Pegada de Água - Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos

Transcrição

Pegada de Água - Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos
PEGADA DE ÁGUA
http://medindoagua.com.br/tag/commodity

A pegada de água de um indivíduo, empresa ou nação é definida como o
volume total de água potável que é usada para produzir os alimentos e serviços
consumidos pelo indivíduo, empresa ou nação. Uma pegada de água é
geralmente expressa em termos do volume de água utilizada por ano.

Uma vez que nem todos os bens consumidos em um determinado país são
produzidos naquele país, a pegada de água consiste de duas partes: a utilização
dos recursos internos de água e a utilização da água de fora das fronteiras do
país. A pegada de água inclui a água retirada da superfície, a subterrânea
extraída e a utilização da água do solo (na produção agrícola).

A água virtual é a água ‗incorporada‘ nas commodities . A produção de bens
e serviços requer água; a água utilizada para produzir produtos agrícolas ou
industriais é chamada a água virtual do produto.

O volume global de fluxos de água virtual relacionados ao comércio
internacional de mercadorias é de 1.600 Km³/ano. Cerca de 80 % desses fluxos
de água virtual dizem respeito ao comércio de produtos agrícolas, enquanto o
restante está relacionado ao comércio de produtos industriais.


A produção de 1 quilograma de:
o
arroz requer 3.000 litros de água
o
milho requer 900 litros de água
o
trigo exige 1.350 litros de água
o
carne bovina requer 16.000 litros de água.
140 litros de água são necessários para produzir 1 xícara de café, enquanto
a produção de 1 litro de leite exige 1.000 litros de água.

Globalmente, a água é poupada se produtos agrícolas são comercializados
de regiões com água de alta produtividade para aqueles com água de baixa
produtividade.
Neste
momento,
se
países
importadores
produzissem
internamente todos os produtos agrícolas importados, isto exigiria 1.600 Km³ de
água por ano; no entanto, os produtos estão sendo produzidos com apenas 1.200
Km³/ano nos países exportadores, economizando recursos hídricos globais em
aproximadamente 400 bilhões m³/ano.

O consumo per capita de água virtual contida na nossa dieta varia de acordo
com o tipo de dieta, de 1 m³/dia para uma dieta de sobrevivência, a 2.6 m³/dia
para uma dieta vegetariana e mais de 5 m³ para uma dieta à base de carne estilo
norte-americano.

Apenas cerca de 7% da pegada de água dos chineses de 700 m³ per capita
por ano (m³/cap/ano) pisa fora da China, enquanto 65% da pegada de água total
do Japão de 1.150 m³/cap/ano vem de fora.

