aqui - São Luiz Teatro Municipal
Transcrição
aqui - São Luiz Teatro Municipal
SÃO LUIZ Director Artístico: JORGE SALAVISA Temporada 2009~2010 © José Frade OS MORTOS VIAJAM DE METRO SÃO LUIZ Director Artístico: JORGE SALAVISA Temporada 2009~2010 OS MORTOS VIAJAM DE METRO Estreia da ópera resultante da 2ª. edição do concurso Ópera em Criação. 9 A 11 ABR 2010 SEXTA E SÁBADO ÀS 21H00 DOMINGO ÀS 17H30 SALA PRINCIPAL M/16 CO-PRODUÇÃO SLTM ~ TNSC AGRADECIMENTOS CENTRO CULTURAL DE BELÉM TEATRO NACIONAL D. MARIA II 2 Ficha Técnica MÚSICA HUGO RIBEIRO LIBRETO ARMANDO NASCIMENTO ROSA CONCEPÇÃO GERAL E ENCENAÇÃO PAULO MATOS DIRECÇÃO MUSICAL JOÃO PAULO SANTOS CENOGRAFIA E FIGURINOS BRUNO GUERRA DESENHO DE LUZ PAULO GRAÇA VÍDEO, PROJECÇÕES E LEGENDAGEM NUNO NEVES EXECUÇÃO DE FIGURINOS MARIA GONZAGA PERUCAS FÁTIMA SOUSA EXECUÇÃO DE CENOGRAFIA LEONEL E BICHO, LDA EXECUÇÃO DE PINTURA CENOGRÁFICA BRUNO GUERRA SABRINA MARTINHO OPERAÇÃO DE LEGENDAGEM JOANA GALEANO INTERPRETAÇÃO MADALENA BOLÉO Florbela Espanca MARGARIDA MARECOS Virginia Woolf RAQUEL ALÃO Jovem suicida SANDRA MEDEIROS Sylvia Plath SÓNIA ALCOBAÇA Sarah Kane SUSANA TEIXEIRA Agatha Christie ORQUESTRA SINFÓNICA PORTUGUESA DIRIGIDA PELO MAESTRO JOÃO PAULO SANTOS © José Frade © José Frade OS MORTOS VIAJAM DE METRO ABR ~ 1O É com prazer renovado que chegamos à quinta produção do São Luiz na temporada 2009~2010. Este momento congrega em si duas características que este Teatro se tem esforçado por desenvolver: por um lado, a aposta na criação, o desafio a criativos, encenadores, dramaturgos e, como neste caso particular, a compositores. E, por outro lado, o esforço constante de conquistar espaço para a revelação de novos talentos. Neste trabalho cruzam-se a espontaneidade de Hugo Ribeiro (na sua primeira composição de grande fôlego), a maturidade de Armando Nascimento Rosa e de Paulo Matos, e a interpretação da Orquestra Sinfónica Portuguesa pela exímia mão de João Paulo Santos. Os Mortos viajam de metro é ainda fruto de uma feliz parceria com o Teatro Nacional de São Carlos, com o qual a proximidade física e programática tem permitido criar algumas sinergias nas últimas temporadas. Sejam bem-vindos a este espectáculo. Jorge Salavisa Director Artístico 4 © José Frade OS MORTOS VIAJAM DE METRO ABR ~ 1O SOBRE A MÚSICA (OU A CRIAÇÃO MUSICAL) Hugo Ribeiro Antes de começar a escrever a música para esta ópera recebi conselhos que me alertavam para o facto de, pouco a pouco, as personagens começarem a tomar posse de mim. Assim também foi o processo composicional destas páginas de música: uma macro-forma que se foi desenvolvendo dentro do meu espírito como uma bola de neve. É-me quase impossível descrever todas as sensações provocadas pela escrita desta ópera. O choro e o desespero, a alegria e o entusiasmo, fazem todos parte do meu dia-a-dia desde que me foi dada a tarefa de compor a minha primeira ópera de grande fôlego. Tratou-se de um trabalho extenso, exaustivo e evocador de vários fantasmas que me levaram a escrever um número interminável de esboços até chegar ao resultado musical que aqui se apresenta. Perante um libreto inspirador, cuja narrativa esteve, desde sempre, de acordo com os meus desejos criativos; trabalhar sobre estes versos foi das experiências mais satisfatórias, porém assustadora, que já passou pelas minhas diversas mesas de trabalho. Conhecer a obra de todas estas personagens escritoras, encontrando um paralelo entre a sua criatividade e os seus impulsos de autodestruição, foi a principal matéria de estudo durante os quase dois anos em que me dediquei à reflexão deste universo. Vale a pena… mesmo co-habitando permanentemente com os espíritos destas seis mulheres que, ainda hoje e talvez para sempre, teimam em não sair da minha consciência. A música, essa, e usando um cliché de retórica, falará por si própria. É inútil perder tempo com explicações técnicas que interessam a um número muito reduzido de curiosos. A música tem essa força: a de comunicar sensações várias, por vezes, através de gestos muito pequeninos; a de manipular a percepção do público através daquilo que ela própria quer dizer. Nestas páginas de música está tudo o que poderia estar, todos estes princípios musicais que têm sido recorrentes no meu trabalho. E que, seguramente, também me acompanharão no futuro. Os mortos viajam de metro é dedicada aos meus pais, Alda e Carlos, e à minha irmã, Inês que, com sabedoria, equilibraram as horas dos meus dias, fossem elas de chuva ou de sol. 5 © José Frade OS MORTOS VIAJAM DE METRO ABR ~ 1O UMA ÓPERA DE ESCRITORAS SUICIDAS Armando Nascimento Rosa Integrando a parceria autoral, como libretista, da ópera curta As duas mulheres de Sigmund Freud, vencedora em 2008 da 2ª edição do concurso Ópera em Criação, era chegado o momento de experimentar a aventura de compor um libreto para uma ópera com outro fôlego. O Hugo Ribeiro manifestou-me então dois desejos determinantes: ele queria muito trabalhar apenas com vozes femininas e imaginava principiar a sua ópera com uma personagem que se suicida em cena com um revólver. Como iria eu corresponder eficazmente a estas solicitações, de modo a construir um imaginário dramatúrgico no qual sentisse não estar apenas a atender a uma simples encomenda do compositor, que me era externa? Foi essa a primeira questão que se me colocou. Por outro lado, eu estava consciente de que a escrita de um libreto é substancialmente diferente daquela que ocorre na criação de uma peça de teatro, que é o domínio em que me movo há mais de vinte anos. Ao contrário da relativa soberania autoral do dramaturgo, que destina directamente os estímulos teatrais do seu verbo cénico para actores, encenador e demais criativos, o papel do libretista é bastante mais o de um medianeiro inventivo que deverá produzir a matéria verbal capaz de magnetizar o labor musical do compositor. Adoptando uma imagem de contraste mitocrítico para estas duas funções: se o dramaturgo pode ser tutelado pelo rebelde e imprevisível Dioniso, o libretista tem por patrono um Hermes mensageiro, que negoceia e comunica os seus propósitos entre uma língua falada e uma língua musical a acontecer na partitura que irá emergir das mãos do compositor. Perseguir a melodia do verbo e as aventuras do sentido, numa língua que se escreve destinada para o canto, era algo já familiar para mim, em formato breve, dado o meu gosto pela escrita de canções, que não raro povoam várias peças minhas. Mas aqui a situação é outra; existe uma espécie de escrita virtual a quatro mãos, que busca a interacção de duas psiques criativas em duas modalidades de expressão diferenciadas. Nesta interacção reside, a meu ver, um dos desafios fascinantes da criação operática e também da prova a que ela submete os que a realizam. Poderá ser mais óbvio dizer que a partitura do Hugo Ribeiro não existiria do modo como está se não tivesse 6 OS MORTOS VIAJAM DE METRO ABR ~ 1O laborado sobre este libreto em particular, que a precedeu; mas o mesmo é válido no sentido inverso: este libreto nunca me teria surgido se não houvesse antes o confronto produtivo em que ambos aceitámos intercambiar imaginários para uma obra que transporta a mescla das nossas assinaturas, mesmo se nela possamos identificar com inteira nitidez quem foi que conjurou as palavras e quem foi que idealizou a música. A minha resposta ao desejo inicial do Hugo Ribeiro foi simples e directa. Ele queria suicídios de mulheres na cena. Pois bem, eu iria recorrer a personagens com esse perfil que já habitam no nosso consciente colectivo. Em vez de inventar mulheres suicidas, preferi invocar aquelas que pertencem a uma memória histórica e literária comum. A fixação do número de seis intérpretes conduziu a escolha destas figuras icónicas, seguindo o espectro de influência que cada uma delas irradia, bem como a desejável diversidade geracional entre elas; desde a primeira de todas a ter nascido, Virginia Woolf (1882-1941), até à mais jovem Sarah Kane (1971-1999), que viveu menos tempo que