Metodologia de apresentação de trabalhos acadêmicos
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Metodologia de apresentação de trabalhos acadêmicos
FACULDADE ENERGIA DE ADMINISTRAÇÃO E NEGÓCIOS - FEAN CURSO DE ADMINISTRAÇÃO CIÊNCIAS CONTÁBEIS SISTEMAS DE INFORMAÇÃO DESIGN GRÁFICO MARCELLO B. ZAPELINI SILVIA M. K. C. ZAPELINI METODOLOGIA CIENTÍFICA E DA PESQUISA DA FEAN FLORIANÓPOLIS 2013 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.............................................................................................................................. 2 A LEITURA E SUA IMPORTÂNCIA PARA O APRENDIZADO......................................... 2.1 O PROCESSO DE LEITURA...................................................................................................... 2.1.1 que ler – e onde ler..................................................................................................................... 2.1.2 A ideia principal......................................................................................................................... 2.1.3 Os diferentes tipos de leitura...................................................................................................... 2.1.4 Fases da leitura........................................................................................................................... 2.1.5 Como sublinhar um texto........................................................................................................... 2.2 ESQUEMAS, RESUMOS E FICHAS DE LEITURA................................................................. 3 CONHECIMENTO E CIÊNCIA................................................................................................. 3.1 CONHECIMENTO....................................................................................................................... 3.1.1 Conceito..................................................................................................................................... 3.1.2 Elementos................................................................................................................................... 3.1.3 Tipos de conhecimento.............................................................................................................. 3.2 CIÊNCIA..................................................................................................................................... 3.2.1 Conceito..................................................................................................................................... 3.2.2 Características da ciência........................................................................................................... 3.2.3 Divisão da ciência...................................................................................................................... 3.2.4.Critérios de cientificidade.......................................................................................................... 3.3 A PESQUISA COMO PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO............................ 4 O MÉTODO CIENTÍFICO.......................................................................................................... 4.1 FUNDAMENTOS DE METODOLOGIA................................................................................... 4.1.1 Conceito..................................................................................................................................... 4.1.2 Tipos de raciocínio..................................................................................................................... 4.2 MÉTODOS CIENTÍFICOS......................................................................................................... 5 ELEMENTOS DOS TRABALHOS ACADÊMICOS................................................................ 5.1 ELEMENTOS PRÉ-TEXTUAIS.................................................................................................. 5.2 ELEMENTOS TEXTUAIS.......................................................................................................... 5.3 ELEMENTOS PÓS-TEXTUAIS.................................................................................................. 6 CITAÇÕES..................................................................................................................................... 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: A NBR 6023:2002....................................................... 8 PROJETOS E TRABALHOS DE CONCLUSÃO DE ESTÁGIO........................................... 8.1 O QUE É UM PROJETO DE ESTÁGIO..................................................................................... 8.2 ESCOLHA DO TEMA, DO PROBLEMA, DO LOCAL E DO ORIENTADOR...................... 8.2.1 Definição da área e do tema....................................................................................................... 8.2.2 Definição do problema............................................................................................................... 8.2.3 Definição do local...................................................................................................................... 8.2.4 Definição do orientador............................................................................................................. 8.3 PROJETOS DE ESTÁGIO........................................................................................................... 8.4 O TRABALHO DE CONCLUSÃO DE ESTÁGIO.................................................................... 9 ABORDAGENS DE PESQUISA NO ESTÁGIO........................................................................ 9.1 ABORDAGENS QUANTITATIVAS E QUALITATIVAS........................................................ 9.1.1 Pesquisa quantitativa.................................................................................................................. 9.1.2 Pesquisa qualitativa.................................................................................................................... 9.1.3 Pesquisa quali-quantitativa........................................................................................................ 9.2 PERSPECTIVA TEMPORAL DE ESTUDO.............................................................................. 9.3 TIPOLOGIA DAS PESQUISAS................................................................................................. 4 5 5 5 6 7 7 9 10 13 13 13 13 14 17 17 18 19 22 23 25 25 25 26 38 35 37 41 43 45 49 55 55 56 57 59 63 65 66 70 74 74 75 78 80 82 83 2 9.3.1 Classificação quanto aos fins..................................................................................................... 9.3.1.1 Pesquisa explicativa................................................................................................................ 9.3.1.2 Pesquisa descritiva.................................................................................................................. 9.3.1.3 Pesquisa explicativa................................................................................................................ 9.3.1.4 Pesquisa metodológica............................................................................................................ 9.3.1.5 Pesquisa aplicada.................................................................................................................... 9.3.1.6 Pesquisa intervencionista........................................................................................................ 9.3.2 Classificação quanto aos meios.................................................................................................. 9.3.2.1 Pesquisa de campo.................................................................................................................. 9.3.2.2 Pesquisa de laboratório........................................................................................................... 9.3.2.3 Pesquisa documental............................................................................................................... 9.3.2.4 Pesquisa bibliográfica............................................................................................................. 9.3.2.5 Pesquisa experimental............................................................................................................. 9.3.2.6 Pesquisa ex-post-facto............................................................................................................. 9.3.2.7 Pesquisa participante/participativa.......................................................................................... 9.3.2.8 Pesquisa-ação.......................................................................................................................... 9.3.2.9 Estudo de caso........................................................................................................................ 9.3.2.10 Levantamento........................................................................................................................ 9.4 CONSIDERAÇÕES GERAIS..................................................................................................... 10 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS.............................................................................. 10.1 POPULAÇÃO DE PESQUISA................................................................................................. 10.2 AMOSTRA................................................................................................................................. 10.2.1 Tipos de amostragem............................................................................................................... 10.2.2 Cálculo da amostra................................................................................................................... 11 TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS..................................................................................... 11.1OBSERVAÇÃO.......................................................................................................................... 11.1.1 Observação simples.................................................................................................................. 11.1.2 Observação participante........................................................................................................... 11.1.3 Observação sistemática............................................................................................................ 11.1.4 Roteiro de observação: Uma proposta..................................................................................... 11.2 ENTREVISTA............................................................................................................................ 11.2.1 O Focus Group......................................................................................................................... 11.3 QUESTIONÁRIO...................................................................................................................... 11.4 PESQUISA DOCUMENTAL................................................................................................... 11.4.1 A pesquisa bibliográfica........................................................................................................... 12 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS..................................................................... 12.1 CLASSIFICAÇÃO..................................................................................................................... 12.2 CODIFICAÇÃO......................................................................................................................... 12.3 TABULAÇÃO............................................................................................................................ 12.4 ANÁLISE ESTATÍSTICA......................................................................................................... 12.5 INTERPRETAÇÃO DOS DADOS............................................................................................ 13 TRABALHOS ACADÊMICOS.................................................................................................. 13.1 RESUMOS DE TEXTO............................................................................................................. 13.2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA................................................................................................... 13.3 ARTIGO..................................................................................................................................... 13.4 PAPER........................................................................................................................................ 13.5 RESENHA CRÍTICA................................................................................................................ 13.6 ENSAIOS................................................................................................................................... 13.7 MONOGRAFIAS....................................................................................................................... 13.8 ESTUDOS DE CASO................................................................................................................ 83 83 84 86 86 87 87 88 88 89 89 89 90 91 91 92 93 95 96 97 98 99 101 104 107 109 111 111 113 113 114 120 121 124 127 129 130 132 133 134 141 143 143 145 146 148 150 151 152 153 3 13.9 SEMINÁRIO.............................................................................................................................. 155 REFERÊNCIAS................................................................................................................................ 156 APÊNDICES...................................................................................................................................... 160 4 1 INTRODUÇÃO O estudo não pode prescindir dos cuidados com o método para sua realização, tampouco independe de técnicas que aumentem sua eficiência. Foi com esse espírito que este trabalho foi realizado, objetivando fornecer ao estudante de graduação noções gerais sobre o método científico, as técnicas de estudo e as normas que regulamentam a apresentação dos trabalhos acadêmicos. Dessa forma, este trabalho procura identificar e desenvolver aspectos metodológicos básicos para o estudo e a pesquisa eficientes. Com seu foco voltado para o curso de graduação, o trabalho discute aspectos referentes aos projetos e relatórios de estágio, fase de extrema importância na vida acadêmica, que exige cuidados redobrados em termos metodológicos, e fornece bases para os trabalhos acadêmicos na área. 5 2 A LEITURA E SUA IMPORTÂNCIA PARA O APRENDIZADO 2.1 O PROCESSO DE LEITURA 2.1.1 O que ler - e onde ler A leitura é essencial para o aprendizado e a formação do administrador de empresas, sendo ainda uma prática que o acompanhará necessariamente durante toda a sua vida profissional: relatórios, atas de reuniões, documentos da empresa, são a face mais visível, mas não a única, pois o administrador precisará se manter informado a respeito da conjuntura econômica e empresarial, os concorrentes, a realidade social em que sua organização está inserida, bem como acompanhar os mais recentes desenvolvimentos de sua especialidade. Assim, o primeiro aspecto que deve ser trabalhado para se garantir a maior eficiência no processo de leitura refere-se ao que deve ser lido. Evidentemente, deve-se procurar ler o que é importante para a vida e a prática do indivíduo. Ruiz (1995, p. 36) destaca muito bem a importância da leitura: A leitura amplia e integra os conhecimentos, desonerando a memória, abrindo cada vez mais os horizontes do saber, enriquecendo o vocabulário e a facilidade de comunicação, disciplinando a mente e alargando a consciência pelo contato com formas e ângulos diferentes sob os quais o mesmo problema pode ser considerado. Quem lê constrói sua própria ciência; quem não lê memoriza elementos de um todo que não se atingiu. Para determinar o que ler, é preciso ter em mente, inicialmente, o que se pretende atingir, ou seja, o propósito da leitura. De acordo com Ruiz (1995), a leitura busca captar, criticar, reter e integrar conhecimentos. Isso se faz, segundo Northedge (1998), para desenvolver os próprios pensamentos do leitor, agregando informações e ideias adicionais àquelas que este já possui, conferindo-lhe novos pontos de vista. “O objetivo da leitura não é apresentar uma porção de palavras passando em frente de seus olhos [...]. É reunir suas ideias e fazê-lo repensá-las.” (NORTHEDGE, 1998, p. 34, grifos do autor). Northedge (1998) sublinha que o conhecimento só será eficientemente construído a partir da leitura se o leitor tiver interesse pelo assunto; isso significa, antes de mais nada, que a leitura idealmente deve ser motivada por uma curiosidade e um desejo de aprendizado, de dominar o conhecimento que o texto traz. Definidos os propósitos, é preciso examinar o título do livro, o nome do autor, seu curriculum, o índice, a bibliografia, e, sempre que possível, a introdução, o prefácio, a nota do 6 autor, para ver se este está de acordo com o que se objetiva atingir (ou seja, a leitura deve estar previamente planejada, deve seguir objetivos previamente definidos). Professores, colegas e pessoas que já tenham tido contato com a área de conhecimento da qual a obra trata podem ajudar a tirar dúvidas quando se está selecionando a bibliografia a ser lida. Uma vez que se tenha selecionado o que será lido, o passo seguinte se refere à seleção de um local para a leitura. A grande maioria das pessoas necessita de ambiente bem iluminado, arejado e silencioso para uma leitura proveitosa. Manter distância de fontes de ruído é essencial para não prejudicar a concentração do leitor. Ergonomicamente falando, está demonstrado que a fonte de iluminação, no caso de luz artificial, deve estar à esquerda do leitor. Uma cadeira ou poltrona confortável é fundamental, sobretudo nos casos em que a pessoa irá passar muito tempo lendo; não obstante, é recomendável interromper periodicamente a leitura para “esticar as pernas” e descansar os olhos, reduzindo o esforço no processo. Alguns outros acessórios são importantes para uma leitura proveitosa: um dicionário de fácil manuseio deve estar disponível para dirimir dúvidas em relação ao significado das palavras do autor, e um bloco de papel com lápis ou caneta é de grande utilidade para destacar aspectos fundamentais do texto, dúvidas e pontos que mereçam maior desenvolvimento em leituras posteriores. 2.1.2 A ideia principal Um aspecto central no processo de leitura está na captação da ideia principal ou central de cada parágrafo. Cada texto escrito, qualquer que seja sua dimensão, destaca Ruiz (1995), possui uma ideia central, fundamental para sua compreensão. O bom leitor, ao ler, concentra-se em captar a ideia central do texto, procurando unidades de pensamento e ideias em cada parágrafo (RUIZ, 1995). Como reconhecer essa ideia central? Uma vez que o leitor tenha encontrado uma ideia importante em um parágrafo, ele deve memorizá-la ou anotá-la, e continuar o processo de leitura com ela em mente, procurando desenvolver a argumentação do autor a partir dessa ideia, distinguindo, dentro dessa argumentação, o principal do secundário. Normalmente, a ideia central exige maior esforço do autor em termos de prová-la e demonstrá-la, levando-o a incluir exemplos, analogias e fatos que a expliquem, que a sustentem, que a demonstrem, pois a ideia central, de uma forma grosseira, é a mensagem que o autor deseja passar. 7 2.1.3 Os diferentes tipos de leitura Lakatos, Marconi (2001) apresentam uma classificação dos tipos de leitura baseada nos objetivos do leitor, organizada em termos de profundidade: a) Scanning: é uma leitura rápida, de procura de algum tópico ou assunto, lendo-se o índice, algumas linhas ou alguns parágrafos do texto, em busca de frases ou palavras-chave. Trata-se de leitura de contato inicial com a obra; b) Skimming: é uma leitura que objetiva captar a tendência geral de pensamento do autor do texto, usando-se sobretudo os títulos e subtítulos nos quais o texto se divide, mas também alguns parágrafos, de modo a permitir a compreensão da tendência do trabalho ou a metodologia com o qual ele foi construído; c) Leitura de significado: procura dar uma visão ampla do conteúdo, desprezando aspectos secundários. O leitor normalmente percorre uma única vez o texto, não voltando para aprofundar sua compreensão; d) Leitura de estudo ou leitura informativa: seu objetivo é dar uma visão completa do conteúdo do texto, exigindo normalmente mais de uma leitura do mesmo texto, a sublinha e o destaque de trechos ou palavras-chave do texto, e o resumo; e) Leitura crítica: como o tipo mais profundo de leitura, pretende formar um ponto de vista sobre o texto, comparando o que o autor escreveu com conhecimentos anteriores, avaliando a qualidade, correção, atualidade e fidedignidade dos dados apresentados por este e a solidez da argumentação. Neste caso específico, o processo de leitura exige, para ser bem-sucedido, sólido conhecimento do assunto por parte do leitor. Estes dois últimos tipos de leitura são os que mais recompensam o leitor em termos de conhecimentos, mas também são os mais trabalhosos. É praticamente impossível, mesmo para o leitor treinado, captar adequadamente as ideias centrais e a mensagem do autor em uma só leitura. Por isso o processo de leitura se divide em fases. 2.1.4 Fases da leitura Lakatos e Marconi (2001) apresentam diversas fases diferentes para o processo de leitura, que podem ser sintetizadas como se segue: 8 a) Leitura de reconhecimento ou leitura prévia: é uma leitura rápida, que visa dar um contato inicial com o texto, para determinar se os conhecimentos que se procura estão sendo abordados no mesmo. Lê-se normalmente o índice, os títulos e subtítulos do texto; b) Leitura exploratória: busca sondar as informações disponíveis no texto. Já se determinou a existência, neste, do conhecimento que se pretende buscar, mas é preciso definir se de fato o texto aborda os aspectos específicos que se procura. Lê-se normalmente a folha de rosto, a contracapa e as “orelhas” do livro, a bibliografia e as notas de rodapé do texto e, mais importante, a introdução ou o prefácio do texto; c) Leitura seletiva: visa selecionar as informações mais importantes do texto, relacionadas com o problema que se está estudando. Busca-se eliminar o supérfluo no texto, como subitens e outras subdivisões que não abordem o assunto; d) Leitura reflexiva: nesta fase, busca-se frases-chave e ideias centrais que determinem o que o autor pensa sobre o assunto, e porque faz determinadas afirmações. É uma leitura mais profunda do que todas as anteriores; e) Leitura crítica: avalia as informações prestadas pelo autor, hierarquizando as ideias que este desenvolve de maneira a determinar suas intenções ao escrever o texto. Nesta fase, o leitor primeiro compreende o que o autor quis transmitir, e depois modifica ou ratifica suas próprias ideias e argumentos sobre o texto; f) Leitura interpretativa: procura relacionar as afirmações do autor com os problemas para os quais o leitor está procurando uma solução através da leitura. É um estudo mais profundo das ideias desenvolvidas no texto, buscando a associação de ideias na solução dos problemas que motivaram a leitura; g) Leitura explicativa: a mais profunda de todas, procura verificar os fundamentos de verdade usados pelo autor. Portanto, o processo de leitura engloba mais de uma leitura. As fases iniciais (“a” e “b”) normalmente são cumpridas numa só leitura do texto, mas as demais exigem mais leituras. O importante, aqui, não é o número de vezes que o texto será lido, e sim quanto de conhecimento será gerado pelo processo de leitura. Esse conhecimento pode ser gerado por apenas duas leituras, no caso de leitores metódicos e experimentados, que possuem bom conhecimento do assunto tratado pelo autor. Entretanto, dependendo do leitor, leituras adicionais deverão ser empreendidas. Dessa maneira, é fundamental que o leitor disponha de tempo suficiente para a leitura antes de empreender o processo completo de leitura, ou seus objetivos serão prejudicados. 9 Evidentemente, antes de iniciar o processo de leitura, o leitor deve ter estabelecido objetivos em relação à leitura, de modo que possa determinar quais textos devem ser lidos com maior profundidade. Isto, entretanto, será trabalhado com maior profundidade quando se tratar da pesquisa bibliográfica, na qual o planejamento prévio desempenha um papel central no delineamento. 2.1.5 Como sublinhar um texto Sublinhar um texto é uma das melhores formas de captar seu conteúdo, pois permite identificar melhor as ideias principais de cada parágrafo, destacando-as para leituras posteriores, além de aumentar a concentração do leitor. Sublinhar, de acordo com Ruiz (1995), exige alguns cuidados: a) Não se deve sublinhar em demasia, somente as ideias principais e os aspectos mais importantes do texto; b) Não se deve sublinhar após a primeira leitura, pois esta somente fornece um contato inicial com o texto, e dificilmente permite uma seleção eficaz dos detalhes mais importantes do texto; c) A parte sublinhada deve dar a possibiliade de reconstituir todo o parágrafo; d) O texto sublinhado deve permitir uma leitura rapidíssima do texto, como um telegrama vai daí que a sublinha não precisa ser contínua, ou seja, não é preciso sublinhar todo um período para se captar o que ele quer dizer, mas apenas duas ou três palavras ou expressões do texto, que possam ser concatenadas posteriormente; e) Deve-se sublinhar com dois traços as palavras-chave da ideia central do texto, e com um só traço detalhes e pormenores importantes do texto, associados àquela ideia; f) As passagens mais significativas do texto devem ser destacadas com linha vertical à margem do texto; g) Dúvidas e pontos de discordância devem ser assinaladas com um ponto de interrogação. Naturalmente, determinar o que sublinhar, e o quanto sublinhar é um aspecto essencial para o processo eficiente de sublinha; somente a prática pode conduzir à perfeição neste item, pois sublinhas em demasia tornam monótona e demorada a leitura, enquanto que poucas dificultarão a compreensão do texto. O trabalho, entretanto, é compensador: textos adequadamente sublinhados são lidos mais rapidamente quando há a necessidade de leituras adicionais, de rememorização das ideias tratadas, e de compreensão mais profunda do que o autor desejava passar com o texto. 10 2.2 ESQUEMAS, RESUMOS E FICHAS DE LEITURA Uma técnica que normalmente dá bons resultados em termos de maior aproveitamento da leitura consiste em fazer anotações sobre o texto, na forma de esquemas, fichas e resumos. Algumas dicas são importantes para facilitar o trabalho. O esquema é o processo mais simples de trabalhar o conteúdo de um texto. Consiste em condensar as ideias expressadas pelas frases do texto em palavras-chave, as ideias de um parágrafo em uma frase-mestra que transmita a ideia principal do mesmo, e finalmente, a sucessão das ideias desenvolvido no texto como um todo por meio de parágrafos-chave. O processo exige o encadeamento lógico das diferentes ideias, de modo que se possa ter uma compreensão do texto como um todo. Nas palavras de Lakatos e Marconi (2001, p. 25), “a elaboração de um esquema fundamenta-se na hierarquia das palavras, frase e parágrafoschave que, destacados após várias leituras, devem apresentar ligações entre as ideias sucessivas para evidenciar o raciocínio desenvolvido.” De acordo com Ruiz (1994), a elaboração de um esquema obedece a algumas regras: a) É preciso ser fiel ao texto, evitando encaixar as ideias deste nos próprios pensamentos e conhecimentos; b) Deve-se usar os títulos e subtítulos do texto como guias para apreensão do tema trabalhado pelo autor; c) Clareza, simplicidade e critério na distribuição das ideias são essenciais para se manter fidelidade ao texto; d) Deve-se encadear e subordinar as ideias trabalhadas pelo autor, em vez de simplesmente reuni-las; e) Deve-se ter um sistema uniforme de observações, gráficos ou símbolos para dividir o texto e subordinar as ideias umas às outras. Os resumos exigem um esforço maior por parte do leitor, condensando o texto de modo a reduzi-lo aos seus elementos mais importantes. Ao contrário do esquema, o resumo deve formar um texto completo, redigindo cada parágrafo de modo a garantir a compreensão do texto original, desobrigando o leitor de voltar a este quando precisar do conteúdo do mesmo. É possível também incluir no resumo uma apreciação crítica do texto, a partir de um posicionamento assumido pelo autor (RUIZ, 1994). 11 Um resumo é um instrumento valioso para testar a compreensão do texto por parte do leitor, mas também permite treinar e desenvolver um estilo de escrita (RUIZ, 1994). Algumas regras, de acordo com Ruiz, são importantes: a) Deve-se resumir um texto somente depois de tê-lo lido o suficiente para compreendê-lo, e depois de fazer anotações sobre o mesmo; b) Um resumo deve ser breve e compreensível; c) O autor do resumo deve utilizar as palavras sublinhadas e as anotações feitas ao longo do texto, pois estas devem transmitir as ideias deste; d) Toda vez que for necessário fazer uma transcrição textual, é preciso usar as aspas e fazer a referência bibliográfica completa da mesma; e) Pode-se incluir, ao final do resumo, ideias integradoras, referências bibliográficas adicionais e posicionamentos críticos a respeito do texto. Esta última regra não é referendada por todos os autores. Alguns consideram que os resumos não devem incluir posicionamentos pessoais, devendo guardar o máximo de fidelidade em relação ao texto. Severino (2000) menciona que o resumo deve usar as próprias palavras do estudante, mas precisa se manter fiel às ideias do autor do texto original. De qualqeur forma, o resumo capta, analisa, relaciona, fixa e integra o assunto estudado, expondo-o de modo a permitir uma rápida consulta e a rememorização do assunto (LAKATOS; MARCONI, 2001). Os resumos são de três tipos básicos: a) Indicativo ou descritivo: semelhante ao esquema, é um resumo que apenas faz referência às partes mais importantes do texto, descrevendo-lhe sua natureza, forma e propósito, valendo-se de frases curtas para indicar elementos importantes deste; b) Informativo ou analítico: mais amplo que o anterior, contém todas as principais informações do texto e dispensa leituras adicionais deste. Deve evidenciar os objetivos e o assunto do texto, os métodos e técnicas adotados na exposição do assunto, e os resultados e conclusões a que o autor chegou; c) Crítico: formula um julgamento sobre a forma, o conteúdo e a apresentação do texto. Resumir o texto, portanto, é um trabalho a ser empreendido sempre que for necessário absorver conteúdos e rememorizá-los rapidamente. Dessa maneira, o resumo é um aliado tanto do estudante que está realizando um trabalho de maior fôlego, que exija pesquisa em diversas fontes diferentes, ou está se preparando para uma prova (e precisa relembrar conteúdos), quanto daquele que apenas deseja maior compreensão de um determinado 12 assunto. Subseqüentemente, este trabalho abordará os resumos enquanto trabalhos acadêmicos. Finalmente, as fichas consistem num sistema de apresentação de conteúdo do material escrito, permitindo identificar uma obra, conhecer e analisar seu conteúdo, apresentar citações importantes, e elaborar críticas ao texto (LAKATOS; MARCONI, 2001). As fichas seguem regras básicas para sua apresentação: toda ficha possui três componentes, o cabeçalho, a referência bibliográfica e o corpo ou texto, sendo opcional incluir a indicação da obra (ou seja, a que tipo de público ela se destina) e sua localização (LAKATOS; MARCONI, 2001). O cabeçalho identifica a ficha, apresentando-lhe o título, o número de classificação e, no caso de o conteúdo se estender por mais de uma ficha, a letra indicativa de seqüência (LAKATOS; MARCONI, 2001). Em seguida, a ficha deve apresentar a referência bibliográfica, que deve ser elaborada de acordo com a norma da ABNT (6023: 2002). Já o corpo ou texto deve ser elaborado de acordo com o tipo de ficha. A classificação das fichas é definida por sua finalidade; assim, as fichas se classificam em bibliográficas (de obra inteira ou parte), de citações, de resumo ou conteúdo, de esboço, e de comentário ou analítica (LAKATOS; MARCONI, 2001). As fichas bibliográficas abordam, de maneira sucinta e breve, os principais elementos da obra fichada, definindo-lhes o campo do saber, a problemática abordada, as conclusões às quais o autor chegou, as contribuições que este possa ter dado, as fontes dos dados, a metodologia utilizada, entre outros. As fichas de citações reproduzem fielmente citações relevantes para o estudo empreendido. As fichas de resumo sintetizam clara e concisamente as principais ideias ou aspectos da obra. As fichas de esboço são semelhantes às de resumo, mas detalham com maior profundidade a obra estudada. Por fim, as fichas de comentário analisam a obra, abordando aspectos como a forma e a metodologia de exposição, fazendo análises críticas do conteúdo e/ou a comparação da obra com outras do mesmo tema, e explicando a importância da obra para o estudo que está sendo empreendido (LAKATOS; MARCONI, 2001). 13 3 CONHECIMENTO E CIÊNCIA 3.1 CONHECIMENTO 3.1.1 Conceito Etimologicamente, a palavra “conhecimento” deriva do latim cognitio (o termo grego correspondente é ghnosis). Segundo Nicola Abbagnano (1992), conhecimento é a técnica para comprovação de um objeto (seja ele uma entidade, um fato, uma coisa, uma realidade ou uma propriedade); o termo “comprovação” deve ser entendido como um procedimento que possibilita a descrição, o cálculo ou a previsão do objeto. É preciso mencionar, adicionalmente, que essa comprovação não é infalível. Neste sentido, não se deve confundir o conhecimento com a crença: esta deve ser entendida como o empenho de colocar uma verdade qualquer, mesmo que ela não seja comprovável; ademais, o verdadeiro conhecimento atinge as causas da coisa. O conhecimento é um processo mais complexo do que a crença, como será visto na próxima seção, aonde serão descritos os elementos do processo cognitivo. 3.1.2 Elementos O processo de conhecer alguma coisa ou fenômeno envolve necessariamente três elementos, a saber: o sujeito, isto é, o cognoscente ou aquele que conhece, o objeto, ou seja, aquilo que deve ser conhecido, e a imagem, que vem a ser o ponto de coincidência entre o sujeito e a realidade; o conhecimento vem a ser uma transferência das propriedades do objeto para o sujeito. Felix Kaufmann (1977) frisa: a imagem não é uma cópia fiel da realidade. A figura a seguir auxiliará no entendimento: Figura 1- Os elementos do processo de conhecimento SUJEITO OBJETO IMAGEM Fonte: Autores. 14 Toda operação cognitiva se dirige do sujeito para o objeto e tende a efetuar uma relação com esse objeto, de forma que surja uma característica efetiva deste na mente do sujeito. Dessa maneira, como dizem os filósofos, todo conhecimento é uma apropriação do mundo objetivo por parte do sujeito cognoscente. A percepção desempenha um papel fundamental no conhecimento. Embora todos os seres vivos sejam capazes de possuir alguma forma de conhecimento, somente o ser humano é capaz de transcender o conhecimento fornecido pelos sentidos: o conhecimento humano é intelectual, ou seja, o homem é capaz de conhecer as realidades materiais não somente na sua singularidade, mas vai além disso, pois ele pode comparar, analisar e fazer relações entre os objetos. Uma pedra é a mesma coisa para qualquer animal, mas somente ao homem ela pode ser considerada preciosa; uma planta é percebida pelos animais herbívoros como comida, e pelo homem como: comida, como remédio, como decoração, etc.; um pedaço de carne é identificado como tal por um cachorro ou um gato, mas somente para um ser humano ele tem forma triangular ou retangular. 3.1.3 Tipos de conhecimento A tipologia de conhecimentos que será explicada nesta seção é fornecida por João Álvaro Ruiz em seu livro “Metodologia científica: guia para eficiência nos estudos” (1995); os estudantes que desejem se aprofundar nessa tipologia, especialmente no que tange à diferença entre as diferentes formas e o conhecimento científico devem consultar o capítulo 4 dessa obra. O primeiro tipo que se pretende descrever é o chamado conhecimento vulgar. Este é uma forma empírica de conhecer as coisas, baseada nas experiências e vivências de cada pessoa, que é capaz de atingir os fatos mas não de discutir-lhes as causas. Toda pessoa acumula imensa carga de conhecimento vulgar ao longo de sua vida; as experiências vividas são acumuladas pelas pessoas de forma acrítica e ametódica, isto é, sem a realização de análises, de críticas ou de demonstrações sobre os objetos conhecidos. O conhecimento vulgar forma a maior parte da carga de conhecimentos de cada um, sendo capaz de fornecer aos homens algumas certezas; entretanto, não concede nenhuma demonstração ou prova dessas certezas. Para exemplificar o tipo de conhecimento vulgar, pode-se mencionar o fato de que, por experiência própria ou transmitida pelos parentes e amigos, todas as pessoas sabem receitas caseiras de remédios para algumas doenças; entretanto, não sabem explicar o porquê dessas receitas funcionarem, nem tampouco a forma 15 pela qual elas fazem efeito. Um cientista procederia à análise das receitas, buscando identificar as razões pelas quais elas curam as doenças a que se destinam, bem como a forma pela qual ocorre essa cura. O segundo tipo é chamado conhecimento intuitivo. Ruiz (1995) observa que a intuição é uma forma de conhecimento que, pela sua característica de atingir o objeto sem “meio” ou intermediários de comparação, assemelha-se ao fenômeno do conhecimento sensorial, em particular da visão; Abbagnano reforça essa ideia mencionando que a intuição é uma relação direta com um objeto qualquer, relação esta que implica a presença do objeto. Como forma de conhecimento, o tipo intuitivo é imediato, subjetivo, e se reduz a um único ato de experiência. Laville e Dionne (1999) associam o conhecimento intuitivo ao senso comum, observando que ele representa uma primeira compreensão do objeto, e denunciando como ele pode ser enganador. O conhecimento intuitivo não pode aspirar à validade do conhecimento científico (que é objetivo), pois suas conclusões não têm validade geral. Há duas formas de conhecimento intuitivo, a saber: a) Sensorial: conhecimento obtido por meio dos sentidos; b) Intelectual: conhecimento obtido por meio de determinados princípios lógicos (“nada pode ser e não ser ao mesmo tempo sob o mesmo aspecto”), éticos (“faça o bem, evite o mal”) e estéticos (conceito do belo ou esteticamente agradável). O terceiro tipo é o conhecimento teológico, o qual pressupõe a existência de uma autoridade divina, suprema e soberana acima dos homens. Exige também a fé, e se baseia na revelação divina; os livros sagrados, revelados por Deus aos homens são as fontes dos conhecimentos divinos. Para o fiel, o conhecimento teológico é superior ao científico, pois se origina diretamente de Deus e é atingível pelo homem por meio da revelação. A fé é, dessa forma, o conhecimento supremo para o ser humano. A crença não deve ser confundida com o conhecimento teológico, pois este apresenta fundamento definido. O objeto do conhecimento teológico é (ou pode ser) o mesmo do científico, mas ele se pauta por princípios diferentes: em primeiro lugar, o cientista se vale dos sentidos e de sua razão para conhecer, ao passo que o teólogo utiliza a razão iluminada, ou seja, esclarecida por Deus; em segundo lugar, o cientista se fundamenta no conhecimento dos fatos e das experiências, enquanto que o teólogo se baseia na Revelação. Dessa maneira, enquanto o teólogo sustenta que o mundo é uma criação de Deus - pois assim está escrito nos livros sagrados - o cientista se esforça por explicar as leis físicas que deram origem ao mundo. O quarto tipo é o conhecimento filosófico. A filosofia já foi definida das mais diferentes maneiras, mas pode-se ficar com a conceituação de Platão, na qual ela é o “saber a 16 serviço do homem.” (apud ABBAGNANO, 1992). “Filósofo” é uma palavra grega cunhada por Pitágoras como um substituto para a denominação “sábio”: segundo esse pensador, apenas os deuses são sábios; os homens são apenas amigos (philos) da sabedoria (sophoi). O conhecimento filosófico objetiva as ideias, as relações conceituais e as causas mais remotas do objeto; embora ela tenha o mesmo objeto material das ciências particulares, estas não podem se pronunciar sobre as finalidades supremas de tal objeto, ao passo que a filosofia, sim (RUIZ, 1994). Num exemplo simples, o cientista estuda os mecanismos da vida humana, ao passo que o filósofo indaga o porquê do homem estar vivo; o cientista estuda o papel do cérebro no conhecimento, enquanto que o filósofo se concentra nos mecanismos utilizados pela mente para o raciocínio, e assim por diante. A filosofia se vale do método racional e dedutivo para conhecer; esse método não necessita da confirmação empírica, e sim de coerência. Além disso, a filosofia busca a síntese e o todo, enquanto que a ciência é analítica e procura a parte, o fragmento, a particularidade. Devido a isso, não existe nenhuma verdade definitiva em filosofia: ela faz perguntas, fornece respostas, mas não aspira a alcançar respostas supremas ou absolutamente corretas. A ciência, em contraste, faz perguntas e oferece respostas, algumas das quais podem ser aceitas como perfeitamente verdadeiras (pelo menos no estágio atual de seu desenvolvimento). Finalmente, deve-se introduzir o conhecimento científico. Tal como o compreendemos, ele é uma conquista recente, podendo ser datado na Revolução Galileana do século XVII; isso não quer dizer que não existisse ciência antes de Galileu, e sim que as bases modernas da ciência foram estabelecidas a partir do cientista italiano. O conhecimento científico aspira à objetividade, pois o cientista deve se despir de suas emoções e preconceitos, de forma que suas experiências possam ser repetidas e suas conclusões, verificadas por seus colegas. Além disso, o cientista se vale de uma linguagem rigorosa que é de conhecimento dos outros cientistas. O conhecimento científico se caracteriza ainda, por ser sistemático, metódico, preciso, e por estudar fatos abstratos, isolados do todo aonde se inserem. O cientista está interessado em descobrir regularidades que lhe permitam enunciar generalidades sobre os fenômenos na forma de leis; assim, ele busca descobrir relações universais e necessárias sobre os fenômenos estudados e, ao encontrá-las, prever acontecimentos e agir sobre a natureza. Evidentemente, nada disso será atingido se não for possível repetir as experiências que levaram ao descobrimento das leis; como Alan F. Chalmers colocou, “o conhecimento científico é conhecimento confiável porque é conhecimento provado objetivamente.” (CHALMERS, 1995, p. 23). 17 3.2 CIÊNCIA 3.2.1 Conceito Etimologicamente, a palavra “ciência” deriva do termo latino scientia, cujo sentido original é “conhecimento”; o termo grego, epistheme, vem sendo modernamente utilizado no sentido de “epistemologia”, teoria do conhecimento. Portanto, o que se originalmente utilizava para definir todo o conhecimento humano, atualmente deve ser considerado somente como uma das formas possíveis de se conhecer. Não existe um conceito universalmente aceito de ciência. Na verdade, esse conceito não somente mudou ao longo dos séculos, como ainda foi profundamente influenciado pelas tradições de pesquisa e de conhecimento adotadas. A lista que se segue não pretende ser exaustiva, e sim apresentar uma variedade de concepções diferentes sobre o assunto: Nicola Abbagnano (1992): ciência é um conhecimento que inclui, em qualquer forma ou medida, uma garantia de sua própria validade. Oposto à ela é o conceito de opinião, que não possui garantia alguma de validade; Rubem Alves (1987): a ciência é uma especialização: ela consiste num refinamento de potenciais comuns a todos e na hipertrofia de capacidades que todos têm. Neste sentido, ela pode ser considerada uma metamorfose do senso comum, já que ambos (ciência e senso comum) são expressões da mesma necessidade de compreender o mundo com o intuito de melhor viver. Ambos estão em busca de ordem, ainda que possuam visões diferentes do que é ordem; Roy Bhaskar (1975 apud MAY, 2004): a ciência é uma tentativa sistemática de pensar as estruturas e ações das coisas que existem e agem independentemente do pensamento; Alan F. Chalmers (1995): a ciência é objetiva. Não existe uma categoria geral chamada “ciência”, em relação à qual alguma área de conhecimento pode ser aclamada como tal ou difamada por não sê-la; Antonio Carlos Gil (1995): a ciência é uma forma de conhecimento, e seu objetivo é a formulação, através de linguagem rigorosa e adequada (quando possível, com o uso da linguagem matemática), de leis que regem o comportamento dos fenômenos, leis estas que sejam capazes de descrever séries de fenômenos, comprováveis por meio de experimentação e observação e capazes de prever acontecimentos futuros; 18 William J. Goode (1979): a ciência é um método de abordagem de todo o mundo empírico (sendo este o mundo suscetível de ser experimentado pelo homem). Não visa alcançar a verdade última, e sim analisar os fenômenos de forma que os cientistas possam apresentar proposições sob a forma de “se..., então...”; Fred N. Kerlinger (1977): a ciência é um empreendimento preocupado exclusivamente com o conhecimento e a compreensão dos fenômenos naturais. Os cientistas desejam conhecer e compreender as coisas, de forma que possam afirmar: “se fizermos isto aqui, acontecerá aquilo ali”; João Álvaro Ruiz (1995): a palavra “ciência” pode ser entendida de duas maneiras: num sentido AMPLO, ela significa simplesmente conhecimento; num sentido RESTRITO, trata-se de um conhecimento que não apenas apreende ou registra fatos, mas também os demonstra pelas suas causas determinadas ou constitutivas. 3.2.2 Características da ciência O tipo de conhecimento que a ciência fornece ao ser humano é, como visto na seção anterior, muito diferente dos demais que o ser humano pode alcançar. Dessa maneira, a ciência possui diversas peculiaridades, que Antonio Carlos Gil (1995) formulou da seguinte maneira: a) A ciência é objetiva, no sentido de que descreve a realidade independentemente dos caprichos, valores e preconceitos do observador; b) É racional, uma vez que se vale da razão, e não de sensações ou impressões, para chegar aos resultados; c) É sistemática, já que procura construir sistemas de ideias racionalmente organizadas e em incluir conhecimentos parciais em totalidades cada vez maiores; d) É geral, posto que busca formular leis e normas que expliquem fenômenos de todos os tipos; e) É verificável, dado que possibilita a demonstração da veracidade de suas informações; f) É falível, porque reconhece sua capacidade de errar. A objetividade (a característica apresentada na letra “a” acima) é freqüentemente considerada como uma das características centrais da ciência, um dos critérios que devem ser satisfeitos para que se possa falar em conhecimento científico. Bernstein (apud MAY, 2004) a define como uma convicção fundamental: existe uma estrutura permanente, independente da História, que permite determinar a racionalidade, a correção, a realidade, a verdade ou a 19 bondade. Assim, a objetividade seria uma base de conhecimento à qual se pode apelar em caso de dúvida, fornecendo uma medida das afirmações feitas pelo cientista. Como uma complementação, de acordo com Ruiz (1995), a ciência se caracteriza por ser um conhecimento pelas causas (demonstra os porquês de determinado enunciado), por ser capaz de conhecer profundamente os fenômenos, por generalizar suas conclusões, por ter uma finalidade teórica (aumentar o conhecimento) e uma prática (melhorar as condições de vida do ser humano), por possuir um objeto formal (entendido como a forma pela qual ela atinge o objeto material), por empregar método na busca do conhecimento, por operar sob condições de controle rigoroso, por alcançar um resultado final exato e por ser uma instituição social. Das características levantadas por Ruiz é importante, sobretudo o fato de que a ciência é uma instituição social (ou seja, a ciência é produzida em um grupo social, para uso desse grupo e deve ser validada por ele); esse aspecto fica muito mais visível nas ciências sociais, como será visto. 