Em Cartaz - Ricardo Xavier Recursos Humanos
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Em Cartaz - Ricardo Xavier Recursos Humanos
Em Cartaz Aprendendo com as emoções do cinema Ricardo de Almeida Prado Xavier São Paulo Agosto/2003 Copyright, 2003 Autor Ricardo de Almeida Prado Xavier Editor José Antônio Rosa Coordenação editorial Fernando Augusto Santos Rosa Diagramação Editora STS Revisão Edna Luna Capa e ilustrações Eduardo Baptistão Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Xavier, Ricardo de Almeida Prado Em cartaz / Ricardo de Almeida Prado Xavier : (revisão Edna Luna; capa e ilustrações Eduardo Baptistão; coordenação Fernando Augusto S. Rosa). -- São Paulo: Editora STS, 2003. 1. Empregados - Treinamento 2. Filmes cinematográficos - História e crítica I. Baptistão, Eduardo. II. Rosa, Fernando Auguto S. III. Título. 03-4120 CDD-658.3124078 Índices para catálogo sistemático: 1. Filmes cinematográficos: Uso em treinamento de recursos humanos: Administração de pessoal 658.312078 Editora STS Publicações e Serviços Ltda Al. dos Guaramomis, 846 - Moema Cep: 04076-011 São Paulo/SP Fone/Fax: (11) 5051-0868 www.editorasts.com.br [email protected] Sumário Introdução, 5 Vivendo com arte na aposentadoria, 9 Kramer vs. Kramer – trabalho e família com equilíbrio, 15 Quem está disposto a pagar o preço da ambição, 23 Pantaleão consegue organizar o serviço de visitadoras, 29 Grandes momentos em um domingo qualquer, 35 Qual é a senha para entender os fatos?, 39 Decisões, ação e emoções no limite, 45 Sempre é tempo de recomeçar, 51 Sem espaço para a concorrência desleal, 55 Quando a coisa aperta, é tudo ou nada, 59 Quem está no comando entre os suspeitos, 63 Quem faz as regras da vida, 67 A força da mente brilhante vencendo a limitação, 73 Em Cartaz Como enlouquecer seu chefe, 79 Desenvolva o seu sexto sentido, 83 Emoções trazem uma lua de fel, 87 Grande Hotel chama para a ação, 93 Jerry Maguire – Trabalhar e viver com sentido, 99 O preço do sucesso a qualquer preço, 109 Praticando a arte de viver, 119 A fraude mostra a queda do homem e da organização, 123 K-19 mostra os dilemas da liderança, 129 Nada é mera coincidência, na arte de inventar o real, 135 Lista de filmes, 141 Introdução Mais de 30 anos interagindo com pessoas Recentemente participei de mesa-redonda no 9º Encontro Regional de Recursos Humanos de Campinas e Região. Fizeram parte da mesa Diretores de Recursos Humanos de renomadas empresas: Luiz Roberto Corvini (Diretor de RH da Motorola), Silvio de Macedo (Diretor de RH da Benteler) e Valéria Sepúlveda da Costa (Diretora de RH da EMS – Grupo Sigma Pharma). Durante as exposições, o Sr. Corvini dirigiu-se à platéia dizendo que estava sentindo o mesmo que sentem os artistas quando estão atuando no palco, ou seja, recebendo no rosto as luzes dos refletores, que os impedem de enxergar o público. Quando me foi passada a palavra, reforcei o mesmo sentimento, adicionando que mais importante que enxergar as pessoas é poder “ver” a alma delas. Terminada a nossa participação, precisei voltar rápido a São Paulo, pois todas as segundas e quartas-feiras, à noite, tenho um dos mais importantes compromissos da semana: “jogar” futebol de salão. Em Cartaz O palestrante que me sucedeu, o consultor Maurício Gois, havia assistido à mesa-redonda e durante sua exposição indagou se eu ainda me fazia presente pois desejava saber como eu conseguia “ver” a alma das pessoas. Fiquei devendo a resposta e aproveito a oportunidade para registrar alguns indícios. Alguns profissionais, depois de muito tempo de atuação, conseguem ver coisas que nem todos conseguem. Conheço médicos, por exemplo, que apenas conversando com os pacientes conseguem diagnosticar a doença, com excelente taxa de sucesso. Conheci também um delegado de polícia que de longe conseguia identificar quem era ou não delinqüente, com grande dose de acerto. Essa sensibilidade ocorre com alguns profissionais e tenho certeza de que o Sr. Maurício Gois, com sua vivência e experiência nas áreas Comercial e de Marketing, possui também o poder aguçado para enxergar fatos dentro de seu campo de atuação que muitos outros não conseguem identificar. O profissional de RH preocupa-se com motivações, sentimentos, intenções das pessoas no trabalho. Boa parte desses conteúdos está apenas na mente das pessoas. Assim, um esforço permanente para entender anseios e motivos leva o profissional da área a procurar “enxergar” a alma das pessoas. Um esforço diuturno dentro desse propósito torna tais profissionais habilitados a conhecer, se não a plena verdade interior de cada um, pelo menos um pouco mais do que a pessoa é, pensa e sente além do que seu comportamento manifesto apresenta. A sobrevivência e o sucesso de um profissional de RH depende de sua habilidade para ver além da pessoa real e material que está na sua frente. Precisa ver a alma dessa pessoa, para orientar melhor as relações de trabalho. O tema deste livro Essa questão tem tudo a ver com a escolha do tema deste livro. Os filmes usualmente procuram apresentar as almas das pessoas, aquilo Ricardo de Almeida Prado Xavier que está na origem e situa-se além dos comportamentos visíveis. Tendo uma qualidade razoável, o filme enfoca pessoas e acontecimentos verossímeis ou reais, em histórias dignas de narração, apresentando inevitavelmente motivos, razões, impulsos, sentimentos que dão origem aos fatos. Com isso, oferece caminhos por meio dos quais podemos aprender mais sobre aquilo que está além do comportamento. Se tem alguma qualidade, torna-se bom instrumento de reflexão e aprendizagem. Este livro apresenta filmes e os comenta sob a perspectiva do que têm a ensinar. O autor reflete aqui os ensinamentos que obteve do filme e coloca em discussão tudo o que se pode aprender com ele. É evidente que o autor focaliza apenas uma pequena parte do aprendizado que se pode extrair de cada filme, principalmente centradas, essas lições, no interesse para o trabalho. O objetivo do livro não é outro se não o de mostrar o cinema como um excelente instrumento de desenvolvimento individual e de equipe. Ao focalizar alguns filmes, o autor os sugere como úteis ao aprendizado, indicando ensinamentos que um observador atento pode extrair deles. Esses filmes, e uma infinidade de outros, podemse fazer presentes nas sessões de reflexão do profissional preocupado com seu autodesenvolvimento, bem como em sessões de treinamento, organizadas e dirigidas. As possibilidades são inúmeras para um uso eficiente. Filmes apresentados Os títulos aqui apresentados mostram exemplos de como podemos extrair ensinamentos de filmes os mais diversos. Refletem diversidade em gostos, interesses, temas, e até mesmo em níveis de qualidade. São filmes de que gostei e que julgo terem uma mensagem digna de ser assimilada. Há filmes engraçados, filmes consagrados pela crítica, outros para os quais a crítica provavelmente torce o nariz, premiados, de qualidade estética, de qualidade comercial. Em síntese, filmes de Em Cartaz muitos tipos diferentes. Contudo, uns poucos elos comuns têm entre si: o filme tem de ter algum potencial de ensinamento, algum valor, e tem de tratar de coisas positivas, alinhar-se, por assim dizer, com o Bem. O julgamento de cada um fica por conta do leitor. O autor e sua relação com o cinema Em minha vida de empresário e consultor de Recursos Humanos, a busca do aprendizado deve ser constante. Como gosto muito de cinema e percebi seu potencial como instrumento de aprendizagem, sempre cultivei o hábito de aprender ao mesmo tempo em que tinha agradáveis horas de diversão, em meu tempo livre, por meio de bons filmes. Meu gosto é variado. Todos os filmes que apresento me agradaram, uns mais, outros menos. Há muita coisa boa a aprender com cada um. Espero contribuir para que o leitor também descubra, se já não o fez, o cinema como instrumento de aprendizado e que passe a usá-lo com mais intensidade para esse fim. Vivendo com arte na aposentadoria * Assim como os atletas se submetem a treinamentos específicos para enfrentar as competições, os trabalhadores devem estar preparados para o dia-a-dia nas empresas. Para tanto, existem em algumas companhias que oferecem desde cursos de preparo físico, propriamente dito, como ginástica para combate direto à ociosidade, até exercícios específicos para se evitar as famosas lesões por esforço repetitivo (LER) ou Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT). Há, em muitas empresas, ambientes com equipamentos de academias, além de planos médicos de incentivo à boa saúde e qualidade de vida, tudo enfim, demonstrando que há uma grande preocupação enquanto as pessoas estão na ativa, mas nenhuma com relação a após a aposentadoria. Existe esse aparato de fórmulas para “preparar” o colaborador para o exercício do trabalho, ajudando-o a construir a carreira enquanto leva vida saudável, e no entanto são escassas as providências para orientar o trabalhador no terço final da vida profissional. O filme As confissões de Schmidt mostra bem o que isso significa. Embora o autor * Este capítulo é a transcrição de artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo em 1º -06-2003, sob o título “O Filme e a Aposentadoria”. Em Cartaz Alexander Payne tenha chamado seu filme de “comédia dramática”, ele tem muito a ver com a realidade. História Em resumo, o filme mostra a história de Warren Schmidt que, aos 66 anos, no cargo de assistente do vice-presidente de uma grande companhia de seguros, se aposenta, com direito a jantar de despedida, discursos e tudo o que caracteriza um “bota fora”. Logo que chega em casa, após as despedidas dos amigos, a esposa lhe entrega um roupão, símbolo máximo do ócio, presente da única filha e do futuro genro, que moram longe. Schmidt, livre das tarefas na empresa, não dorme direito e fica sem saber o que fazer. “Zapeia” a televisão, lembra das chatices do casamento que já dura 40 anos como, por exemplo, sua mulher tirar da bolsa a chave do carro muito antes de chegar ao veículo. Num dos primeiros dias de aposentado, a esposa lhe faz uma surpresa. Serve o café da manhã no interior do “motor-home”, uma espécie de ônibus- casa, estacionado ao lado da residência, novo em folha, que compraram para viajar quando ele estivesse desimpedido do serviço. Schmidt reage com indisfarçável tédio. Seu sucessor na empresa, um jovem seguro de si, porém pretensioso e arrogante, agradeceu durante o jantar de despedida a tranqüila “passagem de bastão”, e disse que Schmidt poderia ir ao escritório quando bem desejasse. Tomando o convite ao pé da letra, e acreditando que ainda seria útil, logo na primeira semana Schmidt vai ao antigo emprego, mas é recebido com frieza pelo sucessor. Volta para casa e diz à mulher que esteve no escritório. Conta, porém, que foi chamado lá para ajudar o jovem sucessor a resolver alguns problemas. A situação do recém-aposentado fica ainda mais problemática com a súbita morte da mulher, vítima de mal fulminante. Viúvo, Schmidt tenta se aproximar de sua única filha Jennifer, da qual sempre esteve distante. 10 Ricardo de Almeida Prado Xavier Boa parte da história vai sendo narrada em cartas que Schmidt escreve para Ndugu, uma criança africana, órfã, que ele “adotou” mediante o pagamento mensal de 22 dólares, depois de ver um programa de ajuda humanitária exibido na televisão. O menino tem apenas seis anos, mas Schmidt escreve a ele, contando suas agruras como se falasse a um adulto. Sente profunda saudade da companheira, a ponto de abrir seus vidros de perfume para sentir o odor da mulher amada. Cheira até os vestidos que ela usava, em dramáticas cenas de tristeza. Mostra toda sua fúria, porém, ao descobrir entre os achados da falecida, um maço de cartas de um amante, num caso passado há 30 anos. Vai à procura do amante, seu melhor amigo, e dá-lhe um soco de vingança. Esta é a terceira perda de Schmidt em menos de um mês. Desnorteado, sem amor e sem trabalho, Schmidt decide viajar até outro Estado para visitar a filha. Seu carro enguiçou e, por isso, ele viaja no motor-home. Envolve-se em peripécias até que chega à casa da mãe do noivo e tenta ali demonstrar à filha sua insatisfação com o casamento. Jennifer explica que ele sempre foi “um pai ausente” e que estaria na igreja no dia seguinte para casar-se, com ou sem a presença do pai. Sem alternativa, Schmidt vai à cerimônia e à festa. Faz discurso em prol da união da filha com o vendedor de carros e até elogia a família do noivo, contrariando tudo o que vinha pregando. Volta para casa e encontra em meio a sua correspondência uma carta da freira responsável pelos cuidados a Ngudu. Nela, a religiosa explica que o menino, de apenas seis anos, não sabia ler, mas entendia o drama do “padrinho”. Por fim, comunica que o órfão havia feito para Schmidt um desenho, anexo à carta. Ao abrir, lá está, com rabiscos, um adulto segurando uma criança pela mão. O filme termina aí, com Schmidt tomado de forte emoção ao ver “um pai segurando a mão de um filho” no desenho do pobre Ngudu. Mensagem O filme chama a atenção para fatos que nós, como consultores, estamos acostumados a testemunhar: muitas pessoas se deixam 11 Em Cartaz absorver pelo trabalho, sem perceber que o mundo à sua volta continua girando. Schmidt exercia como poucos sua função: era exímio calculador de prêmios de seguro; não tinha, porém, a menor idéia de como conviver com a família. Passou 40 anos entre as quatro paredes de um escritório e, assim, não percebeu que sua função também foi “aposentada” pelo mercado. Tanto é que, ao ser substituído por um jovem, não restou a Schmidt ensinamento algum que pudesse transmitir ao sucessor. Lições de qualidade de vida além trabalho São muitos os ângulos pelos quais se pode interpretar a história. Fica evidente, porém, que ainda temos no mundo contemporâneo pessoas sem o devido preparo para o fim da longa jornada marcada pela aposentadoria. Preferem imaginar que cabe à empresa tomar alguma providência para que, quando ocorrer a aposentadoria, tudo se encaixe de forma mágica. Por isso, além de trabalhar bem conforme os preceitos da empresa, é preciso estar preparado não apenas para o fim da longa jornada que culmina com a aposentadoria, mas, principalmente, para o término da jornada de cada dia. É a arte de “recarregar baterias”. Isso passa pelo convívio familiar, pelo bate-papo descompromissado com os amigos, e até por idas ao teatro e ao cinema para assistir a filmes como As confissões de Schmidt. O sucesso está em conseguir compatibilizar dedicação tanto ao trabalho quanto à família, evitando as surpresas do personagem principal. 12 Ficha Técnica Título: As confissões de Schmidt (About Schmidt) Gênero: Drama Duração: 124 minutos Ano de Lançamento (EUA): 2002 Estúdio: New Line Cinema/Avery Pix Distribuição: New Line Cinema Direção: Alexander Payne Roteiro: Alexander Payne e Jim Taylor, baseado em livro de Louis Begley Produção: Michael Besman e Harry Gittes Música: Rolfe Kent Direção de Fotografia: James Glennon Desenho de Produção: Jane Ann Stewart Direção de Arte: T.K. Kirkpatrick Figurino: Wendy Chuck Edição: Kevin Tent Elenco: Jack Nicholson (Warren Schmidt); Hope Davis (Jeannie); Dermot Mulroney (Randall Hertzel); June Squibb (Helen Schmidt); Kathy Bates (Roberta Hertzel); Howard Hesseman (Larry); Len Cariou (Ray); James Crawley (Dave Godberson); Tung Ha (Phil Choi); Cheryl Hamada (Saundra); Christine Belford; Josh Geller; Jim Kay; Robert Kem. Premiações Duas indicações ao Oscar: Melhor Ator (Jack Nicholson) e Melhor Atriz Coadjuvante (Kathy Bates). Ganhou dois Globos de Ouro: Melhor Ator - Drama (Jack Nicholson) e Melhor Roteiro. Teve também três indicações: Melhor Filme - Drama, Melhor Diretor e Melhor Atriz Coadjuvante (Kathy Bates). Uma indicação ao BAFTA, na categoria de Melhor Ator (Jack Nicholson). Kramer vs. Kramer – trabalho e família com equilíbrio Introdução Quando uma pessoa quer efetivamente conquistar um emprego, ela se torna muito mais capaz de consegui-lo. Uma forte pressão interna faz com que o indivíduo não só fique mais apto a localizar oportunidades de trabalho, mas também se torne mais eficiente em lidar com potenciais empregadores. Alguém que realmente quer o emprego torna-se mais persuasivo, firme e confiável. Nem sempre, porém, essa força está presente. Freqüentemente ela depende de algo mais – demanda que a pessoa esteja realmente “resolvida” e saiba o que quer na vida. Gente que conhece bem seus valores, que tem convicção interior, que sabe o porquê de suas buscas tem a motivação necessária para lidar com as decisões e ações da carreira mais eficientemente. Em Cartaz Muitas vezes a pessoa não tem nada disso porque está no caminho errado, pegou “o barco errado”, como se diz. Esse barco errado tem a ver com relacionamentos. Quantas pessoas efetivamente se dão conta de como seu comportamento afeta os demais? Muitos não fazem a menor idéia do que são, para os outros, e do impacto, às vezes negativo, que seu modo de ser traz sobre a vida alheia. Tomar consciência disso é um primeiro passo para uma mudança verdadeira, que afete positivamente não só as relações mas também a própria qualidade da vida de quem muda. Eventualmente um choque é benéfico, por ocasionar uma crise que leve o indivíduo a questionar quem é, qual é o seu papel, quais são os valores que têm orientado sua vida, a que tais valores levam, como seus valores e comportamento afetam aqueles com quem convive. Esse questionamento produz mudanças comportamentais significativas e profundas. Se conduzida com sabedoria, a crise cria uma nova pessoa, com novos valores, novos papéis, maior equilíbrio, relações mais verdadeiras e espontâneas. Enfim, uma pessoa mais verdadeiramente feliz e não apenas uma pessoa pretensamente feliz. Viver com mais equilíbrio, espontaneidade, autoconsciência produz resultados positivos em cada atividade específica da vida social e do trabalho, como a busca de um novo emprego. Quem é que se apresenta pretendendo um emprego, qual o grau de convicção que há por trás dessa busca, que nível de determinação tem o candidato, por que ele quer o emprego e o que esse significará para ele? Tudo isso conta muito. O filme Kramer vs. Kramer, que recebeu 5 Oscars em 1980, traz ensinamentos valiosos sobre todas essas questões. Uma história moderna O modelo antigo dizia: o homem trabalha fora, concentra-se em ganhar o pão, e a mulher cuida do lar e da educação dos filhos. No 16 Ricardo de Almeida Prado Xavier decorrer dos anos 70 os papéis masculino e feminino entraram em processo de revisão, com a ampliação da participação feminina na força de trabalho. A história de Kramer vs. Kramer é muito oportuna nesse contexto. O publicitário Ted Kramer (Dustin Hoffman) vive de tal modo concentrado no trabalho que não consegue manter contatos afetivos espontâneos com a mulher Joanna (Meryl Streep) e o filho, o garoto Billy (Justin Henry). De repente, justamente quando sua carreira profissional atingia o ponto mais alto, é surpreendido pela mulher, que o abandona com o filho. Passa então a viver como profissional com responsabilidades domésticas, no início completamente despreparado para as atividades do lar e para evitar o impacto dessas no trabalho. A tarefa de cuidar do filho, que se torna central em sua vida, compromete a sua produtividade no trabalho, mas propicia um rico aprendizado emocional. Inicialmente, além de suportar a carga emocional do abandono pela mulher e das dificuldades em lidar com as tarefas domésticas, tem problemas de harmonização emocional com Billy, que vem tendo dificuldade também para lidar com o abandono pela mãe. A fase de adaptação à nova vida de dupla responsabilidade apresentou conseqüências sérias no emprego: após inúmeras e ineficientes advertências, como Ted não conseguia efetivamente dar conta do recado na agência publicitária em que trabalhava, é demitido pelo chefe. Por uma infeliz coincidência, o desemprego chegou justamente quando a ex-mulher Joanna reapareceu, oito meses após o abandono do lar, pleiteando a custódia do filho que, negada por Ted, levou a disputa para o tribunal, em que o desemprego contaria significativamente contra ele e sua pretensão de ficar com o filho. Nesse ínterim já vinha tendo uma significativa melhora de desempenho como pai e “donode-casa”. Ele faz um esforço extraordinário e consegue um emprego em um dia, uma véspera de Natal, mas, devido ao apelo emocional do suposto amor maternal, ao final da disputa no tribunal Joanna ganha a causa. Ted comunica o fato ao filho, que o recebe com tristeza e apreensão quanto ao futuro – em demonstração de que a essa altura já se sentia feliz, adaptado à sua nova “família” composta apenas de filho e pai-mãe. Quando Joanna se apresenta para retirar o filho da casa de Ted, uma nova surpresa: ela decide que não o levará; abriu mão do 17 Em Cartaz direito que lhe conferiu o tribunal, por ter concluído que o filho tem efetivamente uma família, uma casa, e que está feliz assim. Mensagens Para o interesse mais específico de orientação de carreira, a mensagem básica é a seguinte: - A busca de um emprego, como qualquer outra atividade voltada para o sucesso no trabalho, depende da energia interior, que vem de uma vida equilibrada e com sentido. Para interesses mais genéricos, a mensagem é: - Papéis masculinos e femininos, como os relacionados com a paternidade, são culturais e podem evoluir para adequar-se melhor à realidade do mundo moderno. Recomendações