materiais recicláveis em geral, incluindo os riscos para a saúde a que estão sujeitas mulheres e crianças. Analisa 5 questões que serão essênciais para o futuro dos recolhedores: legais, institucionais, sociais, financeiras e tecnológicas. Reivindica junto dos governantes para que se dê início ao reconhecimento institucional da actividade dos recolhedores, o que resultaria em melhorias na sua qualidade de vida a nível social mas, sobretudo, a nível da saúde e da educação. 28 Porto Rico, Grupo Comunitário de Reciclagem, Inc., PT A apresentação descreve o contexto da actividade de reciclagem em Porto Rico. A empresa resulta da colaboração entre empresas da comunidade e o governo. Criam empregos na comunidade e oferecem formação no sentido de professionalizar a actividade. Os produtos por eles fabricados destinam-se ao mercado de exportação. Sindicato dos Trabalhadores de Limpeza de Hong Kong, Wong Pui Yan A apresentação oferece uma visão geral da situação de desigualdade que se vive em Hong Kong, com dados específicos sobre a feminização da pobreza. Descreve o processo de recolha de lixo e as tensões, geradas pelos regulamentos governamentais, entre os trabalhadores de limpeza e os recolhedores, os quais competem pelos materiais de reciclagem que posteriormente venderão ao Estado. Descreve ainda a experiência do Sindicato de Trabalhadores de Limpeza e da Rede Comunitária de Reciclagem, um projecto iniciado com o intuito de envolver a comunidade numa experiência de reciclagem de plásticos dominado por mulheres. Nepal, Sindicato Independente de Lixeiros do Nepal (IGWUN), Mohan, Nepali IGWUN é um sindicato com 9,000 sócios, maioritariamente homens. Oferecem formação e actividades de poupança e lutam para erradicar o trabalho infantil. Tendências em Inovação Tecnológica e Privatização e as Implicações para os Recolhedores: Grupo 3 Relatório Apresentado ao Plenário Grupo 3 analisou as seguintes questões: • Oportunidades e riscos que os recolhedores enfrentam no contexto dos processos de inovação tecnológica e privatização Conclusões • A tecnologia não deveria ‘’excluir os excluídos’’, deveria ser acessível a todos os recolhedores e a toda a sociedade. A tecnologia não deveria ser elitista. É este o grande desafio. Deveríamos analisar as experiências com ‘’tecnologia social’’ desenvolvidas no Brasil (Diadema, Londrina, Salvador, e outras cidades Brasileiras). • O saber popular deveria ser considerado nas diversas formas de tecnologia social desenvolvidas para servir a sociedade, em especial os recolhedores. É possível melhorar a qualidade de vida das pessoas. Deveríamos prestar atenção às tecnologias desenvolvidas para permitir colectas selectivas ao domicílio, com formação ambiental realizada pelos recolhedores. • Os recolhedores deveriam receber formação em inclusão digital. Deveriam ser consideradas as experiências de outros países em inclusão digital, tais como as do Centro para a Democratização da Informática (CDI) na América Latina. 29 • Tecnologias que permitem aumentar a reciclagem de novos materiais devem ser promovidas para que não se tornem em lixo, aumentando assim as oportunidades de comercialização para os recolhedores. • Adoptar tecnologias adequadas à realidade de cada local (comunidade, municipalidade, cidade, estado, e país) que dêem prioridade à inovação e baixo custo de implementação, tais como carretas manuais, bicicletes com atrelados, etc. • A privatização do sistema público de recolha de lixo é uma realidade no mundo actual. Em muitos países está envolto em corrupção. Com a exclusão dos recolhedores, não deveria haver lugar à privatização, a qual apenas cria mais desemprego. Trata-se de um serviço público que deveria ser universalizado e entregue à população com eficiência, baixo custo, com controle social e regulamentação da responsabilidade da população. • Devem ser desenvolvidos esforços junto das forças institucionais formais (tais como o Supremo Tribunal da Índia) para o reconhecimento dos recolhedores e recolhedoras e para que estes possam utilizar tecnologias adequadas ao serviço de colectas selectivas nas cidades. • Tecnologias para gerar energia limpa com os recursos do Mecanismo para Desenvolvimento Limpo (Protocolo de Quito) devem incluir os recolhedores, tal como modos de reutilização de resíduos sólidos. Esta medida iria estender as oportunidades a uma maior parte da sociedade e não só a algumas empresas. • Os recolhedores de materiais recicláveis devem explorar a hipótese de angariação de fundos, ao abrigo do Programa para o Desenvolvimento das Nações Unidas (UNDP) para Parcerias Público-Privadas, na área de gestão de resíduos sólidos. Devem também analisar as possibilidades de criação de cooperativas detentoras de acções e empresas para participarem no sistema público de saneamento. • A experiência Brasileira com redes de cooperativas e associações, em organizações políticas, tal como em organizações para o melhoramento do rendimento e trabalho dos recolhedores, devem ser consideradas. • A informação deve ser uma ferramenta estratégica para os recolhedores. • As tecnologias devem ter em consideração uma razão baixa entre o capital e a mão-de-obra. • Sensibilizar a população para o facto de a privatização não ser nem uma opção definitiva nem a única opção. • Os recolhedores devem ter em mente que os projectos das agências que os apoiam devem ser rigorosamente implementados em parceria com essas agências e não devem tornar-se numa fonte de rendimento para essas organizações. Devem ser definidos períodos específicos e resultados concretos durante a fase de planeamento dos projectos. As organizações devem considerar a distribuição equitativa dos fundos angariados. 30 Partilha de Experiências pelos Participantes As seguintes vivências foram partilhadas nesta sessão. Todas as apresentações podem ser consultadas no seguinte endereço: www. recicladores.net ‘‘ Este dia é um dia de tomada de consciência, não de celebração, porque ainda não temos muito que celebrar. Nós, os recolhedores, manteremos as mãos dentro dos sacos do lixo que nos fornecem o nosso modo de vida, mas a cabeça fora do saco, para lutar pelas políticas governamentais de que tanto necessitamos ’’ para melhorar a nossa situação. Sílvio Ruiz Grizales, Associação de Recolhedores de Materiais Recicláveis de Bogotá (ARB) Brasil, A Inclusão Social e Económica dos Recolhedores de Materiais Recicláveis, Bunchaft O contexto Brasileiro para a actividade dos recolhedores de materiais recicláveis apresenta inúmeras dificuldades: organização, falta de reconhecimento por parte das autoridades municipais, o facto de ser uma actividade rudimentar, o trato com intermediários, poucas oportunidades de alcançar a escala necessária para a comercialização, etc. Esta apresentação transmite os resultados de um estudo realizado para calcular o custo de criar novos empregos de recolha, em comparação com o custo de criar esses mesmos empregos noutras indústrias. Índia, Stree Mukti Sanghatana, Jyoti Mhapsekar Esta comunicação dá a conhecer os feitos conseguidos pela organização Stree Mukti Sanghatana e a sua Organização para a Liberdade das Mulheres, criadas em 1975 em Mumbai, Índia. Possuem centros de aconselhamento e creches. A maioria dos que recolhem lixo são mulheres, as quais correm grandes riscos de saúde. O seu contributo para a sociedade é enorme na medida em que ajudam a preservar o ambiente, a recuperar materiais, a fornecer materiais recicláveis às indústrias e a reduzir os custos de transporte, de lixeiras, etc. Explica ainda o processo de obtenção de bio-gás, o qual tem vários benefícios. Possuem programas de formação nestas áreas destinados aos recolhedores e recolhedoras. Índia, Privatização do Lixo no Norte da Índia, Chintan, Bharati Chaturvedi As municipalidades estão a privatizar a colecta e reciclagem de materiais recicláveis. A privatização deve incluir recolhedores, por exemplo na recolha ao domicílio. Os planos de acção devem incluir a totalidade da cadeia de valor e dar prioridade ao pleno emprego e aos aspectos sociais - e não só aos aspectos técnicos. A Pesquisa Ambiental Chintan e o Grupo Acção funcionam como parceria entre os recolhedores de materiais recicláveis e a equipa de apoio de base Chintan. Brasil, Sustentabilidade e Novos Protagonistas no Espaço Urbano: o Processo de Organização dos Recolhedores de Materiais Recicláveis, Bertrand Sampaio Esta apresentação abrange a história da origem do Movimento Nacional de Recolhedores de Materiais Recicláveis do Brasil e os desafios que terão de enfrentar no futuro para lidarem com actividades que sejam sustentáveis a nível financeiro, social e do ambiente. Riscos e Oportunidades para os Recolhedores Resultantes da Privatização da Gestão dos Resíduos Sólidos, WASTE, Liliana Abarca A modernização da gestão de resíduos sólidos faz parte dos processos de reformulação que estão a ocorrer nas