3.2.3 Divisão da ciência Abbagnano (1992) e Gil (1995) destacam: ao longo da história, a ciência foi objeto de uma grande quantidade de divisões diferentes, nenhuma das quais pode ser considerada inteiramente satisfatória, ou ao menos universalmente aceita pelos estudiosos. Uma vez que não é possível apresentá-las todas, serão colocadas algumas tentativas. Abbagnano (1992) coloca, entre as divisões mais conhecidas, a de Ampère, que se baseou sobretudo nas teorias dos filósofos gregos (entre eles Platão e Aristóteles), e reconhece as ciências noológicas (ou do espírito) e as cosmológicas (ou da natureza), e a de Comte, que classifica as ciências em abstratas (que buscam descobrir as leis que regulam os fenômenos) e concretas (ciências descritivas que buscam aplicar as leis à história dos seres existentes). Durante o século XIX, Wilhelm Dilthey (conhecido filósofo alemão) complementou a divisão de Ampère ao estabelecer que as ciências noológicas tentam compreender um objeto (o homem) e revivê-lo internamente, enquanto que as cosmológicas buscam conhecer causalmente um objeto externo. Mas é a divisão de Comte que se tornou mais conhecida e serve de base para a que será utilizada ao longo desta disciplina, que reconhece as ciências formais (como a matemática e a lógica formal), que tratam de entidades ideais e suas relações, e as empíricas, que tratam de fatos e processos. As ciências empíricas podem ser subdivididas em dois grandes grupos, as naturais (como a física, a química, a biologia e a astronomia) e as sociais 20 (como a sociologia, a história, a antropologia, a economia e a ciência política). A psicologia é um caso à parte: ainda que muitos a coloquem no plano das ciências naturais, ela deve ser considerada como uma ciência social, ainda que se reconheça que seja quase fronteiriça às duas subclasses. A figura a seguir auxiliará na visualização: Figura 2- Divisão das ciências CIÊNCIAS FORMAIS CIÊNCIAS EMPÍRICAS Naturais (FACTUAIS) Sociais Fonte: Autores. Existe amarga controvérsia a respeito da divisão entre ciências naturais e sociais; desde os tempos de Comte, as ciências sociais têm sido pressionadas na busca de uma aproximação às naturais. Há dois motivos para essa controvérsia: em primeiro lugar, as ciências naturais conseguem maiores neutralidade e objetividade que as sociais. Além disso, ainda permitem maior campo de experimentação e são mais facilmente transformadas em leis de alcance geral; essas considerações levam muitos autores a desprezar o caráter científico das ciências sociais, negando-lhes o status de ciências. Dentro de tal debate, são reconhecidos quatro grupos de críticas às ciências sociais: Em primeiro lugar, fenômenos humanos e sociais não possuem a ordem e a regularidade do universo físico e por isso não são previsíveis; As ciências sociais não são quantificáveis e isso dificulta a comunicação de seus resultados; Os pesquisadores sociais trazem suas normas éticas e valores para o campo da pesquisa, e com isso prejudicam seus resultados; Por fim, as ciências naturais são experimentais, enquanto que nem sempre as sociais permitem a experimentação. Por outro lado, tem-se a reação dos defensores do caráter científico das ciências sociais, que respondem a essas críticas da seguinte maneira: 21 O determinismo absoluto e as relações causa-efeito das ciências naturais não são livres de questionamento. Além disso, as ciências sociais permitem fazer previsões probabilísticas; O objeto de estudo das ciências sociais não é quantificável num sentido emocional, mas a inteligência, por exemplo, é mensurável. O grau de quantificação das ciências sociais, entretanto, sempre será menor do que o das naturais; É muito difícil deixar de lado os valores, mas em problemas técnicos e teóricos eles podem ser colocados em segundo plano. Os valores não são inteiramente negativos; Finalmente, o experimento não é de todo indispensável: ciências naturais como a astronomia não são experimentais. Há muita negligência em relação à capacidade experimental das ciências sociais. Dito isto, podem ser apresentadas as características específicas das ciências sociais, as quais Pedro Demo (1995) formulou da seguinte maneira: a) As ciências sociais têm objeto histórico, caracterizado pela provisoriedade e pela situação de estar, não de ser. As ciências naturais possuem objeto cronológico, cuja identidade é estável; b) O ser humano possui consciência histórica, ou seja, pode intervir em sua história e planejá-la a partir da interação de suas ideias com as condições da realidade; c) Há uma identidade entre sujeito e objeto: o homem não pode conceber uma realidade social que lhe seja inteiramente alheia; d) As realidades sociais se manifestam de forma qualitativa, não podendo ser manipuladas com exatidão. Isso não implica, entretanto, em uma análise frouxa ou pouco rigorosa: a verdadeira ciência social é construída com procedimentos muito cuidadosos; e) As ciências sociais são ideológicas, no sentido de que seu objeto é ideológico. A ideologia deve ser entendida como o modo pelo qual se justifica uma posição política, um interesse social, privilégios de classe social, etc. A ideologia não pode ser eliminada da ciência social, por isso o cientista deve controlá-la criticamente, de forma que seus efeitos não sobrepujem a cientificidade; f) Quando se estuda uma realidade social, a separação entre teoria e prática não é perfeita. O cientista social tem um compromisso com a prática mesmo quando se omite, pois é cidadão e membro de uma sociedade. Tim May (2004) afirma que as ciências não devem ser consideradas como uma explicação definitiva a respeito dos fenômenos da vida, que não pode nem deve ser desafiada; seu papel é “[...] entender e explicar os fenômenos sociais, focalizar a atenção em questões 22 particulares e desafiar crenças convencionais sobre os mundos social e natural.” (MAY, 2004, p. 22). Mas nem por isso as ciências sociais podem se arrogar a infalibilidade. 3.2.4 Critérios de cientificidade Existem, de acordo com Demo (1995), dois tipos principais de critérios que medem a cientificidade de uma proposição ou teoria: os internos (divididos em critérios de forma e de conteúdo) e o critério externo. Os critérios internos ligados à forma são: a) Coerência: uma teoria científica deve ser lógica, de maneira que tudo esteja em seu devido lugar, de acordo com um planejamento racional, as conclusões não contradigam os princípios, haja início, meio e fim, e assim por diante. É preciso também que o objeto seja sistematizado, claro e distinto; b) Consistência: a obra científica deve possuir profundidade, isto é, basear-se em argumentos sólidos, ser firme, buscar o âmago do fenômeno, demonstrar conhecimento de causa e considerar discussões anteriores. No que tange aos critérios ligados ao conteúdo, deve-se mencionar os seguintes: a) Originalidade: a teoria deve buscar renovar a ciência através de novas discussões, novas alternativas de estudo e potencialidades, ou seja, tentando abrir novos caminhos para a sua discussão; b) Objetivação: a teoria deve ser científica, captando a realidade como ela se apresenta e buscando eliminar o máximo possível de ideologia, preconceitos e valores pessoais que possam atrapalhar a visão do cientista. O conhecimento deve estar isento de todo aspecto que deturpe a realidade. Por fim, o critério externo de cientificidade: a intersubjetividade. Como as ciências possuem um débito para com a sociedade, é preciso levar em consideração a opinião dominante em cada assunto, obra ou autor. Três fenômenos cercam a intersubjetividade: I) O argumento da autoridade: algumas teorias são reconhecidamente importantes e são usadas como citações; II) A opinião dominante: há, em cada escola de pensamento, uma linha de opinião que predomina sobre as demais; III) Comparação crítica externa: visualização das teorias, escolas e autores, e comparação entre eles. 23 3.5 A PESQUISA COMO CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO A pesquisa é o método de construção do conhecimento científico por excelência. O papel da teoria não pode ser desprezado na definição da pesquisa científica. Como nota May (2004, p. 43), “a teoria, junto com a pesquisa, é de central importância nas ciências sociais.” O mesmo pode ser dito, em verdade, para qualquer tipo de ciência. A teoria auxilia a produzir hipóteses, a orientar o pesquisador em seus questionamentos, a criticar os resultados da pesquisa, a evitar erros cometidos anteriormente e denunciado por outros pesquisadores. Mas a relação entre teoria e pesquisa vai além dessas contribuições: os resultados da pesquisa submetem a teoria a reavaliações constantes, forçando-a a se reexaminar criticamente à luz dos resultados obtidos pelos pesquisadores que a testam ou avaliam empiricamente suas proposições. Nas palavras de May (2004, p. 44, grifos do autor), [...] existe um relacionamento constante entre a pesquisa e a teoria social. Para nós, como pesquisadores, a questão não é somente o que produzimos, mas como o fazemos, pois isso é inseparável do processo da pesquisa. Um entendimento do relacionamento entre a teoria e a pesquisa é parte desse projeto reflexivo que focaliza nossas habilidades não apenas para aplicar técnicas de coleta de dados, mas também para considerar a natureza e os pressupostos do processo de pesquisa. Assim, a teoria e a pesquisa encontram-se inevitavelmente entrelaçadas no processo de construção do conhecimento científico. O trabalho de pesquisa coletará dados e construirá informações que criarão condições para aperfeiçoar, modificar ou refutar as teorias então aceitas. Algumas correntes de pensamento defendem o papel transformador da pesquisa científica, mormente no caso das ciências sociais. Soriano (2004) afirma que a pesquisa em ciências sociais pode atender a quatro objetivos diferentes: a) Pesquisas voltadas à mudança estrutural no tecido socioeconômico, a partir das classes mais necessitadas; b) Pesquisas meramente especulativas; c) Pesquisas produzidas conforme os imperativos da produção de bens e serviços por parte das organizações privadas; d) Pesquisas voltadas a objetivos econômicos individuais. Assim, esses pensadores consideram que a pesquisa deva ser feita em termos de produção de mudança social, e esta, como fica nítida na obra de Soriano (2004), está voltada a uma ideologia específica (o marxismo). Sem entrar nos méritos desse tipo de exposição, há que se afirmar que ela introduz uma clivagem qualitativa muito grave nas pesquisas, desprezando aquelas que não estão direcionadas à “emancipação das classes exploradas”. Se a 24 pesquisa científica fosse produzida inteiramente com essa destinação, então a ciência estaria comprometida diretamente com um determinado tipo de juízo de valor – o que necessariamente excluiria da comunidade científica os pesquisadores não comprometidos com esse valor; e isso é inteiramente contrário ao espírito científico, que deve estar comprometido não somente com a mudança social, mas com a produção de conhecimento desinteressado (a favor de Soriano, há que se afirmar que seu manual está voltado para a pesquisa a ser produzida com fundos públicos). 25 4 O MÉTODO CIENTÍFICO 4.1 FUNDAMENTOS DE METODOLOGIA 4.1.1 Conceito “Método” deriva do latim methodus, que significa “caminho”; a palavra, no entanto, tem origens gregas: meta (através, por meio de) hodos (caminho), donde methodos. O termo vem sendo utilizado, de acordo com Abbagnano (1992), em dois sentidos: no primeiro, a palavra significa toda investigação ou orientação de investigação, como uma doutrina; neste sentido, fala-se de método dialético, método hegeliano ou método experimental. No segundo sentido, método significa uma técnica particular de investigação, isto é, um procedimento ordenado de investigação que garante a obtenção de resultados válidos, como no caso do método silogístico. O primeiro sentido definido por Abbagnano é o que normalmente se estuda nas disciplinas de Metodologia de Pesquisa, e pode ser melhor explicitado por Antonio Carlos Gil: “pode-se definir método como caminho para se chegar a determinado fim. E método científico como o conjunto de procedimentos intelectuais e técnicos adotados para se atingir o conhecimento.” (GIL, 1995, p. 27). O método é central para a atividade científica, sendo indispensável para a produção de conhecimento científico; entretanto, é um erro considerá-lo como um dogma, pois a atitude crítica, não dogmática, é fundamental para a ciência (ALVESMAZZOTTI; GEWANDSZNAJDER, 1999). Nesta disciplina, serão enfocados os métodos normalmente utilizados nas Ciências Sociais, posto que são aqueles normalmente adotados pelos estudiosos da Administração. Há muita discussão sobre a adequação do uso dos métodos das ciências exatas ou naturais nas ciências sociais; alguns defendem que somente o método típico da ciência natural garante cientificidade ao objeto pesquisado e à teoria resultante da pesquisa, enquanto que outros, como Kaufmann (1977) defendem exatamente o contrário. Não se entrará nesta discussão aqui; os interessados poderão consultar Chalmers (todo o livro), Blaug (parte I) e Kaufmann (parte II) para maior aprofundamento na discussão. Serão vistos os métodos gerais, os métodos específicos e os quadros teóricos de referência mais comumente utilizados nos estudos administrativos. Antes de se passar a esses tópicos, é conveniente apresentar algumas considerações a respeito das formas de raciocínio: indução, dedução e adução. 26 4.1.2 Tipos de raciocínio O primeiro tipo de raciocínio que será abordado aqui é o indutivo. Este pode ser facilmente descrito como o raciocínio que vai do particular para o todo, isto é, “[...] que nos leva de uma lista finita de afirmações singulares para a justificação de uma afirmação universal.” (CHALMERS, 1995, p. 27). Há várias formas de indução, das quais apenas a científica é interessante neste curso, pois ela concede segurança ao cientista. O conhecimento científico é construído a partir de induções baseadas na observação dos fenômenos, da seguinte forma: “se um grande número de As foi observado sob uma ampla variedade de condições, e se todos esses As possuíam sem exceção a propriedade B, então todos os As têm a propriedade B.” (CHALMERS, 1995, p. 27). Exemplificando: se um grande número de cisnes observados são brancos, então todos os cisnes são brancos. O filósofo britânico Karl Popper colocou a posição indutivista numa sinuca, ao afirmar que bastaria observar um cisne negro para invalidar a cientificidade da proposição baseada na indução; em outras palavras, o raciocínio indutivo parte do pressuposto de que as observações de um determinado fenômeno são suficientes para construir a ciência, o que é evidentemente perigoso. Por outro lado, pode-se afirmar que, com base nas observações dos planetas do sistema solar e nas leis da Física, qualquer novo planeta a ser observado deve ter órbita elíptica - o que prova que, em certos casos, a indução ainda é uma forma razoável de fazer ciência. Na verdade, pode-se dizer que a indução mantém sua validade como uma forma de criar hipóteses científicas a serem testadas. O segundo tipo de raciocínio é chamado dedutivo. Este faz o caminho contrário ao indutivo, ou seja, parte do geral para o particular. O raciocínio dedutivo opera sobretudo a partir de silogismos, dos quais o exemplo clássico é: “Todos os homens são mortais. Sócrates é homem. Logo, Sócrates é mortal”. A primeira frase é chamada premissa maior, a segunda, premissa menor, e a terceira, conclusão; as premissas são estabelecidas indutivamente. Evidentemente, se as duas primeiras premissas forem verdadeiras, a conclusão forçosamente o será; dessa forma, o método é muito criticado porque, na verdade, a conclusão não chega a ser uma nova teoria ou mesmo algo que possa ser considerado uma contribuição significativa à ciência. De fato, o simples estabelecimento de que Sócrates é mortal em nada acrescenta ao que já foi definido, ou seja, de que todos os homens são mortais e de que Sócrates é homem. Entretanto, o raciocínio dedutivo é a base para um método científico: o hipotético-dedutivo. O método hipotético-dedutivo foi proposto por Karl Popper e outros cientistas como uma alternativa para os problemas do método indutivo; ambos se fundamentam na observação 27 dos fenômenos mas, enquanto o indutivo permite apenas a generalização empírica de observações, o hipotético-dedutivo admite a construção de teorias e de leis científicas (GIL, 1995). Popper apontava as dificuldades inerentes à observação como um método de conhecimento, pois não se pode observar nenhum fenômeno sem uma teoria prévia, ponto de vista ou expectativa (GEWANDSZNAJDER apud ALVES-MAZZOTTI; GEWANDSZNAJDER, 1999). Em seu livro “A conduta na pesquisa” (publicado no Brasil em 1972), Abraham Kaplan (apud GIL, 1995, p. 30) descreveu o método hipotético-dedutivo da forma que se segue: [...] O cientista, através de uma combinação de observação cuidadosa, hábeis antecipações e intuição científica, alcança um conjunto de postulados que governam os fenômenos pelos quais está interessado; daí deduz ele as conseqüências observáveis; a seguir, verifica essas conseqüências por meio de experimentação e, dessa maneira, refuta os postulados, substituindo-os, quando necessários, por outros e assim prossegue. O método hipotético-dedutivo progride, para usar a expressão do próprio Popper, por meio de conjecturas (hipóteses) e refutações (uma hipótese deve ser testada, e se falseada, rejeitada, sendo este o único teste definitivo da mesma: não é possível provar uma hipótese como verdadeira, mas pode-se provar que seja falsa, e neste caso, deve-se abandoná-la). Este método é muito apreciado pelos neopositivistas (que chegam a considerá-lo o único método científico possível), mas sua dependência da experimentação torna-o pouco aplicável às Ciências Sociais, ainda que Popper defenda justamente o contrário. Ele apresenta um conjunto de teses em seu texto “A lógica das ciências sociais” para demonstrar que não há conflito algum entre seu método e as ciências sociais (POPPER, 1978). O terceiro tipo de raciocínio, muito pouco tratado pelos filósofos e estudiosos da ciência é a adução. Esta pode ser definida como uma indução não-demonstrativa, isto é, como a “[...] operação não-lógica que consiste em pular do caos, que é o mundo real, para uma intuição ou tentativa de conjetura acerca da relação real existente entre o conjunto de variáveis pertinentes.” (BLAUG, 1993, p. 54). Ainda segundo Blaug, a adução pertence ao contexto da descoberta: ela é o insight, o eureka do pensador e do cientista, que transcende os limites da indução baseada na simples observação dos fenômenos. Na lógica formal, um dos poucos usos da adução é feito pelo filósofo inglês Peirce, para quem a adução é o primeiro momento do processo indutivo (ABBAGNANO, 1992). 28 4.2 MÉTODOS CIENTÍFICOS Dentre os métodos científicos gerais, cujo objetivo é “[...] garantir ao pesquisador a objetividade necessária ao tratamento dos fatos sociais.” (GIL, 1995, p. 28), destacam-se três: o positivismo, a dialética (e, dentro dessa denominação geral, os materialismos histórico e dialético) e a fenomenologia. As características gerais dos três serão vistas a seguir (àqueles que desejarem se aprofundar no tema, recomenda-se a leitura dos capítulos 2 e 3 do livro de Augusto Triviños e, sobre o método dialético em particular, o capítulo 6 do livro de Pedro Demo). O método positivista é, na opinião de seus defensores, a única forma possível de fazer ciência. Seu fundador, Auguste Comte, coloca-se tanto entre os pioneiros da Sociologia como entre os visionários da Filosofia, já que pretendia criar uma nova religião para a humanidade, baseada na Ciência. O modelo das Ciências Naturais, com sua exatidão, sua neutralidade, seu empirismo e sua capacidade de previsão de acontecimentos futuros foi tomado por Comte como o mais adequado para a construção de ciências da sociedade. Evidentemente, o moderno positivismo é bastante diferente do de Comte, devido às contribuições de pensadores como Ernest Mach, Rudolf Carnap, Moritz Schlick, Bertrand Russell, A. J. Ayer, Ludwig Wittgenstein, entre outros. Segundo Triviños (1995), a filosofia positivista condena a especulação, exaltando os fatos. Ainda de acordo com esse autor, doze são as características principais do positivismo, a saber: a) Em primeiro lugar, o positivismo despreza a integridade, buscando conhecer o fenômeno em suas partes isoladas. O mundo deve ser concebido como um amontoado de coisas separadas; b) Os fatos são as únicas realidades a serem observadas pelo cientista; c) Não se deve buscar as causas últimas dos fatos (o que é “metafísico”), e sim as relações entre eles (ou seja, busca-se conhecer como os fatos se relacionam, e não o porquê dessas relações); d) O conhecimento é um fim em si: a ciência deve ser neutra, preocupada com conhecer e não com a aplicação do conhecimento; e) Os únicos fatos realmente importantes são aqueles que são objetivamente dados, atingíveis por meio da experiência. Fatos metafísicos não são dignos do conhecimento científico; 29 f) Existe um princípio da verificação: tudo aquilo que for empiricamente verificável é verdadeiro, ou seja, toda afirmação a respeito do mundo deve ser confrontada com o dado real; g) Tanto fenômenos naturais quanto sociais devem ser estudados pelo mesmo método; h) As teorias científicas são formadas pela operacionalização de variáveis, isto é, pela conceituação de variáveis que significam relações entre os fenômenos; i) Fisicalismo: todas as ciências devem ser expressas na mesma linguagem, qual seja, a da Física; j) O conhecimento a priori, isto é, o conhecimento independente da experiência não existe (ABBAGNANO, 1992); k) Fatos e valores são diferentes, e somente os primeiros devem ser objeto de estudo dos cientistas; l) Existem apenas dois tipos de conhecimentos autênticos: os empíricos (representados pelas ciências naturais) e os lógicos (representados pelas ciências formais). A essas características levantadas por Triviños (1995) devem ser somadas as seguintes, de acordo com Easterby-Smith et al. (apud ROESCH, 1996): o observador é independente do fato observado, e isento de valor; a ciência progride por meio de um processo hipotético-dedutivo, em que os conceitos são operacionalizados de forma a permitir sua quantificação; devem ser selecionadas amostras de tamanho grande o suficiente para que as conclusões possam ser generalizadas (além disso, é necessário comparar variações entre amostras); por fim, o cientista deve elaborar leis fundamentais que permitam a explicação de regularidades no comportamento humano. Como síntese, pode-se destacar as seguintes características como sendo centrais para a compreensão do positivismo: a) Empirismo; b) Objetividade; c) Experimentação; d) Validade ou reprodução das experiências; e) Formulação de leis e de previsões de comportamento dos fenômenos (LAVILLE; DIONNE, 1999). Em torno de 1920, o positivismo foi reavaliado pelos pensadores do Círculo de Viena (Schlick, Carnap, Neurath, entre outros), que buscaram conjugar o empirismo com a lógica moderna. Esses pensadores defendiam que a Lógica e a Matemática são conhecimentos a priori, independentes da experiência (em flagrante contraste com o positivismo comtiano que, 30 como visto anteriormente, não admitiam essa possibilidade), e o uso da indução para a formulação de teorias que poderiam ser experimentadas, sendo aceitas quando verificadas, ou seja, testadas e confirmadas; após um certo número de repetições, uma teoria seria considerada indutivamente provada (GEWANDSZNAJDER apud ALVES-MAZZOTTI; GEWANDSZNAJDER, 1999). Essas concepções positivistas foram muito criticadas pelos diferentes pensadores, dentre eles Karl Popper (ver o método hipotético-dedutivo na seção anterior) e os da Escola de Frankfurt (Adorno, Benjamin, Horkheimer, Habermas, entre outros), mas desempenhou um importante papel no avanço do conhecimento (TRIVIÑOS, 1995). O segundo método científico a ser estudado é o fenomenológico. A concepção atual de fenomenologia foi criada por Edmund Husserl (1859-1938), e está ligada a um tipo de método científico no qual a única coisa que realmente importa é o fenômeno, o dado ou a coisa que se apresenta diante da consciência do ser humano, sem se importar com o fato do dado ou fenômeno ser real ou aparente: ele existe e se dá ao conhecimento; além disso, o método busca exclusivamente mostrar o que é o dado ou fenômeno e esclarecê-lo, sem formular leis e princípios a seu respeito (GIL, 1995). O fenômeno, portanto, é tudo aquilo que aparece, que se manifesta ou se revela por si mesmo (MOREIRA, 2002). Não há, entretanto, objeto de conhecimento sem sujeito cognoscente (TRIVIÑOS, 1995). Este método opera por meio do que Husserl chamou “redução fenomenológica”, ou seja, o processo por meio do qual o fenômeno se mostra em sua forma pura, livre dos elementos pessoais e culturais do observador; dessa forma, pode-se alcançar a essência das coisas, objetivo máximo da fenomenologia (TRIVIÑOS, 1995), essência que deve ser descrita (MERLEAU-PONTY apud MOREIRA, 2002), essência que deve ser compreendida como a forma pela qual o fenômeno aparece diante da consciência (MOREIRA, 2002). A redução, ou epoqué, funciona da seguinte forma: o indivíduo deve “suspender” suas crenças na tradição e nas ciências, examinando os conteúdos da consciência como dados, e dessa forma descrevendo o fenômeno em sua forma mais pura (MOREIRA, 2002). À redução fenomenológica segue-se a redução eidética, voltada para a intuição da forma de alguma coisa, separando essa forma de qualquer qualidade acidental; seu funcionamento se dá em três níveis, dos quais o primeiro consiste na observação de coisas similares na natureza, as quais são posteriormente agrupadas em características comuns, ou universais empíricos, e, por fim, dentro da coisa, procura-se uma característica sem a qual não se possa pensá-la – os universais eidéticos, características necessárias das coisas (MOREIRA, 2002). 31 Para alguns autores, como Easterby-Smith et al. (apud ROESCH, 1996), o uso do método fenomenológico implica na análise do objeto de conhecimento tomando em consideração também as diferenças culturais entre os observadores, que levam a formas diferentes de percepção; tal visão, como observado, não é unânime entre os estudiosos. Husserl dividia as ciências em ciências de fatos, fundamentadas na experiência sensível, e ciências eidéticas, que buscam a intuição essencial, às quais se pode aplicar o método fenomenológico; entretanto, mesmo as ciências de fatos possuem essência, o que significa que também podem ser estudadas pelo método fenomenológico (GIL, 1995). Husserl também pressupunha a universalidade do conhecimento: em sua visão, a essência captada é a mesma para qualquer sujeito cognoscente, ou seja, “[...] o mundo que eu conheço [...] é o mundo que pode ser conhecido por todos.” (HUSSERL apud TRIVIÑOS, 1995, p. 46). O conhecimento fenomenológico não se preocupa com a historicidade; a busca da essência de um fenômeno implica em desprezar toda a história por trás dele, o que faz com que o método seja criticado como conservador, pois o pesquisador que o utiliza está interessado em captar a realidade para descrevê-la em sua essência, sem qualquer preocupação de atuar sobre ela (TRIVIÑOS, 1995). Entretanto, o método fenomenológico é útil para um pesquisador na formulação e definição de problemas, de hipóteses, e dos conceitos utilizados na fundamentação teórica de suas pesquisas (GIL, 1995). O terceiro e último método geral a ser apresentado é o dialético. Devido às limitações de espaço e tempo, não serão tratadas todas as vertentes da dialética, preferindo-se a concentração na chamada dialética marxista, que vem a ser a mais conhecida e utilizada pelos cientistas sociais. Segundo Gil (1995), há três formas de encarar a dialética: como uma filosofia da natureza, como uma lógica de pensamento aplicada ao estudo histórico de mudanças e conflitos sociais e como um método de investigação da realidade. Essa terceira faceta da dialética é a que interessa para os objetivos desta disciplina, e será estudada aqui. Não existe um consenso a respeito do que é a dialética, mas em geral se admite que o pressuposto central do método seja a admissão de que “[...] toda formação social é suficientemente contraditória para ser historicamente superável.” (DEMO, 1995, p. 86), isto é, que a realidade historicamente observável possui, em seu interior, contradições em diferentes graus (tanto solúveis quanto insolúveis), que podem ser historicamente superáveis; as contradições insolúveis dentro de uma determinada formação social são solucionadas pela superação de tal formação por uma nova. Além disso, alguns princípios são, conforme Gil (1995), comuns a todas as abordagens: 32 Em primeiro lugar, há o princípio da unidade e luta dos contrários, que postula que todos os fenômenos e objetos de pesquisa possuem aspectos contraditórios, indissoluvelmente unidos como opostos que se encontram em estado de luta permanente entre si, de maneira a construir e desenvolver a realidade. Demo (1995) reforça: a unidade de contrários (cada tese traz em si sua antítese) não significa exclusão pura e simplesmente, mas convivência, no objeto, desses contrários; O segundo é o princípio de transformação das mudanças quantitativas e qualitativas. De acordo com os pesquisadores que trabalham com o método dialético, todos os objetos e fenômenos possuem características qualitativas e quantitativas, sendo que estas últimas, em seu processo gradual de mudança, geram mudanças qualitativas, e assim por diante. Triviños (1995) menciona: todo objeto tem propriedades e características, que podem ser definidas como suas qualidades, bem como características definidoras de suas dimensões, volume, peso, grau de desenvolvimento e intensidade de suas propriedades, que definem seu aspecto quantitativo. Como exemplo, a passagem do capitalismo para o socialismo se dá por meio de mudanças quantitativas, que levarão a uma nova realidade social, qualitativamente diferente; Por fim, tem-se o princípio da negação da negação, que define o desenvolvimento como uma espiral em que, nos estágios superiores, repetem-se aspectos dos inferiores. Em outras palavras, o surgimento do novo não implica numa completa desaparição do velho, pois implica em admitir que “[...] o desenvolvimento tem um caráter contraditório, isto é, que é possível que em determinadas etapas se repitam, com nova qualidade, fases do fenômeno que já foram passadas.” (TRIVIÑOS, 1995, p. 73). Com base nisto, pode-se concluir: [...] para conhecer realmente um objeto é preciso estudá-lo em todos os seus aspectos, em todas as suas relações e todas as suas conexões. Fica claro também que a dialética é contrária a todo conhecimento rígido. Tudo é visto como em constante mudança: sempre há algo que nasce e se desenvolve e algo que se desagrega e se transforma. (GIL, 1995, p. 32). O método dialético opõe-se à quantificação defendida pelos positivistas, trabalhando sobretudo com os aspectos qualitativos do objeto estudado, de forma que os procedimentos operacionais e empíricos do positivismo sejam colocados num segundo plano. O método dialético se apóia numa concepção materialista do mundo, em que se postula que o mundo, em todos os seus fenômenos e objetos, é material, que a matéria é anterior à consciência (e que esta, por conseguinte, é determinada por aquela), e que o mundo pode ser conhecido (TRIVIÑOS, 1995). O método dialético opera por meio de categorias ou conceitos centrais, 33 dos quais a ideia da contradição é o mais importante, e busca a formulação de leis que reflitam as ligações entre os diferentes aspectos da realidade objetiva (TRIVIÑOS, 1995). Um interessante exemplo de como os três métodos tratam os problemas de pesquisa social é fornecido por Triviños (1995). Ele fornece o tema “fracasso escolar”, delimita-o como “fracasso escolar nas escolas estaduais de 1o grau em Porto Alegre (RS)”, e depois desenvolve a formulação do problema com base nos três métodos. Assim, o pesquisador positivista buscaria estabelecer as relações entre o fenômeno “fracasso escolar” e algumas variáveis hipotéticas, como nível sócio-econômico da família, escolaridade dos pais, local aonde se situa a escola, sexo dos estudantes, experiência e formação dos professores. Já o fenomenólogo pesquisaria as causas do fracasso escolar segundo alunos, pais e professores, bem como o significado do fracasso para essas pessoas. Por fim, o pesquisador que analisasse o fenômeno por um prisma dialético investigaria os aspectos do fracasso escolar aos níveis local, regional e nacional, bem como as contradições referentes ao currículo, formação e desempenho dos professores, e à localização da escola dentro da comunidade. Um exemplo associado à Administração de empresas: um pesquisador poderia estar interessado em investigar o fenômeno da motivação. Para o positivista, a motivação deveria ser definida a partir de seus resultados objetivos, em termos de melhor desempenho no trabalho ou uma escala de satisfação com o mesmo. A partir disso, a motivação seria associada a dimensões tais como tempo de serviço, classe social, faixa salarial, estrutura das recompensas disponíveis na organização, e assim por diante. Já o fenomenológo buscaria as definições de motivação dos empregados e da direção da organização, buscando determinar um conceito de motivação que pudesse ser adotado por todos os membros da mesma; paralelamente, poderia investigar as percepções de motivação em empresas do setor. Um dialético tentaria identificar as relações entre políticas da empresa e os seus resultados, identificando contradições entre as pretensões e os resultados obtidos, bem como analisaria as contradições nas visões da motivação por parte da alta direção e dos empregados. Os métodos específicos das ciências sociais são voltados para as técnicas a serem usadas pelos pesquisadores para a realização da pesquisa social, especialmente no que tange à coleta, análise e validação dos dados. Gil (1995) destaca os seguintes: a) Método experimental: fundamenta-se na realização de experimentos controlados, em que os fenômenos estudados são submetidos à influência de certas variáveis, em determinadas condições conhecidas pelo pesquisador, de forma a observar o resultado produzido pela ação das variáveis sobre o objeto; 34 b) Método observacional: trata-se simplesmente da observação do fenômeno pelo cientista, que deve evitar toda e qualquer intervenção na realidade observada; c) Método comparativo: consiste na investigação e pesquisa de fenômenos, fatos, objetos, classes sociais ou indivíduos de forma a destacar diferenças e semelhanças entre eles. Trata-se de método que se tornou muito comum nos estudos políticos e da Administração Pública nos anos 50 e 60; d) Método estatístico: caracteriza-se pela aplicação sobretudo da teoria da probabilidade na pesquisa, de forma a determinar, com razoável precisão, o comportamento dos fenômenos e objetos estudados; e) Método clínico: bastante utilizado na psicologia, é baseado numa profunda relação entre o pesquisador e o pesquisado, que interagem entre si. 35 5 ELEMENTOS DOS TRABALHOS ACADÊMICOS Os trabalhos acadêmicos possuem uma estrutura padronizada, que abrange elementos pré-textuais (que consistem em aspectos de apresentação e ordenação dos conteúdos do trabalho), textuais (o corpo do trabalho propriamente dito) e pós-textuais (elementos de fechamento do trabalho, considerados importantes para a compreensão dos mesmos). Os trabalhos acadêmicos, dessa maneira, são apresentados de modo a permitir um contato inicial com seu conteúdo, que pode despertar ou não no leitor o interesse em prosseguir a leitura, sendo fechados com elementos que (à exceção das referências bibliográficas), embora importantes, podem ser dispensados em uma leitura rápida. Antes de apresentar os elementos do trabalho científico, é conveniente mencionar os padrões para a formatação dos documentos, de acordo com a Norma Brasileira Reguladora (NBR) 14724:2002. O papel a ser utilizado para a digitação ou datilografia do texto é o A4. Recomenda-se usar fonte de tamanho 12 para o texto, e tamanho 10 para citações longas (destacadas no texto conforme será visto abaixo) e notas de rodapé. Não existe uma fonte recomendada, mas a Arial e a Times New Roman vêm se popularizando; o importante é que a fonte seja de fácil visualização. As margens das páginas obedecem ao seguinte padrão: a) superior: 3 cm; b) inferior: 2 cm; c) esquerda: 3 cm; d) direita: 2 cm. Quanto à entrelinha, ela deve ser 1,5 para o corpo do texto, à exceção dos resumos, notas de rodapé, indicações de título e fonte das figuras e das citações longas, destacadas do texto, em que se deve usar a entrelinha simples. Títulos e subtítulos de seção devem ser separados do texto precedente e do sucedente por duas entrelinhas de 1,5. A paginação do documento segue uma regra simples: todas as páginas, a partir da folha de rosto, devem ser contadas para a numeração em algarismos arábicos. Vale à pena observar que não se exige mais que os elementos pré-textuais sejam numerados independentemente dos textuais em algarismos romanos, como foi o padrão até a edição da NBR 14724:2002. O cuidado que deve ser tomado é que os elementos pré-textuais não devem apresentar os números de páginas, portanto, estes só serão apresentados no documento a partir da primeira página dos elementos textuais (a primeira página da Introdução). Os números de página devem ser colocados no canto superior direito da folha, a 2 cm da borda direita do papel e a 2 cm da borda superior. Quando há a apresentação de anexos e/ou apêndices, sua 36 numeração deve ser seqüenciada em relação à dos elementos textuais e, na hipótese de o trabalho abranger mais de um volume, deve-se manter a seqüência da numeração nos volumes subseqüentes. Títulos indicativos de seção devem ser numerados progressivamente (por exemplo, 1 para introdução, 1.1 para contextualização do tema, 1.1.1 para justificativa), separando-se o título da numeração por intermédio de um espaço. As seções primárias devem iniciar uma nova página. O alinhamento do título segue a margem esquerda. Os títulos de seção que não recebem numeração como: o resumo, o sumário, as listas de ilustrações e as referências bibliográficas, devem ser centralizados; todos os demais devem estar alinhados com a margem esquerda. Quanto ao destaque dos títulos, usa-se maiúscula e negrito para identificar um título principal (como os capítulos), maiúscula para a seção e maiúsculas e minúsculas para as subseções. Notas de rodapé são numeradas seqüencialmente, podendo ter numeração independente, ou seja, cada novo capítulo “zera” a numeração das notas, ou usando uma única numeração ao longo de todo o texto. Elas devem ser digitadas dentro das margens, em fonte de tamanho menor (10 é o recomendável), em entrelinha simples, e com um filete de 3 cm a partir da margem esquerda separando-as do texto. As ilustrações de quaisquer tipos devem ser numeradas sequencialmente em algarismos arábicos, com o título precedido pela palavra Figura e sua respectiva numeração e legenda (acima da figura), e a indicação da fonte da fonte deve ser colocado imediatamente abaixo da figura, com entrelinhas simples (ver página 22). A ABNT recomenda que todo tipo de ilustração deve ser colocado o mais próximo possível do texto a que se refere, ficando a critério do autor o projeto gráfico; isso significa, entre outras coisas, que não há uma exigência em termos de separação da figura do resto do texto. Tabelas são elementos sintéticos de demonstração de ideias ou conteúdos necessários para a compreensão do trabalho. As informações nas tabelas, de acordo com a NBR 14724:2002, são tratadas estatisticamente. A apresentação das tabelas segue algumas regras: a) a numeração das tabelas é consecutiva; b) cada tabela é precedida pela expressão Tabela, seu número de ordem, em algarismos arábicos, e pelo título (exemplo: Tabela 1- Média do tempo de serviço na empresa, por setor); c) fontes citadas na construção da tabela e notas explicativas aparecem abaixo da mesma, após o traço horizontal de fechamento; 37 d) tabelas retiradas de outros documentos devem trazer a menção do autor, devendo ser obtida a autorização deste para sua apresentação; e) a tabela deve ser inserida o mais próximo possível do texto a que se refere; f) na hipótese de a tabela não caber numa só folha, pode-se continuar a apresentação da mesma em outra folha, tomando-se o cuidado de não colocar traço horizontal de fechamento na primeira folha e repetindo-se o título e o cabeçalho na folha subseqüente; g) tabelas devem ter traços que separem títulos de colunas nos cabeçalhos, tanto horizontais quanto verticais, mas não devem apresentar traços verticais separando as colunas nem horizontais para separar as linhas. 5.1 ELEMENTOS PRÉ-TEXTUAIS Os elementos pré-textuais, segundo a ABNT (2002b), antecedem o texto apresentando informações que permitem a identificação e a utilização do trabalho. O primeiro desses elementos é a capa. A capa é obrigatória em qualquer trabalho acadêmico, ao identificar o trabalho, seu autor, o local em que ele foi ou será apresentado, bem como o ano em que ele foi elaborado, além de servir de proteção para o mesmo. Os elementos da capa são os seguintes: a) nome do autor; b) título; c) subtítulo (caso exista); d) número do volume (caso o trabalho esteja dividido em volumes); e) cidade (local onde a instituição está situada); f) ano da entrega do trabalho. A ABNT também estabelece normas para apresentação da lombada do trabalho, em caso de encadernação de capa dura. Recomenda-se sua consulta para maiores informações. O segundo elemento pré-textual, também obrigatório, é a folha de rosto. Essa folha é a única no trabalho que deve ser impressa dos dois lados (caso o trabalho seja arquivqdo em biblioteca). No anverso, figuram, nesta ordem, os seguintes elementos: a) nome do autor; b) título principal do trabalho; c) subtítulo, se houver, subordinado ao título principal e antecedido por dois pontos (:); d) número de volumes, quando houver mais de um, devendo cada volume possuir sua própria folha de rosto, identificando o número do presente volume); 38 e) natureza (tese, dissertação, monografia, trabalho de conclusão de Curso ou relatório de estágio) e objetivo (aprovação numa disciplina, obtenção de grau - bacharel, mestre, doutor, etc.) do trabalho, nome da instituição à qual se destina e área de concentração (por exemplo, Administração Mercadológica); f) nome do orientadorntador; g) cidade (local) da instituição onde o trabalho será apresentado; h) ano da entrega do trabalho. No verso da folha de rosto deve ser colocada a ficha de catalogação da obra, no caso da mesma ser arquivada em biblioteca. Essa ficha deve seguir o Código de Catalogação Anglo-Americano. Para sua elaboração, é conveniente consultar um bibliotecário. O terceiro elemento é opcional, e refere-se à errata do trabalho. Uma errata consiste numa lista dos erros que porventura tenham sido cometidos no trabalho, com sua localização e correção. Normalmente, a errata é uma folha avulsa, encartada no trabalho após sua impressão e encadernação. Sua apresentação segue o exemplo abaixo: ERRATA Figura 3- Modelo de errata Folha Linha Onde se lê Leia-se 18 25 Adminsitração Administração 56 13 infomação informação Fonte: Autores O quarto elemento é obrigatório no caso de monografias, teses, dissertações e relatórios de estágio: a folha de aprovação. Essa folha apresenta os seguintes elementos: a) nome do autor; b) título; c) subtítulo, se houver; d) local e data da aprovação; e) nome e assinatura dos responsáveis pelo exame e avaliação do trabalho; f) instituição à qual pertencem os responsáveis supracitados. O quinto elemento é opcional: trata-se da dedicatória, que consiste numa homenagem feita pelo autor a qualquer pessoa ou instituição de sua escolha. O elemento seguinte, os agradecimentos, também é opcional, e consiste na listagem de pessoas e instituições que proventura tenham contribuído de alguma forma para a realização do trabalho. O sétimo 39 elemento, a epígrafe, também é opcional; esta consiste numa citação, com seu autor devidamente identificado, que está relacionada com a matéria tratada pelo trabalho. Se o autor do trabalho desejar, também poderá apresentar epígrafes nas folhas de abertura de novas seções ou capítulos do trabalho. O oitavo e o nono elementos são obrigatórios, consistindo no resumo em língua nacional (vernácula) e no resumo em língua estrangeira (não é utilizado no caso do relatório de estágio). Esses resumos consistem numa apresentação sucinta do conteúdo do trabalho, permitindo uma visão rápida, clara e geral desse conteúdo e das conclusões a que o autor chegou ao realizá-lo; o resumo deve, portanto, permitir que o leitor decida sobre a necessidade de consultar ou não o texto. O resumo não possui título, sendo simplesmente indicado pela palavra Resumo, devidamente centralizado, pois ele não é contado na numeração dos documentos. A NBR 6028:1987 estabelece os critérios para o resumo do trabalho acadêmico. Um bom resumo deve apresentar até 100 palavras para notas científicas e comunicações breves, até 250 palavras nos casos de monografias e artigos e até 500 palavras para os relatórios, dissertações e teses. O resumo não deve ser uma simples enumeração de tópicos, e sim uma seqüência logicamente ordenada de frases (ou seja, trata-se de um “texto corrido”, redigido da mesma forma que o texto do trabalho), redigidas na voz ativa e na terceira pessoa do singular. A primeira frase deve explicar o tema principal do documento e, em seguida, explicar a categoria de tratamento (memória científica, estudo de caso, análise da situação, etc.). Alguns aspectos devem ser relevados quando da apresentação do resumo, a saber: a) deve-se identificar os métodos e técnicas pelos quais o problema tratado no trabalho foi abordado, bem como as fontes e tratamentos dos dados; b) ao se identificar os resultados das pesquisas, deve-se destacar o surgimento de fatos novos, descobertas, teorias anteriores, contradições, novas relações e efeitos verificados; c) se for o caso, devem ser apresentados os valores numéricos observados, limites de precisão e graus de validade; d) deve-se evitar a redundância ao apresentar os resultados obtidos; e) novos aspectos, como métodos aplicados, documentos e fontes de dados recém descobertos devem ser indicados no resumo, mesmo que não tenham relação direta com o tema tratado; f) o resumo não deve ser apresentado sob a forma de parágrafos, devendo também evitar símbolos ou siglas que não sejam correntes e a apresentação de fórmulas ou diagramas, a 40 não ser que sejam imprescindíveis; neste caso, deve-se definir os elementos constantes dos mesmos (ABNT, 2012). Após cada resumo, deve-se apresentar uma lista de palavras-chave, que permitem identificar quais são os termos essenciais para a compreensão ou utilização dos trabalhos. Não existe norma que regule quantos desses termos devem ser apresentados num trabalho, mas deve-se procurar aquelas que sejam representativas ou significativas para o entendimento do texto, e não aquelas que mais são utilizadas no mesmo. Palavras-chave são importantes para trabalhos indexados em bases de dados, permitindo mais facilidade de acesso aos mesmos, portanto, devem ser escolhidas com extremo cuidado. A seguir, vêm quatro elementos opcionais, a saber, a lista de ilustrações (listagem ou listagens de elementos como quadros, gráficos, organogramas, desenhos, gráficos apresentados no trabalho, seguidos dos respectivos números de páginas), a lista de tabelas (que relaciona as tabelas incluídas no texto), a lista de abreviaturas e siglas (relacionando alfabeticamente as abreviaturas e siglas usadas no texto, seguidas de suas respectivas explicações, grafadas por extenso, sendo recomendado fazer uma lista para cada tipo), e a lista de símbolos (na qual os símbolos são apresentados e explicados em seu significado de acordo com a ordem em que aparecem no texto). O último elemento pré-textual é obrigatório: o sumário. O sumário é a enumeração das principais divisões, seções e subseções do trabalho, na mesma ordem e grafia em que são apresentadas, acompanhadas do devido número de página. No caso de haver mais de um volume, em cada um deve ser apresentado o sumário completo. A NBR 6027:2003 regulamenta a forma de apresentação dos sumários. Segundo essa norma o sumário não se confunde com índice, que consiste numa enumeração detalhada de assuntos, nomes de pessoas, nomes geográficos, acontecimentos, etc., seguidos de uma indicação de sua localização no texto, tampouco com lista, que é utilizada para elementos específicos como ilustrações e tabelas, muito menos com o resumo. As regras para a apresentação do sumário são as seguintes: a) a expressão sumário é usada como título e escrita em letras maiúsculas negritadas, centralizada na primeira linha do texto; b) o título é separado dos elementos com duas entrelinhas em branco (escrevendo na terceira); c) as letras e entrelinhas são as mesmas utilizadas no texto; d) os primeiros elementos apresentados são os pré-textuais (listas de figuras, de tabelas, de siglas e resumos), sem indicação numérica, escritas em maiúsculas negritadas, e com uma 41 linha pontilhada ligando os títulos aos números da página inicial, que devem ser alinhados com a margem direita; e) os títulos das seções primárias e suas subdivisões são apresentados na ordem em que surgem no texto, com indicativo numérico (quando houver) alinhado à esquerda, títulos separados do indicativo por um espaço e com uma linha pontilhada ligando o título ao número da página inicial, esta alinhada com a margem direita; f) os últimos elementos apresentados no sumário são os pós-textuais, apresentados sem indicação numérica acompanhando o título, alinhados à margem esquerda, escritos em maiúsculas negritadas e ligados ao número inicial de página (alinhado com a margem direita) por uma linha pontilhada; g) Os títulos principais (capítulos) são grafados em maiúsculas e negrito, os subtítulos (seções), em maiúsculas, e as subseções, em maiúsculas e minúsculas. Cada número de capítulo, seção ou subseção deve ser separado do respectivo título por dois espaços, não sendo recomendável usar pontos ou parênteses como elementos separadores no sumário (ISKANDAR, 2003). O sumário apresentado no início deste trabalho pode ser tomado como um modelo para os sumários de trabalhos acadêmicos, uma vez que segue as normas definidas para sua apresentação. 