Especialmente recomendado para profissionais em transição profissional e em processo de mudança no ambiente familiar. Nas empresas, pode ser encaixado em eventos sobre orientação de carreiras, em preparação para mudanças organizacionais, em seminários sobre gerenciamento, particularmente na discussão sobre impacto da vida privada sobre a produtividade. Principais lições do filme A imersão do espectador na história de Kramer vs. Kramer traz sete lições que queremos destacar, entre outras também relevantes: - É possível e fácil cair na armadilha de viver burocraticamente, isto é, viver de modo mecânico e inconsciente. Isso se dá particularmente quando o indivíduo concentra-se excessivamente em algumas metas (como o trabalho) e perde contato com outras facetas de sua vida. O publicitário Ted Kramer, perseguindo o sucesso profissional, vivia 18 Ricardo de Almeida Prado Xavier assim e por isso não conseguia entrar em verdadeira empatia com sua esposa, não conseguia nem ao menos ouvi-la, perceber que ela era infeliz. Viver de modo burocrático, ainda que a curto prazo possa aparentemente trazer resultados, não é produtivo, pois mais cedo ou mais tarde a crise virá, afetando todas as áreas da vida, inclusive o trabalho. - Todos somos orientados por valores, mas nem sempre os valores que nos orientam são bons. Ao privilegiar excessivamente o sucesso profissional, vivendo em desequilíbrio, Ted Kramer não só se achava mais vulnerável como também era menos feliz, sem se dar conta disso. A crise permitiu uma revisão de seus valores, com base na qual ele renovou-se para a espontaneidade e a maior felicidade. - Aquilo que somos é produto de escolhas. Se alguém não tem tempo para o filho é porque escolheu usar o tempo com outra coisa. Muitas vezes não nos damos conta de que nossa vida é feita das escolhas que nós mesmos fazemos. Certamente as pressões externas existem, mas cabe ao indivíduo escolher, respondendo de um jeito ou de outro a elas. Boas escolhas são fruto de reflexão e não meramente de ir “empurrando com a barriga” sem uma maior consciência da própria vida que se leva. Diante da crise, Ted Kramer foi forçado a fazer escolhas – e fez boas escolhas. Ao final do processo já apresentava ótimo desempenho no lar e mostrava sinais de ter superado as deficiências no trabalho (que haviam sido ocasionadas pelo trauma da separação). Em uma cena significativa, levou o filho a ver o novo escritório – isto é, harmonizou família e trabalho. - Equilíbrio – eis a palavra-chave para o profissional moderno. Não pode esquecer-se de seu papel familiar e também não pode deixar que os problemas familiares comprometam sua eficiência no trabalho. Com sabedoria pode-se harmonizar 110 % de dedicação, como queria o chefe de Ted Kramer, com relações efetivamente qualitativas no lar. É um desafio a ser superado. - A outra palavra-chave é aprendizado: deve-se aprender a viver no lar e aprender a viver produtivamente no trabalho sem prejuízo das relações familiares. Igualmente deve-se aprender as emoções: a 19 Em Cartaz senti-las, expressá-las, administrá-las. Ted Kramer vivia apenas no “modo” racional e isso acabou complicando sua vida. - Está mais que em tempo de assumir que os papéis tradicionais de homem e mulher há muito deixaram de ser eficientes. É preciso reinventar esses papéis e as relações entre eles. Mais de 20 anos depois de Kramer vs. Kramer, que levou à consolidação de um processo de revisão das idéias sobre papéis masculinos e femininos, ainda há gente não só pensando, mas também agindo com idéias que já não servem ao mundo atual. - A pessoa, por assim dizer, resolvida é mais eficiente nas coisas específicas, como na busca do emprego. A pessoa resolvida é a que vive de acordo com valores refletidos e assumidos conscientemente, que mantém a espontaneidade nos comportamentos, que sabe o que deseja e por que. Ted Kramer, quando teve de conquistar um novo emprego e decidiu conquistá-lo em 24 horas, imbuiu-se de extraordinário poder de realização. Isso transmite energia, entusiasmo, firmeza e segurança aos demais; portanto, possibilita a verdadeira liderança. Diante da hesitação do assessor de recursos humanos que não queria enviá-lo ao potencial empregador na véspera do Natal, foi assertivo e firme, superando a barreira da acomodação e do conservadorismo. Diante da hesitação dos potenciais empregadores em admiti-lo em processo sumário e rápido, igualmente mostrou a firmeza da convicção, impôs uma regra do jogo baseada na pureza das intenções e na firmeza de propósitos. Os futuros empregadores perceberam que o mesmo empenho demonstrado na entrevista refletir-se-ia na vontade de dar tudo de si, de acertar no trabalho, algo que por si só já justificava a contratação. 20 Ficha Técnica Título: Kramer vs. Kramer Gênero: Drama Duração: 101 minutos Ano de lançamento (EUA): 1979 Estúdio: Columbia Pictures Corporation Direção: Robert Benton Roteiro: Robert Benton, baseado em livro de Avery Corman Produção: Richard Fischoff e Stanley R. Jaffe Música: Herb Harris e John Kander Direção de Fotografia: Nestor Almendros Desenho de Produção: Paul Sylbert Figurino: Ruth Morley Edição: Gerald B. Greenberg Elenco: Dustin Hoffman (Ted Kramer); Meryl Streep (Joanna Kramer); Jane Alexander (Margaret Phelps); Justin Henry (Billy Kramer); Howard Duff (John Shaunessy); George Coe (Jim O’Connor); JoBeth Williams (Phyllis Bernard); Bill Moor (Gressen); Howlard Chamberlain (Juiz Atkins); Jack Ramage (Spencer); Jess Osuna (Ackerman); Ellen Parker (Professora) Premiações Cinco Oscars, em 1980: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator (Dustin Hoffman), Melhor Atriz Coadjuvante (Meryl Streep) e Melhor Roteiro Adaptado. Recebeu ainda outras quatro indicações, nas categorias de Melhor Fotografia, Melhor Ator Coadjuvante (Justin Henry), Melhor Atriz Coadjuvante (Jane Alexander) e Melhor Edição. Obteve ainda quatro Globos de Ouro: Melhor Filme - Drama, Melhor Diretor, Melhor Ator - Drama (Dustin Hoffman) e Melhor Atriz Coadjuvante (Meryl Streep). Teve quatro outras indicações, nas categorias de Melhor Diretor, Melhor Ator Coadjuvante (Justin Henry), Melhor Atriz Coadjuvante (Jane Alexander) e Melhor Revelação Masculina (Justin Henry). Quem está disposto a pagar o preço da ambição A ambição não é uma boa conselheira. Quando levada ao extremo, pode conduzir a um caminho que, ainda que inclua o sucesso, traz a infelicidade. Os personagens de O preço da ambição são infelizes bem-sucedidos. O filme mostra a evolução do jovem sonhador até o bem-sucedido, mas amargo e cético executivo da indústria do cinema. Vale a pena? É uma questão a ser respondida à luz dos valores pessoais. Todavia, mesmo as escolhas mais éticas e qualitativas requerem plena adesão do indivíduo para que levem a realizações de natureza superior. Os personagens centrais do filme, deixando-se de lado o julgamento moral, mantiveram a coerência com suas escolhas e atingiram o sucesso meritoriamente nesse aspecto. Se, por um lado, a ética duvidosa não é uma lição boa para ninguém, por outro, a força em aceitação de seus compromissos é. Nesse aspecto os personagens ensinam. Em Cartaz Uma história de ambição na escolha pessoal O jovem Guy (Frank Whaley), recém-saído de uma faculdade de cinema, está iniciando aquilo que se imagina ser o emprego ideal: a posição de assistente do famoso diretor de um grande estúdio, Buddy Ackerman (Kevin Spacey). Logo nos primeiros minutos do novo emprego ele tem uma visão clara de como as coisas serão. Percebe que terá de aturar os caprichos absurdos do chefe, aceitar humilhações, realizar tarefas desnecessárias e estafantes, “entregar a alma” ao chefe, abandonar qualquer plano de vida pessoal. Como compensação, após alguns anos de trabalho pulará para uma posição importante na indústria do cinema, como aconteceu com os outros assistentes de Buddy. Guy conhece Dawn Lockard (Michelle Forbes), que havia ido entregar um roteiro a Buddy e tentar convencê-lo a filmá-lo. Interessada no apoio do assistente Guy, que julga relevante para seus objetivos, Dawn convida-o para saírem e acaba surgindo um romance entre os dois. Com a evolução dos acontecimentos no estúdio e no relacionamento entre chefe e assistente, Guy convence Buddy a transformar o roteiro de Dawn em filme e ele e ela passam a trabalhar nos ajustes finais do roteiro. A vida amorosa de ambos, entretanto, vem sofrendo devido à dedicação integral de Guy aos caprichos do chefe, o que lhe tira todo o tempo que poderia dedicar à namorada. Após uma briga entre Guy e Dawn, ele resolve telefonar para ela propondo ir à sua casa, mas ela diz que não pode recebê-lo. Marcam para depois e ele tenta dizer que a ama, mas igualmente hesita e deixa para depois. Assim que desliga, ele liga para o chefe que o vinha chamando insistentemente pelo bip. No meio da conversa, humilhante e tensa como sempre, Buddy interrompe para atender uma ligação, mantendo Guy ao fone, pretensamente sem ouvir. Como Buddy se atrapalha ao fazer a conexão com o terceiro telefone (era Dawn) chamando, Guy ouve a conversa. Nesta, Dawn está pedindo para conversar com Buddy e propõe-se a ir à casa dele à meia-noite. Nessa conversa, Buddy diz que demitirá Guy. Logo a seguir, ele volta 24 Ricardo de Almeida Prado Xavier na linha com este e, sem saber que ouvira tudo, continua a conversa e o demite. Após a ligação, decepcionado e em uma descarga de ira pela humilhação e estresse acumulados em decorrência do tratamento que recebia do chefe, Guy vai à casa dele, invade-a, aponta uma arma para ele, amarra-o e começa a torturá-lo e humilhá-lo, esperando pela namorada. Quando ela chega estabelece-se um intenso diálogo e ela, acusada de traição, alega que iria à casa de Buddy para defender Guy, mas este diz que esta era sua parceira de sexo já há muito. Desesperado com a intensidade crescente que o diálogo toma, chamado a ver os vários ângulos da situação, Guy atira, mas em Dawn... Nas cenas seguintes, ele está colocado em uma sala nova, promovido, cuidando do lançamento do filme escrito por Dawn. Buddy continua seu chefe, mas agora o vê como parceiro que está crescendo para posições de comando. O filme joga com a seguinte questão: Guy é levado a escolher entre o caminho da dedicação integral ao trabalho, que no caso inclui abrir mão de sentimentos e ética, ou o caminho dos sentimentos humanos mais puros e da vida pessoal com maior peso. Por sua ambição, ele opta pelo primeiro, apresentado no filme como uma condição de crescimento e sucesso na indústria do cinema, aqui focalizada como palco de intensas e intrincadas intrigas e jogos de poder, no qual os parceiros estão dispostos a tudo para atingir o sucesso. Há uma frase que é inúmeras vezes repetidas a Guy, durante seu duro aprendizado de assistente, e depois ele aparece repetindo-a a aspirantes ao sucesso. É a seguinte: “Você tem de saber bem o que você realmente quer.” Quer dizer: ou um caminho, ou outro. Não há meio-termo. Mensagem O filme é rico em mensagens, principalmente de crítica à ideologia do sucesso dominante, mas quero destacar aqui uma que também pode ser extraída dele: o sucesso na carreira implica definição 25 Em Cartaz muito clara dos próprios valores e tomada de posição firme quanto a eles. No caso de Guy, podemos dizer que os valores assumidos são de ética duvidosa, mas não se pode contestar o fato de que ele fez a sua parte naquele jogo, ao assumi-los, e portanto merece o sucesso que o jogo promete. Pode-se extrair lições para as carreiras de ética inquestionável também. Por exemplo: - Defina-se com clareza sobre o que você realmente quer. - Quer atingir o sucesso? Está disposto a pagar o preço? Está disposto a trabalhar duro, a abrir mão de outros objetivos, para atingi-lo? - Aceita submeter-se ao desgaste necessário (por exemplo, aturar um chefe caprichoso)? Recomendações O filme pode servir de instrumento de reflexão e análise em treinamentos gerenciais, por exemplo. Pode levar a discussões sobre missão pessoal, escolhas, preço a pagar por elas. Igualmente pode ser bem usado em discussões sobre relacionamento entre o gerente e o subordinado, os eventuais processos neuróticos que aí se estabelecem, como evitá-los, os limites éticos do uso do poder. Lições: defina sua missão, aceite-a, assuma-a - O profissional não precisa trilhar o caminho da ambição desmesurada que traz a cegueira ética. Mas tem de definir com clareza sua missão pessoal – “O que você realmente quer?” – e pagar o preço para a sua realização. - Muita gente deseja o sucesso, mas poucos pagam o preço necessário. Em quase todas as áreas o sucesso exige compromisso e envolvimento, o que acarreta fortes pressões e muita dedicação. 26 Ficha Técnica Título: O preço da ambição (Swimming With Sharks) Gênero: Drama Duração: 95 minutos Ano de lançamento (EUA): 1994 Estúdio: Cineville Direção: George Huang Roteiro: George Huang Produção: Steve Alexander e Joanne Moore Música: Tom Hiel Direção de Fotografia: Steven Finestone Desenho de Produção: Cecil Gentry e Veronika Merlin Direção de Arte: Karen Haase Figurino: Kirsten Everberg Edição: Ed Marx Elenco: Kevin Spacey (Buddy Ackerman); Frank Whaley (Guy); Michelle Forbes (Dawn Lockard); Benicio Del Toro (Rex); T. E. Russell (Foster Kane); Roy Dotrice (Cyrus Miles); Matthew Flint (Manny); Patrick Fischler (Moe); Jerry Levine (Jack); Sabryn Genet. Premiação Uma indicação para o Independent Spirit Award - Melhor Ator (Kevin Spacey). Pantaleão consegue organizar o serviço de visitadoras Tudo pode ser organizado Uma nova tarefa, um meio pouco propício ao exercício da rigorosa ética dos quartéis, um oficial perfeccionista que aceita uma missão informal que o coloca na fronteira da ética. De um lado, um forte senso de responsabilidade; de outro, a descoberta de um universo que contraria bastante o mundo organizado do trabalho racional e disciplinado dos quartéis. Eis que o capitão Pantaleão Pantoja aceita a missão e põe-se a executá-la com sua habitual eficiência. A missão sui generis de Pantoja é organizar um serviço de atendimento sexual. Mas será que se pode organizar o impulso sexual? Até que ponto? Quais os riscos? Conciliando dois lados de sua personalidade, o capitão cumpre o seu dever, não sem experimentar os conflitos decorrentes da situação. Em Cartaz No exercício da missão, começa a desagradar sua jovem esposa e sofre de culpa por isso, mas não deixa que tais culpas o impeçam de fazer o que deve ser feito. Segue em frente. A seguir, encontra-se com suas próprias tentações, ao apaixonar-se por uma bela prostituta, que o leva a tomar decisões menos objetivas e racionais no trabalho, agravando seus conflitos interiores. De certa forma, Pantaleão sai do mundo asséptico da mais rigorosa moral, entra no mundo dos instintos e impulsos mais íntimos e poderosos, e emerge do outro lado intacto, conciliando cumprimento do dever e expressão da natureza humana. Originário de interessante romance homônimo de Mario Vargas Llosa, “Pantaleão e as Visitadoras” traz a lição da tensão entre a responsabilidade e o instinto, entre o dever e a vontade. De certa forma, mostra que a virtude acha-se no equilíbrio e que nas duas dimensões há espaço para um exercício profissional digno e ético. Um profissional e uma tarefa sui generis Um dedicado oficial do exército peruano, o capitão Pantaleão Pantoja (Salvador del Solar) é convocado para uma missão especial secreta. Com um histórico de excelentes serviços prestados ao exército, foi escolhido por sua competência para criar e implantar – com a identidade encoberta – um Serviço de Visitadora para Guarnições, Postos de Fronteiras e Afins (SVGPFA). Na verdade, prostitutas para saciar os desejos carnais dos jovens e vigorosos soldados. A missão originou-se do seguinte problema: na região de Iquitos estavam ocorrendo muitos estupros atribuídos a soldados do exército. O alto comando teve, então, a idéia de providenciar visitas regulares de prostitutas com a finalidade de satisfazer as necessidades fisiológicas dos homens, evitando os ataques a mulheres sérias. Pantaleão, casado com a bela Pochita (Mónica Sánchez), tem a cabeça mais voltada ao dever e menos às demandas sexuais da jovem esposa. Ele começa a organizar o serviço de visitadoras com a tradicional disciplina e aplicação que caracterizou seu histórico de 30 Ricardo de Almeida Prado Xavier servidor do exército. Conhece e passa a contar com a ajuda inestimável de uma velha cafetina de um bordel que estava prestes a fechar, a meretriz Chuchupe (Pilar Bardem), que passa a ser sua associada no serviço. Extremamente organizado e perfeccionista, começa a enfrentar o desafio de providenciar 104.712 “atendimentos” mensais aos soldados, o que necessitaria de 2.271 prostitutas. Acontece que ele só dispunha inicialmente, por restrições orçamentárias, de cinco, mas perfeccionista e responsável, procura fazer o melhor possível com o que tem à mão. A eficiência do serviço revela-se logo e a atividade começa a chamar a atenção, não só dentro das fileiras do exército, mas também de um batalhão de homens civis sem mulheres que moram na região Amazônica, por onde o barco colorido das “visitadoras” desfila com regularidade. Na organização do serviço, a que Pantoja dedica-se de corpo e alma, ele encontra-se com sua própria sensualidade e ela passa a expressar-se integralmente na relação com a mulher. Conduzindo suas tarefas com absoluta objetividade, ele vem a conhecer a Colombiana (Angie Capeda), legendária e bela prostituta da região, que passa a atrair seus olhares, levando-o a perder o foco e a disciplina. Pantoja acaba apaixonando-se por ela, vivendo um intenso conflito de valores em relação às suas responsabilidades de oficial e de culpa em relação à sua esposa então grávida. Começam a vazar aqui e ali notícias de que o exército peruano está oferecendo serviço de prostituta a seus homens. O radialista Sinchi (Aristóteles Picho), malandro que comanda o programa radiofônico “A Voz do Sinchi”, oportunisticamente procura Pantoja para chantageá-lo, sendo atirado ao rio por ordem deste. Isso enfureceu o chantagista, levando-o a revelar nas ondas do rádio tudo o que estava por trás do serviço das visitadoras. A mulher de Pantoja o abandona, para sua tristeza, e ele passa a tentar reconquistá-la ao mesmo tempo que mantém sua dedicação ao serviço que, com ajuda dos oficiais do exército, tenta levar avante abafando as notícias do rádio (acaba pagando suborno a Sinchi). Um incidente trágico viria a pôr fim ao serviço de visitadoras: um grupo de civis ribeirinhos tarados, após tentar em vão obter apoio 31 Em Cartaz do alto comando do exército para usar o serviço, ataca o barco das visitadoras. Militares aparecem em socorro e na confusão um dos agressores acaba atirando em Olga, a Colombiana, que morre. Entendendo que ela morreu a serviço da nação, Pantoja assume sua identidade militar, enterra-a com honras e declara em público a existência do serviço de visitadoras. Com o escândalo que se estabelece ele é aconselhado a pedir baixa, mas recusa-se a fazê-lo, sendo enviado para uma região longínqua como oficial responsável pela alfabetização em uma área de alta porcentagem de analfabetos. O amor ao exército e ao dever dão-lhe força para aceitar o serviço. Para lá vai com a esposa e o filho recém-nascido. Ali volta à sua antiga objetividade e racionalidade, empenhando-se de corpo e alma na execução eficaz da nova tarefa. Mas, lembranças da Colombiana fazem-no recordar daquele outro lado da vida. Mensagem: disciplina, flexibilidade, empenho Pode-se destacar uma mensagem para aprendizagem: a disciplina, somada à flexibilidade e ao empenho vence as tarefas mais desafiadoras e inovadoras. O capitão perfeccionista teve de aprender as regras de um mundo com o qual nunca convivera – usou sua vontade e seu empenho para aprendê-las e fazer uma síntese positiva. Recomendações O filme pode ser usado para questionamento do que é eficiência, as fronteiras entre o comportamento eticamente correto ou não no mundo da direção, o conflito entre a vontade e o dever etc. Também pode servir a uma discussão sobre fatores que levam ao sucesso na realização de uma missão, sobre missões sui generis, sobre aceitação de desafios. 32 Ricardo de Almeida Prado Xavier Lições de profissionalismo em ambiente de impulsos - A tarefa conduziu Pantoja ao mundo sem controle da sexualidade. Ali ele se manteve profissional e bem direcionado à sua missão. - Todos estão sujeitos à hesitação entre a vontade, as emoções e o comando racional. Pantoja caiu e quase perdeu sua racionalidade, mas soube recuperar-se. - A dedicação ao trabalho é uma condição de sucesso, mas o excesso pode levar à vivência exclusiva de uma dimensão da vida que aliene coisas importantes. É necessário equilíbrio. 