municipalidades. Novos 31 protagonistas entram para o sistema em busca de oportunidades de investimento. Esta apresentação analisa as características e os papéis das organizações representativas dos recolhedores de materiais recicláveis na formação de Parcerias Público-Privadas. Os utilizadores devem ver como benéficas as alianças com o sector privado. Factores chave para o sucesso dessas alianças são a credibilidade dos protagonistas e a transparência dos processos. Venezuela - Cooperativa La Rosa Esta apresentação explica os problemas que a comunidade de Medina enfrenta devido à má utilização de verbas Estatais que tinham sido determinadas para uma fábrica de transformação e reciclagem, mas que acabaram por ser investidas numa unidade de triagem, cujo custo foi muito mais elevado do que havia sido planeado. A gestão da unidade foi atribuída a uma empresa que não oferecia aos trabalhadores nem boas condições de trabalho nem regalias laborais. A Cooperativa La Rosa Mistica de San Benito foi criada como um mecanismo fictício para empregar trabalhadores com condições diferentes e para dar acesso a incentivos estatais especiais. Após uma grande luta, os trabalhadores na unidade de separação tomaram posse da gestão da unidade sendo, pouco tempo depois, perseguidos e obrigados pela polícia a abandonar a unidade. Uma cooperativa reformulada composta pelos trabalhadores está em negociações com os governantes locais no sentido de lhes ser permitido o acesso à unidade, para que possam de novo encarregar-se da gestão, uma vez que actualmente a unidade de separação se encontra encerrada. Colômbia, Green Tales, Cali, Centro de Colecta, Bairro 13 Promovem a triagem na origem (separação no domicílio) e possuem 6 entrepostos. Recolhem material dos vizinhos, utilizando para o efeito bicicletes com atrelados, o qual é trazidos para os entrepostos. Os materiais são depois comercializados. Responsabilidade Social das Empresas e Alianças Estratégicas: Grupo 4 Relatório Apresentado ao Plenário Grupo 4 analisou as seguintes questões: • Alianças para dar mais poder e força aos recolhedores de materiais recicláveis • Razões que justificam a participação em actividades conjuntamente com empresas: filantropia versus alianças estratégicas; negócios inclusivos versus abordagem tipo ‘’fundo da pirâmide’’ Conclusões: • A responsabilidade social das empresas é uma iniciativa voluntária ou uma obrigação? Deve ser uma iniciativa voluntária das empresas ou deve obedecer a legislação? No caso específico dos resíduos 32 • • • • • sólidos, a maioria dos países não obriga as suas empresas a responsabilizarem-se pelos seus resíduos sólidos. O projecto Natura é tão importante porque, embora não sendo obrigados, estão a fazêlo. Em determinada altura, vai ser necessário haver legislação. Não deveria ser permitido um modelo que não incluísse os recolhedores. É fundamental estabelcer alianças com as empresas que sabem trabalhar com os recolhedores de materiais recicláveis Em muitas empresas, a responsabilidade social resume-se a projectos de filantropia. Têm de encarar a responsabilidade social da empresa em função da produção da cadeia de valor. A reciclagem tem uma cadeia de valor complexa, havendo dúzias de cadeias conforme o tipo específico de material, por exemplo, papelão, ferro, PET (produtos feitos de tereftalato de polietileno tais como as garrafas plásticas de Coca-Cola) etc. O desafio é enorme. É, portanto, importante que os recolhedores de materiais recicláveis compreendam bem a cadeia de valor na sua totalidade. Um asunto importante que se avizinha para um futuro próximo é o da certificação, esquemas que poderão vir a garantir a não exploração dos recolhedores por parte dos compradores. Para as empresas, reconhecer a autonomia dos recolhedores é um desafio. Muitas empresas não se encontram capacitadas para terem uma relação directa com os recolhedores. ‘‘É necessário avançar para níveis mais elevados na cadeia de valor e não ficar preso na fase de triagem. Isto não significa deixar de ser recolhedor, mas sim que os nossos processos organizativos devem conduzir-nos até lá.’’ Partilha de Experiências pelos Participantes As seguintes vivências foram partilhadas nesta sessão. Venezuela, Urso Polar, Programa 3 R’s Esta apresentação explica o programa de classificação da empresa, o qual é organizado junto dos consumidadores nas praias estatais. Brasil, Cosméticos Natura, Pedro Vilares A proposta principal da Natura é aprender a trabalhar em conjunto com as associações de recolhedores, entregando-lhes os resíduos sólidos e investindo em melhoramentos nos centros de processamento. Cada país deve desenvolver os mecanismos adequados a tal aliança. Chile, Gerdau Aza, Alex Ramos A Gerdau é um fabricante de aço Brasileiro. A empresa filiada Chilena chama-se Gerdau Aza. A empresa apoia os recolhedores de materiais recicláveis do Chile, através de uma ONG chamada Casa de la Paz. Possuem redes de comunicação estabelecidas em torno dos entrepostos. Têm sido capazes de recuperar 60% do lixo doméstico produzido nas cidades. A rede nacional comporta 15 grupos. O programa oferece a oportunidade de criação de novos postos de trabalho. A matéria prima utilizada pela Gerdau Aza é composta inteiramente por restos de metal. Os recolhedores não formaram redes eficientes. O programa 33 actual procura aumentar em 30 ou 40% o seu rendimento e fortalecer as suas organizações. Colômbia, CECODES O Conselho de Empresas Colombianas para o Desenvolvimento Sustentável, parte do Conselho Mundial de Empresas para o Desenvolvimento Sustentável (World Business Council for Sustainable Development) é composto por 31 empresas que promovem o desenvolvimento sustentável, onde se encontra incluída a Natura. O Conselho é composto pelos presidentes das empreas. Não consideram que o seu trabalho seja nem filantropia nem paternalista. México, Mundo Sustentável Este projecto pertence a uma empresa disposta a reciclar os PET. Requisitaram fundos ao Banco Mundial, através do Projecto para a Responsabilidade Social. O seu objectivo é a redução do trabalho infantil na recolha de lixo dando às crianças acesso ao ensino. Itália, Occhio del Riciclone, Frederico Mastrongiovanni Esta organização representa uma rede de associações da Colômbia e Itália. Surgiu como resultado da crise na área dos resíduos sólidos na Itália. As suas actividades incluem a investigação científica e a comunicação cultural. Promovem as vantagens da reutilização e também estão agregados à economia popular. Existe uma ligação entre os ciganos que executam o trabalho de recolha e os Italianos na cidade de Roma. Na Colômbia trabalham na zona do Oceano Pacífico juntamente com a Fundarte. Promovem a reutilização tanto antes como após a reciclagem. Brasil, Secretariado Nacional para a Solidariedade Económica, Jorge Nascimento Procuram a instauração de medidas políticas que levem à profissionalização do trabalho dos recolhedores. Trata-se de um projecto político do governo. Promovem a triagem na origem, no domicílio, e procuram que todos tenham um papel na sociedade. Em 2003, foi criada uma comissão interministerial para a Inclusão Financeira e Social dos Recolhedores. Existe um movimento nacional chamado ‘’Ser amigo do recolhedor’’. São apoiantes do Movimento Nacional de Recolhedores no que diz respeito à formação da liderança, análise de custos, e várias leis e decretos. Sistema Público (serviços) da Recolha de Materiais Recicláveis e dos Recolhedores de Materiais Recicláveis: Grupo 5 Relatório Apresentado ao Plenário Grupo 5 analisou as seguintes questões: • Aspectos do acesso aos materiais recicláveis (legislação, conflicto, etc.) • Como o sistema público facilita ou impede a inclusão/acesso dos recolhedores aos materiais 34 ‘‘ Os recolhedores vão de porta-em-porta a fazer a colecta ao domicílio, promovendo a separação dos resíduos. Este método é descentralizado e muito mais económico do que o sistema público de colecta, recupera maior quantidade de materiais, e inclui um programa para processamento de resíduos orgânicos. Mais, garante a segurança de emprego dos recolhedores, reduz o volume de trânsito e a poluição e aumenta a ’’ longevidade do aterro. Laxmi Narayan, KKPKP, Índia Conclusões É necessário haver mudança para ultrapassar os seguintes obstáculos: • Governo: vontade política, novas formas de lidar com os resíduos sólidos e a cumplicidade dos governos são fundamentais para a defesa dos interesses da população de recolhedores de materiais reciclávis • É necessário criar valor acrescentado. Se mais de 60% dos resíduos sólidos é de origem orgânica, então é importante que os governos estejam atentos às oportunidades de utilização de resíduos orgânicos, mesmo que estas não aparentem ser lucrativas. Está provado que pode haver uma redução significativa no volume dos aterros sanitários e evitar a construção de aterros novos • Procurar alternativas