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DESTAQUES —Março 2011 Carnaval e dia da Mulher em festa À conversa com… Enf.ª Sara magazine Homenagem ao Dr. Lopes Fernandes edição 19 70 exemplares SEM COMENTÁRIOS 1 - Bem…mas que fazes tu aqui? - Creio que não nos conhecemos. - Sim. Não te lembras de mim? - Não mudei assim tanto. - Mas vives aqui? - Sim, vivo aqui em Madrid. - Não me digas. Não sabia. Há quanto tempo? - De verdade não te lembras de mim? - Não tenho nenhuma recordação tua. Como te chamas? - Bem, deixa lá. Não te preocupes. - Muito obrigada. - Ai! Descubra, na última página, o segundo filme e a conclusão história. CARNAVAL ACTIVO Sem esquecer o dia da Mulher Na nossa festa de Carnaval e do dia da Mulher, coincidentemente, celebrámos também o aniversário de Manuela Teigas. Este é mesmo um daqueles casos em que as imagens valem muito mais do que palavras. Juntamos apenas os comentários de Residentes, familiares e amigos sobre como viveram esta festa a triplicar. “É um estímulo: as cores, a vivacidade e alegria. Quebra a rotina. O que mais gostei foi as máscaras. Uma excelente ideia.” Isabel Santos, filha Umbelina Santos “Deparámo-nos com um ambiente agradável, de muito carinho perante os Residentes, dando-lhe alegria e diversão. Estão de parabéns!” Porfírio Ferreira, primo Carlos Escada “As máscaras estão muito giras. Muito agradável podermos participar também.” Didi, nora Manuela Teigas “Muito original, muito apropriado para estimular os Residentes. Achei maravilhosa a homenagem às mulheres, uma vez que não são muito lembradas.” M.ª Ilda Marques Pinto “No meu tempo o Carnaval era completamente diferente. Íamos aos bailes, com casais amigos e filhos. Vestíamos fatos muito bonitos, vestidos compridos. Fazíamos muitos bolos. Havia uma banda a tocar de porta em porta que se mandava entrar onde tínhamos uma mesa posta com tudo. Gostei muito da festa, pela primeira vez a celebrar o Carnaval na Amera. Foi muito engraçado. Também gostei muito da iniciativa de homenagearem as mulheres.” Noémia Varela “Foi uma surpresa agradável chegar e deparar-me com a sala toda decorada. O ambiente está óptimo. Acho que o pai gostou muito. Vejo que está muito contente. Este tipo de iniciativas faz com que eles próprios se sintam importantes. Está todo feliz com a máscara que lhe foi oferecida.” Maria João Rico, filha Fernando Rico “Nesta idade já nos sentimos um pouco esquecidos, e faz-nos muito bem saber que esta festa é organizada para nós. Gostei muito das máscaras e da entrega das flores.” Carlos Parreira À CONVERSA COM… Enf. Sara Em que escola estudou enfermagem? Licenciei-me na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, entre 2006 e 2010. Como foi o caminho que a trouxe à Amera? O meu primeiro contacto com a Amera foi num anúncio de jornal, que falava na possibilidade de aqui realizar um estágio profissional. Após uma breve pesquisa na internet decidi enviar o meu currículo, pois identifiquei-me com a missão da Amera. Onde nasceu e cresceu? Nasci a 9 de Novembro de 1988, em Coimbra. Cresci e vivi numa aldeia da freguesia de Miranda do Corvo, no distrito de Coimbra; de onde são naturais os meus pais e restante família. A sua família desempenhou um papel importante na sua formação como pessoa? Em que sentido? Até hoje a minha família é a minha base, principalmente os meus pais. Desde cedo que me foram transmitidos valores importantes que me definem como sou hoje. A educação que os meus pais me deram sempre foi na base da responsabilidade e confiança, o que me permitiu “crescer” e evoluir enquanto pessoa ao meu ritmo e segundo as minhas escolhas; por isso considero que hoje sou Eu com alguns traços significativos deles. Quando descobriu que queria, e porque queria, ser enfermeira? Desde