5.2 ELEMENTOS TEXTUAIS Os elementos textuais consistem no corpo do trabalho propriamente dito, no qual o autor apresenta, desenvolve e conclui as ideias que constituem o trabalho acadêmico apresentado. A matéria do trabalho é, portanto, exposta pelo seu autor em três partes fundamentais: introdução, desenvolvimento e conclusão. Essas três partes estão logicamente encadeadas: na introdução, anuncia-se o que se pretende fazer; no desenvolvimento, a ideia anunciada na introdução é trabalhada; na conclusão, resume-se o que se alcançou e fecha-se o trabalho. A introdução visa contextualizar o trabalho acadêmico (ou seja, que tipo de trabalho foi realizado, qual é sua área do conhecimento e o tema abordado), apresentar o problema de pesquisa cuja investigação e solução foram tratadas ao longo do mesmo, definir seus objetivos (geral e específicos) e limitações, delinear o quadro teórico no qual o trabalho foi desenvolvido, bem como apresentar uma indicação de sua importância ou relevância; ou seja, em linhas gerais, a introdução pode ser considerada como uma espécie de apresentação do 42 trabalho. Não existe nenhum padrão em termos de número de páginas, devendo a introdução ser elaborada de maneira equilibrada em relação ao conteúdo do trabalho (ou seja, trabalhos muito curtos não devem ser antecedidos por uma introdução muito longa). O desenvolvimento do trabalho é composto por tantos capítulos quanto se fizerem necessários para a solução do problema de pesquisa. A grande maioria dos trabalhos acadêmicos exigirá a apresentação de um referencial teórico, ou seja, uma revisão da literatura a respeito do tema do trabalho, podendo esta ser dividida em tantos capítulos quanto se fizerem necessários. Outros capítulos que podem ser apresentados no desenvolvimento são os procedimentos metodológicos na qual o autor classifica o trabalho de acordo com critérios previamente definidos e apresenta os métodos e técnicas utilizados para a coleta, análise e tratamento dos dados constantes do trabalho, a caracterização da empresa, nos trabalhos como os relatórios de estágio e os estudos de caso ou pesquisas em empresas, o diagnóstico da situação, sempre que for importante contextualizar o problema de pesquisa dentro de uma compreensão global da realidade. Análise e tratamento dos dados, em que os dados obtidos na pesquisa são trabalhados de modo a proporcionarem informações e conhecimentos ao pesquisador e aos leitores; e as recomendações, que constam dos trabalhos em que há uma proposição de um curso de ação para uma organização ou grupo social (recomendações podem ser apresentadas na conclusão do trabalho; de fato, alguns autores sugerem que elas sejam colocadas nesta). Em relação à apresentação dos capítulos do desenvolvimento, é preciso lembrar que cada capítulo inicia uma nova página, e que os capítulos podem ser divididos em seções. A numeração dos capítulos e seções é progressiva e utiliza algarismos romanos ou arábicos, de acordo com o critério estabelecido pelo autor. A numeração dos títulos deve ir até três algarismos (1.1.1, por exemplo), não sendo aconselhável ir além disso. Finalmente, as considerações finais consiste num fechamento do trabalho, em que os principais aspectos abordados ao longo do trabalho são recapitulados resumidamente, e as recomendações feitas são apresentadas sinteticamente (recomenda-se evitar apresentar recomendações que sejam polêmicas ou controversas, apresentando-se somente os aspectos que possam ser considerados aceitáveis sem maiores discussões). As considerações finais do trabalho também pode apontar possibilidades de estudos mais profundos ou outros problemas que possam vir a ser objeto de análise pelo autor ou por outros pesquisadores, bem como as limitações do estudo desenvolvido, caso não tenham sido apresentadas na introdução. É essencial que as considerações finais permitam analisar até que ponto os objetivos definidos na introdução foram cumpridos pelo autor do trabalho. A NBR 14724:2002 considera 43 opcionais os aspectos referentes à importância, síntese, projeção, repercussão e encaminhamentos futuros de trabalho. Um aspecto que não pode ser esquecido: nas considerações finais não é possível introduzir elementos novos no trabalho. Mesmo que corram o risco de serem repetitivas, devem apenas trazer o que já foi tratado no trabalho. Naturalmente, as dimensões dos elementos textuais num trabalho acadêmico são muito variáveis. Relatórios de estágio, por exemplo, devem ter dimensões bem maiores que trabalhos apresentados para uma disciplina, pois trabalham com maior número de elementos. Os principais cuidados devem ser tomados com a redação do texto. Severino (2000) lembra que o autor de um trabalho deve cuidar de sua linha de argumentação, redigindo parágrafos e construindo seções em que os conteúdos sejam logicamente encadeados, permitindo ao leitor acompanhar o raciocínio do autor. Em trabalhos científicos, impõe-se um estilo sóbrio e preciso, importando mais a clareza do que qualquer outra característica estilística. A terminologia técnica só será usada quando necessária ou em trabalhos especializados, nível em que já se tornou terminologia básica. De qualquer modo, é preciso que o leitor entenda o raciocínio e as ideias do autor sem ser impedido por uma linguagem hermética ou esotérica. Igualmente evitem-se a pomposidade pretensiosa, o verbalismo vazio, as fórmulas feitas e a linguagem sentimental. O estilo do texto será determinado pela natureza do raciocínio específico às várias áreas do saber em que se situa o trabalho. (SEVERINO, 2000, p. 84). Esta passagem resume admiravelmente os cuidados que o autor de um trabalho acadêmico deve ter ao redigir seu trabalho: é preciso ter clareza, evitando duplas interpretações, utilizar parcimoniosamente a linguagem técnica, e escrever tendo em mente o leitor do trabalho, pois é este que, afinal, irá determinar a qualidade do mesmo. 5.3 ELEMENTOS PÓS-TEXTUAIS Os elementos pós-textuais são todos aqueles cuja apresentação é considerada, pelo autor, como importante para a compreensão do trabalho, mas não tão fundamental que exijam sua colocação ao longo do desenvolvimento do mesmo. São, na maior parte, elementos opcionais, que serão utilizados com economia e cuidado pelo autor para ilustrar, aprofundar ou destacar temas e assuntos tratados nos capítulos que formam o desenvolvimento. Dentre os elementos pós-textuais, apenas um é obrigatório, e diz respeito às referências, conhecidas até a revisão de 2000 da NBR 6023 como referências bibliográficas; o título mais geral se deve ao fato de que hoje em dia existem muito mais opções de obras que podem ser usadas como referências, não somente os livros e textos impressos. As referências consistem numa listagem das obras citadas ao longo do trabalho, apresentadas de acordo com 44 os padrões definidos pela NBR 6023:2002, permitindo ao leitor identificar e consultar as fontes originais sobre as quais se baseou o trabalho. É importante diferenciar bibliografia de referências bibliográficas: aquela consiste numa lista de obras consultadas para a realização de pesquisa, ao passo que estas apresentam somente as obras efetivamente citadas ao longo do texto. Devido à importância deste assunto, ele será tratado em capítulo específico deste trabalho. O elemento pós-textual seguinte é o glossário. De caráter opcional, o glossário apresenta palavras e expressões técnicas de uso restrito ou de sentido obscuro, seguidas de suas definições. As palavras devem ser apresentadas em ordem alfabética, não devendo ser numeradas. Os demais elementos pós-textuais consistem em apêndices e anexos. Os apêndices são textos ou documentos elaborados pelo próprio autor do trabalho, e complementam a argumentação desenvolvida por este. São identificados pela expressão APÊNDICE (em maiúsculas), por letras maiúsculas consecutivas e por um travessão separando-os do título (na hipótese de existirem mais elementos do que letras no alfabeto, usam-se letras dobradas: apêndice AA, por exemplo). Observe-se os exemplos a seguir: APÊNDICE A - Classificação dos respondentes, por seção e tempo de serviço APÊNDICE B - Nota metodológica sobre o questionário apresentado Os anexos, por sua vez, são documentos não elaborados pelo autor, e são usados para fundamentar, comprovar ou ilustrar a argumentação deste. Seu sistema de identificação é semelhante ao dos apêndices. Veja-se o exemplo: ANEXO A - O uso de entrevistas em levantamentos, de acordo com Fletcher (1999) ANEXO B - Delineamentos de pesquisa (VERGARA, 2000) Apêndices e anexos devem ser antecedidos por lista específica, na qual eles são devidamente identificados. Na hipótese de serem apresentadas, como anexos, cópias de documentos, nas quais não seja possível acrescentar um título, é conveniente antecedê-las por uma folha de identificação. As páginas dos anexos são numeradas em seqüência aos elementos textuais. No sumário, a página inicial das seções apêndices e anexos deve ser colocada de acordo com a regra de apresentação do sumário, já referida anteriormente. 45 6 CITAÇÕES Uma citação é a menção, no texto, de uma informação extraída de outra fonte, de acordo com a NBR 10520:2002. Estas podem ser diretas, quando se referem a uma transcrição literal (ou seja, uma cópia fiel) do texto do autor consultado, ou indiretas, quando a transcrição não é literal (ou seja, modifica-se o texto original, mantendo-se suas informações originais) sendo que o pensamento do autor original é reescrito com as palavras do autor do trabalho. Naturalmente, no caso desta, é preciso tomar extremo cuidado com o uso das palavras, devendo-se preservar o significado original pretendido pelo autor citado, sem distorcer seu conteúdo. Por que se usam citações? As respostas a essa pergunta variam, mas, geralmente, as citações são utilizadas das seguintes maneiras: a) apresentar conceitos; b) comprovar um ponto de vista; c) apresentar elementos adicionais para aumentar a força de um argumento; d) valorizar aspectos trabalhados ao longo do texto. Qualquer que seja a razão para usar a citação direta, é preciso lembrar-se do que Vergara (2000) afirma, deve-se usar as citações com parcimônia. Ou seja, um trabalho acadêmico não pode se constituir num sem-número de citações, em que o trabalho do autor tenha sido simplesmente compilá-las e encadeá-las ao longo do texto. Algumas regras gerais : a) as entradas de sobrenomes de autor, da instituição responsável pelo texto citado ou pelo título do texto (quando não for possível determinar a autoria) devem ser feitas em maiúsculas e minúsculas, quando apresentadas fora de parênteses, e inteiramente em maiúsculas, quando apresentadas entre parênteses. O ano da publicação é referenciado entre parênteses. No caso de citação direta (literal), a página da citação também é referenciada entre parênteses; havendo mais de um volume para o título referenciado, este deve ser apresentado após a data, separado desta por vírgula e com a apresentação do volume ou tomo abreviada). Exemplo: Vergara (2000, p. 37) Vergara (2000) (VERGARA, 2000, p. 37) (VERGARA, 2000) IBGE (2002) IBGE (2002, p. 245) (IBGE, 2002, p. 245) (IBGE, 2002, v. 2, p. 108) 46 b) transcrições com até três linhas são referenciadas dentro do próprio texto, separadas deste por aspas duplas, usando-se as aspas simples na hipótese de haver aspas duplas na citação utilizada. Exemplo: Severino (2000, p. 187) escreve: “quanto à sua estrutura, o raciocínio é um todo complexo, formado que é por um encadeamento de vários juízos, que são, igualmente, conjuntos formados por vários conceitos.” No exemplo acima, a apresentação da fonte poderia se dar ao final do trecho citado, como se segue (SEVERINO, 2000, p. 187); c) transcrições com mais de três linhas são destacadas com recuo de 4 cm em relação à margem esquerda, em letra menor que a do texto e sem aspas. Exemplo: as variáveis podem ser de duas espécies, conforme sejam ou não conhecidos os seus valores no início da pesquisa. As variáveis sob controle são aquelas cujo valor é determinado ou mantido sob controle pelo pesquisador. As variáveis nãocontroladas são aquelas cujo valor é indeterminado e/ou não controlado pelo pesquisador ou cujo valor só é conhecido após o esforço de pesquisa. (RAUEN, 2002, p. 152, grifo do autor). d) trechos suprimidos são indicados pelo uso de colchetes e reticências [...], interpolações e acréscimos também são indicadas por colchetes [interpolação de comentário do autor do trabalho no texto da citação] e destaques são feitos com grifos, negritos ou itálicos. Na hipótese do destaque constar do texto original, utiliza-se a expressão grifo do autor, e, sendo destaque feito pelo autor do trabalho acadêmico que está apresentando a citação, usa-se a expressão grifo nosso. O exemplo acima apresenta um grifo feito por Fábio José Rauen, autor do livro donde provém a citação; e) dados obtidos por via oral devem indicar, entre parênteses, a fonte por meio da expressão informação verbal; f) trabalhos ainda não publicados ou em fase de elaboração devem ser destacados, incluindose a expressão no prelo para trabalhos prontos para edição, mas ainda não lançados, e em fase de elaboração, para trabalhos que ainda não estejam prontos. No caso de trabalhos no prelo, se a data prevista de edição for conhecida, ela deve ser adicionada; g) no caso do autor do trabalho ter traduzido o texto da citação, deve-se usar a expressão (tradução nossa). Exemplo: (BABBIE, 1983, p. 205, tradução nossa) Algumas regras adicionais são importantes: a) no caso de haverem dois autores com o mesmo sobrenome que tenham publicado seus livros ou artigos no mesmo ano, deve-se indicá-los por meio da inicial do prenome, e, se a inicial for a mesma, usa-se o nome completo. Evidentemente, em não havendo 47 publicações no mesmo ano referenciadas na bibliografia, esta regra não se aplica. Exemplo: (SILVA, R., 2000) (SILVA, Reinaldo, 2000) (SILVA, J., 2000) (SILVA, Roberto, 2000) b) quando forem citados textos de um mesmo autor, publicados no mesmo ano, usa-se uma letra minúscula para diferenciá-los (naturalmente, o mesmo expediente deve ser adotado nas referências bibliográficas). Exemplo: (BRESSER PEREIRA, 1998a) (BRESSER PEREIRA, 1998b) c) citações de documentos do mesmo autor, publicados em anos diferentes, devem ser referenciadas separando-se os anos com ponto e vírgula. Exemplo: (BRESSER PEREIRA, 1996; 1998a; 1998b) d) citações de documentos de autores diferentes, mencionados simultaneamente, devem ser separadas por ponto e vírgula. Exemplo: (SILVA, 1993; PEREIRA, 1995; ROCHA, 1995) e) a expressão latina apud (citado por, conforme, segundo, junto a) é usada quando se está fazendo a citação de um texto de um autor dentro de texto de outro autor. Conhecida como citação de citação. Exemplo: (KETTL, 1997 apud BRESSER PEREIRA, 1998b) Kettl (apud BRESSER PEREIRA, 1998b) f) outras expressões latinas são id (mesmo autor), ibidem ou ibid (na mesma obra), opere citato ou op. cit. (obra citada), passim (em várias passagens do texto), loco citato ou loc. cit. (no mesmo local). Essas expressões, entretanto, são usadas somente em notas de rodapé, à exceção de apud; g) no caso de haver mais de um autor para o texto, deve-se separar os sobrenomes por ponto e vírgula, quando entre parênteses, podendo-se usar tanto o ponto e vírgula quanto a vírgula se a menção vem fora de parênteses. Exemplo: Melo Neto; Froes (2001) Melo Neto, Froes (2001, p. 10) (MELO NETO; FROES, 2001) (MELO NETO; FROES, 2001, p. 10) h) No caso de haver mais de três autores, pode-se citar o primeiro nome, seguido da expressão et al. (et alii, que significa “e outros” em latim), ou os três primeiros nomes seguidos de et al. Por exemplo: Bastos et al. (2003) (BASTOS et al., 2003) 48 i) no caso de sobrenome composto, deve-se usar a forma mais conhecida desse sobrenome. Por isso, textos de Luiz Carlos Bresser Pereira normalmente são referenciados por Bresser Pereira ou (BRESSER PEREIRA), e não por Pereira. Se o sobrenome do autor tiver as expressões Filho, Neto, Sobrinho, estas devem ser utilizadas: por exemplo, ao citar um texto de Francisco Paulo de Melo Neto, usa-se Melo Neto ou (MELO NETO). 49 7 REFERÊNCIAS: A NBR 6023:2002 As regras para a apresentação das referências no Brasil estão consubstanciadas na NBR 6023, modificada pela última vez em setembro de 2002. Essa norma apresenta os elementos que devem ser colocados nas referências bibliográficas e determina os padrões a serem seguidos para os diversos tipos de documentos científicos normalmente referenciados nos trabalhos acadêmicos. Segundo a NBR 6023:2002, as referências bibliográficas podem ser apresentadas de quatro formas: a) em notas de rodapé; b) no final do texto ou de cada capítulo; c) numa lista de referências ao final do trabalho (antecedendo anexos, apêndices e glossário); d) antecedendo os resumos, resenhas e recensões. Para os trabalhos acadêmicos, convencionou-se tacitamente apresentar as referências ao final dos mesmos, a não ser nos casos de resenhas e resumos de texto. Embora alguns utilizem a prática de apresentá-las nas notas de rodapé, isso não é muito recomendável, pois normalmente os avaliadores têm interesse em consultar a lista de referências antes de ler o texto inteiro, para se inteirarem do quadro de referência adotado pelo acadêmico. Antes de apresentar os principais modelos de referências trabalhadas pela ABNT, é conveniente distinguir entre os elementos das mesmas. Existem os elementos essenciais, indispensáveis para a identificação do documento consultado, como título, subtítulo (quando houver), número da edição, local da publicação, editora e data da publicação; e os elementos complementares que, em apoio aos essenciais, permitem a melhor caracterização dos documentos, como indicações de responsabilidade (tradutor, ilustrador, revisor, adaptador, compilador, etc.); características físicas e dimensões do documento, número de páginas, número de volumes, existência de ilustrações, série editorial ou coleção a que o documento pertence, notas e o International Standard Book Numbering (ISBN), etc. (ABNT, 2002). Apenas os elementos essenciais são exigíveis numa análise da referência bibliográfica. A seguir, serão apresentados os principais tipos de documentos referenciados nos trabalhos acadêmicos exigidos pelos cursos de Administração. Os modelos aqui apresentados não esgotam a ampla variedade de possibilidades, portanto a consulta à norma original, disponível nas bibliotecas, é essencial para dirimir possíveis dúvidas em relação à forma mais adequada de construir a referência. 50 a) Para referenciar um livro utilizado no todo SOBRENOME, Prenome (havendo até 3 autores, referenciar os nomes dos mesmos e, mais de 3, deve-se indicar o primeiro ou os três primeiros e usar a expressão latina et al.). Título do livro: Subtítulo (quando houver). Número da edição (em sendo a primeira edição, é desnecessário citar). Local da edição: Editora, ano da edição. (Coleção - quando houver). Número de páginas, se necessário. EXEMPLO: MANTEGA, Guido; MORAES, Maria. Acumulação monopolista e crises no Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980. (Coleção Economia, v. 7). MITROFF, Ian. Tempos difíceis, soluções inovadoras: a arte de fazer as perguntas certas e resolver os problemas certos. Rio de Janeiro: Campus, 1999. b) Para referenciar um livro organizado, editado ou compilado por um autor ou mais autores, contendo textos de diversos autores diferentes, usa-se, após o(s) nome(s) do(s) compilador(es), as expressões (org.), (ed.) e (comp.), e seus respectivos plurais: MINTZBERG, Henry; QUINN, James Brian (Orgs.). O processo da estratégia. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001. c) Para referenciar um texto retirado de um livro do mesmo autor, usa-se o título da parte, antecede-se o título do livro com a expressão In:, e acrescenta-se a menção ao capítulo (se houver) e as páginas: ROESCH, Sylvia Maria Azevedo. Pesquisa qualitativa. In: ______. Projetos de estágio e de pesquisa em administração: guia para estágios, trabalhos de conclusão, dissertações e estudos de caso. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1999. Cap. 8, p. 130-153. Sustitui-se o nome da autora por sublinha de seis espaços (underline) para indicar que o autor da parte é o mesmo do livro. d) Na hipótese do texto ter sido retirado de um livro organizado por outros autores CHAMPY, James A. Preparando-se para a mudança organizacional. In: HESSELBEIN, Frances; GOLDSMITH, Marshall; BECKHARD, Richard (Orgs.). A organização do futuro. São Paulo: Futura, 1997. Cap. 1, p. 25-32. e) Quando se está citando uma tese, dissertação, monografia, trabalho de conclusão de curso, relatório de estágio, usa-se a seguinte estrutura: SOBRENOME, Prenome. Título do trabalho: Subtítulo (quando houver). Ano. Número de folhas. Característica - Local de apresentação. 51 EXEMPLO: ZAPELINI, Marcello Beckert. Colaboração entre os setores público e privado: elementos para uma teoria política. 1996. 420 f. Dissertação (Mestrado em Administração) - Curso de Pós-Graduação em Administração, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. Se apenas uma parte do documento estiver sendo citada, usa-se a mesma regra apresentada em “c”. Assim: EXEMPLO: ZAPELINI, Marcello Beckert. Concepções políticas clássicas. In: ______. Colaboração entre os setores público e privado: elementos para uma teoria política. 1996. 420 f. Dissertação (Mestrado em Administração) - Curso de Pós-Graduação em Administração, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. Cap. III, p. 15-39. f) A referência de um dicionário segue este padrão: ABBAGNANO, Nicola. Diccionario de filosofía. 2. ed., 9. reimpr. México, D. F.: Fondo de Cultura Económica, 1992. g) Se apenas um verbete do dicionário está sendo citado, deve-se proceder desta forma: AUTORITARISMO. In: SOUSA, José Pedro Galvão de; GARCIA, Clovis Lema; CARVALHO, José Fraga Teixeira de. Dicionário de política. São Paulo: T. A. Queiroz Editor, 1998. p. 85-86. h) No caso de referência de um periódico (revista) tomado em sua coleção, deve-se usar o seguinte padrão: REVISTA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. Rio de Janeiro: FGV, 1967. Bimestral. i) Quando apenas um artigo de periódico está sendo citado: SOBRENOME, Prenome. Título. Revista, local, volume, número, páginas, data. EXEMPLO: GUIMARÃES, Tomás de Aquino. A nova administração pública e a abordagem da competência. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, v. 34, n. 3, p. 125-140, maio/jun. 2000. Naturalmente, quando há mais de um autor, deve-se referenciar os nomes dos autores até o máximo de três; quando forem quatro ou mais, deve-se usar a expressão et al., como definido anteriormente no capítulo sobre citações. 52 j) Um artigo publicado em jornal é referenciado como se segue: SOBRENOME, Prenome. Título. Jornal, Local, data. Seção ou caderno, página. EXEMPLO (extraído da NBR 6023:2000, p. 5): NAVES, P. Lagos andinos dão banho de beleza. Folha de São Paulo, São Paulo, 28 jun. 1999. Folha Turismo, Caderno 8, p. 13. Se não há menção de caderno, seção ou parte no jornal, a página precede a data, como no exemplo a seguir (também extraído da NBR 6023: 2000, p. 5): LEAL, L. N. MP fiscaliza com autonomia total. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, p. 3, 25 abr. 1999. Na hipótese de não ser assinada, a matéria tem a primeira palavra do seu título referenciado em maiúscula. Os demais elementos permanecem os mesmos. k) Entrevistas são referenciadas sempre pelo nome do entrevistado ÁLVARES DA SILVA, Antônio. Justa causa. Exame, São Paulo, n. 692, p.34-36, 14 jul. 1999. Entrevista concedida a José Maria Furtado. l) Documento extraído da Internet SOBRENOME, Prenome. Título. Indicação de revista eletrônica, site ou evento. Disponível em: <http://www. ....>. Acesso em: data. (dia mês ano) EXEMPLO: CECATTO, Cristiano. Planejamento estratégico e RH. RH.com.br. Disponível em: <http://www.rh.com.br/ler.php?cod=3338>. Acesso em: 10 set. 2002. m) Um documento em CD-ROM deve ser referenciado como se segue (o primeiro exemplo se refere ao documento como um todo, e o segundo a uma parte do mesmo): EXEMPLO: CONSELHO FEDERAL DE ADMINISTRAÇÃO. Administração. Brasília: CFA, 2002. CD-Rom. Legislação profissional de SOUSA, Renato. O papel do código de ética na vida profissional do administrador. In: CONSELHO FEDERAL DE ADMINISTRAÇÃO. Legislação profissional de Administração. Brasília: CFA, 2002. CD-Rom. 53 n) Legislação JURISDIÇÃO (ou cabeçalho da entidade). Título, numeração e data. Ementa. Dados da publicação. Notas adicionais que se mostrem necessárias. EXEMPLOS: BRASIL. Constituição Federal (1988). Brasília: Senado Federal, 1988. BRASIL. Constituição (1988). Emenda Constitucional 9, de 9 de novembro de 1995. Dá nova redação ao art. 177 da Constituição Federal, alterando e inserindo parágrafos. Lex: Coletânea de Legislação e Jurisprudência: legislação ferdeal e marginalia, São Paulo, v. 59, p. 1966, out./dez. 1995. o) Palestra ou aula não publicada SOBRENOME, Prenome. Título do trabalho. Natureza da atividade, Local, data. EXEMPLO: ZAPELINI, Marcello. Curso de atualização em metodologia científica. Curso proferido na Faculdade Energia de Administração e Negócios – FEAN, 17-23 jul. 2003. Algumas regras gerais são utilizadas em toda apresentação de referências a) a lista pode ser apresentada em ordem alfabética, cronológica ou por assunto, sendo entretanto recomendável usar a ordem alfabética; b) cada referência deve ser apresentada em espaço simples e separada da subseqüente por espaço duplo; c) quando são referenciadas 2 ou mais obras do mesmo autor, não é necessário repetir o nome do mesmo a partir da segunda referência, substituindo-o por uma sublinha de seis espaços antes do ponto, ou seja, ______. Esta regra não é válida se por acaso uma referência estiver numa página e a outra na página seguinte; d) quando são referenciadas obras do mesmo autor publicadas no mesmo ano, usam-se letras para diferenciá-las (como, por exemplo, 1998a, 1998b, 1998c); e) na hipótese do autor do documento ser uma entidade, usa-se o nome da entidade em letras maiúsculas. Deve-se usar o nome completo da instituição, a menos que a sigla seja usada no documento em lugar do nome; f) cada acréscimo à edição deve ser mencionado de forma abreviada. Assim, usa-se rev. para indicar uma edição revisada, ampl. para uma edição ampliada, aum. para uma edição aumentada; 54 g) quando não é indicado o local da edição, usa-se a expressão [S.l.] (sine loco), e, se o local pode ser identificado com precisão, coloca-se o mesmo entre colchetes, como por exemplo [Florianópolis]; h) quando não há indicação de data, usa-se uma das seguintes hipóteses: [1999] quando se pode determinar com precisão a data não indicada, [1998 ou 1999] quando se pode determinar que é um ano ou o outro, [1999?], [199?] ou [19?] quando se trata de data, década ou século provável; i) se são referenciadas duas edições diferentes do mesmo documento, usam-se duas sublinhas de seis espaços, como no seguinte exemplo: FAORO, Raymundo. Os donos do poder. São Paulo: Globo, 1958. ______. ______. 3. ed., rev. São Paulo: Globo, 2001. j) na hipótese de não haver indicação do autor do texto, utiliza-se o título como forma de entrada, usando maiúsculas para a primeira palavra; k) documentos oficiais podem ser referenciados pelo nome do país (BRASIL, para documentos do governo federal), do estado ou mesmo do município; l) se for necessário, o nome do tradutor e/ou do revisor deve aparecer logo após o nome do texto pesquisado. Isso é recomendável nos casos em que essas pessoas são autoridades reconhecidas no assunto do livro (por exemplo, se Marcos Cobra, autoridade brasileira em marketing, é o tradutor de um livro de marketing, recomenda-se sua inclusão na referência); m) documentos extraídos de publicações periódicas (jornais ou revistas) online devem seguir as normas específicas de apresentação da referência de periódicos, acrescido da informação referente à página aonde o material está disponibilizado e da data de acesso. Um aspecto que pode ser destacado diz respeito à abreviatura dos meses, necessária para uma série de referências, como as de periódicos, jornais e da internet. A NBR 66:1989 define essas abreviaturas: janeiro: jan.; fevereiro: fev.; março: mar.; abril: abr.; maio: maio (é o único mês que não é abreviado); junho: jun.; julho: jul.; agosto: ago.; setembro: set.; outubro: out.; novembro: nov.; dezembro: dez. Ou seja, à exceção de maio, todos os outros meses são abreviados pelas três primeiras letras do nome. 55 8 PROJETOS E TRABALHOS DE CONCLUSÃO DE ESTÁGIO Esta seção diz respeito aos produtos gerados no processo de estágio do acadêmico de Administração. Esses produtos são o projeto, documento preliminar à realização das atividades e consolida informações a respeito das pretensões do aluno em relação ao estágio e, num segundo momento, o Trabalho de Conclusão de Estágio (TCE), que narra as tarefas realizadas pelo acadêmico na organização, apresenta o referencial teórico utilizado pelo mesmo e suas conclusões a respeito do processo como um todo. A forma de apresentação desses documentos segue os padrões definidos na primeira seção deste trabalho, sendo esta uma definição dos elementos do projeto e do trabalho de conclusão, tal como definido pelo Regulamento de Estágios da faculdade. 8.1 O QUE É UM PROJETO DE ESTÁGIO? Como anteriormente mencionado, o projeto de estágio define respostas para as seguintes perguntas: a) O que será feito? b) Onde e quando será feito? c) Quem fará? d) Como fará? A primeira pergunta refere-se à área do conhecimento administrativo, ao tema escolhido, ao problema formulado pelo aluno e aos objetivos que deverão ser cumpridos para a realização efetiva do estágio. Ou seja, quando se está perguntando o que será feito, essencialmente busca-se determinar qual problema estará sendo investigado pelo estagiário, e como esse problema poderá ser respondido. A segunda questão diz respeito ao local e ao período de realização do estágio. Neste sentido, é preciso determinar em qual empresa o estágio será realizado, detalhando em que setor ou departamento da mesma as atividades se concentrarão. O período diz respeito a como as atividades se desenvolverão dentro da empresa: o que será feito em primeiro lugar, quais atividades serão realizadas a seguir, e quando se pretende apresentar o TCE ao orientador para a definição de datas para a defesa pública. A terceira pergunta diz respeito aos atores envolvidos no processo. Naturalmente, o aluno, como autor do projeto, é o principal responsável pelo mesmo. Entretanto, a definição 56 do orientador e do supervisor já devem constar do projeto, pois estes dois agentes concorrem para a maior qualidade do processo. Finalmente, tem-se a questão “como se fará o estágio”. Esta questão é provavelmente a mais complexa do projeto, uma vez que lida com a programação das atividades, com os métodos e técnicas necessários para cumpri-las adequada e proveitosamente, com o tipo de literatura que será utilizado, e com as previsões de gastos por parte do estagiário. Embora trabalhosa, a resposta a esta questão deve ser a mais cuidadosa e detalhada possível, pois as questões metodológicas são essenciais para o sucesso dos trabalhos de estágio. 8.2 ESCOLHA DO TEMA, DO PROBLEMA, DO LOCAL E DO ORIENTADOR Uma das questões mais importantes a serem respondidas quando da elaboração do projeto de estágio refere-se à definição do tema, do local e do orientador, pois estes são pontos de partida para o trabalho. Idealmente, o estágio será realizado no tema em que o acadêmico sentir maior atração ou facilidade de trabalhar, ou para o qual direcionou seus esforços ao longo da graduação, numa organização que lhe proporcionará as melhores oportunidades de aprendizado, sob a orientação de um professor que não somente domina o assunto, mas também possui afinidade com o acadêmico. Na prática, entretanto, a situação é outra. Muitas vezes, o acadêmico é obrigado a estagiar numa organização diferente daquela que sonhava, para poder realizar um trabalho na área que mais o interessa, enquanto que em outros casos o acadêmico consegue o estágio na organização que deseja, mas acaba tendo que realizá-lo em outra área e tema; casos ainda mais dramáticos são aqueles em que não se consegue nem a empresa, nem o tema que originalmente se desejava trabalhar - mas estes devem ser evitados a qualquer custo. Outro problema está na definição do orientador, que é restringida pelo número de orientandos que cada professor pode ter, pelos seus interesses de trabalho, pela exsitência de afinidades pessoais entre professor e acadêmico, e pela própria agenda deste. Entretanto, alguns aspectos fundamentais devem ser levados em consideração na definição do tema, do problema, da organização e do orientador do estágio, aspectos estes que guiam e facilitam as decisões do acadêmico. Ver-se-ão, a seguir, esses cuidados, tendo-se em mente que a organização proposta não deve ser considerada como uma seqüência cronológica de passos, uma vez que, muitas vezes, essas escolhas ocorrem concomitantemente, já que são interdependentes. 57 8.2.1 Definição da área e do tema O regulamento de estágio estabelece as diferentes áreas da Administração dentro das quais o acadêmico deverá fazer a opção para realização de seu estágio, devendo ser consultado para a definição de quais estão disponíveis. Embora a área seja uma subdivisão da ciência, ainda assim seu conceito refere-se a um campo de conhecimento relativamente amplo, dentro do qual podem ser encontrados diferentes temas. “Área” corresponde a assunto, termo relativamente comum dentro da metodologia da pesquisa, que pode ser definido como “aquilo sobre o qual se quer saber alguma coisa, ou aquilo de que se fala.” (BEBBER; MARTINELLO apud RAUEN, 2002, p. 48). A escolha da área diz muito a respeito do estagiário, haja vista que as pessoas escolherão aquela pela qual sentem mais interesse – ou, no mínimo, sentem-se mais confortáveis para abordar. Dentro de cada uma dessas áreas, o acadêmico poderá optar pelos mais variados temas, de acordo com seus interesses, com os da empresa e com a disponibilidade de orientadores. É extremamente importante que a área escolhida pelo acadêmico corresponda, da melhor forma possível, a seus interesses profissionais; de forma geral, os estágios com melhor aproveitamento são aqueles em que o estagiário se dedica à área da Administração que mais se corresponde à sua visão de futuro enquanto profissional. Em não havendo essa definição, evidentemente, recomenda-se que o acadêmico procure a área que mais lhe tenha interessado em sala de aula ou que consulte a empresa junto à qual deseja estagiar. Um aspecto que auxilia na escolha do tema é a leitura prévia: ao longo do curso, o acadêmico deve procurar se informar em livros e revistas sobre os assuntos que mais o interessam, pois isso o ajudará muito na definição de um tema para estagiar. Em outras palavras, o que se recomenda é que o acadêmico procure, no mínimo, estagiar na área que considera mais importante para ele. Na maior parte dos casos, existe a possibilidade de negociar com a organização qual tema será trabalhado no decorrer do estágio. É para esse assunto que é preciso dedicar atenção no momento, focalizando o tema do trabalho. Se a área do estágio corresponde diretamente a uma das subdivisões principais da Administração, o tema do estágio pode ser considerado como uma aproximação maior ao trabalho que de fato será desenvolvido; o tema é uma focalização do trabalho, restringindo a área a apenas uma de suas possibilidades de estudo. Sylvia Roesch (1999) afirma que existe uma infinidade de temas que podem ser explorados num estágio; esses temas, de acordo com a autora, correspondem a problemas ou oportunidades a serem resolvidos ou explorados 58 dentro da organização. Conseqüentemente, a adequada definição do tema deverá ser feita de comum acordo com a organização em que será desenvolvido o estágio. Por exemplo: um aluno pretende desenvolver seu estágio em Administração de Recursos Humanos (área), na definição de um sistema de avaliação de desempenho (tema) para a organização escolhida. Algumas tentações devem ser evitadas. Umberto Eco (1989) observa que todo estudante tende a escolher um tema bastante amplo e genérico para desenvolver seu trabalho – o que é extremamente perigoso, em vários sentidos: o acadêmico pode não terminar seu trabalho no prazo; abre-se ampla possibilidade de, na defesa do trabalho, contestar-se a bibliografia utilizada pelo estagiário; aumenta a dificuldade de coletar e tratar adequadamente as informações necessárias; por fim, pode-se acrescentar, o trabalho tende a ser menos útil para a organização em que o estágio foi realizado. Portanto, a primeira dica na escolha do tema é: restrinja o tema, evite a tentação de fazer um trabalho muito amplo. Um segundo aspecto, que Gil (1996) menciona em relação à formulação de problemas de pesquisa, mas que pode ser adaptado à realidade do projeto de estágio, refere-se à precisão. O tema do estágio deve ser definido de maneira a evitar dificuldades de interpretação por parte de orientador, supervisor e possíveis leitores. Uma sugestão é: ao preparar a revisão da literatura no projeto de estágio, convém definir com o máximo de clareza o que se entende pelo tema. Dessa maneira, a segunda dica é: seja claro e preciso na definição do tema. Outra questão: o tema deve ser empírico e viável, ou seja, deve ser passível de investigação na organização em que o estágio irá ser desenvolvido. Por exemplo: o acadêmico pretende estagiar numa microempresa, na área de Administração de Recursos Humanos, e escolhe como tema planejamento de cargos e salários. Em princípio, o tema é exeqüível, a organização se interessa e o estagiário está motivado; mas não é viável realizar o estágio dessa forma, pois o planejamento de cargos e salários só é de fato exeqüível e útil para organizações de determinado porte. Na viabilidade, também é importante levar em consideração o tempo disponível para a realização do estágio, os custos envolvidos e a possibilidade de se chegar a uma solução adequada à organização. A terceira dica, portanto, é: escolha um tema que possa ser abordado na organização, e que esteja dentro de suas possibilidades em termos de custos, tempo e conhecimentos. É interessante verificar como os estudiosos da Metodologia da Pesquisa abordam a questão da definição do tema. Cláudio de Moura Castro (2006) propõe três critérios simples, mas poderosos: 59 a) Importância: o tema deve estar ligado a alguma questão que mobiliza ou afete algum segmento substancial da sociedade, ou a alguma questão teórica que mereça atenção na literatura. Nas palavras do autor, “importante é o tema que, mais cedo ou mais tarde, vai desembocar em conseqüências teóricas ou práticas que afetam diretamente o bem-estar da sociedade.” (CASTRO, 2006, p. 61); b) Originalidade: o tema deve ter o potencial de surpreender o pesquisador; c) Viabilidade: a pesquisa deve ser completada considerando-se os prazos, os recursos financeiros, a competência do pesquisador, a disponibilidade de informações, a teoria existente e o apoio do orientador. Barros, Lehfeld (apud RAUEN, 2002) apresentam alguns interessantes critérios para a escolha do tema: a) Viabilidade técnica: metodologia e tipologia da pesquisa; b) Viabilidade política: relevância da pesquisa na realidade contemporânea, suas contribuições e relacionamento com pesquisas já feitas; c) Viabilidade lógica: confronto entre o tema e um quadro teórico; d) Viabilidade financeira: custos envolvidos no projeto. Sylvia Roesch (1999) apresenta os seguintes aspectos como fatores envolvidos na escolha do tema do estágio: a) Ele deve ser relevante para a Administração, e ter ligação com pelo menos duas disciplinas do curso; b) Deve ser viável em termos de acesso às fontes de informação e aos dados, e do tempo disponível; c) Deve ser viável em termos de custo, disponibilidade de bibliografia e de orientação; d) Deve ser do interesse da organização aonde será feito o estágio e do orientador. Tudo isso, entretanto, não substitui uma realidade: deve-se ter legítimo interesse pelo tema de estudo. Somente esse interesse garantirá ao aluno o real comprometimento com o trabalho. 8.2.2 Definição do problema, da pergunta e da hipótese de pesquisa Um problema bem formulado é essencial para que o estágio possa ser levado a bom termo, mas essa formulação tem se mostrado uma dificuldade para os acadêmicos. Para Rudio, “formular o problema consiste em dizer, de maneira explícita, clara, compreensível e operacional, qual a dificuldade, com a qual nos defrontamos e queremos resolver [...].” (apud 60 BIANCHI; ALVARENGA; BIANCHI, 2002, p. 33). Soriano (2004, p. 48) afirma que “propor um problema a partir de uma perspectiva científica significa reduzi-lo a seus aspectos e relações fundamentais para poder iniciar seu estudo intensivo” sem, entretanto, sacrificar sua complexidade dentro de uma realidade natural ou social. Um aspecto central dentro da formulação do problema é que ele deve estar embasado em um marco teórico, ou seja, ele será elaborado depois de leitura prévia que permita ao pesquisador compreender melhor a realidade que irá pesquisar. Portanto, um problema nunca é formulado do nada – ele deve refletir um conhecimento anterior sobre o assunto, conhecimento este que leva o pesquisador a desejar aprofundar-se. Dentro desse espírito, Chizzotti (2006) informa: delimitar o problema é uma atividade diretamente conectada a uma concepção de mundo do pesquisador, seja ela genérica, seja ela expressa sinteticamente em teoria. O autor conclui: “delimitar o problema pode ser o momento mais aflitivo da pesquisa porque sua definição está conexa com a concepção que gera o problema.” (CHIZZOTTI, 2006, p. 25). Gil (1991) afirma que um problema é uma questão ainda não resolvida em algum campo de conhecimento que levanta discussões dentro deste. Numa formulação mais precisa, Laville, Dionne (1999, p. 87) definem o problema de pesquisa como sendo “[...] um problema que se pode ‘resolver’ com conhecimentos e dados já disponíveis ou com aqueles factíveis de serem produzidos.” Ou seja, de acordo com os dois autores canadenses, um problema consiste em uma situação que se pretende resolver através do acesso ao conhecimento já existente ou aos dados a serem coletados junto à realidade. Conquanto esta seja uma boa definição, há que se acrescentar que, em um trabalho de estágio, obrigatoriamente todos os problemas passarão pelas duas dimensões, apoiando-se em realidades já descritas por outros pesquisadores e em dados novos produzidos pelo estagiário. Um bom problema de pesquisa científica, lembra Gil (1991), deve indagar como se verifica um dado fenômeno, o que o causa e quais são as conseqüências de sua ocorrência. Citando Kerlinger, Gil (1991) afirma que indagar como se pode fazer melhor alguma coisa não é um problema científico, e sim um problema de “engenharia”, pois só trata de eficiência. O estagiário, entretanto, irá analisar muitas vezes situações em que a eficiência e o “como fazer” serão centrais para seu trabalho; o fato de tal problema não ser considerado “puro” em termos científicos não quer dizer que seu estágio não seja científico, mas sim que ele representa uma aplicação do método científico à realidade empresarial. Para que o estagiário possa responder ao problema, é fundamental que ele esteja adequadamente delimitado, ou seja, ele não pode ser tão extenso que não permita uma 61 resposta durante o período de realização do estágio nem com os recursos à disposição do acadêmico, nem ser restrito a ponto de não permitir um trabalho com as características e a profundidade de um estágio. A questão de como delimitar o problema de pesquisa pode ser adequadamente respondida tendo em mente critérios propostos por Soriano (2004): a) Conceitualização: indica os limites teóricos do trabalho; b) Tempo: a pesquisa deve estar situada historicamente; c) Espaço: é preciso definir qual é a área geográfica da pesquisa; d) Unidades de observação: refere-se à população que será pesquisada; e) Contextualizações: situar o problema em contextos socioeconômico, político, histórico e ecológico pode ajudar o pesquisador a defini-lo melhor. O estagiário deve ter consciência de diversos aspectos quando da formulação do problema: a) há material bibliográfico que permita um estudo do problema levantado? b) o problema gera hipóteses (tentativas de resposta)? c) as hipóteses geradas podem ser testadas, ou seja, avaliadas na prática? d) o problema interessa à organização na qual o estágio está sendo desenvolvido? Um problema é formulado, portanto, como uma descrição de uma situação da realidade, e a partir desta, deriva-se uma pergunta, sendo o objetivo geral diretamente relacionado a essa pergunta; em muitos casos, a formulação do objetivo geral é praticamente idêntica à da pergunta, apenas retirando-se o questionamento. A pergunta de pesquisa propõe uma pesquisa a partir do problema, e portanto ela deve ser de fácil compreensão e auxiliar o pesquisador em sua abordagem da realidade, bem como permitir ao analista da pesquisa compreender melhor o que será feito. A pergunta torna explícita o que se quer resolver ou responder com a pesquisa (RAUEN, 2002, p. 51). De acordo com Laville, Dionne (1999), a pergunta reflete o modo pelo qual o pesquisador vê a realidade, a partir de suas teorias ou ideologia. Portanto, a pergunta guia a abordagem que será dada ao problema da pesquisa. Eles propõem alguns critérios para uma “boa” pergunta: a) A pergunta deve ser significativa, ou seja, deve deixar transparecer que o problema é significativo e o que se deve esperar da pesquisa realizada a partir dela; b) A pergunta deve ser clara para o pesquisador e para o leitor, dificultando ou impedindo confusões e erros de interpretação ao deixar clara a direção em que se irá pesquisar. Ou seja, aqui a chave é a objetividade; 62 c) A pergunta deve ser exeqüível, ou seja, deve deixar claro que o pesquisador dispõe dos meios para fazer a pesquisa e que existem dados que podem ser coletados para respondêla. O conhecimento progride por meio de perguntas que, uma vez formuladas, são investigadas em busca de uma resposta; para que tais respostas possam ser alcançadas, é preciso formular hipóteses (tentativas de respostas à pergunta formulada no problema) que serão testadas como respostas possíveis ao mesmo; no dizer de Laville, Dionne (1999), a hipótese é uma solução antecipada ao problema de pesquisa. Richardson (1999) coloca que as hipóteses permitem orientar a análise dos dados e auxiliam a aceitar ou rejeitar tentativas de solução ao problema. Nem todos os trabalhos de estágio precisam de hipóteses: elas são indispensáveis na maioria dos estudos quantitativos e dos quali-quantitativos, mas não são obrigatórias nos qualitativos. Entretanto, mesmo no caso destes, as hipóteses sempre estão subjacentes, pois o pesquisador não se exime de antecipar soluções possíveis para o problema que ele mesmo formulou. Para a formulação das hipóteses, Richardson (1999) apresenta uma série de critérios simples, mas eficazes: a) Clareza: as hipóteses devem evitar o uso de conceitos obscuros ou discutíveis; b) Empirismo: os conceitos devem ter bases empíricas; c) Verificação: as técnicas disponíveis devem permitir a verificação das hipóteses; d) Especificação: hipóteses amplas devem ser evitadas ou desdobradas em sub-hipóteses menores; e) Relação com a teoria: deve haver relação entre a teoria existente e a hipótese formulada; f) Generalização: deve ser possível aplicar a hipótese não a fatos isolados, mas a aspectos gerais da área a ser analisada. g) Relação com o problema: não se pode formular hipótese alheia ao problema, que não dê respostas prováveis a este. Há diversos tipos de hipóteses, classificadas de diferentes maneiras. Gil (1991) apresenta uma classificação simples: a) Casuísticas: referem-se a características específicas de determinadas pessoas, objetos ou fatos; b) Frequência: referem-se à Frequência com que determinada característica se repete em um grupo, uma sociedade, uma cultura; 63 c) Associação: estas hipóteses estabelecem uma relação de associação entre duas ou mais variáveis procurando verificar até que ponto uma delas pode ser relacionada à outra; d) Dependência: estabelecem que uma variável independente interfere em uma outra, dita dependente. Há, portanto, relação de causalidade entre as variáveis. As hipóteses podem derivar de diversas fontes diferentes: observação empírica da realidade, feita pelo próprio pesquisador; outras pesquisas já feitas sobre o mesmo tema; teorias já existentes; intuição do pesquisador (GIL, 1991). 