Sétima edição - Serviço Técnico de Caracterização de
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Sétima edição - Serviço Técnico de Caracterização de
1 Curso de Especialização em Gestão Ambiental e Negócios no Setor Energético Environmental Management and Energy Sector Business Specialization Course Objetivo Capacitar profissionais para analisar, avaliar, controlar, planejar, estruturar e implementar projetos, de forma eficaz e eficiente, com base nos modernos conceitos de gestão ambiental, a partir de uma visão integrada das áreas de Energia e de Meio Ambiente, em seus aspectos técnicos, legais, institucionais, comerciais e organizacionais, face à crescente importância estratégica e operacional dessas áreas. Objective Enable Professional to analyze, evaluate, control, plan, organize and implement projects, efficiently and incisively, based on the modern concepts of environmental management, with an integrated view of the Energy and the Environmental areas, in its technical, legal, institutional, commercial and organizational aspects, front to the increscent strategic and operational importance of these areas. Realização/Organizationn Informações/Information Tels.: (55 11) 3091-2649, 3091-2650 e 3091-2654 Fax: 3091-2653 [email protected] www.iee.usp.br/latosensu Inscrições/Registration Até 19/12/2009 Until 12/19/2009 Sumário/Summary Capa/Cover O Brasil está na rota da energia do futuro Brazil towards the energy of the future Páginas 6 a 11 Pages 12 to 16 Fotos / Photos: NREL e Novozymes Editorial................................................... 5 Entrevista/Interview Marcos Jank, presidente da Unica: ‘Precisamos de uma matriz energética bem-definida’.......... 37 Marcos Jank, Unica CEO: ‘We need a well defined energy matrix’................................. 41 Meryellen Duarte Empresas Modernas/Modern Companies Novozymes: enzimas para a próxima geração dos biocombustíveis.................................... 17 Novozymes: enzymes for the next biofuels generation ................................................. 19 Projetos do Cenbio/Cenbio Projects ‘Workshop’ Bioenergia: desafios e oportunidades de negócios .......................... 21 Workshop Bioenergy: challenges and business opportunities ............................................ 31 Amorim Leite Meio Ambiente/The Environment Em discussão, o efeito indireto da mudança do uso da terra ............................................. 27 Under discussion, the indirect effect of land use change ...................................................... 29 Artigo/Article Ésteres de ácidos graxos na Europa: tendências de mercado e perspectivas tecnológicas.............................................. 45 Fatty acid esters in Europe: market trends and technological perspectives............................ 50 Agenda Programe-se para os próximos eventos.......... 55 Include the next events in your schedule........ 55 3 Editora Editor Suani Teixeira Coelho Universidade de São Paulo (USP) Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (IEE-USP) Centro Nacional de Referência em Biomassa (Cenbio) Conselho Editorial Editorial Board José Goldemberg Universidade de São Paulo (USP) Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (IEE-USP) Daniel Pioch Centro Internacional de Pesquisas Agrícolas para o Desenvolvimento (Cipad) - Montpellier/França Eric D. Larson Universidade de Princeton/USA Fernando Rei Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) Francisco Annuatti Neto Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (USP) Frank Rossilo-Calle King´s College London/Inglaterra Helena Chum National Renewable Energy Laboratory/USA José Roberto Moreira Universidade de São Paulo (USP) Biomass Users Network Centro Nacional de Referência em Biomassa Av. Prof. Luciano Gualberto, 1289 Cid. Universitária CEP 05508-010, São Paulo, SP, Brasil Tel. (11) 3091-2649 http://cenbio.iee.usp.br Luiz Augusto Horta Nogueira Universidade Federal de Itajubá (Unifei) Luiz Gonzaga Bertelli Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) Sérgio Peres Universidade de Pernambuco (UPE) Equipe de Produção Editorial Publishing team of Production Cristiane Lima Cortez Fernando Saker (assistente) Sandra Apolinario Sílvia Maria González Velázquez Jornalista Responsável Journalist in Charge Amorim Leite MTb 14.010-SP Reportagem e Redação Editing Amorim Leite Jane Dias Victor Bianchin Projeto Gráfico Graphic Design Carolina Amorim Editoração Eletrônica Art Cristiane Martins Carratu Preparação de Texto Text Organization Amorim Leite Tradução para Inglês e Português Translation from and into English Mª Cristina V. Borba Ministério de Minas e Energia www.mme.gov.br A Revista Brasileira de Bioenergia, ISSN 1677-3926, é uma publicação trimestral do Centro Nacional de Referência em Biomassa (Cenbio), patrocinada pelo Ministério de Minas e Energia Projeto MME Projeto Fortalecimento n° 1406 - Convênio n° 07/ 2005, e distribuída para ministros de estado, senadores, governadores, deputados federais, prefeitos, deputados estaduais, diretores de agências reguladoras, secretários estaduais de meio ambiente e energia, cientistas, empresários e especialistas em meio ambiente e energia. As opiniões emitidas nas entrevistas e artigos são de responsabilidade de seus autores, não refletindo, necessariamente, a posição de seus editores. É permitida a reprodução parcial ou total das reportagens, desde que citada a fonte. The Revista Brasileira de Bioenergia, ISSN 1677-3926, is a quarterly publication of the Brazilian Reference Center on Biomass (Cenbio), sponsored by Ministério de Minas e Energia Projeto MME Fortalecimento nº1406 – Convênio nº 07/2005, and is distributed to federal government ministers, senators, deputies, federal legislators, mayors, state legislators, heads of regulatory agencies, state environmental and energy secretaries, scientists, businesspeople and specialists in energy and the environment. The opinions expressed in the interviews and articles are those of their authors and do not necessarily reflect the position of the editors. Partial and or total reproduction is permitted as long as the source is cited. Impresso por/Printed by Arvato do Brasil Tiragem/Press run 10.000 exemplares/10,000 copies Editorial UM PASSO A STEP A FRENTE AHEAD A B segunda geração dos biocombustíveis é o tema principal da sétima edição da Revista Brasileira de Bioenergia. No Brasil, a exemplo do que ocorre em todo o mundo, pesquisadores trabalham para aprimorar tecnologias e processos de produção que possam reduzir custos e tornar competitivos os novos combustíveis obtidos a partir da celulose presente em resíduos como o bagaço e palha da cana-de-açúcar, entre outros. Com eles, será possível, por exemplo, aumentar significativamente a produção sem a necessidade de ampliar a área plantada. Considerada uma revolução em termos de redução das emissões dos gases de efeito estufa e da dependência do petróleo, a nova geração ainda apresenta desafios. No caso brasileiro, que já tem matéria-prima disponível para o etanol de segunda geração, o desafio é aprender a desconstruir a estrutura da celulose de maneira eficiente – e econômica – para obter os açúcares fermentáveis que darão origem ao combustível. A hidrólise enzimática, via mais pesquisada atualmente para a produção do nosso biocombustível de segunda geração, utiliza enzimas, que ainda têm custo elevado, para quebrar a estrutura da celulose em moléculas fermentáveis. Mas o Brasil, que já domina o processo de obtenção do etanol tradicional, apresenta uma vantagem interessante: a possibilidade de integrar os dois processos, como diz Franziska Müller-Langer, chefe do Departamento de Biocombustíveis do DBFZ, Centro Alemão de Pesquisa em Biomassa: “Seria preciso um passo a mais: a hidrólise do material lignocelulósico. A fermentação e a destilação poderiam ser feitas nos equipamentos que as usinas já têm para o etanol tradicional, reduzindo custos”. Além disso, o feedstock (bagaço) já está disponível na usina sem custos adicionais. Pesquisadores e especialistas concordam que, quando se fala de etanol de segunda geração, é importante pôr de lado a visão imediatista e pensar a médio e longo prazos, pensar num petróleo cada vez mais caro, no fim da crise econômica, na derrubada de barreiras protecionistas que prejudicam as exportações brasileiras, e no suprimento energético das futuras gerações. Em Araucária (PR), os pesquisadores da Novozymes buscam a melhor enzima (ou mistura de enzimas), a melhor tecnologia, o melhor procedimento para a produção do etanol de bagaço de cana, considerando sempre o custo-benefício (ver seção “Empresas Modernas”). A presente edição da Revista Brasileira de Bioenergia também discute os efeitos indiretos da mudança do uso da terra, tema que, segundo o engenheiro agrônomo André Nassar, diretor-geral do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone), tornou-se supervalorizado ao ser incluído pelos Estados Unidos e União Europeia na legislação que trata de biocombustíveis e da redução de emissões de gases do efeito estufa. Outro tema para o qual chamo sua atenção, leitor, é o workshop Bionergia: desafios e oportunidades de negócios. Organizado pelo Cenbio, o evento contou com a presença e participação de nomes importantes da área de bionergia do Brasil. Os detalhes de cada um dos seis painéis podem ser conferidos a partir da pág. 21. Boa leitura! Suani Teixeira Coelho Editora Coordenadora do Centro Nacional de Referência em Biomassa (Cenbio) Instituto de Eletrotécnica e Energia Universidade de São Paulo iofuels’ second generation is the theme of the seventh issue of the Revista Brasileira de Bioenergia. In Brazil, as an example of what goes on in the world, researchers work to enhance technologies and production processes that may reduce costs and make competitive the new fuels obtained from the pulp found in wastes such as sugar cane bagasse and straw, among others. With them, it will be possible, for example, to significantly increase production without the need to expand the cultivated area. Considered a revolution in terms of greenhouse gases emissions reduction and of oil dependency, the new generation still poses some challenges. In the Brazilian case, in which the feedstock is already available for second-generation ethanol, the challenge is to learn how to deconstruct the pulp structure efficiently – and economically – to obtain the fermentable sugars which will originate the fuel. The enzymatic hydrolysis, the most researched way for producing our second-generation biofuel today, uses enzymes, which are still very costly, to break the pulp structure down into fermentable molecules. But Brazil, which already controls the process for obtaining traditional ethanol, presents an interesting advantage: the possibility of integrating the two processes, as says Franziska Müller-Langer, head of the DBFZ Biofuels Department, German Biomass Research Center: “A step ahead would be necessary: the hydrolysis of the lignocellulosic material. Fermentation and distillation could be conducted in the equipment the plants already use for traditional ethanol, reducing costs”. Besides, the feedstock (bagasse) is already available at the plant at no additional costs. Researchers and specialists agree that, as far as second-generation ethanol is concerned, it is important to set aside the immediatist view and to think of the medium to long-term, to think of ever more costly petroleum, of the end of the economic crisis, of pulling down protectionist barriers that hinder Brazilian exports, and of the energy supply for future generations. In Araucária (PR), the Novozymes researchers seek the best enzyme (or enzymes mix), the best technology, the best procedure for producing sugar cane bagasse ethanol, always considering the cost-benefit ratio (see section “Modern Companies”). The present issue of the Revista Brasileira de Bioenergia also discusses the indirect effects of the changes in land use, a theme that, according to agronomical engineer André Nassar, general director of Icone (Institute for International Trade Negotiations), was overvalued when included by the United States and the European Union in the legislation concerned with biofuels and with greenhouse gases emissions reduction. Another theme I call your attention to, dear reader, is the workshop Bioenergy: challenges and business opportunities. Organized by Cenbio, the event counted on the presence and participation of important names in the bioenergy area in Brazil. The details on each of the six panels can be verified as from page 31. Enjoy your reading! Suani Teixeira Coelho Editor Coordinator of the Brazilian Reference Center on Biomass (Cenbio) Institute of Electrotechnics and Energy Universidade de São Paulo 5 Capa O BRASIL ESTÁ NA ROTA DA ENERGIA DO FUTURO Pesquisadores trabalham para encontrar modelo econômico que torne viável a utilização da celulose do bagaço e da palha da cana-de-açúcar para aumentar a produção de etanol com menor expansão da área plantada e sem causar impactos adicionais ao ambiente Santelisa Vale Evolução tecnológica: segunda geração de biocombustíveis pode reduzir emissões de gases do efeito estufa e dependência do petróleo 6 N o futuro, será possível aumentar consideravelmente a produção de biocombustíveis sem plantar um único hectare a mais, sem a necessidade de consumo extra de insumos agrícolas como herbicidas e adubos. Quando essa tecnologia estiver disponível comercialmente, o etanol não será mais produzido de cana-de-açúcar ou de milho, por exemplo, mas da celulose presente em resíduos como o bagaço e a palha da cana, que hoje não são utilizados para esse fim. Vem aí a segunda geração dos biocombustíveis, considerada uma evolução em termos de tecnologias mais eficientes para reduzir as emissões de gases do efeito estufa e diminuir a dependência do petróleo. Como em tudo que é inovador, os desafios ainda existem. Em todo o mundo, pesquisadores trabalham para aprimorar tecnologias e processos de produção que possam reduzir custos e tornar os biocombustíveis de segunda geração competitivos em relação aos tradicionais, como o etanol de primeira geração. O inte- Agosto/August 2009 Capa Fotos: Udop resse não é menor no Brasil, apesar de o País já contar com um biocombustível comprovadamente sustentável e dominar a tecnologia de sua produção. “Os biocombustíveis tradicionais têm sofrido críticas severas nos últimos anos, parte pela falta de viabilidade econômica em países industrializados e parte pelos impactos negativos, sociais e ambientais atribuídos a eles”, diz a engenheira mecânica Franziska Müller-Langer, chefe do Departamento de Biocombustíveis do DBFZ, Centro Alemão de Pesquisa em Biomassa. “A segunda geração, que carrega a expectativa de aumentar a provisão de energia sustentável a partir da biomassa para o setor de transportes, pode ser produzida a partir de uma variedade maior de matérias-primas, como grama, lixo, estrume, palha, resíduos florestais e a planta inteira. Nesse caso, aumentaria a disponibilidade de biomassa por hectare de terra que poderia ser convertida em biocombustível.” Na verdade, dentre os biocombustíveis tradicionais, o etanol de cana é o que apresenta menos impactos ambientais na sua produção, mas certamente os de segunda geração serão mais eficientes. A princípio, os impactos da produção de biocombustíveis de segunda geração sobre o ambiente serão menores. Estudos mostram que as emissões de gases do efeito estufa, especialmente as relacionadas à produção da matériaprima, devem diminuir. No entanto, alerta Franziska, no que é apoiada por vários outros pesquisadores, ainda não existem plantas em escala comercial em operação. ríamos a 12 mil, 15 mil litros por ha. Numa condição mais realista, já que toda nova tecnologia passa por um processo de aperfeiçoamento, poderemos aumentar progressivamente a produtividade.” O etanol não precisa, necessariamente, ser utilizado como combustível, embora esse seja, hoje, o principal uso do produto no Brasil. “Cerca de 85% do nosso mercado de etanol é o doméstico de combustíveis. Do que sobra, temos uma parcela que vai para exportação e outra para aplicação industrial em cosméticos, perfumes, tintas, solventes e aditivos para alimentação, como o vinagre”, enumera Szwarc. “E o uso de etanol para a produção de plásticos está apenas começando.” Doutora em Engenharia Química, Patrícia Matai, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), entende que as pesquisas para a produção de biocombustíveis de segunda geração devem resultar também em produtos destinados à indústria petroquímica, dependente do petróleo. “Muita pesquisa ainda precisa ser feita, mas, se conseguirmos, por exemplo, produzir eteno a partir da gaseificação da biomassa lignocelulósica, poderemos suprir um gargalo”, diz. “O eteno é um gás precursor dos plásticos. Ele tem larga utilização na indústria, é muito importante na produção de PVC, polietileno e PET”, explica. AUMENTO DE PRODUTIVIDADE VÁRIOS O etanol de cana-de-açúcar é o principal biocombustível de primeira geração. É competitivo e produzido de maneira sustentável. “Uma etapa adicional seria aproveitar os resíduos que hoje não são usados, como o bagaço e a palha, para também produzir etanol, aí o de segunda geração, e aumentar a produtividade”, diz o engenheiro mecânico e ambiental Alfred Szwarc, consultor de Emissões e Tecnologia da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica). Segundo Szwarc, se já existissem processos capazes de fazer a conversão da celulose em açúcares fermentáveis de forma econômica, seria possível praticamente dobrar a produção na mesma área de terra. “Imaginando uma situação ideal, se hoje 1 ha produz entre 80 e 90 t de cana e, a partir daí, perto de 7 mil litros de etanol, chega- As perspectivas são boas e existem várias iniciativas, tanto no Brasil como no exterior, para produzir etanol a partir de materiais celulósicos, tais como bagaço e palha de cana, e também por meio de lixo e resíduos domésticos. As pesquisas ocorrem no mundo inteiro, cada uma segue um caminho próprio e até as matériasprimas são diferentes. “O processo de produção de etanol de segunda geração desenvolvido para a madeira, como está sendo pesquisado no Canadá e na Suécia, não é necessariamente o melhor para o bagaço”, exemplifica Szwarc. “Esses processos são muito customizados, são como ‘alfaiataria’, feitos quase sob medida, mas, com certeza, com custos e produtividade diferenciados.” Se o Brasil já possui os melhores produto- Boas perspectivas: no Brasil e no exterior já há iniciativas para se produzir etanol a partir de materiais celulósicos, como bagaço e palha de cana CAMINHOS 7 Capa res de etanol sustentável do mundo e se estão resolvidas todas as questões importantes de logística, incluir o etanol de segunda geração nas usinas já existentes é um passo lógico. Esse é o argumento do engenheiro químico Jaime Finguerut, gerente de Desenvolvimento Estratégico Industrial do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), organização privada de pesquisa que se dedica à cadeia da cana-de-açúcar, do desenvolvimento de variedades mais produtivas à produção nas usinas. “É uma opção muito melhor do que expandir para áreas que tenham fertilidade menor, em que a logística não está resolvida e própria cultura da cana não está suficientemente desenvolvida”, diz. “É uma questão de custo-benefício. Os resíduos que já existem hoje serão aproveitados.” VISÃO Patrícia Matai, da USP: “Pesquisas para a produção de biocombustíveis de segunda geração devem resultar também em produtos para a indústria petroquímica” 8 A LONGO PRAZO O custo do novo processo é o ponto central nos debates. A produção em escala comercial está ligada não apenas à tecnologia para a obtenção do etanol de segunda geração, mas, principalmente, à demanda pelo produto. “Se apenas o Estado americano da Califórnia, por exemplo, que recentemente considerou o etanol de cana a melhor opção em termos de sustentabilidade e viabilidade para substituir a gasolina, decidir comprar do Brasil, vamos ter de dobrar, triplicar nossa produção”, diz Finguerut. “Com o etanol de segunda geração vamos ter condições para isso. Provavelmente, vai ser a melhor opção possível. Não a única, mas melhor do que fazer uma usina em Goiás ou Mato Grosso, onde ainda temos espaço.” O gerente do CTC diz que é preciso pensar a médio e longo prazos, pensar num petróleo cada vez mais caro – para ele, o do pré-sal “com certeza será mais caro” –, pensar no fim da crise econômica, quando a demanda mundial por combustível, de preferência sustentável e não poluente, voltará a crescer. “Acredito que o etanol brasileiro vai ter reconhecimento e vai ter procura. As barreiras protecionistas para o etanol de milho americano e para a agricultura na União Europeia não ajudam a população desses países. Ao contrário, retiram do povo a capacidade de usar seu dinheiro em coisas melhores. Essas barreiras não são lógicas e um dia vão ter de cair com uma globalização mais racional.” A visão de longo prazo inclui também garantir o suprimento energético das próximas gerações, defende o químico Pedro Luiz Fer- nandes, presidente da Novozymes Latin America, filial da multinacional dinamarquesa da área de biotecnologia. “Sempre existem os céticos que perguntam a razão de o Brasil precisar do etanol de segunda geração se já produz bem o tradicional, se com a camada de pré-sal vai sobrar petróleo, gasolina e óleo. Isso é um pensamento muito imediatista. Não é só para agora, estamos falando de gerações”, argumenta. “O petróleo está para a camada do pré-sal assim como o biocombustível está para o bagaço da cana. Esse é o nosso grande pré-sal: preparar o País para essa tecnologia, uma vez que a nossa frota é cada vez mais movida a bicombustível.” A QUESTÃO DO MERCADO A partir do próximo ano, os biocombustíveis de segunda geração serão obrigatórios nos Estados Unidos, segundo a legislação americana para combustíveis renováveis, Renewable Fuel Standard. No entanto, argumenta Szwarc, da Unica, “não adianta a lei mandar, tem de haver demanda”. Nos Estados Unidos, o grande consumo de etanol é na mistura com a gasolina, explica o consultor: “Hoje, perto de 70% da gasolina que eles consomem é misturada com etanol. A quantidade varia de Estado para Estado, mas, em geral, é de 10%. No entanto, esse mercado está perto do ponto de saturação. Em cerca de dois anos, toda a gasolina consumida lá será misturada com etanol. E aí? Qual será o passo seguinte?”. “Os americanos têm uma frota de flexfuel do tamanho da nossa, cerca de 8 milhões de veículos. Começaram a produção em 1992, onze anos antes do Brasil, porque o governo passou a exigir que suas próprias frotas, entre outras, consumissem combustíveis alternativos, e ofereceu incentivos às montadoras que produzissem veículos flex”, conta Szwarc. “Elas vendiam esses modelos atendendo a legislação e, muitas vezes, quem comprava aquele carro nem sabia que era flex. Não se fazia propaganda disso porque a infraestrutura de distribuição de etanol lá é muito pequena, uns 2 mil postos no país inteiro”, prossegue. “Então, não adianta ter um processo para etanol de segunda geração que permita dobrar a produção se não houver mercado para o produto. Só vamos produzir o que o mercado pode absorver ou estaremos depreciando nosso produto.” O Brasil deve produzir este ano 27 bilhões de litros de etanol de primeira geração, de acordo com o consultor da Unica. Agosto/August 2009 Capa A decisão de produzir o etanol de segunda geração e o mercado estão intimamente ligados. “Se a demanda por etanol brasileiro não aumentar, talvez não precisemos do novo etanol. Pelo contrário. Usinas que seriam postas em operação este ano podem ter o início das atividades adiado para daqui a três anos – e para produzir o etanol tradicional”, diz Jaime Finguerut, do CTC. Szwarc, da Unica, acrescenta que, hoje, estimativas apontam que o custo do etanol de celulose seria pelo menos 50% superior ao de primeira geração. “Mas a perspectiva é poder ir reduzindo isso com o tempo”, diz. O Brasil, pelo menos, já tem uma questão importante resolvida: a matéria-prima. Enquanto países como os Estados Unidos ainda procuram matérias-primas de onde possam extrair a celulose e processos que sejam eficientes para isso, aqui o bagaço da cana já está dentro da unidade industrial. “Nos Estados Unidos, mesmo que se usem resíduos agrícolas para a produção do etanol de segunda geração, ainda é preciso cultivar a matéria-prima, descobrir como fazer a colheita de maneira econômica e transportar para a unidade de produção. Tudo isso representa custo”, diz Szwarc. “Estamos à frente dos demais nesse aspecto.” DESTINO DO BAGAÇO Aproveitar o bagaço que sobra da produção do etanol tradicional para obter o de segunda geração parece uma opção lógica. No entanto, as usinas no Brasil utilizam o bagaço para gerar energia elétrica por meio da cogeração. Seria preciso desviar a matéria-prima da produção de energia para a do etanol de celulose? “Essa é uma decisão que a própria economia, ou o dono do capital, vai fazer. Se pensarmos na situação atual, não existe outra tecnologia para usar o bagaço que não seja queimar. Mas nós estamos, e as usinas sabem muito bem disso, todo ano produzindo cada vez mais cana e mais bagaço correspondente”, argumenta Finguerut, do CTC. “É uma relação custo-benefício. De toda a forma, se produzirmos mais eletricidade, o Brasil vai precisar de menos petróleo, de menos gás natural importado da Bolívia. Para nós, é simplesmente uma questão de atratividade”, destaca, acrescentando que os produtores querem ter a opção de produzir etanol, açúcar ou eletricidade. “A racionalidade econômica é que vai decidir isso, de forma sustentável, para o negócio poder continuar. Para nós, a flexibilidade e o atendi- mento de um mercado de médio e longo prazos são os fatores mais importantes.” Muitas usinas brasileiras, motivadas por programas do governo que incentivam o uso de fontes renováveis na geração de eletricidade, estão trocando caldeiras velhas, com vinte, trinta, quarenta anos de uso, por outras mais novas e eficientes. “Sistemas de queima de bagaço relativamente antigos estão sendo substituídos e as usinas precisam de menos bagaço para produzir a mesma quantidade de energia. Começa a sobrar bagaço”, diz Szwarc. E o que é feito com o excedente? “O principal uso ainda é o energético, as usinas vendem a energia extra. Também há empresas de outros setores, próximas às usinas, que compram esse bagaço, antes um resíduo considerado sem valor, para utilizar como combustível no lugar do óleo.” O consultor da Unica lembra que a palha também já começa a ser usada como combustível. “Estamos numa situação em que a queima da palha está sendo gradualmente eliminada. Hoje, a maior parte dessa palha permanece no campo, ela é um condicionador do solo, mas não precisa ficar toda lá.” A bioquímica Elba Pinto da Silva Bon, coordenadora do Laboratório de Tecnologia Enzimática do Instituto