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REDE ALELUIA: INSTRUMENTO DE PERSUASÃO E PODER EM PROL DA IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS (IURD) José Wagner Ribeiro 1 Ricardo José Oliveira Ferro 2 RESUMO Analisa o procedimento de comunicação da Igreja Universal do Reino de Deus, com enfoque na programação evangélica da Rede Aleluia de Rádio e os possíveis reflexos dessa prática na propagação dos seguidores da igreja. A hipótese inicial desse estudo baseia-se na apuração de três pilares de funcionamento da Universal – libertação, cura e conversão; identifica os elementos icônicos, assim como o traslado de situações bíblicas que contribuem para a conquista de fiéis. Mensagens veiculadas na Rede Aleluia de Rádio foram uma das ferramentas para analisar o crescimento da igreja através da sua rede de rádio. Conclui que a comunicação praticada na Rede Aleluia de Rádio pela Igreja Universal influencia o radio ouvinte da programação, ao induzi-lo a participar das campanhas da igreja culminando com a sua conversão à organização Universal. Palavras–chave: IURD. Comunicação. Religião. 1 Professor adjunto do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal de Alagoas. Mestre em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo e Doutor em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Coordenador da Pós – Graduação Lato Sensu da UFAL. 2 Especialista em Processos Midiáticos e Novas Formas de Sociabilidade pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL), professor da Faculdade Integrada Tiradentes (Fits), repórter na Assessoria de Comunicação da Secretaria de Estado da Educação e do Esporte de Alagoas, locutor apresentador animador na Rádio 100,3 FM - afiliada da Rede Aleluia. Correspondente da Usina Pazza - revista (http://www.usina.pazza.com.br ). eletrônica sobre Comunicação e Cultura INTRODUÇÃO O rádio é um dos meios eletrônicos de massa empregados pelos evangélicos para difundir a mensagem religiosa na sociedade contemporânea. O líder da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), bispo Edir Macedo, usa a programação da Rede Aleluia com a finalidade de gerar o crescimento de sua denominação religiosa. É por meio do rádio que a mensagem “iurdiana” aglomera uma legião de simpatizantes disciplinados por uma tríade: a conversão, o exorcismo e a cura. Esses três elementos estão inseridos nas cerimônias ou cultos, nos depoimentos dos membros e no discurso dos bispos, pastores, obreiros, grupos jovens, evangelistas e nos auxiliares de pastores, além, é claro, da propaganda iurdiana. O rádio é um elemento decisório de apoio tecnológico utilizado pela IURD para um avanço estratégico no campo religioso. É principalmente por intermédio dele que a mensagem da Igreja Universal do Reino de Deus chega aos solitários, aos drogados, aos endividados e desesperançados; enfim, é um veículo de comunicação de massa utilizado para levar, segundo os iurdianos, esperança e conforto aos necessitados. O mundo globalizado, muitas vezes, isola as pessoas e, é nesta solidão, que a mídia radiofônica se apresenta como “amiga”, veicula testemunhos de vidas “transformadas”, relatos do passado e do presente daqueles que viviam no mundo e, hoje, servem a um “Deus Vivo”. Diante desse quadro, as pessoas começam a se ver no exemplo dos outros; é como se fosse uma espécie de espelho, que faz com que elas se reconheçam nas outras e percebam que ali está a sua “turma”. O rádio está presente em quase 100% dos lares brasileiros. Hoje, é utilizado de forma maciça para embutir idéias, ideologias, crenças, atitudes, comportamentos e necessidades. Por ser um veículo de grande penetração e chegar com maior facilidade às residências em horários variados, atinge as mais diversas classes; muitas dessas pessoas, geralmente, enfrentam alguns problemas de ordem financeira, emocional ou espiritual. O rádio ajuda a mudar conceitos, inspirar comportamentos, redefinir padrões, cria novos modelos. Ele é capaz de ajudar a “fabricar” personalidades, e desde que seja bem utilizado pode construir um novo perfil para aqueles que não possuem uma boa aceitação popular. Esta “caixa com som” encanta e fantasia; desperta interesse e ajuda a consolidar