qualquer uma das restantes. No intervalo temporal destas duas britânicas, está a portuguesa Florbela Espanca (1894-1930), não obstante ser a primeira delas a ter morrido, e a norte-americana Sylvia Plath (1932-1963). A longeva Agatha Christie (1890-1976) escapa do lote de suicidas (embora o tenha tentado em vida, quando o seu primeiro casamento se desfez) e aparece na ópera graças ao seu carácter detectivesco, convocada onde haja morte no horizonte. E neste caso, parece estarmos, de início, num misto de conto gótico e policial fantasmático, passado entre mortas numa existência póstuma. A estação de metro abandonada onde a acção decorre é uma possível metáfora subterrânea para um Hades do inconsciente onde elas se reúnem, aleatoriamente, interrogando a identidade da jovem que assombra aquele lugar, ao tentar o suicídio repetidas vezes; jovem esta que todas elas emularam, à excepção de Agatha, e não só pelo gesto suicida de uma pulsão de morte consumada. A escrita é o elo que as une e que individualmente as distingue: duas poetisas com obras em prosa; uma romancista de fôlego poético; uma dramaturga; uma autora de policiais; e a desconhecida amnésica, personagem nascida do teatro, que o nome da estação de metro revelará. Há uma língua partilhada com que todas elas comunicam, não obstante termos cinco anglófonas e uma lusófona; “essa língua dos poetas mortos/das aves cantoras”, que Virginia enuncia no seu primeiro diálogo com Florbela. Uma língua cantada que se manifesta nas diversas expressividades que as individualizam, graças ao carácter musical que Hugo Ribeiro concebeu para cada uma delas, com a argúcia de quem andou a ler atentamente obras de todas, antes de (as) compor. Estas mulheres continuam presentes entre nós através da imaginação literária, dramática, poética e política das obras que as suas vidas (ou a sua ficção, no caso da jovem suicida) nos legaram; por isso uma atmosfera simbólica e surreal, como esta, que as faz interagir numa fábula lírica e paródica, será motivo para múltiplas leituras que não pretendo escrutinar aqui. Neste momento, é aos espectadores desta estreia absoluta que caberá empreendê-lo se a obra os tocar, como esperam todos os fazedores do espectáculo. Uma palavra por isso de regozijo pela equipa cúmplice que tornou possível o fenómeno raro de poder contribuir, com o compositor Hugo Ribeiro, aqui e agora (numa parceria que ambos desejaríamos retomar), para a pesquisa de caminhos na criação de ópera em português: o encenador Paulo Matos, interlocutor entusiasta desde a anterior etapa de apresentação das óperas curtas; o profissionalismo artístico e a generosidade do nosso sexteto de cantoras, viajantes deste metro com orquestra no lugar dos carris; o maestro João Paulo Santos, cuja sageza operática proporciona uma constante e descontraída lição de hermenêutica musical; o cenógrafo e figurinista Bruno Guerra, meu ex-aluno da ESTC com quem não me cruzava na cena desde que há sete anos estreámos a primeiríssima produção de Audição – Com Daisy ao vivo no Odre Marítimo (no Teatro Maria Matos, com a Cassefaz); o reencontro feliz com o luminoplasta Paulo Graça; bem como a belíssima equipa de produção do São Luiz Teatro Municipal, que possibilitou o dia–a-dia de construção deste projecto, no qual a pessoa do seu director artístico, Jorge Salavisa, apostou vivamente desde a primeira hora. 7 © José Frade OS MORTOS VIAJAM DE METRO ABR ~ 1O 8 MORTOS… MAS VIVOS! Paulo Matos Estes Mortos… traduziram e concluíram uma aventura bem mais longa, variada e intensa do que a maioria pelas quais tenho passado na criação de projectos e encenações. Este espectáculo, que agora levamos a cena, começou, realmente, há quase seis anos quando me sentei com o Christopher Bochmann em sua casa, lhe disse “tenho uma ideia para um concurso de ópera e preciso muito da tua ajuda” e ele me respondeu, com uma imensa generosidade de que lhe estou e estarei sempre grato, “claro, vamos a isso”. Logo depois o Jorge Salavisa, de forma corajosa e visionária, soube arriscar e apostar na ideia e dar-lhe assim viabilidade. Por isso, este projecto não surgiu agora quando começámos os ensaios ou quando o Hugo me começou a mostrar a partitura, este projecto foi construído desde lá atrás, desde o sonho e da persistência, com vagares e esperas que souberam vencer os dissabores e os reveses. OS MORTOS VIAJAM DE METRO ABR ~ 1O 9 Tem por isso um gosto tão especial, como o vinho, amadurecido em cascos de paciência e com condimentos de saborosa e laboriosa conquista. Começou na longa reflexão que fomos fazendo na Comissão Responsável do Ópera em Criação, com o Bochmann, o Carlos Marecos, o Chagas-Rosa, a Helena Barbas e o João Madureira. Que reuniões e debates saborosos que fomos tendo e de que agora tenho cada vez mais saudades. Continuou com o contacto que tive com os olhares e as concepções tão diversas para a ópera e para os seus caminhos como aqueles de todos os concorrentes nas duas edições – a eles o meu reconhecimento pela aposta e pela coragem, na certeza de que, não termos escolhidos vários deles, foi termos passado ao lado de apostas e criações com maravilhosas possibilidades. Assim possa também o concurso ter novas edições para outras descobertas. Mas continuou também dentro de mim com a maturação de um percurso que me leva por caminhos que não previa e que tocam em íntimas certezas e subtis desejos. Numa idade maior. Projecto ‘contemporâneo’, porque todo pensado e criado neste nosso tempo, mas também no universo, na temática, na criação musical, nos objectivos, nos caminhos dramatúrgicos. ‘Contemporâneo’ com toda a coragem de se assumir belo, intenso e novo. Mas quererá isso dizer belo e intenso também para o espectador e para a sua fruição? Que poderá essa vontade e essa classificação (natural ou imposta?) produzir para a renovação ou a para continuidade da arte enquanto lugar de encontro e mistério do nosso ser social? Com frequência classificamos como ‘contemporâneo’ o absolutamente experimental e original ao ponto de produzir criações inacessíveis ou de fruição limitada a iniciados. Pensamos a ‘arte contemporânea’ como produtora de significados que contêm em si mesmos, ao mesmo tempo, os seus próprios códigos e as chaves para a sua descodificação, e que produzem um ou vários significados mas também a inteligência implícita de uma crítica ou de uma ironia. Criando uma leitura e uma fruição que exigem do espectador uma iniciação aos conceitos e à linguagem. Mas, como dizia Peter Brook numa das suas conferências, “o diabo é o aborrecimento” e é nesse “aborrecimento” que se estabelece, em última análise, a medida da validade de uma nova criação contemporânea. Estará a criação de ópera, desde a segunda metade do séc. XX definitivamente afastada daquilo que a transformava numa arte de massas? Conseguirá a ópera contemporânea encontrar caminhos de renovação que não recusem teimosamente a sua capacidade imensa de empatia e emoção – por tradição espectável – desta grande arte? Serão os compositores causadores conscientes deste afastamento? Foram estas algumas das questões de fundo que estiveram na base e motivaram a natureza do concurso que lançámos. Era preciso perceber se a ópera contemporânea (e cantada em português) era capaz de trazer aos espectadores uma outra forma de fruição (na sua plena diversidade) capaz de afastar esse aborrecimento de que fala Brook. Contribuindo para que ela saiba encontrar caminhos que voltem a recolocá-la face à sua imensa capacidade de emocionar e comunicar. A ópera como arte total, onde o público é participante do grande pathos. Na trama que seguimos em Os Mortos Viajam de Metro, a estação de metro abandonada transformou-se num espaço vasto, simbólico e místico onde as escritoras suicidas estão aprisionadas num ‘limbo’ de culpas não resolvidas. Num palco de um teatro, num lugar que não lhes pertence como seres que viveram e que falam das suas vidas reais. Percebemos aos poucos que aquela Jovem Suicida é, afinal, quem