MAURÍCIO DOS SANTOS CARLOS JUNIOR
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MAURÍCIO DOS SANTOS CARLOS JUNIOR
CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES ASSOCIADAS DE ENSINO - FAE MAURÍCIO DOS SANTOS CARLOS JUNIOR EMPREENDEDORISMO SOCIAL ENTRE JOVENS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE SOCIAL: caminho para o empoderamento SÃO JOÃO DA BOA VISTA 2013 MAURÍCIO DOS SANTOS CARLOS JUNIOR EMPREENDEDORISMO SOCIAL ENTRE JOVENS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE SOCIAL: caminho para o empoderamento Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado do Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – FAE, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento Sustentável e Qualidade de Vida. Área de Concentração: Educação para a sustentabilidade Orientadora: Profª. Drª. Carmen Beatriz Rodrigues Fabriani SÃO JOÃO DA BOA VISTA 2013 MAURÍCIO DOS SANTOS CARLOS JUNIOR EMPREENDEDORISMO SOCIAL ENTRE JOVENS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE SOCIAL: CAMINHO PARA O EMPODERAMENTO Dissertação apresentada ao Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino- FAE para exame de defesa, como parte para obtenção do título de mestre em Desenvolvimento Sustentável e Qualidade de Vida. Área de concentração: Educação para a sustentabilidade Dissertação de mestrado defendida e aprovada em ____/____ / 2013. BANCA EXAMINADORA: Profª. Drª. Carmen Beatriz Rodrigues Fabriani (orientadora) Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – FAE Profª. Drª. Maria Izabel Ferezin Sares (membro externo) Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais _____________________________________________________________________________ Prof. Dr. Luciel Henrique de Oliveira Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – FAE SÃO JOÃO DA BOA VISTA 2013 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho à minha família e aos oprimidos da sociedade contemporânea que não possuem a liberdade de escolher o seu destino. AGRADECIMENTOS Desejo expressar meus agradecimentos aos professores do Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino- FAE, com quem tive a honra e oportunidade de participar das aulas e realmente crescer muito, tanto no aspecto intelectual quanto emocional. Agradeço a eles ainda pela fomentação de uma análise crítica do cotidiano através das disciplinas ofertadas pelo Mestrado em Desenvolvimento Sustentável e Qualidade de Vida. Agradeço a minha família especialmente minha mãe e meu pai pelo apoio nos momentos mais difíceis e ensinamentos de valor incalculável tanto para a vida pessoal quanto para a vida profissional. Agradeço a minha orientadora Carmen Beatriz Rodrigues Fabriani, pela atenção, comprometimento e disponibilidade que demonstrou, auxiliando de maneira eficaz no desenvolvimento e conclusão deste trabalho acadêmico. Agradeço aos participantes do “Projeto Minha Pipa, Nosso Céu”, pela atenção e disponibilidade em participar dos encontros. Agradeço a empresa Togni S/A – Materiais Refratários e aos meus chefes, Márcio Roberto Corrêa e Antonio Rafael Acconcia, por terem sido pacientes com os meus inúmeros afastamentos para a realização deste trabalho. Agradeço a todos que duvidaram de minhas capacidades e da possibilidade de execução desta pesquisa, por terem despertado, mais uma vez, o meu desejo de superar os obstáculos do caminho. Agradeço também a todos os colegas com quem convivi durante dois anos, possibilitando perspectivas de outras áreas do conhecimento. Agradeço especialmente a Nossa Senhora Aparecida por ter percorrido junto a mim desde o último ano do Ensino Médio, quando comecei a conciliar vida profissional, pessoal e estudantil, perpassando pelo curso de Administração na PUC Minas e atualmente neste Mestrado. Estes momentos demandaram muito esforço pessoal e geraram várias “cicatrizes” que foram amenizadas pela fé que descobri nos momentos mais difíceis e convertidas em aprendizado. Gente simples, fazendo coisas pequenas, em lugares não importantes, conseguem fazer mudanças extraordinárias. Provérbio africano AUTOBIOGRAFIA DO AUTOR Maurício dos Santos Carlos Junior, filho de Maurício dos Santos Carlos e Rosimeire Braga Carlos, nasceu no Município de Poços de Caldas-MG em 07 de dezembro de 1988. Graduouse em Administração pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais em 2010. O autor possui interesse em temas como Pós-Modernidade, Filosofia, Sociologia, Administração de Empresas, Administração Pública, Marketing e Empreendedorismo. Atua há sete anos na indústria de refratários e no setor de mineração em Poços de Caldas-MG. Contatos pelo email: [email protected] RESUMO Este estudo tem como objetivo propor a temática empreendedorismo social, com a finalidade de promover a formação para sustentabilidade, empoderamento e cidadania entre jovens em situação de vulnerabilidade social em contraposição à Pedagogia Empreendedora e outros programas como os desenvolvidos pelo SEBRAE. Para a consecução da proposta estabelecida, inicialmente realizou-se o levantamento do campo de pesquisa para identificar os equipamentos urbanos, de forma a caracterizar o bairro e a situação de vulnerabilidade social de sua população. Posteriormente, foi utilizado o método de pesquisa-ação, viabilizado pelo projeto “Minha Pipa, Nosso Céu”, elaborado pelo próprio pesquisador. Após a autorização das autoridades do sistema educacional estadual de Minas Gerais, da diretoria da Escola Estadual Parque das Nações, situada na região sul do município de Poços de Caldas, foi realizado o lançamento do projeto em 22/02/2013, entre os alunos da Escola Estadual Parque das Nações, sendo que formou-se um grupo de 09 alunos, entre 14 e 15 anos residentes na região sul do município de Poços de Caldas-MG. O projeto iniciou-se em 27/02/2103, sendo finalizado em 02/04/2013. Ocorreram dez sessões com duração aproximada de cento e vinte minutos minutos cada uma, sendo filmadas e posteriormente seus conteúdos transcritos em Atas. Para a análise dos resultados, foi utilizado o método de análise de conteúdo, a partir da categorização dos dados segundo eixos estruturantes e indicadores de análise: empoderamento individual (autopercepção), organizacional (inclusão, confiança e cooperação interna) e comunitário (rede de cooperação). Considerando a formação para a sustentabilidade, empoderamento e cidadania, entre alunos do Ensino Médio em situação de vulnerabilidade social, verificou-se que o empoderamento entre os participantes se mostrou de forma instável em alguns de seus critérios e positivos em outros, mesmo diante de um ambiente influenciado por condicionantes globais, nacionais e principalmente locais que atuam como agentes desempoderadores, opressores e perpetuadores de humilhação social. Todavia, possibilitou o diagnóstico da inadequação dos programas e métodos de educação empreendedora usados no Brasil, verificou-se ainda que projetos como o “Minha Pipa, Nosso Céu” têm mais chances de sucesso, pois visam o resgate da prática social, do conhecimento e da vivência dos participantes de maneira a possibilitar uma reflexibilidade da população envolvida. Palavras-chave: Vulnerabilidade Social; Empreendedorismo Empreendedora; Empoderamento; Desenvolvimento Sustentável. Social; Educação ABSTRACT This study aims to discuss social entrepreneurship issues, in order to promote education in sustainability, empowerment and citizenship among young people in situations of social vulnerability as opposed to Entrepreneurial Education and other programs such as those developed by SEBRAE. To implement this proposal initially it was held up a field research to identify the urban facilities, in order to characterize the neighborhood and the social vulnerability of its population. Subsequently, it was we used an action research method, made possible by the project "Minha Pipa, Nosso Céu", prepared by the researcher. Upon authorization of the Minas Gerais state educational system and the principal of the Nations Park State School, situated in the southern side of Pocos de Caldas, it was held the launch of the project on 22/02/2013, among Nations Park State School students, and formed a group of 09 students, aged 14 to 15 years living in the southern side of Pocos de Caldas - MG. The project started on 27/02/2103 and lasted till 02/04/2013. There were ten sessions of two hours each, which were videotaped and had their contents transcribed. The results were analyzed, using the content analysis method, through categorization of the data using structural axes and the analysis indicators: individual empowerment (self-perception), organizational (inclusion, trust and intern cooperation) and community (cooperation network). Considering education for sustainability, empowerment and citizenship among high school students in social vulnerability, it was found that empowerment among participants proved erratically in some of its criteria and positive in others, even in the face of a environment influenced by global, national and mainly local conditions with an empowerless oppressors agents, which perpetuates social humiliation. Inasmuch enabled the diagnosis of the inadequacy of the programs and entrepreneurial education methods used in Brazil, it was also found that projects like "Minha Pipa, Nosso Céu" have more chances of success, since they aim to rescue the social practice, knowledge and experience of the participants in order to allow a reflectivity of the population involved. Keywords: Social Vulnerability , Social Entrepreneurship , Entrepreneurial Education , Empowerment , Sustainable Development. LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Região sul do município de Poços de Caldas-MG .................................................. 70 Figura 2 - Descontinuidade da região sul do município de Poços de Caldas-MG ................... 72 Figura 3 - Rua comercial do bairro Conjunto Habitacional Pedro Afonso Junqueira (8) ........ 74 Figura 4 – Contraste da arquitetura das residências do bairro Parque das Nações (7) ............. 75 Figura 5 – Contraste da arquitetura das residências do bairro Parque das Nações (7) ............. 75 Figura 6 – Moradores trafegando pelas ruas da região sul em busca de materiais recicláveis 76 Figura 7 - Aterro Municipal situado na região sul de Poços de Caldas-MG ............................ 77 Figura 8 - Rompimento de um bueiro no bairro Jardim Kennedy II (13) ................................ 77 Figura 9 - Sofá encontrado em bueiro no bairro Jardim Kennedy II (13) ................................ 78 Figura 10 - Rio que cruza parte da região sul do Município de Poços de Caldas -MG ........... 79 Figura 11 - Obras recentes no rio do bairro Jardim Kennedy II (13) e em seu entorno ........... 80 Figura 12 - Depredação em residências do bairro Vila Matilde (10) ....................................... 80 Figura 13 - Preocupação da população referente à segurança, materializada em grades instaladas em residências no bairro Parque das Nações (7) .................................................... 81 Figura 14 - Incêndio em residência no bairro Parque das Nações (7) ...................................... 81 Figura 15 - Duto de esgoto não ligado a rede entre os bairros Parque das Nações (7) e Conjunto Habitacional Pedro Afonso Junqueira (8)................................................................. 82 Figura 16 - Templo existente no bairro Parque das Nações (7) ............................................... 83 Figura 17 - Templo existente no bairro Conjunto Habitacional Pedro Afonso Junqueira (8). 83 Figura 18 - CRAS do bairro São Sebastião (9) ........................................................................ 84 Figura 19 - Pista de Cooper compartilhada entre os bairros Parque das Nações (7) e Conjunto Habitacional Pedro Afonso Junqueira (8) ................................................................................ 85 Figura 20 - Academia ao ar livre compartilhada entre os bairros Parque das Nações (7) e Conjunto Habitacional Pedro Afonso Junqueira (8)................................................................. 85 Figura 21 - Instituição de ensino existente no bairro Parque das Nações (7) ........................... 86 Figura 22 - Instituição de ensino existente no bairro Jardim Kennedy II (13) ......................... 86 Figura 23 - Prédio do Programa Saúde da Família do bairro Parque das Nações (7) .............. 87 Figura 24 - Hospital Margarita Morales no Conjunto Habitacional Pedro Afonso Junqueira (8) .................................................................................................................................................. 87 Figura 25 - Praça existente no bairro Parque das Nações (7) ................................................... 88 Figura 26 - Administração Regional da Zona Sul no Conjunto Habitacional Pedro Afonso Junqueira (8) ............................................................................................................................. 89 Figura 27 - Edifício da Sociedade Amigos do Bairro Parque das Nações (7).......................... 90 Figura 28 – Escola Estadual Parque das Nações (7) ................................................................ 93 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Síntese dos níveis de empoderamento .................................................................... 30 Quadro 2 - Temas de pesquisa em empreendedorismo ............................................................ 40 Quadro 3 - Elementos da Pedagogia Empreendedora .............................................................. 58 Quadro 4 - Autopercepção...................................................................................................... 106 Quadro 5 - Sentimento de Humilhação Social ....................................................................... 124 Quadro 6 - Cooperação Interna .............................................................................................. 145 Quadro 7 - Inclusão ................................................................................................................ 163 Quadro 8 - Confiança ............................................................................................................. 191 Quadro 9 - Rede de cooperação .............................................................................................. 203 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Comunidades menos cívicas X comunidades mais cívicas ..................................... 31 Tabela 2 - Principais competências empreendedoras (por vários autores) ............................... 41 Tabela 3 - Empreendedorismo privado X empreendedorismo social....................................... 49 Tabela 4 - Relação de algumas atividades empreendedoras oferecidas pelas instituições de ensino nacionais por tipo de público e dinâmica de processo .................................................. 53 Tabela 5 - Comparativo: Mapa dos Sonhos - Plano de Negócios ............................................ 61 Tabela 6 - Fases e instrumentos metodológicos da Oficina do Empreendedor ........................ 62 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS CEDEMP Centro de Educação Empreendedora CNI Confederação Nacional da Indústria CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CODEMIG Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais CRAS Centro de Referência em Assistência Social DMAE Departamento Municipal de Água e Esgoto DME Departamento Municipal de Energia DMED DME Distribuição S/A EGEPE Encontro de Estudos sobre Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas EnANPAD Encontro Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração FEBRACE Feira Brasileira de Ciências e Engenharia FENACEB Feiras de Ciências da Educação Básica FGV Fundação Getúlio Vargas GEM Global Entrepreneurship Monitor IEL Instituto Euvaldo Lodi IPTU Imposto Predial e Territorial Urbano IPVA Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores MAPPEA MBA Mínima Aproximação Prévia para Elaboração de Programas de Educação Ambiental Master of Business Administration NBR Norma Brasileira OMS Organización Mundial de La Salud ONG’s Organizações Não Governamentais ONUSIDA Programa Conjunto das Nações Unidas para o HIV/SIDA PSF Programa de Saúde da Família PUC Pontifícia Universidade Católica SAMU Serviço de Atendimento Móvel de Urgência SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas SESI Serviço Social da Indústria TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido UFAL Universidade Federal de Alagoas UFMG Universidade Federal de Minas Gerais UFSC Universidade Federal de Santa Catarina USP Universidade de São Paulo SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 18 2 REFERENCIAL TEÓRICO .............................................................................................. 25 2.1 Desenvolvimento sustentável ....................................................................................... 25 2.2 Empoderamento e autonomia...................................................................................... 29 2.3 Humilhação social ......................................................................................................... 35 2.4 Empreendedorismo ...................................................................................................... 39 2.4.1 Empreendedorismo social ......................................................................................... 47 2.5 Educação empreendedora ............................................................................................ 51 2.5.1 Métodos de educação empreendedora e a “Dolabetização” da educação empreendedora brasileira .................................................................................................. 56 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ..................................................................... 66 3.1 Objetivo geral ................................................................................................................ 66 3.1.1 Objetivos específicos .................................................................................................. 66 3.2 Métodos e Procedimentos ............................................................................................ 66 3.3 Apresentação do campo de pesquisa: região sul do Município de Poços de CaldasMG e Escola Estadual Parque das Nações ....................................................................... 68 3.3.1 Região Sul de Poços de Caldas-MG ......................................................................... 69 3.3.1 Escola Estadual Parque das Nações ......................................................................... 93 3.4 Tamanho Amostral ....................................................................................................... 94 3.5 Execução do Plano de Ação ......................................................................................... 95 3.6 Análise de dados............................................................................................................ 98 3.6.1 Fases da análise de conteúdo .................................................................................... 99 3.6.2 O critério .................................................................................................................. 100 4 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ................................................................................. 102 4.1 Os encontros ................................................................................................................ 103 4.2 Empoderamento Individual ....................................................................................... 106 4.2.1 Humilhação social, drogas, violência e nada de rock n’roll, uma união em prol do desempoderamento ...................................................................................................... 124 4.2.2 Consumo, uma forma de empoderamento individual na contemporaneidade? 135 4.2.3 O despertar da cidadania ........................................................................................ 141 4.3 Empoderamento Organizacional .............................................................................. 145 4.3.1 Cooperação Interna ................................................................................................. 145 4.3.2 Inclusão ..................................................................................................................... 163 4.3.3 Confiança.................................................................................................................. 191 4.4 Empoderamento Comunitário................................................................................... 203 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 221 REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 224 APÊNDICE A ....................................................................................................................... 238 APÊNDICE B........................................................................................................................ 261 APÊNDICE C ....................................................................................................................... 264 ANEXO A .............................................................................................................................. 265 ANEXO B .............................................................................................................................. 266 1 INTRODUÇÃO Este estudo tem como objetivo promover a formação para a sustentabilidade, empoderamento e cidadania, entre alunos do Ensino Médio em situação de vulnerabilidade social, por meio de um projeto de empreendedorismo social. Para a consecução deste objetivo foi necessário viabilizar o projeto em uma instituição de ensino estadual na região sul do Município de Poços de Caldas-MG, com as finalidades de: promover um olhar de identificação dos aspectos a serem transformados; encaminhar a formulação de projetos de transformação no ambiente da região sul pelos jovens; estimular a identificação de parceiros exteriores ao grupo e fomentar competências empreendedoras. Após a execução, o projeto foi avaliado através de indicadores de empoderamento. Esta pesquisa partiu do pressuposto que todo empreendedor deveria deter algumas competências, tais como: planejamento, negociação, iniciativa e engajamento (DORNELAS, 2007; LENZI, KIESEK e ZUCCO, 2010), que são essenciais para a promoção do empoderamento, autonomia e qualidade de vida. Alguns indivíduos já possuem estas competências de forma natural, conforme menciona Dornelas (2007), mas neste estudo em específico há a crença que os indivíduos desprovidos destas competências podem ser estimulados a desenvolvê-las. Em termos acadêmicos, o estudo científico sobre empreendedorismo é relativamente recente, tendo apenas quatro décadas, estando principalmente relacionado à importância da pequena empresa no quadro econômico da sociedade. O aspecto econômico também influencia as pesquisas que associam empreendedorismo e desenvolvimento sustentável. Estes trabalhos objetivam principalmente, analisar e propor o empreendedorismo como uma forma de geração de renda para grupos ou populações carentes de recursos financeiros. Esta forma de gerar renda é materializada na criação de empresas, como apontam os trabalhos de Degen (2008); Júnior et al. (2006); Kriciunas e Greblikaité (2007). O empreendedorismo associado ao desenvolvimento sustentável também é apresentado como possível solução ao desemprego, como indicado no trabalho de Binotto e Nakayama (2000). No presente estudo, guardadas as especificidades dos sujeitos pesquisados, poderia ter sido adotada, de forma similar, a proposta de “transformar” estudantes em futuros empresários, de maneira a possibilitar uma geração de renda e minimizar o número de desempregados juvenis, mas, para Lopes (2010), 18 isto corresponderia a uma utilização reducionista das possibilidades ofertadas pelo empreendedorismo aplicado no ambiente educacional, que também pode ser direcionado para a formação de transformadores sociais. O empreendedorismo como ramo do saber, está situado em fase pré-paradigmática. Questões cruciais, como a possibilidade de ensinar alguém a ser empreendedor, bem como a definição de características empreendedoras determinantes para o sucesso, ainda não foram respondidas de forma definitiva, embora a publicação acadêmica na área chegue a mais de mil artigos apresentados por ano, em cerca de cinquenta congressos e ultrapasse vinte e cinco títulos de periódicos especializados (DOLABELA, 2008; FILION, 1999). Neste sentido, o empreendedorismo desperta interesse entre os pesquisadores de diversas áreas da ciência como aponta Dolabela (2008), mas não há um diálogo entre eles, o que permite uma compreensão fragmentada e superficial do tema e o mantém estagnado na fase préparadigmática. Dolabela (2008) também aponta que não é possível ensinar à alguém como ser empreendedor, mas é algo que pode ser aprendido. Diante desta afirmação, cabe uma indagação: “como então propiciar o aprendizado do empreendedorismo?”. Lopes (2010), esclarece esta questão, ao afirmar que a educação empreendedora enfatiza o uso intenso de metodologias de ensino que permitem aprender fazendo, sendo esta a sua principal característica. Nesta modalidade de Educação, o indivíduo se defronta com eventos críticos que o forçam a pensar de maneira diferente, buscando saídas e alternativas. Neste sentido, embora a educação empreendedora não seja por si só suficiente na educação de um jovem, apresenta contribuições significativas na formação de um indivíduo. O tema educação empreendedora no ambiente escolar, desperta sentimentos e posições antagônicas na Academia brasileira. Existe uma aceitação maior entre os acadêmicos oriundos da área de Administração e uma rejeição de vários acadêmicos da Educação. A educação empreendedora na escola, é questionada por Lima (2008) e Souza (2006) e de acordo com estes autores, a difusão do empreendedorismo em escolas não passa de uma maneira de justificar e apontar um caminho ao individualismo e neoliberalismo. Lopes (2010), mais uma vez, elucida estes pontos levantados pelos pesquisadores oriundos da Educação. Segundo a autora, esta preocupação com “o capitalismo” e o “neoliberalismo”, assim como o temor de, 19 em vez de formar pessoas, preparar “mão de obra” para o mercado, produziu não apenas críticas, mas também um grande receio por parte dos educadores em admitir que o processo de inserção na sociedade também inclui o aprendizado de um trabalho e a inserção econômica. A autora também apresenta uma sequência de indagações pertinentes à esta discussão: Será que se trata apenas de um caso de confusão conceitual entre o empreendedor transformador social e o empreendedor empresário ou será que ao raciocinar sobre um está também discutindo características do outro? Mesmo que esses personagens sejam distintos, não seria desejável que as características de mobilização de um e as posturas sociais do outro estivessem presentes em ambos? Por que parte de nossos professores brasileiros insiste numa agenda que apresenta o empreendedor como um “capitalista explorador”, o empregado como uma “peça manipulável no jogo” e o desempregado como uma vítima, sem meios para sair dessa situação? Será que realmente os empresários objetivam apenas o ganho econômico? Será que não está nas capacidades do trabalhador superar o que esperam dele? Será que a inserção econômica do desempregado não depende principalmente dele mesmo? (LOPES, 2010, p. 5). O empreendedor, entendido como empresário, é interpretado como um explorador não apenas pelos educadores, mas também pela sociedade brasileira (LEMOS, 2005; LOPES, 2010). Barbosa (2003) e Lemos (2005) apontam que, diferentemente dos Estados Unidos, onde o protestantismo legitimou o desempenho individual e o progresso material, no Brasil a prática empreendedora é rejeitada, pois não há uma base moral capaz de legitimar o ganho material e a tradição católica condena a usura e o lucro. Lopes (2010) aponta que após os estudantes terem vivenciado a educação empreendedora, há uma maior propensão dos mesmos em abrir uma empresa. Neste estudo, esta propensão será considerada como uma das consequências possíveis, pois o foco é trabalhar com o empreendedorismo social, que é coletivo e produz benefícios para as comunidades como destacam Melo Neto e Froes (2002). O aspecto econômico possui a sua relevância, mas há outras demandas de inclusão oriundas dos indivíduos e da coletividade, que o mesmo talvez não sane. No Brasil contemporâneo, no qual está havendo uma maior distribuição de renda, seja por programas do governo, como o Bolsa Família ou pela iniciativa privada, pela geração de empregos, é inquietante a questão de como a população brasileira se posiciona diante deste novo cenário e de fato se sente incluída. Será que esta inclusão se reflete na ideia de que está 20 empoderada e com meios de participar de espaços de decisões com a consciência do exercício de seus direitos e deveres? O desenvolvimento baseado no crescimento econômico seria o mais adequado ao contexto brasileiro e apto para a promoção do desenvolvimento sustentável? Se for resgatada a recente história brasileira, em específico a década de setenta, considerada como a “época de ouro” do país devido ao crescimento econômico, é possível chegar à conclusão de que apenas o aspecto econômico não é o mais adequado ao contexto brasileiro. Para Nascimento e Viana (2007) esta época foi caracterizada pelo rápido crescimento e modernização, acompanhada por problemas sociais cada vez mais graves, desigualdades sociais e regionais cada vez mais profundas. Esta fase alerta, contemporaneamente que, por maior que seja o crescimento econômico em um período, o mesmo não parece ser capaz de, por si só, transformar e incluir todos os indivíduos de um país e, consequentemente, prover a sua respectiva sustentabilidade. Green (2009) complementando à Nascimento e Viana (2007), destaca que esta opção pelo crescimento econômico, visando a “inclusão” de indivíduos por meio da melhoria econômica, tem contribuído para consolidar o entendimento equivocado que aumentar a renda, seja por programas de distribuição de renda ou crescimento econômico, é a única maneira de eliminar a falta de liberdade gerada pela pobreza. Para o autor, a pobreza tem muitas dimensões e a eliminação de privações oriundas desta, exige muito mais do que apenas crescimento econômico. Sen (2010), em consonância com Green (2009), coloca que o desenvolvimento consiste na eliminação de privações de liberdade que limitam as escolhas e as oportunidades dos indivíduos de exercer ponderadamente sua condição de agente, sendo o crescimento econômico um meio e não um fim. Nesta perspectiva, mesmo que o Bolsa Família beneficie treze milhões de famílias com uma renda per capita igual ou inferior a R$ 70,00 de acordo com o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome (MDS, 2012), há necessidade de programas ou ações complementares para eliminação de outras privações (GREEN, 2009; SEN, 2010) as quais os indivíduos estão sujeitos, bem como a humilhação social, uma modalidade de vulnerabilidade social. Mas o que vem a ser o conceito de humilhação social? Costa (2004, p. 63) esclarece que: 21 A humilhação social apresenta-se como um fenômeno histórico, construído e reconstruído ao longo de muitos séculos e determinante do cotidiano dos indivíduos das classes pobres. É expressão da desigualdade política, indicando exclusão intersubjetiva de uma classe inteira de homens do âmbito público da iniciativa e da palavra, do âmbito da ação fundadora e do diálogo, do governo da cidade e do governo do trabalho. Constitui, assim, um problema político. Neste sentido, o empreendedorismo entendido apenas como um meio de gerar renda entre os pobres (DEGEN, 2008; JÚNIOR et al., 2006; KRICIUNAS e GREBLIKAITÉ, 2007) é insuficiente para sanar a privação política dos humilhados socialmente, bem como para o seu respectivo desempoderamento. Para Sen (2010), mesmo quando não falta segurança econômica adequada aos indivíduos sem liberdade política, há uma privação de liberdades importantes para conduzir suas vidas, sendo-lhes negada a oportunidade de participar de decisões cruciais concernentes a assuntos públicos. Neste sentido, apesar da humilhação social ser associada aos pobres (COSTA, 2004), é possível que outras classes sociais também sejam humilhadas socialmente, como a classe média. Nesta perspectiva, é necessário entender o empreendedor como um transformador social (LOPES, 2010) e elaborar uma educação empreendedora que contemple o empreendedorismo social (MELO NETO e FROES, 2002), o que pode auxiliar no processo de superação da humilhação social. Caso contrário, os posicionamentos de Lima (2008) e Souza (2006) acerca da educação empreendedora são válidos. Diante do que foi exposto, esta pesquisa é uma contribuição simultânea para a ciência e sociedade contemporânea e apresenta a seguinte questão problema: “Como a educação empreendedora pode ser formulada como instrumento para a superação da humilhação social e possibilitar o empoderamento dos indivíduos”? Outra contribuição deste estudo é para o desenvolvimento sustentável, entendido sob as cinco dimensões de Sachs (1993, 2004): econômico, social, cultural, ecológico e espacial. Esta pesquisa é pertinente à esta área devido aos obstáculos de exercício de poder e político (FREY, 2001; SACHS, 1993), que não foram superados devido às privações (GREEN, 2009; SEN, 2010) existentes contemporaneamente, dentre as quais foi escolhida a humilhação social (COSTA, 2004), o que também afeta outra área de estudos: a qualidade de vida. Skevigton, (2002 apud PANZINI et al., 2007) distingue “padrão” e “qualidade” de vida, que frequentemente são considerados como sinônimos. O primeiro compreende os indicadores globais das características relevantes do modo de viver das sociedades e dos indivíduos, em termos socioeconômicos, demográficos e de cuidados básicos de saúde disponíveis. Já o segundo, em consonância com a Organización Mundial de La Salud (OMS, 1998), é baseado 22 em parâmetros referentes à percepção subjetiva dos aspectos importantes da vida de uma pessoa, os quais podem ou não coincidir com indicadores de padrão de vida. A seguir serão apresentadas as contribuições especificas ao desenvolvimento sustentável, utilizando as dimensões de Sachs (1993, 2004), que agregam qualidade de vida e serão detalhadas conceitualmente no referencial teórico. Em termos culturais, a proposta deste trabalho é uma possibilidade de mudança cultural não apenas local, mas também nacional, tendo em vista que no contexto brasileiro, segundo Barbosa (2003), a responsabilidade pelas situações e a solução para os impasses da vida social não cabem aos indivíduos, mas sempre a terceiros, sejam eles sujeitos específicos, instituições ou forças externas, aos quais é atribuída a capacidade para a transformação. A luz de Vecchiatti (2004), este estudo coloca a cultura como um fator de desenvolvimento, ao buscar a valorização das identidades individuais, coletivas em prol da coesão em comunidade, o que pode o caracterizá-lo como “culturalmente aceito”. Outro ponto pertinente em termos culturais, é a possibilidade da pesquisa poder contribuir para que o empreendedor comece a ser entendido pela sociedade brasileira como um transformador social (LOPES, 2010) e não como um explorador (LEMOS, 2005; LOPES, 2010). Em termos econômicos, a educação empreendedora também pode contribuir para a criação de novos negócios pelos próprios estudantes a médio e longo prazos, como Lopes (2010) já apontou anteriormente. Neste sentido, esta proposta é caracterizada como “economicamente viável”, apesar desta contribuição não ser o principal foco desta pesquisa. Na dimensão “socialmente justo”, o projeto contribui para a possibilidade de fomentar o exercício de poder e político na região sul, o que contribui diretamente para a superação dos obstáculos do desenvolvimento sustentável (FREY, 2001; SACHS, 1993, 2004) por meio da eliminação de privações (GREEN, 2009; SEN, 2010). O empreendedorismo social (MELO NETO e FROES, 2002) adotado pela pesquisa também pode despertar o interesse dos jovens em criar ou participar colaborativamente de ações sociais e organizações não governamentais. Estas ações sociais podem ter o foco na própria região sul de Poços de Caldas-MG, sendo direcionadas, por exemplo, para a inclusão social de indivíduos que vivenciam diversas situações de vulnerabilidade social. 23 A dimensão “ambientalmente correto” pode ser contemplada pelas propostas de ações ou projetos, oriundos dos jovens, que envolvam questões ambientais do bairro, como a questão do lixo em terrenos baldios mediados por uma educação empreendedora com foco em empreendedorismo social (MELO NETO e FROES, 2002). Diante do exposto, não é sugerido neste trabalho excluir os modelos existentes de educação empreendedora, mas sim apontar novas possibilidades de empreender para a cidadania, ética, cooperativismo e sustentabilidade. Pessoalmente, durante a graduação de Administração, na PUC Minas, foi despertado o desejo do pesquisador em contribuir para o desenvolvimento, não apenas econômico, da região sul do município de Poços de Caldas-MG. Esse despertar foi possível pelo fato do pesquisador residir nesta região (anteriormente residia na área central do Município). O cotidiano vivenciado e observado permitiu ao pesquisador que percebesse as dificuldades dos jovens desta localidade em elaborar e definir os seus próprios projetos de vida. Outro fato oriundo do cotidiano na região sul, foi a percepção do pesquisador acerca da vulnerabilidade social existente neste local em relação ao restante do Município, algo que não era sentido quando residia na área central. Em complemento à observação e a vivência do pesquisador, relatos diários, provindos de familiares que trabalharam nas instituições de ensino da região sul sobre o cotidiano de seus alunos, envolvendo desestruturação familiar, dificuldades financeiras, violência doméstica e inexistência de projetos de vida, também contribuíram para esse despertar. Ao alinhar as percepções do ambiente, a formação em Administração, a temática desenvolvimento sustentável e o interesse pelo empreendedorismo, foi possível elaborar esta proposta. 24 2 REFERENCIAL TEÓRICO Neste capítulo serão analisados alguns aspectos referentes ao desenvolvimento sustentável, empreendedorismo, empoderamento, autonomia, humilhação social e educação empreendedora, aspectos esses que são de grande importância para a realização deste trabalho. 2.1 Desenvolvimento sustentável O final do século XX e início do século XXI presenciaram um aumento significativo da conscientização da sociedade acerca da degradação do meio ambiente e de sua crise, ambas decorrentes do processo de desenvolvimento (BELLEN, 2004; MATIAS e PINHEIROS, 2008), que prioriza o crescimento econômico (VEIGA, 2008). Conscientização esta que conduziu à reflexão sistêmica sobre a influência da sociedade neste processo, de maneira a originar um novo conceito, o desenvolvimento sustentável. Segundo estes autores este conceito é apresentado nos últimos anos como um novo modelo de desenvolvimento, detentor da capacidade de solucionar os problemas ambientais existentes. Para Franco (2000), existem diversas conceituações de desenvolvimento sustentável, apesar de não haver um consenso sobre as dimensões e essencialidade do mesmo, como destaca Nascimento e Viana (2007). A conceituação mais aceita e difundida é oriunda do relatório “Nosso futuro comum”, elaborado pela Comissão de Brudtland (REDCLIFT, 2006): “O desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades” (COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO, 1991, p. 46). Uma conceituação contemporânea acerca do conceito foi divulgada no recente evento da Conferência das Nações Unidas, Rio+20: “Desenvolvimento sustentável é o modelo que prevê a integração entre economia, sociedade e meio ambiente. Em outras palavras, é a noção de que o crescimento econômico deve levar em consideração a inclusão social e a proteção ambiental” (RIO+20, 2012). Neste sentido, a conceituação apresentada neste evento ficou restrita ao triple bottom line, (econômico, ambiental social) do desenvolvimento sustentável. Sachs (1993, 2004) expande as perspectivas ecológicas (BELLEN, 2004; COMISSÃO 25 MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO, 1991; MATIAS e PINHEIROS, 2008; VEIGA, 2008) e complementa a definição adotada pela Rio+20 (2012) acerca ao desenvolvimento sustentável. Para o autor, o desenvolvimento sustentável é constituído de cinco dimensões equilibradas entre si: sustentabilidade social, sustentabilidade econômica, sustentabilidade ecológica, sustentabilidade espacial e sustentabilidade cultural. A sustentabilidade social é entendida pelo autor como a construção de uma sociedade do “ser”, detentora de uma maior equidade na distribuição do “ter” e da renda, de maneira a possibilitar uma melhoria substancial dos direitos e condições das massas de população e redução da desigualdade de padrões de vida entre abastados e necessitados. A sustentabilidade econômica é considerada como a possibilidade de uma alocação mais eficiente dos recursos e por um fluxo regular do investimento público e privado. Para o autor, é necessário superar questões comerciais e de acesso à ciência para a plena realização desta alocação. A sustentabilidade ecológica é definida essencialmente em termos de ecoeficiência e escolhas de instrumentos econômicos, legais e administrativos para assegurar o cumprimento de regras ambientais. A sustentabilidade espacial é descrita como a necessidade de uma configuração rural/urbana mais equilibrada e de uma melhor distribuição territorial de assentamentos humanos e atividades econômicas. A sustentabilidade cultural é apresentada como a busca de raízes endógenas dos modelos de modernização e dos sistemas rurais integrados de produção, privilegiando processos de mudanças no seio da continuidade cultural e tradução do conceito normativo de ecodesenvolvimento em uma pluralidade de soluções particulares, que respeitem as especificidades de cada sistema, de cada cultura, de cada local. A luz de Capra (1982), em consonância com Sachs (2004), o desenvolvimento sustentável deve ser compreendido como um modelo de desenvolvimento interligado, que não valoriza apenas uma dimensão em detrimento das outras. Dentro desta perspectiva, o desenvolvimento 26 sustentável não pode ser entendido apenas como a preservação dos recursos naturais e tampouco como um novo modelo que privilegia apenas o crescimento econômico. Nascimento e Viana (2007), similarmente a Green (2009), afirmam que a dimensão econômica não é um objetivo em si, mas apenas o instrumental com o qual é possibilitado um desenvolvimento includente e sustentável. A viabilidade econômica é uma condição necessária, porém não suficiente no entendimento dos autores, o que vai ao encontro do equilíbrio entre as dimensões do desenvolvimento sustentável (SACHS, 1993) e sua interligação (CAPRA, 1982). O desenvolvimento sustentável é incompatível com o desenvolvimento capitalista se for analisada a seguinte conceituação: ”desenvolvimento capitalista é o desenvolvimento realizado sob a égide do grande capital e moldado pelos valores do livre funcionamento dos mercados, das virtudes de competição, do individualismo e do Estado mínimo” (SINGER, 2004, p.10). A luz de Capra (1982), o desenvolvimento capitalista privilegia o comportamento yang: exigente, agressivo, competitivo, expansivo, ao invés de haver um equilíbrio, e não uma eliminação do comportamento yin: receptivo, cooperativo, intuitivo e consciente do meio ambiente. Nessa perspectiva, os comportamentos yin e yang, integrativos e autoafirmativos, são necessários à obtenção de relações sociais e ecológicas harmoniosas, o que pode possibilitar o desenvolvimento sustentável. Para Sachs (1993), o crescimento pela desigualdade, baseado em uma economia de mercado sem controles, aprofunda a dualidade interna de cada sociedade e agrava o círculo vicioso da pobreza e da degradação ambiental. Esta colocação do autor é materializada na descrição da década de setenta no Brasil, de Nascimento e Viana (2007). Segundo os autores, houve um crescimento econômico rápido neste período, mas esse crescimento gerou problemas sociais graves, desigualdades sociais e regionais profundas. Delors (2010), em complementaridade à Nascimento e Viana (2007), destaca que o crescimento econômico a qualquer preço, oriundo do desenvolvimento capitalista (SINGER, 2004), não pode ser considerado como a via mais adequada para permitir a conciliação entre progresso material e equidade, entre respeito pela condição humana e pelo capital natural a ser transmitido. Diante do que foi exposto, é possível constatar uma incompatibilidade entre desenvolvimento capitalista e o desenvolvimento sustentável. 27 Mas se o desenvolvimento capitalista traz consequências negativas, como as apontadas (DELORS, 2010; NASCIMENTO e VIANA, 2007) e o desenvolvimento sustentável permite uma harmoniosidade (CAPRA, 1982; SACHS, 1993), por que o último não é vigente contemporaneamente? Esclarecendo este ponto, Frey (2001) e Sachs (1993) colocam que os principais obstáculos ao desenvolvimento sustentável não são econômicos ou tecnológicos, mas sim sociais, de exercício de poder e políticos. Abramovay (2010), em complementaridade à Frey (2001) e Sachs (1993), destaca que no processo de desenvolvimento sustentável, o que está em jogo é o conteúdo da própria cooperação humana e a maneira como, no âmbito dessa cooperação, as sociedades optam por usar os ecossistemas de que dependem. O desenvolvimento sustentável só é possível nessa perspectiva, pelo equilíbrio político e não pelo neoliberalismo ou intervenção tecnocrata do Estado, como aponta Frey (2001). Assim, a questão que se coloca é: como deverá ser a intervenção do Estado em um contexto de desenvolvimento sustentável? Frey (2001) explica que as tarefas de um Estado voltado para um novo paradigma sustentável consiste em procurar caminhos e meios de despertar nos membros da sociedade a disposição de assumir responsabilidade social em torno de assuntos que afetam toda a comunidade. Em complementaridade à Frey (2001), Green (2009) pontua que a chave do sucesso ou do fracasso do desenvolvimento reside na interação entre Estados e cidadãos. Essa interação, segundo este autor, inclui a política formal mediante os processos de eleições, debates parlamentares e o ativismo de partidos, mas, principalmente, uma cidadania ativa mais ampla. Em consonância com Abramovay (2010); Frey (2001) e Green (2009), Melo Neto e Froes (2002) destacam que o desenvolvimento sustentável deve ser dotado de um desenvolvimento endógeno do indivíduo, a partir da mobilização das pessoas que vivem em uma comunidade, baseado nos valores da cooperação, partilha, reciprocidade e solidariedade. Partindo da literatura apresentada e do posicionamento de Froes e Melo Neto (2002), é entendido pelo pesquisador que o empoderamento e a autonomia manifestados pela cidadania, são caminhos possíveis para a superação dos obstáculos do desenvolvimento sustentável apresentados por Frey (2001) e Sachs (1993), principalmente entre indivíduos em vulnerabilidade social que são os mais penalizados pelo desenvolvimento capitalista (SINGER, 2004) em termos de poder e política, por não terem a liberdade de escolha (SEN, 28 2010). 2.2 Empoderamento e autonomia De acordo com Carvalho (2004) e Ornelas (2008), o conceito de empowerment, (ou empoderamento em português) é de difícil definição devido aos diferentes significados e interpretações utilizados por diversos ramos do conhecimento, como Gestão Organizacional, Desenvolvimento Local, Política, Saúde Pública e programas e políticas para o desenvolvimento. O conceito é sempre associado a sua derivação, o poder (FERREIRA, 2000), independentemente do ramo do saber que o utiliza. Mas qual é o poder que está sendo colocado? Green (2009) considera que o poder frequentemente é interpretado, de forma reducionista, como a capacidade de um indivíduo alcançar um fim desejado, com ou sem consentimento de outros indivíduos. Segundo o autor, o poder, na verdade é manifestado em quatro formas diferentes: Poder sobre: o poder dos fortes sobre os fracos. Esse poder é geralmente camuflado – por exemplo, o que as elites conseguem manter fora do debate político; Poder de: a capacidade de tomar decisões em relação a ações e de executá-las; Poder com: poder coletivo, possibilitado pela organização, solidariedade e ação conjunta; Poder interior: autoconfiança pessoal, frequentemente associada à cultura, à religião ou a outros aspectos da identidade coletiva, que influenciam quais pensamentos e ações parecem ser legítimos ou aceitáveis. (GREEN, 2009, p. 31). Ornelas (2008) e Perkins e Zimmerman (1995) complementam Green (2009) ao colocarem três níveis de empoderamento: individual, organizacional e comunitário. O empoderamento em nível individual, na perspectiva de Rappaport (1987), é o processo pelo qual os indivíduos adquirem o controle de suas vidas e participação democrática nas suas comunidades. Para Perkins e Zimmerman (1995), o empoderamento em nível organizacional é processo que inclui a tomada de decisão de forma coletiva e a liderança é compartilhada entre os indivíduos. Ainda de acordo com os autores, o empoderamento em nível comunitário é o processo pelo qual se possibilita a ação coletiva para acessar o governo e recursos de uma comunidade. Horochovski e Meirelles (2007), de forma mais completa, definem que o empoderamento em nível comunitário é o processo pelo qual os sujeitos, individuais e coletivos de uma comunidade, por meio de processos participativos, constroem estratégias e 29 ações para atingir seus objetivos, coletiva e consensualmente traçados. Neste sentido, é possível atribuir o poder “interior” ao empoderamento individual e os poderes “de” e “com” aos níveis organizacional e comunitário. Fung (2012), em complementaridade à Green (2009); Horochovski e Meirelles (2007); Ornelas (2008); Perkins e Zimmerman (1995); Rappaport (1987), sintetiza os níveis de empoderamento, as características e os resultados decorrentes desse processo conforme Quadro 1: Quadro 1 - Síntese dos níveis de empoderamento Níveis Características Individual Influência Autopercepção Organizacional Cooperação Interna Inclusão Confiança Comunitário Rede de cooperação Organização Resultados A participação nas organizações da comunidade; Percepção que os indivíduos têm sua importância das (e nas) suas interações com os ambientes e as demais pessoas. O desenvolvimento de redes, o crescimento organizacional e alavancagem de políticas internas. Enfrentamento dos conflitos e a divisão da liderança, busca de tomada de decisões coletivas. O controle percebido sobre situações específicas e habilidades na mobilização dos recursos. Ações coletivas para acessar recursos governamentais e comunitários. A evidência de pluralismo, a existência de coalizões organizacionais e recursos comunitários acessíveis. Fonte: Fung (2012) Ao analisar o quadro e as conceituações dos autores citados, é possível interpretar que o empoderamento é um processo que provavelmente se inicia em nível individual, perpassando pelo nível organizacional e finalizado em nível comunitário. Neste sentido, não é possível 30 existirem comunidades empoderadas sem antes ter havido processos que contemplassem os níveis individual e organizacional, em uma ordem cronológica. Oakley e Clayton (2003), apontam que conforme ocorre um deslocamento do indivíduo para o coletivo, há um aumento proporcional em termos de dificuldade no processo. Nesta perspectiva, os poderes “com” e “de” (GREEN, 2009) em nível comunitário (FUNG, 2012; PERKINS e ZIMMERMAN, 1995; ORNELAS, 2008) são os mais complexos de serem desenvolvidos. Melo Neto e Froes (2002) fazem uma distinção entre comunidades “menos cívicas” e “mais cívicas”, que podem ser interpretadas também como comunidades “menos empoderadas” e “mais empoderadas” conforme Tabela 1. Tabela 1 - Comunidades menos cívicas X comunidades mais cívicas Comunidades menos cívicas Comunidades mais cívicas A participação política é induzida pela A participação política é induzida por prática do clientelismo personalista compromissos pragmáticos com as questões públicas Predominam as relações verticais de Predominam as relações horizontais de autoridade e dependência cooperação e participação Há mais submissão, alienação e dependência Há mais igualdade e engajamento Cidadãos sentem-se explorados, alienados e Cidadãos impotentes sentem-se mais confiantes, participantes e engajados Fonte: Melo Neto e Froes (2002) Além de apresentar uma complexidade elevada, o empoderamento comunitário, no contexto brasileiro, apresenta outros desafios oriundos das características de sua sociedade. Como apontam Barbosa (2003) e Lemos (2005), nessa sociedade, na qual as soluções dos problemas individuais e coletivos são atribuídas a um terceiro, ou a um “salvador da pátria” (OLIVEIRA, 2004), é favorecida a perpetuação das relações verticais de autoridade (MELO NETO e FROES, 2002). Essas relações verticais geram outras características, tais como submissão, clientelismo e impotência, apontadas na Tabela 1. Neste sentido, as características da sociedade brasileira descritas postergam o empoderamento à terceiros, o que na visão de Mosedale (2005) é inadequado. Transpondo a “comunidade” de Melo Neto e Froes (2002), para “sociedade”, é possível caracterizar a sociedade brasileira como “menos cívica” e desempoderada, exercendo uma influência cultural negativa nos processos de empoderamento 31 comunitário, de maneira a elevar a complexidade alcançar esse nível. Neste sentido, projetos ou políticas públicas que vislumbrem o empoderamento em todos os seus níveis, não apenas comunitário, disseminados de forma gradual e ao longo do tempo, podem ser uma das possibilidades para alterar essas características, como apontam Oakley e Clayton (2003); Pereira (2006) propiciando uma sociedade brasileira “mais cívica” (MELO NETO e FROES, 2002). Outro fator que eleva a complexidade do empoderamento em todos os níveis e impossibilita o desenvolvimento sustentável, descrito por Sachs (1993) é o “poder sobre” (GREEN, 2009), materializado contemporaneamente, no desenvolvimento capitalista de Singer (2004), em que elites exercem este tipo de poder sobre o restante das classes existentes. Neste sentido, o desenvolvimento capitalista propicia e fomenta “comunidades menos cívicas” (MELO NETO e FROES, 2002). Friedman (1992 apud OAKLEY e CLAYTON, 2003) aponta que um desenvolvimento alternativo, que neste caso pode ser o sustentável, envolve um processo de empoderamento social e político, cujo o objetivo a longo prazo é “reequilibrar” a estrutura de poder dentro da sociedade, fazendo com que a ação do Estado seja mais responsável perante a sociedade civil, fortalecendo os poderes desta última para que administre seus próprios assuntos. Em similaridade a Friedman (1992 apud OAKLEY e CLAYTON, 2003), Frey (2001) destaca que somente com uma distribuição mais igualitária de poder é possível a criação de caminhos para a superação da grande inércia e apatia política da massa da população, especialmente das camadas mais pobres nos países em desenvolvimento. Nesse sentido, o empoderamento pode ser considerado como um dos caminhos possíveis para a superação dos obstáculos do desenvolvimento sustentável destacados por Sachs (1993); Frey (2001) e propiciar uma sociedade “mais cívica” (MELO NETO e FROES, 2002), mesmo diante da complexidade apresentada no contexto brasileiro. Pereira (2006), em complementaridade à Barbosa (2003); Lemos (2005); Oliveira (2004) reconhece que existem vantagens e dificuldades para a implementação de processos e mecanismos que favoreçam a criação e ampliação de espaços e situações de empoderamento, em que a participação ativa dos excluídos ou dos indivíduos possuidores de acesso limitado aos bens sociais sejam crescentes e permanentes, face à cultura secular da dependência pessoal que tanto marcou a formação social brasileira e que está presente na administração hierarquizada e clientelística da burocracia estatal. 32 Mas, o “poder sobre”, não deve ser completamente eliminado, como defende Green (2009), mas aproveitado em situações onde o Estado é o ator, tendo em vista que este também pode propiciar melhorias na vida das pessoas. O Estado também não deve sempre utilizar este “poder sobre”. Frey (2001) em consonância com Friedman (1992 apud OAKLEY e CLAYTON, 2003), defende que o papel do Estado é disponibilizar meios para propiciar a disposição dos membros da sociedade em assumir a responsabilidade social em torno de assuntos que afetam toda a comunidade. Portanto, para o empoderamento na base da sociedade brasileira há a necessidade de romper o compromisso com a elite e exigir a descentralização do processo de decisão e a introdução de uma democracia participativa. Talvez, somente assim, será possível ter o empoderamento descrito por Pereira (2006, p. 1): Empoderamento significa em geral a ação coletiva desenvolvida pelos indivíduos quando participam de espaços privilegiados de decisões, de consciência social dos direitos sociais. Essa consciência ultrapassa a tomada de iniciativa individual de conhecimento e superação de uma situação particular (realidade) em que se encontra, até atingir a compreensão de teias complexas de relações sociais que informam contextos econômicos e políticos mais abrangentes. O empoderamento nessa perspectiva, demanda e possibilita autonomia, mas não no sentido etimológico da palavra de fazer a lei para si mesmo (do grego, auto = eu; nomos = lei) (MOURA, 2008; ZATTI, 2007), de maneira a se assemelhar ao comentário de Green (2009) sobre a interpretação reducionista de poder. Mas sim a autonomia defendida por Araújo (2011), em que as pessoas não são totalmente independentes, sem necessidades de vínculos, mas sim interdependentes e desprovidas da autosuficiência. Jacobi (2005) destaca que a autonomia descrita por Araújo (2011) só é possível pelo exercício da cidadania. Segundo o autor, a cidadania é expressa por meio de ações de integração social, conservação do ambiente, justiça social, solidariedade, segurança e tolerância. Essas ações talvez sejam a experiências estimuladoras da decisão e de responsabilidade abordadas por Freire (2002, p. 41) que possibilitariam o desenvolvimento de autonomia entre os indivíduos: A autonomia, enquanto amadurecimento do ser para si, é processo, é vir a ser. Não ocorre em data marcada. É nesse sentido que uma pedagogia da autonomia tem que estar centrada em experiência estimuladoras da decisão e da responsabilidade, vale dizer, em experiências respeitosas da liberdade. Diante desta afirmação, verifica-se que a autonomia é desenvolvida mediante a experiências vivenciadas pelo indivíduo, possibilitando uma liberdade, que segundo Gadotti (1997) e 33 Freire (2002) não é desassociada da autonomia. A autonomia, nesta perspectiva, assim como o empoderamento, não é algo endógeno do indivíduo e propiciado de forma instantânea (aos moldes de um fast-food), mas sim algo a ser desenvolvido mediante processos que demandam um período para o seu amadurecimento (aos moldes de uma árvore). Por isso, mais uma vez, é possível interpretar que o empoderamento e autonomia devem respeitar uma ordem cronológica, pois não se pode ter “galhos” que beneficiam todo um ambiente ao seu redor, se a semente não germinou. Fleck (2004) descreve, embasada em três obras de Paulo Freire (Pedagogia da autonomia, Pedagogia da esperança e Pedagogia do oprimido), algumas implicações de experiências que permitem o desenvolvimento da autonomia entre alunos no ambiente educacional, dentre as quais se destacam: “indignar-se diante da desumanização, das injustiças e das discriminações” (caracterizada pela superação da desumanização, das injustiças e das discriminações como movimento possível, quando houver coragem e determinação movida pela criticidade e pela ação ordenada do grupo); “consciência do poder que sofre e do poder que exerce, para tornarse sujeito livre” (faz com que os indivíduos tenham consciência do poder que sofrem e do poder que exercem, ficando dessa forma, menos vulneráveis aos jogos de poder que iludem e corrompem); dizeres e fazeres que promovem respeito e valorização das partes envolvidas (os indivíduos devem ser capazes de combinar, sendo que esse combinar está apoiado na capacidade de argumentação crítica que privilegia valores e referenciais reconhecidos pelos integrantes do acordo). Nesse sentido, verifica-se que empoderamento e autonomia decorrem um do outro, ou seja, não há empoderamento sem autonomia e autonomia sem empoderamento, sendo o ambiente educacional um dos locais possíveis para a sua fomentação. Indivíduos providos de empoderamento e autonomia podem, nesta perspectiva, superar os obstáculos do desenvolvimento sustentável (FREY, 2001; SACHS, 1993) ao reequilibrar as relações de poder (FRIEDMAN, 1992 apud OAKLEY e CLAYTON, 2003) de maneira cooperativa (ABRAMOVAY, 2010) pautada em uma autonomia cidadã (FLECK, 2004; FREIRE, 2002; GADOTTI, 1997; JACOBI, 2005). Neste sentido, há uma maior possibilidade de fomentar uma “sociedade mais cívica” (MELO NETO e FROES, 2002) sem a dependência de terceiros, uma característica “enraizada” da sociedade brasileira (BARBOSA, 2005; LEMOS, 2003; OLIVEIRA, 2004; PEREIRA, 2006). Dentro das conceituações apresentadas, 34 o empoderamento e a autonomia são incompatíveis com a humilhação social, sendo esta uma forma de desempoderamento em três níveis (individual, organizacional e comunitário). 2.3 Humilhação social A vulnerabilidade de um indivíduo, família ou grupos sociais refere-se à maior ou menor capacidade de controlar as forças que afetam seu bem-estar, ou seja, a posse ou controle de ativos que constituem os recursos requeridos para o aproveitamento das oportunidades propiciadas pelo Estado, mercado ou sociedade. (MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO, 2007, p. 14). Para entender a vulnerabilidade social optou-se pelo termo humilhação social conforme, tratado por Gonçalves Filho (1998, p. 1): A humilhação social conhece, em seu mecanismo, determinações econômicas e inconscientes. Deveremos propô-la como uma modalidade de angústia disparada pelo enigma da desigualdade de classes. Como tal, trata-se de um fenômeno ao mesmo tempo psicológico e político. O humilhado atravessa uma situação de impedimento para sua humanidade, uma situação reconhecível nele mesmo – em seu corpo e gestos, em sua imaginação e em sua voz – e também reconhecível em seu mundo – em seu trabalho e em seu bairro. Ainda de acordo com o autor, a humilhação social também assume o poder nefasto, ao mesmo tempo em que molda a subjetividade do individuo pobre, caracterizando-o frequentemente como um ser que não pode criar, mas que deve repetir, de maneira a esvaziá-lo das condições que lhe possibilitariam transcender a uma compreensão imediata da realidade (COSTA, 2004). Diante das conceituações apresentadas é observável que a humilhação social é uma vulnerabilidade social que desempodera em níveis individual, organizacional e comunitário de maneira a não permitir a manifestação da autonomia cidadã (FLECK, 2004; FREIRE, 2002; GADOTTI, 1997). A luz de Freire (2002), a humilhação social pode ser considerada como uma forma de opressão. Gonçalves Filho (1998) explica que psicologicamente, os humilhados socialmente sofrem continuamente o impacto de uma mensagem estranha, misteriosa e esperada: "vocês são inferiores". Nesse sentido, a humilhação social remete ao conceito de discriminação descrito pelo Programa Conjunto das Nações Unidas para o HIV/SIDA (ONUSIDA, 2005 p. 7): “a discriminação consiste em ações ou omissões que derivam de estigma e que são dirigidas contra indivíduos que são estigmatizados”. Para o ONUSIDA, o estigma é um processo dinâmico de desvalorização, que desacredita fortemente um indivíduo perante os outros. 