Vias Aferentes
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Vias Aferentes
Faculdade de Medicina da Universidade do Porto Aula desgravada – Aula Teórica nº19 Leccionada pelo Prof. Barbosa = Vias Aferentes = 2004/2005 “Snell” - bem exposta a matéria sobre as vias aferentes - Visão muito simples das vias aferentes e eferentes. Figura 1 (Langman) - Desenvolvimento da medula espinhal “Eu sou absolutamente viciado em embriologia” Vê-se nesta imagem o canal medular com o seu revestimento ependimário, a placa do tecto, a lamina basilar- parte motora, a lamina alar – porção sensitiva, e vêm também a camada do manto, a do meio, ependimária e a mais periférica que é a camada marginal. No decurso dos meses que se seguem até ao nascimento vão morrer milhares de células em cada 1 dos gânglios dorsais, que se formam a partir da crista neural. Nas vias sensitivas e motoras, é necessário que haja algo que na periferia capte o estímulo e que o transfira e transforme em potencial eléctrico. Ao acto de transformação de um estímulo sensitivo, seja ele fótil, táctil, mecânico, auditivo (sendo uns somáticos gerais e outros são somáticos especiais) em potencial eléctrico dá-se o nome de transdução. Para isso tem que haver receptores, que ainda despertam bastantes dúvidas acerca do seu funcionamento. Página 1 Vias Aferentes Os Receptores das vias que têm como ponto de partida a pele (ectoderme), nos derivados da mesoderme, e com partida na interocepção (endoderme), são de 3 tipos de uma maneira geral: yReceptores olfactivos que são os mais primitivos. São constituídos por apenas um neurónio (neuronal olfactory receptor). yReceptores epiteliais - estruturas epiteliais que formam como que o sítio que vai estimular o terminal nervoso que está por baixo. yReceptores neuronais, que são ramos dos prolongamentos periféricos das células do gânglio anterior e que vêm até à pele (exteroreceptores), até ao músculo (proprioreceptores), ou a uma víscera (interorecptores). Esta é uma classificação topográfica. Os receptores também podem estar livres (receptores por terminais livres) ou que têm estruturas celulares não neuronais, epiteliais, à volta, que são os receptores capsulados. A exterocepção é dividida em tacto, pressão e temperatura, tendo em conta os tipos de receptores classificados quanto aos estímulos que sobre eles actuam. Relativamente ao tacto, se tocarmos numa mesa lisa com o dedo, pele glabra sem pêlos, sem pressionar a sensação é totalmente diferente do toque com o dorso da mão caso tenhamos pêlos, sendo, no entanto, tacto na mesma. No entanto se carregarmos, na mesma mesa, fazendo pressão a sensação é a mesma, conforme seja com o dedo ou com o dorso da mão (independentemente da presença ou ausência de pêlos)– tacto/pressão – e também há sensação da temperatura, uma vez que conseguimos discernir se a mesa está fria ou quente. Estímulos proprioceptivos dividem-se em conscientes e não conscientes. Ficam a nível da medula, do cerebelo e coordenam a nível da interocepção, como por exemplo, a actividade cardíaca e respiratória. Estímulos interoceptivos são principalmente vegetativos e não atingem níveis superiores. Há ainda vários tipos de receptores internos, por exemplo, se corrermos num dia de verão temos vontade de beber água porque o nosso hipotálamo anterior por indicações do corpo carotídeo tem a sensação que o sangue está com uma densidade maior (osmorreceptor) . Há receptores que reagem directamente a substâncias químicas – quimioreceptores - , ou directamente à luz – fotoreceptores - , ou recepção das ondas Página 2 Vias Aferentes sonoras – fonoreceptores - , existem ainda, possivelmente, receptores da dor – nocirrecptores. Dor Algo que causa um profundo mal estar, uma sensação levada ao extremo, que é acompanhada por aspectos emocionais e autónomos, se não , não havia dor mas pressão, tacto e temperatura em grande