Os Projetos Estratégicos do Exército Brasileiro e suas
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Os Projetos Estratégicos do Exército Brasileiro e suas
ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO Maj Inf MOISES FELIPE GERVAZONI VIANA Os Projetos Estratégicos do Exército Brasileiro e suas contribuições para a implementação da Política Nacional de Defesa. Rio de Janeiro 2014 Maj Inf MOISES FELIPE GERVAZONI VIANA Os Projetos Estratégicos do Exército Brasileiro e suas contribuições para a implementação da Política Nacional de Defesa. Trabalho de Conclusão do Curso apresentado à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Ciências Militares. Orientador: Maj Cav QEMA ANDRÉ BOU KHATER PIRES Rio de Janeiro 2014 V614p VIANA, Moisés Felipe Gervazoni Os Projetos Estratégicos do Exército Brasileiro e suas contribuições para a implementação da Política Nacional de Defesa - 2014. 56 f : il; 30cm. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Ciências Militares) - Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, Rio de Janeiro, 2014. Bibliografia: f. 54-56. 1. Projetos Estratégicos do Exército. 2. Política Nacional de Defesa. 3. Contribuições. I. Título. CDD 355.45 Maj Inf MOISES FELIPE GERVAZONI VIANA Os Projetos Estratégicos do Exército Brasileiro e suas contribuições para a implementação da Política Nacional de Defesa. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Ciências Militares. Aprovado em 06 de março de 2015. COMISSÃO AVALIADORA _______________________________________________________ ERLON PACHECO DA SILVA – Ten Cel Art QEMA– Presidente Escola de Comando e Estado-Maior do Exército ______________________________________________________ ANDRÉ BOU KHATER PIRES – Maj Cav – Membro Escola de Comando e Estado-Maior do Exército ________________________________________________________ JOÃO RICARDO DA CUNHA CROCE LOPES – Maj Art – Membro Escola de Comando e Estado-Maior do Exército À minha família, meu maior bem e a Deus. AGRADECIMENTOS À Deus por ser uma pessoa abençoada em todos os pilares do homem: família, espírito, trabalho e saúde. À minha esposa GIOVANNA, amiga e companheira indispensável da minha caminhada, mãe abnegada, devo-lhe a totalidade do meu sucesso. Obrigado pelo apoio nas horas boas e difíceis. À minha amada filha, MARINA, que teve que suportar a minha ausência para conclusão deste trabalho. À minha mãe CONCEIÇÃO, meu exemplo, meu referencial, por sua dedicação profissional, retidão de caráter e abnegação familiar. Ao Exército Brasileiro, pela bagagem cultural e profissional que me proporcionou ao longo de minha carreira. Ao meu orientador, pelas orientações seguras e tranquilas, como também pelo incentivo e confiança demonstrados em várias oportunidades. RESUMO A importância político-estratégica alcançada pelo Brasil nos dias atuais, reforçada pela complexidade dos desafios e ameaças existentes, tornam a Segurança e a Defesa Nacional assuntos da mais elevada relevância no seio da sociedade brasileira. Com base neste cenário, a capacidade de defesa do Brasil deve ser compatível com as necessidades do país, bem como com seus anseios no concerto das Nações, em condições de respaldar a preservação dos interesses nacionais e exercer o seu direito de defesa. Essa capacidade, obrigatoriamente, está baseada na necessidade do Brasil possuir Forças Armadas capazes de fazer frente a esses interesses e ameaças. O atual processo de transformação por que passa o Exército Brasileiro tem como principal objetivo fazê-lo um efetivo instrumento dissuasório à disposição da Nação. Para se modernizar, o Exército Brasileiro adotou os Projetos Estratégicos do Exército (PEE) como os verdadeiros Indutores da sua Transformação. O incremento da Defesa Nacional tem suscitado uma série de medidas pelo Governo brasileiro nos últimos anos, como a elaboração da Política Nacional de Defesa (PND), documento de mais alto nível do Estado brasileiro para o planejamento de defesa. A PND define os Objetivos Nacionais de Defesa (OND) e estabelece orientações para o preparo e emprego dos meios de que dispõe a Nação para conquistá-los. Desta forma, o presente trabalho procurou verificar se os Projetos Estratégicos do Exército estão contribuindo com a implementação da Política Nacional de Defesa, por meio do atendimento aos seus Objetivos Nacionais de Defesa. Para comprovar ou não essa hipótese, foram descritos os Projetos Estratégicos Indutores do Exército e seus produtos, bem como apresentada a PND e seus OND, a fim de verificar as possíveis correspondências entre eles. O estudo monográfico apresenta, também, os principais conceitos relativos à Defesa e, por fim, concluiu a respeito dos óbices para implementação da PND, por meio dos PEE. Palavras-chave: Projetos Estratégicos do Exército; Política Nacional de Defesa e Contribuições. ABSTRACT The political and strategic importance achieved by Brazil today, reinforced by the complexity of the challenges and threats, make security and national defense matters of the highest importance within Brazilian society. Based on this scenario, the defense capability of Brazil must be compatible with the country's needs, as well as their expectations in the concert of Nations, in a position to support the preservation of national interests and exercise their rights of defense. This capability is mandatory, is based on the need of Brazil have Armed Forces able to deal with these interests and threats. The current process of transformation experienced by the Brazilian Army's main objective is to do it an effective deterrent tool in the hands of the Nation. To modernize the Brazilian Army adopted the Strategic Army Projects (SAP) as the true inducers of its transformation. The increase of National Defence has raised a series of measures by the Brazilian Government in recent years, as the development of the National Defense Policy (NDP), the highest level document of the Brazilian State for defense planning. The NDP defines the National Defense Goals (NDG) and guidelines for the preparation and use of means available to the Nation to conquer them. Thus, the present study examined whether the Army Strategic Projects are contributing to the implementation of the National Defence Policy, through service to their National Defense Goals. To prove or disprove this hypothesis, the Strategic Inductors Army Projects were described and their products as well as presented the NDP and its NDG in order to verify possible matches between them. The monographic study also presents the main concepts of Defense and ultimately concluded regarding the obstacles to implementation of the NDP, through SAP. Keywords: Strategic Army Projects; National Defense Policy and Contributions. LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Concepção Geral do SISFRON....................................................... 22 Figura 2 - Projetos estruturantes do PEE Defesa Cibernética......................... 27 Figura 3 - Versões previstas para a VB-MR Guarani...................................... 29 Figura 4 - VBTP- MR 6 X 6 Guarani com Sistema REMAX............................. 30 Figura 5 - Blindado Antiaéreo GEPARD 1A2................................................... 33 Figura 6 - PANTSIR-S1.................................................................................... 33 Figura 7 - Sistema ASTROS 2020................................................................... 35 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Material do RECOp adquirido em empresas nacionais................... 38 Quadro 2 - Capacidades Militares Terrestres versus PEE................................. 49 Quadro 3 - Correlação entre as Cpcd Mil Ter e os OND................................... 49 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AAAe - Artilharia Antiaérea ARP - Aeronaves remotamente pilotadas Bda Inf Mec - Brigada de Infantaria Mecanizada BID - Base Industrial de Defesa BI Mec - Batalhão de Infantaria Mecanizado CDCiber - Centro de Defesa Cibernética CECMA - Centro de Embarcações do Comando Militar da Amazônia CIBld - Centro de Instrução de Blindados COMDABRA - Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro Cpcd Mil Ter - Capacidades Militares Terrestres CTEx - Centro Tecnológico do Exército C&T - Ciência e Tecnologia DAAe - Defesa Antiaérea EB - Exército Brasileiro EETer - Estruturas Estratégicas Terrestres EME - Estado-Maior do Exército END - Estratégia Nacional de Defesa EsACosAAe - Escola de Artilharia de Costa e Antiaérea ESG - Escola Superior de Guerra FAB - Força Aérea Brasileira FFAA - Forças Armadas F Ter - Força Terrestre GLO - Garantia da Lei e da Ordem GSI/PR - Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República LBDN - Livro Branco da Defesa Nacional MB - Marinha do Brasil MD - Ministério da Defesa MSI - Mosaico de Segurança Institucional NEGAPEB - Normas para Elaboração, Gerenciamento e Acompanhamento de Projetos no Exército Brasileiro OM - Organizações Militares OND - Objetivos Nacionais de Defesa PAED - Plano de Articulação e Equipamento da Defesa PAEEB - Plano de Articulação e Equipamento do Exército Brasileiro PD&I - Pesquisa, o Desenvolvimento e Inovação PEE - Projetos Estratégicos do Exército PMD - Política Militar de Defesa PND - Política Nacional de Defesa PRODE - Produtos de Defesa PROFORÇA - Projeto de Força do Exército Brasileiro QDM - Quadros de Dotação de Materiais RDS - Rádio Definido por Software RECOP - Projeto de Recuperação da Capacidade Operacional da Força Terrestre SARP - Sistema Aéreo Remotamente Pilotado SIC - Segurança de Informações e Comunicações SIPAM - Sistema de Proteção da Amazônia SISDABRA - Sistema de Defesa Aeroespacial Brasileiro SISFRON - Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras SisGAAz - Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul TO - Teatro de Operações Vtr - Viatura VBR - Viatura Blindada de Reconhecimento VBTP-MR - Viatura Blindada para Transporte de Tropa Média de Rodas ZI - Zona de Interior SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO..................................................................................................14 2 METODOLOGIA...............................................................................................18 3 PROJETOS ESTRATÉGICOS DO EXÉRCITO (PEE).....................................19 3.1 SISFRON .........................................................................................................20 3.2 PROTEGER......................................................................................................23 3.3 Projeto Defesa Cibernética...............................................................................25 3.4 Projeto Guarani.................................................................................................28 3.5 Projeto Defesa Antiaérea..................................................................................31 3.6 Astros 2020.......................................................................................................34 3.7 Projeto de Recuperação da Capacidade Operacional (RECOP)......................36 4 POLÍTICA NACIONAL DE DEFESA (PND).....................................................40 4.1 Conceitos relacionados à Defesa......................................................................41 4.1.1 Objetivos Nacionais........................................................................................42 4.1.2 Poder Nacional................................................................................................43 4.1.3 Política Nacional..............................................................................................43 4.1.4 Estratégia Nacional.........................................................................................43 4.1.5 Óbices...............................................................................................................43 4.1.6 Defesa Nacional...............................................................................................43 4.2 O Ambiente Regional e o Entorno Estratégico..................................................44 4.3 Os Objetivos Nacionais de Defesa....................................................................44 4.4 As Orientações da PND....................................................................................45 