à contratação de organizações económicas solidárias • Implementar processos educativos e de imagem, para ‘’limpar’’ a opinião que o público tem dos recolhedores • Não separar o aspecto ambiental do aspecto social. Trata-se de um assunto político. O aspecto financeiro não é único, existe também um aspecto de redistribuição social • Os recolhedores também necessitam de algumas transformações a nível interno • A transição dos recolhedores, enquanto beneficiários de apoios de subsistência para o reconhecimento do seu trabalho enquanto serviço e a sua valorização, enquanto rede com capacidade para influenciar as determinações políticas • Isto só é alcançável através da organização e de organizações fortes em todos os sentidos • Acções a favor dos mais carenciados e outros mecanismos que contribuam para o reforço das organizações e do sistema cooperativo • Não esquecer os princípios e valores de solidariedade • Exercer controle social em relação às medidas políticas • Há algum tempo que os governos se concentram sobre a rentabilidade. Deveriam concentrar-se mais sobre a qualidade de vida das populações e o meio ambiente • Um novo modelo de gestão de resíduos sólidos por intermédio da vontade política dos governantes e das organizações Partilha de Experiências pelos Participantes As seguintes vivências foram partilhadas nesta sessão. Todas as apresentações podem ser consultadas no seguinte endereço: www. recicladores.net Índia, A Integração dos Recolhedores de Materiais Recicláveis na Gestão dos Resíduos Sólidos, Associação de Mulheres Trabalhadoras por Conta Própria (SEWA), Manali Shah A SEWA é um sindicato de mulheres pobres que trabalham por conta própria na economia informal. Possui uma cooperativa de recolha de materiais recicláveis na Cidade de Ahmadabad. As suas sócias recolhem o lixo nos domicílios e em edifícios comerciais e vendem-no uma vez 35 feita a triagem. Mas um novo governo modificou o modo de concorrer aos concursos públicos. A cooperativa foi obrigada a aceitar taxas mais baixas para os materiais recicláveis que vendem e as sócias do sindicato foram molestadas por aqueles que não receberam contractos. Alguns contractos foram oferecidos a conselheiros, mas houve uma deterioração dos serviços e as sócias da SEWA recuperaram alguns dos serviços. No final deste contracto elas ficarão de novo sujeitas a novas regras de concurso. Índia, Vermiculture Technology, Lokvikas Samajik Sanstha, Milind Babar O rápido crescimento da população urbana gera um grande volume de resíduos sólidos. As pessoas não se desfazem-se dos materiais recicláveiss domésticos de forma adequada. O lixo orgânico pode causar epidemias se não fôr tratado utilizando métodos higiénicos. Para resolver este problema, a ‘’Vermiculture’’ é uma técnica utilizada não só para remover os detritos domésticos (bio-degradáveis), mas também para os reciclar. O adubo assim produzido pode ser aproveitado para jardinagem. Camarões, Paraíso na Terra, A Gestão Sustentável de Resíduos em Barenda, Martin Atanga Não foi feita esta apresentação uma vez que o Senhor Atanga foi impedido de se deslocar à Conferência, mas a mesma está disponível em Powerpoint na página da internet da Conferência. A apresentação mostra o que se passa em Baranda, Camarões, em relação à recuperação de diversos materiais, tanto orgânicos como não orgânicos, provindos das lixeiras. Perú, Cidade Saudável, Albina Ruiz ‘’Onde os outros só vêem detritos, nós vemos soluções potenciais.’’ Porquê Cidade Saudável? Porque é que as cidades onde vivem mais pessoas são as mais sujas? Porque é que os recolhedores têm de ganhar as suas refeições do lixo? Porque é que os governos locais são tão pouco eficientes na sua criação de soluções? Cidade Saudável (Ciudad Saludable) rebelou-se contra esta situação e decidiu tornar-se num agente de mudança através da: • • • • • promoção de governação transparente reforço institucional promoção de tecnologias limpas participação comunitária na tomada de decisões tomada de consciência e desenvolvimento das capacidades a nível da saúde e do ambiente • promoção de sistemas e empresas de gestão ambiental Este modelo holístico inclui organizações, instituições de ensino e de apoio ao desenvolvimento, meios de comunicação, governos centrais, governos locais, comunidades, recolhedores e empresas. Resultados: 35 micro-empresas de recicladores criadas contendo cada uma de 15 a 20 recolhedores de materiais recicláveis. Cada uma necessita de um investimento inicial de capital na ordem dos $500. Anteriormente, cada família ganhava $2 por dia, depois passaram a ganhar $10 por dia. 36 Colômbia, Caso Bogotá e Costa Norte, Silvio Ruiz, G.Mejía e UAESP Modelo de entrega de servicios, cadena de reciclaje, separación en Este é um modelo de serviços, de cadeia de valor de reciclagem, de triagem na origem. Primeira fase, uma campanha massiva de consciencialização; segunda fase, lançamento nos meios de comunicação, informação na imprensa, e página na internet; terceira fase, televisão, publicidade nos receptáculos públicos e participação em espaços públicos com instituições e empresas. Resultados: montagem de centro de reciclagem (la Alqueria), promoção de associações (17 organizações criadas), reconhecimento de organizações e redes já existentes (49 organizações com 3650 pessoas, ARB-ARA-ARUB), educação e formação providenciadas, articulação com programas de trabalho infantil (860 crianças introduzidas em actividades educativas destinadas e eliminar o trabalho infantil), emissão de certificados de competência (177 emitidos, 1000 em processo de certificação), vitória legal que levou ao reconhecimento dos recolhedores como profissionais com direito a concorrer aos concursos públicos de gestão de resíduos sólidos, valorização directa dos recolhedores (e não através de intermediários). Colômbia, SINTRAEMSIRVA, Sindicato de Trabalhadores Municipais, Cali, Ciro Manyoma e Luz Elena Gongora Quando o município tentou a privatização os recolhedores foram excluídos. A federação sindical global, Serviço Público Internacional (PSI), estipulou que as entidades privatizadas devem incluir políticas que incluam os recolhedores e devem trabalhar com os recolhedores. Propôs que estas medidas fossem adoptadas em todo o país (Colômbia). Há necessidade de haver uma economia solidária para que as cooperativas possam realizar os seus sonhos. Há necessidade que existam políticas nacionais que favoreçam as Member Based Organizations (MBOs) (Organizações que se baseiam em sócios), e não apenas protocolos ambientais, que promovam o emprego, padrões laborais e a participação popular, e desencorajem o apoderamento por parte das empresas. Chile, Município de Ovalle, Romana Juarez Medidas necessárias para a redução de resíduos sólidos: - adubo (trabalho com a comunidade - sindicatos de ‘’ferias libres’’ e empresas privadas) - reciclagem (trabalhar conjuntamente com a Agrupacion de Recolectores, AREI sobre campanhas de reciclagem) Para que possa haver reciclagem é necessário haver triagem de resíduos sólidos, projectos ambientais, reforço das organizações, debates com a comunidades (incluindo crianças de idade escolar) Para uma abordagem de gestão ambiental holística é necessário haver: recolhedores de materiais recicláveis, empresas, autoridades políticas, comunidades. A relação entre o sector público e os recolhedores de materiais recicláveis é um processo político (e não técnico) São os mais desfavorecidos que prestam serviços de saneamento público. Há necessidade de ultrapassar a discriminação e criar um sistema inclusivo. Colômbia, Cooperativa da cidade de Pasto A maior preocupação dos sócios da cooperativa é o desemprego. As autoridades deveriam ter em consideração as possíveis formas de 37 emprego dos recolhedores em vez de se ocuparem com concursos dirigidos ás empresas. Painel: Políticas Governamentais: Perspectivas Económicas, Socias e de Género Carlos Julio Ramirez, Experiência Colombiana, Comissão Nacional de Reciclagem O objectivo geral da Comissão Nacional de Reciclagem é o desenvolvimento integral e equilibrado de estratégias e instrumentos que fortaleçam a produtividade, a competetividade, e as condições sócio-económicas das cadeias de valor envolvidas na reciclagem. Os eixos temáticos são: financeiros, comerciais e económicos; judicial, administrativo e institucional, formação, assistência técnica e investigação; infraestruturas; e formalização. A apresentação que aparece na página na internet sobre a conferência fornece pormenores sobre os aspectos chave que dizem respeito a cada eixo temático. 