Diário de Bordo Edição n° 29
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Diário de Bordo Edição n° 29
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO boletim informativo trimestral ano 4 | n. 29 | abr-mai-jun 2014 A Antártida cobre aproximadamente 20 por cento do hemisfério sul. É o quinto maior continente em área – equivale à área da Oceania e Europa juntas. É o único continente sem população nativa – os países com estações no continente ou nas ilhas podem apenas desenvolver atividades científicas. Um total de 30 países (em 2006), signatários do Tratado Antártico, operam estações de pesquisa. O Tratado da Antártida – assinado em 1º de dezembro de 1959 pelos países que reclamavam a posse de partes da Antártida – permite a exploração científica do continente, em regime de cooperação internacional. A população de pesquisadores e de equipe de apoio varia de 4.000 pessoas no verão a 1.000 durante o inverno. Além das estações permanentes, aproximadamente 30 acampamentos externos apoiam projetos específicos a cada verão austral. Os oceanos que cercam a Antártida fornecem importantes testemunhos (físicos, químicos, biológicos) e têm regiões relativamente profundas, atingindo 4.000 a 5.000 metros de profundidade. O clima é extremamente frio e seco, a temperatura ao longo da costa da Antártida varia, no inverno, de -10°C a -30°C; durante o verão, as zonas costeiras registram em torno de 0°C, mas pode chegar a 9°C. Nas regiões montanhosas do interior, as temperaturas são mais frias, abaixo de -60°C no inverno e de -20°C no verão. Também nesse continente, em 1983, a estação de pesquisa da Rússia, Vostok, registrou a temperatura mais baixa: -89,2°C (ainda menor foi a temperatura medida por satélite em 2010: -93,2°C). O que é o INCT-APA O Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Antártico de Pesquisas Ambientais (INCT-APA), ligado ao Foto: Vivian Pellizari A PARTICIPAÇÃO DO IOUSP NA ANTÁRTIDA Profa. Rosalinda no bote saindo para coleta de sedimentos na Enseada Martel. Ao fundo o NApOc (Navio de Apoio Oceanográfico) Ary Rongel. Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT), é formado por mais de 70 pesquisadores que atuam na avaliação de impactos ambientais locais e globais nos ambientes atmosférico, terrestre e marinho da região Antártica Marítima. As pesquisas desenvolvidas pelo INCT-APA orientam as ações que envolvem diversidade biológica e prote- ção do ambiente antártico, bem como auxiliam processos educativos, formativos e informativos, com a finalidade de difundir a pesquisa antártica para o público em geral. A missão do INCT-APA é valorizar a região antártica como oportunidade para desenvolvimento de investigações científicas transdisciplinares, Foto: Rosalinda Montone As professoras Vivian e Rosalinda coletando material em trabalho de campo. promovendo a educação, a difusão de informações e a gestão ambiental. O INCT-APA busca 1) desenvolver investigações científicas em ambientes marinho, terrestre e atmosférico na região antártica; 2) estruturar e operar um sistema de gestão ambiental local e global; e 3) promover a educação e a difusão de informações comprometidas com a construção de uma consciência ambiental global. O Instituto foi concebido em 2006, logo após os estudos realizados pelo projeto “Gerenciamento ambiental na Baía do Almirantado, ilha Rei George, Antártica”, sob a coordenação dos professores Rolf Weber e Rosalinda Montone. O projeto se encontra em fase final de vigência (2009-2014) com grande possibilidade de continuidade, por meio de outros programas. Seis professores do IOUSP têm atividades de pesquisa nesse Instituto: Márcia Bícego, Rosalinda Montone, Rubens Cesar Lopes Figueira, Thais Corbisier, Vicente Gomes e Vivian Pellizari. Monitorar poluentes A professora Rosalinda