impede a descodificação, e portanto a libertação, porque não pertence ao mesmo universo. Transporta outro código e outra raiz: o do próprio teatro e da ficção. Esta ópera e este espectáculo assumem e integram assim a própria natureza da contemporaneidade criando a trama e o simbólico, o código e a sua leitura. Como se de uma novela criminal de tratasse. A equipa foi inexcedível. Desde o Hugo e o Armando que apostaram neste trabalho de forma quase vital, ao João Paulo Santos que nos trouxe a sua acutilância e a sua experiência, até aos criativos que convidei para a minha equipa e que responderam de forma entusiasta, cúmplice e imensamente criativa aos desafios que lhes lancei: o Bruno Guerra, o Paulo Graça, o Nuno Neves. E que dizer das seis maravilhosas rainhas que iluminam o palco com os seus cantos de sereias? Direi que elas são o fim e o princípio de tudo o que criámos em cena e que me transformei em seu eterno admirador. A toda a equipa do São Luiz Teatro Municipal o meu mais sincero reconhecimento. Que todo o visitante deste espectáculo frua do mesmo deleite 'visionário' que todos sentimos ao criá-lo. SOBRE O ESPECTÁCULO OS MORTOS VIAJAM DE METRO ABR ~ 1O Numa estação de metro abandonada pelos vivos, uma jovem suicida quer pôr termo à vida com um revólver. Ela perdeu a memória de quem é ou de quem foi e apenas é movida pela ideia insistente do seu próprio suicídio. Neste cais subterrâneo onde os comboios já não passam, encontram-se também outras personagens, mas nenhuma sabe o que as atrai ali, naquele espaço inóspito. São fantasmas de mulheres escritoras que experimentaram o suicídio: Florbela Espanca, Virginia Woolf, Sylvia Plath, e Sarah Kane. Também Agatha Christie está entre elas, procurando desvendar o enigma. Mas todas desconhecem a identidade misteriosa da jovem suicida e talvez nela esteja a chave que as liberte deste estranho limbo, onde o canto é a linguagem que as revela entre si. Será necessário decifrar o nome da estação de metro desactivada, para perceber quem é afinal a jovem solitária que a todos assombra… Nesta ópera (com prelúdio e um acto) para seis cantoras, efabula-se sobre as ligações entre criação poética e pulsão de morte, numa séria e lírica paródia que dá voz a ícones femininos, habitantes do nosso consciente colectivo. SOBRE AS PERSONAGENS FLORBELA ESPANCA Madalena Boléo (Vila Viçosa, 1894 - Matosinhos, 1930) Um dos poetas portugueses mais lidos de sempre, Florbela é uma das maiores cultoras da arte do soneto na literatura portuguesa, com Camões e Bocage, Antero e Natália. Os seus versos reunem-se nos volumes Livre das Mágoas, Livro de Soror Saudade e Charneca em Flor, e, na forma do conto, nos livros Dominó Preto e As Máscaras do Destino, para além de prosa epistolar e diarística. Colaborou em jornais e frequentou o curso de Direito em Lisboa (numa época em que esta Universidade era um território marcadamente masculino). A procura por uma erótica enunciada no feminino é elemento expressivo central na sua obra poética, plena de tumulto interior, paixão e angústia insanáveis, como a sua própria biografia, pontuada por três casamentos infelizes. Florbela Espanca morreu em 1930 por ingestão excessiva de barbitúricos. VIRGINIA WOOLF Margarida Marecos (Londres, 1882 - Lewes, 1941 ) Um dos mais importantes ícones da literatura anglo-saxónica, bem como do pensamento em torno da condição da mulher numa sociedade androcrática,Virginia Woolf fez parte do grupo de escritores de Bloomsbury em que se incluiam, entre outros E.M. Forster, Molly MacCarthy, John Maynard Keynes, Duncan Grant e Roger Fry. Woolf revolucionou o romance novecentista e da sua obras destacam-se, entre vários outros títulos, Mrs Dalloway, Orlando, Rumo ao farol e As Ondas. Estreou-se com a obra A Viagem e desenvolveu actividade intensa, não só como ficcionista e ensaísta, mas também como responsável editorial, juntamente com o marido Leonard Woolf. Filha de um pai editor e de uma mãe cuja beleza a fizera modelo de pintores pré-rafelitas,Virginia ficou orfã deles muito jovem, manifestando desde então períodos de grande instabilidade psicológica, o último dos quais, numa idade sénior, a conduziria ao suícidio em 1941 – deixando cartas tocantes de despedida a sua irmã Vanessa e ao marido.Virginia afogou-se com os bolsos do casaco cheios de pedras, num rio perto de casa. 10 OS MORTOS VIAJAM DE METRO ABR ~ 1O SYLVIA PLATH Sandra Medeiros (Jamaica Plain, Massachussets, 1932 - Londres, 1963) Norte-americana de dupla ascendência germânica, Sylvia Plath é uma referência poderosa e magnética na poesia de língua inglesa do séc XX. Ainda aluna universitária no Smith College, Sylvia Plath faz a sua primeira tentativa de suicídio, sendo internada e tratada com electrochoques; tempo da sua vida que lhe inspiraria o seu único romance, A campânula de vidro. Em 1955, tendo vindo prosseguir estudos académicos, como bolseira em Cambridge,, Sylvia casa-se com o poeta britânico Ted Hughes, fixando-se em Inglaterra onde publica os seus primeiros poemas. Um aborto sofrido em 1961 será tema recorrente no imaginário de Plath nos anos seguintes. A obra de Sylvia inclui também os seus diários que escreve desde os 11 anos. No Inverno de 1963, durante uma profunda crise depressiva, já separada de Hughes, após vedar com minúcia o quarto dos dois filhos de ambos, ainda crianças, suicida-se abrindo o gás do fogão da cozinha. SARAH KANE Sónia Alcobaça (Essex, 1971 - Londres, 1999) Dramaturga inglesa do último quartel do séc. XX, Sarah Kane marcou violentamente o teatro europeu da sua geração, tornando-se rapidamente figura de culto. A breve obra de Sarah Kane (cinco peças de teatro, uma curta-metragem e artigos para o jornal The Guardian) ostenta como traços fulcrais a tortuosa psicologia das suas personagens, o choque e a agressividade, a tortura e o desejo sexual tratados com ferocidade imagética. Depois da sua formação universitária, chegou a trabalhar como encenadora. Os períodos de oscilação psicótica que experiencia levam-na ao internamento e no último desses periodos, Kane escreve Psicose 4.48, a sua peça formalmente mais radical e de terrível autognose. Usando os atacadores dos sapatos humedecidos com urina, Sarah Kane enforca-se na casa-debanho do London’s King’s College Hospital em 1999, com 28 anos. AGATHA CHRISTIE Susana Teixeira (Torquay, 1890 - Wallingford, 1976) A britânica Agatha Christie é internacionalmente reconhecida como a grande mestre clássica do romance policial. As duas personagens de detectives emblemáticos que criou, Hercule Poirot e Miss Marple, sobreviveram-lhe como alter egos ficcionais, que o cinema também já recriou, e que continuam a seduzir sucessivas gerações de leitores/espectadores. A obra prolífica de Christie inclui ainda a muitas vezes encenada peça teatral A ratoeira, entre numerosos contos. Em 1930, Christie casa-se pela segunda vez com o arqueólogo Sir Max, 14 anos mais jovem do que ela, com quem viajará intensamente, e descobrirá os vestígios do passado em locais exóticos que irão aparecer nas aventuras de Poirot e de Marple. Agatha Christie morreu de causas naturais aos 85 anos de idade. No entanto, a sua vida fica também assinalada pelos misteriosos 12 dias, no final dos anos 20, em que esteve desaparecida, após a ruptura do primeiro casamento, período em que terá sofrido um colapso nervoso e feito uma tentativa de suicídio, da qual sobreviveu apresentando amnésia temporária. JOVEM SUICIDA Raquel Alão A jovem suicida, esquecida de quem foi, é uma personagem que não morre porque nunca viveu, já que é proveniente da literatura dramática, criada pela imaginação do mais célebre dos dramaturgos: Shakespeare. Ofélia é uma personagem arquetípica do suicídio feminino; a jovem que na falência dos afectos mergulha na desrazão e acaba por afogar-se literalmente nas águas. A morte de Ofélia é uma presença recorrente no imaginário das artes, sendo que a memória visual nos evoca invariavelmente a representação pictórica pelo pré-rafaelita John Everett Millais, a partir da modelo Elizabeth Siddall. Entre 1898 e 1903, O São Luiz (a esse tempo designado Teatro D. Amélia) foi o palco que apresentou a maior parte da longa e viajada carreira cénica da estreia nacional de Hamlet (pela companhia residente Rosas & Brazão), sendo a primeira Ofélia portuguesa interpretada pela actriz Rosa Damasceno. 