Sobre A Elaboração Do Currúculo Waldorf Original
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Sobre A Elaboração Do Currúculo Waldorf Original
Currículo de Rudolf Steiner para as Escolas Waldorf - E. A. Karl Stockmeyer SOBRE A ELABORAÇÃO DO CURRÍCULO WALDORF ORIGINAL A Escola Waldorf recebeu seu currículo definitivo, pelo menos para as oito classes do primeiro grau, através das três assim chamadas “palestras sobre currículo” feitas por Rudolf Steiner em 6 de setembro de 1919 Elas constituem a conclusão do curso de formação pedagógica para o primeiro colegiado de professores, que engloba a “Allgemeine Menschenkunde”, o “curso metódico-didático e o seminário pedagógico”. Durante o primeiro ano de trabalho na escola o currículo foi elucidado e completado através de numerosas conferências. Quando, no outono de 1920, uma nona classe teve que ser aberta, Rudolf Steiner apresentou o currículo respectivo, e continuou a estruturar ano após ano. Na primavera de 1923 – entrementes o encerramento do ano escolar havia sido antecipado para a Páscoa – foi aberta pela primeira vez uma 12ª serie, a qual correspondia à série de conclusão de uma escola estadual do 2º grau da época; e os pais, logicamente, contavam com que seus filhos e filhas prestassem exames de conclusão (Reifeprüfung) ao mesmo tempo em que também teriam feito numa escola estadual. Rudolf Steiner desejava corresponder a essa expectativa, embora para tanto se visse forçado a satisfazer exigências dificilmente compatíveis entre si: de um lado, aquelas resultantes do seu próprio objetivo pedagógico e, de outro, aquelas do regulamento vigente para os exames. Ele assumiu essa tarefa muito contrafeito, e considerou o compromisso daí decorrente como uma medida de emergência extremamente indesejável. Por isso, na primavera de 1924, ele decidiu por uma mudança radical; ele deu, para a 12ª série, um novo currículo que correspondia claramente aos seus conhecimentos pedagógicos, pelo qual os alunos deveriam se beneficiados por uma conclusão sensata de sua educação, independentemente de quererem, ou não, fazer o exame de conclusão. E, ele tomou em consideração àqueles alunos que, após o decurso da 12ª série, tivessem o desejo de fazer o exame de conclusão, e que também parecessem capazes de, em um ano adicional, numa “série preparatória”, que é como ele desejava fosse chamado esse arranjo, serem especialmente preparados para esse exame. Aí deveria ser proporcionado a eles tudo aquilo que o regulamento então vigente para os exames exigia alem do currículo da Escola Waldorf. Essa série preparatória foi aberta pela primeira vez somente após a morte de Rudolf Steiner, ocorrida a 30 de março de 1925. No entanto ocorreu que, pela lei da escola elementar imposta pela Constituição de Weimar, e pela adaptação das escolas superiores da Alemanha a essa mesma lei, também naquelas escolas (elementares) o exame de conclusão foi adiado por um ano. Rudolf Steiner tencionava elaborar sistematicamente por escrito o currículo que havia apresentado oralmente. Porém, ele não mais conseguiu o seu intento. Outras coisas ainda, que ele também havia planejado para a Escola Waldorf, permaneceram como desafio. O currículo, entretanto, na plenitude das indicações, existe de fato; e, sobre como ele deve ser interpretado, disse o seu criador pouco antes da inauguração da Escola Waldorf de Stuttgart: “Deveríamos acercar-nos desse currículo de forma tal que nos transpuséssemos para a posição de, propriamente, moldá-lo nós mesmos a cada momento, que aprendêssemos a discernir, nos 7º, 8º, 9º 10º anos de vida etc., o que temos de cultivar nesses anos.” (“Metódica Didática”, 14ª palestra) Logo após a morte de Rudolf Steiner, a Dra. Caroline Von Heydebrand, em conjunto com vários colegas, tomou a seu cargo estruturar e publicar o currículo segundo as indicações de Rudolf Steiner. No outono de 1925 esse trabalho assaz meritório foi publicado. Desde a primeira publicação do trabalho de Heydebrand ocorreu uma geração. Enquanto isso, muitas palavras e cursos dados por Rudolf Steiner ainda nos últimos anos de sua vida se tornaram acessíveis. Além isso, a coleção de todas as notas taquigráficas e apontamentos sobre as conferências de Rudolf Steiner para o colegiado de professores da Escola Waldorf de Stuttgart, organizada pelos Drs. Erich Gabert e Karl Schubert, trouxe à luz um material sumamente valioso, e que estava disponível apenas de maneira imperfeita para o trabalho de Caroline Von Heydebrand. Por isso parece ser hoje adequado retomar as indicações do currículo de Rudolf Steiner. Seria objetar o sentido e a essência da arte de educar de Rudolf Steiner, querer constantemente enquadrar o seu trabalho dentro de um esquema rígido. Esse trabalho situa-se entre dois polos: um é dado pelo desenrolar do curso do desenvolvimento físico-anímico-espiritual da criança, o qual só apresenta mudanças muito lentamente. O outro polo é a condição social e cultural em cujo meio as