de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro, lembra que, quando o bagaço é utilizado para a produção de etanol, sobra a lignina, que dá resistência à fibra e protege a celulose da ação de micro-organismos. “É um excelente combustível sólido, cuja queima não tem impacto na geração de gases do efeito estufa porque a lignina também Szwarc, da Unica: “Maior parte da palha permanece no campo, para condicionar o solo, mas não precisa ficar lá” 9 Capa Amorim Leite é derivada do processo de fotossíntese.” O DESAFIO DE DESCONSTRUIR A CELULOSE Questão resolvida: enquanto outros países procuram matérias-primas para extrair a celulose, no Brasil o bagaço de cana já está dentro da unidade industrial 10 No caso brasileiro, que já tem matéria-prima disponível para o etanol de segunda geração, o desafio é aprender a desconstruir a estrutura da celulose de maneira eficiente – e econômica – para obter os açúcares fermentáveis que darão origem ao combustível. “Durante bilhões de anos, a natureza desenvolveu a fração fibrosa das plantas para lhes dar resistência. Nós, recentemente, decidimos desconstruir essa estrutura, que foi feita para ser extremamente estável. Precisamos aprender a fazer isso, o que significa o emprego de processos físicos, químicos e enzimáticos, tudo isso junto”, diz Jaime Finguerut, do CTC. “Basicamente, temos duas plataformas de lançamento de processos: a bioquímica, que inclui a hidrólise e a fermentação, e a termoquímica. As duas desconstroem a fibra – ou simplificam aquilo que a natureza fez, que é a celulose – e depois montam de novo na forma necessária para um produto final ser combustível”, explica. A hidrólise, que quebra a estrutura da celulose em partículas menores de modo a obter os açúcares que depois passarão por um processo de fermentação, pode ser feita com a utilização de enzimas ou de ácidos. A via termoquímica, explica Finguerut, exige uma série de processos, como a formação de gás de síntese. “Depois, esse gás passa por um leito de catalisadores, onde são montadas moléculas que podem ser de biogasolina, biodiesel ou uma mistura de frações que possam ser refinadas como numa refinaria de petróleo.” A hidrólise enzimática para a produção de biocombustível de segunda geração é a que tem mais potencial a curto e médio prazos, diz o gerente do CTC. “Muitas pessoas no mundo já fizeram essa análise. A via termoquímica custa mais caro e envolve investimentos maiores. São equipamentos mais pesados e exigem altas pressões e altas temperaturas, esse é o grande problema. Não fosse o custo, ela seria muito eficiente, tanto que existe um grande volume de pesquisas também nessa plataforma.” Por seu lado, a hidrólise ácida ainda precisa resolver questões de corrosão, resistência dos materiais e produção de resíduos (inibidores), que atrapalham a fermentação. CUSTO DA ENZIMA, AINDA UM OBSTÁCULO Segundo a farmacêutica e bioquímica Maria Filomena de Andrade Rodrigues, responsável pelo Laboratório de Biotecnologia Industrial do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), no momento a hidrólise enzimática é mesmo a preferida nas pesquisas para obter etanol de segunda geração. “Entende-se que, com a hidrólise enzimática, haverá menos inibidores e a fermentação será melhor e mais fácil. Mas essa é uma via que ainda tem muitos desafios a serem vencidos, como melhorar o rendimento e a produtividade, tanto do açúcar do bagaço quanto do álcool do hidrolisado do bagaço”, diz. “O inconveniente do processo é a colocação de enzimas para liberar o açúcar. Isso, com certeza, encarece a produção.” Elba Bon é coordenadora científica do Projeto Bioetanol – que conta com a participação de uma rede de mais de quinze instituições de ensino e pesquisa (incluindo o Centro Nacional de Referência em Biomassa – Cenbio) e apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) – para o desenvolvimento de tecnologia de produção de etanol de biomassa da canade-açúcar (bagaço e palha) por hidrólise enzimática. “A produção do bioetanol não será independente do processo tradicional, mas complementar”, explica a bioquímica. “O hidrolisado do bagaço será misturado ao caldo da cana ou ao melaço, inserindo-se no processo tradicional nas etapas subsequentes, de fermentação e destilação do etanol. Essa tecnologia poderá aumentar em até 12% a produção de etanol levando em conta apenas a utilização dos atuais 10% excedentes do bagaço”, diz Elba. Com isso, torna-se fundamental a disponibilidade de enzimas de baixo custo, eficientes e desenvolvidas para a biomassa da cana, uma das metas do projeto. “A enzima é cara porque ainda não se criou um mercado”, pondera Finguerut, do CTC. “Assim como o álcool, por exemplo, teve uma curva de aprendizado em que o custo de produção foi reduzido para menos da metade do que era no início do Proálcool, com a enzima vai acontecer o mesmo. É só criar mercado, demanda, necessidade e concorrência.” No Brasil, a Novozymes (ver seção “Em- Agosto/August 2009 Capa presas Modernas”) dedica-se a pesquisar e desenvolver enzimas voltadas para o etanol de segunda geração. O trabalho é fruto de um consórcio de cinco partes, com recursos da Cordis, uma comissão europeia para pesquisa e desenvolvimento, formada pela matriz dinamarquesa, a filial brasileira, a Universidade do Paraná, a Universidade de Lund, na Suécia, e o CTC. O objetivo é obter um modelo economicamente viável de produção do biocombustível que deve estar concluído até o primeiro trimestre de 2010. Finguerut ressalta o desafio científico de fazer álcool de segunda geração e a importância do suporte financeiro para a continuidade do processo. INVESTIR É FUNDAMENTAL As pesquisas para a produção do etanol de segunda geração ocorrem em todo o mundo, mas em nenhum país o investimento é maior do que nos Estados Unidos. “Não dá para competir com eles. Só para ter uma ideia, o orçamento da Universidade da Califórnia é praticamente o mesmo que o de toda Ciência e Tecnologia do Brasil”, exemplifica Szwarc, da Unica. “Mas só isso não garante o sucesso deles. Às vezes, aqui, com menos dinheiro, inventamos mais.” Segundo Finguerut, nos últimos anos, o Departamento de Energia americano (DOE), investiu mais de US$ 1 bilhão em pesquisas sobre biocombustíveis. Na União Europeia, o programa-quadro para energias renováveis destina ao tema bilhões de euros. “O interesse em obter o etanol de segunda geração é geral e os mesmos grandes players do mundo olham também para o Brasil. Não investem mais aqui porque, no Brasil, ao contrário dos Estados Unidos, não há uma política pública para o novo etanol”, diz o gerente do CTC, lembrando que, para os americanos, o etanol de segunda geração é a única opção de biocombustível com potencial para ficar. “Eles estão fazendo o ‘Proálcool’ deles de segunda geração. Lá, o investimento fica mais atrativo e o governo garante uma série de benefícios que aqui não podemos garantir. É concorrência pura: quem é melhor prevalece, quem não é melhor não consegue produzir. Então, nós temos de ser muito bons no desenvolvimento da nossa tecnologia e temos de ter parcerias e visão do risco, além de pessoas empreendedoras.” Levando em conta indicadores industriais para avaliação de tecnologias, há diferenças significativas entre os estágios de maturidade em que se encontram os vários conceitos para a próxima geração de biocombustíveis, atesta Franziska, do DBFZ. “Também é preciso ressaltar que nenhum deles pode ser considerado tecnologia comprovada, pronta para ser comprada da prateleira. Alguns são promissores, justificando a construção de uma planta de demonstração. Outros precisam de mais desenvolvimento e de testes em escala piloto.” A ÚLTIMA BARREIRA “Sabemos que em laboratório muita coisa funciona”, diz Szwarc. “O processo tecnológico precisa ser bom e robusto, para continuar a dar certo também na planta piloto, já em escala um pouco maior, e na planta de demonstração, que seria a fase pré-comercial, o primeiro passo para chegar à produção comercial”, prossegue o consultor de Emissões e Tecnologia da Unica. A produção de etanol de segunda geração em escala piloto é outro dos projetos de que Elba Bon participa. “Envolve as etapas de produção de enzimas, pré-tratamento da biomassa, hidrólise enzimática e fermentação alcoólica, do estágio atual de desenvolvimento em escala de bancada, 1 litro, para escala piloto, 100 litros”, conta a bioquímica. “Esse tem a participação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a colaboração da empresa Dedini.” No Brasil, a primeira planta de demonstração – em que o processo para o etanol de segunda geração enfrentará condições de produção mais próximas da realidade, embora ainda não em escala comercial – deve estar pronta entre 2012 e 2013. “O projeto já existe. Depois, virá a barreira mais difícil, construir a primeira planta comercial”, diz Finguerut. “O governo americano tem um programa específico para financiar primeiras plantas. É preciso explicar a importância dessas plantas para as fontes de financiamento brasileiras, não podemos deixar essa decisão apenas para o mercado.” Finguerut, do CTC: “O interesse em obter etanol de segunda geração é geral. Os grandes ‘players’ do mundo não investem no Brasil porque o País não tem política pública para o novo etanol” 11 Cover BRAZIL TOWARDS THE ENERGY OF THE FUTURE Researchers work to find an economic model that allows the use of pulp from bagasse and from sugar cane straw to increase ethanol production with a smaller expansion in the cultivated area and without causing additional impacts on the environment SantelisaVale Technological change: second generation biofuels could reduce emissions of greenhouse gases and oil dependency 12 n a few years, it will be possible to considerably increase biofuels production without planting a single additional hectare, without the need to consume extra agricultural inputs, such as herbicides and fertilizers. When this technology is commercially available, ethanol will no longer be produced from sugar cane or from corn, for example, but from the pulp found in wastes such as bagasse and cane straw, which are not used for this end today. Second-generation biofuels are on their way, an evolution in terms of more efficient technologies to reduce greenhouse gases emissions and to decrease the dependence on oil. As with all innovations, the challenges are still I there. Over the world, researchers work to enhance technologies and production processes that may reduce costs and make second-generation biofuels competitive in relation to traditional ones, such as the first-generation ethanol. The interest is no smaller in Brazil, although the country already counts on provedly sustainable biofuel and dominates its production technology. “Traditional biofuels have suffered severe criticism in the past years, partly due to the lack of economic viability in industrialized countries and partly due to the negative social and environmental impacts attributed to them”, says mechanical engineer Franziska Müller-Langer, head of the DBFZ Biofuels Agosto/August 2009 Cover Photos: Udop Department, at the German Biomass Research Center. “The second generation, which holds the expectation of increasing sustainable energy supply as from biomass for the transport sector, may be produced from a wider variety of inputs, such as grass, garbage, manure, straw, forest waste and a whole plant. In this case, it would increase biomass availability per hectare of land, which would then be converted into biofuel.” Actually, among the traditional biofuels, sugar cane ethanol is the one that poses less environmental impacts in its production, yet the second-generation ones will be more efficient. At first, the impacts of second-generation biofuels production on the environment will be smaller. Studies show that greenhouse gases emissions, especially those related to input production, will decrease. However, warns Franziska, supported by many other researchers, there are not commercial-scale plants in operation, yet. INCREASE IN PRODUCTIVITY Nowadays, sugar-cane ethanol is the main firstgeneration biofuel, competitive and sustainably produced. “An additional stage would be to utilize wastes that are not used today, such as bagasse and straw, so as to also produce ethanol, but the secondgeneration one, and to increase productivity”, says mechanical and environmental engineer Alfred Szwarc, Emission and Technology consultant of the Brazilian Sugar Cane Industry Association (Unica). As stated by Szwarc, if there already were processes capable of making the conversion of pulp into fermentable sugars economically, it would be possible to practically double the production in the same area of land. “Imagining an ideal situation, if now 1 ha produces between 80 and 90 t of cane and, from this, about 7 thousand liters of ethanol, 12 thousand, 15 thousand liters per ha could be attained. In a more realistic condition, since every new technology undergoes an enhancement process, productivity can be steadily improved.” Ethanol does not necessarily need to be used as fuel, even though this is now its main use in Brazil. “About 85% of our ethanol market is the domestic fuel one. Of what is left, one parcel is exported and the other goes into industrial application in cosmetics, perfumes, paints, solvents and food additives, such as vinegar”, lists Szwarc. “And the use of ethanol for producing plastics has just only begun.” Doctor in Chemical Engineering, Patrícia Matai, from the Polytechnic School of the University of São Paulo (USP), understands that the researches for producing second-generation biofuels will also result into products oriented to the petrochemical industry, which is oil dependent. “Much research still has to be conducted, but if we manage, for example, to produce ethene from lignocellulosic biomass gasification, we may solve a bottleneck”, she says. “Ethene is a plastic precursor gas. It is widely used in industry and it is very important for producing PVC, polyethylene and PET”, she explains. SEVERAL WAYS The perspectives are good and there are several initiatives, both in Brazil and abroad, to produce ethanol from cellulosic materials, such as bagasse and sugar cane straw, and also by means of garbage and household waste. Researches occur all over the world, each following its own way and even the inputs are different. “The second-generation ethanol production process developed for wood, as is being researched in Canada and in Sweden, is not necessarily the best for bagasse”, exemplifies Szwarc. “These processes are very customized; they are like ‘tailoring’, almost made to fit, but surely with differentiated costs and productivity.” If Brazil already counts on the best sustainable ethanol producers in the world and if all the important logistic issues are solved, including second-generation ethanol in the existing plants is a logical step. This is chemical engineer Jaime Finguerut’s argument. He is the Industrial Strategic Development manager of the Sugar Cane Technology Center (CTC), a private research organization dedicated to the sugar cane chain, for developing more productive varieties for production in plants. “It is a much better option than expanding to less fertile areas, in which logistics is not resolved, in which the very sugar cane cultivation is not sufficiently developed”, he says. “It is a costbenefit issue. The already existing waste will be used.” Good prospects: in Brazil and abroad there are already initiatives to produce ethanol from cellulosic materials such as bagasse and cane straw LONG-TERM VIEW The cost of the new process is the central theme in the debates. Commercial scale production depends not only on technology for obtaining secondgeneration ethanol, but mainly on the demand for the product. “If only the American State of California, for example, which recently considered the sugar cane ethanol a better option in terms of sustainability and viability to replace gasoline, decides to buy it from Brazil, we will have to double, treble our production”, says Finguerut. “With the second-generation ethanol, we will be able to do it. It will probably be the best option possible. Not the only one, but better than implementing a plant in Goiás or Mato Grosso, where there is still room.” The CTC manager says that it is necessary to think of medium and long-term, think of ever more expensive petroleum – for him, that of pre-salt “will 13 Cover Patricia Matai, USP: “Research for the production of second generation biofuels should also result in products for the petrochemical industry” Udop 14 certainly be more expensive” –, to think of the end of the economic crisis, when the world demand for fuel, preferably sustainable and non-pollutant, will grow again. “I believe that the Brazilian ethanol will be acknowledged and will be sought. Protectionist barriers for the American corn ethanol and for the European Union agriculture do not help the populations in those countries. On the contrary, they deprive the people of their capacity to use their money in better things. These barriers are not logical and will have to fall some day, with a more rational globalization.” The long-term view also includes ensuring energy supply for the next generations, advocates chemist Pedro Luiz Fernandes, CEO of the Novozymes Latin America, a branch of the Danish multinational in the biotechnology area. “There are always the skeptic people who ask the reason for Brazil to pursue the second-generation ethanol since it already produces the traditional one well, once the pre-salt layer will provide plenty of petroleum, gasoline, oil. This is a very immediatist thought. It is not only for now, we are talking about generations”, he argues. “Oil is for the pre-salt layer, as biofuel is for the sugar cane bagasse. This is our great pre-salt: preparing Brazil for this technology, once our fleet runs more and more on bifuel.” are only going to produce what the market may absorb or we will be depreciating our product.” Brazil shall produce 27 billion liters of first-generation ethanol this year, according the Unica consultant. The decision of producing second-generation ethanol and the market are closely related. “If the demand for Brazilian ethanol does not increase, we may not need the new ethanol. On the contrary. Plants that would start operating this year may have their activities postponed for three years – and would produce traditional ethanol”, says Jaime Finguerut, from CTC. Szwarc, from Unica, adds that, today, estimations show that the cost of pulp ethanol would be at least 50% higher than that of first-generation. “Yet the perspective is to be able to reduce it over time”, he says. Brazil, at least, already has an important issue solved: the input. While countries such as the United States still seek raw materials they can extract pulp from and efficient processes for this, here the sugar cane bagasse is already inside the industrial plant. “In the United States, even if agricultural waste is used to produce second-generation ethanol, it is still necessary to grow the input, discover how to conduct the harvest economically and convey it to the production unit. All this represents a cost”, says Szwarc. “We are ahead of the others in this aspect.” THE MARKET ISSUE DESTINATION OF BAGASSE As from next year, second-generation biofuels will be mandatory in the United States, according to the Renewable Fuel Standard, the American legislation for renewable fuels. However, argues Szwarc, from Unica, “it is no use being provided by the law, there must be a demand”. In the United States, the major ethanol consumption lies in the gasoline blend, explains the consultant: “Nowadays, nearly 70% of the gasoline they consume is blended with ethanol. The amount varies from State to State, but it is generally 10%. However, this market is close to the saturation point. In about two years, all the gasoline consumed there will be blended with ethanol. So what? What will the next step be?” “The Americans have a flexfuel fleet as big as ours, about 8 million vehicles. Their production was started in 1992, eleven years before Brazil, because the government started to require that its own fleet, among others, consumed alternative fuels, and provided incentives to the assemblers that produced flex vehicles”, tells Szwarc. “They sold these models abiding by the legislation and, many times, those who bought that vehicle did not even know it was a flex one. This was not advertised because the ethanol distribution infrastructure there is very small, some 2 thousand filling stations in the whole country”, he goes on. “Therefore, it is no use having a process for second-generation ethanol that allows doubling production if there is no market for the product. We Using the bagasse left from the traditional ethanol production to obtain the second-generation one seems to be a logical option. However, plants in Brazil use the bagasse to generate electric power by means of cogeneration. Would it be necessary to divert the input from power production to pulp ethanol? “This is a decision that the economy itself, or the capital owner, will make. If we think of the present situation, there is no other technology for using the bagasse other than burning. Yet we are, and the plants very well know that, we are producing more and more sugar cane and more corresponding bagasse every year”, argues Finguerut, from CTC. “It is a costbenefit ratio. Anyway, if we produce more power, Brazil will need less oil, less natural gas imported from Bolivia. For us, it is simply an attractiveness issue”, he points out, adding that producers want to have the choice of producing ethanol, sugar or electricity. “Economic rationality is what will decide this, in a sustainable way, so that the business proceeds. For us, flexibility and supplying a market in the medium and long terms are the most important factors.” Many Brazilian plants, motivated by government programs that stimulate the use of renewable sources for power generation, are replacing old boilers, of twenty, thirty, forty years of use, with newer and more efficient ones. “Relatively old bagasse burning systems are being replaced and the plants need less Agosto/August 2009 Cover Amorim Leite bagasse to produce the same amount of power. Surplus bagasse is beginning to occur”, says Szwarc. What is made of the surplus? “The main use is still power, the plants sell the surplus power. There are also companies in other sectors, close to the plants, that purchase this bagasse, formerly considered a valueless waste, to be used as fuel instead of oil.” The Unica consultant remarks that the straw is also beginning to be used as fuel. “We are in a situation in which straw burning is being gradually phased out. Now, most of this straw remains in the field, as it is a soil conditioner, but not all of it has to remain there.” Biochemist Elba Pinto da Silva Bon, coordinator of the Enzymatic Technology Laboratory of the Institute of Chemistry of the Federal University of Rio de Janeiro, observes that, when the bagasse is used in ethanol production, lignin is left; it provides fiber with strength and protects the pulp from microorganisms action. “It is an excellent solid fuel, the burning of which has no impact on greenhouse gases generation once lignin also derives from the photosynthesis process.” THE CHALLENGE OF DECONSTRUCTING PULP In the case of Brazil, which already has available input for second-generation ethanol, the challenge is to learn to deconstruct the pulp structure efficiently and economically so as to obtain the fermentable sugars that will originate the fuel. “For billions of years, nature has developed the fibrous fraction of plants to provide them with strength. We recently decided to deconstruct this structure, which was made to be extremely stable. We have to learn how to do that, which means employing physical, chemical and enzymatic processes, all together”, states Jaime Finguerut, from CTC. “Basically, we have two process launching platforms: the biochemical one, which includes hydrolysis and fermentation, and the termochemical one. Both deconstruct the fiber – or simplify what nature has made, which is the pulp – and then reconstruct it, in the necessary way for a final product to be fuel,” he explains. Hydrolysis, which breaks the pulp structure into smaller particles to obtain the sugars which will later undergo a fermentation process, can be conducted with the use of enzymes or of acids. The termochemical way, explains Finguerut, requires a series of processes, such as the formation of syngas. “Later, this gas undergoes a catalyzer bed, where molecules, which may be from biogasoline, biodiesel or a blend of fractions are assembled, may be refined as in an oil refinery.” Enzymatic hydrolysis for second-generation biofuel production is the one with more potential in the short and medium-term, says the CTC manager. “Many people in the world have made that analysis. The termochemical way costs more and involves greater investments. They mean heavier equipment, higher pressures and higher temperatures are necessary, which poses a great problem. If it were not for the cost, it would be very efficient, so much so that there are a large number of researches also working on this platform.” In turn, acid hydrolysis still has to solve corrosion, material strength and waste production (inhibitors) issues, which hinder fermentation. ENZYME COST, STILL A BARRIER As stated by pharmacist and biochemist Maria Filomena de Andrade Rodrigues, responsible for the Industrial Biotechnology Laboratory of the Institute of Technological Research (IPT), at the moment, enzymatic hydrolysis is really number one in researches for obtaining second-generation ethanol. “It is understood that, with enzymatic hydrolysis, there will be less inhibitors and fermentation will be better and easier. Yet this is a way with still many challenges to be overcome, such as improving yield and productivity, both of bagasse sugar and of the bagasse hydrolyzed alcohol”, she says. “The process inconvenient is the use of enzymes to liberate the sugar. This surely makes production more expensive.” Elba Bon is the scientific coordinator of the Bioethanol Project – which counts on the participation of a network of more than fifteen teaching and research institutions (including the Brazilian Reference Center on Biomass – Cenbio) as well as the support from the Studies and Projects Funding Body (Finep) – for developing technology on the production of sugar cane biomass (bagasse and straw) ethanol by enzymatic hydrolysis. “Bioethanol production will not be independent of the traditional process, but complementary”, explains the biochemist. “That hydrolyzed from bagasse will be blended to the sugar cane juice or to the syrup, being inserted in the traditional process in the following ethanol fermentation and distillation stages. This technology may increase ethanol production by up to 