Montone, vice-coordenadora do Instituto, é integrante do comitê gestor e participa de reuniões periódicas para discutir a parte administrativa, orçamentária e logística do projeto bem como as oficinas de trabalho anuais e a elaboração de relatórios. Como pesquisadora está vinculada ao módulo 3, que visa monitorar o impacto das atividades antrópicas no ambiente marinho antártico. Ela estuda os poluentes orgânicos persistentes (POPs) no ambiente marinho antártico, particularmente na Baía do Almirantado, onde está instalada a estação antártica Comandante Ferraz (EACF). Imagem microscópica da bactéria Exiguobacterium antarcticum B7 isolada pelo Laboratório de Ecologia de Microrganismos do IOUSP. A bactéria é capaz de crescer nas temperaturas que variam de -2,5oC a 40oC. Foto: Felipe Nóbrega (Lab. de Ecologia de Microrganismos - IOUSP) Os POPs não ocorrem naturalmente no ambiente e são ótimos indicadores ambientais, principalmente dos processos biogeoquímicos nos ecossistemas. Esses poluentes estão sendo pesquisados na Baía do Almirantado desde 1989 e os dados compõe uma importante série temporal para essa região antártica. “O IOUSP é pioneiro nas pesquisas brasileiras na Antártica. Participa sem interrupção desde o início do Proantar, há 32 anos. É um privilégio participar de programa de pesquisa desde sua formação, tanto pelos resultados científicos gerados como pela colaboração no compromisso assumido pelo Brasil no Tratado Antártico para monitorar suas atividades na região”, diz a profa. Rosalinda. “A formação de recursos humanos também é uma grande contribuição em ciência antártica. Devido à complexidade logística do projeto formei apenas um aluno de mestrado e um de doutorado. Atualmente tenho uma pós-doc trabalhando com tema antártico.” Biomonitoramento marinho O INCT-APA reúne esforços e conhecimentos de pesquisadores de várias especialidades para avaliar o imdiário de bordo 29 | abr/mai/jun 2014 2 pacto humano na região da Baía do Almirantado, onde está a estação brasileira Comandante Ferraz. O estudo do professor Vicente Gomes, com a colaboração do prof. Phan Van Ngan, tem como objetivo estudar os efeitos da contaminação humana no DNA de organismos marinhos costeiros da região, que podem influenciar sua genética e seus mecanismos fisiológicos. Nesse sentido o professor estuda indivíduos de algumas espécies de anfípodes que se mostraram adequados como bioindicadores do ambiente marinho. “Nosso estudo atual utiliza como bioindicadores indivíduos da espécie Gondogeneia antarctica, um grupo de crustáceos anfípodes, para avaliar os possíveis efeitos da contaminação ambiental de alguns locais sobre a integridade do DNA e sobre a expressão de algumas proteínas que aparecem para combater os efeitos dos contaminantes no organismo. Durante o INCT fomos duas vezes para a Antártida, mas o estudo desse crustáceo já tem cerca de oito anos. E o resultado foi positivo, pois conseguimos identificar mecanismos e métodos que apontam a influência desses contaminantes em Gondogeneia antarctica, oriundos de hidrocarbonetos (como combustíveis) e esgoto, principalmente. Como fizemos essa coleta desde o início da instalação da estação brasileira na Antártida, temos histórico e referência para acompanhar essa contaminação, e a partir daí estabelecer métodos para controle e prevenção”, disse o prof. Vicente. “O IOUSP tem papel determinante no Programa Antártico Brasileiro – Proantar, participando ativamente desde o início de várias atividades e projetos científicos. Esse reconhecimento se manifesta inclusive em atividades de gestão, de gerenciamento, nas abordagens e nos projetos implantados pelo governo brasileiro na região.” Microbiologia marinha A professora Vivian Pellizari também participa desse projeto de monitoramento ambiental, estabelecendo