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3 BORDO LIVRE | Julho/Agosto 2006 SUMÁRIO Os artigos assinados expressam a opinião do autor, não necessariamente a posição da Direcção. Ficha Técnica: Publicação Bimestral – Distribuição gratuita aos sócios do COMM. Propriedade: CLUBE DE OFICIAIS DA MARINHA MERCANTE. Tv. S. João da Praça nº 21 – 1100-522 Lisboa ● Tel./Fax: 218880781 E-mail: [email protected] ● Web site: www.comm-pt.org Reg. Publ. Nº 11 7898 ● Depósito Legal Nº 84 303 ● Correio Editorial: Despacho DE02022006ATO/RBE Director: Daniel C. de Spínola Pitta ● Tipografia: SocTip – Sociedade Tipográfica, SA Colaboraram neste número: Ferreira da Silva; Alberto Fontes; Luiz Caldas. Pag. ● Notícias Soltas ......................... 4 ● Editorial ................................... 5 ● Travessia do Tejo .................... 6 ● Náutica de Recreio .................. 8 ● Um Amigo ................................ 9 ● Episódios Marítimos (I)… .... 10 ● Tragédias Marítimas ............ 12 ● Noite de Sto. António ............ 13 ● Bruxelas Penaliza .................. 14 ● Barcaças voltam ao Tejo ...... 15 FUNCIONAMENTO DA SEDE DO COMM O horário de funcionamento é o seguinte, contando com a colaboração do Sr. João Piteira: ● Às 2ª, 3ª, 5ª e 6ª feira: — das 15:00 às 18:00 ● À 4ª feira: — das 15:00 às 21:00 Comparece e convive. ACTUALIZAÇÃO DO SITE DO COMM www.comm-pt.org e dispõe de um fórum de discussão. Põe as tuas questões, dá as tuas opiniões e sugestões. Faz-te ouvir DELEGAÇÃO DO PORTO as Nas 3 quartas-feiras de cada mês, os sócios da região Norte juntam-se para uma boa cavaqueira durante um almoço Se és do Norte, aparece A organização está a cargo do Cte. António Ferreira Tlm: 91 905 08 24 [email protected] III SEMINÁRIO Lisboa – Auditório do COMM 28 de Setembro – 18:00 GLOBALIZAÇÃO – A CIVILIZAÇÃO DA MUDANÇA Eng. Manuel Viana do Couto Eng. Maq. MM II ENCONTRO REGIONAL 5 de Outubro ALCOUTIM – Cruzeiro no Rio Guadiana IV SEMINÁRIO Lisboa – Auditório do COMM 12 de Outubro – 18:00 PRIVILÉGIOS E HIPOTÉCAS MARÍTIMOS SOBRE NAVIOS, CARGAS E FRETES ESCOLHA DA NACIONALIDADE DO NAVIO PAÍS DE REGISTO COMO ACTO DE GESTÃO Dr. Armando Henriques Jurista Capa: — Galeão do Sado José Rasquinho INFORMA A FUNDAÇÃO GIL EANNES Que vai inaugurar a 23 de Junho pelas 18 horas, a bordo do navio hospital "GIL EANNES” uma exposição intitulada: CARTAS E INSTRUMENTOS NÁUTICOS A exposição vai estar patente até 31 de Dezembro 2006. BORDO LIVRE | Julho/Agosto 2006 4 Revista do CLUBE DE OFICIAIS DA MARINHA MERCANTE Nº 75 Julho/Agosto de 2006 Editorial A CRIAÇÃO DE CAPACIDADES NO TRANSPORTE MARÍTIMO percentagem de jovens que têm como objectivo o ensino universitário. Na realidade, há uma considerável pressão quer dos pais, como dos professores e dos próprios amigos, para que se opte pelo ensino superior, dado que as qualificações que têm por base as proporcionadas pelas Convenções sobre os Padrões de Treino, Certificação e Quartos, em muitos países, não são reconhecidas como qualificações universitárias. Os pais que insistem com os filhos para que tirem uma licenciatura – dando preferência àquelas que oferecem boas perspectivas de emprego – olham com alguma desconfiança para uma carreira marítima. Tais atitudes têm um efeito desmoralizante para os candidatos às escolas náuticas, tornando estas pouco competitivas e atractivas no mercado académico. Muitos países estão agora a mostrar interesse em adicionar outras matérias àquelas exigidas pelos padrões internacionais de certificação, de modo a ampliar o nível de conhecimentos técnicos e de gestão daqueles que frequentam as escolas náuticas, tornando os cursos nelas ministrados de nível académico universitário. Tais alterações estão-se a mostrar produtivas, já que proporcionam um acesso a uma carreira de Oficial da Marinha Mercante, atingindo o Comando, ou optar por uma carreira em terra, relacionada com o Transporte Marítimo, ou por uma carreira mista, iniciando-a no Mar e terminando-a em terra em cargos técnicos de gestão, relacionados com o meio marítimo. Tais reestruturações proporcionam um incremento na qualidade dos quadros que venham a ingressar no sector do Transporte Marítimo, quer no Mar, quer em terra, tornando-o mais aliciante, encorajando os jovens a ingressarem num percurso profissional relacionado com a indústria marítima, aumentando, deste