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III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens SIMPOSIO Nº 33: ACCIÓN COLECTIVA Y TERRITORIALIDAD: DINÁMICA, PRÁCTICAS, SIGNIFICADOS Y ABORDAJES COORDINADORES 1. Dra. Celia Cristina Basconzuelo (UNRC, CONICET, Argentina) [email protected] 2. Magister Agripino Coelho Neto (UNEB, Brasil). [email protected] 3. Lic. María Virginia Quiroga. (CEA. Argentina) [email protected] 4. Prof. José David Buelvas Bruno (UPB, Colombia) [email protected] LISTADO DE PONENCIAS 1) AUTORES: Ana Margarete Gomes Da Silva y Agripino Souza Coelho Neto PONENCIA: Educação do campo e territorialidade: uma análise do assentamento menino Jesus INSTITUCIÓN: Universidade da UNEB PAÍS: Brasil MAIL: [email protected]; [email protected] Introdução A partir da década de 90, a educação do campo tem se tornado um tema crescentemente incorporado à agenda das pesquisas educacionais e se constituído em pauta das discussões dos movimentos sociais do campo no Brasil. A evidência que o tema recentemente assumiu na realidade brasileira foi protagonizada pelos trabalhadores do campo e suas organizações sociais, visando incidir sobre uma política de educação de modo que possa atender aos interesses e necessidades das gentes do campo, em contraposição ao projeto 1 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens societário e de educação, que se afirma historicamente, sustentado por um “desenvolvimentismo econômico desigual e combinado” (FERNANDES, 1973), e marcado por uma aliança dependente e subordinada da burguesia brasileira com os centros hegemônicos do capital. Essa perspectiva, tem como resultado, a combinação de nichos de alta tecnologia, elevados ganhos do capital, estúpida concentração de renda, superexploração do trabalhador, exacerbada concentração fundiária, que expulsou e continua expulsando o homem do campo para as periferias dos grandes centros urbanos, em nome do “nacional desenvolvimentismo conservador e excludente, que ao contrário de uma ruptura com a classe dominante e seu projeto societário, governa condicionado por ela” (FRIGOTTO, 2010, p. 27). Nesse cenário histórico de desigualdades no Brasil, tanto no que se refere ao acesso e a permanência na terra, quanto ao acesso aos bens culturais, eclodem movimentos sociais, como no caso específico o MST, (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), constituindo-se como uma alternativa de luta contra os processos de exclusão e de expropriação dispensados ao homem do campo (que remonta aos tempos da colonização e perdura até os dias hoje), pelo direito à terra, pelos menos favorecidos, principalmente os povos do campo, que sempre receberam uma educação urbanizada, que não respeita seus modos de viver, pensar e produzir seu espaço. Ao contrário disso, se ofereceu uma educação instrumentalizada, reduzida a demandas educacionais voltadas aos interesses mercadológicos, tratados como mão de obra barata produtora de mais valia para a reprodução do modo de produção capitalista. Nesse sentido, a luta pela terra é uma luta de (re)socialização e de desenvolvimento territorial, e se constitui no campo das possibilidades dos processos de transformação da sociedade, e não no âmbito de uma política compensatória, como foi o caso de mais de quinhentos anos de história do Brasil, haja vista que, todos os governos, até então, conceberam a reforma agrária como política compensatória, de forma que a maior parte dos assentamentos foi implantada atendendo ás pressões dos movimentos camponeses. 2 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Nesse contexto, além da luta pela terra, o MST começa também a lutar por escolas e por uma educação que lhes atenda aos anseios. “No começo, não havia muita relação de uma luta com a outra, mas aos poucos a luta pelo direito à escola passou a fazer parte da organização social de massas [...]” (CALDART, 2009, p. 91). A priori os sem-terra acreditavam que organizar-se para lutar pela escola era apenas mais uma de suas lutas por direitos sociais, mas logo perceberam que se tratava de algo mais complexo, e que somente teriam lugar na escola se buscassem transformá-la. Foram percebendo aos poucos, que a escola que foi pensada e implantada no campo, não contemplava as lutas e necessidades das gentes do campo, porque sua estrutura formal não permite o seu ingresso, ou porque sua pedagogia desconhece suas realidades, seus saberes, suas formas de aprender e de ensinar e estabelecem como principal bandeira de luta, além da Reforma Agrária, a luta pela escola. Nesse sentido, o processo de construção de uma escola diferente, ampliou sua condição de direito, tornando-se uma exigência estratégica. O desejo de estabelecer novas relações de produção no campo, de construir um país mais justo e com mais equidade social para todos, exige uma preocupação com a transformação das instituições históricas como a escola, em lugares que ajudem a formar os sujeitos dessas transformações. ”Foi assim que começou a dizer no MST que se a Reforma Agrária é uma luta de todos, a luta pela educação de todos também é a luta do MST [...]” (CALDART, 2009, p. 94). A educação dos sem-terra do MST começa com o seu enraizamento em uma coletividade, que não nega o seu passado mas projeta um futuro que eles mesmos poderão ajudar a construir” (CALDART, 2009, p. 97) A escola não transforma a realidade, mas pode ajudara formar os sujeitos capazes de fazer a transformação, da sociedade, do mudo, de si mesmos. Diante do exposto, o presente texto encontra-se estruturado em três seções: partimos da discussão sobre a Educação do Campo, contextualizando seu surgimento a partir das articulações, demandas e aspirações de movimentos sociais do/no campo em contraposição ao modelo hegemônico urbano-industrial. Em seguida, empreendemos um esforço de leitura do Assentamento Menino Jesus, caracterizando a natureza do conflito que tem na escola seu centro de gravidade e distinguindo os projetos defendidos pelos dois agentes sociais 3 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens (assentados e poder público municipal) e suas lógicas subjacentes. Ao final, sem a intenção de apresentar respostas acabadas que costumam fechar o debate, esboçamos um conjunto de proposições cujo objetivo é oferecer pistas para compreensão da realidade objetivada nesta pesquisa: propomos pensar a disputa pela escola como um processo de construção de territorialidade que se manifesta na luta pelo controle (material) e apropriação (simbólica), do espaço. Educação do campo x educação para o/no campo: contextos, concepções e conflitos políticos, ideológicos e teóricos O debate em torno da Educação do Campo tem se caracterizado por uma construção conceitual recheada de contornos políticos e ideológicos marcados por uma aberta oposição a outrora prevalente concepção de educação rural. Nessa direção, a educação do campo vem reforçando alguns elementos constitutivos que particularizam a realidade do campo, retomando conteúdos de uma identidade camponesa. Segundo Calazans (apud RANGEL e CARMO, 2011, p. 206), os modelos de educação rural começam a surgir a partir dos anos 1930, baseando-se nos projetos de modernização do campo, sendo “[...] patrocinados por organismos de cooperação norte-americana e difundidos por meio do sistema de assistência técnica e extensão rural”. Desse modo, tratar-se-ia de uma educação para o meio rural inspirada pelo modelo de vida urbano, afastando-se das especificidades que carregam os saberes e valores do campo. Ribeiro (1985) apresenta uma grave implicação da adoção do modelo de escola urbana no meio rural, geralmente implantada de forma precária. Os efeitos destacados pelo autor informam dois aspectos nocivos da mesma problemática: a educação rural (com feição urbana) não cria as condições para permanência na vida do campo, por um lado, e não prepara para o mundo urbano do trabalho, por outro: [...] mesmo para as famílias que enviam seus filhos para a escola rural, o ensino feito através desta escola não os prepara para permanecerem na terra. Toda a política para educação 4 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens rural tem se restringido a oferecer um arremedo da escola urbana, que nem habilita os filhos dos agricultores para dar continuidade às lidas dos pais, nem os qualifica para os empregos urbanos (RIBEIRO, 1985, p. 3). A despeito das discussões da década de 1990 problematizarem a adoção de modelos educativos urbanos para o contexto rural, os documentos referenciais fundamentais continuaram reproduzindo esse equívoco, como atesta a avaliação de Fernandes (1999) sobre o conteúdo dos Parâmetros Curriculares Nacionais, publicado em 1998: A política de educação que está sendo implantada no Brasil, por meio dos Parâmetros Curriculares Nacionais, ignora a necessidade da existência de um projeto para a escola rural. Mas, o que vem sendo um ponto agravante, é o fator regulador da qualidade de educação. Educação do campo é vista a partir de uma ótica determinista [...] Um determinismo históricogeográfico que legitima a existência de uma concepção de que a escola urbana é melhor, superior a escola rural (FERNANDES, 1999, p. 65). Frigotto (2010, p. 35), arremata essa critica, apontando outros argumentos que caracterizam a educação imposta ao campo, destituída de elementos que assumam as demandas e especificidades que ele requer: Educação escolar para o campo consiste em estender modelos, conteúdos e métodos pedagógicos planejados de forma centralizada e autoritária, ignorando a especificidade e particularidade dos processos sociais, produtivos, simbólicos e culturais da vida do campo. As preposições para, no e do campo, não se diferenciam apenas, no campo da semântica, ao contrário, expressam, na história da educação de homens e mulheres do campo, por um lado, processos educativos alienantes e mantenedores da ordem do capital, e por outro, processos educativos emancipatórios. A Educação para o campo e no campo expressam as concepções e políticas do Estado, ao longo de nossa história, que se alinham à perspectiva de uma educação extensionista ou na perspectiva do ruralismo pedagógico. 5 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Em contrapartida, segundo Munarim (2010, p. 10), “a concepção de Educação do campo foi forjada a partir da luta pela terra e por políticas públicas empreendidas pelos movimentos e organizações sociais do campo”. O principal berço de origem dessa concepção de educação é a luta dos trabalhadores rurais sem terra, que desde o início da década de 1980, reivindicam escola pública para os acampamentos e ou assentamentos da Reforma Agrária. A partir da segunda metade da década de 1990, o Movimento Sem Terra, e, posteriormente as organizações sindicais vinculadas à Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais (CONTAG), bem como outras organizações e movimentos sociais fazem da educação escolar uma questão destacada em suas pautas. O surgimento da expressão “Educação do Campo” pode ser datado. Nasceu como Educação Básica do Campo no contexto de preparação da I Conferência Nacional por uma Educação Básica do Campo, realizada em julho de 1998, na cidade de Luziânia (Goiás-Brasil). Passou a ser chamada Educação do Campo a partir das discussões do Seminário Nacional realizado, em novembro de 2002, na cidade de Brasília (Distrito Federal-Brasil), decisão posteriormente reafirmada nos debates da II Conferência Nacional, realizada em julho de 2004 (CALDART, 2012). A Educação do Campo aparece pela primeira vez em documento oficial normativo através da Resolução CNE\CEB n 2, de 2008. A referida expressão, no aparelho de Estado, substitui, ainda que parcialmente, a expressão “Educação Rural”, não obstante esta última denominação permaneça nas estatísticas oficiais e na maioria das políticas governamentais em andamento. Nessa luta contra-hegemônica, é lugar comum nas práticas de elaboração da concepção de “Educação do Campo” se tomar o escopo da “Educação Rural” como referência a ser superada teórica e politicamente. Com efeito, supostamente contrária à sua essência, haja vista que a Educação do Campo, reivindica o sentido de educação universal e, ao mesmo tempo voltada à construção de autonomia e respeito às identidades dos povos do campo, como por exemplo: os camponeses, os quilombolas, os indígenas, os pescadores, os caiçaras, os caboclos, os boias-frias, os seringueiros, os povos da floresta, os caipiras, os peões, os lavradores, os posseiros, os sem terra, os roceiros, os sertanejos, os mineradores, etc., sem, contudo, propor uma nova hegemonia. 6 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Nessa perspectiva, a concepção histórica de educação do campo procura defender os interesses, a política, a cultura, o modo de viver e produzir a economia da agricultura camponesa. Segundo Fernandes (1999), a expressão campo, é usada com o objetivo de refletir sobre o sentido atual da palavra camponês e das lutas sociais e culturais dos grupos que hoje tentam garantir a conquista e ou (re)conquista da terra, bem como o acesso aos bens culturais, técnico e tecnológico, articulados à mudanças radicais no projeto societário do capitalismo dependente do Brasil. Em contrapartida às duas concepções anteriores (Educação para o campo e educação no campo), a denominação de Educação do Campo confronta a perspectiva colonizadora extensionista, localista e particularista com as concepções e métodos pedagógicos de natureza fragmentárias e positivistas. Trata-se de uma concepção de educação que possui princípios próprios, peculiares às necessidades, crenças, valores e, sobretudo, orientação política que pensa um projeto de sociedade para além do capital. O projeto societário e educacional defendido e lutado na prática pelo (MST) engendra o gérmen mais avançado da luta contrahegemônica hoje no Brasil, não só para a educação do campo, mas para a classe trabalhadora no seu conjunto. (FRIGOTTO, 2010). Para finalizar essa seção,e a título de uma compreensão mais didática, faço uma pequena distinção das três concepções e ou características de educação no campo, para o campo e do campo, através do quadro sinóptico abaixo: QUADRO 1: ELEMENTOS DISTINTIVOS ENTRE AS CONCEPÇÕES E FAZERES DA EDUCAÇÃO PARA O/NO/DO CAMPO BRASILEIRO EDUCAÇÃO EDUCAÇÃO EDUCAÇÃO PARA O CAMPO NO CAMPO DO CAMPO concepções políticas defendidas pelo Estado na concepções políticas defendidas pelo Estado na processo de construção de um movimento social e de um 7 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens perspectiva de extensão ruralismo pedagógico; ou perspectiva de extensão ruralismo pedagógico; ou modelos de conteúdos e métodos pedagógicos planejados de forma centralidade e autoritária; sentido extensionista; crescente dimensão do localismo e particularismo; ignora a especificidade e particularidades dos processos sociais, produtivos, simbólicos e culturais da vida do campo; negação de uma educação escolar universal possível do conhecimento em todas as áreas da vida humana. sujeito social e político que disputa um projeto social e educacional contra- hegemônico; processo educativo articulado com a luta por uma nova sociedade, que contemple processos formativos mais amplos (ciência, cultura, experiência e trabalho); pedagogia para além da escola; escola enquanto espaço fundamental na relação entre o saber produzido nas diferentes práticas sociais e o conhecimento científico; parte da singularidade e particularidade de homens e mulheres que produzem suas vidas no campo. Fonte: Adaptado com base em Frigotto (2010). Conflito pela terra e pela escola no Assentamento Menino Jesus - Água Fria (Ba) De acordo com o grupo de pesquisa GeografAar,o MST na Bahia, organiza-se politicamente em 8 (oito) regionais. O assentamento Menino Jesus localiza-se na Regional Recôncavo, a qual abrange o Recôncavo e parte do Semi-árido Baiano, região de grandes latifúndios e de constante confronto agrário. Sua origem se remete a dezembro de 1998, quando 120 famílias ocuparam a fazenda Paracatu, antiga fábrica de artefatos de sisal falida há 12 anos. O assentamento localiza-se no município de Água Fria, aproximadamente a 160 km da cidade de Salvador. Possui uma área de 13.000 hectares, sendo 900 com plantação de eucalipto (hoje na segunda safra, segundo depoimento do assentado Valteir Pereira Costa), e não está sendo reflorestado. Chegou a ter 500 famílias no período de ocupação, depois da avaliação do INCRA em 2003, 185 famílias foram assentadas nestas terras, ficando cada assentado registrado com uma média de 40 hectares para o lote e um hectare para a agrovila. No entanto, conforme declaração da associação de moradores, atualmente as terras são utilizadas por 212 famílias. O assentamento está estruturado com uma agrovila com 8 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens aproximadamente 212 casas, construídas à margem da Avenida Brasil, via que corta o referido assentamento, sendo seu acesso principal. A velha estrutura da fazenda serve de espaço para a sede da Associação dos assentados, para a Igreja, posto de saúde e para a escola. De acordo com depoimentos dos assentados, no início do ano de 2008, foi realizada uma festa pra comemorar mais uma grande conquista: a construção do prédio escolar nos padrões estabelecidos pelo movimento da Educação do Campo do MST. Porém, no final mesmo ano, os assentados foram surpreendidos com uma visita do prefeito e da secretária de educação municipal, informando sobre dissociação da gestão da escola e do assentamento. No dia seguinte, todos os professores do assentamento, que eram formados pela pedagogia social, tiveram seus contratos suspensos. Na mesma data, professores aprovados em um concurso público foram nomeados para a escola do assentamento, que hoje consta de 8 (oito) professores e 2 (duas) colaboradoras para serviços gerais. A partir daí, o conflito foi estabelecido e, logo todas as fechaduras da escola foram trancadas e as chaves entregues para a nova direção. Segundo a frente de educação do assentamento, tais mudanças têm desconstruído toda uma história que segue uma longa trajetória do assentamento, provocando mudanças, principalmente no comportamento das crianças, que não têm mais interesse pela escola. Saliento ainda, que o currículo atual não tem nenhuma relação com o “modelo” de educação defendido pelos assentados, que são os agentes sociais que produziram e produzem o espaço no assentamento. Mesmo sendo a escola Municipal desde a sua origem, a sua gestão administrativa e pedagógica era realizada pelos moradores do Assentamento. Ainda de acordo com alguns depoimentos, geralmente os professores faltam às aulas, ou quando vão, saem muito cedo por questão de transporte. No entanto, os grandes problemas identificados são relacionados à ação didático-pedagógica da unidade escolar, que apresenta um currículo estipulado por resoluções governamentais e com vistas à realidade urbana, com estruturação didático-metodológica deficiente. O calendário escolar encontra-se em 9 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens dissonância com a sazonalidade da produção agropecuária. Inexiste uma orientação técnica e acompanhamento pedagógico e de material de apoio para alunos e professores. E, também no que se refere à participação da comunidade no processo escolar, a escola impõe regras que gera um grande distanciamento dos pais, contribuindo ainda mais para desvincular a escola da comunidade em que está inserida. Nesse sentido a formação política é um mecanismo de luta para a realização do processo de gestão do Movimento. Tais mecanismos, também, perpassam pelo processo educativo proposto pelo MST que, ao definir sua proposta de trabalho educacional, procurou aliar a educação ao trabalho, na perspectiva de possibilitar uma formação para suas lutas e sua organização. A proposta pedagógica do MST não é, na prática, uma apropriação da proposta educacional de Paulo Freire acompanhada das orientações pedagógicas de pensadores como Makarenko, Piaget, Martí e Che Guevara (CALDART, 1997). Além de adotar uma postura educativa que tem por base esse ecletismo metodológico, através da inspiração de vários educadores de vertentes diversas, o MST inova também no conceito de escola pública, entendendo que esta deva ser mantida com recursos públicos (estatais) e orientada pelos interesses da comunidade. Para o Movimento, o fato de a educação ser um dever do Estado não pode significar que a direção da escola pública deva ser reservada exclusivamente ao Estado, pois esta tem que estar a serviço da comunidade e é ela quem melhor identifica suas necessidades (CALDART, 1997). A Escola exerce um importante papel na Pedagogia do Movimento porque constitui-se num espaço propício para o desenvolvimento de atividades educacionais e culturais voltadas para a população do campo, podendo tornar-se um “lugar social” de reflexão acerca da realidade e de troca de experiências entre os trabalhadores rurais, tanto na discussão da política agrária, quanto na busca de reafirmar uma possível identidade camponesa. É por isso que a luta por escola teve início praticamente junto com a luta pela terra. O lugar dela, no entanto, foi, aos poucos, e ainda vem sendo redimensionado: “primeiro ela foi construída como um direito, e aos poucos ela vai sendo construída como um lugar onde também pode acontecer a formação do sujeito Sem Terra” (CALDART, 1997, p. 220). 10 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Esse movimento de formação dos Sem Terra, não tem, porém, lugar na escola cujo modelo pedagógico é fechado assim como também o é o método de ensino e estruturas. A escola em que cabe a pedagogia do movimento e que tem um lugar cada vez mais importante na intencionalidade pedagógica do MST possui muito mais um “jeito de ser escola uma postura diante da tarefa de educar, um processo ou um movimento pedagógico, um ambiente educativo que justamente seja capaz de produzir e reproduzir o Movimento como princípio educativo” (CALDART, 2004, p. 221). Diante do exposto, a auto-organização, auto-gestão e autodeterminação dos assentados, frutos da formação do MST, encontra-se num verdadeiro conflito, crise e tensão, se confrontando com uma lógica que responde por um modelo de escola hegemônico e a lógica defendida pelos assentados, calcada na autonomia e alteridades dos sujeitos sociais que produzem e reproduzem o espaço, do referido assentamento. Essa situação trouxe implicações para a estruturação político-social do assentamento, as quais podem ou não se materializar gerando novas territorialidades, a partir da escola. Deste modo, observa-se que o assentamento se consolida como um território de luta e resistência não mais pela terra e sim pela soberania e manutenção de um movimento que tem se afirmando concretamente na possibilidade de construção de uma contra-hegemonia, inclusive no campo da educação, sobretudo por ser o movimento de trabalhadores rurais que, junto a outros, têm obtido êxito na territorialização da luta social que empreendem (FERNANDES, 2001) e, com isso, indicando a possibilidade de ampliação ao acesso dos bens culturais como formas de construção de um projeto histórico superador da ordem do capital. Considerações abertas: proposições para o debate Os assentamentos rurais podem ser concebidos como territórios rurais (re)conquistados através da luta pela terra e como componente de afirmação e sobrevivência das mais variadas populações do campo. Esse nos parece o eixo central da luta pela 11 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens territorialização do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), deflagrado por todo o campo brasileiro. A territorialidade tem se constituído numa bandeira dos movimentos sociais que lutam pela terra, sendo incorporado como estratégia socioespacial dessas lutas. Na recente história das lutas no campo brasileiro, proliferam os exemplos do acionamento da territorialidade como conteúdo que amplia a luta não somente pela terra, mas, implica num esforço de assegurar um modo de vida, pautados em valores culturais específicos e numa forma de conceber o mundo e conferir significação à terra. Nas duas três décadas, as discussões sobre a territorialidade têm ampliado as possibilidades do conceito, em sua tarefa de compreensão de mundo. A categoria território se libertando de sua concepção original clássica (a manifestação clássica do Estado-nação), e sendo pensada a partir de suas múltiplas escalas de manifestação. Desse modo, multiplicam-se as possibilidades de apreensão dos fenômenos que se realizam através da relação espaçopoder. As territorialidades passam a ser pensadas numa perspectiva de multiescalaridade, como no caso dos assentamentos, como microescala de manifestação das relações de poder no espaço. O debate sobre o conceito de território apresenta outro conteúdo relativamente novo (ou pelo menos recentemente aceito como possibilidade): trata-se da perspectiva de considerálo como multidimensional. Haesbaert (2004) sintetizou essa discussão ao considerar que o território contempla ao mesmo tempo uma dimensão material (que reflete no processo de dominação e controle do espaço) e uma dimensão simbólica (considerada a partir dos processos de apropriação). Esse nos aprece um veio interessante para pensar o conflito pela escola do Assentamento Menino Jesus. Não se trata apenas da disputa da escola como espaço a ser controlado materialmente, mas como um espaço apropriado pelos assentamentos como portador de valores e de uma compreensão de mundo. Os valores e saberes que nela se difundem são fundamentais para a reprodução social dos grupos e para assegurar seus modos de vida e sua continuidade. 12 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens A partir desses apontamentos ainda bastante preliminares uma série de questões se coloca como pistas para o aprofundamento da pesquisa e reflexão: Em que medida pensar a escola como território controlado e apropriado pelos assentados contribui para compreender a luta que se trava no Assentamento Menino Jesus? Como o embate entre as duas concepções de educação se manifestam no assentamento? Quais os conteúdos e significados desta disputa por modelos de educação? É na perspectiva muito mais de abrir o debate que apresentamos essas questões para reflexão. Referências CALDART, R.S. A Escola do Campo em Movimento. In: ARROYO, M. et. al. (Orgs). Por uma Educação do Campo. 4 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009, p. 89-131. CALDART, R. S. Educação em Movimento: Formação de Educadores e Educadoras no MST. Petrópolis: Vozes, 1997. _______. 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Projeto societário contra-hegemônico e educação do campo: desafios de conteúdo, método e forma. In: MUNARIM, et. al. (Orgs). Educação do campo: reflexões e perspectivas. Florianópolis: Insular, 2010 p.19-46. HAESBAERT, R. O Mito da Desterritorialização. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004. MUNARIM, A. Educação do Campo: desafios teóricos e práticos. In: MUNARIM, et. al. (Orgs). Educação do campo: reflexões e perspectivas. Florianópolis: Insular, 2010, p.9-18. RANGEL, M.; CARMO, R. B. Da educação rural à educação do campo: revisão crítica. Revista da FAEEBA, Salvador, v. 20, n. 36, jul/dez., 2011. RIBEIRO, C. de J. História de uma escola para o povo: projeto João-de-BarroMaranhão. São Luís: UFMA, 1985. 2) AUTORES: Brena Costa de Almeida y Clarissa Moreira Quelhas PONENCIA: Os Processos de Identidade e Territorialidade do Quilombo da Rasa/Búzios INSTITUCIÓN: Universidade Federal Fluminense PAÍS: Brasil MAIL: [email protected]; [email protected] Introdução: O processo de emergência das Comunidades Remanescentes de Quilombo será aqui abordado por meio de fios de distintas nuances que se entrelaçam revelando uma trama articulada nas experiências reunidas na comunidade da Rasa, no município de Armação dos Búzios no Rio de Janeiro. A pesquisa de campo, ainda em fase de desenvolvimento na comunidade, revelou a territorialidade e a identidade étnica como chaves principais para 14 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens compreender como se constitui a autoatribuição desse grupo em um contexto de luta política por reconhecimento e conquista de direitos territoriais. Inúmeras lutas sociais e políticas que antecederam e fizeram parte da constituinte na década de 1980 ganharam expressão em diversos dispositivos da Constituição Federal de 1988 e é nesse contexto que surge o artigo 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias que confere direitos territoriais aos remanescentes das comunidades dos quilombos, tal artigo é regulamentado pelo decreto 4.887/2003. Além do referido dispositivo, garantias de direitos culturais (especialmente no que concerne ao patrimônio material e imaterial) são encontradas nos artigos 215 e 216 da Constituição Federal, regulamentação que encontra consonância com a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho sobre povos indígenas e tribais, da qual o Brasil é signatário (decreto 5.051/2004). Cabe ressaltar que o trabalho se desenvolve a partir dos diversos entrelaçamentos que envolvem territorialidade e identidade étnica, bem como, dos aspectos imbricados na categoria remanescentes das comunidades de quilombos e como esses elementos se constituem no próprio lugar da comunidade e nas falas dos seus membros. A pesquisa encontra-se ainda em fase de desenvolvimento, realizando-se a partir de pesquisas desenvolvidas por meio do Laboratório de Estudos de Movimentos Sociais, Trabalho e Identidade (LEMSTI) na Universidade Federal Fluminense em Niterói no Rio de Janeiro e compõe-se de pesquisa bibliográfica e documental, mas principalmente dos relatos orais dos membros da comunidade da Rasa, buscando compreender as especificidades dessa comunidade no contexto de lutas das comunidades remanescentes de quilombo no Brasil. 1. A territorialidade na Comunidade Remanescente de Quilombo da Rasa Armação dos Búzios ou apenas como é mais conhecido, Búzios, é um município do Estado do Rio de Janeiro localizado na chama Região dos Lagos. Faz limite a oeste com Cabo Frio, município do qual era o seu 3º distrito até 1995 quando então se emancipou tornando-se um município autônomo. Localiza-se a cerca de 165 quilômetros da capital do Estado. 15 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens A exploração e povoamento da Região de Búzios, ocorreu a partir do século XVII após invasões de Franceses e Ingleses no litoral, a Coroa portuguesa1 então dividiu o território por capitanias. As capitanias hereditárias2 foram, por sua vez, divididas em Sesmarias3, após essa divisão, os Jesuítas4 receberam uma parcela territorial para controlar os índios, impedindo que eles negociassem com estrangeiros. Segundo Dalmaso (2005), existem documentos históricos que comprovam que na região de Búzios houveram inúmeros desembarques de Negros Africanos, que se tornariam escravos de várias fazendas locais. As memórias vivas da Comunidade Remanescente do Quilombo da Rasa, através da oralidade também confirmam este fato. A Fazenda Campos Novos ou somente Campos Novos, como a Comunidade da Rasa costuma chamar, era uma Sesmaria dos Padres da Companhia de Jesus, composta por uma grande extensão de Terra voltada para produção agrícola de mandioca, feijão, milho, café e arroz, sua produção era vigorosa conforme pontua Arruti: A grande produção da Fazenda Campos Novos fez com que os padres jesuítas investissem na melhoria da propriedade: sanearam parte da planície pantanosa para a construção de um canal pelo qual exportavam madeira-de-lei e produtos agrícolas para a cidade do Rio de Janeiro. (ARRUTI, 2002, p.11) Com a expulsão dos Jesuítas pelo Marquês de Pombal, a fazenda volta a ser da Coroa Portuguesa e é renomeada como Fazenda D’El Rey, contudo em 1759 a fazenda é arrematada por Manoel Pereira Gonçalves. Com a Lei Eusébio de Queiroz (1850), que finda o tráfico negreiro, o Litoral de Búzios se tornou rota e transformou-se em portos clandestinos de navios, por constituir-se de várias enseadas. As Praias da Rasa e de José Gonçalves foram utilizadas como desembarques de negros que eram levados para a Fazenda Campos Novos, segundo Cunha: “[...] presume-se que a recuperação física dos rigores enfrentados durante a 1 Neste período o Brasil era colônia portuguesa. As capitanias foram uma forma de administração territorial da Coroa Portuguesa, onde doava-se porções territoriais à Particulares, uma vez que a Coroa não tinha recursos o suficientes para administrá-las. (Séc. XVI a XVIII) 3 Sistema imposto pela Coroa para que Particulares se ocupassem de produzir nas terras recebidas. 4 Os Jesuítas compunham uma congregação religiosa católica chamada Companhia de Jesus, que era conhecida no Brasil por seu trabalho missionário. 2 16 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens navegação, o transporte terrestre e a venda final dos escravos não seriam possíveis sem a intermediação da vizinha Fazenda Campos Novos” (Cunha, apud, Arruti 2002 p.12). A abolição em 1888, não gerou mudanças para os ex-escravos ou seus descendentes, muitos continuaram morando e trabalhando nas terras da fazenda, cultivando a mandioca, principal base alimentar. A compra da fazenda por Eugênio Arnoud, no início do século XIX, transformou os ex-escravos em arrendatários, em troca de continuarem nas terras e produzirem suas roças deveriam trabalhar um determinado número de dias como pagamento. A partir da década de 1940 começaram os conflitos pela posse e exploração de terras, violência e expropriação de caráter coletivo, com a compra da fazenda por Antônio Paterno, conhecido na região como “Marquês”, neste período a população local começa a se organizar para defender suas terras. Os descendentes que moravam mais afastados da sede conseguiram lutar e se manter nas terras como foi o caso de comunidades vizinhas, como Botafogo e Caveira. De 1950 a 1980 foi um período de intenso e violento conflito de Terras na Fazenda Campos Novos, inclusive Dalmaso afirma que foi “um dos mais violentos do Estado do Rio de Janeiro.” (2005, p.21). De acordo com Arruti: Em 1983 parte da fazenda Campos Novos é desapropriada pelo INCRA5, foram 3.203,43 ha de terra desapropriada para fins de reforma agrária. Esta foi dividida em quatro grande glebas e de acordo com o levantamento realizado em 1984, havia um total de 248 ocupações. O ato de desapropriação por parte do governo federal, ao contrário do que se poderia esperar, no entanto, não significou o fimd a violência e tensão social. (ARRUTI, 2002, p. 15) A Fazenda Campos Novos é de suma importância, pois vários moradores da Rasa assim como de outras comunidades remanescentes de escravos afirmam que avós, tios, parentes trabalhavam em suas terras ou fugiram delas para os Quilombos. Ainda hoje, a região de Búzios e em especial o bairro da Rasa, situado distante do centro, vem sendo cobiçado pela valorização fundiária, para construção de grandes condomínios e casas dos de 5 Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária 17 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens “fora” como diz D. Uia, moradora da Rasa e presidente honorária da Associação dos Remanescentes da Comunidade da Rasa. O contato com a comunidade da Rasa originou-se através do Projeto de extensão Universitária Acuia – Acervo Dona UIA, que desde 2005 busca resgatar a memória local. Já na ida à comunidade recebemos as primeiras instruções sobre o que iríamos ver. Fomos informados que o Quilombo era evangélico e que havia uma matriarca, a D. Eva, que no final daquele ano (2011) completaria 102 anos com uma grande festa. Sua filha D. Uia, é a matriarca política da região, reconhecida por todos e até mesmo no exterior como uma grande liderança política. Durante o contato com a comunidade foi possível ouvir várias histórias e relatos da memória dos mais idosos, algumas lendas e cantigas. Nem todos estes relatos orais estão registrados em áudio ou vídeo, entretanto, alguns estão registrados nos cadernos de campo. Ao chegar na Praia da Rasa percebe-se várias casas, alguns condomínios e vários praticantes de windsurf. Não havia sinal do que estereótipos chamariam de um Quilombo, considerado, conforme coloca Almeida, em sua forma conceitual “frigorificada”. (Almeida, 2011). Com o tempo, a equipe de pesquisa entendeu que na realidade a família da D. Uia e demais remanescentes do quilombo foram expulsos de suas terras originais, por meio de relatos constatou-se que o pai da D. Uia havia comprado uma terra, na qual “colocou” toda a sua família. O centro de toda a comunidade é uma praça onde há uma lanchonete, uma quadra poliesportiva, uma igreja católica de Santo Antônio frequentada pelos “brancos”, os “Gonçalves” conforme diz Dona Uia, e uma Igreja da Assembléia de Deus freqüentada por muitos quilombolas e na qual um deles inclusive foi pastor, o Pastor Luiz, cuja entrevista foi utilizada nesse trabalho. Os “Gonçalves” são mencionados constantemente nas falas dos membros da comunidade, são os brancos, descendentes da família do português Manoel Pereira Gonçalves, cuja família permaneceu naquelas terras. 18 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Em frente a referida praça há uma travessa e no seu fim se encontra a casa da Dona Eva, a matriarca da comunidade que atualmente possui 103 anos. É este local o ponto de encontro com a comunidade. Dona Eva, além de mãe de Dona Uia, também é mãe de mais 11 filhos, incluindo o Sr. Valmir, conhecido na região como Valmir da Rasa, justamente por ser um “filho da rasa” como costumam dizer, tendo sido ele vereador do Município de Armação dos Búzios. Em um dos relatos gravados com a Sra. Ilma, prima de Dona Uia, todos na Rasa de alguma forma são parentes: “Tanto os negros quanto os brancos só casavam com parentes, porquê não tinha como casar com pessoas de outros lugares, aqui todo mundo, todos os negros são parentes.” Essa fala da Dona Ilma é reiterada por um relato obtido por O´Dwyer: “Aqui na Rasa, a periferia, ficou exatamente o povo de cor negra, é tudo uma família, casou primo com prima, essa coisa toda e foi gerando uma família.”, outro relato confirma: “Esse parentesco que a gente tem … quase todo mundo da Rasa tem um grau forte de parentesco. E a gente começa a discutir com os parentes, com os mais velhos como é que se deu essa coisa, como é que foi isso... Isso foi em virtude da família da minha avó, que se uniu á família do meu pai, eles fizeram uma família só. Um desses irmãos da minha avó tinha mais de dez mulheres, acho que era o Justino, o irmão da Donária. Daí se formou esse grau forte de parentesco.” (O’Dwyer, p. 4, 1998) Toda a configuração da memória dos mais idosos e da comunidade em geral está apoiada em pontos de memória como a Praia Gorda e a Ponta do Pai Vitório onde segundo eles, era o porto para desembarque dos navios negreiros, o nome Pai Vitório é originário de um desses navios o mais “tradicional” como coloca O´Dwyer (1998), segundo relatos até há alguns anos ainda havia um único pau da ponte que servia de acesso dos navios à terra firme. A Praia Gorda, era o local no qual os escravos que conseguiam fugir dos navios ou da fazenda Campos Novos, se escondiam e se refugiavam por ser de difícil acesso e protegida por um Mangue de Pedra e um morro. Segundo relatos dos moradores/entrevistados seria ali que o Quilombo teria começado a surgir. 19 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Outro relato comum era o de que as famílias possuíam roça e levavam uma parte da produção para vender em Cabo Frio, nesse período, há mais ou menos 40 anos, não havia estradas, nem ônibus e o transporte era feito “no lombo de cavalos ou a pé”. Conforme relata D. Ana: “Nem estrada não tinha, só tinha uma picada, de andar com o cavalo se viesse um carro o cavalo tinha que ir pro meio do mato pra deixar o carro passar, (…) tudo que nós tínhamos que fazer aqui nós íamos pra Cabo Frio, ia comprar comida, fazenda pra fazer roupa, remédio... saía as 4 horas da manhã pra ir pra Cabo Frio, os pequenos não vendiam nada, mas quem tinha animal vendia.” Foi apenas na década de 1970 que o bairro da Rasa, onde se localiza o Quilombo da Rasa, começou de fato o processo de urbanização com a abertura de ruas e instalação de iluminação pública nas ruas transversais e internas, embora a prestação de serviços públicos ainda seja precária. Nesse mesmo período várias famílias foram expulsas de terrenos que ficavam próximos à praia e ao Mangue de Pedra, para a construção da Reserva Biológica da Marinha. Território que era utilizado pelos quilombolas como reserva de alimentos: caça de caranguejos, frutos e pequenos animais fazem parte da fauna e flora desta área. Na década de 90, apesar da intensificação do processo de urbanização, ainda existiam alguns roçados, base alimentar dessa população até então, os roçados eram divididos entre as famílias, mas todos ajudavam no plantio e colheita. Conforme coloca O’Dwyer: A utilização dessas áreas obedece à sazonalização das atividades, sejam agrícolas, extrativistas ou outras, caracterizando diferentes formas de uso e ocupação dos elementos essenciais ao ecossistema, que tomam por base laços de parentesco e vizinhança, assentados em relações de solidariedade e reciprocidade. (O’DWYER, 2002, p.19) Segundo relatos, foi nesse período que algumas famílias “brancas e negras” chegaram à Rasa se dizendo donas das terras em que a comunidade que tradicionalmente as ocupava, realizava o plantio dos seus roçados, essas famílias vinham de uma região do Rio de Janeiro 20 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens 6 conhecida como baixada fluminense e a sua chegada iniciou inúmeras desavenças e até mesmo ameaças de morte de lideranças da comunidade quilombola. Nesse contexto repleto de inúmeros problemas territoriais, o Sr. Valmir, irmão de D. Uia e filho de D. Eva, frequenta a graduação em Direito junto com um primo de D. Uia que era pastor na Igreja Assembléia de Deus da comunidade, a partir do curso eles se depararam com discussões jurídicas acerca da titulação de terras para as Comunidades Remanescentes de Quilombo. Em 1995 surge a Associação da Comunidade Remanescente do Quilombo da Rasa, que reivindicou à Fundação Cultural Palmares7 o reconhecimento enquanto comunidade quilombola e ao INCRA8 a titulação das terras. De modo resumido pode-se dizer que para que a titulação ocorra é necessário: A autoafirmação enquanto comunidade remanescente de quilombo, solicitando ao órgão competente o reconhecimento enquanto tal, após o reconhecimento da Fundação Cultural Palmares, a elaboração de pareceres técnicos, dentre eles o Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID), para que assim ocorra a demarcação da área territorial, e, por fim, a efetivação da titulação. No entanto, tal processo não se faz de modo tão simples como parece, sua elaboração e execução é demasiadamente demorada e burocrática, com inúmeros procedimentos operativos que emperram o processo de regularização e titulação, muitas vezes impedindo a própria efetivação dos direitos territoriais às comunidades quilombolas tradicionais. Até o término deste trabalho o Quilombo da Rasa ainda estava aguardando a demarcação de seu território. No ano de 2011, no dia 20 de novembro ocorreu uma reunião por motivo de comemoração do Dia da Consciência Negra – Dia de Zumbi dos Palmares9, nessa reunião foi 6 Compreende os municípios de Duque de Caxias, Nova Iguaçu, São João de Meriti, Nilópolis, Belford roxo, Queimados e Mesquita 7 Criada em 1988, a Fundação Cultural Palmares é uma instituição pública vinculada ao Ministério da Cultura, fruto do movimento negro brasileiro, a Fundação Cultural Palmares foi o primeiro órgão federal criado para promover a preservação, a proteção e a disseminação da cultura negra. 9 Zumbi teria sido o ultimo líder do quilombo dos Palmares, que resistiu bravamente às forças imperiais, transformando-se em herói que lutou pela liberdade e como um símbolo de liberdade e resistência. Sua persona foi utilizada por parte do Movimento Negro como figura simbólica, cuja data de sua morte – 20 de Novembro estabeleceu-se então o Dia da Consciência Negra. 21 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens possível compreender que instituições federais como o INCRA e o Ministério Público da União possuem uma leitura restrita do que é a territorialidade quilombola, essas instituições estabelecem que o território deve ser contínuo, ocupado pela comunidade no presente cronológico e cuja formatação deve ser enquadrada em normatizações cristalizadas. Nesta reunião ocorrida no Quilombo da Rasa, havia a presença de boa parte da comunidade e compuseram a mesa um representante de Ministério Público Federal, o antropólogo do INCRA, o superintendente do INCRA, D. Uia e Leonardo, filho da D. Uia – presidente da Associação da Comunidade dos Remanescentes do Quilombo da Rasa. Na fala do superintendente e do antropólogo do INCRA, a necessidade de existir um território contínuo englobando toda a área reivindicada pela Associação da Comunidade era um ponto central e inegociável. Contudo, na fala da D. Uia e de seu filho o fato de uma parcela dos quilombolas terem obtido através de muito trabalho os registros de aquisição de suas terras por meio da compra de terrenos, impossibilita a reinvindicação de um território contínuo, que desfavoreceria a luta daqueles que compraram suas terras com muito sacrifício, justificando assim uma territorialidade específica, construída a partir do entendimento da comunidade sobre qual deveria ser o território coletivo. No Relatório Antropológico realizado a pedido da Fundação Cultural Palmares, reitera-se a demanda específica da comunidade, solicitando a demarcação de um território composto por 12 áreas separadas pelos terrenos cujo título de propriedade já pertence às famílias quilombolas e que não entrariam na demarcação territorial de área da comunidade. Esta questão compõe grande embate: para as Instituições Governamentais é inconcebível que a comunidade se afirme enquanto comunidade remanescente de quilombo buscando manter determinadas porções de terra de fora do território coletivo ocupado, que por sua vez é inalienável. Contudo, não há essa obrigatoriedade na lei e nos decretos que a regulamentam, afirmando que o território não possa ser fragmentado em áreas próximas, auto-identificadas pelo próprio grupo como aquelas “utilizadas para garantia de sua reprodução física, social, econômica e cultural.” (Decreto 4.887/2003) 22 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Além dessa reunião citada, ocorreu outra menor, sem a presença da comunidade, na sede estadual do INCRA, situado na região central do Município do Rio de Janeiro, onde o INCRA através da presença do Antropólogo e do Superintendente Estadual tentou mais uma vez impor a concepção estereotipada de território coletivo contínuo, nessa reunião, a comunidade através da D. Uia e do Sr. Valmir afirmaram novamente não desejar disponibilizar as terras já adquiridas por membros da comunidade para a titulação coletiva. Essas instituições governamentais possuem formatações de território e territorialidades constituídas para serem normas e formas rígidas que devem ser aplicadas em todas as comunidades, o que impossibilita as múltiplas possibilidades de concepções que essas comunidades podem atingir. Nos contatos com a D. Uia, com o Sr. Valmir e com outros membros da comunidade, percebeu-se que a concepção territorial da comunidade é constituída através da memória, dos locais de memória transmitidos através da história oral de ascendentes: As referências feitas pelos membros da comunidade aos locais relacionados às suas atividades presentes e àquelas de seus antepassados “constituem informações importantes para que seu território seja reconhecido como atrelado aos locais de significado relevante para a comunidade. (O´DWYER, 2002) A memória colhida através dos relatos dos membros da comunidade não pode ser pensada sem o processo de identidade, veremos adiante que neste caso, a identidade étnica é definida através de um processo de interação com outros grupos, caracterizando que o isolamento geográfico não se apresenta como elemento determinante nesse grupo, pois o estereótipo do Quilombo como local isolado, fechado em si e com práticas sociais arqueotipadas prejudica a definição e delimitação dessas comunidades, que costumam se definir como terras de preto, de negros e de descendentes de escravos. 2. Identidade, etnicidade e comunidade remanescente de quilombo 23 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Entendemos que a territorialidade aqui entrelaçada na trama das relações da Comunidade Remanescente de Quilombo da Rasa não pode ser compreendida apartada do problema da emergência da identidade étnica dessas comunidades, tal identidade atribuí-se a uma origem comum desses grupos que direcionam suas práticas em função da efetividade da norma constitucional que lhes confere garantias territoriais. Em consonância com Almeida10, acreditamos que é necessário discutir o que é o quilombo na atualidade, apreendendo como ele ganha forma e nuance no cenário de definições jurídicas cristalizadas desde o século XVIII, com sentidos reproduzidos acriticamente, nesse sentido, devemos compor as matrizes do significado de quilombo e esclarecer a extensão de seus mecanismos de interpretação. Até o artigo 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição Federal de 1988 fixar a garantia territorial para comunidades remanescentes de quilombos, houve um caminho de lutas e reivindicações dos movimentos sociais que antecederam a Assembléia Constituinte e ganharam força com a promulgação da Carta Federal Brasileira. Algumas categorias básicas utilizadas pelos órgãos competentes para pensar a estrutura agrária no Brasil, como estabelecimento e imóvel rural, não contemplavam situações específicas, como usos não individualizados da terra, ou as chamadas “terras de uso comum” que em grande parte afetam as chamadas comunidades tradicionais. Em1985, a partir das pressões do movimento camponês, tais situações passaram a ser denominadas “ocupações especiais11” pelo Cadastro de Glebas do INCRA e compunham aquelas condições que não se achavam contempladas pelo domínio individual, nem estavam adequadas às formas de propriedade previstas, tais quais, a condominial, a sociedade anônima, limitada e cooperativa. No entanto, apesar de no momento parecer que os 10 Alfredo Wagner Berno de Almeida compila diversos textos sob a rubrica de Quilombos e as novas etnias (2011) onde aborda problemas de grande relevância relativos às comunidades tradicionais e às terras tradicionalmente por elas ocupadas. 11 Segundo Almeida as “ocupações especiais” designavam as chamadas terras de preto, terras de santo e terras de índio, “[...] tal como definidas e acatadas pelos próprios grupos sociais, que estavam classificados em zonas críticas de tensão social e conflito.” (2011, p. 58) 24 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens mecanismos responsáveis estariam por tomar as providências necessárias para efetivar as demandas relacionadas, em 1987 houve um arrefecimento dos movimentos sociais com certo fortalecimento dos interesses ruralistas, especialmente por motivos políticos e em razão da atuação de frágeis intermediários nos conflitos – como as Comissões Agrárias. Tal composição é importante para que possamos vislumbrar o nascedouro do referido artigo do ADCT e analisá-lo criticamente, atentando para importância tanto da recuperação das lutas camponesas pós-Constituição de 1988, quanto da organização de associações voluntárias e identidades coletivas de grupos específicos nas lutas por mecanismos de efetividade do dispositivo constitucional, em especial a formação de um movimento social quilombola nacional em 1994. Dessa forma, situações materiais de conflito tornam visíveis os limites do artigo, levantando inúmeros problemas relacionados a definições e interpretações que envolvem essa norma constitucional. Para Almeida, as discussões sobre a noção de quilombo abrangem os termos de uma categoria histórica que é ao mesmo tempo jurídica e se constitui no plano de situações sociais concretas, isso exige uma ruptura com antigas definições e interpretações, bem como, uma construção diferenciada, que não seja mais marcada por visões congeladas no tempo. Isso requer uma mudança nas concepções “frigorificadas” e nos padrões “arqueológicos”, a partir dos quais ainda se busca uma espécie de escavação na qual podem ser encontrados “[...] indícios materiais e onde estão as marcas ruiniformes da ancianidade da ocupação.” (Almeida, 2011, p. 69) O referido autor apresenta uma concepção jurídico-formal de quilombo que permaneceu, de certo modo, congelada ao longo do tempo, o conceito, que vem desde 174012, compõe uma visão congelada acerca de quilombo enquanto: “[...] toda habitação de negros fugidos, que passem de cinco, em parte despovoada, ainda que não tenham ranchos levantados e nem se achem pilões neles. (Conselho Ultramarino, 1740)” (Almeida, 2011, p. 59). 12 Essa compreensão configurou elementos básicos que se mantiveram ao longo do tempo, marcando as disposições e disciplinas legais do Período Colonial – ainda que no Brasil não houvesse um “Código Negro” com normas compiladas que exercesse a disciplina dos escravos, conforme havia em outros países onde se fazia presente o sistema escravocrata. 25 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Segundo Almeida poderiam ser extraídos cinco elementos característicos desse conceito: a fuga; uma porção mínima de “fugidos” (que variou ao longo do tempo, diminuindo de cinco para três com o intuito de desagregar qualquer possibilidade de exercício autônomo de agricultura, mesmo em âmbito familiar); um local marcado por um isolamento relativo, que fica claro com o termo “em parte despovoada”; a solidificação ou não da moradia e, por fim, a capacidade de reprodução, representada pelos “pilões” que simbolizam a transformação em alimento consumível do arroz colhido. A disciplina apontava para punição e inviabilização de uma lógica produtiva e de trabalho que se diferenciava do modelo tradicional e legal imposto pelo sistema escravista do Período Colonial, esses indivíduos possuíam uma forma de produção autônoma em relação aos grandes proprietários rurais e muitas vezes a exerciam nas proximidades da Casa Grande e não em total isolamento, realizando interações para manutenção da reprodução, por isso o desmonte também se dava com a definição de uma quantidade mínima cada vez menor de “escravos fugidos” para classificar o quilombo, assim se poderia coibir a constituição de sistemas econômicos de unidades de trabalho familiar que dali poderiam se formar. Além disso, a ruptura com esses elementos se dá também em razão do próprio declínio das grandes plantações no Brasil. Desde o século XVII, ainda que lento e gradual, tal enfraquecimento faz com que se torne frágil a coerção dos grandes proprietários sobre os escravos, além disso, constata-se também que mesmo antes da abolição, esses grandes “senhores de terras” se utilizavam da produção dessas famílias para suprir necessidades de subsistência em períodos de escassez. Esse entendimento clarifica cada vez mais o corte que se deve realizar com esse conceito solidificado, modificando a forma de significar o quilombo, Almeida acentua ainda que no Período Republicano, com a abolição da escravatura, pesa nas constituições o silêncio sobre essa questão, como se os quilombos fossem apagados da realidade, e não mais possuíssem motivos para existir. Nesse sentido, a redefinição de quilombo precisa ser observada na contemporaneidade a partir do contexto de lutas sociais do movimento quilombola em torno de reconhecimento, especialmente a partir das demandas pela operacionalização efetiva do dispositivo 26 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens constitucional, por isso mesmo faz-se necessário realizar rupturas com as referidas acepções “frigorificadas” ou “escavações arqueológicas”, em busca da afirmação da identidade étnica e levando em consideração caracteres político-organizativos. Isso quer dizer que também o referido dispositivo fixador de garantias territoriais deve ser analisado criticamente, desde que surge considerando a existência do quilombo como aquela parcela “remanescente” ou “sobrevivente” do que é residual, como aquela fagulha de algo que já se extinguiu ou está prestes a se extinguir. Dessa forma, deve-se observar atentamente e em conexão elementos ao mesmo tempo relacionados à compreensão e esclarecimento de caracteres políticos que podem operacionalizar e mediar situações em constante transformação, bem como, noções de identidade étnica que abarquem a compreensão do quilombo. A redefinição de quilombo, tal como colocada hoje pelos que através dele se autorepresentam, estabelece uma clivagem político-organizativa face a estes intérpretes consagrados. Os seus elementos contrastantes não se encontram no fator racial. A mobilização étnica apóia-se numa expectativa de direitos sustentada, por sua vez, numa identidade cultural que não tem sua razão de ser na “miscigenação”. (ALMEIDA, 2011, p. 87) 3. Identidade étnica e comunidade remanescente de quilombo Para pensar os problemas apresentados precisamos nos mover dentro de uma teoria da etnicidade que privilegie os processos de interação entre os grupos étnicos, uma teoria que se diferencie tanto de uma posição mais tradicional, em que raça identifica-se com cultura e com uma língua, quanto da condição em que a sociedade corresponde a uma unidade que “rejeita ou discrimina outros” (Barth, 2000, p. 28). Tais posturas já vinham sendo desenvolvidas por autores como Leach e Gluckman, mas tomaremos como ponto de partida a obra de Fredrick Barth para pensar menos por meio de essencialismos culturais ou biológicos, que tecem esses grupos como formas culturais e 27 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens sociais relativamente isoladas e mais por meio de suas interações através de processos de exclusão e inclusão que demarcam os limites dos grupos. Levaremos em consideração a autoatribuição e os “sinais diacríticos” como marcadores das diferenças que os próprios atores sociais consideram relevantes significativas nos critérios de pertença de cada grupo. Nas palavras de Barth, a crítica se coloca da seguinte forma: O principal problema dessa visão é o seu pressuposto de que a manutenção das fronteiras não é problemática, e que isto se dá como conseqüência do isolamento que as características arroladas implicam: diferenças racial e cultural, separação social, barreiras lingüísticas, inimizade espontânea e organizada. Com isso, limita-se também a gama de fatores que usamos para explicar a diversidade cultural: somos levados a imaginar cada grupo desenvolvendo sua forma cultural e social em isolamento relativo, respondendo principalmente a fatores ecológicos locais, através de uma história de adaptação por invenção e empréstimos seletivos. Essa história produziu um mundo de povos separados, cada qual com a sua cultura e organizado em uma sociedade, passível de ser legitimamente isolada para descrição como se fosse uma ilha. (BARTH, 2000, p. 28) Essa compreensão que se contrapõe a visões preconcebidas – principalmente a respeito de quais fatores são significativos para continuidade e forma das unidades étnicas no tempo – é imprescindível para que possamos pensar comunidades quilombolas, com todas as nuances que se apresentam atualmente, ao levarmos em consideração os critérios de pertença estabelecidos pelo próprio grupo podemos compreender que apesar de não viver isoladamente, o grupo apresenta e mantém características próprias que definem limites em relação a outros grupos. Pode-se dizer que os grupos étnicos compõem categorias utilizadas pelos próprios atores para que imputar, identificar o grupo e organizar as interações, seguindo essa linha de raciocínio, a autoatribuição consiste em elemento de elevada relevância, dessa forma: 28 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens A autoatribuição de uma categoria é uma atribuição étnica quando classifica uma pessoa em termos de sua identidade básica, mais geral, determinada presumivelmente por sua origem e circunstâncias de conformação. Nesse sentido organizacional, quando os atores, tendo como finalidade a interação, usam identidade étnica para se categoriza e categorizar os outros, passam a formar grupos étnicos. (BARTH, 2000, p. 32) Barth estava com a razão quando mencionou que as categorias étnicas proporcionam uma espécie de “recipiente organizacional que pode receber conteúdo em diferentes quantidades e formas nos diversos sistemas socioculturais”. (Barth, 2000, p. 33). Isso implica em uma ampliação do campo para experiências etnográficas e comparativas, assim, menos do que as chamadas “diferenças objetivas” colocadas muitas vezes de “fora para dentro” serão levados em consideração os fatores socialmente relevantes determinados pelo próprio grupo para estabelecer o diagnóstico do pertencimento, sem deixar de observar que os elementos culturais que demarcam as fronteiras13 podem se modificar, transmutando inclusive caracteres culturais e as formas de organização do grupo. Segundo Catarino, tais componentes marcadores de diferença e autoatribuição agregam identidade étnica e mecanismos de operacionalização de lutas políticas: As definições podem servir de instrumento de legitimação das posições assumidas no campo propriamente político, mas, como numa via de mão dupla, a emergência de uma identidade étnica “remanescente de quilombo”, referida a uma origem comum presumida de grupos que orientam suas ações pela aplicação do preceito constitucional (artigo 68 do ADCT), tem igualmente fomentado debates de natureza teórica e metodológica no campo da antropologia praticada não apenas no Brasil. (O’Dwyer, 2005, p. 95) 13 Para Barth além de implicar uma organização do comportamento e das relações sociais, a fronteira étnica “[…] define o grupo e não o conteúdo cultural por ela delimitado. As fronteiras sobre as quais devemos concentrar nossa atenção são evidentemente fronteiras sociais, ainda que possam ter contrapartida territorial. Se um grupo mantém sua identidade quando seus membros interagem com outros, disso decorre a existência de critérios para determinação do pertencimento, assim como maneiras de assinalar este pertencimento ou exclusão. (Barth, 2000, p. 34) 29 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens No caso das comunidades quilombolas os caracteres são marcados principalmente por uma origem comum e constituição no processo escravista, na comunidade da Rasa, essa origem comum se faz fortemente presente nos relatos dos membros do grupo que rememoram uma “grande família” com ascendência escravocrata, que não deixa de constituir-se enquanto comunidade remanescente de quilombo, por meio de um direcionamento ao passado, mas não aquele passado de uma historiografia tradicional e sim o de uma memória coletiva que constitui o passado a partir dos relatos do grupo, cujos membros não deixam de caracterizar elementos significativos, ainda que os processos de interação desse grupo tenham modificado ao longo do tempo suas formas de organização, agregando elementos que não possuíam anteriormente. 4. Considerações Finais Ao apresentar o panorama histórico e sociológico do contexto no qual o Quilombo da Rasa está inserido, bem como a perspectiva teórica por meio da qual é possível alcançar o problema da identidade étnica e territorialidade do grupo, buscamos manifestar um processo territorial em pleno desenvolvimento, que se encontra relacionado tanto a fatores étnicos, quanto a componentes jurídicos e políticos. Que se caracterizam nas lutas e reivindicações da comunidade, principalmente por demandas territoriais que não se enquadram nos conceitos e padrões congelados das instituições governamentais que operacionalizam a efetividade das garantias constitucionais. A compreensão de territorialidade para a Comunidade Remanescente do Quilombo da Rasa supera o território físico existente hoje, travando jornadas em meio a locais de memória narrados pela história oral e revisitados na fala dos mais idosos. Esta composição de territorialidade construída através da memória é que fundamenta a necessidade de titulação das terras. Por isso a auto-atribuição, a definição dos critérios de pertença e de caracteres diferenciadores por parte do próprio grupo se faz de grande relevância em conjunto com a ressignificação de definições e padrões normativos e institucionais que não atendem às lutas de movimentos sociais cada vez mais organizados em torno de demandas concretas. 30 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens O fato de o Quilombo da Rasa estar localizado na periferia de Armação dos Búzios, conhecido e divulgado internacionalmente como um sofisticado balneário turístico, descarna de seu interior uma história de luta pela terra e pela manutenção de uma identidade étnica diante de uma intensa problemática histórica e social que se coloca hoje na ordem do dia nas discussões brasileiras. Referências Bibliográficas: ALMEIDA, Alfredo W. B de. Os Quilombos e as Novas Etnias, Manaus: UEA Edições, 2011. BARTH, Fredrik, O guru, o iniciador e outras variações antropológicas, Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria, 2000. DALMASO, Flávia Freire. Comunidade Quilombola de Botafogo e Caveira: Identidade Étnica e Posse de Terra. Niterói, 2005. ARRUTI, José Maurício Andion. Relatório parcial de caracterização da Comunidade Negra das Terras de Preto Forro. Rio de Janeiro, 2002. O’DWYER, Eliane Cantarino. Os Quilombos e a prática profissional dos antropólogos In O’Dwyer, Eliane Cantarino (org). Quilombos: identidade étnica e territorialidade. Rio de Janeiro : Editora FGV, 2002. _______________________. Os Quilombos e as Fronteiras da antropologia. In Antropolítica 19. Revista Contemporânea de Antropologia e Ciência Política. Niterói. 2. sem. 2005. ______________________. Os negros da Rasa: Relatório de identificação sobre a comunidade negra da Rasa, de acordo com o artigo 68 ADCTCF – CF/1988. Convênio Fundação Cultural Palmares – Minc – ITERJ. P. Poutignat & J. Streiff-Fenart (orgs.). Teorias da Identidade. São Paulo, UNESP, 1998. RIOS, Ana Lugão; MATTOS, Hebe. Memórias do cativeiro: narrativa e identidade negra no antigo Sudeste cafeeiro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005. 31 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens 3) AUTOR: Celia Cristina Basconzuelo PONENCIA: Los territorios de base en escala comparada: construcción de vínculos y espacios de disputa electoral en tiempos del primer peronismo INSTITUCIÓN: Universidad Nacional de Río Cuarto PAÍS: Argentina MAIL: [email protected] Introducción Los barrios integran parte de la trama física de un conglomerado urbano, sea éste de carácter intermedio o metropolitano. Además se constituyen en el ámbito de acción privilegiado por las sociedades vecinales y por un conjunto de actores sociales y políticos que encuentran en ese espacio un ámbito donde desenvolver sus actividades. Allí trabajan además de las vecinales, los clubes deportivos, las cooperadoras escolares, las parroquias y las organizaciones partidarias, entre las de mayor protagonismo y permanencia. El objetivo de este trabajo consiste en abordar la noción de barrio desde una perspectiva teórica que subraya su carácter como “espacio de construcción social” y articular dicho concepto con el análisis histórico de un momento del proceso histórico nacional y local, como lo fue el primer peronismo, para considerar las prácticas desarrolladas en los barrios de la ciudad de Río Cuarto (Córdoba, Argentina) tanto por un tipo de organización social como eran las asociaciones vecinales como por el conjunto de entidades asociativas que operaban en el mismo espacio físico barrial. El desarrollo del tema se comprende a partir de algunos interrogantes centrales que nos sitúan en una ciudad intermedia del sur cordobés: ¿qué prácticas desplegadas por las entidades vecinales en los barrios da cuenta de su contribución a la construcción del espacio 32 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens en sentido social? ¿Qué características presentaba la trama asociativa barrial en tiempos del primer peronismo? Desde el punto de vista epistemológico, este trabajo si bien reconoce la existencia de las vertientes teóricas que plantearon en los años ’60 la visión sistémica del espacio y la geografía humanista de los años ’70, selecciona autores que plantean una visión del espacio articulada a lo social.14 En este sentido, nuestro trabajo parte de la consideración de la propuesta teórica del autor brasileño Milton Santos. El barrio como espacio social Las organizaciones sociales barriales –las primeras sociedades fomentistas y luego las asociaciones vecinales- construyeron, a lo largo de su trayectoria histórica, el espacio barrial en sentido social. Esta hipótesis también resultaba aplicable al conjunto de organizaciones sociales que actuaban en los barrios. ¿Qué aspectos de la noción de espacio formulada por Milton Santos permiten pensarla en una dimensión social? El autor brasileño considera al espacio como “instancia de la sociedad y su esencia es social”, “contiene y está contenido por las demás instancias económica y cultural (…) los procesos específicos incluyen el espacio, sea el proceso económico, sea el proceso institucional, sea el proceso ideológico”. Comienza considerando que los objetos geográficos se distribuyen sobre un territorio, con su configuración geográfica o espacial, y con el modo en que esos objetos se muestran (el paisaje), junto al principio activo, es decir los procesos sociales representativos de una sociedad en un momento dado. “Esos procesos resueltos en funciones se realizan a través de formas. Estas formas pueden no 14 Así, la categoría de “espacio social” apareció planteada por la llamada “geografía radical” que desarrolló en los años ’70 todo un bagaje conceptual, teórico y metodológico para la compresión y estudio del espacio social. Fueron Henri Lefebvre y Manuel Castell quienes abrieron la discusión sobre el lugar que debía ocupar lo espacial en la dinámica socio-histórica y así lo espacial pasó a ser considerado como una construcción social; sin embargo, la espacialidad se veía como un mero producto, como reflejo de las tendencias generales del proceso de acumulación. Avanzó luego la consideración del espacio como espacio relativo, visión que podemos encontrar en Edward Soja y Milton Santos. En este sentido la espacialidad social fue vista dentro del marco estrictamente socio-histórico, como producto social, mientras otras visiones advirtieron que así como el espacio es producido socialmente, lo social también es espacialmente construido. 33 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens ser originariamente geográficas, pero terminan por adquirir una expresión territorial”. “El espacio es la suma del paisaje y de la sociedad”, de la forma y el contenido. (SANTOS, 1985: 1) Para el autor citado el espacio debe ser considerado en sus elementos: los hombres, las empresas, las instituciones, el medio ecológico y las infraestructuras. Las funciones o acciones son intercambiables y reductibles unos a otros, dice Santos. Además “las relaciones entre ellos se vuelven más íntimas y mucho más extensas” (SANTOS, 1985: 6). Por eso la noción de espacio es pensada aquí como totalidad. Por otra parte, supone que el espacio es una realidad cambiante, en evolución permanente por obra de factores externos e internos. Otro concepto de utilidad para nuestro análisis es el que supone la interacción o interdependencia entre los diversos elementos del espacio: “el estudio de las interacciones entre los diversos elementos del espacio es un dato fundamental del análisis. En la medida que función es acción, la interacción supone interdependencia funcional entre los elementos. A través del estudio de las interacciones recuperamos la totalidad social, esto es, el espacio como un todo, e, igualmente, la sociedad como un todo. Pues cada acción no constituye un dato independiente, sino un resultado del propio proceso social” (IBIDEM: 7). Ahora bien, el espacio es una noción de la geografía cuya materialización es dada por la relación con el tiempo histórico. Así lo comprende Milton Santos en dos sentidos. En un sentido propiamente histórico entiende que los elementos del espacio son conceptos, es decir, una abstracción extraída de la observación de los hechos particulares, pero que sólo pueden ser entendidos por su referencia histórica y presente: “en cada momento histórico cada elemento cambia su papel y su posición en el sistema temporal y en el sistema espacial, y en cada momento, el valor de cada uno debe ser tomado de su relación con los demás elementos y con el todo”. A su vez, los elementos del espacio están sometidos a variaciones cuantitativas y cualitativas, por eso son considerados por el autor como “variables”: “los elementos del espacio cambian de valor según el movimiento de la historia” (IBIDEM: 9). En otro sentido, el autor refiere la dimensión temporal cuando alude a los sistemas locales, denominados 34 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens “subespacios”, los cuales debieran ser interpretados no solamente por su referencia microespacial, sino que deberían entenderse por una parte como “resultado, directo o indirecto, de fuerzas cuya gestación ocurre a distancia” y por la otra como subespacios con una “relativa autonomía, que procede del peso de la inercia, es decir, de las fuerzas producidas o articuladas localmente, aunque sea como resultado de influencias externas, activas en períodos precedentes” (IBÍDEM: 13). Otras hipótesis hemos considerado igualmente. Por un lado, la influencia del lugar respecto de los elementos del espacio. En la opinión de Milton Santos, “la especificidad del lugar permite hablar de un espacio concreto” y además “puede ser entendida también como una valoración específica; la localización diferenciada constituye un dato que provoca la diferenciación de los resultados. Cada lugar confiere a cada elemento constituyente del espacio un valor particular” (IBIDEM: 10). Por otro lado, la contextualización de cada elemento del espacio, es decir, la comprensión del espacio como sistema. En palabras del autor: “las acciones entre las diversas variables están subordinadas al todo y a sus movimientos (…) cada variable dispone de dos modalidades de «valor», una que nace de sus características propias, técnicas o técnico-funcionales; y otro que viene dado por las características sistémicas (…) Estas características sistémicas son, en general, condicionadas por el modo de producción y, en particular, por las condiciones propias de la actividad correspondiente al lugar. Ambas condiciones están definidas para cada formación económico-social, según sus lugares geográficos y sus momentos históricos” (IBÍDEM: 10). Por otro lado, si el espacio es entendido como sistema lo es a la vez como estructura, es decir, como parte de un todo. Así lo explica el autor: “las partes del espacio, que nos parecen tanto más concretas cuanto menores son, constituyen lo abstracto, en la medida en que su valor sistémico no está en la cosa tal como la vemos, sino en su valor relativo dentro de un sistema más amplio. Casa, edificio, manzana, barrio, están siempre cambiando de valor relativo dentro del área donde se sitúan, cambio que no es homogéneo para todos y cuya explicación se encuentra fuera de cada uno de esos objetos y sólo puede ser encontrada en la totalidad de las relaciones que configuran un área mucho más vasta. Lo mismo acontece con los hombres, las empresas o las instituciones” (IBÍDEM: 12). 35 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens En síntesis, ¿cuáles de estos elementos de análisis teórico permiten considerar la contribución de las prácticas vecinales a la construcción del espacio barrial? Por un lado, el barrio como un espacio diferenciado dentro de la trama urbana y con una trayectoria histórica que le permitió consolidarse en su propio proceso urbanizador y expandiendo su desarrollo edilicio dentro de los límites visibles acordados. Por otro lado, el espacio barrial como construcción social donde se posicionaban de modo diverso actores diferentes -sociales, políticos y económicos-y donde se desenvolvía una trama de prácticas de toda índole –sociales, culturales, laborales, deportivas, políticas, electorales-. Esos actores interactuaban en el marco que ofrecía cada barrio en particular, y a la vez también competían: las asociaciones vecinales intentando captar del vecindario al socio comprometido. Finalmente, el diálogo de este espacio en particular con el contexto, lo cual supone abordar sus particularidades y aspectos compartidos con otros registros asociativos del área pampeana; el modelo político imperante en los años ’40 y ’50 y las concepciones sobre gestión local en el marco del Estado Social peronista. Las prácticas vecinales constructoras del espacio barrial En el caso de las entidades vecinales, y en el contexto de una historicidad y continuidad en el tiempo que supuso su “trayectoria” en los barrios riocuartenses, esas organizaciones sociales construyeron la dimensión social del espacio en que actuaban a partir de la sociabilidad que forjaron en cada barrio, desde la institucionalidad que localizaron en cada lugar y permitieron –en razón de las relaciones sociales- densificar el tejido asociativo, y también desde las interacciones con otros actores que desarrollaban un trabajo barrial. 1. La sociabilidad 36 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Sociabilidad, una categoría distinta de “asociación”, ha sido evaluada de gran utilidad para la interpretación histórica. En esta posición se ubican los primeros trabajos de Maurice Agulhon quien definía la sociabilidad de una manera muy amplia y ambigua, y así podían interpretarse tanto asociaciones formales como informales. La sociabilidad comprendía: “los sistemas de relaciones cuya naturaleza, nivel de sujeción de los miembros, número de integrantes y estabilidad no se hallan estrictamente pautadas, pero que provocan la vinculación y la gestación de sentimientos de pertenencia-solidaridad entre los integrantes”. Pero, en trabajos posteriores precisó más el concepto diferenciándolo de asociación y entendiendo por ésta: “una forma de sociabilidad específica” (CALDO, FERNÁNDEZ, 2009: 1016). En un segundo momento de la producción de Agulhon y cuando el francés transitó del estudio de las formas de sociabilidad burguesa a las de pertenencia obrera, pudo incluir nuevas características al concepto original. La sociabilidad no estaría refiriendo entonces “un sistema de relaciones”, una estructura sino a los propios sujetos. Éstos dan inicio a una sociabilidad, porque son seres colectivos que se agrupan de acuerdo con su clase, trabajos, necesidades e intereses. Es decir, existe “una aptitud humana de vivir en grupos y consolidar los grupos mediante la constitución de asociaciones voluntarias”. Aquí el autor aproxima sociabilidad y asociacionismo y acepta dos niveles en que éste último puede manifestarse: asociaciones informales, como lo puede ser una simple reunión de parroquianos, o bien de carácter formal, es decir poseedora de estatutos y reglas escritas. Además debe existir “un lugar de reunión estable”. Ese lugar es un bien material, un capital, un recurso que materializa los momentos de encuentro y donde van a ejercitarse las prácticas. (IBIDEM: 1018-1019) Siguiendo entonces el análisis de Agulhon podemos comprender la dinámica de las asociaciones vecinales situándolas en su contexto temporal y en el marco del espacio barrial, pero no ya en un sentido institucionalista, sino explorando los vínculos relacionales entre los sujetos y desde esta perspectiva realzar las prácticas que conllevaban a la construcción de esa dimensión asociativa de las relaciones sociales intrabarriales. 37 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens 2. La institucionalidad Las entidades asociativas en Río Cuarto registran una notable continuidad histórica. En 1913 apareció la primera de estas características, en un barrio constituido desde principios de siglo hacia el este de la ciudad: Pueblo Almada. Allí se constituyó la primera entidad fomentista: Unión Vecinal de Almada, bajo la conducción de J.G. Morales; pero se trató de un experimento de corta vida pues esa primera comisión desapareció para tener un nuevo registro de la acción vecinal al fundarse la Unión Vecinal Propietarios Progreso y Cultura (21-41929), bajo la presidencia de Hercolano Bustos y secretaría a cargo de Eduardo Bas. Desde allí se gestionó el tendido del alumbrado público hacia ese núcleo poblacional, marcándose así la pauta que movilizaría a sus primeros dirigentes, es decir, la preocupación por la extensión de servicios del centro a los barrios. La existencia de dicha entidad culminó en 1932 al fusionarse con el Club Sportivo Alberdi y dar lugar al Centro Social y Cultural homónimo. Entonces, las intenciones asociacionistas se revitalizaron con la creación de la Comisión de Fomento de Pueblo Alberdi (26-9-1937). En el noroeste de la ciudad, se constituyó la Comisión Vecinal del Barrio Buena Vista organizada en ese mismo año. A fines de la década, en el sector norte la acción vecinal cristalizaba en la Comisión Vecinal de Fomento Banda Norte (19-8-1939), con una segunda en 1943. Más tarde, en los años cincuenta, se constituyeron otras vecinales, aunque no consiguieron prolongar su existencia: Bajada de Arena, Santa Teodora, Santa Rosa y Patricios. En síntesis, durante la etapa del peronismo nos encontramos con ocho entidades asociativas barriales. 3. Las identidades y valoraciones Teniendo en cuenta nuestros trabajos precedentes podemos desarrollar este aspecto del tema. El discurso vecinal es rico en mostrar la pertenencia barrial, su identidad diferenciada dentro de la urbe. Además, la identidad de quienes se movilizaban, los vecinos propietarios. A su vez, ellos mismos dotaban al lenguaje vecinal de otra singularidad cuando aludían a los otros vecinos, no propietarios, sino simplemente moradores y trabajadores. 38 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens El registro social que fluye del discurso vecinal dirigencial indica pues posiciones diferenciadas. Posiciones en relación con la dinámica económica del barrio, como ya se vio, pero además en relación con la representación vecinal donde iban a jugar otros vecinos, no ya los trabajadores sino los pares propietarios. Por otra parte, las relaciones de vecindad habilitaban aludir a otro concepto indicador “el vecindario”, es decir, ese conjunto de pobladores que reconocían en el barrio un espacio concreto, un ámbito válido, donde operaban relaciones primarias y cotidianas de proximidad las que forjaban vínculos comunitarios. De allí devenía un entramado de relaciones que a la hora de manifestar conductas participativas se convertía en un elemento impulsor. Esos vínculos podían traducirse entonces en la voluntad de expresarse colectivamente, primero de manera informal, haciendo uso de derechos constitucionales, luego de manera institucionalizada a través de las asociaciones barriales. Por último, el lenguaje vecinal también serviría como diferenciador de los grados de participación barrial. El sector que efectivamente elaboraba los petitorios eran los propietarios, alfabetos en su gran mayoría ya que firmaban esas solicitudes. Esos “vecinos y propietarios” encaraban todas las iniciativas destinadas a lograr mejoras para el barrio. Los seguían otros pares y luego, el resto del “vecindario”, los otros moradores que se verían beneficiados por los adelantos. Otras entidades asociativas en el espacio barrial A diferencia de la década anterior, los años ’40 y ’50 muestran el accionar dentro del espacio barrial de otros actores sociales que eligen la modalidad asociativa para expresarse. En los tiempos del primer peronismo encontraremos, agrupaciones juveniles como la que actuaba en Banda Norte, realizando bailes en su local con el objeto de donar lo recaudado a beneficio de la Sala de Primeros Auxilios recientemente creada en el barrio. (Justicia. 12/4/1943: 1, c/5) Los clubes deportivos representaban otra intervención. Justicia comenta en enero de 1943 que el club Sportivo Alberdi llevó a cabo un reparto de juguetes “entre los niños pobres 39 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens de aquel sector de la ciudad” (Justicia. 7/1/1943: 1, c/2-3). Estas notas aparecen en la sección “Notas Sociales” del diario. En Barrio Alberdi, el Club Sportivo realizaba bailes en su local de Vicente López y Planes al 300. “Cuenta con una nutrida concurrencia y entusiasta del populoso barrio” (Justicia. 17/1/1943: 2, c/4). Los denominaban “bailes sociales” y se hacían –allá por enero de 1943- con el objeto de recaudar fondos para la construcción del edificio del club. También se realizaban pic nic sociales, los días domingos, que congregaban a muchos socios y sus familiares. (Justicia. 24/1/1943: 2, c/4). Esos pic nic solían realizar, en época estival, en Achiras para los cual varios ómnibus trasladaban alrededor de cien pasajeros. (Justicia. 12/2/1943: 4, c/4). El club Alberdi realizaba diversas reuniones sociales: “bailes sociales y populares” todas las noches de carnaval; “reuniones danzantes”. La actividad de las parroquias constituye una nota particular del período no sólo porque fomentaban el sentido de la parroquialidad, sino además porque mostraban campo de acción femenino y de la niñez. De acuerdo con las fuentes consultadas podemos clasificarlas del modo siguiente: Actividades promovidas por la Acción Católica. El diario Justicia comenta la acción llevada a cabo por la sección de niños de la Acción Católica en el patio de la parroquia de La Merced en Barrio Alberdi. Refiere “numerosos niños asistentes a la fiesta”. (Justicia. 7/1/1943: 1, c/4-5). Otro tipo de actividad eran las asambleas parroquiales que se llevaban a cabo en distintas parroquias. Por ejemplo, en Sagrados Corazones (en cercanías a Barrio Boulevard Roca) e incluían actos particulares a cargo de las distintas secciones de la asociación: Círculo de señoritas y señoras, Centro de los Jóvenes y Centro de Hombres. (La Calle. 9/7/1954: 5, c/4) Otra actividad eran los festivales artísticos, organizados por la Acción Católica de la parroquia de La Merced de Barrio Alberdi en un teatro que existía en el barrio (teatro Presidente Perón). Allí organizaban la sección de damas de la asociación. (La Calle. 17/7/1954: 5, c/4) Actividad pastoral. Se trataba de las misiones catequísticas que, por ejemplo, realizaban en Banda Norte a cargo de los jóvenes seminaristas. (Justicia. 17/1/1943: 2, c/3-4). Refiere las misiones que se llevarían a cabo en dos barrios de la ciudad a cargo de los padres 40 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Pasionistas. Una de ellas coincidiría con la llegada a Río Cuarto del Nuncio Apostólico. (Justicia. 23/1/1943: 1, c/5). En una carpa donada por la sra.Adelia M. Harilaos de Olmos y que estaría a cargo de los padres Pasionistas tendría a cargo una misión evangelizadora en marzo de 1943 y agrega sobre el vecindario: “Fuera de dudas, el hondo sentimiento católico del vecindario de la obra banda del río, habrá de exteriorizarse ampliamente en esta oportunidad” (Justicia. 6/3/1943: 1, c/4). Otra actividad de tipo pastoral era emprendida por las asociaciones parroquiales, como la que actuaba en Fátima para difundir el evangelio. Se recorría el barrio, visitando las casas de familia y difundiendo el texto evangélico. (La Calle. 5/8/1954: 5, c/3-4) Formación doctrinaria de las mujeres. Es una tarea que se realizaba a través de las conferencias, por ejemplo, que se dictaban en la parroquia de Fátima (Barrio Oeste de la ciudad) sobre temas como el rol de la mujer en el hogar y en la familia, los valores cristianos, temas de la fe cristiana. Luego, se realizaban las denominadas comuniones pascuales de hombres por un lado, y mujeres por el otro. Las invitaciones se repartían también a los clubes del barrio. (La Calle. 10/6/1954: 5, c/4) Agrupaciones católicas femeninas. Tal como la que se constituyó en la parroquia de Fátima la Juventud Obrera Católica en junio de 1954. (La Calle. 30/6/1954: 5, c/2-3) Procesiones religiosas. En el marco de la fiesta de Corpus Christi daba lugar por ejemplo, en Barrio Alberdi a una peregrinación con la imagen de la Virgen de La Merced “visitando los distintos barrios del pueblo Pte. Perón, reuniendo a gran número de fieles, lo que pone en evidencia el fervor católico del nombrado lugar” (La Calle. 9/6/1954: 5, c/2) En la parroquia de Fátima (sector oeste de la ciudad) la procesión se realizaba en las manzanas próximas a la parroquia donde se preparaban altares en cada cuadra al frente de las casas de familia. La Comisión de Damas del Apostolado de la Oración construían altares a mitad de cada cuadra por la cual pasaba la procesión. La convocatoria se hacía desde las páginas del 41 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens diario “a todos los parroquianos y buenos católicos a participar de esta procesión” (La Calle. 24/6/1954: 5, c/3). Los centros culturales. Ellos también contribuían a fomentan la sociabilidad y crear los vínculos en el barrio. Por ejemplo, en la parroquia de Fátima existía un Centro Cultural “Amigos de la Parroquia de Fátima” (constituido en 1953) que en febrero de 1954, presidido por Miguel Piatti, que había patrocinado un salón parroquial. Era cura párroco el Pbro. Héctor Pereyra. (La Calle. 18/2/1954: 5, c/1-3) Ese Centro organizaba a través de su Comisión de damas, las ferias de platos, de carácter benéfico, con el objeto de recaudar fondos con los cuales cubrirían la deuda contraída al adquirir el terreno ubicado junto a la iglesia. (La Calle. 3/4/1954: 5, c/5-6) Ese centro funcionaba en el marco de una asamblea anual desde la cual se conformaba la comisión directiva. Dicha asociación había adquirido un terreno junto a la parroquia sobre la base de donaciones, festivales, rifas, ferias de platos, etc. También había logrado la compra de un terreno para cancha de bochas: “que proporciona a sus asociados esparcimiento y distracción, y otras numerosas obras que van formando día a día un interesante centro social donde se fomenta la amistad, el deporte y la sana alegría. Todo esto, merced al entusiasmo e iniciativa de los señores socios que integraron la comisión, quienes junto a sus ideas dispusieron su ejecutiva y pronta realización”. Otros miembros de la asociación eran: Demetrio Beluge, Demetrio Beluge (hijo), N. Cooreman, Héctor Gorini, Arturo Díaz, Dr. Alejo Zamelinski, Segundo Forcato, Roque Santomero, Francisco Villarrubia, Nicolás Cardarelli, “y otros numerosos vecinos que han tomado con verdadero cariño esta obra en beneficio del barrio y de la Parroquia” (La Calle. 27/7/1954: 5, c/4-5). Al celebrarse su primera asamblea comentaba el diario La Calle: “siendo los actos un acontecimiento no sólo de los asociados, sino de todo el barrio, que sigue con simpatía esta nueva organización de hombres católicos, que constituyen al lado de la Parroquia la esperanza de futuras obras, que han de convertir la Parroquia y el barrio entero en centro de cultura y progreso”. (La Calle. 5/8/1954: 7, c/3-4) Otro centro cultural existía en Barrio Alberdi. Era el Centro Cultural Alberdi que funcionaba en calle Vicente López 453, en Barrio Pte. Perón (ex Barrio Alberdi). Su 42 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens presidente era en 1954 Alberto Freytes, y el secretario Oscar Acosta. (La Calle. 8/2/1954: 5, c/6-7) Este centro organizaba bailes que convocaban a conjuntos musicales locales, elección de las reinas del carnaval. En épocas de carnaval el Centro participaba con su carroza. En ocasiones la prensa destacaba ese hecho. (La Calle. 25/2/1954: 5, c/5-6) El Centro organizaba sus propios bailes de carnaval, los que se llevaban a cabo en su sede y convocaba orquestas de la ciudad e instaba a la participación desde la opinión pública, en la creencia de que desde esas entidades se alentaba la sociabilidad: “La C. D. de la entidad invita a todos sus asociados y simpatizantes a participar de sus fiestas carnavalescas, donde el espíritu de esparcimiento se pondrá de manifiesto en todos los presentes a fin de festejar dignamente la fecha” (La Calle. 27/2/1954: 5, c/7) Los carnavales anuales, aunque su recorrido era en la zona céntrica de la ciudad, servían para que los clubes barriales sociabilizaran sus creaciones y se vieran incluidas en las actividades culturales de este tipo. El Centro Cultural Alberdi realizaba un festival infantil no en su sede sino en el Teatro Municipal (denominado entonces Eva Perón) y donde había colaborado la comisión de damas de la entidad. (La Calle. 23/6/1954: 5, c/3-4) En los momentos de celebrarse aniversarios de la creación del club, era ocasión para realizar festejos. Reunía a sus asociados convocándolos a los bailes, mientras las damas (del barrio) organizaban festivales infantiles. (La Calle. 13/8/1954: 5, c/4) También organizaba feria de platos y copetín. (La Calle. 19/8/1954: 5, c/3) Fiestas teatrales en el teatro Pte. Perón de Barrio Alberdi dirigido al público infantil. (La Calle. 20/8/1954: 5, c/5) Además el centro solía desarrollar ciertas actividades en la parroquia del barrio (Iglesia de La Merced). Así se oficiaban misas por los asociados fallecidos. (La Calle. 21/8/1954: 5, c/2) Las cooperadoras escolares. Era éste un tipo de entidad que mostraba el trabajo femenino. El diario Justicia comenta que la sociedad cooperadora de la escuela municipal Mariano Moreno había recibido del Club Alberdi (Barrio Alberdi) una donación de 50$ para adquirir ropa y ser distribuida entre los niños pobres que concurrían a esa escuela. (Justicia. 13/4/1943:: 1, c/4) El diario Justicia alude a la asociación cooperadora de la escuela municipal Bernardino Rivadavia (Barrio Las Quintas, en el oeste de la ciudad) que había renovado su comisión mediante asamblea. En esas asociaciones sí hay presencia femenina: presidente José Cardarelli, vice Faustino Pulmonari, tesorera srta. Irma Machado Silva; 43 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens protesorero José Galizzia; secretaria srta. Lola Kelly; prosecretario Tomás Abascal; Vocales: del total de 7 integrantes, 2 son mujeres: srtas. Aurora Barelli y Hermelinda Mirallas. Revisadores de cuentas: las 3 son mujeres: Delia Devoto, Nélida de Fernández, María S. de Cardarelli. (Justicia. 8/6/1943: 1, c/2) Días después esta escuela fue clausurada temporariamente por detectarse difteria, siendo un caso que se sumaba a otros detectados en Barrio Alberdi y sector este de la ciudad. (Justicia. 9/6/1943: 1, c/1) El diario Justicia alude a una reunión danzante en Los Ranchitos, a beneficio de la cooperadora de la escuela 226 de Banda Norte con el objeto de “dotar de ropa a los alumnos pobres de dicho establecimiento” (Justicia. 11/6/1943: 2, c/3). Años después el diario La Calle hace mención de una feria de platos realizada por los miembros de la cooperadora de la misma escuela. Entonces se invitaba “a todos los padres de los alumnos y a todas las personas simpatizantes a contribuir con la adquisición de un plato a esta obra de beneficencia que se realiza mediante el esfuerzo de quienes tienen a su cargo la Sociedad Cooperadora de dicho establecimiento educacional” (La Calle. 25/6/1954: 5, c/1). Las Unidades Básicas Peronistas disputaban la formación cultural y formaban cuadros políticos barriales. Iban a la búsqueda del electorado vecinal. Mostraban otro campo de acción femenino. La Calle comentaba en mayo de 1954 que la Unidad Básica del PP, cuya sede era en Barrio Pte. Perón calle Luis Pasteur y Leandro Alem, comunicaba “a sus afiliados y público en general” que se reanudaban las clases de Corte y Confección, sistema Teniente y Rodríguez; lencería, tejidos, etc.; arte culinario y preparación de alumnos hasta sexto grado. A la vez informaba que “se continuarían dictando las clases doctrinarias diariamente”. La comunicación estaba firmada por Ercilia Pino de Dapena, subdelegada censista. (La Calle. 21/5/1954: 3, c/7) También en mayo de 1954 La Calle difundía una comunicación del PP Femenino anunciando que en la Unidad Básica de Banda Norte se dictaban clases de Corte y Confección a sus afiliados y simpatizantes. Esas clases estaban a cargo de las srtas. Josefa Astrada y Martha Olmos. La comunicación también procedía de parte de la subdelegada censista del barrio. (La Calle. 2/6/1954: 3, c/5) Cuando se celebraba el Día del Renunciamiento en la Unidad Básica del PP Femenino de Barrio Alberdi se realizaban actos recordatorios a Eva Perón a cargo de la sub delegada censista Sra. Ercilia Pino de Dapena. 44 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Participaban allí las colaboradoras de la Unidad Básica y alumnas de los cursos de capacitación. (La Calle. 25/8/1954: 3, c/4-5) Otra Unidad Básica funcionaba en Barrio Boulevard Roca (calle Las Heras 937). La Fundación Eva Perón asistía, por ejemplo, a las escuelas. Tenemos el registro de una entrega de vestimenta “a los padres de alumnos necesitados” de la escuela Remedios Escalada de San Martín. (La Calle. 12/8/1954: 4, c/4-5) A modo de síntesis Esta ponencia nos ha permitido enfocar desde una perspectiva teórica el espacio barrial, entendido como espacio de construcción social. En este sentido al abordar la trama asociativa que se constituyó en la ciudad de Río Cuarto, hacia mediados de siglo XX, en los barrios, se advierten las opciones múltiples de participación y de pertenencias: vecinales, cooperadoras escolares, parroquias, clubes, Unidades Básicas. Junto con esas entidades de diverso tipo resaltan las diversas fuentes de adoctrinamiento intrabarrial: que iban desde lo religioso a lo político. Precisamente, abordar la problemática de la trama asociativa en la etapa del peronismo conlleva abordar el rol de las Unidades Básicas, la competencia del partido peronista femenino (en dos planos, cultural y político). Pero también esos años muestran el rol activo de las mujeres desde las parroquias, la solidaridad de las acciones vecinales, el trabajo social alternativo al vecinal. El barrio aparece entonces como un espacio social y al a vez un espacio donde el poder político dirimía posiciones, iba a la búsqueda no sólo del vecino sino también del elector. Y en esa búsqueda, que era también la de las otras asociaciones, se creaban vínculos y resignificaban figuras sociales: la del vecino, la del asociado, la del elector. Referencias bibliográficas BASCONZUELO, Celia (2009). Vecindad y ciudadanía. La construcción de canales alternativos de participación en Río Cuarto y el sur de Córdoba al comenzar el siglo XX. Río Cuarto: Ediciones del ICALA. 45 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens CALDO, Paula y Sandra FERNÁNDEZ (2009). “Por los senderos del epistolario: las huellas de la sociabilidad”. En Revista Antíteses. Vol. 2. Nº 4, julio-diciembre, (pp. 10111032). Disponible en la web: http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/antiteses CUNILL, Norberto (1997). Repensando lo público a través de la sociedad. Caracas: Editorial Nueva Sociedad. DE PRIVITELLIO, Luciano (2003). Vecinos y ciudadanos. Política y sociedad en la Buenos Aires de entreguerras. Buenos Aires: Siglo XXI Editores. DI STÉFANO, Roberto, Hilda SÁBATO, Luis A. ROMERO y José Luis MORENO (2002) De las cofradías a las organizaciones de la sociedad civil. Historia de la iniciativa asociativa en Argentina. 1776-1990. Buenos Aires: Gadis. FERNÁNDEZ, Sandra (2007) “Los estudios de historia regional y local: de la base territorial a la perspectiva teórico-metodológica”. 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Río Cuarto. 1954 4) AUTOR: Cinthia Fabiola Ruiz López PONENCIA: Enfoque teórico y metodológico para las acciones de habitantes reasentados por un programa de Desarrollo INSTITUCIÓN: Universidad Autónoma de Chiapas PAÍS: México MAIL: [email protected] INTRODUCCIÓN El sistema capitalista actualmente dominante a nivel global, ha generado un desarrollo desigual, entre países como al interior de ellos y ha impactado en los territorios locales transformando la vida cotidiana. En el caso de México esto se ha manifestado en una desigual participación de entidades nacionales en la incorporación a movimientos globales. Las zonas norte y Occidente fueron beneficiadas con la liberalización de mercados, frente a una zona sur que se mantuvo al margen. Chiapas un estado localizado al sur del país y que ha tenido entre su actividad principal el campo, ha sido afectado por esta situación y actualmente vive altos índices de pobreza y marginación, en contraste con la riqueza cultural y biótica de la región. Lo cual ha hecho que sea considerada una zona apta a modernizar y desarrollar. Soportados en esta idea 47 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens gobiernos nacional como estatal, en apoyo con organismos internacionales, crean programas que establecen en los territorios locales acciones que mejore la condición de vida de la población, al mismo tiempo que transforman la vida cotidiana de muchos chiapanecos. En el año 2007 en Chiapas se crea el programa Ciudades Rurales Sustentables que busca el desarrollo regional y tiene entre sus principales acciones principales reasentar a población pobre y dispersa. El eje que guía está ponencia es la vida cotidiana como un soporte teóricometodológico, manifestada por las acciones de los habitantes ante tendencias mundiales, que transforman su vida cotidiana. La vida cotidiana aquí abordada, supera la visión como simple aglomeración de actividades y a ella se le reconocen dos componentes el físico como su espacialidad y el subjetivo como los valores, el apego al espacio que se generan en la interacción día a día, entre habitantes y espacio. En la primera parte del documento se aborda la vida cotidiana como un hecho social. Después se aborda su componente espacial, al entender que esta se desarrolla en un tiempo y espacio determinado. Sin embargo el espacio de la vida cotidiana no es solo uno, la producción de este es diferencial e influenciada por varias lógicas o niveles. Adelante se reconoce las normas que guían la vida cotidiana, el cual les permiten convivir y tomar decisiones, estas entendidas como las instituciones locales. Por último se abunda sobre los espacios disputados como categoría de análisis para articular las transformaciones en la vida cotidiana. 