as intenções daqueles que detêm as concessões. No rádio os mais diversos assuntos são abordados e podem beneficiar os proprietários das emissoras. Pela Rede Aleluia, a Igreja Universal do Reino de Deus mostra os discursos dos seus pregadores e deixa bem evidente, que apenas o “descarrego” ou o exorcismo não é suficiente; é preciso entregar–se a Jesus, e aí entra o segundo elemento pregado pela IURD que é a conversão; mas, geralmente, todos os que se libertam e se convertem possuem problemas de saúde e anseiam pela cura, o que completa a tríade de elementos, e evidencia a prática de uma ordem doutrinal. É esta prática de doutrinas que atua sobre o pensamento e as ações das pessoas quando chegam a Igreja Universal do Reino de Deus. Sempre chegam abatidas após terem batido em muitas portas à procura de uma solução para seus problemas. Essas pessoas já procuraram ajuda no espiritismo, no candomblé, na umbanda, entre outros. Como estão fragilizadas, são facilmente induzidas à submissão e a subserviência para “garantirem” uma vida física e espiritual “saudável”. É neste momento que as pessoas perdem o controle de suas vidas entregando–se ao que se poderia chamar de estado cristão. Para IANNI (1984: 192) no chamado “(...) Estado cristão domina, certamente, a alienação e não o homem”. Verifica–se que a Rede Aleluia não apenas informa, mas, também, aliena muitos ouvintes que acompanham a sua programação. A Rede Aleluia procura convencer os membros da IURD de que para conseguirem o que desejam, basta ter fé e acreditar. Essa doutrina é conhecida como a Teologia da Prosperidade. Segundo GWERCMAN (2004:52), Kenneth Hagin popularizou uma mensagem clara por meio de mais de 100 livros, que afirma: “Deus é capaz de dar o que o fiel desejar. Basta ter fé e acreditar que as próprias palavras têm poder. Sendo assim, para os verdadeiros devotos, nunca faltará dinheiro ou saúde”. Durante este estudo será destacado o fato dos membros da IURD passarem por uma espécie de tríade doutrinária compreendida pela libertação, a cura e a conversão. Outro aspecto é a utilização de ícones pela IURD, que condena aqueles que adoram imagens, no caso os católicos. Alguns dos símbolos são: o copo com água, o vidro com azeite, a rosa, o incenso, o suco de uva, dentre outros que servem como condutores do poder de Deus para ajudar as pessoas a resolver os problemas que estão enfrentando. A Rede Aleluia e a IURD: mídia e fé A Rede Aleluia deu início às suas transmissões em 1995. O sinal via satélite começou a ser irradiado através de 19 afiliadas. Na época, a primeira geradora de sinal foi a 105 FM, localizada no Rio de Janeiro. A partir do segundo semestre de 2002, a geração passou a ser feita pela Rádio 99,3 FM, em São Paulo. Hoje, ela atinge todas as regiões do País e alcança uma área correspondente a 75% do território nacional. São 64 emissoras localizadas nas capitais e no interior de 22 estados brasileiros. A programação da Rede Aleluia é composta por canções cristãs nacionais e internacionais, flash-back's e músicas instrumentais. (Dados do endereço eletrônico: http://www.redealeluia.com.br). Segundo a Revista Isto é, de 15 de julho de 1998, a Igreja Universal é proprietária de emissoras, o que é proibido pela Constituição brasileira: Igrejas não podem deter o controle de empresas de radiodifusão no Brasil. Para burlar a lei, a Universal usa os nomes de laranjas e testas-de-ferro. Esse dinheiro não tributado – e sem custo – tem sido transferido na forma de empréstimos, no entanto, para a conta de líderes da igreja. (...) A partir daí, essas pessoas adquirem em seus nomes as emissoras de rádio e tevê ou empresas de ramos diversificados. A estratégia transformou a Universal num grupo econômico poderosíssimo. Não é à toa que a igreja é hoje a maior multinacional brasileira – e sua rede de tevê tornou-se a terceira do País. (...) O grupo Universal – hoje dono de inúmeras emissoras de rádio e tevê, banco, corretora, construtora, fábrica de móveis, gravadora, gráficas e jornais, entre outros negócios – vem sendo sustentado irregularmente com o dinheiro recolhido nos templos da Igreja Universal do Reino de Deus, liderada pelo Bispo Edir Macedo. Como instituição religiosa, a Universal