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CARTA DE BOAS VINDAS Senhores Delegados, É com grande satisfação que lhes damos as boas-vindas à II Simulação Paraibana de Ensino Médio. Após o sucesso da primeira edição, a SIPEM, que acontecerá de 13 a 16 de maio de 2015, chega com inúmeras novidades para os seus participantes, com o objetivo de que todos desfrutem ao máximo dessa experiência incrível. Este ano, a SIPEM contará com dois Comitês. Com as preocupações globais sobre o terrorismo transnacional cada vez maiores, a Liga dos Estados Árabes discutirá o Estado Islâmico e a legitimidade do uso da força no Levante. De maneira a conferir atenção aos assuntos latino-americanos de uma maneira inovadora, a SIPEM simulará também a Organização do Tratado do Atlântico Norte, fazendo uma viagem no tempo até o ano de 1982, para discutir a Guerra das Malvinas. Com o objetivo de despertar em seus participantes o interesse pelas temáticas de relevância internacional, a SIPEM busca, da mesma forma, criar as bases para a formação dos futuros líderes e tomadores de decisão. Agradecemos pela confiança e credibilidade depositadas no projeto e desejamos a todos uma excelente Simulação! Atenciosamente, Secretariado da II SIPEM www.portalanet.com www.facebook.com/anetoficial @anetoficial 2 SUMÁRIO Carta de boas vindas........................................................................................................2 1. Organização do Tratado Atlântico Norte....................................................................5 1.1Estrutura Organizacional da OTAN...............................................................6 1.2 Histórico da Organização..............................................................................8 1.3 Capacidade estrutural da OTAN..................................................................10 1.4 Provisões do Tratado relevantes ao conflito das Falklands.....................11 2. A Guerra das Malvinas...............................................................................................12 2.1 Antecedentes do Conflito............................................................................13 2.1.1 Políticas do Governo Galtieri........................................................14 2.1.2 Tendências políticas do Governo Thatcher.................................17 2.2 A invasão argentina.....................................................................................18 2.2.1 A resposta britânica......................................................................20 2.2.2 Aspectos estruturais.....................................................................21 2.3 Os eventos de 4 de maio de 1982...............................................................22 3. Possíveis ações da OTAN no conflito das Malvinas.................................................23 4. Posicionamento dos Países.......................................................................................28 República Federal da Alemanha.......................................................................28 Reino da Bélgica.................................................................................................29 República Federativa do Brasil.........................................................................29 Canadá................................................................................................................30 Colômbia.............................................................................................................30 Reino da Dinamarca...........................................................................................31 Reino da Espanha...............................................................................................31 Estados Unidos da América....................................................................31 República Francesa............................................................................................32 Reino da Holanda...............................................................................................33 República da Grécia...........................................................................................33 República da Islândia.........................................................................................33 República Italiana..............................................................................................34 www.portalanet.com www.facebook.com/anetoficial @anetoficial 3 Japão....................................................................................................................35 Grão-Ducado de Luxemburgo...........................................................................35 Reino da Noruega...............................................................................................35 República Portuguesa........................................................................................36 Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte...........................................36 República da Turquia.........................................................................................37 Venezuela............................................................................................................37 4 www.portalanet.com www.facebook.com/anetoficial @anetoficial 1. ORGANIZAÇÃO DO TRATADO ATLÂNTICO NORTE A Organização do Tratado Atlântico Norte (OTAN) é uma aliança militar voltada principalmente para a manutenção da paz na área do Atlântico norte1, fundada pelo Tratado de Washington em 4 de Abril de 19492. Inserido no contexto internacional que tinha como característica fundamental a oposição ideológica entre os Estados Unidos e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, o tratado do Atlântico Norte integra um conceito de segurança coletiva que pode ser definido como um “arranjo político e/ou jurídico ao abrigo do qual a paz e a segurança estatal e humana, num determinado espaço geográfico são garantidas por todos ou alguns dos Estados que dele fazem parte através da adoção de medidas de prevenção, monitoramento, auxílio e repressão de condutas que as turbem.”3. Além disso, o Tratado é um reflexo da preocupação das nações da Europa ocidental com o avanço do comunismo Soviético, que já tinha sido expresso pelo Tratado de Bruxelas4. No que concerne aos interesses norte-americanos, o Tratado de Washington foi, junto com o Plano Marshall5, parte de uma estratégia compreensiva para reconstruir o continente europeu no período pós-guerra. A OTAN foi uma das iniciativas escolhidas para o poderio militar dos Estados europeus. Além disso, era objetivo do Tratado garantir que não emergisse novamente no continente europeu o tipo de nacionalismo militarista que resultou na Segunda Guerra, 1 Nato in Focus. Disponível em: http://www.nato.int/cps/en/natohq/topics_81135.htm. Acesso em: 30 Dez. 2014. 2 The North Atlantic Treaty.Disponívelem: http://www.nato.int/cps/en/natolive/official_texts_17120.htm. Acesso em: 2 Jan. 2015. Washington Treaty. Disponível em: http://www.nato.int/cps/en/natolive/topics_67656.htm. Acesso em: 02 Jan. 2015. 3 DELGADO, Jose Pina. Segurança Coletiva, páginas 479-481. In : MENDES, Nuno Canas; COUTINHO, Francisco Pereira (orgs), Enciclopédia das Relações Internacionais. 1ª edição. Alfrigide: Publicações Dom Quixote, 2014. 4 O Tratado de Bruxelas foi um projeto de segurança coletiva e integração política protagonizado por Bélgica, França, Holanda, Luxemburgo e Reino Unido. Todos os seus membros e capacidade institucional foram integrados a OTAN. Ver - The BrusselsTreaty. Disponível em: http://www.nato.int/cps/en/natohq/official_texts_17072.htm. Acesso em: 03 Jan. 2015. 5 Estratégia elaborada pelo então Secretário de Estado americano George C. Marshall para a reconstrução econômica do continente europeu no período posterior a Segunda Guerra Mundial. Marshall Plan, 1948. Disponível em: https://history.state.gov/milestones/1945-1952/marshall-plan. Acesso em: 03 Jan. 2015. www.portalanet.com www.facebook.com/anetoficial @anetoficial 5 bem como assegurar, por meio de influência direta estadunidense, que a ameaça comunista da União Soviética não encontrasse espaço para se expandir no continente6. 1.1 ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DA OTAN De acordo com o Tratado Atlântico Norte, a OTAN contaria fundamentalmente com um órgão, o Conselho do Atlântico Norte7 (CAN), que teria a autoridade de estabelecer órgãos adjacentes conforme se fizesse necessário para lidar com a implementação do Tratado. Apesar de o CAN ter sido o único órgão estabelecido no ato constitutivo da Organização, há um comitê específico para a cooperação militar da aliança, o Comitê Militar 8, que é a maior autoridade militar dentro da Organização. É importante ressaltar que, dentro da OTAN, não existem ações que não sejam consensuais 9, fazendo com que todas as decisões dentro da estrutura da Organização sejam fruto de extenso debate e negociação entre seus membros, em todos os níveis organizacionais 10. Dentro da OTAN, o sistema de reuniões entre os aliados era baseado na necessidade mediante alguma ameaça ou de maneira anual, e, inicialmente a aliança não contava com uma estrutura que pudesse efetivar ações coordenadas 11, porém com a crescente necessidade de ampliar as estruturas da aliança para lidar com os desafios impostos pela ordem geopolítica vigente, criaram-se estruturas permanentes, e de consulta constante para lidar com os assuntos relacionados à organização. A necessidade de estruturas permanentes catapultou a criação do Comando Aliado na Europa (ACE em inglês) e o Comando Aliado no Atlântico (ACLANT em inglês). O ACE possuía a primeira estrutura militar de caráter supranacional da história, 6 “In fact, the Alliance‟s creation was part of a broader effort to serve three purposes: deterring Soviet expansionism, forbidding the revival of nationalist militarism in Europe through a strong North American presence on the continent, and encouraging European political integration.” A short history of NATO.Disponívelem: http://www.nato.int/history/nato-history.html. Acesso em: 03 Jan. 2015. 7 Estabelecido pelo Artigo 9 do Tratado Atlântico Norte “as partes estabelecem neste um conselho, onde todas estarão representadas, para ponderar assuntos relevantes a implementação deste tratado(...)” 8 The Military Committee.Disponívelem: http://www.nato.int/cps/en/natolive/topics_49633.htm. Acessoem: 05 Jan. 2015. 9 “A decision reached by consensus is an agreement reached by common consent, a decision that is accepted by each member country. This means that when a "NATO decision" is announced, it is the expression of the collective will of all the sovereign states that are members of the Alliance.” Consensus Decision Making at NATO.Disponívelem: http://www.nato.int/cps/en/natohq/topics_49178.htm. Acessoem: 02 Jan. 2015. 