modo, a qualificação dos quadros que de futuro integrarão a carreira da Marinha Mercante. Nos últimos 3 anos, a nível internacional, o sector do Transporte Marítimo foi um sector que se expandiu amplamente, e com sucesso, criando um grande número de oportunidades. Uma dessas oportunidades foi a possibilidade de recrutar pessoal, a todos os níveis e de alta qualidade, que foram atraídos pelas perspectivas oferecidas por um sector internacional em franca expansão. Na Marinha Mercante, quer em terra quer no mar, passou-se por um longo período de tempo em que o nível de recrutamento foi muito baixo, o que teve como consequência um envelhecimento da força de trabalho. Há pois que rejuvenescer o sector. Este tornou-se um problema a nível dos Oficiais dos países da OCDE – no mundo industrializado – no qual se torna difícil recrutar os melhores candidatos. À parte dos problemas usuais, que são conseqüência da falta de visão em muitos daqueles países, a progressão através da estrutura da certificação estatuída parece não agradar aos Oficiais, cujas habilitações académicas são reconhecidas fora do ramo Marítimo. Há por conseguinte uma relutância em fazer da vida de bordo uma profissão. A situação não é fácil de ultrapassar, dada a grande Continua na pag. 11 5 BORDO LIVRE | Maio/Junho 2006 TRAVESSIA DO TEJO DA FUTURA LINHA TGV (HIPÓTESE BARREIRO-CHELAS) Se a hipótese escolhida levar a uma ponte do tipo da Ponte da Amizade de Macau/Taipa ( com tramos centrais elevados para deixar passar os barcos) serão implementados no estuário do Tejo largas centenas de pilares (cerca de 500) que destruirão a biótica local, contribuirão para a erosão da área do rio de maior fundo e impedirão a manobra de grandes navios que desejam atracar nos cais da margem norte, aquando das marés enchentes, em especial o terminal de Stª Apolónia destinado aos paquetes de cruzeiro. Os estudos para se realizar a construção duma ponte sobre um vasto meio aquático deverão incluir os conhecimentos completos possíveis sobre: a) Os utilizadores b) Os locais das margens a ligar c) O impacto ambiental d) As consequências na navegação marítima e) As consequências na navegação aérea f) Os custos da construção e da futura manutenção e os meios de financiamento a) Os utilizadores — se a hipótese em questão – Barreiro-Chelas – destina-se ser utilizada apenas pelos TGVs nunca deve ser feita tal ponte. Uma ponte com tais custos no mínimo deverá ser utilizada por 100 a 120 comboios diários que transportem pelo menos 50 000 passageiros. b) Os locais das margens a ligar: — Barreiro: para chegar a este local, vinda de Espanha, a linha terá que ser construída entre o Poceirão e o Barreiro ao longo duma das zonas de terrenos mais caros, com agricultura das mais rentáveis do País, intensamente urbanizada e sendo um zona baixa obrigará a ser alteada alguns quilómetros antes da margem. — Chelas: A entrada da linha este local, vinda da ponte, terá de entrar na margem numa altura semelhante à “25 de Abril” de modo a deixar liberta a navegação que procura os cais de Santa Apolónia e Beato. Problemas que certamente se solucionam na base de custos elevados. c) O impacto ambiental — Obviamente que não temos estudo sobre o impacto duma ponte atravessando o Tejo entre o Barreiro/Chelas. Não sendo uma ponte suspensa será uma ponte com algumas centenas de pilares para suster tão longo tabuleiro os quais levarão ao meio ambiente marinho as mesmas consequências que levaram a ponte Vasco da Gama. Consequências essas agora agravadas pelo facto de obrigar a colocar tão vasta correnteza de pilares no local com as melhores condições para fundear e navegar no estuário do Tejo. As centenas de pilares aí implementados contribuirão de certeza para um enorme assoreamento nessa De todas as hipóteses apresentadas para aquela travessia, uma há pela qual sou totalmente contra e para a qual solicito a vossa atenção: A hipótese BarreiroChelas Vejamos o porquê da minha oposição. Numa definição genérica ponte é a estrutura que transpõe um dado espaço em que o obstáculo dominante é normalmente a água (um rio, um estreito, um lago, um braço de mar, etc.). A sua construção tem por objectivo estabelecer ligações, entre as duas margens, de características rodo ou ferroviárias ou ambas associadas, permitindo a movimentação das pessoas e bens. Não sabemos qual o projecto quer será