é isenta do pagamento de impostos. Nas programações na Rede Aleluia, os líderes da Igreja Universal provocaram mudança de comportamento na doutrina evangélica tradicional brasileira (pentecostalismo), ao romperem com o ascetismo – a recusa de usufruir os prazeres da carne, e com o sectarismo – isolamento do restante da sociedade. Conforme GWERCMAN (2004:55), o sociólogo Ricardo Mariano, autor de Neopentecostais – Sociologia do Novo Pentecostalismo no Brasil, afirma que “A preocupação dos neopentecostais é com esta vida. O que interessa é o aqui e o agora”. O aperfeiçoamento da linguagem radiofônica pela igreja do Bispo Edir Macedo ocorreu com a inovação do discurso. Seus pregadores passaram a se expressar de forma nítida, adequaram a sua oratória e comungaram dos novos anseios e significados dos indivíduos contemporâneos, visando à integração entre crença e os possíveis adeptos da Universal (MACHADO, 1994:34). CAMPOS (1997:355-356), no livro A Igreja Universal do Reino de Deus – um empreendimento religioso atual e seus modos de expansão, afirma: Diante disso, uma retórica triunfalista invadiu todos os seus meios de comunicação social (emissoras de rádio, televisão, jornais e revistas). Um bom exemplo desse ato retórico foi o documentário especial televisivo preparado para comemorar o 20° aniversário da IURD, no qual se afirmava orgulhosamente: “Este documentário foi preparado sob a responsabilidade do Espírito Santo”, seguido da afirmação: “enquanto este documentário estava sendo preparado a IURD não parou de crescer em todo o mundo”. O bispo Macedo assim explica o crescimento de sua Igreja: “Atribuo à ação do Espírito Santo o crescimento da Igreja. Não se trata de marketing bem feito, boa administração, nem qualquer razão humana. É ação do Espírito Santo mesmo!.” Com isso, constata-se que os processos de comunicação adotados pela Universal no uso da rádio se mostram eficazes; mesmo quando tratam de assuntos atuais, geralmente de forma superficial, apontam para soluções de cunho eminentemente religioso. No caso do rádio, o uso intensificado desse meio de comunicação de massa pelas denominações religiosas, dentre essas a IURD, tornou–se uma condição preponderante para a existência e a permanência das práticas religiosas da sociedade contemporânea (MARTINO, 2003:7). Mas, para garantir a existência e a preservação da igreja, os “iurdianos” utilizam uma mensagem padrão produzida na alta cúpula da Universal, cujo teor é retransmitido fielmente aos ouvintes, demonstrando, assim, a competência comunicativa das lideranças da IURD. Este artifício serve para manter os receptores da mensagem identificados com os discursos emitidos pela igreja que, geralmente, dão ênfase aos estados d’alma, despertando nas pessoas a função emotiva da comunicação verbal. De acordo com SCHWARTZ (1985:21), os efeitos colaterais da mídia demonstram o mistério de seu funcionamento “(...) são indefiníveis, porque as pessoas que assistem e ouvem tais mensagens não o fazem da mesma maneira que aqueles que as planejaram; o público responde de acordo com o contexto de sua própria problemática de vida”. Ao receber uma mensagem radiofônica as pessoas tendem a interpretá– la e agem de acordo com os conhecimentos que lhes são inerentes, baseados nas informações que construíram ou receberam; esses fatores demonstrados anteriormente determinam à ação estereotipada do ser humano. O rádio, parte do sistema de comunicação social de uma nação, tem como uma de suas características ser um instrumento de controle da sociedade, reproduzir crenças e valores de um povo. Dênis de Moraes, na Revista Contracampo n.1, disponível no site “www.uff.br” afirma o seguinte: A notável contribuição de Gramsci sobre o embate pela hegemonia no seio da sociedade civil — a partir de sua teoria marxista ampliada do Estado — permite-nos meditar sobre o desempenho dos meios de comunicação. Devemos analisá-los não apenas como suportes ideológicos dos sistemas hegemônicos de pensamento, mas também como lugares de produção de estratégias que objetivam reformular o processo social. Sem deixar de reconhecer a sistemática reverberação dos discursos dominantes nas mídias, temos que considerar que debates, polêmicas