intensidade. Os receptores que dão origem à dor são livres ( terminais livres), e há outra coisa que os caracteriza quer sejam térmicos, mecânicos ou químicos que é serem de alto limiar, para serem estimulados o estímulo tem que ser muito intenso. Para saber se uma superfície é lisa , e colher sensações mecânicas não temos dor. Mas se dermos uma martelada no dedo ou com uma agulha que nos tivesse picado, os mesmos receptores iriam dizer que era uma sensação desagradável, com uma conotação emotiva interior que levava a saber que era a dor. Há autores que defendem também que há nocireceptores, receptores para a dor específicos, que são todos polimodais – que respondem a muitos estímulos: mecânicos, térmicos e químicos. Outros dizem que todos os receptores respondem a todos os estímulos, é tudo uma questão de limiar. ----- Capítulo no Gray sobre receptores está primorosamente bem! ---- O que colhe a dor, quer seja a nível exteroceptivo, proprioceptivo ou interoceptivo são as fibras o que a caracterizam. As fibras que recolhem dor para o SNC são de 2 tipos: Aδ ou C. Na nómina internacional tipo III e tipo IV, respectivamente. Ao falarmos de dor, falamos também de todos os tipos de sensibilidade. Há dois grandes tipos de dor : Aguda (“ a picadela “ – “sharp pain”, dor lancinante, acutilante -- quando as pessoas se picam tiram logo o dedo - reflexo ), transportada pelas fibras Aδ que atingem velocidades ate 30 m/s , e só é despertada por estímulos que sejam térmicos ou mecânicos ; Crónica ( dor que cresce –“dull” - mal definida) transportada pelas fibras C, fibras amielínicas que transportam a uma velocidade de 0,1m/s, muito mais lentas que as outras fibras. E têm outras características, para além de serem estimuladas por Página 3 Vias Aferentes mecanoreceptores e termoreceptores, também o são por quimioreceptores . Ou seja o que vai estimular as fibras é o ambiente neuroquímico que envolve o terminal. Quando uma das fibras é estimulada pela picadela, na substância à volta libertam-se estruturas - proteínas como histamina, serotonina, substância P, iões K+ e muito acido láctico (se for no músculo) que fazem com que estas estruturas sejam estimuladas, ou melhor , que a transdução ocorra, ou seja que o nervo possa passar do estímulo mecânico ou térmico a um estímulo eléctrico. A sua modulação é feita pelas prostaglandinas (grandes níveis de prostaglandinas tornam os terminais mais sensíveis). São essas substâncias, acima referidas, que fazem com que os estímulos térmicos, mecânicos e químicos passem a eléctricos. Ao entrarem na medula, as fibras Aδ, que são glutamatérgicas (mediadas pelo glutamato) terminam imediatamente, vão ser pouco moduladas e seguem para partes superiores do SNC. Ao passo que as fibras C, têm como mediador a Substância P e têm capacidade de interferir com a acção de tudo o que se passa no corno posterior. Não são só veiculadoras, uma vez que, não só conduzem a dor para níveis ascendentes, ao sinaptizarem, como também a modulam ao libertar substância P no corno posterior da medula. As fibras Aδ e C (tipo III e IV), fibras finas, entram na medula pelo componente lateral, incorporando-se no tracto Dorsolateral ou de Lissauer, ao passo que as fibras grossas, as Aα e Aβ (tipo I e tipo II), basicamente proprioceptivas, são de pressão profunda, muito mielinizadas, e entram pelo componente medial nos cordões posteriores. Quer as fibras finas, quer as grossas dividem-se em fibras ascendentes, descendentes, e outras que entram e procuram logo os seus alvos na medula. Interocepção: Estímulos interoceptivos são principalmente vegetativos e não atingem níveis superiores. Exterocepção: dor, temperatura, tacto e pressão vão terminar nas 4 lâminas mais posteriores. Propriocepção (vem da profundidade): o que vem dos fusos neuromusculares, dos fusos tendinosos, dos aparelhos de Golgi musculares vão terminar nas