5 AS CONTRIBUIÇÕES DOS PEE PARA A PND..............................................47 6 CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES.............................................................51 REFERÊNCIAS................................................................................................54 14 1 INTRODUÇÃO Até há pouco tempo, era pensamento de grande parte da sociedade brasileira que os assuntos relacionados à Defesa Nacional diziam respeito apenas aos militares. A Defesa Nacional é um dos assuntos de mais alta relevância, que tem suscitado uma série de medidas pelo Estado brasileiro nos últimos anos, dentre as quais a elaboração da Política Nacional de Defesa (PND), que possui como um dos propósitos conscientizar todos os segmentos da sociedade brasileira de que a defesa do País é um dever de todos os brasileiros. (PND, 2013e, p.1) A Política Nacional de Defesa (PND) é o documento condicionante de mais alto nível do planejamento de ações destinadas à defesa nacional coordenadas pelo Ministério da Defesa. Voltada essencialmente para ameaças externas, estabelece objetivos e orientações para o preparo e o emprego dos setores militar e civil em todas as esferas do Poder Nacional, em prol da Defesa Nacional. (PND, 2013e, p.1) Ao mesmo tempo, o processo de crescimento econômico e de reconhecimento e projeção internacional do Brasil, que assume função de protagonista no cenário mundial, requer uma ampliação da capacidade operativa do Exército Brasileiro (EB) de modo a torná-lo mais eficiente na missão Institucional de proteção ao Estado brasileiro. (Revista Verde-Oliva, Nr 217, 2013a, p.3) O surgimento da Era do Conhecimento, a emergência do Brasil como Nação de grande relevância no cenário internacional e a imprevisibilidade marcante dos conflitos do século XXI, caracterizados por diferentes tipos de ameaças, catalisaram a percepção da necessidade da transformação do EB, a fim de proporcionar ao País o respaldo necessário para enfrentar os novos desafios da atualidade. Para tanto, o Estado brasileiro editou a Estratégia Nacional de Defesa (END), em 2008, em decorrência da qual a Força Terrestre deu início a um processo de transformação. A Estratégia Nacional de Defesa tem como premissa básica dotar o Brasil de um poderio militar que desencoraje ações estrangeiras em nosso território ou sobre nossos recursos naturais por meio de uma política dissuasória. A Estratégia Nacional de Defesa (END) trata da reorganização e reorientação das Forças Armadas, da organização da Base Industrial de Defesa e da política de composição dos efetivos da Marinha, do Exército e da Aeronáutica. Ao propiciar a execução da PND com uma orientação sistemática e com medidas de implementação, a END contribui para fortalecer o papel cada vez mais importante do Brasil no mundo. (EB20 – MF -10.102, 2014b, p. 2-2) 15 O processo de transformação por que passa o Exército Brasileiro tem como principal objetivo fazê-lo um efetivo instrumento dissuasório à disposição da Nação, por meio de sua evolução. (Revista Verde-Oliva, Nr 217, 2013a, p.9) Nesse intuito, o Estado-Maior do Exército (EME) formulou um conjunto de ações estratégicas que conduziram esta transformação – o Projeto de Força do Exército Brasileiro (PROFORÇA). O PROFORÇA (BRASIL, 2012b) estabelece as bases para a transformação do Exército Brasileiro, organiza metas de forma temporal (curto, médio e longo prazo) e define as ações a serem desenvolvidas, organizadas segundo nove Vetores de Transformação: Doutrina; Preparo e Emprego; Educação e Cultura; Gestão; Recursos Humanos; Engenharia; Orçamentos e Finanças; Logística; e Ciência e Tecnologia (C&T). Pautado nos vetores de transformação, o Comandante do EB definiu os seguintes Projetos Estratégicos do Exército (PEE) Indutores da Transformação da Força: o SISFRON (Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras); o Projeto PROTEGER (Sistema Integrado de Proteção de Estruturas Estratégicas Terrestres); o Projeto Defesa Cibernética; o Projeto GUARANI; o Projeto Defesa Antiaérea; o ASTROS 2020; e o Projeto de Recuperação da Capacidade Operacional da Força Terrestre (RECOP). Os produtos dos PEE não trarão benefícios somente para a Defesa e Proteção do Brasil. Com foco no estímulo à inovação e na produção nacional de meios tecnologicamente avançados, de alta complexidade e de emprego dual, os PEE buscam alinhar-se aos Objetivos Nacionais de Defesa estabelecidos pela PND. Segundo a PND (2013e, p.3), a configuração da ordem internacional, caracterizada por assimetrias de poder, produz tensões e instabilidades indesejáveis para a paz. A percepção dessas ameaças e o antagonismo de outros Estados frente à perseguição de legítimos interesses nacionais brasileiros constituem-se fortes razões para a implementação da Política Nacional de Defesa. Dentro do pressuposto que a defesa do País é inseparável do seu desenvolvimento, para que o desenvolvimento e a autonomia nacionais sejam alcançados é essencial o domínio crescente da autonomia de tecnologias sensíveis, principalmente nos estratégicos setores espacial, cibernético e nuclear. O governo brasileiro investiu grande esforço na saída da inércia que se encontrava, em termos de segurança e defesa nacional, e elaborou as duas primeiras versões da Política de Defesa Nacional, em 1996 e 2005, que contaram 16 com a participação de militares, diplomatas, políticos e juristas, constituindo-se em referências para a formulação da atual PND, edição 2013. Os Objetivos Nacionais de Defesa (OND) estabelecidos pela PND são Objetivos de Estado, e, como tal, devem estar voltados para o atendimento de necessidades, interesses e aspirações nacionais. Diversos fatores intervenientes dificultam a consecução de um planejamento estratégico para Força seguindo à direção da transformação do Exército por meio de seus projetos estratégicos. Neste sentido, levantou-se o seguinte problema analisado neste estudo: Os Projetos Estratégicos do Exército contribuem para a implementação da Política Nacional de Defesa, alcançando seus Objetivos Nacionais de Defesa? O objetivo geral do presente trabalho foi analisar a relação entre as contribuições dos produtos dos PEE e os Objetivos Nacionais de Defesa elencados na atual PND, concluindo sobre os principais óbices para a implementação da PND, por meio dos Projetos Estratégicos do Exército. A fim de atingir o objetivo geral acima descrito, teve-se como objetivos específicos: - descrever os Projetos Estratégicos Indutores da Transformação do Exército; - identificar os conceitos de Objetivos Nacionais, Poder Nacional, Política Nacional, Óbices e Defesa Nacional para melhor compreensão da relação existente entre os mesmos; - apresentar a Política Nacional de Defesa e seus OND; - identificar as contribuições dos Projetos Estratégicos do Exército para a implementação da Política Nacional de Defesa; e - concluir sobre os óbices para a implementação da PND, por meio dos PEE. A hipótese levantada para o presente estudo foi que os Projetos Estratégicos do Exército estão contribuindo com a implementação da Política Nacional de Defesa, por meio do atendimento aos seus Objetivos Nacionais de Defesa. Diante da hipótese formulada, foram manipuladas duas variáveis no esforço de resolver o problema dessa pesquisa. A variável independente foram as contribuições dos Projetos Estratégicos do Exército. A variável dependente foi a implementação da Política Nacional de Defesa. O delineamento do estudo concentrou-se temporalmente no período após o lançamento, por parte do Comandante do EB, do PROFORÇA, em 27 de fevereiro 17 de 2012, passando pela aprovação, por parte do Congresso Nacional, dos textos da atual PND, por meio do Decreto Legislativo nº 373, de 25 de setembro de 2013, e percorrendo as metas dos Projetos Estratégicos do Exército estabelecidos. Além disso, o estudo abrangeu espacialmente o Brasil, o ambiente regional e o entorno estratégico, focando mais especificamente nas ações do Governo Brasileiro e do Exército Brasileiro. O enfoque da pesquisa foi restrito aos aspectos dos Indutores do Processo de Transformação do EB, os PEE Indutores e suas relações com a PND. Foram explorados os sete PEE responsáveis pela entrega de capacidades, sem analisar os onze Projetos Estruturantes responsáveis pela estruturação da Força. O problema proposto justificou-se pelo fato de que a Defesa Nacional é um tema que, pela sua relevância, deverá estar sempre na pauta das principais discussões da sociedade brasileira. Caberá aos governantes a imprescindível atuação no sentido de promover o aperfeiçoamento das estruturas do Poder Nacional, de modo que possam ser alcançados e mantidos todos os Objetivos Nacionais, sejam eles Fundamentais ou de Estado. É de fundamental interesse do país que suas Forças Armadas (FFAA) mantenham-se debruçadas sobre o tema da defesa, bem como, estejam regendo seus planejamentos sob esta égide. Esta situação deve ser rotineiramente considerada pelo Ministério da Defesa e pelo Comando da Força, a fim de atualizar o Plano Estratégico do Exército e, por consequência, os Projetos Estratégicos do Exército, que serão o farol a ser atingido pelo Exército no seu processo de transformação diante da Era do Conhecimento e da complexidade do cenário mundial. Segundo a Revista Verde-Oliva, Nr 217 (2013a) o alinhamento entre os PEE e a PND é de fundamental importância para o EB manter-se bem estruturado e com capacidades operativas que o permitam cumprir sua missão constitucional. Portanto, todo esforço realizado dentro do Exército Brasileiro, a fim de promover uma constante análise e avaliação de seus Projetos Estratégicos, permite aos integrantes da Força, manter o foco na consecução dos objetivos e orientações traçadas na PND, além de consentir possíveis correções de rumos quando se fizerem necessárias por alterações nas conjunturas nacionais e internacionais. 18 2 METODOLOGIA A concepção da pesquisa, quanto à forma de abordagem do problema, classifica-se como qualitativa, contemplando a subjetividade, por meio da análise de documentos elaborados por estudiosos na área sem uma mensuração estatística dos dados estudados. Tal metodologia foi realizada com base na taxonomia definida por Vergara (2008). Quanto à finalidade da pesquisa, define-se como descritiva, pois evidencia características das variáveis, estabelecendo correlações entre elas e, também, como pesquisa explicativa, haja vista buscar esclarecer quais fatores contribuem, de alguma forma, para a ocorrência de determinado fenômeno. No tocante aos meios de investigação, a pesquisa classifica-se como bibliográfica e documental, pois foi realizada por meio de consultas à bibliografia de inúmeros tipos e autores, além da documentação interna e oficial, como decretos, portarias, manuais e documentos diversos, basicamente do Ministério da Defesa (MD) e do EB. A coleta do material foi realizada por meio de consulta às bibliotecas da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME) e da Escola Superior de Guerra (ESG), a artigos de especialistas em defesa nacional publicados em páginas eletrônicas da Internet e revistas, a monografias de concludentes dos cursos de Altos Estudos Militares (CAEM) e de Política, Estratégia e Alta Administração do Exército (CPEAEx) na ECEME e aos documentos intitulados Política de Defesa Nacional (PDN) e Estratégia Nacional de Defesa (END). O tratamento da coleta foi realizado por meio do método da análise de conteúdo, com estudo dos textos bibliográficos e documentos sobre o assunto, de forma a estabelecer a relação entre os produtos dos PEE e a PND, com o objetivo de responder ao problema sugerido. 