escolhido para a nova travessia do Tejo. Se é de característica rodo-ferroviária ou simplesmente ferroviária. Mas se for destinado ao TGV será ferroviária. Neste último caso fica-nos a pergunta, se a nova ponte a construir é destinada “apenas” à passagem do TGV Lisboa-Madrid. Nem sequer queremos admitir que se proceda à loucura de construir uma ponte com cerca de 11 km de extensão total, hipótese Barreiro - Chelas (com um custo estimado actual em cerca de dois mil milhões de Euros) Se a hipótese escolhida acabar por ser mesmo a do Barreiro-Chelas, será certamente a ponte mais cara do mundo, no ratio circulação, com tão reduzido tráfego, tráfego esse que nem se quer pagará os custos da manutenção e energia diária gastas com a sinalização eléctrica das linhas! Não somos especialistas em pontes mas conhecemos bem o estuário do Tejo, onde fundeámos muitas vezes, assim como as suas margens. Quer a margem no Barreiro, quer a margem no Beato/Chelas, dificilmente aceitarão pontes suspensas devido à sua baixa altitude e afastamento em cerca de 6 km, e para se puder garantir a navegação no rio terse-ão que construir altas torres que a tal permitam. O que irá também contribuir para o elevado custo da ponte e dificultar os voos das aeronaves que utilizam a base do Montijo. BORDO LIVRE | Maio/Junho 2006 6 ção aérea — A primeira grande consequência será a de impedir amaragens de hidroaviões no estuário. Foi o local escolhido pelos grandes “Clippers” nas primeiras décadas do século passado. Considerar-se que esse período acabou, é um pouco como se fez com os paquetes nessa época. Estavam acabados! Diziam o “entendidos”. Os aviões tinham posto fim a tal tipo de navios. E Portugal foi um dos muitos países que apressadamente se desfez deles. Depois viu-se o que veio de volta. Nunca no momento presente os mares foram sulcados por tantos e dos maiores paquetes de sempre. Daí que não tenhamos a certeza do fim dos hidros. Será? Alguém tem? De qualquer modo a ponte neste local acaba com o seu “poiso” natural seguro existente no País e por demais na sua capital. A segunda consequência será o impedimento da utilização da pista Leste-Oeste da base do Montijo e fortes restrições à utilização das restantes. f) Custos — Não temos elementos para nos pronunciarmos sobre qualquer custo para este empreendimento. Pontes de objectivos e utilização similares estão a ser projectadas com valores superiores a 2 mil milhões de Euros. Um valor elevadíssimo para o orçamento português mesmo com comparticipação da EU. Construir uma ponte de tão elevado custo para área do rio. Noto que quando nos anos 50 se construiu o canal de acesso a Cabo Ruivo, frente a Xabregas, as simples poitas das bóias, que se colocaram para sinalizar o canal, contribuíram para o seu assoreamento obrigando a continuas dragagens. O estuário do Tejo é o maior espelho de águas marinhas interiores da Europa. De registar que esse espelho proporciona o melhor contributo visual do alto das colinas de Lisboa. A nossa capital tem a mais extensa e esplêndida visão aquática de todas as capitais europeias. O rio, na sua maior largura, proporciona, das suas margens, um ambiente de beleza similar a qualquer dos grandes lagos suiços. d) As três principais consequências na navegação marítima — A primeira grande consequência das construções duma ponte entre o Barreiro e Chelas são a de impedir o fundear de grandes navios naquela área, praticamente o único local para tal operação. A área usualmente utilizada para grandes navios de carga a granel para aliviarem a carga antes de puderem atracar. Área que na década de 50 do século passado permitiu por várias vezes o fundear de grandes esquadras. Área que igualmente foi “limpa” das bóias do quadro de amarração dos navios da nossa armada para melhor segurança da navegação. A segunda consequência será a de impedir a manobra de atracção dos navios nos cais da margem norte aquando da maré enchente. Não só lhes impossibilitar ou muito reduzir a manobra de rotação pelo montante do local de atracação como nos casos em que essa permissão fosse possível, em caso de paragem da máquina do navio em manobra, ser de imediato arrastado (pelas águas enchentes) de encontro aos pilares. A terceira consequência seria a impor à navegação, que utiliza as várias calas navegáveis, em especial as da margem sul, horários de acordo com a