33 Ficha Técnica Título: Pantaleão e as visitadoras (Pantaleón y las visitadoras) Gênero: Comédia/drama Duração: 137 minutos Ano de lançamento (Peru): 1999 Estúdio: America Producciones /Tornasol Filmes S.A. Direção: Francisco J. Lombardi l Roteiro: Giovanna Pollarolo, baseado em livro de Mario Vargas Llosa Música: Bingen Mendizabal Direção de Fotografia: Teodoro Delgado Edição: Danielle Fillios Elenco: Angie Cepeda (Colombiana); Salvador del Solar (Pantaleão Pantoja); Pilar Bardem (Chuchupe); Mónica Sánchez (Pochita); Tatiana Astengo (Pechuga); Norka Ramírez (Vanessa); Patty Cabrera (Lalita); Maricielo Effio (Salomé); Gianfranco Breros (General Collazos); Gustavo Bueno (Coronel López); Carlos Caniowski (Capelão Beltrán); Sergio Galliani (Tenente Bacacorso); Aristóteles Picho (Sinchi). Premiações Uma indicação ao Goya, categoria de Melhor Filme Estrangeiro em Língua Espanhola. Sete Kikitos de Ouro, no Festival de Gramado, nas categorias: Melhor Filme, Prêmio da Audiência, Prêmio do Júri, Melhor Diretor, Melhor Ator (Salvador del Solar), Melhor Roteiro e Melhor Edição. Melhor Ator (Salvador del Solar), no Festival de Cartagena. Grandes momentos em um domingo qualquer O que orienta o comportamento dos líderes? Dinheiro? Às vezes, sim, principalmente – é óbvio – no mundo empresarial. Mas, nem só de dinheiro vivem os líderes. Há ainda espaço para uma liderança baseada em valores não mercantis. Essa tem uma força maior e, se é possível ter o sucesso com a liderança baseada em dinheiro é igualmente possível ter sucesso com a liderança calcada em valores. Com um prêmio extra: uma vida mais rica e gratificante. O filme Um domingo qualquer traz uma história de liderança contrapondo três líderes: uma dona de equipe de futebol americano, o técnico e um novato que se revela grande astro e líder informal. Uma história de liderança orientada por valores Uma equipe de futebol americano vem passando por uma campanha ruim. A dona da equipe, a herdeira Christina Pagniacci (Cameron Diaz), anda insatisfeita, desejando mudanças para reverter os resultados. Entre os focos da mudança acha-se Tony D’Amato (Al Em Cartaz Pacino), o técnico, pretensamente ultrapassado. Eis que o principal artilheiro da equipe, Jack Rooney (Dennis Quaid), machuca-se em um jogo e em seu lugar entra o estreante reserva William Beaman (Jamie Foxx). Beaman logo se mostra espontâneo e diferente (vomita antes de iniciar sua atuação na partida), chamando a atenção da imprensa. Contudo, começa a revelar-se um grande jogador e torna-se o astro da equipe. Sobe para a fama rapidamente e expressa em público um pouco do que ele realmente é: alguém brilhante, líder, mas revoltado e sedento de agressão, uma reação contra sua condição de negro e segregado quando estava por baixo. A liderança de Beaman se faz presente no campo, opondo-se à do técnico D’Amato, que ele julga ultrapassado. No entanto, o estilo ácido de Beaman o leva a uma linha de confronto com a equipe e D’Amato, empenhado na construção da equipe e na defesa do time, reconstrói as relações, com um trabalho de bastidores. O time acaba vitorioso no campeonato, com o capitão Rooney, que contundido vinha-se achando em fim de carreira, tendo logrado um feito memorável em um jogo, habilitando-se a aposentar-se com honra e glória. A herdeira Christina Pagniacci, dando seqüência a seus planos de renovação, substitui D’Amato no comando da equipe, tendo preparado o terreno para ele sair com glória e, pretensamente, “pendurar a chuteira”. Mas, na cerimônia de despedida, D’Amato anuncia, para surpresa geral, que assumirá o comando de uma outra equipe, que lhe dará amplos poderes para fazer o que acha correto. E leva consigo o agora famoso e consagrado campeão Beaman, com quem veio a estabelecer uma relação de parceria construtiva e sólida. O comportamento de D’Amato e o de Beaman formam um sólido contraponto ao de Christina. E enquanto essa, diferentemente do pai, é uma herdeira voltada e orientada para a manutenção da fortuna e toma decisões com forte tônica mercantil, o técnico e o artilheiro orientam-se por valores. O filme deixa um espaço para a sobrevivência de todos e o sucesso de todos, mas deixa explícito que o sucesso de maior valor é o dos que se mantêm fiéis e resgatam os valores reais do jogo, da equipe, da competição. 36 Ricardo de Almeida Prado Xavier Mensagens para a correta orientação da liderança Três lições sobre liderança a considerar: - Uma visão exageradamente mercantil não convém ao sucesso, pois tende a afastar o líder das bases mais sólidas de sustentação do empreendimento. - Um líder formal que passa longa data na posição tende a adquirir vícios. Em situação de crise, esses são confrontados e o líder pode crescer, se adquirir a coragem de superá-los. - Um líder informal, espontâneo, eventualmente tem na própria força da espontaneidade um risco. Quando impulsos mais naturais não são adequadamente controlados eles podem pôr tudo a perder. Havendo um adequado gerenciamento, entretanto, tais impulsos tornam-se poderosos suportes ao desenvolvimento organizacional. Recomendações Especialmente recomendado para reflexões sobre liderança: - orientações e motivações do líder; - forças e fraquezas decorrentes das diversas orientações; - liderança formal x liderança informal; - estilo do líder e eficácia. 37 Ficha Técnica Título: Um domingo qualquer (ANY GIVEN SUNDAY) Gênero: Drama Duração: 165 minutos Ano de lançamento (EUA): 1999 Estúdio: Warner Bros. / Illusion Entertainment Distribuição: Warner Bros. Direção: Oliver Stone Roteiro: John Logan e Oliver Stone, baseado em história de Daniel Pyne e John Logan Produção: Dan Halsted, Lauren Shuler Donner e Clayton Townsend Música: Richard Horowitz, Paul Kelly e Robbie Robertson Direção de Fotografia: Salvatore Totino Desenho de Produção: Victor Kempster Direção de Arte: Derek R. Hill e Stella Vaccaro Figurino: Mary Zophres Edição: Stuart Levy, Thomas J. Nordberg, Keith Salmon e Stuart Waks Elenco: Al Pacino (Tony D’Amato); Cameron Diaz (Christina Pagniacci); Dennis Quaid (Jack Rooney); James Woods (Dr. Harvey Mandrake); Jamie Foxx (William Beaman); LL Cool J (Julian Washington); Matthew Modine (Dr. Alie Powers); Jim Brown (Montezuma Monroe); Charlton Heston (Comissário); Ann-Margret (Margaret Pagniacci); Aaron Eckhart (Nick Crozier); Lauren Holly (Cindy Rooney); Elizabeth Berkeley (Mandy); James Caviezel (James D’Amato); Oliver Stone (Comentarista de TV); Tom Sizemore. Qual é a senha para entender os fatos? Introdução O que é real? O que é apenas imaginação? Quem é “mocinho” e quem é bandido? A vida oferece situações que nos levam a perceber que essas certezas são frágeis. Muitas vezes aquilo que parece ser é apenas a sombra da realidade. Igualmente muitas vezes condenamos ou aprovamos comportamentos, mas nossa convicção para isso, quando fatos novos aparecem, poderá não ter a mesma força. Assim como precisamos de uma senha para entrar em um site de computador, precisamos de uma para acessar a verdadeira realidade. Nem sempre estamos preparados. Um hacker superqualificado pode quebrar a senha, os níveis de segurança, e descobrir um mundo novo. Quantos o conseguem. O filme A senha joga com o conceito de realidade e realidade aparente e as fronteiras frágeis entre uma e outra. Em Cartaz A história das “ilusões de óptica” Gabriel Shear (John Travolta) é um espião a serviço do governo americano, mas segue suas próprias normas e está disposto a proteger o american way of life a seu modo. Não tem nenhum conflito ético ao planejar e executar atos terroristas em todo o mundo, contra forças igualmente terroristas que ameacem o país. Acima dele, acha-se o senador Reisman (Sam Shepard). E em seu encalço está permanentemente o agente A. D. Roberts, do FBI, comprometido com a lei, que rejeita os métodos de Shear. Shear planeja realizar um grande roubo, para usar o dinheiro em financiamento de suas campanhas militares secretas. Para isso, o caminho é a Internet, a invasão de um site bancário e a retirada de milhões de dólares de contas de empresas de fachada. São empresas que a DEA (organismo americano de combate às drogas) criou décadas atrás e que hoje se acham desativadas, mas continuam tendo contas milionárias acumulando juros. O problema é: quem tem competência para quebrar a senha e invadir o site? A linda associada de Shear, Ginger (Halle Berry), fica encarregada de contatar e atrair para a operação um grande hacker, Stanley Jobson (Hugh Jackman), que se acha em liberdade condicional por ter invadido o site do FBI. Mostrando intenção de manter-se incorruptível, até mesmo de manter-se afastado dos computadores conforme decisão judicial, Jobson primeiramente rejeita qualquer aproximação com Shear. Entretanto, tem um ponto fraco que Ginger usa para seduzi-lo: sua filha Holly (Camryn Grimes) acha-se sob guarda da mãe, ex-esposa de Jobson, hoje casada com um produtor de filmes pornô que a usa nos filmes. Jobson hoje não tem a menor condição de mover uma ação judicial para retomar a guarda da filha e é obrigado a manter-se afastado dela, por decisão judicial que foi obtida pelos advogados bem pagos do padrasto da menina. Ginger oferece cem mil dólares a Jobson para uma mera entrevista com Shear. Movido pelo dinheiro que seria usado em causa nobre, ele vai, porém em circunstâncias especiais do encontro vê que não terá como não ser o agente hacker de Shear, mas terá uma compensação de dez milhões 40 Ricardo de Almeida Prado Xavier de dólares para quebrar o código e invadir o site do banco. Um nível de aproximação e intimidade estabelece-se entre ele e Ginger, que apresenta-se sigilosamente como agente da DEA infiltrada na equipe do espião para proteger as contas e pegar o chefe de Shear. Durante todo o tempo ele se mantém em profundo conflito de valores: ora colaborando com Shear, fazendo algo que não aceita, para ver a filha, ora fazendo o que Shear manda para sobreviver, ora colaborando para salvar Ginger que pretensamente seria morta pelo espião. Para a invasão do site é necessário acesso a computadores da rede bancária. Shear planeja então a simulação de um roubo espetacular a uma agência bancária, durante o qual Jobson faria o seu trabalho, transferindo o dinheiro das empresas desativadas da DEA para contas de fantasmas na Suíça. O lado menos romântico do charmoso terrorista “do bem” Shear se revela então, com a disposição de aceitar a morte de reféns e policiais para a realização da meta. Jobson, trabalhando dentro da agência dominada pelo grupo, pretensamente faz as transferências, e está livre para ficar com a filha, como Shear prometeu. No entanto, tentou aplicar um golpe no espião, fazendo com que a transferência seja só aparente, o que é descoberto por Shear. Este manda seus agentes pegarem Ginger e pendurá-la pelo pescoço para morrer caso Jobson não consiga reverter imediatamente o mecanismo de transferência falsa e efetuar as reais. Para salvar Ginger, Jobson o faz, mas mesmo assim Shear atira nela, dizendo que havia descoberto que ela era agente da DEA. Agora o grupo vai abandonar a agência, que está cercada pela polícia e por agentes chefiados por Roberts, e fugir. Há um confronto espetacular e uma batalha de táticas para a fuga do bando, incluindo a elevação de um ônibus por um helicóptero. Nas cenas da fuga, Shear e seus aliados deixam o ônibus no topo de um prédio, e tomam o helicóptero, mas Jobson consegue fazer justiça, explodindo a aeronave com um tiro de bazuca. A história caminha para o fim, com Jobson e o agente Roberts reconhecendo o cadáver de Shear no necrotério. Lembranças de palavras do detetive sobre a ilusão, mencionando que se acredita no que se vê e ouve, fazem soar um sinal de alerta e dúvida na mente do ex-hacker. Contudo, ele segue sua vida, agora com a filha (o padrasto e a mãe foram assassinados, supostamente pelos aliados de Shear). 41 Em Cartaz A figura de Ginger então aparece em um banco, consumando as transferências. Nas cenas seguintes ela encontra-se com Shear em um iate. Aparecem notícias de jornal de que um grande terrorista árabe foi morto quando seu navio foi destruído por bombas. O jogo das ilusões levou à cena das mortes de Shear, Ginger e aliados, mas acham-se bem vivos e atuantes. Mensagem Nem sempre se pode confiar no que se está vendo ou ouvindo. Uma realidade aparente encobre, eventualmente, os fatos reais. Recomendações Esse filme pode ser usado para alertar sobre a ilusão, para desenvolver o senso de observação e o senso crítico, para treinar o profissional a não ter “certezas” vulneráveis. Todo profissional pode beneficiar-se com o acompanhamento cuidadoso da história, mas em algumas profissões os benefícios serão ainda maiores. Aqui incluem-se: - auditores; - pessoal de segurança; - advogados; - pessoal de compras e negociações. Lições contra a vulnerabilidade da percepção e visão pessoal - O paradigma com que cada um opera é uma fonte de erro. Ele traz um modo de perceber e julgar que eventualmente não representa uma melhor avaliação e entendimento dos fatos. 42 Ricardo de Almeida Prado Xavier - Primeiro, o paradigma nos ensina a ver e ouvir, mas nesse ensinamento há limitações. Às vezes vemos e ouvimos o que não existe e deixamos de assimilar os fatos reais. A Senha é um quebracabeças que nos leva a perceber que nossa percepção falha. Segundo, o paradigma inclui julgamentos sobre o certo e o errado, o justo e o injusto, mas esses são complexos. Se nos ativermos às primeiras e mais simples respostas, podemos falhar na verdadeira justiça. Pode-se cometer ataques terroristas para salvar um nação contra ataques terroristas? Pode-se sacrificar algumas pessoas para evitar que milhares morram? É correto aceitar um suborno para garantir a presença da filha? Essas questões estão em jogo no filme. 43 Ficha Técnica Título: A senha (Swordfish) Gênero: Thriller Duração: 100 minutos Ano de lançamento (EUA): 2001 Estúdio: Warner Bros/Jonathan Krane Group/Silver Pictures/ Village Roadshow Productions Distribuição: Warner Bros Direção: Dominic Sena Roteiro: Skip Woods Produção: Jonathan D. Krane, Joel Silver e Paul Winze Música: Paul Oakenfold e Christopher Young Direção de Fotografia: Paul Cameron Desenho de Produção: Jeff Mann Direção de Arte: Geoff Hubbard e Jeff Wallace Figurino: Ha Nguyen Edição: Stephen E. Rivkin Efeitos Especiais: Frantic Films Elenco: John Travolta (Gabriel Shear); Hugh Jackman (Stanley Jobson); Halle Berry (Ginger); Don Cheadle (Agente A. D. Roberts); Vinnie Jones (Marco); Camryn Grimes (Holly Jobson); Zach Grenier (A. D. Joy); Angelo Pagan (Torres); Sam Shepard (senador Reisman). Decisões, ação e emoções no limite Introdução De onde vem a determinação que leva alguém a vencer grandes desafios, como a escalada de uma montanha perigosa, em situação de alto risco? Tudo começa em uma real compreensão da missão pessoal. Depois, isso passa pela decisão – a firmeza para escolher o certo, mesmo que a escolha seja muito difícil. A vida impõe decisões difíceis e há necessidade de agir para que elas se concretizem, por mais dolorosas que sejam. O indivíduo não tem como evitá-las, mesmo que sejam aquelas decisões mais angustiantes, envolvendo pessoas queridas, situações de perda potencial séria. A tomada de decisões dessa natureza necessariamente traz um potencial colapso emocional, que poderá agravar os males resultantes da situação inevitável. É necessário decidir, por maior que sejam o estresse e a angústia da decisão. E, mais que isso: é imprescindível agir, para executar aquilo que foi decidido, apesar do medo, da dor da perda e da dúvida. A determinação leva ao sucesso. Em Cartaz Uma história de sentimentos e ação Peter Garrett (Chris O’Donnell) e Annie Garret (Robin Tunney) presenciaram a morte do pai, Royce Garret (Stuart Wilson), quando os três estavam escalando e ocorreu um acidente que os colocou em situação dramática. Royce, o terceiro na fila de uma corda de segurança, a centenas de metros de altura, pediu ao filho Peter que cortasse a corda, deixando-o cair, mas preservando Peter e a irmã Annie, já que a corda não aguentaria o peso dos três. Peter se viu diante de uma decisão das mais difíceis e optou por obedecer o pai, cortando a corda. A partir desse incidente, ele e a irmã seguiram caminhos diferentes. Ele abandonou o alpinismo e tornou-se fotógrafo da National Geographic. A irmã tornou-se jornalista, mas não abandonou o alpinismo, destacando-se no esporte. Afastaram-se, com dificuldade para a convivência em decorrência da lembrança traumática. Um encontro se dá quando Peter, fotografando animais no Paquistão, soube da presença da irmã na área e vai procurá-la. Ela estava a serviço de um milionário excêntrico e “marqueteiro”, Elliot Vaughn (Bill Paxton), que decidiu escalar a K2, montanha de 8.611 metros, na Cordilheira Karkoram, para lançar sua companhia aérea. A escalada, para a data prevista, apresentava condições climáticas completamente desfavoráveis, mas Vaughn decide ir assim mesmo, contrariando conselhos dos maiores conhecedores de alpinismo. Annie vai junto. Ocorre um acidente e eles se vêem presos a milhares de metros de altitude, sob intensa tempestade. Peter organiza então uma excursão de salvamento, voltando à prática do alpinismo. Mensagem Decisão e determinação formam a base de sucesso vencendo grandes desafios. 46 Ricardo de Almeida Prado Xavier Recomendações O filme é útil não só para profissionais da área gerencial, mas também para profissionais de áreas como segurança ou que realizam trabalhos que implicam decisões de risco. Lições das dificuldades Entre outras, pode-se atentar para as seguintes lições: - Um dos grandes desafios para o ser humano é a tomada de decisões. Nem sempre as decisões são adotadas em situação favorável, agradável, amena. Muitas decisões envolvem perdas, dificuldades de relacionamentos, riscos. Agradáveis ou não, a pessoa tem de decidirse. Peter Garret teve de tomar uma decisão das mais angustiantes: cortar a corda e lançar o próprio pai à morte, para salvar a irmã e a si mesmo. Neste momento, não decidir já é uma decisão – o que poderia significar a morte dos três. Não obstante as enormes emoções envolvidas, ele conseguiu ser racional e cortou a corda. - As emoções estão sempre na base das decisões difíceis. Entre elas, podemos destacar a frustração, a tristeza, o medo, a culpa. Um administrador tem de decidir freqüentemente em situações de intenso quadro emocional – a demissão de um funcionário, por exemplo. O domínio das emoções, o aprendizado das decisões eficazes no quadro emocional, são coisas imprescindíveis ao sucesso. Com o mesmo quadro emocional, a morte do pai, Annie e Peter tomaram decisões diferentes – ela continuou alpinista; ele abandonou a atividade. Os caminhos diferentes levam não só a conseqüências, mas também a resultados diferentes, tanto em termos subjetivos quanto em termos objetivos. - As emoções impulsionam à ação. A própria origem da palavra emoção, o sentido etimológico, já diz isso. Emoção é algo que leva ao movimento. Domínio emocional é usar as emoções “boas” (alegria, amor) para impulsionar ações positivas e tirar das “ruins” (tristeza, mágoa) decisões positivas e adequadas também. Montegomery 47 Em Cartaz Wick (Scott Glenn) odiava o milionário Vaughn porque o via como responsável pela morte de sua esposa – e desejava matá-lo. Contudo, quando houve a oportunidade para consumar sua ação, decidiu não fazê-lo, mantendo sua integridade. - Emoções também “derrubam”. Dependendo de como o indivíduo lida com elas, elas podem travar. Peter abandonou o alpinismo após a morte do pai. Annie, por sua vez, relutava em pensar sobre o pai e o incidente – negativa que a prejudicava. Há necessidade de evitar essa “barreira” criada pelas próprias emoções. A pergunta é: “Você não está fazendo isso ou aquilo porque decidiu não fazê-lo ou porque tem medo (ou outra emoção que barra)?” - O que deve comandar o ser humano: o coração (emoções) ou a cabeça (racional)? As emoções são fundamentais, elas podem fornecer a necessária energia, mas têm de ser acionadas a partir da mente. O racional fica no comando, digamos assim, mas não deixa de considerar as emoções. Decisões no limite (deixar uma pessoa morrer para salvar duas, por exemplo) têm de ser racionais. No filme, vários dos personagens tomam decisões no limite e fica uma lição de que os genuinamente profissionais mantêm a racionalidade. Um profissional, antes de mais nada, tem de ter controle emocional. Nem tudo na vida são tarefas fáceis. Tarefas em situação limite, quando o desafio é levado ao extremo trazem um forte estresse, mas também trarão um extraordinário aprendizado. 