10 “The principle of consensus decision making is applied at each and every level of the committee structure” Disponívelem: http://www.nato.int/cps/en/natohq/topics_49174.htmAcessoem: 02 Jan. 2014. 11 “While the signing of the North Atlantic Treaty had created Allies, it had not created a military structure that could effectively coordinate their actions.” Vernota 6. www.portalanet.com www.facebook.com/anetoficial @anetoficial 6 o Supremo Quartel General dos Poderes Aliados na Europa (SHAPE em inglês) 12, que é responsável por coordenar as ações militares da aliança e aconselhar o CAN em suas decisões. Inicialmente o SHAPE estava sob o comando do General americano Dwight Eisenhower, porém, atualmente, encontra-se sob a liderança do General Andrew J. Goodpaster no posto de Supremo Comandante Aliado na Europa 13 (SACEUR em inglês). Quanto às estruturas permanentes para consulta, a OTAN passou a contar a partir de 1952 com um secretariado fixo e com representações permanentes para o CAN14, cujas sessões ordinárias passaram a ser presididas pelo Secretário-Geral. Durante o conflito nas Falklands, o posto de Secretário-Geral está ocupado por Joseph Lun. 1.2 HISTÓRICO DA ORGANIZAÇÃO A história da OTAN pode ser facilmente refletida na maneira pela qual a aliança se porta e toma suas decisões perante o ambiente externo, reagindo aos acontecimentos do cenário internacional. No início da Organização, após a ratificação do Tratado de Washington, e ainda com as estruturas primárias da aliança (que dificultavam a tomada de decisões mais impactantes), foi adotado o primeiro protótipo de plano estratégico da OTAN 15, o MC 316, que apresentava diretrizes políticas e estratégicas brandas para lidar com o ambiente externo geralmente hostil da ordem bipolar, apresentando um foco de ação que evidenciava uma tensão mútua entre a URSS e o Ocidente, e, dava ênfase à 12 O SHAPE teve suas instalações iniciais nos subúrbios de Paris, sendo realocado para a Bélgica posteriormente. 1952-1965: Early Years of SHAPE and Allied Command Europe. Disponívelem: http://www.aco.nato.int/page14622353.aspx. Acesso em: 09 Jan. 2015. 13 O posto de SACEUR é tradicionalmente ocupado por um General Americano que assume as responsabilidades por todas as operações militares da Aliança. SupremeAlliedCommanderEurope (SACEUR). Disponível em: http://www.nato.int/cps/en/natohq/topics_50110.htm. Acesso em: 06 Jan. 2015 14 International Staff. Disponível em: http://www.nato.int/cps/en/natolive/topics_58110.htm. Acessoem: 05 Jan. 2015. 15 “The Strategic Concept is an official document that outlines NATO‟s enduring purpose and nature and its fundamental security tasks. It also identifies the central features of the new security environment, specifies the elements of the Alliance‟s approach to security and provides guidelines for the adaptation of its military forces.” StrategicConcepts. Disponível em: http://www.nato.int/cps/en/natohq/topics_56626.htm. Acessoem: 04 Jan. 2015. 16 THE STRATEGIC CONCEPT FOR THE DEFENSE OF THE NORTH ATLANTIC AREA: Reference: M.C. 3. Disponível em: http://www.nato.int/docu/stratdoc/eng/a491119a.pdf. Acessoem:08 Jan. 2015. www.portalanet.com www.facebook.com/anetoficial @anetoficial 7 possibilidade constante de um confronto, sem expor quaisquer possibilidades de cooperação17. Posteriormente, partindo para uma abordagem em que a função primária da OTAN era a de evitar uma agressão da URSS, por meio do aumento crescente de suas próprias forças, e responder de maneira razoável, quando fosse necessário, atacando somente primárias se as não funções Datas-chave – Surgimento da OTAN fossem atendidas, foi adotado o MC 6/118. Este foi, formalmente, o primeiro plano estratégico adotado pela aliança. Após esse documento, o MC 1419 foi responsável pelo estabelecimento de escritórios de planejamento regionais, conferindo à OTAN mais uma adaptação para lidar com os desenvolvimentos do ambiente político de uma maneira regional e aumentando a capacidade estratégica. Com a Guerra da Coréia e o bloqueio soviéticoa Berlim Ocidental, preocupações cresceram dentro da OTAN (cujas tropas, de vários Estados-Membros, estavam lutando na Coréia sob o comando das Nações Unidas) acerca de uma investida soviética partindo de Berlim ou do apoio soviético a revoltas de cunho socialista na Europa20. Isso fez a Organização a alterar a sua abordagem através da criação do SHAPE e do cargo de SACEUR, de modo a possuir mecanismos para uma resposta unificada no caso de um ataque soviético, Tais alterações resultaram também na adesão de Grécia e da Turquia. 17 “The emphasis was more on mutual tension and confrontation than it was on dialogue and cooperation. This led to an often dangerous and expensive arms race.” Ver nota 15. 18 THE STRATEGIC CONCEPT FOR THE DEFENCE OF THE NORTH ATLANTIC AREA: Reference 6/1. Disponível em: http://www.nato.int/docu/stratdoc/eng/a491201a.pdf. Acessoem: 08 Jan. 2015. 19 NORTH ATLANTIC MILITARY COMMITTEE DECISION ON M.C. 14: STRATEGIC GUIDANCE FOR NORTH ATLANTIC REGIONAL PLANNING. Disponível em: http://www.nato.int/docu/stratdoc/eng/a500328c.pdf. Acessoem: 08 Jan. 2015. 20 “When North Korean forces launched their invasion of South Korea on 25 June 1950, starting a conflict that soon saw troops of the United States and other NATO members fighting there on behalf of the United Nations, fear quickly grew that Western Europe, which also contained one half of a country divided along ideological lines, might be the next target of Soviet sponsored aggression.” NATO STRATEGY DOCUMENTS 1949-1969. Disponível em: http://www.nato.int/docu/stratdoc/eng/intro.pdf. Acessoem: 04 Jan. 2015. www.portalanet.com www.facebook.com/anetoficial @anetoficial 8 Ainda como resultado da Guerra da Coréia, a OTAN adotou um novo plano estratégico, em que o foco das ações da Organização passaria a ser a destruição da vontade e capacidade soviéticas de efetivamente se envolver em conflitos 21, esse foi o MC 14/122. Além dessas provisões, a redação do documento dizia que seria autorizada a utilização de todos os meios necessários para cumprir os fins do documento, deixando subentendida pela primeira vez na história da aliança a possibilidade real da utilização de armamentos nucleares, o que também ficou evidenciado pela tendência do General Eisenhower (general americano que ocupava o cargo de SACEUR) em enfatizar uma política de dependência maior do poder nuclear como uma resposta válida a agressão numa reunião do CAN em Lisboa, 1952. Em meio a essas tendências emergentes e a uma situação internacional caótica, surge, dentro da OTAN, o conceito de “retaliação total” 23 com a primeira menção explícita ao uso de armas nucleares, na MC 48 24. Este considerado o padrão mais efetivo de ação para a aliança nos anos seguintes 25. Muitos aliados inicialmente viram a possibilidade do uso de armas nucleares como algo favorável, uma vez que diminuiria a dependência de forças convencionais, tornando possível um considerável corte de gastos neste setor. Seguindo as tendências do MC 48, foi oficialmente adotada uma estratégia que condizia com esta abordagem através do MC 14/2 26, e pouco depois disso, a aliança passa a demonstrar uma crescente preocupação com incidentes fora da área coberta pelo tratado27. 21 “(MC 14/1) approved by the NAC at the 15-18 December 1952 Ministerial Meeting in Paris. It was a comprehensive document, which stated that NATO‟s overall strategic aim was “to ensure the defence of the NATO area and to destroy the will and capability of the Soviet Union and her satellites to wage war…” NATO would do this by initially conducting an air offensive and, in parallel, conducting air, ground and sea operations. The Allied air attacks would use “all types of weapons”.” Ver nota 15. 22 NORTH ATLANTIC MILITARY COMMITTEE DECISION ON M.C. 14/1. Disponível em: http://www.nato.int/docu/stratdoc/eng/a521209a.pdf. Acessoem: 08 Jan. 2015. 23 “MC 48 was the first official NATO document to explicitly discuss the use of nuclear weapons. It introduced the concept of massive retaliation, which is normally associated with MC 14/2 – NATO‟s third Strategic Concept.” Ver nota 15. 24 NORTH ATLANTIC MILITARY COMMITTEE DECISION ON M.C. 48.Disponível em: http://www.nato.int/docu/stratdoc/eng/a541122a.pdf. Acessoem: 08 Jan. 2015. 25 “This request led the Military Committee to issue MC 48/1, “The Most Effective Pattern of NATO Military Strength for the Next Few Years - Report No. 2”, on 26 September 1955.” Ver nota 20. 26 FINAL DECISION ON MC 14/2(Revised). Disponível em: http://www.nato.int/docu/stratdoc/eng/a570523a.pdf. Acessoem: 08 Jan. 2015. 27 “The importance of out-of-area events was reflected in a political directive, CM(56)138, given from the NAC to NATO‟s Military Authorities, 13 December 1956: “Although NATO defence planning is limited to the defence of the Treaty area, it is necessary to take account of the dangers which may arise for NATO because of developments outside that area.”.” Ver nota 15. www.portalanet.com www.facebook.com/anetoficial @anetoficial 9 Enquanto diversos membros da aliança se mostraram satisfeitos com a adoção da abordagem de “retaliação total”, outros apresentaram uma intensa preocupação com a possibilidade de uma resposta tão definitiva para qualquer incidente, criando dentro da organização uma tendência forte para respostas mais a formas menores de agressão, sem contudo abdicar da provisão favorável à utilização de armamentos nucleares no caso de envolvimento direto dos soviéticos. Nesse meio tempo, também se pôde visualizar uma crescente tendência à cooperação política dentro da aliança, com ênfase na cooperação econômica, resolução pacífica de disputas entre os membros da Organização e cooperação entre agências de inteligência. Esses novos desenvolvimentos, acompanhados por um crescente desejo do governo americano de dar respostas mais flexíveis e ser menos dependente de armamentos nucleares levou à adoção da estratégia militar da OTAN 28 vigente durante o conflito das Falklands, a MC 14/329. Esta estratégia que tinha em seus elementos essenciais a flexibilidade e a possibilidade de escalação, ou seja, a fortificação da aliança a tal ponto que coibisse algum possível inimigo de lutar (fazendo com que a luta contra a aliança fosse um risco muito grande para ser tomado). Caso o conflito de fato ocorresse, previa-se um misto de agressão progressiva e ameaça do uso de armamentos nucleares, a utilização destes era a última forma de ação a ser tomada. Na data do início do conflito das Falklands, estava em vigor a abordagem da MC 14/3, fato que deve pautar todas as decisões da organização durante a sua próxima reunião, convocada pela representação do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte junto ao CAN. 1.3 CAPACIDADE ESTRUTURAL DA OTAN No caso da necessidade de uma ação militar dentro do Tratado, a OTAN teria o amparo da SHAPE (Mons, Bélgica) e do Comando Aliado no Atlântico (Norfolk, Virginia, EUA), onde estão localizadas as forças que estão permanentemente à disposição da aliança. A ação da SHAPE estava focada desde o mediterrâneo até o extremo norte da Noruega, passando pela Europa Continental até a Cortina de Ferro 28 “NATO‟s fourth Strategic Concept – Overall Strategic Concept for the Defence of the North Atlantic Treaty Organization Area (MC 14/3) – was adopted by the Defence Planning Committee (DPC) on 12 December 1967 and the final version issued on 16 January 1968.” Ver nota 15. 