8.2.3 Definição do local Esta é uma das questões mais espinhosas a serem respondidas: aonde será realizado o estágio? A legislação considera o estágio como uma oportunidade de colocar em prática os conhecimentos teóricos que foram fornecidos na IE, o que evidentemente pressupõe que o acadêmico realizará seu estágio em uma organização que lhe abra amplas oportunidades de aplicação de seus conhecimentos. Na prática, entretanto, nem sempre isso é possível. Um estágio pode ser em qualquer tipo de organização, tanto pública quanto privada, e inclusive está aberta a possibilidade de realizá-lo em organizações comunitárias. Uma questão comum é se o estágio curricular pode ser realizado na mesma organização em que o acadêmico já trabalhe. Esta possibilidade está aberta, mas o estágio não pode ser realizado na mesma atividade que o profissional já realiza, sob pena de perder sua característica central, que é o aprendizado. Para ajudar o acadêmico a escolher o local de seu estágio, alguns aspectos podem ser mencionados. Em primeiro lugar, é preciso ter em mente as dimensões da empresa. Embora muitos estágios de alta qualidade sejam realizados em microempresas, estas não são adequadas para determinados tipos de trabalho. Estágios em Administração de Recursos Humanos, por exemplo, dificilmente podem ser adequadamente realizados em empresas de micro ou pequeno porte; na área de Materiais, entretanto, essas empresas são excelentes oportunidades de aplicação de conhecimentos. Portanto, a primeira dica é: procure uma empresa de tamanho adequado para a área em que você pretende realizar seu estágio, isto é, uma empresa que tenha as dimensões adequadas para as restrições de trabalho que cercam o estágio. Outro aspecto refere-se ao tipo de empresa: pública, privada ou do terceiro setor? As primeiras são normalmente interessantes campos para estudos nas áreas de Administração 64 Geral e Organização, Sistemas e Métodos, mas já não são tão interessantes para outras áreas como, por exemplo, Administração de Recursos Humanos (devido às limitações impostas pelo Estatuto dos Funcionários Públicos); dentro de Administração de Materiais e do Patrimônio, o tema Compras normalmente não pode ser adequadamente trabalhado em empresas públicas, devido às limitações da lei de licitações, embora normalmente essas empresas possuam áreas de Estoques bem organizadas, que podem ser analisadas pelo estagiário. Dessa maneira, a segunda dica consiste em: procure uma empresa que permita a aplicação dos conhecimentos normalmente ministrados na IE em seu estágio. Também é importante que a área em que o acadêmico pretende realizar seu estágio seja de interesse da organização. Dessa forma, a escolha do local normalmente não é um processo muito rápido, depende de negociação entre ambas as partes. É conveniente que, ao abordar uma determinada organização, o estagiário já tenha em mente o que ele pretende fazer, de maneira a chamar o interesse da mesma em seu trabalho; é importante que o estagiário esteja preparado para ceder, mudar o tema do estágio, se for de comum acordo e a empresa realmente for interessante para se realizar o trabalho. Portanto, a terceira dica é: procure empresas que tenham interesse na área em que você pretende estagiar. Mas, talvez, o aspecto mais importante seja este: em grande parte dos casos, a primeira escolha não é a definitiva. O acadêmico precisa se preparar para procurar por outras empresas, porque isso é o que normalmente acaba acontecendo, seja devido às características do trabalho em si, seja da empresa, sejam inclusive problemas pessoais. Muitos excelentes estágios foram realizados em empresas que estavam em “segundo lugar” na lista de preferências do estagiário, sem demérito algum para o trabalho em si. Sylvia Roesch (1999) recomenda as seguintes práticas para a escolha da organização: a) Telefonar previamente, para localizar a pessoa a quem solicitar acesso; b) Solicitar autorização por escrito à empresa; c) Marcar visita à empresa, demonstrando entusiasmo pelo trabalho; d) Obtida a empresa, enviar uma proposta preliminar; e) Prometer entregar cópia do relatório final para a empresa. Um outro aspecto: é sempre interessante que o estagiário esteja preparado em sua primeira visita à empresa, buscando reunir previamente conhecimentos e informações sobre a mesma, o ramo e o mercado em que ela opera, e assim por diante; uma visita ao website da empresa, uma conversa com pessoas que já trabalhem nela, ajudam a acumular conhecimentos a respeito do local do estágio e auxiliam a criar uma crucial primeira impressão favorável do candidato a estagiário junto aos profissionais da empresa. Isso 65 demonstra interesse por essa empresa específica e pode ajudar a criar uma boa impressão junto à mesma. 8.2.4 Definição do orientador Idealmente, o orientador precisa ter três características fundamentais: afinidade com o orientando, domínio da área e interesse pelo tema. Nem sempre é possível, entretanto, juntar numa só pessoa essas características. Depende de cada pessoa determinar o que julga mais importante, se é trabalhar com um professor a quem aprecia, ou se é trabalhar com aquele que demonstra os maiores conhecimentos na área e no tema específico em que se pretende realizar o estágio. O papel do orientador no processo de estágio consiste essencialmente em prover meios para a boa realização do estágio: fornecer indicações de bibliografia, facilitar contatos com a empresa (quando necessário), sugerir (e discutir) meios e técnicas para a realização do estágio e incentivar e motivar o estagiário (ROESCH, 1999). Além disso, espera-se que o orientador seja capaz de tirar as principais dúvidas do estagiário em termos de metodologias adotadas para a realização dos trabalhos. O aspecto mais importante na escolha do orientador refere-se a uma questão cronológica: é de suma importância contatar o orientador no início do processo, pois ele pode colaborar ativamente na definição do tema a ser trabalhado, dos objetivos do estágio, na seleção de bibliografia e na organização das etapas de trabalho. Dessa maneira, é fundamental procurar o orientador nas primeiras fases do projeto de estágio, para que ele possa contribuir ativamente no mesmo - e inclusive, para garantir a orientação. É importante que o acadêmico procure despertar o interesse do orientador pelo trabalho que está sendo realizado. Para que o processo de estágio conte com um envolvimento total por parte do orientador, é essencial que o tema interesse a este, e o instigue a colaborar da melhor maneira possível com o estagiário; embora o orientador deva ter domínio do assunto, só isso não basta: é preciso que este se envolva em suas discussões com o estagiário, sinta-se desafiado por este, tenha curiosidade a respeito dos resultados que serão alcançados. Não se pode esquecer do que Roesch (1999, p. 39) afirma: "[...] a qualidade do trabalho final é muito mais responsabilidade do aluno do que do orientador." Portanto, não se pode esperar milagres dos orientadores de estágio; embora estes tenham um papel muito importante a desempenhar, quem vai realmente determinar se o estágio possui boa qualidade é o acadêmico, pois é este que irá realizar a pesquisa e redigir o trabalho. 66 8.3 PROJETOS DE ESTÁGIO Os projetos de estágio consolidam os elementos definidos no Regulamento de Estágio da faculdade, e definem o que o estagiário irá fazer, onde e quando essas atividades serão desenvolvidas, além de delimitar como o estágio será feito. Como um planejamento do trabalho a ser realizado, o projeto de estágio se mostra essencial para guiar o acadêmico no desempenho das atividades, como uma indicação do trabalho para o supervisor da empresa, e como um guia para o professor designado como orientador do estágio. Um bom projeto será essencial para o sucesso do acadêmico na realização de suas atividades de estágio. Os elementos básicos do projeto de estágio são: a) capa; b) sumário; c) identificação do estágio; d) objetivos geral e específico; e) referencial teórico; f) classificação do estágio; g) cronograma; h) descrição das etapas de realização; i) referências; j) anexos. A seguir, será feita uma descrição sucinta de cada um desses elementos. Como dois desses elementos (a capa e o sumário) já foram descritos anteriormente, não há necessidade alguma de repeti-los aqui. A identificação do estágio exige a apresentação dos seguintes aspectos: nome do aluno, nome da organização em que o estágio será realizado (destacando, quando possível, o setor da empresa em que as atividades ocorrerão), nome do professor orientador (que deverá obrigatoriamente ser um professor da faculdade) e a identificação da área de conhecimento (dentre as áreas previstas para o regulamento do estágio) e, dentro desta, do tema do estágio (incluindo uma breve justificativa do porquê do trabalho). Sobre este último aspecto, é conveniente apresentar algumas considerações. O tema é o assunto, dentro da área de conhecimento, que será estudado ou pesquisado pelo acadêmico (LAKATOS; MARCONI, 2001). O tema deve ser escolhido, segundo as autoras, de acordo com as aptidões, as possibilidades, tendências e inclinações do acadêmico, e ser digno de uma 67 investigação científica, devendo ser formulado e delimitado dentro de uma pesquisa. O tema deve ser preciso e específico (LAKATOS; MARCONI, 2001). EXEMPLO: como a seleção de pessoal pode influir na rotatividade dos funcionários na organização? Para facilitar o processo de construção dos objetivos, é conveniente formular uma pergunta ou problema de pesquisa. Isso significa que o acadêmico deve analisar a realidade da organização na qual irá realizar o estágio, e encontrar nela uma questão cuja resposta possa ser dada por ele dentro do período do mesmo. Um problema de pesquisa é, portanto, uma questão formulada dentro do tema, que guiará a pesquisa e as atividades do estagiário dentro da organização. A resposta a essa pergunta é dada pelo objetivo geral, como será visto a seguir. Gil (1996) defende que um bom problema de pesquisa deve, além de ser formulado como uma pergunta, ser claro e preciso (não deixando dúvidas sobre o que será feito), deve ser empírico (ou seja, estar isento de valores), suscetível de solução e estar delimitado em uma solução viável (isto é, não pode ser tão amplo que dificulte a solução dentro dos limites de tempo, recursos e conhecimentos do estagiário). O elemento subseqüente diz respeito aos objetivos do trabalho. Estes se dividem em objetivos geral e específicos. Segundo Lakatos, Marconi (2001), o objetivo geral possui uma visão global, abrangente, do tema, e está vinculado à significação da tese proposta pelo projeto. É neste sentido que se afirmou acima que o objetivo geral consiste numa resposta à pergunta formulada pelo problema de pesquisa. Já os objetivos específicos, por sua vez, “apresentam caráter mais concreto. Têm função intermediária e instrumental, permitindo, de um lado, atingir o objetivo geral e, por outro, aplicá-lo a situações particulares” (LAKATOS; MARCONI, 2001, p. 219). Os objetivos específicos podem ser melhor compreendidos como sendo etapas de solução do problema, contidas no objetivo geral. Dessa maneira, os objetivos específicos não podem, em hipótese alguma, ultrapassar os limites estabelecidos pelo objetivo geral. 68 EXEMPLO: Objetivo Geral: Identificar técnicas de seleção de pessoal que permitam reduzir o índice de rotatividade do pessoal dentro da organização Objetivos Específicos: Demonstrar os problemas e prejuízos de um alto índice de rotatividade de pessoal; Analisar as técnicas de seleção hoje adotadas pela organização; Analisar as técnicas de seleção recomendadas pela literatura de Recursos Humanos; Identificar as técnicas mais adequadas às características da organização. O momento seguinte consiste na elaboração de um referencial teórico. Este referencial consiste numa primeira abordagem ao conteúdo teórico subjacente ao tema, feito pelo acadêmico como suporte para a definição do problema e dos objetivos; os conceitos incluídos nos objetivos são um guia para elaborar o referencial, uma vez que devem ser bem compreendidos para que se possa operacionalizá-los em um trabalho de pesquisa. Um bom referencial teórico abrange tudo o que possa ser considerado relevante ou necessário para explicar o problema, além de orientar os métodos adotados no trabalho e os procedimentos para a coleta e análise dos dados (ROESCH, 1999). Um bom ponto de partida para a preparação do referencial teórico é a construção de um tópico de estudo, sendo esse tópico uma frase (ou mesmo um título para o trabalho) que sintetize a ideia central a ser explorada ao longo do estudo (CRESSWELL, 2007). Outra dica importante: é essencial verificar os conceitos que são apresentados nos objetivos da pesquisa e explorar, mesmo que brevemente, seus significados de acordo com os estudiosos do assunto. EXEMPLO: um acadêmico escolhe a área Recursos Humanos e, dentro dela, o tema Seleção de pessoal. Cresswell (2007) apresenta um roteiro de como proceder para selecionar o material necessário para a revisão da literatura no trabalho de estágio: a) Se o assunto não for de domínio do pesquisador, enciclopédias podem ser consultadas para dar uma visão geral; b) Em seguida, é recomendável buscar artigos junto a periódicos respeitáveis, especialmente aqueles que apresentem conclusões de pesquisas. Cresswell recomenda começar com os mais recentes, partindo posteriormente para os mais antigos; c) O passo seguinte é procurar os livros. Para o autor, deve-se começar com obras monográficas sobre o tema, para depois buscar os livros que aprofundam tópicos específicos e os livros organizados a partir da contribuição de diferentes autores; 69 d) A quarta etapa consiste em buscar as conferências, palestras e seminários mais recentes sobre o assunto; e) Finalmente, o processo se encerra com a consulta a teses e dissertações sobre o assunto, dando-se preferência àquelas que provêm das universidades e instituições de ensino mais respeitadas. Após o referencial teórico, deve-se apresentar uma classificação do estágio, de acordo com a abordagem dada ao problema, os meios utilizados para realizar a pesquisa e os fins aos quais ela se destina. Para maiores informações a respeito da classificação, ver o item 9 deste trabalho. O elemento seguinte diz respeito ao cronograma de execução das atividades, acompanhado da descrição das etapas de realização. O cronograma se refere ao planejamento temporal do trabalho de estágio, apresentando as etapas necessárias ao cumprimento das tarefas e atividades previstas ao longo de períodos de tempo. Após o cronograma, o acadêmico deve definir as etapas de realização do trabalho, descrevendo sucintamente quais as atividades serão cumpridas para o atingimento dos objetivos previamente definidos. O projeto de estágio irá ser concluído com os elementos pós-textuais. As referências deverão apresentar no mínimo cinco obras diferentes, entre livros e artigos de revistas científicas (artigos de jornais e de revistas não-científicas não devem ser apresentados – ou seja, artigos de revistas como Exame, Você S.A., que têm cunho jornalístico, não podem ser contados como referências para o projeto – por mais que pareçam adequados para o trabalho que será realizado), que serão utilizadas no trabalho de estágio. Textos extraídos da Internet podem ser referenciados, mas é preciso cuidar da confiabilidade das fontes (por exemplo, material extraído de sites que oferecem auxílio a trabalhos acadêmicos, textos sem identificação de autor ou de uma organização idônea, verbetes da Wikipedia, não se constituem em fontes adequadas de referências para um trabalho acadêmico). Finalmente, os anexos incluirão a carta de apresentação fornecida pela Coordenadoria de Estágios (se tiver sido necessária), uma cópia do termo de compromisso e um parecer de aprovação assinado pelo coordenador de estágios, que será emitido quando o projeto tiver sido aprovado pelo orientador e pelo coordenador metodológico. Os elementos supracitados são considerados essenciais para o projeto, portanto são obrigatórios. Outros elementos que se mostrem necessários podem ser incluídos a critério do orientador, do supervisor da empresa ou do próprio aluno. Além disso, a faculdade poderá, 70 através da Diretoria e da Coordenadoria de Estágios, incluir outros elementos que permitam melhorar o processo de estágio. 8.4 RELATÓRIO DE ESTÁGIO O processo de estágio se esgota somente quando da apresentação de um Relatório de Estágio e sua respectiva avaliação por um ou mais professores, bem como pelo coordenador metodológico. Os elementos básicos do relatório são aqueles que foram apresentados na seção 2 deste documento (pré-textuais, textuais e pós-textuais), não sendo necessário repeti-los aqui. Alguns desses elementos, entretanto, exigem algum desenvolvimento para facilitar sua compreensão, e por isso serão abordados neste subitem para evitar maiores dificuldades por parte dos acadêmicos. A estrutura geral do TCE deve ser como a que segue: a) capa; b) folha de rosto; c) página de aprovação; d) dedicatória, agradecimentos e epígrafes (opcionais); e) resumo e palavras-chave (obrigatório o resumo em vernáculo); f) listas (Ilustrações, Tabelas, Abreviaturas e siglas, Símbolos – quando for o caso de sua apresentação); g) sumário; h) introdução; i) revisão bibliográfica; j) estudo de caso; k) considerações finais; l) referências; m) glossário (opcional); n) apêndices e anexos (opcionais); o) índices (opcionais). O desenvolvimento do trabalho (elementos textuais) será composto por cinco grandes grupos de elementos: a introdução, a metodologia, a revisão bibliográfica, a caracterização das atividades desempenhadas pelo acadêmico no seu estágio e as conclusões alcançadas. Um relatório de estágio dificilmente pode ser feito em menos de quarenta páginas, considerandose exclusivamente os elementos textuais. 71 Em primeiro lugar, é preciso falar a respeito da introdução do relatório. Consiste na apresentação do trabalho propriamente dito. Deve preparar o leitor para o que virá a seguir no trabalho, delimitando-o adequadamente e evitando criar falsas expectativas em relação ao seu conteúdo. Ou seja, como uma abertura do trabalho, a introdução define o que será apresentado e inspira o leitor a continuar a leitura. Uma boa introdução deve conter os seguintes elementos: a) Contextualização do tema: insere o tema escolhido dentro da área de conhecimento a que pertence, usando elementos teóricos e/ou retirados da experiência do estagiário. Deve caracterizar o problema de pesquisa formulado no objetivo do trabalho, ou seja, o que o acadêmico investigará no mesmo. Deve incluir justificativa, destacando a relevância do mesmo para o acadêmico, os benefícios advindos de sua realização e os beneficiários. A justificativa, adicionalmente, deve relacionar o objeto do trabalho com o curso; b) Objetivos geral e específicos: devem ser apresentados os objetivos efetivamente cumpridos. Se o projeto previa objetivos que não foram alcançados, estes devem ser desprezados (podem ser posteriormente apresentados dentro das limitações, indicando que um determinado objetivo estava previsto, e não foi realizado pelas razões que são apresentados); c) Estrutura do estudo: consiste na apresentação resumida do conteúdo dos demais capítulos do trabalho. Após a introdução, o relatório deverá apresentar a revisão bibliográfica que dá sustentação ao trabalho, consistindo na apresentação dos conceitos pertinentes ao seu desenvolvimento. Esses conceitos devem ser apresentados na introdução, a partir dos objetivos do trabalho. A bibliografia consultada deve abranger pelo menos cinco referências sobre o assunto, sendo essas referências obtidas diretamente de livros ou revistas científicas (referências jornalísticas ou da Internet não podem ser contadas para esse quesito), devendo também trazer obras de metodologia científica e da pesquisa, que fundamentem a caracterização do mesmo em termos metodológicos. Uma revisão bibliográfica não pretende esgotar o assunto, e sim dar suporte às conclusões que o acadêmico chegou ao realizar o estágio, e deve ser redigida de acordo com as regras da redação científica. De acordo com Cresswell (2007, p. 45-46), a revisão tem os seguintes objetivos: ela compartilha com o leitor os resultados de outros estudos que estão proximamente relacionados ao estudo que está sendo relatado. Ela relaciona um estudo ao diálogo corrente mais amplo na literatura sobre um tópico, preenchendo lacunas e ampliando estudos anteriores [...]. Ela fornece uma estrutura para estabelecer a importância do estudo e um indicador para comparar os resultados de um estudo com outros resultados. 72 O elemento seguinte é o estudo de caso propriamente dito. Este capítulo consiste na real contribuição do acadêmico ao assunto em tela, sendo, portanto, fundamental para o sucesso do trabalho. Está dividido em algumas seções: a) Metodologia da pesquisa: abrange a caracterização (tipo) de pesquisa, a população pesquisada (ou amostra, quando for o caso) e os sujeitos pesquisados, Definição dos instrumentos de coleta de dados (como mencionado no item 5.1, estes podem ser a observação, a análise documental, a entrevista e o questionário) e a descrição dos procedimentos utilizados para a consolidação dos dados coletados em informações que permitam a construção de conhecimento. Deve, portanto, explicitar a origem e forma de tratamento dos dados; b) Caracterização da empresa: nome da empresa, setor econômico em que ela atua, dados históricos, composição atual da presidência e diretorias, organograma, descrição dos principais cargos; é conveniente posicionar a empresa em um ramo ou setor de atividades. Adicionalmente, é recomendar tratar brevemente a respeito do setor específico em que o acadêmico realizou suas atividades; c) Descrição dos dados, análise e interpretação dos resultados: apresentação dos dados obtidos na pesquisa, tratamento dos mesmos conforme a metodologia e a interpretação dos resultados, à luz da bibliografia pesquisada. Este item consiste no resultado da pesquisa propriamente dita, portanto, não pode ser uma simples enumeração de atividades realizadas dentro da empresa. Espera-se que, ao responder a pergunta implícita na formulação do problema enfrentado pelo estagiário, este demonstre domínio do tema e da realidade empresarial, conhecimento de metodologia científica, e seja capaz de descrever o trabalho realizado na empresa. O elemento textual seguinte consiste nas considerações finais. Como um elemento de fechamento do trabalho, deve responder as seguintes questões: quais foram os resultados obtidos? Em que grau os objetivos propostos na introdução foram alcançados? Qual a reflexão do acadêmico sobre o propósito do trabalho e suas limitações? O que de mais importante se observou em termos de relação teoria administrativa X prática empresarial? O que se pode recomendar para ampliar ou melhorar o estudo? Essas questões, naturalmente, terão sido respondidas ao longo do trabalho, cabendo ao capítulo de considerações finais reuni-las e consolidá-las; nunca se pode esquecer que as considerações finais não são lugar para apresentar conteúdo novo, somente para resumir e concluir o trabalho. É conveniente, ainda, destacar as dificuldades porventura enfrentadas pelo acadêmico no atingimento dos objetivos 73 (se houve mudança de algum objetivo desde a fase do projeto, pode ser interessante mencioná-la como uma dificuldade); outro aspecto interessante refere-se às sugestões de novos estudos, que podem guiar a empresa no aprofundamento do tema, servindo também como apoio e estímulo aos futuros estagiários que porventura venham a ler o TCE. Os elementos pós-textuais consistirão nas referências (já descritas), glossário, apêndices e anexos e índices. O glossário se justifica no caso de existirem termos de sentido obscuro ou diferente do corrente sendo usados ao longo do trabalho. Os apêndices e anexos devem ser utilizados com parcimônia: apenas documentos que porventura acrescentem ao trabalho devem ser apresentados. Dentre os apêndices (que são documentos de elaboração do próprio autor da pesquisa) que devem ser acrescentados ao TCE, destacam-se os questionários e formulários de entrevista aplicados, bem como descrições mais detalhadas da metodologia de análise e tratamento dos dados, entre outros. Nos anexos (definidos como documentos elaborados por outras pessoas), documentos internos da empresa que possam auxiliar na compreensão das atividades realizadas são adequados e podem ser apresentados, resguardados, naturalmente, quaisquer impedimentos ou restrições da empresa; outros elementos que podem ser apresentados como anexo são catálogos e descrições de produtos e serviços, documentos teóricos que auxiliem indiretamente na sustentação das conclusões, entre outros. No que diz respeito aos anexos, é importante identificar suas fontes, de modo a garantir que outras pessoas, interessadas no assunto, possam ter, se desejarem, condições de acesso ao documento original, para conferência do mesmo. Finalmente, os índices se constituem num conforto para o leitor, podendo ser organizados índices onomásticos (que listam os nomes citados ao longo do trabalho) e remissivos (que enumeram os principais assuntos tratados). 74 9 ABORDAGENS E CLASSIFICAÇÕES DA PESQUISA NO ESTÁGIO Nesta Unidade, iniciar-se-á a apresentação dos aspectos metodológicos envolvidos na pesquisa necessária para a realização do estágio. Em primeiro lugar, serão apresentadas as duas abordagens de pesquisa (qualitativa e quantitativa), e, num segundo momento, apresentar-se-á a questão da perspectiva temporal de estudo (sincrônica ou diacrônica). 9.1 ABORDAGENS QUANTITATIVAS E QUALITATIVAS O primeiro aspecto a ser abordado diz respeito às diferenças entre as duas abordagens. De modo geral, pode-se seguir a distinção proposta por Trujillo (2003), que afirma que a pesquisa qualitativa busca verificar se uma determinada característica está presente na população pesquisada, enquanto que a quantitativa deseja verificar a Frequência com que essa característica ocorre nessa população. Este autor apresenta um interessante quadro-resumo, que é apresentado a seguir: Figura 4- Comparação entre as abordagens qualitativa e quantitativa Objetivo Representatividade estatística Volume de informação Profundidade Teoria estatística Tamanho da amostra Tipo de análise QUALITATIVA verificar presença baixa médio ou elevado elevada não aplicável poucos casos subjetiva QUANTITATIVA mensurar presença elevada baixo ou médio média aplicável muitos casos objetiva ou numérica Fonte: adaptado de Trujillo (2003, p. 11). Como se pode observar, as duas abordagens podem ser consideradas complementares, no sentido de que cada uma se concentra na realidade pesquisada de maneira diferente; inclusive, diversos autores sustentam que a pesquisa qualitativa deve ser encarada como uma preparação para a pesquisa quantitativa, no sentido de que ela permite gerar hipóteses sobre a realidade, que esta buscará testar e comprovar ou refutar. Cresswell (2007) argumenta que, hoje em dia, o questionamento é antes como posicionar uma pesquisa numa continuidade entre o qualitativo e o quantitativo do que considerá-las numa oposição, reconhecendo a existência de uma relação entre as duas abordagens. 75 Em pesquisas científicas, a abordagem qualitativa é muito usada nas Ciências Humanas e Sociais para a produção de novos conhecimentos. A quantitativa, embora aplicável a estas ciências, é muito usada nas Ciências Naturais e Exatas. 9.1.1 Pesquisa quantitativa A pesquisa quantitativa já foi considerada como a única forma de se fazer ciência; o pensamento científico seria quantitativo por excelência, trabalhando com hipóteses e variáveis quantificáveis que seriam testadas e verificadas matematicamente, fornecendo um conhecimento perfeitamente científico; esta ideia, entretanto, não se sustenta mais, até porque os dados são obtidos por meio de percepção sensorial, e esta nem sempre é quantificável (KAUFMANN, 1977). A pesquisa quantitativa, normalmente, procura identificar as relações de causa e efeito entre os fenômenos. É recomendado utilizar, preferentemente, o enfoque da pesquisa quantitativa quando o propósito do projeto implicar em medir a relação entre as variáveis, ou em avaliar o resultado do sistema ou projeto (ROESCH, 1999), ou quando se pretende trabalhar com a mensuração das características do fenômeno pesquisado, o que é feito normalmente a partir da definição de uma amostra (TRUJILLO, 2003), ou seja, uma parte da população que pode ser considerada representativa e que permite dessa forma conhecer as características de toda a população sem a necessidade de pesquisar todos os seus componentes. A pesquisa quantitativa, portanto, pretende desenvolver proposições do tipo causa-efeito, apoiadas pela lógica e pelos dados (DAVIS apud BRYMAN, 1988). De acordo com Cresswell (2007), a pesquisa quantitativa é feita para o desenvolvimento do conhecimento através de raciocínio de causa e efeito, redução de variáveis específicas, hipóteses e questões, mensuração de variáveis, observação e teste de teorias. Castro (2006) indica que o raciocínio da pesquisa quantitativa é predominantemente dedutivo, pois o pesquisador já possui suas hipóteses e deseja testá-las em campo, fazendo conjecturas a respeito do assunto e testando sua correção. Para a garantia de uma boa interpretação dos resultados, é recomendado a utilização do melhor meio disponível para controlar o delineamento da pesquisa. Os métodos (delineamentos) podem ser: experimento de campo; pesquisa descritiva; pesquisa explicativa. Staw (apud ROESCH, 1999) coloca que a pesquisa quantitativa é apropriada na avaliação de mudanças em grandes organizações. No caso das ciências sociais, quando utilizada a pesquisa 76 quantitativa, recomenda-se o delineamento do grupo de controle não equivalente, pois este delineamento envolve mais de um grupo. Um aspecto que pode ser considerado refere-se à questão de hipóteses de pesquisa. Uma hipótese pode ser definida como uma proposição original, formulada a respeito de um determinado fenômeno e que deve ser testada para ser confirmada ou refutada, ou seja, a hipótese é uma "[...] proposição testável que pode vir a ser a solução de um problema." (GIL, 1996, p. 35). Toda hipótese envolve um conjunto de pelo menos duas variáveis. Define-se variável simplesmente como sendo qualquer coisa que possa ser classificada em duas ou mais categorias (GIL, 1995) e que possam ser objeto de uma mensuração (CRESSWELL, 2007), pois pode assumir valores diferentes dentro da população; ou seja, idade, sexo, classe social, atitudes em relação a um processo ou fenômeno, etc., são variáveis a partir das quais podem ser estabelecidas hipóteses de pesquisa. Diante disso, Cresswell afirma que as hipóteses “[...] são previsões que o pesquisador faz sobre a relação entre as variáveis.” (2007, p. 120). Triviños (1995) assinala: na pesquisa quantitativa, as variáveis são medidas, ao passo que na qualitativa, são descritas. As relações entre variáveis são classificadas como: a) Causais: envolvem uma variável independente e pelo menos uma dependente, sendo esta influenciada pelo comportamento da primeira, e estão baseadas numa relação do tipo causa-efeito; b) Assimétricas: não há relação do tipo causa-efeito, mas uma variável influencia a outra; c) Simétricas: não há influência de uma variável sobre a outra, ainda que ambas possam ter uma causa comum; d) Recíprocas: as variáveis influenciam-se mutuamente, interagindo e reforçando-se (GIL, 1995). Um terceiro tipo de variável mencionado por Triviños (1995), complementar às independentes e dependentes, é a chamada variável interveniente, que pode ser considerada como uma variável que influi ou altera as dependentes e/ou independentes. Muitos estudiosos da pesquisa afirmam que a pesquisa quantitativa é logicamente estruturada de forma a permitir esse teste de hipóteses, as quais são normalmente formuladas como relações causais a respeito dos fenômenos, dentro de um quadro teórico previamente formulado (BRYMAN, 1988). Esse enfoque da pesquisa é severamente criticado pelos autores, por dar excessivo destaque à teoria já existente; uma crítica recorrente seria o fato de a pesquisa se tornar conservadora. De qualquer forma, a teoria tem papel dedutivo na pesquisa quantitativa: o pesquisador apresenta uma teoria, coleta dados para fazer um teste e reflete 77 sobre os resultados obtidos em termos de conformação ou não entre esses resultados e a teoria (CRESSWELL, 2007). Um dos aspectos básicos da pesquisa quantitativa é sua capacidade de generalização; o pesquisador que está realizando um estudo de caráter quantitativo normalmente está procurando resultados que transcendam os limites estreitos de sua própria pesquisa; outro ponto importante refere-se à ideia de repetição da pesquisa, ou seja, para que uma pesquisa possa ser considerada válida, ela deve ter a capacidade de ser repetida por outro pesquisador (BRYMAN, 1988) – ou seja, ela deve ser feita de modo a garantir que outra pessoa seja capaz de realizar a mesma pesquisa. Quando a pesquisa é de caráter quantitativo, as técnicas de coleta de dados são: entrevistas; questionários; observação; testes, índices e relatórios escritos. As técnicas de análise de dadoss são os métodos estatísticos, que são a Frequência, a correlação, e a associação. Os processos de coleta e análise de dados são separados no tempo, sendo que a coleta antecede a análise. Sobre a análise, é interessante mencionar o aspecto levantado por Trujillo (2003): uma pesquisa quantitativa nada produz de novo sobre as características do fenômeno. Pelo contrário, pode-se afirmar que ela normalmente só fornece informações sobre a presença das características pesquisadas. Entretanto, como os resultados são objetivos e verificáveis (TRUJILLO, 2003), a pesquisa quantitativa gera conhecimento que pode ser aplicado em outros casos, ou generalizado para toda a população. Os dados da pesquisa podem ser divididos em primários e secundários. Os primeiros são colhidos diretamente pelo pesquisador, através dos diferentes métodos de coleta, ao passo que os do segundo tipo são os dados que não são obtidos diretamente pelo pesquisador, por exemplo: os arquivos, os bancos de dados, os relatórios (ROESCH, 1999). Daí se pode inferir que, numa pesquisa exclusivamente bibliográfica, não há dados primários, somente secundários. EXEMPLO: Um estagiário deseja auxiliar no planejamento da estratégia de lançamento de um novo produto no mercado. Assim, através da empresa, ele empreende pesquisa quantitativa para verificar se a população-alvo desse produto de fato apresenta as características previstas para tal população, e com que frequência elas ocorrem. 78 9.1.2 Pesquisa qualitativa De acordo com Chizzotti (2006, p. 28), “o termo qualitativo implica uma partilha densa com pessoas, fatos e locais que constituem objetos de pesquisa, para extrair desse convívio os significados visíveis e latentes que somente são perceptíveis a uma atenção sensível.” Ao colocar dessa forma, o autor explicita que a pesquisa qualitativa gera conhecimento que passara desapercebido às pessoas, além de conectá-la ao contexto humano. Para Malhotra (2001), a pesquisa qualitativa é uma metodologia não-estruturada, de caráter exploratório, que se baseia em pequenas amostras e permite melhor compreensão do contexto do problema. De forma geral, ela representa uma tentativa de conhecer com maior profundidade um problema ou fenômeno, buscando descrever-lhe as características e definindo-o melhor perante os olhos do pesquisador; alguns autores inclusive afirmam que a tarefa básica da pesquisa qualitativa é produzir conhecimento, mas essa visão está envolta em controvérsia. O raciocínio é predominantemente indutivo, permitindo exploração mais livre e aberta do tema da pesquisa (CASTRO, 2006). Para Cresswell (2007) a pesquisa qualitativa lida com os significados das experiências individuais, os significados construídos histórica ou socialmente, para então construir conhecimento; adicionalmente, essa abordagem trabalha com a pesquisa sobre as reivindicações e a participação de grupos sociais. De qualquer forma, a pesquisa qualitativa, muito utilizadas nas ciências sociais, é apropriada nos casos de avaliação formativa, quando se trata de melhorar a efetividade de um programa, ou plano, ou quando é o caso da proposição de planos, ou seja, quando se trata de selecionar as metas de um programa e construir uma intervenção, mas não é adequada para avaliar resultados de programas ou planos. (ROESCH, 1999, p. 155). A pesquisa qualitativa não deve ser considerada como antagônica à pesquisa quantitativa. Essa oposição só ocorre se o recurso à formulação de hipóteses, a quantificação do fenômeno, o tratamento estatístico, o raciocínio indutivo e o modelo das ciências naturais forem considerados como as únicas formas de investigar cientificamente um determinado fenômeno (CHIZZOTTI, 2006). Na literatura é muito comum a apresentação da pesquisa qualitativa, seus métodos de coleta e análise dos dados como sendo os mais apropriados para uma fase exploratória de qualquer pesquisa, mesmo a quantitativa. Malhotra (2001) considera que a pesquisa qualitativa pode ser usada como uma fase de preparação para a quantitativa, por sua característica de contextualização do problema. Bryman (1988) afirma que os aspectos 79 quantitativo e qualitativo de uma pesquisa devem ser encarados como formas diferentes de responder a um problema de pesquisa, mas não como oposição. O fato de a pesquisa qualitativa ser de difícil generalização (TRUJILLO, 2003) faz com que seus resultados tenham validade restrita, exigindo a complementação da pesquisa quantitativa. Algumas características definem melhor a pesquisa qualitativa: a) Compromisso com a perspectiva das pessoas estudadas: os fenômenos são sempre estudados a partir das perspectivas e pontos de vista dos pesquisados; b) Descrição: a pesquisa qualitativa normalmente envolve uma descrição acurada do fenômeno e do cenário social pesquisado, não somente a partir do ponto de vista das pessoas envolvidas, mas também dos pesquisadores; c) Contextualismo: há um compromisso com o contexto geral aonde o fenômeno ocorre, ou seja, é preciso situar os eventos e fenômenos no espaço social mais amplo em que ocorrem; d) Visão longitudinal: o corte longitudinal, a ser melhor delineado na próxima seção deste capítulo, refere-se a uma visão processual do fenômeno, que é considerado como sendo parte de uma evolução temporal; e) Flexibilidade: a pesquisa qualitativa é, normalmente, menos estruturada que a quantitativa, permitindo modificações no problema de pesquisa ou nos métodos, se for o caso, para atingir melhores resultados; f) Papel da teoria e dos conceitos: ao contrário da pesquisa quantitativa, que exige um forte aparato teórico para funcionar a contento, a abordagem qualitativa não depende de formulação teórica prévia, favorecendo uma estratégia de teorização a partir das informações e dados coletados (BRYMAN, 1988). Rossman e Rallis (apud CRESSWELL, 2007) afirmam que a pesquisa qualitativa ocorre em cenário natural, utiliza métodos de coleta interativos e humanísticos, é emergente (em vez de inteiramente configurada de antemão), é interpretativa (o que destaca o papel do pesquisador como um intérprete dos dados), é holística, utiliza diferentes estratégias de coleta, análise e comunicação de dados, baseia-se num raciocínio complexo, interativo e simultâneo (usualmentedo tipo indutivo), e baseia-se profundamente na pessoa do pesquisador: seus resultados não se dissociam da pessoa do pesquisador, seus valores, sua forma de ver o mundo, seus interesses, aspectos que modelam a forma pela qual a pesquisa é delineada. A pesquisa qualitativa pode ser considerada, apesar do que foi dito acima, como um paradigma diferente de pesquisa, pois é uma alternativa de pesquisa que pode ser utilizada em qualquer projeto. Problemas que envolvem a percepção dos sujeitos pesquisados, por 80 exemplo, são muito melhor trabalhados por intermédio da pesquisa qualitativa do que pela quantitativa. Os delineamentos (métodos) mais utilizados são: estudo de caso, pesquisa-ação, e pesquisa participante. As técnicas de coleta dos dados podem ser: entrevistas em profundidade; uso de diários; entrevistas em grupo; técnicas projetivas; documentos; histórias de vida. As técnicas de análise são: análise de conteúdo; construção de teoria; análise de discurso. Um aspecto central, concernente às análises do dados obtidos em uma pesquisa qualitativa, é a não-generalização. O pesquisador deve ter o cuidado de sempre trabalhar a pesquisa qualitativa a partir de um ponto de vista particular, aplicando suas conclusões ao caso específico analisado, sem a preocupação de apresentar uma conclusão abrangente ou válida a todas as situações às quais o problema se aplica. O principal objetivo de uma pesquisa qualitativa deve se referir a uma compreensão do problema individual de pesquisa, a mais ampla e profunda possível, sem buscar generalização. EXEMPLO: Um estagiário foi encarregado de pesquisar a visão dos colaboradores, nos diferentes níveis organizacionais da empresa, a respeito do processo de mudança organizacional por ela realizado, em que foi delegada maior autonomia decisória a níveis hierárquicos mais baixos. 9.1.3 Pesquisas quali-quantitativas Adicionalmente, deve-se observar que alguns estudiosos de Metodologia recomendam o uso de uma abordagem mista ou quali-quantitativa, em que elementos qualitativos se mesclam aos quantitativos; de modo geral, muitas pesquisas qualitativas recorrem à quantificação para obter melhores resultados, o que produz confusões a respeito de qual seria a abordagem predominante. A defesa do conceito de pesquisa quali-quantitativa é feita apontando o fato de que a pesquisa quantitativa permite melhor tratamento dos dados e maior precisão nas conclusões, embora não se aplique a certos dados qualitativos, de difícil quantificação; ou seja, trata-se de verificar se a quantificação e o tratamento estatístico estão sendo utilizados como bases para resultados mais complexos ou profundos do que a simples observância das características pesquisadas. Cresswell (2007) considera que a pesquisa quali-quantitativa pode ser justificada pela ideia de que os vieses de uma abordagem podem ser combatidos pelo uso da outra. 81 De acordo com Cresswell (2007), as pesquisas quali-quantitativas (que o autor denomina mistas) envolvem discussão de algumas questões: a) Qual é a seqüência de implementação da coleta de dados qualitativos e quantitativos? Esta pergunta visa determinar qual tipo de dados será coletado em primeiro lugar, ou se ambos serão coletados simultaneamente; b) Qual é a prioridade a ser dada à coleta e análise de dados qualitativos e quantitativos? Da mesma forma que a anterior, esta pergunta se volta para determinar se algum dos tipos de dados será privilegiado em relação ao outro; c) Em que momento os dados serão integrados? Os dados qualitativos e quantitativos podem ser integrados na fase da coleta, da análise da interpretação ou numa combinação destas etapas; d) Há uma perspectiva teórica global na pesquisa? Essa perspectiva teórica orienta o trabalho de pesquisa e dá uma direção para o estudo independentemente de considerações sobre implementação, prioridade e integração de dados. Para Cresswell (2007), ao adotar um método misto, o pesquisador pode quantificar dados qualitativos ou qualificar dados quantitativos; pode explorar casos discrepatnes, ou seja, durante a análise quantitativa dos dados, podem surgir casos que se desviam profundamente dos demais, e a pesquisa qualitativa pode ser utilizada para aprofundar esses casos; pode desenvolver instrumentos de pesquisa baseados na visão da população pesquisada a partir da coleta qualitativa de dados; pode estudar a população em diversos níveis, realizando pesquisa quantitativa com famílias e qualitativa com indivíduos específicos dentro dessas famílias, por exemplo. Castro (2006) afirma que as pesquisas qualitativas e quantitativas apresentam uma “complementaridade virtuosa”, em que uma alcança resultados que à outra não é possível atingir. Segundo o autor, enquanto a pesquisa quantitativa pergunta “o que acontece” e “como acontece”, a qualitativa pergunta “por que acontece”, de modo que a pesquisa qualitativa “[...] dá sentido e confiança à exploração quantitativa.” (CASTRO, 2006, p. 108, grifos do autor). Ao estagiário interessado em fazer uma pesquisa quali-quantitativa, uma recomendação seria fazer essas três perguntas: a) A pesquisa deseja verificar o que acontece? b) Ou, alternativamente, deseja verificar como acontece? c) A pesquisa deseja saber o porquê dessa ocorrência? Há vozes dissonantes, entretanto. Trujillo (2003), por exemplo, considera que as pesquisas quali-quantitativas são uma exceção, ao menos no que tange às pesquisas de 82 mercado. A questão, portanto, está ainda envolta em controvérsia. Mas, de qualquer forma, técnicas como a escala Likert, em que se atribui um número à satisfação de uma pessoa com uma variável, são quali-quantitativas por excelência. 9.2 PERSPECTIVA TEMPORAL DE ESTUDO Duas perspectivas podem ser consideradas dentro da dimensão temporal de estudo, a saber: a) Perspectiva diacrônica: refere-se aos estudos em que um fenômeno é estudado numa dimensão de passado e/ou futuro, ou seja, analisa-se a evolução do fenômeno ao longo do tempo (DUROZOI; ROUSSEL, 1993). Como um exemplo de pesquisa diacrônica em Administração, poder-se-ia citar um estudo histórico de uma determinada organização, desde sua fundação até os dias atuais. Outro exemplo seria o estudo da evolução das cotações das ações de uma determinada empresa na Bolsa de Valores ao longo de um determinado período de tempo; b) Perspectiva sincrônica: neste caso, o fenômeno é estudado em um determinado instante, isoladamente ou em relação com outros fenômenos e acontecimentos (DUROZOI; ROUSSEL, 1993) que estejam ocorrendo simultaneamente. Ou seja, não se procura estabelecer uma visão histórica ou evolutiva a respeito do objeto de pesquisa, pressupondo-se que seja suficiente analisar sua situação atual. Um exemplo de perspectiva sincrônica em Administração poderia ser uma pesquisa de mercado voltada para a determinação das características da população-alvo de um determinado produto. Outro caso, dentro do mesmo assunto apresentado na perspectiva diacrônica, seria, a partir da cotação atual da ação da empresa na Bolsa, determinar quais são as percepções do público em relação à companhia que a emitiu. As duas perspectivas podem ser consideradas equivalentes aos cortes longitudinal e transversal da pesquisa. O corte longitudinal se refere ao antes e depois, ou seja, a uma perspectiva temporal de pesquisa do fenômeno observado, enquanto que o transversal explora o fenômeno no momento em que ocorre. O estudo transversal é feito num determinado momento do tempo, enquanto que o longitudinal descreve eventos ao longo do tempo, pois o fenômeno estudado é afetado pelo passar do tempo (HAIR JR. et al., 2005). É importante observar que, para Hair Jr. et al. (2005), esses cortes associam-se diretamente ao conceito de pesquisa descritiva, que será visto em seção subseqüente deste trabalho. 