crianças têm de crescer. Esse está sujeito a mudanças mais rápidas. Ambos, porem, exigem que a educação lhes corresponda. Entre essas exigências, entretanto, estão as crianças individuais, vivas, com inclinações especiais, aspirando objetivos especiais; entre elas está também o professor com suas inclinações especiais, seu temperamento, sua formação, seu saber e sua capacidade, seus conceitos, e, entre elas está finalmente também o currículo. Para a educação das crianças pequenas, este tem de atender mais às exigências da primeira orientação, atentar mais para os passos típicos do desenvolvimento infantil; para o ensino da juventude mais madura, tem de considerar mais as exigências do segundo tipo, pois a criança tem de encontrar de fato a ligação com a condição cultural do seu tempo e situar-se nela com firmeza. Tudo isso, entretanto, é vivo, está em constante mutação, e um currículo rigidamente moldado jamais poderia corresponder plenamente a esse processo vivo. Um currículo pode dirigir a consciência do educador para as necessidades, porém tem de permitir uma adequada liberdade de ação para a direta compreensão presente do professor e para o seu talento inventivo. Pois, é a compreensão que se acende na convivência com as crianças, e a força inventiva que cresce a partir desta convivência, que talvez gerem medidas muito especiais, as quais atuam sobre a criança de maneira benéfica porque convêm do total movimento do professor em suas atividades, da total liberdade espiritual, e do amor pela criança individual. Consequentemente, o currículo corretamente formado deveria ser apenas uma coleção de tudo aquilo que, a partir do desenvolvimento em etapas da criança, são exigências que se apresentam normal e objetivamente. Às quais o educador deveria correspondernos diferentes níveis de idade. Essas exigências podem seguir duas direções diferentes: elas podem apontar objetivos, ou podem fornecer informações metodológicas. Tudo o que passar disso só pode ter sentido de exemplos que, ou são impostos pelas condições objetivas sob as quais crescem as crianças a serem educadas, ou são insinuadas pelas aptidões especiais do professor. As exigências, o mundo as coloca, ou seja, a natureza da criança ou a cultura da época. O professor está diante delas como um reconhecedor, e as toma em consideração através de suas medidas educativas, precisamente como, de modo semelhante, o engenheiro toma em consideração as regras da teoria da solidez em suas construções. Porém, na mesma proporção em que essas exigências determinam os esforços e medidas do professor, também há de se ver que, para a escolha da sua matéria, para as suas exemplificações e para a conformação didática das mesmas, lhe seja conferida plena liberdade. Rudolf Steiner efetivamente imaginou o seu currículo como uma coleção tal de exigências objetivas. Mas, além disso, ele fez muitas propostas; em parte, aquelas que resultaram das aptidões do professor cogitado, em parte, porém, também aquelas que de maneira especialmente paradigmática podiam elucidar a exigência concretizável com elas. Às vezes é, de fato, mais simples tornar claro aquilo que importa por meio de um exemplo bem concreto do que, de certa maneira moldar, ao modo de uma definição, a exigência em suas generalidades. Naturalmente isso não significa que, na Escola Waldorf, o professor possa fazer ou deixar de fazer o que quiser. Rudolf Steiner considerava o currículo, no que diz respeito ás suas exigências básicas, até mesmo como rigorosamente obrigatório. Precisamente porque havia identificado essas exigências nas etapas do desenvolvimento do ser infantil e colocado aquelas em harmonia com estas, ele tinha de insistir – especialmente nos graus inferiores e médios – de maneira extremamente rigorosa pela sua execução na Escola. Algumas declarações muito críticas mostram isso: em 10 de maio de 1922, quando um professor de línguas declarava que o currículo ainda não seria alcançado, disse ele: “O compromisso está dentro do currículo.” Significando o que fora acrescentado ao currículo por força da ligação com as escolas públicas. “Quando alcançarmos o currículo com os objetivos educacionais, teremos conseguido também que os alunos possam fazer exame. Não está sendo feito tudo para alcançar o currículo.” (10 de maio de 1922) Assim também dever ser entendidas as frases relativas ao currículo da 11ª série que foram ditadas um pouco antes daquelas citadas acima: “Vamos ter que discutir de maneira minuciosa precisamente o currículo para esta 11ª serie. Por ser aí onde a dificuldade entra no mais alto grau, queremos assegurar que haja certa prática do ensino (isto é, que as exigências pedagógicas tenham se transformado em prática, que tenham se transformado em exercício e em hábito), e depois temos que levá-las ao ponto de fazerem exame.” (10 maio 1922) Assim como as seguintes, de 21 de junho: “Isso que se manifestou como algo desuniforme, isso nada mais é do que relaxamento. O