11 OS MORTOS VIAJAM DE METRO ABR ~ 1O That there are no people in what I’ve written. Only ghosts. Susan Sontag, Reborn – Early diaries (1947-1964) OS MORTOS VIAJAM DE METRO ÓPERA COM PRELÚDIO E UM ACTO Libreto de Armando Nascimento Rosa Música de Hugo Ribeiro 12 Personagens JOVEM SUICIDA AGATHA CHRISTIE FLORBELA ESPANCA SYLVIA PLATH SARAH KANE VIRGINIA WOOLF A acção da ópera decorre numa estação de metro abandonada pelos vivos. PRELÚDIO [cena 1] (Entra em cena uma Jovem com um revólver nas mãos. Traz no rosto a obstinação desesperada de quem procura a morte.) JOVEM SUICIDA: Que posso eu esperar ainda desta vida? Nada vezes nada vezes nada Viver é uma doença má Quero curar-me dela e não há melhor remédio que o espasmo da pistola Como é doce e frio o aço desta arma Basta apenas uma bala Amiga vem jogar às escondidas até que a morte saia do teu cano disparada e me atravesse o crânio Joguemos nós as duas ao jogo mais perigoso da apanhada Não precisas correr atrás de mim vou fingir que escapo mas não saio daqui Quero ser agarrada a este toque tão suave, tão macio Morder o teu isco de fogo Sou um peixe cansado de albergar no sangue o veneno que mata pouco a pouco os oceanos Vou regressar ao nada donde vim, donde viemos todos Mergulhar na escuridão onde já não há noite nem dia nem choro nem dor Só alegria crua de abandonar de vez esta comédia (Prime o gatilho, mas não há disparo de bala.) Gatilho mentiroso pareces ter forma de gente Enganaste-me mas não enganas sempre Prepara-te cabeça para o estrondo e o embate A morte é um soco dos valentes A explosão de mim virá de ti Matar o meu desejo de silêncio e abandono E não serei jamais OS MORTOS VIAJAM DE METRO ABR ~ 1O este eu que me assustou desde que pus o meu olhar no espelho ao acordar E não reconheci aquela que me olhava Na minha face o pavor de um só abismo é infinito O que julgo ser tem de acabar agora para que eu me possa ver à luz do nada (Prime o gatilho uma segunda vez, de novo sem efeito.) Estás a gozar comigo, morte caprichosa Hás-de sair daí para me apagares a mente Debaixo do chão onde não passam comboios Este é o melhor lugar para morrer para desfazer a falsa vida o meu fantasma Uma estação já morta quero ser como ela Pasto para os vermes nosso destino é acabar na tripa deles E eu não desisto nunca de morrer Dizem que as mulheres não se matam com tiros (Prime o gatilho uma terceira vez, uma vez mais sem efeito.) Bala bela estás uma envergonhada Não queres sair de casa para me dar sossego Drageia fatal Dás sono eterno, o sono que eu desejo Quero deixar de ouvir o som do mundo Vais livrar-me da insónia de estar viva Vá, não te contenhas como amante macho a adiar o esplendor do gozo Deita fora a semente da morte que sempre incendiou a raça humana Faz da matéria cerebral e do meu sangue o teu buraco de prazer Buraco que rasgas e estilhaças na duração do tiro Bala que és fria em lume irás ficar Abres em mim a ferida maternal por onde irei nascer parida para a morte Não te vens agora para mim? (Prime o gatilho e desta vez o tiro acontece. Cai no chão inanimada. Silêncio absoluto.) ACTO ÚNICO [cena 2] (Entra em cena Florbela Espanca.) 13 FLORBELA: Ó cais tu és magnético Um passo em falso e morro eu à primeira como gato inerte Entregue à força com que a terra atrai os corpos Eu adorava a morte quando estava viva sonhava com ela a envolver-me os braços e a dizer baixinho - Vem, entrega-me este corpo prometido à morte Mas a morte não traz a paz só um silêncio maior Não oiço já a voz dos vivos OS MORTOS VIAJAM DE METRO ABR ~ 1O e os versos que invento canto mas não escrevo perdem-se no ar Morte, ó irmã Morte Estou na tua casa há tantos anos e ainda não vi o meu irmão Ele está contigo Apeles é o seu nome Era aviador aventureiro Onde o guardas tu, ó Morte no teu império de sombras? Será nesta estação abandonada onde não passam comboios? Encontrá-lo é tudo o que eu quero Apeles… O teu nome soa como Apolo o deus do sol (Entra em cena Virginia Woolf.) Vejo alguém que chega Serás tu, aviador perdido? [cena 3] VIRGINIA: Venho sozinha Não sei o que me traz a este lugar Algo me atrai na solidão das profundezas Um farol do cais sem oceano (Para Florbela.) Quem és tu? Eu sou Virginia nasci na Inglaterra FLORBELA: Meu nome é Florbela Fui lusitana em vida mas agora percebo tudo o que falas VIRGINIA: (Por vezes, lança ao chão pedras que tira dos bolsos.) Esta língua que falamos é dos poetas mortos das aves cantoras Os golfinhos falam como nós através dos mares Eu fui escritora outrora inventora de almas com histórias lá dentro FLORBELA: Eu fazia versos amava os sonetos e matei-me cedo (Engole comprimidos.) Não me livrei ainda deste vício Tento adoçar com ele a alma inquieta VIRGINIA: Também eu acabei por me matar mas já não era jovem Tive medo de ficar louca e velha como o mundo Afoguei-me no rio perto de casa com os bolsos cheios de pedras 14 OS MORTOS VIAJAM DE METRO ABR ~ 1O [cena 4] (Entra em cena Agatha Christie.) AGATHA: Preciso juntar todas as pistas Os vivos encerraram a estação Ganharam terror a este lugar por causa de uma mulher desconhecida Ela aparece e mata-se de mil maneiras a todas as horas É um fantasma perdido entre fantasmas Quero saber quem ela é Se é a fraude encenada de uma morta Ou se é uma infeliz esquecida de quem foi outrora Preciso investigar [cena 5] (Entra em cena Sylvia Plath.) SYLVIA: Investigar o quê? Não há crimes para desvendar aqui onde chegámos Queres enredo para mais um romance? Matamos e morremos a fingir Não há leitores para ti Agatha Christie nem estúdios de cinema na caverna dos mortos (Começa a calafetar as ranhuras que encontra no cenário.) AGATHA: Já vi que não és minha fã Não se pode agradar a toda a gente É o preço a pagar por ser tão popular Tu sabes quem eu sou mas eu não sei quem és Ó mulher loura! Que fita lanças tu ao ar em negro Carnaval? SYLVIA: Mania das perguntas No meu caso não tens de procurar O homicida está a descoberto Fui eu a assassina de mim própria Não resisti à depressão no mais frio dos Invernos Nem os meus filhos me agarraram à vida Mas eu quis protegê-los por isso não paro de calafetar tudo o que vejo Não vá o gás do fogão estrangular o sono deles AGATHA: Sylvia Plath Lembro-me bem Eu estava em Londres 15 OS MORTOS VIAJAM DE METRO ABR ~ 1O quando se deu a tragédia A poesia é o tesouro do teu naufrágio Não precisas isolar estas paredes este chão Não há nada a respirar para os mortos O nosso gás está nas palavras que trocamos (Sylvia não cessa de calafetar.) Sylvia, pára com isso! O gás não entrou no quarto das crianças Elas cresceram sem ti no mundo dos vivos SYLVIA: Eu sei tudo isso mas não posso evitar o gesto compulsivo É um castigo que trago comigo Tu morreste idosa em global celebridade Não percebes o nó do meu sofrer AGATHA: Não sabes Também eu tentei matar-me um dia nova ainda tal como tu eras Senti-me só, desesperada traída por um homem que amava [cena 6] (A Jovem suicida surge de novo, desta vez munida de um estojo para injectar-se. Pretende agora matar-se de overdose.) JOVEM SUICIDA: Pensar eu que morrer seria fácil Ah! Matar-me de todas as maneiras em todos os lados deste cais E volto sempre a acordar na matéria do sonho A morte é feita e é tão parecida com a vida Oh! Já não serve atirar-me nos carris da linha Ah!