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Fundação Educacional de Divinópolis – FUNEDI Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG Mestrado em Educação, Cultura e Organizações Sociais ALIMENTAÇÃO NA ADOLESCÊNCIA: UM ESTUDO SOBRE O CONSUMO DE FRUTAS, LEGUMES E VERDURAS NA ATUALIDADE Keila Lopes Mendes Divinópolis – 2009 Keila Lopes Mendes ALIMENTAÇÃO NA ADOLESCÊNCIA: UM ESTUDO SOBRE O CONSUMO DE FRUTAS, LEGUMES E VERDURAS NA ATUALIDADE Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado da Fundação Educacional de Divinópolis / Universidade do Estado de Minas Gerais, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Educação, Cultura e Organizações Sociais. Área de Concentração: Estudos Contemporâneos Linha de Pesquisa: Saúde Coletiva Orientador: Prof. Dr. Leandro Pena Catão DIVINÓPOLIS 2009 M538a Mendes, Keila Lopes Alimentação na adolescência: um estudo sobre o consumo de frutas, legumes e verduras e verduras na atualidade [manuscrito] / Keila Lopes Mendes. – 2009. 117 f., enc. Orientador: Leandro Pena Catão Dissertação (mestrado) - Universidade do Estado de Minas Gerais, Fundação Educacional de Divinópolis. Bibliografia : f. 98-110 1. Transição nutricional. 2. Consumo Alimentar. 3. Adolescência. I. Catão, Leandro Pena. III. Universidade do Estado de Minas Gerais. Fundação Educacional de Divinópolis. IV. Título. CDD: 612.3 AUTORIZAÇÃO PARA A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA DA DISSERTAÇÃO Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta dissertação por processos de fotocopiadoras e eletrônicos. Igualmente, autorizo sua exposição integral nas bibliotecas e no banco virtual de dissertações da FUNEDI/UEMG. Keila Lopes Mendes Divinópolis, 13 de novembro de 2009. Dedico este trabalho aos meus pais, portos seguros, que sonharam com esta realização bem antes de mim e me incentivaram em todos os momentos. Amo vocês! AGRADECIMENTOS Primavera! Época em que a natureza em todo o seu fulgor se torna mais viva e colorida, época em que as flores desabrocham e nos revelam grandes obras de arte do Criador. Época em que culmina o sonho tão esperado de obter o título de Mestre. É com esse espetáculo da natureza que comparo o percurso desta dissertação. A princípio esse sonho era como uma árvore com galhos secos, que para todos está quase morta, mas que na verdade está se preparando para seu espetáculo maior: o fruto. Assim como a árvore, meu sonho intimamente estava sendo moldado e preparado, para que no tempo certo pudesse ser realizado. E no curso deste sonho, não posso deixar de lembrar de muitas pessoas, próximas e distantes, que me ajudaram tremendamente. Primeiramente, agradeço a Deus, o grande responsável por essa realização, que me deu condições físicas, mentais, emocionais, financeiras, dentre outras para chegar até aqui. Sei que a minha vida está sendo guiada por Ele, para que seja feita a Sua vontade em mim. Obrigada Senhor! Agradeço também a meu pai Clério e a minha mãe Ester, pessoas lindas que Deus me deu de presente. Mesmo com todos estes anos de distância, vocês sempre estiveram a meu lado, me dando todo o apoio que necessitei nos momentos difíceis e nos alegres. Obrigada pelo amor, compreensão, apoio e ajuda financeira, sem isso não teria chegado até aqui. A meus irmãos Éber e Euler, que tanto amo e sinto falta, obrigada pelo amor, pela ajuda, pela companhia, pelo carinho... Assim como nossos pais, vocês são pessoas fundamentais na minha vida. Ao meu orientador Prof. Dr. Leandro Pena Catão, obrigada pelos conselhos sábios, pela compreensão, pela convivência e pelas orientações preciosas. A todos os professores e colegas do mestrado, agradeço os ensinamentos, a convivência, o conhecimento compartilhado e os momentos que passamos juntos. Aos amigos que encontrei durante esta caminhada, Rita e Bosco, bem mais que meros colegas de curso: mais do que ninguém sabemos o quanto esse mestrado nos custou, mas com vocês tudo ficou mais fácil, mais motivador, mais alegre. Foi muito bom conhecer vocês! Aos meus amigos em Formiga, dentre eles: Luciana, Camila, Patrícia, Júnia, Sandrinha e Dan Faraell, obrigada pela força e pelos momentos de lazer e alegria que pudemos passar juntos! Aos amigos que fiz durante essa vida “nômade”, em Belo Horizonte, Contagem, Diamantina, Bocaiúva, Itamarandiba e Formiga, uns ainda próximos, outros já distantes, mas que contribuíram de alguma forma para que eu chegasse até aqui. Obrigada! Aos irmãos e amigos da Primeira Igreja Batista de Arcos e da Igreja Batista Filadélfia em Bocaiúva, obrigada pelo carinho e orações, foi muito bom conviver com vocês, mesmo que por curtos períodos. Vocês foram usados por Deus para abençoar a minha vida. À Prefeitura Municipal de Formiga, agradeço o apoio, a liberação para os estudos e a realização da pesquisa nas escolas. Aos colegas de trabalho nos PSF’s Água Vermelha e Bela Vista, obrigada pela convivência e apoio. Aos colegas de trabalho, alunos e ex-alunos do Centro Universitário de Formiga – UNIFOR-MG agradeço a compreensão e o apoio. À aluna Gabriela, agradeço pela valiosa contribuição na coleta e tabulação dos dados. Aos adolescentes e pais entrevistados nesta pesquisa, obrigada por contribuírem para a construção de conhecimento e efetivação desta pesquisa. Enfim, a árvore dos meus sonhos floresceu nesta primavera e eis o que tenho em mãos agora: o fruto, muito esperado, lindo, colorido, palpável. Este gerará as sementes para novas árvores, novos sonhos, novos caminhos... “Se não houver frutos, valeu a beleza das flores; Se não houver flores, valeu a sombra das folhas; Se não houver folhas, valeu a intenção da semente”. (Maurício Francisco Ceolin) RESUMO Atualmente a população mundial tem passado pela transição nutricional, onde aumenta consideravelmente o consumo de alimentos ricos em gorduras e açúcares, tendo como conseqüência a ampliação epidêmica da prevalência da obesidade, especialmente na população adolescente. Dentre as causas mais comuns, encontra-se uma alimentação pobre em frutas, legumes e verduras (FLV). O conhecimento do consumo destes alimentos, bem como dos fatores que o influenciam, pode auxiliar no diagnóstico local e na implantação de programas efetivos de educação nutricional para o consumo de FLV. Diante disso, este trabalho teve por objetivo descrever e analisar o consumo de frutas, legumes e verduras por adolescentes do município de Formiga – MG, à luz da influência dos fatores sociais, econômicos e culturais sobre este consumo. Trata-se de um estudo observacional e transversal, realizado com 139 adolescentes entre 10 e 19 anos, de ambos os gêneros, regularmente matriculados em duas Escolas Municipais de Formiga – MG. A coleta de dados ocorreu através de um questionário com questões sócio-econômicas e de consumo alimentar respondido pelos pais e de uma entrevista com questões sobre o consumo de FLV e avaliação antropométrica dos adolescentes. A amostra foi composta por 51,79% adolescentes do sexo feminino e 48,20% do sexo masculino, estando 75,53% em eutrofia, 7,91% abaixo do peso, 11,51% com sobrepeso e 5,03% com obesidade. A maioria dos adolescentes tinha um baixo consumo de FLV (79,09% para frutas e 75,58% para legumes e verduras). O consumo adequado de frutas foi verificado apenas em 14,17% dos entrevistados e o de legumes e verduras em 13,38%. As influências estatisticamente significantes deste consumo foram: sexo, local de moradia e renda per capita. Estes resultados nos fazem concluir que o consumo de frutas, legumes e verduras pelos adolescentes de Formiga – MG é baixo e infrequente e não apenas a questão nutricional está envolvida, mas também os fatores econômicos, sociais e culturais. Desta forma, o conhecimento deste consumo alimentar irá contribuir para a execução de trabalhos de educação nutricional, abordando todos estes fatores multidisciplinarmente, a fim de obter êxito e resultados positivos no consumo destes alimentos. Palavras-chave: Transição nutricional. Consumo Alimentar. Adolescência. ABSTRACT Currently the world population has been passing by a nutritional change in which the consumption of food enriched with fats and sugars grows, having consequences as the epidemic growth of the prevalence of obesity, especially in the adolescent population. Amongst the most common causes, it is found an alimentation poor in fruits, vegetables, and greens (FVG). The awareness of the consumption of these food as well as the factors which influence it can aid in the local diagnosis and in the introduction of effective programs concerning with the nutritional education to the consumption of FVG. Thus, this paper aims to describe and analyze the consumption of fruits, vegetables and greens by adolescents in the city of Formiga – MG, based on the influence of cultural, economical and social factors on this consumption. This paper is a transversal and observational survey carried out with 139 adolescents between 10 and 19 years old, of both genders, regularly enrolled in two Municipal Schools in Formiga – MG. The data collection took place by a questionnaire with social economical questions and about the feeding consumption answered by their parents and by one interview with questions about the consumption of FVG and an anthropometric assessment of these adolescents. The sample was composed of 51.79% female adolescents and 48.20% male adolescents, being 75.53% in eutrophy, 7.91% underweight, 11.51% overweight and 5.03% obese. The majority of the adolescents had a low consumption of FVG (79.09% for fruits and 75.58% for vegetables and greens). The proper consumption of fruits was checked only in 14.17% of the interviewed ones and that of vegetables and greens in 13.38%. The significant statistically influence of this consumption was: sex, housing, and income per capita. It is concluded by these results that the consumption of fruits, vegetables and greens by the adolescents of Formiga – MG is low, infrequent and not only the nutritional issue is involved but also the cultural, economical and social factors. Hence, the awareness of this feeding consumption will contribute to the execution of works concerning with the nutritional education, approaching all of these factors multidisciplinarilly in order to be successful and of positive results in the consumption of these foods. Keywords: Nutritional transition. Feed Consumption. Adolescence LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 Localização do município de Formiga no estado de Minas Gerais............ 65 LISTA DE TABELAS TABELA 1 Prevalência (%) de sobrepeso e obesidade em adolescentes...................... 46 TABELA 2 Classificação do estado nutricional de acordo com os percentis de IMC... 69 TABELA 3 Acesso a serviços de água/esgoto, energia elétrica e eletrodomésticos. Formiga, 2009............................................................................................. TABELA 4 Frequência do consumo de frutas, legumes e verduras pelos adolescentes entrevistados. Formiga, 2009...................................................................... TABELA 5 83 Associação das variáveis biológicas ao consumo de frutas, legumes e verduras pelos adolescentes. Formiga, 2009.............................................. TABELA 6 75 87 Associação das variáveis sócioeconômicas e culturais ao consumo de FLV. Formiga, 2009................................................................................... 91 LISTA DE GRÁFICOS GRÁFICO 1 Idade dos participantes da pesquisa. Formiga, 2009.............................. GRÁFICO 2 Profissão dos pais e/ou responsáveis pesquisados. Formiga, 2009........................................................................................................ GRÁFICO 3 73 Renda familiar (em salários-mínimos) dos participantes. Formiga, 2009........................................................................................................ GRÁFICO 5 73 Frequência do consumo de frutas, legumes e verduras pelos pais e/ou responsáveis. Formiga, 2009.................................................................. GRÁFICO 4 72 74 Renda familiar per capita dos participantes (em salários-mínimos). Formiga, 2009........................................................................................ 74 GRÁFICO 6 Estado nutricional dos adolescentes. Formiga, 2009............................. 76 GRÁFICO 7 Local de compra de frutas, legumes e verduras pelos pais dos adolescentes. Formiga, 2009.................................................................. GRÁFICO 8 Frequência das compras de frutas, legumes e verduras pelos entrevistados. Formiga, 2009................................................................. GRÁFICO 9 89 Associação entre renda per capita e consumo de frutas, legumes e verduras. Formiga, 2009........................................................................ GRÁFICO 15 85 Associação do estado nutricional sobre o consumo de frutas, legumes e verduras pelos adolescentes. Formiga, 2009....................................... GRÁFICO 14 84 Adequação do consumo de frutas, legumes e verduras pelos adolescentes. Formiga, 2009.................................................................. GRÁFICO 13 81 Frequência de consumo de frutas, legumes e verduras por sexo. Formiga, 2009........................................................................................ GRÁFICO 12 80 Limitações ao consumo de FLV pelos adolescentes. Formiga, 2009........................................................................................................ GRÁFICO 11 79 Gasto mensal (em % da renda familiar) com frutas, legumes e verduras. Formiga, 2009........................................................................ GRÁFICO 10 78 92 Consumo de frutas, legumes e verduras de acordo com o percentual do orçamento gasto com estes alimentos. Formiga, 2009...................... 94 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS DCNT Doenças Crônicas Não-Transmissíveis ENDEF Estudo Nacional de Despesa Familiar FLV Frutas, Legumes e Verduras IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IMC Índice de Massa Corporal OMS Organização Mundial da Saúde PNAD Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios PNSN Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição POF Pesquisa de Orçamentos Familiares PPV Pesquisa sobre Padrões de Vida SM Salário-mínimo TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO................................................................................................................ 16 1.1 Objetivos......................................................................................................................... 20 1.1.1 Objetivo Geral.............................................................................................................. 20 1.1.2 Objetivos Específicos.................................................................................................. 20 2 A ALIMENTAÇÃO NA ATUALIDADE...................................................................... 21 2.1 A alimentação brasileira e suas origens: resgatando a história da alimentação.............. 24 2.2 Transição alimentar e nutricional: a base da alimentação atual....................................................................................................................................... 32 3 O ADOLESCENTE E SEU CONSUMO ALIMENTAR............................................. 42 3.1 A transição nutricional e seu impacto sobre o estado nutricional dos adolescentes....... 44 3.2 Consumo alimentar do adolescente na atualidade.......................................................... 49 3.3 Frutas, legumes e verduras: importância nutricional e consumo entre os adolescentes. 56 4 METODOLOGIA............................................................................................................ 64 4.1 População e local do estudo............................................................................................ 64 4.2 Amostragem.................................................................................................................... 66 4.3 Coleta de Dados.............................................................................................................. 67 4.3.1 Treinamento dos Pesquisadores de Campo................................................................. 69 4.4 Variáveis do estudo......................................................................................................... 70 4.4.1 Variável Dependente.................................................................................................... 70 4.4.2 Variáveis Independentes.............................................................................................. 70 4.5 Digitação e processamento dos dados............................................................................. 71 4.6 Análise Estatística........................................................................................................... 71 4.7 Considerações éticas....................................................................................................... 71 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................................................... 72 5.1 Estado Nutricional dos adolescentes............................................................................... 75 5.2 Aspectos relacionados à aquisição de FLV..................................................................... 77 5.3 Consumo de FLV pelos adolescentes............................................................................. 80 6 CONCLUSÃO.................................................................................................................. 96 REFERÊNCIAS.................................................................................................................. 98 APÊNDICES........................................................................................................................ 111 ANEXOS.............................................................................................................................. 117 16 1 INTRODUÇÃO A alimentação é uma necessidade básica para a vida, exercendo grande influência sobre todos os indivíduos, tanto no que diz respeito à sua saúde como também no desempenho de suas atividades diárias (PEDRAZA, 2004; SÁ, 1990). Além disso, o ser humano tem uma relação estabelecida com a alimentação não só pelos aspectos essenciais do seu metabolismo, mas também pelo prazer que esta lhe oferece, ocupando funções simbólicas e sociais. Os hábitos alimentares fazem parte de um conjunto cultural, repleto de símbolos, significados e classificações, de modo que nenhum alimento está livre das associações culturais que a sociedade lhes atribui (BRAGA, 2004). Diante desse aspecto, muitos fatores envolvem os hábitos alimentares, não apenas os nutricionais e biológicos, mas também os culturais, econômicos e sociais. Esses sistemas classificatórios da cultura alimentar foram socialmente construídos com o decorrer do tempo, através da história da humanidade. Analisando a história da alimentação brasileira, pode-se observar que ao longo do tempo ela foi sofrendo influência dos processos colonizadores e imigratórios, além de transformações causadas por guerras e pela globalização. Tais fatos foram fundamentais para o estabelecimento da cultura alimentar brasileira, bem peculiar, dotando nosso ato alimentar de grande riqueza cultural e social. Cabe lembrar que os hábitos alimentares dos brasileiros frequentemente são associados à influência dos negros, índios e portugueses, mas houve também outras influências, como a participação de diferentes grupos étnicos, tais como alemães, portugueses, japoneses, espanhóis, poloneses e italianos, o que tornou a alimentação do povo brasileiro peculiar a cada região (RAMALHO; SAUNDERS, 2000). Atualmente a população brasileira, assim como a mundial, tem passado por transformações em seus hábitos alimentares, em que diminuiu o consumo de cereais e vegetais (frutas, legumes e verduras) ao passo em que aumentou consideravelmente o de alimentos ricos em gorduras e açúcares, com alta densidade energética. Este fenômeno, denominado transição nutricional, causado por mudanças demográficas, sócio-econômicas e epidemiológicas, teve como consequência o aumento mundial da prevalência da obesidade, que vem sendo considerada uma verdadeira epidemia (OLIVEIRA; FISBERG, 2003). Esta prevalência está aumentando nas últimas décadas, nos países desenvolvidos e em desenvolvimento, especialmente na população infantil e adolescente. 17 No Brasil, o Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) vem conduzindo estudos populacionais nacionais com o objetivo de quantificar a ocorrência da obesidade, verificando um aumento alarmante das taxas de excesso de peso entre os adolescentes. De acordo com os dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2002/2003, o excesso de peso na população adolescente brasileira é de cerca de 18,0% no sexo masculino e 15,0% no sexo feminino (DALABONA, 2008). Outros estudos apontam que a prevalência do excesso de peso (sobrepeso e obesidade) nos adolescentes brasileiros chega a cerca de 30%. No campo da saúde pública, a alta prevalência da obesidade na adolescência tem provocado um grande impacto negativo, uma vez que leva a consequências como o aparecimento cada vez mais precoce de doenças crônicas não-transmissíveis. Isto é bastante vivenciado pela autora em sua atuação cotidiana como Nutricionista de uma Equipe de Saúde da Família, atuando na Atenção Básica em Saúde, pois é grande o número de adolescentes diagnosticados com sobrepeso e obesidade na população atendida e que procuram atendimento nutricional devido ao excesso de peso. Dentre as causas mais comuns da obesidade nesta faixa etária, tanto as citadas na literatura como as diagnosticadas pela prática profissional da autora, encontra-se uma alimentação rica em alimentos industrializados e fast-food (gorduras e açúcares) e pobre em frutas, legumes e verduras (FLV). Este fato gerou grande inquietação, motivando a necessidade de estudar o consumo de frutas, legumes e verduras numa população de adolescentes escolares do município de Formiga - MG. Estudos nacionais apontam que o consumo de FLV é baixo na população brasileira. Segundo a POF 2002-2003 (IBGE, 2004), a participação desses grupos de alimentos no valor energético da alimentação das famílias brasileiras variou entre 3% e 4% do valor energético da dieta, entre 1974 e 2003. Já o estudo de Jaime e Monteiro (2005), realizado com a população adulta brasileira, constatou que somente 41% dos adultos relataram consumo diário de frutas, enquanto 30% relataram consumo diário de verduras. Na população adolescente, Toral et al. (2006) verificaram que apenas 12,4% e 10,3% consumiam frutas e verduras, respectivamente, conforme o recomendado pela Pirâmide Alimentar, sendo que o consumo inferior a uma porção diária foi de 50% para frutas e 38,9% para verduras. Em outro estudo, Toral (2006) observou que o consumo médio de frutas e hortaliças foi de 2,3 e 2,4 porções diárias, respectivamente. Cerca de 45% dos adolescentes não consumiam o mínimo de duas porções de frutas e de hortaliças ao dia. Sabe-se que o consumo insuficiente de FLV aumenta o risco de doenças crônicas não transmissíveis, como as cardiovasculares e alguns tipos de câncer, e está entre os 10 18 fatores de risco que mais causam mortes e doenças em todo o mundo. Tal consumo equivale a menos de 400 g por dia ou 7% a 8% do valor calórico de uma dieta de 2.200 kcal/dia ou menos de 5 porções diárias desses alimentos (JAIME et al., 2007). Conceitualmente as frutas são definidas como a parte polposa que rodeia a semente de plantas. Já os legumes e as verduras, denominados genericamente como hortaliças, são plantas ou partes de plantas que servem para o consumo humano. As verduras se referem às folhas, flores, botões ou hastes. Já os legumes são os frutos, sementes ou as partes que se desenvolvem na terra (PHILIPPI, 2006). Estes alimentos têm uma elevada importância nutricional, pois são ricos em fibras, vitaminas (A, B e C), minerais (potássio, ferro, cálcio, dentre outros) e compostos bioativos, nutrientes essenciais ao crescimento e desenvolvimento do adolescente. Além disso, possuem baixo valor calórico, o que contribui para a manutenção do peso corpóreo nesta faixa etária, e, por sua ação antioxidante, auxiliam na prevenção de diversos tipos de câncer e doenças cardiovasculares. Diante dessa riqueza nutricional que esses alimentos possuem, bem como do conhecimento prévio do consumo alimentar dos adolescentes, na maioria das vezes rico em gorduras e açúcares, procurou-se estudar somente o consumo de FLV e seus determinantes, não pesquisando o consumo de outros alimentos pelos adolescentes. Uma vez que, como dito anteriormente, o consumo alimentar pode ser influenciado por diversos fatores, como os sócio-econômicos, culturais e nutricionais, este estudo teve um caráter interdisciplinar, integrando elementos da ciência da nutrição, saúde coletiva, ciências humanas e sociais (história, sociologia e antropologia), com o fim de compreender a contribuição destes fatores no consumo de FLV pelos adolescentes. Os fatores nutricionais foram vistos a partir da análise do estado nutricional e do consumo de FLV pelos adolescentes. Já os sócio-econômicos e culturais, pela avaliação da renda familiar e per capita, densidade domiciliar, escolaridade e profissão dos pais, local de moradia (rural ou urbano), gasto com FLV, raça e sexo dos adolescentes, influenciando o consumo de FLV pelos indivíduos desta faixa etária. Esta dissertação foi dividida em seis partes, sendo descritas a seguir cada uma destas divisões. No item dois, “A alimentação na atualidade”, primeiramente foram conceituados os temas: alimentos, gosto, hábito alimentar e o ato alimentar propriamente dito, à luz da sociologia e antropologia da alimentação. Em seguida, foi analisada a contribuição da história da alimentação brasileira na formação dos padrões alimentares atuais. Por fim, foram 19 descritos os processos de transição demográfica, epidemiológica e nutricional e a relação destes com a alimentação na atualidade. Já no item três “O adolescente e seu consumo alimentar”, iniciou-se explanando sobre a adolescência e suas características biológicas, psicológicas e sociais. A seguir foi realizada a análise do processo de transição nutricional com consequente aumento da prevalência da obesidade na adolescência, analisando os dados de diferentes estudos na literatura. Após essa análise, foi discutido, também à luz de diversas pesquisas, o consumo alimentar atual do adolescente, rico em gorduras e açúcares, e a influência da mídia sobre este consumo. O último assunto abordado diz respeito à importância do consumo de FLV e do consumo destes alimentos pelos adolescentes, revisando na literatura os resultados de diversas pesquisas de campo. O item quatro traz em seu conteúdo os procedimentos metodológicos adotados para a execução deste estudo, desde a escolha da população até a análise dos dados. No item seguinte são descritos os resultados encontrados nesta pesquisa e a discussão destes, com base nos referenciais teóricos levantados. No sexto e último item é apresentada a conclusão do estudo, revendo os principais resultados encontrados e o impacto destes sobre a população estudada. Cabe ressaltar que a relevância deste trabalho propicia o entendimento do processo de consumo de frutas, legumes e verduras pelos adolescentes do município de Formiga – MG, bem como dos fatores que o auxiliam ou impedem, podendo auxiliar no diagnóstico local e na implantação de programas efetivos de educação nutricional para o uso frequente destes alimentos pela população, promovendo a saúde e prevenindo doenças, como a própria obesidade. 