35 Green (2009) em complemento à Gonçalves Filho (1998) e ONISUDA (2005), destaca que indivíduos despossuídos de capital financeiro, terra ou liberdade são discriminados com base em um ou mais aspectos de sua identidade pessoal, sua classe, gênero, etnicidade, idade ou sexualidade. Gonçalves Filho (1998, p.1) em consonância com Green (2009) destaca: Para os pobres, a humilhação social é uma realidade em ato ou é frequentemente sentida como uma realidade iminente, sempre a espreitar-lhes, onde quer que estejam, com quem quer que estejam. O sentimento de não possuírem direitos, de parecerem desprezíveis e repugnantes torna-se-lhes compulsivo. Nesta perspectiva, a discriminação é uma das características da humilhação social. A discriminação também pode ser oriunda da segregação do espaço, a qual Bichir (2006) define como uma separação constituída pelos padrões de localização de grupos sociais no território de um município. Para Gonçalves Filho (1998), os espaços urbanos são dotados do poder de segregar e sempre atualizar a desigualdade de classes para os humilhados socialmente. Segundo o autor, a manifestação da humilhação social nestes ambientes é dada onde a presença dos humilhados não pode existir, a não ser como a presença de subalternos, a serviço dos que despendem dinheiro e ordens. O autor ainda argumenta: “Para o que se beneficia de privilégios, pode não ser perceptível que os espaços citadinos, para o humilhado, carregam um sofrimento político corrossivo: são espaços imantados pelo poder de segregar, pelo poder de sempre atualizar a desigualdade de classes”. Neste sentido, para um indivíduo que não vivencia a humilhação social, é incompreensível o sofrimento ou mal-estar de um humilhado socialmente em um determinado local. A definição de Bichir (2006) atrelada aos posicionamentos de Gonçalves Filho (1998); ONISUDA (2005) também pode ser expandida para países e continentes, em relação aos imigrantes e grupos étnicos como os ciganos. A partir destes comentários, é possível considerar a segregação como uma característica da humilhação social. Kunis, Cruz e Checchia (2007), acrescentam mais uma das características da humilhação social: a desigualdade social. Segundo os autores, a humilhação social caminha com a desigualdade social ao parecer ter poder de controle, como se cada ser nascesse predisposto a um “cargo” na sociedade, manifestando comportamentos pertinentes a esse cargo de maneira a haver uma separação de classes. Gonçalves Filho (1998, p. 1) também comenta sobre a separação de classes ao colocar: 36 Esta separação foi obtida pela criação de duas categorias de homens: “os que mandam” e os que obedecem. Duas categorias que se estranham mutuamente e que não podem mais se reconhecer como iguais. Houve degradação dos dois lados: quem manda, deixou de lado suas mãos; quem obedece, obedece por medo e em situação de humilhação, deixando de lado seu espírito. Souza (2007), em complementaridade a Gonçalves Filho (1998), destaca que pesam sobre as classes pobres em nossa sociedade, o trabalho simplificado e o trabalho simples. Neste sentido, é admitida uma organização do trabalho que isola em um extremo a “gerência” e noutro a “operação braçal”. Entre os extremos, combinações que não superam a dissociação principal entre chefes e operários na visão do autor. Ainda de acordo com o autor, as atividades complexas são fragmentadas em atividades demasiadamente elementares e desqualificadas, exigindo pouca ou nenhuma instrução técnica ou escolar. E quanto ao trabalho simples (varrer, lavar, embalar o lixo, fazer camas), aquelas tarefas indispensáveis, mas necessárias, são reservadas aos pobres, ao invés de todos assumi-las. Esta separação de classes descrita por Gonçalves Filho (1998); Kunis, Cruz e Checchia (2007); Souza (2007), talvez seja oriunda do desenvolvimento capitalista descrito por Singer (2004), ao promover a separação entre a dimensão intelectual do trabalho e sua dimensão manual. Silva (2004) defende que em uma sociedade livre, deveria ser admissível apenas trabalhos complexos, sendo os únicos compatíveis com o espírito humano e suas potencialidades. Não deveriam serem aceitas as dissociações e fragmentação do trabalho. Tarefas simples e indispensáveis, deveriam, na visão do autor e de Souza (2007), socialmente generalizadas, um dever de todos e de cada um. Heller (1979, 1986, 1992 apud SILVA, 2004), em concordância à Gonçalves Filho (1998); Kunis, Cruz e Checchia (2007); Singer (2004); Souza (2007) considera que sentimentos como a vergonha e a culpa provindos dos humilhados socialmente estão a serviço de uma determinada ordem social de maneira a reforçar uma ideologia em que a exclusão social é prevista. Na visão do autor, a vergonha e a culpa funcionam em um sistema que busca tolher qualquer reação contrária a esta condição de exploração social por outra classe social. Gonçalves Filho (1998) aponta que além dos sentimentos de vergonha e culpa, o humilhado socialmente apresenta o sentimento de angústia. Angústia esta materializada pela postura corporal, pelo gesto, pela imaginação e pela voz do humilhado. 37 Por conseguinte, a discriminação (GREEN, 2009; ONISUDA, 2005), a segregação (BICHIR, 2006) e a desigualdade social (HELLER, 1979, 1986, 1992 apud SILVA, 2004; KUNIS, CRUZ e CHECCHIA, 2007; SOUZA, 2007) são características da humilhação social (GONÇALVES FILHO, 1998) provindas do desenvolvimento capitalista (SINGER, 2004) que não propiciam o empoderamento em todos os seus níveis (FUNG, 2012; PERKINS e ZIMMERMAN, 1995; ORNELAS, 2008) e a autonomia cidadã (FLECK, 2004; FREIRE, 2002; GADOTTI, 1997; JACOBI, 2005). No contexto brasileiro, a humilhação social é um processo histórico, como aponta Souza (2007, p. 195): A humilhação social foi iniciada por golpes de espoliação e servidão que caíram pesados sobre nativos e africanos, depois sobre imigrantes baixo-assalariados. Alcançou roceiros, mineiros ou operários, também uma multidão de pequenos servidores, subempregados e desempregados. Índios expostos à violação da terra e negros desterrados expostos ao racismo. A perda de bens, a ofensa contra crenças, ritos e festas, o trabalho forçado. A dominação dos engenhos ou depois nas fazendas, nas fábricas e nos escritórios. Roceiros sem terra, expostos a trabalhar para só comer. Cidadãos pobres expostos ao emprego proletário, ao desemprego e à indigência. Velhos expostos a ficarem para trás no trabalho acelerado. Mulheres detidas por seus pais, irmãos e maridos, por seus professores e chefes. Amantes expostos à vigilância e à proibição, quando o amor aconteceu fora da ordem erótica oficial. Loucos desmoralizados pelas ciências, cassados pelos tribunais, invalidados pelos manicômios. Crianças pobres e negras estigmatizadas como portadoras de deficiências intelectuais e afetivas por fracassarem num sistema escolar ineficiente. Nessa perspectiva, a característica da sociedade brasileira de “terceirizar” soluções de problemas coletivos (BARBOSA, 2003; LEMOS, 2005) e aguardar um salvador da pátria (OLIVEIRA, 2004), pode ser atribuída à historicidade de humilhação social que acompanha o país desde a sua descoberta, o que traz reflexos de uma sociedade “menos cívica” descrita por Melo Neto e Froes (2002) na contemporaneidade. Analisando as conceituações expostas, é possível formular a seguinte questão: “quais meios ou instrumentos seriam possíveis para propiciar o empoderamento em todos os seus níveis entre humilhados socialmente de maneira a superar os obstáculos do desenvolvimento sustentável colocados por Frey (2001) e Sachs (1993)?”. Considera-se, na visão do pesquisador, que um dos caminhos possíveis é o empreendedorismo social. 38 2.4 Empreendedorismo Antes de adentrar nas conceituações de empreendedorismo social e empreendedor social, é pertinente entender o empreendedorismo. Este entendimento é necessário, tendo em vista que o empreendedorismo social se apresenta como um “subproduto” dos estudos de empreendedorismo e detém vários aspectos e elementos. Os primeiros estudos acadêmicos relacionados ao empreendedorismo foram escritos por Richard Cantillon no século XVII, Jean Baptiste Say e Francis Walker no século XVIII, e Joseph Shumpeter no século XIX (ARMOND; NASSIF, 2009). O estudo científico do tema empreendedorismo, no meio acadêmico brasileiro e em países em desenvolvimento, é recente (BORBA; HOELTGEBAUM e SILVEIRA, 2009; SILVEIRA; ROPELATO e VIEIRA NASCIMENTO, 2010), sendo que o primeiro Encontro de Estudos sobre Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas (EGEPE) foi realizado em 2000. O empreendedorismo foi considerado como subárea no Encontro Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração (EnANPAD) apenas em 2003 (NASSIF et al., 2010). Apesar de estar ocorrendo uma maior produção científica relacionada ao campo de estudo sobre empreendedorismo, o mesmo ainda está em fase pré-paradigmática, em que não existem padrões definitivos, princípios gerais ou fundamentos que possam garantir de maneira cabal o conhecimento na área (DOLABELA, 2008). O empreendedorismo ainda é relacionado, muitas vezes, tanto academicamente, quanto pelo senso comum, exclusivamente ao exercício de uma atividade econômica como aponta o seguinte conceito: “o empreendedorismo é o envolvimento de pessoas e processos que em conjunto levam à transformação de ideias em oportunidades, e a perfeita implementação destas oportunidades leva à criação de negócios de sucesso” (DORNELAS, 2008, p. 22). Para o Global Entreneurship Monitor (GEM) (GRECO, 2010) em conformidade com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE, 2012), gradativamente está sendo abandonada esta visão reducionista de Dornelas (2008) acerca do empreendedorismo e o associado a qualquer atividade humana. Pela pluralidade de áreas que pesquisam sobre empreendedorismo, o que parece consensual entre os pesquisadores do tema é o fato de o empreendedorismo não pode ser encerrado em uma definição universal, uma vez 39 que isso não traduz a complexidade do fenômeno (ALMEIDA; GUERRA e JÚNIOR, 2010). Em oposição a Almeida, Guerra e Junior (2010), alguns autores, além de Dornelas (2008), possuem uma definição de empreendedorismo. Para Melo Neto e Froes (2002, p.6) e Dolabela (2008, p.59) o “empreendedorismo é um neologismo derivado da livre tradução da palavra entrepreneurship, sendo utilizado para designar os estudos do empreendedor, seu perfil, suas origens, seu sistema de atividades, seu universo de atuação”. Considerado o empreendedorismo como um campo de estudos, Filion (1997) propõe as temáticas de pesquisa mais discutidas em conferências anuais acerca do tema, conforme demonstrado no Quadro 2: Quadro 2 - Temas de pesquisa em empreendedorismo Características comportamentais dos empreendedores; Características econômicas e demográficas da pequena empresa; Empreendedorismo e pequenos negócios nos países em desenvolvimento; As características gerenciais dos empreendedores; O processo empresarial; Criação de empresas; Desenvolvimento de negócios; O capital de risco e financiamento de pequenas empresas; Gestão de negócios, recuperação e aquisição; Empresas de alta tecnologia; Alianças estratégicas; Empreendedorismo corporativo ou intraempreendedorismo; Negócio familiar; Autoemprego/trabalho autônomo; Incubadoras e sistemas de apoio ao empreendedorismo; Redes; Fatores que influenciam a criação e desenvolvimento de empresas; As políticas governamentais e criação de empresas; Mulheres, minorias, grupos étnicos e empreendedorismo; Educação empreendedora; Pesquisa e empreendedorismo; Estudos comparativos culturais; Empreendedorismo e sociedade; Franquias. Fonte: Filion (1997) 40 Diante dos temas identificados por Filion (1997), verifica-se a forte presença do aspecto econômico, materializado no universo das empresas (criação de empresas; empresas de alta tecnologia; o processo empresarial; fatores que influenciam a criação e desenvolvimento de empresas; franquias; entre outros), o que reafirma a prevalência do aspecto econômico nos estudos relativos ao empreendedorismo. Mas no Quadro 2, já começam a aparecer outros temas (mulheres, minorias, grupos étnicos e empreendedorismo; empreendedorismo e sociedade) apesar da ausência do tema empreendedorismo social. Nesse sentido, o empreendedorismo passa a ser compreendido como um meio de trazer desenvolvimento econômico aos excluídos e vulneráveis socialmente. Já a ausência do tema empreendedorismo social pode ser atribuída à pouca relevância, ou até mesmo, inexistência deste tema nas conferências mundiais, no ano de publicação deste quadro. Estes temas expostos demonstram aquilo que o próprio autor, Guimarães (2004) e Dolabela (2008) defendem como a existência de dois grandes grupos de pesquisadores em empreendedorismo, sendo que o primeiro grupo trabalha o aspecto comportamental, de maneira a definir o empreendedor e suas características. Já o segundo grupo estuda o aspecto econômico, de forma a entender a importância do empreendedor como força motriz do sistema econômico. Mas diante do que foi verificado no Quadro 2, há mais temas de pesquisas acerca do aspecto econômico do que comportamental do empreendedorismo. Mas qual é a definição de empreendedor e quais são suas competências? Ao termo empreendedor são atribuídos inúmeros significados, principalmente porque, como explica Dolabela (2008), são propostas elaboradas por pesquisadores de diferentes campos do conhecimento, que utilizam os princípios de suas respectivas áreas de interesse para construir o conceito . Na Tabela 2, Dornelas (2007) e Lenzi, Kiesek e Zucco (2010), a partir de vários autores, descrevem as competências, que definem frequentemente, um empreendedor: Tabela 2 - Principais competências empreendedoras (por vários autores) Ano Autor Principais competências empreendedoras encontradas 1848 Décadas Mill Weber / Schumpeter Assumir riscos/tolerância a risco. Autoridade formal; iniciativa; inovação. de 1910 41 à 1940 Década Sutton / McClelland / Desejo/busca de responsabilidade; busca de autoridade de 1950 Hartman /Gould / formal; assumir riscos; necessidade de realização; à 1960 Pickle / Davids / otimismo; relacionamento; poder; autoconsciência; Wainer & Rubin ambição; desejo de independência; autoconfiança; foco; habilidade de comunicação; conhecimento técnico; percepção de oportunidade. Década Collins & Moore / de 1970 Hornaday & Bunker / Palmer / Aboud / Draheim / Howell / Satisfação e prazer pelo que faz; necessidade da realização; inteligência; iniciativa; liderança; desejo de ganhar dinheiro; desejo de reconhecimento; tolerância Winter / Borland Liles / mensuração/avaliação Bruce / Gasse / Shapero independência; / Timmons / DeCarki & inovação; Lyons / Cantilon criatividade; (modelos do histórico experiência; de às incertezas; risco; autonomia; familiar; agressividade credibilidade; referência); influências necessidade de poder; autocontrole; tomada de decisões; orientado a valores pessoais; autoconfiança; orientado a meta; autocontrole. Década Shumpeter / Brockhaus Propensão a assumir riscos; interesse em fama e de 1980 / Hull / Bosley & Udell dinheiro; autocontrole; / Sexton / Hisrich & energia/ambição; reação criatividade; positiva realização; ao fracasso O’Brien / Mescon & (superação); autodisciplina; perseverança; orientado Montanari / Welsch & pela ação; orientado a metas; autonomia; dominância; White / Dunkelberg & organização; necessidade de controlar; busca por Cooper Young / Welsch / e responsabilidade; autoconfiança; assumir desafios; risco Pinchot, calculado; Drucker / Filion orientado ao crescimento; senso de independência; especialização; maquiavelismo; aberto a inovação; otimismo; execução; planejamento; inovação; iniciativa; visão; imaginação; oportunidade; objetivos, sonho; criatividade; realização pessoal. Década Cooley / Zahra / Dedicação pessoal; planejamento e metas; persuasão; de 1990 Cunningham e independência; comprometimento; iniciativa; renovação 42 Lischeron / Farrel / estratégica; novos negócios; liderança; ação; tomada de Spencer & Spencer / riscos; inovação; visão; valores pessoais; realização; Cossete / Miner, / planejamento; Sharma & Chrisman oportunidades; autoconfiança; tomada comprometimento; de persistência; riscos; informações; qualidade; metas; rede de relacionamento; novas ideias; administração; criação. Década Fleury / Klerk & Ação; mobilização de recursos; entrega; engajamento; de 2000 Kruger / Dornelas / responsabilidade; visão estratégica; criatividade; visão Santos / Seifert / Dutra de futuro; condição de assumir tomada de riscos; determinação; valores; adaptabilidade; prontidão; firmeza; ambição; suficiência de capital; oportunidade; criação; iniciativa; gerenciamento de riscos; planejamento; persistência; relacionamentos; novos negócios; renovação estratégica; inovação; comunicação; liderança; capacidade de resolução de problemas; direcionamento estratégico; negociação; visão sistêmica; orientação para qualidade. Fonte: Adaptado de Dornelas (2007) e Lenzi, Kiesek e Zucco (2010) Verifica-se nesta tabela uma série de competências empreendedoras que se alteram durante anos e o surgimento de novas. Há alternância daquilo que é considerado como competência, também na perspectiva individual de cada autor, como por exemplo, Shumpeter. Nas décadas de 1910 a 1940, o autor considerava iniciativa e inovação como competências empreendedoras. Na década de 1980, o mesmo autor, passou a considerar sonho, criatividade, energia, realização pessoal, poder e mudanças, como competências empreendedoras. Neste sentido, as definições de competências empreendedoras são influenciadas pelo “espírito da época”. Mas algumas competências persistem ao longo dos anos se analisadas as definições de empreendedor oriundas de Andrade (2010); Chiavenato (2007); Dolabela (2008); Drucker (2003); Filion (1999); Fortin (1992); Kuratko (2009) e Shumpeter (1934). Nestas definições, em conformidade com a Tabela 2, há a presença das competências inovação e disposição de correr à riscos. A Tabela 2 também aponta para o equilíbrio, nos anos 2000, de competências econômicas e 43 comportamentais, o que revela compatibilidade com o posicionamento recente do SEBRAE (2012), o qual considera a presença do empreendedorismo em qualquer atividade humana, não apenas econômica. Diante desde fato, talvez se Filion (1997) atualiza-se as temáticas sobre empreendedorismo, poderia haver um maior equilíbrio entre temas de pesquisas e debates tanto econômicos, quanto comportamentais. É verificado também, na Tabela 2, um aumento das competências empreendedoras nos anos 2000 em relação ao ano de 1848, e um número ainda maior de competências descritas nas décadas de 1970 e 1980. Talvez isto represente o pouco interesse nas competências empreendedoras em 1848, e um maior interesse de pesquisas do aspecto comportamental nas décadas de 1970 e 1980, apesar de ser um tema pouco explorado no Quadro 2 de Filion (1997) que retrata o final da década de 1990. Outro aspecto observável na Tabela 2 é similaridade de algumas competências empreendedoras, como as relacionadas ao risco, sendo diferenciado apenas em sua nomenclatura. Já a competências empreendedora planejamento poderia englobar uma série de competências descritas, como por exemplo, resolução de problemas e visão de futuro. Diante do exposto na Tabela 2 e dos autores abordados, o empreendedor pode ser considerado um indivíduo dotado de algumas competências descritas, principalmente inovação e disposição de correr riscos, ambas atemporais. Dornelas (2007) se aprofunda um pouco mais e estabelece tipologias de empreendedores, que serão descritas sob sua ótica. Para o autor, existem vários tipos de empreendedores: o empreendedor nato (mitológico), o empreendedor que aprende (inesperado), o empreendedor serial (cria novos negócios), o empreendedor corporativo (organizacional), o empreendedor por necessidade (sobrevivência), o empreendedor herdeiro (sucessão familiar), o empreendedor “normal” (planejado) e o empreendedor social. O empreendedor “nato” normalmente começa a trabalhar em sua juventude e adquire as habilidades de negociar e vender. É um indivíduo visionário, otimista, à frente de seu tempo e extremamente comprometido com a realização de seus sonhos. “O empreendedor que aprende” é um indivíduo que depara com uma oportunidade inesperada de negócio e toma a decisão de mudar o que faz de sua vida para a dedicação ao negócio próprio. É um indivíduo que nunca cogitou em ser empreendedor, que antes de tornar um, via 44 a alternativa de carreira em grandes empresas como a única possível. O momento de disparo ou de tomada de decisão ocorre quando alguém o convida para fazer parte de uma sociedade ou ainda, quando ele próprio percebe que pode criar um negócio próprio. A busca de uma oportunidade pode ser motivada pela busca de independência, de aumento da renda pessoal ou pela realização de um sonho como aponta Freire dos Santos et al. (2007) em complementaridade à Dornelas (2007). Antes de se tornar um empreendedor, o indivíduo acreditava que não gostava de assumir riscos. “O empreendedor serial” é aquele apaixonado não apenas pelas empresas que cria, mas, principalmente, pelo ato de empreender. É um individuo que não satisfeito em apenas criar um negócio e ficar à frente dele até torná-lo uma grande corporação. Como geralmente é uma pessoa dinâmica, prefere os desafios e a adrenalina envolvidos na criação de algo novo a assumir uma postura de executivo que lidera grandes equipes. Sua habilidade maior é acreditar nas oportunidades e não descansar enquanto não as vir implementadas. Ao concluir um desafio, precisa de outros para a manutenção de sua motivação. Às vezes se envolve em vários negócios ao mesmo tempo e não é incomum ter várias histórias de fracasso, mas estas servem de estímulo para a superação do próximo desafio. “O empreendedor corporativo” tem ficado mais em evidência nos últimos anos, devido à necessidade das grandes organizações de renovar, inovar e criar novos negócios. São geralmente executivos muito competentes, com capacidade gerencial e conhecimento de ferramentas administrativas. Assumem riscos e têm o desafio de lidar com a falta de autonomia, já que nunca terão o caminho totalmente livre para agir. Isso faz com que desenvolvam estratégias avançadas de negociação. Os empreendedores corporativos não contentam em ganhar o que ganham e adoram planos com metas ousadas e recompensas variáveis. Caso saiam da corporação para criar o próprio negócio, podem ter problemas de início, já que estão acostumados com as regalias e o acesso aos recursos do mundo corporativo. “O empreendedor por necessidade” cria o seu próprio negócio porque não tem alternativa de ocupação e renda (FREIRE SANTOS et al., 2007). Geralmente não tem acesso ao mercado de trabalho ou foi demitido. Não resta outra alternativa a não ser trabalhar por conta própria. Geralmente é envolvido em negócios informais, desenvolvendo tarefas simples, prestando 45 serviços e conseguindo poucos resultados financeiros. É um grande problema social para países em desenvolvimento, pois apesar de ter iniciativa, trabalhar arduamente e buscar de todas as formas a sua subsistência e a dos familiares, não contribui para o desenvolvimento econômico. Suas iniciativas empreendedoras são simples, pouco inovadoras, geralmente não contribuem com impostos e outras taxas, e acabam por inflar as estatísticas empreendedoras de países em desenvolvimento, como no Brasil. De acordo com Greco (2009), o empreendedor por necessidade é desprovido de informações sobre tecnologias e mercado, apoio financeiro e formação empreendedora. Neste caso, o empreendedorismo não é idealizado previamente e é apresentado como mais uma alternativa de sobrevivência do que como uma escolha planejada. “O empreendedor herdeiro” tem o desafio de multiplicar o patrimônio recebido por sua família. Ele aprende a arte de empreender com exemplos da família e geralmente segue seus passos. Muitos começam bem cedo a entender como o negócio funciona e a assumir cargos de direção ainda jovens. Alguns têm senso de independência e desejo de inovar, de mudar as regras do jogo. Outros são conservadores e preferem não mexer no que tem dado certo. Estes extremos, na verdade, mostram que existem variações no perfil do empreendedor herdeiro. Mais recentemente, os próprios herdeiros e suas famílias, preocupados com o futuro de seus negócios, têm optado por buscar mais apoio externo, através de cursos de especialização, Master of Business Administration (MBA), programas especiais voltados para empresas familiares, com o objetivo de não tomar decisões apenas com base na experiência e na história de sucesso das gerações anteriores. Para Luecke (2009) os filhos de proprietários de empresas têm uma probabilidade maior do que os outros de começar ou comprar suas próprias empresas. Segundo o autor este fato ocorre porque os desafios, as alegrias, as escolhas difíceis e as recompensas decorrentes da direção de uma empresa são tópicos frequentes de discussão nas famílias que possuem um negócio. Os filhos aprendem “o que” e o “como” do empresário a partir destas discussões e dos muitos fins de semana e verões trabalhando na loja ou fábrica da família. O empreendedor que busca minimizar riscos, que se preocupa com os próximos passos do negócio, que tem uma visão clara e que trabalha em função de metas é definido pelo autor como o “normal” ou planejado. “Normal” do ponto de vista do que se espera de um empreendedor, mas não necessariamente do que é encontrado nas estatísticas gerais sobre a 46 criação de negócios. No entanto, ao analisar apenas empreendedores bem-sucedidos, o planejamento aparece como uma atividade bem comum, apesar de muitos dos bem-sucedidos também não estarem situados nesta tipologia. Finalizando as tipologias, Dornelas (2007) considera que “o empreendedor social” visa a construção de um mundo melhor para as pessoas por meio da criação de oportunidades para aqueles que não têm acesso a elas. As características são similares às dos demais empreendedores, sendo que a diferença está no compartilhamento dos resultados, sejam estes financeiros ou sociais. Para a organização mundial de apoio ao empreendedorismo social, ASHOKA (2012), o empreendedor social é definido como: O indivíduo que aponta tendências e traz soluções inovadoras para problemas sociais e ambientais, seja por visualizar um problema ainda não reconhecido pela sociedade e/ou por vê-lo por meio de uma perspectiva diferenciada. Por meio de sua atuação ele(a) acelera o processo de mudanças e inspira outros autores a se engajarem em torno de uma causa comum. Diante das premissas mencionadas até o momento na revisão bibiográfica, o empreendedor social apresenta uma maior compatibilidade para a superação dos obstáculos do desenvolvimento sustentável descritos por Frey (2001); Sachs (1993); e pode ser um indivíduo que propicie o reequilíbrio de poder (FRIEDMAN, 1992 apud OAKLEY e CLAYTON, 2003) em um ambiente de humilhação (GONÇALVES FILHO, 1998). Neste sentido, o empreendedor social, poderá propiciar uma sociedade mais cívica (MELO NETO e FROES, 2002) no contexto brasileiro. Mas o que vem a ser o universo do empreendedorismo social no qual o empreendedor social está inserido? 2.4.1 Empreendedorismo social O empreendedorismo social, assim como o desenvolvimento sustentável (BELLEN, 2004; MATIAS; PINHEIROS, 2008) e o próprio empreendedorismo (BORBA; HOELTGEBAUM e SILVEIRA, 2009; SILVEIRA; ROPELATO e VIEIRA NASCIMENTO, 2010), obteve uma maior visibilidade no Brasil durante o final do século XX, devido à projeção de um movimento internacional, cujas ideias-força são: o papel dos indivíduos no processo social, a exigência por inovação e a utilização da lógica dos negócios para as iniciativas de geração de renda (ARMANI, 2008). Partindo desta prerrogativa, destaca-se a seguinte conceituação de 47 empreendedorismo social: Empreendedorismo social é um termo que significa um negócio lucrativo e que ao mesmo tempo traz desenvolvimento para a sociedade. As empresas sociais, diferentes das ONGs ou de empresas comuns, utilizam mecanismos de mercado para, por meio da sua atividade principal, buscar soluções de problemas sociais. (PORTAL BRASIL, 2012). Pelas colocações de Frey (2001) e Sachs (1993) , em que os obstáculos do desenvolvimento sustentável são políticos e não econômicos, as ideias-força descritas por Armani (2008) e a conceituação apresentada pelo Portal Brasil (2012) são insuficientes, no sentido de serem apresentadas como uma “socialização” do empreendedorismo capitalista, destacando a figura da empresa como promotora de uma mudança de paradigma. Esta conceituação contribui para o desenvolvimento sustentável de forma limitada e não propicia uma transposição do desenvolvimento capitalista, descrito por Singer (2004). Verifica-se a importância do “lucro” e dos “mecanismos de mercado”, que almeja a maximização do capital financeiro, maximização esta que pode distorcer um empreendimento com enfoque em problemas sociais. Neste ponto é questionável também, o conceito de “negócio social” defendido contemporaneamente por Yunus (2010, p. 30): O negócio social é uma nova categoria de negócios. Não estipula o fim do modelo voltado para a maximização do lucro. Pelo contrário, ele amplia o mercado ao dar uma nova opção a consumidores, empregados e empresários. Agrega uma nova dimensão ao mundo dos negócios e desperta uma nova consciência social entre os envolvidos. O negócio social é uma derivação do modelo econômico-liberal proposto por Frey (2001), de maneira a privilegiar o “custo-benefício” e, consequentemente, a monetarização dos bens ambientais (LENZI, 2009), ou, como neste caso em específico, dos problemas sociais. A luz de Capra (1982), que distingue causas e consequências, o negócio social combate as consequências do modelo de desenvolvimento vigente e não as causas. Pobreza e degradação do meio ambiente são consequências de questões sociais e políticas, como aponta Sachs (1993). Tais consequências, segundo o autor, podem ser sanadas ou evitadas, tendo em vista que não há quaisquer limites ecológicos ou falta de tecnologia que impeçam a sua superação. Cabem algumas indagações do pesquisador neste ponto: por que há necessidade de negócios sociais e não de uma maior participação de cidadãos para a resolução de problemas sociais e ambientais? Por que colocar o consumidor como sendo detentor da capacidade de alterar 48 paradigmas ao invés do cidadão? Por que um terceiro é capaz de abrir um negócio social e não a própria comunidade envolvida? Na perspectiva do desenvolvimento sustentável (SACHS, 1993, 2004), há uma conceituação de empreendedorismo social mais adequada: O empreendedorismo social refere-se às iniciativas empreendedoras voltadas às causas sociais. Difere do empreendedorismo tradicional (empresarial ou corporativo) – mais conhecido, pois este busca maximizar retornos sociais ao invés do lucro. Baseia-se na cooperatividade, é centrado no desenvolvimento autônomo, autogestionário de cada pessoa, comunidade e nação. Evidencia a sustentabilidade, o respeito ao meio, apoia-se na dimensão indivíduo-grupo-coletividade-sociedade e tem os membros da comunidade como os principais agentes ou sujeitos do desenvolvimento. (NEVES, GUEDES e SANTOS, 2010 p. 4). Em consonância com Neves, Guedes e Santos (2010), Melo Neto e Froes (2002) propõem uma diferenciação entre empreendedorismo privado e empreendedorismo social, conforme Tabela 3: Tabela 3 - Empreendedorismo privado X empreendedorismo social Empreendedorismo privado Empreendedorismo social 1 – é individual 1 – é coletivo 2 – produz bens e serviços para o mercado 2 – produz bens e serviços para a comunidade 3 – tem o foco no mercado 3 – tem o foco na busca de soluções para os problemas sociais 4 – sua medida de desempenho é o lucro 4 – sua medida de desempenho é o impacto social 5 – visa satisfazer necessidades dos clientes e 5 – visa resgatar pessoas da situação de risco ampliar as potencialidades do negócio social e promovê-las Fonte: Melo Neto e Froes (2002). O empreendedorismo social, proposto por Melo Neto e Froes (2002), na Tabela 3 pode ser utilizado como um meio ou instrumento de superação dos obstáculos do desenvolvimento sustentável (FREY, 2001; SACHS, 1993), ao permitir o fomento da cooperatividade humana (ABRAMOVAY, 2010) e o reequilíbrio do poder (FRIEDMAN, 1992 apud OAKLEY e CLAYTON, 2003) ao possibilitar a interação entre o Estado e seus pares (GREEN, 2009), tendo em vista a coletividade necessária para a sua disseminação. Mas, tentar disseminar o empreendedorismo social de Melo Neto e Froes (2002); Neves Guedes e Santos (2010) no Brasil é desafiante, por dois motivos apontados por Oliveira 49 (2004): o primeiro desafio é a criação do capital social, o que, segundo o autor, é difícil, tendo em vista o histórico individualista da sociedade brasileira, sintetizado no seguinte pensamento: “o que eu vou ganhar fazendo isso?”. Ou ainda, pela vaidade dos gestores das organizações públicas, privadas e do terceiro setor em que prevalece a cultura do tipo “minhas crianças”, “meus pobres”. O segundo desafio é o empoderamento dos sujeitos do processo, ou seja, quebrar o discurso do “só tenho direito e não tenho nada de deveres” e fazer com que os indivíduos, principalmente os excluídos e marginalizados, tenham uma postura de cidadãos e não de vítimas e comecem a exercer sua cidadania ao invés de aguardar um “salvador da pátria”. Como já foi comentado, o aguardo de um terceiro, no caso, um “salvador da pátria” é uma característica da sociedade brasileira, como apontam Barbosa (2003); Lemos (2005) influenciada pela historicidade de humilhação social (SOUZA, 2007). Oliveira (2004) assim como Melo Neto e Froes (2002), apontam as possibilidades da implementação do empreendedorismo social: geração de dinamismo e objetividade; geração de resultados sociais de impacto; criação de capital social e empoderamento; resgate da autoestima e visão do futuro; estimulação das pessoas ao engajamento cívico; geração de novos valores e mudanças de paradigmas; inovação, criatividade e cooperação como pilares de suas ações. Neste sentido, o empreendedorismo social pode ser considerado também, como um instrumento de mudança cultural no contexto brasileiro. Verifica-se também neste ponto, o fomento de duas competências empreendedoras, criatividade e inovação, ambas descritas por Andrade (2010); Chiavenato (2007); Dolabela (2008); Dornelas (2007); Drucker (2003); Filion (1999); Fortin (1992); Kuratko (2009); Lenzi, Kiesek e Zucco (2010) e Shumpeter (1934). Diante do que foi exposto, o empreendedorismo social pode ser entendido como um possível instrumento de mudança cultural, com potencial de promover o desenvolvimento sustentável, tendo em vista que o mesmo pode superar os obstáculos descritos por Frey (2001) e Sachs (1993) ao possibilitar um reequilíbrio de poder (FRIEDMAN, 1992 apud OAKLEY e CLAYTON, 2003). Partindo destas premissas, há necessidade de haver um estímulo ao empoderamento em todos os seus níveis (FUNG, 2012; ORNELAS, 2008; PERKINS e ZIMMERMAN, 1995) para que o empreendedorismo social se torne uma realidade e promova transformações em comunidades ao possibilitar uma autonomia cidadã (FLECK, 2004; FREIRE, 2002; GADOTTI, 1997; JACOBI, 2005) de maneira a alterar o histórico 50 individualista da sociedade brasileira. Um dos caminhos para tornar possível essa realidade encontra-se na educação empreendedora. 2.5 Educação empreendedora O primeiro curso na área de empreendedorismo no Brasil surgiu em 1981, na Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), em São Paulo por iniciativa do professor Ronald Degen. Posteriormente, outras universidades foram instituindo cursos e grupos de estudos sobre empreendedorismo no Brasil, como a Universidade de São Paulo (USP) em 1984, a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em 1990, a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em 1992 e a Universidade Federal de Alagoas (UFAL), em 1993 (DOLABELA, 2008). Este fato revela um atraso em relação aos Estados Unidos, onde o primeiro curso de empreendedorismo foi ministrado por Myles Mace em 1947 na Harvard University (LOPES, 2010). A educação empreendedora no Brasil tem uma presença maior em níveis universitários, especialmente como uma disciplina do curso de Administração, diferenciando-se dos Estados Unidos e de alguns países europeus, onde é difundida em todos os níveis educacionais (LOPES, 2010). Contudo, essa autora argumenta que o ensino do empreendedorismo nos cursos de Administração, no contexto brasileiro, também é problemático, tendo em vista que estes cursos normalmente buscam a formação de mão de obra para multinacionais, considerando a disciplina de empreendedorismo como optativa. A disciplina de empreendedorismo, quando ofertada pelos cursos de Administração, é limitada ao ensino da elaboração de um plano de negócios. Para Rosa (2004, p. 10) um plano de negócio pode ser definido como: Um documento que descreve por escrito os objetivos de um negócio e quais passos devem ser dados para que esses objetivos sejam alcançados, diminuindo os riscos e as incertezas. Um plano de negócio permite identificar e restringir seus erros no papel, ao invés de cometê-los no mercado. Neste sentido, a educação empreendedora brasileira, tende a privilegiar o aspecto econômico (DOLABELA, 2008; FILION, 1997; GUIMARÃES, 2004) do empreendedorismo. O próprio empreendedorismo, possivelmente influenciado por esta perspectiva econômica, é 51 distorcido na percepção da sociedade brasileira, sendo abordado de forma reducionista, na figura do empresário. Como Barbosa (2003) e Lemos (2005) sintetizam, no Brasil, diferentemente dos Estados Unidos, não é legitimado o progresso material que o empresário possa obter. O empresário, é considerado como “o patrão que ficou rico explorando os pobres”, “que ficou rico fazendo acertos com os poderosos” e “que é desonesto e antiético”. Nesta perspectiva, o empresário é uma figura percebida de forma negativa no país. Dolabela (2008), em consonância com Lopes (2010), defende a necessidade de disseminar a cultura empreendedora desde a educação infantil. Somente assim, na visão dos autores, há a possibilidade da criação de uma sociedade empreendedora, dirigida por uma nova cultura, que acolha os valores empreendedores. Valores empreendedores que priorizam a geração e distribuição de riquezas, a inovação, a cidadania, a ética, a liberdade em todos os níveis e o respeito ao homem e ao meio ambiente. Nesse sentido, ambos os autores estão propondo uma educação empreendedora brasileira que possibilite a autonomia descrita por Fleck (2004); Freire (2002); Gadotti (1997) e Jacobi (2005). Tais valores empreendedores, na visão de Dolabela (2008), devem superar a cultura contemporânea brasileira, que aponta para o emprego (principalmente em órgãos públicos), o medo ao risco e ao erro e a dependência dos governos, que impedem a criação de capital social através da cooperação estendida socialmente. Neste sentido há uma similaridade com Barbosa (2003); Lemos (2005); Oliveira (2004); Pereira (2006) em relação à dificuldade da formação de capital social na sociedade brasileira, que pode viabilizar uma sociedade “mais cívica” de Melo Neto e Froes (2002). De acordo com Greco (2010), autores do relatório do GEM “Empreendedorismo no Brasil, 2010”, em complementaridade à Dolabela (2008); Lopez (2010), há uma série de limitações em termos da educação empreendedora no país, dentre as quais se destacam: a ausência do estudo de empreendedorismo nas escolas; indisposição dos professores em ensinar a “correr riscos”; cultural nacional incipiente em relação à educação empreendedora e baixo nível da educação da população. Nessa perspectiva, há uma indisposição dos professores brasileiros em propiciar experiências que permitam o desenvolvimento de uma das principais competências empreendedoras: a disposição de correr riscos (ANDRADE, 2010; CHIAVENATO, 2007; DOLABELA, 2008; DORNELAS, 2007; DRUCKER, 2003; FILION, 52 1999; FORTIN, 1992; KURATKO, 2009; LENZI, KIESEK e ZUCCO, 2010; SHUMPETER, 1934). Todavia, o país não é desprovido de atividades de educação empreendedora nacionais, tendo a presença frequente do SEBRAE nestas atividades, conforme se verifica na Tabela 4. Tabela 4 - Relação de algumas atividades empreendedoras oferecidas pelas instituições de ensino nacionais por tipo de público e dinâmica de processo Atividade Público Dinâmica do processo Feira Brasileira de Ciências e Discentes da 8° ao 9° do Submissão de um projeto, Engenharia (FEBRACE) Ensino Fundamental, do podendo se incluir em Ensino Médio ou do Ensino diversas categorias das Técnico das escolas públicas Ciências (Exatas e da Terra, e particulares. Biológicas, da Saúde, Agrárias, Sociais e Humanas) e da Engenharia e suas aplicações. O projeto é avaliado por um Comitê. O objetivo central da feira é estimular a criatividade, a inovação e o empreendedorismo pela criação de projetos inovadores nas áreas de Ciências da Natureza, Matemáticas e suas Tecnologias Programa Nacional de apoio Crianças, jovens e adultos Apoio à realização de feiras à Feiras de Ciências da das escolas públicas. de ciências e mostras Educação Básica científicas de âmbitos (FENACEB) regional, estadual e municipal. Pedagogia Empreendedora Implementada em 120 O Programa da Educação (em 2012) cidades brasileiras nos Empreendedora é destinado estados do Paraná (maior aos discentes de 4 a 17 anos, concentração), Minas Gerais, da pré-escola ao Ensino Rio Grande do Sul, São Médio, com a finalidade de Paulo e Espírito Santo. O desenvolver a capacidade projeto reúne cerca de 10 mil empreendedora aplicável a professores e 300 mil alunos qualquer atividade e não da Educação Básica. somente para a criação de empresas. Essa atividade é escolhida pelo discente. Inicialmente, o professor participa de um seminário para conhecer a metodologia 53 Oficina do (em 2012) Empreendedor Utilizada em projetos do Instituto Euvaldo Lodi (IEL), Confederação Nacional da Indústria, (CNI), SEBRAE, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e outros órgãos). Implementada em 400 instituições de ensino superior, atingindo cerca de 3.500 professores e 160.000 alunos/ano desde 1996. Projeto Despertar Reúne 134 escolas de Ensino Médio, sendo resultado da parceria entre o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE)/RN e a Secretaria de Educação e Cultura do Governo do Estado do Rio Grande do Norte. Jovens Empreendedores – Realizado entre o SEBRAE e Primeiros as Secretarias Passos Municipais de Educação. Junior Achievement Oferecido para os alunos do Ensino Fundamental, tendo atingido 2.675.147 alunos deste 1984. Projeto Aprender a Parceria entre a Fundação Empreender (atividade Roberto Marinho, o Programa Brasil descontinuada) Empreendedor e o SEBRAE Nacional. Programa Integrado Oferecido em parceria entre do programa e, a partir dessa base, a escola vai criar sua própria cultura empreendedora. É uma metodologia de autoaprendizado, através da qual a pessoa irá construir, de forma autônoma, a sua visão e capacidade empreendedora. Por se propor como instrumento do desenvolvimento local, a metodologia envolve a comunidade, trazendo para a sala de aula as forças dinâmicas da sociedade. O objetivo é preparar aluno do Ensino Médio para os desafios e oportunidades do mercado de trabalho e para o entendimento do panorama socioeconômico globalizado. Objetiva despertar o espírito empreendedor através de uma proposta pedagógica na educação Básica – Ensino Fundamental. Visa despertar no jovem a competência empreendedora, estimular o desenvolvimento pessoal, as habilidades básicas de comunicação, fortalecer os princípios éticos e promove a vivência empresarial no Ensino Fundamental. Dissemina o ensino do empreendedorismo de maneira dinâmica e criativa a milhares de pessoas por meio de um curso formado por dez programas de TV e um livro texto com dez capítulos correspondentes. Não descrito. 54 MEC/SEBRAE de Técnicos Empreendedores (site não encontrado para atualização) o Ministério da Educação (MEC) e o SEBRAE para os discentes das escolas técnicas profissionalizantes. Incubadoras e Parques A partir da ação do CNPq e Tecnológicos do IEL, em conjunto com SEBRAE; a atividade destina-se aos estudantes universitários Empretec (SEBRAE) Empresários e/ou pessoas interessadas em montar seu próprio negócio. Também podem participar profissionais liberais, funcionários de empresas diversas. Introdução da educação empreendedora em mais de 400 instituições de ensino superior em quase todos os estados brasileiros. A metodologia é vivencial e altamente interativa, com jogos, exercícios, palestras, atividades para serem executadas em sala e atividades extras, todos os dias. Existem outros exercícios dentro do seminário, nos quais os facilitadores explicam todas as regras para a execução. Fonte: Mamede e Meza et al. (2005 apud GRECO (2009) Nota: tabela atualizada pelo pesquisador pela utilização das seguintes fontes: Febrace (2012); Fernado Dolabela (2012); Fundação Roberto Marinho (2012); Junior Achievement Brasil (2012); Ministério da Educação (2012); SEBRAE (2012); SEBRAE – Rio Grande do Norte (2012) e SEBRAE – São Paulo (2012). Verifica-se na Tabela 4, a dependência do SEBRAE e do autor Fernando Dolabela, nas atividades de educação empreendedora no Brasil. Observa-se, também, que em maior parte dos projetos de educação brasileira, a prevalência do aspecto econômico, materializado nas figuras da empresa e seu proprietário, sendo o último apresentado em uma percepção negativa no país. Um caso de educação empreendedora que envolve diversas atividades complementares a ser destacado é o de São José dos Campos - SP, em que a Pedagogia Empreendedora foi um dos instrumentos utilizados pelo prefeito para a implementação de uma política pública de educação empreendedora. Como destaca Lopes (2010), nesse município, foi criado o Centro de Educação Empreendedora (CEDEMP), que tem como missão coordenar, implementar e sistematizar todas as atividades desenvolvidas pelas escolas, bem como disseminar a cultura empreendedora no município. Este Centro utiliza os seguintes programas e atividades: 55 “Profissional do Futuro”, com o propósito de desenvolver a competência empreendedora de alunos da sétima e oitava séries; “Feira do Jovem Empreendedor Joseense”, direcionada para alunos do sétimo ao nono anos, com o objetivo de desenvolver o espírito empreendedor no município citado; “Programa Aprendiz de Turismo”, com o objetivo de conscientizar os estudantes acerca da importância do turismo para a comunidade, o Brasil e o mundo; “Jovens Empreendedores – Primeiros Passos – SEBRAE-SP”, com o propósito de despertar o espírito empreendedor através de uma proposta pedagógica na Educação Básica; “Programa da Junior Achievement”, que visa despertar no jovem a competência empreendedora, estimular o desenvolvimento pessoal, as habilidades básicas de comunicação, fortalecer os princípios éticos e promover a vivência empresarial no Ensino Fundamental e, como última atividade, a “Pedagogia Empreendedora”, com o objetivo de promover o desenvolvimento sustentável humano, social e econômico, enfatizando a cooperação e a estrutura de poder como condições necessárias à promoção do desenvolvimento empreendedor das pessoas. Verifica-se portanto, no exemplo de São José dos Campos - SP a presença não de uma, mas de várias atividades e programas para a promoção da educação empreendedora, apesar de todas considerarem o aspecto econômico como predominante. Apesar da existência destas atividades no Brasil conforme Tabela 4, a educação empreendedora no país carece de modelos metodológicos alternativos com outras finalidades além da abertura de empresas, ou seja, modelos que não priorizem apenas o aspecto econômico. Apesar do autor Fernando Dolabela (2004, 2008, 2012) defender que os seus métodos (Oficina do Empreendedor / Pedagogia Empreendedora) são aptos para a promoção da sustentabilidade, ao serem analisados por outros autores, parecem ser insuficientes para essa finalidade. 2.5.1 Métodos de educação empreendedora e a “Dolabetização” da educação empreendedora brasileira Dolabela (2008) destaca que embora não exista certeza de que é possível ensinar empreendedorismo, existe um ponto em que todos os estudiosos do tema concordam: é possível aprender a ser empreendedor, desde que utilizado métodos diferentes dos tradicionais. De acordo com o autor, em consonância com Lopes (2010), há uma distinção 56 entre o ensino tradicional e o aprendizado de empreendedorismo, sendo que o primeiro enfatiza o conteúdo, já o segundo demanda o processo “aprender a aprender”. Em qualquer modelo de educação empreendedora é necessária a adoção de métodos em que o indivíduo possa aprender fazendo, na medida em que se defronte com eventos críticos que o forçem a pensar de maneira diferente, buscando saídas e alternativas, aprendendo com a experiência, com o processo (LOPES, 2010). A educação empreendedora, nesta perspectiva, propicia a formação de competências. Leme Fleury e Fleury (2001) destacam que a noção de competência é associada ao saber agir, mobilizar recurso, integrar saberes múltiplos e complexos, saber aprender, saber engajar-se, assumir responsabilidades e ter visão estratégica. Perrenoud (1999) considera que as competências são construídas somente no confronto com verdadeiros obstáculos, em um processo de resolução de problemas. Segundo o autor, para perseverar frente ao obstáculo, antes de contorná-lo ou de desistir do projeto, é preciso mais do que a tradicional motivação escolar, exige do aluno uma implicação na tarefa muito mais forte. Demanda, na visão do autor, não só uma presença física e mental efetiva, solicitada tanto pelos outros alunos como pelo docente, mas também um investimento que implique imaginação, engenhosidade e perseverança. Isso modifica, consideravelmente, o contrato didático e impede que o aluno volte-se, com a mesma facilidade de sempre, para uma cautelosa passividade. Ainda de acordo com o autor, para o desenvolvimento de competências entre os estudantes é necessário transparência (visibilidade nos processos, nos ritmos e nos modos de pensar e agir), cooperação (mobilização de um grupo, divisão do trabalho e coordenação de tarefas), tenacidade (persistência em projetos) e responsabilidade (problemas reais, assumir a responsabilidade para com terceiros, formação de uma coletividade). Neste sentido, para desenvolver competências empreendedoras (ANDRADE, 2010; CHIAVENATO, 2007; DOLABELA, 2008; DORNELAS, 2007; DRUCKER, 2003; FILION, 1999; FORTIN, 1992; KURATKO, 2009; LENZI, KIESEK e ZUCCO, 2010; SHUMPETER, 1934) entre estudantes, são necessários métodos que permitam aprender diante de uma ou várias situações críticas. Diante do que foi exposto, é possível formular a seguinte questão: os métodos “Pedagogia 57 Empreendedora” e “Oficina do Empreendedor” são adequados para o início da eliminação dos obstáculos do desenvolvimento sustentável (FREY, 2001; SACHS, 1993), prover a formação de competências (LOPEZ, 2010; PERRENOUD, 1999), preferencialmente empreendedoras (ANDRADE, 2010; CHIAVENATO, 2007; DOLABELA, 2008; DORNELAS, 2007; DRUCKER, 2003; FILION, 1999; FORTIN, 1992; KURATKO, 2009; LENZI, KIESEK e ZUCCO, 2010; SHUMPETER, 1934), o empoderamento em todos os seus níveis (FUNG, 2012; ORNELAS, 2008; PERKINS e ZIMMERMAN, 1995) e a autonomia cidadã (FLECK, 2004; FREIRE, 2002; GADOTTI, 1997; JACOBI, 2005) em uma comunidade em situação de humilhação social (GONÇALVES FILHO, 1998)? Para responder esta questão é necessário descrever e analisar os dois métodos. Conforme já mencionado, no contexto brasileiro da educação empreendedora, constatou-se, pela revisão da literatura, o destaque do autor Fernando Dolabela, que divulga e trabalha com dois métodos: “Pedagogia Empreendedora” e “Oficina do Empreendedor”. Estes métodos foram publicados em livros e também comercializados em forma de implementação, pela consultoria “Starta – Empreendedorismo e Inovação”. “A Pedagogia Empreendedora é um método de ensino de empreendedorismo para a Educação Básica: Educação Infantil até o Ensino Médio. Atinge, portanto, idades de quatro a dezessete anos” (FERNANDO DOLABELA, 2012). O teste piloto deste método ocorreu em 2002, nos Municípios de Japonvar e em Belo Horizonte, ambos situados em Minas Gerais. Após essas duas experiências, vários municípios (Santa Rita do Sapucaí-MG, Guarapuava-PR, Três Passos-RS, São José dos Campos-SP e Jacarezinho-PR) a implementaram em toda a rede pública municipal e em algumas unidades de ensino das redes estaduais (SELA, RAMOS SELA e FRANZINI, 2006). FERNANDO DOLABELA (2012) destaca alguns elementos da “Pedagogia Empreendedora”, conforme apresentado no Quadro 3: Quadro 3 - Elementos da Pedagogia Empreendedora utiliza o professor da própria instituição, que conhece a cultura da casa, dos alunos e do meio ambiente onde cada unidade está inserida; dinamiza conhecimentos já dominados pelo professor; 58 é voltada para a prática, sendo de fácil implementação; não se trata de uma receita, um passo a passo: a metodologia é recriada pelo professor na sua aplicação, respeitando a cultura da comunidade, dos alunos, da instituição, do próprio professor; possui material didático específico e inédito, construído inteiramente para a realidade brasileira; agente de mudança cultural; permite a rápida disseminação da cultura empreendedora, sendo concebida para ser aplicada em larga escala, com alta dispersão geográfica; não cria a necessidade de formação de “especialistas”; não gera dependência da escola à consultores externos; integra professores de áreas diferentes; baixíssimo custo: não duplica meios e esforços; a comunidade participa intensamente, como educadora e educanda; considera a escola como umas das referências de comunidade; é geradora de capital humano e social; apoia-se na geração do sonho coletivo, na construção do futuro pela comunidade; tem como alvo a construção de um empreendedorismo capaz de gerar e principalmente distribuir, renda conhecimento e poder. Fonte: FERNADO DOLABELA (2012) Se analisado o Quadro 3, em um primeiro momento, este método possui alguns elementos que o qualificariam para superar os obstáculos do desenvolvimento sustentável (SACHS, 1993) e tornar a sociedade brasileira “mais cívica” (MELO NETO e FROES, 2002) tais como: geração de capital humano e social; a participação da comunidade; a distribuição de poder; agente de mudança cultural. Mas ao analisar o sonho estruturante, que embasam os métodos “Pedagogia Empreendedora” e “Oficina do Empreendedor” começam a transparecerem distorções entre o proposto e o possível: O sonho estruturante, é assim chamado porque pode dar origem e organizar um projeto de vida, articulando sinergicamente desejos, visão de mundo, valores, competências, preferências, autoestima. O sonho estruturante é o sonho que se sonha acordado, capaz de conduzir à autorrealização. Ele responde à seguinte pergunta, 59 formulada pelo senso comum: “Qual é o seu sonho na vida?” É aquele desejo que traz brilho aos olhos quando se fala nele. Qualquer pessoa, em qualquer situação, tem a capacidade de formular sonhos, porque esta condição é atributo da natureza humana. (DOLABELA, 2008, p. 80). Da maneira exposta pelo autor, ambos os métodos, embasados no sonho estruturante, podem produzir resultados incompatíveis com o empoderamento em todos os níveis (FUNG, 2012; ORNELAS, 2008; PERKINS e ZIMMERMAN, 1995) e autonomia cidadã (FLECK, 2004; FREIRE, 2002; GADOTTI, 1997; JACOBI, 2005) em um ambiente de humilhação social (GONÇALVES FILHO, 1998), além de não propiciar a eliminação dos obstáculos do desenvolvimento sustentável (SACHS, 1993); (FREY, 2001). É possível que os estudantes tenham sonhos coletivos de ajudar a comunidade, mas, por outro lado, estes métodos negligenciam a influência do modelo de desenvolvimento capitalista (SINGER, 2004) vigente. Desenvolvimento capitalista este que pode ser influenciador nos sonhos dos estudantes, como ser um empresário (com o objetivo de maximizar os lucros), ao invés de auxiliar o desenvolvimento de uma comunidade. Nesse sentido, ambos os métodos se aproximam mais da formação de um empreendedor tradicional do que um empreendedor social ao analisar a Tabela 3 de Melo Neto e Froes (2002). Apesar de Dolabela (2004) considerar que a “Pedagogia Empreendedora” seja capaz de reequilibrar o poder e o foco do método não ser o desenvolvimento econômico, há uma incoerência em o seu discurso em dois trechos: Apesar de não ser o objetivo da metodologia, temos visto adolescentes criarem empresas em locais totalmente miseráveis e torturados do Brasil, como em regiões marginalizadas das grandes cidades, onde existe o tráfico de drogas. Então, vemos soluções muito ricas propostas pelos alunos que mostram que eles são muito capazes se existirem as condições necessárias. Eles são capazes de empreender, de dar uma solução à própria vida. (DOLABELA, 2004, p. 129). Então, estamos levando o empreendedorismo à comunidades muito pobres, a alunos que estão distantes dos eixos de desenvolvimento, de crescimento econômico. Essa experiência tem sido muito gratificante, porque sentimos que as pessoas podem empreender. (DOLABELA, 2004, p. 129). Nesta perspectiva, o autor propõe que o próprio jovem arrume uma “solução para a sua vida”, em uma forma distorcida de empoderamento individual pautado no desenvolvimento capitalista (SINGER, 2004), que não permite a transposição para os níveis organizacional e comunitário (FUNG, 2012; ORNELAS, 2008; PERKINS e ZIMMERMAN, 1995). Apesar de Dolabela (2004) afirmar que este método não é direcionado para a formação de empresários, 60 Lima (2008), um crítico aos métodos do autor, faz uma comparação do “Mapa dos Sonhos”, contido na “Pedagogia Empreendedora” e o “Plano de Negócios” (ROSA, 2004), na qual é constatada uma similaridade entre ambos Tabela 5. Tabela 5 - Comparativo: Mapa dos Sonhos - Plano de Negócios Mapa dos Sonhos Plano de Negócios Etapa 1: Concepção do sonho. Etapa 2: Autoconhecimento (conceito de si). Etapa 3: Rede de relações. Etapa 4: Conhecimento do ambiente do sonho. Etapa 5: Análise do sonho em relação ao sonhador. Etapa 6: Análise do sonho em relação às outras pessoas. Etapa 7: Estratégia para realizar o sonho (buscar recursos necessários). Etapa 8: Análise da viabilidade do sonho, considerando os recursos do sonhador. Etapa 9: Análise da viabilidade do sonho, considerando os recursos de terceiros. Etapa 10: Estratégia para conseguir recursos. Etapa 11: Liderança. Etapa 12: Como organizar e usar os recursos. Etapa 13: Quando será possível realizar o sonho. Etapa 14: Narrativa do sonho e dos processos que levam à sua realização. Etapa 15: Qual é o próximo sonho? 1) Sumário executivo – É a síntese de todas as seções do plano, é a última etapa do trabalho. Contém a visão de futuro do empreendedor e os elementos essenciais para provar que o negócio tem foco, é viável e possui diferenciais competitivos e competências internas. 2) O conceito do negócio – Esta seção não só apresenta o empreendimento (estrutura jurídica e ramo de atividade, os sócios e o pessoal-chave, com respectivas responsabilidades e qualificações), mas também detalha a visão do empreendedor, a filosofia, os valores, missão e objetivos do negócio. 3) Análise de mercado – O estudo do potencial mercadológico do empreendimento e as estratégias de relacionamento com o cliente. Esta parte requer uma pesquisa em profundidade sobre o cenário macroeconômico e as tendências, a concorrência e como ela atua, o público-alvo e seu perfil e ainda sobre o mercado fornecedor. 4) Análise estratégica – A avaliação dos fatores de sucesso e dos pontos fracos do empreendimento e as estratégias de crescimento. 5) Estrutura da empresa – Descreve a operação: produtos/serviços, seu desenvolvimento e processos de produção e vendas e seus diferenciais; necessidades de equipamentos e instalações, matérias primas, insumo e materiais: tecnologia disponível e 61 estrutura organizacional. Fonte: Lima (2008) Aparentemente, o método “Pedagogia Empreendedora” pode favorecer o fomento de algumas competências empreendedoras (DORNELAS, 2007; LENZI, KIESEK e ZUCCO, 2010), tais como planejamento e rede de relacionamentos, mas apresenta uma individualidade na concepção do sonho, de maneira a abrir espaço para discussão apenas na etapa 6. Nessa perspectiva, o método se assemelha ao empreendedorismo tradicional descrito por Melo Neto e Froes (2002). Ao ser analisado como um processo de empoderamento (FUNG, 2012; ORNELAS, 2008; PERKINS e ZIMMERMAN, 1995), o método não apresenta uma cronologia adequada, alternando níveis individual, organizacional e comunitário em suas etapas de maneira aleatória, o que pode acarretar um empoderamento limitado ou inexistente em todos os níveis. Por outro lado, o método, utiliza etapas já estabelecidas, apesar do autor afirmar o contrário, nas quais os participantes apenas replicam os passos determinados, ao invés de realmente participarem como sujeitos e consequentemente proverem processos de transformação. Outro ponto falho da Pedagogia Empreendedora é ausência de alguma etapa que remeta à autonomia cidadã (FLECK, 2004; FREIRE, 2002; GADOTTI, 1997; JACOBI, 2005). Em termos de humilhação social (GOLÇALVES FILHO, 1998), o método apresenta uma fragilidade, pois um humilhado socialmente é condicionado a repetir e não a imaginar, ou na luz de Dolabela (2008), sonhar. Já o método “Oficina do Empreendedor”, que tem praticamente as mesmas premissas da “Pedagogia Empreendedora”, tem o diferencial de ser direcionada para estudantes do Ensino Médio e Superior. Esse método demonstra o seu aspecto empresarial mais claramente (Tabela 6) ao utilizar o termo “Plano de Negócios” (ROSA, 2004), sendo inclusive um dos instrumentos deste método, apesar de Dolabela (2008) também negar que a “Oficina do Empreendedor” seja direcionada para a formação de empresários. Tabela 6 - Fases e instrumentos metodológicos da Oficina do Empreendedor Fases Instrumentos Metodológicos Da motivação à ideia inicial (Estratégias para 1. Conceito de si; identificação de oportunidades) 2. Formulação do sonho e da estratégia de sua realização; 62 3. Narrativa biográfica de empreendedores; 4. Entrevistas com empreendedores; 5. Rede de relações / O mentor; 6. Aprofundamento do sonho e da visão / Conhecer o setor; 7. Focalizar necessidades não satisfeitas / Desenvolver a capacidade de criar algo novo Da ideia inicial ao Plano de Negócios 8. Avaliação da própria ideia de empresa / (Estratégias para agarrar uma oportunidade) Preparação para fazer o Plano de Negócios; 9. Elaboração do Plano de Negócios e visão complementar; 10. Técnicas de negociação e de apresentação do Plano de Negócios; Do Plano de Negócios ao início das 11. Negociação e liderança. O papel dos operações (Estratégias para buscar/gerenciar sistemas de suporte e do Júri; recursos necessários para aproveitar a oportunidade) Fonte: Dolabela (2008) Mesmo que Dolabela (2008) negue que ambos os métodos não vislumbrem a formação de empresários, de certa forma direcionam para este caminho, conforme é apresentado nas Tabelas 5 e 6, sendo de maneira mais nítida a “Oficina do Empreendedor”. Neste sentido, uma educação empreendedora direcionada, mesmo de forma não reconhecida pelo autor, para formação de empresários, é insuficiente para a transposição dos obstáculos do desenvolvimentos sustentável (FREY, 2001; SACHS, 1993). Os dois métodos favorecem a perpetuação do desenvolvimento capitalista, descrito por Singer (2004) por meio da “inclusão” de pessoas através da melhoria econômica (GREEN, 2009), estimulando o crescimento econômico apontado por Delors (2010). Esta inclusão econômica pode até elevar a qualidade de vida de um indivíduo, mas esta elevação vai estar atrelada ao aumento de padrão de vida definido por Skevigton (2002 apud PANZINI et al., 2007). Nesta perspectiva e sob a ótica de Capra (1982), ambos os métodos combatem as causas, e não as 63 consequências materializadas em forma de pobreza e degradação do meio ambiente (SACHS, 1993). Dolabela (2008, p. 85) destaca que os dois métodos conduzem a um envolvimento comunitário viabilizado pelo auxílio da comunidade na realização do sonho individual do estudante ou pela construção do “sonho coletivo”: A imagem de uma comunidade no futuro, construída por ela mesma, a partir da convergência das múltiplas e diversas imagens dos seus integrantes, associada a um projeto específico e viável de construção desta imagem, ou da sua transformação em realidade através da dinamização dos potenciais humanos, sociais e naturais da própria comunidade. Em relação à coletividade, Guerra (2010, p. 120), ao analisar a experiência da implementação da “Pedagogia Empreendedora” no município de São João Del Rei – MG expõe que: Compreendeu-se que a Pedagogia Empreendedora, apesar de ter contribuído na percepção de novas oportunidades para alguns atores da comunidade da escola municipal de Padre Miguel, não possibilitou o avanço das discussões para a coletividade, reproduzindo assim, ações pontuais sem nenhum significado para a comunidade local, o que impediu de se conformar em desenvolvimento local sustentável. O próprio Dolabela (2008, p. 86) reconhece a dificuldade de implementar os “sonhos coletivos” em sociedades hierarquizadas, segmentadas em classes, como a brasileira: Talvez seja válido inferir que sonhos coletivos construídos em uma comunidade hierarquizada, com forte concentração de poder, conhecimento e renda, representem o sonho dos que a dominam, cujo desejo é manter e melhorar posições conquistadas. Talvez falte, em ambos os métodos, o componente de desenvolvimento integral do indivíduo, apontado por Araujo (2011, p. 32), mesmo em um contexto hierarquizado como o brasileiro: A educação deve ter como âmbito o desenvolvimento integral da pessoa humana, considerando-se, para isso, a observação de toda a realidade na qual essa pessoa se insere. Dessa forma, a educação da pessoa se dá também enquanto relacionamento com outras pessoas, com a comunidade na qual se insere. Como Grego et al. (2010) e Sen (2010) apontam, a verdadeira mudança de patamar da sociedade em termos de desenvolvimento e de qualidade de vida se dará no momento em se abrirem as oportunidades para que as pessoas realizem suas escolhas, ou seja, sujeitos 64 empoderados. Mas que estas escolhas contemplem a coletividade também, para que realmente haja a superação dos obstáculos do desenvolvimento sustentável (FREY, 2001; SACHS, 1993) de maneira a permitir sua disseminação e favorecer a qualidade de vida. 65 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 3.1 Objetivo geral Promover a formação para a sustentabilidade, empoderamento e cidadania, entre alunos do Ensino Médio em situação de vulnerabilidade social, por meio de um projeto de empreendedorismo social. 