12%, taking into account only the use of the present 10% bagasse surplus”, says Elba. With this, the availability of low-cost efficient enzymes, developed for sugar cane biomass – one of the project goals – is fundamental. “The enzyme is expensive because a market has not yet been created”, ponders Finguerut, from CTC. “As with alcohol, for example, it had a learning curve in which the production cost was reduced to less Szwarc, Unica: “Most of the straw remains on the field, to condition the soil, but do not need to stay there” 15 Cover Udop Resolved question: while other countries search for raw materials to extract the pulp, in Brazil the bagasse is already inside the plant than half of what it was at the beginning of Proalcool; the same will occur with the enzyme. All it takes is to establish its market, demand, need and competition.” In Brazil, Novozymes (see section “Modern Companies”) is dedicated to researching and developing enzymes viewing second-generation ethanol. The work derives from a five-party consortium, with resources from Cordis, an European commission for research and development, formed by the Danish headquarters, the Brazilian branch, the University of Paraná, the University of Lund, in Sweden, and the CTC. The purpose is to obtain an economically viable model for producing biofuel which has to be concluded by the first quarter of 2010. Finguerut stresses the scientific challenge of making second-generation ethanol and the importance of financial support for continuing the process. INVESTING IS PARAMOUNT Researches towards producing second-generation ethanol occur over the world, but in no country is investment greater than in the United States. “One cannot compete with them. Just to have an idea, the budget of the University of California is practically the same of the whole Science and Technology budget in Brazil”, exemplifies Szwarc, from Unica. “This alone does not guarantee their success, though. Sometimes here, with a tighter budget, we invent more.” As stated by Finguerut, in the last years, the DOE, the American Department of Energy, invested over US$ 1 billion in researches on biofuels. In the European Union, the renewable energy framework 16 programme dedicates billions of euros to the theme. “The interest in obtaining second-generation ethanol is general and the same great players in the world also have eyes for Brazil. They do not invest more here because in Brazil, contrary to the United States, there is not a public policy for the new ethanol”, states the CTC manager, remarking that, for the Americans, second-generation ethanol is the only biofuel alternative with potential to stay. “They are carrying out their second-generation ‘Proálcool’. There, the investment is more attractive and the government guarantees a series of benefits that cannot be guaranteed here. It is pure competition: the best ones prevail, the ones that are not the best do not succeed in producing. Therefore, we have to be very good at developing our technology and we have to have partnerships, risk view, besides entrepreneurs.” Taking into account industrial indicators for assessing technologies, there are significant differences between the maturity stages at which the different concepts are for the next biofuels generation, confirms Franziska, from DBFZ. “It is also necessary to point out that none of them can be considered proven technology, ready to be bought off the shelf. Some are promising, justifying the construction of a demonstration plant. Others need further development and pilot-scale tests.” THE LAST BARRIER “We know that, in laboratory, many things work”, says Szwarc. “The technological process has to be good and robust, to keep working well in the pilot plant as well, at a bit larger scale, and in the demonstration plant, which would be the precommercial phase, the first step to reach commercial production”, proceeds the Unica Emissions and Technology consultant. Second-generation ethanol production at pilot scale is another of the projects which Elba Bon participates in. “It involves the enzyme production, biomass pre-treatment, enzymatic hydrolysis and alcoholic fermentation stages, from the present development stage at bench scale, 1 liter, for pilot scale, 100 liters”, says the biochemist. “This one counts on the participation of the National Council for Scientific and Technological Development (CNPq) and the cooperation from the Dedini Company.” In Brazil, the first demonstration plant – in which the process for second-generation ethanol will undergo production conditions closer to reality, despite not yet at commercial scale – will be ready between 2012 and 2013. “The project already exists. Later, the most difficult barrier will be building the first plant scale”, says Finguerut. “The American Government has a specific program for financing first plants. It is necessary to explain the importance of these plants to the Brazilian financing sources, we cannot leave this decision to the market alone.” Agosto/August 2009 Empresas Modernas NOVOZYMES: ENZIMAS PARA A PRÓXIMA GERAÇÃO DOS BIOCOMBUSTÍVEIS Em Araucária (PR), cientistas trabalham para encontrar a forma mais competitiva de produzir etanol a partir do bagaço de cana Fotos: Novozymes iotecnologia é o ramo de atuação da Novozymes, empresa multinacional com sede na Dinamarca que produz enzimas para as mais diversas aplicações industriais, da fabricação de cerveja à panificação, de detergentes mais eficientes ao tratamento de tecidos. Nos últimos tempos, porém, a empresa enfrenta um desafio: produzir uma enzima que permita a produção de combustíveis a partir de biomassa, como o bagaço de cana-de-açúcar, o chamado etanol de segunda geração, a um custo competitivo. Da sede da Novozymes Latin America, em Araucária, Paraná, o químico Pedro Luiz Fernandes, presidente da filial sul-americana da empresa, conta que a Novozymes integra um consórcio de cinco partes que trabalham para obter um modelo economicamente viável de produção do biocombustível de segunda geração. Além da matriz e da Novozymes aqui no Brasil, participam desse projeto a Universidade de Lund, na Suécia, a Universidade Federal do Paraná (UFPR) e o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), de Piracicaba. “Os recursos, = C 1,6 milhão, vieram da Cordis, uma comissão europeia para pesquisa e desenvolvimento que fomenta projetos. Este ano, um dos projetos é na área de biocombustíveis”, esclarece o dirigente da filial. A tecnologia para a produção de etanol de segunda geração já existe, segundo Fernandes. O desafio, explica, é refiná-la para tornar o produto competitivo. Ao lançar mão da rota enzimática, que é a utilizada pela empresa, o primeiro passo é tratar o bagaço de forma que ele libere a maior quantidade possível de celulose. Existem vários tipos de tratamento. “Nós apostamos no tratamento a vapor. Aí entra a enzima, que vai hidrolisar a celulose, ou seja, vai quebrar a estrutura da celulose em partículas menores, de forma a obter açúcares fermentáveis.” A partir daí, é possível chegar ao etanol de segunda geração por um B processo de fermentação, como já é feito com o de primeira. “É simples assim”, diz Fernandes. “Obviamente, há toda uma pesquisa em cima disso e ajustes tecnológicos e financeiros para ver se vale a pena, pois estaremos competindo com o etanol de primeira geração, por exemplo. É preciso mostrar que é viável economicamente produzir etanol de segunda geração.” No Brasil, os cientistas que trabalham no laboratório de pesquisa da Novozymes têm como missão principal, a partir do bagaço pré-tratado que recebem do CTC, encontrar a melhor enzima (ou mistura de enzimas), a melhor tecnologia, o melhor procedimento para a produção do etanol de bagaço de cana, considerando sempre o custo-benefício. É o modelo econômico que vai determinar a implementação da Consórcio: cinco instituições trabalham para obter modelo economicamente viável de produção do biocombustível de segunda geração 17 Empresas Modernas tecnologia. Para Fernandes, a eficiência será o fator determinante do sucesso, só que não adianta criar uma tecnologia extremamente cara – ninguém vai usála. “Mas números preliminares já indicam que o processo será economicamente viável.” E quanto poderia custar 1 L de etanol de segunda geração? O executivo prefere não falar de valores, ao menos por enquanto. “Vou poder responder até, no máximo, o primeiro trimestre de 2010. Hoje, o que posso dizer é que o consórcio das cinco partes está trabalhando e um dos pontos mais importantes desse processo é justamente chegar a um modelo econômico inicial.” PROCESSO INTEGRADO Uma das vantagens de se utilizar o bagaço de cana-de-açúcar é poder aumentar a produção com a mesma área plantada 18 Outro aspecto do trabalho do consórcio é integrar o novo processo ao já existente, do etanol de primeira geração. A usina vai poder orientar a produção segundo a demanda do mercado, nacional e global. Se o açúcar estiver em alta, pode-se produzi-lo e usar o bagaço para fazer etanol. “Se houver grande demanda de etanol, para a Europa, por exemplo, podese fazer o de primeira geração para consumo interno e exportar o de segunda geração. Tudo isso vai diminuir os custos”, diz Fernandes, acrescentando que a utilização do bagaço para a geração de energia não pode ser esquecida. “Não fazemos nosso estudo para dizer que é melhor usar o bagaço para a produção de etanol do que para produzir energia. É o mercado que vai determinar isso”, afirma. “Até 2020, o Brasil tem potencial para produzir 17 bilhões de L de etanol de bagaço. Tenho números que mostram que a disponibilidade de bagaço pode chegar a 428 milhões de t em 2020”, afirma. “O principal desafio está relacionado a alcançarmos a compatibilidade da produção do etanol de segunda geração com as plantas já existentes, além de tornar esse processo simples e barato. Acredito que até 2012 já poderemos ter uma planta de demonstração.” Uma das vantagens de se utilizar o bagaço é poder aumentar a produção com a mesma área plantada. “Não será necessário plantar um único m2 a mais de cana-de-açúcar”, ressalta o executivo. “Hoje, quem é contra diz que vai impactar, que vamos ter de plantar mais cana, que a demanda vai ser maior. É conversa isso.” Fernandes fortalece ainda mais seu argumento frisando que viu, já estudou e já participou de seminários e simpósios sobre o tema. “É verdade o que a União da Indústria da Cana-de-açúcar (Unica), uma entidade respeitada no mundo inteiro, fala. Já está mais do que provado que não é preciso invadir a Amazônia ou o Pantanal para se ter mais etanol. Vai ter biomassa para produzir energia, para produzir o etanol de segunda geração, vai ter biomassa, esse é o ponto.” Envolvida em projetos para a obtenção de combustíveis renováveis, a empresa leva a sério os princípios de sustentabilidade e preservação do meio ambiente em todos os países em que opera. “É obrigatório saber a origem de cada matéria-prima, todos os fornecedores são certificados”, exemplifica Fernandes. Os paletes em que embalam algumas de suas enzimas têm de vir de madeira de reflorestamento. Segundo ele, a política global da empresa determina que se procure usar o máximo possível de matéria-prima de fontes renováveis e garantir que não tenha origem em mão-de-obra escrava e infantil. Para isso, em todo o mundo, a companhia realiza auditorias dos fornecedores in loco. A empresa também se preocupa com quem compra a sucata que produz – o dinheiro arrecadado vai para a associação dos funcionários. Antigamente, 28 t de restos de jardinagem da Novozymes em Araucária iam para o aterro. Hoje, vão para a compostagem. Cortes de grama e aparas de árvores são tratados em uma central. Lá, com a ajuda de “superminhocas”, produzem húmus que é depois distribuído entre os funcionários e usado no próprio jardim da empresa. PELO MEIO AMBIENTE “Sustentável também é a maneira como produzimos”, diz Fernandes. “Isso inclui a análise do ciclo de vida do nosso produto, desde a matéria-prima até a hora da venda, o chamado life cycle assessment. Vamos ver quanto de CO2 é emitido para produzir 1 kg de enzima e/ou quanto de CO2 a indústria que utiliza nossas enzimas deixa de emitir. Temos isso para 85% dos nossos produtos.” No ano passado, as enzimas da Novozymes foram utilizadas pelas mais diferentes indústrias, os mais diferentes segmentos no mundo todo. “Pelo fato de esses clientes terem usado nossas enzimas, foi como se 7 milhões de carros tivessem parado de circular por um ano sem emitir CO2”, conta o executivo da empresa. Entre 13% e 14% do rendimento bruto da empresa é aplicado em pesquisa e desenvolvimento – nos últimos cinco anos, a Novozymes lançou 43 novos produtos oriundos de pesquisa. No mundo inteiro, a empresa emprega mil cientistas, dos quais 150 se dedicam aos biocombustíveis. “Hoje, vendemos para mais de 130 países, para mais de 40 segmentos industriais diferentes. Em 2008, o faturamento da empresa no total foi em torno de US$ 1,6 bilhão, com a Novozymes Latin America responsável por 7% disso, ou US$ 112 milhões”, diz Fernandes. “Isso não é nada, significa que no Brasil ainda temos muito espaço para trabalhar.” Agosto/August 2009 Modern Companies NOVOZYMES: ENZYMES FOR THE NEXT BIOFUELS GENERATION In Araucária (PR), scientists work to find the most competitive way of producing ethanol from sugar cane bagasse Photos: Novozymes B iotechnology is Novozymes’ field of action; the multinational company, headquartered in Denmark, produces enzymes for the most different industrial applications, from beer brewing to bread making, from more efficient detergents to fabric treatment. Lately, however, the company has faced a challenge: to produce an enzyme that allows producing fuels from biomass, such as sugar cane bagasse, the so-called second-generation ethanol, at a competitive cost. From the Novozymes Latin America central office, in Araucária, Paraná (Brazil), chemist Pedro Luiz Fernandes, president of the company’s South-American branch, says that Novozymes integrates a five-party consortium that works to achieve an economically viable model to produce second-generation biofuel. Besides the headquarters and the Novozymes here in Brazil, also participating in this project are Lund University, in Sweden, the Universidade Federal do Paraná (UFPR – Federal University of Paraná) and the Sugar Cane Technology Center C 1.6 (CTC), in Piracicaba. “The resources, = million, came from Cordis, an European Commission for research and development that fosters projects. This year, one of the projects is in the biofuels area”, explains the branch CEO. The technology for producing secondgeneration ethanol already exists, claims Fernandes. The challenge, he explains, is to refine it to make the product competitive. When opting for the enzymatic route, which is the one used by the company, the first step is to treat the bagasse so that it liberates the largest amount of pulp possible. There are several types of treatment. “We bet on the steam treatment. There comes the enzyme, which hydrolyzes the pulp, that is, breaks the pulp down into smaller particles, so as to obtain fermentable sugars.” From then on, it is possible to get to secondgeneration ethanol by means of a fermentation process, as it is done with the first-generation one. “It is as simple as that”, states Fernandes. “Obviously, there is a whole research on that and technological and financial adjustments to see whether it is worth it, as we will be competing with first-generation ethanol, for example. It is necessary to show that producing secondgeneration ethanol is economically viable.” In Brazil, the main mission of the scientists working in the Novozymes research laboratory is to find the best enzyme (or enzymes mix), the best technology, the best procedure for producing ethanol from sugar cane bagasse, as from the pre-treated bagasse they receive from CTC, always considering the cost-benefit ratio. The economic model will be the one to determine the technology implementation. For Fernandes, efficiency will be the success determining factor, yet it is no use creating an extremely expensive technology if no one will use it. “However, preliminary numbers already Consortium: Five institutions work to achieve an economically viable model to produce secondgeneration biofuel 19 Modern Companies indicate that the process will be economically viable.” And how much could 1 L of secondgeneration ethanol cost? The CEO prefers not to discuss values, at least for now. “I’ll be able to answer that by the end of the first quarter of 2010. Today, what I can say is that the fiveparty consortium is at work and one of the major points of this process is exactly to reach an initial economic model.” INTEGRATED PROCESS One of the advantages of using bagasse is being able to increase production with the same planted area 20 Another aspect of the consortium work is to integrate the new process to the existing one, of the first-generation ethanol. The plant will be able to guide the production according to the domestic and global market demand. If sugar is in an upward trend, it can be produced and bagasse used to make ethanol. “If there is a great demand for ethanol, for Europe, for example, first-generation ethanol can be produced for domestic consumption and the second-generation one can be exported. All of this is going to reduce costs”, says Fernandes, adding that the use of bagasse for power generation cannot be neglected. “Our study is not conducted to state that it is better to use bagasse for ethanol production than for producing energy. The market is going to determine that”, he claims. “Until 2020, Brazil has the potential to produce 17 billion L of bagasse ethanol. I have numbers showing that the availability of bagasse can reach 428 million tons in 2020”, he states. “The major challenge is related to our attaining production compatibility of second-generation ethanol with the existing plants, besides making this process simple and low-cost. I believe that by 2012 we will be able to have a demonstration plant.” One of the advantages of using bagasse is being able to increase production with the same planted area. “It will not be necessary to plant one single m2 more of sugar cane”, stresses the CEO. “Today, those who are against say it is going to cause impacts, that we will have to plant more sugar cane, that the demand will be greater. This is nonsense.” Fernandes strengthens his argument even more by stressing that he has seen, has studied and has participated in seminars and symposiums on the theme. “What the Brazilian Sugar Cane Industry Association (Unica), an entity acknowledged worldwide, says is true. It has been more than proved that it is not necessary to invade the Amazon or the Pantanal for obtaining more ethanol. There will be biomass to produce power, as well as second-generation ethanol; there will be biomass, that is the point.” Involved in projects for obtaining renewable fuels, the company takes sustainability and environment preservation principles seriously in all the countries in which it operates. “It is mandatory to know the origin of each raw material, all suppliers are certified”, exemplifies Fernandes. The pallets carrying some of its enzymes have to originate from reforested wood. According to him, the company global policy provides that raw materials from renewable sources should be used as much as possible and that they must not derive from slave or child labor. For this, all over the world, it conducts audits of the suppliers in loco. The company is also concerned about who purchases the waste it produces – the money collected goes to the employees’ association. Formerly, 28 tons of gardening waste from the Novozymes in Araucária went to a landfill. They are now composted. Grass chips and tree splinters are treated at a central. There, with the aid of “superworms”, humus is produced which is later distributed among the employees and used in the company’s gardens. FOR THE ENVIRONMENT “Sustainable is also the way in which we produce,” says Fernandes. “This includes our product life cycle analysis, from the raw material up to the sales counter, the so-called life cycle assessment. We follow up how much CO2 is emitted to produce 1 kg of enzyme and/or how much CO2 the industry which uses our enzymes stops emitting. We have this for 85% of our products.” Last year, the Novozymes enzymes were used by the most different industries, by the most different segments over the world. “Owing to the fact that these clients used our enzymes, it was as if 7 million cars had stopped circulating for a year, without emitting CO2”, reports the company executive. Between 13% and 14% of the company bulk revenue is invested in research and development – in the past five years, Novozymes launched 43 new products deriving from research. All over the world, the company employs a thousand scientists, of whom 150 are dedicated to biofuels. “Today, we sell to over 130 countries, to over 40 different industrial segments. In 2008, the overall company revenue was about US$ 1.6 billion, with Novozymes Latin America accounting for 7% of that, i.e. US$ 112 million”, says Fernandes. “This is not negligible; it means that there is still much room for us to work in Brazil.” Agosto/August 2009 Projetos do Cenbio O GRANDE ENCONTRO BRASILEIRO DE BIOENERGIA Acadêmicos, cientistas e autoridades estiveram no ‘workshop’ que discutiu teorias e práticas sobre o assunto em todo o mundo Fotos: Meryellen Duarte e Fernando Saker A conteceu nos dias 26 e 27 de agosto, no Biênio da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), o workshop Bioenergia: desafios e oportunidades de negócios, organizado pelo Centro Nacional de Referência em Biomassa (Cenbio) do Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE) da USP. Financiado pelo Ministério de Minas e Energia (MME), por meio do convênio Fortalecimento Institucional do Cenbio, o evento contou com a presença de diversos nomes importantes da área de bioenergia do Brasil e se dividiu em seis painéis: Biocombustíveis; Perspectivas das tecnologias de segunda geração; Sustentabilidade dos biocombustíveis; Perspectivas de projetos de mecanismos de desenvolvimento limpo (MDL); Oportunidades de negócios; e Políticas públicas. Todos foram presididos por um chairman do setor e compostos por uma série de palestras com especialistas em cada área. As apresentações e os resultados de cada painel podem ser conferidos em resumos preparados pelos seus respectivos chairmen, disponíveis no site (http:// cenbio.iee.usp.br). ABERTURA O evento foi oficialmente aberto pelo professor José Aquiles Baesso Grimoni, diretor do IEE da USP. Coube a ele apresentar o IEE aos participantes do workshop, contando um pouco da história e da missão. Também reforçou a vocação para pesquisas do instituto, citando projetos em andamento, bem como as dissertações de mestrado e teses de doutorado. Em seguida, Hamilton Moss de Souza, diretor do Departamento de Desenvolvimento Energético 21 Projetos do Cenbio PALAVRA DA EXPERIÊNCIA José Aquiles B. Grimoni 22 do MME, falou sobre Biomassa: pilar da sustentabilidade. Ele abriu sua explanação reforçando o papel da biomassa dentro do conceito de energia sustentável e apresentou números que comprovam o crescimento do setor. Segundo ele, em 2007 e 2008, a oferta interna de energia era de 238,8 milhões de toneladas equivalentes de petróleo (tep), dos quais 110 milhões eram de energia renovável. Com o inevitável crescimento da demanda mundial de energia, a biomassa pode ganhar um papel crucial no futuro. Para isso, será preciso cuidar de alguns aspectoschave, como segurança no abastecimento, modicidade tarifária e universalização do atendimento. “A biomassa deverá representar 3% da matriz energética brasileira até 2030. O Brasil é um país renovável, nosso papel é passar isso para quem está chegando”, afirmou o palestrante. Encerrando a abertura do evento ouviu-se a palestra Etanol de 1ª geração: o “estado da arte”, apresentada pelo professor José Goldemberg, do IEE, profissional considerado como o grande patrono do Cenbio. Goldemberg apresentou um panorama do cenário atual da energia no mundo. Os combustíveis fósseis, explicou, são problemáticos porque não são inexauríveis, ficam com acesso cada vez mais difícil e têm grande impacto ambiental. Apesar disso, 80% da energia global hoje vêm de fontes não renováveis, enquanto a biomassa responde por apenas 1,83%. As emissões globais de CO2, por consequência, crescem 4% ao ano. Isso configura um problema que precisa ser resolvido ainda neste século. “O etanol é uma das soluções”, expôs o professor. “O etanol brasileiro é competitivo com a gasolina em termos de preço e em nível internacional”, frisou ele. Goldemberg também combateu a ideia de que a expansão do etanol leva ao desmatamento. “Os dados mostram que o crescimento da agricultura está tomando a área de pastagens, e não de mata nativa”, argumentou, lembrando que o crescimento anual de área cultivada no Brasil, desde 1968, é de 0,68%. “As discussões contra o etanol são todas em relação à expansão da agricultura, mas isso é um argumento reacionário, contrário ao desenvolvimento. Até porque, para a África e Ásia, essa expansão significa comida”, afirmou. Para encerrar sua exposição, Goldemberg disse estar contente com a realização do evento e confirmou a importância de formar e informar as próximas gerações para que elas continuem desenvolvendo os trabalhos na área de bioenergia. “Cabe a vocês levar esse barco para frente”, disse. José Goldemberg Suani Teixeira Coelho Hamilton Moss de Souza Agosto/August 2009 Projetos do Cenbio PAINEL 1: BIOCOMBUSTÍVEIS O painel sobre biocombustíveis, que teve como chairman o professor José Roberto Moreira, do Cenbio, deu início à programação de palestras técnicas. A apresentação inicial foi Bioeletricidade – Reduzindo emissões e agregando valor ao setor elétrico, ministrada por Carlos Silvestrin, vice-presidente executivo da Associação da Indústria de Cogeração de Energia (Cogen). Silvestrin falou sobre como os resíduos têm deixado de ser um problema para se tornar parte da solução. “Hoje, o bagaço é usado como adubo e na produção de energia elétrica”, explicou o professor, chamando a atenção também para o aumento de projetos oficialmente registrados na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) sobre o assunto. Silvestrin discorreu ainda sobre o processo de présecagem do bagaço em vez de este ser transportado direto da moenda. “Isso ainda é muito inicial”, opinou o professor. “É uma rota de desenvolvimento, mas não é ainda uma área de pesquisa comercial pronta”, disse. O painel continuou com a palestra Panorama dos biocombustíveis no Brasil: Norte/Nordeste, apresentada pelo professor Sérgio Peres Ramos da Silva, da Universidade de Pernambuco (UPE). Sobre a falta de investimentos para produção de álcool na região, Peres afirmou: “No Nordeste, temos regiões montanhosas que não permitem a colheita