cedo soube que queria ter uma profissão na área da saúde, porque sempre me fascinou a ideia de poder ajudar o outro quando mais precisa de nós. Aos 15 anos decidi que a enfermagem correspondia às minhas expectativas. No meu primeiro ano de Enfermagem compreendi o que era ser Enfermeira, e aí tive a certeza que tinha realizado a escolha certa! O que sentiu quando lhe foi comunicado a decisão da Amera de a aceitar como estagiária? Quando me foi comunicada essa decisão senti um misto de emoções. Se por um lado tinha o privilégio de realizar um estágio profissional na Amera, por outro senti a responsabilidade desta oportunidade. Já para não falar que sabia que a minha vida ia mudar radicalmente desde esse dia. Mas principalmente muito feliz, porque tinha conseguido algo que queria muito. Que expectativas formou? As minhas expectativas iniciais baseavam-se sobretudo na possibilidade de integrar uma equipa jovem e dinâmica, com muito para me transmitir; pois reconheci que a Amera me proporcionaria uma excelente oportunidade para aprender e crescer enquanto pessoa e como profissional. A realidade corresponde ao que idealizou inicialmente? Sinceramente não, as minhas expectativas inicias foram superadas na primeira semana. A minha integração na equipa foi rápida e fácil, porque existe um espírito de entreajuda que para mim foi fundamental. E além dos laços criados com a equipa, formei laços bastante significativos com todos os Residentes. Passei rapidamente a fazer parte de uma nova família, que me acolheu e ajudou, o que foi muito significativo para mim. Em que consiste o seu dia-a-dia de trabalho na Amera? O meu dia-a-dia é bastante preenchido, e um dia nunca é igual ao outro. Dependendo do turno que realizo, desempenho diferentes funções. Destaco as diversas oportunidades que tenho de prestar cuidados, visualizando o Residente em todas as suas dimensões, que não só a física. No fundo acabo por poder auxiliar o Residente nas tarefas em que não consegue ser totalmente autónomo, proporcionando-lhe conforto e bem-estar. Tenho ainda a oportunidade de acompanhar uma Enfermeira Sénior e colocar em prática muitos dos meus conhecimentos, mais direccionados para a parte curativa e de reabilitação. Considero que ambas as oportunidades se completam, porque me permitem ter uma visão geral da condição do Residente e das suas reais necessidades. O que a surpreendeu? Além da dinâmica de funcionamento da Amera, surpreendeume toda a equipa que me fez sentir integrada desde o primeiro momento, assim como a relação que desenvolvi com os Residentes; que torna este estágio mais rico e estimulante. A ausência de alguns dos Residentes, que já não se encontram na Amera por diversos motivos, é o que menos gostei até agora. Sabemos que tem projectos de formação para breve. Conte-nos como vai conciliálos com o estágio? Neste mês de Março vou iniciar o meu Mestrado em Enfermagem Médico-Cirúrgica, na escola onde me formei. É uma área que me permitirá ampliar conhecimentos e tornar a minha actuação mais confiante. Neste primeiro semestre vou ter só aulas teóricas o que implica que me ausente três dias durante a semana para ir até Coimbra, e tal só vai ser possível graças à compreensão da Dr.