… Era a minha morte favorita mas o metro não passa mais aqui Hoje vou escolher outra morte Oh! Esta seringa vai trazer-me a paz que anseio o eterno esquecimento Preciso acreditar para que a morte me abrace para sempre Ah! Não aprendi a injectar-me mas eu sei que hei-de acertar nalgum destes canais onde o corpo mata a sede Ah! És um vampiro sedento, corpo meu Bebe isto agora e cai paralisado! [cena 7] (Entra em cena Sarah Kane.) SARAH: Gente a chutar na veia 16 OS MORTOS VIAJAM DE METRO ABR ~ 1O na estação dos mortos É a vida a imitar a morte ou é a morte a copiar a vida... Este teatro eu já conheço (Para a Jovem suicida.) Para que te queres matar se já estás morta?... (Verificando o produto que ela vai administrar em si mesma.) Que droga é esta que vais injectar? Queres ajuda na tarefa de acabar? JOVEM SUICIDA: Não fales para mim Não vou escutar Eu sou sozinha Nada nem ninguém fará mudar o meu querer Eu sou capaz de fazer isto! SARAH: Tu não sabes usar a seringa Não tens experiência Nunca viste no cinema… Tens de apertar o braço assim É só encontrar o sítio certo Força mulher! É um orgasmo de veneno A morte invade agora o teu fantasma (A Jovem suicida cai inanimada momentos depois de injectar-se.) SARAH: Não sou eu a cruel A crueldade está gravada Na carne do mundo É tatuagem cuja ferida nunca sara É o vírus da gangrena que viaja no sangue dos humanos Ao menos tu tomaste a droga certa Que mata a doença e acaba de vez com o doente [cena 8] VIRGINIA: Que estranha amiga és tu Ajudaste esta infeliz a matar-se uma vez mais Não é assim que lhe vais curar a alma empurrando-a para o nada SARAH: Médica não sou nem sequer amiga dela Não sei de quem se trata Dei-lhe uma mão para acalmá-la Mas a ti eu já conheço das fotos Estás tal e qual na mesma Os anos da morte não passam sobre ti Virginia Woolf… FLORBELA: Esta morta é tão trocista Viveu depois de nós Morreu bastante jovem 17 OS MORTOS VIAJAM DE METRO ABR ~ 1O O seu fantasma está bem conservado E se fala a língua dos poetas também era escritora SARAH: Esta femme fatale não sei quem é Não me parece que fosses amante da Virginia És mais pálida e mais nova Mascarada à dama antiga És talvez figurante em filme de época FLORBELA: Amei o cinema mas ele não me quis Fui poeta mas tu nunca me leste SARAH: Eu lia tudo o que apanhava Não me diminuas por ser já da geração online VIRGINIA: Sabes quem foi Florbela Espanca? SARAH: Nem tu sabias até chegares à cave dos mortos E vocês sabem quem foi Sarah Kane?, em carne viva Fiz peças sobre o lixo e o terror desesperados Sinais de sangue no desejo no dejecto de existir VIRGINIA: Sarah Kane É esse o teu nome Não chegam até nós notícias do teatro FLORBELA: Trazes fios de trapo enrolados ao pescoço (Observa-os melhor.) São cordões de sapato Não queres tirá-los? SARAH: Eles foram a minha forca Não tinha nada mais à mão no hospital Quero guardá-los para jamais esquecer a dor sem nome de estar viva [cena 9] (Entra em cena Sylvia Plath, como que a sentir-se perseguida.) SYLVIA: Está alguém a perseguir-me Ajudem-me por favor! FLORBELA: Não vejo ninguém nesta estação além de nós 18 OS MORTOS VIAJAM DE METRO ABR ~ 1O SYLVIA: Não consegui ver quem era Só sei que há um fantasma atrás de mim SARAH: Fantasmas somos todas de escritoras suicidas E tu, Sylvia bela americana não podias cá faltar SYLVIA: (Para Sarah.) Conheceste-me logo É bom sabê-lo Até me esqueço do medo que trazia SARAH: (Rodeia Sylvia num gesto de sedução.) Sempre adorei o lume negro dos teus versos Sylvia, musa das trevas És capaz de incendiar a minha psicose SYLVIA: Adoras os versos que escrevi Isso faz-me alegre Posso chamar-te de Ted? SARAH: Chama-me o que te der prazer (Dançam ambas.) [cena 10] (Entra em cena Agatha Christie.) AGATHA: Mas que é isto? FLORBELA: Agatha Christie! Afinal eras tu atrás da Sylvia Mas porquê? AGATHA: Uma jovem suicida atacou neste cais Matou-se uma vez mais SYLVIA: E julgas agora que sou eu Eu já morri já me matei Não sou fantasma sem memória antes o fosse SARAH: Isto não é novela criminal Eu vi a mulher que se matou Não era a Sylvia não era uma de nós 19 OS MORTOS VIAJAM DE METRO ABR ~ 1O VIRGINIA: (Para Agatha.) Agatha, estás enganada Eu e a Florbela vimos tudo A Sarah ajudou a moça a injectar-se tirou prazer da sua morte Tem vocação de encenadora É uma mulher do palco que adora chocar as plateias AGATHA: Onde está então o corpo dessa morta Saiu daqui tão de repente sem ninguém ver SARAH: Os fantasmas não deixam cadáver Só dos vivos é que fica a carne podre a infestar as gerações vindouras VIRGINIA: Mas ela estava aqui desfalecida Não vi para onde foi o fantasma dessa mulher dilacerada FLORBELA: A morta evaporou-se como água no calor do Verão da minha terra SYLVIA: Não quero estar sozinha O perigo não vem só dos vivos [cena 11] AGATHA: Eu acho que a solução estará neste lugar Escondida nas paredes do cais arruinado VIRGINIA: Não sabemos onde estamos Como se chamaria a paragem deste metro Tudo tem um nome para ser conhecido AGATHA: É preciso sondar os recantos Os pedaços de palavras apagados pelo tempo pela morte (Investiga as paredes com uma lupa.) [cena 12] (Entra em cena a Jovem suicida, munida de uma faca. As outras personagens não dão pela sua presença, absortas na pesquisa.) JOVEM SUICIDA: Não sei já chamar a morte Ela não vem Talvez a morte não exista para mim Estou condenada a morrer 20 OS MORTOS VIAJAM DE METRO ABR ~ 1O e a continuar viva A morte não se dá comigo Nem as facas entram nesta pele de ferro (Tenta cortar os pulsos, mas a pele não cede.) Quem és tu que estás na minha voz e não deixas calar-me? Que mão está a mover a marioneta? Que lápis vem ditar a fala com que canto? (Suspende o canto e o gesto, prestando atenção ao diálogo entre Virgínia e Agatha.) VIRGINIA: (Observando um troço de parede.) Houve algo aqui escrito no passado em letras grandes Mas faltam peças na placa Já não se percebe o seu sentido AGATHA: Parece um nome Talvez seja aquilo que ambas procuramos Mas os meus olhos de fantasma não conseguem ler VIRGINIA: Estou a chegar a algum sítio Um lugar sombrio assim Só pode ter um nome Já sei o que está escrito! [cena 13] VIRGINIA: Elsinore É o nome da estação Elsinore O metro abandonado O cais dos mortos Elsinore É a palavra ocultada AGATHA: Elsinore Já sabemos então quem é a pobre suicida de Elsinore JOVEM SUICIDA: Quem sois vós, mulheres? fascinadas pela minha sorte Que prisão é esta onde estamos?! VIRGINIA: Elsinore És tu Ofélia O fantasma de Elsinore OFÉLIA/JOVEM SUICIDA: O que há no nome Ofélia para que chamem por mim Eu não tenho nome A morte é o fracasso 21 OS MORTOS VIAJAM DE METRO ABR ~ 1O de aqui estar Quero morrer E a morte foge É amante infiel VIRGINIA: Ofélia é o teu nome e tu não morres pois nunca viveste És o fantasma de um fantasma a jovem suicida de Elsinore OFÉLIA: Eu não me lembro de onde vim Não me lembro da morte que escolhi Quem sou eu para me matar sem ter vivido VIRGINIA: Foste gerada p’la mente de um poeta Inventei p’ra ele uma irmã genial e suicida Chamava-se Judith OFÉLIA: Eu queria ser antes essa irmã tua filha de alma E não de um homem que me pôs no corpo esta vontade fria de morrer VIRGINIA: Mas tu não és Judith a que eu criei A tua vida é o tempo do teatro A tua morte Ofélia foi na água Eu morri como tu Somos irmãs na morte que tivemos OFÉLIA: Estou condenada a querer matar-me louca sem morrer no cais das sombras Para que fui eu criada pela tinta de um poeta deus mortal e implacável FLORBELA, SYLVIA, SARAH e AGATHA: Ofélia Elsinore Viemos parar a Elsinore O sangue já secou em Elsinore 22 OS MORTOS VIAJAM DE METRO ABR ~ 1O Onde a morte se repete na roleta infernal A morta de Elsinore está sem memória [cena 14] (Todas as personagens se aproximam de Ofélia e despedem-se dela.) VIRGINIA: Regressas à água onde morreste SYLVIA: Liberta-nos Ofélia do desejo de morrer SARAH: Vai afogar-te Ofélia FLORBELA: Libera-nos Ofélia AGATHA: Liberta-te Ofélia de ti mesma VIRGINIA: Irás nascer de novo SYLVIA: A água irá lavar o desespero VIRGINIA: Os vivos nascem na água das mulheres SARAH: Mergulha lá bem fundo FLORBELA: A água que te mata é a esperança de outra vida AGATHA: A água é o começo depois de haver um fim SARAH: Na água hás-de encontrar a paz desta miséria AGATHA: Está nas águas a memória que perdeste um dia Fim De que não existem pessoas naquilo que escrevi. Apenas fantasmas. Susan Sontag, Renascer – Primeiros diários (1947-1964) 23 OS MORTOS VIAJAM DE METRO ABR ~ 1O HUGO RIBEIRO música Hugo Ribeiro (Lisboa, 1983) licenciou-se em Composição em 2005 na Escola Superior de Música de Lisboa e concluiu o mestrado em 2007 na Royal Academy of Music em Londres. Participou em masterclasses de piano com Vladimir Viardo, Helena Sá e Costa e Vitali Dotesenko, bem como em cursos de composição com Emmanuel Nunes, Salvatore Sciarrino, Philippe Hurel, John Chowning, entre outros. Em 2004 frequentou os cursos de verão de Darmstadt onde contactou com nomes como Bryan Ferneyhough, Georg Friedrich Haas, Toshio Hosokawa e Tadeusz Wielecki. A sua música tem sido tocada em Portugal, Espanha, Inglaterra e Suécia. De algumas apresentações públicas da sua música, destaca-se a estreia da peça Carta a Kundera no Festival de Spitalfields (Londres) pelo Manson Ensemble, sob a direcção do maestro suíço Baldur Brönnimann e a execução da mesma peça no Festival Listen to the World! 