83 Segundo Roesch (1999), em pesquisas quantitativas, o corte longitudinal da pesquisa é o mais adequado, permitindo experimentos com grupos de pesquisa; o transversal, ainda que não mencionado pela autora, também permite atingir bons resultados. Na pesquisa qualitativa, como mencionado acima, o corte longitudinal é extremamente importante, e praticamente insubstituível, uma vez que a visão histórica do fenômeno se torna essencial para sua compreensão. Nos trabalhos de estágio, a classificação via perspectiva temporal é dispensável. Normalmente, os trabalhos são apenas parcialmente longitudinais, ou mais precisamente, são eminentemente transversais, pois o período de tempo em que são realizados é muito curto e não permite uma análise mais aprofundada. Isto não siginifica, no entanto, que os estudos históricos sejam dispensáveis ou impossíveis nos trabalhos de estágio, mas sim que o foco principal da pesquisa não será a evolução histórica do fenômeno. É, portanto, dispensável a utilização desta classificação nos TCE. 9.3 TIPOLOGIA DAS PESQUISAS 9.3.1 Classificação quanto aos fins A classificação quanto aos fins busca determinar o tipo de pesquisa de acordo com o resultado final que ela deseja alcançar; sua lógica, portanto, está baseada no objetivo geral que o pesquisador busca atingir ao realizar suas atividades. Uma pesquisa pode ser classificada quanto aos fins em exploratória, descritiva, explicativa, metodológica, aplicada ou intervencionista (VERGARA, 2000). A seguir, far-se-á uma breve descrição de cada um desses tipos. 9.3.1.1 Pesquisa exploratória A pesquisa exploratória é realizada, segundo Vergara (2000), em áreas em que existe pouco conhecimento acumulado e sistematizado. É, portanto, adequada para o objetivo de aumentar o número de conhecimentos sobre o assunto, ou, nas palavras de Gonçalves e Meirelles (2004, p. 37), é “realizada para descobrir ou descrever melhor o(s) problema(s)-raiz que são apontados através de sintomas (ou queixas) para se alcançar os objetivos.” Hair Jr. et al. (2005), afirmam que a pesquisa eploratória é útil para o pesquisador que não sabe muito. 84 Lakatos, Marconi (2001) consideram que a pesquisa exploratória deve estar voltada para a formulação de questões ou de problemas de investigação, que aumentem a familiaridade do pesquisador com o assunto, desenvolver hipóteses sobre o tema pesquisado e modificar ou esclarecer conceitos. Dencker (2000) observa que as pesquisas exploratórias utilizam grande quantidade de dados extraídos de fontes secundárias, estudos de casos selecionados e de observações informais, sendo os meios mais comuns de pesquisa exploratória a pesquisa bibliográfica e o estudo de caso. Para Samara, Barros (2007), a pesquisa exploratória tem como principais características a informalidade, a flexibilidade e a criatividade, permitindo um primeiro contato com a realidade a ser investigada. Cervo, Bervian e Silva (2007) afirmam que a pesquisa exploratória é muito utilizada como primeira etapa para outras pesquisas e objetiva familiarizar o pesquisador com o fenômeno investigado, realizando descrições precisas da realidade e buscando identificar as relações existentes entre seus componentes. Adicionalmente, ela pode ser considerada como uma importante forma de produzir hipóteses que serão testadas em pesquisas posteriores, tornando a pesquisa exploratória que, pelas suas características, é fortemente qualitativa, um delineamento que pode ser usado para iniciar estudos quantitativos. Como observam Gonçalves e Meirelles (2004), a pesquisa exploratória conduz ao diagnóstico do problema; após este, deve-se usar metodologia mais estruturada que permita uma investigação mais aprofundada do mesmo e sua solução. Uma conclusão evidente do exposto acima é: num Trabalho de Conclusão de Estágio que utiliza o delineamento exploratório, o estagiário não pode deixar de apresentar recomendações de novos estudos a partir do que verificou com sua pesquisa. Um exemplo em Administração pode ser dado por um diagnóstico organizacional, em que se procura entender globalmente a organização e determinar-lhe as principais características, de modo a definir com maior precisão o que a leva a atuar de determinada maneira no seu mercado. 9.3.1.2 Pesquisa descritiva A pesquisa descritiva trabalha com as características de uma população ou de um fenômeno, podendo estabelecer correlações entre variáveis, definindo também a natureza de tais correlações, sem se comprometer com a explicação dos fenômenos descritos (VERGARA, 2000). Pesquisas descritivas delineiam ou analisam as características de um fato ou fenômeno, avaliam os resultados de programas, ou isolam variáveis-chave ou principais, e 85 são abordadas predominantemente de forma quantitativa (LAKATOS; MARCONI, 2001). Questões essenciais a serem respondidas incluem: quem? O quê? Quanto? Como? Onde? Quando? Por quê? [adaptado de um exemplo fornecido por Samara e Barros (2007)] Para Cervo, Bervian e Silva (2007, p. 65), a pesquisa descritiva “[...] observa, registra, analisa e correlaciona fatos ou fenômenos (variáveis) sem manipulá-los. Busca descobrir, com a maior precisão possível, a Frequência com que um fenômeno ocorre, sua relação e conexão com outros, sua natureza e suas características.” Normalmente esses fatos e fenômenos, quando associados diretamente a uma população, não estão consolidados em documentos e os dados têm que ser coletados diretamente onde são encontrados, ou seja, na realidade natural da população pesquisada (CERVO; BERVIAN; SILVA, 2007). Para Hair Jr. et al. (2005, p. 86), a pesquisa descritiva é delineada para “[...] medir as características descritas em uma questão de pesquisa. As hipóteses, derivadas da teoria, normalmente servem para guiar o processo e fornecer uma lista do que precisa ser mensurado.” De acordo com esses autores, ela possui uma relação com a pesquisa exploratória, pois esta pode indicar a existência de um fenômeno que a pesquisa descritiva procurará aprofundar, buscando uma comprovação empírica da ocorrência deste fenômeno – ou seja, a pesquisa exploratória pode fornecer a hipótese que a descritiva irá estudar. A pesquisa descritiva normalmente é delineada quanto aos meios através do levantamento (GIL, 1996; DENCKER, 2000). Gil (1996) observa que, em alguns casos, a pesquisa descritiva se aproxima da explicativa, no momento em que o pesquisador procure determinar também o relacionamento entre os fatos. Cervo, Bervian e Silva (2007) defendem o uso do estudo de caso como um dos meios para a pesquisa descritiva, mas esta proposição é controversa, pois a maioria dos autores identifica o estudo de caso com a abordagem qualitativa. É importante observar que, enquanto a pesquisa exploratória pode se valer predominantemente de dados secundários, a pesquisa descritiva deve utilizar dados primários obtidos diretamente pelo pesquisador a partir de entrevistas ou questionários aplicados junto à população de pesquisa (SAMARA; BARROS, 2007). A pesquisa descritiva é associada pela maioria dos autores à abordagem quantitativa, mas Samara e Barros (2007) distinguem entre a pesquisa descritiva estatística, realizada dentro dessa abordagem, e o estudo descritivo de caso, que segue a abordagem qualitativa. Embora se possa admitir essa distinção no contexto das pesquisas de mercado, é necessário observar que ela não é adotada no contexto mais amplo da metodologia da pesquisa científica. 86 Uma pesquisa descritiva em Administração pode ser exemplificada por um mapeamento das características de sazonalidae do mercado em que uma empresa pretende atuar. 9.3.1.3 Pesquisa explicativa Este tipo de pesquisa analisa um fenômeno na busca de esclarecê-lo, torná-lo compreensível ou justificá-lo, baseando-se numa pesquisa descritiva previamente realizada (VERGARA, 2000). Ao procurar identificar os fatores que determinam, ou contribuem para, a ocorrência dos fenômenos, baseiam-se no método experimental ou na observação, sendo normalmente utilizados como meios de pesquisa a experimentação e a pesquisa ex-post-facto (GIL, 1996; DENCKER, 2000). A pesquisa explicativa nem sempre pode ser aplicada nas ciências sociais, uma vez que é, muitas vezes, difícil conduzir experimentos nestas (GIL, 1996). Um exemplo de pesquisa explicativa em Administração pode ser dado por uma pesquisa que procure determinar métodos mais eficazes de treinamento de pessoal, utilizando métodos diferentes para cada grupo de profissionais. 9.3.1.4 Pesquisa metodológica Está voltada para os métodos e instrumentos utilizados para captar e manipular a realidade, ou seja, para os meios destinados a alcançar um determinado fim (VERGARA, 2000). É uma pesquisa que trabalha com a própria pesquisa, buscando definir se determinado meio é adequado ou não para produzir o conhecimento pretendido e portanto está direcionada para problemas teóricos e de produção do próprio conhecimento. Exige grande domínio do fenômeno pesquisado, pois ela envolve o questionamento da forma mais adequada para abordá-lo, investigá-lo e compreendê-lo. Por exemplo, uma empresa especializada em pesquisa de mercado poderá empreender uma pesquisa metodológica para determinar qual instrumento de coleta de dados (entrevista individual, entrevista com focus group, questionário aplicado em campo, pesquisa experimental com um grupo escolhido aleatoriamente, dentre outras possibilidades) é mais adequado para produzir informações sobre o público-alvo. 87 9.3.1.5 Pesquisa aplicada É um delineamento que busca solucionar um problema concreto, prático, da realidade (VERGARA, 2000). Anders-Egg (apud MARCONI; LAKATOS, 1999) coloca que o interesse da pesquisa aplicada é prático, pois seus resultados devem ser utilizados imediatamente na solução de problemas da realidade. A pesquisa aplicada normalmente identifica a situação-problema e busca, dentre as possíveis soluções, aquela que possa ser mais adequada para o contexto específico; dessa maneira, não se pode ter a pretensão de pesquisa capaz de criar conhecimentos novos, somente a de aplicar conhecimento já existente a uma situação-problema. Neste sentido, cria-se uma dificuldade de utilização do conceito por parte do administrador, pois, como se pode observar, alguns dos exemplos supracitados se enquadram como pesquisa aplicada. Entretanto, há que se considerar que uma pesquisa voltada para verificar se um determinado método de seleção de pessoal se aplica à realidade de uma empresa poderia ser colocada como um exemplo de pesquisa aplicada (há que se observar que aqui o método já foi determinado como utilizável, e a pesquisa visa verificar se isso é uma realidade), derivada diretamente do contexto da pesquisa metodológica. 9.3.1.6 Pesquisa intervencionista A pesquisa intervencionista é aquela que se fundamenta numa intervenção do pesquisador na realidade estudada, com a pretensão de modificá-la, de solucionar um problema; ao contrário da pesquisa aplicada, pressupõe-se nesta forma a participação direta do pesquisador na realidade estudada (VERGARA, 2000), abandonando toda e qualquer pretensão de neutralidade e agindo na busca da mudança. É uma pesquisa que não pode ser usada dentro da abordagem quantitativa, pois esta pressupõe a neutralidade do pesquisador. Uma pesquisa intervencionista poderia ser exemplificada a partir do caso apresentado acima para a pesquisa aplicada, apenas supondo-se que o pesquisador seja encarregado de implantar o método na empresa estudada. 88 9.3.2 Classificação quanto aos meios A classificação quanto aos meios aprofunda a classificação quanto aos fins, no sentido de que um meio pode ser usado em mais de um tipo referido na listagem anterior, embora existam meios mais adequados para determinados tipos, como mencionado acima. Esta classificação também é chamada classificação quanto ao design (desenho, desígnio ou, mais adequadamente, delineamento) da pesquisa (GIL, 1996). A classificação quanto aos meios representa, portanto, uma forma mais completa de determinar como será feita a pesquisa e pode ser utilizada como uma indicação do que se pode esperar em termos de instrumentos de coleta de dados. De acordo com Vergara (2000), as pesquisas se classificam quanto aos meios em pesquisas de campo, de laboratório, documental, bibliográfica, experimental, ex-post-facto, participante, pesquisa-ação e estudo de caso. Um outro tipo, abordado por vários autores, mas não mencionado por Vergara, é o levantamento. Brevemente, esses tipos podem ser caracterizados como se segue. 9.3.2.1 Pesquisa de campo É feita no local onde ocorre ou ocorreu um determinado fenômeno, havendo neste elementos que permitam explicá-lo, sendo os dados coletados por intermédio de entrevistas, questionários, testes ou observação participativa (VERGARA, 2000). Trata-se, como colocam Hair Jr. et al. (2005), do ambiente natural do fenômeno. O pesquisador deve determinar qual é o contexto relevante (HAIR Jr. et al., 2005) de ocorrência do fenômeno e proceder à investigação. Em relação à pesquisa de laboratório, a pesquisa de campo é mais realista, menos limitada em termos de resultados plausíveis e apresenta maior flexibilidade (HAIR JR. et al., 2005). A pesquisa de campo se aproxima do levantamento, que será apresentado mais abaixo – mas é preciso ter em mente que o levantamento é associado à abordagem quantitativa, o que não ocorre necessariamente com esta classe. 89 9.3.2.2 Pesquisa de laboratório O laboratório é um local restrito, em que se possa conduzir uma experiência que, no campo, seria impossível (VERGARA, 2000). Conforme Hair Jr. et al. (2005), a pesquisa de laboratório pode ser considerada como a manipulação de uma variável em ambiente artificial, em que o controle pode ser completo; para este autores, este delineamento é o mais preciso de todos, em termos científicos. A pesquisa de laboratório permite maior controle sobre as variáveis, redução das influências exteriores e permite projetos de menor escala (HAIR JR. et al., 2005). O laboratório não é necessariamente um lugar físico: uma simulação da realidade feita por computador é classificada como uma pesquisa de laboratório, de acordo com Vergara (2000). 9.3.2.3 Pesquisa documental É a pesquisa realizada em documentos arquivados em locais públicos ou privados, com pessoas, registro, anais, diários, cartas, comunicações informais, etc. (VERGARA, 2000), ou seja, com fontes de dados ainda não tratadas analiticamente ou reelaboradas por outros autores, divididas em fontes de primeira mão (conservadas em arquivos ou pessoais) e de segunda mão (relatórios empresariais ou de pesquisa e dados estatísticos), que devem ser representativos e corretamente interpretados pelo pesquisador (GIL, 1996; DENCKER, 2000). O conceito de documento é bastante amplo, indo além do próprio material escrito, usualmente associado à ideia. Esta apostila trabalha com maior profundidade tanto esse tipo de pesquisa quanto a pesquisa bibliográfica por considerá-los básicos para qualquer projeto. 9.3.2.4 Pesquisa bibliográfica É a pesquisa realizada através de material já publicado em livros, revistas, jornais, meios eletrônicos acessíveis ao público em geral (VERGARA, 2000). Praticamente todos os projetos de pesquisa exigirão um levantamento bibliográfico para elaboração de conceitos e do marco teórico, sendo necessário tomar muito cuidado com possíveis erros das fontes (DENCKER, 2000). Rauen (2002) coloca: a pesquisa bibliográfica opera com o acervo bibliográfico da humanidade, que Gil (1996) divide em livros de leitura corrente (obras literárias ou de divulgação de conhecimentos técnicos e científicos), livros de referência. 90 (obras de consulta que permitem obter rapidamente acesso às informações ou a obras que as contenham) e publicações periódicas. A pesquisa bibliográfica é um meio de formação de conhecimento e busca o domínio de um determinado tema, podendo inclusive ser produzida para um trabalho científico original (CERVO; BERVIAN; SILVA, 2007). 9.3.2.5 Pesquisa experimental Um experimento é uma investigação na qual o pesquisador manipula e controla variáveis independentes e observa seus efeitos no comportamento das dependentes, sendo normalmente realizada em campo, embora também possa ser feita em laboratório (VERGARA, 2000), ou, mais simplesmente, ela “consiste em determinar um objeto de estudo, selecionar as variáveis que seriam capazes de influenciá-lo, definir as formas de controle e de observação dos efeitos que a variável produz no objeto.” (GIL, 1996, p. 53). Nas ciências sociais, é normalmente associada a analisar as características de um grupo antes e depois de aplicar-se um determinado estímulo (o próprio experimento), de dois grupos aos quais são aplicados o mesmo estímulo, e de dois grupos antes e depois do estímulo (DENCKER, 2000). Esses grupos são definidos como experimentais e de controle (GIL, 1996). De acordo com Cresswell (2007), as pesquisas experimentais utilizam uma amostra e têm seus resultados generalizados para toda a população, e são realizadas por meio de uma intervenção ou tratamento, que modifica os resultados desta amostra, sendo desprezados outros fatores que porventura possam influenciá-los. Em cada delineamento experimental, é importante definir a variável independente ou variável de tratamento, ou seja, aquela que, uma vez introduzida, produzirá modificações em uma ou mais variáveis dependentes. Alguns tipos de experimentos são definidos pelo autor: a) Projetos pré-experimentais: o pesquisador estuda um só grupo e introduz mudanças neste (ou seja, intervém junto a alguma variável); b) Projetos quase-experimentais: o pesquisador estuda os grupos experimental e de controle, mas não distribui aleatoriamente a população entre esses grupos; c) Experimento verdadeiro: também chamado por alguns autores “experimento clássico”, consiste num estudo de grupos experimental e controle cujos membros foram designados aleatoriamente pelo pesquisador; d) Projeto de sujeito único: apenas uma pessoa (ou um grupo muito reduzido de pessoas) tem seu comportamento estudado ao longo do tempo (CRESSWELL, 2007). 91 As pesquisas experimentais nas ciências humanas e sociais têm fortes implicações éticas, pois envolvem a manipulação direta de variáveis associadas a seres humanos, exigindo grande atenção do pesquisador para a sua realização. Por suas características, pode-se observar que são muito pouco aplicáveis à realidade dos estágios. 9.3.2.6 Pesquisa ex-post-facto Este delineamento trabalha com um fato já ocorrido, não sendo portanto possível ao investigador controlar ou manipular as variáveis (VERGARA, 2000). É uma pesquisa quaseexperimental, baseando-se nos mesmos pressupostos da experimental, diferenciando-se desta pelo fato de que o pesquisador não controla as variáveis; permite considerar aspectos históricos essenciais para a evolução e comportamento das estruturas sociais e normalmente se baseia na comparação entre dois grupos semelhantes, mas com diferenças que possam ser atribuídas a um fator que ocorre em apenas um deles (DENCKER, 2000). É um “experimento” realizado depois dos fatos terem ocorridos, no qual esses fatos ocorreram espontaneamente, como nota Gil (1996). Observa-se que a pesquisa ex-post-facto mescla características da pesquisa qualitativa (como a ênfase na visão histórica) e da quantitativa (como os pressupostos da pesquisa experimental). Estudos avaliativos, em que se procura determinar a eficiência, a eficácia e a efetividade de uma intervenção na realidade, podem se enquadrar no conceito de pesquisa expost-facto, dependendo da forma pela qual são delineados. 9.3.2.7 Pesquisa participante/participativa Qualquer delineamento participante/participativo pressupõe uma indistinção entre as figuras do pesquisador e a do pesquisado, exigindo portanto que pessoas investigadas participem da pesquisa (VERGARA, 2000). Dentro do conceito da pesquisa participante/participativa, o pesquisador assume o ponto de vista da produção popular de conhecimento, que assume a premissa de que a população pesquisada é capaz de compreender e modificar sua realidade (o que, na prática, transforma elementos da população pesquisada em pesquisadores, detentores de conhecimento necessário para a realização da pesquisa, capacitados a controlar o processo de investigação), democratizando dessa forma a produção do conhecimento e embasando a pesquisa numa concepção ética (CHIZZOTTI, 2006). O pesquisador não é somente um observador da realidade, é um ator nela inserido. Dessa 92 maneira, é uma pesquisa essencialmente qualitativa, não se podendo utilizá-la adequadamente em estudos quantitativos, pois o envolvimento do pesquisador com a realidade pesquisada impede que se tenha a neutralidade e a imparcialidade científicas característicos dos delineamentos quantitativos. O pesquisador assume uma função dentro do grupo pesquisado, embora não obedeça a nenhuma proposta de ação anteriormente determinada; o grupo pesquisado é conscientizado da presença do pesquisador, de seus objetivos e finalidades, e este observa e analisa as ações daquele no momento em que elas ocorrem (DENCKER, 2000). Gil (1996) e Rauen (2002) afirmam que essa pesquisa normalmente pressupõe um comprometimento do pesquisador com a classe pesquisada, usualmente uma classe economicamente menos favorecida, e uma distinção entre uma “ciência popular” e uma “ciência dominante”); Rauen (2002) menciona também alguns problemas deste delineamento, como a dificuldade de definir um plano rigoroso de pesquisa e de desenhos metodológicos. Por outro lado, há que se observar que se trata de um delineamento que permite grande flexibilidade no desenho da pesquisa. Uma outra crítica comum, feita por diferentes autores, ao delineamento participante é o forte conteúdo ideológico que pode ser percebido no mesmo, já que o pesquisador possui um ponto de vista que o norteia e assume a postura de alguém que deseja conscientemente transformar a realidade. 9.3.2.8 Pesquisa-ação Pode ser considerada como uma variante da pesquisa participante, em que o pesquisador intervém na realidade pesquisada (VERGARA, 2000). Há um envolvimento participativo e cooperativo do pesquisador com os pesquisados, e a situação investigada normalmente corresponde a uma ação ou resolução de um problema coletivo, e o pesquisador age sobre a realidade pesquisada (DENCKER, 2000). Essa pesquisa é planejada e possui caráter social, educacional, técnico, etc., distinguindo-se portanto da pesquisa participante (GIL, 1996). Uma definição de pesquisa-ação é dada por Thiollent (apud GIL, 1996, p. 60), que a descreve como [...] um tipo de pesquisa com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo. 93 Kurt Lewin é considerado como o “pai” da pesquisa-ação (CHIZZOTTI, 2006). Baseando-se no conceito da pesquisa experimental, Lewin trabalha com a ideia de um pesquisador que modifica a realidade social para poder conhecê-la e implementar as mudanças desejadas. Em linhas gerais, a pesquisa-ação envolve a definição e a formulação de um problema, a implementação, execução e avaliação da ação, e finalmente a continuidade da ação ao longo do tempo (CHIZZOTTI, 2006). Como tal, a pesquisa-ação vem sendo muito utilizada nas ciências humanas e sociais, baseando-se em uma abordagem qualitativa dos fenômenos investigados. É difícil distingui-la com precisão da pesquisa aplicada, mesmo que esta seja delineada como fim e a pesquisa-ação seja delineada como meio. 9.3.2.9 Estudo de caso Um dos delineamentos mais populares de pesquisa, o estudo de caso trabalha com uma ou com poucas unidades de pesquisa (como, menciona Dencker, 2000, um indivíduo, um grupo, uma organização, um conjunto de organizações ou inclusive uma situação observada), aprofundando e detalhando os conhecimentos sobre esta, podendo ser realizada em campo ou não (VERGARA, 2000); tal aprofundamento do conhecimento normalmente é impossível nos outros delineamentos (GIL, 1996). Isso torna o estudo de caso uma classificação ideal para as pesquisas exploratórias (CHIZZOTTI, 2006). O estudo de caso não é fácil de definir, mas um dos maiores especialistas neste tipo, Robert K. Yin, propõe: 1. 2. Um estudo de caso é uma investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos. [...] A investigação de estudo de caso enfrenta uma situação tecnicamente única em que haverá muito mais variáveis de interesse do que pontos de dados e, como resultado, baseia-se em várias fontes de evidências, com os dados precisando convergir em um formato de triângulo, e, como outro resultado, beneficia-se do desenvolvimento prévio de proposições teóricas para conduzir a coleta e a análise de dados. (YIN, 2005, p. 32-33). Dentro desse contexto, para Yin o estudo de caso é uma estratégia de pesquisa que, enquanto método, abrange tudo – o planejamento, as técnicas de coleta e as abordagens de análise dos dados. De acordo com Chizzotti (2006, p. 135), o estudo de caso “objetiva reunir os dados relevantes sobre o objeto de estudo e, desse modo, alcançar um conhecimento mais amplo 94 sobre esse objeto, dissipando as dúvidas, esclarecendo questões pertinentes, e, sobretudo, instruindo ações posteriores.” Normalmente é utilizado em fases iniciais de pesquisa, para estabelecer hipóteses ou reformular problemas e, embora possua grande profundidade em termos da situação pesquisada, estimule novas descobertas, seja simples e enfatize a análise da totalidade, suas conclusões não podem ser generalizadas (DENCKER, 2000; RAUEN, 2002). Exige um pesquisador experiente, que domine conhecimentos sobre a situação pesquisada (DENCKER, 2000; MARTINS, 2006). O estudo de caso é criticado por não permitir a generalização das conclusões, sem base amostral que o solidifique, e por conferir ao pesquisador a sensação de que ele domina uma realidade específica (CHIZZOTTI, 2006). Um ponto importante, mencionado por Martins (2006), refere-se ao fato de que o pesquisador envolvido em um estudo de caso normalmente não possui controle sobre a realidade pesquisada, sendo a pesquisa realizada dentro do contexto em que o fenômeno se verifica, apoiado por um embasamento teórico. Para Chizzotti (2006), o estudo de caso envolve quatro fases: a) Plano de pesquisa: nesta fase, o pesquisador estabelece os objetivos e as questões a serem investigadas. Faz-se a revisão da literatura existente sobre o caso, a definição da unidade de análise e a consulta ao material disponível para a pesquisa (livros, documentos, relatórios, leis, etc.). Adicionalmente, negocia-se com os envolvidos o acesso aos dados, às pessoas e aos lugares. Martins (2006) observa que o planejamento do estudo de caso pode ser consolidado num protocolo, em que os procedimentos adotados são apresentados de modo a garantir que outro pesquisador possa, se desejar, replicar o caso em outro contexto. Este cuidado permitiria superar a crítica de que os estudos de caso não permitem a generalização das conclusões: ao replicar o caso em outro contexto, o pesquisador daria um importante passo no sentido de produzir conclusões científicas válidas. b) Trabalho de campo: consiste na coleta de informações sobre o caso pesquisado, utilizando informações dos mais variados tipos. A entrevista é muito usada para coletar informações diretamente com as pessoas; c) Organização de registros: os documentos obtidos em relação ao caso são devidamente consolidados, indexados e organizados de modo a garantir fácil acesso do pesquisador aos mesmos, para dirimir dúvidas, corroborar inferências e avaliar dados provenientes de outras fontes; 95 d) Redação do relatório: faz-se a descrição do material coletado, sistematizando as informações obtidas de modo a permitir ao leitor uma visão do material coletado. Deve-se evidenciar as relações entre os dados e confirmar ou refutar as eventuais hipóteses propostas para o estudo, de modo a impedir interpretações alternativas. Um aspecto importante mencionado por Martins (2006) é o fato de que, num estudo de caso, a análise e a reflexão do pesquisador sobre os dados pesquisados é permanente, acontecendo em vários momentos da pesquisa – ou seja, não se espera pela conclusão da fase de coleta de dados para analisá-los. 9.3.2.10 Levantamento Como mencionado anteriormente, o levantamento não é mencionado por Vergara em sua classificação, mas é trabalhado por diversos outros autores (como por exemplo GIL, 1996; DENCKER, 2000). Um levantamento se caracteriza pela interrogação direta das pessoas pesquisadas, às quais o pesquisador solicita informações, analisando-as quantitativamente e procedendo a conclusões; quando abrangem toda a população disponível para pesquisa, chama-se censo - mas, normalmente, procede-se à pesquisa de uma amostra representativa dos indivíduos que compõem a população (GIL, 1996). Os levantamentos têm a vantagem de permitir um conhecimento direto da realidade, pois trabalham com os próprios pesquisados, são econômicos e rápidos e permitem quantificação dos dados, mas se baseiam na percepção, não permitem maior profundidade de estudo e permitem uma percepção limitada de processos de mudanças, sendo mais adequados para estudos descritivos, tendo pouca utilidade para os explicativos (GIL, 1996). Dencker (2000) observa: um levantamento é como uma fotografia, uma visão estática do momento pesquisado. Cresswell (2007) associa o levantamento à pesquisa quantitativa. Para este autor, um projeto de levantamento dá uma descrição quantitativa ou numérica de tendências, atitudes ou opiniões de uma população ao estudar uma amostra dela. A partir dos resultados da amostragem, o pesquisador generaliza ou faz conclusões acerca da população. (2007, p. 161-162). Os levantamentos, como se pode observar, trabalham com várias das classificações que foram apresentadas acima, e por isso não se recomenda utilizá-lo como uma das classes de pesquisa aplicáveis aos trabalhos de estágio. 96 9.4 CONSIDERAÇÕES GERAIS Vistas as principais classes de pesquisa, é mister observar que elas não são estanques, pois pesquisas bibliográficas e levantamentos muitas vezes são feitos em conjunção, no sentido de permitir uma compreensão mais profunda da realidade. O único critério para a escolha do tipo de pesquisa a ser empreendido é o problema, de acordo com os desdobramentos realizados em objetivos geral e específicos. Ou seja, o que vai determinar o tipo de pesquisa é a pergunta que a norteia e, a partir desta, os objetivos que se pretende alcançar. Recomenda-se a leitura de Gil (1996) para maior aprofundamento da classificação quanto aos meios, e de Roesch (1999) para um tratamento mais amplo dos estudos de caso em Administração. No que diz respeito à classificação dos TCE, o que se recomenda é inicialmente classificar quanto à abordagem, prosseguindo com a classificação quanto aos fins e encerrando com a quanto aos meios. É importante observar que, no que diz respeito à abordagem, apenas uma classificação é possível, enquanto que nas classificações quanto aos meios e aos fins seja possível escolher mais de uma (no caso da classificação quanto aos meios, é visível que o estagiário utilizará mais de uma classificação por vez). Essa forma permitirá uma visão mais completa do trabalho e facilitará a compreensão dos seus resultados, quando mensurados contra os objetivos. 97 10 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS – AMOSTRA DE PESQUISA A importância da metodologia, em qualquer trabalho de pesquisa, não pode ser corretamente estimada. Muitos projetos são dificultados por causa de delineamentos inadequados de pesquisa, que dificultam a coleta, a análise e o tratamento dos dados. Esta unidade pretende fornecer indicações para responder às seguintes perguntas: a) Como se fará a pesquisa na empresa? b) Quem será pesquisado? Em primeiro lugar, entende-se por metodologia simplesmente o estudo do método. Este pode ser definido como o "[...] caminho para se chegar a determinado fim." (GIL, 1995, p. 27), ou, mais precisamente, "[...] o conjunto de etapas e processos a serem vencidos ordenadamente na investigação dos atos ou na procura da verdade." (RUIZ, 1995, p. 137). No caso específico das pesquisas acadêmicas e dos relatórios de estágio, adota-se o método científico, que vem a ser "[...] o conjunto de procedimentos intelectuais e técnicos para se atingir o conhecimento." (GIL, 1995, p. 27). O método não é infalível, nem garante um resultado final de qualidade; nas palavras de Ruiz, "o método é um extraordinário instrumento de trabalho que ajuda, mas não substitui por si só o talento do pesquisador." (RUIZ, 1995, p. 137-138). O primeiro aspecto a ser abordado na Metodologia consiste na definição do tipo de trabalho a ser realizado na empresa (ver capítulo 9 deste trabalho). A escolha de um dos diversos tipos será feita a partir do objetivo geral do estágio. Naturalmente, a interação entre a empresa e o acadêmico será essencial para definir o que exatamente será feito durante o estágio. A escolha de um dos tipos de pesquisa deve ser norteada também pelas abordagens de pesquisa (qualitativa e quantitativa), pelas perspectivas temporais (sincrônica e diacrônica), nos casos em que for válido trabalhá-las e pelas classificações quanto aos meios e quanto aos fins. Definido qual será o tipo de pesquisa, é preciso decidir quais serão os instrumentos de coleta de dados, ou seja, quais serão as técnicas adotadas para levantar, junto à organização ou a seu ambiente, as informações necessárias para o atingimento do objetivo geral. Esse assunto será objeto do capítulo 11 desta apostila. No momento, é fundamental definir alguns aspectos em relação à população e à amostra de pesquisa. 98 10.1 POPULAÇÃO DE PESQUISA Em linhas gerais, a população É um conjunto definido de elementos que possuem determinadas características. Comumente fala-se de população como referência ao total de habitantes de um determinado lugar. Todavia, em termos estatísticos, uma população pode ser definida como o conjunto de alunos matriculados numa escola, os operários filiados a um sindicato, todos os integrantes de um rebanho de determinada localidade, o total de indústrias de uma cidade, toda a produção de televisores de uma fábrica etc. (GIL, 1995, p. 91-92). Numa formulação um pouco mais simples, Malhotra (2001, p. 301) conceitua população como “[...] agregado, ou a soma, de todos os elementos que compartilham algumas características comuns.” Rosental e Frémontier-Murphy (2002) afirmam que a população consiste no conjunto sobre o qual incidem as observações, devendo ser definida da forma mais precisa possível. A população, dessa forma, consiste no universo a ser pesquisado, definido a partir do problema, da pergunta, das hipóteses e/ou dos objetivos da pesquisa. Num projeto de estágio, a população vai depender dos objetivos do mesmo. Como Roesch (1999) coloca, o estágio pode se concentrar num departamento de uma empresa (no qual a população seria simplesmente o número de pessoas que trabalham nesse departamento), ou englobá-la totalmente (neste caso, a população seria composta por todos os funcionários da empresa, independentemente do setor aonde trabalham). Em outros casos, o estagiário poderá estar analisando a empresa em sua interação com variáveis do ambiente externo; nesse caso, a população será bastante ampla e exigirá grandes cuidados em termos de definição de quem será pesquisado. Na definição da população, o pesquisador deve ser cuidadoso na definição das características da mesma. Na formulação de Rosental e Frémontier-Murphy (2002), as características são os aspectos distintivos da população como, por exemplo, as faixas etárias, as faixas de renda, a escolaridade, etc. Como essas características variam de um indivíduo para outro, elas também podem ser chamadas variáveis (ROSENTAL; FRÉMONTIERMURPHY, 2002). É importante observar que as características dos indivíduos podem ser tanto qualitativas quanto quantitativas: as primeiras não podem ser medidas em escalas numéricas, como ocorre com as outras (ROSENTAL; FRÉMONTIER-MURPHY, 2002). Assim sendo, no exemplo acima, enquanto faixas etárias e de renda são características qualitativas, a escolaridade é uma característica quantitativa. Observar as características da população é essencial para definir instrumentos de coleta de dados, já que estes poderão ser modificados a partir do que a população de fato apresenta como suas peculiaridades. 99 Dentro das variáveis quantitativas, é possível assumir duas formas diferentes: variáveis contínuas, que podem assumir quaisquer valores numéricos dentro de um intervalo, e variáveis descontínuas, que só podem assumir valores discretos, ou seja, não permitem valores intermediários (ROSENTAL; FRÉMONTIER-MURPHY, 2002). Por exemplo, o número de filhos de um casal não pode ser expresso continuamente (não se pode ter 2,5 filhos!), enquanto que a renda de uma pessoa pode assumir qualquer valor expresso em unidades monetárias: um indivíduo localizado na faixa de renda de R$ 380,00 a R$ 760,00 pode possuir uma renda de R$ 544,36 – diferente, é claro, de uma renda de R$ 545,01. Por sua vez, as características qualitativas podem assumir diversas modalidades diferentes (ROSENTAL; FRÉMONTIER-MURPHY, 2002) – o que vem a ser o equivalente qualitativo dos valores das variáveis quantitativas. Por exemplo, um indivíduo pode assumir qualquer uma das seguintes modalidades dentro da característica geral “emprego”: profissional liberal, comerciante, comerciário, industriário, etc. 10.2 AMOSTRA Por amostra entende-se o Subconjunto do universo ou da população, por meio do qual se estabelecem ou se estimam as características desse universo ou população. Uma amostra pode ser constituída, por exemplo, por cem empregados de uma população de 4000 que trabalham em uma fábrica. Outro exemplo de amostra pode ser dado por determinado número de escolas que integram a rede estadual de ensino. Outros exemplos: uma quantidade definida de peixes retirados de determinado rio, certo número de parafusos retirados do total da produção diária de uma indústria ou um cálice de vinho de um tonel. (GIL, 1995, p. 92). Uma boa amostra obedece a dois critérios essenciais, segundo Cooper, Schindler (2003): acuidade e precisão. O primeiro critério refere-se ao grau em que os vieses ficam de fora da amostra, evitando valores que possam comprometer a qualidade da amostra, enquanto que a precisão admite previamente os erros e falhas da amostragem, definindo assim o chamado erro-padrão de estimativa. Como a amostra consiste num subgrupo da população da pesquisa, é, por conseguinte, essencial que a amostra tenha as características da população, o que torna essencial para o sucesso da pesquisa planejar adequadamente a amostra a ser pesquisada. Este planejamento pode seguir o roteiro apresentado por Malhotra (2001): a) Definição da população: a primeira etapa no processo de definição da amostra é simplesmente a definição da população-alvo do estudo, que é definida como “coleção de elementos ou objetos que possuem a informação procurada pelo pesquisador e sobre as 100 quais devem ser feitas inferências.” (p. 302). A população-alvo é definida a partir de uma série de aspectos: Definição dos elementos: consiste em determinar a fonte de informação (o entrevistado, por exemplo); Definição da unidade amostral: diz respeito à unidade na qual pode ser encontrado o elemento (um departamento da empresa, no qual trabalha o elemento, é um exemplo de unidade amostral); Definição do alcance e do tempo: consiste nas fronteiras geográficas e temporais da unidade amostral (por exemplo, apenas o departamento financeiro das filiais de Santa Catarina da empresa, e somente os profissionais que têm mais de cinco anos de casa). A população da amostra, conforme lembram Cooper, Schindler (2003), deve ser relevante, ou seja, deve ser capaz de fornecer as infromações que o pesquisador deseja obter; b) Determinação da estrutura amostral: a estrutura, ou arcabouço, amostral é uma listagem ou conjunto de instruções que permitem identificar a população-alvo. Assim, a lista telefônica, uma lista de endereços de uma associação comercial, a listagem dos profissionais empregados pela organização (obtida junto ao departamento de Recursos Humanos), constituem exemplos de arcabouços amostrais; c) Escolha da(s) técnica(s) amostral(is): são as decisões a respeito de como será constituída a amostra, verificando se haverá reposição ou não, se será usada a forma probabilística ou não, ou se a amostragem será bayesiana (em que os elementos são selecionados seqüencialmente, a partir de informação prévia sobre parâmetros populacionais, custos e probabilidades, modificando a amostra à medida em que ela é feita) ou tradicional (planeja-se a amostra inteiramente antes de coletar os dados); d) Determinação do tamanho da amostra: consiste na definição do número de elementos a serem incluídos no estudo, e será objeto de maior desenvolvimento no próximo subitem; e) Execução do processo de amostragem: a execução coroa o processo descrito até o momento. Nesta etapa, o pesquisador avalia o planejamento feito e o implementa, efetuando a pesquisa junto aos elementos selecionados, de acordo com a estratégia definida. Nesta fase, o pesquisador pode iniciar o contato com os elementos a serem pesquisados dentro da população, a partir das definições feitas previamente. Por exemplo, suponha uma pesquisa de clima organizacional com os empregados de uma grande empresa comercial, com filiais em todo o estado: 101 População-alvo: todos os empregados com mais de um ano de casa (elemento), no setor de vendas (unidade amostral – o pesquisador irá ligar para as lojas durante o horário comercial), na Grande Florianópolis (alcance), durante o período da pesquisa (tempo); Arcabouço amostral: listagem de empregados fornecida pelo departamento de Recursos Humanos da matriz; Técnica de amostragem: amostragem por conveniência; Tamanho da amostra: 237 vendedores; Execução: a primeira etapa será alocar a amostra entre as lojas. A forma de contato com os vendedores será a discagem para as lojas durante o horário comercial, aleatoriamente. Os vendedores serão chamados um a um, procurando determinar aqueles que estejam disponíveis para atendimento do pesquisador – ou seja, o método será a conveniência em termos de horário. 10.2.1 Tipos de amostragem Há dois tipos de amostragem: probabilística e não-probabilística. A primeira segue as leis da estatística, permite expressão da probabilidade matemática de se encontrar na população as características da amostra (MAY, 2004) e é rigorosamente científica, ao passo que a segunda depende do critério do pesquisador, confiando no julgamento deste para a produção de uma amostra fiel à população (MALHOTRA, 2001). Cada tipo tem suas vantagens e desvantagens: a amostra não-probabilística é mais rápida e mais barata, enquanto que a probabilística confere maior confiabilidade aos resultados obtidos (GIL, 1995), na medida em que, nesta, cada elemento da população possui a mesma probabilidade, previamente conhecida e diferente de zero, de ser incluído na amostra (MALHOTRA, 2001). Um outro aspecto importante refere-se ao fato de que numa amostragem probabilística é possível extrair conclusões que podem ser generalizadas para toda a população – algo que não se pode fazer na não-probabilística (MALHOTRA, 2001; MAY, 2004). Alguns cuidados na definição do tipo de amostra são dadas por Cooper, Schindler (2003): Deve ser impossível modificar a seleção feita previamente (isso é muito importante quando são empregados outros indivíduos para a coleta de dados); Somente os elementos da amostra original podem ser incluídos; 102 Deve ser impossível fazer substituições, a não ser que se prevejam regras claras para as mesmas, e estas sejam obedecidas. O primeiro passo na amostragem probabilística consiste em listar os elementos da população, da forma mais completa possível – o que May (2004) chama “moldura de amostragem”. Dentre os vários tipos de amostragem probabilística, de acordo com Gil (1995) e Malhotra (2001), encontram-se: a) Amostragem aleatória simples: consiste em atribuir um número aleatório para cada membro da população. Dentro da tabela de números obtidos, o acadêmico seleciona alguns números que comporão a amostra, desconhecendo completamente a quem esses números são associados. Segundo Kazmier, isso equivale a escolher a amostra "'tirando os nomes de um chapéu'" (1982, p. 126). Cada elemento tem a mesma probabilidade de ser escolhido para fazer parte da amostra (MALHOTRA, 2001); b) Amostragem sistemática: é uma variação da aleatória simples, que exige que cada elemento da população possa ser identificado de acordo com sua posição - o que só pode ser feito em caso de se poder identificar a posição de cada membro num sistema ordenado, como por exemplo o conjunto de candidatos a um concurso, identificados por fichas de inscrição. Por exemplo, suponha uma amostra de 100 elementos dentro de 10.000 candidatos: aleatoriamente, escolhe-se o número 44, e a partir do intervado amostra, procura-se os candidatos 44, 144, 244, 344 e assim sucessivamente; c) Amostragem estratificada: nessa forma de amostragem, é preciso dividir a população em estratos ou subgrupos (por exemplo, por sexo, faixa etária, classe social, posição hierárquica), para a partir dessa divisão identificar a amostra; dentro de cada estrato, o pesquisador utiliza normalmente a amostragem aleatória simples para selecionar cada elemento (MALHOTRA, 2001). Há duas formas de se efetuar a amostragem estratificada: proporcional, em que se busca uma amostra similar à composição da população (por exemplo, se entre os funcionários do departamento metade são mulheres, uma amostra estratificada por sexo deve ser composta por 50% de mulheres), e não-proporcional, em que não se observa a extensão dos estratos em relação à população; d) Amostragem por conglomerados: em casos nos quais a população é muito extensa, essa forma de amostragem é bastante útil. A primeira etapa consiste em distinguir a população em subpopulações mutuamente excludentes (os conglomerados), selecionando-se estatisticamente, na segunda etapa, os elementos em cada conglomerado. Por exemplo, se o estágio será realizado numa grande empresa, os conglomerados serão os diferentes departamentos, sendo feitas as amostras de cada departamento a partir da própria listagem 103 de pessoas que nele trabalham, não o total da empresa. O modo mais comum de se fazer amostragem por conglomerados é dividindo a população por áreas geográficas, embora também se possa fazer a amostragem a partir do tamanho. A amostragem por conglomerados não deve ser confundida com a estratificada, pois esta divide a população em poucos subgrupos heterogêneos (selecionados por critérios relacionados às variáveis em estudo) com muitos elementos (homogêneos), enquanto que aquela, em muitos subgrupos homogêneos (selecionados a partir da facilidade ou disponibilidade de acesso) com poucos elementos (heterogêneos), sendo que na estratificada os elementos dentro de cada subgrupo são selecionados aleatoriamente e na por conglomerados os subgrupos é que são selecionados aleatoriamente (COOPER; SCHINDLER, 2003). e) Amostragem por etapas: este tipo de amostragem normalmente se aplica aos casos em que a população está muito dispersa em uma grande área. São tomadas amostras aleatórias em subdivisões, para se ter uma amostra geral da população. Por exemplo, o estágio será realizado numa empresa que possui diversas unidades de produção, espalhadas pelo país; o acadêmico poderia tomar amostras de departamentos e níveis hierárquicos em diferentes unidades produtivas, pressupondo-se que cada uma seja representativa do todo (o que nem sempre ocorre na prática). Dentre os tipos de amostragem não-probabilística, ainda de acordo com Gil (1995) e May (2004), encontram-se os seguintes: a) Amostragem por acessibilidade: trata-se do processo menos rigoroso, em que o pesquisador seleciona os elementos simplesmente porque eles são acessíveis, e pressupõe que os mesmos sejam representativos. Esta amostra baseia-se na conveniência do pesquisador – o que nas palavras de Malhotra (2001) significa que o elemento da pesquisa se encontrava na hora certa e no local certo, sendo portanto rápida e barata, conquanto excessivamente limitada; b) Amostragem proposital: a amostra é selecionada de acordo com uma determinada característica, definida previamente pelo pesquisador – por exemplo, os ouvintes de um programa religioso de rádio poderiam ser convidados a telefonar para a estação e dar sua opinião a respeito daquela religião. Não surpreenderia ninguém se essa opinião fosse favorável ao que o apresentador do programa divulgou; c) Amostragem por tipicidade: neste caso, seleciona-se um subgrupo da população, que, de acordo com as informações disponíveis a respeito desta, é representativo da mesma - o que, evidentemente, só será possível por meio de profundo conhecimento da população. Essa forma é definida por Malhotra (2001) como amostragem por julgamento, a partir da 104 ideia de que o pesquisador confia em seu juízo para definir quem será ou não apto a ser pesquisado; d) Amostragem “bola de neve”: é utilizada em casos em que a população se encontra muito distribuída ou é difícil de ser localizada. Encontrando-se um membro da população, pedese a ele que apresente outras pessoas que também façam parte dela, de modo que cada elemento da pesquisa indicará outros elementos, fazendo com que o processo de amostragem; e) Amostragem por cotas: é um processo composto por três etapas: em primeiro lugar, classifica-se a população conforme as propriedades consideradas relevantes para o fenômeno a ser estudado; o segundo passo consiste em determinar qual é a proporção da população a ser colocada em cada classe; finalmente, fixa-se uma cota proporcional à população para cada pesquisador. Esse tipo de amostragem exige que o pesquisador conheça de antemão as características da população. 