19 3 PROJETOS ESTRATÉGICOS DO EXÉRCITO (PEE) O Brasil tem regido suas relações internacionais, dentre outros, pelos princípios constitucionais da não intervenção, defesa da paz e solução pacífica dos conflitos. Porém, se o Brasil quiser ocupar a função de protagonista no cenário mundial, precisará estar preparado para defender-se não somente das agressões, mas também das ameaças. De uma forma geral, a percepção brasileira é a de que não se pode prescindir de uma capacidade militar dissuasória. A Dissuasão é a estratégia mais viável para a resolução de conflitos no tempo de paz, seja na defesa externa ou na interna. O Processo de Transformação do Exército Brasileiro em execução, iniciado a partir da percepção da necessidade de ampliação da capacidade Institucional de proteção ao Estado brasileiro, pretende conduzi-lo ao patamar de Força Armada de país desenvolvido e ator global, capaz de se fazer presente, com a prontidão necessária, em qualquer área de interesse estratégico do Brasil. (Revista VerdeOliva, Nr 217, 2013a, p.3) O cenário descrito, portanto, exige disposição e ação das instituições brasileiras, aí incluído o desenvolvimento das capacidades necessárias ao Exército para respaldar a atuação do Brasil nas áreas de interesse estratégico do País. Ao Exército, nesse contexto de mudanças, cabe transformar-se. Esse processo é de longo prazo, amplo e profundo; não é modismo e é urgente. Assim, passa a ser política da Força manter-se em permanente processo de transformação. (Diretriz Geral do Cmt EB 2011-2014, 2011,p.5) A Era do Conhecimento em que se vive atualmente impôs ao Exército Brasileiro repensar suas capacidades necessárias a fazer frente aos novos desafios que se descortinam. Para se modernizar, o EB adotou os Projetos Estratégicos do Exército como os verdadeiros Indutores da Transformação do Exército Brasileiro. De acordo com as Normas para Elaboração, Gerenciamento e Acompanhamento de Projetos no Exército Brasileiro (NEGAPEB), “Projetos Estratégicos do Exército (PEE) são aqueles projetos com impactos estratégicos, cujos produtos serão os verdadeiros indutores do Processo de Transformação da Força e, por isso, os que recebem a mais alta prioridade no orçamento e no Plano de Articulação e Equipamento do Exército Brasileiro (PAEEB), parte do Plano de Articulação e Equipamento da Defesa (PAED)”. 20 Os Projetos Estratégicos do Exército dividem-se em projetos que entregam capacidades e que estruturam a Força (GOMES, 2014). Os 11 projetos estratégicos estruturantes são: Governança de Tecnologia de Informação (TI); Novo Sistema de Doutrina Militar Terrestre (SIDOMT); Sentinela da Pátria; Amazônia Protegida; Novo Sistema de Operações Militares Terrestres; Nova Logística Militar Terrestre; Polo de Ciência e Tecnologia do Exército em Guaratiba (PCTEG); Novo Sistema de Educação e Cultura; Força da Nossa Força; Novo Sistema de Engenharia; e Gestão e Inovação (GOMES, 2014). Os 7 projetos estratégicos que entregam capacidades são: Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras; Sistema Integrado de Proteção de Estruturas Estratégicas Terrestres; Defesa Cibernética; Projeto Guarani; Defesa Antiaérea; Astros 2020 e Recuperação da Capacidade Operacional da Força Terrestre, todos em consonância com a ideia de modernização dos meios e de efetivos bem adestrados (GOMES, 2014). A magnitude e complexidade dos PEE fez com que o EB criasse o Escritório de Projetos do Exército (EPEx), por meio da Portaria nº 134-EME, de 19 de setembro de 2012, com a intenção de fazer a gestão do portfólio dos PEE e contribuir para a consolidação de uma “cultura de projetos” no EB. Os PEE deverão trazer vários benefícios para o Brasil, principalmente para o Sistema de Ciência, Tecnologia e Inovação, com desenvolvimento do setor industrial e acadêmico, bem como pela impulsão da capacitação da força de trabalho e aumento expressivo do número de empregos gerados. A área da defesa nacional terá um salto de qualidade com a capacitação operativa das FFAA, aumento do poder dissuasório do Brasil, o controle mais efetivo das fronteiras levando a uma diminuição dos ilícitos transnacionais e a proteção das estruturas estratégicas do País, além do incremento da indústria bélica nacional. A seguir serão apresentados, segundo ADESG (2014), os sete principais PEE pela importância, abrangência e impacto que produzirão em todos os sistemas da Força Terrestre, com ênfase em suas contribuições e benefícios. 3.1 SISFRON O Sistema Integrado de Monitoramento da Fronteira (SISFRON) é um sistema de sensoriamento para apoiar a decisão e atuação integrada do Exército, das Forças 21 coirmãs e de agências governamentais, permitindo fortalecer a presença e a capacidade de ação do Estado na faixa de fronteira terrestre, além de reduzir problemas próprios dessas áreas e otimizar a interoperabilidade e a cooperação regional. (BRASIL, 2013a, p.3) A END direciona a organização das Forças Armadas sob a égide do trinômio monitoramento/controle, mobilidade e presença. O primeiro aspecto define a essência deste projeto. Desta forma, o SISFRON atende as orientações estratégicas do Plano Estratégico de Fronteiras, estabelecido pelo Governo Federal por meio do Decreto nº 7.496, de 8 de junho de 2011, instituído para o fortalecimento da prevenção da fronteira, tendo como diretriz, dentre outras, “a atuação integrada dos órgãos de segurança pública, das Forças Armadas e da Receita Federal”. O SISFRON proporcionará melhores condições para a atuação do Exército, de forma integrada com órgãos civis e militares nos níveis federal, estadual ou municipal, inclusive com órgãos de países vizinhos, atuando prontamente em ações de defesa ou contra delitos transfronteiriços e ambientais. Desta forma, o foco do SISFRON é o apoio à realização de Operações Interagências, conduzidas regularmente na faixa de fronteira. Para tanto, o Projeto tem como meta a interação com sistemas congêneres, tais como o Sistema de Proteção da Amazônia (SIPAM), do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (CENSIPAM) do Ministério da Defesa, o Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul (SisGAAz), da Marinha do Brasil, e o Sistema de Defesa Aeroespacial Brasileiro (SISDABRA), do Comando da Aeronáutica. O SISFRON é formado por um conjunto de Subsistemas e Centros: - Sensoriamento (ações de vigilância, reconhecimento e monitoramento realizadas por radares e sensores nos diversos escalões); - Apoio à Decisão (tratamento dos dados levantados nos Centros de Operações das Organizações Militares, Brigadas, Divisões e Comandos Militares de Áreas, com base no Programa Comando e Controle em Combate); - Tecnologia da Informação e Comunicações (redes de comunicação fixa e móveis que permitem o tráfego de dados permitindo integração e disseminação); - Segurança de Informações e Comunicações (SIC) e Defesa Cibernética (assegurar confiabilidade, informações); autenticidade, integridade e disponibilidade das 22 - Simulação e Capacitação (formação e especialização do pessoal); - Logística (infraestrutura necessária à manutenção, suprimento e transporte); - Atuadores (forças militares, integrantes de agências, produtos de defesa e procedimentos operacionais); - Centro de Monitoramento de Fronteiras (localizado em Brasília-DF e realiza a gestão do Sistema implantado); - Centros Regionais de Monitoramento; e - Centros Regionais de Interação. Figura 1 – Concepção Geral do SISFRON. Fonte: Revista Verde-Oliva (2013). O salto e a autonomia tecnológicos resultantes do SISFRON reforçarão a capacidade de dissuasão do Poder Nacional e permitirão a efetivação da Estratégia da Presença. Permitirá, ainda, a melhoria das operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) e das ações subsidiárias, inclusive com maior presteza no atendimento de emergências da Defesa Civil; a geração de emprego e renda, inclusive em áreas de elevado valor agregado e tecnológico; o estímulo a Pesquisa, o Desenvolvimento e a Inovação (PD&I) tecnológica; a produção de bens de emprego dual; e o fortalecimento da indústria nacional. (BRASIL, 2013a, p.18) Assim, o SISFRON tornou-se prioritário para o EB e passou a integrar o Plano Plurianual (PPA) 2012-2015 – Plano Mais Brasil, como empreendimento de grande porte. (BRASIL, 2013a, p.18) Atualmente, o Projeto-Piloto encontra-se em plena execução, no âmbito do Comando Militar do Oeste, na área da 4ª Brigada de Cavalaria Mecanizada, sediada 23 em Dourados - Mato Grosso do Sul e tem por finalidade avaliar, reajustar e refinar as definições preliminares do Sistema, possibilitando sua implementação de forma efetiva e adequada nas demais regiões do País. O período de implantação é de 2011 a 2021 (dez anos). Os meios de sensoriamento do SISFRON estarão desdobrados ao longo dos 16.886 Km da faixa de fronteira, monitorando uma área de aproximadamente 27% do território nacional. Ao final de sua implantação, o SISFRON trará ao País capacidades antes diminutas de monitoramente/controle, mobilidade e presença seletiva, o que será fator de dissuasão regional, incrementando assim a soberania brasileira. 3.2 PROTEGER O contínuo desenvolvimento brasileiro traz implicações crescentes para a segurança das infraestruturas críticas nacionais (instalações, serviços, bens e sistemas), uma vez que sua destruição ou mesmo a interrupção de seu funcionamento, ainda que temporariamente, provocará sério impacto social, econômico, político, internacional ou na segurança do Estado e da sociedade. Dessa forma, é necessária a identificação dos pontos estratégicos prioritários do país, de modo a planejar e a implementar suas defesas. O Sistema Integrado de Proteção de Estruturas Estratégicas Terrestres (PROTEGER) preconiza atividades preventivas de proteção as Estruturas Estratégicas Terrestres (EETer), também denominadas infraestruturas críticas nacionais, a fim de não impactar negativamente a sociedade ou a segurança do Estado. (BRASIL, 2013a, p.3) Enquanto o SISFRON está voltado para a área de fronteira, o PROTEGER contempla as demais áreas do território nacional. O PROTEGER tem por finalidade, dentre outras, a gestão de riscos. Para isso, o EB deverá estar em condições de manter em operações os serviços essenciais necessários à sociedade e, em consequência, treinar seus efetivos para o emprego, episódico e pontual, como Força de Contingência em caso de paralisação. A ampliação das capacidades do EB para apoio à Defesa Civil e o emprego como Força de Contingência em Operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) 24 qualifica a Força Terrestre à prestação de assessoria técnica num ambiente de Operações Interagências. O PROTEGER articula-se com o Mosaico de Segurança Institucional (MSI), desenvolvido pelo Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI/PR). O MSI é uma ferramenta desenvolvida pelo Sistema Brasileiro de Inteligência, que reúne os principais cenários brasileiros nas áreas de segurança pública, saúde, comunidade, transporte e energia, colaborando para um acompanhamento efetivo das infraestruturas críticas nacionais nos Estados brasileiros com informações individualizadas. O PROTEGER preconiza atividades de prevenção, de antecipação e de emprego operacional na gestão de incidentes, com o uso de tecnologias e com a colaboração permanente entre as diversas agências integradas, unindo esforços com outras instituições públicas e privadas. Esse projeto está alinhado aos planejamentos do Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras e do Projeto de Defesa Cibernética do Exército Brasileiro. Com o PROTEGER, o Brasil pretende ter o seu sistema integrado nacional de proteção de suas EETer, deixando, de acordo com a Revista Verde-Oliva, Nr 217, p.23 (2013a), de ser o único país dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) a não possuir, ainda, esse sistema integrado nacionalmente. O alto valor em investimentos para a implantação completa do PROTEGER, na ordem de 10 bilhões de reais, se justifica frente aos potenciais prejuízos econômicos e sociais que o sistema pode evitar. Hidrelétricas, refinarias de petróleo, termoelétricas, usinas nucleares, portos, aeroportos, ferrovias, linhas de transmissão de energia e as telecomunicações, deverão contar com monitoramento e patrulhamento permanentes ou por meio de aeronaves remotamente pilotadas (ARP). Para tanto, serão realizados treinamentos de ocupação, resgate, controle de danos e nas ações de dissuasão das possíveis ameaças (fase operativa). Ao fortalecer sua capacidade de pronta resposta na proteção de EETer, o Brasil fortalece a dissuasão contra potenciais ameaças e oferece maior segurança aos investimentos nessas estruturas estratégicas, o que contribui para a redução dos custos econômico-financeiros dos segmentos produtivos. Os investimentos envolvidos no projeto contribuem também para o fortalecimento da Base Industrial de Defesa (BID), o fomento à geração de novos 25 empregos, a capacitação de pessoal qualificado e a absorção de tecnologias sensíveis. O Projeto-Piloto está sendo implantado na 15ª Brigada de Infantaria Mecanizada, sediada em Cascavel - Paraná, no entanto, parte de sua estrutura, já foi usada nos grandes eventos que estão acontecendo no Brasil e estará em plenas condições de apoiar a Defesa Civil e a segurança pública após sua implantação integral, planejada para ocorrer ao longo de 15 anos. O Exército Brasileiro e a Itaipu Binacional assinaram, no dia 6 março de 2014, um memorando de entendimento para permitir o intercâmbio de recursos técnicos e humanos entre as Instituições. A parceria prevê a implementação de projetos que englobem soluções de segurança energética, segurança de fronteira, de estruturas estratégicas terrestres, de defesa cibernética e outras áreas. 