dados que servem de parâmetro em escala espacial e temporal avaliando a resposta na diversidade microbiana de alterações no ambiente resultantes de atividades humanas entre outras na área da Baía do Almirantado. O estudo foca os microrganismos procarióticos (bactérias e arqueias), que apesar de serem seres microscópicos são base da vida e responsáveis pelos ciclos biogeoquímicos. Eles são os organismos mais abundantes mesmo na Antártida. Esses organismos estão presentes inclusive em temperaturas extremas, e podem ser encontrados em vida livre, em simbiose com outros organismos ou em biofilmes. Pelo INCT-APA o estudo envolve a comunidade microbiana, de bactérias e arqueias (outro grupo da Título: Poluentes orgânicos persistentes (POPs) Projeto: INCT-APA Responsável e Crédito da figura: Profa. Rosalinda Montone vida de unicelulares), e outros grupos microbiológicos indicadores tradicionais de contaminação, como os coliformes termotolerantes. E são várias as dificuldades para estudar esses organismos, pois eles têm ciclo de vida bem curto no ambiente marinho antártico devido a temperatura. Outro indicador no estudo dessa contaminação foram as arqueias, que produzem o metano a partir da presença de matéria orgânica. Esse estudo avalia dados anuais inclusive bem anteriores ao INCT, analisando assim as alterações dessas comunidades. As técnicas de análise microbiológica também mudaram com o tempo, no estudo de bactérias e arqueias, agora incluí o estudo de metagenomas (diversidade microbiana a partir do sequenciamento do DNA total extraído do ambiente) que prevê sequenciamento de última geração. “Todos os novos resultados gerados com essa tecnologia de sequenciamento são fundamentais. Já temos resultados de alunos de mestrado produzindo trabalhos para publicação a partir de dados de metagenoma. As análises microbiológicas são feitas em parte, no laboratório da estação brasileira, como no caso dos indicadores de poluição fecal que precisam ser quantificados dentro de 24 horas após a coleta, e outras amostras podem ser imediatamente congeladas e estudadas no laboratório do IOUSP, por isso beneficiando alunos de graduação, mestrado e doutorado”, explica a profa. Vivian. “O estudo da microbiologia, por envolver a coleta e análise imediata no laboratório da estação, exige um jogo de cintura muito grande do pesquisador, que precisa estar atento à coleta, registro dos resultados e controle de temperatura de incubação, entre outras atividades. Qualquer erro, por exemplo, pode levar à perda de todo um ano de coleta, pois nova análise só seria possível no próximo verão. Por isso para ir para a Antártida é necessário enviar um aluno e pesquisador com muita experiência anterior na bancada do laboratório aqui no IO.” “Em relação à análise de metagenomas, nós fechamos dados de comparação temporal da baía inédito para a microbiologia, tanto em relação aos dados quanto ao uso da nova tecnologia, de sequenciamento de última geração. Estamos também fazendo uma inter-relação desses indicadores com os dados fisicoquímicos e biológicos e devemos publicar um material inédito diário de bordo 29 | abr/mai/jun 2014 3 em relação a biodiversidade de bactérias e arqueias. Estes resultados são indicadores inéditos para a Baía do Almirantado”, analisa a profa. Vivian. Combustíveis fósseis O projeto da professora Márcia Bícego trata de monitoramento de hidrocarbonetos, compostos que podem ser naturais, mas no caso específico do projeto do INCT-APA são compostos provenientes de derivados de petróleo. No caso da estação brasileira, toda energia é gerada por queima de combustíveis, como diesel, por exemplo. Nesse sentido, esse monitoramento já é feito há vários anos. Esses estudos permitem a pesquisa principalmente de alunos de pós-graduação, seja