Os Estados Unidos parece ter uma pegada de água média de 2.480
m³/cap/ano, enquanto a pegada de água média global é 1.240 m³/cap/ano.
Este ―Você Sabia…?‖ foi obtido do 2nd United Nations World Water Development
Report: ―Water, a shared responsibility―.
Via [UNESCO]
Para mais informações básicas sobre a pegada de água, veja a apresentação em
2009 Water Footprint (in english).
Publicado em Conservation, Usage. Etiquetas: Commodity, Conservação de água,
Consumo de água, Demanda de água, Escassez da água, Uso racional da água.
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Pegada de Água, Água Virtual e Água Neutra que
conceitos são estes?
27/07/2009 — Elton Mello
Fonte: Waterfootprint.org
Tradução: Elton J. Mello
Pegada de Água
As estatísticas tradicionais do uso da água mostram o abastecimento de água por
setor (usos residencial, agrícola e industrial da água). A abordagem sempre foi
orientada para o abastecimento e os produtores. O conceito de ―pegada de água‖
foi introduzido para ter um indicador orientado para a demanda e para os
consumidores, também. O conceito de ―pegada de água‖ foi introduzido por Arjen
Hoekstra, em 2002, a fim de dispor de um indicador de utilização da água em
relação ao consumo. A pegada de água de um indivíduo, empresa ou nação é
definida como a quantidade total de água potável que é utilizada para produzir os
bens e serviços consumidos pelo indivíduo, empresa ou nação. …. Leia mais
Água Virtual
O termo ―água virtual‖ foi introduzido por Tony Allan, no início de 1990. É definida
como o volume de água necessário para produzir uma mercadoria ou serviço.
Quando há uma transferência de produtos ou serviços a partir de um lugar para
outro, há pouca transferência física direta de água (além do teor de água do
produto, o que é insignificante em termos de volume). No entanto, existe uma
significativa transferência de água virtual. Pela importação da água virtual, a água
dos países pobres pode aliviar a pressão interna sobre os recursos hídricos
nacionais dos países ricos. … Leia mais
Água Neutra
Como os seres humanos podem reduzir, neutralizar, compensar ou atenuar a sua
pegada de água? O conceito de neutralidade da água foi introduzido como um
padrão em relação aos esforços a serem tomados para minimizar o impacto
ambiental da utilização da água. Para um indivíduo, comunidade ou empresa ser
―água neutra‖, existem duas condições: tudo o que for razoavelmente possível deve
ter sido feito para reduzir a pegada de água existente; a pegada de água residual é
compensada fazendo um razoável investimento na criação ou apoio a projetos que
visam a utilização sustentável e equilibrada da água. Normas sobre o que é
razoável são especificados. … Leia mais
Pegada de Água
A pegada de água é um indicador de utilização da água, que observa os usos
diretos e indiretos da água de um consumidor ou produtor. A pegada de água de
um indivíduo, comunidade ou empresa é definida como o volume total de água
potável que é utilizado para produzir os bens e serviços consumidos pelo indivíduo
ou comunidade ou produzidos pela empresa. A utilização da água é medida em
termos de volume da água consumida (evaporada) e/ou poluída por unidade de
tempo. A pegada de água pode ser calculada para qualquer grupo bem definido de
consumidores (por exemplo, um indivíduo, família, aldeia, cidade, província, estado
ou nação) ou produtores (por exemplo, uma organização pública, empresa privada
ou setor econômico). A pegada de água é um indicador explícito geograficamente,
não só mostrando volumes de uso e de
poluição da água, mas também os locais.
A pegada de água de um indivíduo – é definida
como o total de água utilizada para a produção
de bens e serviços consumidos pelo indivíduo.
Ela pode ser estimada pela multiplicação de todos os bens e serviços consumidos
pelas suas respectivas quantidades de água virtual.
A pegada de água de uma nação – é definida como a quantidade total de água que
é utilizada para produzir os bens e serviços consumidos pelos habitantes da nação.
A pegada de água pode ser avaliada de duas maneiras. A abordagem ascendente é
a de considerar a soma de todos os bens e serviços consumidos multiplicados com
os respectivos conteúdos de água virtual. Na abordagem descendente, a pegada de
água de uma nação é calculada como a utilização total dos recursos hídricos
nacionais mais a água virtual bruta importada menos a água virtual bruta
exportada.
