Utilização da caracterização do lixo domiciliar de Piracicaba
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Utilização da caracterização do lixo domiciliar de Piracicaba
Bioenergia em Revista: Diálogos ano 1 | n. 2 | jul.2011 / dez.2011 | ISSN: 2236-9171 Bioenergia em Revista: Diálogos ISSN: 2236-9171 Bioenergia em Revista: Diálogos | publicação semestral | Piracicaba / Araçatuba ano 1 | n. 2 | jul. 2011 / dez. 2011 Editoria Profª Drª Filomena Maria Formaggio Editores de Seção Profª Drª Filomena Maria Formaggio – Fatec Piracicaba Prof. Dr. Luis Fernando Sanglade Marchiori – ESALQ-USP e Fatec Piracicaba Prof. Dr. Paulo Cesar Doimo Mendes – Fatecs de Piracicaba e Itapetininga, EEP Prof. Dr. Fernando de Lima Camargo – Fatec Piracicaba, EEP Prof. Dr. Christiano França da Cunha – Fatec Piracicaba e UNIMEP Prof. Msc. Fabio Augusto Pacano – Fatec Piracicaba, CNEC Capivari-SP Profª Msc. Luciana Fischer – Fatec Piracicaba e PUCCampinas-SP Bel. e Tecnólogo Maurício D. C. Pinheiro – Fatec Piracicaba Comissão Editorial Filomena Maria Formaggio - Fatec Piracicaba Vanessa de Cillos S. Perina - Fatec Piracicaba Paulo Cesar Doimo Mendes - Fatec Piracicaba Carolina Ribeiro Germek - Fatec Araçatuba Marcia Nalesso Costa Harder - Fatec Piracicaba Fabio Augusto Pacano - Fatec Piracicaba Karenine Miracelly Rocha da Cunha - Fatec Araçatuba TOMÁS CAETANO RÍPOLI - ESALQUSP VITOR MACHADO - Fatec Botucatu ADOLFO CASTILLO MORÁN CÓRDOBA, VER. MÉXICO GREGÓRIO M. KATZ - SAN MIGUEL DE TUCUMÁN - ARGENTINA GUILHERME A. MALAGOLLI - Fatec TAQUARITINGA MURILO MELO - ESALQ-USP ANGELO LUIS BORTOLAZZO CENTRO PAULA SOUZA JORGE CORBERA GOROTIZA - SAN JOSE DE LAS LAJAS - LA HABANA CUBA Bioenergia em Revista: Diálogos (ISSN 2236-9171) é uma publicação eletrônica semestral vinculada à Faculdade de Tecnologia de Piracicaba “Dep. Roque Trevisan” e à Faculdade de Tecnologia de Araçatuba (Fatecs). Objetivo: publicar estudos inéditos, na forma de artigos e resenhas, nacionais e internacionais, que contribuam ao debate acadêmico-científico, além de estimular a produção acadêmica nos níveis da graduação e pós-graduação. Os artigos são de responsabilidade exclusiva dos autores. É permitida sua reprodução, total ou parcial, desde que seja citada a fonte. Conselho Editorial GISELE GONÇALVES BORTOLETO Fatec PIRACICABA ELIANA MARIA G. RODRIGUES DE SIQUEIRA - Fatec PIRACICABA REGINA MOVIO DE LARA - Fatec PIRACICABA SIU MUI TSAI SAITO - CENA – USP RAFFAELLA ROSSETTO - APTA PÓLO REGIONAL CENTRO SUL ADA CAMOLESI - FIMI Piracicaba MARLY T. PEREIRA - ESALQ-USP Bioenergia em Revista: Diálogos / Fatec Faculdade de Tecnologia de Piracicaba / Faculdade de Tecnologia de Araçatuba. - Piracicaba / Araçatuba, SP: a Instituição, 2011. v. Semestral - ISSN 2236-9171 1. Ciências Aplicadas / Tecnologia- periódico I. Bioenergia em Revista: Diálogos II. Fatec Faculdade de Tecnologia de Piracicaba “Dep. Roque Trevisan” / Faculdade de Tecnologia de Araçatuba. Bioenergia em Revista: Diálogos ● Rua Diácono Jair de Oliveira, 651 ● Bairro Santa Rosa CEP: 13.414-155 ● Piracicaba / SP ● Telefone: [+55 19] 3413-1702 E-mail: <[email protected]> Sumário 4 6 9 18 31 51 60 80 Apresentação Chamada de Artigos Utilização da caracterização do lixo domiciliar de Piracicaba - SP para subsidiar plano diretor de resíduo sólido Fábio Cesar da Silva, Ludimila Berno, Ludmar Antonio Romanini e Natália Bacchini Sistema de gestão da qualidade do composto de lixo urbano para agricultura em diferentes países (Revisão) Fábio Cesar da Silva, Taciana Figueiredo Gomes, Marcio Roberto Butrico Análisis de evolución de la producción de caña de azúcar y de etanol en Brasil René Antonio Iturra, Fabio C. Silva, Carlos Gregório Hernandez Diaz-Ambrona Gestão de pessoas no setor sucroalcooleiro: os desafios do processo de mecanização Marcio Luis Carreira, Decio Henrique Franco Gestão de pessoas e as novas tecnologias para otimizar o desenvolvimento organizacional: a utilização de blog interno Luciana Fischer Um estudo sobre remuneração em seus aspectos jurídico-administrativos Flávia Negri Favarim Apresentação O periódico Bioenergia em Revista: Diálogos, publicação das Faculdades de Tecnologia de Piracicaba Dep. “Roque Trevisan” e de Araçatuba oferecem à comunidade acadêmica o seu segundo número. Tal publicação, como dito em seu número inicial, resulta de uma proposta para além da usualmente pensada à formação tecnológica, mas que considera a pesquisa, a inovação e a dialogicidade como elementos constituidores desta formação. Nessa perspectiva, o presente número traz à discussão importantes temas que envolvem as áreas de abrangência propostas por este periódico e inicia com uma reflexão acerca da importância do “gerenciamento municipal de resíduos sólidos urbanos (RSU) em Piracicaba”. Os autores discutem, também, “alternativas de processamento de resíduos sólidos, tais como produtos orgânicos com potencial energético elevado para a agricultura (composto orgânico), ou redução do consumo de energia elétrica e a não extração de recursos renováveis, visando à reciclagem de materiais inorgânicos em resíduos sólidos”. Na sequência, e ainda no âmbito dos resíduos, o artigo “Sistema de gestão da qualidade do composto de lixo urbano para agricultura em diferentes países” propõe um estudo acerca “dos padrões utilizados para a compostagem em alguns países da Europa, América do Norte e Brasil”. “Análisis de evolución de la producción de caña de azúcar y de etanol en Brasil” é a proposta de discussão deste artigo que se situa no âmbito de abrangência das pesquisas sobre energia e inclui, também, propostas sobre as possibilidades de comercialização na perspectiva de energia limpa. Na sequência, o artigo “Gestão de pessoas no setor sucroalcooleiro: os desafios do processo de mecanização” apresenta informações atualizadas do setor sucroalcooleiro no Brasil e algumas questões referentes ao processo de mecanização da colheita da canade-açúcar e os desafios da gestão de pessoas nesse setor. Os autores trazem à tona o importante papel da gestão no treinamento e desenvolvimento das pessoas envolvidas na organização em todo o setor sucroalcooleiro. Refletir sobre a “Gestão de pessoas e as novas tecnologias para otimizar o desenvolvimento organizacional: a utilização de blog interno” é a proposta deste artigo, uma vez que de acordo com a autora o “processo de modernização nas ferramentas tecnológicas, aliadas às organizações, reforça a necessidade constante de adaptabilidade referentes às novas formas de procedimentos que são propostas junto ao público interno da organização”. Fechando esta edição apresentamos um artigo que propõe “um estudo sobre remuneração em seus aspectos jurídico-administrativos” cuja autora busca refletir sobre a “definição dos conceitos de remuneração na esfera jurídica e administrativa, abordando a origem, a classificação, os tipos e as formas pelas quais esses termos se apresentam e recompensam o trabalhador”. Boa leitura! A Editora Chamada de artigos A Revista Bioenergia em Revista: Diálogos convida pesquisadores, docentes e demais interessados das áreas de Bioenergia, Gestão Empresarial, Agroindústria e áreas afins, a colaborarem com artigos científicos, de revisão e/ou resenhas para a próxima edição deste periódico. As normas de submissão e análise estão disponíveis em nosso site – www.fatecpiracicaba.edu.br/revista. Os trabalhos serão recebidos por via eletrônica até 30/05/2012, e os autores poderão acompanhar o progresso de sua submissão através do sistema eletrônico da revista. Os dados apresentados, bem como a organização do texto em termos de formulação e encadeamento dos enunciados e das regras de funcionamento da escrita são de inteira responsabilidade dos articulistas. Utilização da caracterização do lixo domiciliar de Piracicaba - SP para subsidiar plano diretor de resíduo sólido SILVA, Fábio Cesar da BERNO, Ludimila ROMANINI, Ludmar Antonio BACCHINI, Natália Resumo O objetivo do trabalho é o gerenciamento municipal de resíduos sólidos urbanos (RSU) em Piracicaba, com população de cerca de 350.000 habitantes. Os dados foram coletados em função dos aspectos climáticos, geográficos, desenvolvimento agrícola e tecnológico, leis com relação à limpeza pública e ambiental e principalmente as técnicas de tratamento e/ou disposição final de resíduos sólidos urbanos dos municípios. Além desses estudos, na cidade de Piracicaba também foi realizada a amostragem e a caracterização física de resíduos sólidos domésticos, incluindo alternativas de processamento de resíduos sólidos, tais como produtos orgânicos com potencial energético elevado para a agricultura (composto orgânico), ou redução do consumo de energia elétrica e a não extração de recursos renováveis, visando à reciclagem de materiais inorgânicos em resíduos sólidos. Palavras-chave: Resíduos Sólidos Urbanos, técnicas de tratamento, disposição final de resíduos sólidos urbanos. Abstract This work discusses the management of municipal solid waste in Piracicaba, São Paulo State, Brazil (pop. 350,000). Data was collected with regard to climate, geography, agricultural and technological development, sanitary and environmental laws, and principally with regard to the treatment and/or disposal of urban solid waste. In addition, the sampling and characterization of household solid waste was performed in the city of Piracicaba. Also studied were alternatives to the processing of solid residues, including the production of organic products with high-energy potential for agriculture (organic compost), the reduction of the consumption of electric energy, the nonextraction of renewable resources, and the recycling of inorganic solid waste. Keywords: urban solid residues, physical characterization of residues, treatment techniques, disposal of municipal solid waste. Resumen El objetivo es la gestión de los residuos sólidos urbanos (RSU) en Piracicaba, con una población de unos 350.000 habitantes. Los datos fueron obtenidos de acuerdo a los aspectos climáticos, geográficos, agrícolas y de desarrollo tecnológico, las leyes relativas a la sanidad pública y las técnicas del medio ambiente y, especialmente, el tratamiento y/o eliminación de residuos sólidos urbanos. Además de estos estudios en la ciudad de Piracicaba, también se realizó la caracterización física y toma de muestras de los residuos sólidos domésticos, incluido el tratamiento alternativo de los residuos sólidos, tales como productos ecológicos, con alto potencial energético para la agricultura (compuesto orgánico), o reducir el consumo de electricidad y la extracción de recursos no renovables, para el reciclaje de materiales inorgánicos de los residuos sólidos. Palabras-clave - Residuos Sólidos, las técnicas de tratamiento, la eliminación de los residuos sólidos. bioenergia em revista: diálogos, v.1, n.2, p. 09-17, jul./dez. 2011. SILVA, Fábio Cesar da; BERNO, Ludmila; ROMANINI, Ludmar Antonio; BACCHINI, Natália Utilização da caracterização do lixo domiciliar de Piracicaba - SP para subsidiar plano diretor de resíduo sólido 1 INTRODUÇÃO toneladas de lixo por dia, que é recolhidos das casas e transportados para o Aterro Sanitário. Porém temos a estimativa de que o volume de recicláveis é maior, já que além da grande quantidade que vai para o Aterro sanitário ESTRE em Paulínia SP, temos os carrinheiros (catadores) que recolhem recicláveis do lixo colocados para a coleta convencional e depositados no Aterro e também, existem duas cooperativas: a do Reciclador Solidário que trabalha com excatadores do Aterro Sanitário e a Reciclar 2000 que está relacionada com o Centro de Reabilitação (ONG que trabalha em prol a pessoas deficientes), ambas trabalham regularmente com a população de casa em casa incentivando a coleta seletiva e recolhendo os recicláveis. Concluindo-se que há mais recicláveis que a capacidade de recolhimento feita por carrinheiros e cooperativas. Conscientes da problemática quanto à gestão dos resíduos sólidos urbanos, o referido trabalho contém um levantamento da situação e visa à elaboração do Plano Diretor do município de Piracicaba e discutir em fóruns municipais, abrangendo desde a coleta e serviços congêneres, tratamento e destinação final, e em última análise a proteção à saúde pública e a qualidade de vida da população (IPT, 2000, GONÇALVES, 2003). Faz parte do nosso estudo a população atendida pela coleta pública domiciliar, pois ela pode ser considerada a maior colaboradora para a redução e reaproveitamento dos resíduos gerados nas residências, provenientes dos mais variados tipos de produtos (alimentícios podas e aparos de plantas, limpeza, embalagem, construção, entre outros). Para tanto, a coleta seletiva é uma alternativa ecologicamente correta que desviam o destino em aterros sanitários ou lixões, resíduos sólidos que podem ser reciclados. Por um lado a vida útil dos aterros sanitários é prolongada e o meio ambiente é menos contaminado, diminuindo a extração dos recursos naturais através do uso de matéria-prima reciclável. Tornando-se importante e necessário a caracterização e quantificação dos resíduos sólidos, para trabalharmos corretamente sua destinação (SILVA et al., 2009). Segundo Campos Filho (2001), consideram-se bens urbanos, habitação, transporte, água, esgoto, ruas pavimentadas, escolas, hospital, posto de saúde, iluminação, coleta e tratamento de lixo. O início do planejamento é a obtenção de dados confiáveis começando com amostragem para obtenção de amostra representativa, caracterizando o lixo domiciliar (SILVA et al., 2009). O gerenciamento dos resíduos sólidos é algo providencial em qualquer cidade, em particular, apresentaremos uma alternativa de planejamento que pode subsidiar um Plano Diretor para resolver o problema do resíduo, da sua geração à sua destinação adequada, na cidade de Piracicaba. Hoje a população produz 270 (aproximadamente 600g/hab./dia) O Instituto Virtual de Educação para Reciclagem afirma que o Brasil produz em média 241.614 toneladas de lixo diariamente, onde a composição média do lixo domiciliar no Brasil é de 65% de matéria orgânica, 25% de papel, 4% de 9 bioenergia em revista: diálogos, v.1, n.2, p. 09-17, jul./dez. 2011. SILVA, Fábio Cesar da; BERNO, Ludmila; ROMANINI, Ludmar Antonio; BACCHINI, Natália Utilização da caracterização do lixo domiciliar de Piracicaba - SP para subsidiar plano diretor de resíduo sólido 2 MATERIAL E MÉTODOS metal, 3% de vidro e 3% de plástico; e as latas de alumínio, que corresponde a apenas 1% do total de resíduos sólidos urbanos, pois são comercializados por catadores antes de chegar aos aterros. 2.1 Levantamento Preliminar de Dados Nessa fase define-se o número total de amostras (33, sendo uma de cada setor), onde (no aterro do Pau Queimado) e como coletá-las (manualmente após despejo do caminhão de coleta). São pesquisados também dados referentes ao sistema de limpeza pública, tais como número de setores de coleta (33), utilizando-se o princípio básico da classificação de bairros de acordo com as classes de renda familiar (CETESB), a freqüência de coleta (três vezes por semana), foi baseada no teorema central da media (IPT, 2000), considerando as características dos veículos coletores (tipo Volkswagen 16.70 BT com capacidade de 7500 a 8000 Kg), à distância aos locais de tratamento e disposição final (dista de 5 km a 30 km) e quantidade de resíduos gerada (média de 700g/dia/hab.). Diagnosticaram-se os aspectos gerenciamento de resíduos sólidos urbanos para subsidiar a elaboração do Plano Diretor de Resíduos Sólidos do Município de Piracicaba – SP. No entanto, devemos ressaltar que apenas 24% do lixo no país são devidamente tratados, pois o lixo caracteriza-se como uma fonte de poluição, não apenas como uma nova mercadoria, podendo, também, ser reaproveitado (BOJADSEN, 1997). Piracicaba conta com o sistema de coleta domiciliar, com destinação dada em aterro controlado classe II. O município também conta com serviço de varrição feita por garis, contratadas pela Transpolix (empresa terceirizada responsável pela coleta urbana). A coleta de resíduos de serviços de saúde, também terceirizada, é coletada por caminhões próprios para este tipo de coleta, pesado na balança do aterro e depois levado para São Paulo, onde são incinerados com custo para a Prefeitura de aproximadamente R$ 50, 00 por quilograma incinerado. O objetivo específico foi levantar as quantidades e a qualidade dos resíduos sólidos domiciliares, destinados ao aterro Pau Queimado e depois ao aterro sanitário ESTRE, produzidos por região do município. Portanto, a finalidade deste trabalho é dar subsídios ao Plano Diretor de Resíduos Sólidos, quantificando e qualificando os resíduos sólidos de responsabilidade pública que são destinados no Aterro. Especificando quais os gastos da Prefeitura de Piracicaba com o destino do lixo no aterro, quais as estratégias para um melhor destino, a possibilidade de se fazer a rota dos caminhões de coleta com um menor custo, de acordo com o que já é executado na cidade. Para a realização deste, foram necessários quinze dias de permanência no aterro do Pau Queimado – Piracicaba – SP, durante o período de 25 a 31/07 e de 29/08 a 3/9/2005, para a classificação e quantificação dos resíduos sólidos domiciliares, de acordo com 33 setores de coleta, distância aproximada de 5 km a 30 10 bioenergia em revista: diálogos, v.1, n.2, p. 09-17, jul./dez. 2011. SILVA, Fábio Cesar da; BERNO, Ludmila; ROMANINI, Ludmar Antonio; BACCHINI, Natália Utilização da caracterização do lixo domiciliar de Piracicaba - SP para subsidiar plano diretor de resíduo sólido km aos locais de tratamento e disposição final e, quantidade de resíduos gerada (700g/dia/hab.). Após este procedimento operacional houve a prática experimental no laboratório de solos do CENA – USP para a determinação da umidade das amostras orgânicas. - No laboratório do CENA – USP foi analisada a umidade das amostras (250g) de três setores: Setor 13 (amostra 1): Bairro Santa Terezinha; Setor 4 (amostra 2): Bairro Paulista e; Setor 28 (amostra 3): Bairros Rurais; - As amostras foram devidamente identificadas e levadas para a Estufa de circulação de ar para secagem a 105°C por 48 horas; A composição física e química dos resíduos realizada teve por base metodológica as instruções técnicas da Companhia de Tecnologia do Estado de São Paulo – CETESB, em sua publicação: “Resíduos Sólidos Domésticos: Tratamento e Disposição Final”. 2.2 Cálculos do teor de umidade de RSU %U = (PU + tara) – (PS + tara) x 100 (PU + tara) – (tara) O aterro do Pau Queimado desde o início da década de 70 é utilizado para disposição final de resíduos domiciliares, tendo alguns cuidados com o meio ambiente como impermeabilização do solo, a qual é feita diariamente com a cobertura com terra no final de cada expediente, com dreno de gases e de chorume e, o monitoramento para verificação de águas subterrâneas e superficiais trimestralmente. Foi projetado para durar aproximadamente 25 anos, encontrando-se atualmente com sua vida útil esgotada, o qual prevê a instalação de um aterro sanitário, deveria ser construído até 2007, o que não foi possível por diversos problemas. A caracterização dos resíduos sólidos constituiu em: - Coleta da pesagem (entrada e saída) dos caminhões de coleta (capacidade de 7500 a 8000 Kg), descarregados, dos 33 setores correspondentes; - Coleta de aproximadamente 50 kg de amostra de cada setor, retiradas de cada canto da pilha (quarteamento); - Rompimento de sacos plásticos e revolvimento de lixo (homogeneização). - Separação e caracterização (por tipo) dos resíduos, armazenados em sacos plásticos de 200 litros, identificado com o setor correspondente para pesagem posterior; 2.3 Legislação pertinente A Lei municipal nº 47019/1995 autoriza o executivo a implantar programa de coleta seletiva. A lei federal 11445/07 Plano de Saneamento de resíduos Sólidos Urbanos de Piracicaba traz as diretrizes para o gerenciamento de RSU do município. - Todo o material foi separado manualmente nas seguintes classes: metais, papel, papelão, plástico, orgânico e “outros”. Depois da separação, cada classe foi ensacada e pesada em uma balança de capacidade 100 Kg, com precisão de +/- 20g; 11 bioenergia em revista: diálogos, v.1, n.2, p. 09-17, jul./dez. 2011. SILVA, Fábio Cesar da; BERNO, Ludmila; ROMANINI, Ludmar Antonio; BACCHINI, Natália Utilização da caracterização do lixo domiciliar de Piracicaba - SP para subsidiar plano diretor de resíduo sólido A Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12305/2010), nos artigos 18 e 19, torna obrigatória a elaboração de Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos, o qual deve contemplar os aspectos: i) diagnóstico da situação do resíduo gerado; ii) identificação de áreas favoráveis para disposição ambientalmente adequadas de rejeitos; iii) identificação de possibilidades de implantação de soluções consorciadas ou compartilhada com outros municípios; iv) indicadores de desempenho operacional dos serviços públicos; v) programas e ações participativas (ex. cooperativas), população de baixa renda; vi) custos; vii) metas de redução, reutilização, coleta seletiva e reciclagem. PNRS 12305/10, que vem pautando as alterações no sistema de gerenciamento de resíduos do município de Piracicaba. habitante por dia. O resultado assusta, pelo fato de levantar suspeita sobre a confiabilidade das estatísticas oficiais existentes. Na tabela 1, observam-se os resultados médios obtidos na caracterização do RSU no município, em que a matéria orgânica representa a metade de sua composição. Tabela 1 - Média Percentual das frações nos resíduos sólidos nos setores em Piracicaba SP. Resíduo Matéria Orgânica Metal Papelão Plástico Papel Tecidos Vidro Madeira Couro Borracha Hospitalar Outros 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO De fato, na coleta oficial aparece uma quantidade insignificante de papelão, sendo impossível quantificar as coletas informais e a coleta de dados confiáveis é tecnicamente impossível. A partir de indagações diversas, estima-se em 1000 o número de famílias que se dedicam à coleta informal e alegam coletar três toneladas por mês de material reciclável. Se esses valores forem confirmados, a coleta informal representaria 100 toneladas por dia. Quando adicionado à coleta oficial de 270 toneladas por dia, este valor elevaria a taxa de geração de lixo de 0,629 a 0,856 gramas por Qde. Gerada (%) 50,74 0,83 4,10 11,25 2,22 4,21 0,87 0,08 0,93 0,2 0,2 24,34 Determinação do Teor de Umidade Na Tabela 2, temos os valores dos pesos úmidos (PU) das amostras e seus pesos secos (PS), que permitiu obter uma porcentagem de umidade no RSU na ordem de 66 a 76% (%U), com contribuição da fração orgânica.·. 12 bioenergia em revista: diálogos, v.1, n.2, p. 09-17, jul./dez. 2011. SILVA, Fábio Cesar da; BERNO, Ludmila; ROMANINI, Ludmar Antonio; BACCHINI, Natália Utilização da caracterização do lixo domiciliar de Piracicaba - SP para subsidiar plano diretor de resíduo sólido Tabela 2 - Resultados de umidade do RSU em setores do município de Piracicaba SP. Identificação Setor 13 Setor 4 N° laborat 1 ório 2 PU 282,50 232,04 OS 78,76 78,87 Tara 5,42 5,42 %U 72,12 66,01 Idem Setor 13 Tificação Setor 4 Setor 28 3 212,72 50,3 5,42 76,35 Setor 28 Análise econômica da reciclagem no Município Com as considerações de um Plano Diretor de resíduos sólidos, verificou-se que a quantidade de recicláveis apresentadas no software, de acordo com a quantidade gerada de lixo por habitante por dia no município, é de 48%, sendo economicamente viável a proposta. Mas, de acordo com a análise quantitativa feita no aterro e considerando a quantidade de resíduos recicláveis que são desviados antes da coleta, temos um valor de aproximadamente 19,3% de materiais recicláveis no município. Em Piracicaba, diariamente, são coletadas e transportadas cerca de 300 toneladas de resíduo sólido, considerando-se a população de 364.872 habitantes, (IBGE, 2010), IDH de 0,836 e resíduos per capita de 0,76Kg/hab. (SNIS, 2010). Existe uma correlação inversa entre o IDH e a fração orgânica do RSU, ou seja, a população mais pobre produz um RSU predominante orgânico. A análise foi comparada com o software VERDES, que trata estima o valor potencial de benefícios de reciclagem de RSU, considerando se o número de habitantes (364.872); valor do salário mínimo R$ 545; cotação do dólar R$ 1.80; quantidade de lixo gerado por habitante por dia da Região em estudo 0.76Kg (orgânico e inorgânico) e o preço de Mercado dos produtos reciclados. A análise de caracterização do RSU e o estudo dos dados e informações públicas apresentadas no trabalho, concluirmos que o gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos não é efetuado com manejo racional e o modelo empregado para os resíduos sólidos utiliza-se um fluxo linear que corresponde, basicamente a enterrar o lixo no aterro, principalmente por não ter apresentado tratamento e/ou aproveitamento. O município perde potencialmente, por ano, na ordem de 34 milhões e 135 mil reais por não reciclar adequadamente o RSU, que se deve ao uso desnecessário de recursos naturais, água e energia. De acordo com SEDEMA do município de Piracicaba apresentado no Fórum de resíduos da cidade (2011), o custo por toxidade de R$182,82 a quantidade mensal de 9.091 ton., em população considerada de 364.872 habitantes, gerando o custo médio de R$4,55/hab./mês. O gasto mensal de coleta, transporte e destinação no atual contrato na ordem de 2 milhões e 294 mil reais. De acordo com as análises realizadas com os resíduos sólidos domiciliares que se destinam ao aterro Pau Queimadas, observar-se-á que o modelo de gerenciamento de resíduos sólidos é 13 bioenergia em revista: diálogos, v.1, n.2, p. 09-17, jul./dez. 2011. SILVA, Fábio Cesar da; BERNO, Ludmila; ROMANINI, Ludmar Antonio; BACCHINI, Natália Utilização da caracterização do lixo domiciliar de Piracicaba - SP para subsidiar plano diretor de resíduo sólido praticamente o linear, em que se destina diretamente na sua maioria ao aterro municipal, que não constitui um manejo sustentável, por não utilizar racionalmente o tratamento e a reciclagem. Todavia, nos fóruns de gestão de Resíduos de Piracicaba a destinação final dos RSU do município ao aterro sanitário ESTRE, em Paulínia SP, não mostra se uma opção sustentável. do município de Piracicaba são destinados ao aterro sanitário ESTRE. 