aqui no IOUSP seja na estação antártica. Todos os estudos referentes a hidrocarbonetos nessa região foi feita aqui no Laboratório de Química Orgânica Marinha. Antártida ou Antártica? Sérgio Rodrigues, escritor, jornalista e crítico literário comentou esse assunto na revista Veja: “Não há uma posição ‘oficial’ sobre o assunto, hoje as duas formas, Antártida e Antártica, são empregadas no português brasileiro – em Portugal, por enquanto, os falantes conservam fidelidade a ‘Antárctida’. Quem tiver curiosidade vai se divertir com a controvérsia que a questão provocou entre brasileiros e portugueses na Wikipedia em 2007. Defensores do nome próprio Antártica alegam ser essa a forma que faz sentido etimológico, uma vez que o latim antarcticus, ‘austral’, derivou do grego anti + arctikós, ou seja, o que se opõe ao ártico (de Árktos, a Ursa, dupla de constelações do norte). Se não chamamos o Ártico de Ártida – argumentam – por que chamar seu antípoda de Antártida?”. O Programa Antártico Brasileiro (Proantar) adota Antártica e Antártico como substantivo e como adjetivo. as fontes de alimento dos organismos na Antártica e estabelecer uma teia alimentar. Amostragens de organismos bentônicos antárticos se iniciaram no IOUSP no começo do Proantar, em 1982, coordeno pelo prof. Edmundo F. Nonato. Esses resultados, ao longo do tempo, são essenciais para a comparação de eventuais efeitos das atividades humanas na Baía do Almirantado. O incêndio em 2012 destruiu amostras de meiofauna e macrofauna, que eram parte do monitoramento. Em 2014, a equipe não pôde coletar sedimento para o monitoramento por problemas na embarcação “Skua”. “Esses estudos permitem trabalhos de pesquisa, de graduação e pós, incluindo outras instituições de ensino e pesquisa, bem como a publicação de artigos”, dizem a profa. Thaïs e a bióloga Mônica Petti. “O conhecimento da comunidade bentônica permite também analisar o efeito das mudanças globais na região, em especial quando analisada em interação com os pesquisadores poloneses, cuja estação é vizinha à brasileira. Os dados conjuntos obtidos por pesquisadores brasileiros e poloneses resultaram, em 2011, na publicação de um trabalho de revisão de todo o conhecimento adquirido sobre o bentos da Baía do Almirantado.” Foto: Vivian Pellizari Organismos bentônicos antárticos O estudo da professora Thaïs Corbisier está ligado à comunidade bentônica, invertebrados associados ao fundo, com foco nos poliquetas da macrofauna e nos nematódeos da meiofauna. O monitoramento ambiental inclui também a análise das teias tróficas. O estudo das interações tróficas é feito através da análise das razões dos isótopos estáveis de carbono e nitrogênio, técnica que permite reconhecer Grupo desembarcando do cargueiro “Germânia”, contratado para retirar os escombros da estação, para coleta na Enseada Martel. Ao fundo se vê a área da EACF durante as obras de construção do MAE. diário de bordo 29 | abr/mai/jun 2014 4 HOMENAGEM AO PROFESSOR EMÉRITO EDMUNDO FERRAZ NONATO Com muita dor e tristeza o IOUSP registrou o falecimento do professor emérito do Instituto, Edmundo Ferraz Nonato. O diretor em exercício decretou luto no IOUSP por três dias e dispôs o auditório do Instituto, dia 17, para o velório do professor e despedida de colegas, funcionários e alunos. Em seguida, o cortejo seguiu para o cemitério de Vila Alpina, onde houve a cerimônia de cremação. Edmundo Ferraz Nonato (1/6/192014/4/2014) tornou-se bacharel e licenciado em História Natural pela USP em 1942, com especialização pela Sorbonne (Paris) em 1950. De 1942 a 1955 integrou o Departamento de Biologia Geral da FFLCH-USP. Foi contratado em 1955 pelo Instituto Oceanográfico da USP e desde então prestou inestimável trabalho diário como professor emérito. Líder científico, recebeu vários