3.1.1 Objetivos específicos Viabilizar um projeto de formação para empreendedorismo social na Escola Estadual Parque das Nações situada na região sul do município de Poços de Caldas-MG; Promover um olhar de identificação dos aspectos a serem transformados; Encaminhar a formulação de projetos de transformação no ambiente da região sul pelos jovens; Estimular a identificação de parceiros exteriores ao grupo; Fomentar o despertar de competências empreendedoras; Avaliar a intervenção através de indicadores de empoderamento. 3.2 Métodos e Procedimentos Inicialmente foi adotada a pesquisa descritiva, tendo como objetivo descrever o objeto de estudo (REIS, 2008). Esta descrição foi necessária para a caracterização do campo de pesquisa e identificação da problemática existente, sendo que ambos serão detalhados. O estudo também é caracterizado como aplicado, tendo em vista que foi conduzido para revelar respostas para questões específicas relacionadas à ação (COOPER e SHINDLER, 2003). Diante de tais fatos, o método que melhor se adequou ao trabalho foi a pesquisa-ação. De acordo com Thiollent (1998, p. 14): A pesquisa-ação é um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo. Este método não é realizado através de etapas estabelecidas e rígidas, mas sim organizado 66 pelas situações relevantes que emergem do processo (FRANCO, 2005). Nesta perspectiva, foram adotados os métodos “Pedagogia Empreendedora” e “Oficina do Empreendedor”, por considerá-los como etapas já estabelecidas, em que os participantes apenas replicam os passos determinados, ao invés de realmente participarem como sujeitos e consequentemente proverem processos de transformação demandados pelo método de pesquisa-ação. Para Thiollent (1998), em uma pesquisa convencional os participantes, não são considerados como atores, mas sim como meros informantes e executores em nível de ação. Apesar de não haver etapas estabelecidas e rígidas (FRANCO, 2005), Thiollent (1998) destaca as seguintes fases para a concepção e organização de uma pesquisa-ação: fase exploratória; campo de observação; amostragem e representatividade qualitativa; colocação dos problemas; hipóteses; seminários; coleta de dados; aprendizagem; saber formal/informal e plano de ação. Estas fases serão descritas de maneira sucinta, associando-as com os procedimentos executados pelo pesquisador. Na “fase exploratória” e “campo de observação” foi realizada uma caracterização da região sul do Município de Poços de Caldas-MG e da Escola Estadual Parque das Nações, que será melhor detalhada no item 3.3 Apresentação do Campo. A “amostragem” e “representatividade qualitativa” serão detalhados no item 3.4 Tamanho Amostral. As fases “colocação dos problemas”; “hipóteses”; “seminários”; “coleta de dados”; “aprendizagem”; “saber formal/saber informal” estão contidas no “plano de ação” que é o “Projeto Minha Pipa, Nosso Céu” (APÊNDICE A), de autoria do pesquisador, sendo que sua execução será detalhada no item 3.3. Em específico ao plano de ação, é importante destacar que a revisão bibliográfica sobre desenvolvimento sustentável, empreendedorismo, empoderamento, autonomia, e educação empreendedora foram importantes para fornecer o embasamento necessário ao pesquisador, assim como subsidiar a elaboração do projeto. Como Vilaça (2000) pontua, a pesquisa aplicada exige e parte de estudos teóricos. Outro ponto pertinente a ser destacado em relação ao “Projeto Minha Pipa, Nosso Céu” (plano de ação) foi a realização de um pré-teste (02 de setembro de 2012) do roteiro de 67 entrevista (utilizado pelos participantes posteriormente durante o projeto) com o objetivo de avaliar a sua aplicabilidade e fazer as adequações caso fossem necessárias. Foi executada uma entrevista semi-estruturada (APÊNDICE A) com um empresário no Município de Poços de Caldas-MG (que não reside e tampouco possui um negócio na região sul), previamente agendada. Após uma conversa inicial (apresentação das dependências e dos produtos), o entrevistado conduziu o pesquisador até a sala de reuniões da empresa, sendo que a entrevista teve duração aproximada de vinte minutos. É importante destacar que em nenhum momento houve alguma interrupção na aplicação deste instrumento de pesquisa. 3.3 Apresentação do campo de pesquisa: região sul do Município de Poços de Caldas-MG e Escola Estadual Parque das Nações A caracterização da região sul do Município de Poços de Caldas-MG e da Escola Estadual Parque das Nações, que remete à “fase exploratória” e ao “campo de observação”, teve a finalidade de evitar propor um método dissociado da realidade vivenciada nesse ambiente de pesquisa, bem como identificar a problemática e alguns atores envolvidos. Para essa finalidade, o pesquisador utilizou duas estratégias de observação: a “observação estruturada” e “a observação não-estruturada e não-participante”. A observação estruturada foi utilizada principalmente para a identificação e registro dos equipamentos urbanos existentes, sendo realizadas algumas anotações sobre as ações e comportamentos dos moradores desta região. Para a execução da observação estruturada, foi utilizada uma lista elaborada pelo pesquisador acerca dos equipamentos urbanos definidos pela Norma Brasileira (NBR) 9284. A NBR 9284 define como equipamentos urbanos: “Todos os bens públicos e privados, de utilidade pública, destinados à prestação de serviços necessários ao funcionamento da cidade, implantados mediante autorização do poder público, em espaços públicos e privados” (ASSOCIAÇÃO BRASILERIA DE NORMAS TÉCNICAS, 1986, p. 1). A referida norma considera ainda como equipamentos urbanos aqueles necessários à circulação e transporte, cultura e religião, esporte e lazer, segurança pública, abastecimento, administração pública, assistência social, educação e saúde. Ocorreram três sessões de observação estruturada: duas no ano de 2011 e uma no ano de 2012. No ano de 2011, as duas sessões de observação estruturada foram realizadas nos dias 09 68 e 12 de outubro, no período da manhã. A primeira sessão durou cerca de uma hora e meia, já a segunda teve a duração de duas horas. No ano de 2012, o pesquisador ampliou o seu campo, abrangendo todos os bairros que constituem a região sul, de maneira que necessitou de mais uma sessão de observação estruturada. Esta sessão ocorreu durante o período vespertino, no dia 05 de outubro e teve duração de uma hora e meia. A observação não-estruturada e não-participante, em que o pesquisador não interagiu e nem afetou, de modo intencional os sujeitos da pesquisa, foi realizada no bairro Parque das Nações. Houve duas sessões, realizadas durante os dias 16 e 18 de outubro de 2011, sendo que dia 16 no período vespertino e dia 18 no período matutino. Cada sessão de observação durou cerca de uma hora e meia. Os resultados destes procedimentos adotados serão apresentados no próximo item. 3.3.1 Região Sul de Poços de Caldas-MG A região sul de Poços de Caldas-MG (figura 1) é constituída por catorze bairros: Jardim Contorno (1); Jardim Paraíso (2); Parque Esperança I (3); Parque Esperança II (4); Parque Esperança III (5); São Bento (6); Parque das Nações (7); Conjunto Habitacional Pedro Afonso Junqueira (8); São Sebastião (9); Vila Matilde (10); Jardim Aeroporo (11); Jardim Kennedy I (12); Jardim Kennedy II (13); e Jardim Kennedy III (14). A população da região é de 35.000 habitantes (CÂMARA MUNICIPAL DE POÇOS DE CALDAS, 2012) o que equivale a aproximadamente 23% (população da região/população municipal*100) (35.000/152.435*100) da população do Município, que é de 152.435, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2012). 69 Figura 1 - Região sul do município de Poços de Caldas-MG Fonte: Google Maps, 2012 70 A região possui duas rodovias destacadas em amarelo na figura 1: Geraldo Martins Costa (acesso aos Municípios de Águas da Prata-SP, Caldas-MG, Bandeira do Sul-MG e BotelhosMG) e a BR-146 (acesso ao Município de Andradas-MG), sendo que ambas apresentam bom estado de conservação. A região sul também é detentora do Poços de Caldas Golf Club (16) e Aeroporto Municipal Embaixador Walther Moreira Salles (17), ambos localizados na área central da figura 1. Duas empresas multinacionais estão instaladas na região: Alcoa Alumínio S/A (15) e Phelps Dodge International Corp (18), ambas localizadas nas extremidades horizontais da figura 1. A região sul é ligada ao centro do Município pelas avenidas Vereador Edmundo Cardillo e Alcoa, duplicadas há cerca de dois anos. Anteriormente eram pistas simples e irregulares, sendo que quando ocorriam chuvas, as mesmas ficavam esburacadas. O pesquisador constatou que esta região possui vias de circulação de automóveis asfaltadas (que apresentam diversos “tapa-buracos”), com algumas exceções em ruas dos bairros Parque Esperança II e Vila Matilde, as quais são de terra. As calçadas não permitem uma boa acessibilidade, devido aos vários desníveis existentes, principalmente aos deficientes físicos, sendo que os residentes da região utilizam as ruas destinadas ao tráfego de veículos para se deslocarem pelos bairros. Foi observado que esta é única região do município detentora de vazio urbano em relação à outras regiões, conforme a delimitação em vermelho da figura 2. Este vazio urbano foi interpretado pelo pesquisador como uma forma de segregação (BICHIR, 2006), que contribuí para a humilhação social (GONÇALVES FILHO, 1998) nesta localidade, que será melhor detalhada na análise de dados. Nesta área delimitada em vermelho (figura 2), existem um restaurante, um hospital especializado em cirurgias cardíacas, dois hotéis, um centro de convenções, um parque de diversões, parte da Represa Saturnino de Brito e alguns comércios de pequeno porte. 71 Figura 2 - Descontinuidade da região sul do município de Poços de Caldas-MG Fonte: Google Maps, 2012 72 O sistema de transporte público no Município é realizado pela empresa Auto Omnibus Circullare, sendo que no ano de 2010 a empresa implantou o Sistema Integrado Grande Amigo (SIGA) a pedido da Prefeitura do Município. Foi verificada a presença de várias motocicletas e automóveis pelos bairros da região sul, o que pode denotar a preferência dos moradores em utilizá-los em detrimento ao transporte público oferecido, mesmo após a implementação do SIGA. Foi verificado também que alguns moradores realizam diariamente o trajeto “bairro-centro” de bicicleta ou a pé, trajeto este constituído de 8,5 Km, sendo que o tempo necessário para o deslocamento até o centro é de dezessete minutos de carro e uma hora e quarenta minutos a pé (GOOGLE MAPS, 2012). Não foi observado quaisquer táxis durante as sessões, o que pode significar a inviabilidade deste transporte devido ao valor cobrado (decorrente da distância existente entre o centro e a região sul). Em contrapartida, foi observada a presença de vários mototáxis (que cobram a corrida e não a distância percorrida). Nesta região, foi verificado o cuidado de muitos jovens com seus veículos, principalmente por carros, visível na modificação estética e até mesmo estrutural dos automóveis. Estes jovens trafegam pelas ruas da região sul com o som ligado, “tocando” os gêneros musicais “sertanejo universitário” e “funk”, sendo que este comportamento será discutido na análise de dados. Durante as observações, o pesquisador identificou que a região sul é constituída de uma pluralidade étnica, econômica, social, religiosa e cultural. Esta pluralidade aparentemente não representa um elemento de segregação nesse ambiente. Foram visualizados moradores sentados nas calçadas ou apoiados nas janelas de suas residências, observando o movimento nas ruas ou conversando com os vizinhos. O único bairro que não apresentou estas características foi o Vila Matilde (10), onde não foi visto nenhum morador pelas ruas. Uma parcela dos residentes desta região trabalha na área central do Município, geralmente em estabelecimentos comerciais, órgãos públicos, empresas de prestação de serviço e indústrias. É importante destacar que a região pode ser caracterizada como “dormitório” para estes trabalhadores, apesar de uma parcela significativa das residências sempre ter um membro da família, seja um aposentado (a), um (a) adolescente ou uma dona-de-casa presentes, independentemente do horário. O espaço urbano da região é compartilhado entre residências, pequenos prestadores de 73 serviços (oficina mecânica, borracharia, oficina elétrica automotiva, recarga de extintores, funilaria de automóveis e reforma de móveis usados) e pequenos estabelecimentos comerciais (padarias, supermercados, bares, lanchonetes, lojas de roupas, clínica veterinária, salão de cabeleireiro, casa de pesca e comércio de galões de água. Foi observado também um comércio de vizinhança, em que vários moradores anunciam os produtos por meio da afixação de placas nos portões de suas residências. Em alguns bairros, aparentemente há o início da formação de ruas comerciais (figura 3), onde, inclusive, já há presença de um conjunto semafórico. Figura 3 - Rua comercial do bairro Conjunto Habitacional Pedro Afonso Junqueira (8) Fonte: O próprio pesquisador, 2012 A região sul é um retrato da desigualdade social existente no Município. Em uma mesma rua existem residências terminadas, com dois a três carros de médio e alto valor comercial na garagem, enquanto em outras não há ao menos reboco nas áreas interna e externa (figuras 4 e 5). Não há um padrão estético de moradia na região, sendo o mesmo determinado de acordo com a renda do proprietário da residência. Há exceções em bairros como o Vila Matilde (10), onde as residências foram construídas pelo poder público, mas, possivelmente, ao longo dos anos os próprios moradores modificarão as residências, assim como aconteceu com o bairro Conjunto Habitacional Pedro Afonso Junqueira (8) e acontece com o Jardim Kennedy III (14). 74 Figura 4 – Contraste da arquitetura das residências do bairro Parque das Nações (7) Fonte: O próprio pesquisador, 2011 Figura 5 – Contraste da arquitetura das residências do bairro Parque das Nações (7) Fonte: O próprio pesquisador, 2011 Durante as observações do pesquisador, foi verificada grande quantidade de lixo doméstico e entulho de construção na região sul, principalmente em terrenos baldios. Há uma prática por parte dos moradores da região em jogar lixo doméstico nos terrenos baldios, mesmo existindo o serviço de coleta pública. Vale destacar que o pesquisador presenciou em diversas ocasiões, moradores jogando lixo nos terrenos baldios da região. Durante a construção de uma nova residência, também ocorre o descarte de entulho em terrenos baldios vizinhos. Neste sentido, aparentemente, a vizinhança não se organiza em termos de cooperação e solidariedade com os vizinhos, de maneira a denotar uma ausência de ações que facilitariam a coletividade. Há também um aterro particular da empresa LC Poços Terraplanagem e Caçambas na entrada do bairro Parque das Nações (7), que funciona em dias úteis, sendo que, muitas vezes, as 75 caçambas contêm resíduos domésticos de outras regiões do Município. Em uma das observações do pesquisador, (no dia doze de outubro de 2011), houve a presença de dois indivíduos “revirando” este aterro. Verificou-se que moradores desta região trafegam com carrinhos de supermercado, de bebê e carroças pelas ruas e avenidas em busca de materiais recicláveis nos lixos das residências e terrenos baldios (figura 6) para possivelmente comercializá-los. Figura 6 – Moradores trafegando pelas ruas da região sul em busca de materiais recicláveis Fonte: O próprio pesquisador, 2012 Na região sul existe o aterro sanitário municipal (figura 7), onde inclusive há um córrego próximo. De acordo com Poços de Prontidão (2012), o aterro está há vinte metros de um 76 córrego, ao invés dos duzentos metros determinado pela NBR 8419, norma esta que estabelece os critérios dos projetos de aterros sanitários de resíduos sólidos urbanos. Figura 7 - Aterro Municipal situado na região sul de Poços de Caldas-MG Fonte: Poços de Prontidão, 2012 No caso específico do bairro Jardim Kennedy II (13), a prática de depositar o lixo em terrenos baldios (no caso deste bairro, em um rio), contribuiu para o rompimento de um bueiro, no qual foi encontrado um sofá usado (figuras 8 e 9). Figura 8 - Rompimento de um bueiro no bairro Jardim Kennedy II (13) Fonte: Câmara Municipal de Poços de Caldas, 2012 77 Figura 9 - Sofá encontrado em bueiro no bairro Jardim Kennedy II (13) Fonte: FABIOZAMBRANO, 2012 Os bairros Jardim Kennedy II (13) e Parque Esperança I (3) possuem uma peculiaridade: a ocorrência de enchentes durante o período de chuvas no Município (meses de dezembro e janeiro) devido a um rio (em azul e demarcado por setas) que cruza os bairros (figura 10). As áreas delimitadas em vermelho na figura 10 são: lago de rejeito (1) da empresa Alcoa Alumínio S/A (15); primeira área de enchente do rio que cruza o bairro Jardim Kennedy (II) (figura10) e segunda área de enchente do rio que cruza o bairro Parque Esperança I (3) No Jardim Kennedy II (13) existem várias residências em torno do rio que são afetadas pela enchente. Ao final do ano de 2012, a Prefeitura efetuou algumas obras no Jardim Kennedy II (13), bem como o asfaltamento das ruas em seu entorno. Aparentemente, estas obras estavam inacabadas, visto que o pesquisador encontrou diversos postes no meio destas ruas recémasfaltadas (figura 11). Já no Parque Esperança I (3), na área delimitada em vermelho (3) na figura 10 era um terreno vago em que a elevação das águas não afetava quaisquer residências. Mas recentemente foram construídos dois barracos à beira da margem do rio, que podem ser atingidos pela cheia do rio. 78 Figura 10 - Rio que cruza parte da região sul do Município de Poços de Caldas -MG Fonte: Google Maps, 2012 79 Figura 11 - Obras recentes no rio do bairro Jardim Kennedy II (13) e em seu entorno Fonte: O próprio pesquisador, 2012 No quesito segurança pública, a região sul possui duas delegacias de polícia: uma situada no Conjunto Habitacional Pedro Afonso Junqueira (8) e a outra na Avenida Alcoa, sendo que nesta há um estábulo para os cavalos da Polícia Militar do Município. O crime se faz presente através do tráfico de drogas e do furto de residências. No caso específico do bairro Vila Matilde (10) houve, e ainda há, depredações nas residências (figura 12). Durante o período de observação do pesquisador, foi identificada a preocupação de vários moradores quando à segurança de suas residências, materializada na instalação de cercas elétricas e grades, presentes em todos os bairros da região (figura 13). Figura 12 - Depredação em residências do bairro Vila Matilde (10) Fonte: Guarda Municipal de Poços de Caldas, 2012 80 Figura 13 - Preocupação da população referente à segurança, materializada em grades instaladas em residências no bairro Parque das Nações (7) Fonte: O próprio pesquisador, 2011 Apesar de haver duas delegacias na região sul, a mesma não possui nenhum batalhão do Corpo de Bombeiros. No ano de 2012 houve um incêndio em uma residência do bairro Parque das Nações (7) (figura 14), em que os vizinhos efetuaram a retirada da família que ali residia e iniciaram o combate ao incêndio até a chegada do caminhão de bombeiros. A unidade do Corpo de Bombeiros está situada na região oeste do Município. Figura 14 - Incêndio em residência no bairro Parque das Nações (7) Fonte: Parabrisa, 2012 No quesito comunicações, o bairro é atendido pela empresa privada Oi no serviço de telefonia e por diversas empresas de internet à rádio. Apesar da empresa Oi disponibilizar o serviço de banda larga no centro, o mesmo não é ofertado na região sul. A Prefeitura do Município 81 disponibiliza gratuitamente o acesso a internet por meio de pontos Wi-Fi distribuídos geograficamente pela região. No quesito água e esgoto, a região sul, assim como o restante do Município é atendida pelo Departamento Municipal de Água e Esgoto (DMAE). De acordo com o DMAE (2011) cerca de 99,7% da população urbana do Município possui ligação de água e 99,2% ligação de esgoto. O pesquisador identificou, durante a sua observação, alguns bueiros entupidos na parte baixa do bairro Parque das Nações (7), visto que o mesmo está situado em um morro de médio aclive. Estas obstruções geralmente são causadas por lixo descartado incorretamente pela própria população do bairro. O pesquisador também identificou um duto de esgoto não ligado à rede, em um terreno público que separa o bairro Parque das Nações (7) e Conjunto Habitacional Pedro Afonso Junqueira (8) conforme a figura 15, em 2011. Em 2012 esse duto ainda permanecia na mesma situação. Figura 15 - Duto de esgoto não ligado a rede entre os bairros Parque das Nações (7) e Conjunto Habitacional Pedro Afonso Junqueira (8) Fonte: O próprio pesquisador, 2011 No quesito energia, a região sul é atendida pela DME Distribuição S/A (DMED), assim como o restante do Município de Poços de Caldas-MG. No quesito religiosidade, a região sul possui diversas igrejas cristãs (figuras 16 e 17), as quais estão em constante expansão. Outras religiões como o Judaísmo e o Islamismo são inexistentes nos bairros desta região. As igrejas cristãs são frequentadas tanto por moradores 82 do próprio bairro quanto por moradores de outros bairros da região sul. Aos domingos de manhã, é possível notar membros pertencentes às Igrejas “Testemunhos de Jeová” e “Mórmon”, em duplas, pregando de “porta em porta”. Figura 16 - Templo existente no bairro Parque das Nações (7) Fonte: O próprio pesquisador, 2011 Figura 17 - Templo existente no bairro Conjunto Habitacional Pedro Afonso Junqueira (8) Fonte: Google Maps Street View, 2012 Quanto à Assistência Social, a região sul possui dois Centros de Referência em Assistência Social (CRAS) nos bairros São Sebastião (9) (figura 18) e Parque Esperança II (4). De acordo com o site PoçosDeCaldasMG.com (2011), o CRAS oferece diversos serviços, como acolhimento social, acompanhamento psicossocial, programas Bolsa Família, de garantia de 83 renda familiar mínima, frentes de trabalho, Jovem Cidadão e grupos de convivência. O Parque das Nações (7) possui uma entidade de atendimento ao idoso sob responsabilidade da Associação Metodista de Ação Social, conveniada com a Prefeitura. Inicialmente, a estrutura foi projetada para o atendimento de doentes crônicos. Depois foi utilizado como o principal hospital da região sul, durante a reforma do Hospital Margarita Morales, situado no Conjunto Habitacional Pedro Afonso Junqueira (8). Após o término da reforma do Hospital Margarita Morales, o edifício passou a atender aos idosos da região sul. O Conjunto Habitacional Pedro Afonso Junqueira (8) possui a “Casa do Caminho”, uma entidade pública municipal fundada no final do século XX pela “Sociedade Espírita Irmão Filipe”. Atualmente, esta entidade coordena um projeto em que jovens de 14 à 18 anos, aprendem a produzir pães como forma de profissionalizá-los. Todo o lucro da comercialização destes pães é revertido na manutenção das atividades de uma creche do bairro Conjunto Habitacional Pedro Afonso (8) (CASA DO CAMINHO, 2012). Figura 18 - CRAS do bairro São Sebastião (9) Fonte: O próprio pesquisador, 2011 Em relação ao esporte, a região sul possui uma pista de cooper (Figura 19) compartilhada entre os bairros Parque das Nações (7) e Conjunto Habitacional Pedro Afonso Junqueira (8). Há quatro academias ao ar livre na região (figura 20), situadas nos bairros Parque Esperança II (4) , Parque das Nações (7), Jardim Kennedy II (13) e São Sebastião (9). Existem, também, quadras pelos bairros. No Conjunto Habitacional Pedro Afonso Junqueira (8) há um complexo aquático e no Parque Esperança I (3) há uma unidade do Serviço Social da Indústria (SESI) (com quadras e piscinas) desativada. 84 Figura 19 - Pista de Cooper compartilhada entre os bairros Parque das Nações (7) e Conjunto Habitacional Pedro Afonso Junqueira (8) Fonte: O próprio pesquisador, 2011 Figura 20 - Academia ao ar livre compartilhada entre os bairros Parque das Nações (7) e Conjunto Habitacional Pedro Afonso Junqueira (8) Fonte: O próprio pesquisador, 2011 Na área da educação, a região sul é dotada de várias unidades de Educação Infantil e escolas (figuras 21 e 22), mas não há nenhuma instituição escolar nos bairros Jardim Contorno (1), Jardim Paraíso (2), São Bento (6) e Vila Matilde (10) e apenas unidades de educação infantil nos bairros São Sebastião (9) e Jardim Kennedy II (13). Apesar de existirem escolas e unidades de Educação Infantil na região, não são todas as crianças e adolescentes que as utilizam. Foi observado o transito de várias vans que levam crianças e adolescentes trajando uniformes de escolas públicas e particulares da área central do Município. Vale destacar que as escolas existentes na região são partilhadas entre os moradores dos catorze bairros, como a Escola Estadual Parque das Nações. 85 Figura 21 - Instituição de ensino existente no bairro Parque das Nações (7) Fonte: O próprio pesquisador, 2011 Figura 22 - Instituição de ensino existente no bairro Jardim Kennedy II (13) Fonte: Google Maps Street View, 2012 Verificou-se a ausência de instituições públicas de ensino que direcionem e capacitem profissionalmente os jovens da região sul, com exceção da “Casa do Caminho”. Na região sul existia uma universidade privada que ofertava os cursos de Administração, Direito, Educação Física e Farmácia (UNIFENAS – UNIVERSIDADE JOSÉ DO ROSÁRIO VELLANO, 2012), mas que recentemente encerrou suas atividades no Município. No ano de 2012 foi dado início à construção, próximo ao Parque Esperança II (4) de um Instituto Federal na região sul com previsão de conclusão das obras no ano de 2014. 86 No quesito saúde, a região sul é dotada de duas unidades do Programa de Saúde da Família (PSF), sendo uma situada no Parque das Nações (7) (figura 23) e outra no bairro Parque Esperança II (4). No Conjunto Habitacional Pedro Afonso Junqueira (8) está situado o único hospital da região sul, o Margarita Morales (figura 24). No mês de agosto de 2012 foi alocada uma unidade do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) para a região, a qual ficou disponível das 8h às 18h. Após o término do pleito eleitoral de 2012, esta unidade foi retirada do local. Figura 23 - Prédio do Programa Saúde da Família do bairro Parque das Nações (7) Fonte: O próprio pesquisador, 2011 Figura 24 - Hospital Margarita Morales no Conjunto Habitacional Pedro Afonso Junqueira (8) Fonte: O próprio pesquisador, 2011 87 Em termos de lazer, verificou-se durante as observações, que os moradores frequentam bares, shows e as pequenas praças existentes nos bairros (figura 25). Figura 25 - Praça existente no bairro Parque das Nações (7) Fonte: O próprio autor, 2011 Na região sul há um velório municipal situado no bairro Conjunto Habitacional Pedro Afonso Junqueira (8) e um cemitério particular, situado próximo ao bairro Vila Matilde (10). A região sul é dotada de uma administração da Prefeitura situada no bairro Conjunto Habitacional Pedro Afonso Junqueira (8) (figura 26). Apesar da existência desta administração, há um questionamento realizado pelo Vereador Joaquim Sebastião Alves, do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), destacando que este órgão municipal não funciona com autonomia, tendo que passar pelas Secretarias do Município, ao invés de possuir uma estrutura e servidores próprios (CAMARA MUNICIPAL DE POÇOS DE CALDAS, 2012). 88 Figura 26 - Administração Regional da Zona Sul no Conjunto Habitacional Pedro Afonso Junqueira (8) Fonte: Google Maps Street View, 2012 Apesar de haver várias instituições públicas no bairro, bem como instituições de ensino, unidades de saúde e CRAS, há ausência de políticas que contemplem uma formação política endógena na região sul, de maneira a possibilitar o empoderamento comunitário (FUNG, 2012; HOROCHOVSKI e MEIRELLES, 2007; ORNELAS, 2008; PERKINS e ZIMMERMAN, 1995). Outras instituições existentes em alguns bairros são as associações de moradores, como, por exemplo, a Sociedade Amigos de Bairro Parque das Nações (7) (figura 27), que tem “Lelo” (apelido) como presidente. Estas associações apresentam pouca presença da população em suas reuniões. 89 Figura 27 - Edifício da Sociedade Amigos do Bairro Parque das Nações (7) Fonte: O próprio pesquisador, 2011 Durante o processo de observação, verificou-se a existência de diversas placas de venda de várias residências do bairro Parque das Nações após serem ocupadas por seus proprietários, o que pode denotar o deslocamento de alguns moradores para outras regiões do Município em busca de um posicionamento social melhor. Se for considerada a descrição da região apresentada e resgatar a sua história associada aos conceitos de enraizamento/territorialização é possível elaborar um diagnóstico mais aprofundado sobre o motivo desse deslocamento. Em termos de história, segundo Bab Brandão (PENSA POÇOS, 2013), uma das primeiras moradoras da região sul, em uma entrevista concedida a um veículo de comunicação do Município, quando foi inaugurado o Conjunto Habitacional Pedro Afonso Junqueira (o primeiro bairro da região), no início da década de oitenta pelo então prefeito Ronaldo Junqueira, não havia água nas residências e o esgoto corria a céu aberto (algo que ainda acontece em alguns pontos dessa localidade, conforme demonstrado na figura 15). Segundo ela, as ruas também não eram asfaltadas (algo que ocorria até o final de 2012 em alguns pontos da região conforme figura 11) sendo que população tinha que empurrar o ônibus para que o mesmo pudesse se locomover pelas ruas e avenidas do bairro. Diante destes primeiros fatos relatados por esta moradora, é possível afirmar que essa comunidade é nova, trinta anos aproximadamente, e inferir que as pessoas foram depositadas ali, pois não havia estrutura (água, saneamento, vias públicas asfaltadas). Nesta perspectiva a região sul desde o seu inicio, é marcada pela vulnerabilidade descrita no item 2.3 sendo pertinente repeti-la aqui: A vulnerabilidade de um indivíduo, família ou grupos sociais refere-se à maior ou menor capacidade de controlar as forças que afetam seu bem-estar, ou seja, a posse 90 ou controle de ativos que constituem os recursos requeridos para o aproveitamento das oportunidades propiciadas pelo Estado, mercado ou sociedade. (MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO, 2007, p. 14). Os primeiros moradores da região sul não estavam controlando as forças que afetavam o seu bem-estar ao “escolherem” residir nessa localidade sem infraestrutura, como relatou Bab Brandão (PENSA POÇOS, 2013) e distante do centro do Município como foi demonstrado na figura 2. A ausência de controle das forças que afetam o bem-estar reaparece quando o entrevistador questionou a moradora sobre o motivo da “escolha” em residir na região sul. Bab Brandão respondeu que esta “escolha” foi devido aos altos preços dos aluguéis imobiliários em outras regiões do Município de Poços de Caldas-MG. Neste sentido, é possível afirmar que os primeiros moradores da região sul não “escolheram”, e talvez os novos, continuem a não escolher (devido às placas de venda) residir nesta localidade. Essa “não escolha” é determinada parcialmente, pelo desenvolvimento capitalista descrito por Singer (2004), no qual o funcionamento do mercado, materializado no preço dos imóveis, prevalece. Em relação à questão de moradia, é importante mencionar Bauman (2010), que ao analisar regiões de Londres semelhante à localidade pesquisada neste trabalho, concluiu que a concentração de pobres e destituídos em determinadas áreas não é causada por políticas sociais, mas em função dos preços das residências. Mas como destacado anteriormente, “se assemelha” mas não “se iguala” a Londres, pois no caso específico da região sul do Município de Poços de Caldas-MG, é possível inferir que houve uma política, que talvez tivesse a finalidade de higienização urbana, do então prefeito em depositar e segregar os mais destituídos do Município nesta região. Nesta perspectiva, o mercado e a política trabalharam conjuntamente para a criação de um espaço favorável à vulnerabilidade (MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO, 2007) em Poços de Caldas-MG. Em termos de enraizamento esse depósito também é negativo. Mas o que vem a ser conceitualmente o enraizamento? O enraizamento é talvez a necessidade mais importante e desconhecida da alma humana e uma das mais difíceis de definir. O ser humano tem uma raiz por sua participação real, ativa e natural na existência de uma coletividade que conserva vivos certos tesouros do passado e certos pressentimentos do futuro. (WEIL, 1979 apud BOSI, 1999, p. 16). Weil (1979 apud GONÇALVES FILHO, 1998) também destaca que as raízes socioculturais da pessoa se relacionam com a construção de um espaço também simbólico, através do qual 91 ela constrói seus referenciais de vida. A vida das pessoas é feita de significados, que dão sentido às suas experiências sendo que o lugar onde a pessoa nasceu e viveu serve de respaldo, ajudando na descoberta de si próprio, diferenciando-se de seu semelhante. Ao analisar a conceituação de territorialização da Mínima Aproximação Prévia para Elaboração de Programas de Educação Ambiental (MAPPEA) (JÚNIOR, 2007, p.11) há uma equivalência com o conceito de enraizamento colocado por Weil (1979 apud BOSI, 1999; 1979 apud GONÇALVES FILHO, 1998): “é um processo social, abstrato que constrói referências históricas, de pertença, identidade e políticas”. A partir dessas conceituações, é possível afirmar que os moradores da região sul são desenraizados porque foram depositados em um lugar de raízes socioculturais e tesouros do passado inexistentes, por questões econômicas e políticas locais, o que prejudicou e ainda continua a prejudicar a construção da identidade dos moradores. Essa ausência de identidade é suprida, em várias oportunidades, pelo consumismo, como será detalhado no item 4.2.2 Consumo, uma forma de empoderamento individual na contemporaneidade?. Um segundo ponto importante a ser destacado oriundo da ausência de enraizamento é o sentimento de não pertencimento ao lugar, tendo em vista que os moradores não participam das soluções dos problemas descritos e alguns demonstrados via figuras 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14 e 15 pelo pesquisador e possivelmente reforça as características de comunidades menos cívicas apontadas por Melo Neto e Froes (2002). Nesta perspectiva, os moradores são passageiros, que na primeira oportunidade irão deixar a região para residir em outro local do Município, outro Estado ou outro País, como vários participantes da pesquisa relataram. Estes relatos serão melhor detalhados no item 4.2 Empoderamento Individual. É possível afirmar ainda que o enraizamento é incipiente na região sul do Município de Poços de Caldas-MG. Essa incipiência é oriunda do fato de que a comunidade é nova, de modo que o processo de identificação dos moradores com a região está em andamento, sem uma política pública, projetos da comunidade local ou de entidades do terceiro setor. Diante da problemática exposta, a região sul se qualificou como um local propício para a execução desta pesquisa, devido às características de humilhação social descrita por Gonçalves Filho (1998): discriminação (GREEN, 2009; ONISUDA 2005), desigualdade social (HELLER, 1979, 1986, 1992 apud SILVA, 2004; KUNIS, CRUZ e CHECCHIA, 2007; 92 SOUZA, 2007) e segregação (BICHIR, 2006) por despossuírem capital financeiro em uma localidade segregada em relação ao restante do Município de Poços de Caldas-MG, o que os determina como uma classe social inferior e com um “cargo” pré-determinado no desenvolvimento capitalista (SINGER, 2004). Outro item que também qualificou esta localidade como pertinente à pesquisa foi o enraizamento incipiente (JÚNIOR, 2007; WEIL, 1979 apud BOSI, 1999; WEIL, 1979 apud GONÇALVES FILHO, 1998), algo fundamental no empoderamento (FUNG, 2012; ORNELAS, 2008; PERKINS e ZIMMERMAN, 1995) e na autonomia cidadã (FLECK, 2004; FREIRE, 2002; GADOTTI, 1997; JACOBI, 2005), que são equivalentes. 3.3.1 Escola Estadual Parque das Nações A Escola Estadual Parque das Nações (figura 28) está situada na região sul do Município de Poços de Caldas-MG, ofertando o Ensino Médio. Na escola há 1.480 alunos, 47 professores, além do corpo administrativo e operacional. A instituição funciona durante os três períodos (matutino, vespertino e noturno). A escola dispõe de uma quadra, uma sala de informática e refeitório, todos em um bom estado de conservação. Figura 28 – Escola Estadual Parque das Nações (7) Fonte: O próprio pesquisador, 2011 Durante as visitas para dialogar sobre a viabilidade de intervenção na escola, o pesquisador 93 notou a presença de câmeras de segurança e o controle de entrada e saída de alunos e de outras pessoas na instituição. Este controle é realizado por uma funcionária da instituição escolar. Durante uma das visitas no período vespertino, enquanto o aguardava a autorização para a entrada, o pesquisador indagou a um aluno da instituição escolar: “você gosta de estudar aqui?”. O aluno respondeu que “sim”, enfatizando que a instituição é um lugar muito “legal”. Durante outra visita, desta vez no período noturno, na qual o pesquisador também teve que aguardar a liberação desta funcionária, foi observada a presença de três grupos de jovens próximos ao portão de entrada. Os membros do primeiro grupo manobravam suas motos de maneira perigosa. O segundo grupo de jovens estava sentado na calçada, fumando cigarros e conversando entre si. O terceiro grupo de jovens aguardava a abertura do portão, tendo em vista que estavam atrasados. Há uma norma da instituição que dispõe que os alunos atrasados somente poderão entrar após o término da primeira aula. A Escola Estadual Parque das Nações tem uma evasão escolar de 5%. Segundo uma das representantes da instituição, as principais estratégias adotadas para o combate da evasão é uma “pedagogia do reforço” e trabalhos para reposição das faltas. É importante destacar que a escola dispõe de grupos de teatros e dança, como atividades extracurriculares. A Escola Estadual Parque das Nações atende alunos de toda a região sul, qualificando-se portanto como um importante local para a execução desta pesquisa. 3.4 Tamanho Amostral O estudo foi desenvolvido com uma amostra não probabilística de nove alunos residentes na região sul (Conjunto Habitacional Pedro Afonso Junqueira / São Sebastião), de ambos os sexos, pertencentes à faixa etária de 14 a 15 anos, sendo que o grupo era constituído de quatro integrantes do sexo feminino e cinco do sexo masculino. Todos os participantes são alunos da Escola Estadual Parque das Nações no período vespertino e participam do curso de empreendedorismo ofertado pela instituição, tendo os responsáveis legais concordado com a participação no projeto “Minha Pipa, Nosso Céu” após terem lido e assinado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (APÊNDICE B) conforme detalhamento constante no próximo item. 94 Pelo fato dos alunos residirem na região sul (representatividade qualitativa) e frequentarem a Escola Estadual Parque das Nações (campo de observação), foram qualificados como uma amostragem pertinente à pesquisa. 3.5 Execução do Plano de Ação Após a caracterização do ambiente e a confecção do projeto, o pesquisador buscou a viabilidade de implementação e execução do projeto “Minha Pipa, Nosso Céu” na Escola Estadual Parque das Nações. Foi constatado durante a aplicação de questionário à uma das vice-diretoras (APÊNDICE C), na data de 28 de outubro de 2011, que a instituição escolar estava disposta a aceitar projetos que contemplassem a temática empreendedorismo. Mas após a elaboração do projeto e apresentação aos demais gestores da instituição houve várias dificuldades para implementá-lo, superadas pelo pesquisador. A primeira dificuldade foi a demora no aceite do projeto “Minha Pipa, Nosso Céu” pela diretoria da Escola Estadual Parque das Nações. O pesquisador compareceu em três datas diferentes (20 de agosto de 2012 / 27 de agosto de 2012 / 29 de agosto de 2012) na instituição até obter a autorização formal (ANEXO A) após o posicionamento do pesquisador de que faria o projeto em outra unidade de ensino. Uma segunda dificuldade surgiu quando a diretoria da Escola Estadual Parque das Nações solicitou que o pesquisador encaminhasse o projeto à Superintendência Regional de Ensino. Nesta hierarquia do sistema educacional mineiro também houve uma demora no retorno e o projeto foi inicialmente reprovado. Para reverter esta situação, o pesquisador compareceu à Superintendência em 29/11/2012 e esclareceu todas as dúvidas apresentadas. É importante destacar que em nenhum momento a diretoria da Escola Estadual Parque das Nações se predispôs a acompanhar o pesquisador para conversar sobre o projeto com o Superintendente de Ensino. Superadas as primeiras dificuldades, novas surgiram durante execução do projeto “Minha Pipa, Nosso Céu”, como será relatado. No início do ano de 2013, o pesquisador procurou a vice-diretora que havia autorizado o projeto “Minha Pipa, Nosso Céu”. O pesquisador foi 95 informado que a vice-diretora com a qual havia conversado sobre o projeto estava no cargo de professora. Desta forma, o pesquisador conversou com a Vice-Diretora em exercício, que mencionou a reprovação do projeto pela Superintendência de Ensino. O pesquisador esclareceu que embora o projeto tenha sido inicialmente reprovado, obteve posterior autorização após reunião com o Superintendente de Ensino, oportunidade em que foram sanadas todas as dúvidas deste gestor. A Vice-Diretora autorizou a execução do projeto na escola, mediante cópia do termo assinado pelo Superintendente de Ensino. Este desencontro de informações denotam uma hierarquização do sistema de educação estadual de Minas Gerais e uma desarticulação entre a escola e a Superintendência. Diante destes fatos iniciais, foi observado que a diretora da Escola Estadual Parque das Nações endossou o projeto ao percebê-lo como uma atividade pertinente aos alunos da instituição, mas aparentemente houve uma dificuldade em compreender o seu alcance para eles e dar uma oportunidade para a sua concretização. Em nenhum momento foi explicito o motivo desta dificuldade, mas é possível inferir alguns: gerar mais trabalho à diretora; uma tensão com o Superintendente de Ensino, dado que havia outro projeto de educação empreendedora oriundo da Secretaria de Educação do Estado de Minas Gerais em execução, apesar do “Minha Pipa, Nosso Céu” ser pequeno se comparado ao outro; o projeto ser algo temporário; uma não identificação com uma atividade de pesquisa. Apesar de desconhecer o real motivo do desconforto da diretoria e da Superintendência em relação ao projeto, não é possível deixar de destacá-lo. A Vice-Diretora e o pesquisador chegaram ao consenso que era necessário explicar o projeto para os alunos, convidando-os através de uma apresentação. Ambos então, definiram uma data (21/02/2013) e um horário (12h30) para fazer a apresentação do lançamento do projeto. A representante da instituição relatou haver 34 alunos no curso de empreendedorismo da Escola Estadual Parque das Nações e mostrou o conteúdo abordado neste curso (plano de negócios, orçamento e marketing). Neste ponto, o pesquisador constatou que o curso de empreendedorismo elaborado pelo Estado de Minas Gerais e ofertado pela escola tinha o propósito de formar empresários (em consonância com a revisão bibliográfica realizada pelo pesquisador acerca da educação empreendedora brasileira). O conteúdo abordado do curso ofertado da instituição também não previa trabalhar o aspecto comportamental do empreendedor, o envolvimento com a comunidade e os obstáculos do desenvolvimento 96 sustentável. Diante desses fatos, foi confirmado que o projeto “Minha Pipa, Nosso Céu” era inovador em sua proposta e não estava sendo trabalhada na instituição. O lançamento do “Minha Pipa, Nosso Céu” ocorreu em 22 de fevereiro de 2013 na Escola Estadual Parque das Nações, após uma tentativa frustrada em 21 de fevereiro de 2013, devido a filmagens na instituição. No lançamento do projeto, o pesquisador foi informado que não eram 34 alunos que participavam do curso de empreendedorismo da instituição escolar, mas sim 4 turmas de 34 alunos, totalizando 136 alunos. O pesquisador alegou que não poderia trabalhar com 136 alunos devido à limitações de sua pesquisa, necessitando de 10 à 15 alunos para o projeto. O pesquisador juntamente com os representantes da escola definiram que iriam convidar 10 alunos de cada turma para assistir o lançamento do projeto. Após o convite, apareceram aproximadamente 45 alunos interessados. Para esses alunos foi apresentado o projeto “Minha Pipa, Nosso Céu” tendo ao final sido distribuído os TCLE’s (APÊNDICE B). Foi solicitado que os alunos interessados trouxessem o TCLE preenchido até a data de 25 de fevereiro de 2013. Em 25 de fevereiro de 2013 o pesquisador recolheu 12 TCLE’s, sendo 9 assinados e 3 sem assinaturas. Após o recolhimento dos TCLE’s, o pesquisador, junto a uma das vice-diretoras, chegaram ao consenso que seria necessário reunir com os alunos para definir o melhor horário e data para eles. O pesquisador se reuniu com alunos e juntos definiram a data e horário (27/02/2013 / 9h) para dar início ao projeto. O pesquisador comentou com os alunos que caso algum colega deles tivessem esquecido o termo, poderiam comparecer no primeiro encontro com o TCLE assinado. No dia 27/02/2013, após algumas dificuldades que serão analisadas no item 4.4 Empoderamento Comunitário, compareceram nove alunos na instituição escolar, dando início à execução do projeto “Minha Pipa, Nosso Céu” (plano de ação), tendo sido finalizado na data de 02/04/2013. Foram realizados dez encontros, com duração aproximada de 120 minutos, cada um. A cada semana foram realizadas dois encontros. O pesquisador esteve à disposição dos alunos para eventuais dúvidas e exerceu o seu papel de facilitador, quando solicitado. Durante os encontros, o pesquisador estimulou a participação de todos os alunos. 97 Nas dinâmicas e discussões foram respeitados os saberes formal e informal dos participantes, como determina Thiollent (1998) e conforme o conteúdo do plano de ação. A obtenção de informações prevista no plano de ação foi realizada nos encontros, utilizando uma câmera para a gravação e um diário de campo para anotações. A amostra, de pequena dimensão e sua estruturação em grupo permitiu a fácil realização de discussões, na qual foi possível obter informações principalmente de modo coletivo, sem administração de questionários individuais. Neste sentido, a amostra utilizada foi pertinente à pesquisa. O projeto “Minha Pipa, Nosso Céu” sofreu algumas reformulações, principalmente em termos de ordem nas dinâmicas, sendo que algumas foram adequadas de acordo com a quantidade de participantes no encontro, no decorrer de sua execução, o que remete à flexibilidade da pesquisa-ação (FRANCO, 2005; THIOLLENT, 1998). Após cada encontro, os dados coletados foram transcritos e analisados mediante alguns critérios, conforme será detalhado posteriormente. 3.6 Análise de dados Para a análise qualitativa dos dados coletados, foi utilizado o método de análise de conteúdo: Análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de análise das comunicações, visando obter, por procedimentos, sistemáticos e objectivos de descrição do conteúdo de mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens. (BARDIN, 1977, p. 42). Os dados coletados pelas gravações foram transcritos pelo pesquisador, totalizando dez Atas, uma para cada encontro realizado entre os meses de Fevereiro a Abril de 2013. Na coleta de dados, um diário de campo também foi utilizado pelo pesquisador, totalizando dez anotações, sendo uma para cada encontro. As percepções do pesquisador em relação aos representantes do sistema educacional mineiro (Diretoria da escola e Superintendente de Ensino) também foram analisadas, bem como as dos participantes do projeto. Toda a transcrição foi realizada na íntegra, sem alterações em termos ortográficos, concordância e coerência, de maneira a preservar a originalidade do documento. As únicas alterações realizadas pelo pesquisador foram a substituição dos nomes dos participantes (Participantes 1,2,3...) e de outros atores e 98 de instituições citadas (Partido X; Político; Político A; Político B; Político L; Político Y; Político X; Vereador H; Candidato X; Colega 1; Colega 2; Colega 3; Hospital privado; plano privado; estabelecimento comercial; 1° estabelecimento comercial; 2° estabelecimento comercial; Comércio; Comerciante; funcionária da escola; Secretária; Grupo Empresarial; Empresa 1; Empresa 2; Empresa 3; Empresa 4; Técnico do treino) e suas características (idade X; “tenho X filhos”; Projeto social X; Profissão), de maneira a preservar a identidade de todos os envolvidos. 3.6.1 Fases da análise de conteúdo Para Bardin (1977), a análise de conteúdo é composta por quatro etapas: organização da análise, codificação, categorização e inferência. Na etapa de organização de análise, os documentos escolhidos foram as Atas de registro dos encontros. Esta escolha respeita as regras de homogeneidade e pertinência descrita por Bardin (1977). Neste estudo foram selecionadas as Atas e anotações do diário de campo do pesquisador, conforme já foi mencionado. Posteriormente foi realizada uma leitura flutuante em todos os documentos selecionados como a autora também determina. Essa leitura visou a familiarização com o texto e formulação de hipóteses. Na etapa de codificação, dentre as duas unidades de análise abordadas por Bardin (1977) (palavra ou tema), o pesquisador optou por adotar os temas oriundos da revisão bibliográfica: desenvolvimento sustentável, empoderamento, autonomia, humilhação social e empreendedorismo. Na etapa de categorização, as categorias adotadas pelo pesquisador são apriorísticas (CAMPOS, 2004), tendo em vista que houve a pretensão de pré-categorizar o tema empoderamento. É importante destacar que o pesquisador esteve flexível em abrir outras categorias, como empreendedorismo e humilhação social após a leitura flutuante dos conteúdos das Atas. Mas o pesquisador optou por não abrir, mas sim remeter a esses temas durante a análise dos resultados. No caso específico do tema empreendedorismo, o mesmo permeia em todos os níveis de empoderamento. 99 A etapa de inferência, foi realizada por meio dos emissores e suas respectivas mensagens (BARDIN, 1977) e transcritas nas Atas dos encontros. Nesta etapa, o pesquisador utilizou os conceitos desenvolvidos na revisão bibliográfica. Mas devido à insuficiência dos autores em tratar alguns temas específicos que surgiram durante a execução do projeto “Minha Pipa, Nosso Céu”, foi necessário recorrer a outros autores para a realização de inferências adequadas acerca dos resultados. 3.6.2 O critério A análise de dados usou como critério todas as teorias dos níveis de empoderamento tratados por Fung (2012); Green (2009); Horochovski e Meirelles (2007); Ornelas (2008); Perkins e Zimmerman (1995); Rappaport (1987), entre outros autores citados na revisão bibliográfica. Os critérios também foram selecionados de acordo com os dados obtidos pela pesquisa. As categorias são apresentadas da seguinte forma: 1 Empoderamento Individual Autopercepção: Percepção que os indivíduos têm da importância das (e nas) suas interações com os ambientes e as demais pessoas. Categorizado pela capacidade de identificar os problemas; capacidade de se perceber como sujeito; capacidade de elaborar projetos de vida. 2 Empoderamento Organizacional Cooperação Interna: trabalhar de maneira a construir relações positivas entre os grupos, identificar mensagens comuns, desenvolver e promover o trabalho em parceria. Categorizado pelo cumprimento das regras de convivência definidas em grupo; capacidade de se solidarizar; capacidade de organização em grupo. Inclusão: trabalhar reconhecendo que existem discriminação e exclusão, promovendo a igualdade de oportunidades e de boas relações entre os grupos. Categorizado pela 100 capacidade de lidar com os conflitos em grupo; capacidade de analisar e discutir criticamente; integração ao grupo. Confiança: trabalhar de modo a aumentar as habilidades, conhecimento e confiança das pessoas e incutir-lhes uma crença de que podem fazer a diferença. Categorizado pelo aumento das habilidades e conhecimentos; reconhecimento da capacidade de executar um planejamento ou realizar algo. 3 Empoderamento comunitário Rede de Cooperação: trabalhar de maneira a construir relações positivas, manter ligações com outros organismos e promover trabalho em parceria. Categorizado pela capacidade de identificação e relacionamento com atores externos ao grupo. 101 4 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Apresenta-se a seguir a análise de conteúdo das Atas oriundas do projeto “Minha Pipa, Nosso Céu”, elaboradas entre os meses de Fevereiro a Abril de 2013, totalizando dez (10) Atas (APÊNDICES D, E, F, G, H, I, J, K, L, M) e dez (10) relatos do diário de observação. Os quadros categoriais estão preenchidos com trechos do conteúdo das Atas e dos diários de observação, dos quais foram selecionados registros que apresentaram pertinência a cada um dos níveis de empoderamento e alocados em quadros. Devido a variabilidade de empoderamento identificada, houve a classificação dos momentos em que o empoderamento foi positivo (Há) e os momentos em que o mesmo foi negativo (Não há). Para esta análise faz-se uso de indicadores de empoderamento descritos no item 3.6.2, aqui transcrito novamente: 1 Empoderamento Individual Autopercepção: categorizado pela capacidade de lidar com os conflitos em grupo; capacidade analisar e discutir criticamente; integração ao grupo. 2 Empoderamento Organizacional Cooperação Interna: categorizado pelo cumprimento das regras de convivência definidas em grupo; capacidade de se solidarizar e organizar em grupo. Inclusão: categorizado pela capacidade de lidar com os conflitos em grupo; capacidade de analisar e discutir criticamente; integração ao grupo. Confiança: categorizado pelo aumento das habilidades e conhecimentos; reconhecimento da capacidade de executar um planejamento ou realizar algo. 3 Empoderamento comunitário Rede de Cooperação: categorizado pela capacidade de identificação e relacionamento com atores externos ao grupo. 102 Durante a categorização dos conteúdos, notou-se que alguns trechos poderiam se enquadrar em mais de uma categoria, porém foi feita a escolha mais pertinente a cada indicador de empoderamento. Após a análise de cada um dos quadros categoriais, apresentou-se a interpretação dos dados, integrando os registros do diário de observação e ampliando a leitura com base nos tipos de empoderamento e no movimento do grupo. 4.1 Os encontros Todos os encontros serão descritos sucintamente neste item, para maiores detalhes consultar o APÊNDICE A. É importante destacar que houve modificação na ordem prevista dos encontros e algumas dinâmicas foram adequadas de acordo com a quantidade de participantes no encontro, o que demonstra a flexibilidade da pesquisa-ação (THIOLLENT, 1998) e a sua pertinência para esta pesquisa. 1° Encontro Este primeiro encontro teve como objetivo formar um grupo, definir regras de convivência, explicar o projeto e situar o participante acerca do empreendedorismo. Aplicação da Dinâmica “EU SOU ALGUÉM”. 2° Encontro (estava previsto para o 3° Encontro) Este segundo encontro teve como objetivo dar início ao processo de identificação de oportunidades de transformação no bairro / dar início ao protagonismo juvenil no bairro. Aplicação da Dinâmica “CONCORDO E NÃO CONCORDO”. 3° Encontro (estava previsto para o 2° Encontro) Este terceiro encontro tem como objetivo dar sequência ao processo de identificação de oportunidades de transformação no bairro / dar sequência ao protagonismo juvenil no bairro / fomentar características empreendedoras nos participantes / dar início a fomentação de uma rede de relacionamentos entre os jovens e os empreendedores 103 locais. Aplicação da Dinâmica “A MINHA COMUNIDADE HOJE / A MINHA COMUNIDADE COMO A QUERO”. 4° Encontro Este quarto encontro teve como objetivo dar sequência ao processo de identificação de oportunidades de transformação no bairro / dar sequência ao protagonismo juvenil no bairro / fomentar características empreendedoras nos participantes. Aplicação da Dinâmica “TORRE DE CANUDOS”. 5° Encontro Repetição do 4° encontro. 6° Encontro (estava previsto no quinto encontro) Este sexto encontro teve como objetivo dar início à transformação da identificação de oportunidades em empreendimentos sociais no bairro / dar sequência ao protagonismo juvenil no bairro / fomentar características empreendedoras nos participantes. Aplicação da Dinâmica “CRIANDO UMA SOLUÇÃO SOCIAL LOCAL”. 7° Encontro (estava previsto no sexto encontro) Este sétimo encontro teve como objetivo trazer um convidado externo para esclarecer algum assunto de interesse do grupo acerca de empreendedorismo ou na solução do problema identificado / dar sequência ao processo de transformação da identificação de oportunidades em empreendimentos sociais no bairro / dar sequência ao protagonismo juvenil no bairro / fomentar características empreendedoras nos participantes. 104 8° Encontro (estava previsto no sétimo encontro) Este oitavo encontro teve como objetivo dar sequência ao processo de transformação da identificação de oportunidades em empreendimentos sociais no bairro / dar sequência ao protagonismo juvenil no bairro / fomentar características empreendedoras nos participantes. Continuidade da aplicação da Dinâmica “CRIANDO UMA SOLUÇÃO SOCIAL LOCAL”. 9° Encontro Este nono encontro teve como objetivo dar sequência ao processo de transformação da identificação de oportunidades em empreendimentos sociais no bairro / dar sequência ao protagonismo juvenil no bairro / fomentar características empreendedoras nos participantes. Continuidade da aplicação da Dinâmica “CRIANDO UMA SOLUÇÃO SOCIAL LOCAL”. 10° Encontro Este encontro teve como objetivo encerrar o projeto e visualizar a transformação pessoal dos participantes. Aplicação da Dinâmica “ENTREVISTA COMIGO MESMO DAQUI A DEZ ANOS”. 105 4.2 Empoderamento Individual A partir dos dados obtidos por esta pesquisa, apresenta-se o Quadro 4: Quadro 4 - Autopercepção Encontro 1 Há Dinâmica 1: Não há Participante 7: Eu desisto de classificar! (momento de classificação das características pessoais na Dinâmica “Eu sou Alguém”) Participante 1 Facilita: Risonha / Simpática / Eclética / Amiga / Carinhosa / Educada / Companheira Dificulta: Tímida / Nervosa / Palhaça Participante 2 Facilita: Calmo / Parceiro / Esperto / Amigo / Habilidade com coisas / Foco na atividades Dificulta: Mais ou menos tímido / chato Participante 3 Facilita: Amigo / Compreensivo / Inteligente / Atencioso / Extrovertido / Estudioso Dificulta: Estressado / Tímido / Chato / Irritante Participante 4 Facilita: Amiga / Conselheira Dificulta: Chata / Nervosa / Irritante / Teimosa / Ciumenta / Atentada / Amorosa Participante 5 Facilita: Bem humorado / Curioso / Estudioso / Inteligente / Faço tudo ao meu alcance / Gosto de trabalhar no lava jato do meu pai / Tento ser paciente às vezes Dificulta: Falante / Agitado / Chato ás vezes Participante 6 Facilita: Simpática / Amiga / Calma / Divertida / Compreensiva / Conselheira / Amorosa / Educada / Companheira Dificulta: Tímida / Risonha / Amiga 106 Participante 7 Facilita: Amiga / Compreensiva / Inteligente / Atenciosa / Estudiosa / Extrovertida Dificulta: Timidez / Nervosa / Rígida Participante 8 Facilita: Eu gosto de estudar / Eu sou calmo / Eu sou bem humorado / Gosto muito de esporte / Faço todas as tarefas designadas para mim Dificulta: Eu sou muito falante / Tem hora que eu sou chato e sou agitado Participante 9 Facilita: Falante / Extrovertido / Brincalhão / Amo ficar com pessoas do sexo oposto / Impulsivo / Lido facilmente com as pessoas / paciente / Gosto de modelas / Respeitoso / Calculista / Imprevisível Dificulta: Agitado / Não gosto de namorar / Curioso 2 Questionados sobre a dinâmica de auto-conhecimento (Diário de campo) Participante 5 começou a debochar da Participante 1 devido ao seu desejo de ser cozinheira. Participante 5 : Foi bem interessante, porque a gente pode descobrir coisas que a gente não descobria (pausa e aparente reformulação de ideia)...é, não sabia da gente memo. Participante 3 (abriu um sorriso e fala baixo): Porque a gente descobri características que a gente não sabia que agente tinha. Questionados sobre o que querem ser no futuro: (Diário de campo) O Participante 5 respondeu que quer ser engenheiro mecatrônico. (Diário de campo) O Participante 3 que queria ser engenheiro civil ou arquiteto. (Diário de campo) Os Participante 3 e 5 comentaram que estas profissões “dão” muito dinheiro. (Diário de campo) A Participante 1 relatou querer ser cozinheira porque ela gosta de cozinhar. 107 (Diário de campo) A Participante 6 relatou querer ter uma grande empresa e contratar várias pessoas. 3 Participante 6: Mas é a gente que acaba com tudo (identificação dos sujeitos relativos a questão de conservação do patrimônio público). Participante 3: Você fica (Participante 5 tenta fazer um comentário, mas Participante 3 se impõe) uns cinco anos esperando um médico lá. Esses dias fui lá no médico lá, passando mal lá, o médico batendo papo lá de noite. Não atendia ninguém lá, tinha só dois médico lá pra umas dez pessoas lá. As pessoas quase morrendo lá e os médicos batendo papo lá. Participante 2: Mas por que que (pausa) no hospital particular eles não é assim não? Participante 2: Eu acho. Tem vez tipo assim...eu tenho plano privado de saúde,....aí quando eu passo mal assim, aí vem nesse aqui. Tem vez que não adianta nada, aí meu pai tem que me levar lá no Hospital Privado. Participante 7: Eu acho um problema na área de saúde. Porque a gente....a gente trabalha, a gente luta pelo que a gente qué...e quando a gente chega e tá necessitando de alguma coisa, a gente chega no hospital duas hora da tarde pra se atendido às 8 da noite. Eu acho uma injustiça. Participante 2: As vezes você é até chutado. Pesquisador: E as suas relações com os policiais, como que são? Participante 2: Ah, eles tão batendo por bosta. Pesquisador: E por que eles estão batendo por bosta? Participante 2: Ah, eu não sei que eles tão arrumando. Eles bateram no muleque lá com gosto lá. Participante 2: Ele tava só fumando, mais nada. Aí o policial chegou lá..., deu geral nele, pegou o cigarro dele lá..., amassou tudo, deu uns tapa na oreia nele lá, deu uns chute nele lá e colocou dentro do carro e quebrou ele. (pausa e olha para o pesquisador). Eu acho que não é bão não. 4 Participante 9: Eu frequento muito o Cristo, á noite, a Pedra Balão, direto e reto lá e o que geralmente o que rola é droga. Vai da cabeça né cara. Cabeça é o teu guia. Ela que vai te influencia nas suas atitudes. Participante 9: Eu concordo com Participante 5 nesse ponto. Porque igual ele falou, interesse. A gente mora num mundo capitalista e tudo gira em torno do Participante 5: (pausa e fica passando a mão no braço). Assim...na minha opinião ser livre é fazer o que você quer (pausa) e pra mim, por exemplo. Faiz de conta que eu quero ir pra uma balada (olha para Participante 9). Hoje em dia não tem mais assim liberdade, “Ah eu vou na balada”. Mas muitas vezes você chega na balada, tem droga envolvida (começa a contar nos dedos), tem é....vários tipos de droga, vários tipo de pessoa diferente, então isso aí atrapalha. (pausa). Aí é...por isso que você não tem toda aquela liberdade mais. 108 capital. Então as pessoa, não só as mulheres, mas todo mundo vai em busca do capital né? Porque pra vive, você precisa do capital. Participante 1: Mas eles (traficantes) são gente boa (contraí os lábios de forma negativa). Pesquisador: E por que você não gosta de traficante? Participante 6: Ah, porque sei lá ué. (Pausa). Sei lá, não gosto deles não. Não sei explica o porquê. Pesquisador para Participante 1: Você queria comentar alguma coisa? Participante 1: Ah não. É que...esqueci. (referente aos traficantes) Participante 6: A gente é livre né. Livre até um ponto. Tipo, sei lá. A liberdade que a gente queria, tipo assim, pode...,tipo i pro centro à noite...anda assim sem medo de nada. Sem medo de violência, de....que nem, tipo, os povo fica lá, que nem o Participante 5 falou. Você vai pra balada aí eles tão lá brigando com uma garrafa, essas coisas, aí é perigoso. Então a gente fica pensando bem antes de ir assim. Não é uma liberdade que a gente já vai e tal. Participante 1: Como Participante 6 e Participante 5 disse, esse negócio de ir pra balada. Tem gente que sai na intenção de se divertir, tudo mais, mas tem gente que já sai na intenção de...,de briga com alguém, de mata alguém, de fazer maldade. Igual ontem, nóis tava, tava eu mais um...amigo meu, em frente a uma casa de uma mulher. Aí ela pegou assim, acho, acho que agente tinha acabado de sair da escola, era umas seis horas. Aí quando vê, a mulher saí assim: “Aí , a mãe de vocês sabe onde cêis tão na rua?” “Olha a hora que é, eu não gosto que faz isso no muro da minha casa, que não sei lá”. Aí ela começou a criticar assim, nem era de noite. Começou a critica, fala de liberdade, essas coisa. “Aí, tua mãe sabe que você tá na rua, tu mãe sabe onde cê tá?” Tipo, crítica. 