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A AVENTURA DA ARQUITETURA E DA CIDADE NA HISTÓRIA E NO SÉCULO XXI1 Pedro Wilson Guimarães2 Aqui estão reflexões sobre onde se realizam idealizações, projetações que são transformações de quaisquer objetos coisas e cidades e do própria humanidade 1. Reflexões Dentro e Fora do Lugar dos Arquitetos Vamos voar, ousar, aventurar na história e na vida. Vamos ver e idear, conceber no tempo e no espaço, as arquiteturas e urbanismos, como artes, engenhos, criações, projetos, normas, formas, técnicas, confortos, usos, estilos, estéticas e resistências. E com a sabedoria dos outros e os esforços nossos, no tempo dado. Ser, ter, ir, vir, produzir, viver, amar, trabalhar, sonhar, lançar, desenhar, edificar, construir, planejar, organizar, agenciar e animar as cidades das mulheres, dos homens e dos arquitetos - artífices, mestres, aprendizes dos pés direitos aos arpeus de anjos. E as cidades de Deus (Arquiteto do universo) em constante evolução na qual a humanidade cada vez mais penetra e celebra a vida. E romper umbrais e portais diante das paralelas que se perdem no infinito. Hoje infinitas, e amanhã dado a capacidade e aventura do espírito humano em fazer novas descobertas, invenções e imaginações, criadoras sem fim. Com a coragem e audácia, sempre audácia, o destino de nós navegantes desta nave presente na Via Láctea, é ir sempre, a limites ilimitados de Deus-dará. A Arquitetura é uma ventura. Mil venturas e aventuras construídas pelos arquitetos na cidade de Caim (agricultor) e de Abel (pastor) da torre de babel e de Jericó que é datadamente a cidade mais antiga da humanidade e que agora volta às mãos árabepalestinas por direito e história. Arquê significa primeiras fontes e causas de modelos, padrões, exemplos e protótipos criados pelos olhos e pelas mãos humanas. Olhos e arpeus que manejam réguas e prumos, linhas d’água e de terra, argila e saibro, areia e cinza. E barro e tijolo, terra e madeira, ferro e vidro, tecido e sal, sombra e vento, cor e pedra, luz e calor, frio e conforto na criação, suação, sopro da morada de 1 Texto apresentado na Aula Inaugural do Curso de Arquitetura e Urbanismo e Design – UCG – 2005. 2 Pedro Wilson Guimarães – Advogado, sociólogo, professor das Universidades Católica e Federal de Goiás, Deputado Federal PT – GO, membro das Comissões de Educação, Cultura e Desporto, de Direitos Humanos e de Ciência e Tecnologia da Câmara Federal, Presidente do Ibrace, Prefeito de Goiânia (2001/2004) e Coordenador da Frente Nacional de Prefeitos 1 todos os corpos e espíritos da Babilônia da Mesopotamia a Nova Iorque de Manhattan. E do Parque Oeste impossível, ao parque da Rua 115, possível, todos os dois são ilegais, ocupações face necessidades insatisfeitas. Por que estas diferenças políticas? Tudo é fonte e sopro de vida. É depois, juntos, dão forma e estilo através de compassos, círculos, retas, curvas, sul e norte. Fundos e frentes, treliças e beirais, frontais, arames e rebocos, pregos e enchós, plainas e enxadas, colheres e brochas, e muitas escadas e andaimes. Tudo é argamassa que pronta e acabada, acentada toma forma e prumo, e torna o edifício de vida perfeita e imperfeita, com todos os verbos transitivos e intransitivos de amor e ódio, de ilusão e exclusão social. Arquiteto de casa de barro, de pedra, das pirâmides, das estátuas silenciosas das ilhas Galópagos. Das igrejas e santuários, dos castelos e fortalezas, das praças às vias e moradias, liceus, ateneus, teatros, senados, coliseus, big-bens, do Kremlin a Angkoc e Palácio proibido chinês, do Taj Mahal a Jerusalém, de Machu Pichu às ocas indígenas americanas e africanas, dos afrescos da capela Sistina a Versailles, de Brasília a Goiânia, de Aleijadinho a Gaudí, de Niemeyer a Le Corbusier, de Veiga Valle a Confaloni, de Attílio a Ana Maria Pacheco e Fernando Rabelo de todos os Arquitetos/as nativos e os que vieram de Belo Horizonte, de Brasília, do Rio de Janeiro, de São Paulo, e que forjaram milhares de atores e atrizes, construtores de novas cidades, novas, nestes tempos de quase sem cóleras, doenças