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Pág. 1 de 25 CURSO DE GESTÃO ESTRATÉGICA MÓDULO IV – MODELOS DE PLANEAMENTO E GESTÃO ESTRATÉGICA 6.1. ÍNDICE DO CAPÍTULO 6.1. ÍNDICE DO CAPÍTULO ...................................................................................... 1 6.4. INTRODUÇÃO..................................................................................................... 1 6.5. GESTÃO ESTRATÉGICA ................................................................................... 1 6.6. PLANEAMENTO ESTRATÉGICO..................................................................... 4 6.8. PLANO ESTRATÉGICO ..................................................................................... 7 6.10. MODELO DE GESTÃO ESTRATÉGICA DO BSC ....................................... 15 6.4. INTRODUÇÃO Os conceitos de gestão estratégica, planeamento estratégico e plano estratégico são amiúde interpretados como sinónimos e, por essa razão, utilizados indistintamente. Acontece porém que, na realidade, estes têm significados consideravelmente diferentes embora relacionados. Importa por isso, também aqui, e na esteira da preocupação já evidenciada nos capítulos anteriores, clarificar o alcance e significado destes conceitos, através da sua definição e caracterização e, também, através da apresentação de dois tipos distintos de modelos de gestão estratégica: o dito convencional, e o proposto pelo balanced scorecard. 6.5. GESTÃO ESTRATÉGICA A gestão estratégica é usualmente definida como o conjunto de decisões e acções das organizações, determinantes para a sua performance no médio e longo prazos e que incluem, designadamente, a análise do meio envolvente, a formulação da estratégia, a implementação da estratégia e a sua avaliação e controlo. Uma definição mais apropriada, todavia, parece ser a consideração da gestão estratégica como um processo sistemático e dinâmico de planeamento, organização, liderança e controlo do sistema de valor de uma organização, tendente a assegurar a sua contínua adaptação às constantes alterações do meio envolvente e às necessidades dos seus clientes, que visa a criação e manutenção de vantagens competitivas sustentáveis, que garantam o cumprimento da missão da organização com a máxima eficácia e eficiência. O conceito de gestão estratégica assim definido releva: • Por um lado, o seu entendimento como um processo de gestão (composto pelas funções de planear, organizar, dirigir e controlar); e Pág. 2 de 25 • Por outro, a sua importância enquanto processo imprescindível ao cumprimento da missão da organização, através da criação e sustentação de vantagens competitivas. Na sua essência, a gestão estratégica é um processo contínuo e dinâmico de planeamento, organização, liderança e controlo, através do qual as organizações, primeiro determinam “onde estão”, para “onde querem ir” e “como é que lá irão chegar”; e, só depois, agem em conformidade com o caminho traçado. Em esquema: SISTEMA DE GESTÃO ESTRATÉGICA ORGANIZAÇÃO: • Estrutura; • Recursos; • Actividades; • Processos PLANEAMENTO: • Estratégia (onde) • Objectivos; • Missão; • Táctica (como) GESTÃO ESTRATÉGICA CONTROLO: • Planos, prog., acções e orçamentos; • Políticas, regras e procedimentos; • Desempenho estratégico; LIDERANÇA: • Execução planos; • Execução programas; • Execução acções • Execução orçamentos FONTE: Análise do autor Figura 4.1. – Representação gráfica do sistema de gestão estratégica, enquanto modelo de gestão Tipicamente, trata-se de um sistema ou modelo de gestão que, assentando na reflexão estratégica e na visão partilhada dos membros da organização, procede ao: 1. Planeamento: a. Da estratégia da organização, traduzida na definição dos segmentos de mercado em que esta deverá apostar (e não apostar), dos seus objectivos e da sua missão, com base na sua análise interna e na análise do seu meio envolvente contextual e transaccional (através da análise, fundamentalmente, dos seus pontos fortes e fracos e das suas oportunidades e ameaças); b. Da táctica da organização, entendida como a forma através da qual a estratégia deverá ser executada. Em particular: Pág. 3 de 25 i. Ao planeamento da estrutura da organização mais adequada à implementação da estratégia e, bem assim, da respectiva cadeia de comando e das relações de autoridade e responsabilidade entre os vários membros e grupos; ii. Ao planeamento da afectação dos recursos organizacionais necessários à execução da estratégia (recursos financeiros, humanos, tecnológicos, processos, tecnologia, tempo, etc), privilegiando-se a sua afectação às áreas críticas para o sucesso sustentado da organização; iii. À definição das políticas de gestão funcionais (compras, financeira, sistemas de informação, recursos humanos, produção, logística, controlo de gestão, marketing, etc); iv. À definição das regras e procedimentos departamentais; e v. À elaboração dos planos, programas e acções necessárias à implementação da estratégia e, bem assim, dos respectivos orçamentos. 2. Organização: a. Da estrutura organizacional e das relações de autoridade e responsabilidade, conforme planeado; b. Das actividades de valor e respectivos processos, conforme planeado; c. Dos recursos (humanos, financeiros, instalações, equipamentos, processo produtivo, know-how, tecnologia, sistemas de informação, etc) necessários à execução da estratégia, conforme planeado; 3. Direcção e liderança: a. Da execução das actividades de valor e respectivos processos de transformação de inputs em outputs, de acordo com a táctica definida; b. Da execução dos planos, programas, acções e orçamentos; e c. Da implementação das políticas regras e procedimentos planeadas. 4. Controlo (e feedback): a. b. c. d. Da execução dos planos, programas, acções e orçamentos planeados; Do cumprimentos das políticas, regras e procedimentos definidos; Da execução das actividades e processos; Do desempenho e, em particular, da extensão com que os objectivos planeados estão a ser cumpridos, com o apuramento de eventuais desvios e tomada das medidas correctivas adequadas; e. De eventuais alterações do meio envolvente, susceptíveis de comprometerem o sucesso da estratégia definida. Nesse mesmo sentido pronuncia-se Gonçalves (1986) quando, a propósito do seu entendimento da gestão estratégica como um processo, lhe atribui as tarefas principais de “formulación de los objetivos, el análisis del ambiente externo, la formulación de la estratégia, la evaluación de la estrategia, la implementación de la estratégia y el control”. Pág. 4 de 25 6.6. PLANEAMENTO ESTRATÉGICO O planeamento estratégico pode ser definido como o processo sistemático, metódico e complementar, de apoio à reflexão estratégica dos membros da organização, que visa, fundamentalmente, o seu incentivo, promoção, organização, estruturação e síntese, conforme nota Freire (1997). Culminando na elaboração do plano estratégico da organização, que sintetiza as suas principais orientações estratégicas, o planeamento estratégico pode ser entendido como um processo de gestão dinâmico e contínuo que, partindo da reflexão estratégica dos membros da organização, procede à sua análise interna e externa, formula a sua estratégia, fixa os seus objectivos e defina a forma como aquela deve ser executada e controlada. Para Gonçalves (1986) o planeamento estratégico é um elemento fundamental da gestão estratégica. Definindo-o como um procedimento sistemático, analítico, racional e formal de suporte ao processo de gestão estratégica, Gonçalves defende que este se desenvolve através do próprio processo de planeamento formal da organização. Este conceito distingue-se assim do de gestão estratégica, por representar apenas uma parte daquele; e do de reflexão estratégica, por constituir este último, em conjunto com a análise estratégica, a sua base fundamental de trabalho. Na realidade, e como refere Steiner (1979), citado por Gonçalves (1986), “o planeamento estratégico é a espinha dorsal de apoio à gestão estratégica”. Para Gonçalves (1986), o planeamento