e contra discursos se manifestam nos conteúdos informativos, ainda que numa intensidade menor do que a desejada, mas em proporção bem maior do que a de décadas atrás. Quem possui uma concessão de emissora de rádio tem uma fonte de poder; este poder, usado de maneira indevida, pode resultar na exploração psicológica tendo com uma das conseqüências a persuasão dos indivíduos, como no caso praticado pela Igreja Universal na Rede Aleluia. Segundo Ribeiro (2006: 49), o marketing utilizado pela IURD: Introduziu uma série de ingredientes e estratégias responsáveis por um novo surto de expansão do campo religioso, mais particularmente do pentecostalismo, entre estas: o cálculo no planejamento das novas comunidades; uma segmentação do mercado por meio de uma classificação de acordo com suas diferentes necessidades e desejos padronizados, adaptáveis aos vários segmentos; o desenvolvimento de uma retórica de modo a diferenciar os produtos vendidos; a consideração das necessidades do consumidor, realizando o produto de acordo com as mesmas; e a utilização dos meios de comunicação de massa, como o rádio e a TV, entre outros. A Rede Aleluia, durante todo o dia, tornou–se uma espécie de filial da Igreja Universal. É um espaço onde o fiel e futuros membros da igreja recebem atendimento dos líderes “iurdianos”. Estes últimos, por sua vez, usam a programação da rede para fortalecer a prática da radio religiosidade. Em cada programa veiculado pela rede são exibidos testemunhos de pessoas que tiveram suas vidas modificadas sempre para melhor, após converterem-se. Os relatos de curas rápidas e milagrosas são pontos abordados freqüentemente na programação da emissora. Recentemente, o bispo Edir Macedo começou a veicular através da Rede Aleluia mensagens dedicadas aos seus auxiliares. Assim como Meditsch (2001: 149), no livro “O rádio na era da informação: teoria e técnica do novo Radiojornalismo” acredita–se que: A linguagem auditiva do rádio pode ser delimitada, teoricamente, como um sistema semiótico complexo, composto por subsistemas tais como a palavra, a música e os efeitos sonoros ou ruídos. O funcionamento do sistema como um todo, assim como a definição e o papel de cada um dos subsistemas dentro dele, obedece a uma série de convenções que o tornam manejável, socialmente compartilhável, e desta forma eficaz e inteligível [...]. Cada mensagem é iniciada com uma música padrão, o que as caracteriza como um programete, ou seja, como um quadro dentro da programação da Rede Aleluia, que tem “vida própria”, com começo, meio e fim bem determinados. Para Fernandes (2006: 100), na obra “A Mídia e seus truques – o que o jornal, revista, TV, rádio e Internet fazem para captar e manter a atenção do público”: “uma característica do programete é poder ser reprisado em diversos momentos da programação da rádio”. O que se percebe é que a inserção destas mensagens durante a programação da rede tem como possível intenção impor a descontinuidade do que vinha sendo veiculado e impedir qualquer possibilidade de monotonia discursiva. Como o bispo Macedo não fala bom dia, boa tarde ou boa noite, este fragmento pode ser exibido a qualquer hora do dia. Caso ele falasse “bom dia”, por exemplo, demonstraria o instante da produção do discurso e uma possível segunda audição ficaria velha. Fernandes (op. cit., p. 100) define que: “o jogo de mostra–esconde desses marcos temporais é uma característica importante não só da linguagem radiofônica como de qualquer jornal”. Já Heródoto Barbeiro, também teórico do assunto, no prefácio do livro de Meditsch (2001), esclarece algumas possibilidades, efeitos e conseqüências dessas estratégias: Na CBN, optou–se por simular o ao vivo, quando a reportagem está gravada e banir o bom, ou boa tarde, nas reportagens gravadas para dar a impressão ao ouvinte de que a matéria é ao vivo, mesmo sabendo–se que essa expressão confere aos veículos de comunicação credibilidade, ao ponto de ser repetida sistematicamente no rádio e ganhar caracteres na TV. Em cada uma das nove mensagens analisadas, o líder da IURD, bispo Edir Macedo incentiva as pessoas a serem suas auxiliares na tarefa de pregar o evangelho e ajudá–lo a divulgar a palavra de Deus através da