29 FINAL DECISION ON MC 14/3. Disponível em: http://www.nato.int/docu/stratdoc/eng/a680116a.pdf. Acessoem: 08 Jan. 2015. www.portalanet.com www.facebook.com/anetoficial @anetoficial 10 com a entrada da Alemanha Ocidental no tratado. O comando do Atlântico estaria responsável por toda a extensão territorial da América do Norte até a Islândia, fechando um anel defensivo que englobava toda a região norte do Oceano Atlântico. É digno de nota que, caso seja invocada uma ação sob o artigo 5° do Tratado de Washington, as Forças Armadas de todos os países-membros seriam compelidas a agir em defesa daquele que foi agredido, estando sujeitos ao comando unificado da aliança. 1.4 PROVISÕES DO TRATADO RELEVANTES AO CONFLITO DAS FALKLANDS Dentro do Tratado Atlântico Norte, é importante notar, conforme disposto no artigo 3°30, todos os Estados-Membros são obrigados a fortalecer as suas capacidades individuais de resistência a um ataque armado, esta é a primeira obrigação dos Estados e a sua contribuição para o mecanismo de defesa coletiva. No caso específico do conflito das Falklands, o Reino Unido encontra-se neste primeiro estado, utilizando-se primariamente de suas capacidades individuais para se defender. A reunião que irá acontecer é justamente amparada pelo artigo 4°31 do Tratado, que prevê a possibilidade de consulta no caso de alguma das Partes ter a sua integridade territorial ameaçada. Dentro da reunião do CAN, é possível criar comitês adjuntos para auxiliar a resolução do conflito 32, convidar outros Estados europeus para tomar parte no Tratado (particularmente interessante no caso da posição estratégica da Espanha), ou decidir por alterar o estatuto da Organização para incluir as Falklands em seu escopo, sendo importante notar que o artigo 6° do Tratado define claramente os limites territoriais da ação conjunta da aliança, uma vez que ela seja invocada pelo artigo 5°. É digno de nota que, até então, o artigo 5° jamais foi invocado na história da Organização e implicaria numa declaração de guerra coletiva dos Estados-Membros contra a Argentina. O Tratado ainda prevê que as ações da OTAN, caso sejam tomadas, são imediatas e não precisam de autorização das Nações Unidas, só sendo suspensas quando 30 Article 3 “In order more effectively to achieve the objectives of this Treaty, the Parties, separately and jointly, by means of continuous and effective self-help and mutual aid, will maintain and develop their individual and collective capacity to resist armed attack.” Ver nota 2. 31 Article 4 “The Parties will consult together whenever, in the opinion of any of them, the territorial integrity, political independence or security of any of the Parties is threatened.” Ver nota 2. 32 Article 9 “(…)The Council shall set up such subsidiary bodies as may be necessary; in particular it shall establish immediately a defence committee which shall recommend measures for the implementation of Articles 3 and 5.” Ver nota 2. www.portalanet.com www.facebook.com/anetoficial @anetoficial 11 o Conselho de Segurança da ONU for capaz de tomar alguma decisão que estabilize a situação. 2. A GUERRA DAS MALVINAS A Guerra das Malvinas (também chamada de “Falklands War”) diz respeito à disputa insular ocorrida no dia 02 de abril de 1982 entre o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte e a República Argentina, objetivando-se o pleno controle dos seguintes arquipélagos: Geórgia do Sul, Ilhas Malvinas e Sandwich do Sul. Os Estados conflitantes estão imersos sob os mais diversos problemas internos e veem na hostilidade e no nacionalismo uma maneira de conter as revoltas civis assim advindas dentro de seus respectivos territórios. Na Argentina, o processo ditatorial liderado pelo general Leopoldo Galtieri enfrentava determinados entraves em sua administração, o que fez com que procurasse desviar as atenções dos críticos e da população – de um modo geral – de suas diretrizes econômicas, entrando em guerra contra os britânicos no início da década de 80 33. Em contrapartida, o Reino Unido era conduzido pela primeira mulher a assumir o cargo de primeiro ministro em toda a história: Margaret Thatcher, no posto desde 1979. A “Dama de Ferro”, como ficou conhecida, procurava “desestatizar” a economia, amenizando os índices da inflação monetária causada pelas medidas governamentais ocorridas anteriormente34. Sua popularidade logo declinou por causa de tais ações tendo em vista o repúdio de muitos que ansiavam por um governo mais igualitário. Nesse contexto, cabe lembrar também o período de recessão causado pela crise do petróleo no final da década de 70. Os líderes logo notaram que a disputa acarretaria a promoção do sentimento nacional e um ajuste nos índices de popularidade, ainda que comprometesse o sistema de alianças entre os dois países. 33 Cambalache – a história do colapso econômico da Argentina. Disponível em: http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1562. Acesso em: 15 Fev. 2015. 34 Adeus à dama de ferro. Disponível em: http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1234. Acesso em: 15 Fev. 2015. www.portalanet.com www.facebook.com/anetoficial @anetoficial 12 2.1 ANTECEDENTES DO CONFLITO Não se sabe ao certo quando os arquipélagos foram de fato, habitados e quais povos originaram a população à época da primeira descoberta feita pelas embarcações inglesas. Ainda que indícios sejam apresentados por meio de rotas marítimas traçadas nas cidades de Paris e Istambul, a verdade é que tal ocupação ainda é vista com um tom de mistério para a historiografia local. John Davis, explorador inglês, registrou o arquipélago, em suas anotações sobre “territórios antes nunca descobertos”, no ano de 1592, no que foi seguido em 1594, por Richard Hakluvt, em Londres, e pelo holandês Sebald de Weert, em janeiro de 1600. Partindo destas ponderações, havia as primeiras provas circunstanciais de espaços geográficos ainda não conquistados, por meios de bibliografias legais 35. Diante a vastidão do continente americano, até então desconhecidos em plenos séculos XVI e XVII, o cenário internacional dado à época - era hostil. As ocupações francesas, lideradas pelo nobre Louis Antoine de Bougainville, partiram em direção à Port Louis36 no ano de 1764, envolvendo diversos colonos que haviam deixado a Nova Escócia após os britânicos terem desbravado a parte francesa nos ambientes canadenses. Todavia, percebendo a necessidade de estabelecer-se e ali instaurar uma administração ainda mais intensa (não sendo esta francesa), John Byron, concidadão britânico, foi enviado à Egmont (Malvina Ocidental) pela Coroa Britânica, para construir uma base militar inglesa, a partir de uma percepção corsária dada através do lorde George Anson. Vale salientar ainda que a nomenclatura (Falklands) foi proposta por Byron em homenagem ao Visconde de Falkland, um nobre que financiou a sua expedição. Em 1767, a parte correspondente à França foi vendida para a Coroa Espanhola, originando conflitos entre aqueles que detinham determinados poderes sobre as Ilhas37. 35 Origens – o Mar e as Ilhas. Disponível em: http://www.falklands.gov.fk/assets/Nossas-Ilhas-NossaHistoria1.pdf. Acesso em: 15 Fev. 2015. 36 Port Louis foi estabelecida por Louis Antoine de Bougainville na ilha oriental, tornando-se a primeira instalação oficial nos territórios insulares, constituído por uma pequena colônia francesa. Posteriormente, a Coroa Espanhola reconheceu seu direito de posse, reafirmando sua autoridade sob a região em 1767. Disponível em: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/03/120330_malvinas_falkland_entenda.shtml. Acesso em: 15 Fev. 2015. 37 COGGIOLA, Osvaldo. A outra Guerra do Fim do Mundo – As Malvinas e “Redemocratização” da América do Sul. Revista Aurora, Marília, v. 05, no. 02, p. 174, Jan-Jun. 2012. www.portalanet.com www.facebook.com/anetoficial @anetoficial 13 Desde suas primeiras explorações, os arquipélagos foram alvo de disputas insulares entre a Inglaterra, França e Espanha e posteriormente, entre Argentina e Inglaterra. Ainda que comandantes advindos de Buenos Aires (centro argentino) estabelecessem suas supervisões em terras “britânicas”, a Coroa Inglesa tinha o receio de que suas terras fossem conquistadas pela desordem vista em seu período e, dessa forma, ordenou, antecipadamente que, em 1832, o capitão Onslow - embarcasse no navio HMS Clio para reafirmar, sem expulsar nenhum civil, a soberania inglesa. A ocupação foi concluída no ano de 1833, ainda que, no século seguinte, houvesse tentativas de angariar territórios, ampliando assim, a influência de seus nacionais 38. O modo de vida pacato, simples e modesto dos moradores kelpers (termo dado aos britânicos das ilhas, que faz alusão a uma alga regional gigante), mais uma vez foi afetado pelos novos embates por terras por parte dos argentinos. Ainda que, em 1965, a República Argentina tenha reivindicado, na Organização das Nações Unidas (ONU), o direito de posse sobre as terras, consideradas como problema colonial, ela não se deu por satisfeita. Estabelecida. O enfrentamento dos problemas internos em seu território devido à recente efetivação de ascensão de uma ditadura no Estado resultou em diversos colapsos econômicos e sociais nos mais distintos setores, agravando a má representação políticainstitucional dentro do Estado argentino. Via-se na ocupação, portanto, uma tentativa aberta de desviar a atenção de seu esgotamento interno. O que o Estado não esperava até então era que, com a ocupação, o rompimento de relações interamericanas fosse tão notório, uma vez que os ditadores argentinos colocariam o país diante de uma rota de coalisão com a Organização do Tratado do Atlântico do Norte (OTAN) e a abertura de uma guerra demasiadamente clara com as potências do bloco imperialista europeu 39. 2.1.1 Políticas do Governo Galtieri Instaurada no ano de 1976, a administração militar argentina – atualmente coordenada pelo general Leopoldo Galtieri– éa ação culminante de um processo mais extenso, em que se objetivava a institucionalização do poder militar como o agente político fundamental no Estado desde a expulsão do presidente Juan Domingos Perón, 38 1833 e tudo o que ocorreu. Disponível em: http://www.falklands.gov.fk/assets/Nossas-Ilhas-NossaHistoria1.pdf. Acesso em: 15 Fev. 2015. 