A pegada de água interna e externa – A pegada de água total de um país inclui dois
componentes: a parte da pegada que cai dentro do país (pegada de água interna) e
a parte da pegada que pressiona os outros países do mundo (pegada de água
externa). A distinção se refere à apropriação dos recursos hídricos internos versus a
apropriação de recursos hídricos estrangeiros.
A pegada de água de um produto – A pegada de água de um produto (uma
mercadoria, bem ou serviço) é o volume de água potável utilizado para fabricar o
produto, medido no local onde o produto foi efetivamente produzido. Refere-se à
soma do uso da água nas várias etapas da cadeia de produção. A ―pegada de água‖
de um produto é o mesmo que a sua ―quantidade de água virtual‖.
A pegada de água de uma empresa – É definida como o volume total de água
potável que é utilizada direta e indiretamente para realizar e apoiar um negócio. A
pegada da água de uma empresa consiste de dois componentes: o uso direto da
água pelo produtor (para a produção/manufatura ou para atividades de apoio) e a
utilização indireta da água (uso da água na cadeia de abastecimento do produtor).
A ‗pegada de água de uma empresa‘ é o mesmo que o total da ―pegada de água da
empresa na produção dos seus produtos.
Componentes azul, verde e cinza da pegada de água total – A pegada de água total
de um indivíduo ou de uma comunidade divide-se em três componentes: a pegada
de água azul, verde e cinza. A pegada de água azul é o volume de água potável
que evaporou dos recursos globais de água azul (águas superficiais e águas
subterrâneas) para produzir os bens e serviços consumidos pelo indivíduo ou
comunidade. A pegada de água verde é o volume de água evaporada dos recursos
globais de água verde (água de chuva armazenada no solo como umidade do solo).
A pegada da água cinza é o volume de água poluída associada à produção de todos
os bens e serviços para o indivíduo ou para a comunidade. Este último foi calculado
como o volume de água que é necessário para diluir poluentes, de tal forma que a
qualidade da água permaneça acima dos padrões de qualidade da água conveniado.
Auto-suficiência de água versus dependência de água – A ―auto-suficiência de
água‖ de uma nação é definida como a razão da pegada de água interna pela
pegada de água total de um país ou região. Ela indica a capacidade nacional de
fornecimento da água necessária para a produção da demanda interna de bens e
serviços. A auto-suficiência é de 100%, se toda a água necessária está disponível e,
de fato, tomada dentro do próprio território. Auto-suficiência da água tende a zero
se a demanda de bens e serviços em um país for, em grande medida, suprida com
importações de água virtual. Países com a importação de água virtual dependem,
de fato, dos recursos hídricos disponíveis em outras partes do mundo. A
―dependência da importação de água virtual‖ de um país ou região é definida como
a razão da pegada de água externa do país ou região pela sua pegada de água
total.
Água Virtual
Teor de virtual água – O teor de água virtual de um produto (mercadoria, bem ou
serviço) é o volume de água potável utilizada para fabricar o produto, medidos no
local onde o produto foi efetivamente produzido (definição de local de produção).
Refere-se à soma do uso da água nas várias etapas da cadeia de produção. O
conteúdo de água virtual de um produto também pode ser definido como o volume
de água que teria sido necessário para produzir o produto no local onde o produto é
consumido (definição de local de consumo). Recomenda-se utilizar a definição de
local de produção e mencioná-la explicitamente, quando a definição do local de
consumo é usada. O adjetivo ―virtual‖ refere-se ao fato de que a maior parte da
água utilizada para produzir um produto não está contido no produto. O verdadeiro
conteúdo de água dos produtos geralmente é insignificante se comparado com o
teor de água virtual.
As três cores do teor de água virtual de um produto - O teor de água virtual de um
produto consiste de três componentes, a saber, um componente verde, um azul e
um cinza.
- O teor de água virtual ―verde‖ de um produto é o volume de água da chuva que
evaporou durante o processo de produção. Isto é principalmente relevante para os
produtos agrícolas, onde se refere a evaporação total da água da chuva do campo
durante o período de crescimento da cultura (incluindo tanto a transpiração das
plantas como outras formas de evaporação).