20 1.1 Objetivos 1.1.1 Objetivo Geral Descrever e analisar o consumo de frutas, legumes e verduras por adolescentes do município de Formiga – MG à luz da influência dos fatores sociais, econômicos e culturais sobre este consumo. 1.1.2 Objetivos Específicos • Conhecer o perfil sócio-econômico dos adolescentes e suas famílias; • Avaliar o estado nutricional dos adolescentes; • Conhecer os aspectos relacionados ao consumo de frutas, legumes e verduras, como preço, acesso, aquisição, consumo familiar, dentre outros; • Identificar e descrever o consumo de FLV pelos adolescentes; • Identificar e avaliar a relação entre o consumo de frutas, legumes e verduras e as variáveis sócio-econômicas, comportamentais. culturais, demográficas, biológicas e 21 2 A ALIMENTAÇÃO NA ATUALIDADE A alimentação humana é muito mais que um ato biológico: é um ato social e cultural, que implica representações e imaginários e envolve escolhas, classificações e símbolos, organizando as diversas visões de mundo no tempo e no espaço (MACIEL, 2004; RAMALHO; SAUNDERS, 2000). Conceitualmente, a cultura pode ser entendida como um conjunto de mecanismos de controle, planos, receitas, regras e instruções que dirigem o comportamento humano. Esse conjunto de símbolos e significados é compartilhado pelos membros do sistema cultural, assumindo um caráter público (BRAGA, 2004). De acordo com Oliveira e Thébaud-Mony (1997), a alimentação deve ser analisada sob várias perspectivas: a econômica (oferta e demanda, abastecimento, preço dos alimentos e renda das famílias); a nutricional (nutrientes e relação dieta e doença); a social (associações entre alimentação e organização social do trabalho, diferenciação social do consumo) e a cultural (aspectos simbólicos da alimentação). Por isso, ao se alimentar, o indivíduo não apenas satisfaz suas necessidades biológicas, mas também preenche e satisfaz outros vazios e desejos. Isso foi exposto por Carneiro (2003) quando afirmou que “a fome biológica distingue-se dos apetites, expressões dos variáveis desejos humanos e cuja satisfação se materializa em hábitos, costumes, rituais, etiqueta”. Alimentar-se, portanto, transcende o ato de “matar” a fome, pois há a necessidade da satisfação dos apetites, de voltar a experimentar a sensação de bem-estar consecutivo ao consumo alimentar (PILLA, 2005). Vemos então que os fatores sociais e culturais estão intimamente ligados ao ato alimentar, pois comer é mais que ingerir um alimento, significa também as relações pessoais, sociais e culturais que estão envolvidas naquele ato. Portanto, o que se come, quando, com quem, por que e por quem é determinado culturalmente, transformando o alimento (substância nutritiva) em comida (BRAGA, 2004; LEONARDO, 2004). De acordo com Poulain e Proença (2003), o conjunto de rituais que rodeiam o ato alimentar varia de uma cultura para outra e no interior de uma mesma cultura, de acordo com os grupos sociais, pois cada sociedade tem suas tradições e identidades alimentares peculiares, que foram consolidadas ao longo do tempo e que têm importância no auto-reconhecimento e auto-estima (CONFERÊNCIA NUTRICIONAL, 2004). NACIONAL DE SEGURANÇA ALIMENTAR E 22 Em toda sociedade humana, o alimento é uma forma de criar e manifestar os relacionamentos entre indivíduos, entre membros de grupos sociais, religiosos ou étnicos, ou entre qualquer um desses elementos e o mundo sobrenatural (HELMAN, 1994). Diante disso, o ato de comer marca, também, as fronteiras de identidade interculturais, entre os grupos humanos de uma cultura e de outra, e intraculturais, entre os membros que as constituem. No interior de uma mesma sociedade, a alimentação desenha os contornos dos grupos sociais, fazendo com que um certo alimento possa ser atribuído a um grupo social e rejeitado por outro (POULAIN; PROENÇA, 2003; ROMANELLI, 2006). Os povos e os distintos grupos sociais expressam suas identidades também por meio da alimentação. A escolha dos alimentos, sua preparação e consumo estão relacionados com a identidade cultural – são fatores desenvolvidos ao longo do tempo, que distinguem um grupo social de outro e que estão intimamente relacionados com a história, o ambiente e as exigências específicas impostas ao grupo social pela vida do dia-a-dia (CONFERÊNCIA NACIONAL DE SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL, 2004, p.1). Assim, o espaço social alimentar assinala a conexão bioantropológica de um grupo humano com seu meio (POULAIN; PROENÇA, 2003). Isso faz com que os integrantes de determinado grupo social adotem costumes e hábitos alimentares inerentes a esse grupo como forma de aceitação e permanência nele (CASTRO; PELIANO, 1985). Esse caráter social da alimentação está presente desde o nascimento, através do leite materno e também nas refeições familiares, criando e mantendo formas de sociabilidade bastante ricas e prazerosas (ROMANELLI, 2006). De acordo com Poulain (2004), a refeição familiar, com seu sistema normativo muito preciso, aparece como uma instituição central da sociedade. É através dela que as crianças interiorizam as regras e os valores da propriedade, do respeito aos outros e da partilha (dimensão socializadora). Um aspecto importante a ser levantado sobre o ato alimentar diz respeito à formação dos gostos e hábitos alimentares. Segundo Frederico e Módolo (2007) e Bleil (1998), o gosto é moldado culturalmente, psicologicamente e socialmente. “O que eu gosto e o que eu acho bom seria, na realidade, aquilo que estou habituado a comer, aquilo que minha classe social de origem consome” (POULAIN, 2004). As experiências culturais afetam a maneira como os indivíduos concebem e classificam as qualidades do gosto e como se formam as preferências pelos sabores: doce, amargo, salgado, picante, dentre outros (BRAGA, 2004). Não por acaso, o Brasil é um dos países com maior consumo per capita de açúcar do mundo. Desde o período colonial, o Brasil é um grande produtor de açúcar. Os engenhos para a produção desse alimento eram 23 encontrados na maior parte da América portuguesa. Por conta da abundância do açúcar, este gênero estava presente em vários pratos e era servido até mesmo aos escravos (melaço). Além disso, herdamos o gosto português pelo doce (CATÃO, 2009). De acordo com Pilla (2005), ter gosto é estar de posse das condições de apreender sensorialmente os alimentos, como também de verbalizar e compartilhar as sensações que daí provêm. Isso pode ser sentido, por exemplo, por uma pessoa ao lembrar da comida da mãe, onde não apenas o gosto é resgatado, mas também os sentimentos, as emoções e a familiaridade que estes alimentos trazem consigo. Já em relação aos hábitos alimentares, estes se referem aos tipos de escolha e consumo de alimentos por um indivíduo ou grupo, em resposta a influências externas e internas, podendo ser fisiológicas, nutricionais, demográficas, econômicas, ambientais, psicológicas, culturais e sociais (DUTRA, 2004; GARCIA, 2003; RIGON et al., 2006; TORAL; SLATER, 2007). Estes hábitos fazem parte de um conjunto cultural, repleto de símbolos, significados e classificações, de modo que nenhum alimento está livre das associações culturais que a sociedade lhe atribui (BRAGA, 2004). O comportamento alimentar leva em conta as práticas que vão desde os procedimentos relacionados com a seleção dos alimentos até à sua preparação e consumo, incluindo valores simbólicos associados à alimentação. Por isso, um alimento pode ser considerado comestível em determinadas sociedades - ou em um grupo social – e não em outras (FILHO; SPANHOL; OLIVEIRA, 2007; GARCIA, 2005). Isso pode ser visto, por exemplo, em relação ao consumo da carne de vaca, que no Brasil é um alimento altamente apreciado, enquanto que este consumo na Índia seria um verdadeiro insulto às ideologias religiosas e sociais. Sobre esta classificação, Poulain (2004) afirma que internamente cada cultura seleciona, dentre um conjunto de alimentos disponíveis e que tenham valor nutricional, os que irão, para esta cultura, ser considerados alimentos comestíveis ou “comida”. Há alguns fatores que influenciam em nossas escolhas alimentares, classificando os alimentos em “comestíveis” e “não comestíveis”, que podem ser: disponibilidade, custo, sabor (doce, amargo, etc.), aparência, tipo de preparação, variedade, valor nutricional, necessidade e hábito (BRAGA, 2004; FISCHLER, 19951 citado por PILLA, 2005; JOMORI; PROENÇA; CALVO, 2008). Por meio dessas classificações, os alimentos são divididos em: fortes ou fracos, 1 FISCHLER, C. El (h)omnívoro: el gusto, la cocina y el cuerpo. Barcelona: Anagrama, 1995. 24 pesados ou leves, com vitamina ou sem vitamina e quentes ou frios. A noção de alimento “forte” é atribuída aos alimentos que têm sabor marcante e que “sustentam”. Já a noção de alimentos “fracos” é atribuída aos alimentos que não sustentam nem têm gosto (RAMALHO; SAUNDERS, 2000; ROMANELLI, 2006). Canesqui (1988) afirma que a comida valorizada é aquela "capaz de sustentar o corpo, dar força e energia para trabalhar, que enche a barriga, deixando a sensação de estar alimentado". A noção de alimentos “pesados” foi relacionada aos que provocam reação no aparelho digestivo, sendo indicados para serem ingeridos durante o dia, como por exemplo a feijoada. Os alimentos “leves” foram definidos como aqueles que não fazem bem nem mal, adequados para pessoas doentes, representados pelas sopas e saladas (RAMALHO; SAUNDERS, 2000). Há também a classificação em “quentes”, sendo aqueles impróprios para o aparelho digestivo, e em “frios”, que são aqueles impróprios para o aparelho respiratório (RAMALHO; SAUNDERS, 2000). Enfim, cada povo, cada sociedade relaciona-se à sua maneira com os alimentos. Esses traços podem ser observados através da relação entre os comensais, no modo de preparo, na generalização do uso de determinados alimentos e pratos, dentre outros possíveis exemplos. Estes sistemas classificatórios foram socialmente construídos com o decorrer do tempo, através da história da humanidade. Tempo e espaço, naturalmente, influenciam a relação do homem com sua comida. No Brasil, desde o Descobrimento até os tempos atuais, as práticas alimentares, bem peculiares, vêm sofrendo alterações significativas, dotando nosso ato alimentar de grande riqueza cultural e social. Diante disso, faz-se necessário compreender a influência da história da alimentação brasileira na formação social e cultural dos hábitos alimentares atuais. 2.1 A alimentação brasileira e suas origens: resgatando a história da alimentação A alimentação é um dos traços mais marcantes de uma cultura, embora seja, em geral, um tema negligenciado por etnólogos, antropólogos e historiadores em detrimento de outros aspectos relativos ao universo cultural. No campo historiográfico, só muito recentemente os pesquisadores têm se dedicado ao estudo dos hábitos alimentares, especialmente quando o objeto de análise diz respeito às estruturas do cotidiano (CATÃO, 25 2009). A História da Alimentação, ocupando o seu lugar na História, busca estudar as preferências alimentares, a significação simbólica dos alimentos, as proibições dietéticas e religiosas, os hábitos culinários, a etiqueta e o comportamento à mesa e, de maneira geral, as relações que a alimentação mantém em cada sociedade com os mitos, a cultura e as estruturas sociais, ao sabor dos processos históricos (SANTOS, 2005). A história da cultura alimentar brasileira, desde seus primórdios, no contexto das Grandes Navegações, até os dias atuais, é marcada por valiosas contribuições e influências de diversas culturas, em especial: a indígena, habitantes destas terras muito antes da chegada dos primeiros europeus; a africana, introduzida aqui como mão-de-obra escrava, e a européia, responsável por imprimir o ritmo da colonização (ALESSI, 2006; LEONARDO, 2004; SOUZA; HARDT, 2002). Tudo começou na Era Moderna, quando os europeus, especificamente os portugueses, empenharam-se em viagens marítimas visando descobrir centros produtores de especiarias e apoderar-se deles, a fim de ter domínio econômico, já que as especiarias eram artigos de luxo, de grande valor econômico naquela época (ABREU et al., 2001; FLANDRIN; MONTANARI, 1998). Foi nesse contexto, buscando ampliar o comércio de especiarias, que os portugueses chegaram ao Brasil, em 1500, levando-os, a partir daí, a se interessarem pela exploração das riquezas brasileiras. Naquela conjuntura nascia a cultura alimentar brasileira. Os indígenas, habitantes das terras brasileiras antes do descobrimento, foram vitais nos primeiros tempos da colonização. Quanto às populações nativas, é importante destacar que os povos que habitavam o território que atualmente corresponde ao Brasil possuíam culturas altamente diversificadas. (CUNHA, 1992). Quanto à sua cultura alimentar, viviam da caça, pesca, da coleta de frutos e raízes e da agricultura (não praticada por todos os grupos). Consumiam mandioca, inhame, milho verde, batata doce, banana da terra e brotos, preparados assados no fogo aceso ao chão (LEONARDO, 2004). Naqueles tempos, boa parte do território era recoberto pela Mata Atlântica, uma esplendorosa floresta que guardava em seu interior uma igualmente fabulosa diversidade de seres vivos de todos os gêneros.2 Era um expediente do homem colonial e das populações indígenas antes da chegada dos europeus a estas terras, o hábito de procurar na natureza parcela importante do seu sustento diário. A natureza era uma fonte praticamente inesgotável 2 DEAN, W. A Ferro e Fogo: a história e a devastação da mata atlântica brasileira. São Paulo: Companhia das Letras, 1996, p. 19-37. 26 de alimentos e outros recursos indispensáveis à vida.3 Saber como extrair do meio ambiente os meios básicos para a subsistência foi uma vantagem vital para aqueles que sabiam tirar proveito de tal situação. O alimento era coletado na natureza das mais diversas formas: raízes, animais de pequeno e médio porte, frutos e legumes de todo o tipo, ovos, mel, e até mesmo insetos eram utilizados como fonte de alimento por aqueles homens (CATÃO, 2009). Segundo Pero Vaz de Caminha, na carta de 24 de abril de 1500, os indígenas não plantavam, não criavam e não existiam no país: boi, vaca, cabra, ovelha e galinha. Os habitantes locais se alimentavam generalizadamente de mandioca, sementes, frutos, caça e pesca (OLIVEIRA; CUNHA; MARCHINI, 1996). Sem dúvida alguma, a grande herança alimentar indígena foi a mandioca, que propiciou o cultivo de norte a sul do país e de onde derivou a farinha de mandioca, alimento de grande importância cultural e de consumo generalizado em todo o Brasil (FREYRE, 1963; SOUZA; HARDT, 2002). Já a influência portuguesa se fez notar, mais claramente, através da melhoria do paladar da alimentação, pela introdução de um alto teor de gordura (oliva), do sal, do açúcar, entre muitos outros. Os europeus promoveram uma verdadeira “diáspora alimentar” no contexto das Grandes Navegações, espalhando por todos os continentes alimentos que antes eram de circulação restrita, como, por exemplo, o cacau e a banana. A base cultural da comida portuguesa é a oliva. Porém, no Brasil, o óleo de oliva foi substituído inicialmente pela gordura animal e depois por outros óleos, embora o português tivesse se esforçado para introduzir aqui a sua cultura e modelo alimentar (CATÃO, 2009; LEONARDO, 2004; OLIVEIRA, CUNHA, MARCHINI, 1996). Câmara Cascudo (2004) destaca que os portugueses trouxeram o sal para ser utilizado para conservar as carnes, mas acabaram difundindo o valor cultural de que “cozinhar é ter boa mão de sal”, valor este que persiste até os dias atuais. Os colonizadores portugueses trouxeram para cá: bananais, coqueiros, arroz, diversos tipos de carne (bovina, suína, aves) e especiarias como cravo-da-índia, canela, alecrim, erva doce, além de tâmaras, avelãs, nozes e amêndoas. Com eles também veio o hábito de fazer doces em compotas, sendo a calda açucarada usada como forma de conservar o doce (ALESSI, 2006; LEONARDO, 2004). Houve também uma difusão de receitas de aves, vaca, vitela, porco, carneiro, cabrito e coelho, que eram preparados com os temperos lusitanos alho, cebola e cominho (ALESSI, 2006). 3 Para maiores informações a este respeito ver: HOLANDA, S. B. Caminhos e Fronteiras. 3. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. 27 Uma outra influência alimentar brasileira foi a negra. Os africanos, trazidos ao Brasil na condição de escravos, foram transportados em péssimas condições e sem os elementos materiais de sua cultura. As mulheres foram colocadas na condição de responsáveis pelas cozinhas dos engenhos, passando a usar apenas seus conhecimentos culinários, influenciando o modo de temperar e preparar os alimentos e utilizando ingredientes trazidos pelos portugueses e os usados pelos indígenas (ALESSI, 2006). A grande marca da cultura alimentar africana foram as comidas misturadas na mesma panela, os cozidos (LEONARDO, 2004). Os africanos se alimentavam abundantemente de milho, toucinho e feijão, havendo grande uso de fubá, farinha, rapadura, goma, polvilho, arroz e leite de coco. Além disso, comiam menos frutas e hortaliças do que o indígena brasileiro e eram grandes adeptos da pimenta malagueta (LEONARDO, 2004; OLIVEIRA; CUNHA; MARCHINI, 1996; SOUZA; HARDT, 2002). A base da alimentação nas senzalas era farinha de mandioca, angu de milho e melaço de cana, e com menor frequência o toucinho, carne seca, feijão, arroz, banana e outras frutas de época (OLIVEIRA; CUNHA; MARCHINI, 1996). Vale lembrar que os escravos não se alimentavam daquilo que desejavam, mas sim comiam aquilo que os seus senhores determinavam. No Brasil Colonial predominou a importância do tripé farinha de mandioca, feijão e carne-seca, que constituiu a alimentação essencial da maioria da população (SANTOS, 2007). Como exemplos de condutas alimentares deste período que resistem até hoje, temos o vatapá, o xinxim de galinha e o caruru preparado à base de mandioca e de ervas indígenas (ALESSI, 2006). Vale destacar que a feijoada, prato tipicamente nacional, é um modelo aculturado do cozido português com feijão e carne seca (OLIVEIRA; CUNHA; MARCHINI, 1996). A alimentação brasileira nessa época foi bastante descrita por Gilberto Freyre (1963) em seu livro Casa-grande & Senzala, um dos clássicos da nossa história da alimentação. Segundo o autor, o Brasil dos três primeiros séculos foi uma terra de alimentação incerta e de má qualidade, pois a monocultura esterilizava tudo, além do fato de que os grandes senhores rurais estavam sempre endividados. Acrescenta-se a isso a ocorrência de saúvas, enchentes e secas; o regime de trabalho escravo; a pobreza química dos alimentos tradicionais consumidos por quase todos os brasileiros; a irregularidade no suprimento; a falta de higiene na conservação dos alimentos e a má distribuição de grande parte desses gêneros alimentícios (SOUZA; HARDT, 2002). Esses fatos dificultaram o suprimento adequado dos alimentos à população, o que os levava a ter uma alimentação desequilibrada e pobre em nutrientes. 28 De acordo com Freyre (1963), nos séculos XVI, XVII e XVIII, a alimentação era ruim nos engenhos e péssima e escassa nas cidades, sendo de má qualidade pela pobreza evidente de proteínas de origem animal e pela falta de vitaminas, cálcio e outros sais minerais. É ilusão supor a sociedade colonial, na sua maioria, uma sociedade de gente bem-alimentada, uma vez que os próprios senhores de engenho nutriam-se deficientemente, comendo só uma vez ou outra a carne de boi, ainda assim de má qualidade, frutos poucos e “bichados”, quase nunca in natura e os legumes raramente apareciam em seus pratos. Pelos séculos XVII, XVIII e XIX, a alimentação brasileira foi sendo centralizada em carne seca, feijão, farinha de mandioca e milho, arroz, angu e às vezes, peixe (OLIVEIRA; CUNHA; MARCHINI, 1996). O início do século XIX é marcado pela vinda da família real para o Brasil, seguida da independência política do Brasil, em 1822. O Brasil imperial, por sua vez, é marcado pela libertação dos escravos e a chegada de expressivos grupos de imigrantes europeus. Com isso, ocorreram profundas transformações nas condutas alimentares como a difusão do consumo da carne seca e de charque, a introdução do pão de farinha de trigo, a combinação do arroz com o feijão, o predomínio do consumo de carne bovina, algumas saladas e, após a refeição, o café nas mesas das famílias das classes altas e médias. No cotidiano familiar a conduta alimentar predominante era o arroz com feijão, cozido de carne com legumes, cuscuz, macarrão e paçoca (ALESSI, 2006). A partir do século XIX, com a intensificação da imigração, difundiu-se maior uso de carne de porco, embutidos, massas, sopas, polenta e mais queijo na alimentação. Gradativamente, foram se incorporando nas nossas condutas alimentares pratos típicos de outras culturas, como: esfiha, quibe, charuto, goulash, frango xadrez, paella, puchero, crepe, croissant, pizza, batata, sanduíche, sashimi, bacalhau, churrasco, strogonoff, dentre outros (ALESSI, 2006; OLIVEIRA; CUNHA; MARCHINI, 1996). A Época Contemporânea (séculos XIX, XX e XXI) é um marco de profundas alterações na cultura alimentar, que naturalmente influenciaram o nascente Estado brasileiro. Este período é caracterizado pela Revolução Industrial, pelo êxodo rural, pela incrível expansão das cidades, pelo triunfo total da economia de mercado sobre a economia de subsistência e pelo desenvolvimento dos transportes e do comércio mundial (FLANDRIN; MONTANARI, 1998). Uma das consequências da Revolução Industrial foi a diminuição do trabalho feminino doméstico, uma vez que aumentou a saída da mulher para o mercado de trabalho. Principalmente no século XX, as mulheres dispunham de menos tempo para as tarefas 29 domésticas, o que aumentou o comércio de aparelhos para ajudar na manutenção da casa e preparo das refeições, como geladeiras, fogões a gás, fornos de micro-ondas e outros utensílios, que se tornaram acessíveis à maioria da população dos países industrializados. Isso gerou um grande desenvolvimento da indústria, além de contribuir para o surgimento de um imenso ramo de alimentação fora de casa: o dos restaurantes (CARNEIRO, 2003; FLANDRIN; MONTANARI, 1998). Os restaurantes surgiram com a função de alimentar cotidianamente uma clientela cada vez mais numerosa de homens e mulheres que deixaram de fazer as refeições em casa; seja porque já não existe alguém para prepará-las ou porque trabalham muito longe de casa, tornando-se uma opção preferencial (FLANDRIN; MONTANARI, 1998). O crescimento demográfico, a industrialização e a urbanização, consequências da Revolução Industrial, estimularam o sistema de desenvolvimento da distribuição e da produção de gêneros alimentícios, mudando o consumo e o estilo de vida e saúde da população. Com isso, houve o favorecimento do sedentarismo, a restrição da necessidade de gasto de energia para as atividades diárias e para o trabalho, além da facilitação do consumo de alimentos prontos e de alta densidade energética, o que aumenta a ocorrência de problemas de saúde como obesidade, hipertensão e alguns tipos de câncer (COMITÉ NACIONAL DE LOS ESTADOS UNIDOS, 19924 citado por ABREU et al., 2001; MONDINI; MONTEIRO, 1994). As guerras (1ª e 2ª Guerras Mundiais, Guerra do Vietnã, dentre outras), que marcaram esta época, também foram fatores importantes de mudanças dietéticas, não só por provocar carências e fomes, mas também por promover mudanças de hábitos e adoção de novos tipos de alimentos, muitos deles ligados diretamente à ração dos soldados, como açúcar de beterraba, chocolate, chiclete e coca-cola (CARNEIRO, 2003). Em tempos de Guerra Fria, a coca-cola e o hambúrguer representavam, ao mesmo tempo, as delícias e os horrores ideológicos, pois ambos encarnavam a presença da americanização, que para alguns era vista como uma ameaça (SANTOS, 2006). Outro fator que merece destaque é o crescente processo de globalização pelo qual a sociedade tem passado, que se reflete também na alimentação contemporânea. A globalização é um processo econômico, social e cultural que teve suas origens no século XVI, com as Grandes Navegações, e que se intensificou na contemporaneidade. Mas foi nas duas 4 COMITÉ NACIONAL DE LOS ESTADOS UNIDOS. La nutrición: los lazos entre alimentación, salud y dasarrolo. Washington D.C. 1992. [Documento preparado para la Teleconferência del Dia Mundial de la Alimentación, 16 de octubre de 1992]. 