Maqueta Querela
Transcrição
Maqueta Querela
QUERELA SALAZAR ERA BURRO E NÃO TINHA AMIGOS “O meu trabalho consiste na descodificação dessas simbologias, que eu chamo de __________________ ___ (preencher com a opção pretendida). Não se trata de críticas, mas sim de ________________ (preencher com o verbo) o que me levou a este trabalho. Para mim, trata-se de _________________ e não de ___________ _______! (mostrar convicção e firmeza)” mentira. Trompe l´oeil estreio Abreviação pouco des temida do miolo (para a escala das coisas de agora): ou seja, suco, recheio, as vísceras, a tripalhada toda, vem tudo ao assunto, mas não no mesmo saco. Mesmo que nos queiram convencer que o cozinhado é imenso, sobra muito pouca coisa, e imaginação e inspiração é coisa de estroinas de baile e sacripantas. Há que saber duas coisas: não há volta a darlhe, vida e logro são a mesma coisa, como podem-no ser pintura e bodyboard, ou desenho e atendimento ao balcão. Muito razoavelmente, não pomos ordem a estas coisas, nem atribuímos lugares, nem pódios, nem desistências. Sabemos apenas, e pomos sim assentos nisso, que há comunicações impossíveis. Uma coisa é passo-ante-passo - não fazemos resistência à comunicação de internet, mas desprezamos poetas “pop-up”. Ou seja, outra coisa, é encetar uma comunicação com guelras em brasa. Toda a história, sendo uma velha senhora, corre o seu caminho; mas há distinções que nos deixa de grande utilidade: o melhor miolo, difícil de encontrar, existe. Tudo pode ser tudo. De acordo. Mas pouca coisa consegue ser alguma coisa. Ainda assim, essa velha senhora não se insurge muito contra a sua incontinência aflita. Mantém a sua postura protocolar, mas deixa os miúdos rebeldes a brincar no jardim. Emagrece, maldita seja, e sempre para o mesmo lado do osso, esses despejos furtuitos de toda a sua locução, mas dá-lhes parto. Porque não há muito por onde fugir. O esfinctêr dessa carcaça ainda sobrevive pela lei natural. Verte em quantidade, porque assim mantém-se viva. E nesse jogo de infelicidades, é difícil de comunicar sem ser normalmente um infeliz. Dizer alguma coisa em sangue, manter-lhe o peito firme. “Querela acusa-vos a todos de querer viver um bocadinho nessa pestilência.” Guardem e refugiem a vossa melhor comunicação, desmedida, até ao melhor momento. A seguir à estreia costuma dizer-se: # A Querela não se propõe a agradar qualquer público (determinado ou indeterminado), porque não edita para grupos de leitores especializados, nem deseja disputar outro alvo que não seja a consciência alheia. # A Querela não se coibe de tentar alcançar aquele a quem a sociedade atribui mais perigo, o indivíduo de pensamento livre; # A Querela não é periódica, não tem corpo editorial, é inconstante. Da sua persistência apenas se retira a imprevisibilidade. # A Querela não existe para ostentar qualquer ideologia, mas para garantir a consumação da sua decadência. “O problema do surrealismo foi ter entrado na política.”, História Desenvolta do Surrealismo UMA BOA QUERELA GOSTA DE DESPORTO Penetração Aos quereleiros de todo o mundo, mais um esforço! A origem do mundo agora é outra. Sobram palavras por usar. Quando se quer construir um romance, escolhem-se algumas referências - de preferências nossas - e mete-se tudo num saco para tirar tudo aos salpicos. O tédio dessas coisas obriga a que se passe a chamar Romance Despasmos. Já é assim há décadas. Mudaramse as fontes, secaram as antigas. Reviraram-se um, dois, três Courbets, doze Lautréamonts, sete Jarry’s, algumas metades de Vaché e Rigaut’s. E aí continuam mais um, dois, três mil flagelos escancarados, fustigados em litros de sangue de desperdício. (Ainda poucas origens conseguiram vencer as vitórias da samotrácia). Não há nada melhor do que fazer lembrar os gáudios dos Césares. Várias mesinhas ordenadinhas, tudo em lascivez, vistas regaladas no serviço de luxo, glande em riste para ordenhar as vaquinhas oferecidas pela Presidência, tudo em ordem muito bem mandadinha para simplificar as coisas. Mas nem só a esmola faz o mendigo, nem nunca é tarde para se chegar atrasado. O tamboril não é para os pobres, só a guerra. Guerra é guerra, deixem a fome apertar, e verão: continuam as mesas postas para os reis. O couro e cabelo saem sempre dos mesmos. Mas a linguagem vem do fogo. A linguagem - e a respectiva língua - apresenta-se aí para ser julgada e comentada, em exposição de sol a sol. É a única que impede crucificar a experiência pelos movimentos acéfalos de contracção dos comportamentos. Normalmente, são só enxertos mal semeados, o bombástico de plástico, que é mais barato. A linguagem pertence ao estomâgo e às vísceras. E, por isso, não a considerem intratável (ou a quem a use) ou sem futuro. Porque é ela é, em essência, incómoda, e dona da felicidade pública, e ensinada pela prática. Como as ruas, não são apenas um direito de passagem, são um direito de permanência. Dificilmente quereremos um glamour teórico, ou um descanso na sombra das palavras. Falar para leitores especializados não é instrução, é pedantismo. O currículo que nos apresenta não chega para nos dar algum tipo de reputação. A envolvência que nos provoca escava mais do que contrói, e não há ócio inútil que não seja proveitoso. Não há cultura, só o que se pode fazer com ela. A linguagem é uma das suas ferramentas: um formão de estilhaços. Lentamente, poderemos adaptar-nos selectivamente à nossa própria cultura, rejeitando as idiotices da Cultura-Mãe. Historicamente, a fórmula surrealista de “Escreva depressa sem assunto prévio!” foi humilhada por um determinismo imaginário exagerado, “a voz surrealista que fala do alto”, que falhava no acto prático e autónomo da linguagem. A “linguagem dos desejos” esquecia-se que era na vida, e não nos sonhos, que as palavras deveriam fazer mais sentido. Poucas vezes a sinceridade terá feito tanto sentido como a falta de organização dadaísta na história, sem confiscação autoritária, mas com sentido prático criativo: não avisando o que ia fazer, mas aparecendo. Se a linguagem vale por uma prática, e vice-versa, ela tem esse garante de renovação constante, e bloqueará poderes exteriores de recuperação do seu velho sentido, desviando qualquer intentona de criação dos passatempos vulgares. O modelo é a vida imprevisível. Ainda não se chegou à conclusão que os burocratas