menor força das correntes de água do rio, preferencialmente nos períodos de preia-mar, de modo que a passagem dos navios de faça em segurança para si e para os pilares. Muitas outras consequências para a navegação no estuário poderão ser anotadas (dificuldades aos trens de reboque, execução de regatas, festivais náuticos em especial com veleiros, etc.) mas as três primeiras são básicas para a nossa recusa da construção naquele local. Em resumo, uma liquidação estratégica do porto de Lisboa. e) As duas principais consequências na navega- tão poucos utilizadores, não lembra o diabo! Concluindo: — Face aos factos apresentados, de graves consequências para a sustentabilidade do porto de Lisboa e por consequência da sua cidade, a jusante da ponte Vasco da Gama nenhuma ponte deverá ser construída e muito menos para a exclusiva passagem do TGV. Façam-na a montante, ou em túnel. Joaquim Ferreira da Silva 7 BORDO LIVRE | Maio/Junho 2006 NOTÍCIAS DA MARINHA DE RECREIO XXXVII Cruzeiro do Tejo Nos dias 24 e 25 de Junho decorreu no Rio Tejo o tradicional Cruzeiro Alhandra / Valada / Alhandra, estando o COMM representado pelo "Harmony", com o skipper Jara de Carvalho e tripulantes Vasco da Gama Graça, Rodrigo Franco Afonso e Alberto Fontes. Este tradicional cruzeiro registou uma enorme participação de concorrentes que navegaram no rio Tejo em todo o tipo de embarcações ligeiras e tradicionais, a organização foi da Alhandra Sporting Club, com o apoio da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira e da Câmara Municipal do Cartaxo. A distribuição de prémios feita no Domingo, durante um lauto almoço servido no repleto salão de festas da Sociedade Recreativa de Alhandra, onde entusiasmados nautas de todas as idades, manifestaram ali a alegria por navegar no Rio Tejo. De salientar ainda a nossa surpresa pela muito bem conseguida recuperação dos espaços públicos, onde a feliz arquitectura, conferiu à margem direita do Rio Tejo, uma muito agradável área de lazer, convidando a passear e desfrutar da calma paisagem que rio e mouchões, ali transmitem aos visitantes, não surpreendendo por isso o aparecimento de actividades marítimo-turísticas, como demos conta. Campeonato da Madeira de Cruzeiros IRC A Associação Regional de Vela da Madeira, com o apoio do Iate Clube Quinta do Lorde e da Marina do Funchal, realizou durante quatro dias de Junho o Campeonato da Madeira de Cruzeiros. As provas divididas em técnicas, offshore e Regata às Ilhas Desertas foram muito disputadas e animadas. Os Prémios foram entregues num pôr do sol na marina da Quinta do Lorde. Parabéns à organização pela preocupação demonstrada, em que o campeonato fosse disputado com rigoroso cumprimento do sistema IRC. WATERFRONT EXPO 2007 Em Outubro de 2007 decorrerá na EXPO em Lisboa um grande evento internacional que pretende dar notoriedade e visibilidade à cidade de Lisboa. Apontado para três centralidades turísticas – Belém, Expo e Centro Histórico – não irá esquecer certamente a excelência do estuário do Tejo. A REGATA dos GRANDES VELEIROS fez escala em Lisboa No domingo 23 de Julho pelas 12 horas, frente à Torre de Belém foi dada a partida para mais uma etapa dos 75 veleiros (tall ships) com destino a Cádiz. A presente regata que celebra o 50º aniversário do TALL SHIPS RACES partiu a 10 de Julho de Torbay no Reino Unido, tendo como primeira etapa a escala em Lisboa, de onde largou para Cádiz, seguindo depois para a Corunha e dali para Antuérpia, terminando aí a BORDO LIVRE | Julho/Agosto 2006 regata a 22 de Agosto. De salientar que Portugal, com o navio escola "Sagres" já venceu por duas vezes esta regata. Nesta edição, que conta com mais de três mil tripulantes, participam por Portugal, a caravela "Vera Cruz", o "Creoula" e a "Sagres". Acompanhe esta bela e muito animada prova no site: — www.tallshipslisboa.com, bem como no site oficial da organização: — www.sailtraininginternational.org. REGATA ANC aos AÇORES Com organização da Associação Nacional de Cruzeiros a 20 de Julho partiu de Lisboa, o 2º Cruzeiro ANC aos Açores. Pelo CLUBE DE OFICIAIS DA MARINHA MERCANTE concorre o "Harmony" tendo como skipper o Comandante Jara de Carvalho e tripulante o Vasco da Gama Graça. Recordamos que na primeira edição desta regata em 2004, o Jara de Carvalho venceu a tirada da Horta a Lisboa, velejando no "Harmony" em condição de