4 CONCLUSÃO O Município de Piracicaba, baseados nas estimativas das quantidades de resíduos sólidos recicláveis que se destinam ao aterro sanitário, com o apoio do software VERDES, há viabilidade economicamente da implantação de um Plano Diretor para os resíduos sólidos, porque temos aspectos positivos como geração de empregos, economia de matéria-prima, energia e água. Deve ser dado destaque a necessidade da implantação da compostagem, como uma alternativa estratégica para a reciclagem da fração orgânica do RSU. O tratamento dos resíduos sólidos é precário, nem sequer chega a ser considerado, uma vez que o aterro do Pau Queimado é considerado Classe II (aterro controlado). As estimativas de geração de RSU na cidade, no mínimo, pode-se argumentar que a abrangência da movimentação nacional de lixo domiciliar está sendo subestimada, que as estatísticas se limitam à coleta oficial, e que pesquisas mais aprofundadas são necessárias para melhor caracterizar a situação. A média estimada da composição física quantitativa dos resíduos sólidos domésticos em Piracicaba (% em peso – base úmida) dos 33 setores de coleta foi a seguinte: Matéria orgânica = 50,74%, papel = 2,22%%, papelão = 4,1%, metal = 0,83%, plástico = 11,25%, vidro = 0,87%, pano = 4,21%, madeira = 0,08%, borracha = 0,2%, couro = 0,93, hospitalar* = 0,2 e outros = 24,34%, que variou muito em função do poder aquisitivo dos setores e a população de seus respectivos bairros. Desde 2008, o aterro sanitário do Pau Queimado, vem recebendo medidas para recuperação ambiental e acondicionamento técnico da área. Atualmente, os resíduos sólidos urbanos 14 bioenergia em revista: diálogos, v.1, n.2, p. 09-17, jul./dez. 2011. SILVA, Fábio Cesar da; BERNO, Ludmila; ROMANINI, Ludmar Antonio; BACCHINI, Natália Utilização da caracterização do lixo domiciliar de Piracicaba - SP para subsidiar plano diretor de resíduo sólido 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOJADSEN, M.I. (Coord.) Lixo e reciclagem. São Paulo: 5 Elementos, 1997. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Secretaria Executiva. Fundo Nacional do meio ambiente. 2000. Fomento a projetos de ordenamento da coleta e disposição final adequada de resíduos sólidos: manual para apresentação de propostas. Brasília: MMA (Edital FNMA 02/2000). CAMPOS FILHO, C. M. – Cidades Brasileiras: seu controle ou o caos: o que os cidadãos devem fazer para a humanização das cidades no Brasil – 4. ed. – São Paulo: Studio Nobel, 2001. (cidade aberta) CEGEA 2010. 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Consultado em 10-08-2011. 16 bioenergia em revista: diálogos, v.1, n.2, p. 09-17, jul./dez. 2011. SILVA, Fábio Cesar da; BERNO, Ludmila; ROMANINI, Ludmar Antonio; BACCHINI, Natália Utilização da caracterização do lixo domiciliar de Piracicaba - SP para subsidiar plano diretor de resíduo sólido 1 Fábio Cesar Silva é pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária, Professor da Fatec Piracicaba, Pós-doutorado na UPM-ETSIA, C. Postal = 6041, Cidade Universitária Zeferino Vaz, 13.083970 Campinas SP, Brasil. E-mail: [email protected] 2 Ludmila Berno é Tecnóloga em Saneamento Ambiental, UNICAMP / Faculdade de Tecnologia, Rua Paschoal Marmo, 1888, Limeira, SP, Brasil. E-mail: [email protected] 3 Ludmar Antonio Romanini é Engenheiro da Sedema - Prefeitura de Piracicaba, Piracicaba SP. 4 Natália Bacchini é Tecnóloga em Saneamento Ambiental UNICAMP / Faculdade de Tecnologia, Rua Paschoal Marmo, 1888, Limeira, SP, Brasil. E-mail: [email protected] 17 Sistema de gestão da qualidade do composto de lixo urbano para agricultura em diferentes países (Revisão)* SILVA, Fabio Cesar GOMES, Taciana Figueiredo BUTRICO, Marcio Roberto Resumo O sistema de qualidade de um produto é a garantia do consumidor, e neste caso, o agricultor deve receber na lavoura um fertilizante orgânico livre de problemas ambientais. O referido estudo inclui uma revisão dos padrões utilizados para a compostagem em alguns países da Europa, América do Norte e Brasil. A gestão da qualidade do adubo orgânico é composto por normas legais, desenvolvidas para governar aspectos potencialmente prejudiciais da produção e utilização do composto; normas legais complementares, como uma regulamentação adicional com precaução para a saúde humana e ao meio ambiente e normas voluntárias. As diferenças entre as normas legais estão relacionados com as diferenças culturais e as diferentes filosofias de limites de determinação de metais pesados, e as normas voluntárias de alguns países tomam lugar da norma legal, fomentando o desenvolvimento do mercado. Palavras-chave - resíduos sólidos urbanos, padrão de qualidade, compostagem. Abstract The quality system for a product is the consumer's guarantee, and in the case under discussion the farmer must receive an organic fertilizer free from environmental problems. This study includes a review of the standards used for composting in Brazil and in various countries of Europe and North America. The management of the quality of organic manure is regulated by legal norms developed to manage potentially prejudicial aspects of the production and utilization of compost, as well as by complementary legal norms such as environmental and health regulations and voluntary measures. The differences between legal norms in various countries are related to cultural differences and to the different philosophies regarding the limits of the determination of heavy metals. In some countries, voluntary norms take the place of legal norms, fomenting the development of the market. Keywords: urban solid waste, quality standards, composting. * Trabalho apresentado na ICECE – Internacional Conference on Engineering and Computer Education, março de 2007. Resumen El sistema de calidad de un producto es la garantía del consumidor, y en este caso, el productor debe recibir en el cultivo de un fertilizante orgánico libre de problemas ambientales. El estudio en lo que se refiere incluye una revisión de las normas utilizadas para el compostaje en algunos países de la Europa, Norteamérica y Brasil. La gestión de la calidad de abono orgánico está compuesto por normas legales, desarrollados para descartar aspectos potencialmente dañinos de la producción y el uso de su composición; las normas legales complementarias, como una regulación adicional con las precauciones para la salud humana y el medio ambiente y las normas voluntarias, la Sistema de Aseguramiento de Calidad. Las diferencias entre las normas legales están vinculadas a las divergencias culturales y las filosofías diferentes de los límites de determinación de metales pesados, y las normas voluntarias en algunos países se producen de la norma legal y fomentar el desarrollo del mercado. Palabras-clave: residuos sólidos urbanos, norma de calidad, el compostaje. bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p. 18-30, jul./dez. 2011. SILVA, Fabio Cesar; GOMES, Taciana Figueiredo, BUTRICO, Marcio Roberto Sistema de gestão da qualidade do composto de lixo urbano para a agricultura em diferentes países 1 INTRODUÇÃO produtivo e h) Regularidade, continuidade, funcionalidade e universalização da prestação serviços públicos de limpeza urbana… 1.1 Politica nacional e estadual de resíduos sólidos Em 16 de março de 2006, foi promulgada pelo governador do estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, a Lei n°. 12.300, que institui a Política Estadual de Resíduos Sólidos (São Paulo), seus princípios e diretrizes, a qual está em concordância com a Politica Nacional aprovada em 2010, dispondo sobre seus princípios, objetivos e instrumentos, bem como sobre as diretrizes relativas à gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos, incluídos os perigosos, às responsabilidades dos geradores e do Poder Público, e aos instrumentos econômicos aplicáveis. Uma segunda consideração diz respeito à reafirmação de princípios explicitados na própria Constituição Federal, que muitas vezes são deliberadamente negligenciados. Neste sentido, o Artigo 2o do Primeiro Capítulo da Lei, em seu inciso VII, garante, como princípio da Política Estadual de Resíduos Sólidos, o direito da sociedade “à informação, pelo gerador, sobre o potencial de degradação ambiental dos produtos e o impacto na saúde pública”. Ainda no Artigo 2o, em seu inciso X, a Lei apresenta como princípio, “a responsabilidade dos produtores ou importadores de matériasprimas, de produtos intermediários ou acabados, transportadores, distribuidores, comerciantes, consumidores, catadores, coletores, administradores e proprietários de áreas de uso público e coletivo e operador de resíduos sólidos, em qualquer das fases de seu gerenciamento”. Esta Lei vem preencher uma lacuna no que diz respeito à gestão de resíduo sólido no Estado de São Paulo e no Brasil, embora apresente algumas características que merecem destaque. Uma primeira consideração na PNRS trata-se dos objetivos estratégicos previstos: a) Proteção da saúde pública e da qualidade do meio ambiente; b) Não geração, redução, reutilização, reciclagem e tratamento de resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos; c) Desenvolvimento de processos que busquem padrões sustentáveis de produção e de consumo de bens e serviços; d) Desenvolvimento de tecnologias limpas de forma a minimizar os impactos ambientais; e) Incentivo à indústria da reciclagem; f) Gestão integrada de resíduos sólidos; g) Articulação entre diferentes esferas do Poder Público e destas com o setor Merece destaque ainda, o inciso III do Capítulo 3o, onde é apresentado como objetivo da Política de Resíduos Sólidos do Estado SP, em consonância com a PNRS, “reduzir a quantidade e a nocividade dos resíduos sólidos, evitarem os problemas ambientais e de saúde públicos por eles gerados e erradicar os ‘lixões’, ‘aterros controlados’, ‘bota-foras’ e demais destinações inadequadas”. Este destaque se deve, particularmente, à consideração que os denominados “aterros controlados” representam práticas inadequadas de destinação de resíduo e devem ser banidas. Vale 20 bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p. 18-30, jul./dez. 2011. SILVA, Fabio Cesar; GOMES, Taciana Figueiredo, BUTRICO, Marcio Roberto Sistema de gestão da qualidade do composto de lixo urbano para a agricultura em diferentes países 2 PADRÕES ESTATUTÁRIOS destacar que, há bem pouco tempo, estas práticas eram toleradas explicitamente pela Agência de Controle do Estado de São Paulo (CETESB, 1999). O mercado de fertilizantes orgânicos para as propriedades rurais deve ser regulamentado, uma vez que o composto é derivado de resíduos e o agricultor tem que empregar na lavoura um produto com o mínimo de problemas ambientais. É nesse sentido que os padrões estatutários compreendem essencialmente requerimentos de precaução, relacionados à higiene, substâncias tóxicas e impurezas e cobrem aspectos de monitoramento dos aspectos relacionados às propriedades do composto (Tabela 1). Quando os resíduos sólidos urbanos sofrem o processo de compostagem, denominam-se composto de lixo urbano. Tal composto deve atingir a qualidade preconizada pela regulamentação da Instrução Normativa SDA nº 27 de 05/06/2006, do Ministério da Agricultura para que traga uma maior aceitação do processo de compostagem e permita o comercio como produto registrado (MAPA, 2006). Tabela 1 - Legislação para composto de origem do Estado PAÍS Áustria Bélgica Dinamarca Finlândia França Alemanha Grécia Irlanda Itália Luxemburgo Paises Baixos Portugual Espanha Suécia Reino Unido Estados Unidos Brasil REGULAMENTAÇÕES DE ORDEM ESTATUTÁRIA PARA QUALIDADE DE COMPOSTOS Lei de Compostagem (FLG II nº 292/2001) Decreto Real (Arrete Royal), com adições de Março de 1990 Lei Estatutária nº 49 – “Aplicações de produtos originados de resíduos para agricultura” (Ministério do Meio Ambiente e Energia, Janeiro de 2000) Resolução do Ministério da Agricultura e Floresta (46/49) Lei Francesa para Aprimoradores do Solo (NF U 44051) Decreto de Composto (Biowaste Ordinance) Resolução Ministerial KYA 114218/97 (1016B/17-11-1997) Licenciamento conforme o Decreto para Gerenciamento de Resíduos Lei para Fertilizantes (L 748/84), modificada pelo Decreto 27 Março de 1998 Integrado no licenciamento Decreto para Outros Fertilizantes Orgânicos (BOOM-decree) Nenhuma Decreto, 28 de Maio de 1998, para Fertilizantes e Produtos Relacionados Nenhuma Nenhuma US EPA Sludge Rule Instrução Normativa SDA nº 27, 05 de Junho de 2006. Fonte: ABISOLO (Padrões internacionais para composto orgânico, Outubro, 2005). 21 bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p. 18-30, jul./dez. 2011. SILVA, Fabio Cesar; GOMES, Taciana Figueiredo, BUTRICO, Marcio Roberto Sistema de gestão da qualidade do composto de lixo urbano para a agricultura em diferentes países 3. RESÍDUO X PRODUTOS gerações no estado em que está, possibilitanto-o a ser empregado para qualquer finalidade. Um importante aspecto da regulamentação dos compostos é a questão sobre quando o material compostado recebe o status de produto e deixa de ser considerado resíduo, não mais precisando de licenciamento ou permissão para uso. No Brasil, assim como na França, Itália e na maioria dos países, o padrão efetivamente faz a distinção entre resíduo e composto. Já na Áustria, para todo lote de composto produzido é emitido um documento com as informações que atestam as exigências, tanto de recebimento de matéria-prima como de controle de qualidade do processo de compostagem. Assim, o lote perde seu status legal anterior e adquire a qualificação de produto. A Rota de Exposição é um processo que simula o contato dos indivíduos com os contaminantes originados em uma fonte de contaminação por poluentes. Não é simplesmente um compartimento ambiental (solo, ar, água, etc.) ou uma via de exposição (Inalação, ingestão, contato); pelo contrário, incluem todos os elementos que ligam uma fonte de contaminação com a população receptora. Na realidade, o limite numérico dos países da Europa representa o nível de carga máxima para o impacto zero e os limites numéricos promulgados pelo regulamento dos Estados Unidos, são as máximas permitidas sem causar qualquer efeito perigoso aos homens e animais. Ambos os critérios são conceitualmente defensáveis e eles definem o limite de carga segura de poluentes para aplicações no solo. 3.1. Metais Pesados Como as regulamentações legais focam de início a limitação de elementos perigosos, o limite para metais pesados é o mais óbvio. As desigualdades entre as legislações refletem as diferenças históricas e culturais do desenvolvimento dos países no controle ambiental. Porém, essas desigualdades não são reflexos de uma falta de consciência ambiental, mas diferenças metodológicas. Nos países da União Europeia, onde existem regulamentações de caráter estatal, a metodologia empregada, denominada de Impacto Zero ou Balanço de Metais, sugere que as quantidades de metais a serem adicionadas ao solo devem apenas repor as pequenas perdas resultantes da remoção pelas culturas, erosão do solo e lixiviação. De sentido conservacionista, o principal objetivo é o de preservar o solo e outros recursos naturais para as futuras No Brasil, a legislação atual referente à disposição de lodo de esgoto no estado de São Paulo (Norma P 4230, CETESB, 1999) estabelece limites quanto às quantidades de lodo que podem ser aplicadas no solo, baseando-se, principalmente, nos teores de metais pesados. Uma vez que a dose aplicada em áreas agrícolas é calculada de acordo com os teores de nitrogênio no lodo com a necessidade deste elemento pela cultura, pode ocorrer um acúmulo de fósfoto e metais pesados no solo. É importante frisar que as medidas da Norma P 4230 são baseadas em legislação 22 bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p. 18-30, jul./dez. 2011. SILVA, Fabio Cesar; GOMES, Taciana Figueiredo, BUTRICO, Marcio Roberto Sistema de gestão da qualidade do composto de lixo urbano para a agricultura em diferentes países americana e devem ser revisados a cada 2 anos, cujos critérios foram desenvolvidos em condições edafoclimáticas diferentes das brasileiras. O estabelecimento de limites cumulativos no solo também pode ser questionado, uma vez que há poucos estudos de longo prazo que levem em conta as interações dos metais com o meio ambiente ao serem aplicados no solo. uma vez que é mais sensato regular o que pode ser usado do que correr o risco criando brechas na lei definindo apenas o que não pode ser usado. Mesmo onde não há regulamentação sobre a inclusão ou exclusão de matéria prima fica implícita pela maneira como os parâmetros para produção estão regrados. No Brasil, por exemplo, dificilmente materiais que não sejam segregados na fonte obedecerão aos limites estipulados. No Brasil, desde 09/06/2006, vigora a Instrução Normativa SDA nº 27, de 05 de Junho de 2006. Pela primeira vez no país, oficialmente estabeleceu-se limites referentes às concentrações para agentes fitotóxicos, patogênicos ao homem, animais e plantas, metais pesados tóxicos, pragas e ervas daninhas. 4.1. Número de classes A Áustria, Alemanha, Luxemburgo e Países Baixos têm mais de uma classe padronizada. Diferentes classes significam diferentes fontes de matéria prima (lodo de esgoto, resíduos municipais misturados ou resíduos segregados na geração), possibilitando assim restrições na aplicação com base nas diferentes necessidades de cada composto gerado. 3.2. Poluentes Orgânicos Alguns países estabeleceram limites para poluentes orgânicos. Frequentemente são detectados pesticidas nos compostos: carbaryl, atrazine, chlordane, 2,4-D, dieldrin, chlorpyrifos, diazinon, malathion. Esses herbicidas, resistentes à degradação são relacionados à fitotoxicidade do composto, mesmo em baixas concentrações. Tal colocação aponta para a possibilidade de que em um futuro próximo a vigilância para a ecotoxicidade dos compostos deve ser implementada. A questão é como coibir a presença de pesticidas nos compostos, sendo estes de largo uso na agricultura. Apenas uma classe de qualidade de composto é mais simples, porém torna a legislação grosseira demais para permitir a entrada de materiais com maior nível de metais pesados e poluentes orgânicos, como lixo urbano não segregado na fonte ou lodo de esgoto. Sendo assim, produtos com maior qualidade deixam de ter um uso mais nobre. 4.1. Patógenos, Estabilidade/Maturidade e Fitotoxicidade 4. LISTAS POSITIVO-NEGATIVAS PARA MATÉRIA PRIMA A maioria dos países com padrões estatutários em vigor têm testes para averiguar o nível de contaminação de patógenos. Esses testes envolvem a prova Nas legislações, o mais comum é aparecer listas positivas com os materiais que podem ser incluídos na compostagem, 23 bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p. 18-30, jul./dez. 2011. SILVA, Fabio Cesar; GOMES, Taciana Figueiredo, BUTRICO, Marcio Roberto Sistema de gestão da qualidade do composto de lixo urbano para a agricultura em diferentes países de presença/ausência de microrganismos específicos, como Salmonelas e Coliformes fecais e dão suporte para o regime temperatura/tempo no sentido de assegurar a higiene do produto. tempo/temperatura durante a compostagem não é o único fator determinante na eliminação de patógenos, mas sim, a considerável mudança na bioquímica da biomassa compostada. Para alguns microrganismos é extremamente difícil sobreviver, uma vez que a matéria orgânica foi transformada em biomassa himificada. O tema estabilidade é parcialmente relacionado com fitotoxicidade. Normalmente, os compostos maduros (curados) têm menor possibilidade de causar problemas no desenvolvimento de plantas. Alguns países usam plantas-teste para indicar a maturidade do composto, como a Áustria. Outros Países usam bioensaios de plantas para testar Fitotoxicidade. Outros ainda têm testes para detectar agentes fitotóxicos. Os países com padrões são a Áustria, Alemanha, Itália, Luxemburgo, Países Baixos, Reino Unido, a Austrália e Nova Zelândia. Como medição da eficiência do processo são feitos: [1] No inicio do processo, amostras de microrganismos são introduzidas nas leiras e a sobrevivência é verificada após o processo; [2] Testes indiretos, pelo monitoramento e registro das temperaturas alcançadas pelas leiras diariamente; [3] Compostos à venda são testados para organismos que possam causar doenças na lavoura. Na Itália e nos Países Baixos, o composto é avaliado também em relação aos organismos potencialmente prejudiciais. Nos Países Baixos, são avaliados os nematoides, vírus de Rizomanie, e Plasmodiophora brassicae (vol) e na Itália, nematoides, cestoides e trematódeos. A função da regulamentação dos parâmetros do processo é garantir a qualidade do produto final da compostagem, e como estes são poucos, o mais lógico focar o teste no produto final. Obviamente, o processo pode ser ajustado para a produção de melhores produtos. Uma possibilidade é o registro diário do processo, (como na Áustria), com o monitoramento do regime de águas, as práticas para revolver o material em compostagem, aeração e adição de materiais. Esses aspectos geralmente são mais bem gerenciados nos sistemas voluntários de Certificação de qualidade. 5. PARÂMETROS PARA CONTROLE DO PROCESSO Os parâmetros para controle do processo não são facilmente estabelecidos, pois deve ser gerado um produto higiênico, com ausência de bactérias e com o mínimo de ervas daninhas e partes germináveis. Na maioria das vezes, o controle estatal diz respeito da sanidade e higiene do composto. Para esta finalidade, o parâmetro mais usado é o regime temperatura/tempo. Entretanto 5.1 Sistemas Voluntários A função principal de um sistema de garantia de qualidade (SGQ) é atender às 24 bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p. 18-30, jul./dez. 2011. SILVA, Fabio Cesar; GOMES, Taciana Figueiredo, BUTRICO, Marcio Roberto Sistema de gestão da qualidade do composto de lixo urbano para a agricultura em diferentes países exigências do mercado, criando um padrão de composto de alta qualidade. Todos os estudos indicam que o mercado para o produto compostado é o ponto chave para o aproveitamento do subproduto. Os usuários e produtores são da opinião de que a sustentabilidade da compostagem de rejeitos orgânicos exige regulamentos bem definidos a respeito do que é passível de ser compostado e de como essa prática deve ser controlada. fornecendo um fertilizante orgânico apto para a agricultura. Os Sistemas de Garantia da Qualidade devem: Possuir um único procedimento para amostragem e análise de composto; Possuir um banco de dados com os resultados analíticos, para que o estado atual do composto possa ser avaliado; Definir métodos analíticos e qualificação dos laboratórios, monitorando periodicamente o seu desempenho através de testes interlaboratoriais, com amostras padrão de composto; Aplicar penalidades no caso de não conformidade com os padrões, por exemplo, atrasando a expedição do certificado e uso do símbolo de qualidade ou anulando a certificação (em caso de conformidades persistentes ou gravíssimas); Ser uma organização independente, oficialmente reconhecida, que emita opiniões especializadas quando da elaboração de Normas (Portarias) durante a tomada de decisão e também que possa auxiliar em disputas judiciais. Existem países que não possuem ou onde os padrões estatutários são muito limitados. Neste caso, a adoção de um controle de qualidade voluntário (SGQ) é de extrema importância, por interferir nos estágios de produção e tratamento de resíduos orgânicos: Coleta seletiva; engenharia da planta; produção do composto; mercado e aplicação. O padrão estatutário é útil para testar e avaliar se o material possui a qualidade requerida e se pode ser liberado. O Controle de Qualidade Assegurada melhora a confiança que o produto oferecido possui, a qualidade especificada e conforma-se às exigências estatutárias. O ideal é a existência de Padrões Estatutários de Padrões Voluntários. 5.2 Objetivos e elementos de um SQG O objetivo do SGQ é a proteção ambiental e conservação dos solos, 25 bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p. 18-30, jul./dez. 2011. SILVA, Fabio Cesar; GOMES, Taciana Figueiredo, BUTRICO, Marcio Roberto Sistema de gestão da qualidade do composto de lixo urbano para a agricultura em diferentes países TABELA 2 – SITUAÇÃO DOS SISTEMAS DE QUALIDADE EM DIFERENTES PAÍSES País Situação Sistema de qualidade totalmente estabelecido (Associação Australiana de Qualidade de Composto KGVÖ junto com o Instituto de Padronização Austríaco ÖNORM) Associação Áustria Agrícola de Compostagem (ARGE Kompost; BKAL) estabeleceu um sistema de controle de qualidade em 5 províncias. Sistema de qualidade totalmente estabelecido na região de Flanders. (Organização Flamenga de Bélgica promoção de composto VLACO) Sistema de controle de qualidade de composto recentemente implantado (DAKOFA – Dinamarca Associação de Processadores de Resíduos – divisão composto) Finlândia Ainda não existem tentativas oficiais. Proposta para critério de qualidade, programa de pesquisa para um sistema de gerenciamento de França qualidade (Agência de Proteção Ambiental da França – ADEME) Sistema de qualidade totalmente estabelecido para composto e produtos de digestão anaeróbia Alemanha (Organização Germânica de Garantia de Qualidade de Composto BGK, junto com o Instituto Germânico para Certificação e Padronização - RAL) Grécia Ainda não existem tentativas oficiais. Foi apresentado um primeiro Decreto para Controle de Qualidade (provavelmente haverá no Irlanda futuro a Associação Irlandesa de Compostagem CRE) Itália Proposta de sistema de controle de qualidade (Consórcio Italiano de Composto CIC) Sistema Estatutário (semelhante ao Alemão) existe como parte do procedimento para Luxemburgo licenciamento de empresas de compostagem. Países Sistema de qualidade e certificação totalmente estabelecido (Associação de processadores de Baixos resíduos VVAV com a Organização de Certificação HolandesaKIWA) Portugal Existe uma proposta de controle de qualidade Decreto de Padrões Estatutários para Espanha e Catalunha (divisão do Ministério do Meio Espanha Ambiente) Apenas começou com um programa de controle de qualidade para composto e produtos de Suécia digestão (Organização de Limpeza Pública Sueca RVF junto com Instituto de Padronização Sueco SP) Padrão de qualidade e sistema de qualidade assegurada são legalizados pela Associação de Reino Unido Compostagem. Diretrizes de testes, 4 padrões de produto de Conselho de Compostagem dos EUA e alguns padrões internos de qualidade estaduais aprovados nos Estados Unidos, onde esse assunto é considerado tanto um problema de Estado como também um assunto de mercado privado, exemplos disso são as categorias de composto publicadas pela companhia RODALI INC. Alguns estados possuem diretrizes avançadas para composto, como Washington e Califórnia. USA Outros Estados, como Pensilvânia, onde agricultura é muito convencional, não existe padrão de composto. Composto nesses Estados só são regulados se sujeitos a outras Leis, como a de resíduos sólidos, ou regras voluntárias, como da Associação de Compostagem da Pensilvânia. Aproximadamente 38 Estados possuem diretrizes separadas (Conselho de Compostagem dos EUA, Departamentos Estaduais) Padrões Nacionais para “Condicionadores Orgânicos de Solos – Compostos” (O Conselho de Canadá Compostagem do Canadá tomou recentemente discussões focadas em necessidades do mercado, informações e análises da performance do produto). Austrália Padrões Australianos para compostos, condicionadores de solos e coberturas. Nova Mercado restrito orientado por “Padrões para Produção de Composto e Rotulagem de Zelândia Composto” Fonte: ABISOLO (Padrões internacionais para composto orgânico, Outubro, 2005). 