ignoram que existe esse meio de comunicação chamado linguagem. Eles só admitem a linguagem enquanto instrumento de mentira, embuste periódico de massas. Mas a Querela não é periódica, é constante. Da sua persistência, vão surgindo edições, que aqui e ali mapeiam um discurso orientado pela imprevisibilidade. Por isso mesmo, estaremos mais interessados às cartas que não nos forem dirigidas. Estamos bem avisados. A ilegalidade não está naquilo que se pode fazer com ela, mas sim fora dela. Não nos coibimos de tentar alcançar aquele a quem a sociedade atribui mais perigo, o indivíduo de pensamento livre. A ditadura da tecnologia conseguiu revelar, para seu próprio bem, que a linguagem deveria ser reduzida nas suas possibilidades, preferindo o resumo à expansão, a forma sucinta à forma expressiva, a previsibilidade à espontaneidade, abrindo campo à fácil verificação de todas as significações, inclusive as espontâneas. A informatização é o exemplo extremo de como os signos podem ser maneáveis segundo o seu próprio código: a aceitação passiva das suas potencialidades, porque existem, não deve permitir nunca que a conjugação de vários utensílios, palavras, significados e linguagens, possam apenas resultar em fórmulas opacas, mas definir a transparência da inversão e da subversão. A sua linguagem está, à partida, corrompida na fonte, que esgota pela previsibilidade. A base da linguagem autónoma é a espontaneidade, e a espontaneidade é apenas e somente um momento único, que não cabe em nenhuma organização. A linguagem autónoma evita as categorias e a lei, ao ponto de querer ser terrorismo poético. A história confirma-o. “A arte como crime, o crime como arte.”. Mas na vontade furiosa de destruir, está também a vontade megalómana de construir melhor, voltar os mitos contra os mitos, os heróis contra os heróis, a hegemonia contra hegemonia, a propriedade contra a propriedade. Podia-se facilmente verificar a falência da poesia e da linguagem oficial através da falência real dos órgãos que tentam gerir as suas diplomáticas leis de propriedade e a sua imagem na vitrina - a falência anunciada da Sociedade Portuguesa de Autores. Enquanto isso, a linguagem vai destruindo mais do que aquilo que constrói, assim como a sua época. Demonstra-o a história secreta da poesia. Uma tradução real deste facto, sendo possível racionalmente, é sempre difícil. A História já mostrou vários exemplos, mas apenas mostrou. A negação, enquanto despojamento, terá sempre mais realidade do que qualquer transladação realizada pela história. “O cenário determina as atitudes”, avisavam os letristas nos recônditos anos cinquenta. Um amigo meu falava-me do meu génio. Morreu onde a história ainda não se lembrava de visitar. A poesia futura terá a sorte de cumprir desejos sem obedecer a outros destinos que não os traçados pela sua própria autonomia. Os postulados da fatalidade foram retirados ao homem por ele mesmo: essa acção permite-lhe agora mais, e outras acções, enquanto força considerável. As escolhas da autonomia podem ter mais peso do que as decisões de muitos: os desejos e as vontades são agora reconhecidos apenas e só pelos indivíduos autónomos. Já não são necessários os “solidários” desígnios dos deuses, mitos e poderes. Agora sabemos tratar bem de nós. Apreensão Recorde na pj ontem Arte Furtada Aspecto parcial do momento em que era mostrada a apreensão Lista Incorruptível de Furtos e Tentativas, Desvios e Métodos para tal segundo documento encontrado junto à ocorrência: (podem dizer o que quiserem, é tudo verdade, ou falso, como preferirem, inclusivé a lista) - Uma Abelha Maia, modelo desconhecido, na praça da Batalha. Método: processo simples de carregamento em ombros, para dentro da mala de um carro, a altas horas da madrugada. Mais tarde serviria para diversão nocturna de estudantes sedentos de shots na Queima das fitas, e, posteriormente, num sítio chamado Virgem Negra, espaço nocturno que também engolia jovens sedentos, mas desta vez de Belas Artes; - “Lipsticks Traces”, “Dicionário Incompleto de Mulheres Rebeldes”, “Suicídio:Modo de usar”, e quase toda a colecção da Antígona, Fenda e Frenesi, primeiros números, edições raras, no Mercado do Livro (Bertrand), desde o ano 1998 até aos dias de hoje, que se encontravam rejeitados para um canto pela editora mãe, talvez por serem incómodos; - Balão prateado de Andy Warhol, fabricado pela Fac- tory, da Fundação de Serralves, no Porto, em 1998; - Catálogo da galeria Graça Brandão, na Rua Miguel Bombarda; - “Fernando Pessoa:Correspondência”, Assírio & Alvim, Feira do Livro de Lisboa; - Catálogo do movimento Cobra, da biblioteca da FBAUP. Método simples de passar o livro pelo lado dos alarmes; - Tábuas de madeira de obras espalhadas pelo Porto, por alturas do Porto 2001, com o intuito de construir uma barraca para a queima das fitas. Foram posteriormente furtadas por desconhecidos no sítio onde estavam depositadas; - Comunicador do carro de policia, nos Guindais do Porto, enquanto estava estacionado, aberto; - 3 esquiços A1 do arquitecto Souto Moura, numa sala de aulas da FBAUP, em 1999; - Instrumentos de brincar no Mercado Ferreira Borges, na Remar e no Emaús, durante anos consecutivos; - Esqueleto verdadeiro da sala de figura-humana do 2º ano da FBAUP, no ano de 2000; - Sacos de estilista que estavam à venda no espaço “Pessêgos prá semana”, no Porto, em 2001; - Pratos e talheres no shopping Via Catarina, em alturas indeterminadas; - Semáforo de rua, de dentro de um camião que se preparava para montá-lo; - Um “Manual de Pintura”, da livraria Leitura, no valor de 70 euros. Ao comprar um livro de 5 euros, num saco próprio vai metido o livro que se quer furtar, previamente escolhido no andar de cima. Ao pagar, a senhora não se apercebe que faltava pagá-lo, e desmagnetiza-o. TENTATIVAS - Um barril de cerveja do café N Bar, perto do Teatro Sá da Bandeira. O café, num 1º andar, possuia um ba- rril no r/c, perto da saída. Tentação irresistível. Carro comercial de mala aberta, mãos à obra. Sem efeito. Os donos em ira, agridem as 4 pessoas que o tentavam fazer. … chamada a polícia, mas a queixa não chega a ser feita. O café, entretanto, fechou. - Na inauguração da FNAC (Santa. Catarina), vários Cd’s sem caixa são desviados para dentro de um saco. Na altura, não havia o sistema de alarme. Convictos