e de muitas cóleras políticas. Tempos idos e vividos. Tempos e espaços com muitas pedras no meio dos caminhos, como dizia o poeta da cidade de pedra. Seja lá judaica, muçulmana ou budista e cristã. Arquiteto da Arquitetura da cidade primitiva, antiga, clássica, colonial, moderna, contemporânea, art nouveau, art decô. E de todos os estilos neos com gostos e desgostos, fios e desfios da vida e moradia índia, negra, branca, amarela e mestiça, nestas hegemonias mandadas pelos neos senhores das armas, das guerras, das terras, dos dinheiros, das fábricas de minas e de bombas, de Hiroshima e Bagdá. Arquitetos (concretos e abstratos, de planos, cortes, elevações sobre sombras, ângulos, luzes e ares, bons ares Buenos Aires) da casa e da cidade, sempre, inacabadas. Cidades, sempre da vida e da morte. Cidades e arquitetos das viagens para além dos jardins de nossas existências e que sucintam paixões e emoções, éticas e estéticas, confortos e mil mais de mil abandonos. Arquitetos de quebradiças oleadas silenciosas ou secas, rangentes que denunciam passageiros fugidios encobertos por segredos, amores irrelevantes, porque se relevantes não seriam revelados? Arquitetura do fundo do tempo que vem e vai. Da cidade que sobe e desce e que liberta e oprime de forma visível e invisível (Ítalo Calvino). Arquitetura de cenários reais, utópicos, de ficção e high-tech, que bate as portas batidas de um futuro certo e incerto, neste capitalismo selvagem de concretos armados urbanos. E mesmo rurais destes cerrados das cândidas águas de areias brancas, do rio que passa por nossas vidas. Outrora de mil Carajás e Xavantes, garças e peixes. Arquitetos, Arquiteturas 2 dos tantos operários da construção dos versos de Vinícius de Moraes, e da banda do quase arquiteto Chico Buarque. Arquiteto, Arquitetura, projeto, fotografia que define imagens, luzes e sensibilidades à flor da pele. Arquitetura, cidade que surge na Babilônia dos jardins suspensos e de todos os amores e pecados. Três, cinco, dez mil anos de história quando o homem, e certamente a mulher, face a um programa de necessidades, toma a argila, barro, areia, água, cinza, madeira, folhas, peles, lãs, algodão e misturados, separados, rasgados, amassados, fundados na pedra sobre pedra erguem, edificam, compõem, elevam, traçam e surgem moradas de deuses e de homens/mulheres. Buscam defesa, segurança, duração, proteção, conforto, reprodução, perpetuação crescente e contínua da espécie primata superior. E quando dominavam e cultuavam técnicas, fogos, metais, argamassas e engenhos em constante evolução, ultrapassam dilúvios, guerras, escravidões, preconceitos, sangues azuis, tiranias, frios, desertos, mares nunca dantes navegados, artes, ouros, pratas, diamantes. E ainda hoje invadem galáxias em novas odisséias do espaço azul de Gagarin e das mais de vinte mil léguas submarinas de nemos atômicos. Vai longe o homem, a família, o clã, o grupo, a tribo, a comuna, a aldeia, o feudo, o burgo, a cidadela, a cidade antiga e agora moderna capitalista e apropriadora da maioria dos resultados dos trabalhos e das obras, planos e projetos, edifícios e praças, paisagens e águas correntes. E de Arquitetos e outras categorias sociais viventes, apartadas da “mais valia” produzidas, do capital, dos juros, da sobra e do lucro. O arquiteto e a arquitetura da cor, da forma, da estrutura e do espaço, olham, fazem, assistem a construção progressiva da cidade apartada que concentra, diferencia, diversifica, acumula e cria realidades e sonhos. E de segregação com difusão de novos valores, culturas, estilos, planos, violências, vidas e muitas mortes e vidas neste século XXI. A cidade de ontem é a de hoje, e esta será a de amanhã? A história prossegue. A memória retém. A utopia espera. Esperança. O Arquiteto, a arquitetura e todos os companheiros de viagens como carpinteiros, eletricistas, encanadores, armadores, marceneiros, pedreiros, mestres e aprendizes de obras, encarregados, engenheiros, topógrafos, ajudantes, estão presentes nas obras, construções da vida de nossas cidades antigas e novas. E são novas? Novas para