26 bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p. 18-30, jul./dez. 2011. SILVA, Fabio Cesar; GOMES, Taciana Figueiredo, BUTRICO, Marcio Roberto Sistema de gestão da qualidade do composto de lixo urbano para a agricultura em diferentes países Existem muitas diferenças no monitoramento de vários países, porém em todos eles as análises e a amostragem só podem ser realizadas por laboratórios certificados. elementos da ISO 9000, pois documenta todos os passos no processo e possui total rastreabilidade do fluxo de material. A França almeja e aproxima-se à adoção de um sistema baseado na ISO 9000. O sistema Alemão é focado na qualidade do produto final, por considerar que se a qualidade deste estiver acima de qualquer suspeita, fica implícito que as matérias prima e a técnica de produção atenderam às exigências. O BGK (Organização Germânica de Qualidade) possui um sistema de auditoria e monitoramento externo, realizando coleta e análise de amostras independentes por laboratórios aprovados, exigindo que os resultados sejam enviados à organização de garantia da qualidade antes de serem enviados à empresa. O sistema da Bélgica é um dos mais abrangentes e integrados, sendo o sistema mais prontamente recomendável no mundo para compostagem. A VLACO (Organização Flamenca de Promoção de Compostagem), em Flanders, promove separação na fonte e compostagem caseira, administra o SGQ das empresas de compostagem e faz recomendação de uso do produto, sendo responsável pela sua comercialização. Em Flandres, existe um sistema de dois passos, implementado em dois anos. No primeiro ano, junto com os peritos da VLACO, o fabricante de composto aprende as técnicas de compostagem e produção do composto e o produto terá que cumprir os padrões legais básicos neste período. No segundo ano começam as atividades de monitoramento, para verificação e melhora na qualidade do produto, e para melhor controle do processo. O sistema Austríaco é semelhante ao Alemão, onde o controle é feito no produto final. O sistema Holandês possui um intensivo controle de produção interno e monitoramento do produto. A empresa de compostagem precisa realizar sua própria autoavaliação e os resultados devem ser mantidos em arquivo. A Organização de Certificação KIWA fiscaliza esses resultados e uma série de outros parâmetros de todas as empresas várias vezes ao ano, e faz coleta e análise de amostras independentes, em laboratório próprio, para confronto de dados. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS São visíveis as diferenças existentes entre as legislações nacional e estrangeira, e estas são reflexos de questões históricas e do desenvolvimento dos países no controle ambiental. Há países onde o uso do composto baseia-se numa rede de regulamentações (Alemanha / Áustria); e outros, onde o composto pode ser usado sem direção legal, mas com critérios estabelecidos por sistemas voluntários bem planejados (Suécia). No sistema Sueco, a Certificadora visita a empresa (muitas vezes, sem anúncio prévio) e confere o processo de produção, sua documentação e os produtos produzidos. Tal sistema contém 27 bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p. 18-30, jul./dez. 2011. SILVA, Fabio Cesar; GOMES, Taciana Figueiredo, BUTRICO, Marcio Roberto Sistema de gestão da qualidade do composto de lixo urbano para a agricultura em diferentes países É esperado que a regulamentação da Instrução Normativa SDA nº 27 de 05/06/2006, do Ministério da Agricultura traga uma maior aceitação do processo de compostagem. Os limites impostos ao produto não são comparáveis ao de mais alto padrão da Alemanha ou Áustria, mas não é permissivo como os controversos padrões norte-americanos. Equipara-se ao composto produzido pelo Canadá ou ao Classe B austríaco. Porém um aspecto de relevância é a falta de limites para compostos orgânicos tóxicos no composto. malefícios ao ambiente. É fato que a qualidade final do produto é claramente ligada à qualidade da matéria prima. Nesse contexto, embora amplamente já divulgado em outros trabalhos, é imprescindível repetir que os avanços necessários só surgirão a partir de educação ambiental e investimentos públicos no gerenciamento dos resíduos, a partir de uma definição clara de uma Política Nacional no tratamento de Resíduos Sólidos, que impliquem na instalação da coleta seletiva pelos municípios. Quanto ao composto produzido no Brasil não é necessário, apenas, o país possuir uma legislação específica, mas sim, obter um maior controle sobre sua produção e comercialização. De qualquer maneira, devem ser levados em conta os benefícios socioambientais da prática de compostagem com maior investimento no setor e considerar as melhorias nas produtividades agrícolas, colaborando com maior poder de marketing do produto. Em contrapartida, a falta de análises periódicas nos compostos e de controle sobre sua qualidade dificulta o mercado e não asseguram que os compostos produzidos sejam de bom nível. É necessária a adoção de um programa de monitoramento constante da qualidade dos resíduos e, consequentemente dos compostos produzidos nas usinas de compostagem, garantindo a qualidade do produto e a saúde dos consumidores e do meio ambiente. O uso de composto não pode ser apenas uma solução para o destino final de resíduos, deve principalmente, satisfazer as necessidades da agricultura sem 28 bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p. 18-30, jul./dez. 2011. SILVA, Fabio Cesar; GOMES, Taciana Figueiredo, BUTRICO, Marcio Roberto Sistema de gestão da qualidade do composto de lixo urbano para a agricultura em diferentes países 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BELTRAME, K.G.; BIOLAND INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE COMPOSTO ORGÂNICO LTDA.; ABISOLO - Associação Brasileira das Indústrias de Substratos, Fertilizantes Orgânicos e Condicionadores de Solo. Padrões internacionais para composto orgânico em diferentes países. São Paulo-SP, 2005. CETESB - Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental. Aplicação de Lodos de Sistema de Tratamento Biológico em Áreas Agrícolas – Critérios para Projeto e Operação (Manual Técnico) Portaria P 4.230, São Paulo, 1999. EMBRAPA, Documento No. 022/02 da - Sistema especialista para aplicação do composto de lixo urbano na agricultura. Disponível em:<http://www.cnptia.embrapa.br/publica/2002/doc22.pdf>. Acesso em 15 out., 2005. HOGG, D.; BARTH, J.; FAVOINO, E.; CENTEMERO, M.; CAIMI, V.; AMLINGER, F.; DEVLIEGHER, W.; BRINTON, W. & ANTLER, S. Comparison of compost standards within the EU, North America and Australasia. Oxon, The Waste and Resource Action Programe – WRAP, 2002. 97p. MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa SDA nº 27, 05 de Junho de 2006. NEWMAN, D. Composting activity in Italy, BioCycle, October 2003, 57. USEPA - United States Environmental Protection Agency. Biossolids Generation, Use and Disposal in the United States, September, 1999. 29 bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p. 18-30, jul./dez. 2011. SILVA, Fabio Cesar; GOMES, Taciana Figueiredo, BUTRICO, Marcio Roberto Sistema de gestão da qualidade do composto de lixo urbano para a agricultura em diferentes países 1 Fábio Cesar da Silva. Investigador de Embrapa Informática Agropecuária y professor da Fatec Piracicaba. Pós-doutorado en la Universidad Politécnica de Madrid / ETSIA, Campus Unicamp, Av. André Tosello, 209 - Barão Geraldo, Caixa Postal 6041- 13083-886 - Campinas, SP – Brasil. E-mail: [email protected] e [email protected] 2 Taciana Figueiredo Gomes é Mestranda em Ciências, CENA-USP. Endereço: Travessa Piraposinho, nº 45, CEP 13.847-131 - Mogi Guaçu – SP. 3 Marcio Roberto Butrico é Tecnólogo em saneamento ambiental do CESET / UNICAMP. Rua Princesa Isabel, 590 Vila Ricci, 13.840-000 - Mogi Guaçu SP, Brasil. E-mail: [email protected] 30 Análisis de evolución de la producción de caña de azúcar y de etanol en Brasil ITURRA, Antonio René SILVA, Fábio Cesar da DIAZ-AMBRONA, Carlos Gregório Hernandez Resumo Desde o inicio do século XX, o Brasil vem utilizando o álcool obtido da cana de açúcar para fins energéticos. Em 1931, o etanol de cana-de-açúcar começou a ser oficialmente misturado à gasolina, até então importados. No entanto, foi somente em 1975 com o lançamento do Programa Nacional do Álcool (Proálcool), o governo criou as condições necessárias para o país surgir na vanguarda dos biocombustíveis. A especificação de álcool (tipos anidro e hidratado) foi lançada em 1979 e reformulada em 1989, após os problemas de corrosão nos motores que motivou os referidos ajustes. Em virtude da redução dos preços do petróleo no final dos anos 80, e do aumento do preço do açúcar no mercado internacional na década de 90, houve uma escassez acentuada de álcool hidratado nos postos de serviço. Isto abalou a confiança do consumidor, refletida em uma queda acentuada nas vendas de carros de etanol no país. Na década de 90, com a eliminação dos subsídios às usinas de energia e os consumidores, o uso do etanol hidratado como combustível foi reduzido. No entanto, contra a tendência do mercado, a mistura de etanol anidro à gasolina tem sido incentivada pelo governo. Em 1993, estabeleceu a mistura obrigatória de 22% de etanol anidro em toda a gasolina distribuída para revenda nos postos, criando um mercado em expansão para a usina de combustível, que funciona até hoje. O sucesso do programa de etanol se deve a ganhos de produtividade constante a partir de cana de açúcar e teor de açúcar recuperável da produção industrial da cana-de-açúcar. Palavras-chave: cana de açúcar, etanol hidratado, biocombustíveis. Resumen Desde principios del siglo XX, Brasil era el uso de alcohol extraído de la caña de azúcar con fines energéticos. En 1931, el etanol de caña de azúcar comenzó a ser oficialmente mezclado con gasolina, hasta la fecha de importación. Sin embargo, no fue sino hasta 1975 con el lanzamiento del Programa Nacional del Alcohol (Programa de alcohol), el gobierno creó las condiciones necesarias para surgir el país a la vanguardia de los biocombustibles. Especificación temprana de alcohol (tipo anhidro e hidratado) se pusieron en marcha en 1979 y reformulado en 1989, después de las razones para el problema de investigación de la corrosión en los motores. En vista de la reducción de los precios del petróleo en los años 80, y el aumento en el precio del azúcar en el mercado internacional en la próxima década, hubo una marcada escasez de etanol hidratado en las estaciones de servicio. Esto ha hecho añicos la confianza del consumidor, que se refleja en una caída en la venta de coches de etanol en el país. En los años 90, con la eliminación de los subsidios a las centrales eléctricas y los consumidores, el uso de etanol hidratado como combustible se ha reducido. Sin embargo, en contra de la tendencia del mercado, la mezcla de etanol anhidro en la gasolina ha sido alentada por el gobierno. En 1993 se estableció la mezcla obligatoria del 22% de etanol anhidro en la gasolina distribuida para su venta en las filas, la creación de un mercado en expansión para la planta de combustible, que se extiende hasta la actualidad. El éxito del programa de etanol se debe al constante aumento de la productividad de caña de azúcar y contenido de azúcar recuperable de producción industrial de la caña de azúcar. Palabras-clave: la caña de azúcar, etanol hidratado, biocombustible. Abstract Since the early twentieth century, Brazil has used alcohol extracted from sugar cane for energy purposes. In 1931, ethanol from sugar cane began to be officially blended with gasoline. However, it was only in 1975, with the launch of National Alcohol Program (Proálcool), that the government created the necessary conditions for the country to be at the forefront of biofuels development. Specifications for alcohol (anhydrous and hydrated) were launched in 1979, and were reformulated in 1989 for reasons related to the problem of corrosion in engines. Due to the reduction in oil prices in the late 1980s, and to the increase in the price of sugar on the international market during the next decade, there was a marked scarcity of hydrated ethanol at service stations at that time. This shattered consumer confidence, as reflected in a sharp drop in sales of ethanol cars within the country. In the 1990s, with the elimination of subsidies to power plants and consumers, the use of hydrated ethanol as a fuel was reduced. However, in opposition to the market trend, the mixture of anhydrous ethanol with gasoline was encouraged by the government. In 1993, Brazil established the mandatory blending of 22% of anhydrous ethanol in all gasoline distributed for resale at gas stations, creating an expanding market for fuel plants, which continues until today. The success of the ethanol program is due to constant productivity gains in sugar cane production and to increases in the recoverable sugar content in industrially produced sugar cane. Keywords: sugarcane, hydrated ethanol, biofuel. bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p.31-50, jul./dez. 2011. ITURRA, Antonio René; SILVA, Fábio Cesar da; DIAZ-AMBRONA, Carlos Gregório Hernandez Análisis de evolución de la producción de caña de azúcar y de etanol en Brasil Paulo, en el ingenio São Jorge dos Erasmos. Dos años más tarde, del mismo lugar, llegó material a la Capitanía de Pernambuco, donde se implantó en Olinda el ingenio Nossa Senhora da Ajuda. A partir de esos dos locales el cultivo de la caña se multiplicó por todo el litoral brasileño. 1 INTRODUCIÓN En términos mundiales, la caña de azúcar es una materia prima para la producción de azúcar y de etanol con características relevantes que la sitúan como la planta comercial de mayores rendimientos en biomasa energética, debido las cuantidades de azúcar y fibra, obtenidos en ciclos de tiempo menores que otras especies. La caña se cultiva en más de 80 países, con variaciones en los periodos y manejo de cultivo, dependiendo de las condiciones edafoclimaticas y factores de producción locales. Originalmente, el cultivo de la caña se estableció en puntos del territorio nacional donde los suelos y el clima lo permitían, y donde las facilidades del embarque proporcionaban el acceso a los mercados internacionales. Actualmente, estas condiciones no tienen la misma importancia. Los suelos pueden ser mejorados en sus condiciones de fertilidad y el sistema actual de transportes y la distribución del mercado por el espacio geográfico facilitan la atención de demandas diversificadas. Se caracteriza como un cultivo de alta eficiencia de fotosíntesis y alta taza de conversión energética (relación 1:9) - lo que se refleja en una gran producción de biomasa por unidad de área. En condiciones de cultivo medio puede producir 100 toneladas de materia verde por ha. año, las que expresadas en términos energéticos significan 13 ton de petróleo o 75 mil Mcal de energía metabolizable - por su gran capacidad de fijación de la energía solar, a través de la fotosíntesis (C4) y sus posibilidades de crecer en condiciones de clima y suelo en que otras plantas tienen dificultades. Variedades mejoradas actuales pueden llegar a 120 t/ ha. año en términos comerciales, como se justifica más adelante (Camargo, 1990; UNCA, 2011). La invasión holandesa de Pernambuco, en el siglo XVII, estimuló el desarrollo de la industria azucarera de esta Capitanía, superando incluso a las Islas de Java, lo que la hizo una referencia internacional. En esa época, la Región Noreste tuvo un desarrollo más grande que la paulista, favorecida por su mayor proximidad de Europa, y por su potencial climático y edafológico. Con la expulsión de los holandeses en el siglo XVIII, la industria brasileña entró en declino, pero se recupero a partir del final de este siglo. Actualmente, la caña se cultiva principalmente en la Región Centro-sur y en el Noreste, dónde se hacen cinco o seis cortes antes de la reforma del canavial, durante un periodo de corte que va de seis a siete meses. Todo el proceso de producción es intensivo en mano de En Brasil, el cultivo de la caña de azúcar comenzó luego de su descubrimiento, en 1532, a partir de material llevado desde la Isla de Madera que fue plantado en la Capitanía de Sao Vicente, próximo a la ciudad de Santos, en el Estado de Sao 33 bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p.31-50, jul./dez. 2011. ITURRA, Antonio René; SILVA, Fábio Cesar da; DIAZ-AMBRONA, Carlos Gregório Hernandez Análisis de evolución de la producción de caña de azúcar y de etanol en Brasil obra, especialmente la cosecha. El aumento de la mecanización ha reducido el número de empleos (por unidad de producción) y su estacionalidad. Un aspecto relevante es que toda la energía para el procesamiento (electromecánica - para el accionamiento de bombas, ventiladores y de los molinos - térmica, para los procesos de concentración del caldo y destilación) es abastecida por un sistema de cogeneración que usa solamente el bagazo como fuente energética. En Brasil, las usinas son autosuficientes y, en general pueden tener excedentes de energía eléctrica que puede ser vendida a los distribuidores. Durante estos años la producción de caña y su utilización como materia prima para la fabricación de azúcar tuvo períodos de altas y de bajas. Para controlar esos desajustes, en 1933 el gobierno crió el Instituto del Azúcar y del Etanol (IAA, en portugués), que tenía como objetivo principal disciplinar la producción y controlar los mercados interno y externo. El Brasil es el mayor productor mundial de azúcar (responde por aproximadamente el 45% del mercado) y el segundo mayor productor de etanol. Los procesos industriales tienen como residuos a la viñaza, la torta de filtro y las cenizas de la caldera de bagazo, que son totalmente reciclados en el cultivo. La viñaza en forma líquida, durante el riego, la torta, como abono. Estos mismos procesos industriales utilizan agua (captada de ríos y pozos) en varias operaciones que se reutiliza de forma cada día más intensa, objetivando más racionalidad técnica, económica y ambiental (reducir costos de captación y el nivel del despojo debidamente tratado). Después de la cosecha, el transporte de la caña para la industria - operación integrada de corte, carga y transporte – es una actividad importante ya que determina el flujo de masa y, si bien realizado, evita la compactación del suelo agrícola y reduce costos, con sistemas de gran capacidad, dentro de los límites legales de las carreteras. Desde el punto de vista edafológico, la caña no es muy exigente en suelos, principalmente si se considera la tecnología actual de preparación y fertilización. Por esto el cultivo se encuentra en todas las regiones brasileñas, a pesar de sus diversidades. De todas maneras, en igualdad de todos los demás factores de producción que influyen en su rendimiento, los suelos más fértiles permiten rendimientos agrícolas más grandes. Los tallos de la caña son procesados para producir etanol y azúcar. La caña de cosecha manual es lavada para retirar impurezas minerales. Posteriormente, un sistema de extracción del jugo se hace a partir de caña picada, desfibrada, molida y estrujada por un conjunto de cilindros (moliendas). El caldo – que contiene sacarosa - es separado de la fibra (bagazo) y filtrado, para ser sometido a fermentación por levaduras seleccionadas. Posteriormente, es destilado, almacenado y comercializado. Más importante que la calidad del suelo como factor limitante en la planificación en las inversiones es la topografía del 34 bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p.31-50, jul./dez. 2011. ITURRA, Antonio René; SILVA, Fábio Cesar da; DIAZ-AMBRONA, Carlos Gregório Hernandez Análisis de evolución de la producción de caña de azúcar y de etanol en Brasil terreno, que para ser considerada adecuada a la producción de caña debe ser plana o levemente ondulada ya que inclinaciones muy fuertes dificultan los servicios de mecanización de los suelos, el corte y el transporte de la caña. agrupan en precoces, medias y tardías, para el inicio, medio y fin de la cosecha. Desde el punto de vista de su contenido de azúcar (POL e/o ATR), en ricas, medias y pobres, y desde el punto de vista de conservación para la industrialización, en largo, medio y corto tiempo. Antes de la cosecha debería identificarse su grado de madurez y la riqueza en sacarosa, para calcularse el rendimiento en azúcar y/o en etanol. 2 ANALISIS DE SUSTENTABILIDAD DEL CULTIVO Idealmente, desde el punto de vista de la materia prima, para que la caña llegue a la agroindustria de procesamiento, esta no debería quemarse, cargarse y transportarse con rudeza, para no adelantar el proceso de fermentación natural, ni acompañada de impurezas (tierra y material ajenos). El tiempo entre la cosecha y la extracción del jugo debería ser el menor posible. Idealmente, también, sería conveniente cortar las puntas de la caña (que puede ser aprovechada para fabricar un tipo de palmito), pues contienen radicales fenólicos que reaccionan con el hierro y afecta levemente la calidad de los productos. Desde el punto de vista climático, la temperatura es igualmente importante, debiendo situarse idealmente entre 15 y 34ºC y el nivel de precipitaciones pluviométricas debería ser igual a la de la evapotranspiración del lugar de cultivo. Pues, en contrario reduce as productividad proporcionalmente a déficit hídrico y sensibilidad de la fase fenológicas. Ante estas demandas, no son muchas las regiones del planeta que presentan una combinación adecuada de suelos, topografía, temperatura, y lluvias capaces de constituir la base física para la producción económica de caña, en gran escala, de modo a posibilitar la producción de sacarosa para atender la demanda nacional e internacional de azúcar y de etanol. En términos prácticos, sin embargo, debe considerarse la relación beneficio-coste de todas estas actividades para tomarse la decisión de cuales tecnologías se deben utilizar en cada unidad agroindustrial. Otro aspecto relevante es la utilización de variedades de caña adaptadas a las características edafoclimáticas de cada región y que permitan un flujo continuo de materia prima a ser procesada durante el ciclo programado de funcionamiento de la agroindustria (Embrapa, 2009). Desde el punto de vista ambiental, la legislación brasileña, incluido normas y controles, desde la producción hasta el uso y disposición de los materiales, cubre todas las áreas importantes. El uso de insecticidas es bajo y el de fungicidas es prácticamente nulo. Los Genéricamente, desde el punto de vista de la época de madurez, las variedades se 35 bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p.31-50, jul./dez. 2011. ITURRA, Antonio René; SILVA, Fábio Cesar da; DIAZ-AMBRONA, Carlos Gregório Hernandez Análisis de evolución de la producción de caña de azúcar y de etanol en Brasil métodos de control de hierbas dañinas han sido frecuentemente modificados en función de avances en tecnologías (tratos culturales, mecánicas y químicas). A pesar de eso, en Brasil la caña todavía utiliza más herbicidas que el café y maíz, pero menos que el cultivo de cítricos y equivalente a la soja (FAO). del mosaico, al SCYLV y a la oruga del tallo de la caña. En relación al uso de fertilizantes, entre los grandes cultivos en Brasil (área superior a 1 Mha) la caña de azúcar utiliza menos fertilizantes que el algodón, café y naranja, y es equivalente a la soja. Su utilización también es baja si se compara a los cultivos de caña de otros países (Australia, por ejemplo, usa 48% más). Por este motivo es importante el reciclado de nutrientes con el aprovechamiento de los residuos industriales (viñaza y torta de filtro), considerándose las condiciones limitantes de topografía, suelos y control ambiental. Con la tendencia de aumento de las áreas de cosecha de “caña cruda” – no quemada – que permite una gran cantidad de paja remaneciente en el suelo, sin embargo, no parece posible eliminar totalmente los herbicidas en estos casos, como se esperaba, incluso por el surgimiento de plagas poco comunes. Entre las principales plagas de la caña, los controles del taladro del tallo (“broca”, la plaga más importante) y de la cigarrilla, son biológicos. El programa más importante de control biológico brasileño está destinado al taladro del tallo. Hormigas, chinas y “cupones” tienen control químico, con resultados que muestran que es posible reducir mucho el