38 Dia 3: 3 de Março de 2008, Criação de Redes de Apoio Painel: Integração de Esforços nas Redes Globais Roberto Laureano, Catasampa, Brasil Rede Local ‘‘ Há quatro anos, eu era uma simples recolhedora de materiais recicláveis nas ruas da cidade, quando me deram a conhecer o programa Vida Limpa e lá descobri a minha capacidade de liderança. Eu luto pelos nossos direitos. ’’ Tenho orgulho na nossa classe. Maria Mónica da Silva, Programa Vida Limpa , Brasil ‘Há necessidade de criar uma massa crítica de cooperativas, com acesso a mais materiais de melhor qualidade aptas a proceder à comercialização directa, sem recorrer a intermediários e, portanto, capazes de alcançar maiores benefícios para os recolhedores. Estes logotipos que aparecem na apresentação Powerpoint pertencem às organizações que apoiaram a CataSampa no início. A Catasampa foi criada porque o Movimento Nacional de Recolhedores de Materiais Recicláveis do Brasil sentiu a necessidade de dar resposta às necessidades dos seus membros no sentido de proporcionar maior valor acrescentado ao seu trabalho. Determinou-se que não seria uma organização incubada por qualquer outra entidade, mas sim uma organização que, desde o início, seria construída pelos próprios recolhedores. Petrobras, a enorme empresa petrolífera brasileira, colaborou no reforço desta rede. Um dos assuntos fundamentais é o processo de comercialização, acrescentando valor. Todas as cooperativas participam num processo em rede da cadeia de valor. A CataSampa tem capacidade para criar grandes quantidades de materiais. Uma infraestructura foi desenvolvida para lidar com os materiais em causa, mas também com as estruturas sociais. Um dos grandes debates desta rede é saber como promover políticas governamentais e accões directas. A experiência partilhada por Belo Horizonte foi sobre a necesidade de inserir as cooperativas de recolhedores na cadeia de produção. Deste modo criaram maior rendimento. Existem 9 associações de recolhedores envolvidas na rede local, Cataunidos. Inicialmente apoiavam 300 recolhedores, mas têm como meta atingir os 1000. Sem organizações fortes, os recolhedores de materiais recicláveis jamais atingirão estes objectivos. Pat Horn, StreetNet Internacional Rede Global ‘’Em 1995,a Associação de Mulheres Trabalhadoras por Conta Própria da Índia, SEWA, organizou um encontro internacional de representantes dos vendedores de rua e conselheiros legais de 11 países, com o objectivo de perceber os problemas que enfrentam, relativos aos espaços urbanos. Um dos seus problemas foi falta de representatividade, um fórum representativo das suas necessidades e 39 interesses. Foi elaborada uma declaração com as suas reivindicações - a A Declaração Internacional de Bellagio dos Vendedores de Rua. A WIEGO assumiu a responsabilidade de angariar os fundos necessários para a constituição de uma rede internacional e, ao mesmo tempo, nomeou um indivíduo para efectuar a coordenação dessa tarefa. Pelo mundo fora existem muitas organizações de vendedores de rua. Muitas foram criadas em tempo de crise mas, uma vez passada esta, as organizações não se mantiveram unidas. Foi esta a situação com que se confrontaram quando tentaram criar uma rede internacional. Muitas organizações já existentes funcionavam como uma máfia de rua, apresentando-se como representantes dos interesses dos vendedores de rua. Foram realizadas três sessões de trabalho para deliberar sobre 3 assuntos importantes que tinham de ser estabelecidos logo desde o momento da criação da rede global. Assuntos de género: 80% dos membros das organizações são mulheres, mas 100% dos líderes das mesmas são homens. ONGs: qual deveria ser a posição das ONGs dentro da estrutura, deveriam ou não ser membros directos. Filiações políticas: a StreetNet deveria ou não ser filiada. O lançamento oficial da StreetNet Internacional ocorreu em Durban, na África do Sul, em Novembro de 2002. Nessa altura foram adoptados a Constituição e o nome da organização e eleita uma Comissão Interina. A Constituição declarava que haveria uma quota de 50% de mulheres em todas as estruturas da organização. As ONGs não teriam o direito de serem filiadas - antes, o seu papel será um de prestação de serviços aos membros. Existe uma regra de não filiação partidária a nível político, de modo a preservar a independência das lutas com base nos assuntos que dizem respeito aos vendedores de rua. Foi dada prioridade ao desenvolvimento de alianças de vendedores de rua, a nível nacional, no maior número possível de países. Poderiam ser incluídas alianças, sindicatos, e alianças a nível de cidades, desde que fossem organizações constituídas por sócios. Foram angariados fundos para o primeiro plano tri-anual, de 2003 a 2005. Em Março de 2004, a Organização Nacional de Vendedores de Rua da Coréia organizou um encontro de membros. Foi então eleito um conselho internacional, composto por 15 pessoas, vindas das organizações sócias. Oito têm de ser mulheres. Muitos dos aliados tomaram maior conhecimento das suas próprias políticas em relação ao assunto de género; alguns passaram a desenvolver mais conscientemente a liderança feminina. A StreetNet encoraja a formação de alianças nacionais de forma a melhorar o reconhecimento governamental. Os governos tinham por hábito jogar uma organização contra a outra. Em 2004, a Organização Internacional do Trabalho (OIT), reconheceu a StreetNet enquanto organização internacional de vendedores de rua, o que lhe confere 40 o direito de participar no Grupo de Trabalhadores da Conferência Internacional do Trabalho, de influenciar as resoluções que daí advêm. É muito difícil influenciar os instrumentos de uma organização como a OIT, a qual é muito burocrática. Ter obtido esse reconhecimento é um feito importantíssimo. Por outro lado, também deu à StreetNet a oportunidade de influenciar sindicatos, para que começem a organizar os trabalhadores do sector informal e os vendedores de rua. A StreetNet difunde, através de um site na internet, notícias como, por exemplo, aquelas que mostram vendedores a serem expulsos de um lugar qualquer, e envia mensagens de apoio vindas de organizações de vendedores de rua espalhadas pelo mundo. Isto significa que que são apoiados por outros e levados mais a sério. Em 2007, a StreetNet realizou o seu Congresso, que ocorre de três em três anos, no Brasil. Serviu-se desta oportunidade para estabelecer contacto com o movimento dos recolhedores de materiais recicláveis. Representantes da StreetNet visitaram o MNCR e deixaram um convite para que participassem num diálogo social realizado em São Paulo. Foi muito revelador para os vendedores de rua verem o modo como os recolhedores estão organizados. E de verem como são enfrentados problemas que são comuns aos dois grupos, como quando o modo de ganhar a vida dos catadores é entregue às empresas privadas. Como rede de apoio, A StreetNet continua a procurar estabelecer alianças com outras organizações de trabalhadores do sector informal. Prevemos a manutenção de uma aliança forte com os recolhedores, tal como com outras organizações representativas dos mais desfavorecidos, dos moradores de bairros de lata, e outros, uma vez que os vendedores de rua são afectados pelos mesmos problemas que todos os pobres enfrentam.’’ Sessões Paralelas - Grupos Regionais Os participantes dividiram-se me grupos de trabalho consoante as suas respectivas regiões de origem: América Latina, Ásia, Europa e África (conjuntamente). O grupo da América Latina subdividiu-se ainda em duas sessões separadas, uma para os recolhedores de materiais recicláveis e uma para o pessoal de apoio técnico. Os recolhedores da América Latina, cada qual em representação do seu país, realizaram então um encontro que visou exclusivamente a rede de apoio da América Latina. Após este encontro, deliberaram juntamente com os representantes da Ásia e da África/Europa no sentido de redigirem uma declaração final conjunta em nome de todos os recolhedores. Durante a sessão de trabalho da rede de apoio da América Latina, os restantes participantes assistiram, em plenário, às apresentações que não tinham sido apresentadas anteriormente devido à falta de tempo. 41 Plenário da Conferência Dr. Liu Kaiming, Instituto de Observação Contemporânea, Assuntos Laborais e Recolhedores de Materiais Recicláveis na China ‘’A China é um país enorme com uma população muito grande. O país cresceu muito nos últimos 20 anos. As pessoas vão para as cidades em busca de trabalho. A maior parte do trabalho é migratório. Há mais de 6 milhões de recolhedores de materiais recicláveis, trabalhando em diversas cidades grandes. Em Shenzhen, há 15 milhões de habitantes, a maioria trabalhadores migrantes, onde estão incluídos 200 mil recolhedores, sendo a maioria mulheres. Mas são os homens que tomam as decisões críticas. Os regulamentos e a lei não permitem aos recolhedores trabalharem na cidade. É muito difícil estabelecer uma rede de apoio. Esta orgnização não lucrativa trabalha com os recolhedores migrantes, melhorando a sua posição a nível de saúde, colocando exames médicos, cuidados infantis, diálogo social, e formação ao dispôr dos recolhedores. Facilita o desenvolvimento de políticas governamentais mais favoráveis.’’ Ana Luzia Florisbela dos Santos, Diferenças entre os Homens e Mulheres na Gestão de Resíduos Sólidos Este estudo teve como objectivo disponibilizar informação sistematizada sobre a participação e contribuição de mulheres e homens nas diferentes fases da gestão completa de resíduos sólidos. Em geral, as mulheres são mais pobres e, por norma, são elas as responsáveis pela triagem, armazenamento e recolha. A maioria das posições de gestão, tanto privadas como públicas, pertencem aos homens. Nas lixeiras os homens estão em maioria. As mulheres realizam tarefas mais difíceis e obtêm rendimentos inferiores porque o acesso que têm ao lixo é secundário em relação aos demais e tem, portanto, valor de mercado inferior. De forma a melhorar esta situação, é necessário promover um diálogo estável e sistemático com as instituições governamentais e sociais, criando assim possibilidades de incorporação de uma perspectiva feminina na gestão de resíduos sólidos urbana. Óscar Espinoza, IPES Avaliação do Sector Local de Reciclagem Utilizando o Equilíbrio de Materiais Esta apresentação mostra o processo que se deve seguir para calcular as quantidades de lixo produzido por um região, e qual o papel de cada interveniente na sua gestão. Oferece uma descrição exaustiva das fases envolvidas na gestão de resíduos sólidos e pode servir como um guia para aqueles que estão a dar início ao trabalho nesta área a nível regional. Manali Shah, SEWA Redes Regionais: O Exemplo da HomeNet no Sul da Ásia ‘’A HomeNet no Sul da Ásia foi constituída no ano 2000. É composta pelas Redes de Apoio Nacionais de trabalhadores domiciliários de quatro países: Índia, Bangladeste, Paquistão, e Sri Lanka. Fazem parte da Rede 42 ‘‘ É necessário avançar para níveis mais elevados na cadeia de valor e não ficar preso na fase de triagem. Isto não significa deixar de ser recolhedor, mas sim que os nossos proces- ’’ sos organizativos devem conduzir-nos até lá. Orador no debate do Grupo 4 sobre a Responsabilidade Social das Empresas e Alianças Estratégicas um total de 700 organizações, representando 450,000 trabalhadores domiciliários. Em 2000 um grupo de discussão foi convocado para discutir a situação das mulheres na economia informal. O grupo de discussão reconheceu os trabalhadores domiciliários como sendo os trabalhadores mais vulneráveis. Concordaram em criar uma rede de apoio. A HomeNet no Sul da Ásia surgiu como a voz colectiva dos trabalhadores e trabalhadoras domiciliários nesta região. Tem por objectivo tentar influenciar medidas políticas, leis e programas a nível dos governos nacionais. A organização procedeu ao delineamento territorial nos diversos países para determinar onde se localizavam as organizações representativas dos trabalhadores domiciliários. Este revelou-se ser um instrumento organizativo valioso. A organização também levou a cabo investigações activas para determinação dos níveis de protecção social. As campanhas actuais são: medidas políticas nacionais, ratificação da Convenção 177 da OIT sobre o Trabalho Domiciliário, protecção social para os trabalhadores domiciliários.’’ Sonia Dias, Fórum sobre os Resíduos e a Cidadania, Brasil Este apresentação não foi feita durante a sessão plenária. A apresentação pode ser consultada em www.recicladores.net . Conclusões Apresentadas ao Plenário pelos Grupos Regionais 1.Ásia Este grupo era composto por membros vindos da Índia, Hong Kong, Nepal, Cambódia e Indonésia. O debate centrou-se nos seguintes temas: • Lições tiradas da conferência de Bogotá e das resultantes interacções • Necessidade de manter contacto e interacção contínuas • Natureza dos contactos, estrutura/formato • Requisitos para os mesmos Lições tiradas da conferência de Bogotá e das resultantes interacções As lições retiradas, durante o decorrer da conferência e das interacções, formais e informais, durante os três dias, incluiram: 1. O impressionante progresso e, também, a sua determinação em manterem a sua própria autonomia 2. O movimento forte e animado, que quase criou uma expressão cultural alternativa a nível de música, dança, etc. 3. A detenção total da posse das redes por parte dos próprios recolhedores 43 4. A capacidade de integração vertical e de desenvolvimento de programas e processos, de modo a que continuem a subir na cadeia de valor 5. O esforço colectivo de advocacia que resultaram na criação de medidas locais em apoio dos recolhedores 6. A capacidade de comercializar produtos e serviços e de se manterem como parceiros eficientes no mercado 7. A criação de conselhos nacionais para a reciclagem 8. Segundo o parecer de alguns participantes, não foram suficientemente debatidas as tendências na área dos resíduos e no sector informal, nem tão pouco o impacto do manuseamento do lixo sobre a saúde dos membros da comunidade de recolhedores. Em comparação com a América Latina, foram apontadas as seguintes tendências na Índia: 1. Predominante concentração sobre a integração dos recolhedores envolvidos na recolha porta-a-porta 2. Todas as reivindicações feitas, em grande parte, directamente ao Estado; ligeiramente reduzida a dependência no financiamento exterior constante 3. Preocupação geral na Índia com a sustentabilidade dos modelos económicos 4.Forte incidência sobre o relacionamento estreito com investigadores, académicos, ambientalistas, e outros interessados. Procura contínua de apoio vindo de novos parceiros. 5.Resistência dos recolhedores a mudanças na profissão e à assimilação de novos métodos de processamento, reciclagem, etc. 6.Encarar a privatização como uma oportunidade e reivindicar o direito dos recolhedores, enquanto entidade privada, com quem o estado tem a obrigação de formar parcerias 7.Grupos na Índia operando em maior escala. O envolvimento de maior número de recolhedores. 8. Ensaiar modelos organizativos diversos: sindicatos, ONG’s, cooperativas e empresas privadas 9. Integração de todos os modelos num sistema de gestão de resíduos sólidos que seja descentralizado e amigo do ambiente 10.Tomada de posição mais decisiva contra a tecnologia de processamento baseada na incineração, uma vez que estas roubam aos recolhedores opções de trabalho Necessidade de manter contacto e interacção contínuas: 1. Partilhar as traduções de todos os documentos decisórios, entendimentos formais, acordos e concessões, etc. formulados pelos diversos governos locais, estatais ou nacionais. 2. Conseguir uma visão clara do apoio concreto dado pelo estado, pelas empresas privadas, pelas organizações da sociedade civil, organizações parceiras e financiadores 44 3. Documentar as práticas efectivas, mencionando financiamentos, esforços e processos específicos 4. Utilizar o apoio de defesa legal que está disponível na América Latina em regiões da Ásia 5. Documentar o apoio dado pelos conselhos locais nas Filipinas, etc. que têm vindo a promover a criação de espaços descentralizados onde podem ser situados centros de recuperação de materiais 6. Criar um inventório de produtos reciclados e de serviços na área de gestão de resíduos já fabricados e/ou efectuados. Requisitos para a zona asiática: 1. Foi ainda referida a necessidade de consolidar a rede asiática. Para tal, seria preciso localizar mais organizações nessa região, criando assim uma base de dados de recolhedores de materiais recicláveis, onde ficaria registado o número existente de recolhedores, a sua situação, os seus problemas e o papel dos governos locais. 2. Há necessidade de partilha das fontes de financiamento para custear pequenos projectos na Ásia capazes de garantir capital inicial às micro empresas. 3. Há necessidade de manter informadas as organizações ambientais, os grupos de investigação, as organizações civis e as municipalidades. Natureza dos contactos, estrutura/formato: 1. Baseados em e-mails (e-grupo), interactivos, co m um secretariado com capacidade para manter unidas as organizações individuais, partilhar informação periodicamente, organizar encontros regionais trimestrais. 2. Desenvolver um dia anual do recolhedor de materiais recicláveis na Ásia que, inicialmente, poderia ser celebrado em cada cidade em datas diferentes, mas que, posteriormente, seria comemorado com programas mais significativos e a nível nacional. Requisitos para os mesmos: Recursos, financiamento, secretariado, indivíduos e organizações prontos a dedicarem o seu tempo ao desenvolvimento de contactos. 