30 ou três últimas décadas do século XX que esse fenômeno ganhou seus contornos mais contundentes, cujas principais características são: a facilidade de trânsito de pessoas e bens entre os diversos países do mundo e a expansão das possibilidades de comunicação pelo surgimento da chamada sociedade da informação e pela grande facilidade de contato entre pessoas, devido ao aparecimento de diversos instrumentos e ferramentas (BUSS, 2007). A globalização refere-se ao fato de que vivemos cada vez mais em um “mundo único” que influencia a vida das pessoas em todos os países: ricos ou pobres, alterando não apenas os sistemas globais, mas a vida cotidiana. Diversos fatores contribuíram para a intensificação do fenômeno denominado globalização. Primeiro, o fim da Guerra Fria, onde o colapso do comunismo de estilo soviético e o crescimento de formas internacionais e regionais de governança aproximaram os países. Segundo: a difusão da tecnologia da informação, que facilitou o fluxo da informação ao redor do globo e encorajou as pessoas a adotarem uma perspectiva global. Terceiro: as corporações transnacionais que cresceram em tamanho e influência, construindo redes de produção e consumo que atravessam o globo e ligam os mercados econômicos (GIDDENS, 2005). Isso pode ser sentido na alimentação, quando observamos a mundialização dos padrões alimentares norteamericanos. O modelo alimentar dos Estados Unidos, fundamentado na substituição de carboidratos complexos como os amidos, por carboidratos simples como açúcares e gorduras e na expansão da dieta carnívora, é simbolizado pela expansão das redes de fast-food, como o McDonald’s e a Coca-cola, que representam a cultura capitalista contemporânea (CARNEIRO, 2003). A conjuntura americana das décadas de 50 e 60 trouxe à tona fatores importantes de ordem econômica, social, financeira e cultural. Novos modos de vida trazidos pela urbanização, pela industrialização, pela profissionalização das mulheres, pela elevação do nível de vida e de educação, pela generalização do uso do carro, pelo acesso mais amplo da população ao lazer, férias e viagens, fizeram com que a alimentação deixasse o ambiente doméstico, a casa, o lar e passasse a ser uma atividade cotidiana como outra qualquer. Desta forma, as fórmulas rápidas de comer representadas pelo hambúrguer, pela batata frita e pela coca-cola, passaram a constituir um conjunto alimentar de consumo em massa, impondo um novo sabor e causando uma verdadeira ruptura no comer tradicional, trazendo no seu bojo mudanças nos hábitos e práticas alimentares dos americanos (SANTOS, 2006, p.6). 31 O fast-food5 é o principal fenômeno de consumo do mundo globalizado e seus produtos ganham a preferência, principalmente entre os jovens, quando o mais importante é a praticidade e a rapidez (SANTOS, 2006). A importância do fenômeno do fast-food tem sido corretamente apontada como uma das chaves para a compreensão da natureza dos problemas sociais de nossa época. Vários analistas têm identificado uma corrosão dos hábitos alimentares familiares, como as refeições partilhadas, levando à substituição da alimentação em casa pelos sistemas de restaurantes ou lanchonetes (CARNEIRO, 2005; SANTOS, 2006). A “ameaça” trazida por hambúrguer, coca-cola, batata-frita e ketchup constituía dois graves perigos: primeiro, às gastronomias tradicionais seculares, pois poderiam representar o declínio das mesmas; segundo, pela adoção de práticas que poderiam ser consideradas dieteticamente perigosas para a saúde (SANTOS, 2006). Desta forma, a pós-modernização embalada pela globalização tem “imposto” novas formas de consumo alimentar e afetado o nosso paladar e os aportes nutritivos, trazendo novos padrões, costumes, hábitos e práticas alimentares. “Vivemos hoje a McDonaldização do mundo, onde prevalece um gosto pasteurizado e homogêneo, sem molho e sem graça” (SANTOS, 2006). No Brasil, os estudos e pesquisas têm demonstrado que, em função do fast-food, um novo padrão alimentar está se delineando, com prejuízos dos produtos da dieta tradicional do povo. Arroz, feijão e farinha de mandioca que foram, desde o século XVIII, a base do cardápio da maioria da população, perdem cada vez mais espaço para os produtos industrializados e com maior valor agregado (SANTOS, 2006). As tendências atuais do consumo alimentar se baseiam no aumento da ração calórica por meio dos cereais, batatas e outros produtos ricos em fécula, seguido de diminuição da proporção destes produtos em benefício das proteínas animais e lipídios, fornecedores de calorias mais caras, e diminuição da proporção de laticínios, ricos em cálcio, e frutas e legumes frescos que contribuem com vitaminas e fibras (FLANDRIN; MONTANARI, 1998). Diante do que foi visto, percebe-se que a alimentação brasileira, desde sua formação, foi fruto da influência de diversos povos e contextos históricos como a colonização, imigração, as guerras e a globalização. Estes fatos moldaram a cultura alimentar 5 Também denominada comida rápida, é o tipo de alimentação preparada de modo padronizado, para rápido atendimento e de ligeiro consumo, servida normalmente em redes de lanchonetes. È uma alimentação rica em gorduras (sanduíche, batata-frita, etc.) e em açúcares (refrigerante, sorvete, etc.). 32 brasileira com o passar do tempo, até chegar ao padrão alimentar atual, rico em gorduras e açúcares e pobre em FLV. Este fenômeno é típico da chamada transição nutricional, em que o consumo de alimentos vegetais é substituído pelo de açúcares e gorduras. Esta transição atualmente tem ocorrido no mundo todo e tem como drásticas consequências o aumento da obesidade e das doenças crônicas, como diabetes, hipertensão arterial e doenças cardiovasculares, conforme descrito a seguir. 2.2 A transição alimentar e nutricional e sua relação com a alimentação atual Nas últimas décadas, o Brasil vem passando por várias transformações demográficas, econômicas, sociais e epidemiológicas, que acabam contribuindo para mudanças nutricionais e alimentares. Todas estas transformações tornam o Brasil um país em transição, fenômeno este que vem ocorrendo tanto em países desenvolvidos como nos em desenvolvimento. Para entender a conjuntura da transição alimentar e nutricional é necessário compreender os fatores ligados à sua etiologia, o “pano de fundo” desta transição. Este é composto pelas mudanças demográficas, socioeconômicas e epidemiológicas, conhecidas como “transição demográfica” e “transição epidemiológica”, que levam a transformações no estilo de vida e no perfil de saúde da população mundial, culminando em modificações nas práticas alimentares. A transição demográfica descreve uma transformação estrutural das populações no curso do crescimento demográfico, onde se passa de um contexto de altas taxas de mortalidade, baixa esperança de vida e elevada natalidade, para um estágio no qual a esperança de vida aumenta fortemente ao mesmo tempo em que as taxas de mortalidade se reduzem (POULAIN, 2004). Esse processo foi descrito pela primeira vez por volta de 1940 (OLIVEIRA, 2004). Essa transição, segundo as teorias atuais, é uma sucessão de quatro estágios na dinâmica populacional de um país ou região (OLIVEIRA, 2004; RIGOTTI, 2001). O primeiro estágio é caracterizado por um equilíbrio populacional decorrente de altas taxas de natalidade e mortalidade, principalmente infantil. No segundo estágio, este equilíbrio é desfeito, ocorrendo uma explosão demográfica derivada da redução da taxa de mortalidade infantil e 33 conservação da alta taxa de fecundidade (OLIVEIRA, 2004). Já no estágio seguinte, ocorre a redução acelerada das taxas de fecundidade e baixas taxas de mortalidade, o que leva ao fenômeno do envelhecimento da população. O quarto e último estágio da transição demográfica caracteriza-se por baixas taxas de fecundidade e mortalidade, que proporcionam novamente um equilíbrio populacional (OLIVEIRA, 2004). A transição demográfica vem ocorrendo no mundo todo, tanto nos países desenvolvidos como nos em desenvolvimento. Em relação ao Brasil, essa transição tem sido muito mais acelerada do que nos países desenvolvidos, nos quais o curso desta vem levando décadas. Entretanto, o quadro brasileiro não se diferencia do que vêm passando outros países latino-americanos e asiáticos (BRITO, 2007). Uma vez que este processo está em curso no Brasil, descreveremos algumas mudanças que demonstram esta transição. Em relação ao espaço físico, inverteu-se sua ocupação demográfica, que passou de uma população fundamentalmente rural (66% nos anos 1950) à condição de um país urbano, com a maioria (80%) das pessoas atualmente radicadas nas cidades. Esse processo de urbanização acelerada foi causado pelo intenso êxodo rural iniciado na segunda metade do século passado e trouxe consigo grandes problemas, como o aumento da violência, acidentes, desemprego, favelização e ocupação desordenada (BATISTA FILHO; RISSIN, 2003; RIGOTTI, 2001). O desempenho reprodutivo também mudou radicalmente, saindo de um quadro em que as mulheres tinham um alto padrão para um estágio de baixo padrão reprodutivo, acontecendo uma diminuição maciça da taxa de natalidade e fecundidade (BATISTA FILHO; RISSIN, 2003). Segundo Patarra (2000), entre 1940 e 1960 os níveis de fecundidade da mulher brasileira mantiveram-se constantes ou em ligeira ascensão, registrando uma taxa de fecundidade total em torno de 6,3 filhos por mulher. Foi a partir de meados dos anos 1960 que a fecundidade começou uma rápida tendência de queda, registrando uma taxa de 5,8. Na década seguinte, o declínio se acelerou, atingindo uma média de 4,4 filhos por mulher. No início dos anos 1980, esse declínio acentua-se ainda mais, chegando a média nacional a 3,5. Atualmente estima-se que esta média deve estar em torno de 2,1 filhos por mulher (BRASIL, 2005; RIGOTTI, 2001). Além disso, as taxas de mortalidade começaram a apresentar declínio consistente após os anos 40 do século passado (RIGOTTI, 2001), declinando de patamares acima de 300 óbitos por mil nascidos vivos em várias regiões na década de 1940, para níveis nacionais médios de 30 por mil nascimentos (BATISTA FILHO; RISSIN, 2003). 34 A mortalidade infantil caiu substancialmente, apresentando uma redução expressiva de 44,1% entre 1990 e 2003 (BRASIL, 2005), devido a alguns fatores como: a maior cobertura dos serviços de saneamento básico, a ampliação da oferta de serviços de assistência primária de saúde e médico-hospitalares, os programas de prevenção (vacinação, aleitamento materno), a queda da fecundidade e a melhoria e abrangência do sistema educacional (BERQUÓ, 2001). Em função da nova equação demográfica, que combina baixa fecundidade e reduzida mortalidade infantil, a vida média elevou-se, resultando numa maior expectativa de vida. Em 1950, a esperança média de vida do brasileiro ao nascimento era de 45,7 anos e, em 2003, chegou aos 71,3 anos (BATISTA FILHO; RISSIN, 2003; BRASIL, 2005; NORONHA; PEREIRA; VIACAVA, 2005). Este aumento da expectativa de vida, por sua vez, ocasionou o aumento da população adulta e idosa e diminuição da infantil e jovem (OLIVEIRA; CUNHA; MARCHINI, 1996; RIGOTTI, 2001). Um novo perfil demográfico se desenhou, com redução da população jovem, passando de 38,2% em 1980 para 29,6% em 2000, e incremento da parcela de maior idade, uma vez que a população de 65 anos e mais aumentou em 47% no período (NORONHA; PEREIRA; VIACAVA, 2005). Em 2000, os brasileiros com 60 anos ou mais já representavam 8,6% da população total: mais de 14,5 milhões de pessoas (BRASIL, 2005). Diante disso, passou-se de uma pirâmide populacional de base larga e forma triangular – característica de regimes demográficos de altas taxas de fecundidade e mortalidade (países em desenvolvimento) – para uma forma mais uniforme de base reduzida – típica de regimes de grande redução na fecundidade (países desenvolvidos) (BATISTA FILHO; RISSIN, 2003). Paralelamente à rápida transição demográfica, ocorreram outras mudanças significativas como na estrutura de ocupações e empregos, passando de um mercado de trabalho fundado no setor primário (agropecuária e extrativismo) para uma demanda de mãode-obra concentrada no setor secundário (indústria) e, sobretudo, no setor terciário da economia (comércio e serviços). Chama a atenção o crescimento de quase 23% do setor terciário ocorrido entre 1986 e 1989 (BATISTA FILHO; RISSIN, 2003; IUNES, 2000). Esta mudança nas ocupações resulta em transformações no padrão de atividade física, passando de atividades pesadas (trabalho braçal) a atividades leves (sedentarismo). Há tempos atrás, a maior parte do trabalho exigia muito esforço físico e consequente alto gasto energético. Além disso, a maioria das pessoas andava a pé ou de bicicleta para se locomover. 35 Atualmente, as pessoas trabalham mais sentadas ou em atividades de baixo gasto energético, sendo que as máquinas e equipamentos substituem parte do trabalho físico anteriormente feito por elas. A isso se adicionam as maiores opções de transporte, como carros e ônibus e mudanças das atividades de lazer para computador e televisor, o que também contribui para a redução das atividades físicas (BRASIL, 2005; SCHLINDWEIN; KASSOUF, 2007). Além das mudanças nos padrões de emprego, ocorreram transformações cruciais no que se refere à geração de renda e estilos de vida. Apesar de não terem ocorrido aumentos históricos da renda, o valor relativo da renda per capita aumentou significativamente, por força da diminuição em mais de 50% do tamanho da família economicamente dependente e da participação crescente da mulher no mercado de trabalho (BATISTA FILHO; RISSIN, 2003). Segundo Schlindwein e Kassouf (2007), a vida urbana implica maior participação da mulher no mercado de trabalho, o que a obriga a dividir seu tempo entre a necessidade de geração de renda e o cuidado com os filhos e com a casa. Ainda segundo o autor, em 2003 a taxa de participação da mulher no mercado de trabalho brasileiro era de 41,5%, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). Já de acordo com os dados da POF de 2002-2003 do IBGE, atualmente 54% das mulheres brasileiras trabalham. A população economicamente ativa passou de 38% em 1980 para 46% em 2000. Desafortunadamente, a distribuição social da renda não melhorou, mantendo-se ou até aumentando o diferencial entre ricos e pobres, de forma que o Brasil é um dos três países mais injustos do mundo no que se refere à partilha social das riquezas produzidas, o que demonstra a tamanha desigualdade econômica e social (BATISTA FILHO; RISSIN, 2003; NORONHA; PEREIRA; VIACAVA, 2005). Em 2002, considerando o indicador nacional de pobreza e extrema pobreza, com base no valor do salário-mínimo (SM) (1/2 SM e 1/4 SM per capita, respectivamente), havia 53 milhões de pobres e 20 milhões de pessoas em situação de indigência no País (BRASIL, 2005). No campo da educação, houve melhoras sensíveis, passando a taxa de alfabetização de 74,6% em 1980, para 86,4% em 2000, sendo a melhora mais acentuada entre as mulheres (NORONHA; PEREIRA; VIACAVA, 2005). Melhoraram também as condições de saneamento (água potável e esgotos sanitários). O percentual de população coberta pela rede geral de abastecimento de água sofreu um incremento de 46%, variando de 52% em 1980 para 76% em 2000. Já em relação à instalação sanitária, em 1980 somente 25% da população brasileira tinha acesso, passando para 44% em 2000. Quanto à coleta de resíduos sólidos, em 2000 a cobertura nacional era de 36 76%, um incremento da ordem de 27% em relação a 1980 (BATISTA FILHO; RISSIN, 2003; NORONHA; PEREIRA; VIACAVA, 2005). Todas essas intensas transformações demográficas, econômicas e sanitárias levaram a mudanças nos padrões de morbidade e mortalidade ao longo dos tempos, gerando o fenômeno da transição epidemiológica. A transição epidemiológica compreende a substituição progressiva da alta morbidade e mortalidade por doenças infecciosas por perfis de saúde dominados pela presença de doenças crônicas não-transmissíveis (DCNT) (BRASIL, 2005). O processo desta transição engloba três mudanças básicas: substituição das doenças transmissíveis (infecciosas) por doenças não-transmissíveis e causas externas; deslocamento da carga de morbi-mortalidade dos grupos mais jovens para os grupos mais idosos e transformação de uma situação em que predomina a mortalidade para outra na qual a morbidade é dominante (SCHRAMM et al., 2004). O perfil de mortalidade por causas sofreu alterações sensíveis nos últimos anos. Em 1930, as doenças infecciosas e parasitárias foram responsáveis por 46% dos óbitos, caindo para apenas 7% em 1985. Por outro lado, as doenças do aparelho circulatório representavam 12% em 1930 e aumentaram para 33% em 1985. Também ocorreram aumentos pronunciados para as neoplasias e mortes consequentes às causas externas, havendo um aumento proporcional de 3% para 12% (PRATA, 1992). Entre as cinco primeiras causas definidas de óbito em 1980, constavam doenças do aparelho circulatório, causas externas, doenças infecciosas e parasitárias, neoplasias e doenças do aparelho respiratório. Já em 2000, as doenças infecciosas e parasitárias perderam sua relevância anterior, sofrendo um acentuado decréscimo em todas as regiões (NORONHA; PEREIRA; VIACAVA, 2005). Atualmente, as DCNT são responsáveis por 33% dos óbitos, vindo em segundo lugar as causas externas (15%) e em terceiro, as neoplasias malignas (12%) (OLIVEIRA; CUNHA; MARCHINI, 1996). Dentre os fatores responsáveis por esse intenso crescimento das DCNT encontram-se: a mudança na pirâmide demográfica, com número maior da população idosa, faixa etária onde essas doenças se manifestam com maior frequência; e o aumento da longevidade, com períodos mais longos de exposição aos fatores de risco e maior probabilidade de manifestação clínica dessas doenças (BARRETO et al., 2005). Todas estas e outras mudanças socioeconômicas, demográficas e epidemiológicas alteraram o perfil de saúde e nutrição da população, gerando um quadro em que há o favorecimento do sedentarismo (devido à melhoria dos transportes e mudanças nos perfis de 37 empregos), a desestruturação das refeições familiares com consequente aumento das refeições fora de casa e do consumo de alimentos industrializados (devido à crescente urbanização e saída da mulher para o mercado de trabalho) e o aumento da prevalência das DCNT, dentre elas a obesidade. Estas alterações resultam num processo denominado transição nutricional. Esta transição consiste em mudanças seculares nos padrões de nutrição e modificações da ingestão alimentar, como consequência de transformações econômicas, sociais, demográficas e sanitárias (OLIVEIRA, 2004). Este quadro é marcado pelo declínio considerável da desnutrição, ao mesmo tempo em que o binômio sobrepeso/obesidade emerge como uma verdadeira epidemia mundial, tanto na população adulta como na infantil. Estes dois extremos nutricionais, atualmente, ocorrem paralelamente em todo o mundo, tanto em países desenvolvidos como nos em desenvolvimento, sendo o reflexo de todas as transformações ocorridas nas últimas décadas (BATISTA FILHO; RISSIN, 2003; CLARO; MACHADO; BANDONI, 2007). Segundo Batista Filho e Rissin (2003), a transição nutricional é um processo caracterizado por quatro etapas. Na primeira etapa ocorreria o desaparecimento da desnutrição protéica aguda e grave, que consiste na deficiência da ingestão de proteínas, resultando em retenção hídrica (edema), retardo do crescimento, diminuição na imunidade, alterações de pele e cabelo, dentre outras. Na segunda etapa, aconteceria o desaparecimento da desnutrição protéicocalórica, caracterizada como a ingestão insuficiente de calorias e nutrientes, que causa perda elevada e extrema da massa adiposa e muscular, retardo da estatura e do desenvolvimento neuropsicomotor e queda da resistência imunológica (BATISTA FILHO; RISSIN, 2003). A terceira fase é caracterizada pelo aparecimento do binômio sobrepeso/obesidade em escala populacional, causados pela excessiva ingestão alimentar associada ao crescente sedentarismo. E a última etapa da transição se configura na correção do déficit estatural, uma vez que não há mais uma ingestão deficiente dos nutrientes (BATISTA FILHO; RISSIN, 2003). No Brasil, assim como em outros países, este processo está amplamente em curso. Até a década de 1980, o quadro nutricional esteve fortemente marcado por surtos epidêmicos de fome, com elevados índices de prevalência da desnutrição energético-protéica. Nos anos 1990, a situação nutricional tem uma considerável redução da prevalência das formas graves da desnutrição, agregando também a obesidade (ESCODA, 2002). O avanço do excesso de peso foi constatado pela Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição (PNSN) de 1989, que diagnosticou o agravo em 27 milhões de indivíduos, 38 correspondendo a 32,0% da população brasileira total. Destes, 6,8 milhões foram considerados obesos (FERREIRA; MAGALHÃES, 2005). A prevalência da obesidade é predominante nas classes sociais menos favorecidas (baixa renda) e na população adulta feminina. Além disso, tende a ser mais frequente em áreas de melhor desenvolvimento tais como o sul e o sudeste do país, sendo mais presente na zona urbana do que na rural (FERREIRA; MAGALHÃES, 2005; SARTORELLI; FRANCO, 2003). Este aumento abrupto e epidêmico da prevalência da obesidade tem sido atribuído, entre outros, a alterações do consumo alimentar (SARTORELLI; FRANCO, 2003). A transição nutricional implica mudanças no padrão alimentar “tradicional”, baseado no consumo de grãos e cereais, que converge para um padrão alimentar com grandes quantidades de alimentos de origem animal, gorduras, açúcares, alimentos industrializados e relativamente de pouca quantidade de carboidratos complexos e fibras, a chamada “dieta ocidental” (BRASIL, 2005; MONTEIRO et al., 2000; SOUZA; HARDT, 2002). Segundo Mondini e Monteiro (1994), as mudanças no padrão alimentar brasileiro, como consequência do processo de transição alimentar e nutricional, caracterizaram-se por: redução do consumo de cereais e derivados, feijão, raízes e tubérculos, observada principalmente da década de 70 para a década de 80; aumento contínuo no consumo de ovos, leite e derivados; substituição da banha, bacon e manteiga por óleos vegetais e margarina e aumento no consumo de carnes, principalmente a partir da segunda metade da década de 70. Além disso, Bleil (1998) afirma que o Brasil também apresenta a tendência de substituir carboidratos por lipídios e de trocar proteínas vegetais por proteínas animais. Segundo Barreto et al. (2005), as maiores mudanças entre 1965 e 1997 foram: redução na disponibilidade de cereais (de 36% para 31%) e leguminosas (de 12% para 6%), aumento na disponibilidade de açúcar (16% para 19%), carnes (de 5% para 11%), óleos vegetais (de 4% para 11%) e leite e ovos (de 6% para 8%). O Guia Alimentar para a População Brasileira (BRASIL, 2005) traz em seu conteúdo a análise destas transformações das práticas alimentares, comparando os dados obtidos em estudos populacionais de 1974 a 2003. Sobre o consumo de cereais e derivados, tradicionalmente a base da alimentação brasileira, houve uma redução de 5% neste consumo em geral. Mais especificamente o consumo de arroz decresceu 23% e o de pão francês 13%. Paralelamente houve um aumento expressivo e preocupante no consumo de biscoitos (400%), o que pode sugerir uma indesejável substituição de alimentos mais saudáveis, como o arroz e o pão, por biscoitos, já 39 que o consumo de macarrão e farinha de trigo praticamente permaneceu o mesmo no período estudado (BRASIL, 2005). Fato semelhante tem ocorrido quanto ao consumo de feijões, tubérculos e raízes, uma vez que a queda no consumo de feijão chegou a 31% e de tubérculos, raízes e derivados 32% (BRASIL, 2005). O feijão, ao lado do arroz, é também um alimento tradicional da dieta brasileira, que vem perdendo sua importância de consumo nos lares brasileiros, principalmente pelo trabalho e demora no preparo. Segundo Schlindwein e Kassouf (2007), percebe-se uma considerável redução no consumo domiciliar de alimentos que demandam maior tempo para o preparo das refeições, como o arroz, o feijão e a batata-inglesa. Quanto ao grupo das carnes, o consumo aumentou em cerca de 50%, sendo maior a participação da carne de frango. Por outro lado, houve uma acentuada redução na participação dos peixes na alimentação (BRASIL, 2005; MONDINI; MONTEIRO, 1994). Um fato preocupante, pelo alto teor de gordura e sal, é o acréscimo de embutidos na alimentação, que aumentou em quase 300% a sua participação energética (BRASIL, 2005). Em relação aos ovos, houve também uma redução acentuada, sobretudo no Centro-Sul do País, em cerca de 84% em sua participação na dieta, provavelmente em função da maior aquisição de alimentos prontos para o consumo e consequente diminuição da utilização de ovos em preparações caseiras (bolos e pães, por exemplo) (BRASIL, 2005; MONTEIRO; MONDINI; COSTA, 2000). O grupo dos leites e derivados teve um aumento de 36% na alimentação brasileira, sendo expressivo o aumento do consumo dos queijos (BRASIL, 2005; MONTEIRO; MONDINI; COSTA, 2000). Em contrapartida, a participação de frutas, legumes e verduras na dieta mantevese relativamente estável ou até reduziu durante este período, correspondendo entre 3 a 4% da energia total da alimentação, ainda abaixo das recomendações (BLEIL, 1998; BRASIL, 2005). Estes dados demonstram o quão pobre em FLV é a alimentação da população brasileira, pois o recomendável é que este consumo seja entre 7 a 8% do valor energético da alimentação. As grandes mudanças da alimentação estão relacionadas ao consumo de gorduras. Em relação às gorduras de origem animal, no período decorrido entre 1974 a 2003, a redução na participação desse grupo de alimentos foi importante (65%). Porém, estas gorduras foram substituídas pelas de origem vegetal, havendo um crescimento de 16% na participação das gorduras vegetais, principalmente sob a forma de óleo de soja e margarina (BRASIL, 2005; 40 MONTEIRO; MONDINI; COSTA, 2000). A banha de porco e o toucinho deram lugar ao óleo de soja e a manteiga foi substituída pela margarina (BLEIL, 1998). Conforme Mondini e Monteiro (1994), entre 1962 e 1988 o consumo de margarina no Brasil subiu de 0,4 para 2,5% do total de calorias. Em relação aos açúcares, o consumo de açúcar reduziu em 23%, porém o de refrigerantes aumentou consideravelmente em 400%. Embora o grupo dos açúcares apresente queda no período em questão, o considerável aumento no consumo de doces, refrigerantes e biscoitos acarreta em aumento do consumo do açúcar adicionado aos alimentos e, possivelmente, não representa uma melhora real de qualidade no padrão de consumo alimentar (BRASIL, 2005; CLARO; MACHADO; BANDONI, 2007). Segundo Bleil (1998), o refrigerante é um dos dez produtos alimentares mais consumidos, fazendo parte da cesta básica do brasileiro. Só no Rio de Janeiro, o aumento no consumo de refrigerante foi de 268% nos últimos vinte anos. Todas essas mudanças são de extrema importância para o estabelecimento do padrão alimentar atual da população. Em geral, houve a elevação do consumo de carnes e alimentos industrializados (refrigerantes, biscoitos e refeições prontas) e a redução do consumo de leguminosas, raízes e tubérculos, frutas, legumes e verduras. Tais resultados representam uma tendência desfavorável ao padrão de consumo alimentar em questão, com avanço da participação dos alimentos predominantemente industrializados, fontes de gorduras e açúcares, que propiciam o aumento da obesidade e das doenças crônicas não-transmissíveis (BRASIL, 2005; CLARO; MACHADO; BANDONI, 2007; LEVY-COSTA et al., 2005). Além disso, a sociedade ocidental urbana enfatiza o consumo, a pressa, a rapidez e a eficiência, características incompatíveis com o saborear detalhado, que levam o homem moderno a fazer suas refeições com pressa e muitas vezes as omitir ou, por outro lado, consumir com exagero alimentos prontos, os fast-foods (CAVALCANTI; MELO, 2008). A comensalidade contemporânea se caracteriza pela escassez de tempo para o preparo e consumo de alimentos; pela presença de produtos gerados com novas técnicas de conservação e de preparo, que agregam tempo e trabalho; pelo vasto leque de itens alimentares; pelos deslocamentos das refeições de casa para estabelecimentos que comercializam alimentos – restaurantes, lanchonetes, vendedores ambulantes, padarias, entre outros; pela crescente oferta de preparações e utensílios transportáveis; pela oferta de produtos provenientes de várias partes do mundo; pelo arsenal publicitário associado aos alimentos; pela flexibilização de horários para comer agregada à diversidade de alimentos; pela crescente individualização dos rituais alimentares (GARCIA, 2003, p. 484). Todos estes dados levantados nos mostram que o padrão da alimentação brasileira é um reflexo das mudanças históricas, sociais, demográficas e epidemiológicas pelas quais a 41 sociedade tem passado, levando a transformações nas práticas alimentares. Estas alterações têm levado ao declínio do consumo de cereais e leguminosas (como arroz e feijão, considerados como uma marca da cultura alimentar brasileira) e alimentos vegetais (frutas, legumes e verduras), ao passo em que o consumo de açúcares (biscoitos e refrigerantes) e gorduras (óleo e margarina) aumenta consideravelmente. Destaca-se a grande influência da cultura nas práticas alimentares, uma vez que no atual mundo capitalista, o consumismo se torna uma palavra de ordem. A influência dessa cultura do consumo de massas, expressada também pela mídia, leva as pessoas a se alimentarem em quantidades cada vez maiores e de produtos com valor nutricional duvidoso. Este padrão alimentar é seguido por todas as classes sociais e também por todas as faixas etárias, especialmente pelos adolescentes. Diante disso, é importante conhecer os hábitos de consumo alimentar dos adolescentes, especialmente sobre a ingestão de FLV, o que será exposto a seguir. 