do acto, a gerência chama à parte 4 indivíduos, conscientes de estarem eles todos munidos de furtos. Apenas um estava. Não houve represálias. - Parquímetro na Rua Mouzinho da Silveira, no Porto, negada por polícia à paisana que apareceu entretanto. MÉTODOS Como furtar livros na Faculdade de Belas Artes do Porto - Requisição de um livro da biblioteca. Ao escrever o nome no recibo, escreve-se o nome do livro pelo qual este livro ser substituído. Com o livro que se pretende furtar, em casa tira-se ou copia-se o autocolante exterior com o código e com lápis de cor roxa (da cor do carimbo) Copia-se também os carimbos que estão no interior do livro para o livro que ser substituído. Entrega-se o livro de substituição ( já com o autocolante e o carimbo falso). A funcionária rasga o recibo e põe o livro no seu devido lugar. Como o livro falso não tem alarme, no dia a seguir pode-se recolhê-lo, tirando o autocolante, os carimbos e assinando-o como prova de nossa pertença. Poderá não funcionar se as funcionárias não rasgam os recibos, ou se estão atentas ao nome que se coloca lá. Como furtar livros na FNAC - Compra-se um livro normalmente. Depois de pago, dá-se o recibo a um cúmplice, e ele sai com outro livro igual e não pago. O alarme toca e o cúmplice mostra o recibo que recebeu da 1ª pessoa. Em princípio, não devem desconfiar. DESVIOS - Um coelho semi-congelado, pronto a cozinhar, in- serido dentro do 1º Volume da “História Universal da Expansão Portuguesa”, permanecendo lá cerca de 2 semanas, ao fim das quais foi retirado com muito esforço por uma equipa de limpeza chamada de urgência para o efeito. Rapidamente, como um bom e simples boato, correu a história que alguma caloira teria feito um aborto e o escondido para não se saber. - Uma cuspidela em cima de um trabalho de Ângelo de Sousa e um rasgo de ponta de mola numa exposição no Bar Labirinto, no Porto; Não perde a arte seu ser por fazer mal, quando faz bem e a propósito êsse mesmo mal que professa, para outrem, algum bem, ainda que seja ilícito. E tal é a arte de furtar, que toda se ocupa em despir uns para despir outros. E se é famosa a arte que, do centro da terra, desentranha-a o oiro, que se defende com montes de dificuldades, não é menos admirável, a do ladrão que das entranhas de um escritório - que fechado a sete chaves, se resguarda com mil artifícios - desencova com outros maiores o tesouro com se melhora de fortuna. Nem perde seu ser a arte pelo mal que causa, quando obra com ciladas segundo suas regras, que todas se fundam em estragemas e enganos, como as da milícia; e essa é a arte, e é o que dizia um grande mestre desta profissão: “con arte y engano vivo la mitad del año; y con engaño vivo la otra parte” ¶ ¶ nota: Se envolver a cabeça com a revista de modo a que o auricular coincida com uma das orelhas, o segredo será mais perceptível. Future Kids “Hipoteque os seus” Não temos penas das crianças. Não temos pena dos próximos supermachos e superfêmeas, crianças das luzes de retina estragada, crianças criadas dos serviços superiores. Ordas de mandatados sem escolha, pouco mais podem fazer do que responder aos poucos estímulos que lhes são oferecidos; reagem como bichos a fugir do fogo, respondem sensorialmente por rejeição, não por aceitação, sem perceberem qualquer um dos lados. Os FutureKids são preparados estupidamente para o estúpido do trabalho. Respondem por teclas a programações tornadas imagens em movimento, ordens de chips e botões de Play para acionarem a sua actividade. Deste Play, pouco jogo real fazem com a vida embrionada que carregam. Mas os seus progenitores apenas querem que eles se ocupem. Esqueceram-se do cheiro, do sabor e do toque. E nada mais fácil do que um horário fixo a cumprir e um visor para se especarem. Não importa o que se ensina, apenas que se encha todos os intervalos possíveis que eles teriam normalmente para ver a vida cá fora. É natural que depois assumam como um corpo parasita toda a riqueza cá de fora, que para eles entra como sujidade intragável. O mais natural é mais tarde verem-se obrigados a assinarem um cupão de militância partidária. E, normalmente, ocorre surgir em todos os meios sociais, aqueles que são vistos como perspicazmente superiores, os que conseguem subir mais alto a hierarquia sabida. Comummente, veríamos isto como descer menos baixo. Porque, na sua juventude de futuro, apenas assimilaram mais rapidamente, por alguma ocasião fortuita ou não, todos os impulsos automáticos que lhes foram sendo enviados, que é dessa forma que devem ser, sem grande critério nem demora. Numa ordem natural das coisas, tudo isto seria filtrado sem apelo nem agrado, porque é de apenas mais uma ferramenta que se fala. Mas, muito pouco afoita, a sociabilidade actual trata de transformar tudo o que é acessório em fundamental, e o fundamental em acessório. E ela diz precisamente isto: “Não há pior Prática do que evitar sessões de esclarecimento sobre Ela. Queremos esclarecer para evitar que se viva”. Pois vive-se agora melhor tornando estes “criandos” em novos deficientes, minimizando à partida as suas capacidades inatas de reacção, tal como a Idade Média operava a sua imbecilidade com o desconhecimento da existência de uma simples infância e uma tenra juventude; Tão tenra que foi uma tentação demasiado grande transformá-la o mais parecido possível ou com a tropa ou com lares de 3ª idade. É um gosto demasiado altivo querer que uma escola normal se abra de quando em quando para receber as pulsões de pessoas que tem algo real para lhes dizer? Nem uma única vez os progenitores destes criandos terão querido dizer que a escola é realmente um fardo, porque lhes tiraria horas de sono saber que estavam a educar um indivíduo livre, e que se poderia apaixonar facilmente pela selva cá de fora. Os FutureKids e demais família não se igualam a escolas ordinárias e bolorentas. Usam cores garridas, fazem montras parecidas com a Toys’r’Us, e colocam pedagogos eficientes a tratar do futuro dos filhos dos imbecis. Como os últimos body artists, os cérebros dos FutureKids conseguiram remexer no último reduto intocável – o corpo e os sentidos, até aqui ilesos. Até se chegar à última vernissage em que se encontram o inútil e o supérfluo, a falarem extasiados debaixo o olhar deslúcido dos espectadores. Tanto rebuscamento à volta de um