39 COGGIOLA, Osvaldo. A outra Guerra do Fim do Mundo – As Malvinas e “Redemocratização” da América do Sul. Revista Aurora, Marília, v. 05, no. 02, p. 171-172, Jan-Jun. 2012. www.portalanet.com www.facebook.com/anetoficial @anetoficial 14 em 1955. A sociedade civil democrática estava fragilizada uma vez que haviam ocorrido diversas interrupções na atuação deste regime político por parte das forças armadas nacionais. Sem um representante legal, os militares logo notaram neste episódio, uma forma de consolidar suas atuações no poder por meio de um ato promulgado no dia 24 de março 40. Após dois anos de mandato marcados por altas crises econômicas e crescente violência politica no período da representante Maria Estela Martínez de Perón, a ascendência dos militares ante o cenário político promoveu previamente uma ruptura no que diz respeito ao modelo base de industrialização, angariando uma participação ainda mais ativa do Estado no setor trabalhista e associando-se, desse modo, principalmente ao capital estrangeiro (nesse caso, toma-se destaque as ofertas econômicas promovidas pelos Estados Unidos em uma tentativa de barrar o avanço da ideologia comunista nas Américas). Estas ações demarcavam um novo corte social perante a recente administração, buscando regulamentar todas as atividades ocorridas tanto coletivamente quanto individualmente. Somado a isto, e baseado na iniciativa de construir uma estabilidade política ainda mais determinante, havia o intuito de padronizar os costumes da sociedade argentina. Com o apoio dos principais líderes nacionais, a repressão passou a atormentar os argentinos, perseguindo aqueles que defendiam uma ideia contrária. Com a plena autoridade expressada através do Comunicado Nª 1 41, os militares logo declararam estado de sítio no país, dissolvendo as sedes dos partidos opositores e incidindo a operacionalizar as ações nacionais por meio da junta militar. Operários, estudantes, músicos, escritores e tantos outros que compunham a classe intelectual durante a época passaram a ser perseguidos ferrenhamente nos primeiros anos pelos militares, ao ponto destas ações transcorrerem às instâncias internacionais. O termo “terrorismo de Estado” tem sido associado diretamente à Argentina, atingindo, sobretudo, as cimeiras que atuam na proteção dos direitos humanos básicos à vida visto que o país nos últimos meses está sendo acusado de deflagrações durante seu regime ditatorial. 40 PRIORI, Angelo. Golpe Militar na Argentina: apontamentos históricos. Revista Espaço Acadêmico. Universidade Estadual de Maringá, PR, no. 59, p. 01, Abr. 2006. 41 Golpe de Estado por Jorge Rafael Videla. Disponível em: http://www.ecured.cu/index.php/Golpe_de_Estado_por_Jorge_Rafael_Videla. Acesso em: 15 Fev. 2015. www.portalanet.com www.facebook.com/anetoficial @anetoficial 15 Ainda que houvesse algum resquício de movimentação contra o sistema autoritário no território, nunca se observou tantas marchas nas ruas desde que o golpe foi implantado. A política econômica está declinando e diversos protestos sindicais recentemente têm tomado as praças, exigindo o fim da ditadura. Mediante este cenário, o general Galtieri tem obtido esforços para controlar a sociedade argentina à beira de um colapso ainda maior, mas nenhum ultimamente está sendo tão ambicioso quanto à possibilidade de ocupação das Ilhas Malvinas. Em 1981, a direção do regime necessitava de uma determinada ação que reestabelecesse os padrões antigos da ditatura promovidos no ato de seu golpe e via-se em Leopoldo Galtieri, a solução para a tal problemática. Acusado de sequestrar crianças e de torturar grupos militantes esquerdistas contrários à ideologia do regime - enviandoos aos campos de tortura e concentração - o general logo percebeu que era indispensável alguma atuação que o efetivasse no poder sem tantas acusações, restaurando o sentimento ufanista que há muito tempo havia-se perdido. Galtieri, a partir de então, estava diante de duas possibilidades que resgatariam tal anseio: promover a unidade nacional e a unidade do próprio regime 42. Após os protestos ocorridos no dia 30 de março na Praça de Maio, em frente à Casa Rosada, Leopoldo Galtieri decide na mesma semana – juntamente com o seu corpo administrativo - que é indispensável invadir os territórios insulares sob a alegação de que a “Inglaterra havia se apossado destas terras por mecanismos predatórios”. O discurso acalorado realizado em seu gabinete tem repercutido em todo o país, auferindo diversos apoiadores ao conflito, retomando antigos embates ocorridos no século passado e resgatando a honra nacional, uma vez que tal atitude demarcaria “para sempre” os espaços geográficos regidos pelos seus detentores originais 43. 2.2.2 Tendências Políticas do Governo Thatcher 42 NOVARO, Marcos; PALERMO, Vicente. A Ditadura Militar Argentina 1976 – 1983. São Paulo, Editora da Universidade de São Paulo (Edusp) 2007. Cap. 06. P. 540 – 541: A Guerra das Malvinas. 43 NETO, Júlio de Mesquita. Galtieri diz que solução é “para sempre”. São Paulo, p. 06D, 03 abr. 1982. www.portalanet.com www.facebook.com/anetoficial @anetoficial 16 Em meados do século XX, o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte ainda mantinha sob a regularidade estatal o controle de suas respectivas colônias, dando ao sentimento de conquista sua devida importância neste tempo mais do que em qualquer outra época. Os mais novos se orgulhavam ao ver, em seus mapas, as terras conquistadas pelos seus antepassados – agora, pintadas com as cores alusivas aos de seu país. Contudo, quanto maior a extensão das terras conquistadas, maior a distribuição de recursos estatais - financeiros e bélicos - para o mantimento de uma regulamentação territorial dentro de um espaço demarcado. Partindo deste princípio de ocupação, em 1940, não somente o Reino Unido, mas também a República Francesa enfrentava sérias crises administrativas, uma vez que os Estados buscavam ampliar os recursos destinados às suas referidas colônias, colocando à prova a validez defensiva destas frente à Alemanha nazista. Após o fim da Segunda Guerra Mundial em 1945 e o permanente declínio do gerenciamento britânico em solo indiano, o Estado inglês ainda não estaria disposto a abdicar de seus territórios. Diferentemente da França, alguns espaços geográficos foram mantidos através do uso da força, enquanto outros, desprendidos liberalmente. Ademais, ainda que as cimeiras internacionais não concordassem com a ideia da relação metrópole-colônia tendo em vista que muitos Estados alcançariam legitimamente sua independência, o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte mantinha seus escassos domínios ultramarinos, dentre os quais se incluem as Ilhas Falklands44. O período frígido, mas repleto de tensões políticas e militares frente ao cenário mundial vigente nas décadas seguintes, prosseguiria em território inglês, influenciando cada setor assim envolvido. A utilização do Estado para definir estratégias de ações econômicas, sociais e políticas continuava cada vez mais forte, uma vez que diante de um panorama realista, a precedência da seguridade interna como uma maneira de garantir-se internacionalmente tornar-se-ia alvo dos discursos mais eloquentes de seus estadistas. Somente ao final da década de 70, surgiu aquela que porventura traria novas concepções sobre a atuação de um Estado diante dos seus concernentes setores. Sob a égide do partido conservador, Margaret Thatcher relembrou antigas tradições vitorianas 44 BLAINEY, Geoffrey. Uma breve história do século XX. São Paulo, Editora Fundamento Educacional, 2011. Cap. 16. P. 179 – 192: A flecha flamejante e os ventos da mudança. www.portalanet.com www.facebook.com/anetoficial @anetoficial 17 ao requerer o patriotismo dos seus concidadãos ingleses, reestruturando, dessa forma, as recentes políticas internas e externas inglesas. Em 1979, Thatcher ascende ao poder, com a promessa de privatizar a economia antevendo um sistema de livre-mercado para o país, amenizando os índices inflacionários originados pelas direções estatais ocorridas anteriormente. Além disso, durante a sua administração, a “Dama de Ferro” buscou quebrar as tradições sindicalistas, acarretando, neste período, uma série de movimentos contrários ao seu governo. Destarte, passou a ser considerada como aquela que conduzia impiedosamente a sua nação45. Apesar de as ações serem voltadas para o progresso coletivo do povo, a rigidez monetária causou uma série de problemas nunca antes vistos no país e, com a recessão atribuída à população inglesa em meados dos anos 80-81, a impopularidade da sua imagem e da do seupartido cresceu em todo o Reino Unido. Soma-se a isto o fato de que a ocupação das Ilhas Falklandspelos argentinos em 1982, noticiada no dia 02 de abril pelo jornal britânico The Times, cobrava por parte das autoridades nacionais uma resposta imediata à invasão. O jornal expunha imagens de seus conterrâneos rendidos por um Estado sul-americano com pouca participação internacional, e via-se neste conflito a chance de revigorar o patriotismo inglês, além de restabelecer ações afirmativas relacionadas à má supervisão por parte do Partido Conservador46. 2.2. A INVASÃO ARGENTINA Os eventos da invasão argentina tiveram seu início em 20 de dezembro de 1981, com uma ancoragem argentina não-autorizada no porto de Leith, nas Ilhas da Geórgia do Sul. A resposta britânica foi firme, porém moderada, exigindo diplomaticamente a retirada dos argentinos. Entretanto, no dia 19 de março de 1982, outra embarcação argentina ancorou no porto de Leith de forma não autorizada, hasteando ainda uma bandeira argentina no local. A primeira reação dos britânicos foi enviar seu navio de patrulha HMS Endurance para a retirada dos argentinos, mas decidiram, posteriormente, tentar negociar com a 45 Adeus à Dama de Ferro. Disponível em: http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1234. Acesso em: 15 Fev. 2015. 46 COGGIOLA, Osvaldo. A outra Guerra do Fim do Mundo – As Malvinas e “Redemocratização” da América do Sul. Revista Aurora, Marília, v. 05, no. 02, p. 171-172, Jan-Jun. 2012. www.portalanet.com www.facebook.com/anetoficial @anetoficial 18 Argentina uma maneira de resolver o incidente, retirando as instruções dadas ao Endurance. A embarcação argentina partiu em 29 de março de 1982.47 Foi apenas no dia 30 de março que a força britânica recebeu informações de que uma frota argentina havia embarcado em direção às ilhas e estava prevista para invadilas no dia 2 de abril. Depois de 150 anos de ocupação inglesa, a Argentina decidiu retomar as Ilhas em uma tentativa de recuperar a imagem do governo, que estava com altos índices de impopularidade e passava por problemas sociais e econômicos. O fato se sucederia nos meses de inverno do hemisfério sul, o que dificultaria uma invasão inglesa por mar, porém foi antecipado para o dia 2 de abril de 1982, devido ao agravamento da crise política na Argentina. 