estratégico constitui a infra-estrutura de apoio ao próprio processo de formulação e implementação da estratégia organizacional. Em esquema: PROCESSO DE PLANEAMENTO ESTRATÉGICO Pág. 5 de 25 ANÁLISE ESTRATÉGICA PENSAMENTO ESTRATÉGICO PLANEAMENTO ESTRATÉGICO FORMULAÇÃO DA ESTRATÉGIA CONTROLO E FEEDBACK IMPLEMENTAÇÃO DA ESTRATÉGIA FONTE: Análise do autor Figura 4.2. – Representação gráfica de um modelo de planeamento estratégico típico Ao processo de planeamento estratégico assim definido, cujo resultado material se traduz na elaboração do plano estratégico (e suas revisões), incumbe designadamente: 1. Relativamente à reflexão estratégica: a. A promoção, organização, estruturação e síntese das contribuições dos membros da organização; 2. Relativamente à análise estratégica: a. Assegurar a análise interna da organização, com especial destaque para os seus recursos, dinâmicas de custos, sistema de valor, competências distintivas e pontes fortes e fracos; b. Proceder à análise do meio envolvente contextual (com especial incidência nos aspectos económicos, legais, demográficos e tecnológicos) e transaccional (nomeadamente no que concerne: à análise da indústria e da concorrência; ao mapeamento da indústria e à aferição da atractividade dos respectivos segmentos de mercado; à identificação dos factores críticos de sucesso; ao mapeamento e análise dos grupos estratégicos; e à estrutura da indústria) em que a organização se encontra inserida,; 3. Relativamente à formulação da estratégia (ao nível estratégico): a. Promover a geração de alternativas estratégicas e a selecção das melhores; b. Proceder à definição dos segmentos de mercado (e respectivas indústrias) onde a organização irá apostar (e não apostar), não apenas em termos da respectiva matriz de segmentação mas também em termos dos respectivos quadrados estratégicos, justificando convenientemente (em termos Pág. 6 de 25 de atractividade, posição competitiva e eventuais economias de escala, experiência e sinergia), a aposta em cada um; c. Definir a missão da organização (com base no maior n.º de lados comuns dos quadrados estratégicos associados aos segmentos de mercado em que esta irá apostar); d. Definir, de forma coerente, integrada e em linha com a estratégia, os vários níveis de objectivos organizacionais (corporativos, por indústria, por organização, por função, por negócio e por segmento de mercado); 4. Relativamente à implementação da estratégia (ao nível táctico): a. Definir a estrutura organizacional mais adequada à execução da estratégia, nomeadamente no que respeita: i. À organização do seu sistema de valor, em particular das suas actividades de valor e respectivos elos (processos); ii. À clarificação das linhas de autoridade, responsabilidade e cadeia de comando; iii. Á definição das actividades a desempenhar por cada pessoa, em função dos objectivos e estratégias delineadas; b. Definir as políticas de gestão funcionais, nomeadamente as políticas de: i. Marketing (políticas de preços, promoção, merchandising, comunicação, publicidade, produto, canais de distribuição, força de vendas, assistência técnica, etc); ii. Recursos humanos (contratação, avaliação, formação, promoção, remuneração, incentivo, motivação, desenvolvimento, etc); iii. Financeira (politicas de gestão dos recursos financeiros: controlo orçamental, investimentos, financiamento da exploração, aplicações financeiras, prazos de recebimento e pagamento, etc); iv. Operacional (logística, armazenagem, produção, equipamentos, controlo de qualidade, etc); v. Investigação e Desenvolvimento (desenvolvimento de novos produtos e processos, patentes, licenciamentos, etc); vi. Sistemas de Informação (aquisição e desenvolvimento de aplicações, racionalização de processos, tarefas e actividades, etc) c. Definir as regras e procedimentos funcionais; d. Definir os planos, programas, acções e orçamentos funcionais, coerentemente interligados e alinhados com a estratégia da organização, destinados a assegurar o cumprimento dos objectivos definidos; 5. Relativamente à avaliação, controlo e feedbak estratégicos: a. Definir o processo de controlo e de comunicação do desempenho estratégico da organização, bem como os respectivos instrumentos e indicadores (quantitativos e qualitativos); b. Definir o processo de controlo e comunicação da execução dos planos, programas e acções da organização, bem como o processo de alerta aos responsáveis pelos desvios identificados; Pág. 7 de 25 c. Definir o processo de revisão e correcção da estratégia, objectivos, planos, programas e acções, em função dos desvios de desempenho e das alterações do meio envolvente. 6. Relativamente ao plano estratégico: a. Elaborar o plano estratégico, da organização. Este deve ser um documento formal, completo e sintético, estruturado em cinco partes (que consistem nas cinco componentes básicas do sistema de gestão estratégica: visão, análise estratégica, formulação da estratégia, implementação da estratégia e controlo e feedback da sua implementação) que, reflectindo a visão partilhada dos membros da organização, define com clareza onde a organização vai apostar e como se propõe atingir os seus objectivos. 6.8. PLANO ESTRATÉGICO O plano estratégico pode ser entendido como o documento formal e completo que, sintetizando a reflexão estratégica dos membros da organização, define com clareza: onde a organização vai facturar (estratégia), qual é a sua missão, quais são os seus objectivos, e como se propõe atingi-los (táctica). Trata-se de um documento de gestão fundamental, que para além de sumariar os principais objectivos da organização e a forma como os mesmos devem ser atingidos “no terreno”, constituindo-se como um referencial imprescindível à orientação dos esforços de todos, assume-se também como um importante instrumento de avaliação do desempenho individual e colectivo. Como já vimos, deve ser um documento flexível e dinâmico, sujeito a revisões periódicas, no sentido de se ajustar, a todo o tempo, às contínuas alterações do meio envolvente e, bem assim, acomodar as correcções que, em face da avaliação do desempenho estratégico organizacional, se tenha por conveniente introduzir naquele. Freire (1997) define-o como o documento que, baseado na reflexão estratégica dos membros da organização, “sintetiza e integra a sua actuação futura e é estruturado de acordo com as três componentes da reflexão estratégica”, a saber: • Análise estratégica: que integra a análise da própria organização, da indústria em que esta actua (e respectivos segmentos de mercado), do seu meio envolvente e da sua adequação aos requisitos competitivos do negócio; • Formulação da estratégia: onde se deve clarificar as indústrias e segmentos de mercado em que esta se propõe apostar (e não apostar), respectivos objectivos e a sua missão; • Organização e implementação da estratégia: que deve definir a forma como a organização se propõe atingir os objectivos fixados e que resulta, no fundo, da tradução da estratégia formulada em planos, programas, iniciativas e orçamentos tendentes a assegurar a sua execução no “terreno”. Embora os planos estratégicos não tenham uma forma standard, variando de aspecto em função da criatividade de quem os elaborou, é possível identificar, todavia, algumas Pág. 8 de 25 características comuns, transversais à generalidade dos planos estratégicos das organizações. De uma forma geral, todos os planos estratégicos procuram evidenciar, de forma sintética, as principais conclusões da análise do meio envolvente, a estratégia definida para a organização e a forma como esta se propõe executá-la no “terreno”. A título de exemplo, configuração gráfica do plano estratégico de uma hipotética empresa de aluguer de auto-gruas, chamada “UpRUs”, poderá ter o aspecto que a seguir se descreve. I – ANÁLISE ESTRATÉGICA 1.1. Análise do meio ambiente geral e suas influências (indústria do aluguer de auto-gruas): Pág. 9 de 25 COMPONENTE AMBIENTAL EVOLUÇÃO PREVISÍVEL CONSEQUÊNCIAS EXPECTÁVEIS Redução de vendas e estagnação do mercado Oportunidade