2. América Latina Os participantes desta região foram divididos em dois grupos, os recolhedores e o pessoal técnico. Pessoal Técnico O grupo de trabalho constituído pelo pessoal técnico foi ainda subdividido em 4 grupos: 1. ONG’s e Fundações 2. Pessoal técnico que trabalha nas cooperativas de recolhedores 45 3. Empresas/indústrias privadas 4. Estado Grupo 1: Pessoal Técnico Pertencente a ONG’s e Fundações Conclusões O grupo concordou em: vCriar uma rede Américo-Latina, um espaço de trabalho para as organizações técnicas vProceder à troca de experiências vMobilizar recursos vRealizar estudos e investigações comprovativos vInfluenciar a tomada de decisões políticas relativas à cadeia de valores, visibilidade comercial (comunicações), legislação vDesenvolver uma rede virtual A AVINA ofereceu o uso da sua estrutura para a gestão da rede, uma vez que esta é a única organização a operar em toda a América Latina. Mais, concordaram ainda em: v Trabalhar em conjunto com os movimentos nacionais e o da América Latina v Promover e reforçar os movimentos nacionais e regionais v Utilizar a página na internet ‘’recicladores.net’’ para trocas (link com e-grupo) v Promover escolas de liderança para reforço das organizações v Apoiar a professionalização dos recolhedores v Influenciar as políticas governamentais no sentido de levar a cabo a integração dos recolhedores na gestão de resíduos sólidos v Apoiar o acesso ao crédito v Realizar estudos sobre a reciclagem e mercados de papel Grupo 2: Pessoal técnico que trabalha nas cooperativas de recolhedores Conclusões: Acções que se tornam necessárias levar a cabo nos diferentes países: v Criar medidas governamentais que suportem os processos organizativos em todos os países v Promover normas locais que favoreçam as colectas selectivas e o seu controle v Eliminar a carga fiscal sobre os materiais reciclados v Inlcuir a reciclagem de materiais orgânicos e não orgânicos nos processos de colecta municipal, tendo em consideração a inclusão dos recolhedores de materiais recicláveis v Promover um regime especial para o pagamento da segurança social v Na prática, dar preferência aos recolhedores na contratação de serviços de recolha de lixo e outros serviços afins v Isentar os recolhedores da taxa municipal sobre a colecta de lixo (como um tipo de subsídio) 46 v Levar as empresas municipais a reconhecer as organizações de recolhedores pelo trabalho que realizam na recuperação de materiais evitando que estes sejam enviados para os aterros v Criar uma base de dados e promover a troca de informação sobre cooperativas de reciclagem v Promover a criação de normas internacionais que proíbam a embalagem de produtos em materiais não recicláveis v Solicitar às ONG’s que os seus programas de formação tenham em consideração os horários de trabalho dos recolhedores v Descentralizar o apoio dado pelas ONG’s v Diferenciar as normas aplicáveis às pequenas e às grandes empresas v Promover trabalho associativo onde sejam aplicados valores de solidariedade v As organizações de recolhedores de materiais recicláveis devem tomar partido dos espaços oferecidos pelo Estado (orçamentos participativos, assembleias, etc.) v As ONG’s e o Estado devem providenciar fundos para o apoio do acesso à tecnologia v Promover a formalização da actividade de modo a protegê-la da competição v Estabelecer uma ligação com os diferentes componentes da cadeia de valor de modo a garantir condições mínimas para aqueles que estão no fundo da cadeia v Estabelecer uma ligação com a indústria através da responsabilidade social dando garantias de volume de compras, preços justos, acesso ao equipamento v Reconhecer o contributo dos recolhedores para a criação de emprego, juntamente com o seu contributo financeiro, social e ambiental. Não se trata de um subsídio, mas sim um serviço oferecido ao público em geral. Grupo 3: Pessoal Técnico de Origem Empresarial e/ou Industrial Conclusões: v Desenvolver medidas empresariais de responsabilidade social v Providenciar certificados de origem v Oferecer segurança social aos recolhedores (devido aos riscos para a saúde a que estão expostos) v Envovler os intermediários na cadeia de valor (uma situação em que todos ganham) Grupo 4: Pessoal Técnico Estatal (Argentina, Chile, Venezuela, Equador, Colômbia, e Brasil) Conclusões: Este grupo redigiu a seguinte declaração: ‘’Nós, representantes dos seguintes países da América Latina: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, Perú, Venezuela, 47 Porto Rico, Guatemala, Nicarágua, México e Paraguai, presentes na Terceira Conferência da América Latina e na Primeira Conferência Mundial de Recolhedores de Materiais Recicláveis, compreendemos a importância do papel desempenhado pelo Estado, enquanto promotor do processo de desenvolvimento social, financeiro e político do povo, de forma democrática e com controle social exercido pelos cidadãos. Nesse sentido, as propostas abaixo mencionadas têm como objectivo o reforço do recolhedor enquanto cidadão com direitos universais, elemento fundamental na cadeia de valor da reciclagem. Os recolhedores devem também ser reconhecidos pelo trabalho valioso que desempemham e cujo impacto financeiro, social e ambiental se espalha por toda a sociedade na América Latina. v Criar uma poítica nacional que obrigue à triagem na origem v A escolha selectiva deve ser levada a cabo pelos recolhedores na raíz v Reconhecer a categoria e integrar os recolhedores no sistema integral de gestão de resíduos sólidos urbanos v Reconhecer o direito dos recolhedores de materiais recicláveis ao trabalho, à formação, à segurança e a um sistema de saúde vSistematizar e divulgar as melhores práticas e a inclusão social dos recolhedores e recolhedoras vEm termos financeiros, dar acesso ao crédito, a financiamento, a subsídios, à cooperação, e oferecer um serviço público de recolha de lixo e processos de transformação de materiais vProporcionar a transferência de tecnologia em pequena escala e apropriada às empresas vIsenção de carga fiscal para materiais recuperados vReforço das organizações de modo a melhorar a sua gestão na cadeia de valor v Permitir aos recolhedores procederem ao processamento, transformação e comercialização de todos os tipos de resíduos sólidos (orgânicos/inorgânicos) v Reforçar o tema da solidariedade social na Mercosur (um tratado de cooperação económica que engloba o Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) através da criação de um grupo de trabalho para debater políticas governamentais que promovam a inclusão social, económica e ambiental dos recolhedores v Desenvolver uma rede de apoio na América Latina composta por entidades públicas apostadas na inclusão social e económica dos recolhedores de materiais recicláveis v Desenvolver uma rede de apoio na América Latina que facilite a formação virtual e a transferência tecnológica (aspectos tecnológicos e angariação de fundos) b) Recolhedores de Materiais Recicláveis Os recolhedores de materiais recicláveis da América Latina que participaram na conferência concordaram com a integração de um 48 representante de cada país num grupo base que fará parte da rede de apoio da América Latina, que actualmente engloba representantes do Chile, Argentina, Colômbia, Paraguai, Guatemala, Brasil, Porto Rico, Equador, Bolívia, Perú, México e Venezuela. Os representantes dos países acima mencionados decidiram que o novo secretariado da rede ficará sediado no Movimento Nacional de Recolhedores do Brasil. Foram estabelecidos os seguintes acordos: 1. Aumentar os conhecimentos e a formação em informática de modo a ficarem aptos a estabelecer e manter contactos e comunicações, através da www.recicladores.net, pelo menos uma vez por mês a página www.articulacionlatinoamericana.com deve estar em funcionamento a partir de Abril 2. Deve haver mudanças no secretariado da rede e estas devem ocorrer anualmente 3. Os delegados nacionais serão incumbidos da responsabilidade pela introdução na sociedade/partilha de experiências através de meios de comunicação alternativos 4. Participar, enquanto rede de apoio, no Fórum Social Mundial do Brasil em 2009 e, a partir dessa plataforma, apresentar a realidade do sector de recolhedores de materiais recicláveis, utilizando para tal dois delegados por país, com administração coordenada pela rede 5. Trabalhar no sentido de desenvolver e implementar as decisões desta conferência de 2008 6. Construir centros de formação tecnológica com relevância para a América Latina 7. Promover, enquanto rede, encontros nacionais em cada país 8. Assumir os os compromissos assumidos pela rede em encontros anteriores 9. Comprometer-se com os temas e objectivos declarados no decorrer do segundo congresso da América Latina 10.Comprometer-se em manter a ligação a nível global, mantendo o contacto com as organizações de recolhedores de materiais recicláveis espalhadas pelo mundo Os representantes do Movimento Nacional de Recolhedores de Materiais Recicláveis do Brasil subiram ao palco para serem reconhecidos na sua nova função . Houve ainda uma celebração em honra de Exequiel Estay, do Chile, que cedia o cargo de secretário da rede. O novo secretariado apresentou os seus agradecimentos aos organizadores do evento, os líderes da Colômbia e do Chile e Lucía Fernández, a coordenadora. O novo secretariado assume a responsabilidade de promover a inclusão de todos e agradece a todos a oportunidade de terem participado num plenário de sucesso, composto apenas por recolhedores. A luta continua. 