1. El programa de ciudades rurales sustentables en las comunidades de Nuevo Juan del Grijalva y Santiago el Pinar En el año 2001, con la administración del presidente Vicente Fox, se implementan políticas de carácter regional entre ellas se encuentra el Plan Puebla Panamá (en adelante PPP), que desde el discurso promovería un desarrollo económico interno al considerar la dinámica de los procesos globales de la economía (Torres y Gasca, 2004: 43). 48 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Alguno de los proyectos de infraestructura promovidos por el PPP son apoyados por el Banco Mundial y otras agencias internacionales, con enfoque centrado supuestamente en el empoderamiento, oportunidades y seguridad humana (Álvarez, 2002:88). En concordancia con la propuesta del PPP, en el año 2007 en Chiapas, se crea la política pública Ciudades Rurales Sustentables (en adelante CRS) que considera a la dispersión “como la razón original y fundamental de la pobreza extrema” y obstáculo para la provisión de servicios e infraestructura (Sabines, 2008). De acuerdo a esta idea el Gobierno propone la concentración de población en la ciudades con el fin de “atenderla con servicios de calidad, equipamiento urbano, oportunidades económicas, de desarrollo social y humano” (Sabines, 2008). El programa fue diseñado por el Gobierno del Estado en conjunto con la Universidad Autónoma de Chiapas (UNACH), a través del Centro de Estudios para el Desarrollo Municipal y Políticas Públicas (en adelante CEDES), resultado de ello se crean los Referentes para el Plan Maestro (CEDES, 2008). En él se propuso que el diseño de una CRS debe ser basada en el enfoque de sistemas para evaluar las necesidades humanas “se parte de observar la situación desde distintos ángulos”, dice; se agrupan sus “componentes en cinco subsistemas: Físico-biótico; demográfico-sociocultural; económico-productivo; urbanoterritorial; y gestión municipal” (CEDES, 2008). De igual manera, dicho documento establece que el proyecto debería crearse en conjunto con la población con enfoque de planeación participativa (CEDES, 2008). Aunque en el referido documento el programa de CRS, busca concentrar a la población en centros poblacionales que mejoren su calidad de vida, organizada y segura, a través del consentimiento y apoyo de los habitantes, la ejecución de dicha política ha estado distante de esa idea. La propuesta inicial era construir 27 ciudades en cinco años (Reyes y López, 2011:144); sin embargo el Instituto de Población y Ciudades muestra que actualmente tres se encuentran en proceso de construcción en Jaltenango, Ixhuatán, Emiliano Zapata; una en estudio en Copainalá y dos fundadas Nuevo Juan del Grijalva y Santiago El Pinar. 49 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens La primera CRS es Nuevo Juan del Grijalva inaugurada en 2009 en el municipio de Ostuacán, en ella se reacomodaron a familias afectadas por el derrumbe del año 2007 en el mismo municipio y se relocalizaron a 10 comunidades. La ciudad, según el Informe del gobernador Juan Sabines (2006-2008), “cuenta con casas de autoconstrucción del proyecto establecido por el gobierno estatal y otra tanta construidas por Fundación Azteca; Clínica, Cancha deportiva, escuelas de educación básica, Centro de Asistencia Infantil Comunitaria y de Desarrollo Comunitario, así como todos los servicios básicos, Proyectos Agroindustriales , micronegocios” (Sabines, 2008); y su localización es publicada en el Plano de Desarrollo Urbano del Instituto de Población y Ciudades Rurales. En la elaboración de esta primera CRS participó activamente la iniciativa privada a través de un Fideicomiso FICIRS, que tiene como fin contribuir en la construcción y desarrollo de las CRS y Villas Rurales Sustentables con recursos de los tres órdenes de gobierno y de la iniciativa privada (Instituto de Población y Ciudades Rurales, 2010:37). Por otro lado, a pesar de las supuestas mejorar para los habitantes, se han presentado descontentos al interior de esta primera ciudad, los habitantes se quejan de los materiales, la organización y dimensiones de las viviendas, cobros excesivos de luz, falta de cumplimiento en la promesas del gobierno, falta de empleo e inconformidades por trabajos de la Comisión Federal de Electricidad (CFE) sin permisos de los propietarios (Taniguchi, 2011). Estas inconformidades han concluido en detenciones de habitantes descontentos; que no ha sido difundido por los medios de divulgación locales, sino por los alternos como es la Radio Zapatista Chiapas no se olvida (2011). La segunda CRS Santiago el Pinar inaugurada en marzo del 2011 y con la cual se trasladó a población hablante de tzotzil, “cuenta con viviendas, escuela primaria, templos religiosos, centro de salud popular, área comercial, planta potabilizadora, subestación eléctrica, vivero, granjas avícolas e invernaderos”; en ella se concentró a localidades 50 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens existentes como: Chiquinch’en los Tulipanes, Xchuch, Boquem, Choyó, Chicontantic y la cabecera municipal de Santiago el Pinar. Sin embargo a poco tiempo de su creación he observado que aunque se doto de equipamiento a la ahora CRS, este se encuentra descuidado y en algunos caso no está operando, en lo referente a la vivienda estas no están todas habitadas y algunas aún en proceso de construcción. Al igual que la primera, Santiago el Pinar ha presentado conflictos desde su construcción con los trabajadores del grupo Indi (empresa constructora), ya fundada éstos han sido por posesión de tierras, falta de cumplimiento a compromisos, distribución de los recursos, así como el material y distribución de viviendas (Taniguchi, 2011). Puedo precisar que el programa de la CRS se anunció para promover el desarrollo regional; pareciera enfocarse solo en un modelo que se repite de manera indistinta entre comunidades diferentes. Que además ha estado marcado por conflictos e inconformidades de habitantes hacia las autoridades y actores externos, por la falta de cumplimiento y características del proyecto. 2. Antecedentes del estudio de las transformaciones en la vida cotidiana En el ámbito teórico mucho se ha hablado y planteado la problemática que imprime la globalización y el capitalismo en los territorios locales, tanto sociología como geografía se han sumado a esta tarea. Harvey plantea que estos estudios no son recientes y data desde la obra de Marx, nombrada el capital, que trataba de la lucha de clases y el desarrollo desigual. El autor reconoce que existen dos dimensiones en este proceso, una global cuando se relaciona con los movimientos mundiales y otra local que considera al cuerpo como instrumento de rebelión o alienación en su caso (Harvey, 2005:72). 51 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Por otra parte Mario Becattini, plantea que existe un grupo de sociólogos que estudian la ciudad ante el fenómeno del capitalismo desde la visión marxista, donde sitúa a Lefebvre con su teoría unitaria. Lefebvre propone que cada ciudad experimenta cambios o “mutaciones” que tienen vínculo con sus fases precedentes (Becattini, 1982:136). La teoría de Lefebvre considerar las grandes tendencias que inciden en los ámbitos locales, sin eliminarlos, ellos pueden servir como obstáculos o promotores de los cambios. Y ve a la producción del espacio, como un proceso que articula distintos niveles: global representado por el poder del Estado (ideología y estrategias); el mixto que corresponde a la ciudad considerando los dirigentes; y el privado que corresponde a la vivienda, relaciones privadas familiares y de vecindad (Becattini, 1982:128; Lefebvre, 1991:12). Esta nos muestra que para entender las transformaciones es necesario conocer las fases precedentes y considerar los distintos niveles presentes en la construcción de los territorios locales. 3. La vida cotidiana entendida como categoría de análisis La vida cotidiana como categoría de análisis ha sido usada desde los años setenta por varias vertientes, que buscan a través de ella el entendimiento de la realidad social. Tantos marxistas, constructivistas y los precursores del interaccionismo simbólico, reconocen al hombre inserto en un sistema social determinado y especifico. En la vertiente marxista se encuentran las aportaciones de Anger Heller y Lefebvre, que se caracterizan por ver a la vida cotidiana como algo repetitivo, rutinario y relacionado con la alienación. No obstante reconocen que dicha categoría no es algo determinado y puede ser transformado por los actores, a través de ella encuentran la capacidad liberadora y se apropian de los conocimientos de la sociedad, que les permite la reproducción social. Para la vertiente del interaccionismo simbólico la vida cotidiana, es donde se da la interacción social y es posible la innovación. Por último la vertiente constructivista considera que existe un ajuste entre innovación y rutinización, que se da en el proceso de interiorización de procesos externos. 52 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Las tres vertientes consideran que el desarrollo de la vida cotidiana no es de manera libre sino que el hombre se encuentra inserto en un orden social, que no es necesariamente dominante o legítimo, pero que les establece un sistema de normas o códigos de conducta, los cuales son reinterpretados por el hombre, y guían su vida cotidiana. Sin embargo es en la vertiente marxista donde se le da mayor énfasis a la historia, al considerar que el proceso de apropiación cambia en los distintos periodos de vida de una sociedad; por ello dicha vertiente considera que la vida cotidiana transcurre en un tiempo y espacio determinado. En esta idea, se considera que la vida cotidiana se desarrolla en un espacio ordinario, cultura, costumbres, usos y hábitos sociales, pero que estarán ligados a un contexto espacial y temporal específico, tanto local como global. No obstante el estudio de la vida cotidiana también ha estado a cargo de una parte de la geografía, misma que resulta importante en este estudio. Ella se enfoca en el componente espacial, al centrarse en la interacción entre espacio-sociedad y soportada en la dimensión espacio-temporal subjetivo, desde el cual se da sentido al espacio. En ella resaltan las aportaciones de la geografía histórica de Hâgerstrand, que considera el carácter rutinizante de la vida diaria, formada por una conducta individual pero que al mismo tiempo establece límites a la conducta espacio-tiempo. Para el autor la vida cotidiana está formada por las practicas individuales que son independientes al sistema social que enfrenta, así los actores son vistos como seres interacciónales que guían sus actividades por proyectos o necesidades, de manera consciente o inconsciente e impuestos por la comunidad (Giddens, 1995:149). La construcción de la sociedad se da entonces en una contante interpretación del espacio de vida, aquí se resalta al espacio como un condicionante y determinante de la vida cotidiana de los habitantes; se acepta la idea de espacio como constructor de los habitantes y ellos como transformadores de este, en una relación recíproca. 53 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Es fundamental entender que el espacio de vida o cotidiano (como lo nombran algunos autores) es importante en el moldeado de los habitantes, por lo cual establezco un puente entre las aportaciones sobre vida cotidiana de la sociología con Anger Heller, Lefebvre y el espacio cotidiano de la geografía histórica o “de la vida cotidiana” de Lindón, Giddens y Goffman. 3.1 Vida cotidiana como un hecho social La vida cotidiana como categoría de análisis se sustenta en la idea, del hombre como ser que nace en un contexto determinado con características específicas, mismo que condiciona su personalidad pero que al mismo tiempo, este ambiente es reproducido por él. Desde la concepción de Anger Heller el hombre no se encuentra enajenado a un contexto, sino que tiene la posibilidad de transformarlo y modificarlo. La autora diferencia a la vida cotidiana del simple aglomerado de actividades, prácticas, motivos, relaciones e instituciones y la considera también formada por rasgos constantes que protegen aquello que nos permite ser humanos. Toda vez que en la vida cotidiana observamos valores, normas y visiones, al mismo tiempo que realizamos prácticas y acciones con las cuales adquirimos conocimientos. En la concepción de la vida cotidiana, Heller establece algunas consideraciones importantes a recalcar: la concepción de hombre particular e individuo; la constitución de los grupos y comunidades; la heterogeneidad de las actividades; la diferencia entre actividades cotidianas y genéricas. La primera es la concepción del hombre particular, como ente que nace en condiciones sociales concretas, bajo un sistema de expectativas, dentro de instituciones de las que debe apropiarse para satisfacer sus necesidades individuales y sociales, construyendo su modo de vida (Heller, 1987:20). Este hombre se desarrolla como un ente natural socializado en una esfera de vida cotidiana con lo cual forma su ambiente inmediato. 54 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Heller denomina al hombre particular con características que lo hace diferenciarse del resto del mundo, por un proceso de socialización; y por otro lado el hombre con características específicas, al diferenciar su “yo” de la comunidad que lo hace ser específico. Entonces los motivos y fines de las acciones forman parte de la particularidad, pero son las acciones las que le dotan de especificidad a este hombre, volviéndolo individual (Heller, 1987:48). En la vida cotidiana, se distingue la particularidad de la individualidad, por las elecciones que a diario hacemos al realizar nuestras actividades y el éxito en estas actividades condicionará las elecciones futuras. Otra consideración que establece Heller es que el hombre desarrolla su vida cotidiana en un grupo, que le permite desarrollar capacidades, al establecer relaciones cara a cara (Heller, 1987:69). La autora determina que los grupos también deberán ser una categoría de análisis para entender como el hombre se apropia de habilidades necesarias para desarrollar su vida cotidiana; dichos grupos serán la familia, al aldea, comunidades, etc. No obstante todos ellos no tienen la misma jerarquía en el desarrollo del particular. Pero estos deberán ser analizados desde la heterogeneidad, aun al interior de una misma clase. Sin embargo estos están regidos por un sistema de valores homogéneo (Heller, 1987:76). La siguiente consideración es la heterogeneidad de las actividades, Heller determina que entre acciones humanas existe similitud y diferencias, los hombres tienen acciones similares, pero en el plano abstracto existen diferencias; es decir todos comemos y dormimos pero lo hacemos de diferente manera (Heller, 1987:19). Dicha diferencia depende de la sociedad y la clase social en que estemos insertos. La diferenciación en lo cotidiano se vuelve un ajuste entre lo social y lo genérico y permite la construcción de un ser singular. En este proceso de ajuste el hombre construirá sus medios de subsistencias, cooperara y se confrontara, pero también imprimirá significados al medio. A través de ello el hombre se apropia de lo social, con lo que Heller denomina la 55 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens esfera de la objetivización, donde se reinterpreta y actualiza con sujetos con experiencias vitales. Dicho proceso le permite al hombre crear un ambiente en el que aprende a moverse. La objetivización es un proceso constante que le permite al hombre apropiarse de lo social, reproducirse y poder vivir. Pero este proceso está enmarcado en reglas, tales como: la regla del lenguaje ordinario, de prescripción para manipular y usar objetos y por último las de interacción humana bien conocida como costumbres. La autora también plantea la diferenciación entre actividades cotidianas y genéricas. Las primeras están formadas de las elecciones del individuo, le dan el carácter particular y pragmático a sus acciones a lo largo de su vida; mientras que las genéricas son aquellas que rigen la acción del particular y son establecidas históricamente por el grupo o comunidad al que pertenezca. Pero estas tampoco son estáticas y su función deriva de la existencia de funciones vitales, su estructura cambia a lo largo de la historia a un ritmo muy lento o presenta estancamientos, pero su contenido cambia a un ritmo muy rápido (Heller, 1987:102). La consideración del pensamiento de Heller sobre la vida cotidiana, aquí explicadas obligan a entender dicha categoría como un hecho social, donde son fundamentales los actores que reproducen y el carácter histórico que permite la reproducción y construcción de una sociedad. Por ello la vida cotidiana se convierte en el reflejo de la historia. 3.2 Lo material de la vida cotidiana En los estudios de la vida cotidiana el espacio es una dimensión importante, en él, es donde los habitantes interaccionan. Se parte de la idea que el hombre se sitúa en un espacio físico y tiempo determinado donde lleva a cabo su vida cotidiana. Pero en este día a día existe un proceso constante de interpretación y re interpretación con que se imprime sentido al espacio. 56 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Lefebvre plantea la problemática del espacio en las sociedades modernas, que generan un espacio fragmentado, cerrado u homogéneo (Lefebvre, 1991:9). Aunque el autor usa el término espacio, para referirse al territorio que se produce en la ciudad. El autor entiende al espacio como escenario y producto de los procesos ideológicos. La propuesta de Lefebvre es pertinente al considerar que liga a la vida cotidiana con la producción del espacio. El autor plantea que el espacio se producen en tres momentos íntimamente relacionados: el espacio percibido (prácticas, usos, costumbres que corresponderán a la clase social del habitante), el espacio concebido (entendido por los científicos, planeadores) y por último el espacio representacional que será el espacio vivido (que no sigue necesariamente reglas, pero si está cargado de significados, es fuente de la historia y se encuentra articulado a la vida cotidiana) (Lefebvre, 1991:12). Harvey plantea que los espacios planeados resultan ser espacios ideales o utópicos como el proyecto de la ciudad jardín, ideales; que usan el poder del Estado para la implementación y que chocan con marcos espaciales, temporalidad y prácticas constantes de los habitantes en los lugares (Harvey, 2005:207). Sin embargo el espacio en la esfera de la vida cotidiana, es distinto para los actores y la relación que guarde con dicho espacio. Existe una reproducción diferencial del espacio y sin pasar por alto las contradicciones o conflictos entre los momentos. Sin el ánimo de separarlos, empezare refiriéndome al espacio que guarda íntima relación con la esfera de la vida cotidiana, el espacio vívido. Para referirse a él se usan varios términos, entre ellos el espacio de vida (Lindón, 2006), espacio cotidiano y el espacio vivido (Frémont, 1976 citado en Lindón, 2006; Lefebvre, 1991:12), todos ellos se refieren al espacio como lugar donde se realizan las actividades cotidianas, que aparentemente son banales, pero que representan una expresión de la vida social y al mismo tiempo constituye la identidad del grupo o individuo. 57 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Este espacio cotidiano se ve reflejado en varios espacios de la ciudad o un espacio fragmentado, pero que tiene límites definidos (Lefebvre citado por Lindón, 2003; Lefebvre, 1975:221). La geografía ha establecido una clasificación de los espacios que están presentes en la vida cotidiana (Lindón, 2006:370). En ella se encuentran los desplazamientos al referirse a las prácticas de las personas para ir de un lugar a otro, aclarando que no solo es la movilidad de las personas sino desde el reconocimiento de un espacio vivido, con la interacción entre habitantes y espacio. Otro espacio es de prácticas ancladas a un lugar, tales como el trabajo, la escuela, la vivienda, etc. El tercer tipo de espacio es de encuentros o escenarios cotidianos, en ellos se dan relaciones de negociación entre actores. Y por último los espacios donde se desarrollan prácticas rutinarias, que incluyen al tiempo como una dimensión importante, ellos consideran las series de prácticas rutinarias realizadas en un periodo más largo y debido a esta repetición generan una acumulación de conocimiento o información en la persona. Las relaciones que entablan las personas con el espacio lo convierten en familiar, lo conocido, lo habitable; y se establecer un vínculo con él. No obstante es importante aclarar que la relación entre espacio y habitante se da de manera individual, y por ello diferenciada, a pesar de ello el espacio es construido socialmente por estas relaciones enmarcadas en un contexto económico, social y cultural específico. Sin embargo al espacio que se le ha impreso significado, se convierten en lugar. Auge considera al lugar antropológico, como un espacio cotidiano que está formado por valor histórico, identitario y relacional. Para él con la práctica de la vida cotidiana se va significando el lugar. Lindón por su parte se refiere al sentido de lugar, como una acción que impone una subjetividad a un espacio y bajo esta visión el lugar se vuelve identitario(Lindón, 2003). 58 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Así los espacios cotidianos como la casa, el trabajo, de ocios, espacios de desplazamiento como calles o recorridos al trabajo, etc., se convierten en lugares cuando el individuo le carga de valores y se identifica con ellos. 3.3 Espacio percibido como prácticas e instituciones en la vida cotidiana El desarrollo de la vida cotidiana se da en un espacio físico específico e íntimamente relacionado a su historia. Para Heller las acciones y el comportamiento en la esfera cotidiana están ligados a reglas, normas y prácticas que los habitantes aceptan y siguen para regular el comportamiento al interior de la comunidad o grupo (Heller, 1987:20). El espacio que ellos viven lo interpretan de una forman concreta, formando lo que Lefebvre denomina espacio percibido (Becattini, 1982:136). El cual será reflejado por experiencias de vida cotidiana y memorias. Dicho espacio se representa en las prácticas que desarrollan los habitantes en el curso de la acción social (Lefebvre, 1991:12). Heller, visualiza al hombre inserto en un sistema social concreto que le impone expectativas, que le permite satisfacer sus necesidades y que al mismo tiempo construye su modo de vida en un medio ambiente inmediato (Heller, 1987). Sin embargo el hombre no desarrolla su vida en solitario; sino se adhiere a un grupo que le permite desarrollas sus capacidades. La adherencia a un grupo le establece al individuo un sistema de valores, que él reinterpreta para desarrollar su vida cotidiana, satisfacer sus deseos, necesidades, intereses y establecer un modo de vida. Diríamos entonces que el medio ambiente en que se desarrolla el hombre le establece un conjunto de normas formales e informales, que serán usadas para responder a las relaciones de poder de otros ámbitos o para articular procesos de transformación y reacomodo en los territorios locales. Estas guiaran las decisiones, estrategias y prácticas de los habitantes. 59 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens En la propuesta de Heller, estas son entendidas como reglas de lenguaje ordinario, para manipular o usar objetos y de interacción o costumbre que forman parte de la estructura institucional e ideológica de la comunidad; que son las prácticas y acciones las que delimitan el nombrado espacio social de Lefebvre. El espacio social, así delimitado, tiene una forma, estructura y función, que el hombre no está atado a seguir, según Heller él lo reinterpretación basado en su experiencia acumulada. Existe pues una relación directa entre las prácticas, normas y acciones que rigen la conducta de los hombres al interior de una comunidad. El conjunto de normas ha sido nombrado por Douglas North como las instituciones; es decir las “reglas del juego en una sociedad o, más formalmente las limitaciones ideadas por el hombre que dan forma a la interacción humana” (North, 1990:3). Las instituciones son marcos de acción que permiten la relación entre individuos y organizaciones en una sociedad y constituyen un enfoque metodológico. Para Scott las instituciones pueden ser de tres tipos, dependiendo el vínculo que tengan con la acción del individuo (Scott, 1995:37 citado por Alburquerque, 2002 y Appendini y Nuijten, 2002:74): regulativa que restringe o regula la conducta; normativa que introduce una dimensión prescriptiva, evaluativa y obligatoria; cognitivo: centralidad en elementos cognitivos, las instituciones son reglas que constituyen la naturaleza de la realidad y el marco a través del cual el significado se construye. Estos permiten incluir aquellas prácticas rutinarias que se han construido con el tiempo (Appendini y Nuijten, 2002:74). Rivas considera que las instituciones se crean en un proceso de socialización en donde los individuos conforman sus patrones, valores y marcos de referencia (Rivas, 2003:37). Sin embargo este proceso tiene sentido en un contexto cultural y social especifico, y al mismo tiempo establece un vínculo directo con las conductas individuales. Rello considera que estas 60 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens instituciones son también influidas por el contexto regional, para establecer su relación con las acciones, oportunidades, capacidades que los habitantes pobres utilizan para elegir una estrategia que les permita sobrevivir o salir de su situación de pobreza (Rello, 2007,18). Así el individuo realiza una acción al poner en consideración lo justo, moral, la pertenecía al grupo y la identidad (Flores y Rello, 2002:20). Las instituciones como marcos normativos están soportadas en la teoría de la racionalidad limitada de Simón, esta teoría establece que el hombre obedece a comportamientos personales y subjetivos. Identifica la existencia de una estructura normativa legal de la sociedad, de los hábitos y actitudes compartidos por una colectividad (González, 2003:97). Para el autor una conducta racional está determinada a un entorno interno de las mentes de las personas (contenidos de memoria y procesos), así como de otro externo del mundo en que actúan. 3.4 Los espacios disputados como representación de la transformación en la vida cotidiana La vida cotidiana considerada como proceso social nos obliga a entender que existe una construcción histórica de los territorios locales, en donde interaccionan distintos actores con diferentes intereses, con ello se van formando contradicciones en la configuración del territorio. En los territorios locales se observa que han existido movimientos de lucha y defensa por el territorio ante procesos globales. Rodríguez considera que la construcción de un territorio se da entre constantes confrontaciones y conflictos, convirtiéndolo en un espacio disputado. Para él en estos conflictos existe una variedad de actores que disputan posesión, control de recursos naturales, económicos y culturales e identitario (Rodríguez, 2007:373; Rodríguez, 2010:26). Él considera que los distintos grupos y actores sociales crean alianzas y mecanismos para interactuar con los grupos de poder, los actores tienen la capacidad para resistir o incitar determinados proyectos de sociedad (Rodríguez, 2005:47). 61 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Para María Eugenia Reyes los espacios disputados van cambiando a lo largo de la historia, con lo que plantea el fin de regiones de refugio de Beltrán al referirse a los territorios indígenas como espacios no alcanzados por las dinámicas globales. Según Reyes los indígenas ya disputan espacios como la ciudad, campo, recursos y el ejercicio del control político, cambio que surgió por las situaciones de vida y la demanda de tierras (Reyes et al, 1998:15). Existe una estrecha relación entre los espacios disputados y el poder. Acorde a ello, Emilia Velázquez y Odile Hoffman consideran que la configuración territorial es un hecho político, fruto del ejercicio e impugnación de poder, entre constantes negociación de actores. Dichas negociaciones estarán permeadas por implicaciones culturales reconocidas por todos los del mismo grupo (Hoffmann y Velázquez, 1994: 34). Los espacios disputados sitúa a los actores en un campo de poder, concepto usado por Bourdieu para describir un juego de fuerzas entre agentes que poseen la cantidad suficiente de un capital especifico (sea económico, cultural, etc.), que buscan ocupar una posición dominante dentro de un campo (Bourdieu y Wacquant, 2005: 24). Retomando a Foucault, el poder es una forma de acción sobre las acciones de otros el poder solo existe en una multiplicidad de puntos de resistencia dentro de una red de poder (Foucault, 2002 citado por Rodríguez, 2005:47). Para el autor el poder viene acompañado de un campo de posibilidades de respuestas; es decir de acciones. Toda acción de poder lleva implícita una de rebeldía de los sujetos (García, 2002:37). A esto último Foucault le denomina resistencia; entonces el poder es expresado en relaciones de dominación pero también de resistencia. Dicha resistencia puede tener distintas formas y ser organizada o espontanea, agregaría o solitaria. Conclusiones 62 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Las implicaciones de un programa de desarrollo en la vida cotidiana, es un tema que obliga a tener una mirada crítica sobre las acciones que los habitantes llevan a cabo para articular las transformaciones. Se puede decir que la vida cotidiana es una categoría de análisis que brinda las pautas para entender como se ha constituido una comunidad, en un espacio y tiempo determinado. Así se entiende que el desarrollo de la vida cotidiana, está enmarcado en un sistema de valores, expectativas y normas que un grupo de habitantes ha constituido a lo largo de la historia, y son estos los que les permiten a los habitantes articular las implicaciones del sistema global en los territorios locales. De tal suerte que la constitución de un territorio se convierte en una negociación entre distintos momentos del espacio, tales como el espacio concebido por los planeadores que crean programas con acciones en territorios locales que responde a una ideología; frente a un espacio percibido por los habitantes en forma de prácticas e instituciones locales; ambos articulados a un espacio vivido por los mismos habitantes en forma de acciones y valores. Entonces las acciones de los habitantes se convierten en reguladores de estas contradicciones, frente a tendencias globales y un conocimiento que ha sido acumulado históricamente. Es a través de ellas que los habitantes aceptan o rechazan un programa, pero este ajuste no siempre es armónico, sino que se manifiesta en disputas y conflictos. Bibliografía ALBURQUERQUE, Ayuzabet (2002) “Teoría de la Organización y Nuevo Institucionalismo en el Análisis Organizacional”, en Administración y Organizaciones, No 8, UAM-Xochimilco, México, pp.15-44. 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Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Introdução A realização de Feiras Livre ocorre ao longo da historia da humanidade, e vai sendo modificada no decorrer do processo de modo a atender as demandas sociais de cada momento, especificamente no município de Feira de Santana, verifica-se que a Feira Livre faz parte de todo o processo de formação territorial do município, deste modo identificar sua dinâmica fornece subsídios para compreender a realidade da área de estudo. A análise sobre a formação territorial de Feira de Santana tendo como referência a Feira Livre é aqui realizada a partir do método dialético, proporciona a realização de uma pesquisa que permite explicar como a mesma é estabelecida, numa sociedade capitalista, identificando as contradições existentes, bem como as mudanças que ocorrem no decorrer do processo histórico, as quais são explicadas a partir das transformações que são implementadas no próprio modo de produção. O artigo é desenvolvido tendo por base o método dialético, através do qual busca-se desenvolver um estudo que possibilite compreender como ocorre a formação territorial do município de Feira de Santana, considerando que trata-se de um processo que ocorre para atender a demanda do modo de produção capitalista. Tendo como procedimentos metodológicos a realização da revisão de literatura, visando o aprofundamento do debate teórico-conceitual, com a qual se constrói a compreensão sobre a formação territorial, e pesquisa de arquivo para identificar aspectos sobre a formação do município, e da Feira Livre, pesquisa de campo que permite a observação do espaço e das dinâmicas da feira livre no município, com posterior tabulação e análise das informações. O artigo está estrutura em dois subitens, no primeiro discute-se o processo de formação territorial do município de Feira de Santana, e no segundo as transformações na dinâmica da Feira Livre, e mais as considerações finais. A formação do município de feira de Santana 66 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens O início do processo de formação do território de Feira de Santana está vinculado ao processo de colonização do Brasil que teve início no século XVI e ocorreu seguindo as necessidades do período, no qual os colonizadores ocuparam o território, estabelecendo a forma de uso e apropriação dos recursos encontrados, bem como o modo de produção a ser realizado. A área onde hoje se localiza o município em análise tem sua procedência vinculada especificamente com o impedimento da criação de gado no litoral o que fez com que criadores e comerciantes do produto se deslocassem para o interior, entre outros locais, esta área apresentava condições favoráveis para o comércio do gado o que estimulou o povoamento. É importante destacar que a pecuária não era a atividade econômica mais importante no período, pois a produção da cana-de-açúcar predominava naquele momento, mas era preciso produzir outros produtos para garantir à subsistência da população. Além do cultivo de tubérculos, milho, feijão, a pecuária também foi realizada, “[...] mas a pecuária, apesar da importância relativa que atinge, e do grande papel que representa na colonização e ocupação de novos territórios, é assim mesmo uma atividade nitidamente secundaria e acessória.” (PRADO JR. 1963, p. 44). Com isso, favoreceu o povoamento no interiro do país, para onde foi destinada a realização da pecuária. A ocupação inicial ocorreu aproximadamente em 1640, com a divisão do território em capitanias hereditárias estimulando o povoamento, e o local onde se situa o município foi sendo ocupado, especificamente quando a família Peixoto Viegas adquiriu “(...), a sesmaria de Tocos. Esta sesmaria compreendia as terras de Itapororocas, Jacuípe e Água Fria no atual território baiano, onde se originaria mais tarde o primeiro núcleo de ocupação de Feira de Santana.” (SANTOS, 1999, p. 30-31). Nesta sesmaria iniciou-se o povoamento, onde foi estabelecida a “casa forte e a igreja de São José de Itapororocas, que em 1696 constitui-se em freguesia” (SANTOS, 1999, p. 32), o lugar passou a ser utilizado por tropeiros, com a introdução da pecuária, a atividade se destacou e se expandiu e com ela o povoamento. As terras herdadas ficaram com a família Peixoto Viegas por algumas gerações, até quase o meado do século XVIII, e 67 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens “aproximadamente em 1732 e em razão de problemas com heranças, as terras da família foram fragmentadas em várias fazendas, e dentre estas, a Sant’Ana dos Olhos d’Água comprada pelo casal Araújo/Brandão.” (SANTOS, 1999, p. 33). O casal se instalou numa parcela de terra resultante da divisão realizada nesta sesmaria, e construíram uma capela, ao redor desta uma feira se desenvolveu. Com o crescimento da feira houve também o aumento da população que ocupava o local, e com a intensificação da atividade de pecuária e o comércio, garantiram o destaque do povoado, seguindo a lógica do capital predominante naquele período histórico. A realização da feira faz parte das atividades desenvolvidas neste local desde o início do processo de formação territorial, e apesar de serem vendidos outros itens, a feira ganhou destaque com o comércio de gado, por isso denominava-se feira do gado. O que Freire auxilia a compreender quando afirma que a [...] área afastada do litoral, no vale do rio Jacuípe, num ponto entre o mar e o sertão mais distante, uma povoação em torno da capela de Santa Ana e São Domingos foi se formando e, nela, uma feira de gado começou a se organizar. Além de estar localizada no caminho de uma das rotas que davam acesso à vários pontos do “Sertão de Cima”, sua posição também era estratégica por estar bem servida de águas de nascentes e de rios (Jacuípe e Pojuca) – fator de extrema importância numa área que sempre esteve à mercê das secas periódicas –, que ajudavam a saciar a sede do gado que vinha pelas estradas de boiadas. (FREIRE, 2007, p. 34) Estudos apontam para o estabelecimento da feira de gado e do povoamento estava vinculado especialmente à localização geográfica da área, pois a capela foi construída em um local com condições favoráveis para moradia, tanto no que se refere ao relevo, que era relativamente plano, como as fontes de recursos hídricos, o local tornou-se estratégico o que facilitou o crescimento do povoado, sendo definido pelas relações estabelecidas para atender as necessidades do capital. 68 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens A área onde atualmente situa-se Feira de Santana foi sendo produzida com o comércio, diretamente relacionado à pecuária e com a agricultura, sendo que o crescimento do povoado está relacionado principalmente à agropecuária, que era muito importante no momento, e também com a realização de atividades diversificadas, pois “Consorciada à pecuária, a produção agrícola de gêneros voltados para a subsistência – mandioca, feijão e milho – e exportação – tabaco, algodão e cana-de-açúcar – também se fez presente nas fazendas de Feira de Santana.” (FREIRE, 2007, p. 58). A feira do gado se consolidou na região no decorrer do século XVIII, e sua importância obteve destaque em toda a colônia, especialmente na metade do século XIX e de acordo com “a feira de gado, desenvolvida em Sant’Ana dos Olhos d’Água, atingiu seu apogeu, (...), em razão da maior facilidade no deslocamento do gado do interior para a cidade do Salvador.” (SANTOS, 1999, p. 34). Verifica-se que “a feira em volta da igreja de Sant’Ana crescia e o número de casas comerciais e residenciais em volta dela, também” (VARGAS, 2008, p. 24) diante do crescimento em 1819 o local tornou-se povoado, denominado Santana da Feira, e em menos de duas décadas, esse foi elevado à categoria de vila em 1832 (FREITAS, 1998). A vila destacou-se no âmbito econômico e teve sua posição política elevada em decorrência do seu desempenho na efetivação de negócios importantes para a época e, em 41 anos, o local passa da categoria de vila à cidade, em 16 de junho de 1873, sendo denominada Cidade Comercial de Feira de Santana, e em 1938 teve seu nome modificado, para Feira de Santana, com destaque ainda para o comércio realizado na feira que se situava entre as atuais Avenidas Getúlio Vargas e Marechal Deodoro da Fonseca. No decorrer das décadas do século XX acentuou-se o processo de urbanização, especificamente a partir de 1970, e intensificou-se a diversificação de atividades produtivas realizadas no mesmo o que pode ser compreendido quando se observa que a intensificação urbanização de Feira de Santana 69 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens resulta também da expansão das áreas de pastagens e redução da população rural, assim como, da expansão do comércio, que apresenta o terciário superior e terciário inferior, bastante diversificado, em decorrência da ampliação tecnológica local, além da influência marcante da industrialização, especialmente a partir dos anos 70. (FREITAS, 1998, p.69) A cidade de Feira de Santana teve o crescimento do espaço urbano, especialmente com a diversificação produtiva, evidenciando a importância da divisão do trabalho na produção do espaço, o que ajuda a compreender o investimento em atividades variadas, dentre elas a industrial. Deste modo, a importância do comércio ao longo de toda a formação histórica do município de Feira de Santana possibilitou um significativo destaque, o qual aliado ao processo de industrialização também promoveu relevantes transformações, tais como a implantação do Centro Industrial do Subaé, na década de 1970. Atualmente, observa-se no município de Feira da Santana a realização de diferentes atividades econômicas, agropecuária, comércio, serviços e indústria, sendo importante para explicar a configuração atual do município, uma vez que “o espaço territorial de Feira de Santana, na atualidade, expressa ainda o seu passado agro-comercial, como também, novas configurações resultantes de uma dinâmica industrial que vem a cidade de Feira de Santana.” (SANTOS, 1999, p.44). A formação territorial de Feira de Santana reflete as relações estabelecidas na área em consonância com as necessidades do capital, implementando-se desde sua origem a divisão social do trabalho, observada inicialmente com a divisão entre o comércio e à pecuária. No decorrer do tempo o município passou por significativas transformações, priorizando o que representava a maior possibilidade de acumulação de riqueza, chegando à configuração atual, onde convivem atividades realizadas no campo e na cidade destinada a atender às demandas do capital. As transformações que ocorreram em Feira de Santana podem ser identificadas quando se faz a leitura de algumas paisagens, um exemplo é aqui apresentado ao observar a 70 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Avenida Senhor dos Passos. No início do século XX, a mesma apresenta casas em estilo colonial predominando as residências e uma circulação inexpressiva, é importante destacar que a feira de maior expressão do município situava-se até a década de 1970, entre outras ruas, também na referida avenida (Figura 01). Comparando a paisagem da avenida nos dias atuais, é possível perceber as transformações que ocorreram na mesma, entre elas identifica-se diferenças na pavimentação, no tipo de iluminação, nas formas dos prédios e residências, bem com na circulação de veículos e pessoas que se modificou à medida que a cidade crescia, sendo atualmente uma das avenidas mais movimentadas de Feira de Santana, onde concentram-se muitos estabelecimentos comerciais. (Figura 02) O crescimento de Feira de Santana possibilita identificar que no início o povoamento situava-se no local onde atualmente encontra-se o centro da cidade, e no decorrer do tempo houve uma expansão da sua área no sentido do centro em direção à periferia. No período colonial a família Peixoto Viegas e o casal Domingos Barbosa de Araújo e Ana Brandão foram responsáveis pela ocupação inicial do espaço, ainda com a utilização de uma pequena área distribuída em dois núcleos, o maior no centro e o segundo, a sudeste do povoado 71 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens principal. Entre os anos de 1767 e 1878 com a dinamização da feira do gado, que obteve seu apogeu em meados do século XIX, observa-se uma ampliação da área povoada. (Figura 03) FIGURA 03 - Evolução Urbana de Feira De Santana: 1767 a 1986 Fonte: SANTO, S. M. A água em Feira de Santana, 1995, p. 40. No período entre 1878 e 1940, observou-se a ampliação do espaço da cidade, mas é a partir de 1940 e 1962 pode-se observar um crescimento mais significativo da área ocupada, com destaque para os períodos entre 1962 a 1967 e 1967 a 1986, quando o processo de industrialização moderna começou a se intensificar, e o crescimento acompanhou esta dinâmica, ampliando de forma significativa o espaço da cidade. A formação territorial de Feira de Santana é compreendida a partir da análise considerando as transformações que ocorreram ao longo do processo histórico, no qual a Feira Livre constitui-se como uma importante atividade para o crescimento do município. 72 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens A feira livre em feira de Santana: mudanças em sua territorialidade As Feiras Livres ocorreram ao longo do desenvolvimento da sociedade, sendo uma atividade importante para a comercialização de produtos, um local que favorece a venda direta ao consumidor, sendo estas [...] fenômenos econômicos e sociais muito antigos tendo sido consolidadas na Idade Média entre Gregos e Romanos. [...] tais práticas são tão antigas que remontam aos primeiros agrupamentos humanos, desde que o homem deixou de ser nômade e fixou-se sobre a terra, domesticando animais e criando a agricultura. (LIMA; SAMPAIO, 2009, p. 2) Entretanto foi na Idade Média que ocorreu sua consolidação, pois “[...] na Europa, com o forte crescimento do comércio, houve a necessidade de se criar um local próprio para que os mercadores pudessem vender e /ou trocar seus produtos.” (FONSECA, et al. 2009, 169). As feiras livres tornaram-se locais importantes para a dinâmica da distribuição de produtos, destacando-se enquanto atividade econômica, [...], eram imensas, e negociavam mercadorias por atacado, que provinham de todos os pontos do mundo conhecido. A feira era o centro distribuidor onde os grandes mercadores, que se diferenciavam dos pequenos revendedores errantes e artesãos locais, compravam e vendiam as mercadorias estrangeiras procedentes do Oriente e do Ocidente, do Norte e do Sul. (HUBERMAN, 2010, p. 18) As feiras livres, enquanto locais de troca, se desenvolveram para garantir a distribuição de produtos. No sistema colonial esta atividade foi levada para os territórios apropriados pelos colonizadores europeus no continente latino americano. [...] podemos perceber que as feiras e mercados, quanto à sua origem, podem ser reunidos em dois grupos. Um formado pelos países que já possuíam praças de mercado antes da chegada dos colonizadores; e, o segundo grupo, no qual o Brasil está incluso, refere-se 73 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens àqueles onde as feiras e mercados são consideradas inovações desconhecidas até então pela população nativa. (DANTAS, 2008, p. 89) A realização de feiras livres foi introduzida no Brasil pelos portugueses, com a criação de locais para estimular a distribuição dos produtos que atendessem a demanda interna. Para Lima e Sampaio (2009) as feiras livres fizeram-se presentes desde o período colonial e foram importantes para a“ tradição cultural ibérica implantada pelos colonizadores em nosso país.[...] as feiras medievais portuguesas, devido à intensa e rigorosa preparação que exigiam, sua periodicidade chegava a ser semestral ou mesmo anual. (LIMA; SAMPAIO, 2009, p. 2) No Nordeste brasileiro, a feira livre teve uma significativa importância na formação socioeconômica, e ainda se constitui “uma das principais formas de comercialização da produção agrícola e principal mercado de abastecimento para uma parcela da população”. (DANTAS, 2008, p. 92) No período colonial foram criadas muitas feiras livres tendo sido fundamentais para o processo de ocupação territorial. Entre elas identifica-se a Feira Livre do município de Feira de Santana/BA, que se desenvolveu no decorrer do processo histórico, associada à realização de uma Feira de Gado, assumindo grande importância para o povoamento da área onde se estabeleceria o município com o referido nome. As feiras livres são analisadas na dimensão do sistema espaço-temporal de mercados periódicos e é caracterizada no domínio de alcance limitado das cidades dos países subdesenvolvido, mesmo as de tempo integral do padrão espacial de interações típica das cidades do nordeste do Brasil. Nosso estudo sobre a Feira Livre parte do princípio de que no modo de produção capitalista, a feira livre foi perdendo a sua condição de circulação simples de mercadoria e foi sendo inscrita nos espaços de circulação e consumo da produção do campo, na completude do ciclo completo da circulação do capital. Entender o ciclo do capital, como se processa o 74 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens circuito produção, distribuição, troca (circulação) e consumo permite refletir sobre a funcionalidade das feiras livres nos tempos históricos do modo de produção capitalista. A Feira de Gado e a Feira Livre se constituíram como atividades essenciais na consolidação do município de Feira de Santana, sua realização favoreceu o crescimento do povoamento e a ocupação do espaço. Em um certo sentido, a história de Feira de Santana pode ser considerada como história da pecuária na Bahia. Os primeiros povoadores europeus da região eram criadores de gado e a feira, que deu o nome à cidade e ao município, era e ainda é essencialmente uma feira de gado. (POPPINO, 1968, 54) Com o estabelecimento da Feira de Gado o comércio de outros produtos também foi dinamizado e com isso a Feira Livre também se impulsionou tornando-se um local importante para a circulação de variados produtos, o que atraia a população local, e áreas vizinhas. A importância da Feira de Gado proporciona o destaque ao local, a mesma se consolida devido a diferentes aspectos, especialmente no que se refere as características naturais, que são apropriadas para facilitar o comércio de gado. Feira de Santana foi escolhida para a feira do gado por três razões importantes. Primeiro, porque estava situada no caminho mais direto entre o Recôncavo e as imensas pastagens do Mundo Novo, Jacobina e do médio São Francisco. Em segundo lugar, porque o povoado estava rodeado de excelentes pastagens naturais. A terceira razão, de vital importância para uma zona sujeita a secas periódicas, é que a região era atravessada por dois rios e por numerosos riachos. Salvo nos períodos de seca prolongada, o suprimento de água dessa área bastava para milhares de cabeças de gado. (POPPINO, 1968, 56) As razões apresentadas pelo autor demonstram que as características físicas foram relevantes para o estabelecimento da Feira de Gado, entretanto, é importante evidenciar que houve uma apropriação das condições naturais para garantir a concretização do ciclo do 75 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens capital. Tanto o uso das pastagens que possibilitava a engorda do gado depois de longas trajetórias percorridas pelo sertão nordestino, bem como o aproveitamento dos recursos hídricos, que existiam próximo à fazenda, garantiu a realização da sua comercialização. A Feira adquiriu significativa importância com o comércio de gado, sendo um local que favorecia a circulação de produtos, deste modo, o espaço do município de Feira de Santana foi sendo produzido, na medida em que ocorria a consolidação da Feira, [...] área afastada do litoral, no vale do rio Jacuípe, num ponto entre o mar e o sertão mais distante, uma povoação em torno da capela de Santa Ana e São Domingos foi se formando e, nela, uma feira de gado começou a se organizar. Além de estar localizada no caminho de uma das rotas que davam acesso à vários pontos do “Sertão de Cima”, sua posição também era estratégica por estar bem servida de águas de nascentes e de rios (Jacuípe e Pojuca) – fator de extrema importância numa área que sempre esteve à mercê das secas periódicas –, que ajudavam a saciar a sede do gado que vinha pelas estradas de boiadas. (FREIRE, 2007, p. 34) A consolidação da Feira de Gado na região ocorre ao longo do século XVIII, e seu alcance é evidenciado em toda a região, com a expansão econômica, especialmente na metade do século XIX, quando “a feira de gado, desenvolvida em Sant’Ana dos Olhos d’Água, atingiu seu apogeu, [...], em razão da maior facilidade no deslocamento do gado do interior para a cidade do Salvador.” (SANTOS, 1999, p. 34), o que possibilitou o crescimento do povoado, A transformação de Feira de Santana – de aldeia sem importância na principal feira de gado da Bahia – levou um século a completar-se. Desde o começo do século dezoito, o gado estava entre os produtos trocados nas reuniões semanais na capela de Santana dos Olhos d’Água. Esse comércio continuou através o século, ainda que a feira fosse apenas de interesse local. Até 1807, Feira de Santana era pouco conhecida. Não mencionava o povoado, ou fazia referência à feira, João Rodrigues da Brito, que escrevera um relatório sobre a economia da Bahia, ainda que o autor incluísse no seu trabalho um estudo sobre a pecuária na Província. A 76 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens feira, todavia, prosperou e, já em 1819, dava o seu nome ao povoado. Durante os próximos anos seguintes Feira de Santana cresceu rapidamente. (POPPINO, 1968, 56) A importância da Feira de Gado e da Feira Livre a essa articulada é evidenciada pelo seu limiar de alcance em grande parte do interior do Estado da Bahia. Até a década de 1970 a atividade era realizada no mesmo local na cidade, no centro comercial, mas com o processo de modernização houve a transferência da Feira Livre, para um local construído destinado para concentrar a atividade. A retirada da feira livre das ruas centrais da cidade para o Centro de Abastecimento promoveu transformações no espaço urbano, o comércio, principalmente de produtos industrializados, passou a predominar na Avenida Senhor dos Passos, nos dias atuais, concentra-se várias casas comerciais, de diversos tipos: calçadistas, confecções, livrarias, entre outras. Localizada nas principais avenidas do centro da cidade a feira livre era muito importante para o município, mesmo assim o Estado promoveu a mudança, apesar da relevante participação desta na arrecadação de imposto, e segundo reportagem do Jornal Tribuna da Bahia, o secretário de finanças de Feira de Santana, em 1975, afirmava que (...) a arrecadação da feira, do mercado e do matadouro é superior à do imposto predial e territorial urbano. A prefeitura cobra dos feirantes uma taxa de ocupação do solo que rendeu Cr$ 1.023.423,36 em 1972, quando o imposto predial contribuiu com apenas Cr$ 591.965,57 para a receita municipal. (IN: MOREIRA, 1996, 212-213) Evidencia-se, portanto, que a feira livre era uma atividade importante na cidade, atraindo comerciantes, consumidores de várias localidades, e gerando uma expressiva arrecadação para o município, deste modo a mudança do local de realização da feira atendia interesses econômicos daquele momento específico, onde o país estava passando por um processo de modernização, principalmente com a intensificação da atividade industrial. 77 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens A opinião dos feirantes sobre a transferência da Feira Livre é muito importante, e permite identificar aspectos relevantes para os sujeitos que estavam diretamente ligados à mesma. Neste sentido, destacamos a analise do senhor Hildebrando Correia, feirante há 60 anos em Feira de Santana, que trabalhou na antiga Feira Livre e atualmente ainda encontra-se no Centro de Abastecimento. Para ele a transferência foi vista da seguinte forma, A gente toma um choque, porque toda mudança trás problema, e no começo foi difícil, porque o povo não acostumou, não queria vim, descer pra aqui, tinham vagas aqui desocupadas, não tinha valor, hoje tem valor, ai o povo foi acostumando, e começou a ter divulgação, e o povo foi descendo devagarzinho. (HILDEBRANDO CORREIA, em 12/2012)15 Observamos, portanto, que houve diferentes pontos de vista sobre a mudança da Feira Livre, alguns feirantes colocam que não foi muito difícil, entretanto, como destaca o senhor Hildebrando, “toda mudança trás problemas” e o processo de adaptação ao novo local de realização da Feira Livre foi lento, mas aos poucos foi se consolidando. A transferência da Feira Livre de Feira de Santana foi amplamente divulgada nos meios de comunicação da época, o que permitiu fazer a análise a partir de algumas das notícias veiculadas nos jornais da cidade. Podemos observar que houve controvérsias sobre a mudança, algumas pessoas favoráveis, outras receosas sobre as consequências da modificação, mas, de modo geral, a transferência foi considerada como bem sucedida. No entanto, aspectos referentes à tradição que envolvia a realização da Feira Livre no seu local originário também foram apontados em diferentes notícias, evidenciando a importância da mesma no processo histórico da formação territorial de Feira de Santana. Considerações finais A formação territorial do município de Feira de Santana é definida pelo modo como se concretiza o capitalismo no país, onde o interior do continente é povoado a partir da 15 Entrevista realizada com o feirante Hildebrando Correia, 12/2011. 78 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens realização de atividades secundarias, tais como a pecuária, mas que no decorrer do processo histórico ganham destaque, auxiliando a consolidação de povoamentos, entre eles o que posteriormente daria origem ao município. A análise sobre a formação de Feira de Santana permitiu verificar as transformações que ocorreram no decorrer do tempo histórico, sendo a realização da Feira Livre uma particularidade extremamente relevante para compreender sua dinâmica, observando ainda que o Estado atuou de forma evidente em sua realização, especialmente na transferência deste comercio para o Centro de Abastecimento. Neste sentido, considerando que desde sua origem a Feira Livre faz parte da realidade do município, e no decorrer do processo passou por transformações, aumentando sua capacidade de comercialização e atraindo um número cada vez maior de produtores que utilizam o local para escoar sua produção, bem como de consumidores do próprio município e das localidades limítrofes. Assim, verifica-se que na formação territorial diferentes aspectos são determinantes, neste estudo analisou-se especificamente a realização da Feira Livre, mas tal perspectiva só pode ser esclarecedora a partir do momento em que observamos o que a define, principalmente por ser realizada seguindo a lógica do modo de produção, do avanço tecnológico, do momento histórico, da sociedade. Neste contexto, a transferência da Feira Livre, não foi uma opção apenas para organizar o centro da cidade de Feira de Santana, mas sim uma estratégia para atender a demanda crescente da distribuição e circulação da produção agrícola crescente no país que interferiu na dinâmica da atividade realizada a séculos na cidade. Referências DANTAS, Geovany P. G. Feiras no Nordeste. Mercator - Revista de Geografia da UFC, ano 07, número 13, 2008. 79 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens FONSECA, Ana Ivania Alves; et al. As feiras e o mercado como alternativa de renda para agricultores familiares: um estudo de caso do município de Bocaiúva – norte de minas gerais. IX Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro, 3 a 5 de novembro de 2009. Disponível em: http://sites.google.com/site/seminarioposgeo/anais FREIRE, Luiz Cleber Moraes. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra: Agropecuária, escravidão e riqueza em Feira de Santana, 1850-1888. Dissertação (Mestrado). Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal da Bahia. Salvador: UFBA, 2007. FREITAS, Nacelice B. Urbanização em Feira de Santana: Influência da industrialização 1970-1996. Dissertação (Mestrado). Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia. Salvador: UFBA, 1998. HUBERMAN, Leo. História da Riqueza do homem. Tradução de Waltensir Dutra. 22 ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro: LTC, 2010. LIMA, Anna E. F; SAMPAIO, José L F. Aspectos da formação espacial da feiralivre de Abaiara – Ceará: relações e trocas. XIX ENCONTRO NACIONAL DE GEOGRAFIA AGRÁRIA, São Paulo, 2009, pp. 1-19. MOREIRA, Vicente D. 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Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens 6) AUTOR: Flávia Schettino Marques Gomes PONENCIA: Nas páginas de El Mercurio: o combate naval de Iquique (1879), a glorificação de Arturo Pratt e a expansão territorial chilena em direção ao norte. INSTITUCIÓN: Universidade Federal de Minas Gerais PAÍS: Brasil MAIL: [email protected] Introdução A questão da territorialidade é algo que se interpõe nas relações humanas desde os primórdios das civilizações. A ideia de exercer domínio, físico ou cultural sobre um determinado espaço é perceptível em todo relacionamento humano e tal questão provoca disputase guerras pelo controle e definição destesespaços podendo ser vista na história pelos mais diversos grupos ao logo do tempo. A formação das nações contemporâneas trouxe consigo inúmeros conflitos e constantes mudanças nos territórios e na territorialidade do globo. E isto não se restringe a um lugar específico ou a uma condição geográfica definida, ao contrário é algo que abrange a maioria das nações mundiais.Neste contexto, o continente americano não é uma exceção em relação às disputas territoriais e às influencias que certos grupos exercem sobre uma localidade. A conquista dahegemonia política em determinado espaço geográfico passa por diversas etapas e necessita de estratégias definidas pelos detentores do poder para que se alcance o objetivo final que é dominar um território. As guerras fazem parte desta estratégia e talvez seja a maneira mais comum de se apoderar de um espaço que já pertencia a outro grupo de pessoas. No entanto, para que se alcance esse domínio, que normalmente se estabelece com a vitória de um sobre o outro no final de um conflito, algumas iniciativas devem ser tomadas por parte dos Estados envolvidos. Uma delas é o envolvimento da população local na questão da disputa a fim de se conseguir legitimidade e apoio para atacar o inimigo externo ou se defender dele, sempre com o intuito de garantir o domínio territorial. 81 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens No caso de um conflito armado, um exército eficiente deve contar com armas, munições e contingente, portanto, o povo deve “comprar” a ideia da guerra e participar efetivamente da defesa de seus interesses. É preciso haver um sentimento comum de identificação com a causa nacional para que se convença a população a pegar em armas, e para que isso ocorra é precisoincorporar ao imaginário coletivo a necessidade da disputa criando assim a condição necessária para se vencer. Na esfera das representações16 a figura do herói é muito importante para a construção deste imaginário, pois ela é responsável pela agregação das pessoas em tornode um ideal comum. A partir do momento em que há uma identificação simbólica com a questão da guerra, a adesão popular a proposta política do Estadoé aceita pelos demais de um modo mais contundente. A criação do imaginário é essencial para que isso ocorra e as representações compõem o quadro que vai auxiliar na percepção da coletividade, fazendo surgir o sentimento de pertencimento à nação. Nos dizeres de José Murilo de Carvalho, A elaboração de um imaginário é parte integrante da legitimação de qualquer regime político. É por meio do imaginário que se podem atingir não só a cabeça mas, de modo especial, o coração, isto é, as aspirações, os medos e as esperanças de um povo. É nele que as sociedades definem suas identidades e objetivos, definem seus inimigos, organizam seu passado, presente e futuro17. Neste aspecto, o jornal como meio de comunicação é um instrumento poderoso para disseminar essa proposta e formar no imaginário popular uma identificação nacional capaz de produzir o impulso de luta em defesa da pátria necessário para derrotar um inimigo externo. 16 A representação aqui é utilizada no sentido dado por Stuart Hall. O autor nos diz que “Representaciónes una parte essencial del processo mediante elcual se produceel sentido y se intercambia entre los membros de uma cultura. Pero implica el uso dellenguaje, de los signos y lasimágenes que están por, o representan cosas.” HALL, Stuart. Representation: Cultural RepresentationandSignifyingPractices. London:1997. Traducido por Elias Sevilla Casas. 17 CARVALHO, José Murilo de. A Formação das Almas: o imaginário da república noBrasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. 82 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Trataremos a seguir da questão da territorialidadechilena no quadro das formações das nações americanasrecém independentes a partir da construção da imagem de um herói nacional feita pelo jornal El Mercurio de Valparaíso. Formação territorial As disputas pela expansão ou manutenção dos territórios, bem como pela soberania e afirmação das novas nações tiveram importância significativa na história dos países que fazem parte da América do sul, ea nossa análise parte da questão de delimitação de fronteiras e domínio territorial de três desses países; o Chile, o Peru e a Bolívia.O estabelecimento de seus territórios como se vê hoje passou por váriosconflitos e disputas que tiveram início logo após os respectivos processos de independência em relação à Espanha. A formação atual se deu com os tratados firmados ao final da Guerra do Pacífico (1879-1883), conflito que ocorreu entre os três países eque possibilitou ao Chile expandir seu território ao norte. Em contrapartida, a Bolívia perdeu a sua saída para o mar e o Peru uma grande extensão de terras ricas em minerais ao sul. Essa questão, porém, não se esgotou com o final do conflito armado, pelo contrário, se estende até os dias atuais. Vários foram os encontros e acordos posteriores ao conflito para dirimir os problemas causados pela nova distribuição territorial pós-guerra, mas sem que conseguissem esgotar a questão entre eles. Para se ter uma ideia, o Peru entrou em 2008 com um pedido de arbitragem junto a Corte Internacional de Haia18 para resolver o limite de suas águas em relação ao Chile. Esta disputa ainda é uma reminiscência do conflito que houve entre estes países durante a Guerra do Pacífico e por isso a importância de rever este episódio para entendermos seus desdobramentos. O tema é delicado e abrange uma série de práticas governamentais para o estabelecimento destas divisas, pois está diretamente relacionado à soberania e domínio dos 18 O Tribunal Internacional de Justiça é o principal órgão judiciário da Organização das Nações Unidas. Tem sua sede na cidade holandesa de Haia, e é comumente chamado de Corte Internacional de Haia. Sua função é resolver conflitos jurídicos a ele submetidos pelos países membros da ONU e emitir pareceres sobre questões jurídicas apresentadas pela Assembléia Geral das Nações Unidas. 83 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Estados, que no momento da guerra, estavam se fortalecendo e se solidificando. Dentro do universo de formação das nações é preciso lembrar que a territorialidade está intimamente ligada a própria construção do nacional, sendo que a nação se constitui, para utilizar um conceito do final do século XIX, pelo “Estado ou corpo político que reconhece um centro supremo de governo comum e também o território constituído por este Estado e seus habitante considerados como um todo”19. Assim sendo, é de fundamental importância que uma nação tenha um território definido20. Além disso, quanto maior for a soberania do Estado sobre este território, e isto implica a capacidade de defender e dominar a sua extensão, maior será a legitimidade deste país em relação aos seus cidadãos e aos demais países estrangeiros. Para entendermos melhor como foi feita a construção da nação chilena e a sua expansão sobre os territórios vizinhos, é preciso retroceder ao momento das disputas ocorridas durante a Guerra do Pacífico, bem como à análise da maneira pela qual as elites governantes do país se apropriaram dos eventos que ocorreram durante a guerra para formar na população um sentimento de pertencimento à pátria capaz de mobilizar seus cidadãos. Um aspecto importante e fundamental para o desdobramento da guerra é a maneira pela qual esta elite se apropriou da imagem do comandante chileno Arturo Prat, morto no primeiro confronto direto entre as armadas do Chile e do Peru. A Guerra do Pacífico O conflito que durou cerca de cinco anos foi o prolongamento das discussões da tentativa de seestabelecer o limite entre a Bolívia e o Chile. Por sera fronteira entre os dois países uma região rica em minerais, muitas companhias chilenas se estabeleceram em território boliviano e começaram a explorar os recursos que a região oferecia, mas ao se instalarem em território estrangeiro, essas companhias ficaram sujeitas ao pagamento de tributos e deveriam se submeter às leis do país vizinho, o que incomodava os empresários chilenos. 19 HOBSBAWM, Eric J. Nações e Nacionalismo desde 1780. 5ª edição. São Paulo: Editora Paz e Terra, 2008. 20 Exceção ocorre, por exemplo, no caso do Estado de Israel que foi considerado uma nação sem território até o ano de 1948. 84 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens As questões relativas à delimitação territorialque começaram entre Chile e Bolívia21 já vinham sendo negociadas desde a década de 1830. O Chile alegava que seu limite era o paralelo 23° e a Bolívia alegava ser o paralelo 26° o final de seu território ao sul. Um tratado foi assinado pelos dois países em 1866 arbitrando o paralelo 24° como o limite territorial entre ambos. Nessa mudança, muitas mineradoras que eram de proprietários chilenos, financiados com capital inglês em sua grande maioria, ficaram em território boliviano, como já foi dito. Com a intensificação da produção de salitre e guano22 para exportação, essas mineradoras também alcançaram as terras peruanas, o que fez do Chile um grande produtor de matéria-prima em território estrangeiro. Ao ver-se envolvido no processo de expansão das companhias chilenas, o Peru tomou uma atitude de cautela diante da situação e se aliou à Bolívia por meio de um pacto de ajuda mútua em caso de guerra contra o Chile. As ideias beligerantes já vinham tomando forma e a elite chilena parecia apreciar cada vez mais as circunstancias que favoreceriam a expansão de seu território em caso de guerra. O historiador chileno Luís Ortega afirma que: efetivamente o território salitreiro de Tarapacá rapidamente passou a gravitar de forma preponderante na estratégia da liderança chilena. [...] No começo de maio de 1879, o governo do Chile já teria desenhado como objetivo estratégico a anexação de toda a região salitreira, incluindo a província de Tarapacá23. A Guerra do Pacifico está diretamente relacionada com a modificação do tratado assinado em 1874 entre Bolívia e Chile que definia 25 anos sem o pagamento denenhum outro imposto para a exploração mineral além do que fora por eles acordado. Porém, em fevereiro de 1878, a Assembleia Nacional Boliviana ratificou a alteração da sua parte neste acordo e 21 É preciso lembrar que a Bolívia antes do final da guerra possuía o território onde hoje é a região de Antofagasta no Chile, bem como uma grande parte do litoral do oceano Pacífico. 22 Tanto o salitre quanto o guano (excremento de pássaro) são excelentes insumos agrícolas e os mesmos eram vendidos como fertilizante para o mercado externo, principalmente o europeu. 23 ORTEGA MARTÍNEZ, Luis. Chile enRutaal Capitalismo: Cambio, Euforia yDepressión. Santiago: Dibam-Lom, 2005. 85 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens estabeleceu o pagamento de outro imposto24 para a exploração dessas riquezas. Como as companhias salitreiras chilenas não aceitaram a mudança, o governo boliviano estabeleceu um prazo até fevereiro de 1879 para o início do pagamento, sob pena de desapropriação dos territórios ocupados pelas mineradoras. Em 14 de fevereiro de 1879, dia marcado para o arresto da Compañia de Salitrey Ferrocarril de Antofagasta (chilena), o exército do Chile invade a região e o conflito se desencadeou. O Peru, devido ao acordo firmado com a Bolívia, entra na guerra e assume a investida contra as forças armadas chilenas. O confronto se inicia pelo mar e o primeiro grande enfrentamento entre os dois países se dá no Combate Naval de Iquique. Este episódio será de suma importância para a expansão territorial chilena ao final da guerra, pois a glorificação da imagem do comandante morto neste combate, Arturo Prat, foi um trunfo nas mãos do governo chileno que imediatamente se apossou de sua figura para transformá-lo em herói nacional e exemplo de patriotismo a ser seguido pelos demais cidadãos. Independente de ter sido ou não uma derrota a figura do marinheiro que se sacrificou em nome de seu país foi explorada pelos diversos meios de comunicação da época e resultou em um movimento de comoção nacional que influenciou diretamente os rumos do conflito. O autor chileno Gonzalo Bulnes coloca em seu livro sobre a Guerra do Pacifico que imediatamente após o Combate Naval de Iquique o exército chileno passou a ter um contingente de 18.000 homens contra os 8.000 que tinha antes do evento25.Era, portanto, a oportunidade que o país precisava para conseguir o devido apoio da população bem como o seu envolvimento no conflito. Um herói nacional é sempre importante para criar no pensamento coletivo um exemplo a ser seguido e o Chile não desperdiçaria esta oportunidade. Em pouco tempo apareceram diversos discursos para glorificar a pessoa de Arturo Prat e transformá-lo neste herói que tanto contribuiria para o 24 Este imposto era de 10 centavos por quintal (unidade de peso da época) de salitre exportado. BULNES, Gonzalo. La Guerra Del Pacifico in Resúmen de la Guerra del Pacifico, De La BARRA, Oscar. Santiago: Editorial Andrés Bello, 2009. 25 86 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens desfecho da guerra. O jornal El Mercurio de Valparais, importante veículo de comunicação na época, foi um dos envolvidos nesta construção da figura heroica de Prat. O combate O Combate Naval de Iquique, que possibilitou a construção da imagem do herói nacional, aconteceu três meses após o início da guerra, em 21 de maio de 1879. Naquela manhã, dois navios chilenos encontravam-se no litoral da cidade, supostamente fazendo o bloqueio deste porto, enquanto a maior parte dos navios de guerra em condições de oferecer alguma resistência ao exército inimigo estava a caminho do porto de Callao, no Peru. Os dois barcos ficaram para impedir que esse movimentado porto continuasse com suas atividades normais de comércio. O objetivo desta manobra era causar um impacto na economia local, já que a Guerra do Pacífico teve uma forte influência do aspecto econômico em sua instauração. Estando os dois navios esperando nas proximidades do Porto de Iquique, ocorreu nesse mesmo diao primeiro embate direto entre as duas marinhas. Para que o cenário seja satisfatoriamente imaginado, a descrição feita por Bulnes (2009) nos diz que: Em 21 de maio de 1879 a Covadonga fazia a ronda, enquanto a Esmeralda permanecia sendo revistada. Também estava lá o transportador Lamar. Quando os primeiros raios de sol começaram a romper a espessa neblina, o vigia da Covadonga gritou: fumaça ao norte! Condell se vestiu rapidamente e observando com a luneta viu que de longe sulcavam as águas dois barcos, o Huáscar e a Independência, segundo marinheiros que haviam servido neles. [...] Prat ordenou que a Esmeralda saísse para reconhecer os barcos inimigos e logo voltou ordenando a Covadonga: venham atrás de mim! O capitão Prat pronunciou em seguida, desde a ponte de seu navio, à tripulação em formação, estas palavras: Rapazes, esta luta é desigual. Nunca nossa bandeira foi arriada diante do inimigo e espero que esta não seja a ocasião de se fazer isso. Enquanto eu viver essa bandeira flameará em seu lugar, e se eu morrer meus 87 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens oficiais saberão cumprir com seu dever. E tirando o barrete sacudiu-o no ar gritando Viva Chile!26 O desfecho deste episódio, que segundo os relatos durou cerca de três horas, foi a vitória da nau peruana ElHuáscar que conseguiu afundar o navio chileno La Esmeralda e matar seu comandante Arturo Prat, junto com seus principais oficias. Enquanto isso, o navio peruano La Independência começou uma perseguição à embarcação chilena La Covadonga, que também fazia o bloqueio do porto. Não conseguindo derrotá-la, devido ao sucesso da manobra feita por seu comandante que se pôs em águas rasas, o oficial do La Independênciarendeu-se à marinha chilena junto com toda a sua tripulação após encalhar seu navio. A partir desse momento, o grande “vilão”, o navio peruano El Huáscar, passa a ser o alvo de todos os esforços da armada chilena para sua captura. Ele foi pego em uma emboscada feita por mais três embarcaçõesque o cercaram e exigiram sua rendição por completo. Esse episódio, conhecido como Las correrias del Huáscar ocorre no mês de outubro de 1879, ou seja, cinco meses após o Combate Naval de Iquique e reforça a ideia do nacionalismo chileno afirmando o discurso patriótico de que o Chile era uma nação superior e que deveria subjugar seus inimigos a qualquer custo. As repercussões nas páginas do jornal Um dos meios utilizados pelas elites para difundir a ideia de construção de um herói nacional foi o jornal El Mercurio de Valparaiso.Fundado no ano de 1827, na cidade costeira de Valparaiso, principal porto do Chile e responsável pelo embarque/desembarque dos produtos provenientes do exterior, o jornal desde cedo se firmou como o principal meio de comunicação da região. Maria José Schneuer relata que “o jornal El Mercuriode Valparaíso era um dos mais importantes do país e em suas páginas se tratavam diversos temas de 26 Bulnes, op. cit. , p.09 88 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens 27 interesse para os seus leitores.” No ano de 1878 o jornal foi comprado por Agustín Edwards Ossandón, um dos principais empresários da época e proprietário de diversas empresas nos mais variados ramos. Além do Banco Edwards ele também era acionista da Compañia de Salitre y Ferrocarril de Antofagasta, que foi ameaçada de desapropriação no principio do conflito. Sua posição em relação à exploração mineral nos países vizinhos fazia dele um interessado direto na vitória do Chile ao final da Guerra do Pacífico,portanto, o jornal foi um instrumento eficaz e muito utilizado para expressar as ideias de superioridade do país em relação aos seus adversários e para construir o herói nacional a partir da pessoa do comandante morto em combate. A figura de Prat começou a circular de maneira intensa no período imediatamente após o evento em Iquique. Em notícias anteriores a respeito das movimentações da armada chilena em direção aos portos peruanos, nenhuma referencia ao marinheiro foi feita pelo jornal, mas a partir do ocorrido, não só pode ser vista inúmeras notícias sobre o evento em si, mas também diversos artigos sobre a vida pregressa e familiar do “salvador” da pátria, Arturo Prat. Para termos uma noção dessa construção de herói feita pelo El Mercurio deValparaiso, basta analisar a notícia que saiu a respeito dele cinco dias após a sua morte. Diz assim o texto: O comandante Prat Este jovem ilustre e valente marinheiro foi morto com toda glória que era de se esperar de seus antecedentes como cavalheiro e de sua escola na marinha chilena: mas não morrerá, por certo, na memória deste povo agradecido, que hoje chora e amanhã o imortalizará como se imortaliza os verdadeiros heróis. Cremos que seja oportuno copiar algumas notas que encontramos em um dos jornais de Santiago e que consideramos exatas: “Arturo Prat era um jovem de 29 anos, de postura graciosa, de ar marcial e de trato afável e jovial; amigo franco e generoso, chefe reto e justo, foi querido dos seus subalternos 27 SCHNEUER, María José. Visíóndel “caos” americanos y el “orden” chileno a través deEl Mercurio de Valparaiso entre 1840 y 1850. In SOTO, Ángel. Entre Tintas y Plumas: Historias de la prensa chilena delsiglo XIX. Santiago: Universidad de Los Andes, 2004, p.60. 89 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens que o respeitavam e o seguiam com prazer. Há quatro anos contraiu matrimonio com a senhora Carmela Carvajal e já tinha estabelecido seu lar com dois filhos, Blanca Estela, de três anos de idade, e um homenzinho que tem apenas três meses. Assim que acabou sua formação na marinha, estudando sozinho se entregou a carreira de advogado e logo recebeu seu novo título profissional. É reputado um dos marinheiros mais distintos por seu talento, seu valor e sua perícia. Não faz muito tempo que desempenhou em Buenos Aires uma missão delicadíssima que soube cumprir com total lucidez. Esteve presente na conquista do Covadonga pela Esmeralda.” Também se encontrou no combate de Abtao, mostrando sempre um sangue frio admirável, sobretudo na sua idade. Na sua vida privada foi um modelo exemplar e por seu caráter afável e doce, parecia incapaz do valor de que deu tantas provas, como deu também de seu talento como marinheiro e homem ilustre. (“El Mercúrio”, 26 de maio de 1879, p.04) É possível perceber a conotação gloriosa que a imagem feita pelo jornal a respeito de Prat possui. A frase “mas não morrerá, por certo, na memória deste povo agradecido, que hoje chora e amanhã o imortalizará como se imortaliza os verdadeiros heróis” coloca o comandante na galeria dos heróis nacionais e digno de homenagens póstumas. Esta construção foi tão bem feita que até os dias de hoje seu nome é lembrado no Chile de diversas maneiras como em nomes de ruas, estátuas em praças, na nota de dez mil pesos chilenos e nas comemorações do feriado nacional de 21 de maio denominado “Glorias Navales”. Continuando no intuito de glorificar o combate e a figura de seus participantes, principalmente Prat, no dia 26 de maio de 1879 o jornal trouxe outra notícia destacada em sua primeira página: Júbilo y duelo 90 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Tem sido tão estupendo, tão milagroso o desenlace dessa que chamaremos de tragédia sem igual nos anales das guerras marítimas, que ainda ontem duvidávamos da efetividade das notícias recebidas no sábado. Sobre a perda da Esmeralda, o coração nos dizia que era verdade, do mesmo jeito algo muito sublime deve ter acontecido antes que o navio se sepultasse para sempre nos abismos do mar. Que o comandante Prat tenha mandado atear fogo na Santa Bárbara para não deixá-la em poder de seu opositor, senão pequenas lascas de madeira do legendário navio que comandava, ou que este tenha perecido junto com ele e seus companheiros aos golpes incontrastáveis de seu poderoso inimigo, o feito principal é este mesmo, que a Esmeralda não quis se render e que pereceu coberta com a gloriosa bandeira do Chile, a semelhança daqueles cruzados que para morrer dignamente se envolviam no sagrado estandarte de Cristo. Quanta sublime honra não existe na agonia e morte destes mártires do dever e do patriotismo! Desde que viram os navios inimigos, a esperança da vida dever ter sido trocada pela certeza da imolação. E que imolação! A do valor mais heróico diante da força bruta, representante habitual do implacável destino; a do patriotismo mais puro diante da maquinação mais covarde das infinitas que no seu gênero recorda a história. Mas sem dúvida a Providencia em seus inescrutáveis desígnios tinha disposto que o valor chileno resplandecesse com todo o seu fulgor para iluminar com a sua luz celeste o negro e abissal excesso do coração peruano. Consumado o martírio, o que nos cabe fazer? Primeiramente vingar a esses heróis, e depois eternizar a sua memória no mármore e no bronze. Já que o oceano não admite epitáfios que transmitam à posteridade as façanhas destes que recebe no seu mais profundo seio, em nossas praças, em nossas ruas, na orla deste mesmo mar cúmplice e testemunha da catástrofe, que se levante em breve um monumento comemorativo aos mártires da Esmeralda. Na praia 91 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens de Iquique, o viajante deve encontrar uma coluna que o lembre, caso tenha se esquecido, ou que o ensine, se ele não souber, os nomes de todas estas ilustres vítimas e também dos seus vitimadores. Entretanto, a Covadonga, a débil e gloriosa galé que trás por nome o da querida e venerada patrona de Pelayo, que por um favor muito especial de Deus teve a sorte de destroçar e incendiar a balas de canhões a poderosa fragata que junto com o Huáscar formava o orgulho e a potência da marinha peruana. Este singularíssimo feito das armas não tem, talvez, igual na história marítima do mundo. É algo como a luta entre um inseto e um leão ou um elefante. E é isto mesmo que parece incompreensível ainda que os caprichos do destino tenham dado toda a possibilidade desta façanha para a qual, a medida que o tempo passe, haverá mais assombro e glória. O comandante Condell, ao reduzir às cinzas o blindado Independência, que o perseguia para pulverizar com seus grossos canhões o pobre barquinho que com a bandeira do Chile no topo havia tido a audácia de não se render na primeira intimação de seu formidável opositor; o comandante Condell vingando, em uma palavra, os seus companheiros da Esmeralda, como o fez, se apresenta para nós como um anjo exterminador a quem Deus deu, para castigar e envergonhar eternamente os peruanos, um poder sobrenatural. A vingança não poderia ter sido mais terrível. O Independência ficou sujeitado entre os penhascos como um assassino a quem se amarra em um cilindro para fazer a (ilegível) sequer o valor do seu delito: arriou covardemente a sua bandeira, issou a de rendição, mas o anjo vingador não teve piedade dela e acabou com ela em memória de seus irmãos tão barbaramente sacrificados e da justiça que com tanta torpeza foi escarnecida. Que contraste ofereceram os peruanos do Independência com os chilenos da Esmeralda! Estes morrem com a bandeira por mortalha; aqueles com trapo imundo, para buscar a vida e o perdão! 92 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens As nações todas da Europa e América se assombrarão amanhã dessa antítese e não poderão deixar de nos adjudicar a palma de honra e sacrifício, e a nossos inimigos a da eterna vergonha. Já estamos vingados; mas, todavia não o bastante. Enquanto o Huáscar, autor do martírio da Esmeralda não se encontrar em nosso poder, ou se afundar no mar com os que leva consigo, a vingança não será proporcional à dor que sentimos e nem o castigo bastante exemplar ao crime tão negro e tão covarde como o perpetrado na baía de Iquique. O melhor tributo que podemos prestar aos nossos mortos queridos é imitar seu exemplo, e que os nossos soldados de mar e terra os imitarão é tão certo quanto a proteção da Providencia nesta tremenda luta. (El Mercurio de Valparaiso, 26 de maio de 1879, p.02) É clara a ideia de heroísmo e glória que está por detrás deste relato. A comparação feita entre os marinheiros chilenos e os cruzados serve para engrandecer o feito e justificar toda iniciativa de “revanche” que estaria por vir. Além do mais, essa comparação pode demonstrar o intuito de sacralizar este combate e colocá-lo como o legitimador do nacionalismo que estava em formação naquele momento. A bandeira como mortalha sugere um esforço glorioso em se defender a pátria e construir uma nação digna de toda honraria por ser semelhante à sagrada Jerusalém. Diante deste quadro, como não se “render” incondicionalmente a esta nação e fazer com que ela seja o bem maior a ser preservado na vida de todos? Outra questão que merece ser analisada é a menção na construção de um memorial aos “heróis” chilenos em terras peruanas. Lembrando que naquele momento Iquique fazia parte do Peru e, como ainda não se sabia qual seria o desfecho da guerra, pode-se dizer que houve um tom de prepotência no discurso feito. Por que um país hostil deveria render homenagem póstuma a um inimigo derrotado? É de difícil resposta esta pergunta, mas é possível, uma vez mais, perceber a necessidade do discurso engrandecedor da nação proferido pelo jornal. O intuito de elevar a moral chilena é claro, pois as palavras de exaltação são inúmeras. É 93 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens neste momento que vemos a importância que foi dada a figura do comandante Prat para representar o “espírito” de luta e de coragem que era necessário às forças armadas chilenas. Mais um exemplo desta glorificação através do El Mercurio de Valparaiso é a notícia que compara as duas embarcações que se enfrentaram no combate, a chilena LaEsmeralda e a peruanaElHuáscar: O Huáscar e a Esmeralda Ao chegar a Iquique os dois blindados peruanos, vendo que só se encontravam ali dois débeis barcos de madeira chilenos, se puseram rumo ao porto com toda força de suas máquinas, entrando um pelo norte e outro pelo sul. O comandante Prat vendo que não poderia lutar com o Huáscar em alto mar, colocou seu navio ao lado da oficina de artilharia de Iquique, de modo que o Huáscar não poderia atirar sem fazer ao mesmo tempo um enorme dano ao povoado. Uma vez que o Huáscar se opôs com tiros de canhão com a Esmeralda, o comandante Grau a intimou a render-se, o que fez com que Prat respondesse a tiros de canhão. O combate durou três horas e quarenta minutos: mas, em todo esse tempo o Huáscar disparou continuamente sem acertar um só tiro. Em troca, os tiros dados pela Esmeralda foram bem certeiros, fazendo morrer a bordo um irmão de Garcia y Garcia e um marinheiro. Depois de três horas de combate, vendo o comandante Grau que a Esmeralda não se rendia, deu-lhe um ligeiro tiro em sua popa sem fazer-lhe dano. Como apesar desta intimação a Esmeralda ainda não baixou sua bandeira, o Huáscar deu outro tiro na casa de máquinas, inutilizando-a. Apesar disso, o barco não se encheu de água. 94 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Desesperado Grau, com a resistência do nosso barco, se lançou com toda força contra ele, dando-lhe um enorme tiro na proa, ao lado do estribo. Dois ou três minutos depois, a Esmeralda afundou para sempre. No momento do choque dos barcos, Prat, com a espada na mão, saltou junto com quatro homens sobre a cobertura do Huáscar, caindo todos quase ao mesmo tempo mortos ou feridos. O heróicoPrat, que ainda vivia, foi levado ao camarote de Grau, aonde espirou uma hora e meia depois, com uma enorme ferida na cabeça. Quarenta homens da Esmeralda foram salvos da água por botes do Huáscar, sendo desembarcados em Iquique. Os marinheiros ingleses do Turquoise, que são bons juízes na matéria, disseram que desde os tempos de Nelson o mundo não havia presenciado um feito parecido ao da Esmeralda. Todos, inclusive os peruanos, estão admirados do heroísmo do comandante, oficiais e tripulantes da nossa corveta. (“El Mercúrio”, 28 de maio de 1879, p.02) A tentativa de comparação entre o comandante Arturo Prat e o almirante inglês Nelson é mais um indício de que o jornal investiu na glorificação da figura de Prat com o intuito de construir um herói nacional do mais alto nível. Esta construção serviu para legitimar o conflito e, mais do que isso, para impulsionar o povo chileno a tomar partido a favor de seu país na guerra que se iniciava. Como vimos anteriormente, o resultado foi imediato e ao final do mês de maio o exército do Chile contava com mais do que o dobro de seu contingente inicial. 95 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Considerações finais Estes são alguns exemplos de como o jornal El Mercurio de Valparaiso ajudou a construir a imagem do herói nacional. Ao glorificar o nome de Prat, a elite governante do Chile só tinha a ganhar, uma vez que o patriotismo é um sentimento indispensável para aqueles que irão lutar por seu país em um campo de batalha. O que poderia ter sido um grande fracasso, pois o La Esmeralda afundou e seu comandante morreu, se transformou no maior triunfo de toda a Guerra do Pacifico. Esta imagem foi forte o suficiente para ser explorada durante os cinco anos seguintes em que o Chile esteve envolvido no conflito e a cada 21 de maio era lembrada pelo jornal através de diversas notas e matérias. Com o final da guerra e a vitória chilena reconhecida por seus adversários, o ganho territorial deste país foi expressivo. A região norte onde hoje se encontram as cidades de Antofagasta, Iquique e Arica foi anexada ao território original e é a responsável pela extração do cobre, um dos pilares da economia chilena.Já a Bolívia e o Peru perderam partes importantes de seus territórios. A ação coletiva desencadeada pela ideia de lutar pela pátria e defender os interesses nacionais do Chile, que teve na construção da figura gloriosa de Arturo Prat um de seus grandes motivadores, está diretamente relacionada a este desfecho. Um exército motivado e com um contingente superior ao seu adversáriotende a levar vantagem em um conflito e, no caso, o resultado confirmou esta tendência e o Chile saiu vitorioso. O episódio do Combate Naval de Iquique é tido por muitoshistoriadores como o momento em que o país se afirmou no conflito e iniciou seu caminho rumo a esta vitória. A expansão territorial advinda do desfecho favorável ao Chile no final da guerra é a conclusão deste processo que se iniciou com a mobilização da população chilena em favor da proposta da guerra. A figura de Prat foi construída de forma tão eficiente que até os dias de hoje ele é tido como um representante incontestável do patriotismo chileno. Referencias BULNES, Gonzalo. La Guerra Del Pacifico in Resúmen de la Guerra del Pacifico, De LaBARRA, Oscar. Santiago: Editorial Andrés Bello, 2009 96 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens CARVALHO, José Murilo de. A Formação das Almas: o imaginário da república noBrasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. HALL, Stuart. Representation: Cultural RepresentationsandSignifyingPractices. London: SagePublications, 1997. Traduzido por Elias Sevilla Casas. HOBSBAWM, Eric J. Nações e Nacionalismo desde 1780. 5ª edição. São Paulo: Editora Paz e Terra, 2008. NAZER, Ricardo. La fortuna de Agustín Edwards Ossandon 1815-1878. Instituto de História da PontificiaUniversidadCatolica de Chile, vol.33, 2000, p.369-415. ORTEGA MARTÍNEZ, Luis. Chile enRutaal Capitalismo: Cambio, Euforia yDepressión. Santiago: Dibam-Lom, 2005. Periódico El Mercúrio de Valparaíso, rolo número M-63, data: de 26/05/1879 à 30/05/1879, disponível na Biblioteca Nacional do Chile. SCHNEUER, María José. Visíóndel “caos” americanos y el “orden” chileno a través deEl Mercurio de Valparaiso entre 1840 y 1850. In SOTO, Ángel. Entre Tintas y Plumas: Historias de la prensa chilena delsiglo XIX. Santiago:Universidad de Los Andes, 2004. 7) AUTOR: Florencia Puente PONENCIA: Debates en torno a la transformación estatal en América Latina de fines del S XX: un acercamiento a los abordajes teóricos sobre la emergencia indígena INSTITUCIÓN: Universidad de Buenos Aires PAÍS: Argentina MAIL: [email protected] El contexto histórico “El tema de la organización y de la alianza entre las organizaciones indígenas es justamente la demanda territorial. Porque en su momento no nos consideraban como ciudadanos bolivianos, nos consideraban como selvícolas. No estábamos reconocidos en la 97 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens constitución, imagínate. Creemos, además, como que si no hubiéramos existido” (Marisol Solano, Coordinadora de Pueblos Étnicos de Santa Cruz 2012) En la última década del Siglo XX, los pueblos indígenas se convirtieron en actores centrales de la escena político-institucional latinoamericana, e instalaron en la agenda nacional e internacional demandas de carácter étnico. Este proceso ha desatado el surgimiento de un discurso común que reclama el reconocimiento como pueblos y naciones indígenas, y habilita un proceso de convergencia entre las organizaciones indígenas a nivel nacional y regional. El rasgo principal de este proceso de reetnificación, señala Bengoa, contempla la paulatina conformación de los pueblos indígenas en sujetos políticos que instalan la demanda de autonomía a nivel local e internacional: “A partir del fracaso de las reformas agrarias, de la crisis de los estados nacionales populares, en fin, de numerosos factores, comenzó un movimiento de reetnificación del campesinado indígena (…). De “campesinos” fueron pasando a autodenominarse “indígenas”, convirtiéndose en una porción minoritaria y particular del “pueblo”, de la nación. La reivindicación de este período es la autonomía” (Bengoa, 2009: 12). La propuesta de autonomía, en tanto eje central de la demanda indígena en América Latina, contempla el reconocimiento como pueblos con derechos plenos, y se centra en la autodeterminación territorial. Allí, el territorio es resignificado en tanto espacio políticoterritorial donde se desarrollan formas de auto-organización y autogobierno, el ejercicio de sus propios sistemas jurídicos, el desarrollo lingüístico, educativo y cultural y la ejecución de formas propias de producción y reproducción de la vida. En este sentido, se propone un rediseño de las estructuras del Estado basado en el pluralismo jurídico y una redefinición a nivel institucional del concepto de territorio diferente de aquella que había sido hegemónica anteriormente, que limitaba el reconocimiento de la propiedad colectiva de la tierra a su dimensión jurídica. 98 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens La demanda autonomías indígenas resulta inescindible del contexto histórico en el que se desarrolla, en tanto forma parte de un proceso de resistencia para superar la situación de dependencia y subordinación de los pueblos indígenas, agravado por las nuevas dinámicas de apropiación del excedente y expansión del capital caracterizado por la “acumulación por desposesión” (Harvey, 2004). Este proceso conlleva la mercantilización y depredación de los bienes naturales y pone en el centro de la escena la disputa territorial (Giarracca, 2009) y los conflictos ambientales (Svampa, 2008). López y Rivas destaca, en este sentido, que “la autonomía indígena contemporánea debe comprenderse en su contexto histórico: la lucha de los pueblos originarios por conservar y fortalecer su integridad territorial y cultural a través de autogobiernos que practican la democracia participativa y enfrentan con una estrategia antisistémica- la capacidad y violencia del sistema capitalista en su actual fase de transnacionalización neoliberal.” (López y Rivas, 2010: 1). Otro de los aspectos de este período refiere a la relación que se establece entre la globalización de la economía internacional asociada al modelo neoliberal y las migraciones poblacionales masivas sin las cuales no se puede concebir este proceso, que ponen en cuestión la forma de organización estatal. Este fenómeno migratorio, señala Stavenhaguen (1993), desafía el concepto mismo de Estado nacional, cuya persistente concepción homogeneizante de la cultura y la identidad nacional en relación a un pueblo específico, constituye una inadecuación a los escenarios multiétnicos, multirraciales y multinacionales de gran parte de los países, desatando tensiones y conflictos étnicos. De esta manera, el resurgimiento de las demandas políticas de los indígenas en América Latina tiene lugar en un contexto de ampliación de las fronteras étnicas producto de las migraciones que tienen lugar entre las áreas rurales y los centros urbanos, a las cuales también refiere Stavenhaguen. Este proceso de migración indígena hacia las ciudades conlleva la reinterpretación de las culturas comunitarias y amplía el concepto de etnicidad (Bengoa, 2009). Además, De la Cadena (2008) señala que se produce una transformación en 99 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens clave identitaria al complejizarse la construcción de las fronteras étnicas de pueblos y naciones indígenas, generando procesos de hibridez conceptual que reactualizan “etiquetas de identidad”. El objetivo de nuestro trabajo es el de resaltar los abordajes teóricos en torno al análisis de las demandas territoriales de los pueblos y naciones indígenas en el período señalado. En este sentido, buscaremos identificar los principales abordajes interpretativos respecto de la emergencia indígena que transformó el escenario político en América Latina en las últimas décadas, con el objetivo de desentrañar los supuestos que contienen respecto de la construcción del vínculo étnico y su reconfiguración a la luz de los procesos institucionales de reconocimiento que tienen lugar principalmente durante el período neoliberal. Por otra parte, indagaremos la relación entre los procesos de redefinición y construcción de la identidad étnica en este período, que generan la “pertenencia a una nueva comunidad imaginada que rebasa las fronteras de la colectividad local que hasta ahora los encerraba” (Gros, 2000), en relación con la conquista de derechos en el plano internacional y nacional en un nuevo escenario signado por el pluralismo jurídico28. Por último, se plantea una relación respecto de los desafíos que plantean los conflictos étnicos para la construcción de los estados nacionales en América Latina. La etnicidad como concepto polisémico. En un primer acercamiento al concepto de etnicidad, Wade señala que el mismo forma parte, junto con el concepto de raza, de una empresa de conocimiento dentro de las relaciones de poder que ha servido para clasificar a los pueblos y comunidades subalternizadas por parte 28 Trabajaremos con la noción de pluralismo jurídico desarrollada por de Sousa Santos (1991) que hace referencia a la superposición, articulación e interpenetración de varios espacios jurídicos mezclados que terminan configurando un derecho poroso constituido por múltiples redes de órdenes jurídicos, signados por intersecciones de diferentes líneas de fronteras que llama interlegalidad. Santos (2003) plantea que el derecho se encuentra atravesando una etapa de crisis profunda que pone en cuestión los principios de legalidad y legitimidad sobre los que éste se asienta. Sin embargo, esta crisis no se restringe, para el autor, únicamente al derecho, sino que es parte de una crisis social general. Santos sostiene que nos encontramos frente a una transformación del paradigma societal, que implica un periodo de transición paradigmática que no sólo se refiere a una transición epistemológica. Se trata, para dicho autor, de una crisis en torno al paradigma de la modernidad que se caracteriza por la hegemonía del conocimiento– regulación (2003). 