para operações de aqusição de concorrentes debilitados Queda do investimento público (sobretudo na indústria das obras públicas) Oportunidade para aquisição de equipamento usado a preços competitivos Diversificação para outras áreas geográficas mais atractivas (PALOP's e Europa Central) Diversificação para outros segmentos de mercado (indústria transformadora, telecomunicações, seguradoras, facilities management , metalomecânica pesada, trabalhos portuários e concessionárias de auto-estradas) Económica Desenvolvimento da Indústria das energias renováveis (Eólicas e Fotovoltáicas) Necessidade de reforço do parque de equipamento com gruas de capacidade superior Aumento do desemprego Diminuição dos custos com pessoal Agravamento da taxa de juro Aumento significativo dos encargos financeiros Plena adesão da China ao GATT Social Oportunidade de diversificação da actividade para estes segmentos de mercado Oportunidade de aquisição de equipamentos a preços competitivos (aumento das margens) Oportunidade de representação de equipamentos Chineses na Europa, África Lusófona e Brasil Intensificação e generalização da utilização da Internet Oportunidade de diversificação dos canais de distribuição Maior receptividade ao recurso ao outsourcing e interiorização das suas vantagens Aumento das vendas/prestação de serviços Aumento da sofisticação do cliente Segmento de preço baixo perderá gradualmente importância Envelhecimento da população Negligenciável Política concorrencial restritiva Eventual inviabilização dos movimentos estratégicos de M&A em análise Adjudicação das obras do IC30 e IC16 (Concessãio da Grande Lisboa) a parceiro privilegiado Aumento das vendas/prestação de serviços Aeroporto da Ota Eventual aumento das vendas/prestações de serviços Políticas de incentivo ao emprego de longa duração Redução dos custos com pessoal Intensificação da actifidade inspectiva e fiscalizadora por parte do fisco e segurança social Aumento das margens com diminuição da concorrência desleal Tecnológica Shift tecnológico Reforço do investimento em I&D Legal Flexibilização da legislação laboral Aumento da eficiência Necessidade de certificação ambiental Aumento do investimento na reciclagem de resíduos das oficinas Cultural Demográfica Política Ecológica Imposição de limites mais apertados de emissão de CO2 dos equipamentos Alteração dos critérios de compra Aumento do investimento na reconversão de equipamentos FONTE: Análise do autor Figura 4.3. – Análise do meio envolvente contextual Se a organização, por hipótese, para além de desenvolver a sua actividade na indústria do aluguer de auto-gruas também alugasse, por exemplo, contentores marítimos, então dever-se-iam também determinar os impactos do meio envolvente contextual ao nível da indústria do aluguer de contentores marítimos. 1.2. Análise do meio envolvente transaccional (indústria do aluguer de auto-gruas): Pág. 10 de 25 MÉDIO Potencial de Novos Entrantes - Economias de escala - Elevadas necessidades de capital - Facilidade de subcontratação do serviço ALTA Rivalidade entre Concorrentes Actuais ALTO Poder Negocial dos Fornecedores ALTO - Baixa taxa crescimento indústria - Elevadas barreiras à saída - Excesso de capacidade crónico - Concorrêncial desleal - Baixa capacidade diferenciação - Guerra de preços - Poucos fornecedores - Pouca importância do volume p/fornecedor - Possibilidade integração p/frente do fornecedor Poder Negocial dos Clientes - Elevada elasticidade ao preço - Possibilidade integração p/trás - Baixos custos de mudança - Muita oferta: grande escolha - Elevados custos de mudança - Inexistência de produtos substitutos BAIXA Ameaça de Produtos Substitutos FONTE: Análise do autor Figura 4.4. – Análise do meio envolvente transaccional Deve ser efectuada a análise estrutural de cada uma das indústrias onde a organização desenvolve a sua actividade. Se a empresa, por hipótese, além do aluguer de auto-gruas, também prestasse serviços de transporte de mercadorias, então dever-se-ia também realizar a análise estrutural da indústria de transporte de mercadorias. 1.3. Matriz de segmentação (indústria do aluguer de auto-gruas): Serviço Segmento Constr. Civil Obras Públicas Facilit. Manag. Conc. auto- Trabalhos estr. Portuários Indústria Energia Metalom. Pesada Alugadores Gruas-Torre Subalugueres Telecom. Seguradoras Indústria Transf. Auto-Gruas 20T ☺ ☺ ☺ ☺ Auto-Gruas 25T ☺ ☺ ☺ ☺ Auto-Gruas 30T ☺ ☺ ☺ ☺ Auto-Gruas 40T ☺ ☺ ☺ ☺ Auto-Gruas 50T ☺ ☺ ☺ ☺ Auto-Gruas 70T ☺ ☺ ☺ ☺ Auto-Gruas 100T ☺ ☺ ☺ ☺ Auto-Gruas 120T ☺ ☺ ☺ ☺ Auto-Gruas 180T ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ Auto-Gruas 220T ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ Auto-Gruas 300T ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ Auto-Gruas 400T ☺ ☺ ☺ Auto-Gruas 500T ☺ ☺ ☺ ☺ ☺ Auto-Gruas 700T Observações: Segmentos de mercado onde a organização aposta ☺ "windows of opportunity " Equipamento a adquirir ☺ Segmentos de mercado a penetrar no curto prazo Segmento a analisar FONTE: Análise do autor Figura 4.5. – Matriz de segmentação da indústria do aluguer de auto-gruas Da mesma forma, deve ser elaborada uma matriz de segmentação para cada indústria onde a empresa desenvolva a sua actividade. Se a empresa, por hipótese, além do aluguer de auto-gruas, também alugasse, por exemplo, auto-betoneiras e compressores, Pág. 11 de 25 então deveria elaborar também uma matriz de segmentação para a indústria do aluguer de auto-betoneiras e outra para a indústria do aluguer de compressores. 1.4. Identificação dos factores críticos de sucesso e competências nucleares (segmento de mercado do aluguer de gruas de 30 T a empresas de obras públicas): Factores Críticos de Sucesso Rapidez de resposta Preço e prazo de pagamento Imagem e notoriedade da empresa Qualidade do serviço Competências Nucleares Cobertura geográfica Dimensão do parque de equipamento Diversidade do parque de equipamento Eficiência do "sistema de valor" Imagem de qualidade/Certificação do Sistema de Gestão da Qualidade Qualidade do equipamento e do pessoal FONTE: Análise do autor Figura 4.6. – Factores críticos de sucesso e competências nucleares (core competencies) da UpRUs no segmento de mercado do aluguer de auto-gruas de 30 toneladas às empresas de obras públicas. Embora aqui, a título exemplificativo, apenas se tenham identificado os factores críticos de sucesso e as competências nucleares relativas ao segmento de mercado do aluguer de gruas de 30 toneladas aos clientes de obras públicas, esta análise deve ser realizada relativamente a todos os segmentos de mercado da indústria do aluguer de gruas, conforme constam da respectiva matriz de segmentação da indústria. Além disso, se a organização estivesse também presente, por hipótese, na indústria do Rent-a-Car, esta análise dever-se-ia também estender à análise dos factores críticos de sucesso e competências nucleares inerentes a cada um dos segmentos de mercado que compõem essa indústria. 1.5. Determinação da posição competitiva (segmento de mercado do aluguer de gruas de 30 T a empresas de obras públicas): Factores Críticos de Sucesso Descrição Peso Rapidez de resposta Preço e prazo de pagamento Qualidade do serviço Imagem Médias Média Concorrentes Posição competitiva "UpRUs" Escala: 0 - mínimo; 5 - máximo FONTE: Análise do autor 30,00% 35,00% 20,00% 15,00% Pontos de Força (nas Competências Nucleares) UpRUs Cariano & Irmão Vendap Transgrua Pontos Pontos Pontos Pontos Pontos Pontos Pontos Pontos Ponder. Ponder. Ponder. Ponder. 