48 Na manhã da sexta-feira, 02 de abril de 1982, uma unidade de tropas argentinas desembarcou no Porto Stanley, dando início à “Operação Rosário”. Contatos com o então governador das Malvinas, Rex Hunt, foram tentados pelo líder das forças argentinas, Jorge Anaya, ao se aproximar das ilhas, pedindo que esses se rendessem de forma pacífica. Todavia, o pedido foi rejeitado e os 80 membros do Royal Marine invadiram a ilha e mobilizaram 20 locais. Após um ataque no final da tarde à Casa do Governo das Malvinas, quando a tropa argentina já havia se multiplicado para em torno de 3.000, Rex Hunt ordenou a rendição das tropas britânicas. A bandeira da Argentina foi hasteada sobre a Casa do Governo, indicando sucesso na Operação.49 2.2.1. A resposta Britânica Após os eventos do dia 2 de abril de 1982, o Governo Britânico agiu primeiramente através do corte de todos os seus laços diplomáticos com a Argentina e começou a reunir uma grande força naval para recuperar as ilhas, buscando também aliados diplomáticos. 47 THATCHER, Magaret.The Downing Street Years.5. ed. p. 85-173 London: Harpercollins, 1993 A Invasão de 1982. Disponível em: http://www.falklands.gov.fk/assets/Nossas-Ilhas-NossaHistoria1.pdf. Acesso em: 9 Fev. 2015. 49 1982: Argentina invades Falklands. Disponível em: http://news.bbc.co.uk/onthisday/hi/dates/stories/april/2/newsid_2520000/2520879.stm. Acesso em: 9 Fev. 2015. 48 www.portalanet.com www.facebook.com/anetoficial @anetoficial 19 No sábado, 3 de abril de 1989, o Conselho de Segurança concede um triunfo diplomático para os britânicos ao adotar a Resolução 502 (UNSCR 502), exigindo uma retirada imediata e incondicional dos Argentinos. 50 Ainda, sabendo da Resolução adotada pela ONU e sob o conselho dos chefes das forças aérea e naval, Thatcher e seu Gabinete de Guerra concordaram em enviar uma Força Tarefa às Malvinas, uma decisão tomada como um reflexo da genuína indignação ao ato de agressão argentino e como uma forma de demonstrar que o Governo não estava totalmente sem defesas. 51Dava-se então início à “Operação Corporate”. Quatro dias após a invasão argentina, o atual secretário de Estado dos EUA, Alexander Haig, ficou responsável por mediar o conflito, realizando viagens a Londres e Buenos Aires para negociações. É importante ressaltar que Reagan e Margareth Thatcher eram grandes amigos. Após estas medidas, os fatos que sucedem são a declaração de uma Zona de Exclusão Marítima por parte da Grã-Betanha às Malvinas e a retomada das Ilhas da Geórgia do Sul. Em 30 de abril de 1982, a primeira das três Forças Tarefa Britânicas chega às Malvinas e aumenta a zona de exclusão para Zona de Exclusão Total, recebendo também neste dia o apoio público dos Estados Unidos. É possível afirmar que a Guerra só teve seu início definitivo a partir dos primeiros ataques britânicos em 1º de maio de 1982, com a Operação Black Buck I, onde a Royal Air Force britânica atacou as pistas de pouso em Port Stanley, capital das Malvinas que estava ocupada por forças argentinas. O objetivo do ataque era impossibilitar pousos argentinos para fornecimento de suplementos, além de incapacitálos para ataques à frota britânica que patrulhava a zona de exclusão.52 Este ataque foi seguido, no dia posterior, pelo afundamento do cruzador argentino General Belgrano pelo submarino britânico Conqueror. 50 Resolution 502 (1982) of3April 1982. Disponível em: http://unscr.com/en/resolutions/502. Acessoem: 9 Fev. 2015. 51 HIME, Douglas N..The 1982 Falklands-Malvinas Case Study. 2010. p.8-9. - Joint Military Operations, The United States Naval War College, Newport, 2010. Disponível em: https://www.usnwc.edu/getattachment/f45c76ac-2dfb-4395-873b-5f71448e09fa/NWC-1036,-The-1982Falklands-Malvinas-Case-Study,-.aspx. Acesso em: 9 Fev. 2015. 52 1982: RAF bombsPort Stanley. Disponível em: http://news.bbc.co.uk/onthisday/hi/dates/stories/may/1/newsid_2480000/2480155.stm. Acessoem: 9 Fev. 2015. www.portalanet.com www.facebook.com/anetoficial @anetoficial 20 2.2.2. Aspectos estruturais As Forças Armadasargentinasestavam tecnologicamente desatualizadas, porém se encontravam em maior número, devido à sua proximidade das Malvinas e consequente facilidade de transporte de contingente para o local. Esta era formada por 53: Força terrestre: Batalhões de fuzileiros blindado com veículos anfíbios; 7 Tropas completas de infantaria; Defesa antiaérea terrestre nas Ilhas Malvinas. Força marítima: 1 Navio de transporte polar com 1 helicóptero Puma + 1 helicóptero Alouette; 3 Corvetas lança-mísseis munidas de lança-mísseis MM-38 Exocetantinavio, canhões de 100 mm, 40mm e 20 mm; 230 fuzileiros navais e 120 mergulhadores táticos; 4 Destróiers munidos de lançadores MM38-Exocet antinavio, lança-mísseis antiaéreos SeaDart, canhões de 127mm, 114 mm, 40 mm e 20 mm, lançadores triplos de torpedos de 324 mm, tubos lança-torpedos de 533 mm e helicópteros SH3H; 2 Submarinos S-21 com dez tubos lança-torpedos de 254 e 533 mm; Um Navio quebra-gelos para transporte de tropas com dois helicópteros ligeiros; Cruzador munido de canhões de 152 mm, canhões antiaéreos de 127 mm, vários canhões antiaéreos de 40 mm e de 20 mm, lança-mísseis antiaéreo SeaCat e helicóptero. Força aérea: Esquadrões de aviões Canberra; Aviões Pucará; Esquadrões Caça-bombardeiros. As forçasarmadas britânicaseram mais atualizadas e treinadas, contando com54: 53 HIME, Douglas N..The 1982 Falklands-Malvinas Case Study. 2010. p.71-74. - Joint Military Operations, The United States Naval War College, Newport, 2010. Disponível em: https://www.usnwc.edu/getattachment/f45c76ac-2dfb-4395-873b-5f71448e09fa/NWC-1036,-The-1982Falklands-Malvinas-Case-Study,-.aspx. Acessoem: 9 Fev. 2015. 54 HIME, Douglas N..The 1982 Falklands-Malvinas Case Study. 2010. p.66-71. - Joint Military Operations, The United States Naval War College, Newport, 2010. Disponível em: https://www.usnwc.edu/getattachment/f45c76ac-2dfb-4395-873b-5f71448e09fa/NWC-1036,-The-1982Falklands-Malvinas-Case-Study,-.aspx. Acesso em: 9 Fev. 2015. www.portalanet.com www.facebook.com/anetoficial @anetoficial 21 Força terrestre: 89 Fuzileiros navais do Royal Marines em terra e 23 membros da Força Voluntária de Defesa; 3 Comandos de brigada; 5 Brigadas de infantaria. Força marítima: Navio de patrulha ártica HMS Endurance, com dois helicópteros Wasp operando esquadrões de aviões táticos SeaHarrier na configuração de ataque; 1 Destróier com mísseis guiados munido de 1 lança-mísseis Seaslug, 1 lança-mísseis MM-38 Exocet, 2 lança-mísseis Seacat antiaéreos, 2 canhões de 11,4 mm , 2 canhões de 20 mm e 1 helicóptero WestlandWessex; 2 Fragatas anti-submarina munidas de lança-mísseis Seacat antiaéreos, MM-38 Exocet e Seawolf antiaéreos, canhões duplos de 40 mm e 11,4 mm e helicópteros Wasp e Lynx, Sea King; Navio petroleiro e de suprimentos HMS Tidespring; Submarinos Nucleares com lança torpedos de 533 mm. Força aérea: Esquadrão aéreo do exército; 3 Esquadrões aéreos de brigada. 22 2.3. OS EVENTOS DE 4 DE MAIO DE 1982 Desde a chegada das forças britânicas às Malvinas, estes se mantiveram vitoriosos em suas primeiras batalhas. Entretanto, na manhã de 4 de maio de 1982, a Força Aeronaval Argentina (FAA) conseguiu determinar com precisão a posição de uma das Forças de Operações Britânicas. De imediato, a FAA enviou dois aviões SuperÉtendard munidos de mísseis Exocetpara o local. As 11h04min, do horário local, os mísseis foram disparados contra o Destróier britânico HMS Sheffield, que foi atingido por um dos dois mísseis disparados pelos aviões argentinos. O navio pegou fogo, gerando uma fumaça venenosa. Grande parte dos tripulantes conseguiu abandonar o navio, mesmo assim foram registradas 22 mortes britânicas.55 55 1982: Argentines destroy HMS Sheffield. Disponível em: http://news.bbc.co.uk/onthisday/hi/dates/stories/may/4/newsid_2504000/2504155.stm. Acessoem: 11 Fev. 2015. www.portalanet.com www.facebook.com/anetoficial @anetoficial O ataque chocou toda a nação britânica e dificultou qualquer solução diplomática que pudesse haver para a disputa pelas Ilhas Malvinas. O bombardeio se deu em retaliação ao afundamento do Cruzador argentino General Belgrano, como afirmado por um diplomata argentino nos Estados Unidos, que alegou que a destruição do HMS Sheffield era “justificada após o massacre que os ingleses haviam feito atacando seus homens e seus navios”. 56 O ataque acabava de abater o navio mais moderno da frota britânica, revivendo as celebrações patrióticas na Argentina e aumentando o status de “questão” para “crise” nas Malvinas. 3. POSSÍVEIS AÇÕES DA OTAN NO CONFLITO DAS MALVINAS A Organização do Tratado Atlântico Norte – OTAN – tem por finalidade precípua a estruturação de uma proteção armada, compartilhada entre seus membros. Segundo o Tratado do Atlântico Norte, doravante chamado apenas de Tratado, princípios democráticos e a manutenção da paz e do bem-estar norteiam as ações da Organização. Criada no fim da Segunda Guerra Mundial, como já visto, a OTAN representa a garantia de defesa para os membros fundadores, através da união de poderios bélicos, em um compromisso baseado, principalmente, no interesse mútuo em proteção. A OTAN, observe-se, é um acordo militar que permite aos países membros convocar ajuda, em caso de agressão, aos outros integrantes, e obter deles apoio incondicionado, nos termos da Carta, como é assegurado no artigo 5º, in litteris: As Partes concordam em que um ataque armado contra uma ou várias delas na Europa ou na América do Norte será considerado um ataque a todas, e, consequentemente, concordam em que, se um tal ataque armado se verificar, cada uma, no exercício do direito de legítima defesa, individual ou coletiva, reconhecido pelo artigo 51, da Carta dias Nações Unidas, prestará assistência à Parte ou Partes assim atacadas, praticando sem demora, individualmente e de acordo com as restantes Partes, a ação que considerar necessária, inclusive o emprego 56 “An Argentine diplomat in the United States said the destruction of HMS Sheffield was „justified after the massacre that the English have done shelling our men and our ships‟”. 1982: Argentines destroy HMS Sheffield. Disponível em: http://news.bbc.co.uk/onthisday/hi/dates/stories/may/4/newsid_2504000/2504155.stm. Acesso em: 11 Fev. 2015. www.portalanet.com www.facebook.com/anetoficial @anetoficial 23 da força armada, para restaurar e garantir a segurança na região do Atlântico Norte. 