100 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens de los países occidentales (Wade, 2000: 12). En este sentido creemos necesario, al analizar el vínculo étnico, realizar algunas precisiones conceptuales que nos permitan delimitar el campo de sentidos que manejaremos a lo largo del trabajo. Al indagar la polifonía subyacente a los conceptos clasificatorios, De la Cadena explica que los términos utilizados para clasificar también forman parte de estrategias de dominación, por lo que deben ser revisitados en los diferentes contextos históricos a fin de desentrañar “los múltiples significados de las etiquetas de identidad” (De la Cadena, 2008). Las identidades, para la autora, son siempre relacionales y están atravesadas por procesos de dominación. Wade describe que el término “grupo étnico” aparece en el discurso académico con el desmantelamiento del racismo científico y refiere a agrupaciones biológicas que, sin ser razas biológicas, eran consideradas minorías dentro del Estado-Nación como resultado de la creación de nuevas naciones poscoloniales, migraciones masivas, etc. Para el autor, la etnicidad es un concepto que se utiliza vagamente, ya que “es una construcción social para las identificaciones de la diferencia y la igualdad, pero lo mismo podría decirse de la raza, género y clase” (Wade, 2000: 24) y señala que, si bien existe un consenso en torno a que la etnicidad, se diferencia de la raza por ser una construcción social que refiere a diferencias culturales más que fenotípicas. Por lo tanto, el concepto carece de capacidad analítica sino se torna más específico. En este sentido, propone una definición ligada a la territorialidad que nos resulta particularmente interesante para nuestro análisis, ya que el territorio es entendido por el autor, en el mismo sentido que lo expresan las demandas indígenas, en tanto espacio en donde se desarrollan procesos sociales ligados intrínsecamente a la territorialidad. En este sentido, reconoce que las distinciones étnicas generan cierta geografía cultural. “Mi propia perspectiva en este asunto es que la etnicidad trata por supuesto de la diferenciación cultural, pero que tiende a utilizar un lenguaje de lugar (más que de salud, sexo o fenotipo heredado). La diferencia cultural se extiende por el espacio geográfico debido al hecho de que las relaciones sociales se vuelven concretas mediante una forma espacializada” (Wade, 2000: 25). 101 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Por otra parte, Stavenhagen coincide con la poca rigurosidad del concepto e indica que no hay un consenso general sobre la definición de grupo étnico, ya que el mismo se define siempre contextual y circunstancialmente, y en relación con otros grupos y con el Estado. En este sentido, resalta la identidad como el elemento constitutivo de los grupos étnicos, que puede darse por la combinación de elementos de distinta índole: “grupo étnico o una etnia es una colectividad que se identifica a sí misma y que es identificada por los demás conforme a criterios étnicos, es decir, en función de ciertos elementos comunes tales como el idioma, la religión, la tribu, la nacionalidad o la raza, o una combinación de estos elementos, y que comparte un sentimiento común de identidad con otros miembros del grupo” (Stavenhagen, 1991: 2). Además, el autor aporta una definición específica para los pueblos indígenas y tribales, por considerar su conformación inescindible de la colonización en el continente, y resalta los procesos de resistencia y la concepción del territorio que sostienen estos grupos étnicos “Pueblos indígenas y tribales que constituyen un caso especial de grupos étnicos, y que se consideran en general como minorías, habida cuenta de las circunstancias históricas de su conquista e incorporación a las nuevas estructuras estatales, así como de su apego a la tierra y al territorio y de su resistencia secular al genocidio, el etnocidio y la asimilación” (Stavenhagen, 1991: 3). Esta definición, lejos de ser contradictoria con la de Wade respecto de la etnicidad, es más bien complementaria, ya que aporta elementos específicos e ineludibles para abordar el estudio de los pueblos indígenas en América Latina, como son los procesos de colonización. La colonización, como es entendida por este autor, no refiere no sólo al momento de la conquista sino que se define como un modelo de dominación económica-política-social y cultural sobre los pueblos indígenas que reproduce en los procesos de independencia y creación de nuevos Estado-Nación mediante el colonialismo interno. (González Casanova, 1963, Stavenhaguen, 1965). 102 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Demandas indígenas, reformas estatales ¿Políticas de autodeterminación, identidad o reconocimiento? Las reformas institucionales de reconocimiento e inclusión que resultan en este período significan un parteaguas en los procesos organizativos de los estados-nación en América Latina y desatan procesos de rediseño estatal inéditos que obligan a revisar los postulados básicos de la organización estatal moderna, con la consecuente creación de Estados Plurinacionales en algunos países de la región. En este sentido, el aspecto novedoso de la irrupción de los pueblos indígenas en este período no lo constituye tanto sus reivindicaciones, sustentadas en formas de vida que, en un proceso dinámico, reproducen las comunidades con preexistencia a la constitución del estado-nación, sino más bien que las mismas son expresadas por las propias comunidades y pueblos como propuesta de reorganización estatal, proyectando la transformación de las formas estatales hegemónicas. La traducción institucional de dicha demanda se ha manifestado, en muchos casos, en el reclamo por la democratización estatal y el reconocimiento constitucional del carácter multiétnico y plurinacional del Estado (Assies, 1999). Durante la década de 1990 asistimos en diferentes países de América Latina a una serie de transformaciones de las instituciones estatales que se tradujeron en reformas constitucionales de carácter pluralista en más de quince países en la región (Van Cott, 1999), acompañadas por un contexto jurídico internacional favorable por la promulgación del convenio 169 de la OIT en 1989, que fue ratificado por los diferentes países a lo largo de la década. En este sentido, Raquel Yrigoyen observa una tendencia similar en los procesos constitucionales de los países andinos que da lugar a la configuración de un “horizonte pluralista” y cimienta las bases del Estado pluricultural, donde se destaca el reconocimiento del carácter pluricultural del Estado/Nación/República, los derechos de los pueblos indígenas y se establecen jurisdicciones especiales para estos pueblos (Yrigoyen, 2003). Uno de los rasgos fundamentales de este período va a ser el establecimiento de un discurso multiculturalista, de reconocimiento formal de la diversidad social existente, que da 103 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens lugar a reformas constitucionales que asumen un pluralismo jurídico restringido (Tapia, 2011). Estas transformaciones tuvieron como objetivo el facilitar la implementación de las reformas neoliberales mediante la articulación del modelo neoliberal con un reconocimiento retórico desde el Estado de las características multiculturales y multiétnicas de la población, pero bajo el signo hegemónico y subordinante de las estructuras liberales de organización. Los Estados neoliberales, entonces, despliegan el paradigma multicultural mediante el reconocimiento no conflictivo de diferencias culturales que no altera el fundamento político del Estado-Nación; en el plano social desarrollan un programa de políticas asistenciales focalizadas que se contraponen al universalismo de los regímenes nacional populares; y en el plano político este paradigma se ve acompañado por un proceso de descentralización basado en la transferencia de recursos del Estado central a los municipios. Las demandas indígenas expresadas en términos liberales como “políticas de identidad” fueron respondidas desde el Estado como “políticas de reconocimiento” (Van Cott, 2000). En palabras de Burguete, en este período se genera una disputa de paradigmas29 sobre el lugar que deben tener los pueblos indios; la respuesta estatal al paradigma de la autonomía que propone una transformación pluralista del Estado va a ser el (contra)paradigma multicultural (Burguete, 2010), que propone una descentralización político-administrativa, cuyos supuestos liberales son contrapuestos a las propuestas de autodeterminación y autogobierno indígena. La transformación de las estructuras del Estado contempló entonces un proceso de descentralización política fundado en la participación local y el reconocimiento retórico de la condición multicultural de las sociedades: “En un contexto de retiro del Estado de importantes áreas de la política social se busca mantener la hegemonía mediante la descentralización y la estimulación de la participación local en el “proceso de desarrollo” sin jamás cuestionar el modelo de desarrollo impuesto ni menos las políticas macroeconómicas empobrecedoras para las capas más vulnerables, entre ellas los indígenas” (Assies, 2005:11). 29 Burguete analiza el período en función de paradigmas antagónicos, ya que entiende que este concepto contiene una dimensión constitutiva de sujetos políticos con capacidad de sustentar un proyecto político (Burguete, 2010). 104 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens El neo-indigenismo de Estado: Abordajes teóricos en torno a las políticas de reconocimiento multicultural en América Latina. Los estudios que indagan los procesos de emergencia étnica en las últimas décadas en América Latina están atravesados, si bien no de manera esquemática, por concepciones primordialistas y escencialistas30. Brevemente, podemos indicar que las concepciones primordialistas consideran la identidad étnica como “una faceta básica de la estructura psicológica de la gente” (Wade, 2002: 25) y la asumen, en el caso de los pueblos indígenas, como vínculo primordial anterior al Estado-Nación que no sufre alteraciones diacrónicas. Hacia los 70s, Barth inaugura el concepto de frontera étnica para dar cuenta del carácter relacional de la identidad. Para el autor, las etnias no se definen por sus rasgos autoperpetuados sino en un contexto situacional donde definen y redefinen su distinción respecto de un otro que también los constituye. Sin embargo, a pesar de reconocer los procesos de transformación que atraviesan los grupos étnicos, el autor plantea la necesidad de que exista un basamento endogámico de parte del grupo interno relacionado a la lengua y las costumbres: “las distinciones étnicas categoriales no dependen de una ausencia de movilidad, contacto o información; antes bien, implican procesos sociales de exclusión e incorporación por los cuales son conservadas categorías discretas a pesar de los cambios de participación y afiliación en el curso de las historias individuales” (Barth, 1976: 10, Subrayado mío). Su definición sienta las bases para pensar la etnicidad como algo móvil donde la cultura no es lo esencial, sino las relaciones de dominación en tanto relaciones de poder. Para Wade, analizar cómo este dinamismo es también construido geográficamente permite ver el 30 Al estudiar la índole del vínculo étnico en los pueblos y comunidades indígenas, prevalecen estas dos visiones que resaltan ya sea el carácter inmutable del mismo o, por el contrario, que los consideran como parte de una construcción más bien instrumental que sirve a las comunidades para la obtención de sus reivindicaciones políticas, económicas y culturales, resaltando un escencialismo estratégico en la construcción del vínculo étnico por parte de los pueblos y comunidades indígenas. 105 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens carácter construido, histórico y dinámico del vínculo étnico, y “refleja la importancia de las cambiantes geografías culturales para la gente del mundo moderno” (Wade, 2000: 27). Hacia los años noventa, Naguel y Snipp (1993) proponen el concepto de reorganización étnica para analizar el activismo de los pueblos indígenas con el objetivo de dar cuenta de formas de organización dinámicas y flexibles de la identidad étnica a nivel social, económico, político y cultural. Para Assies “la reorganización étnica refleja la relación dialéctica entre la identificación (voluntaria) y la adscripción (impuesta). Esto refleja el carácter relacional de la identidad étnica así como las relaciones de poder más o menos asimétricas en las cuales se hace la renegociación de la identidad y de las formas de reorganización” (Assies, 1999: 26). A diferencia de las posturas esencialistas, que resaltan la conservación de los rasgos culturales31, esta perspectiva permite indagar en las interacciones entre estrategia e identidad teniendo en cuenta los procesos sociales y políticos que las atraviesan, y así adoptar, en palabras de Assies, una “perspectiva crítica, sin reducirlas a simples manifestaciones estratégicas o percibirlas como expresión de identidades innatas” (Assies, 1999: 27) Este abordaje también se aleja de los enfoques instrumentalistas que indagan los procesos de etnificación desde un enfoque constructivista, pero donde el vínculo étnico es utilizado como una herramienta política mediante una elección racional por parte de los movimientos y comunidades indígenas para interpelar políticamente a la sociedad y así obtener sus demandas. Assies explica que esta distinción se asemeja al debate expresado en la teoría de los movimientos sociales respecto de la “identidad o estrategia”. Los estudios asociados a la 31 De la Cadena insiste en señalar que las purificaciones con criterios raciales y étnicos también son sostenidas por parte del activismo político indígena que buscan “separar y clasificar –es decir, “purificar” identidades-a través de la supresión (…) de la heteroglosia” (De la Cadena, 2008: 85). La autora plantea, por el contrario, que son los movimientos indígenas los que tienen la potencialidad de borrar esta separación, que continúa organizando las políticas del estado y condicionando la ciudadanía. 106 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens teoría de la elección racional de movilización de recursos enfatizan la manipulación de la identidad a favor de las estrategias de los actores subvirtiendo las explicaciones estructurales y teleológicas (Assies, 1999). En América Latina, varios autores provenientes principalmente de academias europeas y norteamericanas, analizan la emergencia étnica desde esta perspectiva. Van Cott (2001), por ejemplo, explica la emergencia de regímenes territoriales autónomos en América Latina mediante un enfoque comparado de diferentes casos nacionales a partir del estudio de las Estructuras de Oportunidades Políticas (EOP). Asimismo, en el libro “Etnicidad, autonomía y gobernabilidad en América Latina” (2004) editado por la Universidad de Salamanca, varios catedráticos españoles como Ramón Máiz y Salvador Puig se valen de estas herramientas teóricas para estudiar la emergencia indígena en América Latina. Para Wade, uno de los problemas de los enfoques instrumentalistas es que “la `etnicidad´ se vuelve una insatisfactoria categoría analítica residual: incluye todas esas formas de categorización cultural donde no existe otro discurso primario de diferenciación, tal como la riqueza, el sexo, la edad, el fenotipo, etc.” (Wade, 2000: 25). Los abordajes que analizan la multidimensionalidad del vínculo étnico y que buscan superar las dicotomías de los enfoques clásicos logran problematizar de manera más acabada los procesos de emergencia étnica. Ahora bien, en este punto resulta pertinente recuperar la pregunta que ha guiado numerosas investigaciones, respecto de si el multiculturalismo (en tanto paradigma dominante durante los años noventa) habría habilitado estrategias de empoderamiento por parte de los movimientos indígenas que explicarían, en parte, lo que Bengoa caracteriza como segundo ciclo de emergencia indígena (Bengoa, 2010) que tuvo lugar desde principios del S XXI. La dimensión de análisis que nos interesa trabajar indaga la caracterización respecto de la capacidad de los pueblos indígenas para resignificar el (contra)paradigma multicultural y proponer una transformación que radicalice el pluralismo a partir del proyecto del paradigma autonómico. En este sentido, encontramos estudios que sin dejar de poner en relieve los condicionamientos del multiculturalismo, enfatizan la capacidad de agencia por parte de los pueblos indígenas y señalan que las reformas neoliberales proporcionan oportunidades e incentivos para la politización de la identidad indígena (Assies, 1999), otorgando 107 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens oportunidades para el avance de la autonomía territorial en tanto mecanismo efectivo para la autodeterminación y la protección de los derechos de los pueblos indígenas. Estos estudios se enfocan en el análisis de la emergencia indígena desde abajo, o sea, ponen el acento en la capacidad de transformación de los movimientos para generar cambios visibles a nivel nacional y regional, donde el Estado se ve forzado a considerar las reivindicaciones étnicas relacionadas con la territorialidad, la autonomía y la diversidad cultural (Postero y Zamoc, 2005, Hale, 2002; Bengoa, 2010; López y Rivas, 2010). En esta misma línea argumentativa, Hale (2002) indica que en América Latina el proyecto neoliberal debe enfrentar la autonomía, volatilidad y variabilidad de las organizaciones civiles que abren espacios de maniobra, creación de contra-hegemonías y proyectos de transformación. Estas perspectivas resaltan la capacidad de los movimientos no solo de resignificar estas políticas sino también de potenciar, a la vez, la lucha en y contra de las políticas de inclusión multicultural subordinada del neoliberalismo. Señalaremos algunos de los supuestos de estos abordajes que creemos necesarios problematizar. En primer lugar, al poner el acento en la emergencia de la identidad étnica y en la capacidad de agencia de los pueblos indígenas, realizan débiles caracterizaciones sobre el rol del Estado y las políticas multiculturales como forma de dominación adaptada al cambiante proceso identitario en el contexto de la globalización. En este sentido, Bengoa expresa: “Todos los habitantes del territorio etnizado, desde mestizos hasta indios de comunidades, se sienten pertenecientes a la identidad indígena. La ciudadanía nacional se confunde en una sola con la ciudadanía étnica, en este caso indígena. En ese momento el Estado también se etnifica. Los indígenas se apropian del Estado y lo transforman en instrumento de su propio desarrollo y liberación” (Bengoa, 2010: 13. Énfasis propio) Aquí, el estado no se percibe en tanto relación social de dominación, sino como un instrumento que puede servir a los fines de la liberación de los indígenas. 108 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Por otra parte, estas caracterizaciones corren el peligro de observar la relación entre descentralización neoliberal y las demandas/propuestas de autonomías indígenas como si fuera una cuestión de grado (donde las autonomías vienen a completar un proceso de democratización iniciado por los regímenes neoliberales) y no problematizar las contradicciones intrínsecas que existen entre los paradigmas, y los límites del multiculturalismo para contener las demandas de los grupos indígenas. Por último, los supuestos que conllevan algunas investigaciones respecto de la naturaleza del vínculo étnico reenvían, en parte, a los postulados esencialistas que resaltan el carácter inmutable de las comunidades, ya que muchas veces estas son presentadas sólo en su dimensión antagónica, como las portadoras del proyecto alternativo frente al capitalismo depredador que propone el proyecto neoliberal (Lopez y Rivas, 2010), y no se repara en las contradicciones que presentan las comunidades y pueblos indígenas durante este período. En contraposición a estos análisis, Christian Gros (1999) busca desarmar la imagen genérica, reduccionista e idealizada del movimiento indígena, y se pregunta por los intereses y las estrategias de los Estados en América Latina por impulsar un actor étnico. El autor centra su análisis en el rol del Estado en este período. Plantea que las reivindicaciones étnicas son también impulsadas desde los Estados, en un contexto histórico determinado donde la población indígena ocupa un lugar simbólico y estratégico creciente, y resalta los aspectos funcionales de las reivindicaciones étnicas por sobre su potencia transformadora. “El Estado está interesado en la aplicación de este tipo de políticas, ya que necesita de un actor étnico constituido, reconocido y legitimado con quien negociar su propia intervención. En este sentido, participa de su construcción a partir de políticas de discriminación positiva en educación, salud, territorios (…) bajo la apariencia de reconocer la comunidad indígena y su autonomía, el Estado la produce y reproduce, instituyéndola y legitimando así una frontera étnica, que se obliga a proteger” (Gros, 1999:10. Énfasis propio). 109 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens El Estado genera, desde esta perspectiva, una frontera étnica genérica32 que recupera el “capital simbólico” de la población indígena en un proceso de ratificación e institucionalización de un actor étnico caracterizado como neo-indigenismo de Estado, que rompe con el modelo asimilacionista que había prevalecido históricamente (Gros, 1999). En este sentido, se debe retomar una perspectiva crítica que asuma la compleja (re) formulación de las identidades indígenas y contemple su constitución como sujetos políticos en un escenario interrelacional, donde los actores son condicionados por una multiplicidad de factores de corto, mediano y largo aliento. Asimismo, en este período resulta ineludible realizar un análisis sobre el carácter que asumen las políticas de Estado, que tenga en cuenta la naturaleza y los fines últimos del mismo tal como está planteado, al tiempo que contemple sus contradicciones en tanto arena de disputas donde los actores sociales pueden modificar sus condicionamientos estructurales. Los abordajes en torno a los conflictos étnicos en América Latina Resulta sugestivo observar que, a diferencia de lo planteado por Stavenhaguen respecto de la emergencia de conflictos étnicos en el período estudiado, observamos que en América Latina las demandas autonómicas de los pueblos indígenas no han conllevado conflictos secesionistas en ningún caso. Van Cott (2001) busca responder a la pregunta sobre por qué estos conflictos no han tenido lugar y explica, desde la teoría de la elección racional, que tanto las elites políticas como los líderes indígenas han comprendido que la democratización de las estructuras del Estado a favor de un proceso de descentralización satisface las demandas de autonomía de las comunidades sin poner en riesgo la estabilidad y la efectividad de las instituciones democráticas. En este sentido, la autora señala que “Si los pueblos indígenas son capaces de garantizar sus aspiraciones separatistas a través de 32 Esta caracterización que realiza Gross reenvía a la elaboración que realizara Bonfil Batalla sobre la categoría del indio; el antropólogo mexicano advirtió, ya hace muchos años, sobre las características de esta clasificación y su relación directa con el proceso de colonización. “La categoría de indio es una categoría supraétnica que no denota ningún contenido específico de los grupos que abarca, sino una particular relación entre ellos y otros sectores del sistema social global del que los indios forman parte. La categoría del indio denota la condición de colonizado y hace referencia necesaria a la relación colonial” (Bonfill Batalla, 1972: 110). 110 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens regímenes autonómicos, y los Estados son capaces de expandir el acceso a instituciones democráticas, América Latina seguirá siendo una región donde las aspiraciones etnosecesionistas son raras” (Van Cott, 2001: 29). Otro abordaje respecto de esta pregunta lo asume Santos (2007), al explicar que las transformaciones iniciadas desde los años 80 dan lugar a un nuevo constitucionalismo que busca abandonar los postulados monoculturales del constitucionalismo moderno, e instalan el concepto de plurinacionalidad. Lo que nos interesa en este apartado es el señalamiento que realiza Santos sobre los dos conceptos de nación que han existido históricamente, para explicar, en parte, por qué el riesgo del secesionismo no es determinante en la región. Lejos de plantearlo como un acuerdo de intereses entre los actores, Santos explica que el nuevo constitucionalismo busca generar consensos entre tradiciones epistemológicas y paradigmas diferentes, como son el moderno y el comunitario. Mientras que para el liberalismo la idea de nación está asociada a la coincidencia entre una nación y un Estado, por lo que necesariamente la nación está asociada a la idea de independencia (en tanto un Estado se pretende soberano deber ser libre y no estar sometido a la voluntad colonial de otro Estado-Nación), para la tradición comunitaria que han desarrollado los pueblos indígenas la nación no está ligada de manera determinante a un Estado soberano e independiente, sino más bien a la autodeterminación (Santos, 2007). De esta manera, el objetivo principal de los pueblos indígenas no es el de lograr su independencia para constituir Estados soberanos, sino más bien reivindican formas más o menos fuertes de autodeterminación, que obligan, claro está, a repensar las estructuras del Estado-Nación moderno. Por último, resulta sugestiva la lectura que realiza Gros sobre los peligros secesionistas, ya que nos invita a abandonar los postulados dicotómicos y a problematizar las formas en las que ambos paradigmas se atraviesan e hibridan, constituyendo desafíos para pensar las nuevas formas que asumen las instituciones al ser transformadas multiculturalmente. El autor plantea que en el contexto multicultural de los años noventa, en el seno de los grupos indígenas se desarrolla una etnicidad abierta, ligada a la exigencia de participación en la sociedad multicultural moderna a partir de la inclusión ciudadana: 111 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens “A fortiori, cuando la etnicidad no se presenta como una voluntad separatista, lo que haría de ese proyecto una amenaza para la integridad nacional y llevaría probablemente al Estado a cambiar de estrategia. Por el contrario, la etnicidad busca participar plenamente en la construcción de una sociedad pluriétnica y multicultural. En consecuencia, se puede entender con mayor facilidad el sentido de la nueva retórica y de la estrategia escogidas por el Estado; y el hecho que se reconozca públicamente como legítima la defensa y la promoción de las culturas indígenas y que se proponga favorecerlas aceptando formas relativas de autonomía”. (Gros, 1999: 13) Creemos que esta tensión constitutiva al momento de articular las luchas por la democratización y la ciudadanización y las luchas por el reconocimiento por parte de los pueblos indígenas no solo ilustra los límites de los argumentos secesionistas a partir del análisis de las relaciones entre Estado y grupos étnicos en la región, sino que también nos obliga a asumir la ambigüedad o en interjuego entre etnia y clase que es parte constitutiva de la actual emergencia indígena y debe ser contemplada si se pretende problematizar las nuevas formas institucionales que asumen los Estados desde fines del siglo pasado en América Latina. Comentarios Finales En América Latina, el escenario de las últimas décadas del siglo XX estuvo signado por el surgimiento de la reivindicación étnica por parte de los pueblos indígenas. Estos impulsaron demandas de autodeterminación y autogobierno a partir de la exigencia de autonomías indígenas, que implica el reconocimiento por parte del Estado de los pueblos y naciones indígenas a través de un rediseño institucional y territorial. En el presente trabajo analizamos los abordajes sobre la emergencia indígena en el contexto de democratización estatal neoliberal que tuvo entre sus principales propuestas una política de reformas institucionales de reconocimiento multicultural. 112 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens De esta manera, analizamos los trabajos que han estudiado la emergencia étnica, para dar cuenta de la multiplicidad de enfoques y perspectivas de análisis con los que se ha considerado la cuestión. Creemos que los supuestos que manejan las investigaciones, así como las caracterizaciones que realizan sobre los actores involucrados, abren un debate sobre los límites y potencialidades de las transformaciones político-institucionales, y sobre la capacidad de agencia de los actores para modificar el escenario político abierto en este período. En primer lugar, realizamos una descripción sobre las formas en las que se ha estudiado el vínculo étnico a fin de identificar la manera en la que estas concepciones aparecen en los estudios que indagan los procesos de emergencia étnica en las últimas décadas en América Latina. Si bien consideramos que los estudios actuales buscan superar los abordajes clásicos, y proponen interacciones entre estrategia e identidad que busca problematizar los escenarios estudiados, encontramos en la bibliografía tendencias que enfatizan una u otra dimensión, debilitando la capacidad explicativa sobre la multidimensionalidad del vínculo étnico. Asimismo, consideramos la idea de reorganización étnica como un intento de convergencia entre los dos enfoques, ya que busca desentrañar la relación dialéctica que se construye entre los procesos identitarios de las comunidades y pueblos indígenas y los procesos clasificatorios, impuestos como estrategia de dominación. Por un lado, se distancia del esencialismo que explica la emergencia como la expresión de identidades inmutables, así como de los enfoques instrumentalistas que caracterizan la etnicidad como una herramienta política utilizada por los movimientos como parte de una elección racional con arreglo a fines, para interpelar políticamente a la sociedad y así obtener sus demandas. Por otra parte, dentro de este primer eje de análisis, retomamos la pregunta que impulsa muchas de las investigaciones analizadas, que indaga si el multiculturalismo neoliberal habría habilitado estrategias de empoderamiento por parte de los movimientos indígenas. En este punto, identificamos también dos perspectivas: aquellas que resaltan la 113 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens capacidad de agencia de los grupos étnicos para transformar y resignificar el paradigma multicultural y las que ponen el acento en los aspectos funcionales del vínculo étnico para el nuevo modelo de dominación neoliberal que tiene lugar en este período, y señalan el interés del Estado en generar un nuevo actor étnico mediante políticas que son caracterizadas como neo-indigenismo de Estado. Consideramos que la primera perspectiva realiza un análisis de la emergencia indígena desde abajo, y afirma la capacidad de los movimientos de quebrar y resignificar las lógicas de dominación neoliberal, forzando al Estado a considerar las reivindicaciones étnicas relacionadas con la territorialidad, la autonomía y la diversidad cultural. Sin embargo, corren el peligro de subestimar las lógicas de dominación del Estado, y su capacidad de adaptación al nuevo escenario multicultural haciendo funcional la demanda indígena. Asimismo, no se identifican claramente las diferencias entre el paradigma multicultural y el autonómico, donde la democratización neoliberal difícilmente pueda habilitar procesos de autodeterminación sino que, por el contrario, refuerza la subordinación de los pueblos y comunidades indígenas al imponer la lógica liberal sobre la comunitaria. Por otra parte, realizan débiles caracterizaciones sobre las contradicciones que presentan los grupos étnicos durante este período y se las presenta sólo en su dimensión antagónica como portadoras de un proyecto transformador que muchas veces reenvía a postulados esencialistas. Las transformaciones multiculturales logran articular la implementación de las reformas neoliberales con un reconocimiento retórico desde el Estado de las características multiculturales y multiétnicas de la población bajo el signo hegemónico y subordinante de las estructuras liberales de organización. Sin embargo, el proceso de democratización neoliberal no sólo está determinado por sus aspectos estructurales, sino que se desenvuelve en un complejo escenario donde los actores involucrados desatan procesos de rediseño estatal inéditos que obligan a revisar los postulados básicos de la organización estatal moderna. En este sentido, la tensión constitutiva al momento de articular las luchas por la autodeterminación y la ciudadanización por parte de los pueblos indígenas nos obliga a 114 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens revisar tanto los postulados clásicos de la teoría liberal como su reformulación multicultural, si se avanza en el desafío de consensuar y poner en diálogo el paradigma autonómico que se expresa en una lógica política comunitaria y el paradigma multicultural que expresa la lógica política liberal hegemónica al momento de articular el diseño estatal neoliberal de fines del siglo XX. Bibliografía -Assies, W. (1999) “Pueblos indígenas y reforma del Estado en América Latina” en Assies, W.; Van Der Haar, G.; Hockema, A. 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En este sentido, nuestro eje de análisis está puesto en las acciones colectivas33 en las que participaron durante la década de 1990, centrándonos en los ‘paros agropecuarios’ de 1994 y 1999. Nos focalizamos en los discursos, las prácticas y las estrategias de las asociaciones rurales de carácter reivindicativo34 que operan en el espacio mencionado: Sociedad Rural de Río Cuarto (SRRC), Confederaciones Rurales de la Tercera Zona (CARTEZ) y las diferentes filiales de Federación Agraria Argentina (FAA); sin descuidar los diálogos y tensiones que surgen con los referentes nacionales como Federación Agropecuaria Argentina (FAA), Confederaciones Rurales Argentina (CRA) y Sociedad Rural Argentina (SRA).35 Teniendo en cuenta estos aspectos, nuestra investigación asume una perspectiva micro-histórica por lo que nos centramos en la dinámica asociativa local procurando enlazarla con los procesos nacionales y provinciales, en una lógica de intercomprensión mutua. (Cfr.: Bragoni, 2004). El planteo que nos guía es que los grandes productores agropecuarios y agroindustriales fueron capaces de articular sus intereses con otros sectores (pequeños y medianos productores rurales, asalariados, sectores del comercio y la industria) 33 Aquí seguimos el concepto de acción colectiva propuesta por Schuster y otros (2006: 6), quienes entienden a la misma como “un evento de carácter contencioso producido por un actor social colectivo que implica movilización de recursos”. 34 Es decir las que se caracterizan por tener como objetivo fundamental la defensa integral de los intereses de un determinado colectivo; ser universalista en la naturaleza de los fines que persiguen y en la actividad que desarrollan; y tener un discurso con un fuerte componente ideológico, construido en función de los valores que asumen sus dirigentes y de las formas en que éstos interpretan los problemas de su base social. Estos rasgos se deducen de sus funciones esenciales: representación, reivindicación y defensa de intereses; mientras que otras funciones que también pueden desarrollar –como, por ejemplo, operatorias económicas (como por ej. en el caso de las cooperativas), servicios de gestión y capacitación– resultan secundarias y no se consideran como rasgos distintivos de la asociación. (Lattuada, 2006: 21-22). 35 Por las razones expuestas no consideraremos las reivindicaciones llevadas adelante por la Confederación Intercooperativa Agropecuaria (CONINAGRO), que es una entidad cooperativa, noreivindicativa. 118 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens conformando una suerte de ‘bloque social’ que llevaba al espacio público demandas sectoriales de tipo económico y, secundariamente, sociales, en oposición a los principales lineamientos de las políticas públicas. Este ‘bloque social’ expresaba una integración social heterogénea, con discursos que presentaban fisuras en su coherencia y acciones que no eran unidimensionales. De esta forma, se subsumían discursos, prácticas y estrategias de cada una de las asociaciones, que podían resultar potencialmente conflictivos, en pos de lograr un mayor ‘impacto’ en su acción colectiva.36 La protesta rural transcurría por fuera de los canales tradicionales de representación y mediación de intereses políticos y gremiales, debido a que las asociaciones de productores no se sentían representados, ni los concebían como articuladores o mediadores de sus intereses. Por lo tanto, la crisis de representación política y gremial que se comienza a manifestar en el período estudiado constituye el escenario y la clave para comprender la conflictividad rural en el sur cordobés. Aunque la lucha por los derechos ciudadanos (como por ejemplo el acceso a la tierra, condiciones dignas de vida y de trabajo) es visibilizada en cierta relación de subsunción con respecto a las reivindicaciones económicas, está presente y es objeto de nuestro análisis. Se procura, a través del accionar colectivo en el espacio público, alcanzar estos derechos y aquí es donde se entrelaza la acción colectiva con la ciudadanía. La noción de ciudadanía implica diversos grados de participación en la comunidad, reciprocidad de derechos frente y deberes hacia la comunidad. Sí la ciudadanía implica la lucha por la pertenencia y la participación en la comunidad, entonces su análisis abarca el examen de los modos en que los diferentes grupos y movimientos pugnan por conquistar mayores grados de autonomía sobre sus vidas, 36 Con esto nos referimos a los posibles resultados de la acción de protesta. Es decir, la capacidad que posee la misma para lograr la satisfacción total o parcial de la demanda o bien producir transformaciones en el sistema político-institucional (Schuster y otros, 2006: 8). 119 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens procesos que no son reductibles a la inclusión/exclusión de estratos y clases sociales. Los derechos solo pueden ser peticionados y garantizados en el marco de una comunidad política y en este marco se institucionalizan. He aquí la dimensión política de la ciudadanía.37 La ciudadanía no es simplemente un status legal definido por un conjunto de derechos y responsabilidades. Es también una identidad, la expresión de la pertenencia a una comunidad política. La noción de ciudadanía unida a la de participación, identidad y a la pertenencia a una comunidad particular y no a una "ciudadanía pasiva" (Kymlicka y Norman, 1997: 27). En cuanto a las fuentes, apelamos a la lectura y análisis de periódicos, pues las formas de expresión contenidas en los mismos constituyen uno de los vehículos habituales de ‘mediatización de la ruralidad’ a la par que se erigen como un espacio simbólico que supone la re-producción de las representaciones de los sectores agrarios (Cfr. Carniglia, 2004). Asimismo, recurrimos a otros documentos como comunicados de prensa y todos aquellos materiales relevantes elaborados por las entidades objeto de estudio. La ponencia se encuentra estructurada en dos apartados. En el primero, damos cuenta de algunas de las principales transformaciones que tienen lugar a partir de la década de 1990 que marcan la configuración de un nuevo régimen social de acumulación y, por ende, nuevos escenarios para la acción de las asociaciones rurales. En tanto que en el segundo apartado, nos abocamos a indagar las principales demandas que estructuraron las protestas de las asociaciones rurales en el período estudiado, así como los formatos asumidos por éstas. Claves contextuales para la comprensión de las protestas rurales 37 Por derechos civiles Marshall entiende los derechos de libertad individual, incluidos la libertad de las personas, la libertad de palabra y conciencia, los derechos de propiedad, el derecho de establecer contratos y la igualdad ante la ley. Los derechos sociales (o que Giddens, a veces, prefiere llamar "derechos económicos") incluyen una amplia gama de derechos, entre los cuales se incluye el bienestar económico. (Held, 1997: 45-47) 120 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Numerosos autores coinciden en señalar cómo a partir de la década de 1970 se comienzan a observar transformaciones en el rumbo y las articulaciones establecidas entre el Estado, la economía y la sociedad civil.38 No obstante, es con el advenimiento del Plan de convertibilidad, en abril 1991, que se ingresa decididamente a una nueva etapa, marcada en principio por la resolución de conflictos de larga duración en la sociedad argentina. Teniendo en cuenta lo anterior, resulta conveniente indagar sobre qué características presenta el escenario de acción específico para los actores del mundo rural a partir de las transformaciones de la década de 1990. Dos cuestiones surgen como estructuradoras de ese nuevo marco: la vigencia de la ley de paridad cambiaria (pesodólar) y el desmantelamiento de las instituciones y mecanismos de intervención de los cuales tradicionalmente se había servido el Estado para regular aspectos atinentes al sector agropecuario.39 En relación al primer aspecto, podemos decir que la paridad cambiaria pesodólar, combinada con la apertura externa, afectaba a los bienes transables (commodities) y no a los que por su naturaleza – gran parte de los servicios, especialmente los privatizados o a los que contaban con regímenes especiales – tenían una baja o nula exposición a la competencia extranjera (Basualdo, 2010: 315). Esta situación implicaba efectos desfavorables para los actores agrarios – especialmente pampeanos en tanto productores de bienes fuertemente vinculados con los mercados internacionales –, 38 A modo de ejemplo podemos nombrar los argumentos de Neffa (1998) para quien si bien a partir de 1989 se está en presencia de un nuevo régimen de acumulación, es con la Convertibilidad que se asiste a ‘una verdadera ruptura’. En sentido similar, Rofman (1999) plantea que para el período 1976-1989 ya se encuentra planteado la adaptación de la economía argentina a un nuevo modelo de acumulación global pero es en los años siguientes donde se avanzará en ese sentido. Apoyado en una conceptualización gramsciana Basualdo (2001) marca el inicio del ‘transformismo argentino’ en esa época. Con otros marcos y para América Latina, Cavarrozzi (1996) emplea una periodización similar. 39 Asimismo, se podría adicionar una tercera cuestión, propia del desarrollo del capitalismo agrario que es la incorporación de nuevas tecnologías y los cambios genéticos en la producción agropecuaria que – entre otros factores – contribuyeron a configurar un nuevo modelo de producción. Para una síntesis de estas cuestiones remitimos al trabajo de Gras y Hernández (2008). 121 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens puesto que el dólar ‘anclado’ resultaba poco ‘competitivo’. Veían reducido el poder adquisitivo local de sus divisas ocasionado por la inflación de los precios internos de los servicios y los bienes no transables. Es decir, la relación de precios entre el dólar y el peso tuvo una gran influencia sobre el desempeño económico de los actores que tenían sus ingresos atados en una moneda y debían afrontar los egresos que requería su reproducción en la otra. En definitiva, existía una ecuación desfavorable entre valor nominal de la divisa y el costo de vida interno. (Fernández, 2008: 37) Entonces este marco de acción, si bien implicó para la sociedad en general el fin de la situación de inestabilidad monetaria de largo arrastre, para los actores del mundo rural abrió nuevos conflictos, puesto que quedaron más expuestos a los vaivenes de la economía internacional, acentuándose la variabilidad de los precios de producción, de los insumos y del crédito (Gras, 2009: 17). En resumen, estos factores afectaron la rentabilidad de las unidades agropecuarias, ocasionando duras consecuencias sobre los pequeños productores. En cuanto a la segunda cuestión que mencionamos más arriba, es decir el progresivo desmantelamiento de la arquitectura institucional estatal, hacia fines del año 1991, con la sanción del decreto 2284, se verán desaparecer organismos con atribuciones que suponían intervenciones directas y la posibilidad de regular los mercados de productos agropecuarios40 y, a su vez, se introducirán innovaciones institucionales para suplir carencias o cubrir nuevas necesidades del sector ante las exigencias del nuevo contexto económico.41 Esta nueva estructura introdujo profundas mutaciones en las prácticas agrícolas de los productores a la par que supuso alteraciones sustanciales en la composición económica y social de la estructura agraria, dando lugar 40 Entre éstas podemos mencionar la disolución de la Junta Nacional de Granos, la Junta Nacional de Carnes, la privatización del Mercado de Hacienda de Liniers (Lattuada, 2006: 100-105) 41 Estamos haciendo referencia a los diferentes programas de reconversión empresaria y asistencia para los sectores más vulnerables de la estructura agraria, muchos de los cuales contaban con financiamiento externo y escasa articulación entre sí; dentro de los que podemos mencionar: Programa Cambio Rural, Programa Social Agropecuario, Proyecto Minifundios (Lattuada, 2006: 105-110). 122 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens a agudos procesos de desplazamiento de productores del circuito productivo y las modificaciones en los perfiles de quienes permanecieron. Las acciones colectivas de las asociaciones rurales en el sur de córdoba En esta sección nos concentraremos en el análisis de las acciones colectivas impulsadas por las asociaciones rurales, teniendo en cuenta principalmente cuáles eran sus demandas centrales y cómo eran trasladadas al ámbito público. El primer apartado está dedicado al ‘paro agropecuario’ de 1994 que supuso el primer hito en la conflictividad agraria del período estudiado. En tanto que el segundo apartado, describiremos las diversas acciones colectivas que tienen lugar en el año 1999, destacando los dos ‘paros agropecuarios’ de ese período. 1.1. “(…) los tiempos se han agotado ¡Debemos reaccionar!”: el ‘paro agropecuario’ de 1994 Como lo mencionamos en la sección anterior la sanción del régimen de convertibilidad había cerrado la ‘clásica’ protesta ruralista centrada en el tipo de cambio, por lo que se abría un breve período de latencia de la conflictividad agraria. Este se rompería con el ‘paro agropecuario’ de 1994, a partir de la cual comenzaría a percibirse la emergencia de un proceso de cuestionamiento al rumbo asumido por las políticas económicas liberales42. Este había sido convocado por FAA y a través de diferentes gestiones había logrado la adhesión de CRA y CONINAGRO. La SRA a pesar de que en muchos aspectos coincidía con el diagnóstico realizado por las otras entidades43 optó por no adherirse por entender que “(…) todavía se pueden conciliar algunos reclamos con el gobierno, incluso el crediticio (…) Nuestra entidad se mantendrá a un costado 42 Esto no significa que los actores del bloque social sostuvieran reivindicaciones decidida y coherentemente pro-intervencionistas. 43 En meses previos la entidad había firmado un petitorio conjunto de 10 puntos (DP, 3/08/1994: 18-19). 123 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens observando el accionar del gobierno y las decisiones de nuestro pares en los próximos días” (DP, 2/08/1994: 26).44 Esta actitud ocasionó el descontento de las asociaciones, especialmente de aquellas que expresaban la situación de los medianos productores, así el presidente de CARTEZ (entidad adherida a CRA y de la cual formaba parte la SRRC) decía: “La Sociedad Rural Argentina ha quedado totalmente descalificada en el interior del país, porque firmar un compromiso y después borrar con el codo la firma es una actitud muy fea (…) Es espantoso que De Zavalía haya ido a hablar con Cavallo ante que los otros presidentes [de las entidades ruralistas]. Esto es una grosería hacia las otras entidades, sobre todo en momentos en donde se le estaba ofreciendo un cargo internacional” (TA, 12/08/1994: 3) La medida dispuesta por las asociaciones rurales asumía la modalidad de ‘paro tranqueras afuera’, es decir, durante diez días las entidades rurales acordaron que sus asociados no realizarían ninguna operación de mercado. El presidente de SRRC explicaba los efectos inmediatos buscados con dicha medida: “(…) la propuesta de no comprar ni vender es con el propósito de desabastecer los mercados sobre todo a Buenos Aires. Incluso se hablará con las economías regionales, que tienen gran incidencia en el abastecimiento de la Capital Federal para que dejen de mandar productos” (DP, 3/08/1994: 18-19). Además, habían dispuesto que en aquellas localidades donde existiera más de una entidad gremial se constituyeran ‘comités de lucha’ a los fines de coordinar las diferentes acciones (DP, 3/08/1994: 18-19). El diagnóstico general de la situación era descripto por el titular de la entidad convocante, quien sostenía que: “Más de 5 mil millones de endeudamiento, la ausencia de nuevos créditos y la permanente situación de crisis es lo que nos impulsa a tomar esta medida” (DP, 1/08/1994: 10). Ante esta situación aparecían cuatro demandas centrales de la protesta rural resumidas en un documento elaborado conjuntamente por 44 Esta postura de SRA tal vez pudo haberse debido a los perfiles institucionales que históricamente han caracterizado a la misma, en lo que siempre privilegia la negociación y la búsqueda de puntos de encuentro a través de la influencia personal de sus asociados y el contacto directo con el Estado. Sobre estos aspectos se puede consultar Palomino (1987; 1988) y Martínez Nogueira (1988). Asimismo podemos agregar el apoyo al modelo económico sostenido por el Gobierno de Menem a lo largo del período (Sidicaro, 2005). 124 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens las entidades. Estas solicitaban al Gobierno: 1) la refinanciación de pasivos y créditos para la reconversión y recomposición del capital de trabajo, a una tasa de interés de nivel internacional y a un plazo mínimo de 10 años; 2) la suspensión sin más trámites de las exportaciones de aquellos productores agropecuarios cuyos países subsidian la producción; 3) reintegros para las exportaciones de las economías regionales; 4) la eximición de las deudas previsionales que pesaban sobre la mayoría de los productores. (DP, 1/08/1994: 22). Como podemos observar, eran demandas de estricto contenido sectorial y económico, aunque en el transcurso de la protesta se puede apreciar que comienzan a aparecer – subsumidamente – algunas reivindicaciones de tipo social. Sobre este aspecto resulta necesario advertir dos cuestiones: una vinculada a la forma de trasladar el reclamo a la esfera pública y la otra asociada a la situación de los productores agropecuarios, especialmente de aquellos ligados a FAA. En relación a la primera cuestión planteada, un comunicado de presa de la SRRC, advertía: “(…) que la crisis del campo se ha trasladado con toda crudeza y gravedad a los centros urbanos, especialmente del interior del país provocando recesión, desocupación, parálisis, desaliento, pobreza. Los testimonios de esta situación se dan cotidianamente. Ya no son solamente las entidades agropecuarias que lo advierten: son las que representan a los sectores del comercio, la industria, los servicios, etcétera, que están pidiendo decisiones gubernamentales que permitan sobrellevar este trágico momento en la economía de un vasto sector de la vida nacional. Lamentablemente, pareciera que nuestras autoridades son las únicas que no ven esta realidad. En vano han sido nuestros reclamos, nuestra prédica, nuestras peticiones. Y los tiempos se han agotado. ¡Debemos reaccionar!” (SRRC-comunicado de prensa, 5/08/1994). En el mismo tenor, uno de los dirigentes regionales de FAA sostenía que: “El problema del campo se está transformando en un problema de la sociedad (…) porque si no trabaja el campo y los sectores relacionados con él no trabaja nadie –concluyendo que – si no trabaja el campo y los sectores asociados con él no trabaja nadie” (DP, 11/08/1994: 29). Esta pretensión fue más o menos efectiva, en la ciudad de Río Cuarto 125 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens la organización que nucleaba a diferentes rubros de la industria, el comercio y los servicios (CECIS) a través de un comunicado adhirió a las medidas del agro; en este instaba a los: “(…) niveles gubernamentales competentes, a los legisladores y a la dirigencia política a que, sin dilaciones, consideren e instrumenten los correctivos que la actual situación exige para que, de una vez por todo, se arribe a soluciones concretas y eficaces para el sector en el entendimiento de que habrán de repercutir favorablemente sobre la industria, el comercio y los servicios de Río Cuarto y su región”. Asimismo, muchos sectores afines a la actividad agropecuaria habían mostrado su apoyo a la iniciativa de las asociaciones rurales, entre los cuales se encontraban los consignatarios de hacienda, la Sociedad de Acopiadores de Granos de la Provincia de Córdoba y la cámara que nucleaba a los propietarios vinculados al negocio agroveterinario. (DP, 10/08/1994: 29) Respecto a la segunda cuestión planteada más arriba, esto es sobre las demandas sociales que comenzaban a aparecer en el discurso de los dirigentes agrarios especialmente aquellos relacionados a FAA-, las demandas transitaban por dos ejes estrechamente vinculados: uno que alertaba sobre la sustentabilidad de las familias rurales y el otra que advertía sobre la existencia misma de un tipo social determinado: los ‘chacareros’. Así lo comentaba uno de sus dirigentes: “Y debe comprenderse que esto es el reflejo de una realidad extremadamente crítica, que va desbordando toda capacidad de tolerancia. Que no se está en actitudes políticas ni opositoras, como tampoco se persigue el fracaso de nada ni nadie. Es nada más ni nada menos que la legítima lucha por la sobrevivencia, por la continuidad de muchísimas explotaciones que están en serias dificultades, al borde de la desaparición. Esto es lo que no puede dejar de observar el Gobierno nacional. Y no se trata solamente de perder unos cuantos miles de productores naturales de alimentos y divisas. Se trata de todo un entramado social cuyo quiebre puede lamentarse muy profundamente en el futuro cercano, muy especialmente a nivel del interior del país” (TA, 26/08/1994: 4-5. El subrayado es nuestro). En sentido similar, otro dirigente comentaba el deterioro que se percibía para sostener las condiciones de vida de las familias rurales: 126 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens “Primero nos dijeron que debían desaparecer más de 200 mil productores para que el esquema económico cierre. Dijeron también que para trabajar cada productor debía tener como mínimo 200 hectáreas, después dijeron 300 y ahora 500. Dentro de poco nos van a decir que hacen falta 1000 hectáreas para que una familia viva dignamente” (DP, 17/08/1994: 29). La situación descripta por el representante de FAA operaba como una motivación para continuar participando de acciones directas de ese tipo, las cuales canalizaban la conflictividad social que no encontraba satisfacción en las estructuras de representación y mediación existente.45 En este sentido, transcribimos un fragmento de un discurso pronunciado por un dirigente regional de FAA: “La gente ha aprendido que esto no es un capricho de los dirigentes, sino que es la voluntad de los hombres de campo que están viviendo en carne propia todo el problema. Para mí la gente va a seguir adelante porque está ante la disyuntiva de perderlo todo. Acá la protesta recién ha comenzado, es el principio pero no sabemos cuándo ni cómo será el final (…)” (TA, 19/08/1994: 4-5. El subrayado es nuestro). Se interpelaba al Estado por la vigencia de derechos de neto corte social: sustentabilidad de las familias rurales, dignidad del trabajo. Incluso, se hacía alusión al quiebre de "de todo un entramado social". Se pretendía resguardar esta comunidad rural a través de la participación y la acción directa. Evaluando los efectos del paro agropecuario, también un dirigente de FAA, concluía que: (…) quienes viven en el interior demostraron que no quieren seguir siendo ciudadanos de tercera” (DP, 22/08/1994: 34). Del mismo modo, el presidente de CRA sostenía que: “Este es un reclamo para ser escuchado y las autoridades deben tener en cuenta que los productores somos ciudadanos y votamos” (DP, 22/08/1994: 26). 1.2. “Nos interesa la solución, no la protesta”: la conflictiva coyuntura de 1999 Hacia la finalización de la década analizada se asistió a un agravamiento de la situación económica y social de los productores agropecuarios, especialmente los pequeños. Es así como al iniciar el año FAA, CRA y CONINAGRO convocan a una asamblea y concentración rural en la localidad bonaerense de Pergamino con el objetivo 45 Esto es lo que McCarthy y Zald (1977) entienden por ‘movilización de recursos’. 127 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens de “(…) poner de manifiesto el endeudamiento del agro, que alcanza una cifra cercana a los 10.000 millones de dólares” (DP, 6/01/1999: 22). La misma reunió a más de 2.000 productores agropecuarios. Lo importante para destacar de esta medida es que allí las entidades resolvieron una profundización del ‘plan de lucha’ en procura de una solución definitiva al problema del endeudamiento tributario, el establecimiento de reglas claras para seguir produciendo y una reducción del precio del gasoil y de las tarifas de peajes (DP, 13/01/1999: 11). En este marco se plantea la ‘rebelión fiscal’, no solo como una alternativa viable de protesta sino que también motivada por una imposibilidad de hacer frente a los compromisos impositivos para satisfacer otras necesidades. Así lo comentaba uno de los dirigentes de FAA: “(…) la gente no va a pagar y de hecho lo está haciendo. Silvani habla de morosidad pero los productores hemos dejado cosas en el camino que tienen que ver con nuestro nivel de vida, como la educación de nuestros hijos y nuestra salud” (TA, 15/01/1999: 4). En ese marco CARTEZ, FAA y CONINAGRO acuerdan movilizaciones en diferentes localidades de la provincia de Córdoba con especial foco en la ciudad Capital, Río Cuarto, Villa María y San Francisco (DP, 10/03/1999: 13 y TA, 12/03/1999: 2). El titular de FAA, describía el estado en el que se encontraban los productores y que motivaba las protestas: “(…) los productores nos estamos fundiendo y no podemos hacer absolutamente nada para modificar ni los precios ni los costos. Por eso se requiere la intervención del Gobierno nacional, que es el mayor responsable de lo que ocurre (…) Aquí se requieren urgentes medidas de salvataje porque la caída de ingresos que se prevé este año supere los cinco mil millones de pesos y esa plata que va a faltar no solo en el campo sino en toda la economía nacional”. (DP, 10/03/1999: 13) En síntesis, se sostenía que: “las empresas rurales están produciendo a pérdida”, por lo que era necesario que con la protesta: “(…) la ciudad tome conciencia de la situación por la que atraviesa el campo” (DP, 17/03/1999: 14). 128 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Las demandas solicitadas al Gobierno por parte de las asociaciones rurales, fueron sintetizadas en un ‘Plan de Salvataje’, a similitud de lo acontecido en el ‘paro agropecuario’ de 1994 lo solicitado era de carácter netamente económico y sectorial. Los seis puntos centrales demandados por las asociaciones rurales eran : 1) la postergación de los impuestos nacionales y provinciales y suspensión de nuevos tributos sobre los préstamos y sobre la ganancia mínima presunta establecida por la reciente reforma tributaria; 2) la ampliación del actual plan de refinanciación de pasivos elaborado por el Banco Nación y la bonificación de las tasas de interés de los créditos destinados para el sector; 3) la reducción del precio del gasoil en términos acordes con el valor internacional del petróleo; 4) la disminución de costos de la producción y de mantenimiento de las empresas del sector, actuando sobre el componente impositivo; 5) la reducción de las tarifas de peaje, especialmente para el transporte de la producción y bonificar las tasas de interés en los créditos destinados al sector; y finalmente 6) la estructuración de créditos y warrants para retener los granos y no tener que salir a vender la cosecha con apuro a precios de remate. (TA, 12/03/1999: 4).46 A nivel regional las entidades sumaban demandas relacionadas con la ejecución de obras hídricas y la declaración de emergencia agropecuaria en áreas inundadas. Al mismo tiempo la SRRC volvía a poner de manifiesto su insatisfacción con la dirigencia política a través de un nuevo comunicado que expresaba: “(…) En Córdoba, la inacción gubernamental es en buena medida responsable del espectáculo que usted ve en los campos que cruzan la ruta siete. Ciento de miles de hectáreas inundadas e incomunicadas; simultáneamente somos víctimas de lo que debemos calificar como terrorismo fiscal al que usted también está sometido. Pagamos los combustibles y los peajes más caros del mundo y usted también lo hace (…)” (SRRC, comunicado de prensa 17/03/1999). En esa línea, la mencionada entidad proponía canalizar su descontento por medio de un ‘urnazo’, una suerte de castigo ejemplar para la dirigencia política incapaz de dar satisfacción a sus reclamos: 46 A este plan también adhiere SRA. 129 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens En esta provincia castigamos con nuestro voto a un gobernador soberbio y prepotente hace poco tiempo. En democracia los gobiernos no se derriban ni desestabilizan, se cambian. Este año tendremos otra vez la oportunidad de expresarnos en las urnas. Hágalo pensando en castigar la corrupción y la confiscación de su esfuerzo y el nuestro” (SRRC, comunicado de prensa 17/03/1999). Asimismo, uno de los dirigentes regionales de FAA presentaba el problema de la crisis del campo como uno generalizado que atravesaba a toda la sociedad y no solo al sector. Sobre la medida de fuerza decía: “Esto no es lo que nos gusta ni a los productores ni a las entidades del campo pero cuando se agota la vía del diálogo no queda otra alternativa. Esto demuestra que más allá de los intereses de algún dirigente, esto es una realidad, hoy están protestando no solo los productores sino también los comerciantes y toda la comunidad, lo que demuestra que ya dejó de ser un problema solo del campo” (TA, 19/03/1999: 5). En sentido similar, el titular de CARTEZ realizaba un llamado para aunar esfuerzos de todos los sectores de la sociedad, decía: “Nuestra posibilidad de seguir siendo productores está llegando a su fin (…) La familia del campo hace mucho que viene sufriendo los avatares de políticas erróneas (…) no estamos pidiendo privilegios sobre ningún otro sector. Estamos sugiriendo a todos aquellos sectores del trabajo y la producción que se sientan afectados que estrechemos filas en bien de nuestra Argentina” (TA, 19/03/1999: 3). Al mes siguiente, FAA convoca a la realización de un paro de tres días bajo la modalidad de ‘tranqueras afuera’ ante la falta de medidas oficiales para paliar la crisis del sector. Acompañan la medida CRA y CONINAGRO, a las que se le suma, por primera vez desde 1975, SRA. El objetivo de la protesta era que “(…) el Gobierno reaccione ante los graves problemas que vive el sector” (DP, 8/04/1999: 8). Reflexionando sobre la medida anunciada, el titular de FAA acotaba que: “Si bien sabemos que el Gobierno nacional no es responsable por la caída de los precios internacionales puede adoptar medidas cuya magnitud excede a todas las anteriores sufridas por el sector. No hubiéramos querido hacer este anuncio pero las circunstancias son tan graves que las cuatro entidades resolvimos un plan de acción gremial continuo y progresivo para tratar de contener el deterioro y revertir la situación”. “Nos interesa la solución, no la protesta. El paro es un instrumento, no un objetivo”. (TA, 9/04/1999: 3) 130 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Nuevamente el contenido de lo demandado por las entidades giraba en torno a reivindicaciones económicas históricamente sostenidas por ellas – especialmente en el caso de SRA y CRA –. En este sentido, los dirigentes solicitaban la eliminación de la Reforma Tributaria y de impuestos sobre la ‘renta presunta’ así como sobre los intereses de los préstamos. Además peticionaban la suspensión del componente impositivo del gasoil, una mejora de la lucha contra la evasión impositiva, la refinanciación de pasivos a través del recálculo de deudas y una política crediticia para el sector. Finalmente, decían que estos pedidos se sustentaban en la necesidad de “(…) recuperar la competitividad (…) en el marco de un proceso sostenible productiva, económica y socialmente”. (DP, 8/04/1999: 8) Asimismo, se reiteraba la percepción de las asociaciones rurales de que las acciones colectivas constituían la única alternativa posible para canalizar sus demandas al espacio público. En este sentido, lo expresaba un comunicado de la SRRC que decía que: “ESTA SOCIEDAD RURAL DE RÍO CUARTO NO DISFRUTA CON SITUACIONES O DETERMINACIONES DE ESTA NATURALEZA. Se pronuncia, por el contrario, a favor del diálogo, del entendimiento, de la negociación. Empero, la desconsideración de que somos objeto, nos obliga a adoptar medidas extremas. SEAMOS SOLIDARIOS Y MANTENGÁMONOS UNIDOS. AFRONTEMOS LA SITUACIÓN CON RESPETO PERO CON DECISIÓN”. (SRRC, comunicado de prensa 16/04/1994. Mayúsculas en el original). Con similar sentido, lo expresaba un dirigente regional de FAA, quien decía que: “Probablemente el paro no sea la solución pero la gente del campo no ve otra alternativa para encontrar eco en sus reclamos (…) No le cree nadie a este Gobierno porque anuncia siempre cosas y luego no las instrumenta o las instrumenta mal”. (DP, 18/04/1999: 15). Esta coyuntura de importante visibilidad de la protesta rural culmina con un paro bajo la modalidad de ‘tranqueras cerradas’ con movilización a la ciudad de Buenos 131 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Aires, el mismo había sido convocado por FAA y habían comprometido su participación CRA y CONINAGRO (DP, 4/06/1999: 12). A diferencia de lo que se pudo observar a lo largo de las reivindicaciones sostenidas por las asociaciones rurales a lo largo del período, aquí vuelven a aparecer las relacionadas con las consecuencias sociales del nuevo ‘paradigma’ productivo. Uno de los dirigentes regionales de FAA, afirmaba que: “Si no tenemos rentabilidad la consecuencia es el endeudamiento, la descapitalización y, tarde o temprano, la desaparición del productor agropecuario (…) Nos dijeron que debíamos tecnificarnos y lo hicimos, por eso nos endeudamos y ahora nos aplican el impuesto sobre los intereses, eso es inadmisible” (DP, 10/04/1999: 1213). En tanto que el titular de la mencionada entidad observaba que: “De no revertirse la situación, muchos de los hombres del campo vendrán a poblar las villas miserias de las ciudades. Esta marcha constituye el grito del interior del país en el corazón político y económico. Venimos a decir que estamos cansados de esta situación que nos está expulsando y marginando. Nos estamos expresando para que las autoridades conozcan nuestra realidad y reparen en nuestro reclamo. El Gobierno tiene la obligación y la responsabilidad de solucionar los problemas del campo (…) lo único que están haciendo es entretenernos con mentiras y promesas para zafar hasta el 10 de diciembre” (DP. 22/06/1999: 12). En definitiva – el representante de CARTEZ – sostenía que: “Ha llegado el momento de cambiar todo aquello que impide el desarrollo en dignidad de la familia del campo (…) Nuestra posibilidad de seguir siendo productores está llegando a su fin (…) la familia del campo hace mucho que viene sufriendo los avatares de políticas erróneas (…) no estamos pidiendo privilegios sobre ningún otro sector” (DP, 10/06/1999: 24). En un nuevo comunicado de prensa la SRRC describía la situación y a la par de que se quejaba por la ‘presión fiscal’ ejercía una crítica a las prácticas de la clase política: “A la situación desventajosa de los muy bajos precios de nuestra producción granaria, debemos sumar las exacciones que sufrimos por parte de un Estado, que pareciera que viviera una realidad distinta de la que vivimos todos nosotros, malgastando todos los recursos que obtiene, como, por ejemplo, pagando estas absurdas jubilaciones de privilegio, o condonando las deudas de algunas Obras Sociales, con el sólo objetivo de conseguir los favores de los gremialistas. O pagando los altísimos costos de las 132 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens campañas electorales, que incluyen luchas internas absurdas. O privatizando las empresas del Estado a precio vil, a valores que seguramente son los más caros del mundo, como los peajes, endeudando al país, en cifras insospechadas, mientras que, por otra parte, este mismo Estado parece insaciable a la hora de querer recaudar, aumentando la presión fiscal a límites insostenibles, imponiendo el pago de impuestos tan repudiables, como el de la Renta Presunta, el de los intereses, el nuevo impuesto al Gasoil, etc. A lo que seguía cuestionando la incapacidad de aquella para dar solución a demandas básicas de la sociedad: Todo esto nos habla de funcionarios totalmente ineficientes a la hora de administrar los recursos públicos y que, además, desconocen la realidad de un pueblo empobrecido que, ni siquiera obtiene la satisfacción de cosas que son irrenunciables, como la Salud, la Educación y la Justicia. Frente a estas incongruencias, nuestras entidades han resuelto este nuevo paro agropecuario, como última apelación por justas reivindicaciones de nuestro sector (…)”. (SRRC, comunicado de prensa 11/06/1999) A modo de conclusión El estudio de los discursos, las prácticas y las estrategias de las entidades gremiales permitieron visualizar que las demandas sectoriales económicas ocuparon un lugar destacado y que la lógica de esta acción pública seguía transcurriendo en gran medida, en términos corporativos, subsumiendo las de tipo social. De este modo, ocuparon un lugar destacado las demandas por relaciones de precios favorables al sector agropecuario (relacionados a los precios de exportación, de los insumos tecnológicos y de los bienes de consumo), el bregar por devaluaciones (sin cuestionar al régimen de la convertibilidad), aduciendo que con el cambio fijo se perdía rentabilidad, quejas sobre el endeudamiento implicado en la reproducción económica de explotaciones que han incorporado determinados "paquetes tecnológicos". Aparecían también reivindicaciones – sostenidas principalmente por la Federación Agraria – de tipo social, tales como la lucha por la tierra y la vivienda digna, aludiendo a los procesos de concentración, pérdida al acceso a la tierra y condiciones dignas de vida, empobrecimiento de pequeños productores, etc. FAA apelaba a la consigna de la "dignidad de la familia de campo". Referencias bibliográficas 133 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens BASUALDO, Eduardo (2001). Sistema político y modelo de acumulación en la Argentina. Universidad Nacional de Quilmes, Bernal. BASUALDO, Eduardo (2010 [2006]). Estudios de Historia Económica Argentina. Desde mediados del siglo XX a la actualidad. Siglo XXI, Buenos Aires. BRAGONI, Beatriz (comp.) (2004). Microanálisis: ensayos de historiografía argentina. Prometeo, Buenos Aires. CARNIGLIA, Edgardo (2004). “La mediatización de la ruralidad. Representaciones del espacio en la prensa especializada nacional”. En: CIMADEVILLA, Gustavo CARNIGLIA, Edgardo (comps.). Comunicación, ruralidad y desarrollo. Mitos, paradigmas y dispositivos de cambio. INTA, Buenos Aires. CAVAROZZI, Marcelo (1996). El Capitalismo político tardío y su crisis en América Latina. Homo Sapiens Ediciones, Rosario. 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Comunicados de Prensa 9) AUTORES: Guillermo Tella y Rodrigo Silva PONENCIA: El orden simbólico en el territorio: Buenos Aires y sus mecanismos de diferenciación de lugar INSTITUCIÓN: Universidad Nacional de General Sarmiento PAÍS: Argentina MAIL: [email protected] Introducción En la región metropolitana de Buenos Aires, el proceso reciente de construcción de la ciudad articula tres mecanismos de actuación: la calificación del espacio, la valorización del territorio y la diferenciación espacial, donde el Estado se ocupa de regular y sostener el mercado del suelo, el casco consolidado y las áreas de asentamientos populares, y el capital privado de organizar importantes fragmentos del territorio y desarrollar las áreas donde realiza sus propias inversiones. Estos procesos de cambio generan nuevas relaciones entre espacio, poder e identidad, y se expresan mediante símbolos y elementos materiales que comunican ideas o valores y que contribuyen a ordenar y a configurar el territorio, la población y las inversiones a través de un discurso socialmente legitimado. De modo que encontramos en la ciudad varios discursos: el discurso del orden, dado por el Estado a espacios y actividades; el discurso del poder, dado por las relaciones de fuerza instaladas; y el discurso de la diferenciación, dado por su propia cualidad urbana. Desde esta perspectiva, a partir de un caso de estudio se reflexiona sobre aquellos mecanismos de construcción de ciudad que consagran en el territorio un determinado orden simbólico de diferenciación de lugar. 136 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Lo simbólico y lo urbano En las décadas del ´80 y ´90, en el marco de un mercado mundial que impulsaba a las economías regionales a modificar sus estructuras productivas, se generaron procesos socioespaciales que condujeron a la fragmentación territorial de la región metropolitana de Buenos Aires, que pone en discusión a las formas de urbanización pasadas, construidas sobre la existencia de un espacio público de integración. (Prévôt Schapira, 2001). En este contexto aparecieron formas de apropiación del espacio urbano derivados de a la informalidad urbana. Villas, asentamientos precarios, barrios sin título de propiedad, que responden a la lógica de reproducción de la vida. Surgieron entonces islas territoriales cargadas de valores urbanos que rechaza gran parte de la sociedad local. Estas ínsulas son urbanas y son sociales al mismo tiempo. Mientras crecen barrios temidos, surgen las urbanizaciones cerradas con espacios cargados de aspectos deseables, socialmente aceptados y consagrados. (Tella, 2007). En esa línea, E. Soja (1985) sitúa a espacialidad como un producto social, como espacio socialmente producido, diferenciando el espacio físico de la naturaleza material y del espacio mental de la cognición y la representación. Entonces, la espacialidad mental que se genera repercute en el modo de reproducir y de naturalizar el espacio urbano real. Las acciones y prácticas que los actores sociales realizan en ese marco van construyendo la sociedad, la economía y el espacio urbano. La acción en cada uno de esos campos origina relaciones y competencias, que se institucionalizan y constituyen la base de la espacialización del territorio. (Bourdieu, 2002). La espacialización implica la distribución no arbitraria de trabajo, tiempo, funciones y personas, que aparecen muy precisamente organizadas en el territorio a fin de obtener la máxima eficiencia en la reproducción de las inversiones realizadas, mantener el orden y las diferencias alcanzadas para la apropiación del capital común. (Lombardo 2007). En esa construcción de la vida se generan relaciones de poder y de mantenimiento de las relaciones que sostienen ese poder. Para P. Bourdieu (2000) ese poder es simbólico porque tiende a establecer un orden gnoseológico. 137 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens El poder simbólico organiza dos sistemas conectados por una secuencia de símbolos: una sistema de circulación, definido por: espacio público, calle, vereda, semáforo, servicios, infraestructura; y un sistema de propiedad, caracterizado por: localización, accesibilidad, seguridad, superficie, alturas, usos, materiales, nivel de consolidación. Ambos sistemas se entrecruzan y articulan entre sí generando mapas simbólicos en la espacialidad mental y real de los individuos que comparten la socialización de un mismo espacio urbano. Tal como destaca Pierce (1987), los símbolos son producto de un acuerdo tácito dentro de una comunidad. De modo que las relaciones entre los individuos se estructuran de modo tal que implican asimetrías sistemáticas de poder y de acceso a recursos, que imponen límites a los rangos de variación institucional. (Thompson, 1991). El orden simbólico en el territorio La significación del espacio expresa un orden social, es decir, un sistema entretejido de señales construibles. (Geertz, 1991). Debemos considerar que el territorio tiene un sentido significante, un aspecto simbólico que ofrece un discurso aprehensible por todos los individuos que viven en la ciudad, ya que la ciudad es una construcción social, expresión de los procesos de reproducción de la vida. En el espacio urbano observamos una fuerte carga cultural que funciona normalizando el espacio, funciona como objeto y como medio. Los receptores (individuos, vecinos, actores sociales) observan la diferenciación entre espacio público y privado, y aceptan esa diferencia cultural. Y a través de su carga cultural asignan valoraciones de cada espacio, clasificando rasgos socialmente aceptados. El espacio urbano cargado de signos se explica a sí mismo a partir de esta diferencia entre lo privado y lo público. Lo público expresa un orden uniforme garantizando una lógica en el territorio; lo privado en cambio depende de cada individuo propietario de su parcela. En la ciudad existen signos que se vuelven símbolos, íconos e hitos, que actúan sobre la subjetividad individual reproduciendo ideologías y marcando diferencias intencionales heredadas y funcionales a la lógica de reproducción-, que ordenan el territorio. Las marcas 138 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens simbólicas son parte constitutiva del proceso de construcción de la ciudad y con ella, de la sociedad. El Estado sostiene el orden en el territorio y el mercado lo diferencia. Esta lógica deja marcas que se expresan a través de un discurso simbólico, ordenando las relaciones de poder y las distancias sociales, contribuyendo a la organización y a la construcción del espacio urbano. (Tella y Silva, 2010). A través del modo de regulación de la sociedad, esas relaciones se van institucionalizando y constituyen códigos, reglamentos y leyes que regulan el accionar entre los actores en las actividades que estos realizan en la reproducción de sus vidas. Para J. Lombardo (2007) la estructuración del espacio urbano en el contexto de las relaciones sociales generan tres mecanismos entre actores: - la calificación, donde el Estado dota al territorio de servicios e infraestructura. - la diferenciación, dado que por calificación se diferencian distintas áreas entre sí. - la valorización, que transforma el suelo en mercancía, en “valor de cambio”. Eventualmente, existiría un cuarto mecanismo: la “organización simbólica”, en el que la espacialización resulta central en la organización del territorio. Se trata de la distribución en el territorio de los actores, de los edificios, de las infraestructuras y de la organización del tiempo social de estos actores en el espacio. En este contexto, la construcción del espacio es también simbólica; es decir, el espacio se organiza de modo que existan zonas de distinta calificación y precio que son ocupadas por sectores sociales distintos, que se señalan con objetos simbólicos que las demarcan y permiten identificarlas de otras. Siguiendo a J. Lombardo (2007), entendemos que ello estaría señalado con marcas simbólicas en el territorio y que comenzarían con la división en zonas de un municipio (plano de zonificación), con el tipo de trazado urbano (retícula u otro), con la infraestructura y con el equipamiento disponible en la zona (plazas, lagunas, parques), la vegetación del lugar, el cuidado de la zona, la accesibilidad, el precio del suelo, etc., elementos estos que permitirían indicar el status urbano de una zona. 139 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Las marcas simbólicas en el territorio A los efectos de observar el fenómeno de la demarcación simbólica se examinó un sector del norte de la región metropolitana de Buenos Aires. El área de estudio elegida, “Rincón de Milberg”, es un lugar del municipio de Tigre con zonas bajas donde las lluvias y las crecidas del río generaron históricamente fuertes inundaciones. El sector está rodeado por los ríos Luján, Reconquista, Pequeño Tigre y una parte de lo que fuera la Pista Nacional de Remo y que hoy es utilizado como desagüe del Río Reconquista. Para ello se realizaron entrevistas a informantes-clave y se relevaron e identificaron las características y el grado de consolidación del espacio público -trama, retícula, redes, servicios, equipamiento- y del espacio privado –usos, tipologías, alturas, materiales, estado-. A partir de allí surgen micro-identidades al interior del barrio que diferencian zonas bajas, zonas altas, zonas peligrosas, zonas seguras, zonas ricas, que expresan lo que denominamos “marcas simbólicas”. Los barrios definen sus marcas simbólicas mediante sectores homogéneos en términos de cualidades del espacio público y del espacio privado. Las diferencias entre sectores guardan directa correlación con los precios del suelo. Desde esta perspectiva, un actor central es el Estado municipal, que realiza la primera división de zonas en lotes y promulga la normativa que asigna y regula usos del suelo. Las diversas características actúan como “marcas” por micro-homogeneidad en la zona y establecen diferencian en la construcción del espacio urbano. Cada uno de los actores que intervienen en el proceso -Estado, desarrolladores, inmobiliarios, constructores, organizaciones sociales, propietarios del suelo, vecinoscontribuyen a cargar de sentido al espacio urbano, generando una diferenciación visible, con elementos por todos reconocidos. El Estado cumple la función principal de ordenar el territorio. Y lo hace más allá de la temporalidad y del contexto económico. Genera ciertas normas que contextualizan el desarrollo del territorio y otras que se adaptan a las necesidades de circulación del capital. 140 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Ordena también las actividades y el espacio de modo tal que se vea sostenido el sistema, favoreciendo el modo de reproducción social y económico dominante. Y lo hace mediante una carta de zonificación y un código de edificación en el que regula la propiedad privada y orienta la inversión en el espacio público, dotando de infraestructura a las zonas prioritarias (rutas, caminos centrales, etc.). Este es el rol del Estado en la conformación y desarrollo de la ciudad. Esto no es simbólico en su origen, pero es funcional y permite un mejor desarrollo de las inversiones privadas en el territorio. [ver Imagen 1]. Imagen 1: Identificación de áreas homogéneas en el área de estudio. A la par, los desarrolladores inmobiliarios presionan en busca de modificaciones a la normativa, que los habilite para realizar sus obras. Lagunas artificiales, rellenos de terrenos con grandes superficies, desarrollo de caminos y obras hidráulicas para volver transitables 141 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens espacios antes anegados o de difícil tránsito, olvidados por el Estado. Los desarrolladores tienen en sus manos el poder de servir grandes zonas con infraestructura básica (agua, gas, cloaca, electricidad, alumbrado, etc.) y urbanizar. En Rincón de Milberg encontramos dos tipos de orden urbano regular. Por un lado, uno semejante al que se observa en la mayor parte del conurbano bonaerense: cuenta con una trama urbana en cuadricula, con manzanas regulares parceladas, con calles de circulación pública y abierta. Si bien el área fue delimitada originalmente por el Estado, luego los propios vecinos han ido imprimiéndole cierta consolidación. Por otro lado aparece una zona a modo de “ciudad jardín”, con grandes parcelas privadas subdivididas en propiedad horizontal, con superficies comunes que son sus calles. Las mismas son de circulación privada y no contribuyen a comunicar espacios urbanos sino que solo conducen a viviendas particulares. [ver Imagen 2]. 142 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Imagen 2: Precios del suelo relevados en el área de estudio. Con lo cual, el Estado regula la propiedad privada (dominio de la parcela), la zonificación y el sentido del desarrollo del territorio. Regula la calificación mínima del espacio, la altura de la edificación y la ocupación de la parcela. Esto determina el tipo de infraestructura que deberá proveerse, la densidad habitacional y la capacidad edificable del suelo pero no su valor ni su diferenciación simbólica, solo su diferenciación por equipamiento y uso. El valor lo dan las relaciones de mercado, que otorga entidad a la propiedad convirtiéndola en símbolo de poder. En consecuencia, el espacio se diferencia también por su cercanía a los lugares centrales. Se observan entonces áreas micro-homogéneas con características urbanas similares, que definen sectores de precios del suelo. Al interior de estas áreas aparecen diferencias en el espacio público y en el privado que van conformando pequeñas subzonas. Los constructores junto a los propietarios del suelo en las relaciones de mercado han desarrollado gran parte de la ciudad que hoy conocemos, diferenciando precios por zona y cercanía a grandes centros. Un doble discurso en el espacio urbano En el espacio urbano encontramos un doble discurso o dialógica. El del “orden” dado por el Estado, y el de la “diferenciación”, a partir de la cualificación del espacio construido. La diferenciación simbólica se muestra con elementos de status, de poder, de nivel socioeconómico, de exclusividad, de diferencias graduales. En la ciudad aparece un discurso diferenciador que expresa la lógica sobre la que se reproduce el sistema complejo en que nos desarrollamos. La ciudad nos “habla” de propiedad privada y de diferencias entre sectores y allí nos expresa entonces orden, poder y diferenciación. Para A. Giddens (1982) los actores sociales son capaces de conocer el medio social que constituyen a través de la acción, con su conciencia práctica y discursiva. Los actores recurren al stock de conocimiento que son requeridos en la misma reproducción de su acción. Se trata de un stock histórico y cultural, al que apelan para desarrollar el espacio de modo 143 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens racional. La ciudad -como acto presente y futuro- es determinada por las relaciones sociales de reproducción de la vida. Los actores sociales no son obligados a realizar ciertos recorridos, a producir sus viviendas de cierto modo o a comprar en determinados lugares. Ellos solo internalizan la estructura urbana y la reproducen como la perciben según su lugar en los campos sociales a los que pertenecen. (Giddens, 1982). Dicho en términos bourdianos, generan un “habitus” social urbano. Para O. Dallera (1990) el universo de creencias abarca un conjunto de efectos de sentido. El sujeto receptor del símbolo percibe diferencias en el espacio urbano, las incorpora a su aparato cognoscitivo como múltiples signos que expresan significados, normaliza la diferencia e incorpora a su cultura la forma “ciudad” como si fuese el único modo de desarrollo de la vida en el espacio socialmente conocido. Algunos signos se vuelven símbolos de lo deseable y otros de lo no deseable. El mercado les asigna valor económico y los diferencia por precio. Y el Estado -mediante el orden- proporciona el marco para la realización de las actividades. La diferenciación simbólica se construye colectivamente, es histórica y profundamente social, cultural y recreada. Aparece como un mecanismo más del desarrollo de la sociedad y la ciudad, con cierta valorización, que cumple una función como ordenadora del espacio. La diferenciación simbólica sostiene un discurso homogéneo sobre el sistema de propiedad y sobre el modo económico y cultural que lo sustenta. Los quiebres simbólicos del territorio se dan en enclaves que anuncian cierta ruptura social. Aquellos que no logran pertenecer a la cultura, que no logran los fines simbólicos mínimos establecidos por la sociedad, se ven violentados. Es lo que Bourdieu (2002) llama “violencia simbólica”, refiriéndose a la distancia entre los que manejan el lenguaje aplicado a lo universal y aquellos a los que les es impuesto como discurso constante en la ciudad. En este sentido, la ciudad funciona como aparato simbólico de inclusión-exclusión. Los actores decisores del crecimiento de la ciudad deben considerar este aspecto al momento de crear nuevos entornos habitables. 144 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens La ciudad genera un discurso social, homogéneo, cultural e igual para todos. El discurso social al que nos enfrentamos nos hace creer, saber y hacer cosas estructuradas que se vuelven estructurantes. La sociedad reproduce aquello que observa como culturalmente aceptado. No está en duda el tipo de ciudad ni su tecnología, sino su aporte a la cultura en tanto maquina de comunicar nociones sociales, su distribución y el proceso de diferenciación que expresa. Las marcas simbólicas se concentran en mayor proporción en las zonas de mayor valor, y las nuevas urbanizaciones son las que concentran estas marcas. Lo simbólico en la ciudad actúa como discurso social, comunicando formas culturales y asegurando una continuidad replicable. Desde la lógica del poder, esto posiciona como dominantes a aquellos sectores que hacen uso de las condiciones simbólicas más valoradas. Los mejor posicionados dentro de cada campo de acción mantienen su status social, que implica una lógica del orden y la diferenciación. Hacia un status urbano de lugar La ciudad y la representación que nos hacemos de ella conlleva a la exclusión de aquellos que no pertenecen a la cultura: las urbanizaciones en general deben reflejar la sociedad que queremos. Existe una ciudad real, en la que por cuestiones de gusto, voluntad del Estado, normativa regulatoria, nivel de ingreso, etc., genera lugares diferentes con microdiferenciaciones al interior de cada barrio, tal como vimos en el caso de Rincón del Milberg. La ciudad tiene un sentido común asociado al tamaño de las parcelas, a la altura de las edificaciones, a la cualidad del espacio público. Si esto no sucede, tales aspectos dejan de ser constantes para generan quiebres en la representación del lugar. De modo que la ciudad, como maquinaria simbólica discursiva, debe interpelar a la inclusión social en todos sus frentes. En el proceso de construcción de la ciudad existe una relación dialógica entre la reproducción de la ciudad y la reproducción de la vida. En ese marco, se estructura la ciudad mediante dos elementos que aparecen como marcas: el orden y la diferenciación. Estas son las marcas que buscamos en el territorio, aquellas “marcas simbólicas” que han jugado y juegan un rol importante en la distribución de actividades y lugares en la conformación del espacio urbano. 145 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens En esta línea, observamos la ciudad desde tres perspectivas. Una que contempla la dotación de servicios, infraestructura y viviendas; otra que devela la normativa de regulación y control del crecimiento; y una tercera que se refiere al discurso que nos ofrece el territorio. De tal modo, podemos pensar a la ciudad como un sistema complejo que expresa las relaciones de reproducción social, con marcas culturalmente incorporadas que identifican actores y sectores. Las marcas confirman la calificación del territorio y transmiten nociones discursibles. Esas diferencias se constatan con el precio del suelo, en el orden y la diferenciación de sus elementos en el proceso de construcción de la ciudad. El discurso parte de aspectos significantes que posee la ciudad, signos que al significar se convierten en símbolos de la ciudad. Sabemos entonces que existen marcas físicas y simbólicas en la organización de la ciudad, que la constitución de esas marcas se producen al momento de ser concebida socialmente, que el acceso de los distintos sectores sociales al espacio construido es diferencial, y que existen diferencias entre el derecho y el acceso real de la población a la ciudad. La demarcación simbólica funciona como acumulación de estructuras culturales diferenciales. La ciudad adquiere una entidad discursiva, ofrece símbolos, signos e íconos que expresan las relaciones sociales entre actores y actúa en la percepción como discurso constante e inconsciente. Estamos en presencia de un nuevo mecanismo en el proceso de construcción del espacio urbano, que denominamos la “organización simbólica”, donde la diferenciación interpela a la representación mental del espacio urbano construido, conformando áreas por status de lugar. Los símbolos son entendidos sólo en su contexto de referencia y contribuyen a construir identidad, cultura y ciudad. En consecuencia, el espacio urbano es público y es privado, y está construido por marcas simbólicas a partir de una tríada definida por la autoridad, la centralidad y la legitimidad. Referencias 146 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens - BOURDIEU, Pierre. (2000), “Sobre el poder simbólico”. En: Intelectuales, política y poder. Traducción de Alicia Gutiérrez; Buenos Aires: Eudeba, pp. 65-73. - BOURDIEU, Pierre. (2002), “Poder, Derecho y Clases Sociales: Capítulo IV: Las formas del capital: capital económico, capital cultural y capital social”; Desclée de Brouwer; pp. 131-164. - DALLERA, Osvaldo. (1990), “Comunicación y creencias: Semiótica, Hermenéutica y Argumentación”. Fundación Universidad a Distancia Hernandarias. - GEERTZ, Clifort. (1991), La interpretación de las culturas. Barcelona: Gedisa. - GUIDDENS, Anthoni, (1982), “Acción, Estructura y poder”; Los Ángeles: Profiles and Critiques in Social Theory; pp. 21-33. - LOMBARDO, Juan. (2007), La construcción del espacio urbano: El caso de región metropolitana de Buenos Aires. Buenos Aires: Nobuko. - PIERCE, Charles. (1987), Obra lógico Semiótica. Madrid: Taurus. - PREVOT SHAPIRA, Marie France. (2001),”Fragmentación Espacial y Social: Conceptos y Realidades”, Perfiles Latinoamericanos N° 19; México, FLACSO. - SOJA, Edward. (1985), “La espacialidad de la vida social: hacia una reteorización transformativa”; Capítulo 6 de: Derek Gregory y John Urry, eds. (1985), Social Relations and Spatial Structures, Londres: Macmillan. (Traducción: H. A. Torres.) - TELLA, Guillermo y SILVA, Rodrigo. (2010), “La dimensión simbólica del territorio: Análisis de caso sobre mecanismos de diferenciación de lugar”. Buenos Aires: XI Coloquio Internacional de Geocrítica. - TELLA, Guillermo. (2007), Un crack en la ciudad: Rupturas y continuidades en la trama urbana de Buenos Aires. Buenos Aires: Ediciones Nobuko. 147 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens 10) AUTORES: Agripino Souza Coelho Neto y Jamille Da Silva. PONENCIA: Rede e território como categorias da prática sociopolítica das ações coletivas INSTITUCIÓN: UNEB/Campus XI e UNEB / PAÍS: Brasil MAIL: [email protected]; [email protected] Introdução As reflexões desenvolvidas neste texto foram motivadas por duas constatações que decorrem das pesquisas que vimos realizando nos últimos cinco anos no âmbito do projeto “redes e territorialidades no Espaço Sisaleiro da Bahia”, vinculado ao Grupo de Pesquisa Território, Cultura e Ações Coletivas (TECEMOS) da Universidade do Estado da Bahia, Campus XI, cidade de Serrinha, Bahia, Brasil. Nossa constatação se refere ao modo como as noções de rede e de território vem sendo acionadas pelas ações coletivas como estratégias de organização, funcionamento e efetivação de seus propósitos. As evidências da manifestação desse fenômeno podem ser verificadas nas práticas sociais de variados coletivos sociais organizados sobre os quais temos nos debruçado para compreender, basicamente centrais sindicais, centrais de associações e de cooperativas. Recorremos também a estudos que tem demonstrado esse fenômeno em outras formas de ações coletivas, como nos casos das chamadas populações tradicionais. Esta constatação preliminar sobre o uso das duas noções nos remete a uma proposição conceitual que vai dar sustentação aos nossos argumentos: a de que a rede e o território não se constituem apenas em categorias da análise geográfica (isto é, um puro recurso epistemológico), podendo ser pensadas simultaneamente como categorias da prática sociopolítica, incorporada por diversificados agentes sociais do campo designado como ações coletivas. 148 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens A proposição teórica que defende a importância da distinção entre categorias de análise e categorias da prática é tributária das ideias originalmente elaboradas por Adam Moore (2008) para pensar a escala geográfica. Moore (2008) reconhece dois difusos, mas discerníveis raciocínios que nos parece organizado em duas posições polarizadas, separando a (i) escala como entidade socioespacial material e a (ii) escala como construto epistemológico. No primeiro campo de significação o autor situou a concepção de escala de alguns geógrafos inspirados na tradição da economia política, conforme explicitado abaixo: Neil Smith as descreve [as escalas] como a ‘materialização da forças sociais em disputa’ (1993: 101)47 e ‘plataformas para tipos específicos de atividades sociais ... plataformas de espaço absoluto em uma amplo mar do espaço relacional’ (2000: 725)48; Swyngedouw (1997a: 169)49 define escala como a ‘materialização das relações sociais de empoderamento e desempoderamento e a arena através da qual elas operam’ (MOORE, 2008, p. 204, traduação nossa)50. 47 O texto mencionado é: SMITH, N. Homeless/global: scaling places. In: BIRD, J.; CURTIS, B.; PUTNAM, T.; ROBERTSON, G.; TICKNER, L. (editors). Mapping the futures. London: Routledge, 1993, p. 87-119. 48 O texto mencionado é: SMITH, N. Scale. In: JOHNSTON, R.J.; GREGORY, D.; PRATT, G; WATTS, M. (editors). The dictionary of human geography. Malden-MA: Blackwell, 2000, p. 724-27. 49 O texto mencionado é: SWYNGEDOUW, E. Excluding the other: the production of scale and scaled politics. In: LEE, R; WILLS, J. (editors). Geographies of economies. London: Arnold, 1997, p. 167-76. 50 “Neil Smith describes them as the ‘materialization of contested social forces’ (1993: 101) and ‘platforms for specific kinds of social activity … platforms of absolute space in a wider sea of relational space’ (2000: 725); Swyngedouw (1997a: 169) defines scale as the ‘embodiment of social relations of empowerment and disempowerment and the arena through and in which they operate’” (MOORE, 2008, p. 204). 149 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Segundo Moore (2008), para esses autores a escala não é uma categoria geográfica de análise independente, “[...] mas correspondem a processos materiais reais, eventos e formações espaciais” (MOORE, 2008, p. 204, tradução nossa)51. Assumindo uma direção contrária, o referido autor menciona algumas posições que concebem a escala exclusivamente como um construto epistemológico: Alternativamente, a escala tem sido caracterizada como um ‘tropo representacional’ (Jones, 1998: 27)52 ou construção discursiva (Kurtz, 2003)53. A partir deste ponto de vista, a escala é fundamentalmente uma construção epistemológica que apresenta ordenações socioespaciais específicas (MOORE, 2008, p. 204, tradução nossa)54. A crítica de Moore (2008) nos parece dirigir às concepções polarizadas e excludentes, que não consideram a possibilidade da distinção entre escala como categoria de análise e escala como categoria da prática, sendo as primeiras “categorias distantes da experiência, usadas pelos cientistas sociais”55, enquanto que as segundas são “categorias da experiência cotidiana, desenvolvidas e empregadas pelos atores sociais ordinários”56, pois, encontramos “muitos termos nas ciências sociais que operam como ambas categorias”57, exercendo “mútua influência e recíproca ligação entre seus usos práticos e analíticos58” (BOURDIEU, 51 “[…] but correspond to real material processes, events and spatial formations” (MOORE, 2008, p. 204). 