4,00 1,20 5,00 1,50 4,00 1,20 4,00 1,20 4,00 1,40 4,00 1,40 4,00 1,40 3,00 1,05 5,00 1,00 4,00 0,80 3,00 0,60 4,00 0,80 4,50 0,68 3,00 0,45 4,50 0,68 4,00 0,60 4,38 1,07 4,00 1,04 3,88 0,97 3,75 0,91 0,97 9,85% Figura 4.7. – Cálculo da posição competitiva da UpRUs no segmento de mercado do aluguer de auto-gruas de 30 T a empresas de obras públicas. Conclui-se que a posição competitiva da UpRUs, no segmento de mercado do aluguer de auto-gruas de 30 T a empresas de obras públicas, é cerca de 10% superior à dos seus maiores concorrentes. A posição competitiva relativa da organização, relativamente a cada um dos factores críticos de sucesso desse segmento, é também evidenciada nos gráficos abaixo. Pág. 12 de 25 Posição Competitiva Posição Competitiva 1,20 1,60 1,40 1,20 1,00 0,80 0,60 0,40 0,20 0,00 1,00 0,80 0,60 0,40 0,20 0,00 UpRUs Cariano & Irmão Rapidez de resposta Vendap Transgrua UpRUs Preço e prazo de pagamento Cariano & Irmão Vendap Qualidade do serviço Transgrua Imagem FONTE: Análise do autor Figura 4.8. – Representação gráfica da posição competitiva da UpRUs no segmento de mercado do aluguer de auto-gruas de 30 T a empresas de obras públicas. Naturalmente que, embora para efeitos exemplificativos se tenha apenas efectuado esta análise relativamente ao segmento de mercado do aluguer de gruas de 30 toneladas às empresas de obras públicas, esta análise deve ser realizada relativamente a todos os segmentos de mercado da indústria do aluguer de gruas, constantes da respectiva matriz de segmentação da indústria. Por outro lado, se a organização também estivesse presente, hipoteticamente, no negócio da prestação de serviços de limpeza urbana, então esta análise deveria ser também alargada à análise da sua posição competitiva em cada um dos segmentos de mercado que constituem essa indústria. 1.6. Nova Análise SWOT da UpRUs: Curto Prazo Oportunidade & Tempo (Opportunities & Time ) - Eficiência do "Sistema de Valor" - Sinergias com grupo (comerciais, financeiras e produção) Pontos Fracos - Insuficiente diversidade de equipamentos - Insuficiente n.º de equipamentos - Extensão e diversificação de mercado para os PALOP's - Extensão e diversificação de mercado para a Europa de Leste - Reforço investimento em equipamentos - Qualidade do equipamento Sugestões Pontos Fortes - Imagem - Insuficiente cobertura geográfica - Emergência da Internacionalização em face da previsível estagnação da Indústria das Obras Públicas Sugestões Extensão e Diversificação mercado p/outros segmentos (ind. transf., telec., seguradoras, facilities manag., metalomec. pesada, trab. portuários e conc. auto-estradas) - "Pulmão" financeiro - Cerificação do Sistema de Gestão da Qualidade - Desenvolvimento da Indústria das Energias Renováveis - Emergência da Extensão e Diversificação de mercado, em face da estagnação da Indústria das Obras - Estagnação da Indústria do Aluguer de Públicas Gruas: oportunidade p/operações bem sucedidas de M&A - Plena adesão da China ao GATT Análise interna: Pontos Fortes e Fracos (Strengths & Weaknesses ) - Qualidade do Pessoal Médio e Longo Prazos - Aeroporto da Ota - Obras do IC30 e IC16 - Tripla Certificação (qualidade, segurança e ambiente) - Aquisição de concorrente para - Abertura de delegação no Porto melhoria do parque de equipamentos, - Parceria estratégica com parceiro aumento da base de clientes e melhoria chinês para aquisição e representação da cobertura geográfica de equipamentos - Reforço da equipa comercial - Insuficiente actividade comercial FONTE: Análise do autor Figura 4.9. – Aplicação da nova análise SWOT à empresa UpRUs Pág. 13 de 25 II – FORMULAÇÃO DA ESTRATÉGIA ESTRATÉGIA CORPORATIVA Visão: Ser o parceiro n.º 1 dos clientes na gestão dos seus equipamentos produtivos Missão: Gestão eficaz de equipamentos produtivos Objectivos: Aumento anual de 10% nas receitas e de 15% no resultado líquido Desenvolvimento interno Desenvolvimento externo Diversificação para indústria de comercialização de Penetração de mercado na indústria das auto-gruas, através da adopção equipamento de elevação, através de aliança estratégica de táctica comercial mais agressiva com fabricante chinês Diversificação para outros segmentos de mercado da indústria do aluguer Integração vertical a montante como fornecedor de equipamento de autogruas, através da aposta em novos produtos e novos clientes Diversificação para indústria do aluguer de ferramentas Diversificação geográfica para PALOP´s e Europa de Leste Intensificação do recurso à subcontratação de serviços a parceiros estratégicos UNIDADE DE AUTOGRUAS UNIDADE DE FERRAMENTAS UNIDADE VENDA EQUIPAM. Visão: Ser líder no aluguer de auto-gruas Visão: Ser líder no aluguer de ferramentas Visão: Ser líder no fornecimento equipamentos elevação na P. Ibérica e PALOP's Missão: Venda de soluções eficazes de gestão de autogruas Missão: Venda de soluções eficazes de gestão de ferramentas Missão: Venda de soluções de equipamento técnicamente adequadas Objectivos: Aumento anual de 5% nas receitas e de 20% no resultado líquido Desenvolvimento interno Objectivos: 1.ª ano - receita de € 2,5 Objectivos: 1.ª ano - receita de € 1 milhão milhões e resultados líquidos de € e resultados líquidos de € 200.000,00; Seguintes - acréscimo anual de 30% nas 500.000,00; Seguintes - acréscimo anual de 15% nas receitas; e de 10% no res. líquido receitas; e de 10% no resultado líquido Desenvolvimento interno Aposta nos segmentos de mercado Diversificação: geográfica para PALOP´s e nacionais de empresas de manutenção e reparação industrial, empresas de Europa de Leste reparação automóvel, empresas de constução civil, empresas de obras públicas Extensão de mercado: fornecendo serviços e indústria transformadora, com a oferta de aluguer das auto-gruas actuais a novos serviços de aluguer de ferramenta clientes, como concessionárias de autoestradas, portos, seguradoras e indústria transformadora. Extensão de produto: através da oferta de serviços de alguer de auto-gruas de 180, 220 e 300 T a portos e a alugadores/montadores de gruas-torre Diversificação: para novos segmentos de mercado, através da oferta de novos produtos (auto-gruas de 180 a 700 T) para novos clientes (empresas de metalomec. pesada, energias renováveis e telecomunicações) Desenvolvimento externo Desenvolvimento interno Aposta nos segmentos de mercado dos alugadores de auto-gruas com a oferta de gruas de entre 25 T a 700 T Penetração: nos segmentos actuais de constr. civil, alugadores gruas-torre, subalugadores e empresas de facilities management. Aposta na internacionalização para os PALOP's, Península Ibérica e Europa de Leste Estabelecimento de aliança estratégica com fabricante chinês de equipamentos de elevação Desenvolvimento externo Estabelecimento de parceria estratégica com fabricante de ferramentas (vg. Wurth, Black & Decker ou Hilti) que assegure a sua aquisição e assistência técnica em condições privilegiadas Estabelecimento de parceria estratégica com empresa de entregas rápidas que assegure a entrega e recolha dos equipamentos alugados (vg. UPS, Seur ou Chronopost). Aquisição de concorrente: ganhar quota de mercado e reforçar n.º e diversidade de equipamentos. Integração vertical: a montante, através de parceria estratégica com fabricante chinês de equipamentos Intensificação da subcontratação de serviços, através do recurso a pareceiros estratégicos FONTE: Análise do autor Figura 4.10. – Resumo das orientações estratégicas preconizadas para a UpRUs Pág. 14 de 25 III – EXECUÇÃO DA ESTRATÉGIA DESCRIÇÃO Estrutura organizacional Preocupações estratégicas centrais Indicadores chave DESCRIÇÃO Configuração do organigrama IMPLEMENTAÇÃO DA ESTRATÉGIA CORPORATIVA Departamentos funcionais de apoio: centralizados na sede (financeiro, sistemas de informação, recursos humanos, compras e controlo de gestão) Departamentos críticos: descentralizados ao nível das respectivas SBU's (operações, comercial, marketing e I&D) Sinergia entre SBU's, escala das operações, eficiência e eficácia da empresa Volume de negócios, resultados líquidos, capitalização bolsista e EPS IMPLEMENTAÇÃO DA ESTRATÉGIA DAS SBU'S UNIDADE DE AUTOGRUAS UNIDADE DE FERRAMENTAS Estrutura organizacional Divisionalização funcional ao nível dos departamentos de operações, marketing e I&D e divisionalização por mercado do departamento comercial Divisionalização funcional ao nível dos departamentos de operações, marketing e I&D e divisionalização por mercado do departamento comercial UNIDADE VENDA EQUIPAM. Divisionalização funcional ao nível dos departamentos de operações, marketing e I&D e divisionalização por mercado do departamento comercial Variáveis estratégicas centrais Posição competitiva Posição competitiva Posição competitiva Atractividade dos segmentos Atractividade dos segmentos Atractividade dos segmentos Sourcing Prazos de entrega Recursos financeiros Assistência técnica Canais distribuição Vectores de análise Força de vendas Rede assistência N.