7 Participante 5 (fica com dedo indicador levantado): Mas assim, por exemplo, quanto tempo é...demoraria pra se construir o Paço Municipal? (início da perda do medo em relação ao ator externo) Político: Então vamo lá, quais são os questionamentos que vocês tem para mim, porque eu já contei minha história. Silêncio (medo do ator externo). Participante 4: mostra o folder para a Político e questiona a sobre o que é a letra F no projeto do Paço. Político procura, mas não acha. Político: Bate aqui (mostra a mão para Participante 4). Participante 4 bate e abre um sorriso grande. Político: Eu vou saber e mandar essa resposta para ti. Então isso aqui eles mandaram entregar lá (Câmara Municipal), mas eu peguei esse aqui da escola e eu falei vamos levar. Mas Participante 4 você foi fantástica, obrigado por sua Político: Eu tenho idade X, se eu ficar contando minha história aqui vocês não vão sair daqui gente (risada).Que que cês tem de questionamento? (Pegou o folheto do Paço) E ai, vocês viram essa maquete aqui? Vocês entenderam essa maquete? Silêncio. (medo do ator externo) Político: Vocês sabem o que é essa discussão do Paço de vir para a zona sul? Silêncio. (medo do ator externo) 109 chamada. Participante 4 continua com um sorriso grande. Político: Porque eu não sei te falar o que é Participante 4. Eu não sei. Olha (mostra o folder para o restante) onde ela apontou aqui. É isso que faz (aponta para Participante 4) que vai fazendo as grandes diferenças, viu pessoal? Tá vendo que legal ó (mostra o folder novamente). Ela notou uma coisa que eu que estou lá dentro (Câmara Municipal) não vi. Olha (mostra o folder novamente). Isso que é legal da gente participar, de aprendendo, discutindo. Participante 5: Mas lá não seria o Hospital Privado por exemplo? Político: Não, não. O Hospital Privado não pode vir pra uma área dessa porque ele é privado. Participante 5: Ah (cruza os braços rapidamente) (repreendido, o participante fica acuado por alguns instantes) (Diário de Campo) Participante 5 fica com o dedo levantando querendo falar alguma coisa. Político: Vocês já tem alguma coisa na cabeça de vocês?(em relação à alguma graduação) Com quantos anos você está? Pesquisador: Não, pelo que estou conversando com alguns aqui, uma queria se cozinheira, mas essa que quer ser cozinheira não tá aqui né. O pessoal até debochou né :”Nossa cozinheira”. Não, mas pode ser um chef, alguma coisa diferente também. Participante 5 começa a cochichar para o pesquisador e a Político percebe: “Mas esse povo aí não é que ia construí a prefeitura lá, alguma coisa assim, sei lá, alguma coisa? (há um medo ainda do ator externo). Pesquisador: É o Paço. Participante 5: É? Pesquisador: O Paço Municipal, do Oscar Niemeyer. Participante 5: É. Político: Esse aqui não me apresentou nada né (para Participante 2). Não é dono Participante 2? Participante 2 sorri e começa mexer no celular. Pesquisador: Vocês querem falar alguma coisa do Paço? Querem formar opinião sobre o Paço? O que vocês pensam? Político: E vocês? São contra ou a favor? Pesquisador: Pode ser. Político: Pode ser? Silêncio. (medo do ator externo) Político: Assim, pelo que vocês ouvem. Silêncio. (medo do ator externo) Político: Da mesma maneira que estou falando aqui. É...eu estou colocando aqui uma série de informações que ainda não tem, mas antes de vocês conversarem comigo, vocês.....e agora que eu já....lancei uma série de informações, vocês são a favor ou contra do Paço? Silêncio. (medo do ator externo) Pesquisador: Tem o pessoal que quer ser engenheiro aqui também. Participante 5: Eu. Eu tenho em mente duas coisas, ou ser arquiteto, ou ser engenheiro. Político: Legal. Legal. São duas áreas muito boas também. Muito boas né. E vocês? Participante 3: Engenharia ou arquitetura. Político: Engenharia civil então. Ou arquitetura? Participante 3: Um dos dois. Político: Um dos dois. Legal. Participante 5: Ou fazer uma engenharia, engenharia naval. Pesquisador: A Participante 4. Participante 4: Ah, eu queria ser juíza, mas não sei. 110 9 10 Político: Esse país ainda...por isso que vocês são um grupo especialismo, quando vocês se interessam por isso, por isso que agora você tá parecendo chato, “essa coisa, aí”, “que bobeira”, vocês não imaginam o quando vocês se tornaram diferentes. Vocês não imaginam o presente que vocês estão se dando te estar aqui nesse bate-papo, ó (o Político gesticula como se estivesse acontecendo uma troca entre ela e os participantes). Porque pode ter certeza que quando você ver uma coisa você vai lembrar (pausa). Você vai lembrar, “puxa pra que isso?” “pra quê necessidade disso?” (pausa) “Eu não preciso fazer isso” né, ou “eu posso fazer isso”, “eu quero fazer isso”. Então aí cria uma cidadania legal, cidadania de vê no outro a necessidade de minha ajuda, de ter o outro, eu precisar do outro, não é? (Diário de campo) Participante 5 e Participante 2 comentaram sobre o futuro e se interessaram quando o pesquisador começou a falar sobre a Universidade. Participante 4: Pra mim o curso foi muito bom, porque eu fiquei sabendo de muitas coisas que eu não sabia, igual ao Paço Municipal, eu nem tinha noção do que era. Eu gostei do curso, aprendi muita coisa que não sabia e eu....como é que fala? (pausa). Conheci....eu conheci mais as pessoas assim..., nunca tinha conversado com um político. Pra mim foi muito bom....o curso sim. Pesquisador: Você acha que entrou de uma maneira e tá saindo de outra maneira daqui? Participante 4 assinala positivamente com a cabeça. Pesquisador: Por que que você acha que tá mudando? Participante 4: Ah, porque antes eu...não tinha...., eu tinha assim, medo de argumentar, de falar as coisa. Agora não, eu tô um pouco mais solta e aqui eu aprendi tipo assim, quando a gente tem opinião, a gente tem que colocar ela em serviço, a gente tem que dá, porque...antes eu não fazia isso, eu tinha muito medo, sabe? (pausa). Por isso que eu falo que eu saiu daqui, saiu diferente desse curso. Mudei muito. Pesquisador: E que coisa você acha que aprendeu aqui? Participante 4: Ah, eu aprendi muita coisa. Eu não sei detalha a coisa certinho, porque foi muita coisa. Mas o que eu vô toca minha vida, é muito muito ótimo. Pesquisador para Participante 3: Você. Participante 3 fala baixo: Eu aprendi muitas coisas que eu não sabia. Pesquisador: Oi? Participante 3: Eu aprendi muitas coisa que eu não sabia, igual a Participante 4 falou, o Paço Municipal eu não sabia que tinha. Pesquisador: E você acha que você tá saindo diferente do que você entrou ou... Participante 3 assinala positivamente com a cabeça. Pesquisador: Que trabalho você pretende ter daqui à dez anos, ou durante o curso assim? Participante 3: Qualquer um. Participante 2: Eu começo a trabalha semana que vem. Participante 4: Eu ia passar pra noite pra mim trabalha, mas minha mãe não quer deixar eu passar pra noite. Eu acho que vou ficar na aba dela até sair do terceiro ano. Participante 3: Às vezes você pede, meu pai tá precisando e meu pai não tem ou fala que não tem.(em relação a pedir dinheiro aos pais) Pesquisador: Para noite. E você (Participante 3), tá procurando um emprego ou não? Participante 3 assinala negativamente com a cabeça. Participante 2: Você procura, mas não acha. Pesquisador: Não acha emprego aqui? Participante 2: Eles qué experiência, mas se eles não der chance de entrar como vai ter experiência? Participante 4: Fuma maconha pode, agora trabalha não pode. É até engraçado. Pesquisador: Você acha isso mesmo, fumar pode, mas trabalha não pode? Participante 4: É Pesquisador: Você (Participante 3) também acha que é mais fácil consegui uma droga do que um trabalho. Participante 2 fala: É mais fácil. Participante 3 responde: Acho. 111 Pesquisador:....a mesma coisa que vocês entrou? Participante 3: Porque quando eu entrei, eu entrei meio tímido assim, eu não queria falar nada, agora não. Pesquisador para Participante 3: Você, o que você vai leva daqui? Participante 3: Igual a que a Participante 4 falô, cuida do espaço público. Não deixa... pra não quebra nada. Deixa intacto lá do jeito que tá, sem pode mostra. Porque não é só a gente que vai usa, outras pessoas também vão. Participante 4: E outra, igual a esses banquinho da avenida, eles pediram tanto pra faze e ó...ele fez, mas já tão ruim, todo mundo, é...a maioria já tá destruído (pausa). Então não adianta, porque é igual ali, às vezes tem todos os banquinho, mas não tem a mesinha, às vez tem a mesinha, mas não tem o banco. Ás vezes tem a mesinha e um banco só. Então eu acho que a gente deveria cuidar muito mais do que é nosso! Porque é espaço público, porque a gente fala, mas é todo mundo. Todo mundo pode usa ele. Pesquisador: Humhum. E vocês acham que também que vocês são inferiores ao centro ou à pessoas do centro? Vocês acham que.... Participante 3 assinala negativamente com a cabeça. Pesquisador: Não? Participante 3 continua assinalando negativamente com a cabeça. Participante 4: Não! A gente é igual a todo mundo (em um tom mais elevado). Só que o problema é eles lá pensarem que a gente é mais baixo. Ás vezes aqui, tem gente melhor do que lá. Então eu acho que eles lá deveria tratar a gente do mesmo jeito que eles trata o povo lá e a gente do mesmo jeito. Porque eu acho que ninguém é diferente de ninguém, melhor de ninguém, todo mundo é do mesmo jeito. Mesmo sendo rico, sendo pobre, essas coisa. Pesquisador: Você (Participante 4) acha que você não é inferior á eles? Participante 4 assinala negativamente com a cabeça. Pesquisador: Você (Participante 3) também acha isso? Participante 3 assinala negativamente com a cabeça: Não, tipo pessoas igual à eles sim. Eles tem, só porque eles tem mais dinheiro, eles acham que são tipo assim, melhores do que a gente. Eu acho que não. Pesquisador: E aí, a gente tá conversando aqui o que cada um aprendeu no curso, se você acha que entrou diferente, tá saindo diferente, não entrou...o que você acha disso? Você acha que aprendeu muita coisa aqui, não aprendeu nada? 112 Participante 2: Ah, eu acho que aprendi sim, sei lá. Aprendi sim. Pesquisador: E o que você aprendeu aqui? Participante 2: (pausa) Eu não sei explica não. Pesquisador: Mas o que você acha assim....alguma coisa diferente, conversou com o Político, conversou comigo aqui várias coisas. O que você acha de tudo aquilo que você passou? Participante 2: Não, assim, fera assim. Pesquisador: Você tá saindo diferente do que você entrou ou saindo a mesma pessoa? Participante 2: Não, eu acho que to saindo diferente (ênfase na fala), mas eu não sei o que mudo (fala baixa). Pesquisador: Mas o que você acha que tá diferente em você hoje? Participante 2: Ah, eu acho que a gente pensa sobre as coisas. Participante 2: Pensa sobre serviço assim, essas coisa. Pesquisador: Mas você acha que em termo de comportamento assim, você alterou alguma coisa? Tá mais livre pra falar, menos tímido, o que você acha? Participante 2: Eu não sei. Acho que to menos tímido eu acho (coça a cabeça). Pesquisador: Sei lá. Então o que a gente ta falando até agora....outra coisa importante, que eu já comentei com os dois (participantes), você acha que você é inferior em relação ao pessoal do centro ou não? Participante 2 assinala negativamente com a cabeça: Não Pesquisador: Não. E por que que você acha que você não inferior ao pessoal do centro? Participante 2 (coça a cabeça): Porque não. Tipo assim, eles discrimina aqui, mas eles não conhecem as pessoa do bairro pra sabe. Então tem que conhece vário lugar, eu acho. Pesquisador: Mas você não sente inferior a eles de jeito nenhum? Participante 2: Não. Dinâmica “Entrevista comigo mesmo daqui a dez anos”: Participante 4: Eu vô começa vai. Daqui à dez anos eu pretendo tá cursando uma faculdade, trabalhando porque minha mãe vai, é miserável, não vai paga minha 113 faculdade (risadinha).É....o que eu falei?....é....eu quero tá na faculdade, trabalhando, espero.....não ter casado. Pesquisador: Por que você espera não ter casado? Participante 4: Não! (assinala a cabeça negativamente e faz uma pausa). Aí vou ter despesa com minha faculdade, não vou casar não. Aí depois que eu terminar aí eu vejo.Eeee...é isso. Participante 4 abre um sorriso e dá um leve tapinha em Participante 3: Não quero ter filho, porque filho dá trabalho, eu vejo por mim. Dá muito gasto se for igual eu (risadinha). É isso. (pausa). E espero que minha mãe esteja viva. Pesquisador: Mas o seu objetivo então é fazer uma faculdade de Direito? Participante 4: É. Pesquisador: Por que você quer ser juíza futuramente? Participante 4: Humhum. Participante 4: Ou eu parto para advogado mesmo. Pesquisador: Humhum. E...nesse período você quer ter uma casa sua? Participante 4: É, eu quero ter a minha própria casa (coloca a mão no peito). Eu não quero mora com a minha mãe não. Participante 4: Ah não, não quero morar com ela não. Deixa ela na parte dela e eu no meu (risadinha). Participante 3: Fazer faculdade de Engenharia ou Arquitetura. Pesquisador: Ou Arquitetura... Participante 3: Ééé...deixa eu ver (pausa), trabalhando também pra paga minha faculdade. Participante 4: Tua mãe também é miserável? Participante 3: Não, meu pai falô que ela paga, quando eu tivé trabalhando eu tenho que paga a do meu irmão (risadinha e passa a mão no rosto). (pausa). É deixa eu ver.... (pausa) pretendo ter a minha própria casa. Participante 3: Eu pretendo não mora aqui. Pesquisador: Não morar aqui? Na região sul? Participante 3: Aqui, em Poços. Participante 3: Igual o Participante 2 falo (rindo). Vou mora no Rio, se tive, vamos dize assim, é bom estudo, tudo assim..., ganhando dinheiro bem assim, tive 114 ganhando bastante dinheiro não mora mais assim, mora no Rio de Janeiro que nem o Participante 2 falou em Copacabana lá...., e só. Pesquisador: E você não quer ter filho? Não quer casar, casar você não sabe ainda né? Mas ter filho você não quer ter filho? Ou quer? Participante 3: Ah, um só tá bom. Pesquisador: Você acha que nem ela(Participante 4), dá muito trabalho filho, dá muito gasto? Participante 3: Aaaah...depende, se você sabe leva. Participante 4: Dá muito gasto viu. Pesquisador: Então você não quer morar aqui, quer cursar Engenharia Civil e ter um trabalho pra poder pagar a sua faculdade também? Participante 3 assinala positivamente com a cabeça. Participante 2: Éééé... Copacabana, (passa a mão no rosto)nossa fio estuda tanto pra faze uma faculdade de Engenharia Civil. Pesquisador: Por que você quer fazer uma faculdade de Engenharia Civil? Participante 2: Eu não sei. Porque eu quero. Eu sei lá. Participante 4: Você acha bacana? Participante 2: Eu acho bacana. (pausa e coça a cabeça) Aí vou trabalha nisso aí....ter o meu negócio assim e tudo a grana lá (sorri). Pesquisador: E por que você gosta do Rio de Janeiro? Participante 2 (sorrindo): Eu acho legal lá. Participante 2: Não, eu não quero te fio não. Pesquisador: Por que você não quer ter filho? Participante 2: Não quero tá casado. Pesquisador: Ah é? Participante 2 (com um sorriso e olha para os outros participantes): Só mora junto. Participante 2: Não sei. Ter um carrinho bom. Um Porshe. Pesquisador: Porshe. Participante 2: Pra trabalha assim. Pesquisador: E tua mãe? Teu pai? 115 Participante 2: Então, eu ajudando eles quando tive trabalhando. Se eu pude ajuda, eu vo ajuda eles. Participante 4: Ah, eu.....quero (coça a perna e pausa), eu não quero ficar poble e...poble (risos e coloca a cabeça na perna), pobre, e quero, na verdade eu não quero mora aqui não. Eu quero mora em Paris. Participante 4: Eu quero morar em Paris. Eu não sei o porque. Eu acho uma cidade muito linda. Participante 4: Minha mãe também vai comigo. Pesquisador: Então você quer morar no Rio... Participante 3: Em outro país. Pesquisador: Mas que país seria esse? Participante 3: A Espanha. Pesquisador: Você acha que vai demora pra você casa? Participante 3 fala: Vai. Participante 2 responde: Vai. Participante 4: E eu vo...se eu for mora fora, eu pretendo ir e depois vim pra faculdade, depois que eu tivesse bem (faz sinal de dinheiro), bem, bem preparada pra isso. Sobre a Dinâmica: Participante 4: Foi fácil, porque tipo assim, pode ser realmente que a gente quer alguma coisa, aí foi fácil mesmo. Mas não foi fácil porque eu não sei como a vida vai tá. E muita coisa também que vai muda. Não vai tá igualzinho a que é hoje. Participante 4: Se eu tive uma filha ela vai estuda lá no Integral (escola particular). Filha mulher dá muito trabalho, eu vejo por mim. Nossa Senhora! Gasta demais. Participante 4: Só que o sonho dele (Participante 2) é bem loco. Participante 2: Iiii que fio. Iiiii, o meu sonho é o mais certo. O que você falou, você pode morrer com um tiro fio. Você vai ajudar o Fernandinho, o filho do Fenrnadinho Beira Mar...(pausa) e ele vai lá e mata. Ixiii, olha. (pausa). É 116 perigoso fio. Participante 4: Eu acho que tem que ter força de vontade. Pesquisador: Força de vontade? Participante 2: Força de vontade. Participante 3: Força de vontade. Pesquisador: Mas vocês acham que só com força de vontade vocês vão chegar aonde vocês querem? Participante 3: Tem que estuda também. Pesquisador: Tem que estuda também? Participante 2: Tem que ter Deus na vida também. Participante 2: Uai fio, não tem quer ter Deus na sua vida? Pesquisador: E o que vocês tem que fazer agora pra chegar nesses sonhos ou dar início à esses sonhos aí? Participante 4 (olha para cima): Estuda bastante! Participante 2: Estuda. Participante 3: Estuda. Pesquisador: Então pra vocês, o que pode ser feito hoje é só estudar? Participante 3: Estuda e trabalha. Participante 2: E fazê uns curso né. Carta de participante 1 ao pesquisador (sem solicitar) Maurício, Fiquei sabendo que você anda notando minha ausência, e resolvi por meio desta lhe informar o porque do meu não comparecimento. É que estamos reformando minha casa aí está muito apertado pra mim ficar saindo da minha casa e deixar eles lá e vim para o curso. Mas saiba que adorei todos os encontros que pude comparecer, todos muitos alegres com muita sabedoria que me passou muitas coisas importantes como: saber respeitar o colega, trabalho de equipe, esforço, criatividade, dedicação, o que é ser um empreendedor e etc. Adorei muito a compania de todos, a sua dedicação com todos, conheci meios de me expressar e te peço desculpas por deixar o curso bem no meio Muito obrigado pela atenção! 117 Participante 1 Saudades Carta de participante 6 ao pesquisador (sem solicitar) Olá Maurício, Estou-lhe escrevendo, para justificar o porque não estou comparecendo aos encontros: Anteriormente quando ainda não havia começado os encontros, minha mãe me inscreveu em um curso, passado alguns meses achamos que não iria me chamar para começar fazer, então apareceu os encontros e eu comecei a frequentar. Nesses últimos dias me chamaram para fazer o curso e minha mãe quer que eu faça por isso eu não vou mais estar presente nos encontros.... Venho te agradecer por essas oportunidades que você nos deu de aprender mais sobre os nossos objetivos, é uma pena que eu não possa mais estar presente, pois o meu novo curso é a semana inteira de manhã...Pesso-lhe desculpas por abandonar um comprometimento, e a todos os alunos também! Eu estou muito feliz por ter participado,saiba que não é nada pessoal, mas gostei muito de ter novas experiências e principalmente com um “professor” educado, inteligente e compreensivo, e sem fala na presença dos meus amigos do curso, também foi bem legal. Vou sentir saudades.... Um abraço, Participante 6 Fonte: O próprio pesquisador, 2013 118 Em termos de empoderamento individual, houve uma variabilidade nos encontros, uma polarização entre estar desempoderado e empoderado, conforme Quadro 4. Mas ao comparar o primeiro e o último encontro foi uma evolução positiva na habilidade de se expressar, uma redução da timidez (uma característica considerada como ruim por vários participantes na Dinâmica “Eu sou alguém”) entre os participantes, identificada por eles também no encontro 10. Durante a execução dos encontros, os participantes descobriram espaços para expressar aquilo que julgavam pertinente diante daquilo que era exposto (Paço Municipal, região sul, confecção de uma pauta para conversar com um político, planejamento da administração e reforma das quadras poliesportivas). Este descoberta é reconhecida inclusive nas cartas oriundas das Participantes 1 e 6 que deixaram o projeto por questões pessoais. Nessa perspectiva, abriu-se um canal de participação para os jovens, até então inexistente na instituição escolar e na região sul, o que possibilitou a diminuição da timidez. Timidez esta, interpretada pelo pesquisador como submissão, que marca a historicidade brasileira (PEREIRA, 2006) e um dos efeitos da humilhação social (GONÇALVES FILHO, 1998). Os participantes também elencaram algumas características pessoais as quais aparentemente ainda não haviam, parado para refletir, de maneira a criar um espaço de autoconhecimento. Nesse sentido houve um empoderamento individual. Essa descoberta mostrou-se “desafiadora” para todos os participantes, tendo que o pesquisador estender o tempo de duração da dinâmica para a definição e classificação das características pessoais. Em específico, a Participante 7 relatou ter dificuldades em elencar dez características pessoais e questionou ao pesquisador se poderiam ser cinco. Após a negativa do pesquisador, foi verificado que a Participante 7, ao final do encontro conseguiu elencar e classificar nove características pessoais (Quadro 4). Outro fato que demonstra a dificuldade dos participantes durante a execução da dinâmica, ocorreu quando o pesquisador solicitou que os participantes classificassem as características listadas entre “as que facilitavam a vida do participante” e “as que atrapalhavam a vida do participante”. Os Participantes 3, 4 e 7 relataram que todas as características pessoais atrapalhavam as suas respectivas vidas. Mas ainda assim procedeu-se a classificação das características. Ao analisar as características elencadas por esses participantes, em termos quantitativos, apenas a Participante 4 classificou mais características pessoais que atrapalhavam sua vida em relação às facilitadoras. Possivelmente, esse fato se dê pela humilhação social sofrida pelos moradores dessa região, como foi apontada na apresentação do campo e que será melhor detalhada nos relatos dos participantes no item 119 4.2.1, a qual “impregna” o sentimento de inferioridade (GONÇALVES FILHO, 1998) independente das características pessoais que possuam, o que reflete em uma deficiência social. Neste sentido, a inferioridade manifestada abertamente por alguns participantes é um sinal de desempoderamento individual. Em relação à formulação de projetos de vida, o projeto “Minha Pipa, Nosso Céu” foi capaz de instigar todos os participantes a começar a visualizar e reconhecer as incertezas que podem afetá-los. Nos projetos de vida dos participantes apareceram os seguintes anseios: residir em outro país ou município; cursar uma faculdade; e ter um número reduzido de filhos ou não ter nenhum (filhos representam gastos financeiros na percepção dos participantes) conforme Quadro 4. Nestes vislumbres do futuro, em termos de residir em outro país ou município, constata-se a ausência de enraizamento (JÚNIOR, 2007; WEIL 1979 apud BOSI, 1999; WEIL, 1979 apud GONÇALVES FILHO, 1998) dos participantes. Almejar residir em outro país ou município também pode sinalizar uma fuga do ambiente no qual sofrem humilhação social (GONÇALVES FILHO, 1998), pois o desejo não é residir em algum bairro considerado como de alta classe no Município. Analogamente, estes participantes estão em uma situação na qual se consideram como se fossem “criminosos” com a necessidade de se evadir o mais distante possível da cena para um lugar em que se possam construir uma nova identidade sem serem reconhecidos. Nesta perspectiva, mais uma vez, é possível notar a manifestação da humilhação social (GONÇALVES FILHO, 1998) pelo sentimento de inferioridade entre esses jovens. Estas análises iniciais apontam que a região sul continua sem atributos essenciais para possibilitar o enraizamento destas pessoas para que deixem de serem passageiros, mas sim moradores, vizinhos e comunidade. Outro ponto que marcou a formulação dos projetos de vida foram os momentos de hostilidade entre os participantes nos encontros 1 e 10. No encontro 1, o Participante 5 debochou o desejo da Participante 1 em ser cozinheira pelo fato dela gostar de cozinhar. Evidencia-se na perspectiva do Participante 5 que não é possível fazer o que se gosta, mas sim o que dá o maior retorno financeiro, o que remete novamente ao desenvolvimento capitalista de Singer (2004). O pesquisador interviu e apontou que a Participante 1 poderia ser uma chef, atrelando o prazer de exercer um ofício com retorno financeiro. No encontro 10, o Participante 2 ao ser 120 confrontado pela Participante 4, que seus sonhos eram loucos, tentou destruir os sonhos da Participante 4 em ser juíza ao relatar que seria muito perigoso e acabaria morta (Quadro 4). Este fato demonstra que neste ambiente ninguém poderia sonhar, sendo que os sonhadores devem ser eliminados ou desmerecidos. Demonstra também uma revolta dos participantes oriunda ora como agentes destruidores, ora como destruídos. Em específico ao desejo dos participantes em cursar uma faculdade, talvez ele seja oriundo das possibilidades que um diploma universitário oferece, principalmente em termos de acesso ao mercado de trabalho. É importante analisar dois pontos neste desejo. Para Sen (2010, p 130) estar desempregado não significa apenas estar desprovido de rendimentos financeiros, mas também ser afligido pela perda de habilidade, autoconfiança, perturbação das relações familiares e intensificação da exclusão social. Neste sentido, quanto maior for a possibilidade de acesso ao mercado de trabalho, que neste caso pode ser viabilizada por um diploma do Ensino Superior, maior a possibilidade de estar empoderado individualmente (RAPPAPORT, 1987) sendo que no caso específico da região sul, estar menos sujeito à humilhação social (GONÇALVES FILHO, 1998), algo que equivale à uma exclusão social. O segundo ponto importante a ser analisado se refere a possibilidade da construção de uma identidade desse jovem, viabilizada pelo consumo de bens e serviços em um contexto marcado pelo desenvolvimento capitalista (SINGER, 2004), materializada no jargão “compro, logo existo”. Em um ambiente em que o enraizamento é incipiente, comprar uma identidade pode ser algo tentador, mas esta questão do consumo será melhor detalhada no item 4.2.2. O fato dos participantes traçarem uma relação “filho=gasto” de certa maneira explica o desejo de cursar uma faculdade e pode demonstrar que a ideologia do desenvolvimento capitalista descrito por Singer (2004) permeia no âmbito pessoal, de maneira possibilitar a monetarização da vida humana, materializada em um filho. Desta forma é possível que os participantes se considerem como um peso ou um parasita para a família em termos financeiros, sendo que quando mais cedo arrumarem um emprego, melhor para o orçamento familiar. Ter um diploma universitário nesta perspectiva, aumenta as possibilidades de deixar a sua condição de parasita familiar. É importante destacar que esta percepção é incompatível com a sustentabilidade. Por quê? Em termos sustentáveis, ter um número reduzido de filho é justificado pela família para lhe oferecer um futuro melhor, com maiores possibilidades de 121 escolhas (GREEN, 2009; SEN, 2010) ou dar continuidade à espécie/tradição familiares, uma maneira de enraizamento. Ao traçar uma relação “filho=gasto”, ter um descendente passa a ser considerado com despesa e não como a possibilidade de transmissão de suas raízes, valores ou driblar a morte pela perpetuação da história. Mas em um ambiente “depósito” como a região sul, dar continuidade talvez não seja considerada como uma prioridade. Se os participantes não sabem de onde vieram, por que conservar raízes inexistentes? Para que pensar nas futuras gerações? Não que os participantes tenham que ter filhos em razão da liberdade de escolha, como apontam Green (2009) e Sen (2010), mas ter um descendente é uma possibilidade de sustentabilidade. Nesta perspectiva, o passado não inspira o presente e o presente não constrói o futuro nesta região. Diante desta análise é possível afirmar também que a ausência de enraizamento se qualifica como um obstáculo ao desenvolvimento sustentável, assim como as questões de poder e políticas colocadas por Frey (2001) e Sachs (1993). É importante destacar que apesar dos participantes terem conseguido visualizar um futuro, o que é um prenúncio de empoderamento individual, em contrapartida não conseguiram estabelecer um planejamento estratégico para atingi-lo, de maneira a manifestarem uma repetição nos caminhos apontados, o que pode ser interpretado como uma ausência de empoderamento individual (RAPPAPORT, 1987) e competência empreendedora (DORNELAS, 2007; LENZI, KIESEK e ZUCCO (2010) no âmbito pessoal, além de um sinal de humilhação social (GONÇALVES FILHO, 1998). Essa ausência de um planejamento estratégico ficou demonstrada quando os participantes foram questionados sobre o que pode ser feito atualmente para realizar os seus projetos de vida, as respostas predominantes foram: “ter força de vontade”; “ter Deus”; “trabalhar para custear uma graduação”; “estudar”; “fazer uns cursos” (Quadro 4). O fato de “ter força de vontade” aponta para o reconhecimento dos participantes, de que é necessário querer e estar disposto a buscar a realidade desejada. Mas os participantes demonstraram não compreender em sua profundidade o significado de “ter força de vontade”, apesar de ser um anseio deles. Já o fato de “ter Deus” sinaliza que há uma influência da religião entre os participantes que declararam ser católicos durante o encontro 10, além de ser uma maneira de atribuir à fatores externos a possibilidade de atingir o futuro mediante as suas incapacidades. Neste sentido, 122 Deus não é visto como um parceiro, mas sim um provedor, o que denota a um salvador da pátria (OLIVEIRA, 2004) e à terceirização das soluções (BARBOSA, 2003; LEMOS, 2005) em nível pessoal, sinalizando um desempoderaderamento individual (RAPPAPORT, 1997). Já o fato de “trabalhar para custear uma graduação” demonstra uma insuficiência de renda familiar destinada à formação de seus filhos ou como algo não prioritário para a família (reformar a casa ou terminá-la pode ser algo mais importante nesses lares). No caso específico do Participante 3, mesmo com uma renda variável familiar, o patriarca (profissional autônomo) da família se comprometeu a custear, desde que o participante custeasse as mensalidades de seu irmão mais novo no futuro: “Participante 3: Não, meu pai falô que ele paga, quando eu tivé trabalhando eu tenho que paga a do meu irmão (risadinha e passa a mão no rosto)”. O que poderia ser uma aparente tradição familiar nesta fala, apresenta, em uma análise mais aprofundada, que o filho é visto como um gasto na família. Essa tradição é inexistente, porque o Participante 3 não compreende o motivo desta imposição de seu pai, sendo algo sem sentido e ilegítimo. Desta forma, manifesta-se novamente a ausência de enraizamento (JÚNIOR, 2007; WEIL, 1979 apud BOSI, 1999; WEIL, 1979 apud GONÇALVES FILHO, 1998). A incompreensão do Participante 3, afeta a sustentabilidade demonstra a vulnerabilidade social destes participantes, seus familiares e da própria localidade, tendo em vista que a autonomia necessita de vínculos e interdependência (ARAÚJO, 2011) para que se manifeste. “Fazer uns cursos” assim como a possibilidade de fazer uma graduação sinaliza mais uma vez a possibilidade de acesso ao mercado de trabalho, o que traz vários benefícios já explanados anteriormente. Apesar do ato de “estudar” e “fazer uns cursos” constar como um meio para a realização do projeto de vida, a instituição escolar é falha em prover uma educação atenda a estes objetivos, conforme será discutido e analisado mais detalhadamente no item 4.4. Diante do que foi exposto é possível afirmar que os participantes possuem a vontade e recursos internos que poderiam ser melhor utilizados para viabilizar um planejamento estratégico, mas o ambiente da região sul não favorece, desde a direção da escola, os pais e a organização espacial, tudo é adverso. Outros fatores contributivos para a adversidade neste ambiente são as drogas e a violência, que também reforçam a humilhação social. 123 4.2.1 Humilhação social, drogas, violência e nada de rock n’roll, uma união em prol do desempoderamento Durante os encontros, foram proferidas falas pelos participantes que expressavam o sentimento de humilhação social, frequentemente associadas ao Estado (policiais e hospitais públicos e privados), traficantes, condições econômicas insuficientes, além de um “atrito” entre os participantes, que são moradores da região sul e munícipes que residem em outras regiões de Poços de Caldas-MG, conforme Quadro 5 constituído de algumas destas falas. Os critérios de humilhação social adotados para a confecção do Quadro 5 foram extraídos dos autores Bichir (2006); Gonçalves Filho (1998); Green (2009); Heller (1979, 1986, 1992 apud SILVA, 2004); Kunis, Cruz e Checchia (2007); ONISUDA (2005); Souza (2007): Quadro 5 - Sentimento de Humilhação Social Encontro 1 2 Característica Discriminação Discriminação Falas que expressam o sentimento de humilhação social Participante 2 que sugeriu a ideia falou: “Iii, a gente come qualquer coisa” e depois ao aproximar do estabelecimento comercial o mesmo falou: “vão (proprietário e funcionários) pensar que a gente vamu saquear a loja”. Participante 2: Tem gente que acha que na zona sul só tem bandido ué. Pesquisador: Vocês acham que pelo fato de vocês morarem na região sul, vocês sofrem algum preconceito, alguma coisa... Participante 2 interrompe: Eu acho (e vira o rosto para janela). Participante 5: Em determinados pontos eu acho que sim. As pessoas de lá tem mais condições e pensam que os daqui são menos favorecidos .Mas ás vezes, o pessoal daqui são iguais a eles. E muitas... Participante 4 (interrompe): É verdade. Participante 6: Já. É....que nem...umas pessoas lá do centro...eles pergunta às vezes pra gente assim, que bairro que a gente é. Aí a gente fala do Conjunto, já riem, já encara, tipo como uma piada...porque.....eles...eles falam tanto mal daqui, mas eles não conhecem, assim...muitas pessoas nunca veio aqui pra ver do jeito que é. Desigualdade Segregação 3 Discriminação Participante 6: Então né...as pessoas lá do centro acho que pra eles virem pra cá não é tão difícil, igual pra muitas pessoas daqui irem pra lá. Porque lá, muitas pessoas podem vir porque tem mais condições do que as pessoas que moram aqui. Eu acho que seria mais fácil eles virem pra cá do que a gente ir pra lá. Participante 4: Tá vendo...Ah deixa eles pra lá e nóis pra cá mesmo. Participante 5: Mas assim, no meu ponto de vista,...assim, todo mundo da minha família tem convênio, mas muitas vezes é assim...você vai no Hospital Privado, muitos médicos....é...te tratam mal, não te atendem bem. Às vezes eles até tem um pouco de preconceito dependendo da pessoa. Às vezes eles falam assim: “Aaaa, não eles moram na zona sul”, por exemplo,...as vezes é desse jeito. Eles discriminam as pessoas sem saber...e eu já fui é...mal atendido lá no Hospital Privado. Um médico uma vez foi bem sem educação...pra minha mãe. Minha mãe querendo saber que eu tinha e não sei o que. E ele: “não”, só má resposta. Aí minha mãe pegou e falou pra amiga dela, que muitas vezes o...o público é bem melhor. Porque às vezes eles sabem te atender (olha para Participante 7)...e às vezes não. Mesmo assim, às vezes eles tentam fazer o possível é....pra te atender bem. 124 Participante 5: Ah, que nem o Participante 2 falou isso é verdade. Tudo na cidade é diferente daqui. Eles trata todo mundo da cidade é...diferente daqui. Faiz de conta, um pessoal, por exemplo uma pessoa daqui tem condições aqui, que é certinho e tudo. (pausa). Cê chega lá e é discriminado (gagueja um pouco). Chega o maconheiro dos outro bairro lá, eles quase passa a mão na cabeça, dá flor, dá roupa pro cara, só de medo (pausa). Eles sempre é desse jeito, eles trata todo mundo diferente. Participante 7:“Porque aqui as pessoas se rebaixam mesmo. As pessoas tipo assim...., lá as pessoas, se eles vierem peita as pessoas, ou vié tipo pra cima...eles sabem que as pessoas vai pra cima, mas já aqui as pessoas não vai...vai se rebaixa. Aí que eles pensam que tem poder sobre as pessoa, lá (Bang) não”. Pesquisador: Já eu volto pra vocês duas. E por que que vocês acham que a gente é tão rebaixado assim...e o pessoal lá de outras regiões mesmo tendo todos esses problemas que vocês apontaram , eles não são rebaixados e partem, partem pra cima? Participante 2: Ah sei lá, a maioria que vai preso é tudo da zona sul. Participante 7: Porque aqui as pessoas se rebaixam mesmo. As pessoas tipo assim...., lá as pessoas, se eles vierem peita as pessoas, ou vié tipo pra cima...eles sabem que as pessoas vai pra cima, mas já aqui as pessoas não vai...vai se rebaixa. Aí que eles pensam que tem poder sobre as pessoa, lá (Bang) não. Fonte: Elaborado pelo pesquisador embasado em Bichir (2006); Gonçalves Filho (1998); Green (2009); Heller (1979, 1986, 1992 apud SILVA, 2004); Kunis, Cruz e Checchia (2007); ONISUDA (2005); Souza (2007) O morador da região sul, na percepção dos participantes, é visto como um bandido, um traficante, usuário de drogas, um indivíduo de menor condição financeira, ou até mesmo, como popularmente falado, “um da roça” pelo restante do Município. Esta percepção dos participantes é oriunda das situações de seu cotidiano (frequentar um hospital privado, transitar e realizar compras em lojas do centro, entre outras) como foi demonstrado no Quadro 5. Assim, é possível afirmar novamente, que a população da região sul do Município de Poços de Caldas-MG vivencia uma situação de humilhação social. Transpondo para o Município de Poços de Caldas-MG a conclusão do trabalho de Kunis, Cruz e Checchia (2007), na qual os autores identificaram uma discriminação horizontal entre indivíduos de uma mesma classe (proletariado) em situação de humilhação social, há também esta horizontalidade no Município. Moradores de outras regiões de Poços de Caldas-MG que possuem situações similares (violência e tráfico de drogas) à região sul (como o “Bang”, uma área do bairro Dom Bosco situado na região leste de Poços de Caldas-MG, apontada pelos participantes do projeto), discriminam os residentes da região sul, segundo os jovens. Diante desta exposição é possível afirmar que a humilhação social não é manifesta apenas entre as classes (superior e inferior), como Gonçalves Filho (1998) coloca, mas também entre os indivíduos pertencentes à uma mesma classe, ou possuidores de condições similares. 125 Há também uma desvalorização entre os próprios participantes expresso no comentário da Participante 4 “que ninguém gostaria de adquirir uma residência na região sul” ou quando a Participante 7 relatou já estar acostumada que participante 2 “mexesse” de forma pejorativa no cabelo dela. Estes fatos demonstram aquilo que Heller (1979, 1986, 1992 apud SILVA, 2004) define como uma exclusão social, já prevista pelos indivíduos em situação de humilhação social. No caso específico da Participante 7, este fato pode estar atrelado à historicidade de humilhação social descrita por Souza (2007), a qual ainda é persistente na contemporaneidade. Em uma análise mais aprofundada, os participantes também se colocam em oposição ao restante da população do Município, analogicamente em uma situação similar à israelenses e palestinos, guardadas as devidas especificidades, na qual o outro é o inimigo. Nesta perspectiva, a discriminação existe no ambiente externo dos participantes, mas também há uma discriminação consigo mesmo internamente, de maneira a reafirmar a inferioridade de humilhado socialmente (GONÇALVES FILHO, 1998). Neste sentido, o empoderamento individual (RAPPAPORT, 1987) é comprometido, pois há uma depreciação de si mesmo, e o empoderamento comunitário (HOROCHOVSKI e MEIRELLES, 2007; PERKINS e ZIMMERMAN, 1995) com o restante do Município se torna inviável. Diante deste fato, é possível afirmar que estes participantes não se sentem de fato pertencentes ao Município de Poços de Caldas-MG. Há uma indignação dos participantes oriunda desta humilhação social horizontal materializada na discriminação. Esta indignação apareceu quando eles afirmaram que os moradores de outras regiões não conhecem o cotidiano da região sul, e que não haveria um embasamento real para discorrer como de fato vivem os moradores desta localidade. Neste sentido, o Participante 5 vislumbrou que a possível construção do Paço Municipal na região sul possibilitaria que os moradores de outras regiões conhecessem o cotidiano ali vivido. Esta construção despertou um posicionamento contrário de vários participantes nos encontros iniciais que desconheciam o que era e o que significava o Paço Municipal para a região conforme está detalhado no Quadro 7 , critério inclusão do item 4.3 , o que mostra, em certa medida, uma alienação. Mas este posicionamento não pode ser analisado apenas como alienação, mas também como desconfiança não expressa abertamente sobre os opositores destes jovens, no caso, os moradores de outras regiões do Município. Demonstra-se assim, 126 que a construção do Paço Municipal não foi conversada e negociada com esta população, o que sinaliza uma exclusão nos processos de decisão, que seria a participação emancipatória na conceituação de Tassara e Ardans, (2003). Segundo os autores, na participação emancipatória os indivíduos fazem e são parte dos processos de transformação social e não meros receptores das consequências das políticas públicas, no caso vertente, a construção do Paço Municipal. Ainda de acordo com os autores, os sujeitos na condição de transformadores sociais fazem o uso da racionalidade (conhecimento das premissas; uso da argumentação e formulação da crítica) e os receptores da racionalização (desconhecimento das premissas; impedimento da argumentação e impossibilidade de críticas). Diante destas exposições é possível afirmar que a ausência de participação emancipatória associada à condição de receptores dos jovens é um impedimento aos empoderamentos organizacional e comunitário (HOROCHOVSKI e MEIRELLES, 2007; PERKINS e ZIMMERMAN, 1995) e uma situação de desempoderamento individual (RAPPAPORT, 1987), além de apontar para uma falha do Estado (FREY, 2001). Esta falha é materializada na ausência de meios para propiciar a disposição dos membros da sociedade, neste caso os moradores da região sul, para assumirem a responsabilidade social em torno de assuntos que afetam toda esta localidade. Em relação à negativa do atual Governo Municipal quanto a construção do Paço Municipal na região sul, alguns participantes julgaram que deve ser mantido o status quo, pois já estavam acostumados com a necessidade de irem ao centro, mesmo que isso afete o orçamento familiar (principalmente pelo valor do transporte público), o que demonstra, novamente, a inferioridade de humilhado socialmente, abordada por Gonçalves Filho (1998). Somente após as explicações do pesquisador e da conversa com o Político é que houve uma reversão deste posicionamento dos participantes, que passaram a concordar com a construção do Paço Municipal na região sul, desde que não ocorresse uma degradação ambiental do local. Neste sentido, o projeto abriu um espaço de participação destes jovens, que utilizaram da racionalidade em um “ensaio” de participação emancipatória (TASSARA E ARDANS, 2003). Analogamente, os participantes atuaram, de forma tímida e temporária, como “protagonistas” no processo de decisão e não como uma “platéia de costas para o palco”. Observa-se neste ponto, que o projeto “Minha Pipa, Nosso Céu” é um exercício que atua justamente nos obstáculos do desenvolvimento sustentável (FREY, 2001; SACHS, 1993), propicia possibilidades de escolhas (GREEN, 2009; SEN, 2010) e o empoderamento nos três níveis 127 (FUNG, 2012; PERKINS e ZIMMERMAN, 1995; ORNELAS, 2008), além de ser uma possível quebra cultural (PEREIRA, 2006), pois na sociedade brasileira prevalecem as características “menos cívicas” (MELO NETO e FROES, 2002). É importante destacar que a temática de preservação do meio ambiente não foi proposta pelo pesquisador. Possivelmente, essa preocupação com o meio ambiente seja oriunda da educação ambiental vivenciada por estes jovens ou pela influência dos meios de comunicação que trazem a importância da preservação. Mas esta preocupação com a preservação com o meio ambiente, que também aparece nos conceitos ecológicos do desenvolvimento sustentável (BELLEN, 2004; COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO, 1991; MATIAS e PINHEIROS, 2008; VEIGA, 2008; RIO+20, 2012) e considerado como uma dimensão por Sachs (1993, 2004) é incipiente, conforme detalhamento contido no item 4.2.2. No tocante ao ambiente externo, há violência, tanto pelo crime organizado (traficantes) quanto pelos policiais. A violência do crime organizado é manifestada pela agressividade dos traficantes da região, que são classificados como “sacanas” e “não sacanas”. Mesmo com esta classificação, há um medo dos participantes em falar sobre eles. Evidencia-se que os traficantes exercem um “poder sobre” (GREEN, 2009) nos moradores desta região, o que os desempodera em todos os níveis (FUNG, 2012; ORNELAS, 2008; PERKINS e ZIMMERMAN, 1995). O medo expresso de falar sobre os traficantes não ocorre quando em relação aos policiais, que também possuem uma classificação de “policial bom” e “policial ruim”. Além do tratamento diferenciado em relação ao “Bang” e outras áreas similares, que já foi abordado Quadro 5, a violência policial não fica apenas restrita no infrigir da lei, mas rotineiramente é “gratuita” mesmo quando um morador da região sul “está quieto” ou no atendimento de alguma ocorrência na localidade, segundo os participantes. Ainda de acordo com os participantes, várias vezes os policiais “chegam batendo” e somente depois averiguam a situação. Estes fatos demonstram que tanto os traficantes quanto os policiais são agentes de desempoderamento na região e de certa forma contribuem para a perpetuação da situação de humilhação social (GONÇALVES FILHO, 1998). 128 Esta conduta policial também aponta para um desvio do papel da Polícia Militar de Minas Gerais, pois não há “o estabelecimento de um clima de tranquilidade e bem-estar social”: O Comando da Corporação entende que os esforços necessários para se conter o avanço da criminalidade devem alicerçar-se, essencialmente, nas medidas preventivas que visem alcançar os objetivos, projetados interativamente com a comunidade, através da parceria e da cooperação, notadamente na busca de solução para os problemas relacionados com "meninos de rua", "fome" e "miséria". Assim, para exercer seu papel na preservação da ordem pública e no estabelecimento de um clima de tranqüilidade e bem-estar social, a Corporação desenvolve fórmulas e métodos, dentro da teoria da efetividade, buscando, na ambiência externa, os motivos específicos para os planejamentos e a prestação dos serviços à coletividade. (POLICIA MILITAR DE MINAS GERAIS, 2013). Apesar dos participantes relatarem haver uma relação instável de paz e guerra entre policiais e traficantes na região sul, uma terceira situação ocorre quando o policial recebe um suborno dos traficantes ou quando passa a ser um usuário de entorpecentes como a Participante 1 relata: “Sempre rola né. (pausa) (em relação ao suborno). Igual lá, como eu falei na aula passada, eles....o cara lá (policial), o policial ele sabe quem vende e tudo mais, ele sabe quem mexe, só que....ele só não entrega pra policia...porque ele vai lá e compra droga também. Ele só não entrega por causa disso. Mas ele sabe.”. Para a Participante 1, este policial deveria ser preso como todos os outros usuários e traficantes da região sul. Este posicionamento do Participante 1 e a discriminação percebida por todos os participantes, ambos considerados injustos, são algumas das implicações de experiências que permitem o desenvolvimento da autonomia entre alunos no ambiente educacional (FLECK, 2004), como o projeto Minha Pipa, Nosso Céu. Como já foi abordado, autonomia e empoderamento se equivalem, e essa percepção dos participantes é um sinal de empoderamento. É importante destacar que o desvio de papel de uma função pública não fica restrito apenas aos policiais. Durante a conversa com o Político foi observado pelo pesquisador a dificuldade de um ator externo, que não reside na região sul, em vislumbrar a existência da discriminação (GREEN, 2009; ONISUDA (2005), da segregação (BICHIR, 2006) e da posição de oposição dos participantes em relação ao Município. A discussão do Participante 5 com o Político demonstra esta dificuldade: Participante 5: E também, a movimentação. Vai ficar, mas não vai ficar tão tumultuado assim, mas vai ter várias pessoas a aqui na zona sul e também vai ficar mais conhecido a zona sul. Porque a maioria das pessoas tem a cabeça que a zona sul não é lugar pra, como é que chama? Pra pessoal do centro. Eles sempre tem um, uma assim discriminação com o pessoal daqui. Mas eu acho que isso ia, porque eles 129 falam: “Ah na cidade só pessoal rico que não sei o que” e não tem, quem nem uma vez eu tava conversando com o Maurício (pesquisador) e o Maurício até entrou nesse detalhe. (pausa). Lá na cidade eles são muito assim, eles vai mais pela cara e pelo que a pessoa tá vestindo (pausa e olha para a Político). Muitas vezes você vê o vestimento da pessoa e vê as condições que ela tem. Aí vai uma pessoa daqui (aponta para si) e eles fala lá: “Ah, se a pessoa não tem dinheiro”, e muitas vezes as pessoa daqui tem! E eles às vezes fala assim ó: “o pessoal da lá é traficante, por causa dos bairros que eles tem”. Mas assim....; Político: Mas existe em todo lugar; Participante 5: Mas nisso eles discriminam um pouco aqui. Pra eles na cidade não tem isso, no centro não tem isso. Lá é tudo pessoal certinho. E aqui não, eles veem um pouco mais diferenciado; Político: Mas isso vocês tem de quebrar né. São umas (gagueja um pouco) coisas que é...falta de respeito pra com a nós. Porque nós todos somos de Poços de Caldas-MG, independente da onde moramos. Não é? Independente. Nossa situação é essa, se nós podemos morar lá no, naquele prédio maravilhoso lá no, né, mora-se lá. Mas os pobres tem que ter respeito né. A zona sul finalmente teve um desenvolvimento que, eu cada vez que passo por aqui eu me pergunto: “Gente do céu, eles entraram essa Luciano Marras(Rua) aqui”. Tem tudo aqui, tem tudo. É fantástico, é fantástico, tem tudo aqui, né. Antes de adentrar na análise sobre o desvio do Político (vereador) nesta passagem, é importante saber qual é sua função: Os vereadores são eleitos juntamente com o prefeito de um município, no qual os primeiros têm a função de discutir as questões locais e fiscalizar o ato do Executivo Municipal (Prefeito) com relação à administração e gastos do orçamento. Eles devem trabalhar em função da melhoria da qualidade de vida da população, elaborando leis, recebendo o povo, atendendo às reivindicações, desempenhando a função de mediador entre os habitantes e o prefeito. (BRASIL ESCOLA, 2013). A partir da discussão do Participante 5 e da conceituação do papel de um vereador é possível afirmar que o Político apresenta um desconforto com a colocação do jovem e tenta, de forma fútil, desqualificar a queixa apresentada ao dizer: “Porque nós todos somos de Poços de Caldas-MG, independente da onde moramos”. Esta argumentação denota uma negação da fala do Participante 5, um não atendimento à sua reivindicação e uma forma de opressão, o que caracteriza um não exercício de sua função. O Político nesta passagem desprezou as informações geradas pelo jovem ao invés de ter se comprometido a pesquisar sobre a existência de algum programa de inclusão social, sobre o funcionamento do CRAS local, ou ainda perguntar aos participantes sobre opções e maneiras de trazer “o município até a região sul” e “a região sul ao Município” de forma a gerar uma integração em Poços de Caldas-MG. O Político ainda atribuiu inteiramente aos jovens a responsabilidade de quebrar a 130 discriminação apresentada, sendo que em nenhum momento se dispôs a auxiliá-los ou considerar que o restante do Município também é um corresponsável nesse processo. Analogamente, é como se a região sul fosse uma mulher que sofre violência física de seu parceiro e tivesse a obrigação, somente dela, de parar esta situação, com um agravante de não ter uma legislação “Maria da Penha” e uma “Delegacia da Mulher” para recorrer. Neste sentido, a construção de uma rede na região sul é mais uma vez inviabilizada de maneira a prejudicar o empoderamento individual (RAPPAPORT, 1987) e comunitário (HOROCHOVSKI e MEIRELLES, 2007; PERKINS e ZIMMERMAN, 1995), além de reforçar a humilhação social (GONÇALVES FILHO, 1998) e não possibilitar o fomento de atributos que permitam o enraizamento (JÚNIOR, 2007; WEIL, 1979 apud BOSI, 1999; WEIL, 1979 apud GONÇALVES FILHO, 1998) nesta localidade. Um segundo ponto observado pelo pesquisador neste diálogo, foi o estabelecimento, por parte do Político de uma relação “crescimento econômico=desenvolvimento” ao relatar que em uma determinada avenida da região sul “tem de tudo” (comércios). É possível interpretar que esta relação remete ao desenvolvimento capitalista de Singer (2004) e à influência da historicidade brasileira na década de setenta descrita por Nascimento e Viana (2007). Mas há outras privações que o crescimento econômico não é suficiente para eliminar (GREEN, 2009), como a humilhação social (GONÇALVES FILHO, 1998), sendo que o Político não abordou esta temática em sua fala. Em relação às drogas, há um rancor dos participantes ao relatarem que na região sul é mais fácil adquirir drogas do que arrumar um emprego. Possivelmente, este rancor seja oriundo da negação à estes jovens de possibilidades de acesso ao mercado de trabalho e seus benefícios, que já foram descritos no tópico anterior. Durante os encontros, a Participante 1 revelou ter usado drogas durante um tempo, já o Participante 9 relatou que frequenta outros lugares em que há consumo de drogas, como a Pedra Balão (ponto turístico de Poços de Caldas-MG), mas destacou que o uso dos entorpecentes vai da “cabeça de cada um”. Durante um dos encontros também houve gestos (um cigarro na boca) dos participante 3 e 4, após o Participante 2 ter ficado olhando fixamente para janela da sala. Diante destes fatos, estes jovens vivenciam uma situação em que drogas estão em seu cotidiano, se apresentando como alternativa em um ambiente sem alternativas. 131 Com a conivência de alguns policiais, ora usuários, ora beneficiários financeiros desta situação e a disponibilidade em diversos locais, dificilmente as drogas são inacessíveis a estes jovens. Porém, o uso de entorpecentes vem acompanhado por um aumento da violência (furtos e roubos) dos usuários (vários participantes relataram possuírem amigos que já efetuaram homicídios e assaltos), levando muitos moradores a instalarem dispositivos de segurança em suas residências, principalmente grades e cercas elétricas. Assim, todo o aparato de segurança se torna atraente aos moradores que possuem condições de comprá-lo em busca de uma “sensação” de segurança não preenchida pelo Estado, mas comercializada pelo setor privado de segurança. Nesta perspectiva, o mercado ocupa um espaço em que não há participação popular e os representantes do Estado não cumprem as suas funções sendo que a indústria de segurança faturou R$ 1,200 bilhão no ano de 2011 com expectativa de triplicar o seu faturamento até 2017 segundo a Exame.com (2013). Diante deste fato, quanto maior o número de usuários de drogas enquanto haver menor empoderamento organizacional e comunitário para a população brasileira, melhor para o setor de segurança privada, ou seja, há uma internalizarão dos lucros e uma socialização dos riscos. É importante destacar que este ciclo “falta de possibilidades-drogas-violências-conivência policial” não é algo exclusivo de Poços de Caldas-MG, podendo ser expandido para vários municípios brasileiros. Em específico na região sul, as drogas possivelmente acabam direcionando os seus usuários à criminalidade, devido a necessidade de sustentar o vício, o que ajuda a reforçar o estigma (ONUSIDA, 2005) no município de que “morador da região sul é bandido”. Mediante a toda essa situação, o pesquisador realizou uma pergunta provocativa aos participantes se mudariam ou não de região caso os ganhassem na loteria (algo mágico). Foi respondido por todos que teriam duas residências, uma na região sul e outra em uma região que julgam ser boa. Nesta questão surgiram vários comentários que auxiliam a compreensão deste fato: Participante 9: Cara, eu acho que ia mora que nem ele falo, o Participante 5. Eu ia fica mandando dinheiro pra casa da minha vó, porque....primeiro eu ia deixar minha casa, ia dar uma reformada na casa da minha vó, da minha mãe, ia deixa eles aqui mesmo. E lá ia fazer uma casa que eu gostava, cara. Por exemplo, anda de skate sabe? No quintal eu ia faze uma pista de skate ...porque...é assim, que nem o Participante 5 falou...na zona sul é um bairro bom, mas acho com dinheiro você vai fica meio manjado, cara. Acho que você vai anda na linha da pipa; 132 Participante 5:Por causa qui assim, aqui eu ia fica perto dos meus amigo (pausa). Ahh... (olha para cima)...assim, eu nasci aqui praticamente! Então eu gostaria é...de passa...a maioria do meu tempo aqui. E teria uma casa minha pro final de semana, saí, dá uma volta, i pra lá e tal; Uma das possibilidades de compreensão deste fato de desejar estar em dois ambientes simultaneamente, é que, por um lado há uma vontade de não residir mais na região sul (fuga deste ambiente), mas por outro, os participantes demonstram medo de perder os laços incipientes criados nesta localidade e um possível receio, não manifesto abertamente, de não conseguir se enquadrar no “ambiente inimigo” tendo em vista que estes participantes estão em oposição com o restante do Município. Outra compreensão possível oriunda destes comentários é o medo dos moradores da região sul em demonstrar possuírem dinheiro. Logo, se um dia o morador “ficar rico”, o ambiente da região sul se tornará mais perigoso e hostil em termos de violência urbana para ele. Ambas as respostas também demonstram uma ingenuidade dos participantes, interpretada pelo pesquisador com um sinal de desempoderamento individual (RAPPAPORT, 1987). Primeiro devido ao fato que na percepção deles “ser rico” é ter uma vida boa como se a “mágica lotérica” solucionasse todas as mazelas individuais e coletivas, o que remete, paralelamente, à falsa ideia de que o crescimento econômico é capaz de eliminar de todas as privações (GREEN, 2009) e suprir a ausência da participação emancipatória (TASSARA e ARDANS, 2003). Como Sen (2010) discorre, há indivíduos ricos que não participam de decisões coletivas que afetam a todos, inclusive a eles. Neste sentido “ser rico” e ficar restrito à satisfação de desejos individuais através da aquisição de bens e serviços é algo prejudicial ao empoderamento comunitário (HOROCHOVSKI e MEIRELLES, 2007; PERKINS e ZIMMERMAN, 1995). Segundo, o desejo de estar em dois espaços simultaneamente, mesmo tendo o conhecimento que “ser rico” e estar na região sul é arriscado. Diante destas análises, é possível afirmar que o desenvolvimento capitalista (SINGER, 2004) corrói o empoderamento em seus três níveis (FUNG, 2012) ao trazer a ideia que a posse de recursos financeiros aplicada na concretização dos desejos individuais é mais importante do que a participação na coletividade, o que de certa forma, também perpetua os obstáculos do desenvolvimento sustentável elencados por Frey (2001) e Sachs (1993) e ao excluir ricos e pobres da política e do poder. O projeto em paralelo a toda essa adversidade na região sul, conseguiu dar início ao processo 133 de superação da humilhação social, ao permitir a elaboração de um planejamento para a quadra (capacidade de criar); visualizar um futuro ao tentarem formular um projeto de vida (capacidade de imaginar); na redução da timidez (melhora na comunicação e expressão) e início da superação do sentimento de inferioridade à em relação à outras regiões do Município, principalmente no último encontro (Quadro 4): Pesquisador: Humhum. E vocês acham que também que vocês são inferiores ao centro ou à pessoas do centro? Vocês acham que....; Participante 3 assinala negativamente com a cabeça; Pesquisador: Não?; Participante 3 continua assinalando negativamente com a cabeça; Participante 4: Não! A gente é igual a todo mundo (em um tom mais elevado). Só que o problema é eles lá pensarem que a gente é mais baixo. Ás vezes aqui, tem gente melhor do que lá. Então eu acho que eles lá deveria tratar a gente do mesmo jeito que eles trata o povo lá e a gente do mesmo jeito. Porque eu acho que ninguém é diferente de ninguém, melhor de ninguém, todo mundo é do mesmo jeito. Mesmo sendo rico, sendo pobre, essas coisa. A fala da Participante 4, assim como as colocações anteriores de outros participantes em relação ao tratamento policial diferenciado, ou nas considerações de outros munícipes acerca da região sul, demonstram uma indignação dos jovens diante das situações que consideram injustiças e discriminatórias vivenciadas por eles. Nesta perspectiva, o projeto Minha Pipa, Nosso Céu é uma experiência que permitiu o início do desenvolvimento da autonomia entre alunos no ambiente educacional (FLECK, 2004). Constatou-se uma evolução positiva, apesar de incipiente, em termos de empoderamento individual, mesmo diante de atores desempoderadores e perpetuadores da situação de humilhação social (instituição escolar, pais, policiais, traficantes e políticos). Mas diante de algumas falas apresentadas durante o projeto “Minha Pipa, Nosso Céu”, os participantes também se consideram “inseridos” quando participam do consumo contemporâneo, fato esse que será discutido mais detalhadamente. 