52 O texto mencionado é: JONES, K. Scale as epistemology. Political Geography. n. 17, 1998, p. 25-28. 53 O texto mencionado é: KURTZ, H. Scale frames and counter-scale frames: constructing the problem of environmental injustice. Political Geography. n. 22, 2003, p. 887-916. 54 “Alternatively, scale has been characterized as a ‘representational trope’ (Jones, 1998: 27) or discursive frame (Kurtz, 2003). From this point of view, scale is fundamentally an epistemological construct that presents specific sociospatial orderings” (MOORE, 2008, p. 204). 55 “experience distant categories used by social scientists” (MOORE, 2008, p. 207). 56 “categories of everyday experience, developed and deployed by ordinary social actors” (MOORE, 2008, p. 207). 57 “many terms in social science […] operate as both categories” (MOORE, 2008, p. 207). 58 “reciprocal connection and mutual influence among their practical and analytical uses” (MOORE, 2008, p. 207). 150 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens BRUBAKER e COOPER apud MOORE, 2008, p. 207, tradução nossa). Nossa hipótese de trabalho consiste na defesa desta ideia de Moore (2008) estendendo-a para os conceitos de rede e território, tamanha a intensidade e evidência com que se manifestam nas práticas atuais das ações coletivas. A partir desses apontamentos introdutórios, e tendo em vista as motivações anunciadas, estruturamos este texto em tres seções, além desta inaugural. Na próxima seção buscaremos demonstrar como a ideia de rede assume um carater proprositivo e uma natureza instrumental para as ações coletivas. Em seguida, nosso movimento consiste na investigação de como a noção de território assume uma posição de centralidade nas estratégias de variados agentes sociais, especialmente aqueles que vem atuando no campo brasileiro. Ao final, desenvolveremos nosso argumento conclusivo no sentido de defender a rede e o território como categorias das práticas sociopolíticas das ações coletivas. A rede como estratégia operacional das ações coletivas Em texto recente (COELHO NETO, 2012) realizamos um escrutínio dos usos e significações do conceito de redes nos diversos campos do conhecimento, constatando a amplitude de sua aplicação e identificando a necessidade de qualificação do conceito como recurso para compreensão de realidades bastante diferenciadas. A necessidade de rigor epistemológico talvez possa explicar uma tendência recorrente nos estudos que adotam a rede como conceitochave: a variedade de adjetivações e formulação de tipologias. O recurso à adjetivação reflete uma estratégia de qualificação do conceito, que parece cumprir a tarefa de delimitação do seu emprego a fenômenos particulares. Desse modo, constata-se a proliferação de uma grande variedade de conceitos de redes desdobrados, procurando 151 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens indicar sua natureza distintiva, diretamente atrelada aos fenômenos focalizados: rede urbana, redes técnicas, redes territoriais, redes políticas, rede regional, redes sociais, redes estratégicas, redes solidárias e redes organizacionais (COELHO NETO, 2012, p. 184-5). A partir das significações e usos do conceito de rede levantados foi possível identificar alguns elementos nucleares que nos permitem delinear os sentidos mais recorrentes em nome dos quais o termo foi acionado. Lima (2005, p. 91), defendendo o conteúdo metafórico da rede, elencou três termos que se acoplam a ideia de rede e nos oferece um esboço das possibilidades de seu emprego. A (i) captura, no sentido de armar enredos ou tramas, de entrelaçar-se, de emaranhar-se, “[...] que implica em ação, em papel ativo”; o (ii) enlace, indicando conexão, ligação, abraço, união, que permite pensar em alianças, coalizões, coligações, ou seja, “[...] atitudes de imbricação e remetimento mútuos”; e a (iii) horizontalidade, podendo ser concebida “[...] como um recurso de coordenação horizontal, contrastando-se com a organização piramidal [...]”, característica que comparece como componente discursivo de diversos coletivos organizados da sociedade civil. Alguns desses sentidos nucleares nos parecem emblemáticos para compreensão dos modos como a redevem sendo capturado e acionado pelas ações coletivas. Minhoto e Martins (2001), oferecendo uma explicação para a disseminação do emprego do termo na atualidade, realizou uma descrição do contexto histórico que engendrou as múltiplas possibilidades de sua aplicação, destacando, sobretudo, sua natureza prática e instrumental. Desse modo, a rede se constituiria em respostas estratégicas, tanto das empresas aos desafios da competitividade engendrada pela globalização da economia, quanto da gestão pública em relação à crise fiscal e à erosão da soberania do Estado contemporâneo. Na perspectiva dos movimentos sociais, ela apareceria como “[...] ferramenta capaz de construir novas formas de agregação de interesses e reivindicação de demandas [...] destinada prioritariamente a auxiliar na construção de uma sociabilidade solidária” (p. 89-90). Segundo os autores, o apelo ao conceito de rede vem sendo usado para descrever o ambiente de atuação das organizações contemporâneas e como “[...] chave cognitiva privilegiada para compreender mudanças de 152 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens grande magnitude que vêm ocorrendo nas esferas política e econômica” (p. 89). Certamente, esta foi a perspectiva privilegiada por Castells (2003 [1996]) para compreender as transformações na economia, nas relações sociais e na cultura, na denominada “era da informação”. Scherer-Warren (1999) nos informa sobre a apropriação da ideia de rede pelos movimentos sociais, como estratégias de comunicação e empoderamento da sociedade civil, propiciando a articulação política dos grupos sociais na contemporaneidade, sejam como sujeitos de resistência ou como propositores de políticas públicas. Nesse sentido, as redes assumem duas perspectivas distintas, seja como forma organizacional ou como estratégia de ação e de inter-relação com outros poderes instituídos, em face das possibilidades de estabelecimento de relações mais horizontalizadas, descentralizadas e democráticas. A idéia de rede como conceito propositivo utilizado por atores coletivos e movimentos sociais refere-se a uma estratégia de ação coletiva, i.é, a uma nova forma de organização e de ação (como rede). Subjacente a essa idéia encontra-se, pois, uma nova visão do processo de mudança social – que considera fundamental a participação cidadã – e da forma de organização dos atores sociais para conduzir esse processo (SCHERER-WARREN, 1999, p. 24). Essa perspectiva também é defendida por Martinho, apud Dias (2007), concebendo a rede como um padrão organizacional que permite a flexibilização, descentralização e democratização do poder, gerando mais autonomia e horizontalidade. Os exemplos levantados são bastante variados, construindo articulações e alianças entre as organizações da sociedade civil e movimentos sociais, lutando por demandas específicas, intercambiando informações e experiências, criando fóruns de debates, abrindo canais de apoios financeiros, dentre outras modalidades. 153 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Segundo Minhoto e Martins (2001), no uso da noção de redes para explicar o funcionamento movimentos sociais, prevaleceriam redes de solidariedade, orientadas por uma razão emancipatória “[...] que visa ao alargamento da esfera pública e à autoconstrução da sociabilidade”, apontando para a constituição de novos sujeitos históricos com interesses difusos e não redutíveis à esfera econômica e nem enquadráveis na categoria de classe social, capazes de lutar pela implementação de políticas públicas compensatórias destinadas a minorar os efeitos crescentemente excludentes e perversos do capitalismo global” (MINHOTO e MARTINS, 2001, p. 96). Na mesma direção, Loiola e Moura (1996), consideram que as redes que se formam neste campo baseiam-se na “[...] existência de conflitos, de laços de solidariedade e de projetos políticos ou culturais compartilhados, fundados em identidades e valores coletivos” (p. 56). Nesse caso, a rede corresponde a articulações/interações entre organizações, grupos e indivíduos vinculados a ações/movimentos reivindicatórios (ONGs, associações, sindicatos, etc.), visando à mobilização de recursos, ao intercambio de dados e experiências e à formulação de projetos e políticas (LOIOLA E MOURA, 1996, p. 56). Essa discussão é nuclear para entender o surgimento e atuação de duas organizações sociais do Território do Sisal59. São elas a Agência Regional de Comercialização da Bahia (Arco Sertão) e o Conselho de Desenvolvimento Rural Sustentável da Região Sisaleira do Estado da Bahia (CODES-Sisal). 59 O Território do Sisal foi delimitado a partir da política territorial do MDA/SDT em ação colegiada com a sociedade civil organizada, sendo constituído por 20 municípios do semiárido baiano. Conforme o MDA, o Território do Sisal constitui-se num Território Rural, e posteriormente este também recebeu o título de Território da Cidadania. Associado a essa política, o governo da Bahia utilizou essa divisão territorial enquanto unidade espacial de intervenção estatal, e criou a denominação Território de Identidade. Nesse caso, o Território do Sisal é ao mesmo tempo, chamado de Território Rural, Território da Cidadania e Território de Identidade. 154 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens A Arco Sertão é uma organização não-governamental, com personalidade jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, que surgiu como uma rede de solidariedade para aglutinar forças e superar vicissitudes econômicas de grupos formados por beneficiários do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil. Capacitados em diversos processos produtivos através do Programa Nacional de Emprego e Geração de Renda (PRONAGER), entre atividades como corte-costura; artesanatos de sisal, de tecido e de palha; embutidos e defumados de carne bovina e caprina; laticínios; apicultura; avicultura; dentre outras. Assim, nasceu a ideia de unir os esforços e possibilitar uma permutação de experiências oriundas das atividades da agricultura familiar. Posteriormente, ela ganhou uma forte conotação política e passou a exercer o papel de articulação política-institucional, uma vez que percebeu que a integração jurídica institucional de várias entidades civis corporifica e fortalece a ação da coletividade. Nesse rumo, além de fomentar e fortalecer a produtividade regional e a comercialização, a Arco Sertão, através das redes que entrecruzam diferentes sujeitos, enfatiza a fundamental necessidade de apreender e empreender a participação política, buscando a autonomia como forma de se autoafirmar enquanto sujeitos (individuais e coletivos) ante as estratégias de cooptação política que estão entranhadas no imaginário político e social do Território do Sisal. Localizado no semiárido baiano, o Território do Sisal, conhecido pelo cultivo do Agave sisalana, o sisal, apresenta uma realidade bastante conflituosa, que Coelho Neto (2010) denominou de permanências e emergências. As chamadas permanências manifestam-se pelo conjunto de condições estruturais e pela particularidade histórica que se forjou nesse recorte espacial, haja vista que o referido “Território”, é reconhecido pela prevalência das suas adversidades edafoclimáticas atribuídas à seca; por um conjunto de indicadores sócioeconômicos desfavoráveis exemplificados pelos índices de analfabetismo, desemprego, concentração fundiária, bem como pelos esquemas de autoritarismo e clientelismo político. As emergências configuram-se pelo processo marcante de mobilização e organização da sociedade civil, que se manifesta na proliferação de movimentos sociais, ONG, sindicatos, 155 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens associações e cooperativas, que tem reescrito a história regional, especialmente no sentido de construção e fortalecimento da formação das complexas redes de cooperação. O Codes-Sisal surgiu nessa perspectiva, conformando uma rede de organizações que visam potencializar o processo de planejamento integrado e participativo das/nas políticas públicas. Criado em 2002, esse colegiado é composto por vinte prefeituras municipais, sete órgãos governamentais e vinte e quatro entidades da sociedade civil (CODES-SISAL, 2010). Tanto para o Codes-Sisal, quando para a Arco Sertão, as redes não representam apenas um conceito e instrumento estratégico de articulação, mas constituem o fundamento de sua própria existência. Ambos por si só são uma rede que criou elos conjuntivos entre organizações sociais que atuam no Território do Sisal. Nessa perspectiva, as redes tornam-se um “elemento organizativo, articulador, informativo e de empoderamento de coletivos [...] no seio da sociedade civil e na sua relação com outros poderes instituídos” (SCHERER-WARREN, 2007, p. 42). Por meio das redes, determinado(s) grupo(s) pode(m) mobilizar ainda mais a sociedade civil e polinizar seus ideais de luta, densificando os elos entre os nós, como também corroborarando no processo de aglomeração e interação de sujeitos politizados, que então passam a fazer parte de uma rede de mobilização política e social. A Arco Sertão e Codes-Sisal, possibilitam que várias entidades civis iniciem contato entre si, criem alianças, compartilhem experiências, aumentem seus campos de influência e, consequentemente expandam as redes de participação, conforme leitura semelhante feita por Doimo, Mitre e Maia (2007) sobre outras redes de organização social. Sob a forma de redes essas organizações intercalam sujeitos de diferentes escalas, constroem nós e forjam uma malha territorial complexa. As redes por elas empreendidas são centrais no próprio processo de estruturação do Território do Sisal, produzindo uma espacialidade singular, potencializando o engajamento social e político da sociedade civil e interferindo nos rumos das políticas públicas. 156 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Melucci (1989) introduz a idéia de rede como uma área de movimento, formada por pequenos grupos e indivíduos que compartilham de uma identidade coletiva e de uma cultura de movimento, comportam mensagens simbólicas que desafiam os padrões dominantes, propondo inovações culturais. Redes submersas, baseadas em códigos culturais e solidariedades construídas no cotidiano, podem tornar-se redes com visibilidade (articulações políticas) quando pequenos grupos se mobilizam para interferir nas políticas públicas (SCHERER-WARREN, 1999, p. 26). O conceito de redes adotado por esses agentes sociais tem caráter ideológico e simbólico, na qual através das redes objetiva-se provocar transformações no nível local/regional. Como destaca Scherer-Warren (1999), a utilização das redes vai ao encontro das proposições das ações coletivas, de forma a possibilitar a conexão de diferentes sujeitos sociais e promover intercâmbios políticos entre várias escalas envolvidas. O território como categoria da prática sociopolítica da ação social No caso da Geografia, observa-se a ampliação do debate teórico e a multiplicação das formulações desse conceito, que tem adquirido um caráter cada vez mais operacional, em virtude de seu uso crescente nos estudos interpretativos da realidade. Monografias, dissertações e teses atestam esse movimento no campo das ideias. No entanto, instalou-se uma contenda acerca do risco de extensão do significado e uso do conceito, sob pena de perda de operacionalidade na tarefa de enfrentamento da compreensão da realidade. Essa discussão se colocou com o questionamento das amarras espaciais e temporais a que esteve submetido na Geografia Política Clássica e nos estudos da Ciência Política, cujo uso predominante esteve vinculado à existência do Estado nacional. 157 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Os resultados desse processo apontaram para a construção de possibilidades de compreensão de fenômenos espaciais com manifestação nas escalas geográficas e históricas mais diversas. As territorialidades passaram a ser identificadas em perspectivas outras, não apenas remetidas à materialidade da política, mas vinculadas (e/ou incorporando) à dimensão simbólica do real. O fenômeno territorial também começa a ser reconhecido como produto das relações sociais de poder que se manifestam nas ações dos mais variados agentes sociais e não apenas como produto da ação estatal. Nessa direção, multiplicaram-se os estudos sobre a territorialidade das empresas, das organizações da sociedade civil e dos mais variados grupos sociais. Não se pretende aqui, admitir a inexistência de abordagens com essas perspectivas antes da temporalidade demarcada, mas, aponta-se, a ampliação do seu uso e sua aceitação nas duas últimas décadas de produção geográfica brasileira. A ciência geográfica construiu um acúmulo de reflexão sobre o conceito de território e suas derivações (territorialidade, des-re-territorialização). Embora a discussão sobre o conceito nunca tenha sido prisioneiro das fronteiras disciplinares da geografia, como testemunha o conteúdo da obra de Haesbaert (2004)60, é inegável que o esforço empreendido por uma gama de geógrafos, apoiados por distintas perspectivas teórico-metodológicas, tem concorrido para o alargamento e para a problematização do debate, resultando no levantamento de renovadas questões e na oferta de elementos conceituais que contribuem para a tarefa precípua desse campo disciplinar, ou seja, a compreensão da dimensão espacial da sociedade, miradas, neste caso, pelo prisma da relação espaço-poder. As possibilidades renovadas de aplicação do conceito nos parece repercutir fora do âmbito acadêmico, com sua crescente utilização pelas ações coletivas. O conceito de território também encontrou amparo nos debates e nos discursos das ações coletivas, e especialmente dos movimentos sociais, que têm se apropriado dele para formulação de estratégias de luta e reivindicação de seus direitos. 60 Haesbaert (2004) realizou um amplo levantamento das concepções de território nas ciências humanas (antropologia, ciência política, sociologia, psicologia, economia), mas, também na filosofia e na etologia. 158 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Almeida (2004) demonstrou o papel do processo de territorialização nas lutas dos movimentos sociais, como componente de reconhecimento político dos agentes sociais e de suas “terras tradicionalmente ocupadas”61. Para o autor, as “comunidades tradicionais” expressam formas diversificadas de organização social e de apropriação dos recursos da natureza que conformam territorialidades específicas, estabelecidas através de relações de poder e na afirmação de identidades. Nesse sentido a territorialidade é um fundamento desse processo de luta e afirmação, um componente acionado pelos grupos sociais. O autor aponta para uma particularização dos direitos e do reconhecimento da existência dos agentes sociais e de suas territorialidades em diversos instrumentos legais da União, dos estados federados e dos municípios, como resultado da mobilização e organização dos movimentos sociais. Nesse processo, o acionamento do conceito de território torna-se um expediente cada vez mais recorrente e eficaz na viabilização dos pleitos desses grupos sociais. No caso do Território do Sisal, um conjunto de sujeitos individuais e coletivos, organizados em sindicatos de trabalhadores rurais, associações comunitárias rurais e cooperativas de produção e de crédito, vem se apropriando e conferindo significados particulares ao espaço na escala regional. Essas organizações estabelecem conexões políticas e econômicas entre si, formando redes de organizações sociais, e tomam o espaço como referência para suas ações, seus projetos e seus discursos. Ao estabelecerem um espaço de referência como base de suas ações e discursos, eles conformam e reforçam uma territorialidade. Na base discursiva e no conteúdo que confere sentidos aos projetos coletivos das redes de organizações há uma explicita estratégia espacial. 61 As “terras tradicionalmente ocupadas” equivalem às formas de reconhecimento das diferentes modalidades de apropriação dos recursos naturais, contemplando uma diversidade de figuras jurídico-formais. O autor trabalha com algumas categorias: Povos Indígenas, Quilombolas, Seringueiros e castanheiros, Quebradeirasde-coco babaçu, Pescadores, Ribeirinhos, Atingidos por Barragens, Fundos de Pasto e Faxinais (ALMEIDA, 2004). 159 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Essa perspectiva é observada na nominação das organizações sociais e dos produtos regionais como tática de valorização/afirmação de seus espaços de vivência. Na definição dos elementos do planejamento estratégico (como na missão, visão) e no estabelecimento dos objetivos institucionais, há uma referencia direta à espacialidade, que desse modo acaba apropriada e delimitada como territorialidade, entendida como os conteúdos espaciais que as redes de organizações acionam para conferirem pertinências às suas estratégias. Outra manifestação de reforço a uma territorialidade ocorre com a valorização e funcionalidade da demarcação dos territórios rurais, que ocorre com a implantação da atual Política de Desenvolvimento Territorial Rural no Brasil, no ano de 2003. Esses territórios rurais, tomados como recortes espaciais para o planejamento e implantação de políticas governamentais (especialmente na Bahia, quando foram denominados de Territórios de identidade), apresentam grande correspondência com o espaço de referência das organizações sociais mais proeminentes do Território do Sisal. A demarcação realizada pela política governamental acabou ressaltando e contribuindo para a reafirmação do recorte espacial que os principais sujeitos coletivos vinham construindo em seus projetos. A partir da política territorial, as organizações sociais começaram a apostar na proposição do governo e tem empreendido uma série de ações de reforço. A elaboração do “Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável do Sisal” construído no âmbito do CODES-SISAL, informa um modo de apropriação da ideia de território assentada na identidade regional. O espaço regional é apropriado como espaço de referência, como nexo identitário que permitem aos coletivos organizados pensar o desenvolvimento na escala regional. Ele corresponde a um documento de intenções, diagnóstico da realidade, estabelecimento de princípios de ação, de prioridades políticas e de alternativas de soluções compartilhadas. Sua abrangência vai além das aspirações de cada organização em si mesma, ou àquelas restritas a escala local de ação, geralmente encampadas pelas prefeituras, mas refletem um conjunto de aspirações que reúnem uma gama diversificada de agentes. 160 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Desse modo, consideramos que há um evidente e manifesto remetimento a uma espacialidade na conformação das estratégias das redes de organizações sociais. Elas constroem a pertinência de suas ações e propósitos, a partir das relações que mantém e estabelecem com os lugares, que por serem portadores de sentidos para os sujeitos sociais, são mobilizados na trama territoriais que essas redes constroem. Considerações Finais A ideia central que nos propomos a defender e a demonstrar neste texto, consistiu na premissa de que duas das mais discutidas e operacionalizadas categorias de análise do conhecimento geográfico vem sendo crescentemente acionadas como recurso estratégico das ações coletivas, situação que nos permite considerá-las não apenas como categorias de análise, mas também como categorias da prática sociopolítica, seguindo a pista originariamente desenvolvida por Moore (2008) para a escala geográfica. O uso da noção de rede como estratégia organizativa é cada vez mais frequente para uma grande variedade de organizações sociais, que concebem as possibilidades existentes nas formas coletivas de ação. Isso pode ser exemplificado pela criação de organizações-rede (formadas seja por um agrupamento de indivíduos ou pela conexão de entidades coletivas), pelo estabelecimento de parcerias, pela criação de fóruns, conselhos, feiras, dentre outras modalidades de ação concertada. A ideia da rede também tem assumido, no plano discursivo, um caráter de positividade, ao emprestar significação a formas organizações e de gestão mais democráticas e horizontalizadas, condição desejável para o funcionamento da sociedade civil organizada. No caso da territorialidade, constatamos a extensão de seu uso para fora das fechadas fronteiras do conhecimento científico. No caso brasileiro, houve uma retomada e uma valorização da categoria em decorrência de sua utilização nas mais recentes políticas governamentais. O potencial de aplicabilidade da categoria se confirma com seu acionamento recente e intensificado pelas ações coletivas, assumindo uma capacidade de instrumentalizar 161 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens as lutas sociais em decorrência de sua forte conotação política, especialmente por sua natureza nuclear, que se remete a relação espaço-poder. A nossa aposta (que também é uma provocação) consiste na defesa de que os usos dessas duas categorias, amparado por uma abordagem geográfica recentemente arejada, aponta possibilidades promissoras para pensar a espacialidade das ações coletivas, mas, também, ao mesmo tempo, constitui uma possibilidade que pode ser investida como recurso para as lutas sociopolíticas das ações coletivas. Referências ALMEIDA, A. W. B. de. Terras Tradicionalmente Ocupadas: Processos de Territorialização, Movimentos Sociais. Revista Brasileira de Estudos urbanos e Regionais, Rio de janeiro, v. 6, n. 1, mai. 2004. CASTELLS, M. A Sociedade em Rede. 7. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2003 [1996]. CODES-SISAL. 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Recorre-se aqui ao conceito de gênero e de território constituído a partir das relações de poder, por entender que estes destacam-se na responsabilidade de contribuir para analisar questões concernentes ao espaço rural, juntamente a outros conceitos, como o de gestão e a teoria dos dois circuitos da economia, a fim de que possa ser operacionalizada uma clara leitura sobre a realidade vivida por mulheres de diferentes faixas etárias, que são 163 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens trabalhadoras e agem como co-responsáveis em produzir e reproduzir o território da olericultura localizado no povoado de Tanque de Senzala, Santo Amaro, Bahia, Brasil. Ao tratar do espaço rural, torna-se de fundamental importância antever o pluralismo teórico pelo qual o termo rural atualmente se apresenta mediante a sua diversa configuração no campo brasileiro e, em particular, em uma parcela do espaço baiano. Tal pluralismo se evoca pelo termo “espaços rurais”, devido à gama de estruturas agrárias e estruturas tecnológicas adotados por grupos sociais diferenciados (BIJKER, 1987 apud DIAS, 2005 p. 87) que causam efeitos também diferenciados no mesmo espaço geográfico. Ao considerar o termo rural como polissêmico devido a sua funcionalidade conferida pela evolução das técnicas, fato que acaba por configurar tênues limites geográficos entre o urbano e o rural, entende-se que a sua funcionalidade pode ser lida por diversas matrizes, tais como a divisão e o processo de trabalho, de produção e de circulação de produtos e bens agrícolas. Por sua vez, o processo de interação do espaço rural com outros espaços - sejam eles da mesma natureza ou urbanizados – acaba por definir uma planificação espacial de alguns setores da economia. As particularidades da dinâmica econômica do espaço rural que é um componente da (macro)economia e também engendrada por realidades distintas, mas devidamente localizadas. Nesta dinâmica em que variados agentes são destacados no processo, outros subsumem à invisibilidade cotidiana apesar de sua crucial importância, seja na manutenção da produção e dos processos de escoamento, seja na questão da promoção da unidade familiar. Apesar de a figura feminina ser responsável pela importante contribuição para a unidade simbólica da família enquanto núcleo e, em alguns casos, ser aquela que garante a provisão de recursos, ela se torna a figura central que se enquadra na citada invisibilidade cotidiana que, por sua vez, se mostra como uma das facetas geridas pelos mecanismos de negociação a partir das práticas da gestão62. 62 No mundo dos negócios, a função de gestão se apresenta acima da esfera administrativa e de planejamento. Mas a gestão não está condicionada apenas ao âmbito da empresa; ela se estende numa perspectiva de capilaridade das relações sociais. Como afirma Reed (1997, p.65-68), a gestão pode ser entendida como uma “visão específica de mundo [...] a gestão encara a sociedade industrial como uma rede de organizações de 164 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens O presente artigo trilha pelas vias dos minifúndios que são regidos pela lógica da agricultura familiar, buscando entender, a partir da interação de alguns agentes na prática cotidiana do labor com a terra e das negociações que envolvem alguns produtores rurais e mulheres balaieiras, os mecanismos objetivos e subjetivos que são capazes de configurar uma economia espacial. Esta, a depender das circunstâncias de fatores internos e externos à produção e à circulação de mercadorias, atenua ou acentua as clivagens sociais da área em que se propõe o estudo. Tais clivagens sociais podem ser entendidas pela divisão social e sexual do trabalho que agregada a categoria geração, no espaço rural acaba por se complexificar por conta da ingerência de fatores exógenos ao processo produtivo, nas relações específicas a um determinado núcleo social, como é verificado em Tanque de Senzala, Santo Amaro – Bahia, Brasil. A escolha deste espaço rural justifica-se em função de se ter identificado a busca desenfreada de uma classe de agentes sociais a serviço do capital em auferirem lucros a partir do processo de trabalho das forças produtivas que ali se desenvolvem. Em decorrência desta busca, originam-se formas particulares de conflitos sociais com características políticas e ideológicas capazes de alguma forma, expropriarem essa força produtiva do valor originado pelo próprio processo de trabalho em detrimento do capital. Fato que cerceia a oportunidade ampliada de melhores condições de vida e desenvolvimento socioespacial das famílias agrícolas, ao serem geridas pela figura masculina e que se complexificam, segundo afirmações das próprias mulheres, quando ela se mantém a frente das negociações, sendo esta claramente desconsiderada nos aspectos sociais e econômicos pelos agentes intermediários por conta de sua condição feminina. A territorialidade da produção da olericultura no povoado de Tanque de Senzala, no âmbito dos estabelecimentos rurais, possui áreas variáveis entre um a seis hectares. Eles são compostos essencialmente por núcleos familiares que utilizam suas forças no trabalho com a terra, cultivam produtos para a subsistência e a olericultura para a comercialização, fato que garante a aquisição da renda para o consumo de outros bens e serviços. controle e subordinação cada uma das quais dominada por elites que tentam gerir recursos e alargar o seu campo de controle”. 165 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Salientar que os estabelecimentos agrícolas apresentam, no bojo das especializações técnicas, diferenças entre si, o que já possibilita inferir também uma diferenciação dentre os níveis de renda de cada produtor e produtora. De fato é possível verificar formas diferenciadas do processo de trabalho destes agentes, desde o cultivo e irrigação, através da rudimentar produção, até mesmo a implementação de tecnologias e insumos agrícolas capazes de intensificar a produtividade, e que são praticados claramente a partir da divisão interna do trabalho no estabelecimento rural por critérios relacionados às categorias: de sexo/gênero e geração e que na sua maioria, são proprietários da terra e dos meios de produção. Para caracterizar o processo de trabalho do pequeno núcleo familiar agrícola, deve-se considerar a jornada exaustiva de trabalho, caracterizada pela força de trabalho o que gera um produto que é qualificado como mercadoria pelo capital e torna-se objeto de interesse de outros agentes territoriais, os quais travam, no jogo da gestão cotidiana da reprodução capitalista, um desequilíbrio das partes interessadas em torno do produto que é fruto do trabalho de homens e mulheres do campo: a olericultura. Alguns agentes trabalham no processo de distribuição dos produtos da localidade. No povoado, esses são reconhecidos como “balaieiros” (que têm a capacidade reduzida de compra e comercialização de produtos) e “atravessadores” (cuja capacidade de comercialização absorve maior quantidade de produtos, e consequentemente maiores volumes financeiros). Identificá-los, respectivamente, segundo as indicações de Santos (1979), como “trabalhador marginal” e “intermediário”, e no intuito de conferir um rigor acadêmico aos termos e uma conformação de gênero63, mas precisamente no primeiro termo, será adotada a variação feminina: “trabalhadora marginal” ou simplesmente, balaieiras; já o segundo termo (intermediário), o mesmo demonstra um conteúdo essencialmente pertencente ao universo masculino. De antemão é destacado que os estabelecimentos rurais produtivos são geridos na sua maioria por homens, a atividade balaieira é composta essencialmente por mulheres que se lançam no espaço baiano semanalmente em busca das feiras-livres para comercialização. 63 O conceito de gênero, ao enfatizar as relações sociais entre os sexos, permite a apreensão de desigualdades entre homens e mulheres, que envolvem como um de seus componentes centrais desigualdades de poder (SAFIOTTI, 1994, SCOTT, 1995 apud FUJIWARA, 2002). 166 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens O território da olericultura pela ótica dos dois circuitos econômicos e da mulher como gestora do estabelecimento rural O meio rural específico do povoado do Tanque de Senzala é analisado como uma característica do subsistema da economia espacial. Este tem embutido nas relações sociais dos agentes de dinamização do território64 os mecanismos de negociações cotidianas para a comercialização da olericultura, a partir do pequeno estabelecimento rural e que tem embutida a ocorrência de situações conflituosas, frutos da não menos complexa relação de gestão territorial. Na microescala, observa-se por parte dos intermediários o desrespeito para com a figura feminina quando esta é a provedora da unidade produtiva, o que implica de certa forma a falta de legitimidade da mulher por parte dos atravessadores. Diante disto, é facilmente observável nos estabelecimentos rurais onde as mulheres estão à frente dos negócios, a falta de cumprimento dos acordos pré-definidos no ato da venda das mercadorias, a exemplo de prazos, quantidades, qualidade, e pagamento, além da transferência de prejuízo deste (atravessador) para ela (produtora), sem maiores justificativas. Isto é pouco recorrente nos locais em que o homem se encarrega das decisões. Ao observar a presente situação segundo a perspectiva dos dois circuitos da economia65, fica clara uma assimetria na correlação de forças entre os agentes (o produtor/a, intermediário e a classe balaieira). Ao observar a macroescala do circuito superior da economia tem-se as redes de supermercados como os principais responsáveis pelas pressões impostas no âmbito do estabelecimento rural, frutos dos mecanismos de gestão que trazem como consequência a sujeição, a subordinação e o medo pelas incertezas do futuro econômico de famílias produtoras frente às necessidades cotidianas. 64 Segundo Brito (2002, p.12), território é “uma fração desse espaço [espaço geográfico], na qual determinados agentes sociais se relacionam com o intuito de reproduzi-lo segundo seus próprios interesses (condição que manifesta o uso do território), mediante consensos estabelecidos tácita e/ou formalmente” (grifos do autor). 65 O circuito superior originou-se diretamente da modernização tecnológica e seus elementos mais representativos hoje são os monopólios. O essencial de suas relações ocorre fora da cidade e da região que os abrigam e tem por cenário o país ou o exterior. O circuito inferior, formado de atividades de pequena dimensão é interessado e mantém relações privilegiadas com sua região [...]. Cada circuito constitui, em si mesmo, um sistema, ou antes, um subsistema do sistema urbano (SANTOS, 1979, p.16). 167 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Tais pressões acometidas a algumas famílias produtoras têm como responsável direto no estabelecimento rural as ações dos intermediários. Entretanto, estes são apenas responsáveis em parte, pois a origem de tais pressões reside nos centros atacadistas/varejistas (redes de supermercados), visto que os intermediários não se furtam em abarcar novos fixos para negociações. Portanto, exigências como prazos, qualidade, e quantidade que lhes são atribuídas em outras instâncias espaciais são, automaticamente, repassada para as famílias produtoras. A descoberta das relações visíveis e invisíveis tecidas pelo sistema capitalista na sociedade permite o questionamento sobre a natureza de sua ação em um determinado território. As visíveis são explícitas e, portanto, de fácil percepção. São as relações comerciais a exemplo da lei de mercado referente à oferta e demanda66 sobre um determinado produto. Elas se materializam através dos processos de gestão dentre os agentes no cotidiano. As relações invisíveis do capitalismo são continentes do subjetivo e contam a partir do nível de experiência de vida, que no caso em análise, deve ser lida pelos aspectos da produção e das negociações empreendidas com a olericultura pelos agentes produtores na cotidianidade. Aspectos como medo, vigor, violência, obediência, mando, coação, mesmo que de maneira velada, e sujeita às ideologias atuantes no meio social, são sentidos diferenciadamente por cada um dos agricultores devido a sua fragilidade econômica, de estratégia negocial, de informações e da posição social que ocupa. A prevalência do masculino sobre o feminino quando consideradas as posições de destaque nas relações de negócios também são fatores não declarados abertamente, pois permeiam as entrelinhas do cotidiano e certamente, inserese no contexto de práticas cotidianas em que se naturaliza esse tipo de relação social. Entende-se que tais relações sociais advêm do movimento do espaço complexo que é composto por diferentes processos que ocorrem na simultaneidade e que exigem um olhar atento do cotidiano de forma a encontrar grupos sociais marginalizados. 66 Ideias defendidas por Adam Smith e que logo foram incorporadas pela teoria do equilíbrio geral, a qual é continente, ainda, da atual micro-economia, fato devido aos esforços empreendidos por ortodoxos economistas da atualidade. 168 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Entende-se que este fato confere a reprodução da sociedade sob o sistema ideológico machista/marianista (PESCATELLO, 1973; STEVENS, 1973) onde o papel da mulher é superior ao do homem somente no seu espaço por “excelência”, a casa e, mesmo nesta, não consta de voz ativa na tomada das decisões, apenas na competência dos afazeres domésticos, pois como afirmado por um produtor agrícola: “um homem nunca limpará uma casa tão bem quanto uma mulher”, ou como afirmado por outro produtor: “o homem tem mais jeito na hora de negociar, a gente tem um linguajar sem melindre, direto”. Em larga proporção, a experiência banal de venda de produtos olerículas promovidas entre o agricultor/a e os agentes de escoamento desse produto -, pode permitir àquele que está sofrendo a ação de alguns dos citados aspectos subjetivos, construir mecanismos de defesa como recusa e negociação, a partir de elementos como conhecimento e informação. Esses fatores são contribuintes tanto para um maior conforto no momento da negociação, quanto para o aperfeiçoamento no trato da gestão, seja ela no âmbito interno do pequeno estabelecimento rural ou entre os agentes numa complexa inter-relação social. O supracitado não é verificado par-e-passo nas mesmas condições entre as negociações que envolvem as relações de gênero, visto que entre homens, há uma maior mobilidade das decisões e entre este e a mulher, outras questões afloram a fim de contribuírem para a subordinação das produtoras do território olerícula aos atravessadores, tais como: medo de não conseguir escoar a mercadoria, e consequentemente passar privações financeiras cujo resultado poderá ser a exclusão do processo produtivo e as dificuldades na manutenção familiar. As mulheres do campo reconhecem que são subordinadas as ações usuráveis de alguns intermediários que se aproveitam da sua condição de submissão, considerando as posições sociais ocupadas no processo de negociação, para auferirem lucros cada vez mais altos em torno da força de trabalho da mulher do campo. Entende-se assim, que a figura feminina é constituída dentro das estruturas de dominação socioespacial (SILVA, 2003, p. 37). Essas questões não cessam em si, pois a inter-relação cotidiana dos agentes territoriais acerca do processo produtivo permitem que o estudo se desenvolva para além da produção do 169 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens pequeno estabelecimento rural, analisando os canais de escoamento e as consequências desse processo, sobretudo para o pequeno agricultor familiar e as balaeiras. Este fato permitiu discernir sobre aspectos nunca antes discutidos na área de estudo e trilhar por caminhos inversos no sentido dialético, em um movimento de “ida” e “vinda” nos trajetos vivenciados por cada agente para tentar entender as particularidades que envolvem suas respectivas atividades. Assim, antecipa-se uma primeira conclusão: a de que não se trata de um processo fácil, posto que exige posicionamento frente a duas histórias distintas que envolvem o papel de mulheres como principais ou co-responsáveis por garantir o sustento familiar, e portanto, garantir a manutenção das condições da vida. A realidade das agricultoras e balaieiras, cada qual com suas complexas relações internas ao grupo ao qual pertencem tornam-se mais complicadas quando os grupos se interagem e neste processo também negociam com os intermediários. Este fato faz emergir questões que não se veem respondidas na íntegra neste trabalho, a exemplo da forte dependência da agricultura familiar aos centros de distribuição atacadista/varejista; com os agentes intermediários, o que revela a importância do papel da agricultura familiar nas economias locais e regionais, sobretudo no âmbito dos dois circuitos da economia, mas precisamente no ramo de alimentos perecíveis. As características da família produtora no território da olericultura O território da olericultura é um lugar de trabalho; cuja base de sustentação é a unidade familiar. Por conta disto este estudo toma como referência a complexa relação entre os pares com o território e as diversas relações de poder que emergem desta dinâmica e a sua estreita vinculação com outros espaços. Quando se faz uma abordagem centrada na família, espera-se, de certa maneira, privilegiar esta instância como aquela responsável pelo modo de produção agrícola que lhe é inerente, o qual tem o seu tempo próprio, que é lento, mas não menos importante que outros modelos, embora não seja respeitado e sim compelido a se enquadrar nas “regras gerais de 170 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens funcionamento do mercado” (WANDERLEY, 2003 p. 10). Este enquadramento é gerado pela necessidade de garantir a sobrevivência da família no mundo capitalista – o que lhe soa inconciliável, por calcar-se na competitividade, nos altos índices de produtividade e na otimização dos lucros. Este, por sua vez, traz como consequência o confronto entre paradigmas diferenciados, tais como: modelo agroindustrial e o modelo de agricultura familiar – que também é considerado pelas políticas públicas, a exemplo do Programa Nacional da Agricultura Familiar (PRONAF), como um setor econômico. Ambos estão inseridos, cada qual a partir de suas atribuições e lógicas específicas, no modelo prescrito pela modernização conservadora. Nele, o principal espoliado é o pequeno produtor e produtora rural no que se refere a sua condição de cidadania, de agente ativo e ativa do próprio processo de produção, ao se submeter aos desmandos do modelo regido pelo grande capital, correndo o risco de se tornar um “operário camponês” (OLIVEIRA, 1996) quando expropriado do seu único meio de produção, a terra. A reprodução socioeconômica específica de cada família diz respeito a sua manutenção no campo em condições dignas de sobrevivência, mesmo que em um contexto de incertezas e sofrendo as ações declinantes e usuráveis de certos agentes que permeiam o território. A consequência disso se mostra pela expropriação da condição de cidadão de um amplo seguimento da população de agricultores. No Tanque de Senzala é possível discutir a respeito das práticas diárias de reprodução social da vida, bem como da tessitura de suas relações no seio coletivo familiar, tais como a função e trabalho específicos de cada membro. As dissonâncias sociais observadas no recorte analisado podem ser percebidas pelas condições de vida material de cada família, que é impresso na paisagem do território e que se maximiza nos aspectos invisíveis à composição da mesma. Trata-se de fatos que são demonstrados nas histórias de vida de cada grupo familiar, dramas sociais de naturezas diferenciadas como a fragmentação destas por conta do alcoolismo e a outras drogas e entorpecentes, a violência doméstica e a falta de renda, que gera dificuldades financeiras capazes de impossibilitar a continuidade da própria atividade agrícola. 171 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Os fatores citados anteriormente são alguns daqueles que geram situações negativas a psique humana, favorecendo no território a ocorrência de um estado de perturbação originado por um conjunto de agressões e reações ao organismo do pequeno agricultor ou agricultora. Ele se manifesta pela depreciação psicológica de alguns desses agentes que, inclusive, se submeteram ou se submetem a tratamentos medicamentosos específicos. Este fato fora percebido através da vivência na comunidade e da promoção de pesquisa de campo onde se travaram longos e consistentes diálogos sobre a vida e o acontecer diário junto a alguns pequenos produtores e produtoras rurais, além da aplicação de formulários in loco. Foram aplicados 73 formulários com os produtores agrícolas, número que correspondeu a 96% do universo dos estabelecimentos rurais, com 31 formulários, o que correspondeu a 78% trabalhadores marginais, salienta-se que para estes, foi utilizado o método em que cada entrevistado indicava outro ou, quando não era possível, a escolha do próximo entrevistado era feito ao acaso. Assinala-se a ocorrência de 40% de agricultores e agricultoras que assumem uma relação conjugal estável oficializada pelo casamento; de 34% dos entrevistados que vivem juntos sem união oficializada; e de 18% que são solteiros e solteiras em sua maioria jovens. Há ainda o índice de 4% de viuvez, juntamente com outros 4% de famílias em que o casal se divorciou e que a mulher passou a gerir os negócios. Portanto, somados os casamentos oficiais e as uniões estáveis não oficializadas, obteve-se um índice de 74%. Neste universo, retirou-se a amostra de 8% de mulheres cujo lugar social está à frente do sustento familiar que traz o destaque do percentual de 20% quando levado em consideração as mulheres solteiras que situam-se na gestão dos próprios negócios presentes no estabelecimento rural. A composição familiar no que tange a quantidade de filhos com menos de 18 anos, portanto, considerados menores no Brasil, representam o alto percentual de 73%, contra 26% de filhos acima de 18 anos. Na estrutura familiar há a ocorrência de 2 filhos (29% dos entrevistados) seguida daquelas que possuem 1 filho (25%). 18% das famílias têm 4 filhos; e fechando os altos percentuais das famílias com número elevado de prole, constam mais 14% com 3 filhos. A partir disso, encontram-se aquelas famílias com mais de 5 integrantes, tal fato denota que o 172 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens povoado consta de muitas famílias (46%) com grande prole, fato que demonstra a possibilidade de um maior aproveitamento do trabalho familiar nos estabelecimentos rurais. Outra questão levantada refere-se ao sexo/gênero dos chefes de família dos estabelecimentos rurais existentes no povoado, onde foi verificado que 20% são mulheres. Diante de tais números, é possível inferir a supremacia masculina em 80% dos entrevistados, em detrimento da presença feminina. Das famílias entrevistadas (73), 80% declararam que é o chefe de família o responsável pela gestão do núcleo familiar, dos quais, 86% são representados por homens. Sendo assim, em números absolutos, verificou-se em 16 estabelecimentos rurais a presença de mulheres como provedoras das unidades produtivas. As Balaieiras67 suas características e deslocamentos comerciais Desprovida da propriedade da terra, dos meios logísticos sofisticados de escoamento das mercadorias de capital, e de credibilidade por parte de alguns agentes do território, a popularmente denominada “balaieira” é a representante mais legítima do circuito inferior da economia espacial em que o território da olericultura está inserido, inclusive no sentido de dinamizar este subsistema em outros espaços que não o seu. Eis um dos principais valores do ponto de vista econômico - que lhes são conferidas. A balaieira pode ser entendida também como a agente responsável pelo aquecimento das economias locais, semanalmente, na rede urbana composta por cidades da Região Metropolitana do Salvador (RMS) e do interior do estado baiano. As balaieiras apresentam idade composta na faixa que vai dos 19 aos 70 anos de idade, sendo que os maiores índices residem nas faixas etárias de 30 a 39 anos, com 9% e 50 a 59 anos com 8% do universo pesquisado. Ao observar os números absolutos de tais informações, pode-se inferir a considerável quantidade de trabalhadores marginais que estão na faixa etária acima dos cinquenta anos. Ao todo, são 24 representantes, o que demonstra a idade elevada por aproximadamente 77% do universo pesquisado. 67 O termo é utilizado no gênero feminino por conta da predominância da mulher em relação ao homem nessa atividade. 173 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens As famílias constituídas pelas balaieiras têm na sua maioria (84%) a composição do casal com filhos. Os quais possuem faixa etária superior aos 18 anos em 45% dos casos, 22% para as faixas etárias compreendidas entre 6 e 12 anos e entre 12 e 18 anos de idade, 8% entre 1 e 6 anos e 3% que não declararam. Outro dado relacionado à família refere-se à função do companheiro ou companheira. O cônjuge, na maioria dos casos, desempenha atividades correlatas, conforme as seguintes informações: venda olerícula (10% dos casos), pequeno/a produtor/a rural (10%), atividades de venda e afazeres domésticos (10%), somente afazeres domésticos (13%) e não declarado (13%). Os que não possuem cônjuge foram representados por uma parcela de 44% dos entrevistados. Com relação à parcela dos não declarados, foi possível, através da observação direta, verificar a ocorrência de outras atividades também autônomas, a exemplo de motorista de táxi e do trabalho no comércio. Destaca-se um caso em que o cônjuge não desempenha nenhuma atividade por apresentar invalidez. Esta trabalhadora marginal, como explicitado, tem a sua importância no fortalecimento do território analisado. Porém, por questões relacionadas à desinformação, à falta de escolaridade e à desunião entre os pares e a falta de coesão como sujeitos coletivos, contribuem para enfraquecer o sentido de se entender como um dos agentes co-responsáveis pelo fortalecimento do território. O letramento68 percebido por uma parcela desses agentes permite inferir uma contraditória realidade, que é a submissão a algumas situações impostas por certos agentes sociais e à consequente desvalorização desses como profissionais autônomos em aspectos que, às vezes, se confundem com a própria condição humana. Todavia, os aspectos apresentados nos dois parágrafos anteriores são complexos. Para entendê-los, faz-se necessário descortinar um pouco mais sobre quem é este agente marginal e sua condição socioespacial. Para tanto, parte-se da sua visão sobre a própria condição de 68 A palavra designa uma desvinculação do conhecimento formal do não-formal. Contribui para desmistificação da ideia de hierarquia dos saberes, mais precisamente do primeiro com relação ao segundo, ou seja, do processo de alfabetização instituída nos espaços formais de aprendizagem com aqueles construídos a partir das experiências do sujeito com as inúmeras possibilidades do mundo. Como afirma Freire (1989 p. 11-12): “A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto”. 174 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens reprodução social e os seus locais de origem, bem como da caracterização familiar, onde se tentará demonstrar a realidade vivida por parte de 31 agentes da classe balaieira, a partir dos dados obtidos via formulários conversas informais e narrativas de vida. Sendo o formulário o principal instrumento de coleta de dados, este fora aplicado individualmente, a partir do método de formação da rede de indicações e na ausência deste procedimento o pesquisador se lançou no território em um processo de busca aleatória de maneira a delimitar a amostra da pesquisa quando os indicados começaram a se repetir. As balaieiras são pessoas que, na sua maioria, são nascidas em Santo Amaro, em 59% dos casos analisados. Mesmo englobando as que não são nascidas no lugar, 95% delas constituíram família no próprio território, sendo que, mas precisamente, 61% destas já residiam no povoado antes de desenvolverem a atual função de venda direta, contra 23% daquelas que não residiam no território antes de praticarem o trabalho atual. No território em análise, no que compete ao entendimento da constituição familiar da classe dos trabalhadores marginais, verifica-se que a sua composição, na maioria dos casos, se dá por um casal que pode ter a união oficializada (22% dos casos) ou pela união estável não oficializada (26% do universo pesquisado). Encontrou-se o índice de 29% de pessoas solteiras, 7% de viuvez e, separados e desquitados, respectivamente, 3% cada. Prosseguindo nas análises, os números obtidos apresentaram uma interessante questão de gênero, uma vez que a predominância dos balaieiros é feminina, com 68% dos casos contra 32% de homens. Desse fato demonstra uma situação inversa dos números apresentados pelo grupo dos pequenos trabalhadores rurais, onde a predominância é eminentemente masculina. Nessa questão de gênero, infere-se que a predominância de mulheres é acompanhada também da responsabilidade de serem chefes de família, em 65% dos casos. O fato curioso é que, como visto anteriormente, os altos índices de relacionamentos efetivos (oficializados ou não), juntamente com os baixos índices dos relacionamentos desfeitos (oficialmente ou não), quando somados, explicitam uma condição de autonomia destas mulheres em relação à figura masculina. De fato, mesmo nos casos em que há a presença do cônjuge, estas mulheres não 175 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens ficam circunscritas ao espaço doméstico, pois saem em busca da complementação da renda familiar. Em muitos casos, esta não se caracteriza como renda complementar, mas sim como a principal ou única renda disponível. Outro dado importante que compõe o quadro analítico reside no baixo nível de escolaridade, visto que 61% não concluíram o Ensino Fundamental I, outros 13% não concluíram o Ensino Fundamental II, 6% possuem o Ensino Médio incompleto e 10% não são alfabetizadas. Mas, diante das observações em campo e das conversas travadas no decorrer da pesquisa, foi possível inferir o letramento dessas pessoas diante dos acontecimentos do cotidiano que envolvem, principalmente, as questões relativas ao processo de aquisição e venda dos produtos olerículas. Esse letramento é capaz de mudar a opinião de certos pequenos produtores e produtoras rurais quanto ao estigma que a classe balaieira carrega por conta de alguns de seus pares descumprirem os acordos feitos através de negociações entre estes e os agricultores, a exemplo do não cumprimento de prazos e de pagamentos e as falhas nas relações interpessoais (a exemplo da falta de cordialidade) com os próprios produtores e produtoras agrícolas no âmbito do estabelecimento rural. As balaieiras explicam estes procedimentos como sendo reflexos de ações externas a elas, e afirmam que são mecanismos de defesas pela discriminação que sofrem, com exceção do não cumprimento dos acordos firmados que estão vinculados as oscilações do mercado. É mister afirmar que a trabalhadora marginal se reveste como gestor da própria condição de negociante e que esta vive um “rodopio” de incertezas que são impostas pelo cotidiano. Surpresas são determinadas pelo mercado em condições mais ou menos desfavoráveis para a venda dos produtos olerículas que, por sua vez, são adquiridos diante de muitas dificuldades junto ao pequeno produtor e produtora rural numa quase “quebra-debraço” com os agentes intermediários, em situações que se agravam nos períodos de entressafra. A incerteza de conseguir adquirir os produtos para serem vendidos semanalmente em mais de uma cidade pela maioria desses agentes traz a possibilidade de agravar ainda mais a 176 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens sua situação financeira, que não é muito confortável. Esse fator sempre os deixa apreensivos sobre o próximo processo de compra e venda das mercadorias e o provimento das necessidades básicas da família, a exemplo da alimentação e dos pagamentos das contas (energia, gás, transporte, remédios, dentre outros). As oportunidades vividas e percebidas no território da olericultura não são as mesmas entre os agentes que lhe dinamizam, mesmo entre aqueles que possuem as mesmas virtualidades e capacidades de produção. Os conflitos entre as classes são latentes, tendo como uma de suas faces as condições de reprodução socioespacial dos trabalhadores marginais que permeia a pouca possibilidade de ascensão entre as classes sociais, visto que as regras impostas no “jogo” capitalista lhes agrava a condição de pobreza. Esta constatação, mesmo que se exponha à propensão determinista, foge desse foco devido ao conhecimento e à vivência do pesquisador sobre as particularidades da realidade vividas por tais agentes. Percebeu-se, dentre os casos analisados, uma pequena variação socioeconômica e dos estilos de vida que permite conferir a desestabilização da padronização ou da condição de regra. Vários são os destinos que a classe balaieira busca para efetivar suas vendas. Estes destinos podem se confundir com os mesmos dos agentes intermediários, porém, de maneira alguma se pode afirmar o mesmo sobre os circuitos da economia espacial visitados por cada tipo de agente. Enquanto a classe balaieira vincula-se ao subsistema inferior, a classe dos intermediários vincula-se ao subsistema moderno da economia. Assim, o balaieiro e a balaieira podem pode até destinarem-se pelo mesmo fluxo do intermediário tomando como ponto de partida o território, mas o seu eixo de deslocamento se modifica quando se leva em consideração os fixos em que serão feitas as entregas ou vendas das mercadorias, a exemplo da cidade de Feira de Santana. Enquanto os intermediários dirigem-se as redes de supermercados - como o grupo G. Barbosa, Hiper Bompreço (Wall Mart), Atacadão, J. Santos, ou ao Mercantil Rodrigues -, as trabalhadoras marginais se dirigem para as feiraslivres dos bairros George Américo e Estação Nova, ambos situados no município de Feira de Santana. 177 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens É possível visualizar os deslocamentos das balaieiras fora de seu território na figura 3 a partir da observação dos municípios que compõe a rede urbana que concentra as feiraslivres visitadas periodicamente por estes agentes para a venda de seus produtos. Para todos os municípios evidenciados na figura 1, as balaieiras iniciam o processo de deslocamento em horários diferenciados; porém, é possível verificar uma forte concentração no turno da manhã, ficando apenas 3% do fluxo reservado para o período da tarde. Fonte: Elaborado por SANTOS, J. S., a partir dos dados adquiridos na pesquisa de campo. Figura 1 – Classe balaieira: cidades visitadas para as feiras-livres 178 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens As mulheres e os desafios cotidianos: entraves e possibilidades Mesmo participando em um número inferior, a mulher é também um elemento importante nas decisões promovidas no coletivo acerca do território. Este fato se verifica pela presença de uma mulher na presidência da Associação de Moradores do Tanque de Senzala e por uma gradual assunção da figura feminina como gestora da família e do estabelecimento rural como um todo, que se dá a partir dos casos de divórcio e viuvez, em que ela se vê impelida a assumir os afazeres que eram do marido diante da falta de alternativa para a sobrevivência. Salienta-se que 14% correspondem a mulheres que são chefes de família. Ao assumir funções que anteriormente não eram suas por completo - a exemplo da gerência dos negócios: aquisição de insumos, contratação de mão-de-obra (se preciso for), cultivo, manutenção da lavoura, colheita e venda – a mulher passou também a lidar com situações conflituosas, como a discriminação sexual por conta da posição social que se encontra. Esta situação foi confirmada através de relatos de algumas agricultoras. Uma delas citou a discriminação dos agentes intermediários configurada pelo tratamento diferenciado que lhes proporcionam em aspectos relacionados à cobranças de metas, qualidade do produto olerícula e pagamento. Na hora de pagar, às vezes, eles não pagam o valor acertado, diminui. O que era pra ser vinte reais passa a ser quinze reais e falam que é por causa da qualidade. Na verdade, eles [atravessadores] se organizam e praticam o mesmo preço, e com mulher é pior porque eles não respeitam. No verão, na Ceasa o coentro pode chegar até cem reais a leira e eles [atravessadores] pagam o valor que querem: trinta reais, no máximo. Ontem mesmo ele [atravessador] me comprou coentro a vinte e cinco reais e hoje só me pagou doze reais e cinqüenta centavos. [...] Eles fazem isso porque eu sou mulher, vivo sozinha e sabem que a gente não vai a Salvador ver o preço. E além disso, todo agricultor tem sua entrega e não vai liberar; então, eu tenho que segurar essa situação, porque algumas roças chegam a fechar nessa época. O atravessador não faz questão, diz que se eu não quiser assim que eu devo procurar outro, mas eu sei que não é fácil encontrar outro e posso passar necessidade com os meus filhos. 179 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Sendo a balaieira uma das responsáveis por intermediar o produto entre o pequeno produtor e produtora rural e o consumidor final e, consequentemente, ser responsável também pela dinamização das redes entre o território e outros fixos num fluxo semanal, a ela é conferida destaque no circuito não-moderno da economia espacial, especialmente nos centros urbanos, onde acontecem as feiras-livres. Nestas é promovida a venda de produtos que vão além dos olerículas, no intuito de diversificarem seus clientes e seus lucros. Só que, para tanto, o processo de aquisição desses produtos a serem comercializados não se mostra de uma maneira tranquila, mas sim conflituosa. Isso é particularmente verdadeiro no que diz respeito a “disputa” entre estes e os atravessadores no que se refere à aquisição de produtos olerículas. Contudo, os agentes intermediários agem diretamente como fornecedores de mercadorias para alguns fixos (representados pelas redes de supermercados) continentes do circuito moderno da economia urbana localizados em diferenciados centros urbanos da Bahia. O transporte surge como apenas mais um dos aspectos que revelam as dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores marginais no que diz respeito ao processo de escoamento das mercadorias. De maneira a sintetizar essas dificuldades, foram agrupadas as indicações elencadas pelas fontes orais e pelos formulários aplicados. Assim, foi possível vislumbrar que a maioria das indicações (61%) versou sobre questões relacionadas ao processo de venda; outros 29% incluíram no rol das dificuldades as precariedades dos transportes; e apenas 10% indicaram a captação da mercadoria como um entrave para o desenvolvimento das atividades. As dificuldades que englobam o processo de deslocamento, a exemplo do que acontece nas madrugadas rumo aos locais de venda, este configura-se como o definidor do cansaço do trabalhador, justamente com a alta jornada de trabalho, devido ao retorno tardio aos seus lares, em alguns casos, ultrapassando às 20:00 horas do dia. Aliada a isto destaca-se também a excessiva permanência de duração na atividade com jornadas superiores a 8 horas, dentre eles citam-se 8 a 12 horas diárias, 29%; 12 a 16 horas, 42% e acima desse período 15%. No aspecto relacionado a captação olerícula, 10% dos balaieiros informaram que nos dias que precedem o acontecimento das feiras-livres, a atividade é iniciada no momento em 180 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens que seus agentes se lançam em direção aos estabelecimentos rurais. Este também não é um processo fácil. Fica evidenciado nas indicações de 65% da classe balaieira alguns motivos que dificultam suas atividades, a saber: descrédito por parte de uma parcela de 41% de pequenos produtores e produtoras rurais que alegam terem prejuízos com relação aos negócios firmados com a classe balaieira na medida que esses descumprem os pagamentos das mercadorias adquiridas e falta de um bom relacionamento interpessoal no trato diário. Contudo, 74% das balaieiras afirmam obter êxitos na prática do haggling, que é popularmente conhecido como “pechincha”, ou seja, a tentativa de diminuir os preços no momento das negociações (UCHENDU, 1967 apud SANTOS, 1979 p.35). É praticada incansavelmente pelos trabalhadores marginais, alguns chegam a utilizar em seus mecanismos de negociação, pressões sócio-psicológicas69, contraposição de preços70 e depreciação da qualidade do produto71. Alguns exemplos de mecanismos de gestão investidos na tentativa de conseguirem seus objetivos são: produtos a preços baixos e de qualidade, além da crescente exigência pelo aumento da quantidade. Considerações Finais Diante de toda a discussão travada até a presente linha, pode-se chegar a algumas conclusões, dentre as quais, a de que os principais agentes que animam o espaço rural analisado são, de fato, os três grupos apresentados até então, a saber: pequenos produtores e produtoras rurais, balaieiros e balaieiras e intermediários. Os centros atacadistas/varejistas são os responsáveis por impor um ritmo de trabalho aos intermediários que, por sua vez, repassam-no para o território, configurando assim, uma 69 Buscando aquele produtor rural que está numa situação desfavorável quanto aos meios de escoamento, explicitando para este a sua importância como o único agente disponível para a distribuição de seus produtos, bem como das dificuldades que serão enfrentadas pelo produtor caso ele não escoe a sua mercadoria, a exemplo da perda da produção e os prejuízos dos valores gastos com a manutenção da lavoura, dentre outros fatores. 70 A contraposição de preços ocorre quando um agente intermediário, seja ele balaieiro ou atravessador, pressiona o produtor agrícola, comparando os preços praticados entre os estabelecimentos rurais, forçando-o a diminuir os preços dos produtos olerículas. Contudo, essas comparações de preços acontecem tendo como base valores que muitas vezes são fictícios, criados pelos próprios agentes intermediadores. Pode acontecer também a omissão do valor praticado nos locais de venda direta e nos centros de distribuição, principalmente no período da escassez de chuva e, consequentemente, da entressafra do cultivo, para que a margem de lucro se torne ainda maior. 71 Conforme verificado em fontes orais, um dos produtores agrícolas indicou que “o balaieiro coloca defeito pra comprar a mercadoria, diz que as folhas estão ‘pintadas’, que tá tudo ‘amarelado’, e na hora de pagar dá muito trabalho, inventando várias estórias”. 181 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens transferência de cobrança do nível superior para o subsistema inferior da economia – resguardadas as devidas proporções -, refletindo diretamente no estabelecimento rural. Esse fato emerge através do vínculo de subordinação que o proprietário da terra tece junto ao agente intermediário, sendo ele resultado das práticas diárias dos mecanismos de gestão. Nessa senda, os mecanismos de sujeição dos pequenos produtores familiares agrícolas no povoado de Tanque de Senzala aos citados agentes de escoamento da produção olerícula foram identificados e analisados superficialmente ao longo do texto referindo-se aos seus processos de desenvolvimento. O que permitiu ratificar que tal sujeição é fruto dos processos de gestão exercidos por aqueles que se diferenciam a partir de uma superioridade monetária. Para, além disso, tais processos se configuram através de mecanismos objetivos e subjetivos, a exemplo da imposição de preços, prazos e das pressões sócio-psicológicas que acarretam a subordinação do pequeno produtor rural ao intermediário e se maximiza quando esta é mulher, fazendo-a acreditar que o atravessador é o único meio de escoamento possível de sua produção. Assim, as mulheres produtoras que são chefes de família ou a principal provedora do sustento familiar se vê impelida a acatar determinadas situações impostas pelos atravessadores por ações “agressivas” que na maioria das vezes não são sentidas quando o agente é um homem. Quanto a esta questão, acredita-se que uma forma de sanar/driblar tal situação reside na organização social dessas mulheres, quer via a atual associação, quer por ações cooperativadas para que juntas possam se fortalecer a fim de suplantar as ações ou até mesmo a figura intermediária. Com relação aos trabalhadores marginais, conclui-se que esta classe é uma das responsáveis pela dinamização monetária do território, mesmo negociando em pequenas quantidades. O diferencial, apesar de todas as dificuldades enfrentadas no cotidiano, é que são mulheres as principais representantes desta classe, por serem maioria, e por conferirem a mobilidade e interações espaciais do território com outros espaços baianos. A essas também são conferidas a dinamização do circuito inferior da economia de outros centros urbanos do Estado, visto que é a feira-livre o principal destino delas com a finalidade da venda direta ao consumidor. 182 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Referências ARENDT, Hanna. A condição humana. 1. ed. 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Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens WANDERLEY, Maria Nazareth Baudel. Prefácio. In: CARNEIRO, Maria José; MALUF, Renato S. (Orgs.) Para além da produção: multifuncionalidade e agricultura familiar. Rio de Janeiro: MAUAD, 2003. 12) AUTOR: José David Buelvas PONENCIA: Conflicto social y armado en el territorio cordobés: problemas recientes en el fortalecimiento de la ciudadanía que afectan el municipio de Montería. INSTITUCIÓN: Universidad Pontificia Bolivariana PAÍS: Colombia MAIL: [email protected] 1. Una Ubicación para Introducirse al problema Hay que comenzar diciendo que Montería es una ciudad intermedia que tiene condición territorial de Municipio del Departamento de Córdoba. Está localizado en la parte sur de la costa Caribe colombiana, capital del departamento de Córdoba, con una población de 409.476 habitantes (313.593 en el núcleo urbano y 95.883 en áreas rurales). La ciudad representa el 19,8% de la población del departamento que es de 1.582.718 personas según proyección del DANE, (Departamento Nacional de Estadísticas de Colombia). En los últimos años la ciudad ha venido cambiando, en especial la zona céntrica y las que corresponden a los barrios de estratos medios y altos. Se nota un dinamismo y ampliación del comercio representado en negocios, consultorios, oficinas y talleres de todos los niveles y tamaños. Las viviendas cuentan con servicios para el suministro de agua y alcantarillado, energía eléctrica y gas, así como para la recolección de basuras. Por sus calles transitan cada vez más vehículos y cientos de motociclistas, la mayoría convertidos en moto-taxistas, lo cual se ha vuelto una práctica recurrente después de las desmovilizaciones en el 2006; porque no tienen otra manera de ganarse la vida. 184 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Mejoramiento en los parques y otros espacios públicos dan un aspecto de ciudad organizada y limpia. (NEGRETE BARRERA, 2006, p33). Pero aun así, mantiene un estado de ciudad periférica, debido a que en los últimos años también se han incrementado los índices de desnutrición, de violencia intrafamiliar, y de otros factores que son caldo de cultivo para que el conflicto social se agudice y la situación armada tenga un depósito de población cautiva para engrosar permanentemente las filas de los grupos emergentes y de otros que se dedican a delinquir en las calles del centro y en parte de esa zona rural. Lo que conduce paulatinamente a esta ciudad del Caribe a un estado de inseguridad que se ha visto desde el centro del país como algo normal, por haber sido en el pasado reciente una ciudad capital de departamento que albergó a emblemáticos Cabecillas del Paramilitarismo que eran vistos heroicamente por una parte de la población; figuras que circulaban en zonas de ubicación como Santa fe de Ralito, en Municipios como Valencia y Tierralta y otros municipios más que hoy día siguen en condiciones caóticas puesto que ahora entra en vigencia esta nueva etapa del conflicto armado que pretende someter y mantener el control territorial desde otro ángulo, que es el del narcotráfico que se expande y se perfecciona ahora pretendiendo involucrar a más personas del común. Es aquí donde reside el fenómeno paramilitar, auspiciado por las lógicas de tenencia de la tierra y por la ocupación territorial, de diversos lugares que son emblemas poblacionales debido a la gran magnitud que ha tenido el problema de actividad ganadera y agrícola, generada en un auge mayor, por los terratenientes de que habitan en estas zonas, los cuales tejieron gran parte de lo que hoy es el paramilitarismo en Colombia. 2. Una Hipótesis para Examinar y Contrastar La pretensión que mueve como tesis central este escrito desde la perspectiva de la reflexión crítica, es precisamente lo que viene aconteciendo en los últimos años en Montería, municipio del departamento de Córdoba donde por diferentes razones de peso se viene 185 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens gestando una nueva tendencia del conflicto armado que se ha generalizado en todo el territorio nacional y denominado por el ex presidente Uribe Vélez como Bacrim, concepto usado para designar lo que de forma emergente surgió luego de la desmovilización de las más reconocidas estructuras paramilitares en Colombia, su uso fue para delimitar las fuerzas aliadas de criminales y capos del narcotráfico que una vez se pactó el cese de hostilidades entre el estado y los comandos centrales de paramilitares, se crean internamente las Bandas Criminales. Siendo esta dimensión del conflicto armado algo amorfo, debido a la compleja organización que se crea con el objetivo de hacer crecer los frutos del negocio del narcotráfico en zonas donde era poco probable que surgieran tentáculos de estas, pues había un control preciso de las rutas y de todo aquello que conforma esta actividad ilícita, solo en manos de un actor armado y ya con la puesta en marcha de un proceso de desarticulación de estructura contrainsurgente de las AUC (Autodefensas Unidas de Colombia) esta posibilidad se hace real, por eso surgen y se denominan los nuevos Grupos Ilegales como BACRIM, pues ahora supuestamente según los planteamientos políticos hechos por el Ex presidente Uribe lo que surgía era algo nuevo pero que según él no era parte de un conflicto porque no había tal conflicto, lo que había en ese entonces era solo una amenaza terrorista y esa eran las FARCEP a lo cual colocó todo su empeño político, económico y militar, pues había que confrontar esa agrupación ilegal que tanto daño le ha causado al país. Quedando a la intemperie la base de la sociedad, pues la apuesta política por la seguridad democrática estaba centrada en aquella tarea de hacer de Colombia un país seguro para la inversión extranjera, lo cual había que proteger sin ninguna restricción. En este sentido, el posconflicto paramilitar es, pues, una mezcla de grupos que subsisten, volvieron a ser parte del conflicto y se transformaron en el ejercicio de la violencia (Soledad Granada, et al. 2009). 186 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens 3. Un elemento de discusión: Algunas líneas visibles de un nuevo panorama En esta vía un aspecto clave de interpretación de estas dinámicas del conflicto como las que emergen en el presente son las propias de hechos como la guerra que marcan un nuevo lindero en la irregularidad de la misma; primero porque ya no existe un escenario solamente de combate. Ahora son múltiples y de diversa índole e incluso se crean escenarios con un matiz de ficción que camufla y hace que surjan nuevos modelos de actores dentro del conflicto, como es el caso de la llamadas Bacrim, las cuales son hijas legitimas del narcotráfico, y las cuales fueron gestadas en las entrañas de este mismo conflicto armado de más de cincuenta años. Pero que ha sido parido por la deformación y degradación no solo de la guerra, sino también por el estado de normalidad en el que aparecen las prácticas criminales. Lo cual ha hecho cambiar de forma radical el panorama de las comprensiones y precomprensiones subjetivas de la ciudadanía. Por eso para entender porqué la guerra es una forma de referenciar lo que sucede en una sociedad como la colombiana y las distintas entidades territoriales que componen, es necesario echar una mirada a lo que ella ha significado en su evolución histórica. Al respecto el profesor Alejo Vargas, acudiendo a la tesis de Caillois, el cual en una perspectiva histórica muestra cómo a diferentes tipos de sociedades corresponden distintos tipos de formas de realización de la guerra señala lo siguiente: “La guerra primitiva está emparentada con la caza: el enemigo es una presa a la que se trata de sorprender. La guerra feudal tiene algo de ceremonia y de juego, la igualdad de oportunidades se respeta cuidadosamente y se busca una victoria más simbólica que real. Al contrario, en la guerra imperial, la partida no está equilibrada: a decir verdad es la desproporción misma de los recursos y de armamento lo que define esta clase de conflicto. El mejor apertrechado absorbe al más débil, más que combatirlo, lo asimila. Su tarea es a menudo más administrativa que militar. Por último, en las guerras entre naciones la igualdad 187 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens se halla restablecida, pero cada uno de los adversarios se lanza a ella hasta el límite de sus fuerzas y trata por todos los medios de reducir al otro a pedir gracia, de manera que no hay matanza que parezca excesiva o bárbara: la guerra se halla constituida por una sucesión de golpes inmisericordes, de los que se exige únicamente que sean eficaces” (VARGAS, 2009, p 10) Para el caso concreto de la sociedad local de montería, esta inconexa forma de hacer la guerra se ha volcado sobre la esfera de la ciudadanía y sobre la sociedad civil hasta convertirlos también en víctimas del conflicto si nos situamos en este ámbito descriptivo. Puesto que ahora el gobierno de las armas opera y funciona bajo un esquema diferente de acción que es propio de la actividad del narcotráfico y tiene que ver con las muertes selectivas, el del despojo de la tierra entre otras acciones, haciéndose cada vez más visible en las calles, en lugares públicos y hasta en las residencias de los habitantes de esta ciudad de Montería una forma violencia sistemática que enfrenta a la población con la institucionalidad y la opinión pública en general. Pues es claro que existen diversos intereses que movilizan a estas estructuras de crimen que deja de ser delincuencia común para convertirse en organizada, por el alto grado de jerarquización que se utiliza en el modus operandi, el cual es variado de acuerdo a la ciudad donde se ejecuten sus acciones. Es aquí donde precisamente aparece una de las líneas más visibles del paisaje y la geografía de la guerra y el poder que se fortalece en medio del conflicto, como un producto creado o fabricado por una desregulación y descontrol estatal y social, que degrada los intentos y hasta las visiones de una posible salida política, dialógica y porque no, negociada del conflicto armado colombiano. 188 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Aun habiendo establecido una agenda reciente como una posibilidad de acabar con esta ilógica guerra, sigue habiendo detractores que con formas discursivas buscan tensionar a la población civil, sobre todo a aquella que es poco avezada en el tema. Por tanto la posibilidad de cambio para el rostro de estos acontecimientos es un propósito que se debe mantener en constante discusión y evaluación, debido a que si no se logra diseñar o encauzar una forma de dirimirlo se terminará por diluir y fragilizar cualquier visión que se emprenda frente al ímpetu del mismo conflicto. Que antes que armado sigue siendo y es social. Pero en este escenario de conflicto, violencia, y degradación que es real, siempre aguarda una esperanza con las actuales reformas que se vienen haciendo de las estructuras legislativas del Estado, con la cual se tiene que lograr algún significativo avance en ese plano. Pues la vida y el desarrollo de la guerra ha llevado a conducido a las localidades como Montería y Córdoba como departamento de Colombia a la amarga experiencia de la violencia y el desajuste social, explicado esto último en las precarias formas en que la población accede a sus derechos y hace que estos se validen en la práctica. Por lo cual la línea más visible de lo que impacta a la ciudad y al departamento que es visible a nivel nacional, es la crudeza de la guerra y sus móviles, lo que ha hecho de las poblaciones y de los habitantes urbanos, personas que viven desligadas de las problemáticas sociales. Lo cual dificulta poder analizar en detalle cómo ha incidido el conflicto en las vidas de cada persona, pues existe un elevado nivel de incertidumbre, por el qué va a pasar con estas poblaciones alejadas del desarrollo social y del económico que se muestra por todos los medios, pero que no visibiliza la situación concreta en que se haya la sociedad, o si se visibiliza es de forma despectiva frente a otros ordenes ya sean, regionales o internacionales. 189 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Por tal razón otra de las líneas visibles en la problemática del conflicto social y armado que enfrenta el municipio de Montería (Córdoba-Colombia) es la degradación de sus instituciones públicas que se ven afectadas por la corrupción administrativa que mantiene nexos y relaciones con muchos de los cabecillas de estas estructuras al margen de la ley, casos muy reconocidos por la opinión pública colombiana como los implicados en la “parapolitica”. Fenómeno este que se refiere concretamente a la manera como se han dado los nexos entre la clase política dirigente de las regiones a nivel nacional, con las estructuras de mando paramilitar, donde reside gran parte del significado que hoy tiene el mencionado problema. En ese sentido, iniciativas como la ley de víctimas apuntan en el horizonte de garantizar una forma de dirimir de manera creativa y coherente las manifestaciones posibles del conflicto social, el cual se ha degradado hasta alcanzar una expresión armada que ha desactivado muchas veces la posibilidad de la paz de cara a la sociedad y a sus ordenes regionales y locales. En esa vía lo expresado por Mauricio García Duran S.J. Director General del CINEP/Programa por la Paz, refiriéndose a la encuesta nacional realizada el 13 de abril del año 2011 sobre las percepciones de paz y derechos humanos en nuestro país, argumentó que: “Los resultados parecerían indicar que la opinión pública colombiana comienza a inclinarse otra vez hacia la paz, luego del respaldo que dio durante los años de Uribe Vélez a una solución que ponía el énfasis en la derrota militar de la insurgencia. Llama la atención que el 88% de los colombianos considere que seguimos en una situación de conflicto armado, ante la cual se hace poco, (el 82% de la población considera que no hace nada concreto a favor de la paz). Por tanto, la construcción de la paz demandaría una respuesta que va más allá de la mera confrontación militar de guerrillas, paramilitares y bandas criminales. Se requiere, entre otras cosas, responder a las demandas de sectores afectados por el conflicto, como puede verse en la alta opinión favorable (97%) a que las víctimas reclamen sus derechos” (GARCIA DURAN: 2011, p 2). 190 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Este dato sobre la actitud emergente en la población colombiana, referido al reconocimiento social de que existe y es agudo el problema y que es interpretado por García Duran, es una expresión de que en las Regiones como Córdoba y la Costa Caribe, hay necesidad de que se geste, desarrolle y potencialicen los esfuerzos por hacer de esta nueva ley un instrumento que jalone con fuerza y validez casi que universal, opciones diversas para atender los requerimientos de la realidad y sea una contribución al mejoramiento de las condiciones psicosociales de las personas que han sido victimizadas en sus relaciones como en su condición propiamente humana, en este escenario de conflicto que principalmente vuelvo a decirlo, hunde sus raíces en variables sociales y que aun no se han visibilizado del todo en el conjunto de la sociedad colombiana. Sumado a esto también es necesario hacer énfasis sobre la imposibilidad de la reconciliación que es otro de los eslabones en la cadena de problemáticas psicosociales que aquejan la vida práctica de sociedades como la colombiana que ha vivido la experiencia de un conflicto potencialmente amplio y complejo. Pero álgido todavía para el estado en el que se encuentran algunos sectores populares y los barrios marginales de Montería, los cuales representan (como comunidades receptoras entre otras cosas), el mayor índice de actores armados desmovilizados lo cual es caldo de cultivo de nuevos aparatos armados que funcionan como estrategias de localización de las fuerzas de control que trazan líneas imaginarias del poder que muy pocas veces es franqueable por grupos ajenos a la dinamiza territorial. Siendo este un aspecto relevante para lograr un impacto en la deseabilidad de soluciones diferentes que no legitimen prácticas nefastas sociopolíticamente para estás personas, como las que surgen cuando se le han colocado trabas a los procesos de inclusión y reconocimiento por ejemplo a las personas dentro de las esferas de participación o de organización comunitaria y social donde se les estigmatiza a ambas partes tanto al que ha incurrido en delitos (victimarios), entendidas como los responsables directos de crímenes y 191 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens despojos de tierras así como de actividades de narcotráfico, como a quienes han sufrido con intensidad los estragos de las acciones violentas (victimas) aquellas personas que fueron violentadas en sus vidas y en sus bienes, asaltadas en por las instituciones que debieron garantizarle un futuro prospero como miembros de una nación. Debido a que a ellos como población les corresponde vivir juntos y estar en permanente contacto diariamente. Lo que sería una des-victimización de las relaciones y las personas. En este sentido hay que buscar las raíces del problema, para entender la dinámica de conflicto en que vive la sociedad colombiana, pero también en la forma cómo se evidencia cada episodio de violencia y de tendencias del conflicto. Por ejemplo recientemente en Montería, se viene gestando una dinámica de muertes que aunque aisladas unas de otras, demuestran una dificultad en la manera como hay que entender el fenómeno de violencia en todo el país. Pues estas muertes son sinónimo de un reacomodo de las estructuras delincuenciales en todo el territorio nacional. Lo cual repercute en la forma de entendimiento que la población monteriana pueda tener de sus problemáticas y en las posibilidades de acabar con ellos. Siendo lo interesante de esta tendencia del conflicto armado, el hecho de que los grupos al margen de la ley, quieran replicar en otras latitudes del mundo su modus operandi pero circunscrito a lógicas locales, como se puede observar en países europeos y algunos de América Latina. Donde el recrudecimiento del fenómeno violento tiene características similares a las que se viven en el interior de Colombia, pero guardando proporciones especificas de territorios como las del municipio de Montería. Hasta ahí existe una lógica que delimita y circunda las maneras en las que la situación del conflicto se hace cada vez más inconexa, dando como resultado inmediato el que los 192 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens conceptos que emergen entren en una situación bastante confusa pero que aun así, sean elementos de interpretación social ya que los medios de comunicación locales son muy simples a la hora de presentar las noticias y los hechos. Como sucedió por ejemplo con un hecho muy relevante en el contexto cordobés, acaecido el día 27 del mes de Septiembre de 2011, cuando unos criminales en el Municipio de San Antero arremetieron contra la vida e integridad de unas personas que departían en la playa acribillando a cinco personas todas estas jóvenes universitarios; lo curioso de esto es cómo se puede entender el fenómeno sin una lectura aproximada y no legitimadora de la violencia; ejemplos como el de un diario cuyo encabezado rezaba: “En San Antero (Córdoba) prohíben beber y bailar en la noche por una masacre ocurrida el domingo”. En este encabezado relucen argumentos que funcionan como dispositivos de acción, que dan poca posibilidad de lectura pormenorizada de lo que representa el conflicto armado en esta versión de las Bacrim en cuanto se alejan del acontecimiento, quizá para evadir su responsabilidad de informar con criterios éticos, o a lo mejor para no tener una postura critica del mismo; pues lo importante es “beber y bailar” como si estos fueran los referentes de la realidad que agobia a toda una población como la Cordobesa, donde la posibilidad de cohesión social se ha roto, se encuentran en constante cambio, reconfigurando el orden de las tendencias del conflicto en forma general. 4. Perspectiva territorial y espacial 193 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Otra perspectiva es la territorial la cual tiene que ver con el manejo que se le ha dado al cambio social, al interés particular de quienes habitamos la ciudad sin lograr puntos de coincidencia y convergencia que lleve a jalonar la búsqueda de soluciones. Pues el problema ahora no es quien controla -qué territorio-, sino qué grupo es más eficiente en la diversificación de los espacios y escenarios de interacción con el crimen y el narcotráfico, esta puede ser una tesis que se sostenga el sin numero de correctivos que se han impuesto tanto desde la esfera pública por medio del ente policivo, como por las restricciones más agudas del orden institucional, medidas como no andar en motos los martes, o no acceder al centro de la ciudad con parrillero ningún día, y los jueves sin parrillero se suman a los mecanismos usados con el propósito de materializar una convivencia pacífica que no se logra porque mucha gente de sectores urbano marginales hicieron de la costumbre una regla y es que se tiene que vivir de algo y eso es de tener una moto y hacer viajes cortos para ganar algo de dinero. En este sentido, esta perspectiva territorial y espacial viene conjugada con las formas sistemáticas y no sistemáticas de crimen, con la imposición de modelos de control social, con la instrumentalización de las personas y otros mecanismos propios del desarrollo del fenómeno social denominado conflicto armado. Principalmente en los municipios de la costa Caribe colombiana. Por otra parte, cabe argumentar que las tendencias tradicionales del conflicto, como aquellas donde se reconocía por parte de las diferentes instituciones gubernamentales y no gubernamentales la presencia en algunos municipios colombianos, de un solo actor armado o de dos máximo ha cambiado debido a las alianzas que muchos de estos grupos hacen para mantenerse en la dinámica de control, pasan a ser vistas como dinámicas normalizantes, al hacerse notorio el hecho de que la gente no exprese nada, aguarde en el silencio. 194 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Lo cual delimita de manera directa a los departamentos que como Córdoba en general se afectan con este tipo de nueva genética social. Donde vienen aflorando visiones individuales y colectivas que se inscriben tanto en el lado de los actores armados como en el lado de los miembros de las instituciones de gobierno. En esta perspectiva, se tiene que decir que en los últimos 25 años, a Montería han llegado más de 70.000 desplazados por la violencia, calamidades naturales y pobreza en el campo. Hay más de 3.000 víctimas que reclaman verdad, justicia y reparación. En el año 2010 hubo 10 masacres en Córdoba, una de ellas en Montería, a escasas calles de la Casa de Justicia72. Este viene a ser un escenario que hace de esta ciudad un campo estratégico para generar diversas tendencias en cuanto al conflicto que resurge con los grupos ilegales los cuales son vistos en gran medida por la ciudadanía como aliados del poder, en sus órdenes, local y regional principalmente. Puesto que así lo han demostrado en la práctica los organismos de justicia que en sus investigaciones ponen al descubierto el enlace que estos mantienen con algunos miembros de grupos políticos y de otras instituciones. Lo que crea además un ambiente psicosocial tensionante, que impulsa al ciudadano a tener las puertas de las casas cerradas, aislados de sus relaciones cotidianas y mediados por constantes como; Inseguridad, Desprotección e Incertidumbre; las cuales se afianzan por medio de prácticas sociales y legitiman el oscuro ambiente que se evidencia en el día a día de las calles y de los vecindarios marginales y los céntricos. Los cuales aún permanecen bajo amenaza constante. 72 Observatorio Internacional DDR, Ley de Justicia y Paz en Colombia (2011), Cuarto Informe (Septiembre), Centro Internacional de Toledo para la Paz, p113 195 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Bajo esta mirada, pululan entonces novedosas ideas acerca de lo que la seguridad representa en un territorio como el Departamento de Córdoba y específicamente en el municipio de Montería que entre otras cosas es epicentro de las llamadas Bandas criminales, no solo por su posición geoestratégica sino además por el silencio que la embarga como ciudad intermedia que es, pues en la escala de las grandes ciudades de Colombia esta es la que no reviste gran relevancia por cuanto se le ha estigmatizado hasta el punto de tener una imagen despectiva que ha abierto confrontaciones y debates no solo de tipo académico, sino también de tipo económico, político y social, con el centro del país. Debido a que en el marco de lo que ha venido siendo la política de seguridad, esta ciudad no es un referente muy fácil de discutir y de consensuar. Aunque exista en los últimos años un despliegue de transformaciones urbanísticas que le otorgan belleza y le dan un atractivo turístico, sigue en el ojo del Huracán, por sus numerosas deficiencias en el ámbito público y por el terrible manto de duda que ensombrece la estructura social y política. Al quedar demostrado el grave nexo entre estos grupos ilegales, la política local y el ámbito privado, donde con el apoyo de prominentes y probos negocios de índole legal e ilegal se da sin prejuicio alguno una gran movilidad de recursos que nunca van a ser sometidos a criterios Judiciales, por venir marcados por una tradición que los ampara frente a cualquier cuestionamiento que se pueda abrir en contra de las actividades realizadas. En este sentido la marca distintiva de la ilegalidad está girando por diferentes canales de difusión, donde ellos tienen sus tentáculos. Se puede pensar en Organizaciones de orden económico, Cooperativas, Asociaciones Productivas, entre otras que funcionan como eslabones articulados a las redes de negocios que surgen como fachadas de estos grupos al margen de la ley. 196 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Por eso cuando se afirma categóricamente que se está al borde de la terminación del conflicto armado colombiano, hay que echar una mirada a las regiones y ser perspicaz para captar los nuevos signos que se emiten en cada una de ellas. Referencias Bibliográficas CAILLOIS, Roger, La cuesta de la guerra, Fondo de Cultura Económica, México, 1975 GARCIA DURAN, Mauricio. 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Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens 13) AUTOR: Liliane Fernandes Cordeiro Gomes PONENCIA: Diferentes frentes de atuação no campo social da Diocese Teixeira de Freitas/Caravelas no Extremo sul da Bahia – 1962/ 1985 INSTITUCION: Universidade do Estado da Bahia PAÍS: Brasil MAIL: [email protected] Introdução Até o ano de 1962 a região do Extremo Sul da Bahia integrava a diocese de Ilhéus. Essa composição dificultava a atuação da Igreja Católica na região posto que, não bastasse a distância existente, havia ainda a dificuldade de locomoção por parte dos sacerdotes em razão da má qualidade das estradas. Carta escrita no ano de 1942, pelo então bispo da diocese de Ilhéus, Dom Benedito Zorzi, dava ciência desta situação aos superiores da instituição. Atendendo aos apelos que começaram em 1942 e tiveram continuidade nos anos subsequentes, o Papa João XXIII através da Bula Apostólica Omnium Ecclesiarum73 de vinte e um de julho de 1962 erigiu uma nova diocese, à época denominada diocese de Caravelas. Na revista Santa Cruz – notícias da província da S. Cruz no Brasil de 1963 a criação da diocese e nomeação do seu primeiro bispo é assim apresentada No dia 3 de maio foi divulgado pelo rádio que a Sua Santidade o Papa João XXIII se dignou nomear o nosso confrade, o R. P. Frei Filipe Broers, como primeiro Bispo de Caravelas. Com imensa satisfação foi recebida essa notícia. [...] A nova diocese de Caravelas [...] tem uma superfície de 26.924 Km2(sic) com uma população de 270.000 habitantes aproximadamente. O território da nova diocese, desmembrada integralmente da diocese de 73 Arquivo da diocese Teixeira de Freitas/Caravelas. 198 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Ilhéus, é constituído dos seguintes municípios civis: Santa Cruz Cabrália, Pôrto (sic) Seguro, Prado, Alcobaça, Caravelas, Mucuri, Itanhém, Medeiros Neto.74 Essas informações dão conta da alegria e acolhimento da noticia, também é possível afirmar, a partir dos dados, o tamanho grandioso da diocese que então se formava. O escolhido para assumir o papel de primeiro bispo foi o frade Felipe Tiago Broers, que à época era Vigário da Paróquia Nossa Senhora de Fátima na cidade mineira de Teófilo Otoni (HOOIJ, 2011). No decreto de execução da Bula Omnium Ecclesiarum esclarecia-se que a sede seria Caravelas e que o Bispo ali deveria residir e constituir a Cátedra do seu ministério no templo de Santo Antônio de Pádua existente na cidade. Ainda naquilo que diz respeito à ideia de acolhimento por parte da população a respeito da decisão papal de erigir em Caravelas uma diocese podemos, a partir de documentos produzidos no bojo das relações de sociabilidades cotidianas (LE GOFF, Jacques. 2003), perceber como aquela comunidade se organizou para assumir a condição de sede da diocese. Um documento que diz deste momento é um livro de ouro75, datado de 15 de junho de 1962, prefaciado pelo frei Oto O.F.M.76 e apresentado à comunidade de Caravelas com o intento de [...] oferecer-lhes a oportunidade de contribuírem com o seu valioso auxílio para a construção da residência e a fundação do novo Bispado de Caravelas, que será um verdadeiro engrandecimento da sua terra natal. Que Deus lhe pague!77 74 Revista Santa Cruz – notícias da Província da Santa Cruz Ano XXVIII de abril-maio-junho de 1963 in TIMMERS, Olavo. Apontamentos históricos sobre a Diocese de Caravelas. Este livro que é composto a partir de recortes da Revista Santa Cruz encontra-se no arquivo da diocese Teixeira de Freitas/Caravelas. 