prêmios, especialmente por sua notável dedicação ao estudo dos poliquetas. Teve participação fundamental na escolha e implantação em 1955 da Base de Pesquisas do IOUSP em Ubatuba, onde foi o primeiro chefe científico. Foi homenageado em agosto de 2012 pelo IOUSP, com seu nome dado à Coleção Biológica “Prof. Edmundo F. Nonato”. (Fonte: http://200.144.182.66/memoria/por/ pessoa/726-Edmundo_Ferraz_Nonato) IOUSP em luto O diretor do Instituto, prof. Frederico Brandini, encaminhou mensagem manifestando seu pesar: “Acabei de receber a triste e inesperada notícia do falecimento do professor Nonato, um dos expoentes da Oceanografia brasileira e meu professor no curso de pós-graduação que iniciei no IOUSP em 1972. Sempre o admirei e Professor Nonato será inesquecível no IOUSP Foto de Gabriel Monteiro gostaria de dizer aos seus familiares que todos nós hoje nos sentimos um pouco órfãos com essa perda. De qualquer modo tenho certeza que ele estará em um lugar especial na memória de todos aqueles que tiveram a sorte e o privilégio de conhecê-lo e desfrutar de seu vasto conhecimento técnico e ‘naturalista’”. O prof. Michel Mahiques, diretor em exercício, registrou sua saudade: “Não houve quem, tendo conhecido o prof. Nonato, não tenha se encantado com seu conhecimento, sua disposição e sua vontade de viver. Tive a honra de conhecê-lo há exatos trinta anos, quando entrei no IO. Com ele fiz minha primeira disciplina de pós-graduação e meu primeiro embarque. Através dele o Mar ganhou outra dimensão para mim. Há trinta anos, eu ouvia, encantado, suas Feira do Estudante divulga Oceanografia Fotos de Luciano Souza buscou mostrar ao público a oportunidade de se estudar em uma universidade pública e de qualidade. “Para atingir o nosso objetivo, levaremos diversos equipamentos oceanográficos, como Rosette, Van Veen, rede de plâncton e garrafa de Nansen e também organismos emprestados do Museu Oceanográfico, além de banners expondo nossas bases de pesquisa, embarcações e o dia a dia da profissão. Contaremos com monitores da IO Júnior e Museu que estão preparados para explicar ao público as diversas dúvidas que possam surgir”, disse Patricia Ribeiro, diretora-presidente do IO Júnior Consultoria e Educação Ambiental. Perda prematura Foto de Luiz Carlos A 17ª Feira do Estudante – EXPO CIEE 2014, entre 25 e 27 de abril, no Parque Ibirapuera, São Paulo, foi direcionada principalmente para estudantes do ensino médio. É o maior evento do país voltado à capacitação e inclusão profissional de jovens no mercado de trabalho. Calcula-se um público de 60 mil pessoas nos três dias do evento. O IOUSP teve um espaço de 40 m² nessa feira, ao lado da Escola Politécnica e do Museu Paulista, representando a Universidade de São Paulo. O objetivo da participação do IOUSP foi disseminar ao público em geral a Oceanografia, o curso de graduação em Oceanografia e a atuação profissional e acadêmica do oceanógrafo. O IO Júnior também histórias, sentado à mesa da casa velha de Ubatuba. A casa não existe mais, as histórias não há mais quem as conte, mas o legado do prof. Nonato é eterno. Edmundo Ferraz Nonato, um ícone da Oceanografia brasileira”. “Sempre interessado em novidades científicas, foi o primeiro brasileiro a mergulhar com o ‘aqualung’ de Jaques Costeau. Além de realizar inúmeros estudos sobre o bentos da costa do Brasil, em especial aos poliquetas, participou do Programa Antártico Brasileiro desde as primeiras expedições coordenando o estudo do bentos. Em 1988, iniciou o projeto que envolveu mergulho autônomo na área costeira da baía do Almirantado, Antártica. A partir de 1994, já aposentado, participou de vários projetos na Antártida orientando alunos de pós-graduação e graduação na identificação dos poliquetas”, lembrou a professora Thaís Corbisier. “Foram 