lâminas V e VI. Página 4 Vias Aferentes Em relação à Lâmina VII ( intermediate grey) há 1 diferendo entre o Nolte e o Gray, no entanto, segundo a opinião do Prof. Barbosa, existem 3 colunas: a que recebe a propriocepção, fibras incorporadas no cordão posterior que são proprioceptivas não conscientes, e que vão para o núcleo de Clark ou torácico; existem ainda outras 2 colunas cujas fibras vegetativas vão para o núcleo intermédio medial e para o núcleo intermédio lateral, que é o ponto de saída das fibras que vão constituir o neurónio pré-ganglionar simpático. Laminas VIII e IX são do foro exclusivamente motor. Reflexos- Acto involuntário estereotipado de resposta a um estímulo. Reflexos de estiramento “strech reflexes” Reflexos dos flexores- reflexos polissinápticos, estímulo doloroso sobre receptores, que se processa em vários segmentos. Vias aferentes Cordão Anterior − Feixe Espinotalâmico (Parte Anterior ) 1 − Feixe intersegmentar Cordão Lateral − Feixes Espinocerebeloso Anterior 2 − Feixe Espinocerebeloso Dorsal 3 − Feixe Espinotalâmico (Parte Lateral ou Posterior) 4 − Feixe Espinotectal − Feixe DorsoLateral 5 7 8 5 − Fibras Espinoreticulares 3 − Feixe espinolivar 6 4 − Feixe intersegmentar 2 Cordão Posterior − Fascículo Grácilis 7 − Fascículo Cuneiforme 8 1 6 − Feixe intersegmentar Página 5 Vias Aferentes Feixe Proprioespinal ou Intersegmentar Feixe que fica mais próximo da substância cinzenta, o mais importante dos feixes da medula, aquele que tem maior número de fibras e maior número de funções de associação entre segmentos. É importante porque formando cadeias polissinápticas, tal como o feixe espinoreticular ou espinomesencefálico, pode levar informação e suprir a que se perdeu - função de vicariação, podendo transportar informação para níveis superiores, unindo, assim, vários segmentos da medula. É constituído por neurónios Golgi tipo II, por interneurónios com ponto de partida na substancia cinzenta e que incorpora no seu seio feixes importantíssimos que vêm do tronco cerebral o feixe longitudinal medial e o feixe vestibuloespinhal medial. Feixes do Cordão Posterior Recebem os estímulos provenientes de mais baixo limiar, a temperatura, tudo quanto é proprioceptivo ( sinestesia- sensação do movimento que estamos a efectuar, de que estamos a contrair uns músculos e a relaxar outros - gnosia, vibração) e uma pequena parte táctil (tacto discriminativo e tacto fino), e a informação dolorosa que não vai pelo feixe espinotalâmico lateral. ”O cordão posterior é um Mundo”. Podemos dizer que no cordão posterior tudo corre, todos os feixes, todas as sensibilidades. As fibras que se incorporam no cordão posterior são fibras ou que entram imediatamente na medula, e neste caso, sobem até aos Núcleos Gracilis e Cuneatus (mais lateral), ou que vão terminar na substância cinzenta, sendo que estas terminam nas lâmina VII, VI ou V, e a partir destas lâminas têm 2 destinos: conscientes : voltam de novo a incorporar-se nos cordões e vão para o núcleo gracilis ou cuneatus; inconscientes : vão para o cerebelo, para o núcleo de Clarke ou para o que esta à volta, incorporadas no Feixe Espinocereboloso Dorsal e no Espinocereboloso Anterior. Portanto a propriocepção tem dois destinos, muito marcados, assim como a exterocepção, consciente e não consciente, sendo, no entanto, a exterocepção mais consciente. As fibras destes feixes são na sua grande maioria fibras grossas, principalmente do Fascículo Cuneatus , que terminam no núcleo Cuneatus, enquanto que as fibras do Página 6 Vias Aferentes Fascículo Grácil terminam no Núcleo Grácilis e são mais finas. O que vem da parte mais inferior do corpo vai para o núcleo gracilis e o que vem da parte mais superior para o núcleo cuneatus - arranjo somatotópico. V As fibras que terminam nos Núcleos Gracilis e no Cuneiforme vão todas atingir níveis conscientes? Toda a propriocepção