quem? Para os donos das terras dos sítios urbano e rural? Para os donos das leis, das necessidades e precisões, dos empreendimentos e promoções do capital, do poder que tudo pode e nada pode? Cidades saudáveis? Cidades de casas e casebres, de castelos e de catedrais, de palácios e paços, de fortes e casamatas, de guetos e vielas, e becos sem saídas, de cortiços e favelas, de condomínios e vilas operárias? E as janelas, portas, balaustradas, escadinhas, águas furtadas, ruas cruzadas! E os estábulos, fábricas, escritórios, escalas, parques, florestas, praias, rios, bancos, clarabóias, camas, mesas, cadeiras, armários. E tvs, cds, pvcs, Internets, celulares, livros, jardins, redes, cervejas, vinhos, escolas, hospitais, computadores, muros, cercas estritamente vigiadas de quem e para quem? 3 Todos/todas? Casas, cidades que hoje são vidraças ou vitrines para a humanidade peregrina na busca da terra prometida? Somos uma sociedade em redes? Vivemos tempos novos, albores de um novo milênio que produz a cidade e a guerra. Construir, destruir, desconstruir, matar, arruinar espaços, formas, cores, estruturas e vidas? Vidas pequenas, idosos, doentes, terroristas, invasores, ocupantes para depois o capital refazer, recriar novamente, para que, quem, quando, modo e estilo? Tristes sinas, ironias finas porque se mata e destrói cidades e vidas em nome de Deus, em oriente e ocidente. E logo Deus que significa em todas as línguas e tempos, amor? E os sonhos, lutas, visões, pesadelos, traumas, perdas, estragos, nos edifícios e nas almas de pecados veniais e mortais. E de inocentes e culpados olhares perdidos nas noites sujas das guerras declaradas ou não declaradas. Como ficarão as cidades, abertas ou fechadas, saudáveis ou insalubres? A verdade é que todos estamos perdendo senso e sensibilidade. A carne e a memória estão fracas. Nunca aprendemos com as guerras e as invasões barbaras que vem pelas forças brutas, ontem e hoje, e pelas ondas suaves das mediações e midiações das infovias, legalidades duvidosas, culturas e usos instigantes que penetram fundo em nossas vidas citadinas. Gente e vidas inteligentes, cidades e ruas de passeios que não parecem importar mais nada, mais ninguém, neste mundo globalizado, imperial, neoliberal, consumista, materialista e individualista. Na Arquitetura quase tudo é neo e pós. História, memória e utopia. Na paz e na guerra, enchemos as cidades e os seus seres viventes de coletes a prova de balas, máquinas nos arpéus e nos computadores, para dar vida e dar a morte certamente anunciada. E as mentiras, os vícios, as drogas, as conveniências, as indiferenças, as intrigas, os tráficos, as vaidades, os dízimos, os poderes e as intolerâncias estão sendo anunciadas em tipos garrafais para todos/todas as pessoas. E ficam à disposição de nossos escaninhos. Agimos, reagimos? Tudo nos traz e nos leva nestas cidades e vidas atomizadas, babelizadas, cheias e vazias de bombas. Para onde vamos? E quantos dilemas, paradoxos, paradigmas e inquietações temos diante da banalização do bem e do mal, na ultrajada cidade que exclui hoje bilhões de pessoas? E passamos muitas vezes ao largo. Passamos ao largo e comentamos mais as notícias quase todas ruins, da mídia atrás de ibopes pecuniários e nem temos tempo de ver nas paredes, telas e fotografias dos artistas D J Oliveira, Confaloni, Laerte, Virgínia, Amaury, Tai, Cleber, Sáida, Cirineu, Rosary, Fernando Simon. E nem lemos as teses da Márcia, da Diva, Heloísa, Selma, Celina, Lana, Adriana, Elane e Lúcia Moraes, e tantas e tantos outros. Nem pensamos em nossos diretores e professores de ontem e de hoje. Não temos tempos e mesmo espaços para os trabalhos dos alunos do semestre passado, que depois de lidos, vistos e anotados, são devolvidos. E nem mesmo os próprios estudantes os levaram para casa. Os seus trabalhos ficam sem uma releitura após avaliação. É só a nota? E o suor? E a criatividade? A inventividade? A cola? O ensino aprendizagem? A formação? 