mecanizada, o que aumenta o custo de todo o processo”. Em contraste, Peres falou sobre o “novo Nordeste” que deverá surgir com a transferência do curso do rio São Francisco, expandindo a irrigação de terras para dezesseis municípios. “Prevemos a construção de sete usinas de açúcar e álcool.” O professor também apontou o uso de matériasprimas alternativas na região para produção de energia, como o sebo bovino e o óleo de frango. E lembrou que 64,5% da produção de etanol a partir da mandioca está no Norte e no Nordeste. Em seguida, Suani Teixeira Coelho, coordenadora do Cenbio, editora da Revista Brasileira de Bioenergia e uma dos idealizadores do evento, apresentou a palestra Panorama dos biocombustíveis no Brasil: Centro/Sul. Seu tema apontou os biocombustíveis como “a única solução viável e comerciável na substituição das fontes não renováveis”. Suani explicou que o crescimento do etanol no Brasil só foi possível devido aos incentivos governamentais no início do Proálcool, na década de 1970, os quais permitiram que os custos de produção fossem reduzidos de forma significativa. Ela apresentou o índice de crescimento anual de 4% na produtividade do etanol, que também tem ajudado a reduzir os custos. A coordenadora do Cenbio também discutiu a expansão do cultivo de cana: com o zoneamento agrícola, será possível, no futuro, ter 64 milhões de ha de área para cultivo sem que a mata nativa seja atingida. Além de beneficiar o etanol, esse zoneamento produzirá uma agropecuária menos extensiva e mais eficiente. Por fim, Suani falou sobre certificação. “Nós não podemos querer nem aceitar que os mesmos critérios de certificação usados no Brasil, um país avançado na área, sejam usados na África, por exemplo”, argumentou. “Pensar em fazer colheita mecânica na África, onde não há estrada, sob o custo de milhões, é algo intrigante quando a colheita manual ajudaria a gerar emprego no campo.” Marcelo Khaled Poppe, conselheiro da equipe técnica do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) apresentou a palestra Potencial dos biocombustíveis no Brasil. Segundo ele, em 2010, a produção mundial de gasolina deverá chegar aos 80 bilhões de L: uma área cultivada de 20 a 30 milhões de ha seria suficiente para substituir 10% desse montante por etanol. Economicamente, esse não é um sonho distante. “A produção de etanol é uma atividade de grande impacto na economia brasileira e pode ser de outras também. Hoje em dia, em termos de volume, consome-se mais etanol do que gasolina no Brasil”, disse o palestrante, lembrando que, desde a década de 1920, os carros no Brasil só utilizam gasolina com pelo menos 25% de álcool. Essa tendência ao etanol, ponderou, configura uma “rota de sustentabilidade agroecológica” que o país tem seguido. José Roberto Moreira Carlos Silvestrin Sérgio Peres Ramos PAINEL 2: PERSPECTIVAS DA TECNOLOGIA DE SEGUNDA GERAÇÃO O segundo painel foi presidido por Antônio Maria Francisco Luiz José Bonomi, do Centro de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE). Quem deu início aos trabalhos foi Marco Aurélio Pinheiro Lima, diretor do CTBE, com a palestra Estratégias do CTBE para Tecnologia de 2ª Geração. Lima iniciou questionando: em que circunstâncias o álcool de segunda geração se torna atraente para ingressar no mercado? “O desafio brasileiro para o álcool de segunda geração é maior que o do resto do mundo porque o de primeira geração é muito forte”, explicou. Segundo o professor, na hora em que a demanda mundial por etanol se equiparar à do petróleo, o papel do Brasil será fundamental. Complementando essa explanação, Lima apresentou um software desenvolvido pelo CTBE que é capaz de estimar a produtividade do etanol de segunda geração, a partir de um cálculo que abrange todos os processos da cadeia produtiva. Ele permite verificar o avanço tecnológico e avaliar se a produção do etanol de segunda geração é ou não compensadora. “O desafio do CTBE é fazer com que engenheiros e cientistas trabalhem juntos numa mesma missão para conseguir criar um programa próprio para o etanol de segunda geração”, concluiu o palestrante. Quem tomou a palavra na sequência foi Suleiman José Hassuani, coordenador de Pesquisa e Desenvolvimento do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), com a apresentação Desafios da gaseificação na geração de Marcelo Khaled Poppe Antônio Maria Bonomi Marco Aurélio Pinheiro Lima Suleiman José Hassuani 23 Projetos do Cenbio Ademar Ushima Maria Filomena A. Rodrigues Oswaldo Lucon Robert Boddey energia do setor sucroenergético. Ele explicou que a gaseificação é um processo vantajoso de geração de energia porque pode utilizar diferentes matérias-primas e diminui a formação de resíduos. Suleiman afirmou que é possível adicionar outras biomassas, como a palha de cana, ao tradicional bagaço, para a gaseificação, o que rende mais energia. Também falou de avanços na área, como a estocagem de vapor (produzido a partir do calor da queima do bagaço) para uso na entressafra. Esse sistema, disse, já está começando a ser introduzido em alguns lugares do Brasil. Ademar Ushima, pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), apresentou, em seguida, a palestra Gaseificação do bagaço de cana: rota BTL (Biomass to liquid). Ushima expôs o ciclo de gaseificação de biomassa para combustíveis líquidos, com quatro partes essenciais: unidade de preparação de biomassa – gaseificador – sistema de limpeza e tratamento de gases – reator catalítico. O painel foi encerrado por Maria Filomena de Andrade Rodrigues, também pesquisadora do IPT, com a palestra Produção de etanol via hidrólise enzimática de bagaço. O processo, basicamente, consiste em inserir enzimas na biomassa para extrair moléculas de açúcar, convertendo esse açúcar em etanol. Maria Filomena também falou sobre a submissão do bagaço a um processo prévio para aumentar a produtividade da hidrólise enzimática. “Nós do Brasil ainda não temos um modelo padrão de pré-tratamento. Isso é uma carência da comunidade científica”, ponderou. PAINEL 3: SUSTENTABILIDADE DOS BIOCOMBUSTÍVEIS Isaías de Carvalho Macedo Carlos Cerri Demóstenes Barbosa da Silva 24 Encerrando as atividades do dia 26, o painel sobre sustentabilidade foi presidido por Oswaldo Lucon, assessor técnico da Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo. A palestra inicial, ministrada pelo professor Robert Boddey, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), foi Balanço energético e as emissões de gases efeito estufa na produção de bioetanol da cana-de-açúcar em comparação com outros biocombustíveis. Boddey apresentou pontos polêmicos da produção do etanol, a partir da ideia de que, para ser realmente sustentável, é preciso contabilizar as emissões de CO2 e trabalhar para minimizá-las. “Se é utilizada mais energia fóssil do que se produz de energia renovável, algo está errado”, apontou e exemplificou: uma plantação de canade-açúcar emite mais CO2 do que outro tipo de cultura, mas impede a emissão de toneladas de CO2 que seriam emitidos pela combustão da gasolina. Na mesma medida, a queima da cana emite mais CO2 do que a colheita mecanizada. A palestra seguinte foi Balanço energético e emissões de carbono na produção de etanol, com Isaias de Carvalho Macedo, pesquisador associado do Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético da Universi- dade de Campinas. A apresentação se dedicou a explicar as três metodologias pelas quais é possível calcular os balanços de energia que são vistos no setor. Macedo apontou problemas como o fato de algumas metodologias utilizarem dados generalistas para toda a América do Sul (no que diz respeito à eficiência do transporte, por exemplo). Fechando o painel, o professor Carlos Cerri, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (EsalqUSP), discorreu sobre O papel do carbono no solo na redução de gases do efeito estufa no agronegócio produtor de bioenergia. O professor dedicou-se a explicar como a absorção de CO2 pelo solo pode ajudar no combate ao efeito estufa. Segundo Cerri, o carbono é absorvido do ar, pelas plantas, e passa para o solo por meio da decomposição dessas plantas quando elas morrem. Esse carbono se fixa no solo e, em um sistema nativo, esse estoque é constante. Na ocasião de um desmatamento por meio de queimada, ocorre a transformação de parte da biomassa em gás, o que faz com que o solo deixe de absorver esse carbono. É por isso que a chamada agricultura conservacionista prega o uso de métodos em que o solo absorva sempre o máximo de carbono que é capaz. Na produção do etanol, essa prática poderia ser aplicada na colheita da cana sem queima, por exemplo, porque, além do carbono que deixa de ser emitido com a não transformação da biomassa em gás, há também o carbono que iria ao solo devido à decomposição da palha de cana. “Quanto mais limpo for o processo, maior será o valor agregado do etanol”, fez notar o palestrante. PAINEL 4: PROJETOS DE MECANISMOS DE DESENVOLVIMENTO LIMPO (MDL) O segundo dia do workshop (27) foi aberto com um painel dedicado aos MDLs, presidido por Demóstenes Barbosa da Silva, diretor de Gestão de Meio Ambiente e Créditos de Carbono do grupo AES Tietê. Luiz Gylvan Meira Filho, pesquisador visitante do Instituto de Estudos Avançados (IEA), abriu os trabalhos com a palestra Como incluir os biocombustíveis no regime futuro de mudança do clima. “Quero desafiar os senhores a pensar como o regime interno sobre mudança do clima pode ajudar a promover o aumento do uso de biocombustíveis na matriz mundial”, disse Gylvan ao iniciar sua conferência. Acordo recente entre os líderes mundiais, explicou, gerou um pacto para limitar o aumento da temperatura a 2oC até o fim deste século, o que implica cortar em 60% as emissões de carbono em relação aos índices apurados em 1990. “Não há solução mágica”, avaliou. “Os biocombustíveis são parte dessa solução”. Segundo Gylvan, o conceito de “adicionalidade financeira”, acrescentado recentemente às discussões sobre sustentabilidade, visa a maximizar os ganhos financeiros com os investimentos na área. Isso é mau para o setor de MDL porque as iniciativas na área são mais caras e menos interessantes comercialmente. “Hoje, te- Agosto/August 2009 Projetos do Cenbio mos uma necessidade desesperada de achar um mecanismo econômico que incentive os MDLs”, disse. O próximo conferencista, Ricardo Esparta, sóciodiretor da empresa Ecopart, que falou sobre Projetos MDL no setor sucroalcooleiro – Problemas recentes de projetos brasileiros, explicou que “não basta um projeto reduzir as emissões de carbono. Ele tem de apresentar como, e esse ‘como’ precisa ser aprovado segundo critérios metodológicos”. As duas metodologias internacionais atuais para o setor sucroalcooleiro têm criado problemas para o Brasil. De todos os projetos do País submetidos às metodologias AM15 (cogeração de energia a partir de bagaço) e ACM6 (geração de energia a partir de resíduos de biomassa), apenas um foi aprovado. “A metodologia é muito abrangente, vale para o mundo inteiro, sendo que os critérios não se aplicam ao Brasil. Ou seja, somos barrados por problemas burocráticos”, alertou o palestrante. Magno Botelho Castelo Branco, coordenador de Meio Ambiente da organização não governamental Iniciativa Verde, deu prosseguimento ao painel com a apresentação Recomposição florestal e geração de energia no âmbito do MDL. Segundo Botelho, o território brasileiro apresenta altas taxas fotossintéticas que geram um volume de biomassa ainda altamente inexplorado. É preciso, então, na hora de calcular a emissão de carbono de um projeto, sempre levar em conta a taxa de sequestro de carbono – mas os cálculos atuais de sequestro em áreas florestais ainda são imprecisos, o que precisa ser melhorado. Finalizando o painel, a palestra Apresentação dos projetos de MDL dos aterros Bandeirantes e São João foi apresentada por Antônio Carlos Delbin, diretor técnico da empresa Biogás Energia Ambiental que explicou como são e funcionam as usinas que exploram gás a partir de aterros sanitários. “O maior desafio, hoje, é administrar a saída de água e gás do aterro”, explicou Delbin, lembrando também que, em geral, a empresa que opera o aterro não é a mesma que explora o gás – e isso pode gerar conflitos eventuais. Os custos maiores são em relação à rede de captação do gás: no aterro Bandeirantes, ela soma 26 km de dutos, extensão monitorada diariamente para checar se o gás não está sendo contaminado pelo ar. O resultado, porém, compensa: juntas, as usinas do Bandeirantes e São João já geraram 4,5 milhões de créditos de carbono. PAINEL 5: OPORTUNIDADES DE NEGÓCIOS PARA BIOCOMBUSTÍVEIS O quinto e penúltimo painel discutiu as condições do mercado de biocombustíveis no mundo atualmente. A mesa foi presidida por Francisco Nigro, pesquisador da Secretaria de Desenvolvimento de São Paulo. Martinho Ono, diretor da empresa SCA Etanol, começou as atividades com a palestra Oportunidades de negócio: mercado externo e logística. Sua apresentação mostrou a carência do Brasil com relação a um sistema de transporte mais adequado para os biocombustíveis. “Ain- da dependemos de transporte rodoviário, enquanto países como os Estados Unidos possuem redes de pipelines que tornam a logística mais eficiente”, declarou Ono. Essa carência é contrastada com o potencial do País nesse mercado. “Exportamos só 15% da nossa produção e ainda assim somos o segundo maior produtor do mundo”, apontou Ono, salientando que, de todo o etanol comercializado hoje no mundo, 68% é brasileiro. Luiz Gonzaga Bertelli, diretor da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), abriu sua palestra O presente e o futuro da produção de biocombustíveis no Brasil mencionando o engenheiro urbano Ernesto Stumpf, criador do Proálcool. Segundo ele, “todo empresário do setor de álcool deveria ter um busto de Stumpf na sua empresa”. Ele lembrou que, desde a década de 1970, o Brasil não constrói nenhuma refinaria e classificou como “propaganda enganosa” a ideia de que o país será autossuficiente em petróleo com o Campo de Tupi. Bertelli também argumentou que o governo federal deveria investir mais em etanol, já que seu biocombustível é o mais ecológico e mais barato do mundo. Eduardo Leão de Sousa, diretor executivo da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), apresentou o tema Oportunidades e desafios nos mercados nacional e internacional. Para ele, o mercado de etanol cada vez mais pede o envolvimento do setor privado, e este já não pode mais ser considerado um assunto “do governo”. Por outro lado, o mercado para os biocombustíveis, diferente do que acontece com outras commodities, não surge espontaneamente, o que leva à necessidade de políticas públicas para estimular seu desenvolvimento. E isso dá resultado, como pode ser visto nos Estados Unidos, onde o consumo de biocombustíveis é seis vezes maior que o brasileiro. Como conclusão, Sousa argumentou que o etanol é capaz de diminuir em 90% a emissão de CO2 em toda sua vida útil, em relação à gasolina, e que esse motivo, por si só, permite estimar um crescimento da demanda no futuro. Virginia Parente, professora do IEE, encerrou o painel com a palestra Ganhadores e perdedores no comércio mundial de biocombustíveis: o que nos ensina a teoria econômica. A conferencista explicou que o consenso de que as políticas macroeconômicas eram a principal variável no crescimento do PIB per capita já não é mais válido. Estudos mostram que a qualidade institucional tem assumido o papel mais importante nessa conta. Além disso, Virgínia também sugeriu que o Brasil busque investir e replicar iniciativas de bioenergia em países menos favorecidos, como algumas nações africanas, como forma de se estabelecer no mercado internacional de biocombustíveis. Luiz Gylvan Meira Filho Ricardo Sparta Magno Botelho Castelo Branco Antônio Carlos Delbin Francisco Nigro Martinho Ono PAINEL 6: PROPOSTAS DE POLÍTICAS PÚBLICAS Encerrando os trabalhos do primeiro workshop do Cenbio, o sexto painel, apontado por Suani Coelho como fundamental para nortear as políticas públicas que precisam ser criadas para o crescimento e desenvolvimento do setor de bioenergia no Brasil, levou o público a refletir Luiz Gonzaga Bertelli 25 Projetos do Cenbio Eduardo Leão de Sousa Virgínia Parente Emílio Lebre La Rovere Carlos Henrique de Brito Cruz Fernando Cardoso Rei Alexandre B. Strapasson Maria Cecília Wey de Brito 26 sobre os temas discutidos até então. A mesa foi presidida por Emílio Lèbre La Rovere, professor associado da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Quem abriu o painel foi Carlos Henrique de Brito Cruz, membro do Conselho Superior da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), com a palestra Desafios para a pesquisa em bioenergia em São Paulo. Brito apontou que, no Brasil, as políticas em relação à pesquisa ainda estão muito focadas na cana-de-açúcar. De fato, o Brasil possui hoje “grande produção científica” nesse campo. No entanto, em 2005, após o presidente americano (George W. Bush) falar sobre bioenergia, o assunto começou a receber atenção de outros países e foi gerada uma competição internacional na área científica. Com isso, o Brasil, que foca suas pesquisas na cana, está ficando defasado em pesquisas sobre sustentabilidade, LUC, ILUC e outros. “Isso é grave. A disputa política e comercial requer ciência”, afirmou o professor, chamando a atenção para o fato de que, atualmente, as pesquisas giram em torno de dois temas principais, produtividade e sustentabilidade, e que nossa estratégia de pesquisa precisará estar voltada a eles também. Fernando Cardoso Rei, diretor-presidente da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), assumiu a palavra em seguida com a apresentação Políticas públicas para as mudanças climáticas no Estado de São Paulo e declarou: “O primeiro passo para uma política pública eficiente sobre as mudanças climáticas é reconhecer que elas afetam todos os níveis da sociedade”. Rei também citou o Projeto ambiental estratégico município verdeazul, realizado pela Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, que estabeleceu 21 projetos ambientais estratégicos. Segundo o palestrante, os paulistas são líderes na criação de políticas públicas ambientais independentes desde 1995. “Por que fazemos uma política independente? Porque São Paulo é praticamente um país próprio”, definiu. Para exemplificar, Rei lembrou que Francisco Graziano Neto, secretário do Meio Ambiente de São Paulo, é também vice-presidente para América Latina e Caribe do Grupo The Network of Regional Governments for Sustainable Development (NRG4SD), que promove o desenvolvimento sustentável em todo o mundo. A palestra foi finalizada com a prospecção de que a meta atual de 20% na redução de emissões de carbono no Estado, estabelecida para 2020, será atingida já em 2010. A palestra Políticas públicas para a expansão sustentável dos biocombustíveis no Brasil veio em seguida. Apresentada por Alexandre Betinardi Strapasson, diretor do Departamento da Cana-de-açúcar e Agroenergia do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, seu conteúdo apontou a importância do ordenamento territorial no crescimento da produção de etanol. De acordo com Strapasson, são três as principais ferramentas para realizar esse ordenamento: zoneamento ecológico-econômico, zoneamento agrícola e zoneamento agroecológico. Não há relações significativas entre os biocombustíveis e o aumento nos preços dos alimentos: “O Brasil é o maior produtor de etanol de cana do mundo e só utiliza 1% do seu território para isso”, apontou o palestrante. Strapasson concluiu dizendo que é importante esti- mular a produção mundial de biocombustíveis, prioritariamente em países com culturas eficientes, aptidão agrícola e disponibilidade de terras. O zoneamento agrícola pode contribuir para que essa expansão seja feita de forma ordenada. Além disso, frisou o palestrante, as próximas gerações de biocombustíveis serão mais produtivas, o que reduzirá as pressões sobre novas áreas de cultivo. Por fim, ele afirmou que os fundos internacionais poderiam estimular de forma mais eficiente a transferência de tecnologias agrícolas aos países em desenvolvimento, o que aumentaria a produção e diminuiria a pobreza. A tarefa de encerrar o ciclo de palestras técnicas do painel e de todo o workshop ficou a cargo de Maria Cecília Wey de Brito, secretária de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente: Políticas públicas para proteção ao meio ambiente no governo federal foi o seu tema. Alguns desafios que o governo federal precisará enfrentar nos próximos anos foram listados pela conferencista: a contínua perda da biodiversidade, as mudanças climáticas, a questão do desmatamento da Amazônia, o crescimento da demanda por combustíveis, a falta de informação e o aumento da demanda por biocombustíveis para ajudar a suprir as metas de redução de emissões mundiais. Em seguida, Maria Cecília citou algumas medidas adotadas pelo governo para superar esses desafios: a adesão à Convenção de mudanças climáticas, ao Protocolo de Quioto, à Convenção de diversidade biológica e ao Plano nacional de mudanças climáticas, que tem como objetivos fomentar aumentos de eficiência no desempenho dos setores produtivos; manter elevada a participação de energia renovável na matriz energética; fomentar o aumento sustentável da participação de biocombustíveis na matriz de transportes nacional; reduzir as taxas de desmatamento; e fomentar o desenvolvimento de pesquisas científicas. Maria Cecília ainda falou de outros projetos e afirmou que, em relação ao etanol, o objetivo do governo é fomentar a indústria para que o consumo cresça 11% ao ano nos próximos dez anos. ENCERRAMENTO Patrícia Matai, professora da Escola Politécnica da USP, fez o primeiro discurso de encerramento. Elogiou a iniciativa do Cenbio e espera ver o workshop ganhar novas edições no futuro. José Goldemberg lembrou que o poder público precisará cada vez mais das universidades, de tecnologia e conhecimento. E disse ainda que a própria realização do evento já é uma grande conquista. “Dez, vinte anos atrás, esse tipo de interação não apenas era incomum, como também não era bem-vinda”, afirmou ele. Por fim, Suani Coelho tomou a palavra para fazer os agradecimentos finais. “Tivemos a ambição de organizar um programa com grandes nomes da área e ficamos honrados, pois conseguimos a presença de todos”, disse ela. Agosto/August 2009 Meio Ambiente EM DISCUSSÃO, O EFEITO INDIRETO DA MUDANÇA DO USO DA TERRA Tema tornou-se supervalorizado ao ser incluído por EUA e UE na legislação que trata de biocombustíveis e da redução de emissões de gases do efeito estufa Fotos: Amorim Leite setor de energia está no centro dos esforços para a redução das emissões de gases do efeito estufa em todo o mundo. Com o aquecimento global e as mudanças climáticas, os biocombustíveis ganharam força como opção de energia renovável em substituição aos combustíveis fósseis e viram crescer sua importância estratégica pela possibilidade de garantir suprimento energético independente do petróleo. Em defesa do meio ambiente, a Comunidade Europeia e os EUA estabeleceram metas de redução para o setor de transportes – responsável por cerca de 25% das emissões mundiais de CO2, de acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente –, por meio de leis que exigem, ou aumentam, a participação de combustíveis renováveis em suas frotas. A legislação trouxe à tona um tema que até então não merecia grande atenção: o efeito indireto da mudança do uso da terra para a produção de biocombustíveis sobre a emissão de CO2. “Sempre se achou que não fazia sentido medir isso”, diz o engenheiro agrônomo André Nassar, diretor-geral do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone), organização que se dedica a estudos e projetos sobre agricultura e agronegócio. “Hoje, devido principalmente à legislação americana – a europeia ainda está em negociação –, que diz ser necessário medir as emissões de CO2 dos biocombustíveis levando em conta os efeitos das mudanças diretas e indiretas, há uma grande discussão mundial sobre o assunto. O problema é que essa discussão mundial levou a uma supervalorização do tema.” Nassar explica a diferença entre efeito direto e indireto da mudança do uso da terra. “Em O Em pauta: efeito indireto da mudança do uso da terra para a produção de biocombustíveis sobre a emissão de CO2 27 Meio Ambiente Nassar, do Icone: “Se alguém quiser usar o efeito indireto para barrar o etanol brasileiro por critério técnico, não vai conseguir” determinada região, alguém plantou cana e uma usina se instalou. O que a cana substituiu? Ela cresceu sobre pastagem, grãos, laranjal? O efeito direto considera as emissões antes e depois de a cana se instalar, levando em conta também quanto carbono foi emitido na produção de etanol, por exemplo, quanto combustível o trator usou e a quantidade de adubo e de herbicida.” Medir o efeito indireto é mais complexo. “A cana substituiu grãos. Se a produção de grãos do Brasil cresceu, essa área de grãos que diminuiu por causa da cana foi para algum lugar. A cana deslocou uma atividade produtiva que, num efeito cascata, pode estar contribuindo, lá na fronteira agrícola, para a conversão da Floresta Amazônica ou do cerrado em áreas agrícolas. O efeito indireto é a tentativa de medir esse impacto, digamos assim, de algo que foi deslocado pela cana.” RESULTADOS DIFERENTES Como se vê, medir os efeitos indiretos da mudança do uso da terra é complicado e, dependendo dos parâmetros usados, os resultados podem ser bem diferentes. Segundo Nassar, uma forma que tem sido comumente utilizada é fazer um modelo econômico de projeção da área da matéria-prima agrícola que vai dar origem ao biocombustível. “Depois, faz-se uma projeção para o futuro, em razão da demanda esperada por biocombustível, e se mede, no modelo eco- 28 nômico, quanto houve de mudança no uso da terra.” O engenheiro agrônomo chama a atenção para a importância de levar em conta as características de cada país para não se chegar a “números absurdos”. Em maio, por exemplo, a Agência de Proteção Ambiental Americana (EPA) considerou o etanol brasileiro, de canade-açúcar, 46% mais eficiente que a gasolina para a redução de emissões de gases do efeito estufa, incluído aí o efeito indireto. “Pelo nosso cálculo, utilizando o nosso modelo econômico, chegamos a 69% de eficiência, mesmo considerando o efeito indireto”, diz Nassar. “Tentamos mostrar que, se os Estados Unidos querem que o efeito indireto entre na conta, que ele seja medido corretamente.” No Brasil, explica Nassar, a maior parte do efeito indireto ocorre internamente. “Aqui, o deslocamento de atividades produtivas pela cana é pequeno porque existe a intensificação de pastagens, por exemplo. Então, se alguém falar que a expansão da cana no Brasil deslocou 1 milhão de ha de floresta tropical na Indonésia, não dá para dizer que é verdade”, argumenta. Já nos Estados Unidos, onde grande parte da área disponível para a agricultura já está sendo usada, o