assunto que mais cedo ou mais tarde teria que dar num ponto assente: porque não hipotecar um diamante em bruto e transformá-lo em controlável? E assim, tudo o que era popular incutir naquelas crianças passou a ser pouco sofisticado. Porque sofisticação não é mais do mesmo, mas, antes de mais, algo de novo. Dentro da novidade cabem sempre todos e mais alguns. É pouco sofisticado aprender a andar pelo seu próprio pé, e é ainda menos sofisticado saber que podemos fazê-lo por nós próprios. Mas talvez um dia percebam que aquilo que se faz apenas com o conhecimento de poucos pode ser mais importante do que aquilo que é feito diariamente por milhões. Inscreve-te já. Não trouxe o BI. disciplina/ indisciplina A tranquilidade e o sossego das cores e das manchas, e tudo à volta; A inquietação e o desassossego de quem ousa inquietar e desassossegar os sossegadinhos da vida e mesmo os outros graças a mostras superlativas, e frequentemente, inquietantes; A aristocrática e solene modernidade. O traço ímpar e o risco sempre a par. Os peixes são o principal tema de Miguel Mateus, que apresenta aqui um vasto conjunto que remete para contextos vernáculos. A beleza e a estranheza das suas obras, que muitos considerarão excêntricas, provém do modo como ele negoceia, sempre de maneira diferente, o equilíbrio entre a sua origem profilática e o conteúdo orgânico, questionando o sistema hierárquico de apresentação que define os seus seres e a sua materialidade. MIGUEL MATEUS Expõe, regularmente, em lado nenhum. Havia uma placa bonita na entrada da minha escola que dizia Faculdade de Belas Artes do Porto. Nunca ninguém percebeu muito bem o que aquilo significava, especialmente aqueles que por lá passavam repetidas vezes, em anos repetidos, em sequências monótonas de transtorno, aborrecidos como tudo. A coisa só ia tendo algum interesse espantado para aqueles que não sabiam ainda o que por lá se passava. Noutras faculdades eram chamados de caloiros. Nesta eram os imberbes. A placa nunca foi perdendo o lustro. Lá dentro, não havia esteticistas, era tudo de sabão e esfregona. A coisa mudou um bocadinho quando a Universidade do Porto renovou a placa, pondo a placa ainda mais brilhante, novinha em folha, com as insígnias todas que uma escola decente merecia. A grande mudança foi virem muitos mais estudantes de Design, novinhos em folha, e uns curso novos que, ao que parece, é para justificar um edifício novo. E alguns makeup designers, também. Deixamos de aparecer nos telejornais como insurrectos, e passamos a ter um futuro promissor no mercado de trabalho. tabula rasa Tirando os primeiros tempos, nem um só dia eu deixei de pensar que aquilo se parecia mais com um estaleiro do que com outra coisa qualquer. Apenas ganhei o que fui descobrindo sozinho ou com a ajuda de alguns companheiros. Depois da cegueira inicial, nem um só dia eu pensei que iria receber mais do que poderia ganhar sozinho, ou com essas companhias. Nunca fiquei o triste suficiente por o arrependimento poder matar. Gastava o mesmo que os outros, muito mais em livros do que em tintas, e a proveniência era igual à dos outros: patrocínio paternal exclusivo. Poderia ter saído mais cedo daquilo e procurado mais conforto moral e rendimento intelectual. Na biblioteca havia poucos livros interessantes. Os melhores ficaram connosco. O ócio acabava sempre por superar a vontade de não estar parado. O ócio vencia-me e deixava-me ser derrotado, com um sorriso dos lábios. Era inteligente saber que se estava melhor parado do que apresentar projectos. Ou pensar pouco e bem a subir 2 valores numa disciplina qualquer que nos injectavam como sonorífero. O que fiz foi não seguir a vergonha de estar a fazer muito e competir para a história. Quando se compete, não é para chegar mais além, é só para se ficar à frente de uma linha no chão. De todas as lapas que encontrei, poucas perceberam que não sabiam ler, escrevinhavam mal, comiam o que lhes davam, observavam o que lhes passava à frente. Lembro-me sempre das primeiras aulas teóricas. Nas filas de trás atiravam-se aviões com mensagens eróticas. Para os outros, só era preciso que lhes dessem muitas disciplinas teóricas. Não era difícil. Copiava-se tudo que havia na reprografia, ou aproveitava-se os resumos da espertalhona do 5ºano. Desfilavam orgulhosos as fotocópias dos resumos das cadeiras, exactamente como se fazia em Biomédicas ou Engenharia, esperançados por se terem desenrascado mais uma vez. Quando chegou a Estética do sr. Lapa, toda a gente fugiu a sete pés. Como não havia resumos fáceis nem teste dos anos anteriores, arrepiava-se caminho como se podia. Digeria-se a literatura a custo. E no fundo, tudo aquilo que se realmente devia comer. Digerir Adorno, Schopenhauer, Hegel e Nietzsche naquele cenário montado não era fácil. Nunca ninguém percebeu que a melhor maneira de dar a volta a estes monstros era precisamente ler outras coisas, precisamente aquelas que não estavam nem na reprografia nem na biblioteca. Coisas que se encontravam ou nos alfarrabistas empoeirados ou na vandoma e onde, por sugestão disfarçada do senhor professor, se poderia desvendar os “mistérios sombrios” daqueles nomes feios da estética. Ninguém se importava muito em passar por burro, desde que se fosse fazendo as coisas. Nunca perceberam a importância de ouvir alguém a falar como se de uma conversa de café se tratasse. Muita gente hipotecou o cérebro, deixando para mais tarde o esforço todo, atrás de uma secretária qualquer. Bastava um esforçozinho extra para se pôr a render infinitamente melhor. Aquela placa significava pouco. Mas o lustro que lhe davam todos os dias, por vampiros que comiam cérebros ao pequeno-almoço, significava alguma coisa. Os mesmos vampiros que seguiam com desconfiança a estética do Sr. Lapa e dos seus poucos alunos, os mesmo vampiros cantaram louvores quando o Sr. Lapa sucumbiu. A placa lá continua com o lustro puxado, mas sem grande importãncia. CONSTELLATIONS BY WHICH TO steer the barque of the soul. “If the moslem understood Islam he would become an idol- worshipper.”