uso de defensivos con aplicaciones selectivas. Con la aplicación de la viñaza, se han comprobado aumentos sustanciales del potasio en el suelo y de aumento de la productividad. El reciclado de nutrientes está siendo permanentemente maximizado, especialmente debido a la paja que puede ser incorporada en las labores de preparación de los suelos. Seguramente será importante en las áreas de expansión del cultivo de la caña. Un gran número de estudios relacionados con la lixiviación y las posibilidades de contaminación de las aguas subterráneas por el reciclado de la viñaza indican que en general no hay impactos dañosos para aplicaciones inferiores a 300 m3 / ha. Existe una norma técnica de la Secretaria del Medio Ambiente (São Paulo) que reglamenta todos los aspectos relevantes, como áreas de riesgo (prohibición), dosis permitidas y tecnologías de aplicación. Las enfermedades de la caña son combatidas con la selección de variedades resistentes, en grandes programas de mejoramiento genético, de los cuales se tratará más adelante. Este procedimiento ha sido suficiente para resolver, con la sustitución de variedades, desafíos de grandes proporciones, como el ataque de virus del mosaico (1920), el carbón y el polvillo (“ferrugem”, en los años 1980) y el SCYLV (años 1990). Modificaciones genéticas – muchas en estudios de ensayos de campo – produjeron plantas resistentes a herbicidas, al carbón, al virus 36 bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p.31-50, jul./dez. 2011. ITURRA, Antonio René; SILVA, Fábio Cesar da; DIAZ-AMBRONA, Carlos Gregório Hernandez Análisis de evolución de la producción de caña de azúcar y de etanol en Brasil 3. ANALISY DE LA EVOLUCIÓN DE LACA NA MATURACION, PRODUTIVIDAD Y VARIEDAD proyectos ya fueron realizados y esperan su autorización para comercialización de la Comisión Técnica Nacional de Bioseguridad (CTNBio, en portugués), que, genéricamente, está fiscalizando y autorizando a cuenta gotas este tipo de tecnologías, como ocurre en el resto de los países. “Tenemos tecnología para producir caña con más producción de sacarosa por ha, resistente a insectos, a enfermedades y tolerantes a la sequía”, asegura uno de los principales interesados en la liberación de la comercialización de caña transgénica. Como visto, un aspecto relevante en la producción de caña es que se utilicen variedades adecuadas a las características de cada región. En Piracicaba, en el Estado de Sao Paulo, por ejemplo, tradicional zona productora en Brasil, existen algunas variedades que sirven de referencia: para el inicio de la cosecha (mayo), la RB 83-5486, al medio de la cosecha (julio), la RB-85-5113, al final de la cosecha (septiembre), la SP 79-1011 y para la molienda anticipada (abril), la RB 85-5156. De cualquier forma, sumariamente, la sostenibilidad de la base de producción agrícola de la caña en Brasil incluye la capacidad de responder al ataque de plagas, enfermedades y a las variaciones climáticas periódicas, para que no perjudiquen significativamente los rendimientos. Los resultados han sido positivos. Las condiciones de producción, con su diversidad de regiones y microclimas, han respondido como deseado a las variaciones periódicas del clima y sus efectos indeseables. De todas maneras se pueden escoger otras variedades, con características deseables, entre las decenas existentes y que permanentemente están siendo producidas y ofrecidas a los mercados regionales. Por ejemplo, el 06.12.07 se presentaron 4 nuevas variedades en el Estado de Sao Paulo (IAC91-1099, IACSP93-2060, IACSP95-3028 e IACSP95-5000) en el Centro Apta Cana de Ribeirao Preto, con sus principales características, entre las cuales, su capacidad de producir hasta 120 toneladas por hectárea, adaptadas a la cosecha mecanizada, alto potencial agroindustrial y nivel de sacarosa ideal para el corte en diferentes períodos. Estas nuevas variedades, que demoraron 13 años para ser desarrolladas, podrán continuar permitiendo ganancias de productividad de 1,5% al año (media de los últimos 30 años). La protección contra plagas y enfermedades es considerada un punto fuerte de la producción brasileña, por ser basada más en la oferta continua de variedades de caña resistentes que en barreras fitosanitarias, propiciando a los productores operar con gran diversificación. El Brasil se destaca en la biotecnología de la caña, incluso con variedades transgénicas (no comerciales) desde la mitad de los años 1990. En 2003 se hizo la identificación de los 40.000 genes de la caña, En sus laboratorios hay veinte Además, en Brasil se realizan investigaciones científicas con variedades de caña genéticamente modificadas. 73 37 bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p.31-50, jul./dez. 2011. ITURRA, Antonio René; SILVA, Fábio Cesar da; DIAZ-AMBRONA, Carlos Gregório Hernandez Análisis de evolución de la producción de caña de azúcar y de etanol en Brasil grupos trabajando en el genoma funcional y ya usando genes en programas de mejoramiento genético, en sus fases experimentales. Resultados Comerciales son esperados en los próximos cinco años. limitaciones edafoclimáticas y al ataque de plagas y vocación para su cosecha mecanizada. Lo recomendable sería tener el material genético de la mejor calidad disponible en el mercado y plantarlo en el lugar adecuado, seguir las recomendaciones agronómicas y realizar la cosecha en el mejor momento de madurez y de la forma menos traumática posible. La caña, incluso más que otros cultivos, es como un traje: mejor a medida. En los cuatro programas de mejoramiento genético de caña operando en Brasil (los dos más grandes son privados); usan una cuarentena y dos estaciones de hibridación, con bancos de germoplasma. Trabajan con cerca de 1,5 millón de seedlings por año. Actualmente, son cultivadas más de 500 variedades (51 liberadas en los últimos diez años). Las veinte principales ocupan 80% del área plantada y la más utilizada llega a apenas 12,6%. Por esto, el aumento de la diversificación en los últimos veinte años promovió una gran seguridad para la resistencia contra enfermedades y plagas exógenas. En relación a la situación actual de la tecnología agronómica brasileña, en general, especialmente en el Estado de Sao Paulo, un análisis más detallado indica una evolución continua de la productividad, según se muestra en la Figura 1, en la que se presenta el resultado de estudios realizados en 105 unidades productores donde la productividad media llegó a 84 t de caña/ha (máxima de 109) y el grado de sacarosa medio llegó a 14,6% (máximo 16,6% en la cosecha de 2003/4 Desde el punto de vista genético, es sin duda conveniente elegir y plantar variedades de caña adecuadas, que consideren la productividad agrícola y agroindustrial, sean resistentes a Figura 1. Evolución de la productividad agrícola. Estado de São Paulo (IBGE, 2004). 38 bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p.31-50, jul./dez. 2011. ITURRA, Antonio René; SILVA, Fábio Cesar da; DIAZ-AMBRONA, Carlos Gregório Hernandez Análisis de evolución de la producción de caña de azúcar y de etanol en Brasil Junto con la cantidad, la calidad de la caña también fue aumentada, según se muestra en la figura 2, a seguir. Figura 2. Evolución de la sacarosa en usinas de COPERSUCAR en Sao Paulo (UNICA, 1010; ORPLANA, 2011). La evolución del área agrícola, en los últimos años, indica un creciente nivel de mecanización de la cosecha, tendencia que en el caso de Sao Paulo se asocia a la progresiva reducción de la quema de la caña antes de su cosecha, de acuerdo a un cronograma establecido entre el gobierno y los industriales. Inicialmente, el plazo para el término de la quema y el corte manual era el año 2031. Debido a los aspectos sociales, económicos, ambientales y legales, esa meta fue adelantada para el año 2017. Actualmente, según la Unión de Productores de Azúcar y de Etanol en el Estado de Sao Paulo, 42 a 45% de la caña ya es cosechada mecánicamente, y en términos nacionales ese porcentual es de 35 a 37%. aproximadamente 100 trabajadores, será eliminada por la propia dinámica de crecimiento del sector sucroalcoholero, argumentan otros. En relación a los aspectos ecológicos derivados del aumento de la demanda de caña para aumentar la producción de etanol, la Empresa Brasileña de Producción Agropecuaria (EMBRAPA, 2009), está realizando estudios edafoclimáticos y determinando el zoneamiento agroecológico de la caña, de sus antiguas y nuevas variedades. La previsión en el Estado de Sao Paulo los índices de la cosecha de caña, para el año 2003/4, fueron los que se presentan en la Tabla 1, estimada sobre la base de 105 unidades productoras. La amenaza de paro de los trabajadores que realizan el corte de caña, argumentado por algunos analistas, debido a que una máquina cosechadora de caña puede sustituir el trabajo de Los aumentos de eficiencia en el transporte son también relevantes. Algunos parámetros seleccionados para el transporte de caña hasta la usina indican, 39 bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p.31-50, jul./dez. 2011. ITURRA, Antonio René; SILVA, Fábio Cesar da; DIAZ-AMBRONA, Carlos Gregório Hernandez Análisis de evolución de la producción de caña de azúcar y de etanol en Brasil para una muestra de 17 unidades, capacidades diarias de carga de 184 (media) a 286 (máximo) ton de caña/día para las tecnologías más comunes, representadas por camión y coloso, de caña entera, hasta 370 (media) a 513 (máximo) ton de caña/día para las mejores tecnologías, en tren, de caña picada. Tabla 1. Productividad agrícola, niveles de mecanización de la cosecha y de corte sin quema: actual y previsión (cosecha 2003/4, Sao Paulo), en UNICA (2011). Parámetro Año corriente promedio máximo Rendimiento (t caña / ha) Pol% caña El futuro (10 años) 84,3 108,8 89 14,6 16,6 15,1 Pol (t / ha) 12,2 15,8 13,4 Cosecha mecánica (%) 34 % 89% 85% Cosecha sin quemada (%) 21% 87% 80% Para la misma muestra, en 2003/4, el área que utilizaba fertilización y riego con viñaza era de 32,1% (media) y de 63,8% (máximo), y la aplicación de maduradores llegó a 19,6% en media y 37,6% máximo. crecimiento de la demanda de caña aumentaron considerablemente en Brasil (CABRINI, MARJOTTA-MAISTRO, 2007; FIGUEIRA, 2005; GUIMARÃES, 2010; RENEWABLE FUELS ASSOCIATION, 2006; SILVEIRA, 2001; SOUZA, 2006). En Brasil, en la cosecha de 2006/7, el costo de producción medio aproximado de la caña de azúcar fue de aproximadamente R$ 44,00 (E$ 16,60) la tonelada. Llegó a ser comercializada a R$ 55,00. La recientemente promulgada nueva Energy Hill, en diciembre, seguramente servirá como un catalizador significativo para el aumento de la producción de caña destinada a la agroindustria de etanol ya que determina que el consumo de este biocarburante debe alcanzar 137 mil millones de litros (36 mil millones de galones) en 2022. De ese total, 57 mil millones de litros serían de etanol de maíz - meta vista con dudas debido a que 20% de este grano ya va para la producción de etanol y los EEUU no tienen para donde expandir su agricultura. A medio y largo plazo esa es una buena noticia para los países con potencial productivo de caña 4. PERSPECTIVAS DEL CRECIMIENTO DE LA DEMANDA DE CAÑA PARA PRODUCCIÓN DE BIOETANOL Desde el discurso sobre el Estado de la Unión de George W. Bush, el 26 de enero de 2007, cuando fijó la meta de sustituir por etanol el 20% de la gasolina de su país hasta 2017, las expectativas del 40 bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p.31-50, jul./dez. 2011. ITURRA, Antonio René; SILVA, Fábio Cesar da; DIAZ-AMBRONA, Carlos Gregório Hernandez Análisis de evolución de la producción de caña de azúcar y de etanol en Brasil de azúcar (CABRINI, MARJOTTAMAISTRO, 2007; FIGUEIRA, 2005; GUIMARÃES, 2010). caña en Brasil, en agosto invirtió US$ 680 millones en la compra de de dos plantas de la Dedini Agro, en el Estado de Sao Paulo. Más recientemente - según el Relatoría Reservado del 12.12.07 - está negociando la adquisición de otras cuatro usinas de azúcar en los Estados de Sao Paulo y Mato Grosso, con inversión aproximada de mil millones de dólares. Brasil pasa, así, a representar el mayor activo del grupo en bioenergía, superando sus inversiones en EEUU y Europa. En la cosecha de 2008/9 ABENGOA espera llegar a procesar 15 millones de toneladas de caña. Como valor de referencia, Estados Unidos consumen 530 mil millones de litros de gasolina por año y en 2006 consumieron alrededor de 5,6 mil millones de galones de etanol. Los precios de la gasolina están en torno de US$ 2,45 el galón y del etanol en US$ 2,31 el galón. Con la explosión de demanda de etanol, en EEUU, en Europa (5,75% de sustitución de la gasolina) y en prácticamente todos los países de la OCDE, surgen nuevos interesados, muchos de los cuales muy diferentes a los habituales señores de ingenios. Inversores como George Soros, Vinod Khosla, Cerril Lynch, la administradora americana de activos Wellington Management y los Fondos financieros Kidd &Co, Stark y Och Ziff Management, entre muchos otros, acostumbrados al especulativo mundo del mercado financiero y dispuestos a correr grandes riesgos para ganar grandes fortunas, despejaron miles de millones de dólares en Brasil en la compra de varias usinas en funcionamiento e iniciaron proyectos para muchas otras. Todos llegaron al Brasil de ojo en el futuro promisor del “combustible verde” – cada uno con una estrategia diferente - que ganó fuerza con la explosión del precio del petróleo y las crecientes preocupaciones con el calentamiento global. Como resultado práctico de todo este interés, el último año hubo un aumento de 12,3% en el área cultivada y disponible para cosecha de caña de azúcar en la Región Centro-Sur. Solamente en el Estado de Sao Paulo - responsable por 68% de la caña cultivada en la región, el total subió de 3,04 millones para 3,35 millones de hectáreas entre las cosechas 2005/6 y 2006/7. Los datos son del Proyecto Canasat, del Instituto Nacional de Investigaciones Espaciales (Inpe), que desde 2003 utiliza imágenes de sensoriamento remoto, obtenidas por sensores de los satélites Landsat y CBERS, para mapear y cuantificar el área cultivada en ocho Estados: Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Paraná y Sao Paulo. Las informaciones paulistas más recientes disponibles se refieren a 2007/8, cuya área para cosecha llega a 3,95 millones de hectáreas. Sin embargo, si se suma el área disponible para cosecha con la que fue ‘reformada’, o sea, la que ya fue plantada pero solamente será cosechada en 2008, se llega a 4,22 millones de hectáreas. Un Con ese mismo objetivo, la española ABENGOA que pretende doblar su apuesta en la producción de etanol de 41 bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p.31-50, jul./dez. 2011. ITURRA, Antonio René; SILVA, Fábio Cesar da; DIAZ-AMBRONA, Carlos Gregório Hernandez Análisis de evolución de la producción de caña de azúcar y de etanol en Brasil aumento de casi 15% e el área cultivada, una vez que, considerando las áreas de reforma, el Estado de Sao Paulo registraba 3,66 millones de hectáreas cultivadas en 2006/7 (UNICA, 2011). 5 CONSIDERACIONES SOBRE LA PRODUCCIÓN DE ETANOL DE CAÑA DE AZÚCAR EN BRASIL Actualmente, los productos de la caña de azúcar no tienen ningún mecanismo de soporte de precios por políticas públicas, esto es, no existen subsidios a la producción y comercialización de azúcar ni de etanol, ni externalización de costos para ser rateados con otros sectores de la economía brasileña. En cantidad de caña producida, hasta el final de 2007 el estado de Sao Paulo estimaba cosechar 326,6 millones de toneladas. En la cosecha pasada obtuvieron 277,8 millones de toneladas, en 4,12 millones de has. Así, si la previsión se confirma, la producción cañavera del Estado de Sao Paulo habrá crecido 17,5%. El coste de producción - sin impuestos del etanol para las usinas más eficientes de la región Centro-Sur, en condiciones estables, se estima sea de US$ 0,20 /litro, equivalente al coste internacional de la gasolina sin aditivos con petróleo a US$ 25/barril. Este coste de producción es significativamente inferior al del etanol de maíz en los EEUU y de trigo y remolacha en Europa. Estudios realizados en Holanda muestran otros valores comparativos (Fig. 3). Comparación entre los costes de producción actuales y futuros de biocombustibles frente a los precios de la gasolina y diesel salido de la refinería (FOB) para un intervalo de precios del crudo [IPCC, 2008]. En términos nacionales, la cosecha de 2007/8 debe llegar a 480 millones de toneladas, 12% superior al ciclo anterior. La expectativa de cosecha en 2007/8, que tendrá inicio en abril, es superior a 500 millones de toneladas de caña (UNICA, 2011). Otro aspecto importante, que merece ser destacado, es el zoneamiento agroecológico de la caña que está sendo realizado por varias instituciones y coordenado por la Empresa Brasileña de Investigación Agropecuaria (EMBRAPA, 2009), con conclusión en octubre de 2008. Analizando y sistematizando datos sobre clima, suelos, uso de la tierra, cobertura vegetal y aspectos hídricos de todas las regiones del país, se busca seleccionar áreas potenciales para su cultivo, considerando que no interesa la expansión en áreas con algún tipo de restricción ambiental, ni competir con áreas de producción de alimentos. Se trata de una actividad estratégica y pionera, que permitirá una planificación inédita de la expansión de la caña, de forma ordenada y con criterios económicos y ambientales. Las reducciones de coste del etanol en Brasil desde el inicio del Programa de Producción y Uso de Etanol como Carburante (PRO-ÄLCOOL) se debieron a avances tecnológicos, gerenciales y por inversiones en infraestructura. Para el futuro, la implementación más amplia de tecnologías comerciales podrá promover reducciones adicionales de coste, más las mayores perspectivas se esperan con las nuevas tecnologías actualmente en 42 bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p.31-50, jul./dez. 2011. ITURRA, Antonio René; SILVA, Fábio Cesar da; DIAZ-AMBRONA, Carlos Gregório Hernandez Análisis de evolución de la producción de caña de azúcar y de etanol en Brasil desarrollo, que incluyen a la agricultura de precisión, nuevos sistemas de transporte de la caña y de la paja, y modificaciones genéticas de la caña. autosuficiente en gasolina. Se calcula que el volumen de gasolina sustituida por etanol fue de 10,54 mil millones de litros en 2006, y de 13,18 mil millones de litros en 2007, lo que representa una economía de US$ 6,94 mil millones (Valor, 31/1/08). Adicionalmente, la diversificación de la producción deberá estimular el aumento de la competitividad, como ocurrió con el etanol, que vino a complementar (inicialmente en usinas mixtas) la producción del azúcar. Esta diversificación incluye el aumento de los usos de la sacarosa y algunas rutas alcohol químicas y la producción de excedentes de energía de la biomasa de la caña, en diversas formas (cogeneración y producción de etanol con tecnologías de segunda generación, ya iniciadas). Además, la industria brasileña de equipos para la producción del azúcar, etanol y cogeneración de energía tuvo un gran desarrollo, en ese mismo período. Solamente el fabricante más grande produjo 726 destilerías (incluso para exportación) y 106 usinas completas, 112 plantas de cogeneración y 1200 calderas, la mayoría de alta presión. Las relaciones del trabajo en el campo (sindicatos propios) e industrial (sindicatos de alimentos y químicos) están bien definidos, incluyendo normas colectivas, con gran avance en la última década. Comparando con la media brasileña de 45% de formalidad, el área agrícola del sector de la caña evoluyó de 53,6% en 1992 para 68,5% e 2003. En la región Centro sur la producción de caña tenía 82,8% de formalidad y en São Paulo llegó a 88,4% en ese mismo año (Fig. 4). Considerando los aspectos relativos a los impactos socioeconómicos del sector, cabe resaltar la generación de empleos y renta para una gama muy extensa, con capacitación de la mano de obra y, usando tecnologías diversas, acomodar características locales. El sector promueve también una importante economía de divisas, evitando la importación de petróleo, y el desarrollo tecnológico y empresarial de una gran industria de bienes de capital. La sustitución de gasolina por etanol entre 1976 y 2004 representó una economía de US$ 121,3 mil millones (dólares de diciembre de 2004, incluyendo intereses). El etanol combustible sustituye volumes expresivos de la gasolina auto motiva. Actualmente alrededor del 40% y si el Brasil no consumiese etanol no sería Las diferencias de desarrollo regional, sin embargo, existen en los indicadores del trabajo. Las regiones más pobres presentan salarios menores y mucho más uso de mano de obra, ajustados por el nivel tecnológico empleado (automación, mecanización). 43 bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p.31-50, jul./dez. 2011. ITURRA, Antonio René; SILVA, Fábio Cesar da; DIAZ-AMBRONA, Carlos Gregório Hernandez Análisis de evolución de la producción de caña de azúcar y de etanol en Brasil Figura 3. Coste de Producción actuales y futuros de biocombustibles de Etanol en Diversos Países, en US$/litro Fuente: UNICA, 2011 y IPCC, 2008. Figura 4. Ganancias de Productividad en la Producción de Etanol Fuente: IBGE (2010) & Copersucar (2007). 44 bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p.31-50, jul./dez. 2011. ITURRA, Antonio René; SILVA, Fábio Cesar da; DIAZ-AMBRONA, Carlos Gregório Hernandez Análisis de evolución de la producción de caña de azúcar y de etanol en Brasil 6. LA POLÉMICA EN CONTRA DE LOS BIOCOMBUSTIBLES: BIOETANOL degradación de solos por exploración agrícola si deben a abusos debido a la ignorancia o a la ganancia. Hoy no hay en Brasil un litro de vinaza vertido en ríos o fuentes y la quema de paja, ya reducida en un 30% en S. Paulo será, pues, por ley y por evolución tecnológica natural, extinta con la mecanización de la agricultura (Embrapa, 2009). El 1º argumentación de la caña-de-azúcar es un monocultivo y, por tanto, mal engendrada con el objetivo de exterminar con el romanticismo heroico de la agricultura familiar. Con la excepción del cultivo de hortalizas, no hay en todo el mundo cultura de importancia económica y social que no sea monocultivo. Hay la posibilidad de cultivo de oleaginosa en la reforma de cañaveral y con pequeños agricultores familiares, como cultivo de soya, girasol y otras (Ex Ministro Roberto Rodrigues). Contrariamente a lo que afirman ecologistas de plantón, la humanidad perecería sin ella. El zonificación demostró con claridad que caña de azúcar tiene expansión en; áreas de pastaje degradada y no de alimentos. Según el zonificación de la caña (Embrapa, 2009) muestran que el país tiene cerca de 66 millones de hectáreas de zonas adecuadas para la expansión del cultivo de caña de azúcar, y de estos 19,3 millones de hectáreas se considera que tienen alto potencial de rendimiento de 41,6 millones de hectáreas como 5.000.000 como potencial medio y bajo para el cultivo. En las áreas potenciales sembradas, con pastos en el año 2002, que representan aproximadamente 36.700.000 hectáreas. Estas estimaciones muestran que el país no tiene por qué entrar en nuevas áreas con cobertura nativa en el proceso productivo, y puede expandir el área cultivada con caña de azúcar sin afectar directamente a las tierras utilizadas para la producción de alimentos El 2º Argumento del balance energético del alcohol, de acuerdo con lo cual la energía consumida para producir una unidad de alcohol sería mayor que aquélla contenida en ésa misma cantidad. De hecho, eso es casi verdad para el etanol americano fermentado del maíz, en que apenas 20% a más de lo que aquella energía fósil despendida son ganancias. En el caso de la caña brasileña, mientras, a cada unidad de combustible fósil utilizada con la producción de alcohol, 8 y media unidades de combustible fósil (gasolina) dejarán de ser quemados. El 4ª argumentación de la cultura de caña de azúcar expulsaría las culturas de alimentos y, como consecuencia, habría hambre en las clases menos privilegiadas. Históricamente lo que causó hambre o miseria casi que nunca fue precio o escasez de alimentos, pero desempleo y bajos salarios (IEA, 2010). Una expansión de la producción del etanol solo puede generar empleo y aumentar salarios. Recordando que la actual producción de El 3ª argumento que hay perjuicios ambientales locales. El plantío de la caña degradaría el solo. Ora, las tierras más fértiles del globo son aquellas cultivadas hace siglos. Los pocos ejemplos de 45 bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p.31-50, jul./dez. 2011. ITURRA, Antonio René; SILVA, Fábio Cesar da; DIAZ-AMBRONA, Carlos Gregório Hernandez Análisis de evolución de la producción de caña de azúcar y de etanol en Brasil 17 mil millones de litros de alcohol ocupa solo 3 millones de hectáreas (otros 3 millones para el azúcar) y que Brasil, excluyendo la área con actividad agrícola, toda área ocupada por floresta o ambientalmente sensible, dispone de 300 millones de hectáreas de solo con calidad y pluviometría adecuadas para el cultivo de la caña, podemos concluir que, multiplicando por diez la producción actual, no serían ocupadas sino 10% de las tierras. perspectiva de abastecimiento se torna más consistente al involucrar a los países americanos, localizados en la región intertropical del planeta, ya que éstos disponen de suelos agrícolas, agua dulce, biodiversidad, tecnología y mano de obra abundantes. Entre los países iberoamericanos, seguramente el que tiene más experiencia es el Brasil, especialmente en la producción y uso de etanol como combustible (Proálcool, instituido en 1975) ya que la sostenibilidad técnica, económica y ambiental de su producción está confirmada en estudios de Ciclo de Vida en toda su cadena de producción (a partir de caña de azúcar). Como resultado, actualmente el Brasil substituye más del 50% de su consumo de gasolina con etanol anhidro (mezclado a la gasolina, 25%) e hidratado (puro, utilizado en FFV). En el campo de la producción y uso de biodiesel su experiencia es más reciente (PNPB, 2003) pero todo indica que camina en el mismo sendero de éxito, dado que los factores de producción son similares a los del etanol. Otros países de la región, como Argentina y Colombia, entre otros, tienen también planos ambiciosos de producción y uso de biocarburantes. Según Zonificación de la caña tiene la región centro oeste presenta el mayor porcentaje de tierras aptas para la expansión del cultivo con caña de azúcar con 45% del total estimado, seguida por la Región Sudeste 34,5%, Sur 11,2%, Nordeste 7,6% y por el Estado de Tocantins de la Región Norte, con 1,7% (Embrapa, 2009). Con la adopción de las mejores tecnologías ya en uso o en estado de desarrollo avanzado, ese porcentual puede ser reducido para entre 3 y 5%. Con eso en vista, solo una extrema ecoparanoia justificaría el temor de expulsión del cultivo de alimentos y hambre desenfrenada en Brasil 7 CONCLUSIONES Así, conocer las experiencias de producción y de uso de biocarburantes en Iberoamérica y las relaciones de oferta y de demanda de biocarburantes en el mercado, es de todo punto de vista conveniente en los países europeos para consolidar sus planos, metas y proyectos nacionales destinados a mejorar, diversificar y consolidar sus matrices energéticas, al mismo tiempo que pueden avanzar en la solución de sus problemas Las metas de sustitución de carburantes derivados del petróleo por biocarburantes en los países de la OCDE, y especialmente en los países europeos, son ambiciosas (5,75% en 2010 y 10% en 2020). La probabilidad de atender esa demanda a partir de sus propios factores de producción es escasa. Sin embargo, la 46 bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p.31-50, jul./dez. 2011. ITURRA, Antonio René; SILVA, Fábio Cesar da; DIAZ-AMBRONA, Carlos Gregório Hernandez Análisis de evolución de la producción de caña de azúcar y de etanol en Brasil ambientales, al reducir las emisiones de gases de efecto invernadero (Protocolo de Kioto; TETTI, 2002). Entonces, el Desarrollo de la Producción de Biocarburantes, Azúcar y sus relaciones con el Medio Ambiente en Ibero América, busca traer nuevos conocimientos para promover la investigación y el debate en torno a la realidad de los países en al desarrollo. Para la producción de biocarburantes y azúcar, y de América Latina en particular, y para potenciar las posibilidad de diversificación y la sustentabilidad de la agroindustria de la caña de azúcar, remolacha y oleaginosas. Tanto para la producción de biocarburantes, como cultivos tradicionales (caña, remolacha y palma aceitera) y con nuevas materias primas. El análisis incluye también propuestas sobre las posibilidades de comercialización dentro del Mecanismo de Desarrollo Limpio y la asociación en la fábrica de alcohol con el proceso de transesterificación de aceites vegetales para producir biodiesel. Tal escenario trae consigo la posibilidad de mejoras muy significativas en los balances sociales y ambientales muy significa para enfrentar de mejor manera los problemas que aquejan a estos países. 