75 Trata-se de um caderno com capa dura na cor vermelha que circulou na cidade de Caravelas no tempo que antecedeu a chegada de Dom Filipe Broers, O objetivo era obter recursos para ajudar na construção da residência episcopal Este tipo de prática é ainda na atualidade utilizado na região. Salienta-se que ser signatário deste tipo de livro era entendido como algo que indicava um status dentro da sociedade coeva. 76 O.F.M. significa Ordem dos Frades Menores. São Francisco instituiu três "Ordens". A OFM foi a primeira, seguida da Ordem das Clarissas e por último a Ordem Franciscana Secular. Todos franciscanos desta primeira Ordem, usam esta abreviatura na assinatura. 77 Arquivo da Diocese Teixeira de Freitas/Caravelas, Livro de ouro, caixa 17, maço 04. 199 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens A diocese nem bem nascera e já se apresentava à comunidade como uma instituição que careceria de seus esforços coletivos e individuais. Naquilo que diz respeito aos valores doados, o total auferido foi Cr$27.00078, ressaltamos que enquanto um único caravelense doou Cr$15.000,00 outros doaram Cr$50,00. O que indica o envolvimento de pessoas com diferentes posses no processo de contribuição para a construção da residência e fundação do novo bispado em Caravelas. Ao novo Bispo cabia uma série de desafios, muito maiores do que aqueles que estavam relacionados à construção de sua residência, estes diziam respeito a sua atuação em uma região que lhe era estranha, desconhecida. Portanto, a partir do momento de sua sagração foi necessário buscar elementos que lhe ajudasse a conhecer mais de perto as pessoas e necessidades dos lugares que integravam a diocese. Para contribuir no processo de atendimento desta demanda Broers procurou o CERIS79 e solicitou deste centro um estudo sócio econômico a respeito da área que compunha a diocese. A pesquisa foi organizada pelo padre G. J. Deelen à época diretor do departamento sócio-religioso do CERIS. A mesma aponta uma série de informações, aqui sinalizaremos aquelas que nos pareceram relevantes para a construção deste artigo. Naquilo que diz respeito ao estabelecimento de fronteiras da nova diocese fica explicito que há uma total coincidência com a zona fisiográfica Extremo Sul, o que nos leva a depreender que este foi o critério utilizado no processo de demarcação das fronteiras. A economia da região é nominada como fundamentalmente dependente do setor primário. Ao traçar paralelo entre a situação da área da diocese e a existência de latifúndios no estado da Bahia a pesquisa afirma que na primeira há uma maior concentração deste tipo de propriedade (DEELEN, 1966: p. 52). Ainda naquilo que concerne à concentração de terras diz-se que 78 Ao ser efetuada a conversão da moeda para os dias atuais é possível afirmar que a quantia recebida à época não foi significativa, segundo conversão feita a partir do site do Banco Central em valores atuais a quantia corresponde a R$543,88. Entretanto este dado não desvaloriza o significado simbólico das doações realizadas. 79 Centro de Estatística Religiosa e Investigação Social, criado no ano de 1962. 200 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens O prestígio do fazendeiro não está na produção ou cultivo da terra, mas, muito mais, na posse da terra em grande quantidade. O aumento das áreas ocupadas entre 1950 e 1960 foi 14,4% para a Bahia e, na diocese de Caravelas, 25,7%. (DEELEN, 1966: p. 54) Em consonância com o processo de modernização conservadora do campo (SILVA, 1989), que expropriou uma parcela dos trabalhadores rurais, também na região do extremo sul da Bahia observa-se um cresceste incremento no processo de mecanização, desta forma registra-se que em 1950 havia apenas dois tratores na região da diocese, em 1960 este número havia saltado para 64, destes 58 estavam no município de Caravelas (DEELEN, 1966: p. 55) onde ficava a sede da recém criada diocese, o que nos leva a deduzir que aquele município cumpria papel político econômico relevante no cenário regional. Este dado, referente à concentração de maquinário em um só município, indica também uma concentração de produção. No corpo do texto há gráficos que tratam da produção da lavoura na região do extremo sul baiano. Nestes estão especificados diversos produtos entre os quais ocupa lugar de destaque o cacau, o côco, a mandioca, o feijão, a cana entre outros de menor relevo como o milho, a banana, o arroz, a laranja, a batata doce (DEELEN, 1966: p. 58). Há uma intrínseca relação entre a concentração fundiária e o incremento da pecuária. A pesquisa indica um crescimento significativo desta atividade. Entre os anos de 1950 e 1960, este foi da ordem de 267,3%. Em relação aos municípios de Caravelas, Lajedão e Ibirapuã esse número salta para a cifra de 651%, o que implica dizer que houve um crescimento de 49.000 cabeças em dez anos (DEELEN, 1966; p. 67). Naquilo que diz respeito à população os números percentuais, 82,4%, indicam uma preponderância da população rural na área que compunha a diocese de Caravelas na década de 1960 (DEELEN, 1966: p.92). Ainda nesta pesquisa faz-se referencia ao fato de que na região do extremo sul da Bahia “existe uma concentração, de dinheiro, de terras e gado e de poder político que prejudica a socialização dos bens” (DEELEN, 1966: p. 75). Também é registrado um 201 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens processo de mudança na estrutura agrária, decorrente de uma penetração de fazendeiros de gado, muitos deles oriundos do vizinho estado de Minas Gerais. Salienta-se que a pecuária necessitava de áreas muito grandes e uma quantidade diminuta de mão de obra. Além disso, o incremento da pecuária implicou uma diminuição da área para produção de alimentos. Nesta pesquisa assevera-se [...] nessa época de transição falta mais do que nunca uma proteção cooperativista de pequenos proprietários e uma proteção sindical dos lavradores e trabalhadores rurais. Individualmente eles não aguentam muito tempo a pressão dos criadores, para vender as terras (DEELEN, 1966: p.76) Foi neste contexto que a diocese de Caravelas, a partir das orientações de seu dirigente, passou a atuar. Diferentes projetos: enfrentamentos Em carta, datada de 22 de outubro de 1980, aberta ao povo, ao governador do Estado da Bahia80 e à imprensa Dom Filipe Broers em conjunto com a Câmara Eclesiástica de Caravelas denuncia situações de conflito de terras envolvendo posseiros e grileiros na região do Extremo sul da Bahia. No início do documento o autor faz referência a prisão ilegal de 37 lavradores por um período de 5 dias na cadeia de Itabatã. Esclarece que os lavradores e suas famílias, em razão de necessidades vitais “sentiram-se forçados a plantar suas roças em terras devolutas81”. Acentua também que alguns destes são posseiros de muitos anos desta área. A escrita da carta acentua o tom de indignação com a situação que ocorrera Estes trabalhadores foram presos enquanto trabalhavam juntos, fazendo roças e plantando feijão, mandioca, milho, etc. Nesta ocasião foram presas, também, 3 crianças que estavam trabalhando com seus pais. Foram presos todos sob muitas ameaças dos grileiros e policiais armados, insultando-os com palavrões, juntamente com o oficial da justiça. Pergunta-se: Um oficial de justiça tem o direito de fazer o papel de polícia? E os grileiros? Sempre armados e fazendo contínuas ameaças aos trabalhadores com que direito?82 80 Que a época era o senhor Antônio Carlos Magalhães, conhecido pela alcunha de ACM Arquivo da Diocese Teixeira de Freitas/Caravelas, caixa 33, maço 15. 82 Idem 81 202 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Após essas indagações Dom Filipe passa a descrever de forma minuciosa uma série de barbaridades cometidas para com os lavradores. Entre elas destacamos o fato de ficarem amontoados em cômodos pequenos e imundos, sem tomar banho, com fome e sede. Além disso, foram obrigados a assinar documentos sem saber o que estavam assinando. Um deles tinha queimaduras no corpo, pois “a polícia, o oficial de justiça e os grileiros o cercaram de fogo para prendê-lo, dizendo que assim caçavam o coelho83”. Nesta mesma carta outro acontecimento é denunciado e repudiado pelo Bispo. Trata-se de invasão feita à residência dos padres em Teixeira de Freitas no dia 7 de outubro do ano de 198084. Também ali esteve presente um oficial de justiça, grileiros e policiais armados de forma ostensiva. Dentro da residência obrigaram um animador85 das comunidades da Igreja a assinar declarações e acusações. Dom Filipe menciona que estes acontecimentos vinham ocorrendo de forma corriqueira na região do Extremo Sul da Bahia. Ainda naquilo que diz respeito às ações da polícia e autoridades, o bispo elabora a seguinte indagação: Se a área está em questão, como alegam as autoridades lá na roça, e por isso os posseiros não podem plantar, com que direito o fazendeiro pode expulsar os posseiros, destruir suas roças por várias vezes, plantar o capim no mesmo lugar e tirar a madeira?86 Essa indagação revela o contexto macro de disputas de projetos antagônicos na região. De um lado havia a produção de subsistência realizada por posseiros a partir de uma organização pautada na economia familiar em que todos trabalhavam, inclusive crianças filhos dos posseiros, conforme observado no trecho da carta supracitado. Do outro lado temos o desenvolvimento de um projeto alicerçado na existência de latifúndios, no caso específico 83 Idem Neste ano Teixeira de Freitas ainda não havia se emancipado. Parte da cidade integrava o município de Caravelas e parte pertencia ao município de Alcobaça. 85 Está assim denominado no texto da carta. 86 Arquivo da Diocese Teixeira de Freitas/Caravelas, caixa 33, maço 15. 84 203 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens voltado para a produção da pecuária e exploração de madeiras que no inicio dos anos 80 ainda se faziam ver com fartura na região. O fato de ter ocorrido uma invasão orquestrada pela fusão do poder público e privado a uma residência de membros do clero indica que tais poderes reconheciam a atuação da igreja católica na região como algo que incomodava e devia ser cerceado, contido, reprimido. É importante lembrar que no ano de 1980 estávamos vivenciando o regime político de ditadura militar e pelo descrito no documento analisado é possível afirmar que esta conjuntura fazia-se presente no cotidiano da vida das pessoas da diocese de Caravelas à medida que a violência, a truculência e o abuso de poder invadiam os espaços de trabalho, de sociabilidade e de aconchego do lar. Além das ações de denúncia e repúdio público, documentos produzidos na década de 1980 indicam o posicionamento da Igreja Católica em relação à problemática da terra no Extremo Sul da Bahia. Em documento intitulado “Manifesto ao Povo” e veiculado através do Boletim Diocesano divulgou-se aquilo que foi definido na XXª Assembleia Geral do Regional Nordeste III87 da CNBB88 ocorrida de 08 a 11 de novembro de 1982 em Salvador, como Diretrizes Pastorais para o triênio89 1983-1985. Entre essas diretrizes aqui destacamos as seguintes: [...] 2) Damos nosso apoio aos índios Pataxó-Hã-Hã-Hãe da área indígena ParaguaçuCaramuru que estão lutando para recuperar suas terras. Apesar de a FUNAI90 manter a legalidade desta reserva indígena, as terras estão nas mãos dos fazendeiros da região. Nossa solidariedade especial ao grupo de índios que insistem em permanecer lá, enquanto a FUNAI tenta transferi-los para as terras da Fazenda Almada, inadequada para sua subsistência. Aos missionários do CIMI91 que trabalham na área e que foram detidos por defenderem esses mesmos índios, todo o nosso apreço. 87 A Regional Nordeste III era então composta pelos Bispos, padres, religiosos e leigos dos Estado da Bahia e Sergipe. 88 Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. 89 O texto deste documento explicita que foram mantidas e aprimoradas as Diretrizes do triênio anterior, ou seja, 1980-1982. 90 Fundação Nacional do Índio. 91 Conselho Indigenista Missionário. 204 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens 3) Estão recrudescendo em nossos Estados conflitos por motivos fundiários: continuam as expulsões de posseiros de terras por eles ocupadas e nestes últimos dois meses ocorreram quatro assassinatos de lavradores. Poucas tentativas de solução tiveram conclusão satisfatória e final. A impunidade de grileiros e seus pistoleiros aumenta o clima de insegurança social no meio rural. Como já fizemos em outras oportunidades, reafirmamos nossa posição em favor de uma Reforma Agrária, urgente e participação dos lavradores, como a única solução possível para o problema da terra. Para tanto só falta uma decisão política. (grifo nosso)92 Nas entrelinhas do documento está expressa a defesa, por parte de instituições governamentais, de projetos de desenvolvimento que não levam em conta que “[...] a economia do homem, como regra, está submersa em suas relações sociais.” ((POLANYI, 2000: p.65) posto que a função econômica da terra é uma das existentes, não a única conforme afirma Motta [...] enquanto construção histórica, a terra se liga às relações de parentesco, vizinhança, profissão e credo. Ela é isso e muito mais. Sua função econômica é uma entre muitas outras. Ela é o local de sua moradia, é a visualização de sua paisagem, é também uma segurança física. (MOTTA, 2009: p. 265) Por seu turno, os Pataxó-Hã-Hã-Hãe ao não aceitarem se mudar para a Fazenda Almada davam indícios de experienciar o significado daquilo teorizado por Motta. Também é possível afirmar, a partir deste documento que, apesar da divisão da diocese, feita no ano de 1962, havia por parte da Igreja um direcionamento que indicava seu posicionamento frente à existência de problemas não pontuais e que também não eram particularidades de uma ou outra diocese, conforme trechos em negrito. Referimo-nos aqui a problemática da terra no Brasil e mais precisamente no Estado da Bahia. Ainda de acordo com as Diretrizes Pastorais 1983-1985 da Regional Nordeste III no já citado Boletim Diocesano constam as seguintes resoluções: 92 Boletim Diocesano – Diocese de Caravelas – Bahia, Ano 3, nº 14, nov/dez de 1982, pp. 2-3. Arquivo da diocese Teixeira de Freitas/Caravelas, caixa 75, maço 03. 205 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens [...] 4. Dar continuidade à pastoral Rural, apoiar a COMISSÃO DA PASTORAL DA TERRA (CPT), o MOVIMENTO DE ANIMAÇÃO DOS CRISTÃOS NO MEIO RURAL – (ACR) e outros organismos de ajuda aos camponeses e, participar de seus anseios e esforços pela implantação de uma autêntica reforma agrária. 5. Dar continuidade ao trabalho de educação política e desenvolver uma pastoral popular que promova a organização do povo, visando a conquista dos seus direitos e justas reivindicações, dando prioridade aos grupos mais marginalizados. 6. Promover a pastoral dos operários, dos pescadores e dos demais grupos específicos. [...] 93 Naquilo que diz respeito às estratégias de atuação dos integrantes da diocese para colocarem em prática essas resoluções há registros no Boletim diocesano94 de que em sendo grande o número de analfabetos na região era necessário incrementar o uso de audiovisuais objetivando que um maior número de pessoas pudesse compreender as mensagens da mesma. Também se faz alusão ao incremento da ação de produção de filmes95 a partir da realidade da diocese para serem utilizados junto às comunidades. Outro ponto relevante diz respeito ao espaço existente no boletim diocesano para a divulgação de outras vozes, como foi o caso da publicação de artigo produzido pelo jornal Porantim acerca da luta indígena dos Pataxó-Hã-Hã-Hãe pela terra [...] A transferência ilegal dos Pataxó-Hã-Hã-Hãe atuou como divisor de águas. Uniu de um lado a Igreja de Salvador, Ilhéus, Itabuna, a CNBB e o CIMI com as entidades que defendem a causa indígena: Anaí/BA, Pró-ìndio – SP, CTI e ABA.[...] Do outro lado do abismo ficaram os coronéis da FUNAI, aprendizes de um indigenismo primário[...]96 93 Boletim Diocesano – Diocese de Caravelas – Bahia, Ano 3, nº 14, nov/dez de 1982, p. 05. Arquivo da diocese Teixeira de Freitas/Caravelas, caixa 75, maço 03. 94 Boletim Diocesano – Diocese de Caravelas – Bahia, Ano 3, nº 14, nov/dez de 1982, p. 4. Arquivo da diocese Teixeira de Freitas/Caravelas, caixa 75, maço 03. 95 Estes filmes não foram localizados no Arquivo da Diocese Teixeira de Freitas/Caravelas e também não se observou nenhuma referência a estes nos boletins subseqüentes. 96 Boletim Diocesano – Diocese de Caravelas – Bahia, Ano 3, nº 14, nov/dez de 1982, p. 8. Arquivo da diocese Teixeira de Freitas/Caravelas, caixa 75, maço 03. 206 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Linguagens outras foram utilizadas pela diocese no intuito de delatar e refletir acerca daquilo que estava se processando no Brasil e na região. A poesia transcrita a seguir denuncia o processo de êxodo rural que se intensificava na vida da comunidade diocesana e fala, a partir de uma linguagem simples, de um processo complexo que envolveu a vida de milhares de pessoas. “Não havia lugar...” E hoje? O que se vê? O que se houve?... Na roça ou fazenda: “...comprei essa terra. Não quero mais morador aqui. ... aqui não pode criar e plantar mais nada. ... acabou o serviço. Está despedido. ... é proibido caçar, pescar, lavar e tirar pau de lenha. No comércio97: ... nesse cômodo cobro 5 mil. ... aqui não podem mais morar. ... procure outra escola ... o médico não veio?Volte amanhã.O remédio? Na farmácia..[...]98 Segundo Mello e Novais (1998) ocorreu uma intensificação crescente do êxodo rural nos anos 50, 60 e 70 do século XX. Os autores esclarecem que neste processo as pessoas 97 Aqui a expressão comércio refere-se a cidade. Boletim Diocesano Bahia, Ano 3, nº 14, nov/dez de 1982, Freitas/Caravelas, caixa 75, maço 03. 98 p. 10. Arquivo da diocese Teixeira de 207 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens migravam tanto para fronteiras distantes, as grandes cidades, quanto para a cidadezinha próxima. É plausível afirmar que após a abertura da BR 101 cidades do extremo sul baiano cortadas por essa via de comunicação passaram a atrair pessoas que, sem alternativa de permanecerem no campo, por exemplo, em razão daquilo que é apresentado na poesia, se vissem obrigadas a migrar para cidades próximas. Ali chegando passaram a viver a realidade do “não havia lugar” a partir de novos códigos, que envolviam aluguel de cômodos, mercantilização da saúde, enfim, tiveram suas vidas impactadas por elementos da sociabilidade moderna. Período de transição: transformações e permanências Em carta dirigida ao núncio apostólico D. Carmine Rocco residente em Brasília e datada de 01 de dezembro de 198199 Dom Filipe, atendendo à solicitação prévia de Rocco, faz um relatório da conjuntura da diocese. Ele organiza o mesmo de forma a descrever aquilo que lhe fora solicitado a partir dos seguintes tópicos/situações: eclesial, econômica, social, necessidades particulares, qualidade do novo pastor100. Naquilo que dizia respeito à situação eclesial, em linhas gerais, o bispo apresentava a composição em cada uma das residências paroquiais que integravam a diocese explicitando o número de sacerdotes, religiosas, leigos e voluntários que trabalhavam nas paróquias de Caravelas, Teixeira de Freitas, Posto da Mata, Ibirapoã e Lagedão, Medeiros Neto, Prado, Alcobaça, Itanhem, Itamarajú, Itabela, Guaratinga, Eunapólis e Porto Seguro. Pode-se afirmar que o número de pessoas responsáveis por atuar à frente da diocese era reduzido, ainda mais quando leva-se em conta a extensão da mesma, perfazendo um total de 08 sacerdotes 101 franciscanos, 02 sacerdotes MSC , 01 sacerdote secular da Diocese de Viena, 09 sacerdotes capuchinhos. Além disso, havia a atuação de 34 irmãs religiosas, 07 voluntários, 01 teólogo MSC, duas candidatas a religiosas, 02 leigos contratados, 01 leigo capuchinho seminarista e o 99 Carta de Dom Filipe dirigida ao núncio apostólico D. Carmine Rocco, fl. 01, dez. 1981. Arquivo diocese Teixeira de Freitas/Caravelas, caixa 80, maço 01. 100 Junto com a referida carta em que produziu o relatório da conjuntura da diocese de Caravelas, Dom Filipe Broers, que a esta época se encontrava doente, enviou carta de renúncia em documento anexo e endereçado ao Papa. 101 Missionários do Sagrado Coração. 208 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens próprio bispo 102 . Ainda segundo o texto da carta essas pessoas eram responsáveis por desenvolver diversos trabalhos dentre os quais aqueles relacionados com obras pastorais paroquiais e obras em setores sociais, ali identificadas como obras no setor da saúde e ensino, pastoral dos pescadores, escola e família agrícola. Em relação à situação econômica da diocese o relato inicia-se com a afirmação de que a mesma não devia nada. Neste tópico, além das residências paroquiais são listados lugares de ação social da diocese. Neste sentido o bispo informa a respeito da existência de um “hospital com 40 leitos que pertence a Diocese por um convênio. Tem uma casa para as irmãs, duas escolinhas com pôsto (sic) de saúde em anexo e um pôsto (sic) de saúde103.” Em seguida Dom Filipe sintetiza, a partir do seu olhar e de sua experiência de Bispo desde o ano de 1963, a situação social da região. Vejamos o que ele registrou naquela correspondência: A região ficou muito tempo em atraso e fechada, mas se abriu com a chegada da B.R. 101. O povo em geral é pobre e pouco instruído. Tem grandes problemas de terra como também com os índios. Há muita influência do espiritismo e macumba e o protestantismo está se infiltrando cada vez mais. 104 Essas informações deixam claro o lugar de onde o autor fala, ele é o bispo da diocese e, portanto tem preocupações com a efervescência de outros credos na região. Talvez por este motivo, no tópico em que apresenta as necessidades particulares, Dom Filipe ressalte como imperativo a renovação e substituição de uma parte do clero, pois, ainda segundo ele, 03 padres franciscanos e 03 capuchinhos já tinham idade bem avançada e deixavam a maior parte dos serviços paroquiais aos mais novos que, por sua vez, estavam sobrecarregados. Ainda a respeito desta questão Hooij (2011) afirma que a nova diocese travou uma espécie de guerra santa e, objetivando “neutralizar a influência dos pastores protestantes” (HOOIJ, 2011: p. 37) criou ginásios em Medeiros Neto, Ibirapoã, Lajedão e por último em Teixeira de Freitas. Quanto aos problemas de terra, já adjetivados como grandes neste trecho da carta 102 Carta de Dom Filipe dirigida ao núncio apostólico D. Carmine Rocco, fl. 01, dez. 1981. Arquivo diocese Teixeira de Freitas/Caravelas, caixa 80, maço 01. 103 Estas construções eram localizadas na cidade de Caravelas. Carta de Dom Filipe dirigida ao núncio apostólico D. Carmine Rocco, fl. 02, dez. 1981 . Arquivo diocese Teixeira de Freitas/Caravelas, caixa 80, maço 01. 104 Idem. 209 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens supracitado, estes ganham um lugar de destaque ainda maior quando o bispo nomeia quais as qualidades do novo pastor, ou seja, daquele que viria a ser escolhido pelo Papa para assumir o comando da diocese. Ouçamos o que nos diz o referido documento [...] que seja de preferência um novo e forte quanto a saúde, que seja um brasileiro e um religioso que tem possibilidade de atrair mais confrades. [...] Deve ser uma pessoa que sabe lidar com pessoas simples e que ao mesmo tempo tem fibra para enfrentar os mais “graúdos”. Deve ser um defensor dos direitos dos índios e das pessoas e famílias injustiçadas principalmente a respeito dos problemas da terra. Ele deve aceitar e se conformar com as estradas péssimas e com a situação em que a maior parte do povo vive; não pode ser exigente quanto ao confôrto (sic) nas viagens pastorais. [...] O novo bispo deve residir em Teixeira de Freitas onde tem o ponto central dos trabalhos diocesanos (Caravelas ficou no fim da linha)105. [..] Excia Revma, peço muito que a aceitação da minha renúncia coincide (sic) com a nomeação do novo pastor. Pois se houver um intervalo da vacância eu não teria a tranquilidade que desejo e preciso, Deus permita que possa ser assim. [...]106 Este documento constitui-se uma espécie de síntese daquilo que foi realizado enquanto Dom Felipe Broers esteve à frente da diocese e também quais eram as necessidades da mesma nos tempos subsequentes, tempo este em que ele, Dom Filipe, não mais estaria atuando na condição de bispo, posto que, em razão de saúde debilitada e idade avançada havia solicitado afastamento do cargo. Somente em 1983 foi enviada a Dom Filipe carta reservada pessoal, sob segredo pontifício, na qual o Núncio Apostólico Dom Carlo Furno comunicava que o Papa João Paulo II havia aceito o seu pedido de renúncia e designado como seu sucessor o Exmo. Sr. Dom 105 A partir a implantação da BR 101, em 1972, passou a ocorrer um crescimento econômico e populacional de Teixeira de Freitas em detrimento de Caravelas que após a desativação da Estrada de Ferro Bahia e Minas, em 1966, começou a viver um período de decadência econômica e populacional. Na década de 1980 os resultados destes processos se faziam visíveis e foi explicitado por Dom Filipe. 106 Carta de Dom Filipe dirigida ao núncio apostólico D. Carmine Rocco, fls. 02-03, dez. 1981. Arquivo diocese Teixeira de Freitas/Caravelas, caixa 80, maço 01. 210 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Antônio Elizeu Zuqueto 107 . Também neste documento, Dom Furno dá ciência ao então bispo Dom Filipe Broers de que o Papa havia transferido a sede da Diocese para a cidade de Teixeira de Freitas108. Ainda segundo esta carta as providências ali explicitadas seriam publicadas oficialmente no “L’Osservatore Romano” no dia 27 de abril do corrente ano, às 12 horas de Roma, 7 horas de Brasília, “devendo até esta data e hora ficar protegidas pelo segredo pontifício”109. Naquele mesmo ano um documento dá indícios de que a situação envolvendo conflitos de terra na região do extremo sul baiano se faria presente durante o exercício do novo bispo Dom Antônio Zuqueto. Vejamos o que diz um dos textos que compõem um Boletim diocesano de 1983 3. A reforma agrária: um pedido urgente do papa joão paulo ii na sua visita ao brasil Dia 20 de novembro tivemos em Teixeira de Freitas uma grande concentração da qual participaram mais de 3.000 agricultores que vieram de todo o Sul da BAHIA. Apesar da ostentação de armas e bombas por parte da polícia houve dignidade, calma e equilíbrio por parte dos participantes. No meio de muitos outros oradores as palavras de Dom Filipe nos deram ânimo e coragem. Tudo isso porque o assunto tratado é nobre e urgente: REFORMA AGRÁRIA Da sua carta de despedida110 como bispo diocesano, datada de 8 de dezembro de 1983 Dom Filipe escreveu: “Lembro-me de modo especial daqueles posseiros e 107 Carta timbrada da nunciatura apostólica no Brasil, Nº 0732 assinada por Dom Carlo Furno em 18 de abril de 1983 e endereçada a Dom Filipe Tiago Broers. Arquivo diocese Teixeira de Freitas/Caravelas, caixa 80, maço 01. 108 O município de Teixeira de Freitas só foi criado sob a lei 4452 de 09 de maio de 1985, seu território foi desmembrado de Alcobaça e Caravelas. 109 Carta timbrada da nunciatura apostólica no Brasil, Nº 0732 assinada por Dom Carlo Furno em 18 de abril de 1983 e endereçada a Dom Filipe Tiago Broers. Arquivo diocese Teixeira de Freitas/Caravelas, caixa 80, maço 01. 110 Aqui se faz referência não a carta de renúncia enviada ao Papa, mas sim a carta em que Dom Filipe se dirige ao seu rebanho despedindo-se da condição de bispo/pastor do mesmo. 211 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens trabalhadores, que foram vítimas de uma injustiça, que clama ao céu por vingança. Fizemos tudo o que foi ao nosso alcance, mas foi uma luta desigual... Isso foi uma grande decepção... A luta portanto continua.” Nós queremos continuar o apelo dos trabalhadores: nós precisamos da reforma agrária. 111 Pode-se deduzir que o clima na região era de tensão e que os acirramentos de luta pela terra ganhavam as ruas, as praças. Por outro lado é possível afirmar que havia por parte de integrantes dos movimentos sociais uma relação de proximidade com os membros da diocese em questão. O documento intitulado “Carta aberta ao povo, ao governador e à imprensa” assinado pelo então Bispo Dom Filipe ainda se fazia ecoar na memória daqueles que lutavam pela reforma agrária e era memorado como fonte de ânimo e coragem em uma luta, sabidamente reconhecida como entre desiguais. Também no período de atuação do Bispo Dom Zuqueto uma notícia veiculada no Informativo da Diocese Teixeira de Freitas/ Caravelas112 datado de 15 de agosto de 1984 sugere o significado simbólico e as relações entre ações sociais e a instituição igreja católica. Trata-se de uma denúncia acerca de algo que acontecera em Itabatan, município de Mucuri em que “o japonês Ricardo fez uma represa pegada com o comércio113, no Córrego da Água Boa. Essa represa prejudicou a todo pessoal que morava na beira deste Córrego.114” A construção desta represa contou com apoio de um vereador identificado no texto apenas pelo nome Olício. Uma pessoa prejudicada recorreu ao vereador, este levou o problema para o japonês Ricardo que ficou de “soltar a água”, mas não o fez. Outra pessoa levou o problema para a então prefeita Marieta Azevedo Gazinele. Assim como acontecera antes, promessas de solução foram empenhadas, mas não foram executadas. A comunidade então, a partir de 111 Boletim Diocesano – Diocese de Caravelas – Bahia, Ano 4, nº 17, nov./dez. 83, p. 11. Arquivo da diocese Teixeira de Freitas/Caravelas, caixa 75, maço 02. 112 Essa passou a ser a denominação da diocese após a transferência da sede para Teixeira de Freitas. Aqui o vocábulo é utilizado como sinônimo de cidade, vilarejo. 114 Informativo da Diocese Teixeira de Freitas/ Caravelas, 15 de agosto de 1984 p. 02. Arquivo da diocese Teixeira de Freitas/Caravelas, caixa 75, maço 02. 113 212 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens orientações do Sindicato Rural, organizou um abaixo assinado com 88 assinaturas e entregou à prefeita. Ela pediu o prazo de oito dias para resolver a questão. O prazo esgotou. Então o pessoal se reuniu e foi na reza da Igreja. Quando terminou a reza, o povo fez um mutirão e seguiu a fila pela rua afora. Todos levavam enxada, enxadão, etc... Eram homens, meninos, mulheres, até algumas esperando bebê. Chegaram na represa e quebraram. E ela está quebrada.115 Essa descrição quase assume um tom cinematográfico no qual podemos ver a cena/ação dos sujeitos se desenrolando com força e vitalidade no intuito de por um ponto final aquilo que, em razão de uma arbitrariedade consumada com o apoio de representantes do legislativo e executivo local, incomodara e alterara a dinâmica da vida de pessoas daquela comunidade. Nesta ação é possível perceber imbricamentos entre a ação social coletiva e o espaço do sagrado, da reza. Foi na Igreja que as pessoas se reuniram, ao que tudo indica foi também ali que estabeleceram as estratégias da ação em diálogo com orientações do Sindicato Rural. Por outro lado é possível inferir que membros da comunidade católica local, que não participaram da reza e do mutirão e que também não tiveram espaço para colocar sua leitura do acontecimento no Boletim informativo, tivessem outros posicionamentos, talvez inclusive defendendo a permanência da barragem. Essa reflexão está aqui colocada no intuito de explicitar que se entende a atuação da diocese nos espaços sociais como algo que se desenvolvesse em um terreno complexo e eivado de conflitos, inclusive entre membros do próprio clero e comunidade diocesana. Também no informativo de 28/04/1985 há registros de outros espaços das igrejas que integrava a diocese como lugar de acolhida para ações dos movimentos sociais: A voz dos trabalhadores urbanos 115 Idem 213 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Aconteceu no dia 27 de janeiro um fato muito importante para nós. Após 4 anos de trabalho, de lutas, de altos e baixos, conseguimos a fundação da “Associação dos trabalhadores da Construção Civil, Mobiliária e Conexos”, de Alcobaça, Teixeira de Freitas e Caravelas. Foi um ato fundamental na nossa história. A Assembléia (sic) realizou-se no Centro comunitário com mais de 150 pessoas presentes.116 Ora o fato da assembleia para formação desta associação ter ocorrido em um espaço físico pertencente à diocese e deste mesmo fato ser divulgado no informativo da mesma é um claro indicio da existência de laços pautados em relações de confiança, credibilidade e parceria na construção e incremento de lutas e ações sociais. O informativo diocesano também veiculava textos que cumpriam o duplo papel de informar e convidar os integrantes da comunidade diocesana a refletirem sobre a sua atuação frente às mudanças que se apresentavam na região. É o que se pode observar na matéria intitulada “Não as usinas de álcool” veiculada no informativo de 23/02/85 No dia 27 de janeiro, em Alcobaça, mais de duas mil pessoas se concentraram à beira do Porto, para protestar contra a instalação de usinas de álcool na região. Mais de 15 barcos de pescadores desfilaram com faixas e cartazes defendendo seu grande rio, seu grande mar de onde tiram o sustento para sua família.[...] Representantes de entidades como: Sindicatos de Trabalhadores Rurais, Colônia de Pescadores, Grupo de Jovens, Comissão dos Direitos Humanos se pronunciaram não só contra a poluição, como também contra a concentração de terra e da renda e contra a monocultura. [...] As cidades vizinhas enviaram representantes pois a luta é regional. Precisamos continuar unidos: todos somos responsáveis na defesa da vida que está ameaçada. Sua comunidade já se reuniu? Pensou sobre o assunto? Que vão fazer? 117 116 Informativo Diocese Teixeira de Freitas/Caravelas, ano 1, nº 9, 28/04/1985, p. 02 Arquivo da Diocese Teixeira de Freitas/Caravelas, caixa 75, maço 02. O ano 1 é em razão do fato de que agora a denominação não era mais Diocese de Caravelas mas sim Diocese Teixeira de Freitas – Caravelas. 117 Informativo Diocese Teixeira de Freitas – Caravelas, ano 1, nº 8, p. 01, 23-02-85. Arquivo da Diocese Teixeira de Freitas/Caravelas, caixa 75, maço 02. 214 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens O bispo desta época, Dom Zuqueto, também assinou textos no informativo diocesano se posicionando em relação aos diferentes projetos para com a terra. Em matéria intitulada “Dois assuntos principais terra de Deus terra de irmãos118” ele afirma [...] Uns querem ocupá-las em grandes dimensões, sem o devido e justo trato. A idéia (sic) é possuir e não trabalhar, produzir honestamente. Outros fazem da terra uma devastação, um deserto com a destruição das matas, animais e pássaros (sic). O que sobra é queimado pelo fogo e arrasado pelos agrotóxicos que envenenam os rios. 119 Essa era uma voz oficial que corroborava com aquilo que na memória dos diocesanos estava associado aos discursos do primeiro bispo Dom Filipe Broers. Considerações O término deste artigo aponta para a constatação de que os projetos associados à modernização conservadora do campo com suas defesas intrínsecas de concentração de terras, monocultivos e transformação da terra em mercadoria foram vitoriosos também no extremo sul da Bahia apesar das resistências e enfrentamentos ali postos por indivíduos e instituições. A vitória deste projeto esteve associada à época, e ainda hoje o é, à ideia de progresso para a região. Entretanto, propõem-se aqui um questionamento a partir de um paralelo com aquilo que Karl Polanyi indagou ao analisar o processo denominado cercamento na Inglaterra. Nas palavras do autor Por que a vitória final de uma tendência deve ser tomada como prova de ineficácia dos esforços para diminuir o ritmo do seu progresso? E por que o propósito dessas medidas não pode ser visto precisamente naquilo que elas alcançaram, i. e. , a diminuição do ritmo da mudança? Aquilo que é ineficaz para parar uma linha de desenvolvimento não é, por isto mesmo, totalmente ineficaz. (POLANYI, 2000: p. 55) 118 Informativo Diocese Teixeira de Freitas- Caravelas – Ano I, nº 12, 26/03/86. Apesar deste informativo ter sido editado em período posterior ao recorte temporal do presente artigo avaliou-se que o mesmo era pertinente para a abordagem feita. Arquivo da Diocese Teixeira de Freitas/Caravelas, caixa 75, maço 02. 119 Informativo Diocese Teixeira de Freitas- Caravelas – Ano I, nº 12, 26/03/86, p. 01. Arquivo da Diocese Teixeira de Freitas/Caravelas, caixa 75, maço 02. 215 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens A partir desta provocação é possível afirmar que, apesar das ações da diocese de Teixeira de Freitas/Caravelas no campo social não terem sido vitoriosas, principalmente naquilo que diz respeito à relação com a propriedade da terra, posto não ter conseguido, junto a outros agentes de luta, a implementação de uma reforma agrária que assegurasse a distribuição de terra e levasse em conta não apenas a dimensão econômica da mesma, elas cumpriram papel importante na construção da história da região e, se não conseguiram obstacularizar o processo de desenvolvimento do modelo monocultor, constituíram-se em vetor de divulgação de diversas vozes que denunciavam as mazelas deste projeto, ao tempo em que, minimamente conseguiam diminuir o seu ritmo. Outro aspecto a ser apresentado diz respeito ao papel simbólico da Igreja Católica no espaço de atuação da Diocese analisada como uma instituição de acolhimento daqueles que vivenciavam situações de perseguição e mazelas sociais. Tal afirmação não implica dizer que essa atuação deu-se de forma harmônica, sem espaço para hesitações, recuos e até mesmo acordos com defensores dos projetos que se opunham àqueles segmentos, entretanto, a partir dos documentos analisados é possível afirmar que no período em questão, 1962/1985, houve uma sinalização por parte daqueles que ocuparam o maior cargo regional na composição da diocese no sentido de ouvirem os clamores de integrantes de sua comunidade diocesana. Referência DEELEN, G.J. Estudos sócio-religiosos – Diocese de Caravelas –Bahia. Vol 1. Centro de Estatística Religiosas e Investigações Sociais. Rio de Janeiro: GB, 1966. HOOIJ, Elias. Os “Desbravadores” do extremo sul da Bahia: história da presença franciscana nessa região – raízes e frutos. Belo Horizonte: Província Santa Cruz, 2011. LE GOFF, Jacques. História e memória. Tradução de Bernardo Leitão ...[et al]. 5ª Ed. Campinas, São Paulo: Editora UNICAMP, 2003. 216 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens MELLO, João Manuel Cardoso de, NOVAIS, Fernando A. Capitalismo tardio e sociabilidade moderna in SCHWARCZ, Lilia Moritz (org.) História da vida privada no Brasil: Contrastes da intimidade contemporânea. Vol 4., 5ª reimpressão. São Paulo: Cia da Letras, 1998. MOTTA, Márcia Maria Menendes. Direito à terra no Brasil – a gestação do conflito 1795-1824. São Paulo: Alameda, 2009. POLANYI, Karl. A grande transformação – as origens da nossa época; Tradução de Fanny Wrobel. 2 ed. 12ª reimpressão. Rio de Janeiro: Elsevier, 2000. SILVA, José Graziano da. Terra para quem nela não trabalha. Portal da Fundação Perseu Abramo. Debate Programa par o Campo nº 7, 1989. www2.fpa.org.br. Acesso em outubro 2012. Arquivo Arquivo da Diocese Teixeira de Freitas/Caravelas. Cúria Diocesana, Rua Marechal Eurico Gaspar Dutra, nº 38, bairro São Pedro, Teixeira de Freitas – Bahia. 14) AUTOR: Lisandro Rodriguez PONENCIA: Acción Colectiva y desregulación yerbatera. Misiones (1999) INSTITUCION: Becario AVG CONICET/CEAR- UNQ PAÍS: Argentina MAIL: [email protected] Planteo del Problema La actual provincia fronteriza de Misiones, ubicada al nordeste de la República 217 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Argentina, formó parte de varias experiencias históricas singulares, que plasmaron un territorio muy diverso: la etapa guaraní (de pueblos originarios), la etapa jesuítica (16081768), la anexión territorial a la Provincia de Corrientes (1831- 1881), la federalización en Territorio Nacional (1881- 1953), hasta arribar a la etapa provincial (1953 a la actualidad). Además, fue disputada por distintas fuerzas estatales en pugna, demostrando tanto su importancia geopolítica como económica en el escenario nacional. Estas experiencias conformaron un territorio heterogéneo en su organización económico- social, que muchas veces escapó a fronteras físicas o políticas, construyendo un espacio en constante dinamismo. Misiones forma parte de una región cuya inserción en la economía nacional se relaciona con la explotación de sus recursos naturales y la ausencia de una fuerte burguesía local allí radicada. La agricultura forma parte de esta actividad central, donde se destaca el cultivo de la yerba mate, que junto al tabaco forman parte de los productos principales que dan sustento a actividades socioeconómicas. Los productores agrícolas misioneros generan en sus unidades productivas estrategias de organización que en términos teóricos nos permiten analizar su reproducción social. La acción colectiva y la organización cooperativista forman parte de estas estrategias organizativas. El presente trabajo tiene como objetivo central analizar desde un enfoque territorial en tanto construcción social del espacio, la acción colectiva de los actores sociales que -a modo de ejemplo- se organizan en la cooperativa de Productores Yerbateros de Jardín América Misiones (actas, memorias y balances son las fuentes para este análisis, junto a las entrevistas a cooperativistas). Desde este estudio de caso se pretenderán reconocer los factores económicos, políticos y sociales que condujeron a la diversificación productiva en un contexto de desregulación. Interpretar el accionar cooperativo y asociativo, como variables en el proceso de desarrollo agrario misionero y como expresión de la acción colectiva son también parte de los objetivos de esta investigación histórica. La región yerbatera y el surgimiento de las cooperativas 218 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens La actividad yerbatera de la Argentina se concentra en la provincia de Misiones y marginalmente en la provincia de Corrientes; en términos geográficos -delimitada por el propio Estado nacional- corresponden a la región NEA (Nordeste argentino). En términos históricos el comercio de la yerba mate registra antecedentes que se remontan al periodo previo a la llegada de los jesuitas, es decir cuando los límites actuales de la provincia aún no se presentaban como tales, “Desde 1538 fúndase en las cuencas de los ríos Paraná, Paraguay y Uruguay, pequeñas colonias para su obtención y exportación, siendo, durante muchos años, la provincia del Guayrá el principal centro de abastecimiento” (Dumas 1930). A medida que transcurrían los años y el comercio de la yerba se tornaba más rentable, las incursiones a la selva para “descubrir” nuevas plantaciones fueron más frecuentes, como así también el negocio en torno a la misma, que aprovechó la mano de obra indígena y criolla de la región ante las pocas medidas tomadas por el Estado frente a dicha situación. Se teje sobre estas bases una relación desigual donde los cosecheros eran reclutados por un sistema de “enganche” denominado conchabo, mediante el cual se buscaba endeudarlo para (luego de la firma del “contrato”) reducirlos a las voluntades de las compañías (Bialet Massé 2010. Volumen II). El accionar del Estado en estos territorios de manifestó en varias medidas, siendo la incorporación como Territorio Nacional de Misiones en 1881120 uno de los actos más destacados (Cárcano 1972). El espacio definido como “Territorio Nacional”, representaba una organización política y económica caracterizada por la heterogeneidad, una desigualdad 120 La importancia de los Territorios Nacionales para el Ejecutivo Nacional se puede percibir en discursos oficiales, como por ejemplo el del Presidente de Agustín P. Justo quien manifestaba: “el progreso de los territorios, mediante la leal política de las normas de gobierno y la seguridad y mejoramiento de las condiciones de vida de sus habitantes ha constituido una constante preocupación del Poder Ejecutivo”. Más adelante en el mismo documento se aprecia “… el Ministerio del Interior adoptó, en una oportunidad, las medidas tendientes a depurar la organización policial de los territorios, aumentando, asimismo, sus efectivos” (Agustín P. Justo: Momento Político 1937). 219 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens económica notoria (periferia) y una ciudadanía limitada. Enmarcada en el contexto político y económico de la llamada “Argentina Moderna” (1880- 1930), la creación de los territorios constituyó una respuesta, que se presumía transitoria, a la cuestión planteada por la incorporación de los espacios conquistados militarmente. Pero la declamada provisionalidad de su organización se mantuvo a lo largo de casi setenta años, lapso en el que la ley fundacional de 1884, a pesar de ser tildada reiteradamente de anacrónica y excesivamente uniforme, no sufrió alteraciones sustanciales (Ruffini, 2007). Durante la etapa extractiva121, las compañías yerbateras se organizaron por territorios, reconociéndose en el Paraguay a la Industrial Paraguaya S.A. que fue adquiriendo empresas menores a las que absorbió para ampliar sus operaciones, además de poseer molinos en Asunción, Corrientes y Rosario de Santa Fe; en el territorio de Brasil sobresalían Matte Larangeira, Méndez y Cia, que contrataba mano de obra en el norte y centro de Paraguay como así también en Posadas, principal centro conchabador de cosecheros yerbateros. En el territorio argentino operaban varias compañías destacándose Nuñez y Gibaja, Alfonso Guardile y Portalis y Cia y, en el Departamento San Ignacio (donde su ubica la cooperativa tomada aquí como estudio de caso), la empresa Martín y Cia, y la Plantadora (Niklison 1914). Así en función de la actividad yerbatera se conforma el negocio de las comunicaciones. Surgen las principales compañías de transporte fluvial con tres empresas de navegación, las de Domingo Barthe, Nuñez y Gibaja y Juan Mola (Niklison 1914). En la década de 1920 la actividad yerbatera comenzó a cobrar mayor importancia, al dejar de ser una actividad meramente extractiva, para convertirse en una actividad agrícola, es decir que la producción silvestre o natural fue reemplazada por una producción de cultivo122 (Zarrilli, 2007- Gortari, 2007- Rau, 2002- Barsky y Gelman, 2007- Magán, 2008). Dicha actividad se inició en 1903 por la sociedad Martín y Cia (fundada por un inmigrante 121 La de apropiación de la yerba en estado natural o silvestre a partir de 1875, con la habilitación de la extracción en la región de la actual Misiones, y que coincide con el denominado frente extractivo. 122 El devenir de los acontecimientos, sobre todo con la etapa de cultivo y el surgimiento de la agroindustria, han reconfigurado la estructura intrarregional, produciéndose cambios que impactaron en la producción, industrialización y comercialización, caracterizado actualmente por una alta concentración. 220 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens suizo), a quien luego seguirán otras empresas. “Fue en el año 1903, que se reiniciaron los trabajos de plantación de yerba mate (…) Era un axioma entre los yerbateros que el Ilex Paraguayensis, planta esencialmente silvestre, resistía a todo tipo de reproducción artificial (…) pero desde 1911 pudo vislumbrarse el éxito definitivo a través de hermosos yerbatales… ” (Dumas, 1930). El Estado Nacional propició el proceso colonizador123, estableciendo colonias agrícolas, con la afluencia masiva de inmigrantes a la región, en su mayoría de origen europeo, a quienes les facilitó el acceso a la tierra con bajos impuestos, pero con la condición de utilizar la misma en la plantación de yerba mate del 50 al 70% de la posesión adquirida124 (Barsky y Gelman, 2007). “La yerba mate crece naturalmente en el Territorio de Misiones, pero el gobierno argentino ha creado colonias yerbateras para mejorar su cultivo y explotación” (Ministerio de Agricultura de la Nación. Almanaque, 1938) (Cárcano, 1972). En este proceso de expansión de la frontera agrícola, las cooperativas se constituyeron en agentes primordiales de organización, en algunos casos más importantes que los propios municipios (Gortari y Oviedo, 2004). La mayoría de los inmigrantes eran de escasos recursos, explotando unidades productivas que no superaban las 25 hectáreas, con técnicas más bien precarias, sobresaliendo con ello las explotaciones familiares, cuyo principal obstáculo fue la de no poseer molinos propios, hecho que los colocaba en una posición de desventaja frente a las empresas molineras que poseían la concentración de la comercialización (Bolsi 1986- Barsky y Gelman 2007 123 Este plan de colonización adoptaba varias características: la oficial, programada desde el Estado (particularmente se registraron en la zona sur de la provincia caracterizándose por su reducido tamaño y, en cuanto a la yerba mate, una baja productividad), la privada (zona norte, constituida por medianas y grandes explotaciones con mayor productividad con respecto a los yerbales) cuyos capitales fueron aportados por empresas o sociedades privadas; y con el agotamiento de las tierras, se produciría la expansión de la frontera agrícola, sobre todo en la región Nordeste de la provincia. 124 Es a partir de 1926, que por medio de un decreto firmado por el entonces presidente radical Marcelo T Alvear, la Dirección Nacional de Tierras estableció la obligación de residencia para las explotaciones adjudicadas y la plantación entre un 25% y 50% de la superficie con yerba mate. Para aquellos que implantaban con un 75% de yerba mate el territorio adjudicado quedaban eximidos de la obligación de residencia, pero a cambio debían pagar un recargo en el precio de la tierra (Bolsi, 1986). 221 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Schiavoni 2008). Cabe mencionar que la creación de la Federación Agraria Argentina (FAA) en 1912, había dado impulso al movimiento cooperativo, pues la institución, capitalizando las experiencias de los inmigrantes europeos promovió la creación de cooperativas, cuyo objetivos consistían en hacer frente a los intermediarios, como así también mejorar la comercialización, asegurar las cosechas y organizar la colonización de nuevas tierras (Lattuada, 2006). En este escenario, y luego de varias experiencias que no dieron fruto, surgió en 1926 la primera cooperativa en Bonpland, fundada por colonos de origen alemán e italianos, agrupando así principalmente a los pequeños productores de la yerba mate. (Gortari y Oviedo 2004- Barsky y Gelman 2007). Es en ese año que se promulgó la ley 11.388 sobre las cooperativas, que les otorgó estatuto legal en la política nacional y expandió el movimiento (Girbal Blacha, 2004). En el escenario global, se produjo en 1929 el crac de la bolsa en EE.UU. que repercutió en una crisis generalizada del sistema capitalista. En nuestro país marcó el fin del crecimiento hacia afuera o del modelo agro- exportador clásico, repercutiendo directamente en las economías del interior, que como consecuencia debieron aumentar sus producciones para satisfacer la demanda creciente del consumo nacional. El incremento de las economías regionales favoreció el desarrollo del cooperativismo a partir de 1940, hecho que se manifestó en la consolidación de una estructura de 1.278 cooperativas, 13 federaciones y una entidad de tercer grado de gran importancia a nivel nacional CONINAGRO (Confederación Intercooperativa Agropecuaria). La mayoría de estas cooperativas nucleaba a pequeños y medianos agricultores que se centraban en la comercialización y transformación de la producción primaria (Lattuada, 2006- Mateo, 2012). El aumento vertiginoso de la producción de yerba mate nacional (sobre todo en el Territorio Nacional de Misiones), desde las primeras décadas del siglo XX, trajeron consigo 222 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens ciertas situaciones conflictivas, particularmente con Brasil el principal abastecedor de la Argentina desde el siglo XIX. Los conflictos de intereses no tardaron en aparecer, pues el Estado Nacional privilegiaba la exportación de trigo y secundariamente harina hacia el vecino país, en detrimento de la producción nacional de yerba mate, pues tenía muy presente que cualquier medida proteccionista o arancelaria tendría consecuencia directa sobre dicha exportación. Además, las grandes empresas y molineros se beneficiaban con el ingreso de la yerba del Brasil, debido a sus precios bajos, que les permitió obtener excelentes ganancias. También se registraron conflictos entre plantadores y molineros como lo registró la propia Cámara de Comercio Argentino- Brasileño: “Por segunda vez se presenta ante el Poder Ejecutivo la industria yerbatera argentina, representada por los plantadores de yerba de Misiones y Corrientes, que solos campean ahora por sus respetos y sin la ayuda nada desinteresada de sus antiguos compañeros de causas: los molineros” (Cámara de Comercio Argentino- Brasileño 1928). Las medidas y revocatorias de las mismas que se fueron tomando, determinaron el enfrentamiento de dos posiciones opuestas en la historia argentina: una liberal de carácter antiproteccionista y otra federal de carácter dirigista y nacional (Zarrilli 2007). La decisión de los productores yerbateros brasileños de inundar el mercado argentino con una baja de los precios, provocó, junto al aumento de la producción nacional, una sobreproducción, obligando al Presidente Agustín P. Justo a tomar medidas que protegieran al productor y regularan la producción. Se procuraba evitar un crecimiento desmesurado. Se aprecia el accionar del Estado Intervencionista en la actividad yerbatera como en muchas otras entonces (Zarrilli 2007). Ante esta situación, se creó la Comisión Reguladora de la Producción y Comercialización de la Yerba Mate, mediante la ley 12.236 en septiembre de 1935, que tenía por objeto regular la actividad, debido al exceso productivo y, con la amenaza de perder la exportación de trigo al Brasil si se reducía la importación de yerba mate. Se intentó limitar así la producción. En 1938 se permitió cosechar únicamente el 60% y se incluyó un gravamen de $4 por cada planta con el objetivo de evitar nuevas plantaciones (Gortari, 2007- Barsky y Gelman, 2007- Zarrilli, 2007). 223 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Entre las medidas del Mercado Consignatario de la Yerba Mate Canchada creada en 1936 se encontraban las consignaciones a cooperativas, reconociendo la representación de sus asociados (Girbal Blacha 2011). Sin embargo, algunos autores sostienen que los beneficiados con las medidas de la CRYM fueron los grandes plantadores y, que los trabajadores de los yerbales como así también los consumidores quedaron fuera de las disposiciones de dicha institución (Magán 2008- Zarrilli, 2007). Durante la etapa peronista 1943- 1955, y ante la acción del Estado dirigista, nacional y popular, las medidas directas tomadas por el gobierno de Perón con respecto a la actividad yerbatera, estuvieron relacionadas en primer lugar, y luego de la nacionalización del Banco Central de la República Argentina en 1946, al sometimiento de la superintendencia de este banco sobre la Comisión Reguladora de la Yerba Mate, mediante el decreto 8403/46. Sin embargo, la situación permaneció hasta que el decreto 11.344/46 dispuso que la Dirección de la Yerba Mate dependiera de la Dirección General de Comercio de la Secretaria de Industria y Comercio de la Nación, para luego ser transferida directamente a esta Secretaria por medio del decreto 3.900/49. Un año más tarde, tanto las funciones de la Dirección de la Yerba Mate y de la CRYM, pasaron a denominarse Comisión Nacional de Yerba Mate (CNYM por el decreto 7.990/50) (Magán 2008) La relación del gobierno y el movimiento cooperativo agrario estuvo centrada en la libre comercialización de la producción agropecuaria. Desde 1950 la denominada vuelta al campo (Girbal Blacha 2004), que reorientaría el rumbo de la economía, se sumaba a la situación imperante. El Estado mantuvo relación con el movimiento cooperativo en dos planos: en tanto representación de los productores agrarios agrupados en las cooperativas y en la función estatal de fomento, supervisión y control en reguardo de los intereses de la comunidad, una función ejercida por la Dirección Nacional de Cooperativas, dependiente primero del Ministerio de Agricultura y desde 1948 de la secretaria de Industria y Comercio de la Nación 224 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens (Girbal Blacha 2004). Se percibían también los créditos otorgados por el gobierno nacional a las cooperativas, a través del Banco de la Nación Argentina, a un interés del 5%, cuando la tasa corriente rondaba el 6,5% apreciándose el rol de estas instituciones en la política de distribución del gobierno de Perón (Girbal Blacha, 2011). Algunos autores sostienen que el movimiento cooperativo mantuvo un crecimiento sostenido hasta mediados de la década del 50, pero fue en el período peronista cuando se registró un incremento al quintuplicarse el número de cooperativas, para luego estacionarse en la década de 1970. Este hecho puso de manifiesto el interés del Estado en la consolidación cooperativa como parte de la reducción de costos generados por intermediarios (Lattuada y Renold 2000). Misiones fue declarada provincia en 1953, mediante la ley 14.294 promulgada el 22 de diciembre de ese año. En el escenario nacional el encargado de configurar este proceso, fue el entonces Presidente de la Nación Juan Domingo Perón; un dato significativo en la conformación política posterior de la nueva provincia, consolidándose el “peronismo” como grupo mayoritario durante muchos años. Sin embargo, la primera etapa provincial tendrá una corta experiencia en términos políticos- democráticos debido a la irrupción del golpe militar en 1955. En 1966 la sobreproducción, condujo a la prohibición de las cosechas, como así también de las importaciones de yerba mate, con excepción de Paraguay (Gortari, 2007). La coyuntura enmarcada por el accionar del Estado Burocrático Autoritario condujo en el inicio de la década de 1970 a incentivar los reclamos del Movimiento Agrario Misionero (MAM), que con el advenimiento de la dictadura militar (1976- 1983), tuvieron un retroceso por la persecución de sus dirigentes (Torres 1999). Nuevas plantaciones fueron autorizadas recién luego de 1987, año que registró una magra cosecha, obligando a importar más de 20 millones de kilos de yerba para cubrir la 225 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens demanda. A la crisis se sumó, la creación de una Comisión Tripartita, que nucleaba a los gobiernos provinciales con los productores y las industrias (Gortari 2007). La experiencia reguladora del Estado en la actividad yerbatera por intermedio de la CRYM llegó a su fin en el año 1991, por el decreto 2.284. Se generó entonces una concentración de la renta yerbatera en pocas empresas industriales impactando directamente sobre los productores y en las cooperativas que los nucleaban. El neoliberalismo mostraba su impronta. Entró en escena un nuevo modelo de Estado que reemplazó al proceso de sustitución de importaciones por otro de corte liberal, que se había iniciado con la dictadura militar con rasgos ortodoxos y se consolidó con el menemismo. El nuevo paradigma determinado por el ajuste interno, la desregulación y las privatizaciones, condujo a la precarización y pauperización de gran parte de la economía argentina. La actividad yerbatera no escapó a esta lógica y la crisis se puso de manifiesto con el descontento de los productores debido a la concentración oligopólica de la producción y se expresó en los bajos precios, hecho que los llevó a movilizarse hacia la capital de la provincia de Misiones en el complejo año 2001. Esta situación demandaba soluciones urgentes y si bien la movilización no logró mejorar los precios, marcó un antecedente al proyecto de ley para la creación del Instituto Nacional de la Yerba Mate, que fue aprobado por el Congreso de la Nación en el año 2002. Este hecho marcó nuevamente la regulación estatal en la actividad yerbatera. Las formas asociativas como las cooperativas representaban una opción válida entonces para que los pequeños y medianos productores pudieran operar dentro del nuevo régimen de acumulación (Lattuada y Renold 2000). Los mismos autores afirman que el análisis del censo cooperativo del año 1998 mostró que las cooperativas yerbateras representaban el 4% del total, con alto nivel de participación en la región (30%). La ubicación 226 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens seguía respondiendo a la cuenca productiva yerbatera es decir, a la Provincia de Misiones y marginalmente a Corrientes. La Cooperativa de Productores Yerbateros Flor de Jardín La Cooperativa de Productores Yerbateros de Jardín América Ltda., fue fundada el 3 de Noviembre de 1973 en Colonia Sol de Mayo125, con 32 socios126, para luego trasladarse a la localidad de Jardín América, su actual ubicación (sobre el Km 1436 de la ruta Nacional 12). Actualmente, nuclea a unos 300 socios, tanto de Jardín América como de zonas aledañas, conformando un hinterland o una cuenca de producción para la economía regional, que integra al ciclo productivo, a Campo Viera, Colonia Polana, Hipólito Yrigoyen, Puerto Leoni, Campo Grande y, a las colonias que administrativamente, pertenecen al municipio de Jardín América: Oasis, Colonia Sol de Mayo, Colonia Flora, Primavera. En este trabajo proponemos a modo de división cronológica tres etapas para comprender su transformación (las dos primeras serán abordadas sintéticamente a modo de contextualización). La primera es la que se desarrolla entre los años 1973 y 1980 y se corresponde con la etapa fundacional, cuando la misma funcionaba en Colonia Sol de Mayo; la segunda corresponde a la instalación de la entidad en su actual ubicación, sobre la ruta nacional 12 en la localidad de Jardín América y se extiende hasta 1999 año de la creación de la fábrica de productos regionales. La última etapa abarca desde ese año hasta 2010 y puede definirse como etapa de diversificación productiva, que se corresponde con las implicancias del modelo neoliberal y la política desreguladora de la actividad yerbatera, que se inicia en el año 1991 con la desregulación de la CRYM. Los inicios (1973- 1980) 125 Esta colonia inicialmente poblada por inmigrantes de origen japonés desde fines de la década del 20, dista a 10 km del municipio de Jardín América. 126 Entre sus primeros socios se encuentran Andrés Gansel, Pedro Lapchuk quienes compraron un secadero barbacuá y los depósitos que pertenecían a una sociedad de los hermanos Masao, Takara e Isao Kamada. Este último fue nombrado como presidente de la recién formada cooperativa y desempeñó su cargo hasta 1989. La actual sala de sesiones lleva su nombre. La primera zafra como cooperativa se produjo en 1974 y hasta 1979 se trabajó en la colonia Sol de Mayo. Ya el año anterior se adquirió el actual terreno sobre la ruta nacional 12 pero recién la zafra 1980 se realizó en el nuevo secadero en Jardín América. (Primera Edición. Posadas. 07/05/2009) 227 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens El capital inicial fue de $ 146.500 aportados por sus socios, en primera instancia se procedió a la compra de un secadero de tipo “barbacuá” propiedad de los hermanos Kamadas. El cierre del primer ejercicio arrojó un saldo positivo con un excedente de $ 378.034.52, monto que permitió la consolidación de dicha cooperativa en la comunidad, incorporando a nuevos socios y ofreciendo mayores fuentes de trabajo. Las memorias y balances de estos años demuestran un incremento productivo con implicancias económicos- sociales. El aumento de socios obligó a la institución en 1975, por cuestiones edilicias (las capacidades estaban colmadas), a frenar la incorporación de nuevos productores en carácter de socio. Este hecho otorgar cierta importancia a la localidad, pues a partir de entonces pasará a ocupar el lugar de hinterland de toda la cuenca productiva, provocando un movimiento poblacional, que registran los censos. La posibilidad de atraer mano de obra, generar comercios, sumado a que al aparato administrativo se encontraba en el ejido urbano provocó un desplazamiento poblacional. Sin embargo, hasta 1980 la población rural seguía superando a la urbana 10.568 y 7.883 habitantes respectivamente (INDEC 2001). La cooperativa en Jardín América (1980-1999) El nuevo secadero - ya en la localidad de Jardín América- que fue inaugurado el 23 de septiembre de 1979; demandó la suma de $350.000.000 solventados totalmente con recursos de la cooperativa. La cantidad de socios productores se había incrementado a 110. La producción de yerba mate canchada que de 1.700.000 kg en el año 1978 aumentó a 2.300.000 kg en 1979, en estrecha relación con la consolidación societaria. La tendencia a la asociación permaneció en todos los ejercicios; sin embargo, el crecimiento no fue constante y para el año 1981 en las memorias y balances se advierte por primera vez que, desde la institución se hacían eco de la situación económica que atravesaba 228 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens nuestro país. Se continuó con la conscripción de nuevos socios y llegamos a la cantidad de 133, número este que debiera ser superior, pero debido a la gran competencia que hubo en la compre de yerba mate verde y que el valor original de la Prenda de la yerba mate canchada es muy baja y la difícil situación económica financiera por la que atraviesa el país en general fue uno de los motivos por el cual el número de socios no es mayor, es por ello que llamamos a la reflexión a nuestros socios para que sigan apoyando a la cooperativa entregando su producción para así consolidar una cooperativa fuerte. Nuestra producción en este ejercicio disminuyó en un 20% en relación al año anterior, pues la elaboración total de yerba mate canchada fue de 2.250.000 kg contra los 2.719.000 kg del año anterior. (Memoria correspondiente al ejercicio del año 1981). Los vaivenes económicos a nivel nacional, signados por la ortodoxia económica provocaron cada vez mayor impacto en la cooperativa, siendo las memorias fiel reflejo de la situación. El año 1982 fue catalogado como el peor desde el surgimiento de la institución. Se aprecia preocupación e incluso “descontento” por parte de los integrantes cooperativistas. “Para esta cooperativa este quizás ha sido el año más difícil en cuanto a su funcionamiento se refiere, ya que tuvimos que sacrificarnos al máximo para poder competir con el acopio de materia prima, pues recordarán los señores socios que esta cooperativa siempre comercializó toda su producción a través de consignaciones del Mercado Nacional de la Yerba Mate Canchada, cosa que el año pasado no pudimos seguir haciendo, uno porque los precios del Mercado Nacional de la Yerba Mate en ningún momento se aproximaban en los más mínimos a los precios que se pagaban en el mercado libre, esto lo aprovecharon muy bien los secaderos que venden directamente su producción a los molineros, es por eso que al principio de cosecha prácticamente nuestro secadero funcionó en un 50% de su capacidad.” (Memoria correspondiente al ejercicio del año 1982). Las fluctuaciones en el precio de la yerba mate y, la irrupción creciente de los molinos determinaron gran parte de la actividad yerbatera provincial, consolidándose una estructura que inclinará la balanza a favor de dichos molinos en detrimento de los productores y 229 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens cooperativas. El registro es la fijación de precio, un hecho que se manifestó con mayor claridad con la desregulación de la CRYM en 1991. La diferencia de precios, sobre todo de la yerba canchada, provocó una dispersión incluso de los asociados que optan por comercializar por cuenta propia toda su producción. Contrariando los intereses colectivos. La propia cooperativa “llamaba” a sus asociados a entregar sus productos a la institución. Sin embargo, la balanza desfavorable condujo a que la propia cooperativa como entidad comercializadora de la yerba mate canchada accionara por fuera de los cánones oficiales; es decir, vendía la producción directamente a los molinos y no al Mercado Consignatario como lo venía haciendo desde los comienzos de sus actividades. Prácticamente la totalidad de la producción fue vendida a Molinos Rio de la Plata, empresa que hasta la actualidad es una de las más importante del país, encargada, en la mayoría de los casos, de fijar los precios de comercialización. Este molino comercializa la yerba mate bajo las marcas Nobleza Gaucha y Cruz de Malta, líderes en el mercado nacional como así también en el de exportación. El año 1982 arrojará un saldo negativo para la cooperativa, con un retroceso del 20% con respecto al año anterior. Sin embrago, se apostó a la molienda y comercialización con la marca propia “Flor de Jardín”. En este sentido, el proceso de molienda se inició en octubre de 1983, comercializando la primera partida bajo la denominación “Flor de Jardín” en la provincia de Buenos Aires. La presencia de grandes molinos consolidados condicionó y aún lo hacen, la inserción de nuevas marcas de yerba mate. Este proceso afectó en forma directa a la cooperativa, pues las primeras ventas realizadas en Buenos Aires fueron seguidas por una reducción e incluso paralización del molino durante cuatro meses. En oposición al modelo económico resultado de las privatizaciones y el monopolio, la cooperativa se expresó a través de sus memorias y balances de manera elocuente: para hacer frente a la concentración de capitales a la que apunta el gobierno nacional, es la reforzar el sistema cooperativo como único medio idóneo de salida que tiene el pequeño y mediano productor agrario.” (Memoria correspondiente al ejercicio del año 1994). 230 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens La cooperativa en tanto institución, es transmisora de opiniones y a la vez receptora de políticas estatales. Dada su condición no siempre favorable al poder dominante ha sido condicionada en el acuerdo de préstamos y/o subsidios, aunque fuera receptora de aportes con regularidad. Estas medidas repercuten directamente en el productor, muchos de ellos perdieron sus ingresos, sobre todo con la reducción del 30% de los precios de hoja verde y en contraposición el aumento del producto final en las góndolas de los supermercados. La caída de rentabilidad de la actividad yerbatera provocó en algunos casos, la inviabilidad de seguir produciendo. Un hecho que se manifestó mediante el éxodo rural, el cierre y venta de explotaciones agropecuarias y marginación social con el consecuente empobrecimiento. Ya para mediados de la década del 90 se apreció el incremento de la población urbana en Jardín América; así el censo de 1991 demostraría que la población urbana asciende a 15.771 habitantes, marcando la tendencia de crecimiento sobre la población rural (INDEC 2001). El año 1997 marcará otro punto de inflexión127, en tanto la actividad yerbatera continuó en crisis debido al deterioro de los precios y la poca rentabilidad, que incluso restringía cuando no imposibilitaba el acceso a créditos por parte de los productores. Esta cooperativa optó por la diversificación productiva, incorporando otros productos como alternativos a la yerba mate. 127 En 1997 se produce la reforma del estatuto de la cooperativa y, se fijan nuevas condiciones para la recepción de la hoja verde. Estas nuevas condiciones son impuestas por los molineros, para la posterior aceptación del producto. Quizás este hecho se quiera disminuir argumentando que más allá de los molineros son los consumidores los que en definitiva fijan dicha condición de aceptación. Entre las medidas que se exigen figuran: el yerbal tendrá que estar en óptimas condiciones de limpieza; la yerba tiene que llegar al secadero con una quebranza que no supere el 15% de palos; en caso que el porcentaje de palos exceda el 15%, se efectuará el descuento del 50% o el rechazo de la mercadería. 231 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens “Este consejo viendo la difícil situación por la que atraviesa nuestro productor en general debido a los bajos precios que se dan en la hoja verde y para evitar el éxodo y abandono de las chacras, se dedicó de lleno a estudiar la forma de diversificar nuestra producción, es así que en la Asamblea Extraordinaria que se celebró el 15 de noviembre de 1997, se propuso la construcción de una planta de envasado de encurtidos (choclitos, pepinos, morrones, etc.) y la elaboración de dulces y mermeladas de distintos tipos a partir de materia prima que se puede producir en nuestra zona como ser ananá, mamón, zapallo, etc., lo que fue aprobado por la masa societaria”. (Memoria correspondiente al ejercicio del año 1997). Desde nuestra óptica este proceso de diversificación resultó central en la continuidad del desarrollo de esta cooperativa, evitando -como se lee en las memorias- el éxodo rural y posibilitando además, otra fuente de mano de obra para la ciudad y la región. Es interesante analizar el proceso de diversificación productiva. La desregulación de la actividad tras la eliminación de la CRYM, a medida que transcurrían los años afectó más a los productores y favoreció a los molineros. Con la reducción de precios de la hoja verde por la ley de “la oferta y la demanda”, los socios contaban en sus chacras con un producto cada vez menos rentable. Las ventas de la cooperativa seguían dirigiéndose a Molinos Río de la Plata, incorporando en menor medida a la firma CBSe a quien además la cooperativa le ofrecía el servicio de molienda; es decir que la firma de San Francisco Córdoba se llevaba el producto listo para comercializar. Este es un dato central en el análisis debido a que en él se refleja la composición del circuito yerbatero en la Argentina y la distribución territorial marcada por una zona productora -Misiones y parte de Corrientes- y varios puntos de industrialización desde los cuales se ejerce el poder de fijar normas de producción y de establecer precios de comercialización. Es posible reconocer el constante dinamismo, tanto a nivel intrarregional en la zona productora- como fuera de la misma, donde se asientan los agentes con mayores capitales del sector. 232 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Asociacionismo en el contexto neoliberal: Yerba y Productos regionales “Flor de Jardín” La experiencia reguladora del Estado en la actividad yerbatera por intermedio de la CRYM desde 1935, finaliza en 1991 y la Cooperativa yerbatera de Jardín América, como muchas otras, se vio afectada por la concentración yerbatera en pocos molinos, provocando un retroceso en la producción/ comercialización. Los productores asociados resultaron afectados por la poca rentabilidad de la hoja verde128, provocando un empobrecimiento en los asociados en general y en las economías familiares en particular. Este retroceso dejó al descubierto las falencias de la política económica neoliberal, también por esta actividad sobre todo con la desregulación en un sector que desde sus inicios tuvo fuertes inconvenientes para consolidarse, y que -por dichas razones- había sido regulado por el gobierno nacional desde 1935. El decreto de desregulación 2.284/91 estuvo orientado, en teoría, a fortalecer la competencia, facilitando la estabilización de precios y eliminando la distorsión de los mercados, pero en realidad provocó un efecto contrario que afectó principalmente a los pequeños y medianos productores. Estos cambios en el contexto de acumulación generaron las condiciones necesarias para el surgimiento de nuevas asociaciones y para la transformación de los discursos, estrategias y estructuras organizativas de las asociaciones preexistentes, redefiniéndose a su vez la red de representaciones de intereses y su interacción con el Estado y otros sectores sociales (Lattuada 2006). La Cooperativa de Productores Yerbateros de Jardín América, desplegó modificaciones que nos permiten posicionar su accionar dentro de las acciones colectivas considerando que las mismas “surgen en respuesta a los cambios en las oportunidades y restricciones políticas, y sus participantes responden a una variedad de incentivos: materiales e ideológicos, partidistas y grupales, prolongados y episódicos” (Tarrow, 2009). 128 Se produce una fuerte caída de precios llegando a valer el Kg de hoja verde en la chacra solo $0,02. 233 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Se apostó a la diversificación productiva entendida ésta, como “una estrategia implementada por los productores agropecuario forestales con el objetivo de ampliar la variedad de producción y usos del suelo de su explotación, a fin de adquirir nuevos ingresos (monetarios) y hacer frente a las fluctuaciones de precio y climáticos de los productos tradicionales”. (INTA, 2001:3). Diversificar en este caso, conllevaba a generar nuevos productos alternativos a la yerba mate, con requerimientos de nuevos espacios de industrialización y comercialización. Surge en 1999 la Fábrica de Productos Regionales Flor de Jardín, dentro de la propia cooperativa. El proceso de diversificación no significó la supresión de la actividad yerbatera, que siguió siendo la actividad principal hasta la actualidad. El gerente de la institución manifiesta “la etapa más difícil que atravesó la cooperativa fue durante 1992 cuando se desreguló la actividad yerbatera, desaparece el mercado consignatario y la Comisión Reguladora de la Yerba Mate (CRYM) y son los molineros lo que ponen los precios que ellos fijan al productor y éste pierde rentabilidad y no tiene quien lo respalde” (Primera Edición. Posadas Misiones: 07/05/2009). Esta situación de inestabilidad creó la necesidad de buscar alternativas desde la propia cooperativa para atender las demandas de sus asociados, con el objetivo de darles fuentes para nuevos ingresos a los socios. Desde la institución se promovió la creación de una planta elaboradora que utilizaría la materia prima de las chacras de sus propios asociados. Dicha planta se inaugura el 23 de enero de 1999 con el apoyo del gobierno provincial y se denomina Planta Elaboradora de Productos “Flor de Jardín”, compuesta por socios, personal de administración, un ingeniero agrónomo y trabajadores. Produce a partir de las materias primas de las chacras de los asociados productos regionales para su comercialización. Este accionar permite considerar a esta cooperativa desde el subtipo ideal mutualista, pues se caracteriza por estrategias que contemplan con mayor intensidad los intereses de los asociados (Lattuada 2006). 234 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens 129 Durante una entrevista realizada en el 2011 al encargado de dicha fábrica Andrés Erck se afirmaba: “iniciamos las actividades en 1999, solo teníamos 5 productos y 10 productores entregando sus productos”. También sostuvo que ante la inestabilidad económica “los socios han optado por la diversificación de la producción, incorporando además de la yerba mate otros productos que les permitan un ingreso económico durante todo el año”. Por su parte un colono nos manifestaba que “la cooperativa nos da semillas, fertilizantes y cuando entregamos la producción te descuenta el costo de semillas y lo utilizados como alguna máquina que “pode” (sic) ocupar si no tenés”. La institución, como parte del proceso de diversificación se encarga de proveer a sus productores semillas, como así también fertilizantes y, en caso de necesidad por parte del productor soporte técnico como el préstamo de un tractor o arado. Gran parte los socios de la cooperativa no superan las 25 hectáreas (es decir que son pequeños productores) y son propietarios de la tierra, es decir, de las unidades de producción. La mayoría utiliza la fuerza de trabajo familiar, incorporando mano de obra asalariada temporal ajena al grupo, únicamente para las cosechas o, en casos especiales, como por ejemplo la partida de los hijos hacia centros urbanos para estudiar. En este sentido, podemos afirmar que este productor se asemeja al tipo de “colono”, que es poseedor de su tierra y de algunas herramientas, que le permiten obtener algún grado de acumulación y garantiza su reproducción como tal. También hay grandes productores asociados a esta cooperativa. La vinculación a la cooperativa, en la mayoría de los casos, es vista por los productores como fundamental y necesaria para garantizar la rentabilidad (comercialización) de sus productos. Con respecto a la diversificación productiva, la orientación es definida por la misma cooperativa como un modelo productivo a seguir: procura pasar de una economía del tipo de chacras con monocultivos a otra con una administración del tipo granja con biodiversidad. “Buscamos llegar a una administración tipo granja, con una buena diversidad de productos que les permita trabajar y recibir ganancias todo el año, paralela a la 129 Las entrevistas fueron realizadas en el marco del trabajo de campo correspondiente a la beca de investigación que promueve la provincia de Misiones a través del Comité Ejecutivo de Desarrollo e Innovación Tecnológica (CEDIT). Agosto- septiembre 2011. 235 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens producción de sus yerbales que seguirá siendo el fuerte de sus chacras”, señaló el ingeniero Pérez”. (misionesonline.net 14/12/2009), En las visitas a las chacras (entre mayo y setiembre de 2011) fue posible reconocer que los productores utilizaban el sistema de invernadero, combinado con la producción a cielo abierto para la obtención de los productos destinados a la fábrica. Además era evidente la permanencia de los yerbales en la misma chacra, como producto regional característico. Se aprovechan también los espacios entre las plantas de yerba mate para cultivar algún producto de estación, como por ejemplo maíz (choclos). Se genera así un nuevo ingreso o producto alternativo es utilizado para consumo propio permitiendo un adecuado uso de la tierra y evitando desgaste, ya que luego de la cosecha los restos no utilizables para el consumo son empleados como abono natural. En las chacras la producción se concentra en los cultivos de zapallo, zanahoria, remolacha, repollo, coliflor, morrón, berenjena, ají, pepino, mandioca, choclo, mamón, mandarina, higo y ananá, con la finalidad de entregar la producción obtenida a la fábrica de productos regionales. Ya en la planta elaboradora se obtienen bajo la marca “Flor de Jardín”: pickles, choclitos, pepinos agridulces, ajíes; además de dulces de mamón, zapallo, higos, mandarinas, frutas escurridas –abrillantadas. En diálogo con el encargado de la fábrica Andrés Erck el mismo confirmó que desde la institución se propicia la constante investigación, sobre todo en el aspecto técnico y mejoramiento de la producción. Si bien el mercado más importante sigue siendo la provincia de Misiones, la presencia en otras zonas es cada vez más notoria. “Durante el ejercicio 2007 logramos incrementar las ventas en un 25% con respecto al 2006%. La producción también tuvo una mejora con respecto al ejercicio anterior en un 25 %. A fines de 2007 se empezó a vender lentamente en la provincia de Chubut y Tucumán (…) Además de estas provincias se sigue vendiendo muy bien en Misiones, Corrientes, Entre Ríos, Formosa, Chaco, Córdoba y Buenos Aires”. (Memoria correspondiente al ejercicio del año 2007) 236 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens La crisis económica que se desencadenó en el país en el año 2001, tuvo su impacto directo en la economía yerbatera, registrándose a 0,04 centavos el kilo de la yerba mate en hoja verde. Ante esta situación desde la propia cooperativa se planteó “levantar la cosecha”, argumentando la poca rentabilidad y la competencia desleal de algunas cooperativas y molinos. Debido a la incertidumbre que existe y al no haber una claridad en el mercado debido a la poca demanda y al gran stock que tenemos de yerba mate canchada, no sabíamos si levantar la cosecha o no hacerlo, agravado por el faltante de dinero. (Memoria correspondiente al ejercicio del año 2001). Pronto se sumaron maniobras de algunos secaderos que aún luego de la institucionalización del Instituto Nacional de la Yerba Mate, comercializan en negro sus producciones. Esta inquietud se manifiesta por parte de la cooperativa: “La situación yerbatera se está poniendo muy difícil por la gran competencia desleal que hay, una gran mayoría de secaderos que venden por debajo de los precios que fija el INYM, y el caso de nuestra cooperativa que trabaja todo en blanco, como debe ser (…) se nos hace difícil competir en negro, puesto que evaden todo…” (Memoria correspondiente al ejercicio del año 2005). El estudio de este proceso nos permitió reconocer que la estrategia adoptada fue un impulso importante para los asociados y la organización cooperativa, en el contexto marcado por la desregulación estatal. Las menciones en memorias internas de la propia cooperativa destacan las labores de la fábrica: “En cuanto a la planta elaboradora de productos regionales, la misma continuó funcionando normalmente durante el ejercicio, habiéndose incrementado la producción aproximadamente en un 30%, para abastecer a la misma se siguió promoviendo entre los asociados la plantación de los distintos productos…” (Memoria correspondiente al ejercicio del año 2005). Consideraciones finales Las asimetrías existentes en la Argentina se manifiestan inter e intrarregionalmente en las denominadas economías regionales. La zona yerbatera manifiesta estas diferencias y; la provincia de Misiones, siendo la mayor productora presenta en su interior heterogeneidades 237 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens que se reflejan en su estructura productiva, caracterizada por la presencia de cultivos tradicionales como la yerba mate y el tabaco, como así también por la presencia de actividades relacionadas a la foresto- industria (ocupando grandes cantidades de tierras), silvicultura, actividades de tipo ganadera entre otras de carácter primario, junto a las secundarias y terciarias. Estas últimas preferentemente en las zonas más urbanizadas. Con respecto a la localidad de Jardín América, el lugar de relevancia que ocupa hoy la Cooperativa de Productores Yerbateros en la sociedad, responde a fuerzas históricas más estructurales, vinculadas a la trascendencia que las cooperativas agrícolas han tenido en toda la Provincia de Misiones desde hace más de 70 años. Por otro lado al origen de la propia ciudad que se vio favorecida por el surgimiento del movimiento cooperativo en la década de 1940, se suma la capacidad de organización de la propia cooperativa para capitalizar esa experiencia. Los avatares configuran un territorio en constante dinamismo, si bien la organización cooperativa está ubicada en la localidad mencionada, las estrategia que adoptan sus asociados configuran una red de vinculaciones sociales con rasgos particulares acorde al contexto histórico en el que se desarrollan. Se manifiestan también en esta cooperativa las mutaciones de dichas organizaciones en toda la Argentina acorde al contexto en el cual se desarrolla. El modelo de diversificación no es una incorporación novedosa en el agro misionero pero, fue revalidada por los actores sociales de la cuenca productiva jardinense en el contexto neoliberal. Estudios posteriores determinaran si dicho modelo se puede extender como propuesta para todo el sector agrario de la provincia o, solo resultó un paliativo ante una situación de crisis. Sin embargo, esta aproximación nos permitió reconocer estrategias asociativas de carácter territorial, con su dinamismo y asimetría, y también con su vinculación con los demás agentes rurales y urbanos tanto de la región como fuera de ella. Fuentes utilizadas 238 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Archivos de las Cooperativas Yerbateras: Memorias, Actas y Balances de la Cooperativa de Productores Yerbateros de Jardín América En: Federación de Cooperativas y Subsecretaria de Acción cooperativa, mutual, comercio e integración (Selección desde sus inicios a la actualidad). ANUARIO ESTADÍSTICO Provincia de Misiones. Instituto Provincial de Estadísticas y Censos (IPEC) 2008. Gobierno de la Provincia de Misiones. Misiones: Relevamiento Yerbatero. Diagnóstico del sector yerbatero. 2002 Justo Agustín P.: La Obra del Gobierno Argentino 1932- 38. Momento Político Latinoamericano. Editores Ernesto César Rosasco- Antonio Carlos Ferro. Segunda Edición. Buenos Aires. 1937 República Argentina. Leyes Nacionales (periodo ordinario). Publicación Oficial de la Secretaría del Senado de la Nación. Imprenta del Congreso Nacional. 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INTA 2011 Bibliografía de época utilizada: Ambrosetti Juan: Viajes a Misiones por el Alto Paraná e Iguazú. 1892 239 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Dumas, Ernesto: El problema de la Yerba Mate. Publicación editada por la Asociación Argentina de Plantadores de Yerba Mate. Buenos Aires 1930 Ministerio de agricultura de la Nación. República Argentina: Formación de corporaciones Argentinas de Productores Agrarios. Reglamentación de las asociaciones y sociedades rurales. Dirección de informaciones. Buenos Aires 1944. En internet: Misionesonline.net www.inta.gov.ar www.google.com Publicaciones Periódicas Diario Página/12. Buenos Aires. Selección de Números desde 1990 a la actualidad Diario Primera Edición. Posadas. 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Editorial Siglo XXI. 2008 MATEO Graciela: Cooperativas Agrarias y peronismo. Acuerdos y discrepancias. La Asociación de Cooperativas Argentinas. Buenos Aires. Ediciones Ciccus. 2012 OVIEDO Alejandro – GORTARI Javier: Desafíos para las cooperativas en Misiones: experiencias de economía social en el escenario local y regional. INTA 2004 RAU, Víctor: Cosechando Yerba Mate. Buenos Aires. Editorial CICCUS. 2012 Ruffini Martha: La Pervivencia de la República posible en los territorios nacionales. Poder y Ciudadanía en Río Negro. Bernal. Editorial Universidad Nacional de Quilmes. 2007. SAGASTIZÁBAL Leandro de: “La yerba mate y Misiones. Regiones y sociedades”. En: Historia Testimonial Argentina. Documentos vivos de nuestro pasado. Nº 31. CEAL 1984 SCHIAVONI, Gabriela: Colonos y Ocupantes. Parentesco, reciprocidad y diferenciación social en la frontera agraria de Misiones. Posadas. Editorial Universitaria. 1996. 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Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens 15) AUTORES: Lucimara Rett, Fábio Rodrigues Corniani, Vívian Maria Corneti de Lima PONENCIA: Regionalização, folkmarketing e cultura popular: a midiatização dos festejos populares no Brasil INSTITUCION: Universidade Federal do Rio de Janeiro, Universidade Federal do Pampa, Universidade de Taubaté PAÍS: Brasil MAIL: [email protected] Brasil, identidade e território A globalização exerce um impacto sobre as identidades culturais, transformando o indivíduo e as sociedades modernas, por meio de mudanças constantes, rápidas e permanentes. As velhas identidades declinam face a novas identidades e a um indivíduo moderno fragmentado. Para Stuart Hall (2000, p.103-133) as identidades são construídas dentro e não fora do discurso, em locais específicos e formações e práticas discursivas específicas. O autor aponta três possíveis conseqüências do impacto da globalização sobre as identidades culturais: § As identidades nacionais estão se desintegrando, como resultado do crescimento e homogeneização cultural do “pós-moderno-global”. § As identidades nacionais e outras identidades “locais” ou particularistas estão sendo reforçadas pela resistência à globalização. § As identidades nacionais estão em declínio, mas novas identidades – híbridas – estão tomando seu lugar (HALL, 2003, p.69). Com base nas afirmações de Stuart Hall, pode-se dizer que os processos de globalização e regionalização são simultâneos, despertando no indivíduo pós-moderno, um novo interesse pelo local frente ao impacto do global, bem como novas identificações globais e novas identificações locais, ou ainda, identidades híbridas. 243 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Cicília Peruzzo (2002, p.53) explica que a definição do que é local não está relacionada somente ao conceito de território, mas também ao de pertencimento. O território “se caracteriza como um espaço determinado, um lugar específico de uma região, no qual a pessoa se sente inserida e partilha sentidos em comum”. De qualquer maneira, a noção de território está ligada não somente à extensão territorial propriamente dita, mas também a questões como identidade, proximidade e vínculos. Martín-Barbero (2002, p.60), por exemplo, considera o bairro como o palco do sujeito social. Para ele é no bairro que o indivíduo ganha uma identidade, destacando-se dos demais por seu papel social. Lopes García (2002, p.204) reforça essa questão afirmando que “a maior parte das alternativas para construir informação de qualidade e credível talvez seja do âmbito local, visto que essa maior proximidade com os destinatários permite um campo de experimentação privilegiado”. Alain Bourdin (2001, p.28) define três grandes dimensões que fundamentam o vínculo social: a complementaridade e a troca, o sentimento de pertença e a proximidade. Para ele, a proximidade cria o vínculo social e os laços são fortalecidos pelo sentimento de pertença a determinados grupos sociais. A parte constitutiva do social são as complementaridades e trocas, uma vez que os indivíduos são complementares e não intercambiáveis. Já Renato Ortiz (1999, p.51-72) aborda as questões de proximidade e diversidade relacionada aos laços sociais no local frente ao global. Cicilia Peruzzo (2002, p. 78-79) sintetiza, a partir de conceitos de Ortiz e Bourdin, as dimensões que caracterizam o local: a) Proximidade: o sentido de proximidade diz respeito à noção de pertencimento, ou dos vínculos existentes entre pessoas que partilham de um cotidiano e de interesses em comum. 244 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens b) Singularidade: cada localidade possui aspectos específicos, tais como sua história, os costumes, valores, problemas, língua etc., o que no entanto, não dá ao local um caráter homogêneo. c) Diversidade: o local comporta múltiplas diferenças e a força das pequenas unidades. d) Familiaridade: constituída a partir das identidades e raízes históricas e culturais. O Brasil, de acordo com o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística130, possui uma área territorial superior a 8 milhões de quilômetros quadrados. Ainda segundo o instituto, o mapa político atual é o apresentado abaixo, sendo o país dividido em cinco regiões: Norte (verde), Nordeste (laranja), Sudeste (amarela), Sul (azul) e Centro-Oeste (rosa). Figura 1 – Mapa político brasileiro Fonte: IBGE131 130 Disponível em <http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/cartografia/default_territ_area.shtm>. 131 Disponível em <http://www.ibge.gov.br/brasil500/constrterrit/extensao_territ.html>. 245 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens O país tem um histórico de imigração específico em cada uma das regiões. A identidade nacional foi, aos poucos, sendo forjada por um mosaico de culturas que abarca, com maior destaque, influências de imigrantes japoneses, libaneses, alemães, italianos, espanhóis, entre outros, além dos portugueses colonizadores e dos africanos que vieram, a princípio, como escravos. Da mesma maneira, essas influências repercutem em especificidades para os festejos populares brasileiros, que agregam o universo simbólico cultural de cada uma das regiões, mas que também, com a intervenção dos meios de comunicação de massa, transformam-se em grandes espetáculos midiáticos, cada vez mais homogeneizados. Lucena Filho (2006, p. 268) discorre acerca da dinâmica com que fluem os processos comunicacionais como uma alternativa para as culturas populares e sua integração aos cenários da sociedade do espetáculo. “As manifestações folclóricas atuam como elemento de mediação/decodificação e refuncionalização, no âmbito da contemporaneidade”. José Marques de Melo (2008. p. 78) acrescenta que “o ‘clima de festa’ vigente no Brasil é em grande parte construído pelos meios de comunicação de massa. Eles não apenas divulgam as festas populares, mas se convertem em seus principais fomentadores/formatadores”. O autor conta que Jesus Martín-Barbero chama esse fenômeno de ‘popular folclorizado’, onde há articulações entre a dinâmica urbana e a da resistência popular. Melo (2008, p. 78-79), também esclarece que as festas passam a ter valor conteudístico, preenchendo espaços na programação das emissoras de rádio ou televisão, bem como motivando reportagens e coberturas especiais nos jornais diários ou revistas semanais. Ao mesmo tempo, funcionam como alavancas para o acionamento da engrenagem econômica, mobilizando produtores industriais, entrepostos comerciais e prestadores de serviços. Nesse sentido, viabilizam comercialmente os veículos difusores, através da captação de anúncios, além de estimular as empresas ao patrocínio das festas propriamente ditas. Cria-se uma teia complexa de relações e interesses, da qual participam também o Estado e o aparato político, responsáveis pela normatização do uso daqueles espaços públicos onde as festas se realizam. 246 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens A regionalização e a desconcentração da economia brasileira, sobretudo a partir da década de 1980, estabelecem novos mercados, com características específicas, novas oportunidades de negócio e, consequentemente, formas de comunicação adequadas ao público regional. Anamaria Fadul (2006, p. 23), nos explica um pouco do processo: As mudanças ocorridas na mídia regional brasileira, nas duas últimas décadas, estão relacionadas com o processo de desconcentração industrial de São Paulo e o deslocamento de indústrias importantes, como a automobilística, instalada em vários estados brasileiros, com o desenvolvimento agrícola das regiões Centro-Oeste e Norte, e, por fim, com o desenvolvimento do setor de serviços, especialmente aquele voltado para o turismo, que tem beneficiado as regiões do Nordeste e também do Centro-Oeste e Norte. Esse desenvolvimento tem conseqüências nas diversas áreas, sobretudo na comunicação, que vê novas oportunidades de inserção e visibilidade, bem como a expansão de seu negócio para outros consumidores. Constatamos que as regiões brasileiras estão se desenvolvendo economicamente, evoluindo o perfil de consumidores, investindo em grupos de mídia, atraindo diversos setores da produção com oportunidade de negócios, empregos, etc. Nesse sentido, há um despertar para o consumo regional (LIMA, 2010, p. 215). Frente a esse cenário de desenvolvimento regional, os festejos populares tornam-se uma ótima oportunidade de visibilidade para as marcas nacionais e multinacionais que buscam estabelecer uma relação de identidade com os consumidores regionais. Mesmo transformados pela mídia, ainda conseguem manter intrínsecos alguns traços culturais populares. A evolução dos mercados tem evidenciado, nos últimos anos, a importância da comunicação integrada, com foco para o marketing local. Assim, grandes recursos são investidos pelas instituições públicas e privadas, que buscam alcançar maior evidência nos 247 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens mercados locais, em especial, promovendo uma dinamização no relacionamento com seus públicos e conquistando sua credibilidade e simpatia, na vinculação [sic] de suas marcas, produtos e serviços, em megaeventos culturais, como esses desenvolvidos durante as manifestações dos ciclos das festas populares do Natal, de São João e do Carnaval, com objetivos mercadológicos e institucionais. [...] Nesse contexto, são mobilizados diferentes sentidos de pertencimento, de fortalecimento e de valoração da cultura local, na busca da sedimentação da identidade cultural (LUCENA FILHO, 2006, p. 270-276). Essa aproximação é buscada pelas organizações, que realizam ações mercadológicas específicas para as datas dos eventos, aproveitando a oportunidade de comunicação em nível regional, captando, assim, estrategicamente, certa ‘simpatia’ desse público. O termo folk = povo, aliado à palavra marketing, que tem o significado de um conjunto de meios de que uma organização dispõe para vender seus produtos e serviços, resulta na expressão Folkmarketing que, segundo uma visão genérica, significa o conjunto de apropriações das culturas populares com objetivos comunicacionais, para visibilizar produtos e serviços de uma organização para os seus públicos-alvo (LUCENA, 2006, p. 267). Exemplos apropriações de festejos populares regionais pelas marcas para ações de marketing e comunicação serão apresentados a seguir, delimitados por território. Festejos populares e visibilidade nos mercados regionais brasileiros No Norte do Brasil, um dos eventos de maior repercussão é o Festival Folclórico do Boi Bumbá de Parintins, denominado popularmente ‘Festa do Boi’. A festa, que em 2012 completou 47 edições, mistura o folclore indígena com a tradição nordestina do Boi Bumbá e é considerada o espetáculo de maior expressão artística da Amazônia, trazendo, anualmente investimentos e desenvolvimento para a região. A festa representa o imaginário popular e descreve, por meio de uma competição entre duas associações – o Boi Caprichoso, de cor azul e o Boi Garantido, de cor vermelha, um pouco das lendas locais e da tradição do homem amazônico. 