48 Ficha Técnica Título: Limite vertical (Vertical Limit) Duração: 111 minutos Ano de Lançamento (EUA): 2000 Estúdio: Columbia Pictures Distribuição: Columbia Pictures / Sony Pictures Entertainment Direção: Martin Campbell Roteiro: Robert King, baseado em roteiro de Robert King e Terry Hayes Produção: Martin Campbell, Robert King e Marcia Nasatir Música: James Newton Howard Direção de Fotografia: David Tattershall Desenho de Produção: Jon Bunker Direção de arte: Nick Bassett, Jill Cormack e Kim Sinclair Figurino: Graciela Mazón Edição: Thom Noble Elenco: Peter Garrett (Chris O’Donnell); Elliot Vaughn (Bill Paxton); Annie Garret (Robin Tunney); Montegomery Wick (Scott Glenn); Monique Aubertine (Izabella Scorupco); Rasul (Temuera Morrison); Royce Garret (Stuart Wilson); Tom Mclaren (Nicholas Lea); Kareem Nazir (Alexander Siddig); Taylor (Robert Taylor); Coronel Amir Salem (Roshan Seth); Frank Williams (David Hayman); Malcolm Bench (Ben Mendelsohn); Cyril Bench (Steve Le Marquand). Sempre é tempo de recomeçar Há um bom princípio comportamental que diz que nunca é cedo demais e nunca é tarde demais. A hora para fazer a coisa certa é agora e o lugar é aqui. Não importa que o passado tenha sido uma experiência de erros e nem importa que o futuro seja curto, pela aproximação da morte. O personagem de Tempo de recomeçar acordou para a necessidade de fazer algo significativo com sua vida justamente quando, tendo tomado conhecimento de que estava com câncer, foi demitido do emprego sem sentido ao qual se dedicava. A casa, em termos simbólicos, é a representação do self, da psique humana. Destruir uma casa e construir outra, o que faz o personagem do filme, é mudar os conteúdos da própria mente. Mudando-se a mente, muda-se a própria vida – o jeito de ver o mundo e os reflexos que o mundo traz em função do que somos. A casa é a vida George Monroe (Kevin Kline) é um arquiteto que detesta o trabalho, no qual está há 20 anos. Em algum momento de sua vida, as coisas perderam a beleza e ele deixou que tudo se deteriorasse. Em Cartaz Divorciou-se, afastou-se do filho amado, abandonou os sonhos e simplesmente ia levando a vida. Eis que agora descobriu que tem poucos meses de vida, pois um câncer fora do controle consome seu estômago. Coincidentemente, é demitido por resistir à modernização de seu trabalho, construção de maquetes, que deveria passar a usar intensivamente o computador. Então, algo acontece. Decide que dedicará o tempo que lhe resta a construir uma casa, algo que sempre sonhou. A construção da casa começa a juntar os personagens centrais da sua vida. A ex-esposa Robin (Kristin Scott Thomas), agora casada e com dificuldade em lidar com o filho dos dois, Sam (Hayden Christensen), um adolescente viciado radical, revoltado e difícil, que odeia os pais e, por más companhias, vem correndo o risco de tornarse um traficante de drogas. George leva o filho para a casa velha em que morava, que pretende demolir e colocar uma nova no lugar. Sua idéia é aproximar-se do filho, nas férias de verão, enquanto se dedica à demolição da casa que lhe foi deixada pelo próprio pai, que ele igualmente detestava. A princípio, George é o único a apostar em seu sonho de construir a casa, mas aos poucos a ex-esposa passa a ajudá-lo e também o filho. Na construção da casa todos acham o caminho para a reconstrução de suas vidas. Um apelo à busca da mente saudável, esta é a mensagem A mensagem central do filme é a necessidade de se buscar uma mente saudável. A mente doentia leva à morte, em sentido figurado e até em sentido literal. O personagem deu um basta na visão negativa e passiva da vida e no lugar dela criou uma mente saudável, que salvou o que restava da sua vida. 52 Ricardo de Almeida Prado Xavier Recomendações O filme pode ser usado para discutir o impacto da mente negativa sobre o trabalho e a vida da pessoa e também sobre o impacto do trabalho sem sentido sobre a mente. O que vem primeiro? Também é válido como inspirador de questionamentos sobre os papéis que vivemos e até que ponto cada um está sendo adequado ao seu papel. O que é um bom pai? Um bom marido? Um bom funcionário? Um bom profissional? Por fim, ele leva também a boas discussões sobre a mudança de vida e a preservação da qualidade de vida. Por que as pessoas deixam sua vida deteriorar-se? O que fazer para impedi-lo? Lições da casa - Sua mente é uma casa, sua vida é a casa. Que tipo de casa é? Quem a construiu? Com que critérios? - Quem não tem uma mente saudável não pode ter prazer e nem produzir qualidade no trabalho, assim como não pode ter relações saudáveis – com esposa, filhos, colegas. O personagem morava em uma casa horrível, herança de seu pai que jamais conseguiu ter uma mente saudável. Ele mudou esse destino trágico, de repetir a vida do pai. Embora tenha mudado quando a morte se aproximou, ele o fez e nunca é tarde demais. O ser humano saudável muda, reconstrói a sua casa. 53 Ficha Técnica Título: Tempo de recomeçar (Life is a House) Gênero: Drama Duração: 145 minutos Ano de lançamento (EUA): 2001 Estúdio: Winkler Films Distribuição: New Line Cinema Direção: Irwin Winkler Roteiro: Mark Andrus Produção: Rob Cowan e Irwin Winkler Música: Mark Isham Direção de Fotografia: Vilmos Zsigmond Desenho de Produção: J. Dennis Washington Direção de Arte: Thomas T. Taylor Figurino: Molly Maginnis Edição: Julie Monroe Elenco: Kevin Kline (George Monroe); Kristin Scott Thomas (Robin); Hayden Christensen (Sam); Jena Malone (Alyssa); Mary Steenburgen (Coleen); Mike Weinberg (Adam); Scotty Leavenworth (Ryan); Ian Somerhalder (Josh); Jamey Sheridan (Peter); Scott Bakula (Kurt Walker); Sam Robards (David Dokos); John Pankow (Bryan Burke); Kim Delgado (Bob Larson). Premiação Indicação ao Globo de Ouro, na categoria de Melhor Ator Coadjuvante (Hayden Christensen). Sem espaço para a concorrência desleal Fazer negócios, concorrer, tentar vencer a concorrência – tudo isso é legítimo, mas tudo isso refere-se apenas a uma dimensão limitada da vida. Nem todos são capazes de perceber, aceitar ou colocar em prática esse valor. Açoitados pelas dificuldades da vida ou pela ambição, muitos são os que transformam concorrentes em inimigos e passam a linha divisória dos valores humanos mais sagrados para, em lances oportunistas, levar vantagem. Imaginemos uma situação dramática em que o concorrente está prestes a ser vítima de uma grande injustiça. De um lado, a solidariedade humana dos bons chama a uma ação de apoio; de outro, eventualmente impulsos oportunistas ganham terreno. Os homens se tornam conhecidos efetivamente nesta hora – quem se alinha com o bem? E quem se mantém orientado pelo oportunismo vil? Eis um filme comovente de Ettore Scola, que mostra o comportamento de um comerciante simples da Itália, que diante da situação de ameaça a valores humanos mais fundamentais soube colocar os negócios em seu devido lugar, ou seja, subordinados a algo maior que eles. Em Cartaz Mensagem: quando a dignidade é ameaçada, a concorrência torna-se menos importante Roma, 1938, com as tristes figuras do facismo começando a mostrar as garras. Umberto (Diego Abatantuono) tem um pequeno negócio, uma alfaiataria, mas vem perdendo terreno para o vizinho concorrente, Leone (Sergio Castellitto), que vende roupas prontas, a preços mais baixos. Voltado para as características substantivas do negócio – o conhecimento de tecidos, a tradição, a sustentação do nível de qualidade –, Umberto é um empreendedor avesso à inovação, mas ensaia umas alternativas aqui e ali, à medida que seu faturamento cai. A disputa mantém afastados e formais os dois comerciantes, mas as famílias vivem próximas, com laços de amizade, a começar pelos filhos garotos de ambos. Com o esquentamento da disputa comercial, eis que Umberto perde a cabeça e acaba revelando que Leone é judeu. Chamados os dois à delegacia, abre-se uma diferença significativa entre ambos quando o comissário de polícia, ligado ao facismo, tenta atrair a colaboração de Umberto, procurando fazer com que se dispusesse a delatar fatos comprometedores sobre o concorrente judeu. Nesse momento, começa a surgir no alfaiate a forte consciência de que disputas de negócio são algo menor diante da ameaça a valores humanos mais fundamentais que vinha rondando a todos. Em pequenos mas significativos gestos, Umberto mantém-se ao lado do concorrente que começa a ser perseguido. Vai visitá-lo quando este cai doente, reconciliam-se, Umberto apresenta sua verdadeira face, recusando-se a comprar o negócio do concorrente que se dispôs a vendê-lo a qualquer preço. O apoio mais moral e social de Umberto não foi, naturalmente, suficiente para deter o mal que estava em curso: Leone acaba vendendo o negócio e a família muda-se para um local pretensamente mais protegido contra o facismo. 56 Ricardo de Almeida Prado Xavier No ambiente de perseguição de judeus que a Itália vivia, a viagem da família de Leone não deixa muito para trás, nem tem muito horizonte à frente. Entretanto, o pouco que fica do episódio é a esperança, que pode ser sustentada enquanto houver dignidade e a vida não se resumir a manipulações de negócios e poder. Recomendações É um excelente filme para reflexão sobre: - limites éticos da concorrência; - escala e hierarquização de valores pessoais; - visão da concorrência e seu impacto sobre os negócios; - tomada de decisões éticas em situações de pressão; - negócios e vida, seu entrelaçamento . Umberto mudou seus sentimentos em relação ao concorrente quando a situação mudou. Contudo, ele foi submetido a pressão e risco, por alinhar-se com o judeu perseguido. Os personagens são testados aqui quanto à solidez de seus valores. Lições fundamentais de hierarquia de valores Todos somos orientados por valores. De onde eles vêm? Vêm de uma reflexão adequada sobre o que realmente importa na vida, ou entraram em nossa mente de modo irrefletido? É fundamental que a pessoa conheça bem seus valores e os coloque em uma hierarquia capaz de dar a melhor resposta quando se está em situações-limite. 57 Ficha Técnica Título: Concorrência desleal (Concorrenza Sleale) Gênero: Drama Duração: 110 minutos Ano de lançamento (Itália): 2001 Estúdio: Medusa Produzione/Filmtel/Telepiù Direção: Ettore Scolal Roteiro: Fulvio Scarpelli, Furio Scarpelli, Giacomo Scarpelli, Ettore Scola e Silvia Scolla Produção: Franco Committeri Música: Armando Trovajoli Direção de Fotografia: Franco Di Giacomo Desenho de Produção: Cinzia Lo Fazio e Luciano Ricceri Figurino: Odette Nicoletti Edição: Raimondo Crociani Elenco: Diego Abatantuono (Umberto); Sergio Castellitto (Leone); Gérard Depardieu (Angelo); Jean-Claude Brialy (Nonno Mattia); Claude Rich (Conde Treuberg); Claudio Bigagli; Anita Zagaria; Antonella Attili; Augusto Fornari; Elio Germano; Gioia Spaziani; Sabrina Impacciatore; Rolando Ravello. Premiação Melhor Diretor, no Festival Internacional de Moscou. Quando a coisa aperta, é tudo ou nada Quem disse que precisa ser sexy para montar um show de strip-tease? O que é necessário, isto sim, é coragem para mudar. O desemprego chega e é necessário achar alguma solução criativa. Seis desempregados de uma pequena cidade inglesa acharam a sua solução – um tanto ousada, mas uma solução. O desemprego, principalmente o desemprego prolongado causado por dificuldades econômicas (caso do filme), traz resultados perversos sobre o quadro emocional e comportamental das pessoas. Abala a auto-estima, compromete a motivação, causa ansiedade e apreensão, alimenta o pessimismo e as idéias catastróficas. Em alguns casos, leva ao suicídio. Como reagir diante dele? A primeira regra básica é reagir – e não se entregar. Isso quer dizer, adotar posturas proativas de busca de solução. Tentar um caminho ou outro, por si só, já traz resultados positivos. Os operários ingleses retratados nessa comédia interessante e gostosa, optaram por uma solução radical – tornar-se strippers. Podemos não concordar com a alternativa, mas somos obrigados a concordar com a idéia de buscar alternativas, o que eles fizeram. Em Cartaz Uma história de mudança pessoal O desemprego em uma cidade decadente da Inglaterra, Sheffield, outrora um centro de economia pujante impulsionada pela produção de aço, causa um conjunto de dramas pessoais na vida de operários de chão de fábrica. Gaz (Robert Carlyle) é o pai amoroso e envolvido com o garoto Nathan (William Snape), mas com dificuldade em encontrar um emprego com o qual se identifique e, por isso, com as pensões atrasadas e com o risco de ser afastado do filho. Gerald (Tom Wilkinson), um ex-supervisor de fábrica, orgulhoso de seu cargo, com padrão de vida elevado e uma esposa exigente, há seis meses vem escondendo dela sua condição de desempregado e falido. Dave (Mark Addy), amigo e cunhado de Gaz, também é um marido com a auto-estima abalada, atormentado pela impotência, pelas cobranças da esposa e pelo medo de ser traído por ela. Lomper (Steve Huison) mora com a mãe, tem um emprego sem sentido, sofre de solidão e tenta o suicídio. Todos acabam, juntos com Horse (Paul Barber) e Guy (Hugo Speer), formando um grupo que decide fazer um espetáculo de strip-tease para ganhar dinheiro e resolver seus problemas mais imediatos. Um detalhe simples: não são homens bonitos ou fisicamente em ordem, não sabem dançar, não têm nenhuma experiência artística. Apesar de todos os problemas, a idéia toma conta de todos, dando um sentido às suas vidas tão devastadas pelo desemprego – e eis que põem em prática a idéia. Mensagem: just do it! As dificuldades chegam, muitas pessoas paralisam-se. É importante reagir, buscar alternativas. Então, vem o medo do desconhecido e o desconforto de passar pelas mudanças pessoais que a visada alternativa exige. É nessa hora que as pessoas dão um salto para o desconhecido, “reinventam-se” e sobrevivem com capacidade de retomar sua auto-estima. 60 Ricardo de Almeida Prado Xavier Recomendações O filme é recomendado para discussões sobre o desemprego e seu impacto corrosivo, sobre os efeitos do desemprego nas vidas familiares, sobre como cada um está preparado para a eventualidade do desemprego. E também para a discussão sobre a busca de alternativa, a reação diante da situação adversa. Pode ser usado também para a discussão sobre auto-estima e suas bases de sustentação. Lições de mudança - Ser aquilo que nunca se foi – eis o que é, em última instância, mudar. - Isso requer coragem e aceitação do risco – vencer o medo é fundamental. - O prêmio é alto, porém, para quem efetivamente aceita mudar seu modo de pensar, sentir e agir para encontrar soluções para sua vida. - Ao mudar, a auto-estima volta, a alegria de viver é retomada, e a pessoa acha-se mais preparada para vencer seus desafios. - Diante de idéias novas e nunca imaginadas a tendência natural é dizer “não” sem pensar, mas aí pode estar uma boa solução. Uma grande quebrança de paradigmas: operários comuns tornam-se strippers. Por que não tentar uma grande mudança, quando o mundo a pede? 61 Ficha Técnica Título: Ou tudo ou nada (The Full Monty) Gênero: Comédia Duração: 90 minutos Ano de lançamento (EUA): 1997 Estúdio: 20th Century Fox / Channel Four Films / Redwave Films Distribuição: 20th Century Fox Film Corporation Direção: Peter Cattaneo Roteiro: Simon Beauford Produção: Uberto Pasolini Música: Anne Dudley Direção de Fotografia: John de Borman Desenho de Produção: Max Gottlieb Direção de Arte: Chris Roope Figurino: Jill Taylor Edição: David Freeman e Nicholas Moore Elenco: Robert Carlyle (Gaz); Mark Addy (Dave); William Snape (Nathan); Steve Huison (Lomper); Tom Wilkinson (Gerald); Paul Barber (Horse); Hugo Speer (Guy); Leslay Sharp (Jean); Emily Woof (Mandy); Deirdre Costello (Linda); Paul Butterworth (Barry); Dave Hill (Alan); Bruce Jones (Reg); Andrew Livingstone (Terry). Premiações Oscar de Melhor Trilha Sonora - Comédia/Musical, com indicação em outras três categorias: Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Original. Indicação ao Globo de Ouro - Melhor Filme - Comédia/ Musical. Indicação ao Cesar, na categoria de melhor filme estrangeiro. Melhor Filme Europeu, no Goya Awards. Melhor Filme - voto público - Festival de Edimburgo. Quem está no comando entre os suspeitos Cinco homens são suspeitos de um crime. Um é o líder e pretenso articulador de um estratagema espetacular. Contudo, no mundo da estratégia, as informações são sempre incertas, os riscos grandes, as oportunidades e ameaças vêm e vão. Nesse contexto, que pode ter analogia com outros campos da vida humana, como o mundo dos negócios, é necessário estar atento. Esse filme traz uma história eletrizante de crime intelectualmente arquitetado. Pode-se aprender por meio dele a desenvolver a atenção para identificar pistas e oportunidades. A história: a hora e o lugar criam a oportunidade Um navio ancorado sofre uma explosão. Quando a polícia chega, percebe que ele foi arena de uma sangrenta batalha de gangues da qual sobraram 27 corpos e duas testemunhas vivas. Uma delas é um húngaro agonizante e a outra um ladrão inexpressivo portador de defeito físico. Diante da suspeita de que a batalha teria uma importância significativa e que um marginal da pesada teria alguma coisa a ver com tudo, o ex-tira Dean Keaton (Gabriel Byrne) interroga Em Cartaz os sobreviventes. Nos depoimentos ao policial Dave Kujan (Chazz Palminteri), que anda há vários anos no encalço de Keaton, emerge a figura de Keyser Soze, um legendário marginal húngaro consagrado pela crueldade. Mas existe mesmo Keyser Soze? Kujan não acredita e suspeita que Keaton é ele, na verdade. As revelações do húngaro agonizante não passaram de menção ao nome de Soze, mas as do aleijado Verbal Kint (Kevin Spacey), o pretenso ladrão barato, trazem uma história mirabolante. Tudo teria começado quando Keaton – agora passando-se por bandido reformado e namorado de uma bela advogada, Edie Finneran (Suzy Armis) – e integrantes de seu antigo bando foram detidos, suspeitos do roubo de um caminhão de armas, pretensamente desculpa da polícia para chegar no caso mais significativo. Kint foi colocado com eles para reconhecimento de testemunhas, simplesmente, na sua visão, para confundir eventuais testemunhos do reconhecimento. A advogada solta Keaton da cadeia logo a seguir, porque não há provas contra ele, e Kint – que também sai – é envolvido pelos integrantes do antigo bando do ex-tira e é escalado a convencê-lo a praticarem em grupo um novo assalto. A partir daí começa o envolvimento do ladrão barato Kint com Keaton, seu bando e outros marginais da pesada. O bando é recrutado mais ou menos à força pelo advogado Kobayashi (Pete Postlethwaite), pretensamente a mando de Kyser Soze, para invadir um navio argentino, retirar de lá um carregamento de cocaína de 91 milhões de dólares, reter o dinheiro e entregar a droga ao famoso marginal. Segundo Kint, na batalha todos os outros integrantes do bando de Keaton e também ele morrem. Durante a batalha se percebeu que não havia cocaína nenhuma e que tudo havia sido simulado por Soze para pegar um desafeto. Um detalhe significativo: antes de seu depoimento ao tira Kujan, já ficara patente para o último que Kint estava gozando de proteção de alguém da pesada. Kujan não teve como retê-lo e ele sai. De repente, Kujan percebe que ele poderia estar vinculado a Soze e corre para encontrá-lo na rua, mas ele já havia pegado o carro dirigido pelo advogado Kobayashi e partido! Concluindo: Kint, o ladrão barato e insignificante, com defeito físico (que na verdade não tinha), saiu vivo e bem da complicada 64 Ricardo de Almeida Prado Xavier história e da carnificina. Quem é ele? Aproveitou a oportunidade ou a criou? Isso não fica claro. Mensagem Mesmo focalizando o mundo do crime, o filme mostra algumas lições que podem ser trazidas para a vida prática de gente do bem – nosso interesse nesse livro. A primeira delas é que aproveitar as oportunidades é o melhor caminho para o sucesso (o sucesso do bandido Kint o mostrou). A segunda é que as oportunidades estão nas pessoas. Mais: há pessoas que criam oportunidades – seria o caso de Kint? Recomendações - Pode-se usar o filme para refletir sobre oportunidades e seu aproveitamento ou sua criação, por exemplo. Especial atenção ao personagem Verbal Kint ajudará nisso. - Pode-se também usar o filme para treino da atenção. Como é uma história das mais intrincadas e complicadas, tem de ser acompanhada com absoluta concentração. Muitas situações de trabalho exigem igual comportamento – e a analogia pode ser feita nesse sentido. Lições sobre o mundo da estratégia Estratégia implica competição, forças adversárias, uso de informações e permanente tentativa de esconder essas informações das partes em oposição – um jogo complexo. Pelo menos quatro lições podemos tirar das reflexões sobre o filme: 1. Informação é o recurso-chave da estratégia. Toda atenção a qualquer mínima pista é fundamental. 2. As oportunidades apresentam-se e devem ser aproveitadas no momento certo. 3. As oportunidades vêm por meio das pessoas. 4. Nunca se deve subestimar ninguém e nem fechar a mente por meio de idéias preconcebidas. 