30 anos de convivência na mesma sala. Um grande aprendizado acadêmico e de sua postura perante a vida. Sempre em frente. O professor Nonato foi um verdadeiro mestre na arte de ensinar e isto fez com que suas disciplinas optativas da graduação, época em que conheci o professor, fossem sempre muito procuradas pelos estudantes. Em suas aulas e conferências, sempre mostrou um conhecimento profundo e enciclopédico em Ciências Biológicas. A atividade mais gratificante para o professor sempre foi estar em frente a um microscópio e analisar calmamente as cerdas, parapódios e outras estruturas dos poliquetas ou então embarcar e ensinar aos alunos o funcionamento de equipamentos e características dos organismos marinhos do plâncton, nécton ou bentos”, lembra Monica Petti, bióloga do DOB. Priscila deixa saudades no IOUSP O Instituto Oceanográfico da USP registrou com tristeza o falecimento de Priscila Ivone Amaral Manchola Cifuentes, de 22 anos, aluna de graduação desde o primeiro semestre de 2011. “A Priscila para mim lembra perguntas sobre Goethe e Nietzche, dúvidas em sala de aula feitas bem baixinho... Risadas constantes, pensamentos profundos, ideias e ideais revolucionários... São flores de hibisco na orelha, sorriso nos lábios e olhos fechadinhos... Amizade que levarei comigo para sempre...”, lembra a colega Claudia Dahmer, “Tia”, 27, também graduanda da turma de 2011. diário de bordo 29 | abr/mai/jun 2014 5 USP COMEMORA 80 ANOS A diretoria do IOUSP criou a “Comissão coordenadora das comemorações dos 80 anos da USP” com os objetivos 1) de resumir as contribuições científicas do Instituto, desde sua criação, e relatar as contribuições às atividades de políticas públicas e atividades de interesse público, bem como 2) prospectar, junto ao corpo docente do Instituto, exposições, debates e seminários relacionados ao 80o aniversário de fundação da USP. Nesse sentido reuniram-se professores e servidores, dia 3 último, para estabelecer uma linha de atividades que auxiliem a direção da Unidade a atingir esses objetivos. Já nesse primeiro momento, elencaram-se alguns entre os importantes projetos do IOUSP: Proantar (programa que surgiu há 32 anos, e desde o início com participação de pesquisadores do IOUSP); Revizee (programa de estudos marinhos que o Brasil realiza com exclusividade em sua zona de 200 milhas a partir da costa); Ecosan (por três anos, desde 2005, pesquisadores do IOUSP estudaram os efeitos causados pelo complexo estuarino sobre o ecossistema da plataforma continental da Baixada Santista). Projetos e serviços Também entre os vários serviços de relevância mantidos pelo IOUSP, mencionamos o Laboratório de Instrumentação Oceanográfica (LIO) (desde 1989, desenvolve instrumentos e metodologias; instala e opera equipamentos em campo; realiza manutenção de equipamentos e calibração de instrumentos); Laboratório de Dados (LabDados) (há mais de 50 anos, responsável pela aquisição e distribuição dos dados meteorológicos e oceanográficos coletados nas bases de Cananeia e Ubatuba); Centro de Calibração (um dos poucos na América Latina capaz de calibrar sen- Eventos e palestras “O IOUSP tem condições de apresentar bons resultados para a Reitoria promover uma divulgação bem fundamentada em fatos e informações pertinentes, deste Instituto que tanto e por tantos anos colaborou com a pesquisa voltada para os aspectos marinhos de toda a costa brasileira”, disse a profa. Sueli Godoi, membro da Comissão. “Realmente, a participação do IOUSP sempre foi bastante relevante para a Ciência do Mar, e há mais de meio século colabora com projetos de fundamental importância e reconhecimento internacional. Vai ser bem difícil resumir as atividades do Instituto ao longo desse tempo, mas sempre vamos creditar o destacado desempenho da pesquisa e dos