solitário. Proeza que levou o ANC a denominar de Jara de Carvalho, a habitual regata que organiza anualmente para solitários. A presente regata aos Açores tem o seguinte itinerário Lisboa: — Vila do Porto – Ponta Delgada – Angra do Heroísmo – Horta – Lisboa. De referir ainda que na Horta a frota ANC, participa em Agosto na regata internacional da semana do Mar. I GRAND PRIX DE PORTUGAL A MAKE FAST levou a cabo nos dias 13 e 14 Julho na Praia da Rocha o I GRAND PRIX DE PORTUGAL para Multicascos de 60’. Esta classe profissional de vela é sem qualquer dúvida das mais espectaculares em todo o mundo e o COMM fica muito orgulhoso, que tenha sido por iniciativa da MAKE FAST e do seu responsável o nosso colega Luis Serpa que pela primeira vez em Portugal, tenha havido uma prova para o Campeonato de Multicascos 60'. Nova Marina em Vila do Porto – Açores Decidida a construção no Porto de Vila do Porto na Ilha de Santa Maria nos Açores, uma nova marina 8 para 120 embarcações de 6 a 26 metros. Este empreendimento está orçado em 9.2 milhões de Euros e tem um prazo de execução de dezasseis meses. Alberto Fontes UM AMIGO, MANY BURNAY antes de retirarmos a escada do portaló. O Many com a sua simpatia permanente, era o nosso informador das notícias sociais da terra no curto espaço de tempo em que deixávamos o Funchal. Era ele que nos recomendava nos melhores locais e que sempre nos acompanhava, nas longuíssimas noitadas em que debatíamos à exaustão os mais intrincados problemas, que normalmente ficavam em suspenso, para nova noitada. O Many Burnay era para nós omnipresente e por isso ninguém estranhava, a sua constante e subtil presença quando necessário ou combativo se a situação a isso obrigava. O Many era nosso companheiro de todos os momentos. Foi por isso com surpresa que numa chegada ao porto do Funchal o Many não apareceu. Logo mandamos a terra, de emergência, o nosso "ponta de charuto", mensageiro de causas perdidas, para indagar o que se passava. Eis que depois de um par de horas de buscas exaustivas, o Carlos Reis traz a notícia que o Many fora para Lisboa, abandonara o Funchal por ordem da família. Escusado será dizer que chegados a Lisboa, fomos de imediato à procura do nosso amigo ao seu meeting point alfacinha, o British Bar, no Cais do Sodré. Ali estava ele pesaroso por não nos ter podido avisar mas, ele próprio fora surpreendido com este regresso – partilhas, dizia ele lacónico –. Logo ali celebramos à sua boa saúde e lhe prometemos que nas nossas noites do Funchal, o primeiro copo seria sempre à sua saúde e que no inferninho, a bordo do "Açores", seria descerrada uma placa com o seu nome, para lembrança de tantas e tão boas tertúlias. Podíamos ler por trás dos olhos do nosso amigo Many Burnay, que no Funchal, o navio “Açores” era a sua casa e aquela tripulação era a sua família. Onde quer que estejas meu querido amigo, fica com a certeza que por razões que só a mente poderá esclarecer hoje voltaste a preencher o teu lugar no nosso espaço e que bom foi recordar-te. A mente humana tem destas coisas que estou certo, o Dr. António Damásio explica, acerca dos mecanismos que suportam a recordação, e a verdade é que hoje me lembrei do amigo Many Burnay. Já lá vão trinta anos, quando o navio "Açores" inaugurou uma linha regular que foi baptizada em honra do nome do navio, com a palavra Expresso. Por imperativo do tipo de carga geral que o navio carregava em Lisboa ou nos Açores, sempre com destino ao Funchal, as estadias para descarga neste porto, eram sempre demoradas. Da parte dos tripulantes, não havia queixas a tal ponto, que em dois anos, poucas alterações tivemos na constituição da equipagem. Ninguém queria desembarcar, a simpatia da terra e das suas gentes, o bom ambiente a bordo, a qualidade de vida a bordo, o carisma do navio a todos contagiava. O navio sempre propiciou festas e cada um de nós, contribuía para que cada vez houvesse mais e melhor ambiente, com que contagiávamos os amigos que fizemos em terra. Entre estes amigos incluímos desde o início, o cascaense genuíno Many Burnay, que naquela data habitava o Funchal mas, principalmente o navio “Açores”, durante todo o tempo de estadia. Embarcava à chegada e era o último a sair, minutos Alberto Fontes 9 BORDO LIVRE | Julho/Agosto 2006 EPISÓDIOS MARÍTIMOS I – INCÊNDIO NO PORTO DA BEIRA suporta o cais. No “Clan Sutherland”, navio