º e diversidade de equipamentos Processos de negócio Processos de negócio Força de vendas Qualidade e originalidade do Baixo custo serviço Baixo custo Políticas de gestão com relevância estratégica para a gestão das SBU's Optimização das taxas de juro Política financeira e de compras Negociação prazos de pagamento dilatados Protecção do risco de crédito através da contratação de seguros de crédito Reforço da força de vendas e na Ênfase na fixação de preço competitivo Ênfase na publicidade Política de marketing Ênfase na competitividade do preço e prazo de recebimento Ênfase na publicidade Contratação de Responsável por Contratação de Responsável por Contratação de vendedores SBU e equipa comercial e de SBU e equipa comercial e de Política de R. H. operações operações Política de M&A e Alianças Estratégicas Política de operações Política de sistemas de informação Política de I&D Indicadores específicos Indicadores chave gerais Integração vertical a montante Estabelecimento de parceria através de parceria com fabricante estratégica com fornecedor para de equipamentos aquisição e prestação de serviços Aquisição de concorrente pós-venda ao equipamento (optimização de quota de mercado, n.º e diversidade de Parceria estratégica com canal de equipamento) distribuição física Desenho e implementação de Assegurar integração de processos de negócio processos com concorrente adquirido Estabelecimento de acordos com Abertura de delegação no Porto parceiros (fornecedores de Racionalização dos processos equipamentos, assistência técnica, Formação dos condutores comissionistas, distribuição, etc) manobradores Formação equipa comercial e de operações Gestão dos recursos da SBU Estabelecimento de aliança estratégica (joint-venture ou contrato de representação com fornecedor chinês de equipamento de elevação (para aquisição, comercialização e assistência pósvenda) Desenho e implementação de processos de negócio Estabelecimento de acordos com parceiros (fornecedores de equipamentos, assistência técnica, comissionistas, distribuição, etc) Formação equipa comercial e de operações Gestão dos recursos da SBU Gestão dos recursos da SBU Extenção dos sistemas de informação à empresa adquirida Desenvolvimento e parametrização dos SI para integração desta SBU Desenvolvimento e parametrização dos SI para integração desta SBU Levantamento e análise dos equipamentos da empresa adquirida, sua reconversão para os standards da UpRUs e preparação dos respectivos manuais de utilização, segurança, formação e manutenção. Definição das especificações técnicas das várias ferramentas a alugar, selecção das ferramentas a adquirir e preparação dos respectivos manuais de utilização, segurança, formação e manutenção. Análise das especificações técnicas dos equipamentos e implementação das customizações indispensáveis à sua comercialização e utilização no Ocidente Preparação das respectivas especificações técnicas e manuais de utilização, segurança, formação e manutenção. Avaliação, controlo e feedback Custos financeiros Prazos de entrega Custos manutenção Rotação de stocks Taxas de avaria Custos financeiros Taxa de ocupação dos Custos logísticos Margem bruta equipamentos Quota de mercado por segmento, volume de negócios da SBU (c/decomposição p/segmento), rentabilidade da SBU (c/análise p/segmento), taxa de retenção de clientes, índice de vendas repetidas e índice de satisfação dos clientes) FONTE: Análise do autor Figura 4.11. – Sumário das orientações tendentes à implementação da estratégia Pág. 15 de 25 6.10. MODELO DE GESTÃO ESTRATÉGICA DO BSC O conceito de Balanced Scorecard (BSC) foi originalmente introduzido no léxico da gestão em 1992, por David Norton e Robert Kaplan, através da publicação, na prestigiada revista norte-americana Harvard Business Review de um artigo (intitulado “The Balanced Scorecard – Measures that Drive Performance”). Neste artigo, Kaplan e Norton (1992) apresentaram as principais conclusões de um estudo que lhes havia sido encomendado, em 1990, por doze grandes empresas norteamericanas (Advanced Micro Devices, American Standard, Apple Computer, Bell South, CIGNA, Conner Peripherals, Cray Research, DuPont, Electronic Data Systems, General Electric, Hewlett Packard e Shell Canada) tendente ao desenvolvimento de um novo modelo de avaliação do desempenho organizacional. O objectivo daquele estudo consistia na criação de um modelo de avaliação de desempenho alternativo aos modelos tradicionais então existentes, quase exclusivamente baseados em indicadores económicos, financeiros e contabilísticos que, incidindo fundamentalmente no desempenho passado, se revelavam insuficientes e desadequados para assegurar a aferição da capacidade das organizações de criar valor no futuro. Não obstante o seu propósito inicial, o BSC cedo se revelou uma potente ferramenta de gestão estratégica, ao permitir às organizações não apenas a avaliação, controlo e comunicação da sua estratégia, mas também a sua própria formulação e, muito especialmente, a sua operacionalização no terreno. Inicialmente concebido como um modelo de avaliação do desempenho organizacional, o BSC constitui hoje um verdadeiro modelo ou sistema de gestão estratégica. Na verdade, o BSC veio permitir ultrapassar os problemas tradicionais de implementação da estratégia (sobretudo ao nível da definição da estrutura organizacional, organização dos recursos e tradução da estratégia e dos seus objectivos em planos e programas de acção concretos) associados aos modelos de gestão estratégica convencionais assentes, sobretudo, em processos excessivamente formais e detalhados de análise e planeamento estratégicos, sem uma clara definição da forma como a estratégia deveria ser executada no terreno. Este veio facilitar o desdobramento de forma coerente e consistente dos objectivos estratégicos globais da organização para todos os seus níveis hierárquicos e, em especial, para os seus níveis operacionais. Desta forma, e embora este tenha sido inicialmente adoptado como uma mera ferramenta de avaliação da performance organizacional, o balanced scorecard vem sendo encarado, sobretudo nos tempos mais recentes, como um verdadeiro modelo integrado e interactivo de gestão estratégica, susceptível de assegurar, não apenas a formulação da estratégia, mas também a sua implementação e revisão. Para além disso, este modelo tem também permitido às organizações: • • • Clarificar e actualizar a estratégia; Comunicar a estratégia a todos os membros da organização; Alinhar os objectivos individuais e das várias unidades estratégicas de negócio com os objectivos e estratégia global da organização; Pág. 16 de 25 • • • • Ligar os objectivos estratégicos da organização, tanto com as suas metas de médio e longo prazo, como com os seus orçamentos anuais; Identificar, seleccionar e alinhar iniciativas estratégicas com os objectivos e estratégia da organização; Avaliar periodicamente a performance da organização; Aprender, rever e melhorar periodicamente a estratégia organizacional adoptada. Assente no pressuposto de que o sucesso das organizações (que se traduz na extensão com que estas criam valor para os seus sócios ou accionistas no médio e longo prazo) depende, essencialmente, da sua capacidade para criarem e sustentarem vantagens competitivas, e que estas dependem, fundamentalmente, da criação de valor para os seus clientes, através da melhoria da eficácia e eficiência dos seus processos internos e da aprendizagem e desenvolvimento dos seus recursos humanos e tecnologias, o modelo de gestão estratégica proposto pelo balanced scorecard pode ser sintetizado na formulação e resposta a quatro