49 3. África e Europa Dado o número reduzido de participantes oriundos destas regiões, estes reuniram-se num só grupo de trabalho para debater acções sequentes. Conclusões Assuntos apontados pelos recolhedores: 1. Problemas com intermediários e compradores. Os recolhedores buscam formas de trazer o lixo directamente para os entrepostos, onde será processado e distribuído, sem terem de depender de intermediários que lhes retiram uma grande fatia do rendimento. 2. Problemas com espaço de trabalho. É difícil obter terra ou espaços abertos, no seio das comunidades, onde os materiais possam ser armazenados e processados. 3. Na Europa, funcionários extraiem materiais reutilizáveis antes destes serem enviados para as lixeiras. Cria-se assim uma oportunidade adicional para a distribuição da riqueza na faixa mais pobre da economia, dando desta forma ímpeto à ‘’economia popular’’. Esta fase envolve grupos marginalizados da população (tais como ciganos na Europa, Afro-Colombianos e populações indígenas nos países da América Latina, etc.) que bens em segunda mão que poderão ser reutilizados. 4. Necessidade de haver maior representatividade dos diversos níveis (sectores) de recolhedores para garantir que aqueles que se encontram no nível mais baixo da ‘’economia popular’’ também tenham representação directa. Desta forma, garante-se maior inclusão por parte das organizações e das redes de apoio. África: Planos para estabelecimento e manutenção de contactos 1. Uma conferência a nível do continente a ser organizada e localizada no Egipto. 2. Em simultâneo, continuar com a busca e localização de modo a identificar organizações já existentes de recolhedores: - aplicação de critérios e directrizes para a identificação de diferentes sectores/ocupações entre os recolhedores - utilizar outras organizações e redes de apoio à economia informal que já sejam conhecidas (por exemplo, organizações de vendedores de rua que fazem parte da StreetNet, organizações comunitárias pertencentes à SDI) de modo a que possam ser identificados o maior número possível de grupos organizados em todos os países 3. Promover o princípio de organizações democráticas geridas pelos trabalhadores (por exemplo, geridas pelos recolhedores) Europa: Planos para estabelecimento e manutenção de contactos Na Itália já estão a decorrer grupos de trabalho e seminários e estes devem continuar. 50 Os seguintes critérios/directrizes devem ser aplicados aquando da ocorrência de contactos futuros: - o princípio da participação directa por parte dos recolhedores; - problemas que terão de ser ultrapassados para que possa ser garantida a participação directa dos recolhedores: (a) a auto-exclusão por parte dos recolhedores que não se consideram os melhores representantes dos seus interesses; (b) problemas em viajar experimentados pelos ciganos, migrantes, e outras pessoas que não possuem documentos; - o Banco Mundial não deve ser a força motriz; - utilização de redes de apoio a migrantes na identificação de agrupamentos ligados ao trabalho de recolha de materiais recicláveis e de reciclagem; Ideias para estabelecimento e manutenção de contactos a nível global 1. Utilização da internet 2. Utilização de espaços oferecidos pela sociedade civil, tais como o Fórum Social Mundial 3. Troca de bens reciclados 4. Utilização de investigadores oriundos do povo 5. Deve ser estabelecida uma estrutura interina, não para representar os recolhedores de materiais recicláveis nas redes de comunicação, mas para coordenar essas mesmas redes e a organização de eventos consultando, para tal, os próprios recolhedores e as suas organizações. Declarações e Fecho da Conferência Declarações Declaração da 3ª Conferência de Recolhedores de Materiais Recicláveis da América Latina Ver a Declaração na sua totalidade após o Sumário Executivo Após a apresentação da Declaração da América Latina, houve uma comemoração por parte da rede de apoio da América Latina, com agradecimentos especiais para Sílvio Ruiz Grisales e Nohra Padilla do ARB por todos os seus esforços ao levar avante a realização deste evento. A partir deste momento, Sílvio, Severino Lima (MNCR, Brasil) e Exequiel Estay (Chile, secretário demissionário da Rede de Apoio da América Latina) serão conhecidos como os ‘’dinossauros’’ do movimento. Esta foi uma referência cómica feita em relação ao facto de eles serem os antigos promotores da rede original nesta região. 51 Declaração Global da 1ª Conferência Mundial de Recolhedores de Materiais Recicláveis Ver a Declaração na sua totalidade após o Sumário Executivo Os seguintes indivíduos participaram nas discussões intercontinentais em representação das suas regiões: Laxmi Narayan pela Ásia, Nohra Padilla pela América Latina, Federico Mastrogiovanni representando a Europa e Noluthando Gqotso pela África. Fez-se notar que ter-se chegado a uma declaração conjunta não foi tarefa fácil para os representantes dos recolhedores de materiais recicláveis das diversas regiões, os quais se vêem confrontados com diferentes problemas em situações diferentes. Fecho “Ficamos gratos a Deus por termos sido capazes de realizar este evento. Ficamos gratos a todas as equipas pelo seu trabalho. Ficamos gratos às delegações nacionais pelos seus esforços. Pedimos desculpa aos participantes, tanto aos recolhedores como aos que não são recolhedores, por qualquer inconveniência não antecipada em relação à logística e/ou organização. A missão das organizações de recolhedores de materiais recicláveis não é de organizar eventos, mas sim de recolher, colectar, transportar e seleccionar materiais recicláveis, bem como a rejeição de políticas governamentais que não os incluam.”. Nohra Padilla, ARB A conferência terminou numa nota positiva com uma celebração. Os participantes cantaram o hino dos recolhedores da América Latina e dançaram juntos uma dança de grupo. 52 LISTA DE PARTICIPANTES1 Jean Christine Bonner Patricia Horn Melanie Sampson Randall Keith Bester Gershwin Evans Kohler Noluthando Gqotso Laila Iskander Mina Shaker Hani Shaker Nader Mahmoud Abdou Abd El Hady Patrick Mwanzia Héctor Manuel González Enzo Leonel Tortul Claudio Emilio Rizzo Graciela Algacbiur Santiago Solda Karina Stocovaz Virgínia Pimentel Félix Cariboni Erich Horacio Enriquez Vanesa Zehnder Gonzalo Roque Pablo Seghezoo Ercilia Sahores Marcelo Loto Elvira Antonia Matto Cristina Lescano Roberto Alfredo Gomez Stephen Wade Rathke Sérgio Betancourt Elizabeth Dominguez Gregory Paz Alex Alejandro Sánchez Beatriz Ávila Peducassé Oscar Fergutz Jorge Nascimento Fabio Luiz Cardoso Valdemar de Oliveira Neto Sonia Dias Fabian Schettini Severino Lima Roberto Laureano da Rocha Cassius Vinícius Crivello de Oliveira Gilbero Warley Chagas Fabio Cidrin Gama Alves José Messias do Nascimento Fabiana Goulart de Oliveira Hada Rúbia Silva António Bunchaft João Damasio de Oliveira Filho Jorge Nascimento Bertrand Sampaio de Alencar Marcus Vinícius da Costa Villarim Maria Mónica da Silva Eduardo Ferreira de Paula Maria do Carmo Cantilho Felipe Comissão Directiva(SC)/Comissão de Organização/Wiego África do Sul StreetNet Internacional, SC conselheira África do Sul Universidade de York; CUBES África do Sul Moradores de Bairros de Lata/Barracas Internacional (SDI) África do Sul Moradores de Barracas Internacional (FEDUP) África do Sul Moradores de Barracas Internacional-Cooperativa de Reciclagem de SokanaÁfrica do Sul Comissão Directiva/Comissão de Organização/CWG Egipto Recolhedora de Materiais Recicláveis Egipto Recolhedora de Materiais Recicláveis Egipto SIMA Egipto Acção Prática Quénia Instituto Nacional de Tecnologia Indústrial Argentina EP e CA Argentina Municipalidade de Rosário Argentina Secretaria do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável Argentina Secretaria do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável Argentina NATURA Argentina Avó Natureza Argentina Governo de Buenos Aires Argentina Fundação Ecorubano Argentina Fundação Ecorubano Argentina AVINA Argentina Municipalidade de Rosário Argentina ACORN Argentina Reciclando Sonhos Argentina Movimento dos Trabalhadores Excluídos Argentina Cooperativa El Ceibo Argentina Cooperativa El Alamo Argentina ACORN Argentina Técnico da Fundação Participação do Cidadão para o Alívio da Pobreza Bolívia Associação de Recolhedores ‘’Mutualista’’ Bolívia Sociedade Boliviana de Gestão Ambiental Bolívia Associação de Segregadores de Cochabamba Bolívia Responsável pelo Componente Género, Geracional e Étnico Bolívia Comissão Directiva/Comissão de Organização/AVINA Brasil Secretaria Nacional de Economia Solidária Brasil MNCR Brasil AVINA Brasil Comissão Directiva/Comissão de Organização/CWG Brasil ARGRUP Brasil Comissão de Organização/MNCR Brasil MNCR Cata Sampa Brasil MNCR Brasil MNCR Brasil Comissão Interministerial Brasil Cooperativa