65 Ficha Técnica Título: Os suspeitos (The Usual Suspects) Gênero: Policial Duração: 105 minutos Ano de Lançamento (EUA): 1995 Estúdio: Polygram Direção: Bryan Singer Roteiro: Christopher McQuarrie Produção: Michael McDonnell e Bryan Singer Música: John Ottman Direção de Fotografia: Tom Sigel Desenho de Produção: Howard Cummings Figurino: Louise Mingenbach Edição: John Ottman Elenco: Gabriel Byrne (Dean Keaton); Stephen Baldwin (Michael McManus); Benicio Del Toro (Fred Fenster); Kevin Pollak (Todd Hockney); Kevin Spacey (Verbal Kint); Chazz Palminteri (Dave Kujan); Pete Postlethwaite (Kobayashi); Suzy Armis (Edie Finneran); Giancarlo Esposito (Jack Baer); Dan Hedaya (Jeff Rabin); Christine Estabook (Dra. Plummer). Premiações Dois Oscars: Melhor Roteiro Original e Melhor Ator Coadjuvante (Kevin Spacey). Uma indicação ao Globo de Ouro - Melhor Ator Coadjuvante (Kevin Spacey). Recebeu ainda dois prêmios no Independent Spirit Awards - Melhor Roteiro e Melhor Ator Coadjuvante (Benicio Del Toro), e foi indicado como Melhor Fotografia. Quem faz as regras da vida Trabalhadores temporários habitam uma “cider house”, a casa em que as maçãs da fazenda, colhidas por eles, são transformadas em sidra. Na parede há um conjunto de regras, como, por exemplo, a de que não se deve fumar na cama. As regras não dizem nada para eles, não foram feitas por eles, mas por quem não percebe suas necessidades e aspirações. Esse episódio é emblemático neste filme artístico de alto poder de emocionar. O filme trata da questão que todo ser humano vive: a escolha entre seguir as regras ou não. Quem faz as regras? São justas? Levam ao bem? Nem tudo que é legal é justo. Para promover o bem ou para serem felizes os personagens centrais de Regras da vida – todos – transgridem. Seriam condenáveis? Todos vivem a necessidade conflitiva de decidir entre o certo e o errado O Dr. Wilbur Larch (Michael Caine) é um dedicado médico de um orfanato de uma cidadezinha do interior, onde atua como uma Em Cartaz espécie de pai de todos para as crianças. Entre seus pupilos está o favorito Homer Wells (Tobey Maguire), adolescente para o qual Larch vem ensinando a medicina “na prática”, na esperança de que ele possa auxiliá-lo e até mesmo substituí-lo na missão de olhar pelas crianças. Além de ensinar medicina, o médico procura mostrar a Homer a diferença entre o certo e o errado. Fica subjacente em suas lições a idéia de que nem tudo que é legal é justo e bom – Larch transgride para melhorar a vida das pessoas, fazendo abortos. Eis que Homer quer mais que os ensinamentos de Larch e a experiência limitada do orfanato e vai embora com um casal cuja jovem tinha vindo fazer aborto. Instala-se e começa a trabalhar na fazenda da família do jovem, um piloto da força aérea americana, que parte em seguida para uma missão. Homer capta excitado todas as emoções da nova vida e constrói para si um lugar no mundo da fazenda, morando na “cider house”, a casa da sidra, onde as maçãs colhidas são transformadas em suco. Ele divide o teto com um grupo de trabalhadores temporários colhedores de maçã, entre os quais destacam-se dois personagens: Mr. Rose (Delroy Lindo) e sua filha. Surge um romance entre Homer e Candy (Charlize), a garota que fora buscar o aborto na clínica, filha de um vizinho da fazenda e namorada do aviador ausente. Paralelamente, Homer vai conhecendo a vida dos trabalhadores temporários, suas dificuldades. Ao mesmo tempo, Larch continua fazendo manobras com o objetivo de atrair Homer de volta para o orfanato, onde tem planos para ele, isto é, substituí-lo como médico, usando um diploma falso. Homer é um puro. Enquanto estava no orfanato, não aceitou a idéia de atuar como médico, auxiliando Homer. No entanto, acontecimentos vieram a precipitar decisões que mudaram sua vida. Na “cider house”, a filha de Mr. Rose aparece grávida – do próprio pai, que é apaixonado por ela e a violenta. Envolvido com o contexto em que o nascimento do filho traria muitos problemas, Homer decide fazer o aborto. 68 Ricardo de Almeida Prado Xavier Recuperada, ela foge, tendo antes esfaqueado o pai que tentava impedi-la. Na verdade, os golpes desferidos por ela decorrem de uma interpretação errônea do gesto do pai que, vendo que não poderia demovê-la da fuga, tentou dar-lhe de presente uma faca, para que ela se defendesse quando não estivesse por perto. Rose completou o trabalho feito pela filha, isto é, cravou mais algumas facadas em seu próprio estômago, desgostoso com a partida da filha. Mortalmente ferido, pede a Homer que apresente uma versão do incidente que inocenta a filha à polícia, o que o jovem prometeu fazer. Desenvolve-se paralelamente a história do aviador namorado de Candy, que é ferido em serviço, ficando paralisado da cintura para baixo e voltará em breve à casa da mãe. A namorada decide ficar com ele e ajudá-lo. De repente, em meio às emoções dessas histórias, morre o médico Larch. Homer decide então pegar a maleta de médico que ganhara de presente dele e voltar ao orfanato, assumindo seu lugar. Mensagem principal Pessoas efetivamente comprometidas com o bem eventualmente transgridem, porque o legal nem sempre é justo ou bom. Toda pessoa vive um conflito entre seguir regras que não criou e a realização daquilo que seu coração manda fazer. Viver implica correr os riscos dessas escolhas. Recomendações O filme se aplica bem a discussões sobre ética no trabalho. Pode ser usado para ilustrar conflitos éticos profissionais, necessidade de decisão, definição de missão pessoal, conceito de responsabilidade. Lições sobre a vida como ela é - As pessoas têm de decidir entre o certo e o errado e nem sempre a lei é orientação suficiente. 69 Em Cartaz - Condenar os outros por suas ações é uma freqüente fonte de injustiça. - A ação transgressora eventualmente é o meio de resolver um problema, evitando que outros maiores surjam. - Quando as decisões transgressoras são guiadas pela consciência e pelo coração, é difícil condená-las. - Ninguém consegue atirar a primeira pedra, pois todos sofrem a tensão de fazer suas escolhas. - Uma dose excessiva de idealismo, que leve a pessoa a ver a vida como ela deveria ser e não como ela é, provavelmente levará a condutas que farão mais mal que bem. 70 Ficha Técnica Título: Regras da vida (Cider House Rules) Gênero: Drama Duração: 130 minutos Ano de lançamento (EUA): 1999 Estúdio: Miramax Films Direção: Lasse Hallström Roteiro: John Irving, baseado em livro do próprio John Irving Produção: Richard N. Gladstein Música: Rachel Portman Direção de Fotografia: Oliver Stapleton Desenho de Produção: David Gropman Direção de Arte: Karen Schultz Gropman Figurino: Renee Ehrlich Kalfus Edição: Lisa Zeno Churgin Elenco: Tobey Maguire (Homer Wells); Charlize Theron (Candy Kendall); Delroy Lindo (Mr. Rose); Paul Rudd (Wally Worthington); Michael Caine (Dr. Wilbur Larch); Jane Alexander (Enfermeira Edna); Kathy Baker (Enfermeira Angela); Kieran Culkin (Buster); Kate Nelligan (Olive Worthington). Premiações Oscars de Melhor Ator Coadjuvante (Michael Caine) e Melhor Roteiro Adaptado. Indicações em cinco categorias: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Edição, Melhor Direção de Arte e Melhor Trilha Sonora. Duas indicações ao Globo de Ouro: Melhor Filme em Drama e Melhor Ator Coadjuvante (Michael Caine). Indicação ao Leão de Ouro de Melhor Diretor do Festival de Veneza. A força da mente brilhante vencendo a limitação De repente, uma doença avassaladora registra sua presença onde há um talento excepcional. Tudo pode perder-se. No entanto, uma mente brilhante às vezes tem também a percepção correta e a força vital para lutar contra o mal – e a limitação é superada. Todos somos resultados de forças e fraquezas. O que faz a diferença é como usamos adequadamente os talentos que temos e como lidamos com nossas fraquezas. Este filme é baseado no caso real do brilhante matemático John Forbes Nash Jr., que aos 21 anos formulou a teoria dos jogos não cooperativos, que viria a ter ampla influência nos estudos da Economia. Por sua contribuição, Nash recebeu o Prêmio Nobel de Economia em 1994. Esse homem brilhante teve de lutar contra a esquizofrenia, doença de seiva muitas carreiras promissoras. Em Cartaz Uma história de luta contra o mal O brilhante e jovem professor de Matemática John Forbes Nash Jr. (Russell Crowe) se vê enredado em uma teia de forças em competição: os russos desenvolveram uma rota de ataques nucleares contra os EUA e o Pentágono, o que convoca para ajudar a decifrar códigos que revelariam tal rota. Considerado o mais capaz decifrador conhecido, passa a trabalhar com a interpretação de conteúdos que os soviéticos supostamente estariam divulgando por meio de revistas e jornais de grande circulação. Esse trabalho, de altíssima confidencialidade, é levado a cabo paralelamente às suas atividades de professor que, freqüentemente, parecem ser muito pouco em relação ao seu enorme potencial intelectual. Nesse quadro, conhece Alicia (Jennifer Connelly), uma aluna que seria tão “esquisita” quanto ele e que se torna sua esposa, abrindo a porta da emoção para aquele homem que até o momento se ocupara só de atividades intelectuais das mais abstratas. De repente, Nash, já casado com Alicia e futuro pai, é internado como doente mental. Conspiração dos russos que querem afastá-lo de seu importante trabalho? Assim ele vê os fatos. Contudo, uma outra realidade revela-se: tudo aquilo não passava de alucinações decorrentes da esquizofrenia, doença que Nash manifestara já desde os tempos de estudante, quando convivia de modo ímpar com seu companheiro de quarto, Charles (Patul Bettany), que veio a revelar-se inexistente. Eram inexistentes também seu elo de ligação com o Pentágono, William Parcher (Ed Harris), a garotinha por quem Nash nutria especial carinho, Marcee (Vivien Cardone), sobrinha de Charles e outros personagens. Após a saída de Nash do hospital, e tendo ele apresentado recaídas, o psiquiatra Dr. Rosen (Christopher Plummer) e a fiel esposa Alicia tentam fazê-lo tomar consciência de que está doente e de que toda aquela parte excitante de sua vida não passa de alucinação. Foi justamente a figura da garotinha Marcee que levou Nash subtamente a perceber que realmente vinha tendo alucinações – porque ela não envelhecia. 74 Ricardo de Almeida Prado Xavier Quando dessa constatação, Nash começa uma luta racional contra a doença. Ajudado pela força da mente e contando com o inestimável apoio da dedicada esposa e de amigos e admiradores da universidade, ele vai aos poucos retomando a vida – sem nunca perder totalmente o contato com as alucinações. Até que passa a desempenhar brilhantemente e sem problemas funções importantes no contexto acadêmico, apesar da doença. Então, recebe o Prêmio Nobel, que foi a consagração de sua vitoriosa carreira. Ele venceu a esquizofrenia. Mensagem A vontade de vencer produz milagres. Uma força interior poderosa pode ajudar sobremaneira o indivíduo a superar limitações das mais sérias, como a esquizofrenia. Recomendações O filme pode ser usado em programas motivacionais, destinados a profissionais de todos os níveis e de todas as áreas. A lição: nunca desista! Este filme traz uma lição básica: nunca desista! Quantos não são derrubados pela esquizofrenia? John Forbes Nash Jr., que se acha produtivo em sua carreira até hoje, resolveu vencê-la. Vencer um mal dessa natureza, entre outras coisas, requer três ingredientes: Tomar consciência – Enquanto há negação, não há solução. O reconhecimento do mal abre o caminho para a luta contra ele. Quando Nash descobriu que realmente estava tendo alucinações, tudo mudou em sua forma de ser. Ter crença e esperança – É a crença e a esperança de vencer o mal que trazem a força para lutar-se contra ele. 75 Em Cartaz Aceitar apoio – Ter a humildade de aceitar o apoio necessário. Nash teve o feliz apoio de Alicia, usou-o bem e baseou-se nele para sair do inferno da esquizofrenia. Teve a humildade também de aceitar o apoio dos amigos, de conviver com eles expondo sua fraqueza. 76 Ficha Técnica Título: Uma mente brilhante (A Beautiful Mind) Gênero: Drama Duração: 135 minutos Ano de Lançamento (EUA): 2001 Estúdio: Imagine Entertainment Distribuidora: DreamWorks Distribution/Universal Pictures Direção: Ron Howard Roteiro: Akiva Goldsman, baseado no livro de Sylvia Nasar Produção: Brian Grazer e Ron Howard Música: James Horner Fotografia: Roger Deakins Desenho de Produção: Wynn Thomas Direção de arte: Robert Guerra Figurino: Rita Ryack Edição: Daniel P. Hanley e Mike Hill Elenco: Russell Crowe (John Forbes Nash Jr.); Ed Harris (William Parcher); Jennifer Connelly (Alicia); Paul Bettany (Charles Herman); Adam Goldbergn (Sol); Judd Hirsch (Professor Helinger); Josh Lucas (Hansen); Anthony Rapp (Bender); Christopher Plummer (Dr. Rosen); Vivien Cardone (Marcee). Premiações Recebeu quatro Oscars: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Atriz Coadjuvante (Jennifer Connelly) e Melhor Roteiro Adaptado. Foi também indicado em outras quatro categorias: Melhor Ator (Russell Crowe), Melhor Edição, Melhor Maquiagem e Melhor Trilha Sonora. Obteve ainda quatro Globos de Ouro: Melhor Filme - Drama, Melhor Ator - Drama (Russell Crowe), Melhor Atriz Coadjuvante (Jennifer Connelly) e Melhor Roteiro. Teve mais duas indicações: Melhor Diretor e Melhor Trilha Sonora. Ganhou duas prêmios no BAFTA, nas seguintes categorias: Melhor Ator (Russell Crowe) e Melhor Atriz Coadjuvante (Jennifer Connelly) e obteve indicação em três categorias: Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Adaptado. Teve também indicação ao MTV Movie Awards, categoria Melhor Ator (Russell Crowe). Como enlouquecer seu chefe Trabalhar com envolvimento é possível? Ou o trabalho na verdade é um chatice a ser suportada? Como uma empresa poderia premiar o funcionário por bons serviços? Não seria o caso de deixálo trabalhar menos, como sugere Scott Adams (Dilbert). O que é um bom chefe? Por que um funcionário de uma empresa de repente resolve partir para a fraude, lesando seu empregador? Por que chefes “motivadores” não funcionam? Todas essas perguntas têm discussão nesse filme interessante sobre a vida de funcionários de uma empresa. O filme Como enlouquecer o seu chefe tem o nome original, em inglês, de Office Space (Espaço do Escritório), e não é por acaso. Na verdade, o que pode e o que não pode ser feito no espaço do escritório? A empresa tem o direito de exigir que um funcionário use uma roupa ridícula? E é legítimo o espaço do escritório invadir a vida? Eis um filme rico de questionamentos sobre a vida do trabalho moderna. Em Cartaz Uma história de tortura gerencial e suas conseqüências Peter Gibbons (Ron Livingston) tem um “bom” emprego, um “bom” chefe e uma “boa” namorada. Por isso, vive no inferno sem se dar conta. O chefe é um tirano de escritório que fala manso, mas administra pelo capricho e pelo cansaço. Odiado por todos, sem se dar conta disso. A empresa é uma máquina de fazer loucos, com seus processos, métodos, sistemas improdutivos e desgastantes. A namorada é uma carreirista alucinada pela idéia de sucesso. Seus colegas de trabalho também são vítimas de uma organização massacrante, “motivadora”, maquiavélica, como muitas que existem por aí. Um dia, na busca incessante pelo elixir da motivação e do sucesso, tão comum em nossos dias, ele vai parar com a namorada em uma sessão de hipnoterapia. Dali sai com um insight que viria a mudar sua concepção de mundo e sua vida. Começa por romper com a namorada irritante e passa a adotar uma atitude totalmente espontânea no trabalho, o que é um choque em relação à organização a que estava ligado. Acontece que essa organização está justamente sofrendo um processo de consultoria com a atuação de consultores para lá de incompetentes, que seguem “receitas de bolo” ingênuas. Nesse clima, o jeito irreverente de Gibbons cai bem e ele é promovido, quando à sua volta seus amigos estão sendo demitidos de maneira injusta e desumana. Atuando de modo cínico, ele se junta a dois amigos, Ajay Naidu (Samir Nayernanajar) e Michael Bolton (David Herman), para dar o famoso golpe informático de retirada de centavos da conta da empresa para lançamento em uma conta da qual viriam a apropriar-se. O golpe dá errado, mas os amigos criminosos são salvos pelo gongo quando um funcionário tripudiado por anos de humilhação na empresa toca fogo no prédio, queimando todas as provas do crime. Os amigos, demitidos pelos consultores, encaminham-se para novos empregos. Gibbons deixa o cargo de chefe no escritório da 80 Ricardo de Almeida Prado Xavier empresa e vai trabalhar em um serviço que faz sentido para ele, como operário da construção. Fica a mensagem final de que a vida alienada no trabalho não é uma contingência, uma necessidade absoluta do mundo empresarial moderno, mas uma patologia de algumas organizações. Não há vida inteligente em algumas empresas A idéia central aqui é de que em muitas empresas não há vida inteligente. Por quê? Porque elas são podres. Têm estruturas burocratizadas, impessoais e massacrantes, têm chefes robotizados, torturam seus funcionários, que se tornam cínicos e enroladores. Organizações com essa patologia pagam caro por isso. Recomendações Esse filme pode ser muito útil para estimular discussões sobre: - estilo gerencial e eficiência; - motivação dos funcionários; - discursos motivadores; - razões que levam à fraude; - mudanças na empresa e seu impacto; - processos ineficientes e suas conseqüências. Enfim, um filme rico em idéias e reflexões sobre todos os aspectos relevantes do mundo do trabalho. Lição: abrir o diálogo de verdade é o caminho da saúde Quando não há uma comunicação verdadeira, a organização se deteriora e as conseqüências nefastas aparecem. 81 Ficha Técnica Título: Como enlouquecer seu chefe (Office Space) Gênero: comédia Duração: 89 minutos Ano de Lançamento (EUA): 1999 Estúdio: Cubicle Inc. Distribuição: 20th Century Fox Film Corporation Direção: Mike Judge Roteiro: Mike Judge, baseado nos personagens criados pelo autor Produção: Mike Judge, Daniel Rappaport e Michael Rotenberg Música: John Frizzell Direção de Fotografia: Tom Suhrstedt Desenho de Produção: Edward T. McAvoy Direção de Arte: Adele Plauche Figurino: Melinda Eshelman Edição: David Rennie Elenco: Ron Livingston (Peter Gibbons); Jennifer Aniston (Joanna); Ajay Naidu (Samir Nayernanajar); David Herman (Michael Bolton); Gary Cole (Bill Lumbergh); Stephen Root (Milton Waddams); Richard Riehle (Tom Smykowski); Alexandra Wentworth (Anne); Joe Bays (Dom Portwood); John C. McGinley (Bob Slydell); Paul Willson (Bob Porter); Diedrich Bader (Lawrence); Kinna McInroe (Nina); Michael McShane (Dr. Swanson); Mike Judge; Orlando Jones. Desenvolva o seu sexto sentido Como disse Shakespeare, há mais mistérios entre o céu e a terra do que sonha nossa vã filosofia. Toda forma de conhecimento é invisível. Com os nossos limitados sentidos, ninguém vê os átomos, as estrelas distantes, a composição das coisas que nos cercam, os processos da vida. Mas tudo isso está lá, existe e é real e se o conhecimento humano já chegou até determinado processo, ele pode ser previsto e os resultados aparecem. No entanto, aquilo que ainda não conhecemos é muito mais do que podemos sonhar. O terapeuta Malcolm Crowe via uma pequena parte da realidade e esta era insuficiente para lidar com problemas mais sérios de alguns pacientes. À medida que tomou consciência de que suas certezas não eram tão legítimas, passou a olhar com mais profundidade os eventos e um mundo novo foi-se abrindo lentamente aos seus olhos. No dia-a-dia todos temos nossas limitações de conhecimento e as barreiras que nos auto-impomos. Elas vêm principalmente da inabalável certeza que temos em torno das frágeis verdades que aprendemos. Quem quiser penetrar nas camadas mais profundas da verdade tem de abrir a mente e o coração, perceber com o sexto sentido. Em Cartaz Um filme bonito e instigante, que ensina com a força da emoção. A história daquilo que os sentidos não percebem Malcolm Crowe (Bruce Willis) é um consagrado psicólogo infantil que acaba de ser agraciado com uma premiação por mérito pela cidade. Na noite em que receberá o prêmio, prestes a sair com a esposa, Anna, recebe uma inesperada visita de um adolescente angustiado, o qual ele não teria conseguido ajudar quando fora seu terapeuta, na infância. O jovem doente está armado, atira em Crowe e a seguir suicida-se. Meses depois, Crowe acha-se tentando ajudar o garoto Cole Sear, de 8 anos, que vive paralisado pelo medo. Estabelece-se uma relação de profunda confiança, na qual Crowe dá um adequado encaminhamento ao seu próprio trauma, decorrente de ter vivenciado o suicídio do ex-paciente. O terapeuta toma contato com uma realidade que não se revela facilmente aos sentidos. Para percebê-la é preciso abrir os canais do sexto sentido. Mensagem vem da ficção Ficção e realidade se misturam e pode-se aprender com a ficção. A mensagem fundamental aqui é: há uma realidade além daquilo que você está percebendo imediatamente. Abra a mente para captar cada vez mais. Recomendações Pelo menos em dois sentidos esse filme pode gerar discussões de interesse profissional: 84 Ricardo de Almeida Prado Xavier 1. A idéia da limitação do saber, dos preconceitos pessoais, da “segurança” profissional que fecha a mente. Pode-se usar o filme para discutir como uma pessoa pode abrir mais os canais da percepção, como pode evitar que o condicionamento a afaste de conhecimentos mais adequados etc. Até que ponto sabemos e qual é o limite ideal da crença em nosso próprio saber? 