consciente corre pelo cordão posterior? Não!! Porque há Fibras Espinocerebelosas do Feixe Espinocerebeloso Posterior, nomeadamente as do membro inferior, que não tendo núcleo de Clarke que só vai de T1 a L3, correm pelo cordão posterior para encontrar o seu alvo, que são os núcleos de destaque de L1 a L3, onde o núcleo é maior porque recebe muitas aferências, onde se incorporam fibras que originam o Espinocerebeloso Posterior e que vão terminar num núcleo , anteriormente ao Núcleo Gracilis e ao Núcleo Cuneiforme e entre estes núcleos e o complexo olivar inferior, o Núcleo Z. Aí o Espinocerebeloso Posterior faz sinapse e cruza a linha média , incorporando-se no lemnisco medial e vai para outros feixes - Via aparentemente curto circuita. [As fibras que não encontram a coluna torácica ou de Clark a níveis cervicais, vão para o núcleo cuneiforme acessório - fibras arqueadas externas dorsais que vão pelo pedúnculo cerebeloso inferior para o cerebelo, formando o Trato Cuneocerebelar, sendo portanto proprioceptivas inconscientes] Lesões do Cordão Posterior Sífilis Terciária – atinge o SNC e leva à morte. Os cordões posteriores ficam lesados e um parte da raíz até ao gânglio. Tabes dorsal – fase terminal em doentes com neurosífilis. Estes doentes têm os sentidos de tacto discriminativo, vibração, movimento e posição alterados. Assim não conseguem andar, a não ser que vejam as pernas e não se conseguem manter em pé com os olhos fechados. Em neurologia pesquisa-se muitas vezes o Sinal de ROMBERG em que se pede a um doente de pé e de os olhos fechados para andar, para se ver como está o cerebelo e os cordões posteriores – o doente deixa de ter informação sensorial e por isso cai. Página 7 Vias Aferentes Feixe Espinotalâmico Só há um feixe espinotalâmico, mas a parte anterior é mais propensa a sensibilidade táctil e pressão enquanto que a parte posterior possui um maior número de fibras que transportam dor e temperatura. As fibras têm origem nas lâminas I e V. As fibras anteriores do espinotalâmico decussam ao nível da comissura branca anterior, próximo ou no sítio de origem e incorpora-se no Lemnisco Medial. As fibras posteriores cruzam directamente, estando o corpo celular do 2º neurónio nas lâminas I, III, IV e V. As fibras ao chegarem ao bolbo constituem o Lemnisco Espinhal. Dá colaterais para a formação reticular, havendo por isso muitas maneiras de suprir caso haja um corte. Tanto as fibras posteriores como as fibras anteriores terminam no Núcleo VPL do tálamo. A nível da protuberância o lemnisco medial cruza o corpo trapezóide, e o lemnisco espinhal está na parte lateral do lemnisco medial. Como as fibras que cruzam, juntam-se à face medial das fibras já cruzadas, ambos os tractos são segmentares laminares, com as fibras provenientes dos segmentos inferiores mais superficiais. Há pois uma organização somatotópica. As fibras Aδ e C da dor são finas e têm dois destinos possíveis: 1- vão ser profundamente modificadas pelos interneurónios que estão na substância gelatinosa; 2- vão desde a lâmina I (que tem 4 tipos de neurónios) e dão origem a um grande eferente, que constitui o segundo neurónio da via espinotalâmica. ? E vai só para o espinotalâmico!? Quer o neurónio da lâmina IV e I? Não! Falamos em pelo menos mais 3 feixes, que podem transportar informação da dor e temperatura, tacto e pressão: 1- EspinoCervicoTalâmico Os neurónios têm origem nas lâminas I, IV e VI e fazem sinapse no núcleo cervical lateral, a nível de C1 e C2 e depois incorporam-se no lemnisco medial. É uma via cruzada e está relacionada com os aspectos motores que advêm da dor ( e.g. quando queimamos a mão tiramo-la de imediato). Página 8 Vias Aferentes 2-Espinotalamico dorso-lateral Feixe que vem buscar as suas influências ao corno posterior e depois sobe pelo trato de Lissauer até ao bolbo lateral e depois vai pelo lemnisco medial superiormente. 