Rede Aleluia. Ele é enfático e afirma que seus auxiliares são “participantes e co–participantes da glória de Deus”. Macedo vai mais além e assegura que aqueles que o auxiliam verão suas vidas mudarem. Pois, segundo ele, Deus é obrigado a abençoar a vida daqueles que estão contribuindo com o seu reino. Como o ouvinte radiofônico, geralmente, está envolvido com várias atividades diárias, uma das estratégias da IURD para ganhar a sua atenção é veicular essas mensagens, no mínimo, doze vezes por dia. Por determinação do próprio Edir Macedo elas são inseridas às 0h 45, 1h 45, 2h 45, 4h 45, 7h 45, 10h 45, 11h 45, 17h 45, 21h 45, 22h 45 e 23h 45. Meditsch (opus citatum, p.161) lembra que há uma oscilação permanente de recepção entre o ouvir (nível pré–consciente) e o escutar (intencionado) do público. O rádio ressalte–se, não é uma mídia absorvente e excludente no sentido de mobilizar uma atenção absoluta do enunciatário (ouvinte) como os impressos. Desta forma ele destaca: A recepção desse discurso é, caracterizadamente, uma atividade secundária do ouvinte, realizada simultaneamente a outras atividades com que divide a atenção. Assim, além do zoom auditivo entre o ouvir e o escutar, a recepção do rádio é caracterizada por um zapping perceptivo entre essa atividade e a principal. Logo, o que fica evidente é que cada mensagem do bispo Macedo vem recheada de apelos que servem como estratégias para tentar ganhar a atenção dos ouvintes. Ele destaca que a Bíblia relata que “formosos são os pés dos que evangelizam. Quão formosos são os pés daqueles que anunciam boas novas”. Edir é categórico ao afirmar que está tocando a trombeta para conclamar auxiliares, ou seja, pessoas que vão o ajudar economicamente, sustentar o trabalho evangelístico através da Rede Aleluia. Ele afirma que quer comprar, adquirir ou alugar mais emissoras de rádio para poder levar o evangelho às pessoas aflitas e desesperadas. Edir atribui à sociedade a destruição de algumas pessoas. O bispo tenta arrebatar, sustentar e fidelizar os seus possíveis futuros auxiliares por meio de vários apelos dentro das mensagens; fica evidente que ele gerencia bem o ritmo de sua fala em cada uma delas. Com isto, impõe o querer/saber do público ouvinte e desperta sua curiosidade. É a estratégia do arrebatamento. Fernandes (opus citatum, p.102), certifica que: No rádio, a atenção é arrebatada, “fisgada”, principalmente a partir da quebra de continuidade entre unidades (como a passagem de uma voz do âncora para a do repórter em segmentos muito curtos) e, no nível da unidade, por alterações bruscas (como um entrevistado que, em determinado momento, mostra irritação e abandona o tom mais ameno. Do ponto de vista sonoro, uma descontinuidade é tanto uma baixa estimulação sonora após muito barulho como o inverso. O que é mais perceptível para o ouvido é a passagem entre dois tipos de sons distintos. Além de dominar bem o ritmo do que expressa nas mensagens, Edir Macedo faz pequenas pausas na sua locução, pequenos silêncios, possivelmente, propositais. É o que se pode chamar de estratégias de sustentação e fidelização. O Manual da Jovem Pan (1986: 79), de Maria Elisa Porchat, detalha esse efeito – ao relacionar a curiosidade do ouvinte, a tensão e a atenção – por meio de depoimento da professora de dicção e oratória Maria José de Carvalho, ex – docente da ECA/USP: Para enfatizar as palavras importantes, não devemos aumentar o volume da voz. É o que chamamos de pausa de tensão que prepara uma palavra importante. O locutor deve sempre imaginar um ouvinte ativo, interlocutor. Este ouvinte a todo o momento o interrompe para fazer perguntas. Ao imaginar interrupções com perguntas do gênero “o quê?”, “onde?”, “por quê?”, etc. o locutor faz uma pausa de tensão, importante para a expressão. Como o bispo Edir Macedo é uma das vozes mais veiculadas na programação da Rede Aleluia, ele consegue criar o sentido de familiaridade com os radio ouvintes. Fernandes (2006: 111) garante que “a oralidade dos profissionais do rádio é uma “espontaneidade treinada” com o objetivo de persuadir o público da existência de um determinado nível de improvisação”. O principal mentor da IURD insiste, veementemente, nas mensagens para que