57 Qualquer ataque armado desta natureza e todas mais providências tomadas em consequência desse ataque são imediatamente comunicados ao Conselho de Segurança. Essas providências terminarão logo que o Conselho de Segurança tiver tomado as medidas necessárias para restaurar e manter a paz e a segurança internacionais. O próprio artigo 5º deixa claro que a OTAN delimita uma região em que agirá, qual seja, “a região do Atlântico Norte”. Isso se deve principalmente ao fato de que os países signatários do tratado se situam, geograficamente, acima da linha do Equador, isto é, na parte norte do globo terrestre. Nesse sentido, perante o documento original, não haveria possibilidade de uma resposta coletiva, dos membros da Organização, no conflito das Ilhas Malvinas, envolvendo o Reino Unido e a Argentina, já que o território em agressão, embora sob controle do país europeu, não estava compreendido, por assim dizer, na área de influência, ou na região do Atlântico Norte. Inobstante a isso, a Carta da OTAN traz um mecanismo de revisão que possibilita alterar o teor do Documento naquilo que for necessário. Segundo o artigo 12 do acordo, as partes podem, decorridos 10 anos da vigência do tratado, a pedido de qualquer uma, realizar consultas com fins na alteração do conteúdo do documento. Essa possibilidade de mudança, seguindo o texto do mesmo artigo, pode decorrer de fatores que passaram a influenciar a paz e a segurança na região do atlântico norte. O rol dos “factors then affecting peace and security in the North Atlantic area” 58 no é taxativo. O artigo 12º apenas manda incluir outros acordos regionais ou mundiais que possam ter o mesmo efeito, qual seja, afetar a paz e a segurança na região do Atlântico Norte. A Guerra das Malvinas, como todo conflito armado, causou certa apreensão no ambiente político dos envolvidos. Ademais, o Reino Unido estava de fato sofrendo uma agressão, já que mantinha controle sobre as ilhas desde 1833. Mesmo diante da aplicação do supracitado artigo 5º da Carta, o governo Inglês não poderia contar com a ajuda da OTAN, a menos que o Tratado sofresse revisão, para incluir territórios sulistas na área de proteção da organização. Incluir territórios outros, que não aqueles diretamente ligados ao atlântico norte, não significaria novidade em 1982. Anos antes, em 1951, foi aprovado o protocolo 57 Disponível em: http://www.nato.int/cps/en/natohq/official_texts_17120.htm?selectedLocale=pt. Acesso em 14 de fevereiro de 2015. 58 Fatores que afetam a paz e a segurança na área do atlântico norte (tradução do autor), artigo 12 da Carta. www.portalanet.com www.facebook.com/anetoficial @anetoficial 24 adicional que modificou o artigo 6º da Carta da OTAN. Na ocasião, Grécia e Turquia entraram para Organização, e o referido artigo ficou reescrito assim: Para os fins do Artigo 5º, considera-se ataque armado contra uma ou várias das Partes o ataque armado: Contra o território de qualquer delas na Europa ou na América do Norte, contra os Departamentos franceses da Argélia, contra o território da Turquia ou contra as Ilhas sob jurisdição de qualquer das Partes situadas na região do Atlântico Norte ao Norte do Trópico de Câncer; Contra as forças, navios ou aeronaves de qualquer das Partes, que se encontrem nesses territórios ou em qualquer outra região da Europa na qual as forças de ocupação de qualquer das Partes estavam à data em que o tratado entrou em vigor ou no Mar Mediterrâneo ou na região do Atlântico Norte ao norte do Trópico de Câncer, ou que os sobrevoem. 59 Veja-se que surge, a partir daqui, o que podemos chamar de precedente para expandir a região de influência da OTAN, tendo em vista a existência de alguma nova necessidade, poderíamos citar a expansão de território de algum do membros, como exemplo. Vale, evidentemente com ressalvas, citar também que áreas como os Departamentos franceses na Argélia se configuravam como elementos do tratado. Nesse caso em particular, a França pediu a desvinculação desses departamentos em 1963, ano em que a Argélia tornou-se independente. Reunido o Conselho descrito pelo artigo 9º da Carta da OTAN, o pedido primário do Reino Unido é incluir as Ilhas Falklands, como território de influência da Organização, para enfim poder solicitar ajuda no conflito armado. Sem essa inclusão, a OTAN não tem legitimidade para implementar ações no território das Malvinas. No entanto, com a aprovação da modificação da Carta, o Conselho poderá, então, dispor dessa legitimidade para, em se tratando do território em disputa, pôr em pauta o pedido de resposta coletiva para a agressão sofrida pelo Reino Unido, em conformidade com o artigo 4º: “As Partes consultar-se-ão sempre que, na opinião de qualquer delas, estiver ameaçada a integridade territorial, a independência política ou a segurança de uma das Partes”. 60 A OTAN tem por obrigação tentar, de forma pacífica, regular e dirimir conflitos internacionais em que estiver envolvida, conforme estabelecido no artigo 1º de sua 59 Disponível em: http://www.nato.int/cps/en/natohq/official_texts_17120.htm?selectedLocale=pt. Acesso em 14 de fevereiro de 2015. 60 Disponível em: http://www.nato.int/cps/en/natohq/official_texts_17120.htm?selectedLocale=pt. Acesso em 14 de fevereiro de 2015. www.portalanet.com www.facebook.com/anetoficial @anetoficial 25 Carta. E se, por meios pacíficos as questões não sejam passíveis de resolução, como deixa claro o artigo 5º, os membros poderão resolver com meios que julguem necessários, inclusive, com uma resposta armada. Para a Guerra das Malvinas, o Conselho da OTAN poderia, por vias pacíficas, tentar resolver o problema, ou decidir que a resposta coletiva é necessária para manutenção da paz e da integridade territorial dos membros da organização, em especial do Reino Unido. Observe-se, no entanto, que a decisão da OTAN não estará somente relacionada com o conflito particular pela posse das ilhas no Atlântico Sul. Desde o aparecimento da Doutrina Truman61, o medo do comunismo passou a ser sistematizado na política internacional. Com a Guerra Fria, todas as manobras políticas se relacionavam intrinsecamente com a linha que separava Estados Unidos e União Soviética. O colapso mundial não seria menos certo que a queda de uma maçã desprendida do topo da árvore, caso as duas potências se enfrentassem diretamente. O ambiente internacional, mediante tal situação, vivia em uma crise continuada, e tensões constantes costumavam levar a resultados destoantes. Ora, sob essa guerra de interesses, espionagens e sabotagens, uma reunião do Conselho da OTAN para decidir sobre uma ação armada coletiva na região da América do Sul, veja-se, causaria enormes divergências entre membros e não-membros. O Conselho do Atlântico Norte deveria, nesse caso, considerar, os diversos tipos de ações que poderiam ser empregadas em tais circunstâncias. A resposta armada parece ser a opção principal em casos de agressão contra territórios de países membros da OTAN; no entanto, é possível que, diante de situação tão peculiar, os membros do Conselho façam opções menos usuais, interferindo no conflito de forma indireta, ou tentando formular acordos pacíficos. Uma vez que a ação armada coletiva significaria uma declaração de guerra coletiva, envolvendo todas as grandes potências da Europa e os Estados Unidos em uma coalizão, certamente tal fato despertaria reações do outro polo da política mundial. O Conselho do Atlântico do Norte, de acordo com o artigo 9º da Carta, poderá criar organismos subsidiários que julgue necessários em relação à aplicação do documento. Esses conselhos auxiliares podem ser especialmente úteis em casos como a 61 Conjunto de medidas políticas e econômicas assumidas pelos Estados Unidos durante a presidência de Harry S. Truman, voltadas à contenção da difusão do comunismo pelo mundo, trazendo consequências aos países sul-americanos, vistos como, elos frágeis do capitalismo. www.portalanet.com www.facebook.com/anetoficial @anetoficial 26 possível participação da OTAN na Guerra das Malvinas, situação na qual os detalhes das decisões são cruciais para o futuro do conflito. Veja-se o texto do artigo: As Partes estabelecem, pela presente disposição, um Conselho, no qual cada uma delas estará representada para examinar as questões relativas à aplicação do Tratado. O Conselho será organizado de forma que possa reunir rapidamente em qualquer momento. O Conselho criará os organismos subsidiários que possam ser necessários; em particular, estabelecerá imediatamente uma comissão de defesa que recomendará as providências a tomar para aplicação dos artigos 3° e 5°. Destaque-se, ainda, o papel da Comissão de Defesa estabelecido no dispositivo acima citado, que pode vir a ser usada para estabelecer os critérios da decisão do Conselho do Atlântico Norte. Há, igualmente, a possibilidade de pedir parecer ao Conselho Militar da OTAN, para que uma possível intervenção armada seja analisada e definida de maneira ponderada. Uma comissão subsidiária também poderia ser criada para auxiliar, estrategicamente, o Reino Unido em sua defesa, caso as Ilhas Malvinas não sejam acrescidas ao rol do artigo 6º da Carta. Enfatize-se que, nesse caso não seria possível uma ação coletiva, o que não impediria que outros países ajudassem os ingleses. Essa última situação provavelmente levantaria questões pertinentes ao Conselho do Atlântico Norte. Admitindo-se um cenário em que a ação armada coletiva seja aprovada pelo Conselho, as partes poderão fazer convites a outros países, inclusive os presentes na reunião, para que se juntem à Organização, conforme disposto no artigo 11: As Partes podem, por acordo unânime, convidar a aderir a este Tratado qualquer outro Estado europeu capaz de favorecer o desenvolvimento dos princípios do presente Tratado e de contribuir para a segurança da área do Atlântico Norte. Qualquer Estado convidado nesta conformidade pode tornar-se Parte no Tratado mediante o depósito do respectivo instrumento de adesão junto do Governo dos Estados Unidos da América. Este último informará cada uma das Partes do depósito de cada instrumento de adesão. Observe-se também que, caso as Ilhas Malvinas passem a fazer parte da área de atuação da OTAN, haveria, muito provavelmente, uma forte tendência de adaptação do Tratado, fato que poderia fazer surgir o pedido de alteração do referido artigo 11, para permitir o ingresso de países não europeus no tratado. www.portalanet.com www.facebook.com/anetoficial @anetoficial 27 É preciso que se volte a repetir que o conflito entre Reino Unido e Argentina, pela posse das Ilhas Falklands, é só um dos problemas do Conselho do Atlântico Norte. A conjuntura política do mundo no ano de 1982 exige máximo cuidado por parte dos responsáveis pelas decisões, principalmente pelas decisões militares, em um ambiente de enfrentamento de duas grandes potências bélicas, os Estados Unidos e a União Soviética. É de se lembrar, também, da situação política da Argentina, e da possível tendência soviética de ditadura daquele país. As ações da OTAN, nesse contexto de extrema instabilidade, certamente terão que levar em conta as particularidades da Guerra Fria e os interesses diversos dos países mais importantes do cenário internacional. 