3-Espinoreticular As fibras Espinoreticulares juntam-se ao Feixe Espinotalâmico anterior. Este feixe polissináptico que nasce na Lâmina VII (substância cinzenta intermédia), transporta a dor crónica e vai através do espinoreticular medial e do espinoreticular lateral , passa em diversos núcleos da formação reticular do tronco cerebral para ir terminar no tálamo nos núcleo centro-mediano e no núcleo parafasciculado (algumas podem atingir VPM e VPL). Estas fibras vão para o cíngulo, onde estão associadas aos aspectos emotivos da dor, e vão também para a ínsula, onde vão ser dados os aspectos vegetativos à dor. É necessário saber que há muita sensibilidade, nomeadamente interoceptiva, que corre no espinoreticular e que a dor tem estas características, para além do estímulo agressivo e doloroso em si, tem também conotações afectivas e tem conotações vegetativas que são próprias de cada indivíduo (e.g. a dor cardíaca é muito emotiva, assim como a dor renal em que a grande maioria das pessoas com cólicas renais vomita devido ao facto do plexo celíaco ficar estimulado, sendo portanto a ínsula mandatada a vomitar –o reflexo do vómito). Feixe Espinolivar Constituem aferências indirectas ao cerebelo, sendo a maioria das suas fibras proprioceptivas, que terminam no núcleo olivar. Feixe Espinocerebeloso Transporta sensibilidades que são tácteis (fina e discriminativa) e propriocepção. As fibras entram pelo cordão posterior, de receptores proprioceptivos e outros, vão para o núcleo de Clarke, ou sobem até ao núcleo cuneiforme acessório e depois entram pelo pedúnculo cerebeloso inferior (a maioria), formando o Feixe Espinocerebeloso Posterior. Algumas fibras cruzam para o lado oposto na medula e vão pelo pedúnculo cerebeloso superior, formando o Feixe Espinocerebeloso Anterior (informação proprioceptiva muito complexa) que termina nas fibras musgosas do lado onde entrou na medula, descruzando (falso cruzamento) ao entrar no cerebelo. Página 9 Vias Aferentes Os Feixes Espinocerebelosos não são nem exclusivamente proprioceptivos inconscientes (núcleo Z - lemnisco medial - córtex) , tão pouco são cruzados, porque de facto eles cruzam mas depois descruzam . O 2º neurónio em quaisquer das vias referidas, com raríssimas excepções cruza, e não se sabe porquê. Não se sabe o porque da informação do mundo no nosso cérebro ser cruzada e as nossas informações emitidas também são cruzadas. E cruza por duas razões: 1- porque as fibras ao entrarem na medula dão segmentos ascendentes e descendentes e estes segmentos depois vão influenciar o corno posterior da medula e vão dar origem ao 2ºsegmento a níveis superiores e inferiores. 2- as fibras que cruzam quer pela comissura branca anterior quer pela cinzenta são obliquadas, decussam obliquamente. Se fosse segmento a segmento eram fibras comissurais. Homúnculo É possível desenhar mapeando as fibras, um homúnculo deitado com os pés no septo posterior intermediário, sendo os pés mais mediais e a cabeça mais lateral, havendo portanto uma ordem total e absoluta, assim como há no feixe espinotalâmico em que as primeiras fibras que entram e cruzam se tornam as mais externas, como há também no feixe corticoespinal, em que as primeiras fibras que vão sair, são as do braço e são as mais mediais –somatotopia. Existem fibras de associação curtas que vão comandar as áreas motoras, e estas fibras têm muitos neurónios, razão também pela qual as áreas da mão que são motoramente delicadas, e as áreas do lábio e da fala , têm uma expressão muito grande no homúnculo sensorial, não sendo só pelo facto de termos muito tacto na ponta dos dedos e nos lábios, mais do que no tronco. Esta área sensóriomotora, no ponto de vista de coordenação motora, tem uma influência muito grande, razão pela qual existe um homúnculo motor. Substancia gelatinosa A substância gelatinosa está envolvida na regulação do acesso da dor e