4 Arquiteto, arquitetura, sociedade e cidade deste século XXI, vocês sabem muito bem de cor e salteado, desde os tempos da escola primária. Agora vivemos um tempo em que tem gente aprisionando a cidade de Deus. Em cada esquina da cidade, tem um posto de gasolina, uma farmácia, um bar, uma casa lotérica, um banco, e igrejas vendendo Deus evangelicamente em troca de felicidade, dinheiro, saúde, paraíso fiscal, quase tudo falsificado e fraudado. Novas indulgências? É verdade que queremos a cidade saudável para todos. Para isso a partir da UCG - Universidade, da Escola Edgar Graeff, de nossas pranchetas, informatizadas ou não, de nossos lápis e papéis, de nossas idéias e projetos, devemos ajudar a criar, ou recriar, ilhas e continentes de casas, bairros, vias, cidades e regiões que rompam fronteiras. A primeira fronteira é ir além dos limites da universidade e da formação acadêmica, devendo ser municiados os alunos e mestres de armas e bagagens para a aventura do conhecimento, da teoria e da prática, da experimentação do estágio e de extensão criativa para produzir fatos e artefatos novos para a novel e exigida humanização citadina. A primeira fronteira é rompida, com os olhares insistentes, competentes, horizontais, críticos, fundados e solidários porque uma outra arquitetura e urbanismo na cidade é possível e desejável, urgentemente. Ela está sendo feita e é preciso descobri-la e ou reinventá-la e participar de sua meta trajetória. Trajetória da universidade e da cidade, objetos de nossos desejos e estudos, pesquisas e projetos, famílias, amizades e realizações. É preciso romper uma segunda fronteira que é ver a arquitetura e o urbanismo além da universidade e da cidade. Ver a região, os morros, as vias, as matas, os rios, as gentes e as faunas. Ver os veículos e as cidades vizinhas, presentes nestes planaltos cerradinos de mil biodiversidades e culturas populares que vão das casas curraleiras de pau-a-pique, de taipa, de adobe e de alvenaria simples ou complexas de Goiânia, de Pirenópolis (com os móveis de madeira de lei - do Roque), e dos barros dos artesãos, dos mestres e das doceiras, do Frei Marcos, Zé do Carmo, Goiandira, Hebe, Lurdinha da Vila Boa, da Serra Dourada, patrimônio da humanidade da universal Cora Coralina, da casa da ponte do Rio Vermelho da cruz dos anhangueras da vida e da historia duramente vivida por índios, negros e brancos. Arquiteto, arquitetura, sociedade, cidade. Ver longe, ver além de nossa morada, dos nossos interesses, da nossa obrigação e do nosso umbigo. Saber ver e olhar, escutar e ouvir. Falar e conversar, sentir e arrepiar. E cheirar todos os aromas e saborear todos os manjares, secos ou molhados, frios ou quentes; de nossa cidade coletora, caçadora, pescadora, agrícola, industrial, transformadora. Na segunda fronteira, deve-se ver a cidade e sua região, as regiões metropolitanas, conurbadas ou não, mas sempre interligadas por gente, trabalho, estudos, moradia, comércio, saúde, visita, transporte, lazer e sempre gente e muita gente. História, memória e utopia. Necessita-se de ver os direitos humanos. Ver lares e artes. Ver fé e esperança de um mundo melhor, uma nova globalização solidária. 5 Romper os limites das universidades, cidades, regiãos, biomas, culturas; é ir além daquilo que os olhos vêem, os corpos sentem, os ouvidos escutam e as narinas e as bocas com ou sem batom, deliciam. Assim rompendo os limites vamos ver outros biomas com seus sítios, culturas, geografias, histórias e sociologias. Queremos ser parceiros de rios e cidades bonitas. Outros países, mares, ares, Arquiteturas, cidades, metrópoles, mercados, serviços, artes, produtos, tecnologias, conhecimentos, técnicas, experimentos, extensões, estágios. E novas descobertas, criações para uma vida e uma morada citadina saudável e sustentável. E uma arquitetura qualificada e moderna. E assim encontrarmos a arquitetura que rompe fronteiras terceiras, ilimitadas, e que convive com cidades-jardins e cidades-favelas é o nosso compromisso. Cidades produtivas e cidades dormitórios, asfaltadas, alagadas, assaltadas, assombradas? assassinadas? Cidades para poucos e para muitos, cidades da ordem e do progresso, das paliçadas e tapumes, dos muros e cercas