ª Sónia que vai conciliar as minhas horas de estágio de forma a conseguir ter livres esses três dias. Se pudesse traçar hoje o seu futuro profissional, como o faria? Actualmente, e depois desta oportunidade, gostaria de continuar nesta área da geriatria e dos cuidados continuados; porque além de ser uma área que precisa cada vez mais da nossa atenção, a nossa actuação pode ser cada vez mais diversificada e diferenciada. Um pouco mais sobre mim…A pastelaria assume-se como um hobbie no meu tempo livre. Bolos, tartes, tortas e as mais diversas sobremesas assumem forma a partir de uma receita já existente ou que eu própria adaptei. Adoro criar novas receitas, tentando sempre surpreender! Um hobbie que torna a minha vida mais doce, assim como a vida daqueles que me rodeiam… SABIA QUE… A 1 de Março de 1290 El-Rei D.Dinis cria, em Lisboa, o "Estudo Geral", que daria origem à primeira Universidade Portuguesa. "(...) Ora, desejando Nós enriquecer nossos reinos (...) houvemos por bem ordenar, na real cidade de Lisboa (...) um estudo Geral, que não só munimos com cópia de doutores em todas as artes mas também corroboramos com muitos privilégios. Prometemos, com a presente carta, plena segurança a todos os que nele estudam ou queiram estudar e não permitiremos que lhes seja cometida ofensa por algum ou alguns (...) e curaremos de os defender de injúrias e violências. Além disso, quantos a eles vierem nos acharão em suas necessidades de tal modo generosos que podem e devem fundamentalmente confiar nos muitos favores de sua Alteza Real (...)" Carta de D. Dinis (adaptação) JOSÉ LOPES FERNANDES Até sempre. No verão passado admitidos na Amera um residente difícil, que nas primeiras semanas desafiou constantemente as normas e revelou um comportamento muito apelativo. A sua integração na comunidade começou a notar-se à medida que se envolvia nas actividades de animação, em especial, o ateliê de pintura. Esta actividade absorvia cada vez mais do seu tempo e dava a conhecer a sua faceta mais sensível. À fase inicial de queixas e críticas permanentes sucedeu-se um período em que se revelou plenamente como um ser social, capaz de motivar um grupo alargado de residentes para a participação em actividades criativas. José Lopes Fernandes era o meu pai. Foi médico Anestesista (Dr. Lopes Fernandes) durante a sua vida activa. Viveu com a minha mãe cinquenta e seis anos de um casamento que construiu como o melhor do Mundo. Teve duas filhas e um neto. Quando a sua vida activa cessou dedicouse à fotografia e à pintura. Embora muito dotado para trabalhos de mãos e escultura, iniciou-se na pintura já depois dos sessenta e cinco anos. Autodidacta, estudioso, observador crítico e buscador da perfeição à sua medida e maneira, procurou nos últimos 15 anos encontrar a sua linha de rumo e marca pessoal distintivas, num processo evolutivo que estava a entrar numa nova fase, quando partiu. Chegou à Amera numa situação de debilidade extrema motivada por razões várias, entre as quais a recente viuvez (pouco mais de um mês) e uma estadia no hospital, de algumas semanas. Estávamos em Julho de 2010. Recuperou além das nossas expectativas e, espanto imenso. Queria a sua casa onde poder ir e fazer os almoços de Natal e Ano Novo mas, para regressar à Amera, onde sabia que lhe podiam prestar toda a atenção e cuidados que em casa não seriam possíveis; por desconhecimento técnico e porque os horários da família não o permitiam. Com o seu significativo contributo, inaugurámos a nossa galeria de pintura, de que demos conta na edição de Novembro. Pouco depois vimo-lo entusiasticamente envolvido nos preparativos cénicos do Natal, que foi um dos mais felizes da história da Amera. A sua perda foi particularmente sentida pelos amigos que cá deixou. Os ateliês de artes plásticas não voltaram a ser os mesmos. Nesta hora de homenagem, queremos agradecer à família a oportunidade que nos proporcionou de conhecer este homem singular, ao ter escolhido a Amera como sua última casa. Na Amera começou a frequentar o Atelier de Pintura, onde encontrou a D.