134 4.2.2 Consumo, uma forma de empoderamento individual na contemporaneidade? Apesar dos participantes estarem em situação de oposição ao restante do Município, foi interessante constatar o desejo de inserção social, via consumo. Esta inserção via consumo é materializada primeiramente pelo fato de “estar bem-vestido” (trajando roupas de marcas): Participante 9: Eu acho que o preconceito assim começa pela sua roupa. Que nem ele (Participante 5) e eu assim. A gente tem uma condição média assim. A gente..., eu vejo discriminação por causa de roupa ás vezes. “Ah, o cara tá mal vestido, não vou dá atenção pra ele não: “o cara tá bem vestido, o cara tem dinheiro, vou lá conversa com ele”. Eu acho que começa por aqui o preconceito (olha para sua própria roupa). Neste sentido, em uma primeira análise, é possível afirmar que não estar inserido no mercado consumidor é algo passível de estigma e discriminação ONUSIDA (2005) na sociedade contemporânea, tornando o um “indivíduo deficiente/consumidor desqualificado” (BAUMAN, 2013). Para um grupo de jovens que já sofre com a exclusão política da humilhação social (GONÇALVES FILHO, 1998), o consumo materializado na compra de vestuário, se apresenta como uma inserção e integração falsas na sociedade poços-caldense, principalmente em ambientes de divertimento noturno, como as “baladas”. Segundo os participantes, nestes espaços não há discriminação alguma desde que “esteja bem-vestido”, mas em contrapartida, há o consumo de drogas e a violência entre os frequentadores (Quadro 4). Neste sentido, além dos participantes estarem expostos às drogas e violência em seu território, como foi abordado no tópico anterior, quando buscam um divertimento, mais uma vez ocorre a exposição a estes elementos de maneira que acabam sendo uma constante em suas vidas. É importante destacar que “estar bem-vestido” não se limita apenas à “balada”, mas também na própria instituição escolar. Em todos os encontros, o pesquisador observou que na Escola Estadual Parque das Nações, vários estudantes trajavam roupas de marca e portavam fones de ouvidos ligados em seus celulares. Mas há uma reação diferente neste ambiente em relação à “balada”: a hostilidade e a discriminação por consumidores desqualificados (BAUMAN, 2013): Participante 5:Na escola isso é o principal, por exemplo, às vezes eu...eu tenho vários tênis, só qui, eu não venho com vários. Às vezes eu venho com um ou outro. 135 Às vezes eu venho com o que eu tenho. E muitas vezes as pessoas falam: “Ah ele é playboy e não sei o que”. Às vezes já quer arruma encrenca, já fica falando mal: “Ah, aquele muleque se achando pra faze graça pras mininas. E muitas vezes não é. Muitas vezes, por exemplo, você quer pôr um tênis que você vai se senti bem e não pelo que outro vai fala: “Ah você é metido”. Muita pessoa me discrimina por causa disso. Se por um lado os participantes são discriminados por outros moradores do Município pelo fato de residirem na região sul, por outro, se possuírem condições financeiras de adquirir bens de consumo com uma certa frequência, há uma reação hostil desferida por seus pares no ambiente escolar, que possivelmente extrapola os muros da instituição. Nesta perspectiva, a oposição em relação ao restante do Município é reforçada, sendo que neste ambiente ninguém pode ser integrado ou apresentar características do “inimigo”. É importante destacar que torna-se inviável a proposta ingênua de estar em dois lugares ao mesmo tempo, exposta pelos participantes no tópico anterior, pois os participantes sofreram hostilidades dos dois lados e terá que em algum momento, optar por algum. Para Bauman (2013 p. 82) em termos de sociedade: “E com ele (desqualificado) a raiva, a humilhação, o despeito e o rancor por não tê-los, assim como o impulso de destruir o que não se pode ter”. O autor também coloca que fazer parte dos consumidores desqualificados, é um estigma desagradável e pustulento de uma vida sem realizações, de ser uma não entidade e de não servir para nada, de maneira a significar não apenas a falta de prazer, mas a falta de dignidade humana. Neste sentido, o fato do Participante 5 possuir vários tênis, “fere” os consumidores desqualificados ao seu redor ao reafirmar e atualizar uma mensagem indireta de inferioridade já sentida pela humilhação social (GONÇALVES FILHO, 1998) sofrida por esta população. Logo, apesar do consumo não permitir o empoderamento individual (RAPPAPORT, 1987), a sua ausência auxilia no desempoderamento do indivíduo, principalmente em localidades como a região sul onde há exclusão política também. Diante destas análises iniciais, o consumo passa a ser desejado e considerado como algo positivo para estes participantes, como foi manifestado nas falas das participantes 1 e 6 durante a dinâmica “A minha comunidade hoje / a minha comunidade como a quero” ao imaginarem um “mundo melhor”: “Participante 6: Aqui é o mundo de consumo de todos. Porque todos podem consumir o que tem no mundo. Aí se todos pudessem consumir as mesmas coisa, ia ser melhor o mundo.”; “Participante 1: Sem exceção.”; “Participante 6: É”. Em uma primeira interpretação pode-se afirmar que estas participantes ou estão se sentido 136 como “consumidoras desqualificadas” (BAUMAN, 2013) ou percebem que no ambiente da região sul há vários “consumidores desqualificados” sendo que a eliminação da privação ao consumo seria algo benéfico ao mundo. Por conseguinte, na perspectiva delas, ao eliminar a privação ao consumo, estaria acabando com uma injustiça, porém elas não consideram alguns aspectos importantes. Primeiro que na contemporaneidade há uma divergência nos desejos dos indivíduos em termos de bens e serviços ofertados, sendo que no desenvolvimento capitalista (SINGER, 2004) há produtos segmentados por classes sociais. Logo “todo mundo” não pode consumir uma Ferrari ou uma bolsa Victoria Beckham, sendo estas mercadorias itens de diferenciação pelo seu acesso restrito. Constatou-se que há uma ingenuidade das participantes ao colocarem que não pode haver exceção em um sistema em que exclusão, em termos de bens e serviços, é uma de suas características. Um segundo ponto, mais importante, é de que não há recursos ambientais que possibilitem a manufatura de oito bilhões de Ferraris, além do impacto ambiental com dezesseis bilhões de escapamentos em funcionamento. Outro exemplo que pode ser utilizado seria a adoção do padrão de consumo dos norteamericanos por todos os países do globo caso fosse adotada esta ideia estapafúrdia, seriam necessários 4,5 planetas Terras para que o mundo não entrasse em colapso, segundo o site Planeta Sustentável (2013). Neste sentido, como já foi abordado no tópico anterior, esta argumentação das participantes demonstra uma incipiência do pensamento ecológico do desenvolvimento sustentável (BELLEN, 2004; COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO, 1991; MATIAS e PINHEIROS, 2008; RIO+20, 2012; SACHS, 1993, 2004; VEIGA, 2008) ao não estabelecerem a relação “consumismo=degradação do meio ambiente/escassez dos recursos naturais” e ainda julgaram como algo bom “consumir o que tem no mundo”. Neste ponto há um equívoco dos participantes, porque consumir tudo que há no planeta não é bom para ninguém de maneira a proporcionar a extinção de todas as espécies na Terra, inclusive a humana. Interpretar o consumo como algo benéfico por estes participantes, demonstra a influência das políticas governamentais brasileiras contemporâneas que tratam o consumismo como algo benéfico ao país, o que remete à uma priorização do crescimento econômico. A priorização do crescimento econômico já demonstrou-se inadequada à realidade brasileira, conforme o vivenciado na década de setenta (NASCIMENTO e VIANA, 2007) e insuficiente para eliminar todas as privações da pobreza (GREEN, 2009). Esta busca pelo crescimento 137 econômico e a disseminação de programas de educação empreendedora que priorizam o aspecto econômico abordados na Tabela 4, inclusive o projeto da própria Escola Estadual Parque das Nações oriundo da Secretária de Educação de Minas Gerais, direcionam os seus participantes ao empreendedorismo privado (MELO NETO E FROES, 2002), além de reforçar o pensamento individual no qual o pensamento coletivo é minimizado, senão excluído. Constata-se assim, que estes jovens estão distantes de um pensamento coletivo e sustentável, sendo o projeto “Minha Pipa, Nosso Céu” uma possibilidade de construção deste pensamento, ao trabalhar com o empreendedorismo social (MELO NETO e FROES, 2002; NEVES, GUEDES e SANTOS, 2010). Portilho (2010, p. 104), em termos de sociedade, possui uma explicação pertinente para esse desejo contemporâneo de consumir cada vez mais e considerar isso como um fato benéfico, conforme manifestado pelos participantes do projeto “Minha Pipa, Nosso Céu”. Ao analisar aquilo que a autora intitula como “sociedade do consumo”, em sua mais recente perspectiva, foi constatado, que há uma ênfase na construção e o fortalecimento das identidades individuais e sociais através da aquisição de bens e serviços. Este efeito, possivelmente é devido ao fato de que as identidades não serem mais “herdadas” como em períodos anteriores ao contexto atual, como apontam Beck, Giddens e Lahs (1997), que em consonância com a autora coloca que essa tarefa deva ser realizada pelo próprio indivíduo. Localmente, no ambiente da região sul onde há um enraizamento (JÚNIOR, 2007; WEIL, 1979 apud BOSI, 1999; WEIL, 1979 apud GONÇALVES FILHO, 1998) incipiente de sua população, o consumo, além de ser uma forma de inserção, passa a ser considerado como uma forma de obter uma identidade, mesmo que seja falsa. Nesta perspectiva, talvez se explique de forma complementar a hostilidade sofrida pelo Participante 5 anteriormente, pois o mesmo está adquirindo algo que é negado ao consumidor desqualificado (BAUMAN, 2013). Diante destas colocações, é possível afirmar que o consumo possibilita um empoderamento individual (RAPPAPORT, 1987), um enraizamento e uma inserção falsos, além de impedir o “direito de ser que o se é” sob a ótica de Tassara e Ardans (2003) ao buscar um ethos (identidade social) construído mediante a aquisição de bens e serviços. Dentro das possibilidades de um “falso empoderamento individual” possibilitado pelo consumismo, foi observado pelo pesquisador como é permeada a mercantilização das relações entre os participantes. Além de estar “bem-vestido”, ser proprietário de um automóvel permite 138 aos participantes do gênero masculino ampliarem suas possibilidades de relações “afetivas” com o sexo oposto: “Participante 5: Gosta de pega velho e muitas vezes você passa de carro na rua e já chega aquele tanto querendo entra dentro do carro. Agora imagina, você tá de bicicleta, nenhuma vem fala oi pra você”. Esta colocação explica o motivo de diversos jovens possuírem automóveis e saírem com o som ligado pela região, como identificado no item “3.3”. Por outra perspectiva, no âmbito destes jovens, o automóvel é uma forma de exercer o “poder sobre” de Green (2009) em relação às garotas, dando-lhes o “direito” de abusar ou ter relações sexuais, conforme o seguinte comentário: Participante 1 (rindo): É sempre assim. Vê que o cara tem dinheiro, as mina vai conversa com ele. Às vezes o cara tá lá sem dinheiro, duro lá e não vai chega perto dele porque de dinheiro, essas coisas. É igual a muleque também, só chega pra quere abusa, quere outras coisa também, sempre é assim. Nesta região, a visão da mulher como um objeto é compartilhada por ambos os sexos, por um lado o gênero masculino se esforça para demonstrar a sua capacidade financeira pelos bens que possui e por outro, o gênero feminino, em uma espécie de “darwinismo do capital” seleciona os “mais fortes”. Neste sentido, ambos os sexos participam deste processo de monetarização das relações de forma consciente e planejada, um buscando sexo e outro capital: Participante 3: (Pausa) É. Eu digo, igual a minha prima falou, ela tava até enchendo o saco esses dia, porque esses dias passou um, o cara passou assim com um Camaro amarelo assim, aí parou atrás do meu vô. Aí quem tava dirigindo era um veio lá, do lado tinha...uma menina que devia ter uns dezenove, vinte ano. Igual minha prima falo, ela falou que ia casa com véio só pra pega dinheiro, pega carro, pega casa (cara de riso)....aí, acho que é isso. A maioria são interessera; Participante 5: O cara, o cara mais lindo tá de bicicleta (pausa). Aí beleza. Se passa na rua aí você:“Ah, ele não tem dinheiro, nem vou lá conversa com ele”. Agora passa um véinho, mas feio que dói, até dentadura o cara usa..., num carrão, as menina não tá nem aí. Elas vai entra dentro do carro, porque elas sabe (começa a contar nos dedos) que ele dinheiro, tem carro, tem casa, tem tudo. Nestas falas é demonstrado novamente o distanciamento do pensamento coletivo e uma percepção de si como uma mercadoria, um instrumento para a obtenção de capital, pois como o Participante 9 afirma: “Porque dinheiro expressa poder, cara”. Na perspectiva destes jovens, quanto mais estiverem “endinheirados”, mais empoderados estarão, algo equivocado como já foi tratado no tópico anterior, pois o capital não supre a ausência de uma participação emancipatória (TASSARA e ARDANS, 2003), inclusive entre os ricos (SEN, 2010). Este 139 pensamento dos participantes demonstra um desempoderamento individual (RAPPAPORT, 1987). Mas mesmo diante dessa “transação comercial” de prazer e interesse, houve em alguns momentos em que o sentimento de afeto foi manifesto durante os encontros: Participante 1: Ah, a maioria é assim mesmo, mas tipo assim, é igual a eles tão falando aí...que...fala oi assim, se o cara tive de bicicleta. Igual ao meu ponto de vista. Se...eu gosto do garoto, independente do que ele tem ou não (olhando para o Participante 5 e com uma cara de riso; já havia comentado sobre esse ficante em um dos lanches). Igual a esses dia pra tráis, eu vi ele tava... de chinelinho, sortando pipa, eu peguei e fui lá fala com ele. Porque ele tem carro ou não que eu ou conversar com ele só quando ele tá de carro. Assim, apesar de haver uma forte influência do desenvolvimento capitalista (SINGER, 2004) nas relações amorosas, de maneira a monetarizá-las, ainda há espaços para os sentimentos dos participantes. A monetarização também aparece nas relações de amizade. Questionados, de forma provocativa, sobre as relações de amizade caso ganhassem na loteria, os participantes responderam: “Participante 5: Com certeza! Por exemplo, se você já tinha amigo por causa de ter uma classe..., uma classe boa, agora imagina você sendo é...milionário? Vai...todo mundo da cidade vai vim conversa com você, vai vim faze amizade...vai muda completamente. O Participante 9 ainda complementou: “não só as mulheres, mas todo mundo vai em busca do capital”. Em contrapartida à esta colocação do Participante 5, os outros participantes, inclusive o Participante 9, comentaram que mais dinheiro não vai aparecer mais amigos, mas sim mais interesseiros. Este fato sinaliza uma forma de empoderamento individual (RAPPAPORT, 1987), pois os participantes realizaram uma distinção entre “interesseiros” e “amigos”. Nesta perspectiva, é possível afirmar que o consumismo é fruto de uma racionalização dominante (TASSARA e ARDANS, 2003) econômica, que propicia um “falso empoderamento individual”, adquirido em “prateleiras de supermercado”. Para Kunis, Cruz e Checchia (2007), a consequência do predomínio dos interesses econômicos, ao gerar o desenraizamento, é possibilitar que um indivíduo desconhecedor de suas tradições e história, passe a viver de acordo com padrões de pensamento vinculados a ideias equivocadas, cujas origens históricas são desconhecidas. Segundos os autores, esta consequência faz do indivíduo um ser sem autonomia, de maneira a conduzir a sua vida de forma escrava, tornando-o vulnerável a todos os meios de dominação. No caso específico da região sul em que o enraizamento é incipiente, o predomínio dos interesses econômicos contemporâneos, 140 contribuem para a manutenção do status quo, além de ser mais um elemento desempoderador em três níveis (FUNG, 2012; ORNELAS, 2008; PERKINS e ZIMMERMAN, 1995) neste ambiente adverso (família, policiais, traficantes, instituição escolar e políticos). Em contrapartida ao “problema dos jovens” que na visão Baumaniana está em “adestrá-los para o consumo”, sendo que todos os outros assuntos relacionados à juventude são eliminados da agenda política e social, o projeto “Minha Pipa, Nosso Céu”, possibilitou aos participantes, que são jovens, um despertar para a cidadania e o pensamento coletivo, conforme vai ser detalhado. 4.2.3 O despertar da cidadania Em termos de cidadania, o projeto “Minha Pipa, Nosso Céu” conseguiu “quebrar” o discurso de que “só tenho direitos e não tenho nada de deveres”, que de acordo com Oliveira (2004) é um dos grandes desafios no processo de empoderamento para o empreendedorismo social no Brasil. A quebra desse discurso, principalmente em termos de conservação do patrimônio público (Quadro 4), aparece nas seguintes falas: Pesquisador: E como vocês pretendem cuidar desse espaço público daqui pra frente?; Participante 4: Ah, eu me conscientizei, eu não vou estraga, não pula. A, ás vezes, agora, fica meio difícil né? Porque cada um vai com a sua cabeça. Mas eu acho que...quem é..., faz parte do grupo assim, quem provoca as coisa, quem estraga....muitas coisas acho que deve assim se conscientizar igual eu; Participante 3: Igual a que a Participante 4 falô, cuida do espaço público. Não deixa... pra não quebra nada. Deixa intacto lá do jeito que tá, sem pode mostra. Porque não é só a gente que vai usa, outras pessoas também vão; Participante 4: Porque eu tipo assim, nunca cheguei a estraga nada sabe? E nem quero, porque não é só meu, é de todo mundo. Então eu acho que todo mundo tem que ter uma mentalidade de não estraga; Participante 4: Ah eu, eu acho que eu vô leva assim, cuida mais no caso do...espaço público e coisa. Igual a...que a gente falou das ruas, essas coisa. Muita, muita culpa é da gente. Não pode tipo assim, tem gente que não pode ir no supermercado perto de casa que assim...que vai de carro, o que que custa ir a pé? E tipo assim, esse negócio assim, lixão essas coisa, é muita culpa do cara, do carro, essas coisa. Então, hum (engole a saliva), eu me conscientizei, quero ajuda os outro, a sair menos de carro assim, é...anda mais e muitas coisas que eu não sei detalha (aparenta estar feliz). 141 Mas apesar de ter havido uma quebra deste discurso entre os jovens e a Participante 4 ter relatado que os outros deveriam se conscientizar igual à ela, o que demonstra um progresso em termos de cidadania e um sinal de empoderamento individual (RAPPAPORT, 1987), a jovem não se sentiu capaz de ser uma agente de transformação social na coletividade da região sul, o que demonstra uma instabilidade no processo de empoderamento. Similarmente esta situação também ocorreu em relação aos policiais (item 4.2.1) na qual a Participante 1 julgou a situação injusta e quando os participantes 2, 3 e 7 demonstraram estar indignados quanto o atendimento ofertado pelos hospitais públicos (Quadro 4). Em ambos os casos, os jovens não elaboram nenhuma proposta para melhoria tanto em relação aos policiais quanto em relação aos hospitais públicos, o que demonstra que ainda também não se sentiam como agentes. Por um lado estes fatos demonstram que houve resultado positivos em relação à autonomia sob à ótica de Fleck (2004), principalmente em termos de indignação, mas por outro demonstra que apesar de uma progressão, estes jovens ainda não estavam empoderados de forma plena. Para Tassara e Ardans (2003), os processos que visem a participação emancipatória, ou conceitualmente equivalente, ao empoderamento em seus três níveis (FUNG, 2012; ORNELAS, 2008; PERKINS e ZIMMERMAN, 1995) ocorrem de forma gradual e não espontânea, sendo que seus resultados não são garantidos. Uma situação que demonstra este processo gradual foi em relação ao reconhecimento de que os participantes também faziam parte da problemática da região sul (no encontro 2 que será detalhado no Quadro 7 pertencente ao critério “inclusão” do item 4.3). Inicialmente, os participantes “terceirizaram” os causadores dos problemas desta localidade, de maneira a culpar os “outros” pela depredação do patrimônio e pelo lixo nos terrenos baldios e ruas. De forma gradual houve uma identificação dos “outros” (lixeiros, usuários de drogas, moradores) tendo ao final deste processo o reconhecimento de que causavam problemas na região sul também. Neste sentido, em nível local, é possível afirmar que não apenas as soluções dos problemas são terceirizadas como apontam Barbosa (2003); Lemos (2005) e Oliveira (2004) ao analisarem a sociedade brasileira, mas as causas dos problemas também são. Outro ponto que merece destaque na fala da Participante 4 é o início da formação de um pensamento ecológico do desenvolvimento sustentável (BELLEN, 2004; COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO, 1991; MATIAS e PINHEIROS, 2008; RIO+20, 2012; SACHS, 1993, 2004; VEIGA, 2008), apesar de não ser 142 plena, (como foi abordado na análise sobre item 4.2.2. Este pensamento ecológico foi observado quando a jovem relatou estar disposta a transitar mais a pé do que de automóvel pela região sul. Esta manifestação pode ser um sinal de uma cidadania mais elaborada decorrente do projeto “Minha Pipa, Nosso Céu”, sendo que esta disposição não traz consequências apenas em nível local, mas também global. Mas este processo gradual apresenta momentos de instabilidade. Um momento positivo ocorreu quando o pesquisador questionou ao Participante 5 mediante à um desafio coletivo: Pesquisador: É o que eles estão comentando aqui. No teu caso vai ser mais complicado, por quê? Eles querem dividir a gestão das quadras, fazer uma gestão ali, o pessoal que mora mais perto do São Sebastião, fica com a gestão do São Sebastião. O teu caso que mora no Conjunto, gerenciar a do Conjunto. Mais uma coisa que eu vejo pra você. Você vai ter que mobilizar o pessoal dali, que mora no Conjunto, que estuda com você a ajudar você também. Porque a maioria do pessoal aqui é tudo do São Sebastião. Você acha que daria conta de fazer tudo isso?; Participante 5: Daria.. Além do Participante 5 demonstrar ter tido um vislumbre de empoderamento individual (RAPPAPORT, 1987) neste momento, também apresentou a manifestação de competências empreendedoras, disposição de correr riscos e busca de responsabilidades (ANDRADE, 2010; CHIAVENATO, 2007; DOLABELA, 2008; DORNELAS, 2007; DRUCKER, 2003; FILION, 1999; FORTIN, 1992; KURATKO, 2009; LENZI, KIESEK e ZUCCO, 2010; SHUMPETER, 1934). Já um momento negativo ocorreu quando o pesquisador questionou o Participante 3: “Pesquisador: Mas por que você fica com certo receio de...ajudar, vale a pena mesmo, não vale a pena mesmo ajudar? Você fica com medo? Você fica muito receoso porque acha que é muita responsabilidade? O que você acha?”; “Participante 3: Eu fico com medo memo.”. Mas é importante salientar que mesmo diante do sentimento de medo, o Participante 3 demonstrou abertamente estar disposto a auxiliar em algo na administração da quadra, conforme vai ser melhor detalhado no empoderamento organizacional. Diante destas falas, demonstra-se a instabilidade do processo. Apesar da instabilidade do processo, o projeto “Minha Pipa, Nosso Céu” conseguiu fomentar o pensamento coletivo nestes jovens, apesar da impregnação do capital como foi descrito no tópico anterior. Este pensamento coletivo aparece quando a Participante 4 relata querer ajudar na quadra, mesmo não utilizando esse espaço público. O Participante 3, ao julgar que não é 143 perda de tempo ajudar na quadra e o próprio Participante 5 em seu vislumbre de empoderamento em aceitar o desafio de gerenciar a quadra do Conjunto Habitacional Pedro Afonso Junqueira. Neste sentido, há uma modificação do histórico individualista da sociedade brasileira sintetizado por Oliveira (2004) na frase “o que eu vou ganhar fazendo isso?”, sendo um dos grandes desafios do empreendedorismo social no país. Nestas passagens não há um interesse econômico dos participantes, mas sim um interesse pelo bem-estar comum, ou como Melo Neto e Froes (2002) apontam, uma busca pelo impacto social, o que é uma característica do empreendedorismo social. Diante do que foi exposto, o projeto “Minha Pipa, Nosso Céu” possibilitou uma progressão em termos de empoderamento individual (RAPPAPORT, 1987), mas que não atingiu a sua plenitude. Os participantes conseguiram visualizar: um futuro; a necessidade de conscientização de outros moradores da região sul; a incapacidade de alguns atores locais; falar sobre humilhação social e não considerarem inferiores em relação à outras regiões de Poços de Caldas-MG; indignar-se diante do atendimento público; indignar-se diante da violência policial (Quadro 4). Mas por outro lado, não foi traçado nenhum planejamento estratégico para sanar estas questões visualizadas. Nesta perspectiva houve um despertar da cidadania sendo necessário um processo de maior duração para que ocorra a plenitude do empoderamento individual e consiga trazer estes jovens à condição de agentes transformadores na coletividade da região sul, tendo em vista que o projeto “Minha Pipa, Nosso Céu” foi um ensaio. 144 4.3 Empoderamento Organizacional 4.3.1 Cooperação Interna A partir dos dados obtidos por esta pesquisa, apresenta-se o Quadro 6: Quadro 6 - Cooperação Interna Cooperação Interna Encontro 2 Há Não Há Participante 6 (braços cruzados na altura da barriga, pernas juntas): Ah, eu achei que a gente foi bem , só que eu acho que todo mundo deveria ter entrado assim. Participante 4: É, não devia ter feito “paiaçada” na rua. Participante 5: A maioria dos lugares que você vai, mesmo que não tenha lixeira, mas muitas vezes tem lixo no bueiro, no...(dá um soquinho no Participante 3, como se solicitasse para auxilia-lo nas argumentações) nos lugares não adequados. Participante 2: O que ele falou mesmo? (falta de interesse na apresentação de outro participante) Participante 2: Ah não entendi.(falta de interesse na fala de outro participante) 3 Na apresentação de outro grupo de como gostaria Participante 5 (começa a cantar): Pela longa estrada da vida..... Participante 6 e Participante 1: fala Participante 4. Participante 4 fica encabulada e fica segurando o seu colar. (Diário de campo) Participante 5 faz um assobio para desconcentrar a fala da Participante 6 4 Dinâmica “Torre de canudos” Dinâmica “Torre de canudos” 145 Participante 5: Assim, eu acho que todo mundo participou assim, igual. Assim, tipo, a gente fez (aponta para Participante 9), mas elas também ajudaram, cortaram os canudinhos, cortaram as fita, ajudaram. Cada um fez uma coisa diferente, mas juntando tudo... ficou igual. (Diário de campo) O grupo não fez um plano ou desenhou uma torre previamente. (Diário de campo) Participante 5 chama Participante 9 de jumento. (Diário de campo) Participante 9 bate um dos canudos na cabeça de Participante 5. Pesquisador: Você acha também isso Participante 9? Cada um fez igual, participou? Participante 9 olha para a torre diz: Participou sim. Participante 6: Eu acho que todo mundo participou (passa a mão na boca). Porque é, se fica muita pessoa também mexendo, ali junto, aí não dá certo. Participante 5 olha para as meninas e comenta: A gente está que nem a Prefeitura, a gente faz e o resto fica olhando. (Diário de campo) Participante 5 cobra o Participante 9 para participar. (Diário de campo) As participantes do sexo feminino apresentam um distanciamento das tarefas realizadas pelos participantes do sexo masculino. (Diário de campo) O pesquisador questiona Participantes 1 e 6 se essa é a torre que elas querem construir. As participantes respondem que sim e continuam sem participar. (Diário de campo) Os participantes começam a ficar dispersos e passam a escutar os gritos de fora da sala oriundos da quadra. (Diário de campo) Os participantes retomam a concentração (após o pesquisador relatar sobre o limite de tempo). Conforme a torre vai se consolidando, os participantes começam a proferir alguns comentários em tom de brincadeira: “De volta a minha pirâmide” (trocadilho com um programa de TV nacional). (Diário de campo) Participante 5 pede que Participante 1 coloque a “pata na mesa”. (Diário de campo) Participante 5 comentou que “zuaram”. Participante 5: Como a gente não teve muito tempo pra mim fazê, a gente teve que fazê uma gambiarra ali, meio que estrutura (esfrega as mãos)....de última hora. Aí fico isso daí. Participante 9: Porque o projeto tava escrito que era uma torre (coça a cabeça). Você pode ver assim (gira a torre) você pode ver que é uma torre. Participante 5 comenta algo para o Participante 6 que o Pesquisador não consegue entender. Participante 6: Cala a boca. Acho que é uma torre sim, mas é....do jeito que deu pra fazê. 146 Participante 5: É o que a gente tem pra hoje, ué. Participante 1: Eu acho que é uma torre sim, mas mais parecida com uma pirâmide, mas é uma torre. É....foi o que deu pra fazê no tempo aí. Participante 1: Ah, eu acho que todo mundo, ajudou como pode né. Participante 5 (olhando para a torre): A gente fez em...por exemplo, em..., em vinte minutos, por exemplo a gente fez, praticamente, então não dava para te planejamento sobre tudo e coisa. Se fosse um...com mais tempo, eu acho que ficaria uma....(pausa) uma torre normal. Participante 9: Eu acho que agente teve pouco tempo, eu acho. Participante 6: É...com mais tempo a gente ia, é....ia ter mais tempo pra pensar assim direitinho,o que agente ia fazer certinho, acho que mais tempo ia ser melhor. Participante 1: Com mais tempo eu acho que daria pra planejar, ver o que a gente ia fazer. Ver o que cada um ia fazer. Mas como o tempo foi corrido, então cada um fez o seu melhor. 5 Entrevista com ator externo Pesquisador: E quem participou? Só você participou? Ou Participante 9 foi com você, alguém daqui foi com você. Participante 5: O Participante 3 foi. 6 Participante 3: Tem que tira foto. Tem que tirar foto da quadra aqui e mostra pra ele (Político). Participante 2: Que fio, acho que não precisa não fio. Planejamento das quadras Participante 9 comenta que tem que tirar foto. Pesquisador: Você pode tirar foto Participante 9 e trazer na terça? Participante 9 assinala positivamente com a cabeça. Pesquisador: A gente precisa definir um horário então e conversar com vocês lá então. Eu posso até ir junto com vocês nessa empreitada aí. Participante 2 balança positivamente com a cabeça. Participante 2: Alguém tem que ir lá. Pesquisador: Quem pode por exemplo? Participante 2: Eu não sei. Silêncio. Participante 9: Deixa eu falar. Quem pode falar com o presidente do bairro? Participante 2 tenta colocar o Participante 5 para falar com o presidente do bairro (fuga de assumir riscos). Pesquisador: E quem conversaria com o Comerciante? Você mesmo que já tem contato com ele? Participante 9: Ah, eu não fui lá conversa com ele. (não cumpriu o proposto) 147 Pesquisador: Mas que nem eu falei, tem que definir um dia, um horário pra gente ir lá coversar com vocês lá. Que dia vocês propõem aí? Silêncio. Pesquisador: Pode ser amanhã? Participante 2: Pra mim tanto faiz. Participante 4: Tem que ver o horário também. Pesquisador: O horário também... Participante 2: Acho que tem que ser lá pras 7:30. Pesquisador: Da manhã? Participante 2: Não, da noite. A gente chega 7:00 (19:00) hora e o povo chega 7:30 (19:30). Pesquisador: Vocês querem ir hoje 7:30 (19:30)? Fica a critério de vocês. Silêncio. Pesquisador: Então vamos lá 7:30 (19:30)? A gente marca um ponto de encontro aí e sobe lá? Ou desce aqui, ali perto do batalhão? Pesquisador: Então vamos lá, marquem aí: conversar com os jogadores.... Todos começam a escrever e Participante 2 olha com uma cara de riso para Participante 4. Pesquisador: Beleza então. Quem está faltando aqui no nosso grupo além deles? Participante 6.... Participante 4: Participante 7 Participante 2: Participante 7 falou que não vai vim não. Ela já faltou duas vezes já. Pesquisador: Às 19:30. Pra vocês tá bom chegar nesse horário lá ou sua mãe não deixa (olha para Participante 4)? Participante 4: Iii, eu fico na rua todo dia, toda noite, até umas 9:00 hora (21:00). Pesquisador: Então a gente precisa definir onde vai marcar esse encontro aí.... Participante 3: Na escola. Pesquisador: Que hora a gente vai encontrar aqui? Participante 3: Vai ter que ligar para o Participante 5. Participante 4: Mas será que o povo de lá (aponta para o Conjunto Habitacional) vai querer bater aqui? Começa uma discussão entre Participante 3, Participante 4 e Participante 2. Pesquisador: Como é que agente vai conversa com eles, marcar um dia então? Participante 2: Eu acho assim, eu posso ver com os moleques lá pra eles i na quadra. Pesquisador: Então você pode fazer isso? Participante 2: Posso. Pesquisador: E como você vai entrar em contato com eles pra marcar um dia? 148 Participante 2 coça a parte de trás da cabeça. Pesquisador: Você vai vir no encontro que vem e fala... Participante 2: É. Pesquisador: “Ó, conversei com eles, tá tudo ok e eles vem um dia lá”. Participante 2 balança a cabeça positivamente. Pesquisador: Pode ser isso então? Participante 2 balança a cabeça positivamente. Pesquisador: Então terça-feira, Participante 2 vai nos posicionar se conversou ou não, se deu certo ou não com o pessoal lá. Participante 2 balança a cabeça positivamente. Pesquisador: Tá, a gente vai conversar com o Político, já tem horário, com você (Participante 2) já tem horário. Quem quiser ir lá conversar com Participante 2 também seria uma boa. E o presidente do bairro? Como a gente vai conversa com ele? Pesquisador: Então a gente precisa saber quem é o presidente do bairro. Segundo, ir conversar com ele um dia ou trazer ele aqui. Como é que a gente vai fazer? Quem vai ficar responsável de achar o presidente do bairro? Começa uma nova discussão, onde Participante 3 fala que o Participante 2 pode ir. Participante 4 fala que vai ficar muita coisa para Participante 2. Participante 9: Você pode Participante 3, você mora ali em cima. Participante 3: Ah, eu posso ver. Pesquisador: Então você vai conversar com ele? Participante 3: Então, eu vou ver. Pesquisador: Mas que dia você vai conversar com ele? Participante 2: Hoje. Participante 4: Tem que achar. Participante 3: Primeiro tem que achar ele. Participante 3: Mas o que eu converso com ele? Pesquisador: A gente tem que achar ele primeiro e falar assim para ele: “ó, a gente vai reforma uma quadra ali, é o pessoal da escola que vai reforma, a gente tava conversando com alguns vereadores e você pode conversa com a gente um dia? Pode ir na escola, como é que pode ser? Beleza? Participante 3 começa a anotar. 149 Pesquisador: Então que tal você conversar com esse Colega 3, tipo assim: “O Colega 3, a gente tá reformando aquela quadra lá, você pode dar uma mão lá? Seu tio?”. Pode ser? Participante 9: Pode ser. Pesquisador: Então quem quiser anotar: Participante 9 vai conversar com Colega 3. Participante 2 começa a anotar. Participante 9: Converso aqui na escola mesmo. Pesquisador: Então você vai conversar hoje com ele? Participante 9: Humhum. Pesquisador: Então o que eu recomendo para vocês aí? Até terça-feira vocês trazerem tudo isso pra gente aqui e não faltarem terça-feira. Se um falhar....Beleza pra vocês não faltarem terça-feira? Todos concordam. Pesquisador: Ás nove e pouco, e conversar com o Político ainda. E outra coisa, cadê as Participantes1 e 6? Elas vieram até certo ponto...agora não estão vindo mais. Participante 3: Elas falaram alguma coisa, mas não entendi o que é. Pesquisador: Mas falaram o porque que não viriam. Participante: 3 Falaram. Pesquisador: O Participante 5 também. E você (Participante 4), por que não veio nas últimas semanas? Participante 4: Eu fui no dentista. 8 Pesquisador: Porque gerenciar uma quadra não é, vocês tem que pensar como vão gerenciar essa quadra aí. Quem vai ajudar, quem vai ser o que, quem vai toma conta da chave, quem vai abri. Participante 2: Tem conversa com eles (usuários das quadras). O Participante 9, os dois mora mais perto da quadra lá. Participante 2: Eu falo com ele. Pesquisador: Então vamos colocar essa ideia. Pode escrever todo mundo. O pessoal da manhã não paga e o pessoal da noite paga. Pesquisador: Vocês acham que podem ajudar ele? Não pode? Como que vai ser a situação? Participante 4: Eu não posso. (fuga de assumir riscos) Pesquisador: Não pode? Participante 4 assinala negativamente com a cabeça. (fuga de assumir riscos) Pesquisador: Com nada? Participante 4 assinala negativamente com a cabeça de novo. (fuga de assumir riscos) Participante 3: Eu moro muito longe. (fuga de assumir riscos) Participante 2 assinala positivamente com a cabeça e fala: Eu acho. 150 pagar. Pesquisador: Participante 5 pode trabalhar aqui embaixo. Mas vocês que moram lá, mais perto do São Sebastião vocês poderiam cuidar dessa quadra aí em cima ou não? Participante 2 (assinala positivamente com a cabeça e sussurra): Vai. Pesquisador: Então vamos lá, Participante 3 vai conversa com esse pessoal. Todos começam a escrever. Pesquisador: Mas você, até terça-feira, você traz uma resposta pra gente? Participante 3: Trago. Pesquisador: Então, tem que ver com vocês dois vão ficar com a chave....se quer compartilhar. Participante 3 aponta para Participante 2 (fuga de assumir riscos) Participante 3: Eu não sei. Participante 2: Pode ser. (postura de assumir riscos) Participante 3: Eu acho que não vou ficar com a chave não. (fuga de assumir riscos) Pesquisador: Por que você acha que não vai ficar com chave? Participante 3 olha para o Participante 2 e Participante 4 e fica em silêncio. Pesquisador: Você acha que é muita responsabilidade ficar com a chave? Participante 3 assinala positivamente com a cabeça. Participante 3: Eu saiu demais, quase todo dia. (fuga de assumir riscos) Pesquisador: A gente tem que marca um dia pra conversa lá então. Você acha que ainda não quer ficar com a chave? Você acha que com mais pessoal te ajudando, você acha que gostaria de ficar com a chave? Participante 3 assinala negativamente com a cabeça. Pesquisador: Não quer ficar com a chave. Participante 3 assinala negativamente com a cabeça. (fuga de assumir riscos) Pesquisador: Não quer ajudar na prestação assim com eles? Participante 3: Eu não sei. Participante 4: Eu poderia ajudar com o dinheiro. Aí eu teria que ficar com a chave. E eu também tenho que ver com a minha mãe, porque eu acho que é uma responsabilidade muito grande pra mim ficar com o dinheiro. (fuga de assumir riscos) Participante 4: Mas vou ter que ficar com a chave. Com a chave eu não posso ficar. 9 Pesquisador: O Participante 2 sabe? Só que o Participante 2 hoje não veio. Participante 3: É só eu fala com ele na escola. Pesquisador: Você pode falar com ele? Participante 3 assinala positivamente com a cabeça. Pesquisador: Então, se quiser anotar aí. Começam a anotar. Pesquisador: E não deu tempo de conversar com o pessoal da outra quadra, né? Participante 4: O povo lá da outra quadra eu nem conheço. Participante 4: Ah, minha mãe diz que é muita responsabilidade pra mim e outra, eu acho que quem ficaria com dinheiro é quem abriria a quadra né? Ou fecharia. Porque, tipo assim,(pausa) ocê tá com a chave, aí as pessoas fala: “Ah, eu vô joga, amanhã eu te pago”. Eu acho que essa pra mim não dá certo, porque entro na quadra, pagou. Pesquisador para Participante 4: E mesmo você não ficando com o dinheiro, você ajudaria os dois a presta conta, com o pessoal ali? Participante 4: Como assim? Pesquisador: Ah, ver o tanto que entrou, tanto que saiu. Participante 4: Ah não, isso eu ajudaria sim. Isso aí não tem problema nenhum. Participante 4: Fazê um relatóriozinho no final do mês....porque fica com o dinheiro pra mim, se for abrir uma conta no banco, não é o problema, o problema é a chave e quadra. Porque eu não vou poder ir lá fechar e nem abrir. 151 Pesquisador: Humhum. Você Participante 3, mesmo você não ficando com a chave, você acha que é muita responsabilidade, você acha que poderia ajudar na prestação de contas, alguma coisa assim lá? Participante 3: Então, depende do dia. Pesquisador: Depende do dia? Participante 3 assinala positivamente com a cabeça. Pesquisador: É, porque vocês poderiam se organizar, ver um melhor dia pra cada um e.... Participante 4: Porque eu também poderia ficar com o Participante 3 ou eu, ficar com a agenda pra pode anota. Pesquisador: Também? Participante 4: É, quem vai joga, o horário, tudo bonitinho. Pesquisador: Humhum. Pesquisador: Então você acha Participante 3 que poderia ajudar ela na agenda e na prestação de contas em vez de ficar com a chave? Participante 3: Então, é que nem eu tô te falando,depende do dia assim. Dia de segunda e terça eu e o Participante 5 joga bola à noite, aí não tem jeito. Tem que ver os outros dias, porque tá tendo campeonato essas coisas....aí tem que ver de noite, porque esses campeonatos é tudo de noite. Aí depende dos dia. Participante 4: Eu acho que eu tenho agenda lá em casa. (pausa). Porque se caso, eu posso ficar com a agenda e com o dinheiro, não tem problema. O problema é abri a conta no banco, e de quem vai ser o nome. Porque de menor não pode abri. Eu, eu recebo pensão, só que eu não posso ter um cartão no meu nome, tem que ser no nome da minha mãe. Pesquisador: Então vocês acham que só os colegas, vocês assim mesmo se organizando já daria certo? Participante 4 assinala positivamente com a cabeça. Pesquisador: Você acha isso também Participante 3? Participante 3: Acho. A gente mesmo se organizando tá bom. Muita gente aí vira bagunça. Participante 4: É igual assim, juntar muita gente não vai dar certo. Vai ficar muito.... movimentação. Então eu acho que primeiro as pessoas, é melhor a gente se comunicar, se encontra. É...tipo, igual se eu for fazer um relatório da quadra é 152 melhor pra mim tipo assim (pausa). É igual, a pessoa que jogar bola, quer agendar e fica três pessoa com uma agenda. Aí tipo vai lá no Participante 3, aí eu não sei o horário que ele agendo, aí vem ni mim, aí eu agendo o horário. Pode até dá briga. Então eu acho que muita gente, eu acho que vai atrapalha. Eu acho melhor....menas gente. Pesquisador: Então a gente tem que pensar nessa história aí. Então vamos anotar, é rodízio de treinos então. Porque senão não adianta nada reformar uma quadra hoje e depois não ter utilidade nenhuma, porque o pessoal sempre prefere o Poli. Tem que ver também esse pessoal que não faz treino que usa a quadra...como é que eles usam essa quadra aí? Porque eles usam a quadra e o Poli também. São questões que a gente também tem que saber o motivo disso. Então vamô anotar aí. Todos começam a anotar. Pesquisador: Mas você (Participante 3) vai conversar com ele (treinador) hoje? Como é que vai ser esse lance aí? Participante 3: Então, hoje tem treino. Pesquisador: Então, você quer que eu vou com você? Como é que você acha? Vai sozinho? Participante 3: Não, eu posso falar com o Participante 5 e o Participante 5 fala. Pesquisador: Vocês dois ir lá falar? Vocês querem que eu vá, não vá? Participante 3: Eu acho que eu e ele dá certo. Pesquisador: Dá certo? Participante 3: Conversa. Pesquisador: Beleza. Então você e o Participante 5 vai lá conversa. Participante 5: Eu não ia vim, estou com dor de cabeça, resfriado e minha mãe falou: “você não vai”. Aí ela tava na cidade, ela foi leva meu irmão na aula de inglês e eu acabei atrasando. E eu ia ter que pular o muro, aí ela não deixo. Pesquisador: Senta aí. Então o que a gente tem que fazer primeiro é o planejamento. Porque falar para o Político: “Ah , a gente vai querer reformar a quadra e tal tal”, não. “A gente vai reforma essa quadra,mas a gente vai cuidar dessa quadra também”. Porque não adianta nada falar: “ah, eu quero isso, só ter a quadra reformada”. Ele (Político) não vai providenciar nada ou não vai sensibilizar pela causa. Pesquisador solicita que o Participante 5 lesse o planejamento e que os outros participantes aguardassem alguns instantes. Após a leitura, começa o diálogo novamente. 153 Pesquisador: E o que a gente já conversou com o Participante 3, conversar com o pessoal do treino e ajudar nessa quadra aí. Participante 5: É uma boa ideia Participante 3. Participante 3: Eu também achei. Após esses comentários é dado início à discussão sobre que reforma eles querem. O planejamento das quadras deste encontro ficou da seguinte maneira: Pessoal da manhã não paga e o pessoal da noite à partir das 18:00 às 22:00 passaria a pagar R$ 10,00 à hora (o mesmo preço aos finais de semana); Cada quadra teria uma gestão a parte (sendo que cada participante iria auxiliar na quadra mais próxima de sua residência); Necessidade de ter uma agenda (Participante 3 e Participante 4 fariam esse agendamento); Colega 1 e Colega 2 auxiliariam na administração da quadra do São Sebastião (Participante 3 acha muita responsabilidade para si); Dinheiro (Quem for ficar com as chaves, no caso Participante 2 na quadra do São Sebastião e o Participante 5 na quadra do Conjunto Habitacional Pedro Afonso Junqueira; ou, abrir uma conta para que Participante 4 gerencie, no caso da quadra do São Sebastião); Prestação de contas (Participante 3 e Participante 4 realizariam); S.O.S construções (terminar a reforma dos banheiros, entrar em contato com o Político); Conversa com o treinador e 40 alunos; Quadras como lugares de treino para campeonatos de futebol; Campeonato de futebol na quadra do São Sebastião. Revezamento de quadras para treinos (uma semana no Poliesportivo do Conjunto Habitacional Pedro Afonso Junqueira e uma semana nas quadras); Várias cópias das chaves. Reforma: 1. Cobertura (telhado) 2. Grades (portão) 3. Iluminação 4. Pintura 5. Gol (rede e traves) 154 10 6. Arquibancada (reforma completa) 7. Reforma do chão da quadra 8. Torneiras para beber água 9. Reforma de uma casa abandonada próxima. 10. Luzes para a quadra do Batalhão Pesquisador: E vocês tem vontade realmente de continuar esse projeto da quadra não tem? Participante 4: Ah, pra mim tipo assim, igual eu falei, não tem muita serventia porque eu não brinco na quadra. Não brinco, não jogo bola, não faço nada. Mas eu acho tipo, eu gostaria de continuar por causa dos meus amigos que jogam, que gosta de joga, que gosta de faze esporte. Mas pra mim assim não teria aquela intenção. Mas eu quero continuar ajudando sim. (Diário de campo) Participante 3 relatou que não conseguiu conversar com o pessoal da quadra e fala que é por causa de um trabalho da instituição escolar. Pesquisador: Vocês não conseguiram conversar com o pessoal da quadra ali? Participante 3 assinala negativamente com a cabeça Pesquisador: Você e o Participante 5 também não? Participante 3 continua assinalando negativamente com a cabeça. Pesquisador: Mas vocês não conseguiram por causa do trabalho, é isso? Participante 3 assinala positivamente com a cabeça: Humhum. Participante 4: Eu não consegui porque eu não tinha contato com ninguém. Pesquisador: Você não quer ajudar seus amigos? Você acha que é uma perda de tempo? O que vocês acha? Participante 3: Perda de tempo não é. Fonte: O próprio pesquisador, 2013 155 Em todos os encontros houve uma disposição dos participantes em cooperar com o grupo nas dinâmicas, exceto em alguns momentos dos encontros iniciais (cobrança de participação entre os participantes; brincadeiras para desconcentrar a apresentação do colega; desinteresse na fala do colega, formação de um círculo em sala) Quadro 6. Inicialmente também houve dificuldades dos participantes em respeitar as regras de convivência estabelecidas em grupo. Havia agressões e brincadeiras depreciativas entre eles sendo que essas manifestações não extrapolaram em momento algum para o pesquisador. Este comportamento agressivo foi manifesto principalmente entre os participantes do sexo masculino, sendo pontual entre as participantes. É possível que esta agressividade dos participantes do sexo masculino possa ser algo característico deste gênero e as brincadeiras depreciativas, uma maneira de lidar com o outro. É importante destacar que durante o projeto “Minha Pipa, Nosso Céu”, foi observada a redução gradual desta postura agressiva dos participantes. Ao efetuar uma comparação entre os participantes dos sexos masculino e feminino, houve indícios de maior cooperatividade e respeito entre as participantes, principalmente nas dinâmicas “Eu sou alguém” e “A minha comunidade hoje/a minha comunidade como a quero”. Foi observado que o único participante do sexo masculino no grupo das participantes na execução da dinâmica “A minha comunidade hoje / a minha comunidade como a quero” passou a ter, naquela ocasião, uma postura mais cooperativa. Neste sentido, pode ser afirmado que esta aparente característica do gênero feminino possibilita um impacto positivo em um grupo que trabalha com a temática empreendedorismo social (MELO NETO e FROES, 2002; NEVES, GUEDES e SANTOS, 2010), de maneira a ser desejável a presença de participantes deste gênero. Mesmo com esta diferenciação entre gêneros, houve momentos de solidariedade durante a dinâmica “A minha comunidade hoje / a minha comunidade como a quero”, nos quais os participantes, independente do sexo, trocavam recortes entre os grupos (não visualizaram o outro como um adversário) e quando a Participante 4 questionou ao pesquisador se havia mais uma tesoura. O pesquisador relatou que só havia uma por grupo. O Participante 5 que era de outro grupo solicitou à Participante 4 que aguardasse um pouco, porque logo lhe emprestaria a tesoura que estava usando. Em termos de utilização de dispositivos eletrônicos (celulares e tablets) pelos participantes, 156 foi observado que em apenas um momento houve o descumprimento da norma de convivência relativa ao seu uso, quando o celular de um dos participantes tocou durante um dos encontros. Outro ponto que merece destaque foi a utilização de um tablet por duas participantes para identificação daquilo que consideravam como problemas na região sul. Nesta perspectiva, esta pesquisa sinaliza que há possibilidade de trabalhar com dispositivos eletrônicos na temática empreendedorismo social (MELO NETO e FROES, 2002; NEVES, GUEDES e SANTOS, 2010) de maneira a permitir uma cooperação interna entre os participantes, principalmente na identificação de oportunidades (problemas), uma competência empreendedora (DORNELAS, 2007; LENZI, KIESEK e ZUCCO, 2010). Um ponto merecedor de destaque ocorreu no primeiro encontro, no qual o pesquisador não levou lanche aos participantes, propositalmente. Mesmo diante da oferta da escola em fornecer lanche (por uma funcionária da cantina; o que demonstra uma incoerência da instituição que alegou não ter condições de fornecer lanche para os participantes do projeto conforme item 4.4. Os participantes preferiram ir até os estabelecimentos comerciais da região e pleitear patrocínios sendo esta uma proposta do Participante 5. Estes fatos demonstram o fomento de competências empreendedoras inovação e disposição de correr riscos (ANDRADE, 2010; CHIAVENATO, 2007; DOLABELA, 2008; DORNELAS, 2007; DRUCKER, 2003; FILION, 1999; FORTIN 1992; KURATKO, 2009; LENZI, KIESEK e ZUCCO, 2010; SHUMPETER, 1934) entre os jovens. Após esta disposição inicial dos participantes, houve algumas dificuldades em termos de organização do grupo: o Participante 5 parou para conversar com os colegas, tendo que as Participantes 1 e 6 “resgatá-lo”; o Participante 9 demonstrou uma indisposição de correr riscos e argumentou que estava passando mal e que iria para a sua casa; e o Participante 8 foi embora sem se justificar. É importante destacar que o Participante 8 não voltou nos encontros subsequentes, tendo o grupo sido reduzido à oito integrantes. Após estes fatos, os participantes discutiram e avaliaram quais lugares iriam, o que demonstra o fomento de outra competência empreendedora, planejamento (DORNELAS, 2007; LENZI, KIESEK e ZUCCO, 2010). Neste planejamento, os participantes preferiram que o pesquisador negociasse com os proprietários dos estabelecimentos comerciais sendo que eles ficariam próximos para observar e escutar as negociações. As participantes demonstraram, mais uma vez, maior cooperatividade tendo entrado junto com pesquisador no primeiro 157 estabelecimento comercial. Já os participantes ficaram na porta do estabelecimento “fazendo paiaçada” como a Participante 4 relatou no encontro subsequente ao analisar essa “expedição” pela região sul (Quadro 6). Nesta perspectiva, é possível afirmar, que houve uma progressão em termos de cooperação interna, mas com instabilidades e uma permeação diferenciada em cada participante durante o primeiro encontro, sendo que alguns se demonstraram mais cooperativos (principalmente as participantes) do que outros. Esta “expedição” sinaliza o fomento do aspecto de coletividade do empreendedorismo social descrito por Melo Neto e Froes (2002), pois o planejamento e mesmo o caminhar até os estabelecimentos foram realizados em grupo e não individualmente. Conforme transcorria o projeto, houve uma diminuição no número de agressões e brincadeiras depreciativas, muito próximo de extingui-las. Mas no quarto encontro, houve um retrocesso quando a dinâmica “Torre de canudos”, que executada pelos participantes (Quadro 6). Houve nesta dinâmica algumas agressões (bater o canudo na cabeça de outro participante) e algumas brincadeiras depreciativas (Participante 5 solicitou que a Participante 1 colocasse a “pata” na mesa). Os participantes do gênero masculino monopolizaram a dinâmica, talvez devido ao desejo destes participantes em ingressar nos cursos de Engenharia e Arquitetura conforme foi abordado no item 4.2. As participantes do sexo feminino não demonstraram um posicionamento contrário em relação a esta monopolização e apresentaram baixa participação na dinâmica. Apesar destes fatos, a cooperação interna, durante essa dinâmica, foi manifesta quando o Participante 3 ficou até o final da construção da torre, o que ocorreu por volta das 10:35, embora tivesse relatado no início do encontro que precisaria sair às 10:00 naquele dia. Nesta perspectiva, a primeira aplicação da dinâmica “torre de canudos” foi constatada uma indisposição dos participantes em trabalhar em grupo. Ao final da dinâmica, o pesquisador formou um círculo e analisou criticamente junto aos participantes sobre o que havia ocorrido e a importância do planejamento. Os participantes alegaram falta de tempo para executar a tarefa e havia um conflito interno no grupo em afirmar se era uma torre ou uma pirâmide, de maneira a resultar em algumas brincadeiras entre os participantes. Após o pesquisador relatar sobre a importância do planejamento, do gerenciamento do tempo e na delegação de tarefas, os participantes reconheceram que não planejaram e julgaram interessante a explicação do pesquisador. 158 Esta análise trouxe reflexos positivos em termos de cooperação interna, no encontro subsequente no qual a dinâmica foi executada novamente. Nesta repetição não houve as agressões e brincadeiras depreciativas, mesmo tendo a presença de apenas participantes do sexo masculino. Houve um planejamento prévio de como seria construída a torre e foi verificada mais uma competência empreendedora sempre que a torre desmoronava, persistência (DORNELAS, 2007; LENZI, KIESEK e ZUCCO, 2010), tendo em vista que os participantes não desistiram até que a torre ficasse de pé, mesmo após a inúmeras quedas. Neste sentido, mesmo havendo uma distinção entre gêneros em termos de tarefas coletivas nos encontros iniciais, foi possível constatar no encontro cinco, uma mudança de postura entre os participantes do sexo masculino, materializada em uma cooperatividade e respeito com o outro, similar à das participantes. Na questão da frequência do projeto, que pode ser considerada como uma forma de cooperação interna no grupo, também ocorreu uma instabilidade. Durante todo o projeto houve justificativas dos participantes quando não iam aos encontros, pessoalmente no encontro subsequente ou via mensagem de celular aos outros participantes momentos antes dos encontros. O grupo aparentemente desenvolveu um “detector de veracidade de justificativas” ao longo do projeto, de maneira a julgar se o participante estava sendo verdadeiro ou mentiroso. A ausência dos participantes faltosos, também era notada pelos participantes presentes, como no momento em que o Participante 2 se deparou com dois participantes no encontro 5 e questionou: “Cadê o pessoal?”. A ausência dos participantes pode ser atribuída ao fato de que eles permaneciam nas ruas da região sul até a madrugada e possuíam atividades (jogar futebol e frequentar outros cursos à noite), o que impactava na disposição em participar no projeto no dia seguinte, que transcorria durante o período matutino. Mesmo diante da oferta do pesquisador em alterar o horário do projeto em várias oportunidades, os participantes se posicionaram contrários a esta possibilidade. Além da instabilidade na frequência, ocorreu uma evasão dos participantes durante a execução do projeto. Esta evasão foi oriunda de dois motivos: falta de interesse (participantes 7 e 9, que frequentavam o projeto de forma esporádica) e fatores externos (frequentar outro curso, auxiliar a família nas tarefas do lar e ajudar os familiares no trabalho como aconteceu com os participantes 1, 6 e 8). Neste sentido, o projeto “Minha Pipa, Nosso Céu” necessita de mecanismos que possibilitem a permanência e a frequência contínua de seus participantes, de 159 maneira a ficar menos vulnerável aos fatores externos que influenciam negativamente a cooperatividade interna. Nesta perspectiva, talvez se o projeto fosse aplicado durante uma hora, uma ou duas vezes por semana durante as aulas da instituição escolar (aos moldes de uma disciplina), o projeto conseguiria atrair e reter mais participantes tendo em vista que muitos alunos que se interessaram pelo projeto em seu lançamento residiam em bairros distantes da instituição escolar, o que tornava inviável a participação deles. Nos momentos em que havia necessidade de executar tarefas fora da instituição escolar, também ocorreu instabilidades em termos de organização do grupo. Isto foi materializado na entrevista que os participantes tinham que realizar com um empreendedor local. Nesta tarefa de entrevista, os participantes foram separados em dois grupos de acordo com o gênero, conforme foi proposto pelos mesmos. Foi escolhido um líder em cada grupo, o qual ficaria responsável por organizar o seu grupo em termos de identificação do sujeito a ser entrevistado e determinar a data e o local que iria transcorrer a entrevista. O grupo composto por participantes do sexo feminino realizou a entrevista rapidamente, mas apenas a líder havia participado de todo o processo, tendo ao final compartilhado o conhecimento apenas com uma liderada. Já o grupo composto por participantes do sexo masculino realizaram a entrevista um encontro depois, tendo participado o líder (Participante 5) e o liderado (Participante 3) (Quadro 6). Nesta tarefa, os participantes demonstraram uma capacidade de organização melhor do que as participantes, apesar de não ter sido plena. Através da organização interna, o grupo conseguiu atrair dois colegas (usuários de uma das quadras) que não pertenciam ao projeto para colaborar com a administração da quadra e procuraram outros atores externos no bairro, como o presidente do bairro Conjunto Habitacional Pedro Afonso Junqueira, que não foi localizado. Houve a identificação pelo grupo de um treinador de futebol e quarenta alunos treinados por ele, que poderiam auxiliar no planejamento e administração das quadras (Quadro 6). Apesar desta identificação e organização interna para estabelecer um diálogo com eles, o grupo mostrou uma indisposição em acessá-los, mesmo com a disposição do pesquisador em ir acompanhar o grupo. Vale destacar que o Participante 9 em duas oportunidades não cumpriu o planejamento ao não conversar com o Comerciante e o Colega 3, apesar de ter se comprometido. Outro momento de descomprometimento oriundo do medo de assumir riscos ocorreu quando os participantes 160 3 e 4 julgaram ser muita responsabilidade ficar com as chaves da quadra do São Sebastião, tendo a Participante 4 justificado que sua mãe julgava isto também. Apesar deste medo em relação às chaves, ambos os participantes demonstraram estarem dispostos a executar a prestação de contas e agendamento dos jogos. Apesar destas instabilidades e dificuldades, o projeto “Minha Pipa, Nosso Céu” possibilitou a preparação de uma pauta para conversar com o Político (foi cogitado entre os participantes o registro fotográfico das quadras para mostrar ao Político, algo que não aconteceu) e a elaboração de um planejamento da reforma e administração das quadras nos bairros Conjunto Habitacional Pedro Afonso Junqueira e São Sebastião (Quadro 6). Em específico às quadras houve uma cooperação interna e o fomento de uma característica do empreendedorismo social: a busca de soluções de impacto social (MELO NETO e FROES, 2002). A cooperação interna também foi evidenciada nos momentos do lanche, em termos de solidariedade. Em um dos encontros, o pesquisador levou chocolate para analisar qual reação seria manifestada entre os participantes. Apesar do Participante 2 ter pego o chocolate inicialmente e relatado que só seria dele, logo houve uma repartição desta guloseima entre todos os participantes, inclusive com o pesquisador. Em outro encontro, com a desculpa de ir ao banheiro enquanto o grupo se dirigia para a sala, o pesquisador solicitou ao Participante 2 que levasse o lanche. O Participante 2 aceitou sem manifestar qualquer reação contrária/indisposta e colocou no lugar em que o pesquisador costumava oferecer o lanche. Outra manifestação de solidariedade foi iniciada no segundo encontro, em que os participantes auxiliavam o pesquisador na limpeza e arrumação da sala após o lanche. No encontro 10 (Quadro 6), os participantes relataram estarem dispostos a continuar com as quadras, mesmo após o término do projeto, mas no encontro subsequente apenas o Participante 3 compareceu. O Participante 2 havia relatado que iria começar a trabalhar, já a Participante 4 não justificou. Diante dos fatos expostos, é possível concluir que houve uma progressão do empoderamento organizacional (PERKINS e ZIMMERMAN, 1995) em termos de cooperação interna, apesar de ter havido momentos de instabilidade propiciada por fatores externos e individuais. É importante assinalar que o ambiente comunitário adverso da região sul parece contaminar a 161 cooperatividade dos jovens, algo que vai ser detalhado no item 4.4. 162 4.3.2 Inclusão A partir dos dados obtidos por esta pesquisa, apresenta-se o Quadro 7: Quadro 7 - Inclusão Inclusão Encontro 1 Há (Diário de campo) Após a ida no 1° estabelecimento comercial o grupo ficou discutindo qual seria o próximo lugar. Os participantes levantaram a hipótese de ir a um outro estabelecimento comercial ali perto, mas descartaram, porque o proprietário deste estabelecimento comercial poderia ajudar, mas falaria de Jesus para eles, o que os deixariam insatisfeitos. (Diário de campo) O Participante 2 sugeriu ir até um estabelecimento comercial próximo ao primeiro visitado onde poderiam solicitar bolachas. O Pesquisador perguntou se todos concordavam e se bolacha era um lanche que eles gostariam. Todos concordaram que sim. (Diário de campo) Após a conversa com o gerente do 2° estabelecimento comercial visitado, os participantes ficaram discutindo qual seria o próximo lugar a ir. (Diário de campo) Houve várias sugestões, mas logo surgiram comentários que alguns participantes estavam tentando ir à locais mais próximos de suas residências (talvez estes fato se deu devido a proximidade do horário de almoço), mas ao final decidiram ir até uma padaria no bairro Parque das Nações (distante de qualquer residência dos participantes). 2 Paço Municipal Relatório (a favor): Que vai dar benefícios, e que vai resolver os problemas. Mais poderá atrapalhar se todos os moradores do centro da cidade virem para a zona sul. 1 – Benefício: Melhorar no postos de saúde e melhorias nas ruas com asfaltamento, e não ficarem jogando lixo na cidade. 2 – Problemas: Isso poderá resolver vários problemas para as comunidades, por que tem famílias que não tem condição para se sustentarem. E com isso eles terão ajuda. 3 – Atrapalhar: Vai piorar por causa do trânsito, e principalmente por causa do convívio. Relatório (Contra): Teoricamente se isso acontecer i Passos Municipal, irá atrapalhar as pessoas da zona sul, pois terá muito tumulto, terá que construir novos comércios em geral; E sem falar que terá que retirar árvores, e o preço do ônibus iria aumentar; Como no centro da cidade acontesse muitos assaltos, concerteza teria que reforçar a segurança na zona sul; 163 O centro da cidade não será tão utilizado, ao torno dos pontos turísticos, pois todos os comércios mais utilisados, se encontram perto dos pontos turísticos; Para as pessoas da zona sul seria melhor, mas para as pessoas do centro seria mais ruim. Discussão dos relatórios entre o grupo pró e contra Participante 2 (CONTRA): Vai atrapalha as pessoas da zona sul, pois terá muito tumulto. Participante 5 (FAVOR): Os benefícios que a gente colocou é: melhorias nos postos de saúde, melhoria nas ruas com melhores asfaltamento,...vamos ver o que mais...e a gente pôs o recolhimento adequado dos lixos da cidade. Participante 6 (CONTRA) (impaciente, começa a rebater as colocações que Participante 5 colocou): Vocês falaram da melhoria do lixo, mas aqui o caminhão passa normalmente e recolhe tudo do mesmo jeito. Só que eu acho que se vim aquele negócio de lá pra cá, vai trazer muito tumulto aqui. Participante 2 (CONTRA): Vai ter mais assalto para cá, vai dar treta. Participante 4 (CONTRA): Uai, mas se vier mais gente, vai tumultuar muito mais. Participante 2 (CONTRA): Mas o centro da cidade não vai ser mais utilizado. Participante 1 (FAVOR): Na questão do lixo, quando os lixeiros vão pegar o lixo, tipo assim...quando o caminhão tá passando na rua assim...ele, eles...não pegam direito(gesticula),eles deixam cair tudo no chão. Participante 4 (CONTRA): A obrigação é amarrar (e faz um gesto de amarrar). Participante 5 (FAVOR): Independente disto. Às vezes você amarra e muitas vezes eles abrem para ver o que tem dentro. Participante 6(CONTRA): Mas, trazer as coisas de lá para cá, vai ter muito assalto, por causa de ser (gesticula), tipo, uma sociedade maior, vamos supor. Participante 6(CONTRA): vai vim muito assalto pra qui também. Participante 5 (FAVOR): Não porque do jeito que eles falou, parece que quem tem que ter....