eletrificadas, verticais e horizontais, em condomínios ou vilas populares? Cidades dos concretos e das ecologias, dos bens estares e dos males estares modernos, vivenciados por todos nós ou apenas de nosso conhecimento crítico. Para muitos, entretanto, nada importa conhecer a realidade. Importa desconhecê-la, ignorá-la. Isto é possível e desejável? Não! Romper a terceira fronteira é universalizar a cidade. Arquitetos, mestres e aprendizes, todos nós somos desafiados a romper e continuar o passado, para pavimentar alamedas para o futuro que começa hoje com nossos víveres, desenhos, escrituras, análises, saberes, traços e querenças. Romper limites ilimitados. Não podemos aceitar mais tsunamis de mares e de terras que matam como mataram Dorothys, Wagners, Pedros, Chicos Mendes, Roses, Margaridas, Nativos, Joels, Tiãos da Paz, Josinos, Burniers e Simãos Bororos. Estes até conhecidos, mas e os desconhecidos ? Heróis da luta urbana e rural? É preciso não aceitar como simples fatalidades estes tsunamis. Como se tudo fosse obra de Deus. E Deus quer paz e solidariedade. Por isso fez assim a natureza exuberante em harmonia com a criação, evolução e cultura humana milenar, de modo crescente e ascendente, sustentável! É preciso atravessar o mar vermelho, o rubicão e todos os rios de nossas vidas. Ir para a outra margem da vida digna e respeitosa de ser vivida. Devemos ser pessoas com possibilidades de novas ondas de progresso citadino material, cultural e espiritual aqui e alhures, sempre. Afrontar todas as fronteiras quebrar e sem quebrar, o invento, o plano, a obra dialética. Queremos as mãos de Deus e da humanidade, da Arquitetura e do Arquiteto e outros profissionais a serviço da cidade, da cultura, da paz com justiça social. Chegamos do segundo milênio, e porque não chegar e avançar ao terceiro, face as necessidade, relatividades e as certezas da física social e da arquitetura? Às vezes queremos muitas urgências e perdemos as paciências e o próprio encontro da vida a dois, duas, dezenas e milhares de pessoas, famílias, tribos. E das comunidades e cidades, como morada do sol, eterna energia e sinergia, divinas. 6 O traço do arquiteto, do educador, do morador pode ser e será um ato e um objeto fantástico, se anelar tudo no projeto que liga a terra à água e faz da argamassa cidade, humana e solidária. Oxalá. História memória e utopia. Fazer renascer compromissos de Gropius e da Bauhaus, da conseqüente Escola de Frankfurt, de Gideon, de Wright, de Bardi, de Le Corbusier, de Lúcio, de Niemeyer, de Graeff, de João Filgueiras e dos milhares de profissionais, professores e alunos que forjam usinas, oficinas canteiros, laboratórios, ateliês, institutos, escritórios, universidades. E a própria cidade que rompe todas as fronteiras neste século XXI. Para o bem e a paz. Renascer a cidade nos planejamentos, nas artes e técnicas, nas interdisciplinaridades, nos cálculos e nas projeções arquitetônicas. E nas tecnologias para casas e edificações, bairros, cidades, regiões insulares e metropolitanas e todos os seus exigidos equipamentos e ferramentas, para a realização pessoal e social. Na vida vamos e voltamos. Quem somos de onde viemos e para onde vamos? Ter crítica e memória da história para construir utopias, sonhos e realidades. Cidadanias plenas de ética e estéticas. 2. Mais Reflexões Mais e mais reflexões são necessárias para vermos o quanto é bonita e grandiosa a aventura da Arquitetura e Urbanismo, do seu sujeito titular, o arquiteto. E da cidade nos tempos passados e nos tempos que chegam até o século XXI. Sim, arquiteto da união da arte e técnica com consciência e responsabilidade política e social. É falsa a oposição entre o saber técnico e o acadêmico. São complementares. Cada arte enseja outra arte. Cada técnica faz surgir outra através da teoria e da prática, que realiza o discurso e a construção, que pressupõem, pequenas ou grandes casas, simples ou complexas, conteúdos de beleza, leveza, conforto, cidades, sustentabilidade, composição, durabilidade. A Arquitetura é obra do artista, do operário, do desenhista, do escultor e