2. A idéia de ouvir o outro sem pensar que sabe o que está acontecendo. A tragédia de Crowe, no filme, começou quando ele não aceitou ouvir o suplicante paciente. Lição: abrir a mente é essencial – e possível - Prescrição antes de um bom diagnóstico não é uma boa prática. É preciso observar as coisas cuidadosamente, entender em profundidade, evitar as certezas fáceis. Crowe recusou-se, por mera questão de hábito e conhecimento de causa, a ver coisas muito relevantes para uma prescrição mais adequada. - As pessoas têm informações valiosas sempre, mesmo quando tudo indica que são alucinadas. É preciso ouvi-las com os ouvidos e o coração. - Perceber mais e de modo mais profundo é o segredo da eficiência em toda esfera da vida. O executivo que vê o que os outros não conseguem ver tem uma enorme vantagem estratégica. É fundamental ampliar a capacidade de perceber o que não se revela aos sentidos imediatos. O conhecimento real não se revela a olhos nus. 85 Ficha Técnica Título: O sexto sentido (The Sixth Sense) Gênero: Suspense Duração:106 minutos Ano de Lançamento (EUA): 1999 Estúdio: Hollywood Pictures Direção: M. Night Shyamalan Roteiro: M. Night Shyamalan Produção: Kathleen Kennedy, Frank Marshall, Barry Mendel e Sam Mercer Música: James Newton Howard Direção de Fotografia: Tak Fugimoto Desenho de Produção: Larry Fulton Figurino: Joanna Johnston Edição: Andrew Mondshein Elenco: Haley Joel Osment (Cole Sear); Bruce Willis (Malcolm Crowe); Toni Collette (Lynn Sear); Olivia Williams (Anna Crowe); Glenn Fitzgerald (Sean); Mischa Barton (Kyra Collins); Donnie Wahlberg (Vincent Gray); M. Night Shyamalan (Dr. Hill). Premiações Seis indicações ao Oscar: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator Coadjuvante (Haley Joel Osment), Melhor Atriz Coadjuvante (Toni Collette), Melhor Roteiro Original e Melhor Montagem. Duas indicações para o Globo de Ouro: Melhor Ator Coadjuvante (Haley Joel Osment) e Melhor Roteiro. Emoções trazem uma lua de fel Introdução As emoções aproximam as pessoas, ligam-nas umas às outras e dão a tônica dos relacionamentos. Mais que isso, elas colorem a vida e trazem a força motivacional de que precisamos para o trabalho, a solução de problemas da vida, o empenho solidário, a superação dos desafios. Entretanto, as emoções também provocam a destruição. O espectro emocional de um indivíduo diz muito a respeito de seu futuro. Algumas emoções jamais levam a coisas boas. Há aquelas emoções que não só corroem as relações, mas também dão acidez à vida, tiram todos os estímulos para a ação, lançam à lama a auto-estima da pessoa, provocam reações de destruição. Lua de fel (Bitter Moon) é um filme que lida, como o nome diz, com emoções corrosivas e amargas. Situadas no contexto do relacionamento amoroso, mostra como emoções destrutivas se formam com a atração, interesse e paixão. Embora o quadro focalize o Em Cartaz encontro amoroso, muito se pode aprender também sobre outros tipos de relações. Basta para isso incluir as regras e o contexto adequados dos relacionamentos que se queira analisar. Um filme bonito, para refletir e emocionar-se. A história da deterioração emocional O casal inglês Nigel (Hugh Grant) e Fiona (Kristin Scott Thomas) acha-se em um cruzeiro para uma viagem de segunda luade-mel à Índia. As relações entre eles apresentam-se burocráticas, o relacionamento afetivo e sexual é previsível e morno. Nigel (Hugh Grant) e Fiona (Kristin Scott Thomas) são um casal de ingleses que, ao fazer um cruzeiro, conhecem Mimi (Emmanuelle Seigner), uma francesa casada com Oscar (Peter Coyote), um americano que vive preso a uma cadeira de rodas. Ao notar o interesse que Nigel sente por Mimi, Oscar conta como eles se conheceram e como se amaram loucamente até esta paixão doentia se transformar em um ritual de humilhação. O casal encontra um outro passageiro, o indiano Sr. Singh (Victor Banerjee), com seu jeito natural de ver as coisas e que questiona diretamente, sem cerimônias, o casal sobre a idéia de ir à Índia para salvar o casamento. Este personagem, sem nenhuma participação no drama central que se desenrolará no filme, faz uma espécie de contraponto na busca emocional do casal – ele vem de outra cultura, com outros modos de sentir, pensar e agir. Sua filhinha Amrita (Sophie Patel), em horas apropriadas do filme trará para o cenário a idéia da inocência, das emoções simples, diretas e verdadeiras. Entra em cena o americano Oscar (Peter Coyote), um paraplégico casado com a linda e sexy Mimi (Emmanuelle Seigner), jovem e provocativa loira que exerce grande atração sobre Nigel. Percebendo essa atração, Oscar aproxima-se de Nigel e começa a contar a este (em várias sessões) a história de sua tórrida e amarga relação com Mimi. Hesitante e ao mesmo tempo preso à estranha relação, Nigel ouve os relatos. A história do casal começou com uma paixão decorrente 88 Ricardo de Almeida Prado Xavier de amor à primeira vista nas ruas de Paris. Evoluiu com intensidade amorosa e sexual das mais elevadas. O casal entrou no mundo das práticas sexuais pervertidas, incluindo o sadomasoquismo. Chegando ao cume da experimentação sexual, Oscar começou a perder o desejo pela mulher. Mas esta o amava com paixão e sujeitou-se para ficar com ele a qualquer custo. Manteve-se ao seu lado apesar de as provas humilhantes a que era exposta no dia-a-dia, como a traição explícita, os destratos em público etc. Para ver-se livre de Mimi, Oscar simula uma viagem, deixa-a só no avião, e volta à sua vida de boêmio e mulherengo livre. Eis que é atropelado e hospitalizado. Recebe, então, uma única visita, de Mimi, que no primeiro momento simula carinho apesar de a traição. No entanto, num ato de extrema violência, puxa o marido da cama, derrubando-o e causando a lesão que o levaria para sempre à cadeira de rodas. A partir daí, ela passa a cuidar dele – estranhamente com ódio. O interesse de Nigel por Mimi evolui e ele, a cada sessão, mais vislumbra a possibilidade de vir a ter um relacionamento sexual com ela, sabedor de que Oscar era impotente. Paralelamente, a relação de Nigel com a esposa Fiona caminha fria e frustrante. Fiona vem apresentando cenas de ciúmes de Mimi e ao mesmo tempo provoca ciúmes em Nigel por sua proximidade com um jovem passageiro italiano. Eis que, no momento crucial em que Nigel imagina que teria a conquista de Mimi (um baile de réveillon), esta o rejeita. Para sua perplexidade, quem a conquista é sua esposa Fiona. No baile, Nigel presencia atônito a cena em que a mulher e a pretendida amante dançam de rosto colado e beijam-se na boca. Embebeda-se e cai em um canto qualquer, acordando com os restos do baile sendo recolhidos pelo pessoal da faxina. Vai buscar a esposa no quarto de Mimi, e lá encontra as duas adormecidas nuas, após passarem um noite de amor, e Oscar amargo a observar em sua cadeira de rodas. Oscar saca uma arma, presente de Mimi, atira nela e mata-se também. O casal Nigel e Fiona retorna à vida normal. 89 Em Cartaz Mensagem A mensagem central do filme, para quem almeja aprender com ele, é: mantenha-se no controle de suas emoções. Não caia no conto da sereia de sentimentos que parecem doces, mas trazem em si a semente da destruição. E não se deixe levar pelos sentimentos destrutivos, que corroem a auto-estima, a confiança, a alegria de viver, e colocam um verdadeiro fel nas relações, destruindo também outras pessoas. Recomendações O filme provoca boas discussões sobre as emoções e como elas impactam nossas vidas. Além do contexto imediato, o amoroso, ele pode trazer discussões e ensinamentos sobre outros contextos como: - relações entre chefes e subordinados no trabalho; - relações entre pares; - sentimentos e auto-estima; - sentimentos e comportamentos destrutivos nas relações. Usado em uma sessão de treinamento, o filme pode suscitar boas discussões. Eis algumas perguntas que ajudam nessas discussões: - Quais são os sentimentos destrutivos nas relações chefesubordinado? - Como se deterioram as relações com base nos sentimentos? - O que é comportamento saudável nas relações e como proceder para mantê-lo? - Por que as emoções às vezes dominam e como precaver-se contra isso? Lições para a inteligência emocional - As pessoas são responsáveis por suas emoções – e podem gerenciá-las. 90 Ricardo de Almeida Prado Xavier - Deixar-se levar por sentimentos destrutivos é algo possível – manter-se alerta contra esse mal é fundamental. - A tônica das relações é dada pelos parceiros. Cada um pode e deve contribuir para a criação de encontros saudáveis. - Ao destilar fel nas relações pode-se esperar um retorno de ações destrutivas. - As emoções são perigosas justamente porque podem fugir ao controle. Devem ser tratadas com cuidado. - Tanto no relacionamento amoroso quanto no trabalho ou em outros setores da vida, relações simbióticas não são construtivas. (Relações simbióticas são aquelas em que os envolvidos complementam-se com suas emoções destrutivas. Alguém com impulsos sádicos ligado a alguém com impulsos masoquistas é o exemplo típico). Por meio da comunicação há a formação de sentimentos, que poderão ser construtivos ou destrutivos. Cuidado com a comunicação. 91 Ficha Técnica Título: Lua de fel (Bitter Moon) Gênero: Drama Duração: 139 minutos Ano de Lançamento (França/Inglaterra): 1992 Estúdio: Columbia Pictures Direção: Roman Polanski Roteiro: Gérard Brach, John Brownjohn, Jeff Gross e Roman Polanski, com base no livro de Pascal Bruckner Produção: Roman Polanski Música: Vangelis Direção de Fotografia: Tonino Delli Colli Desenho de Produção: Willy Holt e Gérard Viard Figurino: Jackie Budin Edição: Hervé de Luze Elenco: Hugh Grant (Nigel); Kristin Scott Thomas (Fiona); Emmanuelle Seigner (Mimi); Peter Coyote (Oscar); Victor Banerjee (Sr. Singh); Sophie Patel (Amrita); Stockard Channing (Beverly); Patrick Albenque (Steward); Luca Vellani (Dado). Grande Hotel chama para a ação Pessoas que fazem, pessoas que não fazem. Os limites éticos têm de ser considerados sempre, naturalmente, mas não fazer muitas vezes é uma crônica tendência acarretada pelo medo, pela acomodação, pela mera distração. Os acontecimentos estão ocorrendo no palco à sua volta: vai entrar no jogo ou ficará assistindo? O mensageiro do Grande Hotel entrou no jogo e fez o que devia ser feito, à luz de seus valores. Alguém pode questionar esses valores, mas ninguém pode dizer que ele ficou fora do jogo. Mesmo quando as decisões são duras e difíceis, é preciso tomá-las e agir! Este filme é um bom motivo para discutir oportunidades que o mundo traz, seu aproveitamento, ação individual. Uma história de iniciativa e participação Na passagem do ano, em Los Angeles, um novo mensageiro e recepcionista, Ted, assume sozinho o comando do Hotel Mon Signor, outrora destacado e hoje decadente. Responde as chamadas dos quartos, além de recepcionar os novos hóspedes. Em Cartaz As chamadas colocam-no diante de situações bastante inusitadas, um reflexo da diversidade e do frenesi da sociedade moderna. Ele fora advertido pelo ex-recepcionista (que acabara de se aposentar) para manter-se longe de sexo, crianças, prostitutas, mas a vida o chama a participar. E ele entra no jogo. São focalizados quatro episódios: o primeiro deles mostra um grupo de bruxas lésbicas que se instalam na suíte nupcial e darão curso a um cerimonial para trazer de volta uma deusa que morreu no local. De repente elas se dão conta de que falta um ingrediente para a bruxaria, esperma, que uma bruxinha inexperiente responsável por trazê-lo não o fez. Neste momento, lembram-se de Ted... No segundo episódio, um marido doentiamente ciumento mantém a esposa amarrada, sob ameaça de arma, quando Ted engana-se de quarto e entra para trazer gelo... Seria ele o amante que o marido procurava? Terceiro episódio: Um bandido chique e sua esposa resolvem sair para festejar o ano novo e deixam o casal de filhos crianças aos cuidados de Ted. As crianças não estão nem um pouco dispostas a ser exemplos de obediência. Quarto episódio: um diretor de cinema e dois parceiros e uma mulher pedem champanhe. Quando Ted se apresenta acabam envolvendo-no em um jogo que consistiria em cortar o dedo de um dos jogadores, caso o diretor vença um desafio. Ted é escalado para executar o corte. Os episódios trouxeram para Ted sexo, oportunidade de ganhar polpudas gorjetas, envolvimento emocional e, principalmente, muito estresse. Ele teve uma dose de participação, entrou nos jogos, fez o que deveria fazer à luz de seus valores, mas igualmente saiu de cena, abandonou o hotel. Ficam as seguintes idéias: - algumas vezes é impossível não participar, logo a pessoa não tem escolha a não ser agir. 94 Ricardo de Almeida Prado Xavier - algumas vezes a participação e aceitação da tarefa é opcional – aceitar ou não aceitar é a questão. - algumas vezes o comportamento do indivíduo o leva a entrar no jogo; outras vezes ele resolve abandoná-lo, mas sempre há questões éticas. Mensagem fundamental – chamada à participação A vida coloca-nos diante de relações e acontecimentos inesperados e surpreendentes. É impossível não participar; então, entre no jogo e faça sua parte. Não se esqueça das considerações éticas, mas não se esqueça de agir. Recomendações É um filme divertido e movimentado, que pode trazer uma rica discussão sobre situações estranhas que o mundo moderno traz e que comportamento assumir diante delas. Entre outros tópicos para reflexão, podemos apontar: - limites éticos para a ação individual, como estabelecê-los; - como lidar com clientes com exigências e pedidos estranhos; - a necessidade de fazer o que deve ser feito, ainda que em situ ação de difícil decisão. Pode ser bem aplicável a treinamento na área hoteleira, por exemplo, para criar clima para discussões sobre serviços, atendimento ao cliente, conduta ética etc. Questões para discussões: - Quando se deve entrar no jogo? - Quando se deve evitá-lo? - Qual é a conseqüência de não se fazer o que deve ser feito? 95 Em Cartaz Lições sobre a força dos acontecimentos Dificilmente alguém consegue escapar da arena dos acontecimentos. É fundamental, então, estar preparado para agir de modo ético e adequado diante das situações novas que surgem. 96 Ficha Técnica Título: Grande Hotel (Four Rooms) Gênero: Comédia Duração: 98 minutos Ano de Lançamento (EUA): 1995 Estúdio: Miramax Films Direção: Quentin Tarantino, Alexandre Rockwell, Alison Anders, Robert Rodriguez. Roteiro: Allison Anders Produção: Lawrence Bender Música: Combustible Edison Desenho de Produção: Gary Frutkoff Figurino: Susan Bertram e Mary Claire Hannan Edição: Robert Rodriguez; Elena Maganini; Sally Menke; Margie Goodspeed. Elenco: Tim Roth, Antonio Banderas, Quentin Tarantino, Bruce Willis, Ione Skye, Tamlyn Tomita, Lili Taylor, Marisa Tomei, Alicia Witt, Sammi Davis, Amanda de Cadenet, Madonna. Jerry Maguire – Trabalhar e viver com sentido Introdução O trabalho tem um peso significativo não só sobre a auto-estima da pessoa mas também sobre o nível de gratificação que ela obtém da vida. Será, no entanto, que as pessoas sempre trabalham com sentido, com consciência da razão-de-ser do que estão fazendo, com integração genuína entre suas vocações, valores, interesses e as atividades que estão a realizar? Nem sempre – e essa é uma fonte de angústia consciente ou inconsciente para muita gente. À medida que vai evoluindo na carreira, muitas vezes a pessoa vai vinculando-se a metas, processos, rituais, sistemas e estruturas externas que não têm muito a ver com aquilo que idealiza. Com o passar do tempo há um divórcio entre os valores pessoais e a vida profissional que se leva. O processo de divórcio entre valores e atuação no trabalho costuma propagar-se para outras esferas da vida, afetando relacionamentos, que tendem a construir-se também sobre bases nem sempre sólidas e espontâneas. Em Cartaz O sucesso pode chegar sem que a pessoa saiba exatamente o que ele significa para ela. Muitas vezes o sucesso vem acompanhado de um vazio. Nesse quadro, todo profissional é levado a refletir, a questionar o que é, o que faz, como faz as coisas. Tais interrrogações, comuns, apresentam-se mais freqüentemente em ocasiões especiais (a chegada a uma idade marcante, a vinda de um filho, uma perda, um prêmio etc.). Quando advém uma forte tomada de consciência sobre o divórcio entre vida profissional e pessoal e valores, se a pessoa adquire a necessária coragem, ela busca a mudança. A mudança, entretanto, tem um risco e um preço. Quantos estão dispostos a aceitá-los? Quem assume uma postura proativa e muda produz uma reorientação em sua vida. De imediato há uma perda, mas ela é apenas aparente. A pessoa sente seu mundo desabar, sente dó de si mesma, julga-se fracassada, questiona seus valores, tem abalos na auto-estima. À medida que a poeira vai-se assentando, entretanto, vai percebendo que em geral é possível voltar ao mesmo grau de sucesso obtido anteriormente. Dessa vez, porém, um sucesso sólido e verdadeiro em que a integração entre valores e comportamento se manifesta. Jerry Maguire passou pela experiência da mudança e dela saiu renovado. Por isso, ensina e inspira. Uma história de mudança com base no trabalho Trabalho e vida se confundem. Trabalhar sem sentido freqüentemente se associa a viver sem sentido. Se uma mudança se inicia na esfera do trabalho, ela propaga-se para outras facetas da vida. O que muda é a pessoa total. Jerry Maguire (Tom Cruise), um jovem talentoso e bemintencionado, atingira o sucesso como agente de atletas em uma grande firma do ramo. Sucesso financeiro, fama, vida movimentada, noiva bonita e bem-sucedida – eis o que caracterizava sua vida. 100 Ricardo de Almeida Prado Xavier Um evento, entretanto, viria a provocar um questionamento profundo sobre toda essa estrutura. Ao visitar um atleta ferido, ouviu do garoto, filho desse, uma súplica – a de que Maguire convencesse o pai a parar, pois era a quarta vez que se acidentava e aparentemente sua atuação marchava para o desastre. Maguire respondeu mecanicamente ao garoto, dizendo que o pai dele era o maioral e que voltaria aos jogos, sem problemas, com muito sucesso. Foi quando o garoto lhe disse um palavrão, com expressão de quem diz “não fui ouvido, você não se importa”. Desse fato, desencadeia-se um processo de revisão de valores, que leva Maguire a escrever um projeto de como a empresa de representação de esportistas deveria funcionar. Entre outros pontos, propõe maior humanização no trato com atletas, maior proteção aos clientes, redução do tamanho da empresa para uma atuação mais qualitativa, menor preocupação com o faturamento e com o lucro. Dessas idéias, Maguire produz um relatório, imprime e distribui a todas as gerências da empresa. No dia seguinte, é aplaudido na chegada ao escritório: o relatório provocara atitudes de admiração em todos. Contudo, idéias e vida prática nem sempre andam juntas e o que Maguire colhe com suas propostas revolucionárias é a demissão. Sua proposta de redução do faturamento, particularmente, foi recebida como ameaça. A postura conservadora falou mais alto e não houve nem possibilidade de diálogo antes da demissão. Maguire decide que é hora de mudar e seguir suas convicções mais profundas. Resolve abrir uma nova empresa de representação de atletas, para efetivamente seguir os moldes do que havia projetado. Vai então em busca de atletas para representar, convidando os que já vinha atendendo. Colhe apenas negativas – ninguém está disposto a arriscar com ele. Ao final desse processo, acaba ficando com um único representado, o jogador de futebol americano Rod Tidwell (Cuba Gooding Jr.). Chegou a ter uma outra promessa de representação, fez um bom trabalho para um futuro astro do futebol, mas foi traído por este e seu pai, que assinaram contrato com o concorrente, a firma de onde Maguire havia saído. 101 Em Cartaz Na dramática saída da empresa, perguntara quem queria acompanhá-lo para a nova organização. Os mesmos que o aplaudiram mantêm-se calados e ele é seguido apenas por Dorothy Boyd (Renée Zellweger), uma jovem da contabilidade a quem o relatório de Maguire havia efetivamente inspirado e que tivera a coragem de seguir seus próprios valores, assumindo os riscos da mudança. Maguire começa na nova atividade com apenas um cliente. Com as dificuldades do início acaba rompendo com a noiva, que passou a considerá-lo um fracassado. Sua relação com a noiva era fria e sem sentido, embora ele não se desse conta do fato. Do ponto de vista comportamental, tudo parecia às mil maravilhas, mas faltava um elo afetivo mais espontâneo e verdadeiro. Seu relacionamento profissional com Dorothy intensifica-se, incluindo um nível de afeição, que resulta em namoro e depois em casamento, com ela desempenhando importante papel na consolidação da nova carreira de Maguire. A sua ligação emocional a Dorothy e o garoto filho dela já mostram a presença de um novo homem em Maguire. Apesar de as dificuldades iniciais e até das dificuldades de relacionamento de Tidwell com seus próprios eventuais patrocinadores, o atleta torna-se um campeão no campo e na mídia, levando Maguire de volta ao pódio do sucesso. Já dentro de um relacionamento em que dinheiro é tudo, em que há uma real ligação emocional e um compromisso entre atleta e representante. Mensagem Quando o trabalho não faz sentido e não se consegue mudá-lo, é preferível e possível mudar de trabalho e dar nova força à carreira. Recomendação O filme é recomendado para pessoas que estão precisando de inspiração para dar um novo alento à sua carreira e é muito útil também para discussões sobre emprego e negócio próprio. Pode ser bem aplicado em cursos sobre empreendedorismo. 102 Ricardo de Almeida Prado Xavier Lições e inspiração Destacamos algumas lições fundamentais e comportamentos inspiradores: - trabalho sem sentido traz sucesso vulnerável; - o ideal inspira, mas nem todos conseguem a coragem de buscá-lo; - a busca de uma ocupação com sentido tem custo e risco; - há necessidade de escolher; - as escolhas maiores reorientam o trabalho e a vida; - é possível atingir o sucesso com real sentido. Trabalho sem sentido traz sucesso vulnerável É possível a pessoa trabalhar, realizar coisas notáveis, atingir (pelo menos parcialmente) o sucesso sem uma ligação valorativa e emocional com tudo isso. Essa desvinculação a curto prazo parece não acarretar maiores problemas. Pessoas inteligentes e esforçadas, eventualmente valendo-se só do seu “modo” racional, operam eficazmente. Podem até mesmo ter melhores resultados, a depender do ângulo que se olhe. Por exemplo, se um executivo é insensível o bastante para não considerar os sentimentos dos subordinados, pode pressioná-los impiedosamente e ter maiores resultados a curto prazo. Todavia, a longo prazo, o problema é a vulnerabilidade a crises. Operando de modo alienado, o executivo de repente pode “acordar” e entrar em crise. Quem convive com executivos em busca de novas oportunidades de mercado freqüentemente observa a decepção, a mágoa, o sentimento de frustração que muitos trazem. São levados a observar que o “sucesso” era imaginário – no trabalho, na família, nas relações. Esses tendem a culpar antigos empregadores por suas desventuras emocionais, mas os culpados em última análise foram eles próprios. 