ª São, e com ela recomeçou a pintar, aprendendo e repartindo conhecimentos e projectos. Como colegas destas aventuras teve a Sra. Dª Noémia e a Sra. Dª Margarida, entre outros. As fotos publicadas na Magazine da Amera demonstram-no inequivocamente. Tive o prazer de as conhecer a todas pessoalmente. Participou animadamente nas preparações da celebração do Natal de 2010: na montagem do presépio, nas decorações, nos presentes. Parecendo mais conciliado com a realidade da sua nova forma de viver, estava preocupado em estudar para renovar a carta de condução em Abril e em organizar uma exposição retrospectiva até ao fim do ano de 2011. Na madrugada de 31 de Janeiro saiu, com um problema banal na sua idade, resultante de uma queda. Queria voltar, ter alta e voltar, mas … não voltou. Partiu numa viagem longa, só com bilhete de ida, para percorrer todas as paisagens que pintou, quis pintar ou imaginou. Boa viagem pai. Muito obrigada a todos os que com ele partilharam os últimos meses, Paula Maria Peres Fernandes Médico exigente e profissional obsessivamente empenhado na aplicação prática das novidades da sua especialidade – Anestesiologia e Reanimação – José Lopes Fernandes decidiu reformar-se dois anos antes da idade oficial. Aos 63 anos, empregou na pintura uma energia semelhante à que a medicina lhe absorvera toda vida. Falei com o meu pai pela última vez no recobro do Hospital de Cascais, logo a seguir à operação ao colo do fémur fraturado numa queda na casa onde morava desde julho de 2010, a Amera. Estava bem disposto, entretido que tinha ficado pela possibilidade de seguir a intervenção cirúrgica que acabara de sofrer que permite a anestesia epidural. Contou que, a partir da sua posição de paciente, tinha de alguma maneira revivido os anos que passou nas salas de operações. Uma nostalgia rápida. Passou logo de seguida ao tema da pintura e da sua atividade no ateliê da Amera, os planos de trabalho e a partilha desse seu interesse com a comunidade alargada das pessoas que ali conheceu em meia dúzia de meses. Era essa a sua vida nova. Obrigada a todos que lha proporcionaram! Na sequência da morte da mulher com quem partilhou 56 anos de casamento e muitos mais de vida, já que se conheceram em miúdos, eu e a minha irmã Paula contámos-lhe que tinhamos encontrado um lugar onde ele teria um quarto só para ele onde poderia contar com uma assistência de excecional qualidade. Ele ouviu, aceitou com um acenar de cabeça e perguntou de imediato se poderia levar com ele as suas pinturas. Nós já sabiamos que sim porque tinhamos antecipado que esse seria o seu maior interesse naquele novo período da sua vida. Cristina Peres O TESTEMUNHO DA NOSSA ANIMADORA A pintura era o seu mundo Chegou à Amera um homem introvertido, fechado em si mesmo e bastante sofrido com a vida. Mas a actividade da pintura deulhe um novo alento. Sentia-se rejuvenescido, dizia. Tornou-se mais sociável, partilhando ideias e conceitos com todo o grupo. A obra, influenciada pelo surrealismo e pelo expressionismo, é moderna e notável. O seu último trabalho, inacabado, será concluído em sua homenagem. Ficamos muito pobres com a sua partida, saudosos do companheirismo vivido, de tantos sorrisos compartilhados, nas semanas que antecederam o Natal. Até sempre, querido amigo. Bem haja! São SEM COMENTÁRIOS 2 - Ai, que coincidência! - Não te lembras de mim? - Não creio, não. - Quem és? - Bem, obrigada. - (…) Assim se sente uma pessoa com Alzheimer. Ajude-nos a vencê-lo. Não deixe de ver o vídeo original desta acção de marketing de rua da AFAL. Encontra-o no Youtube pesquisando “afal” ou directamente em www.youtube.com/watch?v=XwlcweCdSnI Nas próximas edições da Magazine voltaremos ao tema dos síndromes demenciais, com o objectivo de promover o seu conhecimento e compreensão. ANIVERSÁRIOS —Março 2011 Dia 03, Julieta Dias, 56 anos Dia 05, M.ª Ilda Matos, 86 anos Dia 08, Manuela Teigas, 88 anos Dia 10, Manuel Aguiar, 75 anos Dia 14, Isilda Silva, 94 anos Dia 23, M.ª Perpétua, 86 anos