do pintor de mil cores, tom sobre tom. Dos séculos passados aos séculos XVIII, XIX, XX e agora o XXI. Quantas revoluções construtivas, tecnológicas, inventivas, artísticas e materiais, tivemos do engenho humano e que romperam limites imaginários (Da Vinci - com ou sem códigos e Júlio Verne)? E esses sonhos vieram e refizeram escolas e ateliês, modos, estilos clássicos, coloniais, barrocos, art-nouveau, art déco, arte moderna e pós moderna. O ser humano, e, por conseguinte, os Arquitetos e sua Arquitetura construíram para cima (novos edifícios que rompem espaços além da babel bíblica), e para o bem com suas torres e minaretes religiosos, comerciais, residenciais, industriais e mesmo ilustrativos e recreativos. E para o mal, quando estão destruindo (para baixo) com terrorismos (torres gêmeas de 11 de setembro). E mais ainda com guerras e bombas em Bagdá das não mais mil e uma noites de Aladin, lâmpadas e gênios. Na verdade, 7 estão ficando os ali-babás e os trezentos, milhares de picaretas, senhores e senhoras da guerra dilacerantes de corpos e almas humanas, aqui e alhures. As respostas que a arquitetura e o seu sujeito histórico, o arquiteto, e outros membros das engrenagens construtivas buscam, estão ou devem estar nas necessidades e aspirações humanas. Estão nos direitos e deveres básicos da família, da sociedade e do estado democrático e republicano. E deveres mesmo hoje, das instituições locais e mundiais, para com cada cidadão/cidadã, face as vulnerabilidades e fragilidades das condições humanas (vítimas de agressões e exclusões continuadas). Feitas por motivações sociais, econômicas, pessoais e familiares. Por questões religiosas, étnicas e calamidades; e que por perigos e situações de riscos estão refugiadas, confinadas, deslocadas, expatriadas. Situações que ferem os direitos humanos universais e tratados de proteção à vida e a patrimônios culturais mundiais. Há ou devem haver nas cidades conluios, sentimentos de pertencimentos e acumpliciamentos de um e de todos face os fatores subjetivos e objetivos (regras, condicionamentos claros, abertos, gerais, democráticas, acessíveis, possíveis e realizáveis) da verdade e justiça na história da cidade. A técnica e arte devem ser sempre aliadas. A vida é ( sempre depois de ser aprumada, abrigada) ética (valores culturais e comportamentos). É estética (forma, cor, espaço, estrutura, beleza, desejo e prazer). É luz e sombra. É ou deve ser paz. As vidas humanas são, símbolos e signos, estilos, expressadas e consolidadas das artes e técnicas numa histórica datada, situada, reconhecida, registrada. Quem viveu, viu e quem viverá, verá muito mais Bach, Cervantes, Guimarães Rosa e Drummond. Bernardo Elis, Otto Marques, Santa Dica, Joaquim Edson, Brás Pina, Colemar Natal e Carmo Bernardes. 3. Reflexões – retorno e conclusões inacabadas Na cultura grega a palavra polis significa cidade e política. Vem de polis, política, cidade autônoma. Política em Aristóteles, tomada depois por Tomás de Aquino que refletiu que a política é a arte do bem comum. É o bem comum maior, antigo e presente, é a cidade. Política é ação do homem e da mulher na cidade das ágoras, ateneus, liceus, acrópolis, necrópoles, teatros, moradas, vias, ginásios, partenons. E assim nasce o conceito de cidade/estado, que significa autonomia, vivência, comuna/comunidade. Depois, vem e passa a ter outros significados face o poder, reinos/reis, que limitam a vida comum por controles legais e diferenciações sociais/classes. Daí a importância de retomarmos os conceitos da cidade romana, onde a palavra civitas quer dizer cidade e cidadania, com direito a justiça, prudência. Cidade é a sociedade dos habitantes participantes da urbe que são gentes e construções específicas e gerais (públicas - res pública. Assim a cidade deve estar sendo vivida e construída, em função do modo de ser, estar e ter na sociedade/moradores (humanidades e aspirações). 