relaxamento irrompeu quando se desenvolveu uma maneira própria para fazer as coisas mais facilmente.” (21 de junho de 1922) Rudolf Steiner estava convencido de que, precisamente pela severa execução das exigências no currículo, os jovens ganhariam as aptidões necessárias também para os exames. Em contraposição a isso sempre ressurge a tendência de tornar-se infiel ao currículo por força do exame, porque não se apercebeu que não se satisfaz realmente o currículo em sua função pedagógica. Rudolf Steiner, no entanto, contava com o total empenho humano e pedagógico por esse currículo. Assim deve-se entender o que ele declarou em 22 de abril de 1922 a respeito da queixa de um professor de línguas, de que ainda não se conseguia que os alunos pudessem entrar em uma classe da escola pública de idade correspondente: “Isso só se resolve trabalhando o nosso currículo de baixo para cima. Não se pode resolver a questão com aqueles (alunos) que recebemos nas 4 ª e 5ª séries. Temos porem, de resolvê-la com aqueles que recebemos desde a 1ª série... Lá sim, seria um erro se não fosse possível. Nas matérias essenciais temos de levar as crianças até o ponto em que elas possam prestar o exame.” (28 de abril de 1922) Isso se torna muito nítido nas palavras com que Rudolf Steiner, a 22 de dezembro de 1922, respondeu ao desejo do professor de estenografia de tornar facultativa a sua aula: “É uma pena. Quando começamos o ensino? Na 10ª (série). – Eu não consigo compreender porque eles não devem querer. Muitas coisas são julgadas tão fortemente que, com frequência não estamos conscientes de que temos um método de ensino e um currículo diferente dos de outras escolas. Não é mesmo? Agora, que estive mais frequentemente nas classes, pode dizer que os resultados existem, os resultados que aparecem quando aquilo que no mundo se chama Método Escola Waldorf é aplicado,... e a comparação com outras escolas mostra de fato que, contanto que a Pedagogia da Escola Waldorf seja aplicada, os resultados existem. Quando, em algum lugar ainda não existem resultados, a pergunta, de fato, deveria ser sempre: por acaso não está inconscientemente deixando de aplicar o método? – eu não quero ser duto; nem sempre é necessário haver uma tempestade: - O método Waldorf não é aplicado em toda parte. Às vezes decai para um desleixo escolar comum. – Onde são aplicados, os resultados existem... mesmo quando os resultados do ensino de línguas são desiguais, existem resultados de qualidade muito boa. – Existem resultados de qualidade muito boa nas classes inferiores, naquilo que habitualmente se chama aula de caligrafia. – Na aritmética, tenho a impressão de que o Método Escola Waldorf frequentemente não estaria sendo aplicado.” (9 de dezembro de 1922) Após essas palavras Rudolf Steiner passou ao esclarecimento das insuficiências surgidas, o que pode ser lido na fonte citada. Não era intenção fornecer um método da arte de educar de Rudolf Steiner. Uma obra de tal natureza deveria ultrapassar de muito os limites deste trabalho com o currículo. Parecia, porem, necessário dar, aqui e ali, junto as indicações sobre as metas de ensino, pelo menos breves referencias sobre a metodologia que sirvam como auxilio à memória dos conhecedores da arte de educar de Rudolf Steiner, mas que estimulem o leitor recém-chegado a refletir, e chamem sua atenção para os numerosos cursos-palestras de Rudolf Steiner, em especial para os grandes cursos de Stuttgart de 1919: “Allgemeine Menschenkunde”, “Erziehungskunst Methodisch-Didaktisches”, “Seminarbesprechungen”, “Lehrplanvorträge”. O estudo desses cursos é, para uma compreensão verdadeiramente profunda da pedagogia de Rudolf Steiner, já por si indispensável. A ordenação das indicações do currículo tem de tomar em consideração dois aspectos: a vizinhança entre as diferentes áreas de ensino – que, no entanto, quer ser compreendida não somente como vizinhança, mas também como conjunto e como interrelacionamento - em cada classe isolada, e a sequencia das classes como etapas do desenvolvimento das crianças. Pode-se, ou tratar de classe após classe dividindo-se cada uma pelas matérias, ou acompanhar cada matéria através de todas as classes até o ponto em que nelas for tratada. No primeiro caso tem-se sempre diante dos olhos uma certa etapa do desenvolvimento da criança, e observa-se como cada matéria tem a fornecer uma determinada contribuição para a tarefa global de educação dessa etapa. No segundo caso, porém, percorre-se de novo, em cada matéria, o desenvolvimento da criança, e observa-se como a criança é especialmente conduzida através de cada matéria. Ambas as ordenações têm suas vantagens, e cada professor tem sua maneira determinada de trabalhar. Por conseguinte, pode parecer justificável executar ambas as ordenanças aqui. E primeiro lugar, muito detalhadamente, aquela por matéria, e depois, de maneira um tanto mais sucinta, aquela por etapas de idade.
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