em viagem inaugural, decorria uma recepção com senhoras entre os convidados; imagine-se o pânico! Daí as chamas propagaram-se rapidamente ao navio belga “Steenstraat” (7 773 Tons.) e depois aos navios ingleses “Clan Macaulay”, “Untali” e “Caledonian Monarch”. Europeus e indígenas saltavam dos navios para o cais com as roupas a arder e iam-se lançar no lodo do Chiveve (pequeno rio que atravessa a cidade e deságua no estuário do Pungué delimitando o cais a Sul, que na maré baixa descobre muito lodo) para apagar as chamas da roupa do corpo; as labaredas também envolveram um batelão atracado ao costado por fora dum dos navios cujos tripulantes se lançaram à água tentando nadar por baixo das chamas da mancha de gasolina, conseguindo salvar-se uns e outros não. Segundo o relato do jornal “O Século”, o desastre provocou dezenas de milhares de contos de prejuízos e 30 mortos e 50 feridos; pelo que ouvi das descrições orais de residentes e colegas e dada a censura e a intencional minimização da dimensão das tragédias que era a prática do Governo de então (D. Sebastião Soares de Resende, na altura Bispo da Beira, haveria de verberar veementemente, um par de anos depois, a minimização dumas grandes cheias do rio Zambeze, em que morreram milhares de autóctones e o escasso socorro prestado pelas autoridades), acho que o número de mortos e feridos bem se pode multiplicar por dois. Só no “Steenstraat”, em que as chamas afectaram particularmente o porão nº 1 que carregava algodão e sisal e que terá sido o navio mais atingido, com muitos estragos no navio e na carga, terão morrido bem mais de 30 estivadores carbonizados, ou asfixiados pelo fumo nos porões. No “Clan Sutherland” houve vários camarotes destruídos, tombadilho e casco queimados e ficaram feridos vários cidadãos britânicos entre os quais a esposa do cônsul de Sua Majestade. Os restantes 3 navios tiveram estragos menores. O incêndio, com o mar a arder, foi espectacular, mas não demorou muito, pois, detectada e sustida a fuga de gasolina, a forte corrente de vazante encarregou-se de limpar a zona e sem alimento de combustível no mar o incêndio nos navios foi sendo debelado e ao princípio da madrugada estava extinto, restando apenas fogo no sisal e algodão do porão nº 1 do “Steenstraat” que pouco tempo depois também era dominado. A causa próxima deste desastre é, evidentemente, o derrame de gasolina do petroleiro; mas a causa primordial está no abalroamento do navio italiano “Risano” pelo “Clan Sutherland” 8 dias antes, abalroamento este cujo processo de culpabilidade dos Pilotos envolvidos subiu de recurso em recurso até ao Conselho Superior de Disciplina do Ultramar, em Lisboa. Este Corria o ano de 1953. Ano memorável para os residentes na cidade da Beira, especialmente para os trabalhadores do Porto, devido ao pavoroso incêndio que ocorreu nos navios atracados ao cais no dia 28 de Junho. Mas memorável também para dois Pilotos da Barra devido à colisão entre os navios que cada um pilotava e que mais adiante se narrará. E memorável para mim que em Dezembro desse ano iniciava a minha carreira de Piloto da Barra, a qual, passando pelos portos de Lourenço Marques e Sines, viria a terminar em Lisboa em Abril de 1992. Naquele tempo, o porto da Beira era um porto congestionado, com navios fundeados em franquia e fora da barra aguardando vez para operar, com outros navios amarrados a bóias que carregavam ou descarregavam para batelões acostados (bóias que tinham que estar muito firmemente fundeadas, pois a corrente de vazante no estuário do Pungué atinge 5/6 nós) e 5 navios acostados ao cais; as operações portuárias de carga e descarga processavam-se continuamente, de dia e de noite, Sábados, Domingos e Feriados, todo o ano e o porto só parava a sua laboração na noite de Natal. A maioria dos navios que frequentavam o porto eram ingleses e a Clan Line tinha sempre pelo menos um navio no porto da Beira. O tremendo e espetacular incêndio deflagrou ao princípio da noite de Domingo 28 de Junho de 1953, enquanto se procedia à reparação da proa do navio “Clan Sutherland” (8 436 Tons). Ao mesmo tempo, o navio tanque “Farnhem”, atracado ao cais nº 8 (cais separado e a montante do cais comercial), descarregava combustível e derramou, por negligência, gasolina, cuja mancha a corrente de vazante arrastou ao longo do cais comercial, envolvendo os navios