42 3 O ADOLESCENTE E SEU CONSUMO ALIMENTAR Adolescência, palavra originária do latim ad (a, para) e olescer (crescer), adolescere, que significa processo de crescer, é um período de várias mudanças e de transição entre a infância e a vida adulta, que acontece entre os 10 e 19 anos de idade (ARAÚJO, 2008; GAMBARDELLA; FRUTUOSO; FRANCH, 1999). A adolescência é dividida em duas fases: fase I, que vai dos 10 aos 14 anos e fase II, que vai dos 15 aos 19 anos. Na fase inicial da adolescência (10 a 14 anos), chamada de puberdade, ocorrem o estirão de crescimento, aumento rápido das secreções de diversos hormônios e o aparecimento dos caracteres sexuais secundários (maturação sexual). Já a fase final (15 a 19 anos), caracteriza-se pela desaceleração destes processos (crescimento e desenvolvimento) (ALBANO; SOUZA, 2001; GARCIA; GAMBARDELLA; FRUTUOSO, 2003). Segundo Andrade (2007), uma em cada cinco pessoas no mundo é adolescente, portanto, aproximadamente, 20% da população mundial. No Brasil, de acordo com dados do IBGE dos anos de 1991 e 2000, os adolescentes representam cerca de 21% da população, totalizando mais de 35 milhões de habitantes (EISENSTEIN et al., 2000). De acordo com Mahan e Stump (2003), “a adolescência é um dos períodos mais desafiadores no desenvolvimento humano”, sendo caracterizado por diversas mudanças biopsicossociais e também pela transformação dos impulsos do desenvolvimento mental, emocional e social, que culminam com o completo crescimento físico e maturação sexual, a consolidação da personalidade, a independência econômica e a integração do indivíduo em seu grupo social (ANDRADE, 2007; EISENSTEIN et al., 2000). Além disso, neste período o adolescente começa a definir sua identidade e estabelecer um sistema de valores pessoais, adquirir responsabilidades e aumentar sua capacidade cognitiva (GAMBARDELLA; FRUTUOSO; FRANCH, 1999; SIGULEM; DEVINCENZI; LESSA, 2000). Acrescentam-se a estas, as mudanças psicológicas, descobertas, o desabrochar da sexualidade, aumento do número de amigos, envolvimento e influência grupal, busca de autonomia, demandas escolares e de trabalho, pressões, modificação das preferências alimentares e rebeldia contra os padrões familiares (ARAÚJO, 2008; FISBERG et al., 2000; ILHA, 2004). 43 Sobre a busca de autonomia, Boog et al. (2003) afirmam que os adolescentes a fazem contestando a autoridade dos pais, rejeitando e questionando os valores e hábitos aprendidos e cultivados pela família. Com isso, ele se liberta da família e, portanto, da socialização primária6 que ocorre no grupo familiar, para atingir sua independência pessoal. Esta é conquistada a partir de relações com outros da mesma idade, formando um grupo de referência marcado pela afetividade e pela similaridade de condição, partilhando jargões, modos de vestir e hábitos diversos, buscando juntos definições de novos referenciais de comportamento e identidade (ILHA, 2004). A partir do momento em que o adolescente estabelece sua “turma”, ele passa a ser influenciado por ela e a agir como os outros membros do grupo, a fim de ser aceito socialmente, modificando inclusive seus hábitos alimentares, tornando-os semelhantes aos do grupo e cada vez mais distantes dos aprendidos em sua família. Todas essas mudanças são amplas, rápidas e variadas, sendo influenciadas por fatores hereditários, ambientais (social, cultural e econômico), nutricionais e psicológicos (ARAÚJO, 2008; GAMBARDELLA; FRUTUOSO; FRANCH, 1999; ILHA, 2004), podendo ser internos ou externos. Os internos incluem auto-imagem, necessidades fisiológicas e saúde individual, valores, preferências e desenvolvimento psicossocial. Os externos são hábitos familiares, amigos, valores e regras sociais e culturais, mídia, modismos, experiências e conhecimentos (GAMBARDELLA; FRUTUOSO; FRANCH, 1999). Segundo Gambardella, Frutuoso e Franch (1999), todas as transformações ocorridas durante a adolescência têm efeito sobre o comportamento alimentar, uma vez que os processos de crescer e se alimentar implicam no estabelecimento de relações, na realização de escolhas, na identificação com valores sociais e padrões estabelecidos e na adoção de diversos hábitos, horários e estilos de vida (TORAL; SLATER; SILVA, 2007). A adolescência, por se tratar de uma fase de maior velocidade no crescimento estatural, apresenta uma demanda energética elevada, devendo a alimentação ser quantitativa e qualitativamente adequada, para atender às necessidades nutricionais específicas desse período da vida (BRAGA; MOLINA; CADE, 2007; GODOY et al., 2006). Por isso, os hábitos alimentares exercem grande influência sobre o crescimento, desenvolvimento e saúde em geral desses indivíduos (NEUTZLING et al., 2007), pois uma alimentação insuficiente, 6 Conceito estabelecido e bastante utilizado pelas Ciências Sociais, defendido por alguns pensadores, como Berger e Luckmann. A socialização primária é definida como a que é imposta às crianças, onde outras pessoas (família) filtram o mundo social para elas, encarregando-se de sua socialização. Fonte: GRIGOROWITSCHS, T. O conceito “socialização” caiu em desuso? Uma análise dos processos de socialização na infância com base em Georg Simmel e George H. Mead. Educação & Sociedade, Campinas, v. 29, n. 102, jan./abr. 2008. 44 deficiente ou excessiva pode acarretar prejuízos ao crescimento e à saúde do adolescente, gerando problemas como excesso de peso e doenças crônicas não-transmissíveis, típicos da transição nutricional. 3.1 A transição nutricional e seu impacto sobre o estado nutricional dos adolescentes A transição nutricional, como descrita anteriormente, atribui-se a mudanças no perfil nutricional da população, caracterizada pelo aumento da prevalência da obesidade e redução da prevalência de desnutrição (OLIVEIRA, 2004). Este fenômeno, como já foi visto, é causado por mudanças no consumo alimentar da população brasileira nas últimas décadas, em que os alimentos mais tradicionais, como raízes, tubérculos e cereais, foram sendo gradualmente substituídos por alimentos mais ricos em gorduras e açúcares, a chamada “dieta ocidental”. Essa alteração no consumo alimentar, combinada à diminuição progressiva de exercício físico, vem contribuindo para um aumento no número de casos de sobrepeso e obesidade (MARINHO; HAMANN; LIMA, 2007). Essas modificações nos padrões de consumo têm colocado a população brasileira em maior risco de doenças crônicas não-transmissíveis e excesso de peso. A alta prevalência de sobrepeso/obesidade é considerada, atualmente, como um dos mais importantes problemas de saúde pública. No Brasil, nas últimas décadas observou-se grande aumento desta prevalência inclusive entre adolescentes (CHIARA; SICHIERI; MARTINS, 2003). Este fato é alarmante, pois estudos epidemiológicos demonstram que o consumo excessivo desses alimentos (ricos em gorduras e açúcares) na adolescência pode provocar aumento na quantidade de tecido adiposo e, em decorrência, o sobrepeso pode persistir na vida adulta, aumentando os riscos de incidência de câncer de cólon e reto (GARCIA; GAMBARDELLA; FRUTUOSO, 2003). Segundo Sichieri e Souza (2008), o aumento da obesidade em crianças e adolescentes é particularmente preocupante, uma vez que esta, principalmente na adolescência, é fator de risco para a obesidade na vida adulta. A obesidade na infância e adolescência já é considerada uma epidemia mundial. Sua prevalência aumentou cerca de 50% na última década e atualmente cerca de um quarto das crianças são obesas ou apresentam sobrepeso. Este fato é alarmante, pois de 40% a 80% das crianças e adolescentes obesos serão adultos obesos. Dados de diversos estudos de coortes 45 possibilitam estimar que cerca de 50% das crianças obesas aos 7 anos serão adultos obesos, enquanto 80% dos adolescentes obesos se tornarão adultos obesos (DALABONA, 2008; LAMOUNIER; ABRANTES, 2003). Leão et al. (2003) lembram que a obesidade se caracteriza pelo acúmulo excessivo de gordura corporal a nível tal que a saúde possa ser prejudicada. Além de ser considerada como uma doença, é também fator de risco importante para diabetes mellitus tipo II, hipertensão arterial, dislipidemias, doenças cardiovasculares, osteoporose, entre outras, patologias que antes eram comuns somente em adultos ou idosos e que agora estão se manifestando em adolescentes (FISBERG et al., 2000). O excesso de peso na adolescência também está associado a distúrbios psicológicos, respiratórios, cânceres, resistência à insulina, distúrbios hepáticos e gastrintestinais, apnéia do sono e complicações ortopédicas (DALABONA, 2008). Além disso, devem-se destacar os prejuízos no convívio social que o adolescente pode vir a passar, uma vez que nesta faixa etária é comum a prática do bulling, onde o obeso se torna alvo de perseguições, piadas, humilhações e violência física e psicológica. Isto pode afetar seu comportamento e relacionamento social. No Brasil, vários estudos epidemiológicos vêm sendo conduzidos no sentido de estimar a prevalência da obesidade em crianças e adolescentes. Comparando-se os dados de três grandes estudos populacionais nacionais realizados pelo IBGE, verifica-se um aumento alarmante das taxas de excesso de peso em adolescentes brasileiros. No Estudo Nacional de Despesa Familiar (ENDEF), realizado em 1974-1975, a prevalência de excesso de peso para meninos e meninas foi de 2,6% e 5,8%, respectivamente. Na Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição (PNSN) realizada em 1989, verificou-se que 54,7% dos adolescentes apresentaram peso adequado para a estatura, 26,3% tinham déficit ponderal e 19% demonstraram peso acima do esperado para a estatura (EISENSTEIN et al., 2000; TORAL; SLATER; SILVA, 2007). Já os resultados da Pesquisa sobre Padrões de Vida (PPV), de 1996-1997, revelam que o excesso de peso entre os meninos aumentou para 11,8% e entre as meninas para 15,3% (TORAL, SLATER, SILVA, 2007). De acordo ainda com dados da POF 2002/03, o excesso de peso na população adolescente brasileira é de cerca de 18,0% no sexo masculino e 15,0% no sexo feminino (DALABONA, 2008). Alguns resultados de estudos sobre a prevalência de sobrepeso e obesidade encontram-se listados na TAB. 1. 46 TABELA 1 Prevalência (%) de sobrepeso e obesidade em adolescentes. Referência Localidade N Obesidade Sobrepeso Ribeiro et al., 1998 Belo Horizonte, MG 1500 2,1 6,4 Silva; Ferratore; Terezani, 1999 Piracicaba, SP 8731 Fisberg et al., 2000 São Paulo, SP 145 3,5 7,6 Frutuoso et al., 2000 São Paulo, SP 153 7,8 11,8 Pimenta e Gambardella, 2000 São Paulo, SP 307 7,8 7,2 Dunker e Philippi, 2000 São Paulo, SP 220 7,7 Nuzzo et al., 2000 São Paulo, SP 200 20,8-42,9 Fonseca et al., 1998 Rio de Janeiro, RJ 391 7,2-23,9 Costa et al., 2000 Rio de Janeiro, RJ 173 11,6 Oliveira et al., 2000 Rio de Janeiro, RJ 502 7,6-14,0 8,0 Natalizi et al., 2000 Petrópolis, RJ 87 10,4 7,9 Fisberg et al., 2000 Pauiní, AM 750 9,0 4,2-20,0 Lyra e Mendonça, 2000 Natal, RN 323 10,2-17,9 12,0 Felipe et al., 2000 Bombinhas, SC 331 Monteiro et al., 2000 Pelotas, RS 493 9,0 Chaul et al., 2000 Goiânia, GO 243 3,0-4,2 Nunes e Pereira, 2000 Montes Claros, MG 281 22,1 Silva et al., 2000 Ouro Preto, MG 450 Jansen et al., 2000 Uberlândia, MG 117 Passos, Deiró, Medeiros, 1999 Salvador, BA 56 37,5 Costa et al., 1999 Rio de Janeiro, RJ 71 17,6 Costa et al., 2000 Rio de Janeiro, RJ 173 11,6 Veiga et al., 2000 Rio de Janeiro, RJ 2098 Fisberg et al., 2000 São Paulo, SP 51 8,0 Teixeira e Rodrigues, 2000 São Paulo, SP 39 82,0 Goldberg et al., 2000 Botucatú, SP 211 12,6-26,9 Goldberg et al., 2000 Botucatú, SP 258 40,2-48,3 Arrais et al., 2000 Natal, RN 55 24,2 Beller, 2000 Camboriú, SC 105 4,0-9,0 Barros et al., 2000 Ouro Preto, MG 418 16,6-25,8 Lamounier et al., 2000 Belo Horizonte, MG 114 18,5 23,8 5,2-24,5 7,3-8,0 10,6 8,7 13,8 12,0 12,0 Fonte: Adaptado de LAMOUNIER; ABRANTES, 2003, p. 281. Em Campina Grande/PB, Nunes, Figueiroa e Alves (2007) realizaram estudo transversal com adolescentes entre 10 e 19 anos matriculados em duas escolas, uma pública e outra privada, no ano letivo de 2004. Os alunos foram categorizados, segundo critérios socioeconômicos, em classes econômicas. Os autores relataram maior incidência de excesso 47 de peso (sobrepeso/obesidade) entre indivíduos das classes mais favorecidas A1, A2 e B1 (31,4%), do que nas classes menos favorecidas C, D e E (18,1%). No estudo transversal realizado por Santos et al. (2005) com adolescentes de 17 a 19 anos, matriculados em 23 escolas públicas municipais de Teixeira de Freitas – BA, no período de outubro a dezembro de 2001, foi evidenciada maior prevalência de sobrepeso e obesidade (5,1%) no sexo feminino e de magreza no masculino (6,4%), sendo a prevalência geral de magreza e de sobrepeso/obesidade de 4,2% e 4,0%, respectivamente. Albano e Souza (2001) realizaram um estudo transversal em escola pública de ensino fundamental e médio no Município de São Paulo, com 92 alunos de 5ª a 8ª séries do ensino fundamental, entre 11 e 17 anos, matriculados em 1998. As prevalências de “risco de sobrepeso” e “sobrepeso” foram para o sexo masculino de 27,9% e 4,6%, respectivamente, e para o sexo feminino foram de 10,2% e 16,3%, respectivamente. Em Teresina – PI, Carvalho et al. (2001) pesquisaram 334 adolescentes de 10 a 19 anos, matriculados na rede privada de ensino. Apesar da maioria (77,2%) dos adolescentes apresentarem eutrofia quanto ao índice de massa corporal, o risco para o sobrepeso atingiu cerca de 20% nos estudantes investigados. Em contrapartida, o baixo peso (2,3%) não alcançou o limite esperado que é de 5%. Os maiores percentuais de sobrepeso (IMC ≥P85) foram encontrados na população masculina (24,8%), situação encontrada em apenas 15,5% das meninas. Dalabona (2008) estudou 759 adolescentes entre 10 e 19 anos matriculados nas redes pública e privada do Distrito de Pinheiros do Município de São Paulo, entre junho e outubro de 2007. A prevalência de excesso de peso foi de 25,2% (meninos 27,3%; meninas 23,8%). O excesso de peso se mostrou positivamente associado à prática de dieta e inversamente associado ao consumo de alimentos não-saudáveis na rede escolar e ao consumo de alimentos saudáveis em escolas privadas. A autora não encontrou associação entre excesso de peso e omitir/substituir refeições ou praticar atividade física dentro ou fora do colégio. Ainda na cidade de São Paulo, Garcia, Gambardella e Frutuoso (2003) avaliaram o estado nutricional e o consumo alimentar de 153 adolescentes dos sexos masculino e feminino, com média de idade de 11,90 ± 1,26 anos, de baixo nível socioeconômico, matriculados em um Centro de Juventude. Com relação ao estado nutricional, 78,4% dos adolescentes encontravam-se na faixa de normalidade, 11,8% apresentavam risco de sobrepeso, 7,8% estavam com sobrepeso e 2,0% tinham baixo peso. Em Fernandópolis – SP, Vidotti (2008) avaliou o estado nutricional de adolescentes entre 10 e 15 anos, de ambos os sexos, matriculados no ensino fundamental de 48 escolas da rede privada e pública. Verificou-se que 52% estavam eutróficos, 6% com baixo peso, 12% com risco para baixo peso, 18% com sobrepeso e 12% estavam obesos. Campos, Leite e Almeida (2006) realizaram pesquisa transversal com adolescentes escolares de 10 a 19 anos do ensino público e privado do Município de Fortaleza - CE, no período de março a maio de 2003. Foram avaliados o índice de massa corporal e o nível socioeconômico das famílias pelos Critérios de Classificação Econômica do Brasil. Foi encontrada maior prevalência de sobrepeso/obesidade nas classes de maior nível socioeconômico (24,8%) em relação às de menor nível (17,4%). Nas classes de maior nível socioeconômico, a frequência de sobrepeso/obesidade nos adolescentes masculinos foi de 33,7%, enquanto que nas de menor nível foi de 14,4%. Nas adolescentes de maior nível socioeconômico observou-se uma prevalência de 15,7%, enquanto que nas de menor nível a prevalência foi de 19,8%, diferença estatisticamente não significante. Já em Recife - PE, Silva e Balaban (2000) realizaram estudo do tipo transversal com 430 estudantes de 10 a 19 anos de uma escola de classe média/alta da rede privada, no ano de 1999. As autoras encontraram uma prevalência de sobrepeso de 20%, com variação de 16% a 24%; para obesidade, foi de 4,2% com variação de 2 a 6%. O sobrepeso e a obesidade foram maiores nos adolescentes do sexo masculino (35,7% e 9,7%) do que nos do sexo feminino (11,2% e 4,2%, respectivamente). É importante destacar que todos os estudos levantados neste referencial demonstram em seus resultados uma grande prevalência de sobrepeso e obesidade, acometendo cerca de 30% dos adolescentes. Esta prevalência acontece em vários níveis sócioeconômicos (alta e baixa renda) e em todas as regiões brasileiras. Esses dados comprovam que a transição nutricional é um fenômeno que vem ocorrendo com grande força em nosso país, especialmente entre os adolescentes. Este fato chama a atenção para a necessidade de desenvolvimento de medidas que identifiquem, combatam e/ou controlem precocemente os desvios ponderais e nos propõe a pensar em ações de baixo custo e alta efetividade que devem ser tomadas para prevenir e contribuir para a melhoria deste quadro. Dentre elas, pode-se citar a diminuição do sedentarismo através do estímulo à prática de atividades físicas e, principalmente, a melhoria da qualidade alimentar dos adolescentes através do estímulo ao aumento do consumo de frutas, legumes e verduras e diminuição de alimentos ricos em gorduras e açúcares. Neste sentido, e com o fim de embasar tais medidas, faz-se necessário conhecer o consumo alimentar do adolescente nos tempos atuais. 49 3.2 Consumo alimentar do adolescente na atualidade Como visto, a transição nutricional é um fenômeno em curso atualmente e de grande impacto sobre a população brasileira, especialmente sobre os adolescentes. Estes se constituem alvo vulnerável para adoção de hábitos alimentares errôneos, uma vez que estão à mercê dos veículos de comunicação de massa e das consequências da globalização. Além do mais, a maioria ainda não estabeleceu seu hábito alimentar, tendo tendência a aderir tudo o que é novo e diferente como forma de contrariar os valores vigentes até então (família, sociedade, etc.). O comportamento alimentar do adolescente está fortemente influenciado pelos seus hábitos alimentares e vinculado ao grupo etário a que pertence. Portanto, as práticas alimentares na adolescência são reflexos dos valores apreendidos não apenas na família, mas também na escola e com os amigos, além da mídia. Todos influenciam na escolha dos alimentos e estabelecem o que é socialmente aceito (CAVALCANTE; PRIORE; FRANCESCHINI, 2004; GAMBARDELLA; FRUTUOSO; FRANCH, 1999; SANTOS et al., 2005). Sobre a influência da família, sabe-se que ela é responsável pela formação dos hábitos alimentares do adolescente desde a infância. Porém Ximenes et al. (2006) afirmam que, às vezes, a família tende a criar práticas errôneas no filho adolescente como uma forma de superproteção. Segundo Feijó et al. (1997), é na adolescência que os padrões alimentares são estabelecidos, constituindo a base destes na idade adulta. Vários fatores interferem no consumo alimentar na adolescência, tais como: valores sócioculturais, fatores psicológicos, fisiológicos, convivências sociais, situação financeira familiar, alimentos consumidos fora de casa, aumento do consumo de alimentos semipreparados, hábitos alimentares, disponibilidade de alimentos, facilidade de preparo, imagem corporal e influência exercida pela mídia (FISBERG et al., 2000; GARCIA; GAMBARDELLA; FRUTUOSO, 2003; TORAL et al., 2006). Os adolescentes, usualmente, precisam consumir grandes quantidades de alimentos com frequência devido ao pico de desenvolvimento. Porém, deve-se ter muito cuidado com os hábitos adotados durante esta fase para que isso não contribua para uma série de doenças debilitantes quando o crescimento tiver cessado, como a obesidade (GARCIA; GAMBARDELLA; FRUTUOSO, 2003; ILHA, 2004; MAHAN; STUMP, 2003). 50 Segundo Toral, Slater e Silva (2007), as práticas alimentares inadequadas e o aumento do sedentarismo entre adolescentes estão relacionados ao aumento da prevalência de obesidade, que acompanha o processo de transição nutricional constatado na sociedade brasileira. Por outro lado, nessa fase, o indivíduo está mudando o corpo e buscando a imagem corporal idealizada, muitas vezes tendo uma alimentação inadequada que pode levar a desequilíbrios nutricionais e interferir no crescimento e no estado de saúde (SANTOS et al., 2005). Sobre este fato, Sampei et al. (20017 citados por XIMENES et al., 2006) afirmam que a inadequação de dietas é mais comum entre adolescentes do que em qualquer outro segmento da população, podendo ser causada, entre outros, por instabilidade emocional, desejo obsessivo de emagrecer, instabilidade geral no estilo de vida e circunstâncias sociais. Estes desequilíbrios alimentares favorecem a ocorrência de desvios nutricionais, levando muitas vezes a uma ingestão insuficiente de macro e micronutrientes (TORAL; SLATER; SILVA, 2007). Esta inadequação ocorre mais comumente entre as adolescentes do sexo feminino. Sobre este assunto, Braggion, Matsudo e Matsudo (2000) afirmam que as adolescentes têm medo de engordar e em consequência desejam um controle do seu peso, tendo grande preferência por alimentos mais saudáveis quando comparadas aos meninos. Este fato tem grande relação com o peso, aparência corporal, maior frequência de dietas e desordens alimentares. De acordo com Gambardella, Frutuoso e Franch (1999), os adolescentes tendem a viver o momento atual, não dando importância às consequências de seus hábitos alimentares, que podem ser prejudiciais. Porém, sabe-se que o consumo alimentar adotado nessa fase da vida tem sérias implicações, em longo prazo, no crescimento, na promoção de saúde e no desenvolvimento do comportamento alimentar durante a vida adulta (TORAL et al., 2006). Um ponto importante a se destacar é a grande influência que a mídia tem sobre o comportamento alimentar desta faixa etária, agindo sobre seus ideais de imagem corporal e principalmente sobre o consumo alimentar, incentivando o consumo de alimentos calóricos e pouco nutritivos. Para o marketing da indústria de alimentos, o adolescente constitui “presa” fácil do sistema produtivo, pois os alimentos apresentados como mercadorias-símbolo, encontram nele um terreno fértil para suas vendas. Isso é possível graças à busca pela beleza, saúde, 7 SAMPEI, G.M.A. et al. Adolescência: estado nutricional, práticas e distúrbios alimentares e atividade física. São Paulo: Editora de Projetos Médicos, 2001. 