103 Em Cartaz Já os que procuram dar sentido ao seu trabalho, fazer as coisas do modo como julgam correto, estabelecer relações profissionais espontâneas, não têm maiores problemas diante de uma crise. Não tendem a culpar terceiros, a fixar-se nas mágoas, a ter pena de si mesmos – e vão à luta para renovar-se. Jerry Maguire é a história de todos os que vinham pelo caminho da vida sem sentido e têm a bênção de entrar numa crise que os leva à mudança. Perdeu o sucesso falso e chegou ao sucesso verdadeiro, esse não sujeito a chuvas e trovoadas. No fundo, é a diferença entre ter um cargo, estar num cargo, respondendo às demandas desse sem questionamento e ser empregável, construindo seu ganha-pão com bases genuínas e reais. O ideal inspira, mas nem todos têm a coragem de buscá-lo É normal que muitos tenham lido com emoção o relatório do projeto inovador proposto por Maguire. É normal também que ele tenha sido aplaudido ao entrar na empresa, no dia seguinte. Atos de espontaneidade, de tomada de posição, de busca da verdadeira qualidade no que se faz inspiram. Por isso, a sociedade tem seus heróis e anda para a frente inspirada neles. É normal também que nem todos tenham a coragem de abandonar os postos confortáveis e sair em busca da mudança. É preciso enfrentar o risco, a perda quase que inevitável a curto prazo. Quem é proativo o suficiente para buscar isso? As pessoas são diferentes: algumas mudam, outras “são mudadas”. O filme deixa claro que aplauso e decisão de ser aquilo que se aplaude são coisas diferentes. Mudaram Maguire, Dorothy Boid, Rod Tidwell, mas quantos foram os que optaram por não mudar diante do chamado da oportunidade? 104 Ricardo de Almeida Prado Xavier A busca de uma ocupação com sentido tem custo e risco O indivíduo às vezes é conduzido de fora para dentro. Isto é, o ambiente (a empresa, o chefe, a família) molda suas decisões. É o processo de acomodar-se, um processo passivo por meio do qual a pessoa obedece aos ditames do meio e recebe o que o meio lhe dá em troca dessa obediência. O que acontece quando a pessoa resolve fazer ela própria suas escolhas? Freqüentemente ela entra em confrontação com o ambiente, por não querer obedecer e não querer contentar-se com o prêmio pago pela obediência. Então, como resultado dessa confrontação, o prêmio é cortado e além disso muitas vezes advêm castigos pela ousadia de ter resolvido ser autêntico. Acomodação passiva ao ambiente, porém, traz conforto mas dificilmente traz plena realização. Jerry Maguire resolveu pagar o preço de tentar algo diferente do que estava previsto para ele. Após o turbilhão da mudança certamente virá uma nova acomodação ao ambiente, mas já não é mais uma acomodação passiva e sim uma acomodação ativa, comandada e aceita pelo indivíduo. Há necessidade de escolher Não escolher já é escolher. Manter-se passivo, conviver com o desconforto de ser obrigado a agir de modo que se julga inadequado, “deixar como está para ver como é que fica” – tudo isso reflete escolhas. As pessoas sempre escolhem – e às vezes a escolha é a acomodação. O medo de decidir, que paralisa a pessoa, é, de certa forma, nesse quadro, um medo insensato, pois a decisão é inevitável. O problema então é escolher certo. Cada um é responsável por aquilo que é, porque fez suas escolhas. 105 Em Cartaz As escolhas maiores reorientam o trabalho e a vida Há grandes decisões a serem tomadas: um novo emprego, a abertura de um negócio próprio, a escolha de um curso de doutorado, um casamento, a mudança de país. Essas têm um peso significativo sobre o trabalho e a vida – e o que podemos obter deles. Para tomar as grandes decisões é fundamental um aprofundamento na própria estrutura de valores. Muitas vezes as pessoas desconhecem os próprios valores. Jerry Maguire, por assim dizer, “acordou”, teve a sorte de descobrir o que efetivamente importa para ele. É muito importante para um profissional que ele reflita profundamente sobre si mesmo: suas emoções, reais interesses, vocação, valores. Com base nisso as escolhas serão mais eficazes. É possível atingir o sucesso com real sentido Ao fazer escolhas verdadeiras e perseguir seus ideais o indivíduo provavelmente encontra maiores dificuldades e riscos. Mas o prêmio é o sucesso em que trabalho e vida passam a fazer sentido. Jerry Maguire tinha sucesso sem sentido e passou a ter sucesso com sentido. Valeu a escolha e o risco assumido. 106 Ficha Técnica Título: Jerry Maguire Gênero: Comédia Duração: 135 minutos Ano de lançamento (EUA): 1996 Estúdio: TriStar Pictures/Gracie Films Direção: Cameron Crowe Roteiro: Cameron Crowe Produção: James L. Brooks, Cameron Crowe, Laurence Mark e Richard Sakai Música: Nancy Wilson Direção de Fotografia: Janusz Kaminski Direção de Arte: Clayton Hartley e Virginia L. Randolph Desenho de Produção: Stephen J. Lineweaver Figurino: Betsy Heimann Edição: Joe Hutshing e David Moritz Efeitos Especiais: Cinesite Hollywood Elenco: Tom Cruise (Jerry Maguire); Cuba Gooding Jr. (Rod Tidwell); Renée Zellweger (Dorothy Boyd); Kelly Preston (Avery Bishop); Jerry O’Connell (Frank Cusham); Jay Mohr (Bob Sugar); Bonnie Hunt (Laurel Boyd); Regina King (Marcee Tidwell); Jonathan Lipnicki (Ray Boyd); Todd Louiso (Chad); Mark Pellington (Bill Dooler); Jeremy Suarez (Tyson Tidwell); Jared Jussim (Dicky Fox); Eric Stoltz (Ethan Valhere); Lucy Liu Premiações Oscar de Melhor Ator Coadjuvante (Cuba Gooding Jr.); foi indicado em outras quatro categorias: Melhor Filme, Melhor Ator (Tom Cruise), Melhor Roteiro Original e Melhor Edição. O preço do sucesso a qualquer preço Introdução A receita do fracasso empresarial é conhecida. Freqüentemente ela inclui um mundo que mudou, uma organização que se recusa a aceitar a mudança externa e insiste em uma fórmula que já não funciona, um processo de gerenciamento autocrático e inflexível, uma estratégia inviável e pessoas despreparadas para esse contexto. E a que esse quadro de falência leva sabe-se também. Leva ao desaparecimento da auto-estima, ao surgimento de atitudes céticas, à passividade, à degradação moral, no plano individual. No plano social leva à inveja, à competição disfuncional, ao conflito, à expressão daquilo de pior que o ser humano é. Quando o quadro de fracasso se estabelece, as pessoas têm duas alternativas saudáveis: mudar o contexto em que vivem ou abandonálo. Se, paralisadas pelo medo, não adotam nem uma nem outra dessas, tornam-se sobreviventes – aqueles cuja motivação única é continuar existindo – e então fazem qualquer coisa que for necessário para Em Cartaz atingir essa meta. Esse “sucesso” é buscado a qualquer preço, sendo que usualmente o preço pago é alto demais. O sucesso a qualquer preço (Glengarry Glen Ross) focaliza de modo tragicômico, com todas as cores, um quadro de falência institucional e individual e suas conseqüências. A lição da falência nos ensina como manter-nos alertas e eficientes para não nos tornarmos meros sobreviventes. A história: empresa, pessoas e planos errados O filme traduz fielmente a peça teatral de Daviv Mamet, que recebeu o prêmio Pulitzer como a melhor peça londrina do ano de 1983. Focaliza uma firma fracassada, planos inviáveis e pessoas perdedoras, mas sugere uma falência maior, no âmbito da sociedade. A história gira em torno de quatro corretores de imóveis, seu gerente e um novo executivo enviado pela matriz para melhorar os resultados de vendas da unidade. Dos quatro gerentes, três vêm tendo crônicas dificuldades para fechar negócios e um, Ricky Roma (Al Pacino), é, por assim dizer, um sobrevivente bem-sucedido, uma vez que vem apresentando bons resultados, porém sempre à custa de métodos de vendas de ética duvidosa. Na visão dos corretores, o fracasso se deve à má qualidade das fichas de clientes potenciais que a imobiliária lhes passa. Apresentam um quadro de atitudes céticas altamente negativas – em relação ao trabalho, à empresa, ao cliente, às possibilidades de vendas, o que por si só leva ao fracasso em vendas. Entretanto, são incapazes de perceber que são, no mínimo, co-autores de seu próprio fracasso, buscando causas externas para ele. No caso, concentram-se na crítica às fichas de clientes. Eis que surge um novo executivo enviado pela matriz para ampliar as vendas. Na primeira reunião de vendas, estabelece-se uma nova dinâmica na organização. O que antes era um ambiente de 110 Ricardo de Almeida Prado Xavier acomodação sustentado pelo gerente John Williamson (Kevin Spacey), passivo e imaturo, agora tornou-se uma arena competitiva das mais cruéis. Com um discurso extremamente agressivo, que desrespeita flagrantemente a dignidade dos corretores, o novo executivo, Blake (Aleck Baldwin), apresenta as novas regras do jogo: os corretores terão uma semana para apresentar resultados ou... rua! Usando vocabulário de baixo calão, xingando, ofendendo pessoalmente os ouvintes, ele apresenta um plano de vendas que premia com um Cadilac Eldorado o primeiro colocado em vendas, um mero faqueiro para o segundo e... demissão para os demais colocados. Um detalhe: ninguém terá direito às novas fichas de clientes, supostamente boas, enquanto não apresentar resultados, isto é, os corretores terão de continuar trabalhando com as fichas que julgam ruins. Estabelecido o clima de terror, os corretores passam a apresentar suas reações. O drama central é protagonizado por Shelley Levene (Jack Lemmon), um corretor com mais de 60 anos, que tem uma filha doente no hospital, aparentemente em situação de penúria. Desesperado para atingir resultados, ele tenta seduzir o gerente a dar-lhe fichas boas, quando os dois se acham sozinhos. O gerente acaba aceitando suborno – 50 dólares por ficha, mais porcentagem dos resultados obtidos, negócio que não é concluído porque Shelley não dispõe do dinheiro necessário. Ainda na mesma noite, enquanto Shelley faz o possível e o impossível para fechar uma venda, usando seus mesmos métodos velhos e ineficientes, alguém está tramando um crime. Dave Moss (Ed Harris), um corretor jovem, raivoso e passivo que vive sonhando com a possibilidade de abandonar a imobiliária, tenta corromper e transformar em comparsa o colega George Aaronow (Alan Arckin), um profissional passivo, limitado, de baixíssima auto-estima, que não consegue ter nenhuma reação diante do quadro de fracasso. Moss propõe que Aaronow invada o escritório da imobiliária e roube as fichas de clientes boas que lá estão guardadas, para que sejam vendidas a Jerry Graf, um corretor aparentemente desonesto que já pertenceu à empresa, mas hoje atua por conta própria – e é visto como modelo por Moss. 111 Em Cartaz No dia seguinte a polícia se acha no escritório logo cedo, quando os corretores vão chegando. A imobiliária foi assaltada e alguém roubou as fichas. No ambiente de tensão que se estabelece, ocorre um diálogo crítico e agressivo entre Shelley e Williamson, o primeiro arrogando-se a sabedoria de vendedor (porque pretensamente conseguira fechar uma boa venda na noite e estava salvo da demissão) e humilhando o segundo. Shelley tenta “ensinar” Williamson a lidar com os clientes, quando fala demais e mostra saber de algo que apenas alguém que tivesse ido ao escritório à noite estaria sabendo. O gerente imediatamente percebe que Shelley invadira o escritório – o que o corretor acaba confessando. Ele, em parceria com Moss, tinha roubado as fichas, para vender a Graf. Mensagem Em termos gerais: estrutura e processos gerenciais inadequados comprometem não só o desempenho das pessoas e equipes mas também os padrões éticos. Em termos específicos: para vencer em vendas é necessário, além das condições externas adequadas, atitudes positivas. Recomendações Especialmente recomendado para uso em treinamento de gerência, supervisão ou força de vendas. Por apresentar um quadro rico de modos errados de se comportar em vendas – da empresa, gerente, vendedor – permite boas discussões. Lições do fracasso Deixando de lado a crítica social mais ampla que David Mamet faz por meio da peça que virou filme, queremos destacar os seguintes ensinamentos que podem ser extraídos de O sucesso a qualquer preço: - a empresa “errada” não tem salvação; 112 Ricardo de Almeida Prado Xavier - a gerência pelo terror não funciona; - com planos inviáveis, esforços extras trazem apenas mais fracasso; - a pessoa constrói seu próprio caminho para o fracasso; - pessoas “sobreviventes” podem perder os limites morais. A empresa errada O que é uma empresa errada? É aquela que tem uma adequação básica em produto, processo, estrutura, cultura ou estratégia. A empresa que não se adaptou às mudanças do ambiente e insistiu em uma fórmula que já não traz mais resultados. Essa empresa não tem salvação, isto é, se ela não passar por uma drástica mudança, inexoravelmente marchará para a falência. Muitas vezes, aqueles que estão no comando não percebem que sua empresa está errada e ficam tentando salvá-la, mas sem promover as necessárias mudanças. Multiplicam-se os planos, esforços intensivos são feitos, freqüentemente há a queima de recursos valiosos – e ao final do processo o que sobra? A frustração. A imobiliária focalizada em O sucesso a qualquer preço está fadada ao fracasso. Embora não haja uma referência mais clara à sua matriz e aos métodos, processos e estratégias dessa, pela unidade se depreende a idéia de que a empresa tem de fazer um enorme esforço para vender – o que, por si só, usualmente é sintoma de inviabilidade. Aparentemente sustenta-se baseada em pessoas que adotam métodos no mínimo vulneráveis, incapazes de construir solidez a longo prazo. É o caso de Blake, o executivo agressivo e desumano, e Roma, o corretor cético e esperto – ambos querendo vender a qualquer preço, e do gerente desonesto e passivo, buscando a sobrevivência pessoal por meios escusos. Blake poderia, sim, representar os ventos da mudança para bons caminhos, se se apresentasse como líder verdadeiro, com um paradigma modernizante. 113 Em Cartaz A gerência pelo terror não funciona Quando se exerce a gerência pelo terror, as pessoas são motivadas pelo medo. Usualmente elas se desvinculam emocionalmente da liderança, pois ninguém que faça terrorismo é legítimo. Assim, fingirão seguir as regras impostas, e até as seguirão em certa medida, mas terão planos alternativos individuais, que podem até mesmo conspirar contra os da direção. A curto prazo, os resultados podem aparecer, mas é impossível sustentar um processo desses a longo prazo. Entre os vícios da gerência pelo terror, encontramos: - Imoralidade – a gerência pelo terror contraria frontalmente os princípios de dignidade humana. - Resultados eventuais insustentáveis – se algum resultado aparece a curto prazo, provavelmente será melhor não confiar na sustentação. - Formação de conspiradores – grupos ou indivíduos vão mobilizar-se contra. - Riscos – incluem desde os danos por meio de fraudes até os provocados por ações judiciais, problemas de imagem, destruição de ativos etc. No caso da imobiliária Mitch & Murray, o novo executivo trouxe o terror e com ele a conspiração, a degradação moral, o crime contra a empresa, a lesão à imagem, a perda irreparável de profissionais que teriam potencial se adequadamente orientados. Com planos inviáveis, esforços extras trazem apenas mais fracasso Como lembrou Peter Drucker, antes de fazer as coisas certas, é necessário fazer a coisa certa. Um plano inviável trará inevitavelmente o fracasso, ainda que os executores sejam eficientes. O esforço extra só resulta em frustração extra, perda de energia, de tempo e de dinheiro. 114 Ricardo de Almeida Prado Xavier Vender a clientes que não querem ou não podem comprar é tarefa inglória. Igualmente vender com métodos ultrapassados, como o discurso de Shelley e as artimanhas de Roma, a que poderá levar? Igualmente não pode dar certo a ampliação intempestiva e não planejada da meta de vendas, o plano de motivar pelo medo, recursos adotados por Blake. A pessoa constrói seu próprio caminho para o fracasso Quer fracassar em vendas? A receita é simples: - Passe a olhar só os problemas e não as oportunidades. - Construa idéias falsas sobre clientes e seu potencial – e aja de acordo com essas idéias. - Seja cético e lacônico. - Invente boas desculpas para não vender. - Insista em métodos ultrapassados. Os corretores do filme, exceto Roma, o malandro, apresentam um pouco de tudo isso. Por terem deixado o fracasso entrar em sua alma, corroendo sua auto-estima, perderam a capacidade de ser proativos, respondendo de modo padronizado e inadequado ao desafio de vender. Ninguém pode culpar a imobiliária, a gerência ou quem quer que seja por seu fracasso. Porque a qualquer um seria possível reagir positivamente – abandonar a imobiliária quando ela se mostrasse contexto inadequado para o sucesso profissional. É mais confortável não fazer nada e reclamar, mas é por esse caminho que um vendedor constrói o seu fracasso. Pessoas “sobreviventes” podem perder os limites morais É ingênuo dizer que todo homem é corruptível. Igualmente é ingênuo esperar a santidade de todos. Gente honesta e bem- 115 Em Cartaz intencionada pode atravessar a fronteira da ética e da moral, dependendo das circunstâncias. Um contexto inadequado, que inclui a competição, a luta pela sobrevivência, um quadro de dificuldades, a presença de uma forte emoção podem derrubar as defesas de quem sempre foi honesto. A instituição e a gerência, por exercerem poder, têm uma responsabilidade social séria quanto a isso. Essa consiste em preservar o ambiente saudável para que apenas as expressões do que o ser humano tem de melhor possa aflorar. 116 Ficha Técnica Título: O sucesso a qualquer preço (Glengarry Glen Ross) Gênero: Drama Duração: 100 minutos Ano de lançamento (EUA): 1992 Estúdio: New Line Cinema Direção: James Foley Roteiro: David Mamet, baseado em sua peça original que estreou em Londres em 1983, daí seguindo para Chicago e finalmente estreando na Brodway, com enorme sucesso, tendo recebido o Prêmio Pulitzer em 1984. Produção: Jerry Tokofsky; Stanley R. Zupnik Música: James Newton Howard Direção de Fotografia: Juan Ruiz Anchia Desenho de Produção: Jane Musky Figurino: Jane Greenwood Edição: Howard Smith Elenco: Al Pacino (Ricky Roma); Jack Lemmon (Shelley Levene); Alec Baldwin (Blake); Ed Harris (Dave Moss); Alan Arkin (George Aaronow); Kevin Spacey (John Williamson); Jonathan Pryce (James Lingk); Bruce Altman (Mr. Spannel); Jude Ciccolella (Detective); Paul Butler (Policial). Praticando a arte de viver O jeito americano de viver, embora tenha inegavelmente trazido muita realização material, nem sempre tem as melhores alternativas no plano pessoal. O consumo desenfreado com a ausência de sentido na posse dos objetos, a abundância e a busca permanente da perda de peso, a organização eficiente e a falta de laços efetivos – eis algumas contradições do american way of life. O diretor desse filme elegante, leve e envolvente vale-se de uma história simples para propor uma reflexão sobre os modos de viver americano e chinês. Um velho mestre de tai chi chuan aposentado deixa Pequim e vai morar com o filho, a nora e o neto. Nesse contexto, sua presença vai ensinar a arte de viver. Uma história, duas culturas Um mestre de tai chi chuan, Mestre Chu (Sihung Lung), vai morar com o filho em Nova York, após a aposentadoria, em Pequim. O filho, Alex (Bo Z. Wang), casado com uma jovem escritora americana, Martha (Deb Snyder), e pai do garoto Jeremy (Haan Lee), é um bemsucedido profissional de informática. A presença do Mestre Chu na casa traz um permanente estresse para Martha, de natureza ansiosa. Por seu lado, o mestre tem vivido descontente, isolado na casa, sem saber falar inglês. Seus raros momentos de prazer resumem-se às aulas de Em Cartaz tai chi chuan que ministra em uma escola chinesa aos sábados, onde o neto vai tomar aulas da língua. Com dificuldade para escrever e para aceitar de bom grado a presença do sogro, Martha pensou em comprar uma casa maior, mas o marido tem outros planos. Na escola chinesa, o mestre conhece a senhora Chen (Lai Wang), professora de culinária, que tem uma vida parecida com a dele – ela também veio da China, está na mesma faixa etária, mora em casa da filha, tem uma neta e sente-se deslocada no mundo dos parentes. O encontro resulta em imediata simpatia. A presença do mestre na casa do filho começa a trazer problemas, como o ocorrido no dia em que o ancião saiu para um passeio e perdeu-se. Na seqüência da crise causada por esse fato, o filho tem a idéia de promover um encontro do mestre com a senhora Chen, mas Chu acaba por descobrir que o encontro fora arranjado e que tanto ele quanto Chen têm sido manipulados pelos filhos, que têm planos para eles. Chu abandona a casa do filho, que passa a viver intensa angústia, pois, criado na tradição chinesa, sente-se responsável por cuidar do pai, a quem ama. Tenta em vão localizar o pai, até que este aparece na TV, como herói que dominou um grupo de jovens agressores, capangas de seu patrão no restaurante em que trabalhava. O filho reencontra Chu, mas este decide morar só, em Chinatown, e deixar o filho seguir sua vida. Chu acaba reencontrando a senhora Chen, com quem inicia um namoro. A história é o pano de fundo para uma comparação dos estilos de vida americano e chinês. O primeiro, representado por Martha e por outros personagens como o patrão de Chu, um chinês já plenamente acostumado ao jeito americano, é essencialmente objetivo, utilitarista, voltado para a eficiência, para resultados, marcado pela busca do consumo e das realizações materiais. O jeito chinês, personificado por Chu e pela senhora Chen, está essencialmente preocupado com a substância da vida, com a atribuição de sentido aos comportamentos fundamentais (comer, exercitar-se, relaxar), preocupado com qualidade de vida e pouco com bens materiais. Alex é um personagem em conflito, que, vivendo pelo padrão e valores americanos, consegue reter valores fundamentais da cultura chinesa. 