- O teor de água virtual ―azul‖ de um produto é o volume de águas superficiais ou
subterrâneas que evaporou como um resultado da produção do produto. No caso da
produção agrícola, o teor de água azul de uma cultura é definida como a soma da
evaporação da água de irrigação do campo e da evaporação da água dos canais de
irrigação e dos reservatórios artificiais de armazenamento. Nos casos de produção
industrial e de abastecimento de água residencial, o teor de água azul do produto
ou serviço é igual à parte da água retirada da água subterrânea ou superficial que
evapora e assim não retorna ao sistema de onde veio.
- O teor de água virtual ―cinza‖ de um produto é o volume de água que se torna
poluído durante a sua produção. Isto pode ser quantificado pelo cálculo do volume
de água necessário para diluir poluentes emitidos para o sistema de abastecimento
de água natural durante o seu processo de produção, de tal forma que a qualidade
da água ambiente permanece acima dos padrões de qualidade da água
conveniados.
É relevante conhecer a razão de utilização de água verde para a azul, porque os
impactos sobre o ciclo hidrológico são diferentes. Tanto o componente verde, como
o azul no teor total de água virtual de um produto referem-se a evaporação. O
componente cinza no teor total de água virtual de um produto refere-se ao volume
de água poluída. A água evaporada da água e a água poluída têm em comum que
ambas são ‗perdidas‘, ou seja, em primeira instância indisponível para outros usos.
Dizemos ―em primeira instância‖, pois a água evaporada pode voltar como
precipitações em outras terras e a água poluída pode tornar-se limpa a longo prazo,
mas estes são aqui considerados como efeitos secundários. que nunca eliminarão
os efeitos primários.
Fluxo de água virtual - O fluxo de água virtual entre duas nações ou regiões, é o
volume de água virtual que está sendo transferido de um lugar para outro como
resultado de um produto comercial.
Exportação de água virtual – A exportação de água virtual de um país ou região é o
volume de água virtual associada à exportação de bens ou serviços a partir do país
ou região. É o volume total de água necessário para produzir os produtos para
exportação.
Importação de água virtual - A importação de água virtual de um país ou região é o
volume de água virtual associado à importação de bens ou serviços para o país ou
região. É o volume total de água utilizado (em países exportadores) para produzir
os produtos. Vistos a partir da perspectiva do país de importação, esta água pode
ser visto como uma fonte adicional de água, além dos recursos hídricos disponíveis
internamente.
Balanço de água virtual – O balanço de água virtual de um país durante um
determinado período de tempo é definido como a importação líquida de água virtual
durante este período, que é igual à importação bruta de água virtual deduzida a
exportação bruta. Um saldo positivo de água virtual implica fluxo de entrada líquido
de água virtual para o país a partir de outros países. Um saldo negativo significa
fluxo de saída líquido de água virtual.
Poupando água através do comércio – Uma nação pode preservar os seus recursos
hídricos internos através da importação de um produto de uso intensivo de água
em vez de produzi-lo internamente. O comércio internacional pode economizar
água globalmente se uma mercadoria de uso intensivo de água é comercializada a
partir de uma área onde ela é produzida com alta produtividade de água
(resultando em produtos com baixo teor de água virtual) para uma área com baixa
produtividade de água.
Água Neutra
Água neutra - Um bem, serviço, consumidor individual, comunidade ou empresa é
água neutra quando as externalidades negativas da pegada de água do bem,
serviço, consumidor individual, comunidade ou empresa forem reduzidos e
compensados. Para ser ―água neutra‖, existem duas condições: em primeiro lugar,
tudo o que é ―possível‖ deveria ter sido feito para reduzir a pegada de água
existente; e segundo, os impactos da pegada de água residual são compensados
fazendo um ―investimento razoável‖ no estabelecimento ou no apoio a projetos que
visam a utilização sustentável e equilibrada da água.
Água compensada – A compensação dos impactos negativos de uma pegada de
água é uma parte da neutralidade da água.
Anulação das externalidades negativas – Em alguns casos especiais, quando as
interferências no ciclo da água podem ser totalmente evitadas – por exemplo,