caso é diferente. “Se a demanda por etanol aumenta, crescem a produção de milho e a área plantada de milho. Como o país já não tem muita terra livre, o crescimento do milho vai deslocar alguma cultura – soja, por exemplo. E aí, na cabeça dos defensores do efeito indireto, Brasil ou Argentina ou Indonésia vão produzir soja para suprir a produção menor americana. Cria um efeito indireto internacional, que vai pulando de país para país.” Nassar não acredita que a inclusão do efeito indireto da mudança do uso da terra nos cálculos que medem a eficiência dos biocombustíveis esconda algum tipo de barreira ao etanol brasileiro. “Acho que essas questões ambientais não são deliberadamente contra o Brasil, apesar de baterem de frente com o nosso etanol. Há quem ainda tenha dúvida se biocombustível de base agrícola é a melhor opção para reduzir emissões. Há pessoas que são contra as políticas para os produtores locais, como os subsídios, por exemplo. Há quem prefira seguir com o petróleo e quem considere o carro elétrico como a melhor opção tecnológica”, enumera o engenheiro agrônomo. “Em todo o caso, se alguém quiser usar o efeito indireto da mudança do uso da terra para barrar o etanol brasileiro por critério técnico, não vai conseguir.” Agosto/August 2009 The Environment UNDER DISCUSSION, THE INDIRECT EFFECT OF LAND USE CHANGE The theme was overvalued when it was included by the USA and the EU in the legislation on biofuels and on the reduction of greenhouse gases emissions Photos: Amorim Leite he energy sector is in the center of the efforts for reducing greenhouse gases emissions all over the world. With global warming and climate changes, biofuels gained momentum as an alternative renewable energy to replace fossil fuels and witnessed their growth in strategic importance for the possibility of ensuring energy supply independently of oil. Advocating the environment, the European Community and the USA established reduction goals for the transportation sector – accounting for about 25% of the world CO2 emissions, according to the United Nations Environment Program –, by means of laws that require, or increase, the participation of renewable fuels in their fleets. The legislation raised an issue that, until then, had not attracted much attention: the indirect effect of land use change for biofuels production on CO2 emission. “It was always thought that measuring that was nonsense”, says agronomic engineer André Nassar, general director of Icone (Institute for International Trade Negotiations), an organization dedicated to studies and projects on agriculture and agribusiness. “Today, mainly due to the American legislation – the European one is still under negotiations –, which states that it is necessary to measure the biofuels CO2 emissions, taking into account the effects of direct and indirect changes, there is a wide world discussion on the subject. The problem is that this world discussion caused the theme to be overvaluated.” Nassar explains the difference between direct and indirect effect in land use change. “In a certain region, someone planted sugar cane and a plant was established. What did sugar cane replace? Did it grow over pastures, T In discussion: the indirect effect of land use change for biofuels production on CO2 emission 29 The Environment Nassar, from Icone: “If someone wants to use the indirect of land use change to halt the Brazilian ethanol by a technical criterion, will not succeed” grain fields, orange groves? The direct effect considers the emissions before and after sugar cane is installed, also taking into account how much carbon was emitted in ethanol production, for example, how much fuel the tractor used as well as the amount of fertilizer and herbicide.” Measuring the indirect effect is more complex. “Sugar cane replaced grains. If the grain production in Brazil grew, this grain area that decreased because of sugar cane must have gone somewhere. Sugar cane displaced a productive activity which, in a domino effect, may be contributing, there, in the agricultural boundaries, to convert the Amazon Forest or the cerrado into agricultural areas. The indirect effect is the attempt to measure this impact, let us say, of something that was displaced by sugar cane.” DIFFERENT RESULTS As can be seen, measuring the indirect effects of land use change is complicated and, depending on the parameters used, the results can be quite different. According to Nassar, a form that has been commonly used is to make an economic projection model of the area of the agricultural input that will originate the biofuel. “Later, a future projection is made, due to the expected demand for biofuel, and a measure is 30 made, in the economic model, of how much land use change there has been.” The agronomic engineer calls attention to the importance of considering each country’s characteristics so as not to reach “absurd numbers”. In May, for example, the American Environment Protection Agency (EPA) considered the Brazilian sugar cane ethanol 46% more efficient than gasoline for reducing greenhouse gases emissions, there including the indirect effect. “By our calculations, using our economic model, we reached 69% efficiency, even considering the indirect effect”, states Nassar. “We try to show that, if the United States want the indirect effect to be accounted, it should be correctly measured.” In Brazil, explains Nassar, most of the indirect effect occurs domestically. “Here, the displacement of productive activities by sugar cane is small since there is an intensification of pastures, for example. Hence, if someone says that the sugar cane expansion in Brazil displaced 1 million ha of tropical forest in Indonesia, this cannot be considered true”, he argues. In turn, in the United States, where a large portion of the area available for agriculture is already being used, the case is different. “If the demand for ethanol increases, corn production and the area planted with corn grows. As the country no longer counts on much available land, corn growth will displace some culture – soybean, for example. Then, for those who advocate the indirect effect, Brazil or Argentina or Indonesia will produce soybean to supply the smaller American production. It creates an international indirect effect that spills from one country over another.” Nassar does not believe that the inclusion of the indirect effect of land use change in the calculations that measure biofuels efficiency may disguise some kind of barrier to the Brazilian ethanol. “I think these environmental issues are not deliberately against Brazil, despite clashing with our ethanol. There are also those who doubt that the agriculture-based biofuel is the best option to reduce emissions. There are people who are against the policies for local producers, such as subsidies, for example. There are those who prefer to go on using oil and those who consider the electric vehicle the best technological option”, lists the agronomic engineer. “Anyway, if someone wants to use the indirect effect of land use change to halt the Brazilian ethanol by a technical criterion, he/ she will not succeed.” Agosto/August 2009 Cenbio Projects THE GREAT BRAZILIAN BIOENERGY MEETING Scholars, scientists and authorities attended the workshop which discussed bioenergy theories and practices all over the world Photos: Meryellen Duarte and Fernando Saker O n August 26th and 27th, the workshop Bioenergy: challenges and business opportunities was held at the Polytechnic School of the University of Sao Paulo (USP), organized by the Brazilian Reference Center on Biomass (Cenbio) of the Institute de Electrotechnics and Energy (IEE) of USP. Financed by the Brazilian Ministry of Mines and Energy (MME), by means of the Cenbio Institutional Strengthening covenant, the event counted on the presence of several important names in Brazil’s bioenergy area and was divided into six panels: Biofuels; Perspectives of second-generation technologies; Biofuels sustainability; Perspectives of clean development mechanism (CDM) projects; Business opportunities; and Public policies. They were all conducted by a sector chairman and composed of a series of lectures by specialists in each area. The presentations and the results of each panel can be examined in summaries prepared by their respective chairmen, available at the site (http:// cenbio.iee.usp.br). OPENING The event was officially opened by Professor José Aquiles Baesso Grimoni, director of IEE of USP, unit which houses the Cenbio. He was responsible for presenting the IEE to the workshop participants, telling a bit of its history and its mission. He also remarked the Institute vocation for researches, mentioning ongoing projects, as well as the MSc dissertations and doctoral theses. 31 31 Cenbio Projects Brazil is a renewable country, our role is to pass this on to those who are coming”, stated the speaker. WORD OF EXPERIENCE José Aquiles B. Grimoni 32 Next, Hamilton Moss de Souza, director of the Department of Energy Development of the Ministry of Mines and Energy, presented Biomass: pillar of sustainability. He opened his lecture stressing the role of biomass within the sustainable energy concept and presented numbers that prove the growth in the sector. According to him, in 2007 and 2008, the domestic energy supply was 238.8 million tons of oil equivalent (toe), 110 million of which were renewable energy. With the inevitable growth in the world demand for energy, biomass can play a crucial role in the future. For this, it will be necessary to see to some key aspects, such as supply safety, tariff modicity and service universalization. “Biomass will represent 3% of the Brazilian energy matrix by 2030. Closing the opening of the event, the lecture First generation ethanol: the “state-of-the-art” was presented by professor José Goldemberg, from IEE, a professional considered the great Cenbio patron. Goldemberg presented an overview of the present energy scenario in the world. Fossil fuels, he explained, are problematic because they are not inexhaustible; it is increasingly more difficult to access them and they produce great environmental impact. Nevertheless, 80% of the global energy comes from non-renewable sources, whereas biomass accounts for only 1.83%. The global CO2 emissions, as a consequence, grow by 4% a year. This configures a problem that has to be solved still in this century. “Ethanol is one of the solutions”, stated the professor. “The Brazilian ethanol is competitive with gasoline in terms of price and at international level,” he stressed. Goldemberg also countered the idea that ethanol expansion leads to deforesting. “Data show that the growth in agriculture is taking pasture areas, and not native forest ones”, he argued, observing that the annual growth in cultivated area in Brazil, since 1968, is 0.68%. “The discussions against the ethanol are all related to agriculture expansion, but this is a reactionary argument, contrary to development. Even because, for Africa and Asia, this expansion means food”, he stated. So as to close his speech, Goldemberg claimed to be happy with the conduction of the event and confirmed the importance of forming and informing the next generations so that they keep developing works in the bioenergy area. “It is up to you to keep that boat going”, he said. José Goldemberg Suani Teixeira Coelho Hamilton Moss de Souza Agosto/August 2009 Cenbio Projects PANEL 1: BIOFUELS The panel on biofuels, chaired by professor José Roberto Moreira, from Cenbio, started the technical speech program. The initial presentation was Bioelectricity – Reducing emissions and adding value to the power sector, made by Carlos Silvestrin, vice-CEO of the Power Cogeneration Industry Association (Cogen). Silvestrin talked about how wastes have ceased to be a problem to be part of the solution. “Today, bagasse is used as a fertilizer and in electric power production”, explained the professor, also pointing out the increase in projects on the subject officially registered at the Brazilian Electric Power Agency (Aneel). Silvestrin also discussed the bagasse pre-drying process instead of transporting it straight to the mill. “This is still very incipient”, said the professor. “It is a development route, but it is not yet a ready commercial research area”, he said. The panel proceeded with the talk Biofuels scenario in Brazil: North/Northeast, presented by professor Sérgio Peres Ramos da Silva, from the University of Pernambuco (UPE). On the lack of investments for ethanol production in the region, Peres affirmed: “In the Northeast, there are mountainous regions that do not allow mechanized harvesting, which increases the cost of the whole process”. By contrast, Peres talked about the “new Northeast” which will emerge after the transfer of the course of the River São Francisco, expanding the irrigation of lands to sixteen municipalities. “We foresee the construction of seven sugar and ethanol plants.” The professor also pointed out the use of alternative input in the region for power production, such as bovine fat and chicken oil. He remarked that 64.5% of the ethanol production as from manioc lies in the North and in the Northeast. Next, Suani Teixeira Coelho, coordinator of Cenbio, editor of the Revista Brasileira de Bioenergia and one of the event organizers, presented the talk Biofuels scenario in Brazil: Center/South. Her theme focused on biofuels as “the only viable and tradable solution for replacing non-renewable sources”. Suani explained that the growth of ethanol in Brazil was only possible due to the governmental incentives from the beginning of Proalcool, in the 1970s, which allowed the production costs to be significatively reduced. She also presented the 4% annual growth rate in ethanol productivity, which has also helped to reduce costs. The Cenbio coordinator discussed the expansion of sugar cane growth, as well: with the agricultural zoning, in the future it will be possible to have 64 million ha of area for growing crops without harming the native vegetation. Besides benefitting ethanol, this zoning will provide less extensive and more efficient stockbreeding. Finally, Suani talked about certification. “We cannot wish or accept that the same certification criteria used in Brazil, an advanced country in the area, are used in Africa, for example”, she argued. “To think of mechanical harvesting in Africa, where roads are scanty, which would cost millions, is something intriguing when manual harvest would help to generate jobs in the fields.” Marcelo Khaled Poppe, counselor of the technical team of the Center of Management and Strategic Studies (CGEE) presented the talk Biofuels potential in Brazil. As stated by him, in 2010, the gasoline world production will reach 80 billion L: a cultivated area from 20 to 30 million ha would be enough to replace 10% of this amount with ethanol. Economically, this is not a distant dream. “Ethanol production is an activity with great impact on the Brazilian economy and may impact others, too. Nowadays, in terms of volume, more ethanol is consumed than gasoline in Brazil”, said the lecturer, remarking that, as from the 1920s, vehicles in Brazil only use gasoline with at least 25% ethanol. This trend towards ethanol, he pondered, configures an “agricultural-ecological sustainability route” which the country has followed. PANEL 2: PERSPECTIVES FOR SECOND-GENERATION José Roberto Moreira Carlos Silvestrin Sérgio Peres Ramos TECHNOLOGY The second panel was chaired by Antônio Maria Francisco Luiz José Bonomi, from the Bioethanol Science and Technology Center (CTBE). The person to open the session was Marco Aurélio Pinheiro Lima, CTBE director, with the talk CTBE Strategies for Second-generation Technology. Lima started by inquiring: in what circumstances does second-generation ethanol get attractive to enter the market? “The Brazilian challenge for the secondgeneration ethanol is greater than in the rest of the world, because the first-generation one is very strong”, he explained. According to the professor, when the world demand for ethanol gets equivalent to that of oil, Brazil’s role will be crucial. Complementing this explanation, Lima presented a piece of software developed by the CTBE which can estimate the second-generation ethanol productivity, from a calculation that comprehends all the productive chain processes. It allows verifying the technological improvement and assessing whether the secondgeneration ethanol production is or is not worthwhile. “The CTBE challenge is to make engineers and scientists work together in the same mission so as to create their own program for the second-generation ethanol”, the lecturer concluded. The next to speak was Suleiman José Hassuani, Research and Development coordinator of the Sugar Cane Technology Center (CTC), with the presentation Challenges of gasification in power generation of the sugar-energy sector. He explained that gasification is an advantageous power generation process because it can use different inputs and decreases waste formation. Marcelo Khaled Poppe Antônio Maria Bonomi Marco Aurélio Pinheiro Lima Suleiman José Hassuani 33 33 Cenbio Projects Ademar Ushima Maria Filomena A. Rodrigues Oswaldo Lucon Suleiman stated that it is possible to add other biomasses, such as sugar cane straw, to the traditional bagasse, for gasification, which yields more power. He also talked about enhancements in the area, such as steam (produced from the heat of bagasse burning) storage for using intercrops. This system, he said, is already beginning to be introduced in some places in Brazil. Ademar Ushima, researcher of the Institute for Technological Research (IPT) next presented the talk Sugar cane bagasse gasification: BTL (Biomass to liquid) route. Ushima presented the biomass gasification cycle for liquid fuels, with four essential parts: biomass preparation unit – gasificator – gases cleaning and treatment system – catalytic reactor. The panel was closed by Maria Filomena de Andrade Rodrigues, also an IPT researcher, with the talk Ethanol production via bagasse enzymatic hydrolysis. The process basically consists in inserting enzymes in biomass to extract sugar molecules, converting this sugar into ethanol. Maria Filomena also talked about submitting bagasse to a previous process to increase enzymatic hydrolysis productivity. “In Brazil, we still do not count on a pretreatment standard model. This is a lack in the scientific community”, she pondered. PANEL 3: BIOFUELS SUSTAINABILITY Robert Boddey Isaías de Carvalho Macedo Carlos Cerri Demóstenes Barbosa da Silva 34 Closing the activities that day, the panel on sustainability was chaired by Oswaldo Lucon, technical advisor of the State of São Paulo Secretariat for the Environment. The initial lecture, given by Professor Robert Boddey, researcher of the Brazilian Agricultural Research Corporation (Embrapa), was Energy balance and greenhouse gases emissions in sugar cane bioethanol production as compared to other biofuels. Boddey presented polemic points of ethanol production, from the idea that, so as to be really sustainable, it is necessary to account for the CO2 emissions and to work towards minimizing them. “If more fossil energy is used than renewable energy produced, there is something wrong”, he pointed out and exemplified: a sugar cane plantation emits more CO2 than some other crops, but it prevents the emission of tons of CO2 that would be emitted in gasoline combustion. In the same measure, burning sugar cane emits more CO2 than mechanized harvesting. The next talk was Energy balance and carbon emissions in ethanol production, by Isaias de Carvalho Macedo, an associate researcher of the Interdisciplinary Nucleus of Energy Planning of the University of Campinas. The presentation was dedicated to explaining the three methodologies by which it is possible to calculate the energy balances found in the sector. Macedo pointed out some problems, such as the fact that some methodologies use generalist data for the whole of South America (concerning the efficiency in transportation, for example). Closing the panel, Professor Carlos Cerri, from the Higher School of Agriculture Luiz de Queiroz (EsalqUSP), discussed The role of carbon in the soil in reducing greenhouse gases in the bioenergy production agribusiness. The professor concentrated on explaining how the absorption of CO2 by the soil can help to fight the greenhouse effect. According to Cerri, carbon is absorbed by the air, by plants, and goes into the soil by means of the decomposition of these plants when they die. This carbon is fixed to the soil and, in a native system, this stock is constant. When there is deforesting by means of burning, there is the transformation of part of the biomass into gas, which makes the soil stop absorbing this carbon. This is why the so-called conservationist agriculture recommends the use of methods in which the soil always absorbs the most carbon it can. In ethanol production, this practice could be applied in sugar cane harvesting without burning, for example, because, besides the carbon that fails to be emitted with the non transformation of biomass into gas, there is also the carbon that would go into the soil due to the decomposition of the sugar cane straw. “The cleaner the process, the greater will be the ethanol added value”, the lecturer remarked. PANEL 4: CLEAN DEVELOPMENT MECHANISM (CDM) PROJECTS The second day of the workshop (27th) was started with a panel dedicated to CDMs, presided by Demóstenes Barbosa da Silva, Environment Management and Carbon Credit Director of the AES Tietê group. Luiz Gylvan Meira Filho, visiting researcher of the Institute of Advanced Studies (IEA), opened the works with the talk How to include biofuels in the future climate change regime. “I would like to challenge you to think of how the domestic regime on climate change can help to promote an increase in the use of biofuels in the world matrix”, said Gylvan when he started his lecture. A recent agreement among world leaders, he explained, generated a pact to limit the increase in temperature to 2oC by the end of this century, which implies cutting the carbon emissions by 60% in relation to the rates accounted for in 1990. “There is no magic solution”, He pondered. “Biofuels are part of this solution”. According to Gylvan, the “financial additionality” concept, recently added to the discussions on sustainability, aims to maximize the financial gains from investments in the area. This is bad for the CDM sector because the initiatives in the area are more expensive and less commercially interesting. “Today, we have a desperate need to find an economic mechanism that stimulates the CDMs”, he said. The next lecturer, Ricardo Esparta, partner-director of the Ecopart company, who spoke about CDM Projects in the sugar-ethanol sector – Recent problems of Brazilian 34 Agosto/August 2009 Cenbio Projects projects, explained that “it is not enough for a project to reduce carbon emissions. It has to present how, and this ‘how’ has to be approved according to methodological criteria”. The two present international methodologies for the sugar-ethanol sector have created problems for Brazil. Of all the projects in the country submitted to AM15 (power cogeneration as from bagasse) and ACM6 (power generation as from biomass wastes) methodologies, only one was approved. “The methodology is very comprehensive, it is valid for the whole world, yet the criteria do not apply to Brazil. That is, we are halted for bureaucratic problems”, warned the lecturer. Magno Botelho Castelo Branco, Environment Coordinator of the non-governmental organization Iniciativa Verde, proceeded with the panel with the presentation Forest recomposition and power generation in the CDM ambit. According to Botelho, the Brazilian territory presents high photosynthetic rates which generate a biomass volume still highly unexplored. It is thus necessary, at the time of calculating the carbon emission of a project, to always take into account the carbon sequestration rate – but the present sequestration calculations in forest areas are still imprecise and have to be improved. Closing the panel, the lecture Presentation of the CDM projects of the Bandeirantes and São João landfills was presented by Antônio Carlos Delbin, technical director of the Environmental Biogas Energy company who explained how the plants that explore gas as from landfills are and work. “The greatest challenge, today, is to manage the outflow of water and gas from the landfill”, explained Delbin, also observing that, in general, the company that operates the landfill is not the same that explores the gas – and this may generate occasional conflicts. The greatest costs are those concerning the gas capture network: at the Bandeirantes landfills, it has 26 km of ducts, extension which is daily checked to verify whether the gas is not being contaminated by the air. The result, however, compensates: together, the Bandeirantes and São João plants have already generated 4.5 million carbon credits. PANEL 5: BUSINESS OPPORTUNITIES FOR BIOFUELS The fifth panel discussed the biofuels market conditions in the world today. The session was chaired by Francisco Nigro, researcher from the São Paulo State Secretariat for Development. Martinho Ono, director of the SCA Ethanol company, started the activities with the talk Business opportunities: foreign market and logistics. His presentation showed the gap in Brazil concerning a more adequate transport system for biofuels. “We still depend on road transport, whereas countries such as the United States have pipeline networks that make the logistics more efficient”, declared Ono. This lack is a contrast with the Brazilian potential in this market. “We export only 15% of our production and even so we are the second largest producer in the world”, pointed out Ono, stressing that, of all the ethanol traded in the world today, 68% is Brazilian. Luiz Gonzaga Bertelli, director of the São Paulo State Industry Federation (Fiesp), opened his talk The present and the future of biofuels production in Brazil mentioning urban engineer Ernesto Stumpf, who created Proalcool. According to him, “every entrepreneur in the ethanol sector should have a sculpture of Stumpf in the company”. He observed that, since the 1970s, Brazil has not built any refinery and classified as “deceitful propaganda” the idea that Brazil will be self-sufficient in petroleum with the Tupi Oilfield. Bertelli also argued that the federal government should invest more in ethanol, since its biofuel is the most ecological and the cheapest in the world. Eduardo Leão de Sousa, CEO of the Brazilian Sugar Cane Industry Association (Unica), presented the theme Opportunities and challenges in the domestic and foreign markets. For him, the ethanol market asks for more and more involvement from the private sector, and this can no longer be