questões-chave, determinantes para o sucesso das organizações: • • • • Perspectiva financeira: o que é que temos que fazer para satisfazer os nossos accionistas? Perspectiva dos clientes: o que é que temos que fazer para satisfazer e reter os nossos clientes actuais e conquistar novos clientes? Perspectiva dos processos internos de negócio: quais são os processos internos críticos de negócio que determinam (induzem) os resultados que queremos obter na óptica dos clientes e na óptica financeira e, para esses processos críticos, como é que eles devem ser organizados e qual o nível de desempenho que temos que obter relativamente a cada um deles? Perspectiva da aprendizagem e crescimento: o que é que temos que fazer para desenvolver as pessoas e a tecnologia, para suportarem os nossos processos internos de negócio e melhorar as nossas capacidades, no sentido de podermos continuar a acrescentar valor aos nossos clientes e accionistas? Pág. 17 de 25 Em esquema: Metas Iniciativas Objectivos "Para termos sucesso numa óptica financeira, como é que nos devemos apresentar aos nossos accionistas?" Indicadores PERSPECTIVA FINANCEIRA Metas Iniciativas "Para satisfazermos os nossos accionistas e clientes, em que processos de negócios deveremos atingir a excelência?" VISÃO E ESTRATÉGIA Objectivos Metas Iniciativas Objectivos Indicadores "Para atingirmos a nossa visão, como é que nos devemos apresentar aos nossos clientes?" Indicadores PERSPECTIVA DOS PROCESSOS INTERNOS DE NEGÓCIO PERSPECTIVA DOS CLIENTES Metas Iniciativas Objectivos "Para atingirmos a nossa visão, como é que iremos suster a nossa capacidade de mudar e melhorar?" Indicadores PERSPECTIVA DA APRENDIZAGEM E CRESCIMENTO FONTE: Traduzido de Kaplan, Robert S. e Norton, David P. (1996c), “Linking the Balanced Scorecard to Strategy”, California Management Review, Vol. 39, No. 1, 1996, p. 54 Figura 4.14. – Representação gráfica do modelo Balanced Scorecard Estas perspectivas procuram traduzir as variáveis fundamentais (ou ópticas de análise) da organização, cujo bom desempenho é susceptível de assegurar a criação e sustentação de vantagens competitivas. A perspectiva financeira traduz as expectativas daqueles que investiram o seu capital na organização e que, como tal, esperam a maximização do respectivo retorno. Em regra, os objectivos financeiros constituem os objectivos fundamentais das organizações (designadamente para as organizações com fins lucrativos) e podem ser expressos em termos de variáveis chave como a rentabilidade (do capital investido, dos capitais próprios, do activo, das vendas, dos resultados por acção, etc), o crescimento (da quota de mercado, do volume de negócios, etc) e a criação de valor para os accionistas (medido em termos de EVA - Economic Value Added, CVA – Cash Value Added ou CFROI – Cash-Flow Return On Investment). A perspectiva dos clientes, por seu turno, integra os objectivos, indicadores, metas e iniciativas relacionados com os clientes. Preocupa-se, fundamentalmente, com vectores de análise como a quota de mercado da organização em determinado segmento ou cliente em particular (medido com base na percentagem de vendas detida pela organização, sobre as vendas totais àqueles); a sua retenção (medida, essencialmente, através da determinação da taxa de crescimento das vendas a estes), a sua captação (quantificada, Pág. 18 de 25 sobretudo, através do n.º de novos clientes, do volume negócios em novos clientes, da taxa de adjudicação de propostas, etc), a sua satisfação (aferida com base em indicadores como o seu índice de satisfação, a taxa de crescimento do volume de negócios em clientes actuais, a taxa de repetição de compras, o cumprimento de prazos, o n.º de reclamações, a quota de mercado, etc) e a sua rentabilidade (medica com recurso a rácios como rentabilidade das vendas por cliente, EVA por cliente, etc) como meio para atingir os objectivos financeiros. Por outro lado, a perspectiva dos processos internos de negócio preocupa-se com a forma como a empresa organiza os seus processos e executa as suas actividades. Em particular, preocupa-se com a forma como esta deve organizar a sua cadeia de valor, organizando os seus processos e actividades no sentido de assegurar a optimização da sua produtividade, qualidade, nível de serviço e custos e, consequentemente, potenciar e induzir também o cumprimento dos objectivos definidos para as perspectivas de clientes e financeira. As variáveis chave desta perspectiva incluem, neste contexto, a organização (medida em termos de prazos de execução e de tempo do ciclo produtivo), a racionalização das actividades (medida em termos de custo unitário dos produtos), a qualidade (medida com base na taxa de rejeição ou de conformidade) e a eficiência e eficácia (aferidas com base na produtividade e na taxa de utilização da capacidade). Finalmente, a perspectiva da aprendizagem e desenvolvimento diz respeito às competências da organização, designadamente ao nível do seu capital humano e dos seus sistemas e tecnologias de informação. Assumem especial relevância as capacidades dos funcionários, as capacidades dos sistemas de informação e a motivação, autonomia (empowerment) e alinhamento dos objectivos corporativos com os objectivos individuais. “Os objectivos da perspectiva de aprendizagem e crescimento constituem indutores para alcançar excelentes resultados nas outras perspectivas”. Esta perspectiva constitui-se, assim, como a infra-estrtutura sobre a qual assenta a consecução dos objectivos das demais perspectivas. As variáveis chave da perspectiva da aprendizagem e desenvolvimento podem integrar, para além da inovação (medida com base, por exemplo, no n.º de novas ideias aproveitadas ou no n.º de novos produtos/serviços lançados), a satisfação dos funcionários (aferida através do índice de satisfação do pessoal ou do montante de prémios e incentivos pagos), a qualificação dos recursos humanos (medida com recurso ao n.º de horas de formação por trabalhador ou ao n.º absoluto ou relativo de funcionários qualificados) e a tecnologia (que pode ser medida através do n.º de postos de trabalho informatizados ou através do investimento em TI por colaborador). O BSC revela-se particularmente útil ao assegurar a ligação entre a estratégia formulada e a sua respectiva execução, não apenas pela definição de objectivos e indicadores de desempenho, em cascata, a todos os níveis (relativamente às quatro perspectivas organizacionais: financeira, clientes, processos e aprendizagem e desenvolvimento) mas, sobretudo pela definição, para cada um daqueles níveis, das acções concretas (iniciativas) a desenvolver para a sua consecução. A metodologia top-down que lhe está subjacente, a definição integrada e coordenada de objectivos (bem como dos respectivos indicadores e indutores de resultados), a articulação daqueles objectivos em termos de relações de causa-efeito entre as várias ópticas de desempenho e, em particular, o desdobramento em cascata dos objectivos globais da organização pelos vários departamentos e pessoas e a definição clara das iniciativas de acção a levar a cabo (planos e programas de acção) para a consecução de cada um dos objectivos definidos, transformam o BSC num verdadeiro modelo integrado e consistente de gestão estratégica das organizações. Pág. 19 de 25 Esquematicamente: VALORES VISÃO ANÁLISE ESTRATÉGICA GRANDES OBJECTIVOS ESTRATÉGICOS MISSÃO Função ou Depto. SBU Divisão ou Indústria AVALIAÇÃO, CONTROLO E FEEDBACK APRENDIZAGEM E CRESCIMENTO PROCESSOS INTERNOS CLIENTES FINANCEIRA Objectivo Indicador Meta Iniciativas Objectivo Indicador Meta Iniciativas Objectivo Indicador Meta Iniciativas Objectivo Indicador Meta Iniciativas APRENDIZAGEM E CRESCIMENTO PROCESSOS INTERNOS CLIENTES FINANCEIRA Objectivo Indicador Meta Iniciativas Objectivo Indicador Meta Iniciativas Objectivo Indicador Meta Iniciativas Objectivo Indicador Meta Iniciativas APRENDIZAGEM E CRESCIMENTO PROCESSOS INTERNOS CLIENTES FINANCEIRA Objectivo Indicador Meta Iniciativas Objectivo Indicador Meta Iniciativas