4. POSICIONAMENTO DOS PAÍSES REPÚBLICA FEDERAL DA ALEMANHA No início do conflito, a República Federal da Alemanha vivia um momento muito conturbado em sua política interna. O governo do chanceler Helmut Schmidt foi marcado por diversas crises. O terrorismo foi assunto recorrente nos oito anos que Schmidt passou como líder da parte ocidental do antigo estado nazista. Em 1982 o desemprego bateu recorde, outras dificuldades econômicas e ainda a crescente preocupação da população com o terrorismo, levaram a ascensão de outro líder, Helmut Kohl, que assumiu o governo alemão em 1º de outubro daquele ano. No campo da política externa, Schmidt adotou uma posição de reaproximação com os países do leste, participando, por exemplo, na conferência da Organização para Segurança e Cooperação na Europa, em agosto de 1975. No entanto, o engajamento de Schmidt nem sempre foi visto com bons olhos pela população, é o caso de sua participação na chamada Resolução Dupla da Organização do Tratado do Atlântico Norte. Para as Guerras das Malvinas, a posição natural da República Federal da Alemanha é de apoio para o Reino Unido, é preciso destacar que a simples tomada de partido da diplomacia alemã, nesse caso, pode agravar a crise interna. REINO DA BÉLGICA www.portalanet.com www.facebook.com/anetoficial @anetoficial 28 Na época do conflito, a Bélgica, país sede da OTAN e membro originário da organização e signatário do Tratado de Bruxelas de 1948, que serviria de base para a OTAN, passava por problemas econômicos. O país enfrentou, no começo dos anos 1980 um difícil período de ajuste estrutural causado pelo declínio da demanda de exportação por seus produtos tradicionais, prejudicando sua performance econômica. Os próximos dois anos foram seguidos por uma recessão que danificou ainda mais a estrutura deste país. Para combater tal período, em 1982 o governo do atual Primeiro Ministro formulou um programa de recuperação econômica para promover um crescimento através do aumento de competitividade na indústria de exportação da Bélgica. Para lidar com tais conflitos internos, o país precisa investir em sua própria economia, sendo difícil, assim, contribuir com gastos no conflito das Malvinas. Apesar disso, a Bélgica, por estar unida ao Reino Unido na OTAN desde sua original formação, apoia os argumentos defendidos pelo Reino Unido. REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL No âmbito do conflito das Malvinas, a posição brasileira é de solidariedade para com as aspirações argentinas de soberania sobre as ilhas. Em um contexto internacional em que os mercados do norte global estavam cada vez mais fechados, em virtude da crise do petróleo no final da década de 1970, a cooperação sul-sul tomou uma proporção muito importante para a economia brasileira, com o objetivo de expandir seus mercados e fugir de uma tendência de alinhamento automático com as superpotências, e tinha a Argentina, no momento da eclosão do conflito, como seu segundo maior parceiro comercial. Além de fatores econômicos, a simpatia existente entre os governos militares de Figueiredo e Galtieri era um fator muito importante que aproximava as duas nações. Entretanto, o maior parceiro comercial do Brasil ainda são os Estados Unidos da América, fazendo com que a diplomacia brasileira deva se portar de maneira cautelosa durante a resolução do conflito, de modo a não prejudicar as suas relações com as partes beligerantes e acelerar o processo de recuperação da crise da dívida externa. Além disso, uma preocupação central do Brasil era evitar uma possível intervenção militar dos países do norte global no continente americano. Uma vez que, com a retaliação britânica, uma porção insular do continente já havia sido atingida, era www.portalanet.com www.facebook.com/anetoficial @anetoficial 29 crescente o temor acerca de uma possível ingerência das potências ocidentais dentro do continente sul americano. CANADÁ Desde o início de sua história política, o Canadá teve sua Constituição combinada com a Constituição britânica, sendo totalmente dependente desta última quanto à aprovação de leis e à sua execução, além de estar submetido às leis britânicas que se estendessem ao Canadá. Entretanto, em março de 1982, passou a vigorar o Canada Act, ato parlamentar emanado do Parlamento do Reino Unido, por pedidos do governo canadense, que terminou com todos os laços constitucionais e legislativos que existiam entre o Reino Unido e o Canadá. Mesmo assim, o país continuava reconhecendo o Reino Unido e ainda considerava o monarca britânico como chefe de Estado. O atual Primeiro Ministro canadense, Pierre Trudeau, possui sentimentos confusos em relação àCommonwealth e não simpatiza com o Presidente americano e com a Primeira Ministra Margaret Thatcher. Levando isto em consideração, políticos e diplomatas canadenses assumem, durante a guerra das Malvinas, uma posição de ambiguidade neutra para proteger e promover os interesses canadenses, não sendo a favor de utilização de força militar. COLÔMBIA Dentre os Estado latino-americanos presentes, a Colômbia é, provavelmente, o Estado mais dependente dos EUA. Estando fortemente envolvido no combate às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARCs), o Governo colombiano contava com o apoio logístico estrutural dos EUA, fato que o deixava mais próximo das tendências de política externa estadunidenses. Contrária à corrente de suporte aos clamores argentinos que ecoava pela América Latina, a diplomacia colombiana tem preferência por uma postura de neutralidade que possibilite manter boas relações com os EUA e com a Argentina, o que faz com que seja contrária a ações extremas, e tenha, ainda, uma forte tendência a se abster de questões controversas. www.portalanet.com www.facebook.com/anetoficial @anetoficial 30 REINO DA DINAMARCA O Reino da Dinamarca, atualmente regido por PoulHolmskovSchüter, continua a defender seus ideais diplomáticos inerentes aqueles que se propõem ao diálogo aberto em prol da ordem internacional. Ainda que o Estado dinamarquês tenha concluído seu período sob um posicionamento neutro antes da Segunda Guerra Mundial, como membro fundador da Organização do Tratado do Atlântico Norte, o país assume, a partir desse momento, um foco nas relações multilaterais, baseando-se no aspecto seguracional. Dado o conflito perpetrado no dia 02 de Abril pelos argentinos às ilhas Malvinas, acredita-se em um apoio mútuo dinamarquês aos seus aliados continentais, sobretudo o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte. REINO DA ESPANHA A Espanha, no momento em que teve inicio o conflito das Malvinas, se encontrava numa posição delicada. Por um lado, o governo espanhol aspirava tomar parte nos arranjos integracionistas que se formavam no continente europeu, sendo pivotal para os interesses espanhóis a entrada nos mecanismos de cooperação econômica e militar vigentes, especialmente na Organização do Tratado Atlântico Norte, possibilitando um alinhamento político, econômico e militar definitivo com o bloco ocidental. Contudo, a tradição diplomática espanhola é uma de boas relações com a Argentina, sendo por vezes referida como um país irmão, tornando a tomada de decisão mais complicada. A diplomacia espanhola é definitivamente contrária a qualquer medida que venha a fortalecer o regime político vigente na Argentina, considerado como ofensivo aos direitos humanos pelos espanhóis, e procura primariamente por uma resolução pacífica do conflito, buscando assumir uma posição imparcial. ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA No momento da eclosão do conflito, os Estados Unidos da América representavam um dos lados da divisão política e econômica existente entre os países. Do outro lado estava a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Já haviam se passado mais de 30 anos do término da Segunda Grande Guerra Mundial, e o mundo viveu essas três décadas sobre o risco constante de uma terceira guerra planetária. Essa www.portalanet.com www.facebook.com/anetoficial @anetoficial 31 possibilidade ficou, historicamente, conhecida como Guerra Fria, termo mais que adequado, tendo em vista que as ações dos membros do conflito eram todas disfarçadas. As hostilidades entre Estados Unidos e União Soviética, portanto, tinham consequências em todas as partes do mundo. Faltava uma faísca para iniciar a combustão do planeta. A Guerra das Malvinas tem potencial para derrubar o último pilar da paz mundial. Nesse ambiente hostil, os Estados Unidos apoiarão o Reino Unido, já que as Ilhas Falklands são um importante ponto estratégico militar, graças a sua posição geográfica. É verdade, no entanto, que o apoio no conflito armado deve ser bem analisado, visto o risco de a União Soviética resolver tomar partido da causa argentina. Manter relações amistosas com os membros do continente americano também é de interesse dos país norte-americano, já que um de seus objetivos é diminuir os pontos de influência do seu opositor socialista. REPÚBLICA FRANCESA O Estado francês, durante muitos anos, caracterizou-se no cenário internacional pela sua prosperidade econômica, expansão colonial e força militar. Baseada na promoção dos direitos inerentes à vida, sua política externa pauta-se – desde séculos atrás – em uma longa tradição diplomática, no qual revigora princípios consideráveis aos direitos humanos e aos direitos dos povos em dispor de si mesmo. Sua história está composta de múltiplos fatos que norteiam os seus ideais democráticos e, quanto aos antecedentes deste conflito, a mesma detém um fator cronológico memorável. Elencado como um dos membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte, a França mantém seu posicionamento ao apoiar Reino Unido, uma vez que, por ser um aliado econômico do Estado inglês e ao defender os direitos humanos, repudia quaisquer atos cometidos pela junta militar instaurada na Argentina, causados pelas deflagrações sem precedentes. Atualmente, a República Francesa é administrada pelo presidente François Maurice-Marie Mitterrand, no qual tornou-se recentemente o primeiro socialista a ascender a presidência do país. Sua tentativa de amenizar os altos índices inflacionários que permeiam a nação e as tentativas de integração frente à Comunidade Econômica Europeia tem ganhado destaque diante dos nacionais. www.portalanet.com www.facebook.com/anetoficial @anetoficial 32 REINO DA HOLANDA No início do conflito, o Gabinete Van Agt II era responsável pela política do Reino da Holanda. Houve três gabinetes dirigidos por Andreas Antonius Maria van Agt, conhecido como Dries van Agt. A política externa holandesa acompanha os passos de seus pares no ocidente. Como membro fundador da Organização do Tratado do Atlântico Norte, é natural que apoie o Reino Unido em sua pretensão de proteger a propriedade sobre as Ilhas Falklands, no entanto, se espera que a diplomacia da Holanda siga seus colegas de continente, já que o governo não vivia um momento fácil, e uma decisão estranha a outros países poderia ocasionar uma crise interna. REPÚBLICA DA GRÉCIA A Grécia aderiu à OTAN em 1952, sendo aliada dos Estados Unidos contra a Europa Oriental e a URSS.