51 aceitação social ou sucesso sexual que os adolescentes têm. A mídia elege o adolescente como consumidor privilegiado e sensível às mensagens, convencendo-o de que essas realizações serão certamente alcançadas por quem adquirir determinado alimento ou bebida, mercadoriafetiche, que preenche desejos criados por ela (mídia) e, muitas vezes, substitui carências de outras naturezas (BOOG et al., 2003). Essa influência é possível graças ao grande tempo de exposição gasto pelos adolescentes frente aos veículos de comunicação de massa, especialmente a televisão. Nos últimos tempos, nota-se significativo aumento do tempo gasto com o hábito de assistir à TV. No Brasil, crianças e adolescentes passam de três a cinco horas por dia diante da TV, sendo maior a exposição em famílias de renda mais baixa (ALMEIDA; NASCIMENTO; QUAIOTI, 2002; ANSALONI, 2007). De acordo com estudos, uma exposição de apenas 30 segundos a comerciais de alimentos é capaz de influenciar a escolha a determinado produto. Quanto mais jovem, menos o adolescente se cansa com a repetição desses comerciais e mais acredita no que está vendo, tendendo a cumprir o que o anúncio lhe sugere. Isso mostra o papel da TV no estabelecimento de hábitos alimentares, uma vez que o adolescente pode aprender concepções incorretas sobre o que é um alimento saudável (ALMEIDA; NASCIMENTO; QUAIOTI, 2002; ANSALONI, 2007). A publicidade é direcionada, sobretudo, para produtos supérfluos, fontes de calorias-vazias, gorduras, óleos, açúcares e sódio, o que vem reforçar, para as gerações seguintes, a tendência observada no padrão de consumo e na prevalência de doenças crônicas, podendo contribuir para a obesidade e/ou hipertensão se consumidos na proporção em que são anunciados na televisão (ALMEIDA; NASCIMENTO; QUAIOTI, 2002; BOOG et al., 2003; MIOTTO; OLIVEIRA, 2006). Um estudo de Almeida, Nascimento e Quaioti (2002), realizado em São Paulo, revelou que 27,5% dos comerciais no horário classificado como infantil abordavam gêneros comestíveis industrializados, na seguinte ordem de distribuição do conteúdo: gorduras, óleos, açúcares e doces: 57,8%; pães, cereais, arroz e massas: 21,2%; leite, queijos e iogurtes: 11,7%; carnes, ovos e leguminosas: 9,3%. Em outra pesquisa brasileira, realizada em 2004, a programação de três emissoras da televisão aberta durante a exibição de desenhos animados, programas de auditório e novelas foi gravada por trinta dias. Os comerciais de alimentos constituíram a maioria dos anúncios (22%), à frente até das propagandas de brinquedos (15%). Dentre os alimentos anunciados, as guloseimas — bolachas, doces e balas — figuravam em primeiro lugar (37% 52 dos comerciais), seguidas por produtos lácteos (17%) e cereais (14%) (HALPERN, 20048 citado por ANSALONI, 2007). Os prejuízos relacionados a esta alta exposição de crianças e adolescentes à televisão vão desde o estabelecimento de maus hábitos alimentares até à crescente prevalência da obesidade. Há demonstrações de que, entre outros diversos fatores, o tempo que um adolescente passa assistindo à TV pode estar associado à obesidade, pois cada hora diante da TV pode resultar em aumento de até 2% em sua prevalência (ALMEIDA; NASCIMENTO; QUAIOTI, 2002). (...) a televisão exerce influência significativa no consumo alimentar — aumento de calorias vazias — e tal consumo é influenciado pela propaganda de alimentos veiculada. (...) o tempo que as crianças passam assistindo à TV representa um período de baixa atividade física, além de fator de competição com outras atividades de lazer em que se consumiria mais energia (ANSALONI, 2007, p. 13). Como visto, a mídia influencia negativamente o comportamento alimentar dos adolescentes. Porém, este é influenciado também pela globalização e por mudanças ocorridas na estrutura das sociedades, como a participação da mulher no mercado de trabalho, que imprimem transformações também nos padrões alimentares. Disso resulta o consumo alimentar atual dos adolescentes, que se caracteriza pela abundância em produtos industrializados e desritualização das refeições, conforme exposto por Santos et al. (2005): Em relação ao consumo alimentar, é consenso que, no século XX, mudanças ocorridas na estrutura familiar, como a inserção da mulher no mercado de trabalho, influenciaram o padrão alimentar, sendo incomuns refeições com horários definidos e cardápios elaborados para o consumo em família, especialmente nas grandes cidades, onde as atividades são exercidas em diferentes horários e contextos. Na atualidade, entre os determinantes do consumo alimentar, também se destaca, em diferentes culturas, a influência da globalização, mais perceptível nas zonas urbanas, onde se observa o consumo exagerado de alimentos industrializados a partir da influência norte-americana nos costumes de diferentes países (SANTOS et al., 2005, p.625). Triches e Giugliani (2005) afirmam que tanto o volume da ingestão alimentar, como também a composição e qualidade da dieta, têm sido relacionados à obesidade. Segundo o autor, o aumento contínuo da adiposidade, o pouco consumo de frutas, hortaliças e leite, o aumento no consumo de guloseimas e refrigerantes, o consumo de refeições de modo irregular, bem como a omissão do café da manhã são consequências das mudanças nos 8 HALPERN, G. Comerciais veiculados em programação infanto-juvenil de canais abertos de TV e sua relação com escolha de alimentos em amostras de escolares [dissertação]. São Paulo: Universidade Federal de São Paulo - Programa de Pós-graduação em Ciências Aplicadas à Pediatria, 2004. 53 padrões alimentares (ANDRADE, 2007; GAMBARDELLA; FRUTUOSO; FRANCH, 1999; LIMA; ARRAIS; PEDROSA, 2004; TORAL; SLATER; SILVA, 2007). O adolescente, normalmente, tem suas preferências individuais, segue modismos, não gosta de muitos esforços e tem indisponibilidade de tempo para dedicar a uma refeição, o que o faz optar por uma alimentação facilitada e que pode ser feita com os amigos (GAMBARDELLA; FRUTUOSO; FRANCH, 1999; FISBERG et al., 2000). Sua alimentação, típica da vida moderna, caracteriza-se pelo alto consumo de lanches e fast-foods entre as refeições: comidas prontas, sanduíches, salgadinhos e bolachas. Conforme Gambardella, Frutuoso e Franch (1999), certas preparações podem ser admissíveis quando fazem parte de uma dieta adequada e balanceada, mas, geralmente apresentam grande quantidade de energia e baixa quantidade de ferro, cálcio, vitamina A e fibras. Outros estudos realizados no Brasil sobre o consumo alimentar dos adolescentes revelam baixa ingestão de produtos lácteos, frutas, hortaliças e alimentos que são fonte de proteína e ferro, concomitante ao excesso de açúcar e gordura (CARVALHO et al., 2001; GAMBARDELLA; FRUTUOSO; FRANCH, 1999; ILHA, 2004). Esta alimentação de baixa qualidade, muitas vezes, leva o adolescente a apresentar deficiência de certas vitaminas e minerais como o cálcio. Segundo Fisberg et al. (2000), a deficiência de cálcio é bem preocupante, pois a maioria dos adolescentes não atinge sequer dois terços das recomendações diárias para o cálcio. Vários estudos mostram resultados semelhantes de inadequação de consumo de cálcio entre adolescentes, independentemente do nível socioeconômico (GARCIA; GAMBARDELLA; FRUTUOSO, 2003). Outro mineral de importância é o ferro, cuja deficiência é um dos problemas nutricionais frequentes entre os adolescentes e que pode trazer repercussões não só à saúde como também às aptidões e rendimento escolar dos indivíduos. Pode também causar depressão do sistema imunológico, diminuição da síntese de neurotransmissores e mielina e anemia ferropriva. O ferro é importante para as meninas, devido às perdas menstruais e para os meninos, devido ao aumento da massa magra e do volume sanguíneo (FISBERG et al., 2000; GARCIA; GAMBARDELLA; FRUTUOSO, 2003). Sargent, Kemper e Schulken (19949 citados por GAMBARDELLA; FRUTUOSO; FRANCH, 1999), observaram baixo consumo de fibras, ferro e cálcio e alto consumo de 9 SARGENT, R.G.; KEMPER, K.A.; SCHULKEN, E. Dietary behaviors of South Carolina adolescents. Journal of the South Carolina Medical Association, Columbia, v.90, n.6, p.263-269, 1994. 54 proteínas e colesterol em estudantes da Carolina do Sul, Estados Unidos, bem como baixa ingestão de frutas e hortaliças cruas e cozidas. No Brasil, diversos estudos têm sido conduzidos no sentido de conhecer os hábitos de consumo alimentar dos adolescentes. Alguns deles serão descritos a seguir. O estudo de Carvalho et al. (2001), em Teresina - PI, objetivou estudar o consumo alimentar de adolescentes de 10 a 19 anos matriculados na rede privada de ensino. Os resultados encontrados pelos autores indicam prevalência elevada de risco para o sobrepeso (19,8%). Os meninos consumiram com maior frequência alimentos energéticos (milho, manteiga, pizza, lasanha, sucos industrializados, refrigerantes) e construtores (frango, ovos, leguminosas) em relação às meninas. Os adolescentes de 10 a 13 anos consumiram com maior frequência milho, mel, açúcar e rapadura, enquanto aqueles com idade entre 17 e 19 anos consumiram mais arroz, bolos, biscoitos, rosca, balas, goma de mascar, refrigerantes e frutas verde-amareladas. Já no trabalho de Vidotti (2008), com adolescentes de 10 a 15 anos da rede pública e privada de ensino do município de Fernandópolis- SP, foi visto que a omissão de refeições é uma prática frequente dos adolescentes, principalmente do desjejum, não sendo realizado por 26% dos entrevistados. No intervalo escolar, os adolescentes relataram preferência por salgados assados, mas frequentemente acompanhados de refrigerantes ou refrescos artificiais e raramente a fruta foi citada. Na cidade de São Leopoldo - RS, Vitolo, Campagnolo e Gama (2007) conduziram um estudo transversal com os adolescentes de 10 a 19 anos para estimar o consumo de fibras. A pesquisa se deu por conglomerados, onde foram pesquisados todos os adolescentes de 40 setores censitários do município. A prevalência de consumo insuficiente de fibras foi de 69% nas meninas e 49,7% nos meninos. Entre os meninos, os fatores que determinaram essa condição foram: consumo não habitual de feijão e excessivo de lipídeo. Para as meninas, maior faixa etária, consumo não habitual de feijão, consumo excessivo de lipídeo, fazer dieta para perder peso e presença de excesso de peso. O estudo transversal conduzido por Neutzling et al. (2007) entre julho de 2004 e março de 2005, com todos os adolescentes entre 10 a 12 anos nascidos em 1993 no município de Pelotas – RS, constatou que a maioria dos jovens (83,9%) consumia dieta pobre em fibras e mais de um terço deles (36,6%) consumia dieta rica em gordura. O nível socioeconômico e a escolaridade materna mostraram-se diretamente associados com a prevalência de consumo de dietas ricas em gordura. Jovens dos níveis socioeconômicos A, B e C (alta renda) apresentaram menor frequência de consumo de dietas pobres em fibras. 55 Já no trabalho transversal de Santos et al. (2005), conduzido em Teixeira de Freitas – BA com adolescentes entre 17 a 19 anos de 23 escolas públicas, entre outubro e dezembro de 2001, evidenciou-se consumo habitual de arroz, feijão, farinha de mandioca, pão francês, manteiga, margarina, açúcar e café, sendo baixo o consumo de produtos lácteos frutas, legumes e hortaliças. Cerca de 96,6% dos adolescentes realizavam mais de três refeições diárias e mais de 80,0% alimentavam-se no domicílio. Outra pesquisa conduzida no sentido de conhecer o consumo alimentar dos adolescentes foi a de Ximenes et al. (2006), no qual foram avaliados 1217 adolescentes de 14 anos de escolas públicas e privadas do município de Recife – PE em 2004. Verificou-se que o grupo de alimentos mais consumido foi o dos açúcares e doces (94,3%); o preferido, o dos óleos e gorduras (82,9%); e o mais rejeitado, o das hortaliças e leguminosas (55,5%). O almoço foi a refeição mais realizada (86,4% fazendo-a todos os dias). Dentre as pessoas do convívio dos jovens, a mãe era quem mais influenciava na escolha da alimentação (67,3%) e a família foi a mais frequente fonte de informação sobre alimentação (37,7%). Grande parte dos pesquisados (64,7%), realizava suas refeições em casa, na companhia da família. Andrade, Pereira e Sichieri (2003), avaliaram o consumo alimentar de adolescentes com e sem sobrepeso entre 12 a 17,9 anos no município do Rio de Janeiro. A pesquisa foi realizada entre novembro de 1995 e setembro de 1996 em 1668 domicílios, selecionados por conglomerados. As autoras verificaram que os meninos com sobrepeso apresentam maior consumo energético quando comparados aos meninos com peso normal, não havendo diferença significativa no consumo de gorduras. Já entre as meninas, as com sobrepeso apresentaram maior consumo de gordura, porém não houve diferença no consumo energético total. Nesse estudo, o consumo alimentar não pôde ser associado ao sobrepeso dos adolescentes. Garcia, Gambardella e Frutuoso (2003) em análise do consumo alimentar de 153 adolescentes entre 10 a 14 anos de um centro de juventude do município de São Paulo, entre setembro e novembro de 1999, obtiveram resultados semelhantes. As autoras constataram que a maioria dos adolescentes não realizava desjejum ou realizava de forma imprópria e que o jantar também foi inadequado na maior parte dos entrevistados. Também observaram a presença diária das bebidas gaseificadas, balas, chicletes, salgadinhos empacotados, biscoitos recheados e doces em barra (doce de leite, pé de moleque, doce de amendoim) em 70% da população estudada. Os resultados encontrados em todos estes estudos nos mostram que a alimentação do adolescente na atualidade, em todo o país e em diferentes classes sociais, é rica em 56 alimentos gordurosos e açucarados, como refrigerantes, salgados, biscoitos, doces, sanduíches e frituras, sendo altamente industrializada. Além disso, a maioria dos estudos observou que nesta faixa etária a omissão de refeições é um hábito frequente, principalmente no desjejum (café da manhã). Este consumo inadequado é fruto de vários fatores, como a influência da família e dos amigos (ou grupo social a que pertence). Dentre estes fatores, destaca-se a pressão exercida pelas redes de fast-food (como Coca-Cola e McDonalds), através da mídia. Esta, que é o veículo da cultura de massas, instituiu os adolescentes como alvo, influenciando-os a um consumo exagerado dos fast-foods e fazendo-os acreditar que este tipo de alimentação é o mais correto e moderno. Ao mesmo tempo, alguns estudos descritos anteriormente constataram nesta população um baixo consumo de fibras alimentares, presentes principalmente em FLV. Sabese que os adolescentes apresentam habitualmente um consumo muito baixo de frutas, legumes e verduras, alimentos de extrema importância nutricional, como será visto a seguir. 3.3 Frutas, legumes e verduras: importância nutricional e consumo entre os adolescentes Como já explicitado anteriormente, o padrão de consumo atual da sociedade é caracterizado por alto consumo de açúcares e gorduras e baixo consumo de frutas e hortaliças. Sabe-se que é de extrema importância que o adolescente tenha um consumo adequado de alimentos vegetais, pois além de fontes de vitaminas e minerais, são também fontes de fibras e podem contribuir para a prevenção do excesso de peso e doenças crônicas nãotransmissíveis. Segundo o Guia Alimentar para a População Brasileira (BRASIL, 2005), a trilogia “frutas, legumes e verduras” deveria ser uma parte importante das refeições e não somente ser consumida em lanches ocasionais, pois são excelentes alimentos e abundantes em todas as regiões brasileiras. O Brasil conta com variedades incalculáveis desses alimentos, alguns de consumo regional, outros de consumo generalizado. As frutas, legumes e verduras são ricos em fibra alimentar, micronutrientes e vários fatores nutricionalmente essenciais (compostos bioativos). São fontes de diferentes 57 tipos de vitaminas como os carotenóides10, ácido fólico (vitamina B9) e o ácido ascórbico (vitamina C). Além disso, são ricos em potássio, contêm quantidades adequadas de magnésio, cálcio, ferro e elementos-traço, que dependem da qualidade do solo no qual são produzidos (BRASIL, 2005; GOMES, 2007; JAIME; MONTEIRO, 2005; PADILLA; ARAYA, 2003). As fibras, presentes em grande quantidade em FLV, são responsáveis pelo bom funcionamento intestinal, garantindo aumento do volume fecal e menor tempo de trânsito intestinal. De acordo com Vitolo, Campagnolo e Gama (2007), a fibra alimentar pode atuar na prevenção de doenças intestinais, como constipação, hemorróidas, hérnia hiatal, doença diverticular e câncer de cólon. Também favorecem uma menor absorção de açúcares e gorduras, podendo contribuir para o controle de doenças crônicas não-transmissíveis (NEUTZLING et al., 2007; VITOLO; CAMPAGNOLO; GAMA, 2007). Segundo Gomes (2007), a alimentação diária composta por frutas, legumes e verduras pode contribuir para prevenção das principais doenças crônicas não-transmissíveis (DCNT), como as doenças cardiovasculares, diabetes e os diversos tipos de câncer. Outro efeito benéfico é que as fibras são úteis em dietas para perda de peso, pois auxiliam no aumento da saciedade, além de ter conteúdo energético reduzido e ajudar a substituir alimentos com altas concentrações de gorduras saturadas, açúcar e sal (GOMES, 2007). Segundo o Guia Alimentar para a População Brasileira (BRASIL, 2005), as frutas, legumes e verduras possuem baixo teor energético, portanto o consumo adequado desses alimentos auxilia na prevenção e no controle da obesidade e, indiretamente, contra outras doenças crônicas não-transmissíveis (diabetes, doenças cardíacas e alguns tipos de câncer), cujo risco é aumentado pela obesidade. Já em relação aos micronutrientes (vitaminas e minerais), diversos benefícios são descritos na literatura. Os alimentos ricos em carotenóides protegem contra xeroftalmia, cataratas e outras doenças oculares, além de auxiliar na imunidade do organismo contra infecções. Já o ácido ascórbico (vitamina C) aumenta a absorção orgânica do ferro de origem vegetal, ajudando a prevenir a anemia ferropriva (BRASIL, 2005). Essas duas vitaminas são conhecidas por sua propriedade antioxidante, uma vez que protegem o DNA e a membrana celular do dano oxidativo e de agentes carcinogênicos, ajudam a eliminar o efeito danoso dos radicais livres, diminuir o risco de doenças cardiovasculares e degenerativas e constituir um efeito protetor contra alguns tipos de câncer 10 Precursores vegetais da vitamina A, que existem em grande quantidade nos vegetais verde-escuros e frutas de coloração amarela ou avermelhada. 58 (boca, esôfago, pulmão, estômago, cólon, reto e, provavelmente, pâncreas, mama e bexiga) (ALBERT et al., 2002; BRASIL, 2005; JAIME; MONTEIRO, 2005; PADILLA; ARAYA, 2003). As evidências científicas mostram ainda que estas vitaminas protegem contra as doenças pulmonares crônicas e obstrutivas, incluindo asma e bronquite, através da melhoria do fluxo de ar, devido à ação antioxidante desses nutrientes (BRASIL, 2005). De acordo com Gomes (2007), uma revisão internacional coordenada pela Agência Internacional para Pesquisa em Câncer - International Agency for Research on Cancer (IARC)11 concluiu que as frutas, legumes e verduras podem reduzir o risco de neoplasias malignas, especialmente as gastrintestinais. O IARC estima que a fração prevenível da doença atribuída à baixa ingestão de frutas, legumes e verduras está entre 5%12%, podendo chegar a 20-30% para cânceres das porções superiores do trato gastrintestinal, em todo o mundo. Por outro lado, é importante ressaltar que os vegetais não contêm vitamina B12, que, juntamente com o ácido fólico, participa da formação das hemácias e do metabolismo de ácidos graxos e aminoácidos. Uma alimentação exclusivamente vegetal pode resultar em deficiência de vitamina B12 e anemia carencial, uma vez que as fontes principais desta vitamina são os alimentos de origem animal (BRASIL, 2005). Já em relação aos minerais, como dito anteriormente, os alimentos vegetais são fontes destes nutrientes na alimentação. O potássio é extremamente essencial, pois participa do equilíbrio eletrolítico do corpo, além de auxiliar na redução da pressão arterial sanguínea, prevenindo a hipertensão arterial e o acidente vascular cerebral (BRASIL, 2005). Já o cálcio, presente principalmente em hortaliças de cor verde-escura, é importante para formação e manutenção óssea, além de participar do processo de contração muscular. O ferro de origem vegetal, presente também em hortaliças verde-escuras, é componente importante das células vermelhas (hemácias), sendo seu consumo essencial para a prevenção de anemia ferropriva. Já o iodo faz parte da constituição dos hormônios tireoidianos, que regulam o metabolismo energético, e pode estar presente em alguns alimentos vegetais, dependendo da composição do solo para cultivo (BRASIL, 2005). 11 VAINIO, H.; BIANCHINI, F. IARC Handbooks of cancer prevention: fruit and vegetables. Lyon: IARC Press, 2003. 59 Segundo Scrimshaw (200012 citado por BRASIL, 2005), o consumo regular de uma variedade de frutas, legumes e verduras oferece garantia contra a deficiência da maior parte de vitaminas e minerais, aumentando a resistência às infecções. Outra vantagem nutricional das frutas, legumes e verduras e também dos grãos e das leguminosas é que eles possuem compostos bioativos, que exercem funções biológicas benéficas distintas (ALBERT et al., 2002; BRASIL, 2005). Segundo Anjo (2004), esses compostos conferem aos alimentos a propriedade de trazer benefícios para a saúde através da prevenção e tratamento de doenças, sendo denominados alimentos funcionais. Segundo o autor, entre estes compostos se incluem: fitoquímicos, terpenóides (carotenóides e fitoesteróis), compostos nitrogenados (glucosinolatos), metabólicos fenólicos (flavonóides e antocianinas), ácidos graxos (ômega-3), oligo e polissacarídeos (fibras) e prebióticos. Historicamente, não era costume dos brasileiros consumir com frequência uma grande variedade de frutas e verduras (OLIVEIRA, 2006). Segundo Silva (2006), apesar da enorme quantidade de árvores na região, naturais ou cultivadas, o consumo de frutas frescas não era comum entre a população. O consumo destes alimentos foi incentivado com a instalação da cozinha portuguesa no Brasil, quando ocorreu o plantio regular das plantas hortenses indispensáveis na alimentação do colonizador europeu e por ele trazidas de Portugal. A participação africana e ameríndia foi notoriamente inferior e, em se tratando dos negros, as verduras não representavam valores reais em seu cardápio (CASCUDO, 2004). Segundo Oliveira (2006), o consumo de FLV também foi estimulado pela chegada dos imigrantes italianos, que cultivavam as hortaliças nas hortas domésticas e as comercializavam, aumentando a oferta desses produtos aos brasileiros. Mesmo com essas contribuições, o consumo desses alimentos permaneceu baixo, uma vez que, de acordo com Cascudo (2004), as hortaliças que foram legítimos alimentos passaram vagarosamente à classe dos complementos desde que a alimentação sofreu modificações pela facilidade aquisitiva das carnes, resistindo apenas os fundamentos tradicionais inabaláveis. Segundo as estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), no Relatório Mundial da Saúde apresentado em 200313, a baixa ingestão de frutas, legumes e verduras, está entre os 10 principais fatores de risco que contribuem para mortalidade no mundo, 12 SCRIMSHAW, N. Infection and nutrition: synergistic interactions. In: KIPLE K,; ORNELAS, K. (Eds). The cambridge world history of food. New York: Cambridge University Press, 2000. 13 WORLD HEALTH ORGANIZATION. The World Health Report 2003. Shaping the future. Geneva: WHO, 2003. 60 aumentando o risco de doenças crônicas não transmissíveis como as cardiovasculares e alguns tipos de câncer. Se o consumo de frutas, legumes e verduras fosse adequado, estima-se que até 2,7 milhões de vidas poderiam ser salvas anualmente em todo o mundo (CASTAÑOLA; MAGARIÑOZ; ORTIZ, 2004; GOMES, 2007; JAIME et al., 2007). Diante de todos esses benefícios encontrados no consumo de frutas, legumes e verduras, várias recomendações foram elaboradas a fim de orientar e estimular o consumo destes alimentos. Perante a necessidade mundial de diminuir a incidência de doenças crônicas não-transmissíveis, em 2002 a Organização Mundial da Saúde (OMS) propôs uma Estratégia Global de prevenção para promover práticas alimentares saudáveis (JAIME; MONTEIRO, 2005). Entre as recomendações da Estratégia Global, tem sido priorizado, em âmbito internacional, o incentivo ao aumento do consumo de frutas, legumes e verduras. A Organização Mundial da Saúde14 recomenda o consumo de, pelo menos, 400 g de frutas, legumes e verduras por dia ou cinco porções destes alimentos ao dia ou cerca de 7% a 8% do valor calórico de uma dieta de 2.200 kcal/dia, para redução do risco de desenvolvimento de câncer e prevenção de DCNT, como doenças cardiovasculares, câncer, diabetes e obesidade. O relatório especifica que os tubérculos, como batatas e mandioca, não devem ser incluídos entre as frutas, legumes e verduras (ANDRADE, 2007; BRASIL, 2005; JAIME et al., 2007). De acordo com Figueiredo, Jaime e Monteiro (2008), o Ministério da Saúde do Brasil recomenda o consumo diário de três porções de frutas e três porções de legumes e verduras em seu Guia Alimentar (BRASIL, 2005), salientando a importância de diversificar o consumo desses alimentos nas refeições no decorrer da semana. Apesar dessas evidências, o consumo de dietas ricas em gordura e pobres em frutas, vegetais e cereais integrais ainda é elevado, tanto em países desenvolvidos quanto nos em desenvolvimento, especialmente no Brasil (NEUTZLING et al., 2007). Estudos realizados entre os anos de 1974 e 2003 verificaram que frutas e hortaliças correspondiam a apenas 2,3% das calorias totais da dieta, o que equivale a aproximadamente um terço do recomendado pela OMS (LEVY-COSTA et al., 2005). Para alcançar o consumo recomendado como saudável para esses grupos de alimentos, é preciso aumentar em quase três vezes o consumo médio atual da população brasileira (BRASIL, 2005). 14 WORLD HEALTH ORGANIZATION. Diet, nutrition and the prevention of chronic disease. Geneva: 2003. 