8 A cidade não é somente limite de relações de poder (visão verticalista, centralizadora), mas também e sempre, alianças comuns entre seus membros (relações horizontais) sociativos. No bem e na vida comum nasce o senso de democracia (gestão e participação) e de cidadania (gozo, prazer, conforto, satisfação) para todos. As tradições que chegaram às cidades medievais (vindas das cidades antigas e gregas) eram de que predominavam ali as relações comunitárias entre iguais, voluntárias e livres. A história registra estes conceitos que foram sendo destruídos pelas cidades feudais e capitalistas. E pelas dominações burguesas, pelas rotas de navegantes e as técnicas e as acumulações e os conhecimentos e os excedentes (que fizeram as desigualdades entre povos e nações), geraram cidades segregadas e excludentes, nestes tempos modernos. Na teoria o bem comum da cidade é superior aos bens individuais. Na prática, muitos capitalistas das cidades nos últimos três séculos ultrapassam as formulações de cidades saudaveis de Aristóteles, Vitruvius, Veggio, Tomás de Aquino, Giorgio, Martini, Filareto, Gydeon, F. L. Wright, Howard, Gropius, Kandinski, Gaudí, Castells, Corbusier, Niemeyer, Lúcio Costa, Atílio e Graeff, que com seus conceitos e atos projetaram propostas para cidades de bem viver. bem viver nas cidades. A luta destes baluartes por uma cidade bela, boa, beneficiária ajudaram a construir casas, prédios, palácios, arranha-céus, torres, igrejas e cidades. Agora o que se viu e que se vê na história das cidades (Mumford, Geddes, Bárbara Freitag, Lefbvre, Malta, Nestor Goulart, Florestan, Luiz Pereira, Milton Santos, Pierre Geogre, Horieste Gomes, G Casé, Vasconcelos) é outra realidade. São outras realidades mais ainda e sempre aquem das propostas e críticas feitas por Artigas, Demetrio, Machado, Kneese, Meyer, Wilhein, Gregori, Warchavschik, Rino Levi, Luiz Saia, Armando Godoy, Miguel, Britto, Coutinho, Bica, Mendes da Rocha, Bernardes, Ermínia Maricato, Joaquim Cardoso, Jorge, Raquel, Luiz Fernando. E ainda de Germanas, Olmos, Gledsons, Maitês, Carolinas, Anas, Giovanes, Leos, Diogos, Jacquelines, Josés, Joãos, Paulos, Pedros, Lúcias, Helenas, Joanas e Marias, que com muitos, milhares de jovens arquitetos e estudantes se lançam com criatividade e inventividade na aventura de idear e projetar objetos, casas, edifícios, conjuntos, vilas, bairros, cidades para a paz, conforto e bem de todos neste terceiro milênio. E agora José, Confaloni, Amauri, Elder, Adelmo, Rabelo, Horta, Lanuzza, Ruy, Cristobal, Lenine, Jacira e Sérgio, Antônio Manoel, Marisa, Renato, Ilza, Dirceu, Pedro, Deusa, Ênio, Sinval, Hélio, Suzi, Silvio, Carlos, Pente, Alda, Everaldo, Ivan, John, Emanuel, Caiubi, Benedetti, Zezinho, Walmir, Aroldo, Jamary, Lorena, Vânia, Paulo, Ricardo, Flávio, Fernanda, André, Luiz, Mirian, Fábio, Filomena, Terezinha, Almeri, Sonia, Wagner, Angellina, Solimar, Elias, Eduardo, Ariel, Melquides, Francesca, Roberto, Pardal, Marcos, Marcelo, Cristina, Xinha, Gustavo, Jamil, Auxiliadora, Vilma e muita gente extraordinária. São arquitetos desta escola Edgar Graeff e de cidades. Gente que veio e que foi, gente de todas as paciências e firmezas por uma cidade nova. Gente da América Latina/Brasil/ Goiás. 9 História, memória e utopia. E ao cabo desta aula magna vamos inaugurar e reinventar novas aventuras. Aventuras abertas às vidas vividas nas cidades autoras e/ou vítimas das felicidades e atrocidades da história de dez mil anos. E mesmo assim chegamos no 3º milênio. E porque estas cidades? Porque estes cálices? E quem é esta mulher e este homem que souberam fazer cidades e seus objetos, certamente, saberão refazer e harmonizar os espaços urbanos. Hà urgências. Há necessidades. Há certezas e incertezas. Não existe profissão ou cidade acabada. Existem desafios constantes nos processos da historia que nos é dada viver, trabalhar, estudar, projetar, realizar mais e melhor. Precisamos aprender muito com a história da cidade, e de seus moradores. Tirar partido e proveito para continuar a ter utopias de arquitetura e urbanismo. Neste século XXI buscar a construção de uma cidade de solidariedade e paz com justiça social, com desenvolvimento sustentado. É preciso despertar a atenção de todos porque muitas coisas estão