2009 (Suécia) pelo Ensemble Gageego! dirigido pelo maestro Pierre-André Valade. Foi distinguido com o 1º Prémio na Categoria de Música para Orquestra no 2º Concurso Internacional de Composição da Póvoa de Varzim (2007) e foi vencedor do concurso Ópera em Criação 2008 no Teatro São Luiz em Lisboa. É bolseiro do Centro Nacional de Cultura desde 2006 (“Bolsa Jovens Criadores”) e é actualmente financiado pela CCCU Studentship. Presentemente encontra-se a concluir o doutoramento na Canterbury Christ Church University em Inglaterra. Projectos futuros incluem a estreia portuguesa da peça Mensagens soltas para flauta, harpa e quarteto de cordas nos Dias da Música em Belém no dia 25 de Abril; e a participação no Forum 2010 / Music and Video Art em Montreal (Canada) com o Nouvel Ensemble Moderne sob a direcção de Lorraine Vaillancourt. 24 ARMANDO NASCIMENTO ROSA PAULO MATOS libreto Paulo Matos é licenciado em Formação de Actores/Encenadores pela Escola Superior de Teatro e Cinema de Lisboa e pós-graduado em Gestão das Artes, pelo Instituto Nacional de Administração.Viveu vários anos em Paris onde se diplomou em Estudos Literários e Teatrais pela Universidade da Sorbonne, frequentou o Laboratório de Estudos de Movimento e concluiu o curso de Teatro da Escola Jacques Lecoq e pode trabalhar e estagiar com importantes personalidades como A. Mnouchkine, L. Pasqual, G. Strehler ou Peter Brook. Como actor tem desenvolvido actividade no teatro, tendo trabalhado com a maioria das companhias e encenadores de Lisboa, na televisão onde participou em inúmeras séries e novelas e no cinema onde participou em filmes como Palavra e Utopia, A Divina Comédia e Non ou a Vã Glória de Mandar, de Manoel de Oliveira, No Dia dos Meus Anos, de João Botelho, A Maldição do Marialva, de António Macedo. Como encenador possui já um vasto curriculum de autores como A. Musset, Jorge de Sena, Ulrich Plenzdorf, David Mamet, Teresa Rita Lopes,Vicente Sanches, Eric Westphal, Terry Johnson, Tchékhov, Carl Djerassi. Desde o início dos anos 90 que tem tido oportunidade de encenar com sucesso óperas dos mais variados períodos e compositores como Haendel, Mozart, Humperdinck, Menotti, Barber, Marcos Portugal ou António Teixeira/António José da Silva (Guerras do Alecrim e Manjerona). Possui uma vasta experiência como Gestor e Programador Cultural, tendo produzido inúmeros espectáculos e eventos de dinamização pública e patrimonial. É fundador e director do Arsenal d’Arte e do Ópera Estúdio de Lisboa. Armando Nascimento Rosa (Évora, 1966) é um dos dramaturgos portugueses vivos mais representados, desde a sua estreia cénica no Centro Cultural de Belém, com Lianor no país sem pilhas, encenada por João Mota, obra distinguida com o Prémio Revelação Ribeiro da Fonte, em 2000. Em 2008, recebeu o Prémio Albufeira de Literatura com Visita na Prisão ou O último sermão de António Vieira (2009). De entre outras peças suas encenadas e/ou publicadas, contam-se títulos como: Não és Beckett, não és nada (2009); Antígona gelada (2008); Cabaré de Ofélia (2007); O Eunuco de Inês de Castro – Teatro no país dos mortos (2006); Maria de Magdala (2005); Nória e Prometeu – Palavras do fogo (2005); O Túnel dos ratos (2004); A última lição de Hipátia (2004); Um Édipo – O drama ocultado (2003); e Audição – com Daisy ao vivo no Odre Marítimo (2002). É autor até esta data de dois volumes de ensaio e de doze livros com peças originais, dois dos quais publicados nos EUA, pela Spring Journal Books, em edições com aparato crítico de especialistas anglo-americanos: An Oedipus – The untold story (2006); e Mary of Magdala – A Gnostic fable (2010).Várias peças suas, tanto na versão original como em tradução inglesa e castelhana, foram alvo já de encenação e/ou leitura encenada em Madrid, Londres, Nova Iorque, Zurique, São Paulo, Araraquara, e Nova Orleães. Doutorado em Literatura Portuguesa Dramática do séc. XX, pela Universidade Nova de Lisboa, é professor na Escola Superior de Teatro e Cinema do Instituto Politécnico de Lisboa, desde 1998. encenação OS MORTOS VIAJAM DE METRO ABR ~ 1O JOÃO PAULO SANTOS BRUNO GUERRA PAULO GRAÇA maestro cenografia e figurinos desenho de luz João Paulo Santos nasceu em Lisboa e concluiu o curso superior de Piano no Conservatório Nacional desta cidade na classe de Adriano Jordão. Trabalhou com Helena Costa, Joana Silva, Constança Capdeville, Lola Aragón e Elizabeth Grümmer. Na qualidade de bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian aperfeiçoou-se em Paris (1979/84). Depois de ter ocupado o cargo de Maestro Assistente do Coro do Teatro Nacional de São Carlos (1984) foi nomeado Maestro Titular (1990/2004). Actualmente é Director de Estudos Musicais e Director Musical de Cena do mesmo Teatro. Desde 1990 que desenvolve também uma intensa actividade como chefe de orquestra, tendo-se estreado com The Bear (William Walton), encenada por Luis Miguel Cintra, para a RTP. Seguiram-se Let’s Make an Opera (Britten); Help, Help, the Globolinks! (Menotti), na Culturgest; Sweeney Todd (Sondheim), no Teatro Nacional D. Maria II; Albert Herring (Britten), Neues vom Tage (Hindemith) e Le Vin herbé (Martin), no Teatro Aberto (2001). Tem sido convidado a dirigir estreias absolutas dos compositores António Chagas Rosa, António Pinho Vargas e Eurico Carrapatoso. No São Carlos dirigiu Renard e Les Noces (Stravinski), The English Cat (Henze), Orphée aux enfers (Offenbach), O Nariz (Chostakovitch) e, em co-produção com a Culturgest, Hanjo (Hosokawa) e Pollicino (Henze) em estreia em Portugal. Na qualidade de pianista apresenta-se a solo, em grupos de câmara, acompanhando cantores, e em duo com a violoncelista Irene Lima desde 1985. Do seu repertório destaca-se a interpretação da integral das Sonatas para piano e outros instrumentos de Hindemith. Gravou vários discos, um dos quais com obras de Erik Satie e Luís de Freitas Branco (EMI Classics). Foi galardoado com o Prémio Acarte 2000 pela direcção musical de The English Cat. Bruno Guerra nasceu em Lisboa a 24 de Dezembro de 1982. Frequentou a Escola Profissional de Teatro de Cascais e o curso superior de Design de Cena da Escola Superior de Teatro e Cinema da Amadora, como estágio final de curso trabalhou no teatro Piccolo de Milão, tendo acompanhado o trabalho do encenador Luca Ronconi e algumas das encenações de Giorgio Strehler. Profissionalmente tem trabalhado em teatro, televisão e cinema, com os encenadores; Carlos Avilez, Carlos Carvalheiro, Filipe La Féria, Henrique Felix, Marina Mota, Paulo Matos e com os realizadores; Fernando Ávila, Nuno Garcia, Paula Gonzalez e Gonçalo Luz. Dos seus projectos destacam-se as cenografias de Música no Coração com produção teatro Politeama, Num País Chamado Simone – homenagem aos 50 anos de carreira, produção Casa das Artes, Saia Curta e Consequências, produção Décima Colina. Em televisão desenvolveu os décors de Só Visto, Top Mais, Campeões e Detectives e Hotel Makamba, tudo produções da Valentim de Carvalho Televisão; e como figurinista, os projectos: As criadas de Jean Genet, produção da ESTC, D. Juan, produção da Camaleão Teatro, Queres fazer Amor Comigo, produção Henrique Felix e figurinos para as marchas populares do Castelo e da Bica. Participou em diversos espectáculos da companhia de teatro Fatias de Cá, em Tomar e tem trabalhado paralelamente como assistente dos cenógrafos José Costa Reis e Helena Reis. Actualmente é professor de cenografia no Chapitô. Paulo Graça dedica-se, desde 1977, à iluminação de diversos tipos de espectáculos, como ópera, teatro, dança, moda e performance. Destes trabalhos destacam-se as suas colaborações regulares com o Ballet Gulbenkian, o Teatro Nacional D. Maria II e a companhia de teatro A Comuna, bem como com os coreógrafos Olga Roriz, Benvindo Fonseca, Gagik Ismailyan e Cláudia Nóvoa, e com os encenadores Ricardo Pais, João Mota e Nuno Carinhas. Dedica-se também a projectos de iluminação de espaços públicos como bares, lojas e restaurantes. Destes trabalhos destaca-se o bar LUX, o restaurante Bica do Sapato e várias lojas Vista Alegre. Desde 1998 que é Director Técnico do Centro de Espectáculos do Centro Cultural de Belém. 