aí atracados. Da soldadura a maçarico da proa do “Clan Sutherland” terá saltado uma fagulha que incendiou a gasolina derramada, transformando quase instantaneamente o “Clan” numa tocha flutuante. Milagrosamente os homens que procediam à soldadura escaparam através do emaranhado de ferros que liga a estacaria que BORDO LIVRE | Julho/Agosto 2006 10 órgão pronunciou-se pela culpabilidade exclusiva do Piloto do “Clan Sutherland”; este parecer foi homologado pelo Ministro do Ultramar Almirante Sarmento Rodrigues, o qual, puxando pelos seus galões de oficial de Marinha, emite um despacho em que é severo para o Piloto do “Clan”, deixando transparecer uma justa ira, que só posso atribuir ao pavoroso incêndio que o abalroamento acabou por provocar e, quiçá, pela perspectiva doutras consequências, como o encalhe dum dos navios devido à colisão, poderia ter provocado no acesso ao já de si congestionado porto da Beira. Será este abalroamento o tema do próximo artigo. Tema delicado porque terei que falar dum colega que errou; mas não podemos defender a nossa corporação à outrance. De resto, com mais eco e pertinência, embora de modo diferente, se pronunciou na altura o Almirante Sarmento Rodrigues no despacho de homologação acima referido e publicado no Boletim Oficial da Província de Moçambique (equivalente para Mo- çambique ao então Diário do Governo que se publicava em Portugal). Luiz José de Faria A CRIAÇÃO DE CAPACIDADES NO TRANSPORTE MARÍTIMO (Continuação da pag.5 – Editorial –) A introdução de uma nova dinâmica no ensino náutico tem de ser acompanhada por uma constante actualização, face às novas tecnologias e aos parâmetros de segurança e protecção internacionais, de modo a mantê-lo atractivo para os jovens, de modo a dotar a Marinha Mercante – a médio e longo prazo – em todos os seus vectores, de sangue jovem. Numa era em que a educação universitária é cada vez mais dispendiosa, os Oficiais da Marinha Mercante, além duma qualificação estatutária, terão um grau académico reconhecido, que os projectará no mundo do trabalho, quer no Mar, quer em terra. Muitos países, à semelhança do que acontecia em Portugal nos anos 60 (do século XX!...), a formação náutica é alternada, ao longo dos anos de universidade, por uma componente académica, na Escola Náutica e por uma componente práctica, nos navios dos armadores que subsidiam os estudos dos candidatos, que depois se comprometem a tripular os seus navios por um período de 3 anos. A avaliação, quer dos Oficiais Náuticos, quer dos Engenheiros, é ponderada deste modo. Felizmente este esquema tem-se mostrado eficaz e tem inspirado outros sectores a manter um nível elevado de criação de competências. Quiçá o embarque, por um período determinado, de quadros de terra de empesas armadoras. Muitas das frotas mercantes estão tecnologicamente muito avançadas e os empregos que oferecem são essenciais para o comércio mundial. Não é uma carreira de papéis e de processos burocráticos; é uma carreira que recompensa os talentos, oferece desde o início responsabilidades e desafios, ao mesmo tempo que contactam com países dos mais diferentes continentes. Esta mensagem, quando combinada com a promessa duma carreira estruturante e com um reconhecido nível académico, torna-se ainda mais atractiva. Mas é essencial, para que esta mensagem seja percebida, que na realidade a profissão seja atraente e estimulante, ao mesmo tempo que procura cativar os quadros de talento. Se as pessoas não se sentirem realizadas, mais cedo ou mais tarde, desertarão para outros sectores que lhes ofereçam maiores estímulos e atractivos. Torna-se igualmente importante que se olhe para os Comandantes, Oficiais e Engenheiros – os suportes e mentores de todo este modelo – de modo que sejam respeitados e reconhecidos pelos armadores, bem como por todos aqueles ligados à indústria do Transporte Marítimo. 