através da completa reciclagem da água e desperdício zero – ‗água neutra‘ significa
que a pegada de água é anulada e, em muitos outros casos, como no caso do
crescimento de culturas, o uso da água não pode ser anulado. Portanto ‗água
neutra‘ geralmente não significa que a utilização da água é reduzido a zero, mas
que os efeitos negativos econômicos, sociais e ambientais externos são reduzidos
tanto quanto possível e que os impactos restantes são integralmente compensados.
A compensação pode ser feita através da contribuição para (investimento em) uma
utilização mais sustentável e equitativa da água nas unidades hidrográficas nas
quais os impactos remanescentes da pegada de água estão localizados.
Via [Water Footprint Network]
>
Leia no blog SOS RIOS DO BRASIL o artigo BRASIL: IMPORTADOR OU EXPORTADOR DE ÁGUA
VIRTUAL? acerca do relatório da WWF
http://www.ecodebate.com.br/2010/03/16/o-brasil-e-o-maior-exportador-de-agua-virtual-do-mundoentrevista-especial-com-john-anthony-allan/
O Brasil é o maior ‘exportador’ de água virtual do mundo.
Entrevista especial com John Anthony Allan
Fonte: Água virtual, escassez e gestão: o Brasil como grande “exportador” de água
“A forma como usamos a terra e os recursos hídricos no passado negligenciava os impactos ambientais
impostos pela agricultura intensiva. Esses custos não se refletem nos preços das commodities
alimentícias vendidas e compradas internacionalmente, e nem mesmo nos preços dos alimentos no
mercado interno. O Brasil não deveria correr para satisfazer a demanda global por sua água, colocando
commodities no mercado mundial a preços que impossibilitem que o ambiente das terras e dos recursos
hídricos do Brasil seja usado de modo sustentável”. Essas são as palavras do cientista britânico John
Anthony Allan, escritas por ele na entrevista que aceitou conceder, por e-mail, à IHU On-Line.
Conhecido no mundo inteiro por ter criado o conceito de água virtual, explicado a seguir, Tony Allan
identifica que as grandes economias de água podem ser feitas no setor agrícola, onde os volumes de
água usados são vastos. “Os agricultores tomam conta de toda a água verde. Junto com os engenheiros,
eles tomam conta de toda a água azul usada na agricultura irrigada. Junto, isto representa 80% da água
usada no mundo inteiro. Os agricultores detêm a chave para a segurança da água – especialmente no
Brasil”, alerta.
A entrevista é de Graziela Wolfart. A tradução é de Luís Marcos Sander.
John Anthony Allan é professor no King’s College de Londres e na Escola de Estudos Orientais e
Africanos. Pioneiro em conceitos chave para a compreensão e a divulgação das questões referentes à
problemática da água e à sua conexão com a agricultura, as mudanças climáticas, a economia e a
política, Tony Allan foi laureado com o “Prêmio da Água de Estocolmo 2008” (2008 Stockholm Water
Prize).
Confira a entrevista.
IHU On-Line – O senhor pode explicar o conceito de “água virtual”? Como fazer o cálculo de quanto cada
produto consume de água?
John Anthony Allan – Os alimentos e outras commodities necessitam de água para serem produzidos. As
commodities alimentícias possuem um teor de água particularmente grande. Por exemplo, as seguintes
quantidades de água são necessárias para produzir 1 quilo de:
Trigo: 1.300 litros
Milho: 900
Arroz: 3.400
Carne de frango: 3.900
Carne de porco: 4.800
Carne de ovelha: 6.100
Carne de gado: 15.500
Algodão: 11.000
Ou a seguinte quantidade de litros de água é necessária para produzir 1 unidade dos seguintes produtos:
Um litro de leite: 1.000 litros
Uma xícara de chá: 30
Uma xícara de café: 140
Uma folha de papel: 10
Uma fatia de pão: 40
Uma maçã: 70
Uma camiseta: 2.700
A água embutida nisso é chamada de água virtual.
Quando uma commodity é exportada de um país para outro, o país importador se torna seguro em
termos de água e alimentos contanto que tenha uma economia que seja diversificada, e as pessoas
tenham meios de vida que lhes possibilitem comprar alimentos importados. Das 210 economias
existentes no mundo, ao menos 160 são economias “importadoras” de água virtual. Há apenas cerca de
10 economias que têm um excedente de água significativo que pode ser “exportado” em forma virtual.
Esses países incluem os Estados Unidos, o Canadá, a Austrália, Argentina e França. O Brasil é, em
potencial, o maior “exportador” de água virtual do mundo.
IHU On-Line – Quais as maiores consequências ambientais para um país como o Brasil, a partir desta