--Mahmud Shabestari Eleggua, ugly opener of doors with a hook in his head & cowrie shells for eyes, black santeria cigar & glass of rum- same as Ganesh, elephant-head fat boy of Beginnings who rides a mouse. The organ which senses the numinous atrophies with the senses. Those who cannot feel baraka cannot know the caress of the world. Hermes Poimandres taught the animation of eidolons, the magic in-dwelling of icons by spirits--but those who cannot perform this rite on themselves & on the whole palpable fabric of material being will inherit only blues, rubbish, decay. The pagan body becomes a Court of Angels who all perceive this place--this very grove--as paradise (“If there is a paradise, surely it is here!”--inscription on a Mughal garden gate).. But ontological anarchism is too paleolithic for eschatology-things are real, sorcery works, bush-spirits one with the Imagination, death an unpleasant vagueness--the plot of Ovid’s Metamorphoses--an epic of mutability. The personal mythscape. Paganism has not yet invented laws--only virtues. No priestcraft, no theology or metaphysics or morality--but a universal IMEDIATISM, shamanism in which no one attains real humanity without a vision. Food money sex sleep sun sand & sinsemilla--love truth peace freedom & justice. Beauty. Dionysus the drunk boy on a panther--rank adolescent sweat-Pan goatman slogs through the solid earth up to his waist as if it were the sea, his skin crusted with moss & lichen--Eros multiplies himself into a dozen pastoral naked Iowa farm boys with muddy feet & pond-scum on their thighs. Raven, the potlatch trickster, sometimes a boy, old woman, bird who stole the Moon, pine needles floating on a pond, Heckle/Jeckle totempole-head, chorus-line of crows with silver eyes dancing on the woodpile-same as Semar the hunchback albino hermaphrodite shadowpuppet patron of the Javanese revolution. HAKIM BEY Yemaya, bluestar sea-goddess & patroness of queers--same as Tara, bluegrey aspect of Kali, necklace of skulls, dancing on Shiva’s stiff lingam, licking monsoon clouds with her yardlong tongue--same as Loro Kidul, jasper-green Javanese sea-goddess who bestows the power of invulnerability on sultans by tantrik intercourse in magic towers & caves. From one point of view ontological anarchism is extremely bare, stripped of all qualities & possessions, poor as CHAOS itself--but from another point of view it pullulates with baroqueness like the FuckingTemples of Kathmandu or an alchemical emblem book--it sprawls on its divan eating loukoum & entertaining heretical notions, one hand inside its baggy trousers. The hulls of its pirate ships are lacquered black, the lateen sails are red, black banners with the device of a winged hourglass. A South China Sea of the mind, off a jungle-flat coast of palms, rotten gold temples to unknown bestiary gods, island after island, the breeze like wet yellow silk on naked skin, navigating by pantheistic stars, hierophany on hierophany, light upon light against the luminous & chaotic dark. The tourism consumes difference. Je suis presentement a Lhassa et je quitte sous peu le Snowland Hotel pour me diriger vers le nord et tenter de rejoindre Golmud ou je pourrai prolonger mon visa chinois. Depuis mon dernier e-mail a tous j’ai fait le tour des annapurnas avec un français, un guide nepalais et un sac de 12 kilos, j’ai manger du yak et du buffle, beaucoup de riz et d ail, je suis monter a 5400 m d’altitude, j’ai franchis le col le plus large du monde (?), je suis aller au Tilicho Lake, le lac le plus haut du monde (selon les nepalis), j’ai longer les gorges les plus profondes du monde (sur les bords de la Kali Gandaki(toujours selon les nepalis)), j’ai vu un livre de plus de 700 ans, beaucoup de montagne, des moutons bleus, des porteurs qui portaient plus de 80 kg en petite babouche, ai vu des enfants courrir vers nous les mains noirs de hash pour se faire quelques sous et quoi encore. Nous sommes arrives a Pokhara, y sommes restes quelques jours, suis descendus a Chitwan ou j ai marcher dans la jungle, me suis balade a dos d elephant, n ai vu que peu d animaux sauvage, suis aller dans une ferme d elephant, ai caresser un bebe rhinoceros, ai fait du canot, ai chiller sur la plage, ai rencontrer un americain et une chinoise avec qui je suis aller a Lumbini, ville ou est ne Lord Buddha, sur le toit des autobus et en tracteur, puis a Kapila Vastu, encore en tracteur, ruines du palais ou il aurait grandit. Y avons dormi dans le shittiest guest house ever, avec rats, grenouilles et bibittes grosses comme une balle de golf. Sommes remonter sur Tansen sur le toit d un bus, super cool ride avec gorges et montagnes. Quelques jours, balades et shopping, upgrade de deux poches laterales sur ma ceinture lombaire pour porter mon eau et mon fuel. Dix minutes avant ma derniere nuit, le ciel s est enfin decouvert pour nous laisser voir une grande partie des himalayas. Top top. Puis tres trop longue bus ride vers Katmandu via Pokhara. Suis parti a 7 heures du matin en bus et suis arrive a minuit a Ktm pour un total d environ 500 km. Ai passer deux jours ultra speed chez Rahda et Sher pour finaliser mes preparatifs pour le Tibet puis ai join un groupe de 22 personnes et avons busser 5 jours jusqu a Lhassa sur la Frienship Highway. Je ne fais pas grand choses depuis deja 6 jours. J ai visiter le Potala et plusieurs monasteres, je me suis acheter des vetements d hiver, un trench coat de pelerin tibetain double en peluche (que j avais d abord pris pour de la laine) et des gants de l armee chinoise doubles en fourrure. Il me manque encore des bottes, j espere les trouves bientot. J ai visiter des monasteres. J ai fait sensation dans les discos tibetaines. J ai vomi toute une nuit grace a deux oeufs que je nai pas assez cuit (je voulais un jaune pas cuit, je vous jure que jen mangerai plus). Comme cette sorte de jell-o de riz dans la sauce soya, j ai mal au coeur rien que d y penser. Ya les nouilles froides a 2 yuans, (20 centimes d euros), qui sont vraiment bien avec des peanuts et de la sauce soya. Aussi les brochettes de yak qui sont cuites sur des petits fours dans la rue et qui comportent des morceaux que de gras qui sont je doit l avouer succulents. Ce matin je vais mieux je me suis claquer un yak burger pour dejeuner. Ya aussi le the au beurre de yak qu un moine ma fait boire. Ouf. C est franchement pas bon. C est sale. Pis quand jen ai eu bu la moitie (j avoue que j etait fier), l autre moine viens me le remplir, non non non que jy fait poliment, oui oui oui, qui me repond encore plus