120 Ricardo de Almeida Prado Xavier O Mestre Chu sugere que nem na China há mais o jeito chinês de viver. Em conversa com a senhora Chen, que foi sempre vítima da perseguição dos comunistas, sugere que a Pequim que ela conheceu não existe mais. No entanto, os dois mantêm-se vivos, são a representação de uma cultura que prima pela harmonia, a delicadeza e o equilíbrio, e vivem nos EUA. O filme deixa a mensagem de que o jeito harmônico de viver pode ser praticado aqui e agora. Mensagem de sentido na vida Viver de modo apressado, “objetivo” e mecânico provavelmente não vai levar a grandes coisas em termos de satisfação pessoal. É necessário viver com sentido. Eis uma das mensagens que esse filme traz. Recomendações O filme pode trazer boas reflexões sobre a diferença entre ser e ter, sobre viver com sentido e viver de modo mecânico, sobre o porquê de se buscar a realização material, sobre impulsos insensatos da vida moderna. Lições de vida - Antes de buscar resultados externos, é fundamental o indivíduo cuidar de seu autodesenvolvimento. Por que alguém perde o controle sobre seu estado de espírito? Por que se vive ansioso? Quem cuida bem de si mesmo tem mais controle sobre esses males. - A intolerância a estilos de vida diferentes, ela própria, é sintoma de que o estilo que adotamos não é satisfatório. A nora do Mestre Chu tinha dificuldade de tolerar a presença dele, simplesmente porque ele era diferente. Será que ela estaria “resolvida”? A China que a senhora Chen conheceu não existe mais. Em compensação os EUA, com toda a sua pujança material, não tem todas as respostas que demanda um ser inteligente que busca a vida com qualidade. Contudo, fazendo uma síntese, pode-se viver uma vida qualitativa aqui e agora. 121 Ficha Técnica Título: A arte de viver (Pushing Hands) Gênero: Comédia/Drama Duração: 88 minutos Ano de lançamento (Taiwan/EUA): 1992 Estúdio: Cinepix Distribuição: Filmes do Estação Direção: Ang Lee Roteiro: Ang Lee e James Schamus Produção: Ted Hope, James Schamus, Ang Lee, Emily Liu Música: Xiao-Song Qu Direção de Fotografia: Jong Lin Desenho de Produção: Scott Bradley Direção de Arte: Michael Shaw Figurino: Elizabeth Jenyon Edição: Tim Squyres Elenco: Sihung Lung (Mestre Chu); Lai Wang (Senhora Chen); Bo Z. Wang (Alex Chu); Deb Snyder (Martha Chu); Haan Lee (Jeremy Chu). A fraude mostra a queda do homem e da organização Pessoas tornam-se vulneráveis e podem fazer aquilo que não legal ou ético – por que e como isso ocorre? Igualmente as organizações, feitas por pessoas, derrapam na moral e são levadas ao desastre – qual é o processo que o causa? O filme A fraude (Rogue Trader) mostra como um profissional e uma organização são levados ao comportamento inadequado e, conseqüentemente, ao desastre. Baseado no livro autobiográfico de Nick Leeson, o filme mostra como se arquitetou o desastre que levou à falência o Barings Bank, da Inglaterra, o banco mais antigo do mundo. Ambição e tolerância com o erro são os dois ingredientes principais da história, que tem muito a ensinar a qualquer pessoa que almeja crescer na carreira e a qualquer organização que pretende manter sua saúde. Em Cartaz Uma história de deterioração moral e profissional O jovem e ambicioso Nick Leeson (Ewan McGregor) é admitido para trabalhar no Barings Bank, tradicional casa bancária britânica, considerado o banco mais antigo do mundo. Persuasivo e voltado para a carreira, longo encontra sua grande chance, quando é enviado para Cingapura, para executar um trabalho operacional e árduo, que exigia responsabilidade e bom nível profissional. Dá conta da tarefa magistralmente, auxiliado por Lisa (Anna Friel), uma bela jovem que o banco enviou para ajudá-lo e por quem imediatamente se apaixona. Tarefa cumprida, Leeson começa sua carreira ascendente na instituição e casa-se com Lisa. Tendo migrado para a área de seu maior interesse, a bolsa, Leeson recebe uma jovem equipe e começa a imprimir no setor seu modo próprio de administrar, muito voltado para a lealdade, para a amizade, para o relacionamento interpessoal. Eis que uma de suas subordinadas comete um erro simples e perde uma quantia nada significativa para um banco. A perda, entretanto, custaria a demissão da moça. Na tentativa de salvá-la, Leeson realiza uma operação para cobrir o referido valor. Esse valor de erro é transitoriamente jogado em uma conta, a 88888, para não chamar a atenção. No entanto, a operação de salvamento dá errado e novas quantias são perdidas e novas operações são feitas no sentido de cobri-las, até que se chega a um valor realmente significativo quando, em uma operação em que foi ajudado pela sorte, Leeson consegue recuperar tudo. Os erros ficariam encobertos, tudo voltaria à normalidade, ele voltaria à boa vida com a linda mulher, o conforto e a prosperidade que o cargo vinha trazendo. Contudo, eis que entra em cena a ambição e ele passa a acreditar que se a coisa funcionou uma vez, vai funcionar outras. Recomeça a vida de jogadas que, de repente, começam a dar errado novamente, e vão abrindo um rombo nas contas do banco, sempre com a cobertura da famosa conta 88888. 124 Ricardo de Almeida Prado Xavier Um dia, com valores astronômicos, que podem ter chegado aos bilhões de dólares, o rombo aparece. Lesson vai para a cadeia, a apaixonada esposa acaba casando com outro, o banco vai à falência e é vendido pela quantia simbólica de uma libra. Mensagem A lição fundamental que fica é que a tolerância com o erro, seja em outros, seja em si mesmo, nunca leva ao bom caminho. Aqui houve uma profusão de erros – operacionais, de raciocínio, morais e em todas as instâncias, no plano individual e no organizacional, observou-se a negligência e a tolerância em relação a eles. Recomendações Excelente filme para discussões sobre temas empresariais os mais diversos. Por exemplo, pode ser usado para reflexões sobre: - papel da gerência; - limites éticos da lealdade entre profissionais a serviço de uma empresa; - confiança e confiabilidade nas relações funcionais; - negligência com os controles; - erro de ser “bonzinho”, de querer agradar a todos, cometendo erros por isso; - diferença entre aceitação inteligente do risco e mero jogo com dinheiro de terceiros; - surgimento de teorias malucas e sua aplicação na administração; - discursos entusiásticos que motivam, mas levam ao caminho errado. Enfim, o que não falta nesse filme é tópico de observação para estudo de situações empresariais. 125 Em Cartaz Lições - O impulso de querer agradar aos outros traz riscos. Muitos profissionais sentem dificuldade de dizer “não” e de tomar decisões dolorosas envolvendo terceiros. Com isso, acabam fazendo mais mal que bem. - A complacência com procedimento errado é inaceitável no mundo empresarial, principalmente quando se trata de operações financeiras. O descuido em auditorias leva a fraudes, quase sempre. - Executivos ausentes deixam de cumprir seu papel. Há os que olham as coisas “muito por cima”, de modo superficial, e entregamse a atividades cerimoniais agradáveis, fugindo do contato com os problemas reais do dia-a-dia. Isso é perigoso do ponto de vista empresarial. - Lealdade ao grupo, a colegas, a chefes não implica compactuar com erros e fraudes. Os limites da lealdade são estabelecidos pela ética e pelo profissionalismo. - É fundamental compreender bem o que é aceitar riscos no mundo empresarial. Arriscar é desejável e louvável, mas dentro de um prisma racional de avaliação de riscos, de comunicações claras, de operações legais e racionais. - Tomar atalhos no caminho da carreira, querer apressar as promoções, derrapar na ilegalidade – tudo isso leva ao desastre. - Pessoas e empresas são vulneráveis. O controle e a racionalidade são fundamentais para a manutenção da saúde e produtividade. Quando as pessoas enfrentam problemas sérios, freqüentemente adotam “postura de avestruz”, isto é, enfiam a cabeça no buraco, para não ver o que está ocorrendo. Isso é um erro fatal. 126 Ficha Técnica Título: A fraude (Rogue Trader) Gênero: Drama Duração: 97 minutos Ano de Lançamento (Inglaterra): 1998 Direção: James Dearden Roteiro: James Dearden (a partir da autobiografia de Nick Leeson) Produção: Janette Day, James Dearden, Paul Raphael Direção de Fotografia: Jean-François Robin Desenho de Produção: Alan McDonnald Figurino: Raphael Fleming Edição: Catherine Creed Elenco: Ewan McGregor (Nick Leeson); Anna Friel (Lisa Leeson); Yves Beneyton; Betsy Brantley; Caroline Langrishe K-19 mostra os dilemas da liderança Um líder toma decisões que envolvem diferentes realidades. Uma delas é a realidade política – o que é politicamente adequado em uma determinada situação? Outra é a realidade técnica – o que é tecnicamente adequado? Há ainda a realidade estratégica – qual é a opção de menor risco e maior probabilidade de êxito na incerteza? Há ainda o contexto ético – o que é certo e o que é errado? O problema não seria muito complicado se essas realidades não tivessem demandas contraditórias. De um momento para outro, justamente na condição da decisão mais crítica, o líder se vê na necessidade de decidir e tendo à sua frente um conjunto de necessidades que se chocam. O que fazer? Eis a grande responsabilidade da liderança. Uma história da situação em que a política compromete a razão O filme é inspirado em um fato real. Em 1961, em plena Guerra Fria, quando EUA e URSS mantinham uma delicada paz armada baseada no medo recíproco, o Capitão Em Cartaz Alexei Vostrikov (Harrison Ford) recebe a missão de tomar o comando do submarino nuclear K-19 do Capitão Mikhail Polenin (Liam Neeson). Na visão do poder central, o Capitão Polenin não tinha a necessária visão política para comandar o submarino e colocava seus homens acima das responsabilidades da missão. Vostrikov não tinha a qualificação técnica de Polenin, nem a experiência estratégica na condução de um submarino desse porte, construído para demonstrar força perante os americanos e demovê-los de eventuais tentações de ataque. O submarino deveria fazer um teste de lançamento de um míssil nuclear. Eis que, para cumprir as metas estratégicas e políticas da missão, Vostrikov vai além dos limites técnicos recomendados para a condução da operação. Por infortúnio, um problema técnico coloca o submarino em perigo, o que poderia trazer impactos inimagináveis, tratando-se de um submarino nuclear carregado de mísseis, aproximando-se da Europa e dos EUA. Com problemas técnicos e situação de alto perigo, o K-19 é abordado por um barco de guerra americano, que se comunica na faixa de emergência oferecendo ajuda. Vostrikov, preso à esfera política, recusa e tenta fazer o submarino submergir para que a equipe repare os problemas, mas estes se agravam e ele se vê diante de uma difícil decisão – deixar que todos morram ou aceitar a ajuda dos americanos. Ante o dilema moral, acaba decidindo-se a aceitar a ajuda, mas é salvo pela chegada de um submarino soviético que veio socorrê-lo. Vostrikov é a voz da política. Ele acata a orientação do poder central, assimila os objetivos estratégicos dessa, amolda-se ao que o comando superior acha correto. Daqui surgem muitas fraquezas. Na URSS a política contagiava de tal modo as decisões técnicas e estratégicas que essas acabavam por apresentar tal inadequação que comprometia até mesmo os objetivos maiores, políticos. Qualquer decisão era orientada pela pergunta: o que é melhor para o comunismo e para o partido? Daí se o certo do ponto de vista técnico, estratégico ou até ético contrariasse os interesses do comunismo ou do partido, prevalecia a decisão política. O comandante assumiu o submarino imbuído da missão política e levou-a até onde deu, tendo 130 Ricardo de Almeida Prado Xavier tido a sabedoria de romper com ela quando se mostrou patológica e inadequada. Teve o bom senso de ouvir seus comandados e particularmente seu comandado principal, o Capitão Polenin. Polenin representa a pureza técnica e ética. Conseguia manterse isento do contágio político das instâncias superiores. Um ponto que facilitava a adoção dessa postura é que de certa forma ele, mais embaixo na hierarquia do partido comunista, era vítima das decisões irracionais e iludidas da turma de cima, que desconhecia a realidade dos fatos ao decidir sobre os outros. A tripulação do submarino mostra como as pessoas percebem os líderes, seus papéis e suas condutas. Liderados efetivamente por Polenin, os homens acataram responsavelmente o comando de Vostrikov, até o limite, sem aceitar de alma e coração suas ordens. Uma reversão se deu no momento em que Vostrikov percebeu a falácia da política e resolveu entrar em empatia com todos, percebendo os problemas reais e reagindo com responsabilidade e cabeça de ser humano digno e não como defensor de interesses partidários ou ideológicos duvidosos. A partir desse momento, todos – porque tinham compromisso com sua própria responsabilidade de solidariedade humana – acataram a direção do comandante efetivamente. Mensagem – equilíbrio na liderança A política pode contagiar negativamente o quadro decisório e levar a desastres, incluindo a ruptura com a ética e com os valores mais sagrados da solidariedade humana. Um líder tem de partir da política, mas saber dizer não a ela ou tentar mudá-la quando as circunstâncias mostram que ela deteriorou-se e, em vez de oferecer orientação adequada, torna-se um instrumento irracional de autodestruição. É fundamental considerar todos os aspectos envolvidos nas grandes decisões: os políticos, os estratégicos, os técnicos, os éticos. Julgamento adequado e sensibilidade tornam-se fundamentais para o líder. 131 Em Cartaz Recomendações O filme pode ser usado para uma análise dos conflitos das decisões das pessoas que têm poder. Entre outras questões a discutir com base nele, podemos mencionar as seguintes: - O que fazer quando o chefe está errado? - Até que ponto o enfoque exclusivamente técnico pode levar a decisões inadequadas? - Nem tudo que é tecnicamente bom é politicamente bom. Como resolver esse problema? - O que fazer para que a política não contagie inadequadamente as decisões técnicas e estratégicas? Uma lição para os líderes Entre outras excelentes lições do livro, podemos destacar a seguinte: Um líder tem de ter a firmeza de propósito para fazer a política justa orientar as decisões, mas também precisa de flexibilidade para mudar quando o politicamente correto mostra-se inadequado. 132 Ficha Técnica Título: K-19: The Widowmaker Gênero: Drama Duração: 138 minutos Ano de lançamento (EUA): 2002 Estúdio: Intermedia Films / First Light Production / IMF Internationale Medien un Film GmbH & Co. 2 Produktions KG / National Geographic Society / New Regency Pictures/ Palomar Productions Distribuição: Paramount Pictures / UIP / 20th Century Fox Direção: Kathryn Bigelow Roteiro: Christopher Kyle, baseado em história de Louis Nowra Produção: Kathryn Bigelow, Edward S. Feldman, Sigurjon Sighvatsson e Chris Withaker Música: Klaus Badelt Direção de Fotografia: Jeff Cronenweth Desenho de Produção: Karl Juliusson e Michael Novotny Direção de Arte: Arvinder Grewal e William Ladd Skinner Edição: Walter Murch Elenco: Harrison Ford (Capitão Alexei Vostrikov); Liam Neeson (Capitão Mikhail Polenin); Sam Spruell (Dimitri Nevsky); Peter Stebbins (Kuryshev); Christian Camargo (Pavel Loktev); Roman Podora (Lapinsh); Sam Redford (Vasily Mishin); Steve Nicolson (Yuri Demichev); Ravil Issyanov (Igor Suslov); Tim Woodward (Konstantin Partonov); Lex Shrapnel (Mikhail Kornilov); Shaun Benson (Leonid Pashinski); Kristen Holden-Reid (Anton Malahov); Dmitry Chepovetsky (Sergei Maximov); Christopher Redman (Kiklidze); Joss Ackland (Marshal Zalentsov); John Shrapnel (Almirante Bratyeev); George Anton (Konstantin Poliansky). Nada é mera coincidência, na arte de inventar o real Até que ponto aquilo que vemos e ouvimos traduz a verdade dos fatos? Até que ponto os fatos são reais e até que ponto não passam de ficção criada com a finalidade de propaganda? Muita gente acredita firmemente na chamada teoria da conspiração, uma idéia de que a elite manobra maquiavelicamente para atingir seus objetivos, apresentando uma realidade falsa ao povo. Este filme eleva ao quadrado a idéia da teoria da conspiração – é uma comédia, ficção. O título que o filme tomou no Brasil (Mera coincidência) não tem nada a ver com o título em inglês (que significa algo como “balançar o cachorro” em vez de o cachorro balançar o rabo, num trocadilho que quer dizer mudar a realidade). Foi criado em alusão a um fato real, o relacionamento do ex-presidente Bill Clinton com a estagiária Monica Lewinski. Isso quer dizer que a realidade (caso Clinton/Monica) imita a arte, porque o caso ocorreu após o filme, e que a ficção do filme tem algum fundo de verdade. O caso é que pessoas no poder agem de tal modo a sustentá-lo. Para isso, trabalha-se a sério a imagem, constroem-se as versões Em Cartaz da mídia. A mídia, por sua vez, é vulnerável. E a opinião pública? Importante, mas frágil e nem sempre disposta a encarar os fatos mais duros, a ver as coisas como elas são e não como se gostaria que fossem. História de coincidências entre o real e a ficção O presidente norte-americano, em campanha para reeleição, comete um deslize ao molestar sexualmente uma adolescente que vai em excursão visitar a Casa Branca. O escândalo está prestes a estourar, com o presidente em visita à China, quando chamam Conrad “Connie” Bean (Robert De Niro), um experimentado articulador, para dar um jeito na situação e evitar o escândalo e o desastre político resultante. Bean imediatamente começa a trabalhar, auxiliado pela assessora de imprensa Winifred Ames (Anne Heche), que fica como observadora atenta dos fatos, mais que como agente. Stanley Motss (Dustin Hoffman), um destacado e milionário produtor de Hollywood, é convocado para auxiliar na tarefa de desviar a atenção da imprensa do escândalo. Aceita pelo prazer de estar no meio dos acontecimentos, de exercer o poder de sedução da multidão, de fazer um trabalho digno de nota. Começam, ele e Bean, a construir uma guerra fictícia que colocará o presidente no centro do palco como herói nacional e abafará o caso da jovem molestada. A tarefa é realizada com brilho, tendo o presidente conseguido reeleger-se. Mensagem: a comunicação cria a realidade A comunicação descreve a realidade, mas também cria a realidade. De um lado, aprender a comunicar-se adequadamente, ter zelo para com a imagem, dar atenção à opinião pública e trabalhar para que essa seja favorável é uma estratégia válida e necessária para qualquer empresa ou profissional. De outro, a busca da imagem adequada traz o perigo do desvio ético, eventualmente se procura parecer aquilo que 136 Ricardo de Almeida Prado Xavier não se é, vendendo uma imagem negativa que engana a todos. Por fim, como vítimas que eventualmente somos da manipulação, é bom ficar esperto para não nos deixar enganar. Recomendações É um bom filme para discutir questões como imagem corporativa, opinião pública, comunicação com a mídia etc. 137 Ficha Técnica Título: Mera Coincidência (Wag the Dog) Gênero: Comédia Duração: 97 minutos Ano de lançamento (EUA): 1997 Estúdio: New Line Cinema / Tribeca Productions / Baltimore Pictures / Punch Productions Distribuição: New Line Cinema Direção: Barry Levinson Roteiro: Hilary Henkin e David Mamet, baseado em livro de Larry Beinhart Produção: Robert De Niro, Barry Levinson e Jane Rosenthal Música: Mark Knoffler Direção de Fotografia: Robert Richardson Desenho de Produção: Wynn Thomas Direção de Arte: Mark Worthington Figurino: Rita Ryack Edição: Stu Linder Elenco: Dustin Hoffman (Stanley Motss); Robert De Niro (Conrad “Connie” Bean); Anne Heche (Winifred Ames); Denis Leary (Fad King); Willie Nelson (Johnny Dean); Andrea Martin (Liz Butsky); Kirsten Dunst (Tracy Lime); William H. Macy (Sr. Young); John Michael Higgins (John Levy); Suzie Plakson (Grace); Woody Harrelson (Sargento William Schumann); Michael Belson Presidente); Suzanne Cryer (Amy Cain); David Koechner (Diretor); James Belushi (James Belushi); Jay Leno (Jay Leno); Craig T. Nelson (Senador John Neal). Premiações Duas indicações ao Oscar: Melhor Ator (Dustin Hoffman) e Melhor Roteiro Adaptado. Três indicações ao Globo de Ouro: Melhor Filme Comédia/Musical, Melhor Ator - Comédia/Musical (Dustin Hoffman) e Melhor Roteiro. Uma indicação ao BAFTA, na categoria de Melhor Roteiro Adaptado. Ganhou o Prêmio do Júri no Festival de Berlim. Lista de Filmes As confissões de Schmidt Kramer vs. Kramer O preço da ambição Pantaleão e as visitadoras Um domingo qualquer A senha Limite vertical Tempo de recomeçar Concorrência desleal Ou tudo ou nada Os suspeitos Regras da vida Uma mente brilhante Como enlouquecer seu chefe O sexto sentido Em Cartaz Lua de fel Grande Hotel Jerry Maguire O sucesso a qualquer preço A arte de viver A fraude K-19: The Widowmaker Mera Coincidência 142