3.3 Projeto Defesa Cibernética O surgimento da Internet como uma rede mundial de computadores, criou um novo espaço para a expressão, conhecimento e comunicação humana. Porém tratase de um espaço que não existe fisicamente, mas virtualmente: o espaço cibernético ou ciberespaço. Ante as inúmeras possibilidades de atuação de ameaças e as vulnerabilidades do espaço cibernético, o Brasil como nação soberana não pode ficar à margem desse vertiginoso processo de transformação pelo qual o mundo moderno vem passando. Portanto, constituiu-se objetivo estratégico do Estado Brasileiro marcar presença nas discussões relativas ao controle do espaço cibernético como protagonista e não como coadjuvante. Para isso, o setor cibernético foi estabelecido como um dos setores estratégicos prioritários da Defesa Nacional, de acordo com a END, visando proporcionar segurança a um ramo tão importante, por onde trafegam, são processadas e armazenadas informações ostensivas e reservadas. A END definiu que os setores de importância estratégica são: o espacial, o cibernético e o nuclear; que as capacitações cibernéticas incluirão, como parte prioritária, as tecnologias de comunicação de modo a assegurar sua capacidade para atuar em rede; e que o aperfeiçoamento é que reduz a vulnerabilidade dos sistemas relacionados à Defesa Nacional contra ataques cibernéticos. 26 O Setor Cibernético contempla o emprego de modernos meios tecnológicos, como as redes de computadores e as redes de comunicações destinadas ao trânsito de informações. Esse setor utiliza pessoas no atendimento de suas necessidades individuais, organizações e empresas diversas, incluindo as dedicadas a setores estratégicos do País, como o da Defesa Nacional. Seguindo as diretrizes estabelecidas pela END e atendendo a determinação do Ministério da Defesa (Diretriz Ministerial nº 0014/2009), o Exército Brasileiro instituiu em 2009 o Setor Cibernético no âmbito da Força Terrestre, o qual resultou na implantação do Projeto Estratégico de Defesa Cibernética, no âmbito da Instituição. O projeto visa prover o País de capacitação tecnológica, que passa pelos recursos humanos, pelo desenvolvimento de doutrina de proteção de ativos e de estruturas, pela operacionalização de sistemas de segurança da informação e pelo incentivo à produção nacional no setor de defesa cibernética. (BRASIL, 2013a, p.3) No Setor Cibernético, objeto de especial atenção nos países mais desenvolvidos, o EB é protagonista no âmbito do MD, pois é o responsável por conduzir e integrar as ações para o desenvolvimento dessa área, intimamente ligada à proteção das Infraestruturas Críticas do País. (Diretriz Geral do Cmt EB 2011-2014, 2011, p.11) Em 6 de agosto de 2010, foi criado o Núcleo do Centro de Defesa Cibernética, por determinação do Comando do Exército com a finalidade de coordenar e integrar os esforços dos vetores da defesa cibernética. Para atuar neste segmento tão específico, iniciou-se, entre outras atividades, o processo de capacitação de recursos humanos, possibilitando o domínio de temas multidisciplinares. Com isso, priorizou-se o desenvolvimento de doutrina de proteção das próprias estruturas, bem como a capacidade de atuar em rede, a implementação de pesquisa científica voltada para área cibernética e o relacionamento com instituições civis acadêmicas ou empresas do ramo. Com a criação do Centro de Defesa Cibernética (CDCiber) um impulso foi dado no que diz respeito à qualificação de pessoal em tecnologia da informação, pois os cursos e estágios realizados nessa Organização Militar ajudam a diminuir o déficit de profissionais inerente ao setor privado. É certo que a Defesa atua primeiramente para cobrir sua própria lacuna, mas vai começar a ganhar escala a transição tecnológica pelo qual passam as três Forças à medida que novas turmas sejam formadas. 27 O estímulo à produção de um software nacional, a realização de seminários, simpósios e programas de treinamento, a produção de sistemas de segurança da informação e de programas de detecção de intrusão, são ações adotadas para o desenvolvimento de capacidades requeridas para atuação nesta área. Com essas medidas, o Projeto Estratégico de Defesa Cibernética colocou o Exército Brasileiro no restrito grupo de organizações, nacionais e internacionais, que possuem a capacidade de desenvolver medidas de proteção e defensivas à ocorrência de ataques no campo cibernético. Segundo a Revista Verde-Oliva Nr 217, 2013a, o projeto constitui-se de dez projetos estruturantes, destacando-se o desenvolvimento de equipamento de Rádio Definido por Software (RDS), o desenvolvimento de uma Rede Nacional de Segurança da Informação e Criptografia (RENASIC) e a produção de doutrina específica para este tipo de atividade, entre outros. Figura 2 – Projetos estruturantes do PEE Defesa Cibernética. Fonte: Revista Verde-Oliva Nr 217, 2013a, pg. 31 Esses projetos são conduzidos, atualmente, por Organizações Militares ligadas ao setor, como o Instituto Militar de Engenharia, o Centro de Comunicações e Guerra Eletrônica do Exército, o Centro de Desenvolvimento de Sistemas do Exército, o Centro Tecnológico do Exército e o Centro de Inteligência do Exército. O projeto estruturante Rádio Definido por “Software” (RDS), atualmente sendo desenvolvido no Centro Tecnológico do Exército em conjunto com a MB e a FAB, tem por objetivo desenvolver um projeto nacional de RDS para transmissão segura de dados, vídeo e voz, garantindo a interoperabilidade das comunicações entre as 28 Forças Armadas. Os benefícios atingem não só as comunicações militares, mas também contribuem para fortalecer a Base Industrial de Defesa do Brasil, com aplicações na área de segurança pública e telecomunicações de celular 4G. O campo de atuação da Defesa Cibernética possui elementos que agirão dentro do EB, nas demais Forças Armadas e no relacionamento destes com membros da sociedade civil. Esse campo é multidisciplinar e gera produtos e serviços tecnológicos variados, além de métodos e processos gerenciais em diversos os níveis. A implantação do Setor Cibernético tem como propósito conferir: confidencialidade, disponibilidade, integridade e autenticidade dos dados que trafegam em suas redes, os quais serão processados e armazenados. Essa tarefa representa um esforço de longo prazo, que influenciará positivamente as áreas de ciência e tecnologia, bem como a área operacional. A coordenação do EB tem focado na capacitação de pessoal especializado e no desenvolvimento de soluções de elevado nível tecnológico, priorizando a multidisciplinaridade e dualidade de aplicação do projeto para estimular o desenvolvimento da pesquisa e para que seja possível o fomento a indústria nacional de defesa. Uma das grandes contribuições que o PEE Defesa Cibernética trouxe, após ser empregado na Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), foi a melhoria na legislação brasileira que passou a considerar crime os ataques cibernéticos. A outrora inexistência de marcos legais que disciplinassem as atividades no ciberespaço o transformava em uma “terra sem lei”, com potencial para suscitar conflitos de proporções incalculáveis à sociedade. 3.4 Projeto GUARANI Dentro dos Projetos Estratégicos Indutores da Transformação do Exército, o Projeto Guarani surgiu com o objetivo de transformar as Organizações Militares (OM) de Infantaria Motorizada em Mecanizada e de modernizar as OM de Cavalaria Mecanizada, potencializando as capacidades do EB e trazendo novas oportunidades de desenvolvimento tecnológico e industrial à Base Industrial de Defesa (BID) nacional. (BRASIL, 2010) 29 O EB busca substituir as suas atuais viaturas blindadas de transporte de pessoal, Viaturas Blindadas URUTU e CASCAVEL, fabricadas pela ENGESA com mais de quarenta anos de utilização, por uma nova família de blindados sobre rodas. Concebido pelo Sistema de Ciência, Tecnologia e Inovação do EB e desenvolvido em parceria com a empresa IVECO Veículos de Defesa, uma empresa do grupo FIAT Automóveis, o projeto incorporou inovadoras tecnologias indispensáveis no campo de batalha moderno e trouxe modernidade, segurança e eficiência à Viatura Blindada para Transporte de Tropa Média de Rodas (VBTP-MR). A nova VBTP-MR deveria ser 6x6, dado que acarretaria menores custos para o EB (aquisição, operação e logística) devendo ser projetada de modo a facilitar a adaptação para a versão 8x8, versão Viatura Blindada de Reconhecimento (VBR), bem como para a versão 4x4. O projeto contempla uma subfamília média, com as versões de reconhecimento, de transporte de pessoal, morteiro, socorro, posto de comando, de artilharia antiaérea, central de tiro, oficina e ambulância; e uma subfamília leve, com as versões reconhecimento, anticarro, morteiro leve, radar, posto de comando e observação avançada. (BRASIL, 2013a) Figura 3: Versões previstas para a VB-MR Guarani. Fonte: ROSA, 2013. 30 O Comando do Exército planejou que o Centro de Instrução de Blindados (CIBld), localizado em Santa Maria - RS e o 33º Batalhão de Infantaria Mecanizado (BI Mec), batalhão orgânico da 15ª Brigada de Infantaria Mecanizada (Bda Inf Mec), situada em Cascavel – PR, seriam as primeiras OM a receberem as VBTP-MR. Em 2012, a Iveco entregou ao EB a primeira unidade do lote piloto de 16 unidades do blindado. Já no ano de 2013, o Guarani passou a ser produzido em larga escala no complexo industrial da Iveco, na cidade de Sete Lagoas - MG. Para 2014, cerca de 86 viaturas estão previstas de serem entregues ao CIBld e à 15ª Bda Inf Mec. Essa aquisição permitirá a reestruturação de Brigadas do EB, proporcionando maior mobilidade tática, proteção blindada, relativa ação de choque e aumento do poder de combate, elementos importantes para a elevação da capacidade dissuasória extrarregional do país. Segundo a Portaria 165-EME, de 15 de agosto de 2014, a reestruturação das Forças Mecanizadas deverá ocorrer até o ano de 2031. Em termos de dotação de equipamentos, seu sistema de comando e controle permitirá a aplicação do conceito de “consciência situacional” com interface no Sistema C² em Combate do EB, comunicação externa sem fio, tráfego de voz, dados e imagens, além de ser integrado à estrutura eletrônica da viatura e do sistema de armas. O sistema de armas de acordo com o tipo de viatura poderá conter canhão 30mm, metralhadoras .50 ou 7,62mm, lançadores de granadas, bem como possuir uma estação de armas remotamente controlada (REMAX) desenvolvida e produzida no Brasil, o que dá maior segurança à guarnição, principalmente em ambientes urbanos. A estação de armas REMAX é o único sistema de armas de sua modalidade em desenvolvimento em países do hemisfério sul. Figura 4 – VBTP- MR 6X6 Guarani com Sistema REMAX Fonte: www.ecsbdefesa.com.br 31 Dotadas de tecnologia de ponta, as viaturas do Projeto GUARANI apresentam robustez, simplicidade no emprego e custo reduzido de manutenção, facilitando sua vinculação ao conceito de emprego dual, tanto pelas Forças Armadas como por forças de segurança pública. Além disso, segundo a Revista Verde-Oliva Nr 217, 2013, o projeto GUARANI contribui para o resgate da indústria nacional como produtora e exportadora de Produtos de Defesa (PRODE). Permitirá a realização de operações conjuntas e interagências em melhores condições devido seu emprego dual e sua integração com os sistemas congêneres das demais Forças e de outros órgãos públicos. Devese destacar que, pelo fato da Vtr ser desenvolvida no Brasil, haverá incremento na capacidade dissuasória e na independência tecnológica, além de garantir adequado desempenho em um ciclo de vida longo e com custos logísticos menores e programáveis. Por se tratar de desenvolvimento de material, o Exército terá direito à propriedade intelectual do Guarani, que tem a previsão de ser exportado, já havendo países interessados na aquisição, como é o caso da Argentina. 