é (pausa) cuidado com o lixo por exemplo. Vou dar o exemplo do lixo. Somos nós mesmo. Mas muitas vezes a gente faz tipo...amarra, coloca, separa o que pode e o que não pode pra ir pro lixo, mas independente disso..., ás vezes você coloca na calçada, eles não tá nem aí, eles pega rasga, vê o que tem dentro e taca no caminhão de lixo, indiferente o que tem. Participante 6 (CONTRA): Ah (risadinha), eu até concordo com ele o que ele falou, mas também tem pessoas que não tá nem aí né. Joga o lixo em qualquer lugar. Participante 6 (CONTRA): Acho que não cabe o lixeiro subir em cima do muro e catar todos os papelzinhos também, depende da gente também. 164 Participante 3 (FAVOR) começa a ler: A gente vai ler os problemas. Isso poderia resolver vários problemas para a comunidade porque tem famílias, aqui da zona sul, que não tem condição suficiente para se sustentar direito. E com isso pode ajudar. Ajudar um pouco. Participante 2 (CONTRA): Porque se for sair para ir lá vai gastar o dinheiro do busão do mesmo jeito. Não vale a pena. Participante 1 (FAVOR) (gesticulando e com o corpo voltado para o pesquisador): Tipo é...essa questão aí de sustentar aí, a gente pode ter ajuda aqui perto,tipo...essas casas que dão cesta básica pra quem precisa, a gente vai ter mais próximo, mais perto. Porque aí não precisa gastar dinheiro pra ir pro centro pra procurar ajuda. Participante 5 (FAVOR): Porque isso não vai poder ajudar não só as pessoas daqui, mas as pessoas da cidade do mesmo jeito, porque a maioria das vezes, as coisas que tem na cidade, favorecem o pessoal do centro e não os moradores da zona sul e dos bairro daqui...então...agora isso vai ficar divido, vai trazer ajuda pra lá e pra cá. Participante 5 (FAVOR): Tipo assim..., que antes...,a cidade...., todas as coisas que ajudam eles são tudo no centro né e não favorece o pessoal da zona sul. E como eles vão tá proporcionando, isso, não vai ajudar só o pessoal de lá, mas como o pessoal daqui também. Participante 2(CONTRA): Ah.., eu acho que pro pessoal de lá vai ser prejudicado (pausa). Porque eles já tá acostumado, pertinho deles lá (Pausa). Eles vão ter que sair de lá pra vim aqui fio. Vai demora. Participante 5 (FAVOR): Mas não, independente disto. Isso não vai vim pra cá e nem pra lá. Vai fica que nem se fosse ficar no meio termo. Vai ajudar 50% pra lá e 50% pra cá. Participante 6(CONTRA) pergunta para o pesquisador: É....se isso acontecesse mesmo, o ônibus iria aumentar? Participante 6 (CONTRA): Porque se fosse aumenta... iria ficar mais difícil ainda, porque ia dar na mesma. Participante 2 (CONTRA): Iria ficar R$5,00 o busão. Participante 6(CONTRA): Tá certo, seria menos tempo, certo? Mas mesmo assim não ia adiantar. Participante 5 (FAVOR): Isso também, nesse ponto eu até concordo com vocês, por causa que iria favorecer não só o pessoal de lá, mas o pessoal daqui também, porque o aumento do ônibus vai dificultar a vida de todo mundo daqui. Participante 3 (FAVOR): E isso também vai atrapalhar um pouco, porque vai piorar o trânsito e o convívio com as pessoas. Participante 6 e Participante 2 (CONTRA) falam que vai ficar tudo tumultuado. Participante 5 (FAVOR): Assim mesmo já atrapalha todo mundo, agora com isso daí vai atrapalhar 100%, porque o pessoal vai vim pra cá, o de cá vai pra lá. Vai virar um tumulto, eu acho. 165 Participante 4 (CONTRA) para o pesquisador: Mas você falou que não é aqui para a zona sul é lá perto da GM Costa (empresa de transporte) não é? Participante 4 (CONTRA): Não eu sei, mas tipo assim, se for para aumentar o ônibus e ser mais perto (fica gesticulando para o Participante 5 como se quisesse dizer: “e aí o faz o que?” )? Participante 5 (FAVOR): Mas assim, ali não é tão longe não. Participante 2 (CONTRA): Compra uma bicicleta memo. Participante 4, Participante 6 e Participante 2 (CONTRA): Desmatamento. Participante 2 (CONTRA): Mas já aconteceu fio. Participante 4 (CONTRA): Mas já aconteceu?? (Uma risadinha) Participante 2 (CONTRA): Já arrancaram ali. Participante 5 (FAVOR): Isso não pode acontece, senão vai afetar todo mundo. Participante 5 (FAVOR): Porque por exemplo. Isso atrapalha é... (começa a contar nos dedos) o meio ambiente, atrapalha o convívio, assim, a moradia dos animais, por exemplo, se o bicho mora lá, não vai ter lugar pra eles i, então eles vai pra cidade, vai.... Inversão dos grupos na discussão: Participante 5 (CONTRA): Ah, eu acho que ia dificultar pra todo mundo né? Acho que ia dificulta tanto pra eles quanto pra nóis. Participante 2 (FAVOR): Eu acho que não. Participante 6(FAVOR): Ah, mas eles tem mais condições. Participante 2 (FAVOR): Mas nem todos são assim não. Participante 5 (CONTRA): Depende. Tem bairro que você vai que tem gente dormindo na calçada pra você ter ideia. Participante 2 (FAVOR): Ah os mendigos vão nos bairro de rico pra ganha dinheiro uai. Participante 1 (CONTRA): Ah, eu acho que vai, tipo (pausa) atrapalhar demais, vai virar muito tumulto, não vai dar certo não. 166 Participante 5 (CONTRA): Vai virar São Paulo-SP na realidade. Porque São Paulo-SP o trânsito é tudo tumultuado, dá o que fazer pra você andar na rua. Mas assim, pelo um lado que nem ela falou (aponta para Participante 1) isso ia atrapalha, mas por um lado ia ajuda. Ia atrapalha por causa ia vira um tumulto, mas também ia ajuda porque ia poder ajudar todas as comunidades. Participante 6(FAVOR): É...ia ficar tudo mais perto. Participante 4 (FAVOR): Ia dar atenção para todos. Participante 6(FAVOR): Ah...eu acho que...que nem ele falou (Participante 5), vai ajuda e vai piora. Participante 2 (FAVOR): Vai gasta mais dinheiro também Participante 2 (FAVOR): Pra construí aquilo lá vão arranca dinheiro de nóis, uai. Participante 6(FAVOR): Tem esse ponto também. Eles vão deixar tudo que está construído para construir tudo de novo aqui. Participante 1 (CONTRA): Os impostos vai subir cada vez mais. Participante 2 (FAVOR): Tipo lá perto do Itamaraty lá (um bairro de uma outras região), lá estão fazendo umas casa lá, eles iam para pra termina aqui e ia fica pela metade lá. Participante 5 (CONTRA): A pessoas tinham que ver tipo assim, independente se vai piora por causa do tumulto e tudo, mas ia dar um maior benefício para todo, todas as pessoas da comunidade. As vezes você fala: “nossa a gente vai pagar muito imposto e não sei o que e tal”. Mas às vezes isso seria é....bem...é...eu ter o dinheiro seria bem usado por exemplo, se isso fosse trazer benefício pra todo mundo (pausa). Mas tem muita...muitas vezes isso não acontece. Ás vezes eles pegam o dinheiro, montam alguma coisa mais ou menos e faz sacanagem com as pessoas. Então...eu acho que fosse....é monta pra boa coisa...eu acho que ia...não teria problema aumenta os impostos. Participante 1 (CONTRA): E por outro lado também, ia melhora a localização também. As empresa ia ficar mais perto uma da outra, eles iam começar a vim. 3 Relatório dos problemas identificados pela Participante 4 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. Asfalto; Sinalização; Hinchentes (Enchentes); Mendigos; Poluição; Dismatamentos (desmatamento); Desemprego. 167 Questionamento sobre o Paço Municipal à Participante 7 Participante 7: Uai, em vez de você desce lá no centro, quando você precisa de alguma coisa pode fazer tudo aqui mesmo. Identificação e discussão dos problemas da região sul (Diário de campo) Participante 1 mostra uma residência pichada. (Diário de campo) Participante 2 discorda que seja um problema. (Diário de campo) Participante 1 mostra um buraco em sua rua (cheio da água, devido às chuvas do final de semana). Pesquisador: Vocês acham que esse buraco é um problema ou não? Todos concordam que sim. Participante 6: (pausa) Porque estraga carros também né. Aí você tá passando perto, porque aqui ó (aponta o dedo na tela do tablet) nessa parte as pessoas passam aqui né. Porque é a parte da calçada. Aí sempre que alguém passa aqui tá cheio de água aí espirra água pra todo mundo. Participante 4: Eu acho. Participante 4: Porque quebra tudo os carros, essas coisas. Participante 7 (envergonhada, coloca a folha no rosto): É um problema né. Pros carros, o pessoal que passa de bicicleta machuca. Vai passando, vai espirrando água nos outros, fora outras coisas que acontecem. Participante 3: Porque eles não arruma. Porque, por exemplo um carro, alguém que tivé passando lá... (pausa) Participante 2: Quebra a perna. Participante 3 (complementando):...não vê o buraco, pula lá dentro, pode virar o pé. Participante 2: Um problemão sim. Participante 2: Porque...deixa a cidade mais feia né. Meu irmão falando...eu acho. Participante 5: Eu também acho que é um problema, por causa que, vai atrapalha todo mundo, as pessoas que atravessam de carro e principalmente que atravessa a pé pode virar a perna né. 168 Participante 1: Aqui são os banquinhos quebrados. Participante 1: Ah eu acho que puseram aqui para lazer, essas coisa, sentar ali pra conversar, pra...toma uma coca. E ai os outro vai lá e fica estragando. Participante 6: Também. Eles fizeram isso aí para todo mundo sentar logicamente né?...Só que tem até aquele joguinho (tabuleiro) aqui com aquele coisinha para ele joga (olhando para o tablet) aí quando eles bebe, ficam lá segurando. Participante 4: É um problema né, é um vandalismo né? Participante 3 (sorrindo): Foi feito pra senta e eles fica quebrando. Depois não tem lugar pra senta...toma uma coca. Participante 2: Eu acho que é um problemão também. Participante 2: Ah!... Porque os cara não tinha que fazer isso não (pausa). Participante 2: Os cara fuma aí, fica pensando outras coisa aí, e saí quebrando tudo aí. Participante 5: Ah....eu.... (olha para Participante 2, com um sorriso) acho que esse é um problema, quando não tem todo mundo fica pedindo pra fazê. Mas quando faz todo mundo vem e destrói. Participante 1: Ah é um terreno baldio. Participante 6: É um terreno baldio que todo mundo joga lixo assim... Participante 5: Ah eu conheço isso aí. Isto aí mora mó tribo de índio lá. (ciganos) Participante 5 (rindo): Não, uma tribo de índio não, mas uns ciganos que ficava, é que eu morava ali nesse terreno baldio também. Participante 5: (Pausa) (mudança de fisionomia) Ah eu acho que sim e que não. Porque assim, muitas vezes eles arruma encrenca sem ter onde arrumar encrenca. E as vezes eles tem condição de comprar as coisa e fica passando na casa da gente pedindo as coisa. Participante 2: Eu acho que o cigano é um problema. Participante 3: É aquilo que o Participante 5 falou. Eles tem condição de comprar as coisa, anda naqueles carrão, aquelas coisa e fica pedindo comida nas porta da casa dos outro, ainda. Participante 5: Eles tem casa, tem gente, tem gente aluga a casa. 169 Participante 3: Tem casa e mora ali na porcança. Participante 7: Uai! Fica pedindo as coisa na porta das casa dos outro. Tem dinheiro pra compra tanta coisa, vai fica pedindo na casa dos outro. Participante 4: Eu acho que é um problema, porque é mó barraqueiros. Participante 6: Num ponto eu não acho um problema e no outro sim. Eles tão lá...lá ninguém fica assim, ninguém mora lá. Eles fica lá quietinho no canto deles acho que não tem problema nenhum. Só vai,...que eu acho que prejudica o corpo,... a saúde deles né. Fica no meio desses lixo...desses mato aí. Participante 1: Eu acho que cigano é um problema. Porque eles tem dinheiro, tem até dente de ouro, vai sai pedindo as coisa na casa dos outro. Nossa...e outra, eles também fede. Você não pode, não consegue ficar perto deles não. Eles não toma banho(ri). Aí...mas lá também tem um problema. Porque lá é tipo um barranco e embaixo tem uma casa. Vai que a pessoa não vem e acaba caindo dentro da casa dos outro? Participante 5: Vai que eles faiz necessidade na casa debaixo também? Participante 5: Mas assim, muitas vezes, muitas vezes as pessoas não tem condição, e mesmo assim eles vão na casa dos outro pedindo e enchendo o saco pra pessoa dá. Esses dias, a mesma menina foi lá em casa quatro vez, só que aí ela trocou de roupa né. Aí ela falou assim: “não, minha irmã veio aqui agora pouco”. Aí minha mãe perguntou: “vocês tem é...quantas irmã gêmeas, uai?”. Aí a menina falou assim: “não é que é só eu só, mas as vezes...”por que você tá falando de irmã então? Aí ela: “Não, é porque os outro não dá as coisa pra nóis e não sei o que”, e sempre arruma um jeito de conseguir as coisa dos outros. Participante 2: Eles faz mó sujeira aonde eles passa. Tá ligado? Participante 1: Outra foto de lá,daquele do mesmo lugar mesmo(terreno onde os ciganos ficam). Participante 5: Olha vi alguém empinando pipa! (percepção de risco) Pesquisador: Mais um buraco. Participante 1 mostra mais uma foto: Aqui é cheio de entulho, perto de uma casa lá. Participante 1: Mais um buraco. Participante 6: Aqui muita gente já caiu. Participante 3: Muito buraco. Participante 3: É, isso acaba com tudo os carro. Pesquisador: Mais algum problema que você observa aí usando os hospitais, os serviços públicos? 170 Participante 3: É memo! Tem uns médico aí muito sem educação. Pesquisador: Mas você não vê nenhum problema aqui na região? Pra você tá tudo bem? Participante 4: Não, não tá tudo bem não, mas já falaram um tanto de coisa. Pesquisador: E o que é esse tanto de coisa pra você então? Participante 4: Ah os asfalto, o atendimento hospitalar, essas coisas. Participante 1: Eu acho que...que o atendimento é questão de educação...é que não adianta nada...muito ser o hospital particular e não ter educação nenhuma, mas também nos públicos tem várias pessoas sem educação também. Pesquisador: Qual é a sua relação com os policiais? Você acha que eles são bons, são ruins? Eles batem na gente? Participante 3: Aaaa..., tem vez, assim...que é bom e tem vez que é ruim. Participante 2 ironiza: Tem vez.... Participante 3: Ah, tem alguns caso assim que é bom e tem caso que não. Porque tipo assim (pausa) é..... (passa a mão no rosto), como eu posso falar?....,é...caso de bater, essas coisa eu acho que não pode, porque quando mais você bate, mais sem-vergonha o cara fica. Participante 3: Quando mais sem-vergonha o policial bate....quando mais o policial bate, mais sem-vergonha fica, porque aí vai querer fazer isso de novo, aí não vai criar vergonha na cara (começa a contar os dedos). Outro ponto de vista lá, às vezes é bom que...pra tira, tira mais ou menos...é...tipo assim...o roubo, mais ou menos o roubo da cidade. (Diário de campo) Quando solicitados a realizar a dinâmica ““A minha comunidade hoje / a minha comunidade como a quero”, alguns participantes relataram que iria demorar mais que meia hora para realizá-la (dando a entender que tinha muitos problemas na região sul). Apresentação do grupo que descreve a região sul Pesquisador: Vocês concordam que essas situações que vocês falaram aí, ocorrem aqui na região sul (pesquisador aponta para o grupo de que como gostaria que a região sul fosse)? Certo? Todos do outro grupo concordam e dizem que sim. Apresentação do grupo que descreve como gostaria que a região sul fosse Pesquisador: Vocês acham que a região sul tem corrupção, ou não? Participante 6: Demais. Todos lugares tem. Pesquisador: Você acha que região sul é mais insegura do que as outras? Participante 3: Acho. 171 Pesquisador: Acha...Por que que você acha mais inseguro? Participante 6: É aqui também, nos países, tipo Estados Unidos, assim....esses lugares assim mais....como eu posso dizer? É...mais rico, tem mais armamento também. Tem recursos melhor para o povo tá? (pausa) Pra proteção tá? Pesquisador: Vocês acham que a região sul com mais armamento, seria uma região mais protegida ou não? Participante 3 e Participante 5 (perto): Não. Participante 6 (discorda): Seria sim. Seria mais segura sim. Pesquisador: E por que você acha que seria mais segura? Participante 6: Porque todos bandidos tem armamentos mais bons né. Até tem melhor do que os policiais. Então se os policiais tivessem reforçadamente, eu acho que seria melhor. Participante 2: Ia ter mais morte. Pesquisador: Humhum. E essa criança com essa senhora aí. O que vocês acham... Participante 6: Então, aqui fala que é um país melhor pra todos né? Participante 1: É...estradas sem buracos, que isso aqui em cima. Que foi o que agente mostrou muito aqui...buraco, tinha hora que agente queria acha um buraco (pausa). Pode fala (aponta para Participante 6). Pesquisador: Querem comentar mais alguma coisa ou não? E esse carro elétrico aí? Que que tá fazendo aí? Participante 3: Ah, tecnologia para diminuir os contrastes. Participante 6: Eu acho que tem muitas coisas pra chega nesse ponto. Só que eu acho que primeiro, primeiro é ser,ser livre para amar e aceitar o outro. Porque num ambiente que um respeita o outro, acho que é bem mais fácil de resolver problemas, essas coisas. Tipo, cê não vai roubar dele porque você vai respeitar ele, entendeu? Eu acho que isso já é um começo. Participante 1: Ah eu acho que tem que ter respei.....(começa a rir envergonhada). Tem que ter o respeito de cada um, que é tipo, igual os menino tinham falado aquela hora lá....Participante 5! Nossa que coisa! (começa a rir) (Participante 5 está filmando com o tablet).De...de construir as coisas, depois ir lá e não ter mais nada...acho que tem que ter o respeito de cada um, porque se num tiver...(olha para o Participante 5 e quase começa a rir) porque senão tiver o respeito de cada um não vai....nada vai pra frente uai. Porque sempre vai fica reconstruindo as coisa, eles vão lá e...destrói...destrói tudo mais, e....é isso aí memo. Participante 5: No meu ponto de vista, eu acho que assim, que nem elas falou que pro mundo i, pode i pra frente todo mundo, eu acho que tem que ter respeito. Não só respeito, eu acho que você sempre tem que procurar fazer o melhor pra pode não só ajudar ocê, mas sim todo mundo que tá ao seu redor. Participante 6: (Pausa) É....então, que nem aí tá falando “eu não aceito corrupção” (vai se aproximando do cartaz de como gostaria). Eu acho que....tipo, sei lá...que tem essa...quem tem esse conceito de corrupção, pega o dinheiro...,dinheiro que vai se....por exemplo virar uma estrada ou alguma coisa assim. Então se não tiver corrupção, vai ter mais....vai ter mais, por exemplo (pausa)...mais condições financeiras pra cria alguma coisa. Então se não tiver corrupção vai ser um meio para melhorar (aponta para o cartaz de como é), melhor pra todos. 172 5 Participante 5: Eu acho que sem planejamento não tem nada. Se você planejar saí tudo bem feito. Isso é o que eu penso. Pesquisador: Você acha que houve uma evolução da aula pra essa? Participante 5 (concordando): Hamham. Eu acho que teve. Porque antes a gente não tinha tanta estrutura, não tinha tanto planejamento, aí não saiu uma coisa bem feita. Mas quando tem planejamento é tudo diferente. Pesquisador para Participante 2: Você. Participante 2: É isso memo. Tem que ter planejamento para fazer as coisa, senão não vai dar certo. Pesquisador para Participante 3: Você. Participante 3: Tipo...cê vai monta...por exemplo, você vai fazer uma casa lá. Aí..cê....não, não....faz a planta, não faz nada, aí você não tem o projeto da casa que você vai fazer. Aí você vai fazer de qualquer jeito, do jeito que cê pensa. Aí vai sair tudo errado, tudo torta,...vai sair uma coisa fora do lugar. Pesquisador: Você acha que deu uma melhorada em relação ao encontro anterior? Ou você.... Participante 3: Deu. 6 Pesquisador: O que você achou de planejar? Bem mais fácil? Mais difícil? Participante 3: Bem mais fácil. O pesquisador questiona: Há traficantes na quadra? Acho que são os jogadores Todos relatam que não. Pesquisador: Mas, assim, vocês acham que se a gente for lá na quadra a gente vai ter problemas com eles ou não? Todos relatam que não. Pesquisador: Se vocês quiserem reformar as duas quadras, vocês tem que aproveitar cara. Aproveitar o momento e conversar com o Político. Participante 9: Mas a quadra do São Sebastião tá boa, cara. Participante 2: Mas a do São Sebastião reformou três anos atráis. Participante 4: Mas tipo, vai ser nas duas quadra ou só na daqui? Pesquisador: Vocês vão tentar as duas ou só uma? Começa uma discussão entre os participantes. Pesquisador: Então a gente pode...tentar as duas e falar: “ó, não, aquela quadra tá boa, mas as grades não estão boas. Será que vocês podem fazer alguma coisa pra gente ali?” Pode ser assim? Participante 2: Pode. Pesquisador: Se ela (Participante 7) quiser vir, é aquela história, ela já participou de algumas coisas e é uma oportunidade de conversar com um político, acho isso muito importante pra vocês. Pode vim conversar. Se vocês quiserem trazer alguém diferente aqui para conversar com o Político, pode trazer. Por exemplo: “tem um colega meu 173 interessado em conversar com o Vereador”, então traga ele também. É importante isso pra vocês já terem um diálogo com eles. E o político a gente tem aquela história: “Ah ele é o bambam”. Não, ele é um funcionário como qualquer outro e a gente tem que cobrar ele. 7 Político:....mas isso foi assim...a...,a grande mudança que foi dada na nossa vida foi porque...quando um pai, um pai e uma mãe que colocou essa importância de a gente a estuda, se prepara, de ir pra frente, fazer realmente alguma coisa que diferenciasse... (pausa) hoje né, hoje então eu agradeço tudo isso, né. Passei, eu, eu vi que eu tenho uma prima em Andradas-MG (município mineiro próximo a Poços de Caldas-MG e à região sul) pessoal, que é...o meu tio de Andradas-MG era médico, essa minha prima tem melhores condições, né, tinha melhores condições econômicas do que nós tínhamos. Então é, eu vivia vestida “baiavisticida”, né, a gente chama de peizida (dá uma risadinha), claro. Político: como a história linda da funcionária da escola, eu adoro aquilo ali. Ela nos contando a história dela, dos filhos dela. Adoro essas coisas. Político: Pela amor de Deus, você desce uma escada, vira pra cá, vira pro outro lado, vai pra qui é Secretária de Promoção Social, vai pra li é Secretária de Planejamento (risada). Participante 5: Uma confusão. Político: Fica perdido. Senão tiver seta, você não sabe pra onde você vai, né. Então precisa ser realmente um Paço Municipal. O Paço Municipal é isso, é o Fórum, é a Prefeitura, com todos as suas....as suas...é, é...secretarias, e no entorno deles, serviços de justiça, de trabalho, né. Político (para Participante 3 que estava levantando a mão): Você. Pesquisador: Se alguém tiver alguma pergunta... Participante 3: Se você é contra ou favor? Político: Olha, eu vou te falar uma coisa verdadeira. O Paço Municipal eu ainda não consegui tomar uma posição, sabe por quê? Eu preciso ver se essa questão de água realmente, é, acontece isso (pausa). Político: Porque o Country Club, eu tenho uma história, porque eu falei com vocês que eu era descendente, eu sou descendente de pai (PROFISSÃO), que depois montou (COMÉRCIO), foi crescendo né, todo mundo trabalha viu pessoal? Todo mundo trabalhando, na luta, né. Eee...eu aprendi a nadar no Country Club (pausa), porque lá era uma piscina pública (pausa), né. Eu aprendi a jogar tênis no Country Club, porque era público. Então vocês imaginam meu pai (PROFISSÃO) e minha mãe, eu ia para o Country Club era público, não era uma coisa que só ia gente rico. Participante 5: O cara já vai na casa do outro querendo bater nele. Não você vai corta essa árvore não sei o que. Não, eu não vou, aí começa o quebra pau. Político: Aí acontece uma coisa que eu fico indignada. A árvore vai fazer uma mó sujeira. Pô gente, a gente também faz mó sujeira, não fazemos não? (risada). A árvore faz uma sujeira que é dela. É da natureza dela, né. Então vocês veem nessas pequenas coisas? Gente, o que tem a árvore do lado? Ela tá crescendo. (pausa). Não é? É claro que se tiver batendo no telhado, se tiver atrapalhando, “Pô cara, ela tá entrando nas minhas telhas aqui, né, vamos dar uma acertadinha”. Vamos natural, não é? Participante 5: Mas eu acho que seria uma vantagem e uma desvantagem. Porque assim ó. A vantagem do Paço Municipal seria ajudar a sociedade da zona sul, todo o pessoal. E a desvantagem eu acho que seria assim, o desmatamento (pausa) e principalmente sobre as áreas que você falou. Esses tempos atráis eu tava conversando com o meu pai e meu pai falou assim pra mim: “ah, eles tão tirando muito eucalipto, essas coisas”, e meu pai falou, meu pai é muito inteligente e sabe de muita coisa. E ele falou assim, que em dez anos mais ou menos, a água estaria acabando , por causa que, eles tão retirando, é...todos os eucaliptos daqui de Poços. Aí meu pai falou: “ó”, aí eu entrei na, até esse tempo atrás eu falei pro Maurício (pesquisador), que meu pai tinha falado isso. E assim, eu não sei se isso daí poderia ser verdade sobre daqui à dez anos estar acabando com a água e principalmente se o Paço Municipal ser construído. Aí eu acho que seria menos é...menos tempo pra água acaba. 174 Participante 5 assinala positivamente com a cabeça. Político: Então para a construção do Paço realmente é necessário, assim todo mundo limpar as suas gavetas, tirar os documentos e colocar sem ranço ambientalista, sem ranço político e mostra tanto pra população da zona sul porque aí virou aquele questionamento todo, “Ah, o Paço não pode vir, mas o presídio pode vir” não é? “Ah, isto não pode vir, mas cemitério pode vir” não é? Então a, a...população é manipulada (pausa)! É manipulada! Participante 5: Aqui o pessoal fala: “ah, eu acho”, mas aqui ninguém tem certeza de nada né. Ninguém.... Político: Você Participante 4. Participante 4: Ah, eu acho que vai atrapalhar um pouco aqui porque vai virar muito movimentado. Político: Ãhn. Participante 4: Mas eu acho que vai mudar a....zona sul né. Vai dar mais valorização pra cá. (barulho de caminhão na rua atrapalha a finalização da fala). Político: É...na hora de construir vai ser movimentado. Onde né, você imagina, não tem jeito né. Mas você fala de movimento assim como? De... Participante 4: De pessoas, porque eu acho um lugar um pouco pequeno pra tudo isso. Político: Mesmo aquela área de 400.000 metros? Participante 4: Não!(inclina a cabeça para trás). Eu acho assim por causa de pessoas. Muita gente. Político: Então é trânsito né? Participante 4: É. Político: Questão de trânsito, é. Mas você não acha que a questão de trânsito é.... eles obrigatoriamente não teria que arrumar toda essa Avenida Alcoa também? Participante 4: É. Político: Porque se viesse né. Mas é um fator que todo mundo tem levado em muito consideração. (pausa). E eu achei muito interessante porque é.....muitas vezes as pessoas falam porque valorizam a casa deles. Gostei do bairro, bacana. Participante 3: Eu acho a mesma coisa. Vai ajudar bastante quem mora pra cá. Eu acho que alguém, alguém assim do centro que não tem muito, vamos dizer assim, (pausa), muitas condições, vai atrapalhar um pouco por causa pra vim pra cá, pra resolver algum, alguma coisa assim do fórum, alguma coisa lá, vai atrapalhar um pouco pra vim pra cá. Também é...essa questão de trânsito vai, porque já é muito movimentado, agora se for fazer mesmo assim, aí fica muito, mas muito movimentado mesmo, aí vai atrapalhar um pouco. Político: Isso. Questão mais de trânsito, mas não a questão do Paço se fosse possível ambientalmente vir. Você não é contra isso? Participante 3 assinala negativamente com a cabeça. Político para Participante 4: Nem você? Participante 4: Só pela questão ambiental mesmo. Político: Só ambiental? Participante 4 assinala positivamente com a cabeça. Político para Participante 2: E você doutor? Participante 2: Eu acho que, eles vai destruí lá pra construí aqui. Político: Né? Participante 2: Já tá construído lá. Eu acho que tinha que deixa lá memo. Político: Mas é isso que a gente, é isso que eu estou falando. Vai destruir o que, onde e como? Nós vamos descobrir tudo isso né, gente? Eu prometo que quando eu tiver essas informações eu vou passar para o Maurício (pesquisador), e o Maurício (pesquisador) vai passar para vocês. Porque...estou enlouquecida atrás dessas informações. Eu já 175 pedi na secretaria e já liguei pra tudo, né. Mas eu quero ver, cadê os estudos? Pela amor de Deus pra gente. Ter uma coisa palpável né. Que é claro, ninguém é contra o desmatamento. Mas há um desmatamento que também é natural viu. Eu tem horas que... dá pra ser. E você (para Participante 5)? Participante 5: Eu acho, eu sou a favor. Eu acho que deveria ser construído, mas assim, antes de ser construído deveria ser é....mas analisado, por exemplo....é...se eles construí dependendo da área, é sei lá. Mas aí tem que ver as condições do ambiente pra vê se, dá pra ser usado pra ser....feito é.... 8 Análise da conversa com o Político Participante 4: Foi boa. Participante 2 e Participante 3 concordam assinalando positivamente com as cabeças. Pesquisador: Você achou interessante a questão do Paço e da quadra (Para Participante 3)? Participante 3: Eu achei. Pesquisador: Esclareceu muito? Quase não sabia o que era Paço Municipal. Participante 3: Foi bom. Pesquisador: Foi bom. Participante 2 vai falar e Participante 4 interrompe: O Participante 2! Fala alto! Participante 2: Foi bom ué. Planejamento das quadras Participante 3 coloca que os usuários que jogarem tem que pagar: Ànoite quem quiser jogar, paga. Pesquisador: Paga? Participante 3: Humhum. Pra arrumar. Pesquisador: Então vocês acham que a gente deve formar um clube para o pessoal contribuir todo mês? Participante 2: Não, antes era assim ué. Só não sei quem tomava conta do dinheiro. Participante 3: O dinheiro lá, o dinheiro ficava, quem tomava conta da quadra. Participante 2: Não o dinheiro ficava com quem alugava. Participante 3: Ele alugava e o dinheiro ele pegava e reformava a quadra direitinho. Pesquisador: Humhum. Pesquisador para Participante 4: Você acha que essa é uma boa ideia? Participante 4: Humhum. Pesquisador: Então vocês acham que quem joga a noite tem que pagar para jogar lá? Quem joga de manhã não? Participante 3: É. Era assim ué. Hoje ninguém vê lá e quebra. Pesquisador: E de manhã? Tem alguém que vê lá? Participante 2: Não, mas de manhã ninguém vai estraga lá porque os outro vai tá vendo. Senão, depois das 9 (ou 21) assim, quase ninguém saí pra rua assim. Aí só as mulecada memo que joga bola, que fica lá. Pesquisador: Além do pessoal da noite pagar, o que que a gente pode fazer mais? Pra arrecadar dinheiro com essa quadra, manter ela? Participante 4: Tem que estabelecer um valor também né? 176 Pesquisador: Humhum. E qual seria esse valor que vocês acham justo do pessoal da noite pagar? Participante 2: R$ 3,50. Pesquisador: R$ 3,50 por pessoa? R$ 3,50 todo mundo ou....a hora? Como é que agente vai estabelecer isso? Participante 2: Não, hora não pode ser isso. Participante 3: R$3,00. R$ 3,00 por pessoa (olha para Participante 2)? E a hora põe? Participante 2: Não, tem que por a hora. Porque jogar eles jogam junto. Participante 4: Hum?? Participante 3: R$10,00. Pesquisador: Qual que vai ser o preço? Vai ser por hora? Vai ser por cabeça? Vai ser pelo que? Participante 4: Acho bom colocar por hora. Participante 2: Éé... Participante 3: R$10,00 a hora. Pesquisador: R$10,00 a hora? Todos concordam. Pesquisador: Alguém vai ficar com esse dinheiro. Vocês acham que tem que abri uma conta no banco pra coloca o dinheiro ou a pessoa que ficar responsável vai guardar debaixo do colchão? Vai fazer o que com esse dinheiro? Participante 4: Eu acho melhor abri uma conta. Pesquisador: Abri uma conta no banco? Participante 2: Ah, eu não sei. Participante 3: O Participante 5, ficar uma pessoa responsável pelo dinheiro. Pesquisador: Vocês acham que o Participante 5 é responsável? Ou não é uma pessoa responsável? O que vocês acham disso? Participante 3: Acho que nesse sim. Ficar com o dinheiro sim. Participante 2: Ah, eu não sei. Participante 4: É, porque assim, ele vai ter que arcar com isso, porque a gente vai querer saber pra onde vai o dinheiro. Participante 2: O problema é que nem o ano passado eu acho. A mina roubou o dinheiro da camiseta lá e não devolveu até hoje. Participante 4: É. Participante 2: Tem que arrumar uma pessoa responsável. Participante 4: Ou, mas o problema é que a gente tá tacando uma responsabilidade nas costas dos outros sem ele tá aqui né (para Participante 2)? Pesquisador: Porque vocês vão ter problema também. Porque às vezes a gente escolhe uma pessoa pensando que é responsável, que nem um vereador e prefeito e vai ver não é nada daquilo. Participante 4: Eu acho que o Político é uma boa pessoa, mas eu acho que o problema é o contato com ele. Pesquisador: Você (para Participante 3)? Participante 3: Também. Participante 2 também concorda. 177 Pesquisador: Que mais que a gente tem que fazer? Vocês acham que os empresários daqui iam ajudar a manter essa quadra ou alguma coisa? Patrocinar? Participante 4: Eu acho que não. Pesquisador: Não? Participante 4: Não. Participante 2: Eu acho que vai. Pesquisador: Também não. Então o que a gente faria? Teria só o dinheiro do aluguel da quadra? Sem time, sem nada? Só pro pessoal se divertir aí? Participante 3: Eu acho que sim. Pesquisador: Sim. Vocês acham que esse é o melhor caminho? Começa uma discussão, mas Participante 3 se sobressaí. Participante 3: Eu acho que é como o Participante 2 falou, até 8:30 (20:30) 9:00 (21:00) não paga. Passou das 8:30 (20:30), em diante, 9:00 (21:00), o povo começa a pagar. Pesquisador: Então esse passo que a gente tá colocando serve para as duas quadras ou só para uma? Só para a do batalhão? Participante 3: Só a do batalhão. Pesquisador: E como que seria o planejamento dessa quadra perto de vocês aí? Seria muito diferente disso aqui? Silêncio. Pesquisador: Cobrar R$ 10,00 a hora, a partir da noite? Participante 3 assinala negativamente com a cabeça. Participante 2: Não, eu acho que deveria ser mais barato, porque a reforma vai ser menos né. Participante 4: É. Pesquisador: E quanto seria o valor dessa quadra aí? Participante 2 começa a pensar em silêncio até que pergunta para Participante 3: Quanto que é aqui? Participante 3: R$ 10,00. Participante 2: R$ 10,00? Participante 3: R$ 10, 00 ou R$ 15,00. Pesquisador: O pessoal pagava R$ 10,00 ou R$ 15,00 pra joga bola lá? Tranquilo? Participante 2 assinala positivamente com a cabeça. Pesquisador para Participante 3: Pagava? Participante 3 assinala positivamente com a cabeça. Participante 4: Eu acho que o valor pode ser o mesmo? Pesquisador: R$ 10,00? Participante 2: É. Participante 3: Eu acho que pode ser o mesmo preço em tudo. Pesquisador: Então, vamos colocar aí: R$ 10,00 na quadra do São Sebastião. Pesquisador: E quem costuma destruir quadra aqui? O pessoal que usa droga? Ou pessoal que não tá nem aí com a coisa? Quem costuma destruir? Participante 2: Não é destruí. Aquelas telinha memo não guenta. Começa a chuta muito a bola elas passa. Então tem que i lá procura. 178 Participante 2: Aí a grade vai, vai, não vai aguentar o resto da vida né. Aí de ano e ano tem que trocar de grade, lógico. Pesquisador: E com esse dinheiro aí que.... Participante 2: É. Pesquisador: A gente vai conseguir vai troca as grades então. Participante 2 assinala positivamente com a cabeça. Participante 4: Vai trocando. Pesquisador: Vocês acham que a gente consegue um dinheiro legal para trocar essas grades aí ou não? Participante 3: Consegue. Pesquisador: Consegue? Pesquisador: E como que vocês imaginam que seria o fluxo dessa quadra? Todo dia eles iam jogar bola? Só no dia que tem sol? Só final de semana? Como é que seria? Participante 4: Ah, lá todo dia eles jogam bola, mesmo com chuva. Pesquisador: Mesmo com chuva. Participante 4 assinala positivamente com a cabeça e fala: Não, e não, não com chuva. Pesquisador: Vocês acham que seria interessante colocar um preço maior no final de semana ou não? Participante 2: Eu acho que não, o mesmo preço. Pesquisador: O mesmo preço? Todos concordam. Pesquisador: E quem tá com as chaves dessa quadra hoje? É a Prefeitura? Alguém vai lá e abre? Como que é? Participante 4: Não tem. Pesquisador: Não tem nada? Participante 2: É o presidente do bairro. Aí entrou o negócio de eleição e eles deixa acesa até as 10 hora (22:00), tá no horário de verão. Aí agora que acabou o horário de verão tão deixando até as 9:30 (21:30). Assim, dá 9:30 (21:30) apaga. Pesquisador: E quem vai apaga lá? Participante 2: Não, apaga sozinho. Pesquisador: Apaga sozinho. Ah, programado então. Participante 2 assinala positivamente com a cabeça. Participante 2: Mas assim, ninguém tá destruindo, tem gente entrando, mas pela informação, não tem ninguém destruindo não. Participante 4: Mas tipo, a gente falou que o Participante 5 ia fica cuidando dali debaixo né. Mas quem vai fica com a chave da São Sebastião? Pesquisador: Seria bom ter duas chaves? Se um dia um não tá aí, tem o outro pra abri né? Participante 4: É, isso que eu ia fala. Pesquisador: Porque às vezes acontece algum imprevisto, alguém vai pro hospital, acontece alguma coisa. Aí seria bom. Participante 4: E se o Político não aceita ficar com o dinheiro, aí eu acho que o dinheiro tem que ficar com quem vai fica com a chave, não é? Pesquisador: Seria... Participante 4 (interrompe): Porque seria, porque quando abri já pega o dinheiro. 179 Pesquisador: Então, vocês acham que daria certo então? Vamos pensar o seguinte, eu acho muito difícil que ela, que vocês, precisa realmente saber com que vai ficar o dinheiro. Tem que pensar toda essa história aí. Talvez seja melhor vocês mesmo ficar com o dinheiro ou que nem eu falei, abrir uma conta e presta conta pro pessoal que trouxe o dinheiro também. Porque senão vai ficar aquela coisa “Ah, ele tá ganhando dinheiro aqui, não tá arrumando nada, pega o dinheiro e não faz nada, a gente não sabe qual é a situação”. O que vocês acham disso também de prestar conta? Abrir uma conta no banco aí. Ir depositando dia a dia. Participante 4: Eu acho bom abrir uma conta no banco. Pesquisador: Você acha melhor abrir uma conta? Participante 4 assinala positivamente com a cabeça. Pesquisador: Você ainda concorda? Participante 2: Ah, eu não sei. Depende da pessoa que fo fica com o dinheiro. A pessoa decide. Pesquisador para Participante 3: Você? Participante 3: Eu não sei. Participante 2: Se a pessoa, por exemplo assim, se a pessoa quisé abrir uma conta pra ficar com o dinheiro ela abre, senão ela quisé deixa guardado, ela deixa guardado em casa. Pesquisador: Vocês acham que não seria muito arriscado ter esse dinheiro em casa? Conforme vai passando o tempo vai aumentando o valor? O pessoal fica sabendo: “Ó, eles tão ganhando bastante dinheiro ali, vamo entra na casa dele”. Participante 4: Eu acho. Eu acho que todo mês teria que ter um relatório de quem vai ficar com o dinheiro. (pausa). Quanto que arrecadou (pausa). Pra ter o controle. Pesquisador: Vocês acham que quem fica com a chave teria que elabora esse relatório? Participante 4: Hum? Pesquisador: Quem fica com a chave tem que elaborar esse relatório? Participante 4: É. Pesquisador: Vocês aí que possivelmente vão ficar com a chave acham isso também? Tem que elaborar um relatório, mostrar para o pessoal? (Diário de campo) Começa uma discussão sobre a prestação de contas. Participante 4 acha que tem que ter uma rede para não enroscar as bolas, se for cobrir as quadras. Participante 2 comenta que tem dois pombos mortos na quadra da escola e brinca que vai vender frango assado. Participante 2 também comenta que as bolas ficam enroscadas no alto. O pesquisador questiona se alguém já tinha retirado as bolas e eles relatam que não. Participante 2 comenta que já cobriram uma quadra uma vez com cabos de aço, mas ficou muito baixo e qualquer “chapéu” que fosse dar, já batia na rede Pesquisador: Você acha que tem que ter um site ou seria bom fixar na quadra essa prestação de conta? Participante 4 (coça a cabeça): Eu acho que fixar na quadra é melhor. Pesquisador: E como é que agente faz? Porque na quadra chove também. Participante 4: É. Pesquisador: E como agente fixaria alguma coisa lá? Iria fazer uma cabaninha com o dinheiro arrecadado lá? Participante 4 começa a rir. 9 Participante 4: Tem um programa que desliga as luz, certo (para o pesquisador)? Pesquisador: Hum. Participante 4: Que o Participante 3 falou. Que horário que é que desliga? 180 Participante 3 fica pensativo. Participante 4: Se eu não me engano é às 10 (22:00) não é? Participante 3: É. Pesquisador: Bom, vocês acham que R$ 10,00 é uma, um preço justo mesmo? Todos assinalam positivamente com a cabeça. Pesquisador: Finais de semana também? Todos assinalam positivamente com a cabeça. Pesquisador: Vocês acham que o pessoal iria pagar esses R$ 10, 00 aí tranquilamente? Participante 4: Ah, eu acho que sim. Pra quem vai joga à noite. Participante 4: E ali na quadra debaixo tem luz também? Não tem né (para Participante 3)? Participante 3: Não. Participante 4: Se não me engano não tem. Pesquisador: Então aqui embaixo nem tem luz também né? Participante 4: Não, aqui embaixo não. Só lá na São Sebastião. Pesquisador: Então, nesse mesmo ofício, já seria bom requisitar luzes então. Participante 4 assinala positivamente Pesquisador: Por que como vocês vão alugar uma coisa que 10 (22:00) horas sem luz? Participante 4: É. Pesquisador: Não tem jeito. Participante 4: E tinha, que tipo assim, tá uma pessoa lá na quadra enquanto eles joga, porque é....vai que eles passa de uma hora? Ou tipo.... Participante 3 interrompe: Se fico mais de uma hora paga duas. Deu uma hora, paga duas. Pesquisador: E o pessoal sairia. Participante 3: Sairia, porque não tem como jogar no escuro. Pesquisador: E quem fecharia essa quadra depois? Participante 4: É, teria que ficar uma pessoa , tipo assim.... Participante 3: Então, o Participante 2 falô que ele podia fica com a chave. Participante 4: Mas tipo ó, 10 horas (22:00), a partir das 10 horas (22:00) o povo para (pausa). Aí no caso uma hora, 11 hora s (23:00) o Participante 2 tinha que tá lá pra pode fecha a quadra (para Participante 3). Pesquisador: Vocês acham que a mãe dele iria deixar também? Participante 3: Deixa, ele fica na rua até uma hora da manhã (olha para Participante 4). Participante 4 fala baixo: É verdade. Participante 4: E eu acho que esse, essas 10 horas (22:00) aqui tá muito tarde. Pesquisador: Vocês acham que deveria ser mais cedo? 181 Participante 4 assinala positivamente com a cabeça. Pesquisador: Você acha isso também Participante 3? Participante 4: Eu acho que deveria ser umas 9:00 horas (21:00). Pesquisador: 9:00 horas (21:00)? Participante 4: Porque dia de sexta-feira eu vou pro curso. Assim que eu saio da escola eu vo pro curso. Eu vejo na hora que eu volto do curso, não tem ninguém lá na quadra debaixo. Na hora que eu volto é quinze pra 9:00 (21:00), mais ou menos por aí. Eu não vejo ninguém na quadra. (pausa). Aqui, ali no.... São Sebastião não. No São Sebastião eu sei que tem muito movimento à noite, mas ali...dia de sexta-feira pelo menos, não tem movimento à noite. Pesquisador: Humhum. Participante 4: Eu acho que esses 10:00 (22:00) tá muito tarde. Pesquisador: Você acha isso também Participante 3? Participante 3 assinala positivamente com a cabeça. Participante 4: Nesse horário o...., tá escurecendo bem mais rápido, entendeu? Que o outro horário aí. Pesquisador: O horário de verão? Participante 4: É. Não escurece tão rápido. Esse horário que tá escurece muito rápido. Pesquisador: Humhum. Participante 4: Pros outro joga bola. Participante 4: Eu acho que esse horário das 10 horas (22:00) deveria passar pras 9 horas (21:00). Pesquisador para Participante 3: Você também acha que 9 horas (21:00) é um horário legal? Ou permanece às 10:00 (22:00)? Participante 3: Eu acho que é. Pesquisador: Mas vocês acham que aproveitaria os dois horários? De 21:00 e 22:00 ou abriria 21:00 e fecharia 22:00? Participante 4: Ah....(pausa)se fosse cobrar a partir das 21:00, poderia fechar às.... Participante 3: Onze. Participante 4: Ãhn? Às 10 (22:00), porque mais de 10 (22:00) eu acho que ninguém vai jogar bola, depois das 10 (22:00). Porque lá no São Sebastião eu vejo isso. Pesquisador para Participante 3: Você acha isso também? Participante 3: Não sei. Tem que ver com o Participante 2 né. Dependendo do dia, porque tem uns moleque lá que mora perto da casa dele que joga, às vezes joga à noite assim, tem vez que dá o que...umas 10:30 (22:30), você escuta a gritaria na quadra jogando. Participante 4: Então coloca assim, das 9 (21:00) às 11 (23:00). Pesquisador: Então vai ficar três horas para vocês alugarem aí e ter uma rendinha. Pode ser então. Os dois participantes falam que pode. Todos começam a anotar. Pesquisador: E essa agenda ai, vocês vão comprar, pegar uma folha de sulfite e anotar? Como que vocês vão conversar com esse pessoal todo aí pra agenda? Participante 4: Ah, eu acho que agenda tem que compra. Pesquisador: Compra? Participante 4: Porque no Poli (poliesportivo) não vai, porque eu nem sabia que tinha treino lá. Aí se eles joga lá no São Sebastião, tipo, vai ter até um campeonato no São Sebastião. Se a quadra tiver coberta e bem cuidada, agente pode cobra um pouquinho a mais. Isso que eu penso, entendeu? Pesquisador para Participante 3: Você pensa assim também? Participante 3 assinala positivamente com a cabeça.: Humhum. 182 Pesquisador: Você acha que o pessoal deixaria de treinar lá no Poli pra treina ali perto de casa? Como é que seria isso? Participante 3: Então, pra mim é, metade fica separado da metade. Porque metade mora pra cá e a outra metade mora pra baixo. Pesquisador: Mas por que é importante reforma essa quadra então? Participante 3: Então, que nem eu te falei assim, é...agente podia até fazer assim é, uma semana o treino lá, uma semana o treino aqui. Reveza. Pesquisador para Participante 4: Você acha isso também? Participante 4 assinala positivamente com a cabeça. Participante 4: Porque na realidade tem que ficar duas chave. Uma, tipo, com o Participante 2 e outra com o Colega 1. Porque tipo assim, tou só citando um exemplo, vai que nesse dia o Participante 2 saiu ou teve algum imprevisto e está no hospital? Aí o Colega 1 vai lá e abre. Porque se tiver coisas agendadas, não pode falar assim: “ah, hoje não vai dar pra jogar porque ele tá no hospital”. Eles vai falar assim: “Ah problema é dos cêis, eu paguei, eu agendei, eu quero joga”. Pesquisador: Humhum. É seria bom não só duas, até mais né. Participante 4: É. Pesquisador: Mas teria que ter um entendimento né, porque acontece às vezes: “Ah, eu estou com a chave e meu amigo quer jogar”, o outro também tá com a chave e também quer jogar. Aí tem que haver um entendimento entre o... Participante 4: É. Pesquisador: Então prestação de conta e outra coisa que a gente chegou no último encontro aí. O negócio do S.O.S construções. Vocês falaram que tinha alguma coisa ali que não terminou ali e... Participante 4: É o banheiro. O banheiro da quadra. Pesquisador: O banheiro? Participante 4: Começaram e não terminaram. Tipo, tá em pé, mas não tá rebocado, não tá nada. Lá dentro eu nunca entrei, porque eu não sabia que era banheiro, o Participante 2 que me disse. Mas tipo assim, sabe levanta as parede e cabou? Uma portinha e um teto? Aí as porta molhô e descacou e acabo. Pesquisador: Nem destruíram e já acabo? Participante 4 assinala positivamente com a cabeça? Participante 5: Tem que quadra que começa a alugas às 6 horas (18:00), por exemplo tem quadra que é alugada desde de manhã, até de noite, mas assim, não seria o caso. Mas seria mais favorável a alugar às 6:00 (18:00) às 10:00 (22:00) também. Fonte: O próprio pesquisador, 2013 183 Em termos de empoderamento organizacional, em específico ao critério inclusão, não houve uma polarização ou instabilidade como em outros critérios apresentados, sendo prevalente a manifestação positiva deste critério entre os participantes. Ao analisar as falas dos participantes, foi verificado um destaque para a capacidade de analisar e discutir criticamente diversos temas: estabelecimentos comerciais a serem visitados pelo grupo; possível construção do Paço Municipal; problemas da região sul e o planejamento e administração das quadras esportivas do Conjunto Habitacional Pedro Afonso Junqueira e São Sebastião (Quadro 7). Em relação a possível construção do Paço Municipal na região sul, os participantes apontaram que o trânsito desta localidade iria piorar, tendo o Político rebatido esta afirmação ao colocar que as vias de acesso poderiam ser melhoradas. Outro consenso entre os participantes foi a colocação de que a construção do Paço Municipal atrairia mais violência e tumulto para a região (Quadro 7) sendo que só aceitariam a construção deste patrimônio público se não houvesse desmatamento na área de sua construção como já foi abordado no item 4.2 e, o que remete ao aspecto de segregação (BICHIR, 2006) da humilhação social (GONÇALVES FILHO, 1998) e ao aspecto ecológico do desenvolvimento sustentável (BELLEN, 2004; COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO, 1991; MATIAS e PINHEIROS, 2008; RIO+20, 2012; SACHS, 1993, 2004; VEIGA, 2008) que já foram analisados nos itens 4.2.1 e 4.2.2. Em específico à segregação (BICHIR, 2006), aparentemente os jovens se “escondem” atrás dela ao elencarem diversos malefícios que o Paço Municipal traria para a região sul. Esta postura denota uma maneira de se protegerem de uma possível “invasão” do restante do Município caso se concretizasse a construção do Paço Municipal na região sul. Nesta perspectiva, a segregação propiciada pela política e economia locais descritos no item 3.3 parece ter funcionado. Como a Participante relatou no item 4.2.1 no Quadro 5: “Tá vendo...Ah deixa eles pra lá e nóis pra cá mesmo.” Em termos ecológico do desenvolvimento sustentável (BELLEN, 2004; COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO, 1991; MATIAS e PINHEIROS, 2008; RIO+20, 2012; SACHS, 1993, 2004; VEIGA, 2008), é importante destacar que na análise e discussão dos jovens, o Participante 5 conseguiu visualizar as 184 consequências do desmatamento materializado na “ida” dos animais silvestres para o espaço urbano. Apesar desta postura preservacionista entre os participantes ser positiva, a mesma não é transposta a outras questões que também propiciam o desmatamento, bem como o consumismo, como já foi analisado no item 4.2.2. Ainda na questão ambiental os participantes colocaram que a tecnologia pode possibilitar a redução dos contrastes sociais quando explicaram a figura de um carro elétrico durante a dinâmica “A minha comunidade hoje / a minha comunidade amanhã” (Quadro 7). Esta colocação pode ter ser influenciada pelo contexto contemporâneo, no qual novas tecnologias são apontadas pelas mídias como provedoras de sustentabilidade, mas como Frey (2001) e Sachs (1993) explicam, os principais obstáculos ao desenvolvimento sustentável não são econômicos ou tecnológicos, mas sim sociais, de exercício de poder e políticos. Diante destes fatos, o pensamento destes jovens é fragmentado e partem de uma racionalização dominante de que “sustentabilidade corresponde apenas à preservação de recursos naturais”. Outro aspecto debatido pelos participantes acerca do Paço Municipal (Quadro 7) seria o seu não aceite caso a tarifa do transporte público municipal aumentasse. Este aumento pode ser interpretado como uma oposição e desconfiança também em relação às instituições públicas municipais sendo que algo benéfico para a região sul vem acompanhado de alguma obscuridade com o intuito de prejudicá-los em algum aspecto, como um possível aumento da tarifa imaginado por eles. Em relação ao aspecto econômico das tarifas de transporte público e impostos, o Participante 2 relatou na dinâmica “concordo e não concordo” (Quadro 7) que os impostos são uma maneira de “arrancar” o dinheiro deles. Este fato pode ser atribuído ao retorno (serviços públicos) desproporcional fornecido em relação aos valores arrecadados e a corrupção existente apontada na região sul pelo grupo na dinâmica “ a minha comunidade hoje / a minha comunidade como a quero”. Serviços públicos, como o Conselho Tutelar, o qual os participantes relataram ter dificuldades de utilizá-los devido a distância existente entre a região e o centro (lugar onde está localizado). Na percepção dos participantes, a construção do Paço Municipal possibilitaria um melhor acesso a este e outros serviços (disponíveis na área central do Município) pelos moradores da região sul. Esta distância afeta principalmente as famílias que mais necessitam da assistência do município, tendo em vista que estas não possuem condições financeiras para utilizar o transporte público, ou o valor do transporte 185 público afeta significamente o orçamento familiar delas. Diante deste ciclo, “tarifa do transporte público – corrupção – serviços públicos deficitários ou ausentes – necessidade de deslocamento para acessar serviços públicos em outras regiões” é explicado o motivo pelo qual a tarifa de transporte público é algo representativo para estes participantes e possivelmente para todos os residentes desta localidade. Neste sentido, se o Paço Municipal realmente fosse construído nesta região, possibilitaria o acesso aos serviços públicos e poderia auxiliar no processo de superação da humilhação social (GONÇALVES FILHO, 1998), em específico ao critério de segregação (BICHIR, 2006). Como o Participante 5 colocou: “daria atenção a todos”. Vale destacar que mesmo estes participantes estarem em oposição em relação às outras regiões do Município, houve uma preocupação com o deslocamento dos moradores destas regiões até a possível área do Paço Municipal, principalmente com os mais pobres. Nesta perspectiva foi manifestada a construção de um pensamento coletivo e a autonomia cidadã (FLECK, 2004; FREIRE, 2002; GADOTTI, 1997; JACOBI, 2005) entre os participantes. Houve também, preocupações do Participante 2 em relação a inutilização do centro do Município e do patrimônio público ali localizado (Quadro 7). O Político rebateu estas colocações ao relatar que são pagos aluguéis em vários prédios utilizados pela Prefeitura, sendo que há dificuldade de locomoção do munícipes entre os serviços públicos que estão dispersos pela área central. Neste sentido, a construção do Paço Municipal, além de possibilitar uma integração no Município reconhecida inclusive por alguns participantes, também poderia permitir a redução dos custos da Prefeitura e haveria uma melhor eficiência e integração dos serviços prestados. Apesar de ser um aspecto do desenvolvimento capitalista (SINGER, 2004), os participantes também relataram que mais empresas viriam para a região sul com a construção deste patrimônio público, o que poderia gerar mais empregos aos moradores desta região. Esta possibilidade pode ser atribuída à dificuldade dos participantes em encontrar empregos nesta localidade sendo que há uma indignação do grupo ao relatar ser mais fácil conseguir entorpecentes, como foi apontado no item 4.2.1 e o desemprego ter sido apontado como um problema nesta localidade conforme Quadro 7. 186 Diante da discussão do Paço Municipal durante os encontros 2 e 7, foi possível haver uma progressão positiva em termos de empoderamento organizacional (PERKINS e ZIMMERMAN, 1995) e permitiu o acesso a um possível parceiro (Político) dos participantes, o que remete ao empoderamento comunitário e ao empreendedorismo social, apesar do parceiro ter apresentado uma desvio de sua função ao não atender a reivindicação do Participante 5 analisado no item 4.2.1. Outro ponto importante da discussão e análise do Paço Municipal foi a possibilidade de trabalhar com a racionalidade (TASSARA e ARDANS, 2003), importante para a viabilização de uma participação emancipatória. Em relação aos problemas identificados na região sul (Quadro 7), que podem ser considerados como o fomento da competência percepção de oportunidades (DORNELAS, 2007; LENZI, KIESEK e ZUCCO, 2010) sendo que inicialmente, como foi descrito no item 4.2.3, os participantes “terceirizaram”, os causadores dos problemas desta localidade, mas no decorrer das discussões foram gradativamente reconhecendo o seu papel na problemática, principalmente nas temáticas do lixo e depredação do patrimônio público. Em específico a depredação do patrimônio público, o diálogo entre o Político e os participantes auxiliou no fomento de uma cidadania relativa à consciência de conservação, como será melhor detalhado no item 4.3.3. Os buracos nas avenidas e ruas da região aparentou ser um problema que incomodava os participantes (tendo aparecido diversas vezes em suas falas) tanto pelo estrago que causava nos automóveis, quanto pelo perigo de se machucar ao se locomover por estas vias. Os participantes também consideraram os ciganos como um problema na região sul, sendo que na percepção deles este grupo possui recursos financeiros e patrimônio para aquisição de vários objetos que solicitam aos moradores desta localidade. Os ciganos não são classificados como “bons”, “ruins”, “sacanas” e “não sacanas” pelos participantes, que os consideraram como “barraqueiros” e criadores de confusões com os moradores da região. Por outro lado houve uma preocupação do bem-estar destes ciganos que residiam em um barranco próximo a um supermercado da região sul, sendo que os participantes consideraram um lugar arriscado devido ao perigo de se machucar, às doenças decorrentes do lixo ali depositado e pela ausência de saneamento básico, o que demonstra mais um sinal de manifestação da autonomia cidadã (FREIRE, 2002; FLECK, 2004; GADOTTI, 1997; JACOBI, 2005) e o início da construção de um pensamento coletivo. 187 A Participante 6 estabeleceu uma relação “mais armamento=mais segurança na região sul”, que segundo ela, os bandidos possuíam armamentos melhores do que os policiais locais. Já os participantes 2 e 5 rebateram este posicionamento da Participante 6 e estabeleceram outra relação “mais armamento=mais mortes” na região sul. Nesta perspectiva, talvez pela relação instável entre traficantes e policiais nesta localidade, apontada pelo grupo e analisada no item 4.2.1, mais armamento significaria uma “guerra” entre os dois grupos, de maneira a resultar óbitos em ambas as partes. Nesta discussão os participantes 2 e 5 deixam a racionalização dominante colocada pela Participante 6 e utilizam da racionalidade ao estabelecerem a relação “mais armamentos=mais mortes”, o que é algo positivo em termos de empoderamento organizacional (PERKINS e ZIMMERMAN, 1995). Apesar da Participante 4 ter elencado questões como sinalização, enchentes, mendigos, poluição, estes temas não foram discutidos pelo grupo (Quadro 7). A questão da enchente está apresentada no item 3.3. Para uma região ideal, os participantes chegaram ao consenso durante a dinâmica “minha comunidade hoje / minha comunidade amanhã” que é necessário respeito entre os moradores, ao patrimônio público e aos bens dos moradores (não roubá-lo ou furtá-lo). Neste sentido, houve um deslocamento do discurso individualista para um discurso coletivo, como aparece nas falas finais do encontro 3 (Quadro 7). Nesta perspectiva há um desejo de coletividade destes jovens na região sul sendo que extrapola em nível de nação quando consideram que em um país ideal, todos seriam incluídos inclusive as crianças e os idosos. Neste sentido, as discussões e análises, apesar de não terem convertidas em ações ou em um planejamento estratégico devido à limitações desta pesquisa, as mesmas foram essenciais para a busca de racionalidade (TASSARA e ARDANS, 2003) entre os participantes do projeto. Em contrapartida, em relação ao planejamento e administração das quadras houve um planejamento estratégico, não concretizado por aspectos individuais dos participantes e principalmente pelo ambiente adverso da região sul em termos de empoderamento comunitário (HOROCHOVSKI e MEIRELLES, 2007; PERKINS e ZIMMERMAN, 1995) que será discutido e analisado no item 4.4. Neste planejamento estratégico estimulado pelo pesquisador, houve discussões acerca do preço a ser cobrado; dos horários de funcionamento; prestação de contas; e do dinheiro arrecadado para manter e conservar as quadras. 188 Alguns fatos curiosos surgiram em relação ao planejamento estratégico (Quadro 7). Mesmo com a possibilidade de uma maior frequência aos finais de semana, os participantes decidiram que não iriam elevar os preços nestes dias. A questão de quem ficaria com as chaves também foi discutida diversas vezes pelos os participantes, muitas vezes sinalizando uma fuga de responsabilidade dos participantes. Os participantes também perceberam que o final do horário de verão interferiria no aluguel das quadras, tendo em vista que anoitece mais cedo sendo que no planejamento elaborado pelo grupo consta que teriam que conversar com o programador das luzes para a reprogramação do horário de acendimento. Diante do que foi exposto em relação às quadras, diferentemente dos projetos de vida, os participantes conseguiram realizar um planejamento estratégico, o que remete à uma competência empreendedora (DORNELAS, 2007; LENZI, KIESEK e ZUCCO, 2010), além de remeter ao empreendedorismo social (MELO NETO e FROES, 2002; NEVES, GUEDES e SANTOS, 2010), tendo em vista que o objeto trabalhado pelo grupo eram as quadras. As discussões e análises demonstraram que o grupo soube lidar com os conflitos, sendo que em momento algum houve alguma agressão física ou verbal durante as argumentações dos participantes acerca desta temática. Em termos de integração, não houve problema entre os participantes. Em nenhum momento houve alguma manifestação de exclusão do colega durante as dinâmicas ou tarefas solicitadas. Em específico, as entrevistas com empreendedor, a não participação de todos os participantes denotou mais uma falta de organização dos grupos do que uma exclusão. Já o pesquisador, começou a ser considerado como um membro do grupo a partir do segundo encontro, mesmo assim não por todos os participantes, como o fato ocorrido no lanche do segundo encontro, no qual a Participante 1 colocou refrigerante em todos os copos, menos do pesquisador. Mas ao longo do projeto “Minha Pipa, Nosso Céu”, todos os participantes passaram a considerar o pesquisador como um membro do grupo. Esta exclusão inicial, pode ser atribuída também a desconfiança dos participantes acerca do pesquisador. Outro fato que demonstra isso, ocorreu nos encontros iniciais, nos quais enquanto o pesquisador não ingeria nenhum dos alimentos do lanche primeiro, nenhum participante ingeria nada. No sexto encontro, o pesquisador tentou reintegrar os participantes que haviam abandonado o projeto, solicitando que os participantes presentes os convidassem para conversar com o 189 Político. Mas não houve resposta dos participantes ausentes e estes não compareceram ao encontro subsequente. Em relação ao Político, houve uma demora até que os participantes o considerasse como um membro do grupo. O próprio Político tentou se integrar ao grupo ao remeter, várias vezes, a sua infância de limitações financeiras. Neste sentido, é possível afirmar que houve um préjulgamento do político (como nas falas iniciais do encontro 7, Quadro 7) acerca da situação financeira dos participantes do projeto, na interpretação do pesquisador, como já foi abordado no empoderamento individual. Outro momento em que o político tenta se integrar ao grupo é quando relatou que conversou com uma das funcionárias da instituição escolar, o que demonstrou uma disponibilidade de acesso. Um terceiro momento em que o político tenta se integrar ao grupo foi quando o mesmo serviu o lanche aos participantes. Mesmo com este préjulgamento, todas as estratégias de integração utilizadas pelo Político permitiram que ele fosse considerado como um membro do grupo pelos participantes. Vale destacar que em alguns momentos o Político foi considerado como um “salvador da pátria” (OLIVEIRA, 2004) e um “agente terceirizado” de soluções (BARBOSA, 2003; LEMOS, 2005) nas discussões sobre quem ficaria com o valor arrecadado pelo aluguéis das quadras. Para os participantes, quem deveria ficar responsável pela posse do valor deveria ser o Político. No decorrer dos encontros esta consideração foi desfeita e alguns participantes aceitaram esta tarefa. Diante dos fatos expostos, esse critério foi o que menos apresentou instabilidade. Neste sentido, o projeto “Minha Pipa, Nosso Céu” pode ser considerado como um instrumento pertinente à inclusão, principalmente no aspecto de análise e discussão critica de maneira a propiciar uma progressão em termos de empoderamento organizacional (PERKINS e ZIMMERMAN, 1995). 