acontecendo. Despertar a atenção para as principalidades e as prioridades verdadeiras no curso dos acontecimentos que estamos vivendo e participando. Despertar a atenção e interesse e desejos para as nossas idéias, projetos e propostas a serem consideradas, levadas em conta e assumidas. Para tanto, saber convidar, atrair, alegrar, oportunizar, priorizar e interessar. Além de atenção, interesse e desejo, despertar ação crítica por uma cidade e uma arquitetura, novas, para todos. Assim e sim o arquiteto, mestre e aprendiz, com seu suor e inteligência, criatividade e dedicação, capacidade e competência, inspiração e suação, junto da grei e de outras greis, torna ele autor e ator, sujeito da construção da cidade. Ele torna um construtor de cidades, protetor da natureza e participante de uma história nova. Cidade Nova para todos. Cidade Nova para todos e todas. Torna ele construindo um objeto, um desenho, um projeto, uma casa, um plano, uma cidade, imensamente responsável, pelos desafios e pelo destino, agora e sempre de homens, mulheres, famílias, comunidades com eiras e sem beiras, presentes neste século XXI. Os Arquitetos são desafiados a serem protagonistas da História, ter sempre memória, utopia para romper barreiras, fronteiras, muros, cercas, e abrir assim alamedas para a vida digna da moradia de qualidade de vida. Nada é fácil, mas um outro mundo é possível se todos nós moradores e construtores da cidade tivermos consciência e ação, organização e determinação para respondermos presentes a uma saudável, democrática e plena vida de cidadania para todos. Cidade/cidadania. Todos somos chamados para romper fronteiras da cidade/universidade, da cidade/região metropolitana, da cidade/ campo, e da cidade/nação. E a sociedade/mundo busca crescente e ascendente globalização solidária, com paz e justiça social. Busca realizar uma cidade que favoreça com suas luzes e sombras, a vida com toda a flora, fauna, bioma, biodiversidade. E legado cultural da humanidade vinda da Babilônia Mesopotâmica às megalopólis contemporâneas como Cidade do México, Tóquio, Xangai, Goiânia, Nova Iorque, Paris, Roma, Atenas, Brasília, Bueno 10 Aires, Cairo, Londres, Olinda, Porto Alegre, Lisboa, Berlim, Jerusalém, Argel, Nairobi, Barcelona, São Paulo e Rio de Janeiro. Desejamos as mudanças e queremos ser as mudanças para e do mundo. Desejamos ser e querer ser o meio ambiente saudável. Queremos mudar o mundo dos outros e nossos? Queremos mudar o mundo a partir de nossas casas, terras, águas, artes, cidades ou a partir dos outros/outras? Como andam nossos conhecimentos e ações , e as políticas públicas sobre a Agenda 21, Planos Diretores, Planejamentos Urbanos gerais e/ou setoriais (Planos Plurianuais, Lei de Diretrizes Orçamentárias, Leis do Orçamento Anual, Códigos, Leis e regulamentos e Orçamentos Participativos. E sobre as nossas responsabilidades e participações em fóruns, conferencias, congressos, conselhos, comissões, grupos de trabalho, câmaras, audiências públicas, plenárias, parcerias, assessorias, consultorias, consórcios, convênios, acordos, protocolos, e projetos públicos, sociais, comunitários e privados, que ajudam com concretude a melhorar nossas vidas, cidades, universidades, movimentos civis, sociais e culturais, nossos povos e nações e nosso planeta terra água ) e suas implementações, avaliações e resultados? Na verdade, custe o que custar e na justiça, doa a quem doer, estão as ferramentas para a construção da cidade nova (gestão e participação democrática). História, memória e utopia. As ferramentas teóricas e práticas, estão ao alcance de conservadores, revolucionários, reformistas, anarquistas, para a reflexão e ação na história que vivemos e queremos de nossas cidades. Oxalá. Planejar é preciso. Fazer também é necessário. E sejamos amanhã melhores que hoje. Paz e bem. Estejamos às alturas e alertas, interessados e comprometidos com projetos e as propostas, mais e melhores, para uma cidade de todos passageiros destes tempos e espaços urbano e rural, do século XXI. No Brasil e no mundo. Goiânia - Escola Edgar Graeff, 10 março de 2005. 11