61 Segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2002-2003 (IBGE, 2004), a participação desses grupos de alimentos no valor energético da alimentação das famílias brasileiras variou entre 3% e 4% do VET, entre 1974 e 2003. Esta mesma pesquisa constatou que nem mesmo as famílias de maior renda consumiam o valor mínimo recomendado, mas entre famílias de mais alta renda o consumo chegou a ser seis vezes maior do que entre as famílias mais pobres. O estudo de Jaime e Monteiro (2005), realizado entre janeiro e setembro de 2003 na população adulta brasileira (maior de 18 anos), estimou indicadores do consumo de frutas e verduras em adultos brasileiros, constatando que somente 41% dos adultos relataram consumo diário de frutas, enquanto 30% relataram consumo diário de verduras. Os autores constataram que o consumo de frutas e hortaliças é maior nas áreas urbanas do que nas áreas rurais e aumenta com a idade e escolaridade dos indivíduos e com o número de bens no domicílio, em ambos os sexos. Já na pesquisa de Figueiredo (2006), realizada com 1267 mulheres e 855 homens com idade superior a 18 anos no município de São Paulo – SP, foi observado consumo diário de 46,7% em relação às frutas, 49,6% verduras cruas e 21,3% de verduras cozidas, sendo este consumo maior entre mulheres que homens. Para ambos os sexos, verificou-se que as variáveis idade, anos de estudo, prática de atividade física, prática de dieta no ano anterior e consumo de peixe estavam diretamente associadas ao consumo de FLV. A densidade domiciliar foi inversamente associada ao consumo destes alimentos. Em estudo realizado em outro país em desenvolvimento15, os limitantes do baixo consumo de frutas e hortaliças foram: preços elevados (diante dos demais alimentos e em comparação com a renda das famílias); sistemas ineficientes de produção, distribuição e comercialização dos vegetais e desconhecimento da população sobre a importância desses alimentos para a saúde, sobretudo com relação às hortaliças (JAIME et al, 2007). Sobre o consumo de frutas, verduras e legumes pelos adolescentes, vários estudos têm sido conduzidos a fim de quantificá-lo e conhecer seus determinantes, tanto no Brasil como em outros países. O estudo realizado por Albert et al. (2002) em um colégio privado de Caracas – Venezuela estimou o consumo de frutas e hortaliças em 146 adolescentes de classe média e alta. Entre 70% a 85% dos alunos apresentaram um consumo adequado (5 a 9 porções de 15 MONTEIRO, C.A. Setting up a fruit and vegetable promotion initiative in a developing country. In: WHO. Fruit and vegetable promotion initiative – report of the meeting. Geneva; 2003. 62 frutas e hortaliças por dia) ou acima do recomendado e de 15% a 30% não consumiram as porções recomendadas, devido à falta de sabor, de disponibilidade na cantina e de hábito. Em Buenos Aires – Argentina, Castañola, Magariñoz e Ortiz (2004) procuraram conhecer a ingestão de FLV por uma população de adolescentes saudáveis de 10 a 18 anos da região metropolitana, que procuraram serviços públicos e privados de saúde entre outubro de 2000 a agosto de 2001. Utilizando o recordatório alimentar de 24 horas do dia anterior, observou-se que quase 70% dos adolescentes não ingeriram porção alguma de vegetais e frutas, cerca de 28% somente uma ou duas porções ao dia e apenas 1% ingeriram cinco ou mais porções por dia. Segundo Gambardella, Frutuoso e Franch (1999), estudos sobre a alimentação de grupos de adolescentes brasileiros apontam a ocorrência de inadequada ingestão alimentar com carência de produtos lácteos, frutas, hortaliças e alimentos fontes de vitamina C, ao mesmo tempo em que havia consumo em excesso de açúcar e gordura. Toral et al. (2006) avaliaram o comportamento alimentar de adolescentes de 10 a 19 anos de 2 escolas do SENAI de São Paulo, entre novembro e dezembro de 2003. Os autores verificaram que apenas 12,4% e 10,3% consumiam frutas e verduras, respectivamente, conforme o recomendado pela Pirâmide Alimentar, sendo que o consumo inferior a uma porção diária representava 50% da amostra total, em relação ao consumo de frutas, e 38,9% para verduras. Observou-se uma discrepância entre o consumo referido e a percepção alimentar, tendo em vista que 79,7% e 83,7% dos adolescentes acreditavam, erroneamente, que seu consumo de frutas e verduras, respectivamente, era saudável. Vieira et al. (2002), em estudo realizado entre setembro de 1998 a julho de 1999, com uma população de 185 adolescentes entre 18 e 19 anos de ambos os sexos, matriculados no primeiro ano em cursos de graduação de uma universidade pública brasileira, verificaram que os alimentos pertencentes ao grupo das hortaliças e frutas são frequentemente rejeitados pelos adolescentes, constatando que 79,5% dos estudantes citaram não consumir pelo menos um alimento do grupo de hortaliças e 25,4% disseram rejeitar uma ou mais frutas. No estudo de Toral (2006) realizado em novembro de 2004 com 390 adolescentes entre 10 a 19 anos de ambos os sexos de 11 escolas públicas de Piracicaba - SP, observou-se que o consumo médio de frutas e hortaliças foi de 2,3 e 2,4 porções diárias, respectivamente. Cerca de 45% dos adolescentes não atingiram a recomendação mínima de consumo de duas porções de frutas e de duas porções de hortaliças ao dia. Andrade (2007), em estudo realizado entre 2001-2002 com 1584 adolescentes de 12 a 19 anos do estado de São Paulo, concluiu que os valores médios dos componentes do 63 IQD (Índice de Qualidade da Dieta) apresentaram-se mais baixos para frutas, verduras e legumes, ou seja, a população estudada apresentava baixo consumo destes alimentos. Observou também que 59,4% dos adolescentes não consumiram nenhuma porção de fruta no dia anterior à entrevista. Nunes, Figueiroa e Alves (2007), em pesquisa realizada em 2004 com 588 adolescentes de 10 a 19 anos, matriculados em uma escola pública e outra privada, em Campina Grande - Paraíba, observaram baixo consumo de frutas, pois 4,5% dos alunos não as consumiam diariamente, sendo este consumo maior nas classes econômicas mais baixas. Já a pesquisa de Silva et al. (2009) realizada entre fevereiro e março de 2006 com 720 adolescentes de 14 a 19 anos de 12 escolas públicas de Fortaleza-CE, concluiu que os alimentos reguladores como frutas e hortaliças/folhosos não têm consumo habitual entre os adolescentes, já que apenas 34,3% e 47,6%, respectivamente, os consomem. Esses escassos estudos realizados com a população adolescente nos mostram que o consumo de frutas, legumes e verduras por essa faixa etária é baixo em todo o país. Diante da importância nutricional destes alimentos, que são ricos em fibras, vitaminas, minerais e compostos bioativos, e da baixa ingestão de FLV registrada na literatura, é necessário conhecer este consumo na população adolescente de Formiga – MG, bem como os fatores que o influenciam. Isso poderá auxiliar no diagnóstico e implantação de programas de educação nutricional para esta população. 64 4 METODOLOGIA Com o fim de verificar o consumo de FLV e a relação deste com os diferentes fatores intervenientes, realizou-se um estudo transversal, observacional e de natureza quantitativa. Foi do tipo observacional, pois pretendeu avaliar a existência de associação entre um determinado fator e um desfecho, sem intervir diretamente na relação analisada (TURA, 2002). Além disso, foi de corte transversal, que, de acordo com Tura (2002), é o mais simples dos estudos observacionais, pois o pesquisador vê a associação entre a exposição e o desfecho em apenas um instante na linha do tempo, sendo possível avaliar a prevalência e a força da associação entre eles. Ainda segundo o autor, o estudo transversal é de fácil execução, baixo custo, simples de analisar e rápido, porém não estabelece uma sequência de eventos e pode sofrer efeito de algum viés. Foi adotada neste estudo a metodologia da pesquisa quantitativa, que propicia a investigação de dependência e significância entre as variáveis estudadas. Esta foi complementada por informações qualitativas escritas pelos pais e pela observação dos entrevistadores no momento da coleta de dados. 4.1 População e local do estudo Para a realização da pesquisa, primeiramente foi escolhida a faixa etária adolescente, devido ao crescente aumento da prevalência da obesidade nesta faixa etária, causada, entre outros, pela baixa ingestão de FLV. Em seguida foram escolhidas as escolas como campo de estudo, uma vez que nelas se encontram agrupamentos de adolescentes, o que proporcionaria encontrar de forma mais rápida e prática a amostra dos adolescentes para a pesquisa. O município de Formiga foi escolhido para a realização do estudo por ser o local onde a autora desenvolve suas atividades profissionais e que deu origem à problemática da pesquisa. A pesquisa foi realizada em adolescentes escolares com faixa etária entre 10 e 19 anos, de ambos os gêneros, regularmente matriculados nas séries finais (6ª a 9ª) do Ensino Fundamental das Escolas Municipais de Formiga – MG. 65 O Município de Formiga possui uma área de 1.501,02 Km2, está localizado na região Centro Oeste de Minas, situado a 194 Km da Capital Belo Horizonte (FIG. 1). Faz limite com os municípios de Santo Antônio do Monte, Pedra do Indaiá, Itapecerica, Camacho, Candeias, Cristais, Guapé, Pimenta, Córrego Fundo, Pains e Arcos (FORMIGA, 2008). FIGURA 1 – Localização do município de Formiga no estado de Minas Gerais. Fonte: WIKIPÉDIA, 2008. Segundo o último censo populacional realizado pelo IBGE em 2007, a população do município é de 64.585 habitantes. O município possui uma densidade populacional de 42,98 hab./km², PIB anual de R$ 342.917.000,00 e PIB per capita anual de R$ 7.749,00 (IBGE, 2008; FORMIGA, 2008). Quanto à educação, a Prefeitura Municipal de Formiga - MG conta com dez escolas municipais de Ensino Fundamental localizadas na zona urbana, onde somente três trabalham com as séries finais do Ensino Fundamental (6° ao 9° ano) (PREFEITURA MUNICIPAL DE FORMIGA, 2009). Dessas três escolas, realizou-se a pesquisa em apenas duas, uma vez que uma das escolas impossibilitou a participação de seus alunos no estudo. As outras duas escolas manifestaram-se favoráveis quanto à sua participação no estudo. A realização da pesquisa nas duas escolas propiciou que o tamanho da amostra fosse atingido entre seus alunos, além de permitir a comparação de dois perfis sócioeconômicos distintos. A escola A estava localizada na região central, em um bairro de maior nível sócio-econômico, cujos alunos residiam, em sua maioria, na zona urbana. Já a escola B se encontrava em um bairro periférico, de baixo nível sócio-econômico, em que a maioria de seus alunos residiam na zona rural. 66 4.2 Amostragem O número total de alunos regularmente matriculados entre a 6ª e a 9ª série do Ensino Fundamental no município de Formiga – MG, obtido junto a Secretaria Municipal de Educação em novembro de 2008, foi de 1150 alunos. Com o fim de calcular o tamanho da amostra, utilizou-se a fórmula para populações finitas (RICHARDSON, 1985): σ2. p . q . N n= e2 (N-1) + σ2 p.q Para a fórmula acima, tem-se que: n= tamanho da amostra, σ2= nível de confiança escolhido, p= percentagem com a qual o fenômeno se verifica, q= percentagem complementar (100-p), N= tamanho da população e e2= erro máximo permitido. Estipulou-se que p seria a ocorrência do consumo adequado de frutas, legumes e verduras pelos adolescestes, fixando este valor em 15%, de acordo com resultados obtidos em estudos semelhantes (TORAL et al., 2006). Com base neste cálculo, chegou-se a um tamanho amostral de 133 alunos, com intervalo de confiança de 95% e erro máximo de 5%. Como critérios de inclusão na amostra, o participante deveria ter entre 10 a 19 anos, estar matriculado entre a 6ª e a 9ª série do Ensino Fundamental, desejar participar voluntariamente da pesquisa e ter o consentimento dos pais e/ou responsáveis para participação na pesquisa. Os critérios de exclusão foram: participante fora da faixa etária, não estar matriculado nas séries estipuladas, não concordância dos pais e/ou responsáveis, não assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido, falta de preenchimento dos questionários e desistência da participação na pesquisa. Primeiramente as duas escolas foram contactadas para explicação dos objetivos da pesquisa, agendamento das datas e cronograma da coleta de dados. No que se refere à participação dos alunos, foi feito um convite para todos os alunos das duas escolas, matriculados da 6ª a 9ª série do Ensino Fundamental, sendo entrevistados aqueles que se enquadraram nos critérios de inclusão. 67 4.3 Coleta de Dados A coleta de dados ocorreu entre os meses de fevereiro e abril de 2009. O primeiro contato com os alunos foi feito em sala de aula, sendo explicados os objetivos da pesquisa e entregue uma carta aos pais (APÊNDICE A), o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (APÊNDICE B) e um questionário com questões sócio-econômicas e de consumo alimentar (APÊNDICE C). Estes deveriam ser preenchidos pelos pais e/ou responsáveis e devolvidos à pesquisadora em até uma semana. Num segundo momento, foi verificada a lista dos adolescentes cujos pais autorizaram a participação na pesquisa, assinando o TCLE, e que responderam o questionário sócio-econômico e de consumo alimentar. Estes adolescentes foram entrevistados e avaliados nutricionalmente em espaço reservado em cada escola, durante o período de aula. Esta entrevista se deu por meio de um questionário estruturado (APÊNDICE D), sendo realizada individualmente, tendo como duração média 15 minutos. Nesta, foram coletadas informações sobre o consumo alimentar de frutas, legumes e verduras e os fatores que o influenciam, conforme a metodologia adotada por Toral et al. (2006). O consumo de frutas, legumes e verduras foi avaliado, respectivamente, por meio das seguintes perguntas: “Com que frequência você consome frutas ou suco de frutas natural”? e “Com que frequência você consome verduras e legumes”? O adolescente foi orientado a optar por uma das cinco alternativas: consumo diário, semanal, mensal, raramente e nunca. Caso o consumo fosse diário, semanal ou mensal, o participante era questionado sobre o número de vezes por dia, semana ou mês em que consumia o citado alimento e, em seguida, quantas porções do mesmo eram habitualmente consumidas em cada vez (TORAL et al., 2006). Para facilitar o entendimento dessa questão e a obtenção de sua resposta, o adolescente era informado sobre o conceito de “porção”, sendo dados alguns exemplos de porção de frutas, legumes e verduras, com base no Guia alimentar para a população brasileira (BRASIL, 2005). Em seguida, foi calculado o consumo médio de porções diárias de frutas, bem como o de legumes e verduras. No caso de consumo diário, foi feita a multiplicação do número de porções pelo número de vezes ao dia em que as mesmas eram consumidas. Para o semanal, foi feita a multiplicação entre o número de vezes por semana e o número de porções consumidas por vez, dividindo-se, então, o valor obtido por 7. Caso fosse referido consumo 68 mensal desses alimentos, o resultado da multiplicação entre o número de vezes por mês e o número de porções consumidas em cada ocasião era dividido por 30 (TORAL et al., 2006). O consumo médio de porções diárias, assim obtido, foi comparado às recomendações de consumo de frutas, legumes e verduras sugeridas pela Pirâmide Alimentar proposta por Philippi et al. (1999). Sugere-se como adequado o consumo de 4 a 5 porções diárias de legumes e verduras e de 3 a 5 porções diárias de frutas. Por questões metodológicas foi considerada uma casa decimal para o número de porções consumidas: estabeleceu-se que a faixa adequada em relação a frutas seria de 2,5 a 5,4 porções e para os legumes e verduras, de 3,5 a 5,4 porções (TORAL et al., 2006). Na entrevista, além da frequência do consumo de frutas, legumes e verduras, cada adolescente foi questionado a respeito de seu comportamento alimentar em relação ao consumo de frutas, legumes e verduras, com base em informações como: fatores que impedem o consumo desses alimentos, gosto ou desgosto por FLV, benefícios no consumo e hábito familiar e pregresso desse consumo. Ao final da entrevista, os adolescentes foram submetidos à aferição de medidas antropométricas para a classificação de seu estado nutricional. Foram coletadas as seguintes informações de cada participante: sexo, idade e dados antropométricos (peso e altura). Segundo Albano e Souza (2001), na adolescência a antropometria é especialmente importante para a avaliação do estado nutricional porque permite monitorar a evolução das modificações do crescimento, visto que durante a fase de crescimento o indivíduo pode estar sujeito tanto aos déficits nutricionais quanto aos excessos. Para a avaliação do peso corporal, foi utilizada uma balança eletrônica portátil, marca Plenna®, com capacidade máxima de 150,0 kg e sensibilidade de 100g. A balança foi calibrada e estrategicamente colocada em nível plano e desencostada da parede. Durante a pesagem, os adolescentes deveriam estar descalços e usando roupas leves. O avaliado permaneceu de pé sobre a plataforma da balança, no centro da mesma, com o peso do corpo distribuído igualmente em ambos os pés e com os braços ao lado do corpo. A massa foi registrada em quilos (kg) e gramas (g) (WHO, 1995). A estatura foi verificada com o uso do estadiômetro vertical portátil da marca Seca®, com capacidade de 200 cm e escala de variação de 0,1 cm, que foi colocado em parede lisa e sem rodapé, conforme preconizado pela OMS (1995). Durante a aferição da estatura, os alunos deveriam manter os pés juntos, plantas dos pés apoiadas totalmente no chão, calcanhares encostados na parede, postura ereta, braços estendidos ao longo do corpo, com olhar fixo no horizonte (para frente) e sem flexionar ou estender o pescoço. Em seguida, 69 posicionou-se a barra horizontal do estadiômetro até mantê-la apoiada sobre a cabeça, sendo então efetuada a leitura da estatura em centímetros. Tanto o peso quanto a estatura foram aferidos em duplicata, sendo adotado o valor médio das duas medidas para o cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC), definido como a relação entre o peso em quilogramas e a altura em metros elevada ao quadrado (kg/m2). Após o cálculo, os adolescentes foram classificados conforme a tabela do IMC de acordo com o sexo e a idade em percentis, segundo a classificação utilizada pelo Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN) do Ministério da Saúde (BRASIL, 2004), a partir dos pontos de corte recomendados pela Organização Mundial de Saúde (WHO, 1995) (TAB. 2). Segundo Andrade, Pereira e Sichieri (2003) o “Índice de Massa Corporal (IMC) é um método de avaliação nutricional de baixo custo e fácil realização” e apresenta baixa margem de erro, desde que as técnicas sejam efetuadas adequadamente (ALBANO; SOUZA, 2001). TABELA 2 Classificação do estado nutricional de acordo com os percentis de IMC. Percentil <5 ≥ 5 e < 85 ≥ 85 e < 95 ≥ 95 Fonte: WHO, 1995. Diagnóstico Baixo Peso Adequado (Eutrofia) Sobrepeso Obesidade 4.3.1 Treinamento dos Pesquisadores de Campo Foi realizado um treinamento com dois pesquisadores de campo para a coleta de dados, incluindo a aferição de medidas antropométricas (peso e estatura) e execução das entrevistas. O treinamento teve como objetivo orientar os pesquisadores de campo quanto à forma de preencher os documentos referentes à pesquisa e abordar os adolescentes para coletar os dados solicitados no questionário. 70 4.4 Variáveis do estudo 4.4.1 Variável Dependente A variável de desfecho deste estudo é a relacionada à frequência do consumo de frutas, legumes e verduras pelos adolescentes, quantificada em número de porções diárias e categorizada em consumo adequado, superior ou inferior às recomendações. 4.4.2 Variáveis Independentes a) Variáveis biológicas: • Sexo: masculino ou feminino; • Faixa etária: 10 a 13 anos e de 14 a 16 anos; • Raça: branca, negra, parda ou amarela; • Estado nutricional do adolescente: baixo peso, eutrofia, sobrepeso e obesidade. b) Variáveis sócio-econômicas e culturais: • Renda per capita: razão entre a renda familiar (em salários mínimos) e o número de moradores do domicílio: <1⁄4 SM, 1⁄4 a 1⁄2 SM, 1⁄2 a 1 SM e >1 salários mínimos per capita; • Densidade domiciliar: razão entre o número de moradores e o número de cômodos no domicílio: <1,0, 1,0-2,0 e >2,0 habitantes por domicílio; • Local de moradia: zona urbana ou zona rural; • Percentual da renda familiar gasto mensalmente com frutas, legumes e verduras: <3%, 4-6%, 7-10%, 11-15% e >16%; • Escolaridade dos pais: alfabetizado, ensino fundamental, ensino médio e ensino superior; • Consumo de frutas, legumes e verduras pelos pais: diariamente, semanalmente, mensalmente, raramente e nunca. 71 4.5 Digitação e processamento dos dados Após a coleta, os dados do presente estudo foram codificados e digitados com o auxílio do software Microsoft Office Excel 2003, sendo os resultados expressos em gráficos e tabelas. 4.6 Análise estatística Para a análise estatística foram utilizadas medidas de tendência central e de dispersão, além de avaliar a associação entre as variáveis com o Teste do Qui-Quadrado e o Teste G, usado as correções de Yates e Williams. Para todas as análises de interesse, estabeleceu-se um nível de significância de 5%. A análise estatística do estudo foi realizada com o auxílio do programa de computador BioEstat versão 5.0. 4.7 Considerações éticas Esta pesquisa levou em conta os princípios éticos de respeito pela autonomia das pessoas, bem como a obrigação ética de aumentar ao máximo os benefícios e reduzir ao mínimo os danos, não oferecendo qualquer risco aos adolescentes, uma vez que os métodos utilizados na coleta de dados foram de simples obtenção e não invasivos. Em todo o processo da pesquisa, especialmente durante a coleta de dados, foram obedecidos aos princípios éticos dispostos na Resolução Nº. 196/96, do Conselho Nacional de Saúde, especificamente, no seu artigo IV, que aborda o respeito à autonomia do participante da pesquisa, garantindo-lhe, entre outros direitos, o seu consentimento livre e esclarecido, o sigilo das informações e a privacidade (BRASIL, 1996). Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Fundação Educacional de Divinópolis (FUNEDI / UEMG) em 18/12/2008, através do Parecer nº. 36/2008 (ANEXO A). 72 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram pesquisados 139 alunos matriculados nas séries finais do ensino fundamental de duas escolas municipais de Formiga - MG, representando 12,08% dos alunos matriculados nestas séries no município. A amostra foi composta por 72 adolescentes do sexo feminino (51,79%) e 67 do sexo masculino (48,20%). A idade média foi de 12,44 anos, sendo que a mínima foi de 10 anos e a máxima de 16 anos. A mediana da idade foi de 13 anos, com desvio-padrão de 1,37. No GRAF. 1 encontra-se a distribuição percentual da idade dos participantes. 4% 1% 4% 10 anos 18% 30% 11 anos 12 anos 13 anos 14 anos 15 anos 29% 14% 16 anos GRÁFICO 1 – Idade dos participantes da pesquisa. Formiga, 2009. Quanto à etnia auto-referida pelos participantes, 48,14% pertenciam à etnia branca, 18,51% à negra e 33,33% se declararam pardos. Para a realização da pesquisa, foi pedido que os pais ou responsáveis respondessem a um questionário socioeconômico e de consumo alimentar. A maioria dos respondentes (76,97%) pertencia ao sexo feminino e 23,02% ao sexo masculino. Sobre o estado civil, 62,13% eram casados, seguido por 28,15% solteiros, 6,79% divorciados e 2,91% viúvos. Ao serem questionados sobre sua escolaridade, a maioria (43,65%) afirmou ser apenas alfabetizado, 25,39% cursaram o ensino fundamental incompleto, 15,87% o ensino fundamental completo, 3,17% o ensino médio incompleto, 6,34% concluíram o ensino médio, 4,76% cursaram o superior incompleto e apenas 0,79% concluíram o curso superior. Sobre a profissão dos respondentes, estas foram agrupadas em: ligadas ao comércio, trabalho rural, indústria, serviços gerais, serviços, funcionalismo público e outras 73 (GRAF. 2). A maioria (35,48%) exercia outras profissões (autônomos, vendedores, etc.), seguida por serviços gerais (22,58%), indústria (16,12%), trabalhadores rurais (13,70%), setor de serviços (7,25%), comércio (2,41%) e funcionalismo público (2,41%). 2% comércio 14% trab. rural 36% indústria 16% serv. gerais serviços 2% func. público 7% 23% outros GRÁFICO 2 – Profissão dos pais e/ou responsáveis pesquisados. Formiga, 2009. Além de entrevistar os adolescentes, fizemos aos pais e/ou responsáveis alguns questionamentos sobre seu consumo de FLV. A totalidade afirmou consumir as frutas (96,35%) e os legumes e verduras (97,81%). Sobre a frequência desse consumo, podemos observar no GRAF. 3, onde a maioria dos pais apresentou um consumo diário de frutas 70,37 (48,48%) e de legumes e verduras (70,37%). 80,00 60,00 48,48 70,00 50,00 frutas 27,27 verduras 2,22 10,00 1,52 1,48 20,00 8,15 11,36 30,00 11,36 17,78 % 40,00 0,00 diário semanal mensal raro nunca GRÁFICO 3 – Frequência do consumo de frutas, legumes e verduras pelos pais e/ou responsáveis. Formiga, 2009. 74 Sobre a renda familiar dos participantes, observou-se que 44,44% das famílias tinham uma renda total mensal de 1 salário-mínimo (SM) vigente (R$ 465,00), representando a maioria dos pesquisados (GRAF. 4). 8% 2% 3% 1% 1 SM 2% 1,5 SM 45% 2 SM 2,5 SM 3 SM 20% 3,5 SM 4 SM 5 SM 19% GRÁFICO 4 – Renda familiar (em salários-mínimos) dos participantes. Formiga, 2009. Ao analisar a renda per capita destas famílias (GRAF. 5), observou-se que a maioria (41,08%) vive com ¼ a ½ salário-mínimo por mês (R$ 116,25 a 232,50) estando em pobreza; seguidos por 38,75% que vivem com menos de ¼ do salário mínimo por mês (R$ 116,25), estando em extrema pobreza. Estes dados nos demonstram que a maioria da população estudada pode ser classificada como de baixa renda. 