11 BORDO LIVRE | Julho/Agosto 2006 AS TRAGÉDIAS MAIS GRAVES DA HISTÓRIA DA NAVEGAÇÃO EM TEMPO DE PAZ ● 1904 – O "General Slocum" incendeia-se em East River, Nova Yotk: — 1 030 mortos. ● 1912 – O paquete "Titanic" choca com um iceberg na Terranova: — 1 513 mortos. no Mediterrâneo: — 3 100 mortos. O navio chinês "Hsin-Yu" naufraga e perecem cerca de 1 000 pessoas. ● 1917 – Colisão entre dois navios no porto de Halifax (Canada): — 1 600 vítimas. ● 1954 – Naufraga o navio japonês "Toya”: — 1 172 mortos. ● 1961 – Encalhe e explosão do navio portugês “Save”, ao largo de Que- limane: — 253 mortos. ● 1981 – 580 mortos ao afundar-se o navio indonésio "Tamponas" ao largo de Java. ● 1986 – Morrem 1 100 pessoas em dois naufrágios no Bangladesh. ● 1987 – Mais de 4 300 pessoas pereceram na colisão entre o navio de passageiros "Dona Paz" com um petroleiro ao sul de Manila. Foi a maior tragédia marítima da navegação comercial ● 1988 – 400 peregrinos hindus morreram ao naufragar um ferry no Ganges. ● 1991 – 470 mortos ao afundar-se o ferry egípcio "Salem Express". ● 1993 – 1 743 mortos ao naufragar um ferry haitia- O vapor japonês "Kidie Maru" naufraga: — 1 000 mortos. ● 1914 – O vapor "Empress of Ireland” abalroa com um cargueiro no rio São Lourenço (Canada): — 1 370 mortos. ● 1916 – O paquete francês "Provence" afunda-se BORDO LIVRE | Julho/Agosto 2006 12 no. ● 1994 – 852 mortos no naufrágio do "Estónia" no Báltico, a 40 quilómetros da costa finlandesa. Foi a catástrofe marítima mais grave na Europa desde 1945. ● 1996 – 800 mortos no naufrágio dum ferry no lago Vitória (Tanzânia). Outro naufrágio no lago Tanganica: — 400 refugiados zairenses mortos. ● 2002 – Morrem 1 863 pessoas no naufrágio do ferrv senegalês "Le Diola". Compilado por Eduardo Barradas NOITE DE SANTO ANTÓNIO NO COMM 13 BORDO LIVRE | Julho/Agosto 2006 BRUXELAS PENALIZA PORTUGAL POR INCUMPRIMENTOS Em 29 de Junho, Bruxelas decidiu tomar medidas contra Portugal no âmbito do Mar, devido a transposição deficiente da directiva que estabelece a obrigação de elaboração, aprovação e aplicação de planos de recepção e gestão dos resíduos para todos os portos nacionais, incluindo os de pesca e marinas. O prazo terminou a 27 de Dezembro de 2002. O caso foi entregue ao Tribunal Europeu de Justiça porque foram esgotadas todas as possibilidades de acordo na fase de précontencioso. Por incumprimento da legislação comunitária que descreve as responsabilidades de inspecção de navios, a Comissão Europeia enviou ao nosso país um parecer fundamentado que é a última etapa antes de um processo ser remetido para o Tribunal de Justiça. Bruxelas alega que o Estado português transpôs incorrectamente uma directiva de 1995, cujas disposições foram reforçadas no rescaldo do acidente do “Erika”. A directiva estabelece critérios comuns para inspecção de navios pelo Estado do porto e harmoniza os critérios de inspecção e imobilização dos navios que não cumprem as normas de segurança marítima, protecção do meio marinho, condições de vida e trabalho a bordo. BORDO LIVRE | Julho/Agosto 2006 14 BARCAÇAS VOLTAM AO TEJO COM CONTENTORES “Sempre existiram barcaças no Tejo, só que alguém achou que não interessava e deixouse cair o tráfego de barcaças". Este meio de transporte apresenta várias vantagens, além das ambientais, vai permitir aumentar a eficiência no transporte. Uma barcaça transporta 77 contentores por viagem, um camião leva 1 contentor e um comboio 30. “Se não existirem interessados para a exploração deste tipo de transporte, a APL está disponível para o fazer". O projecto ainda não foi apresentado ao sector transportador, mas faz parte do plano estratégico para o PORTO DE LISBOA e já "existem interessados no negócio". O transporte de granéis por barcaças já existe. A central termoeléctrica do Carregado é abastecida por esta via. O que irá ser novidade é o transporte de contentores. Para a realização deste modo de transporte são necessárias plataformas logísticas nas zonas norte e sul de Lisboa. A futura plataforma de Castanheira do Ribatejo é a melhor localização a norte e, do lado sul, Poceirão e Elvas complementam por via ferroviária o transporte da mercadoria. Como exemplo temse a organização logística desenvolvida pela LISCONT, que montou em Elvas uma plataforma ferroviária em parceria com a REFER, em que em vez dos camiões transportarem um contentor de Elvas para Alcântara por dia, os camiões passaram a depositar os contentores na plataforma, seguindo depois por via ferroviária até Alcântara. "Isto é organização logística. E o mes- mo sucede na plataforma da Guarda". A fábrica de biodiesel, no Sobralinho, em Vila Franca, pode receber os granéis a partir da SILOPOR de barcaça. Com as restrições que estão a ser introduzidas na circulação de camiões, o transporte rodoviário vai deixar de ser competitivo. 15 BORDO LIVRE | Maio Junho 2006