Objectivo Indicador Meta Iniciativas Objectivo Indicador Meta Iniciativas APRENDIZAGEM E CRESCIMENTO PROCESSOS INTERNOS CLIENTES FINANCEIRA Objectivo Indicador Meta Iniciativas Objectivo Indicador Meta Iniciativas Objectivo Indicador Meta Iniciativas Objectivo Indicador Meta Iniciativas AVALIAÇÃO, CONTROLO E FEEDBACK Nível corporativo ESTRATÉGIA GLOBAL OU CORPORATIVA DA ORGANIZAÇÃO OBJECTIVOS INDIVIDUAIS RESULTADOS GLOBAIS DA ORGANIZAÇÃO AVALIAÇÃO, CONTROLO E FEEDBACK FONTE: Análise do autor Figura 4.15. – Modelo de gestão estratégica do Balanced Scorecard A este propósito, Kaplan e Norton (1996a) defendem que, através da introdução de quatro novos processos de gestão integrados e interdependentes (“tradução da visão”, “comunicação e alinhamento”, “planeamento” e “feedback e aprendizagem”) o balanced scorecard consegue estabelecer uma ligação coerente entre os objectivos estratégicos de longo prazo e as acções de curto prazo. Em síntese, o balanced scorecard pode ser definido como um sistema de gestão estratégica que, assente na tradução da visão e da estratégia da organização num conjunto articulado e coerente de objectivos, indicadores de desempenho e iniciativas (planos e programas de acção) permite às organizações, segundo Kaplan e Norton (1996b): • • • • • • • • Clarificar e comunicar a sua visão e a sua estratégia a todos os seus membros A identificação das variáveis-críticas do seus desempenho, susceptíveis de constituírem fontes de vantagens competitivas sustentáveis (e a concentração e focalização no desempenho dessas variáveis, da maior fatia dos esforços e recursos da organização); A focalização da atenção dos seus responsáveis nas variáveis-chave do negócio; A tradução da sua visão e estratégia em iniciativas concretas de acção (planos e programas); A transposição da sua estratégia para todos os seus departamentos e unidades de negócio; A ligação da sua estratégia a objectivos e indicadores coerentes e integrados de desempenho; A clarificação das relações de causa-efeito que se estabelecem entre as variáveis críticas do seu desempenho; A ligação do controlo operacional à estratégia; Pág. 20 de 25 • • • • A clarificação das suas necessidades ao nível dos processos, clientes, recursos humanos, tecnologia, etc; O acompanhamento contínuo e sistemático da implementação da sua estratégia, bem como dos resultados obtidos; Fazer da gestão estratégia uma atribuição quotidiana de todos os seus membros; Uma visão alargada e integrada do seu desempenho. A adopção do BSC como metodologia de gestão estratégica pressupõe ainda a definição das relações de causa e efeito que se estabelecem entre os diversos objectivos em termos de resultados (traduzidos em indicadores de resultados) e os respectivos indutores (traduzidos em indicadores de meios) para cada perspectiva e entre as várias perspectivas. Estas relações de causa e efeito, que concorrem para a consecução dos objectivos globais da organização, são normalmente sintetizadas no referido mapa de orientação estratégica. Este mapa consiste na tradução operativa (em termos de objectivos, indicadores, metas e iniciativas) da estratégia da organização, num conjunto articulado e coerente de indutores da estratégia definida, ligados entre si através de relações de causa e efeito. O mapa de orientação estratégica permite compreender, além da estratégia prosseguida pela organização como um todo, a forma como esta se propõe implementá-la, designadamente no que concerne ao modo como se estabelecem as relações de interdependência entre os vários objectivos, indicadores e iniciativas dentro de cada perspectiva, e entre estes e os demais objectivos, relativos a cada uma das outras perspectivas. Naturalmente que a configuração do mapa estratégico varia de organização para organização. Isso acontece porque as organizações não são iguais. Elas podem diferir ao nível dos respectivos objectivos financeiros, podem diferir ao nível dos seus meios envolventes, podem actuar em indústrias ou segmentos de mercado diferentes, podem ter capacidades distintivas e competências nucleares diferentes, podem ter diferentes processos internos, podem ter recursos diferentes e, por isso, estratégias diferenciadas. Em qualquer dos casos, e para a generalidade das empresas, um mapa de orientação estratégica tipo (embora numa versão muito simplificada) pode ter o seguinte aspecto: Pág. 21 de 25 Financeira Rentabilidade (ROE) Fidelização (% vendas repetidas) Prazos de entrega (n.º dias) Duração do ciclo (n.º dias) Tecnologia (n.º postos informatizados) Aprendizagem e desenvolvimento Formação (n.º horas/trabalhador) Processos internos de negócio Qualidade do serviço (n.º reclamações) Clientes Satisfação (Índice de satisfação) FONTE: Análise do autor. Figura 4.16. – Representação gráfica de um mapa estratégico A interpretação do mapa acima permite-nos concluir que o objectivo essencial da estratégia desta organização é o de maximizar a “rentabilidade” da empresa para os seus accionistas, avaliada em função do respectivo “ROE” (Return on Equity ou rentabilidade do capital próprio) . Para tanto, a empresa deverá, na perspectiva da aprendizagem e desenvolvimento, disponibilizar “formação” adequada aos seus trabalhadores e promover a “informatização” dos respectivos postos de trabalho, por se considerar que estas duas iniciativas constituem indutores de bons resultados ao nível da duração do ciclo produtivo. A avaliação do desempenho da organização, relativamente a estas duas variáveis chave (ou factores críticos), será feita, respectivamente, através dos indutores de resultados (também denominados leading indicators ou indutores de desempenho): “n.º de horas de formação por trabalhador”; e “n.º de postos de trabalho informatizados”. Os indutores de desempenho anteriores irão permitir, por seu turno, ao nível da perspectiva dos processos, a diminuição da “duração do ciclo de produção” (avaliado com base no indicador “n.º de dias de duração”) que, por sua vez, irá induzir a diminuição dos respectivos “prazos de entrega” aos clientes (avaliados com base no “n.º de dias”). Estes dois vectores de desempenho irão, por seu turno, induzir o resultado objectivado de aumento da “qualidade de serviço” da organização (aferida com base no indicador de resultado – dito lagging indicator – “n.º de reclamações”). O bom nível de qualidade resultante, permitirá, na perspectiva dos clientes, assegurar a sua “satisfação” - a aferir com base no leading indicator “índice de satisfação”. A satis- Pág. 22 de 25 fação dos clientes, induzirá a sua fidelização, cuja avaliação será feita com recurso ao lagging indicator “n.º de vendas repetidas por cliente”. A fidelização dos clientes, finalmente, permitirá à organização a obtenção da rentabilidade necessária à satisfação das necessidades dos respectivos accionistas, cuja avaliação se baseará no lagging indicator “rentabilidade dos capitais próprios” (Return on EquityROE). As organizações tendem a desenvolver os seus mapas estratégicos numa lógica topdown, começando pela definição do seu mapa estratégico corporativo global. A partir do desdobramento daquele, em cascata, desenvolvem os subsequentes mapas estratégicos para as várias divisões, unidades estratégicas de negócio e departamentos. Mais recentemente, e em face da tendência actual para a integração funcional e para a estruturação das organizações em torno dos seus processos de negócio (em linha, aliás, com as recomendações da norma de qualidade NP EN ISO 9001:2000) começa-se a assistir ao desenvolvimento, pelas organizações, de mapas estratégicos por processos, em detrimento da sua elaboração por departamentos funcionais ou unidades estratégicas de negócios. Essa foi, de resto, a orientação seguida pelo Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social (IGFSS) na elaboração dos seus mapas estratégicos de 2.