Barueri e Região Brasil INSEA Brasil Coopcarmo RIO Brasil PANGEA Brasil PANGEA Brasil Secretaria Nacional de Economia Solidária Brasil ASPAN Brasil Secretário de Articulação Institucional Brasil Associação Pacto Ambiental Brasil MNCR Coopamare Brasil MNCR Pro Recife Brasil 53 Marilza Aparecida de Lima Maria Madalena R. Duarte Luzia Hilda da Silva Fernando Godoy Alvez Pedro Villares Thais Araujo Marilia Gabriela Guerreiro Natália de Oliveira Amoedo Mateus Calligioni de Mendonça Maria Helena Zucchi Calado Renata Soares Leite Susy Yoshimura Roberta Maria Ramos Havro Júlio César da Silva Thelma Rocha Gustavo Theodoro Fierro Tefarikis Luis Humberto Flores Campos Romana Juarez Ana Luisa Jaque Campos José Francisco Aviles Caroca Isolda del Transito Yañes Carrasco Salvador Nestor Allende Santillana Magdalena Donoso Hiriart Salvador del Carmen Valdivia Juan José Aravena Lara Exequiel Estay Tapia Carolina Silva Lobo Claudia Alejandra Guerrero Alvardo Pedro Marcelo Araya Flores Mayling Yuen Andrea Sepúlveda Zúñiga Alvaro Alaniz Susy Victoria Lobo Ugalde Marlene Patricia Chachón Cubillo Sara Castro Ruiz Beatriz Molina Bermúdez Liliana Abarca Ivan Chango Yolanda Bueno Elvia Criollo Guillermo Salvador Giobany Chango Felipe Toledo Edgar Waldimir Mendoza Chávez Vicente Aristoteles Calderon Cedeño Giovanna Polo Carmen Elena de Janon Aura Marina Hernandez Soy Silvia Perez Teresa de Jesus Perez Aldrin Calixte Ignacia Osorio Cumi Luís Gabriel Hernández Puch Mónica Elizabeth Cantú Cantú Orlando José Mercado Alfredo Raúl Noguera Vargas Mónica Beatriz Matto Martinez Sonia Elizabeth Arias Mirta de la Cruz Martinez MNCR Captamare MNCR COOPERT Prefeitura de Diadema Coordenador Belo Horizonte NATURA NATURA NATURA NATURA NATURA NATURA NATURA NATURA NATURA Cooperativa Florianopolis AVINA Municipalidade De La Serena Arei La Serena Municipalidade De Ovalle Sindicato dos Recolhedores de Cartão o Renascer Sindicato dos Recolhedores de Cartão o Renascer Associação de Recolhedores de Peñalolen Associação de Recolhedores de Peñalolen Líderes sem Fronteira Sindicato de Recolhedores de Concepción Associação de Recolhedores de Peñalolen Comissão Directiva/Comissão de Organização/Arei la Serena Casa de La Paz Comissão Nacional do Meio Ambiente do Chile Municipalidade De Ovalle Casa de La Paz Casa de La Paz AVINA ACEPESA Fundação Escazú Recicla Reciclando Esperanças Arlisa WASTE Associação Artesanal de Recicladores VIDA NOVA Fundação Aliança Corporação AREV Recicladores de Cuenca Recicladores de Cuenca AVINA Fundação de Recicladores de Manta Fundação de Recicladores de Manta Direcção Metropolitana Ambiental Conselho ARUG ARUG ARUG GAIA Crianças e Filhos Crianças e Filhos/Intérprete Fundação Mundo Sustentável A.C. Federação de Trabalhadores Cambistas da Nicarágua, StreetNet Altervida/GEAM ASOGAPAR ‘’Gancheros’’ ASOTRAVERMU Associação de ‘’Gancheros’’ Privados Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil Chile Chile Chile Chile Chile Chile Chile Chile Chile Chile Chile Chile Chile Chile Chile Chile Chile Costa Rica Costa Rica Costa Rica Costa Rica Costa Rica Equador Equador Equador Equador Equador Equador Equador Equador Equador Equador Guatemala Guatemala Guatemala Haiti México México México Nicarágua Paraguai Paraguai Paraguai Paraguai 54 Carmen Roca FlorianOrian Horn Orlando Bermudez Garcia Apolicarpio Montiveros Sosa Miguel Arce Walter Vidal Correa Mitman Mercy Luz Silvano Pangosa Esperanza Huanca Arce Cesar Raymundo Delagado Carbajal Marisol Puma Roca Nelly Ticse Castro Maria Mendoza Cesar Zela Fierro José Luis Bossio Rotondo Oscar Espinoza Yolanda Susana Aqüero Romero Maria Guadalupe Esteves Ostolaza Mariny del Rosario Vasquez Maldonado Simón Rodriguez Porras Liduvina Valderrama Pierina Zuleta Héctor Lezama Padrón Oswaldo I. Núñez Salazar Gilberto A. Rujana Sirit José Freddy Salinas Freddy D. Salinas Carlos L. Pozzo Bracho Francisco Armando Hernández Arocha Lucia Fernandez Yann Wyss Martin Medina Leslie Webster Tuttle Martha Alter Chen Lorena Mejicanos Rios Peter F. Cohen Alejandro Mosquera Jutta Gutberlet Heng Yon Kora Liu Kanming Wong Pui Yan Milind Gopal Babar Bharati Chaturved Sanjayg K. Gupta Arbind Singh Ratnish Verma Shah Manali Chandrakant Shashi Bhushan Nitin Govind More Santraj Maurya Lakshmi Narayanan Sangita John Jyoti Mhapsekar Yamini Parikh Rajiben Kantilal Parmar Ferry Guanto Mohan Nepali Lizette Cardenas Irena Gribizi Comissão Directiva/Comissão de Organização/Wiego Chimbote Porto Saudável Chimbote Porto Saudável AMELITRAMERES Lima RECICONSUR ATURCA SEMRES-Pucallpa Força Empreendedora de Lima Norte As Águias de III e IX Sector Associação de Recicladores de Damero de Gamarra RECICONSUR Recicladora Cidade Saudável PIERO SAC IPES Associação de Segregadores e Protecção Ambiental ‘’Sumac Wayra’’ AVINA Grupo Comunitário de Reciclagem Inc Propriedade dos Trabalhadores Cooperativa La Rosa Mística de San Benito Ecoeficiência e PL Ecoeficiência e PL Ecoeficiência e PL Ecoeficiência e PL Ecoeficiência e PL Ecoeficiência e PL Ecoeficiência e PL Ecoeficiência e PL Empresas Polar 3R Coordenadora Internacional Corporação Financiera Internacional, Grupo do Banco Mundial WIEGO/CWG WIEGO WIEGO FOMIN do Banco Interamericano para o Desenvolvimento, BID Banco Mundial Empresa de reciclagem Universidade de Victoria CSARO Instituto de Observação Contemporânea Sindicato de Trabalhadores de Limpeza LOKVIKAS CHINTAN ACDI-VOCA NIDAN NIDAN SEWA HARIT LEARN CHINTAN KKPKP KKPKP Stree Mukti Sanghatana SEWA SEWA Recolhedores de Resíduos de Jacárta IGCUN SWAPP Corporação Financiera Internacional Perú Perú Perú Perú Perú Perú Perú Perú Perú Perú Perú Perú Perú Perú Perú Perú Perú Porto Rico Venezuela Venezuela Venezuela Venezuela Venezuela Venezuela Venezuela Venezuela Venezuela Venezuela Uruguai EUA EUA EUA EUA EUA EUA Canada Canada Cambódia Hong Kong Hong Kong Índia Índia Índia Índia Índia Índia Índia Índia Índia Índia Índia Índia Índia Índia Indonésia Nepal Filipinas Albânia 55 Gunther Wehenpohl Martina Kolb Ana Luzia Florisbela Pietro Luppi Federico Mastrogiovanni Maya Battisti Elena Luppi Margiena Johanna Wilmink Camilla Louise Bjerkli Eloise Dhuy Hamit Temel Elaine Jones Rafael Gutierrez Romo Diego Cardenas Blanca Nancy Carrejo Angel Vásquez Rocio Ropero Silver Robles Rosalba Vedugo Mery Perez Gerzon Mayorga Martha Carlier Solangi Murillo Wilson Gualteros Luis Fernando Paez Omar Sánchez Espolito Murillo Mario López Martha Elena Iglesias Rosmira Sanchez Juan Antonio Cuesta Beatriz Moreno Maria Lucely Prisco Juan Esteban Rodriguez Milton Palencia Erika Vega Andres Fajardo Lina Rojas Jose Luis Torres Stella Rativa Ducardo Rojas Jose Elias Burbano Islena Guardo Monica Oviedo Socarras Hernando Jimenez Gazabon Orlando Russi Silvia Catalina Figueredo Hernan Dario Durango Yakeline Ocaña Prado Gladis Rodriguez Rafael A. Rios Adelaida Campo Rodrigo Ramirez David Millan Ana Milena Bravo Carlos Humberto Cardona Rubi Londoño Luz Dary Torrez Miguel Angel Ruiz Suarez German Alfonso GTZ GTZ Consultora independente Occhio del Riciclone Occhio del Riciclone Occhio del Riciclone Occhio del Riciclone Slum World Universidade da Noruega Associação de Reciclagem de Ancara Associação de Reciclagem de Ancara WIEGO Porta de Ouro Controle Ambiental Empreender Solidário Coorenacer. Coomtara. Coomifur Aso - Mulheres Recicladoras Recivel Aso-Rec. de Málaga Regional Aires. Associação para Melhor Viver Opção Vida Amway Colômbia Cooprin. Associação para Melhor Viver Feresurco. Coop. Planeta Verde Coprin Corporação Corama Coalvorada Coop. Precoambiental Arreciclar Regional Arenosa Empreender Solidário Coempreender Pasto Centro de Recolha Pasto Coempreender Pasto Centro de Recolha da Comuna 13 Corplast Centro de Recolha da Comuna 13 Corporação Autónoma Regional Corporação Autónoma Regional Corporação Autónoma Regional Fundo para a Acção Ambiental Controle Ambiental Sante Novo Futuro Coop. Recicladores de Praga Coooperativa Recuperar Plásticos Recuperados da Colômbia Aremarpo Coprescordoba Alcaldia Distrital de Cali Fundação de Apoio de Valle Acção Social Centro de Recolha do Sul Fundação de Apoio de Valle Vita Orbi Alcaldia de Tebaida Alemanha Alemanha Alemanha Itália Itália Itália Itália Holanda Noruega Túrquia Túrquia Reino Unido Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia 56 Dario Castro Silvio Ruiz Grisales Nohra Padilla Herrera Luis Franklin Combriza Maria Eugenia Duque Carmen Calonge Angelica Rincon Ciro Manyoma Luz Elena Gongora Adriana Ruiz Restrepo Ricardo Valencia Wendy Arenas Myriam Herrera ANR ARB ARB ARB ARB ARB ARB SINTRAEMSIRVA SINTRAEMSIRVA Técnica AVINA AVINA ARB Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia A lista dos Participantes Colombianos não está completa. Houve muitas pessoas locais que participaram e ajudaram na realização da Conferência e que não aparecem nesta lista. Agradecemos a sua participação e apresentamos as nossas desculpas pela omissão. 1 57