resultados à equipe docente atual e passada, bem como aos funcionários do Instituto”, completa o prof. Vicente Gomes, presidente da Comissão. Diretor: Prof. Dr. Frederico P. Brandini Vice-Diretor: Prof. Dr. Michel Michaelovitch de Mahiques Comitê de Divulgação do IOUSP Presidente: Profa. Dra. Olga Tiemi Sato Membro: Profa. Dra. Karen Badaraco Costa Membro: Prof. Dr. Vicente Gomes Secretário: Rafael Rodolfo Varela Júnior Dois novos professores no IOUSP Isabel Montoya, espanhola da capital, Madri, já está instalada no Departamento de Oceanografia Física, Química e Geológica (DOF) como nova professora. Formação acadêmica: geologia e mestrado em geomorfologia marinha, na Universidade Complutense de Madri (o mestrado completou-se no Instituto Espanhol de Oceanografia), e doutorado na Universidade Rey Juan Carlos (URJC), na área de riscos litorâneos. Sua experiência acadêmica envolve nove anos como professora na URJC, inclusive na pós-graduação para Master em Tecnologias da Informação Geográfica, na Universidade de Alcalá de Henares. Neste primeiro semestre, a professora Isabel já está colaborando com a professora Silvia Sousa na aula de Sedimentação Marinha e desenvolver projetos com o professor Michel Mahiques, que envolvem estudos de batimetria, sísmica e sedimentação. “Por ser uma das melhores universidades do mundo a USP vai me propiciar oportunidade para eu desenvolver e aprimorar meu currículo, ampliar minha experiência com alunos e com pesquisa, montando um laboratório com o incentivo das entidades fomentadoras”, explica a profa. Isabel. Marcelo Melo é professor no Departamento de Oceanografia Biológica (DOB). Formado em biologia pela Universidade Federal de Goiânia (UFG), com mestrado no Museu Nacional (UFRJ) e doutorado na Universidade de Auburn (Alabama, EUA), ambos na área de zoologia, em especial Sistemática de peixes; em São Paulo, fez pós-doutorado no Museu de Zoologia (USP). Como experiência profissional, tem dois anos e meio como docente na Unifesp. “Na USP minha experiência como docente começa no segundo semestre, quando vou colaborar com a matéria de Vertebrados Marinhos com os prof. Marcos Santos e Vicente Gomes. Como meu trabalho envolve peixes de profundidade, que estão além da plataforma costeira, vou desenvolver pesquisas com taxonomia, evolução, conservação (identificar as espécies ameaçadas, propor manejos e preservação junto a órgãos ambientais) e biogeografia de peixes marinhos.” O Diário de Bordo é uma publicação trimestral do Instituto Oceanográfico da USP www.io.usp.br Praça do Oceanográfico, 191 - CEP 05508-120 Cidade Universitária – Campus São Paulo Textos e diagramação: Rafael Varela (Técnico-Administrativo, Museu e Memória do IOUSP) Para mais informações, sugestões e solicitações: e-mail: [email protected] - tel.: 11 3091-0822 diário de bordo 29 | abr/mai/jun 2014 6 Fotos de Luciano Souza UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO sores de temperatura, salinidade e pressão de alta precisão); Banco de Algas Marinhas (mantém linhagens de espécies de microalgas isoladas de águas costeiras estuarinas, disponibilizadas para outras instituições de ensino, como um serviço especial à comunidade científica). Entre os diversos serviços de cultura e extensão que divulgam atividades do IOUSP estão o Museu e Memória (dentre outras atividades, proporciona acesso monitorado ao acervo oceanográfico e aquários – em 2013, quase 19 mil pessoas visitaram o Museu) e o boletim informativo Diário de Bordo (criado em 2005, na gestão do prof. Belmiro Mendes de Castro Filho, com o objetivo de abrir as portas do IOUSP e atingir um público formado por professores, funcionários, alunos, outros institutos, entidades governamentais e sociedade em geral).
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