O administrador fadista de Paços de Ferreira

Transcrição

O administrador fadista de Paços de Ferreira
Sexta-feira - 1 de março de 2013
IMEDIATO
9
ENTREVISTA
Um condutor ficou ferido, depois de o carro onde serguia se ter despistado e «voado» para o telhado de uma casa.
O acidente aconteceu em Houston, no estado norte-americano do Texas.
Paulo Valente
O administrador fadista
de Paços de Ferreira
Paulo André Neves Valente, tem 40 anos e vive em Penamaior, no concelho de Paços de Ferreira.
É formado pela Universidade de Aveiro em Contabilidade e Administração de Empresa e é administrador da empresa
DIFER em Paços de Ferreira. É também presidente da da Assembleia Municipal de Penamaior. Nos tempos livres, é fadista e
embora nunca tenha pensado a sério em fazer disso profissão, vê-o como uma excelente forma de “fugir” ao stress da profissão.
Integra a Tertúlia Bairradina e Trovas e Serenatas e dedica-se à composição musical nos seus tempos livres.
O IMEDIATO esteve à conversa com este administrador/fadista, que nos falou de como surge o fado na sua vida, sobre a sua
paixão por este e das suas ambições no que respeita ao fado, quer em termos pessoais quer em termos de grupo.
primeiro CD do grupo só com
originais, com influências várias
mas mais predominante a balada e a serenata. Nesta gravação
está presente o Fado à Ria, que
é hoje um ícone da Academia
Aveirense.
Como chega ao Grupo de Fados de Tertúlia Bairradina de
Oliveira do Bairro?
A minha chegada à Tertúlia
dá-se em finais de 1997 pela
mão do Ernesto que já integrava o grupo onde começou a dar
os primeiros passos na Guitarra
Portuguesa.
A Tertúlia Bairradina é um
grupo de amigos liderados pelo
Horácio Branco que tem como
objetivo difundir a canção de
Coimbra. Para isso conta no seu
vasto reportório com todos os
grandes Temas que foram sendo
criados na Academia Coimbrã
desde os anos 20 do séc. passado
até ao presente.
A Tertúlia Bairradina nasce
em 1993, quando um grupo
de 3 amigos decidiu juntar-se
para colaborar numa festa de
angariação de fundos, realizada
por uma associação cultural do
Concelho de Anadia. A partir
dessa altura o gosto pela canção de Coimbra atraiu novos
elementos e foi no final do ano
que surgiu a ideia de se atribuir
o nome ao grupo, passando a
denominar-se: Tertúlia Bairradina – Grupo de Fados de
Coimbra. A atividade do grupo foi-se desenvolvendo com
diversas atuações pelo País até
que em 1995 chega o primeiro convite para atuar fora de
portas, mais precisamente nas
comemorações do 10 de junho
em Newark, EUA. Neste momento o grupo conta já com
várias presenças internacionais,
nomeadamente EUA (New
Jersey, Nova Iorque, West Palm
Beach, Pensilvania, Boston,
Connecticut, Nova Inglaterra), Canadá (Toronto), França
(Nantes, Bordéus, Paris), Espanha, Luxemburgo, Suíça e Principado de Liechtenstein. É de
destacar ainda a sua discografia:
1994-a primeira gravação, seguida dos CD de 1995, 2011
Canto à Saudade e 2013 Fonte
dos Amores. Toda atividade do
grupo pode ser acompanhada
no seu site: www.tertuliabairradina.com.
Quais são as ambições do grupo e as suas em particular na
área do fado?
A minhas ambições no grupo
são a de poder estar com amigos
que partilham a mesma paixão
que eu pela canção de Coimbra
e podermos divulga-la.
A nível pessoal continuo a
compor, não só temas ligados
ao fado mas também a outras
correntes musicais. Faço-o nos
tempos livres e a ver vamos, no
que isto dá.
As ambições do grupo passam
por ir melhorando e aperfeiçoando a interpretação da canção
de Coimbra de forma a poder
contribuir com o seu trabalho
para a divulgação em todo o
Mundo do que é genuinamente Português - O Fado de
Coimbra.