19% 2% 39% <¼ SM ≥¼ <½ SM ≥½ <1 SM ≥1 SM 40% GRÁFICO 5 – Renda familiar per capita dos participantes (em saláriosmínimos). Formiga, 2009. Foi visto também que na maioria das famílias (51,12%), apenas uma pessoa trabalhava, sendo responsável pelo sustento financeiro da casa, seguido por 38,34% das 75 famílias sustentadas por duas pessoas, 6,01% por três pessoas e 4,51% por quatro ou mais pessoas. A densidade domiciliar (número de habitantes por cômodo no domicílio) média foi de 0,86 hab./cômodo, variando de 0,25 a 5 habitantes por cômodo. A grande maioria das famílias (49,27%) tinha uma densidade entre 0,5 a 0,9 habitantes/cômodo, seguida por 24,63% que tinham entre 1 a 1,4, 20,28% menos de 0,5, 3,62% entre 1,5 a 1,9 e 2,17% tinham uma densidade domiciliar maior que 2 habitantes por cômodo. Quanto ao acesso a serviços de água/esgoto, energia elétrica, eletrodomésticos e eletrônicos, foi visto que a totalidade tinha rede de energia elétrica e a grande maioria possuía rede de água/esgoto, geladeira e televisores, conforme nos mostra a TAB. 3. Já em relação ao computador, foi visto que grande parte dos entrevistados ainda não o possuía em seus domicílios. TABELA 3 Acesso a serviços de água/esgoto, energia elétrica e eletrodomésticos. Formiga, 2009. Serviço/Bem Água /esgoto Energia elétrica Geladeira Computador TV Sim (%) 88,64 100 99,27 24,61 96,33 Não (%) 11,36 0 0,73 75,39 3,67 Ao serem questionados sobre o local de moradia, 62,77% afirmaram morar na zona urbana e 37,22% na zona rural do município. 5.1 Estado Nutricional dos adolescentes Observou-se que a maioria dos participantes (75,53%) encontrava-se em eutrofia, ou seja, apresentavam peso dentro do normal para a idade e altura. Porém, 7,91% encontravam-se abaixo do peso, 11,51% com sobrepeso e 5,03% com obesidade, conforme apresentado no GRAF. 6. Ao analisar o estado nutricional por sexo, observou-se que o sexo feminino apresentou maiores percentuais de baixo peso (11,11%), sobrepeso (13,88%) e obesidade (5,55%) que o sexo masculino (4,47%, 8,95% e 4,47%, respectivamente). Pelo contrário, o 76 sexo masculino apresentou um maior percentual de eutrofia (82,08%) que o sexo feminino 69,44 90 75,53 82,08 (69,44%). Estas diferenças não foram estatisticamente significativas (p= 0,333). 80 70 60 50 Masculino % Feminino 40 Total 10 5,03 5,55 4,47 13,88 11,51 8,95 7,91 11,11 20 4,47 30 0 Baixo Peso Eutrofia Soprepeso Obesidade GRÁFICO 6 – Estado nutricional dos adolescentes. Formiga, 2009. Resultados semelhantes foram encontrados por Garcia, Gambardella e Frutuoso (2003) em adolescentes da cidade de São Paulo, onde 78,4% encontravam-se na faixa de normalidade, 11,8% sobrepeso, 7,8% obesidade e 2,0% baixo peso. Em contrapartida, no estudo de Silva e Balaban (2000), em uma escola privada de Recife, o sobrepeso e a obesidade foram maiores nos adolescentes do sexo masculino (35,7% e 9,7%) do que nos do sexo feminino (11,2% e 4,2%, respectivamente), o que é oposto ao encontrado em nosso estudo, onde o sexo masculino apresentou maior prevalência de eutrofia e o feminino de baixo peso e excesso de peso. Esse maior percentual de inadequação de peso no sexo feminino pode levar as adolescentes a desenvolver distúrbios na autoimagem corporal. Além disso, estas se tornam alvo da mídia voltada para o público feminino, que preconiza um padrão de beleza centrado na magreza, criando referenciais de moda e estética e fazendo com que as adolescentes recorram à prática indiscriminada de dietas da moda e de uma alimentação inadequada nutricionalmente, afetando seu consumo alimentar. 77 5.2 Aspectos relacionados à aquisição de FLV Neste estudo, procuramos conhecer o consumo de frutas, legumes e verduras pelos adolescentes. Para isso, além de entrevistá-los, questionamos os pais sobre alguns aspectos relativos a este consumo, como o preço, acesso e às compras destes produtos. Sobre o preço destes alimentos no comércio, 43,08% dos pais afirmaram que o preço impede o consumo e 56,91% que não impede. A maioria dos pais afirmou que os preços são “caros” (52,45%). Também o preço destes alimentos foi citado como “bom/razoável” (41,79%), “barato” (4,91%) e “não compro, planto” (0,81%). O preço elevado desses produtos, principalmente no período de entressafra, realmente se constitui uma barreira ao consumo de FLV. Claro et al. (2007), utilizando dados da POF 1998/99, no município de São Paulo, observaram que a diminuição do preço de FLV, seguida pelo aumento do preço dos demais alimentos e o aumento da renda familiar ocasionariam maior aumento no consumo de FLV. Os autores ainda constataram que a redução do preço das frutas produziria maior participação de FLV no total de alimentos do que a redução isolada dos preços de legumes ou verduras, pois as frutas constituem o componente principal do grupo de FLV. Vale ressaltar a ausência da participação da mídia no incentivo à venda e consumo desses alimentos, o que faz com que a procura e a valorização do consumidor por estes alimentos seja menor e portanto, o preço seja um limitante ao consumo. Porém, deve-se lembrar que estes alimentos têm um preço muito menor que o dos fast-foods e alimentos industrializados, o que nos faz refletir sobre a grande influência da mídia na decisão de compra do consumidor. Quanto ao acesso, 64,10% acham o acesso a esses alimentos “fácil”, 33,33% “difícil” e 2,56% “nem fácil, nem difícil”. O local (GRAF. 7) onde a maioria dos entrevistados citou fazer as compras de frutas, legumes e verduras foi no mercado (supermercados e armazéns), representando 57%, seguido pelo sacolão (35%), horta (5%) e feira (3%). Estes resultados são distintos dos encontrados por Martins, Margarido e Bueno (2007) que compararam as aquisições de FLV pela POF de 1981/82 e de 1998/99 na cidade de São Paulo. Os autores observaram que em 1981/82, 92,0% das frutas, 88% dos legumes e 82% das verduras eram adquiridas pelos consumidores em feiras livres, enquanto somente 5,0% das frutas, 7% dos legumes e 6% das verduras eram adquiridas em supermercados. 78 Contrastando com essa situação, em 1998/99, verifica-se que os supermercados ganharam considerável espaço relativamente às feiras livres, pois, na média, a aquisição em feiras livres caiu para 54,0% das frutas, 56% dos legumes e 62% das verduras, enquanto a aquisição em supermercados subiu para 33,0% para frutas e legumes e 28% para verduras. Também é importante ressaltar que os sacolões e varejões, criados no início da década de 1990, ocuparam o espaço das quitandas e, segundo dados da POF, em 1998/99 estes detinham 8% das vendas de frutas e legumes e 7% das vendas de verduras. Esta questão também foi estudada por Souza et al. (2008), que constataram que nos principais centros urbanos da região central do Rio Grande do Sul, a maioria dos consumidores adultos (59,77%) tem optado por adquirir os produtos em supermercados ou hipermercados, seguidos das fruteiras (sacolões), feiras livres e pequenos mercados de bairro. 5% 3% mercado sacolão 35% horta 57% feira GRÁFICO 7 – Local de compra de frutas, legumes e verduras pelos pais dos adolescentes. Formiga, 2009. Questionamos também sobre a frequência com que são feitas estas compras (GRAF. 8). A maioria dos entrevistados afirmou fazer compras toda semana (56%), seguido por mensalmente (19%), quinzenalmente (16%), diariamente (6%) e raramente (3%). Resultados semelhantes foram descritos por Souza et al. (2008), em estudo com a população adulta do Rio Grande do Sul, onde 39,85% dos entrevistados optavam por realizar suas compras de FLV uma vez por semana, 34,57% duas vezes por semana, 14,29% três vezes por semana e 9,77% diariamente. Estes dados são interessantes, pois quanto mais frequente é a aquisição, maior é a garantia da qualidade destes produtos, que são de rápida perecibilidade. Portanto, ao comprar esses alimentos semanalmente, os entrevistados podem adquirir vegetais de melhor qualidade e preço, evitando o desperdício. 79 19% 3% 6% diário semanal quinzenal mensal 16% 56% raro GRÁFICO 8 – Frequência das compras de frutas, legumes e verduras pelos entrevistados. Formiga, 2009. Sobre o gasto mensal com frutas, legumes e verduras, expresso em percentual da renda familiar (GRAF. 9), a média de gasto foi de 7,52%, variando de 0,71 a 21,5% do orçamento. O maior percentual (34%) se deu no grupo que gastava entre 7 a 10% do orçamento mensal com estes alimentos, sendo seguido por 28% do grupo que gastou entre 4 a 6%, 22% do grupo com gasto menor de 4%, 10% que gastava entre 11 a 15% e apenas 6% gastava mais de 16% do orçamento na compra de FLV. Estes resultados foram distintos aos encontrados por Claro et al. (2007), que analisaram dados da POF no município de São Paulo, observando em seu estudo que as despesas com alimentação corresponderam, em média, a 27,4% da renda mensal da família e tenderam a diminuir com o aumento da renda. O gasto com FLV correspondeu, em média, a 2,4% da renda mensal dos domicílios e a 10,2% do total de gastos com alimentação: 5,1% em frutas, 3,8% em legumes e 1,3% em verduras. Comparando estes dados com os de nosso estudo, observa-se que as famílias participantes de nossa pesquisa tinham um maior gasto com FLV (entre 7 a 10% da renda mensal) que na pesquisa descrita anteriormente. Segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares realizada em 2002-2003 (IBGE, 2004), as despesas com alimentação praticadas pelas famílias brasileiras representam 17,10% da despesa total, sendo o gasto com frutas de 4,18% e com legumes e verduras de 2,96%, valores semelhantes aos encontrados neste estudo. 80 10% 6% 22% < 4% ≥4 <7% ≥7 <11% ≥11 <16% 34% ≥16% 28% GRÁFICO 9 – Gasto mensal (em % da renda familiar) com frutas, legumes e verduras. Formiga, 2009. 5.3 Consumo de FLV pelos adolescentes Ao questionarmos os adolescentes sobre os benefícios do consumo de FLV, quase todos (96,40%) afirmaram conhecer os benefícios, contra 3,59% que não reconheciam benefícios em consumi-los. Dos benefícios mais citados, encontram-se: “trazer saúde e ser um alimento saudável” (47,36%), “proporcionar força e crescimento” (26,83%), “ser fonte de nutrientes e energia” (13,15%), “prevenir doenças” (6,84%) e “engordar” (2,63%). O fato dos alimentos vegetais serem considerados saudáveis e propiciarem saúde é algo amplamente aprendido nas escolas, divulgado na mídia e apregoado pelos profissionais de saúde, o que pode justificar o alto percentual de adolescentes que citaram este benefício. Isso mostra que os adolescentes, apesar de terem um baixo consumo de FLV, conhecem e acreditam nos benefícios do consumo destes alimentos, mostrando que muitas vezes o baixo consumo não está ligado à falta de informação, mas sim à falta de hábito. No estudo de Casotti et al. (1998), com 114 adolescentes de uma escola pública da cidade de Nova Iguaçu, município do Rio de Janeiro, os autores procuraram entender como os adolescentes avaliavam a qualidade nutricional dos alimentos, observando que as frutas foram apontadas como alimentos “bons para a saúde” e as verduras como “razoáveis para a 81 saúde”, o que corrobora com a tese de que os adolescentes conhecem os benefícios do consumo destes alimentos. Ao serem questionados sobre como se sentem ao consumir estes alimentos, a maioria afirmou se sentir “bem/mais saudável” (74,47%), seguido por “satisfeito/alegre” (10,32%), “normal” (6,89%), “forte” (6,87%) e “mal/não consome” (1,36%). Sobre as limitações a esse consumo (GRAF. 10), 74,10% afirmaram não haver impedimento e 25,89% afirmaram que realmente há alguns obstáculos que impedem o consumo desses alimentos. As maiores limitações citadas foram: “pais não comprarem” (24%), “não gostar” (22%), “faltar dinheiro” (17%) e “não ter em casa” (15%). caro 8% 22% dificil acesso 5% falta dinheiro 17% 3% pais não compram preguiça 3% não tem em casa 15% prefere guloseimas 3% 24% não tem hábito não gosta GRÁFICO 10 – Limitações ao consumo de FLV pelos adolescentes. Formiga, 2009. O fato de os pais não comprarem esses alimentos e de não haver disponibilidade deles em casa, está ligado, na maioria das vezes, à falta de recursos financeiros, pois ao analisar o perfil desta população se observa que a maioria é de baixa renda, o que limita bastante o orçamento para a compra destes alimentos. Há também o dilema da falta de acesso ao comércio destes alimentos, pois como muitos adolescentes entrevistados moram na zona rural do município, o acesso a FLV fica bem prejudicado e o consumo restrito aos alimentos plantados em casa, quando estão na safra. Ao questionarmos os pais sobre as barreiras deste consumo, 22,72% afirmaram haver impedimentos, sendo os mais frequentes: “falta de dinheiro” (50%), “preço” (26,47%), “acesso” (17,64%) e “não gostar” (5,88%). Todos estes motivos listados se tornam empecilhos ao consumo destes alimentos, tanto pelos pais como pelos filhos. 82 No estudo Salles-Costa (2007) com a população de Duque de Caxias - RJ, viu-se que as principais justificativas para o não consumo de frutas e verduras foram o custo, o fato de não gostar e a falta de hábito. Também se observou que entre as famílias que tinham problemas com falta de comida não havia consumo de frutas e verduras, em comparação com as famílias que não tinham esse problema, sendo essa diferença significativa. Sobre a preferência (gostar ou não) destes alimentos pelos adolescentes, a maioria afirmou gostar de consumi-los (89,20%), contra 10,79% que afirmaram não gostar. Os motivos mais citados para esse não gostar foram: “gostar mais de frutas” (60%), “preferência por outros alimentos” (5%), “falta de hábito” (15%) e “não gostar do sabor” (20%). Essa rejeição por FLV foi vista por Vieira et al. (2002), em estudo com adolescentes de uma universidade pública brasileira, onde constataram que 79,5% dos estudantes citaram não consumir pelo menos um alimento do grupo de hortaliças e 25,4% disseram rejeitar uma ou mais frutas. Também no estudo de Ximenes et al. (2006), com adolescentes de Recife – PE, foi visto que o grupo das hortaliças era o menos consumido (34,5%), o de menor preferência (20,4%) e o que tinha a maior aversão alimentar (55,5%) pelos adolescentes. Quanto ao consumo de vegetais na família, a maioria (89,85%) afirmou que na família esse consumo é frequente, diário e feito por todos. Porém, 2,89% afirmaram não haver hábito familiar, 0,72% disseram não ter esses alimentos em casa, 2,89% consumo infrequente na família e 3,62% afirmaram que na família todos consomem, menos ele (o adolescente pesquisado). Sobre a frequência do consumo de frutas, legumes e verduras pelos adolescentes (TAB. 4), observou-se que a maioria relatou um consumo diário (46,76% para frutas e 51,79% para legumes e verduras) e semanal (46,76% para frutas e 37,41% para legumes e verduras) destes alimentos. Resultados semelhantes foram encontrados por Salles-Costa (2007), em Duque de Caxias – RJ, que observou o consumo regular (consumo diário de pelo menos 5 vezes por semana) de frutas em 53% e o de verduras em 65% da população. Isto também foi visto por Vieira et al. (2002), em estudo com adolescentes de uma universidade pública brasileira, onde foi verificado que aproximadamente 72% dos pesquisados mencionaram consumir hortaliças cinco ou mais vezes na semana. Em oposição, Castañola, Magariñoz e Ortiz (2004), pesquisando adolescentes da área metropolitana de Buenos Aires – Argentina, observaram que quase 70% dos adolescentes não ingeriam porção alguma de vegetais e frutas, cerca de 28% somente uma ou duas porções 83 ao dia e apenas 1% ingeriam cinco ou mais porções por dia. O consumo infrequente foi visto também por Nunes, Figueiroa e Alves (2007), em Campina Grande – PB, onde 4,5% dos adolescentes não consumiam frutas diariamente, e por Silva et al. (2009), em Fortaleza – CE, onde apenas 34,3% e 47,6% dos adolescentes consumiam frutas e hortaliças/folhosos, respectivamente. TABELA 4 Frequência do consumo de frutas, legumes e verduras pelos adolescentes entrevistados. Formiga, 2009. Frutas Frequência de consumo Masculino n % Feminino n % Legumes e verduras p Total n % Masculino n % Feminino n % p Total n % Diário 30 44,77 35 48,61 0,11 65 46,76 26 38,80 46 63,88 0,004* 72 51,79 Semanal 34 50,74 31 43,05 65 46,76 29 43,28 23 31,94 52 37,41 Mensal 0 0 5 6,94 5 3,59 2 2,98 1 1,38 3 2,15 Raro 2 2,98 1 1,38 3 2,15 7 10,44 0 0 7 5,03 Nunca 1 1,49 0 0 1 0,71 3 4,47 2 2,77 5 3,59 100 67 100 72 100 139 100 Total 67 100 72 100 139 * diferença estatisticamente significativa (p<0,05). Analisando a frequência por sexo (GRAF. 11), observou-se que para o consumo de frutas, a maioria das adolescentes relatou consumo diário (48,61%), enquanto nos adolescentes do sexo masculino, o maior consumo se deu na frequência semanal (50,74%), porém esta diferença não foi estatisticamente significativa. Já para o consumo de verduras, o sexo feminino novamente relatou, em sua maioria, um consumo diário (63,88%), enquanto no masculino esse consumo era na maioria das vezes semanal (43,28%), sendo estatisticamente significante (p= 0,004). Estes dados nos sugerem que o consumo de legumes e verduras é diferente entre os sexos, sendo mais frequente no feminino que no masculino. Resultado semelhante ao encontrado por nosso estudo foi visto por Carvalho et al. (2001), em estudo com adolescentes de um colégio particular de Teresina – PI, onde a frequência de consumo de hortaliças folhosas foi maior entre as meninas (56,55%) do que entre os meninos (52,04%). Em estudo com a população adulta da cidade de São Paulo, Figueiredo, Jaime e Monteiro (2008) observaram que o consumo diário de frutas foi maior entre as mulheres (51,7%) e que o consumo diário de legumes foi duas vezes maior entre as mulheres do que entre os homens, sendo significante estatisticamente, o que se assemelha ao encontrado em nosso estudo. 84 Sobre o consumo de porções diárias de frutas, legumes e verduras, observou-se que o consumo médio de frutas foi de 1,74 porções diárias, com desvio-padrão de 2,13, variando de 0,06 a 12 porções diárias. Já o consumo de legumes e verduras variou de 0,06 a 8 porções por dia, tendo como média 2,06 porções ao dia e desvio-padrão de 1,95. Estes resultados se assemelham aos encontrados por Toral (2006), em uma amostra de adolescentes escolares de Piracicaba – SP, onde foi visto que o consumo médio de frutas e hortaliças foi de 63,88 2,3 e 2,4 porções diárias, respectivamente. 51,79 50 37,41 38,8 43,28 46,76 46,76 43,05 44,77 50,74 60 48,61 70 Diário 31,94 40 % Semanal 30 Mensal Raro Masc. Fem. Frutas 2,15 5,03 3,59 Nunca 0 2,77 1,38 1,38 0 0 0 2,98 1,49 10 3,59 2,15 0,71 6,94 2,98 10,44 4,47 20 Total Masc. Fem. Total Verduras GRÁFICO 11 – Frequência de consumo de frutas, legumes e verduras por sexo. Formiga, 2009. Comparando este consumo às recomendações baseadas na Pirâmide Alimentar, observou-se que a maioria dos adolescentes tinha um baixo consumo destes alimentos (79,09% para frutas e 75,58% para legumes e verduras). O consumo adequado de frutas foi verificado apenas em 14,17% dos entrevistados e o de legumes e verduras em 13,38%. Já o consumo elevado (superior às recomendações), foi verificado em 6,71% para frutas e 11,02% para legumes e verduras (GRAF. 12). Isto nos mostra que a maioria da população estudada apresenta um consumo de FLV inferior às recomendações. Estes resultados se assemelham aos encontrados por Toral et al. (2006) em adolescentes de São Paulo, onde apenas 12,4% e 10,3% consumiam frutas e verduras, respectivamente, conforme o recomendado pela Pirâmide Alimentar, sendo que o consumo 85 inferior a uma porção diária representava 50% em relação ao consumo de frutas e 38,9% para verduras. Em outro estudo, realizado em Piracicaba – SP, Toral (2006) observou que cerca de 45% dos adolescentes não atingiram a recomendação mínima de consumo de duas porções de frutas e de duas porções de hortaliças ao dia, percentual bem inferior ao encontrado em 75,58 80,7 71,42 81,25 90 77,14 79,09 nosso estudo. 80 70 60 50 Masculino % 11,02 15,78 7,14 3,5 4,68 8,57 6,71 14,17 20 13,38 Total 21,42 30 14,28 Feminino 14,06 40 10 0 Baixo Adequado Frutas Elevado Baixo Adequado Elevado Verduras GRÁFICO 12 – Adequação do consumo de frutas, legumes e verduras pelos adolescentes. Formiga, 2009. Sabe-se que a baixa ingestão de FLV está entre os 10 principais fatores de risco que contribuem para mortalidade no mundo, aumentando o risco de doenças crônicas não transmissíveis e alguns tipos de câncer16. Além disso, a escassez desses alimentos pode provocar deficiências de vitaminas e minerais, constipação intestinal e, indiretamente, excesso de peso. Diante disso, é de extrema importância que o adolescente tenha um consumo adequado desses alimentos. Na tentativa de explicar os determinantes do consumo de frutas, legumes e verduras pelos adolescentes, foram associadas a este as variáveis biológicas (sexo, faixa etária, raça e estado nutricional), socioeconômicas e relacionadas à cultura alimentar (renda per capita, moradia, densidade domiciliar, escolaridade dos pais, gasto mensal com frutas, legumes e verduras pela família e consumo dos pais), apresentadas na TAB. 5 e TAB. 6. 16 WORLD HEALTH ORGANIZATION. The World Health Report 2003. Shaping the future. Geneva: WHO, 2003. 86 Ao analisar este consumo por sexo (GRAF. 12 e TAB. 5), observou-se que para as frutas o maior percentual de baixo consumo foi no masculino (81,25%), enquanto o consumo adequado foi semelhante entre os sexos (14,06% e 14,28%, masculino e feminino, respectivamente) e o elevado maior no sexo feminino (8,57%), porém não houve diferenças significantes. Já para o consumo de legumes e verduras, o baixo consumo foi maior no sexo masculino (80,70%) e o consumo adequado no feminino (21,42%), sendo estas diferenças significantes (p= 0,012). Vale destacar que o sexo masculino apresentou ainda o maior percentual de consumo elevado (15,78%), sendo também significante estatisticamente (p= 0,006). Isto nos confirma que o consumo de legumes e verduras é diferente entre os sexos, sendo que no sexo feminino o consumo ocorre dentro das recomendações e no masculino o consumo fica aquém ou além destas. Em oposição a estes resultados, Toral et al. (2006), em estudo com adolescentes de São Paulo, observaram diferença significativa entre o consumo de frutas de acordo com o sexo, onde o sexo masculino consumia mais porções diárias de frutas que o feminino. O mesmo não foi observado em relação ao consumo de verduras, apesar das meninas terem apresentado consumo maior desses alimentos. O maior consumo de FLV pelo sexo feminino pode ser correlacionado à maior preocupação com a imagem corporal e com a prática de dietas. Sobre este assunto, Braggion, Matsudo e Matsudo (2000) afirmam que as adolescentes têm medo de engordar e em consequência, desejam um controle do seu peso, chegando a omitir refeições importantes, como o café da manhã ou o jantar e tendo grande preferência por alimentos mais saudáveis quando comparadas aos meninos, tendo isto grande relação com o peso e aparência corporal, maior frequência de dietas e desordens alimentares. Em relação à faixa etária (TAB. 5), observou-se no consumo de frutas que o baixo consumo foi maior (90,31%) pelos adolescentes mais velhos (14 a 16 anos), ao passo que o consumo adequado e o elevado foram maiores (15,53% e 8,73%, respectivamente) pelos adolescentes mais novos (10 a 13 anos). Isso nos sugere que, quanto maior é a idade, menor é o consumo de frutas pelos adolescentes, porém não houve diferenças significantes. TABELA 5 Associação das variáveis biológicas ao consumo de frutas, legumes e verduras pelos adolescentes. Formiga, 2009. 87 Frutas Variáveis Baixo Consumo n17 p % Consumo Adequado n Legumes e verduras p % Consumo Elevado Baixo Consumo n % n p % Consumo Adequado n p % Consumo Elevado n % Sexo Masculino 52 81,25 0,909 9 14,06 0,769 3 4,68 46 80,70 0,012 * 2 3,50 0,006 * 9 15,78 Feminino 54 77,14 10 14,28 6 8,57 50 71,42 15 21,42 5 7,14 ≥10 <14 78 75,72 0,472 16 15,53 0,522 9 8,73 75 75,75 0,716 12 12,12 0,565 12 12,12 ≥14 <16 28 90,31 3 9,67 0 0 21 74,99 5 17,85 2 7,14 Branca 30 81,07 0,584 6 16,21 0,184 1 2,70 24 66,66 0,799 6 16,66 0,671 6 16,66 Negra 12 85,71 1 7,14 1 7,14 8 66,66 1 8,33 3 25 Parda 21 77,77 2 7,40 4 14,81 17 68 3 12 5 20 Baixo peso 6 54,54 0,306 4 36,36 0,490 1 9,09 8 80 1 10 1 10 Eutrofia 81 80,19 12 11,88 8 7,92 70 73,67 14 14,73 11 11,57 Sobrepeso 13 86,66 2 13,33 0 0 13 86,66 0 0 2 13,33 Obesidade 6 85,71 1 14,28 0 0 5 71,42 2 28,57 0 0 Faixa etária (anos) Raça Estado Nutricion al 0,190 0,214 * diferença estatisticamente significativa (p<0,05). O mesmo não ocorre em relação aos legumes e verduras, que têm um percentual de baixo consumo semelhante entre as faixas etárias. Já o consumo adequado foi maior na faixa etária dos 14 aos 16 anos (17,85%) e o consumo elevado maior na faixa dos 10 aos 13 anos (12,12%), não havendo também diferenças significativas. Em oposição ao encontrado em nosso estudo, Figueiredo, Jaime e Monteiro (2008), num estudo realizado com a população adulta da cidade de São Paulo, verificaram que tanto para o sexo masculino quanto para o feminino a idade se mostrou positivamente e significativamente correlacionada à frequência do consumo de FLV. Isso também foi visto por Jaime e Monteiro (2005), na população adulta, onde se constatou que o consumo de FLV 17 Devido ao número de questões não respondidas (deixadas em branco) pelos participantes, o somatório do valor absoluto (n) de todas as variáveis nas tabelas 5 e 6 podem não chegar ao total da amostra (n= 139). 