25 NUNO NEVES vídeo e projecções Nuno Neves é realizador e artista de vídeo. Licenciado em Comunicação Social em 2008 e tendo estudado Realização e Pós-produção Cinematográfica, na escola Restart, o seu filme de estreia, INK (2009) esteve em competição em mais de 10 festivais europeus. Desde 2008 que está relacionado com o mundo do teatro e da ópera, tendo feito a edição video de vários espectáculos de ópera e tendo sido responsável pela cobertura audiovisual de várias peças de teatro, incluindo os festivais F.A.T.A.L. 09 e M.I.T.O 09. É membro-fundador da Associação Cultural Elemento Indesejado, vocacionada para a criação e divulgação de novos artistas nas áreas do teatro, música, cinema, artes visuais e interactivas. OS MORTOS VIAJAM DE METRO ABR ~ 1O MARGARIDA MARECOS MADALENA PAIVA BOLÉO RAQUEL ALÃO soprano soprano Margarida Marecos (soprano) estudou na Academia de Amadores de Música e licenciou-se em Canto da Escola Superior de Música de Lisboa onde estudou com Joana Silva. Foi solista em obras do barroco ao contemporâneo, sob a direcção de, C. Bochmann, H. Castanheira, N. Lalov, Cesário Costa, J. S. Béreau e Vasco Azevedo, entre outros. Desempenhou diversos papéis em ópera e teatro musical: Despina, Così Fan Tutte e Zerlina, D. Giovanni, Mozart, Serpina e Patroa (versão moderna Marecos), A Criada, Pergolesi, Rainha, O Fim, Carlos Marecos e Paulo Lages, Dr. Fuinha, Uma Vaca Flatterzunge,Vítor Rua, Marta-Mileva, Os Sonhos de Einstein, Josh Rosenblum. Gravou as obras O Fim – Ópera Íntima de Carlos Marecos e A. Patrício e Te Deum de António Victorino d’Almeida. Lecciona as disciplinas de Canto e Classe de Ópera na Academia de Amadores de Música e no Conservatório de Música D. Dinis. Madalena Paiva Boléo (soprano) nasceu em Lisboa em 1974. Fez o Curso de Canto no Conservatório Nacional e a Licenciatura em Canto na Escola Superior de Música de Lisboa. Interpretou vários papéis de ópera tais como Cherubino (As Bodas de Fígaro, Mozart), Anina (La Traviatta,Verdi), Pagem (Rigolletto,Verdi), Kate Pinkerton (Madama Butterfly, Puccini), 2ª Dama (A Flauta Mágica, Mozart), Bastienne (Bastien e Bastienne, Mozart),Vizinha (Mavra, Stravinsky), Mother (O Cônsul, Menotti), Cunhada (Outro Fim, Pinho Vargas), Aninhas (O Doido e a Morte, Alexandre Delgado), em vários teatros do país incluindo o Teatro Nacional de São Carlos, Culturgest, Teatro da Trindade, São Luiz ou o Teatro Municipal de Almada. Foi também solista em várias obras sacras como o Stabat Mater de Pergolesi e o Stabat Mater de Boccherini, entre outros.Trabalhou ainda nos musicais Os Grandes Mestres do Musical Americano apresentado por João Pereira Bastos e O Último Tango de Fermat no Teatro da Trindade. Raquel Alão (soprano) é natural de Lisboa e concluiu em 2004 o Curso de Canto da Escola de Música do Conservatório Nacional, sob a orientação da professora Filomena Amaro. Participou no VII Concurso Nacional de Canto Luísa Todi, onde foi galardoada com o terceiro prémio para Voz Feminina. Foi solista nas mais variadas obras, das quais se destacam A Sea Symphony de Vaughan Williams, sob a direcção de Jorge Alves; Carmina Burana, de Carl Orff, com Günter Neuhold na direcção, e Gloria de Vivaldi e Christen, ätzet diesen Tag de Bach, no Concerto de Natal da Orquestra Divino Sospiro, no CCB, gravado para o canal Mezzo e para a RTP2. Na ópera destaca as prestações como Königin der Nacht em A Pequena Flauta Mágica, direcção de Júlia Jones, Berenice em L’Occasione fa il ladro de Rossini, direcção de Moritz Gnann e Fada Azul em A Bela Adormecida (versão infantil) de Respighi, direcção de João Paulo Santos. Integra o Programa de Jovens Intérpretes no TNSC na corrente temporada. 26 soprano OS MORTOS VIAJAM DE METRO ABR ~ 1O SUSANA TEIXEIRA SANDRA MEDEIROS SÓNIA ALCOBAÇA soprano soprano soprano Susana Teixeira (soprano) gravou Requiem für Mignon de Schumann e Salmos de Mendelsshon com a Orquestra Gulbenkian, Obras de Joaquim Casimiro Jr com os Segréis de Lisboa, as Vozes Alfonsinas, Música no Tempo das Descobertas, In Time of Troubadours e Antologia da Música Portuguesa até ao Renascimento. Gravou também As Variedades de Proteu (Portugalsom) de A. Teixeira e obras de Jorge Peixinho e de Clotilde Rosa (La mà de guido) com o GMCLGrupo de Música Contemporânea de Lisboa. Estreou as óperas Sol de Invierno de D. del Puerto em Portugal e em Espanha com os Drumming e Defunto de Schwetz também com o GMCL em Almada. É professora de Canto nos Conservatórios de Leiria e de Alhandra Sandra Medeiros (soprano) estudou no Conservatório Regional de Ponta Delgada e na Escola Superior de Música de Lisboa e é pós-graduada em Canto pela Royal Academy of Music (Londres), onde também foi premiada com o Amanda von Lob Memorial Prize. Foi premiada em concursos nacionais e internacionais (2º Prémio no V Concurso Internacional de Canto Bidu Sayão – Brasil). Frequentou cursos com Ileana Cotrubas, Teresa Berganza, Gundula Janowitz, Jill Feldmann, entre outros. Como solista trabalhou sob a direcção de Michael Corboz, Charles Mackerras, Laurence Cummings, Lawrence Foster, Marc Minkowski entre outros e com destacadas orquestras portuguesas e europeias. Foi Barbarina (Nozze di Fígaro) Princese (L’énfant et Les Sortiléges), Gémea Siamesa (Corvo Branco, Philip Glass), Dragonfly (A raposinha matreira), Frasquita (Carmen), Serpina (La serva padrona), Carlota (As Damas Trocadas, Marcos Portugal), D. Anna (D. Giovanni) entre outros. Sónia Alcobaça (soprano) é licenciada em Canto pela ESML e trabalha actualmente com a professora Elena Dumitrescu-Nentwig. Na interpretação destaca os seguintes trabalhos: Elle, La voix humaine, Poulenc/Cocteau (CAM), Nedda, I Paglacci, Leoncavallo (CAE Figueira da Foz), Lucy, The Beggar’s Opera, Britten (Teatro Aberto), Condessa d’Almaviva, As Bodas de Figaro, Mozart (CAE Figueira da Foz), Carmela, La Vida Breve, Falla (TNSC), Sainte Marguerite, Jeanne d’Arc au bûcher, Honegger (TNSC), Femme, Le pauvre Matelot, D.Milhaud (CAM), Micaela, Carmen, Bizet (Festival de Óbidos), Primeira Dama, A Pequena Flauta Mágica, Mozart (Fundação Calouste Gulbenkian), Mulher, Outro Fim, António Pinho Vargas (Culturgest), Gutrune, Die Götterdämmerung, Wagner, na mais recente produção de Graham Vick para o palco do TNSC. Em recital, apresentou-se no Teatro São Luiz com o pianista Nuno Vieira de Almeida no Ciclo Novos Cantores (2007), no Ciclo Novos Intérpretes da Fundação Calouste Gulbenkian com o maestro João Paulo Santos (2009) e nas últimas edições do Festival de Música da Casa de Ópera do Cabo Espichel, com o pianista Nuno Lopes. 