190 4.3.3 Confiança A partir dos dados obtidos por esta pesquisa, apresenta-se o Quadro 6: Quadro 8 - Confiança Confiança Encontro 2 Há Pesquisador: Beleza, porque como pesquisador, eu tenho que respeitar os posicionamentos de cada um. Até o final do curso, cada um aqui vai estar falando legal, vai estar formando ideias. A gente vai ter muitas dinâmicas e coisa para ser feita ainda. Agora, o que eu falar... é...nossa sociedade brasileira realmente é individualista (com base na revisão bibliográfica) apesar do pessoal lá fora achar que a gente é muito bacana, ajuda todo mundo...mas quando se fala em dinheiro, realmente é difícil...um ajudar o outro...então qualquer empreendedor, que vocês virão a ser, ou empregados, vocês vão ouvir muito não, mas é muito mesmo. Por isso que todo empreendedor tem que ter resiliência. O que é isto? É uma fortaleza para aguentar “os não”. Porque até os melhores empreendedores do mundo ouviram muitos nãos. Participante 3 resolve ler: O empreendedorismo é um ato de criar e gerenciar um negócio, assumindo riscos em busca de lucros; Transformar uma ideia em realidade; Identificar uma oportunidade; Contagiar pessoas com suas ideias; Estar pronto para assumir riscos e aprender com os erros. Conhecer profundamente o que faz; Amar o que faz se dedicando ao máximo a sua atividade e sempre buscando novos caminhos que o leve ao sucesso em empreendimento; Empreender é fazer algo novo, criativo e ou diferente, inovador com objetivos de criar riquezas para o individuo e adicionar valor para a sociedade. Participante 6 (coloca a mão no rosto e retira): Ai meu Deus do céu.... Aí.... é....(começa a ler e depois começa a falar: o empreendedorismo é o ato de criar novos negócios e sabendo também que pela frente não vai ter só coisas boas, vai ter riscos também que vai ter que assumir também. É conhecer profundamente a sua profissão e gostar do que faz (braço esquerdo na nuca) porque senão não adianta nada né. Ter uma profissão e não gostar do que faz. Abre a folha e dá uma lida: O empreendedor.... (passa a mão no cabelo várias vezes e dá uma risadinha) (pausa e começa a ler) (fecha a folha, pausa e recomeça a falar passando a mão no cabelo)ééé (um suspiro)....se dedicar ao máximo também pelo que faz, ter ideias criativas (mão esquerda na nuca) e é só isso (risadinha e mão no rosto). Participante 1 (braços cruzados e olhar para baixo): A pesquisa eu não fiz, mas no meu ponto de vista, eu acho que empreendedorismo é tipo ummm...mercado diferente. Como aquele cara lá que virou um empreendedor é...alugando um banheiro. Eu acho que é um mercado diferente, mas também...pode ser, é...igual aos outros. Mas eu acho que o...a alma do empreendedorismo é um mercado diferente. Participante 2(retira as mãos do rosto): Ah eu entendo empreendedorismo (fala embolada) como tipo montando parcerias, essas coisas. Participante 5: (com as duas mãos esfregando) Assim...eu...no meu trabalho hoje, um exemplo, no lava-jato do meu pai. Aqui na... no Conjunto e nem nos outros bairros, que eu conheço, não tinha nenhum...nenhum lava-jato. Então ficou mais fácil do meu pai abrir um comércio, alguma coisa. Só que assim, quando ele foi montar... não foi por causa que não tinha comércio nos outros bairros que ficou mais fácil. Mesmo assim, ainda teve risco, por causa da onde ele queria montar não podia. Tinha que ter muitas documentações. Tinha que ter...tudo diferente. Então...é...independente disso, tem muitos riscos. Mas mesmo assim ele soube lidar com isso e isso também é...gerenciar...sem ter dores de cabeça, nem nada. 191 Participante 6 (balançando a cabeça negativamente):(Pausa) O pai dele (participante 5) então é...como se fosse um empreendedor né...porque...fez tudo isso. 4 Entrevista da Participante 6 01 – Por que decidiu abrir uma empresa? 01 – “Eu decidi abrir uma empresa em 1°lugar porque eu não queria permanecer trabalhando de empregado, e a partir do momento que eu comecei a escrever uma função que eu realmente gosto me determinei a abrir meu próprio negócio.” (disse) 02 – Como obteve recursos financeiros? 02 – “Realizando alguns serviços à vista e com a ajuda da minha família que esteve me apoiando, e acreditando que este sonho e objetivo poderia ser realizado.” (orgulhosa) 03 – Alguém o ajudou na abertura da empresa? 03 – “Minha família me ajudou, pois quando eu tive a ideai de abrir o meu próprio negócio não estava com os objetos necessários todos disponível, então foi prudente pedir uma pequena ajuda.” (sorriu) 04 – Quais foram as dificuldades encontradas? 04 – “A maior dificuldade foi concerteza a falta de dinheiro, para obter as pessoas para começar o trabalho, para o alimento e para a hospedagem”. 05 – Quais foram os erros que você cometeu? 05 – “Um dos maiores erros foi confiar nos outros, apenas na palavra sem registrar no papel ou em recibo, com certeza foi um grande erro”! 06 – O que você faria diferente hoje se estivesse prestes a iniciar o seu negócio? 06 – “Certamente hoje eu me prepararia financeiramente, como com peças, acessórios etc. bem reservado para conseguir progredir melhor” 07 – Como é o seu relacionamento com os seus clientes e fornecedores? 07 – “Excelente, nós nos comunicamos por email, por telefone, em reuniões, procuramos sempre atender a todos com muita simpatia e claresa, para sempre levarmos nosso nome a diante e assim continuar crescendo” 08 – Como é o seu relacionamento com a comunidade? 08 – Tenho facilidade de aprender e desenvolver meus trabalhos, a facilidade de comunicação e a alta amizade com os clientes me ajudaram muito em relação a comunidade” (sorriu) 09 – Hoje, se você não fosse um empreendedor e tivesse uma oportunidade de abrir um negócio, você abriria novamente? Por quê? 09 – “Sim eu abriria, porque nós temos que tentar nos desenvolver ao longo da vida, procurar subir de degrau em degraus sem pisar em ninguém e construir nossos sonhos, realizar projetos e assim construir um nome, e também uma carreira para que nossos pais, filhos e comunidade tenham orgulho de nós e de nossos trabalhos”. Criado pela Participante 6: 192 10 – Durante a entrevista podemos afirmar que esta empreendedora é honesta, simpática e pença (pensa) muito no melhor para os outros; Conhecemos um pouco sobre os princípios de seus sonhos realizados e aprendemos como tratar os clientes. Nós terminamos á entrevista muito satisfeitos por termos sido tratados bem, nos divertimos ouvindo alguns apelos que ela teve no início da sua carreira, e sorrimos bastante; Uma experiência nova que foi muito emportante para nossos conhecimentos. 5 Entrevista dos participantes 3 e 5 Participante 5: Ele falou assim....ah, sempre que os pontos são diferentes lá nos pontos que vai monta. Aí eu perguntei pro meu pai: “mas foi difícil?”. Ele falou assim: “ó Participante 5” (pausa) “foi e não foi”. Ele falou que foi por causa...que ele já tinha tudo esquematizado, tinha tudo organizado. Aí o que foi mais difícil foi construir na....(pausa)...é (tentando se lembrar) na esquina praticamente, onde que...antes era uma casa. Aí teve que é....pega....compra a casa pra pode destruí...então isso...é que dificulto um pouco, mas assim, fora isso, ele não teve nenhum problema pra (pausa) monta, nem nada. Pesquisador: E você Participante 3? O que você achou do pai dele? Participante 3: Foi bom. Pesquisador: Mas você achou que apontou alguma coisa diferente que você nem imaginava assim? Uma coisa que te falou que te impactou, diferente ou não? Participante 3: Não (pausa). O que ele falou de diferente. Você vai quere montar um negócio, você quer montar supermercado. Então tem uma casa, você tem que destruir a casa, compra um fios, éé...passa os fio, é como é que fala, passa uns fio com eletricidade, senão você pega e pode causa algum problema e vim pra cima de você. E como é que fala? Precisa de dinheiro pra o que você quiser montar. Participante 5: E ele falou assim, por todas as pessoas que eu conheço, que são empreendedoras, tem comércio, pontos de venda, essas coisas. O meu foi o mais fácil para pode monta. Porque meu pai tipo assim, não demorou muito tempo pra monta, nem nada. Os outros não. Os outro já tiveram um pouco mais de dificuldade por causa do lugar, por causa da estrutura, por causa de...de diversas coisa. Meu pai não. Meu pai foi bem mais fácil pra ele monta o lava-jato. 7 Político: Isso aqui quem mandou fazer foi o Doutor Marcos Cunha (pega um folheto do projeto do Paço Municipal) né, porque no ano passado foi um ano qu e escolheu esse terreno na zona sul, pra se trazer o Paço Municipal. Então o....Maurício (pesquisador) virou e falou assim: “Ah Político, vocês precisam agora trazer os vereadores pra virem fala com o pessoal, porque o pessoal não sabe o que é Paço, não sabe as vantagens”. Eu falei assim: “Maurício (pesquisador), se trouxer agora, tem te trazer um assim, um que é favor ao Paço Municipal na zona sul e outro que é contra. Político: Isso aqui, quem fez isso aqui (olhando para o folheto) foi o Doutor Marcos Cunha, que é um juiz da nossa cidade, que é favorável que o Paço Municipal seja aqui. Essa área aqui tem 400.000 metros. E ela foi divida para receber o Fórum, a Prefeitura, o Tribunal Regional do Trabalho e o centro de convenções, o ExpoMinas, que eu vou achar para vocês aqui que é o J (olha para o folheto). Que é esse aqui ó (aponta no folheto), que é o centro de convenções, né, aqui (aponta no folheto). Político: Vocês conhecem o Oscar Niemeyer? Participante 5: Aquele que construiu é....país. Político: Brasília. Participante 5: É isso, Brasília. 193 Político: Beleza. Oscar Niemeyer é um dos maiores arquitetos que faleceu no ano passado, com cento e poucos anos... Participante 2: 104. Político: é verdade (olha para Participante 5, pensando que foi ele que falou). E ele fez todo o traçado de Brasília, a...a igreja da Pampulha em Belo Horizonte-MG, então os traços dele, são traços muito avançados de Arquitetura, e ele é conhecido por isso, por esse traçado pra esse Paço aí (aponta para o folheto). Então é a mão do Oscar Niemeyer aí. Aí o outro é? Político: O fórum é onde tem lá os juízes, né...que é lá no centro da Pernambuco (rua da área central). Político: Então, aí vai vim todos, toda essa...Ministério Público, essa...Tribunal Regional do Trabalho. Tribunal Regional do Trabalho é aquele que quando vocês saem lá para Francisco Escobar (escola de outra região do município), então, ele viria para cá. O Fórum que ela (Participante 4) leu aqui é aquele que tá lá na Pernambuco (rua do centro de Poços de Caldas-MG), então viria para cá, né. A Prefeitura que fica lá no centro, com os serviços que ficam lá no Complexo Santa Cruz (prédio localizado próximo ao centro do município), tem espelhado para cidade toda, viria toda pra cá. (pausa). Tudo pra cá. Funcionaria todas as secretarias, todos os serviços seriam aqui. Então não poderia mais alugar esse monte de casas que tem por lá, né. E o ExpoMinas, que é um sonho antigo de Poços de Caldas-MG, um centro de convenções, vai ser numa área gigantesca assim, congressos, salas para congressos, restaurantes para encontros. Porque Poços de Caldas-MG tem muito esse lado de turismo para negócios, né, de recebe. Político: É, não cabe. Tá difícil. Isso aí é o problema da....da empresa que quebrou, foi, tem sido licitado tudo de novo. O serviço público é muito demorado (pausa). Sabe, as leis realmente para evitar que haja desvios de recursos, elas são tão rígidas, que tem hora que a gente brinca que tem hora que fecham as mãos, mas esquecem dos outros dedos. Aí saí pelos vãos dos dedos. É igual a você pega uma massa de pão, assim e faz, né (aperta a mão como se estivesse uma massa de pão). Segura a massa, mas ela vai estorando aqui ó, sabe gente. Então isso aqui (olha para o folheto), viria para zona sul. Tudo isso aqui é zona sul. Então foi criado toda essa expectativa aqui ó, de tudo isso ser aqui. Aí, parte dessa área aqui que foi votada lá na Câmara, foi visto, foi levantado, é discutiram e vou falar uma coisa pra vocês eu consegui ao menos da Câmara, que me pediram, que eu pedi lá, pra que pudesse é...quais são as imperfeições ambientais. Então na Câmara Municipal tem o trabalho dos engenheiro perfurando, que segundo o pessoal que é ambientalista, eles dizem o seguinte, que.... aqui as nossas rochas, né, vulcânicos, as nossas águas elas correm assim muito nas rochas. Em determinados lugares aqui, eu não sei falar pra vocês, na onde é, porque eu não cheguei a receber nenhum mapa da onde estão esses locais da onde não poderiam ser construídos. Não, não cheguei a receber. Já fiz solicitação, já recebi um laudo da secretaria, da Secretária, mas é um laudo dela, pessoal e não coisa assim científica. Político: Normalmente o seguinte, se nós temos o sistema o nosso sistema de lei, é, nós temos que preparar o orçamento desse ano para o ano que vem, tá certo? Participante 5: Ahã. Político: Então nós temos leis de Diretrizes Orçamentárias e nós temos os Planos Plurianuais, vocês vão ler isso aí, porque vocês como cidadãos participantes, vão ter que saber. Então se, se a Prefeitura aprovasse, entraria agora no orçamento, pra começar, iniciar a construção possivelmente em meados de 2014 e continuar 2015 e 2016. Isso seria o prazo, porque essa construção é muito grande. Mesmo o Fórum querendo ir lá para o Horto, agora, no Country Club. Ele precisa entrar agora, pra em 2014 ele receber a verba, praticamente pra ser construído em 2015. Participante 5: Nossa! Político: É. Então não é coisa assim que a gente acha que vai ser rápido, porque não vai ser. Mas nós temos, vocês já ouviram falar de Plano Diretor, né. O Plano Diretor, que são as diretrizes de como a cidade vai crescer, eles indicaram que a zona de adensamento de Poços de Caldas-MG vai lá para Oeste (zona). Aquilo lá, Maria Imaculada, Country Club (bairros) lá. Então esses é um dos argumentos, que estão dizendo, que eles não querem adensar para cá. Eles não querem construir mais para cá (pausa), né. Então se a zona, o Plano Diretor, mas isso não importa, a mudanças de políticas se são necessários, tem que ser feito. São somente diretrizes, desde de que esse estudo tenha sido feito 194 realmente (passa a mão na folha do paço) para não causar dano nas nossas águas, porque aqui no solo, segundo eles, estou falando mesmo, segundo eles (postura mais firme), segundo a Secretária, é um documento, que ela passou dela, não como secretária, mas como uma ambientalista, que ao fazer as perfurações, que são prédios grandes, então vai furar a rocha e realmente a água pode secar né. Porque aí não desvia e pode secar. E uma parte da cidade, pode realmente não manter as zonas de recarga, não receber essa água. Mas é uma coisa interessante, porque ninguém sabe me explicar até agora. Eu sou Político hein. Eu to lá dentro. Então eu pedi os documentos da Câmara. A Câmara o que tem, perfuração do solo (faz gestos de perfuração) assim. 7 metros, 3 metros, 6 metros e dizem realmente que alguns locais dessa área aqui apresentam água em profundidade de 3 metros, em outros...mas se alguém dizer assim: “Mas aonde aqui?” (passa a mão no folheto) (pausa). Eu não sei falar para vocês. Eu que estou lá dentro, me informando. Então a grande questão é política agora, porque isso tudo viria pra vocês. Vindo isso tudo, é óbvio que a expansão dessa região....nossa, quadruplicaria pra falar a verdade, né. Participante 5: Mas na minha opinião assim, onde seria construído o....o Paço Municipal? Seria aqui na zona sul, mas em qual local? Político: É, é ali ó, próximo do coisa da Mãe Rainha (santuário religioso), aquele lado ali, é uma área ali, certo? Participante 5: Aham. Político: Aqui teria comunicação com lá. Com rodovia ali, né. Mas pegando aquele lado pra cá. Porque ali foram comprados e foram doados, quatrocentos e tantos mil metros. Então como o Prefeito já falou que não constrói Prefeitura aqui, por essa questão ambiental, né. A única coisa que vamos ter aqui é isso aqui, é o centro de convenções. Que o Governo do Estado, sexta-feira agora, Político A junto com o nosso Político Y, né, comprometeu-se que vai segundo eles aqui não tem. E já que nada vai ser construído aqui, vai ser um parque ecológico maravilhoso, né. Então o centro de convenções que é um lugar gigantesco. São 150 mil metros, não pense que é pequeno, se alguém já foi a Belo Horizonte-MG e viu o que é a ExpoMinas, vocês não fazem ideia dentro vai ter mais de trinta tipos de restaurantes, é possível ver, é possível, nossa, é gigantesco. Vai valorizar a área? Sim, vai valorizar a área. Pra nós então vai valorizar duas vezes. Porque se o resto não pode ser construído, vai ser uma área fantasticamente preservada, né. E aí o Paço Municipal é outra história, que tem que vir agora com o Prefeito, com os Secretários, com nós Vereadores, pra ver. Porque Poços de Caldas-MG não comporta mais a Prefeitura no centro. (pausa). Não tem jeito né pessoal. Político: Olha, eu vou te falar uma coisa verdadeira. O Paço Municipal eu ainda não consegui tomar uma posição, sabe por quê? Eu preciso ver se essa questão de água realmente, é, acontece isso (pausa). Acontece isso (pausa). Eu não acho informações oficializadas, as únicas, e aqui em Poços é...assim, criou-se um grupo (começa a passar o folheto para os participantes). E aqui em Poços, nós temos assim, um grupo de ambientalistas que falam que se construir mesmo, vai (pausa) vai causar um dano irreparável em nossa cidade. Tem outros que dizem que não, porque foi feito um estudo antes disso. Eu não achei esses estudos! (pausa). O que eu achei de estudo, foi somente pela Câmara Municipal, uma empresa de engenharia que perfurou. Mas eu não sei e falar se perfurou aqui ou aqui (começa a apontar os dedos no folheto), entendeu? Eu não sei te falar. (pausa). Então há um estudo, então me mostre, que eu sou uma pessoa assim, eu não tenho medo de me informar. O que eu não sei, eu vou, eu pego o texto que não sei, eu vou atrás de alguém que saiba pra me falar. Tanto é que quando eu peguei um texto que me entregaram na Câmara, era um camalhaço deste tamanho (faz um gesto demonstrando tamanho) explicando toda a licitação, né, para fazer esse tipo de empreendimento, eu levei uns dois bons dias para ler tudo (risadinha). Aí eu entrei no laudo técnico e li perfuração do solo, eu fui....à um amigo meu que é engenheiro e falei: “O que está dizendo aqui?”, “O que significa isso?” Porque eu não intendia, (pausa) né. Então eu não tenho medo de informações. Então é, se realmente, pegar essa estrada e todo mundo, que é isso que deveria ser feito e falasse agora: “pelo bem da cidade, já que é todo mundo cobrando, oposição, situação, pela Poços de Caldas e negócios assim, quero os estudos da área do Paço Municipal”. (pausa). Então nós vamos disponibilizar, puft (gesto de como se jogasse um tanto de folha em uma mesa), tudo aqui. (pausa). Aí vamos todos pudéssemos ler, todos pudéssemos emitir nossa opinião. Aí eu poderia dizer para vocês se eu sou favor ou contra. Hoje, o que eu sou a favor, eu sou a favor do centro de convenções, não é porque eu sou do Partido X não. Porque a área teve realmente um estudo e não há impacto, essa área teve, o governo do Estado mandou. O pessoal fala assim: “Ah, ficaram mandando um pessoalzinho lá da Universidade de Ouro Preto-MG, isso é tudo enganação”. Não, é Doutor Paulo Scudino, esse é o nome do professor que veio, que fez pelo governo do Estado esse levantamento e realmente comprovou que no centro de convenções não há impacto. 195 O Político começa a falar sobre a doação do terreno do Horto Municipal para a construção do Fórum: O Horto eu realmente não acho que seja o melhor lugar. Porque a avenida, já é uma rua estreita, não é? Bairros residenciais lá vão começar a ser prejudicados. “Ah, mas é uma área que ninguém ocupou”, mas ninguém precisa ocupar todas as áreas (pausa), por que a gente tem que construí em tudo? Por que a gente não pode deixar uma parte da área intacta? (pausa) Né? Então eu conversava até com o Maurício (pesquisador), que falava assim: “Precisa é retomar o Country Club (clube público). O nome é bonito né, Country Club, né, mas era para a população de Poços de Caldas-MG. (pausa). Então quem tá ocupando lá é a Secretaria da Prefeitura de Serviços Públicos que tá lá. Tá na hora de retomar o Country Club, como espaço comunitário, né, até daquele pessoal, nós temos o bairro Maria Imaculada (bairro), eu trabalho, perto da Pontifícia Universidade Católica (PUC) ali. Trabalho muito, tem muitos jovens, tem muitas crianças, que não sabem, que não sentem a vontade de usar o espaço público. Sabe por quê? A gente é..., quando a gente fala assim, agente não sabe o que é privado e o que é público. Vocês sabem a diferença? Por exemplo, essa sala aqui é privada ou ela é pública? Participante 2 e Participante 5: Pública. Político: Pública de direito, ela é pública. Pública porque ela é da Secretaria, né, de direito, da Superintendência, do Estado. E ela é pública porque ela pertence a todo mundo que está aqui. Ninguém é dono dessa cadeira (começa a apontar), nem dessa, nem dessa sala. Então é um espaço público que nós vamos estar aqui como professores e alunos trabalhando. Agora, entrou na porta de sua casa, aí é seu espaço privado. (pausa). Por isso essa discussão tão grande que a gente faz para o pessoal de falar assim: “Olha é....”, os orelhões. Vocês veem quantos orelhões quebram, estoram lâmpadas né (olha para o poste da rua próximo a escola),atrás aqui estou vendo uma lâmpada que não existe ali, que o pessoal né, já quebrou. Então quando a gente fala isso, nós tamos falando dessa falta de,de,de cultura nossa, de educação mesmo, de nós brasileiros, entre o que é privado e o que é público. Porque quando um cara quebra uma lâmpada (aponta para o poste) que depois o Departamento Municipal de Energia (DME) tem que vir (aponta para a escola com o dedo para baixo e faz uma pausa), ele tá infrigindo, ele tá entrando no nosso direito, de termos iluminação pública (aponta para o poste novamente).(pausa). Não é? Nós todos vamos pagar. Todos nós vamos pagar. (pausa) Então não é só um que vou pagar, todos vão ter que pagar porque vai ter que ver quanto custa uma lâmpada nova. Então, é essa escola que o pessoal picha a escola toda, o governo vai ter que mandar dinheiro para tinta, então toda a sociedade vai ter que pagar (pausa). Então senão picha a escola, não destrói e o dinheiro pode vir para outras coisas. Participante 5: Os impostos a cada dia cada vez mais aumenta, na realidade. Político: Total, total, né. Nós temos impostos diretos e indiretos, né. Os diretos são aqueles, você tem carro no seu nome (para Participante 5)? Você é menor de idade, claro que não vai tê. Participante 5: Não. Político: Você fala não, então você não paga imposto, não paga Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), não é verdade? (pausa). Você tem alguma casa no seu nome? Não, você não paga Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), não é? Mas o indireto, é aquele que você pagou quando comprou essa blusa (aponta para Participante 5), quando ele comprou aquela blusa, o boné, o tênis, a calça (aponta para Participante 2). Então se alguém perguntar assim para vocês: “alguém paga imposto aqui?”. Pode fazer todo mundo assim ó (o Político levanta a mão). Mãos para o alto. Todos pagamos impostos. Participante 5: Até na bala que você compra, você paga imposto. Político: Tudo...tudo. Porque o indireto é sobre o consumo, né. Então tudo que nós compramos e possuímos tem imposto embutido (pausa). Então não tem jeito de fugir. E aí quando começa a má utilização do dinheiro, né, e eu não digo para você (Participante 5) que não há má utilização do dinheiro, porque existe. Político: É uma coisa natural, né. Nós estamos ficando muito individualistas, né. Por cê vê o pessoal briga por causa de meio metro de muro. Você nossa esse cara. A árvore que passa na casa do outro (gesticula como se uma árvore passasse por cima de um muro que dividiria duas residências). Político: O que pode vir é os serviços, de saúde no município para atender esse complexo todo aqui, né. Mas o Hospital Privado não. O Hospital Privado não poderia vir. A não ser que fizesse algum tipo de acordo com um posto avançado, né, de concessão de serviço. Mas ela é privada. Aqui tudo essa área é para bens públicos, seja do Estado, do Tribunal, da Prefeitura, né. E o centro de convenções que é do governo do Estado. 196 Político (passa mão no óculos): Claro (pausa). É...Poços de Caldas-MG é assim chamada cidade das águas, das flores, tudo, mas nós temos é....ah, não vou mentir, rios muito pequeno, né. Tanto é que nós trabalhamos com assembleias de energia elétrica, mas nós não temos como construir grandes usinas porque nós não temos um grande volume de água suficiente. Agora o que seu pai tá falando é...é o seguinte. O....o, como chamava ele? (pausa) O eucalipto, ele tem sido plantado, o eucalipto não é da nossa região. O eucalipto pega essa área toda quando você vai pra Mãe Rainha (templo religioso próximo a zona sul), onde tem muita gente plantando, é pra ser vendido pras empresas de papel e celulose, porque o eucalipto, ele é um consumidor de água terrível. Onde planta eucalipto ele uuu (gesticula como se o eucalipto sugasse a água), ele seca. Participante 5 assinala positivamente com a cabeça. Político: Então, como é uma coisa que tem dado dinheiro (pausa) né. Então o pessoal tem plantado eucalipto depois é cortado e depois é vendido aí pra Mogi-Guaçu-SP, vai ali pra Empresa 1 em Jacareí-SP do Grupo Empresarial também, né. Então quando, nós precisávamos de toda a área que fosse, como temos a Empresa 2, nós temos a Empresa 3, nós temos a Empresa 4, né...e que agora por lei elas são obrigadas a....a repor essa área como estava, com árvores nativas (pausa) né. Não sei se vocês assistiram (olha para o pesquisador), o pessoal de ontem quase morreu de rir quando eu falei isso lá na aula. Vocês assistiram o Globo Rural de domingo? Mas é...peguem pela internet Extrema-MG, pertinho de Pouso Alegre-MG, é uma cidade que a Prefeitura com o governo de Estado né, Organizações Não Governamentais (ONG’s), entraram e hoje muitos agricultores ali, tão, são produtores de água. Então eles pegaram os mananciais e eles reflorestaram em volta dos mananciais. Então onde há árvore e a sombra e a coisa então aumenta o volume de água (olha para Participante 5 e pausa), né. Participante 5 assinala positivamente com a cabeça. Político: Então eles ganham com isso. Eles ganham para manter essa água (olha para o restante dos participantes). Agora, e hoje tão vendendo, porque acharam tão interessante o quando a água foi aumentando, né, que agora eles vão receber créditos de carbono. Você sabe o que é crédito de carbono (para Participante 5)? Participante 5: Não. Político: Quem sabe? Silêncio. Político: O que é crédito de carbono gente? Hoje o Brasil é um dos maiores vendedores de crédito de carbono. Silêncio. Político: Crédito de carbono é assim. Os países desenvolvidos, como os Estados Unidos, poluem tudo o que eles tem direito. (pausa). Tudo. Tudo. Pelos, pelos protocolos que foram assinados pelos países, eles tem direito de comprar de um outro país, assim como o Brasil, para que nós deixemos intacta determinadas áreas pra que não sejam poluídas. Então nós vendemos o ar limpo daqui pela poluição deles lá. É paga ao produtor aqui. (pausa), É claro que isso é um método que.....nós estamos faland o do mundo né, não estamos falando só da zona sul ou de Poços de Caldas-MG, mas é claro que os países desenvolvidos vão ter que chegar uma hora que vão ter se virar. Senão nós não vamos conseguir sobreviver nesse planeta mesmo, né. Precisa ter um limite. Mas enquanto isso, os créditos de carbono, que são os plantios de árvore, áreas de reflorestamento, também se paga para eles. Fazerem isso para as pessoas ganharem. Então é uma maneira de ganhar e manter a questão é do meio ambiente, que são protocolos assinados internacionalmente entre os países. Agora Poços de Caldas-MG, pode acabar a água de Poços de Caldas-MG? Pode acabar, em Extrema-MG tava nessa situação. Então é por isso que cuidar dos mananciais, dessas áreas que eles dizem de recarga, que é o que os ambientalistas falam que é essa área do Paço, por isso que estou, vou repetir de novo, cadê os estudos? Nós precisamos de ver esses estudos. É realmente ali uma área de recarga? Porque ali de primeiro plantava-se o quê (olha para o Participante 5)? Pra que que estava sendo utilizado? Batata,milho, âhn? Participante 5: Coisas que eram vendidas e não tinham tanto valor assim. Político: É...mas de qualquer maneira, se você pensar bem , também, pode haver contaminação. Porque essas coisas tem que ser doados, tem que ser...né. Então esse plantio também é....era possível? Se é uma área de.....então o que a gente precisa é o cida..., é onde estão todos esses documentos de avaliação (aponta para o folder)....do Paço Municipal. (pausa). Porque eu posso falar, eu posso repetir para vocês. O oficial é só o que tem dentro da Câmara Municipal que é só perfuração do solo, só! Mais nada. Já pedimos os documentos, a Secretária me mandou, o que ela fez sobre isso aqui. E agora, será que essa área a gente fica preocupada com a questão do desenvolvimento? Seja para zona sul , seja para Poços de Caldas-MG e parece que vai para a área política né pessoal. E aí vira política (pausa). Então você está vendo como a questão agora é política 197 (para Participante 5)? Político: É por isso que eu queria esse esclarecimento, eu fiz esse pedido dos documentos sobre a construção do Paço. Eu já fiz, eu já requeri todos esses documentos. Mas eu não recebi até agora. Não recebi. Fiz o pedido de informações de todos os estudos realizados, né. Um ajunte mesmo de documentação, que tem tanto na Prefeitura quanto na Câmara Municipal pra que a gente possa falar. Porque senão dá uma impressão horrível né? Assim , é contra a zona sul e não é isso (pausa). Ou é, eu não sei. Agora é uma área de recarga? É sério? Eu vou ser a primeira a dizer não também. Pode ter certeza disso. (pausa). Mas agora eu preciso ver né pessoal. Não pode mais ser por boca, né. Porque se ser por boca “Eu acho que...”, “Ai, eu sou contra porque”, então aquele achismo, né: “Eu acho, eu acho, eu acho”, eu acho o que? (pausa). Ia ser legal pra zona sul. Político: E o cara que é bom de, de lábia, vamos dizer assim, né? Ele vem aqui e ele convence: “Essa área é uma área de recarga! Pá...” Aí você fala assim: “Onde estão esses documentos?”. “Não já foram feitos estudos”, “Por quem?” (pausa). Aonde eu encontro esses documentos? Que é isso que estou fazendo, desde de que entrei lá na Câmara (pausa) não é? E não estou achando. E não estou achando. Então aí vem a questão do desenho ser do Niemayer, Poços de Caldas-MG tendo a, um traço de Niemayer, vê, é uma questão turística...tudo isso só é validado se realmente essa área aqui for ambientalmente (for..., bate a mão na mesa forte, o que atrapalhou no som). Porque essa área aqui nós sabemos que é. Então professor Paulo Scudino, da Universidade Federal de Ouro Preto-MG, que não é qualquer um, como muitas vezes tá escrito “Ah, esse povo aí vem lá de Ouro Preto-MG.....” e ele fez o levantamento, e o levantamento está a disposição nos estudos da Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (CODEMIG), por isso eu também permiti (aponta para o folder). Senão fosse também, eu ia, eu não deixaria também. Eu falaria ó: “me desculpem muito, mas isso aqui não é área para construir o Centro de Convenções”. E não seria contra a zona sul, seria a favor das águas de Poços de Caldas-MG. Porque se faltar água, falta para todos não é? Zona sul, centro, leste, oeste, a coisa vai ficar feia,não é pessoal? Mas é ação. (pausa). Que mais? 9 10 Político: Mas o espaço público, aí que é o problema. O espaço público, quem é o cuidador do espaço público é a população. E a população tem que ser responsável (pausa), né. Participante 4: Mas é o que a gente tá falando, a gente tá pensando nisso tudo. Mas se o Político Y não quiser ajudar? Falar que não tem interesse? Pesquisador: É um risco que agente corre, mas.... Participante 4: Esse negócio vai tudo por água a abaixo. Porque a gente não tem.... Pesquisador: Aí.... Participante 4:....condições financeiras pra.... Pesquisador: Aí que tá três alternativas. Ou vocês largam mão de tudo isso mesmo e falar: “Ah, o Político Y não me ajudou e a gente vai se fuder mesmo assim”. É, a palavra é essa mesmo. Ou procurar outra pessoa pra ajuda vocês além do público, que aqui na região parece que vocês não identificou ninguém, ou se identifica há uma má vontade deles de ajudar vocês tudo. Ou em terceiro lugar, agente usa o Político, usa não né, conversa com o Político ou com outros vereadores que tem interesse aí. Político X talvez seja um, é um vereador que gosta de construir quadra e começa a mobilizar quem tem interesse nessa quadra. Porque uma coisa é o Político Y falar: “Eu não quero fazer”, outra coisa é você: “Tá bom, você não quer fazer essa quadra aqui”, então o que a gente vai fazer, a gente vai mobilizar e falar: “Você tem que fazer essa quadra”. O que vocês acham dessas três alternativas todas? Vocês acham que são viáveis ou não são? Participante 4: Eu acho que a gente deveria terminar o nosso planejamento, pra gente pensar depois, antes a gente tem que saber a resposta do Político Y né? Pesquisador: E vocês acham que nem a questão da quadra, vocês são capazes de alterar o ambiente de vocês, que nem agente tava com o projeto agora? Você acha que é muito difícil? O que vocês acham de tudo isso? Participante 4: Eu não entendi a pergunta. Pesquisador: Vocês acham que são capazes de alterar a região sul aqui? A quadra por exemplo no caso, um serviço público, ou alguma coisa diferente aqui? Participante 4 assinala positivamente com a cabeça: É...eu acho que sim. Pesquisador: E por que você acha que sim? Participante 4: Ah, porque se a gente quisé mesmo...(pausa), como fala? A gente quisé realmente quer fazer com a quadra e essas coisa, com a tua ajuda e com a ajuda do 198 Político, eu acho que agente vai pra frente sim. A gente consegue mudar as coisa. Pesquisador pra Participante 3: Você acha isso também? Participante 3 assinalando positivamente com a cabeça: Humhum. Fonte: O próprio pesquisador, 2013 199 Em termos de empoderamento organizacional, em específico ao critério confiança, similarmente ao critério de inclusão, também não houve uma polarização ou instabilidade sendo prevalente a manifestação positiva deste critério entre os participantes. Durante a execução do projeto “Minha Pipa, Nosso Céu”, ações como explanações pontuais do pesquisador, diálogo com o Político, participação nas dinâmicas (apresentações, discussões e análises), bem como a realização de algumas tarefas (pesquisas e entrevistas) contribuíram para a ampliação do conhecimento e habilidades dos participantes. As explanações pontuais do pesquisador foram: a explicação sobre a individualidade da sociedade brasileira, (baseado no referencial teórico); planejamento e sua importância; e desmistificação de que o empreendedor é somente um empresário (baseado também no referencial teórico) (Quadro 8). Quanto ao Político, foi observado que a postura de neutralidade adotada por ele em relação ao Paço Municipal possibilitou que cada participante elaborasse o seu veredito (positivo) em relação a sua possível construção na região sul, apesar desta neutralidade ser influenciada pela dificuldade de acesso do Político à informações ambientais deste projeto. A explicação do Político acerca dos aspectos ambientais que tinha conhecimento, estruturais e políticos do Paço Municipal permitiu o entendimento dos participantes e foi uma forma de superar a alienação inicial manifestada pelo grupo sobre este tema. O Político também foi pertinente em termos de aumento de conhecimento ao tratar dos temas: corrupção; outras obras públicas no município; Orçamento Público; Plano Diretor; conservação do patrimônio público e as implicações financeiras de sua depredação; diferenciação entre imposto direto e indireto; diferenciação entre público e privado; má utilização do dinheiro público e sociedade individualizada (Quadro 8). Todos estes temas contribuíram para uma formação cidadã dos participantes (FREIRE, 2002; FRECK, 2004; JACOBI, 2005) e um despertar para a cidadania que foi analisado no item 4.2.3. É importante destacar que na percepção do Político, a monetarização dos bens naturais (FREY, 2001) materializada em sua fala sobre o crédito de carbono, é benéfico, apesar de algumas críticas ao países desenvolvidos. Neste sentido, o Político é influenciado mais uma vez pelo desenvolvimento capitalista (SINGER, 2004) tendo em vista já ter tido relacionado crescimento econômico com desenvolvimento ao desqualificar a reivindicação do Participante 5 no item 4.2.1. 200 Em termos de tarefas realizadas, a pesquisa sobre empreendedorismo realizada por alguns participantes propiciou o aumento do conhecimento no grupo tendo sido compartilhada com todos os participantes. Já na entrevista com um empreendedor ocorreu um compartilhamento limitado sendo que no grupo das participantes apenas às participantes 6 (realizou a entrevista) e 1 (leu o relatório da Participante 6) se beneficiaram (Quadro 8). No grupo dos participantes, o conhecimento adquirido ficou restrito aos participantes 3 e 5 (que realizaram a pesquisa) e ao Participante 2 que ouviu as percepções expostas. Foi observado que mesmo o pesquisador tendo explicado sobre outras tipologias de empreendedor, os participantes preferiram entrevistar empresários locais, familiares em específico. Essa preferência talvez seja oriunda pela facilidade de acesso à estes sujeitos. Por outro lado, a hostilidade do ambiente na região manifestada durante a busca de patrocínio do lanche pode ter influenciado essa preferência dos participantes. Em relação à autoconfiança, houve um estímulo provindo do Político, no qual estimulava a Participante 4 em buscar se destacar e assumir responsabilidades devido ao fato de ser do gênero feminino. Segundo o político, as mulheres devem cada vez mais ocupar espaços e cargos. Esse estímulo surtiu efeitos positivos nos encontros subsequentes, nos quais a Participante 4 passou a ser mais participativa e comunicativa. As dinâmicas também possibilitaram um espaço de autoconhecimento conforme foi abordado no item 4.2 tendo proporcionado um progresso em relação à capacidade de expressão, análise e discussão entre os participantes. Em outro momento o pesquisador tentou despertar a autoconfiança do grupo quando foi questionado pela Participante 4 sobre a possibilidade do Político Y adotar uma postura de não ajudar a grupo. No último encontro houve a manifestação da autoconfiança do grupo quando os participantes relatam que juntos poderiam mudar a região sul. Em específico às quadras, foi colocado pelo grupo que poderia ser feito algo desde que os participantes, pesquisador e Político trabalhassem juntos, mesmo após a finalização dos encontros. Ambas as situações remetem ao empreendedorismo social (MELO NETO e FROES, 2002), materializado na maior confiança, participação e engajamento dos cidadãos (no caso os participantes), além de superar as características de dependência social e impotência da sociedade brasileira (BARBOSA, 2003; LEMOS 2005; PEREIRA, 2006). Neste sentido, foi estabelecida uma relação horizontal e não vertical com o Político (após algumas instabilidades), considerado 201 como um parceiro e não um salvador da pátria (OLIVEIRA, 2004). Nesta perspectiva, houve uma progressão em relação à confiança do grupo, apesar de não ter sido plena. Diante da análise realizada em termos de empoderamento organizacional (PERKINS e ZIMMERMAN, 1995), é possível afirmar que houve a obtenção dos resultados descritos por Fung (2012) com instabilidades no critério cooperação interna e uma progressão nos critérios inclusão e confiança. Mas é importante destacar que o ambiente adverso da região sul parece contaminar o empoderamento individual e organizacional (analisados em alguns aspectos nos itens 4.2 e 4.3) conforme será abordado no próximo item. 202 4.4 Empoderamento Comunitário A partir dos dados obtidos por esta pesquisa, apresenta-se o Quadro 9: Quadro 9 - Rede de cooperação Rede de cooperação Encontro 1 Há Não Há Participante 7: O pessoal dessa padaria é grosso e sem educação. Participante 5: A verdade mesmo, às vezes pode ser a verdade mesmo: “Eu (comércios visitados) não vou ajudar eles, eu quero o dinheiro para mim, o meu lucro, então a gente não vai ajudar vocês.” 2 Participante 1: No 1° Estabelecimento comercial ali de cima também. Eles fizeram uma cara né.... Uma cara tipo assim: “Eu não vou ajudar!” Participante 5: Eles deviam ter visto o nosso ponto de vista, que a gente tava tentando...ah conseguir os alimentos, porque a gente tava fazendo o curso (pausa)...é.... que podia ajudar, é.... a gente mesmo...ah eles falam (representantes dos estabelecimentos comerciais visitados) assim...em vez de dar ajuda, não. Eles (representantes dos estabelecimentos comerciais visitados) falam assim: “ah, independente se eles tão lá no curso, não vou me importar com nada disso.(pausa). Eles que arrumam outro meio de conseguir outras coisas. 5 Ata de reunião para conversa com o Político (sem finalizar neste encontro) Nesta primeira ata surgiram os assuntos: Paço Municipal na região; Quadra próxima ao batalhão (conhecida como Quadra da Jamaica); Lixo; Policiais; Falta de iluminação na rua do Participante 3; 6 Pesquisador: E outra coisa que a gente tem que pensar também. Nós, eu, o Pesquisador: A gente tem que falar lá: “Olha essa quadra aqui é importante pra vocês , 203 Participante 3 e o....Participante 2 e Participante 5 estávamos pensando na...no encontro anterior. Vocês falaram: “ah, o policial é meio sacana”. Aí o Participante 5 falou: “Ah tem policial que é sacana e policial que não é sacana”. Mas é aquela história, será que se eles tomarem conta vai dar certo, não vai dar certo? A gente tem que pensar quem vai tomar conta dessa quadra aí? São vocês próprios que vão toma conta? Algum de vocês? Ou morador ali perto? A gente tem que pensar nisso também. O que vocês acham disso? Pesquisador: E quem era o responsável por essa quadra. Participante 2: O presidente do bairro. Pesquisador: Então a gente tem que conversar com o presidente do bairro. Pesquisador: Então se a gente for conversar com o presidente do bairro, ele vai ajudar a gente? Ou não? Participante 2: Acho que vai. Pesquisador: Então coloquem aí: conversar com o presidente do bairro. Todos começam a escrever. pra joga bola, pra manter ela, certinho”. É um argumento. Mas quais argumentos vocês propõem? Silêncio. Pesquisador: O que vocês imaginam? Participante 4: Ah, eu não dou palpite não, eu não sei. Pesquisador: Vocês acham que o Participante 5, o pai do Participante 5, seria uma pessoa pra ajudar também ou não? Participante 9: Não. Pesquisador: Não...? Participante 2 fica olhando para Participante 9 e fala: Eu acho. Participante 9: Hum? O que? (intimidou o Participante 2) Participante 2 faz um gesto de que acha, mas aparentemente Participante 9 o intimida com o olhar. Participante 2 abaixa a cabeça. Pesquisador: Então a gente tem que conversar com o Político, conversar com os jogadores que são vocês e conversar com o presidente do bairro. O que mais a gente tem que fazer além disso? Pesquisador: Essa quadra é mais de menino do que de menina então? Participante 2: Um monte de menina vai lá. Participante 4: Pra joga bola? Participante 2: Não, não é pra joga bola. Tem nego que vai anda de bicicleta lá ué. Patins. Pesquisador: E outra coisa. A gente tem que ter uma estratégia pra convencer eles que a reforma daquela quadra é importante. Como a gente vai convencer eles? Silêncio Pesquisador: Porque pode chegar lá e “ó a gente tem que reformar essa quadra aqui”. E eles falarem: “problema teu, eu quero só jogar bola aqui”. Participante 4 começa a rir. Pesquisador: “Vocês que se virem com essa quadra aí”. Alguém pode falar isso. Como é que agente vai convence eles que é importante e que eles tem que participar também? 204 Silêncio. Pesquisador: Você tem algum Participante 9? Participante 9: Lá embaixo quando for jogar bola tem que ser eu. Pesquisador: Hum? Participante 9: Tem que colocar o Participante 5 pra conversa com a molecada da escola. Molecadinha, porque o pessoal só anda de skate (pausa). Tem que ver com a molecadinha (pausa). Quebra....tem que ver com a molecadinha também. Pesquisador: Mas como a gente vai chegar na molecadinha pra conversar? Participante 2: Ah, tem conversar com eles primeiro pra vê, pra marca um dia aqui. Porque às vezes tipo assim, a gente marca aqui hoje, aí não vem ninguém. Aí tem marcar um dia que vai todo mundo na quadra. Pesquisador: Vocês não conhecem ninguém aqui do Conjunto que pode falar para vocês: “Olha esse aqui é o presidente do bairro”? Pesquisador: Vocês acham que os empresários daqui iriam ajudar nessa reforma ou não? Que nem aquela história do lanche lá que a gente foi pedir....e eles vão esculachar agente lá? Participante 2: Ah sei lá. Perto da minha casa tem um tanto de comércio. Participante 9: O Comerciante quando agente tava reformando a quadra (pista de skate), ele ajudou. Pesquisador: Você acha que conversa com o Comerciante seria uma boa, ou não? Participante 9: Eu acho que sim. Pesquisador: A gente tem que conversar com o Comerciante então. Participante 9: Ah o Colega 3 (colega de escola) tem contato com ele. Participante 2: Ah, o moleque é sobrinho do Comerciante. Ata de reunião para conversa com o POLÍTICO (finalizada) 1. O Paço Municipal: O que é? Se vai melhorar ou atrapalhar a região sul? Na opinião do Político é bom ou ruim? 2. Os problemas da região sul: Lixo; Entulho nos terrenos; 205 3. 8 Ciganos no Jardim Kennedy, que antes estavam no Conjunto Habitacional Pedro Afonso Junqueira; Policiais; Falta de iluminação nas ruas (problema com o poste); Problemas no atendimento da saúde; Quadra: O que o Político pode fazer pela quadra perto do batalhão? O que o Político pode fazer pela quadra perto do São Sebastião? Pesquisador para Participante 2: Você conversou com os garotos lá? Participante 2: Eu conversei, eles tudo até estuda aqui. Eles falou que se precisa é só manda uma mensagem para eles. Pesquisador: Eles estudam tudo aqui então? Participante 2: Estuda. Pesquisador: Mas você conversou com quantos alunos? Dois? Participante 2: Não tem ninguém jogando bola lá a tarde, só de manhã. Um lá que combinava não quisete. Aí eu conversei com os meus irmão lá perto de casa, aí eles falaram que qualquer coisa era chamar na sala. Participante 2: O patrocínio que tem é o do Técnico do treino, no Parque das Nações e lá no Poli. Não tem mais não. Pesquisador para Participante 4: Você conversou com alguém, ajudou alguém? Participante 4 assinala negativamente com a cabeça. Pesquisador: Não? E o que a gente vai fazer com esse presidente do bairro? A gente vai conversar com ele? Vai procurar outro? Acha que só o Político vai dar conta, o que vocês acham de tudo isso? Participante 2: Eu não sei. Pesquisador: O que você acha Participante 3? Os empresários aqui ajudariam a gente a patrocinar, a fazer um time ou alguma desse tipo ou não? Participante 3: Eu acho que não. Pesquisador: Tinha um projeto lá? Participante 4 assinala positivamente com a cabeça. Pesquisador: O que esse projeto fazia lá? Participante 4: Ah, eu não lembro. Você lembra Participante 2? Participante 2: Lembra, tinha um troço lá. Participante 4: Participante 3 você sabia: Participante 3: Quadra Parque das Nações. Pesquisador: Mas o que o pessoal fazia na quinta-feira lá? Participante 4: Eles levava a turma pra joga bola, joga vôlei, peteca. Mas acho que eles pararam, pararam porque eu não to vendo mais. Pesquisador: Mas vocês sabem por que eles pararam? Era um pessoal daqui mesmo? Como é que era o lance? Participante 3: Eles foram para a quadra do Parque das Nações. Pesquisador: Vocês acham que se a gente conversa com eles, eles podem voltar a 206 trazer essas atividades pra cá? Participante 4: Ah, não sei. Pesquisador: Mas eles moram aqui? Onde que eles moram? Participante 3: Mora. Pesquisador: Vocês conhecem eles? Participante 4: O Participante 3 conhece eles. Ele estudou lá. Estudou não, fez curso. Participante 2 (para Participante 3): Você fez curso lá. Participante 4: Ele fazia. Toda tarde. Pesquisador: Você acha que você poderia conversa com eles Participante 3? Participante 3 assinala positivamente com a cabeça. Participante 2 e Participante 3 resolvem chamar dois colegas que jogam bola na quadra São Sebastião. Participante 4 acha que eles não vão querer ajudar. Dois colegas, Colega 1 e Colega 2 aparecem na sala. O pesquisador explica que o grupo está tentando reformar a quadra e realizando um planejamento. O pesquisador lê o planejamento e os dois concordam em participar para ajudar no gerenciamento da quadra. Após concordarem, o pesquisador os dispensa, tendo em vista que os dois estão em horário de aula. Participante 4: Participante 2! Para que que serve aquele negócio lá perto da quadra, que foi construído? Participante 2: Nossa, não sei. Tá escrito S.O.S construções lá. Pesquisador: Que tal agente conversa com o pessoal do CRAS então? Fixa lá dentro do CRAS...esse dinheiro aí, a prestação de conta. Participante 4: É melhor. Participante 2: Tem que ver essa S.O.S construção também. Pesquisador: S.O.S construção também? Participante 4: É, pra eles termina também né. Pesquisador: Eles não terminaram lá? Participante 4 assinala negativamente com a cabeça. Participante 4: Tudo que eu sei é que eles dão....materiais de construção pra quem é muito pobre. Mas pra conseguir é muito...muito obstáculo. Eles pedem muita coisa. Pelo que eu saiba é isso. Participante 2: Esse Político pode dar as carta, não acha (para Participante 4)? 207 9 Pesquisador: Você acha que seria interessante conversa lá (S.O.S)? Participante 3 assinala positivamente com a cabeça e fala: Humhum Participante 4: Então, agente precisaria falar com quem, quem programou pra não desliga às 10:00 (22:00), porque senão que jeito que a gente vai ganha, se elas luzes tivé apagada? Que jeito lá que o povo vai joga? Pesquisador: No caso.... e o Colega 1 e o Colega 2? Vocês conversam muito com eles? Como é que é? Participante 4: Eu não conheço eles. Eu acho que, só o Participante 2 mesmo que conversa com eles. Pesquisador para Participante 3: Você nem tem muito contato com esses dois? Participante 3 assinala negativamente com a cabeça. Pesquisador: Mas você acha que ajudaria o Participante 2 ali, pra fechar, abrir e gerenciar tudo ali? Participante 3: Eu acho que sim. Pesquisador: Sim? Participante 3 assinala positivamente com a cabeça. Pesquisador: É aí que a gente entra em outro ponto também, se é só vocês que vão gerenciar essa quadra, só os colegas, como é que a gente vai chegar nesses colegas? Vocês mesmo vão conversando um com o outro? A gente vai até a quadra? Como é que a gente vai chegar neles, aborda eles, conversa com eles? Participante 4: Aí eu já não sei lá na quadra do São Sebastião o Participante 3 é melhor pra fala isso. Porque eu não sei. Participante 3: Eu não sei. Pesquisador: Mas vocês não imaginam nada de a gente ir lá conversar, vocês conversar com o pessoal de sua sala, mora lá perto, nada disso? Participante 4: Porque quem joga bola, na verdade eu não conheço ninguém...que joga bola. Porque tipo, às vezes tem gente de maior porte, tem gente que vai jogar, real, realmente vai lá só pra brinca sabe? Só assim...eu não sei. Pesquisador: E você, não imagina ninguém? E esse campeonato mesmo que vocês estão jogando a noite, você acha que esse pessoal não ajudaria vocês? Participante 3: Não sei....tem que ver. Pesquisador: Porque... é uma sugestão, é claro, poderia aproveitar esses jogos e falar “Oo, a gente tá querendo reforma ali a quadra, você pode ajudar a gente aí pra gerenciar essa quadra?”, uma coisa desse tipo? Participante 3: Hoje eu tenho, hoje eu tenho treino. Eu acho que vou ver lá e Pesquisador: E vocês acham o seguinte, quem poderia ajudar a gente além do Político, de vocês mesmos, seus colegas, quem poderia ajudar mais vocês nessa quadra? Participante 4: Assim, de maior? Pesquisador: É de maior, um padre, um religioso, quem vocês imaginam que poderia ajudar vocês aqui? Participante 4 faz cara de quem não sabe. Pesquisador: Candidato X.... Participante 4: Esquece. Pesquisador: Esquece pelo jeito que vocês falaram,né. Mas assim.... Participante 4: Aquele lá se ficar com o dinheiro, no final do mês você não tem dinheiro não. “ó eu gastei com isso e isso”, agora você vai vê na quadra não tem nada. Pesquisador: E alguém assim que vocês conheçam aqui na região que se interessa pela região mesmo aí que queira ajudar? Quem vocês acham que poderia ajudar vocês aí? Participante 4: Eu na verdade, vou fala a verdade, eu acho que ninguém. Pesquisador: Ninguém? Participante 4: Ninguém. Pesquisador: Por que você acha que ninguém pode? Participante 4: Ah, porque eles vai fala assim que não é do interesse deles. É do interesse da...tipo, da gente pra joga bola, ou anda de bicicleta, ou joga vôlei. Até fala aqui que não tem obrigação nenhuma de ajuda. Eu acho que realmente não tem. Pesquisador: Você também concorda com isso? Participante 3 assinala positivamente com a cabeça: Humhum. Pesquisador: Mesmo um religioso aqui, não sei qual, qual igreja que vocês vão, nenhum pastor .... Participante 4 (interrompe): Eu sou católica. Pesquisador: Católica, e você (para Participante 3) é? Participante 3: Católico. Pesquisador: Católico. Vocês não acham que nenhum padre aqui da região ia ajuda vocês nisso aí. Participante 4 e Participante 3 respondem que não. Pesquisador: Por que vocês acha que nenhum padre iria ajudar? Participante 4: É porque ele vai fala que “eu não tenho tempo”, “eu tenho que cuida da igreja e blá, blá e não vou ter tempo para ajudar vocês”. É o papo de todo mundo que vai se daqui. (pausa). Vai ser isso, vai ser essa historinha que não tem tempo. “Eu trabalho, eu não tenho tempo”. 208 pergunto pra eles. Pesquisador: Mas quantas pessoas são esses treino aí? Participante 3 pensa e responde: Ah, deve dá umas....por causa de tê...., deixa eu ver, são quatro categoria, 98, 99, 2000, 2001 eu acho. Aí eu não sei quantas pessoas tem lá...deve ter umas quarenta. Pesquisador: Quarenta pessoas? Você acha que essas quarenta pessoas poderia ajudar vocês também? Porque é interesse deles jogar bola ali. Participante 3: É. Pesquisador: Poderia muito bem terminar os banheiros da quadra ali? Participante 4 assinala positivamente com a cabeça: Porque tipo, eles (S.O.S Construções) tem tudo. E eu acho quem doa, que é daqui ou é a Prefeitura, eu não sei quem é, mas eu sei que tem muita coisa lá dentro. Pesquisador: E, tá. Eles doam o material, mas e quem vai fazer a mão-de-obra ali? Participante 4: Não, então, eu acho que é por conta deles. A mão-de-obra fica por conta deles também. Pesquisador: Por conta deles também? Participante 4: É, eles tem uma pessoa certa pra faze. Pesquisador: Humhum. Participante 4: Se for uma coisa pública, sabe? Mas aí então eu não sei, como eles fez aquele banheiro, se é particular, se alguém foi lá e pediu. Eu não sei. Pesquisador: Vocês acham que a gente deve conversar com eles ou não? Participante 4: Ah, eu acho que sim, porque foi eles que começo, eu acho que eles tem que termina. Participante 3: Tem que terminar. Pesquisador: E quem é o responsável por esse S.O.S aqui então. Participante 4 e Participante 3 dizem não saber. Participante 4: Na verdade eu não sei quem foi que se candidatou e quem...é.... foi vencedor. Só que eu sei que o tal de Candidato X é muito cara de pau pra ele pode. Ele tentô é....ser vereador de Poços, não conseguiu. Agora presidente do bairro, ele é muito ganancioso. Ele não dá certo pra sê....tipo assim, porque ele, aonde tem o Comércio lá perto de casa era dele. E ele não foi pra frente de tão, tipo assim, ganancioso que ele é. Ele punha as coisas assim, muito alta entendeu? Eu acho que ele é.....muito burro, em termos. Eu acho isso. E as outras pessoas, candidatos, eu não sei. Porque ele teve a cara de pau de ir em casa, pedi voto. (pausa) Mas....(assinala a cabeça negativamente). Pesquisador para Participante 3: Você acha isso também? Participante 3: Acho. Pesquisador: Mesmo agente tentando conversar com ele vocês acham que não daria certo? Participante 4 assinala negativamente com a cabeça. Pesquisador: Nem seria bom nem tentar conversar com ele? Participante 4: É nem tenta. Porque se tenta e eles não gosta muito, eles pode até ser contra. Pesquisador: Ser contra, é isso? Participante 4 assinala a cabeça positivamente: É. Pesquisador: E vocês participaram da eleição? Votaram lá? Participante 3: Não. Pesquisador: Não? Participante 3 assinala negativamente com a cabeça: Ah não. Pesquisador: Por que vocês não participaram? Participante 3: Eu e minha prima, que nem eu falei pra, eu minha prima tava indo pro supermercado, não podia óia no meio da rua, perguntou se....nóis não ia vota, e não sei o que, que era pra vota nele....é que se ele ganhasse ia fazê isso no bairro, faze aquilo e não sei o que...e falei: “tá, depois eu voto”. Eu fui, dei a volta no quarteirão e passei perto da mulher de novo e ele tava no meio da rua, o Candidato X tava no meio da rua e falou, perguntou se nóis já tinha votado. Aí nóis falo “Que já” (cara de riso). Participante 4: Eu não votei porque eu não sabia onde era pra vota, eu só fiquei sabendo no dia que acabo as eleição, que é ali no CRAS né (pergunta para Participante 3)? Eu não votei porque eu não sabia onde é que era pra vota e nem que era que tava se candidatando, porque eu só...soube dele por causa da carta, porque os outros eu não fiquei sabendo. (pausa). De ninguém. Por isso que eu não votei e também não tenho interesse em vota. Participante 4: Ah, eu acho que todo mundo que a gente vota não vai te melhoria. Porque todo mundo, tipo assim, todo mundo que seja, pode ser honesto, mas muita gente quer só pra ele. Não quer pros outros. Então é, a pessoa pode se candidata e não fazê nada. É isso que eu acho de eleição. É igual a prefeito, vereador... nada! Ninguém faz nada! É igual a esse Político Y, começo agora, eu não sei como é, mas até agora eu não vi nada! Não vira nada. Participante 3: Ah, porque tipo assim é.....minha tia era uma das Secretárias do Político Y . Aí ela tava falando das coisas lá que, falava que ia faze isso, faze aquilo, mas 209 Participante 4: Foi minha mãe que atendeu, no caso eu não tava, porque eu tava pra escola. Só que ele deixou uma carta (gesticula como se formasse uma carta) pedindo pra vota, que ele iria fazer melhorias no bairro. Mas eu não acredito em nada disso, porque eu tenho certeza que ele não vai fazer. chegava por fim lá não fazia nada, não fazia nada. É....teve um tempo que minha....parece que ia recebe um negócio do dinheiro lá, aí o Político B pego o dinheiro pra paga não sei o que. Cato o dinheiro dos funcionários pra paga não sei o que lá. Aí até agora eu não sei. Agora esse pelo jeito, que nem a Participante 4 falou, até agora eu não vi nada. Mas tem que espera pra vê né? Pesquisador: Só tem interesse próprio dele. Participante 4: Humhum. Pesquisador: Quer usar vocês no caso? Participante 4: Humhum. Participante 3: É...que nem a Participante 4 falou. Que não sei quem se candidatou, a única pessoa que eu sei foi ele, porque...o único que se candidatou, que levou, entregou, o papel pra...pedi voto foi ele. Único papelzinho, única carta que eu vi foi dele. É igual a que ela falou...ele era muito, assim, é....ele queria tá acima de todo, de qualquer um, ele queria ter mais dinheiro, queria ter mais isso e acabou perdendo tudo. Pesquisador: Você votou no Político Y, sua mãe votou no Político Y? Participante 4: Minha mãe votei. Pesquisador: E como vocês veem o Político Y aqui? Participante 4: Ah, eu assim, não sei. Eu não sei de nada assim. Ah, eu não sei porque minha mãe votou e meu padrasto votou, não sei. Por causa que ele, ele parecia uma pessoa, ele parece uma pessoa honesta, gosta de fazer muita coisa, mas até agora eu não vi nada! Entendeu? É por isso que eu acho que muita gente se engana com esse. Participante 4: Agora eu não vi melhoria nenhuma, não vi mudança nenhuma. Pesquisador para Participante 3: Você também não viu mudança nenhuma? Participante 3 assinala negativamente com a cabeça: Do jeito que Político B dexô, ficô. Participante 4: Ahhhh, ooo...Político B não. (pausa). O Político B é muito sei lá. Ele, ele fico tanto tempo lá na coisa e não fez nada. Ele pode até ter piorado Poços de Caldas-MG, porque ele não fez nada. Por causa de Poços de Caldas-MG ser uma cidade turística, muitos pontos bonito, mas muita gente você pode ver na televisão, que muita gente que vem pra cá, tá reclamando. Porque não tem estrutura pra recebe. O, logicamente que os lugares que é turísticos, tá bem conservado, sim. Mas 210 Poços de Caldas-MG, igual o centro, o centro tá uma bagunça, não tem nada, entendeu? Então eu acho que...o Político B ele era muito ruim, mas o Político Y ele não é ruim porque eu não vi nada. Mas esse pouquinho de tempo que ele tá lá dentro, eu não vi mudança nenhuma. Não sei se ele vai mudar. Mas até agora eu não vi mudança nenhuma, mas o Político Y eu espero que ele não volte mais pra Prefeitura. Porque aquele sim não fez nada pra Poços de Caldas-MG (aparentemente brava). (Diário de campo) Participante 5 e Participante 3 relataram que aprenderam muita coisa no curso do pesquisador e reclamam de uma professora, que segundo eles é muito chata. 10 Pesquisador: Humhum, tá. Vocês pretendem conversar com eles (40 alunos), não pretendem, como que vai ser o lance? Participante 3: Tem que conversa com eles. Pra vê o que eles pensa. Fonte: O próprio pesquisador, 2013 211 O empoderamento comunitário (HOROCHOVSKI e MEIRELLES, 2007; PERKINS e ZIMMERMAN, 1995) na região sul de Poços de Caldas-MG está prejudicado por situações de opressão, discriminação e segregação (BICHIR, 2006) que constituem uma situação de humilhação social (GONÇALVES FILHO, 1998) sendo que os participantes não encontram “brechas” para a sua inserção e construção de uma rede neste ambiente. Esta exclusão e suas consequências aparecem principalmente nas falas iniciais acerca dos comerciantes e por expressões “eu não sei” e “ah, eu não dou palpite não, eu não sei” proferidas pelos participantes (Quadro 9). Os programas de educação empreendedora brasileiros (FEBRACE, 2012; FERNADO DOLABELA, 2012; FUNDAÇÃO ROBERTO MARINHO, 2012; JUNIOR ACHIEVEMENT BRASIL, 2012; MAMEDE e MEZA et al., 2005 apud GRECO, 2009; MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2012; SEBRAE, 2012; SEBRAE – RIO GRANDE DO NORTE, 2012; SEBRAE – SÃO PAULO, 2012) e os métodos de Dolabela (2004, 2008, 2012) não percebem esta exclusão, sendo que trabalham em uma perspectiva que ela é uma ausência de uma habilidade técnica entre os jovens. Mas esta pesquisa aponta não para a ausência de habilidade técnica, mas sim para a ausência de uma competência social chamada cidadania, que só é possível por meio da participação emancipatória (TASSARA e ARDANS, 2003) ou o empoderamento em seus três níveis (FUNG, 2012; ORNELAS, 2008), construída no tecido social. Estes programas e métodos trabalham na perspectiva que o jovem, sozinho, irá construir e acessar a rede comunitária, algo que não é possível em ambientes como a região sul devido à indisponibilidade e desvios de funções dos atores que compõem esta localidade hostil. A família parece ter um receio em apoiar ou incentivar os jovens à participação no ambiente comunitário, como foi exemplificado pela posse das chaves, abordada no item 4.3.1. Outro ponto importante a ser destacado é a percepção do jovem como um gasto pela família, como já foi analisado no item 4.2. Ambos os fatos contribuem para um não empoderamento em nível comunitário (HOROCHOVSKI e MEIRELLES , 2007; PERKINS e ZIMMERMAN, 1995). Os traficantes “sacanas” e não “sacanas” (item 4.2.1) se apresentam como uma autoridade informal, tendo os jovens medo de falar sobre eles, talvez, devido às possíveis represálias que 212 podem sofrer. Além dos traficantes não serem um “ator/recurso comunitário adequado” para o acesso dos jovens, prejudicam o ambiente da região sul com o seu “poder sobre” (GREEN, 2009) informal, de maneira a reforçar a humilhação social (GONÇALVES FILHO, 1998) nesta localidade. Neste sentido, o tráfico é um elemento prejudicial ao empoderamento comunitário (HOROCHOVSKI e MEIRELLES, 2007; PERKINS e ZIMMERMAN, 1995). Os policiais apresentam um desvio de função materializada pela violência (truculência e agressões) e conivência com o tráfico de drogas, como foi analisado no item 4.2.1. Esta autoridade formal que poderia ser um “ator/recurso comunitário adequado” de acesso dos jovens, se mostra inadequada. Inadequação que não propicia o empoderamento comunitário (HOROCHOVSKI e MEIRELLES, 2007; PERKINS e ZIMMERMAN, 1995) e reforça a humilhação social (GONÇALVES FILHO, 1998) desta população, assim como os traficantes. Os políticos e outras representações políticas da região sul (presidentes dos bairros) também apresentam uma inadequação como um “ator/recurso comunitário adequado”. Quanto aos políticos, assim como os policiais, há um desvio de função, como foi demonstrado e analisado pelo não atendimento da queixa do Participante 5 (item 4.2.1). Devido ao desvio de função dos políticos, se consolida a desconfiança sobre eles pelos jovens, que também atinge outras representações políticas desta localidade. Desconfiança principalmente em relação às promessas de campanhas que aparentemente não são cumpridas e a honestidade de propósitos dos representantes políticos que também atinge os policiais e professores, o que gera uma descrença com a classe política local entre os jovens e uma indisposição de participar em eleições para o presidente do bairro (Quadro 9). Nesta perspectiva há uma crise de representatividade local e uma quebra do aspecto cultural brasileiro de “salvador da pátria” (OLIVEIRA, 2004), pois os políticos não são vistos como agentes de transformação. Esta crise de representatividade parece não ser algo isolado na região sul, mas também global como apontam Lipovetsky e Serroy (2011) em relação aos políticos europeus e Bauman (2013, p. 78) em termos de sociedade contemporânea: Os governos, privados de grande parte de seu poder pelos bancos, empresas multinacionais e outras formas supranacionais, são incapazes de prestar atenção seriamente às verdadeiras causas da miséria das pessoas, e estas reagem, como poderia esperar, perdendo a confiança na capacidade e na vontade dos governos de resolver seus problemas. 