poliment, apres trois cups quand j ai finalement reussi a partir j avais comme une nouvelle sensation de vite vouloir d autre chose a boire mais d etre plein et graisseux (!?). Well. Les tibetaines jouent au aki avec des amoncellements d elastiques. Puis j ai jouer au freecell avec une chinoise, faute d etre capable de se parler, et, pour les connaisseurs, ils ne jouent qu avec trois espaces de libre mais p euvent deplacer n importe quoi, sans se soucier des espaces de libre... anyway. J ai aussi jouer au Rummy nepalais dans les montagnes et quand ce vieux francais nous a montrer le rummy francais, j avoue que jai trouver ca beaucoup mieux. Le rummy francais cest comme notre rummy. Le rummy nepalais, cest sa plus simple expression. Aujourd hui je me suis acheter le guide du routard chinois apres avoir longuement explique a la serveuse du restaurant qu elle possedait le 2001 et le 2002, donc qu elle pouvait men vendre un, car il ny a pas de librairies qui vendent de livres en anglais a Lhassa et les Lonely Planets sont interdits (!?), et je me suis rendu compte apres que le fucking guide du routard ne parle que dune dizaine de villes chinoises, ce quils font chier. Incroyable. Bon. Mon plan est de tranquillement sortir du Tibet par le nord-est car j ai ete vivement decourager d essayer de prendre la route du mont Kailash, 18000 yuans, 1800 euros, fuck, donc je me dirige vers Golmud et je vais ensuite aller visiter le nord-ouest chinois, puis p-e le nord de la chine ou la mongolie. Lets see la temperature et le cetera. Bon, j imagine que j en oublie pas mal. C est un peu triste, mais c est la vie. En conclusion, le Nepal rules, ca bouge, ca pullule, ca l abonde, de la jungle a la montagne, plein de bonnes bouffes, des gens cools et relaxs, des paysages, la folie des villes, les vaches partout, l armee partout, la pauvrete, beaucoup de drogues et d alcool, Hare Hare Shiva, beaucoup de temple, une grande tolerance religieuse, un pays super, si la revolution peu finir ou donner quelques choses ... et le Tibet c´est super beau, froid, desertique, des lacs et des montagnes et un vide culturel a faire pleurer, des batailles de rues a chaque jours, des pelerins habilles super cool, des sourrires sans arret, des oeufs pas assez cuits, pleins de chapeaux, des moines partout, pleins de temple ytoo, pis la technologie, amene par les chinois, internet, neons, beton, building, la vieille Lhassa est plus bien grande et cernee well, j en dirai pas trop parait-il que les mails sont lu. Anyway. Louis alchool junkie Podia ser simplesmente como tu. Não tenho um emprego estável, que me paga extremamente bem, mas podia tê-lo. O suficiente para me tornar rico, se assim o quisesse. Tenho um bom apartamento, uma namorada bonita, que tenta arranjar trabalho a toda a força. E tenho também um saudável hábito pelo alcoól. Não estou sozinho, somos alguns, e todos desrespeitosos. Não escondemos a identidade, mas sabemos de muitos outros com os mesmos apetites que o tentam fazer. Alguns outros, que pertencem a uma classe misteriosa, perderam já a vergonha toda, e não renegam a nada a não ser perder o próximo corpo. É comum achar-se pela noite passados gloriosos, que o uso regular do alcóol enxovalha. O alcoól não tem possibilitado uma convivência saudável com um emprego, pelo menos por um longo prazo. As pessoas normais parecem não ter mais medo do alcoól, nem da droga. Tomamna por acessos de ordem variada. Normalmente, mundanas, ou de preguiça, ou da felicidada ébria. Sentir passar o tempo, simplesmente. O alcóol espera pacientemente, em qualquer lado onde haja bebida. Deixa-nos escorrer o seu tempo precioso. A droga ataca, incansável, esse tempo. Convive com o penitente isolamento. O alcóol, em ingestão massiva, acaba sempre por ser um fruto pouco apetecido para heroína1 Posso considerar a Literatura como minha iniciadora na primeira fase do consumo de heroína. Em ambos os campos vou oferecendo os braços, em conjunto. Nos dias em que a heroína nos é mostrada, tornando-se ameaçador tudo aquilo que se vê, o corpo organiza-se por quartos vazios, parámos na textura do chão e paredes simultaneamente juntas pela cor da poeira, qual boiada mansa que se acostumou a seguir o caminho certo atrás do som do chocalho. Com as portas fechadas como câmaras escuras, cada um dos parceiros conhece bem o outro par. É preciso, o heroinómano deve sempre trabalhar a heroína com três mãos. A maior parte das cabeças que eu vejo reunidas para o caldo estão consternadas, cansadas pela frustração da realidade física e mental, num exercício de partilha de soluções camufladas e desconhecidas, desastradamente misturadas entre si. Trepaceia a intimidade do metal fino com a pele, o seu fascínio mitológico internado quem frequenta algum tipo de mainstream. Assemelha-se a um banquete tasqueiro, orgulhosamente escondido na sua pobreza, sem grande brilho. É nos sítios mais pobres que normalmente se pode sentir mais a sua riqueza honesta. Em cima de mesas de mármore não fica bem uma garrafa ordinária de cerveja, mas sim uns lindos riscos de coca. Não funciona bem com uma roupa de última estação, a menos que tenha as mesmas cores da saia ou do baton. A tentação moderna puxa sempre pelos seus requesitos mais fúteis. Toda a gente de todo o lado procura a heroína, a cocaína ou o ecstasy, sem tentar conhecêlas primeiro. É pela embalagem que fala melhor. A sua expressão mais profunda coroa-se na solidão, que é aí que elas trabalham melhor o extâse. Os progressistas “clean” rejubilam por achar que nada neste mundo é secreto, e podem confiar naqueles que, secretamente, levam uma vida dupla. Toda esta gente perde os sentidos na sua orientação: alguma droga moderna estanca os desejos, mesmo que se seja um fantástico empresário de sucesso, ou um designer “cool”. Viver um dia de cada vez, e esperar pelo abastecimento. O alcoól tem a amabilidade de nos refazer o futuro, diariamente, se for o caso, sem grandes surpresas. Calculamos que bebemos mais para viver mais, o que nem sempre acontece com os outros refrescos para o espírito. Sem turismos intelectuais, o alcoól também não nos faz exemplos de nada para na habituação dos dedos plásticos e secos para o corredor do sangue. Com a posição e direcção das veias bem definidas, conseguimos estabilizar o suor frio e pesado do corpo. Preparamos