47 bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p.31-50, jul./dez. 2011. ITURRA, Antonio René; SILVA, Fábio Cesar da; DIAZ-AMBRONA, Carlos Gregório Hernandez Análisis de evolución de la producción de caña de azúcar y de etanol en Brasil 8. REFERENCIA BIOGRÁFICA BERG, C. World fuel ethanol analysis and outlook. Abril/2004. Disponível em: <http://www.distill.com/World-Fuel-Ethanol-A&O-2004. html>. Acesso: 26/07/2008. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Secretaria de Comércio Exterior. 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Tese (Doutorado) – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo. GUIMARÃES, C.. Qualicom 2005. In: V Seminário de Combustíveis da Bahia, 2005. Bahia. Disponível em: <http://www.unifacs.br/acontece/download/mesa_redonda/Dr.%20Davidson%20de%2 0Magalh%C3%A3es.ppt> Acesso: 20 de janeiro de 2010. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/english/>. Acesso em 10/10/2010. INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA - IEA. Exportação de álcool: perspectiva de crescimento em 2006?, 05/2006. Disponível em: <http://www.iea.sp.gov.br/out/verTexto. php?codTexto=5526>. Acesso: 20/08/2010. 48 bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p.31-50, jul./dez. 2011. ITURRA, Antonio René; SILVA, Fábio Cesar da; DIAZ-AMBRONA, Carlos Gregório Hernandez Análisis de evolución de la producción de caña de azúcar y de etanol en Brasil IPCC. Cambio climático 2007. Informe de síntesis. Contribución de trabajo I, II y III al Cuarto Informe de evaluación de Grupo Intergubernamental de Expertos sobre Cambio Climático. [Equipo de redacción: Pachauri, R. K. y Reisinger, A. IPCC, Ginebra, Suiza, 104p. RENEWABLE FUELS ASSOCIATION. Ethanol industry outlook. New York, Feb. 2005. 20 p. Disponível em: <http://www.ethanolrfa.org/outlook2003.shtml>Acesso: 15/06/2006. SILVEIRA, L.T. Evolução do mercado internacional de álcool combustível: perspectivas e inserção brasileira. 2001. 104 p. Monografia (trabalho de Conclusão do Curso de Economia Agroindustrial) – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2001. SOUZA, R.R. Panorama, oportunidades e desafios para o mercado mundial de álcool automotivo. Rio de Janeiro. 2006. 138p. Dissertação (Mestrado). Universidade Federal do Rio de Janeiro. TETTI, L. M. R. Protocolo de Kyoto: Oportunidades para o Brasil com Base em seu Setor Sucroalcooleiro; Um Pouco da História da Questão “Mudanças Climáticas e Efeito Estufa”. In: MORAES, Márcia Azanha Ferraz Dias de; SHIKIDA, Pery Francisco Assis (Orgs). Agroindústria Canavieira no Brasil. São Paulo: Atlas, 2002. 367p. Cap. 9, 199-213. UNICA. Cenários para o álcool. Disponível em: <http://www.encontrodeenergia.com.br/downloads/03-082006/Sala%2002/manha/antonio_de_padua_rodrigues.pdf>. Acesso: 24/08/2008. UNICA. Estatísticas, no endereço: www.unica.com.br, site consultado em 20 de maio de 2011. ORPLANA: www.orplana.com.br, site consultado em 20 de maio de 2011. 49 bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p.31-50, jul./dez. 2011. ITURRA, Antonio René; SILVA, Fábio Cesar da; DIAZ-AMBRONA, Carlos Gregório Hernandez Análisis de evolución de la producción de caña de azúcar y de etanol en Brasil 1 Antonio Rene Iturra. Ingeniero sénior del Ministerio de Ciencia y Tecnología del Brasil. Residente en Madrid, es consultor en Producción y Uso de Etanol y de Biodiesel. E-mail: [email protected] 2 Fábio Cesar da Silva. Investigador de Embrapa Informática Agropecuária y professor da Fatec Piracicaba. Pós-doutorado en la Universidad Politécnica de Madrid / ETSIA, Campus Unicamp, Av. André Tosello, 209 - Barão Geraldo, Caixa Postal 6041- 13083-886 - Campinas, SP – Brasil Campinas SP (Brasil). E-mail: [email protected] 3 Carlos Gregório Hernández Diaz-Ambrona. Ingeniero Agro., PhD, Prof. Titular del Dep. de Producción Vegetal: Fitotecnia – Escuela Técnica Superior de Ingenieros Agrónomos, Ciudad Universitaria, E-28040 Madrid, España. E-mail: [email protected] 50 Gestão de pessoas no setor sucroalcooleiro: os desafios do processo de mecanização CARREIRA, Marcio Luis FRANCO, Decio Henrique Resumo O artigo apresenta informações atualizadas do setor sucroalcooleiro no Brasil e algumas questões referentes ao processo de mecanização da colheita da cana-de-açúcar e os desafios da gestão de pessoas nesse setor, que enfrenta problemas históricos de falta de capacitação, escolaridade e educação formal de seus trabalhadores e que não tem tradição de gestão profissional de seus recursos humanos. A gestão de pessoas tem um papel fundamental no treinamento e desenvolvimento das pessoas envolvidas na organização em todo o setor sucroalcooleiro. Palavras-chave: Gestão de pessoas; setor sucroalcooleiro; cultura da cana-de-açúcar; mecanização da colheita da cana-de-açúcar. Abstract This article presents current information on the sucro-alcohol sector in Brazil, including issues regarding the process of mechanization of sugar cane harvesting. Also discussed are the challenges of personnel management in this sector, which faces historical problems of lack of training and formal education of workers, and has no tradition of the professional management of its human resources. Personnel management plays a key role in the training and development of personnel throughout the alcohol sector. Keywords: personnel management, sugar and alcohol sector, sugarcane culture, mechanized harvesting of sugarcane. Resumen El artículo presenta la información actual en el sector de la caña de azúcar en Brasil y en algunas cuestiones relativas al proceso de mecanización de la caña de azúcar y los desafíos de la gestión de personas en este sector, que se enfrenta a problemas de falta de formación histórica, la escolarización y la educación formal sus trabajadores y que no tiene una tradición de la gestión profesional de sus recursos humanos. Gestión de las personas juega un papel clave en la formación y el desarrollo de las personas involucradas en la organización de todo el sector del alcohol. Palabras-clave: gestión de personas; sector del azúcar y el alcohol, la cultura de la caña de azúcar, la cosecha mecanizada de caña de azúcar. bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p. 51-59, jul./dez. 2011. CARREIRA, Marcio Luis; FRANCO, Decio Henrique. Gestão de Pessoas no setor sucroalcooleiro: os desafios do processo de mecanização 1 INTRODUÇÃO tradicional, no qual a cana é queimada, cortada manualmente, e carregada por meio de carregadoras mecânicas no veículo de transporte para o sistema mecanizado, no qual uma colhedora automotriz retira a cultura, fraciona o colmo em pedaços, realiza a limpeza e deposita a cana em pedaços (rebolos) em um transbordo ou diretamente no veículo de transporte (CARREIRA, 2010). A cultura da cana-de-açúcar está entre as principais plantações tanto em toneladas colhidas, tanto em área cultivada. Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) o total de cana moída para a safra de 2009/2010 foi de 612,2 milhões de toneladas, o que representa um acréscimo de 6,9% em relação à safra 2008/2009. Além disso, em seu relatório a CONAB aponta que deixaram de ser colhidas cerca de 20 milhões de toneladas devidos a fatores climáticos (BRASIL, 2009). Já a área colhida destinada a atividade sucroalcooleira para a safra 2009/2010 foi de 7,5 milhões de hectares, distribuída nos estados produtores de São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Goiás e Alagoas. A maior concentração está no estado de São Paulo com 4,1 milhões de hectares (BRASIL, 2009). E devido a estas transformações, e no que tange a legislação ambiental, a prática da queima antes da colheita vem sendo contestada por membros do Ministério Público através de ações judiciais, pela ação das comunidades preocupadas com os efeitos dessas práticas agrícolas sobre a saúde, segurança, o meio ambiente e na qualidade de vida nos meios urbanos próximos às plantações. No estado de São Paulo a legislação prevê gradativamente a eliminação da queima da cana-de-açúcar, a partir de 2002 terminando em 2031 apenas, com a eliminação total das queimadas. Costa Neto (2006) adverte que a mecanização da colheita da cana é inevitável e que uma colhedora de cana equivale a 100 cortadores podendo chegar a um rendimento de 15 a 20 t h-1 contra 5 a 6 t dia-1 por pessoa. Afirma ainda que programas educacionais e de qualificação profissional são essenciais, assim como políticas públicas objetivas para minimizar reflexos do êxodo rural que provavelmente ocorrerá. Nos últimos dez anos a produtividade aumentou em 19,2% (BRASIL, 2009), o que pode ser creditado ao avanço tecnológico, como a introdução de material genético, desenvolvimento de insumos, métodos de trabalho entre outros. Além disso, o sistema de produção vem passando por grandes transformações, transformações essas associadas à expansão de novas áreas produtoras, à indisponibilidade de mãode-obra, a constante busca de redução de custos e por legislações cada vez mais impositivas nas questões ambientais. Essas transformações fazem com que a mecanização agrícola se torne cada vez mais importantes. Um exemplo dessas transformações, é a atual transição do sistema semi-mecanizado de colheita Justamente neste contexto é que a gestão de pessoas está cada vez mais inserida no setor sucroalcooleiro, buscando alternativas para que o trabalhador rural possa criar uma nova cultura de 52 bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p. 51-59, jul./dez. 2011. CARREIRA, Marcio Luis; FRANCO, Decio Henrique. Gestão de Pessoas no setor sucroalcooleiro: os desafios do processo de mecanização aprendizagem e assim desenvolver tarefas mais complexas no setor. O objetivo desse artigo é apresentar de uma forma lógica estrutural a evolução histórica da gestão de pessoas, e assim contribuir aos gestores do setor, alternativas e ferramentas para gestão de excelência. requeira ao Poder Público a expedição de “Autorização de Queima Controlada”, sendo a Secretaria Estadual do Meio Ambiente responsável para expedir a referida autorização. O motivo da queima prévia da cana-deaçúcar aumenta a produtividade do trabalhador porque evita a retirada da palha da cana. Como o cortador de cana ganha por produtividade, as próprias convenções coletivas de trabalho estipulam que o corte manual deve ser de cana queimada. Assim, colher a cana-deaçúcar crua, manualmente, é antieconômico, induzindo à mecanização da colheita. 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Em São Paulo, conforme informação dos sindicatos patronais, hoje em dia, o carregamento, transporte e cultivo da cana-de-açúcar são 100% mecanizados, sendo então, a colheita aproximadamente 35% mecanizada. Com isso, a colheita que representa aproximadamente 35% do custo de produção da cana-de-açúcar, ainda utiliza um grande contingente de homens e máquinas (CARREIRA, 2010; RIPOLI; RIPOLI, 2004). A mecanização da colheita de cana-deaçúcar, no Estado de São Paulo, vem se intensificando e rapidamente, ou seja, acima dos valores estipulados pela lei nº. 11.241, de 19 de setembro de 2002, que determina que a tal prática das queimadas deva ser totalmente banida no Estado, e, criou um cronograma gradativo de extinção da queima da cana-de-açúcar. Na safra de 2005/06, por exemplo, verificou-se em São Paulo, um percentual de mecanização maior que o estipulado em lei: no primeiro ano, a redução prevista para as áreas mecanizáveis era de 20%, tendo sido verificada na prática 30% de redução da queima nas áreas mecanizáveis (MORAES, 2007). Além dos fatores tecnológicos, no Estado de São Paulo, a legislação que proíbe a queima da cana-de-açúcar como método de despalha trouxe grande impacto sobre o número de trabalhadores empregados no corte da cana-de-açúcar. A queima ainda é uma prática comum no Brasil, já que a colheita de cana é, maior parte das vezes, feita manualmente por empregados safristas, após o emprego do fogo para despalha, com posterior corte e transporte. A Lei Estadual nº. 10.547, de 2 de maio de 2000, em que o governo do Estado de São Paulo, estipula os procedimentos, proibições, regras de execução e medidas de precaução a serem tomadas quando do emprego do fogo em práticas agrícolas. Nos termos da lei, é necessário que antes do emprego do fogo o interessado A tendência de mecanização da colheita, principalmente na região Centro-Sul, é inexorável e tende a se acelerar por diversos motivos. Principalmente aqueles ligados a fatores econômicos, isso pode ser observado em que nos anos recentes as usinas estão investindo em cogeração 53 bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p. 51-59, jul./dez. 2011. CARREIRA, Marcio Luis; FRANCO, Decio Henrique. Gestão de Pessoas no setor sucroalcooleiro: os desafios do processo de mecanização de energia elétrica a partir da queima do bagaço de cana, para comercialização de energia neste mercado. Além do bagaço, a palha também pode ser utilizada como matéria-prima para a cogeração de energia elétrica, o que estimula as usinas a deixarem de queimá-la. Chiavenato (1998) diz que a gestão de pessoas baseia-se em três aspectos fundamentais: a) as pessoas como seres humanos, b) as pessoas como ativadores inteligentes de recursos organizacionais e c) as pessoas como parceiros da organização. Isso vem ao encontro com a afirmação feita por Kliksberg (1997) que o contexto contemporâneo de atuação da gerência institucional é absolutamente diferente daquele de décadas anteriores. A predominância é, cada vez mais, da complexidade, da instabilidade e da incerteza. Assim sendo, a mecanização reduz a demanda por trabalhador, principalmente aqueles de baixa qualificação (grande parte dos trabalhadores da lavoura canavieira tem poucos anos de estudo), expulsando-os da atividade. Esse fato implica a necessidade de qualificação e treinamento desta mão-de-obra para estar apta a atividades que exijam maior qualificação. Percebe-se então a necessidade da formação qualificada daqueles que vão atuar sob as novas exigências do setor agrícola, em especial, no setor sucroalcooleiro, considerando-se principalmente o redesenho do ambiente externo das organizações e, necessariamente do ambiente interno, determinado por novas demandas (mecanização da colheita). Assim, um dos fatores determinantes dessa qualificação é que o profissional trabalhe nessa área não apenas pela necessidade de uma atividade remunerada, mas também por opção pessoal e profissional (DRUCKER, 1999). A falta de cursos e especializações para esses profissionais acarreta, por sua vez, um mal entendidos quanto às diferentes competências dos que trabalham nas diferentes organizações que integram o setor sucroalcooleiro. Por característica do setor agrícola em geral, as pessoas trabalhadoras são pessoas singulares e únicas, portadoras de necessidades pessoais e funcionais, que devem ser consideradas em função do desempenho adequado nos programas e serviços desenvolvidos pelas É justamente a partir deste ponto que a Gestão de Pessoas se insere, pois é um fator determinante dar condições de trabalho, e, principalmente melhorar a autoestima deste trabalhador. No contexto da gestão de pessoas que é formado por pessoas e organizações, onde as pessoas passam boa parte de suas vidas trabalhando dentro destas organizações, e, estas dependem das pessoas para funcionar e alcançar seus objetivos. Chiavenato (2004) aponta a gestão de pessoas como uma área sensível à mentalidade que predomina nas organizações, sendo contingencial e situacional, pois depende de vários aspectos como cultura organizacional, estrutura organizacional, das características do contexto ambiental, do negócio em que está inserida, tecnologia utilizada, dos processos internos e de uma gama de variáveis importantes. 54 bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p. 51-59, jul./dez. 2011. CARREIRA, Marcio Luis; FRANCO, Decio Henrique. Gestão de Pessoas no setor sucroalcooleiro: os desafios do processo de mecanização organizações do setor. O desenvolvimento de competências, a capacitação continuada, o relacionamento interpessoal e o atendimento específico às necessidades individuais são focos importantes a serem trabalhados no âmbito da gestão de pessoas da organização, principalmente no setor sucroalcooleiro, que como já visto há necessidade para novos operadores de colhedoras (mecanização), pessoas envolvidas no novo processo de cogeração de energia, entre outras novas atividades. para melhor desempenho e avaliação de seus funcionários. 3. METODOLOGIA Os dados secundários foram extraídos da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, (vários anos) e dos Registros Administrativos do Trabalho e Emprego da RAIS. Os dados da PNAD e da RAIS não foram comparados, e nem são comparáveis, visto que as metodologias adotadas são diferentes. De acordo com Dessler (1997) a gestão de pessoas ou administração de recursos humanos é o conjunto de políticas e práticas necessárias para conduzir os aspectos da posição gerencial relacionado com as pessoas ou recursos humanos, incluindo recrutamento, seleção, treinamento, recompensas e avaliação do desempenho. Portanto, é necessária uma nova formulação do departamento de recursos humanos das empresas que estão associadas ao setor sucroalcooleiro, pois as pessoas que exercem atividades remuneradas neste segmento, apontam como fatores desmotivadores ao trabalho, o desconhecimento do cargo, a falta de habilidade necessária, a falta de repostas (feedback), o excesso de rivalidade entre os colegas, o estabelecimento de metas impossíveis, além de conflitos com as chefias (COSTA, 2002). Foram levantados artigos científicos em que contenham informações dos Sindicatos de trabalhadores e patronais do Estado de São Paulo, de modo a compreender o mecanismo das negociações salariais, bem como identificar as principais entidades representativas do setor. Além de uma revisão bibliográfica acerca de gestão de pessoas, com isso busca-se um elo entre a importância da gestão de pessoas com as novas demandas do setor sucroalcooleiro, em que o papel do administrador é de fundamental importância para melhorar as condições dos trabalhadores e manter a lucratividade do setor. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO A partir dos dados coletados do Ministério do Trabalho RAIS, entre os anos de 2000 e 2005, houve um aumento de 52,9% do número de empregados formais, que passou de 642.848 empregados em 2000 para 982.604 em A administração de recursos humanos, neste caso, segundo Milkovich (1994) é o conjunto de decisões integradas sobre as relações de emprego que influenciam a eficácia dos funcionários e das organizações, deve, portanto, intervir 55 bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p. 51-59, jul./dez. 2011. CARREIRA, Marcio Luis; FRANCO, Decio Henrique. Gestão de Pessoas no setor sucroalcooleiro: os desafios do processo de mecanização 2005, isso em todo o território nacional, e envolvidos na produção de cana-deaçúcar e álcool. Já para a região CentroSul esse aumento foi de 57,4% no mesmo período. Com isso o número de empregados no setor para a região Centro-Sul, representa 62,9% dos empregados no setor em todo o Brasil. justifica pelo aumento, também da produção de automóveis flex. Um dado de supra importância aos administradores, e, para as organizações que pretendem ou que já possuam em sua estrutura organizacional a gestão de pessoas, ou administração de recursos humanos são os trabalhadores do setor de cana-de-açúcar e o grau de instrução, em 2005, conforme Tabela 1. Esse aumento reflete principalmente o crescimento da área colhida em todo o Brasil, por fatores já discutidos, sendo os fatores econômicos os principais, isso se Tabela 1 – NÚMERO DE TRABALHADORES DO SETOR DE CANA-DE-AÇÚCAR PARA A REGIÃO CENTRO-SUL E BRASIL, POR GRAU DE INSTRUÇÃO E FAIXA ETÁRIA – 2005. Brasil Centro-Sul Número de empregados 982.604 618.161 Grupos de idade Até 17 anos 1.514 1.050 18 a 24 anos 246.299 153.511 25 a 29 anos 191.272 118.886 30 a 39 anos 280.267 177.574 40 a 49 anos 174.458 111.605 50 a 64 anos 83.695 51.678 65 anos ou mais 5.097 3.857 Ignorado 2 0 Total 982.604 618.161 Educação Analfabeto 111.516 21.937 4ª série incompleta 345.652 174.806 4ª série completa 184.290 144.142 8ª série incompleta 142.100 112.821 8ª série completa 70.749 59.974 2º grau incompleto 38.911 30.938 2º grau completo 71.537 58.964 Superior incompleto 5.518 4.680 Superior completo 12.331 9.899 Total 982.604 618.161 Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego – RAIS, 2005. A região Centro-Sul apresenta indicadores de educação melhores, em relação às demais regiões do Brasil, embora essas não foram abordadas. O número de analfabetos em 2005 representava apenas 2,2% do total de empregados no Brasil e 3,5% do total da região Centro-Sul. Em se comparando apenas o número de analfabetos da região Centro-Sul com o total de analfabetos do 56 bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p. 51-59, jul./dez. 2011. CARREIRA, Marcio Luis; FRANCO, Decio Henrique. Gestão de Pessoas no setor sucroalcooleiro: os desafios do processo de mecanização Brasil este número era de 19,7% de analfabetos. Embora seja um número bastante preocupante, este quadro é pior em se tratando da educação superior, que grosso modo, estão os gestores das empresas do setor, apenas 1,25% dos empregados do setor possuem o ensino superior, isso com referência ao total de empregados no Brasil. A região Centro-Sul representa quase a totalidade 1,01%. Esse número analisado apenas na região Centro-Sul representa 1,6%. O que demonstra o despreparo do setor para enfrentar a competitividade frente aos concorrentes internacionais. Isto tomando por base, a proporcionalidade de estudodesenvolvimento. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Fica evidente o despreparo do setor sucroalcooleiro no Brasil, em se tratando de educação, e, isso traz uma reflexão para os gestores das grandes organizações do setor de como devem incorporar valores à organização. O auxílio da administração de recursos humanos é imprescindível em todos os aspectos do desenvolvimento dos empregados nessa fase de incorporação de novas tecnologias, mecanização da colheita, por exemplo. Para que as empresas cumpram seu papel perante a sociedade, quer seja nas questões das leis ambientais, quer seja na movimentação da economia local, a gestão de pessoas tem um papel fundamental no treinamento e desenvolvimento das pessoas envolvidas na organização em todo o setor sucroalcooleiro. 57 bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p. 51-59, jul./dez. 2011. CARREIRA, Marcio Luis; FRANCO, Decio Henrique. Gestão de Pessoas no setor sucroalcooleiro: os desafios do processo de mecanização 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Constituição Federal de 1998. Lopes, M. A. R. (Coord.). 4 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999. BRASIL. Lei nº. 10.192, de 14 de fevereiro de 2001. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Anuário Estatístico da Agroenergia. Brasília: MAPA, ACS, 2009. BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Registros Administrativos. RAIS. Brasília, vários anos. CD-ROM CARREIRA, M. L. Desempenho operacional, econômico e energético do transporte de cana-de-açúcar: um estudo de caso. Dissertação (Mestrado). Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – ESALQ/USP. Piracicaba, 2010. CHIAVENATO, I. Recursos Humanos. Edição Compacta. São Paulo: Atlas, 1998. CHIAVENATO, I. Gestão de pessoas: e o novo papel dos recursos humanos nas organizações. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. COSTA, S. F. Gestão de Pessoas em Instituições do Terceiro Setor: uma reflexão necessária. Revista Terra e Cultura, Londrina, ano XVIII, n. 35, jul. Dez/2002. COSTA NETO, J. D. A cana em tempo bom. Revista CREA-PR. Curitiba, n. 41, p. 16-19, out, 2006. DESSLER, G. Human Resource Management. New Jersey: Prentice Hall, 1997. DRUCKER, P. F. Administrações de organizações sem fins lucrativos. São Paulo: Pioneira, 1999. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD. Rio de Janeiro, vários anos. CD-ROM. KLIKSBERG, B. O desafio da exclusão – para uma gestão social eficiente. São Paulo: FUNDAP, 1997. MILKOVICH, G. T.; BOUDREAU, J. W. Human Resource Management. Burr Ridge: Irwin, 1994. MORAES, M. A. F. D. Indicadores do Mercado de Trabalho do Sistema Agroindustrial da Cana-de-Açúcar do Brasil no período de 1992-2005. Revista Estudos Econômicos, São Paulo, v. 37, n. 4, p. 875-902, out-dez/2007. RIPOLI, T. C. C.; RIPOLI, M. L. Biomassa de cana-de-açúcar: colheita, energia e ambiente. Piracicaba: O Autor, 2004. 58 bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p. 51-59, jul./dez. 2011. CARREIRA, Marcio Luis; FRANCO, Decio Henrique. Gestão de Pessoas no setor sucroalcooleiro: os desafios do processo de mecanização 1 Marcio Luis Carreira é professor da Faculdade Anhanguera - Campus Santa Barbara d´Oeste. Tem experiência na área Financeira, com ênfase em Matemática Financeira e Análise de Investimentos, atuando principalmente nos seguintes temas: Análise de Risco, Análise de Crédito, Captação de Recursos, Estatística Aplicada. 2 Decio Henrique Franco é administrador profissional; Professor universitário; Diretor Financeiro da FOP/UNICAMP. E-mail: [email protected] 59 Gestão de pessoas e as novas tecnologias para otimizar o desenvolvimento organizacional: a utilização de blog interno FISCHER, Luciana Resumo O processo de modernização nas ferramentas tecnológicas, aliadas às organizações, reforça a necessidade constante de adaptabilidade referente às novas formas de procedimentos que são propostas junto ao público interno da organização. As inovações mercadológicas demandam um acompanhamento ininterrupto das tendências operacionais, referentes às formas de viabilizar ações internas eficientes e eficazes, que resultem na potencialidade de desenvolvimento da organização. Um dos aspectos destacados são as ferramentas tecnológicas utilizadas no cenário corporativo como a utilização de blog internamente. Tal estratégia visa otimizar processos no que tange a gestão de pessoas e ao desenvolvimento organizacional, mediante a operacionalização de projetos diversificados. Palavras-chave: blog interno, comunicação, desenvolvimento organizacional, gestão de pessoas. Abstract The process of both technological and organizational modernization reinforces the constant need for adapting new forms of procedures related to an organization’s internal public. Innovations in the marketplace demand an uninterrupted monitoring of operational tendencies with regard to the viability of efficient and effective internal actions which can result in the potential development of the organization. An aspect of innovation is technological tools for use in the corporate environment, such as the utilization of internal blogs. This strategy has the objective of optimizing processes related to personnel management and organizational development by means of the implementation of a variety of projects. Keywords: corporate blog, communication, organizational development, personnel management. Resumen El proceso de modernización de las herramientas tecnológicas, organizaciones aliadas, refuerza la necesidad de adaptación constante con respecto a las nuevas formas de procedimientos que se proponen a la organización interna pública. Las innovaciones del mercado requieren un seguimiento continuo de las tendencias operativas, en relación con los medios para facilitar las acciones internas eficientes y eficaces, que se traducen en el potencial de desarrollo de la 60 organización. Una de las cuestiones que se destacan son las herramientas tecnológicas utilizadas en el uso empresarial de los blogs como internamente. Esta estrategia busca optimizar los procesos con respecto a la gestión de personas y desarrollo organizacional a través de la operación de diversos proyectos. Palabras-clave: blog interna, comunicación, desarrollo organizacional, gestión de personas. 61 bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p. 60-79, jul./dez. 2011. FISCHER, Luciana Gestão de Pessoas e as novas tecnologias para otimizar o desenvolvimento organizacional: a utilização de blog interno 1 INTRODUÇÃO das empresas brasileiras, respondem pela comunicação interna da companhia. Pretende-se com este trabalho desenvolver uma análise reflexiva quanto aos procedimentos de comunicação interna utilizados dentro de empresas de médio e grande porte, assim como novas possibilidades a partir dos avanços tecnológicos conhecidos como blog corporativo. A utilização de tal ferramenta pode potencializar a participação dos colaboradores, além de motivar um aprendizado individual quanto ao seu uso diário e maior rapidez quanto ao processo comunicacional, grande responsável pelo fortalecimento da marca interna e externamente. As constantes inovações tecnológicas possibilitam uma atuação organizacional dinâmica e inovadora diante das necessidades competitivas que se estabelecem no cenário mercadológico, pois a concorrência acirrada solicita adaptação contínua de todas as equipes que atuam dentro de uma organização. Diante disso, se estabelece critérios desenvolvidos por cada empresa quanto aos mecanismos internos que viabilizem redução no time de processos comunicacionais. As ferramentas de comunicação que auxiliam a área de gestão de pessoas em uma empresa podem ser inúmeras e utilizadas conforme períodos ou necessidades específicas que compõem a estrutura empresarial. Considerando empresas de médio e grande porte podese esperar que determinadas ações de comunicação sejam desenvolvidas de maneira a possibilitar além da interação/integração interdepartamental, agilidade no feedback, o que implica redução de tempo em tomada de decisões, otimização nas ações dos setores e maior agilidade frente aos diferentes procedimentos desempenhados internamente. Mediante a pesquisa bibliográfica em fontes secundárias (livros, revistas e sites especializados) foi desenvolvida pesquisa exploratória a fim de coletar dados atualizados pertinentes ao tema proposto, pois objetiva-se explicitar uma questão ou ainda construir hipóteses sobre a temática (SELLTIZ, apud GIL, 2009, p. 41). De acordo com Lakatos & Marconi (2006, p. 65) a pesquisa exploratória constitui investigações de pesquisa empírica cujo objetivo é a formulação de questões ou de um problema, com tripla finalidade: desenvolver hipóteses, aumentar a familiaridade do pesquisador com um ambiente, fato ou fenômeno ou modificar e clarificar conceitos. Tal fato, por certo, resultará em maior dinamismo mercadológico, uma vez que se espera melhor desempenho e resultados. As ações internas realizadas pelo setor de R.H. tornam-se relevantes uma vez que esta área, na grande maioria 62 bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p. 60-79, jul./dez. 2011. FISCHER, Luciana Gestão de Pessoas e as novas tecnologias para otimizar o desenvolvimento organizacional: a utilização de blog interno 2 CENÁRIO ORGANIZACIONAL CONTEMPORÂNEO: AS PESSOAS COMO MEDIADORAS DE AÇÕES ESTRATÉGICAS NAS CORPORAÇÕES Com a dinâmica evolução tecnológica inicialmente os trabalhadores que desenvolviam atividades consideradas estratégicas e táticas passam a se valer de novos aparatos como equipamentos computadorizados e o próprio computador, que chega para agilizar processos e minimizar o time tanto na linha de produção quanto nos escritórios de pequenas, médias e grandes empresas. Para tanto, a capacitação continuada torna-se quesito indiscutível a ser trabalhado, inclusive de forma estratégica para as organizações. A evolução no campo do trabalho a partir da Revolução Industrial apontou para modelos de gestão organizacionais cada vez mais modernos e em conformidade com as novas necessidades que o mercado estabelecia. Diante da abertura de mercado, maior concorrência de produtos e serviços, dos avanços tecnológicos e, consequente, aumento pela capacitação profissional as próprias empresas vislumbraram o aperfeiçoamento no potencial humano para que as atividades pertinentes ao seu setor de atuação pudessem ser fortalecidas diante de constantes mudanças nas áreas políticas, sociais e econômica. A qualificação do trabalho deixou de ser o apanágio dos trabalhadores intelectuais e dos operadores de máquinas-ferramentas universais ao se generalizar e ao atingir todos os trabalhadores empenhados em processos informatizados (...). As empresas competitivas, produtoras de alto valor e amplamente informatizadas, reformulam por inteiro a organização do trabalho. As atividades, outrora fragmentadas em tarefas simples, rotineiras e estereotipadas, passam a ser agregadas em processos que transferem valor para o cliente. Os trabalhadores reunidos em equipes multifuncionais se responsabilizam por processos inteiros ou por segmentos de processos, assumindo desde logo algumas funções gerenciais. Sua capacitação demanda anos de estudo e de habilitação técnica, ao contrário do curto tempo de treinamento anterior a que os trabalhadores industriais estavam sujeitos. Intensifica-se e amplia-se o uso da tecnologia da informação, num contexto em que o acesso aos dados é compartilhado. Substituem-se os treinamentos esporádicos por uma educação permanente (SROUR, 2005, p. 48-49). Tal desenho geopolítico se estabelece impulsionando as empresas nacionais a se adaptarem frente aos desafios estabelecidos também no cenário internacional, pois à medida que ocorre a abertura de mercado, novas perspectivas mercadológicas acenam no sentido de ampliar ações concorrências e viabilizar propostas diferenciadas. Para que novas formas de produção e distribuição de produtos e serviços sejam otimizadas, novos formatos de gestão no setor de Recursos Humanos também são configurados, afinal, torna-se irremediável a necessidade emergente de qualificações específicas e contínua capacitação diante de mudanças cada vez mais solicitadas pelo processo de desenvolvimento das organizações. Com o intuito de se obter melhores performances de mercado, cada 63 bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p. 60-79, jul./dez. 2011. FISCHER, Luciana Gestão de Pessoas e as novas tecnologias para otimizar o desenvolvimento organizacional: a utilização de blog interno Na era digital buscam-se por profissionais dinâmicos, inovadores e que busquem pela qualificação continuamente. Neste sentido, muitas empresas oferecem formas de capacitação com o objetivo que o investimento em educação e aperfeiçoamento nas pessoas resulte em indicadores cada vez mais destacados no setor de atuação. Anteriormente a era digital pouca, ou nenhuma, ênfase era dada a corresponsabilidade de gestores e trabalhadores, ao trabalho em equipe, aos TAGs (times auto-gerenciáveis) e ao aprimoramento no trato da questão gestão de pessoas como diferencial competitivo, conforme se pode observar na tabela abaixo. organização desempenha ações que privilegiem inovações e, para que novas propostas surjam dentro da empresa, é importante ouvir aqueles que diretamente estão envolvidos nos diversos modelos organizacionais, afinal, as pessoas constituem-se o capital intelectual e podem apresentar formas diferenciadas que permeiem além de resultados financeiros positivos, a criação de novos modelos de ação nos níveis estratégico, tático e operacional, o que por certo permitirá a empresa fortalecimento diante da acirrada concorrência que também busca por inovação. Tabela 1 - As revoluções comparativas Revolução Industrial Revolução Digital Uso extensivo do trabalho físico e dos recursos naturais Uso intensivo do trabalho mental, da ciência e tecnologia Simplicidade e baixo custo das máquinas Complexidade e alto custo dos equipamentos Linhas de produção industrial: postos de trabalho (fordismo) Ilhas de trabalho digital: equipes multifuncionais (toyotismo) Separação entre gestão e execução (taylorismo) Corresponsabilidade técnica entre gestores e trabalhadores (empowermwent) Fonte: SROUR, 2005, p. 53. No modelo moderno de gestão ressaltase a importância das pessoas para a organização e busca-se identificar novos talentos, profissionais que possam ser alocados para outras atividades em níveis diferenciados dentro da mesma empresa. Infelizmente, ainda na era moderna, muitas empresas pautam-se num formato de gestão de recursos humanos limitador no que tange a novas práticas com ênfase estratégica para a companhia. A maioria das empresas ainda não encara a área de Recursos Humanos como aliada estratégica, o que se caracteriza como um grande erro. Os que respondem pela área devem assumir a função de transmitir aos empregados os valores da empresa e, assim, contribuir para melhorar a produtividade e os resultados no 64 bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p. 60-79, jul./dez. 2011. FISCHER, Luciana Gestão de Pessoas e as novas tecnologias para otimizar o desenvolvimento organizacional: a utilização de blog interno trabalho. A área de Recursos Humanos é responsável por ações como recrutamento, seleção, treinamento, planos de cargos e salários, contratação, remuneração e questões trabalhistas. Contudo, para uma atuação estratégica, deve, ainda, adotar medidas para desenvolver talentos e criar um ambiente de trabalho aberto a novas ideias (RIBEIRO, 2005, p.13). por exemplo, a dinamicidade no processo de gestão de pessoas. Se por um lado presume-se maior agilidade e facilidade, por outro se pode entender que alguns problemas emergem a partir de deficiências detectadas no corpo de colaboradores vinculados às empresas, ou seja, a inabilidade na utilização de novas tecnologias tão intimamente ligadas a vida moderna de indivíduos e organizações. Diversos profissionais da área de RH acabam limitados a práticas administrativas apenas e, com isso, são impedidos de desenvolver a busca e/ou formação por novos talentos, líderes e gestores que possam interessar a empresa. Embora no século XXI, diante de um cenário mercadológico contemporâneo pode-se identificar mediante pesquisa exploratória, de observação participante ou não participante que as empresas podem investir maiores esforços no sentido de ampliar as ações dirigidas à gestão de pessoas dentro das empresas, pois elas – as pessoas - são responsáveis por intermediar ou propor ações estratégicas que permitam inovação, crescimento e expansão no mercado onde atuam. Considerando que o conhecimento das pessoas na operacionalização de ferramentas tecnológicas e a compreensão do recurso enquanto catalisador de melhores resultados para a empresa são fatores indissociáveis apresenta-se um desafio para os diversos gestores, mas sobremaneira para os gestores de RH que devem, além de estimular um aprendizado contínuo, fomentar a capacitação dos colaboradores da empresa com vistas basicamente ao aumento de performance, redução no time de processos e melhores resultados. Empresas de médio e grande porte apresentam maiores e mais complexas demandas comunicacionais internas e procedimentos estratégicos que sejam eficientes e eficazes, pois há um número bastante grande de pessoas envolvidas e, consequente volume financeiro a ser gerenciado, conforme tabela abaixo que classifica o porte da empresa considerando sua receita operacional. 3. FERRAMENTAS TECNOLÓGICAS NO PROCESSO DE GESTÃO DE PESSOAS: ENFOQUE NO BLOG CORPORATIVO INTERNO Os avanços tecnológicos otimizaram procedimentos internos desenvolvidos dentro das organizações e possibilitaram, Tabela 2 – Classificação de porte de empresa BNDES, aplicável a indústria, comércio e serviços Classificação Microempresa Pequena Empresa Média Empresa Média-Grande Empresa Grande Empresa Receita Operacional Bruta Anual Menor ou igual a R$ 2,4 milhões Maior que R$ 2,4 milhões e menor ou igual a R$ 16 milhões Maior que R$ 16 milhões e menor ou igual a R$ 90 milhões Maior que R$ 90 milhões e menor ou igual a R$ 300 milhões Maior que R$ 300 milhões Fonte: Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES (Internet, 2011). 65 bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p. 60-79, jul./dez. 2011. FISCHER, Luciana Gestão de Pessoas e as novas tecnologias para otimizar o desenvolvimento organizacional: a utilização de blog interno Se inúmeras variáveis podem ser consideradas no que tange às possibilidades no processo de gestão de pessoas a variável tecnologia sem dúvida alguma se constitui uma das mais atuais e com maior índice de verificação a partir do conhecimento da sua concepção, utilização e avaliação. Um primeiro aspecto a ser considerado é o domínio que as pessoas dentro de uma organização têm sobre determinada ferramenta, uma segunda questão, e a mais relevante, é a conscientização a partir da cultura organizacional da utilização de tal ferramenta em prol de benefícios não individuais, mas sim empresariais e mercadológicos. ferramenta tecnológica de comunicação e informação, estabelecer mecanismos de análise, interpretação, filtragem de dados e retorno de informações de maneira eficaz aos envolvidos. Todo novo procedimento em seu início gera especulações e certa resistência, mas no caso da implantação do blog corporativo interno poderá se contextualizar duas questões: (1) o sentimento de pertencimento e interação do indivíduo/funcionário no cenário virtual/social e (2) sua participação ativa através do cenário virtual podendo ocasionar intervenção no aspecto físico da organização. Desenvolvimento de pessoas frente à utilização de novas ferramentas de comunicação interna Tal entendimento é de fundamental importância, uma vez que sua má utilização, ou subutilização pode enfraquecer estratégias e projetos estabelecidos em quaisquer níveis dentro da empresa. Desta forma, busca-se além da capacitação das pessoas diante do novo cenário – o tecnológico comunicacional, vencer resistências por parte de gestores de RH ou da própria liderança da empresa no sentido de se implementar novas ferramentas tecnológicas que possibilitem um papel mais integrador, dinâmico e avaliativo de processos num menor espaço de tempo. Tal ação poderá gerar feedbacks mais rápidos e intervenções mais precisas, no entanto, também poderá gerar problemas ao que se refere ao gerenciamento de um maior número de informações em menor tempo. Diversas possibilidades para se efetivar a comunicação estratégica no âmbito interno das organizações podem ser apresentadas como ferramentas que permitam maior interação e velocidade frente às demandas comunicacionais no processo de geração e transmissão de informações, bem como na perspectiva na tomada das decisões. Mediante ações de comunicação interna, bem estruturadas e utilizadas, o setor de RH pode obter, além de um fortalecimento na rede de relacionamento interno; nos mais diferentes níveis dentro da empresa, a ampliação dos feedbacks nos mais variados aspectos, pois como desafio se estabelece uma política de comunicação ajustada que traga adaptações através de práticas efetivas, flexíveis e que apresentem resultados com rapidez. Para se obter retornos desejáveis Para se evitar ou minimizar tais dificuldades, é imprescindível, logo ao início da utilização de uma nova 66 bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p. 60-79, jul./dez. 2011. FISCHER, Luciana Gestão de Pessoas e as novas tecnologias para otimizar o desenvolvimento organizacional: a utilização de blog interno faz-se relevante a implantação e operacionalização de mecanismos de comunicação interna que reflitam a cultura da organização bem como seus objetivos gerais e departamentais. preparados para exercê-los, pois todos os envolvidos precisam compreender as informações, muitas vezes decodificá-las e retransmiti-las a outros níveis hierárquicos. Durante este processo podem ocorrer ruídos que comprometam sua fidedignidade, ou seja, o conteúdo original. Tal fato pode ser atribuído a inúmeros fatores como má compreensão da informação, despreparo dos profissionais envolvidos, problemas psíquicos ou até mesmo físicos, além do tímido domínio da língua utilizada juntamente com seus desdobramentos interpretativos. Dentre os processos de comunicação interna podem-se destacar diversas ferramentas que são utilizadas como meios orais (reuniões, palestras, treinamentos, autofalantes), meios escritos – materiais informativos impressos (cartas, circulares, murais, panfletos, boletins, manuais, jornais, revistas), meios pictográficos (diagramas, pinturas, fotografias, desenhos), meios simbólicos (bandeiras, logomarca, música), meios audiovisuais (vídeos institucionais, de treinamento, documentários) e meios telemáticos que é o uso combinado da informática com os meios de telecomunicação (REDFIELD, apud KUNSCH, 2003, p.87). Decorrente de possíveis problemas como estes citados as empresas objetivam que seus colaboradores busquem aprimoramento também no quesito educacional que, por certo, refletirá avanços quanto ao desempenho e posicionamento profissionais. Importante destacar que as pessoas envolvidas neste processo precisam compreender que a comunicação interna é de fundamental importância para a saúde da empresa e, por conseguinte, para todos os stakeholders, uma vez que são interessados na organização e seu desempenho no ambiente mercadológico no qual atua. É importante ressaltar que as pessoas são quem iniciam e desenvolvem a práxis comunicacional e que, portanto, elas são peças imprescindíveis que podem garantir o êxito, ou não, de quaisquer tipos de ações demandadas dentro da empresa. Considerando que as organizações devem ater-se ao desenvolvimento do indivíduo como fator que resultará em benefícios para a empresa pode-se identificar que atualmente diversas empresas prezem por ferramentas tecnológicas que viabilizem uma comunicação mais clara e coesa em todas as instâncias. Diversos meios podem ser utilizados para possibilitar canais eficientes e eficazes, onde a via de mão dupla se estabeleça e gere retorno positivo para os gestores. O domínio na utilização de determinadas ferramentas pode significar certo investimento em treinamento na fase inicial da implantação, a considerar formas de aplicação e utilização, como é o caso de ferramentas tecnológicas modernas. Para que processos comunicacionais sejam bem sucedidos deve-se observar que os seus agentes estejam devidamente 67 bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p. 60-79, jul./dez. 2011. FISCHER, Luciana Gestão de Pessoas e as novas tecnologias para otimizar o desenvolvimento organizacional: a utilização de blog interno O investimento realizado nas pessoas para que dominem processos comunicacionais e produzam resultados mais dinâmicos pode representar certo esforço também em treinamento quanto à utilização de determinadas ferramentas, afinal, as constantes mudanças no setor implica necessidades de novos conhecimentos. considerando sua mutação constante. Para que os colaboradores interajam junto a estas novas ferramentas de comunicação, que possibilitam além da integração, agilidade no processo comunicacional e otimização de resultados se bem exploradas, é necessário que as pessoas dominem sua utilização. Caberá, então, ao setor de RH definir um plano de comunicação interna viável que permeie toda a organização e que possibilite uma cultura de utilização otimizada da tecnologia diante da obtenção de resultados vislumbrados pela empresa. É preciso, portanto, um trabalho de conscientização quanto ao uso das ferramentas da comunicação com o objetivo da prática profissional e suas consequências. Pessoas não fazem parte da vida produtiva das organizações. Elas constituem o princípio essencial de sua dinâmica, conferem vitalidade às atividades e processos, inovam, criam e recriam contextos e situações que podem levar a organização a posicionar-se de forma competitiva, cooperativa e diferenciada com clientes, outras organizações e no ambiente de negócio em geral (DAVEL; VERGARA, 2001, p.31). Para que pessoas desempenhem funções, em quaisquer áreas, em constante modificação é fundamental que elas sejam tratadas como principal aspecto dentro das organizações, pois toda e qualquer atividade demandada poderá, então, ser completada de maneira eficaz. No entanto, deve ser ressaltado que o processo comunicacional responsável por todo o trâmite de informações, tácitas ou implícitas, dentro de uma empresa denota um mínimo de competências por parte de emissores e seus interlocutores para que possa ocorrer de fato a comunicação e não apenas a troca de informação. Outro fator a ser considerado é a capacitação para que todas as pessoas dentro da organização possam conhecer tais ferramentas e executar suas tarefas utilizando-as cotidianamente. Para tanto, poderá ser necessária a proposta de algum treinamento, uma vez que diversas adaptações ocorrem no aspecto tecnológico. Por certo, um plano de comunicação interna que o setor de RH implemente e acompanhe poderá resultar em uma ambientação inovadora e salutar dentro da organização, afinal, o sentimento de pertencimento das pessoas será ressaltado em toda a empresa. Vinculada a esta questão estão às diversas ferramentas de comunicação que podem ser utilizadas, dentre elas as ferramentas tecnológicas que se apresentam como desafiadoras – no sentido de sua utilização pela maior parte dos colaboradores – e também inovadoras Os Blogs Corporativos Internos: tecnologia para otimizar a comunicação e os resultados O blog corporativo interno constitui-se uma nova e atual ferramenta de 68 bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p. 60-79, jul./dez. 2011. FISCHER, Luciana Gestão de Pessoas e as novas tecnologias para otimizar o desenvolvimento organizacional: a utilização de blog interno comunicação que pode favorecer as empresas em seus trâmites internos. Como o setor de RH responde por tal atividade cabe buscar informações e atualizações que permitam proporcionar aos colaboradores novas formas de participação e interação nos processos. Necessário se faz, no entanto, o conhecimento sobre sua utilização tanto do ponto de vista funcional quanto cultural, pois todos os envolvidos no processo de comunicação interna devem saber a política da empresa quanto à sua utilização, assim como todos devem saber interagir neste novo ambiente virtual. diversificada de acordo com as necessidades identificadas pela organização, como por exemplo: (1) a comunicação da gestão de projetos, (2) comunicação e marketing interno, (3) geração e análise de ideias, (4) envolvimento e relacionamento entre os funcionários, (5) comunicação de equipes e projetos com toda a organização, (6) comunicação interna de equipes e projetos, (7) comunicação administrativa, (8) criação de equipes dinâmicas, entre outras.