3.5 Projeto Defesa Antiaérea A defesa aeroespacial de um país abarca uma grande variedade de meios distintos. Com a finalidade de reunir todos os meios existentes sob uma organização sistêmica, sem que houvesse a necessidade de alterar suas estruturas tradicionais, provendo a defesa aeroespacial do território do Brasil, com o mínimo de dispêndio e o máximo de eficiência, foi criado o Sistema de Defesa Aeroespacial Brasileiro (SISDABRA), o qual é composto por um órgão central, o Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro (COMDABRA), e de meios especificamente alocados para exercerem atividades relacionadas à defesa aeroespacial (BRASIL, 2001). O SISDABRA compreende, entre outros, os meios de detecção, telecomunicações, controle, defesa aeroespacial ativa e defesa aeroespacial passiva. A defesa aeroespacial ativa engloba “as aeronaves de interceptação e os elementos de Artilharia Antiaérea (AAAe)” (BRASIL, 2001). A Defesa Antiaérea (DAAe), componente da Defesa Aeroespacial Ativa, compreende um conjunto de medidas e de ações terrestres adotadas e conduzidas com o fim de impedir, neutralizar ou reduzir as ações aéreas inimigas contra objetivos no solo. 32 Sob controle operacional do COMDABRA, a artilharia antiaérea da Força Terrestre organiza-se em brigadas de artilharia antiaérea, integrantes do SISDABRA. O Território Nacional, por sua vez, na organização da defesa aeroespacial, é dividido em Regiões de Defesa Aeroespacial (RDA). Doutrinariamente, cada RDA é defendida por uma Bda AAAe (BRASIL, 2014). Atualmente, o Brasil é dividido em quatro RDA e possui apenas a 1ª Bda AAAe, localizada no Guarujá-SP, constituindo um déficit de três Bda AAAe. O objetivo geral do Projeto Defesa Antiaérea é atender as exigências do SISDABRA recuperando o setor de Defesa Antiaérea de Baixa Altura (até 3.000m) e obtendo a capacidade de Média Altura (de 3.000m a 15.000m), para permitir a proteção das estruturas estratégicas terrestres brasileiras, áreas sensíveis e da Força Terrestre, quando de seu emprego, mediante a aquisição de novos meios, modernização dos meios existentes, capacitação de pessoal e desenvolvimento de itens específicos pelo fomento à Indústria Nacional de Defesa. Cabe ressaltar que o EB não possui AAAe de média altura. Segundo a Diretriz para Implantação do Projeto Estratégico do Exército Defesa Antiaérea (BRASIL, 2014c), os objetivos específicos do projeto DAAe são: modernizar os meios de DAAe da 1ª Bda AAAe, das Brigadas de Infantaria e de Cavalaria e da Escola de Artilharia de Costa e Antiaérea (EsACosAAe), realizando o desenvolvimento e a obtenção de Produtos de Defesa (PRODE) de Defesa Antiaérea de Baixa Altura e de Defesa Antiaérea de Média Altura; atender as demandas futuras de interdição do espaço aéreo em grandes eventos internacionais; construir e adequar a infraestrutura física da EsACosAAe necessária para o recebimento dos PRODE e do Simulador do Sistema Operacional Defesa Antiaérea; desenvolver e adquirir simuladores para o Sistema Operacional Defesa Antiaérea; planejar, implantar e executar o suporte logístico integrado necessário; viabilizar a infraestrutura física para o suporte logístico integrado; prever as sucessivas modernizações do sistema e a sua respectiva desativação; e capacitar recursos humanos para operação e manutenção das novas necessidades da DAAe. Reequipar e reestruturar as Unidades e Subunidades de Artilharia Antiaérea do EB com o que há de mais moderno de DAAe e sua nacionalização é o foco do projeto, permitindo à FTer cumprir sua missão de defesa de pontos críticos do País. A substituição dos armamentos e sistemas de monitoramento obsoletos iniciou-se com os radares de busca SABER M60, desenvolvidos com tecnologia de 33 ponta 100% nacional pelo Centro Tecnológico do Exército (CTEx) em trabalho conjunto com a empresa ORBISAT, possuindo um alcance máximo de 60 Km. Hoje, está sendo desenvolvido o radar de vigilância SABER M200, que ampliará a capacidade de nosso sistema de monitoramento e alerta para média altura. Para a faixa de emprego de Baixa Altura, o Exército Brasileiro já adquiriu o material GEPARD 1A2, com dois canhões antiaéreo 35 mm sobre viatura blindada de origem alemã, e o míssil antiaéreo portátil telecomandado SAAB RBS-70 MK II, de origem sueca, que além do maior controle e precisão que possui em relação ao míssil seguidor de calor IGLA, que é atualmente usado pelo EB, também tem a possibilidade da autodestruição diminuindo a possibilidade de fratricídio. Figura 5 - Blindado Antiaéreo GEPARD 1A2. Fonte: Portal Brasil, 2014. Para a faixa de emprego de Média Altura, o Exército Brasileiro está em processo de aquisição do material de origem russa PANTSIR-S1, com capacidade para 12 mísseis, alcance de 20 Km e 15 Km em altura. (LOGITEC, 2013). Figura 6: PANTSIR-S1. Fonte: LOGITECH, 2013. 34 A importância do projeto de DAAe, principalmente diante da proximidade dos Grandes Eventos que o Brasil sediará, tem proporcionado a destinação de recursos externos ao MD, fato que tem possibilitado a continuidade do projeto mesmo diante da dificuldade na aquisição e desenvolvimento de tecnologia extremamente cara. A implantação do PEE Defesa Antiaérea e sua integração aos demais sistemas componentes do SISDABRA busca proporcionar níveis adequados de proteção das Estruturas Estratégicas do País contra ameaças aéreas. A fim de consolidar o papel de destaque que o País obteve no cenário internacional na última década, é imprescindível que o Brasil disponha de um sistema antiaéreo capaz de atuar na faixa de emprego de Me Altu, tornando-se um poderoso fator dissuasório, ao lado do projeto Astros 2020, da artilharia de campanha. 3.6 Astros 2020 O Projeto Estratégico do Exército ASTROS 2020 dotará a Força Terrestre (F Ter) de meios capazes de prestar o apoio de fogo de longo alcance, com rapidez, elevada precisão e letalidade. Ao mesmo tempo, proporcionará a dissuasão extrarregional, elencada como uma das onze novas capacidades necessárias ao Processo de Transformação do Exército. No Processo de Transformação em desenvolvimento no Exército, foram elencadas onze novas capacidades, destacando-se a dissuasão extrarregional, que se define como sendo a capacidade que tem uma Força Armada de “dissuadir a concentração de forças hostis junto à fronteira terrestre e às águas jurisdicionais e a intenção de invadir o espaço aéreo nacional, possuindo produtos de defesa e tropas capazes de contribuir para essa dissuasão e, se for o caso, de neutralizar qualquer possível agressão ou ameaça, antes mesmo que elas aconteçam.” (Escritório de Projetos do Exército – Projeto Astros 2020, 2014a) O sistema ASTROS 2020 possibilitará o lançamento dos vários foguetes da família ASTROS e do míssil tático de cruzeiro com alcance de 300 Km de alta precisão (AV-TM 300) partindo das plataformas da nova viatura lançadora múltipla universal na versão MK-6. O sistema permitirá também fazer toda a preparação para a realização do tiro, desde o recebimento e análise da missão de tiro, passando pelo comando e controle, pela trajetória de voo e finalizando com o controle de danos. O projeto prevê a aquisição de 49 viaturas para o Exército, divididas em três baterias: 18 veículos lançadores, 18 veículos para transporte de munição, 3 unidades de controle e monitoramento de tiro, 3 estações meteorológicas, 3 veículos 35 oficina, 3 blindados de comando e controle para cada bateria e um último, integrado, de comando e controle de grupo. Figura 7: Sistema ASTROS 2020. Fonte: EPEx (2014a) Os meios de busca de alvos e de lançamento do míssil tático de cruzeiro com alcance de 300 km serão capazes de bater e de neutralizar alvos estratégicos, elevando o emprego do atual sistema de apoio de fogo da F Ter do nível tático para o nível estratégico. O emprego do sistema ASTROS 2020, por suas características, ocorrerá no mais alto nível, tanto tático, com o emprego de foguetes, quanto estratégico, com o emprego dos mísseis táticos de cruzeiro. Este sistema foi concebido e elaborado pela indústria brasileira AVIBRÁS, sediada em São José dos Campos – SP. Ele contribuirá para aperfeiçoar o atual sistema de foguetes guiados, utilizando-se a concepção do atual foguete SS 40; aumentará o número de profissionais com elevada capacitação e conhecimento em áreas de tecnologia de ponta; fomentará ampla cadeia produtiva; aumentará a oferta de empregos na área do Parque Industrial do Estado de São Paulo, na região de Formosa (GO) e do Distrito Federal; bem como elevará a capacidade de exportação da indústria brasileira de PRODE. Some-se a isso, o estímulo às Universidades e Faculdades voltadas para o estudo de engenharia na área de mísseis, foguetes, guiamento eletrônico, telemetria, química, blindagem, tecnologia da informação, georreferenciamento, propulsão de foguetes etc. (BRASIL, 2013a). Os principais produtos do projeto serão a modernização do 6º Grupo de Lançadores Múltiplos de Foguete, localizado em Formosa-GO, transformando-o em 36 6º Grupo de Mísseis e Foguetes; e a construção de outras unidades dentro do Campo de Instrução de Formosa- GO, criando o complexo Forte Santa Bárbara. Este sistema buscará a interoperabilidade com a Marinha do Brasil (MB), para a defesa do litoral, e com a Força Aérea Brasileira (FAB), para a utilização do espaço aéreo. 3.7 Projeto de Recuperação da Capacidade Operacional (RECOP) Com a END, o EB identificou novas capacidades e percebeu a necessidade de se transformar, adquirindo meios compatíveis para se atualizar com o combate moderno. Para isso, surgiu o PEE Recuperação da Capacidade Operacional da Força Terrestre (RECOP) com o objetivo de atender as necessidades imediatas e recompletar as demandas mínimas de PRODE previstas nos Quadros de Dotação de Materiais (QDM) das unidades operacionais do EB, com a finalidade de atender às exigências de defesa da Pátria previstas na Constituição Federal, assim como às Operações de Garantia da Lei e da Ordem e às ações subsidiárias atribuídas ao Ministério da Defesa. Sendo assim, é dever do EB substituir materiais obsoletos e os que já ultrapassaram seu ciclo de vida útil, assim como planejar e adquirir materiais e equipamentos modernos que possam impactar o resultado das batalhas. Segundo a Revista Verde Oliva Nr 217, 2013, o RECOP foi orçado em R$11,403 bilhões em 10 anos (2012 - 2022), envolvendo 17 outros projetos integrantes: - Modernização da frota - aquisição de novas viaturas, capacitação de pessoal, reestruturação de oficinas, aquisição de ferramental e melhor manutenibilidade pela disponibilidade de suprimentos no mercado nacional; - Armamento (Armt) - modernizar os fuzis 7,62 mm existentes, dotar o EB com pistolas modernas, fuzis “snipers” e IA2 de calibre 5,56 mm, mísseis IGLA e substituir os morteiros 120 mm, 81 mm e 60 mm por similares nacionais e modernos; - Munição - aquisição de munição (letal e não letal) e de explosivos necessários para completar a Dotação de Munição Anual Básica; - Equipamentos de visão e pontaria - aquisição de óculos de visão noturna, equipamentos de pontaria e lunetas panorâmicas; 37 - Manutenção e recuperação de blindados - aperfeiçoamento de sistemas e componentes das VBCOAP M109; modernizar as VBTP M113 B, revitalizar as VBE Soc M578, as VBC CC Leopard 1A5, as VBR Cascavel e as VBTP Urutu; recuperar as VBE Leopard 1 A1 e realizar as manutenções das VBC M60 A3; - Embarcações - aquisição de lanchas de patrulha, de balsas e de conjuntos de ferramental (eletricidade, propulsão, usinagem, estrutura, marcenaria e viatura); construção de diques flutuantes e reforma do Centro de Embarcações do Comando Militar da Amazônia (CECMA); - Fardamento, material de estacionamento, equipamento individual e material aeroterrestre - recomposição dos estoques e melhor equipar o efetivo, aumentar o conforto e segurança da tropa; - Artilharia de Campanha - aquisição de VBCOAP M109 (versão A5 plus), aquisição de um equipamento 155 mm autorrebocado para dotar a Artilharia de Campanha e aquisição do sistema de direção de tiro e topografia de 4ª geração; - Aquisição de