213 Neste sentindo, localmente, está havendo uma mudança cultural em relação ao “salvador da pátria” (OLIVEIRA,2004), que parece estar em sintonia com a sociedade global. Mas, em específico à região sul, esta mudança cultural parece estar mais relacionada à discrepância entre “o que é prometido” e “o que é cumprido” pela classe política atuante no Município, sendo que a população desta localidade, em situação de humilhação social (GONÇALVES FILHO, 1998), segregada (BICHIR, 2006) e desempoderada nos três níveis (FUNG, 2012; ORNELAS, 2008; TASSARA e ARDANS, 2003) não possuí nenhum atributo para alterar esta situação. Ausência esta que faz manter esta mudança cultural em processo, perceptível nos vestígios do “salvador da pátria” quando os participantes relataram que “até agora eu não vi nada” e “tem esperar pra vê né?”, ou ainda quando a Participante 4 julga que o Politico X parecia ser “honesto”, “uma pessoa boa”; “gosta de fazer muita coisa” (Quadro 9). Neste sentido, apesar da região sul acompanhar a crise de representatividade política global, ainda há uma relação de submissão e dependência (MELO NETO e FROES, 2002) neste ambiente que remete à ausência de empoderamento comunitário (HOROCHOVSKI e MEIRELLES, 2007; PERKINS e ZIMMERMAN, 1995). É importante destacar que o próprio Político convidado foi considerado em diversos momentos como um “salvador da pátria” pelos participantes. Mas com o decorrer do projeto houve uma mudança, tendo o Político passado a ser um “parceiro” do grupo. Houve uma progressão em relação ao empoderamento comunitário (HOROCHOVSKI e MEIRELLES, 2007; PERKINS e ZIMMERMAN, 1995) apesar de não ter sido plena. Ainda em relação ao Político convidado, é pertinente destacar que o grupo, durante dois encontros, elaborou uma pauta com assuntos que queriam tratar com o mesmo (Quadro 9). Apesar desta elaboração prévia que denota a competência empreendedora de planejamento (DORNELA, 2007; LENZI, KIESEK e ZUCCO, 2010) vários assuntos não foram abordados pelo grupo durante o encontro com o Político pelo fato do tema Paço Municipal ter demandado uma longa explanação. Em relação ao acesso ao Político, houve a intermediação do pesquisador, caso contrário, talvez, o grupo também não o acessaria pela desconfiança da classe política, já relatada anteriormente. Uma exceção ocorreu quando o Participante 5, devido a amizade de seus familiares com o Político X se sentiu capaz de estabelecer um diálogo com ele após uma tarefa do segundo encontro do projeto “Minha Pipa, Nosso Céu” no qual os participantes 214 tinham que identificar os problemas da região sul: No meu ponto de vista, eu achei que foi bem interessante, por causa que o meu vô, ele tem muita amizade com o Político X. Aí o Político X foi na casa dele esses dias...esses dias não...foi no sábado...aíí em frente à casa fica um tanto de caminhão parado, tem uns buracos na rua, tem a quadra que está toda destruída, que o pessoal destruiu. Aí eu falei assim pra ele: “Nossa, vocês promete faze tanta coisa, por que vocês não...pelo menos não tenta arrumar a quadra, tira esses caminhão velho que ficam na rua, arruma esses buraco?” Aí ele falou assim: “aaaa, mas isso tem é...”, aí ele falo bastante coisa. Aí eu peguei e falei assim: “não, mas tem uma diferença, a quadrinha de skate, é... vocês arrumaram, por que vocês não pode arrumar a de futebol também? Aí ele não...Aí ele pegou e falou assim, que ia conversar e ia ver....ele ia...conversar certinho e depois ia me dar resposta do que que ele ia fazer. Esta postura do Participante 5 demonstra pequenos vislumbres de empoderamento individual (RAPPAPORT, 1987) apesar de ainda haver submissão e dependência (MELO NETO e FROES, 2002) em relação ao Político X, tendo em vista que o jovem não se colocou como um agente de transformação neste diálogo. Diante desta exposição em relação ao políticos e outras representações políticas da região sul, é possível afirmar que há uma inviabilidade em termos de empoderamento comunitário (HOROCHOVSKI e MEIRELLES, 2007; PERKINS e ZIMMERMAN, 1995) com estes atores. Em relação aos comerciantes, houve divergências no grupo. A rejeição dos comerciantes da região sul em ajudar no lanche pode ter influenciado para que os participantes formulassem a hipótese de que esses atores não iriam ajudá-los em nenhum aspecto, tendo preocupações maiores com a lucratividade dos negócios (Quadro 9). Em outros momentos, durante as discussões sobre o planejamento das quadras, os comerciantes foram considerados como possíveis auxiliadores, mas prevaleceu o consenso de que não ajudariam. É importante destacar que mesmo diante de uma carta da direção da escola, os empresários foram poucos receptivos ao projeto “Minha Pipa, Nosso Céu”. Neste sentido, apesar de ter havido o acesso aos comerciantes locais em relação ao lanche, a indisponibilidade apresentada por eles foi prejudicial ao empoderamento comunitário (HOROCHOVSKI e MEIRELLES, 2007; PERKINS e ZIMMERMAN, 1995). Em um determinado momento do encontro 6 (Quadro 9), a intimidação do Participante 9 por motivos, talvez pessoais (por questões de amizade com o Participante 5) demonstra uma indisponibilidade dos próprios participantes em criar uma rede externa. Esta indisponibilidade 215 também ocorreu em relação ao treinador e jogadores de um treino de futebol que ocorre semanalmente na região sul, o qual alguns participantes frequentavam. Apesar de um interesse inicial dos participantes em acessá-los e a disponibilidade do pesquisador em auxiliá-los, não houve o contato, sendo que este fato também ocorreu de forma similar em relação à outro projeto de esportes que ocorre na quadra do bairro Parque das Nações e ao programador das luzes das quadras. Talvez esta indisponibilidade ocorra devido ao medo dos participantes diante de acessos que impliquem uma responsabilidade/comprometimento e pelo fato de não se considerarem como agentes transformadores na coletividade da região sul como foi apontado no item 4.2.3. Apesar dos participantes se declararem católicos, o padre e outros religiosos da região sul (pastores, por exemplo), não foram considerados como atores em potencial e o grupo considerou que eles poderiam atrapalhar em relação às quadras (Quadro 9). A indisponibilidade da família e dos comerciantes, o desvio de função das autoridades formais, a presença das autoridades informais e o fato dos participantes não terem se considerados como agentes de transformação podem ter contribuído conjuntamente para o não acesso aos outros atores e ter propiciado a ideia de que ninguém os auxiliaram na região sul, o que foi prejudicial em termos de empoderamento comunitário (HOROCHOVSKI e MEIRELLES, 2007; PERKINS e ZIMMERMAN, 1995) nesta localidade. Este posicionamento dos participantes em relação à estarem sozinhos na região sul, também pode ser oriundo do fato de que os atores locais realmente não os auxiliam em outras situações, como o S.O.S Materiais de Construção (um órgão público que recebe materiais de construção e doa a famílias carentes, além de executar algumas obras públicas na região sul) (Quadro 9). Os participantes consideraram como um ator em potencial, mas relataram que este ator não executa a sua função, pois “nunca” visualizaram nenhuma doação para alguma família da região, mesmo possuindo um galpão cheio de materiais de construção. Outro ponto colocado pelos participantes foi a construção dos banheiros ao lado da quadra no São Sebastião, o qual a S.O.S Materiais de Construção não terminou. Nesta perspectiva, há também um desvio de função neste órgão, o que reforça o não empoderamento comunitário (HOROCHOVSKI e MEIRELLES, 2007; PERKINS e ZIMMERMAN, 1995) e gera mais desconfiança em relação à classe política que atua no 216 Município. Em relação ao CRAS, houve uma subutilização de suas possibilidades pelos participantes. Esta subutilização apareceu quando o grupo o considerou apenas como um lugar ideal para fixar a prestação de contas das quadras. Assim é possível que o CRAS desta localidade não esteja cumprindo sua função também, tendo em vista que em nenhum momento os participantes consideraram utilizá-lo de outra forma. Diante destes fatos, as instituições públicas locais também apresentam uma inviabilidade em termos de empoderamento comunitário (HOROCHOVSKI e MEIRELLES, 2007; PERKINS e ZIMMERMAN, 1995). A Escola Estadual Parque das Nações, que poderia ser um “ator líder” no processo de empoderamento comunitário devido à possibilidade de fomentar o dialogo e a aproximação como os outros atores locais, também apresenta uma inadequação. Os representantes da instituição demonstraram um desconforto com o projeto “Minha Pipa, Nosso Céu” como foi apontado no item 3.5 sendo pouco participativos durante toda a sua execução (se limitando na elaboração da carta aos comerciantes locais, solicitada pelo pesquisador). Houve a oferta de lanche por uma funcionária da cantina da instituição, apesar da diretora ter relatado que não haveria o fornecimento ao projeto como foi abordado no item 4.3.1. Esta oferta pode ter sido um gesto de benevolência da funcionária ou uma reconsideração da diretora acerca do lanche, o que não ficou claro ao pesquisador. É importante destacar que em nenhum momento os representantes da Escola Estadual Parque das Nações se dispuseram a acompanhar o grupo e o pesquisador aos estabelecimentos comercias, assim como ocorreu em relação à Superintendência de Ensino (item 3.5), o que pode denotar um desconforto não apenas ao projeto, mas também ao ambiente da região sul e da própria hierarquia do Sistema Educacional Estadual. Nesta perspectiva, em termos de empoderamento organizacional (PERKINS e ZIMMERMAN, 1995), os representantes da escola pareceram não perceber todos os recursos da estrutura de sua organização e circular com naturalidade em todos os níveis hierárquicos de maneira a se sentirem seguros para poderem estabelecer ações, projetos e programas que envolvam a Escola Estadual Parque das Nações e a comunidade em torno. Em termos de empoderamento comunitário (HOROCHOVSKI e MEIRELLES, 2007; PERKINS e ZIMMERMAN, 1995), os representantes da instituição e da Superintendência de Ensino também pareceram não perceber o estabelecimento e uso de redes externas ao sistema 217 educacional local (não perceberam que o pesquisador poderia colaborar com a escola por meio de palestras de professores da UNIFAE), sendo algo impeditivo para o desenvolvimento dos alunos. Aparentemente, quando há um projeto que visa o acesso dos alunos à comunidade e seus recursos como o “Minha Pipa, Nosso Céu”, parece assustar e amedrontar os representantes de ensino, sejam da escola, sejam da Superintendência de Ensino. Se os alunos almejarem e conseguirem o empoderamento organizacional e comunitário (HOROCHOVSKI e MEIRELLES, 2007; PERKINS e ZIMMERMAN, 1995) será por meio de um “voo solo”. Desta forma, a ideia de que ninguém ajudaria os participantes em relação às quadras (Quadro 9) parece ser pertinente e real. Este “voo solitário” apareceu durante o projeto em relação aos Colegas 1 e 2 (que também eram estudantes da instituição). O grupo conseguiu identificá-los e atraí-los para o projeto por intermédio do Participante 2. É importante destacar que houve uma organização do grupo, caso o Participante 2 não conseguisse atraí-los, como consta no encontro 6 do Quadro 6 do item 4.3.1. Neste sentido, há uma disponibilidade positiva de acesso e construção de uma rede entre os estudantes da Escola Estadual Parque das Nações, que não é trabalhada pelos representantes da instituição. Algo que poderia fazer toda a diferença para a superação da humilhação social (GONÇALVES FILHO, 1998) e propiciar o empoderamento em todos os níveis (FUNG, 2012; ORNELAS, 2008; TASSARA e ARDANS, 2003), além de possibilitar o fomento de competências empreendedoras (ANDRADE, 2010; CHIAVENATO, 2007; DOLABELA, 2008; DORNELAS, 2007; DRUCKER, 2003; FILION, 1999; FORTIN, 1992; KURATKO, 2009; LENZI, KIESEK e ZUCCO, 2010; SHUMPETER, 1934) para o empreendedorismo social (MELO NETO e FROES, 2002; NEVES, GUEDES e SANTOS, 2010), de forma a possibilitar uma comunidade sustentável (BELLEN, 2004; COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO, 1991; MATIAS e PINHEIROS, 2008; RIO+20, 2012; SACHS, 1993, 2004; VEIGA, 2008) e com maior qualidade de vida (SKEVIGTON, 2002 apud PANZINI et al., 2007). Aparentemente, a Escola Estadual Parque das Nações não assume plenamente o papel de transformar os indivíduos, conforme evidencia-se nas falas dos participantes que manifestaram um sentimento de exclusão em relação ao conhecimento: Participante 5: Muitas vezes, os professor fala assim: “Não, cês que dá sua opinião, cês dão sua opinião”. Mas muitas vezes você dá sua opinião e eles não aceitam; 218 Participante 9: Eu acho tipo assim, como eu vou te falar cara? Vida de expressão é liberdade. Mas acho que hoje, a gente não tem vida de expressão. Muitas vezes a gente fala o que pensa, às vezes a gente é até punido pelo que pensa...fala o que pensa. Até mesmo a escola, por exemplo se você está de acordo com o que o professor fala, você vai fala o contrário depois...aaa, saí. Iii, acho que é isso cara. Começa pelo direito de expressão. O não aceite dos representantes da instituição de qualquer manifestação é uma forma de manter os alunos desempoderados (sem competências e habilidades) em todos os níveis (FUNG, 2012; ORNELAS, 2008; TASSARA e ARDANS, 2003), que reagem com hostilidade, como foi auferido pelos participantes 2, 3 e 5 durante o lanche de um dos encontros, em relação à transgressão das regras impostas por alguns professores da escola. O Participante 5 inclusive efetuou uma comparação entre o projeto (em que houve o espaço para dialogar sobre as normas de convivência e o respeito das mesmas pelos participantes) e as aulas da instituição. Nesta perspectiva, a racionalidade (TASSARA e ARDANS, 2003) é desprezada por alguns professores da instituição. Outro exemplo de desprezo pela racionalidade (TASSARA e ARDANS, 2003) é a possível utilização daquilo que Freire (1987) intitula como “Educação Bancária”, na qual o educador aparece como indiscutível agente, cuja tarefa indeclinável é “encher” os estudantes do conteúdos de sua narração, que muitas vezes são desconexos da realidade vivenciada e que não trazem nenhuma significação. Esta educação bancária é manifesta nas seguintes falas: “Participante 4: É muito chato você ficar sentado e uma pessoa, tipo, explicando uma coisa que eu não entendo. E se pergunta o que eu aprendi da primeira série até o nono ano, eu não sei.”; “Participante 3: Principalmente matemática e português que tem que quebra a cabeça pra faze. É tudo que você aprendeu, que nem a Participante 4 falou, da primeira até agora. Eu só aprendi número, que 1+1 é 2.” Este possível uso da educação bancária (FREIRE, 1987) demonstra que o professor desta instituição “esqueceu” de sua missão de transmitir um conhecimento transformador, o que gera uma transgressão das regras pelos alunos, relatada pelo Participante 5. Nesta perspectiva, os alunos não reconhecem o saber do docente e não há uma legitimação de sua autoridade. Em contrapartida, no “Minha Pipa, Nosso Céu”, houve uma sensibilidade do grupo em notar a diferença entre o projeto e as aulas, evidenciando que os participantes anseiam em ter um ambiente que permita o diálogo com o professor e participação na sala de aula. 219 Diante do exposto, é possível afirmar que há um diálogo de “surdos e mudos” na região sul oriundo da opressão sofrida, o que não permite o empoderamento comunitário (HOROCHOVSKI e MEIRELLES, 2007; PERKINS e ZIMMERMAN, 1995). As instituições (familiares, públicas, políticas, religiosas, escolares) desta região do Município se “escondem” atrás de suas tarefas na percepção dos participantes e perdem o sentido de sua missão sendo que não há uma estratégia deliberada de aproximação entre elas e de lembrar a cada momento o motivo de suas existências. Resta aos jovens um “voo solo” sendo esta uma situação gravíssima a ser superada em termos de empoderamento comunitário. 220 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Considerando a formação para a sustentabilidade, empoderamento e cidadania, entre alunos do Ensino Médio em situação de vulnerabilidade social, verificou-se que o empoderamento entre os participantes se mostrou de forma instável em alguns de seus critérios e positivos em outros, mesmo diante de um ambiente influenciado por condicionantes globais (consumo), nacionais (históricos e culturais) e principalmente locais (escola, policiais, traficantes, políticos, outras representações políticas, instituições públicas, religiosas e/ou familiares) que atuam como agentes desempoderadores, opressores e perpetuadores de humilhação social. Nesta perspectiva, constatou-se que a região sul é um ambiente hostil e segregado no Município de Poços de Caldas-MG o que foi possibilitado pelo casamento “política- mercado” desde a sua criação e mantido pelos desvios de funções das instituições locais. Estes desvios de funções afetam o tecido social desta localidade de maneira a não permitir “regras” ou possibilidades de convívio para a superação da humilhação social, o enraizamento comunitário e o empoderamento pleno em todos os seus níveis, o que se reflete, dentre outras consequências, no desejo dos participantes do projeto “Minha Pipa, Nosso Céu” de saírem da região sul. Nesse sentido, apesar da segregação existente e sentimento de oposição em relação ao restante da população de Poços de Caldas-MG, verificou-se em vários momentos do projeto, que os participantes demonstraram um desejo imenso de se integrarem à sociedade poços-caldense, bem como em trazer a população do restante do Município para conhecer a região sul. Infelizmente, as instituições no Município de Poços de Caldas-MG não favorecem essa integração e se mantêm “cegas”, “surdas” e “mudas”, como percebeu-se na inadequação da posição do Político, dos policiais, das instituições educacionais, apenas para falar dos mais significativos. Esta posição reforça o sentimento de oposição que se encaminha perigosamente para a “explosão de um conflito” em algum momento. Portanto, a região sul se caracteriza como um ambiente de injustiça oriunda de uma divisão social provocada, o que é de difícil superação, sendo necessário um entendimento da problemática vigente para a promoção da justiça nesta localidade. Desta forma, esta pesquisa possibilitou este entendimento e procurou apontar um caminho para superar a injustiça através do projeto “Minha Pipa, Nosso Céu”. 221 Em específico ao caminho apontado, este projeto não atinge plenamente a transformação dos participantes no tocante ao empoderamento em todos os níveis, mas sim em denunciar a inadequação dos programas brasileiros de educação empreendedora ofertados, principalmente pelo SEBRAE e embasados na metodologia de Dolabela (2008), implementados em ambientes vulneráveis como a região sul do Município de Poços de Caldas-MG. Estes programas de educação empreendedora, elaborados para um aluno teórico e imaginado por seus idealizadores, não correspondem à população conforme verificado nesta pesquisa. E ainda não consideram as especificidades do ambiente e as características dos participantes, que muitas vezes não possuem recursos do conhecimento formal, de condições psicossociais e ambientais para a formação empresarial ofertada. Nesta perspectiva, os programas de educação empreendedora brasileiros colocam os participantes como expectadores e lhes negam a participação ativa na construção do seu futuro, algo fundamental para a superação tanto dos obstáculos do desenvolvimento sustentável quanto da humilhação social. Assim, qualquer programa, projeto ou proposta que associe educação empreendedora ao desenvolvimento sustentável e negue a liberdade de escolha dos participantes, é equivocado e favorece a manutenção da humilhação social nos ambientes vulneráveis (SEN, 2010). Mediante os dados coletados, foi possível constatar que a educação empreendedora oferecida nos métodos tradicionais, como por exemplo, “Pedagogia Empreendedora” e “Oficina do Empreendedor” são insuficientes em ambientes de humilhação social e sujeitos à educação bancária. Fica evidente esta inadequação quando se demanda a um sujeito desempoderado em níveis individual, organizacional e comunitário a formulação de um “sonho estruturante”, pois este é condicionado a apenas repetir em um ambiente opressor de humilhação social. Além disso, é transferido aos participantes o ônus de se incluírem no paradigma proposto pelas elites sem a chance de escolher (FREIRE, 2002; SEN, 2010). É importante destacar que o empreendedorismo deve ser entendido como uma atitude social e não apenas individual, pois há uma necessidade de sua inserção no contexto social. Nesta perspectiva, ao trazer o empreendedorismo para a esfera educacional apenas como um conjunto de técnicas (plano de marketing, plano financeiro, motivação e sucesso....) e não considerar a inserção do sujeito como um todo na comunidade se revela como um equívoco grave dos programas e métodos de educação empreendedora tradicionais usados no Brasil. 222 Em contraposição, projetos como o “Minha Pipa, Nosso Céu” têm mais chances de sucesso, pois visam o resgate da prática social, do conhecimento e da vivência dos participantes de maneira a possibilitar uma reflexibilidade da população envolvida. Reflexibilidade que permite aos participantes saírem do senso comum, ou dadoxia, e imaginar e criar soluções para situações adversas que “trabalham” contra eles, o que permite ter uma posição emancipada, cidadã e sustentável (TASSARA e ARDANS, 2003). Verificou-se que o “Minha Pipa, Nosso Céu” como um ensaio foi muito positivo, sendo que não tinha como objetivo atingir o empoderamento em todos os seus níveis porque o projeto teve um prazo determinado, o que foi uma limitação desta pesquisa. Neste sentido, caso o “Minha Pipa, Nosso Céu” seja aplicado de forma continua, há maiores chances de sucesso, o que evidenciou-se em várias situações de transformações apresentadas durante a sua execução. Assim sendo, este trabalho demonstra uma afinidade com desenvolvimento sustentável e aponta um caminho ao empoderamento de indivíduos socialmente vulneráveis, fomentando a justiça social numa sociedade onde os sujeitos contribuem para a coletividade ao fazerem parte da solução das questões coletivas (LEONETTI, 2003; SEN, 2011). Por fim, a contribuição deste trabalho investigativo para o campo de estudos de empreendedorismo, em específico a educação empreendedora para a sustentabilidade, é demonstrar que é possível pleitear a formação de um empreendedor transformador social. É importante salientar que projetos como “Minha Pipa, Nosso Céu” são mais adequados aos municípios que apresentem uma problemática similar à região sul de Poços de Caldas-MG. Espera-se que futuras pesquisas possam complementar o campo de estudos sobre empreendedorismo, ainda recente no Brasil e auxiliem no desenvolvimento sustentável de localidades vulneráveis socialmente. É importante destacar que o diagnóstico socioambiental que perpassou esta pesquisa abre espaço metodológico para outras intervenções da sociedade civil, tais com ONG’s, instituições públicas, autoridades políticas, visando a superação desta problemática em localidades com características similares. Sugere-se o desenvolvimento de novos estudos com a finalidade de investigar maneiras de aproximar os atores externos em ambientes similares à região sul de Poços de Caldas-MG. 223 REFERÊNCIAS ABRAMOVAY, R. Desenvolvimento sustentável: qual a estratégia para o Brasil? Novos Estudos – CEBRAP, São Paulo, n. 87, p. 97-13, jul. 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010133002010000200006&lng=en &nrm=iso>. Acesso em: 14 out. 2012. ALMEIDA, S L; GUERRA, R F; JÚNIOR, F G P. O Empreendedorismo Compreendido sob a Perspectiva dos Estudos Culturais:A Contribuição Teórica do Circuito da Cultura Autoria. In: Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração (ENANPAD), Rio de Janeiro: 2010. ANDRADE, R F. Conexões empreendedoras: entenda por que você precisa usa as redes sociais para se destacar no mercado e alcançar resultados. 1ª ed. São Paulo: Editora Gente, 2010. ARAUJO, C A S. 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O indivíduo este, que não pode ser mais entendido como um “depósito” de conhecimento, dotado de uma passividade nociva e uma futura “engrenagem” do paradigma industrial. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio (2000), características como, disciplina, obediência, respeito restrito às regras estabelecidas, condições até então necessárias para a inclusão social, via profissionalização, perdem relevância face às novas exigências oriundas do desenvolvimento tecnológico e social. Alguns educadores acreditam que a melhor maneira de contribuir para análise e transformação do processo de ensino e aprendizagem seria a descoberta de uma fórmula que acabasse com o desinteresse discente, mas estas fórmulas não existem (MACEDO, PETTY e PASSOS, 2000). A educação situa-se, mais do que nunca, no âmago do desenvolvimento da pessoa e das comunidades, sua missão consiste em permitir que todos, sem exceção, façam frutificar seus talentos e suas potencialidades criativas, o que implica, por parte de cada um, a capacidade de assumir sua própria responsabilidade e de realizar o seu projeto pessoal. (DELORS, 2010, p. 10). É necessário que a educação, vislumbre uma formação holística do individuo. Delors (2010) recomenda os quatro pilares para essa educação holística, “aprender a conhecer”, “aprender a fazer”, “aprender a conviver” e “aprender a ser”: Aprender a conhecer, combinando uma cultura geral, suficientemente ampla, com a possibilidade de estudar, em profundidade, um número reduzido de assuntos, ou seja, aprender a aprender, para beneficiar-se das oportunidades oferecidas pela educação ao longo da vida. Aprender a fazer, com a finalidade de adquirir não só uma qualificação profissional, mas de uma maneira mais abrangente, a competência que torna a pessoa apta a enfrentar diversas situações e a trabalhar em equipe. Além disso, aprender a fazer no âmbito das diversas experiências sociais ou de trabalho, seja espontaneamente na sequência do contexto local ou nacional, seja formalmente, graças ao desenvolvimento do ensino alternado com o trabalho. 239 Aprender a conviver, desenvolvendo a compreensão do outro e a percepção das interdependências – realizar projetos comuns e preparar-se para gerenciar conflitos – no respeito pelos valores do pluralismo, da compreensão mútua e da paz. Aprender a ser, para desenvolver, a personalidade e estar em condições de agir com uma capacidade cada vez maior de autonomia, discernimento e responsabilidade pessoal. Com essa finalidade, a Educação deve levar em consideração todas as potencialidades de cada indivíduo: memória, raciocínio, sentido estético, capacidades físicas, aptidão para comunicar-se. A Educação deve garantir que as pessoas sejam dotadas da capacidade de abstração; do desenvolvimento do pensamento sistêmico, ao contrário da compreensão parcial e fragmentada dos fenômenos; da criatividade; da curiosidade; da capacidade de pensar múltiplas alternativas para a solução de um problema, ou seja, do desenvolvimento do pensamento divergente; da capacidade de trabalhar em equipe; da disposição para o risco; do desenvolvimento do pensamento crítico; do saber comunicar-se; da capacidade de buscar conhecimento. Estas são competências que devem estar presentes na esfera social, cultural, nas atividades políticas e sociais como um todo e que são condições para o exercício da cidadania num contexto democrático (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2000). Diante deste novo cenário, a educação empreendedora aparece como uma das possibilidades existentes de suprir estas demandas. Mas que tipo de educação de empreendedora? Uma educação empreendedora que vislumbre apenas a abertura de empresas é insuficiente para à formação holística de um individuo e perpetua o paradigma industrial existente. Partindo desta indagação, foi desenvolvido o projeto “MINHA PIPA, NOSSO CÉU”. Este projeto vislumbra a formação de um individuo dotado de características éticas, cidadãs e cooperativas. É proposta desta forma, uma formação empreendedora que não contemple apenas o beneficio e a satisfação individual, mas sim coletiva. “MINHA PIPA, NOSSO CÉU” busca o autoconhecimento do estudante, o sentimento de pertencimento da comunidade na qual está inserido e a elaboração/implementação de projetos que possibilitem o desenvolvimento sustentável e a qualidade de vida do bairro. O projeto “MINHA PIPA, NOSSO CÉU” visa o protagonismo juvenil de maneira a fomentar o desenvolvimento em comunidades em situação de vulnerabilidade ou humilhação social. 240 1.2 POR QUE O NOME “MINHA PIPA, NOSSO CÉU”? O projeto é denominado “MINHA PIPA E NOSSO CÉU” devido a uma analogia. A pipa representa o projeto que os estudantes irão confeccionar e propor para a comunidade na qual estão inseridos. Mas diferentemente da elaboração de outras “pipas”, estas terão que ser construídas em grupo. Para isto, os participantes do projeto serão estimulados, por meio de dinâmicas e exercícios, a aprenderem a planejar, providenciar recursos, se organizarem e saber trabalhar em equipe. Já o céu representa a comunidade na qual os jovens estão inseridos. 2 ASPECTOS DO PROJETO “MINHA PIPA, NOSSO CÉU” Como recomendam Macedo, Petty, Passos (2000), qualquer atividade pedagógica ou psicopedagógica, requer uma organização prévia e uma reavaliação constante. Muitos problemas de ordem estrutural podem ser evitados ou, pelo menos, antecipados, se determinados aspectos relativos ao projeto de trabalho forem considerados. Alguns pontos fundamentais são: objetivo, público, materiais, adaptações, tempo, espaço, dinâmica, papel do moderador e avaliação da proposta. 2.1 OBJETIVOS 2.1.1 OBJETIVO GERAL Utilizar a temática empreendedorismo com a finalidade de promover a formação para a sustentabilidade, empoderamento e cidadania entre os jovens em situação de humilhação social. 2.1.2 OBJETIVOS ESPECIFICIOS Identificação pelos jovens de oportunidades de transformação coletiva do ambiente na região sul de Poços de Caldas-MG; Incentivar o protagonismo do jovem no meio comunitário; 241 Promover a transformação pessoal do jovem participante; Fomentar uma rede de relacionamentos entre os jovens e os empreendedores locais; Fomentar o desenvolvimento de competências empreendedoras nos participantes; Dar início ao processo de formação de jovens empreendedores sociais no bairro (sustentabilidade) 3. MÉTODO Tipo de pesquisa: pesquisa-ação A pesquisa-ação é um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo. (THIOLLENT, 1998, p. 14). A pesquisa-ação permite: 1. Melhorar: A prática dos participantes; A sua compreensão dessa prática; A situação onde se produz a prática. 2. Envolver: Assegurar a participação dos integrantes do processo; Assegurar a organização democrática da ação; Propiciar compromisso dos participantes com a mudança. Apesar de não haver etapas estabelecidas e rígidas (FRANCO, 2005), Thiollent (1998) destaca as seguintes fases para a concepção e organização de uma pesquisa-ação: fase exploratória; campo de observação; amostragem e representatividade qualitativa; discussão dos problemas; hipóteses; encontros; coleta de dados; aprendizagem; saber formal/saber informal e plano de ação. 242 3.1 PÚBLICO (AMOSTRAGEM E REPRESENTATIVIDADE QUALITATIVA) Alunos do Ensino Médio de uma única escola pública do município de Poços de Caldas-MG, abrangendo a faixa-etária de 14 à 15 anos, devidamente matriculados e portadores da autorização dos responsáveis. Serão selecionados 15 alunos. 3.1.1 Critérios de seleção do grupo: Não trabalhar; Residir próximo à instituição escolar; Demonstrar pré-disposição de participar do projeto; Assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido; 3.2 PROCEDIMENTOS O projeto será apresentado para a diretoria da instituição escolar. Após a apresentação, a direção deverá se posicionar a favor ou contra o projeto. Caso a direção aceite o projeto, serão realizados ajustes que o pesquisador e a direção julgarem pertinentes para a execução das atividades, tendo em vista as especificidades da instituição escolar. Será explanado para a direção sobre a sua respectiva responsabilidade em providenciar lanche, uma sala e alunos para a execução do projeto. Em nenhum momento o projeto será imposto. Após a aceitação e a execução dos ajustes, o projeto será apresentado aos alunos em slides no formato “.pptx” em seu lançamento. Os slides do lançamento terão os seguintes conteúdos: Objetivo geral do projeto; Execução do projeto; Critérios de seleção; Benefícios do projeto ao participante; Os objetivos do projeto; Após a apresentação do projeto, os alunos receberão um “TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO” a ser preenchido pelos responsáveis. Os pais dos participantes 243 poderão procurar (via telefone/email/ ou pessoalmente) o pesquisador para esclarecimentos acerca do projeto. Caso muitos pais procurem o pesquisador, será realizada uma reunião para esclarecimentos na instituição escolar (Escola Estadual Parque das Nações). Após os esclarecimentos e a assinatura do “TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO” serão realizados encontros semanais com o grupo de alunos no período em que a diretoria da escola propor, em consonância com os horários do pesquisador e dos participantes . Estas reuniões ocorrerão na instituição escolar e contemplará as dinâmicas e os exercícios propostos no projeto. Durante e após a execução do projeto serão realizadas avaliações do mesmo. Haverá 10 encontros periódicos com duração que podem ir de 60 a 120 minutos cada um (conforme a necessidade), com o objetivo de fomentar empreendedores sociais locais. Para registrar as informações do projeto serão utilizados vídeos, fotos, um diário de campo a Atas. 3.3 LEVANTAMENTO DE CAMPO (COLOCAÇÃO DOS PROBLEMAS / ENCONTROS / COLETA DE DADOS / APRENDIZAGEM / GERAÇÃO DE HIPÓTESES / SABER FORMAL E INFORMAL ): 3.3.1 Coletas de dados / Aprendizagem / saber formal e informal A obtenção de informações será realizada dentro dos seminários que serão detalhados. Os atores (no caso os participantes) terão que gerar, utilizar informações e também orientar a ação e tomar decisões. Neste sentido, será respeitado o saber formal e informal dos participantes, o que permitirá uma aprendizagem do grupo 3.3.2 Encontros / Colocação dos problemas / Geração de hipóteses Através dos encontros serão apresentados os problemas (através de discussões), o que permitirá a geração de hipóteses tanto do pesquisador, quanto dos participantes. O conteúdo dos seminários é o seguinte: 244 1° Encontro Este primeiro encontro tem como objetivo formar um grupo, definir regras de convivência, explicar o projeto e situar o participante acerca do empreendedorismo. No primeiro encontro ocorrerá uma apresentação em slides no formato “.pptx” tendo os seguintes conteúdos: Reapresentação dos objetivos; O papel do moderador (de não fornecer respostas, mas sim perguntas; auxiliar nas dificuldades); O papel do participante (estar disposto ao autoaprendizado; geração do conhecimento; busca de respostas; constante autoexposição, autoconhecimento); Definição de regras de convivência entre os participantes e o pesquisador; Atividades: Aplicação da 1° Dinâmica “EU SOU ALGUÉM”; Separação do grupo em subgrupos; Tarefa para o encontro posterior: cada subgrupo terá que pesquisar o que vem a ser empreendedorismo e trazer o exemplo de um empreendedor (realizado por cada participante). 2° Encontro (estava previsto para o 3° Encontro) Este segundo encontro tem como objetivo dar início ao processo de identificação de oportunidades de transformação no bairro / dar início ao protagonismo juvenil no bairro. Atividades: Apresentação de cada subgrupo sobre o que vem a ser empreendedorismo e o exemplo de um empreendedor; Aplicação da 2° Dinâmica “CONCORDO E NÃO CONCORDO”; Tarefa para o encontro posterior: Cada participante terá que sair pelos bairros e fotografar (com aparelho celular ou câmera, caso todos ou um membro do subgrupo 245 tenham / caso não tenham, os mesmo terão que trazer desenhos em uma folha A4) o que julgam estar errado no bairro. Estas fotografias terão que ser trazidas no próprio celular dos próprios participantes para o próximo encontro. 3° Encontro (estava previsto para o 2° Encontro) Este terceiro encontro tem como objetivo dar sequência ao processo de identificação de oportunidades de transformação no bairro / dar sequência ao protagonismo juvenil no bairro / fomentar características empreendedoras nos participantes / dar início a fomentação de uma rede de relacionamentos entre os jovens e os empreendedores locais; Atividades: Apresentação das fotografias ou desenhos que os participantes trouxerem e discussão a respeito delas; Aplicação da 3° dinâmica: “A MINHA COMUNIDADE HOJE / A MINHA COMUNIDADE COMO A QUERO”; Tarefas para o encontro posterior: Cada subgrupo terá que identificar e entrevistar um empreendedor local. Dar continuidade ao processo de fotografar o que os participantes julguem estar errado no bairro. 4° Encontro Este quarto encontro tem como objetivo dar sequência ao processo de identificação de oportunidades de transformação no bairro / dar sequência ao protagonismo juvenil no bairro / fomentar características empreendedoras nos participantes. Atividades: Apresentação das fotografias ou desenhos que os participantes trouxerem e discussão a respeito delas (caso tenham identificado mais); Cada subgrupo terá que definir um problema a ser resolvido; Apresentação das entrevistas realizadas pelos alunos (caso tenha realizado); Aplicação da 4° Dinâmica “TORRE DE CANUDOS”; 246 Tarefas para o encontro posterior: Cada subgrupo com um problema a ser resolvido terá que pensar em conjunto uma solução para o mesmo. 5° Encontro (realizado no sexto encontro) Este quinto encontro tem como objetivo dar início da transformação da identificação de oportunidades em empreendimentos sociais no bairro / dar sequência ao protagonismo juvenil no bairro / fomentar características empreendedoras nos participantes. Atividades: Apresentação da solução encontrada pelo subgrupo; Aplicação da 5° Dinâmica “CRIANDO UMA SOLUÇÃO SOCIAL LOCAL”; Definição de um líder para cada subgrupo (realizado em um grupo, sem líder); Tarefa para o encontro posterior: Os participantes terão que colocar no papel o que é necessário (pessoas e materiais), como será realizada a obtenção destes recursos e o papel de cada membro do grupo e um cronograma das atividades. 6° Encontro (Aberto a um convidado externo definido em conjunto pelo pesquisador e pelo grupo: empreendedor, palestrante, professor, consultor / realizado no sétimo encontro) Este sexto encontro tem como objetivo trazer um convidado externo para esclarecer algum assunto de interesse do grupo acerca de empreendedorismo ou na solução do problema identificado / dar sequência ao processo de transformação da identificação de oportunidades em empreendimentos sociais no bairro / dar sequência ao protagonismo juvenil no bairro / fomentar características empreendedoras nos participantes. Atividades: Apresentação e discussão do pré-projeto dos participantes; Palestra ou diálogo com um convidado (definido em grupo); Espaço para perguntas ao palestrante; Tarefa para o encontro posterior: Os participantes revisarão os pré-projetos e definiram se há necessidade de alteração ou não e terão que nomear um empreendedor local que julguem capaz de ajudá-los. 247 7° Encontro (realizado no oitavo encontro) Este sétimo encontro tem como objetivo dar sequência ao processo de transformação da identificação de oportunidades em empreendimentos sociais no bairro / dar sequência ao protagonismo juvenil no bairro / fomentar características empreendedoras nos participantes. Atividades: Apresentação e discussão do pré-projeto revisado dos participantes; Apresentação e justificativa do parceiro empreendedor local; Tarefa para o encontro posterior: Os participantes terão que dar início à operacionalização do projeto deles e terão que trazer para o próximo encontro o que conseguiram executar e quais foram as dificuldades 8° Encontro Este oitavo encontro tem como objetivo dar sequência ao processo de transformação da identificação de oportunidades em empreendimentos sociais no bairro / dar sequência ao protagonismo juvenil no bairro / fomentar características empreendedoras nos participantes Atividades: Apresentação e discussão sobre a execução do projeto e das dificuldades encontradas pelos participantes e auxílio do moderador para saná-las na própria comunidade pela construção de redes de relacionamentos; Acompanhamento da operacionalização do projeto; Tarefa para o encontro posterior: Os participantes terão que dar sequência da operacionalização do projeto por eles elaborado e terão que trazer para o próximo encontro o que conseguiram executar e quais foram as dificuldades. 9° Encontro Este nono encontro tem como objetivo dar sequência ao processo de transformação da identificação de oportunidades em empreendimentos sociais no bairro / dar sequência ao protagonismo juvenil no bairro / fomentar características empreendedoras nos participantes 248 Atividades: Apresentação e discussão sobre a execução do projeto e das dificuldades encontradas pelos participantes e auxílio do moderador para saná-las na própria comunidade pela construção de redes de relacionamentos; Acompanhamento da operacionalização do projeto; Tarefa para o encontro posterior: Os participantes terão que terão que trazer para o próximo encontro o que conseguiram executar e quais foram as dificuldades para a execução do projeto. 10° Encontro Este encontro tem como objetivo encerrar o projeto e visualizar a transformação pessoal dos participantes. Atividades: Apresentação e discussão do que foi alcançado pelo projeto dos participantes; Aplicação da 6° Dinâmica “ENTREVISTA COMIGO MESMO DAQUI A DEZ ANOS”; Encerramento do projeto (caso seja um desejo dos participantes) ou continuidade até a concretização do projeto dos participantes. 3.4 MATERIAIS Cada dinâmica demanda materiais específicos, conforme descrições apresentadas em cada uma delas. Todas as dinâmicas são passíveis de adaptações, tendo em vista que no decorrer das atividades podem ocorrer imprevistos, tais como não participação efetiva dos alunos, ausências e outros motivos. 3.5 INSTRUMENTOS O pesquisador selecionou alguns instrumentos que julgou pertinentes ao projeto, encontrados em fontes secundárias (livros). Todas as dinâmicas propostas estão sujeitas a adaptações e substituições, caso o pesquisador identifique necessidades não previstas no decorrer de suas 249 execuções. Caso sejam necessárias as adaptações e substituições, todas serão informadas à direção da instituição escolar. O projeto contempla as seguintes dinâmicas: 3.5.1 DINÂMICA PARA AUTOCONHECIMENTO DO PARTICIPANTE Aprender a ser está relacionado ao desenvolvimento integral do ser humano e inclui múltiplos aspectos da personalidade, que vão desde a riqueza e complexidade dos processos intelectivos e estilos cognitivos aos modos de agir e criar baseados em valores, ideais e metas de vida, pessoais e profissionais. O conceito que uma pessoa tem de si reflete-se na formação de descrições, inferências, juízos e sentimentos que demonstra sobre os outros e sobre si mesma. (WICKERT, 2006, p. 71). Na concepção do pesquisador, neste projeto em específico, é necessário o autoconhecimento do participante. Com esta dinâmica o pesquisador pretende mobilizar o jovem para que perceba-se, de maneira a permitir a reflexão e expressão dos sentimentos referentes à sua própria pessoa. Como Serrão e Balleiro (1999) colocam: “a consciência de si mesmo, das qualidades pessoais, constitui-se o ponto inicial para que o adolescente afirmar sua identidade”. TÉCNICA EU SOU ALGUÉM OBJETIVOS Perceber os valores pessoais; perceber-se como ser único e diferente dos demais. MATERIAL Papel ofício e lápis. DESENVOLVIMENTO 1. Grupo em círculo, sentado; 2. Distribuir uma folha de papel e um lápis para cada participante, pedindo que listem, no mínimo, dez características próprias. Tempo; 3. Solicitar que virem a folha, dividam-na ao meio e classifiquem as características listadas, colocando de um lado as que facilitam sua vida e do outro lado as que dificultam. Tempo; 4. Formar subgrupos para partilhar as conclusões individuais. 5. Plenário – compartilhar com o grupo as descobertas feitas sobre si mesmo: O que descobriu sobre si mesmo realizando a atividade? Qual a característica própria que você mais aprecia? Qual a que lhe desagrada? Quais as características mais comuns ao grupo? INDICADORES Participação dos estudantes; a percepção do estudante como um ser único; 250 AVALIATIVOS o estudante acredita ter qualidades; o comportamento do grupo enquanto o colega se expressa; qualidades comuns presentes nos estudantes; quais foram as dificuldades apontadas pelos estudantes no processo de “descobrir” e expressar as suas qualidades. TEMPO 120 minutos (previsão) FONTE Adaptado do livro “Aprender a Ser e a Conviver” 3.5.2 DINÂMICA PARA QUE O JOVEM RECONHEÇA A REALIDADE EM QUE VIVE NA COMUNIDADE E IMAGINE UM FUTURO Esta dinâmica permite que o jovem se depare com a realidade em que vive e com os compromissos que precisa assumir com ela. Ao projetar sua realidade no futuro, o jovem entra em contato com o desejo e a necessidade de mudança. A partir daí, pode refletir sobre sua participação no processo de transformação. Esta atividade é pertinente, pois permite que o jovem perceba que o desejo ou sonho por si só não produz mudanças, sendo necessário iniciar ações coletivas que possibilitem transformações. Esta dinâmica visa estimular o protagonismo juvenil na comunidade, no sentido de buscar soluções para alguns dos problemas diagnosticados, considerando-se os limites e possibilidades da ação do jovem. Não serão exigidos dos adolescentes papéis e responsabilidades incompatíveis com o seu nível de desenvolvimento, tendo sempre em mente que há muitas maneiras de contribuir com uma causa. Esta dinâmica é o primeiro passo do projeto que ajudará a subsidiar as “PIPAS” dos estudantes. TÉCNICA A MINHA COMUNIDADE HOJE / A MINHA COMUNIDADE COMO A QUERO OBJETIVO Tomar consciência do espaço em que vive, refletindo suas problemáticas de modo a perceber as mudanças que deseja que ocorram e o que se faz necessário para que elas aconteçam. MATERIAL Revistas, tesouras, cola, fita crepe, papel ofício, canetas, hidrocor, lápis de cera, lápis preto e borracha. 251 DESENVOLVIMENTO: 1. Dividir o grupo em subgrupos de, no máximo, cinco pessoas; 2. Espalhar o material no centro do grupo; 3. Pedir que cada subgrupo construa duas colagens: uma expressando a comunidade em que vive hoje e outra como gostaria que essa comunidade fosse; 4. Pedir para que cada subgrupo apresente o seu trabalho, afixando as colagens na parede, deixando entre elas um espaço que represente, na opinião do subgrupo, a distância entre a realidade que se tem e a desejada; 5. Após as apresentações, pedir que os subgrupos se reúnam novamente e discutam que problemáticas da comunidade precisam ser resolvidas para que o distância entre a realidade e o desejado desapareça. Tempo; 6. Cada subgrupo constrói, com o material, uma ponte entre as duas colagens, representando, nessa ponte, as questões que precisam ser trabalhadas para diminuir a distância entre a comunidade que se tem e a que se deseja; 7. Plenário – compartilhar as conclusões a que chegaram, levantando alternativas e soluções possíveis. INDICADORES Participação dos estudantes; formulação da problemática da AVALIATIVOS comunidade; percepção dos estudantes se há mudanças necessárias na comunidade; formulação de propostas de mudanças no bairro; capacidade de se expressar. TEMPO 120 minutos (previsão) FONTE Adaptado do livro “Aprender a Ser e a Conviver” 3.5.3 DINÂMICA 1 DE EMPREENDEDORISMO Dinâmica com foco no desenvolvimento de competências empreendedoras entre os jovens. TÉCNICA TORRE DE CANUDOS OBJETIVO Trabalhar as seguintes características: organização; liderança; autoconfiança; iniciativa; planejamento/estratégia. MATERIAL 3 pacotes de canudos, papel e lápis DESENVOLVIMENTO: 1. Dividir o grupo em subgrupos de, no máximo, cinco pessoas; 2. Distribuir os pacotes de canudos para os subgrupos; 252 3. Cada subgrupo terá que definir um nome para a equipe e um líder, planejar o trabalho, fazer um desenho preliminar de uma “torre de canudos”, montar a torre e elaborar uma estratégia para defender o porquê que a sua torre é a melhor; 4. Após a análise de todas as torres, os avaliadores (o moderador e o conjunto dos estudantes) selecionam a melhor torre. A escolha obedece aos seguintes critérios: fidedignidade ao desenho original; criatividade e beleza; altura da torre; melhor estratégia de venda; a torre deveria ficar em pé por conta própria. INDICADORES Participação e organização dos estudantes; capacidade de planejamento AVALIATIVOS e execução TEMPO 120 minutos (previsão) FONTE Adaptado do livro “Educação Empreendedora: conceitos, modelos e práticas” 3.5.4 DINÂMICA 2 DE EMPREENDEDORISMO Dinâmica com foco no desenvolvimento de competências empreendedoras entre os jovens. TÉCNICA CONCORDO...NÃO CONCORDO OBJETIVO Trabalhar as seguintes características: assertividade; liderança; autoconfiança; iniciativa; planejamento e execução do planejamento. MATERIAL Papel e lápis DESENVOLVIMENTO: 1. Dividir o grupo em subgrupos de, no máximo, quatro pessoas; 2. Cada subgrupo receberá uma frase polêmica atrelada à região; 3. Dispor os subgrupos com posições opostas (os “contra” e os “favoráveis”) devem defender seu ponto de vista em uma discussão; 4. Em seguida, os grupos têm que trocar de posição e iniciar uma nova discussão. INDICADORES Participação dos estudantes; formulação da problemática da AVALIATIVOS comunidade; percepção dos estudantes se há mudanças necessárias na comunidade; formulação de propostas de mudanças no bairro; capacidade de se expressar. TEMPO 90 minutos (previsão) FONTE Adaptado do livro “Educação Empreendedora: conceitos, modelos e 253 práticas” 3.5.5 DINÂMICA 3 DE EMPREENDEDORISMO Dinâmica com foco no desenvolvimento de características empreendedoras entre os estudantes. TÉCNICA CRIANDO UMA SOLUÇÃO SOCIAL LOCAL OBJETIVO Trabalhar as seguintes características: criatividade, autoconfiança, inovação, liderança, planejamento e execução. MATERIAL Papel e lápis DESENVOLVIMENTO: 1. Dividir o grupo em subgrupos de no máximo cinco pessoas; 2. Cada subgrupo deverá elaborar um produto ou serviço social o mais exótico possível, revolucionário, algo que não exista, impensável nos padrões vigentes atuais; 3. Os subgrupos deverão realizar uma apresentação convincente e séria sobre a produto ou serviço social; 4. No final, o grupo escolhe o produto/serviço mais original e convincente. INDICADORES Participação dos estudantes; formulação da problemática da AVALIATIVOS comunidade; formulação do produto ou serviço; apresentação do produto ou serviço; participação do grupo na escolha do produto ou serviço. TEMPO 120 minutos (previsão) FONTE Adaptado do livro “Educação Empreendedora: conceitos, modelos e práticas” 3.5.6 DINÂMICA DE FECHAMENTO O ponto principal desta atividade é propiciar que os jovens possam discutir seus sonhos e perceber suas possibilidades e limites. Esta atividade possibilita ao moderador um diagnóstico do grupo em relação ao projeto de vida, que metas os adolescentes pretendem alcançar e que visão de futuro constroem para si. É importante trabalhar a projeção que o adolescente faz da sua vida no futuro, porque é essa imagem que o leva a investir no seu presente, enfrentando as 254 dificuldades e ultrapassando as barreiras em direção à sua situação desejada. TÉCNICA ENTREVISTA COMIGO MESMO DAQUI A DEZ ANOS OBJETIVOS Identificar os anseios dos jovens em relação ao futuro; discutir as metas que gostariam de alcançar durante os próximos dez anos. DESENVOLVIMENTO: 1. Grupo em círculo, sentado; 2. Pedir que fechem os olhos e pensem na pessoa que são hoje. O facilitador deve dizer a data do dia, incluindo o ano; 3. Solicitar que deem um salto no tempo e se imaginem dez anos depois. Visualizar-se nesse novo tempo: como estão, o que estão fazendo, com quem estão. Tempo; 4. Dizer ao grupo que, ao abrir os olhos, todos, inclusive o facilitador, estarão dez anos mais velhos. O facilitador fala a data do dia acrescida de mais de dez anos. Abrir os olhos; 5. Cada participante deve contar ao grupo o que realizou nesses dez anos, como está em sua vida pessoal e profissional, o que conseguiu, como se sente; 6. Quando todos tiverem falado de si, pedir que fechem novamente os olhos e se recordem de como eram dez anos atrás. O facilitador diz a data do dia e do ano atual, trazendo-os de volta; 7. Abrir os olhos e reencontrar-se no presente; 8. Plenário – discutir os seguintes pontos: É difícil imaginar o futuro? Por quê? O que mais lhe chamou a atenção em você mesmo e/ou nos demais? O que é preciso para realizar seus sonhos? O que você pode fazer agora para que esses sonhos se transformem em realidade? 9. Fechamento: o facilitador pontua para o grupo que as escolhas que fazemos no presente são orientadas pela visão de futuro que projetamos para nós mesmos. INDICADORES O jovem é capaz de formular um futuro e traçar um caminho para AVALIATIVOS alcançá-lo? TEMPO 120 minutos (previsão) FONTE Adaptado do livro “Aprender a Ser e a Conviver” 255 3.6 PROJETO DE EMPREENDEDORISMO DOS PARTICIPANTES É importante destacar que esta atividade será iniciada no quarto encontro do projeto, tendo continuidade nas semanas subsequentes até o término do projeto; O grupo de quinze jovens será divido em três subgrupos, cada um com cinco jovens; Cada subgrupo terá que definir um líder de maneira democrática e terá que explicar o motivo da escolha; Cada subgrupo terá que nomear uma pessoa externa do projeto que julguem ser um parceiro e que acreditem que possam ajudá-los no projeto. Esta escolha terá que ser justificada; Os subgrupos terão que formular uma proposta de transformação de bairros pertencentes à região sul. Esta proposta deverá contemplar o objeto de transformação (que será estabelecido pelos alunos), os recursos necessários (pessoas e materiais), como será realizada a obtenção destes recursos e o papel de cada membro do grupo e um cronograma das atividades; Após a elaboração do projeto, os jovens deverão apresentá-lo. 3.7 Exercício entrevista O objetivo deste exercício é induzir o jovem a estabelecer uma rede de relações que venha a apoiar sua visão. A entrevista com um empreendedor é uma fonte de aprendizado de características empreendedoras e gerenciais, além de ser um dos primeiros passos do jovem na formação de sua rede. O grupo de 15 jovens serão divididos em 3 subgrupos. Cada subgrupo terá que identificar e entrevistar um empreendedor (criador de uma empresa) local. Sugestão de roteiro de entrevista Por que decidiu abrir uma empresa? Como obteve recursos financeiros? Alguém o ajudou na abertura da empresa? 256 Quais foram as dificuldades encontradas? Quais foram os erros que você cometeu? O que você faria diferente hoje se estivesse prestes a iniciar o seu negócio? Como é o seu relacionamento com os seus clientes e fornecedores? Como é o seu relacionamento com a comunidade? Hoje, se você não fosse um empreendedor e tivesse uma oportunidade de abrir um negócio, você abriria novamente? Por quê? 3.8 TEMPO Cada dinâmica tem um tempo específico previsto (120 minutos no máximo) tendo todas um tempo adicional embutido. Este tempo adicional só será utilizado se realmente for necessário. Este projeto em específico, só é passível de promoção em horário alternativo como no período que não seja o horário regular das aulas, sábados, domingos e noites. 3.9 ESPAÇO Para a execução do projeto é necessário uma sala de aula, dezesseis cadeiras (1 para o moderador/pesquisador e 15 para os participantes do projeto). Vale lembrar que as cadeiras devem estar dispostas em círculo nos encontros. 3.10 PAPEL DO MODERADOR (SABER INFORMAL E FORMAL) O moderador desempenha um papel auxiliar, no qual assume um maior envolvimento e responsabilidade, em particular nas situações cercadas de obstáculos políticos ou outros (THIOLLENT, 1998). 4 ANALISE DOS DADOS: Análise das atas dos seminários; Análise dos projetos desenvolvidos pelos alunos; 257 5 AVALIAÇÃO DO PROJETO “MINHA PIPA, NOSSO CÉU” Determinação da validade se refere à qualidade ou condição de um programa de produzir os efeitos dele esperados; O projeto pode propiciar o fomento de empreendedores sociais na região sul de Poços de Caldas-MG?; Quinze estudantes, que como agentes multiplicadores podem beneficiar a população da região sul?; Superação da vulnerabilidade social (caso exista). 6 CONTINUIDADE Dotado da avaliação da proposta, serão apresentados pontos insuficientes, possíveis objetivos futuros que poderão auxiliar outros pesquisadores, pedagogos, psicopedagogos em adotar o projeto. 7 CRONOGRAMA Fase Semana 0 Apresentação do projeto e 1 2 3 4 5 6 7 X sensibilização dos gestores da instituição escolar / Ajustes do projeto Apresentação do projeto aos X alunos e envio do “TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO” 1° Encontro X 2° Encontro X 3° Encontro X 258 4° Encontro X 5° Encontro X 6° Encontro X 7° Encontro X 8° Encontro X 9° Encontro X 10° Encontro X X Projeto de empreendedorismo X X X X X X X X dos participantes Avaliação parcial do projeto X X X Avaliação total do projeto X REFERENCIAS DO PROJETO DELORS, J. Educação: um tesouro a descobrir – relatório para a UNESCO da comissão internacional sobre educação para o século XXI, Brasília: UNESCO, 2010. FRANCO, M A S. Pedagogia da pesquisa-ação. Educação e Pesquisa, v. 31, n. 3, 483-502, 2005. LOPES, R M (Org.). Educação empreendedora: conceitos, modelos e práticas. Rio de Janeiro: Elsevier / São Paulo: Sebrae, 2010. MACEDO, L de; PETTY, A L S; PASSOS, N C. Aprender com jogos e situaçõesproblema. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Parâmetros curriculares nacionais ensino médio, 2000. SERRÃO, M; BALEEIRO, M C. Aprendendo a ser e a conviver. 2 ed. São Paulo: FTD, 1999. 259 THIOLLENT, M. Metodologia da pesquisa-ação. 8 ed. São Paulo: Cortez, 1998. WICKERT, M L S. Referenciais Educacionais do SEBRAE: versão 2006. Brasília DF: SEBRAE, 2006. 260 APÊNDICE B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PESQUISA: “EMPREENDEDORISMO SOCIAL ENTRE JOVENS EM SITUAÇÃO DE HUMILHAÇÃO SOCIAL: CAMINHO PARA A TRANSFORMAÇÃO SOCIAL E EMPODERAMENTO” As informações contidas nesta folha, fornecidas pela Professora Dra. CARMEN FABRIANI e Aluno MAURÍCIO DOS SANTOS CARLOS JUNIOR têm por objetivo firmar acordo escrito com o(a) voluntária(o) para envolvimento na pesquisa acima referida, autorizando a participação ou de seu filho(a), com pleno conhecimento da natureza dos procedimentos a que ela(e) será submetida(o). 1) Natureza da pesquisa: Propor a temática empreendedorismo social com a finalidade de promover a formação para sustentabilidade, empoderamento e cidadania entre os jovens em situação de humilhação social. 2) Participantes da pesquisa: Alunos do ensino médio. 3) Envolvimento na pesquisa: Ao aceitar participar deste estudo, você tem liberdade de se recusar a participar e ainda de se recusar a continuar participando em qualquer fase da pesquisa, sem qualquer prejuízo para você ou para a escola. Sempre que quiser poderá pedir mais informações sobre a pesquisa através do telefone do coordenador do projeto. 4) Sobre as coletas ou entrevistas: Na Escola Estadual Parque das Nações, no município de Poços de Caldas, Minas Gerais. 5) Riscos e desconforto: Os procedimentos utilizados nesta pesquisa obedecem aos Critérios da Ética na Pesquisa com Seres Humanos conforme resolução n. 196/96 do Conselho Nacional de Saúde – Brasília – DF. 6) Confidencialidade: Todas as informações coletadas neste estudo são estritamente 261 confidenciais. Os dados da(o) voluntária(o) serão identificados com um código, e não com o nome. Apenas os pesquisadores terão conhecimento dos dados, assegurando assim a privacidade. 7) Benefícios: Ao participar desta pesquisa você não terá nenhum beneficio direto. Entretanto, esperamos que este estudo contribua com informações que possam acrescentar elementos importantes à literatura, onde o pesquisador se compromete a divulgar os resultados obtidos. 8) Pagamento: Você não terá nenhum tipo de despesa ao autorizar sua participação nesta pesquisa, bem como nada será pago pela sua participação. 9) Liberdade de recusar ou retirar o consentimento: Você tem a liberdade de retirar seu consentimento a qualquer momento e deixar de participar do estudo sem penalidades. Após estes esclarecimentos, solicitamos o seu consentimento de forma livre para permitir sua participação nesta pesquisa. Portanto, preencha os itens que seguem: CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Eu,__________________________________________, RG_________________ após a leitura e compreensão destas informações, entendo que a participação de____________________________________, sob minha responsabilidade, é voluntária, e que ele(a) poderá sair a qualquer momento do estudo, sem prejuízo algum. Confiro que recebi cópia deste termo de consentimento, e autorizo a execução do trabalho de pesquisa e a divulgação dos resultados obtidos neste estudo. Obs: Não assine esse termo se ainda tiver dúvida a respeito. Poços de Caldas, ________/_________/_________ Telefone para contato:__________________________ Nome Voluntário:____________________________________________________________ 262 Assinatura Responsável:________________________________________________________________ Pesquisador: Profa. Dra. Carmen Beatriz R. Fabriani e-mail: [email protected] Telefone: (19) 3623-3022 Ramal – (211) Assinatura:__________________________________________________________________ Pesquisador: Maurício dos Santos Carlos Junior e-mail: [email protected] Telefone: (35) 8436-5021 Assinatura:_________________________________________________________________ 263 APÊNDICE C – Modelo de Questionário MODELO DE QUESTIONÁRIO Data: Hora de início: Hora de término: Nome da escola: Diretor(a): Endereço: Nº de alunos: N° de professores: Quais séries a escola oferece: Esclareço que todos os dados e informações obtidos por esta pesquisa serão disponibilizados apenas na disciplina de Práticas Sociais e Participação, do curso Stricto Sensu de Mestrado em Desenvolvimento Sustentável e Qualidade de vida do Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – FAE, situado no município de São João da Boa Vista-SP. Não existem respostas certas ou erradas, o que vale é a sua resposta sincera. 1 A escola possui alguma disciplina sobre desenvolvimento sustentável? (Se sim, qual?/ Se não, por quê?) 2 Há evasão escolar nesta escola? (Se sim, qual é a taxa de evasão escolar? Em sua opinião, por que ocorre a evasão nesta escola? A escola possui alguma estratégia para evitar essa evasão?) 3 Há atividades extra curriculares nesta escola? (Se sim, quais?/ Se não, por quê?) 4 Em sua opinião, você acha possível ensinar empreendedorismo aos seus alunos? (Se sim, você estaria disposta a aceitar um projeto que contemplasse tal ensino? Por quê?) AGRADECIMENTO E ENCERRAMENTO 264 ANEXO A 265 ANEXO B 266