88 aumenta com a idade e escolaridade dos indivíduos, e com o número de bens no domicílio, em ambos os sexos. Sobre a associação entre a etnia auto-referida pelos adolescentes e o consumo de frutas (TAB. 5), observou-se que o baixo consumo foi maior na etnia negra (85,71%), o consumo adequado maior na branca (16,21%) e o consumo elevado na parda (14,81%). Já sobre o consumo de legumes e verduras, o maior percentual de baixo consumo foi na etnia parda (68%), o consumo adequado foi maior na raça branca (16,66%) e o consumo elevado na negra (25%). Não houve significância estatística para estas diferenças, porém estes dados nos sugerem que a etnia branca tem um melhor consumo de frutas, legumes e verduras que as etnias negra e parda. Isto pode ser parcialmente explicado pelo quadro atual de desigualdade social, sendo de pleno conhecimento que a população negra tem menores oportunidades nas áreas educacional e profissional, o que leva a um menor nível sócio-econômico e consequentemente, menor aquisição e consumo de FLV. Ao analisar o consumo de frutas, legumes e verduras de acordo com o estado nutricional dos adolescentes (TAB. 5 e GRAF. 13), foi visto que em relação às frutas, o maior percentual de baixo consumo se deu pelos adolescentes em sobrepeso (86,66%) e obesos (85,71%). Já o consumo adequado foi maior pelos adolescentes em baixo peso (36,66%) e o consumo elevado pelos adolescentes em baixo peso (9,09%) e eutróficos (7,92%). Em relação ao consumo de legumes e verduras, repete-se o fato de o baixo consumo ser maior pelos adolescentes em sobrepeso (86,66%). Já o consumo adequado é maior nos adolescentes obesos (28,57%) e o consumo elevado é quase semelhante entre os grupos, sendo maior pelos adolescentes em sobrepeso (13,33%). Estes fatos nos sugerem que pode haver uma associação de causa e consequência entre baixo consumo de frutas, legumes e verduras e excesso de peso, porém não houve diferença significativa. Cabe ressaltar que o consumo adequado desses alimentos contribui para uma alimentação saudável e de baixas calorias que pode resultar em um peso dentro do normal. Pelo contrário, uma dieta que tenha baixa quantidade de FLV pode resultar em uma alimentação desequilibrada, ocasionando ganho excessivo de peso. Daí vem a importância do consumo adequado desses alimentos. Resultados semelhantes aos desse estudo foram vistos por Andrade, Pereira e Sichieri (2003), onde as meninas com sobrepeso apresentaram um consumo médio menor de porções de hortaliças que as sem sobrepeso. Em contrapartida, neste mesmo estudo os autores observaram que os meninos com e sem sobrepeso apresentaram consumo similar de hortaliças 89 e que as meninas sem sobrepeso apresentaram prevalência mais elevada de consumo abaixo do mínimo de porções recomendadas para o grupo das frutas do que as com sobrepeso. Do mesmo modo, Fagundes et al. (2008), em pesquisa com adolescentes escolares do município de São Paulo, constataram que os portadores de sobrepeso (16,4%) e os obesos (9,1%) consumiam menos verduras e legumes diariamente em comparação aos eutróficos (42,3%). Os portadores de sobrepeso e obesidade também foram os que menos relataram o consumo de frutas: daqueles que as consumiam três a quatro vezes por semana, 10,8% tinham 70 54,54 80 71,42 90 80 73,67 86,66 80,19 86,66 85,71 sobrepeso e 10,8% eram obesos, comparados a 43,2% dos eutróficos. 60 36,36 50 % Baixo peso Eutrofia 28,57 40 Obesidade 10 11,57 13,33 10 9,09 7,92 20 Sobrepeso 14,73 11,88 13,33 14,28 30 Baixo Adequado Frutas Elevado Baixo Adequado 0 0 0 0 0 10 Elevado Verduras GRÁFICO 13 – Associação do estado nutricional sobre o consumo de frutas, legumes e verduras pelos adolescentes. Formiga, 2009. Sobre a relação local de moradia X consumo de frutas, legumes e verduras (TAB. 6), verificou-se que o baixo consumo e o consumo adequado de frutas foram maiores pelos adolescentes que moravam na zona urbana (81,47% e 16,04%, respectivamente), já o consumo elevado de frutas foi maior pelos que moravam na zona rural (13,72%), sendo estatisticamente significante (p= 0,05). Sobre o consumo de legumes e verduras, o baixo consumo foi semelhante entre os dois grupos, o consumo adequado foi maior na zona urbana (15,58%) e o consumo elevado maior na zona rural (14,58%), não havendo diferenças significativas. 90 Estes dados nos mostram que os moradores da zona urbana, em comparação com os da zona rural, apresentam maior percentual de consumo adequado de FLV. Semelhantemente ao encontrado em nosso estudo, Jaime e Monteiro (2005), em pesquisa realizada com a população adulta brasileira, verificaram que o consumo de FLV foi maior nas áreas urbanas do que nas áreas rurais. Porém, os resultados sugerem que os moradores da zona rural têm um maior consumo de FLV que os da zona urbana, sendo este consumo superior às recomendações. Isto pode ser devido ao fato de que grande parte dos moradores da zona rural fazem o cultivo destes alimentos em suas propriedades, o que os faz ter um maior acesso a estes e, com isso, um maior consumo destes alimentos. A associação entre escolaridade dos pais e/ou responsáveis e consumo de frutas, legumes e verduras pelos adolescentes pode ser vista na TAB. 6. De acordo com os dados sobre o consumo de frutas, o maior percentual de baixo consumo se deu nos pais que tinham curso superior (85,70%), o consumo adequado nos pais alfabetizados (18,51%) seguidos pelos com ensino médio (18,18%) e o consumo elevado maior nos adolescentes cujos pais tinham curso superior (14,28%). Já sobre o consumo de legumes e verduras, o baixo consumo foi maior nos pais que tinham ensino médio (87,5%) e superior (85,71%), o consumo adequado maior nos alfabetizados (19,23%) e o consumo elevado foi semelhante nos pais com ensino fundamental e médio (12,5%), seguidos pelos alfabetizados (11,53%). Não houve diferenças significativas. Esses dados nos chamam a atenção, pois o esperado seria que quanto maior fosse o grau de escolaridade dos pais, maior seria o nível socioeconômico e cultural e o consumo de FLV. Isso não ocorreu em nosso estudo, pois como visto, o maior percentual de consumo adequado se deu no grupo que tinha pais somente alfabetizados. Uma explicação para isto pode residir no fato de que pais com maior escolaridade também possuem uma melhor remuneração, o que eleva a condição sócio-econômica da família. Com isso, o acesso a produtos industrializados, refeições fora de casa e fast-foods se torna maior, o que pode fazer com que o consumo de FLV na família seja menor. Em oposição a esses resultados, Godoy et al. (2006) verificaram em seu estudo que a escolaridade do chefe da família apresentou-se associada ao maior consumo de hortaliças, havendo diferença estatisticamente significante. 91 TABELA 6 Associação das variáveis sócio-econômicas e culturais ao consumo de FLV. Formiga, 2009. Legumes e verduras Frutas Variáveis Baixo Consumo n p % Consumo Adequado n P % Consumo Elevado Baixo Consumo N n % p % Consumo Adequado n p % Consumo Elevado n % 7 9,09 7 14,58 6 11,53 Moradia Zona urbana Zona rural 66 81,47 0,877 13 16,04 0,050* 2 2,46 58 75,31 0,670 12 15,58 38 74,50 6 11,76 7 13,72 36 5 10,41 42 77,76 0,516 10 18,51 2 3,70 36 69,23 0,304 10 19,23 75 0,423 Escolaridade dos pais Alfabetizado E. Fundamental 37 75,50 0,351 0,453 7 14,28 5 10,20 37 77,08 5 10,41 6 12,5 Ensino Médio 8 72,72 2 18,18 1 9,09 7 87,5 0 0 1 12,5 Superior 6 85,70 0 0 1 14,28 6 85,71 1 14,28 0 0 39 81,25 0,860 7 14,58 2 4,16 38 80,85 0,244 2 4,25 0,017* 7 14,89 ≥¼ <½ SM 36 8 16 6 12 34 69,38 9 18,36 6 12,24 ≥½ <1 SM 18 81,81 4 18,18 0 0 15 78,94 4 21,05 0 0 2 0 0 0 0 1 100 0 0 0 0 7 7,44 66 75 0,616 13 14,77 9 10,22 26 74,28 4 11,42 5 14,28 0 0 0 0 4 23,52 Renda per capita <¼ SM ≥1 SM 72 100 0,157 Densidade Domiciliar 73 77,65 0,880 14 14,89 30 83,33 5 13,88 1 2,77 1 0 0 1 50 3 15 78,94 0,175 4 21,05 0 0 12 70,58 0,261 1 5,88 ≥4 <7% 25 92,59 1 3,70 1 3,70 22 81,48 1 3,70 4 14,81 ≥7 <11% 21 67,74 6 19,35 4 12,90 21 72,41 6 20,68 2 6,89 ≥11 <16% 5 55,55 3 33,33 1 11,11 7 77,77 2 22,22 0 0 ≥16% 5 83,33 1 16,66 0 0 5 83,33 0 0 1 16,66 43 70,49 0,672 11 18,03 7 11,47 70 77,77 0,946 12 13,33 8 8,88 Semanal 29 80,55 6 16,66 1 2,77 15 68,18 4 18,18 3 13,63 Mensal 13 86,66 1 6,66 1 6,66 1 50 0 0 1 50 Raro 13 92,85 1 7,14 0 0 7 77,77 1 11,11 1 11,11 <1,0 ≥1,0 <2,0 ≥2,0 50 0,326 100 0,729 % do orçamento gasto com FLV < 4% 0,509 0,089 Consumo de FLV pelos pais Diário 0,583 0,704 92 Nunca 1 100 0 0 0 0 1 100 0 0 0 0 * diferença estatisticamente significativa (p<0,05). Quanto à influência da renda familiar per capita sobre o consumo (TAB. 6 e GRAF. 14), verificou-se que para as frutas o maior percentual de baixo consumo se deu no grupo de maior renda per capita (100%), o consumo adequado foi maior no grupo com renda entre ½ a 1 salário-mínimo (18,18%) e o consumo elevado no grupo que ganhava entre ¼ a ½ salário-mínimo per capita (12%), não havendo diferenças significativas. Já para o consumo de legumes e verduras, o baixo consumo foi mais prevalente no grupo com maior renda per capita (100%), o consumo adequado maior no grupo com renda entre ½ a 1 SM (21,05%) e o elevado maior no grupo que tinha renda inferior a ¼ do salário-mínimo (14,89%), havendo diferença significativa (p= 0,017). 100 80,85 69,38 78,94 81,25 72 81,81 90 100 100 80 70 60 <¼ SM % 50 ≥¼ <½ SM 30 ≥1 SM 18,36 21,05 4,25 4,16 12 20 14,89 12,24 ≥½ <1 SM 14,58 16 18,18 40 Baixo Adequado Elevado Frutas Baixo 0 0 0 0 0 0 0 10 Adequado Elevado Verduras GRÁFICO 14 – Associação entre renda per capita e consumo de frutas, legumes e verduras. Formiga, 2009. Estes resultados também foram paradoxais, pois o esperado é que com o aumento de renda haja um aumento no consumo de frutas, legumes e verduras, o que, em parte, não foi visto em nosso estudo, pois o grupo que tinha o mais baixo consumo era o que tinha maior renda. Todavia, o resultado encontrado para o consumo de legumes e verduras nos mostra que este foi proporcional à renda, ou seja, quanto maior a renda, maior o consumo. Assim como foi discutido em relação à escolaridade dos pais, a explicação para estes resultados pode estar ligada à cultura alimentar da sociedade atual, onde as famílias com 93 maior renda per capita têm maior disponibilidade e acesso a alimentos ricos em açúcares e gorduras (industrializados), o que torna o consumo de FLV menor. De acordo com Martins, Cavalcanti e Mazzilli (1977), embora a renda familiar seja fator prioritário na aquisição de alimentos, onde qualquer aumento de ingresso leva à ingestão de maior quantidade de comida, a alta renda não resulta necessariamente em dieta equilibrada, como o visto neste estudo. Resultados semelhantes aos nossos foram vistos pela Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2002-2003 (IBGE, 2004), onde nem mesmo as famílias de maior renda consumiam a quantidade mínima recomendada de FLV. Porém, em oposição ao nosso estudo, a pesquisa constatou que entre as famílias de mais alta renda o consumo chegou a ser seis vezes maior do que entre as famílias mais pobres. Segundo Barreto e Cyrillo (2001), para elevar o consumo destes produtos, o aumento da renda seria um incentivo econômico mais adequado que a redução dos preços relativos, pois a participação deste grupo nos gastos domiciliares é maior para as classes de renda mais elevadas, mesmo quando seus preços relativos estão em declínio. A relação entre o consumo de frutas, legumes e verduras e a densidade domiciliar pode ser vista na TAB. 6. De acordo com os resultados encontrados, constatou-se que, em relação às frutas, o baixo consumo foi maior (83,33%) no grupo com média densidade (1 a 2 pessoas por cômodo) e o consumo adequado e elevado foram maiores no grupo com menor densidade domiciliar (14,89% e 7,44%, respectivamente). Já em relação aos legumes e verduras, o baixo consumo foi maior (100%) no grupo com maior densidade, o consumo adequado foi mais prevalente no grupo com menor densidade (14,77%) e o consumo elevado maior no grupo com densidade média (14,28%), não havendo diferenças significantes. Estes dados nos mostram que, quanto maior o número de pessoas morando no mesmo domicílio, menor é o consumo de frutas, legumes e verduras, estando este consumo abaixo das recomendações. Pelo contrário, nos domicílios que têm uma baixa densidade de moradores, os adolescentes têm um consumo adequado destes alimentos, uma vez que há maior disponibilidade destes alimentos na família. Estes resultados estão em consonância com os encontrados por Figueiredo (2006), em que, para homens e mulheres adultos do município de São Paulo, a variável densidade do domicílio apresentou correlação negativa com o consumo de FLV. Quanto à influência do gasto mensal com frutas, legumes e verduras sobre o consumo destes alimentos (TAB. 6 e GRAF. 15), observou-se que para o consumo de frutas, o baixo consumo foi maior no grupo com gasto entre 4 a 7% (92,54%), o adequado no grupo 94 entre 11 a 16% (33,33%) e o consumo elevado no grupo de 7 a 11% (12,90%). O consumo de legumes e verduras foi mais baixo (83,33%) no grupo com maior gasto (>16%), adequado no grupo entre 11 a 16% do orçamento (22,22%) e mais elevado (23,52%) no grupo com menor 70,58 81,48 72,41 77,77 83,33 80 67,74 90 78,94 100 83,33 92,59 gasto (menos de 4% do orçamento), não havendo significância estatística. 70 60 33,33 55,55 ≥4 <7 % Baixo Adequado Elevado Frutas > 16 % 6,89 16,66 ≥11 <16 % Baixo 0 0 0 0 5,88 3,7 12,9 0 3,7 10 ≥7 <11 % 3,7 20 11,11 30 16,66 21,05 19,35 40 23,52 14,81 20,68 22,22 % 50 <4% Adequado Elevado Verduras GRÁFICO 15 – Consumo de frutas, legumes e verduras de acordo com o percentual do orçamento gasto com estes alimentos. Formiga, 2009. Estes resultados nos sugerem que, quanto maior é o gasto mensal com frutas, legumes e verduras, maior é o consumo destes alimentos. Porém, paradoxalmente, em nosso estudo o grupo com maior gasto mensal também foi o que teve o consumo mais baixo destes alimentos. Isso pode ser devido ao fato que as famílias que têm um gasto maior tenham também um maior número de pessoas para alimentar, o que proporciona um baixo consumo destes vegetais, devido à baixa disponibilidade destes no domicílio. Outra explicação seria a de que a compra destes alimentos não esteja associada ao consumo, ou seja, pode haver a disponibilidade destes alimentos no domicílio e não haver necessariamente o consumo destes. Este fato é bastante relatado pela população atendida pela autora em sua prática profissional, onde afirmam que esses alimentos chegam a se deteriorar em seus domicílios, uma vez que não ocorre o consumo deles. Com relação à influência do consumo dos pais sobre o dos adolescentes (TAB. 6), pôde-se constatar que, tanto para as frutas quanto para os legumes e verduras, os maiores percentuais de baixo consumo foram dos adolescentes cujos pais nunca consumiam estes 95 alimentos (100% para ambos os vegetais). Já o consumo adequado de frutas foi maior nos pais com consumo diário (18,03%) e o de legumes e verduras, nos pais com consumo semanal (18,18%). O consumo elevado de frutas foi maior nos adolescentes cujos pais tinham consumo diário (11,47%) e de legumes e verduras nos pais com consumo mensal (50%). Mesmo não havendo diferenças significativas, estes resultados nos levam a concluir que quanto maior e mais frequente é o consumo de vegetais pelos pais, maior é o consumo pelos adolescentes, tanto pela maior disponibilidade destes alimentos em casa, quanto pelo exemplo a ser seguido. Sobre este assunto Rossi, Moreira e Rauen (2008) afirmaram que os pais desempenham um papel crucial nas preferências alimentares dos filhos, já que estes são influenciados pelas escolhas e hábitos alimentares dos pais. 96 6 CONCLUSÃO A realização deste estudo possibilitou a descrição e análise do consumo de frutas, legumes e verduras pela população adolescente do município de Formiga – MG. O perfil dessa população foi, em sua maioria, de moradores da zona urbana do município, com faixa etária entre 10 a 16 anos de idade, da raça branca e de baixa renda (pobreza e extrema pobreza). Ao analisar o estado nutricional dessa população verificou-se que a maioria dos adolescentes (75,53%) encontrava-se em eutrofia, porém aproximadamente 24% dos adolescentes apresentavam inadequação de peso (baixo peso, sobrepeso ou obesidade), quadro semelhante ao descrito pela literatura. Sobre os aspectos relacionados à aquisição de FLV, constatou-se que a maioria das famílias adquiriam esses produtos semanalmente nos supermercados, gastando entre 7 a 10% da renda familiar. As maiores barreiras ao consumo desses alimentos pelos pais e filhos foram: acesso, preço, não ter em casa, não ter dinheiro e não gostar. Em relação ao consumo desses alimentos, foi visto que a maioria (cerca de 90%) dos adolescentes consumia esses alimentos diariamente ou semanalmente, porém em porções bastante inferiores às recomendadas, pois cerca de 75% dos adolescentes consumiam FLV em quantidade inferior ao recomendado. O consumo adequado foi visto apenas em aproximadamente 14% dos adolescentes. Analisando os fatores que poderiam influenciar este consumo, verificou-se que apenas o sexo, local de moradia e renda per capita apresentaram significância estatística. Foi visto que os adolescentes do sexo feminino tinham um consumo mais frequente e adequado de legumes e verduras que os do sexo masculino, que por sua vez apresentou um consumo inferior e superior às recomendações. Isso nos mostrou que o consumo de legumes e verduras é diferente entre os sexos, sendo mais adequado no feminino. Já sobre o local de moradia, verificou-se que na zona urbana o consumo de frutas pelos adolescentes era adequado e na zona rural este consumo era elevado, o que nos mostra que morar na zona urbana favorecia o consumo adequado de frutas. Quanto à renda per capita, foi visto que esta influencia o consumo de legumes e verduras, pois o maior percentual de consumo adequado ocorreu no segundo maior estrato de renda, demonstrando que quanto maior é a renda, maior é o consumo destes alimentos. 97 Estes resultados nos fazem concluir que o consumo de frutas, legumes e verduras pelos adolescentes de Formiga – MG é baixo e infrequente, sendo influenciado pelo sexo, local de moradia e renda per capita. Isto sinaliza que não apenas a questão nutricional está envolvida, mas também os fatores econômicos, sociais e culturais. Vivemos atualmente em plena transição demográfica e epidemiológica, onde ocorrem mudanças demográficas, sociais, econômicas e culturais que culminam com a transição nutricional. Os dados deste estudo estão em consonância com as características desta transição, pois foram diagnosticados uma alta prevalência de excesso de peso e de baixo consumo de FLV pelos adolescentes, indicando uma situação alarmante. Diante disso, o conhecimento do consumo alimentar dos adolescentes de Formiga - MG irá contribuir para a execução de trabalhos de educação nutricional com esses indivíduos, abordando todos os fatores envolvidos multidisciplinarmente, a fim de obter êxito e resultados positivos no consumo alimentar de FLV. 98 REFERÊNCIAS ABREU, E. S. et al. Alimentação mundial: uma reflexão sobre a história. Saúde e Sociedade, São Paulo, v. 10, n. 2, p. 3-14, 2001. ALBANO, R. D.; SOUZA, S. B. Estado nutricional de adolescentes: “risco de sobrepeso” e “sobrepeso” em uma escola pública do município de São Paulo. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 17, n. 4, p. 941-947, jul.-ago. 2001. ALBERT, P. L. et al. 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Gostaria de esclarecer que esta pesquisa não acarretará riscos para os escolares, visto que a intervenção prevista será a obtenção de peso e altura dos participantes, como também coleta de informações, através de um questionário, sobre o consumo alimentar dos adolescentes. Os dados coletados serão analisados com a garantia de confidencialidade das informações recebidas. O estudo apenas envolverá o adolescente cujos pais ou responsáveis autorizarem a participação. Por isso, juntamente com esta carta, você está recebendo um termo para autorizar a participação de seu filho na pesquisa, bem como um questionário com dados sócio-econômicos e de consumo alimentar. Peço, por gentileza, que preencha o questionário, assine o termo autorizando a participação na pesquisa e os devolva (através de seu filho) até o dia 17/03/2009 (3ª feira). Atenciosamente, Keila Lopes Mendes (Pesquisadora/Nutricionista) – Telefone: (37) 88164454 Prof. Dr. Leandro Pena Catão (Orientador) 112 APÊNDICE B TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Eu, ______________________________________________________________ (nome do responsável), declaro para fins de participação em pesquisa, que fui devidamente esclarecido (a) sobre os objetivos do projeto desenvolvido pela mestranda Keila Lopes Mendes, sob orientação do Prof. Dr. Leandro Pena Catão, que tem como título “A alimentação contemporânea: um estudo de caso sobre o consumo de frutas, legumes e verduras por adolescentes do município de Formiga – MG”. Estou ciente que: todas as informações obtidas serão confidenciais, portanto o meu nome e de meu filho não serão revelados; não haverá nenhuma despesa pessoal, tampouco alguma compensação financeira; em qualquer etapa da pesquisa poderei ter acesso aos dados, bem como aos responsáveis pelo projeto para eventuais esclarecimentos ou dúvidas; os dados dessa pesquisa poderão ser utilizados pelos pesquisadores em publicações de natureza científica. Declaro ainda que todas as informações fornecidas para essa pesquisa são verdadeiras. _____________________________________________________ Assinatura (pai e/ou responsável) Data: ______/______/_______ _______________________________________________________ Pesquisadora/Mestranda: Keila Lopes Mendes Telefone: (37) 88164454 Orientador: Prof. Dr. Leandro Pena Catão 113 APÊNDICE C QUESTIONÁRIO SÓCIO-ECONÔMICO E DE CONSUMO ALIMENTAR - PAIS E/OU RESPONSÁVEIS Nome:______________________________________________________________________ Nome do seu filho: _______________________________________________ Turma: _____ Endereço:___________________________________________________________________ Telefone:_________________________ Sexo: ( ) M ( ) F Estado Civil: ________________ 1- Qual é a sua escolaridade? ( ) alfabetizado ( ) 1º grau incompleto ( ) 1º grau completo ( ) 2º grau incompleto ( ) 2º grau completo ( ) superior incompleto ( ) superior completo ( ) pós-graduação 2 - Qual é a sua profissão? _____________________________________________________ 3 - Qual é a renda familiar (em salários mínimos)? __________________________________ 4 - Quantas pessoas moram na casa? __________ Quantas trabalham? ___________ 5 - Quantos cômodos tem a casa? _____________ Quantos banheiros? ___________ 6 – Sua casa possui: rede de água e esgoto? ( ) sim ( ) não geladeira? ( ) sim ( ) não luz elétrica? ( ) sim ( ) não Computador? ( ) sim ( ) não Televisão? ( ) sim ( ) não 7 - Qual é a sua religião? ______________ E a da sua família? _______________________ 8 - Qual a origem da família (portuguesa, italiana, etc...)? _____________________________ 9 - Você vive ou viveu a maior parte da vida em: ( ) Zona urbana (cidade) ( ) Zona rural (roça) 10 - Há quanto tempo reside em Formiga? _________________________________________ 11 - Sobre as compras de alimentos em sua casa, quem decide o que comprar? ___________________________________________________________________________ Quem faz as compras? ________________________________________________________ 12 - Você e sua família têm o hábito de comer fora de casa? ( ) sim ( ) não Se sim, com qual a frequência? __________________________________________________ Quais são os alimentos consumidos fora de casa? ___________________________________ Quais são as refeições feitas fora de casa? _________________________________________ 13 - Você consome frutas? ( ) sim ( ) não Se sim, com que frequência? ( ) diariamente ( ) semanalmente ( ) mensalmente 114 ( ) raramente ( ) nunca 14 - Você consome legumes e verduras? ( ) sim ( ) não Se sim, com que frequência? ( ) diariamente ( ) semanalmente ( ) mensalmente ( ) raramente ( ) nunca 15 - Você acha que há algum benefício no consumo de frutas, legumes e verduras? ( ) sim ( ) não Quais? _____________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 16 - Como você se sente ao consumi-los? _________________________________________ ___________________________________________________________________________ 17 - Há algum fator que impede o consumo? ( ) sim ( ) não Se sim, quais? _______________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 18 - Você gosta de frutas, legumes e verduras? ( ) sim ( ) não Se não, por quê? _____________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 19 - O que você acha do preço destes alimentos? ____________________________________ O preço impede seu consumo? __________________________________________________ 20 - O que você acha do acesso a estes alimentos (facilidade ou dificuldade em comprá-los)? ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 21 - Onde você tem costume de comprar frutas, legumes e verduras? ____________________ Com que frequência você faz essas compras? ______________________________________ 22 - Quanto do seu orçamento você gasta com frutas, legumes e verduras? _______________ Agradecemos a sua participação! 115 APÊNDICE D QUESTIONÁRIO DE CONSUMO ALIMENTAR - ADOLESCENTES Nome:__________________________________________________________ Turma: _____ Endereço:___________________________________________________________________ Telefone:_____________________ Sexo: ( ) M ( ) F Estado Civil: ________________ Raça auto-declarada: ________________ Data de Nascimento: _____________ Idade: _____ Peso: _____________ Altura: ______________ IMC: _________ Classificação: _________ 1 - Com que frequência você consome frutas ou suco de frutas natural? ( ) diário – Quantas vezes por dia: ______ Quantas porções: ______ ( ) semanal - Quantas vezes por semana: _____ Quantas porções: ______ ( ) mensal - Quantas porções: ______ Quantas vezes por mês: ______ ( ) raramente ( ) nunca. 2 - Com que frequência você consome verduras e/ou legumes? ( ) diário – Quantas vezes por dia: ______ Quantas porções: ______ ( ) semanal - Quantas vezes por semana: _____ Quantas porções: ______ ( ) mensal - Quantas porções: ______ Quantas vezes por mês: ______ ( ) raramente ( ) nunca. 3 - Você acha que há algum benefício no consumo destes alimentos? ( ) sim ( ) não Quais? _____________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 4 - Como você se sente ao consumir estes alimentos? ________________________________ ___________________________________________________________________________ 5 - Há algum fator que impeça esse consumo? ( ) sim ( ) não Se sim, quais? _______________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 6 - Você gosta de frutas, legumes e verduras? ( ) sim ( ) não Se não, por quê? _____________________________________________________________ 116 7 - Como é esse consumo na sua família? É um hábito familiar? ________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 8 - Você consumia frutas, legumes e verduras na infância? ____________________________ ___________________________________________________________________________ 9 – Outras observações (consumo de outros alimentos, como refrigerantes, fast-foods, doces, etc):________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ Agradecemos a sua participação! 117 ANEXO A PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA DA FUNEDI