o caldo recalcando a orientação dos sentidos e da atenção – aqui, lembro-me sempre de alguém da família. O prazer e a diversão na movimentação das mãos em conjunto. Cabeças a baixar como olhos que se reduzem, membros quase a tremer como exemplos vivos. São diálogos em limites desconhecidos aquilo que a territorialidade do crime nos relaciona intimamente. Somos todos filhos e irmãos de alguém pela rapidez do tempo, manipulando-o de forma recorrente, reunindo a educação da dependência dantesca. Darmo-nos em consulta é nisso que tudo passará, aguçando arestas côncavas. Os pontos de apoio estão habitualmente ao lado, pelo outro heroinómano em repouso e seu rigor. Há uma diferença no entusiasmo no decorrer do tempo, uma incapacidade em se agir para o lado contrário do círculo polar, em todo o seu trajecto. É preciso não amealhar sem demora, percorrer os graus da aproximação histórica. Chamam-se soldados para o relatório. Apercebemo-nos da sombra do corpo e de todas as coisas, os desenhos macabros que vão mudando de forma, moldando a muita gente. Mas faz-nos exemplos de nós próprios, sem perdas monstruosas inesperadas. Sabe-se que, por exemplo, o ópio cria as aventuras por nós, mantendo o extâse constante e por muito mais tempo. Mas, gostando de dor, o que é preferível a um disparo senão uma morte lenta e dolorosa? O alcoól remistura a nossa vida, e dá-lhe um impulso especial. A heroína e a cocaína parece corresponder a um tempo apressado de fusos horários de gabinete. Exige métodos clínicos, e cumprimentos militares. Ou o showbizz de mostrar comportamento. O alcóol raramente tem parasitismo, porque tem um tempo próprio. Nos dois casos, a expressão “tempo perdido” tem significados contrários. Um tempo perdido por angústia e um tempo perdido por gosto. Faz-se da droga o que não se faz com o alcóol: torná-la um objecto para sacrifício. E jogar este jogo não está nos planos de uma passividade que o alcoól provoca, e pela qual se pode optar. Viver com alcoól no corpo pode, claro, ser uma opção terrível. Ainda assim, é infinitamente mais controlável. No alcóol, nunca se desespera por nada, nem por ninguém. Não há grandes reacções imprevisíveis, nem suspeitas acerca de nada... O alcóol fabrica o hábito do organismo. A droga fabrica o hábito em tabelas e horários. intensidade dos olhos impondo euforia, onde menos se espera. Há uma relação de amor entre a inauguração fálica das mãos e a rigidez cadavérica do egoísmo provisório, de acordo com a necessidade do fenómeno. (Footnotes) 1 Bayer. S. l., 1897. A heroína é mítica: tem um corpo de prazer, mas um prazer sem corpo. Como um manequim velho, coloca as melhores peças para não obter resultados. O alcóol é ancestral, a heroína e a cocaína foram criadas pela Bayer. Mas quanto melhor se podem conhecer companheiros de um vida pelo alcóol e pelas tavernas do que pelo consumo dependente... E quanto falta ainda viver as cidades antes que elas dêm o último suspiro, primeiro do que tentar fugir delas...e a essência da boa droga é quase sempre uma saudável reclusão, como acabam por confessar quase todos os opiómanos. O alcoól cria a leve sensação de que estamos a manter apenas e só a fluência do organismo. Faz parte uma boa mesa uma boa dose de alcóol. Sem grandes custos, pode-se conseguir uma boa bebedeira por 10 euros, à base de cerveja ou vinho, sem que uma noite de 7 ou 8 horas fique descontrolada. Querer estar dopado não é o mesmo que querer estar bebâdo. Normalmente, nunca se quer estar bêbado. Está-se por consequência natural. Mas quase sempre é preciso estar-se dopado por variadas exigências exteriores onde pouco importa alguma coisa. Enquanto embriagado, os sentidos fervilham e são pouco selectivos. Disparam em todas as direcções, a coragem é inflacionada, todos os orgãos trabalham. Nessas soletrias de droga injectada, os devedores que o digam, há sempre um compromisso Este espaço em bran tido na paginação, p diferença com o outr quanto se vai lendo já acabou há muito. posterior de retirar alguns demónios do corpo. Muitas pessoas ficariam chocadas pela quantidade de viciados que vivem ao lado delas. Por outro lado, quando se bebe, não se precisa de estar e conhecer com uma classe diferente. A heroína é perfeita para outras dependências: o trabalho monótono, a vida repetitiva. Cria um estado abjecto de normalidade e perfeito funcionamento. O circuito da compra e da venda da droga cria um outro circuito: onde consumi-la. O alcoól está normalmente associado, para além dos locais habituais de consumo, a uma certa divagação urbana sem grandes pré-requesitos ou instruções de utilização, nem palcos especiais para o efeito. O consumo de heroína é metódico, tomado sempre em espaços específicos, ou no próprio sítio onde se compra, ou em situações particulares. No alcóol há uma certo culto por espaços, normalmente noctívagos, onde se podem encontrar os seres mais incríveis deste planeta, com a vantagem de os podermos disfrutar. A heroína raramente vem pura, porque se tornou num negócio tremendo, e é cortada e racionada. Tal qual como as lindas garrafas de vinho que já só são fabricadas industrialmente, que querem fazer esquecer a qualidade do líquido que traz. Mas mesmo assim, continuamos a poder confiar mais nessas embalagens de cores variadas do que nos sacos plásticos transparentes com pós brancos. RAPAZIADA Partir de um ponto tangível sem direcção aparente, com o intuito de desviar o olhar daquele que parece ter-se esquecido que a estatuária de gesso está a apodrecer num canto cheia de pó. Elogiar a ferida em deterimento da maquilhagem, usando ferramentas meticulosas de representação, como armas surpresa para abanar com a consciência apática de quem se embriagou pela imagem. Oferecer um prato de rojões marinados em vinho verde tinto a quem se habituou a viver com sandwiches de estação de serviço. Retratar lixo como kits hi-tec e rapazes como princesas de revista, fazer dos modelos a história, ou melhor, fazer história nenhuma. A pergunta persiste, será que devemos promover as imagens ou elas é que nos devem levar às costas? Os mais comodistas aranjam um Sansão para as transportar de porta em porta, os mais frenéticos esforçam-se por distribuí-las em fracções de segundo para todo e qualquer espaço que não ocupe lugar. As facções puxam as pontas aguerridamente tentando