··. Os principais benefícios de uma gestão do conhecimento eficaz são: comunicação rápida e com opiniões valiosas dos próprios funcionários, por ser uma ferramenta montada basicamente por eles mesmos, aumento da participação dos funcionários na gestão da empresa como um todo e aumento da própria percepção de envolvimento organizacional, redução do tempo para se resolver problemas, resultando em uma entrega rápida de soluções para clientes e mercado. Os blogs já nasceram com muitas das propriedades técnicas necessárias para uma gestão do conhecimento eficiente, como possibilidade de buscas por palavras-chave, classificação do assunto por categorias e, principalmente, a simplicidade na manutenção e atualização. Eles permitem encontrar a informação rapidamente e aumentar a produtividade por meio de uma ferramenta de baixo custo (CIPRIANI, 2008, p. 62-63). Blogs internos criados para serem lidos somente por membros de uma equipe estão se tornando cada vez mais populares. Esses blogs permitem a utilização para o compartilhamento de documentos, para fazer brainstormings e como arquivo de ideias e discussões. A meta é reduzir os extensos e-mails da equipe, concentrando a maior parte da correspondência oficial no blog, de modo que ela possa ser arquivada e pesquisada; mas o blog também permite que as respostas sejam dadas de maneira coesa. Um dos problemas dos e-mails é que, como são enviados para várias pessoas, eles sempre resultam em diversos canais infindáveis de conversas, com ideias se cruzando e a confusão reinando. Os blogs resolvem esse dilema, já que todos os comentários são cronológicos, de modo que as pessoas que respondem à postagem original também estão respondendo a comentários anteriores. Isso significa que, de maneira geral, a comunicação interna é linear – do pensamento original ao pensamento final – em vez de embaralhar-se em meio a diversos canais infindáveis de conversa que precisam posteriormente ser resgatados para que todo mundo fique inteirado do processo (WRIGHT, 2008, p. 101-102). De acordo com Terra (2006, p. 8) a criação de um blog pressupõe comprometimentos por parte da empresa e passam pela definição de que departamento ou área será responsável pela publicação e manutenção do veículo. Uma vez determinada a área responsável pela ferramenta, é importante lembrar que o conhecimento da organização, de De acordo com Wright (2008, p. 95) a utilização de blogs internos pode ser 69 bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p. 60-79, jul./dez. 2011. FISCHER, Luciana Gestão de Pessoas e as novas tecnologias para otimizar o desenvolvimento organizacional: a utilização de blog interno seus valores, princípios e políticas é essencial para o gerenciamento do instrumento, além de ciência da dinâmica da blogosfera e do dia-a-dia de um blog, primando pela transparência e ética nos tópicos postados. como intranet), outra possibilidade é a sua utilização como “ouvidor interno (blog como ombudsman/ouvidor)”. A comunicação interna é um desafio em qualquer empresa de porte e uma das ferramentas mais utilizadas com o avanço das novas tecnologias da comunicação e informação – NTCIs, o e-mail é uma das ferramentas mais utilizadas, no entanto mais difíceis de se preservar diante da sua sobrecarga diária. “E-mails são utilizados para convocar reuniões, avaliar documentos, revelar novos projetos e anunciar internamente novas vagas”. No entanto, os blogs apresentam certa vantagem sobre o e-mail considerando os seguintes aspectos: qualquer pessoa pode contribuir, qualquer pessoa pode comentar e seus comentários podem ser vistos por todos, as postagens são arquivadas indefinidamente, as postagens são classificadas segundo a facilidade de visualização, postagens antigas podem ser pesquisadas rápidas e facilmente. Embora não suplante o lugar do e-mail dentro das organizações, os “blogs estão definitivamente encontrando seu espaço” (WRIGHT, 2008, p. 97). Segundo pesquisa realizada em abril de 2007 pela Technorati2 (apud Gonçalves; Terra, 2007, p.2-3), há 70 milhões de blogs e são criados, em média, 120 mil blogs a cada dia. Em média, a cada 1 segundo, 1,4 blogs são criados. Pode-se contabilizar 1,5 milhões de posts por dia, sendo 17 posts por segundo; o crescimento de 35 para 75 milhões de blogs aconteceu em apenas 320 dias; os blogs em língua japonesa ocupam a fatia de 37% do total; os blogs em língua inglesa estão em segundo (33%); os blogs em chinês ocupa o terceiro lugar no ranking com 8% de participação no ranking; em italiano, o percentual é de 3% e em português, a fatia ainda é pouco expressiva, sendo de apenas 2 por cento. Conforme Terra (2006, p. 7) os blogs internos são canais de comunicação entre a organização e seus públicos internos, podendo ser utilizados para ações de comunicação interna, “gerenciamento do conhecimento, acompanhamento de projetos e colaboração interna, integração e reforço de iniciativas de recursos humanos, etc. O blog interno pode ser uma colaboração entre membros de um projeto (blog de projeto)”. Também pode ser utilizado como uma intranet (blog Pode-se analisar que tal afirmação ainda pode ser constatada como tímida no Brasil, no entanto, o caminho a ser percorrido por diversas companhias deve levar a adaptações frente às novas possibilidades de ferramentas comunicacionais, como o blog interno, pois “a multiplicação dos instrumentos bidirecionais permite a identificação de tendências e percepções, a recriação de formatos diferenciados de comunicação e a geração de resultados positivos à 2 Empresa que realiza pesquisa sobre o Estado da Blogosfera Fonte: (http://www.sifry.com/alerts/archives/000493.ht ml). 70 bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p. 60-79, jul./dez. 2011. FISCHER, Luciana Gestão de Pessoas e as novas tecnologias para otimizar o desenvolvimento organizacional: a utilização de blog interno empresa” (GONÇALVES; 2007, p. 15). TERRA, últimos anos torna-se imprescindível que as pessoas sejam habilitadas a conviver com elas, a se adaptarem e buscarem novas formas de aperfeiçoamento. Segundo Cipriani (apud Gonçalves; Terra, 2007, p. 8) os blogs corporativos internos devem O gestor de RH, neste sentido, desempenha papel fundamental tanto como promotor de formas de capacitação quanto motivadores para tal. Neste sentido, todos os esforços deste gerente permearão as formas e os meios de comunicação a serem utilizados, pois se busca o envolvimento dos profissionais em diversos programas apresentados. É natural que todas as pessoas tenham condições mínimas de interações, ainda mais se estas interações necessitarem da utilização de ambientes tecnológicos, como ocorre contemporaneamente. “participar ativamente nas comunicações de interesse dos funcionários da companhia e das avaliações de performance, ser elo principal entre todos os departamentos e atuar fortemente como gestor das mudanças internamente na companhia”. 4. CAPACITAÇÃO DE PESSOAS: AÇÕES DE COMUNICAÇÃO INTERNA COMO GERADORAS DE VANTAGEM COMPETITIVA E INOVAÇÕES MERCADOLÓGICAS Os estilos de administração moderna permeiam uma abordagem participativa das pessoas quanto a atitudes proativas no que tange a possibilidades de resultados positivos para a organização, pois qualquer indicativo apresentado para melhorar processos poderá ser incorporado pela empresa, uma vez testado e avaliado pelas instâncias competentes. Visando desenvolver habilidades e competências dos funcionários, os gestores objetivam desenvolver programas que capacitem pessoas e que, portanto, estas possam apresentar melhores resultados individuais e departamentais. Os departamentos de RH e de Comunicação participam de processos estratégicos e trazem importantes conquistas para as empresas. Mas, em plena era da convergência de mídia, não existe divergência de interesses, mas as partes raramente juntam suas competências objetivando a inovação e o treinamento de pessoal. Eles poderiam ter colaboração mais efetiva se somarem saberes e experiências que contribuam para a melhoria da capacitação e do fluxo de informações das empresas. A Comunicação não se circunscreve apenas aos produtos e serviços, mas também aos aspectos intangíveis da marca. Ela mantém diálogo permanente com os diferentes públicos direta ou indiretamente relacionados com o negócio. E é sabido que funcionários motivados e corretamente informados ajudam a disseminar valores da empresa para os seus diferentes públicos, inclusive o cliente final. Deveria haver um alinhamento maior entre os departamentos de RH e de Comunicação para esses objetivos. As duas áreas poderiam melhorar as práticas e sistematizar o conhecimento organizacional ao internalizar, refletir e estabelecer relações na construção da Para que pessoas possam ampliar sua capacidade profissional, seja em qualquer área é preciso que além de estímulos internos a elas sejam desenvolvidos estímulos externos, ou seja, por parte da organização na qual atua. Como inúmeras mudanças vêm ocorrendo nos 71 bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p. 60-79, jul./dez. 2011. FISCHER, Luciana Gestão de Pessoas e as novas tecnologias para otimizar o desenvolvimento organizacional: a utilização de blog interno inteligência corporativa (ROGATTO, 2009). gerência direta a respeito dos negócios da companhia (SALLES, 2009)3. Possibilitar que pessoas possam interagir nos níveis dos cargos nos quais atuam significa no mínimo que a empresa viabilize que tais interações ocorram mediante a disponibilização dos meios adequados como, por exemplo, os ambientes virtuais - destaque para o blog interno. Este ambiente demanda conhecimento prévio sobre sua estrutura e formas interacionais, no entanto, uma vez compreendido o sistema funcional de tal ferramenta poderá ser ricamente explorado. Para a empresa agilidade nos processos profissionais poderão ser identificados e para as pessoas, que utilizam esta ferramenta, sentimento de reconhecimento e capacitação proporcionada pela organização, mas que por certo refletirá no âmbito de sua vivência social além dos limites da empresa. Vantagens competitivas são resultados de diversos tipos de investimentos que uma empresa venha a fazer: tecnológicos, financeiros, de produção, de inteligência de mercado, entre tantos outros. No entanto, é fundamental ressaltar que pessoas são quem desenvolvem estratégias, as aplicam e avaliam, sendo assim, o torna-se o principal investimento a ser realizado aquele que privilegia pessoas. Pessoas bem capacitadas sob diversos aspectos - técnico, psicológico, emocional, social, podem apresentar melhores resultados no sentido de sua participação ativa e proativa. Independente do setor em que atua a interação das pessoas em diversos níveis dentro da organização permitirá melhor ambientação, aumento na compreensão de objetivos da empresa e, portanto, compreensão clara sobre a importância de sua atuação que refletirá nos resultados gerais e finais em cada processo estabelecido. A principal responsabilidade do executivo é estabelecer uma visão empresarial clara e concisa e, depois, comunicá-la com dinamismo à sua equipe. O diálogo então se torna fundamental já que permite verificar se a mensagem está chegando com clareza. Além do contato pessoal constante, o gestor pode se valer das novas tecnologias. Principalmente quando se fala em multinacionais, existem múltiplos canais de websites e intranets integrados. Cabe ao gestor descobrir esses canais e estimular sua equipe a ir ao encontro com a informação também, num processo de duas vias: como gestor, deve manter a equipe informada, por outro lado, os funcionários devem ser estimulados a encontrarem seus próprios caminhos de informações nos canais da web e no questionamento com sua De acordo com Bastos Junior (2009) um novo contexto empresarial aponta para um perfil diferenciado do trabalhador, pois a formação das pessoas necessariamente precisa ser continuada para que permaneçam produtivas, consigam acompanhar mudanças e otimizem o tempo. Neste sentido, a tecnologia permite a utilização de novas experiências no que tange ao treinamento de mais pessoas com maior economia. 3 Mônica Salles é Coordenadora de Comunicação da Syngenta Seeds (empresa criada pela fusão entre as áreas de agribusiness da Novartis e da AstraZeneca, em 2000). 72 bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p. 60-79, jul./dez. 2011. FISCHER, Luciana Gestão de Pessoas e as novas tecnologias para otimizar o desenvolvimento organizacional: a utilização de blog interno Promover a qualificação das pessoas diz respeito à incorporação da cultura de aprendizagem contínua, onde “os empregados aprendem uns com os outros e compartilham inovações e melhores práticas visando solucionar problemas organizacionais reais. O foco do treinamento vai além do empregado isoladamente para o desenvolvimento da capacidade de aprendizado da organização”. distribuições oportunas, (4) fontes confiáveis, (5) sistemas de feedback de mão dupla, (6) claras demonstrações do interesse da liderança sênior por seus funcionários, (7) melhoria contínua na comunicação e (8) mensagens consistentes em todas as fontes. Qualquer tipo de programa que o setor de RH proponha deverá ser divulgado por alguns canais de comunicação interna como intranet, jornal mural, reuniões, emails, circulares, entre outros, pois se busca a disseminação da informação no time adequado para que todo o públicoalvo para determinado programa seja alcançado. Conhecer as ferramentas de comunicação e saber operacionalizá-las pressupõe certa habilidade e competência, afinal, as pessoas precisam saber interagir diante de tais situações. Os trabalhadores buscam de maneira geral aumentar seu nível educacional frente às constantes demandas mercadológicas empresariais e a necessidade em manter-se vinculado às organizações, pois o “trabalho passa a ter um papel central em suas vidas” e uma das formas de realização é o aprendizado contínuo. Atentas para a necessidade de se reinventarem perante um cenário de alta competitividade “adotam estilos, estruturas e processos gerenciais que desencadeiam processos semelhantes no nível individual e coletivo” (ELOY ET AL, Serpro, 2009). Cada programa desenvolvido pelo RH seja de treinamento/capacitação, normalmente é monitorado, pois se busca saber seus resultados e apontamentos para futuras alterações ou adaptações. Neste sentido, os canais de comunicação interna utilizados constituem-se possibilidades estratégicas para maximizar resultados em qualquer que seja o programa aplicado. Em se tratando da obtenção de feedbacks relacionados aos programas, as ferramentas tecnológicas são auxiliadoras para se mapear resultados quantitativos e qualitativos possibilitando, assim, maior agilidade aos processos para o setor de RH. 4.1 A comunicação diante da práxis de treinamento/capacitação de pessoas: diálogos e feedbacks De acordo com uma pesquisa realizada pela Towers Perrin (apud Argenti, 2006, p. 172), com 25 mil funcionários que atuam em diversos setores em todo o mundo, a comunicação eficaz dentro de uma organização, a partir da perspectiva de um funcionário é aquele que inclui alguns elementos, como: (1) trocas de informação abertas e sinceras, (2) materiais claros e fáceis de entender, (3) O blog corporativo interno pode se apresentar como a ferramenta tecnológica adequada para desenvolver tal monitoramento, pois as pessoas 73 bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p. 60-79, jul./dez. 2011. FISCHER, Luciana Gestão de Pessoas e as novas tecnologias para otimizar o desenvolvimento organizacional: a utilização de blog interno envolvidas podem acompanhar conteúdos e resultados, assim como os gestores podem obter resultados/feedbacks necessários num curto espaço de tempo, o que poderá permitir ajustes bastante dinâmicos durante um processo de treinamento, por exemplo. performance quanto financeiros, em última instância. Pessoas estão constantemente envolvidas em todos os tipos de processos e projetos dentro das organizações, desta forma a sinergia para se obter a conclusão de atividades é de fundamental importância. As novas ferramentas de comunicação podem ser utilizadas internamente nas organizações de maneira que possibilite o compartilhamento de informações, a agilidade no trâmite das mesmas, a interação em tempo real, assim como a viabilidade de análise e avaliação de ações que necessitem ser adaptadas durante o processo ou em fase subsequente. Russi (2008) afirma que de acordo com sua experiência de mais de 20 anos como executivo e como Consultor em Treinamento e Desenvolvimento de Pessoas “muitas organizações necessitam, com urgência, investir mais intensamente no desenvolvimento de seus recursos humanos, para que estes possam desempenhar seus papéis e/ou gerirem pessoas com eficácia”, estimuladas por um cenário de mudanças, onde os produtos são cada vez mais similares e, portanto, o “único diferencial competitivo é e será cada vez mais o ser humano com suas habilidades e potencialidades”. Dentre as diversas ferramentas tecnológicas as mais utilizadas no cenário empresarial brasileiro é a Internet (websites e intranet), no entanto, outras ferramentas como o blog corporativo começa a ser explorado por algumas empresas. A utilização de blogs internos pode favorecer maior velocidade no desenvolvimento de ações gerais cotidianas e específicas considerando a departamentalização inerente às empresas. Para se propor novas possibilidades estratégicas internas o profissional de RH deve primeiramente conhecer as alternativas a serem implementadas, pois estas ocasionarão especulação no momento inicial, repercussão - momento de implantação e finalmente avaliação que pode ser de caráter positivo ou não quanto ao aspecto perceptivo de resultados a curto, médio e longo prazos. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS O cenário atual mercadológico apresenta inúmeras alterações nos processos de mediação nas relações humanas que ocorrem dentro das organizações, e uma destas alterações pode ser identificada no que tange às novas tecnologias da comunicação e informação – NTCIs que se apresentam como suporte a esses processos dentro das empresas. Para a área de RH tal fator se estabelece como mais uma variável a ser trabalhada por seus gestores, afinal, caberá a eles identificar e propor soluções quanto a formas de sua utilização, de maneira que sejam otimizados resultados tanto de 74 bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p. 60-79, jul./dez. 2011. FISCHER, Luciana Gestão de Pessoas e as novas tecnologias para otimizar o desenvolvimento organizacional: a utilização de blog interno A utilização de blog corporativo interno se estabelece na perspectiva contemporânea como desafiadora até o momento, pois se faz necessárias adaptações quanto à cultura organizacional para a sua implantação e utilização, bem como a capacitação das pessoas para a sua utilização consciente e responsável de maneira que privilegie interações interdepartamentais, ou de projetos ou até mesmo organizacionais adequadas e otimizadas. Como se trata de um novo procedimento o qual denota investimento de capital intelectual no sentido de sua melhor utilização deve-se identificar as melhores práticas para que sua utilização se democratize e possibilite que o maior número de pessoas tenha acesso. sinergia um direcionamento adequando deve ser planejado e implantado de forma que viabilize a todos os envolvidos a correta compreensão da nova proposta. Apesar da ainda baixa utilização desta ferramenta, o blog corporativo poderá ser forte aliado de gestores de diversas áreas e setores dentro das empresas de médio e grande porte, pois estas apresentam diversos tipos de demandas profissionais. A partir do conhecimento das pessoas sobre a nova ferramenta, sua experimentação e devida capacitação proporcionada pela empresa estas pessoas certamente terão condições de maiores mediações além-cenário empresarial. , poderão posicionar-se enquanto agentes sociais só que com um diferencial, o sentimento de pertencimento ao mundo virtual e de detector de conhecimentos diferenciados proporcionado pela empresa a qual está vinculado. Por se tratar de novas tecnologias é inevitável certo investimento também para a implantação de programas de capacitação específicos, porque além de conhecer o funcionamento quanto às possibilidades de operacionalização, é importante que o momento e a forma em que se utiliza tal ferramenta sejam compreendidos como benefícios e diferencias da organização no contexto do mercado onde a empresa atua. Tal sentimento, decorrente de ações estratégicas geridas pelo setor de RH poderão ser fatores de diferenciação quanto aos sentimentos que se estabelecem numa relação empresarial de trabalho e, consequentemente num maior envolvimento das pessoas dentro da organização. Ações estratégicas sempre são desafios propostos, no entanto, neste caso podem também ser identificadas reações que privilegiem resultados positivos referente ao aspecto clima organizacionais – tal ferramenta possibilita maior transparência, interação e “voz” para todos os funcionários.··. Inicialmente é necessário que os gestores sejam devidamente treinados para além de propor novas soluções estratégicas para a empresa, também intermediar todas as fases necessárias à implantação do novo procedimento. Pessoas e processos passarão inseridos num novo cenário, o virtual e para que haja a devida 75 bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p. 60-79, jul./dez. 2011. FISCHER, Luciana Gestão de Pessoas e as novas tecnologias para otimizar o desenvolvimento organizacional: a utilização de blog interno 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARGENTI, Paul A. Comunicação empresarial: a construção da identidade, imagem e reputação. Tradução: Adriana Rieche. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO SOCIAL – BNDES. Porte de empresa. Disponível em < http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Navegacao _Suplementar/Perfil/porte.html> Disponível em 12/nov/2011. . BASTOS JUNIOR, Paulo et al. Gestão do conhecimento como modelo empresarial. Disponível em: < http://www1.serpro.gov.br/publicacoes/gco_site/m_capitulo01.htm> Acesso em 22/set/2009. CIPRIANI, Fábio. Blog corporativo. 2ª ed. São Paulo: Novatec, 2008. DAVEL, Eduardo; VERGARA, Sylvia Constant (Orgs.). Gestão com pessoas e subjetividade. São Paulo: Atlas, 2001. ELOY, Elisabeth Ribeiro et al. A gestão de pessoas alinha à gestão do conhecimento. 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Trata, portanto, o presente artigo de definir os conceitos de remuneração na esfera jurídica e administrativa, abordando a origem, a classificação, os tipos e as formas pelas quais esses termos se apresentam e recompensam o trabalhador. Procura-se enfatizar os conceitos de remuneração fixa e a remuneração variável abordando suas espécies como: a remuneração funcional, a remuneração por habilidades, a remuneração por resultados e a remuneração por competência, com o objetivo de estabelecer as diferenças, vantagens e desvantagens de cada um. Palavras-chave: Remuneração, remuneração fixa, remuneração variável. Abstract Remuneration gives the worker a financial recompense in exchange for the provision of services, be they manual or intellectual. This article deals with defining concepts of remuneration in the judicial and administrative spheres, and treats their origin, classification, the forms in which they are presented, and the ways in which they benefit the worker. The concepts of fixed and variable remuneration are emphasized. With the objective of establishing the differences, advantages, and disadvantages of each, concepts such as the following are discussed: functional remuneration, remuneration for skills, remuneration for results, and remuneration for competence. Keywords: remuneration, stable remuneration, variable remuneration. Resumen La remuneración para el trabajador aporta un valor financiero a cambio de su prestación de servicios, ya sea manual o intelectual. Es, por lo tanto, el presente documento para definir los conceptos de rentabilidad sobre los aspectos jurídicos y administrativos, acercándose al origen, clasificación, tipos y las formas en que estos términos están presentes y recompensar a los empleados. Se trata de enfatizar el concepto de retribución fija y remuneración variable frente a su especie como compensación funcional, pagar por habilidades, pago por resultados y pagar el asesoramiento, con el fin de establecer las diferencias, ventajas y desventajas de cada uno. Palabras-clave: Ccompensación, retribución fija, retribución variable. bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p. 80-92, jul./dez. 2011. FAVARIM, Flávia Negri Um estudo sobre remuneração em seus aspectos jurídico-administrativos 1 INTRODUÇÃO autores, abordando a classificação, os tipos e formas pelas quais ambos se apresentam para então definir o que é remuneração fixa e variável com suas vantagens e desvantagens. A Metodologia utilizada na pesquisa foi a Pesquisa Bibliográfica em livros, revistas e sites especializados nas áreas jurídica e gerencial, para se fazer uma revisão de bibliografia sobre os temas abordados. No atual mercado de trabalho, todas as pessoas que exercem uma função procuram receber uma contraprestação em troca, é desta forma que o trabalhador vende seu trabalho, seja ele manual ou intelectual, para o empregador, que paga em dinheiro ou em benefícios, pela prestação do serviço. A remuneração pelo trabalho existe há muito tempo, sendo o trabalho sem remuneração considerado voluntário, porém, quando se fala em trabalho remunerado, este pode ser considerado um grande motivador para o trabalhador, pois com a remuneração que recebe ele consegue realizar seus desejos e necessidades. 