27 OS MORTOS VIAJAM DE METRO ABR ~ 1O ORQUESTRA SINFÓNICA PORTUGUESA Orquestra Sinfónica Portuguesa foi criada em 1993 e é um dos corpos artísticos do Teatro Nacional de São Carlos e tendo vindo a desenvolver uma actividade sinfónica própria, incluindo programação regular de concertos, participações em festivais de música nacionais e internacionais.Tem colaborado regularmente com a Radiodifusão Portuguesa através da transmissão dos seus concertos pela Antena 2 e da participação em iniciativas da própria RDP, tais como Prémio Pedro de Freitas Branco para Jovens Chefes de Orquestra, Prémio Jovens Músicos-RDP e Tribuna Internacional de Jovens Intérpretes. No âmbito de outras colaborações destaque-se também a sua presença nos seguintes acontecimentos: 8.º Torneio Eurovisão de Jovens Músicos transmitido pela Eurovisão para cerca de quinze países (1996); concerto de encerramento do 47.º Festival Internacional de Música y Danza de Granada (1997); concerto de Gala de Abertura da Feira do Livro de Frankfurt; concerto de encerramento da Expo 98; Festival de Música Contemporânea de Alicante (2000); e Festival de Teatro Clássico de Mérida (2003). A Orquestra tem actuado, no âmbito das temporadas líricas e sinfónicas, sob a direcção de notáveis maestros, tais como Rafael Frühbeck de Burgos, Alain Lombard, Nello Santi, Alberto Zedda, Harry Christophers, George Pehlivanian, Michel Plasson, Krzysztof Penderecki, Djansug Kakhidze, Milán Horvat, Jeffrey Tate e Iuri Ahronovitch, entre outros. A discografia da Orquestra conta com dois CD's para a etiqueta Marco Polo, com as Sinfonias n.º 1 e n.º 5, e n.º 3 e n.º 6, de Joly Braga Santos, as quais gravou sob a direcção do seu primeiro maestro titular, Álvaro Cassuto a quem se seguiu José Ramón Encinar (1999/2001) e Zoltán Peskó (2001/2004) no mesmo cargo. Donato Renzetti desempenhou funções de Primeiro Maestro Convidado até à Temporada de 2006/07. A partir do início da Temporada 2008/09 Julia Jones ocupa o cargo de Maestro Titular. 28 Maestro Titular Julia Jones Assistente Musical do Maestro Titular Moritz Gnann I Violinos Evelyne Alliaume (Concertino Principal Convidado) Alexander Stewart (Concertino Adjunto) Pavel Arefiev (Concertino Adjunto) Leonid Bykov (Concertino Assistente) Veliana Hristova (Concertino Assistente) Alexander Mladenov Anabela Guerreiro António Figueiredo Asmik Bartikian Ewa Michalska Iskrena Yordonova Jorge Gonçalves Laurentiu Ivan Coca Luís Santos Margareta Sandros Marjolein de Sterke Natalia Roubtsova Nicholas Cooke Pedro Teixeira da Silva Regina Stewart II Violinos Jan Schabowski (Coordenador de Naipe) Klara Erdei (Coordenador de Naipe Adjunto) Rui Guerreiro (Coordenador de Naipe Adjunto) Mário Anguelov (Coordenador de Naipe Assistente) Nariné Dellalian (Coordenador de Naipe Assistente) Aurora Voronova Carmélia Silva Inna Rechetnikova Kamélia Dimitrova Katarina Majewska Maria Filomena Sousa Maria Lurdes Miranda Slawomir Sadlowski Sónia Carvalho Tatiana Gaivoronskaia Witold Dziuba Violas Pedro Saglimbeni Muñoz (Coordenador de Naipe) Cecilio Isfan (Coordenador de Naipe Adjunto) Galina Savova (Coordenador de Naipe Assistente) Cécile Pays (Coordenador de Naipe Assistente) Etelka Dudas Isabel Teixeira da Silva Joaquim Lima Maria Cecília Neves Maria Lurdes Gomes Massimo Mazzeo Rogério Gomes Sandra Moura Ventzislav Grigorov Vladimir Demirev Violoncelos Irene Lima (Coordenador de Naipe) Hilary Alper (Coordenador de Naipe Adjunto) Kenneth Frazer (Coordenador de Naipe Adjunto) Ajda Zupancic (Coordenador de Naipe Assistente) Alberto Campos (Coordenador de Naipe Assistente) Diana Savova Emídio Coutinho Gueorgui Dimitrov Luís Clode Maria Lurdes Santos Margarida Matias Contrabaixos Pedro Wallenstein (Coordenador de Naipe) Petio Kalomenski (Coordenador de Naipe) Adriano Aguiar (Coordenador de Naipe Adjunto) Duncan Fox (Coordenador de Naipe Adjunto) Anita Hinkova (Coordenador de Naipe Assistente) João Diogo José Mira Manuel Póvoa Svetlin Chichkov Flautas Katharine Rawdon (Coordenador de Naipe) Nuno Ivo Cruz (Solista A) Anthony Pringsheim (Solista B) Anabela Malarranha (Solista B) Oboés Hristo Kasmetski (Solista A) Ricardo Lopes (Solista A) Elizabeth Kicks (Solista B) Luís Marques (Solista B) Luís Alves (Solista A convidado) Clarinetes Francisco Ribeiro (Coordenador de Naipe) Joaquim Ribeiro (Solista A) Felício Figueiredo (Solista B) Jorge Trindade (Solista B) Fagotes David Harrison (Coordenador de Naipe) Carolino Carreira (Solista A) João Rolo Brito (Solista B) Piotr Pajak (Solista B) Trompas António Nogueira (Coordenador de Naipe) Laurent Rossi (Solista A) Paulo Guerreiro (Solista A) António Rodrigues (Solista B) Carlos Rosado (Solista B) Tracy Nabais (Solista B) Trompetes Jorge Almeida (Coordenador de Naipe) António Quítalo (Solista A) Latchezar Goulev (Solista B) Pedro Monteiro (Solista B) Trombones Hugo Assunção (Coordenador de Naipe) Jarrett Butler (Solista A) Kevin Hakes (Solista A) Vítor Faria (Solista B) Tuba Ilídio Massacote (Solista A) Tímpanos e Percussão Elizabeth Davis (Coordenador de Naipe) Richard Buckley (Solista A) Lídio Correia (Solista B) Pedro Araújo e Silva (Solista B) Harpa Carmen Cardeal (Solista A) Piano Alexandra Simpson (Solista A convidado) SÃO LUIZ TEATRO MUNICIPAL CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DO OPART E.P.E. director artístico JORGE SALAVISA gestor RUI CATARINO assistente de direcção artística AIDA TAVARES adjunta de gestão MARGARIDA PACHECO secretariado de direcção OLGA SANTOS direcção de produção TIZA GONÇALVES (directora) SUSANA DUARTE (adjunta) MAFALDA SEBASTIÃO direcção técnica HERNÂNI SAÚDE (director) iluminação CARLOS TIAGO RICARDO CAMPOS RICARDO JOAQUIM SÉRGIO JOAQUIM maquinistas ANTÓNIO PALMA JOÃO NUNES PAULO MIRA VASCO FERREIRA som NUNO SAIAS RICARDO FERNANDES RUI LOPES encarregado geral MANUEL CASTIÇO secretariado técnico SÓNIA ROSA direcção de cena AIDA TAVARES (coordenadora) JOSÉ CALIXTO MARIA TÁVORA MARTA PEDROSO ANA CRISTINA LUCAS (assistente) direcção de comunicação MARIA VLACHOU (directora) CECÍLIA FOLGADO (adjunta) frente de casa NUNO SANTOS bilheteira CIDALINA RAMOS HUGO HENRIQUES SORAIA AMARELINHO assistentes de sala CARLOS RAMOS DELFIM PEREIRA DOMINGOS TEIXEIRA FERNANDO TEIXEIRA HERNÂNI BAPTISTA JOANA BATEL JOÃO CUNHA LEONOR MARTINS MAFALDA TAVARES PAULO REBELO SEVERINO SOARES segurança SECURITAS limpeza VIVALISA presidente PEDRO SANTOS MOREIRA vogais CARLOS VARGAS HENRIQUE FERREIRA --------------- director artístico do tnsc CHRISTOPH DAMMANN maestro titular da orquestra sinfónica portuguesa JULIA JONES maestro titular do coro do teatro nacional de são carlos KOSTA POPOVIC director técnico FRANCISCO VICENTE directora de espectáculos adjunta ALDA GIESTA director de marketing MÁRIO GASPAR directora financeira e administrativa SÓNIA TEIXEIRA directora de recursos humanos SOFIA DIAS CANTORES EM RESIDÊNCIA - TEMPORADA 2009/2010 ANA FRANCO (programa jovens interpretes) CHELSEY SCHILL KRISTINA WAHLIN LUÍSA FRANCESCONI (programa jovens interpretes) MARIA LUÍSA DE FREITAS RAQUEL ALÃO (programa jovens interpretes) JOÃO MERINO (programa jovens interpretes) JOÃO OLIVEIRA (programa jovens interpretes) LEANDRO FISCHETTI LUÍS RODRIGUES MARCO ALVES DO SANTOS (programa jovens interpretes) MÁRIO JOÃO ALVES MUSA NKUNA PROGRAMA JOVENS INTÉRPRETES coordenador ANDRÉ HELLER-LOPES cenografia e figurinos RITA ÁLVARES PEREIRA GABINETE DE ESTUDOS MUSICAIS E DRAMATURGIA director de estudos musicais e director musical de cena JOÃO PAULO SANTOS (coordenador) maestro correpetidor NUNO MARGARIDO LOPES DIRECÇÃO DE ESPECTÁCULOS ALESSANDRA TOFFOLUTTI (coordenação de programação) FERNANDO CARVALHO (novos projectos) TERESA SERRADAS DUARTE (secretária) gabinete de gestão da produção ALDA GIESTA (coordenadora do gabinete e directora adjunta) FÁTIMA MACHADO FILOMENA BARROS LUCÍLIA VARELA gabinete de gestão do coro e orquestra MARGARIDA CLODE (coordenadora) CELESTE PATARRA MARIA BEATRIZ LOUREIRO JERÓNIMO FONSECA MARGARIDA CRUZ NUNO GUIMARÃES RUI IVO CRUZ gabinete de pesquisa e documentação musical PAULA COELHO DA SILVA (coordenadora) AGOSTINHO SORRILHA JOSÉ CARLOS COSTA SÃO LUIZ TEATRO MUNICIPAL RUA ANTÓNIO MARIA CARDOSO, 38; 1200-027 LISBOA [email protected]; TEL: 213 257 640 fotos, vídeos e outros recursos de referência em www.teatrosaoluiz.pt