248 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens O Centro Cultural e Esportivo Amazonino Mendes, conhecido como ‘Bumbódromo’, é o espaço onde a disputa entre os bois acontece e tem capacidade para 35 mil pessoas. De acordo com o site Parintins (2012, online)132, a festa, realizada anualmente no último final de semana de junho, na cidade de Parintins, AM, tem um público de mais de 100 mil pessoas. O principal patrocinador do evento é a Coca-Cola e um dos cases de marketing e comunicação mais conhecidos relacionado à Festa do Boi é o da ‘Coca-Cola azul’. Em 2005, a empresa resolveu mudar a cor da embalagem, historicamente vermelha, para uma versão azul (figura 2), em edição especial para o festejo. Os participantes do Caprichoso não consumiam os produtos da empresa, por ela possuir a cor do rival, e muitas vezes compravam produtos Pepsi (que usam a cor azul). Com autorização da matriz em Atlanta – EUA , para não perder market share para a concorrente, [desde 2005] são feitas [para o evento] latas azuis, azul e vermelha (meio a meio) e as normais vermelhas [Alguns dizem que essa decisão não foi inédita, que no Grêmio e no Boca Juniors o logo da Coca já é usado em azul. Concordo com quem fala isso, mas no quesito "mudar a cor da embalagem do produto", isso sim, de fato é inédito]. [...] Essa iniciativa mostra que por mais que queiramos manter uma identidade visual rígida e global, muitas vezes culturas específicas e consumidores específicos merecem atenção especial que acabam quebrando paradoxos de empresas centenárias (LOGOBR, 2011, online) 133. 132 Disponível em <http://www.parintins.com.br/>. 133 Disponível em <http://logobr.wordpress.com/2008/09/17/coca-cola-azul-parintins/>. 249 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Figura 2 – Embalagens da Coca-Cola para a Festa de Parintins Fonte: www.comlimao.com E não somente a embalagem muda de cor durante o evento. Embora a Coca-Cola mantenha, normalmente, uma comunicação única mundialmente, para a Festa de Parintins, toda a comunicação é regionalizada. Outras empresas também utilizam a mesma estratégia, regionalizando a sua comunicação e chegam, inclusive a alterar sua identidade visual com a utilização de seus logos nas cores do evento. Na região Nordeste, os festejos de maio destaque são o São João de Caruaru, PE, e o de Campina Grande, na PB. Ambos disputam o título de Maior São João do Mundo. Com uma organização cada vez mais profissional e maior exposição em mídia, ano após ano, as festas juninas da região Nordeste têm sido alvo de disputas entre as marcas por um lugar de destaque entre os patrocinadores. Juntas, as comemorações de Campina Grande (PB) e Caruaru (PE), que disputam o título de Maior São João do Mundo, devem receber dois milhões de turistas para as festas deste ano (TOLEDO, 2011, online)134. 134 Disponível em <http://www.meioemensagem.com.br/home/marketing/noticias/20110601Festasjuninas-atraem-marcas-para-o-Nordeste.html>. 250 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Mais uma vez, o evento é atrativo para a comunicação. Lucena Filho (2006, p.270), afirma que as redes de significações geradas na festa junina do “Maior São João do Mundo” alimentam o processo do folkmarketing, modalidade comunicativa adotada pelas organizações públicas e privada para buscar identificação com seus públicos-alvo. Falando a linguagem que eles querem ouvir e mostrando as imagens que eles querem ver, fazem assim com que elas sejam percebidas segundo uma semântica de valoração das culturas locais. A Natura, por exemplo, além de associar sua marca à comemoração de São João realizada em Caruaru, PE, durante o evento de 2009, lançou a Água de Banho Cheiro de Moça Bonita, exclusivamente para a região. Logo depois, as vendas do produto foram estendidas para o restante do país (GRANDO, 2010). Em 2011, novamente no ciclo de vendas que corresponde à data comemorativa, a empresa lançou a linha completa da fragância. Na descrição disponível no site da Natura (2011, online)135, percebe-se a apropriação dos elementos simbólicos dos festejos juninos utilizados para a concepção do produto: “Natura Ekos é uma marca que conta através das Águas de Banho as tradições do nosso país. Inspirada na tradição e na riqueza das Festas Juninas, Natura lança a Água de Banho Cheiro de Moça Bonita”. A embalagem da água de banho (figura 3) e dos demais produtos da linha, foi inspirada na obra ‘Quermesse de Santo Antonio’, da artista plástica Edina Síkora. 135 Disponível em <http://scf.natura.net/perfumarianatura-diversos-naturaekosaguadebanhocheirodemocabonita>. 251 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Figura 3 – Embalagem Água de Banho Cheiro de Moça Bonita Fonte: Bazar DELLI Abaixo (figura 4), mais um exemplo de comunicação que se apropria dos elementos do São João, utilizada pela ‘51’ em outdoors veiculados no Nordeste, na época do evento. A marca de cachaça foi um dos patrocinadores do evento no ano de 2011. Figura 4 – Outdoor veiculado em Natal, RN, em 2011 252 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Foto da autora No Sudeste do Brasil, dentre outras comemorações, destacam-se em São Paulo, capital, as festas de rua promovidas pelas colônias italianas ou por descendentes de italianos radicados na cidade. São elas: Festa da Santa Achiropita, Festas de São Vito, São Genaro e Santo Emídio. Todas representam a cultura italiana por meio de música, apresentações folclóricas e comidas típicas servidas em barracas de rua nos bairros paulistanos tradicionalmente ligados à colônia italiana, como o Bixiga, Brás e Moóca. A Festa de São Vito Mártir nasceu da devoção dos imigrantes italianos que chegaram a São Paulo no final do século XIX. A chegada da primeira imagem e a construção da primeira capela estimularam ainda mais essa devoção das famílias italianas e de seus descendentes pelo santo, que se tornou mártir no bairro do Brás. Em 2011, além da parceria com a rádio Nativa FM, do grupo Bandeirantes, para a divulgação, a organização da festa contou, entre outros apoios, com o patrocínio da Liquigás, distribuidora de GLP (Gás Liquefeito de Petróleo) do Sistema Petrobras, que forneceu cerca de 1,5 mil kg de gás, abastecendo os fornos das 30 barracas durante todo o evento (figura 5). 253 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Figura 5 – Barraca da festa de São Vito Mártir com logomarca da Liquigás Fonte: http://liquigasnoseucondominio.blogspot.com.br/ Os executivos de comunicação da Liquigás reforçaram, no site da companhia, a importância da visibilidade da marca durante o evento. Paolo Ditta, diretor de GLP Envasado, observa que “a utilização do GLP durante o evento é outro aspecto que tem sinergia com o negócio da empresa, pois muitas das tradicionais receitas italianas que dão vida à festa são preparadas em fogões movidos a gás” (LIQUIGÁS, 2011, online)136. Na região Sul, a Semana Farroupilha é um evento festivo que acontece em setembro, no estado do Rio Grande do Sul, com desfiles em homenagem aos líderes da Revolução Farroupilha, que tinha como ideal, a fundação de uma república independente do antigo Império Brasileiro. Durante a semana acontecem bailes e festejos que fulminam no desfile, ápice da comemoração. Mais uma vez, marcas nacionais se apropriam da visibilidade promovida pelo festejo para lançar produtos e comunicação específicos para a região. 136 Disponível em <http://www.liquigas.com.br>. 254 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Para o evento, a empresa de telefonia Oi, que tem uma identidade visual característica em termos de utilização das cores institucionais na sua comunicação, usou a imagem da silhueta de um gaúcho caracterizado, em um anúncio publicitário veiculado durante a Semana Farroupilha de 2011 (figura 6). Figura 6 – Anúncio da Oi com o tema da Semana Farroupilha Fonte: http://promoview.com.br A logomarca da peça (figura 7) faz menção à Revolução Farroupilha, conquistando a simpatia do gaúcho e valorizando a sua identidade. 255 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Figura 7 – Logomarca do anúncio da Oi durante a Semana Farroupilha Fonte: http://promoview.com.br As principais festas populares do Centro-Oeste são a Procissão do Fogaréu, em Goiás, e a Cavalhada, em Pirenópolis. A Procissão do Fogaréu acontece na Semana Santa, quando os ‘farricocos’ percorrem as ruas de Goiás encapuzados e com tochas nas mãos, representando os soldados romanos que perseguiram e prenderam Jesus Cristo. As cavalhadas tiveram origem nos torneios medievais. Têm origem portuguesa e vieram para o Brasil no século XVII. Elas acontecem durante a Festa do Divino nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do país. No Centro-Oeste, uma das que mais se destaca é a de Pirenópolis, em Goiás, onde foi construído em 2012 um espaço específico para o festejo, conhecido como ‘Cavalhódromo’ (figura 8). Mário Cruz (2012, online)137 critica a criação do espaço, afirmando que ele descaracteriza o evento popular. 137 Disponível em <http://www.pirenopolis.tur.br/noticias/noticia/Cavalh%C3%B3dromo:%20Ignorante%20descaracteriza %C3%A7%C3%A3o%20ou%20nova%20forma%20de%20dom%C3%ADnio>. 256 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Figura 8 – Cavalhódromo de Pirenópolis Fonte: http://cidadedepirenopolis.blogspot.com.br Nos dois casos, não foram identificadas ações mercadológicas estratégicas efetivas durante os festejos, apenas apoio do governo, bem como contribuições dos próprios cidadãos e de estabelecimentos turísticos. A Festa do Divino Espírito Santo de Pirenópolis foi tombada como Patrimônio Imaterial Brasileiro. Considerações finais A extensão territorial do Brasil e as características de sua colonização e imigração levam a um mosaico de culturas e identidades específicas em cada uma de suas regiões, refletidas nos festejos populares comemorados em cada uma delas. Esses festejos, a princípio, são a expressão da cultura popular regional, entretanto, a presença ostensiva da mídia na divulgação dos mesmos cria uma relação de simbiose e interdependência. Se por um lado essa presença corrobora para o sucesso dos eventos, para o aumento de sua credibilidade e, por consequência, para o crescimento do público, por outro lado, transforma uma manifestação genuinamente popular em um acontecimento midiático normatizado, o que pode interferir na 257 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens preservação dos elementos simbólicos da cultura que cada festa representa. Exemplo disso foi a crítica apresentada no último case, acerca da construção do Cavalhódromo em Pirenópolis, Goiás. Corre-se sempre o risco de que o evento seja descaracterizado com uma interferência externa. Se for considerada a expansão dos mercados regionais e a dificuldade que as organizações encontram para estabelecer uma comunicação adequada com esses mercados, os festejos populares tornam-se uma grande oportunidade para que as marcas consigam explorar a visibilidade nesses eventos. Por meio de ações estratégicas de folkmarketing, as empresas buscam estabelecer laços de identidade e captar a simpatia do público regional, lançando mão de elementos culturais, seja na criação das peças de comunicação, em ações promocionais ou até mesmo, na criação de produtos em edições comemorativas limitadas. Dado o contexto, deve-se pensar a questão de território e identidade frente a esse cenário mercadológico e folkmidiático, onde as marcas buscam sua interação com os consumidores dos mercados regionais apropriando-se, em suas estratégias de marketing e de comunicação, desse rico universo simbólico e da diversidade cultural do Brasil. Referências bibliográficas BAZAR Delli. Água de banho Cheiro de Moça Bonita. Disponível em <http://bazardelli.webnode.com.br/products/produto-1/> Acesso: 01 jun.2011. BOURDIN, Alain. A questão local. Tradução de Orlando dos Santos Reis. Rio de Janeiro: DP&A, 2001. CIDADE de Pirenópolis. 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Acesso: 01 jun. 2011. 16) AUTOR: Luiz Rogério de Lima Macêdo PONENCIA: Desenvolvimento e ambiente no Estado da Bahia (Brasil): Uma análise desde o Território de Identidade de Irecê INSTITUCION: Universidade do Estado da Bahia PAÍS: Brasil MAIL: [email protected] Introdução Este texto é um recorte dos resultados da pesquisa intitulada “Dinâmica socioprodutiva de territórios susceptíveis à desertificação no Estado da Bahia: o caso de Irecê”, que redundou na dissertação de mestrado do autor, defendida no ano de 2011.Aborda questões referentes aos vínculos dos processos de degradação ambiental e desertificação com a implantação e uso desigual dos objetos e sistemas técnicos esubsídios associados às políticas de modernização do setor agropecuário, em moldes conservadores, que marcaram o Território de Identidade de Irecê138 (ver anexo A), para, com isso, refletir sobre os padrões territoriais resultantes do processo de desenvolvimento regional. Dentro do objetivo mais amplo são analisados duas outras questões. A primeira diz respeito aos vínculos entre o modelo que informou as políticas de modernização 138 O Território de Identidade de Irecê, composto por 20 municípios, abrigava no ano de 2006 uma população de 391.213 habitantes distribuídos em uma área de 27.730 km², gerando uma densidade demográfica de 14,64 hab./km². Seu contingente populacional representava, no mesmo ano, 2,8% dos 13.950.146 habitantes do Estado Bahia, tornando-o o 13º Território de Identidade mais populoso entre os 27 que compõem o Estado, em uma posição distante da Região Metropolitana de Salvador que, com uma participação no total populacional de 24,23%, era Território de Identidade mais populoso da Bahia. O segundo mais populoso era o Território Litoral Sul com uma participação de 6,1%. 261 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens implementadas no Nordeste Semiárido com a região de Irecê e seus desdobramentos em termos dos processos de degradação e desertificação. A segunda, busca estabelecer as relações espaciais entre o processo de expansão agrícola com seus impactos nos indicadores produtivos, tecnológicos e sociais e as alternativas que estão sendo vislumbradas por grupos e entidades organizadas da sociedade civil na tentativa de reformar as atitudes dos produtores e proprietários frente ao ambiente. Abordagem teórico-metodológica A Organização das Nações Unidas (ONU) classifica como desertificação “a degradação das terras nas zonas áridas, semiáridas e subúmidas secas resultantes de fatores diversos tais como as variações climáticas e as atividades humanas” (BRASIL, 1998). A partir dos critérios adotados, a região do Semiárido Brasileiro139, historicamente conhecida pela questão das secas, foi oficialmente demarcada como área susceptível à desertificação. Há um relativo consenso entre os pesquisadores brasileiros em torno das suas causas: a intensa intervenção humana sobre os recursos naturais do semiárido, efetuada em desacordo com suas características ambientais.140 Recentemente, o Governo Federal, através do Ministério do Meio Ambiente, lançou o Programa de Ação Nacional de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca (PAN-Brasil), que tem o objetivo de cumprir as diretrizes emanadas da Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação (BRASIL, 2005). Com esse intuito foi produzido o documento intitulado Atlas das Áreas Susceptíveis à Desertificação do Brasil. O PANBrasil reconhece como áreas sujeitas à desertificação “[...] o trópico semiárido, subúmido seco e áreas de entorno, ocupando cerca de 1.340.000 km² e atingindo diretamente 30 milhões de pessoas” (BRASIL, 2005, p. 9). 139 Devido a inclusão do norte de Minas Gerais como área susceptível à desertificação, nos documentos oficiais é utilizada a expressão Semiárido Brasileiro e não só nordestino. 140 Sobre a ação humana como causa principal da desertificação no Brasil consulte, entre outros, Matallo (2003; 2005); Pachêco (2006); Sampaio (2005); Nimer (1988); Sales (2003) e Lemos (1997), além do PAN-Brasil. 262 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens É bastante claro que a desertificação - que é um conceito genérico e, por isso, ambiguo - ocorre em espaços determinados. Entretanto, não é possível predizer se os fatores sociais a ela ligados possuem raízes autóctones ou são resultantes de estímulos advindos de outros espaços. Obviamente que não se está referindo aqui às ações diretas causadoras do fenômeno do ponto de vista puramente físico, mas àquelas que podem induzi-lo ou serem por ele induzidas. Dessa forma, para que o objetivo proposto fosse levado a cabo foi preciso ter em consideração que, vistas de forma isolada, nem a materialidade das características naturais herdadas, nem aquelas resultantes de modificações introduzidas socialmente no meio geográfico, são suficientes para explicar a dinâmica do espaço regional aqui analisado. Tampouco é possível fazer uma análise focada apenas no Território de Irecê, não obstante a condição de centralidade que ocupa na análise. O viés da abordagem, que confere ao estudo da dinâmica territorial um lugar central, é o que garante a cimentação necessária para interpretação dos dados. Operacionalmente, entende-se aqui o território como o espaço produzido e apropriado pela sociedade, em suas diversas segmentações, e, nesses termos, caracterizado, em parte, pelas continuidades e descontinuidades relacionadas à sua inserção na divisão social do trabalho, o que permite falar de uma divisão territorial do trabalho. Com efeito, privilegiou-se abordar a relação sociedade/ambiente no Território de Irecê a partir da mediação estabelecida pela disponibilidade e uso dos objetos técnicos mais destacados -aqueles cuja significação é adequada para o recorte temático em foco. Tal abordagem permite interpretar as contradições e desigualdades presentes nas territorializações do espaço regional. Do ponto de vista interpretativo, os disníveis presentes nas relações territoriais podem ser tomados como elementos de agregação/desagregação de acordo com a escala espacial de análise. Assim, por exemplo, um espaço regional, se analisado internamente, pode apresentar características desagregadoras, estabelecendo-se dessa forma dinânimicas destintas entre seus 263 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens subespaços. Por outro lado, pode apresentar relações mais agregadoras se analisado em relação com outros “territórios” regionais. Mas, ainda assim, em todo os casos, persistem elementos de movimento, de instabilidade, de mudança. A busca deve ser, então, por identificar e interpratar os eventos que contribuem para uma maior ou menor intensidade da mudança em dado tempo-espaço. Na pespectiva referida, adotou-se, em parte, a compreensão de Santos (2008) e Santos e Silveira (2004) sobre espaço e território, tomadas sobretudo naquilo que concerne ao papel da técnica e dos objetos e meios técnicos para a configuração territorial. Assim, do ponto de vista operativo entende-se neste trabalho que a dinâmica141 de um território está relacionada com o trabalho morto142 nele cristalizado e com a sua inserção, enquanto espaço apropriado por grupos sociais, na divisão territorial do trabalho. O trabalho morto, entendido como aquele materializado no conjunto dos artefatos produzidos pelo trabalho humanoao longo do tempo, delimita as possibilidades de atuação dos sujeitos sociais no presente, segundo a posição que cada um ocupa na estrutura social. Com efeito, os artefatos integrados ao território cumprem funções relativamente distintas a depender das condições socioeconômicas, políticas, culturais e ambientais a que estão submetidos. Para Santos e Silveira (2004), o espaço geográfico é definido por sistemas de objetos e sistemas de ações, e suas formas híbridas, as técnicas, que indicam como o território é usado. A interação dialética e indissociável entre os sistemas de objetos e os sistemas de ações, é, por sua vez, condição e condicionante da sucessão histórica dos meios técnicos. Dessa maneira, é possível falar de um meio pré-técnico, de um meio técnico-científico e de um meio técnicocientífico-informacional, associados, respectivamente, à fase na qual o homem tinha uma influência restrita sobre a natureza; ao período compreendido pela primeira e segunda revoluções científicas; e à fase contemporânea, caracterizada pelo avanço sem precedentes do aparato informacional e seus desdobramentos sobre os meios de produção e os territórios. 141 Por dinâmica se está qualificando o movimento e a ação das forças que produzem ou modificam o contexto regional. 142 Em sua forma abstrata, ou seja, despido das propriedades particulares que o diferencia. 264 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens O caminho para a compreensão do espaço passa, dessa forma, por uma revisão histórica dos sistemas técnicos a ele integrados, definidos como objetos e formas de fazer e de regular. “Nesta concepção as técnicas são um conjunto de meios instrumentais e sociais, com os quais o homem realiza sua vida, produz e, ao mesmo tempo, cria espaço” (SANTOS, 2008, p. 29). As técnicas, vistas de maneira genérica e em conjunto, funcionam como sistemas que podem revelar muitos fatos e processos das épocas históricas que as engendraram, o que possibilita a análise de estruturas aparentemente anacrônicas, mas que são preservadas devido a novos arranjos entre as forças que interagem, de forma conflitante ou não, na produção e manutenção de um território. Entretanto, para que isso seja possível, as técnicas não devem ser vistas apenas em seus aspectos materiais, mas também nos seus aspectos imateriais. A abordagem metodológica adotada privilegiou mais intensamente as dinâmicas que atuam na constituição das formas e objetos no processo de (re)produção do espaço regional143, e não apenas (ainda que também) na análise das formas já acabadas. Por mais que se reconheça a importância de tais formas buscou-se atingir mais que um retrato do conjunto de artefatos e bens criados a partir do trabalho humano cristalizado, focalizando a análise dessa maneira também em seus processos de construção. Ou seja, em seus processos de formação e transformação. Isto requer, na medida do possível, uma visão global dos fenômenos e processos em estudo, já que as ações que os engendram não se restringem à escala regional apenas; como tampouco resultam de dinâmicas estanques ou concretizadas exclusivamente no presente. 143 Tomou-se como ponto de partida a regionalização adotada pelo Governo do Estado da Bahia em Territórios de Identidade. Este tipo de regionalização pode ser entendida como um processo pelo qual o Estado estabelece recortes para aplicar um conjunto de ações no espaço, tendo, portanto, um caráter distinto do conceito de região. Haesbaert (1999, p. 28) destaca que “enquanto a região adquire um caráter epistemológico mais rigoroso, com uma delimitação conceitual mais consistente, a regionalização pode ser vista como um instrumento geral de análise, um pressuposto metodológico [...], pois a principio qualquer espaço pode ser objeto de regionalização, dependendo dos objetos definidos pelo pesquisador.” No entanto, há um conjunto de evidências, dispersas, que indicam que o Território de Irecê abriga um contexto regional específico, ainda que o primeiro não seja necessariamente a expressão do segundo. 265 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens O recorte temporal, delimitado a partir do contexto de formação e dinâmica socioeconômica relativamente recente da região, tem como marco inicial os primeiros anos da década de 1980, período no qual a economia da região ainda se encontrava fortemente influenciada pelos efeitos da expansão da produção agrícola, sobretudo do triconsórcio feijão, milho e mamona, iniciada a partir do final da década de 1940. Esse recorte permite evidenciar duas dinâmicas distintas no contexto regional de Irecê: 1) a da referida expansão agrícola fundada na agricultura de sequeiro e seus corolários; e 2) um aparente esgotamento dessa expansão, a partir dos anos finais da década de 1980 e início dos anos de 1990, quando a agricultura irrigada consolida-se como alternativa. Permite, também, analisar que heranças desses processos legaram para os anos mais recentes. As informações e dados que serviram de substrato para a interpretação do contexto regional são provenientes de 7 (sete) entrevistas semiestruturadas com representantes de instituições governamentais e de entidades da sciedade civil e dados secundários provenientes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho e Emprego do Brasil (MTE). A inserção do Território de Irecê no processo de modernização conservadora A região de Irecê foi inserida no movimento mais geral de modernização da atividade agropecuária em moldes conservadores144 que tem predominado no Nordeste, com maior ou menor intensidade, desde o final da década de 1960, e, sobretudo, a partir dos anos 1970. Esta inserção esteve ligada, em um primeiro momento, às vantagens locacionais herdadas do meio natural (solo calcário extremamente fértil na sub-região do Platô Irecê, e um aquífero com um potencial razoável), que a permitiu alcançar níveis de produtividade na cultura do feijão pouco comuns ao restante do Semiárido baiano desde a década de 1950. No entanto, sua efetivação no cenário macrorregional como grande produtora de grãos (feijão e milho) e 144 Não é o intuito deste texto discutir conceitualmente o processo de modernização realizado na região Nordeste do Brasil entre as décadas de 1960 e 1980. O leitor interessado em aprofundar o estudo do tema pode consultar Moore Junior(1975);Castro (1996) e Oliveira(1981b), dentre outros. 266 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens mamona só foi possível graças ao aporte de infraestrutura e logística, bem como uma relativa abundância de crédito, financiados pelo Estado. No que diz respeito à infraestrutura, os investimentos estatais estiveram relacionados com a abertura de novas vias de transporte, melhoramento de algumas já existentes e a transferência e locação de máquinas e implementos agrícolas, entre outras. Em relação à logística, as principais ações foram desencadeadas com a implantação, e no decorrer das atividades, de instituições ligadas ao desenvolvimento regional, como a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (CODEVASF), Companhia de Desenvolviemnto e Ação Regional do Estado da Bahia (CAR) e a Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA)(Cf. DUARTE, 1963; SEI, 2000 e CAR, 2002). O crédito, por sua vez, era gerido por instituições de fomento e bancos estatais (ou de capital misto com controle acionário do Estado). A região foi transformada em um polo produtor de alimentos para abastecer alguns dos principais centros urbanos de médio e grande portes da Bahia e outros Estados do Nordeste, sobretudo aqueles que receberam fortes incentivos em seus parques industriais. Esse processo, de um lado, a inseriu na divisão territorial do trabalho emergente na região Nordeste, fruto do processo de consolidação do mercado nacional, e tendo como centro motor a indústria. De outro, a referida inserção aconteceu em uma condição precária, porque altamente dependente dos subsídios governamentais, dos recursos in natura regionais, além de alicerçada em produtos de baixo valor agregado.Os depoimentos colhidos durante visita a algumas áreas e municípios da região endossam essa interpretação da dinâmica regional do território de Irecê. O modelo de exploração adotado, no entanto, dependia sobremaneira das características biofísicas e climáticas da região, já que no plantio das culturas não havia o emprego de técnicas adequadas de manejo, sendo a prática mais comum apenas a completa retirada da vegetação. Os proprietários que estavam na vanguarda da exploração da terra a faziam, sobretudo, com a ajuda de máquinas e outros implementos agrícolas, cujo símbolo 267 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens 145 maior era o arado puxado a trator . O resultado em curto prazo foi o aumento da produtividade das culturas tradicionais (feijão, milho e mamona) e a rápida propagação das técnicas e tecnologias consideradas responsáveis por tal feito, ainda que isso fosse mais verdadeiro para aqueles proprietários de terras que já dispunham de alguma soma de capital acumulado. Concomitantemente à propagação material das técnicas e tecnologias em questão, e mesmo naqueles anos que a precederam mais de perto, houve, também, um intenso marketing ideológico em torno dos seus benefícios, cujo principal centro difusor era novamente o Estado. Essa difusão ideológica era realizada através da propaganda oficial e das exigências feitas pelos órgãos que concediam diretamente o crédito àqueles que o demandavam regionalmente. As principais exigências eram a manutenção de certos patamares de produtividade e de produção e a adesão ao plantio das culturas agrícolas mais rentáveis do momento. Estas questões são ratificadas também em todos os depoimentos. [...] tínhamos mais de 5 mil tratores na região, quando nós tínhamos crédito mais facilitado para o custeio agrícola, quando houve mais estímulo para o plantio de feijão, inclusive o governo dizia, naquela época, “plante que o governo garante”. (Entrevistado 1). Naquela época, como o solo ainda era bom [...] chegava-se a produzir até 20 sacas de feijão por tarefa. E gerou um motivo de sonhos, né? [...] A palavra de governo era “planta que o governo garante” [...]. Em determinado momento o banco exigia que fosse só o biconsórcio feijão e milho. E em alguns momentos queria que se plantasse apenas milho. Quando eles perceberam que a produção caiu um pouco, eles então só financiavam a monocultura. E aí se 145 De acordo com o censo agropecuário, a região de Irecê contava com aproximadamente 1.900 tratores no ano de 1980, quantidade não registrada em nenhuma outra região da Bahia no período, e mais de 5.000 arados. Embora alguns entrevistados relatem um número de tratores ainda mais significativo para o período. 268 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens estabeleceu em um determinado momento uma grande monocultura do feijão na região (Entrevistado 5). Esse conjunto de fatores, ligados umbilicalmente às estratégias dos sucessivos governos militares, e relativamente singularizadas pelas especificidades regionais, significaram para a região a supremacia da monocultura do feijão, em conjunto com o milho e a mamona, em menores proporções, responsáveis pelo avanço das lavouras sobre os remanescentes de caatinga. Como o modelo adotado não previa, entre as técnicas de manejo, atividades de recomposição dos nutrientes e da cobertura vegetal, houve um desgaste progressivo do solo, agravado pelo processo de compactação promovido pelo uso intenso de máquinas agrícolas, e outros implementos do gênero, de pequeno, médio e grande portes, cujo resultado foi a formação de uma crosta ferrífera146 a nível superficial, que tem contribuído para que a água das chuvas não infiltrem de modo satisfatório no solo, facilitando a erosão devido às enxurradas, que acontecem com uma frequência cada vez maior durante os curtos e intensos períodos chuvosos. Os entrevistados relataram também que houve fortes incentivos ao desmatamento da região pelo governo federal, principalmente a partir do programa denominado Pró-Feijão, na década de 1960, que nas palvras do Entrevistado 4 “financiava tudo pra o cidadão desmatar”. Os depoimentos também retratam que antes do intenso desmatamento a região possuía um equílibrio em relação à distribuição das chuvas mais adequado aos ciclos dos principais produtos agrícolas, diferindo das últimas décadas que tem se caracterizado pela imprevisibilidade e grande concentração das precipitações pluviométricas em curtos períodos de tempo. Nós erámos uma grande área com índice pluviométrico maior. Com um equilíbrio climático intenso, sem grandes variações. Claro! De tempo em tempo você tem as grandes 146 Ver Oliveira, Magat e Blot (1993) 269 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens secas, a exemplo de 1932, 1969, 1972. Mas o que aconteceu, e eu acredito que isso tem haver, é que o modelo é um modelo cansado. Da grande área plantada sem tecnificação nenhuma, sem adubação, sem estudos pra variedade adequada, que aguente, que tenha uma resistência maior ao estres hídrico. Então esse desmatamento desenfreado virou essa grande área desmatada que tem aqui (Entrevistado 4). A partir do final da década de 1980 e, sobretudo, na década de 1990, a retração do crédito governamental, ocasionada, em um âmbito mais geral, pela mudança de rumo do Estado brasileiro no período pós-ditatorial, associa-se ao quadro regional já debilitado pela exaustão dos recursos naturais e a permanente fragilidade às estiagens, que a cada ocorrência provocava prejuízos maiores. As políticas neoliberais diminuíram a capacidade de intervenção do Estado na economia. Em decorrência, no nível estadual, os investimentos passaram a ser seletivos, priorizando os espaços mais competitivos. O investimento na região passou então a ser identificado como de alto risco, face às estiagens, o que resultou em uma diminuição drástica do crédito disponibilizado para seus municípios. Assim, a estiagem ocorrida no ano de 1993(Cf. Barbosa, 2000), tida como um divisor de águas para a agricultura de sequeiro da região de Irecê, foi, na interpretação aqui adotada, o marco simbólico que evidenciou os limites ambientais e econômicos desse ramo específico da atividade agrícola, mas ainda não do modelo de exploração econômica. Isso porque foi também a partir da década de 1980 que a agricultura irrigada começa a emergir como uma atividade rentável, e mesmo como alternativa à de sequeiro. Território de Irecê: mudanças e permanências A agricultura irrigada, apesar de provocar um conjunto de mudanças razoáveis na região, não está sendo capaz de transformar substancialmente o meio técnico regional, atrelado ao modelo de “modernização conservadora” comandada pelo Estado, de maneira mais intensa entre as décadas de 1960 e 1980. Na verdade o que se pode apontar em relação à agricultura irrigada é que houve uma metamorfose entre seus caracteres típicos com os 270 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens objetos técnicos e o sistema de ações que predominam na região desde o início do processo de expansão da agricultura, na década de 1960. Ou seja, alguns objetos técnicos e formas características da agricultura de sequeiro, como o trator, o arado e demais implementos agrícolas, bem como o uso, e as técnicas de uso, de algumas parcelas de terras com a junção do triconsórcio feijão, milho e mamona, passam por uma ressignificação funcional ao serem submetidas à agricultura irrigada. Contudo, os conteúdos associados a esses objetos e formas pouco se alteram, reproduzindo-se no território de Irecê, ainda que de uma maneira mais rarefeita que em outras partes do Nordeste, uma mudança gradual de padrão técnico e tecnológico sem que haja concomitantemente transformações nas relações de produção predominantes. Ou seja, nos sistemas de ações. Para exemplificar algumas das mudanças e permanências referidas serão apresentados, a seguir, um conjunto de dados e informações sobre a evolução do emprego formal e da renda média do trabalhador contratado nesta condição, entre os anos de 1985 e 2009, tendo como fonte a RAIS/MTE; o total do pessoal ocupado na atividade agropecuária, de acordo com os dados do IBGE de 1980, 1995 e 2006, que registram, além do emprego formal, também o informal; a estrutura fundiária associada à agricultura irrigada; bem como as repercussões ambientais dessa modalidade agrícola na região. Do ponto de vista do emprego formal, constatou-se que sua participação na região foi diminuta entre os anos de 1985 e 2009 (Gráfico 1). Este fato, no entanto, não invalida algumas interpretações sobre sua trajetória, relacionadas com a agricultura de sequeiro e a irrigada. Percebe-se que até o ano de 1996, período que engloba parte da fase de maior expansão da agricultura de sequeiro, a quantidade de empregos jamais ultrapassou a casa dos 100 postos. 271 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Empregados em 31/12 Anos Fonte: RAIS/MTE (1985-2009) Gráfico 1 – Evolução do emprego formal no setor agropecuário no território de identidade de Irecê – 1985/2009 Isso indica que, mesmo com todo o investimento estatal aplicado no processo de modernização da atividade agropecuária na região, as relações de trabalho continuaram majoritariamente informais. Como revela a história econômica e a geografia das relações de trabalho no campo brasileiro, apontadas, dentre outros, por Oliveira (2001), a informalidade na atividade agropecuária oculta, em muitos casos, relações não capitalistas de produção, cujas facetas vão desde a cooperação entre os pequenos produtores rurais, através das diversas formas de parceria e arrendamento, à superexploração do trabalhador nos processos de conversão da renda da terra em capital, realizada inclusive com o uso da parceria e do arrendamento, só que nestes dois últimos casos com o proprietário de terras utilizando a força de trabalho do pequeno produtor metamorfoseado no trabalhador rural, sobretudo a partir da necessidade do trabalho temporário fora de sua propriedade. De outro lado, a partir do final da década de 1990 começou uma tendência de crescimento do emprego, que permaneceu relativamente constante até o ano de 2007, com um pico extraordinário no ano de 1998147. Entretanto, a partir de 2008, tem início o que aparenta ser um processo de inflexão na tendência anterior, o que só poderá ser avaliado com o 147 Abstraindo-se a possibilidade de que tenha havido erro significativo de preenchimento das declarações por parte das empresas, durante os anos de 1997 a 1999 272 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens surgimento de novos dados. Mas, o que retrata esse crescimento do emprego formal nos anos 2000? Em uma primeira aproximação não há como descartar certa contribuição da agricultura de sequeiro, sobretudo quando se sabe que a emergência do biodiesel durante meados da década em questão propiciou um novo fôlego à produção de mamona na região. Mas a observação dos dados sobre produção, produtividade e valor da produção dos produtos tradicionais e daqueles típicos da agricultura irrigada, verificados junto a Pesquisa Agrícola Municipal (PAM) do IBGE, entre os anos de 1990 e 2008 (Cf. MACEDO, 2011), sugere que esse aumento deve ser creditado em maior grau à agricultura irrigada, já que os produtos dela derivados, a exemplo do tomate e da cebola, são os que mais cresceram, em relação às três variáveis citadas, nos últimos anos. Segundo as informações passadas por alguns entrevistados, a Associação de Irrigantes, com sede no município de Irecê, que congrega muitos dos produtores mais capitalizados, divulgou dados estimatimados do contingente de pessoas trabalhando diretamente com a irrigação na área do Platô de Irecê, que variam em torno de 40 a 50 mil. Os dados de pessoal ocupado na atividade agropecuária provenientes do IBGE (Tabela 1) retratam uma realidade aparentemente distinta quanto a importância desse setor na economia do Território se comparada àquela apresentada pela RAIS. Tabela 1 - Pessoal ocupado em estabelecimentos agropecuários - Território de Irecê (Pessoas) Divisões territoriais Território de Irecê Anos 1980 1995 2006 93.992 125.617 134.186 Fonte: IBGE - Censos agropecuários 273 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Através deles é possível perceber a importância que a atividade agropecuária ainda possui na região. Os dados dos Censos Agropecuários também mostram que houve crescimento do pessoal ocupado no período, mesmo com o declínio da produção na agricultura de sequeiro. Mais uma razão para creditar o crescimento, em maior grau, à agricultura irrigada.Em termos percentuais o crescimento foi de 33,6% entre os anos de 1980 e 1995, e de 6,8% no intervalo compreendido entre 1995 e 2006. No computo geral do período o crescimento foi de 42,7%. A maior parcela dos postos de trabalho ligados à atividade agropecuária, particularmente à agricultura, de sequeiro ou irrigada, são temporários. Mas, ainda assim, há diferenças qualitativas entre uma e outra. Enquanto na agricultura de sequeiro o sistema de troca da força de trabalho diretamente por produtos ou por uma parcela de terra por curtos períodos de tempo tinham uma contribuição significativa, na irrigada as relações são mais monetarizadas, tendo como base o pagamento em dinheiro pelo dia de trabalho (diária) efetivamente realizado pelo trabalhador, que não possui, na maioria dos casos, qualquer vínculo legal trabalhista com o empregador. Todavia, ao contrário do que se pode supor, devido a maior monetarização das relações de trabalho, a condições laborais do trabalhador típico da agricultura irrigada não são melhores do que aquelas dominantes na atividade de sequeiro. Predominam em ambas as modalidades citadas, condições precárias que se refletem diretamente nas condições médias de vida de uma grande parcela da população regional. Uma síntese do exposto é encontrada no trecho a seguir, extraído do depoimento do Entrevistado 3: Grande parte é temporário. É mais na época do plantio e da colheita [...]Assim, o “boom” realmente é na época da colheita. [...] É naquele estilo temporário mesmo, de pagar a diária. O pessoal vai cedinho, tipo, estilo boia-fria! [...] O que é um pouco diferente do tipo de trabalho gerado na época também do feijão, [...] na época da colheita demandava muita gente [...], muita gente vinha de fora da região de Irecê. Vinha buscar emprego. Mas antes existia muito mais aquele arrendamento, essa divisão, é... meeiro, aquela coisa toda. (Entrevistado 3). 274 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens O Relatório de Desenvolvimento Rural Sustentável de Irecê, produzido com a coordenação da Secretaria de Desenvolvimento Territorial do Ministério do Desenvolvimento Agrário, sinaliza a condição do pessoal empregado na atividade agrícola regional. Ele aponta, entre outras questões, a grande dependência que a região ainda tem da agricultura e a renda exígua que ela proporciona para os agricultores menos capitalizados, que são maioria absoluta no território. Aponta que as possibilidades dos agricultores na busca de outros tipos de renda no Território são bastante reduzidas, uma vez que a economia local é extremamente dependente da agropecuária. Sendo assim, as maiores oportunidades de emprego são as ocupações temporárias na agricultura, seja de sequeiro ou irrigada. Estas ocupações geralmente são de baixa remuneração (BRASIL, 2008). Outro indicador que ajuda a deduzir o nível médio de vida da parcela da população regional ligada à agricultura é a renda média dos empregados na atividade agropecuária cujos vínculos com os empregadores são reconhecidos pela legislação trabalhista (Gráfico 2). Majoritariamente, os trabalhadores nessa condição, se enquadram nos extratos de renda entre 0,5 e 2 salários mínimos, com uma parcela maior, em praticamente todos os anos da sérieanalisada, no extrato de 0,5 a 1 salário. Não obstante a indisponibilidade de dados sobre a renda média dos trabalhadores em situação informal no território de Irecê é de se pressupor, pela própria característica da região Nordeste e do estado da Bahia, sobretudo do semiárido, e pelos relatos dos entrevistados, que se situa num patamar inferior ao daqueles empregados formalmente148. A condição do trabalhador informal da agricultura é ainda mais precarizada que a do empregado em condição formal devido à falta de acesso aos direitos trabalhistas, como os benefícios previdenciários (aposentadoria, seguro desemprego, auxílio doença, salário maternidade, etc.), o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), férias, 13º salário, dentre outros. E a situação é semelhante tanto na agricultura de sequeiro quanto na irrigada, 148 Deixa-se claro que se está tratando aqui apenas da renda proveniente da atividade agrícola. Atualmente a composição da renda do trabalhador rural sofre influência de outras fontes, como os programas de transferência de renda do governo federal e outros benefícios sociais. 275 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens ainda que nesta última, como já apontado, haja uma proporção menor do trabalho não Empregados em 31/12 remunerado. Extratos d e renda e m salário s mínimo s Gráfico 2 – Extratos de renda, em salários mínimos, dos empregados em situação formal no setor agropecuário em anos selecionados – Território de Irecê Fonte: RAIS/MTE O trecho a seguir, extraído do depoimento do Entrevistado 4, reforça o que já foi dito pelo Entrevistado 3, e também algumas das interpretações expostas nos dois últimos parágrafos. ...a grande maioria das pessoas que trabalham na irrigação aqui são pessoas de povoados próximos às irrigações que se deslocam. O irrigante ele vai lá, aluga um carro e leva no período de necessidade, mas sem vínculo empregatício. [...] Então o vínculo que tem é só esse, de permanência constante de uma turma que é boa, que trabalha bem, que chega na roça e que produz, né? (Entrevistado 4). De acordo com dados do censo agropecuário de 2006 (IBGE), entre as técnicas e tecnologias de irrigação empregadas nos 2.352 estabelecimentos, 43,7% deles faziam uso de métodos localizados, como gotejamento e microaspersão, outros 33,6% utilizavam a aspersão por outros métodos, 13,1% sulcos, 0,2% aspersão por pivô central e 11,2% outros métodos de 276 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens irrigação e/ou molhação. Os métodos de aspersão por pivô central e aspersão (outros métodos), a despeito de serem empregados em menos estabelecimentos que a soma dos demais, se caracterizaram pela associação aos estabelecimentos com mais de 100 ha. Entre os 4 estabelecimentos que faziam uso de pivô central, por exemplo, um estava no estrato de 50 a 100 ha, um outro entre 100 e 200 ha e os 2 restantes no estrato de 500 ha e mais. Assim, dos 9 estabelecimentos (0,4% do total) com uso de irrigação que possuíam áreas acima de 500 ha e ocupavam uma área equivalente a 14,8% do total, 8 deles usavam pivô central ou aspersão por outros métodos. Já nos estratos abaixo de 100 ha predominavam os métodos localizados e outros métodos de irrigação e/ou molhação. Contudo, independentemente do método empregado ou do porte dos estabelecimentos, constata-se que a agricultura irrigada não soluciona o problema da degradação ambiental e, consequentemente, da desertificação, que estão intimamente relacionadas com o modelo de exploração econômica engendrado a partir, sobretudo, das políticas de modernização agrícola comandadas pelo Estado. Associado a essas características fundiárias e tecnológicas, houve uma intensificação das relações de arrendamento na região, como uma das características centrais do processo de uso e ocupação das terras para irrigação, cujas principais bases são a manutenção do modelo de superexploração da terra e o colapso socioeconômico de uma parcela significativa dos pequenos e médios agricultores, muitos deles vinculados à dívida ativa da União após sucessivas perdas de safras e o declínio dos subsídios governamentais. Ultimamente os irrigantes estão arrendando muitas terras do pequeno. Até porque o pequeno [proprietário]...A agricultura de sequeiro praticamente a rentabilidade dela é zero, hoje, né? [...] O agricultor dá a propriedade, o outro vem, que têm condições, tem outra atividade, vem de outra região. Vem de Euclides da Cunha [município situado no nordeste do Estado da Bahia] , vem de outras regiões da Bahia, e arrenda a propriedade, e dá ao produtor 20% da produção. Pra o agricultor, que não teve trabalho nenhum... No comércio 20% é a margem de lucro. Passou a ser um bom negócio também. E muitos passaram a sobreviver 277 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens disso. E muitos também abandonaram as suas propriedades... que começou a diminuir as áreas de plantio... (Entrevistado 1). A intensificação do arrendamento vinculado à agricultura irrigada está relacionada à diminuição da vazão dos poços tubulares, utilizados como principal fonte de água para a irrigação na subregião do Platô de Irecê149, e à queda da produtividade das lavouras em um curto período de tempo, devido ao declínio dos nutrientes do solo, ocasionada, como já referido, pela exploração excessiva sem a observação de técnicas e tecnologias de manejo adequadas. Os produtores mais capitalizados da agricultura irrigada “perceberam” que era mais “vantajoso” economicamente arrendar terras junto aos pequenos produtores, desprovidos de capital para investir, que aplicar técnicas de manejo capazes de recompor níveis aceitáveis de vazão dos poços e a produtividade das lavouras nas terras que já exploravam. Predomina, dessa forma, a visão de curto prazo, na qual se elege como prioridade a disponibilidade imediata de terras e água para a continuação da atividade, apoiada em uma intensa rotatividade de propriedades em prol dos produtores mais capitalizados da agricultura irrigada. Também os entrevistados chamaram atenção para a questão em seus depoimentos. Acerca da sustentabilidade da atividade irrigada destacaram que, apesar da pujança, não se sabe até quando ela será sustentável. No primeiro momento ela tem se apresentado economicamente viável. Mas, a médio e longo prazo, sua insustentabilidade tende a revelar-se de forma ainda mais contundente pelo risco da redução do lençol freático, devido a intensa retirada da água e a degradação das áreas de recarga. A maior intermitência dos rios Verde e Jacaré (principais rios da região, excluindo o São Francisco) dão indicações de que a retirada da caatinga e a sua substituição pelas lavouras e pastagens tem comprometido a relação infiltração/escoamento durante o período chuvoso na região. O Entrevistado 3 sinalizou esse caráter degradador e imediatista do uso das terras na agricultura irrigada e sua relação com o arrendamento, bem como a fragilidade socioeconômica dos pequenos produtores que estão cedendo suas terras por este sistema. 149 Ver anexo A 278 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Então, sequeiro o pessoal não confia mais, já cansou de perder. Então muitos agricultores não tem dinheiro pra investir na agricultura irrigada. Aí, às vezes, ele faz o que? Ele arrenda aquela terra para o irrigante, por que o irrigante, muitos têm consciência que o processo ali é temporário, de usar aquela terra por vinte, trinta anos, depois a terra não suporta mais, aquela água vai esgotar, existe uma migração de acordo a água. Acabou um poço aqui, o cara vai migrando [...] O pequeno produtor como não tem uma renda, muitos vivem hoje até do bolsa família, e tudo... essa coisa. Acaba arrendando estas terras e muitas vezes eles vão acabar sendo empregados mesmo daquele proprietário irrigante (Entrevistado 3). O Entrevistado 4 salientou, também, a degradação relacionada com a atividade irrigada, sobretudo no que diz respeito ao processo de salinização do solo, além de apresentar informações sobre a abertura indiscriminada de poços. Segundo o referido Entrevistado são abertos aproximadamente 300 poços por mês na região, dos quais cerca de 30 deles, em média, seriam por vias legais. [...] com água calcária, rica em carbonato de cálcio e magnésio, e com índice de salinização muito grande dos solos. Então eles iam fazendo aquela coisa nômade, né? Meio predatória. O terreno “cansava” e eles não se preocupavam em retrabalhar, em fazer consórcio, né? Pra reaproveitamento da mesma terra. E iam pra outros lugares [...] Por exemplo, aqui tem 50 máquinas de perfuração. Três empresas são legalizadas, o resto tem umas que vem de Brasília, vem de Guanambi. [...]. Aqui, por mês, seguramente, estão sendo furados aproximadamente 300 poços! Desses, legais, eu acho que não existem 30. Então de onde você tira não repõe... Esse balanço negativo uma hora vai sobrar para todo mundo! (Entrevistado 4). O Entrevistado 1 chama a tenção para os problemas já citados pelos outros entrevistados e indica outras questões também relacionadas com a política de abertura e manutenção dos poços que abastecem a agricultura irrigada, como a desigualdade de acesso a 279 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens água, provocada pelo aprofundamento do nível dos poços e o uso de tecnologias com significativo poder de captação em determinadas propriedades. O agricultor que tem melhores condições ele faz um rebaixamento do poço artesiano, vai lá pra 150, 300 metros. [...] Mas quando nós começamos a explorar, o vizinho, que tinha uma cacimba, secou. [...] Agora você imagina hoje o agricultor que tem o poço artesiano, como a Fazenda Canaã, que tem 22 poços artesianos explorando. E mesmo nessa crise eles continuam atuando. Os agricultores vizinhos, os poços secam. Eles puxam a água toda. [...] Os agricultores com melhores condições refazem o rebaixamento, exploram tudo que tem. ‘Bota’ bomba submersa. Uma bomba submersa de 50 HP ela pode tirar 200 mil litros de água por hora! (Entrevistado 1). Nos processos citados há diferenças qualitativas incontestes que não podem ser desprezadas. A principal delas diz respeito às relações entre densidade técnica e tecnológica, a desigualdade socioeconômica entre os produtores e o processo de degradação. Considerações finais É aceitável inferir, pelo que já foi exposto até aqui, que em termos dos processos técnicos não há grandes disparidades entre os produtores, já que seguem majoritariamente o mesmo modelo de exploração da terra. Não se quer negar as diferenças existentes, mas, apenas salientar o fato delas não serem suficientes para extrapolar o modelo de exploração herdado do processo de modernização conservadora. A disparidade fundamental, então, se estabelece em relação à densidade tecnológica, ou seja, na apropriação e uso dos objetos técnicos mais intensivos em relação às alterações que promovem no ambiente, no sentido de propiciarem, ainda que potencialmente, maiores retornos econômicos. Aqui está o “X” da questão. A desigualdade de acesso aos objetos técnicos é condicionada pela disparidade socioeconômica. Desigualdade e disparidade que acabam, em um processo de retroalimentação, determinando o maior ou menor poder de alteração no ambiente. 280 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Neste sentido, há que se destacar que os produtores mais capitalizados ligados à agricultura irrigada são capazes de dispor de tecnologias mais intensas no que se refere às modificações impostas ao ambiente, o que implica, potencialmente, tanto retornos econômicos maiores quanto maior capacidade de degradação ambiental. Mas, aqui cabe uma ressalva. Não se está afirmando que existe no território de Irecê, ou em qualquer outra região com características semelhantes, uma escala de degradação associada aos produtores, que varia em função de suas condições econômicas. Mas que existem, sim, diferenças significativas associadas aos seus potenciais de degradação ou não degradação de acordo aos objetos técnicos que controlam. Os processos e fatos citados até aqui corroboram, até certo ponto, a interpretação de que a desertificação, entendida como a degradação da terra no semiárido, devido, sobretudo as ações dos grupos e classes sociais, tem como causa todo o legado do modelo de crescimento econômico fundamentado na noção de inesgotabilidade dos recursos naturais (produtivismo derivado dos cânones da Revolução Verde) aliado a uma estrutura social desigual. Compreende-se que, de fato, no território de Irecê, os processos de degradação não são um resíduo indesejado do processo de ocupação e uso do solo e dos demais recursos do semiárido, proveniente de desvios do modelo de desenvolvimento hegemônico implantado ao longo dos três últimos séculos. Os fatos e processos permitem interpretá-la como um produto dialético da continuidade e da exacerbação da existência desse modelo. Algumas questões ainda merecem ser colocadas. A primeira delas diz respeito à falta de compreensão adequada do papel das classes dominantes regionais, sobretudo de suas possíveis articulações com outras forças extraregionais e com os aparelhos do Estado, dentro do enquadramento metodológico da pesquisa. Ficando esta questão como indicativo para futuras pesquisas sobre a região. A segunda diz respeito às alternativas que estão sendo vislumbradas por grupos e entidades da região na tentativa de reformar as atitudes dos produtores e proprietários da região frente ao ambiente. As estratégias mais comuns neste sentido giram em torno do movimento mais geral de convivência com o semiárido e que tem 281 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens produzido na região propostas e projetos de “recaatingamento” e do uso de sistemas mistos de produção, inspirados nos sistemas agroflorestais. Contudo, essas inciativas ainda são diminutas quando postas em confronto com a forma predominate de exploração da terra na região, mas, não deixam de sinalizar alguma perspectiva de mudança, que, para ser efetiva, denpenderá não só de reformas no modelo atual, e sim de uma transfomação baseada em uma coordenação de esforços mais ampla, que extrapole o território de Irecê. Embriões de ações dessa natureza aparecem “aqui e ali” no semiárido, mas ainda não ganharam um sentido orgânico. Referências BARBOSA, D. V. N. Os impactos da seca de 1993 no semiárido baiano: caso de Irecê. Salvador: SEI, 2000. BRASIL, INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Censos Agropecuários, 1980, 1995/96, 2006. 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Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens BRASIL. MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO (MTE). Relação Anual deInformações Sociais (RAIS). Brasília, DF, 1985 a 2009 CAR, COMPANHIA DE DESENVOLVIMENTO E AÇÃO REGIONAL (BA). Irecê: perfil regional Programa de Desenvolvimento Regional Sustentável - PDRS. Salvador: CAR, v. Série Cadernos CAR, 29, 2002. CASTRO, I. E. Seca versus seca. Novos interesses, novos territórios,novos discursos no nordeste. In: CASTRO, E.; GOMES, P. C. D. C.; CORRÊA, R. L. Brasil: questões atuais da reorganização do território. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1996. DUARTE, A. C. Irecê: uma área "insulada" no sertão baiano. Revista Brasileira de Geografia, vol. 25, nº 4 out./dez. 1963. p. 453-474. FRANCA-ROCHA ET AL, W. 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Ano de nascimento: 1948. Lugar de nascimento: Irecê, Ba. Município de origem: Irecê, Ba. Local e data da entrevista: Município de Irecê, novembro de 2010. Entrevistado 2 – Técnico da Codevasf. Escolaridade: 3º grau. Ano de nascimento: 1954. Lugar de nascimento: Gentio do Ouro, Ba. Município de origem: Irecê, Ba. Local e data da entrevista: Município de Irecê, novembro de 2010. 284 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Entrevistado 3 – Professor da rede pública de ensino regional. Escolaridade: 3º grau. Ano de nascimento: 1979. Lugar de nascimento: Irecê, Ba. Município de origem: Irecê, Ba. Local e data da entrevista: Município de Irecê, novembro de 2010. Entrevistado 4 – Empresário da irrigação e membro da direção da Câmara de Dirigentes Logistas de Irecê. Escolaridade: 3º grau. Ano de nascimento: 1960. Lugar de nascimento: Estado de São Paulo. Município de origem: Irecê, BA. Local e data da entrevista: Município de Irecê, novembro de 2010. Entrevistado 5 – Integrante de organização não governamental. Escolaridade: 3º grau. Ano de nascimento: Não informado. Lugar de nascimento: Gentio do Ouro, Ba. Município de origem: Irecê, Ba. Local e data da entrevista: Município de Irecê, novembro de 2010. Entrevistado 6 – Integrante de organização não governamental. Escolaridade: 2º grau. Ano de nascimento: 1979. Lugar de nascimento: Jussara, Ba. Município de origem: Irecê, Ba. Local e data da entrevista: Município de Irecê, novembro de 2010. Entrevistado 7 – Técnica da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA). Escolaridade: 2º grau. Ano de nascimento: 1957. Lugar de nascimento: Saúde, Ba. Município de origem: Irecê, Ba. Local e data da entrevista: Município de Irecê, novembro de 2010. 17) AUTOR: María Belén Rolfi PONENCIA: El barrio como comunidad. Abordaje crítico desde una perspectiva socioterritorial. INSTITUCION: IIFAP / Universidad Nacional de Córdoba – CONICET PAÍS: Argentina MAIL: [email protected] Introducción “Las palabras tienen significados, pero algunas palabras producen además una <sensación>. La palabra comunidad es una de ellas. Produce una buena sensación: sea cual 285 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens sea el significado de comunidad, está bien <tener una comunidad>, <estar en comunidad>” (Bauman, 2009: v) Este trabajo tiene como objetivo problematizar sobre la noción de comunidad y su asociación con un espacio acotado, tal es el caso del ámbito barrial. Para ello se analizará críticamente un conjunto de documentos normativos tendientes a la regulación de los centros y asociaciones vecinales de las ciudades de Córdoba y Río Cuarto, sancionados en el contexto de restructuración estatal que caracterizó la puesta en vigencia del modelo neoliberal. Resulta de interés destacar que el término comunidad, sus sentidos y abordajes responden a un bagaje conceptual extenso y complejo en el que interactúan diversas disciplinas sociales, tales como la filosofía política, la historia, la antropología y la sociología, entre otras. Además, el término resulta ambiguo y la multiplicidad de alusiones al mismo incrementa su imprecisión. En tal sentido, Eric Hobsbawm (1994: 428, citado en Bauman, 2009:9) ha advertido que “la palabra comunidad nuca se ha usado de forma más indiscriminada y vacía que en las décadas en que las comunidades en sentido sociológico se hicieron difíciles de encontrar en la vida real”. Es por ello que esta propuesta no pretende un análisis exhaustivo de sus múltiples tratamientos disciplinares, sino más bien realizar una serie de consideraciones desde una perspectiva socio-territorial, que permita discutir sus implicancias para los estudios urbanos. Por otro lado, mediante el análisis de un conjunto documentos de índole normativa, cuyo contenido versa, en alguna de sus partes, acerca del asociativismo vecinal, se realizará una aproximación a las posibles vinculaciones entre la noción de comunidad y un tipo particular de organizaciones sociales cuyas prácticas tienen a la identidad barrial como elemento articulador principal (D´Amico, 2011), y al Estado municipal como uno de sus más importantes interlocutores. I. La comunidad y el barrio: las teorías urbanas clásicas 286 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens De acuerdo con los primeros tratamientos teóricos que desde la antropología y la sociología urbana se hicieron en relación al barrio, autores influenciados por corrientes positivistas desplegaron clasificaciones y tipologías con alcance general, enfatizando sobre rasgos comunes y supuestamente prototípicos de los territorios (D’Amico, 2011). Los barrios fueron entendidos como aquellas comunidades “primitivas”, “pre-capitalistas”, generalmente asociadas a ámbitos rurales, caracterizados por su autosuficiencia económica, homogeneidad social y estrechos vínculos sociales y comunitarios, en el marco de un modelo analítico con claras reminiscencias evolucionistas. “Si pudiera adscribirse – un tanto esquemáticamente– el primer tipo de solidaridad, y la relación de vecindad asociada a ella, al sistema de grandes categorizaciones abstractas y tipologías caras a los clásicos de la sociología, bien podría quedarnos la unidad donde se hallan esas relaciones (el vecindario, el barrio), ligada, por homología, al concepto de comunidad tradicional de Tönnies, de raigambre feudal, en oposición a la sociedad moderna, urbana y capitalista “(Gravano, 2005: 30)150. Será Robert Redfield quien introduzca el término sociedad folk, para hacer alusión a un tipo ideal de colectivo social caracterizada por ser “una sociedad pequeña, aislada, analfabeta y homogénea, con un agudo sentido de solidaridad de grupo. Las formas de vida están convencionalizadas dentro de este sistema coherente que llamamos ‘cultura’. El comportamiento es tradicional, espontáneo, acrítico y personal; no hay legislación, ni hábito de experimentación o de reflexión con fines intelectuales. El parentesco, sus relaciones y sus instituciones son las categorías modelo de la experiencia y el grupo familiar es la unidad de acción. Lo sagrado prevalece sobre lo profano; la economía es una economía de posición más que una economía de mercado” (Redfield, 1947 citado en Jaramillo, 1987: 239). 150 En palabras de Robert Nisbet, el término comunidad forma parte de las ideas-unidades de la sociología. Las mismas, de acuerdo a los planteos teóricos de este autor, necesitan presentarse como un par dicotómico. Es por ello que la antítesis de la comunidad es la sociedad. Son tipos ideales analíticamente construidos de relación social. Con ellos, se pretenden comprender las diferencias decisivas entre las sociedades que, genéricamente, pudiésemos denominar agrarias, pre-industriales o precapitalistas, y la sociedad urbana, industrial y capitalista, que se constituye en el polo de referencia de estas tipologías polares (Nisbet, 1987:34, citado en Villegas Vélez, 2003). 287 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Ferdinand Tönnies, por su parte, sugería que “lo que distinguía a la comunidad de otrora de la (moderna) sociedad que estaba surgiendo y en cuyo nombre se lanzaba la cruzada era un ‘entendimiento compartido por todos sus miembros’. Al respecto Bauman clarifica los alcances prácticos de tal entendimiento al asegurar que el mismo no es consecuencia de un proceso de negociación, “...no precisa ser buscado, y no digamos laboriosamente construido, o ganado en una lucha: ese entendimiento ‘está ahí’, ya hecho y listo para usar, de tal modo que nos entendamos mutuamente “sin palabras” (...). Este tipo de entendimiento en el que se basa la comunidad precede a todos los acuerdos y desacuerdos (...). Es un ‘sentimiento recíproco, vinculante’, ‘la auténtica voluntad de quienes están unidos entre sí’” (Bauman, 2009:4) El antropólogo argentino, Ariel Gravano advierte sobre la necesidad de reflexionar en qué medida este modelo folk no está encubiertamente al acecho, emergiendo de ciertas valoraciones y conceptos sobre la vida vecinal o barrial de las sociedades urbanas complejas. Es decir, resulta de interés indagar acerca de la vigencia de aquella idea del barrio como comunidad unitaria y contenida en sí misma. De hecho, esta significación tiende a reproducirse en la actualidad de acuerdo con un análisis preliminar que tomó en consideración documentos normativos y entrevistas exploratorias. Quienes participan de tal conceptualización son tanto funcionarios públicos como organizaciones sociales, además, de las referencias indirectas encontradas en instrumentos jurídicos locales. Siguiendo a Cristina Cravino (2004:77) “por detrás de los usos del término ‘comunidad’ se están presuponiendo ciertos comportamientos de los sujetos, los que actuarían bajo formas distintas a la sociedad concebida como una totalidad”. Se establece una clara distinción entre comunidad (relacionada con valores como la solidaridad, la reciprocidad y la proximidad) frente a la sociedad concebida como una unión artificial e instrumental. Y en lo referente a las partes de la ciudad se las tiende a pensar como meras comunidades locales con contenidos homogéneos. Se asegura que el barrio es concebido discursivamente y también conceptualmente como comunidad (Ibídem: 78) desde 288 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens una interpretación que recupera sus abordajes clásicos, en el marco de los estudios urbanos. Tales categorizaciones no se encuentran desprovistas de una carga axiológica e ideológica particular que se inscribe en la perspectiva dominante de la ciencia moderna. Con respecto a la idealidad del barrio, se establece una postura dicotómica a partir de la cual se asegura que “el género humano dejaría jirones de su propia existencia, en aras del progreso “material”. La ciudad simbolizaría este polo contrario a la vida natural, mientras que el barrio viejo y comunitario iría a jugar el papel de antídoto espiritual y humano” (Gravano, 2005: 135). II. a) El barrio desde un enfoque socio territorial Una breve referencia teórica Aquella idea constrictiva del barrio no ha logrado imponerse como una definición unívoca. Si consideramos que la “ciencia es acumulativa y que los componentes que encontramos hoy provienen de las teorías elaboradas en distintos momentos históricos, es posible concluir que la acumulación no implica una sumatoria o una idea de mayor a menor, sino que tiene que pensarse como una acumulación ‘conflictiva’ de sus diferentes partes” (Boivin, Rosato y Arribas, 2004: 7). Es por ello que en un intento de superación de la mirada clásica sobre el barrio, es posible encontrar otros enfoques teóricos que lo reconocen como un concepto polisémico cuyos sentidos experimentan transformaciones en su devenir por la acción de dimensiones tanto estructurales como simbólico-culturales. Denis Merklen (2010) registra en lo referente a los barrios populares un afán teórico por presentar a los mismos como sostenedores y constructores de solidaridades de base territorial entre familias que obtienen en este espacio soportes materiales y afectivos. Según el autor una imagen semejante debería ser revisada, o, al menos, matizada, por lo que asegura que las estructuras de solidaridad local de gran consistencia se construyen en los barrios más vulnerables a partir de la ausencia de mecanismos institucionales. Tales lazos no pueden en ningún caso suplir a las protecciones sociales y a las formas de socialización aportadas por las 289 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens instituciones y el trabajo. El sociólogo concluye afirmando que no se debe “idealizar el mundo popular y se necesita sacarle al barrio todo su contenido folklórico” (Merklen, 2010:152). En los barrios populares el mundo relacional que se genera no reviste componentes “tradicionales”. Se trata más bien de sociedades localizadas que de “comunidades” en el sentido clásico del término. Si se considera tal perspectiva, el barrio puede ser abordado como soporte de la vida cotidiana, fuente de recursos; un territorio de inscripción y de actividad residencial que se constituye como una unidad que no puede ser entendida si no es a partir de su vinculación con la ciudad como conjunto −ya que es una forma de inscripción social a través de la ciudad (Merklen, 2010) − y por los valores de la sociedad que lo habita y lo transforma. Desde una perspectiva socio-territorial supone un conjunto de actores que se desarrollan en un espacio físico con connotaciones simbólicas y que responden a relaciones tanto de complementación como de colaboración y de conflicto, de control y de apropiación; de identidad y de afectividad espacial en coordenadas espacio-temporales específicas. El barrio es el correlato de una territorialidad151 capaz de dar cuenta de la presencia y de la ausencia, de la inclusión y de la exclusión. Es por tanto un constructo socio-político, expresión de la espacialización del poder. Si se considera el sentido que el espacio barrial asume en sintonía con la perspectiva esbozada, los presupuestos que sustentan la noción de comunidad−desde su concepción clásica− requieren ser revisados y puestos en contexto, una vez tematizadas las relaciones de poder. Para expresar las consecuencias de dicho posicionamiento transcribimos una cita de Zygmunt Bauman que resulta esclarecedora al respecto: 151 “La territorialidad es el grado de control de una determinada porción del espacio geográfico por una persona, un grupo social, un grupo étnico, una compañía multinacional, un Estado, un bloque de Estados. La misma se refiere al conjunto de prácticas y sus expresiones materiales y simbólicas capaces de garantizar la apropiación y permanencia de un determinado territorio por un determinado agente social, o Estado, los diferentes grupos sociales y las empresas (...). Las territorialidades se manifiestan cambiantes y conflictivas. Las lealtades al territorio nacen del grado de territorialidad, y en un mismo espacio se pueden yuxtaponer varias lealtades a distintos actores territoriales” (Montañez Gómez y Delgado Mahecha, 1998:124). 290 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens “...el entendimiento común sólo puede ser un logro, que se alcanza (si es que se alcanza) al final de un prolongado y tortuoso trabajo de discusión y persuasión en una agotadora competencia con un número indefinido de potencialidades distintas, todas las cuales rivalizan por la atención y todas las cuales prometen una mejor (más correcta, más eficaz o más placentera) distribución de las tareas de la vida y mejores soluciones a los problemas de ésta. Y en el caso que se alcance, el acuerdo común nunca estará libre de la memoria de tales luchas pasadas y de las elecciones que se hicieron en su curso. Por firmemente que se mantenga, por tanto, ningún acuerdo parecerá tan ‘natural’ ni tan ‘obvio’ como el de las comunidades de Tönnies o Redfield, por mucho que sus portavoces o promotores lo presenten como tal. Nunca será inmune a la reflexión, crítica y discusión ulteriores: en cualquier caso, puede alcanzar el status de ‘un contrato continuado’, un acuerdo para ponerse de acuerdo que necesita renovación periódica, sin que ninguna de esas renovaciones conlleve la garantía de la siguiente” (Bauman, 2009: 8). Intentar comprender las significaciones y usos de la idea de comunidad implica un ejercicio intelectual que no pretende circunscribirse a una disquisición teórica, ya que tales concepciones impactan en el análisis del Estado en movimiento, es decir, en su propio accionar y en su relación con las organizaciones de la sociedad civil, en nuestro caso puntual, en sus vinculaciones con las asociaciones y centros vecinales de las localidades consideradas. b) El movimiento vecinal en las ciudades de Córdoba y Río Cuarto Las asociaciones vecinales a escala provincial se institucionalizan como tales a mediados de la década cincuenta como respuesta al proceso de urbanización e industrialización típico de este período. Los niveles subnacionales en el contexto del régimen de acumulación basado en la Industrialización por Sustitución de Importaciones (ISI) y de su correlato político-institucional, el denominado Estado Social o de Bienestar, estuvo condicionado por la presencia de un conjunto de políticas tendientes a la centralización de funciones y competencias, tanto a escala nacional como provincial, que coexistieron con una 291 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens débil tradición municipalista que se puso en evidencia a través del formato administrativo adoptado por estos gobiernos. Frente a este escenario, las organizaciones barriales accionaban, por intermedio de petitorios y gestiones directas para alcanzar el progreso material y cultural de sus sectores de referencia. Estas acciones que respondían a problemáticas urbanas específicas, con el correr del tiempo fueron capaces de generar representaciones sociales estrechamente vinculadas con los bienes públicos exigidos. En este sentido, es posible reconocer motivaciones que trascienden la acción instrumental colectiva y convierten a estos bienes en depositarios de identificaciones compartidas entre los ciudadanos. Se constituyen, así, en bienes inmediatamente comunes (Taylor, 1993:186-187)152. De hecho, los vecinos, durante buena parte del siglo XX, mediante el ejercicio del derecho de petición ante las autoridades, instalaban una demanda para el sector, mostraban un problema de la realidad urbana: las posiciones diferenciales en el goce de los bienes públicos frente a las cuales se reaccionaba con una conciencia de la desigualdad, y en consecuencia, la búsqueda de su reparación (Basconzuelo, 2010). Se ponía en juego un principio de justicia, que reclamaba por una administración pública que se hiciera presente de manera activa también en la periferia de la ciudad. Los bienes colectivos, interpretados de este modo, son mucho más que herramientas para la satisfacción de necesidades básicas, trascienden su carácter instrumental y son capaces de construir un sentido de pertenencia, dando lugar a acciones reivindicativas. Pero esta dinámica también impacta en la comunidad barrial al presentar como únicos interlocutores válidos y referenciales a los dirigentes vecinales (como respuesta a una 152 Charles Taylor, representante de la tradición de pensamiento cívico-republicano, en su teoría de los bienes, hace referencia a aquellos que generan una relación dialógica entre sujetos, bajo la denominación inmediatamente comunes. Estos bienes son capaces de generar una identificación patriótica, que se ubica entre la amistad o el sentimiento familiar, por un lado, y la dedicación altruista por el otro; entre ciudadanos que participan activamente de los asuntos públicos, consientes de que se constituyen en participantes de una empresa común. (Taylor, 1993: 183). 292 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens estructura organizacional piramidal), mientras que el Estado local remite a éstos como portavoces del conjunto de los habitantes de un sector. De este modo se invisibilizan las relaciones de poder y se encapsulan los territorios que son analizados como un todo coherente y aislado de su entorno, estableciéndose una distinción categórica entre los procesos macro y micro sociales, sin poder establecer sus necesarias y contingentes vinculaciones. Además se definen como correctos y adecuados a aquellos comportamientos basados en la solidaridad y la colaboración, por lo que el conflicto se entiende como una desviación. “Se espera de éstos (los vecinos) un comportamiento similar al de una comunidad folk, donde el sentimiento de defensa de lo colectivo prime sobre lo individual” (Cravino, 2004:87). Las conductas esperadas son reforzadas por un discurso vecinalista que sin ser homogéneo tiende a privilegiar ciertos valores que se dirimen en el mismo sentido. En algunos casos, y en especial al analizar organizaciones vecinales de larga data, es posible registrar manifestaciones cuyo contenido podría permitir realizar algún parangón entre la acción vecinal y la práctica pastoral, donde confluyen visiones políticas, religiosas y sociales. En este sentido, sería oportuno profundizar sobre los posibles orígenes y derivaciones de dichas narrativas. Para poder dimensionar parte de sus alcances se reproducen Los Principios del Buen Vecinalista, contenidos en el Estatuto de COVERA, la Confederación Nacional de Vecinales (Página Web de C.O.V.E.R.A: http://www.covera.org.ar), escritos por José Waicekawsky, presidente de la institución. Los mismos se sintetizan en: EL AMOR: es el fundamento y la fuerza del vecinalista. Amor por el vecino, que es su prójimo. Amor por el barrio, que es su casa. Amor por la Ciudad, que es la extensión de su hogar. Amor, para potenciar los sueños, mover los corazones y construir realidades. EL SERVICIO: es la piedra fundamental de la filosofía vecinalista. Servicio que impulsa a trabajar por los otros. 293 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Servicio que vuelve a cada vecino, eslabón de una cadena forjada en el fuego de la solidaridad. EL TRABAJO: es el camino para expresar el amor y ejercitar el servicio. Trabajo que dignifica porque no espera elogios. Trabajo que enriquece el espíritu porque no espera recompensas. LA LIBERTAD: es el espacio que necesita el vecinalista para desplegar su vuelo. Libertad que implica independencia política y económica. Libertad que lo compromete con su conciencia y con toda su comunidad. LA DEDICACIÓN: es el tributo del tiempo personal que el vecinalista hace para su causa. Tiempo que implica entrega de talentos, capacidad e ideas. LA HONESTIDAD: es la bellísima garantía que nunca defraudará la confianza recibida. Honestidad en la administración de bienes y utilización de títulos y privilegios. Honestidad que hace del vecinalista mayordomo fiel, guardián de la casa grande que es la vecinal, señor de su espacio por ser, precisamente, su mejor servidor. En estos principios es posible rastrear alusiones al barrio como comunidad en su sentido más clásico: la idea del amor, que se presenta como un sentimiento asociado a la vida familiar y a modos de interacción caracterizados por la estrechez y profundidad de vínculos. La idea del barrio como “la casa grande” y de la ciudad como la “extensión del hogar”. El trabajo solidario conceptualizado como la entrega al “prójimo” desinteresada y autónoma de cualquier principio sistémico, haciendo uso de un vocabulario habermasiano. Por último la representación de la dirigencia vecinal como “guardianes” y “señores” del espacio barrial −por ser sus mejores servidores−, expresando así una jerarquía que parece legitimarse a través de las cualidades personales de quienes conducen tales organizaciones. Evidentemente estos principios tienen un tinte normativo, pero también constituyen parte del imaginario social que estas organizaciones han construido, a la vez que provee de claves interpretativas para la comprensión de la imagen que las mismas pretenden proyectar a escala local y nacional. De hecho, un examen poco atento o reflexivo de los espacios de 294 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens sociabilidad barrial puede dar cuenta de la dinámica de relaciones propias de los barrios como parte de las pautas interactivas de una comunidad: la presencia de organizaciones que representan a los distintos sectores barriales se muestra, en muchos casos, como sinónimo de autonomía y capacidad de decisión colectiva. No obstante, una mirada a las conflictualidades internas, a las disputas por la representación, la presencia de múltiples organizaciones de base que toman problemas parciales- guarderías, comedores, etc.- o que compiten por obtener seguidores- feligreses (además de recursos económicos) nos muestra que no existe una representación pura e indisputada al interior de los territorios (Cravino, 2004). IV. La comunidad y el asociacionismo vecinal desde la perspectiva del discurso jurídico. Analizar parte de la normativa provincial tiene como intención adentrarnos en los alcances de la problemática enunciada, es decir, el abordaje de los ámbitos barriales como comunidades y sus consecuencias en la dinámica participativa de las organizaciones vecinales y de los Estados municipales, a partir de una aproximación crítica a las funciones del derecho153, esto es, pensar al derecho como un discurso que tiene consecuencias para la praxis política y social, más allá de su clasificación normativa. Así entendido el discurso jurídico reviste su propia historicidad y está vinculado con dimensiones de poder e ideologías específicas. Por eso es importante contextualizar el proceso de reforma de la Constitución provincial y de las respectivas Cartas Orgánicas que son consecuencia de tales modificaciones, ya que cualquier institución, norma o práctica jurídica, alcanzan sentido si se toma en consideración el sistema al que pertenecen. “Cada formación histórica, ha generado prácticas materiales y culturales heterogéneas, en las que ciertos discursos sociales adquirieron, según la etapa, un rol preponderante o un rol subordinado respecto del resto de los otros discursos de la misma índole” (Cárcova, 2006: 212). 153 A partir de las consideraciones del jurista argentino Carlos María Cárcova una teoría crítica sobre el derecho no puede dejar ausente del análisis las dimensiones ideológicas de lo jurídico. El autor asegura que abundan las clasificaciones sobre “las funciones manifiestas del derecho y no así sobre sus funciones latentes”. Las primeras parecen “construirse sobre la base de lo que el derecho dice de sí mismo”. Este enfoque propone “la necesidad de atender también, a aquello que no dice, a aquello que enmascara y oculta” (Cárcova, 2006: 215). 295 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens En cuanto al territorio y sus implicancias, seguimos las referencias que sobre la temática propone Mabel Manzanal (2007: 29-33) en su artículo “Territorio, poder e instituciones. Una perspectiva crítica sobre la producción del territorio”. Según esta autora el análisis institucional desde una mirada crítica, pretende alejarse de toda sacralización de leyes y normativas impuestas por la sociedad. Lo anterior significa tener presente que las instituciones implican relaciones de poder. Y ello demanda descifrar dichas relaciones, si lo que se pretende es entender y explicar el funcionamiento institucional presente en determinados ámbitos o lugares. Ocurre que las instituciones se originan como proyecto simbólico de diferentes organizaciones (públicas, privadas, nacionales, internacionales) para regular determinadas actividades y/o funciones y, como tales, representan los intereses de los sectores hegemónicos y/o dominantes en dichas organizaciones, o las “relaciones de poder” presentes en las mismas. En sintonía con Cárcova es posible afirmar que el papel del derecho depende de una relación de fuerzas en el marco del conflicto social Sin embargo, en el funcionamiento regular y cotidiano de las respectivas organizaciones, las relaciones de poder presentes en las instituciones se ocultan, se enmascaran, adoptan la forma de mecanismos legales o de normas éticas, aceptados consensualmente, de cumplimiento voluntario u obligatorio. El territorio sintetiza relaciones de poder espacializadas, relaciones entre capacidades diferenciales para transformar, producir e imponer acciones y voluntades, sea bajo resistencia o no, bajo conflicto o no. Y esto no es más que reconocer que la producción social del espacio es un resultado del ejercicio de relaciones de poder. En lo referente a la Constitución de la Provincia de Córdoba resulta importante destacar que en 1987 ésta fue sometida a una reforma; la modificación de la Ley Fundamental provincial se inscribió en un proceso de reconfiguración profundo que en el caso latinoamericano, con matices y especificidades nacionales, cuestionó fuertemente la 296 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens naturaleza del Estado Keynesiano de Bienestar, al tiempo que propugno la necesidad de introducir modificaciones que redujeran, en un primer momento, el tamaño del aparato estatal y luego la racionalidad imperante al interior de la administración pública. “Así, los procesos de reforma del Estado giraron, en un primer momento, en torno al concepto de ‘ajuste’, casi exclusivamente. Es decir, lograr una reducción sustancial del Estado a través de mecanismos como la privatización, la descentralización, la desregulación, la tercerización, el control estricto del gasto público, entre los más importantes (...). Sin embargo fue en medio del auge transformador neoliberal cuando se reactiva la crítica a las características estructurales de las organizaciones públicas y se comienza a plantear que el Estado no sólo debía ser achicado sino también reformado”154 (Ase y Burijovich, 2001: 175). En el caso analizado la reforma constitucional a pesar del clima de época definió al Estado provincial como un “Estado Social de Derecho”, pese a las discrepancias manifestadas por los constitucionalistas representantes de las fuerzas políticas más conservadoras, integrantes de la Asamblea Constituyente. Se tomó distancia de las posturas ultraliberales al introducir las premisas del constitucionalismo social. El Estado se concebía como promotor del desarrollo pero no debía convertirse en un obstaculizador de la iniciativa privada. Esta propuesta se orientaba hacia la superación de los excesos del Estado paternalista y de las limitaciones del Estado prescindente, debiendo el gasto público apuntar a la atención de los sectores más desfavorecidos (Ortiz, 2000). El “espíritu” de la reforma podría inscribirse en el marco de los fundamentos del paradigma neoinstitucionalista. El mismo comparte muchos rasgos de la perspectiva de la Nueva Gestión Pública, pero pretende diferenciarse del modelo neoliberal al insistir en las limitaciones de la privatización, o la tercerización, cuando se trata de servicios de educación, 154 Siguiendo a Oszlak (1999) “las medidas vinculadas al ajuste, al achicamiento del Estado, a dar respuesta a la demanda de ‘menos Estado’, las han denominado reformas de primera generación. Por el contrario, aquellas vinculadas a transformar la lógica organizacional, a devolverle al sector público eficacia y eficiencia, a responder a las expectativas de ‘un mejor Estado’, se las han denominado reformas de segunda generación”. 297 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens salud, cultura o asistencia social. Se argumenta que estas estrategias para combatir el burocratismo, tal vez han dado buenos resultados en el caso de los bienes y servicios relacionados con las condiciones de reproducción del capital, pero no en lo referente a las condiciones de reproducción de la fuerza del trabajo. Como alternativa al Estado neoliberal y el Estado social-burocrático, se propone el “Estado Social Liberal”, o un “Estado Social de Derecho”, en el cual las organizaciones públicas no estatales desempeñen un papel central en un nuevo modelo de suministro de servicios públicos155. Esa propuesta se sustenta en el argumento de que la motivación de este tipo de organizaciones sin fines de lucro radica en valores como la confianza, la dedicación y la solidaridad (Assies, s.a.). Es en este marco que se apunta al tercer sector 156 o el sector público no estatal como alternativa a la gestión estatal burocrática y al mercado Con la instauración del neoliberalismo como modelo hegemónico y frente al avance de lo que Zygmunt Bauman ha denominado “modernidad líquida”, la cual presenta, como uno de sus principales pilares, la exaltación del individualismo, el voluntariado se ha presentado como una práctica subsidiaria que permite recuperar la idea de comunidad, lo que se refuerza en un contexto territorial acotado como es el barrio. De hecho, en el marco de territorios periféricos, a partir de los procesos de focalización de políticas asistenciales, se reactualizó su conceptualización como referente de las categorías de la comunidad, por un lado, entendida como un valor, resultado de relaciones de solidaridad y ayuda mutua de los sectores populares, y de centro social, por el otro, entendido una como institución producto de la acción expresa de sectores no-populares hacia los sectores populares y pobres. El significado 155 Desde mediados de la década del ochenta en la ciudad de Río Cuarto, mediante un proceso de desconcentración de servicios públicos municipales, las organizaciones vecinales de la localidad ejecutan prestaciones que corresponden a la órbita municipal a lo largo de traza urbana, en colaboración con el Estado local. 156 Para una revisión más profunda del tercer sector y sus derivaciones en lo concerniente a las transformaciones de la Sociedad Civil y el Estado, ver: Chaboux M. Agustina y Rolfi Ma. Belén (2012): “Estado y Sociedad Civil: Una aproximación a la participación como problema teórico”. Ponencia presentada en VI Congreso Latinoamericano de Ciencia Política, organizado por la Asociación Latinoamericana de Ciencia Política (ALACIP). Quito, 12 al 14 de junio de 2012. 298 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens de barrio queda adherido, en consecuencia, a lo popular, a lo “bajo”, a lo pobre y a lo existente como receptor de la acción comunitaria (Gravano, 2005:133). Retomando los cambios introducidos en el proceso de reforma, el doctor Antonio María Hernández (2003) (quien fuera convencional constituyente) desarrolla los grandes principios instituidos por la modificación constitucional: la naturaleza sociológica del municipio, la autonomía municipal, la unión de la democracia con la eficacia y un municipio de plena participación ciudadana. Respecto a la naturaleza del poder local, éste debe ser conceptuado como una institución natural y necesaria, basada en relaciones de vecindad, con carácter esencialmente político y no simplemente administrativo y con finalidades de bien común de la sociedad local. Es el primer principio establecido por las Constituciones, tal como surge de la cordobesa, que en su artículo 180 dice: “Esta Constitución reconoce la existencia del municipio como una comunidad natural fundada en la convivencia”. En esta definición se advierte que el “espíritu” constitucional responde a un liberalismo pluralista que entiende al Estado como un actor neutral, capaz de sobreponerse a los intereses particulares, lo cual puede ser objetado desde una perspectiva crítica tanto del Derecho como del Estado. La Carta Orgánica Municipal de la Ciudad de Córdoba y la de la localidad de Río Cuarto, siguiendo los lineamientos de la Constitución provincial, establecen en sus artículos 147 y 218, respectivamente que: “El municipio reconoce, garantiza y promueve la formación y el funcionamiento de comisiones de vecinos para la satisfacción de sus necesidades comunes y el mejoramiento de su calidad de vida, sobre la base de principios de colaboración mutua y solidaridad vecinal. Sus autoridades son elegidas democráticamente. La ordenanza establece su régimen jurídico y los requisitos necesarios para su funcionamiento y garantiza su accionar pluralista con participación en la gestión municipal, respetando el régimen representativo y republicano (Art. 147, Carta Orgánica Municipal de la ciudad de Córdoba) 299 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens “Las asociaciones vecinales tienen el carácter de asociaciones libres del pueblo, sin fines de lucro, creadas para asegurar la satisfacción de las necesidades comunes y el mejoramiento de la calidad de vida, sobre la base de los principios de colaboración y solidaridad. Su ámbito territorial es fijado por ordenanza” (Art. 218, Carta Orgánica de la ciudad de Río Cuarto). Antonio María Hernández en su libro Derecho Municipal (2003: 412) afirma que los mecanismos participativos previstos a través de la presencia en el espacio público de centros vecinales, “son fundamentales en las grandes ciudades, porque allí los habitantes experimentan las sensaciones de soledad (Paulo VI), reificación (Merton) o ajenidad (Morell Ocaña); en consecuencia, toda institución que permita y aliente la participación es fundamental para la superación de estas situaciones que deshumanizan al hombre. A lo que añade que “si bien con esta participación vecinal, tan ligada a la vida cotidiana, a los problemas concretos, no se alcanza todavía la participación política (el subrayado es nuestro), se trata de un ejercicio que fomenta la solidaridad, la responsabilidad y el amor ciudadanos, esenciales para una buena y justa sociedad local”. A partir de las consideraciones de uno de los principales referentes de la reforma constitucional provincial reaparece una idea clásica de comunidad y se desconoce en la conceptualización de la actividad vecinal su condición de práctica política157. Estas aseveraciones se han incluido en la propia normativa generando consecuencias en la dinámica participativa de las asociaciones y centros vecinales. Así, la participación asume la forma de un procedimiento que se reduce a las consideraciones legales que han sido estipuladas y que generan una serie de resguardos a 157 En sentido contrario Crenson (1983, citado en Gravano, 2005) asegura que tanto la organización como la participación constituyen los tópicos de la cuestión política en los barrios. El autor ha realizado, en tal sentido, algunas distinciones que resultan importantes. Las actividades barriales son esencialmente políticas, aunque mayormente no se las considere así. El barrio es una empresa potencialmente política y ese carácter está definido por las funciones que desempeña. Los barrios no son gobierno, pero promueven el asunto de gobernar (Gravano, 2005: 125). 300 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens favor de la democracia representativa, la cual se reproduce en la propia dinámica y construcción jerárquica que caracteriza a las organizaciones vecinales. El potencial transformador del fundamento participacionista se relativiza cuando es asociado a la racionalización administrativa. Se trataría, entonces, de organizar la participación y los criterios de representatividad de los ciudadanos de un modo que sea funcional a la organización administrativa (Echavarría, 2008:150). En términos de Castoriadis (2010) existe una fuerte preponderancia de lo instituido, pero en el análisis de casos concretos, y de acuerdo a la contingencia que caracteriza a los procesos sociales, se abren espacios para prácticas instituyentes, lo que da como resultante un escenario donde ambas lógicas coexisten en tensión. En palabras de la politóloga cordobesa Corina Echavarría, tal estado de situación podría sintetizarse del siguiente modo: “Si bien entre los centros vecinales encontramos muchos elementos de continuidad, con la trayectoria histórica de “mediación”, de “nexo” entre el vecino y el sistema político administrativo local para la canalización de “reclamos”, que no solo se sustenta en una concepción naturalizada de la propia organización y sus autoridades, sino también en una idea no conflictiva de los fines que la orientan, que apela reiteradamente a la metáfora de la ‘familia’ (entendida ésta como espacio homogéneo y de confluencia de intereses), también podemos encontrar algunos elementos de ruptura que nos permiten pensar en la emergencia de nuevos valores y prácticas asociados a estos espacios” (Echavarría, 2008: 161). V. Palabras finales Este artículo ha intentado problematizar sobre la noción de comunidad y su vinculación con el espacio barrial, mediante un recorrido teórico y analítico tendiente a la comprensión de categorías que ocupan un lugar destacado en la teoría social e impactan en los mecanismos de interacción entre Estado y Sociedad. Las organizaciones barriales examinadas construyen un imaginario social fuertemente condicionado por las perspectivas clásicas de “comunidad” que hemos presentado en la primera parte de esta comunicación, mientras que 301 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens los Estados locales, a partir de instrumentos legislativos y acciones concretas, también proyectan un modelo ideal de comunidad barrial que desconoce la existencia del conflicto y la necesidad de construcción de instancias de acuerdo, presumiendo que la conflictividad no existe o no debería existir. Frente a este estado de situación el trabajo pretendió introducir un enfoque socioterritorial y un abordaje crítico del derecho y sus instituciones a los fines de proponer una lectura alternativa que consideramos puede, mediante su profundización, aportar elementos teórico-metodológicos que permitan avanzar sobre el binomio barrio-ciudad asumiendo su complejidad, lo que requerirá de teorías capaces de dar cuenta de una relación dialéctica entre Sociedad y Territorio y de una necesaria articulación entre las perspectivas macro y micro sociales; o en palabras de A. Giddens, la relación entre integración social e integración sistémica, es decir, “...la naturaleza de una interacción en situaciones de co-presencia y la conexión entre éstas y los influjos ‘ausentes’ que conciernen a la explicación de una conducta social” (Giddens, 2011:173). Un análisis como el descripto pretende estudiar a las organizaciones sociales en acción, sin desconocer los discursos que construyen en torno a sus objetivos, al tiempo que intenta examinar sus vinculaciones con el “Estado en movimiento”, evitando una visión reduccionista que lo circunscriba a una categoría formal. VI. Referencias bibliográficas Ase, Iván y Burijovich, Jacinta (2001): “La reinvención de estado cordobés: una reingeniería de la ciudadanía”. En: Revista Administración Pública y Sociedad, N° 14. Instituto de Investigación y Formación en Administración Pública (IIFAP). Universidad Nacional de Córdoba, Argentina. Assies, Willem (s.a.) “La descentralización en perspectiva”. 