da temperatura aos neurónios de projecção das vias anterolaterais, assim como em processos de supressão de dor. Página 10 Vias Aferentes Sistema endógeno de controlo da dor A Acupunctura , determinadas substâncias tópicas analgésicas, e pressão sobre a dor, fazem com que haja um certo alívio inicial da dor, processo que envolve um complexo sistema – sistema endógeno de controlo da dor -, que tem grande importância no controlo da dor. Estruturas internas do sistema nervoso, modulam as aferências que lá chegam, e que no fundo permitem modular intensidade do estímulo proprioceptivo. Em todos os sítios do SNC onde entram aferências primárias (Nervos raquidianos, VPL e VPM, olfacto, trigémeo, ...) há grandes terminais nervosos, que podem ser do tipo I ou II , que através de sinapses inibem ou facilitam todos os mecanismos. O primeiro local onde é feita a modulação da dor é no corno posterior , pelos interneurónios (da substância gelatinosa) e pelas fibras provenientes de outros sítios que lá estão. O cerne de tudo isto é o glomérulo, que tem a seu cargo a importantíssima função motora, embora haja células que possam receber directamente o feixe que vem do núcleo do rafe, que tem como mediador a serotonina, péptideo que tem a ver com a dor e depressão, que já estava na dor a nível do núcleo periférico. O feixe prosencefálico medial é a chave do sistema límbico. Há analgesia porque actuam a nível do glomérulo. O Sistema da substância cinzenta periaquedutal , núcleo reticular do tronco, corno posterior é muito importante porque é noradrenérgico por excelência e vai actuar sobre as células serotoninérgicas, ou descer directamente para o corno posterior e influir, impedir, que passem demasiado estímulos dolorosos - sistema endógeno de controlo da dor. A noradrenalina sobe pelo dorsolateral, até à ponte, e da ponte estimula o bolbo basolateral e volta a descer para o cordão posterior, poderosos mecanismo de inibição da dor. O Núcleo do feixe solitário é um poderoso inibidor da dor. Página 11 Vias Aferentes Mecanismo da Porta da Dor Controlo Central Feixe Corticoespinal + Resposta ou dor - Lâmina IV (T Cells) + Fibras aferentes grossas Substância gelatinosa (S.G.Cells) - + - Fibras aferentes finas As fibras aferentes finas, ao actuar sobre as células da substância gelatinosa, (lâmina II da medula), são inibitórias, enquanto que as fibras grossas são excitatórias. A substância gelatinosa depois de muitos contactos acaba por ser pré-sináptica, aos axónios quer grossos quer finos, que vão para as lâminas III, IV e V, que correspondem às target cells (Tcells). Quer as fibras de grande diâmetro quer de pequeno diâmetro, se não houvesse nada no meio, estimulavam as target cells e seguiam logo, só que há a substância gelatinosa, e tudo o que desce de níveis superiores, é mais complexo, uma vez que a substância gelatinosa realiza inibição pré-sináptica. No caso das fibras finas, estas dão colaterais inibitórios para a substância gelatinosa, que por sua vez já é inibitória. As fibras finas estimulam portanto os seus alvos, mas entretanto, dão um colateral para a substância gelatinosa que é inibitória e inibe a inibitória, e então deixa de existir a inibição. Portanto há uma desinibição, e então neste caso a porta da dor abre-se. E portanto estímulos dolorosos, Aδ e C, passaram com mais facilidade. Página 12 Vias Aferentes No caso das fibras grossas os colaterais enviados para a substância gelatinosa são excitatórias. Então uma fibra excitatória que vai estimular uma inibitória, aumenta o tónus inibitório, fechando a porta da dor. Portanto a porta abre por acção das fibras finas, porque inibindo uma inibitória deixa de se fazer sentir a inibição pré-sinaptica, e fecha por acção das fibras grossas, porque a excitação da inibição aumenta a inibição pré-sinaptica. ☺ Aula desgravada por: ☺ Bárbara Flor de Lima Ricardo Rocha Página 13