considered a “government” issue. Conversely, the market for biofuels, differently from what occurs to other commodities, does not emerge spontaneously, which leads to the need of public policies to stimulate its development. This works out, as can be seen in the United States, where the biofuels consumption is six times as great as the Brazilian one. As a conclusion, Sousa argued that the ethanol can reduce CO2 emission by 90% all along its service life, in relation to gasoline, and that this reason, by itself, allows estimating a future growth in demand. Virginia Parente, IEE professor, closed the panel with the talk Winners and losers in the biofuels world trade: what does the economic theory teach us? The lecturer explained that the consensus that the macroeconomic policies were the main variable in the per capita GDP growth is no longer valid. Studies show that the institutional quality has taken on the most important role in this account. Also, Virgínia also suggested that Brazil should seek to invest and to replicate bioenergy initiatives in poorer countries, such as some African nations, as a way of getting them established in the international biofuels market. PANEL 6: PUBLIC PROPOSALS POLICIES Closing the works of the first Cenbio workshop, the sixth panel, pointed out by Suani Coelho as fundamental to guide the public policies that have to be created for the growth and development in the bioenergy sector in Brazil, made the audience reflect on the themes discussed until then. The session was chaired by Emílio Lèbre La Rovere, associate professor of the Federal University of Rio de Janeiro (UFRJ). Luiz Gylvan Meira Filho Ricardo Sparta Magno Botelho Castelo Branco Antônio Carlos Delbin Francisco Nigro Martinho Ono Luiz Gonzaga Bertelli 35 35 Cenbio Projects Eduardo Leão de Sousa Virgínia Parente Emílio Lebre La Rovere Carlos Henrique de Brito Cruz Fernando Cardoso Rei Alexandre B. Strapasson Maria Cecília Wey de Brito 36 The panel was started by Carlos Henrique de Brito Cruz, a member of the Higher Council of the State of São Paulo Research Foundation (Fapesp), with the lecture Challenges for the research on bioenergy in São Paulo. Brito pointed out that, in Brazil, the policies related to research are still very much focused on sugar cane. Actually, Brazil today has “broad scientific production” in this field. Nonetheless, in 2005, after the American President (George W. Bush) talked about bioenergy, the issue started to gain attention from other countries and an international competition in the scientific area was generated. With this, Brazil, which focuses its researches on sugar cane, is getting outdated in researches on sustainability, LUC, ILUC and others. “This is serious. The political and commercial competition requires science”, stated the professor, calling attention to the fact that, nowadays, researches revolve around two main themes, productivity and sustainability, and that our research strategy will have to take them into account, too. Fernando Cardoso Rei, President of the São Paulo State Environmental Agency (Cetesb), took the floor next with the presentation Public policies for climate change in the State of São Paulo and declared: “The first step for an efficient public policy on climate change is to recognize that they affect all levels of society”. Rei also mentioned the Strategic environmental project green-blue municipality, conducted by the State of São Paulo Secretariat for the Environment, which established 21 strategic environmental projects. As stated by the lecturer, the paulistas are the leaders in creating independent environmental public policies since 1995. “Why do we practice an independent policy? Because São Paulo is practically a country in itself”, he defined. In order to exemplify, Rei observed that Francisco Graziano Neto, the State of São Paulo Secretary for the Environment, is also vice-president for Latin America and the Caribbean of The Network of Regional Governments for Sustainable Development Group (NRG4SD), which promotes sustainable development all over the world. The talk was concluded with the prospection that the annual goal for 20% carbon emissions reduction in the State, established for 2020, will be met as early as 2010. The lecture Public policies for the sustainable expansion of biofuels in Brazil came next. Presented by Alexandre Betinardi Strapasson, director of the Sugar Cane and Agro-Energy Department of the Ministry of Agriculture, Livestock and Supply, the content stressed the importance of territorial ordination in the ethanol growth production. As stated by Strapasson, three are the main tools for conducting this ordination: ecological-economic zoning, agricultural zoning and agricultural-ecological zoning. There are no significant relationships between biofuels and the increase in food prices: “Brazil is the greatest sugar cane ethanol producer in the world and only uses 1% of its territory for that”, remarked the lecturer. Strapasson concluded by saying that it is important to stimulate the world production of biofuels, especially in countries with efficient crops, agricultural aptitude and land availability. The agricultural zoning may contribute for this expansion to be made in an ordinated way. Moreover, stressed the lecturer, the next biofuels generations will be more productive, which will reduce the pressures on the new cultivation areas. Finally, he stated that the international funds could more efficiently stimulate agricultural technology transfer to the developing countries, which would increase production and reduce poverty. The task of closing the technical talks cycle of the panel and of the whole workshop was incumbent to Maria Cecília Wey de Brito, Secretary of Biodiversity and Forests of the Brazilian Ministry for the Environment: Public policies for protecting the environment in the federal government was her theme. Some challenges the federal government will have to face in the next years were listed by the lecturer: the continuous loss of biodiversity, climate change, the Amazon deforesting issue, the growth in demand for fuels, the lack of information and the increase in demand for biofuels to help meet the world emission reduction goals. Next, Maria Cecília mentioned some of the measures adopted by the government to overcome these challenges: the adherence to the Convention on Climate Change, to the Kyoto Protocol, to the Biological Diversity Convention and to the Brazilian Plan for Climate Change, which aims to foster increases in performance efficiency of the productive sectors; to keep the high participation of renewable energy in the energy matrix; to foster the sustainable increase of biofuels participation in the Brazilian transport matrix; to reduce the deforesting rates; and to foster the development of scientific researches. Maria Cecília also talked about other projects and stated that, concerning ethanol, the government purpose is to stimulate the industry so that consumption rises by 11% a year in the next ten years. CLOSING Patrícia Matai, professor of the Polytechnic School of USP, made the first closing speech. She praised the Cenbio initiative and hopes to see the workshop have new editions in the future. José Goldemberg remarked that the public sector will need more and more universities, for technology and knowledge. He also said that the very existence of the event was already a great achievement. “Ten, twenty years ago, this kind of interaction was not only uncommon, but also unwelcome”, he stated. Finally, Suani Coelho took the floor to make the final acknowledgements. “We had the ambition of organizing a program with great names in the area and were honored, as we managed to have the presence of all of them”, she said. Agosto/August 2009 Entrevista ‘PRECISAMOS DE UMA MATRIZ ENERGÉTICA BEM-DEFINIDA’ irigente da União da Indústria de Canade-açúcar (Unica) desde junho de 2007, Marcos Sawaya Jank é ex-presidente e idealizador do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone) e professor associado da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP). É também livre docente e engenheiro agrônomo pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (EsalqUSP), Ph.D pela FEA e mestre em Políticas Agrícolas em Montpellier, França. Atuou na Divisão de Integração, Comércio e Assuntos Hemisféricos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em Washington, Estados Unidos (EUA), e foi professor visitante nas universidades de Georgetown e Missouri-Columbia (EUA), consultor e coordenador de projetos em instituições como Banco Mundial, Banco Interamericano de Desenvolvimento e outros órgãos ligados à Organização das Nações Unidas (ONU). É também diretor do Departamento de Agronegócios da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Com mais de duzentos trabalhos publicados e cerca de quinhentas palestras realizadas em eventos no País e no exterior, Jank trabalha desde 1987 com temas ligados ao setor sucroenergético. À Revista Brasileira de Bioenergia (RBB) deu a seguinte entrevista por e-mail. D RBB – Ao assumir a Unica, em 2007, o senhor disse que a palha e o bagaço de cana virariam luz. Falta muito para isso acontecer? Marcos Jank – É algo que já deveria estar acon- tecendo com muito mais intensidade e não está devido a dificuldades regulatórias envolvendo a conexão de usinas fornecedoras de bioeletricidade à rede e à definição dos preços a serem pagos por essa energia. A bioeletricidade produzida pela queima de bagaço de cana em caldeiras representa hoje cerca de 3% da eletricidade consumida no País. A Unica estima que esse percentual vai chegar aos 14% até 2020. Hoje, a maioria dos novos projetos de usina já nasce equipada para produzir mais eletricidade do que apenas suprir as necessidades da própria usina e fornecer o excedente para a grade de distribuição. É um aspecto do setor que tem tudo para crescer, pois a energia é limpa e complementar à hidroelétrica, por ser produzida durante a colheita da cana, que acontece durante o período mais seco, justamente quando caem os níveis dos reservatórios. RBB – As empresas estão prontas para a produção de etanol de segunda geração? Jank – O etanol de segunda geração tem sido alvo de grandes esforços e investimentos significativos, principalmente nos Estados Unidos, que precisam bem mais dessa solução do que o Brasil. Já existem algumas empresas anunciando a possibilidade de produção comercial de etanol de segunda geração, ou celulósico, em um ou dois anos. Por enquanto, não há produção comercial de etanol dessa forma e ainda falta algum tempo para que se tenha um quadro mais claro sobre o que efetivamente vai acontecer, quais as tecnologias que vão prevalecer e, principalmente, qual a viabilidade comercial Fotos: divulgação Marcos Jank, presidente da Unica, defende marco regulatório para o etanol, a exemplo do que já existe para outras áreas do setor energético “ A maioria dos novos projetos de usina já nasce equipada para produzir mais eletricidade ” 37 Entrevista “ Temos de continuar trabalhando para conscientizar a opinião pública americana sobre os benefícios do etanol brasileiro para os Estados Unidos ” 38 desses processos. No laboratório, o etanol celulósico já existe faz um bom tempo. O que falta é torná-lo viável comercialmente. O Brasil tem uma situação privilegiada, pois nosso processo produtivo gera também biomassa que pode ser transformada em mais etanol. Falamos, claro, do bagaço de cana, que é o que sobra após o esmagamento da cana, e da palha, que antes era queimada e agora, com o avanço da colheita mecanizada, pode ser recuperada e também utilizada para produzir mais etanol ou bioeletricidade. Isso vai permitir ao Brasil ampliar sua produção de etanol utilizando a biomassa disponível sem aumentar a área cultivada com cana. RBB – Como está a balança de oferta e procura do biocombustível? Está sobrando etanol no Brasil? Jank – Houve uma aceleração nos últimos anos, com forte expansão na capacidade de produção desse setor, que, aliás, segundo o BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social], comparado com outros setores, o sucroenergético investiu o maior percentual de seu próprio faturamento em expansão. Esse processo foi freado, mas não interrompido, pela crise mundial que começou a ser sentida nos últimos meses de 2008. A expansão, que ocorria mais intensamente até então, de fato gerou uma abundância de etanol no mercado, pois as expectativas que o setor tinha quanto à expansão das exportações não se materializaram. Isso redundou em preços internos para o etanol muito baixos, às vezes até abaixo dos custos de produção. Agora, atravessamos um momento em que isso deve se alterar, principalmente devido aos problemas de chuva enfrentados durante a atual safra na região CentroSul, que é a grande produtora de cana do Brasil, respondendo por 88% de toda a produção nacional. Até a metade de setembro, foram 44 dias de colheita perdidos, o que significa menos cana processada e transformada em etanol. O setor está fazendo sua parte, pois, mesmo com o problema das chuvas, estamos produzindo mais etanol nesta safra do que na anterior. Mas a demanda também cresce, devido principalmente à venda de carros flex em ritmo acelerado. Eles já respondem por mais de 90% das vendas nacionais de veículos leves, e a grande maioria dos compradores desses carros utiliza o etanol e não a gasolina. Não há, portanto, sobra de etanol, assim como não há nem haverá falta. As oscilações sempre vão ocorrer e o mercado sempre vai se ajustar a elas. RBB – O governo, quando intervém na produção, faz isso corretamente? Jank – A intervenção governamental direta na indústria da cana terminou ao longo da década de 1990, quando houve a desregulamentação e a retirada de controles governamentais não só da produção como de outras fases do processo. Desde então, o setor opera e é regulado estritamente pelas leis de mercado, da oferta e procura, sem envolvimento ou intervenção governamental. O problema é que, enquanto nós, aparentemente, estamos sujeitos às leis de mercado, a principal concorrente do etanol, a gasolina, tem seu preço fixado por critérios políticos, que nada têm a ver com o preço do barril do petróleo. Enfrentamos também um sistema de comercialização arcaico, cheio de falhas, em que mais de quatrocentas usinas vendem seu produto por meio de menos de uma dezena de distribuidoras que controlam cerca de 80% da distribuição de combustíveis no País. O atual sistema pune os produtores de etanol em momentos de produção acelerada, pune o produtor quando a produção é afetada por intempéries ou variações mercadológicas, impedindo que ele se capitalize, e gera instabilidade no mercado, o que desagrada principalmente o consumidor. É uma situação que precisa ser revista com urgência. Aliás, essa revisão seria fortemente beneficiada se o País buscasse uma matriz energética bem-definida, com um marco regulatório para o etanol, a exemplo do que já existe para outras áreas do setor energético. RBB – Como o senhor analisa as políticas públicas para os biocombustíveis quando com- Agosto/August 2009 Entrevista paradas com as de outros países? Jank – Apesar de o etanol já estar presente na vida dos brasileiros desde a chegada do Proálcool na década de 1970, não podemos dizer que as políticas públicas instaladas no Brasil levem em conta essa realidade. Pelo contrário, a Unica luta hoje para que o País reveja e organize sua matriz energética, para que o setor funcione de forma mais eficaz e os investimentos sejam feitos com maior confiabilidade. A verdade é que, mesmo com o etanol sendo, na prática, peça importante de nossa matriz energética, não há nada que afirme que ele tem lugar assegurado. Veja o exemplo dos Estados Unidos: apenas recentemente, em 2007, tomou a decisão de investir na produção e uso em larga escala do etanol – e fez isso já com um plano que apontou, com clareza, quanto etanol será produzido e consumido ao longo de décadas. Precisamos pensar da mesma forma no Brasil e evitar os extremos que temos observado. Olhando apenas a questão dos combustíveis que utilizamos, o Brasil foi da gasolina para o etanol na década de 1970 devido à alta do petróleo. Voltou à gasolina na década de 1980, com a queda dos preços do petróleo. Decidiu investir no gás natural veicular, voltou ao etanol com a chegada do carro flex em 2003 e, enquanto isso ocorria, os usuários do gás natural foram prejudicados quando o suprimento do combustível se revelou pouco confiável. Recentemente, com o carro flex no auge de seu sucesso, vimos pressões para que o país liberasse o uso do diesel em veículos leves, o que mais uma vez ilustra a natureza instável de nossa matriz, algo que precisa ser equacionado e estabilizado o quanto antes. Não há qualquer desejo de uma volta ao que acontecia nos anos 1970 e 1980, quando tudo era controlado, pois o nosso setor só se desenvolveu fortemente e ganhou eficiência quando os controles foram finalmente removidos. Mas um grau maior de previsibilidade e estabilidade é certamente desejável, dentro de uma proposta organizadora e não de impor controles sobre o setor. RBB – Como estão as exportações de biocombustíveis? Temos demanda? Jank – As exportações diminuíram este ano, ilustrando mais uma vez a volatilidade que tem caracterizado esse mercado. O Brasil exporta etanol devido a questões pontuais, que em um momento afetam o resultado positivamente e em outro, negativamente. Não há confiabilidade no mercado externo, pois ele é fortemente protegido para biocombustíveis, o que não deixa de ser um contrassenso, já que não há proteções, tarifas ou obstáculos para o livre trânsito do petróleo e dos combustíveis fósseis. Esse é um dilema que o mundo terá de resolver em breve se de fato pretende enfrentar os desafios trazidos pelo aquecimento global e as mudanças climáticas que vêm como consequência. RBB – A crise econômica mundial chegou a afetar a produção de biocombustíveis no Brasil? Jank – Afetou o setor como um todo, pois houve um enxugamento do crédito num momento em que várias empresas haviam feito fortes investimentos na expansão da produção. Isso, naturalmente, impactou as atividades do setor, reduziu a velocidade de expansão e levou algumas empresas a procurar a renegociação de suas dívidas. Das 23 novas usinas previstas para este ano no Centro-Sul, 17 já estavam em atividade ou com início de atividades previsto para o mês de setembro, mas a maioria dos projetos sofreu atrasos. É importante frisar que, apesar das dificuldades por causa da crise, o futuro do setor é positivo, com bons fundamentos e perspectivas positivas para médio e longo prazos. Houve, sim, um período com dificuldades que precisaram ser superadas, mas o ritmo ainda acelerado de vendas de carros flex mostra que a demanda interna vai continuar não só elevada como em ascensão. Estamos trabalhando muito para que as perspectivas para ampliar as exportações para os principais mercados mundiais também se concretizem. Temos ainda o mercado global de açúcar que atravessa um bom momento para o Brasil, que é o maior produtor e exportador de açúcar do mundo. A quebra da safra em outros países produtores criou uma oportunidade importante para o setor, que tende a não se esgotar a curto prazo. “ O Brasil tem uma situação privilegiada, pois nosso processo produtivo gera também biomassa que pode ser transformada em mais etanol ” 39 Entrevista Por fim, temos diversas frentes em que haverá expansão nos próximos anos, como a produção de bioeletricidade, já citada. Temos os bioplásticos também em ascensão e, mais adiante, a produção de hidrocarbonetos a partir da cana, com várias empresas indicando que estão próximas da produção comercial de querosene de aviação, diesel e gasolina a partir da cana. As perspectivas são realmente as mais positivas. “ Não há confiabilidade no mercado externo, pois ele é fortemente protegido para biocombustíveis ” RBB – O mercado americano se alterou com relação à importação de biocombustíveis com a entrada de Barack Obama? Jank – O diálogo com a administração do presidente Obama é bom e positivo, mas a questão da tarifa que os Estados Unidos impõem sobre o etanol importado não é algo que dependa exclusivamente dele. Qualquer alteração nisso depende do Congresso americano e não do presidente do país. Hoje, esse assunto é discutido abertamente nos Estados Unidos. Vários setores, entidades, políticos e empresários já se manifestam publicamente a favor de uma redução ou até da eliminação da tarifa de importação. O etanol brasileiro de cana-de-açúcar também tem sido muito bem avaliado por órgãos públicos americanos como o California Air Resources Board (Carb) e o principal órgão ambiental em nível federal do país, o Environmental Protection Agency (EPA). Temos de continuar trabalhando para conscientizar não só os que têm o poder de decidir, mas a própria opinião pública americana sobre os benefícios que a importação sem obstáculos de etanol brasileiro pode significar para os Estados Unidos. Acreditamos que, aos poucos, com os fatos se tornando mais conhecidos dos americanos, as coisas podem e devem mudar na questão da tarifa. RBB – Como dirigente da Unica, como o senhor analisa a aprovação recente de venda de carro a diesel? Jank – A ideia passou por apenas um estágio de análise, no Senado, mas ainda depende de outras aprovações para ser efetivamente colocada em prática. Não acreditamos que isso vá ocorrer. Uma série de motivos tem sido ampla- 40 mente expostos na mídia – esta vem refletindo muito bem a forte oposição que existe, em diversas frentes, à liberação de carros a diesel no Brasil. À medida que tenhamos uma opção melhor com os carros flex, que dão ao consumidor o poder de decidir qual o combustível que querem utilizar, não há o menor sentido em efetivamente subsidiar o uso de um combustível que ainda tem de ser importado para carros de passeio. Isso tudo sem falar na questão ambiental, já que o diesel não produz bons resultados nesse sentido, resultados que seriam ainda piores no Brasil devido à baixa qualidade do diesel comercializado no País e da tecnologia defasada que seria utilizada nos carros a diesel eventualmente colocados no mercado brasileiro, pois os mais modernos não poderiam operar com o diesel disponível aqui. RBB – O que é o Compromisso Nacional para Aperfeiçoar as Condições de Trabalho na Cana-de-Açúcar assinado recentemente? Jank – O Compromisso foi uma realização histórica, pela própria forma final do processo iniciado a pedido do presidente Lula. Não há outro exemplo no Brasil em que empresas, trabalhadores e o governo se reuniram e desenvolveram cerca de trinta práticas com que todos concordam, todos assinam embaixo. Trata-se de um ineditismo raro e muito positivo. O que o compromisso faz é valorizar as melhores práticas trabalhistas já existentes no setor sucroenergético brasileiro, transformando-as em patamares a ser atingidos por todos. São patamares de desempenho empresarial que vão além do que determina a lei, efetivamente nivelando por cima as práticas do setor como um todo. A adesão chegou a algo como 80% de todas as empresas do setor sucroenergético do País, o que mostra que o compromisso é real e vai além do nome dado a esse documento. Ficamos muito orgulhosos por participar do processo que gerou esse documento, um processo conduzido pelo ministro Luiz Dulci [chefe da Secretaria-geral da Presidência da República] com grande habilidade e sensibilidade e que, por isso mesmo, gerou um produto final muito positivo e construtivo. Agosto/August 2009 Interview ‘WE NEED A WELL DEFINED ENERGY MATRIX’ anaging the Brazilian Sugar Cane Industry Association (Unica) since June 2007, Marcos Sawaya Jank is the ex-CEO and creator of the Institute for International Trade Negotiations (Icone) and associate professor at the Faculty of Economics, Business Administration and Accounting of the University of São Paulo (FEA-USP). He is also a Professor and an agronomical engineer of the Higher School of Agriculture Luiz de Queiroz (Esalq-USP), and holds a Ph.D from FEA, and a Master’s degree in Agricultural Policies from Montpellier, France. He acted at the Interamerican Bank of Development (BID) Integration, Trade and Hemispheric Affairs Division, in Washington, United States (USA), and was a visiting professor of the universities of Georgetown and Missouri-Columbia (USA), a consultant and a project coordinator in institutions such as the World Bank, InterAmerican Bank of Development and other organisms connected to the United Nations (UN). He is also a director at the Agribusiness Department of the São Paulo State Industry Federation (Fiesp). With over two hundred works published and about five hundred lectures delivered in events in Brazil and abroad, Jank has worked since 1987 with themes related to the sugar-energy sector. He gave the following interview to the Revista Brasileria de Bioenergia (RBB) by e-mail. M RBB – When you took over Unica command, in 2007, you said sugar cane straw and bagasse would turn into light. Will it be long till that happens? Marcos Jank – It is something that should be occurring much more intensively but is not, due to the regulatory difficulties involving connecting plants that supply bioelectricity to the grid and to the definition of prices to be paid for this power. Bioelectricity produced by burning sugar cane bagasse in boilers represents about 3% of the power consumed in Brazil today. Unica estimates that this percentile will rise to 14% by 2020. Today, most of the new plant designs are from the start equipped to produce more power than just supplying the needs of the plant itself and to supply the surplus to the distribution grid. It is an aspect in the sector that has what it takes to grow, since the energy is clean and complementary to hydropower, as it is produced during sugar cane harvest, which occurs during the driest period, exactly when the reservoirs levels fall. RBB – Are companies ready to produce second-generation ethanol? Jank – Second-generation ethanol has been the target of great efforts and significant investments, mainly in the United States, which need this solution much more than Brazil. There are already some companies announcing the possibility of producing second-generation, or cellulosic, ethanol commercially in one or two years. So far, there has not been commercial ethanol production in this way and it will take some time before we can have a clear picture of what will effectively happen, which technologies will prevail and, mainly, what the Photos: dissemination Marcos Jank, Unica CEO, advocates a regulatory mark for ethanol, following the example existing in other areas in the energy sector “ Most of the new plant designs are from the start equipped to produce more power ” 41 Interview “ We have to keep working to make the American public opinion aware of the benefits of Brazilian ethanol to the United States ” 42 commercial viability of these processes is. There has been cellulosic