Como é o vosso trabalho? Como
é o vosso processo criativo?
Como A Tertúlia tem regularmente atuações as mesmas
servem de ensaios. Quando se
adiciona um novo tema ao reportório então os ensaios são
mais cuidados.
Infelizmente e dado os meus
afazeres profissionais não vou a
tantas atuações como desejava.
O trabalho criativo é mais
no Trovas e Serenatas de Aveiro. Esse sim tem a vocação de
criação de originais. Na tertúlia cantam-se os temas que já
existem do vasto reportório da
Canção de Coimbra.
As pessoas têm sensibilidade
para o fado?
Penso que o fado está no
ADN dos portugueses. Só que
manifesta-se mais nuns do que
noutros.
Conversei com algumas pessoas no final da atuação que me
diziam que não tinham vontade de ir, mas depois do que
viram ficaram encantadas com
o Fado de Coimbra. Algumas
inclusive que se emocionaram.
E que devíamos repetir o espetáculo. Numa sala com cerca de
300 pessoas e com um silêncio
absoluto enquanto cantávamos, penso que isso pode ser
entendido como respeito e estar sensível a esta manifestação
cultural que é o Fado.
Administrador de profissão,
fadista nos tempos livres. Nunca
pensou fazer do fado profissão?
Boa pergunta. Ás vezes dá
vontade. Apesar de continuar
a compor desde os tempos da
Universidade e a registar os temas na SPA, nunca pensei nisso
a sério. Até porque os profissionais do fado que existem estão
ligados ao Fado de Lisboa. Tanto quanto sei os grupos que interpretam a canção de Coimbra
são todos amadores. Não sei se
por estarem ligados ao espírito
académico (que é uma vivência
específica) se por, quando terminam os seus cursos começam
a exercer a sua profissão. Penso
que o somatório das partes.
O fado funciona como uma
forma de desanuviar das preo-
cupações diárias associadas ao
trabalho?
Sim. Uma vez que é o motivo
para estar com amigos, conviver fora do stress laboral, esquecer as preocupações e fazer
o que se gosta.
Os fadistas “amadores” são
respeitados em Portugal?
No nosso caso não temos tido
qualquer razão para pensar o
contrário e a prová-lo está o espetáculo de Penamaior.
O que falta aos “fadistas amadores” portugueses?
Depende do que se entenda
por fadistas amadores. Isto porque existe o amador que esporadicamente vai a uma casa de
fados e aproveita para cantar a
sua canção preferida e existem
os amadores que como nós têm
o seu grupo organizado, uma
agenda de atuações, discos editados, mas que não fazem disto
profissão.
O que falta a estes últimos,
é o que falta em muitas outras
áreas em Portugal, que é a cultura de aposta e investimento
nestes grupos de forma a tornálos profissionais , para poderem
divulgar a cultura Portuguesa
pelo Mundo de uma forma
mais organizada e desse modo
ser um veiculo importantíssimo de exportação de cultura.
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Como surge o fado na sua
vida?
De certa forma estive sempre
ligado ao Fado desde pequeno.
As minhas origens maternas
e paternas são de Coimbra.
O meu bisavô materno tocava guitarra portuguesa e era
também cantor de Fado de
Coimbra. Portanto a sonoridade Coimbrã esteve sempre
presente numa forma familiar
bem como as tradições académicas de Coimbra.
Com a minha entrada no Ensino Superior na Universidade
de Aveiro em 1991 dá-se o envolvimento nos movimentos
Académicos e nos trilhos das
serenatas. Nesses anos a Academia de Aveiro estava sedenta de
uma cultura própria e nós sentíamos a necessidade de se criar
qualquer coisa que identificasse
culturalmente a academia de
Aveiro.
Juntamente com alguns amigos e colegas da academia, e
depois de algumas experiências
musicais, fundámos em 1995 a
Tuna Universitária de Aveiro e
paralelamente fomos evoluindo
no Fado com a criação do grupo
de Trovas e Serenatas de Aveiro
(eu, o Elmano, o Ernesto e o
Zé Carlos). Todos estes projetos
musicais tinham como objetivo
a composição de temas originais. E assim aparece em 1999 o
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