10.2.2 Cálculo da amostra Qualquer que seja a forma utilizada para selecionar os elementos da amostra, é preciso tomar cuidado com uma série de aspectos em relação à determinação do tamanho da amostra. É preciso que esta seja fidedigna, isto é, que seja composta por um número suficientemente grande de elementos, número este que será determinado pelas dimensões do universo de pesquisa, o nível de confiança, o erro máximo permitido e a porcentagem com a qual o fenômeno a ser pesquisado se verifica (GIL, 1995). De acordo com Cooper, Schindler (2003), alguns princípios influenciam e ajudam a definir o tamanho da amostra: Quanto maior a dispersão ou as variáveis da população, maior deve ser a amostra; Quanto maior a precisão desejada, maior a amostra; Quanto menor a amplitude de intervalo, maior a amostra; Quanto maior o nível de confiança na estimativa, maior a amostra; Quanto maior o número de subgrupos de interesse na população, maior a amostra; Se o tamanho da amostra for maior do que 5% da população, ele poderá ser reduzido sem que isso implique em perda de precisão. As dimensões do universo seguem uma regra simples: acima de 100.000 elementos, o universo é considerado infinito, abaixo deste número, finito; estatisticamente falando, acima de 100.000 elementos, o número de elementos que compõem a amostra será sempre o mesmo 105 (GIL, 1995). O nível de confiança, por sua vez, é estimado a partir da distribuição normal, e se expressa de acordo com o número de desvios-padrão em relação à média: um desvio para um nível de confiança de aproximadamente 68%, dois desvios para um nível de 95,5%, três desvios para um nível de 99,7% (GIL, 1995). Quanto ao erro, normalmente se trabalha com estimativas de 3 a 5 % (GIL, 1995). Por fim, a porcentagem com que o fenômeno se verifica refere-se a uma estimativa prévia sobre como o fenômeno ocorre na população. O exemplo a seguir permitirá calcular o número de elementos de uma amostra. EXEMPLO: Considere a situação em que uma empresa com 500 empregados deseja reduzir o nível de absenteísmo dos funcionários. Pesquisas prévias indicaram que cerca de 10% dos funcionários faltam ao trabalho, mas não determinaram as causas do absenteísmo. Você decidiu pesquisar as razões mais comuns para as faltas, e, para tanto, estimou um nível de confiança de cerca de 95%, e um erro máximo tolerado de 3%. Dessa forma: n = tamanho da amostra 2 = nível de confiança escolhido, em número de desvios-padrão (2) p = porcentagem com a qual o fenômeno se verifica (10) q = porcentagem complementar (90) N = tamanho da população (500) e2 = erro máximo permitido (3) A fórmula utilizada para o cálculo é a seguinte: n= 2 .p.q.N e2.(N-1) + 2.p.q Substituindo-se os números na fórmula, tem-se: n= 22.10.90.500_____ = 222,47 3 .(500-1) + 22.10.90 2 No caso supracitado, o estagiário teria que pesquisar aproximadamente 223 funcionários para poder determinar quais seriam as principais causas do absenteísmo entre o corpo funcional da empresa - um número bastante alto, mas que naturalmente seria reduzido ao se reduzir o grau de confiança e aumentar o erro máximo permitido (por exemplo, um aumento do erro para 5% levaria o acadêmico a pesquisar 112 pessoas). No exemplo acima, existe uma pesquisa prévia que permite indicar as Frequências p e q. Se essa pesquisa não estivesse disponível, o pesquisador não teria como determiná-las com precisão. Numa situação dessas, normalmente se adota a perspectiva de que p e q são 106 idênticas, ou seja, cada uma teria o valor de 50%. Substituindo esses valores na fórmula, temse: n= 22.50.50.500_____ = 345,02 32.(500-1) + 22.50.50 Portanto, o desconhecimento da Frequência exigiria a pesquisa com 345 pessoas. Considerando-se um erro de 5% em vez dos 3% calculados, o pesquisador se obrigaria a trabalhar com aproximadamente 223 pessoas. 107 11 TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS Em primeiro lugar, é preciso lembrar que método e técnica designam realidades diferentes. Nas palavras de Ruiz: [...] reserva-se a palavra método para significar o traçado das etapas fundamentais da pesquisa, enquanto a palavra técnica significa os diversos procedimentos ou a utilização de diversos recursos peculiares a cada objeto de pesquisa, dentro das diversas etapas do método. Diríamos que a técnica é a instrumentação específica da ação, e que o método é mais geral, mais amplo, menos específico. (RUIZ, 1995, p. 138, grifos do autor). Soriano (2004) afirma que o método representa como se pesquisa, enquanto que a técnica representa por meio de que se pesquisa. O autor mexicano ainda acrescenta um terceiro elemento, o instrumento de pesquisa, que seria o meio físico para se pesquisar (como por exemplo um guia de observação ou um roteiro de entrevista), Um segundo conceito importante refere-se ao próprio dado. Segundo Triviños, dado significa "[...] todo tipo de informações que o pesquisador reúne e analisa para estudar determinado fenômeno social." (1995, p. 141). Ou seja, o dado é a unidade básica do conhecimento a ser pesquisado, podendo ser considerado sinônimo de material de pesquisa; é a partir dos dados que o pesquisador pode construir as informações que formam o conhecimento. Quanto à classificação dos dados, tem-se: a) Dados primários são trabalhos originais de pesquisa ou dados brutos, sem interpretação ou pronunciamentos, que representam uma opinião ou posição oficial; b) Dados secundários são interpretações de dados primários. [...] Quase todos os materiais de referência entram nessa categoria; c) Dados terciários podem ser a interpretação de uma fonte secundária, mas geralmente são representados por índices, bibliografias e outros auxiliares de busca. (COOPER; SCHINDLER, 2003, p. 223). Malhotra (2001) prefere distinguir os dados primários dos secundários por meio do responsável pela coleta, indicando que aqueles são recolhidos pelo pesquisador tendo por base seus próprios objetivos de pesquisa, enquanto que estes foram coletados por outras pessoas com objetivos diferentes. Segundo Robert Yin (1984), existem seis fontes de evidências que permitem a realização de pesquisas: documentação escrita, arquivos, entrevistas, observação direta, observação participante, e artefatos físicos. Essas seis fontes permitem coletar dados para a realização de pesquisas de variados tipos. Yin (1984) também chama a atenção para um princípio importante: em coleta de dados, o pesquisador nunca deve confiar em apenas uma técnica de levantamento de dados, utilizando fontes múltiplas. Na verdade, a esmagadora maioria dos trabalhos de pesquisa realizados em Administração consiste no uso de dados 108 obtidos por meio de documentos escritos (relatórios, contratos, documentação interna) e diretamente junto às pessoas que trabalham na organização (por meio de entrevistas e questionários). Muitas vezes, o pesquisador participa diretamente da realidade organizacional, observando-a cuidadosamente. Quanto às fontes de informação documentais e bibliográficas, Cooper, Schindler (2003) propõem alguns critérios para sua avaliação, definindo se são úteis para o propósito do pesquisador ou não: a) Objetivo: diz respeito à intenção do autor quando da preparação do documento (informar, entreter, etc.); b) Escopo: consiste em dimensões como a data da fonte, o período de tempo coberto por ela, a profundidade do tratamento, em suma, define se a fonte apresenta informações completas ou somente o essencial; c) Confiabilidade: credenciais do autor, bibliografia pesquisada por ele, notas de rodapé, editora; d) Público-alvo: determinar para quem a fonte foi escrita é importante, pois, se a obra foi preparada tendo em mente os especialistas, o autor terá sido muito mais cuidadoso em termos de seu tratamento; e) Formato: refere-se à forma geral pela qual é apresentada a informação, e à facilidade com que se consegue obtê-la. Martins (2006) propõe um procedimento para a definição dos instrumentos de coleta de dados: a) Em primeiro lugar, o pesquisador deve preparar uma lista das variáveis que pretende pesquisar; b) Em seguida, deve ser feita a revisão dos conceitos e dos significados de cada uma dessas variáveis; c) A terceira etapa refere-se a revisar operacionalmente as variáveis, ou seja, definir quais são os instrumentos de medição e descrição das variáveis; d) Finalmente, escolhe-se uma técnica e define-se o instrumento de coleta. Nesta Unidade, a atenção será voltada para a definição de algumas das principais técnicas de pesquisa que podem ser utilizados pelo estagiário na realização de seu trabalho; duas delas (entrevista e questionário) pressupõem uma interação direta entre o estagiário e os funcionários da empresa aonde ele está realizando seu trabalho. No caso da primeira técnica (observação), o estagiário pode não participar diretamente das atividades (embora tenha que 109 interagir com os funcionários) e, no da terceira (pesquisa documental), pressupõe-se a existência de documentação na empresa, disponível para pesquisa. 11.1 OBSERVAÇÃO Esta técnica consiste simplesmente no uso dos sentidos para aquisição de conhecimento científico, desde que sirva a um objetivo de pesquisa previamente formulado, tenha sido sistematicamente planejada e registrada, esteja associada a proposições gerais e seja submetida a controles de validade e precisão (SELLTIZ et al. apud GIL, 1995), além de gerar informações confiáveis e válidas a respeito do que ocorreu (COOPER; SCHINDLER, 2003). Yin (1984) afirma que, se o fenômeno de interesse do pesquisador não for puramente histórico, comportamentos relevantes e condições ambientais estarão disponíveis para a observação. Uma definição mais completa de observação é dada por Triviños (1995, p. 153), para quem [...] 'observar', naturalmente, não é simplesmente olhar. Observar é destacar de um conjunto (objetos, pessoas, animais etc.) algo especificamente, prestando, por exemplo, atenção em suas características (cor, tamanho etc.). Observar um 'fenômeno social' significa, em primeiro lugar, que determinado evento social, simples ou complexo, tenha sido abstratamente separado de seu contexto para que, em sua dimensão singular, seja estudado em seus atos, atividades, significados, relações, etc. Conforme Gil (1995), como principal vantagem, a observação apresenta o fato de que o próprio pesquisador percebe diretamente os fatos, sem necessidade de intermediários, o que reduz a subjetividade na compreensão dos mesmos; por outro lado, a presença de um pesquisador pode provocar mudanças no comportamento das pessoas, diminuindo as possibilidades de realismo. Outra desvantagem, destacada por Yin (1984), também é relevante: se o fenômeno a ser pesquisado possui uma base histórica, dificilmente a observação pode ser realizada com sucesso. De qualquer forma, pode-se afirmar que, para o estagiário em Administração, dificilmente será possível realizar um trabalho que prescinda inteiramente da observação. Apesar dessas desvantagens, pode-se afirmar que nenhum processo de estágio prescinde da observação como técnica de coleta de dados, até porque o estagiário irá se envolver de alguma forma na realidade em estudo, seja como um simples espectador, seja como uma parte dos trabalhadores envolvidos. Mas é preciso lembrar que, em hipótese alguma, o estagiário pode confiar exclusivamente na observação como instrumento de coleta 110 de dados, devendo complementá-la com outras técnicas como o questionário e a entrevista (inclusive para poder ter uma melhor percepção de como os integrantes da organização encaram os processos que estão sendo estudados no estágio). Observar, nota Soriano (2004), é uma capacidade inata do ser humano, mas observar cientificamente exige um roteiro ou guia previamente definido que permita ao observador concentrar sua atenção num fim determinado – e isso exige o conhecimento das regras científicas. A observação, enquanto técnica de pesquisa, é influenciada por uma série de fatores, mas provavelmente o mais importante diz respeito à relação a ser estabelecida entre o observador e o observado. De acordo com Cooper, Schindler (2003), devem ser considerados aspectos referentes à categorização da observação como direta (com a presença do pesquisador) ou indireta (feita por meios mecânicos, como filmagens e fotografias), o conhecimento, por parte dos indivíduos pesquisados, da presença do pesquisador (muitas vezes, para poder obter dados fidedignos, o pesquisador é obrigado a disfarçar sua presença) e a participação, ou não, do pesquisador na realidade pesquisada (este último aspecto será mais detalhado adiante, na subseção a respeito de observação participante). Há muitas classificações da observação, baseadas em diferentes critérios. Cooper, Schindler (2003) dividem as observações em comportamentais, voltadas para a análise de comportamentos animais ou humanos (subdivididas, por sua vez, nas análises não-verbal, lingüística, não-lingüística e espacial), e não-comportamentais, que analisam apenas as estruturas, os dados e os processos ou atividades, subdividindo-se em análises de registro, de condições físicas e de processos de atividades. Embora esses dois últimos possam ser de fato considerados estudos observacionais, o primeiro pode ser melhor considerado como sendo uma análise documental. As análises de condições físicas são exemplificadas pelas auditorias de disponibilidade de produtos, pelos estudos de condições de segurança e análises de estoques, enquanto que as análises de processos abrangem os estudos de tempos e movimentos, os fluxos financeiros e bancários, o fluxo dos documentos em um escritório, etc. (COOPER; SCHINDLER, 2003). A classificação dos estudos observacionais fornecida por Gil (1995) é uma das mais interessantes, abrangendo três tipos (observação simples, participante e sistemática). É esta classificação que será detalhada a seguir. 111 11.1.1 Observação simples É a técnica de observação “[...] em que o pesquisador, permanecendo alheio à comunidade, grupo ou situação que pretende estudar, observa de maneira espontânea os fatos que aí ocorrem. Neste procedimento, o pesquisador é muito mais um espectador que um ator.” (GIL, 1995, p. 105). Essa técnica não prescinde de planejamento cuidadoso e da definição dos objetivos da pesquisa, e é bastante adequada para casos em que os fatos são de conhecimento público. Segundo Selltiz et al. (apud GIL, 1995), é preciso definir os sujeitos (os participantes da pesquisa), o cenário (aonde as pessoas se situam em termos de local), e o comportamento social (o que realmente ocorre em termos sociais nesse local). Em suma, o planejamento da observação reduz-se ao mínimo possível. Soriano (2004) chama esta técnica de observação ordinária, definindo-a como técnica em que o observador está fora do grupo observado, servindo em primeiro lugar para verificar hipóteses e definir técnicas de coleta de dados e, em segundo lugar, para verificar hipóteses e preparar para uma observação melhor planejada. É útil quando é difícil obter acesso ao grupo social pesquisado, mas apresenta como desvantagem a própria limitação do observador, que é incapaz de acompanhar todos os fenômenos que se verificam (SORIANO, 2004). Para Cooper, Schindler (2003), a observação simples faz parte de praticamente todos os estudos de pesquisa, sendo realizada no próprio ambiente a ser pesquisado, e não exige padronização de seus procedimentos, devendo ser considerada como uma fase exploratória, de descoberta e acumulação de conhecimentos. 11.1.2 Observação participante Consiste numa observação ativa, baseada na participação real do observador na vida da comunidade, grupo, ou situação determinada, em que o observador se torna um membro ativo do grupo, envolvido em suas práticas diárias. Em pesquisas que buscam compreender a dinâmica de uma interação social ou rotinas cotidianas, ela é de extrema importância. Em termos conceituais, observação participante é o Processo no qual um investigador estabelece um relacionamento multilateral e de prazo relativamente longo com uma associação humana na sua situação natural com o propósito de desenvolver um entendimento científico daquela associação. (LOFLAND; LOFLAND apud MAY, 2004, p. 177). A observação participante, portanto, pressupõe um relacionamento do observador com o grupo social, tornando o primeiro uma parte ativa do segundo, participando de suas 112 manifestações sociais e interagindo com o segundo: “[...] o pesquisador age com naturalidade dentro do grupo, incorporando-se plenamente às atividades que desenvolvem seus integrantes.” (SORIANO, 2004, p. 147). Segundo Gil (1995), há duas formas de observação participante: a natural, em que o observador pertence à comunidade em que será feita a pesquisa, e a artificial, na qual o observador se integra à comunidade para realizar seu estudo; neste último caso, há situações em que o observador precisa se “disfarçar”, sem revelar sua condição de pesquisador. Em qualquer dos casos, no entanto, observa-se que a presença de uma pessoa estranha ao grupo acaba conduzindo a barreiras sociais que reduzem e limitam a qualidade das informações colhidas. A observação participante distancia-se profundamente do positivismo, na medida em que os pesquisadores, em vez de assumirem uma postura neutra e distante do objeto de pesquisa, envolvem-se diretamente com ele. O problema maior que se pode observar na observação diz respeito à objetividade do pesquisador (SORIANO, 2004), quando ele está inserido num grupo social; a participação no grupo pode fazer com que o pesquisador tome partido previamente, e chegue a conclusões favoráveis ou desfavoráveis a este. De qualquer forma, é preciso ter bem claro que a ideologia desempenha papel importante na observação participante, reduzindo a objetividade da mesma (SORIANO, 2004). Como técnica de pesquisa, ela apresenta algumas vantagens: a) É pouco provável que o pesquisador tente impor suas próprias realidades ao mundo social que está pesquisando; b) Permite entender melhor as ações e mudanças dos pesquisados; c) Permite ao pesquisador compreender melhor o universo cultural e a linguagem dos pesquisados (MAY, 2004). Por outro lado, o método também tem seus defeitos: a) O pesquisador pode ser obrigado a ficar muito tempo em um contexto com o qual está pouco ou nada familiarizado; b) Obriga o pesquisador a manter relacionamento com pessoas com as quais pode não ter nenhuma afinidade; c) Obriga a manter grande número de anotações (pois normalmente se anota tudo o que se observa, mesmo o que pode ser um acontecimento absolutamente normal), algumas das quais não têm utilidade nenhuma ao pesquisador; d) O pesquisador pode correr alguns riscos em seu trabalho de campo; 113 e) As análises do material coletado podem ser muito demoradas devido ao grande volume de informações e dados coletados junto aos pesquisados (MAY, 2004). 11.1.3 Observação sistemática/estruturada Nesta técnica, o observador tem um conhecimento prévio a respeito dos fatos ou fenômenos que, dentro do grupo ou comunidade, são relevantes para seus objetivos definidos; trata-se de um quase-experimento, uma vez que o trabalho do pesquisador consiste basicamente em testar hipóteses a respeito do grupo ou comunidade. Inicialmente, o pesquisador planeja a coleta de dados, e estabelece categorias de análise em relação às práticas que pretende observar (interessados podem consultar a Tabela de Bales, reproduzida em GIL, 1995, p. 110). É preciso considerar que a relação entre o observador e os membros do grupo a ser observado precisa ser cuidadosamente planejada, pois não é possível ao pesquisador “esconder-se” entre os pesquisados. O pesquisador que planeja realizar uma observação sistemática precisa planejar de antemão a forma pela qual irá coletar os dados, devendo também definir com precisão as categorias analíticas e os meios ou instrumentos para registro dos dados (COOPER; SCHINDLER, 2003). Há graus diferentes de estruturação para a observação sistemática, sendo que uma observação inteiramente estruturada só seria possível em condições de laboratório 11.1.4 Roteiro de observação: Uma proposta Caplow (apud SORIANO, 2004) propõe que um roteiro de observação seja baseado nos seguintes critérios: I. Normas de observação: a) Familiarização com os objetivos; b) Pré-teste das técnicas de observação e anotação; c) Elaboração de uma lista de controle de elementos a serem observados. II. Procedimento: a) Anotação das observações em campo sempre que possível; b) Observações anotadas no dia seguinte ao fenômeno devem ser desprezadas; c) Não se deve limitar o tempo das anotações; d) O observador deve anotar seus próprios atos. III. Conteúdo: 114 a) As notas devem incluir data, hora e duração da observação, local, circunstâncias, pessoas presentes, função do observador, aparelhos e equipamentos utilizados, condições ambientais e eventuais modificações no ambiente; b) Opiniões, ilações ou observações sobre o caráter e a personalidade dos observados devem ser omitidas; c) Transcrição literal das conversas e diálogos mantidos; d) Opiniões e ilações devem ser anotadas regularmente e em separado. IV. Ordenamento: a) As notas devem ser revisadas sempre que possível; b) Deve ser criado um sistema de classificação das notas. Spradley (apud FLICK, 2004) propõe um conjunto de dimensões que podem ser utilizadas nos estudos observacionais: a) Espaço: local/locais físico(s); b) Ator: pessoas envolvidas; c) Objeto: coisas físicas presentes; d) Ato: ações individuais executadas pelas pessoas; e) Atividade: conjunto de atos executados pelas pessoas; f) Evento: conjunto de atividades relacionadas, executadas pelas pessoas; g) Tempo: seqüenciamento temporal da observação; h) Metas: coisas que as pessoas tentam alcançar; i) Sentimentos: emoções sentidas e expressadas. 11.2 ENTREVISTA Entende-se por entrevista “[...] uma conversa entre duas pessoas com o propósito de alcançar um objetivo.” (FLETCHER, s. d., p. 7).Ou, de forma um pouco mais precisa, Pode-se definir entrevista como a técnica em que o investigador se apresenta frente ao investigado e lhe formula perguntas, com o objetivo de obtenção dos dados que interessam à investigação. A entrevista é, portanto, uma forma de interação social. Mais especificamente, é uma forma de diálogo assimétrico, em que uma das partes busca coletar dados e a outra se apresenta como uma fonte de informação. (GIL, 1995, p. 113). Cooper, Schindler (2003) destacam que as diferenças entre o entrevistador e o entrevistado são muito grandes: o entrevistador tem controle sobre o assunto e o tipo de discussão e deve obter benefícios com o processo (em termos de conhecimento), ao passo que 115 o entrevistado está em uma situação passiva, cabendo-lhe exclusivamente responder aos questionamentos levantados. Dentro das ciências sociais, a entrevista é uma das técnicas mais utilizadas para a coleta de dados, fornecendo informações a respeito dos conhecimentos, sentimentos, desejos, pretensões e ações das pessoas, permitindo ainda levantar dados a respeito das razões pelas quais as coisas foram feitas (SELLTIZ et al. apud GIL, 1995); as entrevistas permitem compreender a biografia de uma pessoa, suas experiências, opiniões, valores, aspirações, sentimentos e atitudes (MAY, 2004). Isso levanta um aspecto mencionado por Fletcher, de que a entrevista precisa ter um propósito definido, ou não passará de uma simples conversa entre pessoas; ele recomenda: “se você tiver de planejar e/ou conduzir uma entrevista, comece pensando no objetivo final.” (FLETCHER, s. d., p. 8). De acordo com Roesch (1999, p. 141), a entrevista possui uma série de vantagens: - os entrevistadores podem dar uma explicação mais convincente [...] sobre os objetivos da pesquisa; - atingem com mais facilidade respondentes com nível mais baixo de educação; - ajudam aquele que têm dificuldade de leitura a responder ao questionário; - oferecem explicações padronizadas para certos problemas que surgem; - impedem equívocos; e mantêm controle sobre a seqüência das questões. Dencker (2000) destaca que a entrevista permite maior flexibilidade na elaboração das questões e consegue maior sinceridade por parte do respondente, mas, por outro lado, é mais dispendiosa, exige maior habilidade por parte do pesquisador em sua aplicação, pode apresentar dificuldades de comparação (justamente devido à flexibilidade), e o respondente tem menor confiança na proteção do anonimato. De forma geral, pode-se dizer que a grande desvantagem da entrevista reside na necessidade de maior preparação e habilidade por parte do pesquisador em sua elaboração e aplicação. Cooper, Schindler (2003) dão maior destaque para a questão dos custos, se houver necessidade de cobrir uma área geográfica ampla ou houver exigências elevadas em termos de amostragem. Na Administração de Empresas, a entrevista é utilizada numa série de situações, desde a seleção de funcionários até seu desligamento final. Para um estagiário em Administração, a entrevista é praticamente uma necessidade, pois muitos dos dados exigidos pelo trabalho deverão ser levantados por meio de conversas com os funcionários. As entrevistas se classificam podem ser classificadas em diversos grupos (GIL,1995; MAY, 2004): a) Entrevista informal: é a entrevista menos estruturada possível, em que o entrevistador tem apenas o objetivo básico da pesquisa em sua mente, buscando obter a visão geral do entrevistado sobre o assunto; 116 b) Entrevista focalizada: também se trata de uma técnica pouco estruturada, mas, além de ter um objetivo de pesquisa, o entrevistador focaliza a conversa em um determinado assunto, procurando manter-se na rota mesmo quando o entrevistado se desvia. É muito útil em casos em que se procura explorar com maior profundidade as experiências de alguém em relação a um determinado fato ou fenômeno. Ela possui caráter aberto e permite ao entrevistado responder tendo em mente seu próprio quadro de referência. De acordo com May (2004), essa técnica inclui as entrevistas biográficas ou de história de vida; c) Entrevista por pautas: o entrevistador prepara uma pauta de assuntos com antecedência, fazendo umas poucas perguntas diretamente e concentrando-se no que o entrevistado vai falando, para explorar os assuntos à medida em que surgem. Apesar de ser mais formalizada que as anteriores, a entrevista por pautas não pode ser considerada inteiramente estruturada; d) Entrevista estruturada: neste caso, o entrevistador prepara com antecedência uma relação de perguntas (um questionário), mantida fixa e invariável independentemente de quem quer que esteja sendo entrevistado. Normalmente é utilizada quando há um grande número de entrevistados, para facilitar a tabulação dos dados. Utilizam-se perguntas abertas, em que se admite ampla variedade de respostas, ou perguntas fechadas, nas quais o entrevistador apresenta uma série de opções para o entrevistado. Neste tipo de entrevista, pressupõe-se que a repetição das mesmas perguntas produzam diferenças baseadas não na situação da entrevista, mas na pessoa entrevistada, cabendo ao entrevistador somente apresentar as perguntas, sem se envolver de modo algum com o entrevistado (a posição de “neutralidade” definida por May, 2004). Como as entrevistas são uniformizadas, o resultado desta técnica é maior facilidade de comparação entre as diferentes entrevistas; e) Entrevista em grupo: refere-se à técnica em que o entrevistador prepara um grupo que será entrevistado simultaneamente. Esse grupo pode assumir o formato de grupo focal (focus group, a ser abordado com mais profundidade no decorrer desta unidade), em que se encoraja a discussão entr os seus integrantes. O grupo deve ser grande o bastante para que se possa obter dados e informações úteis, mas também precisa ser suficientemente pequeno para que o entrevistador possa estudar seu comportamento e todos tenham chance de participar e contribuir. As entrevistas de grupo permitem “[...] uma compreensão valiosa tanto das relações sociais em geral como do exame dos processoes e das dinâmicas sociais em particular.” (MAY, 2004, p. 152); 117 e) Entrevista semi-estruturada; neste caso, o entrevistador prepara uma lista padronizada de perguntas, mas acrescenta, em cada entrevista que conduzir, perguntas adicionais que porventura permitam maior atingimento dos objetivos, de acordo com os comentários e as respostas do entrevistado, dando maior liberdade e flexibilidade para o entrevistador, que poderá buscar maior esclarecimento junto ao entrevistado ou sondar suas respostas (MAY, 2004). De maneira mais precisa: Podemos entender por entrevista semi-estruturada, em geral, aquela que parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses, que interessam à pesquisa, e que, em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se recebem as respostas do informante. Desta maneira, o informante, seguindo espontaneamente a linha de seu pensamento e de suas experiências dentro do foco principal colocado pelo investigador, começa a participar na elaboração do conteúdo da entrevista. (TRIVIÑOS, 1995, p. 146, grifos do autor). Dencker (2000) recomenda: numa entrevista semi-estruturada, o entrevistador deve permitir que o entrevistado fale livremente sobre o assunto, podendo incluir questões à medida que este aborde assuntos importantes para os objetivos da mesma. Hair Jr. et al. (2005) observam que, com a popularização dos computadores, as entrevistas podem assumir a forma de diálogos on-line, utilizando softwares de sistemas de grupos, permitindo coleta e análise de dados praticamente instantâneas. Este sistema de entrevista perfila-se ao lado das entrevistas por telefone, embora permitam superar, através do uso de webcams, um dos maiores problemas destas, que é a ausência de contato visual entre o pesquisador e o pesquisado. Algumas dicas para a preparação da entrevista são dadas por Fletcher (s.d.), das quais selecionou-se as mais relevantes: a) Defina com clareza o propósito exato da entrevista; b) Antes de entrevistar quem quer que seja, realize algumas atividades prévias: reuna informações e fatos que auxiliem na condução da entrevista, avise o entrevistado com antecedência, reserve um local adequado (em que você tiver privacidade e não seja interrompido), faça uma lista dos pontos a serem discutidos, prepare o material a ser utilizado e procure antecipar problemas que venham a afetar a condução da entrevista; c) Planeje o tempo, reservando horários para a entrevista, evitando marcá-la em horários que venham a interromper o trabalho do entrevistado – e mantenha um relógio por perto quando estiver entrevistando alguém; d) Faça seu “rascunho” da entrevista, definindo os comentários e perguntas que você venha a fazer, tentando antecipar reuniões, calculando o tempo da entrevista e determinando como será o relatório final de sua entrevista; 118 e) Avise aos superiores que estará realizando entrevistas naquele horário e local. Esses cuidados devem ser complementados pelos seguintes aspectos, levantados por Gil (1995): a) Antes de tudo o mais, é preciso estabelecer um contato inicial com o(s) entrevistado(s), procurando ser bem aceito por ele(s). Avisar com antecedência é essencial, mas também é preciso “quebrar o gelo” com o entrevistado, o que se consegue normalmente a partir de conversa informal sobre algum tema que possa interessá-lo; também é essencial criar uma atmosfera de cordialidade, evitando coagir ou intimidar o entrevistado. Também é conveniente garantir a confidencialidade das informações, preservando o anonimato do entrevistado; b) Feito isso, alguns cuidados devem ser feitos na formulação das perguntas ao entrevistado. Um planejamento prévio já deve ter sido feito, mas sempre é importante saber o momento certo de formular uma determinada pergunta, evitando alguns aspectos, tais como sobrecarregar o entrevistado com muitas questões, induzir suas respostas e criar sentimentos negativos ou de recusa a responder; c) Durante os questionamentos, o entrevistador deve estimular o entrevistado a fornecer respostas claras e completas, mas também deve ter o cuidado de evitar induzi-lo a qualquer coisa; d) É essencial dispor de algum meio de registro das respostas. Muitas vezes, a entrevista aborda temas e assuntos delicados, os quais as pessoas não se sentem muito à vontade em responder, mas é preciso cuidar de registrar com fidelidade as respostas dadas. É conveniente mostrar ao entrevistado que suas respostas estão sendo registradas em fita ou papel, e frisar que sua identidade será preservada. Deve-se evitar ao máximo parafrasear ou distorcer as respostas dadas; e) Ao concluir a entrevista, é conveniente “deixar a porta aberta”, isto é, provocar o interesse do entrevistado em fornecer mais dados, se isso for necessário. Em relação ao ponto observado em “d”, recomenda-se apresentar ao entrevistado a transcrição das respostas dadas, solicitando ao mesmo que corrija eventuais imprecisões na mesma. Ao fazê-lo, o entrevistado às vezes se anima a acrescentar informações a respeito do assunto, tornando essa revisão ainda mais preciosa para o pesquisador. Deve-se ter o cuidado de não mostrar o material aos superiores ou colegas dos entrevistados, para evitar constrangimentos. Em termos de cuidados específicos junto aos entrevistados, convém mencionar que é preciso deixar bem claro ao entrevistado que a experiência deverá ser-lhe satisfatória, que se 119 trata de alguma coisa importante (e não uma simples perda de tempo) e que o entrevistador é uma pessoa digna de confiança (COOPER; SCHINDLER, 2003). Um ponto importantíssimo a ser mencionado: é preciso fazer um pré-teste, ou seja, entrevistar um pequeno grupo de pessoas (voluntárias ou indicadas pelos responsáveis pelo andamento da pesquisa) e medir os resultados desse teste; o número de pessoas com as quais será aplicado o pré-teste deve ser estimado a partir do tamanho da amostra ou da população pesquisada, mas não existe nenhum padrão ou dimensionamento previamente definido. O préteste, menciona Gil (1996, p. 95), [...] não visa captar qualquer dos aspectos que constituem os objetivos do levantamento. Não pode trazer nenhum resultado referente a esses objetivos. Ele está centrado na avaliação dos instrumentos enquanto tais, visando garantir que meçam exatamente aquilo que pretendem medir. O pré-teste visa avaliar: a) Clareza e precisão dos termos; b) Quantidade de perguntas; c) Forma das perguntas; d) Ordem das perguntas; e) Introdução da entrevista. A partir desses resultados, o pesquisador deve acrescentar, retirar ou reformular as perguntas, ou mesmo mudar de estratégia (de uma entrevista informal para uma estruturada, por exemplo), de forma que, ao ser conduzido o processo de entrevista da amostra previamente definida, já se tenha uma indicação mais precisa da confiabilidade do instrumento utilizado. No caso da entrevista, deve-se procurar escolher como amostra indivíduos representativos, a par da pesquisa que está sendo realizada e de seus objetivos (GIL, 1996). É também importante trabalhar a questão da preparação de entrevistador e entrevistado. Segundo Bergamini, Beraldo (1988), a pessoa bem entrevistada é aquela em que, no processo de entrevista, sente-se fisicamente bem, não está submetida a uma situação que lhe provoca ansiedade e possui algum interesse na entrevista. O bom entrevistador, por sua vez, preparou todos os aspectos físicos da entrevista (local, material, entrevistados que contribuem para o objetivo), está à vontade (e sabe colocar o entrevistado numa situação confortável) e preparou as técnicas da melhor forma possível (BERGAMINI; BERALDO, 1988). O clima deve ser de confiança entre o entrevistador e o entrevistado. Algumas dicas para melhorar o relacionamento entre eles são dadas por Cooper, Schindler (2003), a partir do 120 que se chama técnica de confirmação: é preciso deixar claro, o tempo todo, que o entrevistador está interessado nas informações prestadas pelo entrevistado (o que se consegue por meio de pequenas interjeições e demonstrações de interesse), fazer pausas de expectativa e demonstrações de que se está esperando maior desenvolvimento da resposta, repetir a pergunta quando o entrevistado demonstra não ter compreendido, repetir a resposta para confirmar o que se ouviu, fazer perguntas ou comentários neutros, pedir maiores esclarecimentos. Tudo isso deve garantir que a entrevista seja conduzida de tal forma que cada entrevistado compreenda da mesma forma a pergunta que lhe for formulada, e simultaneamente evitar conduzir a entrevista de forma que se induza o entrevistado a alguma resposta (ROESCH, 1999). Dessa maneira, pode-se afirmar que a entrevista deve ser uma só; os entrevistados é que mudam. Esse cuidado na uniformização auxiliará bastante no tratamento dos dados obtidos com a entrevista, e reafirma a importância do pré-teste. 11.2.1 O Focus Group O focus group é uma técnica utilizada por muitos pesquisadores com sucesso, e consiste em entrevistas em profundidade com um grupo de pessoas a respeito de um assunto específico (MARTINS, 2006). Em vez de entrevistar os elementos da população individualmente, o pesquisador os reúne em um grupo e procede a uma entrevista com todos simultaneamente, de modo que as respostas dadas pelo indivíduo acabam, de uma forma ou de outra, influenciando as de outras pessoas). O pesquisador assume o papel de moderador da pesquisa, apresentando perguntas e mediando a interação entre os componentes do grupo. Martins (2006) apresenta uma série de recomendações para a construção de pesquisa por meio de focus groups: a) O grupo deve ter entre seis e doze componentes, a serem escolhidos de acordo com os propósitos da pesquisa; b) Cada participante deve ter algo a dizer sobre o assunto; c) Deve-se ter um grupo demograficamente heterogêneo, mas com nível cultural semelhante; d) O nível de envolvimento do moderador é variável, dependendo de como ele conduz as entrevistas e a interação entre as pessoas; e) Devem ser marcadas sessões de entrevistas, previamente planejadas e roteirizadas; f) A duração das sessões deve ser de uma a duas horas; 121 g) O local das sessõs deve ser confortável e é recomendável dispor os integrantes do grupo em forma de U, para que eles possam ver uns aos outros. Deve-se colocar em local visível o nome das pessoas para facilitar a interação. Se necessário, pode-se inclusive proceder às entrevistas em ambiente virtual (como numa sala de chat); h) O moderador não pode fazer juízos sobre as respostas e deve ter a capacidade de memorizá-las – ou então usar um assistente que as registre; i) As respostas devem ser consolidadas em categorias de análise que permitam consolidá-las em grupos semelhantes. 11.3 QUESTIONÁRIO O questionário consiste na "[...] técnica de investigação composta por um número mais ou menos elevado de questões apresentadas por escrito às pessoas, tendo por objetivo o conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas, situações vivenciadas, etc." (GIL, 1995, p. 124). Roesch (1999) complementa essa afirmação, ao colocar que um questionário não é uma simples listagem de questões, e sim um instrumento de coleta de dados que procura mensurar alguma coisa, exigindo esforço prévio de planejamento no sentido de definição do problema a ser pesquisado, da definição e operacionalização das variáveis, entre outros aspectos. De acordo com Gil (1995), o questionário apresenta uma série de vantagens: permite atingir grande número de pessoas, mesmo dispersas; não exige gastos com treinamento de entrevistadores; garante o anonimato dos respondentes; abre a possibilidade das pessoas o responderem no momento mais conveniente; diminui o viés do pesquisador sobre os pesquisados. Por outro lado, ele também apresenta desvantagens e limitações: exclui da pesquisa os analfabetos; não permite tirar dúvidas quando das respostas; o pesquisador pouco ou nada sabe sobre o contexto em que o questionário foi respondido; não há nenhuma garantia de que as pessoas o devolvam preenchido; deve ser restrito, envolvendo número limitado de perguntas; dificulta a objetividade, pois, embora as perguntas sejam as mesmas para todos, não há como garantir igualdade de interpretação das respostas (GIL, 1995). Gil (1996, p. 91-92) apresenta uma série de regras práticas para a elaboração de questionários de pesquisa, a saber: a) as questões devem ser preferencialmente fechadas, mas com alternativas suficientemente exaustivas para abrigar a ampla gama de respostas possíveis; b) devem ser incluídas apenas as perguntas relacionadas ao problema proposto; c) não devem ser incluídas perguntas cujas respostas possam ser obtidas de forma mais precisa por outros procedimentos; 122 d) deve-se levar em conta as implicações da pergunta com os procedimentos de tabulação e análise dos dados; e) as perguntas devem ser formuladas de maneira clara, concreta e precisa; f) deve-se levar em consideração o sistema de referência do entrevistado, bem como o seu nível de informação; g) a pergunta deve possibilitar uma única interpretação; h) a pergunta não deve sugerir respostas; i) as perguntas devem referir-se a uma única ideia de cada vez; j) número de perguntas deve ser limitado; k) questionário deve ser iniciado com as perguntas mais simples e finalizado com as mais complexas; l) as perguntas devem ser dispersadas sempre que houver possibilidade de ‘contágio’; m) convém evitar as perguntas que provoquem respostas defensivas, estereotipadas ou socialmente indesejáveis, que acabam por encobri sua real percepção acerca do fato; n) na medida do possível, devem ser evitadas as perguntas personalizadas, diretas, que geralmente se iniciam por expressões do tipo ‘o que você pensa a respeito de...’, ‘na sua opinião...’ etc., as quais tendem a provocar respostas de fuga; o) deve ser evitada a inclusão, nas perguntas, de palavras estereotipadas, bem como a menção a personalidades de destaque, que podem influenciar nas respostas, tanto em sentido positivo quanto negativo; p) cuidados especiais devem ser tomados em relação à apresentação gráfica do questionário, tendo em vista facilitar seu preenchimento; q) questionário deve conter uma introdução que informe acerca da entidade patrocinadora, das razões que determinaram a realização da pesquisa e da importância das respostas para atingir os seus objetivos; r) questionário deve conter instruções acerca do correto preenchimento das questões, preferencialmente com caracteres gráficos diferenciados. De forma mais geral, a listagem supracitada pode ser agrupada nos seguintes critérios: a) Forma das perguntas: há três formas de elaborar as perguntas do questionário, as abertas (sem qualquer restrição), as fechadas (na qual se apresenta uma escala de resposta) e as duplas (em que se coloca primeiro uma pergunta fechada e, no segundo momento, uma aberta - normalmente um "por quê"). Cada uma delas atende a um objetivo específico e portanto possui uma aplicação específica; b) Conteúdo das perguntas: as questões podem ser feitas sobre fatos concretos, crenças, sobre sentimentos, padrões de ação, comportamentos presentes ou passados, razões conscientes sobre crenças, sentimentos, padrões de ação ou comportamentos; c) Escolha das perguntas: há algumas regras básicas, quais sejam, só se deve fazer perguntas sobre o problema pesquisado, não se deve incluir pergunta que possa ser melhor respondida por outro procedimento, deve-se tomar em consideração a tabulação dos dados, não se deve incluir questões que permitam dupla interpretação ou penetrem na intimidade do pesquisado; d) Formulação da perguntas: é preciso cuidar da concisão, da apropriação da pergunta ao nível de informação do pesquisado, evitar a dupla interpretação, evitar dupla resposta, e as perguntas devem referir-se a uma só ideia por vez; 123 e) Número de perguntas: questionários muito extensos diminuem as possibilidades de se obter respostas; f) Ordem das perguntas: deve-se evitar mudanças bruscas de tema, e também evitar o "efeito de contágio", em que a resposta de uma pergunta é influenciada pela de outra; g) Prevenção de deformações: existem mecanismos de defesa social por parte das pessoas, que dificultam a aplicação do questionário. As pessoas muitas vezes reagem mal a perguntas pessoais, ou que envolvam preconceitos, estereótipos, mudanças, ou abram a possibilidade de julgamentos por parte do pesquisador. Também é preciso evitar incluir menções a personalidades destacadas, que possam induzir à resposta; h) Apresentação do questionário: é preciso cuidar não somente de aspectos gráficos (papel, fonte, diagramação, espaço para as respostas), mas também das instruções do preenchimento, que devem ser claras e precisas, e da introdução do questionário, que apresente informações sobre quem está realizando a pesquisa, e porquê, bem como sublinhar a importância de questionários bem respondidos (GIL, 1995). Um questionário deve estimular a memória do entrevistado, começando pelos fatos mais recentes e deve ser elaborado de forma que as perguntas não induzam a uma resposta, nem tragam dificuldades de interpretação ou ambigüidades. As variáveis introduzidas nas perguntas devem ser adequadamente operacionalizadas, ou seja, devem ser definidas de modo que se possa identificá-las ou medi-las na resposta (MAY, 2004). Os questionários podem incluir perguntas-filtro, que, ao serem respondidas, permitem ao pesquisador decidir, a partir da resposta, se o entrevistado irá fornecer as informações necessárias (como, por exemplo, a pergunta “você já recebeu treinamento da empresa?”, no caso de uma pesquisa a respeito dos resultados do treinamento), e perguntas de controle, que esclarecem dúvidas que porventura surjam a partir das respostas (permanecendo no exemplo acima, uma pergunta de controle poderia se referir à quantidade de vezes em que o entrevistado passou por programas de treinamento da empresa), sempre tomando-se o cuidado de apresentar as perguntas na mesma ordem em todos os questionários, para facilitar a tabulação das respostas (DENCKER, 2000). Da mesma forma que a entrevista, o questionário deve ser testado antes de aplicado. Essa prova preliminar, ou pré-teste, busca identificar se o questionário foi bem elaborado em termos da clareza e precisão com que os termos são utilizados nas questões, a forma pela qual elas são apresentada e se desmembram em perguntas adicionais, a ordenação das questões, e a introdução dada ao questionário (GIL, 1995); aplicam-se ao pré-teste do questionário os mesmos aspectos anteriormente abordados no que tange à entrevista. Na questão da 124 apresentação física, uma recomendação comum é de que a introdução, as instruções e as questões propriamente ditas sejam apresentadas em fontes diferentes (GIL, 1995; ROESCH, 1999). 