É, a princípio, um parceiro “incômodo”, uma vez que possui forte rivalidade (e até mesmo hostilidade) com a Turquia, valiosa amiga dos Estados Unidos da América Em 1981, a Grécia aderiu à Comunidade Econômica Europeia. Nesse período, sua economia encontrava-se estagnada; os investimentos no país haviam caído consideravelmente e os níveis de desemprego aumentavam, sendo estes fortes motivos pelos quais era tão importante o crescimento da Grécia nesta comunidade e o apoio de seus membros, dentre eles o Reino Unido. Por esta razão, a Grécia presta apoio ao Reino Unido no conflito das Malvinas, apoiando-o em seus argumentos. REPÚBLICA DA ISLÂNDIA O ingresso da Islândia na OTAN, em 1949, foi apoiado pelo seu parlamento, porém não em maioria pelo seu povo. Na época de sua adesão, parte da população demonstrou ser contra o ingresso do país através de protestos anti-adesão. Mesmo assim, a Islândia ingressou na organização e a compõe como um de seus países formadores. No ano em que se dá o conflito das Malvinas, a economia da Islândia encontrase satisfatória, mas com problemas de inflação. Este país recebeu, em 1951, uma base militar americana com cinco mil soldados que permanecem até os dias atuais, formando a Força de Defesa da Islândia. A presença dos militares provêm emprego para cerca de www.portalanet.com www.facebook.com/anetoficial @anetoficial 33 um a dois mil islandeses, e a receita dos militares normalmente contabiliza em torno de 5% dos ganhos de capital estrangeiro do país. A cidade onde está instalada a base tornou-se economicamente dependente desta, além da base conceder ao país estar sob a proteção militar americana. Por estes motivos, a Islândia encoraja os Estados Unidos a manter a Força de Defesa da Islândia e apoia seus argumentos quanto ao conflito das Malvinas. REPÚBLICA ITALIANA O final da Segunda Grande Guerra Mundial foi precoce para a Itália, sua rendição deve ser observada como uma mudança de política externa com reflexos mais amplos que o próprio término das hostilidades. Sua aparição como membro fundador da OTAN é muito representativa, isto é, a Itália sinalizou que faria parte do modelo político norte-americano. Mediante todos os riscos presentes no momento histórico em questão, não se espera outra atitude da Itália que não seja no sentido de apoia a pretensão do Reino Unido. Deve-se levar em consideração, no entanto, que os anos 70 foram de crise na Itália, por conta do fenômeno do terrorismo político, a partir disso, algumas formações estranhas surgiram no governo italiano, como é o caso do Primeiro Ministro Giovanni Spadolini, que quebrou a sequência de 21 primeiros ministros do partido da Democracia Cristã. Talvez essa nova conjuntura política impeça repostas mais agressivas. JAPÃO No momento da invasão, sendo um dos membros rotativos do Conselho de Segurança das Nações Unidas, o Japão foi fortemente contra a invasão Argentina das ilhas, considerando uma ofensa a Carta das Nações Unidas, bem como uma violação do principio da resolução pacífica de conflitos. Contudo, o Japão admite que a soberania das ilhas é um assunto em disputa, sendo o objetivo da diplomacia japonesa que ocorram negociações para a definição do status permanente do território. É importante notar que devido a existência de disputas militares de caráter similar a das Malvinas com a China (Ilhas Senkkaku), a diplomacia japonesa se opôs fortemente tanto a invasão como a retaliação violenta, sendo entretanto, favorável a sanções ao governo www.portalanet.com www.facebook.com/anetoficial @anetoficial 34 argentino por ter iniciado o conflito. Por fim, o Japão acredita que a mediação estadunidense no âmbito do conflito pode conduzir a uma resolução efetiva do conflito. GRÃO-DUCADO DE LUXEMBURGO Desde os tempos mais remotos, o Grão-Ducado do Luxemburgo serviu como um ponto estratégico para as mediações no tocante às relações entre os representantes das terras mais próximas e das mais longínquas durante a idade média. Seu processo histórico – associado diretamente ao geográfico – tem possibilitado ao Estado, a instauração de determinadas sedes referentes aos procedimentos comunitários europeus. Defensor assíduo de um continente mais conjunto, o representante legal não mede esforços em propor aos demais Estados, acordos de cooperação mútua. Diante da invasão às Malvinas, é esperado que o Grão-Ducado do Luxemburgo acrescente a causa dos ingleses como sua, tornando-se favorável aos posicionamentos do Reino Unido e dos Estados Unidos da América. REINO DA NORUEGA 35 Em seu processo histórico, o Reino da Noruega pontou continuamente suas relações com os Estados europeus vizinhos, primando a base cooperacional entre os povos pela via diplomática. Após a derrocada da Segunda Grande Guerra, o Estado norueguês aderiu os princípios basilares do tratado, tornando-se membro fundador da Organização do Tratado do Atlântico Norte. Sua política externa detém como desígnio original a promoção da paz e da defesa internacionais por meio de ações coordenadas, quer sejam militares ou não. Dado o conflito neste presente ano nos territórios insulares pertencentes ao seu aliado – os ingleses - o Reino da Noruega prontifica-se a apoiar completamente os argumentos defendidos pelo Reino Unido, uma vez que os mesmos possuem laços bilaterais desde séculos passados. Atualmente, o país tem sido administrado pelo primeiro-ministro KåreWilloch que, diferentemente dos representantes anteriores, tem gerenciado bravamente ao reduzir as tensões nos países nórdicos. www.portalanet.com www.facebook.com/anetoficial @anetoficial REPÚBLICA PORTUGUESA A relação entre Reino Unido e Portugal é bem mais antiga que qualquer outra. Assinado ainda durante a Idade Média, o acordo entre os dois Reinos resultou em inúmeros pedidos de ajuda. Para Portugal, não resta dúvida, a parte mais onerosa sempre aparece, a população portuguesa costuma reclamar sempre que o Reino Unido exige algo de Portugal, tendo em vista que a corte portuguesa chegou ao ponto de abandonar seu país para cumprir suas obrigações com o outro. Portugal, então, apoiará seu parceiro histórico, no entanto, poderá usar a Organização do Tratado do Atlântico Norte como uma forma de evitar sua participação armada no conflito. É de se esperar, no entanto, que Portugal siga os outros países europeus, com vistas nas consequências que uma intervenção da OTAN pode causar em todo o planeta. REINO UNIDO DA GRÃ-BRETANHA E IRLANDA DO NORTE Em 1979, Margaret Thatcher assumiu o poder no Reino Unido com políticas patrióticas e com o objetivo de reestruturar as políticas internas e externas britânicas. Porém, devido a sua forma rígida de administrar o governo, a impopularidade de Thatcher e de seu partido cresceu em todo o Reino Unido, acarretando em vários movimentos contrários ao seu governo. Em 1982, com a invasão argentina nas Ilhas Malvinas, o governo encontrou neste acontecimento a oportunidade de reavivar o patriotismo britânico e reafirmar sua forma de administração. Entretanto, na realidade dos acontecimentos de 4 de maio com o ataque ao HMS Sheffield, navio mais moderno da frota britânica, a situação tomou um status mais alarmante e trouxe cobranças por parte das autoridades nacionais, que exigiam uma resposta imediata à invasão. Neste contexto, o Reino Unido encontra-se numa situação em que precisa manter seu domínio sobre as Malvinas para garantir sua popularidade e melhoria da imagem de Margaret Thatcher e de seu partido, aceitando discutir acordos diplomáticos, porém sem descartar a hipótese de um ataque militar mais forte caso se faça necessário ou no caso de nenhum acordo suprir suas exigências e necessidades. www.portalanet.com www.facebook.com/anetoficial @anetoficial 36 REPÚBLICA DA TURQUIA Berço da história antiga, a República da Turquia é classificada como um ponto geograficamente estratégico, visto que o país localiza-se entre os continentes europeu e asiático, servindo como alvos militares para os mais diversos países durante os conflitos nos últimos séculos. Ainda que o Estado turco possua características predominantes relacionadas aos países árabes, sua apreciação para com os países ocidentais é um fator relevante em sua política externa. Em 1952, a Turquia adere ao Tratado do Atlântico Norte a pedidos dos Estados Unidos da América, de modo que, sob a alegação dos impactos que a União Soviética poderia causar em seu território, o país estreita suas relações com o Estado americano, permitindo assim, um apoio maior nos âmbitos bélicos e econômicos. Ao estar em processos de acordos e negociações, a Turquia almeja inserir-se amplamente no contexto europeu, uma vez que, desde 1949 compõe o Conselho da Europa. Com a eclosão da guerra das Malvinas, o Estado turco enfrenta o regime ditatorial assolado no país desde o inicio da década de 80 pelo general KenanEvren. Ainda que suas aspirações ao compor o bloco hegemônico europeu sejam cordiais, o Estado turco tem recebido duras críticas por parte destes países em consequência de suas repressões ferrenhas à população contrária a administração militar. Desse modo, espera-se que a Turquia apoie as propostas auferidas pelos que defendem o ideal inglês, regatando sua antiga imagem frente aos membros desta Organização. VENEZUELA No momento da eclosão do conflito a situação venezuelana era uma de muita instabilidade, sendo 1982 um ano eleitoral no país e o governo vigente contando com um apoio cada vez mais decrescente da população. A Venezuela foi um país que se beneficiou muito nos anos dourados da atividade petrolífera, tendo inclusive se aproximado dos EUA para a obtenção de armamentos para resolver contendas locais, mas que atualmente se encontra endividada e se sentindo politicamente traída pelo governo americano (que outrora defendeu a não ingerência dos europeus na América e agora apoia a intervenção britânica). A reação primaria da diplomacia venezuelana é a de apoiar uma reação unificada da América Latina no sentido de pedir a retirada pacífica do Reino Unido, vendo no conflito a oportunidade de reviver os laços regionais e se afastar da influência estadunidense. www.portalanet.com www.facebook.com/anetoficial @anetoficial 37