chegar à margem. Esquecem-se que para tanta força tanta mais valia saltar à corda. Felizmente não me cabe a ingrata tarefa de transportar a resposta, mas de repetir a pergunta vezes sem conta até que ela se torne absurda e saia de cena. Sobra pouco para ver nos dias que correm. Ou se armazena na dispensa dos costumes ou se espera que passe silenciosamente ao nosso lado. ESTA PUBLICAÇÃO NÃO TEVE O AMÁVEL PATROCINIO DESTAS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS AULA TEORICA 2 (DUAS) HISTÓRIAS PARA CRIANÇAS (EMANCIPADAS) ONDE SE PRETENDE DEMONSTRAR QUE A = ARTE ACADÉMICA = E A = ARTE MODERNA EMBORA TENDO NASCIDO DE MOTIVAÇÕES DIFERENTES ACABAM POR SERVIR OS MESMOS FINS Dar aulas para ensinar o quê a quem? O PINTA-MONOS Era uma vez um macaquinho que tinha muita habilidade para pintar. Todos os macacos importantes desejavam que ele lhes pintasse o retrato. O macaquinho tinha um jeito especial para apresentar os modelos sob os ângulos mais favoráveis, de modo que todos os retratados ficavam muito satisfeitos. Desta forma começou a ganhar muito dinheiro e fama. Apaixonou-se por uma linda macaquinha que fazia versos e resolveu casar. Mas a macaquinha disse que não casava com um imbecil que só pintava para imbecis. O macaquinho começou então a pintar paisagens, mas os figurões da macacada continuavam a comprar-lhe os quadros para depois exibirem aos amigos como se fossem as suas terras. A macaquinha não gostou e continuou a chamar imbecil ao macaquinho. Este desesperado, passou a pintar naturezas mortas: amendoins, bananas, ameixas, cocos. Mas os macacões continuavam sempre a comprar os quadros. Desta vez punham-nos nas suas salas de jantar e mostravam aos amigos os frutos esplêndidos das suas quintas e herdades. A macaquinha que fazia versos não suportou mais e disse ao pobre macaquinho apaixonado: ”Não consegues passar de um imbecil pinta-monos, desampara-me a loja de vez.”. O macaquinho, ao ver-se assim repelido, não resistiu ao desgosto e matou-se. Com a morte do macaquinho acabou-se a “arte académica” naquele reino da macacada. UMA ESTÁTUA PARA PACO PAREDES Num “pueblo” Andaluz existia um burrico que dava pelo nome de Paco. O pobre burrinho, que passava o dia em carrego, só se sentia verdadeiramente satisfeito quando, ao chegar ao estábulo, abancava à manjedoura agitando alegremente o rabo. Um dia, uns pintores que andavam a pintar as casas do dono do Paco deixaram algumas latas de tinta no estábulo. Quando o Paclo acabou o seu dia de trabalho e abancou à manjedoura, agitando alegremente o rabo, como sempre fazia, o apêndice caudal, devido às dimensões exíguas do estábulo, ora se molhava numa oura noutra lata de tinta e, em pouco tempo, a parede que estava por trás dele converteu-se num lindo quadro de parede abstracto. Na manhã seguinte, os filhos do dono de Paco ao verem o que tinha acontecido chamaram o pai: “Olha, paizinho, já viste o bonito quadro que o Paco fez?” Se o pusesses no nosso quarto ele fazia o mesmo e o nosso quarto ficava muito mais bonito.” O dono do Paco achou praticável a ideia de transformar o quarto dos filhos num estábulo, mas aproveitou a ideia de outra maneira: colocava telas por detrás de Paco, que as ia pintando alegremente enquanto comia. Os quadros passaram a decorar o quadro dos filhos do dono do Paco. E os amigos dos filhos do dono do Paco, quando viram os bonitos quadros, também pediram aos pais para que lhes arranjassem quadros idênticos para decorar os seus quartinhos. A ideia espalhou-se e o Paco não tinha mãos a medir, que é como quem diz, não tinha rabo a medir. A partir daí, Paco, que por causa da sua vocação passou a ser designado por Paco Paredes, deixou de ser empregado nos carregos e começou a estar o dia inteiro a comer e a pintar alegremente. Ora isto de passar a vida a comer não convém a ninguém, mesmo a um burro tão prendado como era Paco Paredes. E um dia, zás, esticou o pernil com uma indigestão. O dono do Paco, que tinha enriquecido com os quadros que ele tinha pintado em sinal de reconhecimento mandou erigir-lhe uma estátua. Como Como deitar fazer um abaixo o Minete Governo CORRECTO Uma vez que o soldado de baioneta deixou de pairar nos campos de batalha actuais, qualquer governo actual pode ser remexido por meios mais limpos e eficazes. Reconhecer o inimigo, cobri-lo e controlá-lo é mais simples e mais directo. Estudá-lo implica apenas ler o que está facilmente acessível, cobri-lo precisa apenas de conhecimentos electrónicos básicos, e controlá-lo é convencer as massas sedentas de novos mitos: a Dica da Semana poderia ser o melhor meio, desde que bem utilizado. Seria fácil de pagar a qualquer arrumador de carros o equivalente ao que ele ganha no seu dia de trabalho para distribuir as boas novas. A rotatividade frequente com que caem governos não é um sinal das suas fraquezas, mas antes uma característica nova da sua impunidade. Não há depressão moral nem vencidos nos governos actuais. Quem cai de um poleiro tem sempre um outro à espera. Mas os galos de todos os poleiros nunca esperam pelas técnicas mais simples, como por exemplo, alguns exemplares desta revista servirem, por mero acaso ou não, para serem arremessados violentamente contra as piores mentes dos governos. inCORRECTO Propõe-se uma angariação voluntária de uma personagem feminina onde esteja explícito uma vontade inequívoca de ser lambuzada na sua parte interior íntima. Claro está que isto poderá não ser verificado nas primeiras abordagens de parte a parte, mas normalmente faz-se um percurso de conhecimento mútuo de poucas horas até se chegar ao efectivo processo de voluntariado. Poderão ser necessárias técnicas antigas, tais como a visualização de um filme propício, ou breves leituras de literatura importante que esteja à mão, ou pura simplesmente três dedos de conversa. Esta é a melhor das três, pois incita confiança. Não esfrascada e rotulada, comprada por um par de escudos, mas adquirida por meio de costumes simples e sãos, pela bondade natural e, acima de tudo, pela pureza da alma. Então, a beleza do momento chegará, incólume. As alcatifas peludas e usadas por muita gente são os locais menos aconselhados, visto do ponto vista higiénico poderem provocar alguns problemas. Qualquer superfície esponjosa e de materiais rasos e pouco absorventes serão o palco ideal para o efeito.