11.4 PESQUISA DOCUMENTAL A pesquisa nos documentos disponíveis é uma técnica extremamente importante para o pesquisador, uma vez que estes se constituem numa preciosa fonte de informações. May (2004) afirma que os documentos são a sedimentação de práticas sociais e fornecem informações sobre as decisões tomadas peslas pessoas, bem como leituras particulares de eventos sociais que podem estar indisponíveis para o pesquisador. A primeira questão que surge, neste tipo de pesquisa, é, sem dúvida, quais documentos buscar? Marconi, Lakatos (1999) arrolam os seguintes tipos: a) Documentos escritos: documentos oficiais, publicações parlamentares, documentos jurídicos, fontes estatísticas, publicações administrativas, documentações particulares; b) Outros tipos: iconografia (imagens como gravuras, desenhos, estampas, pinturas), fotografia, objetos (artefatos), canções folclóricas, vestuário e folclore em geral. Yin (1984) apresenta os seguintes, mais comumente utilizados em pesquisas de Administração: cartas, memorandos, comunicados, agendas, atas e minutas de encontros e reuniões, documentos internos da administração, estudos e análises formais a respeito da mesma realidade que está sendo pesquisada, clipping de imprensa e artigos da mídia sobre a organização (tanto os estudos quanto esses artigos constituem-se em fontes secundárias de dados, que serão tratadas no subitem referente à pesquisa bibliográfica). Uma segunda questão diz respeito a onde encontrar os documentos? Marconi, Lakatos (1999) apresentam as seguintes fontes de documentos: arquivos públicos (municipais, estaduais e federais), arquivos particulares (em domicílios particulares, instituições privadas e certos órgãos públicos, como delegacias, Receita Federal, departamentos de trânsito, etc.) e fontes estatísticas (IBGE, Ibope, Instituto Gallup, etc.). Para o delineamento da pesquisa documental, Gil (1996) recomenda as seguintes etapas: a) Em primeiro lugar, é preciso determinar os objetivos da pesquisa; b) O segundo aspecto consiste na elaboração de um plano de trabalho; c) A partir desse plano, identificam-se as fontes de dados; d) Identificadas as fontes, é preciso localizá-las e obtê-las; 125 e) Com as fontes em mãos, o pesquisador deve fazer o tratamento dos dados; f) Após esse tratamento, deve-se confeccionar fichas; g) Finalmente, parte-se para a redação do trabalho. Embora Gil apresente o delineamento de pesquisa documental como sendo uma pesquisa científica própria, pode-se considerar o fato de que o estagiário não irá se ater aos documentos da empresa para sua pesquisa, mas sim utilizá-los como reforço para seu trabalho. Assim, algumas das etapas levantadas acima precisam de maior desenvolvimento: a) Em primeiro lugar, o acadêmico deve responder à questão: os objetivos do meu trabalho exigem a pesquisa documental? Em qualquer estágio que exija a avaliação de um programa ou plano já adotado pela empresa, a resposta é afirmativa, e deve-se observar que a pesquisa documental será imprescindível para o sucesso do estágio, pois esses documentos permitem confrontar o passado e o presente; para os demais casos, dependendo do trabalho a ser realizado, o estagiário poderá não se valer dela; b) Admitindo-se que o estagiário realmente necessite de pesquisa documental, surge a pergunta: quais são, e onde posso obter, os documentos necessários? Normalmente, além dos documentos mencionados no início deste item, o plano de negócio, os balanços e demais registros contábeis, as atas de reuniões, os relatórios internos e para acionistas, entre outros, são boas fontes de informações para o estagiário. Esses documentos normalmente estão disponíveis na própria empresa, e podem ser franqueados ao estagiário. Mas é importante observar uma regra simples: documentos sigilosos podem ser consultados, mas nem sempre citados, portanto, é conveniente informar-se com o supervisor antes de mencionar documentos no trabalho final; c) Obtidos os documentos, surge uma nova questão: como separar o joio do trigo? Isto é, é preciso fazer uma leitura prévia, para identificar quais documentos contêm informações relevantes. Selecionados estes, novas leituras se fazem necessárias, de forma que se alcance a compreensão dos dados. Fichas de leitura (apresentadas no início deste trabalho) são muito úteis para indicar quais são os dados mais importantes e as informações que realmente serão úteis para o trabalho; d) Após esse trabalho, surge uma nova questão: como fazer a análise dos dados? Documentos empresariais muitas vezes não receberam nenhum tratamento analítico, e, no caso de o terem recebido, poucas vezes estão prontos para uso pelo estagiário, exigindo grande esforço deste para serem trabalhados. Neste sentido, deve-se proceder à análise de conteúdo, que, segundo Gil (1996, p. 83-84), “[...] possibilita a descrição do conteúdo manifesto e latente das comunicações [...].” 126 O primeiro cuidado que deve ser tomado quando se procede à pesquisa documental, de acordo com May (2004), é avaliar a autenticidade do documento; embora falsificações possam ser interessantes, de acordo com as características da pesquisa, os documentos autênticos são preferíveis. A seguir, é preciso determinar a credibilidade do documento, que ser refere à extensão pela qual a informação contida é sincera. A terceira etapa diz respeito à representatividade do documento, procurando determinar se ele é típico da realidade que descreve. A útlima etapa consiste no significado do documento, em termos de clareza e compreensão. É interessante trabalhar um pouco mais a questão do processo de leitura de textos. Severino (2000) apresenta uma metodologia de leitura que, embora seja de alcance geral, aplica-se muito bem ao caso presente e portanto merece ser desenvolvida aqui. O primeiro aspecto refere-se à delimitação da unidade de leitura; esta é definida como “[...] um setor do texto que forma uma totalidade de sentido.” (SEVERINO, 2000, p. 51); um capítulo, uma seção, um item podem ser considerados unidades de leitura. Determinada essa unidade de leitura, o acadêmico deve proceder à análise textual, que vem a ser uma preparação para análises mais profundas do material; neste momento, busca-se simplesmente tomar contato com o texto, de forma que se obtenha uma visão panorâmica do mesmo, em que se esclarecem os conceitos, determina-se o quadro teórico a que o autor se filia e se esquematiza o texto de forma a se ter uma visão de conjunto do mesmo (SEVERINO, 2000). Feito isso, procede-se à análise temática. Aqui, o acadêmico “[...] procura ouvir o autor, apreender, sem intervir nele, o conteúdo de sua mensagem. Praticamente, trata-se de fazer ao texto uma série de perguntas cujas respostas fornecem o conteúdo da mensagem.” (SEVERINO, 2000, p. 55). Essas perguntas, conforme Severino (2000), abrangem: a) Qual é o tema, ou o assunto do texto? b) Qual é o problema abordado pelo autor? c) Como o autor responde a esse problema, isto é, qual é sua ideia central, sua proposição fundamental ou sua tese? d) Qual é o raciocínio, isto é, a argumentação utilizada pelo autor? e) Quais são as ideias secundárias utilizadas pelo autor para provar seu ponto de vista? O resultado da análise temática será tanto o resumo do texto quanto um roteiro para leitura do mesmo, além de servir de base para a terceira abordagem desse texto: a análise interpretativa. A função da interpretação, de acordo com Severino (2000, p. 56), 127 [...] é tomar uma posição própria a respeito das ideias enunciadas, é superar a estrita mensagem do texto, é ler nas entrelinhas, é forçar o autor a um diálogo, é explorar toda a fecundidade das ideias expostas, é cotejá-las com outras, enfim, é dialogar com o autor. Em primeiro lugar, o acadêmico deve procurar situar o texto no pensamento geral do autor; a partir daí, deve-se situar o pensamento do autor no contexto mais amplo do conhecimento sobre o tema, a fim de definir seu posicionamento em termos de correntes de pensamento; feito isso, é preciso explicitar os pressupostos do texto, que são ideias subjacentes; a partir daí, deve-se proceder à crítica do texto, levando em conta sua coerência interna, a originalidade, alcance, validade e contribuição dada pelo texto ao problema em tela; findo esse ponto, procede-se à problematização do texto, que consiste numa interpretação do mesmo, levantando e discutindo questões explícita ou implicitamente levantadas pelo autor, ou pelo próprio leitor; por fim, elabora-se uma síntese pessoal do texto (SEVERINO, 2000). No caso de documentos de empresa, esse tratamento completo nem sempre é possível, mas deve ser tentado ainda assim. Informações documentais, de acordo com Forster (apud MAY, 2004), são sempre informações contextualizadas. O documento não pode ser analisado somente pelo seu significado manifesto, mas também pelo contexto geral que o produziu. Isso obriga o pesquisador a ser cuidadoso com esse método: o conhecimento produzido pela pesquisa documental precisa ser cotejado com o obtido por meio de outros métodos de coleta, para poder ser aceito. O estagiário não pode esquecer de que o supervisor da empresa é uma fonte permanente de consulta, para tirar dúvidas que porventura surjam de sua análise dos documentos consultados. É conveniente apresentar os resultados dessa análise para que o supervisor os confirme ou os altere, corrigindo o que se fizer necessário. 11.4.1 A pesquisa bibliográfica Um relatório de estágio precisa de uma fundamentação teórica. Isso implica na exigência de consulta e pesquisa a livros, artigos e papers que abordem o tema do estágio, trabalhando os diversos elementos nele contemplados. Independentemente da fundamentação teórica, o pesquisador poderá precisar da pesquisa bibliográfica em diversos momentos diferentes na elaboração de seu trabalho. As principais fontes bibliográficas são, conforme Marconi, Lakatos (1999): a) Imprensa escrita, na forma de jornais e revistas; 128 b) Meios audiovisuais, como filmes, rádio, televisão; c) Material cartográfico (mapas e gráficos); d) Publicações como livros, teses, monografias, publicações avulsas. O delineamento de pesquisa bibliográfica aqui proposto segue o roteiro definido por Macedo (1994): a) Em primeiro lugar, é preciso ter bem claro o que será pesquisado, delimitando-se o assunto, o tema e o problema que serão trabalhados. Marconi, Lakatos (1999) chamam tal etapa de identificação, em que se faz o reconhecimento do que for pertinente ao tema da pesquisa. As autoras sugerem a consulta a catálogos, índices, bibliografias e abstracts. Este material pode ser obtido em publicações específicas e nas próprias bibliotecas; b) O segundo passo consiste na seleção de fontes bibliográficas, e dos locais aonde poderão ser obtidos. Corresponde à etapa de localização definida por Marconi, Lakatos (1999); c) É preciso definir de que forma serão registrados os dados e informações obtidos, recomendando-se sobretudo o fichamento dos textos; d) A partir dessas definições, pode-se proceder à leitura do material, à seleção e organização dos dados; e) Findo o processo de leitura, deve-se preparar um sumário do trabalho, no qual seja feito um esquema provisório do mesmo. Esse esquema será complementado por um rascunho inicial, a ser revisado em termos de conteúdo e de forma de expressão, para ser apresentado ao final dos trabalhos. Convém lembrar que o orientador desempenha um papel muito importante na fase da pesquisa bibliográfica, indicando sugestões de textos, discutindo ideias desenvolvidas pelos autores e revisando o material escrito pelo acadêmico. Uma dica importante: não deixe a pesquisa bibliográfica para o final do trabalho. Na maioria das vezes, a bibliografia sobre o tema ajudará bastante na definição do que fazer no estágio, dos resultados que podem ser esperados, e das melhores técnicas para atingir os objetivos. 129 12 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS Análise e interpretação dos dados caminham juntas na pesquisa. De maneira geral, pode-se dizer que a análise refere-se a um esforço de sumarização dos dados, para que os mesmos possibilitem o fornecimento de respostas aos problemas propostos, enquanto que a interpretação se refere à tentativa de obter um significado maior nessas respostas, por intermédio da ligação entre as mesmas e o conhecimento existente (GIL, 1995). Nas palavras de Dencker (2000, p. 159): o objetivo da análise é reunir as observações de maneira coerente e organizada, de forma que seja possível responder ao problema de pesquisa. A interpretação busca dar um sentido mais amplo aos dados coletados, fazendo a pote entre eles e o conhecimento existente. Todo o processo de pesquisa desenvolvido foi orientado para esse objetivo. Portanto, os processos de análise e interpretação de dados devem ser considerados como o resultado final da pesquisa, ou seja, a construção de conhecimento. Neste momento se pode reconhecer o trabalho propriamente dito feito pelo pesquisador, tendo como base os objetivos que ele se propôs alcançar. Para realizar a análise dos dados, algumas etapas são necessárias: a) Classificação dos dados; b) Codificação; c) Tabulação; d) Análise estatística dos dados. É sempre conveniente definir a forma de apresentação dos dados. Dados quantitativos exigem a apresentação em tabelas, quadros e/ou gráficos, para facilitar sua visualização e sua compreensão por parte do leitor. Após a realização das análises estatísticas, quando estas se fizerem necessárias, o pesquisador deve proceder à interpretação dos dados, a ser feita sempre tendo-se em mente a pergunta e os objetivos de pesquisa. O restante desta unidade será dedicado a uma breve explanação desses processos, de maneira a permitir uma introdução ao trabalho global de análise e interpretação dos dados, que deve ser previsto no projeto de estágio, e realizado para a confecção do relatório final. Conclui-se com algumas considerações a respeito da interpretação de dados. 130 12.1 CLASSIFICAÇÃO O processo de classificação dos dados consiste em dividir o conjunto de dados coletados em partes ordenadas e colocadas em “lugares” específicos (DENCKER, 2000), e parte do estabelecimento de categorias, que podem ser compreendidas como classes de dados. De acordo com Selltiz et al. (apud GIL, 1995), para que as categorias sejam úteis para o pesquisador, é preciso inicialmente estabelecer um princípio de classificação, criar um conjunto exaustivo de categorias e cuidar para que estas sejam mutuamente exclusivas. Marconi e Lakatos (1999) colocam um aspecto importante: o número de categorias deve ser determinado pelas características significativas da realidade pesquisada, características estas que devem ser diferentes e identificáveis. Em outras palavras, as categorias são “caixinhas” ou “gavetas”, nas quais os dados são colocados, de acordo com a “etiqueta” colocada em cada “caixinha” ou ”gaveta”, sendo cada uma diferenciada de maneira que não se possa colocar o mesmo dado em mais de uma “caixinha” ou ”gaveta”. Esse procedimento, além de metodologicamente rigoroso, permite o melhor tratamento dos dados e facilita sua interpretação posterior. Por exemplo, o pesquisador que esteja investigando o absenteísmo numa empresa pode fazer aos respondentes do questionário uma série de perguntas, que permitem respostas em diversas categorias. Essas perguntas abrangeriam as seguintes informações (dentre outras): a) Tempo de serviço; b) Idade; c) Sexo; d) Nível de instrução; e) Cargo ocupado. Dentro da pergunta “a”, por exemplo, podem ser colocadas as seguintes classes ou categorias de análise: a) Menos de 1 ano; b) 1-5 anos; c) 5-10 anos; d) 10-15 anos; e) 15-20 anos; f) Mais de 20 anos. Continuando com o exemplo, para a pergunta “c”, apenas duas categorias são possíveis. Mas já a pergunta “d” pode incluir diversas possibilidades: o pesquisador poderia 131 dividir os respondentes com curso superior em nível superior completo ou incompleto, e dentro da primeira categoria, pode-se apresentar casos de pós-graduação completa ou incompleta, e assim por diante. Os objetivos da pesquisa são um lembrete para a definição da categoria: “tecnicamente, a classificação é uma maneira de discriminação e seleção dos dados, com a meta de agrupá-los em categorias ou classes, tendo em mente os objetivos do trabalho.” (RAUEN, 2002, p. 133). O princípio básico de estabelecimento de categorias é: nenhum respondente à pesquisa pode ficar de fora de uma categoria. Ou seja, é preciso tomar bastante cuidado ao estabelecer as categorias, de forma que estas abranjam todas as respostas possíveis (para tanto, em alguns casos, será necessário incluir a categoria “outros”, para dados em que existam dificuldades em ser encaixados em uma categoria). Isso significa que o processo de estabelecimento de categorias, conquanto seja uma tarefa bastante simples em muitos casos, não necessariamente o será em todos. Além deste princípio, Rauen (2002) recomenda alguns outros: Deve-se utilizar somente um critério para a classificação dos dados; A soma das Frequências dos dados em cada categoria deve ser igual ao total da população ou amostra pesquisada; As classes devem ser excludentes (como já observado acima), adequadas ao problema investigado e interligadas (ou seja, devem permitir análises conjuntas); As classes não podem ser tão minuciosas que não permitam ao pesquisador ter a visão do todo na população. Para Marconi, Lakatos (1999) os dados podem ser classificados de forma quantitativa (que responde à pergunta “no quanto” os dados se dividem), que focaliza uma grandeza ou quantidade do fator presente, ou qualitativa (que responde à pergunta “como” os dados se dividem), que se baseia na presença ou ausência de uma determinada característica ou propriedade. Peso, custos e número de filhos são exemplos de classes quantitativas, enquanto que sexo, nacionalidade e estado civil podem ser citados como exemplos de qualitativas (MARCONI; LAKATOS, 1999). As autoras sublinham: no caso de classificações quantitativas, os dados podem exigir agrupamentos (por exemplo, em vez de uma classe para 1 salário mínimo, 2 salários e assim sucessivamente até chegar a 50 salários mínimos, o pesquisador deve agrupar as classes em estratos como “1 a 5 salários mínimos”, “6 a 10 salários mínimos” e assim por diante até esgotar as possibilidades de classes de dados). 132 12.2 CODIFICAÇÃO O processo de codificação pode ser definido como a transformação de dados brutos em símbolos que permitam tabulação (GIL, 1995), ou seja, a alocação de códigos (geralmente numéricos) para cada classe ou categoria, com a finalidade de “[...] sintetizar os dados, de forma a facilitar a compreensão e otimizar a interpretação.” (RAUEN, 2002, p. 134). Esse processo pode ser feito antes ou depois da aplicação do instrumento de coleta de dados, devendo ser sempre realizado após a definição das categorias de análise (DENCKER, 2000). Para Marconi e Lakatos, “[...] codificar significa organizar os dados em classes ou categorias, atribuindo a cada categoria um item e dando a cada um deles um símbolo (número ou letra).” (1999, p. 143). Suponha-se que o exemplo colocado acima refira-se a um questionário: 1) Tempo de serviço Menos de 1 ano ( ) 01 1-5 anos ( ) 02 6-10 anos ( ) 03 11-15 anos ( ) 04 16-20 anos ( ) 05 Mais de 20 anos ( ) 06 Os números de 01 a 06 referem-se ao código de cada resposta, facilitando o processo de tabulação. Entretanto, é importante mencionar, como lembra May (2004), que as respostas apresentadas à pergunta devem ser não somente mutuamente exclusivas, mas também exaustivas, ou seja, não só não deve ser possível marcar mais de uma resposta à pergunta, como também não se pode pensar em nenhuma hipótese alternativa de resposta além das arroladas. Rauen (2002) recomenda tentar antecipar as respostas às perguntas, o que pode ser facilmente alcançado no caso dos questionários, mas é complicado no caso dos procedimentos abertos como as entrevistas. Os códigos devem ser analisados para verificar sua validez, ou seja, o grau em que os dados observados correspondem a algum critério que possa ser adotado como uma medida adequada dos fenômenos estudados; a estruturação do material e a simplicidade das categorias são aspectos centrais para garantir a segurança dos procedimentos de codificação do material obtido com a pesquisa (MARCONI; LAKATOS, 1999). 133 12.3 TABULAÇÃO Entende-se por tabulação o “[...] processo de agrupar e contar os casos que estão nas várias categorias de análise.” (GIL, 1995, p. 169). Na tabulação, a operação essencial consiste na contagem para determinação do número de casos das várias categorias, de acordo com Dencker (2000). Conforme Gil (1995) existem dois tipos de tabulação. O primeiro é chamado tabulação simples, que é a contagem das Frequências das categorias de cada conjunto, ou seja, a determinação do número de respostas em cada categoria. Por exemplo, num universo de 500 respondentes à questão sobre o tempo de serviço, ter-se-ia um total de 35 respostas para até um ano de serviço, 105 para um a cinco anos, e assim por diante. Veja-se o quadro a seguir: Tempo de serviço na empresa Frequência Menos de 1 ano 35 1 a 5 anos 105 6 a 10 anos 200 11 a 15 anos 120 16 a 20 anos 30 Mais de 20 anos 10 TOTAL 500 O segundo tipo consiste na tabulação cruzada, que é a contagem de Frequências que ocorram em dois ou mais conjuntos de categorias. De acordo com Malhotra (2001), a tabulação cruzada descreve duas ou mais variáveis simultaneamente, combinando em uma só tabela as distribuições de Frequência de duas ou mais variáveis. Por exemplo, pode-se cruzar as respostas obtidas na pergunta sobre tempo de serviço com as informações da pergunta sobre nível de escolaridade, ou com a pergunta sobre o cargo ocupado, e assim por diante. A tabulação cruzada é muito utilizada nas pesquisas quantitativas, porque auxilia na definição de correlações entre as variáveis estudadas e os dados obtidos na pesquisa. É importante, antes de partir da tabulação cruzada, veridicar cuidadosamente a existência de relações entre as variáveis. O quadro abaixo divide a distribuição acima apresentada em sexos (por comodidade, apresentam-se apenas as duas primeiras classes): Tempo de serviço na empresa Sexo Frequência Menos de 1 ano Masculino 8 134 1 a 5 anos Feminino 27 Masculino 43 Feminino 62 TOTAL 140 A tabulação pode ser feita de maneira manual (com lápis e papel), mecânica (com cartões perfurados – evidentemente, em desuso hoje em dia) e eletrônica (usando-se o computador). Neste último caso, existem programas estatísticos que permitem uma tabulação rápida e precisa, permitindo vários graus de complexidade nas análises. Após a tabulação dos dados, Rauen (2002) recomenda o uso da distribuição de Frequência, em que se apresentam os resultados obtidos em cada classe. De acordo com Goode e Hatt (apud MARCONI; LAKATOS, 1999, p. 154), uma distribuição de Frequência é a “[...] apresentação, numa coluna, de qualidades diferentes de um atributo, ou valores diferentes de uma variável, junto com as entradas em outra coluna, mostrando a Frequência da ocorrência de cada uma das classes”, sendo muito útil para o trabalho de análise estatística. As Frequências podem ser absolutas (simples contagem dos resultados) ou relativas (transformação dos resultados obtidos em percentuais), podendo ser ainda acumuladas em cada um dos tipos (ou seja, somam-se as Frequências em cada classe). 12.4 ANÁLISE ESTATÍSTICA A análise estatística é feita em dois níveis: descrição dos dados e avaliação de generalizações obtidas a partir dos dados (GIL, 1995). Segundo Dencker (2000), a análise e a descrição dos dados procuram estabelecer: a) A tipicidade de um grupo; b) A variação dentro do grupo; c) As distribuições dentro do grupo em relação a determinadas variáveis; d) A relação das diferentes variáveis entre si; e) A descrição das diferenças entre dois ou mais grupos de indivíduos. Nesses casos, a análise lança mão de medidas estatísticas, como média, mediana e moda, desvio padrão, quartis, amplitude, polígono de Frequência, correlação, distribuição na curva normal, entre outros. De acordo com Dencker (2000), existem dois tipos de análise: condicional, que busca identificar os fatores que determinam a ocorrência de um determinado 135 fenômeno ou situação; funcional, que procura as relações que os vários fenômenos estabelecem entre si. A avaliação das generalizações obtidas com os dados consiste em determinar se as conclusões obtidas com a pesquisa, que normalmente é feita com uma amostra, podem ser generalizadas para a população ou universo de pesquisa. Para isso, de acordo com Gil (1995), deve-se utilizar o teste estatístico de hipóteses, que procura verificar a existência de diferenças entre as populações representadas pelas amostras. A inferência estatística, no dizer de Huot (2002), consiste na avaliação e na generalização dos resultados obtidos a partir de uma amostra da população, feita a partir do estudo das variáveis de interesse dentro dessa amostra e gerando conclusões sobre a população. A análise estatística dos dados utiliza uma série de ferramentas diferentes, a saber: a) Moda (Mo): consiste no valor que surge com maior Frequência (ou no valor dominante) na amostra ou população estudada. Por exemplo, um pesquisador observou os seguintes resultados para o número de salários mínimos de casais: 29 casais ganham 1 salário mínimo (SM), 38 ganham 2 SM, 17 ganham 3 SM, 12 ganham 4 SM e 4 ganham 5 SM. A moda consiste em dois SM. O quadro abaixo apresenta essas informações de uma forma mais adequada: Número de SM por casal (X) Frequência observada (N) 1 29 2 38 3 17 4 12 5 4 TOTAL 100 Para melhor visualização, tem-se a seguinte representação em gráfico de barras: 136 Número de Famílias Salários Mínimos 38 40 35 30 25 20 15 10 5 0 29 17 12 4 1 2 3 4 5 Número de SM Salários Mínimos Supondo-se que 38 casais ganhassem 1 SM e outros 38 ganhassem 2 SM, a distribuição de Frequência seria multimodal, apresentando duas modas (1 e 2 SM); b) Mediana (Md): representa o valor que divide exatamente ao meio a distribuição, deixando 50% acima e abaixo do valor encontrado. No caso acima, é preciso acumular o número de casais, observando-se que o valor do 50o casal se encontra na classe de dois salários-mínimos. Naturalmente, distribuições mais complexas exigirão cálculos mais elaborados. Observe-se o quadro com as Frequências acumuladas: Número de SM por casal (X) Frequência observada (N) Frequência acumulada (Nac) 1 29 29 2 38 67 3 17 84 4 12 96 5 4 100 100 - TOTAL c) Média (Me): consiste no valor obtido dividindo-se a soma de todos os valores observados na característica definida para a análise pela população total. No exemplo acima, o total de filhos seria 224 (29 casais x 1 SM, 38 casais x 2 SM e assim por diante); dividindo-o pelo número de casais (100), ter-se-ia a média de 2,24 SM por casal. Neste último caso tem-se a chamada média ponderada; esta pode ser observada no quadro abaixo: 137 Número de SM por casal (X) Frequência observada (N) Frequência ponderada (N.X) 1 29 29 2 38 76 3 17 51 4 12 48 5 4 20 100 224 TOTAL d) Extensão (amplitude) (A): consiste na diferença entre o maior e o menor dentre os valores assumidos pela variável. No caso acima, os valores assumidos são de 1 a 5 SM, determinando amplitude de 4 salários entre os casais observados. Dividindo-se a amplitude pela média, tem-se o chamado desvio máximo relativo. No caso acima, o desvio máximo relativo seria igual a 4 dividido por 2,24, ou 1,7857 SM; e) Quantis: representam a divisão da população total estudada em n grupos de efetivos exatamente iguais, permitindo dessa forma obter uma visão mais adequada da distribuição da população. Os mais comuns são os quartis (que dividem a população total estudada em grupos com 25%) e os decis (que dividem em grupos de 10%). Supondo-se no caso dos quartis, o 1o quartil representa a situação em que 25% da população total têm valor inferior a Q1 e o 3o quartil apresenta os 75% da população que têm valor inferior a Q3. Na distribuição dos casais e suas rendas, o Q1 equivale a 1 SM, enquanto que o Q3 se encontra na classe de 3 SM. Como não se trata de uma distribuição baseada em classes, o cálculo mais preciso dos quartis não é necessário. O intervalo interquartil pode ser calculado para verificar até que ponto uma população se encontra dispersa ou não, e é obtido pela fórmula Q3 – Q1 que, no exemplo acima, seria 2 SM. Quanto mais próximo este intervalo estiver da mediana, mais forte será a concentração em torno da mesma; f) Desvios: o desvio médio (E) consiste na média aritmética dos desvios das observações em relação à população total, tomados em módulo; calcula-se multiplicando o número observado na classe pela diferença entre o valor da classe e a média. Veja-se o exemplo, tendo em mente que a média foi calculada como 2,24: Número de SM por casal (X) Frequência observada (N) Ni.(Xi - M) 1 29 35,96 2 38 9,12 138 3 17 12,92 4 12 21,12 5 4 11,04 100 90,16 TOTAL O desvio médio será dado pelo total da terceira coluna dividido pela população total, ou seja, 0,9016, indicando que em média as observações se afastam em 0,9016 saláriosmínimos da média aritmética, para cima ou para baixo. Dividindo-se o valor obtido pela média aritmética da distribuição, tem-se o desvio médio relativo, cuja interpretação indica o quanto, em média, as observações se afastam da média aritmética (neste caso, será 0,4025); este normalmente é considerado em porcentagem, indicando que as observações afastam-se mais ou menos 40% da média da série; g) Variância (V): é a média aritmética dos quadrados dos desvios das observações em relação à média aritmética. Calculando-se a raiz quadrada da variância, tem-se o desviopadrão ( ), que consiste na média quadrática dos desvios das observações em relação à média. Veja-se o quadro para verificar como seriam calculados a variância e o desviopadrão do exemplo dos casais e suas rendas, sabendo-se que o valor total obtido na coluna de multiplicação da Frequência pelo número de SM ao quadrado deve ser dividido pela população total, e o resultado deve ser diminuído pela média ao quadrado para a variância: No de filhos por casal (X) Frequência observada (N) Xi2 Ni. Xi2 1 29 1 29 2 38 4 152 3 17 9 153 4 12 16 192 5 4 25 100 100 - 626 TOTAL A variância seria de 1,24 salários mínimos ao quadrado (o que, obviamente, não faz sentido algum) e o desvio-padrão 1,11 salários mínimos. O desvio-padrão é a base da distribuição normal, baseada na chamada Lei de Gauss (uma situação em que os valores da mediana, da média e da moda são idênticos). Numa curva normal, cerca de 68% das observações estão situadas a um desvio-padrão da média (para mais ou para menos), 139 aproximadamente 95%, a dois desvios-padrão e aproximadamente 99,8% a três desviospadrão. A figura abaixo mostra a distribuição normal: - 3 desvios - 2 desvios -1 desvio + 1 desvio + 2 desvios + 3 desvios Curva Normal É possível calcular o intervalo médio I a partir da subtração e da soma do desviopadrão à média {I = [(Me - Me + . Assim, para o exemplo supracitado, o I consistiria em [(1,13), (3,35)], indicando que em média as pessoas estudadas têm renda entre 1,13 e 3,35 salários mínimos. Adicionalmente, é possível calcular o coeficiente de variação (CV) através da divisão do desvio-padrão pela média, o que no exemplo utilizado dá 0,4955. Como a dispersão padrão é 0,5, pode-se observar que a dispersão dos valores no caso estudado é relativamente fraca; h) Coeficiente de curtose (K): representa o cálculo do grau de achatamento da curva que distribui a Frequência da população estudada. É obtida pela divisão da diferença entre o primeiro e o terceiro quartis pela diferença entre o primeiro e o nono decis, esta última multiplicada por dois. No exemplo estudado, os quartis já foram calculados; o primeiro decil equivale a 1 SM enquanto que o nono decil, a 4 SM. Assim sendo, o coeficiente de curtose dessa distribuição é dado por 0,1333, indicando uma curva platicúrtica, mais achatada que a curva normal. O uso de diferentes variáveis ao mesmo tempo exige análises mais cuidadosas, mais permite conclusões muito mais interessantes do que as que foram vistas até o momento. O estudo das relações entre variáveis, como observam Rosental e Frémontier-Murphy (2002), procura identificar se existe (ou não) alguma ligação entre a evolução de duas variáveis, se existe alguma inversão de tendência nessa relação, e qual a intensidade dessa ligação. Para os autores, a representação gráfica dos valores já pode ser uma indicação dessas relações, facilmente observável. É mais interessante, entretanto, verificar se existe alguma função (por exemplo, do tipo y = a.x + b, em que uma variável “y” qualquer tem seu valor afetado pelos valores assumidos pela variável “x”) entre as variáveis. 140 A função apresentada assim é do tipo linear e pode ser estimada pelo ajustamento através do método dos mínimos quadrados, o qual encontra uma reta ligando todos os pontos observados cuja característica é ser a reta em que a soma dos quadrados das distâncias do eixo y em relação a ela é a menor possível. Para o cálculo da função, é preciso ter em mente que “y” e “x” representam variáveis de análise, “a” representa o coeficiente angular (ou grau de inclinação da reta) e “b” o coeficiente linear, que seria o valor mínimo de “y” (ou seja, quando “x” é igual a zero). O cálculo dos dois coeficientes pode ser dado pelas seguintes fórmulas: a = Cov (x, y) Vx b = Mey – a.Mex Onde: Cov (x,y) = (x1.y1 + x2.y2 + ... + xn.yn) – Mex.Mey n Vx = (x12 + x22 + ... + xn2) - Mex n Sendo Cov (x, y) a covariância de x e y, Vx a variância de x, Me as médias de x e y, sendo n o número de observações. Um exemplo extraído de Rosental e Frémontier-Murphy ajuda a compreender melhor essa situação. O quadro a seguir apresenta uma amostra de sete países africanos, e as variáveis x e y representam taxas de alfabetização masculina e feminina, respectivamente, desejando-se traçar a curva que passaria mais próxima de todos os pontos. Para comodidade de cálculo, os valores de x2 e xi.yi são apresentados na tabela. x2 xi.yi 49 5476 3626 29 9 841 261 Costa do Marfim 50 30 2500 1500 Gana 76 54 5776 4104 Mali 39 23 1521 897 Marrocos 57 31 3249 1767 Mauritânia 50 26 2500 1300 Total 375 222 21863 13455 Países Taxa alf. masc. Taxa alf. femin. (x) em % (y) em % Argélia 74 Burkina Fasso 141 Fazendo-se os cálculos devidos, pode-se verificar que a variância de x é 253,54%2, a covariância de x e y, 223,44%2, o que dará um coeficiente angular (“a”) igual a 0,88 e um coeficiente linear b igual a -15,43%. A reta estimada será, então: y = 0,88x – 15,43 De posse desta equação, pode-se fazer diferentes previsões sobre o comportamento das variáveis, mas estas devem ser sempre tomadas com cuidado. Por exemplo, caso a taxa de alfabetização masculina de um país qualquer da África seja 60%, pode-se estimar a taxa feminina como 37,37%. Para verificar a correlação linear entre as variáveis, é possível usar o coeficiente r de Bravais-Pearson, que é dado pela covariância de x e y dividida pela multiplicação dos desvios-padrão de x e y: r = Cov (x, y) x y Como o desvio-padrão é dado pela raiz quadrada da variância (e sendo a variância de y dada por 203,62%2), o coeficiente r será 0,98. Quanto mais próximo de 1 for o valor do coeficiente de correlação linear, maior será o grau de ligação entre as duas variáveis. Pode-se afirmar que, no caso, existe correção entre as taxas de alfabetização de homens e mulheres nos países estudados: aumentando-se a taxa de alfabetização dos homens, pode-se imaginar que também aumente a das mulheres no país. 12.5 INTERPRETAÇÃO DOS DADOS Concluindo, é preciso mencionar o processo de interpretação. De acordo com Dencker (2000, p. 172), o processo de interpretação “consiste em expressar o verdadeiro significado do material em termos do propósito do estudo. O pesquisador fará as ligações lógicas e comparações, enunciará princípios e fará generalizações.” O processo de interpretação, portanto, deve ser considerado como a fase final da pesquisa, em que os dados coletados foram convenientemente tratados e analisados. Nem sempre esse processo pode ser facilmente dissociado da análise, como nota Gil (1995), uma vez que esta já pode ser considerada como uma preparação para a interpretação, com a preparação dos dados. De acordo com Gil (1995), o principal aspecto que deve ser considerado no processo de interpretação é a ligação entre as informações e dados empíricos coletados e a teoria subjacente aos mesmos. A teoria é essencial para o estabelecimento de generalizações, mas não pode ser considerada como o principal aspecto; é preciso ter em mente que teorias são 142 construtos da mente humana, interpretações da realidade, e como tal, podem apresentar falhas. Da mesma forma, uma pesquisa, normalmente, não permite refutar uma teoria já estabelecida, ainda que possa lançar dúvidas em relação à sua validade. Dencker (2000) sugere: o pesquisador precisa elaborar modelos de análise dos dados, em vez de se procurar fórmulas prontas, e deve encarar a interpretação como a busca de um sentido mais amplo nos resultados da pesquisa, procurando estabelecer a continuidade dos resultados de uma pesquisa com os de outro, tentando criar conceitos explicativos. 143 13 TRABALHOS ACADÊMICOS Esta seção visa fornecer as regras fundamentais para a elaboração e apresentação dos principais tipos de trabalhos acadêmicos usualmente solicitados pelos professores aos alunos de cursos de Administração, buscando padronizar as exigências daqueles em termos de qualidade e conteúdo dos trabalhos; entende-se que tal padronização será valiosa e importante no sentido de evitar interpretações dúbias e trabalhos desnecessário. Assim, as características e os objetivos desses trabalhos são discutidos sucintamente, de modo a permitir uma visão geral dos mesmos. Como os objetivos pedagógicos variam, os professores poderão incluir aspectos adicionais nos trabalhos que solicitarem, entretanto, o arcabouço está delineado aqui. As regras anteriormente mencionadas neste trabalho, a respeito de tamanho de fontes, espaço entrelinhas, formatação da página, são válidas para todos os trabalhos aqui tratados, pois se constituem no padrão recomendado pela ABNT. 13.1 RESUMO DE TEXTO Resumos de texto são trabalhos muito interessantes não somente em termos de cobrança de um conteúdo por parte do professor, mas também por parte dos alunos como forma de estudar e fixar conteúdo de textos, além de permitir trabalhar, por meio de um exercício breve, formas de escrita. O resumo não é simplesmente uma lista de tópicos, ele é um texto escrito com encadeamento de ideias e que deve ser lido como um todo, permitindo entendimento do texto. Severino (2000) observa: o resumo é uma síntese de ideias, não uma “miniaturização” do texto. Um resumo, portanto, é um instrumento valioso para testar a compreensão do texto por parte do leitor, mas também permite treinar e desenvolver um estilo de escrita (RUIZ, 1995). Algumas regras, de acordo com Ruiz, são importantes: a) deve-se resumir um texto somente depois de tê-lo lido o suficiente para compreendê-lo, e depois de fazer anotações sobre o mesmo; b) um resumo deve ser breve e compreensível; c) o autor do resumo deve utilizar as palavras sublinhadas e as anotações feitas ao longo do texto, pois estas devem transmitir as ideias deste; d) toda vez que for necessário fazer uma transcrição textual, é preciso usar as aspas e fazer a referência bibliográfica completa da mesma; 144 e) pode-se incluir, ao final do resumo, ideias integradoras, referências bibliográficas adicionais e posicionamentos críticos a respeito do texto. Esta última regra não é referendada por todos os autores. Alguns consideram que os resumos não devem incluir posicionamentos pessoais, devendo guardar o máximo de fidelidade em relação ao texto. Severino (2000) menciona que o resumo deve usar as próprias palavras do estudante, mas precisa se manter fiel às ideias do autor do texto original. De qualquer forma, o resumo capta, analisa, relaciona, fixa e integra o assunto estudado, expondo-o de modo a permitir uma rápida consulta e a rememorização do assunto (LAKATOS; MARCONI, 2001). Resumir o texto, portanto, é um trabalho a ser empreendido sempre que for necessário absorver conteúdos e rememorizá-los rapidamente. Dessa maneira, o resumo é um aliado tanto do estudante que está realizando um trabalho de maior fôlego, que exija pesquisa em diversas fontes diferentes, ou está se preparando para uma prova (e precisa relembrar conteúdos), quanto daquele que apenas deseja maior compreensão de um determinado assunto. Um bom resumo pode inclusive dispensar a releitura do texto Os resumos, de acordo com a ABNT (NBR 6028: 2003) são de três tipos básicos: a) Indicativo ou descritivo: semelhante ao esquema, é um resumo que apenas faz referência às partes mais importantes do texto, descrevendo-lhe sua natureza, forma e propósito, valendo-se de frases curtas para indicar elementos importantes deste; b) Informativo ou analítico: mais amplo que o anterior, contém todas as principais informações do texto e dispensa leituras adicionais deste. Deve evidenciar os objetivos e o assunto do texto, os métodos e técnicas adotados na exposição do assunto, e os resultados e conclusões a que o autor chegou; c) Crítico: formula um julgamento sobre a forma, o conteúdo e a apresentação do texto. Salvador (apud AMBONI; AMBONI, 1997) apresenta algumas características dos resumos, das quais as mais importantes para os objetivos deste trabalho são: a) consistem na apresentação condensada de um texto; b) podem ser seletivos, trabalhando somente com os elementos do texto que são considerados relevantes para o autor do resumo ou para seus leitores; c) são independentes do trabalho resumido, mesmo quando baseados na sinopse da obra. As dimensões dos resumos variam, conforme os objetivos do trabalho (como é o caso dos resumos desenvolvidos para trabalhos de conclusão de curso ou de estágio, monografias, dissertações ou teses), ou as dimensões do texto resumido (no caso de trabalhos acadêmicos desenvolvidos para uma disciplina). Os professores podem estabelecer as dimensões dos 145 resumos, mas, para a maioria dos resumos pedidos como trabalhos acadêmicos, o ideal é que o resumo tenha mais ou menos uma página digitada em computador, sendo seus elementos apresentados como se segue: CABEÇALHO: deve incluir, nesta ordem, o nome da faculdade, o curso e habilitação, a disciplina a que se destina, a fase, o nome do professor da disciplina, e o nome e o número de matrícula do aluno, em espaço simples, como no modelo que se segue: Faculdade Energia de Administração e Negócios Curso:______________________________ Disciplina: Metodologia Científica (1a Fase) Professora: Silvia M. K. C. Zapelini Acadêmico(a):___________________________________ Matricula:__________________. TÍTULO: separado do cabeçalho por uma entrelinha 1,5, deve consistir exclusivamente na expressão resumo em maiúsculas e centralizado. REFERÊNCIA: separada do título por uma entrelinha 1,5, deve seguir a norma da ABNT, já referenciada anteriormente. DESENVOLVIMENTO: consiste no resumo propriamente dito. 13.2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Trabalhos do tipo revisão bibliográfica podem ser pedidos pelos professores como uma forma de desenvolver ou aumentar o conhecimento de um determinado assunto. As revisões normalmente são parte de trabalhos monográficos, sendo elementos obrigatórios em monografias, trabalhos de conclusão de estágio e de curso, dissertações e teses, entre outros; mas também podem ser exigidas dentro de uma disciplina, como uma forma de apresentar, comparar e desenvolver diferentes ideias e correntes de pensamento a respeito de um determinado assunto. O objetivo central de uma revisão bibliográfica é levar o aluno a conhecer de modo exaustivo o pensamento sobre o assunto trabalhado. Dessa maneira, a revisão se caracteriza pela reunião de grande quantidade de material bibliográfico, pelo pluralismo de ideias (ou seja, não se pode se concentrar numa determinada corrente de pensamento, a menos que isso seja expressamente solicitado), pela objetividade e isenção (ou seja, não se pode exigir, neste 146 trabalho, uma postura ou posicionamento do indivíduo sobre autores e obras) e pela recapitulação de conhecimentos. A estrutura dos trabalhos do tipo revisão bibliográfica é, de acordo com Amboni, Amboni (1997), a seguinte: CAPA (de acordo com o modelo apresentado neste trabalho). SUMÁRIO (de acordo com a norma da ABNT). INTRODUÇÃO: deve apresentar brevemente o assunto trabalhado pela revisão (ou seja, descrever sucintamente o tema do trabalho), o objetivo que se pretende alcançar com o mesmo, e uma rápida exposição da metodologia utilizada para a análise dos textos. Uma justificativa do trabalho, evidenciando sua importância acadêmica, pode ser incluída quando se mostra interessante. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA: consiste na descrição do assunto, conforme o tratamento dado pelos autores consultados. Deve-se evitar que posicionamentos pessoais prejudiquem a compreensão do assunto. CONSIDERAÇÕES FINAIS: são o fechamento do trabalho, apresentando a síntese das ideias trabalhadas, e a importância do assunto dentro da área de conhecimento, mais ampla, em que ele se insere. REFERÊNCIAS (de acordo com a norma da ABNT). Um trabalho deste tipo não abre espaço para grandes contribuições individuais por parte do acadêmico. É uma recapitulação de conteúdos, uma reunião de diferentes bibliografias num só lugar, e não um trabalho de opinião, posicionamento ou reflexão pessoal. 13.3 ARTIGO Um artigo, de acordo com a ABNT, pode ser definido como um texto que apresenta de modo organizado e sistemático um conjunto de ideias, métodos, técnicas, processos e resultados de uma área de conhecimento. Como tal, ele trata de um problema científico de pesquisa e é produzido como uma abordagem mais ou menos completa desse problema, podendo trazer uma contribuição original ao desenvolvimento desses conhecimentos, ou constituir-se numa revisão de contribuições e informações já publicadas. Neste sentido, informa Rauen (2002), os artigos se dividem em originais e de revisão. Lakatos, Marconi (2001) observam: um artigo científico é um estudo pequeno porém completo de um assunto científico, resultando de estudos ou pesquisas feitos pelo autor, e permitem a um leitor repetir 147 os estudos feitos pelo autor, já que devem conter uma descrição da metodologia adotada para chegar aos resultados apresentados. Há três tipos de artigos: a) os artigos analíticos descrevem, classificam e definem o assunto e levam em conta a forma e o objetivo em vista; b) os artigos classificatórios fazem uma ordenação de aspectos de determinado assunto e a explicação de suas partes; c) os artigos argumentativos enfocam um argumento e depois apresentam fatos que provam ou refutam o mesmo. (MEDEIROS apud RAUEN, 2002, p. 242). Lakatos, Marconi (2001) acrescentam que o artigo argumentativo devem ser de cunho teórico, e permitem ao leitor tomar uma posição a respeito do tema. O conteúdo do artigo, observam as autoras, deve estar direcionado ao público a que se destina, ou seja, a linguagem e o estilo devem ser adequados às características dos leitores. Um artigo trabalha uma descoberta, um enfoque pessoal, oferece solução para um problema existente, informa o público especializado sobre ideias novas, ou aborda aspectos secundários de uma pesquisa (aspectos que não foram utilizados na mesma) realizada pelo autor (LAKATOS; MARCONI, 2001). Há várias sugestões em termos de estrutura para o artigo. A que se recomenda seguir foi definida por Rauen (2002): TÍTULO: consiste numa expressão identificadora do trabalho, devendo direcionar o leitor para o tema do artigo. Deve estar centralizado no topo da página. AUTORIA: é a identificação do(s) autor(es) do artigo, acrescida da qualificação do(s) mesmo(s), ou seja, de suas credenciais acadêmicas. No caso de um artigo feito para uma disciplina, essas credenciais são desnecessárias ou simplesmente referenciadas como “Acadêmico da Xa fase do Curso de Administração com Habilitação em XXX”. RESUMO: sintetiza os objetivos pretendidos, a metodologia adotada e as conclusões obtidas. O resumo é elaborado conforme a norma da ABNT. PALAVRAS-CHAVE: são expressões ou termos que indicam com maior precisão o conteúdo do artigo. ELEMENTOS TEXTUAIS: formam o corpo do artigo, normalmente dividido em introdução, desenvolvimento e conclusão. Neste sentido, as regras definidas anteriormente para os trabalhos de conclusão de estágio são válidas e devem ser adotadas para o melhor desenvolvimento do trabalho. ELEMENTOS DE APOIO: são notas, citações, tabelas, quadros, fórmulas, ilustrações, incluídas no artigo como suporte à argumentação desenvolvida pelo autor. 148 REFERÊNCIAS (de acordo com as normas da ABNT). APÊNDICE(S): documento(s) que complementa o argumento do autor, desenvolvendo aspectos que este considera importantes, embora não cruciais, para a compreensão do mesmo. ANEXO(S): documento não elaborado pelo autor do artigo que fundamenta, comprova ou ilustra o argumento desenvolvido no artigo. Rauen (2002) recomenda que seja incluído, ao final do artigo, uma tradução do mesmo em língua estrangeira. Algumas publicações, entretanto, solicitam que essa tradução seja incluída logo após o resumo em vernáculo. Para o caso do artigo ser direcionado a uma disciplina, esse resumo em língua estrangeira pode ser dispensado, já que o mesmo não foi produzido para publicação. 