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Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens 18) AUTOR: Maria da Conceição Alves Rodrigues PONENCIA: Experiência de Construção da Sustentabilidade Rural: Perspectivas de Desenvolvimento local a Partir da Interação de Saberes no Nordeste Brasileiro INSTITUCION: Universidade Estadual da Paraíba PAÍS: Brasil MAIL: [email protected] Introdução Este trabalho propõe uma abordagem sobre os mecanismos de articulação de saberes em projetos de construção da sustentabilidade em ambientes vulneráveis à seca, centrando a atenção nas práticas cotidianas dos agricultores e sua relação com os conhecimentos e as práticas tecnológicas difundidas por Organizações Não Governamentais (ONGs). Para tanto, tomamos como lócus empírico a comunidade rural de Lajedo de Timbaúba, município de Soledade Estado da Paraíba, por tratar-se de uma localidade onde se registra um dos primeiros casos de planejamento do desenvolvimento local sustentável para o semi-árido nordestino. Assim, centrou-se a atenção nos seguintes objetivos: realizar o estudo tendo como eixo de análise as vivências dos agricultores em experiências institucionalizadas de construção do desenvolvimento rural sustentável; compreender como ocorre a interação de saberes (técnicos, científicos e tradicionais) no meio rural; perceber como os agricultores se apropriam, interagem, constroem, produzem e reelaboram novos conhecimentos e quais os significados que a esses atribuem. A partir desta perspectiva, pudemos avaliar as relações de saber e de poder que moldam a ação coletiva em nível local ou regional e compreender a complexidade que 305 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens assumem, reforçando a compreensão da territorialidade enquanto associada à sociedade ativa e redefinida com base em relações sociais fundamentadas em interações de saberes, aqui entendidas como práticas educativas do fazer cotidiano em uma comunidade rural. As Relações de Saberes como Práticas Educativas Partindo-se do pressuposto de que as práticas educativas se efetivam no fazer cotidiano dos agricultores, enquanto esses produzem suas condições de existência, podemos inferir que a educação, de modo especial, é o resultado de um complexo processo de construção realizado através das atividades práticas que os agricultores desenvolvem na realidade concreta, numa interação permanente e intensa com a natureza material, com os outros sujeitos e consigo mesmos. A educação se torna, pois, mediadora para intencionar essas atividades realizadas através de ações concretas: a prática (SEVERINO, 2002). Nesta concepção, o significado de educação que defendemos neste trabalho, é um conceito abrangente, não se restringe à educação entendida como formal, mas a um processo educativo que surge das práticas sociais. Um processo metodológico de relações de saberes, de produção de conhecimentos e de construção de estratégias e resistências, engendradas individual e coletivamente, no qual se definem técnicas apropriadas e adequação de tal ou qual prática tecnológica na busca de se obter melhor “rendimento educativo”. Assim, procuramos investigar as práticas tecnológicas dos agricultores familiares como práticas educativas do seu fazer cotidiano. Inferindo que existe um processo amplamente educativo que se desenvolve cotidianamente no meio rural enquanto os agricultores desenvolvem suas práticas cotidianas numa constante relação de saberes com os conhecimentos e as práticas tecnológicas implementadas por ONGs. Em Extensão ou Comunicação? (FREIRE, 2006), um ensaio publicado em Santiago do Chile em 1969, Paulo Freire analisa o problema da comunicação entre o técnico e o 306 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens camponês, no processo de desenvolvimento da nova sociedade agrária que se está criando. Para o autor, essa relação não pode constituir-se em uma relação extensionista, mas de comunicação, uma vez que a extensão pressupõe a mera transferência do saber do técnico agrônomo, sem levar em conta o universo cultural do camponês em sua totalidade. A ação educadora do técnico, como a do professor em geral, deve ser a de comunicação, se quiser chegar ao homem, não ao ser abstrato, mas ao ser concreto inserido em uma realidade histórica. De acordo com Freire, o termo extensão aparece como transmissão; sujeito ativo (de conteúdo); entrega (por aqueles que estão alem do muro, fora do muro). Daí falar-se em atividades extramuros; messianismo (por parte de quem estende); superioridade (do conteúdo de quem entrega); inferioridade (dos que recebem); mecanismo (na ação de quem estende); invasão cultural (através do conteúdo levado, que reflete a visão do mundo daqueles que levam, que superpõem, à daqueles que passivamente recebem). Na concepção de Freire: A substituição do procedimento empírico dos camponeses por nossas técnicas “elaboradas” é um problema antropológico, epistemológico e também estrutural. Não pode, por isso mesmo, ser resolvido através do equivoco gnosilógico a que conduz o conceito de “extensão”. (FREIRE, 2006, p. 33). Ao postular a comunicação, Freire acredita que o técnico extensionista dá lugar ao técnico educador, cujo trabalho não pode limitar-se, apenas, à esfera da substituição dos procedimentos empíricos dos camponeses por suas técnicas. O ensino da técnica necessita, portanto, ser problematizado, assumindo um caráter educativo, no sentido defendido por Freire, com a superação de uma assistencialização técnica. A implantação do conceito de extensão rural proposto por Freire como prática educativa, em propostas de desenvolvimento, exigirá, pois, a instauração do diálogo como pressuposto de suas realizações, dando prioridade às metodologias que incentivem a participação dos envolvidos nesses processos. Isso também se aplica à realização da educação ambiental no sentido de viabilizar um processo educativo, amplo, permanente e contínuo, em que os envolvidos nesse processo sejam sensibilizados e tenham a oportunidade de refletir 307 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens sobre suas práticas, modificar comportamentos e atuar de modo integrado, visando a construção de sociedades sustentáveis, que promovam a proteção, a recuperação e a melhoria do ambiente e das condições de vida. A interação de saberes na prática cotidiana dos agricultores: dinâmicas, práticas coletivas e significados O aparecimento de Organizações Não-Governamentais na comunidade rural de Lajedo de Timbaúba data dos primórdios da década de 90, possibilitando aos agricultores locais a apropriação de novos conhecimentos que favoreceram mudanças significativas ocorridas na comunidade e a sua consequente transformação. Delineiam-se, portanto, neste espaço, o fortalecimento dos agricultores familiares e um aspecto aparentemente bem sucedido do modelo de sustentabilidade rural. A primeira ONG a atuar na comunidade foi O Programa de Aplicação de Tecnologias Apropriadas às Comunidades – PATAC. Uma Organização Não Governamental criada no início da década de 70 com o objetivo de “trabalhar para a viabilidade da agricultura familiar no Nordeste brasileiro, especialmente na região do semi-árido paraibano, difundindo tecnologias a partir de uma abordagem agroecológica e na perspectiva da construção de uma proposta de desenvolvimento sustentável” (PATAC, 2003). As primeiras iniciativas do PATAC em Lajedo de Timbaúba foram direcionadas ao problema da escassez de água na região. A primeira experiência foi a construção de cisternas redondas feitas de placas de cimento, mais resistentes e de menor custo que as tradicionais cisternas quadradas de tijolos. Implantadas na comunidade desde 1993, essas cisternas armazenam água das chuvas para o consumo humano facilitando a convivência dos agricultores com as estiagens prolongadas. A partir das cisternas de placas, as experiências foram se multiplicando na comunidade, entre as quais: treinamento sobre gestão e tratamento da água; banco 308 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens comunitário de sementes; silagem tanques de pedra; apicultura; caprinocultura etc. Dentre essas várias experiências, entretanto, o grande achado do PATAC parece ter sido a barragem subterrânea. Uma espécie de reservatório construído no subsolo. É um pouco como se fosse criado um lençol freático ou uma enorme esponja impregnada de água a pouca distância abaixo da superfície do solo, onde as plantas se desenvolvem em plena seca, pois suas raízes têm acesso à água o ano inteiro. Aí são plantadas fruteiras, verduras, legumes e pastos. Seja qual for a concepção de prática tecnológica, é importante ressaltar que, para os agricultores de Lajedo de Timbaúba, todas essas práticas implementadas na comunidade somente se concretizam devido à participação desses agricultores num processo de aprendizado mútuo com os técnicos: Porque é assim... eles quando vêem, eu acho que tanto ensinam quanto aprendem, né? Porque se eles traz os conhecimentos deles mais através daqui, dos conhecimento daqui eles aprendem também, eu acho que é por igual, eles ensinam e aprendem. Mas se nós aqui não tiver de dentro, participando, todo mundo aprendendo e participando junto, as coisa não dá certo, não funciona (L.M.S., agricultor. Entrevista, novembro de 2007). Noutro relato, percebemos que, no caso da interação com técnicos, a relação é construída num processo gradual em que as orientações técnicas vão sendo observadas e testadas em seu processo produtivo. Para os agricultores entrevistados, o instrumento principal que lhe permite esse confronto permanente é a sua “experiência”: Nós recebe a dica todinha. É uma dica boa, mais a gente não vai de uma vez não, vai devagarzinho, se a gente ver que a dica dá certo... a gente sabe por que tem mais experiência que ele. Se vê que a dica é certa, ai a gente vai devagarzinho e depois solta aqui, ali... nós tem que ir atestando. Porque eles não tem a prática que nós temos, né?A prática deles é só do estudo, mas a gente tem a experiência. (M.J.S., agricultor. Entrevista, abril de 2008). Daí inferimos que o elemento principal que media a relação entre esses agricultores e os agentes externos – as ONGs – no processo de apropriação/recriação de práticas tecnológicas, é o significado que atribuem a cada prática tecnológica, traduzindo-se na expectativa da vantagem ou desvantagem que tal ou qual prática pode oferecer à unidade de produção e com que lógica essas práticas são incorporadas e com que fim. No que se refere a ações voltadas para a transformação da realidade local através da 309 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens escola, a comunidade de Lajedo de Timbaúba conta com a participação do Serviço de Tecnologias Alternativas – SERTA. Uma Organização Não Governamental fundada em agosto de 1989, no estado de Pernambuco, por um grupo de técnicos em agropecuária, educadores e produtores rurais que se organizaram a fim de responder alguns desafios para a sobrevivência e o desenvolvimento das propriedades rurais, num período de muita insegurança para a agricultura familiar no Brasil. O SERTA assumiu o desafio de construir uma proposta educacional para o meio rural que levasse os alunos e as professoras a uma produção de conhecimentos que fosse útil às famílias rurais, que incorporasse outros valores e que se preocupasse, também, com o desenvolvimento sustentável (MOURA, 2003). Assim, em 1993, surgiu a Proposta Educacional de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável- PEADS. Esta proposta educacional, cujo objetivo é trabalhar com a realidade local, foi adotada em Lajedo de Timbaúba em 2005. Os livros didáticos não são abolidos nessa proposta, porém, se diferenciam dos demais em relação aos conteúdos. Em vez de trazer informações sobre outras regiões, o livro didático adotado pela PEADS sugere atividades relacionadas à realidade local, tais como: o censo populacional (para saber o número de habitantes de cada ano; quantos são, quantos saíram, quantos voltaram etc); o censo agropecuário (quantidade de animais, como são criados) e o censo ambiental (como são tratados o solo, a água, o lixo, etc.). Para a Professora de Lajedo de Timbaúba: É muito significativo quando a gente chega com essa informação na escola, porque você vê o aluno participar, questionar, tá certo, tá errado. Eu tenho aluno que tem dificuldade em ler, em matemática, mas em relação a todos os trabalhos da comunidade... ele traz tudo, faz tudo, ele é mestre em relação à comunidade (S.B.S., entrevista, novembro de 2007). Assim, da relação agricultores, educadores e técnicos de ONGs em Lajedo de Timbaúba, se estabelecem práticas vivenciadas como um modo de afirmação de saberes. Trata-se de situar os agricultores numa perspectiva relacional em que, à medida que se relacionam com outros saberes, criam estratégias permanentes de reafirmar seu modo de 310 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens viver. Nesse processo, eles estabelecem um conjunto de relações com a natureza, com os outros homens e consigo mesmos. Considerações Finais Quando buscamos investigar as práticas cotidianas dos agricultores familiares de Lajedo de Timbaúba, a partir do modo de sentir, pensar e agir, percebemos um modo peculiar desses agricultores se relacionarem com saberes externos. Ao se apropriarem das estratégias de sustentabilidade geradas em circunstâncias exteriores à sua unidade de produção, com a finalidade de solucionar seus principais dilemas, buscam redimensioná-las a seu favor. Os saberes externos, proporcionados pelas ONGs, orientadas pelas propostas de alternativas de convivência com as secas na perspectiva de desenvolvimento sustentável, quando postos na relação cotidiana desses agricultores são ajuizados a partir de critérios avaliativos. Serão julgados como vantajosos ou desvantajosos pelos agricultores ao serem confrontados com o seu modo peculiar do fazer cotidiano. Eles se identificam quanto à responsabilidade pelos problemas ambientais na comunidade e na possibilidade de suas ações, ecologicamente orientadas, favorecerem a preservação do meio ambiente local de maneira sustentável. Esta constatação permite compreender o fato de que, na comunidade de Lajedo de Timbaúba, o agricultor, mesmo em sua condição de mero executor de tarefas prédeterminadas, produz saber e dele se apropria à medida que sua prática cotidiana lhe apresenta questões que ele tem que resolver. É, pois, no confronto com outros saberes, que ele experimenta, analisa, reflete, observa, faz descobertas. Desta forma, ele vai elaborando um saber eminentemente prático, fruto da relação com outros saberes e construindo um conjunto de explicações para sua própria ação, ao mesmo tempo que desenvolve formas próprias de fazer. Referencias 311 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens ALBALADEJO, C. 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Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens JESINE, E. M. Universidade e Saber Popular: o sonho possível. João Pessoa: CCHLA/UFPB, 2002. MASCAREÑO, R. M. P. A Adoção de Inovações Tecnológicas entre Pequenos Agricultores: uma análise psicossocial da extensão agrária na Paraíba. João Pessoa: UFPB, 1999. (Dissertação). MELO NETO, J. F. Extensão Universitária, Autogestão e Educação Popular. João Pessoa: UFPB, 2004. MOURA, A. de Princípios e Fundamentos da Proposta Educacional de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável. Glória de Goitá, PE: SERTA, 2003. PEREIRA, E. Q. Assistência Técnica e Extensão Rural ou Assessoria Técnica e Social? Visões opostas do apoio à agricultura familiar. Campina Grande: UFCG, 2004 (Tese). PATAC - PROGRAMA DE APLICAÇÃO DE TECNOLOGIAS APROPRIADAS ÀS COMUNIDADES. Relatório de Atividades ano 2000-2004. Puxinanã-PB (mimeo) SABOURIN, E. Manejo da Inovação na Agricultura Familiar do Agreste da Paraíba: o sistema local de conhecimento. IN: SILVEIRA, L. (Org.) Agricultura Familiar e Agroecologia no Semi-Árido: avanços a partir do Agreste da Paraíba. Rio de Janeiro: AS-PTA, 2002. SEVERINO, A. J. Educação, Sujeito e História. São Paulo: Olho d’água, 2002. 19) AUTOR: Maria Dalva de Lima Macêdo PONENCIA: Reterritorialização da roça - A sedução do movimento INSTITUCION: Universidade do Estado da Bahia PAÍS: Brasil MAIL: [email protected] “Se a vida é amiga da arte, é possível com arte inventarmos outros Nordestes, que signifiquem a supressão das clausuras desta grande prisão que são as fronteiras.” 313 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens (Albuquerque Júnior, 1999) Este artigo é parte da minha dissertação de mestrado, intitulada Resistência cultural de estudantes negros da roça, nas escolas públicas de Santa Bárbara-Ba.No capítulo sobre ruralidades em Santa Bárbara, com fundamentos em discussões bibliográficas e na fala de nossos entrevistados, procuramos refletir sobre o(s) sentido(s) da palavra roça. Usamos a palavra roça porque entendemos que esta terminologia é aquela que melhor define o espaço rural com o qual trabalhamos aqui. Roça é a forma pela qual, sujeitos rurais, do município acima citado, representam seu território. Mas, além da representação da roça como uma ruralidade específica, outras significações invalidam qualquer tentativa de compreendê-la em um único sentido. A roça é o eito onde se cultiva a agricultura familiar, mas é, também, um espaço de solidariedade e conflitos, de discriminações e trocas culturais e guarda especificidades que a diferencia do espaço urbano e possibilitam outra(s) leitura(s) do rural. A compressão espaço/tempo que marca a contemporaneidade se traduz em mudanças de comportamento que diluem, cada vez mais, as fronteiras entre o rural e o urbano. Escrever sobre ruralidades requer hoje, como aponta Moreira, um processo de ressignificação que rompa com antigas oposições (MOREIRA, 2005). Os binarismos do tipo urbano/rural, agrícola/industrial, tradicional/moderno, já não respondem às inquietações contemporâneas de pesquisadores sobre o tema. Diante de tudo isso, abrem-se debates sobre o novo rural que se delineia, e/ou, ainda, sobre o fim das ruralidades. Sobre a ressignificação do rural, Wanderley (2001, p.31) escreve: A sociedade brasileira parece ter hoje um olhar novo sobre o meio rural. Visto sempre como a fonte de problemas –desenraizamento, miséria, isolamento, currais eleitorais etc– surgem, aqui e ali, indícios de que o meio rural é percebido igualmente como portador de “soluções”. Esta percepção positiva crescente, real ou imaginária, encontra no meio rural alternativas para o problema do emprego (reivindicação pela terra, inclusive dos que dela haviam sido expulsos), para a melhoria da qualidade de vida, através de contatos mais diretos e intensos com a natureza, de forma intermitente (turismo rural) ou permanente (residência 314 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens rural) e através do aprofundamento de relações sociais mais pessoais, tidas como predominantes entre os habitantes do campo. Nossotrabalho se insere no contexto das novas ruralidades, visto que ambiciona introduzir, nesta polêmica discussão, novos atores socioculturais, massificados, invisibilizados, silenciados por verdades universalistas e finalísticas. Estamos falando de homens negros e mulheres negras que se movimentam num espaço rural que aqui denominamos de roça.Mais precisamente, escrevemos sobre a cultura de negros(as) da roça, no município de Santa Bárbara. Como outros municípios do sertão baiano, Santa Bárbara é resultante da necessidade de expansão da criação de gado das proximidades dos engenhos de cana-de açúcar para o interior. Segundo Genot, o povoamento da região data do século XVII quando Antonio Guedes de Brito, proprietário da sesmaria de Tocós158 desde 1609, franqueou a imigração. “Na região habitada pelos nativos, os portugueses estabeleceram as primeiras fazendas de gado, possibilitando a presença de escravos negros e de colonos brancos e pardos, posseiros, emergindo desta convivência a cultura sertaneja.”(GENOT, 1993, p. 107). A opção pelo termo roça não é aleatória, mas, um posicionamento político construído em longos anos de convivência com o espaço rural. Vem da necessidade de trabalhar com uma terminologia compreendida e aceita pelos sujeitos que ali vivem. O conceito de zona rural é mais um entre aqueles que pouco ou nada têm a ver com a fala dos seus moradores. A nossa opção pelo termo roça foi construída nos muitos encontros, nas escolas rurais (onde ensinamos e aprendemos), em longas caminhadas nas estradas de chão, nas casas de farinha, nas noites de reza (para São Cosme e São Damião), nas histórias contadas no terreiro de casa, sob o céu estrelado, nos adjutórios e tantos outros. Nesses encontros, aquele espaço vivido foi sempre representado como “a roça”. 158 Sesmaria com 160 léguas, que iam desde o morro dos Chapéus à nascente do rio das Velhas, doada pela Coroa Portuguesa a Antonio Guedes de Brito. 315 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Para o morador, em Santa Bárbara, a palavra roça representa tanto o eito, onde se planta o feijão, o milho, a mandioca, quanto o espaço onde vive com sua família e toda a vizinhança. Bernardino fala, na sua entrevista, que a roça é tudo. “Pra gente que somo do interior a roça é tudo! É quem dá o sustento do pão de cada dia é a roça” (Bernardino Carvalho, lavrador, 45 anos). Para Erotildes, roça tem dois conceitos: “E, pra mim, roça continua tendo essa conotação, continua tendo essa definição. Roça pra mim, é zona rural quando o contexto pede pra ser zona rural e é roça a plantaçãozinha quando o contexto também, pede de plantação” ( Erotildes, professora, 59 anos). Roça representa, também, solidariedade, festejos, lugar onde trabalho e festa se completam tantas vezes. Não é apenas o lugar onde há fazendas e sítios, onde se criam animais e se planta; mais que isso, é um espaço onde as relações de trabalho são também relações familiares, é o lugar das noites de reza, do samba, do forró, do arrocha, das cantigas de roda, do aboiado, das batas de feijão, das fofocas e dos risos na casa de farinha. É o espaço onde solidariedade e atrito são partes integrantes do dia a dia. Roça, aqui, não pode ser entendida como sinônimo de zona rural. Falamos de um espaço que tem sua origem no tempo colonial, quando alguns mestiços, ex-escravizados e índios cultivavam em suas roças, ao redor das grandes fazendas, produtos agrícolas para a subsistência familiar. Ainda hoje, esse espaço é habitado por indivíduos pobres, negros, na sua maioria, que trabalha a terra de uma maneira muito peculiar, utilizando mão de obra familiar e instrumentos rudimentares. Sobre os roceiros, Del Priore diz, Moradores dos ‘sertões’, instalados além das cidades coloniais, transformaram tais espaços físicos em espaços humanos. A variada maneira como se estabeleceram no território, suas formas de morar, viver ou morrer consolidaram dados mentais ou culturais, enraizaram lembranças ou esperanças às quais acordam valores afetivos e representações. (DEL PRIORE, 2006, p.47) 316 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Os roceiros, desde muito tempo, além de plantar e criar animais para o próprio sustento e da família, realizam entre si trocas que vão desde a troca de produtos às trocas simbólicas. Essas trocas significam, também, a especificidade desse espaço. Segundo Santos, “O espaço resulta do casamento da sociedade com a paisagem. O espaço contém o movimento” (SANTOS, 1991, p.72). A forma como os habitantes da roça movimentam-se, nessas trocas entre si e com a natureza (terra, céu, água, etc.), define uma identidade coletiva e demarca um território que, segundo Sodré (1988, p.23), especifica o lugar e caracteriza a ação do sujeito. Para este autor: Território é, assim, o lugar marcado de um jogo, que se entende em sentido amplo como a protoforma de toda e qualquer cultura: sistema de regras de movimentação humana de um grupo, horizonte de relacionamento com o real. Essa definição de território nos ajuda a pensar a roça como um espaço que, na diferença com outros, se relaciona com o real, em movimentos de desconstrução de verdades absolutas. Conceituar roça exige uma releitura desse território marcado por cosmovisões que instiga a ação de seus habitantes. Não é possível significar roça descolada da movimentação de seus sujeitos, da territorialização, portanto. A forma pela qual homens e mulheres da roça lidam com seus roçados, seus animais, a terra, o céu, a água, suas construções, a vida e a morte, com os outros seres humanos, está estreitamente ligada ao que Sodré, referindo-se aos terreiros, denomina de “patrimônio simbólico do negro brasileiro (a memória cultural da África)” (SODRÉ, 1988, p.50). Pensamos que, assim como os terreiros (associações litúrgicas organizadas) realizaram um processo de reterritorialização de grande parte do patrimônio cultural negro-africano (Id, 1988), também a roça, na sua especificidade, tem realizado a transferência de parte deste patrimônio para o Brasil. O terreiro simboliza, através da condensação do espaço geográfico, comunidades litúrgicas situadas fora do contexto urbano, no mato, e recebe, também, a denominação de roça. 317 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Perdida a antiga dimensão do poder guerreiro, ficou para os membros de uma civilização desprovida de território físico a possibilidade de se ‘reterritorializar’ na diáspora através de um patrimônio simbólico consubstanciado no saber vinculado ao culto dos muitos deuses, à institucionalização das festas, das dramatizações dançadas e das formas musicais (SODRÉ, 1988, p.50) O texto acima faz referência à manutenção das tradições negro-africanas através das práticas dos terreiros, mas guarda analogias com a roça na medida em que fala de estratégias similares de resistência cultural. A lavoura de subsistência, ao redor das fazendas, que originaram as roças, foi plantada por homens e mulheres - negros(as), mestiços(as), índios(as) que, expropriados, sem territórios físicos, reinventaram modos de vida, valores, cosmovisões, em um espaço geográfico condensado, reterritorializado. Numa aproximação com o culto litúrgico dos sacerdotes (zeladores de orixás), a roça se constitui de pequenas plantações e da casa onde habita toda família. Toda casa é circundada por uma área limpa - sem vegetação e sem construção – denominada de terreiro. Entendemos que, também, essas terminologias (mato, roça, terreiro) aproximam o que aqui denominamos de roça e terreiro (culto litúrgico) no que diz respeito à cultura, ao movimento de seus sujeitos. Em ambos, o processo de reterritorialização conduz à manutenção de atitudes, valores, modo de lidar com o real que desestabiliza e fragmenta verdades finalísticas.O sentido de roça, aqui, vai além de lugar de pequenas propriedades onde se pratica a agricultura de subsistência. Pensamos que dar esse significado à roça é, de certa forma, retornar ao binarismo agrícola/industrial, atrasado/desenvolvido. E isso é negar a roça enquanto território, ou seja, é não atentar para o movimento dos seus sujeitos, para a forma de estes lidarem com o real. A roça em Santa Bárbara, representada pela narrativa de seus sujeitos (lugar de plantação, sustentáculo da vida, ruralidade específica, lugar da discriminação) e a roça definida por pesquisadores do tema, citados nesse trabalho, rompem com paradigmas homogeneizadores do universo rural brasileiro. Não é tão somente o espaço físico e as relações de produção que significam a roça, que lhe dão sentido. São as interações realizadas entre homens/mulheres e natureza, o movimento dos atores sociais, a reinvenção de valores, cosmovisões e atitudes que desestabilizam verdades absolutas, ressignificam a roça e lhe conferem sentidos (no plural). 318 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens A cultura da roça em Santa Bárbara pode ser definida a partir dessa perspectiva de relacionamento com o real, que inventa formas específicas de estar no mundo, possibilitando o esvaziamento de verdades universalizantes. Nas relações de trabalho, nos festejos, nas comemorações, nas festas religiosas, nas lutas cotidianas, nos seus hábitos, costumes, enfim, na sua historicidade, a roça em Santa Bárbara se caracteriza pelo que Sodré (2006) denomina de cultura negra (embora o homem e a mulher negro(a) da roça, em suas vivências cotidianas apresentem, através da linguagem, do corpo, das relações e associações para o trabalho, etc., especificidades que os diferenciam dos negros urbanos). Essa compreensão fundamenta-se a partir da pesquisa bibliográfica, mas também, nas narrativas dos(as) nossos(as) entrevistados(as). Maria José rememora na sua entrevista um samba que seu tio cantava: “Samba nego, branco não vem cá/ Se vier o diabo é de levar/Tiririca, faca de cortar” (Maria José, professora, 58 anos). Além de reafirmar a presença negra, esse samba retrata estratégias que negros(as) da roça utilizavam para garantir a sobrevivência de sua cultura. A citação da tiririca – capim cuja folha corta feito navalha – faz alusão ao uso dessa planta para manter afastados do samba os senhores brancos. Em outro exemplo, Argemira aponta em sua fala para a relação do homem e da mulher da roça com o sagrado. Rememorando o tempo de sua juventude, ela diz que a festa a que ia com sua família era o samba, “samba brasileiro”. Explica que, no “samba brasileiro”, não tinha “caboco”159. Logo após, em um arremate, fala que não era só samba brasileiro, não. Em um tom saudoso lembra que o santo vinha fechar a noite. “Era sempre assim: primeiro o samba brasileiro. Quem não tinha santo sambava até cansar, depois o santo vinha e fechava a noite” (ARGEMIRA, lavradora, mais de cinquenta 159 Candomblé de Caboclo (XAVIER, acessado em 10/02/2011).Segundo Juarez Tadeu de Paula Xavier, o candomblé de Caboclo - expressão singular brasileira - é a junção das matrizes africanas com as raízes indígenas, que se encontraram no Recôncavo Baiano, e produziram uma síntese especial. Segundo alguns estudiosos, ao chegar na região, muitos africanos de origem bantu procuraram identificar o ancestral da terra, já que está tradição tem fortes ligações com a terra. Identificaram o índio com ancestral senhor da terra o adotaram com seu ancestral. Dessa releitura em busca do ancestral perdido e, nesse caldo de cultura especial, nasce essa tradição que funde as duas matrizes numa única e original forma de adoração da ancestralidade afroindígena, o 319 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens anos). Como observa Sodré: “Por trás do ludismo descontraído da festa vislumbra-se a solenidade ritualística de um jogo que pretende afirmar a presença dos deuses” (SODRÉ, 1988, p.116). O samba, a dança de roda, o boi roubado, os adjutórios, a bata de feijão ou de milho, os encontros nas casas de farinha, etc. representam momentos de sociabilidade popular, “a busca de lugares próprios, adequados à expansão da identidade do grupo” (SODRÉ, 1988, p.78). EmSanta Bárbara, o samba é habitualmente realizado nas noites de festa para São Cosme e São Damião, após a reza. Mas não se restringe a esses momentos, podendo acontecer, de forma mais esporádica, em situações diversificadas. De acordo com cada momento ou localidade, ele tem nomes e características específicas: chula, batuque, samba de roda, samba brasileiro. Assim como na palavra poética de Conceição Evaristo160, também no samba o corpo se alforria. O gingar dos quadris, a batida rítmica dos pés sintonizados às vozes e aos instrumentos musicais dispensam tristezas, num jogo ritualístico “que foge às finalidades macroscópicas estabelecidas pelo império do sentido (ou da verdade) universal” (SODRÉ, 1988, p.78). O boi roubado assim como o adjutório são associações temporárias de homens, mulheres e crianças para a execução do trabalho agrícola; o que diferencia um do outro, é que no primeiro o grupo se forma sem o conhecimento do dono da plantação a ser efetivada; em troca do trabalho oferecido, o dono deve alimentar com matanças de porcos, galinhas, ovelhas 160 Maria da Conceição Evaristo de Brito, participante ativa dos movimentos de valorização da cultura negra em nosso país, estreou na arte da palavra em 1990, quando passou a publicar seus contos e poemas na série Cadernos Negros (Oliveira, Luiz Henrique Silva de. Rev. Estud. Fem. vol.17 no.2 Florianópolis May/Aug. 2009) 320 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens ou até mesmo boi, todos ali presentes. No boi roubado e nos adjutórios, homens, mulheres e crianças, juntos cantam, trabalham e comem, festejando a luta para vencer dificuldades. O plantar e o colher simbolizam essa luta, na medida em que representam fonte de vida. Sobre essa sociabilidade popular no trabalho no município de Santa Bárbara, Macedo (2005, p.86) escreve: [...] os rituais de trabalho estão muito presentes nas atividades rurais e quase sempre dizem respeito ao plantio e a colheita de determinadas culturas. O boi roubado, a bata de feijão, a descasca de milho, a rapa de mandioca, entre outras, são manifestações ritualísticas, sonoras e coletivas, de caráter marcadamente comunitário, no sentido de um envolvimento e uma participação efetiva de quase todos os membros de determinados espaços. A bata de feijão e de milho e a raspa de mandioca na casa de farinha representam, também, associações para o trabalho. Em viagem pela memória, Maria José lembra que na bata de feijão, homens, mulheres e crianças tinham papéis distintos na execução do trabalho. E o pessoal, as mulheres beatavam o feijão, que é sacudir na arupemba pra tirar a palha de dentro e jogar a favor do vento. Ficava chamando o vento, como se elas tivessem o poder de chamar o vento né, e chamava pelo nome do vento, o nome de, nunca esqueço, o nome de uma pessoa, chamavam o vento de Lourenço. E ficava gritando: “Chega Lourenço, chega Lourenço!” e assobiando e sacudindo o feijão pra tirar a palha. E os homens batendo o feijão. Cada um tinha o seu trabalho específico que já era assim uma coisa da sociedade patriarcal né, porque os homens faziam a parte deles, as mulheres não batiam o feijão com o cacete, os homens batiam o feijão, as mulheres beatavam o feijão e os meninos catavam os caroços do feijão (Maria José, professora, 58 anos). Nestes encontros, além do trabalho e da cantoria acontecem trocas simbólicas. Na roça, o lúdico e o trabalho se entrelaçam simbolizando a força vital, um sentimento de pertença. O canto entoado no trabalho é a ressonância de uma associação solidária celebrando a vida. 321 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Esse envolvimento de todos na execução de uma atividade caracteriza a roça, conferindo-lhe uma especificidade. A solidariedade marcante de seus moradores consolida a ideia do comunal como algo acima do indivíduo. Para Santos (2005, p.110): As relações de solidariedade que marcam o cotidiano da roça se expressam em atitudes afetivas como a oferta de produtos e comidas típicas e a existência de ajudas mútuas, como a troca de dias (em que um trabalhador presta serviço para o outro, quando um mais necessita e tem a contrapartida em serviço, quando precisa) e mutirões, dentre os quais se destacam o ‘roubo da roça. O viver na roça imprime ritmos de trabalho, valores, atitudes e significados próprios, mas não é independente de influências externas. Na contemporaneidade as fronteiras entre o rural e o urbano estão cada vez menos sólidas. Apontando para a fragilidade das fronteiras, para as encruzilhadas entre o rural e o urbano, mas atentando para as especificidades de cada um, portanto, para continuidade do rural, Wanderley (2001, p.32) observa: O fim do isolamento entre as cidades e o meio rural é frequentemente expresso através do conceito de continuum rural-urbano. Este conceito – tanto quanto o de urbanização do campo- é utilizado em duas vertentes principais. A primeira delas corresponde a uma visão “urbano-centrada” (Rambaud,1973), que privilegia o pólo urbano do continuum como a fonte do progresso e dos valores dominantes que se impõem ao conjunto da sociedade. O extremo rural do continuum, visto como o pólo atrasado, tenderia a reduzir-se sob a influência avassaladora do pólo urbano. (...) A segunda vertente, ao contrário da primeira, considera o continuum rural-urbano como uma relação que aproxima e integra dois pólos extremos. Nesta segunda perspectiva, a hipótese central é de que, mesmo ressaltando-se as semelhanças entre os dois extremos e a continuidade entre o rural e o urbano, as relações entre o campo e a cidade não destroem as particularidades dos dois pólos e, por conseguinte, não representam o fim do rural; o continuum se desenha entre um pólo urbano e um pólo rural, distintos entre sí e em intenso processo de mudança em suas relações”. 322 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens A vertente que privilegia o urbano como o espaço possível para o progresso e, por isso, detentor de valores dominantes a serem impostos ao conjunto da sociedade, está em consonância com a produção discursiva e imagética estereotipada que aparece em determinadas representações do rural. O discurso preconceituoso pressupõe a gente da roça, deseducada, apolítica, incivilizada e, por isso, responsável pelo estágio atrasado de desenvolvimento em que vive. Tudo e todos que se distanciam das ideias, concepções, da realidade social e política própria do discurso eurocêntrico, sofrem com essa discriminação. Daí o discurso que não respeita e nem valoriza as diferenças, que folcloriza as culturas rurais, que ridiculariza a linguagem do povo da roça, que vitimiza “piedosamente” o tabaréu. Macedo (2004, p.24) descreve como este termo estereotipiza homens e mulheres da roça em Santa Bárbara: “Os tabaréus, homens e mulheres rudes, ignorantes, incivilizados eram considerados não só atrasados, como incapazes de acompanhar o processo civilizatório” (MACEDO, 2004, pág. 24). A estereotipização está fortemente ligada à cultura branca e urbana em relação a outras culturas. Referindo-se às produções discursivas e imagéticas que inventaram o Nordeste, (1999, p.20) Albuquerque Júnior escreve: O discurso da estereotipia é um discurso assertivo, repetitivo, é uma fala arrogante, uma linguagem que leva à estabilidade acrítica, é fruto de uma voz segura e auto-suficiente que se arroga o direito de dizer o que é o outro em poucas palavras. O estereótipo nasce de uma caracterização grosseira e indiscriminada do grupo estranho, em que as multiplicidades e as diferenças individuais são apagadas, em nome de semelhanças superficiais do grupo. A relação entre o urbano e o rural, entre brancos e pretos da roça, é marcada, de um lado, por um discurso preconceituoso e por diversificadas formas de estereótipos, mas, de outro, apontam para a resistência cultural que possibilitou historicamente a continuidade do rural, a partir da interpenetração rural/urbano, da fluidez das fronteiras entre esses dois espaços. Essa última forma de ler o rural está em conformidade com a vertente que considera 323 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens o “continuum rural-urbano como uma relação que aproxima e integra dois pólos extremos” (WANDERLEY, 2001, p.33), embora esta integração não faça desaparecer as especificidades de cada polo e, conseqüentemente, não determine o fim do rural. A ideologia branca/urbana mexe com o imaginário do povo negro da roça - morar na cidade é ampliar horizontes, desenvolver-se, “tornar-se gente”. A cidade, outras vezes, está inscrita como o lugar do trabalho. Observamos isso na fala de Bernardo: “Uma necessidade, porque aqui, chega a época de verão, muitos sai também. O trabalho fraca mais, sabe? Trabalho de biscate aí, fraca mais. A gente tem que procurar outro ricurso na cidade grande pra... Que a época de verão é a época que vem turista, essas coisa. E a gente... a mercadoria que a gente vende é saída de praia, essas coisa. É aonde ganha um dinheirin pra se manter melhor” (Bernardino, 45 anos, lavrador). Essa é uma representação do urbano que, aliada a outras representações da roça (vida dura, lugar da seca, da fome, etc.), impulsiona a migração. Essa ideia aparece em Santana, quando se refere à depoente Catarina: “A escolhida por Catarina foi a de Salvador dos migrantes, do trabalho, de quem precisa “ser gente”. A representação preterida foi a do “sofrimento”, da “agonia”, de tanta ... coisa e da “escravidão” (SANTANA,1998, p.122)161. Segundo esse autor, a depoente migra para Salvador, depois de convencer a mãe, com um argumento de que precisa estudar, ser gente –“ uma pessoa instruída, que tivesse alguma coisa na vida”. Salvador em oposição à roça representa o lugar onde estudar, “ser gente” é possível. Nessa perspectiva, a relação rural/urbano se dá através de uma assimetria de poder onde o urbano dita as regras, determina as vias do desenvolvimento, é modelo a ser copiado, e o espaço rural influenciável tende a diluir-se gradativamente, rendendo-se ao progresso. 161 Nessa obra, Santana (1998, p.17) expressa “[...] a dinâmica cultural que atribui contornos aos modos de vida e de luta, às experiências e vivências de ex-lavradores [...] expressiva quantidade de trabalhadores rurais do interior do estado que se dirigiu a Salvador e contribuiu para a história recente da cidade”. 324 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens No entanto, essa não é a única representação do urbano. Há outras em que a cidade e sua dinâmica representam violência, temor, angústia, sufocamento, sentimento de não pertencimento, como nos mostra as narrativas dos(as) entrevistados(as) abaixo: “Eu prefiro o Sítio. Eu prefiro o Sítio. Cidade é muito violenta, principalmente Salvador, agora. Muito violento,... muita droga, muita... sei lá... muita... como se diz? Muito problema. Não gosto muito... sou mais o Sítio”. (Bárbara, 13 anos, estudante, 7ª série). “[...] Já tive pra ir pra São Paulo. Já tive pra ir... Fui três vezes a passeio. Vê que loucura, não gostei! Justamente quando você... você perde é... metade do horário, né? você trabalha oito horas e praticamente você ta fazendo dezesseis horas.[...] Nessa situação eu digo, [risos] não, não é pra mim” (Clériston, 41 anos, diretor). Pedro Mota representa o que vivenciou na cidade como um processo de aculturação: “Eu tive que ver, bolas construídas nas fábricas, roupas diferentes, é... na época, calças com boca de sino, cinto largo, sapatos com saltos altos, tamancos, então, isso tudo, pra mim, era novidade. [...] pra ser atual, eu teria que aprender a usar esses instrumentos. [...] Porque se eu tinha gestos, eu tinha roupas, eu tinha falas, eu tinha brinquedos, lazeres, quer dizer, tudo isso, pra mim, era diferente [...] pra ficar na cidade eu teria que me adequar a essa nova situação de vida. Porque eu tive que receber ...é... aceitar uma cultura de um povo que eu não estava acostumado” (Pedro Mota, 53 anos, professor). Essas (e outras) representações, mostram a relação entre o urbano e o rural, entre brancos e pretos da roça, marcada, por um lado, por um discurso preconceituoso e por diversificadas formas de estereótipos, mas, por outro, apontam para a resistência cultural que possibilitou historicamente a continuidade do rural, a partir da interpenetração rural/urbano, da fluidez das fronteiras entre esses dois espaços. Essa última forma de ler o rural está em conformidade com a vertente que considera o “continuum rural-urbano como uma relação que aproxima e integra dois pólos extremos” (WANDERLEY, 2001, p.33), embora esta 325 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens integração não faça desaparecer as especificidades de cada polo e, conseqüentemente, não determine o fim do rural. Pensamos que as políticas públicas para “o campo” estão imbuídas de um propósito modernizador que objetiva o desenvolvimento deste espaço a partir da ideia de um rural atrasado cuja fluidez da fronteira com o urbano só seria possível com o fim da ruralidade. No nível nacional e estadual, essas políticas objetivam a “fixação do homem no campo”. Portanto, elas preconizam a restrição da mobilidade rural. Paradoxalmente, alguns pequenos municípios, movidos por interesses políticos locais, promoveram a migração rural/urbano através de uma pseudopolítica habitacional responsável pela criação de periferias nestas pequenas cidades. Na última década do século XX, políticas públicas em Santa Bárbara promoveram uma onda de migração interna, formando, a partir de doações de pequenos lotes de terra a famílias carentes, principalmente da roça, uma periferia urbana marginalizada.162 Primeiro, a Cascalheira, e, mais tarde, o Torto e a Terra Santa (o Areal) se constituíram em espaços da cidade povoados por maioria rural. Sem planejamento, sem infraestrutura, habitados por pessoas sem fonte de renda fixa e, na sua maioria, desempregadas, essas localidades se transformaram em espaços propícios para a propagação de drogas, violências e arbitrariedades. Mas, paradoxalmente, nelas a solidariedade, as relações comunais estão presentes no dia a dia. Seus moradores promoveram a transferência de parte do patrimônio cultural da roça para ali. Nas plantações de milho, feijão, batata doce, nos quintais das casas ou em terrenos baldios; na fala (terminologias, sotaques, tom de voz); na preferência alimentar; na forma de comer, de se divertir, de lidar com o outro (seja nos momentos de lazer seja no trabalho cotidiano); na maneira de se relacionar com o real, enfim, essa periferia anuncia a continuidade da roça em movimentos de reterritorialização. 162 Segundo o IBGE, Santa Bárbara tinha, em 2000, 10.766 habitantes rurais e 7.167 habitantes urbanos. O Censo 2010 aponta uma mudança nessa realidade demográfica: atualmente há, neste município, 10.395 pessoas morando no espaço rural e 8.669 morando no espaço urbano. 326 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens A “compressão do espaço-tempo” (HALL, 2006, p.69) na contemporaneidade, que parece reduzir o mundo e encurtar distâncias, tem contribuído para uma maior inter-relação entre o rural e o urbano. Roça e cidade se influenciam mutuamente, fragilizando fronteiras e estabelecendo encruzilhadas entre esses dois espaços. A inter-relação entre o rural e o urbano, hoje, não tem como principal fator a migração. Em Santa Bárbara, o trânsito entre roça e cidade, entre este município e outras cidades maiores, tornou-se praticamente cotidiano, principalmente para os jovens. Em viagens virtuais, também, a maioria dos(as) jovens da roça penetra em espaços urbanos, estabelecendo trocas simbólicas com outros(as) jovens dali. Certamente, a contemporaneidade inaugurou o estreitamento das relações entre o rural e o urbano. As fronteiras são menos fixas, são muitos os pontos de encruzilhada, mas, na forma de lidar com o real, roça e cidade guardam especificidades que as tornam distintas. A roça, enquanto território resiste e se movimenta na sedução da verdade universal e finalística. Referências ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz de.A invenção do Nordeste e outras artes. São Paulo: Cortez, 1999. BRITO, Maria da Conceição Evaristo de. Literatura negra:uma voz quilombola na literatura brasileira. Disponível no site <HTTP://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libras/aladaa/evaris.rtf>. acessado em 27/11/2009. DEL PRIORE, Mary. Uma história da vida rural no Brasil.Rio de Janeiro: Ediouro, 2006. GENOT, Ledna Andrade Macedo (coord.) Memória histórica de Santa Bárbara.Prefeitura Municipal de Santa Bárbara, 1993. HALL, Stuart. A identidadecultural na pós-modernidade.Rio de Janeiro: DP&A, 2000 MACÊDO, Marluce de Lima. Tradição oral afro-brasileira e escola:(des)encontros na encruzilhada: uma reflexão a partir do município de Santa Bárbara – Ba. Salvador: Universidade do Estado da Bahia – Uneb (Dissertação Mestrado em Educação e Contemporaneidade), 2004. 327 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens MOREIRA, Roberto José (org.). Identidades Sociais:ruralidades no Brasil contemporâneo. Rio de Janeiro: DP&A, 2005. SANTANA, Charles D’Almeida. Fartura e Ventura Camponesas – trabalho, cotidiano e migrações: Bahia 1950/1980. São Paulo: Annablume, 1996. SANTOS, Fábio Josué Souza. Nem “tabaréu/oa”, nem “doutor/a”:o(a) aluno(a) da roça na escola da cidade – um estudo sobre representações e identidades. Salvador: UNEB (Dissertação de Mestrado em Educação e Contemporaneidade), 2005. SANTOS, Milton. Metamorfoses do espaço habitado. São Paulo: Hucitec, 1991. SODRÉ, Muniz. O terreiro e a cidade.Petrópolis: Vozes, 1988. ______________ A verdade seduzida. Rio de Janeiro: DP&A, 2005. WANDERLEY, Maria de NazarethBraudel .A ruralidade no Brasil moderno. Por un pacto social pelo desenvolvimento rural. Enpublicacion: ¿Una nuevaruralidadenAmérica Latina?.Norma Giarracca.CLACSO, ConsejoLatinoamericano de CienciasSociales, Ciudad Autónoma de Buenos Aires,Argentina. 2001. Disponibleen: <http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/rural/wanderley.pdf> Acesso: 22 de dezembro de 2010. 20) AUTOR: María Fátima Di Gregorio PONENCIA: Território e identidade(s) forjada(s): algumas reflexões INSTITUCION: Universidade Estadual da Bahia PAÍS: Brasil MAIL: [email protected] 1. Considerações Iniciais A relação entre Território e Identidade tem sido foco de pesquisadores, especialmente os brasileiros que por estarem inseridos numa larga extensão territorial e com história ligada ao processo de chegada de vários grupos, desde os brancos colonizadores, negros e imigrantes 328 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens que em diversos séculos adentraram no país. A partir dessa dinâmica de imposição de um grupo sobre outros, a tolerância e o respeito à diversidade são marcas identitárias do povo brasileiro, na medida em que conflitos e diferenças se estabeleceram no processo de aculturação como ato impositivo advindo da ruptura pelo desenraizamento de pessoas e grupos que deixaram seus territórios para adentrar no Brasil em suas diversas regiões. 1.1 Migrar: assumir outra identidade? O migrante perde em parte sua referência natal e assume outro território, constituindo um desafio para sua identidade, já que suas raízes se partem pela mudança de chão. A palavra homem deriva da etimologia “chão fértil” e este por sua vez tem uma história em determinado(s) território(s), onde os valores se constroem nas relações sociais. “Ser brasileiro” é assumir a mesmice de um povo e ao mesmo tempo, negar outras situações, a exemplo de “ser africano ou mesmo português”. Mas, o que está em jogo na construção de uma identidade legitimadora em território de não nascença e vivência? A mistura entre o que somos e o que outros são, o que nos conduz a um estado de assunção de posturas diante de valores diferentes dos anteriormente construídos. Nesse intuito, qual a ligação da Identidade com o Território? “Ser brasileiro” corresponde a absorver traços e símbolos de outras culturas e ao mesmo tempo admitir estar ligado a uma identidade legitimadora – a de pertencimento original. Por esta razão, há de se perceber que a Identidade Nacional caminha entre o que somos e a diferença que representamos para o outro, ou seja, identidades produzidas num sistema simbólico e cultural, diferente do habitat original. Ora, a Identidade por estar sujeita às vertentes de forças e intrigas inseridas em territórios e nas relações sociais, não é inocente, pois é constitutiva nesse jogo, de forma dinâmica e mutável. Tratando-se de Identidade Nacional, esta se mostra como campo imaginário, uma tentativa de origem e enraizamento do sujeito ou mesmo de grupo que territorializa-se num espaço seja por nascença ou pertencimento forçado, o que implica numa 329 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens terceira identidade – a forjada mostrada como legitimadora. Se transito entre dois ou mais espaços, quem sou eu? Que identidade tenho? A terceira identidade faz com que eu seja aceito em um território que não é meu de pertencimento de nascença e história entre gerações? Como o território ao qual nasci está em minha vida? Tenho realmente algo em comum com ele ou já está no plano imaginário? Estudando a imigração italiana na Bahia – um dos estados do Brasil, eis a dualidade identitária dentre os que saíram de uma terra e participaram da dinâmica imigratória em novos territórios e como os antigos elementos culturais ainda estão presentes nessa nova organização social e identitária. Elementos que ao mesmo tempo foram sendo readaptados. Se as raízes antigas, históricas, étnicas tornam o território legitimador por muitos anos, isso concede aos sujeitos uma necessidade de valoração da origem e pertencimento, porém com construção de estratégias de aceitação por “ser estrangeiro”, ser “o diferente”, “o outro que adentrou no território que não é o seu” e que apresenta especificidades em suas características simbólicas e culturais. E ser “o diferente” numa comunidade que fere a ideia da mesmice. Nos fenômenos das imigrações, diásporas, cruzamentos de fronteiras, como pensar a identidade a partir de “ser diferente” e em busca da aculturação? As referências simbólicas, culturais são incorporadas ou aceitas como estratégia de sobrevivência? Se o migrante chega a novo território com raízes partidas, nessa dinâmica de aculturação, há modificações internas e externas que influenciam na (re) construção identitária. Mas, que identidade é essa? A discussão aqui envolve todos dois aspectos: a ideia de identidade forjada diretamente imbricada com a questão da (re)territorialização de quem sai de seu território e se apropria de outro e a questão da (des)terrritorialização como uma dor e sentimento de fragmentação identitária que perpassa por questionamentos: Quem sou? Como posso fincar novas raízes? O que serei neste novo território? Qual será a minha identidade a partir dessa nova vivência? Um sentimento entre o que fui e o que serei paira. Nesse sentido, o distanciamento da identidade e do território de origem, impulsiona a criação de estratégias de construção de uma terceira identidade, resultado do próprio 330 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens movimento híbrido, de dobradiça que é inerente a construção de um processo de mudança do habitat. Se jamais a segunda identidade pode ser a do sujeito alocado em novo território, constata-se aqui que a terceira identidade: a forjada pela aculturação e forçosamente construída para adaptação e sobrevivência em novo território. Ela é cristalizada, na medida em que se torna uma tentativa de permanência e reelaboração identitária. Há de se pensar que a estrutura política, social, cultural de nascimento já não é possível existir por inteiro e a nova não é de pertencimento legitimador, é dolorosa por demais, pois perpassa pelo estranhamento. Todavia, a terceira identidade – a forjada é estratégia de sobrevivência e confronto de identidades: a de origem, a não possível e a de sobrevivência. A partir dessa compreensão, os sujeitos reconstroem suas identidades, assumindo diferentes faces. 1.2 A territorialização e o ancoramento identitário De acordo com Haesbaert (2001), a palavra território deriva do latim territorium que é derivado de terra e que em tratados de agrimensura significa pedaço de terra apropriada. O autor sinaliza três abordagens para melhor entendimento sobre o conceito de território, apontando para o jurídico-político que se mostra definido por delimitações e controle de pessoas que exercem poder em faixas de terra, especialmente na questão estatal. A culturalista que resulta do produto da apropriação resultante do imaginário e/ou identidade social que se constrói sobre o espaço, priorizando dimensões simbólicas e culturais e por fim, a dimensão econômica que envolve o movimento de grupos que vão se territorializando em novos espaços – (re) territorializando-se pelo fenômeno da (des) territorialização ou mudança de habitat com base na sobrevivência. Se grupos e pessoas ancoram suas identidades entre os espaços nascidos e que trazem uma identidade legitimadora que é referencial, as formas de capital e trabalho, segregam valores, mostram campos de poder em constante jogo e campo de representações. Este jogo imprime na identidade pessoal, marcas como resultado da manutenção de um sentimento do que sou e do que represento para o outro. Ao migrar para outro territorio, o que sou se 331 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens confronta com o que não sou. A tolerancia precisa ser acessada em respeito a diversidade e à diferença. Haesbaert (2001, p 25) ressalta que o sentido de pertencer a uma região e/ou território faz com que os sujeitos se apropriem de espaços de forma concreta ou abstrata, territorializando-se nele. Assim sendo, a construção identitária está ligada a (re) alocação e ao sentimento de pertença territorial. Isso sinaliza que as identidades são construidas socialmente e nessas relações marcadas pelo poder e pelos meios de produção, há desilusões, mudanças constantes e enfrentamentos identitários. Assim, o territorio é dividido, apropriado e visto de forma desigual, atendendo ao econômico, às normas e delimitações que se mostram e assustam. É interesante lembrar que o conceito de territorialização tem múltiplos sentidos e significados: possui grande flexibilidade e possibilita ser pensado como (re) apropriação territorial em plano político é demasiadamente estratégico. Nesse sentido, o território sempre é construído em um mundo próprio e em defesa de si mesmo. A exemplo de animais como o lobo que marca o seu território com a urina, um expressivo traço de domínio e imposição e conquista diante do outro. A ancoragem em territorio ainda é mostrada nos contos infantis quando os coelhos usam seus excrementos como marca expressiva da presença da espécie no local de morada. De qualquer forma, a palavra territorio está ligada aos atos de expressividade e estado de permanencia e proteção em relação ao outro. O conceito de território não deve ser confundido com o de espaço ou de lugar, estando ligado à ideia de domínio ou de poder em uma determinada área. Se o território está associado ao controle, o poder público, estatal, nota-se que o território pode ser entendido como o controle do espaço ou de uma região e de grupos alocados que receia o outro e desejam estabelecer fronteiras de proteção e sobrevivência. O espaço é visto não apenas como um processo, fruto da atividade humana sobre a natureza, mas também como um lugar que perpassa por um conjunto de símbolos e 332 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens representações culturalmente produzidos (HAESBAERT, 1997). Se o território serve de referência ao grupo, reúne condições que possibilitem a continuação e reprodução das tradições e perpetuação de costumes e como tal, é matriz referencial. De acordo com Raffestin (1993), a formação de um território implica em comunicação, a partir da qual um indivíduo informa ao outro suas intenções e valores estabelecidos socialmente. [...] um espaço onde se projetou um trabalho, seja energia e informação, e que, por conseqüência, revela relações marcadas pelo poder. (...) o território se apóia no espaço, mas não é o espaço. É uma produção a partir do espaço. Ora, a produção, por causa de todas as relações que envolve, se inscreve num campo de poder [...] (RAFFESTIN, 1993, p. 144). Esse campo de poder tem uma referência implícita com a noção de limites que ao mesmo tempo vai sendo traçada e legitimada pelos sujeitos, exprimindo ações, ideologias que revelam a representação de seus traços identitários de um povo ou de um determinado grupo de convivência. Evidencia-se que em um território pode haver várias territorialidades, ou seja, diferentes formas de lidar com ele, havendo confronto identitários, o que resulta em possíveis enfrentamentos e crises. [...] um espaço onde se projetou um trabalho, seja energia e informação, e que, por conseqüência, revela relações marcadas pelo poder. (...) o se apóia no espaço, mas não é o espaço. É uma produção a partir do espaço. Ora, a produção, por causa de todas as relações que envolve, se inscreve num campo de poder [...] (RAFFESTIN, 1993, p. 144). Raffestin enfatiza ainda o caráter político e administrativo do território, tratando-o como um espaço de marcas que se projetam na construção identitária de um sujeito que ao se relacionar com outros, pode desenvolver posturas conflituosas ou não. Todavia, nessas relações, o poder é muitas vezes naturalizado, mas o fato é que os sujeitos são legitimados reconhecidos como controladores de um determinado espaço, e grupos reterritorializados são reconhecidos com estranhos e não pertencentes ao lugar. Raffestin afirma que: 333 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens faz-se sempre uma referência implícita à noção de limite que, mesmo não sendo traçado, como em geral ocorre, exprime a relação que um grupo mantém com uma porção do espaço. A ação desse grupo gera de imediato, a delimitação e a posse (RASFFESTIN 1993, p. 153). 1.3 A desterritorialização e o desafio da reterritorialização Os sujeitos como produtores do espaço em função de suas ações, produzem cultura, já que esta se estabelece e se agrega nas memórias dos grupos. Hall (2003, p. 85) escreve que as identidades são construídas no interior das relações de poder e isso significa que as identidades individuais somente serão afirmadas de maneira diferencial se forem distinguidas do contexto em que estão inseridas e vivenciadas coletivamente. Sachs (1986) mostra que a territorialidade é um reflexo do comportamento humano espacial e expressão de poder, já que não é instintivo e nem agressivo, mas apenas estratégia humana para influenciar e controlar o uso social do próprio espaço. Essa ideia abarca o quadro social como elemento de interferencia entre o individual e o social. Sendo a territorialidade uma manifestação entre sujeitos que se humanizam no espaço, é também o resultado do uso, da apropriação de um determinado lugar com o qual o indivíduo é capaz de se identificar. Além disso, existem outros pontos que contribuem para que ocorra a dinâmica da territorialidade como, por exemplo, a relação de (re)apropriação dos bens naturais de um espaço, significando começar a fazer parte do território, reconhecido como “não seu”. Esses novos laços de pertencimento são dolorosos e conflituosos, mas representam um esforço de adaptação e pertencimento. Raffestin (1993) analisa o território como apropriação, não como produção do espaço. Percebe como um espaço de relações de vivências e manifestações de poder, sendo palco das ligações afetivas e de identidade entre um grupo social. O território, por sua vez, é percebido a partir de desdobramentos da construção identitária, resultando em sentimentos de posse ou pertença que caracterizam a (re)apropriação do lugar pelo sujeito ou grupo. 334 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Haesbaert (1997, p. 50) liga o território ao exercício de poder e à exploração de grupos empobrecidos de capital e inseridos a sentimentos de exclusão. As representações ou símbolos que controem grupos, partem de representações sócio espaciais atribuídas e legitimadas pela força simbólica presente em grupos que controlam territórios. Se a identidade territorial está relacionada ao sentimento humano de pertencer a um determinado território e, quase sempre, os dominadores são os donos do território e os dominados que dele fazem parte, vistos como excluídos. Portanto, não é exatamente o território que vai constituir a identidade, mas a ideia de que sem território não há identidade que se estruture, pois está construída no território. O conceito de territorialização, de desterritorialização e reterritorialização tem tudo a ver com a questão da posição que o sujeito ocupa na sociedade. Daí a ideia de que o território não é unificado e as identidades são diversas e pertencentes a um determinado grupo social. Saquet (2004) diz que no território há produções transitórias e o exercício de poder embora presente, pode ser alternado a partir de variáveis. Se o território tem abordagem política, econômica e cultural, a(s) identidade(s) são produzidas nas relações sociais. A territorialização perpassa pela demonstração das relações de poder, pela (re) organização espacial em que obviamente de sobrevivência humana. E assim sendo, o poder comanda e determina leis num territorio. [...] as forças econômicas, políticas e culturais, reciprocamente relacionadas, efetivam um território, um processo social, no (e com o) espaço geográfico, centrado e emanado na e da territorialidade cotidiana dos indivíduos, em diferentes centralidades/temporalidades/territorialidades. A apropriação é econômica, política e cultural, formando territórios heterogêneos e sobrepostos fundados nas contradições sociais (SAQUET, 2004, p.28). O fato de o espaço geográfico estar ligado a políticas ideológicas, econômicas e culturais, mostra que, interesses específicos de grupos estão em jogo e determinam bases 335 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens territoriais e identitárias. Santos (1996) mostra o espaço habitado como território e configuração territorial, definindo-o como o todo e o espaço conceituado como a totalidade verdadeira, um matrimônio entre a configuração territorial, a paisagem e a sociedade. O território para o autor, configura-se pelas técnicas, pelos meios de produção, pelos objetos e coisas, pelo conjunto territorial e pela dialética do próprio espaço a partir de intencionalidade humana. 1.4 A questão das identidades em territórios apropriados: entre “o ser”, o “ não ser” e “o possível”. Embora em certos momentos um território parece impor-se ao outro deixando aparentemente para trás, costumes e hábitos anteriores, cria-se a ideia de um territorio que não é seu, que ao mesmo tempo é suporte para a construção de uma nova história. O que se pode pensar nos procesos migratórios em relação às rupturas identitárias? Adaptações ou reconstruções identitárias? Se cada pessoa tem uma identidade legitimadora de familia, espaço e principios construidos nas relações sociais com referências em suas matrizes epistemológicas, cabe então considerar que, a identidade passa a der forjada e equalizada na medida em que as posições territoriais são alteradas. Por esta razão, os valores se (re) organizam e o novo territorio se mostra como parte de nova vida. Forjar uma identidade significa situar o que está dentro para seduzir os que estão de fora, isto é, a territorialização exerce um papel importante nesse proceso de firmar a (re) territorialização, garantindo a sobrevivencia de pessoas e grupos, gerando aceitabilidade. Esse conceito perpassa pela relação dialética do outro e do eu, da utilização do espaço como (re)construção identitária, legitimação e reconhecimento de novos valores, cabendo ao outro o jogo político do aceitar e adequar às novas regras. O transformar demanda tempo e aceitabilidade dos outros que podem abrir posibilidades ou rompimentos para as identidades. 336 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens 2 Algumas considerações Por seu poder transfigurador, o territorio se (re) organiza e formata novo sentido às identidades. O Brasil, enquanto República inserida numa nova situação identitária diante de vários modelos de governo, de regionalismo, desvela Identidade Nacional como resultado de um conjunto de identidades que coexistem num espaço geográfico nacionalizado, consolidado e articuladas em rede e tempos. Há uma nova identidade vista por outros e a que se aproxima da mesmice coletiva, cujos traços são próximos. Se mudar de territorio é perder um pouco de si mesmo, deixar para trás marcas identitárias, o territorio ao ser mudado, interfere significamente nas identidades individuais e coletivas. O território passa a ser entendido como um espaço fronteriço pela apropriação humana, cujas regras são estipuladas nas relações de poder, espaço onde as identidades se reconstroem no movimiento dialético entre o “eu” e “os outros”, pois sem ele, as identidades flutuariam, desintegrando-se perdidas no tempo. Referências COSTA, Rogério Haesbaert da. Latifúndio e Identidade Regional. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1988. ______. Des-territorialização e identidade: a rede “gaúcha” no nordeste. Niterói: EDUF, 1997. ______. Desterritorialização: entre as redes e os aglomerados de exclusão. In: CASTRO, Iná Elias de et al. Geografia: Conceitos e Temas. 3ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. _______.A multiterritorialidade do mundo e o exemplo da Al Qaeda. Terra Livre, São Paulo, v. 1, n. 18, jan. /jun. 2002. HALL, Stuart. Da diápora: identidades e mediações culturais (Org. Liv Sovik). Tradução: Adelaide La Guardia Rezende et al. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003. SACHS, I. Espaços, Tempos e Estratégias de Desenvolvimento. São Paulo: Edições Vértice. 1986. 337 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens SANTOS, Milton. Espaço e método. São Paulo: Nobel, 1985. _______ . do espaço habitado: fundamentos teóricos e metodológicos da Geografia. São Paulo: Hucitec, 1996. _______.A natureza do espaço: técnica e tempo. Razão e emoção. São Paulo: Edusp, 2002. SANTOS, M.; SOUZA, M. A. A. de; SILVEIRA, M. L. (org.). Território: globalização e fragmentação. São Paulo: Hucitec; Annablumme, 2002. SANTOS, M.; SILVEIRA, M. L. O Brasil: território e sociedade no início do século XXI. Rio de Janeiro: Record, 2003. SAQUET, Marcos Aurélio. O território: diferentes interpretações na literatura italiana. In: RIBAS, A. D.; SPOSITO, E. S.; SAQUET, M. A. Território e Desenvolvimento: diferentes abordagens. Francisco Beltrão: Unioeste, 2004. RAFFESTIN, Claude. Por uma geografia do poder. Tradução de Maria Cecília França. São Paulo: Ática, 1993. 21) AUTOR: Marluce de Lima Macêdo PONENCIA: Associação de pesquisadores negros: ação coletiva e novas territorialidades acadêmicas no Brasil INSTITUCION: Universidade Estadual da Bahia PAÍS: Brasil MAIL: [email protected] Introdução Este artigo traz uma reflexão sobre a Associação Brasileira de Pesquisadores Negros – ABPN e a Associação de Pesquisadores negros da Bahia – APNB, entendendo-as como lugares que agregam pesquisadores/intelectuais voltados para temáticas sobre as populações negras, firmando-se enquanto um campo coletivo de referência epistemológica e política. 338 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Compostas por intelectuais das mais diversas áreas de conhecimento, estas associações reúnem um conjunto heterogêneo de pesquisadores onde a diversidade é a dimensão fundamental para a realização de pesquisas multidisciplinares, apresentadas nos congressos nacionais e nos congressos baianos. O surgimento dessa temática como objeto de reflexão e escrita tem como pano de fundo aminha trajetória – que considero engajada – nestas Associações, como associada destas e participante efetiva da maior parte de suas realizações: presença constante nos congressos nacionais, desde a 2ª edição em 2002, organizadora e secretária geral do IV COPENE163 em 2006, fundadora e vice-presidente por duas vezes da APNB, tendo acompanhado, debatido e participado de momentos decisivos dessas Associações ao longo dos anos. Uma questão constitui o eixo central desse texto: As Associações de Pesquisadores negros, enquanto uma ação coletiva de grupos “desprestigiados” nos contextos das Universidades brasileiras podem ser concebidas como novas territorialidades acadêmicas? Ao buscar responder essa questão, tenho como objetivo oferecer uma contribuição para o debate sobre o que representa hoje essas Associações no contexto mais geral das Universidades brasileiras, e, particularmente no que diz respeito aos embates pela (re)produção de conhecimentos acerca das populações negras. Nesse sentido, esta abordagem considera que estas associações se configuram numa novidade que reúne intelectuais que tem como eixo comum abordagens, práticas e relações voltadas para a pesquisa engajada e de enfrentamento ao racismo, potencializadas no contexto das Ações Afirmativas para as populações negras,(re)apresentando novas territorialidades no espaço acadêmico brasileiro. 163 O IV Congresso Brasileiro de Pesquisadores Negros – IV COPENE, foi realizado na Universidade do Estado da Bahia – UNEB, no Campus 1, em Salvador. . 339 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Aqui considero pertinentes para situar o leitor de onde falo a explicitação de duas categorias teóricas centrais que orientam essa reflexão, quais sejam: pesquisadores/as negros/as e territorialidades. O entendimento sobre o significado do termo “pesquisadores negros” no que diz respeito à ABPN e a APNB tem sido um tema bastante controverso nos debates realizados ao longo das suas trajetórias. Vejamos como os estatutos das referidas Associações registram o termo “Pesquisadores Negros”: Capítulo I – Da Denominação, sede, fins e duração.Artigo 4º:Constitui seu objetivo social: a) - Congregar as pesquisadoras e pesquisadores negros brasileiros; b) – Congregar as pesquisadoras e pesquisadores que trabalham com temas de interesse direto das populações negras no Brasil [...] (Estatuto Social da ABPN, 2004). ART. 01º - A ASSOCIAÇÃO DE PESQUISADORES NEGROS DA BAHIA - APNB [...] destina à defesa da pesquisa acadêmico-cientifica e/ou espaços afins realizadas prioritariamente por pesquisadores negros, sobre temas de interesse direto das populações negras e todos os demais temas pertinentes à construção e ampliação do conhecimento humano[...] (Estatuto da APNB, 2004). No capítulo II, sobre as finalidades o Estatuto da APNB registra: “ART. 05° - A entidade tem como finalidades: a) Congregar os Pesquisadores Negros Baianos; b) Congregar os Pesquisadores que trabalham com temas de interesse direto das populações negras no Brasil”. Entendo, que embora não seja explicitado diretamente, nos dois estatutos, o termo “pesquisadores negros”, refere-se ao pertencimento étnico-racial destes pesquisadores, ou seja, diz respeito aos sujeitos reconhecidamente negros, na medida em queeles são particularizados num primeiro item, que os diferenciam de um segundo mais generalizante, que articulam os pesquisadores pela temática e não pelo pertencimento. 340 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Desta forma, nesta reflexão irei acompanhar o constante nos Estatutos, assim, quando me refiro aos pesquisadores/as negros/as estou considerando aqueles/as deste pertencimento étnico racial e que desenvolvem pesquisa no âmbito das temáticas referentes às populações negras, entendendo que nas nossas Associações esses sujeitos estão abertos ao diálogo, ao compartilhamento e a convivência respeitosa com pesquisadores/as não negros quetambém desenvolvem pesquisas com esse recorte. Outro importante eixo desta discussão é a idéia de territorialidade, que tomo aqui na perspectiva de Haesbaert (2005), quando afirma que a territorialidade incorpora dimensões políticas, econômicas e culturais e dizem respeito à forma como as pessoasse organizam no espaço e dão significado ao lugar. De acordo com esse autor: Enquanto “continuum” dentro de um processo de dominação e/ou apropriação, o território e a territorialização devem ser trabalhados na multiplicidade de suas manifestações – que é também e, sobretudo, multiplicidade de poderes, neles incorporados através dos múltiplos agentes/ sujeitos envolvidos. Assim, devemos primeiramente distinguir os territórios de acordo com os sujeitos que os constróem, sejam eles indivíduos, grupos sociais, o Estado, empresas, instituições como a Igreja etc” (HAESBAERT,2005, p. 6776). Dessa forma, de acordo com a visão desse autor, o domínio exercido pelos sujeitos em qualquer território ou espaço, tanto se manifesta na realização de funções quanto na produção de significados, sendo que, “para os“hegemonizados” o território adquire muitas vezes tamanha força que combina com intensidades iguais funcionalidade (“recurso”) e identidade (“símbolo”) [...] O território, neste caso, “não diz respeito apenas à função ou ao ter, mas ao ser”(HAESBAERT,2005, p. 6777). Esta perspectiva encontrada na abordagem de Haesbaert parece-me bastante adequada para o entendimento das Associações de Pesquisadores Negros enquanto novas territorialidades acadêmicas, na medida em que se torna possível identificar nas suas 341 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens premissas várias facetas que compõem o projeto e as ações das mesmas. No entanto, ao longo do texto, essa discussão será ampliada no diálogo com outros/as autores/as e também com textos referentes às produções das próprias Associações. Do ponto de vista metodológico esta reflexão se configura numa análise textual, baseada na leitura de fontes bibliográficas e de publicações na internet, tendo como fontes privilegiadas os sites da ABPN e da APNB e os diálogos desenvolvidos no “Seminário Virtual” 164 , realizado em 2010. Os Congressos realizados por estas Associações são considerados como uma base empírica fundamental para realização desta análise, tanto pela minha experiência presencial nos mesmos, quanto pela documentação existente sobre estes: Anais, publicações em sites diversos, imagens, documentos sonoros, documentos pessoais entre outras. 1. ABPN e APNB – Um breve Histórico 1.1. Primórdios O I Encontro de Docentes Pesquisadores e Pós-Graduandos Negros das Universidades Paulistas, realizado na Faculdade de Filosofia e Ciências da Universidade Estadual Paulista – UNESP, Campus de Marília, realizado em setembro 1989, com a finalidade de saber qual era a realidade da presença e da produção negra acadêmicapode ser visto como uma ante-sala do I Congresso Brasileiro de Pesquisadores Negros que aconteceu onze anos depois em Recife. Este Congresso determinou não apenas o princípio da ABPN, como também sua vocação para congregar, debater e divulgar as produções sobre temáticas relacionadas as populações negras de forma geral e especialmente no Brasil. 164 Como parte da celebração dos 10 anos foi realizada o I Seminário Virtual da ABPN – Seminário de Fortalecimento Institucional, ocorrido de 14/05 a 26/08 de 2010 que se caracterizou por um amplo debate com os associados, buscando o diálogo com as distintas com as distintas visões, com o objetivo de promover e fortalecer a participação dos/as pesquisadores/as negros/as na esfera acadêmica, bem como refletir sobre novos paradigmas, marcos de análise e perspectiva de futuro da ABPN, conforme consta na apresentação da sua publicação virtual. 342 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Quanto a APNB, começa a germinar quando ao retornar do II Congresso de Pesquisadores Negros em São Carlos – São Paulo, em agosto de 2002, um grupo de mestrandos do Programa de Pós-Graduação em Educação e Contemporaneidade da Universidade do Estado da Bahia, iniciaram uma discussão sobre a necessidade de uma maior articulação entre as/os pesquisadoras/es negras/os na Bahia. Os encontros, discussões e reflexões desenvolvidas pelo grupo, culminaram numa participação mais articulada e propositiva no III Congresso de Pesquisadores Negros Brasileiro, em São Luís do Maranhão – setembro de 2004, onde tiveram aprovada sua proposição de realizar o IV COPENEem Salvador - Bahia. Esse grupo foi bastante ampliado, contando com a participação de pesquisadores/as das diversas universidades baianas, particularmente as públicas – UNEB, UFBA, UEFS, UESB, entreoutras instituições, formou a Seção Baiana de Pesquisadores Negros, registradaoficialmente em 2004 como Associação de Pesquisador@sNegr@s da Bahia. Esta Associação teve como um dos seus primeiros desafios a organização do IV COPENE, juntamente com a Coordenação nacional do evento e a ABPN e o I Congresso de Pesquisadores Negros da Bahia em 2007. 1.2. Os Congressos O I COPENE foi realizado em Recife, de 22 a 25 de novembro de 2000, na Universidade Federal de Pernambuco, com cerca de 320 pesquisadores/as. Nele foi feito um balanço das produções recentes dos pesquisadores/as negros/as, onde foi constatado a diversidade, o crescimento numérico e a qualidade dessa produção e também a persistência de barreiras para o desenvolvimento e divulgação dessas pesquisas. No II Congresso de Pesquisadores Negros, que debateu o tema,De Preto a Afrodescendente. Trajetos de pesquisa sobre relações étnico-raciais no Brasil,presenciamos um crescimento significativo dos participantes e dos trabalhos apresentados; fizeram parte deste congresso aproximadamente 1000 pesquisadores/as e cerca de 450 destes/as aprovaram por unanimidade, em sessão plenária a constituição da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros, aprovando ainda o 343 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens seu Estatuto e elegendo a sua primeira diretoria que teveHenrique Cunha Júnior como presidente eMaria Palmira da Silva como 1ª secretária (MÜLLER, 2012). O III COPENE, que teve como temática geral,Pesquisa Social e Ações Afirmativas para afrodescendentes, aconteceu no mês de setembro, n a Universidade Federal do Maranhão, na cidade de São Luiz, em 2004. Esse Congresso elegeu a 2ª Diretoria da ABPN que tinha como presidente Nilma Lino Gomes e 1º secretário Nelson Fernando Inocêncio da Silva, sendo os demais membros desta diretoria compostos por pesquisadores/as de diferentes regiões e universidades. Nesse congresso foram eleitos também Coordenadores Regionais para as cinco regiões brasileiras: Norte, Nordeste, Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Realizado em Salvador de 13 a 16 de setembro de 2006, na Universidade do Estado da Bahia – UNEB – Campus I, o IV COPENE congregou mais de 1200 congrssistas, debatendo o tema, O Brasil Negro e suas Africanidades: Produção e transmissão de conhecimentos. A terceira diretoria eleita nesse congresso teve como preidente o professor Walter Roberto Silvério e 1ª secretária Denise M. Botelho. O V COPENE, aconteceu em 2008, na Universidade Federal de Goiás, sua temática central, Pensamento Negro e antirracismo: diferenciações e percursos foi debatida por todos os participantes deste evento, de onde saiu a 4ª diretoria da ABPN, tendo como presidente Eliane dos Santos Cavalleiro e 1ª secretária Rosane da Silva Borges. De 26 a 29 de julho de 2010 foi realizado na Universidade do Estado do Rio de Janeiro o VI COPENE com o tema: Afrodiáspora, saberes pós-coloniais, poderes e movimentos sociais, que teve cerca de 1500 participantes e elegeu como presidente para5ª diretoria da Associação Zélia Amador de Deus, 1º Vice-presidente Paulinode Jesus Francisco Cardoso e 1ª secretária Joaze Bernardino. O VII COPENE realizado neste ano de 2012, entre 16 e 20 de julho, no Campus I da Universidade Estadual de Santa Catarina em Florianopólis, trouxe um importante tema para o debate central: Os desafios da luta antirracistas no século XXI. A atual diretoria da ABPN, eleita neste congresso é composta pelos seguintes membros: Paulino de Jesus Francisco Cardoso – Presidente; Jurema Pinto Werneck – 1ª Vice-presidente; 344 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Vanicléia Silva Santos – 2ª vice-presidente; Roberto Carlos da Silva Borges – 1º secretário; Ana Lúcia Silva Souza – 2ª secretária; Nilo Rosa dos Santos – 1º tesoureiro; Lúcia Regina Brito Pereira – 2ª tesoureira. A Associação de pesquisadores Negros da Bahia realizou três congressos, o I em 2007, na Universidade Federal da Bahia, em Salvador, o II em 2009, na Universidade Estadual de Feira de Santana e o III em 2011, na Universidade do Estado da Bahia, Campus V, na cidade de Santo Antonio de Jesus. O I CBPN debateu como tema central tema: Políticas Públicas e Populações Negras: Ações afirmativas, raça, gênero e culturas,e elegeu a 2ª diretoria165 da APNB, que teve como presidente o professor Nilo Rosa dos Santos. O tema central do II Congresso foi Outros Caminhos das Culturas Afro-Brasileiras: Confluências, Diálogos e Divergências,e na eleição da 3ª diretoria, Nilo Rosa é reeleito presidente para o seu segundo mandato. O III Congresso Baiano de Pesquisadores Negros foi realizado em conjunto com III Seminário Internacional Áfricas, numa parceria entre a APNB e o READI.166 Neste congresso foi eleita atual diretoria da APNB, que traz na sua diretoria executiva os seguintes pesquisadores/as: Ana Rita Santiago – presidenta; Ana Claúdia Pacheco – 1ª vice-presidenta; Denilson Santos – 2º vice-presidente; Nilo Rosa dos Santos – 1º secretário; Marcos Aurélio dos Santos Souza – 2º secretário; Lilian Almeida – 1ª tesoureira e Maria Durvalina Cerqueira Santos – 2ª tesoureira. Os Congressos da ABPN e da APNB é certamente o evento de maior impacto efetuado por estas: seja do ponto de vista interno, do esforço demandado na organização dos mesmos, seja do ponto de vista externo, do desenvolvimento de diálogos, acordos e redes de solidariedade necessárias a sua construção e realização. Estes eventos têm se constituído em espaços de discussão que reúne diferentes vozes - acadêmicas e também de outros lugares 165 A 1ª diretoria foi eleita numa Assembléia extraordinária em 2004, sendo o presidente o professor Wilson Roberto de Mattos da UNEB. 166 O READI – Rede de Estudos Africanos e da Diáspora foi formado a partir do I seminário Internacional Áfricas: Historiografia Africana e Ensino de História, no ano de 2009, realizado nas Cidades de SalvadorBa e Florianopólis – Santa Catarina. O READI tem como preocupação central refletir/debater sobre os novos caminhos da historiografia africana, o lugar da África na produção historiográfica contemporânea e seu ensino nas universidades brasileiras e africanas e na educação básica. 345 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens sócios-culturais - representativas da pluralidade de pesquisas, projetos, programas e outras ações desenvolvidas sobre às populações negras. Reunindo e fomentando uma diversidade de pesquisadores e instituições de pesquisa – nacionais e internacionais – contribui para o fortalecimento de redes de solidariedade que envolvem pesquisadores/as negros/as do Brasil e da diáspora. A realização dos congressos com certeza tem sido uma dimensão crucial para o (re)conhecimento destas Associações, para a abertura e o fortalecimento de parcerias, negociações, particularmente com Universidades e outras instituições interessadas pelas temáticas étnico-racial. Por outro lado, se estes congressos representam de alguma forma a culminância de longas jornadas de reuniões, discussões, embates, negociações, parcerias, representam também e principalmente, o resultado do desempenho coletivo e solidário dos próprios pesquisadoras/es negras/os, que têm encontrado toda espécie de dificuldades para suas construções, principalmente no que diz respeito a execução econômica. 1.3. ABPN e APNB – Outras realizações e parcerias No transcorrer de suas trajetórias tanto a Associação Nacional quanto a da Bahia, buscaram desenvolver diversas atividades, para além dos Congressos, no sentido de potencializar as próprias Associações enquanto entidades representativas dos/as Pesquisadores Negros/as e das pesquisas sobre as populações negras de uma forma em geral, mas, também,funcionando como possíveis articuladoras de intercâmbios e parcerias a níveis nacional e internacional. Outra importante questão a ser considerada sobre as realizações e parcerias desenvolvidas pelas Associações é que estas tiveram sempre como pano de fundo ampliar e fortalecer os laços entre os pesquisadores que tratam da temática étnico-racial do ponto de vista teórico e de equacionamento das problemáticas que afetam as populações negras nos contextos da atualidade. 346 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Embora reitereas dificuldades encontradas na materialização da maior parte das nossas realizaçõese entenda que ainda estamos longe de alcançar algumas das metas traçadas nesse sentido, é possível contabilizar e festejar algumas ações efetivamente relevantes, que permitiram alargar horizontes transnacionais e construir estas Associações como uma unidade, que comporta no seu interior uma pluralidade de representações negras, com seus acordos e divergências o que significa o convívio de multiplicidades de interpretações e de formas diferenciadas de intervenção. Considero estas ações estratégicas e relevantes para o fortalecimento institucional; para efetivação dos diálogos e embates; para uma prática democrática e solidária; para a ampliação das pesquisas sobre os negros/as no Brasil e no mundo e o combate ao racismo. Aqui, destaco algumas destas ações, sendo que a maior parte delas está registrada nos sites das duas Associações. No que diz respeito a ABPN: a criação de um acervo virtual, com artigos, livros, teses, dissertações, entre outros produtos; publicações de artigos em jornais, sites e periódicos com temáticas variadas; publicação dos Anais do III e do V COPENE e de Boletins Informativos; publicação da Revista da ABPN (on-line) 2010 a 2012 e também a publicação de três coletâneas, sendo o primeiro volume “Questões Urbanas e racismo”, organizado por Renato Emerson dos Santos; o segundo volume, “Mídia e Racismo”, organizado por Roberto Carlos da Silva Borges e por Rosane da Silva Borges e o terceiro livro da coleção, Saúde da População Negra, organizado por Luís Eduardo Batista e Jurema Werneck.. Destaco ainda a realização do I Simpósio Internacional “Gestão da Educação Superior: construindo conhecimento e conectando as experiências do Brasil e da diáspora africana”,realizado nos dias 25 e 26 de julho, no CEFET/RJ - O Simpósio reuniuparticipantes deNEABs e de grupos correlatos epesquisadoras(es) internacionais para o intercâmbio de experiências sobre as iniciativas institucionais de fortalecimento de pesquisadoras(es), professoras(es) e estudantes negras/os em nível de graduação e pós-graduação e debateu as possibilidades de realização de parcerias internacionais entre os NEABs e centros de 347 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens pesquisas sobre a diáspora africana em nível internacional. Esse evento tem apoio da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR); Fundação Ford; Fundação Cultural Palmares; Ministério da Educação; Oxfam; Fundação Henrich Boll e o CEFET/RJ e o Seminário Virtual realizado em 2010, do qual participaram diversas categorias de pesquisadores. Alguns textos que compõem esse Seminário serão debatidos mais detalhadamente nas páginas seguintes. A ABPN desenvolveu ainda outros projetos e parcerias com a Oxfam e a Ford Foundation que deramnovo impulso e experiência à ABPN. A APNB também tem realizados alguns eventos como Seminários, Mesas redondas, publicações de Anais, bem como parcerias financeiras e também na organização de eventos, a exemplo do III CBPN, organizado juntamente com o READI. 1.4. ABPN e APNB – Perfil dos pesquisadores/as Em 2009, a ABPN, com o apoio da Fundação Ford e do Núcleo de Apoio à Pesquisa e Educação Continuada – NAPEC realizou uma pesquisa sobre o perfil dos/as seus/suas associados/as, constatando que até a data desta pesquisa a ABPN contava com 705 pesquisadores/as associados/as, sendo 693 residentes no Brasil e 12 no exterior. Havia um maior número de pesquisadores/as associados/as no Norte e Nordeste, com concentração nos estados de São Paulo e Bahia. As mulheres representavam 71% dos filiados/as e os homens apenas 29/%, quanto ao nível de formação, os mestres sãomaioria (255), em seguida os/as graduados/as (217), Graduandos/as ( 147) e por fim os/as doutores/as (86). A área de Ciências Humanas congregava 80% dos associados, com concentração de filiados/as na área de educação e uma baixa adesão nas áreas de Ciências da Saúde, Ciências Exata e da Terra. Em relação as ocupações dos/as associados/as haviam: professor universitário (173), graduandos (149), pós-graduandos (132), professor de educação básica (91), coordenador pedagógico (38), gestor público (35) e outros/as (72), observando que a maioria dos docentes se encontram no setor público. 348 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Apesar de não ter conseguindo dados para um perfil mais recente dos/as associado/as da ABPN e também não ter acontecido ainda uma pesquisa nesse sentido na APNB, pela minha convivência, participação contínua e interessada nestas associações, arrisco a afirmar que esse perfil talvez não tenha mudado muito no que diz respeito as suas disparidades, certamente há um aumento dos associados nas diversas categorias, porém continua sendo de forma desigual. Assim, os/as pesquisadores/as que compõem a ABPN e APNB, quer seja associadas/os ou diretoria são marcados pela diversidade: étnico-racial, de gênero, de formação, de níveis de escolaridade, de gerações, de áreas de conhecimento e escolhas de abordagem, entre outras. Essa diversidade tem dado maior densidade as tensões e conflitos, mas também, aos diálogos e possibilidades de encontros, se conformando numa dimensão extremamente rica, saborosa e de muitos proveitos para todos que compartilham o “fazer” destas Associações. 2. Associações de Pesquisadores: Uma ação coletiva fundante de novas territorialidades acadêmicas. A ABPN e a ABNB é resultado de uma ação coletiva de pesquisadores/as negros/as em oriundos/as do Movimento Social Negro ou de outras experiências, que tem como espaço privilegiado a Universidade. Reconhecida como o lugar da produção e da reflexão crítica doconhecimento, auniversidade seria um lugar privilegiado para o (re)conhecimentoda cultura universal e das várias ciências, com a tarefa prioritária de produzir e divulgar o saber. A universidade caberia ainda o papel de formar a cidadania, de maneira, que a produção dos conhecimentos acadêmicos deveria está comprometida com essa premissa, como eixo fundamental e princípio orientador de todas as pesquisas realizadas nas diferentes áreas. A Universidade vista como lugar, deve entendida pela sua existência corpórea e pela sua existência relacional, como um lugar não passivo, mas extremamente ativo e em conexão com o mundo, sendo que nele o mundo pode ser percebido pelo que é e também pelo que não 349 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens é, ou seja, como qualquer outro lugar é regido pelo movimento histórico e pela imprevisibilidade o que permite uma gama de possibilidades e desafios (Santos, 2005). A Universidade é ainda o lugar da diversidade, lugar de (des)encontros, acordos e conflitos entre diferentes concepções de vida e visões de mundo, é o lugar de (re)apresentação de combates e disputas pelo poder, pela memória e pela história – lugar de fronteiras (in)visíveis, estabelecidas enquanto representações desiguais e hierárquicas, baseadas em separações dicotômicas e muitas vezes absolutistas dos diferentes e das diferenças que convivem nele, tendo sempre como referência os grupos que hegemonizam o poder e ditam regras que pretendem como universais. No entanto, essas fronteiras não são representadas apenas pela dualidade, elas são espaços de trânsito, onde divergências e confluências são permitidas, onde as possibilidades de demarcação e (re)definição dos territórios são reais, assim como o surgimento e a instalação de territorialidades específicas. Entendo o surgimento das Associações de Pesquisadores/as Negros/as como uma destas territorialidades específicas, organizadas a partir deste lugar que é a Universidade e das relações de fronteira estabelecidas no interior do mesmo. Na universidade a complexidade das regras das relações raciais seguem as que se conformaram como um padrão brasileiro, com espaços, momentos e contextos de interação traduzidos em comportamentos subjetivos e/ou objetivos onde a presença negra pode ser aceita ou não, tolerada, valorizada, reprimida ou/e repelida, impactando nas experiências/produções desses espaços e nos deslocamentos dos sujeitos dentro deles(DOS SANTOS, 2012). Acompanhando o pensamento deste autor, se por um lado estas regras (re)criam fronteiras invisíveis na organização das experiências espaciais, definindo quais são os comportamentos aceitáveis ou não, e eu diria mais, elegendo os sujeitos não negros como os mais aceitáveis e os negros como os mais indesejados, por outro lado, os sujeitos negros que desenvolvem diferentes formas de enfrentamento ao racismo e a discriminação racial, disputando ainda as construções identitárias e a elaboração de significados para suas experiências e memórias. 350 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens As trajetórias de intelectuais e pesquisadores/as negros/as nas Universidades brasileiras foram marcadas pela solidão e o isolamento, sendo “uns poucos”, marginalizados num lugar marcado por territórios hegemonicamente brancos. No entanto, apesar de em termos numéricos, a presença de docentes acadêmicos e/ou pesquisadores/as negros/asser infinitamente pequena ou mesmo inexistente em determinadas Instituições, conforme o período destacado é possível rastrear os construtos dos/as mesmos/as no sentido da demarcação de territorialidades específicas, construídas pelo esforço de uma ação coletiva, que tendo como atores centrais estes sujeitos internos a Academia, eram produzidas e sustentadas através dos diálogos, das parcerias e acordos realizados com outras territorialidades de dentro ou de fora desse espaço e principalmente, tendo como pano de fundo o legado/construto dos Movimentos Negros. Aqui, quero afirmar a ABPN e ABPN, como novas territorialidades acadêmicas, resultantesde esforços empreendidos pela ação coletiva e solidária de pesquisadores/as negros/as no contextodeste iniciodo século XXI, onde ainda nos encontramos. Os debates empreendidos no Seminário Virtual, realizado em 2010, que foi organizado em oito eixos – cada eixo introduzindo por um texto produzindo por pesquisadores/as associados/as a ABPN, a saber: 1- Perspectiva administrativa e política da gestão em curso; 2- Diálogo com as Associações Regionais; 3- Articulação com o CONNEAB’s – Consórcio de NEAB’s; 4ArticulaçãoInternacional; 5- Agências de fomento; 6- Participação/formação de pesquisadores na Iniciação Científica; 7- Inclusão de Pesquisadores/as Autônomos/as no quadro da ABPN; 8- A ABPN e os Movimentos Sociais Negros. Estes eixos ilustram, na dimensão interna da Associação a composição, os princípios, as regras, os vínculos, os conflitos e estratégias destas novas territorialidades. Os eixosquando desdobrados em textos enas contribuições dadas através do debate realizado virtualmente, reúnem, a meu ver, as principais diretrizes que orientam a condução da Associação e constituem os pilares nos quais se edificou a mesma; eles também conformam os aspectos mais recorrentes das preocupações e dos embates dos 351 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens pesquisadores/as negros, quer seja na ABPN ou na APNB, embora, certamente o conjunto total dos temas e das discussões sobre as quais essas Associações se conformam e se dedicam sejam bem mais amplos e efetuados a partir de diálogos maiores, como por exemplo nos seus Congressos. Será, portanto, a partir desses eventos e dos seus registros – anais, livros, sites, memória oral e imagética – que destacarei algumas das dimensões dessas Associações que considero fundamentais para o entendimento destas como novas territorialidades acadêmicas: territorialidades que se diferenciam das demais já instituídas com características semelhantes, como é o caso das demais Associações Profissionais do Ensino Superior, por que são “reconhecidamente” afirmadas como “territorialidades negras”. O compartilhamento é uma dimensão fundamental no fazer dessas Associações, e é uma estratégia do domínio desses/as pesquisadores/as – que trazem essa experiência “de compartilhar” como prática cotidianade sobrevivência e também de construção de enfrentamentos e (re)invençãode mundo. Além do que, nós negros/as compartilhamos como memória comum o peso da escravidão e a crueldade do racismo, compartilhamos também o esforço de construir respostas diferentes a realidades perversas e desiguais,através de formas solidárias e dialogadas. Compartilhar traz exigência do compromisso, uma exigência que cada uma/um de nós – pesquisador/a negro/a – tem se cobrado a cada momento. O compromisso assumido nesse sentido transpõe a seriedade do tratamento dado ao cumprimento dos cronogramas de atividades (embora considere também esse um compromisso fundamental), e se desdobra numa ação de “engajamento”, ou seja, de compromisso político-ideológico, o que considero como uma segunda dimensão relevante nos marcadores destas territorialidades. O que quero dizer é que a participação/associação na ABPN e na APNB é uma escolha acadêmica/intelectual efetivamente comprometida com determinados lugares e proposições sobre o mundo e sobre as populações negras no mundo. O pesquisador/intelectual negro ou não negro que assume o compromisso de construção destas Associações tem ocupado geralmente, um lugar de intelectual engajado e insurgente – 352 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens tomando aqui “insurgência intelectual” na perspectiva de Cornell West,167na produção/disseminação de idéias que transgridem fronteiras discursivas, dentro de uma cultura política mais ampla e de enfrentamento com as (pro)posições hegemônicas e/ou dominantes. Essa prática intelectual “insurgente e engajada” tem sido articulada através de diálogos e intercâmbios entre pesquisadoras/es negras/os, como uma ação/dimensão necessária e favorável ao desenvolvimento de pesquisas e a produção de conhecimentos que tenha como foco privilegiado as populações negras, suas trajetórias e realizações. Assim, as pesquisas desenvolvidas abordam temas significativos para a sociedade brasileira, dando ênfase às temáticas referentes às populações negras - reflexões sobre experiências, memórias e conhecimentos protagonizados por essas populações. Essas pesquisas têm produzidos conhecimentos relevantes para as mais diferentes áreas, nas mais diferentes linguagens (escrita, oral, imagética e/ou outras), se constituindo num acervo inédito sobre as memórias, trajetórias, criações/invenções e conhecimentos em gerais, que tiveram as/os negras/os como protagonistas e/ou participantes. A terceira dimensão diz respeitoa utilização do aparato tecnológico-informacional como o mecanismo mais frequentemente utilizado pelas Associações de Pesquisadores Negros, na condução de uma grande interação à distância, através da conectividade virtual, integrando sujeitos e territórios, agregando pesquisadoras/es em redes de solidariedades, compromissos e construção de conhecimento, firmando-se enquanto um campo coletivo de referência epistemológica e política. A conectividade Virtual se configurou como uma opção alternativa e competente para enfrentar dificuldades com parcerias econômicas, vencer distâncias e oferecer acesso e trânsito à diferentes territórios, inclusive permitir um maior diálogo entre os próprios pesquisadores associados a estas. Assim, entendo as Associações 167 Para West: “A tarefa central dos intelectuais negros pós-modernos é estimular, proporcionar e permitir percepções alternativas e práticas que desloquem discursos e poderes prevalecentes. Isso pode ser feito somente por um trabalho intelectual intenso e por uma prática insurgente e engajada” (WEST, 1999, p.12). 