º nível (por processos). Veja-se, a propósito, a versão sintética do Mapa Estratégico do IGFSS, para o processo de suporte da gestão de aquisições (PS.05 – Gestão de Aquisições), cuja missão consiste “no abastecimento do IGFSS dos bens e serviços necessários ao desenvolvimento da sua actividade”: PS.05 – Gestão de Aquisições Abastecer o IGFSS dos bens e serviços necessários ao desenvolvimento da sua actividade Financeira Clientes internos Avaliar os fornecedores Processos Internos Aprendiz. e Crescimento Reduzir os custos de aquisição Dar resposta às necessidades internas Melhorar a gestão dos processos com contrato Reduzir o tempo de duração dos processos Reduzir o n.º de processos de aquisição Desenvolver o Capital Humano FONTE: Adaptado do Mapa Estratégico original do IGFSS, para o seu processo PS.05 Figura 4.17. – Mapa de Estratégia sintético do processo “PS.05” do IGFSS. Pág. 23 de 25 O mapa de orientação estratégica assume por outro lado, segundo Kaplan e Norton (2001) um papel extremamente importante. Este constitui, sustentam, uma importante ferramenta de apoio à análise e à reflexão estratégica e, muito especialmente, um instrumento particularmente útil de apoio à própria geração e selecção de alternativas estratégicas. A construção do mapa estratégico da organização (e, por essa via, a definição da sua própria estratégia) deve assentar, antes de mais, e segundo estes, na escolha de quatro “temas estratégicos” que constituirão os pilares da própria estratégia da organização. Os quatro temas estratégicos propostos por Kaplan e Norton (2001), sobre os quais se devem edificar os mapas estratégicos são: 1. Desenvolver: denominado originalmente por building the franchise, este “tema estratégico” reflecte o entendimento de Kaplan e Norton de que as organizações devem orientar a sua estratégia para o crescimento e criação de valor a longo prazo, através da adopção de estratégias de crescimento, designadamente através da diversificação (novos produtos para novos mercados), extensão de produto (através do lançamento de novos produtos para os mercados actuais) e extensão de mercado (através da oferta dos produtos actuais a novos mercados); 2. Acrescentar valor: de acordo com este “tema estratégico”, correspondente à disciplina de valor customer intimacy, proposta inicialmente por Treacy e Wiersema (1995), as organizações devem preocupar-se continuamente com o aumento do valor criado para os seus clientes. Designado por increase customer value, este tema estratégico propõe, essencialmente, o aumento do valor oferecido aos clientes através: a. Do aprofundamento do relacionamento estabelecido com estes, através de sólidas e estreitas relações de parceria, assentes em relações de confiança; b. Da intensificação das vendas cruzadas (cross-selling); e c. Da satisfação das necessidades únicas desses clientes (cujo conhecimento é apenas possível em virtude da relação próxima e íntima que com estes devem manter) através da customização dos seus produtos ou serviços para atenderem às suas necessidades específicas. • Excelência operacional: coincidente com a disciplina de valor da operacional excellence, originalmente proposta por Treacy e Wiersema (1995), este “tema estratégico” reflecte a importância atribuída por Kaplan e Norton à criação de valor para o cliente, através da gestão cuidada das actividades e processos que constituem a cadeia de valor da organização, conforme proposta por Porter. Kaplan e Norton defendem, a este propósito, que subjacente à estratégia organizacional deve estar a preocupação da organização na gestão optimizada da sua cadeia de valor, de forma a criar as condições indispensáveis à obtenção de vantagens competitivas, designadamente ao nível do custo transferido ou da diferenciação. Segundo estes, este tema estratégico orienta a organização na busca da eficiência e produtividade operacionais, ao mesmo tempo que enfatiza a importância com outras variáveis como o desperdício, a produção defeituosa, o tempo do ciclo produtivo, a disponibilidade e qualidade dos recursos e o nível de utilização da capacidade instalada; • Satisfazer os stakeholders: este “tema estratégico” (designado originalmente, por Kaplan e Norton, como be a good corporate citizen) destina-se a assegurar Pág. 24 de 25 que a estratégia reflecte a preocupação da organização com a satisfação das necessidades de todos os seus stakeholders, entendidos como grupos de interesses que, não sendo devidamente atendidos, podem revelar-se importantes ameaças ao sucesso da própria organização (poderes legislativos, entidades reguladoras, associações sindicais e patronais, associações de consumidores; associações ecologistas, etc). Em esquema: PERSPECTIVA FINANCEIRA PERSPECTIVA DOS CLIENTES PERSPECTIVA DOS PROCESSOS INTERNOS Satisfazer stakeholde rs Excelência operacional Acrescentar valor Desenvolve r PERSPECTIVA DA APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO FONTE: Adaptado e traduzido de Kaplan, Robert S. e Norton, David P. (2001), The Strategy-Focused Organization: How Balanced Scorecard Companies Thrive in the New Business Environment, Harvard Business School Press, pág. 79. Figura 4.18. – Arquitectura de um mapa estratégico De acordo com esta filosofia, e numa óptica mais integradora, os objectivos definidos na perspectiva financeira serão atendidos através, essencialmente: do tema estratégico “desenvolver” (ou crescer), sobretudo através de novas fontes (novos mercados e novos produtos); do tema “acrescentar valor”, através do estabelecimento de relações de intimidade com o cliente; e da excelência operacional, tendente a optimizar a produtividade e a eficiência, nomeadamente através da redução e racionalização de custos e da optimização da utilização dos activos afectos. Já a perspectiva dos clientes “entendida como o coração da estratégia” é que define a forma como o tema estratégico “desenvolver” será materializado e, em última instância, qual será a estratégia a adoptar pela organização, consubstanciada na escolha da proposta de valor a oferecer aos seus clientes-alvo. Com efeito, a estratégia da organização traduzir-se-á na escolha dos segmentos de mercado a servir e no tipo de valor a oferecer a cada um deles: excelência operacional, liderança de produto ou intimidade com o cliente (conforme defendem Kaplan e Norton, com referência a Treacy e Wiersema); ou liderança no custo total, diferenciação ou foco (conforme propõe Porter). Dependente daquela, a perspectiva dos processos internos define quais os processos e actividades em cujo desempenho a organização deve ser excelente, em ordem a assegurar a oferta aos clientes da proposta de valor definida; Pág. 25 de 25 Finalmente, a perspectiva da aprendizagem e desenvolvimento define as competências, recursos, know-how, tecnologia, sistemas e clima organizacional indispensável à excelência do desempenho dos processos internos críticos. Assim concebido, o mapa estratégico constitui a descrição integrada e consistente da forma como a estratégia formulada irá ser implementada. Assim, enquanto os “temas estratégicos” definem as proposições de valor (“customer valuie propositions”) a oferecer aos clientes no longo (“desenvolver”), médio (“acrescentar valor”) e curto (“excelência operacional”) prazos, os mapas estratégicos mapeiam as relações de causa e efeito, subjacentes à forma como esses temas estratégicos induzem desempenhos superiores ao nível dos clientes e, por essa via, ao nível financeiro. Mais do que meros objectivos de retorno financeiro, os “temas estratégicos” traduzem o que a organização deve fazer para ser bem sucedida. Estes reflectem, essencialmente, a visão dos gestores relativamente ao que as organizações devem fazer internamente (essencialmente ao nível dos seus processos) para atingir os seus objectivos estratégicos. Constituindo a arquitectura de base da estratégia organizacional, os “temas estratégicos” permitem assim orientar, segmentar e operacionalizar a estratégia em quatro dimensões genéricas e complementares, colocando em destaque as estratégias genéricas que as organizações devem adoptar (em cada perspectiva) no sentido de assegurar, de forma concertada, a consecução dos seus objectivos estratégicos.