suprimentos, ferramental e manutenção de meios reestruturação das oficinas e aquisição de ferramental e suprimentos necessários para realizar a manutenção das diversas classes de materiais e dos equipamentos indisponíveis; - Material de comunicações, controle e guerra eletrônica – aquisição de intercomunicadores para os Urutus, Cascavéis e M113; Rádios Falcon, MPR9600 portáteis e veiculares e equipamentos rádio em versão portátil e veicular, dos tipos Mallet e Rondon; Adestramento da Aviação do Exército - aquisição de combustível, suprimentos de aviação e contratações de serviços de manutenção para implementar mais 3.500 horas de vôo; Combustíveis, óleos e lubrificantes - manter o estoque em um nível mínimo necessário para atender às atividades operacionais da Força e de manutenção previstas (“giro técnico semanal”); Material de engenharia de combate - modernização e a revitalização dos meios de transposição de brechas e cursos d’água e de purificação de água; - Ração operacional - formar um estoque mínimo de rações (em quantidade e por tipo) para o emprego nas calamidades públicas, nas catástrofes, nas operações conjuntas e de GLO; 38 Recuperação de aeronaves da Aviação do Exército - modernizar e recuperar a frota da Aviação do EB; - Material de saúde de campanha - aquisição de material de uso médico para os Postos de Triagem; - Adestramento da Força Terrestre - aquisição de simuladores; de subcalibres; de Sistema Aéreo Remotamente Pilotado (SARP); de material “Personal Detection Device” para o Centro de Avaliação de Adestramento do Exército; e dos meios necessários para mobiliar as pistas de combate, de tiro e de treinamento físico militar. A aquisição de meios modernos e a capacitação dos profissionais militares embutidas no Projeto convergem para o emprego eficiente da Força, segundo uma doutrina que lhes oriente. Faz-se mister ressaltar que o RECOP propõe-se a pôr a F Ter operacionalmente capaz de oferecer uma pronta resposta à sociedade no enfrentamento de questões atuais que possam suscitar seu emprego e, ao mesmo tempo, servir de plataforma-base para a transformação em curso. (BRASIL, 2013a, p.51) O EB adquiriu das empresas nacionais por meio do RECOP: Material Paraquedas Pistola IMBEL 9mm Fuzil 7,62 IA2 Suprimento de peças Armamento Transformação do FAL em PARAFAL Fuzil “Sniper” IMBEL Fabricação de lote piloto do Morteiro (Mrt) 60 mm Desenvolvimento e fabricação do Mrt 81mm Fabricação Mrt 120mm Luneta M12 desenvolvimento e fabricação Quantidade - Empresa Vertical do Ponto IMBEL IMBEL Valor R$ 6.634.000,00 1.300.00,00 13.750.000,00 - IMBEL 5.500.000,00 - IMBEL 16.460.364,00 - IMBEL 1.000.000,00 - AGR 1.408.439,00 - AGR 2.500.000,00 166 AGR 12.000.000,00 60 AGR 1.400.000,00 Munição em geral - Dique flutuante - Balsa Logística - Passadeira - CBC IMBEL ENGEPRON Estaleiro Rio Negro Estaleiro Rio Negro AGR 5.000.000,00 12.000.000,00 2.700.000,00 3.000.000,00 39 Manutenção de flutuadores da ponte M4T6 04 Retroescavadeira - Carregadeira BOBCAT Posto de Abastecimento Rádio tipo I Barracas de saúde para PAA Motocicletas Operacionais e Policiais Desenvolvimento viatura (Vtr) Chivunk Ambulância Hilux Viatura ¾ Hilux Vtr 6x6 lubrificadora para Eqp Engenharia Vtr cisterna de Comb 20.000l Vtr cisterna d’água Vtr Frigorífica Vtr Munk Vtr 10 Ton 6x6 Engenharia Vtr 10 Ton 6x6 Artilharia Vtr 8 Ton VW Vtr 5 Ton VW Vtr 5 Ton Mercedez-Bens Vtr Baú Oficina Vtr Basculante Mil 5 e 10m³ SARP 13 SARP Cat I - SARP Cat 0 – Quadrimotor Raven X8 3 Revitalização do URUTU Revitalização do CASCAVEL Revitalização da Vtr Socorro M578 100 250 20 Estaleiro Rio Negro New Holand (Nac) CAT CAT - 670.000,00 460.000,00 10.000.000,00 2.000.000,00 1.000.000,00 100 - 12.000.000,00 - CEPPE 3.391.999,00 60 40 Toyota (Nac) Toyota (Nac) 8.500.000,00 3.500.000,00 50 - 17.500.000,00 146 150 53 130 46 74 264 1.500 1.500 100 221 60.000.000,00 61.000.000,00 13.000.000,00 53.000.000,00 23.000.000,00 37.000.000,00 115.000.000,00 450.000.000,00 450.000.000,00 46.000.000,00 23.000.000,00 20 30 Volkswagen Volkswagen Mercedez-Bens Mercedez-Bens Mercedez-Bens Flight Technologies AGX CTEx Flight Technologies AGX CTEx Flight Technologies AGX CTEx UNIVERSAL UNIVERSAL 06 UNIVERSAL 1.600.000,00 260.000,00 1.500.000,00 400.000,00 200.000,00 6.650.000,00 12.000.000,00 2.400.00,00 Quadro 1 – Material do RECOp adquirido em empresas nacionais. Fonte: Escritório de Projetos do Exército (2014a) As compras somente pelo RECOP de 2012 a 2014 na indústria nacional pelo Exército Brasileiro, totalizaram R$ 1.495.984.802,00, alavancando este setor. 40 4 A POLÍTICA NACIONAL DE DEFESA (PND) A Política Nacional de Defesa brasileira tem como referência a Política de Defesa Nacional, inicialmente formulada em 1996, durante o Governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso, e, na sequência reformulada em 2005, durante o Governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A PND define os Objetivos Nacionais de Defesa (OND), voltados preponderantemente para ameaças externas, e “estabelece objetivos e diretrizes para o preparo e emprego da capacitação nacional, com envolvimento dos setores militar e civil, em todas as esferas do Poder Nacional.” (Decreto Legislativo nº 373, 2013f). Por meio do Decreto Legislativo nº 373, de 25 de setembro de 2013, durante o primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, o Congresso Nacional aprovou a atual Política Nacional de Defesa, a nova versão da Estratégia Nacional de Defesa (END) e o Livro Branco da Defesa Nacional (LBDN) que passaram a serem os mais atuais documentos que norteiam a Defesa Nacional brasileira. De acordo com a mensagem encaminhada ao Congresso Nacional pela Presidência da República (Mensagem nº 83/2012), a Política Nacional de Defesa é “o documento condicionante de mais alto nível do planejamento de ações destinadas à defesa nacional coordenadas pelo MD”. A END, por sua vez, ainda segundo a mensagem, estabelece como fazer o que se determinou na PND, instruindo como aplicar o Poder Nacional para a consecução dos Objetivos Nacionais de Defesa. Já o chamado LBDN é um documento de caráter público, por meio do qual “se permitirá o acesso à informação sobre o setor de defesa do país”. O LBDN traça estratégias que buscam engajar a sociedade, os parlamentares, a burocracia federal e os acadêmicos nos estudos de defesa, abrangendo não somente o setor militar. O processo de transformação pelo qual passa o Exército Brasileiro, dentro do qual estão incluídos seus diversos Projetos Estratégicos, está balizado, em grande parte, por estes documentos supracitados. Desta forma, antes de descrever a PND, é primordial que seja traçado um breve histórico da cultura nacional de defesa no Brasil. Segundo Ramos (2014), sua cronologia é a seguinte: - A primeira vez que o assunto “defesa” foi tratado em nosso País foi em 1989, quando do surgimento da Política Militar Brasileira; - Em 1993, a Política Militar Brasileira foi atualizada; 41 - Em 1996, foi instituída Política de Defesa Nacional e, em 1998, a Estratégia Militar Brasileira; - Em 1999, foi criado o Ministério da Defesa e, em 2001, estabelecida a Doutrina Militar de Defesa; - Em 2002, foram instituídas a Política Militar de Defesa e a Estratégia Militar de Defesa, além da primeira revisão da Política de Defesa Nacional; - Em 2005, foram estabelecidas a Política Nacional de Defesa, por meio Decreto nº 5.484, de 30 de junho de 2005, e a atual Política Militar de Defesa; - Em 2006, foi instituída uma nova Estratégia Militar de Defesa e, no ano seguinte, a atual Doutrina Militar de Defesa; - Em 2008, foi estabelecida a Estratégia Nacional de Defesa; - Em 2010, foi instituída a atual Estratégia Militar de Defesa e foi criado o Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas; e - Em 2013, o Congresso Nacional aprovou a atual Política Nacional de Defesa, a atual versão da Estratégia Nacional de Defesa e o Livro Branco de Defesa Nacional. Historicamente, as questões relacionadas à defesa nacional jamais tiveram a devida prioridade por parte do Governo Federal. Sem prioridade, é possível que não sejam alocados recursos necessários a sua prática e evolução nos próximos anos. 4.1 Conceitos relacionados à Defesa Com a finalidade de melhor compreender o tema abordado neste trabalho, é importante que sejam apresentados conceitos formulados pela Escola Superior de Guerra (ESG), estabelecimento de ensino integrante da estrutura do Ministério da Defesa que funciona como centro de estudos e pesquisas sobre Política, Estratégia e Defesa, destinada a desenvolver e consolidar os conhecimentos necessários ao exercício de funções de direção e assessoramento superior para o planejamento da Defesa Nacional. Dentre eles, serão apresentados os conceitos de Objetivos Nacionais, Poder Nacional, Política Nacional, Óbices e Defesa Nacional, segundo o Volume I do Manual Básico da ESG (2014d) para melhor compreensão da relação existente entre os mesmos. 42 4.1.1 Objetivos Nacionais Segundo o Volume I do Manual Básico da ESG (2014d), os Pressupostos Básicos da ação política são: “definir objetivos e conhecer os meios a empregar para atingi-los. Quando o referencial é a Nação, trata-se, no primeiro caso, de identificar e estabelecer os Objetivos Nacionais e, no segundo, de analisar, orientar e aplicar o Poder Nacional.” Resumidamente, esse mesmo manual conceitua Objetivos Nacionais como “aqueles que a Nação busca satisfazer, em decorrência da identificação de necessidades, interesses e aspirações, em determinada fase de sua evolução histórico-cultural.” De acordo com a natureza de cada um desses objetivos, eles são classificados em três grupos: - Objetivos Fundamentais; - Objetivos de Estado; e - Objetivos de Governo. Coerente com a origem histórica e cultural da Nação, a Constituição Federal brasileira estabelece, em seu Artigo 3º, como Objetivos Fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; e IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. (BRASIL, 1988) Os Objetivos de Estado são Objetivos Nacionais intermediários, voltados para o atendimento de necessidades, interesses e aspirações, considerados de alta relevância para a conquista, consolidação e manutenção dos Objetivos Fundamentais. Os Objetivos de Estado, embora sejam estabelecidos por um Governo, devem refletir um consenso nacional sobre aspirações relevantes e assim deverão ser buscados por seus sucessores, por intermédio de outros objetivos intermediários. (BRASIL, 2014d) Por sua vez, os Objetivos de Governo são Objetivos fixados por um Governo para o atendimento imediato de necessidades, interesses e aspirações da sociedade, decorrentes de situações conjunturais que influem nos ambientes interno e externo da Nação. São objetivos intermediários fixados por um ou mais governos que deverão preservar os OF, como referencial síntese. (BRASIL, 2014d) 43 4.1.2 Poder Nacional O Poder Nacional constitui A capacidade que tem o conjunto de Homens e Meios que constituem a Nação para alcançar e manter os Objetivos Nacionais, em conformidade com a Vontade Nacional. Nesse conceito estão contidos os elementos do Poder Nacional: o Homem, a Vontade e os Meios, sendo a Vontade Nacional entendida como a interpretação pelas elites, dos anseios da sociedade nacional. (BRASIL, 2014d) 4.1.3 Política Nacional Política Nacional é O conjunto dos Objetivos Fundamentais bem como a orientação para emprego do Poder Nacional, atuando em conformidade com a Vontade Nacional. A Política Nacional se propõe ao atingimento e à manutenção de Objetivos Fundamentais, não se preocupando com a capacidade do Poder Nacional ou com a existência de Óbices que se anteponham ao seu emprego. (BRASIL, 2014d) 4.1.4 Estratégia Nacional A Estratégia Nacional “é a arte de preparar e de aplicar o Poder Nacional para, superando os Óbices, alcançar e preservar os Objetivos Nacionais, de acordo com a orientação estabelecida pela Política Nacional.” (BRASIL, 2014d) 4.1.5 Óbices Óbices são Obstáculos de toda ordem que dificultam ou impedem a conquista e manutenção de objetivos. A superação dos Óbices que impedem ou dificultam a conquista e a manutenção dos Objetivos Nacionais exige, pois, a preparação e o emprego adequado do Poder Nacional. (BRASIL, 2014d) 4.1.6 Defesa Nacional Defesa Nacional “é o conjunto de atitudes, medidas e ações do Estado, com ênfase na Expressão Militar, para a defesa do território, da soberania e dos interesses nacionais contra ameaças preponderantemente externas, potenciais ou manifestas.” (BRASIL, 2014d) 44 4.2 O Ambiente Regional e o Entorno Estratégico Conforme assinala a PND, o Brasil encontra-se inserido em um meio regional em que, apesar da aparente atmosfera de tranquilidade, as ameaças continuam existindo (inclusive as não tradicionais, as chamadas "novas ameaças", como o crime organizado e o terrorismo). Isso, associado ao fato de estarmos em um ambiente global dinâmico, incerto e complexo, conduz-nos à necessidade de mais investimento e preparo na área de Defesa. A PND delimita o ambiente regional e o entorno estratégico nos quais o Brasil se insere da seguinte forma: A América do Sul é o ambiente regional no qual o Brasil se insere. Buscando aprofundar seus laços de cooperação, o País visualiza um entorno estratégico que extrapola a região sul-americana e inclui o Atlântico Sul e os países lindeiros da África, assim como a Antártica. Ao norte, a proximidade do mar do Caribe impõe que se dê crescente atenção a essa região. (PND, 2013e, p.4) Devido a sua situação geopolítica, ao Brasil interessa o aprofundamento do processo de desenvolvimento integrado e harmônico da América do Sul, que se estende, naturalmente, à área de defesa e segurança regionais. Da avaliação dos ambientes internacionais e regionais, emergem os Objetivos Nacionais de Defesa. 