as pessoas ajudem o ministério radiofônico. Segundo ele, essa “oferta missionária” vai servir como uma espécie de parceria entre o ouvinte, ele e o próprio Deus. “Se você não participa, como é que você pode ser abençoado?” Questiona Macedo. E, por fim, Edir garante, mais uma vez, que Deus tem obrigação de abençoar a vida daqueles que são fiéis. “Deus não pode ser infiel na sua promessa”, diz ele. O líder da denominação iurdiana explicita nas mensagens que são gastos mensalmente cerca de R$ 7 milhões para sustentar os programas de rádio. E faz um apelo para que os auxiliares o ajudem mensalmente com R$ 20; 30; 50, R$ 100 ou mais. Estas quantias, diz Macedo, são para “salvar almas” e “construir o templo de Deus” no coração de cada ouvinte. O que fica evidente é que a IURD procura, a cada dia, captar e manter a atenção do público ouvinte e aumentar o seu conglomerado comunicacional. Frente a essas afirmações, verifica–se que a Rede Aleluia é usada pela Igreja Universal do Reino de Deus como instrumento eficiente para massificar sua mensagem evangélica. Como aliada da Universal, a Rede Aleluia é uma espécie de “igreja eletrônica”: quando a IURD fecha as portas de seus templos, as portas da Rede Aleluia estão 24 horas abertas através da programação evangélica. Os programas são produzidos com técnica e sofisticação e recebem recursos obtidos através de um apelo que muito pouco lhes custa – os dízimos e as ofertas dos fiéis. Pela Rede Aleluia, a igreja intervém psicologicamente na auto–estima dos ouvintes da programação iurdiana, levando-os a modificar determinados comportamentos por meio do uso eficaz da técnica expressa no discurso oral dos “pregadores”, ao trabalhar o lado sentimental das pessoas. A Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) fundamenta suas bases no modo de vida capitalista. Como está inserida em uma sociedade globalizada e produtora de seres humanos frustrados, ela procura suprir as necessidades destes apresentando soluções específicas através de reuniões que acontecem durante toda semana em seus espaçosos templos. Cada pregador iurdiano estabelece com aqueles que os procuram uma espécie de acolhimento, ou seja, um atendimento personalizado. Para efetivar este atendimento, cada pastor da Universal – principalmente os mais influentes e que apresentam programas nas emissoras que integram a Rede Aleluia – atendem aos fiéis ou futuros membros por telefone, durante os programas de rádio; convidam–os a participar das reuniões nos templos da IURD e se comprometem em dedicar parte do seu tempo para eles, antes ou depois das reuniões. Eles também disponibilizam seus endereços de e–mails; solicitam que as pessoas mandem cartas e chegam a ir às residências daqueles que não têm como ou não podem se deslocar até os “Templos da Fé”. Toda esta disponibilidade dos pastores os coloca no patamar de pregadores dedicados full time aos fiéis ou futuros adeptos. Ou seja, com tais atitudes cria–se um ambiente “favorável” para que as pessoas possam encontrar a saída para suas dificuldades. É o que se pode chamar do livre acesso da população à solução dos problemas. É o estabelecimento de uma “Pseudo–Democracia”. Na verdade, isto não passa de mais uma estratégia usada pela IURD para angariar fundos e dar continuidade ao seu processo de expansão no campo religioso. Conclui–se que a Universal, por meio da Rede Aleluia e sua extensa rede midiática, tenta chamar a atenção do povo, expandir o seu público seguidor e propagar suas formas de lidar com as angústias das pessoas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALCURE, Lenira, et alli. Comunicação verbal e não-verbal (Série Comunicação e Artes). Rio de Janeiro: Editora Senac Nacional, 1996. BARBEIRO, Heródoto; LIMA, Paulo Rodolfo de. Manual de radiojornalismo: produção, ética e internet. Rio de Janeiro: Camus – Elsevier, 2003. BELTRÃO, Luiz & QUIRINO, Newton de Oliveira. Subsídios para uma Teoria de Comunicação de Massa. São Paulo: Summus, 1986. CAMPOS, Leonildo Silveira. Teatro, Templo e Mercado: organização e marketing de um empreendimento neopentecostal, 2ª ed. Petrópolis, São Paulo, Vozes, 1999. CAMPOS, Leonildo Silveira. 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