13.4 PAPER O paper é um trabalho normalmente de pequena extensão, baseado em conhecimento e domínio do tema abordado, próprio para comunicação científica. Medeiros (2000, p. 192) o define como [...] uma síntese de pensamentos aplicados a um tema específico. Esta síntese deverá ser original e reconhecer a fonte do material utilizado. [...] Num paper, espera-se [...] o desenvolvimento de um ponto de vista acerca de um tema e a expressão dos pensamentos de forma original. Num paper há a síntese das descobertas do autor sobre o tema, uma avaliação ou interpretação dessa descoberta, e não um resumo ou cópia de outro artigo; o paper é sempre uma contribuição original, um desenvolvimento de ideias e pensamentos de seu autor, inserindo-o na comunidade acadêmica, reconhecendo as fontes utilizadas, e nunca uma cópia, plágio ou uma sucessão de citações (ROTH apud MEDEIROS, 2000). É muito utilizado em congressos e simpósios científicos; neste caso, o paper obedece a uma estrutura própria, diferente dos trabalhos exigidos nos cursos de graduação e pósgraduação. Normalmente, o paper é trabalhado na academia em duas formas ligeiramente: position paper e short paper. O position paper é uma “composição escrita, na qual se apresenta um posicionamento criativo e/ou reflexivo próprio ou de grupo de autores, diante de estímulos escritos [...] e/ou áudio-visuais.” (RAUEN, 2002, p. 244). Para Amboni, Amboni (1997), o principal objetivo do position paper é contribuir para o desenvolvimento da criatividade do acadêmico por intermédio da reflexão sobre o material escrito ou observado no ambiente, tornando-o, assim, 149 um agente crítico na realidade estudada em vez de simples receptor ou reprodutor de conhecimentos. O foco deste trabalho é o posicionamento do autor em relação ao assunto. Esse posicionamento exige a leitura ou observação cuidadosa da realidade, a identificação de termos-chave ou aspectos centrais, ou seja, das ideias centrais tratadas no(s) texto(s) abordado(s) ou na realidade observada, e a formulação de uma posição de concordância (total ou parcial) ou discordância com o assunto; essa posição deve considerar os valores, experiências e visão de mundo do autor (AMBONI; AMBONI, 1997). O position paper é um trabalho de estrutura simples, no qual não existe capa, sumário ou mesmo divisão de partes. As dimensões são restritas: normalmente, esse trabalho não supera duas páginas. A estrutura definida por Amboni, Amboni (1997) foi julgada a mais adequada, formando a base para a composição que se segue: CABEÇALHO (elaborado de acordo com o exposto no item sobre resumos). TÍTULO: elemento opcional. Na hipótese de ser colocado, deve ser centralizado e separado do cabeçalho e do desenvolvimento do texto por meio de uma sublinha dupla. PARÁGRAFO INTRODUTÓRIO: deve apresentar o assunto e delimitá-lo, definindo assim o objetivo pretendido pelo acadêmico. Amboni, Amboni (1997) consideram a definição do objetivo tão importante que, em sua visão, este dispensa o título. DESENVOLVIMENTO: formado por tantos parágrafos quanto se mostrarem necessários, o desenvolvimento deve esclarecer o leitor em relação ao ponto de vista defendido pelo autor em relação aos argumentos desenvolvidos no(s) texto(s)-base, ou na realidade observada. Esse ponto de vista deve estar devidamente fundamentado, o que poderá ser feito com base em outros autores pesquisados, considerados relevantes para o tema (Rauen, 2002, recomenda a apresentação de pelo menos dois autores neste item). No desenvolvimento, portanto, abre-se espaço para a postura crítica do acadêmico. NOTAS CONCLUSIVAS: o parágrafo final apresenta as principais posições que o autor assumiu ao longo do trabalho. REFERÊNCIAS: elaboradas de acordo com a norma da ABNT, as referências devem abordar todos os livros e artigos de fato utilizados ao longo do position paper. Na hipótese deste ter se baseado numa observação, dados sobre o local da mesma devem ser apresentados. Quanto ao short paper, também chamado por alguns autores issue paper, Amboni, Amboni (1997) destacam que o mesmo segue uma estrutura comum ao position paper, sendo entretanto ainda mais restrito, pois trabalharia exclusivamente com uma só ideia desenvolvida 150 por um autor, ou extraída da observação da realidade. Dessa maneira, este tipo é ainda menos extenso que o position paper, sendo esta a única distinção entre os dois. Dessa maneira, Amboni, Amboni (1997) recomendam que o termo position paper seja usado genericamente para os dois tipos de trabalho. 13.5 RESENHA CRÍTICA Conceitualmente falando, uma resenha é [...] um relato minucioso das propriedades de um objeto, ou de suas partes constitutivas; é um tipo de redação técnica que inclui variadas modalidades de textos: descrição, narração e dissertação. Estruturalmente, descreve as propriedades da obra (descrição física da obra), relata as credenciais do autor, resume a obra, apresenta suas conclusões e metodologia empregada, bem como expõe um quadro de referências em que o autor se apoiou (narração) e, finalmente, apresenta uma avaliação da obra e diz a quem a obra se destina (dissertação). (MEDEIROS, 2000, p. 137). A resenha crítica, por sua vez, inclui a apresentação de uma posição crítica por parte do resenhista, comentando e julgando a obra estudada (MEDEIROS, 2000). Para Rauen (2002), a resenha crítica resulta de leituras críticas e de resumo do texto, pois comprime e concentra o conteúdo de uma obra, e a confronta com outros referenciais teóricos ou práticos. Na apresentação do conteúdo, Amboni, Amboni (1997) recomendam que seja feita uma exposição clara e detalhada do conteúdo, do propósito e do método adotado pela obra; em seguida, o resenhista irá apreciar criticamente o conteúdo, a disposição das partes, o método, forma e estilo, e, quando necessário, a apresentação tipográfica da obra (AMBONI;AMBONI, 1997). Ela é, no dizer dos autores, tanto objetiva quanto subjetiva. A grande maioria dos autores observa que uma resenha crítica, feita com intuito de publicação em periódico científico, deve ser elaborada por um resenhista que tenha conhecimento e domínio do assunto. Ou seja, as credenciais do autor da resenha são fundamentais para que a mesma tenha validade científica. Diante disso, fica nítido que, no caso de um trabalho acadêmico caracterizado como resenha crítica, não há credenciais que sustentem o posicionamento do autor, pois este não é uma autoridade reconhecida no assunto. Entretanto, ainda que de maneira restrita, a resenha crítica é aplicável e interessante enquanto trabalho acadêmico. O nível de exigência é mais baixo do que no caso de uma resenha para publicação, naturalmente. A estrutura da resenha feita com propósito acadêmico também é diferente, seguindo padrões adaptados a partir do definido por Amboni, Amboni (1997): CAPA. SUMÁRIO. 151 INTRODUÇÃO: apresentação inicialmente genérica do assunto da resenha, e posteriormente focalizada no ponto de vista que deve ser abordado no trabalho. Inclui justificativa que determine a importância do trabalho e explicação sobre o método adotado pelo resenhista. DESCRIÇÃO DO ASSUNTO: apresentação das ideias e do pensamento do autor resenhado, numa seqüência lógica e encadeada de elementos. Os aspectos apontados por Medeiros (2000), supracitados, devem ser contemplados. APRECIAÇÃO CRÍTICA: neste trecho, o resenhista apresenta um posicionamento, fundamentado em outros autores, de concordância ou discordância com o texto resenhado, em termos da validade ou aplicabilidade deste. CONSIDERAÇÕES FINAIS: reflexões e constatações feitas pelo resenhista ao longo do trabalho. REFERÊNCIAS: elaboradas conforme as normas da ABNT. ANEXOS: é recomendável incluir o artigo ou texto originalmente utilizado como base para a resenha crítica. Pode-se notar que existe uma continuidade entre os trabalhos do tipo short paper, position paper e resenha crítica – todos são trabalhos em que são feitas apresentações de conteúdo e apreciações críticas do mesmo. O grau de complexidade e profundidade entretanto é crescente, cabendo à resenha o mais elevado grau de exigências. 13.6 ENSAIOS Os ensaios, dentre os trabalhos acadêmicos, são os que apresentam o maior grau de informalidade (ainda que, evidentemente, existam ensaios formais), e representam um comentário livre, reflexivo e teórico sobre um tema ou obra, sistematizando de maneira inicial as ideias a respeito de um assunto pouco desenvolvido ou pouco explorado (SALVADOR apud AMBONI; AMBONI, 1997). Reúne os pensamentos do ensaísta, organiza-os e os apresenta ao leitor com clareza e concisão, devendo ser escritos de modo atraente e interessante ao leitor (RAUEN, 2002). O ensaio exige maturidade intelectual, pois abre a possibilidade de apresentar uma tese pessoal sem a necessidade de comprová-la (RAUEN, 2002). Escrever um ensaio, entretanto, exige uma série de passos: em primeiro lugar, deve-se fazer uma reflexão sobre o tema, devendo-se após esta planejar a redação e apresentação dos tópicos, escrever uma primeira versão, revisá-la e reavaliá-la de acordo com os pontos de 152 vista dos possíveis leitores. Salvador (apud AMBONI; AMBONI, 1997) acrescenta que o ensaio dispensa o domínio das técnicas de pesquisa científica, mas exige grande cultura e maturidade intelectual, permitindo ao ensaísta usar uma linguagem mais elegante e literária. A estrutura do ensaio, de acordo com Amboni, Amboni (1997), é a seguinte: CAPA. SUMÁRIO. INTRODUÇÃO: expõe o assunto, apresenta os pressupostos defendidos pelo ensaísta e define a metodologia adotada para o trabalho. DISCUSSÃO DOS PRESSUPOSTOS BÁSICOS QUE NORTEIAM O ENSAIO: apresenta e discute o assunto e a tese defendida pelo autor a respeito deste, a qual é subjetiva e inclui um juízo de valor sobre o assunto. CONSIDERAÇÕES FINAIS. REFERÊNCIAS. ANEXOS. Convém observar que a exigência da impessoalidade na redação não se aplica ao ensaio. Como se trata da exposição de um ponto de vista pessoal sobre um assunto, o ensaísta pode perfeitamente escrever na primeira pessoa sem dificuldade. 13.7 MONOGRAFIAS As monografias são os mais extensos e formais dos trabalhos acadêmicos, tratando de um assunto particular de maneira sistemática, completa e rigorosa; aborda apenas um assunto por vez, dissertando sobre o mesmo, em graus crescentes de originalidade, profundidade e extensão, em um continuum que vai da monografia propriamente dita, usada como trabalho de conclusão de curso de graduação ou de pós-graduação, até a tese de doutorado, passando pela dissertação de mestrado. Há muitas obras no mercado que trabalham com as monografias, sendo recomendável a consulta às mesmas para maior profundidade. Como o propósito desta seção era definir e estruturar os principais trabalhos acadêmicos, a monografia não será abordada com maior detalhamento no mesmo. Por ora, basta observar que sua estrutura é muito aproximada dos trabalhos de conclusão de estágio, já trabalhados em seção anterior, devendo esta ser consultada para maiores detalhes, já que os diferentes elementos que a compõem estão ali apresentados, não havendo diferenças de monta entre os mesmos. 153 A estrutura das monografias, proposta por Rauen (2002), consiste nos seguintes elementos: a) Elementos pré-textuais: CAPA. FOLHA DE ROSTO. PÁGINA DE APROVAÇÃO. PÁGINA DE DEDICATÓRIAS. PÁGINA DE AGRADECIMENTOS. PÁGINA DE EPÍGRAFE. RESUMO. RESUMO EM LÍNGUA ESTRANGEIRA. SUMÁRIO. LISTAS (figuras, tabelas, siglas, símbolos, apêndices e anexos). b) Elementos textuais: INTRODUÇÃO. DESENVOLVIMENTO. CONCLUSÃO. c) Elementos pós-textuais: REFERÊNCIAS. GLOSSÁRIOS. APÊNDICE/ANEXOS. ÍNDICES. 13.8 ESTUDOS DE CASO O estudo de caso, como observa Roesch (1999), não deve ser considerado como um método de pesquisa (ainda que o estudo de caso seja normalmente reconhecido como uma das classificações das pesquisas quanto aos fins), mas como uma estratégia de investigação de um fenômeno em profundidade, no contexto em que se verifica, e buscando compreender os processos que o compõem, facilitando ainda uma compreensão do fenômeno sob diversos ângulos. Robert K. Yin (1984) observa que um estudo de caso deve pesquisar o “como” e o “por quê” de um fenômeno contemporâneo, sem ter preocupação de controlar variáveis comportamentais, e oferece a seguinte definição: 154 Um estudo de caso é uma pesquisa empírica que: investiga um fenômeno contemporâneo em seu contexto real; quando os limites entre o fenômeno e o contexto não são claramente visíveis; e no qual múltiplas fontes de evidência são usadas. (YIN, 1984, p. 23, grifos do autor; tradução nossa). Um estudo de caso não deve ser confundido com uma experimentação, pois esta destaca algumas variáveis do fenômeno estudado de seu contexto, tampouco com estudos históricos e com surveys, pois os primeiros normalmente não abordam o contemporâneo, e os últimos não conseguem trabalhar com todos os aspectos ambientais envolvidos (YIN, 1984). Uma crítica comum aos estudos de caso refere-se à sua especificidade. Ao trabalhar um caso, o pesquisador está investigando uma realidade específica, o que dificulta sua generalização para outras realidades. Entretanto, Eckstein (apud ROESCH, 1999), sugere que um caso pode contribuir para a teoria de diversas formas, como descrever aspectos particulares da realidade, descrever a teoria com base em uma situação real, explorar ou gerar novas teorias, ou testar a teoria. O estudo de caso normalmente é trabalhado como uma parte de um trabalho monográfico sobre um determinado assunto, mas também pode ser empreendido como um trabalho independente. Uma estrutura adequada para um estudo de caso, enquanto um trabalho específico de pesquisa do administrador, é a que se sugere a seguir: CAPA; SUMÁRIO; LISTAS (figuras, tabelas, siglas); INTRODUÇÃO; REFERENCIAL TEÓRICO; DESCRIÇÃO DA SITUAÇÃO PESQUISADA (CASO): inclui aspectos metodológicos sobre a forma de coleta dos dados e sua categorização/classificação (tratamento dos dados), uma descrição da(s) empresa(s) pesquisada(s), que deve sublinhar as características específicas da realidade pesquisada (se necessário, incluindo dados históricos), e os dados coletados na pesquisa; ANÁLISE DOS DADOS: deve ser procedida com base na teoria apresentada; CONSIDERAÇÕES FINAIS; REFERÊNCIAS; APÊNDICES E ANEXOS. 155 Uma questão correlata se refere à análise do estudo de caso pelo acadêmico de Administração. Embora o tipo de análise varie de acordo com a disciplina e as características do caso, alguns aspectos são comuns: a) todos os fatos apresentados no relato do caso devem ser considerados relevantes em maior ou menor grau; b) conclusões obtidas a partir do caso devem ser sustentadas por conhecimentos teóricos prévios, através de analogias ou comparações; c) as conclusões obtidas não devem ser generalizadas, a não ser que o caso aponte nessa direção. 13.9 SEMINÁRIO O seminário pode ser descrito como um trabalho acadêmico no qual há uma vasta pesquisa sobre o tema, uma discussão e um debate, sendo este último o principal objetivo do seminário. A palavra seminário (seminariu) significa sementeira, onde se faz germinar as sementes de novas ideias, de novas pesquisas, sendo estes, também, objetivos de um seminário. O apresentador do seminário deve providenciar, com antecedência, um texto-base, ou seja, um texto bem informativo e distribuir aos participantes, para que estes tenham conhecimento sobre o tema. Na apresentação do seminário deve-se utilizar elementos visuais (cartazes, transparências, slides, apresentações em PowerPoint, etc.), que deverão ser apresentados em forma de tópicos, escritos em letras de tamanho que torne fácil a leitura. Estes elementos visuais servirão como um roteiro, tanto para o apresentador quanto para os ouvintes, facilitando a participação dos mesmos. Ou seja, um seminário deve ser considerado não só como uma forma de apresentar um conhecimento relevante para uma determinada disciplina, mas também como uma forma de despertar nos demais participantes do curso a curiosidade sobre o assunto, estimulando o debate em torno dos elementos apresentados pela equipe responsável pelo tema em questão. O professor responsável pelo curso ou disciplina será o coordenador dos seminários, organizando o cronograma de apresentação e a distribuição dos temas. Cabe-lhe ao final da exposição orientar o debate e fazer uma apreciação do trabalho apresentado. 156 REFERÊNCIAS ABBAGNANO, Nicola. Diccionario de filosofia. 2. ed., 9. reimp. México, D. F.: Fondo de Cultura Económica, 1992. ALVES, Rubem. Filosofia da ciência: introdução ao jogo e suas regras. 10. ed. São Paulo: Brasiliense, 1987. ALVES-MAZZOTTI, Alda Judith; GEWANDSZNAJDER, Fernando. O método nas ciências naturais e sociais: pesquisa quantitativa e qualitativa. 2. ed. São Paulo: Pioneira, 1999. AMBONI, Nério; AMBONI, Narcisa de Fátima. Metodologia da pesquisa acadêmica e empresarial. Florianópolis: ESAG/UDESC, 1997. (mimeo.). ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Resumos. NBR 6028. Rio de Janeiro, 1987. _____. Informação e documentação - referências - elaboração. NBR 6023. Rio de Janeiro, 2002. ______. Informação e documentação - apresentação de citações em documentos. NBR 10520. Rio de Janeiro, 2002a. ______. Informação e documentação - trabalhos acadêmicos. NBR 14724. Rio de Janeiro, 2002b. BERGAMINI, Cecília Maria Whitaker; BERALDO, Deobel Garcia Ramos. Avaliação de desempenho humano na empresa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1988. BIANCHI, Anna Cecilia de Moraes; ALVARENGA, Marina; BIANCHI, Roberto. Manual de orientação: estágio supervisionado. 2. ed., rev. São Paulo: Pioneira, 2002. BLAUG, Mark. Metodologia da economia. 2. ed., rev. São Paulo: EDUSP, 1993. (Coleção Biblioteca EDUSP de Economia, Vol. 1). BRYMAN, Alan. Quantity and quality in social research. London: Unwyn Hyman, 1988. CERVO, Amado L.; BERVIAN, Pedro A.; SILVA, Roberto da. Metodologia científica. 6. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007. CHALMERS, A. F. O que é ciência, afinal? São Paulo: Brasiliense, 1995. CHIZZOTTI, Antonio. Pesquisa qualitativa em ciências humanas e sociais. Petrópolis: Vozes, 2006. 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Zapelini Área de Concentração: Administração de Recursos Humanos Florianópolis, janeiro de 2013 161 SUMÁRIO 1) IDENTIFICAÇÃO DO ESTÁGIO.....................................................................................2 1.1 Nome do estagiário..............................................................................................................2 1.2 Local do estágio...................................................................................................................2 1.3 Orientador.............................................................................................................................2 1.4 Área do estágio....................................................................................................................2 1.5Tema....................................................................................................................................2 2 OBJETIVOS.........................................................................................................................3 2.1 Objetivogeral.........................................................................................................................3 2.2 Objetivos específicos...........................................................................................................3 3 REFERENCIAL TEÓRICO...............................................................................................4 4 CLASSIFICAÇÃO DO ESTÁGIO.....................................................................................8 5 CRONOGRAMA E DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES..................................................9 5.1Cronograma...........................................................................................................................9 5.2 Descrição das atividades.....................................................................................................9 6 REFERÊNCIAS...................................................................................................................11 7 ANEXOS 162 1. IDENTIFICAÇÃO DO ESTÁGIO 1.1) Nome do estagiário: João Silva 1.2) Local do estágio: O estágio será realizado na JS Empreendimentos Limitada, empresa situada na rua X, nº 0, no Departamento de Recursos Humanos. A JS atua no setor de construção civil há 30 anos, e atualmente emprega 65 pessoas em seu quadro permanente, utilizando serviços de empresas terceirizadas em suas obras. No Departamento de Recursos Humanos, trabalham atualmente seis pessoas, sob a direção do sr. Luiz Fontes, que será o supervisor deste estágio. 1.3) Orientador: O estágio será orientado pelo prof. Marcello B. Zapelini, professor da disciplina Administração de Recursos Humanos da FEAN. 1.4) Área do Estágio: Administração de Recursos Humanos 1.5) Tema: Optou-se pelo assunto Treinamento de Recursos Humanos para o tema do estágio, por ser este fundamental para o sucesso das operações de uma organização. Paralelamente, a empresa demonstrou interesse mudanças em sua política de treinamento, para torná-la mais adequada às suas necessidades. 163 2. OBJETIVOS 2.1) Objetivo geral Propor um programa de treinamento de recursos humanos para a JS Empreendimentos Ltda. com vistas a gerar maior produtividade dos colaboradores. 2.2) Objetivos específicos a) Analisar a estrutura do Departamento de Recursos Humanos da empresa, com destaque para a função Treinamento; b) Descrever os métodos e técnicas utilizados pela empresa para a definição dos programas de treinamento; c) Levantar os programas de treinamento atualmente oferecidos pela empresa, destacando critérios de seleção dos treinandos, definição de objetivos, seleção de cursos, métodos de implementação e os instrumentos de levantamento de feedback; d) Identificar, através de pesquisa com os gerentes e os colaboradores, os pontos fortes e fracos dos programas de treinamento da empresa; e) Levantar sugestões, junto aos gerentes e colaboradores, de aprimoramento dos programas de treinamento; f) Apresentar uma proposta de programa de treinamento para a empresa. 164 3. REFERENCIAL TEÓRICO Milioni conceitua treinamento como “[...] a ação sistematizada de educação para a capacitação, o aperfeiçoamento e o desenvolvimento do indivíduo” (in BOOG, 2001, p. 10). Numa veia similar, DeCenzo, Robbins conceituam treinamento como [...] a experiência aprendida que produz uma mudança relativamente permanente em um indivíduo e que melhora sua capacidade de desempenhar um cargo. O treinamento pode envolver uma mudança de habilidades, conhecimento, atitudes ou comportamento. Isto significa mudar aquilo que os empregados conhecem, como eles trabalham, suas atitudes frente ao seu trabalho ou suas interações com os colegas ou supervisor. (apud CHIAVENATO, 1999, p. 295). Marras (2000) prefere sublinhar o caráter de assimilação cultural inerente ao treinamento, mencionando o quanto este depende de passar, para o funcionário, um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes diferente daqueles que ele já possui, com vistas a executar melhor suas tarefas ou otimizá-las. No modelo tradicional de ARH, baseado na definição de um Departamento ou Diretoria de Recursos Humanos, o treinamento era de responsabilidade de uma gerência específica, à qual cabia identificar as necessidades da empresa em termos de treinamento do pessoal e estabelecer políticas para a implementação de programas que as satisfizessem, bem como definir instrumentos de acompanhamento e avaliação dos mesmos. Nesse modelo, compete a um órgão de treinamento definir e fixar, de acordo com os interesses e objetivos da empresa, a política de formação e desenvolvimento de seu pessoal, visando, através da aplicação de planos e programas específicos, prover a empresa de pessoal técnica e administrativamente habilitado, satisfeito e estável. (FERREIRA, 1987, p. 18). É visível, nesta definição, a caracterização do treinamento como uma atividade “de cima para baixo”, isto é, baseada na identificação, por parte de um órgão da empresa, das necessidades de desenvolvimento dos diferentes setores. Os objetivos dos programas de treinamento podem ser divididos em duas categorias: a) Específicos: formação profissional do colaborador em sua função, especialização para otimização no desempenho das atividades, e reciclagem; b) Genéricos: aumento direto da produtividade e da qualidade no desempenho das tarefas, incentivos motivacionais, otimização pessoal e organizacional e atendimento das exigências de mudanças das empresas, em processos, tecnologia, comportamento, etc. (MARRAS, 2000); O treinamento abrange, ainda segundo Marras (2000), os seguintes aspectos: a) Técnico: refere-se à necessidade da ARH submeter sua programação de treinamento aos setores em que o pessoal será aplicado, comprometendo-se com os objetivos destes; 165 b) Comportamental: o treinamento deve ser efetuado tendo-se em consideração um "pacote" ou "padrão" de comportamentos, atitudes e valores que são esperados dos funcionários. Um programa de treinamento envolve diversas etapas, cuja descrição vai a seguir (FERREIRA, 1987): a) Levantamento das necessidades de treinamento: trata-se de pesquisar informações a respeito do “[...] conjunto de problemas de desempenho (existente ou em potencial), solucionáveis pelo treinamento” (FERREIRA, 1987, p. 54). Essa pesquisa irá gerar uma visão a respeito do que deve ser realizado em termos de programas específicos de treinamento dentro da empresa; b) Elaboração de programas de treinamento: o programa deve ser considerado como um conjunto de planos específicos de treinamento, de modo que as necessidades identificadas no item “a” sejam satisfeitas. Esse programa deve conter: Objetivos dos cursos; Definição dos ministrantes; Participantes; Data e local dos cursos; Formas e meios utilizados para ministrar esses cursos; Relacionamentos entre os cursos programados e outros, realizados ou a realizar; Definição do acompanhamento dos cursos, bem como do registro e controle dos resultados; c) Definição dos métodos a serem utilizados no treinamento: dependendo dos objetivos do programa, determinados métodos são considerados mais importantes ou mais eficazes que outros, devendo-se procurar o método que mais se adeque aos objetivos e necessidades da empresa em relação ao treinamento; d) Definição de critérios de avaliação: pode-se avaliar os resultados do treinamento de forma subjetiva ou objetiva, sendo a primeira referente à avaliação dos próprios treinandos, que apresentam sua opinião a respeito do curso ou do programa por meio de questionários previamente definidos. Já a avaliação objetiva é realizada pelos supervisores dos treinandos, e “[...] refere-se ao aprendizado resultante, às modificações de comportamento verificadas, ao desenvolvimento constatado de aptidões e capacidades.” (FERREIRA, 1987, p. 187). Embora essa sistemática ainda seja utilizada, a definição implícita de programas de treinamento de pessoal, como mencionado acima, não se justifica mais, à medida em que o 166 colaborador da empresa é visto mais e mais como alguém que deve assumir responsabilidades sobre seu desempenho na mesma. Entretanto, para atividades repetitivas ou burocráticas, ou para trabalhos extremamente simples, ela ainda pode ser considerada eficaz. Embora essa posição seja justificável, alguns aspectos podem ser levantados. No que tange ao levantamento das necessidades de treinamento, um aspecto extremamente importante é levantado por Baumgartner (in BOOG, 2001): muitos empresários consideram que o investimento em treinamento deve ser feito a partir de sinalizações do mercado; se não existirem essas pressões do mercado, a empresa não precisa investir em treinamento. Essa posição, afirma o autor, é perigosa, porque a empresa que está passando por dificuldades corta os custos, e os programas de treinamento estão entre os primeiros a serem cortados. Um outro ponto, mencionado por Milioni (in BOOG, 2001), refere-se à necessidade de integrar o processo de levantamento com o de avaliação. Finalmente, é fundamental ter em mente que o levantamento das necessidades de treinamento não somente abrange quais serão os programas a serem realizados, mas também quem será treinado (MARRAS, 2000). No que se refere ao sistema de avaliação do treinamento, Milioni e Castro (in BOOG, 2001) defendem o ponto de vista de que não se deve apenas avaliar, mas também validar os resultados do processo de treinamento. Afirma Milioni (in BOOG, 2001, p. 9) que “validar é reconhecer o valor esperado do objeto da análise efetuada, comparando a situação identificada, após uma ação de modificação do público-alvo, aos fatos que levaram à realização do treinamento, a que se denomina, geralmente, de ‘carência’”; ou seja, a validação é um processo que compara o “antes” ao “depois” na organização, tendo-se em mente o processo de treinamento e seus objetivos, de forma a concluir se, afinal, valeu à pena investir tempo e recursos no mesmo. 167 4. CLASSIFICAÇÃO DO ESTÁGIO A pesquisa que se pretende realizar no estágio deve ser classificada como qualitativa quanto à abordagem. Segundo Rauen (2002), essa abordagem é adequada para o estudo dos fatos humanos; ao basear-se na realidade construída pelos indivíduos em interação, ao tentar compreender situações únicas, particulares, ao tentar entender o fenômeno sob a óptica dos atores e tentar descrever profundamente os processos, sentidos e conhecimentos envolvidos (MERRIAM, apud RAUEN, 2002), essa abordagem se mostra a mais adequada para o problema de pesquisa a ser abordado. Quanto aos meios, este trabalho envolve o etudo de caso, a pesquisa documental e a bibliográfica (VERGARA, 2000), por focalizar o caso do treinamento da empresa, a ser estudado no local onde se processa, por utilizar documentos da empresa, bem como a análise da bibliografia específica sobre o tema treinamento. Quanto aos fins, a pesquisa deve ser qualificada como aplicada (VERGARA, 2000), uma vez que seu objetivo se associa à elaboração de uma proposta de programa de treinamento especificamente voltado para as necessidades da organização. 168 5. CRONOGRAMA E DESCRIÇÃO DE ATIVIDADES 5.1) Cronograma ETAPAS/MESES 1) Pesquisa bibliográfica 2) Def. Instr. Coleta 3) Coleta de dados 4) Análise de dados 5) Elaboração do TCE 6) Defesa do TCE Setembro Outubro Novembro Dezembro Janeiro Fevereiro A data de 1º de março de 2013 será considerada como início das atividades. 5.2) Descrição de atividades 1) Pesquisa bibliográfica Nesta etapa o referencial teórico necessário para as atividades de estágio será reunido, lido, analisado e discutido junto ao orientador, de acordo com os objetivos propostos neste Plano. 2) Definição do instrumento de coleta de dados Os instrumentos de coleta de dados serão a entrevista, o questionário e a análise documental, aplicados da seguinte forma: a) Os colaboradores com cargo de gerência serão pesquisados através de entrevista semiestruturada, para que se determine como está organizado o departamento, bem como para levantar suas posições sobre os programas de treinamento hoje adotados pela empresa; b) Os demais colaboradores da empresa deverão ser pesquisados por meio de questionário semi-aberto, para levantar suas perceções a respeito dos programas de treinamento; c) A documentação interna será analisada para fornecer uma visão objetiva do funcionamento das atividades de treinamento da organização. Tanto as questões da entrevista quanto as do questionário serão discutidas previamente com o orientador e apresentadas ao Diretor de Recursos Humanos, para sua aprovação. Um dos gerentes e três colaboradores serão pesquisados previamente, a fim de realizar um préteste dos instrumentos. 169 3) Coleta dos dados Os documentos internos serão analisados à medida em que forem disponibilizados para o estagiário. Esses documentos provirão dos arquivos da empresa e terão sua análise condicionada à aprovação por parte da Direção da empresa. As entrevistas serão realizadas preferencialmente num mesmo dia, em horários previamente combinados e com a concordância da Direção da empresa. Os questionários serão aplicados após a realização das entrevistas, em horários previamente definidos, com a presença do estagiário para dirimir quaisquer dúvidas ou interpretações das questões propostas no mesmo. 4) Análise dos dados A análise dos dados será qualitativa, buscando levantar as percepções e opiniões dos colaboradores nos diferentes níveis, recorrendo à quantificação estatística apenas para determinar a Frequência com que essas opiniões são apresentadas. Conforme discussões prévias com o professor orientador, serão definidas categorias de análise para facilitar o tratamento dos dados. A análise de conteúdo dos documentos será realizada tendo por base determinar quais são os dados referentes às descrições e estruturação dos programas, e quais dados permitem reconhecer posicionamentos pessoais dos autores. Todo o material coletado será reunido em documento a ser apresentado ao Diretor de Recursos Humanos da JS Empreendimentos Ltda., para sua aprovação e autorização do uso dos mesmos. 5) Elaboração do TCE Nesta etapa proceder-se-á à redação do Trabalho de Conclusão de Estágio. Uma versão preliminar do mesmo será entregue ao orientador e ao Coordenador Metodológico para que, a partir de suas sugestões, alterações e correções, seja possível apresentar um trabalho em condições de ser defendido perante a banca. 6) Defesa do TCC ou Relatório de Estágio A etapa final consiste na entrega do Trabalho de Conclusão de Curso ou Relatório de Estágio, em três cópias, à Coordenadoria de Estágios, para que esta defina a data da apresentação do mesmo perante a banca definida pela Coordenadoria. 170 5. REFERÊNCIAS BOOG, G. G (Ccoord.). Manual de treinamento e desenvolvimento: um guia de operacionalização. São Paulo: Makron Books, 2001. CHIAVENATO, I. Gestão de pessoas: o novo papel de recursos humanos nas organizações. Rio de Janeiro: Campus, 1999. DECENZO, D. A.; ROBBINS, S. P. Administração de recursos humanos. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2001. FERREIRA, P. P. Treinamento de pessoal. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1987. KANAANE, R.; ORTIGOSO, S. A. F. Manual de treinamento e desenvolvimento do potencial humano. São Paulo: Atlas, 2001. MARRAS, J. P. Administração de recursos humanos: do operacional ao estratégico. 3. ed. São Paulo: Futura, 2000. RAUEN, F. J. Roteiros de investigação científica. Tubarão: UNISUL, 2002. ULRICH, D. Os campeões de Recursos Humanos. São Paulo: Futura, 1998. VERGARA, S. C. Projetos e relatórios de pesquisa em Administração. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2000. 171 APÊNDICE B- Relatório de Estágio, ou TCC: considerações RELATÓRIO DE ESTÁGIO (TCE) - TRABALHO DE CONCLUSÃO CURSO INSTRUÇÕES GERAIS O coroamento do processo de conclusão de curso se dá com a elaboração, entrega e defesa do realtório de estágio ou do trabalho de conclusão de curso (TCC). Este trabalho deve ser considerado, como destaca Roesch (1999), como mais do que o relato de uma experiência vivida numa empresa: ele é um trabalho acadêmico. E como um trabalho acadêmico, ele deve seguir algumas regras básicas, que este documento procura esclarecer. A apresentação do Relatório de Estágio, ou do TCC, segue as normas da ABNT, tais como apresentadas no manual de Metodologia Científica (ver em www.faculdadesenergia.com.br). Uma vez concluído, o trabalho deve ser entregue em uma cópia ao Coordenador de Estágios, que procederá à avaliação da metodologia científica. Se for aprovado por estes para a defesa em banca, o aluno deverá entregar outras duas cópias para os membros da banca, a serem designados pelo coordenador de estágio (consultando o orientador do mesmo). Uma vez que o trabalho tenha sido devidamente aprovado pela banca, caberá ao estagiário entregar uma cópia em meio magnético (CD-Rom). ESTRUTURA DO TCE O TCE se estrutura como qualquer outro trabalho monográfico, dividindo-se nas partes pré-textual, textual e pós-textual. Os elementos são apresentados na ordem em que devem ser posicionados no trabalho. Os elementos pré-textuais contêm: a) capa e lombada; b) folha de rosto; c) errata (opcional); d) página de aprovação; e) dedicatória, agradecimentos e epígrafes (opcionais); f) resumo e palavras-chave (obrigatório o resumo em vernáculo); 172 g) listas (Ilustrações, Tabelas, Abreviaturas e siglas, Símbolos – quando for o caso de sua apresentação); h) Sumário. Os elementos textuais incluem: a) introdução; b) revisão da literatura; c) metodologia; d) desenvolvimento do estudo (análise); e) considerações finais. Os elementos pós-textuais consistem em: a) referências; b) glossário (opcional); c) apêndices e anexos (opcionais); d) índices (opcionais). Todos os elementos seguem as normas da ABNT em termos de apresentação (ver o manual de metodologia da Faculdade para maiores informações). A seguir, detalhar-se-ão os diferentes elementos do trabalho (o anexo deste trabalho apresenta os modelos de alguns deles). A capa consiste numa cobertura para o trabalho, e deve trazer as seguintes informações: nome da instituição em que o trabalho está sendo apresentado, título e subtítulo, nome do autor, local e ano de entrega do trabalho. Já a lombada é utilizada nos trabalhos entregues encadernados em capa dura. As informações que devem constar da mesma são: nome da faculdade, trabalho de conclusão de estágio, nome do autor, título do trabalho, ano da defesa. A folha de rosto inclui o nome do autor, o título do trabalho, indicação da natureza do trabalho (trabalho de conclusão de estágio, apresentado à Faculdade, etc.), o nome do orientador (com sua titulação), local e ano de entrega do trabalho. A errata é um elemento que se insere no trabalho após sua impressão. Sua função é informar o local dos erros que “escaparam” da revisão, indicando suas correções. A dedicatória é uma homenagem opcional feita a alguma pessoa de escolha do autor. Os agradecimentos consistem em outro elemento opcional, em que o autor agradece àqueles que, de alguma forma, colaboraram com o trabalho. A epígrafe é uma citação de um pensamento, com autor devidamente identificado, que o autor julga interessante ou representativo do trabalho. 173 O resumo, como observam Acevedo, Nohara (2004), é a síntese do trabalho, e normalmente inclui o objetivo do trabalho, a metodologia, e os principais resultados alcançados; pode-se também incluir uma indicação do quadro teórico de referência em que o trabalho se insere. O resumo é sempre digitado em espaço simples, e deve ter um máximo de 300 palavras. As palavras-chave são apresentadas após o resumo, e são palavras que descrevem o conteúdo do trabalho, auxiliando na sua classificação. A(s) lista(s) de ilustrações consistem em listagens dos diferentes elementos ilustrativos (figuras, fotografias, mapas, gráficos, organogramas, etc.) apresentados no texto. Em se havendo muitos elementos ilustrativos diferentes, deve-se apresentar uma lista para cada elemento (lista de gráficos, lista de mapas, etc.), na ordem em que são apresentados no texto. Isso também se aplica para a lista de tabelas. No caso de um trabalho utilizar muitas siglas, é conveniente trazer a relação das siglas (lista de abreviaturas e siglas) apresentadas no texto, em ordem alfabética, acompanhada das expressões que elas representam. Isso não exime o autor do texto de apresentar o significado por extenso quando a sigla aparecer pela primeira vez em um texto. A mesma coisa se aplica para os símbolos que venha a ser apresentados no texto (lista de símbolos). O último elemento pré-textual que deve ser apresentado é o sumário. Consiste na apresentação dos elementos contidos no trabalho (na ordem e na forma em que aparecem no texto), acompanhados das páginas em que se encontram. Sobre este, remete-se ao manual de metodologia, onde há um modelo completo baseado nas definições da ABNT para este elemento. Os elementos textuais se constituem no trabalho de fato realizado pelo autor, sendo portanto os mais importantes deste. O primeiro deles é a introdução. Sobre este elemento, Sylvia Roesch (1999, p. 186) escreve: “esta parte contém o relato da situação problemática que deu origem ao projeto, de seus objetivos e sua justificativa.” Ou seja, a introdução visa contextualizar o leitor do trabalho na problemática que será desenvolvida ao longo do trabalho, possibilitando a este elementos suficientes para decidir se irá continuar a leitura ou não, além de dar uma indicação do que ele deverá encontrar ao longo do trabalho (estrutura geral do estudo). De modo mais preciso, a introdução deve conter os seguintes elementos (não é preciso destacar a maioria por meio de subtítulos, mas todos eles devem estar contemplados ao longo do texto): Delimitação da área: qual a área de conhecimento a que se refere o trabalho, e por que se escolheu esta. Pode-se também incluir uma indicação do quadro teórico em que o trabalho 174 se enquadra, se for muito importante (por exemplo, quando há discussões a respeito da melhor forma de tratar do assunto); Organização em que o trabalho foi realizado: breve caracterização da organização (nome, setor em que se estagiou, ramo de atividade, nota histórica); Tema, problema e objetivos: delimitação da temática, problema que se abordou, objetivos geral e específicos. O projeto já oferece uma indicação deste item. Os objetivos devem estar destacados por subtítulo específico; Justificativa: por que se fez este trabalho específico, e não outro qualquer? A justificativa busca convencer o leitor de que o trabalho é importante em termos práticos (ou seja, o problema que a organização enfrentou, e motivou o estagiário a buscar solucioná-lo) e, em alguns casos, teóricos (contendo alguma indicação da importância do problema, baseada nos autores que já o trataram). Também pode ser interessante incluir nesta alguma indicação a respeito da adequação da metodologia adotada para o trabalho. A justificativa deve ser destacada como um subtítulo à parte. É importante observar que, ao contrário do que às vezes se faz, a introdução não é lugar para citações e transcrições de outros textos: ela é um elemento inteiramente de responsabilidade do autor do trabalho. O elemento textual subsequente à introdução consiste no desenvolvimento do trabalho propriamente dito. Deve ser dividido em alguns capítulos específicos, a saber: Revisão da literatura: quadro teórico utilizado pelo estagiário para fundamentar suas análises sobre o problema estudado. Pode ser dividida em quantos capítulos forem necessários para a compreensão do tema, e não é necessário usar o título “revisão da literatura”. Citações e notas de rodapé devem ser utilizadas para melhor fundamentar ou explicar o que é desenvolvido no trabalho; Metodologia: consiste na classificação do trabalho a partir da abordagem, dos meios e dos fins (conforme discutido no manual de metodologia), na descrição dos instrumentos de coleta de dados (justificando sua escolha e, se necessário, explicando por que um outro instrumento não foi escolhido), e dos instrumentos de análise dos dados; Desenvolvimento do estudo (análise): deve incluir a caracterização da empresa, de forma mais completa do que apresentado na introdução, a descrição dos dados coletados (ou seja, a situação atual do problema enfocado no trabalho de estágio) e a análise (incluindo apresentação em gráficos, quadros, tabelas ou estatísticas, e o estudo dos mesmos em face do referencial teórico). 175 Finalmente, a parte textual se conclui com as considerações finais. Basicamente, este item se concentra em dar um fechamento ao trabalho, descrevendo concisamente as conclusões às quais o estagiário chegou após realizar o trabalho; também é interessante incluir a contribuição feita pelo trabalho à organização em que ele foi realizado, e recomendações ou sugestões de estudos posteriores na área. Deve-se ter em mente que, como a introdução, as considerações finais devem ser de autoria exclusiva do estagiário, evitando citações; além disso, elas não são o lugar para novidades: sendo o fechamento do trabalho, as considerações finais não introduzem nenhum elemento que não tenha sido previamente tratado ao longo do trabalho. Os elementos pós-textuais são divididos em obrigatórios e opcionais. O primeiro deles é obrigatório: as referências. Estas seguem as normas da ABNT para sua apresentação (novamente, ver o manual para apresentação sucinta da norma e exemplos), e incluem todos os livros, artigos de periódicos, sítios da internet e outros materiais diversos efetivamente utilizados na confecção do trabalho. Se forem necessário, devem ser apresentados o glossário (descrevendo o significado de termos obscuros ou pouco conhecidos utilizados no trabalho), os apêndices e anexos (ver a seguir) e os índices (por exemplo, o índice onomástico ou de nomes, indicando a posição, no texto, dos nomes de pessoas citados ao longo do mesmo, o índice remissivo, que apresenta os principais assuntos e palavras-chave contemplados ao longo do texto, indicando as páginas em que estes são abordados). Sobre os apêndices, deve-se ter em mente que eles são elementos de elaboração do autor do TCE. Os mais comuns referem-se aos questionários e roteiros de entrevista utilizados na pesquisa (é altamente recomendável sua inclusão), bem como descrições mais acuradas dos métodos de análise e descrição dos dados. Os anexos dizem respeito a documentos elaborados por terceiros, como fotografias, catálogos de produtos, folders e material promocional da empresa, etc. É preciso observar que estes elementos devem ser usados com parcimônia, porque eles são complementos ao estudo realizado no trabalho, apenas acrescentando elementos que facilitem a compreensão do estudo. Um TCE pode apresentar, como único apêndice, o instrumento de coleta de dados. 176 REFERÊNCIAS ACEVEDO, Claudia Rosa; NOHARA, Jouliana Jordan. Monografía no curso de administração: guia completo de conteúdo e forma. São Paulo: Atlas, 2004. BIANCHI, Anna Cecília de Moraes; ALVARENGA, Marina; BIANCHI, Roberto. Manual de orientação: estágio supervisionado. 2. ed. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002. LIMA, Manolita Correia. Monografia: a engenharia da produção acadêmica. São Paulo: Saraiva, 2004. ROESCH, Sylvia Maria Azevedo. Projetos de estágio e de pesquisa em administração: guia para estágios, trabalhos de conclusão, dissertações e estudos de caso. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1999. VERGARA, Sylvia Constant. Projetos e relatórios de pesquisa em administração. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2000. 177 APÊNDICE A- Modelos de elementos do trabalho de conclusão do estágio FACULDADE ENERGIA DE ADMINISTRAÇÃO E NEGÓCIOS CURSO DE GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO HABILITAÇÃO: ADMINISTRAÇÃO DE CIDADES OU MARKETING Modelo de capa para TCE TÍTULO DO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE ESTÁGIO NOME DO AUTOR FLORIANÓPOLIS 2013 178 Modelo de lombada Faculdade Energia de Administração e Negócios Trabalho de Conclusão Curso Nome do autor TÍTULO DO TRABALHO Ano 179 NOME DO AUTOR Modelo de folha de rosto TÍTULO DO TRABALHO Este Relatório de Estágio (ou Trabalho de Cocnclusão de Curso) apresentado ao Curso de Graduação em _______________ da Faculdade Energia de Administração e Negócios como parte dos requisitos para a obtenção do título de Bacharel ____________. ORIENTADOR: PROF. MARCELLO B. ZAPELINI, M.A. FLORIANÓPOLIS 2013 180 ERRATA Folha Linha Onde se lê Leia-se 18 25 Adminsitração Administração 56 13 infomação informação Modelo de errata 181 NOME DO AUTOR Modelo de folha de aprovação TÍTULO DO TRABALHO Este Relatório de Estágio (ou Trabalho de Cocnclusão de Curso) foi considerado adequado para a obtenção do título de Bacharel em ____________ e aprovado em sua forma final pela Faculdade Energia de Administração e Negócios -FEAN Data de aprovação: dd/mm/aaaa Banca Examinadora: _______________________________ Prof. Fulano de Tal Orientador _______________________________ Prof. Fulano de Tal Membro _______________________________ Prof. Sicrano de Tal Membro 182 RESUMO O texto do resumo deve ser escrito em fonte de tamanho menor que o título (neste caso específico, usou-se a fonte 12 para o título e a 10 para o resumo). Deve-se digitá-lo em espaço simples e observar o limite máximo de 300 palavras para o mesmo. Palavras-chave: três palavras, no mínimo, separadas por ponto. Por exemplo: Administração de Recursos Humanos. Processo de Seleção. Entrevista de seleção. Modelo de apresentação do resumo 183 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1- Idade dos respondentes............................................................................................34 Gráfico 2- Formação educacional dos respondentes.................................................................35 Gráfico 3- Renda dos respondentes..........................................................................................37 Modelo de lista de ilustrações (válido para os demais elementos ilustrativos e tabelas) 184 1 INTRODUÇÃO Texto inicial posicionando o trabalho em um contexto amplo de problema, quadro teórico, organização, etc. 1.1 OBJETIVOS 1.1.1 Objetivo geral 1.1.2 Objetivos específicos 1.2 JUSTIFICATIVA Modelo de apresentação da introdução 185 2 REFERENCIAL TEÓRICO Modelo de apresentação de referencial teóricoPor Os títulos secundários representam divisões importantes do referencial teórico. 2.1 TÍTULO SECUNDÁRIO exemplo, num trabalho sobre administração pública municipal, o título secundário poderia ser: 2.1 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 2.1.1 Título terciário Os títulos após o secundário são sempre grafados em minúsculas, sendo a letra maiúscula utilizada exclusivamente para a primeira letra do título e nos casos em que a ortografia recomenda o uso da maiúscula, como nos nomes próprios, determinadas expressões jurídicas e expressões correntemente usadas em maiúsculas. Dentro do trabalho supracitado, um título terciário poderia ser: 2.1.1 Conceito e papel da Administração Pública Uma outra subdivisão poderia ser: 2.1.1.1 A Administração Pública brasileira após a reforma gerencial de Bresser Pereira Não se recomenda usar mais de quatro números para os títulos.