4.3 Os Objetivos Nacionais de Defesa As políticas podem ser formuladas a partir da análise de cenários prospectivos e, obrigatoriamente, devem preceder o estabelecimento de estratégias para o alcance de objetivos. À luz das definições já abordadas, pode-se afirmar que os objetivos estabelecidos pela PND são Objetivos de Estado, e, como tal, devem estar voltados para o atendimento de necessidades, interesses e aspirações nacionais, considerados de alta relevância para a conquista, consolidação e manutenção dos Objetivos Fundamentais do Brasil. De acordo com a PND/2013, os OND estabelecidos são os seguintes: I - garantir a soberania, o patrimônio nacional e a integridade territorial; II - defender os interesses nacionais e das pessoas, dos bens e dos recursos brasileiros no exterior; III - contribuir para a preservação da coesão e da unidade nacionais; IV - contribuir para a estabilidade regional; V - contribuir para a manutenção da paz e da segurança internacionais; 45 VI - intensificar a projeção do Brasil no concerto das nações e sua maior inserção em processos decisórios internacionais; VII - manter Forças Armadas modernas, integradas, adestradas e balanceadas, e com crescente profissionalização, operando de forma conjunta e adequadamente desdobradas no território nacional; VIII – conscientizar a sociedade brasileira da importância dos assuntos de defesa do País; IX – desenvolver a indústria nacional de defesa, orientada para a obtenção da autonomia em tecnologias indispensáveis; X – estruturar as Forças Armadas em torno de capacidades, dotandoas de pessoal e material compatíveis com os planejamentos estratégicos e operacionais; e XI – desenvolver o potencial da logística de defesa e de mobilização nacional. (PND, 2013e, grifo nosso) 4.4 As Orientações da PND As políticas e ações definidas pelos diversos setores do Estado brasileiro deverão contribuir para a consecução dos Objetivos Nacionais de Defesa acima elencados. Para alcançá-los, devem-se observar as seguintes orientações: 7.1. No gerenciamento de crises internacionais de natureza políticoestratégica, o Governo poderá determinar o emprego de todas as expressões do Poder Nacional, de diferentes formas, visando a preservar os interesses nacionais. 7.2. No caso de agressão externa, o País empregará todo o Poder Nacional, com ênfase na expressão militar, na defesa dos seus interesses. 7.3. O Serviço Militar Obrigatório é a garantia de participação de cidadãos na Defesa Nacional e contribui para o desenvolvimento da mentalidade de defesa no seio da sociedade brasileira. 7.4. A expressão militar do País fundamenta-se na capacidade das Forças Armadas e no potencial dos recursos nacionais mobilizáveis. 7.5. O País deve dispor de meios com capacidade de exercer vigilância, controle e defesa: das águas jurisdicionais brasileiras; do seu território e do seu espaço aéreo, incluídas as áreas continental e marítima. Deve, ainda, manter a segurança das linhas de comunicações marítimas e das linhas de navegação aérea, especialmente no Atlântico Sul. 7.6. Para contrapor-se às ameaças à Amazônia, é imprescindível executar uma série de ações estratégicas voltadas para o fortalecimento da presença militar, a efetiva ação do Estado no desenvolvimento sustentável (social, econômico e ambiental) e a ampliação da cooperação com os países vizinhos, visando à defesa das riquezas naturais. 7.7. Os setores governamental, industrial e acadêmico, voltados à produção científica e tecnológica e para a inovação, devem contribuir para assegurar que o atendimento às necessidades de produtos de defesa seja apoiado em tecnologias sob domínio nacional obtidas mediante estímulo e fomento dos setores industrial e acadêmico. A capacitação da indústria nacional de defesa, incluído o domínio de tecnologias de uso dual, é fundamental para alcançar o abastecimento de produtos de defesa. 7.8. A integração da indústria de defesa sul-americana deve ser objeto de medidas que proporcionem desenvolvimento mútuo, bem como capacitação e autonomia tecnológicas. 7.9. O Brasil deverá buscar parcerias estratégicas, visando a ampliar o leque de opções de cooperação na área de defesa e as oportunidades de intercâmbio. 46 7.10. Os setores espacial, cibernético e nuclear são estratégicos para a Defesa do País; devem, portanto, ser fortalecidos. 7.11. A atuação do Estado brasileiro com relação à defesa tem como fundamento a obrigação de garantir nível adequado de segurança do País, tanto em tempo de paz, quanto em situação de conflito. 7.12. À ação diplomática na solução de conflitos soma-se a estratégia militar da dissuasão. Nesse contexto, torna-se importante desenvolver a capacidade de mobilização nacional e a manutenção de Forças Armadas modernas, integradas e balanceadas, operando de forma conjunta e adequadamente desdobradas no território nacional, em condições de pronto emprego. 7.13. Para ampliar a projeção do País no concerto mundial e reafirmar seu compromisso com a defesa da paz e com a cooperação entre os povos, o Brasil deverá aperfeiçoar o preparo das Forças Armadas para desempenhar responsabilidades crescentes em ações humanitárias e em missões de paz sob a égide de organismos multilaterais, de acordo com os interesses nacionais. 7.14. O Brasil deverá dispor de capacidade de projeção de poder, visando a eventual participação em operações estabelecidas ou autorizadas pelo Conselho de Segurança da ONU. 7.15. Excepcionalmente, em conflitos de maior extensão, de forma coerente com sua história e o cenário vislumbrado, observados os dispositivos constitucionais e legais, bem como os interesses do País e os princípios básicos da política externa, o Brasil poderá participar de arranjos de defesa coletiva. 7.16. É imprescindível que o País disponha de estrutura ágil, capaz de prevenir ações terroristas e de conduzir operações de contraterrorismo. 7.17. Para se opor a possíveis ataques cibernéticos, é essencial aperfeiçoar os dispositivos de segurança e adotar procedimentos que minimizem a vulnerabilidade dos sistemas que possuam suporte de tecnologia da informação e comunicação ou permitam seu pronto restabelecimento. 7.18. É prioritário assegurar continuidade e previsibilidade na alocação de recursos para permitir o preparo e o equipamento adequado das Forças Armadas. 7.19. Deverá ser buscado o constante aperfeiçoamento da capacidade de comando, controle, monitoramento e do sistema de inteligência dos órgãos envolvidos na Defesa Nacional. 7.20. Nos termos da Constituição, as Forças Armadas poderão ser empregadas pela União contra ameaças ao exercício da soberania do Estado e à indissolubilidade da unidade federativa. 7.21. O Brasil deverá buscar a contínua interação da atual PND com as demais políticas governamentais, visando a fortalecer a infraestrutura de valor estratégico para a Defesa Nacional, particularmente a de transporte, a de energia e a de comunicações. 7.22. O emprego das Forças Armadas na garantia da lei e da ordem é regido por legislação específica. (PND, 2013e, grifo nosso) A PND pressupõe que a defesa do Brasil é indissociável do seu desenvolvimento, servindo-lhe como escudo (BRASIL, 2013e). Na última década, o País passou por um período de grande prosperidade e de grande importância no cenário internacional, com uma política externa atuante em assuntos, por vezes, delicados. A crescente projeção do Brasil no concerto das nações deve ser acompanhada de uma política de defesa adequada, a fim de que disponha de poder dissuasório suficiente para não sofrer ingerências de ameaças externas. 47 5 AS CONTRIBUIÇÕES DOS PEE PARA A PND Conforme elencado anteriormente, os PEE trarão vários benefícios para o Brasil, principalmente para o Sistema de Ciência, Tecnologia e Inovação, com desenvolvimento do setor industrial e acadêmico, bem como pela impulsão da capacitação da força de trabalho e aumento expressivo do número de empregos gerados. A área da Defesa Nacional terá um salto de qualidade com a capacitação operativa das FFAA, aumento do poder dissuasório do Brasil, o controle mais efetivo das fronteiras levando a uma diminuição dos ilícitos transnacionais e a proteção das estruturas estratégicas do País, além do incremento da indústria bélica nacional. Segundo o General de Divisão Linhares, Chefe do Escritório de Projetos do Exército (GOMES, 2014), os PEE geram resultados na sociedade brasileira de forma contundente. Dentre os quais podemos citar a contribuição com a dissuasão extrarregional, a atuação no espaço cibernético com liberdade de ação, a contribuição com o desenvolvimento sustentável e a paz social, e a ampliação da projeção do Exército no cenário internacional. Dentro desses macrorresultados dos PEE, o General Linhares descreve os benefícios gerados pelos mesmos: - fortalecer a Base Industrial de Defesa (BID); - incrementar a independência tecnológica; - reestruturar a Indústria Nacional de Defesa; - dissuadir a cobiça; - dominar tecnologias sensíveis; - combater ilícitos transfronteiriços e aumentar a segurança nos centros urbanos; - incrementar a exportação de bens e serviços com alto valor agregado; - proporcionar maior respaldo à Política Exterior; - fortalecer a presença do Estado nas fronteiras; - organizar Força de Contingência pronta e à altura dos desafios do Brasil; - incrementar a interoperabilidade dos órgãos governamentais; - possibilitar a proteção do “core” da geração de riquezas do País; - diversificar a pauta de exportações; - capacitar a indústria e mão de obra brasileiras; - fortalecer o modelo sustentável – uso dual da tecnologia; - gerar empregos; 48 - impulsionar o envolvimento dos institutos tecnológicos e entidades acadêmicas; - ampliar a integração nacional; - proteger os serviços essenciais à população e ao desenvolvimento nacional; - inibir a ocorrência de crises e colaborar com a garantia do patrimônio; e - cooperar com ações governamentais de proteção das estruturas estratégicas terrestres, também denominadas infraestruturas críticas. Ainda no levantamento das contribuições dos PEE, Rosa (2013, p.28) cita os aspectos positivos dos projetos elencados por seus responsáveis diretos: “- que vários projetos foram concebidos pelo Sistema de Ciência, Tecnologia e Inovação do EB e desenvolvido em parceria com as empresas brasileiras, incorporando modernas tecnologias indispensáveis no campo de batalha moderno e trazendo modernidade, segurança e eficiência aos PRODE; - o conhecimento prévio que alguns integrantes das equipes possuíam antes de serem designados para o PEE; - o aumento da operacionalidade e dissuasão; - a melhoria na legislação brasileira que passou a considerar crime os ataques cibernéticos; - a interação com os demais Sistemas do Ministério da Defesa, da Marinha do Brasil e da Força Aérea Brasileira; - o incremento na cooperação com os países vizinhos; a melhora nas condições de defesa e segurança na