2 UMA ANÁLISE EPISTEMIOLÓGICA SOBRE REMUNERAÇÃO A palavra remuneração vem do latim remuneratio, do verbo remuneror, que significa recompensar (MARTINS, 2007). Sua origem remonta à Antiguidade, no reinado de Nabucodonosor, onde os trabalhadores envolvidos na produção de tecidos recebiam salários-incentivos para desenvolver suas tarefas (RIBEIRO, 2006). Como parceiro da organização, cada funcionário está interessado em investir com trabalho, dedicação e esforço pessoal com os seus conhecimentos e habilidades desde que receba uma remuneração adequada. As organizações estão interessadas em investir em recompensas para as pessoas desde que delas possam receber contribuições ao alcance de seus objetivos (CHIAVENATO, 2004, p. 257). No século XVI, têm-se registros de pagamentos baseado no número de peças produzidas pelos trabalhadores. Para Ribeiro (2006) no século passado foi Frederick Taylor que encontrou o sistema ideal de remuneração, composto de um tempo padrão para a realização da tarefa, um valor fixo a ser recebido pela sua execução dentro deste tempo, e no caso de trabalhadores que conseguissem diminuir o tempo de execução, haveria o pagamento de um valor adicional. O empregado sempre trabalha em troca de uma recompensa, seja o salário, o status ou a satisfação pessoal e profissional, em contrapartida, para atingir seus objetivos, a empresa depende destes empregados, e por isso precisa investir na remuneração, não só através dos salários, mas também dos benefícios. Foi durante o Capitalismo que o salário se tornou a forma dominante de pagamento através da exploração da mãode-obra, precisava-se de trabalhadores para fazer com que as indústrias funcionassem (CHIAVENATO, 2004). Objetiva-se, com o presente artigo, diferenciar os conceitos de remuneração e salário a partir da ideia de diferentes 80 bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p. 80-92, jul./dez. 2011. FAVARIM, Flávia Negri Um estudo sobre remuneração em seus aspectos jurídico-administrativos No período que compreendeu a Revolução Industrial o valor pago pela mão-de-obra operária reduziu, visto que as máquinas passaram a substituir os trabalhadores, mas em contrapartida, a jornada de trabalho aumentou. empregado aufere como consequência do trabalho que realiza em uma organização”. Segundo Lacombe (2005) a remuneração pode ser conceituada como: A soma de tudo o que é periodicamente pago aos empregados por serviços prestados: salário, gratificações, adicionais (por periculosidade, insalubridade, tempo de serviço, trabalho noturno e horas extras), bem como todos os benefícios financeiros, como prêmios por produtividade, participação nos resultados e opção de compra de ações entre outros (LACOMBE, 2005, p. 147). O processo de remuneração observado no século XX procurou conciliar empresa e produção com as pessoas e os salários, o trabalhador deixou de ser visto apenas como executor de ordens, e através de pesquisas de relações humanas, percebeuse que o salário isolado não estimula o trabalhador, passando-se a considerar fatores como motivação e satisfação na hora de remunerar (ARAÚJO, 2006). A remuneração possui três variantes, a primeira seria o conjunto de parcelas contraprestativas recebidas dentro da relação empregatícia, a segunda, por sua vez, procura o estabelecimento de diferenças de conteúdo entre as expressões salário e remuneração baseada na natureza genérica da remuneração e na específica do salário, e a terceira, baseada em conceitos jurídicos, considera o salário como contraprestação empresarial que englobaria parcelas contraprestativas devidas e pagas pelo empregador ao empregado, em virtude da relação de emprego, elegendo o termo remuneração para adicionar ao salário contratual, as gorjetas recebidas pelo obreiro, embora pagas por terceiro (DELGADO, 2009). Atualmente, muitos trabalhadores vendem seu trabalho em troca da remuneração para satisfazer somente suas necessidades básicas, mas há também os trabalhadores que buscam no trabalho, muito mais do que isso, buscam a satisfação pessoal e profissional, que é resultado de diversos agentes motivadores e benefícios encontrados no próprio mercado de trabalho. 3 REFLEXÃO CONCEITUAL E APLICABILIDADE DA REMUNERAÇÃO Remuneração compreende tudo aquilo que o trabalhador recebe em função da prestação de serviços subordinados decorrentes de um contrato de trabalho, diretamente do empregador ou também de terceiros, inclusive na forma de gratificação, diferente do salário, que é a soma de tudo que se recebe somente do empregador (MARTINS, 2007). Para Chiavenato (2004, p. 259) “a remuneração constitui tudo quanto o Na legislação brasileira encontra-se o conceito de remuneração no artigo 457, da Consolidação das Leis do Trabalho, que diz: “Compreendem-se na remuneração do empregado, para todos os efeitos legais, além do salário devido e pago diretamente pelo empregador, como contraprestação do serviço, as gorjetas que receber” (COSTA; FERRARI; MARTINS, 2009). 81 bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p. 80-92, jul./dez. 2011. FAVARIM, Flávia Negri Um estudo sobre remuneração em seus aspectos jurídico-administrativos haver em relação à remuneração, uma coerência tanto interna, que considera a remuneração paga aos profissionais dentro da organização; como externa, que considera as remunerações pagas aos profissionais no mercado de trabalho (LACOMBE, 2005). Dessa forma, de acordo com nossa legislação, a remuneração é o termo mais amplo, o gênero, da qual salário é uma das espécies, assim como gorjetas, gratificações, prêmios, entre outros. Entende-se, portanto, por remuneração a equivalência paga ao empregado, pelo empregador ou por terceiros, em virtude de uma atividade laboral estabelecida num contrato de trabalho e que abrange o salário e os benefícios. A remuneração é um fator de extrema importância para a gestão das organizações. Gerir uma organização atualmente significa lidar com inúmeras transformações, quer sejam de pessoal, de produção ou de processo, e isto implica na maneira como os salários se adaptam a essas transformações, pois as pessoas na organização veem a remuneração como um fator motivacional. 4 CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA DA REMUNERAÇÃO 4.1 Remuneração: classificação sob a ótica administrativa Pode-se observar que a remuneração está diretamente relacionada aos valores agregados que contribuem com o alcance dos objetivos dos empregados dentro da empresa. Disso, decorre o conceito de remuneração total que é formada por três componentes básicos: Um dos fatores que mais desmotiva um profissional é quando este se considera injustiçado em sua remuneração, pois isto o afeta tanto material como psicologicamente. Desta forma, deve COMPONENTES DA REMUNERAÇÃO TOTAL Figura 1 – Os três componentes da Remuneração Total (CHIAVENATO, 2002, p. 257). Os três apresentados componentes básicos, por Chiavenato, para compor a remuneração total, podem ser entendidos da seguinte forma: 82 bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p. 80-92, jul./dez. 2011. FAVARIM, Flávia Negri Um estudo sobre remuneração em seus aspectos jurídico-administrativos O principal componente da remuneração total é a remuneração básica, que é o pagamento fixo que o funcionário recebe de maneira regular na forma de salário mensal ou na forma de salário por hora. [...] O segundo componente da remuneração total são os incentivos salariais, que são programas desenhados para recompensar funcionários com bom desempenho. [...] O terceiro componente da remuneração total são os benefícios, quase sempre denominados remuneração indireta. (CHIAVENATO, 2004, 257-258) remuneração fixa continua sendo a mais utilizada nas organizações. Como nesse sistema, os cargos da organização estão dispostos em ordem de importância, a remuneração também é estipulada de acordo com o grau de importância de cada cargo. Martins (2008) considera a remuneração fixa como a que pode ser estipulada em quantia certa, invariável e calculada em unidade de tempo, por isso é extremamente previsível e segura. A remuneração básica e composta pelo Salário-Base fixo que pode ser mensal ou por hora. Os Incentivos salariais são destinados a recompensar funcionários com bom desempenho e podem ser oferecidos em forma de bônus, de participação nos lucros e resultados da empresa. Os benefícios são concedidos por meio de programas como férias, seguro de vida, transporte e refeições subsidiados. Para Wood Jr e Picarelli Filho (1999), esse sistema de remuneração apresenta algumas limitações, entre elas: inflexibilidade, pois está centrada em modelos organizacionais burocráticos e rígidos; conservadorismo, pois privilegia a hierarquia na organização quanto aos empregados e clientes; e divergência, pois não estão alinhadas as tendências modernas de remuneração. A remuneração fixa tem como vantagens a facilidade do equilíbrio interno com um sistema de cargos e salários, e externo através da pesquisa dos salários em outras organizações; a homogeneização e padronização dos salários, que produz um sentimento de justiça entre os empregados; além da facilidade na sua administração e controle, porém, traz como desvantagens o fato de não motivar e incentivar os empregados dentro da organização, pois, é rotineira e previsível (CHIAVENATO, 2002). Partindo dessa premissa, a remuneração pode ser composta de uma parte fixa, considerada estável e focada no cargo exercido pelo empregado, e outra variável, onde sua existência é condicionada a diversos fatores que estão diretamente relacionadas com a pessoa do empregado dentro da organização. 4.2 Remuneração Fixa: foco no cargo A remuneração fixa é a maneira mais comum de se recompensar os empregados, segundo Chiavenato (2004), o pagamento mensal dos empregados reduz riscos tanto para a empresa como para os empregados e desta forma a A Remuneração Funcional é um sistema de remuneração fixa, baseada em princípios tayloristas-fordistas, surgidos após a primeira guerra mundial, com 83 bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p. 80-92, jul./dez. 2011. FAVARIM, Flávia Negri Um estudo sobre remuneração em seus aspectos jurídico-administrativos fundamento na padronização do trabalho (WOOD JR. E PICARELLI FILHO, 1999). pessoas, no sentido de recompensá-las por suas habilidades, competências e resultados proporcionados à organização”. Nesse sistema de remuneração o salário é pago com base na função exercida pelo trabalhador. É um sistema antigo e burocrático, que merece críticas, pois inibe a criatividade e o empreendedorismo, para promover a obediência às normas e procedimentos, enfatiza a disciplina e a hierarquia, porém não promove nem a motivação nem esforços dos trabalhadores em busca de melhores resultados na empresa (LACOMBE, 2005). A remuneração variável segundo Araújo (2006) traz algumas vantagens e desvantagens para organização. Como vantagens, ela ajusta a remuneração às diferenças individuais e ao alcance de metas e resultados e quando necessário aplica remunerações adicionais, funciona como um fator motivacional, pois, favorece o desenvolvimento pessoal e profissional dos trabalhadores e reconhece seus desempenhos, focaliza os resultados e o alcance dos objetivos, permite uma autoavaliação e não produz impactos sobre os custos fixos da organização. Quanto às desvantagens, ela requer certa desestruturação da administração desestabilizando as estruturas salariais lógicas e rígidas, reduz o controle centralizado dos salários, podendo provocar queixas dos funcionários não beneficiados e pressões sindicais. Nesse tipo de remuneração, espera-se que o empregado realize apenas as atividades descritas no seu cargo, dessa forma, todos que exercem o mesmo cargo automaticamente recebem o mesmo salário, e quanto mais importante for considerado o cargo maior será o salário atribuído a ele. 4.3 Remuneração Variável: foco nas pessoas O objetivo da remuneração variável, segundo Chiavenato (2002), é o de fazer o empregado um aliado e um parceiro nos negócios da empresa. Dessa forma, deve-se buscar uma sinergia entre os departamentos da organização, seja horizontal ou verticalmente, para se conquistar resultados mais expressivos tanto para a empresa como para os empregados. Diante desse novo mercado, que tem investido cada vez mais nas pessoas, temse exigido que as organizações optem por novas formas de remunerar seus empregados, enfatizando suas habilidades e competências e investindo no fator humano, e é desta forma que as organizações têm encontrado maneiras mais criativas, rápidas e práticas de alcançar seus objetivos com resultados bem mais efetivos. A - Remuneração por Resultados Na remuneração por resultados o trabalhador será remunerado em função Para Araújo (2006, p. 74) “a remuneração variável tem como foco principal as 84 bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p. 80-92, jul./dez. 2011. FAVARIM, Flávia Negri Um estudo sobre remuneração em seus aspectos jurídico-administrativos dos padrões, metas e objetivos atingidos, e desta forma a empresa deve estar alinhada como um todo e seus departamentos devem estar interligados de tal forma que todos tenham os mesmos alvos (LACOMBE, 2005). paga salários com base no que os trabalhadores demonstram saber e não com base nos cargos que ocupam. Para ele, “as habilidades são diferentes tipos de capacitações requeridas para a realização de um trabalho”. A remuneração por resultados relacionase às habilidades, competências e ao desempenho das pessoas e a como estas contribuem para a organização da qual fazem parte (ARAÚJO, 2006, p. 77). Dessa forma, o empregado é recompensado pelas habilidades que possui, pelas quais adquire e pelas quais desenvolve durante sua prestação de serviços para a empresa. Para Wood Jr. e Picarelli Filho (1999), as vantagens da remuneração por resultados são que ela reforça o trabalho em grupo e a participação dos empregados, incentiva a busca de inovações, reduz a resistência a mudanças, aumenta a qualidade e a visão do negócio e reduz os custos. C - Remuneração por Competência A remuneração por competência busca identificar os conhecimentos, comportamentos e atitudes que os profissionais devem possuir para desempenhar melhor as suas funções na empresa, e desta forma, remunerá-los de forma personalizada, ou seja, para um mesmo cargo ou função, poderá haver salários diferentes (CHIAVENATO, 2004). B - Remuneração por Habilidades A remuneração por habilidade tem como foco a capacidade do trabalhador de realizar tarefas e administrar responsabilidades, fazendo com que a remuneração se vincule diretamente a pessoa, ao que ela sabe fazer, deixando de lado o cargo (ARAÚJO, 2006). Para Lacombe (2007, p. 164) “a remuneração por competência consiste em remunerar as pessoas por seus atributos, conhecimentos e qualidades pessoais e interpessoais.” Nesse tipo de remuneração, quanto maior competência e utilidade do trabalhador para a empresa, maior deverá ser sua remuneração. Para Milkovich e Boudreau (2000) a remuneração por habilidades paga os trabalhadores baseando-se no que eles sabem fazer, e não no que efetivamente exercem, e dessa forma as habilidades podem ser baseadas no conhecimento, que se relaciona a função exercida, ou em multi-habilidades, que se relaciona a capacidade do trabalhador de exercer diferentes funções. As competências são usadas para determinar a capacidade individual de desempenho de um indivíduo ou de um grupo, de um cargo específico ou de uma organização inteira (ARAÚJO, 2006). Chiavenato (2004, p. 327-328) define a remuneração por habilidades como a que Competência envolve conhecimento (tudo aquilo que pode ser formalmente 85 bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p. 80-92, jul./dez. 2011. FAVARIM, Flávia Negri Um estudo sobre remuneração em seus aspectos jurídico-administrativos aprendido), habilidades (embora possa ser aprendido, necessita de aptidão pessoal) e atitudes (postura/comportamento que o profissional necessita para o exercício do cargo). bem definidos, estimula a motivação dos empregados e auxilia na exploração de empregados com potencial; porém, apresenta como desvantagens a possível diferença salarial entre empregados que ocupam o mesmo cargo, causando insegurança e desconforto aos empregados que não forem beneficiados por essa remuneração, e caso esses incentivos se tornem rotineiros, a motivação deixará de existir. Essas competências ainda podem ser genéricas, considerada aquelas que todos têm que desenvolver por serem necessárias a qualquer área ou processo da organização, neste caso temos: trabalho em equipe, qualidade nos serviços prestados, flexibilidade, visão sistêmica, etc.; e específicas, considerada aquelas que são centradas nos cargos existente na organização, e neste caso pode-se citar: agente de mudanças, agilidade, agressividade profissional, perspicácia, comunicação, iniciativa, inovação, negociação, planejamento, qualidade técnica, relacionamento interpessoal, visão de negócios, visão estratégica, entre outros. 4.4 Remuneração Estratégica O sistema de remuneração estratégica realiza um estudo prévio no ambiente organizacional, para estabelecendo um plano de remuneração estratégica que se adapte a realidade da empresa levando em consideração o que há de melhor nos sistemas de remuneração fixa e variável. Para Wood Jr. e Picarelli Filho (1999, p 45) “o sistema de remuneração estratégica é uma combinação equilibrada de diferentes formas de remuneração”. O sistema de remuneração por competência é mais aplicável aos níveis gerenciais e sua implantação exige mudanças no modelo de gestão e no estilo gerencial, ao mesmo tempo em que funciona como um catalisador dessas mudanças. Para tanto é necessário identificar as competências genéricas e específicas pertinentes a cada função dentro da empresa para então se propor um plano de remuneração por competência. Individualmente, nem a remuneração fixa, nem a variável tem caráter estratégico, pois não investe no relacionamento entre o empregado e a empresa, indispensável para que haja comprometimento e resultados dentro da organização. Com o objetivo de alinhar os interesses dentro da organização, a remuneração estratégica é composta pela remuneração fixa, que compreende a remuneração funcional e o salário indireto; e pela remuneração variável, que compreende a remuneração por habilidades ou competências, os planos de aposentadoria Para Chiavenato (2004), a remuneração por competências tem como vantagens, a facilidade de se identificar pontos fortes e fracos dos empregados, os treinamentos passam a ser específicos e com objetivos 86 bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p. 80-92, jul./dez. 2011. FAVARIM, Flávia Negri Um estudo sobre remuneração em seus aspectos jurídico-administrativos e benefícios (WOOD JR. E PICARELLI FILHO, 1999). periculosidade, acréscimo de 30 % sobre o salário quando se desenvolve atividades em situações que causem perigo a vida, 5 REMUNERAÇÃO NA PRÁTICA Segundo a CLT, em seu a art. 457, parágrafo 1º “integram o salário, não só a importância fixa estipulada, como também as comissões, percentagens, gratificações ajustadas, diárias para viagens e abonos pagos pelo empregador.” (COSTA; FERRARI; MARTINS, 2009). transferência, acréscimo de 25% quando houver transferência provisória do local de trabalho e, Dessa forma, existem outras maneiras de recompensar o empregado, que não apenas através de seu salário fixo, segundo Martins (2008) e Delgado (2009), o empregado pode ser remunerado de diferentes formas, através de: abonos, que correspondem a uma antecipação salarial ou um valor a mais que é concedido ao empregado; adicionais, considerados acréscimos salariais decorrente da prestação de serviços pelo empregado em condições mais gravosas, como: ajuda de custo e diárias, que possuem natureza indenizatória e é paga eventualmente pelo empregador ao empregado com o objetivo de proporcionar condições para a execução de determinados serviços, quando implicam despesas com viagens, alimentação, hospedagem; tempo de serviço (acréscimo que depende de acordo coletivo ou regimento interno para estipular a porcentagem e o tempo para recebimento); comissões, que são retribuições financeiras transitórias pagas ao empregado pelo empregador, no interesse do serviço, assegurandose a percepção de um salário mínimo, quando as comissões não atingem esse valor; horas extras, acréscimo de no mínimo 50% sobre a hora excedente trabalhada, gorjetas, consideradas não só a importância espontaneamente dada pelo cliente ao empregado, como também aquela que for cobrada pela empresa ao cliente, como adicional nas contas a qualquer título, sendo destinada à distribuição aos empregados; trabalho noturno, acréscimo de 20% sobre a hora diurna para trabalhos desenvolvidos após as 22hs00 na área urbana, insalubridade, acréscimo de 10%, 20% ou 40% sobre o salário quando se desenvolve atividades em situações que causem perigo a saúde, gratificações são liberalidades do empregador que pretende incentivar o empregado, visando obter uma maior dedicação deste, 87 bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p. 80-92, jul./dez. 2011. FAVARIM, Flávia Negri Um estudo sobre remuneração em seus aspectos jurídico-administrativos como gratificação de função e gratificação de natal (13º salário); 5º., XXXVI e art. 7º. VI), um direito adquirido que não pode ser suprimido. gueltas são pagamentos feitos por terceiros aos empregados de uma empresa, visando incentivar a venda de seus produtos; Isso não se aplica aos tipos que dependem de condições provisórias, que deixam de existir, como insalubridade, periculosidade, diárias eventuais, adicional noturno, entre outros direitos. prêmios ou bônus que decorrem da produtividade do empregado, em regra é pessoal, dependendo do esforço próprio de empregado, podem ser por produção, qualidade, assiduidade, etc.; 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Um sistema de remuneração precisa definir previamente um plano que contemple seus princípios, as necessidades e expectativas dos colaboradores, a racionalidade do plano quanto ao seu custo, à compatibilidade do valor pago ao cargo com o mercado e desempenho do colaborador e o relacionamento entre o desempenho e a recompensa (CHIAVENATO, 2002). quebra de caixa, que é paga aos empregados que fazem recebimentos, tem como objetivo é cobrir os descontos no salário, portanto possui natureza compensatória; participação nos lucros é decorrente da distribuição dos resultados positivos obtido pela empresa, entre os empregados, esse tipo de remuneração reconhece e incentiva o desempenho das pessoas na organização; Uma empresa deve construir um sistema de remuneração que atenda suas necessidades específicas, para isso pode usar de planos que contemplem a forma de pagamento do salário (unidade de tempo ou peça), os benefícios que oferecerá aos empregados (planos de saúde ou participação acionária), e a forma de remuneração que irá utilizar (fixa ou variável). participação acionária é a que oferece ao empregado à copropriedade da empresa, através da venda ou distribuição gratuita de parte de suas ações, com o objetivo de transformar o empregado um parceiro da empresa. Observa-se que existem prós e contras na remuneração fixa e variável, nesse aspecto a remuneração fixa tem como ponto mais favorável o equilíbrio interno e externo da organização e como ponto negativo o fato de não oferecer motivação e não incentivar o espírito empreendedor. É importante considerar que se a empresa se utilizar habitualmente de alguns desses tipos especiais para remunerar seus empregados, não poderá mais deixar fazê-lo, pois isso se torna, segundo a lei (Constituição Federal art. Quanto à remuneração variável, seu ponto mais favorável é o de permitir o 88 bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p. 80-92, jul./dez. 2011. FAVARIM, Flávia Negri Um estudo sobre remuneração em seus aspectos jurídico-administrativos ajuste da remuneração às diferenças individuais, porém traz como ponto negativo a quebra da isonomia dos ganhos dentro da organização. preocupada com a gestão de pessoas e que quer se destacar no mercado. Para a empresa, o sistema de remuneração constitui um enorme investimento, necessário para atingir de seus objetivos, e para o empregado constitui uma forma de recompensa que contribui para a satisfação de suas necessidades básica, mas que também pode contribuir para sua satisfação pessoal e profissional, principalmente quando vier acompanhado de benefícios. A remuneração proporciona um sentimento de segurança, e define o padrão de vida da pessoa e de seus dependentes, funciona também como uma fonte de reconhecimento quanto a suas habilidades profissionais e desempenho dentro da organização, por isso, a remuneração deve proporcionar objetivos que levem os empregados a se esforçarem a alcançá-los, pois conseguir o comprometimento destes é sem dúvida o principal objetivo de uma organização 89 bioenergia em revista: diálogos, v. 1, n. 2, p. 80-92, jul./dez. 2011. FAVARIM, Flávia Negri Um estudo sobre remuneração em seus aspectos jurídico-administrativos 7. 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FAVARIM, Flávia Negri Um estudo sobre remuneração em seus aspectos jurídico-administrativos 1 Flávia Negri Favarim é Advogada, Mestre e Professora da Faculdade Anhanguera de Piracicaba. Email: [email protected]. 91