consideração de ser o maior exportador de água virtual do mundo?
John Anthony Allan – A forma como usamos a terra e os recursos hídricos no passado negligenciava os
impactos ambientais impostos pela agricultura intensiva. Esses custos não se refletem nos preços das
commodities alimentícias vendidas e compradas internacionalmente, e nem mesmo nos preços dos
alimentos no mercado interno. O Brasil não deveria correr para satisfazer a demanda global por sua
água, colocando commodities no mercado mundial a preços que impossibilitem que o ambiente das
terras e dos recursos hídricos do Brasil seja usado de modo sustentável.
IHU On-Line – Como podemos fazer para que essa “água virtual” seja contabilizada e informada para os
consumidores? O senhor acredita que isso ajudaria na questão da economia da água?
John Anthony Allan – Será muito difícil fazer com que o valor da água usada na produção de alimentos
de origem vegetal e de carne se reflita no preço dos alimentos. Nem os agricultores que produzem as
commodities, nem os comerciantes que as tornam disponíveis nas economias importadoras de alimentos,
nem seus clientes e consumidores estão conscientes do teor de água embutida nelas e de seu valor. É
improvável que a regulamentação cause algum impacto porque os números sobre o teor de água são
muito imprecisos e podem ser facilmente questionados. Educar os consumidores é uma forma mais
provável de mudar seu comportamento e sua forma de consumo. Os desafios políticos são imensos,
especialmente numa economia de mercado.
IHU On-Line – Qual a importância de se divulgar a “pegada da água” e que tipo de ações deve ser
pensado como resposta aos resultados apresentados por essa “água virtual”?
John Anthony Allan – O conceito de “pegada de água” é uma forma muito eficaz de contribuir para
conscientizar os agricultores, negociantes, supermercados e consumidores a respeito do teor de água
das commodities que eles produzem, vendem ou compram e consomem. A comparação da pegada de
água de uma dieta pesada à base de carne de gado que consome 5 m3 de água por dia com a de um
vegetariano que consome 2,5 m3 de água por dia apresenta um resultado crasso. Tem-se mostrado que
uma dieta pesada à base de carne de gado e outros produtos de origem animal é muito ruim para a
saúde de um indivíduo. Ela também é muito ruim para o meio ambiente aquático.
IHU On-Line – De que forma o tratamento de esgotos contribui para a economia da água? Quanto se
gasta de água para fazer um saneamento básico de qualidade?
John Anthony Allan – A maior parte da água é usada para produzir alimentos. Mais de 80% da água que
um indivíduo ou uma economia necessita são usados na produção de alimentos. 70% dessa água é água
verde – ou seja, água proveniente de chuva que é retida no solo. A maior parte da produção agrícola do
Brasil vem dessa água que está no solo. Os outros 30% são constituídos de água azul ou água doce. A
água doce vem dos rios e do lençol freático. A água que usamos em casa e para trabalhos que não a
agricultura corresponde a entre 10 e 20% da água de que um indivíduo ou uma economia necessita. A
proporção depende de quão industrializada é a economia e de quão elevado é o padrão de vida. Os
efluentes líquidos e o esgoto são gerados pelo uso doméstico e industrial de água. Mediante um
investimento considerável, os efluentes podem ser reutilizados. Mas é preciso lembrar que esses
efluentes são sempre uma pequena proporção do total de água de que a sociedade necessita. É cada vez
mais possível e apropriado que as economias avançadas invistam na reutilização de efluentes. Mas a
decisão política de alocar verbas para investir no tratamento de efluentes urbanos tem de ser
ponderada levando em conta o valor do investimento em outros setores, como educação, saúde,
comunicações, energia etc. As grandes economias de água podem ser feitas no setor agrícola, onde os
volumes de água usados são vastos. Os agricultores tomam conta de toda a água verde. Ao lado com os
engenheiros, eles tomam conta de toda a água azul usada na agricultura irrigada. Junto, isto representa
80% da água usada no mundo inteiro. Os agricultores detêm a chave para a segurança da água –
especialmente no Brasil.
(Ecodebate, 16/03/2010) publicado pelo IHU On-line, parceiro estratégico do EcoDebate na socialização
da informação.
[IHU On-line é publicado pelo Instituto Humanitas Unisinos - IHU, da Universidade do Vale do Rio dos
Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]