fronteira; - o aprimoramento das condições para atuar em Operações de GLO e Ações Subsidiárias; - a geração de emprego e renda, inclusive em áreas de elevado valor agregado e tecnológico; - o estimulo à Pesquisa, o Desenvolvimento e a Inovação (PD&I) tecnológica; - a produção de bens de emprego dual (civil e militar); - o fortalecimento da indústria nacional; - escopo adequado à realidade brasileira; e - o planejamento da aquisição de meios para evitar a duplicação de esforços no mesmo espaço geográfico.” Todos esses benefícios dos PEE se relacionam com os OND estabelecidos pela atual PND. Seus produtos contribuem diretamente na garantia da soberania, do patrimônio nacional e da integridade territorial. Os demais objetivos que incluem a estruturação de Forças Armadas com adequadas capacidades organizacionais e operacionais e a criação de condições sociais e econômicas de apoio à Defesa Nacional no Brasil são alcançados com a execução dos PEE. A aquisição e o desenvolvimento de PRODE tecnologicamente avançados e o aumento de profissionais altamente capacitados proporcionados pelos PEE contribuem para a manutenção da paz e da segurança internacionais, para a proteção dos interesses brasileiros nos diferentes níveis de projeção externa do 49 País, bem como, para o desenvolvimento da indústria nacional de defesa, Objetivos de Defesa do Brasil. Verificou-se que cada PEE estudado contribui para geração de Capacidades Militares Terrestres (Cpcd Mil Ter) que vão ao encontro dos OND. Capacidades Militares PEE que contribuem Terrestres Pronta resposta Atuação Decisiva SISFRON, PROTEGER, Guarani e RECOP SISFRON, PROTEGER, Def Ciber, Guarani, Def AAe, ASTROS 2020 e RECOP SISFRON, PROTEGER, Def Ciber, Guarani e RECOP Apoio a Órgãos Governamentais Comando e Controle SISFRON, PROTEGER e RECOP Apoio Logístico Informação SISFRON, PROTEGER, Def Ciber, Guarani, Def AAe, ASTROS 2020 e RECOP SISFRON, PROTEGER, Def Ciber, Guarani, Def AAe, ASTROS 2020 e RECOP SISFRON, PROTEGER, Def Ciber e RECOP Consciência Situacional SISFRON, PROTEGER, Def Ciber e RECOP Interoperabilidade SISFRON, PROTEGER, Def Ciber, Guarani, Def AAe e RECOP Proteção Quadro 2 – Capacidades Militares Terrestres versus PEE. Fonte: GOMES, 2014. Desta forma, podemos realizar a correlação entre as Capacidades Militares Terrestres geradas pelos diversos PEE e o alinhamento com os OND da PND. Capacidades Militares Terrestres Objetivos Nacionais de Defesa atendidos Pronta resposta Todos os OND, exceto o VIII Atuação Decisiva Todos os OND, exceto os VIII e XI Apoio a Órgãos Governamentais Todos os OND, exceto o VIII Comando e Controle Todos os OND, exceto o VIII Apoio Logístico Todos os OND, exceto o VIII Proteção Todos os OND Informação Todos os OND, exceto o VIII Consciência Situacional Todos os OND, exceto os VIII e XI Interoperabilidade Todos os OND, exceto o VIII Quadro 3 – Correlação entre as Cpcd Mil Ter e os OND. Fonte: o Autor 50 Das correlações apresentadas, pode-se concluir parcialmente que: - o SISFRON, o PROTEGER e o RECOP geram todas as Cpcd Mil Ter apresentadas, constituindo-se nos maiores potencializadores da PND; - cada uma das Cpcd Mil Ter geradas pelos PEE possui correspondência com a grande maioria dos OND da PND, com pequenas exceções; - o enunciado dos OND exprimem de forma muito abrangente aquilo que se deseja atingir, permitindo que várias Cpcd Mil Ter geradas pelos PEE possam, naturalmente, corresponder a um desses objetivos; - o OND VIII “conscientizar a sociedade brasileira da importância dos assuntos de defesa do País”, constante da PDN, não possui alinhamento com a maioria das Cpcd Mil Ter geradas pelos PEE, com exceção da Capacidade de Proteção, particularmente no que se refere ao projeto Defesa Cibernética. Uma das grandes contribuições que o PEE Defesa Cibernética trouxe foi a conscientização dos riscos do ciberespaço, bem como a melhoria na legislação brasileira que passou a considerar crime os ataques cibernéticos, conscientizando de forma indireta a população das ameaças e riscos do setor cibernético para defesa do País; e - Cabe destacar que é difícil mensurar o grau de contribuição que cada PEE tem realizado para a consecução dos OND, principalmente por serem, ainda, projetos inacabados com prazos de longa duração. Dessa forma, pode-se inferir que, as Capacidades Militares Terrestres e os benefícios gerados pelos Projetos Estratégicos do Exército estão contribuindo de forma satisfatória para a conquista ou a preservação dos Objetivos Nacionais de Defesa da Política Nacional de Defesa, otimizando a sua implementação em prol da Defesa Nacional. 51 6 CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES O estudo tratou sobre os Projetos Estratégicos do Exército e a atual Política Nacional de Defesa e procurou estabelecer um paralelo entre as Capacidades Militares Terrestres e os benefícios gerados pelos PEE e os Objetivos Nacionais de Defesa definidos pela PND. Neste intuito, o trabalho monográfico teve por principal escopo identificar as contribuições dos PEE para a implementação da PND. Foi possível constatar das correlações entre os PEE e os OND da PND, o alinhamento dos produtos e capacidades gerados pelos PEE com os atendimentos dos OND. O SISFRON atende aos OND por ter sido concebido sob a égide do trinômio monitoramento/controle, mobilidade e presença, bem como por enfatizar o adensamento de Unidades do EB na faixa de fronteira e impulsionar a capacitação da indústria nacional para a conquista da autonomia em tecnologias indispensáveis à defesa. O sistema abre oportunidades haja vista o montante de investimentos, seu prolongado ciclo de vida e o caráter de uso dual (civil e militar) dos seus produtos e serviços, acarretando em uma maior expectativa de geração de empregos, aumento de renda e desenvolvimento regional. O projeto PROTEGER, ao fortalecer a capacidade de pronta resposta do EB na proteção de EETer, aumenta a dissuasão do Brasil contra potenciais ameaças e oferece maior segurança aos investimentos nessas estruturas estratégicas, o que contribui para a redução dos custos econômico-financeiros dos segmentos produtivos. Os investimentos envolvidos no projeto contribuem também para o fortalecimento da BID, o fomento à geração de novos empregos, a capacitação de pessoal qualificado e a absorção de tecnologias sensíveis, gerando maior independência tecnológica para o País e internacionalização das empresas de defesa brasileiras. A experiência e os ensinamentos adquiridos com o projeto Defesa Cibernética refletem na evolução do setor cibernético brasileiro, implicando no desenvolvimento da indústria nacional de defesa, na interoperabilidade das comunicações entre as Forças Armadas, na produção de sistemas e componentes inovadores para a proteção das infraestruturas críticas da Nação e no incremento das pesquisas científicas, de tal forma que estes benefícios contribuem para o atingimento dos OND. 52 O projeto GUARANI foi concebido e desenvolvido no sentido de estimular a indústria bélica nacional e promover a correlação entre esta e a indústria civil. Sob este enfoque, espera-se como principais reflexos e benefícios do projeto: o fortalecimento das ações do Estado na segurança e defesa do território nacional, a elevação da capacidade tecnológica da indústria nacional, a criação de empregos diretos e indiretos, a diversificação da pauta de exportações e a elevação da capacidade de dissuasão do Estado brasileiro. Os benefícios do projeto DAAe alinham-se com os OND por meio do desenvolvimento de um Sistema de Defesa Antiaérea composto por materiais em sua maioria produzidos no País (radares, viaturas e centros de operação antiaérea, dentre outros); do desenvolvimento de empresas nacionais de defesa, como integradoras e fornecedoras de partes estruturais e equipamentos para este e outros sistemas; por meio da viabilização da criação do Parque Tecnológico de Defesa Brasileiro; e da criação de empregos de alto nível de especialização. O projeto ASTROS 2020 contribui de forma estratégica para a indústria de defesa brasileira, principalmente para a AVIBRÁS, por meio do reaparelhamento do Exército Brasileiro. Além da capacidade de exportar sua produção, a empresa desenvolve mão de obra especializada. A manutenção desse capital intelectual sinaliza interesse na produção de material de defesa com tecnologia exclusivamente brasileira. O projeto é visto também como uma forma de incrementar a futura pauta de exportações e proporcionar a dissuasão extrarregional do País, conforme a PND. Por meio do projeto RECOP, uma série de benefícios será gerada: o domínio de tecnologias sensíveis e de uso dual, criação de empregos para a indústria de defesa, a capacitação de mão de obra nacional, a independência tecnológica com o envolvimento dos institutos tecnológicos e entidades acadêmicas, a reestruturação e o fortalecimento da Base Industrial de Defesa, ocasionado pela aquisição de conhecimento em tecnologias críticas e indispensáveis ao setor. Além disso, o projeto proporcionará incremento da cooperação interagências e da interoperabilidade entre órgãos civis e militares, públicos e privados. Diante dessas constatações, é lícito afirmar que os projetos estratégicos SISFRON, PROTEGER, Defesa Cibernética, GUARANI, Sistema de Defesa Antiaérea, ASTROS 2020 e RECOP permitirão a estruturação do EB em torno de capacidades, conforme estabelece a PND, por meio de recompletamento, 53 reposicionamento, adestramento e modernização das funções de combate das brigadas. Conclui-se, então, que a hipótese levantada no início deste trabalho pode ser confirmada e que, de fato, os Projetos Estratégicos do Exército estão contribuindo com a implementação da Política Nacional de Defesa, por meio do atendimento aos seus Objetivos Nacionais de Defesa. Seguindo cada qual as suas metas por fases. O Brasil é um país em desenvolvimento, com diversas carências, tais como educação, saúde, segurança pública, dentre outras. Destarte, os recursos a serem empregados em defesa sejam escassos, a necessidade de alocação de parcela do orçamento da União em material de defesa é um fator do qual o próprio desenvolvimento do País torna-se dependente. Quanto aos óbices para a implementação da PND por meio dos PEE é importante afirmar que os governos vêm estabelecendo suas prioridades na alocação de recursos orçamentários notadamente em programas sociais, nos quais o setor de defesa não tem sido incluído. É dessa falta de prioridade que resulta a indesejável descontinuidade no desenvolvimento de projetos de produtos estratégicos de defesa, cuja duração é normalmente de longo prazo. Percebe-se que os órgãos federais que possuem projetos estruturados que, além de atuarem em sua própria capacidade normativa e constitucional, vem ao encontro das necessidades da população, demais agências ou do governo em geral, têm a opção de uma fonte extra de capitação de recursos. Nesse sentido, para que o desenvolvimento do setor de defesa torne-se factível, será necessária, cada vez mais, a associação de programas e projetos de interesse da defesa a outros projetos de interesse da sociedade para o desenvolvimento econômico e social. Tal ação, ainda que de forma indireta, poderia contribuir para um maior aporte de recursos e para a ampliação dos investimentos nas Forças Armadas. Concluindo este trabalho, cabe ressaltar que a defesa nacional é um tema que, pela sua relevância, deverá estar sempre na pauta das principais discussões da sociedade brasileira. Caberá aos governantes a imprescindível atuação no setor, promovendo o aperfeiçoamento das estruturas do Poder Nacional, de modo que possam ser alcançados e mantidos todos os Objetivos Nacionais, sejam eles Fundamentais ou de Estado. 54 REFERÊNCIAS Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6023:2002: informação e documentação: referências: elaboração. Rio de Janeiro: ABNT, 2002a. 24 p. ______. NBR 6024:2003: informação e documentação: numeração progressiva das seções de um documento escrito: apresentação. Rio de Janeiro: ABNT, 2003. 3 p. ______. NBR 10520:2002: informação e documentação: citações em documentos: apresentação. Rio de Janeiro: ABNT, 2002b. 7 p. ______. NBR 14724:2011: informação e documentação: trabalhos acadêmicos: apresentação. Rio de Janeiro: ABNT, 2011. 11 p. 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