ethanol in laboratory for quite a while. What is missing is to make it commercially viable. Brazil has a privileged situation, as our productive process also generates biomass that can be turned into more ethanol. We are surely speaking of sugar cane bagasse, which is what is left after sugar cane milling, and of the straw, which used to be burnt and now, with the advancement of mechanized harvest, it can be recovered and also used to produce more ethanol or bioelectricity. This will allow Brazil to expand its ethanol production using the biomass available without increasing the area planted with sugar cane. RBB – How is the supply and demand balance for biofuel? Is there too much ethanol in Brazil? Jank – There has been an acceleration in the last years, with strong expansion in the production capacity of this sector, which, by the way, according to BNDES [Brazilian Development Bank], as compared to other sectors, the sugar-energy sector invested the highest percentile of its own revenue in expansion. This process was slowed down, but not interrupted, by the world crisis which started to be felt in the late 2008. Expansion, which occurred more intensely until then, actually generated an abundance of ethanol in the market, since the expectations the sector had as to the expansion of exports did not materialize. This caused the domestic ethanol prices to be very low, sometimes even below production costs. We are now undergoing a phase in which this will be altered, mainly due to the rain problems faced during the present harvest in the Center-South region, which is the great sugar cane producer in Brazil, accounting for 88% of all the Brazilian production. By mid-September, 44 harvesting days had been lost, which means less sugar cane processed and transformed into ethanol. The sector is doing its share, as even with the rain problem, we are producing more ethanol in this harvest than in the previous one. Demand also grows, mainly owing to the accelerated sales of flex vehicles. They already account for over 90% of the national sales of light vehicles, and the vast majority of those who buy those cars use ethanol and not gasoline. Therefore, there is no excess ethanol, nor will there be a shortage. Oscillations will always occur and the market will always adjust to them. RBB – Does the government act correctly when it interferes with the production? Jank – Direct governmental intervention in the sugar cane industry ended along the 1990s, when deregulation occurred and governmental controls were removed not only from production but from other phases of the process. Since then, the sector operates and is regulated strictly by market laws, of supply and demand, with no governmental involvement or intervention. The problem is that, whereas we are apparently subjected to market laws, the main ethanol competitor, gasoline, has its price set by political criteria, which have nothing to do with the oil barrel price. We also face an archaic trade system, full of flaws, in which over four hundred plants sell their product by means of less than a dozen distributors that control about 80% of the fuel distribution in Brazil. The present system punishes ethanol producers at accelerated production periods, punishes the producer when production is affected by bad weather or market variations, preventing it from getting capitalized, and generates instability in the market, which displeases mainly the consumer. It is a situation that has to be urgently revised. In fact, this revision would be strongly benefitted if Brazil sought a well defined energy matrix, with a regulatory mark for ethanol, following what already exists for other areas in the energy sector. RBB – How do you analyze the public policies for biofuels as compared to those of other countries? Jank – Although ethanol has been present in Agosto/August 2009 Interview the Brazilians’ lives ever since the advent of Proalcool in the 1970s, it cannot be said that the public policies established in Brazil take this scenario into account. On the contrary, Unica now fights for the country to revise and organize its energy matrix, so that the sector operates more effectively and that investments are made with greater reliability. The truth is that, even though ethanol is an important piece in our energy matrix in practice, there is nothing affirming that it has a secured place. See the example of the United States: only recently, in 2007, did it take the decision of investing in ethanol production and its large-scale use – and made this already with a plan that clearly defined how much ethanol will be produced and consumed along decades. We have to think in the same way in Brazil and prevent the extremes which have been observed. Looking only at the issue of the fuels we use, Brazil went from gasoline to ethanol in the 1970s due to the rise in oil prices. It went back to gasoline in the 1980s, with the falling oil prices. It decided to invest in vehicular natural gas, went back to ethanol with the advent of flex vehicles in 2003 and, while this occurred, natural gas users were harmed when the fuel supply showed to be little reliable. Recently, with the flex vehicle at the peak of success, we witnessed pressure for the country to liberate the use of diesel for light vehicles, which once more illustrates the unstable nature of our matrix, something that has to be equated and stabilized as soon as possible. No one is willing to experience what occurred in the 1970s and 1980s, when everything was controlled, since our sector only strongly developed and gained efficiency when controls were finally removed. Yet a greater degree of foreseeability and stability is certainly desirable, within an organizing proposal, and not one of imposing controls on the sector. RBB – How are the biofuels exports? Is there a demand? Jank – Exports decreased this year, once more illustrating the volatility that has characterized this market. Brazil exports ethanol due to punctual issues which, at one point, positively affect the result and negatively at another. There is no reliability in the foreign market, as it is heavily protected concerning biofuels, which is ultimately a misconception, since there are no protections, tariffs or barriers for the free transit of petroleum and fossil fuels. This is a dilemma the world will have to solve soon if it actually means to face the challenges brought about by global warming and climate change that comes as a consequence. RBB – Has the world economic crisis managed to affect biofuels production in Brazil? Jank – It has affected the sector as a whole, as there was less credit at a moment when several companies had made heavy investments in production expansion. This naturally impacted the sector activities, reduced the speed of expansion and made some companies seek the renegotiation of their debts. Of the 23 new plants planned for this year in the Center-South, 17 were already operating or were to begin operating in September, yet most of the plans were delayed. It is worth stressing that, despite the difficulties owing to the crisis, the future of the sector is positive, with sound foundations and positive perspectives for the medium and long terms. There was surely a period with difficulties that had to be overcome, but the still accelerated pace of flex vehicles sales shows that the domestic demand will not only remain high, but will also rise. We are working hard so that the perspectives to expand exports to the main world markets also come true. We still have the global sugar market that undergoes a good moment for Brazil, which is the greatest world sugar producer and exporter. The harvest failure in other producing countries created a major opportunity for the sector, which tends not to be exhausted in the short term. Lastly, we have several fronts in which there will be expansion in the next years, such as bioelectricity production, already mentioned. We have bioplastics which are also rising and, further on, “ Brazil has a privileged situation, as our productive process also generates biomass that can be turned into more ethanol ” 43 Interview hydrocarbons produced from sugar cane, with several companies indicating that they are close to commercially producing aviation kerosene, diesel and gasoline from sugar cane. Perspectives are really the most positive. “ There is no reliability in the foreign market, as it is heavily protected concerning biofuels ” 44 RBB – Has the American market altered concerning biofuels imports with the entrance of Barack Obama? Jank – The dialog with President Obama’s office is good and positive, but the issue of the tariff the United States impose on imported ethanol is not something that depends exclusively on him. Any alteration on this depends on the American Congress and not on the country’s President. Today, this issue is openly discussed in the United States. Several sectors, entities, politicians and businessmen speak publicly in favor of a reduction or even of banning the import tariff. The Brazilian sugar cane ethanol has also been very well assessed by public American organisms such as the California Air Resources Board (Carb) and the main environmental organism at federal level in the country, the Environmental Protection Agency (EPA). We have to keep working to make not only those who have decision power, but the very American public opinion aware of the benefits that unrestrained import of Brazilian ethanol may mean to the United States. We believe that facts are gradually better known by Americans; things may and must change towards the tariff issue. RBB – As a Unica leader, how do you analyze the recent approval of diesel automobile sales? Jank – This has not yet been approved. The idea only passed one analysis stage, at the Senate, but it still depends on other approvals to be effectively put into practice. We do not believe this is going to happen. A series of reasons have been widely exposed in the media – this has very well reflected the fierce opposition, in different fronts, to the liberation of diesel light vehicles in Brazil. As long as we have a better alternative with flex vehicles, which give the consumer the power to decide which fuel to use, there is absolutely no sense in effectively subsidizing the use of a fuel that has to be imported for light vehicles. All this without mentioning the environmental issue, since diesel does not yield good results in this sense, results which would be even worse in Brazil due to the low quality of the diesel traded in the country and of the outdated technology that would be used in the diesel light vehicles to be possibly sold in the Brazilian market, since the more modern ones would not be able to operate with the diesel available here. RBB – What is the National Commitment to Enhance Conditions for Sugar Cane Work, recently signed? Jank – The Commitment was a historical event, for the very final form of the process started under President Lula’s request. There is no other example in Brazil in which companies, workers and the government gathered and developed about thirty practices which all agree to, which all undersigned. It happens to be a rare and very positive originality. What the commitment does is to value the best working practices already existing in the Brazilian sugar-energy sector, transforming them into levels to be achieved by all. These are companies performance levels that go beyond what is provided by the law, effectively providing higher levels to practices in the sector as a whole. The adhesion was as high as about 80% of all the companies in the sugar-energy sector in Brazil, which shows that the commitment is real and excels the name given to the document. We were very proud of participating in the process that generated this document, a process conducted by Minister Luiz Dulci [Head of the Secretariatgeneral of the Republic Presidency] with great ability and sensitivity and that, for this very reason, generated a very positive and constructive end product. Agosto/August 2009 Artigo ÉSTERES DE ÁCIDOS GRAXOS NA EUROPA Tendências de mercado e perspectivas tecnológicas Laurent Bournay, Jean-Alain Chodorge, Vincent Coupard e Daniel Pioch RESUMO Com base em incentivos governamentais de peso, a produção de biodiesel (ésteres de ácidos graxos) cresceu rapidamente na Europa e se expandiu pelo mundo. A meta da União Europeia (UE), de utilizar 5,75% de combustíveis de transporte a partir de fontes renováveis, parece muito difícil de ser alcançada, mas tendências recentes mostram que ela está disposta a estabelecer metas mais realistas para preservar o benefício previsto inicialmente com biocombustíveis. Entre outros fatores-chave para a promoção de combustíveis verdes, destaca-se a necessidade de custo competitivo e baixo, além de processos de pouco impacto ambiental para a produção de biodiesel. Antecipando essa evolução necessária, organizações de pesquisa francesas contribuem para a mudança para tecnologias inovadoras. De fato, vários exemplos são analisados, de um novo processo catalítico heterogêneo sem resíduos para a fabricação de estearato de metila, até antigos motores a diesel movidos a óleos vegetais. Também se inclui a dificuldade de obter estearato de etila e de recuperar glicerina crua de alta pureza com exemplos que atendam a necessidade de um novo setor de química industrial C3, devido à crescente disponibilidade de glicerol, uma oportunidade para a química verde. 1. INTRODUÇÃO A crescente preocupação com o ambiente, especialmente com as emissões de CO2, juntamente com políticas agrícolas e o alto preço do petróleo levaram a UE a reabrir o arquivo do biodiesel. Nafta 7% GLP 5% Diesel 41% Querosene 8% B Outros do mundo 12% Brasil 1% Alemanha 41% 14% Estados Unidos Outros 11% 11% Combustível residual A 13% Outros da Europa 17% Gasolina 9% Itália 10% França FIGURA 1. (A) Refino de petróleo na Europa Ocidental 2006; (B) Produção mundial de biodiesel 2006 Fonte [25] Uma vez que o consumo de combustíveis líquidos na Europa é orientado para o diesel, (Figura 1A), o mercado de biodiesel foi o primeiro lançado com base na tecnologia desenvolvida no final da década de 1980. Apesar de sua parcela ter baixado para 70% (Figura 1B), devido aos negócios iniciados nos Estados Unidos e Brasil, a produção de biodiesel da UE ainda cresce rapidamente, passando de 3,6 a 5,4 milhões de t (Mt), respectivamente, em 2005 e 2006. O desenvolvimento do biodiesel na UE – líder na área – pode ser um exemplo útil para outros países. Mesmo sendo uma questão de estratégia política, a competitividade do biodiesel também depende do progresso técnico e este artigo mostra contribuições de organizações de pesquisa francesas para auxiliar no uso de óleos vegetais como combustíveis. 2. POLÍTICA E DESENVOLVIMENTO DO BIOCOMBUSTÍVEL EUROPEU 2.1 PANORAMA DA LEGISLAÇÃO A lei de biocombustíveis da UE de 2003 (EC 2003/30) estabeleceu a meta inicial de substituir 2% de combustíveis fósseis por combustíveis de origem renovável em 2005. A próxima meta foi de 5,75% até 2010 e uma possível meta de 10% até 2020 (em termos de unidades de calor; ésteres de ácidos graxos (EAG) contêm átomos de oxigênio não envolvidos na combustão [1]; 1 t EAG = 0,86 tep). Devido ao debate atual de alimentos versus combustível, estão sendo discutidos: a meta para 2010 e que produto pode ser classificado como biocombustível. A Lei UE 2003 pode ser adaptada para cada estado membro. A Alemanha, normalmente na frente “verde”, primeiro promoveu isenção total de imposto para o biodiesel. Em 2007, um nível obrigatório de 4,4% foi estabelecido como o mínimo de adição e não há mais isenção de imposto para o B5, que ainda existe parcialmente para o B100. A Alemanha agora exclui a palma e a soja da lista do biodiesel e os fornecedores que não conseguem atingir o nível obrigatório de adição estão sofrendo penalidades. A França aumentou a meta para 7, 8% e 10% até 2010, 2012 e 2015, inicialmente com o auxílio (i) do corte de imposto na parcela de biodiesel, e (ii) novo imposto, com base na poluição de escapamento para penalizar combustíveis que não incluíssem a quantidade exigida [2]. 2.2 PLANOS PARA EXPANSÃO DA CAPACIDADE DE PRODUÇÃO DE ÉSTER DENTRO DA UE Os números iniciais (2005) mostraram uma capacidade de produção de biodiesel de 4,3 Mt na UE-25, principalmente na Alemanha 45 Artigo Número total de plantas (Figura 2) – a produção de biocombustíveis (3,2 Mt) representou 1% dos combustíveis de transporte. A capacidade de produção aumentou em quatro vezes até o final de 2008, chegando a 16 Mt – o biodiesel permaneceu o principal biocombustível produzido na UE, com uma parcela de 70% [3] – e um importante desenvolvimento de negócio ocorrerá na Alemanha e na França [4-6] (Figuras 2 e 3). Na França, a capacidade EAG atual é de ~2 Mt e está planejada para chegar a 2,9 Mt até 2010 [2,4], enquanto a produção foi de 0,87 Mt em 2007; assim, os óleos vegetais podem ser importados até o final da década [4,5]. Diester-Industrie, o ator principal, instalou plantas de EAG em importantes áreas agrícolas, perto de grandes pontos do mercado, ao lado de portos e de refinarias de petróleo (compradores reais). A logística, assim, assume um papel relevante na escolha de um local de produção. Além disso, o tamanho nominal das novas plantas de EAG na UE está aumentando, de cerca de 10 mil t por ano, para o hoje economicamente viável tamanho acima de 150 mil t e até 250 mil t anuais (Figura 4). Dessa forma, EAG agora atinge um estágio onde a racionalização da produção bruta demanda inovações tecnológicas. 10 3 toneladas Alemanha França 3.000 Itália UE-15 UE-15 2.000 UE-15 UE-15 Outros da UE UE-15 Total da UE 1.000 0 1998 2000 2002 2003 2004 2005 2006 10 0 <50.000 50.000 - 150.000 t/ano de biodiesel >150.000 DE PROCESSO DE CATÁLISE HOMOGÊNEA Quando comparado aos óleos vegetais, o EAG apresenta uma viscosidade mais baixa e um número de cetano mais alto – portanto, mais perto do diesel fóssil – e pode ser utilizado como aditivo para compensar a perda de lubricidade devido ao menor conteúdo de enxofre no combustível de petróleo. O uso do EAG como combustível foi proposto há 25 anos pelo IFP e pelo Cirad [7,8]; a primeira unidade industrial dedicada ao biodiesel passou a operar na França, em 1992, com base em um processo do IFP (20 mil t anuais). EAG é produzido por transesterificação, uma reação reversível (Figura 5). Assim, o excesso de metanol é necessário para se atingir a alta conversão, além de um catalisador para acelerar a cinética da reação. Catalisadores básicos são utilizados em processos industriais (hidróxido de sódio ou metilato; 0,5-1,0 % peso) e isso é problemático com traços de ácidos graxos livres (AGL) na alimentação. UE-27 UE-25 2007 2008 20 3. ASPECTOS TECNOLÓGICOS DA PRODUÇÃO DE EAG 3.1 ÉSTERES DE METILA DE ÓLEOS VEGETAIS POR MEIO 5.000 4.000 30 FIGURA 4. Capacidade de mudança de novas instalações Fonte [25, 26] UE-27 6.000 40 2007 FIGURA 2. Evolução da capacidade de produção de Biodiesel na UE Fonte: [26] Capacidade das instalações de biodiesel europeias 6 000 000 Toneladas/ano 5 000 000 4 000 000 2006 3 000 000 2007 2008 2 000 000 1 000 000 Macedônia Reino Unido Suíça Suécia Eslovênia Rússia Eslováquia Romênia República Tcheca Portugal Polônia Holanda Noruega Malta Lituânia Letônia Itália Hungria Grécia França Finlândia Espanha Dinamarca Bulgária Bélgica Áustria Alemanha - FIGURA 3. Capacidade europeia em 2006-2007 com base em declarações Fonte [25] 46 Agosto/August 2009 Artigo Metanol 10,8% Óleo vegetal parcialmente refinado 100,5% catalisador 3 triglicéride metanol ésteres de metila glicerol com R1, R2, R3 = cadeia de hidrocarboneto de 15 a 21 átomos de carbono FIGURA 5. Esquema geral de reação para transesterificação de óleos vegetais Fonte: [20] Ácido Mineral Reator Decantador Biodiesel (Diéster) 100% Lavagem de Neutralização Evaporação Catalisador Glicerina 10,4% Ácido Mineral Base de peso para matéria-prima pré-tratada Purificação de Glicerina Ácidos Graxos 0,9% FIGURA 6. Fluxograma simplificado de planta de transesterificação com catalisador homogêneo Fonte: [27] Processos com base nos catalisadores solúveis acima são conhecidos como “catálise homogênea”. No entanto, o meio de reação é heterogêneo no início devido à baixa miscibilidade do óleo vegetal e do metanol. Depois, graças aos surfactantes recém-formados – sabão, glicerídeos parciais –, o meio se torna monofásico. Porém, as condições finais são escolhidas para permitir o depósito de glicerina, assim alterando o equilíbrio da reação. A água – proveniente do catalisador, óleo, metanol – que age contra a transesterificação é retirada na fase de decantação, juntamente com as espécies de catalisador, diminuindo a pureza do glicerol e exigindo mais etapas à jusante (Figura 6). O catalisador recuperado como glicerato, metilato e sabão na fase de decantação é então neutralizado com HCl, produzindo 80% de glicerol puro contendo sal e água. O metanol é evaporado do éster cru e reciclado; os traços de catalisador são retirados (Na+K < 5 ppm) e o EAG é seco a vácuo (produção de 98,5-99,5 % peso). Todas as fases de lavagem acima são enviadas para a seção de purificação de glicerina: qualquer processo que permita simplificar essa etapa crítica será bem-vindo. Esse processo pode ser operado em batelada ou em modo contínuo. No processo de batelada de EsterFip [9], a transesterificação ocorre em um único reator de tanque agitado, para minimizar o equipamento, enquanto a purificação do produto (EAG, glicerina) é feita de modo contínuo; seis plantas desse tipo foram construídas pelo IFP (1,2 Mt/ano). Os processos de transesterificação contínua ou (i) incluem dois ou três reatores de batelada em série (processos Ballestra, Connemann CD e Lurgi PSI [9]) ou (ii) necessitam de um reator tubular longo (Cognis, France). 3.2 PONTOS FORTES E FRACOS DA ROTA HOMOGÊNEA A “catálise homogênea” apresenta vantagens reais: catalisadores bastante ativos, eficiência térmica, baixo consumo de energia, ampla gama de escala de produção (mil –250 mil t/ano). Porém, ela sofre de vários problemas: manipulação de ácidos e bases fortes, muitas impurezas no glicerol (4 kg de sal/t de óleo; traços de sabão e de éster), deixando assim apenas usos de baixo preço para essa glicerina crua (queimada em fornos, alimentação animal [10]), devido ao alto custo de polimento (múltiplas etapas de destilação e branqueamento para atender os padrões farmacêuticos e cosméticos). Há, portanto, necessidade de soluções tecnológicas inovadoras. 3.3 APERFEIÇOAMENTO DA ROTA DE TRANSESTERIFICAÇÃO POR CATÁLISE HETEROGÊNEA A rota “clássica” descrita acima sofre com a difícil purificação do glicerol. Catalisadores ácidos, como os ácidos minerais [11], têm muitas vantagens, entre elas a capacidade de converter tanto triglicérides e AGL. Mas, além de cinética mais lenta, apresentam corrosão e problemas de segurança. Uma forma simples de evitar a maioria dos problemas acima é optar pela catálise heterogênea. Há dezenas de artigos que tratam dessa mudança [12] e esse novo processo está sendo desenvolvido pelo IFP e Axens [13] (Esterfip-H™). A primeira unidade passou a operar em 2006 (Sète, France). Aqui, uma alta produção de transesterificação é promovida por uma combinação estável e insolúvel de óxidos [14] (Figura 7): sem adição de novo catalisador, sem neutralização de catalisador nem lavagem com água; teor reduzido de água e esterificação de traços de AGL. Metanol 10,8% Óleo vegetal parcialmente refinado 100,5% Ácido Mineral Reator Decantador Biodiesel (Diéster) 100% Lavagem de Neutralização Evaporação Catalisador Glicerina 10,4% Ácido Mineral Base de peso para matéria-prima pré-tratada Purificação de Glicerina Ácidos Graxos 0,9% FIGURA 7. Fluxograma simplificado do Processo Éster Fip-H Fonte: [27] Há duas etapas sucessivas de “reação+separação da glicerina”. O excesso de metanol é parcialmente evaporado após cada reator, para permitir a decantação da glicerina, alterando, assim, o equilíbrio (Figura 8). O metanol residual das fases de decantação da glicerina é evaporado e a 47 Artigo pureza fica normalmente acima dos 98%, com 0,5% peso de água em vez de 13%, como na maior parte da glicerina crua atual. A seção de polimento inclui evaporação de metanol e adsorção de glicerina solúvel através da resina de troca iônica. 3.4 APLICAÇÃO INDUSTRIAL, VANTAGENS E PROBLEMAS DO PROCESSO DA CATÁLISE HETEROGÊNEA Baixo consumo de energia (não há necessidade de agitação mecânica); Só se consomem óleo e metanol estequiométrico, não há lixiviação de catalisador ou correntes de resíduos; Traços de AGL que entram no processo devem ser monitorados para evitar formação de água; Glicerol cru isento de sal (mais de 98%), o que permite aplicações químicas; Produção de EAG próxima a 100%, uma vez que não há perda de éster devido à formação de sabão; EAG de alta qualidade, em conformidade com a especificação da UE (EN 14214 Fame). Temperatura e pressão altas ainda são necessárias devido à atividade mais baixa do catalisador sólido. A primeira planta em Sète está operando há mais de dois anos com uma carga de 160 mil t por ano com vários óleos vegetais industriais – e o catalisador ainda está bastante ativo. A segunda planta (160 mil t anuais) começou a operar em 2007, em Perstop (Suécia), e seis plantas com base no processo Esterfip-H estão sendo implementadas pelo mundo, devido à sua habilidade de expandir o mercado se comparado ao dos atuais 85% de glicerina crua. 4. ROTAS ALTERNATIVAS E OUTROS DESENVOLVIMENTOS TECNOLÓGICOS 4.1 QUÍMICA COM BASE NO GLICEROL A glicerina chega a 1/10 da produção de EAG que cresce rapidamente. Por isso, há uma necessidade urgente de novas saídas industriais, como a química C3, atualmente com base no propileno fóssil [15,16]: para propileno e etilenoglicóis (cf ADM (2006), Cargill&Ashland, Dow (2007)); para epicloridina projetada pelas Solvay & Diester Industries; Dow; para 1,3-propanediol por reação enzimática, como plastificante, da MetEx (empresa francesa); para poliglicerol e acroleína também relatados; para éteres de glicerol terbutil, como aditivos de combustíveis, também investigados. Esses novos mercados dependem da qualidade e do preço da glicerina. 4.2 OPÇÃO ÉSTER ETÍLICA A substituição do metanol fóssil por etanol de biomassa pode abrir o mercado de diesel para esse álcool, para compensar seu limitado mercado devido ao declínio da proporção de motor a gasolina/diesel na UE. No entanto, isso apresenta desafios tecnológicos [17,18]: alta concentração de catalisador e de temperaturas mais altas 48 Evap. Parcial MeOH Evap. Parcial Evap. Total Metanol Óleo vegetal > 99% Ésteres de Metila (biodiesel) Rico em Glicerina 98% Glicerina FIGURA 8. Fluxograma simplificado do novo processo de catálise heterogênea, Éster Fip-H Fonte: [27] para compensar a reatividade mais baixa do etanol; o glicerol sendo mais solúvel em meio de etanólise comparado à metanólise, limita a conversão do óleo sob catálise homogênea, mas não sob condições monofásicas do EsterFipH; o etanol faz a extração do glicerol a partir de ésteres etílicos mais complexos e caros; a desidratação do etanol (azeotropo) torna a reciclagem mais complexa. 