353 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens como territorialidades em rede, conectadas, construtora de deslocamentos e encontros a partir também do mundo virtual. Uma última dimensão que destaco nesse texto (e ela é última apenas para esta escrita, pois existem outras dimensões que poderão ser abordadas numa análise mais ampla) é a idéia da Associação como territorialidades negras, envolvida num processo que abarca multiterritorialidades - concebida aqui como processos de (re)territorializações complexos, o que envolve uma multiplicidade de sujeitos/agentes, poderes, moldados pelo movimento de reconhecimento da importância estratégica do espaço e do território para a transformação do lugar. (HAESBAERT, 2005). Afirmara ABPN e APNB como territorialidades negras não se trata nesse caso, de reducionismo ou radicalismo racialistas, mas, como uma tradução que se orienta pelo seus próprios percursos, projetos e finalidades, bem como pelo posicionamento dos seus membros/associados/as, conforme é possível perceber nos trechos seguintes, retirados do Seminário Virtual: Cá estamos nós cumprindo nossos desejos e os desejos de nossos ancestrais, mas também da população negra que necessita de respostas urgentes. Nesta perspectiva o compromisso político parece estar acima da ciência. Somos muito “diferente” de alguns pesquisadores e de muitas instituições de pesquisa que atuam no cenário de produção de conhecimento com total respaldo do Estado, das agências financiadoras e da chamada comunidade científica. Contudo forjamos com sucesso a criação dos NEABs e da ABPN, instituições que abarcam concepções teóricas, questões administrativas e de relações de poder muito semelhantes. (Raquel Oliveira, 2010) A ABPN não pode tornar-se uma associação similar a ANPED, ABA, ANPOCS, ANPUH etc. Não podemos repetir irrefletidamente, um modelo de associação legado pela supremacia acadêmica branca, qual seja, um modelo fundamentado em um intelectualismo personalista e arrogante, em um academicismo auto-referenciado, excludente e esvaziado de 354 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens compromisso social. Nós temos nossas próprias referências históricas (nacionais e internacionais) de associações, organizações, coletivos e similares. Certamente uma avaliação dos erros e acertos de algumas delas (sobretudo, das mais próximas dos nossos objetivos) poderá iluminar os nossos próprios caminhos, nos auto-inscrevendo na linha de continuidade de uma tradição de crítica intelectual e política negra,que articula produção de conhecimento, formação, difusão e militância anti-racismo.(Wilson Mattos, 2010) As considerações contundentes de Raquel Oliveira e Wilson Mattos, com as quais concordo, servem como forma de fazer uma pausa nessa reflexão. Acredito que a ABPN e APNB, se conformam de fatos em novas territorialidades acadêmicas – territorialidades negras – não pelo fato de agregarem exclusivamente negros, já que estas Associações agregam pesquisadores não negros que desenvolvem pesquisas sobre temáticas raciais, estando aberta a participação para todos/as nos seus congressos, independentemente de pertencimento racial. Mas por ter como meta principal um movimento internacional de combate ao racismo e a discriminação racial, onde a produção de conhecimentos considere as experiências e saberem protagonizados pelas populações negras em todos continentes e particularmente na África e também tenham na organização e execução desse movimento intelectuais e pesquisadores/as negros historicamente alijados dos processos de (re)produção de conhecimentos sobre as populações negras, no que tange as versões que se tornaram hegemônicas. Referências 1. DOS SANTOS, Renato Emerson, Sobre espacialidades das relações raciais: Raça, racialidade e racismos no espaço urbano. In: DOS SANTOS, Renato Emerson (org.). Questões Urbanas e racismo. Petropólis. APNB, 2012. 2. HAESBAERT, Rogério. Da desterritorialização à multiterritorialidade. In: Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina. USP, 2005. 3. MULLER, Tânia Maria Pedroso. Negras e negros: Pesquisas e debates. In: DOS SANTOS, Renato Emerson (org.). Questões Urbanas e racismo. Petropólis. APNB, 2012. 355 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens 4. SANTOS, Milton. Da totalidade ao Lugar. Editora da USP. São Paulo, 2005. 5. WEST, Cornel. “The dilema of the Black Intellectual”.In.: The Cornel West: reader. Basic Civitas Books, 1999, p. 302-315. (Tradução e notas de Braulino Pereira de Santana, Guacira Cavalcante e Marcos Aurélio Souza). Sites: 1. ABPN: http://www.abpn.org.br/ 2. APNB: http://apnb.org.br/ 3. Seminário Virtual:c:\users\marluce\documents\artigo chile - 2012\abpn 10 anos -iisemiináriioviirtual da abpnsemiináriio estratégiico.mht 4. READI:https://sites.google.com/site/redeestudosafricanosediaspora 22) AUTOR: María Virginia Quiroga PONENCIA: Protestas sociales “reaccionarias” en la América del Sur del siglo XXI. Algunas apreciaciones en relación a Argentina y Bolivia INSTITUCION: CEA-Universidad Nacional de Córdoba, Universidad Nacional de Río Cuarto, CONICET PAÍS: Argentina MAIL: [email protected] Introducción El presente trabajo versa en torno a la temática general de la acción colectiva en la América del Sur del Siglo XXI. Se trabaja con una noción de protesta social basada en los señalamientos de Federico Schuster (2005). Ello implica un alejamiento de su consideración en términos de acción contestataria que emerge exclusivamente desde los sitios de resistencia popular. En cambio, se reconoce el carácter contingente y heterogéneo de la protesta. Ésta 356 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens asume modalidades diversas que, a su vez, son protagonizadas por sectores diferentes y evidencian una particular capacidad de irrupción institucional para insertarse en la puja de poder que acontece en una sociedad determinada. Este artículo se dedica al abordaje de las expresiones de protesta de sectores que reaccionaron frente a los cambios que pretendieron impulsar -con diverso tenor y alcance- los gobiernos de Cristina Fernández (Argentina) y de Evo Morales (Bolivia). En consonancia con ello se analiza el accionar de sectores que buscaron preservar el statu quo apelando a diversos repertorios de acción y múltiples recursos -desde los medios de comunicación, los debates parlamentarios, hasta bloqueos e intentos destituyentes-. Centralmente se abordan el denominado “conflicto del campo”, durante el año 2008 en Argentina, y la crisis en torno a la demanda por las autonomías departamentales, que condujo a la iniciativa de un golpe de Estado cívico-prefectural, en Bolivia. La protesta social: demandas, repertorios y tensiones En distintos trabajos de nuestro equipo de investigación168 se ha señalado la necesidad de sistematización de los estudios referidos a la temática general de la acción colectiva. Dicha tarea supone al menos tres problemas destacados (Lodeserto et al, 2010). Primero, las dificultades que se presentan para delimitar el campo de estudios (Laraña, 1999; Pérez Ledesma, 1994; Touraine, 2003), en tanto no se reconocen criterios claros y precisos que permitan diferenciar, por ejemplo, la categoría movimiento social de otras formas de acción colectiva. Segundo, se trata de una temática que configura un ámbito de estudios interdisciplinario por excelencia; involucrando a la historia, la antropología, la sociología, la ciencia política, entre otras disciplinas. De este modo, los distintos aspectos contemplados en el entramado de la acción colectiva insisten en la necesidad de miradas más amplias capaces de trascender los campos disciplinarios académicos. Finalmente, en simultáneo a la multiplicación de experiencias de acción colectiva, fundamentalmente en América Latina, 168 Programa de investigación: Participación Ciudadana y Rol de las Organizaciones de la Sociedad Civil. Historia y Actualidad del problema. Financiado por SeCyT-UNRC. Dirección: Teresita Morel, Codirección: Celia Basconzuelo. Resolución rectoral 544/2009. Período 2009-2011. 357 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens resurgió el interés académico por intentar conocerlas. Así, una tercera dificultad radica en la variedad, la abundancia y la numerosa cantidad de investigaciones dedicadas al abordaje del tema; lo que las impregna de una notoria heterogeneidad y diversidad. En relación a ello, una de las categorías que ha adquirido notorio uso en las recientes investigaciones sobre acción colectiva es la de protesta social. Entre las ventajas de esta noción, se destaca su posibilidad de interpretar el carácter segmentario de la acción colectiva en la coyuntura actual. Esto se lograría a través de dimensiones como la identidad, la localización, la diversidad de temas involucrados en las protestas y los formatos de la misma; lo que a su vez enfatizaría el sentido político particular y concreto de cada protesta o ciclos de protesta. En este marco, la protesta social se presenta como la expresión de actores colectivos que irrumpen en el espacio público para manifestar su descontento respecto de un estado de cosas. En palabras de Federico Schuster dicha noción remite a “acontecimientos visibles de acción pública contenciosa de un colectivo, orientados al sostenimiento de una demanda (en general con referencia directa o indirecta al Estado)” (Schuster, 2005: 56). Ahora bien, cuando un grupo movilizado logra mayor institucionalización, con persistencia en el tiempo y con demandas que trascienden en la profundidad y alcance de sus cuestionamientos, podría hablarse de la constitución de un movimiento social. Éste, lejos de disolverse con la satisfacción de una demanda en particular, se plantea una serie de objetivos que van delimitando un espacio social compartido. Así, los movimientos y organizaciones sociales recurren a diversas modalidades de protesta, para dar visibilidad y buscar la satisfacción de sus demandas u objetivos. La protesta social es entonces una “representación del conflicto dentro de las lógicas de la democracia, es el modo en que ciertos grupos e identidades colectivas luchan por hacer visibles sus demandas, sus reportorios y sus estéticas” (Magrini, 2011: 33). La protesta social en América Latina ha adquirido modalidades o repertorios de acción diversos, desde eventos puntuales -como el paro cívico- a la huelga general como estrategia más amplia de articulación de demandas. De acuerdo con Jorge Iván Bonilla y María Eugenia 358 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens García Raya (1997) los paros cívicos constituyen la forma más común de la protesta social y refieren a “conflictos que dan forma y rostro a una serie de demandas sociales que van desde la protesta por la ineficiente prestación de servicios públicos domiciliarios, la ausencia de políticas públicas de desarrollo local y regional, la construcción de vías, la distribución y dotación de servicios de salud y educación, hasta la solicitud de paz con los sectores armados, el respeto a los derechos humanos y a las autonomías individuales, entre otras (…)” (Bonilla y García Raya, 1997: 65). Algunos repertorios revisten formas novedosas y creativas como los denominados “cacerolazos”169 que se evidenciaron, por ejemplo, hacia fines de 2001 en Argentina y en la Revuelta de los Forajidos en Ecuador hacia el año 2005. También se han destacado por su notoria presencia, hacia fines del siglo XX y comienzos del siglo XXI, los “piquetes”170 en Argentina y los “bloqueos hormiga”171 o pijcheos172 colectivos en Bolivia. Otra de las ventajas de la categoría “protesta social” radica en su posibilidad para trascender el carácter que la literatura tradicional ha atribuido a los movimientos sociales como expresión de acción colectiva eminentemente contrahegemónica. Desde nuestra óptica, la protesta no siempre estará guiada por un sentido emancipatorio ni será protagonizada exclusivamente por los sectores subalternos; sino que puede desarrollarse para oponer resistencia a cambios de carácter progresista. En palabras de Atilio Borón, las elites latinoamericanas “nunca despliegan una estrategia única ni en un solo escenario” ya que combinan huelga de inversiones, fuga de capitales, campaña de rumores sobre eventuales 169 Agitar cacerolas y emitir sonidos con las mismas al golpearlas con un cucharón. De este modo, elementos simples de la vida doméstica cotidiana irrumpían en el espacio público para mostrar descontento con un estado de cosas. Vale destacar que este repertorio de acción está siendo recientemente utilizado por distintos sectores, en general de clase alta o media-alta, para manifestarse en contra del gobierno de Cristina Fernández. 170 Quema de neumáticos para generar una obstrucción de calles, rutas o algún camino en particular. La fuerza de este repertorio alcanzó tal magnitud que quienes participaban del mismo pasaron a identificarse como “piqueteros” y se transformaron en sujetos políticos de notoria relevancia en el contexto argentino de fines del siglo XX y primeros años del siglo XXI. 171 Cortes de caminos a partir de la reunión de un grupo de obstáculos que se colocaban en el camino y eran proporcionados, uno a uno, por sus diferentes participantes. 172 Pijchar alude a mascar coca. Este repertorio fue utilizado en numerosas oportunidades principalmente por las organizaciones campesino-indígenas, aparecía como un accionar disruptivo porque conllevaba la provocación de realizar masivamente una actividad que era estigmatizada por los gobiernos de turno. Asimismo, el pijcheo constituye una actividad característica del indigenismo del altiplano, por lo que la provocación también residía en mostrar la pertenencia e identificación con un sector que pretendió ser silenciado durante siglos. 359 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens crisis financieras catastróficas en el plano económico, presiones sobre dirigentes estatales, cooptación de dirigentes populares, corrupción a funcionarios públicos, control de los medios de comunicación, movilización de masas y alianzas internacionales, entre otros, “como parte de una estrategia integral de acumulación y conservación del poder que ni remotamente se circunscribe a lo que puede acontecer en la arena electoral” (Borón, 2007: 5). En la historia reciente de América Latina se advierten hechos de protesta social formulados por grupos hegemónicos dentro de la estructura del Estado, del mercado y de los medios de comunicación masivos; los cuales han manifestado su oposición frente a los cambios impulsados por los gobiernos que conforman el denominado “nuevo mapa político latinoamericano”173 (Boersner, 2005; Paramio, 2006; Rojas Aravena, 2006; Touraine, 2006). Dichas protestas parten de aglutinar demandas en torno a un significante común, como por ejemplo “la seguridad” o la “autonomía”, para desprender otras exigencias a un Estado que parece avanzar sobre algunos privilegios otrora concedidos. En consonancia con ello, se destaca la apelación a múltiples recursos y repertorios de acción: desde los medios de comunicación, los debates parlamentarios, hasta bloqueos e intentos destituyentes (siendo los más notorios -por haber logrado su cometido- los recientes golpes de Estado en Honduras, a Manuel Zelaya en junio de 2009, y en Paraguay, a Fernando Lugo hacia junio de 2012). En esta línea de argumentación, se advierte la recurrencia a repertorios que la literatura tradicional había identificado como patrimonio exclusivo de los movimientos sociales de las últimas décadas del siglo XX, como por ejemplo las marchas y los cortes de calles y rutas. Sobre la base de los señalamientos precedentes es posible distinguir, en el escenario latinoamericano actual, una suerte de tensión entre dos vertientes de protesta. Por un lado, aquellas expresiones de la protesta que se configuran desde espacios hegemónicos para bregar 173 Se hace referencia a la conformación de un nuevo mapa político latinoamericano con la multiplicación de gobiernos que, más allá de sus diferencias, manifestaron la intención de reparar progresivamente el tejido social, recuperar el rol del Estado, revertir las tendencias de una modernidad excluyente y favorecer la integración latinoamericana (Morel y Quiroga, 2010). Ello abarcaría desde la elección de Hugo Chávez en 1998, en Venezuela, y las posteriores asunciones de “Lula” Da Silva en Brasil, Néstor Kirchner en Argentina, Tabaré Vázquez en Uruguay, Michelle Bachelet en Chile, Evo Morales en Bolivia, Rafael Correa en Ecuador, Daniel Ortega en Nicaragua, Fernando Lugo en Paraguay; hasta la elección en El Salvador de Mauricio Funes. 360 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens por la defensa del statu quo; se trataría de grupos otrora privilegiados que reaccionaban desde los espacios de poder que aún mantenían: el parlamento, las gobernaciones (de provincias o departamentos) y la alianza con las grandes corporaciones económicas. Por otro lado, las protestas sociales que se construyen desde espacios contra hegemónicos, donde las demandas se orientan a establecer reformas o transformaciones sociales capaces de integrar a los sectores más desfavorecidos, y en vastas ocasiones presionan a los gobiernos nacionales por la radicalización de sus propuestas. En este sentido podríamos denominar al primer grupo de acciones de protesta como reaccionarias (buscan preservar el orden establecido, reaccionan ante los cambios) y, al segundo grupo, como profundizadoras (pretenden que los cambios se profundicen o radicalicen). No obstante, resaltamos el carácter analítico de esta distinción, ya que se reconoce la complejidad en el entramado de la acción colectiva donde ninguna expresión de protesta adquiere un carácter esencial ni pre constituido, sino que se configura a partir de múltiples interpretaciones, lecturas y relecturas que dan cuenta de pujas por los sentidos atribuidos. Las apreciaciones precedentes conducen también a problematizar el vínculo entre protesta y ciudadanía, el cual muchas veces permanece sesgado por el normativismo. Para Gerardo Aboy Carlés (2009) cuando la protesta es asociada sin más al ejercicio de la ciudadanía, suele operarse una traslación teleológica entre aspectos muy distintos del problema: necesidad-demanda-reclamo de derechos-ejercicio de la ciudadanía. “En general es la simpatía del investigador con su objeto la que hace coincidir una práctica específica de movilización y reclamo, con el ejercicio de la ciudadanía. ¿Por qué el reclamo igualitario de acceso a la propiedad de la tierra de un campesino, sustentado en la posesión por la ocupación continua, es tildado como un ejercicio de la ciudadanía; mientras que el reclamo del propietario que esgrime sus títulos no recibe la misma consideración?” (Aboy Carlés, 2009: 70). Resulta, entonces, que el análisis de las diversas modalidades de la protesta no asume contenidos a priori, estos es, con independencia de los significados que puede articular. Esos significados son construcciones históricas, cuya génesis y movimientos es posible indagar. De manera que no podría calificarse de antemano, ni de una vez y para siempre, el vínculo que se establece entre protesta, ciudadanía y subalternidad. Para abordar dicha articulación, se 361 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens requiere de abordajes más complejos que logren dar cuenta de la heterogeneidad y la contingencia, de las dimensiones múltiples y de las fronteras borrosas. En esta línea, las múltiples expresiones de la protesta pueden, a su vez, manifestar reivindicaciones por ciudadanías también diferentes. Es decir, a veces más inclusiva y otras menos; en algunos casos, demandando el accionar del Estado para restablecer derechos perdidos y, en otros, planteando cuestionamientos de fondo que interrogan la distribución de roles y lugares en la definición comunitaria174. La protesta puede provocar, por acción o por reacción, cambios en la correlación de fuerzas; lo cual posibilita hablar en términos de impacto político (Schuster, 2005). Para el mencionado autor, se trata de efectos diversos, tanto materiales como simbólicos, pero “todos ellos capaces de definir o transformar las condiciones políticas del orden social” (Schuster, 2005: 65). Así definido, el problema de la protesta social escapa de ser patrimonio exclusivo de demandas o de sectores sociales determinados, sino que permanece inmerso en la puja de poder que acontece en una sociedad. A continuación nos centramos en expresiones de protesta protagonizadas por grupos “hegemónicos” que, desde los espacios de poder que aún mantienen, han resistido algunos avances progresistas de los nuevos gobiernos en los contextos actuales de Argentina y Bolivia. Argentina: el gobierno kirchnerista y los sentidos de la protesta del “campo” En trabajos anteriores se ha intentado relacionar la emergencia del gobierno kirchnerista con las secuelas de la crisis del 2001 en Argentina. De este modo, se ha interpretado al “discurso K” como la lectura que logró constituirse en hegemónica ofreciendo una respuesta o intento de sutura ante la dislocación generalizada (Magrini y Quiroga, 2012). Néstor Kirchner logró afirmarse en el cargo presidencial, que asumió en mayo de 2003, a partir de varios factores175: el progresivo control político interno sobre el Partido Justicialista; la conformación de alianzas con sectores ajenos al partido (la llamada transversalidad y el 174 En esa línea podría identificarse, por ejemplo, la demanda por la refundación del Estado en la experiencia boliviana (Polop y Quiroga, 2011). 175 Véase la ponencia presentada por Quiroga y Rolfi (2008) y también el artículo de Biglieri (2010). 362 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens surgimiento de los híbridos radicales K); la radicalización de su discurso; el acercamiento a la movilización social de corriente nacional-popular y el aislamiento de las vertientes opositoras. Luego, su esposa y compañera de militancia, Cristina Fernández le sucedió en el mandato hacia el año 2007 y fue reelegida en el 2011. Ambos presidentes se inscribieron en el marco de un proyecto nacional y popular que se erigía contra los “verdaderos enemigos de la Argentina”, aquellos cómplices de la dictadura cívico-militar y el “viejo pasado neoliberal”. Al poco tiempo de haber asumido, Cristina Fernández se vio envuelta en un conflicto de marcada resonancia y magnitud, denominado “crisis del campo”. Se trató de un enfrentamiento entre gobierno y productores agrarios a partir de la sanción, por parte del poder ejecutivo, de la resolución nro. 125 que pretendía aumentar las retenciones a las exportaciones agropecuarias176. Esta decisión provocó una fuerte dicotomización de las posiciones políticas, entre aquellas que rechazaban la iniciativa y otras que la apoyaban. Las críticas a la resolución nro. 125 provinieron de un paradójico conjunto de actores, en tanto se amalgamaron grandes organizaciones de propietarios rurales (entre ellas, la tradicional Sociedad Rural Argentina) con entidades que representaban a los pequeños y medianos productores (como la Federación Agraria Argentina); éstos, a su vez, lograron la adhesión de algunos grupos de los centros urbanos descontentos con la gestión gubernamental. Esta construcción equivalencial177 entre actores con intereses y tradiciones muy diferentes fue posible a partir de la común oposición a una medida y a un gobierno que interpretaban como antagonista (Laclau, 2005b). Los sectores opositores contaron, además, con el apoyo de los grandes medios de comunicación que difundieron sus demandas y repertorios como representantes de la ética del trabajo y de la Argentina profunda, a la vez 176 La resolución 125 estipulaba una modificación de las retenciones a los productos agropecuarios de exportación, estableciendo un esquema móvil, donde la tasa del derecho o retención se modificaría en proporción a la variabilidad del precio internacional. Dada la coyuntura de ese momento, aumentarían las retenciones a la soja y el girasol, aproximadamente de un 35% a un 43%. 177 La construcción de una cadena de equivalencias alude al proceso en el cual comienza a darse cierta solidaridad entre determinados discursos a partir de la negación de la satisfacción de algunas demandas. En otras palabras, cuando las múltiples demandas no son satisfechas por los canales administrativos, la insatisfacción podría abonar la emergencia de un sentido de “frustración múltiple [que] disparará lógicas sociales de un tipo completamente diferente” (Laclau, 2005a: 37). Las distintas demandas serán equivalentes en relación a aquello que las niega, la institucionalidad que no les hace lugar. 363 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens que denunciaban la complicidad del gobierno con grandes intereses monopólicos en materia agroexportadora. Según Sidicaro (2011), en el arco de la oposición también se distinguieron algunos dirigentes peronistas provinciales, quienes expresaron de modo más o menos público el rechazo al aumento de los impuestos a las exportaciones agrarias (en especial concentrados en la soja); “mientras que algunos sectores justicialistas y de izquierda daban su adhesión a los reclamos de la Federación Agraria Argentina, la entidad que históricamente había expresado a los pequeños propietarios del campo” (Sidicaro, 2011: 91). Frente a ello, el gobierno justificaba la medida en las buenas condiciones de los mercados internacionales de productos agroalimentarios; las cuales aseguraban altas tasas de rentabilidad para los productores. Desde el poder ejecutivo se señalaron las ventajas de que parte de estos ingresos pasaran a engrosar el presupuesto público, de este modo se podrían realizar importantes inversiones en los sistemas de salud, educación y vialidad. Para Svampa (2008), ante la fuerte oposición de las organizaciones de productores agropecuarios, el gobierno activó el viejo clivaje “pueblo versus oligarquía” apelando a la voluntad gubernamental de redistribución de los ingresos e identificando a las protestas “del campo” como intentos de desestabilización del régimen democrático. A lo largo de este conflicto el discurso kirchnerista fue articulando diversos apoyos. En relación a ello cabe mencionar que la mayor parte de la intelectualidad argentina mantenía ciertas distancias y un tono crítico respecto del gobierno pero, ante la fuerte embestida de las federaciones agrarias, se inclinó a su favor y se expresó a través de instancias como Carta Abierta178. El gobierno de Fernández también contó con el decisivo apoyo de organizaciones afines que protagonizaron las movilizaciones en defensa de la resolución nro. 125, tal es el caso de la Federación Tierra y Vivienda de Luis D´Elía y la Confederación General de los Trabajadores, liderada por Hugo Moyano. 178 Esta iniciativa surgió en marzo de 2008, “en defensa del gobierno democrático amenazado por el conflicto suscitado por las patronales agropecuarias, y distinguiéndose siempre por la preservación de la libertad de crítica” (Disponibe en: www.cartaabierta.org.ar). Se trataba de documentos públicos de adhesión al gobierno nacional, firmado por intelectuales y exponentes de diversas expresiones artísticoculturales, que consensuaban sus escritos a partir de debates en plenarios y asambleas. 364 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens El descontento puntual con la medida que proponía el aumento a las retenciones agropecuarias, se fue haciendo extensivo a la oposición al gobierno kirchnerista y al modelo que éste parecía representar. Maristella Svampa (2008) relata con detalle los repertorios a los que recurrieron los sectores opositores durante este conflicto. Durante 100 días las organizaciones rurales llevaron a cabo conjuntamente una serie de bloqueos de rutas (paros agrarios y lock-out) que dejó al país al borde del desabastecimiento y dividió a la sociedad. La dinámica que adquirió el conflicto dio especial visibilidad a “algunos de los socios menores del nuevo modelo sojero”, y a las clases medias urbanas que se identificaron con los reclamos agrarios. A su vez, para la autora, el conflicto mostró la escasa flexibilidad y apertura del gobierno de Cristina Fernández. “Los sectores aliados al oficialismo no dudaron en leer el conflicto en clave latinoamericana, esto es, en el marco de una supuesta polarización entre la derecha oligárquica y un gobierno nacional-popular o nacional-desarrollista” (Svampa, 2008: 44). Tanto “el gobierno” como “el campo” se arrogaban la representación del significante “patria”, y de los intereses de la Argentina “trabajadora y soberana”. El gobierno identificó al conflicto como un intento de desestabilización y, de modo tardío, frente a las voces de disenso acentuó el carácter popular de su medida a través de explicitación del destino de los nuevos fondos. También, ante las sucesivas presiones, el poder ejecutivo envió el tema para su resolución en el Congreso179, siendo éste el ámbito donde debió discutirse originalmente el proyecto. Del otro lado, esa amalgama diversa y paradójica que se identificó como el “campo” apeló a distintos significantes para soslayar el desmesurado afán por incrementar sus ganancias. Se señaló, entonces, la defensa de la democracia y del federalismo en contra de un gobierno que tomaba decisiones calificadas como arbitrarias y autoritarias. Asimismo, se remarcó una y otra vez la centralidad de la actividad agropecuaria mediante la expresión “la 179 En ese ámbito el voto decisivo por la aprobación o el rechazo de la resolución nro. 125 quedó en manos del presidente de la cámara de senadores, vicepresidente Julio Cobos. Éste se manifestó por la negativa al aumento de las retenciones agropecuarias, enfrentándose a la gestión que representaba. 365 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Argentina vive del campo”. Dicha consigna fue objeto de crítica por parte de aquellos sectores que defendieron el desarrollo cotidiano de su trabajo como sustento material, en condiciones que habían permanecido ajenas a las luchas “del campo” y a la agenda de los diversos gobiernos del período. En el medio de la polarización campo-gobierno cabría identificar a diversas voces que, según Svampa (2008), encontraron su oportunidad de visibilización ante dos polos que otrora habían optado por su silenciamiento y ahora las interpelaban en busca de adhesiones; se trataba así de sectores que se vieron expuestos a la presión de cadenas equivalenciales antagónicas (Laclau, 2005b). Es el caso, por ejemplo, “de los sectores rurales excluidos del modelo sojero” (Svampa, 2008), como movimientos campesinos e indígenas que venían sufriendo las consecuencias del avance de la agricultura extensiva. También encontraron oportunidad de expresión aquellas organizaciones que desde hacía tiempo planteaban la necesidad de abrir discusiones en torno a la redistribución de la riqueza y la persistencia de las desigualdades. No obstante, esta dicotomización del espacio político aún soslayaba el debate profundo en torno a los riesgos de una visión productivista y lineal del desarrollo, la cual predominaba tanto en el gobierno como en el sector de los productores agropecuarios. Bolivia: el MAS-IPSP frente a las protestas del autonomismo cívico-empresarial de la Media Luna Hacia diciembre del año 2005 el líder de los sindicatos de productores de coca del Trópico de Cochabamba, Evo Morales, ganó las elecciones presidenciales. Su candidatura había sido impulsada por el Movimiento Al Socialismo-Instrumento Político por la Soberanía de los Pueblos (MAS-IPSP), una expresión política conformada por un archipiélago de movimientos sociales y organizaciones sindicales que pretendía tomar distancia del modelo de los partidos políticos tradicionales. Con el triunfo del MAS-IPSP, por primera vez un aymara 366 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens y dirigente sindical gobernaría Bolivia, y con el mayor porcentaje de votos en la historia democrática del país180. No obstante los alentadores resultados electorales, los grupos de derecha conservaban la mayoría en el Senado, en las gobernaciones y disponían de amplios recursos económicos181 por lo que buscaron imponer sus intereses en el nivel local-regional. De este modo, las organizaciones cívicas o cívico-empresariales del oriente boliviano182 apalearon a la defensa de la autonomía como una demanda que fue previamente defendida por los pueblos originarios pero ahora era resignificada por estos sectores para exigir la libre elección de los gobernantes y mayor control sobre las exportaciones e ingresos generados por cada departamento. Para Luis Tapia (2005) las reivindicaciones pro autonomismo formarían parte de una estrategia defensiva de las oligarquías bolivianas para contrarrestar la demanda de una decisión nacional sobre el destino de los hidrocarburos y el proceso de reforma de la constitución política del país. En defensa de la autonomía departamental estos grupos desplegaron acciones de protesta que podrían caracterizarse como “reaccionarias”, ya que se trataba de sectores heterogéneos que reivindicaban un objetivo conservador de preservar el modelo y las posiciones de poder que fueron consolidando a lo largo de los años de “democracia pactada”183. En este sentido el destacado analista y actual vicepresidente de Bolivia, Álvaro 180 La fórmula del MAS-IPSP obtuvo el 53,7% de los votos emitidos, y la composición mayoritaria en la cámara de diputados. 181 El MAS-IPSP contaba con 12 senadores frente a 13 de Poder Democrático y Social (Podemos), 1 del Movimiento Nacionalista Revolucionario (MNR) y otro de Unidad Nacional (UN); sólo ganó en tres de nueve gobernaciones (Oruro, Potosí y Chuquisaca) y se enfrentaba a la radicalidad de la oposición de los Comités Cívicos y los prefectos de la Media Luna, región que concentra las mayores riquezas en hidrocarburos y las tierras más aptas para el cultivo. 182 Hablamos aquí de oriente o “media luna” boliviana para dar cuenta de la región conformada por los cuatro departamentos del este del país que se han manifestado, en general, en oposición al MAS-IPSP. Se trata de Beni, Pando, Santa Cruz y Tarija. 183 A partir del retorno a la democracia, en 1982, se instauró en Bolivia un modelo basado en la confección de acuerdos y consensos, que sostuvo como pilares a la democracia representativa y a la economía de mercado. El sistema de partidos fue protagonizado por una triada que se alternaría en el poder; es decir, más allá de la existencia de otras agrupaciones políticas, solo tres grandes partidos nacionales resultaban relevantes para la formación de coaliciones gubernamentales: Acción Democrática 367 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens García Linera, caracteriza a la derecha de su país como “resistencias locales de atrincheramiento y de defensa del poder, de la riqueza y la propiedad local de las élites anteriormente desplazadas del poder nacional y que ahora se han replegado a las regiones” (García Linera, 2008b: 410). Cabe resaltar que una de las primeras medidas del MAS-IPSP fue la convocatoria a elecciones para conformar la asamblea constituyente que se encargaría de redactar un nuevo texto constitucional, frente a ello los sectores opositores presionaron al gobierno central para dar inicio a los referéndums autonómicos en simultáneo con dicha elección. De este modo, el fortalecimiento de los sectores de la derecha autonomista se dio a partir de la igualación de los procesos de elección de constituyentes y convocatoria a un Referéndum Nacional Vinculante sobre Autonomías Departamentales. Esto se logró gracias a la presión ejercida al Poder Ejecutivo desde el Congreso Nacional, especialmente en el Senado. Luego, los grupos opositores lideraron acciones de protesta que buscaban la implementación de un referéndum revocatorio de mandato, que fue llevado a cabo el 10 de agosto 2008. Los resultados de este referéndum fueron altamente positivos para la gestión del MAS-IPSP, obteniendo el 67,4% de apoyo. No obstante, las protestas de la oposición no cesaron. A los días de ratificado el liderazgo y el proyecto nacional del MAS-IPSP, en una reunión los prefectos opositores del oriente boliviano decidieron impedir que las autoridades legales y constitucionales del país llegaran a los distintos aeropuertos de algunas ciudades. En adición, convocaron a un paro cívico con el fin de paralizar la totalidad de la actividad económica y social el 19 de agosto de 2008. Luego, organizaron un bloqueo de caminos y carreteras en los ingresos de los cuatro departamentos del oriente con la intención de generar desabastecimiento. Se fue configurando así el escenario de un intento de golpe de Estado contra el gobierno de Evo Morales (Giupponi y Quiroga, 2010). Si bien esta iniciativa no prosperó184, dejó en evidencia la magnitud y virulencia de las acciones de la oposición. Nacionalista (ADN), el Movimiento Nacionalista Revolucionario (MNR) y el Movimiento de la Izquierda Revolucionaria (MIR). 184 Según el vicepresidente García Linera (2008a), fueron cuatro los factores que impidieron el golpe cívico-prefectural: 1) la expulsión del embajador de EEUU Philip Goldberg, considerado partícipe de la 368 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Más adelante, las protestas de los comités cívico-empresariales del oriente tuvieron como objeto la oposición a las reformas introducidas en la nueva carta magna y a la realización del Referéndum Constitucional de enero de 2009. También brindaron su apoyo a las protestas protagonizadas por sectores diversos que manifestaban su descontento respecto de alguna medida gubernamental, como por ejemplo los casos de la marcha indígena de 2011, la huelga de los profesionales y trabajadores de la salud, y el motín policial de 2012185. En diversas ocasiones el gobierno del MAS-IPSP ha recurrido a una interpretación de las protestas opositoras en clave binaria, polarizando entre un “nosotros” y un “ellos”. Así, para delimitar el campo del adversario, las protestas de grupos indígenas186 descontentos con la centralidad de las decisiones en el Poder Ejecutivo se igualaron con las protestas provenientes de los comités cívico-empresariales. Ambos grupos reivindicaban su derecho a la autonomía pero dotándola de una significación diferente, no obstante tales divergencias no fueron percibidas por el gobierno de Morales que las interpretó exclusivamente en términos de intentos desestabilizantes. Mientras el gobierno boliviano esboza referencias discursivas de alabanza a la pachamama, permanece sumido en el desafío de cómo compatibilizar la extracción de recursos naturales con el desarrollo de un medio ambiente sostenible para las generaciones intentona golpista; 2) la declaración del estado de sitio en Pando par dar fin a la masacre de campesinos que permitió a las Fuerzas Armadas retomar el control de la zona; 3) el resurgimiento de la movilización social, sobretodo la que se dio en el departamento de Santa Cruz, por parte de los campesinos y de los indígenas; 4) la solidaridad internacional que recibió el gobierno, principalmente a través de la convocatoria a una reunión de emergencia de UNASUR (Unión de Naciones del Sur). 185 Los policías de bajo rango mantuvieron un motín durante seis días en junio de 2012. Para Moldiz (2012) esta iniciativa se montó sobre una legítima demanda de los policías de base y en medio de una crisis institucional de los uniformados, pero fue construyendo un escenario de golpe de estado. El gobierno terminó por lograr la resolución del conflicto. 186 En relación a ello cabe destacar el problema desatado a partir de las intenciones del gobierno de construir una carretera que uniría las localidades de Villa Tunari (Cochabamba) con San Ignacio de Moxos (Beni). Diversos movimientos indígenas protestan contra su construcción porque parte de su recorrido atravesará el corazón de una de las mayores reservas naturales del país, el Territorio Indígena y Parque Nacional Isiboro Sécure (Tipnis), con presencia de población nativa. Hasta la fecha de redacción de este artículo el proyecto había sido aplazado por el gobierno frente a las protestas, y se implementaron consultas en cada una de las comunidades afectadas. 369 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens actuales y vendieras. En este sentido, se abre un interesante debate en torno a la necesidad de discutir el modelo de desarrollo que se inclina, en la mayoría de los países del Cono Sur, a la reprimarización creciente de la economía y al afianzamiento del modelo extractivista (Yampara 2011; Stefanoni 2010; Svampa 2010). Consideraciones finales En el presente artículo se intentó dar cuenta de la contingencia y de la complejidad de la categoría “protesta social”, ampliamente utilizada en estudios recientes sobre acción colectiva en América Latina. Los sentidos de la protesta se van dirimiendo a partir de las articulaciones entre una diversidad de actores y demandas, y el espacio público-político; y ponen de manifiesto una particular capacidad de irrupción institucional para insertarse en la puja de poder que acontece en una sociedad determinada. Se han distinguido dos vertientes de protesta como partes de un abanico más extenso con fronteras borrosas y cambiantes. Por un lado, se remarcaron las protestas por la profundización de los cambios operados por los gobiernos del “nuevo mapa políticoregional”. En ese marco, las administraciones de Cristina Fernández en Argentina y de Evo Morales en Bolivia, reciben presiones desde múltiples organizaciones sociales para ahondar en los debates en cuanto a los modelos de desarrollo y la redistribución de las riquezas. Luego, se advirtió otra línea de protesta, identificada con la defensa del statu quo por parte de algunos sectores que consideraban lesionados sus intereses. Cabe señalar que la mirada de este trabajo ha estado especialmente centrada en esta última modalidad de protesta, es decir, en aquellas expresiones de la protesta social formuladas por grupos hegemónicos dentro de la estructura del Estado, del mercado y de los medios de comunicación masivos. En consecuencia, se destacaron las implicancias del conflicto del campo en el escenario político argentino y del autonomismo cívico-prefectural en el contexto boliviano de los últimos años. 370 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Finalmente, explicitar la tensión existente entre dos grandes vertientes de protesta en la América del Sur contemporánea resulta clave para no caer en dicotomías absolutistas ni universalizantes. De este modo, se trazan divisiones analíticas que permiten operacionalizar el abordaje sin desconocer que las distintas demandas, actores y repertorios no resultan fácilmente discernibles; sino que se articulan y tensionan para conformar a la “protesta” como totalidad contingente. Bibliografía Aboy Carlés, Gerardo (2009) “La sangre de Esteno. Transformaciones de la ciudadanía en la Argentina: del populismo a la inflexión particularista”. En: Delamata, Gabriela. Movilizaciones sociales ¿nuevas ciudadanías? Buenos Aires: Biblios. Boersner, Demetrio (2005): “Gobiernos de izquierda en América Latina: tendencias y experiencias”. En: Nueva Sociedad, nro. 197, Buenos Aires. Bonilla, Jorge Iván y García Raya, Eugenia. (1997).:“Espacio público y conflicto en Colombia. El discurso de prensa sobre la protesta social –El Tiempo 1987-1995-”. En: Revista Signo y Pensamiento Nº 30. Vol. XVI. Pontificia Universidad Javeriana. Facultad de Comunicación y Lenguaje. Bogotá, Colombia. PP. 61-76. 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A partir dessa dinâmica de imposição de um grupo sobre outros, a tolerância e o respeito à diversidade são marcas identitárias do povo brasileiro, na medida em que conflitos e diferenças se estabeleceram no processo de aculturação como ato impositivo advindo da ruptura pelo desenraizamento de pessoas e grupos que deixaram seus territórios para adentrar no Brasil em suas diversas regiões. 1.1 Migrar: assumir outra identidade? O migrante perde em parte sua referência natal e assume outro território, constituindo um desafio para sua identidade, já que suas raízes se partem pela mudança de chão. A palavra 374 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens homem deriva da etimologia “chão fértil” e este por sua vez tem uma história em determinado(s) território(s), onde os valores se constroem nas relações sociais. “Ser brasileiro” é assumir a mesmice de um povo e ao mesmo tempo, negar outras situações, a exemplo de “ser africano ou mesmo português”. Mas, o que está em jogo na construção de uma identidade legitimadora em território de não nascença e vivência? A mistura entre o que somos e o que outros são, o que nos conduz a um estado de assunção de posturas diante de valores diferentes dos anteriormente construídos. Nesse intuito, qual a ligação da Identidade com o Território? “Ser brasileiro” corresponde a absorver traços e símbolos de outras culturas e ao mesmo tempo admitir estar ligado a uma identidade legitimadora – a de pertencimento original. Por esta razão, há de se perceber que a Identidade Nacional caminha entre o que somos e a diferença que representamos para o outro, ou seja, identidades produzidas num sistema simbólico e cultural, diferente do habitat original. Ora, a Identidade por estar sujeita às vertentes de forças e intrigas inseridas em territórios e nas relações sociais, não é inocente, pois é constitutiva nesse jogo, de forma dinâmica e mutável. Tratando-se de Identidade Nacional, esta se mostra como campo imaginário, uma tentativa de origem e enraizamento do sujeito ou mesmo de grupo que territorializa-se num espaço seja por nascença ou pertencimento forçado, o que implica numa terceira identidade – a forjada mostrada como legitimadora. Se transito entre dois ou mais espaços, quem sou eu? Que identidade tenho? A terceira identidade faz com que eu seja aceito em um território que não é meu de pertencimento de nascença e história entre gerações? Como o território ao qual nasci está em minha vida? Tenho realmente algo em comum com ele ou já está no plano imaginário? Estudando a imigração italiana na Bahia – um dos estados do Brasil, eis a dualidade identitária dentre os que saíram de uma terra e participaram da dinâmica imigratória em novos territórios e como os antigos elementos culturais ainda estão presentes nessa nova organização social e identitária. Elementos que ao mesmo tempo foram sendo readaptados. Se as raízes 375 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens antigas, históricas, étnicas tornam o território legitimador por muitos anos, isso concede aos sujeitos uma necessidade de valoração da origem e pertencimento, porém com construção de estratégias de aceitação por “ser estrangeiro”, ser “o diferente”, “o outro que adentrou no território que não é o seu” e que apresenta especificidades em suas características simbólicas e culturais. E ser “o diferente” numa comunidade que fere a ideia da mesmice. Nos fenômenos das imigrações, diásporas, cruzamentos de fronteiras, como pensar a identidade a partir de “ser diferente” e em busca da aculturação? As referências simbólicas, culturais são incorporadas ou aceitas como estratégia de sobrevivência? Se o migrante chega a novo território com raízes partidas, nessa dinâmica de aculturação, há modificações internas e externas que influenciam na (re) construção identitária. Mas, que identidade é essa? A discussão aqui envolve todos dois aspectos: a ideia de identidade forjada diretamente imbricada com a questão da (re)territorialização de quem sai de seu território e se apropria de outro e a questão da (des)terrritorialização como uma dor e sentimento de fragmentação identitária que perpassa por questionamentos: Quem sou? Como posso fincar novas raízes? O que serei neste novo território? Qual será a minha identidade a partir dessa nova vivência? Um sentimento entre o que fui e o que serei paira. Nesse sentido, o distanciamento da identidade e do território de origem, impulsiona a criação de estratégias de construção de uma terceira identidade, resultado do próprio movimento híbrido, de dobradiça que é inerente a construção de um processo de mudança do habitat. Se jamais a segunda identidade pode ser a do sujeito alocado em novo território, constata-se aqui que a terceira identidade: a forjada pela aculturação e forçosamente construída para adaptação e sobrevivência em novo território. Ela é cristalizada, na medida em que se torna uma tentativa de permanência e reelaboração identitária. Há de se pensar que a estrutura política, social, cultural de nascimento já não é possível existir por inteiro e a nova não é de pertencimento legitimador, é dolorosa por demais, pois perpassa pelo estranhamento. Todavia, a terceira identidade – a forjada é estratégia de sobrevivência e confronto de identidades: a de origem, a não possível e a de sobrevivência. A partir dessa compreensão, os sujeitos reconstroem suas identidades, assumindo diferentes faces. 376 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens 1.2 A territorialização e o ancoramento identitário De acordo com Haesbaert (2001), a palavra território deriva do latim territorium que é derivado de terra e que em tratados de agrimensura significa pedaço de terra apropriada. O autor sinaliza três abordagens para melhor entendimento sobre o conceito de território, apontando para o jurídico-político que se mostra definido por delimitações e controle de pessoas que exercem poder em faixas de terra, especialmente na questão estatal. A culturalista que resulta do produto da apropriação resultante do imaginário e/ou identidade social que se constrói sobre o espaço, priorizando dimensões simbólicas e culturais e por fim, a dimensão econômica que envolve o movimento de grupos que vão se territorializando em novos espaços – (re) territorializando-se pelo fenômeno da (des) territorialização ou mudança de habitat com base na sobrevivência. Se grupos e pessoas ancoram suas identidades entre os espaços nascidos e que trazem uma identidade legitimadora que é referencial, as formas de capital e trabalho, segregam valores, mostram campos de poder em constante jogo e campo de representações. Este jogo imprime na identidade pessoal, marcas como resultado da manutenção de um sentimento do que sou e do que represento para o outro. Ao migrar para outro territorio, o que sou se confronta com o que não sou. A tolerancia precisa ser acessada em respeito a diversidade e à diferença. Haesbaert (2001, p 25) ressalta que o sentido de pertencer a uma região e/ou território faz com que os sujeitos se apropriem de espaços de forma concreta ou abstrata, territorializando-se nele. Assim sendo, a construção identitária está ligada a (re) alocação e ao sentimento de pertença territorial. Isso sinaliza que as identidades são construidas socialmente e nessas relações marcadas pelo poder e pelos meios de produção, há desilusões, mudanças constantes e enfrentamentos identitários. Assim, o territorio é dividido, apropriado e visto de forma desigual, atendendo ao econômico, às normas e delimitações que se mostram e assustam. 377 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens É interesante lembrar que o conceito de territorialização tem múltiplos sentidos e significados: possui grande flexibilidade e possibilita ser pensado como (re) apropriação territorial em plano político é demasiadamente estratégico. Nesse sentido, o território sempre é construído em um mundo próprio e em defesa de si mesmo. A exemplo de animais como o lobo que marca o seu território com a urina, um expressivo traço de domínio e imposição e conquista diante do outro. A ancoragem em territorio ainda é mostrada nos contos infantis quando os coelhos usam seus excrementos como marca expressiva da presença da espécie no local de morada. De qualquer forma, a palavra territorio está ligada aos atos de expressividade e estado de permanencia e proteção em relação ao outro. O conceito de território não deve ser confundido com o de espaço ou de lugar, estando ligado à ideia de domínio ou de poder em uma determinada área. Se o território está associado ao controle, o poder público, estatal, nota-se que o território pode ser entendido como o controle do espaço ou de uma região e de grupos alocados que receia o outro e desejam estabelecer fronteiras de proteção e sobrevivência. O espaço é visto não apenas como um processo, fruto da atividade humana sobre a natureza, mas também como um lugar que perpassa por um conjunto de símbolos e representações culturalmente produzidos (HAESBAERT, 1997). Se o território serve de referência ao grupo, reúne condições que possibilitem a continuação e reprodução das tradições e perpetuação de costumes e como tal, é matriz referencial. De acordo com Raffestin (1993), a formação de um território implica em comunicação, a partir da qual um indivíduo informa ao outro suas intenções e valores estabelecidos socialmente. [...] um espaço onde se projetou um trabalho, seja energia e informação, e que, por conseqüência, revela relações marcadas pelo poder. (...) o território se apóia no espaço, mas não é o espaço. É uma produção a partir do espaço. Ora, a produção, por causa de todas as relações que envolve, se inscreve num campo de poder [...] (RAFFESTIN, 1993, p. 144). 378 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Esse campo de poder tem uma referência implícita com a noção de limites que ao mesmo tempo vai sendo traçada e legitimada pelos sujeitos, exprimindo ações, ideologias que revelam a representação de seus traços identitários de um povo ou de um determinado grupo de convivência. Evidencia-se que em um território pode haver várias territorialidades, ou seja, diferentes formas de lidar com ele, havendo confronto identitários, o que resulta em possíveis enfrentamentos e crises. [...] um espaço onde se projetou um trabalho, seja energia e informação, e que, por conseqüência, revela relações marcadas pelo poder. (...) o se apóia no espaço, mas não é o espaço. É uma produção a partir do espaço. Ora, a produção, por causa de todas as relações que envolve, se inscreve num campo de poder [...] (RAFFESTIN, 1993, p. 144). Raffestin enfatiza ainda o caráter político e administrativo do território, tratando-o como um espaço de marcas que se projetam na construção identitária de um sujeito que ao se relacionar com outros, pode desenvolver posturas conflituosas ou não. Todavia, nessas relações, o poder é muitas vezes naturalizado, mas o fato é que os sujeitos são legitimados reconhecidos como controladores de um determinado espaço, e grupos reterritorializados são reconhecidos com estranhos e não pertencentes ao lugar. Raffestin afirma que: faz-se sempre uma referência implícita à noção de limite que, mesmo não sendo traçado, como em geral ocorre, exprime a relação que um grupo mantém com uma porção do espaço. A ação desse grupo gera de imediato, a delimitação e a posse (RASFFESTIN 1993, p. 153). 1.3 A desterritorialização e o desafio da reterritorialização Os sujeitos como produtores do espaço em função de suas ações, produzem cultura, já que esta se estabelece e se agrega nas memórias dos grupos. Hall (2003, p. 85) escreve que as identidades são construídas no interior das relações de poder e isso significa que as identidades individuais somente serão afirmadas de maneira diferencial se forem distinguidas do contexto em que estão inseridas e vivenciadas coletivamente. Sachs (1986) mostra que a 379 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens territorialidade é um reflexo do comportamento humano espacial e expressão de poder, já que não é instintivo e nem agressivo, mas apenas estratégia humana para influenciar e controlar o uso social do próprio espaço. Essa ideia abarca o quadro social como elemento de interferencia entre o individual e o social. Sendo a territorialidade uma manifestação entre sujeitos que se humanizam no espaço, é também o resultado do uso, da apropriação de um determinado lugar com o qual o indivíduo é capaz de se identificar. Além disso, existem outros pontos que contribuem para que ocorra a dinâmica da territorialidade como, por exemplo, a relação de (re)apropriação dos bens naturais de um espaço, significando começar a fazer parte do território, reconhecido como “não seu”. Esses novos laços de pertencimento são dolorosos e conflituosos, mas representam um esforço de adaptação e pertencimento. Raffestin (1993) analisa o território como apropriação, não como produção do espaço. Percebe como um espaço de relações de vivências e manifestações de poder, sendo palco das ligações afetivas e de identidade entre um grupo social. O território, por sua vez, é percebido a partir de desdobramentos da construção identitária, resultando em sentimentos de posse ou pertença que caracterizam a (re)apropriação do lugar pelo sujeito ou grupo. Haesbaert (1997, p. 50) liga o território ao exercício de poder e à exploração de grupos empobrecidos de capital e inseridos a sentimentos de exclusão. As representações ou símbolos que controem grupos, partem de representações sócio espaciais atribuídas e legitimadas pela força simbólica presente em grupos que controlam territórios. Se a identidade territorial está relacionada ao sentimento humano de pertencer a um determinado território e, quase sempre, os dominadores são os donos do território e os dominados que dele fazem parte, vistos como excluídos. Portanto, não é exatamente o território que vai constituir a identidade, mas a ideia de que sem território não há identidade que se estruture, pois está construída no território. O conceito de territorialização, de desterritorialização e reterritorialização tem tudo a ver com a questão da posição que o sujeito ocupa na sociedade. Daí a ideia de que o território 380 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens não é unificado e as identidades são diversas e pertencentes a um determinado grupo social. Saquet (2004) diz que no território há produções transitórias e o exercício de poder embora presente, pode ser alternado a partir de variáveis. Se o território tem abordagem política, econômica e cultural, a(s) identidade(s) são produzidas nas relações sociais. A territorialização perpassa pela demonstração das relações de poder, pela (re) organização espacial em que obviamente de sobrevivência humana. E assim sendo, o poder comanda e determina leis num territorio. [...] as forças econômicas, políticas e culturais, reciprocamente relacionadas, efetivam um território, um processo social, no (e com o) espaço geográfico, centrado e emanado na e da territorialidade cotidiana dos indivíduos, em diferentes centralidades/temporalidades/territorialidades. A apropriação é econômica, política e cultural, formando territórios heterogêneos e sobrepostos fundados nas contradições sociais (SAQUET, 2004, p.28). O fato de o espaço geográfico estar ligado a políticas ideológicas, econômicas e culturais, mostra que, interesses específicos de grupos estão em jogo e determinam bases territoriais e identitárias. Santos (1996) mostra o espaço habitado como território e configuração territorial, definindo-o como o todo e o espaço conceituado como a totalidade verdadeira, um matrimônio entre a configuração territorial, a paisagem e a sociedade. O território para o autor, configura-se pelas técnicas, pelos meios de produção, pelos objetos e coisas, pelo conjunto territorial e pela dialética do próprio espaço a partir de intencionalidade humana. 1.4 A questão das identidades em territórios apropriados: entre “o ser”, o “ não ser” e “o possível”. Embora em certos momentos um território parece impor-se ao outro deixando aparentemente para trás, costumes e hábitos anteriores, cria-se a ideia de um territorio que não é seu, que ao mesmo tempo é suporte para a construção de uma nova história. O que se pode pensar nos procesos migratórios em relação às rupturas identitárias? Adaptações ou 381 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens reconstruções identitárias? Se cada pessoa tem uma identidade legitimadora de familia, espaço e principios construidos nas relações sociais com referências em suas matrizes epistemológicas, cabe então considerar que, a identidade passa a der forjada e equalizada na medida em que as posições territoriais são alteradas. Por esta razão, os valores se (re) organizam e o novo territorio se mostra como parte de nova vida. Forjar uma identidade significa situar o que está dentro para seduzir os que estão de fora, isto é, a territorialização exerce um papel importante nesse proceso de firmar a (re) territorialização, garantindo a sobrevivencia de pessoas e grupos, gerando aceitabilidade. Esse conceito perpassa pela relação dialética do outro e do eu, da utilização do espaço como (re)construção identitária, legitimação e reconhecimento de novos valores, cabendo ao outro o jogo político do aceitar e adequar às novas regras. O transformar demanda tempo e aceitabilidade dos outros que podem abrir posibilidades ou rompimentos para as identidades. 2 Algumas considerações Por seu poder transfigurador, o territorio se (re) organiza e formata novo sentido às identidades. O Brasil, enquanto República inserida numa nova situação identitária diante de vários modelos de governo, de regionalismo, desvela Identidade Nacional como resultado de um conjunto de identidades que coexistem num espaço geográfico nacionalizado, consolidado e articuladas em rede e tempos. Há uma nova identidade vista por outros e a que se aproxima da mesmice coletiva, cujos traços são próximos. Se mudar de territorio é perder um pouco de si mesmo, deixar para trás marcas identitárias, o territorio ao ser mudado, interfere significamente nas identidades individuais e coletivas. O território passa a ser entendido como um espaço fronteriço pela apropriação humana, cujas regras são estipuladas nas relações de poder, espaço onde as identidades se reconstroem no movimiento dialético entre o “eu” e “os outros”, pois sem ele, as identidades flutuariam, desintegrando-se perdidas no tempo. 382 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Referências COSTA, Rogério Haesbaert da. Latifúndio e Identidade Regional. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1988. ______. Des-territorialização e identidade: a rede “gaúcha” no nordeste. Niterói: EDUF, 1997. ______. Desterritorialização: entre as redes e os aglomerados de exclusão. In: CASTRO, Iná Elias de et al. Geografia: Conceitos e Temas. 3ª ed. 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O território: diferentes interpretações na literatura italiana. In: RIBAS, A. D.; SPOSITO, E. S.; SAQUET, M. A. Território e Desenvolvimento: diferentes abordagens. Francisco Beltrão: Unioeste, 2004. RAFFESTIN, Claude. Por uma geografia do poder. Tradução de Maria Cecília França. São Paulo: Ática, 1993. 383 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens 24) AUTORES: Paulo Henrique y Antônia Jesuíta De Lima PONENCIA: Rede geográfica dos serviços de saúde: uma análise teórica da realidade piauiense encerrada em sua capital. INSTITUCION: UFPI PAÍS: Brasil MAIL: [email protected] 1. Introdução As redes geográficas, entendidas como um conjunto de nós articulados, fazem parte do cotidiano social, expressas no senso comum sob as acepções de redes sociais, de tráfico de drogas, de armas, de prostituição, de computadores, só para citar alguns exemplos. A partir de uma revisão bibliográfica pretende-se desenvolver uma análise teórica do conceito de rede em uma perspectiva geográfica, tendo como foco analítico a dos serviços de saúde na cidade de Teresina, capital do Piauí, situada no nordeste do Brasil. A política pública de saúde brasileira constitui-se em dever do estado, garantido constitucionalmente em 1988, como um direito social a ser assumido pelo poder público. Essa ação do Estado pode ser vislumbrada a partir da rede de serviços de saúde, as quais se materializam nos seus prestadores (formas/fixos) e nos fluxos de pessoas que a mesma gera (conteúdos/fluxos). Cabe destacar que o Brasil, particularmente em sua constituinte de 1988, abriu espaço para que a iniciativa privada assuma também a oferta desse serviço, tendo, portanto, no país, um sistema dual. É nesse contexto de oferta de serviços de saúde que o presente texto se ergue objetivando caracterizar a rede geográfica dos mesmos, tendo espacialmente como matriz analítica o Piauí, que materializa esse direito social em sua rede urbana. Para essa consecução 384 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens utiliza-se a proposição metodológica de Corrêa (2005) como forma de abstrair elementos que auxiliem na discussão dessa rede, sendo que outros estudos contribuem na reflexão presente. 2. Redes geográficas: uma discussão necessária Para discutir o conceito de redes deve-se levar em consideração o fato de que, para seu estudo na contemporaneidade, supõe-se a descrição do que a constitui, um estudo estatístico das quantidades e das qualidades técnicas e a avaliação das relações que os elementos da rede mantêm com a vida social do presente, em todos os seus aspectos, ou seja, essa qualidade de servir como suporte corpóreo do dia-a-dia. Nesse sentido, transcende à concepção da rede como sendo toda infraestrutura, permitindo o transporte de matéria, de energia ou de informação, e que se inscreve sobre um território em que se caracteriza pela topologia dos seus pontos de acesso ou pontos terminais, seus arcos de transmissão, seus nós de bifurcação ou de comunicação, sendo a mesma dotada, também de vida social, política, cultural, que podem ser visualizadas e entendidas a partir das pessoas, signos, símbolos e mensagens, tornando-a dotada de dinamicidade entre seus fixos e fluxos (SANTOS, 2008). Analisar as dinâmicas contidas nas redes requer que se discuta a idade dos objetos e sua longevidade enquanto existência como suporte das atividades humanas, daí a mesma ser histórica e espacial. Além disso, faz-se necessário elencar a quantidade e distribuição desses objetos, do uso que lhes é dado, das relações que tais objetos mantêm com outros fora da área focada (escala geográfica das redes), das modalidades de controle e regulação de seu funcionamento (SANTOS, 2008). Destarte, a análise do conceito de rede favorece, partindo do entendimento do espaço como movimento, compreender a fluidez, materializadas nos constantes transportes de coisas, pessoas, informações, produzindo, portanto, fluxos e fixos. Daí ser a rede tida como (i)material, constituída por nós/pontos visíveis, mas, também, conexões invisíveis em um primeiro olhar (SANTOS, 2008). É exatamente esse movimento, encerrada nessa categoria analítica, que permite sua compreensão histórica e temporal, sendo marcada por sucessões de 385 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens ações pretéritas que se materializam nas formas e conteúdos presentes. Além disso, esse entendimento permite um vislumbrar do futuro das redes, utilizando-se de abstrações das intervenções feitas no agora, como, por exemplo, as políticas públicas de saúde e suas infinitas possibilidades de transformação da realidade ou diferenciação socioespacial (CARLOS, 2007; CORRÊA, 2007). A ideia de movimento concretizado na circulação e comunicação, distância e acessibilidade, trazem a tona a conexão, uma das propriedades das redes, em que os nós das mesmas são lugares de conexividade, de poder e de referência. Essas características configuram-se no espaço como um sistema de malhas, de nós e redes, as quais podem ser apreendidas em suas manifestações espaciais, temporais, psicológicas, podendo ser também política, econômica, social, cultural ou ambiental, como produto da oferta e demanda pelos indivíduos ou grupos sociais (RAFFESTIN, 1993). A leitura de Corrêa (2006; 2005) instiga reflexões acerca da produção e consumo capitalista, tendo como lente compreensiva as redes. Nessa vertente, aponta que entre produção e consumo capitalista se estabelece a distribuição que passa, sob a égide do capitalismo, a desempenhar papel crucial na sociedade e em sua organização espacial. A organização espacial da distribuição que emerge, fundamentada na divisão social e territorial do trabalho, na existência de uma massa predominantemente assalariada, e na articulação entre diferentes áreas produtoras, tem como locais as cidades que se interligam através do comércio atacadista, varejista e dos serviços. Neste processo de articulação e integração, sob o domínio da produção capitalista, crescente e diversificada, os mecanismos econômicos de alcance espacial máximo e mínimo e de economias de aglomeração adquirem um significado novo que é o da própria acumulação capitalista, e geram uma diferenciação hierárquica entre todos os centros de uma rede de distribuição (CORRÊA, 2005, p. 18-19). Discutir sobre economias de aglomeração remete as análises sobre as centralidades inter e intraurbanas exercidas pelos aspectos quantitativos e qualitativos contidos nas cidades e como as mesmas promovem a (re)estruturação urbana, do qual é exemplo a concentração de prestadores de serviços de saúde em uma dada cidade ou fração citadina. Nesse contexto, argumenta-se que a diferenciação de consumo entre as classes sociais se reflete em uma 386 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens complexa hierarquia cambiante, metamorfoseante, das localidades centrais, as quais assumem diferentes arranjos e rearranjos espaciais (CORRÊA, 2005). A centralidade de algumas localidades em detrimento de outras realizadas pelas redes, como no caso dos serviços de saúde, são frutos das heterogeneidades das produções espaciais dentro de um sistema socioeconômico, no caso capitalismo. Em um âmbito mais geral entende-se que esse papel central de um dado espaço constitui-se em uma estrutura territorial da sociedade em que se verifica “[...] a reprodução de classes distintas tanto entre si como em suas localizações, reprodução esta que interessa à classe dominante localizada na cidade capital” (CORRÊA, 2005, p 24). Concernente a rede urbana expõe-se que a mesma [...] é um reflexo, na realidade, dos efeitos acumulados da prática de diferentes agentes sociais, sobretudo as grandes corporações multifuncionais e multilocalizadas que, efetivamente, introduzem, tanto na cidade como no campo, atividades que geram diferenciações entre os centros urbanos. Diferenciações que, por sua vez, condiciona novas ações. Nesse sentido, é necessário que se compreenda a lógica da implantação de atividades no mais ou menos complexo mosaico de centro e hinterlândias em seus diferenciados papéis e peso. Isto implica o desvendamento das motivações dos diversos agentes sociais, bem como o entendimento dos conflitos de interesses entre eles e suas aparentes soluções[...] (CORRÊA, 2006, p. 27). Discutir a logicidade da implantação de atividades em diversos centros urbanos acaba por configurar uma forma espacial materializada na rede urbana. Assim, enquanto forma, deve-se compreender a estrutura organizacional, os processos e as funções desempenhadas pelos centros da rede, sendo que estas últimas derivam dos processos de criação, apropriação e circulação do valor excedente, assumindo características próprias à estrutura do capitalismo (CORRÊA, 2006). Ao se analisar uma dada rede urbana e sua forma espacial deve-se levar em consideração sua gênese, a localização absoluta e relativa das cidades, da paisagem urbana, das funções, dos agentes produtivos envolvidos no processo produtivo e das relações entre eles, bem como das articulações externas à rede (CORRÊA, 2006). Destarte, essa complexidade pode ser assim descrita em termos de elementos a serem analisados: 387 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens a) a gênese dos núcleos urbanos; b) as funções que desempenham; c) a dependência a determinados produtos; d) o sítio urbano; e) a paisagem urbana; f) a ampliação do número de centros da rede; g) o padrão espacial da rede; h) o papel dos diferentes agentes sociais no processo produtivo; e i) as articulações com os espaços exteriores à rede em questão. Cada um desses elementos está relacionado com os demais (CORRÊA, 2006, p. 42-43). Esse conjunto de elementos passíveis de análises permite que se apreendam a atração da população rural pela cidade, a drenagem urbana da renda fundiária, a comercialização da produção agrícola, os investimentos e a criação de trabalho na cidade, as relações interindustriais e a distribuição de bens e serviços. Em relação à última apreensão possível, a distribuição varejista e atacadista de produtos industriais e a prestação de serviços, os quais incluem, por exemplo, os de saúde, expõe-se que sua compreensão analítica parte do entendimento dos tipos de transações comerciais e seus significados, tipos de serviços e estruturas dos mesmos, e, por fim, a hierarquia, especialização e área de influência do nó central da rede (CORRÊA, 2006). As indicações do autor supracitado indicam caminhos a serem percorridos em estudos sobre a rede urbana de uma dada realidade, a qual pode ser vislumbrada tomando-se um determinado tipo de serviço. Corrêa (2005), propõe uma metodologia de análise das mais variadas redes que recortam e se materializam sobre o espaço. Como o mesmo adverte não se trata de um quadro fechado de dimensões e variáveis, mais um indicativo analítico, podendo sofrer acréscimos ou reduções segundo o objeto de estudo de cada pesquisador. Esta proposição é a que segue no quadro 1 a seguir. Quadro 1 – Dimensões de análise das redes Rede analisadas segundo Agentes sociais Origem Especificação Estado Empresas Instituições Grupos sociais Planejada Espontânea 388 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Natureza dos fluxos Mercadorias Pessoas Dimensão Informações organizacional Função Realização Suporte Finalidade Dominação Acumulação Solidariedade Existência Real Virtual Construção Material Imaterial Formalização Formal Informal Duração Longa Curta Velocidade dos Lenta Dimensão temporal fluxos Instantânea Freqüência Permanente Periódica Ocasional Local Escala Regional Nacional Global Solar Dimensão espacial Forma espacial Dendrítica Circuito Barreira Interna Conexão Externa Fonte: CORRÊA, 2005, p. 111-112 (excetuando-se os exemplos dados pelo autor. Grifos nossos). Cabe expor que o roteiro acima fornecido permite o vislumbramento compreensivo das realizações humanas sobre uma dada espacialidade objeto de análise, fomentando a discussão das dimensões (organizacional, temporal e espacial) como interdependentes, indicando que os processos de transformação da sociedade e de sua organização espacial, a qual depende da rede urbana, uma vez que esta se assume, com maior vigor no contexto atual, como uma das mais importantes manifestações e condicionantes da realidade socioespacial. 389 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens As interdependências fazem com que as redes geográficas complexifiquem as funcionalidades dos centros urbanos (CORRÊA, 2005), integrando internamente e externamente os fixos com seus fluxos. Destarte, as dinâmicas do capitalismo atual e suas interrelações com o Estado e a sociedade provocam mudanças essenciais no espaço geográfico, nos sistemas de objetos e sistemas de ações, enfim no meio técnico-científico-informacional vivido na contemporaneidade, o qual abarca desigualmente e seletivamente as classes sociais e os indivíduos em suas vivências diárias (SANTOS, 2008). Nessa perspectiva aponta Santos (2008, p. 279) que mediante as redes, há uma criação paralela e eficaz da ordem e desordem no território, já que as redes integram e desintegram, destroem velhos recortes espaciais e criam outros. Quando ele é visto pelo lado exclusivo da produção da ordem, da integração e da constituição de solidariedades espaciais que interessam a certos agentes, esse fenômeno é como um processo de homogeneização. Sua outra face, a heterogeneização, é ocultada. Mas ela é igualmente presente. Esse paradoxo homogêneo/heterogêneo pode ser apreendido quando se debruça reflexivamente sobre a rede geográfica de serviços de saúde, sendo a mesma complexa, multifacetada, seja em seus fixos ou em seus fluxos, enfim nas formas e conteúdos que se realizam sobre o espaço citadino. Logo, compreende-se que 1. A organização espacial se revela, de um lado, a partir de elementos fixos, constituídos como resultado do trabalho social. E, de outro lado, através dos fluxos que garantem as interações entre os fixos. Fixos e fluxos originam as redes. 2. Essas redes materializam-se ou não no espaço, onde ocorrem fluxos com diferentes níveis, intensidades e orientações. 3. A diferenciação dos fluxos segundo níveis, intensidades e orientações, está ligada a uma mais complexa divisão do trabalho e maior diversificação e complexidade dos objetos e das ações engendradas socialmente. 4. O fenômeno de globalização, estágio maior da internacionalização, conduz a um aumento da circulação e da comunicação, responsáveis por novas hierarquias e especializações. 5. Existem numerosas, complexas e desiguais redes geográficas que tornaram a organização espacial caleidoscopicamente fragmentada e articulada de modo globalizado. 6. Os lugares e os indivíduos participam desse sistema mundo, em graus diversos, e só aqueles mais importantes e hegemônicos servem-se de todas as redes e utilizam todos os territórios. 390 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens 7. Há uma simultaneidade de redes, que se manifestam, sobretudo, em uma cada vez mais complexa rede urbana, na qual os centros podem assumir papéis diferenciados, especializados e/ou hierarquizados, consequentemente com diferentes fluxos (RIBEIRO, 2000, p. 78-79). Esses traços comuns nos estudos das redes auxiliam na opção aqui feita por analisar a temática posta em relevo (serviços de saúde), a qual advém do fato de que o setor saúde também vem sendo objeto da revolução técnico-científica e da reestruturação produtiva do capitalismo. O desenvolvimento da tecnificação da prática média e dos serviços de saúde é uma das faces desse processo. O aumento da complexidade das atividades ligadas ao setor da saúde, especialmente os serviços de alta complexidade, materializa-se no espaço geográfico, através dos sistemas de engenharia – os fixos e os fluxos – que reforçam antigas hierarquias urbanas e criam novas articulações não necessariamente hierárquicas. Verifica-se, em muitas cidades médias, um crescimento do número e da diversificação dos serviços de saúde, além do aumento da densidade técnica em procedimentos e equipamentos sofisticados (SOARES; RAMIRES; OLIVEIRA et alli, 2010, p. 207) Partindo dessas inferências, singularizada na rede de serviços de saúde, tendo como seus fixos os agentes prestadores dos mesmos, é que se aponta sua caracterização, tendo como procedimento o roteiro de Corrêa (2005), pautada nas dimensões, variáveis e especificações dos constituintes dessa rede, como foco discursivo do item a seguir. 2.1 Rede geográfica dos serviços de saúde piauiense encerrada em sua capital: uma breve discussão Os serviços de saúde (re)constroem sua rede geográfica, materializando sua complexidade sobre um dado espaço, evidenciando lógicas que são frutos das relações ambivalentes e paradoxais entre Estado, mercado e sociedade na contemporaneidade para a oferta desse serviço, tido como direito social impresso na constituição brasileira de 1988. Destarte, na construção e realização das conexões, pautada na díade dos fixos – fluxos, da rede de serviços de saúde piauiense coloca-se o Estado como seu progenitor. A ação desse agente teve início com a construção do Hospital Getúlio Vargas (1940) e a Escola de Medicina (1960). Teve-se nessas duas realizações, potencialidades de incremento da 391 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens densidade conectiva para o atendimento da população circunscrita, uma vez que as formas erguidas têm como funções tratar os acometidos de enfermidades, no caso a primeira construção, e qualificar mão de obra, fincado na segunda. Ressalte-se que o ente público, via Sistema Único de Saúde (SUS), busca universalizar o atendimento, desde a atenção primária até os serviços de alta complexidade, ao passo que também financia a atividade privada via pagamentos de procedimentos médicos, consumo de leitos hospitalares particulares, dentre outros mecanismos. Esse jogo complexo de relações fez com que em Teresina formasse uma área concentradora de prestadores de serviços de saúde, indo desde os hospitais, clínicas, laboratórios, farmácias e outros ramos corrrelatos (BUENO, 2008). É essa densidade quantitativa e qualitativa que faz com que a capital funcione na rede urbana estadual como centro especializado de serviços médicos, evidenciando sua centralidade inter e intraurbana, promovendo fluxos crescentes para seu espaço, fomentando uma (re)estruturação urbana contínua. As ambivalências entre as ofertas dos serviços de saúde a tornaram uma mercadoria vendável como qualquer outra, dinamizando a economia teresinense, constituindo atualmente em uma das áreas que mais geram emprego e renda na cidade, o que se torna justificativa do poder público municipal para criar um “Pólo de Saúde”. É nesse contexto que os grupos sociais visam inserirem-se, mesmo que marginalmente, de que são exemplo os donos de pensões, os vendedores ambulantes, os guardadores de “estacionamento públicos”, agenciadores que “facilitam” a locomoção dos desconhecidos da espacialidade discursiva em foco, taxistas, moto-taxistas, donos de lanchonetes, restaurantes, enfim, descortinam-se infinitas possibilidades de ação no circuito inferior da economia (SANTOS, 2004). Outro agente que acaba por inserir-se nessa rede são as instituições não governamentais, das quais são exemplos o Lar de Maria, o Hospital Piauiense de Tratamento de Câncer – São Marcos (uma filantropia questionável), dentre outras organizações que visam erguer uma rede de solidariedade para com os doentes e seus acompanhantes, dinamizando e dando maior complexidade a rede em análise. 392 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens A exposição dos agentes produtores desse espaço, o qual contém e é contido pela rede, teve uma origem planejada do estado, uma vez que o mesmo vendo-se compelido a ofertar esse direito social, acaba por construir um hospital e posteriormente uma escola de medicina. A abertura ao mercado para assumir também a saúde potencializou a densidade da rede, tendo na atualidade uma coalizão desses dois agentes para a consolidação de Teresina como centro de saúde, um cluster em formação, tão propagado pela mídia e meios oficiais de comunicação do poder público municipal (AGENDA 2015, 2002). Por outro lado infere-se que os grupos sociais inseriram-se de forma espontânea, mas com um certo planejamento, de que são exemplos os donos de pensões. Bueno (2008) destaca que antes de sua concentração na área especializada na oferta de serviços médicos, as mesmas localizavam-se próximas a antiga rodoviária teresinense. Outro caso pode ser citado a partir dos vendedores ambulantes, os quais se vendo desempregados, procuram nesse ramo e espaço formas de sobrevivência no mercado informal da economia. Portanto, planejamento e espontaneidade na origem de uma rede depende do sujeito em que se toma como objeto analítico, evidenciando as multifaces da realidade, enfim a rede em questão é multifacetada. Quando se busca vislumbrar a natureza dos fluxos é perceptível a preponderância de pessoas, as quais buscam tratamento para seus males, indo desde a medicina curativa até a preventiva, os chamados exames de rotina. Mas, observa-se também o fluir de mercadorias e informações, as quais são exemplificadas, no caso das primeiras, na compra e venda de equipamentos, medicamentos, produtos adquiridos junto aos vendedores ambulantes e comércio em geral, dentre outros. O fluxo informacional materializa-se quando se observa o conhecimento da população no que tange aos aspectos quantitativos e qualitativos da medicina teresinense quando comparada aos outros centros citadinos do Estado, nos out-doors espalhados pela cidade e outros meios de comunicação fazendo propagandas da “excelência” teresinense na oferta desse serviço, nos intercâmbios dos profissionais da área com outros espaços, sejam nacionais 393 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens ou internacionais, enfim, o meio técnico-científico-informacional é corporeificado nessa rede, contudo não de forma homogênea, fato inerente ao próprio sistema de objetos e sistema de ações (SANTOS, 2008). No que se refere à função da rede põe-se primordialmente a realização dos tratamentos dos males que acometem os indivíduos, indo desde a atenção primária (medicina preventiva) até os cuidados de média e alta complexidade (medicina curativa). No entanto, funciona também como suporte, uma vez que a mesma cria condições favoráveis para a penetração das relações capitalistas de produção, assim como a própria (re)produção da sociedade. Assim sendo, a centralidade da rede (exercida por Teresina – PI), concretiza as dinâmicas entre o global e local em suas dialéticas mais palpáveis, seja via realização de um circuito superior e inferior da economia em um país desigual socioeconomicamente como o Brasil (SANTOS, 2004), seja na realização da totalidade no lugar (SANTOS, 2008) nos momentos em que são realizados atividades médicas de alta tecnologia, assim como também mantém-se formas tradicionais de cuidado da saúde, que os digam as conversas nos hospitais e clínicas, momentos em que os pacientes, mas principalmente os acompanhantes, proferem “receitas” para aliviar os mais variados males que acometem o corpo, fazendo do lugar um espaço de resistência a tendência homogeineizante do global. A bifuncionalidade da rede traz como finalidade também uma complexidade, servindo tanto de acumulação/dominação como de solidariedade. A acumulação capitalista via pagamento por serviços é um dos motores dessa rede, sendo que o Estado é também um financiador, realizando o que Offe (1984) revela como a necessidade de prover os meios de reprodução das relações capitalistas e buscar legitimação social como a função do ente público. A dominação do espaço se faz transparecer quando se observa a concentração dos prestadores de serviços, os quais buscam junto ao poder público, seja municipal ou estadual, a concretização de seus interesses na produção espacial urbana, fomentando a consolidação da centralidade inter/intraurbana e suas posteriores (re)estruturações (VILLAÇA, 2001). Nesse 394 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens sentido, o Plano Diretor teresinense inscreve essa área da cidade como espaço a ser intervido e planificado com vistas a dar um ordenamento territorial (MOREIRA, 2006) que traga geração de emprego e renda para a cidade, formando um cluster de saúde, dando uma visão economicista mais preponderante que o de saúde pública (AGENDA 2015, 2002). A solidariedade perceptível na rede é realizada pelas organizações não governamentais, como o já citado Lar de Maria, que auxiliam os usuários dos serviços, especialmente os oriundos de outras localidades, o que evidencia as desresponsabilização do Estado no restituir via serviços os impostos auferidos, responsabilizando a sociedade pela gestão social. As finalidades descritas desembocam nas especificidades da existência dessa rede, sendo a mesma real, impressa nos seus fixos, representados pelos hospitais, clínicas, laboratórios, farmácias, casas de pensões e outros. Pode-se dizer também que a mesma tem sua corporeidade virtual, tendo nas relações informacionais seu aspecto de transparência. A virtualidade evidencia-se também na construção simbólica e imaginária de Teresina como centro de excelência na oferta de tratamentos de saúde, retransmitida pela oralidade dos usuários e pelos diversos meios de telecomunicações. Contudo, essa virtualidade ao tentar homogeineizar uma percepção, tentando ocultar seu aspecto antagônico, põe em relevo o lado dramático da lógica do mercado presente nas atividades relacionadas à saúde, expondo que os detentores de capital podem usufruir de uma medicina mais moderna, sofisticada, de tecnologia avançada, enquanto que os menos favorecidos economicamente, a maioria, ficam a mercê do serviço público, que mesmo realizando atividades do circuito superior (SANTOS, 2004), precisam esperar uma temporalidade fossilífera quando se trata de aspectos ligados a saúde, pois alguns procedimentos como consultas, exames e cirurgias podem ser decisivos para manter a perenidade ou o encerramento da vida terrena. O binômio real-virtual traz a jusante a (re)construção da rede de maneira material e imaterial. A materialidade aflora visivelmente nas formas espaciais concretizadas no espaço urbano teresinense e nos outros centros urbanos piauienses, sendo desigual tanto quanti como 395 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens qualitativamente. A imaterialidade emerge nos conteúdos desencadeados nas formas, enfim nas articulações dos fixos com seus fluxos, pautado na produção e circulação de mercadorias, capital, serviços, pessoas, mensagens, simbologias, todas eivadas nas clivagens das relações sociais e estruturas da sociedade. A (i)materialidade é repleta de aspectos formais e informais da rede de serviços de saúde. Essa (in)formalidade é representada pelas atividades realizadas no espaço concentrador dos prestadores dessa atividade, as quais vão desde as regularizadas pelo estado, como as que estão a margem dessa regularização, o que caracteriza a dualidade da (re)produção espacial em destaque levando-se em conta relações econômicas. As reflexões acerca das categorias e as especificações das redes na dimensão organizacional analisadas até o momento auxiliam nas inferências sobre outros aspectos desse conceito, ligados especialmente a temporalidade de construção, consolidação e perenidade da mesmo. Portanto, pode-se afirmar que essa atividade de prestação de serviços de saúde, seja pelo poder público ou pelo mercado, tem uma duração longa, vindo dos anos de 1940 como já assinalado, tendo perspectivas de manutenção de sua perenidade por muito tempo. A afirmação parte do entendimento de que está havendo consolidação dessa concentração na capital piauiense e que a realidade estadual, com uma rede urbana pouco densa, quantitativa e qualitativamente desigual, faz com que Teresina centralize ainda mais a prestação de serviços de saúde, principalmente, os agentes privados. A concentração da oferta de serviços de saúde via mercado parte da ideia de que esses agentes buscam os lugares com possibilidades de rentabilidades mais rápidas e duradouras, o que deixa apreender que o Piauí, Estado com desenvolvimento econômico parco comparado a outras unidades da federação, tem em sua maioria espaços opacos e poucos espaços de luzes (SANTOS, 2008), ficando Teresina como um diamante de brilho mais intenso quando comparada com o resto das cidades piauienses para a realização dessa atividade capitaneada pelas relações capitalistas de produção. 396 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens No que tange a velocidade dos fluxos na análise da rede de serviços de saúde acrescenta-se aqui a especificação rápida a proposta de Corrêa (2005) utilizada em tela. A discussão da velocidade dos fluxos no atendimento dos serviços de saúde é desigual e complexa, uma vez que essa temática é assumida pelo Estado e pelo mercado. Assim sendo, a variável renda e os objetos por ela proporcionados de serem adquiridos variam entre as classes sociais. Dessa forma, pode-se dizer que os tempos rápidos são conseguidos pelos que detém maior poder de compra, podendo pagar por um serviço mais rápido ou até mesmo instantâneo, como no caso de consultas e cirurgias com a utilização de teleprocedimentos e teleconferências, momentos em que as escalas local, regional, nacional e até internacional podem materializar-se no lugar. Já para as classes menos favorecidas economicamente lhes restam os serviços públicos via SUS, o que constitui a maior parcela da população estadual piauiense, tendo toda uma burocracia e lentidão que, como noticiado pela mídia muitas vezes, levam, em casos extremos, ao falecimento do individuo demandante desse serviço. Cabe ainda ressaltar que a velocidade dos fluxos no que se refere à saúde é algo bem relativo em um Estado como o Piauí, em que a capital constitui-se como a única cidade a ofertar serviços de alta complexidade e as dimensões espaciais do território são enormes. Assim, imagina-se que uma pessoa que se tem acometido de um caso grave em Corrente (PI) – distando 900 Km da capital – dependendo da sua renda para a aquisição de meio de transporte mais rápido tem sua chance de vida ou morte bastante condicionado. Acrescente-se a esse fato a realidade da malha rodoviária, a qual não permite comunicações mais velozes e a não disposição do Estado de meios de transportes mais modernos, como helicópteros que atendam a população em casos extremados com este exemplo. Essa discussão do tempo tem como pano de fundo a compreensão de que as vivências temporais variam segundo as classes socias, havendo um tempo rápido (realizado pelos 397 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens indivíduos, empresas, organizações que possuem uma renda suficiente para tal) e um tempo lento, o qual abrange a maior parte da população brasileira, os quais refletem as condições desiguais de desenvolvimento econômico pelo território e as diferenças clivadas na sociedade, sendo as mesmas fruto do próprio sistema de produção, o capitalismo (SANTOS, 2008). A dimensão temporal encerra-se na freqüência de utilização da rede pela realidade sócio-espacial na qual se inscreve, sendo especificada em permanente, periódica e ocasional. Essas especificações variam segundo as classes sociais, pois pauta-se na renda e nas condições de saúde individuais e interclasse. Destarte, categorizar a freqüência de uso dos atributos dos serviços de saúde é complexo, mas algumas inferências podem ser tecidas, dentre as quais se destacam: a periodicidade acomete as pessoas que fazem tratamentos de média e longa duração de sua saúde, de que são exemplos os casos oncológicos, necessitando um acompanhamento permanente e periódico por parte dos profissionais de saúde. A periodicidade, nessa perspectiva, é bifuncional, mas também tem relações diretas com a renda, pois a centralidade teresinense nesses casos traz para o usuário a necessidade de deslocamento, hospedagem, realização de exames, enfim de mercadorias e serviços a serem adquiridos na rede. Logo, quem detém maiores condições financeiras consegue realizar esse fluxo e quem não detém ver suas possibilidades de uso serem reduzidas. A ocasionalidade de uso da rede de serviços de saúde pauta-se nas crises repentinas que sobrecaem sobre a saúde humana, sendo os centros de emergência e urgência os receptores desses indivíduos, como é o caso do Hospital de Urgência de Teresina (HUT), que acaba por atender população de outras cidades do Estado, assim como de outras unidades da federação, evidenciando a precariedade e o desigual acesso desse tipo de serviço em território estadual e regional, fazendo com que Teresina exerça uma polarização, uma centralidade inter e intraurbana especializada. A centralidade descrita transparece as dimensões das escalas dos fenômenos geográficos (CASTRO, 1995) como no caso da materialização das redes (DIAS, 1995). Depreende-se assim que a rede dos serviços de saúde piauiense, principalmente os ofertados 398 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens em sua capital, atinge todas as esferas (local, regional, nacional e global) seja por meio de fluxos materiais ou imateriais. Exemplificando pode-se expor a atração de pessoas do interior do Estado e de outras circunscrições estaduais, como o caso do Maranhão e Pará, realizando, portanto, as escala local, estadual e regional. Já as escalas nacional e global podem ser vislumbradas, por exemplo, nos equipamentos ultramodernos existentes em alguns hospitais, clínicas e laboratórios, especialmente os da iniciativa privada, nos intercâmbios de conhecimentos realizados pelos profissionais da área de saúde com outros, de São Paulo por exemplo, e até fora do país. Como forma espacial da rede em discussão infere-se que mesma possui um padrão dendrítico, sendo orientada, em uma visão simples, pela rede fluvial, caracterizada por uma cidade primaz localizada excentricamente à hinterlândia, geralmente junto à embocadura de um rio (CORRÊA, 2006). Dentro dessa concepção Teresina possui alguns diferenciais, uma vez que esse tipo de rede tem uma história colonial e resulta da manutenção de um simples e monotômico processo de criação de atividades cujos principais produto destinam-se aos mercados externos à região. Em outras palavras, a rede urbana dendrítica está vinculada a uma pouco diversificada participação na divisão territorial do trabalho, à qual se associa a produção de matérias-primas. A criação, apropriação e circulação do valor excedente implicam mediações e fluxos pouco complexos que culminam beneficiando a cidade primaz em detrimento de sua hinterlândia (CORRÊA, 2006, p. 39). As diferenças teresinenses afloram a partir do entendimento de que essa capital foi planejada nos momentos de sua instalação com vistas a fazer frente comercial a outras cidades, a exemplo de Caxias (MA), e comportar a máquina administrativa do estado, como mostram, por exemplo, os trabalhos de Façanha (1998) e Lima ( 2010). Contudo, ao se fazer uma analogia a dendriticidade da rede fluvial, na qual diversos cursos hídricos percorrem trilhas direcionadas a um rio principal, pode-se comparar com a realidade presente na capital piauiense, na qual os fluxos advêm de várias conexões e orientações direcionando-se para Teresina, fazendo desse espaço um polarizador da rede, 399 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens atraindo pessoas, mercadorias e capital de várias localidades, influenciando, portanto, uma dinâmica urbana estadual e regional. Essa configuração dendrítica faz as conexões materilizarem-se internamente e externamente no contexto da rede, possuindo internalidades e externalidades (SANTOS, 2008) que (re)configuram (re)arranjos espaciais, seja interurbanos ou intraurbanos. Discutir as externalidades é compreender como os fluxos da globalização, seja eles financeiros, técnicos ou sociais, tomam corpo no lugar, que aqui é representado pelo espaço urbano teresinense concentrador dos serviços de saúde, tendo nos seus fixos geração de fluxos e vice-versa. É nessa perspectiva de rede de serviços de saúde empreendidas sobre a rede urbana que se entende a produção do espaço urbano como fragmentado e articulado, reflexo e condicionante social, um conjunto de símbolos e campo de lutas, pois assim é a própria sociedade em uma de suas dimensões materializadas em suas formas espaciais (CORRÊA, 1989). Logo, a produção desse espaço “[...]é conseqüência da ação dos agentes sociais concretos, históricos, dotados de interesses, estratégias e práticas espaciais próprias, portadores de contradições e geradores de conflitos entre eles e com outros segmentos da sociedade” (CORRÊA, 2011, p. 43). Destarte, para compreender a produção espacial urbana pode-se utilizar do conceito de rede, o qual em seu processo (re)construtivo (re)modela a (re)organização da sociedade. 3. Considerações finais A discussão aqui tecida, a qual também pode constituir como um componente da rede geográfica de conhecimento sobre a realidade socioespacial, procurou contribuir com a discussão desse conceito tão caro a geografia. Dessa forma, compreende-se a rede como um conjunto de nós articulados que se conectam por diversas vias, podendo ser (i)materiais, (in)formais, (i)reais, com temporalidades duradouras ou efêmeras, atuação espacial de escalas diversas, dialéticas, complexas, multifuncionais, enfim como um dos suportes corpóreas para o viver e realizar das atividades humanas sobre a superfície terrestre. 400 III Congreso Ciencias, tecnologías y culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de América Latina y el Caribe 7 al 10 de enero de 2013. Universidad de Santiago de Chile Simposio : Acción colectiva y territorialidad: dinámica, prácticas, significados y abordagens Os serviços de saúde constituem uma rede complexa e multifacetada, a qual atende desigualmente as pessoas e classes sociais em seus usos, podendo ser densa ou não em termos quantitativos e qualitativos, estando, na atualidade, impregnada de relações capitalista, o que transforma a saúde em uma mercadoria como outra qualquer e não como uma das dimensões e direito social imprescindível para a vivência terrena, a qual deveria ser assumida pelo Estado, visando reduzir as disparidades no uso desses serviços. A metodologia proposta por Corrêa (2005) é de grande valia para a caracterização de uma dada rede, sendo que a mesma pode comportar as variadas especificidades elencadas pelo autor, podendo ser acrescidas de outras. As complexidades da rede em análise torna-se real quando se verifica os enquadramentos da mesma em quase todas as variáveis e especificações, o que reflete a própria realidade social multifacetada, a qual (re)age dialeticamente em suas relações econômicas, políticas, culturais, ambientais e sociais como um todo. Assim sendo, a rede de serviços de saúde piauiense concentra na capital uma maior quantidade de oferta, assim como em termos qualitativos, sendo ela erguida pelos agentes públicos e privados, finalizando na centralidade inter e intraurbana de Teresina exercida pela temática ora em tela. Por conseguinte, essa realidade torna-se mutável em função dos fixos e fluxos que materializam a rede em suas formas e conteúdos, sejam eles (i)materiais). 4. Referências BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. BUENO, Paulo Henrique de C. As casas de pensões do pólo de saúde de Teresina: produ