4.3 BIOCOMBUSTÍVEIS ALTERNATIVOS DERIVADOS DE BIOMASSA OLEAGINOSA O uso direto de óleos vegetais em motores a diesel padrão, documentados durante um século [18,19], leva à deposição de coque em câmaras de combustão modernas, resultando em desempenho reduzido de motor, maiores emissões, devido a [1,20]: Viscosidade do óleo, excedendo 30 mm²/s a 30°C, dez vezes o valor do diesel padrão, produzindo propriedades de injeção inadequadas; Número de cetano mais baixo (colza 42; diesel 50), apesar de alguns óleos apresentarem pequeno atraso de ignição; Ponto de fluidez -5-10°C/colza, acima de 20°C/óleo de palma, contra -20°C para o diesel combustível. Entretanto, é possível superar esses problemas. Seguindo as especificações do Cirad, há dezenas de motores adaptados na ilhas do Pacífico movidos a óleo de coco cru, com garantia total do fabricante do motor. A adaptação (bomba adicional, aquecedores na tubulação e no tanque, tanques duplos em caso de óleos sólidos, revestimentos específicos para a câmara de combustão) pode ser diminuída a um custo razoável se considerada a demanda mundial, especialmente em países muito pobres que não podem arcar com o alto preço do petróleo. O uso direto de óleos vegetais pode ser a solução em áreas remotas – pequenas ilhas (agora já testadas pelo Cirad); regiões insulares – distantes de refinarias de petróleo e de portos, que sofrem com o alto custo do transporte de combustível. Projetos de demonstração são necessários para se começar a desenvolver essa alternativa. Agosto/August 2009 Artigo A produção de hidrocarbonetos também tem sido investigada no Cirad, por meio do craqueamento catalítico [18,21-24]. Esse processo pode permitir a operação em todos os tipos de motor – a gasolina e a diesel – a partir de uma única biomassa. Pode ser aplicado em pequenas plantas em locais remotos como a Amazônia, em razão da simplicidade desse processo monofásico. Por fim, composições formuladas a partir de vários óleos básicos (diesel combustível, etanol, óleo vegetal, etc.), sejam soluções ou emulsões, também podem ser alternativas, desde que os insumos físico-químicos (aditivos) auxiliem a melhorar as propriedades de pulverização e combustão da fração de óleo [12]. 5. CONCLUSÃO A sustentabilidade e o desenvolvimento de óleos vegetais como combustíveis dependem de muitos fatores que se deparam com questões técnicas, ambientais e econômicas bem como éticas – do fornecimento de óleo e da competição entre alimento e combustível à análise do ciclo de vida, também incluindo tecnologias limpas apropriadas e eficientes e valorização dos subprodutos, glicerol, bagaço e resíduo de extração. Conforme apresentado nos vários exemplos de novos usos dos supracitados (química C3), também haverá oportunidades para se obter produtos de alto valor a partir da torta, para atingir a viabilidade econômica da linha de produção, livres de quaisquer incentivos fiscais que agora são as principais forças motrizes na UE. Entre outros fatores-chave para promover a sustentabilidade dos biocombustíveis, a necessidade de custo baixo e competitivo e processos de baixo impacto ambiental é enfatizada. É chegada a hora de mudar para tecnologias inovadoras. Várias alternativas são apresentadas a partir de resultados obtidos pelas organizações de pesquisa na França – um dos países líderes no uso de óleos vegetais como combustíveis, especialmente um processo eficiente para a produção de estearato de metila com base na catálise heterogênea, enquanto tecnologias antigas continuam a ser implementadas em todo o mundo. comme carburant Diesel, IFP, French patent 2560210, 1983. [10] KIJORA C., KUPSCH R.D., Fett/Lipid 98 v.7-8, p.240-245, 1996. [11] GRAILLE J., LOZANO P., PIOCH D., GENESTE P., FINIELS A., MOREAU C., Rev. Fse Corps Gras, v.32, p.311 316, 1985. [12] KNOTHE G., VAN GERPEN J., KRÄHL J. The biodiesel Handbook, AOCS Press Champaign USA, 2004. [13] BOURNAY L., CASANAVE D., DELFORT B., HILLION G., CHODORGE J.A., Catalysis Today, v.106, p.190-192, 2005. [14] STERN R., HILLION G., ROUXEL J.J., US Patent 5,908,946, 1999. [15] M.HEMING HBI, S.CLAUDE, ONIDOL InfoChimieMagazine n.474 Sep/Oct, 2006. [16] PAGLIARIO, M.A. Chem. 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[25] IFP, disponível em http://www.ifp.fr/information-publications [26] EBB, disponível em http://www.ebb-eu.org/stats.php [27] BLOCK, M. et al. Fatty Acid Esters in Europe: Market Trends and technological Perspectives, Oil & Gas Science and Technology - Rev. IFP, v.63, n.4, p.405-417, 2008. 6. REFERÊNCIAS [1] MITTELBACH M, REMSCHMIDT C. Biodiesel the Comprehensive Handbook, Austria: M. Mittelbach, p.87-88, 2004. [2] BERNARD, F. PRIEUR, A. Biofuel market and carbon modeling to analyse French BioFuel policy, IFP School 2006. [3] Biofuels Barometer; J. Energies Renouvelables, v.179, May 2007. [4] VAN WALWIJK, M. BioFuels in France 1990-2005, Premia report TREN/04/FP6EN/ S07, 31083/503081. [5] The availability of raw material for the production of BioFuels in Germany and in the EU-25, Prof. Dr. Juergen Zeddies, Univ Hohenhein, Oct 2006. Laurent Bournay e Vincent Coupard IFP-Lyon A7 - BP3 69390 Vernaison Cedex, France [6] The German Biodiesel Market recent developpements, Task 39 Subtask Biodiesel Workshop. Potsdam June 12-14, 2006, Karin Retzlaff VDB - Germany Biofuels Industry Association. [7] GRAILLE J., LOZANO P., PIOCH D., GENESTE P., GUIDA A., Oléagineux, v.37, p.421 424, 1982. [8] STERN R., GUIBET J.C., GRAILLE J., Revue Institut Français du Pétrole, v.38, p.121136, 1983 [9] STERN R., HILLION G., GATEAU P., GUIBET JC., Procédé de fabrication d’un ester Jean-Alain Chodorge Axens, 89, bd F.Roosevelt, BP 50802, 92508 Rueil Malmaison, France Daniel Pioch Cirad, UMR Process Engineering, B40/16, Cirad 34398 Montpellier Cedex, France [email protected] méthylique, éthylique, propylique ou butylique d’acide gras adapté à l’utilisation 49 Article FATTY ACID ESTERS IN EUROPE Market trends and technological perspectives Laurent Bournay, Jean-Alain Chodorge, Vincent Coupard and Daniel Pioch ABSTRACT Based on strong governmental incentives, biodiesel (fatty acid esters) production has rapidly increased in Europe and expanded worldwide. The EU target to use 5.75% of transportation fuels from renewable origins looks very difficult to reach, but recent trend shows that EU is willing to set more realistic target to preserve initially foreseen benefit of biofuels. Among other key factors for promoting green fuels, the need for competitive, low cost and low environment impact processes for biodiesel production is highlighted. Anticipating this necessary evolution, French research organizations do contribute to the shift toward breakthrough technologies. Indeed several examples are discussed, from a new heterogeneous catalytic zero-waste process for methyl ester manufacture, to long standing Diesel engines fueled with vegetable oils; also included, the difficulty to get ethyl ester, and high purity crude glycerin recovery with examples answering the need for a new C3 chemistry industrial sector, owing to the increased availability of glycerol, a chance for green chemistry. 1. INTRODUCTION Increasing environment concern, especially CO2 emissions, together with agricultural policy and high petroleum price have led the European Union to re-open the biofuel file. European liquid fuels consumption being Diesel oriented (Figure1A), the biodiesel market was the first launched based on technology developed in the late 80's. Although its share was lowered to 70% (Figure 1B) due to business started in the USA and Brazil, EU biodiesel production is still fast growing, passing from 3.6 to 5.4 million tons (Mt) respectively in 2005 and 2006. Biodiesel development in EU - A 11% Residual Fuel Initial figures (2005) showed a 4.3 Mt of biodiesel production capacity in EU-25, mostly in Germany (Figure 2), and biofuel production (3.2 Mt) accounted for 1% of transportation fuels. EU-27 6,000 Germany 41% Brazil 1% 14% United States 13% Other Europe 17% Gasoline 2.2 ESTER PRODUCTION CAPACITY EXPANSION PLANS WITHIN EU Other World 12% Diesel 41% Other 11% The EU 2003 law on biofuels (EC 2003/30) established the initial goal of substituting 2% of fossil fuel by fuels from renewable origin in 2005. The next goal was 5.75% by 2010 and a possible target of 10% by 2020 (in terms of heat units; fatty acid esters (FAME) contain oxygen atoms not involved in combustion [1]; 1 ton FAME = 0.86 toe). Due to the current food vs fuel debate, the 2010 goal, and which product to be classified as a biofuel, are under discussion. The EU 2003 Law can be adapted by each member state. Germany, often on the "green" forefront, first promoted biodiesel by full tax exemption. In 2007 a mandatory level of 4.4 % was set as the minimal blend and there is no more tax exemption on B5, while still partially on B100. Germany now excludes palm and soy from the biodiesel list and suppliers who cannot achieve their mandatory blend are facing penalties. France increased the target to 7; 8; 10% by 2010; 2012; 2015, initially helped by (i) tax cut on biodiesel share, and (ii) new tax, based on exhaust pollution to penalize fuels not including the required amount [2]. B GLP 5% Kerosene 8% 2. EUROPEAN BIOFUEL POLICY AND DEVELOPMENT 2.1LEGISLATION BACKGROUND EU-27 5,000 10 3 tons Nafta 7% leader in the field - could be a useful example for other countries. Although a matter of political strategy, biodiesel competitiveness depends also on technical progress and this paper shows contributions of French research organizations to help using vegetable oils as fuels. EU-25 4,000 France 3,000 EU-15 EU-15 EU-15 10% France 50 Others EU EU-15 Total EU 1,000 0 1998 FIGURE 1. (A) Western Europe petroleum refining 2006; (B) World biodiesel production 2006 Source: [25] Italy EU-15 2,000 9% Italy Germany 2000 2002 2003 2004 2005 2006 2007 FIGURE 2. Evolution of Biodiesel production capacity within EU Source: [26] Agosto/August 2009 Article 6 000 000 Tons/year 5 000 000 4 000 000 2006 3 000 000 2007 2008 2 000 000 1 000 000 Macedonia UK Switzerland Sweden Slovakia Slovenia Russia Roumania Czech Republic Portugal Poland Norway Netherlands Malta Lithuania Latvia Italy Hungary France Greece Finland Spain Denmark Bulgaria Austria Belgium Germany - FIGURE 3. 2006-2007 European capacity breakdown based on announcements Source: [25] Production capacity then increased fourfold by late 2008, being at 16 Mt biodiesel remaining the main biofuel produced within EU, with a 70% share [3] - and major business development will take place in Germany and France [4-6] (Figures 2 and 3). In France, current Fame capacity is ~2 Mt and planned at 2.9 Mt by 2010 [2,4], while production was 0.87 Mt in 2007, thus vegetable oil might be imported by the end of the decade [4,5]. Diester-Industrie, the major player, has located Fame plants in major agricultural areas, close to big market spots, near harbors and petroleum refineries (actual customers). Thus logistics play a large role when choosing a production site. Also, the nominal size of new EU Fame plants is increasing, from about 10,000 t/y, to today economically viable size above 150,000 t/y and up to 250,000 t/y (Figure 4). Thus Fame now reaches a step where rationalization of bulk production is asking for technical innovations. 3. TECHNOLOGICAL ASPECTS OF FAME PRODUCTION 3.1 METHYL ESTERS OF VEGETABLE OILS THROUGH HOMOGENEOUS CATALYSIS PROCESS When compared to vegetable oils, Fame show a lower viscosity and a higher cetane number, thus closer to those of fossil Diesel fuel, and they can be used as an additive to compensate the loss of lubricity because of decreasing sulfur content in petroleum fuel. The use of Fame as fuel has been proposed 25 years ago by IFP and Cirad [7,8], and the first industrial unit dedicated to biodiesel was started in France in 1992, based on an IFP process (20,000 t/y). Fame are produced through transesterification, a reversible reaction (Figure 5), thus an excess of methanol is needed to achieve a high conversion, and a catalyst to speed up reaction kinetics. Basic catalysts are used in industrial processes (sodium hydroxide or methylate; 0.51.0 wt%) and this is troublesome with traces of free fatty acids (FFA) in feed. Processes based on the above soluble catalysts are known as "homogeneous catalysis". However, the reacting medium is heterogeneous at beginning due to low miscibility of vegetable oil and methanol. Then, thanks to neoformed surfactants - soap, partial glycerides -, the medium becomes monophasic; but final conditions are chosen to allow settling Total plant number 40 30 3 2007 2008 20 triglyceride 10 0 methanol methyl esters glycerol with R1, R2, R3 = hydrocarbon chain from 15 to 21 carbon atoms <50000 50000 - 150000 t/year of biodiesel FIGURE 4. New plant capacity shift Source: [25,26] >150000 FIGURE 5. General reaction scheme for transesterification of vegetable oil Source: [20]. 51 Article Methanol 10,8% Methanol 10,8% Partially Refined Vegetable Oil 100,5% Mineral Acid Reactor Settler Biodiesel (Diester) 100% Neutralization Washing Mineral Acid Evaporation Catalyst Mineral Acid Partially Refined Vegetable Oil 100,5% Reactor Glycerin 10,4% Glycerin Purification Weight basis for pretreated oil feedstock Settler Biodiesel (Diester) 100% Neutralization Washing Catalyst Glycerin 10,4% Mineral Acid Glycerin Purification Weight basis for pretreated oil feedstock Fatty Acids 0,9% Fatty Acids 0,9% FIGURE 6. Simplifed flow chart of homogeneous catalysis transesterification plant Source: [27] FIGURE 7. Simplified flow chart of EsterFip-H Process Source: [27] of glycerine, thus shifting reaction equilibrium. Water - from catalyst, oil, methanol - playing against the transesterification is withdrawn in the decanting phase, along with catalytic species, hereby lowering glycerol purity and requiring further downstream steps (Figure 6). The catalyst recovered as glycerate, methylate, soap, in settled phase is then neutralized with HCl, yielding 80% pure glycerol containing salt and water. Methanol is evaporated from crude ester and recycled, catalyst traces are washed out (Na+K < 5 ppm) and Fame are vacuum dried (98.5-99.5wt% yield). All above washing phases are sent to glycerin purification section: any process enabling to simplify this critical step would be welcome. This process can be operated in batch or continuous mode. In the EsterFip batch process [9], transesterification occurs in a single stirred tank reactor, to minimize the equipment, while product purification (Fame, glycerin) is done in a continuous mode; six plants of this type were built by IFP (1.2 Mt/year). Continuous transesterification processes either (i) include 2 or 3 batch reactors in series (Ballestra, Connemann CD and Lurgi PSI processes [9]) or (ii) require a long tubular reactor (Cognis, France). advantages like the ability to convert both triglycerides and FFA, but, in addition to slower kinetics, they bring corrosion and safety problems. A simple way to avoid most of the above problems is to shift to heterogeneous catalysis. There are dozens of papers dealing with this shift [12], and such a new process is being developed by IFP and Axens [13] (Esterfip-H™) and the first unit was started in 2006 (Sète, France). Here a high transesterification yield is promoted by a stable, insoluble oxides mixture [14] (Figure 7): no addition of new catalyst, no catalyst neutralization nor water washing; reduced water content and esterification of traces of FFA. There are two successive "reaction+glycerin separation" steps, excess methanol being partly evaporated after each reactor, to allow glycerin decantation, thus shifting the equilibrium (Figure 8). Residual methanol in settled glycerin phases is evaporated and purity is routinely above 98%, with 0.5 wt% of water instead of 13% as in most current crude glycerin. The FAME polishing section includes methanol evaporation and adsorption of soluble glycerin through ion-exchange resin. 3.2 HOMOGENEOUS ROUTE STRENGTH AND WEAKNESS Above "homogeneous catalysis" shows real advantages: very active catalysts, thermal efficiency, low energy consumption, wide range of production scale (1,000–250,000 t/year). But it suffers numerous drawbacks: handling of strong acids and bases, lot of impurities in glycerol (4 kg of salt/t oil; traces of soap and ester), thus leaving only low priced uses for this crude glycerin (burned in furnaces, animal feed [10]), due to high polishing cost (multiple distillation and bleaching steps to meet pharmacy and cosmetics standard). Thus there is a need for breakthrough technical solutions. 3.3 IMPROVING THE TRANSESTERIFICATION ROUTE HETEROGENEOUS CATALYSIS The "classical" route described above suffers difficult glycerol purification. Acidic catalysts like mineral acids [11] display several 52 Evaporation Partial Evap. MeOH Partial Evap. Full Evap. Methanol Vegetable Oil > 99% Methyl Esters (biodiesel) Glycerin rich 98% Glycerin FIGURE 8. Simplified flow sheet of the new heterogeneous catalysis process, EsterFip-H Source: [27] Agosto/August 2009 Article 3.4 INDUSTRIAL APPLICATION, ADVANTAGES, DRAWBACKS OF THE HETEROGENEOUS CATALYSIS FAME PROCESS Low energy consumption (no mechanical stirring required); Only feed oil and steochiometric methanol consumed, no catalyst leaching or waste streams; Traces of FFA entering the process must be monitored to avoid water formation; Salt free 98%+ crude glycerol, thus opening chemical applications; Fame yield close to 100%, since there is no ester loss due to soap formation; High quality Fame complying EU specification (EN 14214 Fame). Still high temperature and pressure are needed due to lower activity of the solid catalyst. The first plant in Sète has been running for more than two years at 160,000 t/y load with various industrial vegetable oils, and the catalyst is still highly active. A second plant (160,000 t/y) was started in 2007 in Perstop (Sweden) and 6 plants based on EsterfipH process are being implemented worldwide, owing to its ability to widen the market compared to that of the current 85% crude glycerin. 4. ALTERNATIVE ROUTES AND FURTHER TECHNICAL DEVELOPMENTS 4.1 GLYCEROL BASED CHEMISTRY Glycerin amounting 1/10 of the fast growing FAME production, there is an urgent need for new industrial outlets, like the C3 chemistry, today based on fossil propylene [15,16]: to propylene and ethylene glycols (cf ADM (2006), Cargill&Ashland, Dow (2007)); to epichlorhydrin planned by Solvay & Diester Industries; Dow; to 1,3-propanediol through enzymatic reaction, as plasticizer, by MetEx (French company); to poly-glycerol and acrolein also reported; to glycerol ter-butyl ethers with isobutene, as fuel additives, also investigated. These new markets will depend on quality and price of glycerin. 4.2 ETHYL ESTER OPTION Replacement of fossil methanol by ethanol derived from biomass would open the Diesel market to this alcohol, to balance its limited outlet due to decreasing gasoline / Diesel engine ratio in EU. However, this brings technical challenges [17,18]: higher catalyst concentration and temperature to balance the lower ethanol reactivity; glycerol being more soluble in ethanolysis medium compared to methanolysis, this limits oil conversion under homogeneous catalysis, but not under EsterFipH monophasic conditions; ethanol makes glycerol extraction from ethyl esters more complex and costly; dehydration of ethanol (azeotrope) makes recycling more complex. 4.3 ALTERNATIVE BIOFUELS DERIVED FROM OLEAGINOUS BIOMASS The direct use of vegetable oils in standard Diesel engines, documented for a century [18,19], leads to coke deposition in modern combustion chambers, resulting in reduced engine performance, higher emissions, due to the following [1,20]: Viscosity of oil, exceeding 30 mm²/s at 30°C, 10 times the standard Diesel fuel value, yielding poor injection spray properties; Lower Cetane Number (rapeseed 42; Diesel fuel 50), although some oils show a short ignition delay; Pour point -5-10 °C/ rapeseed, higher than 20°C/ palm oil, against -20°C for diesel fuel. However it is possible to overcome these drawbacks. Following Cirad specifications, there are dozens of adapted engines in Pacific islands, fueled with crude coconut oil, with full warranty of engine manufacturer. Adaptation (additional pump, heaters on pipe and tank, dual tanks in case of solid oils, specific liners for combustion chamber) could be decreased to a reasonable cost if considering the world demand, especially in very poor countries unable to afford high petroleum price. Straight use of vegetable oils might be the solution in remote areas – small islands (now already tested by Cirad); inland regions – far from petroleum refineries and ports, suffering high fuel transportation cost. There is a need for demonstration projects to start developing this alternative. Also, the production of hydrocarbons has been investigated at Cirad, through catalytic cracking [18,21-24]. This process would enable to fuel all types of engines – gasoline and diesel – from a single biomass. It could be applied in small plants in remote places, like in Amazonia, owing to the simplicity of this one step process. Last, mixtures formulated from various base stocks (diesel fuel, ethanol, vegetable oil), be solutions or emulsions, could also be alternatives, provided that physicochemical input (additives) would help improving spray properties and combustion of oil fraction [12]. 5. CONCLUSION The sustainability and the development of vegetable oils as fuels depend on many factors dealing with technical, environment and economic as well as ethical issues, from oil supply and food-fuel competition, to life-cycle analysis, also including appropriate clean and efficient technologies and co-products valorization, glycerol, bagasse and extraction residue. As shown through several examples of new uses of the former (C3 chemistry), there will be also opportunities for deriving high value products from the cake, to achieve economical viability of the production line, free of any tax incentives, now main driving forces within EU. Among other key factors for promoting biofuel sustainability, the need for competitive, low cost and low environment impact processes, is highlighted, and time has come to shift towards breakthrough technologies. Several alternatives are shown from results obtained by research organizations in France - one of the leading countries for the use of vegetable oils as fuels -, especially an efficient process for methyl ester production based on heterogeneous catalysis, while still old technologies are being implemented worldwide. 6. REFERENCES [[1] MITTELBACH M, REMSCHMIDT C. Biodiesel the Comprehensive Handbook, Austria: M. Mittelbach, p.87-88, 2004. [2] BERNARD, F. PRIEUR, A. 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Jean-Alain Chodorge Axens, 89, bd F.Roosevelt, BP 50802, 92508 Rueil Malmaison, France Daniel Pioch Cirad, UMR Process Engineering, B40/16, Cirad 34398 Montpellier Cedex, France [email protected] 54 Agosto/August 2009 Agenda 10º ENCONTRO INTERNACIONAL DE ENERGIA 10 TH INTERNATIONAL ENERGY SUMMIT Período: 5 e 6 de outubro de 2009 Local: Centro de Convenções do Hotel Unique, São Paulo, SP, Brasil Informações: http://www.fiesp.com.br/newsletter/ encontrodeenergia/convite01.htm Period: From October 5th to 6th, 2009 Venue: Hotel Unique Convention Center – São Paulo, SP, Brazil Information: http://www.fiesp.com.br/newsletter/ encontrodeenergia/convite01.htm CLAGTEE 2009 – 8º CONGRESSO LATINO-AMERICANO SOBRE GERAÇÃO E TRANSMISSÃO DE ENERGIA CLAGTEE 2009 – 8TH LATIN-AMERICAN CONGRESS ON ELECTRICITY GENERATION AND TRANSMISSION Período: 18 a 22 de outubro de 2009 Local: Centro de Convenções do Wembley Inn Hotel – Ubatuba, SP, Brasil Informações: http://www.feg.unesp.br/clagtee * Participação da pesquisadora Beatriz Lora, do Cenbio, apresentando o trabalho Modernization Perspectives of the São Paulo State Sugarcane Sector Through the Clean Development Mechanism and Potential Carbon Credits Generation Period: From October 18th to 22nd, 2009 Venue: Convention Center at Wembley Inn Hotel – Ubatuba, SP, Brazil Information: http://www.feg.unesp.br/clagtee * Participation of the researcher Beatriz Lora, from Cenbio, presenting the paper Modernization Perspectives of the São Paulo State Sugarcane Sector Through the Clean Development Mechanism and Potential Carbon Credits Generation 13º CONGRESSO FLORESTAL MUNDIAL 13TH WORLD FORESTRY CONGRESS Período: 18 a 25 de outubro de 2009 Local: Buenos Aires, Argentina Informações: http://www.wfc2009.org Period: From October 18th to 25th, 2009 Venue: Buenos Aires, Argentina Information: http://www.wfc2009.org LATIN-AMERICAN AND CARIBBEAN WORKSHOP ON ENERGY AND POVERTY LATIN-AMERICAN AND CARIBBEAN WORKSHOP ON ENERGY AND POVERTY Período: 20 a 22 de outubro de 2009 Local: Santiago, Chile Informações: [email protected] * Evento ligado à Rede Global em Energia para o Desenvolvimento Sustentável (Gnesd) Period: From October 20th to 22nd, 2009 Venue: Santiago, Chile Information: [email protected] * Event linked to the Global Network on Energy for Sustainable Development (Gnesd) ECOCHANGE 2009 – CONFERÊNCIA INTERNACIONAL SOBRE BIOCOMBUSTÍVEIS, MEIO AMBIENTE, ALIMENTO E FOME ECOCHANGE 2009 – INTERNATIONAL CONFERENCE ON BIOFUELS, ENVIRONMENT, FOOD AND STARVATION Período: 21 a 24 de outubro de 2009 Local: Ribeirão Preto, SP, Brasil Informações: http://www.ecochange.com.br Period: From October 21st to 24th, 2009 Venue: Ribeirão Preto, SP, Brazil Information: http://www.ecochange.com.br 9º SHEB 2009 – 9º SIMPÓSIO DE HIDRÓLISE ENZIMÁTICA DE BIOMASSAS 9TH SHEB 2009 – 9TH SYMPOSIUM ON ENZYMATIC HYDROLYSIS OF BIOMASS Período: 23 a 27 de novembro de 2009 Local: Hotel Deville Maringá – Maringá, PR, Brasil Informações: http://www.deq.uem.br/eventos/Sheb/ IXSHEB/ptb/pagina_01.htm Period: From November 23rd to 27th, 2009 Venue: Hotel Deville Maringá – Maringá, PR, Brazil Information: http://www.deq.uem.br/eventos/Sheb/IXSHEB/ eng/pagina_01.htm COP15 – CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE MUDANÇAS CLIMÁTICAS COP15 – UNITED NATIONS CLIMATE CHANGE CONFERENCE Período: 7 a 18 de dezembro de 2009 Local: Bella Center – Copenhague, Dinamarca Informações: http://en.cop15.dk/ Period: From December 7th to 18th, 2009 Venue: Bella Center – Copenhagen, Denmark Information: http://en.cop15.dk/ 18º SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE ÁLCOOIS COMBUSTÍVEIS 18TH INTERNATIONAL SYMPOSIUM ON ALCOHOL FUELS Período: 9 a 12 de março de 2010 Local: The Claridges – Surajkund, Delhi NCR, Índia Informações: http://www.isaf2010.org Period: From March 9th to 12th, 2010 Venue: The Claridges – Surajkund, Delhi NCR, India Information: http://www.isaf2010.org 55